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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO MARCIO NERY CARDOSO A RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL NA CADEIA DE FORNECEDORES DO VAREJO SUPERMERCADISTA: UM ESTUDO DE CASO Salvador 2006

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA DE … · Social na Cadeia de Fornecedores do Varejo Supermercadista. A abordagem do ... adaptado dos Indicadores Ethos-SEBRAE de Responsabilidade

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO

MARCIO NERY CARDOSO

A RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL NA CADEIA DE FORNECEDORES DO VAREJO SUPERMERCADISTA: UM ESTUDO

DE CASO

Salvador

2006

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MARCIO NERY CARDOSO

A RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL NA CADEIA DE FORNECEDORES DO VAREJO SUPERMERCADISTA: UM ESTUDO

DE CASO

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado Profissional em Administração, Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre.

Orientador: Prof. Dr. José Célio Silveira Andrade

Salvador 2006

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Escola de Administração - UFBA

C268 Cardoso, Marcio Nery

A responsabilidade social empresarial na cadeia de fornecedores do varejo supermercadista: um estudo de caso / Marcio Nery Cardoso - 2006.

180 f. Orientador: Prof. Dr. José Célio Silveira Andrade. Dissertação (mestrado profissional) – Universidade Federal

da Bahia. Escola de Administração, 2006. 1. Comércio varejista – Administração. 2. Supermercados.

3. Responsabilidade social da empresa. I. Andrade, José Célio Silveira. II. Universidade Federal da Bahia. Escola de Administração. III. Título.

CDD 658.87 20 ed.

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TERMO DE APROVAÇÃO

MARCIO NERY CARDOSO

A RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL NA CADEIA DE FORNECEDORES DO VAREJO SUPERMERCADISTA: UM ESTUDO

DE CASO

Dissertação aprovada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Administração, Universidade Federal da Bahia, pela seguinte

banca examinadora:

________________________________________________________________________

Prof. Dr. José Célio Silveira Andrade Universidade Federal da Bahia – UFBA

Orientador

_________________________________________________

Prof. Dr. Cláudio Cardoso Universidade Federal da Bahia – UFBA

___________________________________________________

Prof. Dr. Juracy Parente - FGV Fundação Getúlio Vargas

Salvador, dezembro de 2006

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Esta dissertação é dedicada a meu melhor amigo, meu pai e

meu mestre, Armando Cardoso, que sempre me apoiou na

realização dos meus sonhos, mesmo que isto, muitas vezes,

pudesse representar renúncias em sua própria vida. A você,

meu pai, com quem sempre aprendo algo novo a cada

amanhecer e por quem eu tenho um eterno amor e uma

profunda admiração.

A minha mãe, Dinalva, por sua ternura e seu amor infinito,

que fica sempre na retaguarda, protegendo-me com suas

orações, torcendo pelo meu sucesso e vibrando com as

minhas conquistas. Seus valores e ensinamentos conduzem

meus passos na caminhada da vida.

A minhas filhas, Bruna Maria, Maria Fernanda e Maria Clara, luzes da minha vida, que alegram os meus dias e me

revitalizam nos momentos de cansaço. Vocês são a maior

motivação na conquista dos meus ideais.

E a minha esposa, Tânia, pela vida que construímos juntos,

pela cumplicidade que considero inigualável, pelo amor,

companheirismo e apoio incondicional a minha trajetória

acadêmica. Sou mesmo um homem de sorte por ter

encontrado você.

Com certeza, sem estas pessoas tão especiais a meu lado,

que representam um verdadeiro porto seguro, onde sempre

posso me apoiar, eu não teria chegado até aqui. Esta vitória é

tão delas quanto minha. A vocês, todo o meu amor, hoje e

sempre.

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AGRADECIMENTOS

Final de mais uma etapa de crescimento pessoal e profissional. Início de outras que

certamente virão. Momento de imensa alegria, por mais uma conquista; de alívio,

pela sensação de dever cumprido, e de agradecimento, a todos aqueles que fazem

parte da minha história e que de alguma forma contribuíram para esta realização.

A Deus, fonte de toda vida, criador de todo o universo e autor da minha vida, pela

bênção de existir, pela oportunidade de crescimento e pela força para enfrentar

todos os momentos difíceis desta trajetória. A vós, toda honra e toda glória.

A meus pais, Armando e Dinalva, doutores na arte de criar filhos, por terem

acreditado que a educação é o maior bem que poderiam me deixar como herança.

Não há palavras que possam expressar a minha gratidão por tudo o que fazem para

me ajudar a vencer os obstáculos encontrados pelo caminho.

A minha esposa, Tânia, companheira de todos os desafios a que me proponho,

pelas minhas ausências de tantos e tantos finais de semana em que estive fora para

o cumprimento desta missão.

A minhas três filhas, Bruna Maria, Maria Fernanda e Maria Clara, ainda tão

pequeninas e que são minha inspiração na vida, a quem, várias vezes, deixei de

dedicar o meu tempo para entregar-me integralmente a este trabalho.

A Marcinha, minha irmã amada e muito querida, por fazer parte da minha vida, com

quem sei que sempre poderei compartilhar as minhas alegrias e os meus momentos

mais difíceis. Obrigado pela torcida e pela alegria demonstrada com minhas

conquistas.

A meus sobrinhos Larissa e Daniel, simplesmente por existirem em minha vida e

me darem tanto amor e carinho.

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A minha amiga Francis, pela paciência e dedicação, expressas por inúmeras

revisões e correções efetuadas neste texto. A sua ajuda foi valiosíssima para

finalização deste trabalho. Não tenho palavras para agradecer-lhe.

A meu compadre, amigo-irmão, Diógenes, que acompanhou todo o processo e

conhece os desafios que fazem parte desta jornada; pela paciência e escuta

cuidadosa e pelo fundamental apoio. Conte sempre comigo.

Ao amigo Carlos Emanuel, pela disponibilidade e pelo incentivo que me deu, até

mesmo sem perceber, para a continuidade da minha trajetória acadêmica.

A meu orientador, professor José Célio, por suas contribuições, sua atenção e

disponibilidade no desenvolvimento desta dissertação.

Aos professores Cláudio Cardoso e Juracy Parente, membros da banca de

defesa, pela leitura deste trabalho e por seus comentários e contribuições.

A todos que compõem a equipe do Supermercado Cardoso, que souberam tocar o

barco muito bem, enquanto estive ausente para realização deste trabalho.

A Maria Alice, coordenadora do curso de Administração da Faculdade de

Tecnologia e Ciências, pela compreensão durante as vezes em que estive ausente.

A todas as empresas que se dispuseram a responder esta pesquisa e, assim,

permitiram que este trabalho se concretizasse.

Finalmente, a cada um dos meus queridos amigos, de todos os caminhos, que não

vou citar nomes pela possibilidade de um lapso de memória, que colocaram toda

energia positiva nesta intenção e que, estando próximos ou distantes, torceram para

que este momento chegasse.

A todos vocês, partes da minha vida, que ajudam a construir a minha história, o

meu MUITO OBRIGADO!

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"O Mestre na arte da vida faz pouca distinção entre o

seu trabalho e o seu lazer, entre a sua mente e o seu

corpo, entre a sua educação e a sua recreação, entre

o seu amor e a sua religião. Ele dificilmente sabe

distinguir um corpo do outro. Ele simplesmente

persegue sua visão de excelência em tudo que faz,

deixando para os outros a decisão de saber se está

trabalhando ou se divertindo. Ele acha que está

sempre fazendo as duas coisas simultaneamente".

(Dalai Lama)

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RESUMO

Esta pesquisa buscou conhecer o grau de envolvimento com a Responsabilidade Social na Cadeia de Fornecedores do Varejo Supermercadista. A abordagem do tema foi feita a partir do estudo de caso, no Supermercado Cardoso, em Jequié, na Bahia, por meio de sua cadeia de fornecedores, dando ênfase aos fornecedores do estado da Bahia, por representarem o maior volume de negócios da empresa. De forma mais específica, esta dissertação buscou investigar, mediante uma análise comparativa, a relação com a RSE entre os fornecedores baianos do Supermercado Cardoso e de outros estados do Brasil, a partir das sete temáticas da RSE propostas pelos indicadores Ethos de RSE: Valores e Transparência; Público Interno; Meio Ambiente; Fornecedores; Consumidores; Comunidades; e Governo e Sociedade. Para realizar o diagnóstico, optou-se por utilizar uma pesquisa qualiquantitativa, de natureza descritiva e exploratória, que teve como instrumento um questionário adaptado dos Indicadores Ethos-SEBRAE de Responsabilidade Social, que contempla sete grandes temas da RSE, com a participação de 141 empresas de todos os portes, segmentos e todas as regiões do País. A análise dos dados coletados apontou que, considerando uma escala de um a quatro, a amostra da cadeia de fornecedores encontra-se no grau três de envolvimento com o tema, o que demonstra que as empresas pesquisadas já assimilaram os conceitos de RSE e têm clareza dos compromissos necessários para uma atuação socialmente responsável. Por esta pesquisa, observou-se também o envolvimento das empresas com a RSE, segundo o porte e o segmento de atuação. Os resultados indicaram que, quanto maior a organização, maior o seu envolvimento com a RSE. Já em relação ao segmento de atuação (alimentos, bebidas, Hipel, não-alimentos, distribuidores e atacadistas) não foram observadas diferenças estatisticamente significantes relacionadas ao grau de envolvimento com a gestão socialmente responsável. Percebeu-se também que, dentre os temas estudados, a amostra demonstrou que, enquanto o relacionamento com os Consumidores recebeu a maior nota geral, 9,2 (numa escala de zero a 10), expressa pelas diversas ações desenvolvidas com esse público, o relacionamento com o público Governo e Sociedade recebeu a menor nota (6,0), demonstrando que há grande oportunidade para as empresas desenvolverem parcerias com o poder público e com a sociedade civil organizada, no sentido de unir forças em busca do desenvolvimento sustentável das empresas e da sociedade. Finaliza-se este trabalho com propostas de ações estratégicas de envolvimento com o tema RSE entre o Supermercado Cardoso e sua cadeia de fornecedores.

Palavras-chave: Responsabilidade Social Empresarial, Varejo, Supermercado, Fornecedores.

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ABSTRACT

This research aimed to find out the level of involvement of the chain of retail supermarket suppliers with the so-called Corporate Social Responsibility. The approach of the theme was chosen from the case study, at the Cardoso Supermarket, in Jequié, Bahia, through its suppliers chain, emphasizing those from the state of Bahia, due to the greatest volume of businesses they make with the company. More specifically, this research has tried to, through a comparative analysis, investigate the commitment of the baianos suppliers of the Cardoso Supermarket and other states of the country with the Corporate Social Responsibility, from the seven themes involving CSR proposed by the government statistic agency Ethos: Values and Transparency; Internal Public; Environment; Suppliers; Consumers; Communities; Government and Society. In order to find a diagnosis, it was decided to use a qualitative research based on description and exploration by means of an adapted questionnaire used by the Institute Ethos/SEBRAE, which contemplates seven great CSR themes. 141 companies of all sizes, areas and regions of the country were used. The analysis of the collected data shows that, considering a scale from 1 to 4, the sample of the suppliers chain ranks level 3 regarding their involvement with the subject. This demonstrates that the companies studied have already embraced the concepts of CSR and are aware of the importance of becoming socially responsible. The research also observed the involvement of the companies according to their size and trade field. The results show that the bigger the company the higher its involvement with the CSR. As for their trade field (food, drinks, personal hygiene and cleaning, non-food, distributors and wholesalers) no significant differences related to the level of involvement of the companies with the subject were found. Among the themes studied, it was also noticed that, while the relationship with the consumers reached the highest score (9.2) in a 0-10 scale, based on several topics involving that public, the relationship Government-Society received the lowest score (6.0), which shows that there is a great opportunity for the companies to build partnerships with the state and the organized civil society, aiming to unite strength searching for a sustainable development of businesses and society. Eventually, this research proposes strategic actions regarding the involvement with the theme CSR between the Cardoso Supermarket and its suppliers chain.

Keywords: Corporate Social Responsibility, Retail, Supermarket, Suppliers.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. A empresa como um sistema aberto 39 Figura 2. Pirâmide da Responsabilidade Social Empresarial 54 Figura 3. Os estágios de Responsabilidade Social em uma empresa 55 Figura 4. Modelo bidimensional de Responsabilidade Social Empresarial 57 Figura 5. Criação de valor a partir de ações de Responsabilidade Social 59 Figura 6. Continuum de comprometimento das empresas para as

questões de RS e suas estratégias de ação 61 Figura 7. Graus de sensibilidade social da empresa 63 Figura 8. Mapa das relações entre os Instrumentos de Sustentabilidade 80 Figura 9. Classificação das instituições varejistas 86 Figura 10. O varejo como agente transformador da estrutura social 95 Figura 11. Comparação do envolvimento com a RSE entre o

Supermercado Cardoso e o Banco de Dados do Ethos 110 Figura 12. Comparação do envolvimento com a RSE entre o

Supermercado Cardoso e o Grupo de Benchmark Ethos 111 Figura 13. Classificação das empresas segundo o porte 121 Figura 14. Classificação das empresas segundo o estado de atuação 122 Figura 15. Classificação das empresas segundo o segmento de atuação 123 Figura 16. Comparação entre o envolvimento dos fornecedores diante das

sete temáticas de Responsabilidade Social Empresarial propostas pelo Instituto Ethos 125

Figura 17. Comparação entre o envolvimento dos fornecedores da Bahia,

de outros estados e geral, diante das sete temáticas de Responsabilidade Social Empresarial propostas pelo Instituto Ethos 126

Figura 18. Comparação entre o envolvimento dos fornecedores da Bahia,

de outros estados e geral, diante do tema Valores e Transparência 128

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Figura 19. Comparação entre o envolvimento dos fornecedores da Bahia, de outros estados e geral, diante do tema Público Interno 131

Figura 20. Comparação entre o envolvimento dos fornecedores da Bahia,

de outros estados e geral, diante do tema Meio Ambiente 134 Figura 21. Comparação entre o envolvimento dos fornecedores da Bahia,

de outros estados e geral, diante do tema Fornecedores 136 Figura 22. Comparação entre o envolvimento dos fornecedores da Bahia,

de outros estados e geral, diante do tema Consumidores – Clientes 138

Figura 23. Comparação entre o envolvimento dos fornecedores da Bahia,

de outros estados e geral, diante do tema Comunidade 140 Figura 24. Comparação entre o envolvimento dos fornecedores da Bahia,

de outros estados e geral, diante do tema Governo e Sociedade 143

Figura 25. Comparação entre as empresas de diferentes portes em

relação à Responsabilidade Social Empresarial 147 Figura 26. Comparação entre as empresas de diferentes portes diante das

sete temáticas propostas pelo Instituto Ethos 148 Figura 27. Comparação entre as empresas de diferentes segmentos em

relação à Responsabilidade Social Empresarial 149

Figura 28. Comparação entre o envolvimento dos fornecedores da Bahia e de outros estados em relação à Responsabilidade Social Empresarial 152

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LISTA DE QUADROS Quadro 1. Modelo de Desempenho Social de Wood 60 Quadro 2. Princípios da Responsabilidade Social Empresarial de Wood 60 Quadro 3. Questões referentes ao tema Valores e Transparência 129 Quadro 4. Questões referentes ao tema Público Interno 131 Quadro 5. Questões referentes ao tema Meio Ambiente 134 Quadro 6. Questões referentes ao tema Fornecedores 136 Quadro 7. Questões referentes ao tema Consumidores – Clientes 138 Quadro 8. Questões referentes ao tema Comunidade 141 Quadro 9. Questões referentes ao tema Governo e Sociedade 143

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LISTA DE TABELAS Tabela 1. Economias Globais – a comparação das vendas anuais de

empresas com o PIB de alguns países 46 Tabela 2. Envolvimento do Supermercado Cardoso com a RSE por tema,

de acordo com os Indicadores Ethos 109 Tabela 3. Escala de pontuação para cada resposta 117 Tabela 4. Máximo de pontos obtidos 118 Tabela 5. Fator de correção por tema 118

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

AA1000 Accountability 1000

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

ABRAS Associação Brasileira de Supermercados

ADCE Associação dos Dirigentes Cristãos de Empresa

AIDS Síndrome da Imunodeficiência Adquirida

BA Bahia

BID Banco Interamericano de Desenvolvimento

BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

BSR Business Social Responsible Institute

CSR Corporate Social Responsibility

FGV-EAESP Fundação Getúlio Vargas - Escola de Administração de Empresas de São Paulo

FIDES Fundação de Desenvolvimento Empresarial e Social

FIEB Federação das Indústrias do Estado da Bahia

FMI Fundo Monetário Internacional

FSC Forest Stewardship Council

GIFE Grupo de Institutos, Fundações e Empresas

GRI Global Reporting Initiative

HIPEL Higiene, Perfumaria e Limpeza

IBASE Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

ISEA Institute of Social and Ethical Accountability

IDH Índice de Desenvolvimento Humano

IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

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ISO International Organization for Standardization

NBR 16001 Norma Brasileira de Responsabilidade Social

OCDE Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico OHSAS 18001 Occupational Health and Safety Assessment Series OIT Organização Internacional do Trabalho

ONG Organização Não-Governamental

ONU Organização das Nações Unidas

PIB Produto Interno Bruto

PMEs Pequenas e Médias Empresas

PNQ Prêmio Nacional de Qualidade

PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

RS Responsabilidade Social

RSE Responsabilidade Social Empresarial

SA 8000 Social Accountability

SAI Social Accountability International

SD 21000 Sustenainable Development

SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Micros e Pequenas Empresas

SESI Serviço Social da Indústria

SINDIPAN Sindicato da Indústria de Panificação e Confeitaria de São Paulo

SIS Swedish Standards Institute SPSS Statistical Package for Social Sciences

TEAR Tecendo Redes Sustentáveis

TNS The Natural Step

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 17 1.1 APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA 21 1.2 JUSTIFICATIVA 22 1.3 OBJETIVOS 24 1.3.1 Objetivo Geral 24 1.3.2 Objetivos Específicos 25 1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO 26 2 REFERENCIAL TEÓRICO 28 2.1 RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL 29 2.1.1 Um histórico da Responsabilidade Social Empresarial 29 2.1.2 A empresa numa abordagem sistemática 37 2.1.3 O cenário de um sistema: o planeta Terra 41 2.1.4 A força das empresas dentro do sistema 45 2.1.5 Responsabilidade Social Empresarial: conceitos e modelos 48 2.1.6 Os modelos de Responsabilidade Social Empresarial 51 2.1.6.1 O modelo de Carroll 52 2.1.6.2 O modelo de Melo Neto & Froes 54 2.1.6.3 O modelo de Quazi & O’Brien 56 2.1.6.4 O modelo de Fombrun 58 2.1.6.5 O modelo de Wood 59 2.1.6.6 O modelo de Silva 61 2.1.6.7 O modelo de Montana & Charnov 62 2.1.7 A Teoria dos Stakeholders 63 2.1.8 Os instrumentos de sustentabilidade 66 2.1.8.1 Os instrumentos existentes 67 2.1.8.2 A futura Norma Mundial de RS: ISO 26000 81 2.2 O SEGMENTO VAREJISTA 84 2.2.1 Conceitos e tipos de varejo 84 2.2.2 A evolução do segmento varejista no Brasil 88 2.2.3 Um cenário do varejo supermercadista 91 2.2.4 A Responsabilidade Social no Varejo 93 2.2.4.1 O programa de Responsabilidade Social no Varejo da FGV-EAESP 96 2.2.5 A importância dos fornecedores na gestão Socialmente Responsável 98 3 METODOLOGIA 102 3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA 102 3.2 CENÁRIO DO ESTUDO 105 3.2.1 Apresentação da empresa 105 3.2.2 O Supermercado Cardoso e a gestão da RSE 106 3.2.3 Os projetos sociais do Supermercado Cardoso 111 3.2.4 O reconhecimento pela gestão socialmente responsável 112 3.3 POPULAÇÃO E SELEÇÃO DA AMOSTRA 113 3.4 O INSTRUMENTO DE PESQUISA 114 3.4.1 A adaptação do instrumento 115 3.5 A COLETA E O TRATAMENTO DOS DADOS 117

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4 AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS 121 4.1 PERFIL DA AMOSTRA 121 4.2 ANÁLISE DOS DADOS 123 4.2.1 Apresentação dos dados 124 4.2.1.1 Resposta ao primeiro objetivo específico 125 4.2.1.1.1 Valores e Transparência 127 4.2.1.1.2 Público Interno 129 4.2.1.1.3 Meio Ambiente 132 4.2.1.1.4 Fornecedores 134 4.2.1.1.5 Consumidores – Clientes 137 4.2.1.1.6 Comunidade 139 4.2.1.1.7 Governo e Sociedade 141 4.2.1.2 Resposta ao segundo objetivo específico 144 4.2.1.2.1 Grau de envolvimento dos fornecedores quanto ao porte 144 4.2.1.2.2 Grau de envolvimento dos fornecedores quanto ao segmento 149 5 CONCLUSÃO 150 5.1 RESPOSTA AO PROBLEMA DA PESQUISA 150 5.2 LIMITAÇÕES DO ESTUDO 154 5.3 RECOMENDAÇÕES PARA FUTUROS TRABALHOS 155 5.4 SUGESTÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS 157 REFERÊNCIAS 159 BIBLIOGRAFIA 164

APÊNDICE A 166

APÊNDICE B 167

APÊNDICE C 172

ANEXO 1 173

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17

1 INTRODUÇÃO

O cenário de aceleradas mudanças que caracterizam o mundo nos dias

atuais impõe às organizações novos desafios e demandas no desenvolvimento de

negócios viáveis e sustentáveis a longo prazo.

Diante desses desafios, além dos já conhecidos fatores de competitividade

das empresas, como qualidade e variedade nos produtos e serviços, velocidade na

tomada de decisões, domínio da tecnologia, criatividade, preços competitivos, alta

produtividade, entre outros, estão se agregando a estes novos requisitos para o

desenvolvimento e a sustentabilidade dos negócios: compromisso social,

comportamento ético e transparente com todos os públicos com os quais a

empresa interage, responsabilidade ambiental e, sobretudo, a co-participação das

empresas na construção de uma sociedade economicamente viável,

ambientalmente correta e socialmente justa.

Daí emerge o debate a respeito do tema Responsabilidade Social, enquanto

estratégia de negócio voltada para o desenvolvimento sustentável1 da empresa e

da sociedade.

De acordo com o Grupo de Trabalho para a Construção da Norma

Internacional de Responsabilidade Social – ISO 260002 –, a Responsabilidade

Social se define por:

1 O termo Desenvolvimento Sustentável foi utilizado pela primeira vez em 1987, no Relatório de Brundland, produzido pela Organização das Nações Unidas, significando um desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das futuras gerações de satisfazerem as suas próprias necessidades. 2 Terceira geração das Normas ISO, após as séries de sistema de gestão da qualidade (ISO 9000) e do meio ambiente (ISO 14000), que está em elaboração desde setembro de 2004, com prazo para ser concluída até 2008. O Grupo de Trabalho de Responsabilidade Social para a elaboração dessa norma está sendo coordenado em conjunto, pela primeira vez, por uma entidade normalizadora de um país industrializado – o Swedish Standards Institute (SIS – Instituto Sueco de Normalização) – e por outra de um país em desenvolvimento – a Associação Brasileira de Normas Técnicas. Outras informações sobre a ISO 26000 serão fornecidas no Capítulo 2 deste trabalho. Maiores detalhes disponíveis em www.iso.org

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Ações de uma organização3 para assumir responsabilidades pelos impactos de suas atividades sobre a sociedade e o meio ambiente. Estas ações precisam ser: consistentes com os interesses da sociedade e do desenvolvimento sustentável; baseadas no comportamento ético, em conformidade com a legislação aplicável e instrumentos intergovernamentais, e integradas às atividades cotidianas da organização4.

Com esta visão, a empresa passa a agregar um importante valor a sua

imagem: o da empresa-cidadã, que se baseia nas relações éticas e transparentes

com todos os seus stakeholders5. Esse valor está entre os principais fatores de

sucesso mercadológico, num mercado caracterizado pela forte e crescente

concorrência, onde as empresas, para sobreviver, já percebem que investir em

novas tecnologias, reduzir custos, produzir mais e melhor não é suficiente. É

preciso ir além. É preciso destacar-se e, para isso, a adoção de uma gestão

socialmente responsável mostra-se como uma ferramenta de diferenciação

mercadológica, ao tempo em que contribui para o desenvolvimento sustentável da

sociedade.

Além disso, não se pode negar que, com o advento da globalização, o

mundo passa por uma verdadeira revolução tecnológica e educacional, que permite

que as distâncias se encurtem, as barreiras à comunicação sejam cada vez

menores e o acesso à informação rápida e precisa seja muito mais fácil. A

conseqüência disto é o surgimento de um novo cidadão, mais consciente do seu

papel na sociedade, mais bem informado sobre as questões econômicas, sociais e

3 Neste caso, o termo organização refere-se tanto às empresas como ao poder público ou às organizações da sociedade civil organizada. 4 Este é um conceito preliminar de Responsabilidade Social que foi discutido entre os membros do Grupo de Trabalho para Construção da ISO 26000, na III Reunião Internacional da ISO 26000, que aconteceu em maio de 2006, na cidade de Lisboa, em Portugal, disponível em www.uniethos.org.br 5 Partes interessadas: indivíduo ou grupo de indivíduos que afetam e/ou são afetados por uma organização e suas atividades. Algumas organizações descrevem suas partes interessadas como parceiros ou públicos de interesse.

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ambientais que afetam o planeta e, por isto, melhor preparado ao pleno exercício

da cidadania.

Dentro desse contexto encontram-se os atores: a iniciativa privada,

representada pelas empresas; o poder público, representado pelos governos em

todas as suas esferas de atuação; o chamado terceiro setor, representado pelas

organizações não-governamentais sem fins lucrativos, e finalmente a sociedade

civil, representada por cada cidadão. É este cidadão que, enquanto consumidor,

tem estado cada vez mais atento ao comportamento e às ações da empresa

quanto às questões sociais no mundo e que tem sido um importante agente

impulsionador das transformações nas organizações, no sentido de exigir, por parte

das empresas, o cumprimento do seu papel enquanto partes integrantes da

sociedade.

Essa tendência de mudança, ainda que lenta e gradual, na postura dos

cidadãos-consumidores diante das opções de compras, deixando de agir como

simples consumidores, preocupados unicamente em satisfazer suas próprias

necessidades, e passando a atuar como cidadãos, exigindo das empresas, além

dos já conhecidos fatores de competitividade, o pleno exercício da cidadania

empresarial, já se faz clara e perceptível nos dias atuais.

Uma recente pesquisa6, divulgada sobre a percepção do consumidor

brasileiro quanto à Responsabilidade Social Empresarial – RSE –, indica que 78%

dos consumidores entrevistados têm muito interesse em conhecer as ações sociais

das empresas e que aproximadamente 30% dos consumidores brasileiros já

puniram ou têm disposição para punir uma marca ou empresa que considerem não

6 RSE: Percepção do Consumidor Brasileiro, 2005. Esta pesquisa é uma iniciativa conjunta do Instituto Ethos e do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente, que analisa as expectativas, opiniões e tendências dos consumidores quanto à responsabilidade das empresas pelo desenvolvimento sustentável, o progresso econômico e o equilíbrio social e ambiental do planeta. Disponível em www.akatu.org.br

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socialmente responsável, evitando consumir seus produtos ou fazendo críticas em

torno deles.

Segundo essa pesquisa, o consumidor brasileiro está atento e sintonizado

com os compromissos sociais e ambientais das organizações. Afinal, em um

mercado extremamente competitivo, onde preço e qualidade dos produtos sofrem

poucas variações, os clientes, como parte integrante desse mercado, dão

preferência às empresas socialmente responsáveis, o que demonstra uma clara

oportunidade de diferenciação para as empresas dispostas a um compromisso

efetivo com a Responsabilidade Social.

Essa mudança de consciência pela qual os consumidores têm passado

justifica a necessidade das organizações se preocuparem em ser vistas como

socialmente responsáveis, o que pode ser demonstrado no cuidado com os

recursos naturais e com a melhoria contínua da qualidade de vida de todos os

públicos com os quais interagem, não deixando que a lucratividade seja o único

motivo da sua existência e sobrevivência.

A discussão sobre Responsabilidade Social Empresarial requer, entretanto,

a consideração prévia de uma série de elementos e contextos sobre os quais a

empresa está inserida, o que permitirá uma melhor compreensão a respeito do

tema e do papel das empresas na construção de uma sociedade sustentável.

É preciso considerar, inicialmente, o meio em que a empresa atua, visto que

ela é parte de um sistema e, como tal, tanto recebe influências quanto influencia o

meio, por intermédio de seus processos e de suas decisões. A partir daí, é

necessário conhecer e analisar o cenário mundial, dos pontos de vista social,

econômico e ambiental, para que se possa, mediante um autodiagnóstico da RSE,

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traçar estratégias de ação, ainda que em âmbito local, para construção de uma

sociedade mais justa e mais próspera.

Fica claro que, no futuro, as empresas só se manterão competitivas se

possuírem uma gestão socialmente responsável e se acreditarem que a sua

missão empresarial, além de gerar lucros, é também contribuir para o

desenvolvimento sustentável da sociedade.

1.1 APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA

A Responsabilidade Social Empresarial, diante de tantos desafios sociais e

ambientais de um mercado globalizado, que envolve uma crescente

interdependência entre as economias domésticas, os mercados financeiros, o

comércio, as corporações, a produção, a distribuição, etc., vem-se apresentando,

não só como um forte instrumento de gestão transformadora da sociedade, mas,

também, como um diferencial competitivo e um fator de sustentabilidade

empresarial, na medida em que trata ainda de temas como qualidade de produtos e

serviços, educação, qualidade de vida, preservação do meio ambiente e postura

ética e transparente com todos os públicos com os quais a empresa interage.

Nesse sentido, ao considerar que uma atuação socialmente responsável das

empresas envolve a gestão dos aspectos econômicos, sociais e ambientais e que

prevê necessariamente a participação de todos os stakeholders, torna-se

necessário avaliar o envolvimento de cada público de interesse com o tema.

Uma empresa não pode ser considerada socialmente responsável se em

sua cadeia de fornecedores, por exemplo, existem práticas ou processos

gerenciais que vão de encontro às convenções e aos tratados nacionais ou

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internacionais que têm por objetivo manter a ordem e promover o desenvolvimento

no mundo7, tais como a Declaração Universal dos Direitos Humanos, a Declaração

Universal dos Direitos da Criança e do Adolescente, as Normas da Organização

Internacional do Trabalho, o Código Brasileiro de Defesa do Consumidor, a

Consolidação das Leis Trabalhistas, etc.

Diante do exposto, considerando que uma gestão socialmente responsável é

aquela que contempla a participação de todos os públicos com os quais a empresa

interage, na busca de um objetivo comum, e considerando uma perspectiva

sistêmica da organização, que prevê o que acontece à sociedade influencia a

empresa e vice-versa, a questão norteadora desta pesquisa está na seguinte

pergunta: “Qual o grau de envolvimento da cadeia de fornecedores do

Supermercado Cardoso com a Responsabilidade Social Empresarial?”

1.2 JUSTIFICATIVA

O atual arranjo sistêmico das empresas requer uma nova compreensão da

Responsabilidade Social, que passa a ser assunto de relevância, não mais de uma

organização, mas, de toda a cadeia produtiva da qual ela faz parte.

Quanto mais maduros os segmentos de negócios envolvidos, e mais consolidado o sistema de empresas agregadas em uma rede de relacionamentos e de criação de valores, mais predispostas estarão as empresas para a criação de estratégias de colaboração competitiva e para a busca da co-evolução. Maiores serão então as possibilidades de construir estratégias compartilhadas, a partir de múltiplas visões empreendedoras, e maior será a responsabilidade com o sistema de negócios como um todo (ESTEVES, 2000, p. 169).

7 Somente os países que ratificam as diversas normas e acordos internacionais existentes é que ficam subordinados a eles.

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A Responsabilidade Social Empresarial deve estar baseada na

compreensão de que as atividades empresariais são altamente interdependentes e

operam segundo a Teoria dos Sistemas, onde a otimização das partes não significa

necessariamente a otimização do todo. A empresa ou a marca somente será

legitimada pelo consumidor como socialmente responsável se toda a cadeia

produtiva estiver construída de forma sustentável.

