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0 UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DE ALIMENTOS A PESCA ARTESANAL E A QUALIDADE DE PESCADOS RECÉM-CAPTURADOS EM COMUNIDADES DE SÃO FRANCISCO DO CONDE-BA MARY DAIANE FONTES SANTOS Salvador – BA Março-2013

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DE ALIMENTOS

A PESCA ARTESANAL E A QUALIDADE DE PESCADOS

RECÉM-CAPTURADOS EM COMUNIDADES DE SÃO

FRANCISCO DO CONDE-BA

MARY DAIANE FONTES SANTOS

Salvador – BA Março-2013

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MARY DAIANE FONTES SANTOS

A PESCA ARTESANAL E A QUALIDADE DE PESCADOS

RECÉM-CAPTURADOS EM COMUNIDADES DE SÃO

FRANCISCO DO CONDE-BA

Orientadora: Profª Dra Ryzia de Cassia Vieira Cardoso

Co-Orientadora: Prof.ª Dra. Alaíse Gil Guimarães

Dissertação apresentada à Faculdade de Farmácia da

Universidade Federal da Bahia, como parte das

exigências do Programa de Pós-Graduação em Ciência

de Alimentos, para obtenção do título de Mestre.

Salvador – BA

Março- 2013

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Sistema de Bibliotecas - UFBA

Santos, Mary Daiane Fontes. A pesca artesanal e a qualidade de pescados recém-capturados em comunidades de São Francisco do Conde - BA / Mary Daiane Fontes Santos. - 2013. 141 f. : il.

Inclui anexos. Orientadora: Profª Drª Ryzia de Cássia Vieira Cardoso. Co-orientadora: Profª Drª Alaíse Gil Guimarães.

Dissertação (mestrado) - Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Farmácia, Salvador, 2013. 1. Pesca artesanal - São Francisco do Conde (BA). 2. Pescados - Microbiologia. 3. Marisco - Pesca - Microbiologia. 4. Alimentos - Qualidade. 5. Pescadoras - Saúde e higiene. 6. Pescadores - Saúde e higiene. I. Cardoso, Ryzia de Cássia Vieira. II. Guimarães, Alaíse Gil III. Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Farmácia. IV. Título.

CDD - 639.2098142 CDU - 639.2(813.8)

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente a DEUS, por mais uma vitória alcançada na minha vida e

porque tudo ocorreu bem nesses dois anos de pesquisa, idas e vindas à São

Francisco do Conde, algumas vezes sem nenhuma amostra, mas sempre com a

certeza de que Ele estava me guiando, para no final dar tudo certo, como Ele

tinha planejado. Até minha gestação chegou na hora certa, depois que já tinha

finalizado as atividades no laboratório: DEUS é perfeito!

À minha mãe MAGALI, pois sem ela não chegaria aqui, e aos meus

familiares sempre presentes na minha vida, dando apoio e carinho acima das

dificuldades e diferenças, em especial, meu irmão THEOTONIO e meus avós

NINA e MAX.

Ao meu esposo, ISMAEL NETO, pelo apoio incondicional em todos os

momentos, desde as madrugadas em que acordou cedo para me levar à

Brasilgás nas idas à São Francisco do Conde, que sempre me perguntava: ” -

Faltam quantas amostras agora?” (rsrs), até as ajudinhas para escrever alguns

parágrafos, quando eu não encontrava as benditas palavras.

À minha orientadora RYZIA CARDOSO, pelas orientações dadas e

questionamentos feitos, que corroboraram para o aperfeiçoamento do meu

conhecimento sobre a pesquisa. A senhora foi uma grande mãe, que Deus lhe

ilumine sempre!

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia, FAPESB, pelo

apoio financeiro do projeto de pesquisa.

Ao Sr. JORGE BATISTA, peça-chave para a execução das atividades de

campo, sem ele, este trabalho não seria possível.

Aos pescadores e marisqueiras de todas as comunidades, pessoas

fundamentais para o desenvolvimento da pesquisa, com os quais pude aprender

sobre os movimentos das marés e detalhes sobre a atividade pesqueira não

encontrados nem livros e nem na internet.

Aos queridos amigos, SIMONE ÂRGOLO, MARINA CIRQUEIRA,

WELLINGTON COSTA e GABRIELA NÓBREGA, pela amizade construída

durante o mestrado. Agradeço pelas trocas de conhecimento, as conversas, as

gargalhadas, os conselhos e ajudas dadas.

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Às estudantes de Iniciação Científica, PRISCILA CAMPOS, DÉBORA

MOURA, MARIANA MARTINS, SISSA GARRIDO, NAÍNA IVO, ALINE NATANA,

LARISSA ASSUNÇÃO, LUMA ABREU pelo apoio e ajuda nas execuções das

análises nos laboratórios.

À LUIS FERNANDES, AYSE BARBOSA e aos funcionários da Escola de

Nutrição da UFBA, por me acolherem na Escola, pelo apoio e contribuições

necessárias.

A todos os professores do Programa de Pós-Graduação da Faculdade de

Farmácia e aos professores DALVA FURTUNATO e JOSÉ ÂNGELO GOES, pelo

apoio e estímulo sempre presentes.

À equipe do Projeto São Francisco do Conde, pela colaboração no

desenvolvimento da pesquisa.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO GERAL ___________________________________________ 17

OBJETIVOS ____________________________________________________ 20

GERAL________________________________________________________ 20

ESPECÍFICOS __________________________________________________ 20

ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO ___________________________________ 21

CAPITULO 1: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ___________________________ 22

1 PESCA ARTESANAL: DEFINIÇÕES E SUB-CATEGORIAS ____________ 22

1.1 Pesca Artesanal ________________________________ ___________ 22

1.2 Mariscagem_____________________________________ __________ 24

1.3 Pesca Artesanal no Brasil ______________________ _____________ 26

1.4 Pesca Artesanal na Bahia _______________________ ____________ 29

2 PESCADO____________________________________________________ 31

2.1 Pescado: Composição, saúde e sabor _____________ ____________ 31

2.2 Microbiota do pescado__________________________ ____________ 33

2.3 Deterioração do pescado________________________ ____________ 36

2.4 Conservação e comercialização do pescado_______ _____________ 37

2.5 Avaliação da Qualidade do pescado______________ _____________ 40 2.5.1 Métodos sensoriais ______________________________________ 41 2.5.2 Avaliação físico-química do pescado _________________________ 43 2.5.3 Avaliação microbiológica: indicadores da qualidade _____________ 46

3 SÃO FRANCISCO DO CONDE, BAHIA _____________________________ 49

3.1 Breve histórico, localização e atividades econô micas ____________ 49

3.2 Breve caracterização da Sede e das comunidades pesqueiras de São Francisco do Conde _________________________________ __________ 53

3.2.1 Sede__________________________________________________ 53 3.2.2 Ilha do Paty ____________________________________________ 53 3.2.3 Muribeca ______________________________________________ 53 3.2.4 São Bento das Lajes _____________________________________ 54 3.2.5 Porto de Brotas _________________________________________ 54 3.2.6 Caípe _________________________________________________ 54 3.2.7 Campinas ______________________________________________ 55 3.2.8 Ilha das Fontes__________________________________________ 55

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS _________________________________ 56

CAPÍTULO 2: A MARISCAGEM EM SÃO FRANCISCO DO CONDE- BA: GÊNERO, CONDIÇÕES DE VIDA E DE TRABALHO ___________________ 66

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SHELLFISH IN SÃO FRANCISCO DO CONDE-BA: GENDER, LIV ING AND WORKING CONDITIONS _________________________________________ 66

RESUMO ______________________________________________________ 67

ABSTRACT ____________________________________________________ 68

1 INTRODUÇÃO ________________________________________________ 69

2 MATERIAIS E MÉTODOS _______________________________________ 70 2.1 Levantamento da população de estudo ________________________ 70 2.2 Coleta das informações_____________________________________ 72 2.3 Aspectos éticos ___________________________________________ 72

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES __________________________________ 72 3.1 Aspectos sócio-demográficos ________________________________ 73 3.2 Características do trabalho e renda ___________________________ 79 3.3 Saúde das marisqueiras ____________________________________ 81 3.4 Caracterização das embarcações e arte de pesca ________________ 84 3.5 Cuidados com o pescado capturado e com as embarcações________ 85 3.6 Caracterização dos recursos pesqueiros e sua comercialização _____ 87 3.7 Organização comunitária ___________________________________ 89

4 CONCLUSÕES ________________________________________________ 91

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS _________________________________ 92

CAPÍTULO 3: QUALIDADE DO PESCADO RECÉM-CAPTURADO E M COMUNIDADES PESQUEIRAS DE SÃO FRANCISCO DO CONDE, B RASIL 97

QUALITY OF SEAFOOD CAPTURED IN FISHING COMMUNITIES IN SÃO FRANCISCO DO CONDE, BRAZIL_________________________ _________ 97

RESUMO ______________________________________________________ 98

ABSTRACT ____________________________________________________ 99

1 INTRODUÇÃO _______________________________________________ 100

2 MATERIAIS E MÉTODOS ______________________________________ 101 2.1 Obtenção das amostras ___________________________________ 103 2.2 Análise sensorial _________________________________________ 104 2.3 Análises microbiológicas e físico-químicas _____________________ 104 2.3.1 Análises microbiológicas _________________________________ 105 2.3.2 Análise físico-química- pH________________________________ 106 2.4 Padrões de apoio ________________________________________ 106 2.5 Tratamento estatístico dos dados ____________________________ 107

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO __________________________________ 107 3.1 Análises sensorias _______________________________________ 107 3.2 Análises microbiológicas___________________________________ 108 3.3 pH ____________________________________________________ 114

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3.4 Avaliação global da qualidade_______________________________ 118

4 CONCLUSÕES _______________________________________________ 121

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ________________________________ 123

CONSIDERAÇÕES FINAIS _______________________________________ 129

ANEXO ______________________________________________________ 131

ANEXO A – Questionário do pescador. ________________ __________ 131

ANEXO B – Termo de Consentimento livre e pré-esclar ecido.________ 136

ANEXO C- Ficha de análise sensorial para peixe fres co_____________ 138

ANEXO D- Ficha de análise sensorial para molusco (s ururu) ________ 139

ANEXO E- Ficha de análise sensorial para camarão___ _____________ 140

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LISTA DE TABELAS Capítulo 1 Tabela 1 – Critérios para avaliação sensorial de frescor em peixe.......................... 42 Tabela 2 - Critérios para avaliação sensorial de crustáceos frescos....................... 43 Tabela 3 - Critérios para avaliação sensorial de moluscos bivalves frescos.......... 43 Capítulo 2 Tabela 1 - Características das residências das marisqueiras nas diferentes comunidades de São Francisco do Conde - Bahia, Brasil, 2010-2011. .................. 77 Capítulo 3 Tabela 1. Perfil microbiológico (log (UFC/g) ou Presença) de amostras de pescado recém-capturado em comunidades pesqueiras de São Francisco do Conde, Bahia, Brasil.......................................................................................................109 Tabela 2. Comparação entre as espécies quanto aos valores de média para coliformes totais e pH..................................................................................................... 120 Tabela 3. Comparação para a contagem de aeróbios mesófilos, entre as comunidades pesqueiras, pelo Teste de Tukey. ....................................................... 120

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LISTAS DE ILUSTRAÇÕES

Capítulo 1 Figura 1: Mapa de São Francisco do Conde, Bahia, com indicações das comunidades pesqueiras................................................................................................. 52 Capítulo 2 Figura 1: Mapa de São Francisco do Conde, Bahia, com indicações das comunidades pesqueiras estudadas. ............................................................................ 71 Figura 2: Distribuição (%) das marisqueiras de São Francisco do Conde, Brasil, quanto à faixa etária. 2010-2011. .................................................................................. 73 Figura 3: Distribuição (%) das marisqueiras de São Francisco do Conde, Brasil, quanto ao estado civil. 2010-2011. ................................................................................ 75 Figura 4: Distribuição (%) das marisqueiras de São Francisco do Conde, Brasil, quanto ao relato de doenças associadas ao trabalho. 2010-2011........................... 82 Figura 5: Desenvolvimento de posturas incorretas, durante o trabalho na mariscagem: A - Postura durante a captura de mariscos no mangue; B - Marisqueiras carregando mariscos cobertos com sedimento do mangue; C - Postura inadequada durante beneficiamento do marisco. Ilha do Paty, São Francisco do Conde, Bahia, Brasil, 2012. .................................................................... 83 Figura 6: Distribuição (%) das marisqueiras, quanto à forma de acondicionamento do pescado recém-capturado em São Francisco do Conde – Bahia, Brasil, 2010 – 2011. ................................................................................................................................... 86 Figura 7: Distribuição (%) das marisqueiras, quanto aos tipos de pescado capturados em comunidades pesqueiras de São Francisco do Conde – Bahia, Brasil, 2010 – 2011........................................................................................................... 87 Capítulo 3 Figura 1: Mapa de São Francisco do Conde, Bahia, com indicações das comunidades pesqueiras (pontos de amostragem) .................................................. 102 Figura 2: A- Amostra de sururu com presença de sedimentos do mangue no líquido intervalvar; B- Amostra de sururu sem sedimentos do mangue no líquido intervalvar. São Francisco do Conde, Bahia, Brasil, 2012....................................... 108 Figura 3: Distribuição (n) das amostras de pescados recém-capturados em comunidades pesqueiras de São Francisco do Conde, quanto à contaminação por E. coli. São Francisco do Conde, Bahia, Brasil. ........................................................ 112 Figura 4: Medidas descritivas para o pH de amostras de pescado recém-capturados em comunidades pesqueiras de São Francisco do Conde, Bahia, Brasil. ................................................................................................................................ 115 Figura 5: Distribuição (%) das amostras de pescado recém-capturado por espécies, quanto à condição de conformidade para padrões microbiológicos e físico-químicos. São Francisco do Conde, Bahia, Brasil. ........................................ 118 Figura 6: Distribuição (n) das amostras de pescados recém-capturados não conformes por comunidades pesqueiras, em relação aos padrões microbiológicos e físico-químicos. São Francisco do Conde, Bahia, Brasil. ..................................... 119

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LISTA DE ABREVIATURAS

E. coli - Esherichia coli

S. aureus - Staphylococcus aureus

S. typhi - Salmonella typhi

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LISTA DE SIGLAS

A.O.A.C.-Association of Official Analytical Chemists ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária APHA - American Public Health Association ATP - Adenosina trifosfato BA- Bahia BTS - Baía de Todos os Santos DHA - Ácido docosahexaenóico DMA - Dimetilamina EMBASA- Empresa Baiana de Água e Saneamento S.A. EPA - Ácido eicosptenóico FABESB - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia FAO - Food and Agriculture Organization of the United Nations Hx - Hhipoxantina IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ICMSF - International Commission on Microbiological Specification for Foods LER-Lesão por Esforço Repetitivo MAPA - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento MPA - Ministério da Pesca e Aqüicultura NaCl - Cloreto de sódio N-BVT - Nitrogênio das bases voláteis totais N-TMA -Nitrogênio da trimetilamina OMS - Organização Mundial de Saúde OTMA - N-óxido de trimetilamina pH - Potencial hidrogeniônico PIB - Produto Interno Bruto Projeto ESTATPESCA-Projeto de Monitoramento da Atividade Pesqueira no Litoral do Brasil RGP-Registro Geral de Pesca RIISPOA - Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal RJ- Rio de Janeiro RLAM - Refinaria Landulpho Alves SEAP -Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca SFC - São Francisco do Conde SP- São Paulo SPSS - Statistical Package for the Social Sciences TMA- Trimetilamina UFC/ g - Unidades Formadoras de Colônia por grama

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RESUMO

A pesca artesanal constitui uma atividade típica nas regiões litorâneas e ribeirinhas do Brasil, contribuindo com quase a metade da produção nacional pesqueira e para a geração de renda. No entanto, caracteriza-se pela falta de aplicação de tecnologias adequadas e condições precárias de trabalho, registrando-se poucos estudos que retratem essa realidade e a qualidade do pescado obtido. Assim, este estudo tem por objetivo caracterizar a pesca artesanal, na perspectiva do gênero, e a qualidade sensorial, microbiológica e físico-química de pescados recém-capturados, em comunidades de São Francisco do Conde-BA. Realizaram-se dois estudos exploratórios, com abordagem quantitativa, em oito comunidades pesqueiras do município. O primeiro foi desenvolvido junto às marisqueiras (n=695) das oito comunidades pesqueiras, mediante o uso de questionários semi-estruturados. O segundo foi desenvolvido nas mesmas comunidades, onde foram obtidas 83 amostras de pescados recém-capturados - 31 de sururu (Mytella guianensis), 24 de tainha (Mugil brasiliensis), 14 de camarão (Penaeus spp) e 14 de robalo (Centropomus undecimalis), para avaliação quanto ao frescor, por meio de indicadores de qualidade sensorial, físico-químicas – pH, e microbiológica - contagem de bactérias aeróbias mesófilas, estafilococos coagulase positiva, coliformes totais, Escherichia coli e à pesquisa de Salmonella spp. Os resultados foram confrontados com padrões da Resolução RDC n° 12/200 1/Ministério da Saúde e do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. No primeiro estudo verificou-se que as pescadoras tinham média de idade de 39,12 anos, amplitude de 18 a 80 anos, predomínio de baixa formação escolar (56,80%) e moradia em residências próprias (78,70%), com disponibilidade de água tratada (84,60%) e energia elétrica (97,10%). A média de tempo na atividade foi de 18,80 anos e a média de jornada diária de trabalho no mangue registrou 5,53 horas, com um a sete dias de trabalho/semana. Para 91,30% das entrevistadas, a renda mensal foi inferior a um salário mínimo, sendo a mariscagem realizada tanto como renda principal como para complementação do ingresso familiar. Quase metade das marisqueiras (50,30%) relatou doenças associadas ao trabalho e pequena proporção (25,40%) indicou a adoção de medidas domésticas de proteção individual. As espécies mais capturadas incluíram ostra (81,00%), sururu (72,00%) e siri (62,00%). Grande parte das marisqueiras (91,00%) não participava de organização social e 63,20% informaram possuir o Registro Geral de Pesca. No segundo estudo, 100% das amostras apresentaram atributos sensoriais em atendimento à legislação vigente. Quanto à qualidade microbiológica, verificaram-se contagens inferiores a 6,00 log UFC/g para as bactérias aeróbias mesófilas, contagens variando entre 1,00 e 6,22 log UFC/g para coliformes totais, com identificação de E. coli em 29% (n=24) das amostras - apenas 2,5% (n=2) das amostras excederam ao padrão de estafilococos coagulase positiva para pescado in natura e registrou-se ausência de Salmonella spp na totalidade das amostras. Em relação à qualidade físico-química, os valores de pH variaram de 5,68 a 7,30 com 18% (n=15) das amostras em desacordo com a legislação vigente. Para o conjunto de análises, 14% das amostras classificaram-se como não conformes. O estudo evidencia a mariscagem como relevante atividade econômica para as pescadoras artesanais e para a oferta de pescados na região e, também, contaminações e alterações no pescado, no momento pós-captura imediato,

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adensando preocupações quanto à segurança dos pescados capturados no município. Nesse contexto, sinaliza-se a necessidade de ações da gestão pública para o desenvolvimento de programas de intervenção, com vistas a reduzir a poluição no ambiente marinho, melhorar a condição de trabalho e a qualidade de vida para as trabalhadoras da pesca, assim como para alcançar melhores níveis de qualidade dos pescados comercializados. Palavras-chave: Pesca artesanal. Mariscagem. Frutos do mar. Qualidade de alimentos. Gênero. saúde do trabalhador.

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ABSTRACT

The artisanal fishing is a typical activity in the coastal and riverine regions of the Brazil, contributing with almost half of the national fisheries production and for income generation. However, it’s characterized by the low application of technologies and poor working conditions, registering few studies that reflect this reality and the quality of seafood obtained. So, this study aims to characterize the artisanal fishing, by gender perspective, and the sensory, microbiological and physical-chemical quality of the freshly caught fish in communities of São Francisco do Conde - BA. Two exploratory studies have been undertaken with a quantitative approach, in eight fishing communities of the municipality. The first study was developed with artisanal fisherwomen (n=695) of the eight fishing communities, using an semi-structured questionnaires. The second one was developed in the same communities, where they were obtained 83 samples of freshly caught fish - 31 mussels (Mytella guianensis), 24 mullet (Mugil brasiliensis), 14 shrimp (Penaeus spp) and 14 bass (Centropomus undecimalis) to evaluate their freshness, through quality indicators sensory, physical-chemical - pH, and microbiological - count of mesophilic aerobic bacteria, staphylococci coagulase positive, total coliforms, Escherichia coli and Salmonella spp. The results were compared with patterns of RDC Resolution No. 12/2001/Ministério of Health and Ministry of Agriculture, Livestock and Supply. In the first study has been found that the fisherwomen had a mean age of 39.12 years, amplitude value between 18-80 years, educational training predominantly low (56.80%) and own habitation (78.70%), with treated water available (84.60%) and electricity (97.10%). The average time in the activity was 18.80 years and the average workday in mangrove was 5.53 hours, with one to seven working days / week. To 91.30% of respondents, the monthly income was less than minimum wage, being the shellfish to main income as to complement the family income. Almost half of the fisherwomen (50.30%) reported illnesses associated with the work, and a small proportion (25.40%) indicated the adoption of domestic measures of individual protection. The most captured species included oyster (81.00%), mussels (72.00%) and crab (62.00%). Almost all of the fisherwomen (91.00%) didn't participate of the social organization and 63.20% reported owning the Registrar General of Fishing. In the second study, 100% of the samples had sensory attributes in agreement with current legislation. As for the microbiological quality, there were scores with less than 6.00 log CFU / g for mesophilic aerobic bacteria, scores ranging between 1.00 and 6.22 log CFU / g for total coliforms, with identification of E. coli in 29% (n = 24) of the samples - only 2.5% (n = 2) of the samples exceeded the standard of coagulase positive for fresh fish and registered absence of Salmonella spp in all samples. Regarding the physical-chemical quality, pH values ranged from 5.68 to 7.30 with 18% (n = 15) of the sample unconforming with current legislation. For the combined analysis, 14% of the samples were classified as non-compliant. The study highlights the shellfish as a significant economic activity for artisanal fisherwomen and for offering fished and also contamination and changes in fish, at the moment of immediate post-capture, densifying concerns about the safety of fish caught in the municipality. In this context, due to the necessity of public actions for the development of intervention programs that aimed the reduction of pollution in the marine

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environment, improve working conditions and quality of life for workers in the fishing, as well as to achieve best levels of quality of fish sold. Keywords : Artisanal fishing. Shellfish. Seafood. Quality control of foods. Gender, worker health.

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INTRODUÇÃO GERAL

A pesca artesanal é uma atividade caracterizada pela captura e

desembarque de diversas espécies aquáticas, realizada por pescadores que

trabalham sozinhos e/ou com mão de obra familiar ou não, assalariados por meio

da exploração de ambientes aquáticos à costa, uma vez que as embarcações e

aparelhagem de pesca para tal possuem pouca capacidade (CLAUZET;

RAMIRES; BARRELLA, 2005).

No Brasil, dados de 2010 revelam que a pesca artesanal é uma

atividade típica nas regiões litorâneas e ribeirinhas, sendo responsável por 50%

do pescado consumido no país e por 42,4% da produção nacional pesqueira

(BRASIL, 2012). Na atualidade, estima-se que existam no país em torno de 800

mil pescadores que vivem diretamente da pesca, e, ainda, cerca de dois milhões

de pessoas envolvidas no segmento, os quais se organizam em associações de

pescadores, sendo ou não proprietários das embarcações e instrumentos de

pesca (BRASIL, 2011b; 2011c; CLAUZET; RAMIRES; BARRELLA, 2005).

Na Bahia, a pesca artesanal representa 83,5% da atividade pesqueira

do estado e sua prática se faz ampla na capital e nos demais municípios da

região costeira, tendo como destaque de produção as regiões do Litoral Norte e a

Baía de Todos os Santos (Recôncavo Baiano) (AMARAL; BARROS; SOUZA,

2006; BRASIL, 2008b).

Quanto ao gênero, a pesca artesanal é subdivida em duas

modalidades, a pesca propriamente dita realizada pelo homem em mar de fora e

a mariscagem realizada por mulheres voltada à extração de mariscos nos

manguezais, ou seja no mar de dentro (FAO, 2012; WOORTMANN, 1992). A

mariscagem se faz presente no Brasil e em outros países em desenvolvimento,

como uma atividade desenvolvida por comunidades pesqueiras costeiras, tanto

como forma de subsistência quanto fonte de renda (CAMPOS, 2009; RIOS;

GERMANNI, 2011; WILLIAMS; HOCHET-KIBONGUI; NAUEN, 2005).

Em relação à contribuição alimentar do pescado, cabe ressaltar a sua

riqueza em proteínas, vitaminas, minerais e em ácidos graxos poliinsaturados

como ômega-3, responsáveis pela redução de triglicerídeos e colesterol no

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homem e auxílio na diminuição dos riscos de incidências de doenças

cardiovasculares (FARIAS, 2006; OGAWA; MAIA; 1999).

