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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS
LUCIENE SILVA DOS SANTOS
INFECÇÃO POR Bartonella spp. EM PACIENTES QUE APRESENTAM REAÇÕES
HANSÊNICAS SUBENTRANTES
CAMPINAS
2018
LUCIENE SILVA DOS SANTOS
INFECÇÃO POR Bartonella spp. EM PACIENTES QUE APRESENTAM REAÇÕES
HANSÊNICAS SUBENTRANTES
Dissertação apresentada à Faculdade de Ciências Médicas da
Universidade Estadual de Campinas como parte dos requisitos
exigidos para a obtenção do título de Mestra em Ciências, na
área de concentração Clínica Médica.
ORIENTADOR: Elemir Macedo de Souza
COORIENTADOR: Paulo Eduardo Neves Ferreira Velho
ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA
PELA ALUNA LUCIENE SILVA DOS SANTOS E ORIENTADA PELO PROF. DR. ELEMIR
MACEDO DE SOUZA.
CAMPINAS
2018
BANCA EXAMINADORA DA DEFESA DE MESTRADO
LUCIENE SILVA DOS SANTOS
ORIENTADOR: ELEMIR MACEDO DE SOUZA
COORIENTADOR: PAULO EDUARDO NEVES FERREIRA VELHO
MEMBROS:
1. PROF. DR. ELEMIR MACEDO DE SOUZA
2. PROF. DRA. ALEXSANDRA RODRIGUES DE MENDONÇA FAVACHO
3. PROF. DRA. RENATA FERREIRA MAGALHÃES
Programa de Pós-Graduação em Clínica Médica da Faculdade de Ciências Médicas
da Universidade Estadual de Campinas.
A ata de defesa com as respectivas assinaturas dos membros da banca examinadora
encontra-se no processo de vida acadêmica do aluno.
Data: 22/08/2018
Dedico este trabalho a todos os profissionais que se
empenham no ensino e na pesquisa de doenças
negligenciadas. Infelizmente a esperança de muitos
está nas mãos de poucos.
Agradecimentos
Primeiramente tenho muito a agradecer aos alunos do Instituto Tecnológico
de Aeronáutica (ITA) que refletiram sobre a dificuldade que eles tiveram para passar
no vestibular daquela Instituição, considerado uma das provas de seleção mais
difíceis da América Latina.
A grande maioria deles tinha apoio familiar, ensino de qualidade do berçário
ao médio e condições financeiras satisfatórias, ou seja, tudo que a grande maioria
dos alunos de escolas públicas não têm ou tiveram. Tendo em vista isso, um grupo
de alunos idealizaram um cursinho pré-vestibular exclusivo para os alunos
provenientes de escola pública e de baixa renda. Assim foi criado o Curso Alberto
Santos Dumont (Casd, também conhecido por CasdVest). Inicialmente suas
atividades começaram no porão de um cursinho comercial da região, sobre o qual
há relatos de que quando chovia os alunos ficavam com água na altura das canelas.
Eles eram muito bons em exatas, mas não tinham nenhuma formação
pedagógica, entretanto eles tinham tudo o que precisávamos: conhecimento,
vontade de ensinar e, o principal, acreditavam de fato em nós.
Hoje o CasdVest é um dos cursinhos que mais têm aprovações de alunos
em universidades públicas, eles aprovam mais do que muitos cursinhos particulares.
Posso dizer, com propriedade, que esses alunos do ITA conseguiram mudar
o “Mundo”, o mundo de muitos alunos como eu... Sem dúvidas é o maior
transformador de realidades que eu conheci! O importante é que isso não acaba na
aprovação, somos uma família. O crescimento pessoal não é nada se não
crescermos socialmente. Essa eterna gratidão é uma corrente que não se quebra e
ela é transmitida por nós todos os dias em nossas atitudes, pois também sabemos
que podemos mudar o mundo de alguém.
Hoje temos em quem nos espelhar. Nenhum de nós tinha alguém na família
com ensino superior e hoje somos uma multidão de formados e formandos em
várias áreas. Temos a consciência de que juntos somos mais fortes e o amor, a
dedicação e a confiança são incentivos essenciais para a realização de sonhos e
como dizia Mandela: “A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para
mudar o mundo”.
Aqui na Unicamp eu tenho muito a agradecer aos meus professores do
Instituto de Biologia. Esse curso sempre foi um dos meus maiores sonhos. A grande
maioria das disciplinas nunca deixaram a desejar. O bom de ter uma origem humilde
é que apreciamos tudo com empolgação, afinal “nem era para eu estar ali”.
In memoriam agradeço ao Prof. José Roberto Trigo, o grande “Trigão”, por
ter me ensinado uma das matérias mais fantásticas e complexas da biologia:
Ecologia.
Agradeço a Marina Drummond. Não me vejo hoje sem toda a ajuda e
suporte que dela recebi. Há 4 anos quando entrei para equipe eu não tinha noção do
que era trabalhar em laboratório, ao menos sabia quais eram as ponteiras certas
para cada pipeta. Graças à didática, carinho e paciência para responder as minhas
perguntas, que não foram poucas, hoje sou capaz de realizar todos os
procedimentos e treinar os novos estagiários da equipe. Posso dizer com
propriedade que eu descobri o real significado da frase “inspirar-se em alguém”. Ela
não foi apenas uma grande tutora, mas também se tornou uma grande amiga!
Daquelas que temos a certeza que é para a vida toda. Sou muito grata e sortuda,
pois sei que esse nível de afinidade, respeito e companheirismo é raríssimo.
Agradeço muito o meu coorientador Prof. Dr. Paulo Velho, quem o conhece
sabe o quanto ele é um verdadeiro “gentleman”. Nunca vi pessoa tão gentil, polida,
educada... Confesso que até bons modos com ele apreendi. Infelizmente não tive a
oportunidade de tê-lo como professor na graduação, pois admiro o quanto ele se
preocupa com a qualidade do ensino. Não poderia deixar de agradecê-lo por todas
as correções, sempre criterioso e detalhista. Com toda certeza aprendi mais
português com ele do que nos meus 11 anos de ensino fundamental e médio.
Agradeço e peço perdão por dar trabalho na correção. Bom, dizem que os
orientandos acabam adquirindo as manias dos orientadores, eu gostaria de ter essa
capacidade de fazer tanta coisa e ser boa em todas elas.
Ao Prof. Dr. Elemir, sou grata por me ensinar sobre hierarquia, experiência
de vida e construção de legados. Afinal, ele é o professor do meu professor! Tenho
muito respeito por toda sabedoria e conhecimento por ele transmitido.
Agradeço imensamente o meu pai Douglas por ter me ensinado a ser forte,
otimista e persistente. Ele é o meu super-herói sem capa, porém com braceletes,
coturno, cintos de bala, cabelão e cheio de tatuagens...pois é, não tenho um pai
“tradicional” rs... O apetrecho que eu mais amo nele, e ele sabe usar muito bem, é o
seu enorme coração. Meu pai é aquela pessoa rara que todos gostariam de ter
como amigo, é aquele que marca a vida e que todos lembram com carinho. Ele é
“culpado” por boa parte do que eu sou hoje, sem isso tudo seria muito mais
complicado e penoso.
Agradeço minha vó Maria por ter sido a mãe que eu nunca tive, que cuidou
de mim da melhor forma que ela podia. É tão estranho ficar doente e não tê-la por
perto, confesso que sinto saudades até das “pajelanças”: se eu estou com tosse e
catarro, lá vem a Dona Maria trazendo o café com banha de galinha. Se tomei uma
picada de inseto, a Dona Maria surge de prontidão com um frasquinho de spray
contendo um composto com várias ervas em álcool e assim vai... Como o meu pai,
ela sempre me apoiou a continuar os estudos. Graças a eles hoje sou bióloga
formada pela Unicamp, embora o sonho dela fosse que eu estudasse farmácia, por
que será? rs...
Agradeço ao Marcelo, o Amor da minha vida, que há 6 anos me deixa feliz
só por lembrar que ele existe. Quando um experimento não funcionava, ou um
equipamento quebrava e atrasava todo o meu cronograma, era ele que aguentava
as minhas angústias de perto. Quando as coisas fluíam e eu aprendia algo novo e
empolgante, era que aguentava eu repetir mil vezes a mesma história, rs... Muito
obrigada pelos risos espontâneos em todos os momentos, especialmente nos
naqueles difíceis.
Agradeço a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES) pelo auxílio financeiro, o qual sem ele este trabalho não seria possível.
Por fim, e não menos importante, agradeço a todos da equipe do laboratório,
pelo suporte nos experimentos, aprendizado e boas risadas. Agradeço a todos os
meus professores (sem exceção) pela construção do meu conhecimento e,
principalmente, pelas dúvidas plantadas. Aos meus amigos, em particular aos que
não vejo há muito tempo, e jamais estão ausentes... sempre oferecendo uma boa
conversa online, nos momentos de estresse.
RESUMO
Dados da Organização Mundial da Saúde mostram que no Brasil a hanseníase
ainda é um preocupante desafio a ser resolvido. Embora seja uma doença que
apresenta baixa taxa de letalidade, a hanseníase é uma das que mais causa
incapacidades físicas, sendo que a maioria dessas têm a sua origem nos episódios
inflamatórios agudos próprios das reações hansênicas. Os pacientes que
apresentam essas reações são, muitas vezes, medicados com corticoides em doses
imunossupressoras. A longo prazo, esse tipo de terapia, além de outros problemas,
torna os pacientes susceptíveis a infecções por outros patógenos. Essas
coinfecções, mesmo que subclínicas, podem desencadear novas reações
hansênicas, dificultando o tratamento e aumentando os riscos de lesões
incapacitantes. As bartonelas são patógenos negligenciados de distribuição mundial,
que causam bacteremia cíclica, potencialmente assintomática, podendo evoluir para
manifestações graves. O objetivo deste trabalho foi avaliar a prevalência da infecção
por Bartonella spp. em pacientes que apresentavam reações hansênicas
subentrantes de difícil controle há pelo menos seis meses. Para isso foram
analisadas as amostras de sangue de pacientes usando a combinação de vários
métodos microbiológicos (cultura líquida e subcultura sólida) e moleculares (PCR
convencional, PCR de dupla amplificação e PCR em tempo real). Também foram
avaliados, por meio dos métodos moleculares citados, fragmentos cutâneos
parafinados dos pacientes que porventura haviam sido biopsiados durante o
tratamento e tinham tecido disponível para o estudo. Dos 20 pacientes analisados,
nove (45%) apresentaram positividade para infecção por Bartonella spp. e em quatro
deles foi possível isolar Bartonella henselae. Quatro entre os 12 pacientes, que
tinham tecido parafinado disponível, apresentaram PCR positiva nesse tipo de
amostra. Assim, foi possível avaliar que o uso de tecido parafinado pode ser uma
alternativa para o diagnóstico retroativo da infecção por esses agentes. Os
resultados obtidos neste trabalho sugerem que infecções por Bartonella spp. devem
ser incluídas na lista de infecções que potencialmente contribuem para o
desencadeamento de reações hansênicas subentrantes de difícil controle.
Palavras-chave: Bartonella; Hanseníase Multibacilar; Prevalência; Doenças
Negligenciadas.
ABSTRACT
Data from the World Health Organization show that leprosy in Brazil is still a troubling
challenge to be solved. Although it is a disease that presents a low lethality rate,
leprosy is one of the main causes of physical disabilities, most of which have their
origin in the acute inflammatory episodes characteristic of leprosy reactions. Patients
who have these reactions are often given corticosteroids in immunosuppressive
doses. In addition to other health problems, corticosteroids long-term therapy makes
patients susceptible to infections by other pathogens. These coinfections, even if
subclinical, can trigger new leprosy reactions, making treatment difficult and
increasing the risk of disabling injuries. Bartonella spp. are neglected pathogens of
worldwide distribution. They cause cyclical and potentially asymptomatic bacteremia
that can evolve to severe manifestations. The main objective of this work was to
evaluate the prevalence of Bartonella spp. in patients with chronic type 2 leprosy
reactions for at least six months. For this purpose, blood samples from 20 of these
patients were analyzed using a combination of several microbiological methods
(liquid culture and solid subculture) and molecular methods (conventional PCR,
nested PCR and real-time PCR). The paraffin-embedded cutaneous fragments of the
patients who had been biopsied in the hospital and had tissue available for the study
were also evaluated using molecular methods. Of the 20 patients analyzed, nine
(45%) presented positivity for infection by Bartonella spp. and four of them had a
Bartonella henselae isolate. Twelve patients had paraffin-embedded tissue available
for analysis and four were B. henselae positive. The results obtained in this work
suggest that infections by Bartonella spp. should be included in the list of infections
that potentially contribute to the onset of leprosy chronic reactions and that paraffin-
embedded tissue may be an alternative way to the retroactive diagnosis of infection
by these agents.
Keywords: Bartonella; Multibacillary Leprosy; Prevalence; Neglected Diseases.
