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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA FACULDADE DE VETERINÁRIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS VETERINÁRIAS LUCELINA DA SILVA ARAÚJO ESTUDO DO POTENCIAL CITOTÓXICO DO VENENO DA SERPENTE Crotalus durissus cascavella EM ADENOCARCINOMA OVARIANO-OVCAR-8. FORTALEZA 2012

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ PRÓ-REITORIA DE … · Rocha, que me orientou de forma brilhante durante a realização dos testes laboratoriais e por todos os ensinamentos transmitidos

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

FACULDADE DE VETERINÁRIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS

VETERINÁRIAS

LUCELINA DA SILVA ARAÚJO

ESTUDO DO POTENCIAL CITOTÓXICO DO VENENO DA SERPENTE Crotalus durissus cascavella EM ADENOCARCINOMA

OVARIANO-OVCAR-8.

FORTALEZA

2012

2

LUCELINA DA SILVA ARAÚJO

ESTUDO DO POTENCIAL CITOTÓXICO DO VENENO DA SERPENTE Crotalus durissus cascavella EM ADENOCARCINOMA

OVARIANO-OVCAR-8.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias da Faculdade de Veterinária da Universidade Estadual do Ceará, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Ciências Veterinárias. Área de Concentração: Reprodução e Sanidade Animal. Linha de Pesquisa: Reprodução e sanidade de carnívoros,onívoros, herbívoros e aves. Orientadora: Profª. Dra. Janaina Serra Azul Monteiro Evangelista

FORTALEZA

2012

3

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação

Universidade Estadual do Ceará

Biblioteca Central Prof. Antônio Martins Filho

Bibliotecário(a) Responsável – Giordana Nascimento de Freitas CRB-3/1070

A663e Araújo, Lucelina da Silva

Estudo do potencial citotóxico do veneno da serpente Crotalus Durissus Cascavella em adenocarcinoma ovariano – OVCAR - 8 / Lucelina da Silva Araújo. — 2012.

CD-ROM. 71f. il. (algumas color) ; 4 ¾ pol.

“CD-ROM contendo o arquivo no formato PDF do trabalho acadêmico, acondicionado em caixa de DVD Slin (19 x 14 cm x 7 mm)”.

Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual do Ceará, Faculdade de Veterinária, Programa de Pós-graduação em Ciências Veterinárias, Fortaleza, 2012.

Área de concentração: Reprodução e Sanidade animal.

Orientação: Profa. Dra. Janaina Serra Azul Monteiro.

1. Crotalus Durissus Cascavella. 2. Veneno. 3. Citotóxidade. 4. Apoptose. I. Título.

CDD: 636.089

4

5

Dedico,

Ao meu esposo, Hudson Rocha por todo apoio, amor e paciência.

6

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus e a Nossa Senhora por estarem presentes em cada segundo da

minha vida me dando força, proteção e coragem para continuar.

À Universidade Estadual do Ceará (UECE) e ao Programa de Pós-graduação

em Ciências Veterinárias (PPGCV) e a Faculdade de Veterinária (FAVET) pela

capacitação profissional que me proporcionaram.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)

pelo incentivo concedido na forma de bolsa de estudo, ao Conselho Nacional de

Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e à Fundação Cearense de Apoio ao

Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FUNCAP) pelo auxílio financeiro dessa

pesquisa.

À Universidade Federal do Ceará (UFC), em especial ao Laboratório de

Oncologia Experimental (LOE) por ter disponibilizado a sua estrutura física para a

realização da parte experimental deste projeto. Em especial, a Professora Dra. Letícia

Veras Costa Lotufo por autorizar a realização de nossos experimentos, ao Dr. Danilo

Rocha, que me orientou de forma brilhante durante a realização dos testes laboratoriais

e por todos os ensinamentos transmitidos nesse período. Ao professor Dr. Diego Wilke

pela iniciativa e auxilio no início da execução dos experimentos e a todos os que fazem

parte desta equipe que de alguma forma contribuíram para o desenvolvimento deste

projeto.

Ao Dr. Daniel Viana, pelo auxílio na leitura das lâminas e belíssimo laudo

emitido após sua atenção e disponibilidade.

À Dra. Diva Nojosa, do Núcleo Regional de Ofiologia da Universidade Federal

do Ceará – NUROF-UFC por ter gentilmente cedido o veneno para realização dos

experimentos.

À minha querida orientadora, Dra. Janaina Serra Azul Monteiro Evangelista,

por ter me acolhido e me orientado, sempre me fornecendo apoio acadêmico e moral,

por todos os conhecimentos transmitidos e por toda a ajuda concedida em todos os

momentos que precisei. Muito obrigada pela amizade e pela confiança que depositou

em mim, que seja o início de uma longa caminhada!

7

Aos mestres que passaram por mim ao longo do meu crescimento acadêmico,

pelos ensinamentos não só para minha vida profissional, mas para o meu dia a dia, em

especial a minha eterna orientadora Dra. Nilza Dutra Alves.

À professora Dra. Lúcia de Fátima (querida professora Lucinha) pelos

ensinamentos, pelo carinho, atenção e principalmente pelas palavras de apoio e

reconhecimento.

Aos colegas e amigos de laboratório que me receberam no HISTOVESP,

Magna Matos, Duanny Murinelly, André Figueiredo, Júnior Félix, Renato Pinheiro,

Deborah Queiroz, Karen Denise, Jorge Luis, Raquel Colares, Keyttyanne Sampaio,

Amanda Brito, Jéssica Nóbrega, Celito Filho, Davi Rocha, Glayciane Bezerra, Douglas

Varela, D. Zirlene, em especial a minha querida Anna Sérgia, meu braço direito durante

esses dois anos de trabalho, a Nathalia Santiago e a Wanessa Rodrigues pela amizade e

palavras de conforto e amor.

Aos professores do PPGCV, pelo conhecimento e experiência compartilhados.

Aos colegas do curso de mestrado por todos os momentos divertidos e por todo

o apoio que tive de vocês.

Aos funcionários do programa, Adriana Albuquerque e aos demais

funcionários por toda a ajuda e suporte em todos os procedimentos acadêmicos.

Aos meus amigos que não pertencem ao “mundo acadêmico”, pelos momentos

de descontração e por todo o apoio que obtive de vocês, principalmente, nos períodos

mais estressantes.

A minha família que me apoiou ao longo destes anos, compreendendo as

minhas ausências e me dando força para continuar. Principalmente ao meu esposo

Hudson Rocha pela paciência, pelo amor, dedicação e confiança. Aos meus pais, Angela

Maria e Paulo Araújo pelo amor incondicional e educação transmitidos a mim. Ao meu

irmão amado Paulo Filho, pelo companheirismo e brincadeiras.

Finalmente, agradeço a todos que aqui não foram citados, mas ajudaram direta

ou indiretamente para que essa dissertação fosse feita.

8

RESUMO

Nas últimas décadas o câncer alcançou grande dimensão, sendo considerado um

problema de saúde publica a nível mundial, representando uma das principais causas de

morte no mundo. As serpentes do gênero Crotalus vêm ganhando espaço significativo

no campo científico, pois pesquisas realizadas com seu veneno estão demostrando que

este apresenta mecanismos envolvidos em atividades citotóxicas em linhagens tumorais.

Logo, o objetivo deste trabalho foi analisar o efeito citotóxico do veneno bruto da

serpente Crotalus durissus cascavella (Cdcasca), in vitro, em linhagens tumorais, bem

como, os mecanismos de morte celular induzidos por este veneno. Os efeitos citotóxicos

da Cdcasca foram avaliados nas linhagens de carcinoma ovariano, carcinoma de

próstata, carcinoma de mama e glioblastoma. Foram realizados também avaliação de

alterações no DNA, integridade da membrana celular, ciclo celular e atividade das

Caspases 3 e 7. Os resultados demostraram relevante citotoxicidade apresentando

valores de CI50 de 2.4 até 6.7 µg/mL, para as cinco linhagens testadas. As células

tratadas com o Cdcasca demostraram alterações morfológicas de forma dose-

dependente, apresentando redução no volume celular, fragmentação nuclear e formação

de corpos apoptóticos. A atividade anti-proliferativa e integridade de membrana celular

foi confirmada, com uma significante redução do número de células para a concentração

do veneno de 4 μg/mL. A ocorrência de apoptose foi confirmada através da ativação de

Caspases 3 e 7. Em conclusão, o veneno da Crotalus durissus cascavella demostrou

efeito citotóxico dose-dependente em diversas linhagens tumorais, demonstrando

diversas alterações morfológicas em especial as células de linhagem de carcinoma

ovariano, causando morte celular.

Palavras chave: Crotalus durissus cascavella. Veneno. Citotoxicidade. Apoptose.

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ABSTRACT

In the last decades cancer has reached a great dimension being considered a worldwide

public health problem, representing a major cause of death in world. Snakes from the

genus Crotalus has gained significant space in the scientific field, since researches with

their venom show that its mechanisms are involved in the cytotoxic activity.Therefore,

the aim of the present study was to analyze the crude venom of Crotalus durissus

cascavella (Cdcasca) cytotoxic activity in vitro against tumor cell lines, as well as, the

mechanism of cell death induced by this venom. . The cytotoxic effects of Cdcasca were

evaluated on ovarian cell carcinoma, prostate carcinoma, breast carcinoma and

glioblastoma. Evaluations to DNA fragmentation, cell membrane integrity, cell cycle

and the activity of Caspases 3 and 7 were also present in this study. Results showed

relevant cytotoxicity presenting values of CI50 of 2.4 to 6.7 µg/mL on the five lineages

tested. The cells treated with Cdcasca showed morphologic alterations in a dose-

dependent way, presenting reduction on the cell volume, nuclear fragmentation and

presence of apoptotic bodies. The antiproliferactive activity and the membrane integrity

were confirmed, with a significant reduction of the number of cells to the concentration

of the venom of μg/mL. The occurrence of apoptosis was confirmed trough the

activation of Caspases 3 and 7. In conclusion, the venom of Crotalus durissus cascavella

showed a dose-dependent cytotoxic effect in several tumor cell lines, presenting several

morphological alterations, especially to the ovarian cell carcinoma, causing cell death.

Keywords: Crotalus durissus cascavella. Venom. Cytotoxicity. Apoptosis.