Todavia, o pescado é um alimento perecível, em virtude de alterações

de natureza enzimática e bacteriana no período pós-captura, posto que apresenta

pH próximo à neutralidade, elevada atividade de água, lipídios vulneráveis a

oxidações e nutrientes de fácil utilização por micro-organismos. Nesse contexto, o

pescado é um dos alimentos mais associado às doenças de origem alimentar

(MACHADO et al., 2010; OGAWA ; MAIA, 1999).

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que, a cada ano, mais

de dois milhões de pessoas morram por doenças diarréicas, muitas das quais

foram adquiridas pela ingestão de alimentos contaminados (BRASIL, 2010).

Segundo dados da Secretaria de Vigilância em Saúde, no Brasil, de 1999 a 2009,

foram notificados 6.349 surtos de doenças veiculadas por água e alimentos no

Brasil, envolvendo 123.917 pessoas, resultando em 70 óbitos (BRASIL, 2009b);

entre os surtos notificados, 72 foram associados aos pescados.

No pescado, a contaminação microbiana está relacionada com a

qualidade da água em que o animal foi capturado e com as práticas adotadas

pelos manipuladores, durante as etapas de captura, transporte e comercialização

(FARIAS, 2006; JAY, 2005). Estudos relativos à qualidade higiênico-sanitária de

pescados e sua forma de comercialização, realizados em alguns estados

brasileiros, como São Paulo, Fortaleza, Bahia, Rio de Janeiro, Pará, Pernambuco

têm demonstrado que esse alimento pode representar risco à saúde pública, uma

vez que se registra qualidade microbiológica e físico-química insatisfatória para o

consumo (CUNHA et al., 2003; FARIAS; FREITAS, 2011; GALVÃO et al., 2006;

OLIVEIRA et al., 2011; REGO et al., 2011; PEREIRA et al., 2010; SOUZA et al.,

2010; URBANO, 2007; VIEIRA et al., 1998).

Na Baía de Todos os Santos, no município de São Francisco de Conde

(SFC), a pesca e a mariscagem compreendem uma das principais fontes de

renda da população, tanto na sede municipal quanto nos vários distritos litorâneos

e ribeirinhos (BRASIL, 2008b, 2011c; SÁ, 2011). Contudo, ainda há insuficiência

de descrições sobre esta cadeia produtiva e a qualidade do pescado recém-

capturado, com indicações preliminares de problemas de higiene e conservação

ao longo das etapas envolvidas (ARGOLO, 2012).

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Mediante o exposto e considerando a insuficiência de estudos no setor,

o presente estudo busca caracterizar a pesca artesanal na perspectiva do gênero

e da qualidade sensorial, microbiológica e físico-química de pescados recém-

capturados, em comunidades pesqueiras de SFC.

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OBJETIVOS

GERAL

• Caracterizar a pesca artesanal em comunidades de São Francisco do

Conde – BA, na perspectiva do gênero e a da qualidade sensorial,

microbiológica e físico-química de pescados recém-capturados.

ESPECÍFICOS

• Descrever a pesca artesanal em comunidades pesqueiras de SFC,

considerando a inserção do trabalho das mulheres;

• Caracterizar pescados recém-capturados em comunidades de SFC,

quanto à qualidade sensorial;

• Avaliar a qualidade microbiológica de pescados recém-capturados nas

comunidades, por meio de micro-organismos indicadores e patógenos;

• Caracterizar pescados recém-capturados quanto ao frescor, por critério

físico-químico.

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ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

Este estudo organiza-se em três capítulos, sendo o primeiro de revisão

de literatura, com abordagem de temas relacionados à pesca artesanal, aos

pescados e ao local de estudo, São Francisco do Conde.

O segundo capítulo, em forma de artigo, procura apresentar e

caracterizar a pesca artesanal realizada por marisqueiras do município, revelando

os aspectos social, econômico e sanitário.

O terceiro capítulo, em forma de artigo, procura caracterizar a

qualidade sensorial, microbiológica e físico-química de amostras de pescados

recém-capturados, em face aos padrões vigentes e à referências técnico-

cientificas .

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CAPITULO 1: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 1 PESCA ARTESANAL: DEFINIÇÕES E SUB-CATEGORIAS

1.1 Pesca Artesanal

A pesca é considerada uma das atividades econômicas mais antigas

do homem e possui enorme relevância na alimentação de vários povos

(FAVERET FILHO; SIQUEIRA, 1997).

No Brasil, segundo a Lei nº 11.959, de 29 de junho de 2009 (BRASIL,

2009a), que dispõe sobre a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável da

Aqüicultura e da Pesca, considera-se a pesca como toda operação, ação ou ato

tendente a extrair, colher, apanhar, apreender ou capturar recursos pesqueiros

(espécimes dos grupos de peixes, crustáceos, moluscos e vegetais hidróbios)

com ou sem aproveitamento comercial. A mesma lei, ainda classifica a pesca

como pesca comercial, que compreende a pesca artesanal e a pesca industrial, e

a não comercial, que compreende as modalidades de pesca amadora, científica e

sustentável (BRASIL, 2009a).

A pesca artesanal ou de pequena escala é definida nessa mesma lei,

Lei nº 11.959 (BRASIL, 2009a), como a pesca praticada diretamente por pescador

profissional, de forma autônoma ou em regime de economia familiar, com meios

de produção próprios (redes, anzóis, varas, etc.) ou mediante contrato de

parceria, com ou sem a utilização de embarcações, cuja produção destina-se ao

mercado e também à obtenção de alimento para as famílias dos envolvidos.

Para a FAO (2005), a pesca tradicional é aquela que envolve famílias,

como forma de subsistência e fonte de renda, por meio do emprego ou não de

embarcações relativamente pequenas para viagens curtas e perto da costa,

utilizando quantidade relativamente pequena de capital e energia.

Em geral, a pesca artesanal é realizada ainda com o emprego de

tecnologias de baixo poder de predação, sendo as embarcações utilizadas na

pesca artesanal de pequeno porte, para viagens curtas e próximas à costa, como

jangadas, canoas, botes, dentre outras, que servem tanto como meio de produção

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para os pescadores quanto como meio de deslocamento (CARDOSO, 2001;

CLAUZET; RAMIRES; BARRELLA, 2005).

A captura da pesca artesanal é comumente realizada na plataforma

continental, onde os ambientes ecológicos explorados são alcançados em poucas

horas dos portos ou praias, onde os pescadores vivem, sendo a captura realizada

com redes de cerco de praia, anzol e até mesmo a colheita manual para moluscos

bivalves e alguns crustáceos (COLLOCA; CRESPI; COPPOLA, 2003). Os

pescadores artesanais mantêm contato direto com o universo natural, e, sua

experiência do fazer pesqueiro permite construir um conhecimento acerca da

classificação, história natural, hábitos, biologia e utilização dos recursos naturais

da região onde vivem (CARDOSO, 2001; CLAUZET; RAMIRES; BARRELLA,

2005).

A produção da pesca artesanal é total ou parcialmente destinada à

comercialização e é caracterizada como produção em pequena e média escalas,

não obstante, têm imensa importância para a economia mundial, uma vez que

emprega mais de 90% dos pescadores e é responsável por cerca de 50% da

captura mundial de pescado destinado para o consumo humano (FAO, 2005).

No setor pesqueiro nota-se uma separação da atividade por gênero,

que segundo o Fundo das Nações Unidas para Agricultura e Alimentos (FAO,

2012) varia conforme a situação econômica, as relações de poder e o acesso aos

recursos naturais tendo, assim o mar dividido como mar de fora ou mar alto ou

mar grosso, designado ao homem para as capturas de longa distância, e o mar de

dentro, destinado aos dois gêneros, com as mulheres envolvidas em pescarias

com barcos menores como canoas e também para a colheita de mariscos nos

manguezais e até mesmo na comercialização do pescado (FAO, 2012;

WOORTMANN, 1992). Assim a pesca artesanal é categorizada em duas

modalidades, a pesca propriamente dita realizada pelos homens e a mariscagem

pelas mulheres e algumas vezes por crianças (PACHECO, 2006).

De acordo com a FAO (2012), essa separação se deve não só por

causa do trabalho rigoroso, mas também por causa das mulheres exercerem

atividades domésticas e ou por normas sociais. Segundo levantamentos, em

2010, das pessoas envolvidas no setor primário da pesca, pelo menos 15% eram

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mulheres, sendo pontuado um aumento da participação das mulheres nesta

atividade, tanto em águas interiores quanto nas atividades de processamento.

Nesse cenário, cabe destacar que a mulher desempenha importante papel tanto

na pesca artesanal como na industrial, no processamento e comercialização, seja

no beneficiamento e venda da sua produção doméstica, como é o caso das

marisqueiras, seja em indústrias, com a transformação em larga escala (FAO,

2012).

1.2 Mariscagem

A mariscagem refere-se à categoria da pesca artesanal voltada a

captura manual de moluscos bivalves e alguns crustáceos, como siri e

caranguejo, durante os períodos de marés baixas, sendo exercida, sobretudo, por

mulheres denominadas marisqueiras ou mariscadeiras (CAMPOS, 2009;

FADIGAS; GARCIA; HERNÁNDEZ, 2008; JESUS; PROST; 2011). No Brasil,

como também em outros países em desenvolvimento e desenvolvidos, a

mariscagem é uma atividade desenvolvida por várias comunidades pesqueiras

costeiras, tanto como forma de subsistência quanto fonte de renda, a partir da

exploração dos manguezais (CAMPOS, 2009; RIOS; GERMANNI, 2011;

WILLIAMS; HOCHET-KIBONGUI; NAUEN,, 2005).

Os manguezais compreendem ecossistema costeiro, característico das

regiões tropicais e subtropicais, resultante da interação das águas marinhas e

fluviais, cuja estrutura varia conforme a biogeografia e as condições ambientais

locais. Esse ecossistema é um ambiente favorável à produção de matéria

orgânica, e consequentemente, para a alimentação, reprodução e proteção de

diversas espécies da fauna terrestre, aquática ou ainda de pássaros, além de ser

base de sustentação de populações costeiras, em virtude da diversidade de

recursos naturais oferecidos (JESUS; PROST, 2011; LIMA, 2009; RIOS;

GERMANNI, 2011).

No Brasil, os recursos provenientes dos manguezais são de extrema

importância para as comunidades litorâneas, uma vez que deles provém parte da

sua dieta protéica, além de serem utilizados para a exploração de madeira, bem

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como fonte de subsistência e de renda de populações carentes, que vivem da

mariscagem (JESUS; PROST, 2011; SOUTO; MARTINS 2008; RIOS;

GERMANNI, 2011).

As marisqueiras compreendem mulheres de idade e crenças variadas

que vivem da captura e beneficiamento de marisco, e que detém conhecimento

sobre as marés, as fases lunares e a heterogeneidade da fauna e flora do

mangue (BEZERRIL, 2012). Essas mulheres possuem dupla jornada de trabalho

com a captura dos mariscos, no arenoso da praia e nos manguezais, associada

ao trabalho doméstico, não tendo férias e descanso semanal e nem feriados

remunerados. A jornada diária da mariscadeira varia entre 10 a 14 horas (PENA,

FREITAS; CARDIM,, 2011; SILVA; CONSERVA; OLIVEIRA, 2011).

As marisqueiras são proprietárias dos instrumentos de pesca,

geralmente rudimentares, como faca ou facão para a coleta de ostras em pedras,

colher de pau ou alumínio e pequenas enxadas para cavar e/ou raspar a areia na

identificação do marisco, panela de alumínio e/ou lata para armazenamento da

coleta e balde para o transporte do produto. Também são responsáveis pelo

beneficiamento e pela venda dos mariscos, uma vez que a comercialização de

alguns deles, como ostras, sururu, siri, exigem outras etapas de trabalho -

limpeza, cozimento, remoção da carne das valvas dos moluscos e das carapaças

dos crustáceos, lavagem da carne do marisco, acondicionamento e

armazenamento em freezer. Essas etapas, geralmente, são realizadas de forma

artesanal, no ambiente doméstico, sendo o cozimento dos mariscos feito em

panelas ou até mesmo em latas de tintas reaproveitadas, em fogão à lenha

(PENA, FREITAS; CARDIM, 2011; SILVA, 2011).

Essas pescadoras são detentoras dos seus horários de trabalho, uma

vez que o fato de não ir mariscar implica na perda de produção, pois a partir da

exploração dos manguezais, é que podem garantir a sua alimentação, o sustento

da família, além de permitir a aquisição de bens materiais para suas próprias

residências (DIAS; ROSA; DAMASCENO, 2007; PENA, FREITAS; CARDIM,,

2011). Entretanto, a destruição gradual do meio ambiente, causada pela poluição

dos estuários e mangues, a sobre-exploração de recursos pesqueiros, o processo

de urbanização desordenado nas cidades litorâneas, além do aterro de

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manguezais trazem risco a essa atividade, em decorrência da redução ou da

possibilidade de escassez dos produtos marinhos (BOTELHO; SANTOS, 2005;

DIAS; ROSA; DAMASCENO, 2007).

1.3 Pesca Artesanal no Brasil

A pesca artesanal é uma das atividades mais antigas do Brasil, que se

faz presente desde o período colonial. Tem sua importância reconhecida tanto no

âmbito econômico, posto ser responsável pela criação e manutenção de

empregos nas comunidades litorâneas e ribeirinhas, bem como no âmbito cultural,

pois, a partir da pesca artesanal, surgiram e são preservadas até hoje diversas

tradições. Estas tradições são representadas por festas típicas, rituais, técnicas e

artes de pesca, além de lendas do folclore brasileiro e da contribuição à origem de

comunidades que simbolizam toda a diversidade e riqueza cultural do povo

brasileiro, como os caiçaras (Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná), os açorianos

(Santa Catarina), os jangadeiros (Região Nordeste) e os ribeirinhos (Região

Amazônica) (BRASIL, 2011d; SANTOS, 2004).

A pesca artesanal no Brasil refere-se à captura de peixes de espécies

variadas, cujos meios de subsistência baseia-se na pesca em tempo integral ou

parcial, sendo o pescado capturado, geralmente, vendido em mercados locais e

regionais por intermediários, ainda que, muitas vezes, algumas das capturas

sejam mantidas nas casas dos pescadores para consumo. Apesar da pesca

artesanal ser responsável por aproximadamente 540 mil trabalhos diretos no

país, esse setor pesqueiro é precário em relação à infraestrutura para o

desembarque, armazenamento e comercialização do pescado (FAO, 2011).

Na perspectiva histórica brasileira, a pesca artesanal surgiu na época

do Brasil Colônia, a partir da quebra da economia dos ciclos cafeeiro e açucareiro

e, também, devido à necessidade de exploração de outros meios que não fossem

os recursos de flora e fauna litorâneas, como o palmito, a caxeta e os animais de

caça (CLAUZET; RAMIRES; BARRELLA, 2005).

Ainda em 1919, os pescadores das diferentes regiões brasileiras foram

organizados em torno das Colônias de Pescadores, que constituíam estruturas

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criadas pela Marinha, com o objetivo reunir os pescadores e comunidades

pesqueiras para eventuais necessidades bélicas. Na atualidade, as colônias ainda

existem e são formadas com o intuito de atuar no cadastramento dos pescadores,

orientando-os na questão da segurança social e ensinando-lhes uma cultura de

explorar os recursos naturais do mar e dos rios, preservando-os (COSTA, 2007;

SILVA, 2009).

Atualmente, no Brasil, estima-se haver em torno de 1.037 colônias de

pescadores (RIOS; GERMANNI, 2011). Segundo dados do Registro Geral da

Atividade Pesqueira (RGP) do Ministério da Pesca e Aqüicultura (MPA), até 31 de

dezembro de 2010 estavam registrados 853.231 pescadores profissionais,

distribuídos em 26 estados brasileiros e no Distrito Federal. Dentre as regiões,

destacam-se o Nordeste (43,7%) e Norte (38,8%), que juntas representam 72,4%

do universo de pescadores profissionais do Brasil, sendo os estados com maior

número de pescadores registrados no país o Pará (223.501), o Maranhão

(116.511), a Bahia (109.396) e o Amazonas (64.913) (BRASIL, 2012).

Em relação ao gênero, dos pescadores registrados até dezembro de

2010, 59,15% eram do sexo masculino e 40,85% do sexo feminino, registrando-se

um aumento de 42.242 pescadoras profissionais com registro no RGP, em

relação à 2009. Esse aumento é justificado pela mobilidade social no país, nos

últimos anos, que possibilitou aos trabalhadores do sexo masculino a obtenção de

novas oportunidades em outros setores econômicos, tendo como conseqüência o

incremento da parcela do sexo feminino na categoria de pescadores profissionais

(BRASIL, 2011b, 2012).

Em termos regionais, em 2010, o Nordeste e o Norte tiveram o maior

número de pescadoras do país, com 172.327 e 132.363, respectivamente, em

contrapartida com a região Centro-Oeste, com apenas 5.012. Quanto às

confederações, o Pará registrou o maior número de pescadoras (95.181), seguido

pela Bahia com 54.405 e pelo Amazonas, com 20.121. As estatísticas revelam

ainda que os estados do Nordeste que apresentam uma proporção mais

igualitária entre os gêneros, sendo: Sergipe, com 54,9% de mulheres e 45,1% de

homens; Maranhão, com 51,8% de mulheres e 48,2% de homens; Alagoas, com

53,1% de mulheres e 46,9% de homens; Bahia, com 49,7% de mulheres e 50,3%

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de homens. Nos demais estados, há predominância do sexo masculino,

sobressaindo-se o Distrito Federal, em que 93,1% dos pescadores registrados

são homens (BRASIL, 2012).

Com relação à produção de pescado no país, levantamentos do

Ministério da Pesca e Aquicultura (BRASIL, 2011b; 2012), estimaram 1.156.423

toneladas, em 2008, 1.240.813 toneladas, em 2009, e 1.264.765 toneladas, em

2010, sendo que 46%, 47% e 42,4% destes totais, respectivamente,

correspondiam à produção de pescado por pesca extrativa marinha - pesca

artesanal. Nessa perspectiva, segundo Bueno et al. (2007), a pesca artesanal é

importante não só para o abastecimento interno de pescado, visto que fornece em

torno de 50% do pescado consumido no Brasil, como também para a segurança

alimentar de inúmeras famílias e comunidades.

A região Nordeste destacou-se pela maior parcela de produção de

pescados, nos anos de 2008 a 2010. Em 2009, a produção de pescado foi de

415.723 toneladas, contribuindo com 34% da produção brasileira e

representando um incremento de 10,9% em relação a 2008, enquanto que em

2010, a produção foi de 410.532 toneladas, com redução de 5.185 toneladas em

relação a 2009. Do total produzido em 2009 e 2010, aproximadamente 51,7% e

47,7% das capturas regionais, na mesma ordem, vinculavam-se à pesca

artesanal (BRASIL, 2011b; 2012). De acordo com Castello (2010), como a pesca

no Nordeste é predominantemente artesanal, sua frota é a menos industrializada

do país. O autor salienta, ainda, que as capturas dessa região concentram-se

nas áreas costeiras, seguida dos estuários, com predomínio de espécies de

superfície - pelágicas, como manjuba, agulhinhas e sardinhas, de fundo -

demersais e bentônicas, como budião, sapuruna, boca‑torta, cioba, biquara, e

moluscos e crustáceos, incluindo lagostas e camarões das espécies

sete‑barbas, rosa e branco.

Segundo dados do Boletim Estatístico da Pesca e Aquicultura dos

anos de 2008-2010, a Bahia foi o terceiro estado maior produtor de pescado,

ficando atrás dos estados de Santa Catarina e Pará. Em 2010, a produção

pesqueira da Bahia foi de 114.530 toneladas, o que representa 9,0 % da

produção nacional e 27,9 % da produção da região do Nordeste, sendo

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aproximadamente 80,0% correspondentes à atividade pesqueira extrativa

marinha e continental e os 20,0 % restantes relativos à produção proveniente da

aquicultura (BRASIL, 2011b; 2012).

1.4 Pesca Artesanal na Bahia

A Bahia possui a maior extensão de litoral do Brasil, com 1.188 km de

extensão, 44 cidades litorâneas e 347 localidades pesqueiras, constituindo uma

das maiores reservas de peixe de qualidade em águas costeiras. Entretanto, as

características fisiográficas do seu litoral - plataforma continental estreita,

variando entre 5 e 20 milhas náuticas de largura ao longo de quase toda a costa,

e de fundo duro e extremamente acidentado, aliadas à falta de condições para

exploração das potencialidades dos recursos pesqueiros tornam a pesca

eminentemente artesanal, uma vez que as condições físicas do fundo ao longo da

costa do estado limitam o uso de determinados tipos de embarcações e métodos

de pesca, como rede de malhar, anzol, dentre outros (BRASIL, 2007b; 2008b).

O setor pesqueiro baiano é compreendido em duas categorias, a pesca

propriamente dita e a mariscagem, cuja distinção refere-se ao produto capturado

e ao sexo do indivíduo que exerce a atividade. A primeira categoria é exercida

principalmente por homens que utilizam embarcações, na sua maioria, canoa a

remo para a captura de peixes e crustáceos, como o camarão e a lagosta,

enquanto que a segunda categoria é exercida por mulheres, conhecidas como

marisqueiras, e algumas vezes por crianças e homens, que utilizam apetrechos

ou artes de pesca rudimentares como faca, facão, tarrafa e jereré, para a captura

de moluscos bivalves e crustáceos, como o siri e o caranguejo (BRASIL, 2007b;

BEZERRIL, 2012; PACHECO, 2006; SANTOS, 2004). Em grande parte do litoral

baiano, a mariscagem possui grande importância socioeconômica, por absorver

considerável mão-de-obra feminina e por envolver, na maioria das vezes, quase

todos os membros da família no beneficiamento do pescado (BRASIL, 2007b).

No Estado, a pesca artesanal é realizada predominantemente por

embarcações de pequeno porte, movidas a vela ou a remo, representadas

principalmente pelas canoas, botes a remo, barcos a vela e jangadas (BRASIL,

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2006). Segundo dados de monitoramento da atividade pesqueira no litoral

nordestino – Projeto ESTATPESCA (BRASIL, 2008b), as canoas representam

56,9% da frota estadual, distribuídas principalmente na capital, Salvador, e nos

municípios de Maragojipe, Camamu, Cairu e São Francisco do Conde, e os

saveiros, com 22,5%, concentram-se em Nova Viçosa, Ilhéus, Caravelas,

Valença e também em Salvador. As artes de pesca predominantes incluem as

redes de espera, as linhas e rede de cerco para captura principalmente de peixes,

além das redes de arrasto para captura de camarão (BRASIL, 2006, 2008b).

A pesca artesanal é praticada tanto na capital como nos demais

municípios da região costeira, tendo como destaque de produção as regiões do

Litoral Norte e a Baía de Todos os Santos, também conhecida como Recôncavo

Baiano (AMARAL; BARROS; SOUZA 2006; BRASIL, 2008b).

A Baía de Todos os Santos (BTS) situa-se a leste do estado, tem

aproximadamente 1.200 km² de extensão e inclui em seu entorno 17 municípios -

Cachoeira, Candeias, Itaparica, Jaguaripe, Madre de Deus, Maragogipe, Salinas

das Margaridas, Salvador, Santo Amaro, São Francisco do Conde, São Félix,

Saubara, Simões Filho e Vera Cruz, além de um aglomerado de ilhas - como a

Ilha dos Frades, Maria Guarda, Bom Jesus, Paty, Fontes, Vacas, Bimbarra e a

Ilha de Madre de Deus), dentre os quais a maior parte tem na pesca artesanal um

meio de subsistência para as populações das comunidades locais (BANCO DO

NORDESTE, 2003; JESUS; PROST, 2011; SOARES et al., 2011) . Em relação

aos manguezais da BTS, compreendem a principal fonte de alimentos das

populações que vivem da mariscagem e da cata e comercialização de

caranguejos, como também da pesca (BANCO DO NORDESTE, 2003).

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2 PESCADO

O pescado é definido como todo animal que vive normalmente em

água doce ou salgada e é usado na alimentação. Esta definição envolve peixes,

mariscos, anfíbios, rãs, quelônios, mamíferos de água doce ou salgada e

cefalópodes (polvo, lula e chocos). O termo marisco engloba os moluscos

bivalves (ostras, berbigões, amêijoas e mexilhões), os gastrópodes (búzios,

burriés) e os crustáceos (caranguejo, lagosta, camarão), enquanto o termo

quelônio engloba as tartarugas marinhas e de água doce e os cágados de água

doce (BRASIL, 2009a; FARIAS, 2006; FAO, 1997; TOMASI et al., 2007).

2.1 Pescado: Composição, saúde e sabor

A utilização do pescado como fonte alimentar deve-se principalmente

ao seu valor nutricional, uma vez que constitui uma fonte de proteína de alto valor

biológico, lipídios poliinsaturados e riqueza em minerais (GERMANO; GERMANO;

OLIVEIRA, 1998; OGAWA ; MAIA, 1999).