Dessa forma, ao definir uma empresa como socialmente responsável, é

fundamental avaliar toda a sua cadeia de valor. Assim, dada a importância da

cadeia de fornecedores no processo de inserção da RSE na gestão estratégica da

organização, surge a motivação para esta pesquisa.

Além disso, a valorização das relações com os fornecedores oferece à

empresa uma oportunidade de intermediá-la em benefício dos seus clientes,

garantindo-se equilíbrio e equidade nos processos de comercialização.

A multiplicação das pesquisas em torno do tema Responsabilidade Social

vem demonstrando um grande interesse por parte de empresas, entidades civis,

governos, meios de comunicação e diversos outros segmentos da sociedade. No

entanto, ainda são poucos os estudos sobre a Responsabilidade Social

Empresarial no Varejo Supermercadista, em especial, no que diz respeito ao

relacionamento dos supermercados com sua cadeia de fornecedores. Daí o

interesse do pesquisador no desenvolvimento deste estudo.

Um outro fator que motivou a aplicação desta pesquisa foi a compreensão

do pesquisador de que a empresa somente poderá demonstrar claramente que

está, de fato, assumindo uma gestão socialmente responsável, ao disseminar os

valores e padrões éticos de comportamento e relacionamento, praticando com seus

fornecedores e parceiros, os mesmos princípios e valores sobre os quais são

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pautadas as suas ações na construção de uma sociedade verdadeiramente

sustentável.

Quanto à escolha do setor supermercadista, é interessante comentar que,

apesar de ser um setor extremamente significativo para a economia brasileira –

alcançou um faturamento de R$ 106,4 bilhões em 2005, com 72.884 lojas

espalhadas pelo Brasil, gerando mais de 800.000 empregos diretos –, o

supermercado é ainda relativamente pouco estudado no País, principalmente no

que se refere à Responsabilidade Social (RANKING ABRAS, 2006).

Vale ressaltar que a escolha do Supermercado Cardoso para realização

deste estudo perpassa por um interesse pessoal do pesquisador, uma vez que este

exerce atividade profissional como Diretor nessa empresa. Além do mais, o

Supermercado Cardoso, já tendo uma gestão voltada para a RS, obtendo,

inclusive, o reconhecimento da FGV-EAESP, com o 3° Prêmio de RSE no Varejo8,

constatou, por meio de um autodiagnóstico da RSE, que o seu envolvimento com o

público fornecedores precisava ser maior. Daí a motivação para o estudo da RSE

na cadeia de fornecedores do Supermercado Cardoso.

1.3 OBJETIVOS

1.3.1 Objetivo Geral

O objetivo principal desta pesquisa é diagnosticar e analisar o grau de

envolvimento dos fornecedores do Supermercado Cardoso quanto às práticas de

Responsabilidade Social Empresarial.

8 Maiores informações sobre a relação do Supermercado Cardoso com a RSE, bem como sobre o recebimento do 3° Prêmio de RSE no Varejo da FGV-EAESP, serão fornecidas no Capítulo 3 deste trabalho.

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1.3.2 Objetivos Específicos

Subsidiariamente ao objetivo geral, pela pesquisa, pretende-se também:

• analisar o grau de envolvimento dos fornecedores baianos em relação à

RSE, à luz das sete temáticas da RSE propostas pelo Instituto Ethos de

Empresas e Responsabilidade Social, estabelecendo uma comparação do

envolvimento com o tema entre os fornecedores baianos e de outros

estados do Brasil;

• conhecer e analisar o grau de envolvimento com o tema RSE na cadeia de

fornecedores, a partir da classificação de empresas por porte e por

segmento de atuação.

A expectativa do pesquisador é que os resultados deste trabalho sejam

relevantes na construção de parcerias sustentáveis entre o varejo supermercadista

e sua cadeia de fornecimento e se tornem aproveitáveis para os administradores

responsáveis pela gestão das empresas, fomentando a discussão sobre a RSE e

contribuindo para a reflexão sobre o tema.

Vale ressaltar, ainda, que este estudo não tem a intenção de criar um

manual prático quanto à adoção da gestão da RSE na cadeia de fornecedores. Na

conclusão deste trabalho, pretende-se tecer algumas recomendações sobre o

aprimoramento das práticas atuais, identificando fatores que podem facilitar o

processo de incorporação da Responsabilidade Social na gestão empresarial,

promovendo a construção de relações solidárias entre os públicos de interesse e

gerando benefícios para as empresas e para a sociedade.

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Para alcançar os objetivos propostos, foi realizada uma pesquisa

qualiquantitativa, de natureza exploratória e descritiva, entre os fornecedores do

Supermercado Cardoso, de diversos portes, de diferentes regiões e segmentos de

atuação, no período de 13 de março a 31 de maio de 2006.

1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO

Este trabalho está organizado em cinco capítulos. O primeiro capítulo

corresponde a esta introdução, que apresenta o problema da pesquisa, as razões

que justificam a pesquisa e os objetivos do trabalho.

O segundo capítulo traz o referencial teórico a respeito do tema e está

dividido em duas partes: a primeira, faz uma retomada a respeito do histórico da

RSE; apresenta uma visão sistêmica das organizações; o cenário do sistema no

qual as empresas estão inseridas, destacando a força das empresas dentro desse

sistema; os conceitos e modelos da Responsabilidade Social Empresarial; os

principais instrumentos de sustentabilidade, bem como a Teoria dos Stakeholders,

que permitirá a melhor compreensão do trabalho. A segunda parte do capítulo traz

uma abordagem a respeito do segmento varejista e a relação entre a

Responsabilidade Social Empresarial e o varejo no Brasil.

O terceiro capítulo apresenta os procedimentos metodológicos adotados

para concretização deste estudo. Serão descritas as características da pesquisa,

mencionando-se o tipo, a metodologia e o modo de investigação abordados. A

próxima etapa refere-se à contextualização do cenário da pesquisa com

informações referentes ao Supermercado Cardoso e sua relação com a gestão

socialmente responsável; a trajetória da pesquisa, relatando as etapas desde a

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definição da população, o perfil da amostra, a apresentação do instrumento de

pesquisa e os procedimentos para a coleta e o tratamento dos dados.

O quarto capítulo traz o perfil da amostra, apresenta os dados obtidos e

discute os resultados encontrados, no sentido de responder aos objetivos da

pesquisa.

O quinto capítulo responde ao problema da pesquisa, apresenta as

considerações finais, as contribuições e as limitações do trabalho.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

Nesse capítulo, será apresentado o marco teórico a respeito do tema do

trabalho. Para isso, dividiu-se o capítulo em duas partes: a primeira parte aborda o

tema Responsabilidade Social Empresarial. Serão retomados fatos históricos que

marcaram a evolução e o desenvolvimento da Responsabilidade Social no Brasil e

no mundo. Posteriormente, será apresentada uma visão sistêmica das

organizações e um breve cenário do sistema no qual as empresas, enquanto

partes integrantes da sociedade, estão inseridas, destacando a sua força dentro

desse sistema. A partir daí, serão expostos conceitos e modelos de

Responsabilidade Social Empresarial, bem como instrumentos de sustentabilidade

existentes, com ênfase na construção da futura Norma Mundial de

Responsabilidade Social: a ISO 26000. Finalizando a primeira parte do capítulo,

será apresentada a Teoria dos Stakeholders, para que se possa compreender

melhor a relação da empresa com os seus públicos de interesse.

Uma vez que o foco deste trabalho está voltado para um estudo da

Responsabilidade Social na cadeia de fornecedores do varejo, a segunda parte do

referencial teórico irá tratar desse segmento, abordando os conceitos e tipos de

varejo, o varejo supermercadista e suas características, a importância do varejo na

economia brasileira e a relação do varejo com o tema Responsabilidade Social

Empresarial.

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2.1 RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL

2.1.1 Um histórico da Responsabilidade Social Empresarial

Nos últimos anos têm crescido a atenção, a mobilização e a preocupação da

sociedade com temas relacionados a questões de cidadania, direitos humanos,

ética, valorização da diversidade, qualidade de vida, desenvolvimento econômico,

social e ambiental em todo o planeta. Com isso, cresce também o questionamento

sobre qual deve ser o papel das empresas na discussão desses temas. Daí

emerge a polêmica em torno da Responsabilidade Social Empresarial

O debate sobre o papel social das empresas começou a surgir com mais

força no Brasil a partir da década de 80, porém, o movimento em torno desse tema

se originou de uma seqüência de eventos sociais, políticos e econômicos, no início

do século passado, que, de fato, estão mudando a atitude dos cidadãos e da

comunidade empresarial.

Até a I Guerra mundial, não se achava que as decisões de um país

pudessem afetar significativamente todo o mundo. Dessa forma, pode-se dizer que

a criação da Liga das Nações, em 1920, que teve como objetivo a promoção da

cooperação, da paz e da segurança mundiais no pós-guerra, foi um primeiro passo

na direção do pensar globalmente. Além disso, destaca-se também o

desenvolvimento dos meios de comunicação e de transporte, que permitiu que o

trânsito de pessoas entre as várias regiões do planeta aumentasse, incrementando,

assim, a relação entre os povos.

Os traumas, tanto humanos como ambientais, causados pelas bombas

nucleares lançadas nas cidades de Hiroshima e Nagasaki, durante a II Guerra

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mundial, conduziram o mundo a refletir coletivamente em torno de medidas que

pudessem evitar a repetição de tragédias daquela natureza. Como conseqüência

dessa reflexão, criou-se, em 1945, a Organização das Nações Unidas – ONU –,

que tem por objetivos manter a paz e a segurança internacionais, defender os

direitos humanos e as liberdades fundamentais, fomentar a cooperação

internacional e promover o desenvolvimento dos países.

Três anos depois, em 1948, a ONU fez a sua primeira grande manifestação,

mediante a Declaração Universal dos Direitos Humanos, como conseqüência das

atrocidades cometidas durante a II Guerra mundial.

Num período marcado pelo pós-guerra, na década de 50, enquanto as

organizações norte-americanas viviam um período de crescimento, as demais, de

diversos outros países, tiveram sua capacidade comercial e industrial diminuída.

Em decorrência dessas disparidades, surgiram as primeiras discussões em torno

da Responsabilidade Social nos Estados Unidos, na tentativa de encontrarem-se

meios com os quais fosse possível que as grandes empresas ajudassem os grupos

menos favorecidos, dando início assim às ações de filantropia. Esta foi a primeira

forma encontrada pelas organizações para atuarem com o foco direcionado, não

apenas na geração de lucro, mas, também, nos interesses da sociedade.

Ainda na década de 50, mais precisamente em 1953, é publicado, nos

Estados Unidos, o livro Social Responsibilities of the Businessman, de Howard

Bowen, cuja publicação representou um importante fator impulsionador das

discussões a respeito da Responsabilidade Social das empresas. Para Bowen

(1953), “as empresas são os centros vitais de poder e de decisão e a sua forma de

agir influencia a vida dos cidadãos de diferentes maneiras”.

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Vale salientar que a discussão sobre a Responsabilidade Social Empresarial

teve início, com mais força, nos Estados Unidos, uma vez que, na Europa, os

governos sempre tiveram o olhar mais atento ao bem-estar dos cidadãos.

No Brasil, a Associação dos Dirigentes Cristãos de Empresa – ADCE – foi o

grupo pioneiro em debater o compromisso social das empresas. Na década de 60,

a ADCE-Brasil9 publicou a Carta de Princípios do Dirigente Cristão de Empresa,

onde empregava a expressão Responsabilidade Social diretamente relacionada às

empresas.

Em 1960, chefes de Estado, economistas, humanistas, empresários,

banqueiros, líderes políticos, cientistas, pedagogos, entre outros representantes de

diversos países, passaram a reunir-se em Roma para analisar a situação mundial e

oferecer previsões e soluções para o futuro da humanidade, grupo esse que deu

origem ao Clube de Roma.

Em 1968, os membros do Clube de Roma chegaram à conclusão que a

condição do planeta estava gravemente abalada, em função da grande demanda

por matérias-primas e pela geração de resíduos da produção industrial, e que as

atividades humanas estavam se tornando incompatíveis com a recuperação dos

recursos naturais. Esta conclusão serviu de alerta para que o mundo começasse a

preocupar-se com a diminuição da qualidade de vida e os riscos oferecidos à

saúde e à sobrevivência da humanidade.

9 Entidade constituída por empresários cristãos, que possui como fundamento de suas práticas os princípios estabelecidos pela doutrina social da Igreja. Todas as atividades acerca da responsabilidade e do balanço social das empresas seguem tais princípios (ASHLEY et al., 2005, p. 69).

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Diante do conteúdo das publicações do Clube de Roma, entre elas Os

Limites do Crescimento10, em 1972, a ONU realizou, na Suécia, a Conferência das

Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, também conhecida como a

Conferência de Estocolmo11, com a presença de representantes de mais de 100

países.

A partir desta iniciativa, foi redigida a Declaração de Estocolmo, que

introduziu, pela primeira vez na agenda política internacional, a dimensão

ambiental como condicionadora e limitante do modelo tradicional de crescimento

econômico e do uso dos recursos naturais, sustentando que tanto as gerações

presentes como as futuras tenham reconhecida, como direito fundamental, a vida

num ambiente sadio e não-degradado. Esta foi a primeira vez que se empregou o

conceito de sustentabilidade, porém, ainda com uma forte conotação ambiental.

Em 1977, a França cria a lei do Balanço Social, contemplando os direitos

humanos no ambiente de trabalho.

No Brasil, durante a década de 80, a generalização do conceito de

cidadania, que aborda o cidadão por seus direitos sociais e políticos, e, também, a

maior divulgação e disseminação de projetos sociais marcaram o movimento da

Responsabilidade Social Empresarial.

Alguns fatos podem ser citados, a exemplo do lançamento do Prêmio Eco de

Cidadania Empresarial12, em 1982, instituído pela Câmara Americana do Comércio

de São Paulo; o lançamento da Campanha Nacional de Ação da Cidadania contra

10 Relatório de grande repercussão mundial, no qual se coloca em questão o modelo de desenvolvimento baseado no crescimento como se ele fosse ilimitado. 11 A Conferência de Estocolmo é considerada um divisor de águas no despertar da consciência ecológica. 12 O Prêmio Eco foi pioneiro no Brasil a reconhecer e premiar a atuação empresarial socialmente responsável. Desde o lançamento, mais de 1.800 projetos foram inscritos por 1.516 empresas participantes, sendo que 135 foram premiados. Disponível em http://www.amcham.com.br/cidadania/premio_eco/index_html Acesso em 29 de outubro de 2006.

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a Fome, a Miséria e pela Vida13, em 1983; a publicação, em 1984, do primeiro

Balanço Social do Brasil, elaborado pela Nitrofértil, e, em 1986, o surgimento da

Fundação Instituto de Desenvolvimento Empresarial e Social (FIDES), entidade

que visa a humanização das empresas e sua interação com a sociedade, com base

em princípios éticos e que se destaca em valorizar as empresas envolvidas com a

sociedade, incentivando-as a publicar o seu Balanço Social.

A década de 80 também marcou o mundo por desastres ambientais, como

Bophal14 e Chernobyl15, que acenderam ainda mais o alerta sobre os riscos em

torno do uso da tecnologia nuclear, mesmo que apenas para geração de energia.

Em 1897, a ONU publica um documento chamado Nosso Futuro Comum,

também conhecido como Relatório de Brundland, no qual é introduzido, pela

primeira vez, o termo desenvolvimento sustentável como sendo aquele que atende

as necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as futuras

gerações atenderem as suas próprias necessidades.

Os movimentos de sustentabilidade ganharam força nos anos 90, com o

surgimento de diversas ferramentas para a gestão de empresas. No Brasil, em

fevereiro de 1990, surge a Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança e do

Adolescente, fundada pelas associações dos fabricantes de brinquedos e mantida

por pessoas, empresas e agências nacionais e internacionais que lutam pela causa

da criança e do adolescente.

13 Ação da Cidadania Contra a Fome, a Miséria e pela Vida foi um movimento liderado pelo sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, fundador da ONG Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (IBASE). 14 Unidade da indústria Union Carbide, localizada na Índia, que, em 1984, emitiu gases tóxicos na atmosfera, matando 4.000 pessoas e intoxicando 200.000. 15 Explosão de uma usina nuclear, em 1986, na cidade de Kiev, antiga União Soviética, que causou a morte de 10.000 pessoas, contaminando o solo, o ar e a água.

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Nesse período, foram firmados acordos consensuais importantes, como a

Agenda 2116, que apresenta um plano de ação para ser posto em prática por todos

os governos, proposto na Reunião de Cúpula das Nações Unidas para o Meio

Ambiente, em 1992, no Rio de Janeiro, conhecida também como Rio-92.

Ainda em 1992, o Clube de Roma publica o livro Além dos Limites, uma

espécie de relatório que apresenta, de modo contundente, os prejuízos provocados

pelo homem no meio ambiente e a incapacidade da natureza de regenerar-se na

mesma velocidade da degradação.

Em 1995, foi criado aqui, no Brasil, o GIFE (Grupo de Institutos, Fundações

e Empresas), que é uma associação cujo objetivo é aperfeiçoar e difundir conceitos

e práticas do uso de recursos privados em benefício do bem comum.

Outra importante iniciativa foi o Protocolo de Kyoto, publicado em 1997, na

Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, no Japão, que

trata da redução em pelo menos 5%, com relação aos dados de 1990, da emissão

combinada de gases que agravam o efeito estufa.

No Brasil, em 1998, algumas empresas de diversos segmentos de atividade

uniram-se para fundar o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social,

uma organização não-governamental, sem fins lucrativos, que tem como missão

mobilizar, sensibilizar e ajudar empresas a gerirem seus negócios de forma

socialmente responsável, disseminando conceitos e criando ferramentas de auxílio

à adoção de uma gestão socialmente responsável.

Em 1999, surgiram as bases para o Pacto Global, primeira proposta da ONU

tratando do tema Responsabilidade Social Corporativa, numa iniciativa pessoal do

16 Detalhado programa de ação em matéria de meio ambiente e desenvolvimento, composto por 40 capítulos com mais de 800 páginas. O documento está dividido em quatro seções: dimensões sociais e econômicas; conservação e gestão de recursos para o desenvolvimento; fortalecimento do papel dos principais grupos sociais e, finalmente, meios de implementação.

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Secretário Geral das Nações Unidas, Kofi Annan. O Pacto Global propõe à

comunidade empresarial global o desafio de apoiar mundialmente a promoção de

valores fundamentais nas áreas de Direitos Humanos, Direitos do Trabalho,

Proteção Ambiental e Combate à Corrupção.

Em 2000, na cidade de Lisboa, é desenvolvida uma estratégia pelos 15

países da União Européia, com o intuito de reforçar a coesão social. Em setembro

desse mesmo ano, a ONU reuniu 147 chefes de Estado e de governo, durante a

Cúpula do Milênio, em Nova Iorque, onde foi aprovada outra iniciativa importante

da ONU: as Metas do Milênio. Essa foi considerada a maior reunião de dirigentes

mundiais de todos os tempos.

Ainda em 2000, destacam-se o lançamento das Diretrizes para Relatórios de

Sustentabilidade, documento revisado e atualizado posteriormente durante o

Encontro Mundial para o Desenvolvimento Sustentável, que aconteceu em 2002,

em Joanesburgo, na África do Sul; o lançamento oficial do Pacto Global; a

publicação dos Indicadores Calvert-Henderson, que medem a qualidade de vida de

um país, e, aqui no Brasil, a criação dos Indicadores Ethos de Responsabilidade

Social do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social.

Em 2001, na Bélgica, é lançado o Livro Verde, pela Comissão das

Comunidades Européias, para promoção de um cenário europeu para a RSE. O

objetivo foi ampliar o debate quanto às formas de promoção da RSE pela União

Européia e pelas empresas européias e internacionais. De acordo com o Livro

Verde (2001, p.3), a “Responsabilidade Social das empresas é, essencialmente,

um conceito segundo o qual as empresas decidem, numa base voluntária,

contribuir para uma sociedade mais justa e para um ambiente mais limpo”.

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Um ano mais tarde, em 2002, com a aprovação da ONU, começou a ser

divulgada a Carta da Terra, inspirada em diversas fontes, entre ecologia e outras

ciências, tradições religiosas e filosóficas do mundo, meio ambiente e

desenvolvimento, além das declarações e dos tratados intergovernamentais e não-

governamentais relevantes, que tem por objetivo ser uma espécie de código ético

planetário, que norteie pessoas, organizações e estados.

No que se refere ao meio empresarial, a Carta da Terra reivindica a

promoção do desenvolvimento social e de sistemas financeiros que criem e

mantenham meios sustentáveis de subsistência, erradiquem a pobreza e

fortaleçam as comunidades locais.

Entre maio e setembro de 2004, aconteceu em Barcelona, na Espanha, o

Fórum de Barcelona 2004, que teve como objetivo servir de ponto de encontro

entre diversos países e organizações, para o debate sobre as diferenças culturais,

o desenvolvimento sustentável e a paz mundial.

Ainda em 2004, a ISO17 aprova a elaboração de uma norma internacional de

Responsabilidade Social: a ISO 26000. A futura norma, prevista para publicação

em 2008, não terá propósito de certificação nem caráter de sistema de gestão. Sua

finalidade consistirá em apresentar diretrizes de Responsabilidade Social e orientar

organizações de diferentes portes e naturezas a incorporá-las à sua gestão.

Em 30 de dezembro de 2004, passa a vigorar a Norma Brasileira de

Responsabilidade Social, a ABNT NBR 1600118, que tem como um dos objetivos

prover as organizações de elementos de um sistema para a gestão eficaz da

17 International Organization for Standardization – ISO. Organização criada há mais de 60 anos, que promove normas e atividades que favoreçam a cooperação internacional nas esferas intelectual, científica, tecnológica e econômica. Com sede em Genebra, está presente em mais de 150 países, nos quais é representada por organismos nacionais de normalização. No Brasil, sua representante é a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). 18 Disponível em www.abnt.org.br

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Responsabilidade Social, passível de integração com outros requisitos de gestão,

de forma a auxiliá-las a alcançar seus objetivos relacionados com os aspectos da

Responsabilidade Social.

Diante do exposto, pode-se afirmar que todos esses esforços, aumentados

consideravelmente nos últimos anos, vêm sendo realizados no sentido de ampliar o

foco e o comprometimento das organizações com ações sustentáveis.

No entanto, é importante destacar que um dos grandes desafios atuais é

fazer com que todas essas iniciativas globais ou locais possam convergir,

verdadeiramente, de maneira clara e aplicável, para as empresas, seja na forma de

princípios e valores, seja em padrões e processos empresariais.

Daí o porquê do debate cada vez mais crescente acerca do tema

Responsabilidade Social Empresarial vir sempre acompanhado do questionamento

em torno do verdadeiro papel das empresas na construção de uma sociedade

sustentável.

Discutir sobre Responsabilidade Social Empresarial requer, entretanto, a

compreensão prévia do poder das empresas como agentes de transformação,

enquanto partes integrantes de um sistema aberto, bem como a descrição de um

cenário do estado do mundo pautado no desenvolvimento econômico, na igualdade

social e na proteção ambiental do planeta Terra.

2.1.2 A empresa numa abordagem sistêmica

O princípio da RSE, segundo Maximiano (1997), é baseado na premissa de

que as organizações são instituições sociais, que existem com a autorização da

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sociedade, utilizando-se de seus recursos e, como conseqüência, afetando a sua

qualidade de vida.

De acordo com Montana & Charnov (2003), um sistema pode ser definido

como “um todo organizado e unido composto por duas ou mais partes

interdependentes, cujas fronteiras não são rígidas”. Para Chiavenato, um sistema

representa

um conjunto de elementos interdependentes e interagentes; um grupo de unidades combinadas que formam um todo organizado e cujo resultado é maior do que o resultado que as unidades poderiam ter se funcionassem independentemente. Qualquer conjunto de partes unidas entre si pode ser considerado um sistema, desde que a relação entre as partes e o comportamento do todo seja o foco de atenção (CHIAVENATO, 1983, p. 522).

Compartilhando com esta óptica, compreende-se a empresa como parte de

um sistema, com o qual estabelece relações de troca, recebendo influências do

ambiente externo, nos aspectos político, econômico, social, natural, tecnológico e

cultural, e influenciando, igualmente, esse ambiente, por intermédio de seus

processos e de suas decisões.

Para melhor explicar a abordagem sistêmica, como mostra a Figura 1,

considera-se que todo organismo vivo, biológico ou social, no caso, a empresa, é

essencialmente um sistema aberto, uma vez que apresenta relações de

intercâmbio com o meio ambiente exterior e, com isso, mantém um fluxo contínuo

de entradas e saídas (CHIAVENATO, 1983).

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EMPRESA

Transformação ou

processamento

Entradas: informação,

energia, recursos

materiais e humanos

Saídas: informação,

produtos, serviços

AMBIENTE

RETROAÇÃO

Figura 1. A empresa como um sistema aberto (adaptado de CHIAVENATO, 1983)

Todos os sistemas abertos, com sua capacidade de adaptação e dinamismo,

compartilham diversas características, como interação com o meio, em função das

trocas que estabelece para sobrevivência; sinergia, uma vez que os resultados são

sempre maiores do que a soma das partes envolvidas; equilíbrio econômico,

mediante o processo de ajuste interno que ocorre com a aquisição de recursos do

meio ambiente, etc.

Ao analisar a Teoria dos Sistemas à luz da administração, percebe-se que

as empresas passam a ser vistas como sistemas vivos, formados por pessoas que

têm os mesmos objetivos, que formam subsistemas, que se relacionam entre si e

com o meio externo para o alcance de objetivos comuns.

Dentro desse contexto, propõe-se uma lógica sistêmica, que permite uma

melhor compreensão do grau de envolvimento e interdependência entre as

empresas, enquanto sistemas abertos, e o seu ambiente de atuação.

A força de um sistema depende da intensidade com que esse sistema, a empresa, mantém relações com o meio. Quanto mais forte for essa troca, mais forte será o sistema. Quando um meio entra em degradação, a sobrevivência dos sistemas fica comprometida. Por outro lado, à medida que os sistemas tornam-se

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mais saudáveis, eles promovem um fator regenerador do meio. Transportando a lógica sistêmica para o contexto empresarial, observa-se que a sobrevivência das empresas está intimamente ligada a existência de um meio saudável. É como se existisse uma cumplicidade entre sistema e ambiente (PARENTE, 2006, p. 17).

Duarte & Dias (1986, p. 36) citam que todas as instituições e organizações

sociais são afetadas pela lógica sistêmica e que a empresa não se constitui numa

exceção. Os subsistemas econômicos (dentro deles, as empresas) são forçados a

acompanhar as mudanças, revendo posições, adaptando procedimentos e

redefinindo estratégias. Ainda, segundo esse autor,

a medida que o macroambiente se transforma, evolui a cultura, mudam-se os padrões de comportamento, alteram-se a natureza e a hierarquia dos valores e surgem novas expectativas dos públicos em face das organizações, que são forçadas a adaptar-se ao novos contextos, sob pena de perda de sua legitimidade social (Duarte & Dias, 1986, p.17).

Fica claro, portanto, que as empresas, partes integrantes de um sistema,

interagem nele e com ele, afetando-o e sendo por ele afetadas. Tudo o que

acontece no sistema interessa à empresa e tudo que acontece na empresa

interessa ao sistema. As empresas não existem no vazio, daí sua fundamental

importância na construção de uma sociedade sustentável.

Dessa forma, se as empresas são partes integrantes, influenciam e recebem

influências de um sistema, se existem em função da sociedade e do que a ela

pertence, utilizando seus recursos naturais, capitais financeiros, humanos e

tecnológicos, não se pode falar a respeito do seu papel na manutenção e no

desenvolvimento desse sistema – aqui compreendido como um macroambiente

composto por aspectos sociais, culturais, políticos, legais, ambientais, econômicos

e tecnológicos –, sem antes apresentar um breve cenário desse contexto.

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2.1.3 O cenário de um sistema: o planeta Terra

O primeiro aspecto a ser considerado nesse cenário diz respeito às

implicações do processo de globalização em todo o planeta Terra, sobretudo, nos

países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento e, em particular, no Brasil. Não

se pretende, no entanto, entrar no debate de julgar o fenômeno da globalização por

questões sociais, econômicas e ambientais que ameaçam a vida no planeta, muito

menos avaliar seus efeitos, positivos ou negativos, sobre a humanidade, mas

apenas apresentar algumas características desse cenário para, assim, fomentar a

reflexão sobre o papel de cada ator na sociedade, no sentido de reverter a situação

e contribuir para a construção de um mundo sustentável.

O processo de globalização trouxe consigo transformações mundiais, na

ordem social, política, econômica e ambiental, onde o ponto central é a integração

dos mercados numa imensa aldeia global, explorada por grandes corporações

internacionais.

Se, por um lado, numa economia global, pode-se comunicar e produzir mais

e melhor, por outro, depara-se com questões como exclusão social, violência,

trabalho infantil, trabalho forçado, má distribuição de renda, gerando ao mesmo

tempo o consumismo desenfreado e irresponsável, a miséria e a fome, e,

sobretudo, com questões ambientais, como mudanças no clima global,

desflorestamento, efeito estufa, escassez de água, poluição, redução da camada

de ozônio e outras que, por sua tamanha gravidade, chegam a ameaçar a própria

sobrevivência do planeta e da espécie humana. Estas duas faces, características

antagônicas de um mesmo planeta, fazem parte do dia-a-dia de milhares de seres

humanos.

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No Brasil, a situação não é diferente. O reflexo da má distribuição de renda

deixa mais de um terço da população vivendo aquém das suas necessidades

básicas de consumo19. Há quase duas décadas, o Brasil está entre os países mais

desiguais do mundo. O Relatório de Desenvolvimento Humano do Programa das

Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD (2005) – aponta o Brasil como o

oitavo país do mundo em desigualdade social, de acordo com o Coeficiente de

Gini20, na frente apenas da Guatemala e dos países africanos Suazilândia,

República Centro-Africana, Serra Leoa, Botsuana, Lesoto e Namíbia.

Ainda de acordo com o Relatório de Desenvolvimento Humano 2005, 46,9%

da renda nacional está nas mãos dos 10% mais ricos, enquanto que os 10% mais

pobres ficam com menos de 1,0% da renda, dificultando, assim, a expansão

econômica e o crescimento do País e contribuindo para que o Brasil apareça em

69° lugar no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano21 – IDH –, entre os

177 países que fazem parte do estudo.

Os Indicadores de Desenvolvimento Sustentável do Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística – IBGE22 – indicam que o PIB brasileiro cresceu mais de

100 vezes e a população passou de 17 milhões para 170 milhões ao longo do

Século XX. Segundo o mesmo relatório, na contrapartida, a concentração da renda

aumentou. Em 1960, os 10% mais ricos tinham uma renda 34 vezes maior que os

10% mais pobres, enquanto que em 2001 essa proporção era de 47 vezes. Na

virada do século, a renda de 1% da população mais rica era praticamente igual à

renda de 50% da população mais pobre.

19 Relatório de Desenvolvimento Humano PNUD 2005, disponível em www.pnud.org.br 20 Indicador de desenvolvimento sustentável, que expressa o grau de concentração na distribuição do rendimento da população. Seu valor varia de 0, quando não há desigualdade, a 1, quando a desigualdade é máxima. 21 O IDH é uma medida comparativa de pobreza, alfabetização, educação, esperança de vida, natalidade e outros fatores entre os diversos países do mundo. 22 Estatísticas do Século XX do IBGE, disponível em www.ibge.gov.br

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Dados como estes indicam que, nos últimos 100 anos, o Brasil expandiu-se,

reproduzindo pobreza, chegando ao atual cenário, no qual mais de 50 milhões de

brasileiros vivem com renda insuficiente e convivem com a dificuldade de acesso a

serviços básicos, como saúde, educação, habitação e saneamento.

Por outro lado, na década de 90, o surgimento e a intensificação de

movimentos sociais, com a participação da sociedade civil organizada, além de

algumas iniciativas do poder público em educação e saúde, permitiram que o Brasil

evoluísse na redução da taxa de analfabetismo, na universalização da educação

básica, na expansão da população universitária, no combate a AIDS e outras

doenças, na redução do índice de mortalidade infantil, etc. Porém, apesar de ter

havido evolução em alguns indicadores de sustentabilidade, o Brasil ainda continua

na lista dos países mais corruptos e mais desiguais do mundo.