10

LISTA DE FIGURAS

Revisão de literatura

Figura 1. Serpente Crotalus durissus cascavella............................................................ 19

Figura 2. Morte celular por apoptose, imagem adaptada............................................... 27

Figura 3. Fotomicrografia de adenocarcinoma ovariano. Evidenciando formação dos

corpos apoptóticos (setas), H.E, aumento de 400x, Motic BA310, Moticam

2000................................................................................................................................ 28

Figura 4. Fotomicrografia de adenocarcinoma ovariano. Evidenciando (A) Cariorrexis;

(B) Mitoses atípicas; (C) Sincícios, picnocse. Coloração H.E, aumento de 400x, Motic

BA310, Moticam 2000................................................................................................... 31

Figura 5. Imunologia da morte celular por necrose........................................................ 32

Figura 6. Diagrama representativo dos produtos da autofagia e metabolismo de célula

cancerígena..................................................................................................................... 33

Capitulo 1

Figure 1. Photomicrographs of OVCAR-8 cells stained with Hematoxilin/Eosin, 400×.

Cells were incubated with Cdcasca for 24 h. A: Control; B: Doxorubicin 0.5 μM; C:

Cdcasca 1.0 μg/mL; D: Cdcasca 2.0 μg/mL; E: Cdcasca 4.0 μg/mL. Black arrow: cell

membrane blebbing; White arrow: atypical mitosis; Black dashed arrow: Nucleus

fragmentation; White dashed arrow: membrane damage and pyknosis………………. 55

Figure 2. Confocal (Zeiss LSM 710) images of OVCAR-8 cells stained with DAPI,

400×. Cells were incubated with Cdcasca for 24 h. A: Control; B: Doxorubicin 0.5 μM;

C: Cdcasca 1.0 μg/mL; D: Cdcasca 2.0 μg/mL; E: Cdcasca 4.0 μg/mL. White arrow:

atypical mitosis; White dashed arrow: Nucleus fragmentation……….......................... 56

Figure 3. Effect of Cdcasca on OVCAR-8 cell membrane integrity (A) and cell number

(B) determined by flow cytometry, using propidium iodide after 24 h incubation. The

negative control was treated with the vehicle saline (Control). Paclitaxel (Ptx) at 0.05

11

µM was used as the positive control. Data are presented as mean values ± S.E.M. of

three independent experiments performed in triplicate. *p<0.05 compared to the

negative control by ANOVA followed by Dunnett’s test.............................................. 57

Figure 4. Effect of Cdcasca on caspases 3,7 determined by flow cytometry, after 24h

incubation. The negative control was treated with the vehicle saline (Control).

Doxorubicin (Dox) at 0.5 µM was used as the positive control. Data are presented as

mean values ± S.E.M. of three independent experiments performed in triplicate.

*p<0.05 compared to the negative control by ANOVA followed by Dunnett’s test…. 58

12

LISTA DE TABELAS

Revisão de literatura

Tabela 1: Estimativas para o ano de 2012 das taxas brutas de incidência por 100 mil

habitantes e de número de casos novos por câncer, segundo sexo e localização primária*

no Brasil.......................................................................................................................... 36

Tabela 2: Distribuição proporcional dos dez tipos de câncer mais incidentes estimados

para 2012 por sexo, exceto pele não melanoma* no Brasil............................................ 36

Capitulo 1

Table 1. Cytotoxic activity of Cdcasca on tumor cell lines…........................................ 59

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AA Ácido araquidônico

ATP Adenosina trifosfato

Bcl-2 Família de proteínas envolvidas no processo de morte celular

Cdcasca Crotalus durissus cascavella

cFLA2 Enzimas citosólicas como as fosfolipases A2

CHO-K1 Linhagem celular de carcinoma ováriano

Crotoxina A Fração ácida da Crotoxina (Crotapotina)

Crotoxina B Fração básica (Fosfolipase A2)

Cvxα e Cvxβ Convulxina tipo α e β.

DAPI Dihidrocloreto de 4',6-diamidino-2-fenilindole

DMSO Dimethyl sulfoxide (Dimetil sulfóxido)

GH3 Linhagem celular de adenoma benigno de pituitária

H.E. Corante hematoxilina e eosina.

HL-60 Linhagem celular de leucemia promielocítica humano

IAP Inibidor da proteína de apoptose

CI50 Concentração Inibitória Média capaz de provocar 50% do efeito

máximo

IL-6 Interleucina-6

INCA Instituto Nacional do Câncer

LAO L-amino-oxidase

LOE Laboratório de Oncologia Experimental

14

MCF-7 Linhagem celular de carcinoma mamário humano

MTT Sal 3-(4,5-dimetil-2-tiazol)-2,5-difenil-2-H-brometo de tetrazolium

MX-1 Linhagem celular de carcinoma mamário humano

NaCl Cloreto de sódio

NaHCO3 Bicarbonato de sódio

NCI National Cancer Institute

OMS Organização Mundial da Saúde

OVCAR-8 Linhagem celular de adenocarcinoma ovariano humano

PC-3M Linhagem celular de carcinoma de próstata humano

PI Iodeto de Propídio

PLA2 Fosfolipase A2

ROS Espécies reativas de oxigênio

RT2 Linhagem celular de glioblastoma humano

SF-268 Linhagem celular de glioblastoma humano

SKOV3 Linhagen celular de carcinoma ovariano humano

TBS Tampão Tris

TNF-α Fator de necrose tumoral- α

Tumor Ehrlich Adenocacinoma mamário

TXA2 Tromboxano A2

WHO World Health Organization

15

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO........................................................................................................ 16

2. REVISÃO DE LITERATURA................................................................................ 18

2.1. Aspectos Gerais e Epidemiológicos do Gênero Crotalus............................ 18

2.2. Constituintes do veneno da espécie Crotalus durissus................................ 19

2.2.1. Crotoxina e suas subunidades....................................................... 19

2.2.2. Crotamina..................................................................................... 21

2.2.3. Convulxina.................................................................................... 22

2.2.4. Giroxina........................................................................................ 22

2.2.5. Peptídio natriurético..................................................................... 23

2.3. Estudo da atividade citotóxica do veneno do Gênero Crotalus e suas

frações................................................................................................................. 24

2.4. Morte celular............................................................................................... 26

2.4.1. Apoptose ...................................................................................... 27

2.4.2. Necrose ........................................................................................ 30

2.4.3. Autofagia...................................................................................... 32

2.5. A importância do estudo sobre o câncer...................................................... 33

3. JUSTIFICATIVA.................................................................................................... 38

4. HIPÓTESE CIENTÍFICA....................................................................................... 39

5. OBJETIVOS............................................................................................................. 40

5.1. Objetivo geral.............................................................................................. 40

5.2. Objetivos específicos……………………………………………………... 40

6. CAPÍTULO I - Cytotoxic effect of Crotalus durissus cascavella venom in tumor

cell lines.…………………………….…………………..…………………………….. 41

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................... 60

8. PERSPECTIVAS...................................................................................................... 61

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................... 62

16

1. INTRODUÇÃO

As serpentes do Gênero Crotalus tem ganhado importante espaço no campo

científico, visto que em algumas décadas seu veneno vem sendo alvo de pesquisadores

devido sua constituição e o efeito que essas substâncias podem causar. No Brasil elas

são representadas por apenas uma espécie, a Crotalus durissus, e classificadas nas

subespécies Crotalus durissus terrificus, Crotalus durissus collilineatus, Crotalus

durissus cascavella, Crotalus durissus ruruima, Crotalus durissus marajoensis,

observadas de forma específica em diferentes localidades do país (PINHO & PEREIRA,

2001). Alguns autores reconhecem uma sexta subespécie no território brasileiro, a

Crotalus durissus trigonicus, encontrada em algumas regiões de Roraima e na savana de

Rupununi na Guiana (CAMILLO, 1998; AUTO, 1999; RATELSLANGEN, 2010).

O veneno de diversas espécies exercem efeitos em quase todas as células e

tecidos do organismo humano e suas propriedades farmacológicas podem ser

determinadas de acordo com a quantidade de constituintes específicos e biologicamente

ativos, presentes nessas substâncias. A natureza proteinácea desses venenos foi

estabelecida em 1843 por Lucien Bonaparte (BON, 1997). Atualmente considera-se que

cerca de 90 a 95 % do peso seco dos venenos ofídicos têm propriedade protéica, e são

estas proteínas as responsáveis por quase a totalidade dos efeitos biológicos

encontrados.

A peçonha da Crotalus apresenta-se como um complexo tóxico-enzimático,

onde são encontradas as enzimas fosfodiesterase, L-amino-oxidase, 5-nucleotidase e

toxinas como a crotoxina, convulxina, crotamina e giroxina (RANGEL-SANTOS et al.,

2004).

Estudos realizados por Soares et al (2010) e Tamieti et al. (2007) testaram o

veneno da espécie Crotalus durissus em linhagens tumorais, verificando sua ação

citotóxica e atividade antitumoral. As neoplasias malignas expressam características

anormais devido a padrões alterados de expressão gênica nas células cancerosas em

decorrência de alterações genéticas, Da Silva e colaboradores (2002) observaram a ação

do veneno da Crotalus durissus terrificus e da Bothrops jararaca diretamente sobre as

células do tumor de Ehrlich (Adenocacinoma mamário).

17

Grandes avanços nas pesquisas com toxinas e enzimas ofídicas desenvolveram-

se nos últimos trinta anos com o advento das análises da estrutura bioquímica,

principalmente dos venenos elapídicos, em consequência de sua maior letalidade.

O veneno da espécie Crotalus durissus tem demonstrado atividade tanto em

linhagens tumorais, como em atividade antitumoral (in vitro e in vivo), sendo testado em

sua forma original, veneno bruto, bem como em suas frações isoladas (SOARES et al.,

2010). A crotoxina está presente como principal componente do veneno do gênero

Crotalus, sendo necessário ressaltar que de acordo com as subespécies, contidas neste

gênero, existem diferenças no potencial de atividade do veneno. De acordo com Rangel

e colaboradores (2004) mesmo com um perfil eletroforético semelhante nas subespécies

Crotalus durissus cascavella, Crotalus durissus collilineatus e Crotalus durissus

terrificus, existem diferenças em suas atividades, talvez relacionadas à existência de

isoformas dessa proteína.

Em vista disso, torna-se relevante estudar os efeitos citotóxicos do veneno da

subespécie Crotalus durissus cascavella, frente às linhagens tumorais direcionando-se a

entender seus efeitos biológicos e mecanismo de ação.