Sumário 1. Introdução ......................................................................................................... 13
1.1. Hanseníase ................................................................................................. 13
1.1.1. Epidemiologia ....................................................................................... 14
1.1.2. Diagnóstico e classificação ................................................................... 16
1.1.3. Tratamento ........................................................................................... 17
1.2. Reações hansênicas ................................................................................... 19
1.2.1. Epidemiologia das reações hansênicas ................................................ 21
1.2.2. Gatilhos imunológicos reacionais.......................................................... 21
1.2.3. Tratamento das reações hansênicas .................................................... 22
1.2.4. Reações hansênicas subentrantes ....................................................... 22
1.2.5. Complicações relacionadas ao uso de corticoides ................................ 24
1.3. Infecção por bartonelas ............................................................................... 24
1.3.1. Bartonella spp. ...................................................................................... 25
1.3.2. Manifestações clínicas .......................................................................... 27
1.3.3. Desafios diagnósticos ........................................................................... 31
1.3.4. Risco potencial de bartonelose durante terapias imunossupressoras ... 32
1.3.5. Tratamento para bartoneloses .............................................................. 32
1.3.6. Caso índice .......................................................................................... 33
1.4. Justificativa ................................................................................................. 38
2. Objetivos ........................................................................................................... 38
2.1. Geral .............................................................................................................. 38
2.2. Específicos .................................................................................................... 38
3. Metodologia ....................................................................................................... 39
3.1. População do estudo .................................................................................. 39
3.2. Local ........................................................................................................... 39
3.3. Fatores de risco para infecção por bartonelas (questionário) ...................... 40
3.4. Métodos ...................................................................................................... 40
3.5. Aspectos éticos ........................................................................................... 45
4. Resultados ........................................................................................................ 45
5. Discussão .......................................................................................................... 49
6. Conclusão ......................................................................................................... 57
7. Referências ....................................................................................................... 59
8. Apêndices .......................................................................................................... 69
Apêndice 1 - Termo de consentimento livre e esclarecido .................................... 69
Apêndice 2 - Questionário: Fatores de risco para infecção por Bartonella spp. .... 72
9. Anexos .............................................................................................................. 76
Anexo 1 – Parecer Consubstanciado do Comitê de Ética em Pesquisa da Unicamp
............................................................................................................................. 76
Anexo 2 – Artigo submetido e aceito para publicação na JDDG: Journal der
Deutschen Dermatologischen Gesellschaft ........................................................... 81
Anexo 3 – Trabalho submetido para o 54ª Congresso da Sociedade Brasileira de
Medicina Tropical- Medtrop 2018 .......................................................................... 84
13
1. Introdução
1.1. Hanseníase
A hanseníase é uma doença crônica infectocontagiosa de evolução lenta
causada pelo Mycobacterium leprae e também pelo Mycobacterium lepromatosis,
ambos similares. O último só foi descoberto em 2008 no México, após análise
genética dos bacilos presentes em pacientes virchowianos (1-3). Esses agentes são
responsáveis pelo comprometimento, primeiramente, de nervos periféricos e
secundariamente da pele, olhos e, nos pacientes virchowianos polares, de qualquer
órgão do organismo (3). A infecção pode provocar incapacidades físicas e evoluir
com significativas deformidades (1). Embora seja conhecida desde os primórdios da
civilização, a hanseníase, especialmente no Brasil, ainda é um grande problema de
saúde pública a ser resolvido. Fruto da combinação de vários fatores genéticos,
ambientais e sociais, a antiga “lepra”, foi erradicada em países desenvolvidos,
mesmo antes de uma antibioterapia efetiva, evidenciando que sua eliminação não se
trata apenas de um problema biológico (4). Apesar da potencial cura, e a quebra do
ciclo de transmissão por meio do esquema terapêutico padronizado, conhecido
como multidrogaterapia (MDT), a doença ainda está longe de ser eliminada do
território brasileiro.
Muito importante para história da medicina, o agente M. leprae foi a
primeira bactéria a ser associada a uma doença humana (5). São patógenos
intracelulares obrigatórios que têm predileção por macrófagos da pele e as células
de Schwann do sistema nervoso periférico (3). Os bacilos são morfologicamente
retos ou ligeiramente encurvados de 1,5 a 8 mícron de comprimento por 0,2 a 0,5
mícron de largura. Pertencentes ao mesmo gênero do agente da tuberculose,
Mycobacterium tuberculosis, esses patógenos têm algumas características em
comum: são bacilos álcool-ácido resistentes (BAAR) e possuem crescimento lento
(3).
O M. leprae são bactérias intracelulares obrigatórias e um dos maiores
desafios, que dificultam os estudos destes microrganismos, é a impossibilidade de
14
isolar suas colônias in vitro. Ainda não foi possível criar um meio e condições que
atendam todas as exigências desses bacilos, além disso, o seu crescimento
bastante lento (11 a 16 dias) é outro entrave para o avanço das pesquisas (6, 7).
Por exigir temperaturas variando de 30 a 35°C para o seu crescimento, o
M. leprae tem predileção por regiões mais frias do corpo como nariz, orelha e dedos
(3). Nos organismos altamente infectados os bacilos viáveis formam aglomerados,
conhecidos como globias (6).
O agente é transmitido preferencialmente pelas vias aéreas,
principalmente no convívio prolongado com portadores multibacilares sem
tratamento (3). Embora muitos bacilos sejam eliminados pelo portador
potencialmente transmissor, nem todos do convívio com os doentes desenvolvem a
doença. Estima-se que mais de 95% dos indivíduos apresentam imunidade natural
capaz de impedir o desenvolvimento da infecção (3, 8, 9).
O Brasil é um país que tem uma trágica história em relação às políticas de
isolamento compulsório que perdurou até os meados dos anos 80, mesmo já tendo
conhecimento de que pacientes em tratamento não eram fontes de transmissão da
doença. Essa postura reforçou o preconceito para com os portadores da doença,
além de separar famílias inteiras e causar todo o sofrimento psicológico por conta
deste tipo de medida (10).
O estigma era tão grande no país em torno do nome “lepra” que em 1995
uma das medidas tomadas pelo governo foi proibir o uso da palavra em todos os
documentos oficiais, substituindo-a por “mal de Hansen”, ou simplesmente
hanseníase. Hoje o Brasil é o único país que eliminou o termo e não alcançou a
meta de eliminação da doença (11).
1.1.1. Epidemiologia
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) de 2015, mostram que
94% dos doentes se encontram em 13 países: Etiópia, Bangladesh, Brasil, Filipinas,
Índia, Indonésia, Madagascar, Mianmar, Nepal, Nigéria, República Democrática do
Congo, República Unida da Tanzânia e Sri Lanka. (12).
15
O Brasil, a Índia e a Indonésia apresentam juntos 81% de todos os casos
novos notificados da doença. O Brasil encontra-se no segundo lugar no ranking dos
países endêmicos da hanseníase, perdendo apenas para a Índia em números
absolutos de casos e sendo o único país que não atingiu a meta de prevalência
estipulada pela Organização das Nações Unidas (ONU), que era alcançar menos de
um caso para cada 10 mil habitantes em 2015 (12).
Embora haja vários esforços para alcançar a meta de eliminação da
hanseníase, ela se mantém em lugar de destaque em meio a outras doenças
negligenciadas. Em 2016, no Brasil, foram notificados 25.218 novos casos da
doença. A maior parte dos casos se concentram nos estados mais pobres do Brasil
como pode-se observar no Gráfico 1.
Gráfico 1. Taxa de detecção de hanseníase nos estados brasileiros por cada
100.000 habitantes.
Nesse gráfico destaca-se que os estados com condições mais favoráveis
de qualidade de vida, infraestrutura pública de saúde e educação são os que têm os
menores índices da doença. A hanseníase é uma doença conhecida por atingir
principalmente a população de baixa renda. A sua distribuição está associada a
estados com índice elevados de municípios com baixos indicadores
16
socioeconômicos como: expectativa de vida, oferta de serviços públicos à
população, urbanização, renda, etc. Segundo dados socioeconômicos, o Centro-
Oeste, Norte e Nordeste são as regiões mais carentes e apresentam altas taxas da
doença (2). Segundo a ONU, além de ser uma doença prevalente em grupos menos
favorecidos, as pessoas do sexo masculino são as mais acometidas (3).
1.1.2. Diagnóstico e classificação
O aparecimento de lesões cutâneas, queda de pelos, diminuição da
sudorese, alteração de sensibilidade (térmica, dolorosa e tátil) e problemas
oftalmológicos, são algumas manifestações apresentadas pelos pacientes
hansenianos. Entretanto, a hanseníase é uma doença de caráter espectral, ou seja,
possui uma ampla variedade de manifestações clínicas entre os polos da doença,
descritos a seguir. O desenvolvimento dessas apresentações clínicas é dependente
das condições genéticas, imunológicas e ambientais do indivíduo (4). Para facilitar a
padronização, em meio a essas múltiplas formas, a OMS implementou uma
classificação para fins operacionais do tratamento com MDT que compreende duas
formas: a paucibacilar (PB) e a multibacilar (MB). As formas PB são caracterizadas
por baciloscopia negativa, presença de até cinco lesões cutâneas e no máximo um
único tronco nervoso comprometido. Já as formas MB caracterizam-se por
apresentarem baciloscopia positiva, lesões disseminadas pelo corpo e pelo menos
dois troncos nervosos acometidos (5).
O tipo de resposta imunológica desenvolvida pelo hospedeiro é
determinante para que haja esta variação nas características histológicas e
bacteriológicas das lesões, essas características determinam a classificação clínica
conforme mostrado no Quadro 1 (1, 8). A hanseníase apresenta dois polos estáveis:
o polo tuberculoide, que é o polo de alta resistência ao bacilo, onde os portadores
apresentam uma boa resposta imunológica celular (resposta Th1), e o polo
virchowiano, que é o polo de susceptibilidade, no qual os portadores apresentam
uma resposta imunológica celular ineficiente para impedir a multiplicação bacilar
(resposta Th2). Entre esses dois polos extremos, existem as formas dimorfas que
são formas instáveis que podem apresentar características próprias, como é o caso
17
da forma dimorfa-dimorfa (DD) e características mistas entre os polos estáveis,
como é o caso das formas dimorfa- tuberculoide (DT) e dimorfa-virchowiana (DV) (5,
6). Os indivíduos que apresentam hanseníase tuberculoide (HT), possuem
manifestações que estão relacionadas a forte intensidade de sua resposta
imunológica celular que leva à destruição dos bacilos, limitando a área das lesões.
Já os indivíduos com hanseníase virchowiana (HV) apresentam uma grande
deficiência na resposta imune celular, mas apresentam uma maciça resposta imune
humoral. Entretanto, a produção de anticorpos e imunocomplexos não impedem a
disseminação dos bacilos para várias partes do corpo (7).
Quadro 1. Classificação da hanseníase
Classificação da hanseníase
Ridley & Jopling Resposta imunológica celular Resposta imunológica
humoral
Formas clínicas Indeterminada, Tuberculoide,
Dimorfa-tuberculoide Dimofa-dimorfa, Dimorfa-virchowiana, Virchowiana
Classificação operacional (OMS)
Nº de lesões: até 5 Até um tronco nervoso acometido
Índice baciloscópico: negativo
Nº de lesões: > 5 Mais que um tronco nervoso
acometido Índice baciloscópico: positivo
Formas operacionais Paucibacilar Multibacilar
Fonte: Ridley & Jopling (1966) e da Organização Mundial da Saúde (1982).
1.1.3. Tratamento
O tratamento, além de evitar a evolução e os agravos da doença, é a
única forma de quebrar o ciclo de transmissão. Durante muito tempo ele foi feito com
monoterapia de dapsona. Esse tipo de tratamento poderia durar mais do que 10
anos, além disso, havia uma significativa taxa de resistência bacilar ao medicamento
(8).
18
Apenas no início da década de oitenta (1982) a OMS implementou e
padronizou o uso da MDT, que consiste na combinação de dapsona com clofazimina
e rifampicina que até hoje é a primeira linha de tratamento. Além de diminuir a taxa
de recidivas, esta associação também foi capaz de padronizar e reduzir
significativamente o tempo do tratamento. Nessa combinação medicamentosa, a
dapsona e a clofazimina são drogas bacteriostáticas e a rifampicina é bactericida. O
esquema terapêutico varia de acordo com a classificação operacional: Quadro 2 e 3
(9, 10).
O fim da transmissão é alcançado já nas primeiras doses do tratamento,
mas a potencial cura sem sequela pela MDT depende da detecção precoce da
doença. Só assim, os pacientes têm, de fato, grandes chances de não desenvolver
nenhuma sequela.
Quadro 2. Esquema terapêutico recomendado pela Organização Mundial
da Saúde para pacientes paucibacilares
Esquema terapêutico para pacientes paucibacilares
Doses mensais
supervisionadas
Rifampicina (RFM): 600mg
Dapsona (DDS): 100mg
Doses diárias
auto administradas
Dapsona (DDS): 100mg
Tempo de Tratamento 6 meses
Fonte: MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Vigilância em Saúde (2010).
19
Quadro 3. Esquema terapêutico recomendado pela Organização Mundial
da Saúde para pacientes multibacilares
Esquema terapêutico para pacientes multibacilares
Doses mensais
supervisionadas
Rifampicina (RFM): 600mg
Dapsona (DDS): 100mg
Clofazimina (CFZ): 300mg
Doses diárias
auto administradas
Dapsona (DDS): 100mg
Clofazimina (CFZ): 50mg
Tempo de tratamento 12 meses
Fonte: MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Vigilância em Saúde (2010).
