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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM
CINEMA E LINGUAGEM AUDIOVISUAL
TCC – TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
LUIZ CARLOS FERNANDES
DEMOCRATIZAÇÃO DAS COMÉDIAS CINEMATOGRÁFICAS.
SÃO PAULO – SP.
Agosto, 2018.
UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
EM CINEMA E LINGUAGEM AUDIOVISUAL
TCC – TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
LUIZ CARLOS FERNANDES
DEMOCRATIZAÇÃO DAS COMÉDIAS CINEMATOGRÁFICAS.
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Estácio de Sá como requisito parcial para conclusão do Curso de Pós-Graduação lato sensu em Cinema e Linguagem Audiovisual Professora orientadora: Dra. Cristina Fonseca Silva Rennó.
SÃO PAULO – SP.
Agosto, 2018.
UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM
CINEMA E LINGUAGEM AUDIOVISUAL
TCC – TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
LUIZ CARLOS FERNANDES
DEMOCRATIZAÇÃO DAS COMÉDIAS CINEMATOGRÁFICAS.
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Estácio de Sá como requisito parcial para conclusão do Curso de Pós-Graduação lato sensu em Cinema e Linguagem Audiovisual Professora orientadora: Dra. Cristina Fonseca Silva Rennó.
Aprovado em: ........... / ...................... / .............. Nota: ........ ( ...............)
Dedico este trabalho e agradeço a minha esposa, Margarete Albuquerque Fernandes, que me incentiva e cuida de mim o tempo todo, e isso só faz crescer este meu gesto de amor e gratidão! Te amo!
RESUMO.
Baseada no modelo capitalista, a produção de comédia cinematográfica nacional é
mediada pela empresa Globo Filmes, desde a etapa de produção até a exibição em
grandes salas de cinema. A presente pesquisa evidenciou condicionamentos
envolvidos nos filmes blockbusters que geraram grandes bilheterias, através de uma
análise da neurociências, do behaviorismo na psicologia e da sociologia envolvendo
a arte e a comunicação. Para reverter essa massificação da indústria cultural
buscou-se a democratização cultural com o humor livre e espontâneo nas comédias
nacionais, e indicação de produções e exibições de baixo orçamento em Cineclube
etc. como estratégia de emancipação. A pesquisa é de natureza prática, aborda os
fatos de forma qualitativa e o procedimento técnico é o da pesquisa bibliográfica de
autores de grande relevância.
Palavras-chave: Riso. Humor. Comédia cinematográfica. Democratização
cultural.
ABSTRACT
Based on the capitalist model, national comedy film production is mediated by the
company Globo Filmes, since the production until the view in large movie theaters.
This research has highlighted constraints involved in the movies blockbusters that
have generated big box office, through an analysis of the Neurosciences, of
Behaviorism in psychology and sociology the art and communication. To reverse the
massification of culture industry to cultural democratization with the free and
spontaneous humor in sitcoms, and indication of low-budget productions and views
on film society etc. as a strategy of emancipation. The research is practical in nature,
deals with the facts of qualitatively and the technical procedure is the bibliographical
research of authors of great relevance.
Keywords: Laughter. Humor. Comedy film. Cultural democratization.
SUMÁRIO.
1. ESCOLHA DO TEMA ............................................................................................. 1
2. PROBLEMATIZAÇÃO.
3. JUSTIFICATIVA.
4. OBJETIVOS GERAIS.
5. OBJETIVOS ESPECÍFICOS .................................................................................. 2
6. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
7. HIPÓTESE.
8. METODOLOGIA.
9. INTRODUÇÃO.
10. DESENVOLVIMENTO
10.1- Por que rimos? ....................................................................................... 3
1.1.1- Uma abordagem da Neurociência Cognitiva.
1.1.2- Uma abordagem do behaviorismo na Psicologia.
10.2- O gênero comédia nacional e a linguagem cinematográfica .................. 6
10.2.1- Mediação da comédia no cinema brasileiro: o riso
encomendado para os filmes blockbusters.
