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Universidade Estadual de Santa Cruz

ReitoraProfª. Adélia Maria Carvalho de Melo Pinheiro

Vice-reitorProf. Evandro Sena Freire

Pró-reitor de GraduaçãoProf. Elias Lins Guimarães

Diretor do Departamento de Letras e ArtesProf. Samuel Leandro Oliveira de Mattos

Ministério daEducação

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Ficha Catalográfica

1ª edição | Março de 2013 | 462 exemplares Copyright by EAD-UAB/UESC

Projeto Gráfico e Diagramação

João Luiz Cardeal CraveiroRoberto Fabian Santos de Araújo

CapaSheylla Tomás Silva

Impressão e acabamentoJM Gráfica e Editora

Todos os direitos reservados à EAD-UAB/UESCObra desenvolvida para os cursos de Educação a Distância da Universidade Estadual de Santa Cruz - UESC (Ilhéus-BA)

Campus Soane Nazaré de Andrade - Rodovia Jorge Amado, Km 16 - CEP: 45662-000 - Ilhéus-Bahia.www.nead.uesc.br | [email protected] | (73) 3680.5458

Letras Vernáculas | Módulo 2 | Volume 10 - Seminário Temático Interdisciplinar II - Literatura e cotidiano

S471 Seminário temático interdisciplinar: literatura e cotidiano (2. : 2013 : Ilhéus) II Seminário temático interdisciplinar: literatura e cotidiano / Elaboração de conteúdo: Sylvia Maria Campos Teixeira . – Ilhéus, BA: Editus, 2013. 36 p. : il. (Letras vernáculas – módulo 2 – volume 10 – EAD) ISBN: 978-85-7455-312-2

1. Literatura brasileira. 2. Poesia brasileira. 3. Aná-

lise do discurso literário. I. Teixeira, Sylvia Maria Campos. II. Série. CDD 869.91

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Coordenação UAB – UESCProfª. Drª. Maridalva de Souza Penteado

Coordenação Adjunta UAB – UESCProfª. Drª. Marta Magda Dornelles

Coordenação do Curso de Letras Vernáculas (EAD)Profª. Ma. Ângela Van Erven Cabala

Elaboração de ConteúdoProfª. Ma. Sylvia Maria Campos Teixeira

Instrucional DesignProfª. Ma. Marileide dos Santos de Oliveira

Profª. Drª. Cláudia Celeste Lima Costa Menezes

RevisãoProf. Me. Roberto Santos de Carvalho

Coordenação Fluxo EditorialMe. Saul Edgardo Mendez Sanchez Filho

EAD . UAB|UESC

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DISCIPLINA

SEMINÁRIO TEMÁTICO INTERDISCIPLINAR IIliteratura e cotidiano

EMENTAAbordagens multirreferenciais e interdisciplinares na área de cultura, considerando-se a literatura como prática cultural.

Carga horária: 15 horas

Profª. Ma. Sylvia Maria Campos Teixeira

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A AUTORA

Profª. Ma. Sylvia Maria Campos Teixeira

Graduada em Direito pela Universidade Federal

Fluminense. Bacharel e Licenciada em Letras (Português-

Francês) pela Universidade Federal Fluminense.

Especialista em Literatura Brasileira pela Pontifícia

Universidade Católica de Minas Gerais (PUC - MG).

Mestre em Estudos Linguísticos pela Universidade Federal

de Minas Gerais (UFMG - 2000). Atua nas seguintes

áreas: Análise do Discurso, Literatura, Estudos Culturais e

de Gêneros, Língua e Literatura Francesa.

E-mail: [email protected]

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APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA

Caro(a) Estudante,

Os Parâmetros Curriculares – Pluralidade Cultural (2000)

afirma que

Já na literatura, há um trabalho fértil a ser realizado sobre os

movimentos e as escolas literárias, particularmente tendo em vista a

constituição da identidade nacional, como obra constante e coletiva;

a visão crítica dos valores de diferentes épocas; a denúncia e/ou as

reivindicações de diversos grupos sociais, por intermédio de suas criações

literárias (p. 44).

Nos Parâmetros Curriculares – Língua Portuguesa (1998),

quando aborda o terceiro e quarto ciclos do Ensino Fundamental,

assevera

Pensar sobre a literatura a partir dessa relativa autonomia ante

outros modos de apreensão e interpretação do real corresponde a dizer

que se está diante de um inusitado tipo de diálogo, regido por jogos

de aproximação e afastamento, em que as invenções da linguagem, a

instauração de pontos de vista particulares, a expressão da subjetividade

podem estar misturadas a citações do cotidiano, a referências indiciais e,

mesmo, a procedimentos racionalizantes (p. 26-27 – grifo nosso).