1.2. Reações hansênicas
Embora a cura da infecção do M. leprae seja possível há mais de três
décadas, com a implementação do tratamento pela MDT os males da doença podem
não terminar com a morte dos bacilos. Muitos pacientes acabam apresentando
episódios inflamatórias agudos e subagudos contra os fragmentos dos bacilos vivos
ou mortos, respostas denominadas de reações hansênicas ou estados reacionais
(11, 12). Durante esses eventos ocorre a piora do estado clínico do paciente, as
reações hansênicas não dependem da infecção ativa do M. leprae e podem ocorrer
tanto nos casos multibacilares quanto paucibacilares (13).
As reações hansênicas são consideradas uma urgência clínica que requer
tratamento imediato com imunossupressores, pois são elas as principais causadoras
de incapacidades físicas nesses pacientes. Portanto, controlar a inflamação é
imprescindível para prevenir esses danos (10, 14).
Assim como as várias formas de apresentações clínicas da hanseníase, o
tipo de reação desenvolvida pelo paciente também está relacionado ao modo como
ele responde imunologicamente aos antígenos do M. leprae. E isso, também está
20
relacionado a fatores genéticos e ambientais, juntamente com o tipo clínico de
hanseníase que este paciente tem ou tinha no início do tratamento (7, 15).
As reações hansênicas são divididas em dois principais tipos:
Reações hansênicas do tipo I também conhecida como reação
reversa (RR): é causada pelo desencadeamento da resposta imunológica celular
(Th1). Acontece em pacientes com imunidade celular competente e específica
contra o M. leprae. Neste tipo de reação as lesões cutâneas pré-existentes ficam
mais edemaciadas e evidentes e pode haver surgimento de novas lesões. Em casos
mais graves, podem surgir reação aos antígenos dos bacilos localizados em troncos
nervosos. Entretanto, não há comprometimento sistêmico e geralmente ocorrem em
pacientes com as formas HT, DT, DD e raramente nos DV (14).
Reações hansênicas do tipo 2: são, erroneamente, conhecidas como
sinônimo de eritema nodoso hansênico (ENH), porém nem todo paciente com
reação do tipo 2 desenvolve nódulos eritematosos. Ela é causada pelo
desencadeamento da resposta imunológica humoral (Th2). Esse tipo de reação
geralmente ocorre em pacientes que não apresentaram uma resposta Th1 efetiva e
que, devido a isso, há um grande acúmulo de bacilos e deposição de
imunocomplexos na evolução da hanseníase. Geralmente ela ocorre durante ou
depois do tratamento com a MDT, mas pode preceder o diagnóstico da doença.
Com a destruição bacilar promovida principalmente pela MDT, esses pacientes
começam a apresentar reações hipersensibilidade humoral com formação de
imunocomplexos formados pela resposta Th2 (7, 14).
As reações do tipo 2 têm efeitos sistêmicos podendo comprometer
diversos órgãos como olhos, rins, baço e fígado, além da pele e nervos. Portanto,
são potencialmente mais graves que as reações do tipo 1. Suas manifestações
caracterizam-se por apresentar nódulos, pápulas e placas dolorosas. Geralmente
são acompanhadas de febre, mal-estar generalizado, neurite com ou sem
espessamento e dor de nervos periféricos e dores nas articulações ou mesmo
artrites (16). São autolimitadas e duram em torno de duas semanas. Ao contrário da
reação do tipo 1, é comum o surgimento de novas lesões e as pré-existentes podem
permanecer inalteradas. Ocorrem em pacientes com as formas DV e V (11, 14, 17).
21
1.2.1. Epidemiologia das reações hansênicas
Assim como há predisposição genética para o desenvolvimento da
hanseníase e de suas formas clínicas, estudos mostram que o aparecimento das
reações também tem relação com alguns marcadores genéticos (18, 19).
As reações hansênicas são um dos principais motivos que levam os
pacientes a abandonar o tratamento, pois eles acreditam que os medicamentos são
os responsáveis pela piora do quadro clínico (7).
De acordo com a literatura, a frequência e o tempo de duração das
reações hansênicas são bastante variáveis, mas há uma relação muito forte entre os
pacientes que apresentam reações durante o tratamento são mais propensos a
desenvolver reações após o término da terapia específica (20).
A OMS mostra que, assim como a hanseníase, há uma maior frequência
no número de ocorrência de reações hansênicas em homens. A predominância dos
estados reacionais está potencialmente relacionada com a tendência na demora da
procura por ajuda médica por este gênero (3, 21).
Estima-se que em média 30 a 35% dos pacientes desenvolvem reações
hansênicas e essas são mais comuns e frequentes em pacientes multibacilares
chegando a 50% entre esse grupo (14, 22-24).
1.2.2. Gatilhos imunológicos reacionais
Não é possível prever a ocorrência das reações hansênicas, mas existem
alguns marcadores genéticos, fatores fisiológicos e ambientais que predispõem as
reações nos indivíduos (25). Fatores que podem precipitar as reações hansênicas
são observados, particularmente, nas reações do tipo 2. O seguimento desses
fatores é essencial para a prevenção e o controle desses episódios. Em geral,
perturbações imunológicas como gravidez, parto, estresse, alcoolismo, infecções ou
infestações concomitantes, inclusive subclínicas, são os principais precipitantes (7,
14, 23).
22
Um estudo observou que pacientes que fizeram tratamento para
infecções orais tiveram significativa melhora nas reações inflamatórias da
hanseníase em comparação ao grupo controle. Isso sugere que um foco infeccioso,
mesmo que subclínico, poderia estimular o gatilho imunológico das reações. As
periodontites são causas comumente associadas as reações hansênicas (26).
1.2.3. Tratamento das reações hansênicas
Até o momento não há nenhum tratamento capaz de impedir que as
reações hansênicas ocorram, mas elas podem ser tratadas (27). Apesar de
caracterizar um estado de urgência, o tratamento reacional geralmente é
ambulatorial e o paciente deve ser acompanhado de perto. Não há um esquema
terapêutico único para o tratamento das reações. A dose, o tempo de tratamento e o
esquema terapêutico variam de acordo com a resposta do paciente aos fármacos, a
gravidade das lesões e a sua evolução (10, 27, 28).
No caso de reações do tipo 1 mais leves, ou seja, apenas cutânea, sem o
comprometimento neural, é recomendado analgésicos e anti-inflamatórios não
esteroidais. Caso haja comprometimento neural, o tratamento com corticoides é
necessário para a prevenção dos danos (14, 27). Para os pacientes com reações do
tipo 2, a droga de escolha é a talidomida e sua dose irá variar de acordo com a
gravidade do caso. Entretanto, este medicamento não é indicado para mulheres no
período fértil, devido aos seus efeitos teratogênicos, ou para pacientes com
comprometimento extracutâneo como neurites, uveítes, etc. Nesses casos é
necessário o tratamento com corticoides (29).
1.2.4. Reações hansênicas subentrantes
Normalmente as reações do tipo 2 duram em torno de uma ou duas
semanas e, quando se faz necessário, respondem bem ao tratamento (30). Embora
a reação hansênica do tipo 2 possa ocorrer em um único episódio, cerca de 33% a
64% dos pacientes que apresentam esse tipo de reação pode manifestá-la mais de
23
uma vez, com média de 2,6 episódios (13, 31). Entre esses pacientes 31% podem
manifestar cinco ou mais episódios durante um período de mais de dois anos, o que
eleva muito as chances de adquirirem alguma incapacidade física em decorrência
dessas reações (31). Portanto, o tempo reacional, o número das recorrências e o
intervalo entre elas são fatores importantes para que providências sejam tomadas
como a busca mais cuidadosa dos possíveis gatilhos reacionais e uma melhor
adequação terapêutica.
Embora haja várias contradições conceituais e terminológicas de como
classificar corretamente a temporalidade das reações hansênicas, este estudo,
assim como o estudo de Kumar et al., 2004, considerou a reação hansênica do tipo
2 como crônica aquela que o paciente se encontra em tratamento reacional
continuamente por um período de seis meses ou mais (31). Neste trabalho, foi
denominado como reações subentrantes aquelas que se apresentam de forma
subsequentes, sem intervalos entre elas. Ou seja, antes do término de um episódio
reacional, um outro ressurge em seguida de forma aguda e de difícil controle.
Todos os casos de reações de difícil tratamento, principalmente as que
possuem estados contínuos, ou recorrentes, devem ser investigados com mais
acuidade os fatores precipitantes de reações (parasitoses, infecções, situações
estressantes, etc.) (32).
Por tratar-se de um estado reacional prolongado e subsequente é comum
o comprometimento neural durante as reações subentrantes, por isso se faz
necessário o uso de corticoides, associados ou não à talidomida, frequentemente
em altas doses (27, 32). A clofazimina é recomendada como droga poupadora de
corticoide nessas situações. Em casos em que a talidomida é contraindicada como
tratamento isolado (no eritema nodoso com comprometimento neural, irite,
iridociclite, orquite, edemas de mãos e pés, entre outros), faz-se necessário o uso de
prednisona na dose de 40mg ou mais por dia, com redução gradual das doses
conforme a melhora clínica (27).
Entre os esquemas terapêuticos alternativos para essas reações está o
uso e/ou associação de pentoxifilina, metotrexato, azatioprina, etarnecept, infliximab
entre outros (27, 32-35).
24
1.2.5. Complicações relacionadas ao uso de corticoides
Pacientes que apresentam reações subentrantes por longos períodos,
acabam fazendo o uso crônico de altas doses de corticoides e outros
imunossupressores. Essa dependência terapêutica potencializa comorbidades como
a diabetes, osteoporose, problemas cardiovasculares e hepáticos, catarata entre
outros males (36-38).
Antes de iniciar um tratamento imunossupressor prolongado é necessário
fazer uma investigação de comorbidades que podem ser agravadas com o uso
desses medicamentos. É recomendado fazer tratamentos profiláticos para
infestações intestinais, reposição de cálcio, além do controle periódico das
condições dos pacientes, como taxa glicêmica, peso e pressão arterial (39).
A imunossupressão induzida por esses medicamentos aumenta as
chances do paciente adquirir infecções e infestações oportunistas e/ou atípicas, uma
vez que comprometem a capacidade de resposta imunológica eficaz. Essas
infecções, mesmo que subclínicas, podem estar relacionadas ao gatilho imunológico
associado à origem ou a manutenção dessas reações, dificultando o tratamento e
potencializando os riscos ao paciente (32, 40-43). Entre os agentes que causam
infecção subclínica estão as bartonelas.
1.3. Infecção por bartonelas
As bartonelas são bactérias do gênero Bartonella que ao infectar
indivíduos imunocompetentes, podem causar infecção assintomática. Um estudo
avaliou a prevalência da bacteremia por esses agentes no sangue de 500
hemodoadores do Hemocentro da Unicamp. A análise foi realizada pela técnica de
reação em cadeia da polimerase (PCR) convencional específica para o gênero
Bartonella, que amplifica a região ITS a partir de DNA extraído de cultura líquida
usando o BAPGM® (Bartonella Alpha-Proteobacteria Growth Liquid Medium) e de
subcultura em meio sólido. Dezesseis doadores de sangue (3,2%) foram positivos
na pesquisa molecular e foram obtidos seis (1,2%) isolados (44). Recentemente
essas mesmas amostras foram reanalisadas usando diversos métodos moleculares
25
(PCR convencional, PCR de dupla amplificação e PCR em tempo real) para a
detecção de Bartonella spp. também nas amostras de sangue total. Nesta
reavaliação foram positivos 102 doadores (20,4%). Somando todos os positivos
obtidos nos dois projetos, 115 doadores tiveram o DNA de Bartonella sp. detectado
o que corresponde a 23% de prevalência nestes doadores (45). Esse estudo é um
importante alerta que mostra que esse tipo de infecção é comum, embora não se
saiba até quando esse tipo de infecção se apresenta de forma assintomática. Além
disso, foi evidenciada a necessidade de um diagnóstico rápido e preciso para
Bartonella spp., uma vez que esse sangue infectado pode ser transfundido em
pessoas que estão potencialmente imunodeficientes.
Embora a infecção possa ser assintomática em imunocompetentes, esses
agentes podem causar uma linfadenopatia granulomatosa acompanhada, ou não, de
febre. Geralmente nesses indivíduos o quadro é autolimitado, sem necessidade de
uso de fármacos para a melhora, comumente é o que acontece na doença da
arranhadura do gato (DAG) (46, 47).
Nos pacientes imunodeficientes, sejam por problemas de saúde ou por
uso contínuo de imunossupressores, a infecção por bartonelas pode ser mais grave
ou mesmo fatal, uma vez que nesses casos a doença tem maiores chances de se
apresentar de forma sistêmica. Pacientes com aids, quando são infectados por
bartonelas, apresentam altas taxas bacterêmicas e desenvolvem com mais
frequência, se comparado com imunocompetentes, angiomatose bacilar, peliose
hepática ou esplênica, entre outras manifestações (48-50). Da mesma forma, várias
complicações são relatadas em pacientes que fizeram transplantes de órgãos
sólidos, principalmente rins e fígado (51, 52). Também é apontado o aumento
dessas infecções em pacientes que fazem uso de imunossupressores para
tratamento de doenças como lúpus e artrite reumatoide (53-55).