Com referência à qualidade das proteínas, destaca-se a sua alta

digestibilidade e o balanceamento de aminoácidos essenciais, sobretudo em

relação à lisina, ao triptofano e à arginina. Entre as diferentes espécies, o teor de

proteínas varia de 15 a 20 %, em função da espécie, tamanho, sexo e época do

ano (ANDRADE; BISPO; DRUZIAN , 2009; GERMANO; GERMANO; OLIVEIRA,

1998; OGAWA ; MAIA,1999).

Quanto aos lipídios, os pescados são ricos em ácidos graxos

poliinsaturados ômega-3 (ω 3), especialmente ácido eicosptenóico (EPA) e ácido

docosahexaenóico (DHA), que atuam na redução dos teores de triglicerídeos e

colesterol no homem, reduzindo, conseqüentemente, os riscos de incidências de

doenças cardiovasculares, como arteriosclerose, infarto do miocárdio, dentre

outras (FARIAS, 2006; OGAWA ; MAIA, 1999).

A concentração de lipídios nos pescados de diferentes espécies pode

variar em função de condições fisiológicas (idade, sexo, grau de maturação), de

condições ambientais (temperatura da água, habitat etc.) e do tipo de alimentação

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(GERMANO; GERMANO; OLIVEIRA,1998; OGAWA ; MAIA, 1999). Conforme a

quantidade de lipídios no músculo, os peixes são assim classificados (OGAWA e

MAIA,1999):

1. Peixes magros – teor de gordura menor que 1%: bacalhau (Gadus

spp.), carpa (Cyprinus carpio), truta (Salmo spp.), pescada (Merluccius), entre

outros;

2. Peixes meio gordos – teor de gordura entre 7% a 8%: arenque

(Clupea spp.), salmão (Oncorhynchus spp.), cavala( Scomber spp.) e outros;

3. Peixes gordos - teor de gordura maior que 15%: atum (Thnnus spp.),

enguia (Anguilla spp.) e outros.

Apesar da relevância para a saúde, cabe salientar que a composição

de gordura também tem grande influência na conservação do pescado, uma vez

que quanto maior a quantidade de gordura, mais vulnerável se torna às

oxidações. Os peixes de carne vermelha, especialmente os migrantes,

apresentam alto teor de lipídio no músculo, enquanto que os de carne branca, a

maioria não migrantes, apresentam teores inferiores a 1% (BRASIL, 2008a;

FARIAS, 2006; GERMANO; GERMANO; OLIVEIRA, 1998; OGAWA ; MAIA,,

1999).

Por fim, considera-se que o pescado é também uma excelente fonte de

minerais, tendo destaque para zinco, cobre, magnésio e manganês com teores

relativamente elevados em alguns moluscos e crustáceos e de vitaminas

hidrossolúveis do complexo B e vitaminas lipossolúveis A e D (GERMANO;

GERMANO; OLIVEIRA, 1998; OGAWA ; MAIA,,1999).

Segundo Ogawa e Maia (1999), a composição química do músculo do

pescado pode variar conforme a espécie, a época do ano, as condições de

alimentação, podendo apresentar de 60 a 85% de umidade, 20% de proteína, 1 a

2 % de cinza, 0,3 a 1,0% de carboidratos e de 0,6 a 3,6% de lipídios.

Quanto ao sabor do pescado, registra-se a influência do conteúdo de

lipídios e compostos orgânicos extrativos nitrogenados (aminoácidos livres,

peptídeos inferiores, nucleotídeos, betaínas, N-óxido de trimetilamina (OTMA),

ureia etc.) e não nitrogenados (ácidos orgânicos, açúcares etc.). Em geral, são

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mais saborosos os peixes que apresentam maior conteúdo de lipídios e os

mariscos que contêm maior conteúdo de glicogênio (OGAWA ; MAIA, 1999).

2.2 Microbiota do pescado

A microbiota dos peixes, crustáceos e moluscos de água doce e

salgada, morna e fria reflete a microbiota da água onde esses animais vivem. Por

isso a qualidade sanitária da água onde os animais são capturados é o ponto

predominante para a obtenção de um produto final de boa qualidade

microbiológica. O lançamento dos esgotos nas águas de reservatórios, lagos, rios

e no próprio mar constitui uma das fontes de contaminação do pescado vivo

(FAO,1997; GERMANO; GERMANO; OLIVEIRA, 1998; JAY, 2005).

Os peixes vivos possuem os músculos, órgãos e líquidos corporais

estéreis, enquanto a pele, as guelras e vísceras que têm contato direto com a

água apresentam um razoável nível de contaminação, sobretudo por bactérias, na

ordem de 102 a 104 bactérias/cm2, na pele, e 103 a 107 bactérias/cm2, nas guelras.

Essas variações dependem de fatores como época de pesca, método de captura

e área de pesca. Desse modo, o número de bactérias em peixes capturados por

arrasto é de dez a cem vezes maior do que em peixes capturados com vara e

espinhel. Ainda, a captura de peixes em águas costeiras oferece maiores riscos

de contaminação do que aquela realizada em alto mar, em decorrência da baixa

diluição das águas de rios e lagos que escoam na água do mar permitindo o

transporte de bactérias terrestres nas águas costeiras (FAO, 1997; FRANCO;

LANDGRAF, 2008; GERMANO; GERMANO; OLIVEIRA,1998; JAY, 2005;

OGAWA ; MAIA, 1999;).

Após a morte do peixe, ocorre imediatamente a penetração dos micro-

organismos nos músculos, através dos tecidos vasculares das guelras, ao longo

da veia caudal, através da pele, com seus poros na região lateral e finalmente

pela via intestinal. Durante o período de estocagem, em temperatura próxima a

0ºC, inicia-se o desenvolvimento de bactérias psicrófilas aeróbias e anaeróbias

facultativas. No caso dos moluscos bivalves filtradores, como exemplo as ostras,

ocorrem uma acumulação e concentração de bactérias e vírus provenientes do

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meio ambiente aquático (FAO, 1997; FRANCO; LANDGRAF, 2008; GERMANO;

GERMANO; OLIVEIRA, 1998; JAY, 2005; OGAWA ; MAIA, 1999).

A microbiota natural do pescado depende ainda da temperatura da

água, assim em águas frias há a predominância de bactérias psicrotróficas Gram

negativas aeróbias estritas ou anaeróbicas facultativas como as Pseudomonas,

Alteromonas, Moraxella, Shewanella, Acinetobacter, Flavobacterium e da família

Vibrionaceae, enquanto em água quentes há predominância das bactérias

mesófilas Gram positivas, como exemplo os Micrococcus e Bacilus (BROEKAERT

et al., 2011; FRANCO; LANDGRAF, 2008; JAY, 2005).

Os gêneros Pseudomonas e Shewanella são os deterioradores de

maior relevância, pois são responsáveis pelas alterações sensoriais do pescado,

em virtude da formação de trimetilamina, ésteres, substâncias voláteis redutoras e

outros compostos com aroma pronunciado (BROEKAERT et al., 2011; CUNHA et

al., 2003; FRANCO ; LANDGRAF, 2008; JAY, 2005; OGAWA; MAIA, 1999).

A microbiota dos crustáceos recém-capturados e dos moluscos

também reflete a qualidade da água de onde eles foram mantidos conservados, a

qualidade da água de lavagem, além das condições sanitárias das embarcações

e das condições de manipulação no caso dos crustáceos. Os micro-organismos

presentes na microbiota dos crustáceos são os mesmos dos peixes, porém os

predominantes na deterioração desses alimentos são Pseudomonas, Moraxella,

Acinetobacter e leveduras de deterioração (FRANCO ; LANDGRAF, 2008; JAY,

2005).

No caso dos moluscos há predominância dos gêneros Serratia,

Pseudomonas, Proteus, Clostridium, Shewanella, Escherichia, Enterobacter,

Flavobacterium, entre outros e conforme avanço do processo de deterioração há

predomínio dos gêneros Pseudomonas, Acinetobacter e Moraxella, com

Enterococcus, lactobacilos e leveduras até os últimos níveis de deterioração

(FRANCO ; LANDGRAF, 2008; JAY, 2005).

Após a captura, o número de bactérias do pescado aumenta podendo

alcançar 105 a 106 UFC/cm2, o que pode estar associado às condições sanitárias

inadequadas das embarcações, à manipulação incorreta pelos pescadores, à má

qualidade do gelo de resfriamento, à lavagem com água proveniente de canais

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contaminados com matéria orgânica, à má refrigeração durante o transporte do

desembarque para as fábricas ou armazéns distribuidores e, em toda a cadeia de

distribuição até alcançar o comércio varejista ou consumidor final. Como

consequência do manejo e manipulação inadequados ocorre predominantemente

à contaminação do pescado por Staphylococcus aureus e por Salmonella

(CUNHA et al., 2003; OETTERER, 2005; SENAI, 2007; OGAWA ; MAIA, 1999).

Vários estudos têm demonstrado que o pescado pode representar risco

à saúde pública, devido às práticas de manipulação e conservação inadequadas.

Em Vitória da Conquista - BA, estudos realizados por Oliveira et al. (2011)

revelam que as condições de higiene na manipulação do pescado in natura

comercializado em feiras livres no município eram precárias, uma vez que 83,3%

das sete amostras analisadas apresentaram valores superiores ao permitido pela

RDC nº 12/2001 (BRASIL, 2001) para coliformes termotolerantes e 50%

apresentaram contaminação por Salmonella spp.

Estudo realizado por Cunha et al. (2003), em nove municípios da

Baixada Santista-SP, reporta que 4,16% de 48 amostras de pescado

comercializados em feiras livres apresentavam bactérias do grupo coliformes de

origem fecal acima dos limites tolerados, indicando a não observância de medidas

higiênico-sanitárias apropriadas na cadeia de distribuição, no que concerne à

manipulação e/ou transporte, e/ou conservação do pescado.

Resultados similares foram encontrados por Vieira et al. (1998)

analisando trinta amostras de camarão provenientes da Feira Livre do Pescado

do Mucuripe, Fortaleza-CE, que registra 10% de amostras contaminadas por S.

aureus, além de condições deficientes de higiene e sanificação, por parte dos

manipuladores, com a permanência destes, algumas vezes, portando afecções

respiratórias e cutâneas.

Pereira et al. (2010) isolaram E. coli em 41,7% de 12 cepas

provenientes de quatro amostras de sururu do mangue (Mytella guyanensis) in

natura, adquiridas na Baia do Iguape, Maragogipe-BA, o que indica elevada

poluição do ambiente marinho em que o pescado foi capturado, além de

representar um risco à saúde pública, uma vez que entre os micro-organismos do

grupo coliformes pode-se encontrar estirpes patogênicas.

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2.3 Deterioração do pescado

A composição química do pescado, aliada à sua elevada atividade de

água, ao teor de gorduras insaturadas facilmente oxidáveis e ao pH próximo à

neutralidade, são fatores que contribuem para o processo de deterioração por

enzimas e bactérias (OGAWA ; MAIA, 1999; VIEIRA et al., 2004).

A decomposição via enzimática, denominada de autólise, se inicia

rapidamente após a morte do pescado, por ação de enzimas tissulares e de

enzimas dos sucos digestivos que atuam sobre os tecidos musculares, resultando

no amolecimento e desintegração da carne e, consequentemente, facilitam a

disseminação de bactérias. Ao mesmo tempo, ocorre a liberação de açúcares

simples, aminoácidos livres, ácidos graxos livres entre outros compostos,

constituindo a matriz alimentar um excelente meio nutritivo para o crescimento

microbiano (FRANCO; LANDGRAF, 2008; OGAWA; MAIA, 1999; VIEIRA et al.,

2004).

Após a morte, o glicogênio presente nos músculo dos peixes e

crustáceos é decomposto a ácido lático enquanto que em molusco (lula, polvo,

mariscos), além de acido lático é formado também octopina. Via de regra, como o

conteúdo de glicogênio no músculo do peixe é baixo, após a morte, há pequena

formação da ácido lático e o pH do músculo cai para valores em torno de 5,6 a 5,8

para os peixes de carne vermelha, e de 6,0 a 6,2 para os peixes de carne branca

e pelágicos - peixes que vivem em mar aberto, geralmente em cardumes como

exemplo sardinhas, anchovas e atuns, fato que favorece o desenvolvimento

microbiano (OGAWA ; MAIA, 1999).

Após o período de rigor mortis, devido à formação de compostos de

degradação protéica e aumento do pH, o número de bactérias cresce

rapidamente, iniciando processo de putrefação por ação de enzimas bacterianas.

Nesse processo, ocorre a formação de compostos como a trimetilamina (TMA), a

partir da N-óxido de trimetilamina (OTMA), sendo a TMA um dos principais

componentes relacionados ao odor característico de pescado de baixa qualidade

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ou de estado de deterioração (FRANCO ; LANDGRAF, 2008; OGAWA ; MAIA,

1999) .

Nos crustáceos, o processo de deterioração é similar ao dos peixes,

iniciando-se nas partes externas devido à sua anatomia e em decorrência da

presença de altas quantidades de aminoácidos livres. Esta categoria é

extremamente suscetível ao rápido ataque de bactérias deterioradoras, que

desencadeiam a produção de grandes quantidades de bases nitrogenadas

voláteis, como ocorre nos peixes (FRANCO; LANDGRAF, 2008; JAY, 2005).

Nos moluscos (ostras, mariscos, lulas), por sua vez, a deterioração

apresenta-se diferente dos peixes e crustáceos, sendo basicamente um processo

fermentativo, em decorrência de sua carne ser constituída de alto teor de

carboidratos, sobretudo na forma de glicogênio, e do menor teor de nitrogênio

(FRANCO ; LANDGRAF, 2008; JAY, 2005).

2.4 Conservação e comercialização do pescado

De modo a reduzir as contaminações e com o objetivo de aumentar a

qualidade do pescado, algumas práticas de manuseio são recomendadas desde a

captura até a mesa do consumidor, tais como o controle na evisceração, lavagem,

sanitização, resfriamento e acondicionamento sob congelamento (CUNHA et al.,

2003; FARIAS, 2006; VIEIRA et al., 2004).

Inicialmente, cabe ressaltar a contribuição do método de captura para

qualidade do pescado. Se o pescado se debate muito antes de morrer, na

tentativa de se libertar das redes de pesca ou morre por agonia nos barcos, as

suas reservas de glicogênio diminuem rapidamente, resultando em uma

deterioração mais rápida e intensa. Desse modo, técnicas que promovam maior

reserva de glicogênio no pescado favorecem maior tempo de vida útil do produto,

destacando-se o método de hipotermia, que é o mais simples e mais comumente

utilizado (FORTUNA, 2009; GALVÃO, 2006).

Posteriormente, considerando a ocorrência da penetração das

bactérias presentes na pele e nas guelras após a morte do peixe, são

recomendados a evisceração e o descabeçamento logo após a captura. A

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evisceração elimina as bactérias e as enzimas digestivas, porém para este

processo ser eficiente é necessário que, antes do resfriamento com o gelo, se

proceda a uma lavagem da cavidade abdominal com finalidade de eliminar os

restos de sangue e de vísceras. Em adição, o descabeçamento virá a eliminar

parte significante da carga microbiana presente nas guelras (OETTERER, 2005;

VIEIRA et al., 2004).

Entretanto, dado que em algumas embarcações pequenas não é

possível a manipulação pós-captura - sendo a evisceração inviável - preconiza-se,

pelo menos, a utilização de gelo para conservar o pescado (OETTERER, 2005;

VIEIRA et al., 2004).

O uso do gelo na conservação do pescado tem como objetivo retardar

as alterações enzimáticas e bacterianas. O gelo atua na redução da temperatura

do pescado para 0 a 2°C, por meio do contato direto , ocorrendo a transferência do

calor do pescado para o gelo, que se funde liberando água e rouba calor do

pescado e do ar ambiente, ficando esta à mesma temperatura do gelo que a

originou. Em meio à fusão do gelo, são arrastadas quantidades consideráveis de

muco, sangue e micro-organismos (FARIAS, 2006; GALVÃO, 2006; OETTERER,

2005).

Os fatores a serem considerados para a utilização do gelo na

conservação do pescado incluem: a origem da água, o tamanho do gelo a ser

utilizado e a sua distribuição sobre o pescado. A água utilizada para a fabricação

do gelo deve ser potável, uma vez que a qualidade do gelo afetará diretamente a

qualidade do pescado. Assim, sua produção, manuseio, armazenamento e

utilização deverão ser feitos de maneira a protegê-lo de contaminações (BRASIL,

2011a; CUNHA et al., 2003; FARIAS, 2006; GALVÃO, 2006; OETTERER, 2005).

Estudo realizado por Baldin et al. (2011) revela que da análise de 63

amostras de gelo oriundas de seis estabelecimentos em Ribeirão Preto - SP,

22,2% e 9,5% estavam contaminadas por coliformes a 35°C e coliformes

termotolerantes, respectivamente, indicando que o uso de água não potável na

fabricação de gelo usado para conservação de pescado é um fator de risco para o

produto e para a saúde do consumidor.

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Quanto ao tamanho do gelo a ser utilizado, geralmente recomenda-se

em escamas ou triturado, ainda que o gelo em escamas seja o mais indicado por

não formar hematomas nos tecidos e não apresentar ponta, que possam

ocasionar lesões. O gelo deve envolver todo o pescado, devendo estar por baixo,

por cima e pelos lados do recipiente de armazenamento formando camadas

intercaladas (BRASIL, 2011a; CUNHA et al., 2003; FARIAS, 2006; GALVÃO,

2006; OETTERER, 2005).

No caso do uso de gelo em cubos, devem ter no máximo 1 cm3 e estar

dispostos em camadas intercaladas com o pescado, na proporção de 1:4 a 1:1

(gelo:peixe), variando conforme a espécie e o tamanho do pescado; para o gelo

triturado ou em escamas, o volume irá depender do tamanho final dos pedaços

(BRASIL, 2011a; CUNHA et al., 2003; FARIAS, 2006; GALVÃO, 2006;

OETTERER, 2005).

Em adição, a higiene dos porões e dos lastros das embarcações, do

cesto ou da caixa de isopor que o pescado é colocado pós-captura, é essencial

para manter a qualidade. Considera-se ainda que os materiais utilizados na

construção dos barcos geralmente são de estruturas que dificultam a lavagem do

convés, sendo, portanto, fontes constantes de contaminação do pescado recém-

capturados. Deste modo, é importante a lavagem dos porões e do convés com

desinfetantes, a cada término de viagem, e assegurar de que não haja restos de

combustíveis e de produtos tóxicos em contato com o pescado nas embarcações,

a fim de evitar a ocorrência de contaminação química (BRASIL, 2011a; GALVÃO,

2006; VIEIRA et al., 2004).

Por fim, cabe destacar a importância fundamental da correta adoção de

práticas de higiene pelos manipuladores na conservação e preservação da

qualidade do pescado, uma vez que o homem é considerado elemento chave no

controle das doenças veiculadas por alimentos (FAO, 1997; FARIAS, 2006).

Segundo Galvão (2006), a eficácia das medidas sanitárias depende da

conscientização e treinamento do pessoal envolvido nas operações em todo setor

pesqueiro, com vista a melhorar a qualidade e a aumentar a confiabilidade

sanitária dos produtos oriundos.

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Estudo realizado por Souza et al. (2010), conduzido em feiras livres em

municípios da zona da mata norte de Pernambuco registra práticas de

manipulação inadequadas na cadeia do pescado, tais como o uso de recipientes

de plástico e de isopor com total ausência de gelo, ausência de luvas, aventais e

a escassez de água nos pontos de venda.

No Rio de Janeiro - RJ, a realidade se mostra parecida. Estudo

desenvolvido por Urbano (2007), em 20 peixarias de diferentes regiões do

município, evidenciou balcões sujos, a falta de gelo e a exposição excessiva das

espécies, constatando que 50% das amostras apresentavam características

sensoriais alteradas, estando impróprias para consumo humano. Estudo realizado

por Rego et al. (2011), em feiras livres da Zona Norte e Sul do Rio de Janeiro-RJ,

indica que os pescados apresentaram grande probabilidade de oferecer riscos à

saúde do consumidor, pelo não cumprimento das normas higiênico-sanitários em

relação à higiene e exposição dos pescados, bem como à higiene dos

manipuladores, às condições higiene do ambiente e à estrutura local.

De acordo com Ogawa e Maia (1999), o pescado pode ser

comercializado sob a forma in natura e a industrializada. A primeira compreende o

pescado recém-capturado, submetido ou não à refrigeração e adquirido pelo

consumidor ainda em seu estado cru, enquanto a segunda compreende o

pescado que sofre um processo de manuseio e preparação mais elaborado, como

por exemplo, defumação, fermentação, salga, dentre outras (OGAWA; MAIA,

1999).

2.5 Avaliação da Qualidade do pescado

Para a avaliação da qualidade do pescado é recomendada, a

combinação de vários métodos, uma vez que a complexibilidade do processo de

decomposição torna impossível a utilização de apenas um método analítico. Os

métodos mais empregados para avaliação da qualidade do pescado

compreendem técnicas de natureza sensorial, microbiológica e físico-química

(OGAWA ; MAIA, 1999).

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2.5.1 Métodos sensoriais

A análise sensorial é uma técnica usada para determinar a

aceitabilidade e qualidade de alimentos com auxílios dos órgãos humanos dos

sentidos (visão, olfato, gosto, tato e audição) (OLIVEIRA, 2008).

No pescado, os métodos sensoriais são utilizados para avaliar os

aspectos gerais, textura, sabor, odor e cor de partes específicas do pescado,

como pele, guelras, entre outras, objetivando graduar o frescor (OGAWA ; MAIA,

1999). Na Tabela 1 encontram-se descritos critérios de avaliação para peixes

fresco e deteriorado, enquanto que as Tabelas 2 e 3, respectivamente, expressa

os critérios relacionados à avaliação de crustáceos e moluscos bivalves frescos.

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Tabela 1 – Critérios para avaliação sensorial de frescor em peixe.

Critérios Peixe fresco Peixe Deteriorado

Pele

Brilhante com coloração

característica e bem

estendida

Sem brilho

Rugosa

Mucosidade Aquosa e transparente Viscosa

Escamas

Unidas entre si e fortemente

aderidas à pele; e devem ser

translúcidas e com brilho

metálico.

Facilmente removíveis

Olhos

Devem ocupar a cavidade

orbitaria; brilhantes e

salientes

Avermelhados;

Turvam, murcham e

afundam ficando com a

córnea opaca

Guelras ou

brânquias

De cor rosa ao vermelho

intenso, úmidas e brilhantes,

ausência ou discreta

presença de muco e odor

suave

Cor cinza até verde escuros

e muco espesso

Opérculo Aderente, sem manchas

Levantado, com manchas

vermelho-pardas

principalmente no lado

interno.

Região

ventral Firme com elasticidade

Flácida com eliminação de

conteúdo intestinal pelo

orifício anal.

Carne

Translúcida e aderida aos

ossos fortemente e de

elasticidade marcante

Opaca com aparência

leitosa, desbotando da cor

natural ficando amarelada

Odor Leve e agradável Forte, desagradável, ácido

amoniacal ou pútrido

Fonte: BRASIL (1997a, b, 2007 a); OETTERER (2005).

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Tabela 2 - Critérios para avaliação sensorial de crustáceos frescos.

Critérios Crustáceos frescos

Aspecto Brilhante e úmido

Corpo Curvatura natural e rígida

Artículos Firmes e resistentes

Carapaça Bem aderente ao corpo

Coloração Própria a espécie e sem qualquer pigmentação

estranha

Olhos Vivos e destacados

Cheiro Próprio e suave

Fonte: BRASIL (1997a, 2007a ).

Tabela 3 - Critérios para avaliação sensorial de moluscos bivalves frescos.

Critérios Moluscos bivalves frescos

Valvas Fechadas e com retenção de água

Corpo Curvatura natural e rígida incolor e límpida nas

conchas

Carne Úmida e bem aderente à concha de aspecto esponjoso

Coloração da

carne

Cinzenta-clara (ostras) e amarelada (mexilhões)

Fonte: BRASIL (1997a, 2007 a).

2.5.2 Avaliação físico-química do pescado

O processo de deterioração do pescado resulta em alterações nas

propriedades físicas do músculo do peixe, bem como no aumento de substâncias

extrativas nitrogenadas como anserina e glutationa, óxido de trimetilanina,

creatina e taurina, que favorecem a atividade microbiana e o aparecimento de

outros produtos de degradação. Os métodos físico-químicos mais empregados

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para avaliar a qualidade do pescado incluem: potencial hidrogeniônico (pH) ,

nitrogênio das bases voláteis totais (N-BVT), nitrogênio da trimetilamina (N-TMA),

hipoxantina (Hx) e valor de K (OGAWA ; MAIA, 1999; OLIVEIRA, 2008).

A determinação de pH fornece um dado valioso na apreciação do

estado de conservação de pescados e derivados. Segundo Ogawa e Maia (1999),

a determinação do pH não é um índice absolutamente seguro quanto ao estado

de frescor ou início da deterioração do pescado, dada à sua variação de amostra

para amostra, e por ocorrerem ciclos de flutuações, durante o período de

estocagem. Todavia, segundo Zenebon et al. (2008), a medida do pH em pescado

e derivados é um dado indicativo do estado de conservação, sobretudo quando

associado à realização das demais análises microbiológica, química e sensorial.