18

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1. Aspectos Gerais e Epidemiológicos do Gênero Crotalus

As serpentes possuem grande importância tanto na cadeia ecológica, como na

área biomédica. Pesquisas realizadas com os venenos por elas produzidos têm se

intensificado, uma vez que suas frações enzimáticas-protéicas vêm sendo usadas na

fabricação de medicamentos. Destacando a anatomofisiologia da família Viperidae,

estas serpentes apresentam grande especialização no crânio, o que justifica a extrema

mobilidade da maxila e outros ossos da cabeça, conformação que favorece a efetividade

nos ataques desses animais e possibilita a inoculação do veneno durante seus botes . O

veneno dessas serpentes é produzido por duas glândulas especiais localizadas na cabeça,

atrás e abaixo dos olhos, que são glândulas salivares modificadas, onde a saliva é a

própria toxina. Elas possuem reservas para vários botes seguidos, sendo que, uma vez

totalmente extraído o veneno ou secreção, as glândulas só voltarão a estar totalmente

cheias após duas semanas (SANTOS, 1995).

As serpentes do gênero Crotalus tem a seguinte distribuição e são classificadas

nas seguintes subespécies: Crotalus durissus terrificus, encontrada nas regiões sul

oriental e meridional; Crotalus durissus collilineatus, distribuídas nas regiões secas do

Centro-Oeste, em Minas Gerais e no norte de São Paulo; Crotalus durissus cascavella

(Figura 01), encontrada nas áreas de caatinga da região Nordeste; Crotalus durissus

ruruima, observada na região Norte; Crotalus durissus marajoensis, observada na Ilha

de Marajó; e a Crotalus durissus trigonicus, encontrada em algumas regiões de Roraima

(PINHO; PEREIRA, 2001; RATELSLANGEN, 2010).

O veneno crotálico apresenta-se como um complexo tóxico-enzimático de várias

substâncias, dentre as enzimas podemos destacar fosfodiesterase, L-amino oxidase, 5-

nucleotidase e o fracionamento destas revela as seguintes toxinas: crotoxina, crotamina,

giroxina, convulxina e proteinases séricas, como crotalocitina, trombocitina e enzimas

trombina-like (identificadas como proteases séricas são capazes de degradar cadeias de

fibrinogênio, induzindo a agregação plaquetária). (RANGEL-SANTOS et al., 2004;

FONSECA, et al., 2006; SPINOSA, 2008)

19

Figura 01: Imagem ilustrativa da serpente Crotalus durissus cascavella. Fonte: http://www.biologados.com.br/especiais/instituto_butantan_turismo 2.2. Constituintes do veneno da espécie Crotalus durissus

2.2.1. Crotoxina e suas subunidades

A Crotoxina principal polipeptídeo presente no veneno crotálico foi isolada

inicialmente por Silva (1982) na subespécie Crotalus durissus terrificus, este autor

destacou que este componente correspondia a 68% do peso total do veneno. De Acordo

com Hendon (1971) a crotoxina é um β-neurotoxina que tem duas subunidades, uma

ácida, a crotapotina (crotoxina A) e outra básica, a fosfolipase A2 (crotoxina B).

A crotapotina tem sua acidez justificada pela composição de aminoácidos: 12

resíduos de aspartato/asparagina e 14 de glutamato/glutamina versus 2 resíduos de lisina

e 2 de arginina. A fosfolipase A2 crotálica contém 11 resíduos de aspartato/asparagina e

10 de glutamato/glutamina versus 11 resíduos de lisina e 12 de arginina, caracterizando

seu caráter básico. A crotapotina e a fosfolipase A2 são ricas em cistina, contendo 7 e 8

pontes dissulfídicas respectivamente. As duas subunidades formam a crotoxina, um

complexo molar de proporção 1:1 (BREITHAUPT et al., 1974; SPINOSA, 2008).

Variações interespecíficas e intraespecíficas foram descritas para o complexo

crotoxina. As variações interespecíficas estão relacionadas com diferenças desse

componente nas diversas subespécies das serpentes e as variações intraespecíficas

diferem na combinação das isoformas das subunidades A e B, as quais possuem

potência e atividade biológica diferentes em uma subespécie específica (PEREAÑEZ et

al., 2009).

20

A crotapotina (crotoxina A) não possui a toxicidade e a atividade enzimática da

crotoxina, mas potencializa a sua toxicidade. Essa potencialização é explicada pelo fato

de que, quando associado ao componente B (PLA2), o componente A (crotapotina)

previne a ligação da PLA2 a sítios de baixas especificidades e afinidade, direcionando a

PLA2 a se ligar a sítios de receptores de membrana (pós-sináptica) de alta

especificidade e alta afinidade, o que potencializa a toxicidade da crotoxina. Esses sítios

de alta especificidade podem ser receptores colinérgicos ou componentes da membrana

fortemente associados a estes (BON et al., 1979). Esses receptores foram denominados

como tipo N (neuronal) e M (muscular). Os receptores do tipo N foram os primeiros a

serem identificados e estão presentes em grande quantidade nas membranas de cérebro

de ratos. Tais receptores ligam-se com alta afinidade às PLA2s neurotóxicas. Os

receptores do tipo M foram identificados em músculo esquelético de coelhos

(MATSUBARA, 2009).

A crotapotina demonstrou outros efeitos como, potencializar edema inflamatório

(induzido por carragenina), possuir efeito antimicrobiano contra, principalmente,

bactérias Gram-negativas e causar alterações renais, tais como, aumentar a pressão de

perfusão renal e a resistência vascular renal em rins perfundidos sem, entretanto, alterar

o fluxo urinário e a filtração glomerular, ao contrário da crotoxina (OLIVEIRA, et al.,

2003).

O veneno da Crotalus durissus cascavella contém pelo menos 4 isoformas de

crotoxinas formadas por diferentes combinações de crotapotinas com uma única

isoforma de PLA2. Ao contrário do veneno de Crotalus durissus terrificus, que contém

3 ou 4 isoformas de PLA2 (BEGHINI et al., 2000).

Os dados supracitados podem servir como indicio para sugerir as diferenças na

intensidade de atuação do veneno das diferentes subespécies.

A crotoxina é uma β-neurotoxina que possui um efeito tóxico bloqueador pós-

sináptico, diminuindo a ação da acetilcolina e impedindo a despolarização da

membrana, e pré-sináptico da liberação de acetilcolina, ou seja, ela bloqueia a

transmissão neuromuscular, impedindo a contração muscular estriada esquelética. Ela

pode causar uma paralisia dos músculos respiratórios, culminando na morte do

envenenado. (BON et al., 1979; GOPALAKRISHNAKONE et al., 1984; RANGEL-

SANTOS et al., 2004; SPINOSA, 2008; MATSUBARA, 2009). O veneno da Crotalus

21

durrissus terrificus e a crotoxina B induzem a expressão protéica de cicloxigenase-2

pelas células endoteliais (MATSUBARA, 2009).

A superfamília de PLA2 consiste de um amplo espectro de enzimas definidas

pela sua habilidade de catalisar a hidrólise da ligação do centro estérico (posição sn-2)

de fosfolipídios (SIX; DENNIS, 2000). Elas conferem à crotoxina uma ação miotóxica

por atuarem clivando fosfolipídios em sítios específicos de membranas de fibras

musculares estriadas esqueléticas sensíveis à PLA2, causando mionecrose, com perda

de estriação das fibras e degeneração hialina (4-6 horas após a injeção da crotoxina)

(GOPALAKRISHNAKONE et al., 1984).

As PLA2s induzem a um extravasamento de plasma, sendo capazes de aumentar

a permeabilidade microvascular da pele na região dorsal de ratos. Os mecanismos de

formação de edema induzido pelas PLA2s envolvem a ativação de fibras sensoriais C,

as quais liberam neuropeptídeos, como a substância P, que medeiam efeitos

neurogênicos inflamatórios locais (respostas vasoativas) em tecidos inervados e de

mastócitos locais (pela substância P), os quais liberam histamina e serotonina

(CÂMARA et al., 2003).

Fonseca et al. (2006) afirmaram que a crotoxina apresenta duas diferentes

atividades enzimáticas (PLA2 e da protease de serina) e dois tipos diferentes de ações

biológicas (neurotóxica e coagulante).

2.2.2. Crotamina

A crotamina é um polipeptídeo básico, pertencente à família das miotoxinas

polipetitídicas básicas, as quais possuem a capacidade de penetração intracelular,

através de mecanismos independentes de gasto energético, por interação com

proteoglicanos (MATSUBARA, 2009).

O efeito miotóxico também é causado pela crotamina, esta fração apresenta

atividade sinérgica à da crotoxina, ela atua causando principalmente contrações

musculares, dependentes da despolarização da membrana das células musculares

estriadas esqueléticas. Esta ação provavelmente é exercida sobre os canais de sódio,

pela indução do influxo de cálcio (LOMONTE et al., 2003). Também foi observado que

a crotamina interage ativamente com as membranas lipídicas das células, formando

vacúolos e demonstrando uma atividade mionecrótica.

22

2.2.3. Convulxina

A convulxina é uma toxina de alto peso molecular, pertencente à família das

lectinas do tipo C, formada por duas cadeias polipeptídicas (Cvxα e Cvxβ)

covalentemente associadas em uma estrutura trimérica (αβ)3. Esta fração já foi isolada

das subespécies Crotalus durissus terrificus, Crotalus durissus cascavella e Crotalus

durissus collilineatus e consiste em um potente ativador plaquetário. A indução

plaquetária provocada por esta toxina pode está relacionada com uma reação

dependente de Ca+, iniciada pela ligação da convulxina à glicoproteína Ib (GPIb)

(JANDROT-PERRUS, 1997; POLGAR et al., 1997; KANAJI et al., 2003). Matsubara

(2009) também descreveu que esta toxina é capaz de agregar e lisar plaquetas, ligando-

se com alta afinidade a um pequeno número de sítios plaquetários, por mecanismo

dependente de cálcio, fibrinogênio e adenosina difosfato. De acordo com Lima et al.

(2005) além de induzir a agregação plaquetária ao ligar-se ao receptor GPV1 das

plaquetas, ela causa convulsões, alterações respiratórias e circulatórias.

Leduc e Bon (1998) clonaram e sequenciaram as duas cadeias da convulxina de

Crotalus durissus terrificus. Neste estudo, observou-se uma alta similaridade entre as

cadeias α e β, com uma média de porcentagem de identidade de 74%. O

sequenciamento das subunidades resultou em cadeias compreendendo 158 e 148

resíduos de aminoácidos para Cvxα e Cvxβ, respectivamente e um peptídeo sinal de 23

resíduos de aminoácidos idênticos para as duas subunidades. Toyama e colaboradores

(2001) isolaram e caracterizaram uma proteína semelhante à convulxina da peçonha de

Crotalus durissus collilineatus com alta similaridade em relação à convulxina da

Crotalus durissus terrificus.