Outros grandes temas que hoje compõem o cenário mundial são os

assuntos de relevância internacional que estão relacionados à proteção da vida no

planeta, à preservação e à melhoria do meio ambiente e da qualidade de vida das

comunidades. A maior prova disto são as grandes reuniões mundiais, dentre as

quais a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente, em 1972, em

Estocolmo, e a Conferência Rio-92, em 1992, no Brasil, em que uma das principais

conclusões assumidas é a recomendação de investir-se em uma mudança de

mentalidade, conscientizando os diferentes grupos humanos para a fundamental

importância de se adotarem novas posturas diante dos problemas ambientais que

afetam todo o planeta.

Dentre as questões ambientais mais discutidas, pode-se citar: o crescimento

da população e a conseqüente elevação do consumo; as alterações nos padrões

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de consumo e o conseqüente aumento na produção de lixo; a iminência da

escassez da água; a ameaça do aquecimento global, dentre outros.

Esse cenário aponta para o risco de um futuro colapso ambiental, caso não

haja uma rápida mudança nos hábitos de consumo da população mundial e na

postura das empresas, dos governos e da sociedade civil organizada, diante das

questões ambientais.

Abaixo estão relacionados alguns dados do cenário ambiental do planeta:

• cerca de 80% das antigas florestas da Terra já foram destruídas ou degradadas.

Somente na Amazônia, a exportação ilegal de madeira contribuiu para a

destruição de uma área de floresta quase do tamanho do estado americano do

Texas e todo ano desaparece uma área equivalente à metade do estado de

Maryland23;

• cerca de um terço das reservas originais de petróleo da Terra já foi produzido e

consumido. Se a exploração descontrolada de petróleo continuar em todo o

mundo, os dois terços restantes de petróleo natural da Terra não bastarão para

manter a mesma produção mundial no ritmo atual. No Século XXI, uma crise

mundial de fornecimento de petróleo, ainda que não iminente, deve acontecer

antes do previsto24;

• a água, que antes era um bem natural de graça e abundante para muitos, hoje

é um recurso escasso. Estima-se que, se o seu consumo continuar crescendo

no ritmo atual, dois terços da população mundial viverão em situação de

escassez em 202525;

23 Earthtrends – o portal da informação ambiental. Disponível em www.earthtrends.wri.org 24 Pesquisa de Recursos Energéticos. Conselho Mundial de Energia, 1998. 25 Ibid. 1998

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• nos últimos 50 anos, as emissões de dióxido de carbono quase quintuplicaram,

de 1,6 bilhão para 7 bilhões de toneladas por ano. As emissões se devem

principalmente à queimada de combustíveis fósseis pelo homem, contribuindo

para o esgotamento das fontes não-renováveis e provocando o aquecimento do

planeta. Esse aquecimento fará a temperatura subir em até 3,5°C,

desencadeando aumento do nível do mar e outras catástrofes naturais mais

graves26.

2.1.4 A força das empresas dentro do sistema

As empresas se tornaram grandes agentes de transformação da sociedade

e o seu poder econômico, bem como os impactos causados por sua operação,

chega a suplantar muitos países. As empresas multinacionais, por exemplo, são

importantes atores da economia mundial, detendo um poder econômico

significativo.

Segundo Grayson & Hodges (2000), as empresas são a principal força de

crescimento e desenvolvimento, criam riqueza e produzem bens e serviços na

maior parte do mundo.

Das maiores entidades econômicas do mundo, 51 são empresas e 49 são países; as 500 maiores empresas multinacionais respondem por 70% do comércio mundial e 30% do produto bruto mundial e as 200 maiores empresas do mundo empregam menos de 1% da população mundial, mas controlam 25% da atividade econômica internacional (GRAYSON & HODGES, 2000, p. 29).

A Tabela 1 demonstra o poder e a influência das empresas quando

comparadas ao PIB de alguns países, destacando o crescimento das

multinacionais.

26 Relatório Panorama Ambiental Mundial da ONU, 2000.

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Tabela 1. Economias Globais – a comparação das vendas anuais de empresas com o PIB de alguns países

N° País / Empresa PIB / Vendas

(US$ Milhão)1 EUA 8.708.8702 Japão 4.395.0835 Reino Unido 1.373.61211 México 474.95114 Austrália 389.69123 General Motors 176.55824 Dinamarca 174.36325 Wal-Mart 166.80927 Ford Motor Co. 162.55828 DaimlerChrysler 159.98529 Polônia 154.14631 Indonésia 140.96437 Mitsui 118.55538 Mitsubishi 117.76540 GE 111.63042 Portugal 107.71643 Royal Dutch / Shell 105.366

Classificação baseada em dados empresariais de vendas, em Fortune, 31 de julho de 2000, e dados sobre o PIB do Relatório de Desenvolvimento 2000, do Banco Mundial (adaptado de Grayson & Hodges, 2000, p. 29)

Há grandes expectativas de que a empresa, como uma importante força do

crescimento e desenvolvimento, por meio de uma liderança participativa, exerça o

seu papel na construção de uma sociedade sustentável.

Se, por um lado, a empresa representa uma importante fonte criadora de

tecnologias e de geração de riquezas, que são elementos indispensáveis para a

solução dos problemas sociais, por outro, ela detém grandes responsabilidades na

geração de muitos problemas que afligem a sociedade, como as questões

relacionadas à poluição, à destruição do meio ambiente, entre outras.

É natural, portanto, que se atribua uma grande parcela de responsabilidade

às empresas, quanto ao desenvolvimento das sociedades nas quais estão

inseridas. Não é mais possível atribuir unicamente ao poder público a

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responsabilidade do desenvolvimento social. É preciso que haja parcerias que

envolvam também a iniciativa privada e a sociedade civil organizada, até porque

existem muitas maneiras pelas quais as técnicas e os conhecimentos especiais das

empresas podem contribuir para atingir os objetivos do desenvolvimento

sustentável das sociedades.

Nenhuma instituição tem penetração social comparável à da empresa; a maioria das pessoas tem suas vidas ligadas, direta ou indiretamente, a alguma empresa, passando, quase sempre, a maior parte de seus dias dentro de uma delas; nenhuma instituição está tão relacionada com o sistema econômico e com os problemas decorrentes de seu mau funcionamento quanto a empresa. (DUARTE & DIAS, 1986, p. 37).

A empresa socialmente responsável, portanto, torna-se cidadã, na medida

em que dissemina novos valores que restauram a solidariedade social, a coesão

social e o compromisso social com a equidade, a dignidade, a liberdade, a

democracia e a melhoria da qualidade de vida de toda a sociedade.

Diante do exposto, considerando que a empresa está inserida num ambiente

natural, social, político e econômico, sofrendo influência e influenciando esse

ambiente, com seus processos e suas decisões; considerando, ainda, o atual

cenário do estado do mundo, que indica a urgente necessidade de que o processo

de globalização e o crescimento das empresas e das economias dos países

ocorram de maneira sustentável, sem agressão ao meio ambiente, superando os

limites da pobreza e a profunda desigualdade social, pode-se retomar a discussão

em torno da Responsabilidade Social Empresarial, apresentando seus conceitos e

modelos propostos por diversos estudiosos do tema.

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2.1.5 Responsabilidade Social Empresarial: conceitos e modelos

Apesar de ser um tema amplamente discutido nos meios acadêmico e

empresarial, segundo o Business Social Responsible Institute27 (BSR, 2006), ainda

não existe uma definição unanimemente aceita para a Responsabilidade Social

Empresarial. O BSR Institute sustenta que uma empresa socialmente responsável

é aquela que atua no ambiente comercial, excedendo as expectativas éticas, legais

e comerciais do meio social no qual está inserida.

Segundo Duarte & Dias (1986), o termo Responsabilidade Social representa,

para alguns, a idéia de obrigação legal; para outros, impõe às empresas padrões

mais altos de comportamento; há ainda os que conceituam RS como uma prática

social, papel social e função social, enquanto outros associam a RS a um

comportamento eticamente responsável ou à filantropia. Finalmente, existem ainda

os que entendem o seu significado como ser responsável ou socialmente

consciente.

Para o Instituto Ethos (2003), a Responsabilidade Social deve ser encarada

como uma forma de gestão. Nesse sentido, conceitua a RSE como

uma forma de gestão que se define pela relação ética e transparente da empresa com todos os públicos com os quais ela se relaciona e pelo estabelecimento de metas empresariais compatíveis com o desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das desigualdades sociais.

27 Organização mundial que apóia as empresas no alcance dos seus objetivos, por meio da disseminação e da incorporação das práticas socialmente responsáveis. Reúne empresas de todo o mundo que juntas acumulam um faturamento em torno de U$ 2 trilhões e empregam aproximadamente 6 milhões de pessoas.

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Diante de tantas abordagens, Duarte & Dias (1986) resumem três aspectos

que são essenciais na doutrina de RS: o primeiro refere-se à ampliação do alcance

da responsabilidade da empresa, que não mais se limita ao círculo dos acionistas;

o segundo refere-se à mudança e à natureza dessas responsabilidades, visto que

ultrapassam o âmbito da prescrição legal, envolvendo também o âmbito da moral

ditado pela ética; o terceiro refere-se à adequação das demandas sociais, num

dado contexto sócio-econômico.

É importante considerar, portanto, que em todos os conceitos as ações de

Responsabilidade Social referem-se ao ambiente externo, constituído, por exemplo,

pelos cidadãos, governos, pelas comunidades, pelos sindicatos e por todos que

participam da vida em sociedade, influenciando ou sendo influenciados pela

operação da empresa.

Grajew (2000, p.77) afirma que o conceito de Responsabilidade Social

vem passando por transformações, afastando-se da mera filantropia, que é a relação socialmente compromissada da empresa com a comunidade, para abranger todas as relações da empresa: com seus funcionários, clientes, fornecedores, acionistas, concorrentes, meio ambiente e organizações públicas e estatais, compreendendo formas de gestão empresarial que aplicam princípios e valores a todas as práticas e políticas da empresa.

Ao decidir incorporar a RS na gestão estratégica, a empresa precisa

comprometer-se eticamente e contribuir para melhorar a qualidade de vida de

todos aqueles com os quais interage.

Segundo Srour (1998), a empresa socialmente responsável envolve

múltiplas exigências:

relações de parceria entre cliente e fornecedores, produção com qualidade ou adequação ao uso com plena satisfação dos usuários, contribuições para o desenvolvimento da comunidade, investimentos em pesquisa tecnológica, conservação do meio ambiente mediante intervenções não-predatórias, participação dos

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trabalhadores nos resultados e nas decisões da empresa, respeito ao direito dos cidadãos, não-discriminação dos gêneros, raças, idades, etnias, religiões, ocupações, preferências sexuais, investimentos em segurança do trabalho e em desenvolvimento profissional.

Independentemente do segmento, da área geográfica de atuação ou do seu

porte, é importante que a empresa absorva as variáveis sociais e ambientais na

cultura organizacional. Todos os sócios, acionistas e funcionários devem

compartilhar responsabilidades, que vão além da simples existência econômica da

empresa onde trabalham, proporcionando, assim, um ambiente interno capaz de

entender as mudanças e as influências do ambiente externo, para, dessa forma,

melhor definir suas relações com os diversos públicos.

Existem também argumentos contrários à Responsabilidade Social

Empresarial. Para Milton Friedman (apud Ashley, 2005), Prêmio Nobel de

Economia, a obrigação da empresa é maximizar o lucro e o valor do patrimônio

para os seus acionistas e defende que a empresa já é socialmente responsável, ao

gerar empregos, pagar salários justos e melhorar as condições de trabalho, isso

porque, ao obter lucros e pagar melhores salários, a empresa estará,

conseqüentemente, contribuindo para o bem-estar público e o desenvolvimento

social (ASHLEY, 2005).

Outro opositor à RSE é Levitt (1958), que resume toda sua posição na

afirmação de que, no sistema de livre-empresa, supõe-se que o bem-estar seja

automático e onde não o é torna-se tarefa do governo.

Segundo David Henderson (apud Dupas 2003), que já foi o principal

economista da OCDE28, o compromisso com a Responsabilidade Social das

28 OCDE – Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico. É uma organização internacional dos países desenvolvidos com os princípios da democracia representativa e da economia de livre-mercado. A sede da organização fica em Paris, na França. Dados disponíveis em www.pt.wikipedia.org acesso em 16/10/06.

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empresas é um mero expediente para encobrir o legítimo e crescente interesse

pelo lucro. Ele não só duvida de que a gestão socialmente responsável possa

trazer algum benefício para a empresa, como considera que pode estar causando

danos reais ao sistema capitalista, acusando os partidários da Responsabilidade

Social de não entenderem como o capitalismo funciona, lembrando ainda que a

boa cidadania empresarial não é gratuita e que seu custo adicional acaba sendo

pago por toda a sociedade, via aumento de preços (DUPAS, 2003).

Henderson chama a atenção ainda para a possibilidade de as empresas

multinacionais que adotam uma gestão socialmente responsável, teoricamente

protegidas por um legítimo interesse social, exigirem padrões internacionais

ambientais e trabalhistas para seus concorrentes de países pobres, limitando com

isso, ainda mais, sua concorrência e piorando o desempenho da economia global.

Vale ressaltar, no entanto, que adotar uma gestão socialmente responsável

não significa repassar para as empresas o que é atribuição dos governos, mas,

sim, assumir uma postura solidária para o desenvolvimento sustentável, entre o

poder público, a iniciativa privada e a sociedade civil organizada, no sentido de

juntos contribuírem para o desenvolvimento social. Do contrário, a lógica sistêmica

não faria sentido.

2.1.6 Os modelos de RSE

Diante do aumento das demandas sociais e ambientais para uma atuação

empresarial mais engajada, diversos modelos têm sido apresentados pela

comunidade acadêmica, no sentido de melhor compreender a relação entre as

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empresas e a sociedade e o seu papel sócio-econômico diante das novas

demandas.

A seguir, serão apresentados alguns modelos de RSE, dentre outros

existentes, selecionados pelo autor.

2.1.6.1 O modelo de Carroll

A proposta de modelo apresentada por Carroll (1979), conhecida como

Pirâmide de Responsabilidade Social Empresarial, destaca-se na busca por

encontrar um significado para Responsabilidade Social.

Carroll (1979) propôs um modelo mediante o qual o conceito de

Responsabilidade Social é amplamente abordado, incluindo um conjunto de

responsabilidades da organização para com a sociedade. O autor desenvolveu seu

modelo na forma de uma pirâmide com quatro dimensões, conforme mostra a

Figura 2, que contempla as expectativas da sociedade para com a organização, na

forma de responsabilidades econômicas, legais, éticas e filantrópicas.

A responsabilidade econômica está na base da pirâmide. Segundo o

modelo proposto, esse é o principal tipo de Responsabilidade Social das empresas,

sendo que o lucro é o seu principal objetivo. Ter responsabilidade econômica

significa produzir bens e serviços que a sociedade quer e necessita, a um preço

que possa garantir a continuação das atividades da empresa, de forma a satisfazer

suas obrigações para com os investidores e maximizar os lucros, para proprietários

e acionistas.

Já a responsabilidade legal refere-se às condições dentro das quais a

sociedade espera que as organizações atuem, para alcançar seus objetivos,

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sendo que tais regras são determinadas pelos sistemas legais existentes na

sociedade. Espera-se que as empresas atendam as metas econômicas, dentro da

estrutura legal do ambiente em que atuam.

A responsabilidade ética diz respeito aos comportamentos ou às atividades

que a sociedade espera das empresas e que não estão, necessariamente,

dispostos na lei, podendo, inclusive, não servir aos interesses econômicos diretos

da empresa, mas que dizem respeito ao desenvolvimento das suas atividades, em

equilíbrio com os interesses de todos os stakeholders.

Quanto à responsabilidade discricionária ou filantrópica, que fica no topo

da pirâmide, é voluntária e envolve as contribuições que a empresa faz para a

comunidade onde atua, sem que sejam determinadas por padrões econômicos,

legais ou éticos. Essas atividades incluem, por exemplo, contribuições financeiras

para projetos da comunidade, doações a obras beneficentes ou para instituições de

caridade que não oferecem retorno direto para a empresa, etc.

Conforme destacado por Borger (2001), o maior enfoque da definição de

Carroll está voltado para as dimensões econômica e legal, embora evidencie que

as dimensões não possuem uma seqüência no desenvolvimento da RSE. No

entanto, aborda o desempenho econômico e legal como essenciais, ficando a

dimensão ética em função do entendimento do que se considera ser um

comportamento ético e a dimensão filantrópica em função de situações particulares

nas quais são desenvolvidos programas e ações sociais.

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Figura 2. Pirâmide da Responsabilidade Social Empresarial

Responsabilidade Filantrópica:

contribuir para a comunidade

e a qualidade de vida

Responsabilidade Ética: ser ético, fazer o que é certo,

evitar danos

Responsabilidade Legal: obedecer a lei

Responsabilidade Econômica: ser lucrativa

Fonte: CARROLL, 1979

Segundo Carroll, ao analisarem-se as quatro dimensões da RS, percebe-se

que estão intimamente relacionadas, embora estejam freqüentemente em conflito

uma com as outras. Ainda assim, cada uma dessas dimensões não existe

separada ou isoladamente das outras e o conjunto delas significa a adoção da

Responsabilidade Social Empresarial.

2.1.6.2 O modelo de Melo Neto & Froes

Melo Neto & Froes (2002) apresentam um modelo de gestão de RSE

dividido em duas dimensões: interna e externa.

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A dimensão interna da RS, segundo os autores, tem seu foco voltado para

as ações com o seu público interno, visando o bem-estar dos empregados e dos

seus familiares. O objetivo de ações dessa natureza é melhorar a qualidade de vida

no trabalho e conseqüentemente obter ganhos de produtividade. Para os autores,

o fortalecimento das ações de RS interna irá promover uma nova cultura

empresarial, voltada para a valorização das ações sociais, que, posteriormente,

acabam extrapolando as fronteiras da empresa e atuando também na comunidade.

Já a dimensão externa da RS tem seu foco voltado para o beneficio da

comunidade e consiste na decisão da empresa em participar mais diretamente das

ações da comunidade em que ela está inserida.

A Figura 3 apresenta os possíveis estágios da Responsabilidade Social em

uma empresa.

Figura 3. Os estágios de Responsabilidade Social de uma empresa

Alto grau de RS Ext. e baixo grau de RS Int.

Baixo grau de RS Ext. e alto grau de RS Int.

Baixos graus de RS Ext. e RS Int.

Altos graus de RS Ext. e RS Int.

1

2

4

3Grau de RS Ext.

Grau de RS Int. Ext.

RS Int: Responsabilidade Social Interna RS Ext: Responsabilidade Social Externa

Fonte: adaptado de Melo Neto & Froes, 2002

A cidadania empresarial plena somente ocorre na situação do quadrante 3,

quando uma empresa assegura o bem-estar dos seus funcionários e dependentes,

ao tempo em que contribui para o desenvolvimento da comunidade.

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A situação oposta, expressa no quadrante 1, é típica das empresas sem

consciência social. São totalmente indiferentes à saúde e ao bem-estar dos seus

funcionários e ignoram os anseios da comunidade.

O quadrante 2 é característico das empresas que utilizam o marketing social

como estratégia promocional para encobrir a sua má gestão de recursos humanos:

pagam mal, demitem seguidamente sem critérios, não possuem programas de

benefícios compensatórios e não investem na qualificação do corpo funcional. Por

outro lado, fazem doações, exercem a filantropia corporativa, investem em projetos

sociais, em busca de uma ampla divulgação da marca e do reforço da imagem.

A situação do quadrante 4 caracteriza o estágio inicial da cidadania

empresarial para muitas empresas: investem primeiramente no bem-estar social

dos seus empregados, para, em seguida, fortalecer sua atuação junto à

comunidade.

De acordo com Melo Neto & Froes (2002), a Responsabilidade Social de

uma empresa consiste em sete vetores que devem direcionar o processo de gestão

empresarial para o fortalecimento da sua dimensão social: apoio ao

desenvolvimento da comunidade onde atua; preservação do meio ambiente;

investimento no bem-estar dos colaboradores e seus dependentes, num ambiente

de trabalho agradável; comunicações transparentes; retorno aos acionistas;

sinergia com os parceiros e satisfação dos clientes e/ou consumidores.

2.1.6.3 O modelo de Quazi & O’Brien

Quazi & O’Brien (2000) propõem um modelo de duas dimensões para

classificação das visões existentes sobre a Responsabilidade Social (Figura 4).

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Nesse modelo, os autores apresentam duas vertentes da Responsabilidade

Social: uma delas é a responsabilidade ampla, que compreende as atividades

empresariais que vão além das responsabilidades clássicas econômicas da

empresa; a outra é a responsabilidade estreita, na qual o objetivo da empresa é

basicamente a maximização do valor para o acionista, sendo assim, é a isso que a

empresa deve ater-se.

Figura 4. Modelo bidimensional de Responsabilidade Social Empresarial

Visão Filantrópica

Visão Clássica

Visão Moderna

Visão Sócio-econômica

CUSTOS DE AÇÕES DE RSE

BENEFÍCIOS DE AÇÕES DE RSE

Responsabilidade Ampla Responsabilidade Estreita

Fonte: adaptado de Quazi & O’ Brien (2000)

Segundo os autores, a responsabilidade ampla subdivide-se em duas

visões: a visão moderna, que acredita que, no longo prazo, as ações de

Responsabilidade Social trazem benefícios à empresa, e a visão filantrópica, que

defende as ações de Responsabilidade Social, mesmo que não tragam retornos

para a empresa. Assim, a responsabilidade ampla está em sintonia com a visão

dos defensores das ações de Responsabilidade Social.

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Já a responsabilidade estreita subdivide-se também em duas visões: a visão

sócio-econômica, que leva em consideração que o objetivo da empresa é a

maximização do valor para o acionista, mas acredita que as ações de

Responsabilidade Social podem ajudar nessa geração de valor, e a visão clássica,

que considera que as ações de Responsabilidade Social não geram valor para a

empresa e que, portanto, não devem ser desenvolvidas.

Nota-se a convergência em favor da Responsabilidade Social entre as

visões moderna e sócio-econômica, em que, de acordo com elas, as ações de

Responsabilidade Social gerariam valor para a empresa.

2.1.6.4 O modelo de Fombrun

Fombrun (2000) acredita que a atuação socialmente responsável contribui

para que a empresa reforce sua ligação com a comunidade local e com os

empregados. Por outro lado, a construção da imagem institucional, chamada de

capital reputacional, também melhora a habilidade de negociar contratos mais

interessantes para a empresa, com fornecedores e governo, além de certas

circunstâncias propiciarem melhores preços para os produtos da empresa e

menores custos de capital.

O autor refere-se especificamente às atividades de Responsabilidade Social

filantrópicas como sendo criadoras ou mantenedoras do capital reputacional, sobre

dois aspectos: criando vantagem competitiva, dessa forma, aprimorando a

capacidade da empresa em atrair e manter recursos, e minimizando os riscos de

perdas reputacionais.

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A lógica proposta no modelo é que as empresas socialmente responsáveis

podem obter ganhos de capital reputacional, preservando ou gerando aumento do

valor da empresa, alavancando as oportunidades de negócios e reduzindo riscos

potenciais de sua conduta no mercado.

O modelo expresso na Figura 5 sintetiza a lógica do aumento de valor da

empresa, a partir de ações socialmente responsáveis.

Figura 5. Criação de valor a partir de ações de RS

Ações de RSE

Aumento do capital

reputacional

Minimização de riscos

Geração de oportunidades

Aumento de valor da empresa

Fonte: adaptado de Fombrun, 2000

2.1.6.5 O modelo de Wood

Wood (1991), baseado nos estudos de Carroll (1979), desenvolveu um

modelo de avaliação do desempenho social fundamentado nos princípios de RSE,

nos processos de responsividade (ou resposta) social e nos resultados observáveis

referentes ao comportamento social corporativo, como mostra o Quadro 1:

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Quadro 1. Modelo de Desempenho Social de Wood (1991)

Princípios de Responsabilidade Social Corporativa

Princípio institucional: legitimidade Princípio organizacional:

responsabilidade pública Princípio individual: escolha gerencial

Processos de Responsividade Social Corporativa

Avaliação ambiental Gerenciamento de stakeholders Gerenciamento de problemas ou

questões Comportamento Social Corporativo Impactos sociais

Programas sociais Políticas sociais

Os princípios de Responsabilidade Social Empresarial baseiam-se na idéia

que o negócio e a sociedade são entidades combinadas e, por isso, a sociedade

possui expectativas com relação à forma de agir e aos resultados da organização.

O Quadro 2 mostra o detalhamento desses princípios.

Quadro 2. Princípios da Responsabilidade Social Empresarial de Wood (fonte: WOOD, 1991) Princípio da Legitimidade A sociedade concede legitimidade e poder ao negócio. Em um período longo, as empresas que não usam o poder de uma maneira que a sociedade considere responsável tendem a perdê-lo. Nível de aplicação: institucional, baseado nas obrigações da firma como uma organização de negócios. Foco: obrigações e sanções. Valor: define o relacionamento institucional entre o negócio e a sociedade e especifica o que é esperado de qualquer negócio. Princípio de Responsabilidade Pública Os negócios são responsáveis pelos resultados relacionados às suas áreas primárias e secundárias de envolvimento com a sociedade. Nível de aplicação: organizacional, baseado nas circunstâncias e nos relacionamentos específicos da firma com o ambiente. Foco: parâmetros comportamentais para organizações. Valor: limita a responsabilidade de um negócio àqueles problemas relacionados às atividades e aos interesses da firma, sem especificar um domínio tão restrito a ações possíveis. Princípio da Escolha Gerencial Gerentes são protagonistas morais. Dentro de todo domínio da Responsabilidade Social corporativa, eles são obrigados a exercitar essas escolhas, da maneira que lhe é disponível, em direção aos resultados Socialmente Responsáveis. Nível de aplicação: individual, baseado nas pessoas como protagonistas dentro das organizações. Foco: escolha, oportunidade, responsabilidade pessoal. Valor: define a responsabilidade dos gerentes de serem protagonistas morais e seguir e exercitar escolhas a serviço da Responsabilidade Social.

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2.1.6.6 O modelo de Silva

Silva (2002) propõe que os graus de comprometimento das empresas com a

RS, vão desde estratégias obstrucionistas, quando a empresa prioriza os

objetivos econômicos e em contrapartida combate as demandas sociais, passando

por estratégias defensivas, quando a empresa cumpre o mínimo exigido por lei,

para que possa funcionar, até as estratégias acomodativas, quando a empresa

cumpre o mínimo eticamente exigido pelos critérios legais, econômicos e éticos, e

finalmente, as estratégias proativas, em que a empresa atua de forma preventiva

quanto aos impactos sociais emergentes, preenchendo assim todos os critérios de

desempenho social. A figura abaixo apresenta o continuum proposto pelo autor,

para melhor compreensão do modelo.

Figura 6. Continuum de comprometimento das empresas para as questões de RS e suas estratégias de ação (adaptado de Silva, 2002)

Estratégia obstrucionista

Estratégia defensiva Estratégia acomodativa

Estratégia proativa

GRAU DE RESPONSABILIDADE SOCIAL BAIXO ALTO

DEFESA (aceitação da

briga)

REAÇÃO (negação da

responsabilidade)

ACOMODAÇÃO (aceitação da RS em resposta a pressões)

PROAÇÃO (iniciativa de estabelecer um modelo positivo de

atuação)

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2.1.6.7 O modelo de Montana & Charnov

Para Montana & Charnov (2003), a Responsabilidade Social Empresarial

pode ser abordada em três diferentes formas (Figura 7):

a abordagem da obrigação social, que considera que as únicas obrigações

de RSE são as exigidas por lei e que, por isso, a empresa somente investirá os

recursos organizacionais necessários para cumprir essas obrigações sociais,

sem pensar em realizar os esforços voluntários, a não ser que perceba algum

benefício direto nessa ação;

a abordagem da Responsabilidade Social, ou reação social, é a abordagem

passiva, que corresponde à forma como a organização trata os problemas

sociais existentes, sem que o nível econômico da empresa seja afetado de

forma negativa. Esta abordagem reconhece os grupos de ação social

existentes, contribuindo com eles e incentivando seus funcionários a fazerem o

mesmo – é o caso da ação voluntária. O fator que leva muitas empresas a

adotarem essa posição é o reconhecimento de que estas dependem da

aceitação por parte da sociedade a qual pertencem e que ignorar as pressões

sociais pode ser destrutivo a longo prazo;

a abordagem de sensibilidade social caracteriza-se pelos comportamentos

socialmente responsáveis preventivos e não-reativos. A expressão

sensibilidade social tornou-se amplamente utilizada para denominar atos que

vão além da mera obrigação e reação social. Esta abordagem parte do

princípio de que a empresa não possui somente objetivos econômicos e

responsabilidades com os problemas sociais do presente, e, sim, que deve

antecipar futuros problemas sociais e investir recursos organizacionais no

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presente, em busca de evitá-los no futuro, mesmo que não lhe pareça uma

ameaça no momento atual.

Segundo os autores, esta abordagem faz com que a organização aja de

forma proativa, prevenindo e tratando seus problemas sociais antes que eles se

tornem evidentes. Vale ressaltar, no entanto, que esta abordagem é vista pelas

empresas com certo cuidado, uma vez que exige investimentos no presente,

visando o bem social no futuro.

Figura 7. Graus de sensibilidade social da empresa

Abordagem da obrigação

social

Abordagem da reação ou

responsabilidade social

Abordagem da sensibilidade

social

Cumprir apenas as obrigações legais

Cumprir as obrigações legais e sociais atuais que afetam diretamente a empresa

Cumprir as obrigações legais e as obrigações sociais relativas a tendências/problemas que estão surgindo, mesmo que afetem à empresa indiretamente

Fonte: adaptado de Montana & Charnov, 2003.

2.1.7 A Teoria dos Stakeholders

Considerando que este trabalho tem o propósito de diagnosticar e analisar o

grau de envolvimento de um dos stakeholders do Supermercado Cardoso (a sua

cadeia de fornecedores), torna-se necessária uma melhor compreensão desta

terminologia, para assim contextualizar o leitor a respeito da importância dos

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stakeholders num processo de adoção da Responsabilidade Social na gestão de

uma empresa.

A Teoria do Stakeholder representa o conceito que aborda a

Responsabilidade Social de forma ampla em relação aos grupos de interesses que

afetam ou são afetados pela atuação nas organizações e incorpora a idéia de que

as organizações têm uma obrigação com os grupos que constituem a sociedade,

além dos sócios, acionistas e funcionários.

Segundo Freeman (2000), o uso do termo stakeholder surgiu nos anos 60,

num trabalho pioneiro no Stanford Research Institute. Esses estudos afirmavam

que os gestores deveriam entender os interesses dos acionistas, funcionários,

clientes, fornecedores, das instituições financeiras e da sociedade, para, em

seguida, desenvolver propostas de estratégias de negócios. Para o autor, os

stakeholders podem ser definidos como “quaisquer grupos ou indivíduos que são

afetados ou que afetam o alcance dos objetivos das organizações”.

Dentro deste sentido, Kreitlon (2003) reafirma a Teoria do Stakeholder

quando diz que a RSE é um processo mediante o qual uma empresa promove, por

meio do diálogo e da participação, a inclusão de diversos grupos de interesses

legítimos que se encontram sob sua esfera de influência, tendo por objetivo a

formulação de estratégias e políticas organizacionais coerentes com esses

interesses.

Entende-se, então, que os stakeholders são atores, tais como funcionários,

gerentes, fornecedores, proprietários, clientes, governo, entre outros, sem os quais

a organização não seria possível.

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Independentemente das definições existentes, não se pode negar que há

stakeholders mais relacionados à empresa e stakeholders que não são diretamente

influenciados ou atingidos pelas ações empresariais.

É importante compreender, portanto, que existe uma rede interdependente

de relacionamento entre a empresa e os stakeholders, que tende a evoluir em

decorrência das práticas sociais, que irá definir a interação dos seus vários

componentes e que, por intermédio da qual, será responsável por ganhos ou

perdas empresariais, de acordo com a atuação da empresa.

As organizações que se preocupam com todos os seus stakeholders têm

ganhos empresariais traduzidos no fortalecimento da imagem organizacional, na

fidelidade à marca e aos produtos, no acesso a novos mercados e capitais, no

maior empenho e motivação dos funcionários em produzir, na diminuição de

conflitos, no retorno publicitário, no retorno financeiro para os acionistas e

investidores, na capacidade de recrutar e de manter talentos, por fim, em ganhos

sociais, pelas mudanças de comportamento da sociedade. Estas são as vantagens

de uma gestão socialmente responsável, pautada na melhoria da qualidade de vida

dos stakeholders.