O pH muscular dos peixes vivos está próximo à neutralidade, contudo,

após a morte, o pH do músculo decresce em função da formação do ácido lático a

partir da decomposição do glicogênio. No período pós-rigor, ocorrem o

amolecimento da carne e a degradação proteíca, resultando na formação de

peptídeos livres, aminas e iminas, tendo como consequência a elevação do pH

para 6,8 (OGAWA ; MAIA; 1999; RODRIGUES, 2008; SENAI, 2007).

De acordo com o Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária de

Produtos de Origem Animal - RIISPOA (BRASIL, 1997a), o peixe é considerado

fresco quando o pH da carne externa é inferior a 6,8 e o da carne interna é inferior

a 6,5. Segundo Franco e Landgraf (2008), a ostra considerada de boa qualidade

apresenta pH de 5,2 -5,9, enquanto que as de qualidade inadequada, possui pH

5,5-5,8, e as ostras deterioradas (azedo ou pútrido), pH abaixo de 5,2. Jay

(2005) recomenda pH entre 6,8-7,0 para camarão fresco e pH de 6,5 para os

moluscos em geral.

As bases voláteis totais compreendem compostos como a

trimetilamina, dimetilamina, amônia, entre outras. A trimetilamina (TMA) é uma

substância peculiar de peixes e crustáceos, distribuída principalmente nos

músculos e vísceras com quantidade insignificante no pescado fresco. Porém,

após a morte a quantidade de trimetilanina aumenta em decorrência da

degradação do óxido de trimetilanina (OTMA), por ação das redutases

bacterianas. A dimetilamina (DMA) é produzida por enzimas autolíticas, durante o

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armazenamento sob congelamento, enquanto a amônia é originada no início do

processo degradativo, a partir de produtos da desaminação dos derivados de

adenosina trifosfato (ATP) e, posteriormente, por outros compostos nitrogenados

(ANGELINI, 2010; OGAWA; MAIA, 1999; SENAI, 2007; TOMASI et al., 2007).

As bases voláteis totais aumentam à medida que o pescado se

deteriora. De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

(1997b), o limite máximo de N-BVT em peixe fresco é de 30 mg de

Nitrogênio/100g de carne, excluídos os elasmobrânquios (peixes cartilaginosos

com maxilares desenvolvidos, como exemplo, tubarões, raias e as quimeras).

Segundo Ogawa e Maia (1999), o teor de N-BVT está na faixa de 5 a 10 mg /100g

de carne em peixes em excelente estado de frescor, de 15 a 25 mg /100g de

carne em peixes com frescor razoável, de 30 a 40 mg /100g no inicio da

putrefação e valores acima de 50 mg /100g quando o peixe está bastante

deteriorado.

O nitrogênio da trimetilamina (N-TMA) é um bom indicador de

deterioração para peixes e crustáceos, entretanto, não pode ser aplicado para

pescado de água doce, devido à quantidade de OTMA ser mínima (OGAWA;

MAIA; 1999).

A determinação do valor de K estima o frescor do pescado a partir da

razão entre a quantidade total de nucleotídeos (inosina e hipoxantina) produzidos

pela decomposição de adenosina trifosfato (ATP) após a morte do pescado. O

valor de K é expresso em porcentagem e apresenta alguns limites para peixes:

<5% para os recém-mortos; < 20% para peixes que podem ser ingeridos crus,

como sushi e sashimi; de 20 a 60 % para peixes que devem ser aquecidos para

ser consumido e podem ser usados na elaboração de surimi e kamaboko

(OGAWA ; MAIA, 1999).

Entre os métodos químicos qualitativos, a reação de Éber é empregada

para avaliar o estado de conservação dos produtos protéicos, a partir da reação

para amônia e da reação para gás sulfídrico (OGAWA e MAIA, 1999; ZENEBON

et al., 2008).

A reação de Éber para amônia indica o início da degradação das

proteínas presentes no pescado, em decorrência da liberação de amônia, em que

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a reação positiva corresponde ao aparecimento de fumaça no interior do tubo que

significa que o produto está em início da degradação e reação negativa, a não

formação de fumaça branca (OGAWA ; MAIA,1999; ZENEBON et al., 2008).

Por outro lado, a reação para gás sulfídrico indica a decomposição de

aminoácidos sulfurados (metionina, cistina e cisteína) presentes no pescado, e

que normalmente são liberados nos estágios de decomposição mais avançados,

com a constatação da presença de gás sulfídrico (OGAWA; MAIA, 1999;

ZENEBON et al., 2008).

Assim, de acordo com o Regulamento de Inspeção Industrial e

Sanitária de Produtos de Origem Animal - RIISPOA (BRASIL, 1997a), o pescado

é considerado fresco quando apresenta reação negativa para gás sulfídrico -

ausência de manchas pretas no papel de disco, ou seja, não produção de sulfeto

de chumbo (ZENEBON et al., 2008).

2.5.3 Avaliação microbiológica: indicadores da qualidade

O Ministério da Saúde por meio da Resolução RDC n° 12, de 12 de

janeiro de 2001 determina para peixes, crustáceos e moluscos bivalves in natura

refrigerado ou congelado um padrão para Staphylococcus coagulase positiva de

103 UFC/g (unidade formadora de colônia/grama) e para Salmonella spp.

ausência em 25 gramas. A mesma Resolução determina também um padrão de 5

x 10 UFC/g para coliformes a 45ºC/g para moluscos bivalves, carne de siri e

similares cozidos, temperados e não, industrializados resfriados ou congelados

(BRASIL, 2001).

O Staphylococcus aureus corresponde ao grupo de bactérias

anaeróbias facultativas com maior crescimento sob condições aeróbias, quando

então produzem catalase. São bactérias mesófilas, com temperatura de

crescimento na faixa de 7 a 47,8º C, pH de 4 a 9,8, com ótimo entre 6 e 7,

tolerantes a concentração de 10% a 20% de cloreto de sódio (NaCl) e a nitratos.

O S. aureus produz enterotoxinas entre 10°C e 46 °C, com ótimo entre 40°C e

45°C, as quais são resistentes a enzimas proteolíti cas e ao calor, sendo

necessário entre 105 e 106 UFC/g para que a toxina seja formada em níveis

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capazes de provocar intoxicação (ANGELINI, 2010; CÂMARA, 2002; FRANCO;

LANDGRAF, 2008).

A contaminação do pescado pelo S. aureus é proveniente de

manipuladores infectados ou do ambiente, em virtude de manipulação

inadequada (FAO, 1997; TOMASI et al., 2007). Segundo a FAO (1997) é

necessário a implantação de boas condições sanitárias e do controle da

temperatura, principalmente em pescado pré-cozido, de modo a evitar a

contaminação, a proliferação e a produção de toxinas pelo S. aureus.

A Salmonella spp. pertence à família Enterobacteriaceae e

compreende bacilos Gram-negativos não produtores de esporos. São bactérias

anaeróbias facultativas capazes de produzir gás a partir de glicose, com exceção

da S. typhi, e são capazes de utilizar citrato como única fonte de carbono. O pH

ótimo para multiplicação da Salmonella fica próximo de 7,0, sendo que valores

superiores a 9,0 e inferiores a 4,0 são bactericidas. Não toleram concentrações de

sal superiores a 4% e o nitrito é também inibitório, com o seu efeito acentuado em

pH ácido. A temperatura ideal para desenvolvimento de Salmonella é 35- 37ºC,

sendo o mínimo de 7ºC e máxima de 47ºC, a atividade de água é maior que 0,94

(CÂMARA, 2002; FRANCO ; LANDGRAF, 2008; JAY, 2005; URBANO, 2007).

A Salmonella spp. é encontrada no trato intestinal de mamíferos,

pássaros, anfíbios e répteis, mas não no de pescado, podendo ser transferida a

estes a partir de águas litorâneas poluídas com dejetos humanos e de animais, ou

por contaminação pós-captura do pescado (FAO, 1997; JAY, 2005).

Os coliformes termotolerantes são um subgrupo dos coliformes totais,

que são capazes fermentar a lactose com produção de gás quando incubado à

temperatura de 44-45°C. Neste grupo há predominânci a das bactérias dos

gêneros Escherichia, entretanto, algumas bactérias dos gêneros Citrobacter,

Klebsiella e Enterobacter também são termotolerantes que incluem cepas não

fecais. A Escherichia coli é distinguida dos outros coliformes termotolerantes pela

sua capacidade para produzir indol a partir de triptofano ou pela a produção da

enzima β glucuronidase (FRANCO; LANDGRAF, 2008; SILVA et al., 2010; WHO,

2011).

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A pesquisa de coliformes termotolerantes em alimentos é menos

representativa como indicação de contaminação fecal, do que a enumeração

direta de Escherichia coli, que é muito mais significativa do que a presença de

coliformes fecais, dada a alta incidência de Escherichia coli dentro do grupo fecal.

Assim, a pesquisa de coliformes termotolerantes ou de Escherichia coli nos

alimentos fornece informações sobre as condições higiênicas do produto e a

melhor indicação da eventual presença de patógenos intestinais nos alimentos

(FRANCO; LANDGRAF, 2008; SILVA et al., 2010).

Posto que o habitat primário da Escherichia coli é o trato intestinal do

homem e de animais de sangue quente, esta é usada como um indicador de

contaminação fecal recente em águas desde 1892. E, embora possa ser

introduzida nos alimentos a partir de fontes não fecais, ainda é o melhor indicador

de contaminação fecal em alimentos até o momento (FRANCO; LANDGRAF,

2008; SILVA et al., 2010).

Segundo a FAO (1997), as Enterobacteriaceae (Salmonella, Shigella,

E. coli) ocorrem em produtos do pescado como resultado de contaminação do

homem ou dos animais decorrente da contaminação fecal ou da poluição das

águas. Assim, uma boa higiene pessoal e educação sanitária para os

manipuladores são pontos essenciais para o controle de doenças causadas por

Enterobacteriaceae, além disso, o risco de contaminação pode ser minimizado

pelo cozimento do pescado antes do consumo.

A contagem em placas de bactérias aeróbicas mesófilas também é

comumente utilizada para indicar a qualidade sanitária de alimentos. Na maioria

dos alimentos, quando as alterações sensoriais são detectáveis, o número de

micro-organismos são superiores a 106 UFC/g no alimento. No pescado, os

mesófilos se alojam na superfície da carne, onde encontram uma situação ideal

para viverem e se reproduzirem (FRANCO; LANDGRAF, 2008; TOMASI et al.,

2007).

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3 SÃO FRANCISCO DO CONDE, BAHIA

3.1 Breve histórico, localização e atividades econô micas

São Francisco do Conde foi a terceira Vila criada na Bahia, em 1698, a

partir da sesmaria concedida pelo Governador Geral Dom Duarte da Costa à

Simão da Gama Andrade. A vila era chamada de Vila de São Francisco da Barra

do Sergipe do Conde e, apenas, em 1938 ocorreu a elevação de vila à município,

que passou a ser denominado de São Francisco do Conde (CARVALHO, 2006;

SÁ, 2011; SANTOS, 2004).

No século XVI, o município se desenvolveu com a produção de açúcar

e cachaça, entretanto, a pesca, desde o início, fazia parte da sua economia

através da comercialização de peixes secos em Salvador e outras cidades da

BTS, realidade que pode ser constatada ainda hoje (SANTOS, 2004).

A produção açucareira no município dominou até o final do século XIX

com as crises da economia açucareira, que levou à sua decadência econômica.

Apenas, partir de 1947, sua ascensão econômica foi iniciada com a perfuração do

primeiro poço de extração petrolífera do Brasil, e posterior instalação da Refinaria

Landulpho Alves (RLAM), em 1950, pertencente à Petrobras, que hoje produz

gasolina, óleos combustíveis, gás liquefeito de petróleo, querosene, parafina e

óleos lubrificantes em suas várias unidades (AMARAL; BARROS; SOUZA, 2006;

SÁ, 2011; SANTOS, 2004).

Em virtude da arrecadação municipal de impostos ligados à produção e

refino de petróleo pela Refinaria, São Francisco do Conde foi o município

brasileiro com maior Produto Interno Bruto (PIB) per capita nos anos de 2008 a

2010 (IBGE, 2010, 2011, 2012). Entretanto, apesar do elevado recolhimento dos

royalties de petróleo, o município convive com sérios problemas urbanos - falta e

ineficiência de saneamento básico, a urbanização em áreas de mangues - e

ambientais - redução dos recursos pesqueiros, resíduos industriais e urbanos - e

altos níveis de pobreza (SANTOS, 2004).

Atualmente, entre as atividades econômicas do município, destacam-se

agricultura, fundamentada em culturas de cana de açúcar, cacau, banana, fumo,

mandioca e laranja, e a pesca artesanal, voltada à captura de camarão, sururu,

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ostra, siri, mapé e caranguejo, que são comercializados no município e cidades

circunvizinhas (AMARAL; BARROS; SOUZA, 2006; SÁ, 2011).

A pesca em São Francisco de Conde possui base familiar e artesanal,

sendo uma prática realizada tanto na sede municipal quanto nos vários distritos

litorâneos e ribeirinhos (Figura 1), denominadas de comunidades pesqueiras, que

incluem: Ilha do Paty, Muribeca, São Bento dos Lages, Porto de Brotas, Caípe,

Campinas e Ilha das Fontes. Essa prática no município contribui tanto como fonte

de renda única ou complementar quanto como suplemento alimentar da

população da local (SÁ, 2011; SANTOS, 2004).

No município, a pesca e a mariscagem são extremamente presentes e

importantes do ponto de vista socioeconômico, registrando-se as mulheres –

marisqueiras - responsáveis pela mariscagem e pela limpeza e secagem do

peixe, camarão e retirada da carne do siri e caranguejo, cabendo aos pescadores,

as pescarias diárias, em mar, na sua maioria em canoa a remo, guiados pelas

condições climáticas, as orientações das fases lunares e os níveis de marés

(SANTOS, 2004).

Segundo Amaral, Barros e Souza (2006), considerava-se que a pesca

em SFC era predominantemente do sexo masculino (77,5%), embora as

mulheres, também tivessem contribuição na produção do município,

destacadamente pela coleta de mariscos nas praias e manguezais que margeiam

a orla da BTS. Entretanto, em estudo recente conduzido por Sá (2011), com a

realização de censo em seis comunidades pesqueiras do município - São Bento

das Lajes, Porto de Brotas, Caípe, Muribeca, Ilha do Paty e Campinas, com 923

participantes, evidenciou-se a pesca artesanal com predominância do gênero

feminino (66,6%), fortemente vinculada à atividade de mariscagem na região.

No município, estimava-se haver entre dois a três mil trabalhadores no

setor, os quais se organizavam em pequenas Associações, contabilizando sete

entidades com cadastro junto à Secretaria do Meio Ambiente, Agricultura e Pesca

do município (SÃO FRANCISCO DO CONDE, 2009). Entretanto, de acordo com

Sá (2011), em seu estudo censitário junto a comunidades pesqueiras do

município, alcançou-se 923 participantes, observando-se quantidade considerável

de pescadores associados (60,88%) e com Registro Geral de Pesca (58,4%).

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Na última década, segundo Santos (2004), a pesca em SFC tornou-se

competitiva, em virtude do aumento do número de pescadores e dos efeitos

antrópicos na região, tendo como consequência a redução dos índices de

captura, com resultado da exploração plena ou sobrepesca dos recursos

pesqueiros. O autor salienta, ainda, a necessidade de implementação de ações

de gestão e conservação para que os estoques pesqueiros possam voltar a

produzir mais.

O município de São Francisco do Conde integra a Região

Metropolitana de Salvador, possui 266,631 Km2, situa-se a 67 km da capital e

limita-se ao Norte com Santo Amaro da Purificação e São Sebastião do Passé, a

Leste com Candeias e ao Sul com a Baía de Todos os Santos (BTS), sendo

diretamente influenciado pelas águas dos rios Subaé, Joanes, Ipitanga e São

Paulo (AMARAL; BARROS; SOUZA, 2006; SÁ, 2011; SANTOS, 2004).

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Figura 1: Mapa de São Francisco do Conde, Bahia, com indicações das comunidades pesqueiras. Fonte: SÃO FRANCISCO DO CONDE, 2009, adaptado.

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3.2 Breve caracterização da Sede e das comunidades pesqueiras de São Francisco do Conde

3.2.1 Sede

A Sede Municipal localiza-se a 66 km de Salvador, na foz do rio Subaé,

em frente à Ilha de Cajaíba, possui sistema de abastecimento de água e de

energia elétrica na maioria das ruas, que são pavimentadas (SÁ, 2011).

A população é composta predominantemente de negros e mestiços

que, na sua maioria, são empregados na prefeitura, empresas de apoio à RLAM,

e na construção civil, na sede e nos distritos. Entretanto, a Sede apresenta

também comunidade de pescadores artesanais e marisqueiras, com predomínio

da atividade para complementação de renda. No centro da cidade estão

instalados a Colônia de Pescadores e o Mercado Municipal do Peixe, esse último

funcionando em condições inadequadas quanto aos requisitos de armazenamento

e comercialização de pescados (SÁ, 2011).

3.2.2 Ilha do Paty

A Ilha do Paty apresenta área de vegetação pouco densa, cobrindo

parcialmente a área do bosque com a vegetação do mangue decapeada em

frente às residências, onde a população utiliza madeira para fazer cercas e como

lenha (SÁ, 2011).

Nas margens das praias, grandes quantidades de resíduos sólidos

encontram-se depositados, em decorrência do processo de urbanização, poluição

ambiental e correntes marinhas, evidenciando a falta e ineficiência de

infraestrutura de saneamento básico do local (PEIXOTO, 2008; SÁ, 2011).

3.2.3 Muribeca

A comunidade de Muribeca faz parte da área de influência das

atividades do Consórcio Manati; situa-se a 27 km da sede e é banhada pela Baía

de Todos os Santos. A atividade pesqueira constitui uma das grandes

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manifestações culturais da comunidade e uma das principais fontes de renda da

população, ou até mesmo o único meio de sobrevivência (subsistência/renda). A

comunidade não conta com saneamento básico, sendo os dejetos jogados no

mangue (PEIXOTO, 2008; SÁ, 2011).

3.2.4 São Bento das Lajes

São Bento das Lajes é um dos maiores distritos de São Francisco do

Conde, localizado na Zona Norte, onde foi construída a primeira Escola de

Agronomia da América Latina, fundada por D. Pedro II, em 1859, a Escola de São

Bentos das Lajes, que atualmente encontra-se em ruínas. O distrito é uma área

de baixa renda, por isso há uma expressiva quantidade de pescadores e

marisqueiras. A principal característica ambiental desta região é o impacto pelo

despejo de efluentes domésticos sobre o substrato do manguezal, resultando em

invasão por espécies vegetais exóticas ao ecossistema, na diminuição da

cobertura vegetal e na diminuição da abundância de espécies de crustáceos

importantes economicamente (PEIXOTO, 2008; SÁ, 2011).

3.2.5 Porto de Brotas

A comunidade de Porto de Brotas situa-se às margens do rio Subaé

sendo cercada por mangue, tendo a pesca como a atividade principal ou como

complementação de renda para quase todos os moradores. Na comunidade, as

ruas não são pavimentadas, não existe saneamento básico e há instalação de

reservatório de água suprido por carro pipa. Em algumas ocasiões, este

reservatório não é abastecido, sendo utilizada água não tratada pela população

(PEIXOTO, 2008; SÁ, 2011).

3.2.6 Caípe

O distrito de Caípe localiza-se a 27 km da sede, na área de entorno da

RLAM. A população é constituída em sua maioria por pescadores e marisqueiras,

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devido à vasta extensão de mangue e de rio, contudo, são registrados problemas

ambientais em virtude da presença de lixo e de dejetos, que são lançados no mar

(SÁ, 2011).

3.2.7 Campinas

O distrito de Campinas localiza-se na região urbana de São Francisco

do Conde, possui a maior parte das ruas pavimentadas, entretanto, ainda existem

ruas sem pavimentação e sem saneamento básico. A comunidade pesqueira é

pequena e a maior parte dos moradores trabalha na prefeitura, em empresas ou

na agricultura (SÁ, 2011).

3.2.8 Ilha das Fontes

A Ilha das Fontes situa-se no litoral sul do município, a

aproximadamente 8 km da Sede, próximo ao Porto Ferrolho da Petrobras e ao

povoado de Santo Estevão, tendo acesso apenas por barco. Na região, a maior

parte dos moradores desenvolve a atividade pesqueira tanto para comércio

quanto para consumo doméstico (SÁ, 2011).

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CAPÍTULO 2: A MARISCAGEM EM SÃO FRANCISCO DO CONDE- BA: GÊNERO, CONDIÇÕES DE VIDA E DE TRABALHO SHELLFISH IN SÃO FRANCISCO DO CONDE-BA: GENDER, LIV ING AND WORKING CONDITIONS

Mary Daiane Fontes Santosa, Gabriela Silva da Nóbregab, Ryzia de Cassia Vieira

Cardosoc, Priscila Nunez Camposd, Larissa Santos Assunçãod.

a Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência de Alimentos (PGALI),

Faculdade de Farmárcia,Universidade Federal da Bahia (UFBA). b Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Alimentos, Nutrição e

Saúde(PGNUT), Escola de Nutrição, UFBA c Professora do Departamento de Ciência dos Alimentos, Escola de Nutrição,

UFBA. d Estudantes do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica – PIBIC -

UFBA

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RESUMO

A mariscagem compreende uma modalidade de pesca artesanal praticada por mulheres - marisqueiras, voltada à captura manual de moluscos bivalves e crustáceos. No Brasil, a mariscagem é uma atividade peculiar em todo o litoral, a partir da exploração dos manguezais. Considerando a tradição da mariscagem na Bahia, e a insuficiência de relatos sobre o tema, este estudo objetivou descrever o perfil socioeconômico, as condições de vida e de trabalho das mulheres da pesca de São Francisco do Conde, Bahia. Realizou-se estudo exploratório, de natureza censitária, com a aplicação de questionários semi-estruturados, junto a 695 marisqueiras, com idade igual ou superior a 18 anos, em oito localidades do município. Entre as marisqueiras, verificou-se média de idade de 39,12 anos - amplitude de 18 a 80 anos, predomínio de baixa formação escolar (56,80%) e moradia em residências próprias (78,70%), com disponibilidade de água tratada (84,60%) e energia elétrica (97,10%). A média de tempo na atividade foi de 18,80 anos e a média de jornada diária de trabalho no mangue registrou 5,53 horas, com um a sete dias de trabalho por semana. Para 91,30% das participantes, a renda mensal referida foi inferior a um salário mínimo, sendo a mariscagem realizada tanto como renda principal como para complementação do ingresso familiar. Quase metade das marisqueiras (50,30%) relatou doenças associadas ao trabalho e pequena proporção (25,40%) indicou a adoção de medidas domésticas de proteção individual. As espécies mais capturadas pelas mulheres incluíram ostra (Crassostrea rhizophorae) (81,00%), sururu (Mytella guyanensis) (72,00%) e siri (Callinectis sp) (62,00%). Grande parte das marisqueiras (91,00%) informou não participar de organizações sociais e 63,20% declararam possuir o Registro Geral de Pesca. Os resultados revelam a importância da mariscagem como trabalho e fonte de renda para as mulheres das comunidades investigadas e apontam para a necessidade de programas específicos para esse segmento, de modo a promover a cadeia produtiva, em respeito à tradição, à sustentabilidade e à inclusão do social, na perspectiva do gênero e da saúde. Palavras-chave : Pesca artesanal. Mulher, saúde do trabalhador, análise socioeconômica, comunidades pesqueiras.

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ABSTRACT The shellfish comprises a modality of artisanal fishing practiced by women -fisherwomen, focused on manual capture of bivalve molluscs and crustaceans. In Brazil, the shellfish is an peculiar activity around the coast, as from the exploitation of mangrove. Considering the tradition of shellfish in Bahia, and the insufficiency of reports about the topic, this study aimed to describe the socioeconomic profile and the living and working conditions of women fishing of São Francisco do Conde, Bahia. Exploratory study has been realized, with a nature of census and there were application of a semi-structured questionnaire, along the 695 fisherwomen, aged over 18 years, in eight locations in the municipality. Among the fisherwomen, it has been found mean age of 39.12 years - amplitude value between 18-80 years, educational training predominantly low (56.80%) and own habitation (78.70%), with treated water available (84.60%) and electricity (97.10%). The average of time in the activity was 18.80 years and the average of workday in the mangrove was 5.53 hours, with one to eight working days per week. For 91.30% of the participants, the monthly income was less than minimum wage, the shellfish being held as much main income as to complement the family joining. Almost half of the fisherwomen (50.30%) reported illnesses associated with the work, and a small proportion (25.40%) indicated the adoption of domestic measures of individual protection. The species caught by the women included oyster (Crassostrea rhizophorae) (81.00%), mussels (Mytella guyanensis) (72.00%) and crab (Callinectis sp) (62.00%). Almost all of the fisherwomen (91.00%) indicated no participate in social organizations and 63.20% reported owning the Registrar General of Fishing. The results reveal the importance of shellfish as work and source of income for the women of the communities investigated and point out to the necessity of specific programs for this segment, in order to promote the production chain, with respect the tradition, sustainability and social inclusion in the perspective of gender and health. Keywords: Artisanal fishing, woman, worker health, socio-economic analysis, fishing communities

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1 INTRODUÇÃO

A pesca artesanal refere-se àquela que envolve famílias, com emprego

ou não de embarcações relativamente pequenas, para viagens próximas à costa,

cuja produção destina-se ao mercado, para obtenção de renda, e também para a

alimentação das famílias envolvidas (BRASIL, 2009a; FAO, 2005). Segundo o

Fundo das Nações Unidas para Agricultura e Alimentos - FAO (2012), a pesca

artesanal é categorizada conforme o gênero, em pesca propriamente dita,

realizada pelos homens, e a mariscagem, conduzida por mulheres e, algumas

vezes, por crianças.