1.3.1. Bartonella spp.
O gênero Bartonella compreende pelo menos 45 espécies, sendo 16
(Quadro 4) conhecidas como patógenas ao homem (56, 57). São bactérias
pertencentes a classe das alfa-proteobactérias, gram-negativas, cocobacilares,
26
fastidiosas, intracelulares facultativas podendo infectar macrófagos, eritrócitos,
células dendríticas e endoteliais. A existência de uma fase intraeritrocítica dificulta a
ação das defesas do sistema imunológico (58-60). Desta forma, esse gênero de
bactéria alcançou um grande sucesso ecológico e hoje compreendem numerosas
espécies e subespécies. Embora algumas espécies sejam endêmicas, há várias que
estão distribuídas por todo o mundo. Esses microrganismos são especializados em
infectar mamíferos, mas algumas espécies já foram encontradas em aves
migratórias e tartarugas (61-63).
Provocar uma bacteremia cíclica em seus hospedeiros é uma
característica adaptativa que favorece a transmissão dessas bactérias por
artrópodes hematófagos. A maioria das bartonelas possuem um vetor preferencial,
por exemplo a Bartonella quintana que é transmitida por piolho do corpo (Pediculus
humanus corporis), mas também pode ser transmitida por percevejo de cama (Cimex
pilosellus) (64).
Entre as espécies de Bartonella patogênicas ao ser humano, pode-se
destacar três como sendo as principais causadoras de manifestações clínicas:
Bartonella bacilliformis, B. quintana e Bartonella henselae (65).
27
Quadro 4. Espécies de Bartonella patogênicas ao homem e suas manifestações
1.3.2. Manifestações clínicas
A primeira espécie de Bartonella descrita foi a B. bacilliformis identificada
em 1905 pelo microbiologista argentino Alberto Barton. O nome do gênero é uma
homenagem a esse pesquisador. Ele estudava uma doença endêmica no Peru e
restrita à região dos Andes (Peru, Equador e Colômbia), transmitida por um
mosquito flebotomíneo (Lutzomyia verrucarum) comum nessas regiões.
A doença estudada por Barton possui duas fases distintas: uma aguda,
conhecida como febre de Oroya, que é caracterizada por uma bacteremia
intraeritrocitária que frequentemente resulta em uma anemia hemolítica fatal (de 40
a 90% dos casos na era pré-antibiótica) e outra crônica, conhecida por verruga
peruana que consiste no aparecimento de vários tumores vasculares que se
originam de células endoteliais colonizadas por essas bactérias.
28
Essa doença bifásica é conhecida por doença de Carrión, em
homenagem ao estudante de medicina peruano Daniel Carrión, que atingiu seu
objetivo comprovando que as duas doenças (febre de Oroya e verruga peruana)
eram fases de uma mesma enfermidade. Em 1885, Carrión inoculou em si mesmo
sangue proveniente de uma lesão cutânea de verruga peruana, contraiu a febre de
Oroya e faleceu durante a fase aguda da infecção (66, 67). Embora a maioria das
outras bartonelas tenha como reservatórios outros animais a B. bacilliformis tem
como hospedeiro reservatório os humanos (67).
Outra exceção em que os humanos também são considerados
reservatórios primários é a espécie B. quintana. Esse agente é transmitido
principalmente pelo piolho de corpo humano (Pediculus humanus corporis).
Entretanto, outros artrópodes hematófagos como carrapatos já mostraram ser
potenciais vetores desse agente aumentando as possibilidades de transmissão (64,
68, 69). Essa espécie foi identificada como o agente da febre quintana, também
conhecida como febre das trincheiras, pelo microbiologista brasileiro Enrique da
Rocha Lima quando investigava o tifo para o governo alemão durante a Primeira
Guerra Mundial (70). O agente causou grandes epidemias infectando mais de um
milhão de soldados durante a Primeira Guerra Mundial (71). A doença reemergiu na
Segunda Guerra Mundial e, no final do século passado, foi descrita em moradores
de rua e em alcoólatras crônicos. É caracterizada pelo aparecimento de uma febre
súbita, acompanhada por uma bacteremia intraeritrocitária. Tipicamente, tem cinco
dias de duração (por isso do nome quintana). Esse quadro, quando não tratado, é
cíclico e pode ter recorrência de 3 a 5 vezes por ano, sempre intercalando com
períodos assintomáticos (72).
A B. quintana também pode causar angiomatose bacilar: lesões
angioproliferativas nas formas papulosas, tumorais ou nodulares, podendo ser
únicas ou múltiplas, localizadas ou difusas. Essas bactérias são encontradas em
estreita associação com a proliferação de células endoteliais, sendo mais comum
em imunodeficientes, como já citado, mas atingindo também indivíduos
imunocompetentes (73, 74). Esses microrganismos também podem causar
bacteremia crônica, além de ser mais comumente associada à endocardite cultura
negativa, que se caracteriza pela inflamação do endocárdio sem etiologia definida e
29
em que não há identificação do agente mesmo após a inoculação de pelo menos
três amostras de sangue independentes em hemocultura com incubação de cinco
dias além de subcultura (56, 70, 75, 76).
A B. henselae foi assim denominada em homenagem à microbiologista
Diane Hensel que contribuiu para o seu isolamento. Primeiramente, o agente foi
nomeado como Rochalimaea henselae, após análises de sequenciamento genético
foi classificada no gênero Bartonella (77).
Os gatos são o reservatório primário sendo considerados os principais
responsáveis pela transmissão aos humanos (78). Essa espécie é o agente
causador da DAG, cuja transmissão é associada a arranhaduras de gatos
infectados. As pulgas (Ctenocephalides felis) de gatos infectados possuem em suas
fezes uma alta carga bacteriana. Possivelmente ao se coçarem os gatos transferem
essas fezes com bartonelas para as garras, e no momento da arranhadura essas
bactérias são inoculadas e podem entrar acidentalmente na corrente sanguínea do
indivíduo. Dependendo da bacteremia, da profundidade da arranhadura e da
condição imunológica, o indivíduo pode, ou não, desenvolver a doença (79). Porém,
entre os gatos, esse microrganismo é transmitido por pulgas e sua ocorrência não se
dá sem a presença dos ectoparasitas, mesmo que se arranhem. Os cães, embora
em menores taxas, também podem ser reservatórios do patógeno (72).
A B. henselae é a espécie mais frequentemente associada a doenças
humanas e está presente em todo mundo (65, 72, 74). Geralmente, após três
semanas da infecção, há o aparecimento de linfonodomegalia unilateral no linfonodo
mais próximo da região do arranhão. Essa doença é uma causa comum de
linfonodomegalia em crianças, que também pode apresentar dor de cabeça, febre ou
esplenomegalia. A DAG é uma doença autolimitada, portanto o tratamento com
antibióticos é questionável (80). Em alguns casos, pode ocorrer manifestações
oculares como uveítes, síndrome de Parinaud, neurorretinite, iridociclite, entre outas,
e também manifestações como osteomielite, glomerulonefrite e encefalopatia (81).
A B. henselae também pode provocar outras manifestações sendo as
mais descritas: a angiomatose bacilar; a peliose bacilar, que é caracterizada também
por lesões angioproliferativas associadas à formação de cistos no fígado, no baço ou
na medula óssea (74, 82, 83); e a febre de origem indeterminada (FOI), que se
30
caracteriza por febre recorrente de pelo menos 38,3°C persistente por mais de três
semanas (47, 84).
Outra manifestação potencialmente fatal causada pelas bartonelas,
especialmente pela B. henselae e a B. quintana, são as endocardites que
apresentam cultura negativa. Essas bactérias são responsáveis por
aproximadamente 30% dos casos (85).
Além das manifestações clássicas já citadas, essas bactérias podem
provocar várias manifestações clínicas, desde uma bacteremia assintomática,
passando por sintomas comuns como: febre, dores de cabeça e mal-estar. Na sua
forma crônica pode apresentar manifestações cutâneas como eritema nodoso,
exantema maculopapular, entre outros tipos (86, 87).
As bartonelas são conhecidas por causar proliferação endotelial e por ser
capazes de induzir sinalizações vaso proliferativas de maneira análoga à
angiogêneses de tumores malignos (88). Esses agentes regulam os genes
mitogênicos, pró-inflamatórios e suprimem a apoptose das células endoteliais
originando várias manifestações cutâneas e extracutâneas (83, 89).
A Figura 1 mostra diversas manifestações cutâneas provocadas, ou
agravadas, pela infecção por Bartonella sp.. Esse espectro de sintomas torna a
suspeita da infecção algo desafiador.
Figura 1. Dermatoses relacionadas à infecção por Bartonella spp..
Imagens: arquivos da Dermatologia da Unicamp
31
1.3.3. Desafios diagnósticos
O diagnóstico de Bartonella spp. é um desafio a ser superado.
Dificilmente essas bactérias crescem nas culturas bacteriológicas das rotinas
hospitalares. As bartonelas são bactérias fastidiosas, elas podem demorar até 42
dias para apresentar crescimento. Além disso, elas requerem condições nutricionais
com enriquecimento de sangue, condições específicas como saturação de gás
carbônico e sua temperatura ótima de crescimento é 35ºC para maioria de suas
espécies. Mesmo oferecendo todas essas condições específicas, ainda sim, o seu
isolamento e cultivo são raros. Isso dificulta sua “visibilidade”, o que também
influencia na negligência da doença (78, 90, 91).
O uso de testes sorológicos para diagnóstico de Bartonella spp. é
comumente feito. Há kits comerciais para Imunofluorescência Indireta (IFI) e Elisa
(enzyme linked immunosorbent assay) (66, 67, 92). Entretanto, esses métodos
imunológicos apresentam várias limitações como a reação cruzada entre as
espécies de bartonelas e diversos outros patógenos, elevando assim, o número de
falsos-positivos.
Já os resultados falsos-negativos também são frequentes, uma vez que
os antígenos de kits comerciais são restritos a poucas espécies e, muitas vezes, são
sensíveis apenas às cepas regionais. Portanto, o uso de testes sorológicos não é
um bom método diagnóstico para ser utilizado isoladamente (48, 49).
A histologia é um método de diagnóstico mais tardio que só é usado
quando a infecção já comprometeu o tecido como acontece na DAG, angiomatose
bacilar, verruga peruana e peliose hepática. Embora seja um método de diagnóstico
limitado à área da lesão, é bom para diferenciar as lesões teciduais de outras
doenças (93-96).
A melhor técnica, até o momento, que evita reações cruzadas com outros
patógenos, é rápido e traz a possibilidade de identificação de espécies é a análise
molecular pela PCR, embora haja algumas limitações no uso dessa técnica. Por se
tratar de um gênero de bactéria que causa bacteremia cíclica, pode ocorrer que no
momento da coleta de sangue, não haja uma quantidade mínima de DNA detectável
pela PCR. Devido a isso, é recomendável que também seja realizada culturas de
32
enriquecimento a partir de sangue para que haja a multiplicação desses patógenos e
assim uma maior chance de obtenção da quantidade suficiente de DNA para a
detecção (97, 98).
Até então não há um consenso científico de quais primers e quais
condições são melhores para alcançar maior sensibilidade da técnica. A PCR nested
(PCR de dupla amplificação) e a PCR em tempo real (PCR Real Time) são técnicas
mais sensíveis e capazes de aumentar a detecção do agente (66, 90, 99, 100). A
desvantagem dos métodos moleculares é que a detecção do DNA do agente não
determina que haja uma infecção ativa. Além disso, a característica cíclica e o baixo
nível bacteriêmico faz com que o número de falsos-negativos seja significativo e,
portanto, o uso combinado de várias técnicas moleculares se faz necessário (101,
102).
1.3.4. Risco potencial de bartonelose durante terapias
imunossupressoras
A gravidade da infecção por Bartonella sp. correlaciona-se com o estado
imunológico do paciente. Além dos pacientes soropositivos para HIV, já mencionado
por apresentarem com maior frequência as manifestações clínicas por esses
agentes, vários relatos reportam a incidência de Bartonella spp. em pacientes que
fazem uso de terapias imunossupressoras como os transplantados, aqueles em
tratamento de doenças autoimunes e pacientes oncológicos (54, 103-107). Esses
relatos mostram a importância do diagnóstico e do tratamento em pacientes que
fazem uso de imunobiológicos. A infecção por esses agentes pode estar sendo
subdiagnosticada na maioria dos casos (108).
1.3.5. Tratamento para bartoneloses
A infecção por Bartonella sp. em indivíduos imunocompetentes é, em
grande maioria, benigna e autolimitada. Devido a isso, o uso de terapia antibiótica é
33
questionável uma vez que não traz benefícios significativos no tempo de cura em
comparação aos pacientes que não fazem a terapia (109).
Já os pacientes que apresentam a forma sistêmica, como a endocardite,
devem ser tratados com gentamicina e doxiciclina, mas o cloranfenicol tem sido
proposto para o tratamento no caso de bacteremia causada por B. bacilliformis
(doença de Carrión). Já para a febre das trincheiras a combinação de gentamicina
com doxiciclina é sugerida como melhor escolha terapêutica (109). O uso da
rifampicina ou da estreptomicina possuem bons resultados para tratar a verruga
peruana (109). A eritromicina é o antibiótico de escolha nos casos de angiomatose
bacilar e de peliose hepática e deve ser administrado por no mínimo dois meses
(85).