Por outro lado, se a empresa trata seus stakeholders com negligência e

menospreza a conduta ética e responsável em suas relações, poderá ter como

resultado um enfraquecimento da imagem, uma desvalorização da marca e ou dos

produtos, restrição de mercados e capitais, um baixo desempenho e uma

desmotivação dos funcionários, reclamação de clientes, etc.

Portanto, para que o processo de incorporação da Responsabilidade Social

na empresa seja verdadeiramente legítimo e sustentável, a longo prazo, torna-se

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imperativo que haja o envolvimento e a participação de todos os stakeholders em

todos os processos empresariais.

2.1.8 Os instrumentos de sustentabilidade

Diante da nova demanda de mercado quanto às questões de

Responsabilidade Social e também a partir da própria consciência das

organizações em torno de seu papel social e sua contribuição para o

desenvolvimento sustentável, diversas organizações, governos, entidades da

sociedade civil, nacionais e internacionais, uniram-se para criar normas de conduta

e instrumentos para a gestão empresarial.

Dessa forma, foram desenvolvidos instrumentos29 e criados grupos de

cooperação para troca de experiências e debates na área social, no sentido de

auxiliar na implementação da gestão socialmente responsável das organizações

que desejam alinhar-se com a sustentabilidade.

Vale ressaltar que nenhum desses instrumentos representa um fim em si

mesmo. Além disso, a validade desses instrumentos somente se confirma com a

sua efetiva implementação, ou seja, um código de conduta, por exemplo, só será

útil se for adotado, na prática, por todos os públicos interessados, do contrário,

para nada servirá.

29 Podem ser certificações, indicadores de sustentabilidade, princípios orientadores, guias de referências para um mundo melhor, modelos de relatórios, normas de requisitos, etc.

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2.1.8.1 Os instrumentos existentes

Dentre os instrumentos de sustentabilidade existentes30, alguns estão

descritos abaixo:

Declaração Universal dos Direitos Humanos31: primeira proclamação

internacional dos direitos básicos dos indivíduos relacionados a direitos políticos,

econômicos e sociais, adotada pela ONU, em 1948. Retoma os ideais da

Revolução Francesa, de igualdade, liberdade e fraternidade, num âmbito universal.

É aceita e respeitada internacionalmente e foi usada como base para a elaboração

de muitas constituições ao redor do mundo, sendo referência fundamental para

qualquer outra certificação ou iniciativa. Possui 30 artigos, que discorrem sobre o

direito a alimentação, ao trabalho, à saúde e educação, bem como o direito à vida,

à liberdade e à segurança pessoal, o direito de ir e vir, assim como o direito de

liberdade de expressão. A Declaração dos Direitos da Criança (1959) e a

Declaração sobre a Eliminação da Violência contra a Mulher, igualmente

importantes, são derivadas da Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Agenda 2132: elaborado com a contribuição e participação de governos e de

instituições da sociedade civil de 179 países, num processo preparatório que durou

dois anos e que culminou com a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio

Ambiente e Desenvolvimento, em 1992, no Rio de Janeiro, esse documento possui

40 capítulos que apresentam um programa de ação baseado num processo de

planejamento participativo de análise da situação atual de um país, estado,

30 Os instrumentos citados nesse trabalho foram extraídos do Guia de Compatibilidade de Ferramentas 2005, elaborado pelo Uniethos, disponível em www.ethos.org.br 31 Mais informações disponíveis em www.onu-brasil.org.br 32 Mais informações disponíveis em www.mma.gov.br

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município e ou uma região, para o planejamento do futuro de forma sustentável. É

considerado a mais abrangente e ousada tentativa de promover um novo padrão

de desenvolvimento no planeta, conciliando métodos de proteção ambiental, justiça

social e eficiência econômica.

Carta da Terra33: lançada oficialmente em junho de 2000, no Palácio da Paz, em

Haia, foi aprovada pelas Nações Unidas, em 2002. Constitui-se num conjunto de

normas éticas e morais, com orientações e metas práticas para que a humanidade

avance no processo de criar um mundo baseado no desenvolvimento sustentável.

Sua elaboração ocorreu depois de um longo processo de consulta, aberto a

diferentes setores da sociedade, em todo o mundo. A Carta da Terra é composta

por quatro grandes temas: respeito e cuidado com a comunidade da vida;

integridade ecológica; justiça social e econômica e democracia, não-violência e

paz. Estes temas são subdivididos em 16 princípios e 60 ações afirmativas.

Pacto Global34: lançado em Nova Iorque, em 26 de julho de 2000, nasceu de um

apelo feito pelo Secretário Geral das Nações Unidas, Kofi Annan, no Fórum

Econômico Mundial de 1999, para que o mundo empresarial se unisse, com o

objetivo de “dar uma face humana à globalização”. O objetivo do pacto é encorajar

o alinhamento das políticas e práticas empresariais com os valores e as metas

acordados mundialmente, na busca de uma economia global mais sustentável e

inclusiva, que proporcione condições de acesso a educação, habitação,

alimentação, transporte, emprego e saúde. Tem, originalmente, nove princípios,

derivados de declarações mundiais de direitos humanos (Declaração Universal dos

Direitos Humanos); Trabalho (Declaração de Princípios e Direitos Fundamentais no

Trabalho); Meio ambiente (Declaração do Rio sobre Ambiente e Desenvolvimento)

33 Mais informações disponíveis em www.earthcharter.org 34 Outras informações disponíveis em www.unglobalcompact.org

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e, em 2004, mais um princípio foi incorporado: o princípio do Combate a

Corrupção.

Diretrizes da OCDE para Empresas Multinacionais35: as diretrizes para

empresas multinacionais revelam consenso dos governos que participam da

Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) a

respeito do que é ter, em qualquer parte do mundo, uma conduta empresarial

responsável. São recomendações desses governos a organizações multinacionais

que fornecem princípios e padrões, no sentido de estimular as responsabilidades

sociais das empresas e buscar assegurar que as atividades das multinacionais

estejam em consonância com as políticas governamentais, para que, desse modo,

fortaleçam-se as bases de uma confiança mútua entre as empresas e as

sociedades nas quais elas realizam operações. Essas diretrizes, mesmo não sendo

legalmente aplicáveis, uma vez que sua observância é voluntária, objetivam

melhorar o clima para investimentos estrangeiros e contribuir para um

desenvolvimento sustentável, produzido pelas multinacionais.

Princípios de Governança da OCDE36: aprovado em 1999, esses princípios

tornaram-se uma referência em países-membros e não-membros da OCDE.

Formam a base da governança corporativa do Banco Mundial e do Fundo

Monetário Internacional (FMI). São aceitos internacionalmente como o requisito

mínimo para as boas práticas de governança e auxiliam na hora de verificar

pagamentos, tomar decisões, assim como acompanhar e supervisionar a situação

financeira de nações. Os princípios da OCDE consideram os seguintes temas: os

direitos dos acionistas; o tratamento igualitário entre acionistas; o papel das demais

35 Outras informações disponíveis em www.ocde.org 36 Mais informações podem ser encontradas no site www.ocde.org

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partes interessadas; a abertura e a transparência; a responsabilidade do Conselho

de Administração.

Metas do Milênio37: estabelecidas durante a Cúpula do Milênio38, quando foi

proposto um conjunto de 18 objetivos, vinculados a oito metas para serem

alcançadas pelos países signatários da Declaração do Milênio até 2015. São elas:

erradicar a extrema pobreza e a fome; atingir a universalização do ensino

fundamental; promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres;

reduzir a mortalidade infantil; melhorar a saúde materna; combater o HIV/AIDS, a

malária e outras doenças; garantir a sustentabilidade ambiental; promover uma

Parceria Mundial para o Desenvolvimento.

Projeto Sigma39 (Sustainability Integrated Guidelines for Management): é uma

síntese de vários modelos e instrumentos no campo da Responsabilidade Social

Empresarial. Pode ser usado sozinho ou em conjunto com outras iniciativas e

permite às organizações definirem seu próprio processo, de acordo com suas

necessidades. Lançado em 1999 e revisado em 2003, reúne temas sociais,

ambientais e econômicos, incentivando as organizações a integrarem essas áreas

dentro da organização. É composto por três partes: um guia orientativo de

princípios que ajudam as companhias a entenderem o conceito de sustentabilidade

e sua contribuição a ele; uma estrutura de modelo de gerenciamento, cuja função é

integrar a sustentabilidade nos processos essenciais da companhia e cuja

aplicação é estruturada em fase e subfases, e um conjunto de ferramentas para

facilitar a implementação das diretrizes e ajudar a superar obstáculos no caminho

da sustentabilidade.

37 Outras informações disponíveis em www.undp.org.br 38 Considerada a maior reunião mundial de dirigentes, de todos os tempos, aconteceu em setembro de 2000, em Nova Iorque, e contou com a participação de 147 chefes de Estado e de governo de 191 países. 39 Outras informações disponíveis em www.projectsigma.com

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O Projeto Sigma leva em consideração a existência de cinco tipos de capital que

devem ser considerados no processo de gestão. São eles: capital natural (meio

ambiente), capital social (relações e estruturas sociais), capital humano (pessoas),

capital construído (bens acumulados) e capital financeiro (lucros e perdas, vendas,

ações, dinheiro em caixa).

The Natural Step40: The Natural Step (TNS) é um dos instrumentos que servem de

exemplo como cidadãos e empresas podem trabalhar em favor de um mundo

melhor. Criado em 1989, por Karl-Henrik Robèrt, atuante cientista e médico

cancerologista sueco, é hoje uma das mais importantes organizações

internacionais voltadas para o desenvolvimento sustentável, procurando

conscientizar empresas e populações e buscando soluções e ferramentas para

alcançar a sustentabilidade planetária.

Os quatro princípios de sustentabilidade dizem, basicamente, que os combustíveis

fósseis e outros materiais não podem ser extraídos da crosta terrestre numa

velocidade maior do que podem ser redepositados; que substâncias não podem ser

produzidas num ritmo mais rápido do que podem ser decompostas e integradas

nos ciclos da natureza ou depositadas na crosta terrestre; que os ecossistemas

não podem ser devastados de forma que a capacidade produtiva e a diversidade

da natureza diminuam; que as necessidades humanas básicas devem ser

satisfeitas em todo o mundo.

Diretrizes do GRI41 (Global Reporting Initiative): fornece diretrizes para as

empresas que desejam apresentar um balanço econômico, social e ambiental. A

iniciativa é pioneira na proposta de incorporação de indicadores de sustentabilidade

40 Outras informações disponíveis em www.naturalstep.org 41 Outras informações disponíveis em www.globalreporting.org

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nos relatórios de atividades empresariais e tem a missão de elevar a qualidade dos

relatórios a um nível passível de comparação, consistência e utilidade.

Os 11 princípios do GRI foram desenvolvidos tendo-se em vista o longo prazo e a

disposição da empresa em continuar evoluindo com base em novos conhecimentos

e aprendizado. Muitos deles se assemelham àqueles usados em relatórios

financeiros, o que facilita o entendimento das partes interessadas e sua utilização

para o campo social e o ambiental. Embora nem todas as organizações possam

atingir as metas estabelecidas no curto prazo, elas devem reportar o processo de

implementação dos princípios e identificar as melhoras alcançadas nos diversos

aspectos.

Balanço Social Ibase42: o modelo de Balanço Social do Instituto Brasileiro de

Análises Sociais e Econômicas (Ibase) foi criado em 1997, pelo sociólogo Herbert

de Souza, o Betinho, na época, presidente do Instituto. Nesse período, ele lançou

uma campanha para incentivar a divulgação voluntária do balanço social e propôs

um modelo simplificado de auto-avaliação das práticas das organizações. É um

balanço social inspirado no formato dos balanços financeiros, que expõe

detalhadamente os números relacionados à Responsabilidade Social da

organização, além de reunir, em forma de planilha, informações sobre folhas de

pagamento, gastos com encargos sociais de funcionários e participação nos lucros.

Também traz, de maneira detalhada, as despesas com controle ambiental e os

investimentos sociais externos, em áreas como educação, cultura e saúde.

Balanço Social Ethos43: é um relato abrangente de princípios e ações da

organização. Incorpora o modelo proposto pelo Ibase e sugere que as empresas

façam um maior detalhamento do contexto em que as decisões são tomadas, dos

42 Outras informações disponíveis em www.ibase.org.br 43 Outras informações disponíveis em www.ethos.org.br

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problemas encontrados e dos resultados obtidos. Segundo o modelo do Ethos,

para que os balanços sociais obtenham a mesma credibilidade dos balanços

financeiros, as informações contidas neles devem seguir critérios de relevância,

veracidade, clareza, comparabilidade, regularidade e possibilidade de verificação.

O Balanço Social Ethos foi lançado em 2001, com a publicação do Guia de

Elaboração de Relatório e Balanço Anual de Responsabilidade Social Empresarial,

a partir de estudos de diretrizes para relatórios no Brasil e no exterior. Sua

estrutura e seu conteúdo são baseados no modelo do Balanço Social do Ibase e

nos relatórios sociais propostos pelo Global Reporting Initiative (GRI) e pelo

Institute of Social and Ethical Accountability (ISEA), associados aos Indicadores

Ethos de Responsabilidade Social.

AA1000 (Accountability 1000)44: norma desenhada para auxiliar empresas,

acionistas, auditores, consultores e organizações certificadoras. A Norma AA1000

define as melhores práticas para a auditoria de questões éticas e sociais,

contabilidade e relatórios, e pode ser usada isoladamente ou em conjunto com

outros padrões de prestação de contas, como o Global Reporting Initiative, os

padrões ISO e a SA 8000.

Uma das mais importantes contribuições da Norma AA1000 são processos e

definições que dão suporte à prática de Responsabilidade Social Empresarial.

Enfatiza-se a inovação na forma de adotar as regras, permitindo que cada empresa

defina seu próprio caminho, o que, sem dúvida, confere às companhias maior

responsabilidade.

A estrutura da AA1000 contém processos e princípios para relatórios, prestação de

contas e auditoria e sua implementação se dá em cinco fases: planejamento;

44 Outras informações disponíveis em www.accountability/org.uk/aa1000

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contabilidade; auditoria e relatório; implementação; engajamento das partes

interessadas.

Indicadores do Boston College45: os indicadores do Boston College foram

criados pelo Centro de Cidadania Corporativa da Instituição (Center for Corporate

Citizenship), em Boston, nos Estados Unidos, como uma ferramenta de avaliação

e planejamento para auxiliar as empresas na gestão de sua atuação na

comunidade e associá-las ao planejamento estratégico. Os indicadores estão

organizados em uma Ferramenta de Diagnóstico (Diagnostic Tool), utilizada por

empresas de todo o mundo para implementar e atingir os Padrões de Excelência

(Standards of Excellence) – sete princípios e práticas de gestão, que estabelecem

um padrão global de excelência em cidadania corporativa. São eles: liderança,

temas de interesse para a gestão, construção de relacionamentos, estratégia,

prestação de contas e mensuração. Os indicadores fornecem subsídios para a

avaliação da performance da empresa e o desenvolvimento de um enfoque

estratégico para a cidadania.

Indicadores Calvert-Henderson46: os Indicadores Calvert-Henderson de

Qualidade de Vida representam uma ferramenta que propicia a análise de 12

aspectos relacionados à qualidade de vida de um país: educação; emprego;

energia; meio ambiente; saúde; direitos humanos; renda; infra-estrutura; segurança

nacional; segurança pública; lazer e habitação.

45 Outras informações disponíveis em www.bc.edu/corporatecitizenship 46 Outras informações disponíveis em www.calvert-henderson.com

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Indicadores Ethos47: o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social,

em 2000, desenvolveu os Indicadores Ethos de Responsabilidade Social, utilizando

alguns parâmetros de pesquisa e benchmark de normas e certificações já

existentes, como as Normas ISO 9000 e 14000, a SA 8000 e a AA 1000, os

Princípios e Diretrizes da GRI, entre outras. Mediante os Indicadores Ethos, é

possível verificar o estágio em que as empresas se encontram quanto às práticas

de RS para, a partir daí, aprimorá-las e planejar as ações de RS, visando à

sustentabilidade dos negócios. O objetivo desses indicadores é auxiliar as

empresas no processo de aprofundamento do seu comprometimento com a RS e

com o desenvolvimento sustentável, por meio de um autodiagnóstico, a partir de

sete temáticas: Valores e Transparência, Público Interno, Meio Ambiente,

Fornecedores, Consumidores e Clientes, Comunidade, Governo e Sociedade.

Considerando as oportunidades e os desafios típicos de cada setor de atuação, o

Instituto Ethos vem lançando indicadores setoriais, complementares aos

Indicadores Ethos de RSE, tais como: Distribuição de Energia Elétrica, Panificação,

Bares e Restaurantes, Bancos, Mineração, Papel e Celulose, Transporte de

Passageiros Rodoviários, Construção Civil, Petróleo e Gás e Varejo. Em 2003,

reconhecendo a importância econômica e social das pequenas e médias empresas

no Brasil, o Instituto Ethos, em parceira com o SEBRAE, desenvolveu os

Indicadores Ethos-SEBRAE para micro e pequenas empresas. Os indicadores

foram revisados em 2006 e adaptados para aplicação no mesmo software de

preenchimento dos indicadores Ethos genéricos.

47 Outras informações disponíveis em www.ethos.org.br

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Princípios do FSC48 (Forest Stewardship Council): fundado em 1993 e com

escritório central em Bonn, Alemanha, o FSC surgiu das preocupações levantadas

na Rio-92 sobre o aumento indiscriminado do uso dos recursos naturais. Para

manter o diálogo sobre o uso sustentável das florestas, a iniciativa estabeleceu

princípios, critérios e padrões que envolvem questões econômicas, sociais e

ambientais. Os padrões hoje disseminados por dezenas de países representam o

mais forte sistema mundial para o manejo de florestas em direção à

sustentabilidade. São 10 princípios e 57 critérios que remetem a questões legais,

direitos indígenas, direitos trabalhistas, benefícios múltiplos e impactos ambientais,

levando em conta o gerenciamento florestal. Os 10 princípios do FSC abrangem as

seguintes questões: comprometimento com as leis e os princípios do FSC; direitos

de uso e responsabilidades; direitos dos povos indígenas; relações com a

comunidade e direitos dos trabalhadores; benefícios a partir do uso da floresta;

impacto ambiental; plano de gerenciamento; monitoramento e acessibilidade;

manutenção do alto valor de conservação das florestas; plantações.

SA 800049 (Social Accountability 8000): a certificação SA 8000 é um padrão

global criado para tornar mais humanos os locais de trabalho. Essa ferramenta,

orientada tanto para o processo quanto para o desempenho, foi desenvolvida e tem

sido revisada e atualizada por meio do diálogo constante com todas as partes

interessadas – sindicatos, empresas e organizações não-governamentais – e

combina em sua estrutura elementos-chave das convenções da Organização

Internacional do Trabalho (OIT) com sistemas de gerenciamento das famílias ISO.

São duas as formas de comprometimento das empresas com essa norma. Para o

varejo, o compromisso consiste em fazer negócios apenas com fornecedores

48 Outras informações disponíveis em www.fscus.org 49 Outras informações disponíveis em www.as-intl.org

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socialmente responsáveis, que sejam certificados na SA 8000 pelo Social

Accountability International (SAI). Já a indústria deve passar por um rigoroso

processo, que inclui a contratação de um auditor reconhecido para conseguir sua

certificação.

As prescrições da SA 8000 são separadas em nove áreas: trabalho infantil;

trabalho forçado; saúde e segurança; liberdade de associação e reivindicações

coletivas; discriminação; práticas disciplinares; horas de trabalho; compensação e

sistemas de gerenciamento.

Padrões ISO50: os padrões de certificação são importantes instrumentos para as

empresas que buscam o caminho da sustentabilidade. Esses sistemas que

premiam, com certificados, as organizações que cumprem determinados critérios e

que são aprovadas por auditorias externa e interna, são denominados pela sigla da

International Organization for Standardization (ISO), uma organização não-

governamental que funciona com uma rede de institutos de padronização em 148

países, para oferecer soluções que venham ao encontro das necessidades das

empresas e da sociedade. As séries ISO beneficiam fabricantes, ao ajudar a

solucionar problemas de produção e distribuição, e também consumidores e

usuários, ao garantir produtos e serviços de qualidade.

As séries ISO 9000 e ISO 14000 estão entre os mais conhecidos padrões

internacionais de certificação: a primeira, em qualidade, e a segunda, em proteção

ambiental. No Brasil, a ISO é representada pela ABNT.

Critérios de Excelência do PNQ/Sociedade51: Sociedade é um dos oito Critérios

de Excelência do Prêmio Nacional de Qualidade (PNQ), que constituem um

modelo sistêmico de gestão adotado pelas empresas, para garantir que tenham as

50 Outras informações disponíveis em www.iso.org 51 Outras informações disponíveis em www.fpnq.org.br

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técnicas mais atualizadas e bem-sucedidas de administração. No critério

Sociedade, examina-se se a organização interage com a sociedade de maneira

ética e transparente, de que modo faz isso e se contribui para o desenvolvimento

econômico, social e ambiental, de forma sustentável. Os demais critérios referem-

se a Liderança, Estratégias e Planos, Clientes, Informações e Conhecimento,

Pessoas, Processos e Resultados. Todos os Critérios de Excelência do PNQ

podem ser adotados indiscriminadamente por qualquer tipo de organização, pública

ou privada, com ou sem fins lucrativos, independentemente do setor de atividade

econômica.

OHSAS 1800152 (Occupational Health and Safety Assessment Series): norma

de certificação voltada para sistemas de gestão de Segurança e da Saúde no

Trabalho. A certificação garante o compromisso da empresa com a redução dos

riscos ambientais e com a melhora contínua de seu desempenho em saúde

ocupacional e segurança de seus colaboradores. Baseia-se no conceito de que a

companhia deve, periodicamente, analisar e avaliar seu sistema de gestão da

segurança e saúde do trabalhador, de maneira a sempre identificar melhorias e

implementar as ações necessárias. Por isso, ela não estabelece requisitos

absolutos para o desempenho da Segurança e Saúde no Trabalho – mas exige que

a empresa atenda integralmente a legislação e regulamentos aplicáveis e se

comprometa com o aperfeiçoamento contínuo dos processos.

ABNT NBR 1600153: trata-se da Norma Brasileira para Responsabilidade Social,

que foi redigida para ser aplicada a todos os tipos e portes de organizações,

adequando-se a diferentes condições geográficas, culturais e sociais brasileiras. A

norma estabelece requisitos mínimos relativos a um sistema de gestão da RS,

52 Outras informações disponíveis em www.osha-bs8800-ohsas-18001-health-and-safety.com 53 A NBR 16001 pode ser adquirida pelo site www.abnt.org.br

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permitindo à organização formular e implementar uma política e objetivos que

levem em conta os requisitos legais, seus compromissos éticos e sua preocupação

com a promoção da cidadania, promoção do desenvolvimento sustentável e

transparência das suas atividades. Foi publicada em 30 de dezembro de 2004.

SD 2100054 (Sustainable Development): a preocupação com diretrizes para

adoção do desenvolvimento sustentável como estratégia para a gestão de

organizações também se manifesta em publicações de instituições como a

Associação Francesa de Normatização (Afnor), que em 2003 editou o Sustainable

Development. O objetivo do guia é ajudar executivos em suas reflexões para

tomada de decisões e formulação de estratégias, com base em princípios do

desenvolvimento sustentável. Assim, o guia apresenta propostas para adaptar, de

modo progressivo, tanto em seus aspectos técnicos como culturais, os sistemas de

gestão das empresas aos parâmetros de desenvolvimento sustentável. Tem como

alicerce o engajamento de stakeholders como fator de sucesso para a

sustentabilidade.

Estes e outros instrumentos de sustentabilidade existentes envolvem uma

série de princípios, desde declarações genéricas, de caráter inspirativo, como a

Declaração Universal dos Direitos Humanos, até normas que levam a certificações

específicas, como é o caso das Normas ISO.

O fato é que nenhum desses instrumentos se encerra em si, por isso, é

importante que as empresas conheçam cada um deles, assim como seus pontos

em comum e suas inter-relações (Figura 8), para que, a partir daí, de acordo com

cada realidade específica, possa escolher o(s) instrumento(s) que melhor se

aplique(m) à organização.

54 Maiores informações disponíveis em www.afnor.br

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As empresas que realmente desejem estar alinhadas com a sustentabilidade

encontram nesses instrumentos uma grande oportunidade de ajuda, que facilitarão

o alcance dos objetivos propostos.

Figura 8. Mapa das relações entre os Instrumentos de Sustentabilidade

ORIENTADOS PARA

PROCESSO

ORIENTADOS PARA

PERFORMANCE

Diretrizes do GRI Balanço Social Ibase Balanço Social Ethos

AA 1000 SD 21000

Indicadores Ethos de RSE Indicadores Boston College

Indicadores Calvert-Henderson

Princípios do FSC SA 8000

Padrões ISO OHSAS 18001

Critérios de Excelência do PNQ/Sociedade ABNT NBR 16001

Declaração dos Direitos Humanos Agenda 21

Carta da Terra Pacto Global

Princípios de Governança da OCDE Diretrizes da OCDE para Multinacionais

Metas do Milênio

Projeto Sigma The Natural Step

PADRÕES FUNDAMENTAIS

PADRÕES DE CERTIFICAÇÃO

Fonte: adaptado do Guia de Compatibilidade de Ferramentas do Instituto Ethos/Uniethos (2005)

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2.1.8.2 A futura Norma Mundial de RS: ISO 26000

Após mais de dois anos de estudos e discussões internas, o Conselho da

ISO aprovou a elaboração, baseada em iniciativas já existentes, da Norma

Internacional de Responsabilidade Social – ISO 26000. Esta norma, ao contrário

das outras séries da ISO (9000 e 14000), será de diretrizes55, sem propósito de

certificação. Além disso, a norma não terá caráter de gestão e poderá ser aplicável

em qualquer tipo de gestão, como empresas, governo, ONGs, entre outros.

O processo de construção desta norma é inovador junto à ISO e junto à

sociedade em geral, por ter como premissa a construção coletiva do conhecimento

e a participação multistakeholder. O grande destaque desse processo é a

constituição de uma liderança compartilhada entre um país desenvolvido, a Suécia

(SIS56), e um país em desenvolvimento, o Brasil (ABNT), bem como a divisão em

seis categorias de stakeholders: consumidores; empresa; governo; organização

não-governamental; trabalhadores e serviço/suporte/pesquisa e outros.

Espera-se que a ISO 26000 contribua para que as organizações possam

tratar da RS respeitando diferentes contextos; possa enfatizar resultados e

melhoria de desempenho; melhorar a confiança entre a organização e seus

stakeholders; não reduzir a autoridade governamental; promover uma terminologia

comum e uma maior sensibilização para a RSE.

55 Normas de diretrizes não são passíveis de auditoria ou certificação, elas tendem a ser mais abrangentes, servindo como guia para implementação de sistemas de gestão. Já as normas de especificações, além de ser aditáveis ou certificáveis, ainda podem servir para outros objetivos, como autodeclaração da organização sobre sua adequação. 56 Swedish Standards Institute – www.sis.se

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A norma está estruturada57 nos capítulos: introdução; escopo; referências

normativas; termos e definições; o contexto da RS no qual as organizações

operam; princípios da RS; diretrizes em temas principais da RS; diretrizes para as

organizações na implementação da RS; anexos e bibliografia. Dentro desses

capítulos, a norma discorrerá sobre os seguintes temas:

Direitos Humanos: envolve direitos civis e políticos; direitos econômicos,

sociais e culturais; direitos fundamentais do trabalho e direitos das comunidades;

Práticas do Trabalho: a construção desse tema envolve segurança e saúde

ocupacional; condições dignas de trabalho; desenvolvimento dos recursos

humanos e o trabalhador como ser humano;

Meio Ambiente: estão inseridos nesse tema os seguintes itens: prevenção

da poluição; prevenção do aquecimento global; consumo sustentável e uso

sustentável da terra; preservação e restauração de ecossistemas e do ambiente

natural e respeito pelas gerações futuras;

Comunidade e Sociedade: este tema envolve impactos do

desenvolvimento; envolvimento comunitário; desenvolvimento da sociedade e

filantropia;

Práticas Leais e Operação: para o desenvolvimento desse tema, definiram-

se os seguintes itens: promoção de atividades éticas e transparentes; promoção da

livre-concorrência; aplicação de práticas justas e éticas na cadeia de fornecimento

e no pós-fornecimento; respeito pela propriedade intelectual e outros direitos de

propriedade; respeito pelos interesses dos usuários e combate à corrupção;

57 Toda a estrutura da norma apresentada neste trabalho faz parte de um material desenvolvido pelo Instituto Ethos/Uniethos, elaborado a partir de um documento oficial da ISO (Documento N080, disponível em www.iso.org/wgsr, seção “N Numbered document list”) e apresentado na 3ª Plenária do Grupo de Trabalho Ethos para a elaboração da ISO 26000, realizada no dia 7 de novembro de 2006, em São Paulo. Vale ressaltar que, como a norma ainda está em construção, alterações de qualquer natureza ainda podem acontecer. Outras informações sobre a norma podem ser encontradas no site www.uniethos.org ou www.iso.org/wgrs

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Governança Organizacional: este tema está sendo discutido se deve ser

um tema transversal a todos os outros ou se deve ser discutido isoladamente. Os

itens propostos, que envolveram o conteúdo do tema, são: inclusividade; conduta

ética; divulgação de informações; respeito à lei e accountability;

Consumidores: este tema envolve as seguintes questões: prover os

consumidores de informações precisas e adequadas; prover e desenvolver

produtos e serviços socialmente benéficos; prover e desenvolver produtos e

serviços seguros e confiáveis e proteger a privacidade dos consumidores.

É fato que a construção de uma norma como essa, por sua complexidade e

pela necessidade de considerar particularidades culturais e éticas de países e

povos, envolve diversas limitações. No entanto, por outro lado, apresenta diversos

benefícios, uma vez que, por exemplo, a adoção de um padrão internacional de RS

pela ISO permitirá comparabilidade em todo o mundo, favorecendo, não apenas as

corporações, mas, também, os consumidores e a sociedade em geral.

De uma forma ou de outra, o fato é que o processo de construção da ISO

26000, em si, já representa, no mínimo, uma grande prova de que o mundo está

atento às questões sociais, econômicas e ambientais que ameaçam o futuro do

planeta e, aos poucos, movendo-se para reverter essa situação.

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2.2 O SEGMENTO VAREJISTA

Considerando que o foco desta dissertação é dirigido para um diagnóstico e

uma análise do grau de envolvimento da Responsabilidade Social da cadeia de

fornecedores no varejo supermercadista, cabe uma breve caracterização desse

segmento, para melhor contextualizar o trabalho.

2.2.1 Conceitos e tipos de varejo

Para uma indústria de bens de consumo levar seus produtos aos

consumidores, pressupõe-se um processo complexo, que envolve diversos canais

de distribuição, atividades e pessoas.

Um canal de distribuição pode ser compreendido como um conjunto de

organizações envolvidas no processo de fazer um produto ou serviço disponível

para uso ou consumo. Os canais de distribuição são coletividades

interorganizacionais de instituições e atores que, simultaneamente, perseguem

objetivos próprios e comuns (STERN et al., 2002). Sendo assim, na cadeia de

distribuição de produtos, encontram-se diversas partes envolvidas: o produtor,

responsável pela fabricação; o atacadista ou distribuidor, que adquire o bem para

revender a varejistas; o varejista, que adquire o bem diretamente do produtor ou do

atacadista para repassar ao consumidor final.

De acordo com Parente (2000), o varejo consiste em todas as atividades que

englobam o processo de venda de produtos e serviços, para atender a uma

necessidade pessoal do consumidor final. Nesse sentido, o varejista é qualquer

instituição cuja atividade principal consiste no varejo. Vale ressaltar que o varejo

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está inserido no canal de distribuição, como o principal responsável por fazer com

que produtos e serviços alcancem o consumidor final, sendo o último estágio no

processo de distribuição.