No litoral do Brasil, como também em outros países, a mariscagem é

uma atividade desenvolvida por várias comunidades pesqueiras costeiras, a partir

da exploração dos manguezais (RIOS; GERMANNI, 2011; WILLIAMS; HOCHET-

KIBONGUI; NAUEN, 2005).

A mariscagem se volta à captura manual de moluscos bivalves e

alguns crustáceos, como siri e caranguejo, durante os períodos de marés baixas,

sendo exercida, sobretudo, por mulheres denominadas marisqueiras ou

mariscadeiras (FADIGAS; GARCIA; HERNÁNDEZ, 2008; JESUS; PROST; 2011).

As marisqueiras compreendem mulheres de idade e crenças variadas,

que vivem da captura e beneficiamento de mariscos e que detêm conhecimento

sobre as marés, as fases lunares e a heterogeneidade da fauna e flora do

mangue (BEZERRIL, 2012). Essas mulheres são proprietárias dos instrumentos

de pesca e são responsáveis pelo beneficiamento e pela venda dos mariscos. O

beneficiamento é, geralmente, realizado de forma tradicional no ambiente

doméstico ou mesmo de modo rústico, nas comunidades (PENA; FREITAS;

CARDIM, 2011; SILVA, 2011).

Na Baía de Todos os Santos, Recôncavo da Bahia, Brasil, a

mariscagem é uma atividade histórica em muitos municípios, incluindo em São

Francisco do Conde (SFC), cidade situada na Região Metropolitana de Salvador,

capital do estado. No município, conforme Amaral, Barros e Souza (2006), essa

prática é exercida por mulheres que se destacam na captura de camarão, sururu,

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ostra, siri, mapé e caranguejo, nas praias e manguezais da Sede Municipal e das

comunidades pesqueiras.

Em face à tradição da pesca no município, à forte inserção do trabalho

de mulheres na atividade e à insuficiência de estudos na perspectiva do gênero,

este estudo objetivou descrever o perfil socioeconômico, as condições de vida e

de trabalho das mulheres da pesca de São Francisco do Conde (SFC), Bahia,

Brasil.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

Realizou-se estudo exploratório, de natureza censitária, junto à

coletividade de pescadores, com idade igual ou superior a 18 anos, da Sede

Municipal e comunidades pesqueiras do município de São Francisco do Conde,

Bahia, como parte do projeto A cadeia produtiva de pescados em São Francisco

do Conde-BA: do barco à comercialização, na perspectiva da promoção da

segurança alimentar1. O estudo foi conduzido de agosto de 2009 a fevereiro de

2011.

2.1 Levantamento da população de estudo

As comunidades pesqueiras foram identificadas em razão da sua

ligação direta com a pesca artesanal e o fato de possuírem associações

devidamente cadastradas junto à Secretaria do Meio Ambiente, Agricultura e

Pesca do município, e compreenderam: São Bento das Lajes, Porto de Brotas,

Caípe de Baixo, Muribeca, Ilha do Paty, Ilha das Fontes e Campinas (Figura 1).

1 Projeto financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia - FAPESB.

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Figura 1: Mapa de São Francisco do Conde, Bahia, com indicações das comunidades pesqueiras estudadas. Fonte: SÃO FRANCISCO DO CONDE, 2009 (adaptado).

Inicialmente, procedeu-se o contato com os presidentes das

Associações de Pescadores e Marisqueiras das respectivas localidades, por meio

de reuniões, das quais também participavam outros pescadores e marisqueiras.

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Neste momento, foram explicitados os objetivos do estudo, a importância da

participação e a forma de levantamento de informações junto à coletividade que

atuava efetivamente na pesca. No entanto, visto que as Associações não

possuíam cadastro atualizado dos pescadores, optou-se por adotar a metodologia

bola de neve (snow ball) (BAILEY, 1982). Conforme esta técnica, solicitou-se a

pessoas-chave que informassem sobre a localização de outros pescadores e

marisqueiras, solicitando destes a mesma indicação, após entrevista e, assim,

sucessivamente.

2.2 Coleta das informações

A coleta de informações foi realizada por meio de entrevistas e

aplicação de questionários semiestruturados (Anexo A), que apresentava

questões organizadas em blocos, incluindo: identificação e características sócio-

demográficas do pescador; dados cadastrais junto às Associações de Pescadores

e à Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca - SEAP; trajetória na pesca;

características da pesca; riscos à saúde associados ao trabalho; volume e

espécies de pescados capturados; condição de higiene e conservação do

pescado à bordo; condições de desembarque do pescado e comercialização; e

questões de opinião.

2.3 Aspectos éticos

Em atendimento à Resolução 196/96, do Conselho Nacional de Saúde

(BRASIL, 1996), o estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da

Escola de Nutrição, da Universidade Federal da Bahia (Parecer 004/2010). Para

participação no estudo, todas as pescadoras declararam sua concordância, pela

assinatura de Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo B).

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Entre as comunidades investigadas, obteve-se a participação de 695

mulheres (pescadoras), com a seguinte distribuição: Ilha das Fontes, 54; Porto de

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Brotas, oito; Campinas, oito; Ilha do Paty, 18; Muribeca, 166; São Bento dos

Lages, 67; Caípe de Baixo, 343; Sede Municipal, 31.

3.1 Aspectos sócio-demográficos

Nas comunidades pesqueiras de São Francisco do Conde, a faixa

etária das marisqueiras variou de 18 a 80 anos, média de 39,12 anos, com

predomínio das faixas de 20 a 40 anos e de 40 a 60 anos (Figura 2). Esses

resultados se aproximam daqueles reportados por Freitas et al. (2012), em estudo

com marisqueiras na comunidade de Barra Grande - PI, no qual a idade média foi

de 42 anos, com amplitude de 22 a 83 anos e maior participação de pescadoras

nas faixas de 31 a 40 anos e de 41 a 50 anos. Entretanto, outros autores

encontraram resultados distintos dos registrados no presente estudo.

Distribuição por faixa etária ( porcentagem de pescadoras)

3,3

56,0

34,7

6,0

0 10 20 30 40 50 60

Até 20

20 a 40

40 a 60

60 a 80

(anos)

Figura 2: Distribuição (%) das marisqueiras de São Francisco do Conde, Brasil, quanto à faixa etária. 2010-2011.

Rocha et al. (2012), constataram uma média de idade de 36,5 anos,

amplitude de 18 a 55 anos, para pescadoras artesanais do estuário do Rio

Mamanguape - PB, enquanto Dias, Rosa e Damasceno (2007) relataram média

de 31,5 anos, amplitude de 12 a 59 anos, para marisqueiras de Diogo Lopes e

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Sertãozinho, comunidades localizadas às margens do rio Tubarão, no estado do

Rio Grande do Norte.

A grande amplitude da faixa etária das marisqueiras de SFC revela a

tradição da atividade da mariscagem no município, exercida por diferentes

gerações, sugerindo que a transmissão de conhecimento do ofício é passada de

mãe para filha. Além disso, pela distribuição etária, observa-se a presença de

trabalhadoras da pesca com idade superior a 60 anos, limite para aposentadoria

por idade, o que levanta duas hipóteses: pescadoras já aposentadas, mas que

também vivem da pesca como complementação da renda, e aquelas que não

detêm o conhecimento de seus direitos e vivem da pesca sem se aposentar.

Quanto à escolaridade, verificou-se alta proporção de marisqueiras

com baixa formação, com predomínio da educação de ensino fundamental

incompleto (56,80%). Essa realidade também foi constatada por estudos

realizados com grupos mistos de pescadores envolvendo homens e mulheres

(BERNARDO; MACIEL; SILVA, 2009; JESUS; PROST, 2011; GARCEZ;

SÁNCHEZ-BOTERO, 2005; OLIVEIRA et al., 2009; SANTOS et al., 2010;

VASCONCELOS et al., 2003; WALTER; PETRERE, 2007) e, ainda, em estudos

conduzidos com apenas mulheres (FREITAS et al., 2012; GOMES, 2006;

MARTINS, 2008; ROCHA et al., 2010).

Em relação ao estado civil, as marisqueiras entrevistadas declararam

diversas categorias (Figura 3), com destaque para as aquelas que referiram ser

solteiras e viver em união estável. Verificou-se elevado percentual de

marisqueiras (90,60%) que possuíam filhos menores - em média 3,4 filhos, das

quais 39,30% eram solteiras, o que supera o índice de indivíduos com vida

conjugal (casados e com união estável), evidenciando assim à composição de

famílias em novos padrões de estruturação.

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75

Estado civil (%)

Divorciada 1,1%

Viúva 5,7% Separada

2,7%

Casada16,1%

União Estável 33,1%

Solteira 41,2%

Figura 3: Distribuição (%) das marisqueiras de São Francisco do Conde, Brasil, quanto ao estado civil. 2010-2011.

A maioria das mulheres declarou possuir dependentes (85,30%) e ser

chefe de família (77,60%), o que pode ser associado ao fato da maior parte das

entrevistadas ter se declarado solteira. Conforme Dias, Rosa e Damasceno

(2007) e Pena , Freitas e Cardim (2011), a exploração dos manguezais permite às

marisqueiras sua alimentação, o sustento da família, além da aquisição de bens

para suas próprias residências. De modo distinto, estudo realizado por Jayaraman

(2005), com 725 pescadoras artesanais de Tamilnadu, na Índia, reporta que

85,9% delas eram casadas e que apenas 10% eram chefes de família.

Entre os filhos das pescadoras de São Francisco do Conde, 37,90%

trabalhavam na pesca, sendo reportada a inserção na atividade desde a infância.

Trabalho realizado por Pena, Freitas e Cardim (2011), com marisqueiras de Ilha

de Maré, Bahia, descreve a inserção de meninos na pesca, a partir dos 12 anos,

enquanto que as meninas eram iniciadas na mariscagem. Magalhães et al.

(2007), ao acompanhar as atividade de pescadoras artesanais em Caratateua-PA,

constataram que as crianças e adolescentes trabalhavam no processamento de

carne de caranguejo, para ganhar algum dinheiro a fim de satisfazer as suas

necessidades pessoais, como a compra de roupas, sapatos, livros escolares e

outros itens.

Chaves, Pichler e Robert (2002) reportam que mais de 60% dos 42

pescadores entrevistados na Baía de Guaratuba, Paraná herdaram a prática da

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pesca de seus avós ou pais, entretanto, mais de 90% desses pescadores

declararam que não gostariam que seus filhos trabalhassem nesse segmento,

porque eles julgavam ser mal pagos.

Ao serem questionadas quanto à realização de cursos relativos à

pesca ou outra formação profissional, mais da metade (75,70%) das marisqueiras

de SFC declararam a ausência de formação, quadro que pode estar relacionado

ao baixo nível de escolaridade da população de estudo.

A Tabela 1 sumariza as condições de moradia das marisqueiras de

SFC, evidenciando que maior parte possuía residência própria. Entretanto, vale

ressaltar que, durante as entrevistas, constatou-se elevada percentagem de

casas construídas em taipa, cobertas com telhas de amianto e de barro, o que

revela a pobreza nessas localidades. Registrou-se, ainda, média de 4,59

cômodos por casa, o que confirma casas com pequenas áreas.

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77

Tabela 1 - Características das residências das marisqueiras nas diferentes comunidades de São Francisco do Conde - Bahia, Brasil, 2010-2011.

Características das residências Distribuição

Condição de uso do imóvel (%)

Próprio 78,7

Cedido 6,5

Alugado 9,2

Outro 0,6

Iluminação elétrica (%)

Sim 97,1

Não 2,9

Abastecimento de água (%)

Rede pública 84,6

Riacho, fonte 5,1

Cisterna 0,2

Carro pipa 0,5

Outros 4,7

Realização de tratamento de água (%)

Sim 45,8

Não 54,2

Tipo de tratamento (%)

Filtrar 38,6

Coar 6,7

Disponibilidade de banheiro (%)

Sim 84,9

Não 15,1

Destino dos dejetos da casa

Fossa 44,6

Mar 16,3

Rede pública 16,5

Vala 1,7

Rio, Lago 1,1

A maioria das residências possuía serviço de iluminação elétrica e

dispunha de água da rede pública, apesar de 10,50% terem informado não dispor

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deste serviço, utilizando fontes alternativas para o abastecimento de água, o que

implica na possibilidade de uso de fontes alternativas insalubres por algumas

comunidades. De acordo com estudo realizado no município (SÃO FRANCISCO

DO CONDE, 2008), com análise de água de cinco fontes existentes na região,

apenas uma encontrava-se em atendimento aos padrões de potabilidade

preconizados na legislação.

Quanto à aplicação de alguma forma de tratamento da água de

consumo, mais da metade (54,20%) das entrevistadas informaram não utilizar

qualquer tratamento; dentre aquelas que informaram o tratamento, a maioria

relatou a filtração da água.

Entre as residências, observou-se grande disponibilidade (84,90%) de

banheiro com vaso sanitário e chuveiro, contudo, aproximadamente 20,00%

destinavam seus dejetos na rede pública de esgoto, constatando-se grande uso

de fossas e, ainda, lançamentos no mar, situação que contribui para a poluição

ambiental no entorno das comunidades. Nesse contexto, ao avaliar águas

costeiras da sede municipal de São Francisco do Conde e das comunidades de

Muribeca e São Bento do Lages, Kan et al. (2012) verificaram elevadas contagens

de coliformes termotolerantes, em decorrência da recente expansão e construção

de domicílios em áreas de manguezais e da falta de esgotamento sanitário, o que

resultava em características de balneabilidade imprópria para as águas.

Entre as formas de destinação do lixo gerado nas comunidades, 71%

informaram usar o serviço de coleta pública, 16% a queima, 12% a disposição em

lixões e os demais (1%) outras destinações, revelando, para quase um terço dos

consultados, questões complexas de agressão ambiental.

No que se refere às condições de moradia, resultados obtidos por Dias,

Rosa e Damasceno (2007) foram similares aos do presente estudo, posto que

evidenciou-se que, de 16 marisqueiras entrevistadas, 62,5% tinham moradia

própria, 81,25% utilizavam água da rede de abastecimento, sendo constatado,

ainda, residências cuja água provinha exclusivamente de poços artesianos. Em

Tamilnadu, Índia, Jayaraman (2005) reporta que 91% das 725 pescadoras

artesanais moravam em casas próprias, na sua maioria de concreto e com

energia elétrica (95,6%), e que cerca de 70% dispunham de instalações

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79

sanitárias. Freitas et al. (2012) registram que 86% das residências das

marisqueiras de Barra Grande - PI dispunham de água tratada, apenas 1,59%

não possuíam energia elétrica e 73,02% utilizavam coleta pública para destinar o

lixo.

Por outro lado, pesquisa realizada por Modassir e Ansari (2011) com

pescadoras artesanais de duas comunidades pesqueiras (Britona e Dona Paula)

de Goa, na Índia, reporta resultado diferente do presente estudo, em que foi

constatado que apenas 30% das pescadoras de Britona tinham banheiros em

suas residências e cerca de 40% das casas não dispunham de água encanada,

sendo utilizada água de poços para o suprimento das necessidades das

pescadoras.

3.2 Características do trabalho e renda

Para as pescadoras de SFC, a média de tempo de trabalho na

mariscagem foi de 18,80 anos, média inferior à reportada por Freitas et al. (2012),

que observaram 20,22 anos na mariscagem e amplitude de dois a 50 anos, e

superior ao reportado por Dias, Rosa e Damasceno (2007), que relataram 11,5

anos - amplitude de 1 a 30 - de tempo de exercício na profissão, para pescadoras

da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Ponta do Tubarão- RN.

Em São Francisco do Conde, a média do tempo gasto pelas

marisqueiras, na coleta dos pescados nos manguezais e no mar, foi de 5,52

horas, próximo de seis horas, o que equivale ao período de maré baixa.

Entretanto, a jornada das marisqueiras se estende por mais seis a oito horas, em

virtude do tempo de deslocamento de ida e retorno ao mangue e do intervalo de

tempo necessário para beneficiar o marisco, que envolve etapas como limpeza do

marisco, pré-cozimento, retirada do marisco das valvas ou carapaças, embalagem

e armazenamento (PENA; FRESITAS; CARDIM, 2011).

Neste perfil, resultados similares ao presente estudo foram relatados

por Rios e Germanni (2010), com marisqueiras de Acupe, Santo Amaro – BA,

com intervalo de tempo de 7 horas, e por Dias, Rosa e Damasceno (2007), com

as marisqueiras de Reserva de Desenvolvimento Sustentável Ponta do Tubarão -

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RN, que passavam de uma a seis horas no mangue. Todavia, estudos realizados

por outros autores reportam tempo médio de trabalho no mangue e ou no mar

inferior ao presente estudo. Bezerril (2012) relata que as pescadoras artesanais

de Fortim - CE, permaneciam, em média, de duas a quatro horas no mangue;

Kronen e Vunisea (2009) reportam que pescadoras de 63 comunidades

pesqueiras, de 17 países de Ilhas do Pacífico, gastavam cerca de três horas,

durante as viagens para pesca.

A maioria das marisqueiras de SFC (64,10%) informou não mariscar no

período noturno, evidenciando que a prática da mariscagem ocorria nos períodos

de maré baixa e à luz do dia, devido à facilidade de acesso aos manguezais e,

consequentemente, aumento das chances de encontrar e capturar os mariscos,

considerando que alguns deles encontram-se fixos às raízes das plantas do

mangue, como a ostra, e nas areias do mangue, como o sururu, a lambreta e o

caranguejo (PENA; FREITAS; CARDIM, 2011)

A população entrevistada destinava, em média, 4,17 dias da semana

para atividade pesqueira – faixa de um a sete dias, demonstrando, assim, a

importância da mariscagem como fonte de renda. Como as marisqueiras, uma

vez que são detentoras dos seus equipamentos e decidem sobre seus horários de

trabalho, o fato de não ir mariscar, como desdobramento, implica na perda de

produção e de ingresso financeiro (DIAS; ROSA; DAMASCENO, 2007).

Grande parte das pescadoras de SFC (91,30%) declarou ter renda

mensal inferior a um salário mínimo, enquanto pequena porcentagem recebia de

um a três salários mínimos. Esta diferença de renda, provavelmente, estava

relacionada ao tipo de trabalho exercido, uma vez que algumas marisqueiras

informaram ter outra fonte de renda, a exemplo, o trabalho na Prefeitura - como

auxiliar de serviços gerais, a revenda de produtos de beleza, o trabalho como

diarista, lavadeira ou faxineira, a venda de produtos alimentícios, e, até mesmo, o

fato de ser aposentada, de modo que somavam renda superior ao salário mínimo.

De modo semelhante, Jesus e Prost (2011), ao investigar o perfil de

marisqueiras de duas cidades próximas a São Francisco do Conde, Madre de

Deus e Saubara, constataram que, em geral, a renda das pescadoras era baixa,

não passando de dois salários mínimos. Os autores citam ainda que a população

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81

de estudo, além da mariscagem, possuía como as principais fontes de renda a

aposentadoria e os auxílios dos programas sociais. Outros autores relatam

resultados não muito diferentes do presente estudo com renda líquida em torno

de dois salários mínimos (LIMA et al., 2010; MARTINS, 2008).

Entre as marisqueiras de SFC, 61,70% informaram não possuir outra

atividade remunerada, entretanto, sabe-se que muitas famílias do município, com

crianças em fase escolar recebem benefícios sociais, seja federal (Programa

Bolsa Família) ou municipal (Programa de Acolhimento Social). Jesus e Prost

(2011) também reportaram essa realidade nas comunidades de Madre de Deus e

Saubara, Bahia.

Por outro lado, estudo realizado por Rocha et al. (2012) revela que as

marisqueiras de Mamanguape - PB possuíam outra fonte de renda, uma vez que

20% delas possuíam registro como trabalhadoras rurais e um total de 63% tinham

algum tipo de profissão legalmente registrada, que corroborava para a

contribuição na Previdência Social, garantindo, assim, seus direitos à licença-

maternidade, aposentadoria e outros benefícios sociais. Salienta-se, ainda, que

60% das pescadoras de Mamanguape recebiam auxílio do Programa Bolsa

Família.

Em relação às dificuldades encontradas na profissão, 70,40% das

marisqueiras de São Francisco do Conde declararam que as principais

compreendiam os problemas de saúde, como a hipertensão e dores nos joelhos e

nas mãos, a falta de embarcação para ter acesso ao mangue, o deslocamento

entre a residência e o mangue, a escassez de mariscos, o vazamento de óleo no

mangue e a falta de equipamento de proteção para evitar os cortes nas mãos ou

nos pés, durante a atividade de mariscagem.

3.3 Saúde das marisqueiras

Mais da metade (50,30%) das marisqueiras relataram a ocorrência de

doenças associadas ao trabalho na mariscagem, conforme demonstra a Figura 4.

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82

44,4

18,6

9,98,2

5,94,0

2,8 2,31,1 0,8 0,8 0,6 0,6

0,0

5,0

10,0

15,0

20,0

25,0

30,0

35,0

40,0

45,0

50,0

Pro

ble

ma

de

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na

Doe

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Ou

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Por

cen

tage

m (

%)

Figura 4: Distribuição (%) das marisqueiras de São Francisco do Conde, Brasil, quanto ao relato de doenças associadas ao trabalho. 2010-2011.

O item Outros (8,20%) incluiu doenças expressas com menor freqüência,

como infecção urinária, pedra nos rins, dores no corpo, pés e joelhos e corte nas

mãos ou nos pés.

Durante visitas nas comunidades e acompanhamentos da rotina de

trabalho das marisqueiras, na comunidade de Ilha do Paty, pode-se constatar que

as marisqueiras apresentavam hábitos posturais incorretos e desenvolviam a

mariscagem sem adotar medidas de proteção à saúde, contribuindo, sobretudo,

para o desenvolvimento de doenças na coluna e ósteo-articulares.

Durante a captura de mariscos, observou-se que as pescadoras

mantinham o corpo encurvado, com os joelhos semi-flexionados, ou mesmo

permaneciam acocoradas, por longo tempo; ao retornarem do mangue,

carregavam baldes ou sacos de ráfias com quilos de mariscos cobertos com

sedimentos do mangue, causando uma sobrecarga na coluna. Em casa, durante

as etapas de beneficiamento dos mariscos, os membros superiores,

principalmente punhos, mãos e dedos, eram duramente exigidos, nas atividades

de desconchamento dos moluscos e na separação da carne dos crustáceos

(Figura 5 – A, B e C).

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83

Figura 5: Desenvolvimento de posturas incorretas, durante o trabalho na mariscagem: A - Postura durante a captura de mariscos no mangue; B - Marisqueiras carregando mariscos cobertos com sedimento do mangue; C - Postura inadequada durante beneficiamento do marisco. Ilha do Paty, São Francisco do Conde, Bahia, Brasil, 2012.

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84

Pena, Freitas e Cardim. (2011), ao acompanhar as atividades de 800

marisqueiras de Ilha de Maré - BA, observaram que, durante a prática de

deambular e cavar a areia do mangue à procura dos mariscos, as mulheres

exerciam sobrecarga muscular no pescoço, ombros, dorso, membros superiores e

região lombar, além do excesso rítmico centrado no punho nas atividades

repetitivas. No estudo, os autores identificaram oito casos de lesão por esforço

repetitivo (LER) entre as marisqueiras avaliadas e reportaram que a maioria das

entrevistadas queixava-se de dores e dormências nos membros superiores,

sintomas sugestivos de LER.

Quanto ao uso de equipamentos de proteção, 70,00% das pescadoras

artesanais de São Francisco do Conde informaram utilizá-los, enquanto que as

demais negaram o uso destes. Todavia, os equipamentos mencionados, na

maioria das vezes, se referiam a itens de vestuário doméstico – como bonés ou

chapéus, sapatos ou botas, calça, camisa de manga comprida, luvas - e misturas

para proteção da pele contra mosquitos, consideradas pelas marisqueiras como

dispositivos de proteção; entretanto, apenas 11,30% declararam utilizar protetor

solar. Ressalta-se, ainda, que 25,40% das marisqueiras declararam aplicar sobre

a pele uma mistura de óleo diesel, querosene, azeite de dendê e alho, durante a

mariscagem, como forma de proteção contra picadas de mosquitos, o que

evidencia exposição química a derivados de petróleo.

