208
DEPTº DE ENGENHARIA AMBIENTAL - DEA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA POLITÉCNICA MESTRADO PROFISSIONAL EM GERENCIAMENTO E TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NO PROCESSO PRODUTIVO SALVADOR 2008 HUGO EDUARDO PORTELA AVALIAÇÃO TÉCNICO-ECONÔMICA DE UM EMPREENDIMENTO PRODUTIVO DE BIODIESEL

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA - teclim.ufba.brteclim.ufba.br/site/material_online/dissertacoes/dis_hugo_portela.pdf · CERBIO Centro de Referências em Biocombustíveis CFE Consumo

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DEPTº DE ENGENHARIA AMBIENTAL - DEA

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIAESCOLA POLITÉCNICA

MESTRADO PROFISSIONAL EMGERENCIAMENTO E TECNOLOGIAS

AMBIENTAIS NO PROCESSO PRODUTIVO

SALVADOR 2008

HUGO EDUARDO PORTELA

AVALIAÇÃO TÉCNICO-ECONÔMICA DE UM

EMPREENDIMENTO PRODUTIVO DE BIODIESEL

i

HHUUGGOO EEDDUUAARRDDOO PPOORRTTEELLAA

AAVVAALLIIAAÇÇÃÃOO TTÉÉCCNNIICCOO--EECCOONNÔÔMMIICCAA DDEE UUMM EEMMPPRREEEENNDDIIMMEENNTTOO

PPRROODDUUTTIIVVOO DDEE BBIIOODDIIEESSEELL

Dissertação apresentada ao Curso de Pós-graduação em Gerenciamento e Tecnologias Ambientais no Processo Produtivo, Escola Politécnica, Universidade

Federal da Bahia, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre.

Orientador: Prof. Dr. Ednildo Andrade Torres

Salvador 2007

ii

Portela, Hugo Eduardo.

P843 Avaliação técnico-econômica de um empreendimento produtivo de biodiesel / Hugo Eduardo Portela. -Salvador: H.E. Portela, 2007.

203 p. il.

Orientador: Prof. Dr. Ednildo Andrade Torres. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal da Bahia. Escola Politécnica, 2007.

1. Energias Renováveis. 2. Tecnologias Limpas. 3.

Viabilidade econômica. 4. Biodiesel Título.

CDD – 662.88

iii

LISTA DE EQUAÇÕES Equação 1 .................................................................................................................77 Equação 2 .................................................................................................................78 Equação 3 .................................................................................................................78 Equação 4 ...............................................................................................................151 Equação 5 ...............................................................................................................153 Equação 6 ...............................................................................................................153

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Influência do biodiesel na composição dos gases de combustão ----------- 39 Figura 2: Emissões de CO2 por tonelada equivalente de petróleo, 2005--------------- 42 Figura 3: Oferta Interna de Energia (Brasil 2006) --------------------------------------------- 49 Figura 4: Estrutura da Oferta de Energia, Brasil x Mundo x OCDE ---------------------- 51 Figura 5: Processo Esquemático de Transesterificação ------------------------------------ 84 Figura 6: Estrutura Química do Sorbitol ------------------------------------------------------- 106 Figura 7: Maiores produtores mundiais de óleo de soja (2006) ------------------------- 113 Figura 8: Maiores produtores nacionais de soja em grãos (2006)---------------------- 114 Figura 9: Evolução da Produção de Soja------------------------------------------------------ 116 Figura 10: Maiores produtores baianos de soja (2005)------------------------------------ 117 Figura 11: Maiores produtores mundiais de óleo de algodão (2006) ------------------ 118 Figura 12: Maiores produtores nacionais de algodão em caroço 2005 --------------- 120 Figura 13: Evolução da produção de algodão------------------------------------------------ 121 Figura 14: Municípios baianos maiores produtores de algodão (2005) --------------- 122 Figura 15: Produção mundial de óleos vegetais--------------------------------------------- 125 Figura 16: Maiores Produtores Mundiais de Óleo de Dendê (palma) (2006) -------- 126 Figura 17: Área plantada de dendê (2002-2006)-------------------------------------------- 128 Figura 18: Produção nacional de dendê (2001-2006)-------------------------------------- 129 Figura 19: Comparativo entre produtividade de dendezais (Pará x Bahia)----------- 130 Figura 20: Maiores produtores baianos de dendê (2005) --------------------------------- 131 Figura 21: Evolução da produção anual de dendê – Bahia e Brasil (1990-2006) -- 132 Figura 22: Maiores produtores mundiais de mamona (2006) ---------------------------- 134 Figura 23: Histórico da produção de mamona ----------------------------------------------- 135 Figura 24: Maiores produtores nacionais de mamona (2005) --------------------------- 136 Figura 25: Micro regiões da Bahia maiores produtoras de mamona (2005) --------- 137 Figura 26: Modelo verticalizado de produção de biodiesel ------------------------------- 143 Figura 27: Modelos de Produção de Biodiesel----------------------------------------------- 149 Figura 28: Preços do biodiesel nos diversos cenários – rota metílica ----------------- 171 Figura 29: Preços do biodiesel nos diversos cenários – rota etílica-------------------- 172 Figura 30: Variação do VPL com o preço do óleo vegetal e tipo de álcool----------- 174 Figura 31: Variação de VPL e TIR com a capacidade da usina e o tipo do álcool - 176 Figura 32: Variação de VPL e TIR com a capacidade da usina e o tipo do álcool - 177 Figura 33: Impacto da Tributação diferenciada sobre o preço final do biodiesel --- 178 Figura 34: Produto Interno Bruto per capita das Regiões do Brasil -------------------- 180

iv

LISTA DE SIGLAS

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

ANP Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis

ASTM American Society for Testing and Materials

BA Bahia

BEN Balanço Energético Nacional

BM&F Bolsa de Mercadorias&Futuros

BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

CBF Fundo Bio de Carbono

CEI Comissão Executiva Interministerial

CEPED Centro de Pesquisas e Desenvolvimento da Bahia

CEPLAC Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira

CERBIO Centro de Referências em Biocombustíveis

CFE Consumo Final de Energia

CFPP Cold Filter Plugging Point

CIF Cost, Insurance and Freight

CNPE Conselho Nacional de Política Energética

CODEBA Companhia das Docas do Estado da Bahia

CONAB Companhia Nacional de Abastecimento

CONFAZ Conselho Nacional de Política Fazendária

DIN Deutsches Institut für Normung

EMA Engine Manufacturers Association

EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

ENAM Instituto de Energia e Ambiente

EUA Estados Unidos da América

FAO Food and Agriculture Organization of the United Nations

FAPESB Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado da Bahia

FGV Fundação Getúlio Vargas

HPSEC High-Performance Size-Exclusion Chromatography

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

ICMS Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços

IEA International Energy Agency

IISD International Institute for Sustainable Development

INT Instituto Nacional de Tecnologia

IPT Instituto de Pesquisas Tecnológicas

ISO International Organization for Standardization

LTFT Low Temperature Flow Test

MAPA Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

v

Mcidades Ministério das Cidades

MCT Ministério da Ciência e Tecnologia

MDA Ministério do Desenvolvimento Agrário

MDL Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

MDIC Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior

MF Ministério da Fazenda

MI Ministério da Integração Nacional

MG Minas Gerais

MMA Ministério do Meio Ambiente

MME Ministério das Minas e Energia

MP Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão

MT Ministério dos Transportes

NIT Núcleo de Informações Tecnológicas

Nutec Fundação Núcleo de Tecnologia do Ceará

OCDE Organisation de Coopération et de Développement Économiques

OGR Óleos e Gorduras Residuais

OIE Oferta Interna de Energia

PASEP Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público

PCF Fundo Protótipo de Carbono

PIB Produto Interno Bruto

PIS Programa de Integração Social

PNPB Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel

PROÁLCOOL Programa Nacional do Álcool

PROBIODIESEL Programa de Biodiesel da Bahia

PRODECOOP Programa de Desenvolvimento Cooperativo para Agregação de Valor à Produção Agropecuária

SECTI Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação

SIDRA Sistema IBGE de Recuperação Automática

TAC/CGIAR Technical Advisory Commitee of the Consultive Group on International Agricultural Research

TECBIO Tecnologias Bioenergéticas Ltda

TIR Taxa Interna de Retorno

TJLP Taxa de Juros de Longo Prazo

UESC Universidade Estadual de Santa Cruz

UFC Universidade Federal do Ceará

UFBA Universidade Federal da Bahia

UNEP United Nations Environment Programme

VPL Valor Presente Líquido

WCED World Commission on Environment and Development

vi

LISTA DE SUBSTÂNCIAS QUÍMICAS

CNG Compressed Natural Gas

CO Monóxido de Carbono

CO2 Dióxido de Carbono

HC Hidrocarbonetos

HFCs Hidrofluorcarbonos

HMN Heptametilnonano

LNG Liquified Natural Gas

LPG Liquified Petroleum Gas

LSD Low Sulphur Diesel

NOx Óxidos de Nitrogênio

N2O Óxido Nitroso

PFCs Perfluorcarbonos

SF6 Hexafluoreto de Enxofre

SOx Óxidos de Enxofre

ULSD Ultra Low Sulphur Diesel

LISTA DE UNIDADES DE MEDIDA

atm atmosfera, unidade de pressão

Å Angstron = 1×10−10 metros

CN Cetane Number

cSt centstoke, unidade de viscosidade cinemática

g/g relação mássica, grama por grama

kg/ha kilograma por hectare

kg/L kilograma por litro

M concentração em moles por litro

mm²/s unidade de viscosidade cinemática

mg/kg miligrama por kilograma

MJ Mega Joules ou 106 Joules, unidade de energia

MJ/kg Mega Joules por kilograma, unidade de energia específica

MPa Mega Pascal, unidade de pressão

nm nanometro ou 1x10-9 metros ou um milionésimo de milímetro

pH medida de acidez: pH > 7, básico; pH < 7, ácido; pH = 7, neutro

R$/m³ Valor em reais de um metro cúbico

s segundo, unidade de tempo

tep tonelada equivalente de petróleo

habtep tonelada equivalente de petróleo por habitante

TWh TeraWattshora

vii

LISTA DE TABELAS Tabela 1 Áreas produtivas brasileiras não aproveitadas........................................22 Tabela 2 Estrutura química de ácidos graxos de óleos vegetais............................31 Tabela 3 Propriedades de óleos vegetais ..............................................................32 Tabela 4 Teor de ácidos graxos nos óleos vegetais ..............................................35 Tabela 5 Oferta Interna de Energia (mil tep) ..........................................................50 Tabela 6 Produção, importação, exportação e consumo de óleo diesel no Brasil .53 Tabela 7 Matriz de Transporte de Cargas (%): Comparação Internacional............55 Tabela 8 Comparação entre Custos de Fretes.......................................................57 Tabela 9 Critérios de tributação do biodiesel .........................................................67 Tabela 10 Comparação entre ésteres etílico e metílico ........................................79 Tabela 11 Conversões obtidas na alcoólise enzimática do óleo de mamona.......94 Tabela 12 Transesterificação metílica convencional versus supercrítica .............97 Tabela 13 Comparativo entre as Normas de Qualidade do biodiesel.................101 Tabela 14 Ranking das Oleaginosas de Maior Produção na Bahia - 2005.........110 Tabela 15 Censo Demográfico Nacional - 2000 .................................................111 Tabela 16 Preços dos Itens da Soja ...................................................................112 Tabela 17 Produção mundial de óleo de soja (toneladas) ..................................114 Tabela 18 Evolução da produção anual de soja .................................................116 Tabela 19 Produção mundial de óleo de algodão (toneladas)............................119 Tabela 20 Evolução da produção anual de algodão...........................................122 Tabela 21 Dados da Produção Anual de Dendê.................................................132 Tabela 22 Dados da Produção Anual de Mamona .............................................134 Tabela 23 Produção de biodiesel para diversos níveis de adição (m³)...............138 Tabela 24 Produção das principais oleaginosas da Bahia em 2005...................139 Tabela 25 Investimentos iniciais de usinas de biodiesel.....................................150 Tabela 26 Coeficientes Técnicos........................................................................151 Tabela 27 Custos Fixos ......................................................................................152 Tabela 28 Quadro operacional ...........................................................................152 Tabela 29 Premissas econômicas ......................................................................152 Tabela 30 Fluxo de Caixa ...................................................................................154 Tabela 31 Possíveis configurações para produção de biodiesel ........................157 Tabela 32 Custos de produção de óleos no modelo verticalizado......................159 Tabela 33 Resultados do biodiesel de soja no modelo verticalizado..................160 Tabela 34 Resultados do biodiesel de mamona no modelo verticalizado ..........160 Tabela 35 Custo de produção de óleo com compra de grãos de terceiros.........162 Tabela 36 Compra de grãos de soja da agricultura familiar (Outras regiões).....163 Tabela 37 Compra de grãos de mamona da agric. familiar (N/NE/Semi-árido) ..164 Tabela 38 Compra de grãos de soja do agronegócio (Outras regiões) ..............165 Tabela 39 Compra de grãos de mamona do agronegócio (N/NE/Semi-árido)....166 Tabela 40 Compra de óleo de soja da agricultura familiar (Outras regiões) .......167 Tabela 41 Compra de óleo de mamona da agric. familiar (N/NE/Semi-árido) ....168 Tabela 42 Compra de óleo de soja do agronegócio (Outras regiões) ................169 Tabela 43 Compra de óleo de mamona do agronegócio (N/NE/Semi-árido)......170 Tabela 44 Características importantes do diesel e combustíveis afins...............202

viii

SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................. 12

1.1 OBJETIVO GERAL..................................... ......................................................... 16 1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS .............................. .................................................. 16

2 REVISÃO DA LITERATURA .............................. .............................................................. 17 2.1 BIOCOMBUSTÍVEIS E TECNOLOGIAS LIMPAS ............... ................................ 17 2.2 TRADIÇÃO BRASILEIRA EM COMBUSTIVEIS RENOVÁVEIS..... ..................... 25 2.3 ANTECEDENTES HISTÓRICOS ......................................................................... 26 2.4 USO DE ÓLEOS VEGETAIS COMO COMBUSTÍVEL............. ............................ 30 2.5 DEFINIÇÃO DE BIODIESEL............................. ................................................... 33 2.6 FONTES PARA PRODUÇÃO DE BIODIESEL .................. .................................. 33 2.7 MOTIVAÇÕES AMBIENTAIS .............................. ................................................ 37 2.8 MOTIVAÇÕES ECONÔMICAS .............................. .............................................. 43 2.9 MOTIVAÇÕES SOCIAIS................................. ..................................................... 45 2.10 O BIODIESEL NO MUNDO............................... ................................................... 46 2.11 A MATRIZ ENERGÉTICA BRASILEIRA..................... ......................................... 49 2.12 LOGÍSTICA DE TRANSPORTE DA PRODUÇÃO DE BIODIESEL ... .................. 55 2.13 AS REGIÕES DA BAHIA................................ ..................................................... 57 2.14 O MARCO REGULATÓRIO BRASILEIRO ..................... ..................................... 64 2.15 AÇÕES GOVERNAMENTAIS............................... ............................................... 69 2.16 O PROCESSAMENTO DOS ÓLEOS VEGETAIS ................. ............................... 71

2.16.1 PIRÓLISE..................................................................................................... 71 2.16.2 MICROEMULSIFICAÇÃO ................................. ........................................... 74 2.16.3 DILUIÇÃO ........................................... ......................................................... 75 2.16.4 TRANSESTERIFICAÇÃO CONVENCIONAL.................... ........................... 77 2.16.5 VARIÁVEIS DO PROCESSO DE TRANSESTERIFICAÇÃO ........ ............... 85 2.16.6 TRANSESTERIFICAÇÃO IN SITU............................................................... 95 2.16.7 TRANSESTERIFICAÇÃO EM CONDIÇÕES SUPERCRÍTICAS...... ............ 97

2.17 PROPRIEDADES E ESPECIFICAÇÕES DO BIODIESEL ......... .......................... 98 2.18 LIMITAÇÕES TÉCNICAS PARA O USO DO BIODIESEL........ ......................... 102 2.19 DESTINAÇÃO DOS CO-PRODUTOS......................... ....................................... 104

2.19.1 GLICERINA.......................................... ...................................................... 105 2.19.2 A TORTA............................................ ........................................................ 107

2.20 AS OLEAGINOSAS BRASILEIRAS ......................... ......................................... 109 2.20.1 SOJA (Glycine max L.) .............................. ............................................... 111 2.20.2 ALGODÃO (Gossypium herbaceum L.)................... ................................ 117 2.20.3 DENDÊ (Elaeis guineensis) .......................... ............................................ 123 2.20.4 MAMONA (Ricinus communis L.) ....................... ..................................... 133 2.20.5 ANÁLISE DA PRODUÇÃO BAIANA DE OLEAGINOSAS.......... ............... 138

3 POSSÍVEIS MODELOS PRODUTIVOS DE BIODIESEL.......... ...................................... 141 4 METODOLOGIA........................................ ..................................................................... 147

4.1 DESCRIÇÃO DA METODOLOGIA ........................... ......................................... 147 4.2 COEFICIENTES TÉCNICOS.............................................................................. 150 4.3 INDICADORES DE AVALIAÇÃO ECONÔMICA................. ............................... 153

5 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS........................... ...................................................... 156 5.1 CENÁRIOS DE PRODUÇÃO DE BIODIESEL .................. ................................. 156

5.1.1 CENÁRIO I (PRODUÇÃO VERTICALIZADA)................. ........................... 159 5.1.2 CENÁRIO II (COMPRA DE GRÃOS DE TERCEIROS).......... .................... 162 5.1.3 CENÁRIO III (AQUISIÇÃO DE ÓLEOS DE TERCEIROS) ...... ................... 167

5.2 ANÁLISE DE SENSIBILIDADE ........................... .............................................. 174 6 CONCLUSÕES............................................................................................................... 181

6.1 RECOMENDAÇÕES PARA TRABALHOS FUTUROS............... ....................... 184 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................... 185 ANEXOS ................................................................................................................................ 202

ix

TERMO DE APROVAÇÃO

HUGO EDUARDO PORTELA

AVALIAÇÃO TÉCNICO-ECONÔMICA DE UM EMPREENDIMENTO PRODUTIVO DE BIODIESEL

Dissertação aprovada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em

Gerenciamento e Tecnologias Ambientais no Processo Produtivo – Ênfase em Produção Limpa, Universidade Federal da Bahia, pela seguinte banca examinadora:

x

RESUMO

O fator motriz para a discussão do tema é a expectativa de esgotamento das

reservas mundiais de combustíveis fósseis que, juntamente com as questões

ambientais relacionadas às mudanças climáticas, tem estimulado diversos países a

promover investimentos em pesquisa e desenvolvimento de combustíveis

alternativos.

O Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel, lançado pelo Governo

Federal com a missão de inserir de forma sustentável mais um combustível

renovável na matriz energética nacional, enfoca a questão social como um dos seus

principais pilares, juntamente com as motivações ambientais e econômicas.

O Brasil, que ocupa posição de liderança mundial no uso de energias de fontes

renováveis tem grande potencial para consolidar-se como um dos grandes

produtores de biodiesel graças a seu grande potencial oleífero, proporcionado por

diversidade edafoclimática, vasta extensão territorial e disponibilidade de mão de

obra agrícola.

É avaliada a viabilidade técnico-econômica de usinas de produção de biodiesel de

três capacidades, 50 000, 100 000 e 200 000 t/ano, utilizando o Valor Presente

Líquido como indicador.

É demonstrado que o preço do óleo vegetal é um item de grande impacto sobre os

resultados financeiros das usinas de produção de biodiesel, influenciando mais

significativamente as de menor capacidade.

Itens igualmente significativos são a localização geográfica da usina, o tipo de

oleaginosa e a natureza jurídica do fornecedor da matéria-prima, agricultura familiar

ou agronegócio. Esses critérios, segundo a legislação específica, determinarão a

tributação diferenciada a ser aplicada sobre o biodiesel comercializado.

Palavras-Chave : Energias Renováveis; Biodiesel; Viabilidade Econômica;

Tecnologias Limpas.

xi

ABSTRACT

The driving force for discussing that matter is the perspective of shortage of the world

fossil fuel stock that along with environmental concerns related to climatic changes

has been motivating several countries to invest in searching and developing

alternative fuels.

The “National Biodiesel Production and Use Program” has been issued by Federal

Government for adding one more renewable fuel in (the) Brazilian Energetic Matrix

on a sustainable way. That Program focuses the social issue as one of its main

pillars along with environmental and economic subjects.

Brazil which ranks first among all countries worldwide as the greatest renewable

energies user has an outstanding potential of consolidating as one of the greatest

biodiesel producers thanks to its significant availability of oil feedstock due to its

diversity of soils and climates, large lands for cropping, and availability of rural labors.

This paper intends to asses the economic and technical feasibility of plants of three

production capacities, 50 000, 100 000, and 200 000 tons per year, by using Net

Present Value as indicator.

It has been shown that prices of vegetable oils are the most important item on

financial results of the plants mainly on smaller ones.

The geographic location of the plant as well as the kind of the crop and the supplier

of raw material (family labor or agribusiness) will define the different ways in charging

federal taxes on biodiesel to be traded.

Keywords: Renewable Energies; Biodiesel; Economic Feasibility; Clean Technologies

12

1 INTRODUÇÃO

As necessidades de energia do mundo são atendidas em sua maior extensão por

fontes não renováveis tais como petróleo, carvão e gás natural. Uma vez que as

reservas exploráveis desses recursos são finitas, esse estoque se esgotará em um

prazo muito próximo, se o atual padrão de consumo mantiver o seu ritmo de

expansão. O esgotamento dessas reservas, aliado às preocupações com a

degradação ambiental gerada pela sua queima, tem motivado vários países a buscar

soluções para suprir suas necessidades energéticas (MEHER; SAGAR; NAIK, 2006).

A dependência dos países com relação à importação de petróleo e gás os coloca

numa condição de vulnerabilidade frente a duas ameaças: a incerteza no

fornecimento por parte dos produtores localizados em regiões geopoliticamente

instáveis e as flutuações do preço dos combustíveis.

Nos países desenvolvidos é continuamente crescente a demanda energética nos

setores produtivos e de serviços. Nos chamados paises em desenvolvimento,

incluindo o Brasil, a tendência de expansão dessa demanda também é de imperiosa

necessidade, a fim de assegurar o crescimento econômico e a melhoria da

qualidade de vida da população. Diante desse quadro, é expressivo o número de

pesquisadores em todo o mundo que tem se empenhado no desenvolvimento de

combustíveis alternativos que sejam facilmente disponíveis, tecnicamente viáveis,

economicamente competitivos e, principalmente, provenientes de fontes renováveis

(MEHER; SAGAR; NAIK, 2006). Dentre os recursos energéticos renováveis, o

aproveitamento da biomassa em suas mais variadas formas (sólida, líquida e

gasosa) é uma das alternativas mais promissoras já que pode ser produzida

localmente na maioria dos paises e é considerado um combustível mais limpo que o

proveniente de fontes fósseis.

Como exemplo de biomassa, os triglicerídeos, principal constituinte dos óleos

vegetais, e seus derivados preenchem os pré-requisitos esperados de um

combustível alternativo e vêm atraindo interesse especial pela diversidade de

benefícios que a sua utilização pode proporcionar.

13

O biodiesel, derivado dos triglicerídeos, vem despontando como uma alternativa

viável em função das externalidades positivas que a sua utilização promove nas

áreas ambientais, sociais e econômicas. Esses benefícios em conjunto representam

a grande motivação mundial para a sua utilização como combustível alternativo, haja

vista a inadequação do uso dos óleos vegetais in natura como combustíveis.

Esse combustível alternativo tem um grande potencial para se destacar como um

sucedâneo do diesel fóssil, derivado de petróleo de importância estratégica, pois

desempenha um importante papel na economia industrial de um país (BARNWAL e

SHARMA, 2005).

Atualmente no Brasil, seguindo uma tendência mundial, muitas pesquisas e testes

envolvendo biocombustíveis, particularmente o biodiesel, vêm sendo realizados.

A Universidade Federal do Paraná vem desenvolvendo tecnologias para a produção

de ésteres de óleo de soja, desde 1983. Também no estado do Paraná o Centro de

Referências em Biocombustíveis – CERBIO, concebido por meio de convênio entre

a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Estado e o Ministério da

Ciência e Tecnologia, sendo responsável por pesquisas com biodiesel, tanto para

ser adicionado ao diesel mineral quanto ao etanol (HOLANDA, 2004).

Na região Nordeste do país, os estados do Rio Grande do Norte, Piauí, Ceará e

Bahia vêm se notabilizando em pesquisa e desenvolvimento de tecnologias

relacionadas a esse biocombustível com iniciativas arrojadas, dotando a região de

núcleos de pesquisa com destacadas atuações e resultados bastante animadores.

No Ceará se destacam a empresa Tecnologia Bioenergéticas Ltda. – TECBIO, e a

Fundação Núcleo de Tecnologia do Ceará – NUTEC, cuja unidade piloto de

produção de biodiesel, em operação desde 2004, tem capacidade anual de 720 3m .

Empresas da iniciativa privada e instituições públicas vêm estabelecendo parcerias

para fomentar o cultivo da mamona de modo a atingir em 2007 o total de 70 mil

hectares plantados, contemplando 66 dos 184 municípios do estado (HOLANDA,

2004).

Na Bahia, o Laboratório de Energia da Universidade Federal da Bahia realiza desde

1983 experiências utilizando óleo de palma (dendê) in natura como combustível para

14

motores do ciclo diesel. A idéia, que consistia em prover as comunidades rurais com

um suprimento energético barato, renovável e com oferta local e abundante,

mostrou-se tecnicamente viável, mas o insucesso do programa estadual de fomento

à produção agrícola dessa palmácea desestimulou o prosseguimento dos testes

mecânicos (TORRES, 2000).

A Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), Ilhéus, possui desde 2000 uma

Planta Piloto para produção de biodiesel a partir de óleo de dendê (palma) e de

óleos e gorduras residuais. Essa planta, que possui capacidade de produção de

1 400 litros por dia, pode utilizar tanto o metanol como o etanol como reagente do

processamento da matéria-prima. Esse projeto cumpre um relevante papel social e

ambiental na região, uma vez que recolhe as sobras dos óleos utilizados nas

cozinhas industriais para transformá-los em biocombustíveis (UNIVERSIDADE,

2007).

Em 2002 a Universidade Federal da Bahia (UFBA) e a UESC, em atendimento a um

Edital da Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB), criaram a

Rede de Biodiesel da Bahia (LABORATÓRIO, 2007a).

Em 2004 foi oficializado o Instituto de Energia e Ambiente (ENAM) composto por

uma rede virtual de entidades e pesquisadores com o propósito de promover a

integração e a ampliação da capacidade instalada de pesquisa em energia e

ambiente no Estado da Bahia, atuando na cadeia produtiva do petróleo, gás natural

(com ênfase em campos maduros) e sistemas energéticos, especialmente para

biocombustíveis e energias renováveis (HOLANDA, 2004).

Ainda em 2004 a Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação (SECTI)

lançou e ampliou a Rede Baiana de Biocombustíveis, formada por diversas

instituições ligadas ao tema Biodiesel e que interagem entre si a fim de apoiar as

ações do Programa de Biodiesel da Bahia – PROBIODIESEL BAHIA, discutindo e

elaborando projetos com temas relacionados à Cadeia Produtiva do Biodiesel

(PROBIODIESEL, 2006).

A UFBA desde 2005 abriga nas instalações da Escola Politécnica uma Planta Piloto

para produção de biodiesel com capacidade anual de 5 000 3m . A operação dessa

15

planta incorpora um grande alcance ambiental, uma vez que é abastecida com óleos

e gorduras residuais provenientes de restaurantes da Região Metropolitana de

Salvador, que na sua maioria efetua inadequadamente o descarte de suas sobras

oleosas nos receptores de esgoto doméstico (LABORATÓRIO, 2007a).

Estudos desenvolvidos pela UESC revelaram uma quantidade potencial de óleos e

gorduras residuais economicamente coletáveis de 4 500 anot em Salvador, 234

anot em Itabuna e 144 anot em Ilhéus (ALMEIDA NETO et al., 2000). A

quantidade estimada para Salvador teoricamente poderia ser absorvida em sua

totalidade pela Planta Piloto da UFBA, entretanto a extensão territorial da região

considerada e a dispersão geográfica das fontes geradoras dos resíduos oleosos

são apontadas como as responsáveis pelas dificuldades logísticas de recolhimento

desse material.

A Petrobras, maior empresa de energia da América Latina, mantém desde maio de

2006 duas unidades semi-industriais de produção de biodiesel em Guamaré (RN).

Uma das usinas experimentais utiliza tecnologia convencional e fabrica biodiesel a

partir de óleos vegetais, podendo produzir diariamente até 600 litros do produto. A

outra, com tecnologia desenvolvida pela Petrobras, utiliza etanol no processo e

produz biodiesel diretamente dos grãos das oleaginosas, podendo atingir a produção

de 5 000 litros de biodiesel por dia (PETROBRAS, 2007a).

No município de Candeias, na Região Metropolitana de Salvador, a Petrobras está

desenvolvendo um dos três primeiros projetos de produção industrial de biodiesel,

com capacidade de 57 000 anom3 . Com investimento total de R$ 83 100 000,00 a

Petrobras deverá priorizar o suprimento de matéria-prima para essa usina a partir da

agricultura familiar, de modo a assegurar para a empresa a obtenção do Selo

Combustível Social. A proposta é contribuir para o fortalecimento dos agricultores e

suas cooperativas, estimulando o aumento da produção e da produtividade de

mamona, soja, algodão, dendê (palma) e, futuramente, outras oleaginosas como o

girassol, o amendoim e o pinhão manso. As outras duas usinas da Petrobras, com a

mesma capacidade de produção, estão localizadas em Quixadá, Ceará e Montes

Claros, Minas Gerais (PETROBRAS, 2007a).

16

A Petrobras ainda analisa diversos projetos em outras regiões do Brasil para garantir

que em 2012 a empresa esteja produzindo 938 milhões de litros e em 2015 atinja

1 182 milhões de litros de biodiesel, conforme seu Plano de Negócios 2008/2012. Os

projetos em análise serão realizados em parceria com diferentes investidores, desde

grandes grupos econômicos as cooperativas de trabalhadores rurais (PETROBRAS,

2007b).

A empresa Brasil Ecodiesel opera duas usinas de biodiesel com capacidade de

118 800 anom3 : uma instalada em Iraquara, Bahia, uma em Crateús, Ceará, além

de outra de 44 500 anom3 em Floriano, Piauí (BRASIL ECODIESEL, 2007b).

O Grupo Comanche Clean Energy produz atualmente dois milhões de litros de

biodiesel por mês em sua usina instalada em Simões Filho, Bahia, com projeto de

ampliação para 100 milhões de litros por ano em 2008 (COMANCHE, 2008).

A empresa francesa Dagris, maior produtora mundial de algodão, pretende instalar

uma usina de biodiesel próxima à cidade de Luis Eduardo Magalhães, Bahia,

priorizando a aquisição de matéria-prima proveniente da agricultura familiar. A citada

usina deverá utilizar a rota etílica e terá capacidade de produção de 100 milhões de

litros de biodiesel por ano (PRATES; PIEROBON; COSTA, 2007).

1.1 OBJETIVO GERAL Avaliação técnica e econômica de empreendimentos de produção de biodiesel

1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS • Identificar por meio de indicadores econômicos as melhores

configurações entre diferentes modelos produtivos;

• Avaliar a influência da capacidade produtiva da usina sobre seus

resultados financeiros;

• Comparar modelos de produção de biodiesel verticalizada e não

verticalizada;

• Avaliar o impacto dos preços dos óleos vegetais e do tipo de álcool

sobre os resultados financeiros das usinas.

17

2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 BIOCOMBUSTÍVEIS E TECNOLOGIAS LIMPAS

O acelerado processo de modernização alcançado por meio do desenvolvimento

tecnológico, ocorrido durante o século XX, proporcionou inegáveis benefícios e

melhoria do conforto e da qualidade de vida de grande parcela da sociedade.

Entretanto, esse processo, que ocorreu à custa da exploração de recursos naturais,

foi responsável por graves degradações ambientais e distorções sociais e

econômicas caracterizando um desenvolvimento insustentável.

O Brasil é um país rico em recursos naturais e humanos, mas ainda buscando

desenvolver-se economicamente. O tradicional modelo de desenvolvimento

econômico adotado principalmente pelos Estados Unidos e pela Europa, que

demanda grandes quantidades de energia, acarreta um expressivo impacto no meio

ambiente em decorrência da acentuada exploração de fontes energéticas não

renováveis (DIAS; MATTOS; BALESTIERI, 2006).

É desejável que o tão almejado crescimento do Brasil não siga aquele modelo, mas

que contemple todos os fatores que conduzam a avanços no bem-estar social:

preservação ambiental e melhoria das condições de vida dos cidadãos. Uma

promissora alternativa de crescimento é aquela que adota a estratégia do

desenvolvimento sustentável que, segundo definição da World Commission on

Environment and Development (WCED), é “o desenvolvimento que reúne as

necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de

encontrar suas próprias necessidades”. Desenvolvimento Sustentável implica em

crescimento econômico combinado com a preservação da qualidade ambiental, cada

um reforçando o outro (INTERNATIONAL, 2007).

A busca de alternativas energéticas renováveis deve conter como premissas a

preservação ambiental e a sustentabilidade como elementos-chave.

O crescente mercado mundial de biocombustíveis vem usando como bandeira a

propalada promessa de redução de emissões de gases de efeito estufa. Entretanto,

os benefícios ambientais podem ser simplesmente neutralizados se ações

18

equivocadas ou especulativas forem aplicadas, tais como o desflorestamento e o

cultivo de espécies potencialmente consumidoras de insumos.

O desenvolvimento da indústria do biodiesel, tanto no Brasil como em outros países,

precisa evitar a reedição de problemas ambientais como os provocados pelo negócio

do etanol no Brasil. Um litro de etanol produz aproximadamente de dez a quinze

litros de vinhaça, um poluente agressivo com um pH muito baixo e um alto teor de

sais, principalmente potássio, e matéria orgânica. Num passado recente, a vinhaça

era inadequadamente lançada nos rios resultando grande mortandade de peixes a

cada safra. Atualmente, a vinhaça e os resíduos líquidos são reciclados e usados

para fertilização e irrigação.

Outra grave prática ambientalmente nociva se refere às queimadas que são

provocadas nos canaviais para reduzir as volumosas quantidades de biomassa.

Quando isso é feito, enormes nuvens de fumaça preta cobrem as áreas de plantio. O

governo federal decretou a redução gradativa das queimadas nos locais onde a

declividade do terreno permitir a colheita mecanizada, até 100% de redução em

2018, não proibindo a prática onde a colheita mecânica não for possível. O Governo

do Estado de São Paulo, estado com maior área plantada de cana de açúcar,

estabeleceu em sua legislação o ano de 2021 para a extinção das queimadas nas

áreas onde é possível a colheita mecânica, e o ano de 2031 para as áreas restantes

(MACEDO, 2005 apud KOJIMA e JOHNSON, 2005).

O desflorestamento (promovido para dar lugar a vastas extensões territoriais de

monoculturas) e a posterior queima da biomassa resultante apresentam uma

sucessão de agressões ambientais. Primeiramente, a eliminação de florestas

representa uma ameaça à biodiversidade pelo risco de extinção de espécies nativas;

as queimadas, realizadas com o simples propósito de reduzir volumes de biomassa,

lançam na atmosfera grandes quantidades de estoques de carbono sem o

aproveitamento útil da energia contida no material. Essas práticas contrariam o

conceito de sustentabilidade na agricultura.

Segundo o Comitê de Aconselhamento Técnico do Grupo Consultivo de Pesquisa

Agrícola Internacional (Technical Advisory Commitee of the Consultive Group on

International Agricultural Research – TAC/CGIAR), “Agricultura sustentável é o

19

manejo bem-sucedido de recursos para a agricultura, de modo a satisfazer as

necessidades humanas em transformação, mantendo ou melhorando, ao mesmo

tempo, a qualidade do ambiente e conservando os recursos naturais.” (TAC/CGIAR

apud REIJNTJES, HAVERKORT e WATERS-BAYER, 1999).

Esforços despendidos nas últimas décadas demonstram uma clara evolução na

atitude geral dos governos e empresas em relação à proteção do meio ambiente. A

aplicação de estratégias com propósitos específicos, dentre as quais pode ser citada

a produção mais limpa, tem contribuído para o alcance daqueles resultados.

A definição adotada pela United Nations Environment Programme (UNEP) nos

esclarece que “Produção mais limpa é a aplicação contínua de uma estratégia

ambiental integrada e preventiva a qual deve ser aplicada a processos, produtos e

serviços para aumentar a eficiência global e reduzir os riscos para o homem e o

meio ambiente. Produção mais Limpa pode ser aplicada aos processos usados em

qualquer indústria, aos próprios produtos e aos vários serviços fornecidos à

sociedade” (UNITED, 2007).

No campo social uma grave questão a ser evitada se refere à exploração da mão de

obra subqualificada que é um fato comum na indústria do açúcar e do álcool no

Brasil. O período de colheita da cana, quando há maior demanda por trabalhadores,

dura de seis a sete meses por ano. A razão entre as horas de trabalho empregadas

durante a colheita divididas pelas horas entre as colheitas é chamada de índice

sazonal. Quanto maior o índice sazonal maior uso é feito do trabalho temporário e

menor é a média salarial. Esse é um problema universal na agricultura. O uso da

mão de obra por unidade de produção é muito maior no Norte-Nordeste comparado

com o Centro-Sul, algumas vezes o triplo. No Centro-Sul, particularmente no estado

de São Paulo, os salários são mais altos e as condições de trabalho são melhores,

mas existem muito menos postos de trabalho por conta de maior eficiência e

mecanização.

Para os diversos processos produtivos, a Produção mais Limpa, ou simplesmente

“P+L”, resulta de um dos procedimentos listados a seguir ou de uma combinação

entre eles:

20

• Conservação de matérias-primas, água e energia;

• Eliminação de matérias-primas tóxicas e perigosas;

• Redução de quantidade e da toxicidade de todas as emissões e residuos na

fonte durante o processo de produção.

Para os produtos, a P+L objetiva reduzir os impactos dos produtos sobre o meio

ambiente, a saúde e a segurança, durante todo seu ciclo de vida, desde a extração

das matérias-primas, passando pelas fases de manufatura e uso, até a fase final de

descarte do produto.

Para os serviços, a P+L implica em incorporar preocupações ambientais na

concepção e no fornecimento de serviços.

A P+L descreve uma abordagem preventiva para a gestão ambiental. Não é uma

definição legal nem cientifica a ser dissecada, analisada ou submetida a disputas

teóricas. É um termo amplo que engloba o que alguns países e instituições chamam

de eco-eficiência, minimização de resíduos, prevenção da poluição ou produtividade

verde.

A produção mais limpa não nega o crescimento, mas insiste que o crescimento seja

ecologicamente sustentável.

A diferença chave entre controle de poluição e produção mais limpa refere-se ao

momento de atuação. Controle da poluição é uma abordagem que acontece após o

evento, do tipo “produza e trate”, ao passo que P+L adota uma filosofia avançada,

antecipativa e preventiva (UNITED, 2007).

Relatório divulgado pela organização não governamental britânica Friends of the

Earth alerta para a ameaça de extinção que sofrem os orangotangos das Ilhas de

Borneo e Sumatra, na Ásia, devido à derrubada de florestas pelas indústrias

madeireiras para dar lugar a plantações de monoculturas de dendê (palma),

devastando o habitat natural desses animais. Entre 1985 e 2000 a expansão de

dendezeiros foi responsável por um desflorestamento estimado de 87% na Malásia e

66% na Indonésia (FRIENDS, 2005).

21

Carvalho (2007) alerta para os riscos decorrentes do modelo econômico dominante

na agricultura brasileira que utiliza grandes áreas de monocultura e a artificialização

da produção agrícola. A expansão das áreas de cultivo de oleaginosas, necessária

para atender a demanda de matérias-primas para o biodiesel, tenderá à aplicação

massiva e sem critério desse modelo que favorece a degradação ambiental e

promove um desenvolvimento ambientalmente insustentável:

• aplicação de fertilizantes de origem industrial que provocam a saturação dos

solos pelos fertilizantes nitrogenados;

• uso intensivo de agrotóxicos e de herbicidas que provocam a contaminação

das águas e dos solos;

• automação das atividades agrícolas que reduz as oportunidades de

aproveitamento da mão de obra humana;

• mecanização pesada que provoca a compactação dos solos;

22

Tabela 1 Áreas produtivas brasileiras não aproveita das

REGIÕES DO BRASIL UF

ÁREAS NÃO APROVEITADAS

(km²)

ÁREA TOTAL (km²)

%

Rondônia 12 250 237 576,17 5,16%

Acre 6 245 152 581,39 4,09%

Amazonas 21 391 1 570 745,68 1,36%

Roraima 1 830 224 298,98 0,82%

Pará 89 908 1 247 689,52 7,21%

Amapá 1 131 142 814,59 0,79%

NORTE

Tocantins 17 272 277 620,91 6,22%

SUBTOTAL 150 027 3 853 327,24 3,89%

Maranhão 56 676 331 983,29 17,07%

Piauí 51 179 251 529,19 20,35%

Ceará 65 804 148 825,60 44,22%

R. G. do Norte 17 873 52 796,79 33,85%

Paraíba 29 688 56 439,84 52,60%

Pernambuco 49 588 98 311,62 50,44%

Alagoas 8 856 27 767,66 31,89%

Sergipe 7 250 21 910,35 33,09%

NORDESTE

Bahia 152 737 564 692,67 27,05%

SUBTOTAL 439 651 1 554 257,01 28,29%

Minas Gerais 60 452 586 528,29 10,31%

Esp. Santo 11 790 46 077,52 25,59%

R. de Janeiro 6 135 43 696,05 14,04%

SUDESTE

S. Paulo 12 898 248 209,43 5,20%

SUBTOTAL 91 275 924 511,29 9,87%

Paraná 30 156 199 314,85 15,13%

S. Catarina 31 836 95 346,18 33,39% SUL

R. G. do Sul 50 283 281 748,54 17,85%

SUBTOTAL 112 275 576 409,57 19,48%

M. G. do Sul 4 607 357 124,96 1,29%

M. Grosso 11 868 903 357,91 1,31%

Goiás 11 611 340 086,70 3,41%

CENTRO-OESTE

D. Federal 470 5 801,94 8,10%

SUBTOTAL 28 556 1 606 371,51 1,78%

TOTAL 821 784 8 514 876,62 9,65%

Fonte: CALÔBA, 2007

O Brasil, país mais extenso da América do Sul, o terceiro da Américas e o quinto do

mundo, tem um grande potencial para tornar-se o maior produtor de biodiesel do

23

mundo sem devastar as suas florestas. A Tabela 1 nos mostra a privilegiada

condição do Brasil, com uma extensão agriculturável de 821 784km² que representa

9,65% de sua extensão territorial total, 8 514 876,62 km². Cumpre destacar a Região

Nordeste, que abriga grande extensão do Semi-árido brasileiro, possui 28,29% de

sua área produtiva não aproveitada para a agricultura.

Para efetuar a extração do óleo a partir dos grãos duas opções podem ser utilizadas:

extração mecânica ou com solvente. O solvente mais comumente utilizado é o

hexano, derivado do petróleo, inflamável e nocivo, que provoca efeito adverso à

saúde humana uma vez que pode alterar o comportamento. É um depressor do

sistema nervoso central e se a exposição for prolongada, poderá causar dor de

cabeça, náuseas, tonteiras, perturbações visuais e auditivas, além de excitação. Os

vapores são prejudiciais ao meio ambiente e podem se deslocar até uma fonte de

ignição provocando retrocesso de chamas. Seu derramamento poderá provocar

contaminação de águas superficiais e de solos e, por percolação, degradar a

qualidade de águas de lençóis freáticos.