É a partir daqui que podemos estudar Literatura e Cotidiano, não

apenas como o que a cada dia vai e volta, causando um “bruit de fond”

(PEREC, 1989, p.11), mas como uma forma de resistência (CERTEAU,

1994), de “denúncia” dos “diversos grupos sociais”.

É nesta perspectiva que vamos ler a Poesia Marginal no contexto

da década de 1970.

Bons estudos!

Sylvia Maria Campos Teixeira

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SUMÁRIO

SEMINÁRIO: LITERATURA E COTIDIANO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................15

2 COTIDIANO, LITERATURA E MARGINAL ......................................................................................15

3 A POESIA MARGINAL .....................................................................................................................22

4 ALGUMAS ANÁLISES .......................................................................................................................26

5 CONCLUSÕES .................................................................................................................................32

ATIVIDADES .............................................................................................................................................33

RESUMINDO ...........................................................................................................................................33

REFERÊNCIAS ..........................................................................................................................................34

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SEMINÁRIO: LITERATURAE COTIDIANO

OBJETIVOSAo final deste seminário, o estudante deverá:• explorar as condições de produção da Poesia

Marginal no contexto sócio-histórico de 1970.• analisar criticamente, utilizando os conhecimentos

teóricos adquiridos, outras manifestações literárias de autores denominados de marginais.

SEÇ

ÃO

ÚN

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Seminário: Literatura e cotidiano

1 INTRODUÇÃO

Neste Seminário, estudaremos a presença do cotidiano na Literatura e, em especial, na Poesia Marginal.

2 COTIDIANO,LITERATURAEMARGINAL

Antes de pensarmos sobre Cotidiano e Literatura, temos de entender o que seria este cotidiano.

De acordo com Maffesoli (2003), cotidiano é o habitual para o ser humano, o que está presente em seu dia a dia, isto é, as atividades desenvolvidas no decorrer do dia.

para conhecer

Michel Maffesoli (1944 -), sociólogo francês, é professor na Université de Paris-Descartes. Suas pesquisas giram em torno dos elos que se criam socialmente em uma comunidade e a influência do imaginário em uma sociedade pós-moderna.

Principais obras:

• Logiquedeladomination (1976).• AsombradeDionísio (1991).• Otempodastribos: o declínio do

individualismo nas sociedades de massa (2006).

• La Contemplation du monde (1996).

• Oritmodavida:variações sobre o imaginário pós-moderno (2007).

• Apocalypse (2009),

FIGURA 1 - Michel MaffesoliFonte: www.rosieholyday95.

blogspot.com

Módulo 2 I Volume 10 15UESC

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O cotidiano esteve sempre presente na Literatura, em suas descrições minuciosas, principalmente no período do Realismo. Mas, na fase heroica do Modernismo (1922-1930), foi que o cotidiano passou a integrar a produção literária, fazendo parte do lirismo. Leia os textos 1, 2 e 3 e veja as diferenças:

TEXTO 1

A roupa lavada, que ficara de véspera nos coradouros, umedecia o ar e punha-lhe um farto acre de sabão ordinário. As pedras do chão, esbranquiçadas no lugar da lavagem e em alguns pontos azuladas pelo anil, mostravam uma palidez grisalha e triste, feita de acumulações de espumas secas (AZEVEDO, p. 13).

TEXTO 2

O DomadorMas... olhai, oh meus olhos saudososesse espetáculo encantado da Avenida!Revivei, oh gaúchos paulistas ancestremente!e oh cavalos de cólera sangüínea!

Laranja da China, laranja da China, laranja da China!Abacate, cambucá e tangerina!Guarda-te! Aos aplausos do esfuziante clown,heróico sucessor da raça heril dos bandeirantes,loiramente domando um automóvel!(ANDRADE, 1966, p. 93).

16 EADLetras Vernáculas

Seminário temático interdisciplinar II - literatura e cotidiano

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Seminário: Literatura e cotidiano

TEXTO 3

Poema tirado de uma notícia de jornal

João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia

[num barracão sem númeroUma noite ele chegou no bar Vinte de NovembroBebeuCantouDançouDepois se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.

(BANDEIRA, 1974, p. 214).

Nos textos 2 e 3, há a incorporação poética do cotidiano. É uma poesia desentranhada do cotidiano, das situações banais da vida, despojada.

No poema O Domador, é o pregão de um vendedor que passa, é uma frase que já faz parte do nosso dia a dia. Em Poema tirado de uma notícia de jornal, é uma percepção trágica do cotidiano, é o lirismo que está por trás da notícia de jornal.

Já no texto 1, apesar das metonímias e metáforas, há uma descrição minuciosa de um fato rotineiro – lavagem e secagem de roupa –, mas em seus aspectos negativos: “farto acre de sabão ordinário”, “palidez grisalha e triste”.