Para Levy & Weitz (2000), o varejo constitui-se num conjunto de atividades

de negócios, que adiciona valor a produtos e serviços vendidos a consumidores

para uso pessoal e familiar. O autor afirma ainda que as pessoas consideram o

varejo somente a venda de produtos em lojas e ressalta que ele também envolve a

prestação de serviço, mas nem toda atividade varejista é feita em lojas, como a

exemplo da venda direta ou por catálogos (LEVY & WEITZ, 2000).

Para Kotler (1998, p. 494),

o varejo inclui todas as atividades envolvidas na venda de bens e serviços diretamente aos consumidores finais para uso pessoal. Um varejo ou loja de varejo é qualquer empresa cujo volume de venda decorre, principalmente, do fornecimento por unidade ou pequenos lotes.

Existem várias classificações e vários formatos de varejo. A Figura 9 mostra

a classificação do segmento.

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Figura 9. Classificação das instituições varejistas

Alimentícias Não-alimentícias Serviços

Instituições varejistas

Classificação de acordo com a propriedade

Instituições com

lojas

Instituições sem

lojas

Independentes Redes Franquias Departamentos Alugados Sistemas Verticais de

Marketing

Marketing Direto Vendas Diretas Máquinas de Venda Varejo Virtual

Fonte: adaptado de Parente, 2000. Baseado em BERMAN, Barry; EVANS, Joesl R. Retail Management: a strategic approach. Upper Saddle River: Prentice Hall, 1998, p. 103

Dentro da classificação de varejo de loja, no segmento de alimentos, o setor

se classifica em: bares, mercearias, padarias, minimercados, lojas de conveniência,

supermercados compactos, supermercados convencionais, superlojas,

hipermercados e clubes atacadistas (PARENTE, 2000). Por tratar-se o tema deste

trabalho do varejo de alimentos, neste caso, os supermercados, será dado a estes

um foco mais detalhado.

Kotler (1998) afirma que

[os supermercados são] relativamente grandes, operam com baixo custo, margem pequena, volume elevado, auto-serviço projetado para atender as necessidades totais dos consumidores em termos de alimentos, produtos de higiene pessoal e de limpeza e produtos para manutenção do lar. Operam com lucro operacional de apenas

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1% sobre as vendas e obtêm lucro de 10% sobre o patrimônio líquido. Apesar da forte concorrência de concorrentes novos e inovadores [...], os supermercados permanecem o tipo de loja de varejo mais freqüentemente visitado pelos compradores.

Parente (2000) apresenta algumas características básicas dos tipos de

supermercados, conforme a classificação abaixo:

minimercados: têm atuação mais forte nos bairros de classe baixa, localizados

na periferia das cidades brasileiras. Apresentam uma variedade básica de itens

similar às mercearias, com produtos de frios, laticínios, mercearia e bazar,

porém, já adotam o sistema de auto-serviço, com apenas um check out58 (caixa

registradora sobre balcão, na saída da loja). Os minimercados chegam a

representar mais de 10% dos gastos em varejo alimentar;

supermercados compactos: assim como os minimercados, os compactos

caracterizam-se pelo auto-serviço, check outs e produtos dispostos de maneira

acessível, que permitem aos clientes o auto-atendimento, com utilização de

cestas e carrinhos. Possuem entre dois e seis check outs e apresentam uma

linha completa, porém, compacta de produtos;

supermercados convencionais: são lojas de porte médio, que mantêm o

caráter de loja de alimentos, com boa variedade de produtos;

superlojas: são supermercados com cerca de 4.000m2, que apresentam uma

completa linha de produtos alimentícios, operando com 30 check outs em média.

Além de comercializar produtos alimentícios, oferecem também uma variedade

na categoria não-alimentos, como eletrônicos e têxtil;

58 Para efeito de pesquisas no segmento, a ABRAS considera como parte do segmento supermercadista apenas as lojas que tenham dois ou mais check outs.

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hipermercados: apresentam o maior porte entre os auto-serviços, com cerca de

10.000m2. A diferença entre este tipo de loja e as superlojas está no destaque

dado ao setor de não-alimentos, que, no caso, é bem maior;

clubes de atacados: são grandes lojas que vendem tanto para o consumidor

final como para comerciantes e operadores de restaurante. Essas lojas

apresentam uma variedade compacta, instalações despojadas, limitada gama de

serviços e preços baixos. O Sam´s Club, recentemente inaugurado em Salvador,

é um exemplo de clube atacadista.

2.2.2 A evolução do segmento varejista no Brasil

Conforme Gimpel (1980), o desenvolvimento do varejo no Brasil aconteceu

entre os anos 30 e 40, no período da industrialização. Com a II Guerra mundial,

entre 1939 e 1945, iniciou-se no Brasil o que os economistas chamaram política de

substituição de importações, época em que os problemas de intercâmbio comercial

entre os países em guerra favoreceram o desenvolvimento da indústria nacional,

provocando diversas transformações na vida do País, como, por exemplo, o

surgimento da classe do proletariado industrial, que permitiu a introdução, no

mercado interno, de um novo tipo de consumidor, agora com uma maior renda

disponível.

O varejo brasileiro começou a modernizar-se, no entanto, a partir da década

de 50. Essa fase foi marcada pela chegada da Sears, aqui no Brasil, em 1949, com

uma loja no Rio de Janeiro e duas em São Paulo, e das filiais do Mappin e da

Mesbla, ambas também em São Paulo. Estas empresas tinham o auto-serviço

como principal característica e se diferenciavam no mercado por oferecer

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assistência técnica própria para os eletrodomésticos comercializados e

estacionamento para os clientes.

Desde a década de 50, o varejo vem passando por diversas transformações.

De acordo com Gonzalis (2002), a forma pela qual os varejistas e os consumidores

se relacionavam nas décadas de 50 e 60 era bastante diferente da atual. No varejo

de 30 ou 40 anos atrás, o dono do estabelecimento conhecia cada um de seus

consumidores, sabia de suas preferências e o consumidor depositava confiança no

comerciante, pois tinha consciência de que seus produtos eram de qualidade e o

atendimento personalizado. No entanto, com um maior desenvolvimento dos auto-

serviços, a partir de 1970, essa relação começou a mudar.

As lojas de auto-serviço tinham como característica principal permitir ao

consumidor que ele mesmo tivesse a possibilidade de escolher os produtos de sua

preferência. Com isso, o consumidor tornou-se, gradativamente, um desconhecido.

Desde então, o setor varejista, no qual se incluem os supermercados, começou a

reagir às mudanças, oferecendo preços mais competitivos, investindo em

automação comercial, na diferenciação de produtos e na melhoria contínua dos

serviços prestados.

Na década de 80, segundo Souza & Serrentino (2002), as empresas

varejistas iniciaram um processo de segmentação de mercado, no qual o foco

recaiu sobre a diferenciação de formatos de lojas, adequando-as a grupos de

consumidores com características e hábitos semelhantes.

Ainda nessa mesma década, o varejo de alimentos vivenciou a introdução e

o crescimento do formato de hipermercados, com grandes áreas de exposição de

produtos e uma maior variedade de itens à disposição dos clientes. Tendo o

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Carrefour como pioneiro, o modelo foi logo reaplicado pelo Paes Mendonça e pelo

Pão de Açúcar.

No entanto, conforme Rojo (1998), a década de 80 para os supermercados

foi marcada por muitos contratempos, advindos, principalmente, dos planos

governamentais, que colocaram o setor em dificuldades, inclusive em termos de

imagem junto ao consumidor.

De acordo com Kotler (1998), os supermercados vêm expandindo-se em

vários sentidos, na busca do aperfeiçoamento de sua competitividade. Eles têm

aberto lojas maiores e com maior quantidade de itens. Muitas redes de

supermercado passaram a vender também eletrodomésticos, CDs, artigos de

papelaria, roupas e calçados, procurando um aumento em sua rentabilidade.

Na década de 90, fatos importantes marcaram o setor varejista e o

segmento passou por grandes transformações. Dentre os fatos ocorridos nesse

período, destacam-se a criação do Código de Defesa do Consumidor e a

implementação do Plano Real, em 1994. A estabilização econômica e a abertura

comercial causaram mudanças no comportamento do consumidor e a crescente

demanda por alimentos tornou o ambiente propício ao desenvolvimento de

empresas nacionais, quando ocorreu uma grande modernização do setor, e à

utilização de novas tecnologias, ao tempo em que também atraiu empresas

estrangeiras para o mercado interno.

Vale ressaltar que novos formatos de varejo foram introduzidos no mercado,

dentre os quais os clubes de atacado e os home shoppings na televisão, como

opção de varejo sem loja.

Na visão de Parente, o varejo brasileiro sofreu muitas transformações ao

longo das últimas décadas.

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Se viajasse de volta, pelo túnel do tempo, e desembarcasse em uma metrópole brasileira no início da década de 60, se ficaria surpreso ao verificar que a maioria dos atuais formatos de loja não existia naquela época. Não se encontrariam shopping centers, ou hipermercados, ou lojas de conveniência, ou clubes de compra, ou auto-serviço de materiais de construção, ou lanchonetes fast food, ou restaurantes por quilo, ou redes de franquias, ou locadoras de vídeo, ou pet shops, nem lojas de informática, nem empresas globalizadas como Carrefour, C&A, Wal-Mart. Ao longo desses 40 anos muitos modelos de lojas foram cedendo lugar aos novos formatos, mais eficientes e mais adequados às novas necessidades do mercado consumidor (PARENTE, 2000, p. 15).

Percebe-se que a evolução dos processos e serviços no setor varejista

cresce a cada dia. As constantes mudanças do mundo global e os avanços

tecnológicos têm gerado elementos para o aumento da produtividade no varejo,

ampliando os horizontes daqueles que se empenham no desenvolvimento da

prática do varejo.

Tornam-se inquestionáveis, portanto, as contribuições da atividade varejista,

pela adição de valor a seus produtos e serviços, para os consumidores e para a

sociedade. Daí a crescente importância econômica e social do varejo, para as

comunidades nas quais atua, o que tem despertado o interesse de estudiosos e

pesquisadores, que buscam identificar fenômenos sociais, com base na interação

entre a sociedade e seus atores e o segmento varejista.

2.2.3 Um cenário do varejo supermercadista

Com mais de cinco décadas, desde que foi implantado no Brasil, o

supermercado atualmente já se configura um elemento essencial da paisagem de

qualquer cidade brasileira, ligando-se, de modo indissociável, ao modo de vida e às

necessidades de qualquer consumidor. Na década de 60, o supermercado tornou-

se presença marcante em todas as principais cidades brasileiras. As últimas

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décadas marcaram um período de grande expansão do setor, de sedimentação

das grandes cadeias, aliada à estabilização da economia e ao desenvolvimento

econômico.

Na década de 90, a concorrência entre os supermercados tornou-se ainda

maior. Os últimos anos também trouxeram a modernização do setor, proporcionada

pela informática, além do aperfeiçoamento e da maior preocupação com a

qualidade dos serviços.

No Brasil, a partir da década de 90, houve uma fase de grandes

transformações no setor supermercadista. Com a inflação sob controle e o

crescimento da concorrência, o volume de vendas aumentou, enquanto as

margens de lucro diminuíram, conduzindo as empresas a perseguirem vantagens

competitivas, por meio de serviços melhores e da busca incessante de maior

eficiência. A economia estável também proporcionou uma menor preocupação com

as políticas voltadas ao curto prazo. Pouco utilizadas na época da inflação, as

vendas a curto prazo foram aos poucos sendo incorporadas ao cotidiano dos

supermercados. Cheques pré-datados, tickets-alimentação, cartões de crédito

próprios e de terceiros transformaram-se em instrumentos de alavancagem de

vendas no setor.

De acordo com a ABRAS59 (RANKING ABRAS, 2006), em 2005, esse

percentual foi de 90,2%, o que demonstra que algumas lojas do auto-serviço de um

check out podem estar migrando para o segmento supermercado.

59 O Ranking ABRAS é um estudo oficial do setor de supermercados realizado anualmente pela Abras/Fundação ABRAS em parceria com a ACNielsen.

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O setor supermercadista tem destaque na economia brasileira pela

comercialização de bens necessários, como alimentos, higiene pessoal, perfumaria

e limpeza do lar.

Em 2005, o auto-serviço alimentar faturou R$ 106,4 bilhões, com

crescimento nominal de 7,8% sobre o ano anterior. Com este faturamento, o setor

manteve a participação de 5,5% no Produto Interno Bruto (PIB) em 2005, que,

segundo o IBGE60, foi de R$ 1,938 trilhão.

De acordo com João Carlos Oliveira (Revista Super Hiper, 2006), Presidente

da Associação Brasileira de Supermercados – ABRAS –, na medida em que o setor

supermercadista brasileiro investe mais, cresce e emprega ainda mais. Em 2005, o

setor gerou 800.222 empregos diretos e, com isto, ampliou em 1,6% sua

capacidade de empregabilidade, comparada ao ano anterior, que foi de 788.268

funcionários.

2.2.4 A Responsabilidade Social no Varejo

O segmento varejista caracteriza-se por ser uma atividade que interage

intensamente, tanto com a comunidade, por meio dos consumidores, funcionários,

governo, etc., quanto com toda a cadeia produtiva, por intermédio de seus

fornecedores.

De acordo com Parente (2004),

o desenvolvimento da Responsabilidade Social no varejo ajuda também a estender as práticas Socialmente Responsáveis a toda a cadeia de valor, estabelecendo relações que vão desde a fabricação de um produto, passando pelos compromissos éticos dos fornecedores e distribuidores, pela forma de comercialização determinada pelos varejistas e, finalmente, chegando a decisão de

60 Disponível no site do IBGE www.ibge.gov.br Acesso em 06/10/06.

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compra consciente do consumidor, que privilegia uma empresa em detrimento da outra no mercado.

O autor afirma que, mais do que qualquer outro ramo de atividade, o varejo

tem uma vocação especial para praticar uma gestão socialmente responsável,

tanto pelas peculiaridades, como negócio, quanto pela sua grande importância para

a sociedade.

Parente (2006) afirma que, dentre os fatores que determinam essa vocação

do varejo para a RSE, destacam-se:

proximidade com o consumidor final e articulação social nas comunidades

– considerando a grande interação que há entre a empresa e o consumidor final,

fruto da freqüência de visitas dos consumidores às lojas de varejo (a depender

do tipo de varejo, como padaria61, podem ser diárias), é possível perceber-se o

poder da loja em transformar-se num centro de disseminação de valores para a

comunidade. Ao retomar a lógica sistêmica, observa-se que, se a energia do

ambiente alimenta o sistema, e ambos mantêm entre si relações de troca mútua,

essa energia vai e volta e se a empresa contribuir para tornar seu ambiente

saudável, ela conseguirá, cada vez mais, sobreviver e crescer nessa região;

o papel modificador na cadeia de valor – na medida em que o varejo

estabelece vínculos comerciais e mantém relações de troca com os

consumidores, estimula o trabalho voluntário na comunidade, recebe o apoio de

seus clientes para projetos desenvolvidos com a comunidade e realiza parceria

com os fornecedores, disseminando práticas, políticas e iniciativas sociais nas

61 Segundo o SINDIPAN – Sindicato da Indústria de Panificação e Confeitaria de São Paulo –, no Brasil existem aproximadamente 53 mil padarias que recebem diariamente mais de 40 milhões de visitas de consumidores, o que demonstra grandes oportunidades de interação com o varejo.

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demais empresas da sua cadeia de valor, ele se torna um verdadeiro agente de

transformação nessa cadeia.

Estando intimamente ligado à comunidade e conhecendo bem a realidade

local, o varejo tem condições de atuar como articulador para iniciativas

comunitárias e mobilização social, como mostra a Figura 10;

Figura 10. O varejo como agente transformador da estrutura social

Fornecedor VAREJISTA Consumidor

POSIÇÃO PRIVILEGIADA DO VAREJO

Parcerias Educação

Disseminação Voluntários

Fonte: adaptado de Parente (2006)

representatividade e capilaridade geográfica – o potencial do varejo, na

geração de riqueza na economia brasileira, tem-se mostrado muito grande,

conforme comentado no item 2.2.3, e o fato de estar espalhado por todos os

cantos do País, mesmo em pequenas cidades e ou vilarejos, aumenta ainda

mais a importância social do varejo como agente de transformação.

Percebe-se que essa tendência no varejo, para a adoção das causas

sociais, tem aumentado a cada dia. Um grande exemplo para ilustrar esta

afirmação está na grande quantidade de empresas varejistas inscritas nas três

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edições do Prêmio FGV-EAESP de Responsabilidade Social no Varejo em 2003,

2004 e 2006, com a participação de mais de 350 empresas, de todos os portes,

tipos de varejo e regiões do Brasil.

Esse prêmio é uma iniciativa do Centro de Excelência em Varejo da Escola

de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas, que faz

parte do Programa FGV-EAESP de Responsabilidade Social no Varejo e que tem

por objetivos mobilizar, capacitar, reconhecer e disseminar as práticas de

Responsabilidade Social de empresas e entidades varejistas de todos os portes,

setores e regiões do País. Por esse prêmio, o Centro de Excelência em Varejo da

FGV-EAESP pretende reconhecer e incentivar programas, projetos ou ações de

Responsabilidade Social desenvolvidos por empresas e instituições varejistas em

todo o Brasil.

2.2.4.1 O programa de RSE no Varejo da FGV-EAESP

No Brasil, o Centro de Excelência no Varejo da Escola de Administração de

Empresas da FGV-SP, por meio do Programa FGV-EAESP, vem-se destacando

pela promoção da RSE no varejo.

De acordo com Macedo (2005), o programa conta com cinco projetos, que

têm por objetivos mobilizar, capacitar, reconhecer e disseminar práticas de RS no

País. A seguir:

Indicadores de RSE nas empresas varejistas62 – foram desenvolvidos, a partir

dos Indicadores Ethos Gerais de RS, em parceira entre o Centro de Excelência

em Varejo, a Fundação Getúlio Vargas e o Instituto Ethos de Empresas e

62 Maiores detalhes e a versão completa dos Indicadores Ethos para as Empresas Varejistas podem ser encontrados em www.ethos.org.br ou www.fgvsp.br/cev

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Responsabilidade Social. Esta ferramenta possibilita que as empresas varejistas

brasileiras possam avaliar o seu grau de envolvimento com o tema;

cursos e seminários – oferecidos com conteúdo teórico e prático a respeito das

práticas socialmente responsáveis, têm por objeto capacitar o varejo para

criação, implantação e gestão de iniciativas socialmente responsáveis;

publicações – consistem em livros e uma coletânea Gvcev de RS no Varejo,

com artigos sobre os assuntos relacionados a RS no varejo, disponíveis em

veículos de comunicação de massa e dirigida. Estão disponíveis também no

site63 do programa FGV-EAESP de RS no Varejo;

banco de práticas de RS no Varejo – é uma ferramenta de pesquisa para as

organizações interessadas em conhecer as práticas de RSE no setor varejista

brasileiro. Disponível no site do programa FGV-EAESP;

prêmio FGV-EAESP de Responsabilidade Social no Varejo – esta foi

considerada a iniciativa que alavancou o Programa de RS no Varejo da FGV. O

prêmio foi criado em 2003 e passou a ter edições bienais a partir de 2004. Na

edição de 2006, recebeu 99 inscrições de programas e projetos de

Responsabilidade Social de empresas e entidades varejistas de todos os portes

e regiões do Brasil. Do total de inscrições, 19% refere-se aos shopping centers,

14% às entidades varejistas e 11% aos supermercados. As micros, pequenas e

médias empresas representaram 50% dos inscritos.

Quanto à área de atuação, 82% das inscrições foram dos estados do Sul e

Sudeste do País, enquanto que 9% foram do Centro-Oeste e 9% dos estados do

Nordeste.

63 O site para consulta do Banco de Práticas do Gvcev – FGV-EAESP é www.fgvsp.br/cev/rsnovarejo

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Não houve participação dos estados do Norte, o que indica que as questões

de RSE ainda estão mais concentradas nas regiões Sul e Sudeste.

Todos os projetos inscritos alimentam o Banco de Práticas de RS no Varejo

e servem como fonte de consulta para estudiosos, acadêmicos e profissionais do

varejo interessados no tema.

2.2.5 A importância dos fornecedores na gestão socialmente responsável

Na era da economia global e do advento da RSE, um novo tipo de

relacionamento está surgindo entre as empresas e sua cadeia de fornecedores.

Esse relacionamento deve capacitar as empresas envolvidas a desenvolverem

enfoques abrangentes para seus mercados, compartilhar informações, atuar

conjuntamente. A ampliação das fronteiras organizacionais passa a acontecer em

função das parcerias e alianças estratégicas entre as organizações, das questões

sociais e ambientais e das tecnologias da informação.

Segundo Tachizawa (2002), uma gestão socialmente responsável envolve

toda a cadeia de suprimentos.

A preocupação com as questões ambientais e de Responsabilidade Social faz com que a organização dos novos tempos escolha fornecedores que atendam a seus requisitos éticos e que atestem que os insumos produtivos contratados atendam a seus requisitos ambientais, predefinidos em sua política corporativa. Ou seja, a gestão de uma organização avança para o âmbito interno das empresas que contrata como fornecedores, ultrapassando, assim, as fronteiras organizacionais tradicionais.

Apesar dos conceitos em torno da RSE estarem sendo discutidos e

pesquisados amplamente na administração, ainda existem poucas interações

desses estudos com a relação que há, efetivamente, entre as organizações e sua

cadeia de suprimentos.

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Por outro lado, o papel social que vem sendo exigido das organizações

requer uma nova compreensão da RSE, não mais focada unicamente na empresa,

mas, também, em todo o processo produtivo.

Não será possível atribuir a uma empresa a denominação de socialmente

responsável se os seus fornecedores não atuam de acordo com os princípios

éticos e transparentes que envolvem o tema RSE, atuando, por exemplo, de forma

irresponsável do ponto de vista ambiental, praticando discriminação de qualquer

natureza, utilizando mão-de-obra infantil, etc.

Além disso, ainda que a empresa tenha uma gestão voltada para a RS ou

até mesmo uma certa preocupação com o tema, se não cuidar para que toda a

cadeia de fornecedores esteja envolvida, poderá sofrer as conseqüências, por

parte dos consumidores. Um exemplo está no caso da Nike64, haja vista várias

campanhas de boicote que vem sofrendo por diversas organizações não-

governamentais de todo o mundo, em protesto pelas péssimas condições de

trabalho que os seus fornecedores ofereciam aos empregados, com utilização de

mão-de-obra escrava e infantil.

Percebe-se, com este exemplo, que o produto final somente será legitimado

pelo consumidor como socialmente responsável se todo o ciclo produtivo tiver sido

construído de forma sustentável. Essa é uma tendência que permeia a realidade e

que confirma que “as empresas estão deixando de ser sistemas relativamente

fechados para tornarem-se cada vez mais abertos. Suas fronteiras estão se

tornando mais permeáveis e, em muitos casos, difíceis de identificar” (WOOD Jr. &

ZUFFO, 1998).

64 Disponível no site do Observatório da Imprensa, www.observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos .Acesso em 02/11/2006.

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No caso do varejo, não basta apenas implementar políticas e diretrizes

internas de RS. Essa prática deve ser estendida a todos os fornecedores, sejam

indústrias, distribuidores ou atacadistas, evitando questões precárias em qualquer

um dos pilares da sustentabilidade: o econômico, o social e o ambiental. Do

contrário, em função de um contexto sistêmico, por mais socialmente correta que

seja, a empresa varejista correrá o risco de ser penalizada, com perda de imagem

e competitividade, por causa da ineficácia da cadeia de abastecimento, do ponto de

vista das questões de Responsabilidade Social.

É imprescindível, portanto, que a indústria ou o distribuidor definam políticas

de atuação, nos aspectos social, econômico e ambiental, em conjunto com os seus

stakeholders, em cada uma das fases do processo de produção e distribuição,

observando os possíveis impactos negativos que possam ser identificados em

qualquer fase do processo produtivo.

Vale ressaltar ainda que a RS, na cadeia de abastecimento, não se encerra

no momento em que o produto é vendido ao consumidor final. É preciso que toda a

cadeia esteja atenta para a vida útil do produto e o seu descarte após o consumo, o

que envolve, inclusive, caso existam, as embalagens que compõem o produto.

Somente assim, a cadeia de abastecimento alcançará graus elevados de RS,

contribuindo efetivamente para a melhoria da qualidade de vida dos públicos com

os quais interage.

É preciso estar atento ao consumidor final, que, pelo seu poder de compra,

irá legitimar a empresa como socialmente responsável. Para isso, é preciso, com

ética e transparência, dar visibilidade às informações, reduzindo os riscos de perda

de credibilidade no mercado.

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Diante do exposto, ao retomar a Teoria dos Sistemas, discutida na primeira

parte deste capítulo, pode-se afirmar que a empresa faz parte de um todo maior,

um sistema amplo, que deve ser otimizado para gerar maior valor ao cliente, à

empresa e a todos os públicos com os quais ela interage. Daí a fundamental

importância do envolvimento e da disseminação dos princípios éticos de

relacionamentos na cadeia de valor das empresas. Somente assim será possível a

legitimação de todos os processos e a caracterização da empresa como

socialmente responsável.

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3 METODOLOGIA

Este capítulo tem por objetivo apresentar os procedimentos metodológicos

adotados, que possibilitaram a investigação do tema pesquisado e a concretização

dos objetivos propostos.

Inicialmente, serão descritas as características da pesquisa, mencionando-

se o tipo, a metodologia e o modo de investigação por ela abordado. A próxima

etapa refere-se à contextualização do cenário da pesquisa, com informações

referentes ao Supermercado Cardoso e sua relação com a gestão socialmente

responsável. A partir daí, serão apresentados: a trajetória da pesquisa, relatando-

se as etapas desde a definição da população; o perfil da amostra; o instrumento de

pesquisa e os procedimentos para a coleta e o tratamento dos dados.

3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA

Uma das maiores inquietudes do ser humano está relacionada à incessante

busca pelo conhecimento. Segundo Gil (1996), ao longo dos séculos, “o homem

vem desenvolvendo sistemas mais ou menos elaborados que lhe permitem

conhecer a natureza das coisas e o comportamento das pessoas”. Daí a

importância de somarem-se a esse conhecimento acumulado pela humanidade

dados confiáveis e possíveis de ser cientificamente provados.

Dessa forma, ao longo dos séculos, foram surgindo vários métodos de

levantamento de dados e de pesquisa, a exemplo do método científico, definido por

Gil (1996) como “o conjunto de procedimentos intelectuais e técnicos adotados

para se atingir o conhecimento”.

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Sabe-se que uma pesquisa científica, necessariamente, deve adotar

determinadas técnicas e métodos que assegurem a sua fidedignidade. Dessa

forma, espera-se que a metodologia disponha de um instrumental coerente, claro e

capaz de encaminhar os impasses teóricos para o desafio da prática.

Assim, no intuito de cumprir os objetivos propostos neste trabalho, foi

realizado um estudo de caso – que Yin (1991) define como “uma pesquisa que

investiga um fenômeno contemporâneo dentro do contexto da vida real, quando as

fronteiras entre o fenômeno e o contexto não são claramente evidentes e no qual

são múltiplas as fontes de evidência” – no segmento do varejo supermercadista,

por meio de sua cadeia de fornecedores. No processo de produção de

conhecimento deste trabalho, adotou-se uma investigação de natureza exploratória

descritiva qualiquantitativa.

Para Gil (1996), as pesquisas exploratórias têm como principal finalidade

“desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e idéias, com vistas à formulação de

problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores”.

De acordo com Mattar (1998), a “pesquisa exploratória é freqüentemente

utilizada para ampliar o conhecimento sobre um determinado assunto antes da

execução de uma pesquisa quantitativa”. Portanto, o estudo exploratório permitiu

aumentar os conhecimentos do autor em torno das questões teóricas relativas ao

tema da pesquisa, na medida em que diversas fontes bibliográficas foram

consultadas, em busca de contribuições ao tema abordado.

Além de artigos científicos e livros, a pesquisa bibliográfica envolveu

também consulta de sites, leituras de textos extraídos de revistas, dados

estatísticos disponíveis a partir de pesquisas de instituições, como o Instituto Ethos,

Instituto Akatu, IBGE, etc.

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É importante considerar que a pesquisa bibliográfica foi de fundamental

importância na construção de um referencial teórico, com uma visão crítica e atual

do tema abordado.

Quanto ao aspecto descritivo, buscou-se expor a realidade pesquisada, por

meio do registro, da análise e interpretação dos dados coletados. Para Gil (1996), a

pesquisa descritiva “visa descrever características de determinada população ou

fenômeno e as relações entre as variáveis, envolvendo o uso de técnicas

padronizadas de coletas de dados”, como o questionário, que foi o instrumento

utilizado neste estudo.

Considerando que o objetivo principal deste trabalho diz respeito a um

diagnóstico do grau de envolvimento da cadeia de fornecedores do Supermercado

Cardoso com as práticas de RSE, pode-se dizer que esta pesquisa é de natureza

qualiquantitativa. Qualitativa porque utilizou a técnica de análise de conteúdo e

quantitativa por tratar-se de uma pesquisa avaliativa, a partir dos dados coletados

no questionário aplicado.

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3.2 CENÁRIO DO ESTUDO

Este estudo foi desenvolvido entre os fornecedores do Supermercado

Cardoso, localizado em Jequié65, no sudoeste do estado da Bahia.

3.2.1 Apresentação da empresa

O Supermercado Cardoso é uma empresa familiar, fundada em 1969, pelo

Sr. Armando Santos Cardoso, atual presidente da empresa. As atividades foram

iniciadas com uma pequena padaria e mercearia e contava com apenas 40m2 de

área de vendas, na cidade de Jequié.

Atualmente, a empresa conta com duas lojas de supermercado, ambas em

Jequié, e possui o seguinte perfil66:

• área de vendas: 2.600m2;

• n° de funcionários: 200;

• n° de itens cadastrados: 40.000;

• n° de fornecedores: 800;

• seções: alimentos, bebidas, higiene, perfumaria, limpeza e não-

alimentos (cama, mesa, banho, moda masculina, feminina e infantil,

moda íntima masculina e feminina, eletroportáteis, brinquedos, artigos

para lar, automotivo e artigos para presentes).

65 Jequié fica localizada no sudoeste do estado da Bahia, a 360 km de Salvador. A pecuária e a agricultura foram a base de todo o desenvolvimento da cidade. Atualmente possui um parque industrial significativo, com 24 indústrias, voltadas para produção de alimentos, calçados e confecções. Possui aproximadamente 150.000 habitantes, segundo estimativa do IBGE (2005). Dados disponíveis em www.jequie.ba.gov.br. Acesso em 01/11/2006. 66 Fonte: dados internos referentes a 30/09/2006 – valores médios aproximados de ambas as lojas.

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A missão do Supermercado Cardoso é “fornecer produtos e serviços no

segmento supermercadista, com um alto nível de qualidade, variedade, preços

competitivos e excelência no atendimento, cuidando dos interesses de todos os

públicos com os quais interage, por meio da incorporação das práticas de

Responsabilidade Social na gestão dos negócios”. Para o cumprimento desta

missão, a empresa baseia suas ações, seus processos e suas decisões nos

seguintes princípios:

• dignidade e respeito, como base de todos os relacionamentos;

• honestidade, ética e integridade na condução dos negócios;

• humildade e coragem para enfrentar desafios;

• excelência na qualidade dos produtos e serviços;

• responsabilidade e compromisso na construção e preservação do

patrimônio físico e da imagem;

• valorização das pessoas;

• austeridade nos gastos.

3.2.2 O Supermercado Cardoso e a gestão da RSE

A partir da compreensão do seu papel no desenvolvimento da sociedade, na

preservação do meio ambiente e, acima de tudo, na qualidade das relações com

todos os stakeholders, o Supermercado Cardoso assumiu a Responsabilidade

Social como parte da sua missão empresarial.

O processo de incorporação da RS na gestão teve início em 2003, mediante

a auto-regulação da conduta, com a elaboração e disseminação do seu código de

conduta, missão, visão, princípios e valores. A partir daí, o Cardoso passou a

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107

desenvolver suas primeiras ações sociais, utilizando-se de campanhas filantrópicas

e assistencialistas e, portanto, sem caráter transformador da sociedade, o que o

levou, posteriormente, a uma melhor compreensão de que uma gestão socialmente

responsável prevê o envolvimento de todos os stakeholders, numa relação ética e

transparente, no sentido de formar parcerias e contribuir na construção de uma

sociedade mais justa e mais desenvolvida.