Embora estes sejam os tratamentos mais utilizados, até o momento não
há estudos sistemáticos que avaliem de forma sólida quais são as melhores terapias
para cada caso de bartonelose. O que se encontra na literatura são relatos de casos
e estudos baseados em pequenos grupos de pacientes. Além disso, não há estudos
que provem que essas terapias garantem a eliminação total dessas bactérias do
organismo (80).
1.3.6. Caso índice
Homem branco, 49 anos, peão de rodeio, natural e procedente de
Piracicaba (22° 43′ 30″ S, 47° 38′ 56″ W), foi internado em agosto de 2010 no
Hospital de Clínicas da Universidade Estadual de Campinas (HC-Unicamp)
apresentando lesões cutâneas pápulo-nodulares pelo corpo e edema dos membros
inferiores, acompanhados de linfonodomegalias cervicais, axilares e inguinais havia
seis meses.
Referia sudorese noturna, sem febre aferida. Havia sido encaminhado ao
ambulatório de Hepatites Virais da Infectologia do HC-Unicamp com PCR positiva
para o vírus B com 298.917 UI/mL de DNA (5,48 log). Apresentava sorologias não
reagentes para anti HBc e HBe. Trazia exame anátomo-patológico hepático com
discreto infiltrado linfocitário portal com ausência de hepatite lobular. Havia tomado
lamivudina por 14 meses interrompendo o tratamento por conta própria dois anos
antes. Evoluiu com oscilação de transaminases, plaquetopenia, esplenomegalia e
edema de membros inferiores.
34
Além da hepatite B crônica, o paciente referia etilismo anterior ao
diagnóstico da hepatite e negava outras doenças ou uso de medicamentos.
No exame físico o fígado foi palpável a 3 cm e o baço percutível e
palpável a 2 cm do rebordo costal. Apresentava linfonodos de 1-2 cm de diâmetro
nas cadeias mencionadas e nas cadeias submandibular e mentoniana, não
coalescidos. No exame dermatológico foram observadas lesões eritêmato-
nodulares, algumas hipercrômicas, outras com ulceração central, nos glúteos e face
posterior das coxas. Além disso, apresentava manchas hipercrômicas residuais pelo
corpo, madarose e infiltração de lóbulos das orelhas. Os nervos cubitais e poplíteos
estavam espessados e havia hipoestesia térmica e tátil em botas e luvas.
Apresentava edema dos membros inferiores +/4+ e, na face plantar da base do
hálux esquerdo, hiperqueratose com ulceração central de 0,5 cm de diâmetro.
O diagnóstico de hanseníase virchowiana foi confirmado por baciloscopia
de linfa e exame anátomo-patológico de fragmento cutâneo, o qual evidenciou a
presença de dermo-hipodermite crônica, rica em macrófagos espumosos e contendo
numerosos bacilos álcool-ácidos resistentes (BAAR) à coloração de Ziehl-Neelsen,
com acometimento de feixes nervosos.
A linfonodomegalia febril foi considerada manifestação de reação
hansênica subentrante acompanhada de eritema nodoso necrotizante. Com 4.085
UI/mL de DNA do vírus B, optou-se por conduta expectante para a hepatite B,
esquema multibacilar para tratar a hanseníase e o uso de prednisona 30mg/d e
albendazol profilático para a reação tipo 2, além de vitamina D, carbonato de cálcio e
omeprazol.
Para a triagem de possíveis desencadeadores reacionais e da
linfonodomegalia febril crônica foram solicitadas avaliação odontológica, sorologias
para paracoccidioidomicose, brucelose, sífilis, toxoplasmose, mononucleose, aids e
hepatite C, teste tuberculínico e RX do hálux esquerdo. Não havia atividade de
nenhuma destas doenças, pois, embora a sorologia para hepatite C tenha sido
positiva, a pesquisa do RNA viral por PCR foi negativa. O teste tuberculínico
também foi negativo. Dos demais exames o paciente apresentava plaquetopenia de
cerca de 100.000 células/mm3 de sangue que se manteve no seguimento.
35
Houve piora do quadro reacional e da ulceração do pé esquerdo. A
prednisona foi aumentada para 80mg/d e prescrita talidomida 100mg/d. O paciente
teve piora intensa do edema de membros inferiores e a talidomida foi suspensa e
contraindicada por considerar-se a hipótese de farmacodermia. Foi prescrito
difosfato de cloroquina 250mg/d na tentativa de controlar as reações, sem sucesso,
e houve instalação de lesão plantar direita simétrica. Foram indicadas órteses
plantares.
Como houve elevação para 9.270 UI/mL de DNA do vírus, foi iniciado o
uso de tenofovir 300mg/d. Foi iniciada também amitriptilina 25mg/d e a prednisona
aumentada para 100mg/d. O paciente passou a apresentar artrite de cotovelo e
joelho direitos. Foi internado para realização de exames e reintrodução de talidomida
que o paciente tolerou com melhora clínica, sendo possível reduzir a prednisona
para 60mg/d. A hemoglobina que era 13 no início do tratamento havia reduzido
lentamente para 10g/dL e a dapsona foi trocada por ofloxacina 400mg/d com
melhora da anemia.
No ecocardiograma apresentou derrame laminar e não foram vistas
vegetações.
Chegou a tomar 20mg/d de prednisona e 200mg/d de talidomida, mas
manteve edema de membros inferiores e o mal perfurante plantar esquerdo.
Um exame anátomo-patológico cutâneo feito após um ano de tratamento
multibacilar apresentava agregados de macrófagos xantomatosos na derme
superficial e profunda. Não foram observados esboços de granulomas ou vasculite.
A pesquisa de bacilos ácido-álcool resistentes (BAAR) foi negativa. Mesmo assim o
tratamento com rifampicina, clofazimina e ofloxacina foi mantido. O paciente, por
vezes, apresentava agudização da parestesia dos membros inferiores ou
agravamento do edema de mãos e pés. Também, o controle com monofilamentos
para avaliação da sensibilidade mostrava oscilação, motivando a elevação da
prednisona em várias ocasiões.
Com 22 doses da multidrogaterapia, o paciente fez novo exame anátomo-
patológico que mostrou dermo-hipodermite crônica, perivascular e perineural, com
macrófagos espumosos, plasmócitos, comprometimento de filetes nervosos, com
pesquisa de BAAR negativa à coloração de Ziehl-Neelsen modificada.
36
O paciente completou 24 doses do tratamento para hanseníase. Sete
meses depois, com PCR para hepatite B inferior a 20 UI/mL, foi submetido a
colicistectomia e o fígado foi então biopsiado. O exame anátomo-patológico da
vesícula biliar evidenciou macrófagos xantomatosos subepiteliais e o exame do
fígado apresentou cirrose com formação de pseudonódulos regenerativos com
moderado infiltrado linfocitário septal. Como na endoscopia digestiva alta
apresentava varizes esofágicas de fino calibre o paciente foi classificado como Child
A.
Um ano após o término do tratamento da hanseníase o paciente
apresentou hematúria (16 hemácias por campo) com dismorfismo eritrocitário. O
tratamento para hepatite B foi substituído por entecavir 1mg/d que foi reduzido
posteriormente para 0,5mg/d. A hematúria foi transitória e não houve alteração da
função renal.
Durante todo tempo, foi necessário manter o uso de drogas para reações
subentrantes: prednisona que ao final do tratamento da hanseníase estava em dose
baixa (5mg/d) e foi suspensa, mantendo apenas talidomida. As lesões de mal
perfurante plantar também foram constantes, porém oscilavam de localização na
dependência da órtese fornecida e do seu uso, sempre irregular. Os tornozelos
foram se deformando ao longo dos meses e se instalaram pés de Charcot. Apesar
do uso da talidomida, em muitos retornos referia ter apresentado ou apresentava ao
exame físico nódulos eritematosos pelo corpo.
A queixa de parestesia em botas e luvas oscilava a despeito do aumento
do corticoide ou uso de amitriptilina ou carbamazepina.
Trinta e três meses após o término do tratamento para hanseníase o
paciente apresentou lesões bolhosas sobre base eritematosa, sem nodulação
clínica, nos membros inferiores. Uma das lesões foi submetida a biópsia e o exame
histopatológico evidenciou dermo-hipodermite crônica inespecífica perivascular, com
edema da derme alta, bolha subepidérmica ulcerada e em reepitelização, com
pústula, depósito intersticial de fibrina e numerosas células xantomatosas. Foram
observados, às colorações especiais pelo método de Ziehl-Neelsen, numerosos
BAAR íntegros, distribuídos irregularmente, por vezes formando globias, inclusive na
parede de vasos, além de bacilos fragmentados no interior de macrófagos (poeira de
37
Marchoux). No retorno o paciente referia cerca de dois episódios mensais de lesões
bolhosas semelhantes à biopsiada, com duração de dois a três dias e melhora
espontânea. Com a hipótese clínica de resistência do Mycobacterium leprae, dado o
pequeno intervalo para recorrência da doença denunciada pela presença das
globias, nova biopsia foi feita do lóbulo da orelha para envio de fragmento para
pesquisa de genes de resistência. O tratamento foi reiniciado com rifampicina,
clofazimina e ofloxacina. No exame anátomo-patológico do fragmento cutâneo
biopsiado não foram observados bacilos íntegros e apenas achados compatíveis
com poeira de Marchoux. Não foi possível encaminhar o material coletado para
pesquisa de resistência na instituição de referência que se localizava em outra
cidade e o fragmento cutâneo foi submetido à pesquisa de bartonela, uma vez que
estes agentes podem causar infecção assintomática, o paciente referia contato
frequente com animais e carrapatos e por manter reação hansênica do tipo 2
subentrante. O DNA foi extraído da amostra cutânea com kit da Qiagen A pesquisa
de DNA para Bartonella spp. da cultura líquida de enriquecimento foi positiva na
PCR convencional para a região ITS e para o gene ssrA. Houve homologia de 100%
com a espécie Bartonella henselae (acesso ao GenBank BX 897699.1) dos dois
amplificados. Foi solicitada a pesquisa molecular de bartonela no sangue do
paciente já em tratamento para a hanseníase que foi negativa. Foi prescrita
doxiciclina 200mg/d por via oral, mas o paciente não fez uso por apresentar diarreia.
Seis meses depois do reinício do tratamento para a hanseníase, o paciente foi
internado para antibioterapia intravenosa com gentamicina 80mg a cada 8h e
amoxacilina+clavulanato 1g a cada 8h por 15 dias. Durante a internação foram
realizadas tomografias de tórax e abdômen que não evidenciaram
linfonodomegalias. Na alta foi prescrita azitromicina 250mg/d que o paciente usou
até completar seis semanas. Já no primeiro retorno referia ter deixado de apresentar
lesões cutâneas eritêmato-edematosas. A talidomida foi diminuída para 100 mg em
dias alternados e posteriormente suspensa. Nesta época houve melhora do edema
dos membros inferiores e cicatrização das úlceras plantares.
Completados seis semanas do tratamento para bartonelose, o paciente
interrompeu o uso de azitromicina por intolerância gástrica.
Nova biópsia do lóbulo de orelha foi feita com dez meses do novo
tratamento para hanseníase e foram observados vários agregados de células
38
xantomatosas na derme, porém não foram encontrados BAAR nem poeira bacilar
(Fite Faraco). A PCR para vírus B não detectou DNA viral. O tratamento multibacilar
foi concluído.
Trinta e seis meses depois de terminado o tratamento o paciente
apresenta-se sem reações hansênicas e sem sinais de recidivas. O paciente
mantem-se apenas com medicações para parestesia sequelar e a droga antiviral
para a hepatite.
1.4. Justificativa
Entre os principais fatores capazes de ativar as reações hansênicas em
pacientes multibacilares estão as coinfecções. Nada se sabe a respeito da
prevalência de Bartonella spp. em pacientes que apresentam reações hansênicas
subentrantes de difícil controle. Considerando-se que esses agentes também podem
causar infecções assintomáticas e que essa condição poderia estar associada ao
gatilho imunológico que propicia essas reações hansênicas, como sugere o caso
relatado. Este estudo potencialmente contribuirá para o desenvolvimento de ações
que possam auxiliar na diminuição das reações, minimizando as chances de
ocorrência de incapacidades físicas, caso haja alta prevalência de infecção por
Bartonella spp. nesses pacientes.
2. Objetivos
2.1. Geral
Avaliar a prevalência de infecção por Bartonella spp. por meio de métodos
microbiológicos e moleculares, em pacientes que têm ou tiveram hanseníase
multibacilar que estejam fazendo tratamento por apresentarem reações hansênicas
subentrantes de difícil controle a mais de seis meses.
2.2. Específicos
39
1. Avaliar a prevalência de infecção por Bartonella spp. a partir de amostras
sanguíneas por meio da combinação de métodos microbiológicos e moleculares.
2. Avaliar a presença de DNA de Bartonella spp. em fragmentos cutâneos
parafinados de biópsias, do grupo de pacientes em estudo, que tenham sido
feitas no Hospital de Clínicas da Unicamp.