10.2.2- A indústria cultural e a massificação cultural.
10.3- Buscando uma democratização cultural ................................................. 9
10.3.1- Democratização cultural: os filmes de baixo orçamento e suas
exibições no Cineclube etc.
11. CONCLUSÃO.
12. REFERÊNCIAS. ................................................................................................. 12
1
1. ESCOLHA do TEMA.
Inicialmente procuramos entender o porquê rimos, de caráter mais
filosófico, mas as pesquisas tomaram um rumo para o lado prático (como produzir) e
sociológico (como democratizar). Autores como o filósofo francês Henry Bergson e o
filósofo russo Bakhtin, em suas obras clássicas sobre o riso, ficariam para uma
pesquisa futura que aprofundaria o tema da causa de natureza filosófica do porquê
rimos.
2. PROBLEMATIZAÇÃO.
Como produzir filmes de comédia, com o riso espontâneo e
descondicionado, de baixo orçamento e democratizando o cinema? Como conseguir
isso? Talvez com o cinema experimental?
3. JUSTIFICATIVA.
O trabalho contribuirá para novos enfoques em um tema pouco explorado
no meio acadêmico e a cinematografia brasileira se ampliará com essas pesquisas
bibliográficas qualitativas. O fenômeno do riso deve ser entendido integralmente, ou
seja, tanto cientificamente como sociologicamente (incluindo o aspecto político,
econômico e cultural: comunicação e artes), psicologicamente (behaviorismo) e, em
trabalhos futuros, filosoficamente. O autor do projeto está envolvido com o tema,
pois é especialista em Ludopedagogia e atua profissionalmente como professor de
Educação Física. A relevância social do projeto é que, ao entenderemos os
mecanismos da origem do fenômeno do riso nas comédias, enxergamos alternativas
para a busca da democratização cultural na produção de baixo orçamento de filmes
do gênero comédia.
4. OBJETIVOS GERAIS.
Sintetizar e relacionar as pesquisas feitas nas áreas da neurociência, do
behaviorismo na Psicologia e da sociologia (envolvendo arte e comunicação), para
se conscientizar que há um riso espontâneo e natural nos filmes. Com esse
entendimento fica possível apontar alternativas para a democratização na produção
de baixo orçamento e os meios de divulgação e exibição, ou seja, que seja viável
economicamente a todos que queiram se expressar no gênero comédia.
2
5. OBJETIVOS ESPECÍFICOS.
Apontar algumas soluções práticas que já existem e sugerir caminhos
criativos para a democratização das comédias de baixo orçamento ou
independentes.
6. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.
Enfocamos poucos autores, mas de grande relevância nas áreas da
neurociência, da psicologia behaviorista e da sociologia da indústria cultural, em
especial a pesquisadora brasileira Stella Pereira Aranha, o historiador francês
George Minois, o neurocientista Scott Weens, o fisiologista russo Pavlov e o filósofo
alemão Theodor Adorno, devido ao caráter do presente trabalho ser um artigo
sintético e a nível de especialização lato sensu, podendo se aprofundar no nível
stricto sensu (mestrado e doutorado).
7. HIPÓTESE.
O riso condicionado e o riso espontâneo são diferentes. Rimos, em geral,
por condicionamento com filmes blockbuster, mas podemos explorar o riso
espontâneo e natural através das sugestões de produções com filmes de baixo
orçamento (também chamados de independentes) e acessível à maioria, com isso
estaríamos democratizando ou popularizando a comédia no cinema.
8. METODOLOGIA.
Segundo Antônio Carlos Gil (2002), a pesquisa é de natureza prática, ou
seja, aplicação das ciências básicas pesquisadas que nos ajuda a indicar
alternativas para a democratização do riso. Aborda os fatos de forma qualitativa com
um pouco de objetivo exploratório sobre o fenômeno do riso que ajuda a construir
hipóteses, mas também explica resumidamente o fenômeno. O procedimento
técnico é o da pesquisa bibliográfica de autores com grande relevância em suas
áreas.
