113
i UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE EDUCAÇÃO DISSERTAÇÃO DE MESTRADO A NATAÇÃO, O CEGO E O DEFICIENTE VISUAL: A INCLUSÃO E SUAS IMPLICAÇÕES NO DESPORTO DE RENDIMENTO LUIZ MARCELO RIBEIRO DA LUZ CAMPINAS 2003

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

  • Upload
    dodat

  • View
    226

  • Download
    5

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

i

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE EDUCAÇÃO

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

A NATAÇÃO, O CEGO E O DEFICIENTE VISUAL: A INCLUSÃO E SUAS IMPLICAÇÕES NO DESPORTO

DE RENDIMENTO

LUIZ MARCELO RIBEIRO DA LUZ

CAMPINAS 2003

Page 2: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

ii

© by Luiz Marcelo Ribeiro da Luz, 2003.

Catalogação na Publicação elaborada pela biblioteca da Faculdade de Educação/UNICAMP

Bibliotecário: Gildenir Carolino Santos - CRB-8ª/5447

Luz, Luiz Marcelo Ribeiro da. L979n A natação, o cego e o deficiente visual : a inclusão e suas implicações no desporto de rendimento / Luiz Marcelo Ribeiro da Luz. -- Campinas, SP: [s.n.], 2003. Orientador : Maria Teresa Eglér Mantoan. Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação.

1. Inclusão social. 2. Natação. 3. Deficientes visuais. 4. Cegueira. 5. Educação física para deficientes. I. Mantoan, Maria Tereza Eglér. II. Universidade Estadual de Campinas. Faculdade de Educação. III. Título.

03-028-BFE

Page 3: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

iii

Dedico este trabalho ao amor:

De meus pais Roberval (in memorian) e Maria Antonia, de minha esposa Guchenka e de meus filhos Larissa e João Vitor.

Page 4: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

iv

Agradecimentos

Dirijo meu grato reconhecimento a todas as pessoas e instituições que

colaboraram para a realização deste estudo e, de modo especial, agradeço:

À Profa. Dra. Maria Teresa Eglér Mantoan, pela inestimável orientação e

sugestões dadas ao trabalho durante seu desenvolvimento e pelo exemplo de

dedicação e competência.

Ao Prof. Dr. Carlos Alberto Vidal França e a Profa. Dra. Elisabeth de Mattos,

pelas valiosas sugestões fornecidas no Exame de Qualificação, mas sobretudo, pela

forma generosa e humana com que me trataram.

Ao Prof. Sérgio Goldenberg e sua esposa Jurema Neves Goldenberg, pela

prontidão com que me auxiliaram no processo de ingresso no programa de

Mestrado.

Ao Prof. Dr. Luis Enrique Aguilar, Coordenador da Pós-Graduação da

Faculdade de Educação – UNICAMP, pelo apoio e esclarecimentos nos momentos

de incertezas.

Aos professores do Mestrado em Educação, pela oportunidade de discussão e

sugestões sempre valiosas.

Aos funcionários da Pós-Graduação da Faculdade de Educação – Unicamp

por manterem-me sempre informado quanto aos procedimentos técnicos e pela

disposição em esclarecer minhas dúvidas.

Page 5: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

v

Aos Profs. Mauricio Aníbal Delgado e Mari Gandara pela amizade e apoio,

contribuindo para realização deste estudo.

À Profa. Dra. Maria Helena Pereira Dias, pela revisão de português e pelas

conversas, possibilitando-me grande crescimento pessoal e profissional.

À Diretoria da Associação Atlética Banco do Brasil, pelo incentivo e liberação

para a participação no programa de mestrado.

Aos meus alunos da Associação Atlética Banco do Brasil, por serem

compreensivos e entenderem a necessidade de meus constantes afastamentos.

Aos amigos Davi Farias Costa e Benedito Franco Leal Filho, presidente e vice-

presidente da ABDC, por respeitarem e acreditarem em meu trabalho.

Aos atletas, técnicos e dirigentes que participaram desta pesquisa, pela

prontidão em auxiliar.

A meu sogro Luiz Fernando e minha sogra Vera Lucia, pela doação,

dedicação e afeto demonstrados no cuidado com meus filhos e minha esposa,

preenchendo e amenizando a saudade e a distância impostas pela realização deste

estudo.

À Profa. Celina Aparecida Turrini, pelo companheirismo e incentivo.

À Tereza Pinho por ser mãe, amiga e companheira de piscina.

À Maico, pela amizade e afeto demonstrados e por me substituir em aulas,

projetos e outras atribuições.

Page 6: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

vi

Aos irmãos de vida Anderson e Leonardo.

A todos os familiares e amigos, encorajadores de meus projetos profissionais.

À Deus, por conduzir estas pessoas ao meu encontro e pelo fortalecimento de

minha alma e espírito.

Page 7: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

vii

RESUMO

Na perspectiva de uma sociedade inclusiva, o presente estudo investiga a

modalidade de desporto de rendimento natação para atletas cegos e deficientes

visuais. Verificamos as implicações e inovações que o processo inclusivo oferece ao

rendimento desses atletas em competições de nível nacional e internacional. Foram

entrevistados dirigentes, técnicos e atletas cegos e com deficiência visual brasileiros

e estrangeiros, na Paraolimpíada de Sidney/Austrália, em 2000. A investigação

mostrou que o treinamento em situação de inclusão favorece o rendimento desses

atletas. Paralelamente constatamos que os dirigentes, em geral, demonstram ainda

resistência quanto à unificação desse esporte; os técnicos se dividem com relação à

mesma questão e os atletas sofrem a pressão da política segregadora vigente no

desporto adaptado.

Page 8: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

viii

ABSTRACT

This study focuses on swimming as a performance sport for blind and visually

impaired athletes, from the perspective of an inclusive society. We have investigated

the implications and innovations that the inclusive process offers to these athletes in

national and international competitions. Brazilian and foreign team officials, coaches,

and blind and visually impaired athletes were interviewed in 2000 during the

Sydney/Australia Paralympic Games. The research has shown that training in an

inclusive environment favors performance. We have also found that, in general,

officials still show resistance to the unification of this sport; coaches have divided

opinions about this matter, and athletes suffer the consequences of the segregation

policy that is in effect today in adapted sports.

Page 9: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

ix

ÍNDICE

Páginas DEDICATÓRIA..................................................................................... iv AGRADECIMENTOS ........................................................................... v RESUMO.............................................................................................. viii ABSTRACT............................................................................................ ix LISTA DE TABELAS ............................................................................ xi LISTA DE FIGURAS ............................................................................ xiii LISTA DE GRÁFICOS.......................................................................... xiv INTRODUÇÃO ..................................................................................... 01 CAPÍTULO I ......................................................................................... 06 Caminhos da Inclusão ....................................................................... 06 1. - Sociedade e inclusão ..................................................................... 06

1.1 - Educação, inclusão e suas interfaces com a Educação Fí- sica ........................................................................................ 11

CAPÍTULO II ........................................................................................ 28 Inclusão e o desporto de rendimento............................................... 28 CAPÍTULO III ....................................................................................... 43 Desporto Inclusivo: A natação como uma possibilidade ............... 43 1. Os dados.......................................................................................... 43

1.1 - Jogos Regionais....................................................................... 48 1.1.1. Regulamento Geral dos Jogos Regionais de 2000 ................ 50 1.2 - Jogos Abertos do Interior ......................................................... 51 1.3 - Jogos Brasileiros para cegos e deficientes visuais .................. 55 1.4 - Jogos Paraolímpicos................................................................ 60

2. Análise dos dados ............................................................................. 71 CONCLUSÂO........................................................................................ 87 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................... 93

Page 10: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

x

LISTA DE TABELAS

Páginas

Tabela 1 - Pesquisa Bibliográfica – Nuteses ....................................... 24

Tabela 2 - 44º Jogos Regionais - Participação dos atletas com defici-

ência na modalidade Natação .......................................... 50

Tabela 3 - 44º Jogos Regionais - Atletas com cegueira e com defici-

ência visual/entrevistados........................................................... 51

Tabela 4 - 64º Jogos Abertos do Interior - Participação dos atletas

com deficiência na modalidade Natação ............................. 55

Tabela 5 - 64º Jogos Abertos do Interior - Atletas com cegueira e de-

ficiência visual/entrevistados ............................................... 55

Tabela 6 - Entidades e atletas cegos e com deficiência visual partici-

pantes dos 1º Jogos Brasileiros........................................... 60

Tabela 7 - Evolução da participação de países e atletas nos Jogos

Paraolímpicos...................................................................... 62

Tabela 8 - Medalhas conquistadas em Paraolimpíadas ...................... 64

Tabela 9 - Países detentores do maior número de medalhas na clas-

sificação geral dos desportos - Sidney/2000 ....................... 66

Tabela 10 - Países com maior número de atletas com deficiência -

Sidney/2000......................................................................... 66

Page 11: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

xi

Tabela 11 - Índices classificatórios para provas de Natação – Paraolimpíadas

Sidney/2000....................................................................... 68

Tabela 12 - Número de provas oferecidas a atletas cegos e deficientes

visuais em eventos específicos e convencionais .............. 70

Tabela 13 - Participação dos atletas cegos e deficientes visuais nas Paraolim-

píadas de Sidney/2000 modalidade Natação .................. 70

Page 12: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

xii

LISTA DE FIGURAS

Páginas

Figura 1 - Modalidades de desportos para cegos e deficientes visuais

presentes na temporada de 2002......................................... 58

Page 13: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

xiii

LISTA DE GRÁFICOS

Páginas

Gráfico 1 - Modalidades de desportos para cegos e deficientes visuais... 59

Page 14: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

xiv

"Tudo é loucura ou sonho no começo. Nada do que o homem fez no mundo teve início de outra maneira – mas já tantos sonhos se realizaram que não temos o direito de duvidar de nenhum".

Monteiro Lobato. Mundo da Lua, 1923.

Page 15: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

1

INTRODUÇÃO

Estudar o desporto de rendimento de pessoas com cegueira e deficiência

visual, baseado na perspectiva de uma sociedade inclusiva, pode parecer

contraditório, se avaliado de forma superficial.

No entanto, estes dois universos – inclusão e desporto – estão intimamente

interligados e isso é evidenciado quando retiramos o olhar daquele que está no lugar

mais alto do podium e, de forma efêmera, recebe os louros por sua vitória e

eficiência, e abrimos a lente (e também nossas mentes) para focarmos todos os

sujeitos e as interfaces que propiciam um dos maiores espetáculos da modernidade

que é o desporto de competição ou rendimento.

Pretendemos, ao longo deste trabalho, refletir sobre o papel da inclusão no

desenvolvimento do desporto de rendimento para pessoas cegas e com deficiência

visual, mas, também, compreender e identificar os significados na escolha desses

atores, quando da sua participação em eventos esportivos regulares e segregados.

Buscamos, ainda, relacionar tal opção ou posição à realidade das leis e

políticas que fomentam, organizam e propiciam a prática esportiva a esta parcela da

população.

Por aceitar que as diferenças podem conviver em harmonia e que essa

convivência pode trazer benefícios para todos os envolvidos é que sugerimos um

estudo que venha demonstrar as reais possibilidades de um desporto de rendimento

o qual busca atender a todos aqueles que desejam atingir objetivos competitivos,

independentemente de sua condição de visão.

A partir do pressuposto teórico de sociedade inclusiva, que norteia a relação

entre os membros constituintes dessa sociedade, é que propomos este trabalho a

fim de verificar como a inclusão interfere no desporto de rendimento de atletas cegos

e deficientes visuais, na modalidade natação.

Para buscar respostas a esses questionamentos foram propostos neste

trabalho os seguintes objetivos:

Page 16: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

2

• Verificar se os atletas cegos e com deficiência visual, medalhistas de

ouro dos países que participaram da Paraolimpíada, são treinados

dentro de uma perspectiva inclusivista ou segregadora;

• Verificar se a escolha pelo modelo inclusivista tem interferência em

sua performance, refletindo-se em suas conquistas desportivas;

• Detectar se o volume de treinamento é compatível com as

necessidades do desporto de rendimento;

• Analisar o impacto do processo de inclusão, que vem sendo realizado

na modalidade, junto aos atletas, técnicos e dirigentes brasileiros.

• Contribuir com a sistematização da temática para futuras e/ou

possíveis políticas de desenvolvimento desportivo que tenham como

foco primordial o desporto para pessoas com cegueira e deficiência

visual no Brasil.

O interesse pelo assunto proposto decorre da experiência do autor como

profissional de Educação Física, que atua há quatorze anos como professor e

técnico de natação convencional para pessoas videntes e, há doze, com natação

para cegos e deficientes visuais, trabalho esse que sempre foi desenvolvido (mesmo

que de forma inconsciente) na busca pelo direito de igualdade, a partir da ótica da

inclusão.

Por ter esse envolvimento com o desporto convencional e o segregado, as

desigualdades de oportunidades dos atletas cegos e deficientes visuais, constatadas

ao longo dos anos, o inquietavam, pois acreditava ser possível transformar essa

realidade à medida que um universo se interligasse ao outro.

Essa angústia e o desejo de propor algo que pudesse colaborar para

mudanças positivas na situação, estandardizada por inúmeros fatores que a

influenciavam, levaram-no a realizar inúmeras experiências e tentativas de inclusão

dos nadadores cegos e deficientes visuais, em ambientes regulares propícios ao

treinamento adequado e participações em competições.

Page 17: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

3

Felizmente, as experiências realizadas foram coroadas de sucesso e

recebidas com ótima aceitação, tanto pelos nadadores cegos e deficientes visuais,

como, e principalmente, pelos nadadores videntes.

Esse mesmo envolvimento e o trabalho com o desporto de cegos e

deficientes visuais propiciaram o convite para assumir a coordenação da Modalidade

Natação na Associação Brasileira de Desportos para Cegos1 (ABDC), entidade

nacional que tem por objetivo regulamentar e fomentar a prática desportiva de

pessoas com cegueira e visão reduzida. Sendo assim, ao assumir esse cargo, o

autor deparou-se com a possibilidade de desenvolver projetos e políticas ligados à

inclusão e à prática esportiva da natação.

A necessidade de compreender como vem sendo realizado o contato, bem

como o aprendizado e desenvolvimento dos cegos e deficientes visuais junto à

modalidade natação, conduziu-o a também tentar identificar maneiras e formas de

se massificar a natação para a população de pessoas com cegueira e deficiência

visual.

A população de deficientes, segundo dados do Censo Demográfico 2000,

divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), atinge, no

Brasil, 14,5 % da população, ou 24,5 milhões de pessoas. Os números são

assustadores se comparados com o do último Censo, realizado em 1991, que

identificou apenas 2% da população com alguma deficiência.

Por sua vez, a deficiência visual representa 48,15% da população de pessoas

com alguma deficiência. Essa é a mais numerosa categoria2 de deficientes no Brasil,

segundo o Censo, sendo que, entre 16,5 milhões de pessoas com deficiência visual,

159.824 são incapazes de enxergar.

Esses números tornam-se impressionantes, pois o número de cegos

praticantes da natação como modalidade de competição no Brasil não passa de 60

atletas.3

1 Única entidade nacional afiliada a Internacional Blind Sports Federation – IBSA. 2 Os novos índices devem-se ao conceito ampliado de deficiência utilizado neste Censo, compatível

com a Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde divulgada em 2001 pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

3 Boletins Oficiais da ABDC.

Page 18: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

4

Nossa inquietação por levar a prática esportiva da natação a um número

maior de praticantes é aumentada, primeiro porque essa é uma das poucas

modalidades esportivas a possibilitar autonomia completa ao cego em sua prática

esportiva; ou seja, não se faz necessário o auxílio de guias (pessoas videntes) e,

segundo, pelos inúmeros benefícios que as propriedades físicas da água

possibilitam no processo de habilitação e reabilitação do cego.

A natação mostra-se, ainda, como uma das modalidades esportivas mais

adequadas para se verificar o processo de inclusão do cego no esporte, pois possui

características como: regras, formas de treinamento, competições, etc., favoráveis à

inserção dessa clientela no esporte competitivo. Ao contrário de outras modalidades

esportivas, praticadas pelos cegos, essa possibilita a total independência e

autonomia de seus praticantes.

Esses fatores favoráveis, somados à nossa legislação, que prevê e garante o

direito ao acesso irrestrito a todos os cidadãos brasileiros à prática de atividades

físicas, possibilitam a este grupo – cegos e deficientes visuais – defender a prática

da natação em qualquer ambiente esportivo e com qualquer grupo de pessoas.

A autonomia do cego, bem como o ambiente das competições de natação

podem tornar a modalidade um meio altamente favorável à inclusão, uma vez que a

legislação regulamenta e sugere tal prática.

É, portanto, com a intenção de mapear e compreender a realidade da prática

esportiva relacionada a essa modalidade, no que diz respeito aos cegos e

deficientes visuais que sugerimos o tema em nosso estudo.

Quanto à organização deste estudo, no Capítulo I, procuramos determinar e

explicitar, através de seu processo histórico de desenvolvimento, quais as relações

existentes entre a inclusão e a sociedade. Tentamos, além disso, estabelecer quais

as influências desta manifestação social sobre a Educação, a Educação Física

Escolar e a Educação Física Adaptada.

No Capítulo II, faremos uma abordagem sobre o tema inclusão e desporto de

rendimento, procurando explicitar suas diversas representações e utilizações

políticas, econômicas e sociais. Trazendo destaque à forma e maneira como o

Page 19: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

5

desporto para pessoas com cegueira e deficiência visual foi e é concebido, utilizado

e desenvolvido nos espaços esportivos regulares e segregados.

Dedicamos o Capítulo III à apresentação e análise dos dados coletados,

através de entrevistas em quatro grandes eventos esportivos destinados a prática da

natação competitiva por pessoas cegas e com deficiência visual, sendo três eventos

nacionais e um, internacional. Os entrevistados foram subdivididos em quatro

grupos: atletas cegos e com deficiência visual, técnicos de atletas cegos e com

deficiência visual, técnicos de atletas com visão e dirigentes esportivos do desporto

para pessoas com deficiência. Esse capítulo é direcionado à tentativa de

interpretação dos depoimentos.

Finalmente, apresentamos, nas páginas finais deste estudo, a conclusão da

análise feita ao longo dos capítulos.

Page 20: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

6

CAPÍTULO I

CAMINHOS DA INCLUSÃO

1. Sociedade e inclusão

“ (...) para ser válida a educação deve levar em conta

o fato primordial do homem, ou seja, sua vocação ontológica,

que é tornar-se sujeito, situado no tempo e no espaço, no

sentido de que vive em sua época precisa, em um lugar

preciso, em um contexto social e cultural precisos. O homem

é um ser com raízes espaço-temporais e cabe-lhe a

transformação” ( FREIRE, 1985. p.158).

A idéia de inclusão é uma manifestação social bastante contemporânea, que

vem sendo defendida e difundida entre os mais variados setores da sociedade.

Contudo, as evidências históricas demonstram que esse fenômeno surgiu e se

desenvolveu relacionado, principalmente, à causa da defesa da pessoa com

deficiência.

Tal movimento teve início a partir da década de 80, mais precisamente em

1981, quando a Organização das Nações Unidas – ONU, realizou o Ano

Internacional das Pessoas Deficientes. A partir dessa semente o conceito de

inclusão evoluiu, durante as duas últimas décadas, à medida que reuniões e

conferências4 foram realizadas e documentos e declarações foram produzidos em

prol da defesa dos direitos das pessoas com deficiência.

4 Em função de muitos outros autores, terem estudado e publicado trabalhos com referência a produção de

documentos, não é nossa intenção nos aprofundarmos sobre o assunto. No entanto, acreditamos ser importante citar alguns que balizam nossa discussão: Programa Mundial de Ação Relativo às Pessoas com Deficiência (United Nations, 1983); Normas sobre a Equiparação de Oportunidades para Pessoas com Deficiência (Nações Unidas,1996); Declaração de Salamanca e Linha de Ação (UNESCO, 1994).

Page 21: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

7

A Assembléia Geral da ONU, ocorrida em Dezembro de 1990, é um marco

desse desenvolvimento, pois, através da Resolução Nº 45/91, que explicitou o

modelo de Sociedade Inclusiva, também denominada “Sociedade para Todos”,

determina que esta deve ser estruturada para atender às necessidades de cada

cidadão, baseando-se no princípio de que todas as pessoas têm o mesmo valor

perante a sociedade (Ferreira,1999).

A sociedade aberta às diferenças é aquela em que todos se sentem

respeitados e reconhecidos nas suas diferenças. O pluralismo respeita as diferenças

e se constitui como eixo central de um processo democrático. Saber respeitar as

diferenças talvez seja a tarefa mais difícil da sociedade contemporânea, pois a

mesma sociedade é que homogeneíza a partir da construção de modelos pré-

estabelecidos.

Sendo assim, Werneck (1997:21) afirma que “a sociedade para todos,

consciente da diversidade da raça humana, estaria estruturada para atender às

necessidades de cada cidadão, das maiorias às minorias, dos privilegiados aos

marginalizados”.

Mantoan (2001:51) destaca ainda que “não lidar com as diferenças é não

perceber a diversidade que nos cerca, nem os muitos aspectos em que somos

diferentes uns dos outros e transmitir, implícita ou explicitamente, que as diferenças

devem ser ocultadas, tratadas à parte”.

O conceito de inclusão se expande, à medida que não somente defende

grupos de pessoas com deficiência, mas também reivindica igualdade de direitos

para todos os cidadãos que, por um motivo qualquer, estejam excluídos de um

ambiente social e dos serviços oferecidos pela sociedade. Caminha, portanto, no

sentido de uma “sociedade para todos” e do reconhecimento de que a sociedade

deve ser plural e aberta às diferenças.

Muitas minorias, porém, renunciam ao principio de igualdade da lei, e de igual

acesso às funções públicas, recorrendo ao sistema de “discriminação positiva”,

também chamado de “discriminação ao inverso” por Pierucci (1999), que afirma:

Page 22: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

8

“ É a lógica da auto-representação, segundo a qual toda a diferença (sexo, etnia, língua, idade, religião) deve valer enquanto tal, sem recurso ao principio organizado de uma representação gera/ (...) seria um mundo no qual a diferença se auto-representaria e, neste auto-representar–se, contribuiria para fazer desaparecer a necessidade “moderna” de uma representação dos cidadãos concebidos como entidades genéricas e abstratas e, por conseqüência, como povo ou nação dotada de uma vontade geral” (p.114).

A discriminação positiva surge como uma perspectiva paralela à da inclusão e

se configura como uma possibilidade de atender às necessidades de grupos

minoritários, os quais se organizam e baseiam a defesa do direito de igualdade na

busca de leis e ações que atendam somente aos seus direitos e interesses, tendo

como foco único suas necessidades individuais. Objetivando, desta forma, receber

respostas, serviços e atendimentos que partam não da aceitação dos mesmos

grupos em sociedade, mas da categorização que se estabelece a partir de suas

características de classe social, crença, etnia, deficiência, etc... .

Essa maneira de agir remete, entre outras formas de discriminação, à

necessidade de se separar os diferentes em busca da “pseudo” homogeneidade,

negando que é possível ocorrer desenvolvimento (em todos os aspectos) num

ambiente rico em diversidade (Mantoan, 2001).

Pierucci(1999) cita Berger(1992) para afirmar que:

“Em síntese, nenhuma diferença pode ser verdadeiramente interpelada e eficientemente mobilizada sem contribuir para a representação de um todo que necessariamente abstrai de outras diferenças, as quais, por sua vez e em outro momento histórico, também podem vir a pretender ter o direito de se mobilizar e se autocolocar na cena política com sua incomensurável especificidade” (p.115, 116).

O objetivo de ter direitos e anseios atendidos deve partir da necessidade de

se viver em sociedade, uma vez que essa convivência deve garantir a todos

liberdade de expressão, possibilitando o direito de viver como cidadãos.

A Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem proclama:

Page 23: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

9

“(...) que todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos, e que os direitos e liberdades de cada pessoa devem ser respeitados sem qualquer distinção”.

E reafirma:

“(...) que as pessoas portadoras de deficiência têm os mesmos direitos humanos e liberdades fundamentais que outras pessoas e que estes direitos, inclusive o direito de não ser submetidas (sic) à discriminação com base na deficiência, emanam da dignidade e da igualdade que são inerentes a todo ser humano”.

O Governo Federal, através do Decreto Nº 3.956, de 8 de outubro de 2001,

onde o Presidente da República promulga a Convenção Interamericana para a

Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Pessoas Portadoras de

Deficiência, busca a consolidação da tão cultuada sociedade para todos.

Pensar no poder das minorias, pelo viés ideológico da discriminação positiva,

pode se transformar em um equívoco, pois possibilitaria à humanidade criar uma

quantidade enorme de categorias e hierarquias, com benefícios questionáveis para

todos. De fato, a discriminação positiva provoca a autodefesa de pessoas e grupos e

não avaliza o desejável, ou seja, a inclusão em uma sociedade para todos, que gera,

cria e propicia a possibilidade de todos terem os seus direitos respeitados.