A extração por solvente poderia ser efetuada alternativamente com etanol, que

ambientalmente é menos agressivo que o hexano. A ESALQ - Escola Superior de

Agricultura Luiz de Queiroz vem desenvolvendo uma técnica para utilização do

etanol como solvente de extração. O objetivo é a obtenção de uma mistura de óleo

vegetal e etanol para ser posteriormente convertida a biodiesel apenas com uso de

catalisador, sem adicionar mais álcool (BERNARDES, 2005) Desenvolvimento

sustentável prega a adoção de práticas alternativas que, ao mesmo tempo em que

permitam aumento da produção agrícola, minimizem os impactos negativos sobre os

meios físico, biótico e antrópico.

Bezerra e Veiga (2000) listam algumas linhas de ações a serem aplicadas em várias

regiões do Brasil de modo a prevenir impactos ambientais decorrentes da agricultura

insustentável:

• ampliação do acesso à formação educacional, profissional e à educação

ambiental;

• alternativas de crédito ao manejo sustentável (em lugar de crédito para

produtos específicos);

24

• apoio ao incremento das alternativas energéticas (solar, eólica);

• implementação de assentamentos sustentáveis, compromissados com

criteriosa aplicação da legislação ambiental quanto ao uso da terra e

amparados por aval técnico de instituições oficiais e não governamentais;

• estímulo à recuperação de áreas degradadas;

• desenvolvimento e divulgação dos sistemas agroflorestais, conciliando

atividades agrícolas e recuperação florestal;

• estímulo ao desenvolvimento de tecnologias e práticas de produção agrícola

que aumentem a produtividade e, ao mesmo tempo, evitem a degradação e

restabeleçam ou ampliem a diversidade biológica. Essas práticas incluem,

entre outras: o manejo integrado e o controle biológico de pragas, o plantio

direto, as policulturas, culturas consorciadas, a rotação de culturas e os

sistemas agroflorestais.

Várias definições de agricultura alternativa são intensamente formuladas, todas

buscando englobar propostas de desenvolvimento integrado com resultados

econômicos e verdadeira preservação do meio ambiente. Nesse contexto, é

bastante oportuna a seguinte definição para agricultura alternativa:

“Conjunto de sistemas de produção que busca maximizar os benefícios

sociais e a auto-sustentação do sistema produtivo, minimizar e até eliminar a

dependência de fertilizantes químicos, agrotóxicos e energia não renovável,

preservar o meio ambiente através da utilização dos recursos naturais e

sócio-econômicos disponíveis” (EMBRAPA (2000) apud ZAMBERLAM e

FRONCHETI, 2001).

Cabe também citar a definição para agricultura ecológica:

“É um sistema de produção que evita, ou exclui amplamente, o uso de

fertilizantes, pesticidas, reguladores de crescimento e aditivos para a

alimentação animal; utiliza leguminosas, adubação verde, lixo orgânico de

fora da fazenda, cultivo mecânico, rochas ricas em minerais e modos de

controlar insetos, ervas daninhas e outras pragas” (Departamento de Estado

EUA, 2000 apud ZAMBERLAM e FRONCHETI, 2001).

25

Braun (2005) descreve a Permacultura como um sistema de agricultura

ecologicamente sustentável. O termo que dizer cultura permanente e se propõe a

aproveitar as facilidades e os produtos da natureza sem causar-lhe dano. Trabalha

com quatro princípios básicos que funcionam como um processo cíclico: o primeiro

princípio constitui a observação da natureza; o segundo está no pensamento sobre a

observação realizada; o terceiro representa a adaptação das técnicas e o desenho

de esquemas permaculturais; o quarto constitui o fazer na prática o que foi pensado.

“Tome conta da terra e observe a natureza, olhe como ela funciona, e isso

trará as informações necessárias. Nosso grande livro é a Natureza, e dela

sairão os desenhos e formas de obter seus produtos naturalmente.”

A agricultura permacultural busca desenvolver tecnologias de baixo impacto

ambiental através de processos que funcionem em favor da natureza, utilizando os

elementos que ela oferece naturalmente para a agricultura, sem prejudicar a

ecologia do local.

2.2 TRADIÇÃO BRASILEIRA EM COMBUSTIVEIS RENOVÁVEIS

A grande expectativa para o biodiesel no Brasil é que o PNPB (Programa Nacional

de Produção e Uso do Biodiesel) venha a reeditar o Proálcool, considerado a maior

e melhor experiência de substituição de energia fóssil por energia renovável.

Goldemberg (2007) destaca que o Brasil, em 3 milhões de hectares de terras,

produz 16 bilhões de litros de etanol e, referindo-se a uma das criticas mais

disseminadas ao etanol, afirma também que a competição pelo uso da terra entre

comida e combustível não tem sido substancial: a cana de açúcar cobre 10% da

terra cultivada e 1% do total da terra disponível para agricultura no país.

Para se atingir os atuais níveis de substituição da gasolina brasileira pelo etanol e a

viabilidade de custos de produção, o programa brasileiro de álcool teve que

atravessar algumas etapas: a obrigatoriedade da mistura de 25% de álcool anidro à

gasolina a partir do final da década de 70 e o estímulo à produção de carros a álcool

pela indústria automobilística. Essa decisão política criou um mercado para o etanol

e a produção cresceu rapidamente.

26

A expansão desse mercado proporcionou as condições para a diminuição do preço

ao longo dos anos — pela "curva de aprendizado" dos produtores e pelo subsídio

governamental. Em 20 anos o governo investiu cerca de US$ 30 bilhões no

Próalcool, o que foi "mais que compensado por uma redução de US$ 50 bilhões nas

importações de petróleo até 2006. A partir de 2004 o etanol se tornou

completamente competitivo com a gasolina sem a intervenção do governo. No início,

o etanol era três vezes mais caro que o petróleo. Hoje, não há nenhum subsídio

governamental (GOLDEMBERG, 2007).

2.3 ANTECEDENTES HISTÓRICOS

A experiência do uso direto de óleo vegetal como combustível em motores é

atribuída a uma iniciativa do engenheiro alemão Rudolf Diesel, que concebeu o

motor de ignição por compressão que viria a herdar seu nome.

O dia 10 de agosto de 1893 é considerado como um marco na história dos motores

de combustão interna, por ter sido a data que o mundo passou a conhecer o motor

projetado por Diesel (SHAY, 1993). No ano anterior ele obtivera uma patente por um

motor de ignição por compressão, que usaria pó de carvão como combustível, idéia

que foi abandonada em função de problemas de injeção inerentes àquele

combustível.

Embora originalmente concebido para usar carvão em pó, anos mais tarde, em

1900, durante uma exposição em Paris, ele apresentou o mesmo motor tendo o óleo

de amendoim como combustível.

Seriam suas as seguintes palavras proferidas em 1911: “o motor diesel pode ser

alimentado com óleos vegetais e ajudará consideravelmente o desenvolvimento da

agricultura dos países que o usarão”. Entretanto, os baixos preços do petróleo e

seus derivados, durante os primeiros setenta anos do século XX, desestimularam as

pesquisas mundiais na busca de outras fontes energéticas, e favoreceram o

desenvolvimento simultâneo do motor e de uma fração do petróleo adequada para

seu funcionamento, o óleo diesel.

27

O uso de óleo de dendê (palma) in natura foi reportado já em 1920, e uma das

primeiras referências ao uso dos ésteres derivados desse óleo, como combustível,

surgiu em 1942 (SHAY, 1993).

Nas décadas de 1930 e 1940, os óleos vegetais foram utilizados como combustíveis

de tempos em tempos, mas apenas em situações de emergência (NISTKE;

WILSON, 1965).

Em 1944, na Argentina, Martinez de Vedia descreveu testes de curta duração com

misturas de óleos vegetais e diesel. Dentre os óleos vegetais incluíam-se girassol,

linhaça, amendoim, algodão e nabo, com a concentração dos óleos na mistura

variando de 30 a 70%. Em um teste mais longo (420 horas) com uma mistura 60:40

de diesel:óleo de linhaça foram observados significativos problemas com relação à

quantidade e tipo de depósitos de carbono (SHAY, 1993).

Wiebe (1949) reporta, numa publicação do Departamento de Agricultura dos Estados

Unidos, uma bibliografia com 99 referências para o uso de óleos vegetais como

combustível alternativo ao diesel, entre 1920 e 1947. Muitas dessas referências

abordavam o craqueamento térmico ou catalítico de óleos vegetais para produzir

quantidades variáveis de frações de hidrocarbonetos numa faixa próxima à do

diesel.

Os dois choques do petróleo, nos anos de 1970, reacenderam o interesse pelos

óleos vegetais, que voltou a arrefecer-se na década seguinte, em conseqüência da

trajetória de maior estabilidade da oferta e dos preços que passou então a se

verificar. A partir dos anos 90, com a maior pressão ambientalista, as guerras no

Oriente Médio e as questões estratégicas ligadas ao longo período de formação dos

combustíveis de origem fóssil, passou a ocorrer avanços sem precedentes na

produção e uso do biodiesel, especialmente na Europa.

No Brasil, na década de 20 o Instituto Nacional de Tecnologia – INT já pesquisava

combustíveis alternativos e renováveis. Desde a década de 70, esse Instituto,

juntamente com o Instituto de Pesquisas Tecnológicas – IPT e a Comissão

Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira – CEPLAC vêm desenvolvendo projetos

de óleos vegetais como combustíveis, utilizando especialmente o dendê (palma)

28

como matéria-prima. Também a partir da década de 70, a Universidade Federal do

Ceará – UFC passou a desenvolver pesquisas buscando fontes alternativas de

energia e essas experiências revelaram um novo combustível derivado de óleos

vegetais e com características semelhantes ao diesel mineral: o biodiesel. O

resultado bem sucedido dessas pesquisas levou à concessão da primeira patente

nacional relacionada ao biodiesel, PI-8007957, conferida ao Professor Expedito

Parente.

Cabe lembrar que foi a partir de 1975, com a implantação do Programa Nacional do

Álcool (PROÁLCOOL) pelo Governo Federal, em resposta à crise do petróleo

iniciada em 1972, que o álcool etílico anidro foi introduzido como aditivo à gasolina.

Com a crise do petróleo de 1979, o Brasil lançou, de forma mais ousada, a segunda

fase daquele programa, que estabelecia uma meta de produção de 7,7 bilhões de

litros a ser alcançada em cinco anos e cujo foco passou a ser o emprego integral do

álcool hidratado como combustível para automóveis. Entretanto, com a queda dos

preços do petróleo a partir do final da década de 80 e a redução dos subsídios por

parte do governo, iniciou-se uma fase de declínio da produção desse combustível.

Ainda assim, o álcool continua sendo um importante componente da gasolina, com

um percentual que varia de 22 a 25%. Essa adição, fato inédito no mundo, tornou o

Brasil o maior produtor mundial de açúcar, de cana de açúcar e de álcool do mundo

durante vários anos.

Em 2005, com uma produção total de etanol de 16,067 milhões de m3, o Brasil

acabou perdendo o posto para os Estados Unidos que alcançou a marca de 16,214

milhões de m3 (LICHT, 2006).

O Centro de Pesquisas e Desenvolvimento da Bahia – CEPED, na busca de

desenvolvimento de tecnologias energéticas alternativas, implantou na década de 80

no Município de Valença, Bahia, uma comunidade agroenergética modelo tendo o

dendê como o principal elemento do projeto, o qual contemplava ainda outras

culturas como guaraná, cravo-da-índia, pimenta-do-reino, piaçava, coco, banana e

mandioca. Naquela oportunidade, foi implantada uma micro-usina de dendê, auto-

suficiente em termos energéticos, com capacidade de processar 1000 kg/h de dendê

em cacho, com aproveitamento integral do fruto (CENTRO, 1991).

29

Com a continuidade das pesquisas e o engajamento de outras instituições, várias

outras iniciativas de desenvolvimento de um combustível alternativo vêm sendo

perseguidas em vários estados brasileiros.

30

2.4 USO DE ÓLEOS VEGETAIS COMO COMBUSTÍVEL

Apesar da forte tendência mundial para a adoção de óleos vegetais como

combustível alternativo, o seu uso no estado in natura, ou suas misturas, nos

motores do ciclo diesel, tanto de injeção direta quanto indireta, é desaconselhável

em virtude de alguns inconvenientes relacionados tanto ao tipo do óleo quanto às

condições climáticas locais. As características de injeção, atomização e combustão

de óleos vegetais em motores diesel são significativamente diferentes daquelas

esperadas para o diesel puro: formação de goma devida à oxidação e polimerização

nas fases de estocagem e combustão; deposição de carbono residual nos motores;

espessamento do óleo lubrificante e, particularmente, a baixa fluidez dos óleos

devida à alta viscosidade (FANGRUI e HANNA, 1999; SRIVASTAVA e PRASAD,

2000).

Os óleos vegetais são distintos entre si pela diversidade de composições dos seus

ácidos graxos. Esses ácidos graxos variam em seus comprimentos da cadeia de

carbonos e no número de ligações insaturadas que possuem. Quando os três ácidos

graxos são idênticos, o produto é um triglicerídeo simples; quando são diferentes, o

produto é um triglicerídeo misto. Além disso, óleos vegetais também contêm ácidos

graxos livres (geralmente de 1 a 5%), fosfolipídios, fosfatídeos, carotenos, tocoferóis,

compostos de enxofre e traços de água. Conseqüentemente, alguns desses

componentes também podem estar presentes nos produtos finais (MARCKLEY,

1960 apud ENCINAR, 2002).

A Tabela 2 sumariza a estrutura química dos ácidos graxos encontrados nos óleos

vegetais mais comuns. Os dois primeiros dígitos representam o número de átomos

de carbono presentes na estrutura química e o último dígito refere-se ao número de

duplas ligações. O ácido oléico, por exemplo, com estrutura representada por 18:1

possui uma cadeia com dezoito átomos de carbono e uma dupla ligação.

O poder calorífico dos óleos vegetais é similar ao do diesel fóssil, mas o seu uso em

motores diesel de injeção direta é limitado por algumas de suas propriedades físicas,

especialmente a viscosidade, cujos valores são cerca de dez vezes superiores

àqueles do diesel (ENCINAR, 2002).

31

Tabela 2 Estrutura química de ácidos graxos de óleo s vegetais

Ácido graxo Estrutura

Mirístico 14:0

Palmítico 16:0

Esteárico 18:0

Araquídico 20:0

Behênico 22:0

Lignocérico 24:0

Oleico 18:1

Ricinoleico* 18:1

Erúcico 22:1

Linoleico 18:2

Linolênico 18:3

*Difere do ácido oleico pela presença

do grupo OH no carbono 12

Fonte: GOERING et al. (1982) apud ALI e HANNA (1994 )

Entretanto, a conversão industrial dos óleos vegetais a biodiesel, que objetiva a

adequação dos óleos a motores do ciclo diesel, acarreta um dispêndio energético de

25% em relação ao conteúdo original dos óleos (DENUCCI, 2007). Eis aí a grande

motivação de buscar-se desenvolvimento tecnológico em todos os elos da cadeia

industrial de modo a reduzir aquele dispêndio energético.

Algumas propriedades combustíveis dos óleos vegetais são listadas na Tabela 3

onde pode ser observada a viscosidade cinemática variando na faixa de 30 a 40 cSt

a 38°C. A alta viscosidade dos óleos vegetais, até 20 vezes maior que a do diesel, é

devida ao seu grande peso molecular, na faixa de 600 a 900. O ponto de fulgor é

bem mais alto, podendo exceder 250°C, refletindo a natureza pouco volátil dos óleos

vegetais; os poderes caloríficos estão na faixa de 39 a 40 kgMJ enquanto o do

diesel é de cerca de 44 kgMJ . A presença de átomos de oxigênio nas moléculas

dos óleos vegetais, apesar de promover benefícios ambientais, reduz os poderes

caloríficos em cerca de 10%. Os números de cetano, que refletem a qualidade de

32

ignição do combustível, estão na faixa de 32 a 40, ao passo que o do diesel

convencional se situa entre 45 e 50.

Uma etapa crítica no ciclo diesel é a injeção do combustível na câmara de

combustão. A alta viscosidade dos óleos vegetais promove uma ineficiente mistura

com o ar, o que dificulta sua adequada atomização. Isso afeta significativamente o

processo de ignição, levando a uma combustão incompleta. Essas desvantagens,

combinadas com a reatividade de óleos vegetais insaturados, impedem a operação

eficiente do motor por longos períodos. O combustível precisa estar atomizado, na

forma de gotículas finamente divididas, como névoa, caso contrário, ele queima

muito lenta e desigualmente, reduzindo a eficiência do motor, liberando fumaça preta

e espessa, emitindo combustíveis não queimados nos gases exaustos e provocando

deposição de carbono no motor (BARNWAL e SHARMA, 2005).

Tabela 3 Propriedades de óleos vegetais

Óleos

vegetais

Viscosidade

Cinemática

a 38°C

( )smm2

N° de

cetano

Poder

Calorífico

Superior

kgMJ

Ponto

de

Névoa

(°C)

Ponto

de

Fluidez

(°C)

Ponto

de

Fulgor

(°C)

Densidade

( )Lkg

Milho 34,9 37,6 39,5 -1,1 -40,0 277 0,9095

Algodão 33,5 41,8 39,5 1,7 -15,0 234 0,9148

Crambe 53,6 44,6 40,5 10,0 -12,2 274 0,9048

Linhaça 27,2 34,6 39,3 1,7 -15,0 241 0,9236

Amendoim 39,6 41,8 39,8 12,8 -6,7 271 0,9026

Colza 37,0 37,6 39,7 -3,9 -31,7 246 0,9115

Cártamo 31,3 41,3 39,5 18,3 -6,7 260 0,9144

Gergelim 35,5 40,2 39,3 -3,9 -9,4 260 0,9133

Soja 32,6 37,9 39,6 -3,9 -12,2 254 0,9138

Girassol 33,9 37,1 39,6 7,2 -15,0 274 0,9161

Dendê 39,6 42,0 - 31,0 - 267 0,9180

Babaçu 30,3 38,0 - 20,0 - 150 0,9460

Mamona 297,0 37,6 39,7 -3,9 -31,7 246 0,9115

Diesel 3,06 47,0 43,8 - -16,0 76 0,8550

Fontes: BARNWAL e SHARMA, 2005; KNOTHE et al., 1996

33

2.5 DEFINIÇÃO DE BIODIESEL

Numa definição técnica, o biodiesel é um alquil éster derivado dos ácidos graxos

contidos nos triglicerídeos, que é o nome genérico dos óleos e gorduras, tanto de

origem animal quanto vegetal. Refere-se ao combustível puro, antes da mistura com

o diesel mineral, e possui propriedades semelhantes a esse. O processo mais

comum de obter o biodiesel é por meio de uma reação entre triglicerídeos e um

álcool primário (metanol ou etanol, por exemplo). A legislação brasileira o define

como “biocombustível derivado de biomassa renovável para uso em motores a

combustão interna com ignição por compressão ou, conforme regulamento, para

geração de outro tipo de energia, que possa substituir parcial ou totalmente

combustíveis de origem fóssil" (BRASIL, 2005).

Misturas entre biodiesel e diesel mineral são denominadas B2, B10, B20 e assim

sucessivamente, sendo que a parte numérica representa a percentagem volumétrica

de biodiesel contida na mistura. Assim, B10 significa 10% de biodiesel e 90% de

diesel mineral, sendo o biodiesel puro designado por B100.

2.6 FONTES PARA PRODUÇÃO DE BIODIESEL

Preferencialmente, uma matéria-prima para produção de biodiesel deve preencher

dois pré-requisitos fundamentais: possuir baixo custo e alta escala de produção.

Óleos refinados, por exemplo, têm altos custos de produção e baixa escala de

produção, ao passo que sementes e gorduras residuais possuem baixos custos de

produção, são mais disponíveis que os óleos refinados ou reciclados, mas não têm

escala de produção. O alto valor agregado de alguns tipos de óleo, que enobrecem

a matéria-prima, é um fator que poderá impactar relevantemente a paridade entre os

preços finais de diesel mineral e biodiesel.

Uma vez que os preços de óleos comestíveis tendem a possuir maior valor

comercial que o diesel mineral, a preferência deve ser dada aos resíduos de óleos

vegetais ou óleos vegetais não comestíveis. Além disso, o uso de óleos comestíveis

34

pode difundir polêmicas por supostas ameaças à segurança alimentar. O teor de

óleo no grão e a produção de grãos por hectare também devem ser considerados na

seleção da oleaginosa mais apropriada.

O balanço energético é um outro aspecto de grande relevância na seleção da

matéria-prima para produção de um combustível. Refere-se à relação, que deverá

apresentar um resultado favorável, entre a energia consumida no processo de

produção do combustível e a energia a ser disponibilizada pelo mesmo. No caso do

etanol produzido a partir da cana de açúcar, por exemplo, 8,3 unidades de energia

são disponibilizadas pelo etanol produzido para cada unidade de energia consumida

na sua produção. Para efeito de comparação, o etanol produzido nos Estados

Unidos apresenta uma relação de apenas 1,3:1. No Brasil, estudos efetuados para

fins de biodiesel apontaram uma relação de 1,4 para a soja, de aproximadamente

5,6 para o dendê e de 4,2 para a macaúba, confirmando o grande potencial das

palmáceas como matéria-prima para o biodiesel (MACEDO e NOGUEIRA, 2005).

Para assegurar a maior disponibilidade e menor custo de matéria-prima, a fonte

vegetal para produção de biodiesel deve ser ajustada à vocação agrícola de cada

região. O Brasil, diante de sua invejável extensão territorial e ampla diversidade de

oleaginosas, que lhe asseguram grande flexibilidade de produção, possui um grande

potencial para expansão da produção de óleos vegetais. Assim, na região Norte do

Brasil, dendê e soja apresentam uma grande oferta; no Nordeste, mamona, pinhão-

manso, dendê, babaçu e algodão são as fontes mais propícias; no Centro-Oeste,

soja, algodão, mamona e girassol; no Sul, soja, girassol, colza e algodão; e no

Sudeste, soja, mamona, girassol, algodão. Soja e mamona, em função das grandes

áreas de cultivo, e o dendê, especialmente pelo alto teor de óleo, se destacam como

excelentes opções.

A mamona (Ricinus communis L.) merece um comentário particular por representar

uma das mais importantes e tradicionais culturas agrícolas do Nordeste brasileiro,

tanto no aspecto social quanto econômico. O estado da Bahia se destaca por ser o

maior produtor mundial de mamona, sua principal oleaginosa, respondendo com

80% da produção nacional. Para ilustrar a importância social dessa cultura no

Nordeste, somente na região de Irecê, Bahia, foram plantados na safra 2003/2004

35

mais de 112 mil hectares por pequenos agricultores proprietários de áreas

individuais de no máximo 3 hectares (BELTRÃO, 2004).

Tabela 4 Teor de ácidos graxos nos óleos vegetais

Relação xx:y*

Tipo de óleo 16:0 16:1 18:0 18:1 18:2 18:3 Outros

Algodão 28,7 0 0,9 13,0 57,4 0 0

Papoula 12,6 0,1 4,0 22,3 60,2 0,5 0

Colza 3,5 0 0,9 64,1 22,3 8,2 0

Cártamo 7,3 0 1,9 13,6 77,2 0 0

Girassol 6,4 0,1 2,9 17,7 72,9 0 0

Gergelim 13,1 0 3,9 52,8 30,2 0 0

Linhaça 5,1 0,3 2,5 18,9 18,1 55,1 0

Trigoa 20,6 1,0 1,1 16,6 56,0 2,9 1,8a

Palma (Dendê) 42,6 0,3 4,4 40,5 10,1 0,2 1,1

Polpa de Milho 11,8 0 2,0 24,8 61,3 0 0,3

Mamonab 1,1 0 3,1 4,9 1,3 0 89,6b

Sebo Animal 23,3 0,1 19,3 42,4 2,9 0,9 2,9

Soja 13,9 0,3 2,1 23,2 56,2 4,3 0

Folha de Louro 25,9 0,3 3,1 10,8 11,3 17,6 31,0

Amendoimc 11,4 0 2,4 48,3 32,0 0,9 4,0c

Avelã 4,9 0,2 2,6 83,6 8,5 0,2 0

Noz 7,2 0,2 1,9 18,5 56,0 16,2 0

Amêndoa 6,5 0,5 1,4 70,7 20,0 0 0,9

Oliva 5,0 0,3 1,6 74,7 17,6 0 0,8

Cocod 14,4 0 2,0 18,2 9,6 0 55,8d

Pinhão mansoe 16,4 0,9 5,4 40,3 37,0 0 0 a Composição de ácidos graxos: 1,4% de 8:0 e 0,4% de 14:0; b Mamona contém 89,6% de ácido ricinoleico; c Composição de ácidos graxos: 2,7% de 22:0 e 1,3% de 24:0; d 32,1% de 12:0, 15,9% de 14:0 e 7,8% de outros reportada por Aroucha et al. (2007); e Composição reportada por Melo et al. (2007); * xx:y indica xx carbonos na cadeia de ácido graxo com y duplas ligações.

Fonte: DEMIRBA Ş, 2003

36

Na Tabela 4, que apresenta as composições típicas de alguns óleos vegetais, pode-

se observar uma característica singular do óleo de mamona em relação aos demais

óleos: 89,6% da sua composição são constituídas do ácido ricinoleico (12-hidróxi-9-

octadecenóico) que contém um grupo hidroxila (OH) na cadeia carbônica.

A inusitada presença da hidroxila, apesar de adicionar estabilidade extra, impedindo

a formação de hidroperóxidos, atribui ao óleo de rícino características incomuns para

um óleo vegetal, a exemplo da viscosidade elevada e a maior solubilidade em

álcoois decorrentes das ligações de hidrogênio dos seus grupos hidroxilas

(OGUNNIYI, 2006). Esta última característica tem sido responsável por uma das

grandes dificuldades encontradas na produção de biodiesel de mamona via

transesterificação: remover as frações de glicerina e de álcool do produto acabado

de modo a atender a Resolução 42/2004 da ANP, que estabelece as especificações

de qualidade para a sua comercialização.

Outro destaque é o pinhão manso (Jatropha Curcas L.), pertencente à família das

euforbiáceas, como a mamona e a mandioca. É um arbusto grande, de crescimento

rápido, com altura normal entre dois e três metros, podendo alcançar até cinco

metros em condições especiais. Além de fácil cultivo é uma cultura perene que, ao

cobrir o solo com uma camada de matéria orgânica, pode conservá-lo e enriquecê-

lo, reduzindo a erosão e a perda de água por evaporação e evitando enxurradas. O

pinhão manso vem sendo considerado uma excelente alternativa agrícola para o

biodiesel por ser uma espécie nativa do Brasil, podendo ser cultivada em solos

pouco férteis e de clima desfavorável à maioria das culturas alimentares tradicionais,

perfil ideal para o semi-árido nordestino. É uma planta oleaginosa viável para a

obtenção do biodiesel, pois produz no mínimo duas toneladas de óleo por hectare,

levando de três a quatro anos para atingir a idade produtiva, que pode se estender

por quarenta anos. Entretanto a produção em larga escala dessa oleaginosa ainda

depende de sua regulamentação, pois conforme a legislação “a produção, o

beneficiamento e a comercialização de sementes e de mudas ficam condicionados à

prévia inscrição da respectiva cultivar no RNC1” (BRASIL, 2003).

1 RNC = Registro Nacional de Cultivares

37

2.7 MOTIVAÇÕES AMBIENTAIS

Ao contrário do que é difundido de maneira equivocada, o efeito estufa é de extrema

importância para a manutenção da vida na Terra. Sem ele, a temperatura média do

planeta estaria em torno de 19°C negativos. O aquec imento global causado pela

intensificação do efeito estufa é que representa um grave problema ambiental para a

humanidade. O aumento da concentração atmosférica de gases de efeito estufa,

conseqüência de determinadas atividades econômicas, sobretudo dos setores de

energia e transportes, é a causa direta desse aquecimento (TOLMASQUIM et al,

2004).

A substituição de combustíveis de origem fóssil por outros renováveis poderia

reduzir o acúmulo desses gases na atmosfera. Dióxido de carbono (CO2), produzido

durante os processos de respiração e combustão, é responsável pela metade desse

acúmulo de gases (PETERSON e HUSTRULID, 1998).

O carbono que é lançado na atmosfera sob a forma de CO2, o qual é gerado pela

queima de combustíveis fosseis, foi seqüestrado da própria atmosfera há milhões de

anos durante o período de formação da Terra. No caso da queima de um

combustível de origem vegetal, a etapa de seqüestro de carbono ocorreu há alguns

meses, durante a fase de crescimento da planta que o originou. O ciclo se inicia por

meio do processo da fotossíntese, através do qual dióxido de carbono e água são

absorvidos pela planta, convertidos a lipídios, em presença de luz solar e

processados a uma forma adequada de combustível. O consumo desse novo

combustível, queimado nos motores, vai gerar mais uma vez CO2, juntamente com

pequenas quantidades de outros compostos de carbono, iniciando assim um novo

ciclo (Peterson e Hustrulid, 1998). Esse ciclo mais curto se traduz numa estabilidade

dos atuais níveis de CO2 na atmosfera, uma vez que o balanço entre a quantidade

emitida e a quantidade absorvida pelas plantas é aproximadamente a mesma. Esse

balanço é que garante a grande vantagem ambientalmente competitiva dos

combustíveis renováveis em relação aos fósseis.

Peterson e Hustrulid (1998) relataram que a quantidade de CO2 lançada na

atmosfera pela queima de biodiesel do óleo de colza é de 10 a 20 % superior à

38

proveniente da queima do diesel mineral. A vantagem do uso do biodiesel reside no

fato de que o CO2 gerado pela sua queima será fixado de volta pela planta na sua

fase de crescimento. A redução líquida de CO2 é atingida pela diminuição da

quantidade de petróleo cru envolvida na produção de diesel mineral; cada kg de

diesel não usado corresponde a 3,11 kg de CO2 (adicionados a 15~20% que

deixarão de ser gerados pelo não processamento do petróleo cru correspondente)

que não serão lançados na atmosfera, (PETERSON e HUSTRULID, 1998).

Outra vantagem ambiental proporcionada pelo uso do biodiesel é que, em relação

ao diesel mineral, a sua combustão promove uma substancial redução nas emissões

de SOX, CO, hidrocarbonetos, fuligem e material particulado e, sob algumas

condições, óxidos de nitrogênio.

Sheehan (1998) efetuaram uma análise do ciclo de vida do biodiesel e concluíram

que o beneficio de usá-lo é proporcional ao percentual de mistura com o diesel de

petróleo. As emissões de CO2 provenientes do biodiesel 100% durante seu ciclo de

vida global são 78,45% menores que aquelas provenientes do diesel do petróleo, e

uma mistura com 20% de biodiesel reduz o saldo de emissões de CO2 em 15,66%.

A substituição de diesel mineral por biodiesel 100% em ônibus reduz o consumo do

ciclo de vida do petróleo em 95%, ao passo que uma mistura com 20% de biodiesel

faz o consumo do ciclo de vida do petróleo cair 19% (SHEEHAN, 1998).

Wang et al. (2000) analisaram o desempenho de nove caminhões abastecidos com

B35 (35% de metil éster de soja e 65% de diesel fóssil) sem efetuar qualquer

modificação nos motores. Eles compararam as emissões entre caminhões

abastecidos com a mistura e outros abastecidos com diesel convencional concluindo

que o consumo entre os dois combustíveis (em termos de galões por milha rodada)

foi aproximadamente o mesmo. Quanto às emissões, os caminhões abastecidos

com B35 emitiram material particulado (PM) em níveis significativamente mais

baixos, 25%, além da redução nas emissões de hidrocarbonetos (HC), 20% e

monóxido de carbono (CO), 12%. As emissões de óxidos de nitrogênio (NOx) entre

B35 e diesel, entretanto, permaneceram quase no mesmo nível, ligeiramente

superiores ou inferiores, dependendo da idade dos motores. A formação de NOx é

altamente dependente de temperatura e pressão na câmara de combustão. Valores

altos de temperatura e pressão usualmente obtidos na queima de biodiesel,

39

juntamente com o teor de oxigênio, facilitam a formação de NOx. Essa elevação nas

taxas de emissão de NOx ocorre principalmente porque misturas de biodiesel têm

um tempo de retardo de ignição mais curto. Esse menor retardo de ignição (que

antecipa o tempo de combustão, aumenta os picos de pressão e temperatura e

favorece a formação de NOx) é resultado do número de cetano maior para o

biodiesel em relação ao diesel mineral. A presença de oxigênio na molécula do

biodiesel é também um fator responsável pelos altos níveis de formação de NOx.

Muitos pesquisadores têm provado que retardar o tempo do motor para alongar o

tempo de ignição é um método eficaz para controlar as emissões de NOx do

biodiesel. Apesar de recomendarem mais testes para veículos abastecidos com

aquela mistura, apontaram o biodiesel como uma alternativa promissora (WANG et

al., 2000). A Figura 1 mostra as variações nas emissões de NOx, PM, CO e HC

como função dos teores de biodiesel na mistura com diesel mineral, onde pode ser

observada a ascendência da curva de NOx com o aumento do teor de biodiesel na

mistura.

NOx: Óxidos de Nitrogênio; PM: Material Particulado ; CO: Monóxido de carbono ; HC: Hidrocarbonetos

Figura 1: Influência do biodiesel na composição dos gases de combustão

Fonte : U.S.EPA, 2002

Uma vez lançados na atmosfera, os óxidos de nitrogênio, ao entrarem em contato

com o vapor d’água, formam o ácido nítrico, que em conjunto com o H2SO4 formado

40

a partir da emissão de SO2 durante a queima de combustíveis com teores de

enxofre, representa o maior constituinte da chuva ácida. O aumento da acidez do ar,

do solo e das águas pode causar prejuízos incalculáveis à fauna, à flora e ao

homem.

Além da chuva ácida, a ação de raios ultravioleta (UV) de origem solar sobre o NO2

liberado no meio ambiente ocasiona transformações fotoquímicas que levam à

formação do ozônio (O3). A presença de ozônio na troposfera, ou seja, no nível do

solo, tem conseqüências completamente diferentes da sua presença na estratosfera,

pois se apresenta como um risco para a saúde humana, provocando problemas

como tosse e diminuição da capacidade pulmonar. Na estratosfera (15 a 40 km

acima do solo) a camada de ozônio tem as funções de: 1. agir como absorvedora

dos raios ultravioleta (UV), evitando que eles alcancem o solo e causem danos aos

animais, plantas e seres humanos; 2. controlar o fluxo de calor através da atmosfera

por absorver a radiação solar refletida. NOx e O3 são responsáveis diretos por

edemas pulmonares, uma vez que, sendo ambos solúveis em gordura, penetram

profundamente nos alvéolos, provocando a desnaturação de proteínas e tornando

porosas as paredes dos alvéolos e dos capilares (LOPES apud CARVALHO

JÚNIOR e LACAVA, 2003).

Essa elevação nas emissões de NOx merecem atenção especial e devem motivar a

busca de uma solução mitigadora. O biodiesel, sendo um combustível renovável,

tem um compromisso de incorporar processos sustentáveis em todo o seu ciclo de

vida, desde o plantio de oleaginosas, passando pelas etapas de extração do óleo,

processamento industrial até a combustão limpa, o que significa redução de

emissões poluentes em relação ao diesel fóssil. Em suma, o viés ambiental deve

permear em todas as fases do ciclo de vida do biodiesel.

“Emissões de hidrocarbonetos são devidas a combustíveis não queimados, o que é

atribuído a uma mistura desbalanceada entre combustível: ar, ou muito pobre ou

muito rica, em ambos os casos incapaz de se auto-ignitar” (WANG et al., 2000).

Yamane et al. (2001) reportaram que um biodiesel com alto teor de oleato de metila,

que possui bom poder de ignição, gera produtos de combustão com níveis reduzidos

41

de óxidos de nitrogênio e hidrocarbonetos não queimados, além de suprimir a

formação de fuligem.

Beer et al. (2002) compararam as emissões de gases de efeito estufa lançados por

veículos de carga na Austrália. Foram comparadas as emissões de biodiesel de

canola (B100), diesel de baixo enxofre (LSD), diesel de ultrabaixo enxofre (ULSD),

gás natural comprimido (CNG), gás natural liquefeito (LNG), gás liquefeito de

petróleo (LPG), e óleo residual de fritura. Eles reportaram que o biodiesel,

juntamente com o etanol, apresentou as mais baixas emissões de gases de efeito

estufa (expressos na forma de gramas de gases de efeito estufa por quilometro

rodado). Na realidade, etanol e biodiesel, ambos de origem renovável, emitem

maiores quantidades de CO2 que os combustíveis convencionais, porém como a

maior parte do CO2 provém de estoques renováveis de carbono, essa fração não é

contabilizada em termos de emissão de gases de efeito estufa (BEER et al., 2002).

O Brasil, por ter a sua estrutura da oferta interna de energia com significativa

participação da energia hidráulica e da biomassa, consegue manter as emissões de

CO2 em níveis bem menores que a média dos países desenvolvidos. Enquanto no

Brasil as emissões totalizam 1,57 toneladas de CO2 por tonelada equivalente de

petróleo (tep) da Oferta Interna de Energia (OIE), nos países ricos as emissões são

de 2,37 toneladas de CO2 por tep, e no mundo é de 2,36 toneladas, o que significa

50% a mais que o Brasil, conforme pode ser observado na Figura 2.

A adoção de biocombustíveis em substituição a combustíveis fósseis fortalece os

compromissos assumidos entre vários paises do mundo no acordo conhecido como

Protocolo de Kyoto. Esse acordo definiu metas e prazos relativos à limitação das

emissões de seis Gases de Efeito Estufa - GEE (CO2, CH4, N2O, HFCs, PFCs e

SF6), destacando-se o CO2, que representa cerca de 55% do total das emissões

desses gases. A redução das emissões por parte dos países do Anexo I2, deverá ser

de 5,2% entre 2008 e 2012, em relação aos níveis de emissão de 1990.

2Países do Anexo I são todos os países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico

(OCDE) mais os 14 países com economias em transição da Europa Central e do Leste, excluindo-se Iugoslávia e

Albânia.

42

O acordo contou com a assinatura de trinta e nove paises, ficando estabelecido que

o mesmo só entraria em vigor após a adesão de um número de países que, juntos,

fossem responsáveis por pelo menos 55% do total de emissões mundiais. Uma vez

que Estados Unidos e Rússia juntos representavam cerca de 55% das emissões

globais em 1990, nota-se a importância que esses dois paises assumiram para a

validade do acordo. O cerne da discussão é o fato de que o consumo de energia e

as emissões de CO2 per capita dos países desenvolvidos são várias vezes mais

altas que as dos paises em desenvolvimento, o que reforçou a atribuição de maiores

responsabilidades desses paises no que diz respeito às reduções das emissões. Do

total da população mundial em 1990, estimada em 5,4 bilhões de pessoas e um total

de emissões de CO2 estimado em 5 a 6 bilhões de toneladas por ano, a divisão da

participação de paises ricos e pobres é bastante desbalanceada.

2,37 2,33

1,57

2,292,36

2,49

1,38

2,94

0,5

1,5

2,5

3,5

Mundo OCDE Brasil Japão Alemanha EstadosUnidos

África China

Figura 2: Emissões de CO 2 por tonelada equivalente de petróleo, 2005

Fonte: IEA, 2007

43

2.8 MOTIVAÇÕES ECONÔMICAS

O diesel, utilizado principalmente no transporte de passageiros e de cargas, é o

combustível mais consumido no país, com comercialização em 2007 da ordem de

41 558 180 m3, o que corresponde a 55,2% do consumo nacional de combustíveis

líquidos veiculares. Nesse total está incluída a parcela de biodiesel adicionada ao

diesel puro, ainda que em 2007 a adição não fosse obrigatória, apenas autorizada

em caráter facultativo. O volume total de biodiesel B100 produzido no Brasil em 2006

foi de 69 002 m3, saltando para 402 177 m3 em 2007, o que representa um salto

bastante expressivo em relação à produção de 2005, de apenas 736 m3 (ANP,

2008). A Tabela 6 apresenta dados de produção e movimentação de diesel no

Brasil, no período de 1996 a 2006. Para 2008, quando é esperado um consumo total

de cerca de 42 milhões de m3 de diesel (puro ou misturas), a participação obrigatória

do biodiesel na matriz energética nacional, ainda que com apenas 2% ou 3% de

adição, permitiria a criação de um mercado potencial entre 840 000 e 1 260 000

anom 3 do novo combustível puro, o que representaria uma economia anual

mínima de US$ 500 milhões em divisas (ANP, 2007d).

O Brasil tem potencial para tornar-se um dos maiores produtores de biodiesel do

mundo por dispor de solo e clima amplamente adequados ao cultivo de vários tipos

de oleaginosas. Esse potencial poderá assegurar o suprimento da demanda interna

como também a exportação para outros mercados consumidores.

Além disso, o Brasil poderia ter vários dos projetos de produção de biodiesel

alinhados com as propostas previstas pelo Protocolo de Kyoto.

No Brasil, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comercio (MDIC), em

parceria com a Bolsa de Mercadorias&Futuros (BM&F) e subsidiado pela Fundação

Getulio Vargas (FGV) criou o Mercado Brasileiro de Redução de Emissões. A idéia

básica é a de organizar o mercado primário, por meio de um banco de projetos, com

sistema de registro, armazenamento e classificação dos mesmos. Isto terá

implicações interessantes, como a redução dos custos de transação, conferindo

maior visibilidade para os investidores, auxiliando inclusive na identificação destes

no mercado por parte dos proponentes.

44

O Protocolo de Kyoto, além de estabelecer os compromissos de redução, também

estabelece três mecanismos de flexibilização, com o objetivo de permitir maior

eficiência econômica na mitigação do efeito estufa. São eles:

a) Implementação Conjunta (Joint Implementation), que dá maior flexibilidade aos

países do Anexo I¹ para investirem entre si no cumprimento de seus compromissos

de redução;

b) Mecanismo de Desenvolvimento Limpo – MDL (Clean Development Mechanism),

que permite aos países industrializados cumprir indiretamente o seu compromisso

de redução, recebendo créditos de carbono, ao financiar projetos que

comprovadamente ajudem na redução de emissões em países em desenvolvimento;

c) Mercado Internacional das Emissões (International Emissions Trading), que

possibilita aos países do Anexo I comercializar entre si as quotas de emissão e os

créditos adquiridos através do MDL em países em desenvolvimento.

Para o Brasil é particularmente importante o MDL - Mecanismo de Desenvolvimento

Limpo, que é derivado de uma proposta brasileira formulada durante a Conferência

de Kyoto. Trata-se de um mecanismo de flexibilização que permite às nações do

Anexo I alcançarem parte de suas obrigações, por meio de implementação de

projetos, aplicados em paises em desenvolvimento, que reduzam emissões ou

removam gases de efeito estufa da atmosfera. O Brasil poderia aproveitar essa

vantagem ambiental em termos econômicos ao enquadrar o uso do biodiesel nesses

acordos e diretrizes, uma vez que poderíamos vender cotas de carbono através do

Fundo Protótipo de Carbono (PCF), pela redução das emissões de gases poluentes,

e também créditos de 'seqüestro de carbono', através do Fundo Bio de Carbono

(CBF), ambos os fundos administrados pelo Banco Mundial (Bird).

Lamentavelmente, as polêmicas, discussões e interesses conflitantes entre as partes

envolvidas vêm inviabilizando a consolidação do acordo, mas o Brasil vislumbra uma

perspectiva muito favorável, mais uma vez influenciada pela sua invejável extensão

territorial, que lhe confere um grande potencial agronômico.