3. Comparar a relação dos resultados obtidos das análises microbiológicas e
moleculares com as respostas dadas no questionário de fatores de risco para
bartoneloses.
3. Metodologia
3.1. População do estudo
Foram estudados 20 pacientes maiores que 18 anos, de ambos os sexos,
que apresentavam reações hansênicas subentrantes do tipo 2, de difícil tratamento,
há mais de seis meses e que aceitaram participar voluntariamente do estudo.
3.2. Local
Todos os pacientes do estudo faziam tratamento no Ambulatório de
Dermatologia do Hospital de Clínicas da Unicamp, na cidade de Campinas-SP. No
protocolo deste serviço, todos os pacientes que apresentam reações subentrantes
têm os fatores desencadeantes investigados. Entre eles estão: gestação, estresse
físico ou mental, drogas (anticoncepcionais, iodeto de potássico, anticonvulsivantes),
infestações e coinfecções. Além disso, todos os pacientes sob essas condições são
requeridos: avaliação odontológica, investigação de sinusite crônica, teste
tuberculínico (PPD) se ainda não tiver feito, exames protoparasitológicos, sorologias
para hepatites e HIV e uranálise, no caso de mulheres assintomáticas.
40
3.3. Fatores de risco para infecção por bartonelas (questionário)
Todos os pacientes do estudo responderam um questionário para a
triagem de fatores de risco para infecção por Bartonella spp. O questionário fornece
informações sobre fatores demográficos (faixa etária, estado civil, local de habitação
etc), contato com animais domésticos, de criação e silvestres, além de acidentes
como mordida e arranhaduras por estes animais e a exposição à artrópodes
hematófagos (Apêndice 2).
3.4. Métodos
Coleta do sangue
A triagem dos pacientes e a coleta do sangue foi feita durante o
acompanhamento médico de rotina no Ambulatório de Dermatologia do Hospital de
Clínicas da Unicamp no período entre 2015 a 2017. De cada participante foi coletado
de forma asséptica um volume de cerca de 8mL de sangue em tubo seco e um
volume de cerca de 8mL de sangue em um tubo contendo EDTA.
Tecido parafinado
Foram levantados blocos de biópsias cutâneas dos pacientes, que
tivessem sido realizadas no serviço para diagnóstico da doença ou durante o seu
seguimento.
Processamento do sangue
O tubo contendo sangue com o EDTA foi congelado a -20°C para a lise
das hemácias. O conteúdo do tubo seco foi centrifugado a 3500 rpm por 15 minutos
para a separação do soro e do pellet, após este processo estas amostras também
foram armazenadas a -20°C.
Cultura líquida
Para o crescimento das bartonelas em cultura líquida foi confeccionado
um novo meio líquido específico modificado a partir do meio descrito por Maggi et al.
41
(97). O meio líquido modificado utilizado foi composto por: 900ml do meio IPL-41
(insect medium), 0,1mg de NAD (nicotinamida adenina dinucleótido), 1,25mg de
NADP (nicotinamida adenina dinucleótido fosfato), 2mg de ATP (adenosina
trifosfato) e 2mg de piruvato, todos da marca da marca Sigma-Aldrich e 2g extrato
de levedura da marca Fluka®.
Após o período de congelamento, 2mL do sangue total (coletado em
tubo seco) foi inoculado em 8mL de meio líquido modificado. As culturas foram
mantidas em agitação constante em estufa a 35°C com 5% de CO2 por 14 dias.
Cultura sólida
Após os 14 dias de incubação da cultura líquida, 1mL da suspensão desta
cultura foi semeada em meio sólido preparado da seguinte forma: 6g de BDTM
Bordet Gengou Agar em 117mL de água destilada e 1.167mL de glicerol. Após
autoclavagem e resfriamento até 50ºC, foram adicionados 50 mL de sangue de
carneiro e aliquotado em frascos para cultura celular com tampa com filtro (110). Os
tubos de cultura foram mantidos a 35°C com 5% de CO2, em atmosfera saturada de
água, por até 42 dias. As avaliações para a verificação do crescimento foram
realizadas semanalmente. Ao observar crescimento característico da bactéria
estudada, colônias foram coletadas e analisadas pela coloração de Gram. Quando a
morfologia era sugestiva do gênero (bactérias gram-negativas pequenas e
delicadas), o material foi coletado para posterior análise molecular.
Controle das culturas
Como medida de garantia da esterilidade dos meios de cultura e dos
ambientes aos quais as culturas foram submetidas, foram acrescentados controles
negativos. Estes controles foram mantidos por todo o processo (incubação, extração
e análises moleculares) junto com as demais amostras e consistiam de meios de
cultura sem inóculo.
Todo esse processo de cultivo de Bartonella spp. foi realizado em cabine
de biossegurança de classe B2, afim de prevenir a possibilidade de contaminações e
propiciar a proteção a executor e aos demais profissionais do laboratório.
42
Extração do DNA
A extração de DNA foi realizada com o kit comercial QIAamp DNA Mini Kit
(Qiagen®), de acordo com as recomendações do fabricante. Foram extraídas a
amostra de sangue total, cultura líquida (do sangue total e do pellet), colônias
sugestivas da cultura sólida (subcultura da cultura líquida de enriquecimento) e
tecido desparafinado.
Os fragmentos de pele biopsiados foram desparafinados de acordo com o
protocolo “Agilent Oligonucleotide Array-Based CGH for Genomic DNA Analysis (for
FFPE Samples)” (111).
Amplificação do DNA
Todas as amostras extraídas foram testadas com PCR para amplificação
de um gene constitutivo. A região gênica escolhida foi um fragmento da GAPDH
(gliceraldeído-3-fosfato desidrogenase), uma enzima relacionada com a glicólise e
expressa por todas as células de mamíferos. Esta reação tem como objetivo a
verificação da qualidade do DNA extraído, além da certificação da inexistência de
inibidores de amplificação (112).
O DNA extraído a partir do sangue total, da cultura líquida do sangue, da
cultura líquida do pellet, dos isolados em cultura sólida e dos tecidos parafinados foi
testado por PCR para a presença de DNA de Bartonella spp.. Foram utilizados três
tipos de PCR: a PCR convencional, a PCR de dupla amplificação (nested) e a PCR
em tempo real.
Em todas as reações foram adicionados dois controles: o branco (apenas
os reagentes de cada reação; ao invés do DNA, foi colocada o mesmo volume de
água utilizada na preparação da reação) e um controle positivo (DNA extraído de
cepa de B. henselae). Além destes controles, a cada reação foram testadas para
diferentes concentrações de B. henselae, de modo a determinar a sensibilidade e o
limite de detecção de cada reação.
43
Para a PCR convencional, foram utilizados primers para o gênero
Bartonella direcionados para a região espaçadora intergênica (ITS) 16S-23S do
rRNA (113).
Para a PCR nested foram utilizados primers para a região alvo que
codifica a proteína FtsZ envolvida na divisão celular da bactéria. Estes primers são
espécie-específicos para B. henselae (114).
Para a PCR em tempo real foram utilizados primers para amplificação da
região que codifica a proteína citrato sintase (gltA) no sistema SYBR® Green
específico para B. henselae. A amplificação foi detectada por fluorescência do SYBR
Green I com emissão a 522 nm (115).
Todos os produtos das PCR foram analisados por eletroforese em gel de
agarose a 2% corado com GelRed® e visualizado sob luz ultravioleta. Os amplicons
obtidos foram sequenciados para identificação as espécies. A Figura 2 ajuda na
visualização dos procedimentos realizados.
44
Figura 2. Fluxograma dos procedimentos para a detecção de Bartonella sp.
Sequenciamento
Os produtos amplificados de boa qualidade foram enviados para o
sequenciamento no laboratório comercial Helixxa Bases for Life em Paulínia-SP. Os
resultados do sequenciamento foram analisados com auxílio do software Chromas
versão 2.6.4 e comparados com banco de dados do GenBank® utilizando a
ferramenta BLAST do National Center for Biotechnology Information (NCBI). Para a
45
comparação foram excluídos a sequência dos primers e a região inicial da leitura a
qual possui muitos ruídos.
Análise do questionário de fatores de risco para bartoneloses
Foi realizada análise exploratória de dados por meio de medidas resumo
(média, desvio padrão, mínimo, mediana, máximo, frequência e porcentagem). A
comparação da idade entre os grupos positivo e negativo foi realizada pelo teste de
Mann-Whitney. A associação entre as variáveis foi avaliada através do teste exato
de Fisher. O nível de significância adotado foi de 5%.
3.5. Aspectos éticos
Trata-se de uma pesquisa em que foi necessária a coleta de sangue de
pacientes voluntários. Todos os participantes foram informados sobre as fases da
pesquisa e assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido (Apêndice 1.),
com a garantia de que suas identidades foram mantidas em sigilo. O projeto foi
aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Unicamp (CAAE:
44670015.4.0000.5404) (Anexo 1.).
4. Resultados
As sensibilidades obtidas pelas diversas PCR realizadas foram de: 50
cópias de DNA para a PCR convencional, 10 cópias de DNA na PCR de dupla
amplificação (nested) e 10 cópias de DNA na PCR em tempo real conforme mostra o
Quadro 5.
46
Quadro 5. Resultados da sensibilidade de detecção de cada PCR realizada
PCR Região Sensibilidade
PCR controle de qualidade GAPDH Não se aplica
PCR convencional ITS do gene 16S-23S rRNA
gênero Bartonella 50 cópias
PCR nested
FtsZ envolvida na divisão
celular
de B. henselae
10 cópias
PCR em tempo real (SYBR ®Green)
Gene citrato sintase (gltA)
de B. henselae 10 cópias
Dos 20 pacientes analisados que tinham ou haviam tido hanseníase
multibacilar e apresentam reações hansênicas subentrantes de difícil controle oito
eram mulheres (40%) e doze homens (60%). Deste grupo, três mulheres
apresentaram positividade para B. henselae (37,5% das mulheres analisadas),
enquanto que seis homens apresentaram o mesmo (50% dos homens analisados).
Assim, não houve diferenças significativas entre as proporções de positividade por
gênero. A faixa etária dos pacientes analisados variou de 18 anos a 62 anos, com a
mediana de 37,5 anos e média de 39,1 anos. Entre os nove pacientes positivos,
cinco pacientes apresentavam a forma clínica DV e quatro eram V.
Dos 20 pacientes analisados, 12 tinham amostras de tecido parafinado
disponíveis para análise. Quatro pacientes (33,3%) apresentaram positividade neste
tipo de amostra, e destes, três pacientes também apresentaram PCR positiva em
amostras de sangue. Um paciente apresentou positividade apenas na amostra de
tecido parafinado usando a técnica de PCR em tempo real, conforme mostrado na
Quadro 6.
47
Quadro 6. Resultados da positividade de infecção por Bartonella sp. em amostras
de tecido parafinado
Paciente
positivo
Início do
tratamento
por MDT
Tecido
parafinado
(mg)
Tecido
parafinado
(mg)
Tecido
parafinado
(mg)
Tecido
parafinado
(mg)
Positividade em
tecido parafinado
Resultado
final da
positividade
2 Agosto 2012
Bloco A.1 (25,1 mg) Coletado
em agosto de 2012
Bloco A.2 (24 mg)
Coletado em
agosto de 2012
Bloco A.3 (19,9 mg) Coletado
em agosto de
2012
-
Nested positivo no Bloco A.2
Tecido parafinado
e sangue
3 Julho 2010
Bloco A (25,1 mg) Coletado
em abril de 2012
Bloco B (15,7 mg) Coletado em 2013
Bloco C (19,7mg) Coletado em 2014
-
Nested positivo no
Bloco A
Tecido parafinado e sangue
11 Dezembro
2012
Bloco A.1 (16,5 mg) Coletado
em dezembro de 2012
Bloco A.2 (6,5 mg) Coletado
em dezembro
2012
-
-
PCR em tempo real positivo no Bloco A.1
Só tecido parafinado
12 Janeiro 2005
Bloco A (22,1 mg) Coletado
em 2010
Bloco B (24,4mg) Coletado em 2012
Bloco C (25,3 mg) Coletado em 2015
Bloco D
(25,2 mg) Coletado
em 2016
Nested positivo no
Bloco B
Tecido parafinado e sangue
ABCD: diferentes amostras de tecido; 123: diferentes fragmentos de um mesmo tecido
Dezesseis amostras foram positivas, das quais 12 foram sequenciadas.
Dos nove pacientes positivos, apenas um deles não foi possível sequenciar. Os
demais apresentaram similaridade de 99% a 100% para B. henselae. O número de
acesso correspondente ao GenBank® encontrado para a região gltA foi KT945243.1
(Houston- EUA) e para a região ftsZ foi HG965802.1 (Genótipo Marseille, França).
Não houve similaridade para outra espécie de Bartonella.
Nove dos 20 pacientes analisados (45%) tiveram DNA de B. henselae
detectado. Destes, 6 pacientes (67%) foram positivos em mais de um tipo de
amostra. Apenas um paciente apresentou positividade em sangue total, como pode-
se observar no Quadro 7.
De acordo com as respostas dadas no questionário de risco para
infecções por Bartonella spp., não houve nenhuma diferença significativa entre os
48
pacientes positivos e negativos para bartonelas. Os principais fatores de risco
podem ser observados nas tabelas 1, 2 e 3.