Ao refletirmos sobre a questão da igualdade de oportunidades, não podemos

nos esquecer de que vivemos, mais do que nunca, em um mundo capitalista, onde a

produção, sob todos os aspectos, é valorizada e cobrada pela sociedade.

A livre concorrência apregoada em nosso tempo tende a acentuar esta

ideologia em que sobrevivem somente os “eficientes” e os dotados de grande

habilidade e conhecimento. Como, então, incluir no mundo do mercado e da

qualidade o respeito à diversidade e o conceito de diferença, nos mais diversos

âmbitos sociais?

Baker e Gaden (1992) sugerem duas posições sobre o assunto:

“(...) a primeira preconiza uma oportunidade igual e justa para todos e postula que os termos da competição para o avanço social devem ser fundamentados

Page 24: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

10

unicamente no talento do indivíduo. Assim nenhuma pessoa é colocada em desvantagem em virtude de seu sexo, raça, religião e de seus antecedentes sociais. No entanto a aplicação dessa concepção deixaria lugar a uma sociedade que apresenta desigualdades sociais, econômicas e políticas consideráveis e se preocupa unicamente em regulamentar a competição” (p.59). A segunda posição busca o direito a oportunidades iguais e igualitárias para

todos e se fundamenta em um princípio mais coerente com uma sociedade aberta às

diferenças, que busca o reconhecimento e a valorização do indivíduo através da

aceitação da diversidade humana, uma vez que tal principio supõe que:

“(...) cada pessoa deve ter a oportunidade real de desenvolver suas capacidades particulares de um modo satisfatório. É o principio a partir do qual cada um se vê reconhecido do direito de se beneficiar das fontes necessárias para o seu desenvolvimento” (p.59).

Baseados na idéia de uma sociedade plural, que respeita e valoriza as

diferenças e no direito a oportunidades iguais e igualitárias para todos, é que

podemos pensar em uma sociedade verdadeiramente inclusiva.

Devemos reconhecer as pessoas, lembrando que são seres singulares

(únicos) e ao mesmo tempo sociais. No entanto, garantir de forma contundente e

abrangente a concretização deste modelo de sociedade, que propicia oportunidades

iguais e igualitárias para todos, não é, e nem será, tarefa fácil. A busca incessante

dessa sociedade garantirá aos seres humanos serem aceitos independentemente de

suas capacidades ou realizações, dando-lhes, assim, o direito à dignidade.

Os direitos sociais e individuais das minorias não são garantidos

simplesmente pela obrigatoriedade das leis ou pela pressão desses grupos, mas

pela compreensão de que a sociedade é plural e de que a diversidade deve ser

respeitada e, sobretudo, compreendida como fonte de riqueza no processo de

construção de uma sociedade mais justa.

Portanto, nos dias atuais, é marcante a busca pela valorização e aceitação

das diferenças e da diversidade, o que faz com que o caminho para uma sociedade

inclusiva possa ser vislumbrado não mais como uma simples utopia, como alertam

Page 25: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

11

as pessoas com pensamento contrário ao modelo de sociedade para todos, mas sim

como uma possibilidade real.

Essa possibilidade vem se concretizando a cada dia e a cada ação e atitude

de respeito, solidariedade, amizade para com as pessoas que, por um motivo

qualquer, não se mostraram eficientes para os padrões de normalidade impostos.

1.1. Educação, inclusão e suas interfaces com a Educação Física

O universo escolar, dentre os muitos ambientes sociais que lutam pela

inclusão na sociedade contemporânea, tem lugar de destaque por ser um dos locais

mais efervescentes desse debate. Um retrato histórico da luta em prol das pessoas

deficientes através da inclusão escolar faz-se necessário, pois esse movimento

embasou e propiciou o debate e a reflexão em áreas de interface como a Educação

Física, Educação Física Adaptada e o Desporto Adaptado, este último sendo foco de

interesse principal neste trabalho.

A análise retrospectiva da educação especial evidencia que sua trajetória

acompanha a evolução histórica da conquista dos direitos humanos, tendo destaque

o direito à educação de cada indivíduo, conforme a Declaração Universal dos

Direitos Humanos (1948) e as demandas resultantes da Conferência Mundial de

Educação para Todos (Jomtien, Tailândia, 1990).

A Conferência de 1990 propôs a adoção de Linhas de Ação em Educação

Especial, cujo princípio orientador é que:

“todas as escolas deveriam acomodar todas as crianças independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, lingüísticas ou outras. Deveriam incluir crianças deficientes e superdotadas, crianças de rua e que trabalham, crianças de origem remota ou de população nômade, crianças pertencentes a minorias lingüísticas, étnicas ou culturais e crianças de outros grupos em desvantagem ou marginalizados...No contexto destas Linhas de Ação o termo ‘necessidades educacionais especiais’ refere-se a todas aquelas crianças ou jovens cujas necessidades se originam em função de deficiências ou dificuldades de aprendizagem. Muitas crianças experimentam dificuldades de aprendizagem e têm, portanto, necessidades especiais em algum momento de sua escolarização. As escolas têm que encontrar a maneira de educar com êxito todas as crianças, inclusive as que têm dificuldades graves” (p.17-18).

Page 26: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

12

Tal proposta foi reafirmada na Declaração de Salamanca de Princípios, Política

e Prática em Educação Especial, que resultou da Conferência Mundial sobre

Necessidades Educativas Especiais. Participaram e assinaram a Declaração 92

países e 25 ONGs, em Salamanca, na Espanha em 1994.

Da Declaração de Salamanca, destacamos os seguintes tópicos:

• Que o princípio da inclusão consiste no “reconhecimento da necessidade de se

caminhar rumo à ‘escola para todos’ ---- lugar que inclua todos os alunos, celebre a diferença, apoie a aprendizagem e responda às necessidades individuais” (p.iii);

• Que a “preparação adequada de todo o pessoal da educação constitui um fator chave na promoção do progresso em direção às escolas inclusivas” (p.27);

• Que “a provisão de serviços de apoio é de importância primordial para sucesso das políticas educacionais inclusivas” (p.31);

• Que “o sucesso da escola inclusiva depende, consideravelmente, de identificação, avaliação e estimulação precoces das crianças bem pequenas, portadoras de necessidades educacionais especiais” (p.33).

A Constituição Brasileira de 1988 garante o direito à educação de pessoas

portadoras de necessidades especiais. Trata-se da garantia de acesso e

permanência na escola de qualquer aluno, sem excluir ninguém. Também significa

colocar em prática uma política de respeito às diferenças individuais, o que

representa atendimento diferenciado para determinados alunos, dentre os quais se

situam os alunos com deficiência.

Para Carvalho (1997), o conceito da escola inclusiva surge dos debates sobre

a universalização da educação, apontados na Declaração de Salamanca, somados

ainda ao consenso de que jovens e adultos com necessidades especiais devem ser

incluídos em escolas comuns. No entanto, o principal desafio é desenvolver uma

pedagogia centrada no aluno, capaz de educar a todos, inclusive àqueles que

apresentam desvantagens severas.

A partir desses elementos, as escolas regulares teriam de assumir a tarefa de

ensinar a todos os alunos, contribuindo, assim, para que a avaliação de novas

possibilidades educacionais fossem realizadas a partir de dados concretos.

Infelizmente, esse desafio foi neutralizado por leis, resoluções e diretrizes escolares,

que continuam excluindo alunos que não se enquadram em “normas”

Page 27: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

13

arbitrariamente estabelecidas. Veja-se a este propósito a Resolução 02/2002 do

Conselho Nacional de Educação: Diretrizes do Ensino Especial na Educação Básica.

Mantoan (2001), em seu parecer sobre esse documento, destaca que "esse

novo conceito educacional não avança, do ponto de vista das aplicações na mesma

medida em que vai sendo esclarecido, do ponto de vista teórico”. Para a autora,

esse descompasso fica evidente, à medida que o documento traz afirmações como:

“O propósito exige ações práticas e viáveis que tenham como fundamento uma política especifica, em âmbito nacional, tendo em vista a inclusão dos serviços de educação especial na educação regular” (p.21). [grifo nosso].

Surge, a partir dessas reflexões, uma maior sensibilidade social frente ao

direito de todos a uma educação fundamental, respeitando os pressupostos da

inclusão e não da segregação. Mas o que vigora, ainda, é o meio menos restritivo

possível para a escolarização de alunos com deficiência, especialmente os casos

mais severos. Entende-se por ambiente menos restritivo aquele onde o aluno é

protegido, como ocorre nos atendimentos típicos da Educação Especial.

A divulgação e os estudos sobre esta nova forma de se conceber a escola e

a sociedade a partir dos pressupostos inclusivos, não garante o entendimento do

que vem a ser inclusão, pois muitas vezes esta é confundida ou relacionada com a

idéia ou conceito de integração, (Mantoan, 1998; Masini, 1999; Ferreira, 1999). Essa

incompreensão acaba contaminando áreas de conhecimento afins da Educação

Escolar, como a Educação Física e Desporto, de uma maneira geral.

Sendo assim, para que possamos refletir sobre a realidade da Educação

Física e do Desporto para Pessoas Deficientes, é necessário aclararmos as

diferenças entre as duas situações de inserção: integração e inclusão, uma vez que

muitas ações realizadas na prática da Educação Física Adaptada e do Desporto

Adaptado refletem tais conceitos, compreendidos de forma equivocada.

Ao contrário do que muitos pregam, a troca dos vocábulos não acontece

somente para acompanhar uma visão contemporânea que prevê um comportamento

“politicamente correto” nos ambientes que recebem pessoas deficientes. Ela vem

Page 28: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

14

embasada em uma mudança atitudinal da sociedade, atitude esta que deve partir de

uma reflexão política, filosófica e ideológica. (Ferreira,1999).

Trata-se de uma situação que não é uma mera troca de palavras, mas de

problemas conceituais de base, que não podem ser descartados ou tratados

ingenuamente.

Mantoan (1998), ressalta que:

“ (...) integração e inclusão --- conquanto tenham significados semelhantes, estão sendo empregados para expressar situações de inserção diferentes e têm por detrás de si posicionamentos divergentes para a consecução de suas metas” (p.31).

A prática da integração se baseia no princípio da normalização, princípio este

que surge no início da década de 60, na Dinamarca, com o seguinte pensamento:

“ (...) toda pessoa portadora de deficiência, especialmente aquela portadora de deficiência mental, tem o direito de experimentar um estilo ou padrão de vida que seria comum ou normal à sua própria cultura” (Sassaki, 1997, in: Mendes, 1994).

O indivíduo era preparado conforme seus valores e costumes, buscando um

padrão comportamental que se aproximasse mais do considerado “normal”, para

aquele ambiente social no qual ele seria inserido.

Ide (1999) destaca ainda que:

“ (...) normalizar não significa pretender converter em normal uma pessoa deficiente, mas aceitá-la como é, com suas deficiências, reconhecendo-lhes os mesmos direitos que os outros e lhes oferecendo os serviços necessários para que possa desenvolver ao máximo as suas possibilidades e viver tão normal quanto possível” (p.7).

Para Mantoan (1998) a normalização visa tornar acessíveis as pessoas

desvalorizadas socialmente, disponibilizando-lhes as mesmas condições e os

mesmos modelos de vida que são semelhantes aos que estão disponíveis de um

modo geral ao conjunto de pessoas de um dado meio ou sociedade. Isso implica na

adoção e no entendimento de um novo paradigma, que modifica as relações entre

Page 29: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

15

as pessoas e que deve ser acompanhado de medidas que objetivam a eliminação de

toda e qualquer forma de rotulação.

A normalização, para a autora, não é hoje um bom parâmetro para se discutir

a inclusão, porque as diferenças entre as pessoas não podem ser confundidas com

desigualdades, as quais se ordenam a partir de uma norma previamente

estabelecida.

Apesar de toda essa conceituação e contextualização, o princípio da

normalização foi confundido com a noção de “tornar normais os deficientes”, atitude

esta que, no Desporto Paraolímpico, como veremos no capítulo seguinte, é muito

reforçada.

A integração tem, portanto, como enfoque principal, a transformação do

sujeito para adequá-lo à sociedade. Já a inclusão busca a transformação da

sociedade para receber esse sujeito; ou seja, as duas concepções de inserção do

deficiente na sociedade têm fundamentos com enfoques e perspectivas, no mínimo,

conflitantes.

A visão de sociedade inclusiva, que aqui esboçamos, tem como objetivo a

melhoria da qualidade de vida das pessoas em geral, o reconhecimento e a

valorização das diferenças entre os humanos.

A inclusão surge, no final do século XX, como um avanço na vida em

sociedade, mas ainda existe a necessidade de estudos mais aprofundados e

regulamentações para sua aplicação em todos os espaços de vida humana da

escola às ruas, ao lazer, ao desporto .

A Educação Física tem demonstrado o desejo de se tornar inclusiva, mas

novamente cai nas armadilhas da conceituação, pois se apropria equivocadamente

dessa idéia para justificar uma prática “politicamente correta“, porém, não

transformadora e compatível com o entendimento do verdadeiro sentido do esporte

para todos.

O fato é que a Educação Física e também o desporto como integrantes desse

campo do conhecimento, apropriaram-se e passaram a utilizar uma terminologia

moderna para fazer parte de um modelo contemporâneo de atendimento às pessoas

Page 30: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

16

com deficiência, não modificando, no entanto, sua forma de atuar e atender a essas

pessoas em sua prática na escola e no esporte.

Isso é marcado pelas ações realizadas por alguns profissionais da Educação

Física, que atuam no âmbito escolar e esportivo e levantam a bandeira da inclusão,

mas, mesmo tendo a intenção de auxiliar na inserção da pessoa com deficiência na

prática da atividade física, se equivocam e atuam dentro de uma perspectiva muitas

vezes segregadora e integradora. O atendimento segregado não pode ser visto

como um meio para a inclusão, pois contraria os princípios do que vem a ser uma

sociedade inclusiva e que já foram descritos neste trabalho.

Não queremos, aqui, desrespeitar e desconsiderar todo o trabalho

desenvolvido e baseado numa visão segredadora ou integradora de Educação

Física, pois acreditamos que, historicamente, isso foi necessário e teve sua

importância para que pudéssemos alavancar tal prática. Porém, não podemos fechar

os olhos às mudanças da sociedade contemporânea, que busca a igualdade de

direitos e oportunidades e respeita as diferenças.

Para Mazini (2002), os profissionais de Educação Física que atuam com o

esporte nas suas mais diversas formas e com os mais diferentes objetivos, devem

estar preparados para lidar com a diversidade.

Os profissionais da Educação Física não podem somente incorporar um

termo. Devem compreender as idéias e conceitos que compõem essa forma de se

entender a sociedade inclusiva, buscando uma real e concreta transformação de sua

prática profissional. Essas transformações devem ser concretizadas para que

situações de exclusão e de segregação, tanto na escola como no desporto, não mais

ocorram.

Esta confusão entre teoria e prática é evidente quando verificamos que

definições equivocadas são utilizadas para compreender e justificar a prática dos

profissionais de Educação Física que atuam com pessoas com deficiência.

Bloch (1994) afirma:

"A inclusão se refere a proporcionar instrução especialmente planejada

(incluindo os serviços de apoio necessários) aos estudantes com deficiências

Page 31: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

17

dentro dos ambientes regulares de educação. Com relação à Educação Física, a inclusão significa Educação Física Adaptada, oferecida dentro do ambiente regular de Educação Física” (p.18).

A definição acima descreve uma situação de integração e não de inclusão, o

que reforça e acaba atrapalhando ainda mais a compreensão daqueles que buscam

conhecimentos teóricos para fundamentar o que é chamado de Educação Física

Adaptada.

O termo Educação Física Adaptada surge a partir da década de 50 nos EUA

pela AAHPERD ( American Association for Health, Physical Education, Recreation

and Dance), sendo concebida a partir de uma visão segregadora, como um

programa de:

“ (...) atividades desenvolvimentistas, jogos e ritmos adequados aos interesses,

capacidades e limitações de estudantes com deficiências que não podem se

engajar com participação irrestrita, segura e bem sucedida em atividades vigorosas

de um programa de educação física geral” (Pellegrine e Junghannel, 1985, p.07).

Cidade (2002) cita Duarte e Werner (1995) para esclarecer que concebe a

Educação Física Adaptada como:

“ (...) uma área da Educação Física que tem como objeto de estudo a motricidade

humana para as pessoas com necessidades educativas especiais, adequando

metodologias de ensino para o atendimento às características de cada portador de

deficiência, respeitando suas diferenças individuais” (p.36).

A Educação Física Adaptada não é o único termo utilizado para fazer

referencia à Educação Física que atende pessoas com deficiência ou com

necessidades especiais. Temos ainda a Educação Física Especial, a Atividade

Motora Adaptada entre outra terminologias, o que causa uma certa desordem e uma

incompreensão quanto ao real papel e forma de atuar junto a esta população.

Reforçando essa posição Gonçalves (2002) aponta que as muitas

terminologias empregadas para determinar qual é área da Educação Física

Page 32: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

18

Adaptada, acaba por contribuir para uma certa confusão quanto à sua abrangência e

função. Essa tempestade terminológica desvia e confunde o profissional de

Educação Física, fazendo com que se esqueça que seu objetivo principal é atender

às necessidades de todos aqueles que desejam, necessitam e têm direito a praticar

uma atividade física, independentemente de suas características físicas, mentais,

sensórias etc.

A Atividade Física deve ser estimulada a partir de uma nova concepção, mais

inovadora e menos tecnicista, afastada de estereótipos e modelos pré-estabelecidos

que valorizam somente as competências, esquecendo e excluindo todos aqueles que

não se enquadram dentro dos padrões de normalidade ou de eficiência.

Portanto, não devemos esquecer que é um direito de cada cidadão a prática

da atividade motora. Sendo assim, é um compromisso ético do profissional de

Educação Física atender a todos aqueles que buscam praticar essa atividade.

Lembramos que quem determina o objetivo e o motivo da atividade é o sujeito e não

o profissional da Educação Física, o qual deve ser simplesmente um mediador das

relações que envolvem esta determinada prática.

Para Manuel Sérgio (1981):

“ (...) falar da motricidade (...) é algo mais do que falar dos objetivos da educação através das atividades corporais; é também lutar por um novo rosto da sociedade, onde o ato pedagógico inclua a Educação Física e seja plenamente democratizado” (p.91).

A escola tem um papel fundamental, na medida em que a Educação Física

Escolar pode demonstrar à pessoa com deficiência um universo de possibilidades

quanto à prática de atividades físicas e esportes, que podem levar esses sujeitos ao

universo do desporto de rendimento.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais destacam que:

“A Educação Física deve dar oportunidade a todos os alunos para que desenvolvam

suas potencialidades, de forma democrática e não seletiva, visando seu

Page 33: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

19

aprimoramento como seres humanos. Nesse sentido, cabe assinalar que os alunos

portadores de deficiências físicas não podem ser privados das aulas de Educação

Física” ( MEC-SEF, 1997, P.34).

Gostaríamos que todos os alunos pudessem ter acesso e possibilidade de

usufruir desse direito. Todos aqueles que estão esquecidos e isolados, sejam eles

deficientes ou não. O ensino deve ser direcionado a alunos reais e não a alunos

ideais. (Freire,1999)

Diante disso, não podemos ser simplistas a ponto de acharmos que pequenos

arranjos bastam para que a relação da Educação Física e a pessoa com deficiência

possa realmente se efetivar.

Na opinião de Freire (1989:218): “mesmo reconhecendo que é necessário ter

Educação Física nas escolas, isso que todos conhecemos não serve mais”.

Lopez (1993) faz a seguinte afirmação:

“ (...) não se percebe trabalho que faça referência a Educação Física Escolar para

pessoas portadoras de deficiência (ppd) em escolas regulares. As ppds a que me

refiro são as que freqüentam uma sala de ensino regular, ou seja junto com crianças

não portadoras de deficiência. Não se vê pelo menos de forma expressiva uma

preocupação quanto à atividade física na escola para essas pessoas” (p.18).

Uma das maiores queixas daqueles que se deparam com uma situação de

ensino de pessoas com deficiência em um ambiente regular é o fato de que não

foram ou não estão preparados para atender a essas pessoas, seja este um

ambiente educacional ou esportivo.

Manzini (2002) faz referência a essa questão salientando que, apesar das

dificuldades indicadas e encontradas, é necessário acreditar na necessidade de

combater a exclusão social e educacional.

Esta referência à falta de preparo por parte dos professores de Educação

Física, demonstra talvez um certo conformismo e desinteresse desses profissionais

quanto à possibilidade de mudança da sociedade frente à prática de atividades

físicas e esportes por pessoas com deficiência.

Page 34: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

20

Lamentavelmente, ainda nos dias de hoje, temos de conviver com esses

argumentos que fazem com que a população de pessoas com deficiência seja

discriminada ou segregada para a prática de atividades físicas e esportes.

Nesse sentido cabe o que diz Mantoan (2001):

“ (...) os obstáculos a serem vencidos são de natureza subjetiva e, ao nosso ver,

são os mais fortes, pois dizem respeito a questões que estão arraigadas à nossa

formação e a experiências pessoais em uma sociedade que não está habituada a

reconhecer e a valorizar as diferenças” (p.55).

Segundo Gonçalves (2002), a partir da década de 80, ações governamentais

foram idealizadas sendo algumas efetivadas para amenizar essa problemática,

através:

a) da garantia da presença do professor licenciado em Educação

Física na equipe interdisciplinar que atende as pessoas com

necessidades especiais;

b) do desenvolvimento por parte do governo de programas de

Educação Física, desporto e lazer para essa população; melhoria

das condições dos profissionais que atuam na área;

c) inclusão nos currículos dos cursos de graduação em Educação

Física de disciplina e/ou conteúdos relacionados à deficiência,

implantação de cursos de pós-graduação e de atualização

destinados a profissionais dessa área: fomento à pesquisa em

Educação Física Adaptada por parte das agências financiadoras e

instituições de ensino superior.

Lima (1998) afirma que:

“(...) no período,de 1981 até 1996, a partir da proclamação do Ano Internacional da

Pessoa Portadora de Deficiência pela ONU, o Governo Federal, através de diversos

órgãos existentes na estrutura administrativa, procurou direcionar suas ações rumo

ao desenvolvimento de uma política de ação mais voltada ao entendimento e

Page 35: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

21

garantia dos direitos das pessoas deficientes e, nesse contexto, a formação de

recursos humanos para atuar na Educação Física com essas pessoas também

recebeu atenção especial” (p.88) .

Apesar de todas as ações do Estado e dos esforços de grupos de apoio à

pessoa com deficiência, isso não foi suficiente para minimizar a exclusão ou

ausência da pessoa com deficiência da prática de atividade física, seja ela realizada

na escola ou em outro ambiente educacional regular. O problema persistiu e ainda

persiste.

O mesmo autor conclui que:

“ (…) a maioria das ações estiveram voltadas para o esporte de competição e

nesse, a exemplo do desporto convencional, que elitiza a participação, não há o

envolvimento da maioria das pessoas portadoras de deficiência, principalmente

daquelas que se encontram na faixa pré-escolar, escolar ou na terceira idade”

(p.90).

Essa nos parece ser uma das muitas contradições e dicotomias que fazem

com que aqueles que têm o direito e talvez mais necessitem da prática de atividades

físicas e esportes, se afastem dela.

Um fato a ser destacado é a inclusão, nos currículos dos Cursos de Educação

Física, de disciplinas e/ou conteúdos relacionados a pessoas com deficiência e a

criação de Cursos de Pós-Graduação destinados a profissionais dessa área. Até

então eles têm sido somente um paliativo para solucionar essa problemática.

A formação de recursos humanos para atender a essa população foi, e é,

talvez uma das maiores preocupações. Alguns autores entendem ser este um ponto

fundamental para que a pessoa com deficiência tenha a possibilidade de se

desenvolver através dos benefícios que a Educação Física pode trazer. Eles têm

pesquisado como e qual tem sido este processo.

Na tentativa de compreender esses fatos, destacamos os estudos de

Gonçalves (2002) e Santos (1998). Sendo que o primeiro autor procurou

compreender o que os docentes da disciplina de Educação Física Adaptada estão

Page 36: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

22

propondo para a formação inicial na área, frente às políticas implantadas no país, no

que se refere ao tipo de formação humana que está sendo veiculada, assim como os

conteúdos significativos para essa formação. Já o segundo, analisou em seus

estudos a disciplina Educação Física Adaptada no currículo de cinco cursos de

Graduação em Educação Física.

Destacamos a seguir algumas das conclusões dos trabalhos citados que nos

parecem muito elucidativas e esclarecedoras, para que possamos compreender o

problema da formação de recursos humanos na área da Educação Física, já que a

falta de preparo e de conhecimento teórico, como já demonstrado, é uma das

principais queixas dos professores que atuam com pessoas portadora de deficiência,

na área.