45

2.9 MOTIVAÇÕES SOCIAIS

Uma das grandes motivações para a adoção do biodiesel no Brasil, além das

questões econômicas e ambientais, são, sem dúvida, os benefícios sociais

promovidos pela inserção da agricultura familiar na cadeia produtiva desse

combustível. Essa participação, que poderá promover uma significativa geração de

emprego e renda, assegurará o fortalecimento da agricultura familiar, trazendo como

resultado o crescimento da contribuição da mão de obra rural nos indicadores

econômicos.

Relatórios do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) revelam que a

agricultura familiar engloba 4,2 milhões de estabelecimentos familiares, representa

84% dos estabelecimentos rurais do país e emprega 70% da mão-de-obra do

campo, dados que reforçam a expectativa que sinaliza a viabilidade da participação

da agricultura familiar no atendimento de parcela expressiva da demanda de

biodiesel (BRASIL, 2007).

Estudos interministeriais desenvolvidos por Ministério do Desenvolvimento Agrário,

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Ministério da Integração

Nacional e Ministério das Cidades concluem que a cada 1% de óleo diesel

substituído por biodiesel produzido com a participação da agricultura familiar podem

ser gerados cerca de 45 mil empregos no campo, a um custo de investimento de

aproximadamente R$4 900,00 por emprego. Admitindo-se que para cada emprego

no campo são gerados três empregos na cidade, seriam criados, então, 180 mil

empregos. Numa hipótese otimista de 6% de participação da agricultura familiar no

mercado de biodiesel, seriam gerados mais de um milhão de empregos. Fazendo-se

uma comparação entre os benefícios da agricultura familiar e a agricultura

empresarial os resultados são ainda mais animadores: em cem hectares cultivados

na agricultura familiar dez trabalhadores seriam absorvidos, ao passo que na

agricultura empresarial apenas um trabalhador teria oportunidade de trabalho.

Segundo projeções do MDA a área plantada para atendimento à mistura de 2% de

biodiesel ao diesel do petróleo, deverá ser de 1,5 milhões de hectares, o que

corresponde a 1% dos 150 milhões de hectares plantados e disponíveis para

46

agricultura no Brasil, não estando incluídas nesse levantamento as regiões

ocupadas por pastagens e florestas.

A renda líquida anual estimada para uma família do semi-árido, cultivando cinco

hectares de mamona com uma produtividade entre 700 e 1 200 hakg , poderá ficar

entre R$ 2 500 e R$ 3 500 (BRASIL, 2007).

Esses valores correspondem a uma renda mensal inferior ao salário mínimo

vigente3, portanto são nitidamente insuficientes para assegurar a subsistência de

uma família, mesmo aquela subjugada a uma incômoda condição de miserabilidade.

Torna-se necessária, portanto, a disseminação da prática do consorciamento entre a

mamona e algumas culturas comestíveis como milho, feijão e mandioca de modo

que o cultivo desses itens possa auxiliar no atendimento das necessidades da

família e permita a comercialização da produção excedente.

2.10 O BIODIESEL NO MUNDO

A depender do clima e das condições do solo, diferentes países adotam diferentes

tipos de óleos vegetais como substituto para o diesel.

Na Europa, os principais produtores, na ordem, Alemanha, França e Itália, além de

outros países da União Européia, desenvolvem ações objetivando estimular o uso

do biodiesel e outros substitutos para os combustíveis fósseis. A desoneração

tributaria é um dos mecanismos de incentivo à produção e ao consumo. Apesar da

meta para 2005 ter sido de 2% de participação dos biocombustíveis no segmento de

transportes, a mesma não foi atingida por impedimentos operacionais, ficando em

1,4%. Ainda assim, a Diretiva de Biocombustíveis da União Européia (EU Biofuels

Directive) espera que os países membros consigam em 2010 alcançar a marca de

5,75% de participação dos biocombustíveis naquele segmento, o que resultará em

uma demanda de aproximadamente 13,5 milhões de toneladas por ano.

A Alemanha, por exemplo, estabeleceu um expressivo programa de produção de

biodiesel a partir da colza, sendo hoje o maior produtor e consumidor europeu desse

3 Salário Mínimo a partir de 01/04/2007: R$380,00

47

combustível. O modelo de produção na Alemanha, assim como em outros países

europeus, tem características importantes. Lá, os agricultores plantam a colza com o

propósito de nitrogenar os solos com deficiência desse elemento, para em seguida

extraírem o óleo da planta, principal matéria-prima para a obtenção do biodiesel. O

biodiesel tornou-se o primeiro combustível alternativo disponível em todo o país,

onde é distribuído de forma pura, isento de qualquer mistura ou aditivação. A

Alemanha conta com uma expressiva rede de distribuição com cerca de 1900 pontos

de venda de biodiesel, cerca de 10% dos postos de combustíveis, onde numa

mesma bomba o consumidor dispõe de dois bicos, sendo um para diesel de petróleo

e outro, com selo verde, para biodiesel. A isenção de tributos em toda a cadeia

produtiva do biodiesel permite que o mesmo chegue ao consumidor cerca de 12%

mais barato

A produção européia de biodiesel em 2006 liderou a produção mundial, convertendo

plantações de colza, girassol e outras oleaginosas em 3,96 milhões de toneladas de

biodiesel, um salto de 50% em relação a 2005, que foi de 2,63 milhões de toneladas.

Para 2007 é estimada uma produção de 4,72 milhões de toneladas de biodiesel na

Europa (LICHT, 2007).

A Alemanha foi de longe o maior produtor de biodiesel na União Européia em 2006

aumentando em 45% sua produção em relação ao ano anterior, saindo de 1,5

milhões de toneladas para 2,2 milhões de toneladas.

Nos Estados Unidos o biodiesel está disponível comercialmente na maioria dos

estados produtores de óleo. Seu preço final é superior ao do diesel fóssil, talvez em

função da falta de desoneração tributária, mas há planos e iniciativas para

diversificação de sua matriz energética, embora seja ainda comumente produzido

em quantidades relativamente pequenas em comparação com produtos derivados

de petróleo e etanol. Muitos produtores de oleaginosas usam misturas de biodiesel

em tratores e equipamentos como uma questão política objetivando fomentar a

produção de biodiesel e popularizar seu uso. É mais fácil encontrar biodiesel nas

áreas rurais que nas grandes cidades. Desde 2003 há algumas linhas de crédito

disponíveis. Em 2004, quase 110 000 m3 de biodiesel foram vendidos nos Estados

Unidos contra menos que 380 m3 em 1998. As projeções para 2005 foram de cerca

48

de 285 mil m3 produzidos a partir de 45 fábricas. Estima-se que em 2010 o mercado

americano esteja movimentando entre 4 e 8 milhões de m3 de biodiesel. O seu preço

sofreu uma forte queda, de US$ 0.92/L em 1997 para US$ 0.49/L em 2002. Óleo de

soja vem aumentando sua importância na cadeia produtiva do biodiesel nos Estados

Unidos e vem se consolidando como a principal fonte para a produção desse

combustível naquele país. Nos Estados Unidos, para uso em motores diesel, o

biodiesel deve estar de acordo com as especificações ASTM D6751 listadas na

Tabela 13.

Na Índia, o biodiesel vem sendo produzido localmente para uso em veículos de 3

rodas, comuns naquele país. Biodiesel está substituindo rapidamente diesel, gás

natural e querosene, que abastecem esses veículos, como uma alternativa mais

limpa, barata e eficiente. Atualmente, naquele país, está sendo fomentado o cultivo

de pinhão-manso (Jatropha curcas L.) em terras improdutivas para obtenção de óleo

para a produção de biodiesel.

Na Malásia está sendo implementado programa para a produção de biodiesel. A

possível extração de vitaminas A e E permitirá reduzir os custos. Nesse país, o

biodiesel, chamado envo diesel, teve seu lançamento oficial em março de 2006, e

produz anualmente cerca de 500 000 toneladas de óleo de dendê para fins de

biocombustivel. O envo diesel é resultado da mistura de 5% de óleo de dendê

refinado com 95% de diesel mineral.

49

2.11 A MATRIZ ENERGÉTICA BRASILEIRA

A Oferta Interna de Energia (OIE)4 é constituída pelo Consumo Final de Energia

(CFE), que representa 89,7% do total, somado às perdas na distribuição e

transformação que representam 10,3% restantes. Por sua vez, o CFE, cujo montante

foi de 202,5 milhões de toneladas equivalentes de petróleo (tep) em 2006, se

constitui de 37,8% de uso industrial, 26,5% de uso em transportes, 10,8% de uso

residencial e 24,9% de uso em outros setores.

Figura 3: Oferta Interna de Energia (Brasil 2006)

Fonte: BRASIL. Ministério da Minas e Energia. Balanço Energético Nacional 2006

4 A energia que movimenta a indústria, o transporte, o comércio e demais setores econômicos do país recebe a denominação

de Consumo Final no BEN. Essa energia, para chegar ao local de consumo, é transportada por gasodutos, linhas de

transmissão, rodovias, ferrovias, etc., processos esses que demandam perdas de energia. Por outro lado, a energia extraída da

natureza não se encontra nas formas mais adequadas para os usos finais, necessitando, na maioria dos casos, passar por

processos de transformação (refinarias que transformam o petróleo em óleo diesel, gasolina, e outros derivados, usinas

hidrelétricas que aproveitam a energia mecânica da água para produção de energia elétrica, carvoarias que transformam a

lenha em carvão vegetal e outros). Esses processos também demandam perdas de energia. No BEN, assim como nos

balanços energéticos de outros países, a soma do consumo final de energia, das perdas na distribuição e armazenagem e das

perdas nos processos de transformação recebe a denominação de Oferta Interna de Energia – OIE . A estrutura da OIE por

energético é comumente chamada de Matriz Energética.

PETRÓLEO E DERIVADOS

37,9%

GÁS NATURAL9,6%CARVÃO MINERAL

6,0%

URÂNIO1,6%

HIDRÁULICA E ELETRICIDADE

14,8%

BIOMASSA30,1%

225,7 106 tep

50

A Oferta Interna de Energia (OIE) no Brasil, em 2006, atingiu o montante de 225,7

milhões de toneladas equivalentes de petróleo (tep), um crescimento de 3,24% em

relação a 2005, o que representa cerca de 2% da energia mundial

Em 2005 a OIE havia atingido 218,6 milhões de toneladas equivalentes de petróleo,

2,47% superior a 2004. Os resultados obtidos em 2006 apontam para um consumo

per capita de 1,21 habtep , indicador 1,8% superior ao de 2005, mas ainda inferior à

média mundial, de 1,69 habtep , e muito inferior à média dos paises da OECD1, de

4,67 habtep . O crescimento da OIE em 2006, de 3,24%, ficou abaixo do

crescimento da economia, segundo a nova metodologia de cálculo do Produto

Interno Bruto (PIB) utilizada pelo IBGE. Utilizando a nova metodologia, os resultados

preliminares do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE indicam um

crescimento de 3,7% para o PIB de 2006, taxa maior que a de 2,9% obtida segundo

a metodologia anterior (MME, 2007).

Tabela 5 Oferta Interna de Energia (mil tep)

FONTES 2004 2005 2006 ∆% (2005/2004)

∆% (2006/2005)

NÃO RENOVÁVEIS 120 103 121 350 124 321 1,04 2,45 PETRÓLEO 83 648 84 553 85 485 1,08 1,10 GÁS NATURAL 19 061 20 526 21 721 7,69 5,82 CARVÃO MINERAL 14 225 13 721 13 464 -3,54 -1,88 URÂNIO (U3O8) 3 170 2 549 3 650 -19,58 43,19 RENOVÁVEIS 93 642 97 314 101 434 3,92 4,23 ENERGIA HIDRÁULICA 30 804 32 379 33 452 5,11 3,31 LENHA 28 203 28 468 28 058 0,94 -1,44 DA CANA-DE-AÇÚCAR 28 775 30 147 33 043 4,77 9,61 OUTRAS RENOVÁVEIS 5 860 6 320 6 880 7,84 8,87 TOTAL 213 744 218 663 225 754 2,30 3,24

Fonte: BRASIL. Balanço Energético Nacional 2006

A demanda energética total foi mais impactada pelo incremento no uso das fontes

renováveis (hidráulica, biomassa e outras). De fato, houve crescimento de 4,23% na

energia proveniente dessas fontes, enquanto que as não renováveis cresceram

2,45% (petróleo e derivados, gás natural, carvão mineral e urânio). Com isso, a

energia renovável passou a representar, em 2006, 44,9% da Matriz Energética

Brasileira. Conforme pode ser verificado na Tabela 5 o uso da lenha foi o único item

51

renovável que em 2006 apresentou declínio em relação a 2005, -1,44%. Esse fato

pode ser explicado pela substituição da lenha por GLP na cocção de alimentos, o

que representa uma tendência natural nos paises em desenvolvimento.

A participação do “urânio (U3O8) e seus derivados” na oferta interna de energia

cresceu cerca de 25%, passando de 1,2% em 2005 para 1,5% em 2006. Esse salto

reflete o crescimento na geração de energia elétrica a partir de fonte nuclear, de

9,9 TWh para 13,8 TWh , devido à operação continuada da Central Nuclear

Almirante Álvaro Alberto.

O Brasil apresenta-se numa posição de destaque no cenário mundial de energia,

pelo fato de possuir 44,9% de sua matriz energética composta por fontes renováveis,

resultado das contribuições dos itens “Biomassa” com 29,8% e “Hidráulica e

Eletricidade” com 15,1%.

93,9%

86,8%

55,1%44,9%

13,2%

6,1%OCDE (2004)

Mundo (2004)

Brasil (2006)

Renovável Não Renovável

Figura 4: Estrutura da Oferta de Energia, Brasil x Mundo x OCDE

Fonte: BRASIL. Balanço Energético Nacional 2007

Essa proporção contrasta significativamente com a média mundial de cerca de

13,2%, e é ainda mais expressiva se comparada com a média dos países que

52

compõem a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico

(OCDE), formada em sua grande maioria por países desenvolvidos5, cujo índice gira

em torno de 6%. Considerando que o consumo de combustíveis é um importante

fator responsável pelas emissões de gases de efeito estufa, essa distribuição

energética põe o Brasil numa posição bastante singular consagrando o país como

um destacado benchmarking ambiental pela geração e uso de fontes renováveis de

energia. Essa posição ficará ainda mais fortalecida com a introdução progressiva do

biodiesel na matriz energética brasileira.

Entretanto, apesar da matriz energética brasileira possuir melhor qualidade

ambiental que o resto do mundo, analisado por outro ângulo esse quadro é

preocupante, pois as duas principais contribuições apresentam uma grave distorção

social. Os negócios de geração e consumo de hidroeletricidade estão concentrados

em privilegiados espaços econômicos dominados por grandes corporações

nacionais e multinacionais. Com relação à biomassa, em particular etanol e lenha

vegetal, a perspectiva é de oligopolização da produção, seja pelo controle da

produção das matérias primas cana-de-açúcar e eucalipto, seja pelo controle das

usinas sucroalcooleiras e dos fornos de produção de carvão vegetal para a indústria

siderúrgica. (CARVALHO, 2007).

5 Alemanha, Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá, Coréia do Sul, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos, Finlândia, França,

Grécia, Holanda, Hungria, Irlanda, Islândia, Itália, Japão, Luxemburgo, México, Noruega, Nova Zelândia, Polônia, Portugal,

Reino Unido, República Eslovaca, República Tcheca, Suíça, Suécia e Turquia. Além desses países, a União Européia também

integra a OCDE.

53

Tabela 6 Produção, importação, exportação e consumo de óleo diesel no Brasil

Ano

Produção

A

(103 m3)

Importação

B

(103 m3)

Exportação

C

(103 m3)

Ajustes e

Perdas

D

(103m3)

Consumo

A+B+C+D =

= E

(103 m3)

Parcela

Importada

(B/E*100)

(%)

1996 26 729 4 907 -409 -103 30 101 16,3 1997 27 959 5 892 -598 -211 31 664 18,6 1998 29 409 6 207 -540 -247 33 107 18,7 1999 31 521 5 223 -590 42 33 944 15,4 2000 31 316 5 859 -753 20 36 442 16,1 2001 32 369 6 585 -848 -59 38 047 17,3 2002 32 549 6 389 -805 545 38 678 16,5 2003 35 421 3 820 -821 -112 38 308 10,0 2004 39 235 2 695 -965 -288 40 677 6,6 2005 38 396 2 971 -1 051 105 40 421 7,4 2006 38 729 3 545 -1 337 -329 40 608 8,7

Fonte: BRASIL, Balanço Energético Nacional 2007

A inserção do biodiesel na matriz energética nacional e a sua consolidação como

combustível alternativo poderão fortalecer a destacada posição do Brasil como

campeão mundial de produção e consumo de combustíveis renováveis.

Vários óleos vegetais de diferentes oleaginosas poderão ser usados como fonte de

matéria-prima para a produção de biodiesel, como soja, mamona, amendoim,

algodão, dendê (palma), girassol e outras. Essa multiplicidade permitirá inclusive a

minimização das flutuações cíclicas típicas do setor agrícola decorrentes das

sazonalidades. A escolha do cultivar deverá contemplar, além dos critérios técnicos,

as potencialidades vocacionais de cada região.

Apesar do forte potencial brasileiro para a produção de biodiesel, resultado da

imensidão territorial que favorece o cultivo de oleaginosas, alguns desafios precisam

ser superados para estabelecer e consolidar o seu papel como fonte renovável de

combustível.

Uma das questões que vêm sendo discutidas é quanto à definição sobre o álcool

mais adequado a ser usado no processo de produção. Caso a rota etílica seja

priorizada, por ser o etanol de origem vegetal e possuir menor toxicidade que o

54

metanol, asseguraria ao biodiesel um perfil de combustível 100% renovável e

ambientalmente amigável. Entretanto, a rota metílica é a mais utilizada no mundo, e,

portanto, a mais desenvolvida.

O Brasil teria benefícios em adotar a rota etílica: além da renovabilidade do etanol,

esse álcool possui maior oferta no mercado brasileiro, em função da tradição

brasileira em produzi-lo. Além disso, a adoção da rota etílica promoveria um

benefício econômico adicional como resultado do aumento da produção do etanol.

55

2.12 LOGÍSTICA DE TRANSPORTE DA PRODUÇÃO DE BIODIES EL

No contexto da cadeia produtiva de biodiesel, a logística de transporte representa

um dos seus elos mais importantes por ser a responsável pela conexão entre os

centros produtores de oleaginosas, tipicamente rurais, e os centros consumidores de

biodiesel, tipicamente grandes centros urbanos.

Na análise global da cadeia produtiva do biodiesel deverão ser contempladas as

facilidades logísticas de transporte do óleo para as usinas de produção e a posterior

distribuição do biodiesel para os pontos de consumo.

A posição geográfica do estado da Bahia lhe confere uma condição privilegiada em

relação aos outros estados do Nordeste. É o estado mais próximo das regiões Sul e

Sudeste, onde estão os maiores consumidores do país. Essa posição estratégica se

reflete em menores custos logísticos para os setores produtivos do estado, que se

beneficiam das vantagens promovidas pela multimodalidade da sua rede de

escoamento de bens e serviços por meio de rodovias, ferrovias, hidrovias fluviais e

marítimas, dutovias e aerovias.

Do mesmo modo que nos demais estados do país, a cadeia de logística de

transporte de cargas na Bahia está suportada predominantemente por modal

rodoviário, contrariamente ao que ocorre nos países desenvolvidos, que privilegiam

o modal ferroviário. A participação das rodovias no transporte de cargas no Brasil é

maior que a observada nos países subdesenvolvidos, conforme pode ser observado

na Tabela 7.

Tabela 7 Matriz de Transporte de Cargas (%): Compar ação Internacional

Modal Países

Desenvolvidos

Países

Subdesenvolvidos Brasil

Rodoviário 30,0 42,3 58,7

Ferroviário 40,0 38,5 20,6

Hidroviário 16,0 10,9 17,2

Outros 14,0 8,3 3,4

Fonte: Cadernos, 2006

56

Com uma extensão de 25 200 km, a malha rodoviária do estado, apesar da maior

participação no transporte de cargas, encontra-se com sua trafegabilidade em

condições precárias. Daquele total, 5 201 km são constituídas de rodovias federais,

20 000 km são estaduais e estaduais transitórias.

A rede ferroviária do estado da Bahia, parte integrante da antiga Rede Ferroviária

Federal, é atualmente privatizada, sendo explorada pela Ferrovia Centro Atlântico,

através de um contrato de concessão iniciado em agosto de 1996 válido por um

período de 30 anos. Essa ferrovia possui uma extensão de 1 582km sendo formada

por três linhas-tronco:

1. Linha Norte: liga Salvador a Propriá, em Sergipe, e tem 551 km;

2. Linha Centro: liga Alagoinhas a Petrolina, em Pernambuco com 457 km,

3. Linha Sul: Salvador a Monte Azul, Minas Gerais, com 846 km.

O custo do frete, cobrado pelas operadoras nas ferrovias, é 50% mais barato em

relação ao transporte rodoviário. Além disso, as ferrovias oferecem rapidez e

capacidade de transporte de grandes cargas.

Quanto à navegação fluvial, o estado é favorecido por ter muitos dos seus

municípios atingidos pela influência da Bacia do Rio São Francisco que abrange 504

municípios, ou 9% do total de municípios do país. Desse total, 48,2% estão na

Bahia, 36,8% em Minas Gerais, 10,9% em Pernambuco, 2,2% em Alagoas, 1,2% em

Sergipe, 0,5% em Goiás e 0,2% no Distrito Federal. A área compreendida entre a

fronteira Minas-Bahia e a cidade de Juazeiro (BA), representa 45% do vale, apesar

de contribuir para o deflúvio anual com apenas 20%. A maior contribuição do

deflúvio anual, cerca de 75%, é obtida em Minas Gerais, que abriga apenas 37% da

área total do vale.

O modal hidroviário do Rio São Francisco apresenta um grande potencial para

viabilizar o escoamento de bens entre várias regiões produtoras do interior da Bahia

e suas ligações com outros estados, constituindo-se num valioso elemento de

integração inter-regional. A hidrovia do médio São Francisco é representada por um

estirão navegável que tem uma extensão equivalente à distância entre Brasília (DF)

e Salvador (BA), 1 371 km, destacando-se como a mais econômica forma de ligação

57

entre o Centro-Sul e o Nordeste. Com o seu extremo sul localizado na cidade de

Pirapora (MG), a hidrovia do São Francisco é interligada por ferrovias e estradas aos

mais importantes centros econômicos do Sudeste, além de fazer parte do Corredor

de Exportação Centro-Leste. Ao norte, nas cidades vizinhas a Juazeiro (BA) e

Petrolina (PE), a hidrovia está ligada às principais capitais do Nordeste, dada a

posição geográfica destas duas cidades.

Por suas características de transporte para grandes volumes e grandes distâncias, o

sistema hidroviário agrega preservação ambiental e custos inferiores em relação aos

demais modais. A Tabela 8 apresenta uma comparação de custos de frete entre os

diversos modais.

Tabela 8 Comparação entre Custos de Fretes

COMPARAÇÃO DE CUSTOS DE FRETES MODAL CUSTO [US$/(1 000km x t)] Ferrovia 17 Rodovia 27 Hidrovia 10

Fonte: SISTEMA, 2007 A ampliação dos atuais terminais hidroviários e a implementação de um programa

eficaz de revitalização do Rio São Francisco poderiam contribuir para a consolidação

da chamada navegação de grande porte em volumes comercialmente atrativos.

2.13 AS REGIÕES DA BAHIA

Para efeitos de melhor compreensão, neste estudo, o estado da Bahia foi

regionalizado de modo a detalhar as vias de escoamento atualmente existentes nos

diversos modais, bem como relacionar as alternativas previstas em projetos ou ainda

frutos de aspirações locais:

Região I → Oeste baiano: essa região merece comentário especial por ser a maior

produtora de grãos do estado destacando-se soja, algodão e milho, que permitem a

formação de uma cadeia produtiva de óleos vegetais bastante competitiva. A região

é atendida pelas seguintes vias de acesso:

• BR-242 é a principal via de acesso e escoamento da produção de grãos

e óleos vegetais da região, cortando os municípios de Luis Eduardo

58

Magalhães, Barreiras e Cristópolis, distantes de Salvador respectivamente

990 km, 896 km e 825 km.

• BR-020 liga a cidade de Luis Eduardo Magalhães ao estado de Goiás,

no sentido norte-sul;

• BR-135 a) no sentido sul-norte essa rodovia liga a cidade de Cocos, que

está localizada a 22km da divisa da Bahia com Minas Gerais, à BR-242 em

Barreiras, passando pelas cidades de Coribe, Correntina e São Desidério;

b) no sentido longitudinal liga a cidade de Formosa do Rio Preto,

distante 31km da divisa com o estado do Piauí, à BR-242 em

Barreiras, passando pelas cidades de Monte Alegre e Riaçhão

das Neves;

• BA-451 ligando Santa Rita de Cássia à BR-135, próximo a Monte Alegre;

• BA-449 ligando Cotegipe à BR-242, próximo a Crisópolis;

• Hidrovia do Rio São Francisco: a revitalização desse importante modal

hidroviário promoveria um grande impulso econômico às regiões cobertas

pelo seu curso. Com extensão navegável, de cerca de 1 371km, indo de

Pirapora (MG) a Juazeiro (BA), a plena navegabilidade desse rio está

atualmente comprometida por pontos de baixa profundidade, que limitam a

sua utilização apenas por embarcações pequenas e antieconômicas, e inibem

a navegação noturna. Paralelamente, a reforma do terminal hidroviário de

Ibotirama, distante 209km de Barreiras, permitiria a conexão intermodal da

rodovia BR-242 com essa hidrovia;

Pelo menos dois projetos futuros estão na pauta de investimentos a serem

implementados na região, os quais, juntos, ajudarão a dinamizar o fluxo de

importação e exportação dos itens relacionados à cadeia produtiva do biodiesel: a

construção de um trecho ferroviário ligando a região oeste até o Porto de Aratu, e a

instalação de um Centro Logístico entre as cidades de Luis Eduardo Magalhães e

Barreiras.

Região II→ Baixo Sul: essa região abriga os municípios de Valença, Taperoá, Nilo

Peçanha, Ituberá e Camamu, cinco dos maiores produtores estaduais de dendê

(palma), que juntos ocupam uma área de 33 000 hectares de dendezais.

As principais vias de escoamento são:

59

• BA-001 a partir do extremo sul do estado, essa rodovia corta a cidade de

Camamu, passando por várias cidades do baixo sul, segue até o

entroncamento da BR-324, em Feira de Santana, chegando até Salvador; é

utilizada no sentido oposto para ligar as cidades do baixo sul ao Porto de

Ilhéus, que é dotado de instalações e equipamentos adequados

principalmente para exportação de soja;

• BR-101 essa rodovia que começa no sul do país em direção ao norte,

atravessa todo o estado, seguindo uma trajetória paralela à BA-001,

igualmente atingindo o entroncamento da BR-324; constitui-se num

importante canal de ligação entre a Bahia e os estados do nordeste e sudeste

do país;

• Dutovia poliduto de 8“que sai do Terminal Aquaviário de Madre de Deus,

da Transpetro, atualmente abastece gasolina , diesel e GLP para os terminais

terrestres de Jequié e Itabuna; oportunamente, poderá ser mais uma

alternativa de escoamento de biodiesel para aquelas regiões;

• Porto de Ilhéus localizado no sudeste do estado, esse porto, de

concepção off-shore, é especializado para movimentar cargas gerais e

containers com capacidade total de até 990 anotmil .

Região III→ Irecê: essa região, formada por vinte e um municípios, é a maior

produtora de mamona do país, tem como acessos:

• BA-052 a principal via rodoviária da região, conhecida como Rodovia do

Feijão, possui distância média de 484km entre o centro geográfico da região e

a capital;

• BA-433: Barra do Mendes→ Ibipeba → Ibititá →Irecê→BA-052;

• BR-122: Mulungu do Morro→Cafarnaum→BA-052;

• Hidrovia do Rio São Francisco: o centro geográfico da região está situado a

cerca de 100km desse rio através da cidade de Xique-Xique, a qual urge ser

beneficiada com a instalação de um terminal hidroviário estruturado,

efetivamente dotado de equipamentos e instalações adequados para

viabilizar o escoamento da produção de toda a região de Irecê em direção a

ambos os sentidos Juazeiro (BA) e Pirapora (MG), por meio da

intermodalidade rodovia-hidrovia;

60

Região IV→ Piemonte da Diamantina: a região é a segunda maior produtora

de mamona do país, sendo atendida pelos seguintes acessos:

• BR-324: no trecho compreendido entre o norte da cidade de Feira de

Santana e Jacobina, com projeto de estendê-la até a cidade de Santo Sé,

situada às margens do Lago de Sobradinho, essa rodovia atende

importantes cidades, como Riachão do Jacuípe e Jacobina, permitindo a

sua ligação com Salvador;

• BR-407: essa rodovia longitudinal possui um trecho de grande

importância ao derivar da BR-324, próximo à cidade de Capim Grosso, até

alcançar Juazeiro, passando por cidades como Senhor do Bonfim e

Jaguarari. As rodovias BR-324 e BR-407, em conexão, facilitam o

escoamento de um grande volume de produção tanto em direção a

Juazeiro quanto a Salvador;

• Ferrovia Centro Atlântica: ao longo de seu trajeto, o trecho compreendido

entre Salvador e Juazeiro corta importantes regiões podendo atender

várias cidades que podem dispor desse modal para viabilizar o

escoamento de sua produção, bem como a entrada de bens e insumos. A

cidade de Senhor do Bonfim desempenha uma função estratégica na

região por ser cortada por esse trecho, podendo dispor de um entreposto

para atender as cidades circunvizinhas;

Região V→ Chapada Diamantina, Paraguaçu e Serra Geral: as cidades que

compõem essas localidades possuem uma atividade agropecuária diversificada, mas

com forte potencial para produção de mamona. Principais acessos:

• BR-242: principal via de ligação entre as regiões leste e oeste da Bahia;

• BR-116: importante rodovia longitudinal

• BA-142: via secundária de acesso de várias cidades à BR-242;

• Ferrovia Centro Atlântica: corta longitudinalmente o município de Iaçu;

61

Região VI→ Médio São Francisco: nessa região está localizada Juazeiro, cidade-

pólo, que é um importante centro distribuidor de cargas, com potencial de

estabelecer intermodalidade entre a BR-407, o Rio São Francisco e a Ferrovia

Centro Atlântica. A região conta com aeroportos, distribuidoras de diesel, usina de

álcool, armazéns; porto fluvial e dispõe de uma ligação ferroviária com a base de

distribuição de combustíveis da PETROBRAS em Candeias, na Região

Metropolitana de Salvador. Em Juazeiro existe também uma base de distribuição de

combustíveis operada pela BR Distribuidora e um pool de pequenas empresas

ligadas à Região Metropolitana de Salvador por ferrovia.

Principais acessos:

• BR-407: principal ligação entre Juazeiro e Salvador, com extensão de 510 km;

• Hidrovia do Rio São Francisco: partindo do Porto de Juazeiro é possível

chegar por essa hidrovia até a cidade de Pirapora (MG);

• Ferrovia Centro Atlântica: uma das linhas dessa ferrovia vai até Petrolina

(PE).

Região VII→ Região Metropolitana de Salvador e Feira de Santana: esse núcleo se

destaca por abrigar as cinco maiores cidades do estado, que segundo o critério do

PIB concentram mais de 50% de toda a riqueza estadual. Em ordem decrescente

aparecem: Camaçari (18,29%), Salvador (16,36%), São Francisco do Conde

(10,66%), Feira de Santana (3%) e Simões Filho (2,5%) (IBGE, 2004). Essa

aglomeração de forças econômicas assegura uma boa infra-estrutura de transportes

rodoviário, aéreo e marítimo. Principais acessos:

• BR-324: via de ligação rodoviária entre Salvador e Feira de Santana, com

derivações para rodovias estaduais que dão acesso aos municípios de

Simões Filho, Camaçari, Dias D’Ávila, Candeias, São Francisco do Conde e

Madre de Deus;

• BA-093: a partir da BR-324, trecho da cidade de Simões Filho, em direção à

cidade de Entre Rios, é uma das vias de ligação de Salvador ao Pólo

Industrial de Camaçari;

• BA-099: mais conhecida como Linha Verde, liga os municípios de Lauro de

Freitas e Jandaíra, seguindo uma trajetória paralela à orla litorânea;

62

• BA-505: derivação da BA-093, partindo de Mata de São João em direção ao

litoral norte da Bahia, seguindo uma trajetória paralela à BA-099;

• Terminal Terrestre de Candeias: esse terminal, com capacidade nominal de

estocagem de 36 437 m3 de álcool, diesel e gasolina, é de propriedade da

Petrobras Transporte S.A., e exerce um papel estratégico na região; ocupa

uma área contígua à Usina de Produção de Biodiesel, da própria Petrobras,

sendo dotada de vias de acesso rodoviária, pela BA-522, e ferroviária, por

uma derivação da Ferrovia Centro Atlântica.

Estão localizados nessa região vários terminais marítimos, privados ou

administrados pela Companhia de Docas do Estado da Bahia (CODEBA), órgão

oficial vinculado ao Ministério dos Transportes, dentre os quais podemos citar:

1. Porto de Salvador: localizado na Baía de Todos os Santos, opera

principalmente com cargas gerais, acondicionados principalmente em

containers, utilizando um terminal privado e outro público. Esse porto vem

experimentando várias transformações dinâmicas ao longo dos últimos anos

por meio de arrendamentos e terceirizações de várias áreas e serviços o que

tem permitido expressivos ganhos de produção e produtividade. Entretanto,

para dinamizar ainda mais o seu desenvolvimento, esse porto precisa ter

restabelecida a sua conexão já existente com a Estação Ferroviária da

Calçada, inviabilizada pelo intenso tráfego de veículos em duas grandes

avenidas que cruzam a linha férrea e pela presença de uma grande feira

popular na região. A relocação da feira e a construção de viadutos são

apontadas como as soluções para permitir o fluxo de comboios pela linha

férrea.

2. Porto de Aratú: localizado na região nordeste da Baía de Todos os Santos,

esse porto dista 50km de Salvador por rodovia e 42km por ferrovia e é

constituído de três terminais especializados: o terminal de granéis sólidos

(TGS), o terminal de granéis líquidos (TGL) e o terminal de produtos gasosos

(TPG). Foi originalmente concebido para atender às indústrias instaladas no

Centro Industrial de Aratu – CIA, e, posteriormente, também ao Pólo de

Camaçari.

3. Terminal Aquaviário de Madre de Deus, administrado pela Petrobras

Transporte S.A., é responsável pela movimentação no estado dos maiores

volumes de petróleo e seus derivados produzidos na Refinaria Landulfo Alves

63

(RLAM), e já dispõe de equipamentos e infra-estrutura adequados para

estocar e transportar os futuros volumes de biodiesel previstos pela

legislação. Esse terminal, que possui capacidade de armazenamento da

ordem de 626.052 m3 de petróleo e derivados, álcool e GLP, também opera

uma malha de dutovias com extensão de 394km para suprimento de

combustíveis para as cidades de Itabuna e Jequié, no Recôncavo Sul da

Bahia, que de lá são transportados para os consumidores do sul e o oeste do

Estado, norte do Espírito Santo e nordeste de Minas Gerais.

O município de Feira de Santana, o maior do interior da Bahia, está localizado a uma

distância de 108 km da capital pela BR-324, principal rodovia federal do estado, e

representa um eixo polarizador do sistema rodoviário do estado interligando

Salvador às demais regiões. As demais vias de acesso rodoviário, já citadas nas

regiões anteriores, são a BR-242, que liga Salvador ao oeste do estado e à capital

federal, as rodovias BR-101 e BR-116, que ligam o Norte-Nordeste ao Centro-Sul do

País, e a BA-052 que liga a capital à região de Irecê. Em Feira de Santana está

localizado o Centro Industrial do Subaé, que abriga importantes empresas químicas,

de autopeças, de transformação plástica, de confecções, entre outros, e um

importante produtor de óleo de mamona, a BioÓleo.

Diante do cenário que descreve as atuais condições dos diversos modais de

escoamento da produção do estado, fica a óbvia constatação que tão importante

quanto políticas públicas de fomento a investimentos nos setores produtivos é a

criação de mecanismos de impulso à interconexão entre os vários modais

aproveitando as potencialidades locais de cada região.

A adoção de um modelo de gestão privada para as rodovias, por meio de

concessões, unicamente, não resolve os problemas operacionais e de manutenção

enfrentados por elas. A solução mais racional contempla o modal rodoviário como

complementar aos modais ferroviário e aquaviário (marítimo e fluvial). A não

existência da complementaridade entre os modais resulta em sobrecarga na malha

rodoviária levando-a a saturação e deterioração precoces, além de onerar os seus

custos de operação e manutenção.

64

2.14 O MARCO REGULATÓRIO BRASILEIRO

Uma ação objetiva para a regulamentação do uso do biodiesel no Brasil foi a edição

de um Decreto Presidencial, datado de 2 de julho de 2003, que instituiu um Grupo

de Trabalho Interministerial (GTI) cujo objetivo era apresentar estudos sobre a

viabilidade de utilização desse combustível como fonte alternativa de energia, bem

como apresentar as ações a serem implementadas para consolidar a sua adoção.

Esse Grupo era constituído por representantes de diversos órgãos: Casa Civil da

Presidência da República além dos Ministérios dos Transportes (MT), da Agricultura,

Pecuária e Abastecimento (MAPA), do Desenvolvimento, Indústria e Comércio

Exterior (MDIC), de Minas e Energia (MME), da Fazenda (MF), do Planejamento,

Orçamento e Gestão (MP), da Ciência e Tecnologia (MCT), do Meio Ambiente

(MMA), do Desenvolvimento Agrário (MDA), da Integração Nacional (MI) e Ministério

das Cidades (Mcidades).

O Relatório Final apresentado pelo Grupo mostrou as potencialidades e desafios da

produção e uso do biodiesel, apontando-o como vetor de desenvolvimento e

inclusão social, o que levou o Governo Federal a instituir, em dezembro de 2003, a

Comissão Executiva Interministerial (CEI) e o Grupo Gestor (GG), encarregados da

implantação das ações para produção e uso de biodiesel.

Essas ações serviram para balizar o lançamento do Programa Nacional de Produção

e Uso do Biodiesel (PNPB) que estabelece como principais diretrizes:

• implantar um programa sustentável, promovendo inclusão social;

• garantir preços competitivos, qualidade e suprimento;

• produzir o biodiesel a partir de diferentes fontes oleaginosas e em regiões

diversas (PROGRAMA, 2007).

Em novembro de 2004 foram publicadas a Resolução 41 (que instituiu a

regulamentação e obrigatoriedade de autorização da ANP para o exercício da

atividade de produção de biodiesel) e a Resolução 42 (que estabeleceu as

especificações técnicas preliminares para a comercialização de biodiesel a ser

adicionado ao diesel mineral).

65

Por meio do Decreto 5.297 de 06 de dezembro de 2004 foi instituído o Selo

Combustível Social, título a ser concedido às empresas produtoras de biodiesel que

priorizarem a aquisição de matérias primas provenientes de agricultores familiares

enquadrados no Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar-

PRONAF.

Entre os critérios, regulados através de contratos, para a obtenção do Selo

Combustível Social, destacam-se a exigência de prestação de serviços de

assistência técnica e capacitação aos agricultores familiares e os percentuais

mínimos de aquisição de matéria-prima do agricultor familiar feitas pelo produtor de

biodiesel, que são:

• 50% para a Região Nordeste e o Semi-Árido;

• 30% para as Regiões Sudeste e Sul;

• 10% para as Regiões Norte e Centro-Oeste.

As empresas detentoras do Selo Combustível Social terão o compromisso de firmar

contrato com os produtores rurais especificando renda estimada, prazos e garantia

de assistência e capacitação técnica a esses trabalhadores. Esse selo, a ser

concedido pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), atuará como um

mecanismo promotor de inclusão social e gerador de emprego e renda, assegurando

aos produtores de biodiesel, como contrapartida, a obtenção de benefícios

tributários e acesso a linhas de financiamento.

A sanção da Lei 11.097, de 13 de janeiro de 2005, que dispõe sobre a introdução do

biodiesel na matriz energética nacional, caracteriza-se como o Marco Regulatório a

partir do qual, e seguido por uma série de outros atos oficiais, na forma de leis,

decretos, portarias, resoluções e instruções normativas, definem as condições legais

para a introdução do biodiesel na Matriz Energética Brasileira. Essa Lei definiu a

obrigatoriedade de adição de 2%, volume/volume, de biodiesel ao diesel mineral, a

partir de janeiro de 2005, e de 5% a partir de 2013, além de estender a abrangência

de atuação do órgão regulador do setor de combustíveis, a ANP, que passou a se

chamar Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis. Esse órgão

tem como atribuições a promoção da regulação, a contratação e a fiscalização das

atividades econômicas integrantes da indústria do petróleo, do gás natural e dos

biocombustíveis, cabendo-lhe implementar, em sua esfera de atribuições, a política

66

nacional de biocombustíveis, contida na política energética nacional. A introdução do

biodiesel na Matriz Energética Brasileira foi regulamentada pelo Decreto 5.448 de 20

de maio de 2005.

A Lei 11.116 de 18 de maio de 2005 dispôs sobre o Registro Especial a ser mantido

na Secretaria de Receita Federal do Ministério da Fazenda, aplicado a produtores ou

importadores de biodiesel, e também estabelecia a incidência de contribuição para o

PIS/PASEP e para o COFINS sobre as receitas decorrentes da venda desse

produto. As regras referentes a esses tributos determinavam que os mesmos fossem

cobrados uma única vez cabendo ao produtor industrial de biodiesel a tarefa de

pagamento da referida tributação. Foi facultada ao produtor a opção pela incidência

única de alíquotas sobre o preço do produto, de 6,15% (seis inteiros e quinze

centésimos por cento) para PIS/PASEP e 28,32% (vinte e oito inteiros e trinta e dois

centésimos por cento) para o COFINS, ou pelo pagamento de um valor fixo por

metro cúbico de biodiesel comercializado, R$120,14 (cento e vinte reais e quatorze

centavos) e R$553,19 (quinhentos e cinqüenta e três reais e dezenove centavos),

respectivamente (PROGRAMA, 2007b).

Ao regulamentar a Lei 11.118, o Decreto nº 5.297, de 06 de dezembro de 2004,

alterado pelo Decreto nº 5.457, de 6 de junho de 2005, estabeleceu um percentual

geral de redução de 67,63% em relação à alíquota definida na Lei. Portanto, a

alíquota máxima de PIS/PASEP e COFINS incidentes sobre a receita bruta auferida

pelo produtor ou importador na venda de biodiesel, ficou reduzida para R$ 217,96

por metro cúbico (R$38,89 referentes a PIS/PASEP e R$179,07 referentes a

COFINS) (PROGRAMA, 2007b).

Estabeleceu também três níveis distintos de desoneração tributária para reduzir a

alíquota máxima de 3m96,217$R , com a introdução de coeficientes de redução

diferenciados de acordo com os critérios dispostos na Lei:

• Para o biodiesel fabricado a partir de mamona ou palma produzidas nas

regiões Norte, Nordeste e no Semi-Árido pela agricultura familiar, a

desoneração de PIS/PASEP e COFINS é total, ou seja, a alíquota efetiva é

nula (100% de redução em relação à alíquota geral de 3m96,217$R );

67

• Para o biodiesel fabricado a partir de qualquer matéria-prima produzida pela

agricultura familiar, independentemente da região, a alíquota efetiva é 3m02,70$R (67,9% de redução em relação à alíquota geral);

• Para o biodiesel fabricado a partir de mamona ou palma produzidas nas

regiões Norte, Nordeste e no Semi-Árido pelo agronegócio, a alíquota efetiva

é 3m50,151$R (30,5% de redução em relação à alíquota geral) (Fonte:

PROGRAMA, 2007b).

A Tabela 9 sumariza os diferentes critérios de tributação federal incidentes sobre o

preço de comercialização do biodiesel.