Mas o fato é que o cotidiano se disseminou e se diversificou, vindo a ser um componente importante da Literatura, na qual circula para retratar a realidade de forma crítica ou lúdica (SHERINGHAM, 2006).

Conforme escrevi na Apresentação, vamos ler o cotidiano a partir de Certeau, isto é, como uma forma de

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resistência (CERTEAU, 1994), de “denúncia” dos “diversos grupos sociais”.

Para Certeau (1999), nas práticas cotidianas, emergem formas culturais como criações anônimas, perecíveis. É a partir da análise deste Cotidiano que aparecem as apropriações culturais como forma de resistência, exercendo uma força opositiva que pode enfrentar os poderes hegemônicos e dominantes.

Certeau, em suas pesquisas, estuda as maneiras como a cultura popular resiste à cultura erudita, quais estratégias e táticas que o fraco utiliza para tirar proveito das possibilidades presentes em cada circunstância do dia a dia. Sampaio (s/d) distingue entre estratégias e táticas. Para ele,

A estratégia, pelo seu modo de organização, é utilizada na constituição de sistemas de poder como a nacionalidade política, econômica ou científica. A estratégia mantém uma relação com o poder institucional através do uso de cálculos objetivos (p.4).

Já em relação às táticas, Sampaio afirma que “A tática está presente nos diversos modos de fazer, das várias atividades do cotidiano como o ato de ler, falar, cozinhar” (p. 4). Com base nestas afirmativas, vemos que “a estratégia se organiza pelo postulado de um poder enquanto que a tática pela ausência de poder; age, portanto, como astúcia” (SAMPAIO, s/d, p. 4).

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Seminário: Literatura e cotidiano

Se você procurar a definição de “marginal” em qualquer dicionário, vai encontrar as seguintes acepções:

Aquilo que está às margens de alguma coisa.

Bandido, desocupado, vagabundo, criminoso etc.

Goffman (1988) chamou os marginais de estigmatizados e, segundo ele, há três tipos de estigmas:

1 deformidade física;2 culpas de caráter individual: vontade fraca, paixões

tirânicas ou não naturais, crenças falsas, desonestidade, distúrbio mental, vícios, homossexualismo, prisão etc.

3 raça, nação e religião.

Ele continua afirmando que

[...] fazemos vários tipos de discriminações, [...] Construímos uma teoria do estigma, uma ideologia para explicar a sua inferioridade e dar conta do perigo que ela representa, racionalizando algumas

Michel de Certeau (1925-1986) estudou Filosofia, Letras Clássicas, História e Teologia; e, mais tarde, interessou-se por Antropologia, Linguística e Psicanálise. Em 1956, ingressou na Companhia de Jesus.Segundo Sousa Filho, “Michel de Certeau constituiu uma importante parte de sua obra analisando ‘as maneiras de fazer cotidianas’ das massas anônimas”.

Fonte: http://www.cchla.ufrn.br/alipiosou-sa/index_arquivos/ARTIGOS%20ACADE-MICOS/ARTIGOS_PDF/Michel%20de%20Certeau%20-%20fundamentos%20de%20uma%20sociologia%20do%20cotidiano.pdf

Principais obras:

• Aculturanoplural (1974).• Ainvençãodocotidiano – 02 volumes (1974).• AescritadaHistória (1975).• Histoireetpsychanalyseentrescienceetfiction (1987).• LaPrisedeparole.Et autres écrits politiques (1994).

para conhecer

FIGURA 2 - Michel de CerteauFonte: http://blogaodogarcia.

blogspot.com.br/2011/10/michel-de-certeau-e-as-praticas-que.html

Módulo 2 I Volume 10 19UESC

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vezes uma animosidade baseada em outras diferenças [...] (GOFFMAN, 1988, p. 15).

FIGURA 3 - Erving GoffmanFonte: http://en.wikipedia.org/wiki/

File:Erving_Goffman.jpg

Erving Goffman (1922-1982) é considerado o mais influente sociólogo americano do século XX. Foi o pioneiro no estudo das interações face a face, investigando os pequenos detalhes das interações, como: apertos de mãos, levantar de ombros, expressões faciais etc. Esses tipos de gestos ficaram conhecidos como “estruturas gramaticais” das interações sociais. Para ele, “o mundo é um teatro e cada um de nós, individualmente ou em grupo, teatraliza ou é ator consoante as circunstâncias em que nos encontremos, marcados por rituais posições distintivas relativamente a outros indivíduos ou grupos”.