9. INTRODUÇÃO.
Na presente pesquisa bibliográfica buscamos primeiramente entender, por
que rimos, sob a ótica da neurociência cognitiva e o behaviorismo da Psicologia. Em
3
seguida, buscamos uma perspectiva interdisciplinar que envolve arte, comunicação
e sociologia relacionada ao gênero comédia cinematográfica. Em uma escassez de
estudos na questão escolhida, a dissertação de mestrado em cultura e sociedade,
de Stella Pereira Aranha da Universidade Federal do Maranhão, foi de grande
contribuição para contextualizar com o gênero comédia nacional, através do
conceito de mediação como sendo um caminho entre a produção e a recepção de
um produto cultural, mais um enfoque do por que rimos.
Para se entender comédia precisamos analisar o fenômeno do riso sob
vários pontos de vista, que nesta pesquisa foram: o científico, o psicológico, o
sociológico e o cultural. Procuramos relacionar essas abordagens e contextualizar
no gênero comédia cinematográfica nacional. Com isso, podemos enxergar
sugestões que possam ser soluções para a produção de filmes de baixo orçamento
e novos meios de exibição além dos filmes blockbusters produzidos no país.
Pesquisando a dissertação de Stella Pereira Aranha podemos concluir que
uma comédia blockbuster é mediada pela poderosa Globo Filmes, que encomenda a
produção da comédia nacional, com atores ou atrizes do star system da TV Globo,
que é garantia de familiarização do público, já domesticado no olhar, e que será
sucesso de bilheteria.
Buscamos um caminho sem preocupação com blockbuster para que haja
uma democratização cultural que fique ao alcance da autonomia da maioria das
pessoas, ou seja, produção de cineastas com baixo orçamento (ou cinema
independente) para a realização e exibição em cineclubes, em pequenas salas,
sistema de TV fechada ou TV local, uma comédia com riso espontâneo e livre, e
sem preocupação com grandes lucros financeiros. Criar comédia do riso natural é
uma possível solução apontada neste trabalho e com isso nos aproximamos do
verdadeiro riso ou humor autêntico. Concordamos com Éric Blondel (apud MINOIS,
2003, p.613) em sua frase: “O riso é misterioso como a liberdade e profundo como a
felicidade”.
10. DESENVOLVIMENTO.
1.1- Por que rimos?
1.1.1- Uma breve abordagem da Neurociência Cognitiva.
4
Nos estudos do neurocientista Scott Weems (2016, p.17-21) um
pesquisador de humor Asa Berger agrupou o humor em quatro categorias:
linguístico, lógico, ativo (pastelão: violência exagerada, irreal e inofensiva, um
paradoxo desconcertante) e baseado em identidade (caricatura).
Em estudos de anatomia e fisiologia humana descobriu-se que algumas
regiões do cérebro, área tegmental ventral, núcleo accumbens e a amígdala, são
consideradas pelos cientistas como circuito de recompensa dopaminérgica. A
partir disso os cientistas propuseram a hipótese da mente dopaminérgica,
afirmando que a nossa evolução ancestral dependeu do neurotransmissor
dopamina. Baseado nesta teoria o homo habilis começou a comer carne, há cerca
de dois milhões de anos, e provocou alterações na química do cérebro com aumento
da dopamina. Essa superprodução de dopamina, supostamente, nos levou a
caçarmos emoções físicas e intelectuais, incluindo o riso. O neurotransmissor
dopamina está intimamente ligado ao humor e é considerado como uma
“recompensa química” do nosso cérebro, também associado à aprendizagem
motivada, a memória e a atenção. O chocolate, que possui cafeína, é uma leve
recompensa química para a motivação, assim como a comida e o sexo. Já a cocaína
é uma poderosa droga que aumenta consideravelmente o nível de dopamina.