2.2.4. Giroxina

A giroxina pertence ao grupo do gênero trombina e foi isolado a partir do veneno

da serpente Crotalus durissus terrificus por Raw em 1986, por meio de três passos

cromatográficos de purificação (precipitação com sulfato de amônio, cromatografia em

Sephadex G-75 e Sepharose-1, 4-butanodiol diglycyl-p-aminobenzamidina). Após

análise eletroforética decobriu-se que a giroxina possuia um peso molecular de 34 kDa e

23

um pH 8,0, ótimo para a coagulação do sangue humano (RAW et al., 1986). A giroxina

converte o fibrinogênio em fibrina e assim aumenta o tempo de coagulação do sangue

(SANO-MARTINS et al., 2001). Além de atuar na coagulação, a giroxina apresenta

uma excelente atividade neurotóxica (BARROS et al., 2011). Fonseca e colabradores

(2006) descreveram a giroxina apresentando duas frações principais: atividade de

trombina-like e L-amino-oxidase (LAO). A LAO é a única oxidase dependente de FAD

(Flavina adenina dinucleotídeo) encontrada em veneno de serpentes e sua toxicidade,

possivelmente, envolve a geração de peróxido de hidrogênio, produto final da oxidação

de L-aminoácidos. A LAO também induz a agregação plaquetária, envolvendo a

ativação da PLA2 (TOYAMA et al., 2006). Em estudos mais recentes Barros et al.

(2011) verificaram que a giroxina demonstrou um elevado nível de atividade

coagulante, com uma dose mínima entre 0,015-0,037µg/µL. Outras atividades da

giroxina são a amidásica e a esterásica. (MARTINS et al., 2002)

Prado-Franceschi (1990) sugere que esta toxina produz uma síndrome

convulsiva peculiar em camundongos, caracterizada por movimentos rápidos de rotação

do corpo em torno de seu eixo longitudinal. Estudos posteriores confirmaram sua ação

no sistema nervoso central, causando a síndrome labiríntica em camundongos,

corroborando os achados anteriores (MATSUBARA, 2009). O estudo desta enzima

poderá servir como um modelo molecular interessante para o desenvolvimento de novos

fármacos ou agentes terapêuticos (MORAES et al., 2004; FERRARO et al., 2005),

principalmente devido a sua resistência aos inibidores de proteinases fisiológicas

(MATSUI et al., 2000; SERRANO et al., 2005).

2.2.5. Peptídio natriurético

Outro componente importante do veneno é o peptídio natriurético que ao ser

isolado da Crotalus durissus cascavella foi capaz de aumentar a pressão de perfusão e a

resistência vascular renal em rins perfundidos de ratos. Este componente demonstrou ser

capaz de aumentar o fluxo urinário e a filtração tubular renal e diminuir o transporte

tubular de sódio e a pressão arterial sistêmica. EVANGELISTA et al. (2008)

observaram que este componente do veneno crotálico apresentou efeitos renais e

vasculares, com consequente efeito diurético e hipotensor.

24

2.3. Estudo da atividade citotóxica do veneno do Gênero Crotalus e suas

frações

A diversidade de toxinas e enzimas que constituem os venenos de serpentes

pode conferir a estas substâncias a habilidade de interagir com múltiplas integrinas,

podendo resultar na inibição da agregação celular, inibição da angiogênese, bem como

indução da morte das células tumorais, seja por vias apoptóticas ou necróticas. Russel

(1983) em um trabalho de revisão mostra os efeitos de toxinas de veneno de serpentes

que se ligam a integrinas e provocam efeitos antiangiogênicos e antitumorais.

Células de mamíferos em cultura são importantes ferramentas para avaliar a

atividade citotóxica de substâncias com potencial terapêutico (PARKIN et al., 2001)

Diversos estudos vêm sendo realizados testando o veneno da espécie Crotalus

durissus em linhagens tumorais, testando seu efeito citotóxico, bem como sua atividade

antitumoral. Em 2010, Soares et al. verificaram em seus experimentos que células das

linhagens de glioblastoma (RT2) e adenoma benigno de pituitária (GH3) quando

expostas ao veneno da serpente Crotalus durissus terrificus apresentaram alterações

morfológicas como irregularidade de membrana celular, encolhimento celular,

condensação nuclear, fragmentação de DNA e formação de corpos apoptóticos,

características típicas de apoptose,.

Em um outro estudo realizado por Tamieti et al. (2007) o veneno da cascavel

induziu apoptose em células tumorais de carcinoma de ováriano de hamster (CHO-K1).

Yan e colaboradores (2006) testaram a crotoxina, principal fração do veneno

crotálico e demonstram a ocorrência de autofagia e apoptose celular em linhagem de

leucemia mieloide crônica (K562), a toxina diminuiu a viabilidade das células,

estimulando a autofagia, e também foi constatado alterações da membrana mitocondrial

com a liberação de citocromo-c e ativação da caspase-3. No ano de 2007 os mesmos

autores repetiram os estudos em outra linhagem celular (MCF-7) de câncer mamário

humano, deficientes em caspase-3. Desta vez, o estimulo da autofagia ainda foi

observado, assim como a apoptose pela condensação e fragmentação nuclear. A

viabilidade celular foi inibida de maneira dose-dependente de acordo com o tempo de

exposição.

No ensaio realizado por Soares et al. (2010) os testes citotóxicos com a principal

fração do veneno, a crotoxina, demonstrou que as linhagens RT2 e GH3, apresentaram

25

alterações morfológicas e degradação de DNA, só que em um menor intensidade. O

efeito citotóxico da crotoxina, neste caso, não foi tão intenso como quando comparado

ao veneno total, o que levou os autores a acreditarem que a crotoxina pode não ser o

único componente envolvido na citotoxicidade do veneno para estas linhagens.

Outro componente que vem ganhando destaque nas pesquisas é a PLA2

crotálica. Estudos foram realizados para verificar seus efeitos em varios tipos celulares,

como em macrófagos, linfócitos, plaquetas e células neoplásicas (NEWMAN et al.,

1993, DONATO et al., 1996, SAMPAIO et al. 2005, YAN et al., 2006 e 2007).

Fonseca et al. (2006) testaram tanto a crotoxina como suas subunidades, PLA2 e

crotapotina, em plasma humano rico em plaquetas e puderam verificar que na

concentração de 20µL a crotoxina demonstrou potente ação para agregação plaquetária,

enquanto que suas principais subunidades não foram capazes de apresentar o mesmo

potencial ao serem testadas isoladamente. A interação dos dois componentes pode ser

um possível indício para este evento ter ocorrido, visto que estudos anteriores relataram

que a crotapotina pode agir potencializando a atividade da PLA2.

Newman et al. (1993) verificaram uma eficácia na ação antitumoral in vivo,

usando uma administração diária de Crotoxina, demonstrando inibição no crescimento

em 83% no carcinoma de pulmão de Lewis e uma inibição de 69% em carcinoma

mamário humano (MX-1). Uma menor atividade foi observada em células de leucemia

(HL-60), inibindo o crescimento em apenas 44%, o que sugere que a Crotoxina pode

ter, certa, especificidade para tumores sólidos.

Estudos de citotoxicidade de toxinas do veneno da cascavel têm fornecido dados

promissores para uma futura utilização destas no tratamento de câncer. Como exemplo

pode-se citar o produto natural, VRCTC-310-ONCO, resultante da combinação de duas

toxinas da Crotalus durissus terrificus, que se encontra em fase de investigação clínica

como um potente agente antitumorigênico (STANCHI et al., 2002).

Estudos toxicológicos demonstraram que a administração da concentração

antitumoral do veneno da Crotalus durissus terrificus, calculada in vitro (0,016 gμ/mm2

de massa tumoral), em um tumor induzido, não provocou efeitos tóxicos agudos e

nenhuma alteração funcional ou histopatológica nos animais tratados (SOARES et al.,

2010).

Apesar da enorme variabilidade de cânceres, evidências demonstraram que a

resistência à apoptose é uma das características mais marcantes da maioria dos tumores

26

malignos (OKADA et al. 2004), o que torna ainda mais importante estudos com estas

substâncias, visto que dados revelaram essa possível interferência sobre as vias

apoptóticas ou mesmo quando agem ativando outras vias de morte celular, seja por

meio da autofagia ou mesmo necrose, como já citado anteriormente.

Diversos estudos vêm sendo realizados com o veneno da espécie Crotalus

durissus em linhagens tumorais, in vitro e na atividade antitumoral, in vivo,

principalmente com a fração crotoxina. Em vista disso, é relevante estudar os efeitos

citotóxicos do veneno da subespécie Crotalus durissus cascavella, serpente encontrada

nas áreas de caatinga da região Nordeste do Brasil, frente aos efeitos citotóxicos em

linhagens tumorais.

2.4. Morte celular

O desenvolvimento e a manutenção dos organismos dependem de uma interação

entre as células que o compõe. Por exemplo, no desenvolvimento embrionário, muitas

células produzidas em excesso são levadas à morte, contribuindo para a formação dos

órgãos e tecidos (MEIER et al., 2000).

Durante muito tempo, a morte celular foi considerada um processo passivo de

caráter degenerativo, ocorrendo em casos de infecções, lesões celulares e ausência de

fatores de crescimento e como consequência, a célula altera a integridade da membrana

plasmática, aumentando o seu volume e perde suas funções metabólicas (YU et al.,

2000).

Entretanto, nem todos os eventos de morte celular são processos passivos.

Organismos multicelulares são capazes de induzir a morte celular programada como

resposta a estímulos intracelulares ou extracelulares (HENGARTNER, 2002).

Esses processos de morte celular podem ser classificados de acordo com suas

características morfológicas e bioquímicas em: necrose, apoptose e autofagia

(CASTEDO et al., 2004; OKADA, 2004). Alterações na coordenação desses tipos de

morte celular estão implicadas na tumorigênese (RICCI, 2006).

27

2.4.1. Apoptose

A apoptose é um tipo de morte celular regulada de forma ordenada por uma série

de eventos em cascatas de sinalização; É um mecanismo que desempenha papel

essencial na regulação do crescimento, desenvolvimento, manutenção da quantidade de

células ou atividade sobre células anormais nos organismos; Promove uma eliminção

seletiva de células danificadas, com o intuito de manter a integridade do organismo e a

manutenção da vida; É um processo que requer gasto de energia e tem por característica

morfológica principal a diminuição do volume citoplasmático, condensação da

cromatina, degradação do DNA e formação de corpos apoptóticos (REED, 2000;

DAMIANI, 2004; DANIAL e KORSMEYER, 2004; RELLO et al., 2005) (Figura 2).