Fonte: http://www.infopedia.pt/$erving-goffman

Principais obras:

• ApresentaçãodoEUnavidadetodososdias (1959).• Manicômios,prisõeseconventos (1961).• Estigma – Notas sobre a manipulação da identidade

deteriorada (1963).• Lamiseenscènedelaviequotidienne (1974).• Frameanalysis (1974).• Genderadvertisements (1979).• Formsoftalk (1981).• Os três últimos livros não foram traduzidos para a Língua

Portuguesa.

para conhecer

Hutcheon (1991) utiliza a terminologia ex-cêntrico e, para ela, são os que estão fora do centro, não pertencem a um grupo socialmente qualificado. Assim, ser marginalizado significa estar separado do resto da sociedade, forçado a ocupar as beiras ou as margens e a não estar no centro das coisas.

20 EADLetras Vernáculas

Seminário temático interdisciplinar II - literatura e cotidiano

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Seminário: Literatura e cotidiano

Quem está no poder controla a história. Entretanto, os marginais e os ex-cêntricos podem contestar esse poder, mesmo que continuem por ele alimentados (HU-TCHEON, 1991, p. 250).

Portanto é a partir das margens que o marginal pode criar, através de táticas, pontos de resistência para agir e/ou criticar contra o centro.

Assim, consoante estes pressupostos, vamos ler a Poesia Marginal.

FIGURA 4 - Linda HutcheonFonte: http://canadian-writers.athabascau.ca/english/images/

lhutcheon.jpg

para conhecer

Linda Hutcheon (1947 -) nasceu em Toronto, no Canadá. Hoje é professora de Inglês e Literatura Comparada na Universidade de Toronto. Suas pesquisas em Literatura fizeram-na ser considerada a maior teórica literária da América do Norte.

Fonte: http://canadian-writers.athabas-cau.ca/english/writers/lhutcheon/lhu-tcheon.php

Principais obras:

• Narcissistic Narrative: the metaficcional paradox (1984).

• Uma Teoria da Paródia (1989).• Poética do Pós-Modernismo: história, teoria, ficção (1991).• Teoria e Política da Ironia (2000).

Leia uma entrevista de Linda Hutcheon, disponível em http://sibila.com.br/novos-e-criticos/linda-hutcheon-a-economia-da-resenha-critica/4706

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3 APOESIAMARGINAL

A Poesia Marginal surgiu, no Brasil, na década de 1970, durante o período da Ditadura Militar (1964-1985). Não é

uma escola literária propriamente dita, isto é, não há características, nem manifestos; os jovens poetas apenas queriam se expressar livremente numa época de repressão.

É conhecida também como “geração mimeógrafo”, pois imprimia no mimeógrafo, aparelho utilizado como meio barato de reprodução de cópias.

Depois grampeavam, era tudo de forma artesanal. É o comportamento desviante dos que estão à

margem, fora do centro. Se não conseguiam publicar via editoras, eles distribuíam seus poemas, vendendo ou dando, em filas de teatro e cinema, em portas de museu, nos bares, nas universidades. Ou mesmo declamavam em praças públicas! Qualquer coisa servia de suporte para impressão: camisetas, calçadas, folhetos etc. (HOLLANDA, 2004, p. 108). Hollanda (2007) ainda afirma que “Frente ao bloqueio sistemático das editoras, um circuito paralelo de produção e distribuição independente vai se formando e conquistando um público jovem que não se confunde com o antigo leitor de poesia” (p. 9).

Eles se utilizavam de táticas alternativas para “burlar” e superar o padrão culto e o cânone literário. Causavam estranheza em uma crítica que não estava acostumada àquele tipo de linguagem como neste poema de Leminski:

mancheteCHUTES DE POETA

NÃO LEVAM PERIGO À META(In: http://www.omartelo.com/omartelo24/poesia.html)

FIGURA 5Fonte: http://www.tumblr.com/tagged/helio%20oiticica?language=pl_PL

22 EADLetras Vernáculas

Seminário temático interdisciplinar II - literatura e cotidiano

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Seminário: Literatura e cotidiano

É uma contestação ao que estava posto, é uma dessacralização do que se entendia por poesia. Dessacralização porque os “marginais” não estão preocupados com renovações estéticas, mas propõem “uma mudança nas próprias práticas culturais, nos modos de conceber a cultura fora de parâmetros sérios e eruditos, como atitude crítica à ordem do sistema” (OLIVEIRA, 2011, p. 31).

Havia, assim, duas metas: denunciar a repressão e protestar contra as editoras.

Bosi, em um encontro realizado no IEL/Unicamp, para debater sobre a produção poética de 1970, disse que:

A gente fica até com um pouco de dificuldade de julgar esta poesia. Por todos nossos critérios, ela está aquém da linguagem poética. Por todos aqueles critérios, segundo os quais a poesia é uma representação, uma elaboração do fundo inconsciente ou imediato, esta poesia está apenas como uma, chame-mo-la assim, efusão. (...) Então, teríamos, dentro de uma concepção mais tradicional, até um pouco de escrúpulo em considerar isso como poesia (apud WALDMAN; SIMON, 1981, p. 78).