Ainda, sobre o neurotransmissor dopamina, podemos nos surpreender
com a neurociência ao saber que:
[...] a mesma substância responsável por dar um „estado de êxtase‟ barato a usuários de drogas depois de cheirarem cocaína ajuda-nos a apreciar cartuns e frases humorísticas. Ou que simplesmente assistir a um filme engraçado reduz o estresse, melhora nossa resposta do sistema imunológico e até mesmo nos torna mais inteligentes e melhores solucionadores de problemas. (WEEMS, 2016, p.218).
Com as evidências científicas verificadas por Weems (2016) podemos
perceber que o componente biológico do riso tem suas bases, principalmente, no
mecanismo bioquímico do neurotransmissor dopamina, além de outros fatores.
Em outra pesquisa, o cientista e psicólogo Richard Wiseman descobriu,
em seus experimentos, alguns fatos: que a piada mais engraçada tinha 103 letras,
curtas, que o animal mais engraçado era o pato, que o melhor horário era 18:03
horas e que o dia 15 do mês eram mais favoráveis ao riso. Outra descoberta foi a de
5
que o humor varia conforme a nacionalidade. Conforme a escala do risômetro no
Laboratório do Riso, em Londres, os alemães achavam tudo engraçado e os
europeus tinham afinidade para piadas que eram absurdas e surreais, citando
alguns exemplos. Outro cientista e psicólogo Robert Provide descobriu que as
mulheres riam até 126% a mais do que os homens, e 40% disso eram de mulheres
conversando com outras mulheres.
Além do aspecto biológico, citado anteriormente, temos o aspecto
psicológico, pois precisa haver um conflito cognoscitivo (dentro do pensamento) para
que haja o riso autêntico e não condicionado por apenas ver os outros rirem,
conforme ratifica uma conclusão de Weems: “Quando nos referimos a alguém como
tendo uma personalidade bem-humorada, o que queremos dizer é que esta pessoa
vê a ambiguidade, a confusão e os conflitos inerentes à vida e os transforma em
prazer” (WEEMS, 2016, p. 217).
Demonstramos resumidamente alguns fatos que a neurociência
demonstrou dos mecanismos bioquímicos que predispõem o ser humano ao riso.
1.1.2- Uma abordagem do behaviorismo na Psicologia.
Sintetizando o behaviorismo, citaremos a descoberta de Pavlov. O
pesquisador estudava a secreção dos ácidos estomacais e a salivação em cães em
resposta à ingestão de alimentos. Durante suas experiências descobriu, por
observação, que a salivação começava quando ele entrava (os passos) para
alimentar os cães e antes de apresentar o alimento. Ele percebeu que os cães
estavam respondendo não apenas na necessidade biológica (fome), mas também
como resultado de aprendizagem. Este fenômeno passou a ser chamado de
condicionamento clássico, que é um tipo de aprendizagem no qual um estímulo
neutro (os passos do pesquisador) passa a produzir uma resposta depois de ser
emparelhado (associado) com um estímulo (comida) que naturalmente produz
aquela resposta.
Quando vemos os arcos dourados, em frente ao McDonald‟s, associamos
(emparelhamos) aos comerciais nas mídias e aprendemos que significa lanche
saboroso e isso estimula o apetite e tendemos a salivar. O mesmo acontece na
comédia cinematográfica quando associamos um ator do star system da TV Globo
atuando em um filme de cinema. Por exemplo, o ator Leandro Hassum já nos é
6
familiar na televisão e aprendemos a rir do seu jeito, isso facilita o condicionamento
de risadas em situações da comédia cinematográfica.
1.2- O gênero comédia nacional e a linguagem cinematográfica.
1.2.1- Mediação da comédia no cinema brasileiro: o riso encomendado para os
filmes blockbusters.
Na dissertação de mestrado de Stella Pereira Aranha (2014) é feita uma
revisão teórica envolvendo uma perspectiva interdisciplinar entre arte, comunicação
e sociologia, esclarecendo os diversos contextos do termo mediação. O conceito
que mais interessa é o das “mediações como refrações que se interpõem entre a
obra/produto e o receptor, modelando assim, o gosto do público”, conforme Bastide
(2006, p.298 apud ARANHA, 2014, p.31). Explica como a familiaridade do público
brasileiro com a linguagem televisiva condiciona o olhar do espectador no país.