3.4 Caracterização das embarcações e arte de pesca

Do total de marisqueiras entrevistadas, 59,00% não dispunham de

embarcação, 22,90% usavam embarcação de terceiros, 5,60% alugavam-nas e

somente 12,40% contavam com embarcação própria. Este resultado pode ser

justificado pelo tipo de pesca exercida, uma vez que 55,30% das marisqueiras

não utilizavam embarcação para mariscar, devido ao fato de morarem próximo ao

mangue ou de terem o hábito de se deslocar a pé para o mangue.

Dentre as embarcações utilizadas, destacou-se elevado emprego de

canoa de madeira a remo (35,10%), seguido de outros tipos, como canoa de fibra

motorizada (3,70%), barco a motor (2,60%), barco de vela (0,30%) e jangada

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85

(0,30%), revelando assim a utilização de embarcações de baixo poder de

predação e que permitem viagens curtas e próximas à costa (CLAUZET;

RAMIRES; BARRELLA, 2005).

Esse resultado corrobora com a descrição apresentada no Projeto

ESTATPESCA (BRASIL, 2008), referente ao monitoramento da atividade

pesqueira no litoral nordestino, na qual as canoas representavam 56,9% da frota

estadual, distribuídas principalmente na capital, Salvador, e nos municípios de

Maragojipe, Camamu, Cairu e São Francisco do Conde. A canoa também foi

citada como a embarcação mais utilizada por pescadores artesanais, em estudos

realizados em diferentes estados brasileiros (FREITAS et al., 2012; SOARES et

al. 2011; WALTER; PETRERE, 2007).

As modalidades de apetrecho de pesca mais empregadas na captura

dos recursos pesqueiros no mangue compreenderam: faca ou facão (38,58%),

colher ou colher de pedreiro (18,56), jereré (12,83%), gancho (5,64%), machado

ou machadinha (4,19%), cavador ou enxada (4,00%), a própria mão das

pescadoras (2,37%), dentre outras artes, como muzuá, foice e forquilha. Das

modalidades de uso embarcado, as mais indicadas incluíram a rede de arrasto

(27,60%) e a rede de espera (3,00%).

Estudos realizados por Bezerril (2012), com marisqueiras de Fortim -

CE, e por Rios e Germanni (2010), com marisqueiras de Acupe, Santo Amaro -

BA, evidenciaram também a utilização de facas, jereré, ganchos e colher como

apetrechos na mariscagem.

3.5 Cuidados com o pescado capturado e com as embarcações

Quanto ao acondicionamento do pescado capturado, os resultados são

exibidos na Figura 6, notando-se grande utilização de baldes e bacias.

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86

Balde\Bacia83%

Assoalho do barco1%

Caixa de isopor5%

Outro6%

Saco de ráfia5%

Figura 6: Distribuição (%) das marisqueiras, quanto à forma de acondicionamento do pescado recém-capturado em São Francisco do Conde – Bahia, Brasil, 2010 – 2011.

No caso das marisqueiras que também auxiliavam os maridos na

captura em mar, 22,50% informaram o uso de gelo fabricado na própria

residência. Dentre as que dispunham de embarcação para deslocamento na

atividade, a higienização dessas era realizada principalmente ao final de cada

pescaria (58,80%), enquanto as demais relataram realizar a limpeza

semanalmente (7,70%) e mensalmente (0,30%). Em geral, o procedimento de

higienização era feito com emprego de água do mar (39,10%) e o uso de esponja

(23,67%) e vassoura (18,35%).

Ao serem questionadas sobre a importância da limpeza do barco,

35,4% das marisqueiras informaram que a higiene era essencial, enquanto que

34,5% responderam que era importante para conservar a embarcação, por evitar

a formação de limo e de cracas2.

2 Cracas - Nome comum dos crustáceos marinhos sésseis do gênero Thoracica, denominado cirripodes, que, quando adultos, têm o exoesqueleto calcificado composto por várias placas articuladas que definem uma forma cônica. As cracas escolhem normalmente substratos rochosos, mas podem fixar-se também em fundos de embarcações, onde causam estragos, ou em outros animais, como baleias e caranguejos (CASTRO; HUGHER, 2010).

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87

No retorno da captura, grande parte das marisqueiras (89%) levavam

os mariscos para suas residências para beneficiá-los, apesar de algumas

informarem levá-los para atravessadores (1,6%) e para cooperativas (0,1%).

3.6 Caracterização dos recursos pesqueiros e sua comercialização

Os recursos pesqueiros mais capturados pelas marisqueiras de São

Francisco do Conde incluíram ostra (Crassostrea rhizophorae), sururu (Mytella

guyanensis), siri (Callinectis sp.) e camarão (Penaeus spp) (Figura 7), o que

revela a diversidade de espécies nos manguezais do município.

3

4

7

8

11

17

17

43

62

72

81

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90

Porcemtagem (%)

Arraia

Pescada

Vermelho

Mapé

Robalo

Carangueijo

Tainha

Camarão

Siri

Sururu

Ostra

Figura 7: Distribuição (%) das marisqueiras, quanto aos tipos de pescado capturados em comunidades pesqueiras de São Francisco do Conde – Bahia, Brasil, 2010 – 2011.

Segundo Santos (2004), na Baía de Todos os Santos, região em que

se localiza o município de SFC, estão reunidos ecossistemas ricos em

biodiversidade como manguezais, remanescentes da Mata Atlântica e recifes de

corais que constituem a Área de Proteção Ambiental (APA) Baía de Todos os

Santos, criada em 1999. Entretanto, preocupações de ordem ambiental têm sido

levantadas, ao longo dos anos, em virtude da ação antrópica como, inicialmente,

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a retirada da cobertura dos manguezais para dar lugar às plantações de cana-de-

açúcar, seguida da exploração seletiva de madeira e, mais recentemente a

observação de pastagens e atividades da indústria do petróleo, que vêm

descaracterizando os manguezais.

Segundo Dias, Rosa e Damasceno (2007), os recursos pesqueiros

mais explorados pelas marisqueiras da Reserva de Desenvolvimento Sustentável

Ponta do Tubarão - RN incluíram os moluscos, búzio ou marisco (Anomalocardia

brasiliana), búzio grande (Lucina pectinata) e sururu (Mytella guyanensis) e os

crustáceos siri (Callinectes sp), caranguejo-uçá (Ucides cordatus) e aratu

(Goniopsis cruentata), além de peixes de pequeno porte.

Estudo realizado por Kronen e Malimali (2009) em Lofanga, Tonga,

revelou que as mulheres capturavam exclusivamente pescados invertebrados

como polvo, ouriço do mar, gastrópodes (Turbo crassus e Cryptoplax sp.), tendo

um montante de aproximadamente 600 kg de pescado ao ano e cerca de 150Kg a

cada captura.

Em relação à quantidade de pescados capturados nas comunidades de

São Francisco do Conde, constatou-se que 89,40% das pescadoras artesanais

obtinham menos de 10 Kg/dia, enquanto que as demais capturavam entre 10 e 30

Kg/dia. Em comparação a outros estudos realizados no Brasil, a quantidade de

captura observada no município foi baixa. Dias, Rosa e Damasceno (2007)

reportam uma produção diária média de 47,9 Kg de pescado – peso bruto,

resultando em uma média de marisco beneficiado de 3,2 Kg por pessoa por dia,

com amplitude variando de 1,0 a 5,0 Kg.

A baixa produtividade descrita pode ser justificada pelo fato do

município encontrar-se em situação de exploração plena ou sobrepesca, com

índices de captura em declínio (SANTOS, 2004), aliada à ausência de

saneamento básico em algumas comunidades, que contribui para a poluição

ambiental ao redor dessas localidades (SÁ, 2011). Neste caso, os resultados

mostram ser imprescindível o desenvolvimento de programas, pela gestão

pública, junto à população e à coletividade de pescadores artesanais, quanto à

implantação de medidas de conservação dos ecossistemas no entorno das

comunidades.

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A destruição gradual do meio ambiente, causada pela poluição dos

estuários e mangues, a sobre-exploração de recursos pesqueiros, o processo de

urbanização desordenada nas cidades litorâneas, além do aterro de manguezais

trazem riscos à mariscagem, em decorrência da redução ou da possibilidade de

escassez dos produtos marinhos (BOTELHO; SANTOS, 2005; DIAS; ROSA;

DAMASCENO, 2007).

Segundo Bezerril (2012), os fatores que influenciam os processos de

redução dos estoques naturais dos moluscos bivalves em Fortim, Ceará incluíam:

a exploração e ocupação indevida do mangue; a poluição das águas do Rio

Jaguaribe; o desmatamento das florestas de manguezais; a carcinicultura; a

especulação imobiliária; a ausência de políticas de ordenamento da mariscagem;

e a falta de fiscalização e punição adequadas por parte do poder público.

Quanto aos locais de comércio do pescado capturado e beneficiado em

São Francisco do Conde, foram identificados: a própria comunidade - em bares,

restaurantes e nas portas das casas (51,83%); as cidades circunvizinhas, como

Salvador, Madre de Deus, Candeias, São Sebastião, Suape, Camaçari e Mataripe

(20,99%); o comércio sob encomenda (10,37%); o mercado de peixe do município

(6,57%); as feiras-livres (4,05%); o comércio para atravessadores (3,67%); a praia

(0,51%); e a venda em cooperativa (0,25%), peixaria (0,13%), Central de

Abastecimento (0,13%) e na Colônia de Pescadores (0,13%). Apenas 1,01% das

pescadoras responderam não comercializar seus produtos, destinando-os ao

consumo familiar.

Leitão e Leitão (2012) relatam que as marisqueiras de Recife-PE

comercializavam o pescado fresco ou beneficiado tanto com atravessadores

quanto diretamente ao consumidor, e que as pescadoras tinham dificuldades de

mensurar o valor a ser cobrado pelo marisco e eram conscientes de que vendiam

seus produtos por preço inferior ao considerado justo por elas.

3.7 Organização comunitária

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90

Entre as pescadoras, verificou-se que a maioria (91,00%) não era

associada a nenhuma entidade ou organização comunitária, enquanto que

apenas 9% eram associadas observando-se média de tempo de filiação de 3,60

anos. Grande parcela das mulheres informou (63,20%) possuir o Registro Geral

de Pesca (RGP), também conhecido como Carteira de Pesca, sendo observada

média de tempo deste cadastro de 2,95 anos.

Por outro lado, foram identificadas pescadoras que não eram

vinculadas a nenhuma entidade associativa, porém exerciam a atividade

pesqueira. Entre as razões para a condição de não associação, cogitam-se a falta

de conhecimento dos seus direitos e, ainda, a descrença em ações efetivas da

entidade. Nesse cenário, os achados retratam muitas pescadoras ainda sem o

RGP, o que é descrito também em outras localidades do país e faz demandar a

intensificação de programas de apoio a esta cadeia produtiva e às mulheres nela

inseridas.

Segundo Rocha et al. (2012), de 30 pescadoras artesanais

entrevistadas em Mamanguape - PB, aproximadamente 43% tinham licenças de

pesca. No estudo de Freitas et al. (2012), constatou-se índice de RGP de

aproximadamente 60% para marisqueiras de Barra Grande - PI, com muitas

pescadoras estando associadas à colônia de pescadores (Z-6); conforme relato

das pescadoras, a ausência do RGP foi justificada pelo o excesso de burocracia,

por questões políticas, ou pela não disponibilidade de dinheiro para o envio dos

documentos necessários.

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91

4 CONCLUSÕES

Este estudo teve por propósito caracterizar a pesca artesanal praticada

por mulheres, em comunidades de São Francisco do Conde, Bahia, Brasil.

Mediante os resultados, revela-se a importância da mariscagem como

trabalho e fonte renda para as mulheres das comunidades investigadas, haja vista

a baixa renda informada, o fato de parte expressiva das pescadoras não possuir

outra atividade econômica e os registros de longo tempo na atividade. Nessa

perspectiva, reforça-se a tradição do trabalho, na perspectiva do gênero, visto que

essa prática é passada de geração a geração, no município.

A atividade pesqueira, predominantemente mariscagem, mostrou-se

como um trabalho precário, realizado de modo rústico e com exposição a riscos à

saúde, sendo evidenciada a ocorrência de doenças relacionadas ao trabalho.

Apesar da captura de espécies de pescado que contribuem para o

abastecimento e para a cultura alimentar da região, observou-se baixo índice de

captura pelas marisqueiras, quadro que pode estar associado a questões de

poluição ambiental e à sobrepesca.

Ainda que o estudo possa apresentar limitações metodológicas, dada a

sua natureza exploratória, considera-se que o conhecimento construído constitui

um alicerce para pesquisas futuras de maior densidade, em apoio às mulheres

inseridas nessa cadeia produtiva.

Assim, sinaliza-se para a necessidade de ações públicas com vistas à

implantação de programas de intervenção para o desenvolvimento sustentável da

atividade de mariscagem, dentro de uma política intersetorial, de forma a

contribuir para valorização profissional, para produção de alimentos com valor

agregado e para o desenvolvimento social, em respeito a uma tradição local.

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CAPÍTULO 3: QUALIDADE DO PESCADO RECÉM-CAPTURADO E M COMUNIDADES PESQUEIRAS DE SÃO FRANCISCO DO CONDE, B RASIL QUALITY OF SEAFOOD CAPTURED IN FISHING COMMUNITIES IN SÃO FRANCISCO DO CONDE, BRAZIL

Mary Daiane Fontes Santosa*, Marina Gonçalves Cirqueiraa, Ryzia de Cassia

Vieira Cardosob, Alaíse Gil Guimarãesc, Ícaro Ribeiro Cazumbá da Silvaa, Elma

Sád.

a Mestrandos do Programa de Pós-Graduação em Ciência de Alimentos (PGALI),

Faculdade de Farmárcia,Universidade Federal da Bahia (UFBA). b Professora do Departamento de Ciência dos Alimentos, Escola de Nutrição,

UFBA. c Professora do Departamento de Ciências Bromatológicas, Faculdade de

Farmácia, UFBA. d Engenheira de Pesca da Secretaria do Meio Ambiente e Pesca da Prefeitura de

São Franscisco do Conde, Bahia, Brasil.

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RESUMO

O pescado constitui excelente fonte alimentar, contudo, sob condições inadequadas de captura e conservação, pode representar risco à saúde pública, em virtude da contaminação microbiana e de alterações químicas. Considerando a extensão da pesca artesanal na Baía de Todos os Santos na Bahia, bem como preocupações de natureza ambiental, este estudo objetivou avaliar a qualidade sensorial, microbiológica e físico-química de pescado recém-capturado em comunidades do município de São Francisco do Conde, Bahia, Brasil. Oitenta e três amostras, incluindo sururu (Mytella guianensis), tainha (Mugil brasiliensis), camarão (Penaeus spp) e robalo (Centropomus undecimalis), provenientes de oito localidades, foram submetidas a análises sensorial, microbiológica - contagem de bactérias aeróbias mesófilas, estafilococos coagulase positiva, coliformes totais, Escherichia coli e à pesquisa de Salmonella spp - e análise físico-química - pH. Quanto à avaliação sensorial, todas as amostras alcançaram atendimento à legislação vigente. Para bactérias aeróbias mesófilas verificaram-se contagens inferiores a 6,00 log UFC/g. Para coliformes totais, as contagens variaram entre 1,00 e 6,22 log UFC/g, identificando-se 23% (n=19) das amostras positivas para E. coli. Em relação aos estafilococos coagulase positiva, apenas 2,5% (n=2) das amostras excederam ao padrão para pescado in natura. Registrou-se ausência de Salmonella spp em todas as amostras. Os valores de pH variaram de 5,68 a 7,30. Para o conjunto de análises, 14% das amostras classificaram-se como não conforme. Os resultados permitiram evidenciar contaminações e alterações no pescado, ainda no momento pós-captura imediato, adensando preocupações quanto à segurança dos pescados capturados no município. Palavras-chave: Pesca artesanal. Frutos do mar. Controle de qualidade de alimentos. Microbiologia de alimentos, pH.

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ABSTRACT Seafood is an excellent food source, however, under inadequate conditions of capture and storage, can present a risk to public health, due to microbial contamination and chemical changes. Considering the extension of fishing in the Bahia de Todos dos Santos, as well as environmental concerns, this study aimed to evaluate the sensory quality, microbiological and physical-chemical fish freshly caught in communities of São Francisco do Conde, Bahia, Brazil. Eighty-three samples, including sururu (Mytella guianensis), tainha (Mugil brasiliensis), shrimp (Penaeus spp) and robalo (Centropomus undecimalis) from eight locations were submitted to sensory, microbiological - count of mesophilic aerobic bacteria, staphylococci coagulase positive, total coliforms, Escherichia coli and Salmonella spp - and physical-chemical analysis - pH. As for the sensory evaluation, all samples achieved compliance with Brazilian legislation. For mesophilic aerobic bacteria there were found counts inferior to 6.00 log CFU / g. For total coliforms, scores ranged between 1.00 and 6.22 log CFU / g, identifying 23% (n = 19) of the samples positive for E. coli. Regarding to estafilococos coagulase positive, only 2.5% (n = 2) of the samples exceeded the standard established for fresh fish. Was recorded absence of Salmonella spp in all samples. The pH values ranged from 5.68 to 7.30. For the group of analysis, 14% of the samples were classified as nonconforming. The results showed contamination and changes in fish, even when immediate post-capture, densifying concerns about the safety of fish caught in the municipality. Keywords : Artisanal fishing. Seafood. Quality control of foods. Food microbiology, pH.

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1 INTRODUÇÃO

O pescado constitui fonte nutricional de proteínas, lipídios, vitaminas e

minerais, contribuindo para o atendimento de requerimentos alimentares de

populações, em todo o mundo. Quanto às proteínas, salienta-se a sua alta

digestibilidade e o balanceamento de aminoácidos essenciais, e, em relação aos

lipídios, destaca-se a sua composição em ácidos graxos poliinsaturados, incluindo

a classe ômega-3, que apresenta papel importante na redução de riscos de

doenças cardiovasculares (ANDRADE; BISPO; DRUZIAN, 2009; GERMANO et

al., 1998; OGAWA; MAIA; 1999).

No entanto, o pescado compreende um grupo de alimentos altamente

perecível, em virtude de alterações de natureza enzimática e bacteriana, no

período pós-captura, posto que apresenta pH próximo à neutralidade, elevada

atividade de água, lipídios vulneráveis a oxidações e nutrientes de fácil utilização

por micro-organismos. Nesse contexto, o pescado é um dos alimentos mais

associado às doenças de origem alimentar (MACHADO et al., 2010; OGAWA;

MAIA, 1999).

A contaminação microbiana do pescado está relacionada com a

qualidade da água em que o animal foi capturado e com as práticas adotadas

pelos manipuladores, durante as etapas de captura, transporte e comercialização

(JAY, 2005). De acordo com estudos relativos à qualidade higiênico-sanitária de

pescados e sua comercialização, em diferentes estados brasileiros, tem-se

evidenciado que esses alimentos podem representar risco à saúde pública, uma

vez que se registra qualidade microbiológica e físico-química insatisfatórias para o

consumo (CUNHA et al., 2003; FARIAS e FREITAS, 2011; GALVÃO et al., 2006;

OLIVEIRA et al., 2011; REGO et al., 2011; VIEIRA et al., 1998).

Na Baía de Todos os Santos, Recôncavo da Bahia, a captura de

pescado se vincula fortemente à tradição da pesca artesanal, com exploração de

ambientes aquáticos próximos à costa, registrando-se também preocupações

neste ambiente quanto à impactação pela presença de grande área

metropolitana e pela atividade industrial (AMADO-FILHO et al., 2008). Dentre os

municípios de maior tradição na pesca artesanal encontra-se São Francisco do

Conde, que apresenta uma Colônia e sete associações de pescadores e

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colabora para o abastecimento de pescado, tanto em nível local quanto para

diversos outros municípios da região metropolitana de Salvador, capital do

estado (SÁ, 2011).

Assim, este estudo objetivou avaliar a qualidade sensorial,

microbiológica e físico-química de pescado recém-capturado, em comunidades

pesqueiras do município de São Francisco do Conde (SFC), Bahia, Brasil.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

Realizou-se estudo exploratório e experimental, de corte transversal,

com coleta de amostras junto a oito localidades do município, incluindo: a Sede

Municipal e sete comunidades pesqueiras - Ilha das Fontes, Porto de Brotas,

Campinas, Ilha do Paty, Muribeca, São Bento dos Lages e Caípe de Baixo (Figura

1). Nesse sentido, explicita-se que as comunidades estão distribuídas em uma

área de 266, 631 Km2 e que a sede municipal dista 60 km de Salvador (AMARAL;

BARROS; SOUZA, 2006).

O estudo foi conduzido em duas etapas: a primeira, entre os meses de

outubro de 2010 a janeiro de 2011, nas comunidades da Ilha do Paty, Muribeca e

São Bento dos Lages; e a segunda, entre os meses de dezembro de 2011 a

novembro de 2012, nas demais comunidades.

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Figura 1: Mapa de São Francisco do Conde, Bahia, com indicações das

comunidades pesqueiras (pontos de amostragem)

Fonte: SÃO FRANCISCO DO CONDE, 2009, adaptado.

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2.1 Obtenção das amostras

No delineamento original do estudo, previu-se, em cada localidade, a coleta de

quatro espécies de pescado, incluindo sururu (Mytella guianensis), tainha (Mugil

brasiliensis), camarão (Penaeus spp) e robalo (Centropomus undecimalis), com

quatro repetições por espécie, em momentos distintos, perfazendo um total de

128 amostras. A definição das espécies levou em conta levantamentos prévios

junto às comunidades pesqueiras, sendo selecionadas aquelas indicadas como

as mais capturadas.

Todavia, no cotidiano nas localidades, nem todas as espécies foram

disponíveis, por questões topográficas e geomorfológicas, pelas práticas de pesca

de algumas comunidades e pela escassez da espécie de robalo nos períodos de

verão, em virtude da elevação da temperatura das águas.

Desse modo, foram obtidas 83 amostras, assim distribuídas: 31 amostras

de sururu (Mytella guianensis), 24 de tainha (Mugil brasiliensis), 14 de camarão

(Penaeus spp) e 14 de robalo (Centropomus undecimalis). Entre as comunidades,

obteve-se a seguinte distribuição por espécie, conforme descrito na Tabela 1.

Tabela 1: Distribuição das amostras coletadas nas comunidades, por espécie.

São Francisco do Conde, Brasil.

Número de amostras coletadas Comunidade

pesqueira Sururu Tainha Camarão Robalo Total

Ilha das Fontes 4 4 3 2 13

Porto de Brotas 4 2 0 0 6

Campinas 4 0 0 0 4

Ilha do Paty 4 4 1 0 9

Muribeca 4 4 0 4 12

São Bento dos Lages 4 3 3 3 13

Caípe de Baixo 4 3 3 1 11

Sede Municipal 3 4 4 4 15

Total 31 24 14 14 83

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2.2 Análise sensorial

Para a análise sensorial das amostras, ainda nos locais de

desembarque e captura, foi procedida à avaliação dos pescados, por meio de

fichas próprias (Anexos C, D e E), considerando especificidades técnicas para

peixes, moluscos e crustáceos, conforme estabelecido na Portaria Nº 185/97

(BRASIL, 1997b) e no Decreto Lei n°30691 (BRASIL, 1 997a), do Ministério da

Agricultura Pecuária e Abastecimento.

Para as amostras de tainha e robalo observaram-se características de

consistência da carne, aspecto dos olhos, cor das guelras, a abertura do oríficio

anal, a aderência das escamas e o odor (BRASIL, 1997b); para as amostras de

sururu verificaram-se características quanto à consistência e cor da carne,

aspecto das valvas e aroma (BRASIL, 1997a); para as de camarão examinaram-

se a aderência da cabeça ao corpo e da carapaça, aspectos dos olhos, cor e

aroma (BRASIL, 1997a). As fichas de avaliação tinham pontuação por escores,

perfazendo, no total, 18 pontos para os peixes, nove para os moluscos e 15 para

os crustáceos.

2.3 Análises microbiológicas e físico-químicas

Para as análises microbiológicas e físico-química, amostras com peso

entre 500 a 1000 gramas foram acondicionadas em sacos plásticos de primeiro

uso, identificados - número da amostra, local de coleta e nome do pescador, e

pré-sanitizados sob radiação ultravioleta, por 15 minutos, em capela de fluxo

laminar (LABCONCO). As amostras foram mantidas resfriadas em caixas

isotérmicas com gelo reciclável, sendo transportadas ao Laboratório de Controle

de Qualidade de Alimentos, da Escola de Nutrição da Universidade Federal da

Bahia - UFBA, até o momento das análises microbiológicas e físico-química, em

intervalo não superior a quatro horas.

Para a retirada da unidade analítica de cada amostra para as análises

microbiológicas e físico-química foram removidas, no interior da capela de fluxo

laminar, a pele e a cabeça das amostras de peixes (robalo e tainha), em geral

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105

dois indivíduos conforme peso do peixe, obtendo-se para análise o filé. Da

mesma forma, as amostras de camarão, constutídas em média por 6 a 8

indivíduos, tiveram sua carapaça e cabeça descartadas com auxílio de faca e

garfo estéril, aproveitando-se para análise apenas as partes comestíveis.