Gonçalves (2002) e Santos (1998) concluem:

• que a carga horária das disciplinas de Educação Física Adaptada nos cursos de

graduação em Educação Física é insuficiente para atender à demanda de conteúdos;

• existir um descompasso e um falta de coerência entre ementas e conteúdos

programáticos;

• ser necessário que o assunto seja integrado inteiramente ao currículo, envolvendo

todas as disciplinas. Do contrário, a ênfase recai sobre a diferença, ou seja, ter

apenas uma disciplina tratando a questão da deficiência pode reforçar a noção de

que a segregação (do conhecimento e de indivíduos com deficiência) é necessária;

• que a essência da formação em Educação Física Adaptada situa-se no

Conhecimento Técnico- Funcional Aplicado, permitindo dizer que este campo da

formação profissional não sofreu alterações significativas em relação às abordagens

biológicas e tecnicista, que durante décadas influenciou os trabalhos na área da

Educação Física;

• que em alguns programas de ensino há uma tendência à esportivização e aos

aspectos técnicos da modalidade;

• que é clara a fragilidade dos programas pesquisados, demonstrando a necessidade

de discussões referentes à formação profissional em Educação Física Adaptada,

principalmente frente às implicações da inclusão escolar.

Page 37: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

23

Lima (1998), buscou conhecer a realidade profissional dos egressos dos

cursos de especialização em Educação Física Adaptada, desenvolvidos entre os

anos de 1981 e 1996. Em seu trabalho, esse autor identificou:

• um pequeno número de especialistas em Deficiência Visual;

• existir um descompasso entre a área de atuação e formação. Muitos dos egressos

foram trabalhar no ensino regular, local para o qual, segundo os próprios

especialistas, teriam sido menos preparados;

• que essa situação explicita o caráter contraditório das políticas públicas brasileiras.

Uma vez que o mesmo que advoga a educação do deficiente em escolas regulares

também defende a formação de especialistas para atuarem em áreas específicas da

deficiência e em escolas especializadas;

• que os cursos contrariam também os Planos Nacionais de Pós-Graduação, que

determinam que a pós- graduação lato sensu deveria assegurar o treinamento eficaz

de recursos humanos para atenderem às necessidades do desenvolvimento de todas

as áreas do conhecimento e do mercado de trabalho;

• que a continuar este processo de fragmentação, desvinculado da realidade e, de

certa forma, na contra-mão da história da Pós-Graduação, os futuros profissionais

cada vez mais, estarão distanciados e deslocados das funções para as quais estão

sendo preparados, tendo em vista que a tendência atual das políticas públicas que

aponta para a inserção do deficiente no ensino regular, exigindo, com isso, um novo

perfil profissional.

O discurso da exclusão e da Educação Física Adaptada aparece também no

grande número de teses e dissertações que buscam metodologias de ensino para

práticas esportivas especificas, destinadas à população de pessoas com deficiência.

Tratam em sua maioria de seqüências pedagógicas, adaptações de regras, materiais

adaptados para jogos em geral, dos quais as pessoas com deficiência podem

participar.

Fizemos um levantamento bibliográfico do tema utilizando como ferramenta

de busca principal o Núcleo Brasileiro de Dissertações e Teses em Educação Física

e Educação Especial – NUTESES cujo site é: www.nuteses.ufu.br.

A partir dessa ferramenta de busca pudemos ter acesso às bibliotecas das

Universidades com programas de Pós-Graduação stricto sensu e fomos aumentando

Page 38: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

24

o campo de busca através dos sites e links de cada Universidade. Sendo assim,

foram pesquisadas, no período de 1995 a 2000:

UNIVERSIDADES Programas de Pós

Graduação em Ed. Física

UCB-RJ Universidade Castelo Branco Mestrado UDESC Universidade Estadual de Santa Catarina Mestrado UFMG Universidade Federal de Minas Gerais Mestrado

UFRGS Universidade Federal de Rio Grande do Sul Mestrado UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro Mestrado UFSC Universidade Federal de Santa Catarina Mestrado UFSM Universidade Federal de Santa Maria Mestrado Doutorado UGF Universidade Gama Filho Mestrado Doutorado

UNESP Universidade Paulista “Júlio Mesquita “ Mestrado UNICAMP Universidade Estadual de Campinas Mestrado Doutorado

USP Universidade de São Paulo Mestrado Doutorado UCB/Brasília Universidade Católica de Brasília Mestrado

UERJ Universidade Estadual do Rio de Janeiro Mestrado

Na pesquisa bibliográfica realizada foram encontrados 62 títulos. Esses títulos

foram identificados e divididos em 10 assuntos e o critério adotado para a divisão foi

o agrupamento por palavras-chaves.

Como podemos observar na Tabela 1, os títulos encontrados nos mostram

um número reduzido de obras e publicações sobre o tema proposto, que é a relação

entre Educação Física/Natação/Inclusão/Deficiência Visual.

Tabela 1 – Pesquisa Bibliográfica – NUTESES

Assunto Quant. Títulos

1. Educação Física/ DV/ Inclusão 00 2. Educação Física Adaptada/ DV 06 3. Educação Física/ Deficiência/ Inclusão/Integração 10 4. Educação Física Adaptada/ Deficiência 11 5. Educação Física Adaptada/ Formação Profissional 03 6. Educação/ DV/ Inclusão 04 7. Educação/ Deficiência/ Inclusão/ Integração 12 8. Legislação/Educação/ Inclusão 05 9. Reabilitação/ DV/ Assuntos Gerais 10 10. Deficiência Visual/ Natação 01

Page 39: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

25

Pudemos, através da análise da tabela acima, verificar que há um interesse

em se pesquisar o tema Educação/Inclusão. No entanto, há poucos estudos

relacionados à Educação Física/Inclusão e Natação/Inclusão.

Manzini (2002) complementa o assunto dizendo que:

“ (...) o que se percebe nos trabalhos publicados que versam sobre atividades

motoras adaptadas (...) é que o direcionamento sempre ocorre para uma categoria

de deficiência especifica: mental, física, auditiva ou visual, ou seja, para um grupo

específico” ( p.83).

A concepção segregadora e elitista, baseada no modelo vigente de ensino e

transmissão de conhecimentos e conteúdos da disciplina Educação Física Adaptada

fez com que os profissionais dessa disciplina fossem formados, em sua maioria,

somente para entender de aspectos relacionados a conteúdos técnicos da

deficiência, ou seja, patologias especificas, técnicas de treinamento, regras

utilizadas somente no universo do desporto adaptado e outras. Não propiciando o

debate de novas práticas de atividades físicas e esportes, destinadas aos

deficientes, que partam da perspectiva do esporte inclusivo.

A prática de atividade física e os esportes são grandes instrumentos de

reabilitação e de habilitação de pessoas com deficiência, mas, sobretudo, têm

propiciado a inserção e valorização dessas pessoas na sociedade,

O contato das pessoas com deficiência e os esportes trazem para a

sociedade um novo enfoque sobre o processo de inserção, pois não coloca o

deficiente em condição incapaz. A prática esportiva ressalta as potencialidades e

traz na medida em que estas pessoas são mais aceitas, uma melhora na sua auto-

estima e na qualidade de vida.

O contato com os esportes desmistifica a imagem de inutilidade e imobilidade

da pessoa com deficiência. Esses fatores podem ainda favorecer a aproximação e o

contato social entre as pessoas denominadas “não deficientes” e as “deficientes”.

Page 40: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

26

Essa realidade, porém, nos parece muito mais próxima de ser alcançada se

nos balizarmos nos conceitos de uma sociedade inclusiva, que possibilita o acesso a

todos aqueles que desejam se beneficiar da atividade física, seja ela qual for.

A Educação Física Adaptada, que surgiu a partir dos conceitos de

normalização e integração e que busca, na discriminação positiva e na segregação a

promoção da pessoa com deficiência, deve ser, portanto, revista não só em suas

reflexões teóricas, mas também em suas ações práticas.

A revisão da atuação do profissional da Educação Física diante do problema

da inserção da pessoa com deficiência na prática da atividade física é necessária

para que essa área de conhecimento se mantenha em concordância com o que se

espera de uma proposta moderna de Educação Física.

A necessidade de transformação é caracterizada, conforme observamos num

discurso que se apóia no termo inclusão, mas não segue seus preceitos teóricos

dessa proposta inovadora. A formação do professor de Educação Física, que está

afastada das necessidades e da realidade do mercado, contribui para perpetuar

esse distanciamento da pessoa portadora de deficiência da prática esportiva em

ambientes regulares.

O discurso exagerado, que reforça a necessidade de uma extrema

especialização para ministrar aulas e desenvolver projetos esportivos para pessoas

portadoras de deficiência, faz com que os cursos de Educação Física, através das

disciplinas voltadas para esse tema, formem especialistas e não o que é necessário

– o profissional generalista – que poderá inicialmente apresentar a atividade física e

os esportes no universo da escola, pois muitas vezes esses alunos com deficiência,

não têm oportunidade de freqüentar as aulas de Educação Física, direito assegurado

a todos na legislação Brasileira.

A prática da Educação Física Escolar é um dos componentes da formação

educacional do aluno, sendo necessária para sua formação geral. Sua vivência

propicia conhecimento das possibilidades de uma prática esportiva pela pessoa com

deficiência, podendo incentivá-la a praticar o desporto dentro da perspectiva do

rendimento.

Page 41: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

27

As disciplinas de Educação Física Adaptada, bem como o Desporto

Adaptado, nos currículos dos cursos de Educação Física, informam aos futuros

profissionais da área sobre o tema, abordando a questão dentro de uma perspectiva

tecnicista e excludente. Ao transmitirem conhecimentos sobre a pessoa com

deficiência, fazem-no com conteúdos que encaminham o profissional e o seu futuro

aluno para o universo das competições esportivas segregadas, não considerando

importância da escola nesse processo. Portanto, a formação teórica do professor de

Educação Física faz com que este profissional se afaste da perspectiva inclusiva de

sociedade.

O futuro talvez faça com que a temática não seja abordada somente em uma

disciplina nos currículos dos cursos de Educação Física, mas sim que todas as

disciplinas o façam, desmistificando a necessidade do “especial”, “adaptado”, etc...

A abordagem educacional inclusiva é aquela que reconhece as diferenças e a

diversidade como integrantes dos processos de ensino/aprendizagem. Essas

mudanças são esperadas para que se possa formar professores de Educação

Física, que atuem e, principalmente, compreendam a importância do esporte para a

inserção da pessoa com deficiência na sociedade. O desporto adaptado de

rendimento vive também dessas contradições e dicotomias, pois quer a inclusão,

através da segregação.

Muitos atletas, tanto em seu treinamento quanto em algumas competições, se

utilizam do desporto regular para se aperfeiçoarem em sua técnica ou habilidade

com o intuito de otimizar sua performance em competições exclusivamente para

deficientes.

Isto possibilita que muitos atinjam performances iguais ou superiores aos ditos

normais? Por que, então, não se tem somente uma única competição? Os

deficientes não são prejudicados em função de suas limitações? Essas questões e

outras serão melhor tratadas nos capítulos seguintes.

Page 42: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

28

CAPÍTULO II

INCLUSÃO E O DESPORTO DE RENDIMENTO

“A imagem com que o desporto se nos revela no

presente dificulta o seu entendimento porque circunscreve

uma enorme variedade de facetas, contornos e sentidos. É o

desporto no plural, que nos surge como domínio tecnológico,

como atividade profissional, como comércio e negócio, artigo

de consumo, como indústria de entretenimento, como campo

e fator de socialização, educação e formação” (BENTO, 1991.

p.14).

A construção de uma sociedade mais compreensiva e humanitária, cujos

valores devem ser mais cooperativos e menos competitivos, é algo que deve ser

sempre almejado, quando se pretende compreender e aceitar as diferenças em suas

incontáveis representações.

A competição, porém, é inerente ao ser humano e não deve ser vista como a

fonte de todos os males da sociedade moderna. As regras que orientam esse

universo da sociedade é que muitas vezes devem ser revistas.

A cooperação e a competição podem conviver harmoniosamente, desde que

sejam preservados e protegidos os valores éticos do esporte, dentre os quais

destacamos o fair-play, o desenvolvimento harmonioso da personalidade, a auto-

superação, a solidariedade, o espírito de equipe, o desprendimento, a lealdade, a

generosidade, entre outros sentimentos.

Em suas ações e publicações, a Unesco ressalta a importância da

preservação de tais valores e registra que isso não se faz por decreto, embora leis e

regulamentos possam ser úteis e até indispensáveis para esse fim (Brotto, 2001).

Page 43: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

29

Há, contudo, que se ter cuidado para lidar com estas duas atitudes sociais

que são a cooperação e a competição, pois não há necessariamente que excluir

uma para que se possa beneficiar da outra e vice-versa. A relação entre estes pólos,

que parecem distintos, dependerá da interpretação que se tem de esporte de

rendimento.

Tubino (1993) faz referência a três paradigmas esportivos:

a) o paradigma do esporte como ideário olímpico:

b) como uso político-ideológico;

c) como negócio.

Para esse autor, as diferenças entre esses paradigmas são internalizadas nos

seus próprios conflitos, que diz já terem sido ultrapassados “como amadorismo

versus profissionalismo”, “capitalismo versus socialismo”, o grande conflito passa a

ser então o confronto entre a “lógica do mercantilismo e a ética esportiva”.

Brotto (2001) entende:

“... cooperação e competição como processos distintos, porém não muito distantes.

As fronteiras entre eles são tênues, permitindo um certo intercâmbio de

características, de maneira que podemos encontrar em algumas ocasiões uma

competição-cooperativa e em outras, uma cooperação-competitiva”.(p.28)

Ao direcionar nosso olhar para o esporte Paraolímpico Nacional, verificamos

que a realidade descrita por Tubino ainda não foi totalmente confirmada ou

ultrapassada, pois os conflitos advindos de cada paradigma se misturam em função

de cada esporte representar uma realidade, um desenvolvimento esportivo,

organizacional e político, sendo que o mesmo ocorre quando convivemos com o

esporte Paraolímpico Internacional.

Veríssimo(2000), na apresentação do livro os Arquivos das Olimpíadas, faz a

seguinte reflexão:

“(...) as Olimpíadas representam o que se quiser que elas representem. Tanto pode ser a superação de barreiras nacionais e a celebração da humanidade comum a todos como uma feroz competição entre as nações, raças e ideologias”.

Page 44: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

30

É importante destacarmos que o desporto não se presta simplesmente à

tarefa de selecionar e categorizar pessoas, países, povos como melhores ou piores,

como mais eficientes ou menos eficientes. Ele tem uma tarefa muita mais nobre que

é o de aproximar nações e povos. Isso fica evidenciado quando se realizam os

grandes eventos esportivos como os Jogos Olímpicos, os Campeonatos Mundiais,

as Copas do Mundo e outros, que são momentos da prática do chamado desporto

de competição.

Cardoso (2000) afirma:

“A confraternização dos povos através do esporte é bem mais do que um simples clichê. Nos últimos cem anos, os Jogos Olímpicos se constituíram num dos raros rituais capazes de proporcionar momentos de real harmonia entre os povos. De quatro em quatro anos, as nações deixam de lado suas divergências e se reúnem não para combater ou guerrear entre si, mas para competir fraternalmente e celebrar a (esperança) da paz“ (p.13).

Almeida (1995:02) observa que “o esporte é caracterizado como um fator de

influência educativa, tanto pelo seu alcance popular, como pela dimensão crescente

de suas implicações políticas, econômicas e sociais”.

Cardoso (2000) lembra que Ellery Clark, muitos anos depois de participar do

primeiro festival olímpico em Atenas, em 1896, afirmou que a “lembrança mais

duradoura das Olimpíadas é o espírito que perpassa pelos Jogos, o verdadeiro ideal

de fraternidade da humanidade”.(p.13)

O desporto de rendimento nos tempos modernos atinge proporções e esferas

de âmbito social e econômico, cada vez mais evidentes.

Segundo Neto (1995:83) “o desporto moderno enquadra-se numa grande

mobilidade de interesses de âmbito político, econômico e social quanto à sua

divulgação, implementação e participação”.

Cardoso (2000:12) destaca que “em um século, os Jogos Olímpicos

cresceram e se transformaram num evento grandioso, (...) e que a mercantilização

do esporte é apenas o mais recente de seus pecados”.

A história dos jogos olímpicos e paraolímpicos está repleta de fatos que

demonstram a utilização do desporto de rendimento como instrumento de

Page 45: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

31

congregação entre os países, possibilitando a quebra de conceitos e preconceitos

que, ao longo da história da humanidade, serviram simplesmente para a segregação

e dominação de uma nação sobre a outra. Veja-se a este propósito o Tratado de Paz

entre as duas Coréias, celebrado em Sidney, Austrália, no ano de 2000 nas últimas

Olimpíadas.

Fatos isolados5 também demonstram ser possível, mesmo em um mundo

capitalista e competitivo, o esporte levantar a bandeira dos ideais olímpicos que

foram expressos pelo criador dos Jogos Olímpicos Modernos, Pierre de Coubertain.

Ideais esses expressos no desejo de concretização da prática do fair play e que é

resumido em sua célebre frase: “nas Olimpíadas, o importante não é vencer, é

participar”.

Como já dissemos, o esporte e o desporto se modificaram. Não é nosso

interesse fazer juízos de valor, se para melhor ou pior, mas retratar o período

histórico em que estamos inseridos. Contudo, ao analisarmos alguns números,

verificamos que a frase acima representa, ainda, o ideal Olímpico do Barão, uma vez

que, em um século de Jogos Olímpicos, não mais do que 70 mil pessoas, em todo o

mundo, desfrutaram do privilégio de poder participar de uma Olimpíada, sendo que

de cada 28 atletas que entraram na arena olímpica, apenas um teve a honra de sair

com a medalha de ouro. Dessa forma, 90% dos atletas olímpicos vivem nesta

experiência apenas a rara oportunidade de enxergar o mundo e sentir a humanidade

de um ângulo “especial“ (Carvalho, 2000). No espetáculo olímpico há muito mais

coadjuvantes do que atores principais e, o que vale mesmo, é competir!

Não queremos negar a competição, realidade que se institucionalizou em

nossa sociedade, mas sim questionar a maneira como ela vem sendo desenvolvida

e processada, no que diz respeito, principalmente, ao universo do desporto de

rendimento6, praticado por pessoas com deficiência (cegos e deficientes visuais7).

5 Na Olimpíada de Sidney (Austrália/2000), pela primeira vez na história dos jogos Olímpicos modernos, uma atleta deficiente

visual da modalidade atletismo obteve índice para competir em provas olímpicas. Na mesma olimpíada o nadador da Guiné Equatorial, Eric Moussambani, ficou mundialmente conhecido quando na eliminatória dos 100m livres, competiu sozinho e devido a pouca condição física e técnica completou a prova com grandes dificuldades, deixando toda a organização e platéia com dúvidas se conseguiria realmente completar a metragem exigida na prova.

6 Utilizaremos durante toda a dissertação a expressão “desporto de rendimento” por ser este termo amplamente aceito no ambiente no esporte competitivo convencional e adaptado, (Camargo,1999 e Araújo,1998), aparecendo desta maneira em documentos oficiais como constituições e leis.

Page 46: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

32

A reflexão sobre esse modelo de desporto competitivo deve ser norteada por

princípios morais e éticos, que suscitem as postulações de oportunidades iguais e

igualitárias para todos, possibilitando uma prática esportiva em condições

efetivamente adequadas para a obtenção de níveis reais de rendimento desportivo.

No mesmo raciocínio, o desporto pode e deve ser um dos instrumentos para

que pessoas com cegueira e com deficiência visual e também outras deficiências,

possam ser incluídas e aceitas pela sociedade como pessoas capazes e aptas a

praticá-lo.

Na opinião de Bento (1991),

“ (...) o ‘desporto para todos’ -- expressão tanto em voga -- , não quer dizer

apenas que o desporto deve ser praticado por todos; quer dizer sobretudo que é

necessário organizar formas da sua prática; alterar regras, convenções e

parâmetros, de modo a corresponder aos diferentes estados de rendimento, de

desenvolvimento, de motivação, de interesse e de necessidade[...] O desporto é

ainda, praticado sensatamente quando nele desponta, inequivocamente a função

social da integração, da tolerância, da convivência, do diálogo, da aproximação, da

comunicação e da cooperação” (p.53).

Esse autor afirma ainda que, quando há exclusão de pessoas e/ou grupos de

pessoas, fazendo com que se sintam “fora de jogo”, isso não é “desporto para

todos”, e que um olhar mais abrangente sobre essa realidade, mostraria a

necessidade de se recriar essa forma de atividade física.

Sérgio (1981) complementa dizendo:

7 Por tratarmos em nosso trabalho do desporto, utilizaremos dentre as muitas classificações que definem cegueira e

deficiência visual a classificação esportiva funcional utilizada e reconhecida pelo Comitê Paraolimpico Internacional, International Blind Sports Federation e Associação Brasileira de Desportos para Cegos, que determina 3 categorias sendo 1 para cegueira e 2 para deficiência visual: B - Blind-Cego/ Deficiente Visual.

B1 - nenhuma percepção de luz em qualquer dos olhos, até a percepção de luz, mas incapacidade de reconhecer o formato de uma mão a qualquer distância ou em qualquer direção.

B2 - da capacidade de reconhecer o formato de uma mão até a acuidade visual de 2/60 (pés) e/ou campo visual menor que 5 graus.

B3 - da acuidade visual acima de 2/60 (pés) até a acuidade visual de 6/60 e/ou campo visual de mais de 5 graus e menos de20 graus.

Todos os deficientes visuais, considerando o melhor olho, com a melhor correção, ou seja, todos os atletas que utilizam lentes de contato ou lentes corretivas deverão usá-las para enquadramento nas classes, quer pretendam competir usando-as, ou não.

Page 47: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

33

“ É preciso que o desporto re-invente com freqüência, o seu modo de

estar-no-mundo, para se não deixar converter em simples instrumento de

interiorização da sociedade de rendimento.[...] a luta pela democratização

esportiva deve integrar-se na luta mais geral contra as desigualdades

existentes...“ (p.98).

Para que isso ocorra, Almeida (1995), nos lembra a importância da

adequação física e de acessibilidade aos locais de prática do desporto, fato que,

muitas vezes, torna a prática da atividade desportiva limitada ou impedida às

pessoas com deficiência. Essa adequação vem sendo concretizada através de leis e

regulamentações nacionais e internacionais ligadas à acessibilidade e à prática da

atividade motora, em ambientes regulares.

Dentre as Normas sobre a Equiparação de Oportunidades para Pessoas com

Deficiência (Nações Unidas,1994a), a Norma 5, que trata da Acessibilidade,

prescreve:

(a) Acesso ao Ambiente Físico:

1. Os Países-Membros devem iniciar medidas que removam os obstáculos à participação no ambiente físico. Tais medidas devem desenvolver padrões e diretrizes e considerar a promulgação de leis para garantir a acessibilidade a várias áreas da sociedade, tais como moradia, edifícios, serviços de transporte públicos e outros meios de transporte, ruas e outros ambientes externos.

2. Os Países-Membros devem garantir que os arquitetos, engenheiros civis e outros profissionais envolvidos no projeto e construção do ambiente físico tenham acesso a informações adequadas sobre política de deficiência e providências necessárias à acessibilidade.

3. As organizações de pessoas com deficiência devem ser consultadas quando estiverem sendo desenvolvidos padrões de acessibilidades.

A Constituição Federal, na busca de atender à essas necessidades,

estabelece a seguinte exigência:

Art. 227, § 1º, II: programas de prevenção, atendimento especializado e de

integração social, mediante treinamento para o trabalho e a convivência e facilitação de acesso a bens e serviços coletivos, com a eliminação de preconceitos e obstáculos arquitetônicos.

Page 48: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

34

A prática de atividades motoras por pessoas com deficiência, enquanto

processo de habilitação, reabilitação e interação social constitui-se num dos

principais instrumentos para o desenvolvimento das potencialidades individuais e

coletivas dessa parcela da população. Inegavelmente são inúmeros os ganhos

decorrentes da participação em atividades de lazer e esporte, sejam eles no âmbito

sensório-motor e/ou psicossocial.

As Nações Unidas, no documento já citado, Normas sobre a Equiparação de

Oportunidades para Pessoas com Deficiência (1994), destaca, na Norma 11, sobre

Recreação e Esportes:

“Os Países-Membros devem tomar medidas para garantir que pessoas com deficiência tenham oportunidades iguais para recreação e esportes.

1. Os Países-Membros devem iniciar medidas para tornar acessíveis às pessoas com

deficiência os locais de recreação e esportes, hotéis, praias, estádios, quadras esportivas, etc... Tais medidas devem abranger a participação, a informação e os programas de treinamento e o apoio ao pessoal dos programas de recreação e esportes, incluindo projetos para desenvolver métodos de acessibilidade.