Estuda como a tradição do humor tornou-se uma das manifestações culturais mais
bem-sucedidas e que desenvolveu um modus operandi de rentabilidade em vários
momentos no cinema nacional.
Segundo Stella Aranha (2014, p.120) a fruição do produto de massa das
grandes produtoras-distribuidoras-exibidoras alcança milhões em bilheteria,
enquanto que a fruição da arte das produções autorais costuma intrigar e questionar
situações sociais dentre outras.
Para Marcel Martin (2007, apud ARANHA, 2014, p.12) “a oferta modela a
procura porque a decisão do que exibir está nas mãos das empresas”. Podemos
concluir que as opções de filmes que nos ofertam para escolher já foram
pesquisadas para serem escolhidas e decididas por uma demanda uniformizada, no
roteiro da empresa produtora já existe uma negociação com a empresa distribuidora
e a empresa exibidora, baseada nos interesses do lucro comercial nas bilheterias.
O termo mediação é mais aplicado no campo da arte e da cultura, mas na
pesquisa de Stella Aranha (2014, p.20) o termo é usado para explicar o caminho
entre a produção e recepção de um produto cultural no cinema nacional. As etapas
são indissociáveis entre emissor-mensagem-receptor e se relacionam à produção-
mediação-recepção desse produto cultural.
7
Pesquisas de Stella Aranha (2014, p.57) indicam que existe uma
“retroalimentação da cadeia cinematográfica brasileira” referente ao
“condicionamento do olhar do espectador mediante a narrativa e a estética televisiva
da empresa brasileira Rede Globo, domesticando assim, o gosto da maior parte do
público no país”. O termo “domesticando”, conforme pesquisa de Stella Aranha
(2014, p.82) é uma expressão usada por Ismail Xavier, que significa familiarizando
ou tornando íntimo, caseiro. A linguagem televisiva usa códigos naturalizados pela
rotina, em um contato diário e espontâneo, e que expressam um grau de
familiaridade que são construídos e aprendidos.
O filme cinematográfico de comédia nacional tem influências de
coproduções da Globo Filmes, que usa sua fórmula de sucesso quando importa
filmes da TV Globo, junto com seu star system (sistema de estrelas consagradas nas
novelas etc.) em que nosso olhar de espectador já está domesticado. Com isso, os
filmes blockbusters nacionais (produzidos para atingirem grandes bilheterias)
mantêm seus sucessos.
1.2.2- A indústria cultural e a massificação cultural.
A indústria cultural no cinema, como em qualquer outra forma cultural,
busca os filmes blockbusters pela causa lógica e evidente do capitalismo: o lucro e,
também, a dominação das pessoas pela classe social dominante. Com isso, se torna
necessário a massificação cultural dos filmes.
Em seu livro “Dialética do esclarecimento” do filósofo alemão, da Escola
de Frankfurt, Theodor W. Adorno desenvolve o conceito de indústria cultural, que
reforça as pesquisas de Stella Aranha (2014) sobre a familiarização ou
domesticação cultural:
A convivência de capitalismo monopolista e instituições democráticas exige que o controle social assuma a forma do controle de consciência que pretende neutralizar o potencial crítico do indivíduo, assimilando-o ao funcionamento do sistema. O resultado é a homogeneização crescente da consciência das pessoas, análoga àquela dos produtos da indústria cultural. [...] um modo de percepção treinado pela indústria cultural. [...] A familiaridade da indústria cultural, por sua vez, é o índice da naturalização de um processo histórico de dominação. (REVISTA MENTE, CÉREBRO E FILOSOFIA, s.d., p. 30-33).