Numa evolução das ações sociais para uma gestão socialmente

responsável, o Cardoso adicionou mais um departamento em sua estrutura

organizacional, “Desenvolvimento Humano e Responsabilidade Social”, e formou

um Comitê de Responsabilidade Social, composto por aproximadamente 10% do

quadro de colaboradores, de ambas as lojas e diversas funções, valorizando todos

os aspectos da diversidade do ser humano, além de stakeholders externos. Dentre

os objetivos do Comitê de Responsabilidade Social, destacam-se:

promover um ambiente que permita o diálogo, a exposição de pontos

de vista, o compartilhamento e a transparência nas informações;

promover a discussão de problemas e oportunidades da gestão, bem

como a busca de soluções conjuntas;

revisar os processos organizacionais existentes, para identificar áreas

em que as mudanças são necessárias;

disseminar a missão, visão, os princípios e valores da organização

para todos os públicos de interesse e criar uma cultura organizacional

voltada para RSE;

discutir as estratégias organizacionais, no sentido de contribuir para

as Metas do Milênio, bem como fazer cumprir o Pacto Global;

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atuar como agentes de transformação no novo processo

organizacional.

Sabe-se que as questões de RS são multidimensionais e que exigem o

envolvimento de equipes multidisciplinares e abordagens interdisciplinares. Por

isso, antes de partir para relações externas, com o intuito de buscar um

autodiagnóstico e avaliar a sua gestão quanto à incorporação das práticas de RSE,

o Comitê de Responsabilidade Social do Supermercado Cardoso respondeu, em

2005, aos Indicadores Ethos de RSE67, segundo os quais, as práticas de RS de

uma empresa são avaliadas por sua abrangência e profundidade.

A abrangência é verificada por meio de sete temas principais: Valores,

Transparência e Governança, Público Interno, Meio Ambiente, Fornecedores,

Consumidores e Clientes, Comunidade, Governo e Sociedade, e a profundidade é

verificada a partir das ações desenvolvidas para cada tema. Essa iniciativa

envolveu a revisão de políticas em todas as áreas organizacionais, bem como os

procedimentos da gestão em relação aos públicos de interesse.

De acordo com os Indicadores Ethos, há quatro estágios que podem ser

alcançados em cada indicador. As empresas com maior desenvolvimento em RS

são aquelas que alcançam os estágios mais avançados na maioria dos temas.

No que diz respeito à performance individual de cada tema, os Indicadores

Ethos possuem uma quantidade máxima de pontos a serem alcançados. A nota,

que varia numa escala de zero a 10, é a razão entre os pontos obtidos pela

empresa e o universo de pontos disponíveis.

67 Os dados apresentados resultam da aplicação dos Indicadores Ethos de Responsabilidade Social pela própria empresa, ou seja, são resultados de auto-avaliação. O diagnóstico não tem, portanto, o caráter de certificação. Seu objetivo é proporcionar a reflexão, aprendizagem e melhoria das práticas de Responsabilidade Social Empresarial.

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109

De acordo com os resultados obtidos após o preenchimento dos indicadores,

encontrou-se o seguinte resultado (Tabela 2) para o Cardoso, por tema da RSE:

Tabela 2. Envolvimento do Supermercado Cardoso com a RSE por tema, de acordo com os Indicadores Ethos

Fonte: Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social

A partir da observação da Tabela 2, percebeu-se uma grande oportunidade

de melhoria, no que diz respeito às ações de RS do Cardoso, especialmente com

o Público Interno e os Fornecedores.

Ao analisar as informações das empresas que respondem à pesquisa, os

Indicadores Ethos fazem uma comparação do resultado da empresa com o Banco

de Dados Ethos, que é composto por todas as empresas que responderam a

versão do questionário, sendo, portanto, um processo contínuo, que é realimentado

a cada ano, a partir das informações de cada empresa, ou seja, a cada versão dos

indicadores, o banco de dados é reiniciado para a atualização dos dados.

No caso do Cardoso, com exceção dos temas Público Interno e

Fornecedores, a empresa mostrou-se com uma média superior; quando comparada

com as outras empresas do banco de dados, conforme mostra a Figura 11, a

seguir.

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110

Figura 11. Comparação do envolvimento com a RSE entre o Supermercado Cardoso e o Banco de Dados do Ethos

Fonte: Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social

Os Indicadores fazem também uma comparação da empresa com Grupo de

Benchmark, que é composto pelas empresas que obtiveram as 10 primeiras

colocações, com base na performance geral, sem especificação de atividade ou

segmento de atuação, porte da empresa ou região do País.

Quando comparado com o Grupo de Benchmark, o Cardoso apresentou-se

com grandes oportunidades de melhoria em todos os temas propostos, conforme

mostra a Figura 12 a seguir.

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111

Figura 12. Comparação do envolvimento com a RSE entre o Supermercado Cardoso e o Grupo de Benchmark Ethos

Fonte: Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social

3.2.3 Os projetos sociais do Supermercado Cardoso

O Cardoso possui diversos projetos68 em andamento, com o envolvimento

dos vários stakeholders, dentre os quais, além de outros existentes, destacam-se:

Programa de Sensibilização e Mobilização para Doação de

Sangue;

Programa de Coleta Seletiva e educação ambiental;

Programa Re-aprender para alfabetização e formação de

funcionários adultos e seus familiares;

Programa “Jovem Aprendiz”;

Programa “Valorizando a Diversidade”;

68 Disponíveis no site www.supermercadoscardoso.com.br

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112

Programa de esclarecimento de assuntos de interesse público

para a comunidade;

Projetos voluntários, dentre eles, “Sopão” e “Horta nas escolas

públicas”;

Programa de envolvimento da cadeia de fornecedores com a

gestão socialmente responsável;

Programa “Faz Atleta” (parceria com o Governo Estadual);

Programa de incentivo aos esportes com destaque para

instituição da “Corrida Solidária”, anualmente, e a criação do

Clube de Corrida “Cardoso Cooper”.

3.2.4 O reconhecimento pela gestão socialmente responsável

Diante da incorporação das práticas de RSE na sua gestão, o Cardoso tem

recebido reconhecimentos (Anexo 1) dos diversos stakeholders. Dentre os quais

destacam-se:

reconhecimento do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais

Recicláveis, por intermédio do Selo Amigo do Catador de Materiais

Recicláveis, instituído em 23 de dezembro de 2003, pelo Presidente

da República, Luiz Inácio Lula da Silva, em reconhecimento pela

valorização e inclusão do catador na coleta seletiva;

reconhecimento do Poder Público, mediante Moção de Aplausos da

Câmara Municipal de Jequié;

reconhecimento da Unidade de Coleta de Sangue de Jequié;

reconhecimentos das ONGs, da sociedade civil, da mídia, etc.

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113

Além disto, em 26 de outubro de 2006, o Supermercado Cardoso recebeu o

3° Prêmio de Responsabilidade Social no Varejo do Centro em Excelência em

Varejo da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação

Getúlio Vargas, com o projeto69 “A Inserção da Responsabilidade Social na Gestão

da Empresa”.

Esse prêmio é uma iniciativa que faz parte do Programa FGV-EAESP de

Responsabilidade Social no Varejo, que tem como objetivos mobilizar, capacitar,

reconhecer e disseminar as práticas de Responsabilidade Social de empresas e

entidades varejistas de todos os portes, setores e regiões do País.

Vale ressaltar ainda que o Cardoso participou da elaboração dos Indicadores

Ethos Setoriais para o Segmento Varejista, dando importantes contribuições na

Consulta Pública e que, atualmente, faz parte do Grupo de Trabalho para a

Construção da futura Norma ISO 26000, comentada no Capítulo 2 deste trabalho.

3.3 POPULAÇÃO E SELEÇÃO DA AMOSTRA

A população da pesquisa é constituída por todos os fornecedores do

Supermercado Cardoso, que perfazem um total de 814 empresas, de micro,

pequeno, médio e grande portes, entre indústrias de alimentos, bebidas, hipel

(higiene, perfumaria e limpeza), não-alimentos, distribuidores e atacadistas. Do

total desses fornecedores, 245 (30,5%) são do estado da Bahia e o restante de

outros estados do Brasil.

69 Disponível em www.fgvsp.br/cev/premio

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114

O critério de escolha da amostra considerou, inicialmente, todos os 245

fornecedores baianos, uma vez que os produtos comercializados desses

fornecedores representam 57,9% do faturamento da empresa.

A partir daí, considerando o volume financeiro de negócios, apresentado

num relatório de venda média mensal, foram selecionados outros 100

fornecedores. Com isso, obteve-se uma amostra de 345 empresas, representando

42,4% da população.

3.4 O INSTRUMENTO DE PESQUISA

Cada empresa pode escolher qualquer dos instrumentos de sustentabilidade

e autodiagnóstico existentes para avaliar seu grau de envolvimento com as práticas

da Responsabilidade Social, a iniciar pela sua visão a respeito dos problemas

sociais, dos seus princípios e valores e da definição da sua própria missão

empresarial, para avaliar as estratégias e traçar um planejamento da sua

participação na resolução ou minimização dos problemas sociais. Um dos

instrumentos existentes para isso, conforme visto no Capítulo 2 deste trabalho, são

os Indicadores Ethos de Responsabilidade Social.

No intuito, portanto, de cumprir os objetivos aqui estabelecidos, optou-se por

utilizar a versão dos Indicadores Ethos-SEBRAE, desenvolvida pelo Instituto Ethos

em parceria com o SEBRAE, por se tratar de um instrumento mais adequado, por

sua simplicidade e fácil compreensão, para aplicação de uma pesquisa

quantitativa, como é o caso deste trabalho; também, foi considerado o fato de ser

um instrumento testado e já em uso.

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115

O instrumento de pesquisa contou com duas partes: a primeira refere-se a

um questionário aberto (Apêndice A), que teve por objetivo coletar o perfil das

empresas pesquisadas. Para isso, foram inseridas perguntas para investigação de

variáveis, como faturamento e número de funcionários, que permitiram a

classificação segundo o porte da empresa, bem como endereço completo e

segmento de atuação, que permitiram a classificação segundo o estado e o

segmento, respectivamente, além de perguntas como razão social, pessoa de

contato, etc. A segunda parte refere-se ao questionário fechado (Apêndice B),

adaptado dos Indicadores Ethos-SEBRAE, para o tratamento do tema RSE na

gestão da empresa.

3.4.1 A adaptação do instrumento

Vale ressaltar que, por tratar-se de um tema ainda relativamente novo e

pouco difundido entre a maior parte das empresas, especialmente entre as micros,

pequenas e médias empresas, houve a necessidade de adaptar-se o instrumento

original, no sentido de facilitar a compreensão por todos.

Assim sendo, buscou-se reconstruir as afirmativas de cada questão, no

sentido de facilitar o entendimento por parte de todas as empresas que

participaram da amostra, independentemente do seu grau de afinidade com o tema

Responsabilidade Social Empresarial. No entanto, é importante mencionar que as

eventuais substituições de terminologias e reconstrução das afirmativas não

modificaram o sentido das questões.

A ferramenta original é constituída por 37 questões, refletidas nos vários

relacionamentos da empresa, nos seus valores, na transparência com que ela lida

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116

com suas obrigações, na forma como trata o seu público interno, na forma como

trata o meio ambiente, no tipo de relação que tem com seus fornecedores,

consumidores e clientes, no tipo de relacionamento que busca ter com seus

vizinhos, sua cidade (na comunidade a qual pertence) e, finalmente, no tipo de

contribuição que oferece ao influir no governo e na sociedade.

Com o objetivo de ampliar as possibilidades de um melhor diagnóstico, sete

outras questões foram adicionadas à ferramenta original: uma questão para cada

um dos sete temas abordados, totalizando assim 44 questões, distribuídas nos sete

temas da RSE. Cada questão possui uma afirmação, que propõe a reflexão sobre

qual o nível de adequação de determinada prática na gestão da empresa, com

quatro opções de respostas:

não: quando a situação retratada não estiver inserida na

prática da empresa;

em parte: quando apenas alguns dos fatores retratados na

situação fizerem parte do cotidiano da empresa;

em grande parte: quando a situação retratar uma condição

próxima da realidade da empresa;

sim: quando a situação descrita fizer parte integral da realidade

da empresa.

A ferramenta original conta ainda com um espaço para que a empresa possa

fazer anotações, no sentido de traçar um planejamento estratégico para definição

de formas adequadas de gestão e assim alcançar o maior estágio proposto na

situação abordada na questão. Por tratar-se de um diagnóstico, sem a intenção

inicial de promover a discussão e o planejamento das ações de implementação,

individualmente, com cada empresa, essa parte da ferramenta não foi considerada.

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117

3.5 A COLETA E O TRATAMENTO DOS DADOS

Os questionários, junto com uma carta de apresentação (Apêndice C), foram

encaminhados via Correios, por carta registrada, para a maioria dos fornecedores,

com exceção dos fornecedores da cidade de Jequié, para os quais os

questionários foram entregues pessoalmente. O processo, entre o envio da

primeira carta e o recebimento da última, durou entre os dias 6 de março e 31 de

maio de 2006.

Esse procedimento resultou em um retorno efetivo de 158 questionários dos

345 enviados, sendo que 17 foram considerados inválidos, por apresentar

problemas, como erros de preenchimento, questões em branco, etc. Dessa forma,

a pesquisa contou com 141 questionários válidos.

Do total de questionários válidos, 98 foram de fornecedores baianos,

portanto, 40% em um universo de 245 fornecedores baianos e 43 foram

fornecedores de outros estados, representando 7,56%, em um universo de 569

fornecedores de outros estados.

Os questionários, uma vez respondidos e após terem a sua consistência

verificada, foram digitados e tabulados com o auxílio do software SPSS.

A pontuação para cada questão, apresentando a variação de pontos, segue

tabela abaixo.

Tabela 3. Situação retratada para cada tipo de resposta x pontos obtidos

Resposta Situação Pontos obtidosNão Quando a situação retratada não estiver inserida

na prática da empresa. 0

Em parte Quando apenas alguns dos fatores retratados na situação fizerem parte do cotidiano da empresa.

1

Em grande parte Quando a situação retratar uma condição próxima da realidade da empresa.

2

Sim Quando a situação descrita fizer parte integral da realidade da empresa.

3

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118

Cada tema poderá alcançar uma pontuação máxima, de acordo com o

número de questões, ou seja, multiplicando-se o número de questões por três, que

é o máximo de pontos adquiridos para cada questão.

Nº Tema Número de questões Pontos (máximo) 1 Valores e Transparência 5 152 Público Interno 10 303 Meio Ambiente 4 124 Fornecedores 6 185 Consumidores – Clientes 5 156 Comunidade 9 277 Governo e Sociedade 5 15Ttl 44 132

Os pontos obtidos em cada questão do tema (que podem ser 0,1, 2 ou 3, de

acordo com a resposta dada) foram somados. Uma vez que o número de questões

é variável e que se propõe que, nesta pesquisa, todos os temas tenham o mesmo

peso na avaliação, a soma dos pontos de cada tema foi modificada, com a

aplicação do fator de correção indicado na Tabela 5, no sentido de transformar o

total de pontos por tema em nota, numa escala de zero a 10, para facilitar a análise

dos resultados.

A soma das notas de cada tema resultou numa nota geral da empresa,

numa escala de zero a 70, conforme mostra a tabela abaixo.

Tabela 4. Máximo de pontos obtidos por tema

Tabela 5. Fator de correção por tema

Nº Tema Número de questões

Pontos (máximo)

Fator de correção

Nota máxima (pontos x fator de correção)

1 Valores e Transparência 5 15 0,667 10,02 Público Interno 10 30 0,333 10,03 Meio Ambiente 4 12 0,833 10,04 Fornecedores 6 18 0,556 10,05 Consumidores – Clientes 5 15 0,667 10,06 Comunidade 9 27 0,370 10,07 Governo e Sociedade 5 15 0,667 10,0Ttl 44 132 70,0

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119

O tratamento dos dados originou resultados que foram avaliados70, segundo

os critérios abaixo.

Nota geral por tema: varia de zero a 10 pontos. Nessa escala, quanto maior

for a nota, maior será o envolvimento das empresas com o tema em discussão. O

somatório da nota dos sete temas propostos irá determinar a nota final da empresa.

Nota geral da empresa ou do grupo de empresas x grau de

envolvimento com a RSE: varia de zero a 70 pontos, sendo que, para cada

resultado encontrado, foram propostos os seguintes comentários:

Grau 1 (de zero a 10 pontos) – a empresa, ou o grupo de empresas,

guarda grandes oportunidades de melhoria, pois ainda não possui

uma gestão voltada para a RSE. Sugere-se a utilização dos diversos

instrumentos de sustentabilidade, como auxílio para planejar uma

forma estruturada de aumentar a qualidade e a extensão das ações

voltadas para a RSE;

Grau 2 (de 11 a 35 pontos) – a empresa, ou grupo de empresas, já

realiza ações voltadas para a RSE. Sugere-se uma análise mais

detalhada de cada tema, verificando as pontuações mais altas e o que

contribui para este resultado, bem como as menores pontuações e as

oportunidades de melhoria;

Grau 3 (de 36 a 60 pontos) – a empresa, ou grupo de empresas, já

assimilou os conceitos de RSE e tem clareza dos compromissos

necessários para uma atuação socialmente responsável, que trazem

aspectos positivos para o negócio, por meio de um relacionamento

mais próximo e produtivo com as partes envolvidas. As empresas,

nesta etapa, possuem maturidade para aprofundar alguns aspectos

70 Dados avaliados de acordo com a ferramenta original.

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120

dessa atuação. Sugere-se uma análise dos temas, individualmente,

para encontrar as estratégias mais adequadas, no sentido de

aperfeiçoá-las, utilizando um planejamento de ações a médio e longo

prazos.

Grau 4 (de 61 a 70 pontos) – as empresas, neste grau de

envolvimento com o tema RSE, estão alinhadas com os temas

emergentes de gestão e utilizam a RSE para atingir seus objetivos.

Neste estágio, torna-se viável a busca de parcerias e de alianças

intersetoriais, como forma de potencializar a atuação da empresa,

colaborando e incentivando outras organizações a adotarem as

práticas de RSE, na busca de um objetivo comum: o desenvolvimento

sustentável da sociedade e, portanto, da empresa.

Os resultados encontrados estão apresentados no capítulo seguinte.

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121

4 AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS

Neste capítulo serão apresentados os resultados da pesquisa, divididos em

duas partes: a primeira parte destacará o perfil das empresas que participaram da

amostra e a segunda apresentará a análise e a interpretação dos dados e as

informações coletadas entre os fornecedores do Supermercado Cardoso.

4.1 PERFIL DA AMOSTRA

Para atender aos objetivos específicos desta pesquisa, encontrou-se o

seguinte perfil, das 141 empresas que participaram da amostra:

Quanto ao porte – para classificação do porte da empresa, utilizou-se o

critério adotado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social –

BNDES71. A partir daí, obteve-se um resultado de 25,53% da amostra para

microempresas; 23,40% para empresas de pequeno porte; 22,70% para empresas

de médio porte e 28,37% para empresas de grande porte, conforme mostra a

Figura 13.

23,4%

28,4% 25,5%

22,7%

MicroPequena Média

Grande

Figura 13. Classificação das empresas segundo o porte 71 A classificação do BNDES para porte se dá da seguinte forma: faturamento anual até R$ 1.200.000,00, microempresa; entre R$ 1.200.000,00 e R$ 10.500.000,00, pequena empresa; entre R$ 10.500.000,00 e R$ 60.000.000,00, média empresa, e, acima disto, grande empresa.

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122

Quanto ao estado de atuação – das 141 empresas que responderam à

pesquisa, 98 são do estado da Bahia e 43 são de outros estados do Brasil.

Participaram da amostra, de forma não-probabilística, além da Bahia, os estados

de Alagoas, Goiás, Minas Gerais, Pernambuco, Paraná, Rio de Janeiro, Santa

Catarina e São Paulo. Sendo que a Bahia representou 69,5% da amostra,

conforme mostra a Figura 14.

20,6%

3,5%1,4%

69,5%

5,0%Bahia

Estados do Sudeste

Estados do Sul

Outros estados do Nordeste

Estados do Centro-Oeste

Figura 14. Classificação das empresas segundo o estado de atuação

Quanto ao segmento de atuação – as empresas pesquisadas foram

classificadas pelos segmentos: alimentos (inclusive perecíveis, congelados e

resfriados); HIPEL (higiene, perfumaria e limpeza do lar); bebidas; não-alimentos

(bazar, têxtil e eletroportátil) e distribuidores e atacadistas. Vale ressaltar que esta

definição de grupos de empresas está de acordo com os critérios mercadológicos

de classificação adotados pelo Supermercado Cardoso. A maior parte das

empresas que participaram da pesquisa pertence ao segmento de alimentos, como

mostra a Figura 15.

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123

58,9%

2,1%

15,6%

12,8%

10,6% Alimentos

Bebidas

Hipel

Não-alimentos

Distribuidores e atacadistas

Figura 15. Classificação das empresas segundo o segmento de atuação

Em síntese, pode-se notar que a amostra pesquisada foi composta, de forma

equilibrada, por empresas de todos os portes, segundo a classificação do BNDES,

com matrizes presentes em 13 estados da federação, sendo que a maioria, 69,5%,

são empresas baianas que atuam nos segmentos de alimentos, bebidas, hipel,

não-alimentos, além de distribuidores e atacadistas.

Conclui-se, portanto, que, pelas características apresentadas, a amostra

pode ser considerada adequada, para responder as questões tratadas nesta

pesquisa.

4.2 ANÁLISE DOS DADOS

O processo de análise foi iniciado com a preparação do banco de dados,

utilizando-se o SPSS – Statistical Package for Social Science –, versão 11.5. A

estratégia de pesquisa é caracterizada pelo uso de dados quantitativos e emprego

de procedimentos estatísticos descritivos e inferenciais. Foram realizadas análises

descritivas simples (freqüências e médias) e análises para testar a associação

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124

entre variáveis categóricas e variáveis contínuas (teste de Student e análise de

variância). Foram consideradas estatisticamente significantes as diferenças que

apresentaram um p < 0,05.

Para a análise dos resultados, foi feita uma comparação de desempenho por

tema. Com essa reflexão, pôde-se avaliar a qualidade das relações das empresas

pesquisadas em cada um dos principais aspectos da RSE. Fez-se então uma

análise do desempenho global da amostra, considerando o total geral alcançado

pela soma das notas de cada tema.

O resultado apresenta uma classificação de quatro níveis para a amostra,

conforme propõe a ferramenta original, onde será descrito o grau de envolvimento

das empresas pesquisadas quanto ao tema RSE.

4.2.1 Apresentação dos dados

Os dados obtidos nesta pesquisa serão apresentados abaixo, considerando

as sete temáticas da Responsabilidade Social propostas nos Indicadores Ethos. A

intenção é buscar uma compreensão mais aprofundada sobre o real cenário da

RSE encontrado na cadeia de fornecedores do Supermercado Cardoso. Para isso,

serão retomados os objetivos específicos desta pesquisa, de forma a facilitar a

compreensão dos dados obtidos.

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125

4.2.1.1 Resposta ao primeiro objetivo específico

Objetivo: analisar o grau de envolvimento dos fornecedores baianos em

relação à RSE, à luz das sete temáticas da RSE propostas pelo Instituto Ethos de

Empresas e Responsabilidade Social, estabelecendo uma comparação do

envolvimento com o tema entre os fornecedores baianos e de outros estados do

Brasil;

Considerando este objetivo, vale ressaltar que os dados obtidos serão

apresentados abaixo, a partir das práticas evidenciadas para cada um dos temas,

tendo uma escala de zero a 10 como referência, sendo que a nota zero representa

nenhum envolvimento com o tema, enquanto que a nota 10 representa total

envolvimento com o tema, conforme mostra a Figura 16.

Figura 16. Comparação entre o envolvimento dos fornecedores diante das sete temáticas de Responsabilidade Social Empresarial propostas pelo Instituto Ethos

6,3

7,7

7,5

6,4

9,2

6,1

6,0

0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0

Valores e Transparência

Público Interno

Meio Ambiente

Fornecedores

Consumidores - clientes

Comunidade

Governo e Sociedade

7,0

Percebe-se, por esta figura, que o grau de envolvimento com a RSE na

cadeia de fornecedores do Supermercado Cardoso, considerando uma escala de

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126

zero a 10, obteve uma média 7,0, destacando a relação com Consumidores e

Clientes com maior envolvimento (nota 9,2), enquanto que a relação com Governo

e Sociedade ficou com a nota mais baixa (nota 6,0). Os comentários de cada um

dos sete temas serão feitos a seguir.

Ao comparar a relação dos fornecedores baianos (69,5% da amostra) com

os fornecedores dos outros estados do Brasil, percebe-se que as práticas

relacionadas à Responsabilidade Social no estado da Bahia receberam, em todos

os temas propostos, nota inferior às empresas dos demais estados, como mostra a

Figura 17.

Figura 17. Comparação entre o envolvimento de fornecedores da Bahia, de outros estados e geral, diante das sete temáticas de Responsabilidade Social Empresarial propostas pelo Instituto Ethos

6,7

5,85,6

9,1

6,26,97,4

5,66,3

7,1

9,78,7

8,27,9

6,06,1

9,2

6,4

7,57,7

6,3

0,0

2,0

4,0

6,0

8,0

10,0

Valores e

Tran

sparê

ncia

Públic

o Inte

rno

Meio Ambie

nte

Forne

cedo

res

Consu

midores

- clie

ntes

Comun

idade

Govern

o e Soc

iedad

e

7,0 Bahia Outros estados Geral

1. Valores e Transparência (p < 0,001): os fornecedores dos outros estados são mais envolvidos (média de 7,9 pontos, em uma escala de 10) do que os da Bahia (média de 5,6).

2. Público Interno (p < 0,05): os fornecedores dos outros estados são mais envolvidos (média de 8,2 pontos, em uma escala de 10) do que os da Bahia (média de 7,4).

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127

3. Meio Ambiente (p < 0,001): os fornecedores dos outros estados são mais envolvidos (média de 8,7 pontos, em uma escala de 10) do que os da Bahia (média de 6,9).

4. Fornecedores: não foram encontradas diferenças estatisticamente significantes entre os fornecedores dos outros estados (média de 6,7 pontos, em uma escala de 10) e os da Bahia (média de 6,2).

5. Consumidores – Clientes: (p < 0,01): os fornecedores dos outros estados são mais envolvidos (média de 9,7 pontos, em uma escala de 10) do que os da Bahia (média de 9,1).

6. Comunidade: (p < 0,01): os fornecedores dos outros estados são mais envolvidos (média de 7,1 pontos, em uma escala de 10) do que os da Bahia (média de 5,6).

7. Governo e Sociedade: não foram encontradas diferenças estatisticamente significantes entre os fornecedores dos outros estados (média de 6,3 pontos, em uma escala de 10) e os da Bahia (média de 5,8).

A seguir, serão discutidos os resultados encontrados em cada tema. 4.2.1.1.1 Valores e Transparência

A noção de Responsabilidade Social Empresarial decorre da compreensão

de que a ação das empresas deve, necessariamente, buscar promover benefícios

para a sociedade, propiciar a realização profissional dos empregados, promover

benefícios para os parceiros e para o meio ambiente e trazer retorno para os

investidores. A adoção de uma postura clara e transparente, no que diz respeito

aos objetivos e compromissos éticos da empresa, fortalece a legitimidade social de

suas atividades, refletindo positivamente no conjunto de suas relações. Os valores

e princípios éticos formam a base da cultura de uma empresa, orientando sua

conduta e fundamentando sua missão social.

Dessa forma, este tema visou diagnosticar se os fornecedores possuíam

missão e valores, bem como um código de conduta definido e difundido entre os

públicos de interesse; se possuíam uma política pautada em princípios éticos,

contra a prática de pagamentos ou recebimentos irregulares, e se tinham

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128

informações sobre a importância da elaboração e divulgação de um Balanço

Social.

Os resultados encontrados, como mostra a Figura 18, demonstraram que

ainda há uma grande oportunidade de desenvolvimento deste tema (Q1),

principalmente entre os fornecedores baianos, com a criação e o desenvolvimento

de códigos de conduta. Além disto, cabe destacar, que a questão dois (Q2)

apresentou a menor média dentro do tema, evidenciando que as empresas

precisam divulgar amplamente, entre os seus parceiros, o seu código de conduta

e/ou sua declaração de valores, incentivando todos a vivenciar o conteúdo do

código, uma vez que somente a criação do código, sem a efetiva implantação, não

surtirá efeito na gestão (Quadro 3).

Enquanto as empresas do estado da Bahia apresentaram nota 5,6, as

empresas dos outros estados apresentaram nota 7,9, numa escala de zero a 10

(Figura 17).

Figura 18. Comparação entre o envolvimento dos fornecedores da Bahia, de outros estados e geral, diante do tema “Valores e Transparência”.

2,12,12,2

1,31,4

2,52,62,6

1,9

2,42,22,32,3

1,51,7

0,0

1,0

2,0

3,0

Q1 Q2 Q3 Q4 Q5

2,0

BahiaOutros estadosGeral

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129

QUADRO 3. QUESTÕES REFERENTES AO TEMA VALORES E TRANSPARÊNCIA 1. A sua empresa possui algum documento que esclareça quais são as condutas e os

comportamentos incentivados por ela no que se refere às relações pessoais e comerciais (por exemplo: uma lista de “Valores e Princípios” que explicite os valores da empresa ou um “Código de Conduta Ética” que especifique a conduta esperada, segundo os quais ela espera estabelecer seu relacionamento com funcionários, clientes, comunidade, fornecedores e parceiros)?

2. O documento citado acima, que pode ser um “Código de Ética” ou uma “Declaração de Valores da Organização”, é de amplo conhecimento de funcionários, clientes, fornecedores e outros parceiros e, além disto, esses públicos demonstram familiaridade no dia-a-dia com os temas e os pressupostos contemplados, aplicando-os espontaneamente?

3. O documento mencionado no item anterior proíbe expressamente a prática de pagamentos ou recebimentos irregulares que tenham como objetivo facilitar negócios, influenciar decisões em benefício da empresa ou induzir pessoas a concederem permissões indevidas (por exemplo: proíbe propinas, comissões ilícitas e favores pessoais, estabelecendo regras claras para o recebimento de presentes, brindes, etc.)?

4. O referido documento contempla, de alguma forma, o modo de relacionamento ético e transparente com o governo (por exemplo: proibindo expedientes como “Caixa dois”, sonegações, explicitando transparência nos registro, em geral e nos balanços)?

5. A empresa tem informações sobre o que significa Balanço Social e acredita que esse instrumento pode ajudá-la a medir o impacto de suas operações sobre as pessoas e o meio ambiente e a divulgar seus compromissos futuros em relação a esses temas?

4.2.1.1.2 Público Interno

Grande parte das empresas inicia o processo de desenvolvimento de suas

ações de RS a partir do seu público interno, investindo e valorizando seus

colaboradores. A empresa socialmente responsável não se limita a respeitar os

direitos dos trabalhadores, consolidados na legislação trabalhista e nos padrões da

OIT (Organização Internacional do Trabalho), ainda que este seja um pressuposto

indispensável. Ela cria benefícios extras, com o intuito de melhorar as condições de

trabalho e favorecer o desenvolvimento pessoal e profissional. Sendo assim, a

negociação com as entidades sindicais é respeitada, objetivando solucionar

demandas coletivas; além disso, busca-se o comprometimento dos funcionários,

com o auxílio, por exemplo, de programas de gestão participativa e participação

nos resultados.

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130

Para avaliação deste tema, os indicadores consideram, como fundamental, o

diálogo e a participação; o respeito ao indivíduo, compreendendo o

compromisso com o futuro das crianças e a valorização da diversidade; o respeito

ao trabalhador, compreendendo o comportamento diante das demissões, o

compromisso com o desenvolvimento profissional e a empregabilidade, o cuidado

com a saúde, a segurança e as condições de trabalho e a preparação para

aposentadoria.

Este tema teve por objetivo saber se as empresas mantêm um canal aberto

de comunicação com os funcionários; se oferecem um ambiente físico agradável e

seguro; se incentivam os cuidados com higiene e saúde; se oferecem benefícios

adicionais que se estendem às famílias; se divulgam os critérios de seleção e se

dão preferência ao aproveitamento de funcionários internos; se valorizam a

diversidade do ser humano; se oferecem canais de relacionamento com sindicatos;

se incentivam o desenvolvimento profissional dos funcionários e se facilitam o

acesso à informação como forma de desenvolvimento profissional.