Tabela 9 Critérios de tributação do biodiesel

(Lei 11.116-18/05/2005) (Decreto Nº

5.457 -06/06/2005)

(Decreto Nº 5.297-06/12/2004)

COEFICIENTES DE REDUÇÃO DIFERENCIADOS

COEF. DE REDUÇÃO

(A) (B) (C) ALÍQUOTA

REGIME ESPECIAL

0,6763 0,775 0,896 1

TRIBUTO FEDERAL

(%) 3m$R 3m$R 3m$R 3m$R 3m$R

PIS/PASEP 6,15 120,14 38,89 27,03 12,49 0 COFINS 28,32 553,19 179,07 124,47 57,53 0 TOTAL 34,47 673,33 217,96 151,50 70,02 0 (A) Mamona e palma (Norte/Nordeste/Semi-árido e Agronegócio) (B) Agricultura Familiar no PRONAF; Qualquer Matéria-prima; Qualquer região (C) Mamona e palma (Norte/Nordeste/Semi-árido e Agricultura Familiar no PRONAF)

Fonte: BRASIL, 2005

A tributação máxima de 3m96,217$R incidente sobre o biodiesel ainda é elevada

considerando-se que é o equivalente à carga tributária federal incidente sobre seu

concorrente direto, o diesel de petróleo. Sendo o biodiesel um combustível renovável

propondo-se a ser um sucedâneo de um combustível fóssil, seria justificável que a

desoneração tributária fosse mais expressiva, de modo a caracterizar uma efetiva

contribuição governamental ao sucesso de um programa concebido justamente na

esfera governamental.

A Resolução nº 3, de 23 de setembro de 2005, do Conselho Nacional de Política

Energética (CNPE) antecipou para 01 de janeiro de 2006 o início para o atendimento

da adição mínima de 2% do biodiesel ao diesel mineral, definindo que a

obrigatoriedade ficaria restrita ao volume de biodiesel produzido por detentores do

Selo Combustível Social.

68

Em 30 de Setembro de 2005, o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA)

publicou a Instrução Normativa no. 02 para projetos de biodiesel com perspectivas

de se consolidarem como empreendimentos aptos ao selo combustível social. O

enquadramento social de empreendimentos produtores de biodiesel permite acesso

a melhores condições de financiamento junto ao Banco Nacional de

Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e outras instituições financeiras,

além de dar direito de concorrência em leilões de compra de biodiesel. As indústrias

produtoras também terão direito a desoneração de alguns tributos, mas deverão

garantir a compra da matéria-prima a preços pré-estabelecidos, oferecendo

segurança aos agricultores familiares. Há, ainda, possibilidade dos agricultores

familiares participarem como sócios ou cotistas das indústrias extratoras de óleo ou

de produção de biodiesel, seja de forma direta, seja por meio de associações ou

cooperativas de produtores (PROGRAMA, 2007b).

Outro importante passo para efetivamente alavancar o negócio do biodiesel no Brasil

foi dado pelo Ministério das Minas e Energia com a edição da Portaria 483 de 03 de

outubro de 2005, que fixava as diretrizes para a realização de leilões públicos

promovidos pela ANP para aquisição desse combustível. Essa Portaria estabelecia

os critérios de participação dos possíveis fornecedores nos futuros leilões,

necessariamente detentores do Selo Combustível Social ou possuidores de

requisitos necessários à sua obtenção. A realização dos citados leilões viria a ser

regulamentada por meio da Resolução 31 da ANP, de 04 de novembro de 2005.

Diante da necessidade de induzir investimentos de forma acelerada para o aumento

da produção e da oferta de biodiesel no mercado nacional, o CNPE (Conselho

Nacional de Política Energética) determinou por meio da Resolução 03, de 23 de

setembro de 2005, a redução do prazo para o início da adição obrigatória, fixando a

data de início em 01 de janeiro de 2006, anteriormente definida como 01 de janeiro

de 2007, e restringindo a obrigatoriedade ao volume total produzido por detentores

do Selo Combustível Social.

Resolução do CNPE de 13 de março de 2008 elevou para 3% em volume a adição

mínima obrigatória de biodiesel ao diesel mineral a partir de 1º de julho de 2008

(PROGRAMA, 2007b).

69

2.15 AÇÕES GOVERNAMENTAIS

Uma das ações governamentais para fomentar o uso comercial do biodiesel é á

introdução do Programa de Apoio Financeiro a Investimentos em Biodiesel, que

estabelece financiamento de até 90% dos itens passíveis de apoio para projetos

com o Selo Combustível Social e de até 80% para os demais projetos. Os

financiamentos são destinados a todas as fases de produção do biodiesel, entre elas

a agrícola, a de produção de óleo bruto, a de armazenamento, a de logística, a de

beneficiamento de co-produtos e a de aquisição de máquinas e equipamentos

homologados para o uso deste combustível. Esses recursos são originados de linhas

de crédito especiais do BNDES, que estipulou para os empréstimos correções

baseadas na Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) acrescidas de juros anuais que

variam de 1% a 3%, a depender do porte do empreendedor (micro, pequena, média

ou grande empresa) e se o aspirante ao crédito é ou não detentor do Selo

Combustível Social.

Para atender diretamente os pequenos produtores familiares existe um programa

específico de apoio ao fortalecimento da agricultura familiar tendo como

protagonistas os agricultores familiares e suas organizações. O Pronaf é o Programa

Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar e foi concebido com o objetivo de

construir um padrão de desenvolvimento sustentável para os agricultores familiares

e suas famílias, visando ao aumento e à diversificação da produção, com o

conseqüente crescimento dos níveis de emprego e renda, proporcionando bem-estar

social e qualidade de vida.

O Programa BB de Apoio a Produção e Uso do Biodiesel, como a sigla sugere,

utiliza recursos financeiros provenientes do Banco do Brasil e também visa apoiar a

produção, a comercialização e o uso do biodiesel como fonte de energia renovável e

atividade geradora de emprego e renda. A assistência ao setor produtivo será feita

por meio da disponibilização de linhas de financiamento de custeio, investimento e

comercialização, colaborando para a expansão do processamento de biodiesel no

país, a partir do incentivo à produção de matéria-prima, à instalação de plantas

agroindustriais e à comercialização (BANCO, 2007).

70

Com o risco de chegar 2008 sem capacidade instalada suficiente para atender o

mercado obrigatório de 2% de mistura, o governo decidiu instituir os leiloes de

compra de biodiesel, para viabilizar a antecipação da comercialização, garantindo a

instalação de uma capacidade mínima de produção. As compras de biodiesel via

leilão da ANP representam de fato o inicio do mercado de biodiesel no Brasil. Para

isso, o CNPE (Conselho Nacional de Política Energética), por meio da Resolução 3,

autorizou a realização desses leilões pela ANP, sob assessoria técnica do MME

(Ministério das Minas e Energia) limitando a participação como ofertantes apenas

aos detentores do Selo Combustível Social ou elegíveis a obtê-lo, e como

compradores os produtores e importadores de diesel mineral (PRATES; PIEROBON;

COSTA, 2007).

71

2.16 O PROCESSAMENTO DOS ÓLEOS VEGETAIS

A molécula de um triglicerídeo, principal componente do óleo vegetal, é constituida

de três radicais ésteres ligados a um radical de glicerol. Embora óleos vegetais in

natura possam ser alimentados a motores do ciclo diesel algumas características

como alta viscosidade, baixa volatilidade e propensão à formação de goma no motor

desestimulam essa prática. O glicerol, que contribui com cerca de 20% em massa de

uma molécula de triglicerídeo, é a principal responsável por tornar o óleo mais denso

e viscoso.

Para tornar os óleos mais apropriados para o uso como combustível, consideráveis

esforços têm sido conduzidos objetivando promover alguma modificação nas suas

propriedades para aproximá-las às do diesel mineral. Desse modo, para alcançar

esse propósito, os triglicerídeos podem ser craqueados, diluídos com solventes de

baixa viscosidade, dispersos em micro emulsificações, ou ainda convertidos a alquil

ésteres, por meio de uma reação química conhecida como transesterificação.

Descreveremos os mais usualmente empregados modos de adequação dos

triglicerídeos para uso como combustível e suas variantes: pirólise;micro

emulsificação;diluição;transesterificação.

2.16.1 PIRÓLISE

Pirólise se refere a uma transformação química sofrida por uma substância sob

aplicação de energia térmica com ou sem o auxílio de um catalisador. O material a

ser pirolisado pode ser óleo vegetal, gordura animal, ácidos graxos naturais e alquil

ésteres de ácidos graxos. A aplicação de calor acontece na ausência de ar ou

oxigênio (SONNTAG, 1979) ocorrendo a fissão das ligações químicas para produzir

moléculas menores (WEISZ et al., 1979). A pirólise de gorduras vem sendo

investigada há mais de cem anos, principalmente nas áreas do mundo com baixas

reservas de petróleo. A primeira pirólise reportada foi conduzida na tentativa de

sintetizar petróleo a partir de óleos vegetais (SONNTAG, 1979).

72

Chang e Wan (1947) relataram um craqueamento térmico em larga escala, na

China, a partir de sabões de cálcio derivados de óleo de tungue (Aleurites Fordii).

Inicialmente o óleo de tungue foi saponificado com cal para em seguida ser

termicamente craqueado a petróleo sintético, o qual após refino produziu diesel e

pequenas frações de gasolina e querosene. O rendimento comercial médio desse

petróleo sintetizado foi de 70% em volume, contendo um teor de gasolina de cerca

de 25 %.

Muitas pesquisas vêm sendo conduzidas sobre a pirólise de triglicerídeos com o

propósito de desenvolver produtos adequados para motores do ciclo diesel. Entre os

estudos incluem-se: o efeito da temperatura sobre os tipos de produtos obtidos; a

caracterização dos produtos finais da decomposição térmica e o desenvolvimento de

catalisadores seletivos com a finalidade precípua de produzir parafinas e olefinas

similares às encontradas nos combustíveis à base de hidrocarbonetos

(SRIVASTAVA e PRASAD, 2000).

A química da pirólise é difícil de ser caracterizada por causa da variedade de etapas

da reação, como também pela variedade de produtos que podem ser obtidos a partir

das reações possíveis. Os mecanismos de reações da decomposição térmica de

triglicerídeos são complexas devido às várias estruturas possíveis de serem

formadas e à multiplicidade de reações possíveis. De uma maneira geral, a

decomposição térmica dessas estruturas se processa por intermédio do mecanismo

ou de radical livre ou de íon carbônio. A decomposição térmica de triglicerídeos

produz os compostos da classe dos alcanos, alcenos, alcadienos, aromáticos e

ácidos carboxílicos (SRIVASTAVA e PRASAD, 2000).

Diferentes tipos de óleos vegetais produzem grandes diferenças na composição dos

produtos resultantes. Schwab et al. (1987) relataram que óleo de soja pirolisado, por

exemplo, contem 79% de carbono e 12% de hidrogênio, apresentando baixa

viscosidade e alto número de cetano quando comparado ao óleo vegetal puro. A

viscosidade após a pirólise foi reduzida de 32,6cSt para 10,2cSt a 38°C e o número

de cetano aumentou de 37,9 para 43 (BAGBY, 1987; SCHWAB et al., 1987).

Pioch et al. (1993) estudaram o craqueamento dos óleos de copra e de dendê

(palma). Esses óleos foram craqueados sobre um catalisador padrão de petróleo

73

SiO2/Al2O3 a 450°C para produzir gases, líquidos e sólidos co m pesos moleculares

mais baixos. A fase orgânica condensada foi fracionada para produzir os

combustíveis biogasolina e biodiesel. As composições químicas das frações de

diesel eram similares às dos combustíveis fósseis. O processo foi relativamente

simples e eficaz se comparado com outros processos de craqueamento relatados na

literatura, sem gerar resíduos nem poluição atmosférica.

Alencar; Alves e Craveiro. (1983) investigaram os produtos das reações de

craqueamento de babaçu (Orbignya phalerata), piquí (Caryocar brasiliense Camb) e

dendê (Elaeis guineensis), conduzidas na ausência de catalisador. Hidrocarbonetos

foram os principais produtos obtidos na pirólise, predominantemente alcanos e 1-

alcenos de cadeia linear. A ausência de compostos oxigenados nos produtos finais

sugere que as eliminações de CO2 e H2C=CO foram etapas dominantes nas

reações de craqueamento, pelo menos na ausência de catalisador.

As instalações para craqueamento térmico ou pirólise são caras, se comparadas ao

valor agregado relativamente baixo das substâncias a serem produzidas, o que torna

o processo pouco competitivo economicamente. Além disso, embora os produtos

sejam quimicamente similares à gasolina e ao diesel fósseis, a remoção de oxigênio

durante o processamento térmico também elimina qualquer benefício ambiental

proporcionado pelo uso de um combustível oxigenado. Além disso, o craqueamento

de triglicerídeos por pirólise tende à formação de biogasolina, mais do que à de

biodiesel (MA e HANNA, 1999).

74

2.16.2 MICROEMULSIFICAÇÃO

Bagby (1987) define micro-emulsões como dispersões termodinamicamente

estáveis, isotrópicas, claras ou translúcidas, formadas entre óleo, água, surfactante

e, freqüentemente, uma pequena molécula anfifílica, chamada co-surfactante. Bagby

(1987) reportou o uso do 2-octanol como um anfifílico eficiente na solubilização

micelar de metanol em troleína e óleo de soja, resultando na redução da viscosidade

para 11,2cSt .

Numa outra interpretação são definidas como dispersões de equilíbrio coloidal de

microestruturas fluidas oticamente isotrópicas com dimensões geralmente

compreendidas entre 1 e 150 nm formadas espontaneamente a partir de dois

líquidos normalmente imiscíveis e um ou mais substâncias anfifílicas iônicas ou não-

iônicas (SCHWAB et al., 1988).

Ali e Hanna (1994) definem uma micro-emulsão como um sistema consistindo de um

líquido disperso em um outro líquido imiscível, com ou sem um emulsificante,

geralmente em gotas maiores que o tamanho coloidal. O tamanho específico da gota

necessário para uma emulsão caracterizar-se como uma micro emulsão não é muito

claro.

Srivastava e Prasad (2000) entendem que os diâmetros das gotas nas micro

emulsões podem variar de 100 a 1000 Å. Uma micro emulsão pode ser formada pela

combinação de óleos vegetais com um éster e um dispersante (co-solvente), ou de

óleos vegetais, um álcool e um surfactante, com ou sem presença de diesel. As

micro-emulsificações, devido ao seu conteúdo de álcool, possuem valores mais

baixos de poder calorífico que os do diesel, mas os álcoois têm alto calor latente de

vaporização e tendem a resfriar a câmara de combustão, o que reduziria o

coqueamento no bico. Uma micro emulsão de metanol com óleos vegetais pode ter

um desempenho quase tão bom quanto o do diesel. (SRIVASTAVA e PRASAD,

2000).

75

2.16.3 DILUIÇÃO

Diluição de óleos vegetais pode ser realizada com substâncias diversas tais como

diesel mineral, um solvente ou etanol.

Uma mistura de óleo de girassol e diesel, na razão de 1:3 em volume, foi testada em

motores diesel e os resultados foram analisados por Ziejewsk; Kaufman e Pratt.

(1983). A viscosidade da mistura foi de 4,88cSt a 40°C ao passo que o valor limite

especificado pela ASTM é de 4,0cSt a 40°C. A conclu são foi que a mistura não

seria recomendada para uso, por longo prazo, em motores diesel de injeção direta

devido à tendência ao coqueamento no bico injetor com conseqüente entupimento

do mesmo.

Eles também testaram óleo de cártamo (carduncellus coerulus dentatus) com alto

teor de ácido oleico, também diluído com diesel na razão 1:3. Óleo de cártamo rico

em ácido oleico difere do óleo de cártamo típico por ser menos insaturado. Óleos

poli-insaturados são altamente reativos e tendem a oxidar-se e polimerizar-se,

provocando o espessamento do óleo lubrificante caso se acumulem neste. Essa

mistura apresentou uma viscosidade final de 4,92cSt a 40º C. Apesar da

viscosidade resultante apresentar um valor igualmente elevado, essa mistura foi

aprovada no teste 200 h EMA6, porém o seu uso por um prazo mais longo promove

o espessamento do lubrificante.

O teste EMA determina a troca de óleo lubrificante após 100 horas de operação e,

em ambos os testes, tanto com óleo de girassol quanto com óleo de cártamo, por

ocasião da troca não foram observadas variações significativas na viscosidade do

óleo lubrificante.

Num outro experimento, Ziejewsk; Kaufman e Pratt. (1983) testaram óleo de soja

misturado a um solvente (este contendo 48% de parafinas e 52% de naftênicos) à

razão 1:1. Apesar dessa mistura também ter passado no teste 200 h EMA, a mesma

apresentou uma viscosidade de 5,2cSt a 38°C, além d e gerar pesados depósitos de

carbono e desgaste no anel superior do motor. 6 Teste de 200 horas de operação de motores da EMA (Engine Manufacturers Association)

76

O chamado E-diesel, mistura de etanol e diesel, está atualmente em uso em

veículos de frota na União Européia e nos Estados Unidos.

De Caro et al. (2001) reportaram que as emissões de monóxido de carbono (CO) e

óxidos de nitrogênio (NOx) foram significativamente reduzidas quando 20% de etanol

foram adicionados ao diesel e queimados num motor diesel estacionário. A adição

de etanol ao diesel pode promover a redução volumétrica de enxofre por cerca de

20%, resultando numa redução nas emissões de SO2.

Fernando e Hanna (2004) reportaram que o maior obstáculo para a adoção do E-

diesel como combustível alternativo é a imiscibilidade entre o etanol e o diesel em

uma larga faixa de concentrações e temperaturas. Apesar dessa limitação, a queima

de um combustível oxigenado permite a redução significativa de emissões de

material particulado e de gases tóxicos como CO (monóxido de carbono), óxidos de

enxofre (SOx) e, às vezes, óxidos de nitrogênio (NOx). Mesmo o etanol tendo poder

calorífico, número de cetano e lubricidade em valores significativamente menores

que o biodiesel ou o diesel sozinhos, o calor de combustão da mistura etanol-

biodiesel-diesel, em várias proporções, permaneceu estável, sem redução

significativa (FERNANDO e HANNA, 2004).

77

2.16.4 TRANSESTERIFICAÇÃO CONVENCIONAL

A diluição dos óleos com solvente ou a dispersão em micro emulsões reduzem a sua

viscosidade, mas alguns problemas de desempenho dos motores persistem. O

propósito do processo de transesterificação é reduzir as viscosidades dos óleos para

adequá-los às exigências dos motores do ciclo diesel (DEMIRBAŞ, 2003).

Transesterificação, também chamada alcoólise, é a modificação na estrutura

molecular de um triglicerídeo, que é fracionado em quatro partes, uma parte de

glicerol e três partes de ésteres, em um processo similar à hidrólise. A diferença é

que, ao invés de água, um álcool é usado para deslocar o glicerol. A mistura de

ésteres resultante é uma substância mais fina e com viscosidade reduzida e constitui

a base do biodiesel (SRIVASTAVA e PRASAD, 2000).

Esse processo é utilizado pelo menos desde 1846 quando Rochieder reportou a

síntese de glicerol por meio de etanólise do óleo de mamona (FORMO, 1979).

Desde aquela época a alcoólise vem sendo estudada em várias partes do mundo.

A reação de transesterificação é representada pela seguinte equação geral:

Equação 1

CH2–OOC–R1 R1-COO-R’ CH2–OH │ │ CH2–OOC–R2 + 3 R’OH →← rCatalisado R2-COO-R’ + CH2–OH

│ │ CH2–OOC–R3 R3-COO-R’ CH2–OH

Triglicerídeo Álcool Ésteres Glicerol

Como pode ser observada na reação Equação 1 a transesterificação é uma reação

de equilíbrio na qual excesso de álcool é requerido para provocar o seu

deslocamento para o lado dos ésteres e glicerol.

A constante de equilíbrio é favorável à formação de alquil ésteres de modo que uma

razão molar 5:1 de álcool:óleo é suficiente para garantir taxas de conversão na faixa

de 95 a 98% (BARNWAL e SHARMA, 2005).

78

Os álcoois mais adequados incluem metanol, etanol, propanol, butanol e amil álcool

sendo metanol e etanol os mais frequentemente usados (MA e HANNA, 1999).

Com o propósito de melhorar a velocidade e o rendimento, a reação é usualmente

catalisada, homogênea ou heterogeneamente, por álcali, ácido ou enzima.

Na realidade a reação de transesterificação consiste de uma seqüência de reações

consecutivas e reversíveis como mostradas na Equação 2. Inicialmente ocorre a

conversão de triglicerídeo a diglicerídeo, seguida pela conversão deste a

monoglicerídeo e daí a glicerol (ou glicerina). Em cada etapa do mecanismo, uma

molécula de alquil éster é produzida para cada molécula de glicerídeo convertida

(NOUREDDINI e ZHU, 1997; FREEDMAN et al., 1986)

Equação 2

1. Triglicerídeo (TG) + R’OH →← rCatalisado Diglicerídeo (DG) + R’COOR 1

2. Diglicerídeo (DG) + R’OH →← rCatalisado Monoglicerídeo (MG) + R’COOR 2

3. Monoglicerídeo (MG) + R’OH →← rCatalisado Glicerol (GL) + R’COOR 3

Entretanto, para que a reação acima ocorra é fundamental o controle do mecanismo

de formação do catalisador:

Equação 3

OH + H3–CO–H (ou C 2H5–OH) →← H2O + H3CO (ou H 5C2O)

metóxido (etóxido)

Na formação do íon alquilóxido (metóxido ou etóxido) o elétron do ânion hidróxido

ataca o hidrogênio da hidroxila do álcool quebrando a ligação OH e produzindo água

e o ânion alquilóxido, conforme demonstrado na Equação 3. Esse é o catalisador

propriamente dito da reação de transesterificação. Seu elétron em excesso ataca as

moléculas do óleo vegetal, deslocando a glicerina. Paralelamente, a hidroxila em

equilíbrio e o metóxido competem entre si, forçando uma indesejada reação de

saponificação. A ligação OH do etanol é mais forte que a do metanol uma vez que o

efeito indutivo de repulsão de elétrons do grupamento etila é maior que o do metila.

Isso faz com que a disponibilidade de catalisador para a rota etílica seja menor que

79

para a rota metílica. Ou seja, para as mesmas condições operacionais, a rota etílica

é mais lenta que a metílica.

Quanto ao rendimento da reação, a rota etílica também leva relativa desvantagem,

pois a ação solubilizante do etanol, mais forte que a do metanol, acaba favorecendo

a solubilidade do glicerol na fase superior dos produtos de reação, dificultando a

separação entre o biodiesel e a glicerina. No entanto todo o esforço de pesquisa

deve ser despendido no sentido de aperfeiçoar a rota etílica, em função dos

benefícios que a mesma é capaz de promover: ambientais, haja vista o seu perfil

renovável; toxicológicos, pelo fato do metanol provocar graves danos á saúde

humana; e, particularmente no caso do Brasil, econômicos, uma vez que a indústria

de álcool é bastante desenvolvida e consolidada em nosso país. A Tabela 10

sumariza uma comparação entre as rotas etílica e metílica.

Tabela 10 Comparação entre ésteres etílico e metíli co

Propriedade Éster metílico Éster etílico

Conversão (óleo→biodiesel) 97,5% 94,3%

Glicerina total no biodiesel 0,87% 1,40%

Viscosidade 3,9 a 5,6cSt @ 40º C 7,2% maior

∆% potência frente ao diesel 2,5% maior 4% menor

∆% consumo frente ao diesel 10% maior 12% maior

Fonte: SCHUCHARDT et al., 1998

Embora a transesterificação de óleos vegetais ou gorduras animais seja

relativamente simples, as condições do processo devem ser cuidadosamente

controladas para se alcançar altos rendimentos (98-100%) a temperaturas menores

e tempos mais curtos.

O processo global de transesterificação catalítica inclui a reação de

transesterificação propriamente, a recuperação de reagentes não convertidos, a

purificação dos ésteres, a separação do glicerol e, finalmente, a separação entre o

catalisador e os reagentes e produtos.

80

Na reação de transesterificação convencional a mistura reacional é aquecida à

temperatura de ebulição do álcool, à pressão atmosférica, e refluxada por cerca de

uma hora sob agitação. Atinge-se geralmente uma conversão de 90-99% obtendo-se

uma mistura de ésteres graxos. Cessando-se a agitação, a mistura reacional se

separa em uma camada superior de alquil ésteres e uma camada inferior de glicerol

diluído com álcool não reagido. Os ésteres graxos resultantes deverão ser

neutralizados e destilados a vácuo para remoção do álcool em excesso antes do uso

como combustível.

Em um processo em dois estágios, a camada superior de ésteres obtida no primeiro

estágio é posteriormente misturada com álcool adicional na quantidade de 0,75

equivalentes. A mistura sofre uma segunda transesterificação similar ao primeiro

estágio, por trinta minutos.

Trent (1945) patenteou um processo contínuo de transesterificação, onde os

reagentes eram alimentados a um reator através de uma serpentina aquecida a

vapor, situada no topo. A reação ocorria quando os reagentes eram aquecidos à

temperatura de reação à medida que passavam pelo aquecedor. A reação se

completava antes que a mistura de reagentes e produtos deixasse o reator. O álcool

não convertido deixava o reator e os produtos eram neutralizados antes de

alcançarem a câmara inferior do reator onde os ésteres e o glicerol eram

continuamente separados.

Allen et al. (1945) também patentearam um processo contínuo por meio do qual 224

partes/min de óleo de coco refinado e 96 partes/min de etanol, contendo 0,75% de

NaOH, eram homogeneizados e em seguida pré-aquecidos em uma serpentina e

alimentados a um reator, onde eram mantidos por cerca de dez minutos a 100°C. A

mistura passava por um pós-aquecedor para elevar a temperatura a 110°C, para em

seguida ser enviada a uma coluna de recheio para separação do etanol vapor. O

glicerol era removido em uma camada inferior, sendo a camada de éster lavada e

seca a vácuo.

Antolín et al. (2002) estudaram a transesterificação de óleo de girassol com metanol

utilizando hidróxido de potássio (KOH) como catalisador. Vinte testes foram

conduzidos para determinar as condições operacionais que maximizassem o

81

rendimento e cumprissem as especificações exigidas pela pré-legislação européia

para o biodiesel, relativas a mono, di e triglicerídeo, metanol, glicerol livre e teor de

ácidos graxos, sendo estudadas as seguintes variáveis:

• quantidade de catalisador: concentrações de hidróxido de potássio (KOH)

foram 0,28% e 0,55% relativas à quantidade de óleo a ser transesterificada;

• quantidade de metanol: usadas duas e três vezes a quantidade

estequiométrica;

• temperatura de reação: escolhidos os níveis 60°C e 70°C;

• lavagem: adotadas três alternativas, ausência de lavagem, lavagem com

solução 5% g/g de ácido fosfórico (H3PO4) ou lavagem com água pura.

Primeiramente a reação de transesterificação foi realizada em um reator de batelada

com agitação constante e temperatura controlada. A segunda etapa consistiu da

purificação dos metil ésteres, que incluíam a separação da glicerina, a lavagem de

ésteres e a eliminação de água e metanol em um destilador a vácuo. Os testes

foram realizados aleatoriamente com duas réplicas. Em seguida as amostras foram

analisadas usando técnicas cromatográficas para determinar teores de mono, di e

triglicerídeo, metanol e glicerol livre. Adicionalmente, foram medidos refração e valor

ácido, assim como o rendimento global do processo.

O estudo concluiu que a melhor combinação de fatores foi aquela com as seguintes

condições: três vezes a quantidade estequiométrica de metanol; 0,28% g/g de

concentração de hidróxido de potássio (KOH) relativa à quantidade inicial de óleo;

temperatura de reação em 70°C e duas lavagens, uma com água levemente ácida

pela adição de ácido fosfórico e a outra com água pura.

Demirbaş (2003) descreve um método de transesterificação no qual o catalisador é

dissolvido em metanol por agitação vigorosa em um pequeno reator. O óleo é

previamente transferido para o reator, e em seguida, a mistura catalisador:álcool é

adicionada ao óleo. A mistura resultante é agitada vigorosamente por duas horas a

uma temperatura de cerca de 65°C à pressão atmosfér ica. Uma reação de

transesterificação bem sucedida produz duas fases líquidas: éster e glicerina bruta.

Num processo em batelada, após dez minutos de repouso já poderá ser observada

uma separação de fases, e a glicerina bruta, por ser mais densa, sedimentará no

82

fundo do reator após repouso, que poderá durar duas até vinte horas para uma

separação completa, quando será finalmente drenada.

A fase superior, que contém os alquil ésteres, deverá sofrer uma lavagem com água,

a qual será adicionada a uma taxa de 5,5% por volume, com o propósito de remover

o teor de glicerina dissolvida. Uma outra agitação deverá ser promovida seguida de

uma nova fase de repouso para permitir uma nova sedimentação da glicerina. A

lavagem dos ésteres é um processo de duas etapas e deverá ser conduzido com

extremo cuidado. Uma solução de lavagem contendo 1 g de ácido tânico por litro de

água é adicionada à fase dos ésteres a uma taxa de 28% por volume de óleo e

suavemente agitada. Em paralelo, ar é cuidadosamente introduzido na camada

aquosa enquanto a agitação simultânea ocorre também suavemente. Esse processo

continua até que a camada de ésteres se torne clara. Após repouso, a solução

aquosa é drenada e água pura é adicionada a 28% por volume de óleo para a

lavagem final.

Num processo contínuo as fases de repouso são otimizadas pelo emprego de

centrífugas (DEMIRBAŞ, 2003).

Gerpen et al. (2004) descrevem um processo típico de transesterificação, no qual

alertam que níveis elevados de água e ácidos graxos livres contidos no óleo a ser

processado poderão provocar problemas como formação de sabão e dificuldade de

separação entre glicerol e ésteres produzidos:

• Inicialmente o catalisador é dissolvido em álcool num agitador ou misturador

padrão;

• A mistura álcool/catalisador é então alimentada a um reator fechado, sendo o

óleo alimentado em seguida. Dessa etapa em diante, recomenda-se que o

sistema seja totalmente fechado para impedir a perda de álcool para a

atmosfera;

• A mistura reacional deverá ser mantida abaixo da temperatura de ebulição do

álcool para acelerar a reação, embora alguns sistemas recomendem que a

reação pode se processar em qualquer ponto, desde a temperatura ambiente

até um máximo de 55°C , por questões de segurança. O tempo de reação

recomendado pode variar de uma a oito horas, sendo que em condições

83

normais a velocidade poderá dobrar a cada incremento de 10°C. Conforme já

citado, um excesso de álcool é usado para assegurar conversão total dos

triglicerídeos a seus respectivos ésteres.

• A fase da glicerina é muito mais densa que a fase do biodiesel e as duas

podem ser separadas por gravidade sendo a glicerina facilmente removida

pelo fundo de um vaso de decantação. Nos processos contínuos, uma

centrífuga é empregada para permitir a separação mais rápida entre as duas

fases.

• Uma vez separadas as fases glicerol e biodiesel, o excesso de álcool em

cada fase é removido em um processo de evaporação por flash ou por

destilação. Em alguns sistemas, o álcool é removido e a mistura é

neutralizada antes que a glicerina e os ésteres tenham sido separados. Em

qualquer dos casos, o álcool é recuperado usando equipamentos de

destilação e, posteriormente, reusado. Deve-se tomar cuidado especial para

assegurar que nenhuma água se acumule na corrente de álcool recuperado.

• O co-produto glicerol contém algum teor de catalisador não reagido,

juntamente com sabões que são neutralizados e enviados à estocagem como

glicerina bruta. Água e álcool são removidos posteriormente, principalmente

pelo uso de evaporação resultando glicerol com pureza de 80 a 88%.

• Uma vez separado do glicerol, o biodiesel em alguns processos é purificado

por meio de lavagem com água morna para remover sabões ou catalisador

residual, em seguida é seco e enviado para estocagem.

O cuidado especial com a presença de água já havia sido reportado desde 1995 por

Fillières et al. que avaliaram a influência de diversas variáveis sobre a

transesterificação de óleo de colza com etanol anidro e etilóxido de sódio como

catalisador. A metodologia se baseou na quantificação de etil ésteres, glicerol,

mono, di e triglicerídeo obtidos na mistura final, empregando-se cromatografia de

alta performance por exclusão de tamanho (high-performance size-exclusion

chromatography – HPSEC). Os melhores resultados para reações em escala de

laboratório foram obtidos a 80°C com razão molar de 6:1 para etanol:óleo de colza,

1% de NaOH por peso de óleo e quinze minutos de agitação vigorosa.

Paralelamente foram conduzidos outros testes substituindo-se o etanol anidro por

etanol hidratado a 95%, mantendo-se inalteradas as outras variáveis. Evidenciou-se

84

o efeito significativo da água sobre o rendimento da reação que caiu de 94-95% no

primeiro caso para não mais que 30% (FILLIÈRES BENJELLOUN-MLAYAH e

DELMAS, 1995).

A empresa W.R.Grace &Co. propõe a substituição das tradicionais etapas de

lavagem e destilação, que ocorrem logo após a separação de glicerina e a remoção

de álcool, por uma etapa de adsorção física onde o biodiesel a ser purificado é

transportado através de um leito de sílica gel TriSyl® evitando-se, segundo

informativo da própria empresa, a geração de efluentes líquidos e promovendo

redução de custos de investimentos.

(INFORMAÇÕES, 2007).

Figura 5: Processo Esquemático de Transesterificaçã o

Fonte: Pinto et al., 2005

Óleos vegetais

OGR

Correção da acidez

TransesterificaçãoÁlcool + KOHou NaOH

Recuperação do álcool

Glicerina Bruta Biodiesel cru

Refino daGlicerina

Glicerina Biodiesel

Refino

85

2.16.5 VARIÁVEIS DO PROCESSO DE TRANSESTERIFICAÇÃO

Freedman, Butterfield e Pryde (1984) reportaram que as variáveis do processo de

transesterificação que impactam mais significativamente o rendimento e a pureza

dos ésteres produzidos incluem razão molar de álcool:óleo, tipo de catalisador (ácido

vs alcalino), temperatura de reação e grau de refinamento do óleo vegetal.

Demirbaş (2003) ratificou essas variáveis e acrescentou as influências da pressão,

do tempo de reação e dos teores de ácidos graxos e água nos óleos.

2.16.5.1 TEMPERATURA DE REAÇÃO

A transesterificação pode ocorrer a diferentes temperaturas, dependendo do tipo de

óleo usado. Freedman, Butterfield e Pryde (1984) estudaram a metanólise de óleo

de soja refinado a 60°C, 45°C e 32°C. Ao ser adicio nado catalisador à solução

mantida à temperatura ambiente (28°C) houve uma ele vação a 32,6°C (em função

do caráter exotérmico da reação) e permaneceu em 32±1°C durante o experimento.

Após 6 minutos, as conversões dos experimentos a 60°C, 45°C e 32°C foram

respectivamente 94%, 87% e 64%, demonstrando a influência da temperatura sobre

a conversão do éster. Entretanto, após 1 hora a produção de éster foi idêntica para

os experimentos a 60°C e 45°C, e apenas levemente m ais baixa para o experimento

a 32°C. Após 4 horas a conversão para o experimento a 32°C excedeu levemente à

dos demais.

2.16.5.2 RAZÃO MOLAR ÁLCOOL:ÓLEO

Uma das mais importantes variáveis que afetam o rendimento de ésteres é a razão

molar de álcool para triglicerídeo. A relação estequiométrica para a

transesterificação requer três moles de álcool para um mol de triglicerídeo para

produzir três moles de alquil éster e um mol de glicerol. Entretanto, transesterificação

é uma reação de equilíbrio na qual um excesso de álcool é requerido para deslocar

a reação para o lado direito. Para atingir-se conversão máxima a éster, é requerida

86

uma razão molar álcool:óleo de 6:1 (MEHER; SAGAR e NAIK, 2006). Uma alta razão

molar álcool:óleo interfere na separação da glicerina porque há um aumento na

solubilidade desta. Quando glicerina permanece na solução, ela ajuda a deslocar o

equilíbrio de volta para a esquerda reduzindo o rendimento de ésteres.

A razão molar está relacionada com o tipo de catalisador usado. Uma reação

catalisada por ácido necessita de uma razão molar 30:1 de ButOH:óleo de soja, ao

passo que uma reação catalisada por base requer apenas uma razão molar de 6:1

para alcançar o mesmo rendimento de éster para um dado tempo de reação

(FREEDMAN; BUTTERFIELD e PRYDE, 1986).

Encinar (2002) estudou a transesterificação de óleo de alcachofra com etanol a

razões molares entre 3:1 e 15:1 concluindo que a conversão do éster aumentou com

o aumento da razão molar até o limite de 12:1, sendo os melhores resultados obtidos

para razões molares entre 9:1 e 12:1. Para razões molares menores que 6:1 a

reação foi incompleta. Para uma razão molar de 15:1 a separação de glicerina é

difícil e o aparente rendimento de ésteres diminui porque uma parte do glicerol

permanece na fase biodiesel. Assim, a razão molar 9:1 parece ser a mais

apropriada.

2.16.5.3 TIPO DE ÁLCOOL

Os álcoois mais frequentemente empregados são os de cadeia curta, tais como

metanol, etanol, propanol e butanol. Esses álcoois apresentam poucas diferenças

com respeito à cinética e rendimento final de ésteres.

A formação de etil ésteres catalisada por base é difícil se comparada à formação de

metil ésteres. A formação indesejável de emulsões estáveis é um grande problema.

Tanto etanol quanto metanol são imiscíveis com triglicerídeo à temperatura

ambiente, razão pela qual a mistura de reação precisa ser agitada mecanicamente

para melhorar a transferência de massa. Geralmente formam-se emulsões no

decorrer da reação. No caso da metanólise essas emulsões rápida e facilmente se

quebram para formar uma camada inferior rica em glicerol e uma camada superior

rica em metil éster. No caso da etanólise, essas emulsões são mais estáveis e

87

complicam a separação e purificação de ésteres (ZHOU; KONAR; BOOCOCOK,

2003). Em parte, essas emulsões são causadas pela formação dos monoglicerídeos

e diglicerídeos intermediários, que possuem grupos hidroxilas polares e cadeias de

hidrocarbonetos não polares. Esses compostos intermediários são fortes agentes

surfactantes. Tanto o hidróxido de sódio quanto o de potássio são solúveis na fase

álcool polar, para a qual os triglicerídeo devem se transferir a fim de reagirem. No

inicio da reação, a cinética é controlada por transferência de massa e não de acordo

com a cinética homogênea esperada. Assim que a concentração desses compostos

intermediários alcança um nível critico, formam-se as emulsões. O fato de o etanol

ser um grupo não polar relativamente maior que o metanol é atribuído como o fator

crítico para a estabilização das emulsões. Entretanto, como as concentrações de

mono e diglicerídeos são muito baixas, as emulsões tornam-se instáveis, logo em

seguida, o que reforça a necessidade para que a reação seja o mais completa

possível de modo a assegurar a redução das concentrações de mono e

diglicerídeos.

Por ser mais barato, o metanol é o álcool mais comumente usado. Entretanto, o

etanol, como solvente de extração, é preferível em relação ao metanol por causa de

seu maior poder de dissolução para óleos, e por isso é também freqüentemente

usado como um álcool adequado para a transesterificação de óleos vegetais (LAGO;

SZPIZ; JABOLONKA, 1985).

Ambientalmente falando, a produção de etil ésteres, por possuir perfil inteiramente

renovável, atrai maior interesse que a de metil ésteres. Além do mais, o átomo de

carbono extra trazido pela molécula de etanol aumenta levemente o poder

energético e o número de cetano do combustível resultante. Outro importante ponto

a ser considerado é que etil ésteres possuem pontos de névoa e fluidez mais baixos

que metil ésteres o que favorece o motor nas partidas a frio.

88

2.16.5.4 TIPO DE CATALISADOR E CONCENTRAÇÃO

A catálise para a transesterificação de triglicerídeo pode ser homogênea ou

heterogênea. Os catalisadores homogêneos usados para a transesterificação de

triglicerídeo podem ser como alcalinos, ácidos, enzimáticos.

2.16.5.4.1 CATÁLISE HOMOGÊNEA ALCALINA

A catálise homogênea alcalina pode ser conduzida, por exemplo, por hidróxido de

sódio (NaOH) ou hidróxido de potássio (KOH), como também pelos correspondentes

carbonatos e alquilóxidos de sódio ou de potássio tais como metóxido de sódio,

propóxido de sódio e butóxido de sódio. Alquilóxidos ou alcóxidos são,

quimicamente, compostos alcalinos que podem ser produzidos a partir da

combinação de sódio metálico e álcool ou a partir de hidróxido de sódio e álcool. A

eletrólise, entretanto, tem sido a alternativa mais econômica para a sua produção,

partindo-se de sais de sódio ou potássio que sofrem uma redução eletroquímica

para, em seguida, reagirem com um álcool primário, etanol ou metanol.

Sturaro (2006) sugere a utilização da solução de metilato de sódio a 30% em

metanol como uma alternativa de catálise interessante para a transesterificação

alcalina de triglicerídeos, recomendando alguns cuidados quanto aos limites de

umidade e ácidos graxos livres presentes no óleo a ser processado: teor de umidade

menor que 0,3% e acidez menor que 1%.

Wright et al., 1944, alertaram para a necessidade de os glicerídeos e o álcool serem

essencialmente anidros na transesterificação catalisada por álcalis, pois a presença

da água promove a modificação da reação para saponificação. A formação de sabão

diminui o rendimento da produção de ésteres e dificulta a separação entre ésteres e

glicerol e a lavagem dos ésteres com água.

Os catalisadores alcalinos são os mais eficientes dentre os quais podem ser citados

hidróxido de sódio, metóxido de sódio, hidróxido de potássio e metóxido de potássio

(MA e HANNA, 1999).

89

Formo (1954) concluiu em suas pesquisas que os alquilóxidos e hidróxidos alcalinos

são os mais eficientes catalisadores de transesterificação quando comparados aos

catalisadores ácidos. A reação ocorre a uma velocidade cerca de 4000 vezes mais

rápida na presença de um catalisador alcalino do que na presença da mesma

quantidade de catalisador ácido.

Em parte pelo maior poder catalítico e em parte pelo fato dos catalisadores alcalinos

serem menos corrosivos para equipamentos industriais, a maioria dos processos de

transesterificação são conduzidos com catalisadores alcalinos (SRIVASTAVA e

PRASAD, 2000).

A concentração de catalisador alcalino na faixa de 0,5 a 1% em peso, resultou em

conversões de óleos vegetais a ésteres na faixa de 94 a 99%. O aumento na

concentração do catalisador não aumenta a conversão significando custo adicional

uma vez que é necessário removê-lo do meio reacional ao final do processo

(FEUGE e GROS, 1949; KRISNANGKURA e SIMAMAHARNNOP, 1992)

Ma et al. (1998) estudaram a metanólise de sebo bovino usando os catalisadores

hidróxido de sódio (NaOH) e metóxido de sódio (NaOCH3). O hidróxido de sódio teve

um desempenho muito mais significativo que o metóxido correspondente. As

atividades máximas dos catalisadores NaOH e NaOCH3 foram alcançadas a

concentrações respectivamente de 0,3 e 0,5 % g/g em relação ao sebo bovino.

NaOCH3 promove a formação de vários subprodutos, principalmente sais de sódio,

que devem ser tratados como resíduos. Esse resultado mais favorável ao hidróxido

de sódio, reportado por Ma et al. (1998), conflita com o obtido por Freedman et al.

(1986) que concluíram que a conversão de éster à razão molar de 6:1 entre

álcool:óleo, para 1% de NaOH e 0,5% de NaOCH3, foi quase a mesma após 60

minutos. O metóxido de sódio, com a metade da concentração do hidróxido, foi mais

eficiente que este, atribuindo-se esse efeito à presença da água que é produzida ao

se misturar NaOH e CH3OH.