Figura 2: Esquema da fisiologia de morte celular por apoptose, imagem adaptada. Fonte: http://www.utm.utoronto.ca/~w3cellan/apoptosis.html

28

A figura 3 demonstra uma alteração marcante presente em células com

característica de apoptose, que é a formação dos corpos apoptóticos.

Figura 3: Fotomicrografia de adenocarcinoma ovariano. Evidenciando formação dos

corpos apoptóticos (setas), H.E, aumento de 400x, Motic BA310, Moticam 2000. Fonte: Arquivo pessoal, 2012.

Diferente da morte por necrose, que tem por característica provocar resposta

inflamatória potencialmente prejudicial aos tecidos, a apoptose causa alterações na

superfície da célula que promovem a fagocitose por macrófagos, antes de ocorrer a

liberação do seu conteúdo citoplasmático sem causar inflamação (ZIEGLER et al.,

2004).

Genes que controlam o ciclo celular, como P53, c-MYC e RB, estão envolvidos

no processo de apoptose, bem como, proteínas da família BCL-2 (Bcl-2, Bax, Bad, Bid)

também desempenham papel importante no processo de morte celular programada

(RICCI et al., 2006).

A morte por apoptose pode ser regulada por duas vias: via de receptores de

morte ou extrínseca e via mitocondrial ou intrínseca (FAN et al., 2005). Estas vias

ativam caspases iniciadoras ou pró-caspases e ambas convergem para ativação das

caspases efetoras. A indução de apoptose e execução requer a cooperação de uma série

de moléculas, incluindo sinal molecular, receptores, enzimas e os genes reguladores.

Entre eles, podemos destacar outros constituintes reguladores epecíficos da cascata, tais

como o inibidor da proteína de apoptose (IAP), Bcl-2 família de proteínas e calpaína, é

29

essencial no processo de apoptose (LAUNAY et al., 2005) As caspases iniciadoras

correspondem as caspase-8 e caspase-9, estas ativam caspases efetoras pela clivagem

proteolítica de pró-caspase, como exemplo a caspase-3, após ativação pelas caspases

iniciadoras, agem sobre substratos específicos, como inibidores de apoptose (Bcl-2),

proteínas regulatórias do citoesqueleto, moléculas que mantém estoques de ATP (PARP

– Polimerase poli ADP- ribose), fator de fragmentação de DNA (DFF) entre outros,

como já descrito anteriormente. (STRASSER et al., 2000).

A via intrínseca é caracterizada por falta de fatores de crescimento para

sobrevivência das células no ambiente em que se encontram. A ausência desses fatores

levaria a ativação da via mitocondrial de várias moléculas, tais como: Bcl-2, Bid

caspase 9 e por último a caspase 3. Já a via extrínseca a apoptose é induzida via Fas e

ativa caspase 8, que por sua vez ativa caspase 3, sem que ocorra dano na mitocôndria

(LOGUE e MARTIN, 2008).

A apoptose também pode ser induzida por enzimas citosólicas como as

fosfolipases A2 (cFLA2) (ATSUMI et al., 2000). A FLA2 é uma classe diversa de

enzimas que catalisam a hidrólise de fosfolipídios e ácidos graxos da membrana

plasmática, desempenhando papel importante em vários eventos biológicos

(HIRABAYASHI, 2004). A hidrólise de fosfolipídios pela FLA2 gera ácido

araquidônico (AA) e lisofosfolipídios. São os ácidos araquidônicos que, mediados por

enzimas cicloxigenases e lipoxigenases, geram as ROS (espécies reativas de oxigênio),

as quais causam o rompimento da membrana mitocondrial, permitindo a liberação de

citocromo c e, consequentemente, induzindo a apoptose. O ácido araquidônico também

tem sido indicado como mediador da formação de ceramidas através da

esfingomielinase (ZHAO et al., 2002). Defeitos na via apoptótica são bastante comuns

no processo de formação de tumores, pois permite que células danificadas continuem

proliferando. Além disso, a apoptose desregulada afeta a quimio e radio resitências,

aumentando o limiar para que a morte celular seja inicializada.

Mesmo o câncer exibindo características celulares heterogêneas, os tumores

malignos adquiriram a propriedade de crescer além dos limites considerados para um

tipo celular normal. A expansão clonal de uma célula transformada depende de um

descontrole da sua capacidade proliferativa e de uma crescente incapacidade de morrer

por apoptose. Apesar da enorme variabilidade do câncer, evidências demonstram que a

30

resistência à apoptose é uma das características mais marcantes da maioria dos tumores

malignos (OKADA E MAK, 2004).

2.4.2. Necrose

A necrose refere-se a um espectro de alterações morfológicas que se seguem à

morte celular, ela é resultante em grande parte, da ação progressiva de enzimas sobre a

célula, letalmente lesada, que se caracteriza pela morte celular causada por injúrias no

tecido, constituindo-se num processo não mediado por ATP, levando a ruptura da célula

e gerando inflamação tecidual (FADEEL; ORRENIUS, 2005).

As características mais comuns da necrose são: ruptura da membrana

citoplasmática e extravasamento de material antigênico, o que induz à reação

inflamatória, intensificando assim o dano tecidual. O padrão morfológico é decorrente

do resultado de dois processos: digestão enzimática que se traduz microscopicamente

como uma necrose de liquefação e a desnaturação de proteínas que origina a necrose de

coagulação. Na necrose de coagulação os contornos celulares são preservados por

algum tempo enquanto que na necrose de liquefação a célula é completamente digerida

(ZIEGLER; GROSCURTH, 2004).

As alterações nucleares podem apresentar-se sob três padrões: a basofilia da

cromatina pode diminuir (cariólise), uma alteração que supostamente reflete na

atividade da DNAse; a picnose, caracterizada pela retração nuclear e aumento da

basofilia. Neste caso o DNA tem uma aparência condensada, como uma massa sólida,

basofílica. Por fim um padrão, conhecido como cariorrexe, o núcleo picnótico ou

parcialmente picnótico sofre fragmentação (COTRANS et al., 2000; BOHM, SCHILD,

2003) (Figura 4).

31

Figura 4: Fotomicrografia de adenocarcinoma ovariano. Evidenciando (A) Cariorrexis;

(B) Mitoses atípicas; (C) Sincícios, picnose. Coloração H.E, aumento de 400x, Motic

BA310, Moticam 2000. Fonte: Arquivo da Pesquisadora, 2012.

Com o decorrer do tempo, um ou dois dias, a célula necrótica desaparece

totalmente (COTRANS et al., 2000; BOHM, SCHILD, 2003). A Figura 5 representa a

imunologia da morte celular por necrose. As células necróticas em processo de morte

podem induzir resposta inflamatória devido, isso ocorre devido a diversos sinais pró-

inflamatórios que podem levar um organismo afetado a ter uma resposta imunogênica.

Esse conjunto de eventos caracterizam os principais pontos que diferenciam a necrose

de outros tipos de mortes celulares, podem ser destacados diversos fatores que são

estimulados e liberados durante esse processo dentre eles estão: Iterleucinas IL-1, IL-6

e IL-8, secreção de cicloxigenases, TNF, bem como fatores intracelulares como o ácido

úrico/MSU, HSP70, HSP90, HMGB1, ATP, DNA, RNA, HDGF, SAP130 e membros

da família de proteína S100. (EIGENBROD, et al., 2008; PETROVSKI, et al., 2007;

VANDENBERGHE, et al., 2006; SAELENS, et al., 2005)

A B C

32

Figura 5: Esquema ilustrativo da imunologia da morte celular por necrose. Células

necróticas liberaram organelas intracelulares, bem como fatores intracelulares como o

ácido úrico/MSU, HSP70, HSP90, HMGB1, ATP, DNA, RNA, HDGF, SAP130 e

membros da família de proteína S100. Além disso, as células necróticas secretam IL-1α

e IL-6 de modo passivo e ativo, respectivamente. Imagem adaptada de Garg et al., 2010.

2.4.3. Autofagia

A autofagia é um processo adaptativo conservado evolutivamente e controlado

geneticamente. Ela ocorre em resposta a um estresse metabólico que resulta na

degradação de componentes celulares (DANIAL, 2004; LUM, 2005). Durante a

autofagia, porções do citoplasma são encapsuladas por membrana, originando estruturas

denominadas autofagossomos (Figura 06). Estes irão se fusionar com os lisossomos e

posteriormente o conteúdo dos autofagossomos será degradado pelas hidrolases

lisossomais (KELEKAR, 2005).

33

Figura 6: Diagrama representativo dos produtos da autofagia e metabolismo de célula

cancerígena. Imagem adaptada de Lozy & Karantza, 2012.

2.5. A importância do estudo sobre o câncer

A importância do câncer na área de Saúde Pública ganha destaque à medida que

ocorre o controle de outras doenças, fazendo com que haja um interesse especial em

formas de controle para uma enfermidade que aflige a humanidade. O avanço da ciência

e da tecnologia tem possibilitado a melhoria dos meios de diagnóstico e de tratamento,

contribuindo para um declínio das taxas de mortalidade por enfermidades controláveis,

tais como a tuberculose, a desnutrição, o diabetes mellitus e outras afecções. A

urbanização, a industrialização e a maior expectativa de vida da população são os

principais fatores que contribuem para o aumento da incidência das doenças crônico

degenerativas, dentre elas, o câncer.

O câncer é um termo genérico para um amplo grupo de doenças que podem

afetar qualquer parte do corpo. Outros termos utilizados são tumores e neoplasias

malignas. Uma característica marcante do câncer é a formação rápida de células

34

anormais que podem invadir tecidos próximos, bem como se disseminar para outros

tecidos e órgãos (OMS, 2012). As neoplasias podem diferir de acordo com o tipo de

célula, tecido ou órgão em que se desenvolvem. Geralmente as células neoplásicas

levam a formação de uma massa tumoral, podendo esta ser benigna ou maligna (INCA,

2008).

A presença de células em crescimento contínuo, com propriedades de invasão e

destruição do tecido adjacente, bem como, de crescimento em outros sítios diferentes do

tumor primário (metastização), pode determinar a severidade da doença.