2. As organizações esportivas devem ser estimuladas a desenvolver oportunidades

para a participação de pessoas deficientes nas atividades esportivas.Em alguns casos, medidas de acessibilidade arquitetônica são suficientes para abrir oportunidades para esta participação. Os Países-Membros devem apoiar a participação em eventos nacionais e internacionais.

3. As pessoas com deficiência que participarem de atividades esportivas devem ter

as instruções e os treinamentos de qualidade igual àqueles de outros participantes [grifo nosso].

No que diz respeito a essas normas, destacamos alguns artigos da Lei nº

8.672 de 6 de julho de 1993, da Constituição Federal/88 que instituem Normas

Legais sobre Desportos.

“Capítulo II – Dos Princípios Fundamentais:

Art 2º - O Desporto, direito individual, tem como base os seguintes princípios:

(...)

III. Democratização, garantida em condições de acesso às atividades esportivas sem distinção e quaisquer formas de discriminação; [grifo nosso].

IV. Liberdade, expressa pela livre prática do desporto com a capacidade e

interesse de cada um, associando-se ou não a entidades do setor;

Page 49: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

35

V. Direito Social, caracterizado pelo dever do estado de fomentar as práticas desportivas formais e não formais.

Capítulo V – Do Sistema Brasileiro de Desporto: Secção VII. Do Desporto Educacional: Art.23 - A prática do Desporto Educacional é fundamentada nos princípios de

democratização, de liberdade, de educação e de segurança, efetivando-se de acordo com o interesse e a capacidade de cada um, tanto no âmbito dos sistemas e ensino, como de formas assistemáticas de educação.

Parágrafo único - A liberdade na prática do Desporto Educacional inclui direito

de opção entre as manifestações participativa e de rendimento.”

Todos esses autores citados, bem como essa descrição de leis e normas

confirmam o pensamento de que uma sociedade inclusiva é possível e necessária.

O desporto como um dos grandes instrumentos de inserção social deve fazer parte

desse movimento de transformação da sociedade, que procura valorizar e respeitar

a todos.

Ocorre que, na nossa opinião, embora seja possível a prática inclusiva da

natação, os cegos e os deficientes visuais não se beneficiam dela ainda porque

preceitos constitucionais não são devidamente interpretados e cumpridos.

O descumprimento das leis, a falta de informação por parte das famílias e dos

próprios deficientes quanto as suas possibilidades e direitos e, de alguma maneira, a

má formação dos professores de Educação Física, implica no encaminhamento dos

cegos e dos deficientes visuais, desde a escola, para a prática de Educação Física

Adaptada ou para o cancelamento total da atividade física, sendo que desde o

ensino fundamental até ensino médio, a Educação Física é disciplina obrigatória na

escola. Esse afastamento prematuro ou simplesmente a falta de oportunidade de se

praticar atividades físicas e esportes, são fatores que acabam limitando o número de

pessoas com deficiência que poderiam praticar e se beneficiar do desporto de

rendimento.

Não se tem referência de um trabalho sério e contínuo de massificação

esportiva voltado para o desporto de pessoas com cegueira e deficiência visual, o

Page 50: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

36

que traz preocupação, pois o processo de renovação e continuidade do esporte,

torna-se dependente da aparição de talentos isolados, que surgem

esporadicamente.

As entidades esportivas que organizam e poderiam fomentar a prática

esportiva de pessoas com deficiência, caminham na contramão de uma sociedade

inclusiva, pois seus dirigentes acreditam que através da defesa da discriminação

positiva pode-se estabelecer e fortalecer o movimento Paraolímpico, e que depois

desse fortalecimento, talvez seja possível pensar em incluir as competições de

natação nos eventos regulares. Situação essa onde o descumprimento da

Constituição também acontece.

A Associação Brasileira de Cegos e Deficientes Visuais - ABDC entidade que

fomenta e organiza as competições esportivas para os cegos e deficientes visuais, e

que é filiada ao Comitê Paraolímpico Brasileiro8, vem tentando reverter esta situação

de isolamento e segregação das competições de Natação para cegos e deficientes

visuais, pois, em seu calendário, busca cada vez mais inserir provas e organizar

seus eventos juntamente as competições convencionais ou regulares, atitude que é

vista com uma certa desconfiança, causando desagrado a alguns dirigentes e

técnicos.

Camargo (1999:117) opina, dizendo que a ABDC “deveria se preocupar com

as pessoas excluídas de opções na sociedade em que vivem e não propor a tais

pessoas atividades excludentes”.

A aproximação entre atletas com cegueira e deficiência visual e atletas com

visão e a abertura para que possam competir em situação de igualdade, no mesmo

evento esportivo, faz com que esses atletas tenham um maior número de

oportunidades para competir, trazendo condições de desenvolver um nível de

performance mais eficiente. Para Penafort (2001:18), “há uma grande defasagem de

oportunidades competitivas entre o esporte adaptado e o esporte convencional” .

O que queremos como esporte inclusivo é que todos, cegos, deficientes

visuais e pessoas que tenham visão, estejam em um mesma prova de natação

8 O Comitê Paraolímpico Brasileiro - CPB, órgão governamental que foi fundado em 1994, na cidade do Rio de Janeiro, é a entidade representativa máxima do movimento paraolímpico brasileiro.

Page 51: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

37

competindo uns contra os outros. Alguns poderão dizer que os atletas que enxergam

terão ou levarão vantagem sobre aqueles que não vêem isso não pode ser

considerado como uma verdade absoluta, pois temos que levar em consideração

uma série de fatores que não estão simplesmente ligados à questão de ter ou não

visão. Na tentativa de elucidar melhor esse pensamento que aqui colocamos,

buscaremos compreender como é feita a divisão de classes e categorias no

desporto para cegos e deficientes visuais.

Para Mattos (1998:19), no desporto para pessoas com deficiência, “classificar

significa agrupar atletas com capacidades semelhantes com o propósito de

competir”, e destaca que existem dois tipos de classificação:

• Classificação Médica – também chamado de modelo de

abordagem clínica das ciências biológicas, que procurava

dividir os atletas em grupos de acordo com suas limitações

ou deficiências em relação à sua patologia de origem;

• Classificação Funcional – baseia-se no agrupamento dos

atletas segundo seu potencial funcional remanescente em

relação à modalidade a ser praticada.

Os sistemas de classificação funcional ainda estão em fase de

desenvolvimento e são baseados na filosofia da normalização, explica Mattos

(1998):

“O sistema funcional de classificação esportiva propõe a criação de escalas

ordinais qualitativas, que visam agrupar atletas com possibilidades

semelhantes de obter sucesso através da prática. Não se importa mais com

deficiência e sim com a possibilidade da eficiência” (p.19).

A classificação utilizada para categorizar os cegos e deficientes visuais é

baseado no modelo médico, que leva em consideração acuidade e campo visual do

atleta, sendo que esses fatores são verificados e medidos somente em um situação

Page 52: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

38

clínica (estandardizada), desprezando a maneira como os atletas utilizam sua

capacidade visual remanescente durante a prática da natação competitiva.

Junior (1995) ressalta que:

“ (...) alguns estudos denunciam a ausência de ligação entre as definições

médico-legais quantitativas e as funcionais da deficiência visual. Destacam-se

estas informações, tendo em vista que a acuidade visual pouco informa a

respeito da capacidade visual. O grau em se faz uso da visão, nem sempre

pode ser determinado por medidas objetivas. (...) crianças com acuidade visual

idênticas podem fazer uso diferente da visão, a ponto de uma necessitar do

Braille e a outra não” (p.05).

Os atletas são divididos em três categorias sendo uma, para aqueles com

falta total de visão, denominados como B1, e, duas, para atletas com baixa visão ou

visão parcial, sendo estes chamados de B2 e B3.

Essa classificação é determinada pela International Blind Sports Federation –

IBSA (1992) e também utilizada pela Associação Brasileira de Desportos para

Cegos, sendo que o atleta deve apresentar as seguintes características:

• B1 - nenhuma percepção de luz em qualquer dos olhos, até a percepção de

luz, mas incapacidade de reconhecer o formato de uma mão a qualquer

distância ou em qualquer direção.

• B2 - da capacidade de reconhecer o formato de uma mão até a acuidade

visual de 2/60 (pés) e/ou campo visual menor que 5 graus.

• B3 - da acuidade visual acima de 2/60 (pés) até a acuidade visual de 6/60

e/ou campo visual de mais de 5 graus e menos de 20 graus.

Todos os deficientes visuais, considerando o melhor olho, com a melhor

correção, ou seja, todos os atletas que utilizam lentes de contato ou lentes corretivas

deverão usá-las para enquadramento nas classes, quer pretendam competir usando-

as, ou não.

Para Tolmatchev (1998), nos esportes onde a performance não seja

influenciada pela deterioração da visão, a combinação de categorias e a fusão de

Page 53: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

39

classes se mostra possível. Importante frisar que, nas competições tanto nacionais

quanto internacionais, há uma insatisfação por parte de atletas e técnicos quanto à

forma de classificação utilizada, o que acaba gerando um número significativo de

reclamações e recursos para que as mesmas sejam revistas e adequadas.

Outro ponto a ser considerado para se avaliar a possibilidade de performance

do nadador é se a deficiência do individuo é congênita ou adquirida, e também quais

as experiências motoras que essa pessoa recebeu ao longo de seu processo de

desenvolvimento.

Acreditamos que, algumas situações, se corrigidas, possibilitarão a um

nadador cego ou com deficiência visual atingir níveis excelentes de performance,

como os atletas que têm visão.

A primeira delas é que a experiência e tempo de treinamento de um atleta

cego ou com deficiência visual é muito inferior ao de um atleta convencional.

Enquanto o nadador sem problemas visuais começa a nadar em média aos quatro/

cinco anos de idade, os atletas com problemas visuais começam a nadar na

adolescência ou, muitas vezes, já adultos.

Quando optam pelo treinamento, os atletas cegos e com deficiência visual

treinam menos horas que os atletas com visão e, na maioria das vezes, com

professores/voluntários que desconhecem o processo de treinamento da natação,

não propiciando continuidade e envolvimento dessas pessoas com o atleta e com a

modalidade, realidade totalmente contraria a da natação convencional.

Não estamos aqui afirmando que queremos técnicos especialistas no trabalho

de treinamento da natação para cegos e deficientes visuais, mas é necessário que

essa pessoa tenha conhecimentos técnicos suficientes para desenvolver um

trabalho de treinamento de natação independentemente da característica do atleta.

A segunda situação a ser destacada, que apenas citaremos não nos

preocupando em aprofundar a discussão, está relacionada às estratégias e

metodologias de ensino da natação, baseadas, em sua maioria, em um modelo

tecnicista que valoriza a repetição e não a interação do indivíduo com o ambiente

líquido. Essa relação individuo/meio líquido deve ser altamente estimulada durante a

Page 54: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

40

aprendizagem da natação, para que o individuo cego ou com deficiência visual

possa ter uma percepção e domínio das características desse novo ambiente.

Essa aprendizagem deve valorizar e potencializar a riqueza de informações

táteis e proprioceptivas que são propiciadas em função das características físicas da

água. A falta de visão faz com que o indivíduo processe informações principalmente

cinestésicas sobre como o movimento ou tarefa motora que esta sendo executada.

Não podemos nos esquecer da capacidade adaptativa que o ser humano

apresenta. Sendo assim, acreditamos que um trabalho multisensorial pode ser uma

das formas de amenizar a falta de visão durante o processo de iniciação e

treinamento da natação.

O que questionamos é se um nadador com problemas visuais pode ter uma

performance tão excelente quanto um nadador com visão. Todos esses fatos por

nós apresentados e a própria evolução das marcas obtidas nas competições por

atletas cegos e com deficiência visual fazem nos crer que sim, porém, muito se tem

a estudar sobre essa questão.

O que nos parece, inicialmente mais relevante, não é essa questão, mas sim

que os direitos de inserção no universo competitivo da natação convencional sejam

assegurados a todos, inclusive aos cegos e aos deficientes visuais, e que, com o

direito assegurado, possam fazer suas escolhas, pois o que vem afastando esses

atletas do desporto são fatores que independem da vontade deles, uma vez que não

têm nem mesmo possibilidade de escolha, e essa falta de escolha faz com que os

cegos e os deficientes visuais sejam encaminhados diretamente para o esporte

adaptado.

O que acaba contribuindo para esta realidade, entre os muitos fatores já

apontados, é o pouco envolvimento dos treinadores que trabalham com cegos e

deficientes visuais na defesa do esporte inclusivo na natação. Isso se dá, em geral,

pela acomodação e a falta de perspectiva de mudança do modelo excludente pelo

qual esse esporte é praticado hoje: ou seja, em ambientes segregados, onde o nível

técnico exigido é inferior ao que se espera de nadadores videntes.

Essa inércia acaba contaminando os atletas cegos e deficientes visuais que

são levados a pensar de maneira semelhante a dos seus treinadores, o que

Page 55: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

41

aumenta a acomodação, com a agravante de que muitos se vêem na necessidade

de participar de eventos só para cegos para a manutenção do status de atletas de

alto rendimento, sem realmente merecerem tal adjetivo.

CAMARGO (1999), em seu estudo, aponta ainda que: 1. as entidades/associações desportivas que atendem a população de cegos e

deficientes visuais não acompanham o desenvolvimento do desporto de rendimento

de uma forma geral;

2. a ABDC entidade nacional que prioritariamente deveria se destinar ao

desenvolvimento do desporto de rendimento, acaba assumindo o trabalho de base e

fomento do esporte responsabilidade de suas afiliadas;

3. a falta de recursos impede que ações mais concretas possam ser desenvolvidas

junto ao desporto para pessoas cegas e com deficiência visual;

4. muitos atletas e técnicos têm uma visão distorcida do que vem a ser desporto de

rendimento;

5. a sensibilização do desporto para pessoas com deficiência, mesmo que se diga o

contrário, passa por uma contradição, ao mesmo tempo que pretende passar uma

imagem de conquistas e eficiência, invocam o “óbvio”, o “piegas” e o senso

comum que as pessoas têm sobre deficiência, pois imagens comoventes com

atletas deficientes que tenham grandes limitações físicas ainda são utilizadas como

expediente de divulgação;

6. os parâmetros utilizados para medir o nível de performance e de rendimento do

desporto de pessoas com deficiência estão ligados ao desporto convencional;

7. o desporto de rendimento de pessoas com cegueira não ocorre de fato.

Esses fatos puderam ser observados por nós ao longo de 12 anos de

trabalho, dedicados ao esporte para cegos e deficientes visuais, que foram iniciados

em um ambiente regular (ora chamado de inclusivo), mas com participações de

alunos cegos, na prática da modalidade esportiva natação. Pudemos, porém,

lecionar, coordenar, organizar e participar também de eventos de natação

segregados.

A possibilidade de vivenciar os dois universos do esporte para deficientes

favorece a análise do tema proposto, uma vez que não nos afastamos dos

problemas mas sim debatemos e buscamos caminhos que favorecessem a inserção

de pessoas com deficiência na prática desportiva.

Page 56: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

42

O desporto de rendimento de pessoas com cegueira e deficiência visual, esta

envolto por práticas contraditórias, estabelecidas por políticas equivocadas e

distantes das suas reais necessidades. No entanto, acreditamos que os ideais da

inclusão podem e devem ser adotados, através de mudanças, ações e atitudes

educacionais, sociais e esportivas em que se predomine a valorização das

potencialidades dessas pessoas.

Page 57: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

43

CAPITULO III

DESPORTO INCLUSIVO: A NATAÇÃO COMO UMA POSSIBILIDADE

1. Os Dados

Os questionamentos desta pesquisa têm uma relação direta com a nossa

experiência profissional, ao longo dos últimos doze anos, voltada para a tarefa de

ensinar e treinar pessoas cegas, com deficiência visual e também pessoas com

visão, na modalidade esportiva natação. Nosso trabalho profissional busca a

inserção de todas as pessoas – com e sem deficiência – em ambientes regulares,

para que possam treinar e competir, garantindo seu direito à prática de atividades

físicas.

Ao longo desse tempo, tivemos a oportunidade de treinar durante 10 anos,

aquela que é, hoje, a expoente máxima da natação de cegos: a atleta Fabiana

Harumi Sugimori9, entre outros atletas de destaque regional, nacional e

internacional. Todo o treinamento realizado com esses atletas cegos e com

deficiência visual sempre foi desenvolvido em ambientes regulares.

A possibilidade de ensinar e treinar essas pessoas, somadas, ainda, ao nosso

interesse pelo universo do desporto para pessoas com deficiência, fez com que nos

envolvêssemos cada vez mais com essa problemática, o que resultou na

possibilidade de assumir a Coordenação da Modalidade Natação na Associação

Brasileira de Desporto para Cegos – ABDC, função que exercemos até hoje.

Todo esse percurso fez e faz com que levantássemos questões que estão

ligadas diretamente ao desenvolvimento do desporto de cegos e deficientes visuais

9 Fabiana Harumi Sugimori foi medalhista de ouro na Paraolímpiada de Sidney/2000, na prova de 50 metros Livre, categoria B1 ( Cego Total ). É a única atleta cega brasileira a ganhar uma medalha em Paraolímpiadas na modalidade Natação.

Page 58: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

44

tanto pelo aspecto técnico, como também pelo aspecto organizacional e político que

envolvem a prática esportiva da natação por essa população.

A possibilidade de debater e desenvolver uma prática diferenciada, que

busque efetivamente atender às necessidades e interesses das pessoas cegas e

com deficiência visual, fomentam e alimentam o presente trabalho.

A natureza de nosso estudo é qualitativa/quantitativa e pretende analisar,

através dos dados coletados, como se entende, se organiza e se desenvolve o

desporto de cegos e deficientes visuais na prática da natação.

Foram selecionados para compreender essa realidade quatro grandes

competições, sendo duas de âmbito regional, uma nacional e uma internacional,

quais sejam:

Jogos Regionais 2000 – Moji Guaçú /SP;

Jogos Abertos do Interior 2000 – Santos/SP;

Jogos Brasileiros para Cegos e Deficientes Visuais 2000 – São Paulo/SP;

Jogos Paraolímpicos 2000 – Sidney/Austrália.

Em todos os campeonatos foram realizadas entrevistas com os seus

participantes. No entanto, em virtude das características muito peculiares de cada

um deles, foi necessário, por um lado adequar a realidade destes eventos, às

entrevistas e os questionários aplicados, não sendo possível, portanto, uniformizar a

metodologia da coleta.

Por outro lado, o ambiente de competição, muitas vezes, não favorecia o

contato com os sujeitos entrevistados, em virtude do ritmo frenético e acelerado das

competições.

As entrevistas foram registradas através de gravação em fita cassete e os

dados foram transcritos e categorizados posteriormente. As entrevistas realizadas

com os atletas de língua estrangeira foram realizadas por tradutores/ou pessoas

com fluência na respectivo idioma, e depois transcritas para a língua portuguesa.

Page 59: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

45

Os entrevistados foram divididos em quatro grandes categorias:

atletas cegos e deficientes visuais;

técnicos de atletas cegos e deficientes visuais;

técnicos de atletas com visão;

dirigentes esportivos do desporto para pessoas com deficiência.

Nos Jogos Regionais e nos Jogos Abertos do Interior/2000 foram

entrevistados 100% dos nadadores com cegueira ou deficiência visual. Isto foi

possível, pois o número de participantes era muito reduzido. Participaram destes

eventos somente sete atletas. Também ouvimos 37 técnicos de atletas videntes,

para verificar a opinião dessas pessoas sobre a inserção das provas para pessoas

com deficiência física e visual e também para cegos em competições regulares.

Nos Jogos Brasileiros para Cegos e Deficientes Visuais/2000, foi possível

entrevistar o técnico/a de cada uma das equipes participantes. No total foram

ouvidos sete técnicos. Neste evento também foram entrevistados os ganhadores da

medalha de ouro em cada uma das provas individuais disputadas. Foram disputadas

24 provas, sendo entrevistados os ganhadores de 16 provas, o que representa 67%

deles.

Já nos Jogos Paraolímpicos de Sidney – 2000, foram entrevistados somente

os nadadores cegos e com deficiência visual ganhadores da medalha de ouro, nas

provas individuais. Das 36 provas disputadas por cegos ou deficientes visuais,

entrevistamos os ganhadores de 16 provas, o que representa 44,5% dos atletas.

Somados os entrevistados das quatro competições chegamos a um total 16

atletas cegos e 11 com deficiência visual.

Quanto aos dirigentes, o estudo se limitou a ouvir os responsáveis das

entidades mais representativas que organizam o desporto para pessoas com

cegueira e deficiência visual, que são:

Presidente do Comitê Paraolimpíco Brasileiro;

Presidente Licenciado da Associação Brasileira de Desportos para Cegos -

ABDC, que é o atual Presidente do Comitê Paraolímpico Brasileiro;

Page 60: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

46

Chefe da Delegação Brasileira nas Paraolimpíadas de 2000;

Presidente da Associação Brasileira de Desportos para Cegos - ABDC;

Vice-Presidente da Associação Brasileira de Desportos para Cegos –

ABDC;

Diretor Técnico da Associação Brasileira de Desportos para Cegos –

ABDC.

Para verificar a opinião dos atletas, foi aplicado um questionário estruturado

com 12 perguntas, sendo 9 questões fechadas e 3 abertas. Já para os técnicos e

dirigentes foi colocada apenas um questão aberta, como mostra o roteiro que segue:

Roteiro para entrevistas dos atletas – Versão em Português

1. Qual o seu nome?

2. Qual a sua nacionalidade?

3. Qual a sua idade?

4. Qual a sua deficiência?

5. Há quanto tempo você treina?

6. Quantas horas por dia você treina?

7. Você treina todos os dias?

8. Seu treinamento é feito com pessoas videntes ou separadamente, só

com cegos?

9. Você participa de competições com videntes ou só de competições

especiais/adaptadas?

10. O que você acha das competições conjuntas, inclusivas?

11. Você gostaria de participar de competições inclusivas, com os

videntes? Sim? Não? Por quê?

12. Você acha que a Olimpíadas e Paraolimpíadas poderiam ser um único

evento? Sim? Não? Por quê?

Page 61: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

47

Questões para entrevistas dos atletas – Versão em Inglês

1. What’s your name?

2. What’s your nationality?

3. How old are you?

4. What’s your disability?

5. For since when have you been training?

6. For how long is each session training?

7. How many days do you have training session in a week?

8. Do you train with able bodied people, or separately, only with blind and

visually impaired people?

9. Do you participate in competitions with people who can see or only in

special/ adapted competitions?

10. Would you like to participate in inclusive competitions. That is, with

people who can see? Yes or No? Why?

11. Do you think that the Olympic and Paraolympic games could be one

event? Yes or No? Why?

Questão proposta aos técnicos e dirigentes

1. Qual a sua opinião sobre a inclusão de cegos e de deficientes visuais

no ambiente regular de competição de natação?

Passarmos a descrever, detalhadamente, os dados coletados em cada um

dos eventos pesquisados, buscando explicar a relevância e importância destas

competições para a compreensão do problema proposto.

Page 62: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

48

1.1. Jogos Regionais

A 1ª edição dos Jogos Regionais oficialmente organizada ocorreu em 1959. O

Estado de São Paulo é dividido, atualmente, em oito regiões desportivas para a

realização desses jogos.

O evento é organizado pela Secretaria de Esportes e Turismo do Estado de

São Paulo – SEET, através da Coordenadoria de Esportes e Recreação – CER e,

desde 1970, passou a ser um evento classificatório para os Jogos Abertos do

Interior.

No ano de 2000, o município de Moji Guaçú, da 4ª Região Desportiva, foi

escolhido para sediar a 44ª edição dos Jogos Regionais, no período de 21 a 29 de

julho. Esse evento contou com a participação de 42 cidades do interior de São

Paulo, nas seguintes modalidades esportivas: Atletismo, Basquetebol, Biribol,

Bocha, Ciclismo, Damas, Futebol, Futebol de Salão, Ginástica Olímpica, Handebol,

Judô, Karatê, Malha, Natação, Tênis, Tênis de Mesa, Voleibol, Xadrez e Hipismo

Rural como modalidade extra.