Em parte, a discrepância registrada entre os dois estudos pode ser atribuída a

diferenças no sistema de reação usado. Entretanto, NaOH é mais barato e, portanto,

mais comumente utilizado em processos em larga escala.

90

Tomasevic e Marinkovic, (2003) testaram NaOH e KOH como catalisadores em

processos de metanólise alcalina, ambos em concentrações variando entre 0,5 a

1,5%, empregando óleo virgem, bruto ou refinado, e óleo de frituras. Taxas de

conversão satisfatórias foram obtidas utilizando óleo virgem, com 1% de

concentração de hidróxido de sódio ou hidróxido de potássio g/g. Os resultados,

entretanto, mostraram que para óleos de frituras, o tipo de catalisador aplicado

exerce um papel significativo, tendo o hidróxido de potássio a 1% alcançado os

melhores valores de rendimento e viscosidade de ésteres.

Apesar da transesterificação catalítica alcalina se processar mais rapidamente e

promover altos níveis de conversão de triglicerídeo aos seus respectivos alquil

ésteres, exige alguns cuidados: a reação é energeticamente intensiva; a purificação

de glicerol requer cuidado especial; o catalisador, alcalino ou ácido, necessita ser

removido do produto; a água residual alcalina requer tratamento adequado; e os

teores de ácido graxo livre e água interferem no rendimento da reação.

91

2.16.5.4.2 CATÁLISE HOMOGÊNEA ÁCIDA

Uma transesterificação catalisada por ácido é recomendada quando o óleo a ser

processado tem um teor de ácido graxo livre mais elevado e um maior conteúdo de

água. Os ácidos podem ser ácido sulfúrico, ácido fosfórico, ácido clorídrico ou ácido

sulfônico orgânico (FREEDMAN; BUTTERFILED e PRYDE, 1984; FUKUDA,

KONDO e NODA, 2001).

A transesterificação de óleo de soja com metanol, etanol e butanol, usando 1% de

ácido sulfúrico concentrado, não foi satisfatória para razões molares de 6:1 e 20:1

(FREEDMAN; BUTTERFILED e PRYDE, 1984).

Mohamad e Ali, (2002) estudaram a transesterificação de resíduo de óleo vegetal

catalisada por ácido. Eles experimentaram quatro diferentes concentrações de acido

clorídrico (HCl) a 0,5/1,0/1,5/2,25 M em presença de 100% de álcool em excesso. O

resultado foi comparado com acido sulfúrico (H2SO4) 2,25 M tendo sido observada

uma redução na viscosidade. Eles concluíram uma atividade catalítica superior do

H2SO4 em relação ao HCl na faixa de concentração de 1,5 a 2,25 M.

2.16.5.4.3 CATÁLISE HOMOGÊNEA ENZIMÁTICA

Uma lipase “verdadeira” é definida como um carboxil-esterase, capaz de catalisar a

hidrólise e a síntese de acilgliceróis de cadeia longa, tendo como substrato padrão o

trioleoilglicerol.

Quase cem anos atrás o microbiologista C Eijkmann reportou que muitas bactérias

poderiam produzir e secretar lipases. Quando se formou consenso que as lipases

permaneciam enzimaticamentre ativas em solventes orgânicos, pesquisadores

passaram a considerar essas enzimas como ferramentas ideais para a Química

Orgânica. Algumas características tornam as lipases muito interessantes: possuem

excelentes seletividades química, de região e estéreo-seletividade, além de muitas

delas poderem ser produzidas com alto rendimento a partir de fungos e bactérias,

podendo estar prontamente disponíveis em grandes quantidades. Além disso,

92

usualmente elas não requerem co-fatores nem catalisam reações secundárias.

Essas características tornam as lipases o grupo de biocatalisadores mais usados em

Química Orgânica, o que pode ser atestado pelo expressivo número de artigos

originais e revisões que são divulgados a cada ano (JAEGER e EGGERT, 2002).

Vários tipos de álcool (primário, secundário, de cadeia linear ou ramificada) podem

ser empregados na transesterificação catalisada por lipase. Na transesterificação de

óleo de colza com 2-etil-1hexanol foi obtida conversão de ésteres de 97% usando

como catalisador a lipase em pó Candida rugosa (LINKO et al., 1998).

Shimada et. al. (1999) e Watanabe et al. (2000) usaram a lipase Candida Antarctica

(Novozym 435) para a conversão de óleo vegetal a biodiesel pela rota metílica. Os

resultados mostraram conversão incompleta de óleo vegetal, o que foi atribuído à

inativação da enzima. Foi adotada como ação preventiva a adição de metanol numa

etapa intermediária o que resultou conversões de 98%, mesmo após 50 ciclos de

reação.

Samukawa (2000) investigaram o efeito do pré-tratamento de Novozym 435 na

produção de biodiesel. A reação ocorreu muito mais rapidamente quando a lipase foi

pré-incubada em oleato de metila por meia hora e subsequentemente em óleo de

soja por doze horas. Como resultado, o teor de metil éster na mistura reacional

superou 97% dentro de um intervalo de 3,5 horas, pela adição intermediária de 0,33

equivalentes molares de metanol a intervalos de quinze a vinte e cinco minutos.

Fukuda; Kondo e Noda (2001) reportam que catalisadores enzimáticos

(extracelulares ou intracelulares), tais como a lipase, são capazes de catalisar

eficazmente a transesterificação de triglicerídeos em sistemas aquosos ou não

aquosos, podendo minimizar as dificuldades inerentes à catálise ácida ou alcalina

Observa-se que o co-produto glicerol pode ser facilmente recuperado sem a

exigência de nenhum processo complexo. Outra vantagem observada no emprego

da lipase é que os ácidos graxos livres contidos nos óleos e gorduras residuais

podem ser completamente convertidos a alquil ésteres. A grande desvantagem,

entretanto, é o alto custo de produção da lipase que é significativamente superior ao

de um catalisador alcalino, o que a torna menos competitiva economicamente

(FUKUDA; KONDO e NODA, 2001).

93

Watanabe et al., (2002) identificaram a necessidade de degomagem prévia do óleo

vegetal a sofrer metanólise catalisada por lipase. Na etapa de preparação da lipase

imobilizada, usada anteriormente na metanólise de óleo de soja bruto, foi detectada

presença de fosfolipídios nos extratos de clorofórmio:metanol. Os fosfolipídios são

os principais componentes da goma da soja e precisam ser removidos do óleo, uma

vez que são inibidores da metanólise de triglicerídeo. A metanólise enzimática em

três etapas resultou uma conversão de 93,8% de óleo degomado a seus

correspondentes metil ésteres e a lipase pôde ser reusada por vinte e cinco ciclos

sem qualquer perda de atividade.

Du et al., (2004) reportaram que na produção de biodiesel as atividades enzimáticas

foram seriamente influenciadas por acil aceptores tradicionais tais como o metanol, e

a lipase expressou uma atividade pobre durante os experimentos repetidos, o que

eles acreditam ter sido provocado pelo efeito de inativação causado pelo metanol e

o efeito negativo causado pelo co-produto glicerol, absorvido na superfície da lipase

imobilizada. Entretanto, o acetato de metila, um novo aceptor acil, não mostrou

nenhum efeito negativo na atividade enzimática da lipase, a qual pôde ser reusada

repetidamente por cem bateladas sem nenhuma necessidade de tratamento. Essa

melhoria significativa na vida operacional da lipase poderia reduzir drasticamente o

custo desse catalisador. Outra importante observação desses pesquisadores é que

quando o acetato de metila é usado como agente aceptor em lugar do metanol, seria

produzido o triacetilglicerol, que possui um valor comercial muito maior que o

glicerol. O acetato de metila parece um novo aceptor muito promissor para a

produção em larga escala de biodiesel, catalisada por lipase.

Oliveira et al. (2004) conduziram uma alcoólise enzimática de óleo de mamona

empregando uma lipase imobilizada comercial, tendo n-hexano como solvente, em

diferentes condições de operação. O objetivo era identificar as condições

experimentais que maximizassem o rendimento da reação. Para tanto, idealizaram

um planejamento fatorial saturado com dois níveis e quatro variáveis. As variáveis

selecionadas foram temperatura do sistema reacional, concentração de água

adicionada ao meio, concentração de enzima e razão molar óleo:etanol. Os valores

testados para as variáveis selecionadas são listados a seguir:

94

Tabela 11 Conversões obtidas na alcoólise enzimátic a do óleo de mamona

Corrida T

(°C)

[E]

% (p/p)

[H]

% (p/p) Óleo:EtOH

Rendimento %

6 horas

Rendimento %

8 horas

1 35 5 0 1:3 55,40 68,00

2 35 5 10 1:10 11,14 14,00

3 65 20 0 1:3 100,00 99,00

4 65 20 10 1:10 100,00 100,00

5 35 20 10 1:3 25,60 30,60

6 35 20 0 1:10 25,33 33,35

7 65 5 10 1:3 87,00 99,50

8 65 5 0 1:10 33,70 40,00

9 50 12,5 5 1:6,5 99,50 90,00

[E] = concentração de enzima

[H] = concentração de água adicionada ao meio

Fonte: OLIVEIRA et al., 2004

O rendimento do processo foi obtido pela determinação da concentração de glicerol

formado durante a reação, assumindo a premissa de que o rendimento de glicerol

obtido a partir do óleo de mamona, tendo como base sua composição química, é de

10% (g/g) sobre a massa de óleo utilizada. Para assegurar que esse resultado está

indiretamente relacionado à conversão de ésteres, o teor de ácidos graxos livres no

óleo e no produto de reação foi periodicamente monitorado, não se verificando

variação durante o processo, o que caracteriza que a reação de hidrolise não foi

favorecida em nenhuma das combinações experimentais.

Ainda que o processo de catálise enzimática não esteja comercialmente

desenvolvido, vários estudos revelam que as enzimas representam uma grande

promessa como catalisadores de transesterificação. Esses estudos focam

principalmente a otimização do processo para adaptações das aplicações industriais:

temperatura de reação, razão molar álcool:óleo; tipo de microorganismo que gera a

enzima, quantidade de enzima, tempo de reação, etc. Estudos vêm demonstrando a

alternativa de reuso do catalisador, mas o grande obstáculo ainda é o tempo de

95

reação, relativamente longo se comparado ao processo catalisado por álcali (PINTO,

2005).

2.16.6 TRANSESTERIFICAÇÃO IN SITU

Na transesterificação in situ o material que contém o óleo a ser convertido interage

diretamente com o álcool, eliminando-se o processo prévio de extração do óleo que

ocorre na transesterificação convencional. Na reação in situ, extração e

transesterificação ocorrem dentro do mesmo processo, com o álcool agindo tanto

como solvente de extração como reagente de esterificação.

Harrington e D’arcy-Evans (1985) investigaram a transesterificação in situ do óleo de

girassol comparando com o processo que utiliza óleo pré-extraído, tendo o hexano

como solvente de extração. O emprego da transesterificação in situ foi motivado

pelas seguintes considerações: i) ao submeter a semente inteira ao processo de

esterificação, todo o teor de lipídio da própria casca seria somado àquele contido na

semente contribuindo para elevar o rendimento global dos ésteres; ii) as perdas de

lipídios devidas à separação imperfeita casca-grão poderia ser evitada; iii) os lipídios

esterificados, tendo parâmetros de viscosidade e solubilidade diferentes daqueles

dos triglicerídeos intactos, promoveria uma recuperação mais fácil a partir do resíduo

sólido e talvez até permitisse o uso de um solvente de extração mais barato que o

hexano; iv) poderia ocorrer algum melhoramento na digestibilidade da torta de

carboidratos como efeito da ação do catalisador de transesterificação ácido ou

alcalino, embora o valor nutricional global pudesse diminuir devido à presença de

material da casca, a qual possui baixo valor nutricional (LUSAS, 1982).

Os resultados obtidos indicaram que cada 100g de sementes de girassol secas e

intactas (com cascas) renderam cerca de 28g de metil ésteres no processo usando

óleo pré-extraído, ao passo que o processo in situ rendeu cerca de 40g de metil

ésteres. Parece mais provável que o melhor rendimento no processo in situ é

predominantemente devido à melhor acessibilidade do óleo na semente, o qual por

seu turno é uma conseqüência do meio reacional ácido. Parece menos provável que

o maior rendimento seja devido à suposta maior facilidade de extração do produto

96

esterificado em relação aos triglicerídeo intactos (HARRINGTON e D’ARCY-EVANS,

1985).

Marinkovic e Tomasevic (1998) testaram a transesterificação in situ de óleo de

girassol e também obtiveram melhores rendimentos que a transesterificação

convencional. Sementes intactas de girassol com teor de água de 5,5% 55,6% de

óleo em base seca, foram previamente maceradas em um homogeneizador de

laboratório em presença de metanol. A lama resultante foi alimentada a um frasco de

reação onde ocorreu a alcoólise. Os testes foram conduzidos sob condições de

temperatura de reação variando de 30°C a 65°C, usan do ácido sulfúrico concentrado

como catalisador e alta razão molar óleo:álcool, de 1:100 até 1:300. A composição e

a propriedade dos ésteres resultantes da transesterificação in situ foram

essencialmente as mesmas que aquelas da transesterificação convencional com

óleo pré-extraído.

A transesterificação in situ, catalisada por ácido com metanol em ebulição, teve

como resultado um produto cru de composição similar àquela da reação

convencional com óleo pré-extraído (FREEDMAN; BUTTERFIELD e PRYDE, 1986).

A Petrobras detém pelo menos duas patentes referentes a um processo para

produção de biodiesel usando sementes de oleaginosas ricas em triglicerídeos: uma

patente brasileira depositada em novembro de 2001 (PI0105888-6) e uma

americana datada de setembro de 2006 (US 7 112 229 B2). Esse processo, que cita

preferencialmente sementes de mamona, inclui uma reação de transesterificação

onde as sementes reagem diretamente com álcool etílico anidro na presença de um

catalisador alcalino. Os etil ésteres resultantes são então separados por decantação

e netralizados, sendo posteriormente usados como combustível para motores diesel.

As frações sólidas resultantes do processo são sugeridas serem usadas como

fertilizante, ração animal e como matéria prima para a produção de álcool etílico

(PETROBRAS, 2006).

97

2.16.7 TRANSESTERIFICAÇÃO EM CONDIÇÕES SUPERCRÍTICA S

O processo de transesterificação com emprego de catalisador tem uma longa

historia de desenvolvimento e o biodiesel produzido por esse método vem sendo

comercializado em vários paises do mundo. Entretanto, existem pelo menos dois

problemas associados ao uso do catalisador: a natureza de duas fases da mistura

óleo:álcool requer agitação vigorosa para fazer a reação acontecer. Boocock et al.

(1998) reportaram que o uso de um éter simples como o tetrahidrofurano pode

converter essa natureza de duas fases para apenas uma fase e que metil ésteres

podem ser produzidos em menos que 15 minutos dependendo da concentração do

catalisador.

Saka e Kusdiana (2001) investigaram a reação de transesterificação de óleo de

colza sem nenhum catalisador e os resultados são listados na Tabela 12. O

experimento foi realizado num reator tipo batelada, pré-aquecido a 350-400°C e a

pressão de 45-65 MPa, com uma razão molar de 1:42 de óleo de colza:metanol. A

uma temperatura de pré-aquecimento de 350°C foram n ecessários 240 s de

tratamento supercrítico com metanol para a conversão do óleo de colza a metil

ésteres e, embora os produtos obtidos fossem basicamente os mesmos do método

comum com catalisador alcalino, o rendimento alcançado em condições

supercríticas foi maior que do método convencional. Além disso, a ausência de

catalisador favoreceu o tempo de reação mais curto e um procedimento mais

simples de purificação de produtos.

Tabela 12 Transesterificação metílica convencional versus supercrítica

Parâmetros Método convencional Método com metanol supercrítico

Tempo de reação 1 a 8 horas 120 a 240 s Condições de reação 0,1 MPa, 30 a 65°C >8,09 MPa; > 239,4°C Catalisador Ácido ou alcalino Nenhum Ácidos graxos livres Produtos saponificados Metil ésteres Rendimento Menor Maior Substâncias a remover Metanol, catalisador e

produtos saponificados Metanol

Complexidade do Processo Maior Menor Fonte: SAKA e KUSDIANA, 2001

98

Jaeger e Eggert (2002) reportaram que o dióxido de carbono supercrítico (scCO2),

com seu caráter tipo líquido, demonstrou ser um solvente promissor para reações

catalisadas por lipase. A remoção fácil e completa desse solvente oferece vantagens

significativas no processo, incluindo purificação dos produtos. Lipases de

Rhizomucor miehei (Lipozyme®) e Candida antarctica (comercialmente chamada

Novozym 435) demonstraram uma performance catalítica ideal com relação à

atividade e estabilidade quando testadas em CO2 supercrítico como solvente de

reação.

Madras et al. (2004) não confirmaram essa boa performance do CO2 supercrítico.

Eles investigaram a transesterificação de óleo de girassol em metanol supercrítico e

etanol supercrítico a várias temperaturas entre 200 e 400°C, mantendo constantes a

pressão em 200 bar e a razão molar óleo:álcool em 1:40. Paralelamente, foi

investigada a transesterificação com dióxido de carbono (CO2) supercrítico

catalisada com enzima Candida Antarctica (Novozym 435). Enquanto altas taxas de

conversão foram obtidas quando a reação foi conduzida em metanol e etanol

supercríticos (80 a 100%), o mesmo não ocorreu com a reação catalisada pela

enzima em CO2 supercrítico (27 a 30%).

2.17 PROPRIEDADES E ESPECIFICAÇÕES DO BIODIESEL

Os parâmetros que definem a qualidade do biodiesel podem ser divididos em dois

grupos: um grupo contém os parâmetros gerais, que são também aplicáveis aos

combustíveis minerais, e o outro grupo descreve especificamente a composição

química e a pureza dos alquil ésteres de ácidos graxos (MITTELBACH, 1996).

Entre os parâmetros gerais para o biodiesel, a viscosidade controla as

características de injeção do bico injetor. A viscosidade de metil ésteres de ácidos

graxos pode assumir valores muito altos e desse modo é importante controlá-la

dentro de um nível aceitável para evitar impactos negativos no desempenho do

sistema de injeção de combustível.

O ponto de fulgor de um combustível é a temperatura na qual ele inflamará quando

exposto à chama ou centelha. O ponto de fulgor do biodiesel, sendo mais elevado

99

que o do diesel mineral, o torna mais seguro em termos de estocagem, manuseio e

transporte.

O ponto de entupimento do filtro a frio (Cold filter plugging point - CFPP) de um

combustível reflete seu desempenho num clima frio. Estando a baixas temperaturas

de operação, o combustível pode se tornar mais espesso, não fluindo

adequadamente, podendo afetar o desempenho de tubulações, bomba e bicos de

combustível. CFPP define o limite de filtrabilidade dos combustíveis, tendo uma

correlação melhor que o ponto de névoa para ambos biodiesel e diesel fóssil.

Normalmente, especifica-se ou o ponto de escoamento ou CFPP. Ponto de

escoamento é a mais baixa temperatura na qual um fluido pode escoar. As

especificações italiana e francesa para o biodiesel definem o ponto de escoamento

ao passo que outras definem o CFPP.

O número de cetano, um dos parâmetros de qualidade mais importantes para

combustíveis do tipo diesel, é um número adimensional que está relacionado ao

tempo de atraso de ignição. É conceitualmente similar ao número de octano, usado

para a gasolina, e mede a facilidade com que ocorre a ignição e a qualidade da

combustão. A substância padrão usada como referência de alta cetanagem é o n-

hexadecano (C16H34, trivialmente chamado cetano, que dá seu nome à escala de

cetanagem) ao qual é atribuído o valor CN=100; a referência de baixa cetanagem é

dada pelo seu isômero, o 2,2,4,4,6,8,8-heptametilnonano (HMN, também C16H34)

ao qual é atribuído o valor CN=15. Quanto maior o número de cetano, melhor ele se

encontra em suas propriedades de ignição. O número de cetano é um parâmetro de

qualidade também para o biodiesel. Nos Estados Unidos, por exemplo, é requerido

um valor mínimo de 47, de acordo com ASTM D6751, enquanto que na Alemanha o

mínimo recomendado é 49, de acordo com a norma DIN V 51606. Uma vez que a

escala de cetanagem é arbitrada, são identificadas algumas vezes substâncias com

CN>100 ou CN<15 (KNOTHE; MATHEAUS; RAYAN, 2003).

O número de cetano afeta vários parâmetros de desempenho do motor como:

combustão, estabilidade, dirigibilidade, fumaça branca, ruído e emissões de

monóxido de carbono (CO) e hidrocarbonetos (HC) não queimados.

100

Entre os mono alquil ésteres de ácidos graxos, componentes com maior grau de

insaturação tais como os ésteres de ácidos linoleico (9Z, 12Z-octadecadienóico;

C18:2) e linolênico (9Z, 12Z, 15Z-octadecatrienóico; C18:3), promovem um maior

atraso na ignição, com baixos números de cetano e subseqüente combustão mais

pobre. Altos números de cetano foram observados para ésteres de ácidos graxos

saturados tais como ácidos palmítico (hexadecanóico; C16:0) e esteárico

(octadecanóico; C16:0). Geralmente o número de cetano aumenta com o aumento

do comprimento da cadeia. Conseqüentemente, os números de cetano de ácidos

mono-insaturados como o oleico (9Z-octadecenóico; C18:1) foram reportados

estarem em uma faixa intermediária (KNOTHE; MATHEAUS e RAYAN, 2003).

Ésteres produzidos a partir de ácidos graxos de cadeia longa ou ácidos graxos

saturados têm pontos de névoa mais elevados e podem promover entupimento de

bicos injetores. Ésteres preparados com ácido graxo muito insaturado sofrem

oxidação mais facilmente. De modo geral, o número de cetano, o calor de

combustão, o ponto de fusão e a viscosidade de compostos graxos in natura

aumentam com o comprimento da cadeia e diminuem com o aumento da

insaturação (PINTO et al., 2005)

O número de neutralização é especificado para garantir as propriedades adequadas

de envelhecimento do combustível e/ou um bom processo de manufatura. Ele reflete

a presença de ácidos graxos livres ou ácidos usados na manufatura do biodiesel e

também a degradação do biodiesel devido aos efeitos térmicos.

Resíduo de carbono no combustível é indicativo de tendências de deposição de

carbono. Esse item é mais importante para o biodiesel que para o diesel fóssil, pois

está altamente correlacionado com a presença de ácidos graxos livres, glicerídeos,

sabões, polímeros, ácidos graxos insaturados mais pesados e impurezas

inorgânicas.

A Tabela 13 apresenta um comparativo entre as legislações européia, americana e

brasileira onde nesta pode ser verificado que há vários itens ainda não definidos,

apenas com a recomendação “Anotar”. Essa maior flexibilidade na nossa legislação

sugere que se trata de uma regulamentação preliminar com expectativa de sofrer

atualizações. O enquadramento do biodiesel nos parâmetros definidos nesses

101

documentos confere a esse combustível a adequação para seu uso em motores do

ciclo diesel. Por exemplo: o teor de glicerina total avalia o grau de pureza do

biodiesel; os valores de densidade e viscosidade definem dados físico-químicos do

produto; o índice de acidez avalia a presença de ácidos graxos livres; o ponto de

fulgor avalia as condições seguras de armazenagem e transporte do biodiesel, e

assim sucessivamente.

Tabela 13 Comparativo entre as Normas de Qualidade do biodiesel

LIMITES EUROPA EUA BRASIL PROPRIEDADES UNIDADES EN14214 ASTM

D6751 ANP42/04

Teor de ester % (g/g) 96,5 n.e. (3) Anotar Densidade @ 15°C kg/m³ 860-900 n.e. (3) Anotar Viscosidade @ 40°C mm²/s 3,5-5,0 1,9-6,0 Anotar Ponto de Fulgor (min.) °C 120 130 100 Teor de Enxofre (máx.) mg/kg 10 15 Anotar Resíduo de carbono (em 10% de resíduo de destilação) (máx.)

% (g/g) 0,3 0,05 0,10

N° de cetano 51 47 Anotar Teor de cinzas sulfatadas (máx.) % (g/g) 0,02 0,02 0,02 Teor de água (máx.) mg/kg 500 500 500 Contaminação total (máx.) mg/kg 24 n.e. (3 n.e. (3 Corrosividade ao cobre (3 h @ 50°C)

categoria Classe 1 Classe 3 Classe 1

Estabilidade à oxidação, 110°C (mín.) Horas 6 n.e. (3) 6 Índice de acidez (máx.) mg KOH/g 0,5 0,8 0,8 Ponto de entupimento de filtro a frio (máx.)

°C n.e. (3) n.e. (3) (1)

Índice de iodo (máx.) 120 n.e. (3) Anotar Éster metílico de ácido linoleico (máx.) % (g/g) 12 n.e. (3) n.e. (3) Éster metílico poli-insaturado (máx.) % (g/g) 1 n.e. (3) n.e. (3) Teor de metanol ou etanol (máx.) % (g/g) 0,2 n.e. (3) 0,5 Teor de monoglicerídeos (máx.) % (g/g) 0,8 n.e. (3) Anotar Teor de diglicerídeos (máx.) % (g/g) 0,2 n.e. (3) Anotar Teor de triglicerídeos (máx.) % (g/g) 0,2 n.e. (3) Anotar Glicerina livre (máx.) % (g/g) 0,02 0,02 0,02 Glicerina total (máx.) % (g/g) 0,25 0,24 0,38 Metais alcalinos I (Na + K) (máx.) mg/kg 5 n.e. (3) 10 Metais alcalinos II (Ca + Mg) (máx.) mg/kg 5 n.e. (3) Anotar Teor de fósforo (máx.) mg/kg 10 10 Anotar Temperatura de destilação, T90 (máx.) °C n.e. (3) 3 60 360 Aparência n.e. (3) n.e. (3) LII (2) (1) Consultar Tabela II da PORTARIA ANP Nº 310 (ANP, 2001)

(2) LII – Límpido e isento de impurezas

(3) n.e. - não especificado

Fontes: BASF, 2006; BIODIESEL, 2007; BRASIL, 2004.

102

2.18 LIMITAÇÕES TÉCNICAS PARA O USO DO BIODIESEL

Apesar do consenso mundial quanto à necessidade de desenvolvimento de

combustíveis alternativos, alguns tópicos precisam ser melhor estudados,

objetivando a consolidação do biodiesel como combustível.

Um dos principais problemas associados com o uso do biodiesel é relacionado às

suas propriedades de fluidez a baixa temperatura, indicadas pelos valores

relativamente altos de ponto de névoa (CP - cloud point) e ponto de fluidez (PP -

pour point). O ponto de névoa, que usualmente ocorre a uma temperatura mais alta

que o ponto de fluidez, é a temperatura na qual um líquido torna-se nebuloso, turvo

devido à formação de cristais e à solidificação de compostos saturados. Sólidos e

cristais rapidamente crescem e se aglomeram, obstruindo tubulações e filtros, e

causando problemas operacionais. Com a diminuição da temperatura, mais sólidos

se formam e a substância se aproxima do ponto de fluidez, a temperatura mais baixa

na qual ela ainda fluirá. Compostos graxos saturados têm pontos de fusão

significativamente mais altos que os insaturados e em uma mistura eles cristalizam a

temperaturas mais altas que os insaturados. Assim, biodiesel e suas misturas com

quantidades significativas de compostos saturados apresentarão pontos de névoa e

fluidez mais altos (KNOTHE, 2005).

Os vários tipos de biodiesel têm uma forte tendência a cristalizar-se a temperaturas

abaixo de 0°C separando-se da fase diesel. Essa cri stalização de metil e etil ésteres

de óleos vegetais se constitui num impedimento para seu uso em regiões com

inverno rigoroso uma vez que esses cristais poderão entupir filtros e tubulações do

combustível, causando problemas no bombeamento e operação do motor.

Uma alternativa para melhorar as propriedades de escoamento a frio dos ésteres de

óleos vegetais seria a adoção de ésteres de cadeia ramificada, tais como isopropil

ésteres. Isopropil ésteres de óleo de soja cristalizam-se entre 7 a 11°C abaixo da

temperatura esperada para o metil éster correspondente (LEE et al., 1995).

Outra alternativa seria remover os ésteres saturados de alto ponto de fusão

induzindo a cristalização com resfriamento, num processo conhecido como

103

invernização7. Esse processo consiste em diminuir o ponto de névoa de ésteres

equilibrando-o em uma temperatura intermediaria, abaixo de seu ponto de névoa e

acima de seu ponto de fluidez, por um prolongado período de tempo, para em

seguida filtrar as partículas sólidas (LEE; JOHNSON; HAMMONDl, 1995; DUNN;

SHOCKLEY; BAGBY, 1996). A invernização pode reduzir o ponto de névoa dos

ésteres derivados do óleo de soja para -16°C.

Dunn; Shockley; Agby (1996) estudaram o efeito dos aditivos de escoamento a frio

sobre ponto de névoa, ponto de fluidez, ponto de entupimento de filtro a frio (cold-

filter plugging point - CFPP) e teste de fluxo a baixa temperatura (low temperature

flow test - LTFT). O tratamento com aditivo melhora significativamente o ponto de

fluidez de misturas diesel/metil éster. Entretanto, aditivos não afetam

significativamente o ponto de névoa. Ambos, CFPP e LTFT, são funções

aproximadamente lineares do ponto de névoa. Os aditivos reduzem o LTFT de metil

ésteres puros por 5 a 6°C.

Os problemas observados após a estocagem por longo período são devidos

principalmente à degradação hidrolítica e oxidativa.

A degradação hidrolítica ocorre quando a água está presente no meio reacional,

onde a mesma promove a hidrólise de alquil ésteres. Esse tipo de degradação pode

ser influenciado tanto pelo teor de ácido do biodiesel, que tem um efeito catalítico

sobre a reação de hidrólise, quanto pela quantidade de água efetivamente presente

no meio reacional, quer seja dissolvida, emulsionada ou depositada no fundo do

vaso. De um modo geral, um biodiesel com alto teor de produtos da reação

intermediária, como mono- e diglicerídeos, terão maior tendência a absorver água

que um biodiesel constituído principalmente de alquil ésteres. Logo, a solubilidade

ou a emulsificabilidade da água no biodiesel dependem significativamente da

qualidade do produto final.

A degradação oxidativa ocorre pela exposição do biodiesel ao ar durante a

estocagem. Os produtos resultantes dessa oxidação secundária afetam

desfavoravelmente algumas propriedades do biodiesel tais como viscosidade

cinemática, valor de ácido e valor de peróxido. Embora valor de peróxido não seja

7 Da palavra original em inglês: winterization

104

um item de especificação do biodiesel (Vide Tabela 13), ele afeta o número de

cetano, que é um importante parâmetro de especificação. Os fatores conhecidos que

afetam a degradação oxidativa, além da presença de ar, são: temperatura,

exposição à luz, existência de duplas ligações na molécula e presença de agentes

pró-oxidantes como hidroperóxidos e alguns metais (DUNN, 2005).

Bondioli et al. (1995) estudaram o comportamento do metil éster de óleo de colza

sob condições controladas de estocagem, simulando condições reais. Foi analisado

o comportamento a temperaturas de 20 e 40°C na pres ença de diferentes

quantidades de água em recipientes de ferro e vidro e os valores de ácido e

peróxido foram registrados por um período de 180 dias. Eles reportaram que a

trajetória de oxidação de metil éster de óleo de colza é fortemente influenciada pelas

características do recipiente e pela temperatura de estocagem.

Leung; Koo e Guo (2006) estudaram doze amostras de metil ésteres de óleo de

colza, durante um período de estocagem de cinqüenta e duas semanas. Três grupos

de quatro amostras foram submetidos cada um a três diferentes temperaturas de

estocagem: 4°C, 20°C e 40°C. As amostras estocadas à temperatura de 20°C

tiveram a pureza reduzida de 99,7% para 92,5%, após cinqüenta e duas semanas.

Eles reportaram que a combinação da alta temperatura de estocagem (40°C) com a

exposição do biodiesel ao ar aumentou significativamente a taxa de degradação do

biodiesel. Entretanto, a temperatura ou a exposição ao ar, sozinhos, tiveram pouco

efeito sobre aquela taxa. Eles concluíram também que o teor de água potencializa a

degradação do biodiesel devido à hidrolise, mas esse efeito é muito menos

significativo que o provocado pela combinação de alta temperatura e exposição ao

ar.

2.19 DESTINAÇÃO DOS CO-PRODUTOS

O volume e a destinação dos co-produtos da transesterificação dos óleos são dois

pontos que merecem atenção prioritária, de modo a permitir a otimização econômica

da cadeia produtiva. Pesquisas vêm sendo conduzidas no sentido de alargar as

opções de destinação desses co-produtos, dada a expectativa de um aumento

significativo do volume disponível.

105

2.19.1 GLICERINA Glicerina ou glicerol pode ser produzido por via química ou fermentativa, tendo uma

centena de usos, principalmente na indústria química. Inicialmente era produzido por

síntese microbiana, processo que predominou até que a síntese química, como

subproduto do propileno, avançou a partir da década de 50. A demanda por glicerol

cresce mais nos mercados de uso pessoal e higiene dental e de alimentos, onde por

exigir-se maior pureza, ele obtém maior valor. Atualmente, uma grande fonte de

glicerol na Europa e nos Estados Unidos é a proveniente do biodiesel.

• Drogas: atualmente é um dos ingredientes mais utilizados na indústria

farmacêutica na composição de cápsulas, supositórios, anestésicos, xaropes

e emolientes para cremes e pomadas, antibióticos e anti-sépticos;

• Cosméticos: por ser não tóxico, não irritante, sem cheiro e sabor, o glicerol

tem sido aplicado como emoliente e umectante em pastas de dente, cremes

de pele, loções pós-barba, desodorantes, batons e maquiagens;

• Tabaco: tem sido empregado no processamento de tabaco a fim de tornar as

fibras do fumo mais resistentes e evitar quebras, sendo usado também na

composição dos filtros de cigarros e como veiculo de aromas;

• Têxteis: usado para amaciar e aumentar a flexibilidade das fibras têxteis;

• Outros: usado como lubrificante de maquinas processadoras de alimentos,

fabricação de tintas e resinas, fabricação de dinamite, etc.

• Alimentos e bebidas: pode ser usado como umectante e para conservar

bebidas e alimentos tais como refrigerantes, balas, bolos, pastas de queijo e

carne, ração animal seca, cujo mercado atualmente é atendido principalmente

por sorbitol, mais barato que o glicerol. Sorbitol, também conhecido por

glucitol, é um substituto do açúcar, usado freqüentemente em alimentos

dietéticos. É possível que com a queda dos preços promovida pelo esperado

aumento de produção, com o biodiesel, o glicerol venha a ocupar parte do

mercado hoje em poder do sorbitol (CADERNOS NAE, 2005).

106

Figura 6: Estrutura Química do Sorbitol

Praveen et al. (1996) descreveram um método de utilização do glicerol que poderá

ser utilizado como uma das alternativas para absorver a iminente elevação da oferta

desse valoroso insumo. Trata-se da glicerólise, uma transesterificação do glicerol

com triglicerídeos para a produção de −α monoglicerídeos, os principais produtos da

reação, além de diglicerídeos e −β monoglicerídeos, co-produtos resultantes de toda

reação de glicerólise.

Na glicerólise convencional, o reator é inicialmente carregado com triglicerídeos,

cerca de 25-40% de seu peso com glicerol e 0,05-0,20% de um catalisador alcalino,

hidróxido de sódio ou de potássio anidros. Em seguida, a carga é rapidamente

aquecida, até um máximo de 250°C sob pressão reduzi da, para a remoção de ar e

prevenção de oxidação, sendo a reação completada em 15 minutos. A mistura

reacional é rapidamente resfriada para minimizar a reversão dos mono-glicerídeos. A

recuperação dos co-produtos vem sendo uma preocupação na viabilidade

econômica do processo de biodiesel. A fase inferior da transesterificação de óleos

vegetais contém cerca de 75% de glicerol, com pequenas quantidades de ésteres,

álcool e impurezas vindas do óleo vegetal. Uma prática convencional é recuperar o

glicerol por destilação. Uma alternativa para a recuperação do glicerol é convertê-lo,

ainda no seu estado bruto, a seus derivados mono- e di-ésteres usando

triglicerídeos de óleos vegetais, num processo chamado glicerólise. As impurezas do

glicerol são praticamente as mesmas presentes no óleo original e não interferem

107

com as reações envolvidas. Há muitas aplicações comerciais para os produtos

mono- e diglicerídeos, Ambos são comestíveis e encontram vasto uso como

ingredientes na indústria alimentícia. Misturas de mono-, di- e triglicerídeos são

produzidas em grandes quantidades para uso em gorduras super-glicerinadas. São

também importantes agentes modificadores na produção de resinas alquídicas,

detergentes e outros agentes surfactantes. Os monoglicerídeos são também usados

na preparação de cosméticos, pigmentos, ceras para pisos, borrachas sintéticas,

revestimentos, têxteis, etc.

2.19.2 A TORTA

A torta é um importante co-produto da cadeia produtiva do biodiesel podendo ser

utilizada como adubo orgânico de boa qualidade, pois é um composto ricamente

nitrogenado, eficiente na recuperação de terras esgotadas, embora possa alcançar

valor significativamente maior se utilizada como ração animal (após ser moída e

obtido o farelo). O uso da torta da mamona como ração animal requer tratamento

prévio para eliminação da ricina e outros complexos alergênicos, mas seu valor

como adubo orgânico é inquestionável ao atuar como controlador de nematódeos8.

Considerando que o principal componente da torta é o amido, este poderá ser

hidrolisado para produzir etanol. Neste caso, sobra um resíduo rico em proteína e

sem toxidade que pode ser usado como ração animal.

A conversão energética de biomassa é uma das alternativas viáveis de utilização

desse material. A introdução de novas tecnologias encerra uma grande oportunidade

de fortalecimento da cadeia produtiva do biodiesel, pois a partir de uma mesma fonte

primária (oleaginosas vegetais), será possível a produção de combustíveis sólidos

(biomassa), líquidos (alquil ésteres) e gasosos (biogás) para finalidades térmicas ou

elétricas.

Carioca e Arora (1984) descrevem os diferentes processos através dos quais podem

ocorrer essa conversão:

8 Grupo de espécies parasitas de plantas e animais;

108

a) combustão ou queima direta → transformação da energia química do

combustível em calor, que acontece por meio das reações que ocorrem

entre os elementos constituintes do combustível e o oxigênio do ar, o

qual deverá estar acima da quantidade estequiométrica;

b) gaseificação → aquecimento da biomassa em presença de oxidante (ar

ou O2) em quantidades menores que a estequiométrica, obtendo-se

uma mistura gasosa combustível composta de CO, H2, CH4 e outros. A

partir dessa mistura, por uso de catalisadores adequados, pode se

obter adicionalmente metano, metanol, hidrogênio e amônia.

c) pirólise → aquecimento da biomassa na ausência de oxidante (ar ou

O2); obtém-se como resultado um gás combustível, produtos líquidos

(alcatrão e ácido piro-lenhoso) e uma substância carbonosa que pode

ser convertida a carvão ativado. É o processo usado na fabricação de

carvão vegetal;

d) liquefação → processo de produção de combustíveis líquidos por meio

da reação da biomassa triturada em um meio líquido com monóxido de

carbono (CO) em presença de um catalisador alcalino; em condições

de pressão = 150-250 atm; temperatura = 300-350°C e tempo = 10-30

min obtém-se um liquido viscoso que pode ser usado como

combustível em fornos

e) fermentação → conversão anaeróbia de compostos orgânicos pela

ação de micro-organismos, em grande parte dos casos da levedura

Saccharomyces cerevisiae; no caso da fermentação alcoólica, o

substrato orgânico é a sacarose e os produtos são fundamentalmente

o etanol e o gás carbônico;

f) biodigestão → conversão anaeróbia de compostos orgânicos pela

ação de micro organismos; para a produção de biogás (metano e gás

carbônico) faz-se uso de microorganismos acidogênicos e

metanogênicos.

Sánchez (1994) avaliou a viabilidade de conversão da biomassa, ou de qualquer

combustível sólido, em um gás energético, através de sua oxidação parcial, a

temperaturas elevadas. Essa conversão, que pode ser realizada em vários tipos de

reatores de leito fixo ou fluidizado, permite a destinação do gás produzido para

109

muitas aplicações práticas, como a combustão em motores ou a alimentação a

turbinas para geração de potência mecânica, como elemento para geração direta de

calor, ou ainda como matéria-prima para a síntese química da amônia e do metano.

2.20 AS OLEAGINOSAS BRASILEIRAS

A Bahia se destaca na região Nordeste devido à sua participação de 4,9% no

Produto Interno Bruto do país, em 2004, resultado que lhe garante a ocupação da

sexta posição no ranking nacional (INSTITUTO, 2004c).

A vocação agrícola da Bahia pode ser verificada na Tabela 15, Censo Demográfico

Nacional de 2000, que apresenta o estado com a maior população rural do país,

4 297 902 habitantes, o que representa 32,9% do total. Como referência, no mesmo

levantamento o Brasil registra 18,8% da sua população residindo na área rural. Esse

expressivo contingente de potenciais trabalhadores rurais, que em sua maioria vivem

em condições miseráveis de subsistência, poderá vir a usufruir os benefícios que

são esperados com a significativa participação da agricultura familiar na cadeia

produtiva do biodiesel. Para se ter uma idéia do potencial de crescimento do setor

agrícola baiano basta observar Mato Grosso, que foi o estado que teve em 2004 a

maior participação da atividade agropecuária no valor adicionado bruto estadual,

com 40,8%, para uma população rural de 516 627 habitantes. O segundo colocado

segundo o mesmo critério, Mato Grosso do Sul, com 330 895 habitantes na zona

rural ou 15,9% da população, obteve 31,2% de participação da agropecuária no

valor adicionado bruto (IBGE, 2000).

As oleaginosas descritas neste Capítulo foram selecionadas segundo o critério das

espécies de maior vocação produtiva do Estado da Bahia, de modo a assegurar a

oferta sustentável de matérias primas para as Usinas Produtoras de Biodiesel.

Na Tabela 14 pode ser observado o ranking das oleaginosas produzidas no Estado,

ordenadas segundo o critério de quantidade produzida, em toneladas.

110

Tabela 14 Ranking das Oleaginosas de Maior Produção na Bahia - 2005

Produtos

Produção

(t)

Área

Colhida

(ha)

Rendimento

Médio

(kg/ha)

Valor da

Safra

(xR$1 000)

Soja 2 401 872 870 000 2 761 1 058 296

Algodão herbáceo 822 401 257 377 3 195 848 834

Dendê 155 651 41 151 3 782 25 401

Mamona 132 324 182 459 725 74 339

Sorgo granífero 103 595 57 920 1 789 23 979

Amendoim 7 243 6 314 1 147 4 692

Fonte: IBGE, 2006

Na descrição que se segue são focadas as quatro primeiras oleaginosas pelo fato

das mesmas apresentarem os resultados mais expressivos, em termos de

quantidade produzida, ao longo dos últimos dez anos. Seguindo esse critério,

culturas como sorgo, amendoim e girassol, apesar de apresentarem bom potencial

oleífero, não foram analisadas neste trabalho, pois a sua escala de produção

histórica no âmbito do estado da Bahia não vem apresentando resultados

comercialmente interessantes.