8
Em relação à comédia cinematográfica nacional, concordamos com o
historiador francês Georges Minois que questionou se o “riso comercializado não é
adulterado” e “se o riso obrigatório não corre o risco de matar o verdadeiro riso, o
riso livre”. O riso deve acompanhar todas as festas como um antiestresse infalível.
Gilles Lipovetski nomeou o culto da descontração divertida como “sociedade
humorística” (MINOIS, 2003, p.593).
No livro escrito em 1949 por George Orwell, que viria a ser um filme de
ficção científica e drama, com o título “1984”, Orwell “mostra como a ditadura de Big
Brother substitui o riso pela agressividade, que se exprime ao longo das sessões de
raiva organizada. „O poder não tem humor‟ [...]”.
Na esfera política temos uma relação da política-espetáculo e a ditadura
do riso conforme reforça duas citações de Minois: “A zombaria política generalizada,
longe de desembocar na subversão, acaba contribuindo para banalizar as práticas
que denuncia” e, ainda, “As democracias modernas aceitam o contrapoder do riso
porque avaliaram sua utilidade” (MINOIS, 2003, p.596), portanto, rir de políticos ou
da política acaba sendo banalizante e normalizante, servindo aos interesses da
classe dominante. Podemos citar, como exemplo de comédia nacional, o filme “O
candidato honesto” representado pelo ator da TV Globo Leandro Hassum.
Na esfera social podemos observar uma busca por descontração,
entretenimento, por boas gargalhadas, pelo tal do “bebemorar”, fazendo alusão e
incentivo ao beber, que chega a ser, muitas vezes, sem moderação. Com isso,
reforçamos uma sociedade do consumo de festas e filmes de comédias,
principalmente, nacionais como reforça Minois (2003),
O interesse econômico é evidente: a sociedade de consumo deve ser uma sociedade eufórica. O homem feliz compra, e o riso é um poderoso argumento de venda. „Pela superprodução e pelo superconsumo, o mundo dos objetos úteis será elevado à categoria do mundo lúdico; agora, consumir tudo e nada, por nada, para nada, por consumir, será uma verdadeira festa. (MINOIS, 2003, p.602).
As festas modernas fragmentam-se, fracionam-se, terminando em um
“ativismo panlúdico” que procura constantemente uma festa ao assistir um jogo de
futebol na TV, uma comédia televisiva ou cinematográfica, dentre outras situações.
Minois (2003, p.603-604) alerta sobre um “panludismo festivo” que cria a festa como
fim em si mesma, um modo de existência com muitas gargalhadas, comparando o
9
campo lúdico contemporâneo a “um projeto diabólico”. Existe uma vontade de
reencontrar a festa arcaica com uso de máscaras, fantasias, pinturas corporais, “mas
também na desestruturação do pensamento, na eliminação de fronteiras entre o real
e o irreal, pelo comportamento alucinatório; daí a importância do álcool e, cada vez
mais, da droga”. Sociólogos percebem neuroses e angústias do ser humano
contemporâneo, em especial o antropólogo francês François Laplantine (apud
MINOIS, 2003) que:
[...] fala da „euforia difusa que camufla a imensidão de nossa angústia e de nossa miséria psíquica‟ [...]. Segundo A. Stephane, „atrás de toda essa excitação, há o tédio que espera, embuçado... e, atrás da „festa maníaca‟, a crise depressiva espreita”. (MINOIS, 2003, p. 604).
Recentemente pela Internet evidenciamos muitos risos pelo Whatsapp,
Messenger etc. trocando muitos vídeos, fotos, áudios, textos e vários recursos
multimídia levando a esse “panludismo festivo” citado por Minois (2003, p.603-604) e
que chama a atenção para o fato de que: “[...] se tudo é risível, o riso perde sua
força. [...] A festa gregária sufoca o indivíduo, única base de um humor autêntico”.