Essas propriedades normalmente são ocasionadas por um acúmulo de mutações

nos oncogenes, nos genes supressores e nos genes reparadores de DNA, o que

caracteriza o câncer como doença genética. (FOSTER, 2008)

Os oncogenes promovem a proliferação celular de forma ordenada, enquanto os

genes supressores mantêm essa proliferação sob controle, restringindo assim o

crescimento celular. Os genes reparadores de danos do DNA têm por função refazer as

moléculas que sofrem mutação. Quando ocorre o mau funcionamento dos mecanismos

de regulação do ciclo celular, permitindo a passagem das células mutadas pelo ciclo, o

acumulo dessas mutações, acaba por contribuir no surgimento das características do

tumor maligno (VERMEULEN; VAN BOCKSTAELE; BERNEMAN, 2003).

Para o estabelecimento de medidas efetivas de controle do câncer fazem-se

necessárias informações de qualidade sobre sua distribuição de incidência e

mortalidade, o que possibilita melhor compreensão sobre a doença e seus determinantes;

avaliação dos avanços tecnológicos aplicados à prevenção e tratamento, bem como a

efetividade na atenção à saúde, perspectiva descrita pelo Instituto Nacional do Câncer -

INCA. Ao ser considerado um problema de saúde pública mundial faz-se necessário

estudos aprofundados acerca desta patologia. A Organização Mundial da Saúde (OMS)

estimou que, para o ano 2030, podem-se esperar 27 milhões de novos casos de câncer,

17 milhões de mortes por câncer e 75 milhões de pessoas vivas, anualmente, com

câncer. (OMS, 2012)

No Brasil o problema do câncer destaca-se devido à forma com que seu perfil

epidemiológico vem se apresentando, e, com isso, o tema vem conquistando espaço nas

prioridades do governo federal, que investe em centros específicos direcionados a

tratamentos e apoio a pacientes acometidos por esta patologia. O conhecimento sobre a

situação dessa doença permite estabelecer prioridades e alocar recursos de forma

35

direcionada para a modificação positiva desse cenário. As estimativas para o ano de

2012 serão válidas também para o ano de 2013 e apontam a ocorrência de

aproximadamente 518.510 novos casos de câncer, incluindo os casos de pele não

melanoma, o que reforça a magnitude do problema do câncer no país. (INCA, 2012)

O câncer no Brasil é destacado como a segunda causa de morte em números

absolutos, subsequentes às doenças cardiovasculares, quando não são considerados os

óbitos por causas externas. Os tumores malignos são responsáveis por um número

expressivo e crescente de pacientes em todo o mundo, também representando a segunda

causa de morte da população mundial. (SRIVASTAVA et al., 2005) A análise da

tendência temporal mostra um aumento significativo de sua participação percentual

dentre todos os óbitos durante as últimas décadas, fazendo com que as neoplasias

malignas ocupem, progressivamente, maior dimensão em termos de mortalidade.

O câncer afeta, portanto, a população de um modo geral, incluindo pessoas de

ambos os sexos e de todas as idades.

Nas tabelas 1 e 2, estão descritas as principais localizações primárias de

neoplasias no organismo, bem como a distribuição proporcional dos dez tipos de câncer

mais incidentes estimados para 2012 por sexo, no Brasil.

36

Tabela 1: Estimativas para o ano de 2012 das taxas brutas de incidência por 100 mil

habitantes e de número de casos novos por câncer, segundo sexo e localização primária*

no Brasil.

Tabela 2: Distribuição proporcional dos dez tipos de câncer mais incidentes estimados

para 2012 por sexo, exceto pele não melanoma* no Brasil.

*Números arredondados para 10 ou múltiplos de 10

Fonte: INCA, 2011.

*Números arredondados para 10 ou múltiplos de 10. Fonte: INCA, 2011.

37

A terapêutica do câncer baseia-se, de forma geral, na associação de

procedimentos cirúrgicos, tratamento radioterápico e quimioterapia desses tumores. Ao

longo dos anos as formas de abordagem para o tratamento sofreram alterações

significativas após o inicio da utilização do tratamento adjuvante. Os protocolos pós-

cirúrgicos, juntamente com o uso da quimioterapia com diferentes mecanismos de ação

e a radioterapia, associados a outros utensílios vem melhorando os resultados dos

tratamentos associados a alguns tipos de câncer. Infelizmente, muitos tumores ainda

apresentam respostas modestas aos protocolos clínicos, limitando a indicação e a

eficácia do tratamento adjuvante tanto para os tumores primários quanto para as

metástases (KUMMAR et al., 2004).

Portanto torna-se necessário encontrar e desenvolver modalidades terapêuticas

mais eficientes, oferecendo então aos pacientes com câncer oportunidades reais de

controle da doença.

Pesquisas utilizando produtos naturais vêm aumentando ao longo das décadas,

especialmente estudos relacionados à ação de componentes de plantas, microrganismos,

toxinas ou mesmo substâncias oriundas de animais, como os venenos e mesmo a própria

saliva. O avanço no estudo desses componentes vem interferindo diretamente na área da

oncologia, propiciando a descoberta de diversas substâncias utilizadas na terapêutica

antineoplásica. Existem diversas fontes naturais disponíveis e estas oferecem

possibilidades de encontrar substâncias de grande interesse para medicina. De acordo

com Harvey (2008), mais de uma centena de compostos derivados de produtos naturais

estão em fase de testes clínicos, principalmente para o tratamento do câncer e de

doenças infecciosas. Visto que a morbidade associada aos quimioterápicos ainda é um

obstáculo, a descoberta de novos fármacos antineoplásicos de fácil administração e com

mínimos ou nulos efeitos adversos é de extrema importância.

Várias pesquisas identificaram fármacos com atividade específica contra alguns

mecanismos metabólicos da célula tumoral, bem como fármacos que inibem a

neovascularização tumoral, que induzem a rediferenciação celular ou que levem a célula

tumoral à apoptose. Desta forma, as moléculas e substâncias a serem pesquisadas

precisam ser testadas de forma a favorecer a descoberta de novas ferramentas

terapêuticas.

38

1. JUSTIFICATIVA

O câncer apresenta-se como um problema de saúde publica, seu impacto na

sociedade e o aumento em número de ocorrências preocupa a sociedade brasileira. No

Brasil a doença se torna relevante devido seu perfil epidemiológico, o que requisita cada

vez mais investimentos voltados à descoberta de novas ferramentas terapêuticas que

possam agir de forma mais efetiva e menos agressiva aos pacientes. O conhecimento

sobre a situação atual destas patologias permite aos órgãos responsáveis e grupos de

pesquisas estabelecer prioridades e alocar recursos de forma direcionada para a

modificação positiva desse cenário. O estudo da citotoxicidade sobre linhagens tumorais

utilizando veneno de serpentes vem aumentando de forma significante. O que garante

este aumento são os resultados promissores que vem sendo obtidos por diversos

pesquisadores (ANIM et al., 1997; TAMIETI et al., 2007; GALÁN et al., 2008;

SOARES et al., 2010). Diversas vias de morte celular vêm sendo estudadas tentando

determinar qual a forma de atuação do veneno da espécie Crotalus durissus, em

linhagens tumorais, seja pela apoptose, necrose ou mesmo autofagia (YAN et al., 2007;

SOARES et al., 2010). Estudos sobre o veneno da Crotalus durissus cascavella são

indispensáveis, desta forma, é interessante isolar substâncias constituintes do veneno e

testar sua atividade específica sobre a linhagem OVCAR-8, bem como em outras

linhagens, e assim aplicar testes citotóxicos que favoreçam identificar qual ou em quais

vias de morte celular este veneno pode atuar.

39

2. HIPÓTESE CIENTÍFICA

Diante do exposto formulou-se a seguinte hipótese:

1) O veneno da serpente Crotalus durissus cascavella apresenta potencial

citotóxico sobre diversas linhagens tumorais, em específico, ação em linhagem

de carcinoma ovariano (OVCAR-8).

2) O veneno pode está relacionado com a ativação do mecanismo de apoptose, pela

ativação das caspases, bem como ação via necrose.

40

3. OBJETIVOS

5.1. Objetivo geral

Estudar a atividade citotóxica do veneno da serpente Crotalus durissus

cascavella em linhagens tumorais.

5.2. Objetivos específicos

Estudar a atividade citotóxica do veneno da Crotalus durissus cascavella em

linhagens de células tumorais de OVCAR-8 e SKOV3 (carcinoma ovariano), PC-3M

(carcinoma prostático), MCF-7 (carcinoma mamário), e SF-268 (glioblastoma).

Analisar a integridade de membrana, viabilidade celular e alterações na

morfologia celular.

Determinar a ativação de caspases efetoras (3 e 7), na linhagem tumoral de

adenocarcinoma ovariano (OVCAR-8), após tratamento com veneno da serpente

Crotalus durissus cascavella.

41

6. CAPÍTULO I

Estudo do potencial citotóxico do veneno da Crotalus durissus cascavella em

linhagens tumorais

(Study of the cytotoxic potential of the venom of Crotalus durissus cascavella in tumor

cell lines)

Periódico: Toxicon

(Submetido em, 20 de outubro de 2012)

42

Elsevier Editorial System(tm) for Toxicon Manuscript Draft

Manuscript Number: TOXCON-D-12-00452 Article Type: Research Paper

Cytotoxic effect of Crotalus durissus cascavella venom in tumor cell lines.

L.S. Araújoa, J.S.A.M. Evangelistaa, D.D. Rochab, L.V.C. Lotufob, M.O. Moraesb, D.V.

Wilkeb, D.M.Borges-Nojosa, C. O’Pessoab, D.A. Vianac, N.S.C. Rosasa.

aVeterinary Faculty, State University of Ceará, Fortaleza, Ceará Brazil. bDepartment of Physiology and Pharmacology, Federal University of Ceará. cDepartment of Biology, Federal University of Ceará. dRenorbio, State University of Ceará, Fortaleza, Ceará Brazil.

* Corresponding author. Graduate Program in Veterinary Sciences, Veterinary Faculty,

State University of Ceará, Fortaleza, Ceará Brazil, Av. Dedé Brasil, 1700 – Campus

Itaperi, 60740-903 – Fortaleza, Ceará, Brazil. Tel.: 055-(85)31019889; fax: 055-

(85)31019850. E-mail address: [email protected] (L.S. Araújo),

[email protected] (J.S.A.M. Evangelista).