111

Tabela 15 Censo Demográfico Nacional - 2000

BRASIL E ESTADOS SITUAÇÃO DO DOMICÍLIO DISTRIBUIÇÃO RELATIVA

TOTAL URBANA RURAL %URBANA %RURAL Brasil......................... 169 799 170 137 953 959 31 845 211 81,2 18,8 Região Norte................. 12 900 704 9 014 365 3 886 339 69,9 30,1 Rondônia.................... 1 379 787 884 523 495 264 64,1 35,9 Acre............................ 557 526 370 267 187 259 66,4 33,6 Amazonas................... 2 812 557 2 107 222 705 335 74,9 25,1 Roraima...................... 324 397 247 016 77 381 76,1 23,9 Pará............................. 6 192 307 4 120 693 2 071 614 66,5 33,5 Amapá......................... 477 032 424 683 52 349 89,0 11,0 Tocantins.................... 1 157 098 859 961 297 137 74,3 25,7 Região Nordeste............ 47 741 711 32 975 425 14 766 286 69,1 30,9 Maranhão.................... 5 651 475 3 364 070 2 287 405 59,5 40,5 Piauí............................ 2 843 278 1 788 590 1 054 688 62,9 37,1 Ceará.......................... 7 430 661 5 315 318 2 115 343 71,5 28,5 Rio Grande do Norte.. 2 776 782 2 036 673 740 109 73,3 26,7 Paraíba........................ 3 443 825 2 447 212 996 613 71,1 28,9 Pernambuco................ 7 918 344 6 058 249 1 860 095 76,5 23,5 Alagoas....................... 2 822 621 1 919 739 902 882 68,0 32,0 Sergipe........................ 1 784 475 1 273 226 511 249 71,4 28,6 Bahia........................... 13 070 250 8 772 348 4 297 902 67,1 32,9 Região Sudeste............. 72 412 411 65 549 194 6 863 217 90,5 9,5 Minas Gerais............... 17 891 494 14 671 828 3 219 666 82,0 18,0 Espírito Santo.............. 3 097 232 2 463 049 634 183 79,5 20,5 Rio de Janeiro............. 14 391 282 13 821 466 569 816 96,0 4,0 São Paulo.................... 37 032 403 34 592 851 2 439 552 93,4 6,6 Região Sul...................... 25 107 616 20 321 999 4 785 617 80,9 19,1 Paraná......................... 9 563 458 7 786 084 1 777 374 81,4 18,6 Santa Catarina............ 5 356 360 4 217 931 1 138 429 78,7 21,3 Rio Grande do Sul...... 10 187 798 8 317 984 1 869 814 81,6 18,4 Região Centro-Oeste.... 11 636 728 10 092 976 1 543 752 86,7 13,3 Mato Grosso do Sul.... 2 078 001 1 747 106 330 895 84,1 15,9 Mato Grosso................ 2 504 353 1 987 726 516 627 79,4 20,6 Goiás........................... 5 003 228 4 396 645 606 583 87,9 12,1 Distrito Federal............ 2 051 146 1 961 499 89 647 95,6 4,4

Fonte: IBGE, 2000

2.20.1 SOJA (Glycine max L.)

O grão da soja chegou ao Brasil com os primeiros imigrantes japoneses em 1908,

mas foi introduzida oficialmente no Rio Grande do Sul em 1914. No entanto, a

expansão da soja no Brasil veio a ocorrer somente nos anos 70, com o interesse

crescente da indústria de óleo e a alta demanda do mercado internacional.

112

Uma das grandes motivações para o cultivo da soja como fonte de matéria-prima

para o biodiesel, apesar do seu teor de óleo ser relativamente baixo (~17%), é a

grande escala de produção agrícola no Brasil e também na Bahia. Outra vantagem é

o valor agregado atribuído a seus co-produtos o que poderá favorecer a viabilidade

econômica de projetos. Uma tonelada de farelo de soja, por exemplo, em agosto de

2006 estava cotado para exportação em R$ 354,39 (Fonte: Conab, 2006).

Tabela 16 Preços dos Itens da Soja

Abr/07 Mai/07 Jun/07 Jul/07 Ago/07 Set/07 Out/07

GRÃO (60 kg) 31,69 32,17 32,74 32,83 33,70 33,70 38,38

FARELO (t) 391,94 375,84 399,55 418,34 443,17 513,34 526,33

ÓLEO (t) 1 290,95 1 322,56 1 380,86 1 457,17 1 547,61 1 588,34 1 578,92

Fonte: COMPANHIA, 2007b

O grande crescimento da produção de soja no Brasil, nas últimas décadas,

proporcionou a expansão da fronteira agrícola para o cerrado brasileiro, levando o

progresso e o desenvolvimento para a Região Centro-Oeste. O Brasil é o país que

possui as melhores condições para atender o crescimento da demanda mundial de

soja, porém o seu futuro dependerá da sua competitividade no mercado global. Para

isso, além do empenho do produtor, o apoio governamental é indispensável,

principalmente na abertura e na integração de novas vias de escoamento da

produção.

A soja apresentou em 2005 uma produção nacional de 51 182 050 toneladas,

mantendo sua condição de principal lavoura de grãos do País, com a maior área

plantada, 23 426 731 ha. Os avanços da produção de soja nas últimas décadas

estão diretamente relacionados ao desenvolvimento de novas tecnologias, que

tornaram a soja brasileira cada vez mais competitiva.

Em 2005, o Brasil manteve sua destacada posição entre os quatro maiores

produtores mundiais de óleo de soja, juntamente com Estados Unidos, o maior

produtor, Argentina e China. Juntos, esses quatro países responderam por 78,6% da

produção mundial, com o Brasil contribuindo com cerca de 17% desse bolo.

113

O valor da produção nacional de soja, em 2005, somou R$ 21 758 milhões, tendo o

valor médio dos grãos sido de R$ 425,11 por tonelada, valor que representou uma

queda acentuada no preço da oleaginosa em relação a 2004 (R$ 658,48 por

tonelada). Entre os motivos dessa queda assinale-se: a valorização cambial, a

queda da cotação do produto no mercado internacional e a qualidade inferior de

parte da soja colhida no País, em 2005 (IBGE, 2006).

OUTROS22,5%

USA26,4%

CHINA18,1%

BRASIL15,5%

ARGENTINA17,6%

Figura 7: Maiores produtores mundiais de óleo de so ja (2006)

Fonte: FAO, 2007

114

Tabela 17 Produção mundial de óleo de soja (tonelad as)

ANO Argentina Brasil China EUA OUTROS TOTAL MUNDIAL

1990 1 143 834 2 674 080 920 300 5 899 000 5 031 875 15 669 089 1991 1 254 880 2 420 090 942 000 6 080 000 4 984 455 15 681 425 1992 1 401 601 2 832 360 895 000 6 507 000 5 401 860 17 037 821 1993 1 460 265 3 088 088 1 304 000 6 250 000 5 293 052 17 395 405 1994 1 540 906 3 280 721 1 336 800 6 328 000 5 349 753 17 836 180 1995 1 599 500 3 875 376 1 263 000 7 082 000 5 954 181 19 774 057 1996 1 838 416 3 861 000 1 570 000 6 913 000 5 906 656 20 089 072 1997 1 868 500 3 544 000 1 923 000 7 145 000 6 031 066 20 511 566 1998 2 695 760 4 163 000 2 242 000 8 230 000 6 466 323 23 797 083 1999 3 093 400 4 106 000 2 333 400 8 200 000 6 868 775 24 601 575 2000 3 112 800 4 036 000 3 204 100 8 355 000 6 534 291 25 242 191 2001 3 387 600 4 430 000 3 772 400 8 572 000 7 186 936 27 348 936 2002 3 973 100 4 937 000 4 112 600 8 360 000 7 291 957 28 674 657 2003 4 558 800 5 347 000 4 901 600 7 748 000 7 443 106 29 998 506 2004 4 569 700 5 545 000 5 172 000 8 780 000 7 081 752 31 148 452 2005 5 395 700 5 736 000 5 859 000 9 228 000 7 144 665 33 363 365 2006 6 161 300 5 428 000 6 345 500 9 261 500 7 890 532 35 086 832

Fonte: FAO, 2007

Paraná18%Rio Grande do Sul

14%

Goiás11%

Mato Grosso do Sul8%

Minas Gerais5%

Bahia4%

São Paulo3%

Outros7%

Mato Grosso30%

Figura 8: Maiores produtores nacionais de soja em g rãos (2006)

Fonte: IBGE, 2007a

115

2.20.1.1 A SOJA NA BAHIA

A Figura 9 mostra a evolução da produção de soja no Brasil e no estado da Bahia de

1990 a 2006, cujos dados são listados na Tabela 18. Podemos constatar que,

naquele período, a produção de soja da Bahia acompanha a mesma tendência de

crescimento observada no país.

Em dez anos, no período compreendido entre 1990 a 2000, a cultura da soja

cresceu 584,26 % no Oeste da Bahia, sendo a região responsável por 100 % da

produção atual do Estado. Essa evolução representou 73,1 % da produção do

Nordeste e 4,6 % do país no ano de 2000 (IBGE, 2007a).

Contrariamente à estagnação da produção nacional observada nos anos de 2004 e

2005, a produção baiana de soja atingiu nesse mesmo período os melhores

resultados desde que essa oleaginosa foi introduzida no estado. Em 2004 a

produção do Estado da Bahia atingiu 2 365 290 toneladas o que significa um

expressivo aumento de 52% em relação à produção do ano anterior. Em 2005, a

produção foi de 2 401 872 toneladas, 1,5% superior à produção do ano anterior, o

que lhe garantiu uma participação de 4,7% no total da produção nacional naqueles

dois anos. A produtividade de 2 760 hakg obtida em 2005 é cerca de 24% superior

à média nacional, perdendo apenas para o Mato Grosso, que obteve a notável

marca de 2 908 hakg .

Cabe destacar, na Bahia, os Municípios de São Desidério, Barreiras, Luis Eduardo

Magalhães, Correntina e Formosa do Rio Preto como os maiores produtores do

estado, com destaque para o primeiro deles que, ocupou o sétimo lugar no ranking

nacional e, sozinho, foi responsável por 1,5% do total da produção nacional e cerca

de 31% de toda a produção estadual.

Apesar desses números expressivos é preocupante o risco iminente da ocorrência

da ferrugem asiática da soja (Phakopsora pachyrhizi), uma praga tradicionalmente

encontrada na América Latina e oficialmente identificada na Bahia, em caráter

epidêmico, a partir de 2003. A ocorrência dessa praga, além de comprometer a

116

produtividade da safra, reduzindo a quantidade de sacas por hectare, também eleva

os custos de produção com a utilização de fungicidas.

0

1

2

3

19901994

19982002

2006

Bah

ia

(x 1

06 to

nela

das)

0

15

30

45

60

Bra

sil

(x10

6 tone

lada

s)

Bahia Brasil

Figura 9: Evolução da Produção de Soja

Fonte: IBGE, 2007a

Tabela 18 Evolução da produção anual de soja

ANO Bahia (t)

Brasil (t)

% Bahia/Brasil ∆% Bahia ∆% Brasil

1990 220 416 19 897 804 1,11% - - 1991 441 000 14 937 806 2,95% 100,1% -24,9% 1992 480 000 19 214 705 2,50% 8,8% 28,6% 1993 592 269 22 590 978 2,62% 23,4% 17,6% 1994 873 384 24 931 832 3,50% 47,5% 10,4% 1995 1 072 911 25 682 637 4,18% 22,8% 3,0% 1996 700 211 23 166 874 3,02% -34,7% -9,8% 1997 1 013 541 26 392 636 3,84% 44,7% 13,9% 1998 1 188 000 31 307 440 3,79% 17,2% 18,6% 1999 1 150 000 30 987 476 3,71% -3,2% -1,0% 2000 1 508 115 32 820 826 4,59% 31,1% 5,9% 2001 1 407 600 37 907 259 3,71% -6,7% 15,5% 2002 1 464 000 42 107 618 3,48% 4,0% 11,1% 2003 1 555 500 51 919 440 3,00% 6,3% 23,3% 2004 2 365 290 49 549 941 4,77% 52,1% -4,6% 2005 2 401 872 51 182 074 4,69% 1,5% 3,3% 2006 1 991 400 52 464 640 3,80% -17,1% 2,5%

Fonte: IBGE, 2007a

117

Jaborandi (111.937 t)

4,7%

São Desidério (743.779 t)

31,0%

Barreiras (405.254 t)

16,9%

Correntina (284.399 t)

11,8%

Formosa do Rio Preto (272.470 t)

11,3%

Riachão das Neves (189.623 t)

7,9%

Outros(41.398 t)

1,7%

Luís Eduardo Magalhães (353.012 t)

14,7%

Figura 10: Maiores produtores baianos de soja (2005 )

Fonte: IBGE, 2007a

2.20.2 ALGODÃO (Gossypium herbaceum L.)

O algodão se apresenta como uma boa alternativa como matéria-prima para o

biodiesel, tanto no aspecto econômico quanto ambiental. O caroço, de onde se

extrai o óleo, é considerado hoje um passivo ambiental, por não possuir destinação

adequada para o volume produzido, enquanto que a pluma é o produto de maior

valor agregado, colocando o óleo praticamente como um subproduto do algodão.

Seis estados brasileiros concentram 95,4% de toda a produção nacional de algodão

herbáceo em caroço, que em 2005, totalizou 3 666 160 toneladas, 3,5% inferior à

obtida no ano anterior. Esse total corresponde a 2 309 681 toneladas de caroço de

algodão, utilizando-se o percentual de 63,0% como fator médio nacional de

conversão. A safra poderia ter sido melhor, caso não fosse prejudicada pelos

problemas climáticos, que provocaram uma queda de cerca de 11,8% no rendimento

médio, que alcançou 2 913 hakg contra os 3 302 hakg do ano anterior.

118

De 2000 a 2005, o Brasil experimentou um aumento de produção de óleo de

algodão da ordem de 53,4%, contra uma elevação mundial de 16,3%. Em 2004 e

2005 o Brasil apresentou uma participação média de 6% entre os maiores

produtores mundiais de óleo de algodão, tendo a China, o maior produtor mundial

dessa commodity, uma participação de 26,6% no mesmo período. A produção de

256 800 toneladas, obtida em 2005, lhe garantiu a sexta posição entre os maiores

produtores mundiais de óleo de algodão, atrás de China, Índia, Estados Unidos,

Paquistão e Uzbequistão, citados em ordem decrescente.

PAQUISTÃO7,4%

TURQUIA5,0%

USA8,5%

UZBEQUISTÃO6,6%

OUTROS27,7%

ÍNDIA15,4%

CHINA32,5%

BRASIL5,0%

Figura 11: Maiores produtores mundiais de óleo de a lgodão (2006)

Fonte: FAO, 2007

119

Tabela 19 Produção mundial de óleo de algodão (tone ladas)

ANO Brasil China Índia Paquistão Turquia EUA Uzbequistão Outros TOTAL MUNDIAL

1990 175 300 798 000 349 000 341 600 176 669 471 000 - 1 517 080 3 828 649 1991 182 000 854 000 346 000 378 500 149 395 523 000 - 1 570 745 4 003 640 1992 165 900 903 000 405 000 468 000 154 046 580 000 369 000 950 383 3 995 329 1993 110 400 973 000 380 000 343 500 172 846 516 000 320 000 840 763 3 656 509 1994 128 000 1 001 000 424 000 268 200 169 309 507 600 349 000 845 235 3 692 344 1995 111 300 980 000 457 000 295 600 221 834 595 000 323 000 865 722 3 849 456 1996 89 600 875 000 505 000 358 800 206 598 557 000 261 000 982 350 3 835 348 1997 82 000 986 300 397 000 333 900 212 255 552 000 243 000 963 126 3 769 581 1998 103 000 980 000 412 000 320 200 245 315 555 000 225 000 963 173 3 803 689 1999 125 200 952 000 407 000 311 700 204 217 377 000 294 500 931 454 3 603 070 2000 167 400 1 022 000 338 000 395 100 249 871 384 000 298 800 897 413 3 752 584 2001 212 600 1 120 000 358 000 377 800 234 097 398 000 275 000 933 716 3 909 213 2002 196 400 1 383 500 430 000 378 800 256 887 329 000 279 800 875 715 4 130 102 2003 217 000 1 292 800 430 000 367 000 221 933 396 000 266 700 864 667 4 056 100 2004 264 000 1 345 400 430 000 356 400 250 652 399 100 271 300 964 801 4 281 653 2005 256 800 1 544 800 743 700 356 400 243 668 446 100 306 100 981 349 4 878 917 2006 241 700 1 570 000 743 700 356 400 243 668 411 200 318 400 1 339 755 4 837 523

Fonte: FAO, 2007

120

Mato Grosso(1682839 t)

45,9%

Bahia(822401 t)

22,4%

Goiás(432045 t)

11,8%

São Paulo(231330 t)

6,3%

Mato Grosso do Sul(176131 t)

4,8%

Minas Gerais(153147 t)

4,2%

OUTROS(168.267 t)

4,6%

Figura 12: Maiores produtores nacionais de algodão em caroço 2005

Fonte: IBGE, 2007a

2.20.2.1 O ALGODÃO NA BAHIA

Em 2005, na Bahia, foram obtidas 822 401 toneladas de algodão herbáceo, que são

equivalentes a 22,4% do total obtido no País e superior 16,8% ao volume obtido na

safra anterior. Esse resultado coloca a Bahia na segunda posição no ranking

nacional, perdendo apenas para Mato Grosso, que obteve uma produção de

1 682 839 toneladas.

Saliente-se que as variações positivas no período citado são decorrentes da

ampliação da área colhida, de 203 939 hectares para 257 377 hectares, ou seja,

cerca de 26,2% de aumento. Por outro lado, nos principais centros produtores as

chuvas foram insuficientes e mal distribuídas, resultando em redução de 7,4% no

rendimento médio obtido, que foi de 3 195 hakg contra os 3 452 hakg , em 2004.

Os números positivos da safra baiana devem-se ao deslocamento do produto para o

121

oeste do estado, por possuir condições edafoclimáticas9 propícias ao cultivo. A partir

de 2001, com a instituição pelo governo estadual do Programa de Incentivo à

Cultura no Cerrado Baiano - PROALBA, que visava a fomentar empreendimentos no

agronegócio nas áreas de pesquisa, transferência de tecnologia, defesa fito-

sanitária10 e de infra-estrutura, a cultura se consolida nesta região, registrando

anualmente expressivos ganhos de produção. É emblemático o desempenho do

Município de São Desidério, que passou do quinto lugar em 2004, para maior

produtor nacional em 2005, com 363 032 toneladas. Os demais municípios do

extremo oeste baiano, classificados no rol de maiores produtores, são: Barreiras,

com 140 079 toneladas, seguida por Luís Eduardo Magalhães, Formosa do Rio

Preto, Correntina e Riachão das Neves.

Um expressivo incentivo ao setor algodoeiro do estado foi dado, a partir de junho de

2006, com a redução da carga do ICMS incidente sobre a indústria de refino do óleo

de algodão de 17 para 7%, o menor percentual permitido pelo Conselho Nacional de

Política Fazendária (CONFAZ). A medida também prevê facilidades para aquisição

de equipamentos adquiridos por associações ou cooperativas de produtores do

setor.

0

220

440

660

880

19901994

19982002

2006

Bah

ia

(x10

3 to

nela

das)

0

800

1.600

2.400

3.200

4.000

Bra

sil

(x10

3 tone

lada

s)

Bahia Brasil

Figura 13: Evolução da produção de algodão

Fonte: IBGE, 2007ª

9 Edafo: elemento de composição de palavras, exprime a idéia de solo. 10 Fito: elemento de composição de palavras, exprime a idéia de vegetal.

122

Tabela 20 Evolução da produção anual de algodão

ANO Bahia (t)

Brasil (t)

% Bahia/Brasil

∆% Bahia

∆% Brasil

1990 109 361 1 783 175 6,1% - - 1991 137 033 2 041 123 6,7% 25,3% 14,5% 1992 103 860 1 863 077 5,6% -24,2% -8,7% 1993 102 359 1 127 364 9,1% -1,4% -39,5% 1994 128 329 1 350 814 9,5% 25,4% 19,8% 1995 76 090 1 441 526 5,3% -40,7% 6,7% 1996 51 740 952 013 5,4% -32,0% -34,0% 1997 82 445 821 271 10,0% 59,3% -13,7% 1998 41 532 1 172 017 3,5% -49,6% 42,7% 1999 50 146 1 477 030 3,4% 20,7% 26,0% 2000 132 675 2 007 102 6,6% 164,6% 35,9% 2001 170 092 2 643 524 6,4% 28,2% 31,7% 2002 179 971 2 166.014 8,3% 5,8% -18,1% 2003 276 360 2 199 268 12,6% 53,6% 1,5% 2004 704 163 3 798 480 18,5% 154,8% 72,7% 2005 822 401 3 666 160 22,4% 16,8% -3,5%

Fonte: IBGE, 2007a

Barreiras (140.079 t)

17,0%

Luís Eduardo Magalhães (72.885 t)

8,9%

Formosa do Rio Preto (67.756 t)

8,2%

Correntina (54.326 t)

6,6%

Riachão das Neves (38.413 t)

4,7%

Malhada (15.300 t)

1,9%

Outros(70.610 t)

8,6%

São Desidério (363.032 t)

44,1%

Figura 14: Municípios baianos maiores produtores de algodão (2005)

Fonte: IBGE, 2007a

123

2.20.3 DENDÊ (Elaeis guineensis)

O óleo de dendê (palma) chegou ao Egito vindo da África Ocidental, e desde a

época dos faraós, há quase 5 000 anos, a palma oleaginosa tem sido uma

importante fonte alimentícia para o gênero humano.

No Brasil, chamada de “palmeira do dendê“, foi introduzida pelos escravos no século

XVI, no sul da Bahia, adaptando-se plenamente.

No começo do século XX, a palma oleaginosa foi introduzida na Malásia como uma

planta ornamental e somente plantada comercialmente pela primeira vez em 1917,

dando origem naquele país à indústria de óleo de dendê (palma).

O dendezeiro plantado comercialmente em larga escala destaca-se como o vegetal

mais produtivo no mundo inteiro, produzindo a maior quantidade de óleo por unidade

de área cultivada. Utilizando as tecnologias recomendadas pela pesquisa consegue-

se atingir uma produção de óleo de até 8 000 hakg , enquanto que um hectare de

soja, nas mesmas condições de cultivo, atinge no máximo 600 kg de óleo.

A palmeira é um cultivo perene iniciando a produção comercial de frutos a partir de 3

anos depois de semeada. Os frutos, nozes pequenas e duras, possuem polpa, ou

mesocarpo, da qual se extrai o óleo de dendê (óleo de palma ou palm oil), são de

cor amarela ou avermelhada pela presença de carotenóides e possuem de sabor

adocicado e aroma característico. A semente ocupa totalmente a cavidade do fruto e

contém o óleo de palmiste (palm kernel oil) que é esbranquiçado e quase sem cheiro

e sabor.

Possui três variedades classificadas de acordo com a espessura do mesocarpo:

Dura, apresenta casca de mais de 2mm de espessura e fibras na polpa, é usada

como planta feminina na produção de híbridos comerciais; Psifera, onde os frutos

não possuem casca separando a polpa da amêndoa, é usada como fornecedora de

pólen na produção de híbridos comerciais; Tenera, apresenta espessura na casca

inferior a 2mm e um anel fibroso ao seu redor, é obtida através do cruzamento entre

as variedades Dura e Psifera, sendo recomendada para plantios comerciais. Essa

variedade tem vida econômica entre 20 e 30 anos, cada árvore podendo produzir

124

anualmente de 10 a 12 cachos de frutos frescos, cada cacho contendo de 1 000 a

3 000 frutos, pesando de 20 a 30 kg cada cacho.

Em 2005, a produção mundial de óleo de dendê (palma) atingiu 34,4 milhões de

toneladas, o triplo em relação à produção de 1990. A tendência de crescimento na

produção do óleo de dendê (palma) vem se mantendo desde aquele ano,

culminando com a obtenção do primeiro lugar no ranking mundial, a partir de 2005,

ultrapassando a produção de óleo de soja.

Somente a produção de Malásia e Indonésia, respectivamente 43,5% e 41%,

corresponderam a 84,5% de toda a produção mundial de óleo de dendê (palma) em

2005. O Brasil contribuiu com apenas 0,5% da produção mundial, embora seja

freqüentemente citado como possuidor do maior potencial de áreas com aptidão

agrícola do mundo. O Pará, com 82,8%, e a Bahia, com 17,2%, são praticamente os

únicos produtores comerciais do dendê (palma) no Brasil, ainda assim com

baixíssima extensão territorial sendo cultivada: 56 000 ha segundo FAO, ou 88 721

ha de acordo com o IBGE.

Como referência, o primeiro produtor, a Malásia, utilizou 3,62 milhões de hectares

para produzir 14,96 milhões de toneladas de óleo, o que resulta num rendimento em

óleo de cerca de 4,1 haóleodet enquanto o Brasil, no mesmo ano, considerando

56 000 hectares plantados, obteve uma produtividade de 2,86 haóleodet . A

Indonésia, segundo maior produtor mundial, também vem obtendo nos últimos anos

bons resultados em rendimento de óleo, alcançando em 2005 a marca de 3,9

haóleodet .

Mesmo com pequena participação na produção mundial, a tecnologia brasileira no

manejo agrícola é muito respeitada, e algumas de nossas inovações são hoje

copiadas em plantios de todo o mundo.

O custo médio de produção no Brasil é ainda maior quando comparado com os

maiores do mundo, Malásia, Indonésia e Colômbia, motivado por diferenças nas

taxações de produtos e serviços. Por exemplo, os encargos trabalhistas: na Malásia

essas taxações incidem cerca de 50% sobre o salário; na Indonésia 30%; Colômbia,

60%; e no Brasil, acima de 100%.

125

São relevantes, ainda, os custos de adubação e impostos diretos sobre o produto.

Na comparação dos custos sem taxas somos extremamente competitivos.

0

8

16

24

32

40

1990 1994 1998 2002 2006

SOJA DENDÊ ALGODÃO MAMONA COLZA GIRASSOL

(x 106 toneladas)SOJA

DENDÊ

COLZA

ALGODÃOMAMONA

GIRASSOL

Figura 15: Produção mundial de óleos vegetais

Fonte: FAO, 2007

126

MALÁSIA(15.880.000 t)

43,6%

NIGÉRIA(1.170.000 t)

3,4%

OUTROS(4.170.842 t)

11,5%

BRASIL(170.000 t)

0,5%

INDONÉSIA(15.900.000 t)

41,0%

Figura 16: Maiores Produtores Mundiais de Óleo de D endê (palma) (2006)

Fonte: FAO, 2007

2.20.3.1 O DENDÊ NA BAHIA

O dendezeiro encontra na Bahia as condições ideais para o seu cultivo,

principalmente na chamada região dos Tabuleiros Costeiros (TC), na faixa que se

estende do Recôncavo ao Extremo Sul do estado, onde, segundo levantamento da

Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (CEPLAC), existem 854 mil

hectares que reúnem condições edafo-climáticas ideais ao desenvolvimento dessa

cultura: altas temperaturas, chuvas abundantes e alto grau de iluminação. Ao

contrário disso, segundo levantamento do IBGE, a área plantada em 2005 era de

apenas 4,9% desse total, o correspondente a 41 691 ha.

Essa cultura é predominante principalmente nos municípios pertencentes às

microrregiões de Valença, Santo Antônio de Jesus, Ilhéus&Itabuna e Porto Seguro,

em ordem decrescente de produção. Nessa extensão territorial, com

aproximadamente 30 municípios, a cultura é praticada por três tipos de núcleos

127

produtivos: pequenos produtores familiares, pequena produção capitalista e

produtores empresariais.

Os benefícios gerados pela expansão dessa cultura podem ser contabilizados por

diferentes campos de observação:

• aspecto ambiental-ecológico: permitindo a recomposição do espaço florestal

em processo adiantado de degradação, por “florestas de cultivo”;

• econômico-social: proporcionando aumento da renda regional e criação de

novos empregos, e finalmente;

• estratégico: por permitir o desenvolvimento harmônico dos recursos da terra

com os valores humanos por meio da agricultura integrada.

Entretanto, historicamente, o negócio do dendê (palma) na Bahia nunca foi apoiado

por uma política setorial que orientasse rumos e ações para o desenvolvimento e a

consolidação dessa cultura. O fraco desempenho do negócio é resultado de falhas

observadas em vários elos da cadeia produtiva, desde a produção agrícola até o

processamento e a distribuição.

Uma tentativa oficial de fomento à expansão da cultura do dendê (palma) na Bahia

foi o lançamento do Programa de Desenvolvimento da Dendeicultura lançado em

1999 pelo Governo do Estado, com o propósito de facilitar a integração entre os

atores envolvidos no segmento: produtores, indústrias, agentes financeiros e o

próprio Governo. Adicionalmente esse Programa visava estimular o incremento da

área cultivada e conseqüente aumento da produção no Estado, bem como a

modernização e elevação da capacidade industrial instalada.

Apesar da iniciativa, os resultados da dendeicultura na Bahia ainda apresentam

valores muito baixos quando comparados com os obtidos pelo Estado do Pará,

maior produtor nacional de dendê (palma), como pode ser verificado na Figura 17. A

área plantada na Bahia encolheu cerca de 10% de 2001 a 2005, enquanto no Pará,

no mesmo período, ocorreu um incremento de 21%. Em 2006, provavelmente pela

motivação à produção de biodiesel, houve elevação de 3 250 ha na área plantada na

Bahia em relação ao ano anterior, o que equivale a um incremento de 7,8%, ainda

inferior ao crescimento verificado no Pará, 4 821 ha ou 10% de incremento.

128

35 ha

40 ha

45 ha

50 ha

55 ha

(x10³)

Pará 38.912 ha 39.747 ha 44.463 ha 45.969 ha 46.969 ha 51.790 ha

Bahia 46.267 ha 41.690 ha 41.466 ha 41.584 ha 41.691 ha 44.941 ha

2001 2002 2003 2004 2005 2006

Figura 17: Área plantada de dendê (2002-2006)

Fonte: IBGE, 2007a

Quanto à produção, o Pará conseguiu uma elevação de 28% contra uma redução de

17,7% ocorrida na Bahia no período de 2001 a 2005. A Figura 21 apresenta a

evolução da produção de dendê (palma) na Bahia e no Brasil no período

compreendido entre 1990 e 2005. Observa-se claramente a evolução irregular e

instável da produção baiana contrastando com a tendência regular de crescimento

da produção brasileira, graças ao desempenho do estado do Pará.

129

0 t

220 t

440 t

660 t

880 t

1.100 t

(x10³)

Bahia 189.117 t 167.581 t 167.111 t 171.044 t 155.651 t 176.089 t

Pará 582.797 t 550.129 t 729.001 t 738.241 t 747.666 t 1.031.004 t

2001 2002 2003 2004 2005 2006

Figura 18: Produção nacional de dendê (2001-2006)

Fonte: IBGE, 2007a

Mesmo as áreas de cultivo pertencentes às agroindústrias que, supostamente,

seriam melhor estruturadas, não são providas do adequado manejo agronômico,

tornando-se sub-explorados e alcançando baixos índices de produtividade.

A Figura 19 nos revela um cenário ainda mais desanimador: o rendimento de óleo por

unidade de área plantada na Bahia vem se mantendo em torno de 800 hakg

enquanto o Pará vem obtendo anualmente cerca de 3.000 kg de óleo por cada

hectare plantado, o que ainda é considerado baixo quando comparado com o obtido

na Malásia (4,1 haóleodet ) e Indonésia (3,9 haóleodet ).

130

0,0

0,8

1,6

2,4

3,2

4,0

(x10³ kg/ha)

Bahia 817,5 803,9 806,0 822,6 746,7 783,6

Pará 2.995,5 2.768,2 3.279,1 3.211,9 3.183,7 3.981,5

2001 2002 2003 2004 2005 2006

Figura 19: Comparativo entre produtividade de dende zais (Pará x Bahia)

Fonte: IBGE, 2007a

O pífio desempenho da dendeicultura baiana é decorrente da predominância, cerca

de 82,5%, de populações subespontâneas de dendê (palma) da variedade Dura, a

qual não possui características produtivas comercialmente atrativas, contra apenas

17,5% da variedade Tenera. Essa variedade pode produzir até 4,0 t de cachos por

hectare ao passo que a variedade Dura produz entre 2,5 e 3,0 t. Além disso, a Dura

possui um teor de óleo de apenas 9 a 12%, contra até 22% da variedade Tenera.

Além desse fato, a extração do óleo é realizada em grande parte de forma artesanal

por pequenos produtores que não conseguem atingir a produtividade plena ideal. A

produção do óleo ocorre com a utilização de pilões ou rodões (equipamentos de

extração primitivos que tração animal ou mecanizada). Moraes (2000) estima que

33,4% da produção de cachos dos dendezais subespontâneos foram processados

por meio dessa técnica em 1998, a uma taxa extrativa de 9,8%. O amadorismo

presente nessa forma de atividade interfere na consistência dos índices de

131

produtividade obtidos por esses pequenos produtores comprometendo a

confiabilidade dos resultados estatísticos desse segmento.

Quanto às agroindústrias de extração, embora supostamente melhor estruturadas,

são responsáveis pela formação de um nocivo oligopsônio do setor, concentrado em

basicamente quatro empresas que apresentam deficiências de modernização e de

otimização de escalas de produção, que promoveriam redução dos custos de

produção. Esse cenário resulta na inexistência de integração setorial e dificuldade

de formação de um complexo industrial sólido e competitivo. A Figura 20 apresenta a

distribuição percentual entre os municípios produtores de dendê em 2005.

Outros9,7%

(9.748 t)Igrapiúna

6,3%

(10.115 t)Nilo Peçanha

6,5%

(10.395 t)Ituberá 6,7%

(15.050 t)Camamu

9,7%

(16.170 t)Cairu 10,4%

(20.250 t)Jaguaripe

13,0%

(23.960 t)Taperoá 15,4%

(34.930 t)Valença 22,4%

Figura 20: Maiores produtores baianos de dendê (200 5)

Fonte: IBGE, 2007a

Outro entrave à expansão do negócio na Bahia se deve ao tradicional consumo do

óleo em aplicações culinárias em detrimento à sua destinação a setores industriais

de transformação, os quais além de demandarem maiores volumes de produção

também agregariam mais valor ao óleo bruto. Os principais produtores mundiais

utilizam o óleo como insumo para a indústria oleoquímica na produção de óleos,

132

margarinas, manteigas, gorduras, massas para utilização em indústrias de alimentos

e de cosméticos. Do óleo podem ser obtidos diversos outros produtos, tais como:

sabões, sabonetes, tintas para impressão e escrita, líquidos para polimento,

detergentes, lubrificantes, combustíveis e plastificantes.

120

145

170

195

19901994

19982002

2006

Bahia (x10³ t)

0

250

500

750

1.000

1.250

Brasil (x103 t)

Bahia Brasil

Figura 21: Evolução da produção anual de dendê – Ba hia e Brasil (1990-2006)

Fonte: IBGE, 2007a

Tabela 21 Dados da Produção Anual de Dendê

ANO Bahia (t)

Brasil (t) % Bahia/Brasil

∆% Bahia

∆% Brasil

1990 161 227 522 883 30,8% 1991 148 242 525 968 28,2% -8,1% 0,6% 1992 190 266 652 541 29,2% 28,3% 24,1% 1993 134 016 656 834 20,4% -29,6% 0,7% 1994 127 242 661 609 19,2% -5,1% 0,7% 1995 126 591 680 541 18,6% -0,5% 2,9% 1996 126 634 740 262 17,1% 0,0% 8,8%

133

1997 158 624 790 038 20,1% 25,3% 6,7% 1998 172 785 752 526 23,0% 8,9% -4,7% 1999 146 716 663 611 22,1% -15,1% -11,8% 2000 161 430 678 727 23,8% 10,0% 2,3% 2001 189 117 772 097 24,5% 17,2% 13,8% 2002 167 581 717 893 23,3% -11,4% -7,0% 2003 167 111 896 295 18,6% -0,3% 24,9% 2004 171 044 909 285 18,8% 2,4% 1,4% 2005 155 651 903 500 17,2% -9,0% -0,6% 2006 176 089 1 207 276 14,6% 13,1% 33,6%

Fonte: IBGE, 2007a

2.20.4 MAMONA (Ricinus communis L.)

Trazida para o Brasil pelos portugueses, sua destinação era a utilização do óleo

para iluminação e também para lubrificação de eixos de carroças. Sua grande

versatilidade química lhe confere contemporaneamente importância industrial em

todo o mundo, prevalecendo internacionalmente o nome castor beans (uma

referência à planta, às bagas e aos caroços) e castor oil (o óleo propriamente dito).

Independentemente de sua indicação como matéria-prima para a produção do

biodiesel, uma grande motivação para uso da mamona é o grande potencial de

aplicações para o seu óleo, que lhe confere uma alternativa viável para o Nordeste,

já que poderia conciliar políticas energéticas e sociais. O óleo de mamona tem

diversas aplicações na área de cosméticos, lubrificantes e fluidos aeronáuticos,

participando também da síntese de uma grande quantidade de produtos.

Dado o perfil manual de sua colheita, a expansão da cultura da mamona poderá

promover notável geração de emprego no campo. Além disso, as condições

edafoclimáticas do semi-árido, adversas para outras culturas, oferecem condições

favoráveis ao seu desenvolvimento.

134

China18,0%

Brasil11,9%

India58,5%

Outros 11,6%

Figura 22: Maiores produtores mundiais de mamona (2 006)

Fonte: FAO, 2007

2.20.4.1 A MAMONA NA BAHIA

Segundo o Zoneamento e Época de Plantio da Mamoneira para o Nordeste

Brasileiro, da Embrapa Algodão, foram identificados 452 municípios com aptidão

para o cultivo desta cultura em condições de sequeiro. Desse total, 189 municípios

estão localizados no Estado da Bahia, representando 45,3% dos 417 municípios do

estado. O desempenho da produção baiana é significativo para a produção do

Brasil, uma vez que a tendência da produção do estado orienta diretamente a

produção nacional. A Figura 23 apresenta a evolução da produção de mamona na

Bahia e no Brasil, de 1990 a 2006.

Tabela 22 Dados da Produção Anual de Mamona

ANO Bahia (t)

Brasil (t)

% Bahia/Brasil

∆% Bahia

∆% Brasil

1990 100 347 147 971 67,8% - - 1991 84 986 129 678 65,5% -15,3% -12,4% 1992 78 978 102 120 77,3% -7,1% -21,3% 1993 34 002 43 188 78,7% -56,9% -57,7%

135

1994 41 495 54 039 76,8% 22,0% 25,1% 1995 21 803 33 149 65,8% -47,5% -38,7% 1996 35 396 41 346 85,6% 62,3% 24,7% 1997 89 737 97 445 92,1% 153,5% 135,7% 1998 12 540 16 683 75,2% -86,0% -82,9% 1999 27 322 33 357 81,9% 117,9% 99,9% 2000 83 953 116 017 72,4% 207,3% 247,8% 2001 71 491 99 950 71,5% -14,8% -13,8% 2002 64 957 75 961 85,5% -9,1% -24,0% 2003 73 624 83 682 88,0% 13,3% 10,2% 2004 114 125 138 745 82,3% 55,0% 65,8% 2005 132 324 168 802 78,4% 15,9% 21,7% 2006 68 615 95 000 72,2% -48,1% -43,7%

Fonte: IBGE, 2007a

A despeito das significativas flutuações anuais, pode ser verificada a destacada

posição do Estado da Bahia como maior produtor dessa oleaginosa com 78,4% de

participação em 2005. Nesse ano, a produção nacional foi de 168 802 toneladas, um

acréscimo de 21,7% em relação a 2004, enquanto a produção da Bahia foi de

132 324 toneladas, 15,9% a mais do que a safra do ano anterior.

Bahia

Bahia

Bahia

Bahia

Bahia

0

45

90

135

180

19901994

19982002

2006

Bahia (x10³ t)

0

45

90

135

180

Brasil (x10³ t)

Bahia Brasil

Figura 23: Histórico da produção de mamona

Fonte: IBGE, 2007a

136

Bahia(132.324 t)

78,4%

Ceará(9.765 t)

5,8%

Minas Gerais(5.865 t)

3,5%

Piauí(5.175 t)

3,1%

Pernambuco(4.270 t)

2,5%Outros

(11.403 t)6,8%

Figura 24: Maiores produtores nacionais de mamona ( 2005)

Fonte: IBGE, 2007a

Os Municípios de Lapão, São Gabriel, Cafarnaum, Ibititá, Canarana e Mulungu do

Morro são os maiores produtores do país, estando todos localizados no estado da

Bahia. Apesar do destaque desses seis municípios baianos no cenário nacional, a

produção de mamona do estado se apresenta menos concentrada se comparada

com outras culturas como soja, algodão e dendê (palma). Por esse motivo, a Figura

25 apresenta a contribuição percentual de cada microrregião do estado na produção

total alcançada no ano de 2005.

137

Outros(11.971 t)

9,0%Barreiras (3.262 t)

2,5%

Euclides da Cunha (2.408 t)

1,8%

Seabra (4.119 t)

3,1%

Senhor do Bonfim (4.275 t)

3,2%

Jacobina (15.278 t)

11,5%

Irecê (91.011 t)

68,8%

Figura 25: Micro regiões da Bahia maiores produtora s de mamona (2005)

Fonte: IBGE, 2007a

Ao contrário do que seria esperado para uma cultura com tantas possibilidades, o

setor vem experimentando, a partir do início da década de 1990, inconstância em

termos de área plantada e, conseqüentemente, das produções obtidas. Em 1985,

por exemplo, o País chegou a produzir 415.879 toneladas, o que representa quase

2,5 vezes a produção obtida em 2005. No período compreendido entre 1990 e 2005,

o ano de 1998 registrou os piores resultados, com a Bahia produzindo 12 540 t,

apenas 12,5% da produção obtida em 1990.

Os motivos da decadência estão relacionados à desorganização do pequeno

mercado interno, à falta de pesquisas e de assistência técnica, à ausência de

incentivos e linhas de crédito especiais e, principalmente, aos baixos preços pagos

ao produtor.

A partir de 2004, a cultura ganhou em produção, se comparada com 2003, por conta

do engajamento governamental no agronegócio, assim como da iniciativa particular.

Portanto, já são dois anos consecutivos de aumento de safras (2004 e 2005).

138

Destaca-se, entretanto, que em nível de produtor a atividade ainda está muito

aquém da realidade pretendida para esta oleaginosa.

2.20.5 ANÁLISE DA PRODUÇÃO BAIANA DE OLEAGINOSAS

Na Tabela 23 há uma síntese do consumo real de óleo diesel de 2000 a 2006 e das

quantidades projetadas para o período de 2007 a 2015. Essa projeção permitiu

estimar as quantidades de biodiesel necessárias para comercialização de B2 e B5,

já regulamentadas, e as quantidades de biodiesel para um hipotético cenário de

comercialização de B10, B15, B20, B25 e B30.

Tabela 23 Produção de biodiesel para diversos nívei s de adição (m³)

MISTURAS REGULAMENTADAS OU HIPOTÉTICAS ANO CONSUMO de

DIESEL (m³) B2** B5** B10** B15** B20** B25** B30**

2000 1 892 683* 37 854 94 634 189 268 283 902 378 537 473 171 567 805 2001 2 131 679* 42 634 106 584 213 168 319 752 426 336 532 920 639 504 2002 1 971 096* 39 422 98 555 197 110 295 664 394 219 492 774 591 329 2003 1 855 670* 37 113 92 784 185 567 278 351 371 134 463 918 556 701 2004 2 053 940* 41 079 102 697 205 394 308 091 410 788 513 485 616 182 2005 2 058 622* 41 172 102 931 205 862 308 793 411 724 514 656 617 587 2006 2 060 100* 41 202 103 005 206 010 309 015 412 020 515 025 618 030 2007 2 182 019** 43 640 109 101 218 202 327 303 436 404 545 505 654 606 2008 2 230 596** 44 612 111 530 223 060 334 589 446 119 557 649 669 179 2009 2 279 173** 45 583 113 959 227 917 341 876 455 835 569 793 683 752 2010 2 327 751** 46 555 116 388 232 775 349 163 465 550 581 938 698 325 2011 2 376 328** 47 527 118 816 237 633 356 449 475 266 594 082 712 898 2012 2 424 905** 48 498 121 245 242 491 363 736 484 981 606 226 727 472 2013 2 473 482** 49 470 123 674 247 348 371 022 494 696 618 371 742 045 2014 2 522 060** 50 441 126 103 252 206 378 309 504 412 630 515 756 618 2015 2 570 637** 51 413 128 532 257 064 385 596 514 127 642 659 771 191

* Valores Reais **Valores Hipotéticos

Fonte: BRASIL. Balanço Energético Nacional 2006 com adaptação do autor

A produção agrícola das quatro principais oleaginosas do estado da Bahia no ano de

2005 permitiria produção de 684 381 m³ de óleo vegetal, assumindo os teores de

óleo típicos de cada planta. Num cenário hipotético, essa quantidade de óleo

permitiria a produção de 629 784 m³ de biodiesel assegurando a formação de uma

mistura B30 já no ano de 2006. Caso toda a produção de soja em 2005 fosse

139

orientada exclusivamente para finalidade energética permitiria a produção de

412 906 m³ de biodiesel que formaria uma hipotética mistura B20 em 2006. Num

cenário análogo, o algodão atenderia a demanda para o B6, a mamona para o B2 e

o dendê (palma) para o B1.