Para as amostras de sururu, primeiramente, realizou-se uma

higienização prévia das conchas, em média de 8 a 10 indivíduos, com auxílio de

uma escova abrasiva esterilizada com água destilada, seguida, da seleção das

conchas completamente fechadas, e posterior abertura das valvas e remoção do

tecido intervalvarcom auxílio de faca estéril no interior da capela de fluxo laminar.

As unidades analíticas obtidas foram pesadas em sacos plásticos

estéreis para as análises microbiológicas e em béquer para as análises físico-

químicas.

2.3.1 Análises microbiológicas

Foram realizadas análises microbiológicas para investigar a contagem

de micro-organismos aeróbios mesófilos, estafilococos coagulase positiva,

coliformes totais e de Escherichia coli e a pesquisa de Salmonella.

Para cada amostra, em capela de fluxo laminar, pesou-se

assepticamente 25g de pescado em sacos plásticos estéril e adicionou-se a 225

ml de solução salina peptonada a 0,1% (diluição 10-1) para as contagens de

micro-organismos aeróbios mesófilos, de estafilococos coagulase positiva, de

coliformes totais e de Escherichia coli. Homogeneizou-se o material por

aproximadamente 60 segundos, em “stomacher” (ITR- Instrumentos para

Laboratório TR Ltda.), e, a partir desta diluição, prepararam-se as diluições 10-2 e

10-3, conforme procedimentos preconizados pela American Public Health

Association - APHA (DOWNES; ITO, 2001).

Para análise de micro-organismos aeróbios mesófilos, utilizou-se Ágar

Padrão para Contagem (PCA) (Acumedia). Para contagem de estafilococos

coagulase positiva, empregou-se Ágar Baird Parker (Acumedia) enriquecido com

solução de gema de ovo e telurito de potássio a 1%, colônias suspeitas foram

submetidas a prova de coagulase pelo uso do teste rápido Staphclin Latex®

(Laborclin) (DOWNES; ITO, 2001).

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106

Para contagens de coliformes totais e Escherichia coli utilizou-se Ágar

Chromocult® Coliform (Merck) (AOAC, 1995). Após as contagens, as colônias

típicas de E. coli (colônias com coloração azul escuro a violeta) foram submetidas

às provas bioquímicas de Indol, Vermelho de Metila, Voges Proskauer e Citrato

(IMViC), conforme estabelecido pela APHA (DOWNES; ITO, 2001).

Para pesquisa de Salmonella spp seguiu-se o protocolo descrito por

Downes e Ito (2001) e por Silva et al. (2010). Procedeu-se inicialmente o pré-

enriquecimento das amostras em Caldo Lactosado (Himedia), enriquecimento

seletivo nos Caldos Tetrationato (Difco) e Rappaport (Acumedia) e isolamento em

Ágar Entérico de Hectoen (Acumedia) e Ágar Xilose Lisina Desoxicolato

(Acumedia). Colônias suspeitas foram estriadas em tubos contendo Ágar Ferro

Trípice Açúcar (TSI) e Ágar Lisina Ferro (LIA). Os tubos de TSI e LIA que

apresentaram reações típicas de Salmonella foram submetidos a testes

bioquímicos iniciais de Urease, Indol, Vermelho de Metila, Voges Proskauer,

Citrato e testes sorológicos de confirmação, utilizando-se soro polivalente

somático e flagelar (Probac do Brasil – Produtos Bacteriológicos Ltda.), pelo teste

de aglutinação em lâmina.

2.3.2 Análise físico-química- pH

Para avaliação do frescor das amostras, foi procedida, também, a

análise físico-química de determinação do pH. Para tanto, pesou-se 10 g da

amostra finamente picada, homogeneizou-se com 100 ml de água destilada, e

realizou-se a leitura em potenciômetro (Tecnopom) previamente calibrado com

soluções tampões pH 4 e 7 (ZENEBON et al., 2008).

2.4 Padrões de apoio

Os resultados da análise sensorial foram confrontados com atributos

definidos pela Portaria Nº 185/97 (BRASIL, 1997b) e pelo Decreto na Lei

n°30691(BRASIL, 1997a) do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento.

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107

Para as análises microbiológicas, foram adotados os padrões

microbiológicos da Resolução RDC Nº 12/2001, da Agência Nacional de

Vigilância Sanitária - ANVISA (BRASIL, 2001), Grupo de alimentos 7. Pescados e

produtos de pesca, categorias a) pescados, ovas de peixes, crustáceos e

moluscos cefalópodes ”in natura”, resfriados ou congelados não consumido cru.

Não obstante a inexistência de padrão na legislação brasileira para contagem

padrão em placas de micro-organismos aeróbios mesófilos, foi adotado o limite de

106 UFC para pescado estabelecido pela International Commission on

Microbiological Specifications for Foods (ICMSF, 1986).

Os resultados de pH foram comparados com critério preconizado pelo

Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal -

RIISPOA (BRASIL, 1997a), no Capítulo VII - Pescados e derivados Seção I, Art.

443, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Em adição, foram

consultadas referências técnicas e científicas da área (FRANCO; LANDGRAF,

2008; JAY, 2005).

2.5 Tratamento estatístico dos dados

Os resultados das análises microbiológicas e físico-químicas foram

tabulados pelo uso do Statistical Package for the Social Sciences - SPSS, versão

13, sendo procedida a análise descritiva das variáveis e testes de correlação de

Pearson, em nível de 0,05 de probabilidade. Em adição, realizaram-se a análise

de variância e testes de comparação de médias (Tukey), no mesmo nível de

confiança, para comparação do comportamento dos resultados entre as espécies,

entre os locais de captura, bem como entre as duas etapas de coleta.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Análises sensorias

A totalidade das amostras apresentou atendimento aos requisitos

sensoriais, conforme estabelece as legislações vigentes, alcançando os escores

máximos das fichas de avaliação. No caso do sururu, ressalta-se que, mesmo

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108

com as valvas fechadas na colheita, quando da abertura destas, evidenciavam-se

a presença de sedimentos do mangue no líquido intervalvar (Figura 2).

Figura 2: A- Amostra de sururu com presença de sedimentos do mangue no

líquido intervalvar; B- Amostra de sururu sem sedimentos do mangue no líquido

intervalvar. São Francisco do Conde, Bahia, Brasil, 2012.

3.2 Análises microbiológicas

Os resultados das análises microbiológicas encontram-se

apresentados na Tabela 1. Apesar da inexistência de padrão definido pela

legislação brasileira da ANVISA (BRASIL, 2001), as contagens de bactérias

aeróbias mesófilas e de coliformes totais foram realizadas com o intuito de avaliar

as condições higiênico-sanitárias do pescado. Nesse sentido, entre as amostras

analisadas, verificou-se ampla faixa de contagem para as bactérias mesófilas –

variando de <1,00 log UFC/g a 5,40 log UFC/g, registrando-se maiores médias

para o sururu (3,80) e para o camarão (3,67), que apresentam como habitat o

mangue e o fundo do mar, respectivamente.

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109

Tabela 1. Perfil microbiológico (log (UFC/g) ou Presença) de amostras de pescado recém-capturado em comunidades pesqueiras de São Francisco do Conde, Bahia, Brasil.

a Não se aplica;

b Média e desvio padrão

Espécies Sururu Camarão Tainha Robalo

Indicador Padrão RDC 12

Ẋ ± S b (amplitude)

Ẋ ± S b (amplitude)

Ẋ ± S b (amplitude)

Ẋ ± S b (amplitude)

Total

Nº de amostras 31 14 24 14 83

Aeróbios Mesófilos NSAa 3,80 ± 0,99 (1,70-5,40)

3,67 ± 0,71 (2,77-4,75)

3,18 ± 1,17 (<1,0-5,39)

3,65 ± 0,97 (2,60-5,20)

3,57 ± 1,02 (<1,00-5,40)

Estafilococos coagulase positiva

3,0 < 1,0 < 1,0 < 1,0 - 3,26 < 1,0 - 4,43 3,85 ± 0,82 (3,26-4,43)

Coliformes totais NSAa 3,91 ± 1,29 (<1,0 -6,22)

2,42 ± 1,89 (<1,0-5,40)

2,99 ± 1,56 (<1,0-5,02)

3,42 ± 1,60 (<1,0-5,52)

3,38 ± 1,57 (<1,0-6,22)

E.coli NSAa 2,23 ± 0,70 (1,70 -3,40) 0,85

1,71 ± 0,47 (1,15-2,30)

2,03 ± 0,29 (1,70-2,40)

2,00 ± 0,62 (0,85-3,40)

Presença

E.coli NSAa 10 (32%) 1 (7%) 4(21%) 4 (29%) 19 (23%)

Salmonela spp. Ausência Ausência Ausência Ausência Ausência Ausência

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110

As contagens registradas no camarão tiveram amplitude menor do que

aquelas reportadas por Moura et al. (2003), ao analisarem camarões-rosa (Penaeus

Brasiliensis e Penaeus paulensis) vendidos no comércio varejista de São Paulo -SP,

que variou de 3,40 até 7,23 log UFC/g. Segundo os autores, as contagens

microbianas no camarão diferiram em relação ao local de captura, a estação do ano,

e o manejo pós-captura, observando-se que a exposição desse pescado à

contaminação a partir da transferência de micro-organismos presentes no barco e

das operações de manuseio à bordo e em terra.

De acordo com a ICMSF (1986), em geral, a contagem de micro-

organismos aeróbios é um indicativo de qualidade das condições de manipulação e

dos procedimentos de armazenagem. Para a maioria dos animais aquáticos, com

exceção de alguns camarões tropicais, moluscos e peixes de água doce, no

momento da captura, a contagem de bactérias aeróbias varia de 2,00 a 5,00 log

UFC/g. O aumento nesta contagem, em níveis superiores a 6,00 log UFC/g,

geralmente é indicativo de armazenamento longo em temperaturas de refrigeração

ou de abuso de temperatura antes do congelamento, para os alimentos perecíveis.

Quando comparados aos padrões da ICMSF (1986), os resultados

obtidos encontram-se dentro dos limites para todas (100%) as amostras analisadas,

o que indica condições satisfatórias de higiene na manipulação das espécies, com

pouco manejo pós-captura, uma vez que as amostras foram coletadas nos locais de

desembarque e de captura.

Topic Popovic et al. (2010), em estudo na Croácia, consideraram como

inaceitáveis amostras que apresentassem contagens de bactérias aeróbias

mesófilas superiores a 5,00 log UFC/g. Em seu trabalho, os autores registraram

como inaceitáveis 66,6% das amostras de peixes frescos de várias espécies dentre

elas, robalo (Dicentrarchus labrax), sardinha (Sardina pilchardus), tainha (Mullus

surmuletus), 40% de crustáceos frescos, como camarão vermelho (Aristeus

antennatus), e 13,3% de moluscos frescos, como vieira (Pecten jacobaeus) e

mexilhão (Mytilus galloprovincialis) comercializados em mercado na Croácia.

Quanto à contagem de estafilococos coagulase positiva, registrou-se que

apenas 2,5% (n=2) das amostras apresentaram contagens superiores ao padrão,

com valores de 3,26 e 4,43 log UFC/g, resultando em produtos em desacordo com a

legislação vigente (BRASIL, 2001), o que evidencia problemas de manipulação

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111

durante a captura/desembarque e de aquisição de pescados in natura impróprios

para consumo.

Este resultado se aproxima do valor observado por Farias e Freitas

(2008), que identificaram 2% de amostras de peixes frescos eviscerados

contaminados pelo micro-organismo, em indústrias beneficiadoras paraenses, sob

regime de Inspeção Federal. Entretanto, outros autores encontraram resultados

superiores aos registrados no presente estudo.

Rall et al. (2011) identificaram S. aureus em 3% das amostras de peixes

frescos comercializados em supermercados e peixarias em Botucatu-SP, com

contagem de 2,60 log UFC/g. Vieira et al. (1998) relataram essa bactéria com

contagem superior ao padrão em 10% das amostras de camarão provenientes da

Feira Livre do Pescado do Mucuripe, Fortaleza - CE. No último estudo, ainda, foram

evidenciadas deficiências nas condições higiênicas na comercialização do pescado,

observando-se manipuladores portadores de afecções respiratórias e cutâneas.

A baixa contaminação por estafilococos coagulase positiva nas amostras

de São Francisco do Conde pode ser justificada pela pouca manipulação do

pescado no momento pós-captura, uma vez que a contaminação do pescado por

esse micro-organismo é geralmente associada a manipuladores infectados ou ao

contato com superfícies contaminadas - apetrechos, lastro dos barcos e utensílios,

visto que o habitat natural do S. aureus compreende o cabelo, as cavidades nasais e

a pele do humano e dos animais, não fazendo parte da microbiota natural do

pescado (FRANCO; LANDGRAF, 2008; JAY, 2005).

Em relação às contagens de coliformes totais, verificou-se amplitude

maior - 1,00 a 6,22 log UFC/g - do que aquela registrada para mesófilos. As maiores

médias foram identificadas em amostras de sururu (3,91) e de robalo (3,13). Das

amostras analisadas, 29% (n=24) apresentaram colônias típicas para Escherichia

coli; destas, após realização de provas bioquímicas, 23% (n=19) mostraram-se

positivas para E. coli, com contagens variando de 0,85 a 3,40 log UFC/g (Tabela 1).

Segundo Germano, Germano e Oliveira (1998), o lançamento de esgotos

nas águas de reservatórios, lagos, rios e no próprio mar constitui uma das principais

fontes de contaminação do pescado vivo. Deste modo, os resultados obtidos

indicam contaminação recente das amostras por micro-organismos de origem fecal,

destacando-se as amostras oriundas das localidades de Ilha das Fontes, Porto de

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Brotas e Sede Municipal (Figura 3), fato que se deve, provavelmente, à insuficiência

de saneamento básico em algumas comunidades pesqueiras de São Francisco do

Conde, aliado ao descarte incorreto dos resíduos produzidos pela população. No

estudo realizado por Kan et al. (2012), em águas costeiras da Sede Municipal de

São Francisco do Conde e das comunidades de Muribeca e São Bento do Lages,

em 2010, verificou-se altas concentrações de coliformes termotolerantes, em

decorrência da recente expansão e construção de domicílios nos manguezais e da

falta de esgotamento sanitário, o que resultou em balneabilidade imprópria para as

águas.

0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 5

Amostras positivas para E.coli

Caípe de Baixo

Campinas

Ilha do Paty

Muribeca

São Bento

Sede Municipal

Porto de Brotas

Ilha das Fontes

Figura 3: Distribuição (n) das amostras de pescados recém-capturados em comunidades pesqueiras de São Francisco do Conde, quanto à contaminação por E. coli. São Francisco do Conde, Bahia, Brasil.

Em estudo realizado por Cunha et al. (2003), em nove municípios da

Baixada Santista - SP, foi reportado que 4,16% de 48 amostras de pescado

comercializadas em feiras livres apresentavam bactérias do grupo coliformes

termotolerantes acima do limite, indicando a ausência de medidas higiênico-

sanitárias apropriadas na cadeia de distribuição, no que concerne à manipulação

e/ou transporte e/ou conservação do pescado.

Parente et al. (2011), ao conduzir estudo em fazendas de camarão no

estuário do rio Coreaú, litoral do Ceará isolaram cepas de E. coli em 58% das

amostras de camarão (Litopenaeus vannamei). Em contrapartida, não foi confirmada

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113

a presença de E. coli, em nenhum dos tipos de pescado analisados por Farias e

Freitas (2008), na avaliação da qualidade de pescados em indústria beneficiadora

paraense.

Entre as amostras positivas para E. coli em SFC, 53% (n=10)

compreenderam sururu, oriundas das seguintes localidades: Porto de Brotas (n=4);

Ilha das Fontes (n=3); Muribeca (n=1); São Bento dos Lajes (n=1) e Sede Municipal

(n=1). Dentre estas amostras, 40% (n=4) apresentarem contagens superiores ao

padrão de 2,36 log UFC/g, estabelecido para retirada liberada de moluscos bivalves

destinados ao consumo humano, pela Instrução Normativa Interministerial nº 7, de

08 de maio de 2012, que institui o Programa Nacional de Controle Higiênico-

Sanitário de Moluscos Bivalves (PNCMB), do Ministério da Pesca e Aqüicultura

(BRASIL,2012).

Os resultados sugerem que o sururu procedente dessas comunidades,

além de sofrer exposições em virtude do despejo de esgotos sem tratamento, em

seu habitat natural - o mangue, compreende uma categoria de pescado mais

suscetível a contaminações, posto que é um molusco bivalve, capaz de filtrar água e

concentrar em seus tecidos quantidades expressivas de substâncias químicas,

resíduos orgânicos e inorgânicos e bactérias presentes na água. Em face destas

características, os moluscos bivalves são utilizados como bio-indicadores da

qualidade da água em que são capturados (EVANGELISTA-BARRETO; SOUZA;

VIEIRA, 2008; LEAL ; FRANCO, 2008).

Outros autores identificaram E. coli em moluscos bivalves de outras

espécies, como Ramos et al. (2012) em ostras (Crassostera gigas) cultivadas em

diferentes regiões da Baía Sul da Ilha de Santa Catarina, Sande et al. (2010) em

ostras do mangue (Crassostera rhizophorae) e em moapem (Tagelus plebeius)

capturadas nos rios de Cachoeira e Santana, em Ilhéus-BA, e Çolakoğlu et al.

(2010), em amêijoas (Chamelea gallin) colhidas no Mar do Sul da Marmara na

Turquia.

Quanto à Salmonella spp, registrou-se ausência do micro-organismo em

todas as amostras, o que pode estar associado a dificuldades metodológicas de

detecção e confirmação desse micro-organismo. Segundo Jay (2005), Salmonella

spp não é encontrada no trato intestinal de pescado, mas pode ser transferida a

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esses a partir de águas litorâneas poluídas com dejetos humanos e de animais, ou

por contaminação pós-captura do pescado.

Para Amagliani, Brandi e Schiavano (2012) e Murray (2000), a

prevalência da Salmonella spp em águas marinhas e em pescados pode ser

influenciada por fatores climáticos, tais como chuvas e águas pluviais, contudo, o

micro-organismo chega a sobreviver até três dias na água do mar, após o

lançamento de esgotos.

Estudos realizados em outros estados brasileiros (FARIAS; FREITAS,

2008; PEREIRA et al., 2006), na Croácia (TOPIC POPOVIC et al., 2010) e na

Turquia (BELGIN; ÖZGÜR.; GÖKHAN, 2010; ÇOLAKOĞLU et al., 2010), também,

registraram ausência desse micro-organismo em pescados. Entretanto, esses

resultados discordam daqueles reportados em outras pesquisas. Oliveira et al.

(2011) identificaram Salmonella spp em 50% das amostras de pescado in natura

comercializado em feiras livres, no município de Vitória da Conquista – BA, e Duarte

et al. (2010) relataram que, 3,50 % das 143 amostras de pescados provenientes da

região Nordeste do Brasil, foram positivas para Salmonela spp.

Nos Estados Unidos, Brands et al. (2005) detectaram Salmonella spp em

7,40 % de 1296 amostras de ostras in natura oriundas de 36 baías. Setti et al. (2009)

identificaram Salmonella spp em 10% dos 279 mexilhões no Marrocos.

3.3 pH

Quanto à análise de pH, os resultados estão expressos na Figura 4. Entre

as amostras, verificou-se que os valores variaram de 5,68 a 7,30, sendo as maiores

médias identificadas para camarão (6,94) e robalo (6,61), o que pode estar

relacionado tanto ao método de captura utilizado quanto a características

específicas das espécies. Na região, os camarões geralmente são capturados com

redes de arrasto e o robalo com rede de cerco3, esses métodos de captura podem

promover o esforço do pescado para se libertar da rede ou morte por agonia nos

barcos, resultando, consequentemente, na diminuição das taxas de gligogênio e na

3 Rede de cerco consiste em rede de emalhar que tem o objetivo cercar os peixes e, muitas vezes, os pescadores utilizam a “batida” com vara de madeira na água, para que os peixes se espantem e possam se emalhar com mais facilidade (BRASIL, 2006).

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115

deterioração mais rápida e intensa da carne, o que afetaria o rigor mortis resultando

no pH muito alto (>6,40) (CHAGAS et al., 2010; FARIAS ; FREITAS, 2011).

Figura 4: Medidas descritivas para o pH de amostras de pescado recém-capturados em comunidades pesqueiras de São Francisco do Conde, Bahia, Brasil.

O RIISPOA (BRASIL, 1997a) define o limite máximo para pH de 6,50,

para a carne interna de peixes frescos. Das amostras de peixes obtidas em SFC,

18% (n=15) estavam em desacordo com a legislação e se classificaram como

impróprias para consumo, incluindo as seguintes taxas, entre as espécies: 67% para

o robalo e 33% para a tainha. Deste modo, confirma-se a elevada susceptibilidade

do pescado a reações degradativas de natureza química, mesmo em produtos

recém-capturados.

Nas amostras de peixes, os valores de pH oscilaram de 5,68 a 6,90,

registrando média de 6,20 e 6,61 para as amostras de tainha e robalo,

respectivamente. Valores médios de pH similares a estes foram encontrados em

robalos (Dicentrarchus labrax), na Espanha (FUENTES et al., 2010; PERIAGO et al.,

2005), em caranha, dourado, pescada, tambaqui e tucunaré, em Palmas - TO (LIMA

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e MUJICA, 2011), em sardinhas in natura evisceradas das espécies boca-torta

(Cetengraulis edentulus) e laje (Harengula clupeola), em São Gonçalo - RJ

(CHAGAS et al., 2010), e em filés de pintado (Pseudoplatystoma coruscans) fresco,

em Cuiabá - MT (LAZARANI et al., 2011).

Ao comparar o parâmetro definido no RIISPOA (BRASIL, 1997a) aos

valores de pH obtidos para as espécies de camarão e sururu, 100% das amostras

de camarão e 16% (n=5) de sururu apresentaram pH superior a 6,5, não podendo

ser classificadas quanto á conformidade, haja vista a especificidade do critério,

apenas para peixes, não observando diferenças para a composição química dos

diversos gêneros de pescado e tolerâncias distintas quanto aos valores de pH. Os

moluscos, por exemplo, devido a sua carne ser constituída por alto teor de

carboidratos, sobretudo na forma de glicogênio, pelos elevados níveis de arginina e

ácido aspártico, além do menor teor de nitrogênio, apresenta processo de

deterioração diferentes dos peixes e crustáceos, sendo basicamente um processo

fermentativo, o que resulta em valores de pH mais altos, porém ainda aceitáveis,

conforme a espécie (JAY, 2005; OGAWA; MAIA; 1999). Este fato justifica os valores

altos de pH obtidos no presente estudo, para as amostras de sururu.

Nas amostras de sururu, os valores de pH oscilaram de 6,00 a 6,70, com

apenas 39% (n=12) das amostras com o pH entre 5,90 a 6,20 consideradas

aceitáveis, conforme recomendado por Jay (2005). Valores de pH acima de 6,00

também foram encontrados por Moucherek Filho et al. (2003), ao analisar sururu in

natura, na Ilha de São Luís - MA, por Furlan et al. (2007) e por Galvão et al. (2006),

ao avaliar mexilhões (Perna perna) cultivado em Ubatuba – SP.

Para crustáceos e moluscos, a literatura observa-se limites de pH

conforme a classe, sendo recomendado para o camarão pH entre 6,80 a 7,00 e para

moluscos em geral 6,50 (JAY, 2005). Assim, ao comparar com esses limites, as

amostras de sururu e camarão coletadas em São Francisco do Conde apresentaram

médias de pH dentro da faixa considerada aceitável.

Entre as amostras de camarão, a faixa de pH variou de 6,30 a 7,30,

sendo 15% (n=12) destas classificadas como adequadas ao limite (6,80 a 7,00)

recomendado por Jay (2005). Conforme Noseda et al. (2010), o pH inicial de

crustáceos frescos geralmente é mais elevado do que o de outras espécies de

pescado, em virtude dessa classe de pescado apresentar um maior teor de

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compostos nitrogenados não protéicos e baixo teor de carboidratos, limitando uma

diminuição do pH associada com a produção de ácido lático, durante o processo de

rigor mortis.

Variações de pH superiores ao registrado no presente trabalho foram

relatados por Moura et al. (2003), ao analisar camarões das espécies Penaeus

brasiliensis e Penaeus paulensis, cujas oscilações ficaram no intervalo de pH entre

7,17 a 8,10, e por Santos et al. (2011), com camarão (Macrobrachium olfessi) obtido

no Baixo São Francisco, cuja faixa variou de 8,85 e 8,87. De acordo com Farias e

Freitas (2011), a faixa de variação do pH para camarões e lagostas pode estar

relacionada com as formas de armazenamento e os tipos de tratamento empregados

após a captura.

Os resultados das análises de pH evidenciam que este parâmetro pode

variar entre classes e, nas diferentes etapas iniciais da pesca, há fatores que

contribuem para modificações químicas do pescado, como o fato do pescado

permanecer emalhado por longo tempo e inadequação de técnicas de manejo e

conservação após a captura. Nesse sentido, avalia-se que este quadro pode se

agravar até o momento de aquisição do produto pelo consumidor, uma vez que é

frequente a insuficiência do emprego da cadeia de frio, ao longo da cadeia produtiva

da pesca artesanal (MACHADO et al., 2010).