Quadro 7. Resultados das amostras positivas dos pacientes
NT= Não testado, RT= Real Time PCR, CL= Cultura líquida e CS= Cultura sólida
Tabela 1. Contato com animais
Resposta Pacientes negativos
Pacientes positivos
Sim 8 5
Não 3 4
p-valor= 0.6424
49
Tabela 2. Mordidas/arranhões no passado
Resposta Pacientes negativos
Pacientes positivos
Sim 6 3
Não 5 6
p-valor = 0.4059
Tabela 3. Picada de artrópodes no passado
Resposta Pacientes negativos
Pacientes positivos
Sim 7 3
Não 4 6
p-valor = 0.3698
5. Discussão
As reações hansênicas são as principais responsáveis pelas
incapacidades físicas e deformidades que há tantos milênios estigmatizam os
pacientes com hanseníase (24). O reconhecimento dessas reações, o tratamento de
forma adequada e precoce, juntamente com o conhecimento de seus principais
desencadeadores, são essenciais para a prevenção desses quadros clínicos.
Estas reações, por não serem fenômenos infecciosos-contagiosos, não
são notificadas. Devido a isso, a epidemiologia e os dados, assim como a
temporalidade destas reações, estão limitados aos estudos científicos que muitas
vezes têm caráter regional. Por esse motivo, o estudo das reações hansênicas
subentrante ainda é muito incipiente.
50
Na literatura é notável que a classificação temporal dos surtos das
reações do tipo 2 é rara e muitas vezes não há uma homogeneidade nos termos
usados entre os trabalhos. Em inglês o termo recurrent é bastante usado, mas não
deixa implícito o intervalo de tempo entre as recorrências reacionais, uma vez que
as reações podem ser recorrentes e não necessariamente subsequentes. O termo
mais correto para descrever os casos de reações de difícil controle na língua inglesa
é chronic. Esta falta de padronização faz com que os dados epidemiológicos desse
tipo de reação sejam difíceis de estimar (31, 32).
Há um consenso que em toda reação hansênica de difícil tratamento e
naquelas que apresentam recorrência, deve-se investigar a coexistência de fatores
desencadeantes como as infecções, inclusive subclínicas (infecções orais comuns
como a cárie) (41).
Embora ainda muito negligenciadas dentre as doenças infecciosas
humanas (as bartoneloses não estão na lista de doenças negligenciadas da OMS),
as pesquisas sobre as bartonelas vêm mostrando sua importância na clínica médica
e veterinária (57, 116).
A bartonelose, assim como a hanseníase, é uma doença que tende a
atingir com maior frequência a população com baixo poder econômico, uma vez que
este grupo está mais sujeito ao contato com ectoparasitas e reservatórios altamente
bacterêmicos como cães e gatos abandonados -ou que vivem soltos-, sobretudo
filhotes, os quais são, muitas vezes, os responsáveis pela transmissão da DAG
(117).
Este é o primeiro estudo investigativo que utiliza diferentes métodos
moleculares e microbiológicos para detectar infecção por Bartonella sp. em
pacientes que apresentam reações hansênicas. As bartonelas têm capacidade de
causar infecção crônica subclínica. A característica fastidiosa das bartonelas não
permite que elas cresçam em meios de cultura usados na rotina dos hospitais, além
disso, a falta de conhecimento de muitos profissionais da saúde sobre esses
agentes também contribui para ausência de suspeição.
A falta de um teste diagnóstico padrão ouro é um limitante para o
diagnóstico desses agentes. A baixa bacteremia tem sua consequência nas análises
moleculares, pois a baixa quantidade de DNA das amostras culmina num processo
51
estocástico durante a aplicação destas no mix da PCR conforme mostra a Figura 3
(44). Esse é um dos motivos que falsos-negativos são frequentes para esses
microrganismos, por isso se faz necessário a combinação de várias técnicas
moleculares e microbiológicas. Observa-se a baixa prevalência nos trabalhos que
usam apenas amostras de sangue total para a análise por PCR (Quadro 8).
Figura 3. Representação gráfica da variação da quantidade de DNA em múltiplas
aplicações de amostras de DNA nas reações de PCR. Fonte: Drummond (2018)
O uso de amostras de biópsias parafinadas para análises moleculares é
discutido na literatura (118). O processamento de parafinização e desparafinação
dessas amostras podem resultar na degradação do DNA aumentando as chances
de um resultado falso-negativo. Os falsos-positivos também são possíveis, uma vez
que há o aumento de número de etapas de processamento para a extração do DNA
neste tipo tecido. Além disso, a própria obtenção da amostra que inclui a incisão do
tecido, inclusão desse no bloco de parafina e seus cortes requerem várias etapas.
Portanto, boas práticas de laboratório e o uso de controles são essenciais para
garantir a confiabilidade dos resultados (118). Apesar deste dilema envolvendo o
uso de biópsias parafinada para análises moleculares, esta técnica mostrou ser uma
alternativa para o diagnóstico da infecção por bartonelas. O caráter fastidioso e a
baixa concentração destes agentes em amostras de sangue limitam a taxa de
detecção (como o observado no Quadro 8), já o uso de tecido fresco aumenta a
quantidade de DNA desses patógenos o que reflete na maior taxa de detecção por
técnicas moleculares.
52
Quadro 8. Levantamento nas bases de dados do Scholar Google,
Pubmed e Scopus dos artigos publicados nos últimos 10 anos, com “PCR” e
“Bartonella” no título e resumo
País
Nº de
pacientes/
População
estudada
PCR positiva
(amostra)
Manifestações
clínicas Referência
EUA
192
Pacientes com
exposição a
animais
46 (23,9%) Bartonella spp.
(sangue, soro e cultura líquida)
Fadiga, insônia,
dor nas
articulações e
dor muscular
Maggi et al.
2011 (114)
EUA
296
Pacientes
reumatológicos
40 (13,5%) B. henselae
54 (18,2%) B. koehlerae
10 (3,4%) B. vinsonii subsp. berkhoffii
(sangue, soro e cultura líquida)
Artralgia/artrite,
Fadiga crônica e
fibromialgia
Maggi et al.
2012 (115)
Brasil
56
Voluntários
sadios
1 (1,8%) Bartonella spp.
(sangue) Assintomático
Corrêa et al.
2012 (116)
França
106
Pacientes com
endocardite
48/52 (92,0%) Bartonella spp.
(valvas cardíacas)
20/60 (33,0%) Bartonella spp.
(sangue)
25/70 (36,0%) Bartonella spp.
(soro)
Endocardite Edouard et al.
2014 (117)
Brasil
500
Doadores de
sangue
6/500 (1,2%) B. henselae
(cultura sólida)
16/500 (3,2%)B. clarridgeia e B.
henselae
(cultura líquida)
Assintomático Pitassi et al.
2015(44)
Peru
42
Doadores de
sangue
1 (2,4%) B. bacilliformis
(sangue)
Assintomático Pons et al.
2016 (118)
Espanha
89
Veterinários
saudáveis
2 (2,25%) B. henselae
3 (3,37%) B. vinsonii subsp. berkhoffii
2 (2,25%) B. quintana
(sangue e cultura líquida)
Assintomático Oteo et al.
2017 (119)
53
França
83
Pacientes com
DAG
28 (33,73%) Bartonella spp.
(aspirado de linfonodo) DAG
Hobson et al.
2017 (120)
África do
Sul
74
Pacientes
7 (9,5%) Bartonella spp.
(sangue) Febre
Simpson et al.
2018 (121)
França 1762
Pacientes
438 (24,8%)
B. henselae
(biópsia linfonodo)
Suspeita de
linfoadenite
infecciosa
Prudent et al.
2018 (122)
Japão 63
Pacientes
5 (7,9%)
B. henselae
(sangue)
DAG Yanagihara et
al. 2018 (123)
Índia 140
Pacientes
3 (2,14%)
Bartonella spp.
(sangue)
Febre e
linfoadenopatia
Chaudhry et
al. 2018 (124)
Neste trabalho quatro pacientes entre os 12 (33,3%) que possuíam tecido
parafinado para análise apresentam positividade para B. henselae. Um dentre estes
pacientes apresentou positividade em apenas este tipo de amostra, revelando um
resultado potencialmente falso-positivo dessa amostra ou falso-negativo dos demais
testes (Quadro 7). A concordância dos outros três casos evidencia que o uso de
tecido, mesmo os parafinados, diminuem as chances de falsos-negativos nas
análises moleculares e que o tecido parafinado pode ser uma ferramenta em
potencial para o diagnóstico de Bartonella sp. mesmo para estudos retroativos.
O presente trabalho mostrou uma alta prevalência de pacientes que
apresentaram isolados de B. henselae nas subculturas sólidas (Tabela 4). Três dos
isolados foram obtidos de culturas de sangue total e um de culturas de pellet de
sangue. Se forem comparados os isolados obtidos no sangue total dos 20 pacientes
com reações com os seis isolados do projeto que analisou a prevalência de
Bartonella spp. em 500 doadores de sangue usando os mesmos métodos
moleculares neste tipo de amostra, encontra-se uma diferença significativa entre as
populações estudadas (p= 0,000003). Esta diferença estatística reforça a hipótese
de que há uma alta prevalência de bacteremia por bartonelas em pacientes que
54
apresentam reações hansênicas de difícil controle, todos em uso crônico de doses
altas de corticoides.
Tabela 4. Comparação dos isolados obtidos no sangue total
Projetos Indivíduos com isolados
% indivíduos isolados
Hemodoadores (n=500) Pitassi et. al 2015(44)
6 1,2 %
Pacientes com Reações subentrantes (n=20)
3 15%
p= 0,000003
Além dos fatores de risco associados à população em questão, o uso de
corticoides e drogas anti-TNF por longo prazo potencializam as chances do risco de
infecções por bartonelas. Esse fato é evidenciado em vários relatos de casos que
associam a infecção por Bartonella sp. com o uso de imunossupressores (53-55).
Como se trata de um tipo específico de reação hansênica, isso faz com
que esse grupo de pacientes seja considerado raro, principalmente localidade do
estudo. Desta forma, o número de pacientes pode ser considerado pequeno, mas é
reflexo da especificidade das condições buscadas uma vez que só foram incluídos
na pesquisa pacientes que sofrem reações do tipo 2 subentrantes de difícil controle
há pelo menos seis meses. Embora exista esse limitante numérico, pode-se sugerir,
frente aos dados da literatura, que há uma prevalência significante de B. henselae
nesses pacientes que apresentam reações hansênicas subentrantes de difícil
controle, uma vez que, além do estudo com os hemodoadores de Campinas,
existem poucos trabalhos que utilizam investigações moleculares em humanos
(Quadro 8). Para a realização do levantamento mostrado neste quadro, buscou-se
nas bases de dados do Scholar Google, Pubmed e Scopus os artigos publicados
nos últimos 10 anos (entre 2008 e julho de 2018) com “PCR” e “Bartonella” no título
e resumo. Foram excluídos os trabalhos que não foram realizados com humanos e
com menos de 30 indivíduos.
55
Os pacientes deste estudo que apresentaram positividade para
Bartonella sp. foram avisados e convidados para receber o tratamento. Dois deles
perderam o seguimento no ambulatório antes do convite. Um paciente não aceitou
receber o tratamento completo para bartonelose, por apresentar efeitos colaterais
gastrointestinais com o início do tratamento via oral. Seis dos nove positivos
aceitaram o tratamento para Bartonella sp.. Entre eles um paciente foi a óbito por
causa desconhecida antes de terminar o tratamento e outro durante o tratamento
mudou-se para outro Estado e também perdeu seguimento. Portanto, foi possível
fazer o acompanhamento de quatro pacientes.
Dos que receberam o tratamento para bartonelose somente um paciente
manteve-se sem alteração do quadro. Entretanto, este paciente negou-se ser
internado para o tratamento com gentamicina via intravenosa (IV) por 14 dias e fez o
tratamento alternativo via oral (VO) com ciprofloxacina e claritromicina (500mg de 12
em 12h) durante seis semanas.
Os três pacientes restantes aceitaram a internação para o tratamento com
gentamicina (IV) por 14 dias e doxiciclina (VO) durante seis semanas. Todos
apresentaram melhora do quadro clínico. Um paciente deixou de ser talidomida
dependente, uma vez que havia apresentava neuropatia pela talidomida, e teve
redução da dosagem de corticoides de cerca de 80 mg/d para 30mg/d e os outros
dois pararam de apresentar reações hansênicas conforme mostrado no Quadro 9.
56
Quadro 9. Dados do tratamento para Bartonella spp. e a evolução clínica dos
pacientes
Pacientes
acompanhados
Tratamento usado para
bartonelose Evolução clínica
2 Gentamicina (IV) por 14 dias +
Doxiciclina (VO) por 6 semanas
Deixou de ser talidomida dependente.
Reduziu o uso de corticosteroide de até 80mg/dia para aproximadamente
30mg
3 Ciprofloxacina+Claritromicina
(VO) por 6 semanas Não houve melhora clínica
12 Gentamicina (IV) por 14 dias+
Doxiciclina (VO) por 6 meses
Parou de apresentar reações
20
Gentamicina (IV) + Azitromicina (VO) por 14 dias
+ Doxiciclina (VO) por 6 semanas
Parou de apresentar reações
IV: Intravenosa; VO: Via oral
Entre os positivos para Bartonella sp. o paciente 2 do Quadro 9 estava em
retratamento para hanseníase durante a realização do projeto.