Tabela 24 Produção das principais oleaginosas da Ba hia em 2005

Oleaginosas Soja Algodão Dendê Mamona

Produção em grãos ou cachos

(t) 1 991 400 810 253 176 089 68 615

Área colhida (ha) 872 600 242 066 44 783 108 950 Teor de óleo 17% 15% 20% 43%

Quantidade de óleo:

(t) 338 538 121 538 35 218 29 504 (m³) 372 020 133 558 38 701 32 422

Quantidade de biodiesel:

(t) 304 684 109 384 31 696 26 554 (m³) 342 342 122 903 34 831 29 836

BXX* alcançado B16 B6 B1 B1 *Cenário hipotético para 2005 Densidade padrão do biodiesel = 0,89 t/m³ densidade padrão dos óleos = 0,91 t/m³ conversão óleo→biodiesel = 90%

Fonte: IBGE, 2007a, com adaptação do autor

Os cenários analisados estão distantes da realidade, principalmente com relação à

soja, que, por ser tipicamente alimentícia, possui um mercado já consolidado para

esse fim.

O dendê (palma), apesar do seu grande potencial oleífero e das condições

edafoclimáticas favoráveis para o seu cultivo na Bahia, requer o maior de percentual

de expansão da área plantada. A simples substituição da variedade Dura pela

Tenera na população de dendezais baianos permitiria uma significativa elevação de

produtividade de pelo menos 66%. Esses números revelam o extraordinário mercado

que desponta para o setor agrícola, tanto para o agro negócio quanto para a

agricultura familiar.

140

Portanto, o aumento da área cultivada com oleaginosas é de imperiosa necessidade

para o incremento da produção agrícola, eliminando-se os riscos de desvios de

finalidade e evitando-se manifestações de oposição a empreendimentos de

produção de biocombustíveis.

141

3 POSSÍVEIS MODELOS PRODUTIVOS DE BIODIESEL

Um projeto agrícola razoavelmente concebido deve contemplar os aspectos:

• zoneamento agrícola ambientalmente sustentável das oleaginosas;

• assistência técnica no plantio e no manejo com foco no fortalecimento da

agricultura familiar;

• financiamento acessível e desburocratizado;

• fixação de preços mínimos e garantia de compra da produção.

Andrade et al. (2006) recomendam a instalação de micros usinas de extração de

óleo de mamona nas próprias comunidades de trabalhadores rurais como uma ação

estruturante de combate à pobreza. Uma vez que o óleo bruto e a torta de mamona,

co-produto associado, têm maior valor de mercado se comparados às bagas in

natura, sua comercialização poderá resultar em maior retorno financeiro aos

agricultores. Além disso, complementa o estudo, é de fundamental importância a

permanência da torta de mamona com os agricultores familiares, por representar um

adubo de excelente qualidade.

Essa recomendação também poderá ser estendida a outras oleaginosas, haja vista

os inegáveis benefícios financeiros para o pequeno agricultor promovidos pela

agregação de valor à sua produção.

O agrupamento dos pequenos trabalhadores rurais em organizações formalmente

constituídas é um elemento alavancador do fortalecimento da agricultura familiar, um

dos pilares do PNPB.

Diniz (1998) conceitua juridicamente pelo menos duas formas de agrupamento

funcional de trabalhadoreselas:

I) Associação “...contrato pelo qual um certo número de pessoas, ao se

congregar, coloca em comum serviços, atividades, conhecimentos, etc. em

prol de um mesmo ideal, objetivando a consecução de um determinado fim,

econômico ou não, com ou sem capital e sem intuitos lucrativos. Poderá ter

finalidade altruística (associação beneficente), egoística (associação literária,

142

esportiva ou recreativa) ou econômica não lucrativa (associação de socorro

mútuo)...”

II) Cooperativa “...associação sob a forma de sociedade com número

aberto de membros, que tem por escopo estimular a poupança, a aquisição e

a economia de seus associados, mediante atividade econômica comum. É

uma forma de organização de atividade econômica, tendo por finalidade a

produção agrícola ou industrial ou a circulação de bens ou serviços...”

Independentemente de sua natureza jurídica, qualquer das formas de agrupamento

de trabalhadores rurais deverá ser incentivada, tanto para a etapa de cultivo de

oleaginosas quanto para a extração do óleo. Na zona rural a organização de

trabalhadores por meio de cooperativas ou associações não está consolidada

levando o pequeno agricultor a comercializar sua pequena produção de grãos para

grandes empresas ou para intermediários consolidando formação de oligopsônios.

As usinas de produção de biodiesel deverão estar instaladas preferencialmente em

locais próximos ao esmagamento, de modo a evitar-se custos desnecessários de

transporte.

Leiras; Hamacher e Hammond (2006) descrevem três modelos de produção,

distintos entre si quanto às concepções estruturais, que podem ser adotados num

projeto produtivo. Admitindo que as atividades de cultivo de oleaginosas (atividade

I), extração do óleo (atividade II) e a conversão deste a éster (atividade III) sejam

sub-etapas da cadeia produtiva do biodiesel esses modelos podem ser:

• a) modelo verticalizado onde as etapas (I) + (II) +(III), integralizadas numa

única empresa, comporiam um complexo produtivo;

• b) modelo parcialmente verticalizado onde seriam realizadas as etapas (II)

+(III), com a aquisição de grãos do mercado produtor, seguida da extração do

óleo e a posterior produção de biodiesel;

• c) modelo típico industrial com o óleo bruto ou refinado sendo adquirido no

mercado e processado a biodiesel, etapa (III).

Independentemente do modelo produtivo adotado, as etapas (I), (II) e (III) devem

possuir capacidades de produção compatíveis entre si de modo a assegurar

continuidade operacional da cadeia produtiva.

143

Figura 26: Modelo verticalizado de produção de biod iesel

Fonte: Leiras, 2006

As verticalizações, apesar de aumentarem a complexidade da gestão, trazem

vantagens competitivas por permitirem a eliminação de impostos, fretes e margens

intermediárias, que fatalmente impactariam o custo do produto final. A indústria do

petróleo pode ser citada como um típico exemplo de uma cadeia produtiva

verticalizada, onde uma mesma corporação pode executar todas as etapas do

processo produtivo, desde as fases de prospecção, exploração e produção do óleo

bruto até a comercialização dos derivados nos postos de combustíveis, os pontos

finais de venda. No jargão típico do setor a cadeia petrolífera se estende do

upstream ao downstream. Esse modelo é o que se espera ser adotado pelas

empresas privadas, que têm na maximização da sua função objetivo, o lucro, a

consecução de suas metas.

No caso de uma instituição pública, ainda que sua finalidade também seja de

natureza econômica uma vez que se trata essencialmente de uma “empresa” e,

portanto, visa ao lucro, este, pelo menos em tese, deverá ser necessariamente

utilizado em prol da comunidade.

Extração de Óleo (II)

Produção de Biodiesel (III)

Cultivo de Oleaginosas (I)

144

Empresa Pública é definida por Diniz (1998) como: ”...entidade dotada de

personalidade jurídica de direito privado, com patrimônio próprio e capital exclusivo

da União; criada por lei para a exploração de atividade econômica que o governo

seja levado a exercer por força de contingência ou de conveniência administrativa,

podendo revestir-se de qualquer das formas admitidas em direito. É regida por

normas comerciais, trabalhistas e tributárias, e princípios administrativos.”

A autora distingue empresa pública de empresa de economia mista, a qual a define

como “sociedade de economia mista, que é pessoa jurídica de direito privado, criada

por lei para exploração de atividade econômica, sob a forma de sociedade anônima,

cujas ações com direito a voto pertencem, em sua maioria, à União ou à entidade da

administração indireta...”. Ou num sentido amplo “... é a organização que exerce

atividade econômica em que o Poder Público pode ser acionista majoritário ou

minoritário. Para que se configure uma empresa mista basta que haja qualquer

participação estatal no capital social”.

Souza Neto, Baiardi e Albuquerque (2006) descrevem duas estratégias competitivas

genéricas aplicadas à venda de determinado produto: a primeira, bastante

conhecida e praticada, é a diferenciação do produto cuja idéia geral é ter um produto

diferente daqueles dos concorrentes, pode ser melhor e mais caro ou pior e mais

barato, contanto que seja diferente. Logicamente, essa não seria a estratégia mais

adequada ao biodiesel, uma vez que o mercado consumidor dificilmente privilegiaria

algum tipo de biodiesel em detrimento dos demais, por exemplo, preferir o biodiesel

de soja ou de dendê (palma) ao invés do de mamona. A segunda estratégia, e mais

usada, é ter custos de produção mais baixos que os dos concorrentes, ficando

implícito tratar-se do mesmo produto. Esse caso se identifica com o negócio do

biodiesel cujo propósito de produção é a obtenção de um biocombustível com o

mínimo de custo haja vista o preço limite de venda que é definido pelo preço do

diesel de petróleo.

A maior produtora de diesel do Brasil, a Petrobras, empresa de economia mista que

vem atuando destacadamente em questões de responsabilidade social, optou por

adotar um modelo que contempla apenas a etapa III (produção do biodiesel com

aquisição do óleo no mercado) priorizando a aquisição mínima de 50% da matéria-

prima proveniente da agricultura familiar, de modo a assegurar para a empresa a

145

obtenção do Selo Combustível Social. Seus projetos de produção comercial de

biodiesel incluem três usinas localizadas em Candeias (Bahia), Quixadá (Ceará) e

Montes Claros (Minas Gerais) cada uma com capacidade instalada de 57 milhões de

litros por ano. A unidade de Candeias, região metropolitana de Salvador, é próxima

a uma base de distribuição de combustíveis. As outras três bases de distribuição de

combustíveis situam-se nos municípios de Jequié, Itabuna e Juazeiro. A localização

dessas bases de distribuição poderia motivar a instalação de outras usinas de

produção de biodiesel próximas a elas, promovendo a descentralização da produção

e o desenvolvimento regionalizado (PETROBRAS, 2007b).

Oportunamente, poderia ser discutida a viabilidade técnica e econômica de

instalação de mais uma base de distribuição de combustíveis na região Centro-

Oeste do estado, próxima aos municípios de Barreiras e Luis Eduardo Magalhães.

Essa decisão, além de promover uma melhor eqüidade na distribuição de

combustíveis, também agregaria maior flexibilidade energética àquela importante

região do estado.

A empresa Brasil Ecodiesel, maior do Brasil pelo critério de capacidade autorizada,

com 621 000 ano³m distribuídos em seis unidades espalhadas pelo Brasil (ANP,

2007b), optou pela adoção de um modelo de produção misto. Essa empresa,

visando garantir o máximo de independência em relação ao mercado de

commodities de óleos vegetais, vem implementando uma estratégia agrícola própria,

que inclui desde fomento da produção pela agricultura familiar, pela agricultura

intensiva, até produção própria de oleaginosas. Entretanto, de modo a assegurar os

benefícios do Selo Combustível Social, vem adquirindo da agricultura familiar cotas

de matérias-primas.

Alinhado a sua missão de promover o desenvolvimento humano e social das famílias

de produtores agrícolas brasileiros, a Brasil Ecodiesel incentiva a agricultura familiar

através de duas frentes: Núcleos de Produção Comunitária e Rede de Agricultura

Familiar.

Atualmente, a empresa possui um núcleo de produção familiar localizado em Canto

do Buriti, no Piauí (“Núcleo de Produção Comunitário Santa Clara”). Conforme os

contratos de parceria agrícola estabelecidos, a propriedade dos terrenos e imóveis

146

do Núcleo Santa Clara será transferida para os parceiros rurais após dez anos da

primeira colheita, sendo que os contratos foram celebrados em 2003 e 2004. O

núcleo já conta com cerca de 600 famílias assentadas e cerca de 3000 pessoas, às

quais foram oferecidas moradias, que contam com água encanada, saneamento

básico e eletricidade, e espaços para o desenvolvimento de pequenas hortas e

criações animais próprias. O núcleo conta, ainda, com escola, posto de saúde,

centro comercial e outras facilidades. A empresa promove campanhas de vacinação

e conscientização sobre saúde preventiva nas escolas e presta serviços gratuitos de

consultório odontológico. No campo cultural, realizam sessões de cinema a festejos

populares e disponibilizam nas escolas computadores com acesso à internet.

A Rede de Integração da Agricultura Familiar consiste na mobilização de famílias de

agricultores para que, através da produção de mamona, pinhão manso ou girassol,

consigam incrementar sua renda e obter melhores condições de vida. A Rede de

Agricultura Familiar vem sendo estabelecida baseada na capacitação, assistência

técnica e fornecimento de insumos necessários à produção agrícola. A Brasil

Ecodiesel garante todas as condições necessárias para o cultivo das oleaginosas,

principalmente a mamona, e os trabalhadores têm a compra de sua produção

garantida através de contrato com a empresa (BRASIL ECODIESEL, 2007).

147

4 METODOLOGIA

4.1 DESCRIÇÃO DA METODOLOGIA

Para a consecução do objetivo proposto pelo presente trabalho faz-se necessário

definir uma metodologia que determine os critérios e os indicadores de avaliação,

estabelecendo seus respectivos limites de abrangência.

A Figura 27 sintetiza as diversas alternativas de produção de biodiesel por meio da

transesterificação alcalina, rota industrial à qual o presente trabalho ficará

circunscrito, sendo as variáveis mostradas nos níveis abaixo:

� Nível 1: Três usinas de diferentes capacidades são listadas nesse nível. A

usina de 50 000 t/ano foi incluída na análise pelo fato de ser esta a

capacidade adotada pela maior produtora brasileira de diesel mineral para as

suas três primeiras usinas localizadas na Bahia, Ceará e Minas Gerais

(PETROBRAS, 2007a). 100 000 t/ano é a capacidade mais utilizada pelas

empresas brasileiras: das 51 usinas autorizadas pela ANP até dezembro de

2007 treze delas têm a capacidade em torno desse valor. Somente a Brasil

Ecodiesel, maior produtora brasileira de biodiesel pelo critério de capacidade

autorizada pela ANP, possui seis usinas com essa capacidade de produção

localizadas em diferentes Estados Brasileiros. Quanto à usina de 200 000

t/ano, essa é a capacidade das duas maiores usinas autorizadas pela ANP

até dezembro de 2007 (ANP, 2007b).

� Nível 2: estão as rotas de transesterificação quanto ao tipo de álcool utilizado

como matéria-prima. A rota metílica é a mais utilizada mundialmente, mas o

metanol é de origem fóssil e o Brasil não é auto-suficiente nesse álcool. O

Brasil teria grandes benefícios em adotar a rota etílica, tanto pela sua tradição

na produção de etanol como pela natureza renovável desse álcool, o que

conferiria ao biodiesel o titulo de combustível 100% renovável.

� Nível 3: são mostrados os possíveis modelos de produção: no modelo

verticalizado a atuação do produtor de biodiesel se inicia na fase agrícola da

produção de grãos, enquanto no modelo não verticalizado o produtor de

biodiesel adquire a matéria-prima de fornecedores externos.

148

� Nível 4: aplicável ao modelo não verticalizado, estão as naturezas

morfológicas das matérias-primas, grãos ou óleos.

Os três últimos Níveis apresentam os aspectos referentes à natureza jurídica do

fornecedor de matéria-prima, ao tipo de oleaginosa e à localização geográfica da

usina, que definirão as diferentes alíquotas incidentes sobre o biodiesel produzido.

� Nível 5: estão os diferentes fornecedores de matérias-primas quanto à

natureza jurídica, agricultura familiar ou agronegócio.

� Nível 6: são mostrados os dois grupos de oleaginosas utilizados para as

análises do presente estudo: soja, a oleaginosa mais abundante no mercado

brasileiro; e mamona, a oleaginosa que, juntamente com o dendê, assegura

vantagens tributárias ao produtor de biodiesel que a utilizar como matéria-

prima. No âmbito deste trabalho adotaremos as terminologias grupo da

mamona, para nos referirmos a esta oleaginosa e mais o dendê, e grupo da

soja, que inclui esta e as demais oleaginosas. Apesar das especificidades

técnicas de cada óleo vegetal, por questões de simplificação, foram utilizados

no processo produtivo os mesmos coeficientes técnicos para os dois óleos.

� Nível 7: aparecem os grupos geográficos do Brasil onde poderão estar

localizadas as usinas de biodiesel.

� Nível 8: finalmente neste nível são mostradas as quatro diferentes alíquotas

de tributação que, a depender da alternativa escolhida em cada um dos

Níveis mostrados na Figura 27, do Nível 1 ao Nível 7, uma delas incidirá sobre

o biodiesel produzido.

O preço de realização do biodiesel em cada alternativa dos referidos cenários

conduzirá a diferentes resultados financeiros que serão determinados por

indicadores que sinalizarão a viabilidade econômica do empreendimento.

149

Figura 27: Modelos de Produção de Biodiesel

Fonte: do autor

150

4.2 COEFICIENTES TÉCNICOS

Os indicadores econômicos utilizados neste trabalho permitiram a avaliação da

viabilidade econômica de usinas de produção de biodiesel com três diferentes

capacidades (50 000, 100 000 e 200 000 t/ano) cujos respectivos custos de capital

são mostrados na Tabela 25. Foram adotadas para essas usinas o mesmo processo

típico de transesterificação, que segue as premissas e os índices técnicos

relacionados nas Tabelas seguintes. Com relação à capacidade de 50 000 t/ano foi

avaliada a usina de uma empresa estatal, cujo custo de capital é indicado na terceira

coluna da Tabela 25, e comparados os seus resultados com as usinas de maior

capacidade. Cumpre comentar que os custos de capital de diferentes projetos

podem variar não proporcionalmente ao aumento da capacidade de produção. A

incorporação de avanços tecnológicos e o uso de equipamentos de diferentes

materiais podem interferir significativamente no custo global do investimento inicial, o

que poderia justificar a aparente distorção observada no investimento estimado para

a usina de 50 000 t/ano, superior ao informado para a usina de 100 000 t/ano.

Tabela 25 Investimentos iniciais de usinas de biodi esel

Capacidade (t/ano) 1Custo de Capital (10³ R$) 2Empresa Estatal (10³ R$) 50 000 - 83 100 100 000 60 000 - 200 000 110 000 -

Fontes: 1BiodieselBR, 2007; 2PETROBRAS, 2007a

A relação mássica 1:1 entre os triglicerídeos e os ésteres produzidos indica que

cada unidade de massa de matéria-prima consumida produzirá a mesma quantidade

de ésteres, para uma conversão de 100%. O etanol, por ter uma massa molar de 46

g/mol e por possuir um potencial catalisador levemente inferior ao metanol, exige

uma quantidade mássica quase 50% maior quando comparado ao metanol, que

pesa 32 g/mol.

151

Equação 4

CH2–O−OC–R1 R1-CO (O-R’) CH2–OH │ │

CH –O−OC–R2 + 3 R’−O(H) catalisador←→ R2−CO (O-R’) + CH –OH

│ │ CH2–O−OC–R3 R3−CO (O-R’) CH2–OH

Óleo Álcool Ésteres Glicerol

1000 u.m. 100 u.m. (Metanol) 1000 u.m. 100 u.m. 150 u.m. (Etanol)

u.m. = unidades de massa .

Tabela 26 Coeficientes Técnicos

Densidade do biodiesel 0,89 3mkg Conversão óleo→biodiesel 98% Insumos Custos Unitários Consumo por tonelada de óleo Metanol 1 268 tR$ 93 tkg

Etanol 1 470 tR$ 126 tkg

Metilato de Sódio 3 500 tR$ 21 tkg

Energia Elétrica 176 MWhR$ 22 tkWh

Vapor d’água 20 tR$ 415 tkg

Água de Processo 0,63 tR$ 40,87 tkg

Ácido Fosfórico (sol aq. 85%) 4 500 tR$ 0,500 tkg

Ácido Clorídrico (sol. aq. 37%) 950 tR$ 15 tkg

NaOH (sol. aq. 50%) 2 000 tR$ 36,44 tkg

Fonte: LEN, Relatório Técnico 2007

Os coeficientes técnicos mostrados na Tabela 26 adotam como premissa um peso

molecular padrão para os diversos óleos vegetais, apesar dos diferentes

comprimentos das cadeias dos ácidos graxos que os compõem. Portanto, as

relações estequiométricas mostradas na Equação 4 estabelecem uma razão mássica

padrão de 100:10 entre óleo:metanol e de 100:15 entre óleo:etanol.

Foi adotada a conversão padrão de 98% de óleo para biodiesel. A capacidade

nominal da usina, em t/ano, dividida pela conversão define o consumo anual de óleo,

igualmente expresso em t/ano. Para cada um dos insumos listados na Tabela 26

obtém-se o seu consumo unitário anual pela multiplicação do seu coeficiente técnico

(extraído da coluna ”Consumo por tonelada de óleo”) por consumo anual de óleo,

152

em t/ano. Esse consumo unitário anual multiplicado pelo custo unitário de cada

insumo resulta no custo unitário anual. O somatório dos custos unitários anuais dos

insumos representa os custos variáveis anuais. Os componentes dos custos fixos

são mostrados na Tabela 27. A soma entre custos fixos e custos variáveis anuais

resulta no custo total anual.

Tabela 27 Custos Fixos

Quadro Operacional 50 000 emR hom$

Gerência/Engenharia/Laboratório 750 000 anoR$

Manutenção (% sobre investimento) 3,00%

Seguros/Taxas (% sobre investimento) 0,45%

Fonte: do autor

Tabela 28 Quadro operacional

Capacidade (10³ m³/ano) Nº de operadores 10 a 25 2 25 a 60 3

60 a 100 4 100 acima 5

Fonte: do autor

Tabela 29 Premissas econômicas

Margem de contribuição do produtor 10%

PIS/COFINS Diferenciado

Custo de distribuição e revenda 12%

ICMS 12%

Preço final pretendido do biodiesel 1 800 tR$

Preço da glicerina bruta 320 tR$

Tributação sobre a receita bruta anual 32%

Taxa de desconto anual 10%

Período de análise 21 anos

Depreciação sobre o capital total 10%

Fonte: BiodieselBR, 2007 com adaptação do autor

153

4.3 INDICADORES DE AVALIAÇÃO ECONÔMICA

Um dos indicadores mais comumente utilizados como ferramenta de análise de

viabilidade econômica de investimentos é o Valor Presente Líquido (VPL) assim

definido:

Equação 5

( )∑= +

+−=n

tt

t

i

FCIVPL

1 1

Na equação mostrada acima, tFC representa o fluxo de caixa no t -ésimo período, I

é o investimento inicial, n é o período para o qual se projeta o investimento e i é o

custo do capital no período analisado ou a atratividade do investimento. Tem-se

como objetivo encontrar projetos ou alternativas de investimento que apresentem um

resultado positivo para VPL, ou seja, projetos que sejam economicamente viáveis.

Na eventualidade de um resultado negativo para VPL, a alternativa de investimento

deverá ser rejeitada ou então postergada a decisão para um diferente contexto

futuro. Outro indicador igualmente muito utilizado para análises de investimento é a

Taxa Interna de Retorno (TIR) que é definida como uma taxa hipotética de desconto

que torna nulo o VPL, ou:

Equação 6

( ) 011

=+

+−= ∑=

n

tt

t

i

FCIVPL

Um projeto é considerado economicamente viável se a taxa de retorno esperada for

maior que a taxa de retorno requerida ou, em outras palavras, se a Taxa Interna de

Retorno for maior que o custo de oportunidade do capital.

Payback ou tempo de retorno é a técnica utilizada para calcular o tempo necessário

para que as receitas líquidas de um empreendimento compensem o custo do

investimento, ou em outras palavras, o tempo necessário para recuperar o capital

investido no projeto. O período de payback, definido como o número de anos para

recuperar o investimento original, foi o primeiro método formal usado para avaliação

154

de projetos. O processo é simples: somam-se os futuros fluxos de caixa para cada

ano até que o custo inicial do projeto de capital seja pelo menos coberto. O tempo

total, incluindo-se a quantia total investida, constitui o período de payback

(SAMANEZ apud LEIRAS 2006).

A Tabela 30 apresenta o Fluxo de Caixa de um projeto industrial de produção de

biodiesel considerando um período de análise 21 anos. A coluna “ANO” mostra na

primeira linha o numeral 1 que representa o primeiro ano de análise do projeto; na

segunda linha, 2 a 11 representa o período que vai do segundo ao décimo - primeiro

ano e, finalmente, 12 a 21 do décimo - segundo ao vigésimo - primeiro ano do

projeto. Na coluna “RECEITA BRUTA” aparecem os recursos provenientes da

comercialização dos produtos da usina: biodiesel e glicerina. Na coluna

“CUSTO TOTAL ANUAL” são mostrados os valores anuais da soma entre os custos

fixos e os custos variáveis, observando que a esses valores são atribuídos sinais

negativos. A coluna “SALDO BRUTO” mostra o resultado da operação de soma entre

os valores da coluna “RECEITA BRUTA ANUAL” (positivo) com a coluna

“CUSTO TOTAL ANUAL” (negativo). No período 1 não há receita, apenas o Custo de

Investimento resultando no “SALDO BRUTO” negativo; do período 2 a 11 o Saldo

Líquido é obtido descontando da Receita Bruta, além da tributação, a depreciação

do investimento; do período 12 a 21 desconta-se apenas a parcela da tributação.

Tabela 30 Fluxo de Caixa

ANO RECEITA

BRUTA ANUAL(R$) A

CUSTO TOTAL ANUAL (R$)

B

SALDO BRUTO (R$)

C =

SALDO LÍQUIDO (R$)

D

1 0 I− A + B = I− D = C = I−

2 a 11 RBA CTA RBA + CTA D = C – [C*t (1 – d)]

12 a 21 RBA CTA RBA + CTA D = [C – C*t]

Fonte: do autor

Onde RBA é a soma das receitas anuais geradas pela comercialização dos produtos

biodiesel e glicerina, CTA é a soma dos custos fixos com os custos variáveis

lançados anualmente, t = 32% é a tributação sobre a Receita Bruta Anual, e

d = 10% é a depreciação do investimento.

155

Os valores da coluna “SALDO LÍQUIDO” , referentes aos períodos 2 a 11 e 12 a 21,

representam o termo tFC das Equação 5 e Equação 6, ou seja, o fluxo de caixa da

análise de investimento. No primeiro período é assumido não haver receitas, apenas

o desembolso inicial, logo o saldo líquido do ANO 1 é o próprio investimento da

usina, o termo I− das equações citadas.

Além do VPL, outro critério para determinar a viabilidade ou não de uma usina é o

preço final do biodiesel. Este preço deverá ter como referência o preço do diesel

mineral, que é o derivado de petróleo que o biodiesel se propõe a ser o sucedâneo.

Para se determinar o preço final do biodiesel precisamos inicialmente calcular o

preço de realização do mesmo. O preço de realização do biodiesel para cada usina

é função do custo de produção e da margem de contribuição atribuída ao negócio,

que neste estudo foi convencionado ser de 10%. O custo de produção, por sua vez,

é obtido pela razão entre “CUSTO TOTAL ANUAL , em R$/ano, e Capacidade da

Usina, em m³/ano. Ao resultado obtido, expresso em R$/m³, acrescenta-se a

margem de contribuição, aqui definida como 10%. Os preços de realização obtidos,

independentemente de sua competitividade comercial, são os valores efetivamente

utilizados para determinação do preço final do biodiesel, do VPL e da TIR. Em

função da multiplicidade de respostas envolvidas foi utilizada uma ferramenta

eletrônica para facilitar e agilizar a operacionalização dos cálculos.

Os cálculos para determinação de VPL, TIR e Payback foram facilitados pelo uso da

ferramenta Microsoft Excel que dispõe de várias funções de análise econômica:

• 1° passo: seleção da oleaginosa que tem como variá veis dependentes os

coeficientes técnicos e seu preço individual;

• 2º passo: seleção do álcool que define o consumo relativo e seu preço

individual;

• 3º passo: seleção da capacidade da usina: que definem os custos

proporcionais ao seu porte;

• 4º passo: seleção da alíquota aplicável ao biodiesel produzido a qual depende

da combinação de variáveis previstas na legislação vigente, como tipo de

oleaginosa e localização da usina.

156

5 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

5.1 CENÁRIOS DE PRODUÇÃO DE BIODIESEL

A Tabela 31 sumariza as possíveis rotas de produção do biodiesel, baseadas no

esquema da Figura 27. São discutidas vinte possibilidades para cada uma das três

usinas de biodiesel avaliadas as quais são listadas na primeira coluna da Tabela 31.

Ao selecionarmos uma alternativa dessa coluna, à medida que nos deslocamos para

a direita da tabela vamos selecionando variáveis em cada uma das cinco colunas

subseqüentes que provocam alterações nas respostas buscadas. Essas respostas

são justamente os seis indicadores de avaliação utilizados neste trabalho: receita

anual da usina, custos anuais, VPL, TIR, Payback e preço final do biodiesel. É

importante destacar que essas respostas são dependentes não apenas das

variáveis mostradas nas colunas, mas também da tributação diferenciada. Cada uma

das alternativas apresentadas conduz a uma das quatro alíquotas de PIS/COFINS

incidentes sobre o biodiesel produzido. Essas alíquotas (R$ 0,00/m³; R$ 70,02/m³;

R$ 151,50/m³ e R$ 217,96/m³) podem impactar significativamente o preço final do

biodiesel e os resultados financeiros das usinas, e interferir na definição de

viabilidade econômica ou não do empreendimento.

Desse modo, as alternativas de A a D se referem a um modelo de produção

verticalizado, enquanto as Alternativas E1 a L2 a um modelo de produção não

verticalizado, critério definido pela segunda coluna da tabela. A terceira coluna

especifica a origem da matéria-prima, se é de produção própria ou adquirida de

terceiros na forma de grãos ou de óleos. A coluna seguinte define a rota industrial,

metílica ou etílica. Mais um deslocamento e definimos o grupo de oleaginosa, soja

ou mamona. Finalmente, a última coluna define a natureza jurídica do fornecedor de

matéria-prima, agricultura familiar ou agronegócio. No caso da produção

verticalizada a última coluna se refere necessariamente ao agronegócio.

Tomemos como exemplo a Alternativa A: adota um modelo verticalizado que

assume necessariamente a produção própria de grãos e associa o empreendimento

ao agronegócio, pode adotar a rota metílica ou etílica, e usar soja ou mamona como

matéria-prima.

157

Tabela 31 Possíveis configurações para produção de biodiesel

ALTERNATIVAS DE PRODUÇÃO

MODELO DE PRODUÇÃO

AQUISIÇÃO DA MATÉRIA-

PRIMA

ROTA INDUSTRIAL

GRUPO DE OLEAGINOSAS

FORNECEDOR

Alternativa A Metílica Alternativa B Etílica

Soja

Alternativa C Metílica Alternativa D

Verticalizado I Produção

agrícola própria

Etílica Mamona

Agronegócio

Alternativa E1 Metílica Alternativa E2 Etílica

Soja

Alternativa F1 Metílica Alternativa F2 Etílica

Mamona

Agricultura familiar

Alternativa G1 Metílica Alternativa G2 Etílica

Soja

Alternativa H1 Metílica Alternativa H2

II Compra

externa de grãos

Etílica Mamona

Agronegócio

Alternativa I1 Metílica Alternativa I2 Etílica

Soja

Alternativa J1 Metílica Alternativa J2 Etílica

Mamona

Agricultura familiar

Alternativa K1 Metílica Alternativa K2 Etílica

Soja

Alternativa L1 Metílica Alternativa L2

Não verticalizado

III Compra

externa de óleos

Etílica Mamona

Agronegócio

Fonte: do autor

Cabe ressaltar que as alternativas mostradas não são necessariamente excludentes

entre si, podendo haver configurações mistas, como por exemplo, uma parcela dos

grãos ser de produção própria, caracterizando um modelo verticalizado, e outra

parcela de grãos adquirida de fornecedores externos. Por extensão, seria também

possível uma combinação entre as formas de apresentação da matéria-prima com a

aquisição mista de grãos ou óleos de fornecedores externos, como também parte da

aquisição ser proveniente da agricultura familiar e outra parte do agronegócio. Na

mesma lógica, metanol e etanol poderiam ser utilizados no mesmo processo de

produção a várias proporções, tanto para o modelo verticalizado quanto para o não

verticalizado. Entretanto, apesar da multiplicidade de variações possíveis, serão

consideradas as situações típicas nas quais as alternativas são mutuamente

excludentes.

A correlação da soja com a agricultura familiar, contida na Tabela 31, é citada

unicamente com propósito acadêmico, haja vista a forte participação do agronegócio

na cadeia produtiva dessa oleaginosa que, combinando alta escala de produção

158

com recursos tecnológicos, consegue redução significativa dos custos de produção e

inibe a participação da agricultura familiar nesse segmento.

Quanto à natureza jurídica do fornecedor externo, cabe lembrar que as aquisições

de matéria-prima proveniente da agricultura familiar, dentro dos percentuais mínimos

estabelecidos pela legislação, assegurarão ao produtor de biodiesel a obtenção do

Selo Combustível Social.

159

5.1.1 CENÁRIO I (PRODUÇÃO VERTICALIZADA)

Neste Capítulo são apresentados os resultados de uma produção verticalizada na

qual a atuação do produtor ocorre em toda a cadeia produtiva do biodiesel, nas

fases agrícola e industrial, iniciando-se com o plantio de oleaginosas para produção

dos grãos até a especificação do produto acabado, o biodiesel. Para efetuar a

análise econômica das alternativas do Cenário I (rota metílica ou etílica), adotamos

os custos de produção de óleos de mamona e soja considerando os preços médios

de grãos em 2007: para a soja, R$ 438,67/t e para a mamona R$ 488,95/t

(Companhia, 2007a).

A Tabela 32 apresenta a composição dos custos de produção dos óleos no modelo

verticalizado. Para a composição dos custos de produção dos grãos foram

considerados: custeio da lavoura, despesas pós-colheita, despesas financeiras,

depreciações, outros custos fixos e a renda da terra. Os custos de esmagamento e

de frete foram considerados os mesmos para as duas oleaginosas. Para a obtenção

do custo de produção dos óleos foram descontadas as receitas geradas pela

comercialização das tortas.

Tabela 32 Custos de produção de óleos no modelo ver ticalizado

OLEAGINOSAS COMPOSIÇÃO DOS CUSTOS DE PRODUÇÃO DOS ÓLEOS

MAMONA SOJA

Custo de Produção de grãos (R$/t grãos) 488,95 438,67

Custo de Esmagamento (R$/t grão) 50

Frete (R$/t óleo) 10

Teor de óleo 43% 17%

Densidade do óleo (t/m³) 0,91

Receita da torta (R$/t torta) 250 400

Custo de produção do óleo (R$/t óleo) 932,09 931,57

Fonte: COMPANHIA, 2007a, com adaptação do autor

160

Tabela 33 Resultados do biodiesel de soja no modelo verticalizado

ALTERNATIVA A ROTA METÍLICA - TRIBUTAÇÃO R$ 217,96/m³

CAPAC. DA USINA 50 000 t/ano 100 000 t/ano 200 000 t/ano RECEITA ANUAL R$ 73.070.630,86 R$ 141.010.971,73 R$ 279.442.443,45 CUSTOS ANUAIS R$ 64.536.937,15 R$ 124.409.974,30 R$ 246.474.948,59 VPL (R$ 29.107.812,67) R$ 35.791.883,44 R$ 79.398.601,69 TIR 3,72% 18,96% 20,72% PAYBACK 14 ANOS 5 ANOS 5 ANOS PREÇO DO BIODIESEL 1.899,48 R$/m³ 1.840,94 R$/m³ 1.826,22 R$/m³

ALTERNATIVA B ROTA ETÍLICA - TRIBUTAÇÃO R$ 217,96/m³

CAPAC. DA USINA 50 000 t/ano 100 000 t/ano 200 000 t/ano RECEITA ANUAL R$ 76.847.447,19 R$ 148.564.604,38 R$ 294.549.708,76 CUSTOS ANUAIS R$ 67.970.406,54 R$ 131.276.913,07 R$ 260.208.826,14

VPL (R$ 27.239.428,04) R$ 39.528.652,70 R$ 86.872.140,21 TIR 4,17% 19,84% 21,67%

PAYBACK 14 ANOS 5 ANOS 5 ANOS PREÇO DO BIODIESEL 1.985,67 R$/m³ 1.927,13 R$/m³ 1.912,41 R$/m³

Fonte: do autor

As Tabela 33 e Tabela 34 nos revelam que a todas as configurações da usina de

50 000 t/ano apresentam números negativos para VPL, enquanto que as usinas

maiores mostraram-se economicamente atrativas segundo o mesmo indicador.

Tabela 34 Resultados do biodiesel de mamona no mode lo verticalizado

ALTERNATIVA C ROTA METÍLICA - TRIBUTAÇÃO R$ 151,50/m³

CAPAC. DA USINA 50 000 t/ano 100 000 t/ano 200 000 t/ano RECEITA ANUAL R$ 73.195.452,80 R$ 141.260.615,60 R$ 279.941.731,21 CUSTOS ANUAIS R$ 64.650.411,64 R$ 124.636.923,28 R$ 246.928.846,55 VPL (R$ 29.046.063,47) R$ 35.915.381,84 R$ 79.645.598,49 TIR 3,74% 18,99% 20,75% PAYBACK 14 ANOS 5 ANOS 5 ANOS PREÇO DO BIODIESEL 1.817,12 R$/m³ 1.758,58 R$/m³ 1.743,87 R$/m³

ALTERNATIVA D ROTA ETÍLICA - TRIBUTAÇÃO R$ 151,50/m³

CAPAC. DA USINA 50 000 t/ano 100 000 t/ano 200 000 t/ano RECEITA ANUAL R$ 76.972.269,13 R$ 148.814.248,26 R$ 295.048.996,51 CUSTOS ANUAIS R$ 68.083.881,03 R$ 131.503.862,05 R$ 260.662.724,10 VPL (R$ 27.177.678,84) R$ 39.652.151,10 R$ 87.119.137,01 TIR 4,18% 19,87% 21,70% PAYBACK 14 ANOS 5 ANOS 5 ANOS PREÇO DO BIODIESEL 1.903,31 R$/m³ 1.844,77 R$/m³ 1.830,06 R$/m³

Fonte: do autor

Com relação aos preços finais do biodiesel, as plantas de 100 000 t/ano e

200 000 t/ano conseguem produzir biodiesel com preços inferiores ao do diesel

161

mineral, que durante 2007 esteve cotado a um valor médio de R$ 1 800/m³, apenas

em configurações restritas: usina instalada no Norte/Nordeste/Semi-árido com

capacidade a partir de 100 000 t/ano, produzindo biodiesel a partir de mamona e

utilizando a rota metílica. Esse resultado se justifica pelo fato dessas usinas se

beneficiarem da legislação vigente que, por meio de tributação diferenciada,

privilegia empreendimentos que utilizem mamona ou dendê como matérias-primas e

se instalem naquelas regiões. Usinas de mesmas capacidades ao utilizarem a soja

(ou por extensão, qualquer oleaginosa diferente de mamona ou dendê) e instaladas

em regiões diferentes daquelas, apesar de apresentarem VPL positivo, não

conseguiriam produzir biodiesel com preços finais inferiores a R$ 1 800/m³. A rigor,

dentro de uma mesma configuração, alterando apenas a capacidade produtiva, as

usinas de 200 000 t/ano conseguem obter biodiesel com os menores preços.

Também pode ser observada a contribuição do tipo de álcool sobre os resultados,

onde os preços do biodiesel da rota etílica são superiores àqueles da rota metílica.

Isto se deve tanto ao preço do metanol ser inferior ao do etanol, como às

especificidades técnicas desse álcool em relação àquele, o que impacta diretamente

o preço final do produto biodiesel.

162

5.1.2 CENÁRIO II (COMPRA DE GRÃOS DE TERCEIROS)

Neste cenário são apresentados os resultados de produção usando a alternativa em

que os grãos são adquiridos de terceiros a preços de mercado. Pelos dados da

Secretaria da Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária do Estado da Bahia – Seagri,

em 2007 os preços médios da saca de 60 kg de mamona e soja foram de R$ 52 e

R$ 33, respectivamente. Com esses valores, os óleos produzidos a partir do

esmagamento desses grãos, resultam em R$ 1 810,40/t para a mamona e R$

1 586,50/t para a soja, conforme premissas mostradas na Tabela 35.

Tabela 35 Custo de produção de óleo com compra de g rãos de terceiros

OLEAGINOSAS COMPOSIÇÃO DOS CUSTOS DE PRODUÇÃO DOS ÓLEOS

MAMONA SOJA

R$/saca 60kg 52 33 Custo de aquisição de grãos

R$/t grãos 867 550

Custo de Esmagamento (R$/t grão) 50

Frete (R$/t óleo) 10

Teor de óleo 43% 17%

Densidade do óleo (t/m³) 0,91

Receita da torta (R$/t torta) 250 400

Custo do óleo (R$/t óleo) 1 810,40 1 586,50

Fonte: COMPANHIA, 2007a, com adaptação do autor

No modelo produtivo que adota a compra de grãos de terceiros, a usina de 50 000

t/ano apresenta VPL negativo para todas as configurações.

A Tabela 36 apresenta a segunda melhor configuração para um modelo não

verticalizado, segundo o critério da tributação, apresentando a agricultura familiar

como fornecedora de grãos de soja (ou por extensão qualquer oleaginosa diferente

de mamona ou dendê) com a usina instalada em qualquer região diferente de

norte/nordeste/semi-árido. Para essa configuração o biodiesel com menor preço foi

obtido pela usina de 200 000 t/ano pela rota metílica, R$ 2 475,35/m³, e o maior,

pela usina de 50 000 t/ano pela rota etílica, R$ 2 634,80/m³.

163

Tabela 36 Compra de grãos de soja da agricultura fa miliar (Outras regiões)

ALTERNATIVA E 1 ROTA METÍLICA - TRIBUTAÇÃO R$ 70,02/m³

CAPAC. DA USINA 50 000 t/ano 100 000 t/ano 200 000 t/ano RECEITA ANUAL R$ 109.826.906,37 R$ 214.523.522,75 R$ 426.467.545,49 CUSTOS ANUAIS R$ 97.951.733,07 R$ 191.239.566,13 R$ 380.134.132,27 VPL (R$ 10.924.545,52) R$ 72.158.417,74 R$ 152.131.670,29 TIR 7,79% 27,31% 29,73% PAYBACK 10 ANOS 4 ANOS 4 ANOS PREÇO DO BIODIESEL 2.548,61 R$/m³ 2.490,07 R$/m³ 2.475,35 R$/m³

ALTERNATIVA E2 ROTA ETÍLICA - TRIBUTAÇÃO R$ 70,02/m³

CAPAC. DA USINA 50 000 t/ano 100 000 t/ano 200 000 t/ano RECEITA ANUAL R$ 113.603.722,70 R$ 222.077.155,40 R$ 441.574.810,80 CUSTOS ANUAIS R$ 101.385.202,45 R$ 198.106.504,91 R$ 393.868.009,82 VPL (R$ 9.056.160,89) R$ 75.895.187,00 R$ 159.605.208,82 TIR 8,18% 28,15% 30,64% PAYBACK 10 ANOS 4 ANOS 4 ANOS PREÇO DO BIODIESEL 2.634,80 R$/m³ 2.576,26 R$/m³ 2.561,54 R$/m³

Fonte: do autor

A Tabela 37 apresenta os resultados do processamento do óleo de mamona a

biodiesel. Para o modelo não verticalizado essa configuração (mamona adquirida da

agricultura familiar com usina instalada no Norte/Nordeste/Semi-árido) é a mais

favorável do ponto de vista tributário, pois permite isenção total de impostos sobre o

biodiesel produzido.