43

Abstract

In the last decades cancer has reached a bigger dimension being considered a worldwide

public health problem, representing a major cause of death in world. Snakes from the

genus Crotalus has gained significant space in the scientific field in a few decades,

since their venom is being researched target because of its mechanisms involved in the

cytotoxic activity.Therefore, the aim of this present study was to analyze the crude

venom of Crotalus durissus cascavella (Cdcasca), a typical snake form the northeast of

Brazil, for its in vitro cytotoxic activity against tumor cell lines, as well as, the

mechanism of cell death induced by this venom. The cytotoxic effects of Cdcasca was

evaluated by using the MTT (3-(4,5-dimethyl-2-thiazolyl)-2,5-diphenyl-2H-tetrazolium

bromide) assay in the following cell lines: OVCAR-8 and SKOV3 (ovarian carcinoma),

PC-3M (prostate carcinoma), MCF-7 (breast carcinoma) and SF-268 (glioblastoma ). In

order to investigate DNA alterations cells were incubated with 4’,6-diamidine-2’-

phenylindole dihydrochloride (DAPI). We analysed in the flow cytometry the cell

membrane integrity, internucleosomal DNA fragmentation, cell cycle and Caspases 3

and 7 activities. Data were presented as mean values ± S.E.M. of three independent

experiments performed in triplicate. *p<0.05 compared to the negative control by

ANOVA followed by Dunnett’s test, then further analyzed in the Graphpad Prism 5.

The results had shown that the IC50 values ranged from 2.4 to 6.7 µg/mL between the

five cell lines tested. Cells treated with Cdcasca displayed morphological alterations in

dose-dependent effect, presenting reduction in cell volume, nuclear fragmentation and

the formation of apoptotic bodies. After that, cells were also stained with DAPI to better

evaluate the morphology of the nucleus after treatment with Cdcasca. The

antiproliferative activity of the venom was confirmed by flow cytometry, with a

significant reduction of cell number at 4 μg/mL. We analyzed the integrity of cell

membrane with the highest concentration of Cdcasca, which reduced cell membrane

integrity. The occurrence of apoptosis was later confirmed through the activation of

caspases 3 and 7. We concluded that Cdcasca showed dose-dependent cytotoxic effects

against several tumor cell lines, which demonstrated that, the cell death activation

occured by necrosis and apoptosis.

Keywords: Crotalus durissus; venom; cytotoxicity; apoptosis

44

1. Introduction

In the last decades cancer has reached a bigger dimension being considered a

worldwide public health problem, representing a leading cause of death (Srivastava et

al., 2005). According to the World Health Organization (WHO), in the year of 2030, an

incidence of 27 million cases of cancer are expected, 17 million cancer deaths and

around 75 million people living with cancer (WHO, 2012).

There are several sources of natural products available and these offer a great

opportunity to find interest medical substances and according to Harvey (2008), over

one hundred compounds derived from natural sources are undergoing clinical trials,

particularly for treating cancer and infectious diseases (Harvey, 2008). Since the

morbidity associated with chemotherapy is still an obstacle, the discovery of new

anticancer drugs is of utmost importance and therefore it is necessary to search for new

alternatives to improve the drug efficacy to neoplastic diseases.

Snakes from the genus Crotalus has gained significant space in the scientific

field in a few decades, since their venom is being researched target because of its

constituents and the effect that these substances can cause. In Brazil they can be found

in different parts of the country, but they are represented by only one species, the

Crotalus durissus (Cd) which can be classified into subspecies Cd terrificus, Cd

collilineatus, Cd cascavella, Cd ruruima and Cd marajoensis (Pinho & Pereira, 2001).

Most poison exerts its effects in almost all cells and tissues and their

pharmacological properties are determined by the amount of specific and biologically

active substances. Between 90 and 95% of the dry weight of snake venoms have

ownership protein, and these proteins are responsible for almost all of the biological

effects attributed to snake venoms (Bon, 1997).

The venom of Crotalus presents itself as a complex-toxic enzyme, which are

found phosphodiesterase enzymes, amino oxidase l, 5-nucleotidase and toxins such as,

crotoxin, convulxin, and crotamine gyroxin (Rangel et al., 2004). The crotoxin is

considered as the major component of the venom from this genus, and depending on the

snake subspecies, differences in this protein isoform may be found as well as difference

in their activities (Rangel et al., 2004).

45

A few studies have been conducted by testing the crude venom and some

isolated fractions of Crotalus durissus species in tumor cell lines, to access their

cytotoxic and antitumor activity (Soares et al., 2010; Tamieti et al., 2007). Therefore,

the aim of this present study was to analyze the crude venom of Crotalus durissus

cascavella (Cdcasca), a typical snake form the northeast of Brazil, for its in vitro

cytotoxic activity against tumor cell lines, as well as, the mechanism of cell death

induced by this venom.

2. Material and Methods

2.1. Venom obtaining

The venom of the snake Crotalus durissus cascavella was gently provided by

the Ofiology Regional Center, Federal University of Ceará.

2.2. Cell lines

In the present study, we used OVCAR-8 and SKOV3 (ovarian carcinoma), PC-

3M (prostate carcinoma), MCF-7 (breast carcinoma), and SF-268 (glioblastoma ) cell

lines, kindly provided by the National Cancer Institute U.S. (Bethesda, MD). Cells were

maintained in RPMI 1640 medium supplemented with 10% fetal bovine serum, 2 mM

glutamine, 100 μg/mL streptomycin and 100 U/mL penicillin and incubated at 37 °C

under a 5% CO2 atmosphere.

2.3. Cytotoxicity assay

Cytotoxicity was determined using the MTT (3-(4,5-dimethyl-2-thiazolyl)-2,5-

diphenyl-2H-tetrazolium bromide; Sigma-Aldrich Co., St. Louis, MO, USA) assay

developed by Mosmann (1983). For that, cells were seeded at 40x103 cells/mL in 96-

well plates 24 h prior to addition of test substances , then incubated with Cdcasca (0.19

- 25 ug/mL) or vehicle control (saline) for 72 h. Three hours before the end of the

incubation, 150 μL of a MTT stock solution (0.5 mg/mL) was added to each well. Later

the formazan product was dissolved in 150 μL of DMSO, absorbance was measured at

46

570 nm using a multiplate reader (DTX 880 Multimode Detector, Beckman Coulter,

Inc. Fullerton, CA, USA) and IC50 values determined by nonlinear regression using the

software GraphPad® Prism 5.0 (Intuitive Software for Science, San Diego, CA).

2.4. Analysis of mechanisms involved in the cytotoxic activity of Cdcasca

For the next set of experiments OVCAR-8 cells were seeded at a density of

40x103 cells/mL and treated with Cdcasca at concentrations of 1, 2 and 4 μg/mL for 24

h. The vehicle (saline) and paclitaxel (0.05 μM) or doxorubicin (0.5 μM) was used as

negative and positive controls, respectively.

2.4.1. Hematoxilin-Eosin stain

After the incubation period OVCAR-8 cells were examined for morphological

changes by light microscopy (Motic BA310, Moticam 2000). To evaluate cell

morphology, after the incubation period cells were harvested, transferred to cytospin

slides, fixed with methanol for 1 min and stained with hematoxilin and eosin.

2.4.2. Nucleus stain

In order to investigate DNA alterations characteristic of apoptotic cells were

incubated with 4’,6-diamidine-2’-phenylindole dihydrochloride (DAPI). Briefly, after

the incubation period cells were fixed with 3.7 % formaldehyde and incubated with

DAPI. After extensive washing with PBS, images were captured by confocal

microscopy (LSM 710 Zeiss).

2.4.3. Flow cytometry analysis

Five thousand events were analyzed for each replicate in three independent

experiments and cellular debris was omitted from the analysis. OVCAR-8 cells

fluorescence was then determined by flow cytometry in a Guava EasyCyte Mine using

Guava Express Plus software.

47

2.4.3.1. Cell membrane integrity

The cell membrane integrity was evaluated by the exclusion of propidium iodide

(Sigma Aldrich Co., St. Louis, MO/USA). Briefly, 100 μL suspension of treated and

untreated OVCAR-8 cells was incubated with 50 μg/mL propidium iodide for 10 min.

Fluorescence was measured and analyzed for cell number and membrane integrity.

2.4.3.2 Internucleosomal DNA fragmentation and cell cycle analysis.

DNA fragmentation and cell cycle distribution was analyzed by flow cytometry

after DNA staining with propidium iodide. Briefly, 100 μL of treated and untreated

OVCAR-8 cells were incubated for 30 min, in the dark, with hypotonic solution

containing 50 μg/mL propidium iodide, 0.1% sodium citrate, and 0.1% Triton X-100.

Fluorescence was measured and DNA fragmentation and cell cycle distribution were

analyzed.

2.4.3.3. Caspases activity

Caspase 3,7 activities were analyzed by flow cytometry, using Guava®

EasyCyte Caspase Kit, after 24 h of incubation. OVCAR-8 cells (40x103 cells/mL) were

incubated with Fluorescent Labeled Inhibitor of Caspases (FLICA) and maintained for 1

h at 37º C and 5% CO2. After a sequence of washing and spinning, the cells were

resuspended in the working solution (7-AAD 1:200 in 1× washing buffer) and analyzed

immediately using flow cytometry.

2.4.3.4. Statistical analysis

Data are presented as mean values ± S.E.M. of three independent experiments

performed in triplicate. *p<0.05 compared to the negative control by ANOVA followed

by Dunnett’s test. Data was further analyzed in the Graphpad Prism 5.

48

2.5. Ethical aspects

This project was submitted to the Ethics Committee on Animal Research at the

State University of Ceará (number of the submission process: 11516651-3). All care

were taken to preserve the health of the researchers and other professionals involved in

this work and the environment in the areas where it conducts the research project.

49

Results and Discussion

Snake venoms are recognized for its biochemical complexity, being composed

of a mixture of toxins, enzymes, growth factors and other proteins with different

biological activities (Tanjoni et al., 2003; Braga et al., 2007). In the last decades snake

venoms has attracted the interest of many researchers looking to characterize the

components of these venoms as well as identify their biological properties (Bon, 2000).

Thinking about that, we then decided to study the in vitro effects of the crude venom

from the snake Crotalus durissus cascavella (Cdcasca) in tumor cell lines.

First, the cytotoxicity of the Cdcasca venom was evaluated against five tumor

cell lines of different histotypes using the MTT assay (Mosmann, 1983). As shown in

Table 1, the IC50 values ranged from 2.4 to 6.9 µg/mL between the five cell lines tested.

The prostate cancer cell line PC-3M was the most sensitive cell line with IC50 of 2.4

µg/mL, followed by the ovarian carcinoma cell line OVCAR-8, with IC50 value of 2.7

µg/mL. Interestingly, SKOV-3 cells, which is also an ovarian carcinoma cell line,

showed to be the less sensitive cell line (IC50 = 6.9 µg/mL) among all five tested,

showing the non-specificity of Cdcasca towards any cell line type.