Os municípios Inscritos nos Jogos Regionais 2000 em Moji Guaçú/SP foram

os seguintes:

Campinas Rio Claro Santa Gertrudes Americana São João da Boa Vista Águas da Prata

Limeira São José Rio Pardo Piracaia Moji Guaçú Santa Cruz das Palmeiras Vargem Grande do Sul

Valinhos Atibaia Iracemápolis Paulínia Amparo Jaguariúna Sumaré Pedreira Casa Branca

Bragança Paulista Hortolândia Cosmópolis Itapira Mogi Mirim Elias Fausto Aguaí Nova Odessa Espírito Santo do Pinhal

Vinhedo Serra Negra Leme Indaiatuba Socorro São Sebastião da Grama

Araras Cordeirópolis Tambaú Mococa Conchal Tuiuti

Page 63: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

49

Nesses jogos, o Governo do Estado de São Paulo, através de uma atitude

pioneira, inseriu em seu calendário oficial provas adaptadas às pessoas com

deficiência física e visual, reiterando a importância da implementação de ações que

garantam o acesso dessas pessoas em eventos esportivos promovidos e

organizados pela Secretaria de Esportes e Turismo do Estado de São Paulo –

SEET. Dessa forma, a SEET/CER possibilitou a participação das pessoas com

deficiência física nas seguintes modalidades e provas:

Atletismo

100 m – corrida em cadeira de rodas – Masculino e Feminino

400 m – corrida em cadeira de rodas – Masculino

Natação

50 m Livre – Masculino e Feminino

100 m Livre – Masculino e Feminino

Para as pessoas com cegueira e deficiência visual foram oferecidas as

seguintes modalidades e provas:

Natação

50 m Livre – Masculino e Feminino

Page 64: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

50

100 m Livre – Masculino e Feminino

Por não ser interesse principal deste trabalho a discussão da inserção das

pessoas com deficiência física nas competições convencionais, vamos apenas citá-

los, sem qualquer outra observação.

A seguir, apresentamos alguns itens do regulamento dos Jogos Regionais

2000, a fim de subsidiar e propiciar uma análise mais abrangente da inserção de

pessoas com deficiência em eventos convencionais.

1.1.1 Regulamento Geral dos Jogos Regionais de 2000

Art. 1º - Objetivo dos Jogos Regionais – Favorecer o desenvolvimento da prática esportiva nos municípios do Estado de São Paulo, contribuir para o aprimoramento técnico da diversas modalidades em disputa e selecionar, através de competição, os melhores atletas e equipes das regiões visando à participação nos Jogos Abertos do Interior.

Art. 16º § Único - Será conferido a cada município que participar das

modalidades de atletismo e natação com atletas PPD, um ponto de bonificação por modalidade e sexo.

Utilizou-se nos Jogos Regionais o sistema de classe única, ou seja, não se

considerou a classificação funcional, que é baseada nos níveis de acuidade e campo

visual dos atletas, como ocorre em eventos específicos.

Das cidades participantes, 24 se inscreveram na modalidade natação. Dessas

cidades, apenas quatro levaram atletas com deficiência para competir na referida

modalidade esportiva, sendo que das quatro cidades, três participaram com atletas

deficientes físicos (Americana, Aguaí e Bragança Paulista) e apenas uma,

Campinas, com atletas cegos e deficientes visuais.

Na Tabela 2, temos um resumo da participação dos atletas com deficiência

nos Jogos Regionais de 2000.

Page 65: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

51

Tabela 2 - 44º Jogos Regionais – Participação dos atletas com deficiência na modalidade Natação

Atletas com Deficiência

Atletas com Deficiência Física

Atletas com Deficiência Visual

Atletas com Cegueira

Masc Fem Masc Fem Masc Fem 07 4 0 0 0 2 1

Das 24 equipes participantes foram entrevistados 18 técnicos, todos os

atletas com cegueira ou deficiência visual, bem como seus respectivos técnicos,

conforme Tabela 3.

. Tabela 3 - 44º Jogos Regionais - Atletas com cegueira e com deficiência

visual/entrevistados

Municípios Participantes dos

Jogos

Municípios Inscritos na

Natação

Municípios Entrevistados

Município com Atletas Deficientes

Municípios com Atletas Cegos

42 24 18 4 1

1.2. Jogos Abertos do Interior

Os Jogos Abertos do Interior, assim como os Jogos Regionais são

organizados pela Secretaria de Esportes e Turismo do Estado de São Paulo –

SEET, através da Coordenadoria de Esportes e Recreação – CER.

Os Jogos Abertos do Interior, em sua primeira edição, foram organizados de

maneira informal no ano de 1936 pelo Sr. Horácio “Baby’’ Barioni.

Originalmente, os Jogos eram abertos à participação de cidades de outros

Estados, sendo oficializados pelo Estado de São Paulo em 1939, passando dessa

forma a constar do calendário do Departamento de Esporte do Estado de São Paulo

– DEESP.

Com o passar dos anos, os Jogos Abertos do Interior tornaram-se a maior

competição poliesportiva do país, recebendo o apelido carinhoso de “Olimpíada

Caipira”. Em sua última edição, no ano de 2002, os Jogos contaram com a

participação de 140 cidades, totalizando 12.000 atletas, que disputaram medalhas

Page 66: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

52

em 26 modalidades esportivas, reunindo no mesmo evento atletas desconhecidos do

grande público, provenientes de diversas cidades do Estado, juntamente com

estrelas olímpicas.

O município de Santos/SP foi sede dos 64º Jogos Abertos do Interior, evento

ocorrido no período de 10 a 18 de Novembro de 2000. Esse evento contou com a

participação de 131 cidades do interior de São Paulo, nas seguintes modalidades

oficiais: Atletismo, Basquetebol, Bocha, Ciclismo, Damas, Futebol, Futebol de Salão,

Ginástica Olímpica, Handebol, Judô, Karatê, Malha, Natação, Pugilismo, Tênis,

Tênis de Mesa, Voleibol, Xadrez e Basquete sobre Rodas. Tendo ainda como

modalidades extras a Capoeira, Futebol para Deficientes Auditivos, Pólo Aquático,

Taekwondo, Tamboréu, Tênis de Mesa para Deficientes Mentais, Tênis para

Deficientes Físicos e o Vôlei de Praia.

Os municípios inscritos nos Jogos Abertos do Interior 2000 – Santos/SP foram

os seguintes:

Adamantina Capão Bonito Limeira Porto Feliz Taquaritinga Americana Carapicuíba Lins Praia Grande Taubaté

Américo Brasiliense

Catanduva Mairinque Registro Terra Roxa

Amparo Cerquilho Manduri Restinga Tietê Angatuba Cruzeiro Marília Ribeirão Preto Tremembé Araçatuba Cubatão Matão Rio Claro Tupã

Arandu Diadema Mauá Salto Ubatuba Araraquara Dracena Mirassol Salto Pirapora Urânia

Araras Fernandópolis Mococa Santa Adélia Valinhos Arujá Franca Mogi das Cruzes Santa Bárbara

D’Oeste Votorantim

Assis Garça Moji Guaçu Santa Cruz do Rio Pardo

Votuporanga

Atibaia Guaratinguentá Monte Alto Santo André Avanhandura Guarujá Nova Odessa Santos

Avaré Guarulhos Olímpia São Bernardo do Campo

Barra Bonita Hortolândia Orlândia São Caetano do sul Barretos Ilha Comprida Osasco São João da Boa

Vista

Barrinha Ilha Solteira Osvaldo Cruz São José do Rio Pardo

Barueri Indaiatuba Ourinhos São José do Rio Preto

Page 67: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

53

Batatais Iracemápolis Paraibuna São José dos Campos

Bauru Itapetininga Patrocínio Paulista São Manuel Bertioga Itapeva Paulínia São Roque Birigui Itapira Penápolis São Sebastião

Boa Esperança do Sul

Itaquaquecetuba Pereira Barreto São Vicente

Boituva Itatiba Peruíbe Sertãozinho Borebi Itu Pindamonhangaba Socorro

Botucatu Jaboticabal Piquete Sorocaba Bragança Paulista

Jacareí Piracicaba Suzano

Caçapava Jales Piraju Tabapuã Campinas Jaú Piratininga Taboão da Serra

Campo Limpo Paulista

Jundiaí Poá Tambaú

Mantendo o oferecimento de provas adaptadas em seu calendário oficial, a

Secretaria de Esportes e Turismo do Estado de São Paulo – SEET, dá continuidade

no trabalho, oferecendo às pessoas com cegueira, deficiência física e visual a

oportunidade de competir, de forma oficial, nas seguintes modalidades e provas:

Atletismo para deficientes físicos

100 m – corrida em cadeira de rodas – Masculino e Feminino

400 m – corrida em cadeira de rodas – Masculino

Natação para deficientes físicos

Page 68: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

54

50 m Livre – Masculino e Feminino

100 m Livre – Masculino e Feminino

Natação para deficientes visuais

50 m Livre – Masculino e Feminino

100 m Livre – Masculino e Feminino.

Destacamos de seu regulamento os seguintes itens:

Artigo 1 - Objetivo dos Jogos Abertos do Interior – coroar o desenvolvimento

da prática esportiva nos municípios do Estado de São Paulo, classificados através dos Jogos Regionais, e contribuir para o aprimoramento técnico das diversas modalidades em disputa.

Artigo 15 § Único – Cada município que participar das modalidades de

atletismo e natação com atletas PPD receberá um ponto por modalidade e sexo.

E determinando em seu regulamento técnico que:

Artigo 1º - Os Jogos Abertos serão regidos pelo regulamento técnico dos

Jogos Regionais em cada modalidade, excetuando-se as alterações e inclusões presentes.

Page 69: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

55

Quanto à natação, no Artigo 23, não há índice para as provas adaptadas, o

que difere do regulamento para os atletas videntes, desfavorecendo dessa maneira

a participação de nadadores cegos e com deficiência visual, uma vez que aos

videntes é permitida a utilização de resultados obtidos em outras competições para

efeito de classificação. Os cegos e deficientes visuais ficam, portanto, prejudicados,

pois a eles não é facultado tal direito, uma vez que não há índices determinados

para classificar os atletas com deficiência.

O Artigo 23, § 1º das provas para PPDs, afirma que participarão dos Jogos

Abertos os oito melhores resultados das oito Regiões Esportivas obtidos nos Jogos

Regionais. O fato dos atletas não serem classificados por índices, mas por

colocação, levando em consideração a classificação por regiões, como já dissemos,

faz com que o índice técnico da competição possa ser prejudicado à medida que, em

algumas regiões, se concentram um número maior de bons nadadores e, em outras,

atletas de técnica inferior. Esse formato faz com que alguns bons nadadores fiquem

de fora da competição por competirem em uma região tecnicamente com melhores

resultados. Sugerimos, portanto, que seja utilizado o mesmo regulamento para

pessoas com e sem deficiência, que é o critério de índice.

Da mesma forma que nos Jogos Regionais, nos Jogos Abertos foi utilizado o

sistema de classe única. Das cidades participantes, 40 se inscreveram na

modalidade natação. Dessas cidades, apenas oito levaram atletas deficientes para

competir na referida modalidade esportiva, sendo que das oito cidades, cinco

participaram com atletas deficientes físicos (Botucatu, Ilha Solteira, Jaú, Santos e

Suzano) e quatro (Campinas, Itatiba, São Bernardo do Campo e Santos) com atletas

cegos e deficientes visuais. Na Tabela 4, temos um resumo da participação dos atletas com deficiência

nos Jogos Abertos do Interior de 2000.

Tabela 4 - 64º Jogos Abertos do Interior – Participação dos atletas

com deficiência na modalidade Natação

Atletas com Deficiência

Atletas com Deficiência Física

Atletas com Deficiência Visual

Atletas com Cegueira

Masc Fem Masc Fem Masc Fem

Page 70: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

56

14 9 2 2 1 1 1

Das 40 equipes participantes foram entrevistados 19 técnicos, todos os atletas

com cegueira ou deficiência visual , bem como seus respectivos técnicos, conforme

Tabela 5.

Tabela 5 - 64º Jogos Abertos do Interior - Atletas com cegueira e deficiência

visual/entrevistados

Municípios Participantes

dos Jogos

Municípios Inscritos na

Natação

Municípios Entrevistados

Município com Atletas Deficientes

Municípios com Atletas Cegos

131 40 19 8 3

1.3. Jogos Brasileiros para Cegos e Deficientes Visuais

A Associação Brasileira de Desporto para Cegos, entidade fundada em 1984,

é a responsável pela prática desportiva de rendimento para pessoas com cegueira e

deficiência visual. Enquanto entidade nacional de administração do desporto para

cegos e deficientes visuais, tem por finalidades10:

1. Congregar suas afiliadas e seus afiliados a:

a) promover, apoiar e incentivar estudos e pesquisas, direcionados para a obtenção de

formas e mecanismos de melhor oportunizar às pessoas cegas e com deficiência

visual, a atividade física, e o ensino da prática do esporte;

b) promover, apoiar e incentivar estudos e pesquisas, direcionados para a obtenção de

formas adequadas inovadores de treinamento esportivo, para os atletas cegos e

deficientes visuais;

c) promover, apoiar e incentivar estudos e pesquisas, direcionados para oportunizar às

pessoas cegas e com deficiência visual, material e equipamento adequado, para a

prática esportiva.

10 Retiradas e adaptadas do estatuto vigente da Associação Brasileira de Desportos para Cegos

(ABDC).

Page 71: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

57

2. Dirigir o desporto de cegos e deficientes visuais:

a) coordenando as ações das entidades a ela filiadas;

b) organizando o calendário de competições, regionais, nacionais e internacionais

(quando houver);

c) executando o calendário oficial das modalidades através da organização dos eventos

em parceria com suas afiliadas;

d) representando o Brasil nas respectivas competições internacionais.

3. Difundir o ensino da prática esportiva e o desporto de cegos e deficientes visuais:

a) divulgando a comunidade brasileira de cegos por meio de veículos de informação já

existentes e que atinjam esse segmento;

b) informando e conscientizando os órgãos municipais, estaduais e nacionais dirigentes

do desporto, as Universidades Brasileiras, as escolas Superiores de Educação Física,

as agências capacitadoras de recursos humanos, as confederações e federações do

desporto Paraolimpíco e Olímpico, clubes e associações esportivas;

c) informando e conscientizando a sociedade em geral, através dos diversos meios de

comunicação e informação;

d) fomentando o ensino e a prática esportiva, através de incentivos e facilidades, quanto

à participação de atletas, nas competições promovidas e/ou coordenadas pela ABDC.

A Associação Brasileira de Desportos para Cegos – ABDC congrega 51

entidades, que são relacionadas a seguir : AADV – Associação Atlética de Deficientes Visuais ABDV – Associação Brasiliense de Deficientes Visuais ACELB – Associação de Cegos Louis Braille ACEP – Associação dos Cegos do Piauí ACERGS - Associação de Cegos do Rio Grande do Sul ACERP – Associação de Cegos do Rio Preto ACEVALI – Associação de Cegos do Vale do Itajaí ACIC – Associação Catarinense para Integração do Cego ACJF – Associação de Cegos em Juiz de Fora ADEVIBEL – Associação dos Deficientes Visuais de Belo Horizonte ADEVIC – Associação dos Deficientes Visuais de Canoas ADEVIG - Associação dos Deficientes Visuais de Guarulhos ADEVIMAR – Associação dos Deficientes Visuais de Maringá ADEVIPAR - Associação dos Deficientes Visuais do Estado do Paraná ADEVIRN – Associação dos Deficientes Visuais do Rio Grande do Norte ADEVIRP - Associação dos Deficientes Visuais de Ribeirão Preto e Região ADEVIUDI – Associação dos Deficientes Visuais de Uberlândia ADVAM – Associação dos Deficientes Visuais do Amazonas

Page 72: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

58

ADVEG – Associação dos Deficientes Visuais do Estado de Goiás ADVC – Associação dos Deficientes Visuais de Campos ADVIMS - Associação dos Deficientes Visuais de Mato Grosso do Sul ADVNORPA – Associação de Deficientes Visuais do Norte do Paraná ADVIR - Associação dos Deficientes Visuais de Ituiutaba e Região ADEVOSC – Associação dos deficientes Visuais do Oeste de Santa Catarina ADVVALE – Associação dos Deficientes Visuais de Taubaté e Vale AJIDEVI – Associação Joinvilense para Integração dos Deficientes Visuais AMC – Associação Mato-grossense dos Cegos APACE - Associação Paraibana de Cegos APADEVI – Associação Paraibana de Deficientes Visuais APEC - Associação Pernambucana de Cegos ASCEPA – Associação de e para Cegos do Pará ASSEC – Associação São Carlense de Esportes para Cegos CADEVI – Centro de Apoio ao Deficiente Visual CCLBC – Centro Cultural Louis Braille Campinas CEDEMAC – Centro Desportivo Maranhense de Cegos CESEC – Centro de Emancipação Social e Esportiva de Cegos CETEFE – Associação de Centro de Treinamento de Educação Física Especial CIMEEE – Madre Cecília Clube Curitibano CSDDV - Centro Social Desportivo de Deficientes Visuais ESCEMA - Escola de Cegos do Maranhão IBC – Instituto Benjamin Constant - Coordenação de Educação Física IBDD – Instituto Brasileiro de Defesa dos Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência ICBC – Instituto de Cegos do Brasil Central ICP – Instituto dos Cegos da Paraíba Adalgisa Cunha ISL – Instituto Santa Luzia ISMAC – Instituto Sul Matogrossense para Cegos – Florivaldo Vargas IRCT – Instituto Rio Pretense para Cegos Trabalhadores LMC – Lar das Moças Cegas LDVAC – Lar dos Deficientes Visuais do Acre SFITC – Sociedade Francana de Instrução e Trabalho para Cegos UNICEP – União de Cegos Dom Pedro II As modalidades de competição disputadas pelos cegos e deficientes visuais

no Brasil, são seis: Atletismo, Goalball, Futsal, Judô, Natação, Xadrez.

Relacionamos os esportes e as entidades esportivas inscritas na temporada

do ano de 2002.

Para melhor visualizar a participação das entidades por modalidade

desportiva, apresentamos a Figura 1.

Figura 1 - Modalidades de desportos para cegos e deficientes visuais presentes na

temporada de 2002.

Atletismo Goalball Fem.

Goalball Masc.

Futsal B1 Futsal B2/B3

Judô Natação Xadrez

AADV AADV AADV AADV AADV ADEVIBEL ACIC ABDV ACELB ABDV ABDV ABDV ADEVIBEL ADEVIMAR ADEVIBEL ACERGS

ACERGS ACERGS ACERP ACEP ADEVIPAR ADEVIPAR ADEVIMAR ADEVIBEL

Page 73: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

59

Gráfico 1 - Participação das Entidades por Modalidade Desportiva

17%

14%

15%

15%

9%

7%

14%

9%

AtletismoGoalball - Fem.Goalball - Masc.Futsal B1Futsal B2/3JudôNataçãoXadrez

ACERP ACERP ACIC ACERGS ADEVIRN ADEVIRN ADEVIPAR ADEVIPAR ACIC ACIC ADEVIMAR ACERP ADEVIRP ADEVIRP ADEVIRN ADEVIRN ACJF ADEVIG ADEVIPAR ACEVALI ADEVOSC ADVEG ADEVIRP ADEVIRP

ADEVIBEL ADEVIMAR ADEVIRP ADEVIBEL ADVAM ADVVALE ADVAM ADEVOSC ADEVIG ADEVIPAR ADEVIUDI ADEVIG ADVEG APADEVI ADVEG ADVVALE

ADEVIMAR ADEVIRP ADVC ADEVIMAR ADVIMS APEC ADVIMS AJIDEVI ADEVIPAR ADEVIUDI ADVIMS ADEVIPAR ADVIR CADEVI ADVIR APADEVI ADEVIRP ADVIMS ADVIR ADEVIRN APACE CESEC ADVNORPA ASCEPA ADEVIUDI ADVIR ADVNORPA ADEVIRP APADEVI CSDDV ADVVALE ASSEC ADEVOSC ADVNORPA ADVVALE ADVAM APEC IBC AJIDEVI CADEVI

ADVEG AMC APACE ADVC ASCEPA IBDD APACE CEDEMAC ADVIMS APACE APADEVI ADVEG CADEVI APADEVI CETEFE ADVIR APADEVI APEC ADVIMS CESEC APEC CIMEEE

ADVNORPA APEC ASSEC ADVIR IBC ASCEPA CSDDV ADVVALE ASSEC CADEVI AMC LDVAC ASSEC IBC AJIDEVI CADEVI CCLBC APACE UNICEP CADEVI IBDD

AMC CCLBC CESEC APADEVI CCLBC APACE CEDEMAC CETEFE APEC CEDEMAC

APADEVI CESEC CIMEEE ASCEPA CESEC APEC CETEFE IBC CADEVI CSDDV

ASCEPA IBC IBDD CCLBC Curitibano ASSEC ICBC ICBC CEDEMAC IBC CADEVI ICP ICP CESEC IBDD CCLBC LMC IRCT CETEFE ICBC

CEDEMAC SFITC ISL ESCEMA ICP CESEC UNICEP LMC IBC IRCT CIMEEE SFITC IBDD SFITC ESCEMA UNICEP LDVAC

IBC UNICEP IBDD ICBC IRCT

LDVAC UNICEP

No Gráfico 1, podemos visualizar a participação por modalidade desportiva

dessas entidades relacionadas.

Page 74: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

60

A Associação Brasileira de Desportos para Cegos, na temporada do ano de

2000, na modalidade natação, organizou seu calendário esportivo através do

Circuito Brasileiro de Natação, que foi composto por três etapas, todas

classificatórias e seletivas para os 1º Jogos Brasileiros para Cegos e Deficientes

Visuais. Destacamos alguns ítens do Regulamento Geral da Natação:

Capitulo II: Da Competição

Art.5º O Atleta que conseguir um resultado/tempo, que o coloque entre os

oito melhores resultados do ano, numa prova, observados parâmetros técnicos pela coordenação da modalidade, terá garantida sua participação nesta prova, nos 1ºJogos Brasileiros para Cegos no ano de 2000;

§ 2º Os atletas, para figurarem no ranking anual ABDC, terão obrigatoriamente que participar de pelo menos duas tomadas de tempo;

§ 3º Qualquer atleta poderá submeter-se a tomadas de tempo, em competições oficiais das Federações de Natação dos diversos estados, observados os seguintes critérios:

a) o prazo limite para as tomadas de tempo, será igual ao prazo do

Circuito Brasileiro de Natação fase classificatória; b) o atleta deverá apresentar a ABDC, o boletim oficial da

competição que tomou parte, em papel timbrado da Federação responsável, assinado pelo arbitro geral e pelo diretor técnico da competição;

c) os atletas referidos no § anterior deste artigo, terão que participar obrigatoriamente de uma das Etapas do Circuito Brasileiro de Natação, fase classificatória.

A primeira edição dos Jogos Brasileiros para Cegos e Deficientes Visuais

ocorreu na data de 09 de Setembro de 2000, na cidade de São Paulo/SP, evento

que abrangeu as modalidades atletismo, natação e judô para adultos e infanto-

juvenil, além do goalball na categoria infanto-juvenil, caracterizando o evento como o

maior já realizado na América Latina, no que se refere ao desporto de cegos e

pessoas com deficiência visual.

Page 75: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

61

A competição de natação foi realizada na piscina do complexo esportivo

“Baby Barioni” e contou com a participação de 21 atletas, de vários estados

brasileiros, conforme Tabela 6.

Tabela 6 - Entidades e atletas cegos e com deficiência visual participantes dos

1º Jogos Brasileiros

Entidades/Equipes Cidades/Estado N º de Atletas Modalidade Masc Fem

Associação dos Deficientes Visuais de Belo Horizonte– ADEVIBEL

Belo Horizonte – MG 1 2 Natação

Associação dos Deficientes Visuais do Amazonas – ADVAM

Manaus – AM 2 0 Natação

Centro de Apoio ao Deficiente Visual – CADEVI São Paulo – SP 6 2 Natação Centro Cultural Louis Braille de Campinas –

CCLBC Campinas – SP 4 1 Natação

Instituto Benjamin Constant – IBC Rio de Janeiro – RJ 1 0 Natação Instituto de Cegos do Brasil

Central – ICBC Uberaba - MG 1 0 Natação

Secretaria Municipal de Esportes e Cultura de São Bernardo do Campo

São Bernardo do Campo - SP

0 1 Natação

1.4 - Jogos Paraolímpicos A prática do esporte para pessoas com deficiência física teve sua principal

fase de desenvolvimento na Inglaterra, logo após a II Segunda Guerra Mundial, no

hospital de Stoke Mandeville, onde o neurocirurgião Ludwig Guttmann introduziu o

esporte como um importante instrumento no processo de reabilitação.

Em 1948, foram realizados os Primeiros Jogos de Stoke Mandeville, reunindo

apenas duas equipes de atletas ingleses com deficiência física, que disputaram a

modalidade de arco e flecha, sendo esse talvez o marco inicial das competições

para pessoas com deficiência.

Em 1952, os Jogos Anuais de Stoke Mandeville ganharam dimensão

internacional com a participação da delegação de atletas com deficiência física da

Holanda. A partir dessa competição, o número de países envolvidos nesse evento

não parou de se ampliar.

Como o número de países e atletas se ampliara muito, buscou-se apoio

internacional para que os jogos passassem a ser realizados em condições mais

Page 76: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

62

adequadas, uma vez que o espaço do Hospital de Stoke Mandeville, tornara-se

pequeno e inadequado.

Com esse apoio, na cidade de Roma, na Itália, em 1960, os referidos jogos

utilizaram, pela primeira vez, as mesmas instalações esportivas dos Jogos

Olímpicos. A possibilidade de realizar os Jogos para pessoas com deficiência no

mesmo local dos Jogos Olímpicos significou um grande avanço para a consolidação

do movimento olímpico de pessoas com deficiência, pois contou com o apoio do

Comitê Olímpico Italiano - COI. Marcou-se o envolvimento político e social de

autoridades e personalidades com esta modalidade competitiva.