164

Tabela 37 Compra de grãos de mamona da agric. famil iar (N/NE/Semi-árido)

ALTERNATIVA F1 ROTA METÍLICA - TRIBUTAÇÃO R$ 0,00/m³

CAPAC. DA USINA 50 000 t/ano 100 000 t/ano 200 000 t/ano RECEITA ANUAL R$ 122.488.360,96 R$ 239.846.431,93 R$ 477.113.363,86 CUSTOS ANUAIS R$ 109.462.146,33 R$ 214.260.392,66 R$ 426.175.785,33 VPL (R$ 4.660.945,41) R$ 84.685.617,96 R$ 177.186.070,74 TIR 9,07% 30,11% 32,77% PAYBACK 9 ANOS 4 ANOS 4 ANOS PREÇO DO BIODIESEL 2.747,78 R$/m³ 2.689,24 R$/m³ 2.674,53 R$/m³

ALTERNATIVA F2 ROTA ETÍLICA - TRIBUTAÇÃO R$ 0,00/m³

CAPAC. DA USINA 50 000 t/ano 100 000 t/ano 200 000 t/ano RECEITA ANUAL R$ 126.265.177,29 R$ 247.400.064,58 R$ 492.220.629,17 CUSTOS ANUAIS R$ 112.895.615,72 R$ 221.127.331,44 R$ 439.909.662,88 VPL (R$ 2.792.560,78) R$ 88.422.387,22 R$ 184.659.609,26 TIR 9,45% 30,95% 33,68% PAYBACK 9 ANOS 4 ANOS 3 ANOS PREÇO DO BIODIESEL 2.833,97 R$/m³ 2.775,43 R$/m³ 2.760,72 R$/m³

Fonte: do autor

Para essa configuração o biodiesel com menor preço final foi obtido pela usina de

200 000 t/ano usando a rota metílica, R$ 2 674,53/m³, e o maior, pela usina de

50 000 t/ano usando a rota etílica, R$ 2 833,97/m³.

165

A Tabela 38 e a Tabela 39 alteram a natureza do fornecedor de agricultura familiar

para agronegócio.

Tabela 38 Compra de grãos de soja do agronegócio (O utras regiões)

ALTERNATIVA G1 ROTA METÍLICA - TRIBUTAÇÃO R$ 217,96/m³

CAPAC. DA USINA 50 000 t/ano 100 000 t/ano 200 000 t/ano RECEITA ANUAL R$ 109.826.906,37 R$ 214.523.522,75 R$ 426.467.545,49 CUSTOS ANUAIS R$ 97.951.733,07 R$ 191.239.566,13 R$ 380.134.132,27 VPL (R$ 10.924.545,52) R$ 72.158.417,74 R$ 152.131.670,29 TIR 7,79% 27,31% 29,73% PAYBACK 10 ANOS 4 ANOS 4 ANOS PREÇO DO BIODIESEL 2.738,28 R$/m³ 2.679,74 R$/m³ 2.665,02 R$/m³

ALTERNATIVA G2 ROTA ETÍLICA - TRIBUTAÇÃO R$ 217,96/m³

CAPAC. DA USINA 50 000 t/ano 100 000 t/ano 200 000 t/ano RECEITA ANUAL R$ 113.603.722,70 R$ 222.077.155,40 R$ 441.574.810,80 CUSTOS ANUAIS R$ 101.385.202,45 R$ 198.106.504,91 R$ 393.868.009,82 VPL (R$ 9.056.160,89) R$ 75.895.187,00 R$ 159.605.208,82 TIR 8,18% 28,15% 30,64% PAYBACK 10 ANOS 4 ANOS 4 ANOS PREÇO DO BIODIESEL 2.824,46 R$/m³ 2.765,93 R$/m³ 2.751,21 R$/m³

Fonte: do autor

A Tabela 38 apresenta os resultados das usinas de biodiesel instaladas em regiões

diferentes de norte, nordeste ou semi-árido, nas quais o produtor adquire grãos de

soja do agronegócio. As usinas de 50 000 t/ano apresentam valores negativos para

VPL em ambas as rotas metílica e etílica, e as usinas de maiores capacidades

mostram-se economicamente viáveis com interessantes taxas internas e tempos de

retorno dos investimentos.

166

Tabela 39 Compra de grãos de mamona do agronegócio (N/NE/Semi-árido)

ALTERNATIVA H1 ROTA METÍLICA - TRIBUTAÇÃO R$ 151,50/m³

CAPAC. DA USINA 50 000 t/ano 100 000 t/ano 200 000 t/ano RECEITA ANUAL R$ 122.488.360,96 R$ 239.846.431,93 R$ 477.113.363,86 CUSTOS ANUAIS R$ 109.462.146,33 R$ 214.260.392,66 R$ 426.175.785,33 VPL (R$ 4.660.945,41) R$ 84.685.617,96 R$ 177.186.070,74 TIR 9,07% 30,11% 32,77% PAYBACK 9 ANOS 4 ANOS 4 ANOS PREÇO DO BIODIESEL 2.942,01 R$/m³ 2.883,47 R$/m³ 2.868,76 R$/m³

ALTERNATIVA H2 ROTA ETÍLICA - TRIBUTAÇÃO R$ 151,50/m³

CAPAC. DA USINA 50 000 t/ano 100 000 t/ano 200 000 t/ano RECEITA ANUAL R$ 126.265.177,29 R$ 247.400.064,58 R$ 492.220.629,17 CUSTOS ANUAIS R$ 112.895.615,72 R$ 221.127.331,44 R$ 439.909.662,88 VPL (R$ 2.792.560,78) R$ 88.422.387,22 R$ 184.659.609,26 TIR 9,45% 30,95% 33,68% PAYBACK 9 ANOS 4 ANOS 3 ANOS PREÇO DO BIODIESEL 3.028,20 R$/m³ 2.969,66 R$/m³ 2.954,95 R$/m³

Fonte: autor

A Tabela 39 mostra os resultados obtidos pelas usinas instaladas no norte, nordeste

ou semi-árido que adquirem grãos de mamona do agronegócio, onde podemos

constatar mais uma vez a não viabilidade econômica da usina de 50 000 t/ano.

Os preços de aquisição de grãos provenientes do agronegócio foram considerados

os mesmos da agricultura familiar, caso contrário, estaríamos introduzindo mais uma

variável na análise econômica dos cenários. Esse novo componente provocaria um

injustificável incremento na complexidade das possíveis combinações, desviando um

dos focos deste capítulo que é discutir a influência que os fornecedores de matérias-

primas, diferentes quanto à natureza jurídica, exercem sobre a tributação

diferenciada do biodiesel produzido e, por extensão, sobre os resultados

econômicos das usinas.

Os preços finais do biodiesel obtidos neste Capítulo estão absurdamente elevados.

O diesel mineral cotado a R$ 1 800/m³ torna o biodiesel um produto com baixa

competitividade comercial se seu preço final for muito acima desse limite.

Considerando todas as possíveis configurações de compra de grãos de terceiros, a

usina de 200 000 t/ano produz o biodiesel mais barato (R$ 2 475,35/m³ de biodiesel

de soja produzido pela rota metílica com compra de grãos da agricultura familiar) e a

167

de 50 000 t/ano, o mais caro (R$ 3 028,20/m³ de biodiesel de mamona produzido

pela rota etílica com compra de grãos do agronegócio).

5.1.3 CENÁRIO III (AQUISIÇÃO DE ÓLEOS DE TERCEIROS) Neste Capítulo são apresentados os resultados de uma produção não verticalizada

com aquisição de óleos a partir da agricultura familiar ou agronegócio. Os preços

médios para os óleos de mamona e soja durante o ano de 2007 foram R$ 2 500 e

R$ 1 700, respectivamente (RBB, 2007). Devemos lembrar mais uma vez que os

elevados custos de matérias-primas, particularmente os óleos vegetais, vêm

exercendo uma forte pressão inflacionária sobre os custos de produção do biodiesel,

desestimulando o crescimento do setor.

Tabela 40 Compra de óleo de soja da agricultura fam iliar (Outras regiões)

ALTERNATIVA I1 ROTA METÍLICA - TRIBUTAÇÃO R$ 70,02/m³

CAPAC. DA USINA 50 000 t/ano 100 000 t/ano 200 000 t/ano RECEITA ANUAL R$ 116.196.804,33 R$ 227.263.318,66 R$ 451.947.137,33 CUSTOS ANUAIS R$ 103.742.549,39 R$ 202.821.198,79 R$ 403.297.397,57 VPL (R$ 7.773.367,81) R$ 78.460.773,17 R$ 164.736.381,16 TIR 8,44% 28,72% 31,27% PAYBACK 10 ANOS 4 ANOS 4 ANOS PREÇO DO BIODIESEL 2.693,97 R$/m³ 2.635,44 R$/m³ 2.620,72 R$/m³

ALTERNATIVA I2 ROTA ETÍLICA - TRIBUTAÇÃO R$ 70,02/m³

CAPAC. DA USINA 50 000 t/ano 100 000 t/ano 200 000 t/ano RECEITA ANUAL R$ 119.973.620,66 R$ 234.816.951,32 R$ 467.054.402,63 CUSTOS ANUAIS R$ 107.176.018,78 R$ 209.688.137,56 R$ 417.031.275,12 VPL (R$ 5.904.983,18) R$ 82.197.542,43 R$ 172.209.919,68 TIR 8,82% 29,56% 32,17% PAYBACK 10 ANOS 4 ANOS 4 ANOS PREÇO DO BIODIESEL 2.780,16 R$/m³ 2.721,62 R$/m³ 2.706,91 R$/m³

Fonte: do autor

A Tabela 40 mostra os resultados das usinas instaladas em regiões distintas de

norte, nordeste ou semi-árido que adquirem óleo de soja da agricultura familiar. Para

essa configuração a alíquota incidente é de R$ 70,02/m³ de biodiesel.

Semelhantemente ao outros cenários apresentados, apenas a usina de 50 000 t/ano

mostrou inviabilidade econômica. Para as usinas de maiores capacidades os tempos

de retorno do investimento e as taxas internas de retorno mostraram valores

atrativos.

168

Tabela 41 Compra de óleo de mamona da agric. famili ar (N/NE/Semi-árido)

ALTERNATIVA J1 ROTA METÍLICA - TRIBUTAÇÃO R$ 0,00/m³

CAPAC. DA USINA 50 000 t/ano 100 000 t/ano 200 000 t/ano RECEITA ANUAL R$ 161.190.401,78 R$ 317.250.513,56 R$ 631.921.527,12 CUSTOS ANUAIS R$ 144.645.819,80 R$ 284.627.739,60 R$ 566.910.479,20

VPL R$ 14.484.888,54 R$ 122.977.285,86 R$ 253.769.406,53 TIR 12,76% 38,59% 41,99%

PAYBACK 8 ANOS 3 ANOS 3 ANOS PREÇO DO BIODIESEL 3.630,98 R$/m³ 3.572,44 R$/m³ 3.557,73 R$/m³

ALTERNATIVA J2 ROTA ETÍLICA - TRIBUTAÇÃO R$ 0,00/m³

CAPAC. DA USINA 50 000 t/ano 100 000 t/ano 200 000 t/ano RECEITA ANUAL R$ 164.967.218,11 R$ 324.804.146,22 R$ 647.028.792,43 CUSTOS ANUAIS R$ 148.079.289,19 R$ 291.494.678,38 R$ 580.644.356,76

VPL R$ 16.353.273,17 R$ 126.714.055,12 R$ 261.242.945,05 TIR 13,10% 39,41% 42,88%

PAYBACK 7 ANOS 3 ANOS 3 ANOS PREÇO DO BIODIESEL 3.717,17 R$/m³ 3.658,63 R$/m³ 3.643,92 R$/m³

Fonte: do autor

A Tabela 41 apresenta os resultados obtidos pelas usinas instaladas no norte,

nordeste ou semi-árido que adquirem óleo de mamona da agricultura familiar.

Devemos observar que essa configuração, favorecida pela legislação vigente que

isenta o biodiesel de tributação, apresenta viabilidade econômica para todas as

usinas, com ordem crescente de atratividade à medida do aumento da capacidade

produtiva. Os preços finais de biodiesel, entretanto, influenciados pelo alto valor de

mercado do óleo de mamona, apresentam valores cerca de 100% superiores ao

preço de mercado do diesel mineral em dezembro de 2007, R$ 1 800/m³

(PETROBRAS, 2007c).

169

Tabela 42 Compra de óleo de soja do agronegócio (Ou tras regiões)

ALTERNATIVA K1 ROTA METÍLICA - TRIBUTAÇÃO R$ 217,96/m³

CAPAC. DA USINA 50 000 t/ano 100 000 t/ano 200 000 t/ano RECEITA ANUAL R$ 116.196.804,33 R$ 227.263.318,66 R$ 451.947.137,33 CUSTOS ANUAIS R$ 103.742.549,39 R$ 202.821.198,79 R$ 403.297.397,57 VPL (R$ 7.773.367,81) R$ 78.460.773,17 R$ 164.736.381,16 TIR 8,44% 28,72% 31,27% PAYBACK 10 ANOS 4 ANOS 4 ANOS PREÇO DO BIODIESEL 2.883,64 R$/m³ 2.825,10 R$/m³ 2.810,39 R$/m³

ALTERNATIVA K2 ROTA ETÍLICA - TRIBUTAÇÃO R$ 217,96/m³

CAPAC. DA USINA 50 000 t/ano 100 000 t/ano 200 000 t/ano RECEITA ANUAL R$ 119.973.620,66 R$ 234.816.951,32 R$ 467.054.402,63 CUSTOS ANUAIS R$ 107.176.018,78 R$ 209.688.137,56 R$ 417.031.275,12 VPL (R$ 5.904.983,18) R$ 82.197.542,43 R$ 172.209.919,68 TIR 8,82% 29,56% 32,17% PAYBACK 10 ANOS 4 ANOS 4 ANOS PREÇO DO BIODIESEL 2.969,83 R$/m³ 2.911,29 R$/m³ 2.896,57 R$/m³

Fonte: do autor

A Tabela 42 apresenta os resultados das usinas instaladas em regiões diferentes de

norte, nordeste ou semi-árido que adquirem óleo de soja do agronegócio, o que

caracterizam as configurações menos favoráveis para os preços finais do

biodiesel.de soja, influenciados pela aplicação máxima da tributação diferenciada,

R$ 217,96/m³.

Mais uma vez fica evidenciada a vulnerabilidade econômica da usina de 50 000

t/ano, tanto na rota metílica quanto na etílica, o que nos permite inferir que a

viabilidade econômica para usinas de produção de biodiesel com essa capacidade,

segundo avaliação pelo VPL, e considerando os critérios e premissas utilizados

nesse estudo, fica limitada a configurações especiais, necessariamente

dependentes de incentivos fiscais, o que restringe sua flexibilidade operacional e

econômica.

170

Tabela 43 Compra de óleo de mamona do agronegócio ( N/NE/Semi-árido)

ALTERNATIVA L1 ROTA METÍLICA - TRIBUTAÇÃO R$ 151,50/m³

CAPAC. DA USINA 50 000 t/ano 100 000 t/ano 200 000 t/ano RECEITA ANUAL R$ 161.190.401,78 R$ 317.250.513,56 R$ 631.921.527,12 CUSTOS ANUAIS R$ 144.645.819,80 R$ 284.627.739,60 R$ 566.910.479,20 VPL R$ 14.484.888,54 R$ 122.977.285,86 R$ 253.769.406,53 TIR 12,76% 38,59% 41,99% PAYBACK 8 ANOS 3 ANOS 3 ANOS PREÇO DO BIODIESEL 3.825,21 R$/m³ 3.766,67 R$/m³ 3.751,96 R$/m³

ALTERNATIVA L2 ROTA ETÍLICA - TRIBUTAÇÃO R$ 151,50/m³

CAPAC. DA USINA 50 000 t/ano 100 000 t/ano 200 000 t/ano RECEITA ANUAL R$ 164.967.218,11 R$ 324.804.146,22 R$ 647.028.792,43 CUSTOS ANUAIS R$ 148.079.289,19 R$ 291.494.678,38 R$ 580.644.356,76 VPL R$ 16.353.273,17 R$ 126.714.055,12 R$ 261.242.945,05 TIR 13,10% 39,41% 42,88% PAYBACK 7 ANOS 3 ANOS 3 ANOS PREÇO DO BIODIESEL 3.911,40 R$/m³ 3.852,86 R$/m³ 3.838,15 R$/m³

Fonte: do autor

A Tabela 43 mostra os resultados de usinas instaladas no norte, nordeste ou semi-

árido com aquisição de óleo de mamona da agricultura familiar, sendo aplicada

sobre o biodiesel produzido a alíquota de R$ 151,50/m³. Podemos observar que,

favorecidas pela tributação diferenciada, as configurações mostradas nesta Tabela

apresentam resultados mais atrativos em comparação com os da Tabela 42.

171

1.500,00 R$/m³

1.800,00 R$/m³

2.100,00 R$/m³

2.400,00 R$/m³

2.700,00 R$/m³

3.000,00 R$/m³

3.300,00 R$/m³

3.600,00 R$/m³

3.900,00 R$/m³

50000 t/ano 100000 t/ano 200000 t/ano

USINAS

MAMONA - PRODUÇÃO VERTICALIZADA

MAMONA - COMPRA EXT. DE GRÃOS - AF

MAMONA - COMPRA EXT. DE GRÃOS -AGNEG

MAMONA - COMPRA EXT. DE ÓLEOS - AF

MAMONA - COMPRA EXT. DE ÓLEOS -AGNEG

SOJA - PRODUÇÃO VERTICALIZADA

SOJA - COMPRA EXT. DE GRÃOS - AF

SOJA - COMPRA EXT. DE GRÃOS - AGNEG

SOJA - COMPRA EXT. DE ÓLEOS - AF

SOJA - COMPRA EXT. DE ÓLEOS - AGNEG

Figura 28: Preços do biodiesel nos diversos cenário s – rota metílica

Fonte: do autor

A Figura 28 sumariza os preços finais de biodiesel obtidos pelas usinas avaliadas,

adotando-se a rota metílica. Observa-se a mesma tendência de suave queda nos

preços à medida do aumento da capacidade da usina.

A linha mais inferior se refere aos preços do biodiesel de mamona da produção

verticalizada. Neste cenário, a usina de 50 000 t/ano apresenta o preço final de

R$ 1 800,34/m³, enquanto as usinas de 100 000 t/ano e 200 000 t/ano conseguem

preços de R$1 799,17 e R$1 798,88 respectivamente. O preço de venda de uma

eventual mistura B2 seria praticamente equiparado ao do diesel mineral. No caso de

B5 o preço final sofreria um aumento médio de 3%.

Os dois cenários menos favoráveis, as duas curvas do topo da Figura 28, que

contemplam a compra externa de óleo de mamona tanto pela agricultura familiar

quanto pelo agronegócio, ratificam o impacto do preço do óleo vegetal sobre o preço

final do biodiesel. A valorização do óleo de mamona compromete a motivação para o

uso desse óleo para a produção de biodiesel. Entre essas duas curvas podemos

172

observar também o impacto da tributação diferenciada sobre o preço final do

biodiesel: O pior resultado alcançado se refere à usina de 50 000 t/ano produzindo

biodiesel de mamona com aquisição de óleo do agronegócio, com preço final de

R$ 3 825,21/m³. A mudança de fornecedor para agricultura familiar provoca um

deslocamento linear da curva superior no sentido descendente com reduções

médias de preços de 5,14%. Apesar da baixa competitividade comercial desses dois

casos, podemos destacar como contra partida os benefícios econômicos

proporcionados pela expectativa de redução das importações de diesel mineral, e

conseqüente retenção de divisas, além de geração de emprego e renda no campo e

promoção de benefícios ambientais. Caso fosse este biodiesel fosse adicionado ao

diesel mineral, este cotado a R$ 1 800/m³, a mistura B2 teria uma elevação de até

2,3% sobre o preço do diesel. No caso de B5 essa elevação de preço seria de até

8,6%.

1.800,00 R$/m³

2.350,00 R$/m³

2.900,00 R$/m³

3.450,00 R$/m³

4.000,00 R$/m³

50000 t/ano 100000 t/ano 200000 t/ano

USINAS

MAMONA - PRODUÇÃO VERTICALIZADA

MAMONA - COMPRA EXT. DE GRÃOS - AF

MAMONA - COMPRA EXT. DE GRÃOS -AGNEG

MAMONA - COMPRA EXT. DE ÓLEOS - AF

MAMONA - COMPRA EXT. DE ÓLEOS -AGNEG

SOJA - PRODUÇÃO VERTICALIZADA

SOJA - COMPRA EXT. DE GRÃOS - AF

SOJA - COMPRA EXT. DE GRÃOS - AGNEG

SOJA - COMPRA EXT. DE ÓLEOS - AF

SOJA - COMPRA EXT. DE ÓLEOS - AGNEG

Figura 29: Preços do biodiesel nos diversos cenário s – rota etílica

Fonte: do autor

A Figura 29 reproduz as variáveis da Figura 28 alterando-se apenas a rota de

produção industrial de metílica para etílica. Essa alteração de rota não altera as

posições relativas das curvas entre as duas Figuras, havendo apenas um pequeno

173

deslocamento linear no sentido ascendente com acréscimo médio de 3,60% nos

preços da rota etílica em relação à metílica. Podemos observar a mesma tendência

de redução suave dos preços com o aumento da capacidade da usina. Nessa rota,

nenhum dos cenários apresentou preços finais inferiores a R$ 1 800/m³.

Ao analisarmos o resultado menos atrativo, R$ 3 911,40/m³, obtido pelo biodiesel de

mamona produzido pela usina de menor capacidade com óleo do agronegócio,

verificamos que a mudança de fornecedor, de agronegócio para agricultura familiar,

promove uma redução média de 5,02% no preço final do biodiesel, provocando um

deslocamento descendente na curva superior.

Cumpre registrar que no 6º Leilão de compra de grandes volumes de biodiesel,

promovido pela ANP para fomentar o mercado de biodiesel no Brasil, o preço final

de fechamento alcançou R$ 1,867/L, com um deságio de 22,2%, enquanto no 7º

Leilão o resultado foi de R$ 1,863/L, com um deságio de 22,4% (ANP, 2007a).

Essa significativa distorção de preços observada entre os valores apurados pelas

usinas avaliadas e os valores efetivamente negociados nos leilões de compra

justificam o fato de que até dezembro de 2007 as usinas autorizadas a produzir

biodiesel totalizavam 2 759 140 m³ enquanto durante todo o ano de 2007 foram

produzidas apenas 399 243m³, 14,5% do total autorizado (ANP, 2007b).

174

5.2 ANÁLISE DE SENSIBILIDADE Diante da elevação da demanda por óleos vegetais provocada pela expectativa de

introdução do biodiesel na matriz energética nacional, o preço final deste

biocombustível vem sendo pressionado pelos preços das matérias-primas pondo em

risco a viabilidade econômica de usinas de produção. A menos que uma elevação

da oferta de óleos vegetais conduza a um panorama de equilíbrio de mercado, nada

sugere que possa ocorrer uma reversão dessa tendência inflacionária.

USINA DE 100 000 t/ano

(R$ 80.000.000,00)

R$ 0,00

R$ 80.000.000,00

R$ 160.000.000,00

R$ 240.000.000,00

900,00 R$/t 1.080,00 R$/t 1.260,00 R$/t

PREÇOS DOS ÓLEOS VEGETAIS

VPL

Polinômio (ÓLEO-METANOL) Linear (ÓLEO-ETANOL)

y = -2,20E+07x² - 4,80E+07x + 2,78E+08R² = 1

y = -1,00E+08x + 2,57E+08R² = 1

1 248,66 R$ /

1 181,37 R$ / t

Figura 30: Variação do VPL com o preço do óleo vege tal e tipo de álcool

Fonte: do autor

A Figura 30 mostra a variação do VPL com o preço do óleo vegetal e o tipo do álcool

utilizado, para uma usina com capacidade de produção anual de 100 000 toneladas.

A função representada pela linha contínua é polinomial de grau 2, porém no intervalo

analisado a mesma será assumida como sendo uma aproximação de uma reta.

Conforme esperado, à medida que o preço do óleo vegetal aumenta, o VPL diminui.

A reta contínua, referente a uma transesterificação metílica, mostra que o preço do

óleo a R$ 1 248,66/t zera o VPL, ou seja, aquele preço representa o ponto de

inflexão entre as faixas de viabilidade positiva e negativa do empreendimento, o

175

valor acima do qual o VPL é negativo e o empreendimento é economicamente

inviável.

A reta tracejada, referente a uma transesterificação etílica, mostra que o etanol, por

suas especificidades técnicas e comerciais, restringe a faixa de preço máximo para o

óleo vegetal. A cotação do óleo acima de R$ 1 181,37/t inviabiliza um projeto de

produção de biodiesel etílico. Cumpre lembrar que todas as inferências descritas são

aplicáveis a uma usina de transesterificação típica com capacidade de 100 000

t/ano. Usinas com maiores capacidades de produção tendem a absorver eventuais

elevações de preços dos óleos vegetais.

A Figura 31 nos mostra uma previsível tendência de elevação do VPL e da TIR com

o aumento da escala de produção, mantidas constantes todas as outras possíveis

variáveis. Neste exemplo, o preço do óleo foi considerado 50% do valor do diesel de

petróleo, que em novembro de 2007 estava cotado a R$ 1 800/m³ (PETROBRAS,

2007). A substituição do metanol por etanol, este mais caro que aquele, provoca

uma redução no VPL em todas as usinas, sendo que a influência da substituição

diminui à medida do aumento da capacidade de produção (reduções de 52%, 24,7%

e 19,3% nos VPL’s respectivamente da menor para a maior usina).

176

R$ 0,00

R$ 110.000.000,00

R$ 220.000.000,00

R$ 330.000.000,00

R$ 440.000.000,00

50.000 t/ano 100.000 t/ano 200.000 t/ano

USINA A USINA B USINA C

VPL

ÓLEO-METANOL ÓLEO-ETANOL

PREÇO DO ÓLEO = R$ 900/t (50% DO PREÇO TETO DO BIODIESEL)

16,6%

79,9%

13,3%

61,2%

46,0%

51,7%

Figura 31: Variação de VPL e TIR com a capacidade d a usina e o tipo do álcool

O impacto do etanol no custo do biodiesel se deve tanto ao seu preço relativo, 16%

superior ao metanol, como às especificidades técnicas da rota etílica em relação à

metílica.

Com o preço do óleo vegetal a R$ 1 080 / t, conforme mostrado na Figura 32, a

usina de menor capacidade penetrou na região de VPL negativo, demonstrando que

de acordo com a capacidade da usina há um limite máximo no preço do óleo vegetal

a partir do qual os empreendimentos se tornam economicamente inviáveis.

177

(R$ 40)

R$ 30

R$ 100

R$ 170

R$ 240

50 000 t/ano 100 000 t/ano 200 000 t/ano

ÓLEO-METANOL ÓLEO-ETANOL

32,2%

36,7%

23,7%

27,6%

0

VPL

(x 106)

PREÇO DO ÓLEO = R$ 1 080/t

Figura 32: Variação de VPL e TIR com a capacidade d a usina e o tipo do álcool

Podemos inferir que a verticalização da produção de biodiesel, apesar de

representar uma estratégia empresarial com objetivo precípuo de redução de custos,

não promove a inserção da agricultura familiar na cadeia produtiva do biodiesel. A

aquisição de matérias-primas exclusivamente de terceiros poderá submeter essas

empresas a uma arriscada condição de dependência de cenários de mercado, mais

do que a produção própria. Além disso, os critérios de tributação diferenciada

definidos pela Legislação Federal vigente, que privilegiam as produções de mamona

e dendê cultivados pela agricultura familiar no Norte, Nordeste e Semi-Árido, podem

também determinar a viabilidade econômica ou não desses empreendimentos

produtivos, a depender da alíquota aplicada.

178

1500,00

1800,00

2100,00

2400,00

2700,00

PREÇOS FINAIS DO BIODIESEL

(R$/m³)

ÓLEO-METANOL 1563,72 1655,85 1763,06 1850,51

ÓLEO-ETANOL 1652,33 1744,46 1851,67 1939,12

ÓLEO-METANOL 2037,74 2129,88 2237,09 2324,53

ÓLEO-ETANOL 2126,36 2218,49 2325,70 2413,14

0,00 70,02 151,50 217,96

ÓLEO a R$ 1260/t

ÓLEO a R$ 900/t

PREÇOS DE BIODIESEL(R$ / m³)

PIS-COFINS (R$ / m³)

100 000 t/ano

Figura 33: Impacto da Tributação diferenciada sobre o preço final do biodiesel

Como a usina de 50 000 t/ano apresentou indicações de inviabilidade econômica

para a maioria das alternativas avaliadas, a análise de sensibilidade tomará como

exemplo a usina de 100 000 t/ano. Aplicando os critérios de tributação definidos na

Tabela 9 obtemos as quatro retas da Figura 33. As duas retas inferiores se referem ao

biodiesel produzido com óleo vegetal cotado a R$ 900/t, enquanto as duas

superiores se relacionam ao óleo vegetal cotado a R$ 1 260/t. A primeira reta inferior

se refere à combinação óleo vegetal com metanol, e a reta seguinte mostra a

combinação óleo com etanol. O deslocamento linear observado entre essas duas

retas ratifica a influência do tipo de álcool no preço final do biodiesel e, por extensão,

nos resultados financeiros da usina.

As duas setas duplas desenhadas sobre a reta horizontal na ordenada 1800 nos

mostram às suas esquerdas os valores de tributação que possibilitam preços finais

de biodiesel favoráveis a promover reduções de preços nas misturas B2 e B5. Às

suas direitas temos as tributações desfavoráveis segundo o mesmo critério.

179

A reta tracejada inferior da Figura 33 nos mostra que, para obtenção do biodiesel

metílico com preço final menor ou igual a R$ 1,80 / L (R$ 1 800 / m³), com o óleo

cotado a R$ 900 / t, não é suportável a incidência de tributação superior a R$

151,50/m³ que é a máxima alíquota aplicada ao biodiesel de mamona ou palma

produzidas no Norte, Nordeste ou Semi-Árido pelo agronegócio. Com a participação

da agricultura familiar haveria isenção da tributação o que permitiria a obtenção de

um biodiesel com o menor valor entre as possíveis combinações, R$ 1 563,72/m³.

Para o biodiesel etílico produzido com óleo cotado a R$ 900/t, expresso pela

segunda reta no sentido ascendente Figura 33, a máxima tributação suportável é

R$ 70,02/m³, aplicada ao biodiesel de outras oleaginosas diferentes de dendê e

mamona produzidas pela agricultura familiar no Norte, Nordeste e Semi-Árido.

Esse cenário é um forte elemento de motivação para a instalação de usinas de

biodiesel nas regiões contempladas com os maiores incentivos fiscais. Não por

acaso a tributação diferenciada privilegia Nordeste e Semi-Árido ao exigir dos

produtores de biodiesel uma participação mínima de 50% da agricultura familiar para

torná-los elegíveis à obtenção do Selo Combustível Social. A região Nordeste, que

detém o menor PIB per capita, como pode ser observado na Figura 34, que abriga

grande extensão territorial do Semi-Árido, poderá se beneficiar com a perspectiva de

inclusão social de um grande contingente de trabalhadores rurais.

Cria-se a expectativa que a Legislação tributária vigente venha a sofrer adaptações

de modo a contemplar outras culturas vegetais com vocação para as regiões Norte,

Nordeste e Semi-Árido, e que possuam limitações técnicas de colheita mecanizada.

O pinhão-manso, por exemplo, atende esse perfil uma vez que o amadurecimento

dos seus frutos, que ocorre em diferentes fases de tempo, requer seletividade na

colheita que somente é possível quando efetuada manualmente.

180

2004

4000

6500

9000

11500

14000

BRASIL

NORTE

NORDESTE

SUDESTESUL

CENTO-OESTE

R$

Figura 34: Produto Interno Bruto per capita das Reg iões do Brasil

Fonte: IBGE, 2004c

Num cenário de mercado equilibrado, com oferta regular de matéria-prima e preços

estáveis, a meta de preço final de R$ 1,80/L para o biodiesel seria alcançada para

diferentes custos de matérias-primas, dependendo da sua origem e natureza de

produção, agricultura familiar ou agronegócio.

As variáveis inerentes aos produtos agrícolas, tais como produtividade de cada

oleaginosa, custos de produção e preços de mercado, são fortemente influenciadas

por sazonalidades e fenômenos naturais que promovem significativas oscilações nos

preços finais dos óleos vegetais. Essas oscilações, que nem sempre podem ser

previstas ou ter os seus efeitos mitigados, devem ser consideradas nas análises de

custos da matéria-prima para evitarem-se conflitos de decisões em função de

diferenças de dados obtidos por período.

181

6 CONCLUSÕES

A produção do biodiesel como sucedâneo do diesel mineral pode cumprir um

relevante papel no fortalecimento tanto da base agroindustrial brasileira como da

agricultura familiar, e agregar sustentabilidade à matriz energética nacional com

redução de importações de diesel mineral, geração de empregos e benefícios

ambientais. Em outras palavras, é uma alternativa viável apenas se as três

motivações econômica, ambiental e social forem igualmente consideradas.

Nenhuma delas possui fôlego suficiente para, isoladamente, sustentar o Programa

Nacional de Produção e Uso do Biodiesel. A experiência adquirida pelo Brasil com o

Programa Nacional de Produção do Etanol-Proálcool, seguramente o maior

programa mundial de substituição de um combustível fóssil por um renovável, pode

assegurar ao Brasil, mais uma vez, posição de destaque no cenário mundial. O

Proálcool, nos primeiros anos de sua maturação, exigiu grandes subsídios nas

décadas de 70 e 80 e hoje apresenta uma posição consolidada e competitiva, uma

vez que seus custos de produção vêm sendo historicamente reduzidos, tanto pela

redução do chamado custo de aprendizado, como pelo desenvolvimento tecnológico

observado nos motores do ciclo Otto que têm nos modelos flexfuel um oportuno

exemplo.

A indústria nacional do biodiesel também deverá atravessar uma curva de

aprendizado da nova tecnologia, para em seguida beneficiar-se com uma

significativa redução dos seus custos de produção por meio de pesquisa e

desenvolvimento tecnológico, aumento da produção, aproveitamento dos co-

produtos e a otimização das cadeias de fornecimento de insumos.

• Os custos dos óleos vegetais são determinantes na viabilidade econômica de

usinas de produção de biodiesel;

• Usinas de biodiesel com capacidade de 50 000 m³/ano mostraram-se

economicamente mais vulneráveis às influências provocadas pelos custos de

matérias-primas, em particular os óleos vegetais;

182

• Usinas de biodiesel com maiores capacidades de produção mostram ser mais

viáveis economicamente e apresentam menores prazos de payback quando

comparadas com usinas de menores capacidades, ceteris paribus;

• Usinas com capacidade anual mínima de 100 000 toneladas, localizadas no

Norte, Nordeste e Semi-Árido, que utilizam como matéria-prima dendê ou

mamona adquiridas da agricultura familiar em quantidade não inferior a 50%

da produção, representam a melhor configuração de variáveis.

• O modelo verticalizado, apesar de suprimir lucros marginais das etapas de

produção pré-industriais, exclui a participação da agricultura familiar na cadeia

produtiva do biodiesel, e priva o produtor industrial da obtenção do Selo

Combustível Social que lhe permitiriam valorização social da sua marca e

acesso a linhas de financiamento diferenciadas além de privá-lo dos

benefícios da tributária diferenciada;

• Em 2006 cerca de 8% de todo o diesel consumido no Brasil foi de origem

importada, portanto a obrigatoriedade de adição de até 5% do biodiesel na

matriz energética brasileira não resolverá integralmente, apenas atenuará, a

necessidade de importação do derivado fóssil para atender a demanda

interna;

• O custo da matéria prima é o fator mais impactante no preço final do

biodiesel, o que torna imperiosa a busca por cultivares com melhores índices

de produtividade e que assegurem a elevação significativa da produção

agrícola; as flutuações bruscas e recorrentes da produção agrícola, típicas do

segmento, geram instabilidade nos preços finais dos produtos e se refletem

nas previsões orçamentárias das usinas de biodiesel; a diversificação das

fontes é uma estratégia de flexibilização que deve ser usada como uma ação

mitigadora desses impactos, assim como o aproveitamento das partes

celulósicas das plantas, atualmente subutilizadas, para aplicações mais

nobres;

• Dentre as múltiplas alternativas de fontes de matérias primas para o biodiesel,

o cultivo de oleaginosas em áreas previamente degradadas cumpriria um

importante papel de reparação ambiental, contrariamente à prática de

desflorestamento que é realizado para esse fim, o que constitui uma grande

oportunidade para a expansão sistematizada da Jatropha Curcas;

183

• Igualmente interessante do ponto de vista ambiental é o aproveitamento de

óleos e gorduras residuais como matérias-primas transformando o seu

descarte inadequado em uma aplicação mais útil e produtiva;

• A busca por óleos vegetais para finalidade energética vem aumentando

mundialmente o que tem provocado uma elevação dos seus preços médios; a

elevação da produção agrícola é uma necessidade imperiosa para fazer

frente a essa demanda crescente uma vez que preços elevados de matérias-

primas desmotivam a produção de biodiesel;

• Ao contrário de outros paises, que concentram numa única cultura agrícola a

fonte de matéria-prima para o biodiesel, o Brasil, incluindo a Bahia, não

precisa subjugar-se a essa limitação; as vocações agrícolas precisam ser

plenamente aproveitadas de acordo com as especificidades edafoclimáticas

regionais;

• A desoneração tributária por parte dos governos estaduais e federal é de

fundamental necessidade para a viabilização de projetos caracterizando a

efetiva contribuição governamental para o sucesso do PNPB;

• Apesar das propaladas evidências sobre a viabilidade do uso do biodiesel, a

multiplicidade de áreas de conhecimento que envolve esse combustível exige

a necessidade de fortalecimento de inovações tecnológicas por meio de

desenvolvimento de novos materiais, novas rotas de produção que

contemplem minimização de consumos de energia e materiais em todas as

etapas de sua cadeia produtiva;

• Culturas permanentes apresentam vantagens em relação às temporárias no

que tange à eliminação dos custos anuais de plantio; dendê (palma) e pinhão

manso pertencem a esse grupo e o desenvolvimento de suas culturas traria

benefícios econômicos à cadeia produtiva do biodiesel; ressalve-se a

necessidade de domesticação para o pinhão manso e de elevação da área

plantada para o dendê (palma); ambas as espécies encontram na Bahia

grandes extensões territoriais propícias ao seu cultivo;

• Há necessidade de uma legislação severa e atuante no sentido de disciplinar

a expansão das áreas de cultivo, quer seja para finalidade alimentícia ou

energética, de modo a evitarem-se desflorestamentos e outros impactos

184

ambientais que venham anular os benefícios advindos do desenvolvimento de

biocombustíveis;

6.1 RECOMENDAÇÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

Diante das simplificações e aproximações adotadas neste trabalho é inegável a

existência de algumas lacunas cujo preenchimento poderia servir de inspiração para

estudos e trabalhos futuros. A metodologia adotada no presente trabalho, que se

propõe a apresentar uma ferramenta de auxílio à análise de viabilidade de projetos

de produção de biodiesel, se extrapolada para outros cenários poderia agregar

novos conteúdos e informações consubstanciando o conjunto de conhecimentos da

cadeia produtiva do biodiesel. Dentre as inúmeras recomendações podemos

destacar a simulação de outros cenários de produção com envolvimento de:

• outras oleaginosas com potencial produtivo;

• blend de diferentes oleaginosas;

• outras rotas de processos industriais como por exemplo catálise enzimática

ou heterogênea;

• blend de álcoois a diversas proporções;

• modelo de produção misto, verticalizado e não verticalizado, em diversas

proporções.

185

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ANEXOS

Tabela 44 Características importantes do diesel e c ombustíveis afins

Características Comentários (a) Medida da qualidade de ignição dos combustíveis diesel (b) Alto número de cetano implica menor atraso de ignição (c) N-alcanos com cadeias mais longas têm maior número de cetano (d) Influencia as emissões gasosas e de material particulado (e) Índice de cetano é calculado baseado nas temperaturas de 10, 50 e 90% destilados e na densidade

Número de Cetano

(f) Combustíveis com altas temperaturas de ignição são mais propensos a causar batidas de motor (a) Afeta a performance e a segurança do combustível (b) Importante para a partida e aquecimento do motor (c) Presença de compostos pesados favorece a deposição de sólidos na combustão

Faixa de destilação

(d) Necessária na estimativa do índice de cetano (a) Requerida para converter volumes medidos em volumes à temperatura padrão de 15°C

Densidade

(b) Usada nos cálculos do índice de cetano (a) Medida da energia disponível em um combustível Calor de combustão (b) Propriedade crítica do combustível para uso em veículos com limitação de peso (a) Indica a presença de substâncias inflamáveis e altamente voláteis (b) Mede a tendência do combustível de formar uma mistura inflamável com o ar

Ponto de Fulgor

(c) Usado para avaliar o risco de inflamabilidade global de uma substância (a) Importante para o fluxo do combustível nas tubulações, bicos injetores e orifícios

Viscosidade (b) Atomização eficaz do combustível no cilindro requer faixa limitada de sua viscosidade para evitar pressão excessiva de bombeamento

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(a) Causa corrosão dos equipamentos

Contaminação (água e sedimentos)

(b) Requerido para assegurar medições precisas de volumes em transações comerciais, taxações e transferências de custódia (a) Medem a performance dos combustíveis sob condições de baixas temperaturas Pontos de névoa,

fluidez e de entupimento de filtro a frio

(b) Usados como especificação de controle de qualidade ou indicadores de manuseio a baixa temperatura para grandes tanques de estocagem e tubulações em refinarias e terminais

Resíduo de carbono (a) Está correlacionado à quantidade de depósitos carbonáceos na câmara de combustão (a) Indica o potencial de emissão desse material (b) Contém fundamentalmente partículas de carbono

Material particulado (c) Fuligem (particulados carbonáceos formados a partir de processos de fase gasosa) absorve materiais carcinogênicos e os lançam no meio ambiente; partículas em excesso podem entupir as válvulas de exaustão (a) Resultam de compostos metálicos solúveis em água ou sólidos estranhos como sujeira e ferrugem Cinzas (b) Seu teor pode definir a adequação ou não do produto para uma dada aplicação (a) Controlado para minimizar corrosão e desgaste do motor (b) Causa poluição ambiental a partir de seus produtos de combustão Enxofre (c) É corrosivo e causa problemas físicos nos componentes do motor

Fonte: Srivastava e Prasad, 2000

UFBA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

ESCOLA POLITÉCNICA

PROGRAMA DE ENGENHARIA INDUSTRIAL

MESTRADO PROFISSIONAL EM GERENCIAMENTO E TECNOLOGIAS

AMBIENTAIS NO PROCESSO PRODUTIVO

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