Until today there are not many studies reporting the cytotoxicity of Cdcasca,

however there are several studies which have demonstrated the cytotoxic activity of the

crude venom of different species of snakes in other tumor cell lines (Das et al., 2011;

Gomes et al., 2010 e Yan et al., 2007), which is in agreement with the results found here

for Cdcasca.

Soares (2010) verified on it’s experiments that glioblastoma tumor lines (RT2)

and benign pituitary adenoma (GH3) when treated with the Crotalus durissus terrificus

venom showed morphologic changes such as, cell wall irregularity, cellular shrink,

nucleus condensation, DNA fragmentation and development of apoptotic bodies, typical

characters of apoptosis. Such characteristics of apoptosis were also showed by Tamieti

(2007), that exposed hamster ovarian carcinoma cells (CHO-K1) to crotalic venom.

Treating cells with cytotoxic substances usually leads them to cell death, which

may be by apoptosis, necrosis, autophagy and mitotic catastrophe, among others (Okada

and Mak, 2004). Despite the recognition by some authors that the distinction between

all those types of cell death is difficult and controversial, there are at least some well-

defined characteristics to distinguish principally the cell death by apoptosis and necrosis

50

Cells undergoing necrosis typically exhibit rapid swelling and loss of membrane

integrity which ends up releasing their cytoplasmic content into the environment, as for

cells undergoing apoptosis the typical morphological changes are cytoplasmic

shrinkage, plasma membrane blebbing, chromatin condensation and DNA

fragmentation (Kanduc et al., 2002).

Cells treated with Cdcasca at the concentration of 1.0 and 2.0 μg/mL displayed

some of those morphological features including reduction in cell volume, nuclear

fragmentation and the formation of apoptotic bodies, suggesting the induction of

apoptosis in OVCAR-8 cells (Figures 1C and D). On the other hand, at 4 μg/mL, the

effects of Cdcasca were more intense and some characteristics of necrosis could also be

seen (Figure 1E). After that, cells were also stained with DAPI to better evaluate the

morphology of the nucleus after treatment with Cdcasca. As shown in Figure 2,

negative control cells show a round nucleus typical of interphase, while in doxorubicin

treated cells the nucleus appears to be already fragmenting. At the lowest concentration

tested of Cdcasca the nucleus of the cells looks similar to the negative control cells,

being considered viable, and as the concentration increases the number of cells with

fragmented DNA starts to show (Figures 2C, 2D and 2E).

Considering the observed morphological features, we then decided to analyze

some cellular and biochemical events to assess the mechanisms involved in cell death

induced by Cdcasca. The antiproliferative activity of the venom was confirmed by flow

cytometry (Figure 3B), with a significant reduction of cell number at 4 μg/mL. The

inhibition of cell proliferation can be associated with loss of cell membrane integrity,

with only 64 % of cells presenting intact membrane in the presence of Cdcasca at 4

μg/mL (Figure 3A), corroborating data from morphological analysis. Cell membrane

integrity serves as a parameter of the viability of cells and at the initial stages of

apoptosis the cell shrinks while its membrane remains intact, however, necrotic cell

swelling occurs as a result of the early failure of cell membrane integrity (Ziegler and

Groscurth, 2004), thus we might say that at lower concentrations Cdcasca (shows an

antiproliferative activity and becomes cytotoxic at higher concentrations.

As the venom at lower concentrations showed no cytotoxicity, we decided to

analyze whether the cell cycle was being affected. However, we found that Cdcasca was

not interfering in the cell cycle distribution at all (Data not shown) and the only

51

alteration observed was a slight increase in the sub G0/G1 phase of the cell cycle, which

again is an indicative of DNA fragmentation and consequently apoptosis.

The occurrence of apoptosis was later confirmed through the activation of

caspases 3 and 7 by Cdcasca, especially at the concentration of 4 µg/mL, where 32 % of

the cells were showing caspases activation (Figure 4). The caspases are shown to be one

of the important executors of apoptosis, being generally activated by several anti-tumor

drugs. This activation involves mainly two signaling pathways, one is the mitochondrial

and the other is the cell death receptor pathway, which consecutively activates caspases

9 and 8 and these both ends up by activating caspases 3 and 7 (Hengartner, 2000;

Mehmet, 2002).

Yan et al. (2006) had already shown that crotoxin, the major component of the

venom from Crotalus durissus terrificus, acts through caspase 3 activation and although

this is in accordance with our results, further studies are needed to elucidate the exact

mechanism involved in the cytotoxicity of Cdcasca.

The present paper showed that the Crotalus durissus cascavella venom had a

cytotoxic action on a variety of tumor cell lines, specially in ovarian carcinoma line

(OVCAR-8). The Cdcasca demonstrated an efficient activity, causing considerable

cytotoxic effects, such as, morphological changes and activating cell death, by necrosis

and apoptosis. More studies are necessaries through specific assays, to determine on

wich pathway this venom is more efficient on the cell death process.

Acknowledgments

We wish to thank CNPq, CAPES, FUNCAP, FINEP, BNB/FUNDECI and

PRONEX for the financial support in the form of grants and fellowship awards.

Conflict of interest

The authors of this article declare that there are no potential conflicts of

interest including employment, consultancies, stock ownership, honoraria, paid expert

testimony and patent applications/registrations related to the current manuscript

52

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55

ANNEX

Figures

Figure 1. Photomicrographs of OVCAR-8 cells stained with Hematoxilin/Eosin, 400×.

Cells were incubated with Cdcasca for 24 h. A: Control; B: Doxorubicin 0.5 μM; C:

Cdcasca 1.0 μg/mL; D: Cdcasca 2.0 μg/mL; E: Cdcasca 4.0 μg/mL. Black arrow: cell

membrane blebbing; White arrow: atypical mitosis; Black dashed arrow: Nucleus

fragmentation; White dashed arrow: membrane damage and pyknosis.

56

Figure 2. Confocal (Zeiss LSM 710) images of OVCAR-8 cells stained with DAPI,

400×. Cells were incubated with Cdcasca for 24 h. A: Control; B: Doxorubicin 0.5 μM;

C: Cdcasca 1.0 μg/mL; D: Cdcasca 2.0 μg/mL; E: Cdcasca 4.0 μg/mL. White arrow:

atypical mitosis; White dashed arrow: Nucleus fragmentation.

57

Figure 3. Effect of Cdcasca on OVCAR-8 cell membrane integrity (A) and cell number

(B) determined by flow cytometry, using propidium iodide after 24 h incubation. The

negative control was treated with the vehicle saline (Control). Paclitaxel (Ptx) at 0.05

µM was used as the positive control. Data are presented as mean values ± S.E.M. of

three independent experiments performed in triplicate. *p<0.05 compared to the

negative control by ANOVA followed by Dunnett’s test.

58

Figure 4. Effect of Cdcasca on caspases 3,7 determined by flow cytometry, after 24 h

incubation. The negative control was treated with the vehicle saline (Control).

Doxorubicin (Dox) at 0.5 µM was used as the positive control. Data are presented as

mean values ± S.E.M. of three independent experiments performed in triplicate.

*p<0.05 compared to the negative control by ANOVA followed by Dunnett’s test

59

Tables

Table 1. Cytotoxic activity of Cdcasca on tumor cell lines.

Cell lines

OVCAR-8 PC-3M MCF-7 SF-268 SKOV3

Cdcasca 2.7

(2.6 – 2.9)

2.4

(2.2 – 2.6)

4.9

(4.2 – 5.8)

4.1

(3.5 – 4.7)

6.9

(5.9 – 8.0)

Doxorubicin 0.3

(0.1 – 0.4)

0.8

(0,7 – 0.9)

0.4

(0.3 – 0.6)

0.6

(0.4 – 0.9) -

Data are presented as IC50 values in μg/mL and as the 95% confidence interval obtained by

nonlinear regression for all of the cell lines from two independent experiments, performed in

duplicate, after 72 h of incubation.

60

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho demonstrou que o veneno da serpente Crotalus durissus

cascavella (Cdcasca) apresentou atividade citotóxica para as linhagens tumorais

testadas.

Os resultados de CI50 apresentados confirmaram sua citotoxicidade em

linhagens de células tumorais de carcinoma ovariano (OVCAR-8 e SKOV3), carcinoma

prostático (PC-3M), carcinoma mamário (MCF-7) e glioblastoma (SF-268), sendo

importante ressaltar que devido sua excelente resposta ao ensaio citotóxico e sua

disponibilidade a linhagem OVCAR-8 foi estudada de forma mais aprofundada.

O Cdcasca demonstrou potencial de atividade eficiente em linhagem OVCAR-8,

provocando consideráveis alterações morfológicas nas células, dentre elas destacam-se:

problemas na integridade de membrana, alterações nucleares, formação de vacúolos

citoplasmáticos/nucleares, diminuição da viabilidade celular e por consequência morte

celular, seja pela via necrótica ou apoptótica.

A ativação das caspases efetoras (3 e 7) ocorreu em células tratadas com a

concentração mais elevada, o que pode sugerir uma ação do veneno na ativação desta

via de morte celular, tornando então fundamental que mais estudos sejam realizados

visando determinar por qual via este veneno é mais eficiente no processo de morte

celular.

61

8. PERSPECTIVAS

O estudo da utilização de substâncias naturais bioativas é uma excelente opção

para o surgimento de novas ferramentas terapêuticas, independente de qual aplicação na

área da saúde. O veneno de serpentes e seus componentes, um exemplo desse tipo de

substância, são largamente testados, atualmente já é confirmado seu potencial de ação

sobre diversas linhagens tumorais, seja alterando e inibindo sua capacidade de

proliferação celular, induzindo morte celular, ou mesmo sua atividade antiangiogênica.

Outras atividades descobertas são: sua ação bactericida, leishmanicida, ativação de

processos de fagocitose em infecções virais, ação sobre processos hematológicos,

influência no sistema nervoso, bem como, ativação das vias apoptóticas, necróticas ou

fagocitose celular. Os bons resultados obtidos neste trabalho, utilizando o veneno da

serpente Crotalus durissus cascavella, subespécie característica da Região Nordeste, é

de grande valia para a elaboração de linhas de pesquisas direcionadas e aprofundadas

sobre sua ação citotóxica. Isto ocorrendo poderá então permitir a descoberta e produção

de uma nova ferramenta terapêutica, que venha a servir de apoio para melhorar o

cenário, atual, do câncer na saúde pública. Entretanto, sua ação ainda não está

compreendida, a interação entre seus componentes e seu verdadeiro potencial de

atividade são uma incógnita, o que torna necessária a purificação desta substância para

então serem realizados estudos mais específicos.

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