Repare! Os críticos não lhes davam legitimidade estética. Mas como eles desafiaram o cânone!

Entretanto não é apenas um desafio. É mais uma forma de viver o cotidiano, criando pontos de resistência à ordem socioeconômica. Assim “a marginalidade desse grupo não é apenas literária, mas revela-se como uma marginalidade vivida e sentida de maneira imediata frente à ordem do cotidiano” (HOLLANDA, 2004, p. 113). É aqui que vemos como marginal significa um modo de vida alternativo, ex-cêntrico, fora dos padrões aceitos socialmente.

Segundo Camargo (2003), instalou-se uma cultura

[...] à margem da intelectualidade, à margem da sociedade de consumo, à

Módulo 2 I Volume 10 23UESC

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Heloísa Helena Oli-veira Buarque de Hollanda (1939 -) é ensaísta, escritora, edi-tora, crítica literária e pesquisadora brasilei-ra. É também Profes-sora Titular de Teoria Crítica da Cultura da Escola de Comunica-ção da Universidade Federal do Rio de Ja-neiro, coordenadora do Programa Avançado de Cultura Contemporâ-nea (PACC/UFRJ) e da

Biblioteca Virtual de Estudos Culturais (Prossiga/CNPq) e diretora da Aeroplano Editora Consultoria Ltda. Foi também Diretora da Editora da UFRJ e do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro. Sua princi-pal linha de pesquisa tem sido as relações entre política e cultura a partir da década de 60. Coordenou vários projetos neste sen-tido, entre eles: a cultura alternativa durante o regime militar; a participação das mulheres no cinema e na literatura brasileira; as representações raciais no ano do centenário da abolição da escravatura no Brasil; identidade, globalização e cultura urbana na América Latina.

Fonte:http://banzeirotextual.blogspot.com.br/2010/04/heloisa-buarque-de-holanda-entrevista.html

Principais obras:

• 26PoetasHoje (1976).• Macunaíma – da Literatura ao Cinema (1978).• CulturaeParticipaçãonosAnos60 (1982).• Essespoetas – Uma Antologia dos Anos 90 (1998).• Horizontes Plurais: Novos Estudos de Gêneros no Brasil

(1998).• RelaçõesdeGêneroeDiversidadesCulturaisnasAméricas

(1999).• Puentes/Pontes: Poesia argentina e brasileira contemporâ-

nea (2003).• RacheldeQueiroz (2009).

margem da atuação política direta na esquerda revolucionária. Podemos pensar a marginalidade sob vários aspectos: comportamental, político, estético, econômico (CAMARGO, 2003, p. 29).

Agora passemos a algumas análises discursivas de alguns poemas.

para conhecer

FIGURA 6 - Heloísa Helena Oliveira Buarque de HollandaFonte: http://farm5.staticflickr.com/4096/4880327394_

eec2f60a3f_b.jpg

24 EADLetras Vernáculas

Seminário temático interdisciplinar II - literatura e cotidiano

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Seminário: Literatura e cotidiano

Leia a entrevista com a Professora Heloísa Bu-arque de Hollanda so-bre a publicação da an-tologia 26 Poetas Hoje, disponível em http://www.heloisabuarque-dehollanda.com.br/po-esia-hoje/

leitura recomendada

Figura 7- Paulo LeminskiFonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Paulo_Leminski

“Como dizia Haroldo de Campos, Leminski era um ‘Rimbaud curitibano com físico de judoca’. Este po-eta nascido em Curi-tiba, no Paraná, em 1944, foi tradutor, professor de história e de judô, publici-tário, romancista e músico. Sua poesia, altamente elaborada

e construída, era sintética, concisa e debochada. Caetano Ve-loso dizia que ele misturava a poesia concreta com a literatura beatnik dos americanos dos anos 50. Foi letrista de MPB e pu-blicou vários livros independentes – reunidos pela primeira vez em 1983, na coletânea Caprichos&relaxos. Em 1987, lançou Distraídosvenceremos. Leminski morreu em 1989. Entre suas obras póstumas estão Lavieemclose (1991) e Winterinverno (1994)”.

“Bela como poucas, Ana Cristina foi a musa absoluta da poesia marginal. Nascida no Rio de Janeiro, em 1952, formou-se em Letras e fez curso de tradução literária na Inglaterra. Influiu ativamente na vida cultural carioca dos anos 70, escrevendo artigos em jornais e participando de debates. Em 1982, ela reuniu seus livros publicados de forma independente no voluma A teus pés. Em 1983, durante uma crise emocional, Ana C., como assinava, se matou, saltando pela janela, aos 31 anos. Em 1985, o poeta Armando Freitas Filho reuniu seus inéditos no livro Inéditos e dispersos”.