Outra grande observação de Minois (2003, p.620) é a de que existe muita
banalização e midiatização do riso na sociedade humorística, e ainda observa o
filósofo francês Gilles Lipovetski (apud MINOIS, 2003) descrevendo o estilo do
homem moderno sem negação e sem mensagem como a “era do vazio”:
É que o riso volta ao vazio; ele é só fogo de palha generalizado, numa sociedade de consenso fraco. O que, outrora, fazia o vigor do cômico era o contraste com o sério [...] Esse contraste atualmente se atenuou em proveito de um mundo „raso‟, o da „sociedade humorística‟ [...].
Classificar o riso não é tarefa fácil, mas podemos citar uma classificação
da história do riso dividida em três períodos:
Ao riso divino e positivo da Antiguidade, depois ao riso diabólico e negativo da Europa cristã até o século XVI, sucede o riso humano e interrogativo, saído das crises de consciência da mentalidade europeia, origem do pensamento moderno. (MINOIS, 2003, p.631).
Atualmente poderíamos classificar o riso como: massificação da “era do
vazio”?
1.3- Buscando uma democratização cultural.
10
1.3.1- Democratização cultural: os filmes de baixo orçamento e suas exibições no
Cineclube etc.
Charles Chaplin seria um gênio do humor autêntico? Para Theodor W.
Adorno, Charles Chaplin em seu filme “O vagabundo” seria um ícone louvável da
“arte leve” (REVISTA MENTE, CÉREBRO E FILOSOFIA, s.d., p. 32). Nas comédias,
sem diálogos verbais, ele conseguiu se expressar com muita intensidade, através da
comunicação não verbal, ou seja, a linguagem dos gestos faciais e corporais, além
do figurino e roteiro simples. Seria esse o caminho para uma democratização
cultural? Para filmes de baixo orçamento, nos dias de hoje, é um grande exemplo.
A criação de cineclubes é uma estratégia de democratização da cultura
cinematográfica. Temos exemplos do Funcultura (2015) em seu site de divulgação:
O cinema pode estar na rua, na praça, no bar, no museu, no centro cultural ou na associação comunitária. Esta é estratégia dos cineclubes para promover a democratização do acesso a filmes, sejam de curta ou longa-metragem. Com o incentivo do Governo de Pernambuco, por meio do Funcultura, vários cineclubes estão sendo criados e fortalecidos no estado. (FUNCULTURA, 2015, acesso em mar. 2018).
O trabalho de Vanessa Magalhães (2015) aponta sobre a elitização do
cinema e propõe a democratização do acesso através de políticas públicas culturais,
ressaltando o projeto CINE B (MAGALHÃES, 2015): “iniciativa que propõe o cinema
como arte para todos”. Apesar de baratear o custo da bilheteria e “promover as
produções com baixo orçamento e que tem a periferia como pano de fundo, além de
abrir um espaço de divulgação para os filmes em formato de curta-metragem”
(MAGALHÃES, 2015, p. 36), ainda predominam filmes nacionais das grandes salas
de exibição.
A lei federal nº 13.006/2014 poderia ter incluído, em seu texto, os filmes
produzidos com baixo orçamento, de curta a longa metragem, além dos filmes de
grandes produtoras/distribuidoras/exibidoras, mas já temos um certo avanço pelo
fato de prestigiar o cinema nacional: “A exibição de filmes de produção nacional
constituirá componente curricular complementar integrado à proposta pedagógica da
escola, sendo a sua exibição obrigatória por, no mínimo, 2 (duas) horas mensais”.
(BRASIL).
11
Concordamos com o manifesto que destaca os filmes de baixo orçamento
(em relação aos filmes blockbusters) conhecido como “Carta de Tiradentes” (RUY,
2016, grifo nosso),
Queremos uma política pública que reconheça os novos modelos de produção, que distribua melhor os recursos já existentes de modo a ampliar o escopo do fomento, que desenvolva políticas efetivas de distribuição e exibição, que avance na estruturação comercial do setor, na democratização da produção e do consumo dos bens culturais, e que aposte no cinema como janela privilegiada para o desenvolvimento e a soberania. (CARTA DE TIRADENTES, 2011).