Todos esses fatos trouxeram mudanças e transformações, o que ocasionou a

troca de nome dos Jogos. De Jogos Anuais de Stoke Mandeville passaram a ser

chamados de "Jogos Paraolímpicos".

A partir desse momento, os Jogos passaram a ser organizados de quatro em

quatro anos, respeitando o calendário de competição das Olimpíadas.

Em 1964, em Tóquio, os Jogos aconteceram novamente, utilizando-se dos

mesmos locais e com a mesma infra-estrutura das Olimpíadas.

De 1968 a 1984, por motivos de ordem política e organizacional, os Jogos

Paraolímpicos (destinados somente as pessoas com deficiência) se separaram das

Olimpíadas, somente retornando quatro anos depois.

Em 1988, houve um novo marco do movimento esportivo para pessoas com

deficiência, pois os Jogos Paraolímpicos passaram a envolver cegos, paralisados

cerebrais, les autres11 e lesados, dentre as pessoas com deficiência, cada qual

competindo dentro das normas estabelecidas pelas suas federações internacionais.

Esta ação de unificação das Olimpíadas com os Jogos Paraolímpicos

novamente ocasionou uma mudança na nomenclatura desses jogos, que passaram

a se chamar Paraolimpíadas, em virtude de sua proximidade com as Olimpíadas.

Na Tabela 7, podemos verificar o aumento do número de atletas participantes

das Paraolimpíadas a partir de 1988.

11 Les autres = os outros, em francês, constitui-se de pessoas que disputam os Jogos Paraolímpicos, na

categoria que agrupa deficiências tais como: distrofias musculares, esclerose múltipla, nanismo e pólio.

Page 77: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

63

ALMEIDA (1999) destaca ainda que há uma divergência semântica da palavra

Paraolimpíada, que pode representar Olimpíada para paraplégicos ou jogos

paralelos/simultâneos aos Jogos Olímpicos.

Tabela 7 - Evolução da participação de países e atletas nos Jogos Paraolímpicos.

Ano Jogos

Olímpicos Jogos Paraolímpicos Países

Participantes Participantes Participação

do Brasil 1952 Helsinque Stoke Mandeville 2 130 Não 1960 Roma Roma 23 400 Não 1964 Tóquio Tóquio 22 300 Não 1968 México Tel-Aviv 29 1.100 Não 1972 Munique Heidelberg 44 1.400 Sim 1976 Montreal Toronto 42 2.700 Sim 1980 Moscou Arnhem 42 2.500 Sim 1984 Los Angeles NewYork/Aylesbury 41/45 1.700/2.300 Sim

*1988 Seul Seul 65 4.361 Sim *1992 Barcelona Barcelona 75 4.200 Sim *1996 Atlanta Atlanta 120 3.500 Sim *2000 Sidney Sidney 125 4.000 Sim

* Aumento da participação de atletas com deficiência em relação ao período que a Paraolimpíada era realizada separada da Olimpíada.

As Paraolímpiadas são organizadas pelo Comitê Paraolímpico Internacional –

International Paralympic Comitte – IPC, que congrega seis organizações

internacionais, as quais são estruturadas por grupos de deficiência e não como o

desporto convencional, por modalidades esportivas. São elas:

Comitê Internacional de Desporto para Surdos – CISS;

Associação Internacional de Desporto e Recreação para

Paralisados Cerebrais – CP-ISRA;

Page 78: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

64

Associação Internacional de Desporto para Deficientes Mentais

– INAS-FMH;

Federação Internacional de Desporto para Cegos – IBSA;

Federação Internacional de Esporte em Cadeira de Rodas de

Stoke Mandeville – ISMWSF;

Organização Internacional do Desporto para Deficientes –

ISOD.

O Comitê Paraolímpico Internacional foi criado em 1989, sendo oficialmente

designado como representante das organizações esportivas internacionais para

pessoas com deficiência. Esse Comitê tem como objetivo:

“Dar assistência na coordenação dos Jogos Paraolmpicos; dar assistência na coordenação e supervisão de jogos regionais, mundiais e campeonatos, com a única organização de múltiplas deficiências. Tem complemento a isso, buscar: coordenar o calendário de competições regionais e internacionais, integrar esportes para atletas com deficiência com movimentos internacionais de esporte para atletas não-deficientes, ligados ao Comitê Olímpico Internacional; dar assistência e encorajar programas educacionais e de reabilitação, pesquisas e atividades promocionais” [grifo nosso].

Page 79: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

65

No Brasil, a história do paradesporto remonta ao ano de 1958, quando os

paraplégicos Robson de Almeida Sampaio e Sérgio Del Grande retornaram dos

Estados Unidos, para onde viajaram a tratamento. Lá, entraram em contato com o

esporte para deficientes nos hospitais em que se reabilitaram. Trouxeram a idéia

para o Brasil, fundando respectivamente no dia 1º de abril, o Clube do Otimismo do

Rio de Janeiro e o Clube dos Paraplégicos em São Paulo, no dia 23 de julho daquele

mesmo ano.

Nestes 40 anos de história das Paraolímpiadas, o Brasil participou de sete

das dez competições já realizadas, sendo os Jogos Paraolímpicos de Seul, em

1988, um marco para o nosso país, no que diz respeito ao número de medalhas

conquistadas e que são demonstradas na Tabela 8.

Tabela 8 - Medalhas conquistadas em Paraolímpiadas

Ano Jogos Paraolímpicos Países Participantes

Participação do Brasil

Medalhas Conquistadas

Número De atletas

1952 Stoke Mandeville 2 Não 0 0 1960 Roma 23 Não 0 0 1964 Tóquio 22 Não 0 0 1968 Tel-Aviv 29 Não 0 0 1972 Heidelberg 44 Sim 0 2 1976 Toronto 42 Sim 1 3 1980 Arnhem 42 Sim 0 15 1984 NewYork/Aylesbury 41/45 Sim 14/14 12/11

* 1988 Seul 65 Sim 27 56 1992 Barcelona 75 Sim 7 42 1996 Atlanta 120 Sim 21 58

** 2000 Sidney 125 Sim 22 66 * Marco referente à quantidade de medalhas. ** Marco referente à qualidade das vitórias conquistadas. A estrutura organizacional do desporto para pessoas com deficiência no Brasil

se assemelha ao modelo internacional, pois é constituída, também, pelo Comitê

Paraolímpico Brasileiro, fundado em 1995 e que congrega as seguintes associações

esportivas:

Page 80: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

66

Associação Nacional de Desportos para Deficientes - ANDE;

Associação Brasileira de Desportos para Cegos - ABDC;

Associação Brasileira de Desportos em Cadeira de Rodas -

ABRADECAR;

Associação Brasileira de Desportos para Deficientes Mentais -

ABDEM;

Associação Brasileira de Desportos para Amputados - ABDA.

Nas Paraolímpiadas de Sydney 2000, participaram 125 países com um total

aproximado de 4.000 atletas disputando 18 modalidades esportivas. Relacionamos a

seguir, os países participantes dessa competição:

Algeria Guatemala Papua New Guinea Angola Guinea Republic PR China

Argentina Honduras Peru Armenia Hong Kong, China Philippines Australia Hungary Poland Austria Iceland Portugal

Page 81: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

67

Azerbaijan India Puerto Rico Bahrain Indonesia Qatar

Barbados Iraq Republic of Moldova Belarus Ireland Republic of Panama Belgium Islamic Republic of Iran Romania Benin Israel Russian Federation

Bermuda Italy Rwanda Bosnia Herzegovina Japan Samoa

Brazil Jamaica Saudi Arabia Bulgaria Jordan Sierra Leone

Burkina Faso Kazakhstan Singapore Cambodia Kenya Slovakia Cameroon Korea Slovenia

Canada Kuwait South Africa Chile Kyrgyzstan Spain

Chinese Taipei Lao People’s Democratic Republic

Sri Lanka

Columbia Latvia Sudan Costa Rica Lebanon Sweden

Cote D’Ivoire Lesotho Switzerland Croatia Libyan Arab Jamahiriya Syrian Arab Republic Cuba Lithuania Thailand

Cyprus Macau, China Tonga Czech Republic Madagascar Tunisia

Denmark Malaysia Turkey East Timor Mali Turkmenistan

Ecuador Mauritania Uganda Egypt Mexico Ukraine

El Salvador Mongolia United Arab Emirates Estonia Morocco USA

Faroe Islands Netherlands Uruguay Fiji New Zealand Vanuatu

Finland Niger Venezuela FYR of Macedonia Nigeria Vietnam

France Norway Yugoslavia Germany Oman Zambia

Great Britain Pakistan Zimbabwe Greece Palestine

O Brasil foi o 24º colocado no quadro geral de medalhas dos jogos

Paraolímpicos com 22 medalhas, sendo 6 de ouro, 10 de prata e 6 de bronze. A

Austrália, Inglaterra, Espanha, Canadá e U.S.A. foram os países que obtiveram o

maior número de medalhas na competição de natação de cegos e deficientes

visuais. Os atletas que entrevistamos nesta Paraolimpíada são desses países. Eles

têm, portanto, representatividade como amostra desta pesquisa.

Page 82: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

68

Tabela 9 - Países detentores do maior número de medalhas na classificação

geral dos desportos - Sidney/2000.

POSIÇÃO PAÍS OURO PRATA BRONZE TOTAL 1 Austrália 63 49 37 149 2 Inglaterra 41 43 47 131 3 Espanha 30 30 38 107 4 Canadá 38 33 25 96 5 USA 36 39 34 109

As delegações melhor colocadas na competição de Sidney/2000 foram,

também, aquelas que possuíam maior número de atletas deficientes participantes na

modalidade natação.

Tabela 10 - Países com maior número de atletas com deficiência na

modalidade Natação - Sidney/2000

PAÍSES Nº DE ATLETAS COM DEFICIÊNCIA Espanha 55 Austrália 51 Inglaterra 48

U.S.A. 29 China 26

Canadá 24

Nos eventos de natação dos Jogos Parolímpicos utiliza-se um sistema de

divisão de classes que é identificada pela letra S – de Swimming ( natação ) –

seguido de um número, que vai de 1 a 14, que identifica a deficiência e seu nível de

comprometimento, sendo que quanto menor o número, maior o grau de

comprometimento. As classes S1 a S10 são destinadas aos deficientes físicos; as

classes S11 a S13, aos cegos e deficientes visuais, e a classe S14, aos deficientes

mentais.

O programa de provas da natação, nos Jogos Paraolímpicos, é composto por

100 eventos subdivididos da seguinte forma:

- Classe de nadadores S14, masculinos e femininos - Individual:

• Nado Livre – 50/100/400m

Page 83: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

69

• Nado Costas – 100m

• Nado Peito – 100m

• Nado Borboleta – 100m

• Nado Medley – 200m

Revezamentos

• Livre – 4X100m

• Medley – 4X100m

- Classe de nadadores S1 – S10 , masculinos e femininos - Individual:

• 50m Nado Livre – S1 – S10

• 100m Nado Livre – S1 – S10

• 200m Nado Livre – S1 – S5

• 400m Nado Livre – S6 – S10

• 50m Nado Costas – S1 – S5

• 100m Nado Costas – S6 – S10

• 50m Nado Peito – SB1 – SB3

• 100m Nado Peito – SB4 – SB10

• 50m Nado Borboleta – S1 – S7

• 100m Nado Borboleta – S8 – S10

• 50m Nado livre – S1 – S10

• 150m Nado Medley – SM1 – SM4

• 200m Nado Medley – SM5 –SM10 Revezamentos:

• 4X50m Livre – Máximo 24 Pontos

• 4X100m Livre – Máximo 34 Pontos

• 4X50m Medley – Máximo 20 Pontos

• 4X100m Medley – Máximo 34 Pontos

Page 84: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

70

- Classe de nadadores S11, S12 e S13 , masculinos e femininos - Individual:

• Nado Livre – 50/100/400m

• Nado Costas – 100m

• Nado Peito – 100m

• Nado Borboleta – 100m

• Nado Medley – 200m

Revezamentos

• 4X100m Livre – Máximo 49 Pontos

• 4X100m Medley – Máximo 49 Pontos

Segue o programa de provas oficial da competição de natação dos Jogos

Paraolímpicos, porém nem todas as provas foram efetivamente disputadas.

Na Tabela 11, apresentamos os índices para cada prova e as que realmente

ocorreram.

Tabela 11 – Índices Classificatórios para provas de Natação – Parolimpíadas

Sidney-2000 EVENTO CLASSE MASC. FEM. EVENTO CLASSE MASC. FEM.

50m Nado Livre S1 Não Ocorreu Não Ocorreu 100m Nado Costas S8 1’25’00 1’45’’00

50m Nado Livre S2 1’ 40’’00 1’58’’50 100m Nado Costas S9 1’15’’00 1’30’’00

50m Nado Livre S3 1’25’’00 1’36’’50 100m Nado Costas S10 1’13’’00 1’27’’00

50m Nado Livre S4 1’00’’00 1’15’’50 100m Nado Costas S11 1’40’’00 1’50’’00

50m Nado Livre S5 50’’00 56’’00 100m Nado Costas S12 1’30’’00 1’40’’00

50m Nado Livre S6 40’’00 46’’50 100m Nado Costas S13 1’20’’00 Não Ocorreu

50m Nado Livre S7 34’’00 43’’00 100m Nado Costas S14 1’22’’00 Não Ocorreu

50m Nado Livre S8 32’’00 40’’00 50m Nado Peito SB1 Não Ocorreu Não Ocorreu

50m Nado Livre S9 29’’00 35’’00 50m Nado Peito SB2 1’30’’00 Não Ocorreu

50m Nado Livre S10 28’’00 33’’50 50m Nado Peito SB3 1’20’’00 1’26’’00

50m Nado Livre S11 35’’50 40’’00 50m Nado Peito SB14 Não Ocorreu 48’’00

50m Nado Livre S12 30’’00 37’’00 100m Nado Peito SB4 2’10’’50 2’30’’00

50m Nado Livre S13 29’’00 35’’00 100m Nado Peito SB5 1’55’’50 2’27’’50

50m Nado Livre S14 29’’00 35’’00 100m Nado Peito S6 1’50’’50 2’19’’50

100m Nado Livre S1 Não Ocorreu Não Ocorreu 100m Nado Peito S7 1’45’’00 2’06’’50

100m Nado Livre S2 3’30’’00 4’00’’00 100m Nado Peito S8 1’32’’50 1’50’’00

Page 85: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

71

100m Nado Livre S3 3’00’’00 3’03’’50 100m Nado Peito S9 1’24’’00 1’38’’00

100m Nado Livre S4 2’15’’50 2’28’’00 100m Nado Peito S10 Não Ocorreu Não Ocorreu

100m Nado Livre S5 1’50’’00 2’00’’00 100m Nado Peito S11 1’45’’00 Não Ocorreu

100m Nado Livre S6 125’’50 1’40’’00 100m Nado Peito S12 1’35’’00 1’50’’00

100m Nado Livre S7 1’12’’50 1’35’’00 100m Nado Peito S13 1’30’’00 1’40’’00

100m Nado Livre S8 1’10’’00 1’26’’50 100m Nado Peito S14 1’28’’00 Não Ocorreu

100m Nado Livre S9 1’05’’00 1’15’’50 50m Nado Borboleta S1 Não Ocorreu Não Ocorreu

100m Nado Livre S10 1’01’’50 1’12’’00 50m Nado Borboleta S2 Não Ocorreu Não Ocorreu

100m Nado Livre S11 1’30’’00 1’32’’00 50m Nado Borboleta S3 Não Ocorreu Não Ocorreu

100m Nado Livre S12 1’10’’00 1’21’’00 50m Nado Borboleta S4 1’25’’00 Não Ocorreu

100m Nado Livre S13 1’05’’00 1’15’’00 50m Nado Borboleta S5 1’10’’00 1’08’’00

100m Nado Livre S14 1’05’’00 1’20’’00 50m Nado Borboleta S6 47’’00 1’00’’00

200m Nado Livre S1 Não Ocorreu Não Ocorreu 50m Nado Borboleta S7 40’’00 55’’00

200m Nado Livre S2 Não Ocorreu Não Ocorreu 50m Nado Borboleta S14 33’’00 43’’00

200m Nado Livre S3 5’15’’00 Não Ocorreu 100m Nado Borboleta S8 1’28’’00 1’40’’00

200m Nado Livre S4 4’30’’00 4’53’’50 100m Nado Borboleta S9 1’16’’00 1’30’’50

200m Nado Livre S5 4’00’’00 4’05’’00 100m Nado Borboleta S10 1’11’’00 1’21’’50

200m Nado Livre S14 2’30’’00 2’55’’00 100m Nado Borboleta S11 Não Ocorreu Não Ocorreu

400m Nado Livre S6 6’35’’00 7’49’’00 100m Nado Borboleta S12 1’25’’00 1’45’’00

400m Nado Livre S7 5’40’’00 6’51’’00 100m Nado Borboleta S13 1’20’’00 1’30’’00

400m Nado Livre S8 5’30’’00 6’32’’00 150m Medley Ind. SM1 Não Ocorreu Não Ocorreu

400m Nado Livre S9 5’05’’00 5’42’00 150m Medley Ind. SM2 Não Ocorreu Não Ocorreu

400m Nado Livre S10 4’50’’00 5’29’’50 150m Medley Ind. SM3 4’40’’00 Não Ocorreu

400m Nado Livre S11 Não Ocorreu 6’40’’00 150m Medley Ind. SM4 3’25’’00 4’03’’00

400m Nado Livre S12 5’10’’00 6’20’’00 200m Medley Ind. SM5 4’40’’00 4’50’’00

400m Nado Livre S13 5’00’’00 5’50’’00 200m Medley Ind. SM6 3’40’’00 4’20’’50

50m Nado Costas S1 Não Ocorreu Não Ocorreu 200m Medley Ind. SM7 3’16’’00 4’’00’’00

50m Nado Costas S2 1’45’’00 1’59’’00 200m Medley Ind. SM8 3’10’’00 3’38’’00

50m Nado Costas S3 1’22’’00 1’42’’00 200m Medley Ind. SM9 2’45’’00 3’15’’00

50m Nado Costas S4 1’05’’00 1’16’’50 200m Medley Ind. SM10 2’40’’00 2’57’’00

50m Nado Costas S5 56’’00 1’05’’50 200m Medley Ind. SM11 3’10’’00 3’45’’00

50m Nado Costas S14 Não Ocorreu 43’’00 200m Medley Ind. SM12 3’00’00 3’20’’00

100m Nado Costas S6 1’40’’00 2’00’’00 200m Medley Ind. SM13 2’50’’00 3’10’’00

100m Nado Costas S7 1’30’’00 1’49’’50 200m Medley Ind. SM14 2’50’’00 3’10’’00

* Tabela extraída do Livro Técnico de Natação das Paraolimpíadas de Sidney – 2000.

A Paraolimpíada é o maior evento esportivo destinado a atletas com

deficiência, mas mesmo assim oferece em seu programa de competição da natação

um número muito reduzido de provas aos atletas cegos e com deficiência visual.

Page 86: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

72

Com vistas a demonstrar uma diferença significativa entre o número de

provas oferecidas por essas entidades aos atletas, na Tabela 12, comparamos o

número de provas oferecidas em competições organizadas por duas entidades

especificas para deficientes e uma entidade que organiza competições

convencionais para nadadores com visão.

Tabela 12 – Número de Provas Oferecidas a Atletas Cegos e Deficientes

Visuais em eventos específicos e convencionais Entidade Provas Individuais Revezamentos

IPC* 07 02

IBSA** 12 04

FINA*** 14 03

• *Comitê Parolímpico Internacional – organizador das Parolimpíadas

• **International Blind Sports Federation – organizador de competições especificas para

cegos e deficientes visuais

• ***FINA – Federação Internacional de Natação – entidade máxima da Natação

Participaram da competição de natação nas Paraolimpíadas de Sidney –2000,

569 atletas de 61 países. Os atletas com cegueira e deficiência visual foram

representados por 62 homens e 43 mulheres, totalizando 105 participantes.

A Tabela 13 apresenta. por divisão de classe, o número de atletas cegos e

deficientes visuais participantes e também o número de provas disputadas em cada

uma destas classes nas Paraolimpíadas na modalidade Natação.

Tabela 13 – Participação dos atletas cegos e deficientes visuais nas Paraolimpíadas de Sidney/2000 modalidade Natação

Número de Atletas Número de Provas Classe

Masc. Fem. Masc. Fem.

S11 20 16 05 05

S12 25 18 07 07

S13 17 09 07 04

Total 62 43 19 16

Page 87: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

73

O Brasil levou apenas 16 nadadores, sendo 15 com deficiência física e um

apenas com cegueira, destes três do sexo feminino e 13 do sexo masculino.

Conseguimos 12 medalhas na modalidade natação e a única medalha de

ouro foi da nossa atleta cega, Fabiana Harumi Sugimori.

Com base nos dados aqui apresentados é que faremos a análise deste

estudo, tendo em vista verificar o que buscamos nesta pesquisa: a natação como uma possibilidade de desporto inclusivo.

2. Análise dos Dados

A análise que fizemos para compreender como o universo desportivo de

cegos e deficientes visuais é influenciado pela inclusão destes no desporto

convencional, não seguirá um modelo de tradicional, pois os elementos que

constituem o universo pesquisado e a própria coleta de dados apresentam

características muito próprias e peculiares.

O processo de análise foi estabelecido e calcado num diálogo constante entre

todos os envolvidos neste estudo, o que permitiu e possibilitou uma série de

correlações entre os depoimentos dos entrevistados, as observações empíricas de

torneios e campeonatos e os dados quantitativos, tendo sempre como background

a nossa experiência no âmbito do desporto para pessoas com cegueira e

deficiência visual.

E importante salientar que a interpretação, aqui apresentada, não pretende

ser única, absoluta, pois nada mais é do que um recorte de um momento histórico.

Os nomes dos entrevistados, bem como os nomes de quaisquer outras

pessoas citadas nos fragmentos escolhidos, são fictícios e foram criados, para

preservar a identidade das pessoas envolvidas neste estudo. Varemos exceção a

nadadora Fabiana Harumi Sugimori, uma vez que preservar sua identidade seria

desnecessário e impossível em virtude de seus resultados e de sua importância

para o movimento de cegos no Brasil.

Page 88: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

74

A tarefa de fomentar, organizar, pensar e sobretudo, de repensar o desporto

de cegos e deficientes visuais está, em boa parte, nas mãos dos dirigentes

esportivos. São seus comportamentos, idéias, condutas e ações políticas que

favorecem ou encaminham o desporto para uma determinada direção ou o desviam

dela.

Do ponto de vista administrativo, para Camargo (1999) as entidades que

promovem a performance desportiva dos cegos e deficientes visuais no Brasil

assumem ares de países “primeiromundistas”. O que esse autor frisa: “são os

modos controladores de explicitação do poder”, que impõem a ferro e fogo seus

objetivos, desconsiderando muitas vezes os anseios, as necessidades e realidades

dos atletas e técnicos que também compõem este espetáculo esportivo.

Nas entrevistas realizadas com os principais dirigentes esportivos ligados ao

desporto para pessoas com cegueira e deficiência visual, um dos pensamentos

mais recorrentes é o de que a inclusão é um fato, que deve ser considerado como

meio para o aperfeiçoamento esportivo do atleta deficiente, mas que, ao mesmo

tempo, pode comprometer todo o desenvolvimento e a valorização do desporto

especifico para este público. Estas visões ambíguas demonstram uma

preocupação com a continuidade do esporte para cegos e deficientes visuais, mas

também podem indicar que há uma grande inquietação sobre quem comandará

este universo esportivo caso a inclusão se efetive.

Para o vice-presidente da ABDC, o tema inclusão/esporte ainda não é uma

questão totalmente fechada, em função da sua modernidade. Na opinião desse

dirigente devemos observar essa inovação, a partir de dois aspectos: o primeiro diz

respeito ao fato de que a inclusão já se institucionalizou na sociedade, e que,

portanto devemos aprender a conviver e usufruir desta realidade.

Ao se pronunciar a respeito, em entrevista que realizamos em 2000, no Brasil

ele ressaltou que a “inclusão é parte de um movimento internacional que chegou ao

Brasil independentemente da vontade de alguns grupos. Ela é uma questão maior, é

uma questão social, que perpassa a questão do esporte, da saúde, da educação,

enfim trata da integração social. Por conseqüência, cada vez mais o desporto vai ter

que estar dentro desse processo de inclusão, seja pela busca de marketing, de

Page 89: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

75

patrocínio, de viabilização das competições, de mídia. Não dá mais para as pessoas

sérias fazerem um desporto ilhado, um desporto de isolamento, diante desse

movimento maior que é o movimento de inclusão”.