“Foi o primeiro a entrar na onda do livro impresso em mimeógrafo e distribuído de mão em mão. O livro se cha-mava Muito prazer, Ricardo (1972). Nele, os versos vão quase rentes à fala cotidia-na, incorporando recursos como a linguagem dos jor-nais e as gírias, sempre com

Figura 8 - Ana Cristina CésarFonte: www.jstheater.blogspot.com

PAULO LEMINSKI

ANA CRISTINA CÉSAR

RICARDO DE CARVALHO DUARTE

Figura 9 -Ricardo de Carvalho Duarte [Chacal]Fonte: www.catadoradeversos.blogspot.com

para conhecer alguns poetas marginais

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4 ALGUMASANÁLISES

Os poemas que escolhi para análise evidenciam a linguagem que expressa o inconformismo de jovens da classe média com o status quo (SANTIAGO, 1989).

para conhecer alguns poetas marginais

muita graça e suingue. Sua obra foi reunida em 1983 na coletâ-nea Drops de abril. Nascido no Rio de Janeiro em 1951, Chacal continua em plena atividade, fazendo leituras públicas e publi-cando poemas. Foi editor da revista de poesia O Carioca e tam-bém publicou os livros Comício de tudo (1986), Letra elétrica (1994) e A vida é curta pra ser pequena (2002)”.

“Nasceu em Araxá, Minas Gerais, em 1938. É diplomata e atualmente mora na Costa Rica. Em sua poesia encontramos uma vertente lírica e outra mais marcada pela reflexão social – presente sobretudo nos textos em que há recorte e montagem de falas e estilos dos mais diversos extratos

da sociedade. Publicou vários livros, como Passatempo (1974); Lago, Montanha (1981); O corpo fora (1988) e Elefante (2000), entre outros”.

“Criador da coleção Fre-nesi, escrevia artigos em jornais comentando a obra de Chacal, Ana Cristina e outros. Estreou em 1968, com o livro Palavracerzi-da, em que revelava cer-ta influência simbolista, bebida na obra de poetas como Cecília Meireles. Em 1970, sua poesia passa a ser mais descarnada, co-loquial e humorada. Um de seus livros mais famosos é Beijonaboca (1975), em que faz referências ao romantismo brasileiro. Também fez letras para canções de Tom Jobim e Suely Costa, entre outros. Cacaso nasceu em Uberaba em 1944 e morreu em 1987, no Rio de Janeiro”.Fonte: WEINTRAUB, Fabio (Org.). PoesiaMarginal. São Paulo: Ática, 2012. p. 99-103.

FRANCISCO ALVIM

Figura 10 - Francisco AlvimFonte: www.editora.cosacnaify.com.br

ANTÔNIO CARLOS FERREIRA DE BRITO

Figura 11 - Antônio Carlos Ferreira De Brito [Cacaso]Fonte: http://www.sururufresco.com.br/tag/cacaso/

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Seminário: Literatura e cotidiano

TEXTO 1

MUITO OBRIGADOAo entrar na sala

cumprimentei-o com três palavrasboa tarde senhor

Sentei-me defronte dele(como me pediu que fizesse)

Bonita vistapena que nunca a aviste

Colhendo meu sangue: a agulhaenfiada na ponta do dedo

vai procurar a veia quase no sovacoDiscutir o assunto

fume do meu cigarrodeixa experimentar o seu

(Quanto ganhará este sujeito)Blazer, roseta, o país voltando-lhe

no hábito do anel profissionalAfinal, meu velho, são trinta anos

hoje como ontem ao meio-diaUma cópia deste documentoque lhe confio em amizade

Sua experiência nos pode ser muito útilnão é incômodo algum

volte quando quiser(HOLLANDA, 2007, p. 15).

.

Neste poema de Francisco Alvim, a linguagem é coloquial que, de acordo com Hollanda (2007), é uma das características principais da poesia marginal. É uma poesia de fácil explicação: alguém que vai a um laboratório para fazer um exame de sangue. É um fato do dia a dia, que realizamos sempre. O poeta simula um diálogo com o laboratorista e

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o entremeia com seus pensamentos (“quanto ganhará este sujeito”). O texto traz à tona termos (“sovaco”) e temas (fazer exame de sangue) que não são usuais dentro daquilo que a crítica literária considera como produção poética.