Na tese de doutorado em sociologia cultural, Maria Carolina Oliveira
(2014, grifo nosso) finaliza sua tese, em relação ao conceito de cinema
independente e seus agentes,
[...] o fato de eles disputarem e ganharem espaço no campo sem terem aberto mão de um conjunto de práticas e discursos que se opõem ao modelo do cinema industrial sugere que eles têm a importante função de gerar uma perturbação nas estruturas de poder do campo, explicitando seus limites e vícios e desafiando essas estruturas a se abrirem para outros cinemas, novíssimos e possíveis. (OLIVEIRA, 2014, p. 264-65).
“Novíssimo” cinema brasileiro é o título da tese de Oliveira (2014), que
nos faz refletir e enxergar possibilidades para uma nova tendência democrática do
cinema independente ou de baixo orçamento.
11. CONCLUSÃO.
As atividades lúdicas, assim como as comédias cinematográficas, são
externas ao sujeito e se referem aos jogos, às brincadeiras e às festas. Segundo
Soares e Porto (2006, p. 57, apud FERNANDES, 2014, p. 8, grifo nosso)
compreendem a ludicidade,
[...] como fenômeno subjetivo que possibilita ao indivíduo se sentir inteiro, sem divisão entre o pensamento, a emoção e a ação. Essa plenitude é decorrente da absorção, da entrega, da liberdade [...] ponto de vista interno e integral do sujeito. Essa plenitude poderá ser vivenciada com a presença da espontaneidade, da flexibilidade e, nesse sentido, proporciona prazer e significado para os seus participantes.
Na pesquisa de Fernandes (2014) encontramos os adjetivos, grifados
acima em negrito, que vão explicar melhor o fenômeno lúdico que está intimamente
ligado ao fenômeno do riso. O humor autêntico tem essas mesmas características,
que são pouco exploradas no riso encomendado pela indústria cultural. O
12
condicionamento ou a domesticação do olhar, no plano social e cultural, atende a
lógica do lucro capitalista das grandes produtoras.
Nas pesquisas das Neurociências podemos concluir que somos
condicionados pelo neurotransmissor dopamina, a bioquímica do prazer e do riso,
que também nos condiciona no plano biológico. Na pesquisa de Stella Aranha
(2014) temos o condicionamento do olhar e do gosto do espectador mediante a
narrativa e a estética televisiva da empresa brasileira Rede Globo. No behaviorismo
na Psicologia temos os estudos sobre condicionamentos que reforça nossa
pesquisa.
Estaríamos reféns dos condicionamentos clássico (Pavlov, 1927) e
operante (Skinner, 1953), na maioria das cenas de comédia cinematográfica nos
filmes blockbusters? Democratizar seria uma emancipação (liberdade, autonomia)
em produzir filmes de baixo orçamento e fazer sucesso com o humor simples e
natural? Como conseguir isso? Talvez com o cinema experimental? Um
documentário sobre a alegria natural e espontânea em clubes e bares seria uma
sugestão criativa? As criações de cineclubes, exibições de filmes em pequenas
salas ou sistema de TV fechada, e a mostra Tiradentes são exemplos de estratégias
de democratização da cultura cinematográfica, e já nos mostra um caminho para
responder a essas perguntas!
Mais pesquisas devem ser feitas para aprofundar na questão: como
produzir comédia extraída do riso natural e espontâneo? Em um futuro próximo
devem aumentar as produções independentes e suas formas de distribuição e
exibição. Quem sabe até mesmo as grandes empresas de filmes blockbusters
democratizem um sistema mais aberto e inclusivo de produção gerando humor e
comédia com mais qualidade, e sem precisar de muitos condicionamentos e grandes
investimentos?
12. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.
ARANHA, Stella Pereira. Mediação do cinema brasileiro: o gênero comédia e a linguagem cinematográfica como mediadoras dos filmes longa-metragem nacionais no período da Retomada (1993-2013). 2014. 128 f. Dissertação (Mestrado em Cultura e Sociedade) – Universidade Federal do Maranhão, São Luís-MA, 2014.
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