O segundo aspecto com o qual o mesmo dirigente se preocupa é relacionado

à defesa e à manutenção das entidades, que hoje desenvolvem o desporto

adaptado de base. Ele diz que as “organizações que viabilizam, que tornam possível

a participação dessas pessoas têm esse momento de transição, e devem ter

cuidado para não enfraquecerem demais as entidades”.

Por outro lado, o Presidente em exercício da ABDC pondera que o desporto

de cegos e de pessoas com deficiência visual pode se fortalecer através da

concretização da inclusão e de uma aproximação entre as entidades máximas que

organizam o desporto adaptado e convencional, desde que elas sejam tratadas e

apoiadas em condição de igualdade pelo governo federal. Ele se manifesta,

lembrando que “hoje nós temos o governo federal reconhecendo o Comitê

Paraolímpico Brasileiro nas reuniões, tanto quanto o Comitê Olímpico Brasileiro. É

verdade que em nível de recursos, já houve um avanço, no nosso entender

significativo”.

Esse mesmo dirigente identifica um certo desinteresse por parte da mídia,

quanto à cobertura dos eventos e dos resultados obtidos por atletas com deficiência.

Ele se pronunciou, dizendo que acha “que para se consolidar essa inclusão mesmo,

é preciso conseguirmos vincular isso, dentro da sociedade. Eu não acredito que

espontaneamente a nossa mídia, os veículos de comunicação venham conceder os

espaços, porque os espaços são concedidos no momento que interessa, de maneira

muito esporádica. Eu acho que nós não podemos depender disso, acho que nós

devemos ter uma legislação específica pra isso”.

Para os atletas brasileiros entrevistados um dos principais pontos a favor do

desporto inclusivo é a possibilidade de uma maior divulgação e, por conseqüência,

uma maior valorização da pessoa com deficiência.

João, atleta do estado do Amazonas que integra a seleção brasileira de

natação para cegos e deficientes visuais, opinou sobre esta questão, dizendo que,

“enquanto as coisas estiverem sendo feitas separadas, eu acho que é uma forma de

Page 90: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

76

discriminação. Eu acho que deveria ser ao mesmo tempo, realizadas juntas, porque

daria um maior destaque para a gente. Você vê a Olimpíada, a imprensa está toda

lá. Assim que acaba a Olimpíada, todo mundo vem embora e a Paraolimpíada fica

esquecida. Você não vê um jornalismo a respeito da Paraolimpíada, então eu acho

que difundiria muito mais”.

Carlos, um outro atleta com passagem pela seleção Brasileira e tendo

participado de uma Paraolimpíada, reforça o pensamento de João, afirmando que “a

divulgação de uma Olimpíada é muito grande, quer dizer, você vai jogar na mídia

uma questão que é uma realidade e, se você for examinar do ponto de vista do

objetivo dos jogos olímpicos que era o amador no inicio, nós somos muito mais

amadores do que os atletas normais”.

Fabiana, a única nadadora cega a conquistar uma medalha em

Paraolimpíadas, foi medalha de ouro nos 50 m Nado Livre na Paraolimpíada de

Sidney/2000 e referiu que o desporto inclusivo é “uma boa coisa. Até pra em termos

de divulgação até mesmo pra estimular as pessoas a nadarem melhor”.

Já Dirceu, iniciante nas competições, disse-nos em um misto de euforia e

brincadeira que, para ele “poderia ser legal. Nossa, todo mundo ia ficar conhecido!

Não só os caras que já estão lá em cima, mas a gente que está aqui em baixo!”

“Os caras que estão lá em cima” são os atletas com resultados expressivos e

que fazem parte de seleções e competem no desporto convencional ou adaptado.

São estes atletas que servem como exemplo e estímulo para que iniciantes, como

Dirceu, busquem a prática desportiva.

Para o Presidente do Comitê Paraolímpico Brasileiro12 não é o momento para

se discutir a inclusão, mas de se fortalecer o movimento Paraolímpico, através da

valorização dos atletas e da divulgação do desporto para pessoas com deficiência.

Ele se pronunciou a respeito, afirmando que este é “um momento de

afirmação do Desporto Paraolímpico. Então fazer coisas misturadas, não sei (...). Eu

acho que seria desviar o foco (...). O Desporto Paraolímpico precisa se afirmar

12 O atual Presidente do Comitê Paraolímpico Brasileiro não é a mesma pessoa que participou da entrevista, pois as entrevistas foram realizadas ano de 2000. No entanto, esta pessoa continua militando em prol do desporto para pessoas com deficiência, e usufruindo de muito respeito e poder.

Page 91: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

77

através da divulgação e quando isso acontecer, eu acho que tudo bem, aí a gente

pode fazer atividades inclusivas, inclusive deles conosco”.

A preocupação com a valorização da pessoa com deficiência através de uma

maior divulgação dos jogos é um pensamento comum entre os dirigentes e atletas,

no entanto as divergências surgem na forma e maneira como essa divulgação deve

ser realizada.

O Presidente do Comitê Paraolímpico baseia suas idéias de divulgação na

vinculação da imagem vencedora da pessoa com deficiência, transformando-a em

um ídolo para os demais deficientes, sejam eles praticantes ou não de esportes.

Conforme ele afirma, “a gente precisa é do seguinte: pegar os atletas Paraolímpicos

que são os nossos ícones e botá-los na vitrine. Quer dizer, o dia em que a gente

mostrar o Paulo sem as duas pernas nem a mão, recordista do mundo, enfim todos

os atletas, as famílias vão se sentir talvez menos presas a determinados conceitos e

vão proporcionar a seus filhos atividades físicas. É daí que vai surgir a massificação,

quer dizer é uma maior quantidade”.

Há que se considerar que esta é uma forma perigosa de exposição, pois pode

causar diversos sentimentos e interpretações, que transitam desde a valorização

efetiva destas pessoas até o simples sentimento de pena e compaixão, o que, na

visão dos atletas, pode levar a uma interpretação distorcida e equivocada do

desporto para pessoas com deficiência.

O Presidente ironizou a aparição de uma nova forma de se conceber este

esporte, dizendo-nos: “olha só, a questão da inclusão, o que eu acho é que vira e

mexe as pessoas encontram... um nome qualquer, né? Uma hora é pra denominar

a pessoa portadora de deficiência, então muda para deficiente, para portador de

deficiência, para portador de necessidade especial. Agora é esse assunto de

inclusão. As pessoas falam muito em inclusão, inclusão, inclusão, inclusive alguns

órgãos nacionais, que tratam das pessoas portadoras de deficiência, quer dizer, da

política...”

Mas ele é enfático em afirmar que o esporte é uma ótima ferramenta contra

as desigualdades que assolam a sociedade, pois o “esporte ajuda, contribui muito,

Page 92: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

78

porque com o esporte a gente pode desmistificar um pouco essa questão da menos

valia”.

O diretor técnico da ABDC e chefe da Delegação Brasileira Paraolímpica que

participou das Paraolimpíadas de Sidney/2000 acha que é necessário uma maior

compreensão do fenômeno da inclusão. Ele acha que a “conceituação de inclusão

ainda carece de uma maior base de sustentação e de discussão para a gente ter

claro o que é inclusão. Qual é a inclusão que nós queremos?” E sugere para que

ocorra tal compreensão, que o esporte inclusivo seja analisado a partir de dois

momentos: “um é o momento do portador de deficiência no esporte inclusivo e o

outro, seria o momento do esporte como meio de inclusão”.

Achamos que esta dificuldade que muitos professores de Educação Física

têm de entender e conceituar a inclusão ocorre, como destacamos no Capítulo 2,

dentre outros motivos, pela formação básica recebida nas graduações, que

incentivam o trabalho segregado e distorcem o que realmente vem a ser uma

sociedade inclusiva.

Baseado no modelo de sociedade inclusiva que apresentamos durante todo o

estudo, não podemos pensar no esporte como inclusão e o esporte inclusivo para

pessoas com deficiência como momentos distintos, pois estaríamos negando

princípios que norteiam este modelo de sociedade.

O presidente licenciado da ABDC aborda a questão da inclusão referindo que

“o esporte inclusivo deve ser analisado por dois aspectos: o primeiro é a da

facilitação desse processo de inclusão da pessoa portadora de deficiência dentro

das competições. Isso tem, obviamente, um fator positivo, que é inegável, mas da

minha ótica, nós temos que observar o outro aspecto, que é o que estaria

condenando os jogos para portadores de deficiência, os jogos Paraolímpicos, de

uma forma contundente, porque quando você traz, inclui e consegue incluir os

atletas dentro desse processo, você vai estar incluindo atletas que tem condição de

ter uma performance bem elevada. Ao contrário, os atletas mais comprometidos,

esses estariam irremediavelmente alijados do processo competitivo, porque não

teriam espaço dentro desse processo como um todo”.

Page 93: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

79

Estes dois aspectos levantados pelo presidente licenciado da ABDC se

contrapõem, tanto do ponto de vista teórico como prático, pois ele próprio e também

outros dirigentes, são enfáticos em dizer que os atletas paraolímpicos devem utilizar

do processo de inclusão para atingir desempenhos melhores, principalmente no que

diz respeito à modalidade natação disputada por cegos e deficientes visuais. Ele

afirma que os “atletas estão utilizando a inclusão para alcançar uma performance

melhor, para disputar os jogos específicos, as competições especificas porque nós

temos que ter consciência. Nós temos que utilizar todos os métodos e recursos para

melhorar o treinamento dos nossos atletas, sejam mais ou menos comprometidos.

Mas nós não podemos abrir mão, jamais, das competições específicas”.

Para o diretor técnico da ABDC e chefe da Delegação Brasileira na

Paraolimpíada de Sidney/2000, os atletas têm reais possibilidades de disputar e de

competir em condição de igualdade com outros atletas não deficientes, porque “com

relação ao deficiente visual, com uma classificação por exemplo, S13, que tem um

resíduo visual, permite a ele estar em condições de igualdade. Por exemplo, numa

competição de cinqüenta metros, que nós sabemos que ela é decidida na saída, um

deficiente visual leve, (S12/S13), não vai ter problema de desvio na raia. O que

treinou o seu sistema de percepção auditiva para a saída, ele pode sair alguns

centésimos de segundos mais rápido do que um não portador de deficiência visual

e, com isso, ganhar uma prova de cinqüenta livre. É por isso que você vai ver que

nas provas rápidas, eles vão estar sempre bem próximos”.

Para este dirigente, a possibilidade de resultados tão próximos entre o

desporto adaptado e desporto convencional, ocorre pela superação dos limites

humanos. Ele destaca que “o problema é que nós estamos caminhando para achar

até onde vai a potencialidade do portador de deficiência. Nós não sabemos.

Estamos vendo os recordes olímpicos sendo quebrados todo dia, porque nós não

sabemos qual é o máximo do limite do ser humano. Nós sabíamos até pouco tempo

– ou achávamos que sabíamos – que o portador de deficiência podia chegar só até

ali. Hoje nós vemos que um portador de deficiência amputado de duas pernas corre

100 metros em doze, em onze segundos, que uma cega corre 100 metros em onze,

em doze segundos, uma cega total ! Então, qual é o limite? Nós não sabemos. De

Page 94: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

80

repente, pode chegar nisso mesmo, em que uma cega total, com guia, pode correr

tão bem quanto um não portador de deficiência”.

Na Paraolímpiada de Sidney/2000, a equipe brasileira conquistou seis

medalhas de ouro, sendo duas por uma atleta com deficiência física no atletismo. As

outras quatro medalhas foram divididas entre atletas cegos, que participaram das

competições de natação, atletismo e judô. Estes três atletas usufruíram e se

beneficiaram, durante toda carreira esportiva ou grande parte dela, de treinamentos

e competições dentro da ótica da inclusão.

O talento individual de cada atleta somado a esta condição privilegiada de

treinamento faz com que tenham uma performance diferenciada em relação aos

demais atletas.

Nas entrevistas realizadas com os nadadores ganhadores de medalhas de

ouro, na Paraolimpíada de Sidney/2000, o que diagnosticamos é que somente a

atleta da Inglaterra não realizava treinamentos com pessoas videntes, porém

treinava em um centro de alta performance para pessoas com deficiência e

participava de competições com videntes.

Todos os demais atletas entrevistados estavam incluídos e faziam seus

treinamentos e participavam de competições juntamente com atletas videntes.

Quanto à esta possibilidade de participação conjunta, descreveram como

sendo altamente positiva, pois propicia melhora em suas performances e traz um

sentimento de igualdade.

Tom, um atleta norte americano, quando perguntado sobre sua participação

em competições, respondeu-nos que participava de ambas. “Eu nadei para meu

time da faculdade, que era um time de pessoas não-deficientes; também para minha

escola secundária e também representando os Estados Unidos, numa equipe

regular de pessoas não-deficientes, competindo com nadadores não-deficientes.

Adoro fazer isso, porque é bastante competitivo num nível local e isso pode me

forçar a um bom desempenho em competições internacionais para deficientes”.

Dani, uma atleta dos Estados Unidos, diz que também participa das duas

formas de competição – o modelo segregado e o regular. “No ano passado, estive

treinando com cegos, deficientes visuais e outras deficiências, mas depois do ano

Page 95: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

81

passado, a equipe era toda de pessoas não deficientes, um time de faculdade,

alguns em pós-graduação”.

Esta atleta, em seu depoimento, relatou que sempre nadou, treinou e

competiu com pessoas sem problemas de visão e que somente após anos no

desporto convencional optou por competir em eventos adaptados para pessoas com

problemas de visão. Ela disse que por “muitos anos é o que tenho feito. Eu não tinha

estado nas Paraolimpíadas, até 1992. Eu gosto destes eventos, de nadar em

ambos, eu acho que é importante para os atletas com deficiências experimentar

ambos”.

Sobre a mesma questão outros atletas também opinaram.

Rebeca, atleta canadense, afirma que gosta de competir “com pessoas que

podem enxergar, porque é desafiador para mim e eu não vejo por que não deveria

competir com pessoas que podem enxergar”.

Paul, um atleta australiano, participa principalmente de competições para

pessoas não deficientes. “Elas constituíram a maioria das minhas competições

agendadas no ano passado.Sim, Eu gostei... São competições mais freqüentes, são

competições de nível elevado. Eu também gostei de estar com colegas do meu

país. Ninguém percebeu que sou cego. Eu era só um outro nadador”.

Rafaela, uma atleta espanhola, refere que “a unificação é uma forma de fazer

o Desporto Paraolímpico ser o mais normal possível. Temos os mesmos direitos e

treinamos como eles. Por que não ter as mesmas facilidades que todos? Somos

iguais”.

Apesar de terem possibilidades menores de vivenciar situações de inclusão no

esporte, os atletas brasileiros demonstram que esta pode ser uma oportunidade para

que eles possam se desenvolver tecnicamente e que a aproximação pode também

valorizar as potencialidades da pessoa com deficiência.

João, um atleta do Amazonas, pensa da seguinte maneira e “acha que é uma

oportunidade de você mostrar ainda mais para as pessoas a sua capacidade. Sem

contar que você vai ganhar ritmo de competição, quanto mais você competir melhor.

Então, acho que é uma oportunidade de você evoluir mais ainda”.

Page 96: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

82

Para Roberto, um atleta carioca, é “importante você participar com essas

pessoas não portadoras de deficiência, até para mostrar para essas pessoas que as

pessoas com deficiência também são capazes de competir de igual para igual”.

Carlos, atleta do Rio de Janeiro, acredita que esta questão deve ser pensada

pelo aspecto técnico e social, ou seja, “um aspecto técnico, na medida em que você

nada com videntes, você necessariamente vai ter mais pessoas te observando,

dando palpites, conversando com o teu técnico. O outro aspecto é o social, que é,

logicamente, o da integração”.

Francisco, um atleta de São Paulo, preocupa-se com a melhora técnica e

acha “muito bom a integração na sociedade. Com certeza, o treinamento com

pessoas de um nível melhor tende a melhorar o seu nível”.

Fabiana, primeira e única atleta a conseguir uma medalha de ouro na natação

em Paraolimpíadas, opinou dizendo: “eu acho legal, é um incentivo maior pra mim”.

Além desta maior possibilidade de inclusão no esporte, há outras diferenças

que podem fazer com que os atletas de outros países acabem conquistando

melhores resultados em competições do que os nadadores brasileiros. Todos estes

aspectos estão relacionados a quantidade e qualidade do treinamento.

Ao compararmos os atletas que competiram no campeonato brasileiro de

natação para cegos e deficientes visuais e os atletas, com a mesma deficiência,

que participaram das Paraolimpíadas, verificamos que não há uma diferença

significativa entre a faixa etária destes atletas. No entanto, os atletas que estavam

acima dos 20 anos de idade, na Paraolimpíada de Sidney/ 2000, tinham entre seis

a oito anos de treino a mais do que os atletas brasileiros da mesma faixa etária.

Quanto ao tempo diário de treinamento, verificou-se que os atletas de outros

países treinavam entre duas a seis horas diárias, ao passo que os atletas

brasileiros treinavam de uma a quatro horas, ou seja, tinham duas horas a menos

de treinamento por dia.

Porém, a discrepância maior está no número de sessões de treinamento

semanal realizadas desses dois grupos pesquisados. Os atletas brasileiros têm de

uma a seis sessões de treino e os atletas de outros países têm de seis a onze

sessões de treinamento.

Page 97: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

83

Não queremos afirmar que somente a quantidade de horas de treino é um

fator fundamental para um bom resultado nas competições de natação, mas um

maior contato com a água parece dar mais qualidade ao treinamento dos

nadadores cegos e deficientes visuais. O treinamento aproxima-se do padrão e dos

princípios do treinamento esportivo utilizados na natação convencional e propicia

uma maior fonte de informações sobre as características do ambiente, o que pode

ser traduzido em um melhor direcionamento na raia, que é fator fundamental para

que o atleta cego e com deficiência visual possam conseguir bons resultados nas

provas.

As medalhas da natação Brasileira em Campeonatos Mundiais e nas

Paraolimpídas foram conquistadas por uma atleta cega total, que treinou e

competiu durante toda a sua vida incluída no desporto regular. Isto nos faz crer que

a inclusão no esporte é importante e que o treinamento de nossos atletas está

defasado em relação aos países que conquistam melhores resultados nas grandes

competições de natação para cegos e deficientes visuais, pois estas conquistas da

atleta brasileira são devidas também ao fato de que ela se enquadra nos padrões

internacionais e não nos padrões brasileiros de treinamento.

Outro grupo favorável à inclusão é o grupo dos técnicos do desporto regular

que entrevistamos nos Jogos Regionais e Abertos e os do desporto adaptado,

ouvidos no Campeonato Brasileiro para Cegos e Deficientes Visuais. Todos

mostraram – se entusiasmados e esperançosos quanto ao futuro do desporto

inclusivo.

O técnico da equipe do Amazonas, que trabalha somente com cegos e

deficientes visuais, disse-nos que “todos os deficientes são capazes, basta você

dar oportunidade para eles no tempo certo, na hora certa. Não existem barreiras,

ainda mais para o deficiente visual e o cego, quanto mais ele participa de eventos

entre os que se dizem “normais”, entre os videntes, melhor o seu desempenho,

porque nesse momento eles vêem que também têm potencial e são capazes de

vencer estas pessoas”.

Page 98: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

84

Para os técnicos do desporto regular, há, contudo, que se adequar as regras

das competições, o que favoreceria a participação de um número maior de atletas

com deficiência.

O técnico da cidade de São Caetano do Sul/SP tem a percepção de que “essa

participação, esse espaço, já deveria ter sido aberto há mais tempo. Mas, para que

ocorra uma melhor participação dos portadores de deficiência nas provas de

natação, tanto nos jogos regionais, quanto nos jogos abertos, é necessário haver

uma adequação melhor da regulamentação dessas provas, para atender às normas

internacionais”.

Esta transformação deve vir também do envolvimento dos técnicos e da

inserção de todos e não só de algumas categorias de deficiência, diz o técnico da

cidade de Paulínia/SP.

Para ele, “o trabalho de inclusão das pessoas com deficiência deve ser

praticado por mais técnicos de natação. Eu acho que também se deve trabalhar a

inclusão de outras deficiências, não só os deficientes visuais, mas os deficientes

auditivos e os deficientes mentais. A sociedade tem que acolher melhor essas

pessoas, para que ocorra um maior desenvolvimento delas e também uma melhor

aceitação de todos em relação a elas”.

A abertura de um mercado de trabalho mais abrangente para o técnico de

natação é um ponto também destacado na fala do técnico da cidade de São José

dos Campos/SP. Ele disse que o “esporte inclusivo é um campo novo que está se

abrindo, não só para os deficientes, mas para os profissionais que trabalham com os

portadores de deficiência. Então eu vejo com bons olhos a inclusão, porque

realmente é uma oportunidade que eles têm a mais de estar inseridos na sociedade

normal, onde todos vivemos”.

A adequação do espaço físico e algumas medidas de acessibilidade, na visão

do técnico do município de Araraquara/SP possibilitariam que uma maior

participação de atletas com deficiência ocorresse. Ele lembrou que o “que torna difícil

para as cidades trazerem esses atletas, é o problema do alojamento, a dificuldade de

locomoção dessas pessoas”.

Page 99: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

85

O técnico da cidade de Jundiaí/SP ressaltou a importância do esporte na vida

das pessoas com deficiência. Ele entende que “o esporte é um campo muito

importante para o deficiente, para que ele possa se integrar cada vez mais à

população, pois ele tem todas as possibilidades de participar de campeonatos de

natação e de outras atividades”.

Outro ponto de destaque no processo de inclusão e que é referido pelo

técnico da cidade de Bauru/SP, e pelos atletas cegos e deficientes visuais, diz

respeito ao aumento de oportunidades de competição. Para este técnico a

participação de pessoas com deficiência é motivo de comemoração, tanto para os

deficientes, quanto para os não deficientes.

Ele vê o movimento de inclusão como um fenômeno “de grande importância

para natação de uma maneira geral. Ele acha que isso é legal, porque se consegue

uma competição a mais para o deficiente. Eles têm muita dificuldade para organizar

competições”.

Para o técnico da cidade de São Bernardo do Campo/SP temos a confirmação

de que os direitos dos deficientes estão sendo respeitados, à medida que o discurso

se transforma em ação. Ele entende que o “deficiente não pode ser segregado. Fala-

se tanto em inclusão, mas só se fala, não se inclui ninguém. Então, eu acho que o

esporte é uma coisa que não segrega, a gente tem que fazer as competições juntas,

mostrar que eles são capazes e não ter dó dessas pessoas. Eles não precisam deste

sentimento, eles necessitam de oportunidades pra mostrar que têm potencial”.

O técnico de Sorocaba/SP reforça a idéia de inclusão, dizendo que a

aceitação “da participação dos portadores de deficiência nos jogos regulares é a

melhor possível. Eu acho que é uma maneira de integrá-los no desporto. Devemos

integrar o paradesporto ao desporto competitivo”.

Por outro, lado os dirigentes defendem a manutenção e a necessidade do

Desporto Paraolímpico para aqueles que não apresentam performances tão

significativas.

Para que possamos compreender este embate de ideais e posicionamentos,

é necessário destacar que existem dirigentes realmente preocupados com o

desenvolvimento do desporto para os atletas com deficiência, mas há também

Page 100: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

86

aqueles que usam e defendem um pensamento e um discurso meramente

demagógicos que encobrem uma disputa por poder político.

Na nossa opinião, esses dirigentes desejam usufruir das benesses e

privilégios que a manutenção do desporto segregado pode trazer, ignorando o

desejo daqueles que são os maiores interessados, ou seja, os atletas cegos e

deficientes visuais.

A busca pelo poder político acaba trazendo prejuízos aos atletas deficientes,

como nos relata o diretor técnico da ABDC. Para ele o “órgão máximo que é o IPC,

ele não tem uma política de inclusão. A Paraolimpíada não tem uma política de

inclusão. A política do IPC é tirar o máximo da potencialidade de cada um dos

deficientes”.

Esta perspectiva de valorizar as qualidades dos atletas, potencializando suas

habilidades, infelizmente, ocorre somente com aqueles que têm deficiências menos

severas e para algumas deficiências, apenas. O que queremos explicitar e enfatizar

é que a política que o IPC tem desenvolvido é a de valorizar somente aqueles

atletas que estão muito próximos de um “conceito de normalidade”, ignorando ou

esquecendo-se das pessoas com maior grau de comprometimento.

O desinteresse pelos atletas mais comprometidos é evidente, quando se

constata que as provas oferecidas para eles vêm sendo reduzidas drasticamente,

como foi demonstrado na Tabela 11.

A redução dessas provas e de algumas categoriais de deficiência é justificada

por dois argumentos:

1. é necessário que se tenha um número maior de atletas de diversos

países competindo no mundo;

2. estes atletas devem estabelecer marcas que satisfaçam o padrão de

qualidade exigido pelo IPC.