TEXTO 2

JOGOS FLORAISI

Minha terra tem palmeirasonde canta o tico-tico.Enquanto isso o sabiá

vive comendo o meu fubá.Ficou moderno o Brasil

ficou moderno o milagre:a água já não vira vinho,

vira direto vinagre.(HOLLANDA, 2007, p. 41)

Lendo este poema de Cacaso, você se lembra logo da Canção do Exílio, de Gonçalves Dias! Não é mesmo? Mas... Vamos recordá-la!

TEXTO 3

CANÇÃO DO EXÍLIOMinha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá; As aves que aqui gorjeiam,

Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas, Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida,

Nossa vida mais amores.

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Seminário: Literatura e cotidiano

Em cismar, sozinho, à noite, Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores, Que tais não encontro eu cá;

Em cismar - sozinho, à noite - Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra, Sem que eu volte para lá;

Sem que desfrute os primores Que não encontro por cá;

Sem qu’inda aviste as palmeiras, Onde canta o Sabiá.

Gonçalves Dias. Disponível em: http://www.vidaempoesia.com.br/goncalvesdias.htm

Há uma clara relação dialógica entre os textos. O texto 3 exalta a terra natal num claro contraste entre a terra brasileira e Portugal, onde o poeta cursava Direito. Aqui ainda pode-se lembrar de que D. João VI, em 1809, mandou que se plantassem palmeiras e, durante o Império, no século XIX, foi o símbolo do país. É uma glorificação da terra mãe.

Já o texto 2, apesar de retomar o primeiro verso de Canção do Exílio (“Minha terra tem palmeiras”), o restante do poema é uma crítica acirrada contra o contexto político da época. Nos versos “Ficou moderno o Brasil / ficou moderno o milagre: / a água já não vira vinho / vira direto vinagre.”, é uma clara referência ao chamado “milagre econômico”, quando o PIB superou 10% e houve geração

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de empregos; mas “a água [...] vira direto vinagre”, porque, além de o Brasil ter contraído uma grande dívida externa, grande parte da população não desfrutou do milagre.

Observe a oposição entre “tico-tico” e “sabiá”. O tico-tico é uma ave que habita em qualquer espécie de ambiente e se alimenta de qualquer coisa, inclusive comida humana. O sabiá é considerado por muitos como ave símbolo do Brasil. Um é nobre; o outro, desfavorecido!

TEXTO 4

PAPO DE ÍNDIO

Veiu uns ômi di saia pretacheiu di caixinha e pó branco

qui eles disserum qui chamava açucriaí eles falarum e nós fechamu a cara

depois eles arrepitirum e nós fechamu o corpoaí eles insistirum e nós comemu eles.

Chacal. Disponível em: http://www.jornaldepoesia.jor.br/chacal.html

O poema Papo de índio sofreu a influência dos modernistas de 1922 e os últimos versos refletem a fórmula da Antropofagia oswaldiana: a absorção das influências estrangeiras de maneira crítica, sem copiar, produzindo algo genuinamente nacional.

O toque de humor acontece, quando o eu lírico assume a voz do índio, e, de forma irônica, mostra a visão que seu povo tem do colonizador.

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Seminário: Literatura e cotidiano

TEXTO 5

SONHO RÁPIDO DE ABRIL

As ambulâncias se calaram as crianças suspenderam a voracidade batuta dois versos deliraram por detrás dos túneis

moleza nos joelhos mão de ferro nos peitinhos

tristeza suarenta, locomotiva, fútil patinho feio

soldadinho de chumbo manto de jacó, escada de jacó

sete anos de pastor estrela demente desfilando na janela

de repente as ambulâncias estancaram o choro voraz dos bebês.

Ana Cristina César. Disponível em: http://usuarios.cultura.com.br/migliari/br_ac08.htm

O texto 5 faz parte do livro A teus pés (1982), com versos de caráter intimista e confessional. Sonho rápido de abril revela os tempos da ditadura militar brasileira com toda sua violência: fez calar as crianças e as ambulâncias. É interessante notar a referência ao verso de Luiz de Camões – “Sete anos de pastor Jacob servia” – em que Jacob é sempre enganado pelo pai de Raquel, da mesma forma que os brasileiros foram enganados pelo sistema ditatorial e perderam sua liberdade.

Recorde o poema de Camões:

Raquel

Sete anos de pastor Jacob servia Labão, pai de Raquel, serrana bela; Mas não servia ao pai, servia a ela,

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E a ela só por prémio pretendia.

Os dias, na esperança de um só dia, Passava, contentando-se com vê-la;

Porém o pai, usando de cautela, Em lugar de Raquel lhe dava Lia.

Vendo o triste pastor que com enganos

Lhe fora assi negada a sua pastora, Como se a não tivera merecida;

Começa de servir outros sete anos, Dizendo: – Mais servira, se não fora Para tão longo amor tão curta a vida!