Os resultados demonstraram que a cadeia de fornecedores baianos, tendo

apresentado nota 7,4, é menos envolvida com o Público Interno do que os

fornecedores de outros estados (8,2). Este fato fica evidente, pela Figura 19, nas

questões relacionadas aos benefícios adicionais extensivos às famílias dos

funcionários (Q7) e ao acesso às informações entre eles (Q14).

De acordo com o modelo de RSE proposto por Melo Neto & Froes (2002),

visto no capítulo 2 deste trabalho, a dimensão interna da RS tem seu foco voltado

para as ações com o seu público interno, visando primeiramente o bem-estar dos

seus empregados, para então, fortalecer sua atuação junto a comunidade.

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131

Sendo assim, um ponto que chamou atenção quanto a relação das

empresas com o público interno está relacionado às dependências físicas das

empresas, no sentido de facilitar o deslocamento e a convivência de pessoas com

necessidades especiais (Q11). A média geral para essa questão foi 1,4, numa

escala de zero a 3, sendo que os fornecedores baianos tiveram nota 1,3, enquanto

que para os outros estados a nota foi 1,8, como mostra a Figura 19.

Este resultado indica que as empresas que possuem em seu quadro de

colaboradores, funcionários com necessidades especiais, precisam desenvolver

recursos que facilitem a convivência social destas pessoas no ambiente de

trabalho.

Figura 19. Comparação entre o envolvimento dos fornecedores da Bahia, de outros estados, diante do tema “Público Interno”. 2,3

2,52,3 2,22,4

1,9

2,2

2,6

1,3

2,82,62,5

1,7

2,52,5

1,8

2,82,82,7

2,4

2,8

2,32,12,2

2,5

1,4

2,82,72,5

1,9

2,6

0,0

1,0

2,0

3,0

Q6 Q7 Q8 Q9 Q10 Q11 Q12 Q13 Q14 Q15

BahiaOutros estadosGeral

QUADRO 4. QUESTÕES REFERENTES AO TEMA PÚBLICO INTERNO 6. Além de cumprir as obrigações determinadas por lei, a empresa se preocupa em

oferecer a seus funcionários um ambiente físico agradável e seguro, busca incentivar os cuidados com higiene e saúde e está aberta a críticas e sugestões relativas a esses aspectos (por exemplo: aboliu o fumo em locais de trabalho, incentiva os funcionários a praticarem esportes, orienta-os quanto aos cuidados com a postura corporal durante as atividades profissionais, oferece instalações em boas condições de uso, etc.)?

7. A sua empresa oferece benefícios adicionais que se estendem à família do funcionário, como plano de saúde familiar, cesta básica, orientação sobre preservação de doenças, divulgação de campanhas de vacinação, etc.?

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132

8. Na contratação de profissionais, a empresa divulga os critérios que vai utilizar na seleção dos candidatos, como escolaridade, tempo de experiência, conhecimentos exigidos, etc. e dá prioridade ao aproveitamento de funcionários internos para evitar demissões?

9. Os critérios utilizados na seleção de pessoal são isentos de práticas discriminatórias em relação a qualquer dos temas: gênero, raça, opção sexual, idade e crenças religiosas ou políticas, bem como a portadores de deficiência (por exemplo: ao anunciar vagas, a empresa não utiliza termos como “idade mínima 40 anos”, “boa aparência’, “sexo masculino”, “sexo feminino”, etc.)?

10. Na sua empresa, não são permitidas práticas discriminatórias, o que pode ser percebido pelas relações existentes no atual quadro de funcionários (por exemplo: há mulheres, portadores de deficiência, negros, colaboradores com mais de 45 anos, trabalhando atualmente na empresa e a proporção destes grupos em relação ao quadro total de funcionários caracteriza que realmente não há discriminação)?

11. As dependências da empresa possuem recursos que facilitam o deslocamento e a convivência de pessoas com deficiência motora, auditiva e visual (por exemplo: rampas, avisos de segurança em braille, sinais luminosos e sonoros em áreas de circulação de veículos ou maquinas, etc.)?

12. Como forma de demonstrar respeito ao indivíduo e transparência em suas relações com os empregados, a empresa entende que é direito do funcionário participar de sindicatos e associações de classe e permite que representantes sindicais compareçam à empresa para discutir questões referentes aos interesses dos funcionários?

13. A empresa valoriza e incentiva o desenvolvimento profissional de seus funcionários e para isso promove / patrocina tanto cursos que buscam capacitá-los para suas atividades atuais quanto outros que proporcionam conhecimentos para oportunidades futuras (por exemplo: possui programa de treinamento, colabora com a realização de estágios, concede incentivo aos funcionários matriculados em cursos de todos os níveis, etc.)?

14. A sua empresa facilita o acesso à informação como forma de desenvolvimento pessoal e profissional. Diante disso, procura estimular seus funcionários a se atualizarem com recursos da própria empresa (por exemplo: incentiva a leitura e torna disponíveis jornais e revistas e acesso a Internet em horários previamente estabelecidos)?

15. A empresa possui mecanismos para ouvir, avaliar e acompanhar posturas, preocupações, sugestões e críticas dos funcionários, com o objetivo de agregar novos aprendizados e conhecimentos, e além disto estimula e reconhece sugestões dos funcionários para melhoria dos processos internos?

4.2.1.1.3 Meio Ambiente

A empresa relaciona-se com o meio ambiente, causando impactos de

diferentes tipos e intensidades. Uma empresa ambientalmente responsável procura

minimizar os impactos negativos e amplificar os positivos. Uma empresa que

possui consciência ambiental investe em projetos de compensação pelo uso dos

recursos naturais, apóia e desenvolve programas educativos no local onde está

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133

inserida, não economiza recursos em tecnologia de ponta e prima pela utilização

de materiais recicláveis ou biodegradáveis.

Dentro desse aspecto, o objetivo deste tema foi diagnosticar se os

fornecedores do Supermercado Cardoso possuem uma política de coleta seletiva

de materiais recicláveis, de redução de consumo de papel, energia e água; se

entendem e avaliam o impacto dos seus processos e produtos no meio ambiente;

se promovem a educação ambiental para os funcionários e familiares e se

procuram adquirir soluções tecnológicas ambientalmente corretas.

Os resultados apontaram que os fornecedores do Supermercado Cardoso

tiveram uma nota média geral de 7,5 para este tema, sendo que, no caso dos

fornecedores do estado da Bahia, a nota foi de 6,9, demonstrando um menor

envolvimento com o tema Meio Ambiente, quando comparados aos fornecedores

dos outros estados (8,7).

Há, perceptivelmente, observando-se a Figura 20, uma oportunidade de

melhoria no tema, principalmente no que diz respeito à promoção da educação

ambiental com o público interno (e seus familiares), mediante, por exemplo,

campanhas de redução de consumo de energia, papel e água, reciclagem de

materiais, etc. (Q18). Cabe destacar, no entanto, que, apesar disto, as empresas já

conhecem e avaliam o impacto dos seus produtos no meio ambiente (Q17). É

preciso, portanto, mais ações que contribuam para a preservação do meio-

ambiente, com a participação e o envolvimento de todos os parceiros da

organização.

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134

Figura 20. Comparação entre o envolvimento dos fornecedores da Bahia, de outros estados e geral, diante do tema “Meio Ambiente”

2,2

1,8

2,42,1

2,8

2,2

2,92,7

2,4

1,9

2,52,3

0,0

1,0

2,0

3,0

Q16 Q17 Q18 Q19

BahiaOutros estadosGeral

2,3

QUADRO 5. QUESTÕES REFERENTES AO TEMA MEIO AMBIENTE

16. Nas dependências da empresa já foram implantadas medidas que visam preservar o meio ambiente, como, por exemplo: coleta seletiva de lixo (existem recipientes identificados para papel, vidro, metal, plástico e material orgânico), redução do consumo de energia (melhoria na iluminação natural, aparelhos eletrônicos de menor consumo de energia, etc.), redução no consumo de papel (utilizam-se a frente e o verso das folhas), redução no consumo de água (torneiras com fechamento automático, etc), orientação da política de compras que não prejudique o meio ambiente?

17. A empresa conhece, entende e avalia o impacto de seus produtos no meio ambiente (por exemplo: controla os impactos ambientais no que se refere à emissão de poluentes, de erosão do solo, de consumo de energia, de água e combustível, etc.)?

18. Para a empresa e para a comunidade, uma das formas mais efetivas de reduzir esses impactos é promover educação ambiental para os funcionários e seus familiares. Para isto, realiza atividades que propiciam esse conhecimento (por exemplo: campanhas para reduzir o consumo de água e energia; reciclagem de materiais; apoio a iniciativas e projetos voltados para a educação ambiental)?

19. A empresa procura adquirir conhecimento sobre inovações tecnológicas que sejam “ambientalmente corretas” e procura incorporá-las aos processos de produção?

4.2.1.1.4 Fornecedores

A empresa socialmente responsável incentiva seus fornecedores a serem

também socialmente responsáveis e trabalha pelo aprimoramento de suas relações

de parceria.

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135

A Responsabilidade Social da empresa em relação a seus fornecedores

começa no processo de seleção destes e leva em consideração alguns critérios

essenciais, como os padrões de conduta e os procedimentos adotados na relação

com os trabalhadores e com o meio ambiente externo.

Sendo assim, o objetivo deste tema foi verificar o grau de envolvimento da

cadeia de fornecedores do Supermercado Cardoso com os seus respectivos

fornecedores, avaliando se as empresas fornecedoras possuem políticas para a

erradicação do trabalho infantil ou escravo; se procuram conhecer os princípios e

as políticas de RSE, antes de iniciar um relacionamento com os fornecedores; se

orientam os seus fornecedores a seguirem os princípios da RSE e se dispõem a

ajudar; se verificam as condições proporcionadas pelos fornecedores aos próprios

funcionários e se buscam fornecedores em cooperativas, associações de bairros e

projetos de geração de renda.

Os resultados encontrados não apresentaram diferenças estatisticamente

significantes entre os fornecedores da Bahia e os dos outros estados.

Diferentemente dos outros temas apresentados até o momento, a média geral para

esse público foi baixa, tanto por conta dos fornecedores da Bahia como os dos

outros estados.

As questões 23, 24 e 25 (Quadro 6) chamaram atenção por terem

apresentado uma média inferior à média geral do tema (2,0). Isto permite inferir que

as empresas precisam, dentro do possível, buscar fornecedores em cooperativas,

associações de bairros e projetos de geração de renda; dedicar uma maior atenção

à orientação dos seus fornecedores quanto ao alinhamento com os princípios da

RSE, dispondo-se, inclusive, a ajudá-los na implantação destes princípios.

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136

Cabe ressaltar que é preciso haver legitimidade na gestão socialmente

responsável e isto somente poderá acontecer se toda a cadeia de suprimentos

estiver também envolvida com o tema RSE. Não adianta trabalhar para a

erradicação do trabalho infantil ou escravo na cadeia produtiva, se, ao receber uma

proposta comercial atraente, por exemplo, não se observam questões como essas

ou outras relacionadas a RSE. A Figura 21 apresenta os resultados encontrados.

Figura 21. Comparação entre o envolvimento dos fornecedores da Bahia, de outros estados e geral, diante do tema “Fornecedores”

1,41,61,7

2,4

1,9

2,5

1,71,61,7

2,32,3

2,7

1,51,61,7

2,42,1

2,6

0,0

1,0

2,0

3,0

Q20 Q21 Q22 23 Q24 Q25

2,0BahiaOutros estadosGeral

Q

QUADRO 6. QUESTÕES REFERENTES AO TEMA FORNECEDORES

20. Nas relações com os fornecedores, a empresa possui políticas com o objetivo de contribuir para a erradicação do trabalho forçado, da mão-de-obra infantil e não permite a utilização de mão-de-obra escrava ou infantil na sua cadeia de suprimentos?

21. Quando inicia relacionamento com um novo fornecedor, a empresa se interessa em conhecer seus princípios, sua política de Responsabilidade Social e se informa se ele é cumpridor da legislação trabalhista, previdenciária e fiscal?

22. Quando um fornecedor apresenta uma boa proposta comercial (qualidade, preço e prazo), mas não comprova seu respeito à legislação e aos direitos humanos (como atitudes discriminatórias de qualquer natureza, utilização de mão-de-obra infantil, má condições de trabalho, etc.), a empresa prefere escolher outro fornecedor, mesmo com proposta comercial menos atraente?

23. A empresa procura orientar os fornecedores a seguirem seus princípios de Responsabilidade Social e se dispõe a ajudá-los na sua implantação (por exemplo: informa suas ações aos fornecedores, orienta-os pessoalmente ou envia funcionários para colaborar com eles, incentivando o intercâmbio entre as empresas)?

24. A empresa verifica constantemente as condições proporcionadas pelos fornecedores aos próprios funcionários (por exemplo: realiza visitas para conhecer o ambiente de trabalho oferecido pelo fornecedor aos funcionários, etc.)?

25. A empresa procura buscar fornecedores em cooperativas, associações de bairro e projetos de geração de renda (por exemplo: programa de primeiro emprego, cooperativas de artesãos, etc.)?

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137

4.2.1.1.5 Consumidores – Clientes

A Responsabilidade Social em relação aos clientes e consumidores exige da

empresa o investimento permanente no desenvolvimento de produtos e serviços

confiáveis, que minimizem os riscos de danos à saúde dos usuários e das pessoas

em geral.

É preciso que consumidores e clientes saibam dos riscos que um

determinado produto pode oferecer a sua saúde, por isto, a empresa deve oferecer,

por exemplo, um serviço de atendimento direto, para esclarecer possíveis dúvidas

quanto aos produtos comercializados, ou seja, deve alinhar-se aos interesses dos

clientes e buscar satisfazer suas necessidades.

Este tema teve como objetivos verificar a relação das empresas pesquisadas

com seus consumidores, no que diz respeito à comunicação; informações

transparentes a respeito dos produtos comercializados; qualidade do atendimento;

propaganda ética e respeito à preservação da saúde, pesquisando e divulgando

danos potenciais que seus produtos podem causar.

Os resultados encontrados demonstraram que, de forma geral, a cadeia de

fornecedores do Supermercado Cardoso está atenta quanto a sua relação com os

seus consumidores – clientes. Apesar do resultado (Figura 22) ter apontado os

fornecedores dos outros estados ainda mais envolvidos (nota 9,7) com o tema do

que os fornecedores do estado da Bania (nota 9,1), na média geral, o grupo teve

nota 9,2. Isto se dá pelo fato dos consumidores estarem atentos às questões

sociais da empresa, tanto pelos meios de comunicação, representadas por uma

evolução educacional e tecnológica em que as distâncias se eliminam e as trocas

de informações se multiplicam, como pela própria consciência cidadã que se instala

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138

neste início de século, caracterizada por uma evolução cívica, em que milhares de

pessoas organizadas em todo o mundo, por meio de associações e organizações

não-governamentais, defendem seus direitos e interesses, como a promoção

social, proteção ambiental, etc.

O consumidor, cada vez mais bem informado e consciente do seu papel na

sociedade, começa a exigir, também das empresas, uma postura socialmente

responsável diante das questões sociais, econômicas e ambientais no planeta

Terra.

Figura 22. Comparação entre o envolvimento dos fornecedores da Bahia, de outros estados e geral, diante do tema “Consumidores - Clientes”

2,5

2,82,92,7

2,8 2,92,83,02,92,9

2,62,82,92,72,9

0,0

1,0

2,0

3,02,8

BahiaOutros estadosGeral

Q26 Q27 Q28 Q29 Q30

QUADRO 7. QUESTÕES REFERENTES AO TEMA CONSUMIDORES – CLIENTES 26. A empresa respeita o cliente ou consumidor e entende que deve ter com ele uma

comunicação efetiva. Em conseqüência disso, seus produtos trazem sempre informações claras sobre como entrar em contato com a empresa (por exemplo: endereço para correspondência, telefone para contato, site ou e-mail)?

27. Como forma de melhorar seus produtos ou serviços e a relação com seus clientes, a empresa analisa as dúvidas, sugestões e reclamações recebidas e as utiliza como instrumento para aperfeiçoar suas atividades (por exemplo: cria mecanismos para documentar as informações, analisa as melhorias que possam ser implantadas, preocupa-se em responder e/ou esclarecer os clientes sobre as dúvidas encaminhadas, estipula metas e prazos para solucionar os problemas apontados)?

28. A empresa orienta continuamente sua equipe de atendimento para uma relação ética e de respeito aos direitos do cliente – consumidor e a reconhecer falhas, agindo com rapidez na resolução de problemas?

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139

29. Em sua propaganda, a empresa se preocupa em evitar conteúdo enganoso ou que induza o cliente a erro de entendimento. Da mesma forma, analisa seu conteúdo no que se refere a aspectos que possam constranger ou desrespeitar grupos específicos (como mulheres, crianças, idosos, homossexuais, grupos raciais, grupos religiosos, etc.)?

30. A empresa adota princípios de respeito à preservação da saúde de seus consumidores, pesquisando e divulgando os danos potenciais que seus produtos possam causar (por exemplo: colocando aviso na embalagem dos produtos) e está preparada para adotar medidas corretivas, se for o caso?

4.2.1.1.6 Comunidade

A atenção para a comunidade representa a Responsabilidade Social

externa, pela qual a empresa desenvolve ações que devem reverter-se em

benefícios para a comunidade.

Ao considerar que a empresa está inserida numa comunidade, que fornece

toda a infra-estrutura e o capital social, este representado por seus empregados e

parceiros, contribuindo decisivamente para a viabilização de seus negócios, é

natural que se compreenda que a empresa precisa retribuir esses benefícios.

Nesse sentido, o objetivo desta abordagem foi verificar o grau de

reconhecimento das empresas em relação à importância da comunidade para o

negócio; as ações desenvolvidas, no intuito de minimizar os eventuais impactos

negativos dos seus processos; as práticas de gestão que beneficiam o

desenvolvimento local; o apoio a instituições ou organizações carentes; o

envolvimento dos funcionários nos projetos sociais, bem como o incentivo desses

funcionários no desenvolvimento de ações voluntárias.

Os resultados apontaram este tema (5,6) entre os que necessitam de maior

atenção, assim como com os temas Valores e Transparência, Fornecedores e

Governo e Sociedade, que também obtiveram uma média abaixo da média geral da

amostra (7,0).

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140

Considerando que a Responsabilidade Social Empresarial deve ser uma

forma de gestão do negócio em que todas as ações desenvolvidas precisam estar

alinhadas com as estratégias organizacionais, pode-se concluir, que, apesar das

empresas pesquisadas terem demonstrado têm uma preocupação em estar em

contato com as comunidades (Q31 e Q32), ao desenvolver ações com estas,

geralmente não se preocupam em alinhar o desenvolvimento da ação com o

direcionamento estratégico da empresa (Q38), limitando-se as ações

assistencialistas e filantrópicas (Quadro 8).

É importante ressaltar que, estando a gestão da RSE alinhada com as

estratégias organizacionais, as empresas envolvam seus funcionários incentivando

o desenvolvimento de ações voluntárias com a comunidade; apóiem instituições

carentes da sua comunidade e que acompanhem os resultados destas ações,

identificando, por exemplo, que tipo de contribuição a ação trouxe para a empresa,

a comunidade e todos os envolvidos.

De acordo com os resultados obtidos, os fornecedores dos outros estados

demonstraram maior envolvimento com este tema do que os fornecedores baianos

do Supermercado Cardoso, como mostra a Figura 23.

Figura 23. Comparação entre o envolvimento dos fornecedores da Bahia, de outros estados e geral, diante do tema “Comunidade”

1,8

1,21,51,5

1,9

1,4

2,32,11,9

1,7

2,12,02,1

2,32,1

2,52,42,4

1,9

1,4

1,7

1,7

2,0

1,6

2,42,2

2,1

0,0

1,0

3,0

Q31 Q32 Q33 Q34 Q35 Q36 Q37 Q38 Q39

2,01,9 Bahia

Outros estadosGeral

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141

QUADRO 8. QUESTÕES REFERENTES AO TEMA COMUNIDADE 31. A empresa reconhece que a comunidade em que está presente é parte importante em

seus processos decisórios e participa da discussão de problemas comunitários e do encaminhamento de soluções?

32. A empresa se preocupa em estar sempre em contato com a comunidade vizinha (de entorno), procurando minimizar os impactos negativos que suas atividades possam causar, como o aumento da circulação de veículos, do volume de lixo, da emissão de poluentes, do nível de ruído, etc.?

33. A empresa tem práticas de gestão que beneficiam o desenvolvimento local (por exemplo: compra produtos de empreendedores da comunidade, contrata funcionários que residam nas proximidades, utiliza serviços de organizações não-governamentais próximas à empresa, etc.)?

34. A empresa divulga a importância do trabalho voluntário e incentiva seus funcionários a trabalharem em prol de uma causa (por exemplo: acompanha o trabalho voluntário que alguns funcionários desenvolvem em determinada organização e o divulga por meio de murais, jornal interno, jornal local, etc.)?

35. A empresa apóia, pelo menos, uma organização ou instituição carente de sua comunidade e mobiliza sua rede de contatos em favor dela (por exemplo: apresenta a organização a clientes e fornecedores, realiza campanhas nas quais outras empresas possam participar, divulga as atividades da organização em seu site ou outros veículos de comunicação, etc.)?

36. A empresa busca envolver seus funcionários nos projetos com os quais colabora, incentivando-os a atuar voluntariamente na organização ou instituição carente “adotada”?

37. Existe entre a empresa e a organização (ou instituição) por ela beneficiada uma conversa franca sobre o papel de cada uma na parceria e, além disto, a empresa procura sempre acompanhar os resultados que essa parceria tem alcançado (por exemplo: que tipo de contribuição trouxe para a organização, para a empresa e para as pessoas envolvidas? quais são os próximos passos? quando a parceria terá fim? como o parceiro se manterá sem o apoio da empresa? etc.)?

38. Estando claro que a Responsabilidade Social deve ser uma forma de GESTÃO do NEGÓCIO e que toda empresa e todo negócio objetivam lucro, quando escolheu a organização (ou instituição carente) em que iria atuar, a empresa buscou, de algum modo, conciliar seus interesses com o dessa instituição (por exemplo: sua empresa produz artefatos esportivos e procurou uma instituição que atuasse com jovens promovendo educação por meio do esporte, porque julga que a vinculação de sua marca a essa atividade possa ser benéfica)?

39. Como resultado de sua atividade na comunidade, a empresa acredita que obteve benefícios (por exemplo: aumento de vendas, melhoria na relação com fornecedores, novos contatos / clientes, menor rotatividade de pessoal, etc.)?

4.2.1.1.7 Governo e Sociedade

Sabe-se que a empresa deve relacionar-se de forma transparente, ética e

responsável com os poderes públicos, cumprindo as leis e mantendo interações

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142

dinâmicas com seus representantes, visando constante melhoria das condições

sociais e políticas do País.

É importante, portanto, que a empresa alinhe seus interesses com os

interesses da sociedade, comprometendo-se em combater a corrupção no mundo

dos negócios, cumprindo a obrigação de recolher impostos, obedecendo às leis e

respeitando o poder público.

Dessa forma, este tema visou identificar se a cadeia de fornecedores do

Supermercado Cardoso participa de organizações que integram e mobilizam outras

empresas, na busca de melhores condições para os negócios e para a

comunidade; se promove debates nas campanhas políticas e estimula o voto

consciente; se motiva os funcionários para o envolvimento e a fiscalização da

gestão pública; se é transparente em relação a um eventual apoio a campanhas

políticas e se colabora com a melhoria dos equipamentos públicos da sua região.

Este tema, dentre os sete propostos pelos Indicadores, foi o que teve a

média geral mais baixa: 6,0. Para efeitos de comparação, não foram encontradas

diferenças estatisticamente significantes entre os fornecedores da Bahia e os dos

outros estados.

Esse resultado permite inferir que há, de forma geral, uma atuação pouco

expressiva das empresas junto à sociedade e ao governo. Segundo Almeida

(2002), no novo mundo tripolar, o paradigma é a integração de economia, ambiente

e sociedade, conduzida e praticada em conjunto por três grupos básicos: o

empresariado, o governo e a sociedade civil organizada. Portanto, é preciso haver,

por parte das empresas, um maior envolvimento com o tema Governo e Sociedade,

no sentido de unir forças na construção do desenvolvimento sustentável.

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143

As questões 41 e 42 (Quadro 9) apresentaram médias inferiores a média

geral das questões (1,8), demonstrando que as empresas têm a oportunidade de

motivar seus funcionários para o exercício da cidadania no que diz respeito ao voto

consciente, promovendo, por exemplo, debates em período eleitoral, informando

seus colaboradores sobre a importância de se envolverem na gestão pública, etc.

A Figura 24 apresenta os resultados encontrados.

Figura 24. Comparação entre o envolvimento dos fornecedores da Bahia, de outros estados e geral, diante do tema “Governo e Sociedade”

1,6

2,0

1,4

1,6

2,2 2,12,1

1,3

1,7

2,4

1,82,0

1,3

1,7

2,2

0,0

1,0

2,0

3,0

Q40 Q41 Q42 Q43 Q44

BahiaOutros estadosGeral

1,8

QUADRO 9. QUESTÕES REFERENTES AO TEMA GOVERNO E SOCIEDADE 40. A empresa procura participar de organizações que integrem empresários (por exemplo:

organizações empresariais, associações comerciais, fóruns regionais) e utiliza esse espaço para atualizar-se e discutir com outras empresas suas dificuldades, necessidades e formas de mobilização, em busca de melhores condições para os negócios e também de melhores condições para a comunidade?

41. A empresa é criteriosa nas campanhas políticas, promove debates e estimula o voto consciente?

42. A empresa informa seus funcionários sobre a importância de se envolverem nas administrações governamentais e fiscalizá-las (por exemplo: divulga ações como o orçamento participativo e as eleições de conselhos municipais, incentivando os funcionários a participarem, etc.)?

43. A empresa mantém transparência em relação ao apoio e financiamento de campanhas políticas ou de partidos políticos e não utiliza o seu “poder econômico” para influenciar seus públicos ou outras instituições?

44. Sempre que necessário (e possível), a empresa colabora com a melhoria dos equipamentos públicos da sua região (como em escolas, postos de saúde, praças, áreas verdes, etc.)?

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144

4.2.1.2 Resposta ao segundo objetivo específico

Objetivo: conhecer e analisar o grau de envolvimento com o tema RSE na

cadeia de fornecedores, a partir da classificação de empresas por porte e por

segmento de atuação.

4.2.1.2.1 Grau de envolvimento dos fornecedores quanto ao porte

As empresas socialmente responsáveis devem tornar-se agentes de

transformação social, identificar possibilidades de parcerias com o governo e os

diversos atores sociais, investir em educação, cultura, bem-estar social, cuidar bem

do meio ambiente e assim obter maior potencial de sucesso e longevidade.

Algumas grandes organizações, tanto no âmbito nacional como no

internacional, são referências em relação à Responsabilidade Social, como a

Natura, o ABN Amro Bank, a Petrobras, O Boticário e outras. Porém, apesar das

grandes empresas, por seu maior poder de comunicação com todos os públicos e

os altos volumes investidos, ganharem mais visibilidade, é importante destacar que

as empresas de micro, pequeno e médio portes também vêm desenvolvendo ações

sociais por todo o Brasil.

Diversas iniciativas têm sido desenvolvidas, no sentido de contribuir para a

disseminação das práticas de RSE entre as micros, pequenas e médias empresas

no Brasil. Dentre elas, destacam-se, por exemplo, o Projeto de RSE para Micro,

Pequenas e Médias empresas do SESI e o SEBRAE, na Bahia, que tem por

objetivo difundir conceitos e boas práticas de RSE, além de sensibilizar e apoiar as

empresas a gerirem seus próprios negócios de forma socialmente responsável.

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Uma pesquisa realizada pela FIEB72, entre dezembro de 2004 e abril de

2005, com 163 empresas de todos os portes, revelou que 50% das empresas de

grande porte possuem práticas socialmente responsáveis contra 31,5% das

empresas de pequeno e médio portes.

Outra iniciativa, no sentido de mobilizar e capacitar as micros, pequenas e

médias empresas às práticas de RSE, é o Programa TEAR – Tecendo Redes

Sustentáveis – do BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento –, em parceria

com o Instituto Ethos. O programa tem por objetivo disseminar, em curto prazo, o

conhecimento sobre Responsabilidade Social e ampliar as oportunidades de

mercados de PMEs que atuam na cadeia de valor das empresas estratégicas, em

sete setores da economia: petróleo e gás, energia elétrica, varejo, construção civil,

mineração, siderurgia, açúcar e álcool.

O projeto prevê que uma empresa de grande porte, com experiências em

RSE, fique responsável por 15 PMEs da sua cadeia de valor, com as quais se

compromete a trabalhar para a incorporação e ampliação da gestão socialmente

responsável.

Mais uma iniciativa, no sentido de motivar e apoiar as práticas socialmente

responsáveis entre as PMEs, foi a parceria entre o Instituto Ethos de Empresas e

Responsabilidade Social e o Serviço Brasileiro de Apoio as Micro e Pequenas

Empresas, por meio da qual publicaram-se duas ferramentas de gestão, que

possibilitam a essas empresas o diagnóstico e a implementação dos processos de

RSE. São elas: Ferramenta de Auto-avaliação e Planejamento – Indicadores Ethos-

SEBRAE de RSE para Micro e Pequenas Empresas e RSE para Micro e Pequenas

Empresas – Passo a Passo.

72 “Empresas ganham estímulo para práticas socialmente responsáveis”. Disponível no site www.empreendedor.com.br. Acesso em 31 de outubro de 2006.

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Vale destacar ainda que iniciativas de reconhecimento nacional quanto às

práticas de RSE, como Prêmio Eco, criado há 24 anos pela Câmara Americana de

Comércio, têm registrado cada vez mais a participação de micros, pequenas e

médias empresas em suas edições. Somente neste ano de 2006, dos 143

trabalhos inscritos, 48 foram de empresas de médio e pequeno portes73. Da

mesma forma, no 3° Prêmio de RSE no Varejo do Instituto Ethos74, em 2006, as

micros, pequenas e médias empresas representaram 50% do total de inscrições.

É preciso ressaltar a importância das micros, pequenas e médias empresas

no contexto econômico brasileiro. De acordo com o SEBRAE75, esse segmento

representa 25% do Produto Interno Bruto, gera 15 milhões de empregos no Brasil,

significando mais de 60% do emprego formal, e constitui 99% dos mais de 6

milhões de estabelecimentos formais existentes no Brasil.

Diante das informações apresentadas, percebe-se, claramente, que a

disseminação das práticas socialmente responsáveis entre as micros, pequenas e

médias empresas tem aumentado ao longo dos anos.

Os resultados desta pesquisa, portanto, confirmam essa tendência,

ressaltando, ainda assim, que, quanto maior o porte da empresa, maior o

envolvimento dela com o tema RSE, conforme mostra a Figura 25.

73 Disponível no site www.amcham.com.br/cidadania/premio_eco. Acesso em 3 de novembro de 2006. 74 Disponível em www.fgvsp/cev/premio. Acesso em 3 de novembro de 2006. 75 Disponível no site do SEBRAE www.sebrae.org.br. Acesso em 3 de novembro de 2006.

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147

Figura 25. Comparação entre as empresas de diferentes portes em relação à Responsabilidade Social Empresarial

50,958,2

41,9 43,6

0,0

20,0

40,0

60,0

Micro Pequena Média Grande

49,0

Quanto maior o porte, maior o envolvimento das empresas em relação à Responsabilidade Social Empresarial (p < 0,000).

Na avaliação do grau de envolvimento (escala de zero a 70), considerando a

soma das notas obtidas em cada um dos sete temas, obteve-se uma média de 49

pontos entre as empresas que compõem a cadeia de abastecimento do

Supermercado Cardoso.

Com exceção do envolvimento das empresas com o tema Governo e

Sociedade, em que não houve diferenças estatisticamente significantes entre os

diferentes portes, o resultado confirma a tendência que, quanto maior o porte,

maior o envolvimento com as práticas socialmente responsáveis (Figura 26).