Eis aí uma grande contradição: os dirigentes defendem que o esporte

inclusivo poderia afastar ou excluir das competições os atletas mais comprometidos,

pois incluiriam somente aqueles atletas em condições de estabelecer performances

Page 101: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

87

elevadas, próximas do “modelo de normalidade”. Tudo, isto vem ocorrendo dentro da

própria Paraolimpíada.

Para o diretor técnico da ABDC e chefe da delegação paraolímpica que

participou dos jogos de Sidney/2000, “o que pode ocorrer é que o próprio sistema,

faça a exclusão dessas pessoas. AÍ nós teremos problemas !”

Ele diz ainda que “na concepção do desporto de rendimento paraolímpico, na

concepção da Paraolimpíada, temos observado que as provas dos portadores de

deficiência de classe baixa (deficiências mais severas) têm diminuído”. Esta filosofia do IPC acaba interferindo também na participação dos atletas

cegos e deficientes visuais. O Presidente licenciado da ABDC refere-se a este

assunto, dizendo que “na Paraolimpíada as provas na nossa área de deficientes

visuais – na área de cegueira – as provas para S11 elas estão sendo reduzidas

drasticamente em razão da performance que o Comitê Paraolímpico Internacional

está adotando especificamente na modalidade natação. Então eu vejo isso como um

perigo, com muito cuidado. Esta situação deve ser objeto de muito trabalho, de muita

discussão em nível internacional, no IPC. Nós temos que trazer para o Brasil essa

discussão. A gente vai ter que trabalhar muito para preservar o espaço para os

atletas mais comprometidos”.

O diretor técnico da ABDC e chefe da delegação paraolímpica que participou

dos jogos de Sidney/2000, esclareceu esta questão, afirmando que “com relação aos

cegos, é um problema político, é uma briga entre a IBSA e o IPC. Enquanto não se

resolver esse impasse político entre a Associação Internacional de Cegos e o IPC,

pode ocorrer isso, tanto é que o número de provas para deficientes visuais foi

infinitamente inferior e realmente poderiam ser incluídas. A IBSA está brigando por

isso, mas existe um problema de incompatibilidade política a ser resolvido e não sei

até onde vai essa incompatibilidade. Logicamente quem sai prejudicado são os

próprios deficientes, que não podem participar”.

Ocorre que existe um choque entre as filosofias e objetivos de trabalho

implementadas pela IBSA que é uma entidade que representa e organiza eventos

exclusivamente para cegos e deficientes visuais e o IPC que é o órgão que congrega

as principais associações esportivas para deficientes.

Page 102: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

88

As das diferenças políticas estão relacionadas ao fato de os eventos do IPC

estarem se tornando extremamente elitistas e protecionistas, defendendo a categoria

dos deficientes físicos e as classes de deficiência com mais possibilidade de

performances.

Na Tabela 12 , foi demonstrado que o número de provas que são oferecidas

aos atletas cegos e com deficiência visual nas Paraolimpíadas pelo IPC é muito

inferior ao oferecido nos eventos da IBSA e que o número de provas oferecidas por

esta entidade aproxima-se muito mais do programa olímpico, estipulado pela FINA.

Ao analisarmos a Tabela 13, podemos apontar outros pontos que trazem

dúvidas quanto à imparcialidade do IPC. O primeiro deles é que apesar do programa

de provas dos nadadores cegos e deficientes visuais ser composto de sete provas,

apenas uma dentre as três classes destinadas a estes atletas é realmente

contemplada com a efetiva realização do programa. As demais classes sofrem uma

redução quanto à possibilidade de participação.

Outro ponto a se destacar é o da classe S13 (atletas com resíduo visual). Eles

têm a possibilidade de participação em um número maior de provas do que os

atletas da classe S11(cegos totais), mesmo sendo esta uma classe que agrega um

número um maior de participantes.

Estes fatos poderiam comprometer o destino das competições de natação

organizadas pelo IPC, afastando definitivamente estes atletas deste esporte, dado

que hoje o número de atletas participantes já é extremamente reduzido.

Em resumo, a natação como desporto inclusivo para cegos e deficientes

visuais acena como uma real possibilidade para os cegos que são excluídos do

ambiente das Paraolimpíadas, mas também para os deficientes visuais, que não se

sentem estimulados em competir nos eventos segregados.

Page 103: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

89

CONCLUSÃO

“ A democracia supõe e nutre a diversidade dos interesses, assim como a diversidade de idéias. O respeito à diversidade significa que a democracia não pode ser identificada com a ditadura da maioria sobre as minorias: deve comportar o direito das minorias e dos contestadores à existência e à expressão, e deve permitir a expressão das idéias heréticas e desviantes. Do mesmo modo que é preciso proteger a diversidade das espécies para salvaguardar a biosfera, é preciso proteger a diversidade de idéias e opiniões” (MORIN, 2001,p.108).

A experiência profissional que adquirimos ao longo de anos de trabalho com

a natação para cegos e os resultados esportivos conseguidos junto a este grupo de

pessoas nos instigou a realizar este estudo.

Face à realidade vivida, durante todo este caminhar profissional, procuramos

compreender, agora não mais de forma empírica, mas sim sistematizada, quais

eram as interfaces existentes entre a natação como desporto de rendimento de

cegos e deficientes visuais e a idéia de sociedade inclusiva. Tentamos neste estudo

detectar as implicações e impactos deste processo sobre este ambiente esportivo.

Não foi intenção deste trabalho, portanto, discutir ou identificar se o desporto

segregado é melhor ou mais adequado para os cegos e deficientes visuais que o

desporto inclusivo e vice-versa. Quisemos propiciar uma visão atual e crítica do que

ocorre no universo desportivo de rendimento das pessoas com cegueira e

deficiência visual praticantes da natação competitiva.

A realidade demonstrada aqui nada mais é do que um recorte, o retrato de um

momento retirado à frente de um espelho, para que possamos refletir e nos ver

participantes destas transformações.

Page 104: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

90

Somos parte integrante do movimento de cegos no Brasil, pois coordenamos

a natação de cegos e deficientes visuais em âmbito nacional. O foco desta pesquisa,

é, pois, de um participante e não de um transeunte, que sobrevoa e lança seu olhar

temporariamente sobre um dado contexto.

O retrato retirado nos mostrou que os envolvidos neste espetáculo, que é o

desporto de rendimento para pessoas com cegueira e deficiência visual, estão

receptivos à idéia de um desporto inclusivo, mesmo porque muitos já estão inseridos

neste contexto esportivo.

Infelizmente, grande parte dos que se beneficiam dessa possibilidade de

esporte identificada em nosso estudo são atletas de outros países, que em suas

sociedades já avançaram na discussão do direito à diferença na igualdade dos

direitos.

Esta possibilidade de desporto para os cegos e os deficientes visuais,

baseada na perspectiva de uma sociedade aberta às diferenças e que valoriza e

respeita a diversidade, parece, para alguns dos entrevistados, ainda algo distante e

inovador.

A construção desta sociedade moderna, que dá direito a oportunidades iguais

e igualitárias para todos, da qual o desporto também faz parte, está, como vimos,

expressa em normas, determinações e leis nacionais e internacionais.

O que verificamos em nosso estudo é que, lamentavelmente, em nosso país

estes preceitos legais são descumpridos, dificultando o acesso aos bens sociais e à

possibilidade de inserção do cego e do deficiente visual no esporte regular.

A escola e os demais locais públicos que deveriam e poderiam propiciar a

prática da atividade física e esportiva no ambiente regular, acabam descumprindo

ou ignorando este direito de acesso, que deveria ocorrer independentemente das

característica do aluno.

Os fatores levantados, que nos parecem prioritários para o entendimento

desta questão são:

• a acessibilidade física:

• e a formação do professor de Educação Física.

Page 105: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

91

O primeiro, seria facilmente resolvido, caso as leis urbanísticas, que

estabelecem normas de construção em logradouros públicos, fossem cumpridas.

Pois o acesso a estes locais é um direito e o seu descumprimento fere a

Constituição Federal.

O segundo fator, que diz respeito a formação profissional, requer uma série

de discussões acadêmicas, pois há uma certa confusão, quanto ao verdadeiro papel

das disciplinas do curso de Educação Física, que abordam o tema atividade física e

pessoas com deficiência. Seus conteúdos acabam formando profissionais com uma

preparação e visão segregradora de esporte, como foram apontados no Capítulo I.

O direito de acesso à prática da atividade física por pessoas com deficiência,

é comumente negado nas escolas e nos locais públicos, o que acaba por impedir

um caminho para o ingresso dessas pessoas no universo desportivo.

Estas situações, já apontadas inicialmente em nosso trabalho, serviram para

compreender e contextualizar a problemática do esporte para pessoas com

deficiência, uma vez que a compreensão do desporto de cegos e deficientes visuais

não ocorre desassociada deste panorama geral.

Esperamos, então, que o discurso favorável à inclusão de pessoas cegas e

com deficiência visual no desporto regular, detectado nos depoimentos dos técnicos,

dos atletas e daqueles que trabalham com atletas videntes, possam transpor a

barreira do discurso, efetivando-se como uma prática rotineira, no desporto de

rendimento.

A utilização do esporte como veículo para a inserção e valorização das

pessoas cegas e com deficiência visual na sociedade é um consenso entre os

entrevistados, como pudemos constatar, na nossa investigação.

Contudo, nossas análises explicitaram uma contradição quanto à maneira de

se desenvolver esse processo de inserção e valorização, através do esporte.

Os dirigentes optam pelo fortalecimento do desporto segregado, que, na

visão deles, garantiria acesso à todas as pessoas com deficiência que desejam

participar de atividades esportivas competitivas.

Isto, segundo esses dirigentes, propiciaria ao deficiente uma imagem de

sucesso, e traria, em conseqüência, mudanças de atitude da sociedade, diante

Page 106: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

92

dessas pessoas, fazendo com que fossem mais respeitadas, tendo assim seus

direitos atendidos.

Outro argumento utilizado em defesa do desporto segregado é o fato de os

dirigentes acreditarem que a opção pelo desporto inclusivo eliminaria a participação

dos atletas com maior comprometimento das competições.

Na contramão desta posição, como vimos na análise, estão os próprios

deficientes, que acreditam que o desporto inclusivo pode trazer todos estes

benefícios de uma forma mais ampla, real e consistente, pelo fato de estarem se

colocando como pessoas iguais, que são providas de qualidades e defeitos.

Outro fato detectado no estudo e que se contrapõe à argumentação utilizada

pelos dirigentes, é a realidade da Paraolimpíada, que, segundo os próprios

dirigentes, é movida por políticas elitistas e protecionistas, que acabariam por

eliminar a participação das competições dos deficientes com maior grau de

comprometimento, em função da política de qualidade imposta pelo IPC, que tem

base no nível de normalidade dos atletas.

Sendo que os cegos e deficientes visuais, tem sido prejudicados ainda mais

por desavenças políticas entre as entidades que organizam estas competições.

Todos os dirigentes em seus depoimentos, uns de forma mais veemente,

outros de forma mais ponderada, acreditam que o desporto inclusivo, ou seja, os

treinamentos e as competições realizadas com pessoas videntes, podem trazer um

melhor desempenho, em confrontos esportivos como os realizados nas

Paraolimpíadas.

Ficou evidente que os atletas que desejam competir e ser vitoriosos na

competição de natação nas Paraolimpíadas, devem participar do desporto inclusivo.

Pois aqueles que se sagraram vitoriosos, estão inseridos no desporto regular. A que

se destacar, que a única atleta cega brasileira medalhista, tem também em seu

histórico esportivo esta vivência no desporto regular.

Diante disso, e do inegável desequilíbrio entre a qualidade e quantidade de

treinamentos dos atletas brasileiros, comparados aos atletas de outros países, é que

sugerimos que as políticas de fomento da natação para cegos e deficientes visuais

no Brasil sejam revistas. Procurando primeiramente garantir a possibilidade de

Page 107: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

93

acesso ao esporte regular, o que daria o direito ao atleta de escolha entre estar no

desporto regular ou segregrado, fato que não ocorre hoje, pois os atletas nacionais

são encaminhados diretamente ao desporto segregado. Eles não tem opção, no

momento. Se querem competir, precisam se submeter às regras da segregação,

impostas pelos órgãos nacionais e internacionais

E, num segundo momento, dando realmente condições de treinamento aos

atletas que partam do conceito de desporto de rendimento, uma vez que pudemos

constatar que há uma distorção desde conceito, pelos atletas cegos e deficientes

visuais e seus técnicos.

Esta distorção e a incompreensão sobre as necessidades reais de

treinamento, impostas àqueles que desejam atingir performances expressivas no

desporto de competição, afasta-os da possibilidade de vitória, pois realizam um

desporto de participação, acreditando ser um desporto de rendimento!

A aproximação entre estes dois universos desportivos, o Paraolímpico e o

Olímpico, talvez trouxesse uma correção destes desvios de compreensão e de

atuação, fazendo com que caminhássemos no sentido de buscar e de quebrar

limites para o desporto de pessoas cegas e deficientes visuais.

A que se analisar, as razões desta contraposição dos dirigentes ao desporto

inclusivo, procuramos saber quais são os benefícios do desporto segregado. E quem

são verdadeiramente os beneficiados deste esporte, que se apóia numa visão de

ambiente menos restritivo e de discriminação positiva.

Em nossas entrevistas os atletas disseram que gostariam de ver o desporto

inclusivo se desenvolver, para que pudessem usufruir de todos os seus benefícios.

No entanto, quando questionados sobre a possibilidade de união das provas de

natação das Paraolimpíadas com as da Olimpíadas, muitos disseram que isto seria

algo inviável, impossível de ser concretizado. Um dos principais argumentos desses

atletas é o fato de a junção dos eventos tomar proporções muito grandes,

dificultando a sua realização e afastando o interesse da mídia, em especial, pela

competição. Pensamos exatamente o contrário, por experiência em competições

regionais e nacionais que organizamos.

Page 108: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

94

A inserção de provas adaptadas nos Jogos Regionais e Abertos do Interior e

a receptividade pelos os envolvidos, leva-nos a crer que este pode ser o

encaminhamento natural para que ocorra a quebra de barreiras entre estes

universos distintos de desporto.

Cerca de 10.000 pessoas participaram dos Jogos Abertos do Interior no ano

de 2002, nas Olimpíadas de Sidney/2000 cerca de 8.000 e nas Paraolimpíadas de

Sidney/2000 em torno de 4000.

Só por estes dados numéricos podemos acreditar na possibilidade da junção

da Olimpíada com a Paraolimpíada.

Outro problema levantado por alguns atletas e defendido pelos dirigentes é

que o atleta cego e com deficiência visual, pela própria característica da deficiência

levaria desvantagens, ao competir com pessoas com visão “normal”.

Esta é uma questão que requer um estudo mais aprofundado da limitação real

daqueles que têm problemas visuais e competem em provas de natação. Devemos

ter cuidado ao afirmar que todos levam desvantagens significativas.

Há que se considerar as diversas patologias e acidentes que causam a

cegueira e a deficiência visual e também as limitações no ato de utilizar a visão. Há

pessoas que enxergam pouco, mas utilizam bem o seu resíduo visual.

Há que se questionar a maneira utilizada para classificar estes atletas que

têm limitações visuais nas competições de natação, uma vez que as avaliações são

baseadas ainda em um modelo clínico e não funcional. Esta é a proposta de um

novo trabalho que futuramente pretendemos realizar.

Finalmente, concluímos que há uma real contribuição da inclusão no desporto

de rendimento de pessoas com cegueira e deficiência visual, que praticam a natação

competitiva e que as implicações advindas desta relação são positivas tanto no

âmbito esportivo, mas, sobretudo, no social, tendo em vista que esta é tendência

atual na sociedade e nas políticas públicas.

Diante disto, na nossa opinião não é mais possível negar a inclusão na

natação competitiva para cegos e deficientes visuais e temos, pois, de prosseguir no

sentido de lutar por políticas públicas que garantam essa possibilidade.

Page 109: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

95

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, J. J. G. de. (1995) Estratégias para a aprendizagem esportiva: uma abordagem pedagógica da atividade motora para cegos e deficientes visuais. Tese (Doutorado em Educação Física) – Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de Campinas. ARAÚJO, P. F. (1998) Desporto adaptado no Brasil: origem, institucionalização e atualidade. Brasília: Ministério da Educação e do Desporto/ INDESP. ATLETA CEGA GANHA VAGA PARA SYDNEY NOS 1500 METROS (2000, 18 de julho) Correio Popular. Caderno de Esportes. p. 7. ATLETA CEGA GARANTE VAGA NA OLIMPÍADA. (2000, 18 de julho). O Estado de S. Paulo. Caderno de Esportes. p. 6. BAKER, J. e GADEN, G. (1992) Integration and Equality. In: FARBAIN, G. e FARBAIN, S. (Org). Integrating special children: some ethical issues. Hants, Avebury. BENTO, J.O. (1991) Desporto, Saúde, Vida: em Defesa do Desporto. Lisboa: Livros Horizonte. BLOCK, M. E. (1994) Why All Students With Disabilities Should be Included in Regular Physical Education. Revista Palaestra, 10(3): Illinois. BRASIL. MEC/SEF. (1997) Parâmetros Curriculares Nacionais: Educação Física. Brasília. BROTTO, F. O. (2001) Jogos Cooperativos: o jogo e o esporte como um exercício de convivência. Santos: Projeto Cooperação. CAMARGO, W. X. de. (1999) O universo desportivo de cegos e deficientes visuais: uma interpretação. Dissertação (Mestrado em Educação Física) – Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de Campinas.

Page 110: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

96

CARDOSO, M. (2000) Os arquivos das Olimpíadas. São Paulo: Editora Panda. CARVALHO, E.R. (1997) A nova LDB e a Educação Especial. Rio de Janeiro: WVA. CIDADE, R. E. A.; FREITAS, P.S. (2002) Introdução à Educação Física e ao desporto para pessoas portadoras de deficiência. Curitiba: Ed. UFPR. 2002. CONFERÊNCIA MUNDIAL SOBRE NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS: ACESSO E QUALIDADE. Declaração de Salamanca e Linha de Ação sobre Necessidades Educativas Especiais. Brasília: CORDE, 1994. CONSTITUIÇÃO FEDERAL DO BRASIL: Art.2, item III, IV, V; Art.23, parágrafo único; Art.227, § 1º, § 2º.

CONVENÇÃO INTERAMERICANA PARA ELIMINAÇÃO DE TODAS AS FORMAS DE DISCRIMINAÇÃO CONTRA AS PESSOAS PORTADORAS DE DEFICIÊNCIA. In: www.mj.gov.br (Home Page da CORDE), 2001. DEPORTES PARA MINUSVALIDOS FÍSICOS, PSÍQUICOS E SENSORIALES. Comite Olímpico Español. Espanha, 1992. DEFICIENTE VISUAL VAI DISPUTAR PROVA DOS 1500 M NA OLIMPÍADA DE SYDNEY. (2000, 18 de julho), Folha de S. Paulo. Caderno de Esportes. p. 5. EXPLANATORY BOOK SWIMMING. Sydney 2000 Paralympic Games. FERREIRA,S.L. (1999) A Sociedade Inclusiva. Temas sobre Desenvolvimento. São Paulo: v.7, n. 42, p.54 – 6, jan./fev. FERREIRA.T.V. (2002) IBGE CENSO 2000: mudam os índices oficiais da deficiência. Sentidos. São Paulo: ano 1, n. 6, p. 22 – 26 junho. FREIRE, J. B. Métodos de confinamento e engorda ( como fazer render mais porcos, galinhas, crianças....). In: Wey Moreira (Org.) (1993) Educação Física e Esportes: perspectivas para o século XXI. Campinas-SP: Papirus.

Page 111: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

97

FREIRE, P. & FAUNDEZ, A. (1985) Por uma pedagogia da pergunta. Rio de Janeiro, Editora Paz e Terra. ________. (1989) Educação de Corpo Inteiro: teoria e prática da Educação Física. São Paulo: Scipione. GLAT, R. (1998) Inclusão Total: mais uma utopia? Integração. Ministério da Educação e do Desporto/Secretaria de Educação. Brasília: ano 8, no. 20, p. 27-28. GONÇALVES, V. O.(2002) Estudo da disciplina Educação Física Adaptada nas Instituições de Ensino Superior do Estado de Goiás.Dissertação (Mestrado) Faculdade de Educação Física,Universidade Estadual de Campinas. IDE, S. M. (1999) Pessoas com Necessidades Educativas Especiais: do currículo ao programa de intervenção educativa. Temas sobre Desenvolvimento. São Paulo: v.7, n. 42, p.5 –14, jan./fev. JUNIOR, M.O.S. (1995) Adaptação em Provas de Coordenação, Equilíbrio e Orientação Espacial como Proposta de Avaliação Motora a Pessoa Portadora de Deficiência Visual. Dissertação (Mestrado) Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de Campinas. LIMA. S. R. (1998) Cursos de especialização em Educação Física e esportes adaptados: onde estão seus egressos? Dissertação (Mestrado em Educação) Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia/MG. LOPEZ, T.A.K. (1993) Deficiência e Educação Física Escolar. Anais do III Seminário de Educação Física Adaptada da FEF, pp. 18-19. MANTOAN, M. T. E. (Org.). (2001) Pensando e fazendo educação de qualidade. São Paulo: Moderna. __________. (1998) Inclusão - Ensino Inclusivo: educação (de qualidade) para todos. Integração. Ministério da Educação e do Desporto/Secretaria de Educação. Brasília: ano 8, nº 20, p. 29-32.

__________. (1997) A integração de pessoas com deficiência. Contribuições para uma reflexão sobre o tema. São Paulo: Memnon, Edições Cientificas.

Page 112: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

98

MANZINI, E. J. (2002) Participação em aulas de Educação Física: o que alunos com deficiência visual e física relatam. Coleção Prata da Casa – edição especial. 9º Congresso de Educação Física e Ciências do Desporto dos PaÍses de Língua Portuguesa. São Luis/MA. MASINI, E.F.S. (1999) Quais as expectativas com relação à inclusão escolar do ponto de vista do educador? Temas sobre Desenvolvimento. São Paulo: v.7, n. 42, p.52, 4, jan./fev. MATTOS, E. (1998) Classificação, você sabe o que é isso? Brasil Paraolímpico. Rio de Janeiro. Ano1, nº 3,p. 19, Julho/ Agosto. MELLO, M. T. de. (2002) Parolimpíadas Sidney 2000: avaliação e prescrição do treinamento dos atletas brasileiros. São Paulo: Atheneu. MORIN, E. (2001) Os sete saberes para à educação do futuro.Trad.Catarina E. F. da Silva e Jeanne Sawaya. São Paulo: Cortez, 3ª Ed. NETO, C. (1995) “Desportos Radicais ou Radicalização do Desporto?”. Revista Horizonte, v. XII, n.69, set/out., p. 83-85. NORMAS SOBRE A EQUIPARAÇÃO DE OPORTUNIDADES PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA. Nações Unidas, 1994. PELLEGRINI, A. M. e JUNGHANNEL, V. (1985) A Educação Física no ensino de primeiro grau e a pessoa portadora de deficiência, (mimeo). PENAFORT, J. D. (2001) A integração do esporte adaptado com o esporte convencional a partir da inserção de provas adaptadas: um estudo de caso. Dissertação (Mestrado) Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de Campinas. PIERUCCI, A. F. (1999) Ciladas da Diferença. São Paulo, Editora 34. SANTOS. M. C.G.B. (1998) Educação Física Adaptada na Formação Profissional: Análise de Currículos. Tese ( Doutorado ) Instituto de Psicologia, Pontifícia Universidade Católica de Campinas.

Page 113: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS …esportes.universoef.com.br/container/gerenciador_de_arquivos/...Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

99

SASSAKI, R. Kasumi. (1997) Inclusão: Construindo uma sociedade para todos. Rio de Janeiro, WVA. SERGIO, M. (1981) Filosofia das Actividades Corporais. Lisboa:Compedium. SHERRIL, C. (1994) Least Restrictive Environment and Total Inclusion Phylosophies. Critical Análises. Revista Palaestra, 10(3): Illinois. STAINBACK, S. e STAINBACK, W. (1999) Inclusão: um guia para educadores. Trad. Magda França Lopes. Porto Alegre: Artes Médicas Sul. SHOW DA HUMILDADE. (2002, 2 de Janeiro) Correio Popular. Caderno de Esportes. p. 1. SWIMMING RULES. IPC Swimming. 2001-2004 TUBINO, M. J. G. (1993) Um Visão Paradigmática das Perspectivas do Esporte para o Início do Século XXI. In: Wey Moreira ( Org.) Educação Física e Esportes: perspectivas para o século XXI. Campinas-SP: Papirus. TOLMATCHEV, R. (1998) A classificação desportiva dos cegos e deficientes visuais: possibilidades e limites.Brasil Paraolímpico. Rio de Janeiro. Ano1, nº 5,p. 19, novembro. WERNECK, C. (1997) Ninguém mais vai ser bonzinho na sociedade inclusiva. Rio de Janeiro: WVA.