O número de pacientes acompanhados após o tratamento para
bartonelose é pequeno, mas demostrou melhora do quadro na maioria dos casos.
Tendo em vista isso, a infecção por Bartonella sp. pode ser um dos fatores
desencadeantes da resposta imunológica que ativa as reações. Outras infecções
como a sinusite, infecções urinárias, tuberculose já haviam sido afastadas por
medidas protocolares do serviço que atendem as triagens sugeridas pelo Ministério
da Saúde, acrescida do teste tuberculínico (39).
O monitoramento adequado dos pacientes que sofrem reações
hansênicas é essencial para prevenir as sequelas causadas por esses surtos e
outros agravos decorrentes do uso crônico de imunossupressores como infecções
oportunistas, diabetes, problemas renais, cardíacos entre outros.
Supõe-se que todos os pacientes que fazem uso crônico de
medicamentos imunossupressores deveriam ser questionados sobre a exposição a
gatos, artrópodes hematófagos, especialmente pulgas e carrapatos, e, sempre que
57
possível, deveriam ser aconselhados a evitar brincadeiras agressivas que expõe o
indivíduo a arranhões de gatos, especialmente daqueles que tenham menos de um
ano, já que esses possuem maior carga bacterêmica. Transplantados hepáticos nos
Estados Unidos são desaconselhados a terem gatos (106).
Os resultados das análises do questionário de fatores de risco para
infecção por Bartonella sp. não apresentou nenhuma diferença estatística entre as
respostas dadas pelos pacientes positivos e negativos para essa infecção. Talvez o
número de entrevistados não foi suficiente para observar essa diferença e,
possivelmente, por ser uma doença ligada à pobreza, todos os pacientes tenham
alta exposição a ectoparasitas. Sabe-se que o contato com animais, acidentes como
arranhaduras e mordidas, assim como, picadas por artrópodes são fatores de riscos
para bartoneloses (119).
Deve-se ressaltar que resultados negativos não descartam a possibilidade
de infecção. Por se tratar de um agente fastidioso que causa bacteremia cíclica, às
vezes se faz necessário novas coletas de sangue e combinação de várias técnicas
para o diagnóstico. A real prevalência, portanto, pode ser ainda maior do que aquela
observada neste estudo.
6. Conclusão
Este trabalho mostra uma significativa prevalência de infecção por B.
henselae em pacientes que têm ou tiveram hanseníase multibacilar e apresentam
reações hansênicas do tipo 2 subentrantes de difícil controle.
Documentou-se que é possível usar fragmento de tecido parafinado
guardados há pelo menos cinco anos como alternativa para diagnóstico molecular
de Bartonella spp..
Dados do questionário de fatores de risco para infecção por Bartonella
spp. não apontaram nenhuma diferença significativa entre as respostas dos
pacientes positivos e dos negativos.
58
Sugere-se que as infecções por Bartonella spp. devam ser incluídas na
lista de infecções a serem investigadas em pacientes que apresentam reações
hansênicas, principalmente as subentrantes de difícil controle.
59
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69
8. Apêndices
Apêndice 1 - Termo de consentimento livre e esclarecido
Bacteremia por Bartonella spp. em pacientes que têm, ou tiveram, hanseníase multibacilar e apresentam reações hansênicas subentrantes de difícil controle
Prof. Dr. Paulo Eduardo Neves Ferreira Velho
Você está sendo convidado a participar como voluntário de uma pesquisa. Este documento, chamado Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, visa assegurar seus direitos como participante e é elaborado em duas vias, uma que deverá ficar com você e outra com o pesquisador. Por favor, leia com atenção e calma, aproveitando para esclarecer suas dúvidas. Se houver perguntas antes ou mesmo depois de assiná-lo, você poderá esclarecê-las com o pesquisador. Se preferir, pode levar este Termo para casa e consultar seus familiares ou outras pessoas antes de decidir participar. Se você não quiser participar ou retirar sua autorização, a qualquer momento, não haverá nenhum tipo de penalização ou prejuízo. Justificativa e objetivos: O objetivo desta pesquisa é avaliar a presença de bactérias chamadas bartonelas no sangue de pacientes portadores de reações hansênicas de difícil controle. Procedimentos: Participando do estudo você está sendo convidado a:
- Responder a um questionário com duração de aproximadamente 10 minutos.
- Doar aproximadamente 15 mL de sangue (aproximadamente dois tubos de coleta) uma única vez.
Estes procedimentos serão realizados apenas uma vez e no mesmo dia e horário do atendimento ambulatorial previamente agendado. Desconfortos e riscos: Só poderão participar desta pesquisa pacientes com mais de 18 anos, que tenham reações frequentes por causa da hanseníase e não respondam prontamente aos tratamentos usuais.
A participação na pesquisa limita-se a responder a um questionário e a doar um pouco de sangue. Não existe o risco de adquirir a infecção por bartonela com este procedimento. Como em qualquer coleta de sangue para exames, uma veia será puncionada para a coleta, procedimento que oferece riscos muito baixos, como irritação ou inflamação local. Benefícios:
70
Caso a bactéria seja encontrada no seu sangue, você será comunicado e tratado. Isto poderá ajudar no controle das reações. Acompanhamento e assistência: Você receberá resposta para qualquer pergunta ou dúvida relacionadas à pesquisa e poderá deixá-la em qualquer momento, se for da sua vontade, sem que isto interfira no seu atendimento no Hospital das Clínicas da UNICAMP.
Caso a infecção para estas bactérias seja detectada, você será comunicado(a) e poderá, se quiser, ser acompanhado(a) neste serviço. Sigilo e privacidade: Você tem a garantia de que sua identidade será mantida em sigilo e nenhuma informação será dada a outras pessoas que não façam parte da equipe de pesquisadores. Na divulgação dos resultados desse estudo, seu nome não será citado.
O resultado do teste desta pesquisa ficará arquivado e fará parte de seu prontuário médico. Ressarcimento:
Não haverá retribuição financeira por esta participação uma vez que a pesquisa ocorrerá no momento do seu comparecimento ao Ambulatório da Dermatologia. Armazenamento de material:
As amostras poderão ficar armazenadas, por um período de 05 (cinco) anos, podendo ser novamente testadas por outros métodos diagnósticos, para esta mesma bactéria, durante este período. Isso porque ao longo dos anos poderá surgir um método melhor para detectar esta bactéria.
Caso uma nova pesquisa venha a ser realizada com o material armazenado, ela será submetida para aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP).
( ) concordo em participar do presente estudo, porém NÃO AUTORIZO o armazenamento do meu material biológico, devendo o mesmo ser descartado ao final desta pesquisa.
( ) concordo em participar do presente estudo e AUTORIZO o armazenamento do meu material biológico, sendo necessário meu consentimento a cada nova pesquisa, que deverá ser aprovada pelo CEP institucional e, se for o caso, pela CONEP.
( ) concordo em participar do presente estudo e AUTORIZO o armazenamento do meu material biológico, e desde já deixo meu consentimento para pesquisas que atendam ao objetivo acima, que deverá ser aprovada pelo CEP institucional e, se for o caso, pela CONEP.
Em caso de falecimento ou condição incapacitante, os direitos sobre o
material armazenado deverão ser dados a:__________________________________________. Contato:
Em caso de dúvidas sobre o estudo, você poderá entrar em contato com o pesquisador Dr. Paulo Eduardo Neves Ferreira Velho no Ambulatório de Dermatologia, localizado no 3º andar do Hospital das Clínicas da Unicamp (Rua Vital
71
Brasil, 251 - Cidade Universitária "Zeferino Vaz", Campinas – SP, CEP 13083-888), pelo telefone (19) 3521-9132 ou por e-mail [email protected].
Em caso de denúncias ou reclamações sobre sua participação e sobre questões éticas do estudo, você pode entrar em contato com a secretaria do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Unicamp das 08:30hs às 13:30hs e das 13:00hs as 17:00hs na Rua: Tessália Vieira de Camargo, 126; CEP 13083-887 Campinas – SP; telefone (19) 3521-8936; fax (19) 3521-7187; e-mail: [email protected]. Consentimento livre e esclarecido:
Após ter recebido esclarecimentos sobre a natureza da pesquisa, seus objetivos, métodos, benefícios previstos, potenciais riscos e o incômodo que esta possa acarretar, aceito participar:
Nome do(a) participante:
___________________________________________________________________
__
RG______________________________, HC____________________________
endereço
___________________________________________________________________
_, número _________, no _______________________, de
_____________________, estado de _____, CEP _______________,
fone ____________________________.
_______________________________________________ Data: ____/_____/______ Assinatura Responsabilidade do Pesquisador:
Asseguro ter cumprido as exigências da resolução 466/2012 CNS/MS e complementares na elaboração do protocolo e na obtenção deste Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Asseguro, também, ter explicado e fornecido uma via deste documento ao participante. Informo que o estudo foi aprovado pelo CEP perante o qual o projeto foi apresentado. Comprometo-me a utilizar o material e os dados obtidos nesta pesquisa exclusivamente para as finalidades previstas neste documento ou conforme o consentimento dado pelo participante.
_________________________________________ Data: ____/_____/______
Paulo Eduardo Neves Ferreira Velho
72
Apêndice 2 - Questionário: Fatores de risco para infecção por Bartonella spp.
Data: ___________________ Local da Coleta:___________________
1-Informação demográfica:
Nome:
___________________________________________________________________
___
Idade: ______________ Estado Civil:________________ Sexo: ( )Masculino
( )Feminino
Telefone:____________________________________________________________
__
Ocupação(ões):
___________________________________________________________________
___
2- Fatores associados:
Vive em qual zona? ( ) urbana ( ) rural
Mora onde? ( ) cidade ( ) sitio/chácara?
2.1-Contato com animais:
Você tem tido contato com animais mesmo que ocasional? ( ) Sim ( )
Não
Em caso afirmativo, preencher as tabelas com os códigos abaixo:
Contato: Dir: direto Ind: indireto (convive, mas não toca ou cuida)
Número: Número de animais com os quais tem contato
Frequência:
1 = diariamente
2 = uma vez por semana
3 = uma vez por mês
4 = uma vez por ano
5 = se nunca teve contato
73
Tempo de contato:
A. Menos 1 ano B. De 1 a 5 anos C. De 6 a 10 anos D. Mais 10 anos
2.1.1 Animais de Estimação Número Contato Frequência Tempo
Cachorro (s)
Gato (s)
Pássaro (s)
Rato (s)
Coelho (s)
Outros:
2.1.2 Animais de Criação Número Contato Frequência Tempo
Equinos (Cavalos)
Bovinos
Caprinos (Cabras e Bodes)
Aves (Galinhas, Codorna,
Peru)
Suínos
Ovinos (Carneiros e
Ovelhas)
Outros:
2.1.3 Animais silvestres Número Contato Frequência Tempo
Capivaras
Tatu
Tamanduá
Outros:
74
2.2-Mordedura ou arranhadura de animais:
Você tem sido mordido ou arranhado por animais? ( ) Sim ( ) Não
Em caso afirmativo, preencher a tabela com os códigos já citados acima:
2.2.1 Animais Frequência Tempo
Cachorro (s)
Gato (s)
Pássaro (s)
Cavalo (s)
Rato (s)
Coelho (s)
Animal silvestre
Outros:
2.2.2-Você foi mordido ou arranhado por animal (is) no passado? ( ) Sim
( ) Não
Em caso afirmativo, preencher a tabela com os códigos já citados acima:
Animal (is) Frequência Tempo Há quanto tempo deixou de ser
mordido/arranhado?
2.3-Exposição a “insetos”:
Você tem sido picado por ”insetos”? ( ) Sim ( ) Não
Em caso afirmativo, preencher a tabela com os códigos já citados acima:
2.3.1 Exposição a “insetos” Frequência Tempo
Pulgas
Carrapatos
Moscas/ Mosquitos
Piolhos
75
Percevejos
Barbeiro
Outros:
2.3.2- Você foi picado por “insetos” no passado? ( ) Sim ( ) Não
Em caso afirmativo, preencher a tabela com os códigos já citados acima:
Inseto (s) Frequência Tempo Há quanto tempo deixou de
ser picado?
2.4-Você já recebeu transfusão de sangue? ( ) Sim ( ) Não
Quantas vezes? ____________________ Há quanto
tempo?____________________________________
Qual foi o motivo da(s) transfusão (ões)?___________________________________________________
2.5-Você já fez doação de sangue antes? ( ) Sim ( ) Não
Se sim, quantas vezes? _____ uma vez _____ 2-5 x _____ 6-10x _____ mais de 10x
Qual Hemocentro? _______________________________________
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9. Anexos
Anexo 1 – Parecer Consubstanciado do Comitê de Ética em Pesquisa da Unicamp
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78
79
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81
Anexo 2 – Artigo submetido e aceito para publicação na JDDG: Journal der
Deutschen Dermatologischen Gesellschaft
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84
Anexo 3 – Trabalho submetido para o 54ª Congresso da Sociedade Brasileira de
Medicina Tropical- Medtrop 2018