Disponível em: http://pensador.uol.com.br/frase/NTM2ODI4/

Pelas análises feitas, você viu que é uma poesia que quebra com o que é considerado o fazer poético. Como afirma Cabañas (2005): “A indiferenciação entre linguagem coloquial e poética, cotidianidade e poesia, efetivada em muitos desses poemas, é, como se vê, mais uma vez realçada como o aspecto mais conturbado destas tendências”. Ainda acrescento sobre a preocupação desta geração de ler o Brasil de forma irônica e lúdica.

5 CONCLUSÕES

Os poetas marginais e/ou ex-cêntricos denunciaram o que se passava no Brasil na época com a palavra. Segundo Hollanda (2004), não é uma alienação, mas uma preferência por este tipo de denúncia rebelde, bem humorada, à luta armada.

Esta produção surge hoje nas periferias. É a chamada literatura marginal que, de acordo com Spivak (2010), é

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Seminário: Literatura e cotidiano

produzida por aqueles que pertencem às “camadas mais baixas da sociedade, constituídas pelos modos específicos de exclusão dos mercados, da representação política e legal, e da possibilidade de se tornarem membros plenos no estrato social dominante” (p. 12).

Aqui acrescento outras formas de produção cultural marginal: literatura de cordel, rap, arrocha, punk (rock da juventude proletária), hip hop etc.

Há toda uma produção sociocultural sendo produzida, fora do circuito da elite, nas ruas, nas favelas, nas prisões, pelos “iletrados”.

É uma produção que vale a pena ser pesquisada!

Em grupo, de 04 ou 05, escolha uma das atividades abaixo.

1) Analise quatro ou cinco poemas de três poetas marginais da geração mimeógrafo, articulando com a situação sociopolítica do Brasil, na década de 1970.

2) Analise duas ou três letras de música rap ou punk ou arrocha, indicando como o sujeito constitui sua identidade.

Neste Seminário, você estudou a Poesia Marginal de 70, analisando a produção dos poetas como um modo de vida alternativo, ex-cêntrico, fora dos padrões aceitos socialmente.

ATIVIDADES

RESUMINDO

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sociedade pior. In: Novos Estudos Cebrap. São Paulo:

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NOVAES, Adauto (Org.). Anos 70: ainda sob a tempestade.

Rio de Janeiro: Aeroplano; SENAC, 2005.

RIDENTI, Marcelo. Em busca do povo brasileiro: artistas

da revolução, do CPC à era da tv. Rio de Janeiro: Record,

2000.

leitura

Você encontra a antologia 26 Poetas Hoje no site ht-tp://www.heloisabuarque-dehollanda.com.br/26-po-etas-hoje-download/

Fonte: www.vendavaldas-letras.wordpress.com

leitura recomendada

ANDRADE, Mário de. O Domador. In: ANDRADE, Mário de. Poesias Completas. São Paulo: Martins, 1966. p. 92.

AZEVEDO, Aluísio de. O Cortiço. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000015.pdf.

BANDEIRA, Manuel. Libertinagem. In: BANDEIRA, Manuel. Poesia Completa e Prosa. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1974. p. 199-223.

CABAÑAS, Teresa. A poesia marginal brasileira: uma experiência da diferença. 2005. Disponível em: http://www.cisi.unito.it/artifara/rivista5/testi/poesiamarginal.asp

CAMARGO, Maria Lúcia. Atrás dos Olhos Pardos: uma leitura da poesia de Ana Cristina Cesar. Chapecó: Argos, 2003.

REFERÊNCIAS

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Seminário: Literatura e cotidiano

HOLLANDA, Heloísa Buarque de. Impressões de viagem: CPC, vanguarda e desbunde: 1960/70. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2004.

HOLLANDA, Heloísa Buarque de. 26 poetas hoje. 6. ed. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2007. Disponível em: http://www.heloisabuarquedehollanda.com.br/26-poetas-hoje-download/

HUTCHEON, Linda. Poética do Pós-Modernismo: História – Teoria – Ficção. Tradução de Ricardo Cruz. Rio de Janeiro: Imago, 1991.

MAFFESOLI, Michel. O instante eterno: o retorno do trágico nas sociedades pós-modernas. Tradução de Rogério de Almeida; Alexandre Dias. São Paulo: Zouk, 2003.

OLIVEIRA, Rejane Pivetta de. Literatura marginal: questionamentos à teoria literária. Disponível em: http://www.ufjf.br/revistaipotesi/files/2011/05/7-Literatura.pdf

PEREC, Georges. « Approches de quoi ? », dans L’infra-ordinaire, Paris, Seuil, 1989, p. 9-13.

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SHERINGHAM, Michael. Everyday Life. Theories and Practices from Surrealism to the Present, Oxford, Oxford University Press, 2006.

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Suas anotações

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