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Figura 26. Comparação entre empresas de diferentes portes, diante das temáticas de Responsabilidade Social Empresarial propostas pelo Instituto Ethos

4,5

6,6

6,4

5,3

9,0

4,8

5,4

4,8

7,1

6,5

5,7

8,7

5,2

5,8

6,9

8,1

7,5

6,5

9,5

6,5

6,1

8,7

8,7

9,3

7,7

9,8

7,7

6,5

6,3

7,7

7,5

6,4

9,2

6,1

6,0

0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0

Valores eTransparência

Público Interno

Meio Ambiente

Fornecedores

Consumidores -clientes

Comunidade

Governo eociedadeS

GeralGrandeMédiaPequenaMicro

7,0

1. Valores e Transparência (p < 0,000): as empresas de grande porte são as mais envolvidas (média de 8,7 pontos, em uma escala de 10).

2. Público Interno (p < 0,000): as empresas de grande porte são as mais envolvidas (média de 8,7 pontos, em uma escala de 10).

3. Meio Ambiente (p < 0,000): as empresas de grande porte são as mais envolvidas (média de 9,3 pontos, em uma escala de 10).

4. Fornecedores (p < 0,000): as empresas de grande porte são as mais envolvidas (média de 7,7 pontos, em uma escala de 10).

5. Consumidores – Clientes: (p < 0,000): as empresas de grande porte são as mais envolvidas (média de 9,8 pontos, em uma escala de 10).

6. Comunidade: (p < 0,000): as empresas de grande porte são as mais envolvidas (média de 7,7 pontos, em uma escala de 10).

7. Governo e Sociedade: não foram encontradas diferenças estatisticamente significantes entre as empresas de diferentes portes.

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4.2.1.2.2 Grau de envolvimento dos fornecedores quanto ao segmento

Para a resposta a este objetivo, foi solicitado que as empresas indicassem o

segmento de atuação, tendo-se como resposta aqueles ligados a Alimentos,

Bebidas, Hipel, Não-alimentos e Atacadistas e Distribuidores.

Neste caso, não foram encontradas diferenças estatisticamente significantes

entre as empresas dos diversos segmentos (apesar de notar-se, pela Figura 27,

que os segmentos de bebidas e não-alimentos apresentaram média um pouco

menor do que as demais), o que demonstra que os conceitos de Responsabilidade

Social estão sendo difundidos equitativamente entre os diversos segmentos da

amostra.

Figura 27. Comparação entre empresas de diferentes segmentos em relação à Responsabilidade Social Empresarial

50,7 46,9 49,049,1 46,2

0,0

20,0

40,0

60,0

Alim

ento

s

Beb

idas

Hip

el

Não

alim

ento

s

Dis

tribu

idor

ese

atac

adis

tas

49,0

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150

5 CONCLUSÃO

Este capítulo tem por objetivo apresentar a resposta ao problema da

pesquisa, assim como as reflexões e conclusões acerca do estudo, suas limitações

e recomendações para futuros trabalhos.

5.1 RESPOSTA AO PROBLEMA DA PESQUISA

O Século XXI será o cenário de consolidação de uma nova visão

empresarial, uma nova forma de fazer negócios. O foco voltado para a qualidade

das relações empresariais com todos os públicos com os quais a empresa interage,

pautado nos pilares da ética e transparência, será a base que norteará o

desenvolvimento de todas as atividades empresariaIs neste novo século.

O referencial teórico, que teve por objetivo contextualizar o leitor a respeito

do tema e da sua relação com o varejo (uma vez que o desenvolvimento deste

trabalho aconteceu nesse segmento), demonstra que a base para esse novo

conceito requer a compreensão sobre as práticas socialmente responsáveis no

novo mundo tripolar, em que o paradigma é a integração de economia, ambiente e

sociedade, conduzida e praticada em conjunto por três grupos básicos:

empresários, gestores públicos e sociedade civil organizada (ALMEIDA, 2002). O

repensar a respeito de aspectos culturais, econômicos, políticos, sociais e

ambientais que caracterizam o sistema em que as organizações atuam norteará as

empresas sobre novas mudanças e atitudes, provendo o desenvolvimento de uma

sociedade mais justa, igualitária e humanizada.

Mediante este pensamento sistêmico e considerando as premissas:

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- que as empresas não existem no vazio, elas fazem parte de um sistema

aberto, com o qual estabelecem relações de troca e no qual exercem e

sofrem influências, por meio de seus processos e suas decisões, e que,

portanto, não se esgotam em si próprias;

- que uma empresa só exerce uma gestão socialmente responsável se

envolver todos os públicos de interesse, seus stakeholders, nas suas

ações e, com eles, estabelecer uma relação ética e transparente,

baseada na premissa do desenvolvimento solidário e sustentável da

sociedade, com todos e para todos;

- que as empresas que afirmam exercer sua responsabilidade social

devem fazê-lo em todas as partes do seu negócio e das suas atividades;

- que os fornecedores se configuram num importante agente de

transformação na cadeia produtiva;

- que uma empresa não tem controle legal sobre um fornecedor, mas

pode influenciar esse fornecedor, utilizando-se de condições no contrato

de fornecimento de seus produtos ou serviços;

- que uma empresa pode não ser legalmente responsável por seus

fornecedores, mas é socialmente responsável pelos impactos sociais e

ambientais causados pelos produtos que comercializa;

buscou-se responder à indagação inicial desta pesquisa, que foi: “Qual o grau de

envolvimento dos fornecedores do Supermercado Cardoso com a

Responsabilidade Social Empresarial”?

Para isto, foram utilizados como modelo de análise os Indicadores do

Instituto Ethos-SEBRAE, para construir o procedimento de avaliação da

Responsabilidade Social proposto neste trabalho.

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152

Considerou-se, portanto, na avaliação dos resultados, para responder ao

problema da pesquisa, a escala dos Indicadores Ethos-SEBRAE, que contempla

quatro níveis, ou quatro graus de envolvimento, de acordo com o desempenho

global76, a partir do total de pontos obtidos: 1° grau (zero a 10 pontos), 2° grau (11

a 35 pontos), 3° grau (36 a 70 pontos) e 4° grau (61 a 70 pontos).

Foi constatado na aplicação do procedimento que os fornecedores do

Supermercado Cardoso, no estado da Bahia, de acordo com os pontos obtidos,

encontram-se no Grau 3, na escala de um a quatro. Vale ressaltar que, embora os

fornecedores dos outros estados estejam mais envolvidos (média de 54,5 pontos,

numa escala de zero a 70) com o tema RSE do que os fornecedores da Bahia

(média de 49,0 pontos), a amostra apresentou Grau 3 de envolvimento com a

Responsabilidade Social Empresarial (Figura 28).

Figura 28. Comparação entre o envolvimento dos fornecedores da Bahia e de outros estados em relação à Responsabilidade Social Empresarial

46,6

54,5

0,0

20,0

40,0

60,0

Bahia Outros estados

49,0

76 O desempenho global refere-se à primeira análise a partir da nota alcançada por tema, numa escala de zero a 10. Como são sete temas, a soma total das notas será de, no máximo, 70 pontos.

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153

Este resultado demonstra que as empresas pesquisadas já assimilaram os

conceitos da Responsabilidade Social Empresarial e têm clareza quanto aos

compromissos necessários para uma atuação socialmente responsável e dos

impactos positivos dessa atuação para o negócio, por meio de um relacionamento

mais próximo e produtivo com as partes envolvidas.

Nesse grau de envolvimento, as empresas possuem certa maturidade para

aprofundar alguns aspectos da atuação socialmente responsável. Sugere-se, no

entanto, que, num segundo momento, cada empresa avalie o seu resultado,

individualmente, no sentido de encontrar a estratégia mais adequada para

aperfeiçoá-lo, utilizando o planejamento das ações para médio e longo prazos.

Apesar das análises comparativas por tema, portes e segmentos terem sido

comentadas no capítulo precedente, vale ressaltar que esta pesquisa indicou que

as práticas de Responsabilidade Social, apesar de estarem mais presentes nas

empresas de grande porte, estão crescendo e disseminando-se também entre as

empresas de micro, pequeno e médio portes. No entanto, pode-se inferir, de

acordo com o estudo realizado, que, quanto maior for a empresa, maior será o seu

envolvimento com a RSE.

Já em relação aos sete temas da RSE, percebeu-se que há um

envolvimento consideravelmente maior das empresas com a gestão socialmente

responsável relacionada ao público Consumidores (nota 9,2 numa escala de zero a

10), seguido de Público Interno (7,7) e Meio ambiente (7,5), enquanto que o tema

Governo e Sociedade (6,0) representa o público de menor envolvimento das

empresas, seguido por Comunidades (6,1), Valores e Transparência (6,3) e

Fornecedores (6,4), quanto às práticas socialmente responsáveis.

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154

Quanto à área de segmento, cabe destacar que não houve registro

estatisticamente significante nesta pesquisa que pudesse demonstrar alguma

diferença de envolvimento com o tema RSE, segundo a área de atuação da

empresa.

5.2 LIMITAÇÕES DO ESTUDO

Uma das principais limitações da utilização do estudo de caso, que foi o

método utilizado nesta pesquisa, relaciona-se ao nível de generalização dos

resultados obtidos, uma vez que a generalização exige processos amostrais

extremamente rigorosos, bem como testes estatísticos muito difíceis de ser

aplicados em pesquisas baseadas em estudos de caso. Além do mais, com o

método de estudo de caso, não é possível universalizar as conclusões, ressaltando

que o estudo de caso apenas oferece uma referência para aplicação do método de

pesquisa em outras empresas.

A confiabilidade das respostas, com a transparência esperada, configura-se

outra limitação desta pesquisa, uma vez que os Indicadores Ethos-SEBRAE

aplicados, que constituem ferramenta de autodiagnóstico, foram aplicados por

terceiros e não partiram de uma decisão interna, tomada pela própria empresa. De

mais a mais, vale ressaltar a possibilidade de alguns dos questionários terem sido

respondidos por pessoas não-indicadas para tal atribuição. Por exemplo,

vendedores que, eventualmente, não tenham domínio do assunto ou que não

conheçam, na totalidade, as ações da empresa quanto à RSE (no caso das

empresas de grande porte).

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155

Outra limitação deste estudo refere-se a amostra pesquisada (considerando

os 141 questionários válidos, portanto, 17,3% do universo de fornecedores do

Supermercado Cardoso), que apesar de contado com a participação de diversas

empresas, impossibilita a generalização das informações, obtidas com a análise,

para todo o universo existente.

Finalmente, considera-se também como uma limitação o receio das

empresas em disponibilizar dados e informações sobre suas práticas de negócios,

bem como as dificuldades de aceitação, por parte delas, em participar de um

estudo que envolve questões internas relacionadas a sua gestão.

5.3 RECOMENDAÇÕES PARA FUTUROS TRABALHOS

Percebeu-se, pelas crescentes indagações sobre o propósito da pesquisa e

da possibilidade de recebimento do resultado individual, por empresa, além dos

diversos feedbacks positivos recebidos, que a aplicação desta pesquisa despertou

ainda mais o interesse das empresas da cadeia de fornecimento do Supermercado

Cardoso pelo tema RSE.

O interesse despertado nessas empresas permite inferir que outras

pesquisas sejam produzidas, para avaliar a Responsabilidade Social de suas

ações. Sendo assim, considerando a natureza complexa dos estudos em

Responsabilidade Social, bem como suas repercussões nas empresas e na

sociedade, vislumbram-se alguns desdobramentos para futuras pesquisas, tais

como:

- aprofundar o estudo das relações entre a cadeia de fornecedores

varejistas e cada um dos sete temas propostos nesta pesquisa;

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156

- ampliar o número de empresas, de forma que os resultados apresentem

maior consistência, confrontando com possíveis pesquisas afins

existentes, no intuito de sedimentar os resultados no segmento varejista;

- constatar os motivos pelos quais, de forma geral, é dispensada maior

atenção a alguns temas específicos, como relação das empresas com

os consumidores, enquanto que temas como Governo e Sociedade

apresentam resultados menos satisfatórios;

- estudar em maior profundidade a relação, não só dos fornecedores,

mas, de todo o conjunto de stakeholders da empresa com a RSE;

- conhecer as facilidades e ou dificuldades na implementação de uma

gestão socialmente responsável;

- realizar estudo semelhante a este, abordando, porém, a relação do

Supermercado Cardoso com o seu público interno, uma vez que o

autodiagnóstico, resultado da aplicação dos Indicadores Ethos em 2005,

apontou o Público Interno e os Fornecedores entre os temas de

resultados menos satisfatórios.

Portanto, este estudo não se esgota em si mesmo, ao contrário, evidencia

lacunas que ainda podem ser preenchidas, relacionadas às diversas dimensões

relevantes ao tema proposto; além do que muitas são as possibilidades de

desenvolvimento de pesquisas no campo da RSE, haja vista a crescente

necessidade dos empresários se conscientizarem da sua co-participação no

desenvolvimento sustentável da sociedade.

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157

5.4 SUGESTÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS

Num mundo global e capitalista, as empresas interagem com o ambiente em

que estão inseridas, influenciando e sendo influenciadas; agindo e reagindo às

mais diversas situações; adaptando-se e provocando adaptações no ambiente –

esta é a lógica sistêmica que move as sociedades e os seus diversos atores.

Espera-se, por conseguinte, que este trabalho possa ser útil aos

empresários do segmento varejista, bem como a toda sua cadeia de fornecedores

(neste caso, especialmente, no estado da Bahia), na medida em que, considerando

a lógica sistêmica e o papel de cada ator na sociedade, crescem cada vez mais as

discussões em torno do tema RSE, tanto no meio acadêmico como no meio

empresarial.

Um dos maiores desafios das empresas que almejam ser reconhecidas por

uma gestão socialmente responsável é desenvolver mecanismos de integração

democrática com os seus parceiros estratégicos, tais como os fornecedores. Dessa

maneira, recomenda-se que o Supermercado Cardoso, no sentido de fortalecer a

parceria com os seus fornecedores, realize ações, a partir dos resultados desta

pesquisa, tais como:

- disponibilize, de forma individual, para cada fornecedor (por meio do site; por

senha; por e-mail, ou pelos Correios), o resultado da pesquisa, fazendo uma

comparação com o resultado do grupo;

- disponibilize o resultado geral da pesquisa, por tema, porte, segmento e

região, para a Associação Baiana de Supermercados, para que ela fomente

a discussão, entre os parceiros associados, sobre o tema RSE, utilizando-se

de seus veículos de comunicação (sites, revistas, etc.). Isso certamente

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158

contribuirá, e muito, para a disseminação do tema RSE nos supermercados

e na cadeia de fornecedores do varejo supermercadista em todo o estado da

Bahia;

- trace ações estratégicas para cada fornecedor, ou grupo de fornecedores,

de acordo com cada um dos temas da RSE, considerando, primeiramente,

os que precisam de mais atenção. No caso dos fornecedores baianos,

destacam-se as ações com os públicos que tiveram as menores notas:

Valores e Transparência; Comunidade e Governo e Sociedade. Essas ações

estratégicas devem estar baseadas nos conceitos de RSE apresentados no

referencial teórico, como forma de ressaltar os benefícios de uma gestão

socialmente responsável para a empresa e para a sociedade;

- envolva a cadeia de fornecedores nas suas diversas ações, atuais e futuras,

quanto às práticas socialmente responsáveis, concretizando parcerias e

potencializando as possibilidades de resultados positivos maiores e mais

rápidos. O Supermercado Cardoso, por exemplo, pode ficar responsável por

PMEs baianas, localizadas na sua área de influência, comprometendo-se a

trabalhar para a disseminação, incorporação e ampliação da gestão

socialmente responsável nessas empresas.

Espera-se, finalmente, que esta pesquisa possa despertar o interesse das

empresas que compõem o segmento supermercadista, bem como a sua cadeia de

fornecedores, a partir da análise detalhada dos seus resultados, no sentido de

construir uma corrente solidária, que tenha por objetivo promover o

desenvolvimento sustentável das empresas e de toda a sociedade.

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Matriz – Praça da Bandeira, 228 – Centro - Jequié/Ba - Tel. (0xx73) 3527-8900 Fax (0xx73) 3527-8909 Filial – Rua Francisco Alves Meira, 167 – Centro - Jequié/BA - Tel. (0xx73) 3525-3549 Fax 3525-4851

www.supermercadoscardoso.com.br E-mail – [email protected]

APÊNDICE A – CARTA PARA FORNECEDOR

Jequié, 02 de março de 2006. Prezado Fornecedor, Até pouco tempo, a competitividade era baseada em duas grandes vertentes: preço e qualidade. Atualmente, o mercado está incorporando um novo fator de competitividade: a QUALIDADE DAS RELAÇÕES, que, para nós, do Cardoso, são relações éticas e transparentes, que adicionam valor a todas as partes envolvidas. Dentro desse conceito, destacamos os Princípios da Responsabilidade Social Empresarial, que entendemos como sendo uma nova forma de gestão de negócios, com foco voltado para qualidade nas relações e geração de valor para a sociedade, que torna a empresa parceira e co-responsável pelo desenvolvimento sustentável, trabalhando por uma sociedade economicamente viável, socialmente justa e ambientalmente correta. Diante disto, solicitamos alguns minutos do seu tempo para responder o questionário anexo, que faz parte de uma pesquisa sobre a Gestão da Responsabilidade Social nas empresas que compõem a nossa cadeia de fornecedores. Ressaltamos que todas as informações fornecidas serão preservadas em absoluto sigilo, sendo que o resultado final da pesquisa será de caráter genérico, sem que entremos no mérito individual de alguma das empresas pesquisadas. A partir do resultado desta pesquisa, após a análise do diagnóstico, será traçado um planejamento de ações e propostas algumas diretrizes, no sentido de envolver a nossa cadeia de fornecedores às ações de Responsabilidade Social, como forma de contribuir para o Desenvolvimento Sustentável da nossa sociedade. Acreditamos fortemente que este é o ÚNICO CAMINHO para assegurarmos a permanência e o crescimento dos nossos negócios, em um mercado cada vez mais competitivo e que exige cada vez mais EXCELÊNCIA E DIFERENCIAÇÃO. Desde já agradecemos a sua FUNDAMENTAL participação e disponibilidade. Forte abraço,

Marcio Nery Cardoso Diretoria Comercial

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APÊNDICE B - QUESTIONÁRIO SOBRE RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL

1. A sua empresa possui algum documento que esclareça quais são as condutas e os comportamentos

incentivados por ela, no que se refere às relações pessoais e comerciais (por exemplo: uma lista de “Valores e Princípios” que explicite os valores da empresa ou um “Código de Conduta Ética” que especifique a conduta esperada, segundo os quais ela espera estabelecer seu relacionamento com funcionários, clientes, comunidade, fornecedores e parceiros)? ( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim

2. O documento citado acima, que pode ser um “Código de Ética” ou uma “Declaração de valores da

organização”, é de amplo conhecimento de funcionários, clientes, fornecedores e outros parceiros e, além disto, estes públicos demonstram familiaridade no dia-a-dia com os temas e os pressupostos contemplados, aplicando-os espontaneamente? ( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim

3. O documento mencionado no item anterior proíbe expressamente a prática de pagamentos ou

recebimentos irregulares que tenham como objetivo facilitar negócios, influenciar decisões em benefício da empresa ou induzir pessoas a concederem permissões indevidas (por exemplo: proíbe propinas, comissões ilícitas e favores pessoais, estabelecendo regras claras para o recebimento de presentes, brindes etc.)? ( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim

4. O referido documento contempla, de alguma forma, o modo de relacionamento ético e transparente com o

governo (por exemplo: proibindo expedientes como “Caixa dois”, sonegações, explicitando transparência nos registros em geral e nos balanços)? ( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim

5. A empresa tem informações sobre o que significa Balanço Social e acredita que esse instrumento pode

ajudá-la a medir o impacto de suas operações sobre as pessoas e o meio ambiente e a divulgar seus compromissos futuros em relação a esses temas? ( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim

6. Além de cumprir as obrigações determinadas por lei, a empresa se preocupa em oferecer a seus funcionários um ambiente físico agradável e seguro, busca incentivar os cuidados com higiene e saúde e está aberta a críticas e sugestões relativas a esses aspectos (por exemplo: aboliu o fumo em locais de trabalho, incentiva os funcionários a praticarem esportes, orienta-os quanto aos cuidados com a postura corporal durante as atividades profissionais, oferece instalações em boas condições de uso, etc.)? ( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim

7. A sua empresa oferece benefícios adicionais que se estendem à família do funcionário, como plano de

saúde familiar, cesta básica, orientação sobre preservação de doenças, divulgação de campanhas de vacinação, etc.? ( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim

8. Na contratação de profissionais, a empresa divulga os critérios que vai utilizar na seleção dos candidatos,

como escolaridade, tempo de experiência, conhecimentos exigidos, etc. e dá prioridade ao aproveitamento de funcionários internos para evitar demissões? ( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim

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9. Os critérios utilizados na seleção de pessoal são isentos de práticas discriminatórias em relação a qualquer

dos temas: gênero, raça, opção sexual, idade e crenças religiosas ou políticas, bem como a portadores de deficiência (por exemplo: ao anunciar vagas, a empresa não utiliza termos como “idade mínima 40 anos”, “boa aparência’, “sexo masculino”, “sexo feminino”, etc.)? ( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim

10. Na sua empresa, não são permitidas as práticas discriminatórias, o que pode ser percebido pelas relações

existentes no atual quadro de funcionários (por exemplo: há mulheres, portadores de deficiência, negros, colaboradores com mais de 45 anos, trabalhando atualmente na empresa e a proporção destes grupos em relação ao quadro total de funcionários caracteriza que realmente não há discriminação). ( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim

11. As dependências da empresa possuem recursos que facilitam o deslocamento e a convivência de pessoas

com deficiência motora, auditiva e visual (por exemplo: rampas, avisos de segurança em braille, sinais luminosos e sonoros em áreas de circulação de veículos ou maquinas, etc.)? ( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim

12. Como forma de demonstrar respeito ao indivíduo e transparência em suas relações com os empregados, a

empresa entende que é direito do funcionário participar de sindicatos e associações de classe e permite que representantes sindicais compareçam à empresa para discutir questões referentes aos interesses dos funcionários? ( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim

13. A empresa valoriza e incentiva o desenvolvimento profissional de seus funcionários e para isso promove /

patrocina tanto cursos que buscam capacitá-los para suas atividades atuais quanto outros que proporcionam conhecimentos para oportunidades futuras (por exemplo: possui programa de treinamento, colabora com a realização de estágios, concede incentivo aos funcionários matriculados em cursos de todos os níveis etc.)? ( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim

14. A sua empresa facilita o acesso à informação como forma de desenvolvimento pessoal e profissional.

Diante disso, procura estimular seus funcionários a se atualizarem com recursos da própria empresa (por exemplo: incentiva a leitura e torna disponíveis jornais e revistas e acesso a Internet em horários previamente estabelecidos)? ( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim

15. A empresa possui mecanismos para ouvir, avaliar e acompanhar posturas, preocupações, sugestões e

críticas dos funcionários com o objetivo de agregar novos aprendizados e conhecimentos e além disso estimula e reconhece sugestões dos funcionários para melhoria dos processos internos? ( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim

16. Nas dependências da empresa já foram implantadas medidas que visam preservar o meio ambiente, como,

por exemplo: coleta seletiva de lixo (existem recipientes identificados para papel, vidro, metal, plástico e material orgânico), redução do consumo de energia (melhoria na iluminação natural, aparelhos eletrônicos de menor consumo de energia etc.), redução no consumo de papel (utilizam-se a frente e o verso das folhas), redução no consumo de água (torneiras com fechamento automático, etc.), orientação da política de compras que não prejudiquem o meio ambiente? ( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim

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17. A empresa conhece, entende e avalia o impacto de seus produtos no meio ambiente (por exemplo:

controla os impactos ambientais no que se refere à emissão de poluentes, de erosão do solo, de consumo de energia, de água e combustível, etc.)? ( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim

18. Para a empresa e para a comunidade, uma das formas mais efetivas de reduzir esses impactos é promover

educação ambiental para os funcionários e seus familiares. Para isso, realiza atividades que propiciam esse conhecimento (por exemplo: campanhas para reduzir o consumo de água e energia; reciclagem de materiais; apoio a iniciativas e projetos voltados para a educação ambiental?). ( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim

19. A empresa procura adquirir conhecimento sobre inovações tecnológicas que sejam “ambientalmente

corretas” e procura incorporá-las aos processos de produção? ( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim

20. Nas relações com os fornecedores, a empresa possui políticas com o objetivo de contribuir para a

erradicação do trabalho forçado, da mão-de-obra infantil e não permite a utilização de mão-de-obra escrava ou infantil na sua cadeia de suprimentos? ( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim

21. Quando inicia relacionamento com um novo fornecedor, a empresa se interessa em conhecer seus

princípios, sua política de Responsabilidade Social e se informa se ele é cumpridor da legislação trabalhista, previdenciária e fiscal? ( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim

22. Quando um fornecedor apresenta uma boa proposta comercial (qualidade, preço e prazo), mas não

comprova seu respeito à legislação e aos direitos humanos (como atitudes discriminatórias de qualquer natureza, utilização de mão-de-obra infantil, má condições de trabalho, etc.), a empresa prefere escolher outro fornecedor mesmo com proposta comercial menos atraente? ( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim

23. A empresa procura orientar os fornecedores a seguirem seus princípios de Responsabilidade Social e se

dispõe a ajudá-los na sua implantação (por exemplo: informa suas ações aos fornecedores, orienta-os pessoalmente ou envia funcionários para colaborar com eles, incentivando o intercâmbio entre as empresas? ( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim

24. A empresa verifica constantemente as condições proporcionadas pelos fornecedores aos próprios

funcionários (por exemplo: realiza visitas para conhecer o ambiente de trabalho oferecido pelo fornecedor aos funcionários, etc.)? ( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim

25. A empresa procura buscar fornecedores em cooperativas, associações de bairro e projetos de geração de

renda (por exemplo: programa de primeiro emprego, cooperativas de artesãos, etc.)? ( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim

26. A empresa respeita o cliente ou consumidor e entende que deve ter com ele uma comunicação efetiva. Em

conseqüência disso, seus produtos trazem sempre informações claras sobre como entrar em contato com a empresa (por exemplo: endereço para correspondência, telefone para contato, site ou e-mail)? ( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim

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27. Como forma de melhorar seus produtos ou serviços e a relação com seus clientes, a empresa analisa as

dúvidas, sugestões e reclamações recebidas e as utiliza como instrumento para aperfeiçoar suas atividades (por exemplo: cria mecanismos para documentar as informações, analisa as melhorias que possam ser implantadas, preocupa-se em responder e ou esclarecer os clientes sobre as dúvidas encaminhadas, estipula metas e prazos para solucionar os problemas apontados)? ( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim

28. A empresa orienta continuamente sua equipe de atendimento para uma relação ética e de respeito aos

direitos do cliente / consumidor e a reconhecer falhas, agindo com rapidez na resolução de problemas? ( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim

29. Em sua propaganda, a empresa se preocupa em evitar conteúdo enganoso ou que induza o cliente a erro de entendimento. Da mesma forma, analisa seu conteúdo, no que se refere a aspectos que possam constranger ou desrespeitar grupos específicos (como mulheres, crianças, idosos, homossexuais, grupos raciais, grupos religiosos, etc.)? ( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim

30. A empresa adota princípios de respeito à preservação da saúde de seus consumidores, pesquisando e

divulgando os danos potenciais que seus produtos possam causar (por exemplo: colocando aviso na embalagem dos produtos) e está preparada para adotar medidas corretivas, se for o caso? ( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim

31. A empresa reconhece que a comunidade em que está presente é parte importante em seus processos

decisórios e participa da discussão de problemas comunitários e do encaminhamento de soluções? ( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim

32. A empresa se preocupa em estar sempre em contato com a comunidade vizinha (de entorno), procurando

minimizar os impactos negativos que suas atividades possam causar, como o aumento da circulação de veículos, do volume de lixo, da emissão de poluentes, do nível de ruído, etc.? ( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim

33. A empresa tem práticas de gestão que beneficiam o desenvolvimento local (por exemplo: compra

produtos de empreendedores da comunidade, contrata funcionários que residam nas proximidades, utiliza serviços de organizações não-governamentais próximas à empresa, etc.)? ( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim

34. A empresa divulga a importância do trabalho voluntário e incentiva seus funcionários a trabalharem em

prol de uma causa (por exemplo: acompanha o trabalho voluntário que alguns funcionários desenvolvem em determinada organização e divulga por meio de murais, jornal interno, jornal local, etc.)? ( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim

35. A empresa apóia pelo menos uma organização ou instituição carente de sua comunidade e mobiliza sua

rede de contatos em favor dela (por exemplo: apresenta a organização a clientes e fornecedores, realiza campanhas nas quais outras empresas possam participar, divulga as atividades da organização em seu site ou outros veículos de comunicação, etc.)? ( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim

36. A empresa busca envolver seus funcionários nos projetos com os quais colabora, incentivando-os a

atuarem voluntariamente na organização ou instituição carente “adotada”? ( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim

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37. Existe entre a empresa e a organização (ou instituição) por ela beneficiada uma conversa franca sobre o

papel de cada uma na parceira e, além disso, a empresa procura sempre acompanhar os resultados que essa parceira tem alcançado (por exemplo: que tipo de contribuição trouxe para a organização, para a empresa e para as pessoas atendidas? quais são os próximos passos? quando a parceria terá fim? como o parceiro se manterá sem o apoio da empresa? etc.)? ( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim

38. Estando claro que a Responsabilidade Social deve ser uma forma de GESTÃO do NEGÓCIO e que toda

empresa e todo negócio objetivam lucro, quando escolheu a organização (ou instituição carente) em que iria atuar, a empresa buscou, de algum modo, conciliar seus interesses com o dessa instituição (por exemplo: sua empresa produz artefatos esportivos e procurou uma instituição que atuasse com jovens, promovendo educação por meio do esporte, porque julga que a vinculação de sua marca a essa atividade possa ser benéfica)? ( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim

39. Como resultado de sua atividade na comunidade, a empresa acredita que obteve benefícios (por exemplo:

aumento de vendas, melhoria na relação com fornecedores, novos contatos / clientes, menor rotatividade de pessoal, etc.)? ( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim

40. A empresa procura participar de organizações que integrem empresários (por exemplo: organizações

empresariais, associações comerciais, fóruns regionais) e utiliza esse espaço para atualizar-se e discutir com outras empresas suas dificuldades, necessidades e formas de mobilização em busca de melhores condições para os negócios e também de melhores condições para comunidade? ( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim

41. A empresa é criteriosa nas campanhas políticas, promove debates e estimula o voto consciente?

( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim 42. A empresa informa seus funcionários sobre a importância de se envolverem nas administrações

governamentais e fiscalizá-las (por exemplo: divulga ações como o orçamento participativo e as eleições de conselhos municipais, incentivando os funcionários a participarem, etc.)? ( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim

43. A empresa mantém transparência em relação ao apoio e financiamento de campanhas políticas ou de

partidos políticos e não utiliza o seu “poder econômico” para influenciar seus públicos ou outras instituições? ( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim

44. Sempre que necessário (e possível), a empresa colabora com a melhoria dos equipamentos públicos da

sua região (como em escolas, postos de saúde, praças, áreas verdes, etc.)? ( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim

Empresa:____________________________________________________________________________

Responsável pelas respostas: ____________________________________________________________

Cargo/função:________________________________________________________________________

Telefone de contato:___________________________________________________________________

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APÊNDICE C – CADASTRO DE FORNECEDOR

1. Razão social: _______________________________________________________________________________________________ 2. Nome de fantasia: ___________________________________________________________________________________________ 3. CNPJ: __________________________________________________ Insc. Estadual:______________________________________ 4. Endereço:_______________________________________________ Bairro: ___________________________________________ 5. Cidade: ______________________________________ UF:_______ CEP:_____________________________________________ 6. Telefone: _____________________________________ Fax: ________________________________________________________ 7. E-mail:____________________________________________ Site: ____________________________________________________ 8. Pessoa de contato: ______________________________ Telefone para contato: __________________________________________ 9. Freqüência de visita: ( ) Semanal ( ) Quinzenal ( ) Mensal ( ) Bimensal Dia da semana: ___________________ 10. Origem da mercadoria: __________________________ Prazo de entrega: ______________________________________________ 11. Prazo de pagamento: _____ dias a partir do faturamento da Nota fiscal OU _____ dias a partir da entrega da mercadoria no Cardoso 12. Frete: ( ) CIF ( ) FOB ICMS substituído: ( ) Sim ( ) Não 13. Número de Funcionários: ( ) até 19 ( ) 20 a 99 ( ) 100 a 499 ( ) acima de 500 14. Faturamento anual: ( ) até R$ 1,2 milhões/ano ( ) R$1,2 a R$ 10,5 milhões ( )R$ 10,5 a 60 milhões ( )acima de R$ 60 milhões

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ANEXO 1

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