De acordo com Farias e Freitas (2011) e Chagas et al. (2010), a variação

de pH nos pescados pode ser influenciada por fatores como método de captura,

resistência do pescado à captura, o padrão de decomposição protéica, o tipo e a

carga microbiana, bem como as condições de manuseio e armazenamento.

Nesse contexto, considera-se também que os resultados do presente

estudo sofreram influência do tempo decorrido entre o lançamento das redes no mar

e a análise efetiva em laboratório. Assim, são contabilizados no tempo: desde o

período em que as redes são lançadas até o momento de captura e permanência a

bordo, e o período entre a coleta e o deslocamento para a capital, para a realização

dos procedimentos analíticos.

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3.4 Avaliação global da qualidade

Na avaliação global da qualidade das amostras de pescado recém-

capturado em São Francisco do Conde por espécie, considerando-se os padrões

microbiológicos e físico-químicos simultaneamente (Figura 5), registrou-se que 14%

(n=12) das amostras estavam impróprias para o consumo, destacando-se as

amostras de robalo.

100 100

43

83

0 0

57

17

0

20

40

60

80

100

120

Sururu Camarão Robalo Tainha

Por

cent

agem

(%

)

Conforme Não Conforme

Figura 5: Distribuição (%) das amostras de pescado recém-capturado por espécies, quanto à condição de conformidade para padrões microbiológicos e físico-químicos. São Francisco do Conde, Bahia, Brasil.

Quanto à origem das amostras não conformes por comunidades, os

resultados encontram-se exibidos na Figura 6, destacando-se as localidades de São

Bento dos Lages, Sede Municipal e Caípe de Baixo.

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119

00 2 1

00 1 1

00 1 1

0

0 2

0

0 1

0 2

0% 20% 40% 60% 80% 100%

São Bento

Sede Municipal

Caípe de Baixo

Campinas

Ilha das Fontes

Ilha do Paty

Porto de Brotas

Muribeca

Sururu

Camarão

Robalo

Tainha

Figura 6: Distribuição (n) das amostras de pescados recém-capturados não conformes por comunidades pesqueiras, em relação aos padrões microbiológicos e físico-químicos. São Francisco do Conde, Bahia, Brasil.

Observou-se correlação direta (teste de coeficiente de correlação de

Pearson= 0,056) entre as contagens de bactérias aeróbias mesófilos e o pH,

demonstrando que contagens de bactérias aeróbias mesófilos altas implica em

valores de pH altos. Entretanto houve uma relação inversa entre as contagens de

coliformes totais e o pH (teste de coeficiente de correlação de Pearson= -0,076).

Estudo realizado por Ârgolo (2012) evidenciou relação negativa entre pH e E.coli

com coeficiente de correlação de Pearson igual a -0,235. Conforme Chung et al.

(2006), a E. coli apresenta maior tolerância para multiplicação em faixa de pH mais

baixa do que naquelas mais altas.

Ao comparar os dois momentos da coleta, verificou-se não haver

diferença significativa entre as médias das contagens de coliformes totais (p= 0,277)

e dos valores de pH (p= 0,758). Por outro lado, para as contagens de aeróbios

mesófilos, as médias foram significativamente diferentes entre os dois períodos (p=

0,000), o que pode ser justificado pelo fato da contagem padrão em placas variar

conforme a natureza das amostras, o grau de contaminação do alimento, a forma de

armazenamento utilizado, dentre outros fatores.

Na comparação entre as espécies nas análises microbiológicas e de pH

realizadas, verificou-se diferença significativa apenas para as contagens de

coliformes totais e pH (Tabela 2), o que concorda com a alta contaminação

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observada para o sururu, em virtude do seu habitat, e a maior diferença de pH

referida previamente para camarão, dadas as suas características de composição.

Tabela 2. Comparação entre as espécies quanto aos valores de média para coliformes totais e pH.

Espécies Coliformes totais pH Sururu 3,91 a 6,32 c Robalo 3,42 ab 6,61 b Tainha 2,99 b 6,20c

Camarão 2,42 b 6,94 a Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem estatisticamente entre si (p<0,05).

Na comparação dos resultados das análises realizadas por comunidade

pesqueira, verificou-se que contagens de coliformes totais e de pH não diferiram

entre si (p=0,137 e p=0,490, respectivamente), no entanto, registrou-se diferença

significativa na contagem de aeróbios mesófilos (Tabela 3).

Tabela 3. Comparação para a contagem de aeróbios mesófilos, entre as comunidades pesqueiras, pelo Teste de Tukey.

Comunidades pesqueiras

Contagens de aeróbios mesófilos

Campinas 4,42 abdeg Ilha das Fontes 4,35 deg Sede Municipal 4,24deg Porto de Brotas 3,70 abcdeg

Ilha do Paty 3,38 abcdeg São Bento 3,08 abcdg Muribeca 2,97 abcg

Caípe de Baixo 2,73 abc

Médias seguidas de letras iguais não diferem entre si, ao nível de 5% de probabilidade.

Avalia-se que as diferenças nas contagens de mesófilos entre as

comunidades podem ser atribuídas, principalmente a uma maior contaminação das

águas costeiras, em decorrência de processo de urbanização desordenado, com

insuficiência de saneamento. Outrossim, considera que o estudo não monitorou os

movimentos de maré, que são reconhecidamente fatores que interferem na

determinação da carga microbiana da água e do pescado (GALVÃO, 2004).

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4 CONCLUSÕES

De modo geral, embora os resultados sinalizem baixa contaminação e

manipulação do pescado, no período pós-captura, a identificação de E. coli e a

presença de estafilococos coagulase positiva em níveis inaceitáveis, em algumas

amostras, torna evidente riscos quanto à segurança do pescado capturado no

município, em decorrência da ação humana sobre os ecossistemas marinhos.

Quanto ao pH, identificou-se condição de não-conformidade para parte das

amostras de peixes, sobretudo o robalo, provavelmente em função das técnicas de

captura e da precariedade de conservação pós-captura.

Em face ao conjunto de análises, a qualidade do pescado recém-capturado

no município evidenciou menos de um quinto das amostras classificadas como não

conformes. Ainda que o estudo possa apresentar limitações metodológicas, o

resultado sinaliza a necessidade de ações da gestão pública quanto ao manejo

adequado dos resíduos gerados no município, a fim de reduzir a poluição no

ambiente marinho, bem como de programas de intervenção junto aos pescadores

artesanais, com vistas a promover as boas práticas de manipulação e

armazenamento do pescado, contribuindo para a melhoria da segurança e da oferta

deste produto à população.

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AGRADECIMENTOS

Esse estudo foi financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do

Estado da Bahia - FAPESB. Os autores agradecem aos pescadores de São

Francisco do Conde que colaboraram com a captura das espécies analisadas e ao

grupo de pesquisa que cooperou para o desenvolvimento da pesquisa.

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129

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os trabalhos sobre o perfil das marisqueiras e caracterização das práticas

na atividade da pesca em São Francisco do Conde - BA e sobre a avaliação da

qualidade sensorial, microbiológica e físico-química das espécies analisadas

possibilitaram ampliar o conhecimento sobre a pesca artesanal na Baía de Todos os

Santos, Bahia. Além disso, os estudos se mostram como importantes fontes de

informações científicas, disponíveis à sociedade para a realização de pesquisas

futuras, dada a insuficiência de estudos sobre as temáticas abordadas.

A modalidade da pesca artesanal exercida pelas mulheres de São

Francisco do Conde, a mariscagem, caracterizou-se como prática de trabalho e

renda fundamental para a população em estudo, constituída sobretudo por mulheres

na faixa etária economicamente ativa, com baixa escolaridade. Todavia, os esforços

realizados pelas pescadoras na captura dos mariscos no mangue, com jornada de

trabalho equivalente ao período de maré baixa, em alguns dias da semana, aliada

ao tempo desprendido para beneficiar o pescado, não garantiam boa rentabilidade e

qualidade de vida digna, haja vista a arrecadação salarial média/mês inferior um

salário mínimo e agravos de saúde decorrente da mariscagem declarados.

Cabe salientar, nessa perspectiva, a importância cultural da mariscagem

no município, com o trabalho passado de geração a geração, o que torna evidente a

necessidade de implantação de programas para o fortalecimento da atividade na

região, de forma a preservar a tradição local, em um contexto de sustentabilidade.

Constituíram preocupação ainda o baixo índice de capturas dos recursos

pesqueiros, em nível inferior a outros estados, em decorrência da poluição ambiental

e da sobrepesca na região, e o quadro de não conformidade microbiológica e físico-

química para amostras de pescado recém-capturado no município, com mais de um

terço classificadas como “impróprias para o consumo”, destacando-se aquelas

oriundas das localidades de São Bento dos Lages, Sede Municipal e Caípe de

Baixo.

Esses resultados demonstram o impacto da atividade humana

desordenada sobre os ecossistemas marinhos e os alimentos neles obtidos.

Paralelamente, depõem sobre alteração físico-química nas espécies capturadas, em

função das técnicas de captura e da precariedade de conservação pós-captura.

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Desta forma, destaca-se a importância da atuação dos órgãos públicos

quanto ao controle e manejo adequado dos resíduos gerados no município, bem

como de programas de intervenção, junto aos pescadores artesanais, com vistas a

promover as boas práticas de manipulação e armazenamento do pescado,

contribuindo para a melhoria da qualidade e da oferta deste produto à população.

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ANEXO

ANEXO A – Questionário do pescador.

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

ESCOLA DE NUTRIÇÃO

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DOS ALIMENTOS

R. Araújo Pinho, 32 Canela – Salvador /BA CEP: 40.110-150

Tel. (71) 3283-7700 Fax 3283-7701

PROJETO: A Pesca e a qualidade do pescado na Colôni a e em Associações de Pescadores de São Francisco do Conde-BA: diagnóstico na perspecti va social, econômica e sanitária, do

barco a comercialização.

IDENTIFICAÇÃO DO PESCADOR (A)

Número da Associação em que é filiado: ________________________________________________

NUM [__ __]

01. Nome completo: ______________________________________________________________________Apelido: ___________________

02. Endereço: __________________________Bairro: ____________________

03. Data de nascimento: ___/___/___ 04. Sexo: Masculino (01) Feminino (02) SEXO [__|__]

05. Estado Civil:

(01) Solteiro (a) (02) Casado (a) (03) Divorciado (a)

(04) Separado (a) (05) Viúvo (a) (06) União Estável

ESTCIV [_ _]

06. Responsável pelo domicílio/Chefe de família (01) Sim (02) Não CHEFAM [__ __] 6.1. Outros membros da família trabalham? (01) Sim (02) Não

OUTMTRA[__ __]

6.2. Se sim quantos?__________________________( )N.S.A 07. Formação escolar:

(01) 1º grau incompleto (02) 1º grau completo (03) 2º grau incompleto

(04) 2º grau completo (05) 3º grau incompleto (06) 3º grau completo

(07) Analfabeto (10) Outro_____________________

ESCOLA[__|__] ESCOUT[_____]

08. Já fez algum curso de formação para pesca ou outro ramo de atividade? (01) Sim (02) Não

Se sim, Quais? ____________________________________________________________

CFPESCA[__ __]

Entrevistador:___________

Data: ____/_____/_____

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09. Tem filhos? (01) Sim (02) Não FILHO[__ __] 10. Se sim, quantos? _____________________ ( ) NSA NFILHO [__ __] 10.1. Tem filho que também pesca?

(01) Sim (02) Não

FPESCA [__ __]

10.2.Se sim, com que idade seu (s) filho(s) começaram a pescar? __________ ( )NSA

IDPESCA [__ __]

11.Possui dependentes? (01) Sim (02) Não

Se sim, quantos? ________________________________ (NSA)

DEPEN [__ __]

NDEPEN [__ __]

CARACTERIZAÇÃO DO IMÓVEL ONDE RESIDE

12.Quantos cômodos têm na sua casa? ______________________________________________

COMCASA [_ _]

13.Condição de ocupação do imóvel:

(01)Próprio (02) Cedido (03) Alugado (04) Outro ________

CONDOCUP[__ __]

14.A água utilizada na sua casa vem:

(01) Tratada. (02) Não tratada - riacho, fonte, córrego, lago

(03) Cisterna, poço particular. (04) Carro pipa e terceiros

(05) Outros. Quais? _______________________

AGUAUTIL[__ __]

15.Faz algum tratamento na água que utiliza para beber?

(01) Sim (02) Não

TRATAGUA[__ __]

16.Se sim, qual?

(01) Filtra (02) Côa (03) Ferve (04) Filtra/ferve (05) 0utro ______ ( ) NSA

QUALTRAT[__ __]

17.Tem banheiro em sua casa? (os que têm vaso sanitário + chuveiro)

(01) Sim (02) Não

BANCASA[__ __]

18. Para onde vão os dejetos de sua casa?

(01) Rede geral de esgoto (02) Vala (03) Rio, lago (04) Mar (05) Fossa séptica

(06) Outro Qual? _______________________________

DEJECASA[__ __]

19.O lixo em sua casa é:

(01) Coletado pelo serviço de limpeza (02) Jogado no rio/mar

(03) Enterrado (na propriedade) (04) Jogado em terreno baldio/rua

(05) Queimado (na propriedade) (06) Leva no lixão

(08) Outro destino _______________________________________________

LIXOCASA[__ __]

20.Tem iluminação elétrica na sua casa?

(01) Sim (02) Não

ILUMIELE[__ __]

OCUPAÇÃO E RENDA 21.Há quantos anos trabalha como pescador? TRAPESC [__ __]

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__________________________________________ 22.Realiza trabalho noturno? (01) Sim (02) Não TRANOT [__ __] 23.Quantos dias por semana você pesca?_________________________________________

DIASPES [__ __]

24.Em cada pescaria, quanto tempo fica em alto mar (horas)?_____________________________

HORDIA [__ __]

25.Além da pesca, há outra atividade de renda? ( 01) Sim (02) Não

Se sim, qual? __________________________________________ ( ) NSA

OATREN [__ __]

26.A embarcação que utiliza é:

(01) Própria (02) Emprestada (03) Arrendada (04) Não possui

EMBUTI [__ __]

27.A embarcação está registrada na Capitania dos Portos?

(01) Sim (02) Não (03)NSA

EMRCP [__ __]

28.Qual o tipo de embarcação que utiliza?

(01) Canoa de madeira (02) Barco a Vela (03) Canoa de fibra motorizada

(04) Jangada (05) Barco de fibra a remo (06) Barco a motor

(07) NSA (08) Outro Qual?_________________________________________

TIPOEMBA[__ __]

29.Qual tipo de arte de pesca que utiliza?

(01) Rede de Cerco (04) Rede de Arrasto (07) Linha/Anzol

(02) Rede de Espera (05) Tarrafa (08) Outro Quais?

(03) Espinhel (06) Mergulho

TIPOARPE[__ __]

30.Quais os tipo de peixe e marisco que captura?

Robalo Sim ( ) Não ( ) Camarão Sim ( ) Não ( )

Sururu Sim ( ) Não ( ) Caranguejo Sim ( ) Não ( )

Arraia Sim ( ) Não ( ) Siri Sim ( ) Não ( )

Mapé Sim ( ) Não ( ) Vermelho Sim ( ) Não ( )

Tainha Sim ( ) Não ( ) Pescada Sim ( ) Não ( )

Ostra Sim ( ) Não ( )

Outros______________________________________________________________

ROBAL [__ __]

TAINHA [__ __]

CAMA [__ __]

CARAN [__ __]

OSTRA [__ __]

SURURU [__ __]

ARRAIA [__ __]

SIRI [__ __]

PESCADA [__ __]

MAPÉ [__ __]

VERME [__ __]

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31.Quantos quilos de pescado, em média, captura por dia?

(01) <10 (02)>10<20 (03)>30

QUILOPES[__ __]

32.Onde comercializa o pescado?

(01) Mercado municipal (02) Cooperativa (03) Peixaria (04) Feira (05) Orla

(06) Atravessador (07) Outros_______________________________________

COMERPES[__ __]

33.Renda Familiar Mensal :

(01) < 1 SM (02) 1 a 3 SM (03) 3 a 5 SM ( 04) > 5 SM

RENDA [__|__]

SAÚDE

34.Tem alguma doença relacionada com o seu trabalho?

(01) Sim (02) Não (03) Não sabe

Se sim, quais?

(01) Problema na visão (02)Doenças ósteo-articulares (03) Câncer (04) Coluna

(05) Doença de pele (06) Outros Quais?_____________________ ( ) NSA

DOENTRA[__ __ ]

QUALDOEN[__ __]

35.Usa algum equipamento para se proteger quando vai pescar? (01) Sim (02) Não EPI [__ __]

36.Se sim, quais?

_________________________________________________________ ( ) NSA

EPISIM [__ __]

ORGANIZAÇÃO COMUNITÁRIA

37.Você participa de alguma entidade/organização comunitária? (01) Sim (02) Não ENORCOM[__ __]

38. Se sim, qual?____________________________________________

39. Há quanto tempo participa?____________________________________( )NSA TEMPART[__ __]

40.Possui carteira de pesca (RGP)? (01) Sim (02) Não CRGP [__ __]

41.Se sim, há quanto tempo possui? ________________________________ ( )NSA TRGP [__ __]

42.Há quanto tempo é associado a esta Colônia? ( anos) TASSO [__ __]

43.Qual a importância para você em estar associado à Colônia de Pescador?

44.Quais são as dificuldades enfrentadas na sua profissão?(01) Tempo Ruim (02)

Divisão dos Lucros (03) Outro___________________________

DIFIPROF[__ __]

45.O que poderia ser feito para que essas dificuldades pudessem ser

resolvidaS?____________________________________________________________

46.Você recebe o seguro desemprego na época do defeso?

(01) Sim (02) Não (03)NSA

SDEFESO[__ __]

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PERCEPÇÃO EM RELAÇÃO AOS CUIDADOS COM O PESCADO A B ORDO

47.Após capturar o pescado, onde é colocado?

(01) Balde/Bacia (02) Saco de ráfia (03) Assoalho do barco (04) Caixa de

isopor (05) 0utro ______________________________________

CAPESCA[__ __]

48. O que usa para conservar o pescado em alto mar?

(01) Gelo (02) Água (03)Gelo e Água ( ) Outros ( )NSA

CONPESMA[__ __]

49. Usa gelo após a captura para refrigerar o pescado?

(01) Sim (02) Não

GELOCAP[__ __]

50.No caso do uso do gelo, de onde vem?

(01) É comprado (02) É feito em casa (03) NSA

USOGELO[__ __]

51.Costuma eviscerar o peixe após a captura?

(01) Sim (02) Não ( 03) Ás vezes

EVIPEIXE[__ __]

52.Qual a freqüência com que limpa o barco?

(01) Ao final de cada pescaria (02) Semanalmente (03) Mensalmente

(04) Outros______________________ ________

FREQLIMP[__ __]

53.De que maneira é efetuada a limpeza do barco?

(01) Água Potável (02) Sabão em Pó (03) Água do Mar (04) Detergente

(05) Sal (06) Água Sanitária (07) Outros__________________________

LIMPBARC[__ __]

54.Em sua opinião qual a importância de se manter um barco

limpo?_________________________________________________________________

PERCEPÇÃO EM RELAÇÃO AOS CUIDADOS COM O PESCADO EM TERRA

55.No momento do desembarque como é feito o transporte do pescado?

(01)Balde (02)Mão ( 03) Caixa Plástica (04) Saco Plástico (05) Isopor (06) Outros

DETRANSP[__ __]

56.Para onde é levado?

(01) Cooperativa (02) Atravessador (03) Casa (04) Outrros___________

ONLEVADO[__ __]

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ANEXO B – Termo de Consentimento livre e pré-esclar ecido.

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

ESCOLA DE NUTRIÇÃO / FACULDADE DE FARMÁCIA

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E PRÉ-ESCLARECIDO

PESCADOR

Nome do Projeto: A cadeia produtiva de pescados em São Francisco do Conde - BA: do barco

à comercialização, na perspectiva da promoção da se gurança alimentar.

Prezado(a) Sr.(a):

Eu fui convidado(a) a participar voluntariamente da pesquisa intitulada A cadeia produtiva de

pescados em São Francisco do Conde - BA: do barco à comercialização, na perspectiva da

promoção da segurança alimentar, sob a responsabilidade da pesquisadora Profa. Ryzia de

Cássia Vieira Cardoso.

Fui esclarecido(a) que o objetivo da pesquisa é caracterizar a pesca e o comercio de pescados em

São Francisco do Conde-BA, visando para contribuir para a melhoria da qualidade da produção e

comercialização dos pescados e da condição de vida dos trabalhadores dessas atividades.

Estou ciente que serei entrevistado pelos pesquisadores encarregados do Projeto no que se refere às

minhas condições de vida e trabalho, manipulação do pescado à bordo e em terra, escolaridade,

saúde, condições de moradia e sobre a organização comunitária que faço parte, de forma livre e de

acordo com minha vontade, assinando esse Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Fui informado (a) que os dados serão coletados na minha comunidade e também que os

pesquisadores comprometem-se a utilizar as informações obtidas exclusivamente para os fins

estabelecidos no projeto, incluindo a elaboração de relatórios, que serão entregues à Prefeitura, e a

publicação dos resultados sejam favoráveis ou não.

Fui alertado (a) ainda que não receberei nenhum pagamento, nem equipamento de pesca ou outros

equipamentos pelas informações que prestarei aos pesquisadores, podendo desistir em qualquer

etapa e retirar meu consentimento sem penalidades, prejuízo ou perdas e que os dados fornecidos

permanecerão sob sigilo absoluto, assegurando o meu anonimato.

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Estou ciente que terei aos dados registrados e reforço que não fui submetido (a) a coação, indução

ou intimação.

Fui informado (a) que os resultados que serão conseguidos nessa pesquisa, auxiliarão a Prefeitura

Municipal de São Francisco do Conde a tomar decisões para melhorar a segurança alimentar e a

inclusão social da comunidade envolvida.

Informo ainda, que concordo com o que foi dito e estou recebendo cópia deste papel.

Finalmente, fui informado (a) que, em caso de dúvida ou maiores esclarecimentos, poderei entrar em

contato com a pesquisadora Profa. Ryzia de Cássia Vieira Cardoso, Escola de Nutrição da UFBA,

localizada na Av. Araújo Pinho, 32, Canela, Salvador ou pelos telefones (71) 3283-7700/7695, e-

mail: [email protected], ou ao Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de Nutrição/UFBA, na Av. Araújo

Pinho, 32, Canela, Salvador telefone 3283-7704 ou pelo e-mail [email protected].

Local______________________________, Data____/____/_____

Nome do entrevistado:_________________________________________________________

Declaro que recebi de forma voluntária e apropriada o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

para participação nesta pesquisa.

Local______________________________, Data____/____/_____

____________________________________________________________________________

Pesquisador Responsável/ Ryzia de Cássia Vieira Cardoso-Tel.(71) 3283-7700/7695

E-mail: [email protected]

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ANEXO C- Ficha de análise sensorial para peixe fres co

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

ESCOLA DE NUTRIÇÃO

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DOS ALIMENTOS

PROJETO: A Pesca e a qualidade do pescado na Colônia e em Associações de Pescadores de São Francisco do Conde-BA: diagnóstico na perspectiva social, econômica e sanitária, do barco a comercialização.

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DO PEIXE FRESCO Robalo Tainha No barco . Na comercialização . Amostra nº __________________________________ Parâmetros de qualidade Descrição Pontos Consistência da carne Firme e rígida, elástica à pressão dos dedos 3 Pouco firme afunda levemente à pressão 2 Muito mole e retem a impressão dos dedos 1 Olhos Convexos, pupilas negras, córneas

transparentes e brilhantes 3

Com pontos vermelhos e pequenas manchas escuras

2

Olhos afundados, com córneas opacas 1 Escamas Muito brilhante e aderente 3 Pouco brilhante e aderente 2 Sem brilho, soltando-se facilmente, presença

de muco 1

Odor Cheiro característico de algas marinhas 3 Perda do cheiro característico , presença de

outros odores 2

Pútrido, indicando sinal de deterioração 1 Ânus Fechado sem protuberância 3 Fechado, ligeira protuberância 2 Acentuadamente protuberante (aberto) 1 Guelras Vermelhas muito brilhantes, individualizadas 3 Com descoloração e opaca 2 Marrom escuro, opacas, com muco 1 Critérios proposto por Sthewam J.M. do Torry Research e Wisttsfogel H. do lawer Saxônio Institute-Germany

Avaliador: ______________

Data: ____/_____/_____

Fonte: BRASIL (1997 a), adaptado.

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ANEXO D- Ficha de análise sensorial para molusco (s ururu)

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

ESCOLA DE NUTRIÇÃO

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DOS ALIMENTOS

PROJETO: A Pesca e a qualidade do pescado na Colônia e em Associações de Pescadores de São Francisco do Conde-BA: diagnóstico na perspectiva social, econômica e sanitária, do barco a comercialização.

Avaliador: ______________

Data: ____/_____/_____

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DO MOLUSCO (SURURU) Carne No barco . Na comercialização . Amostra nº _________________ Parâmetros de qualidade Descrição Pontos Consistência da carne Úmida, bem aderente à concha , de

aspecto esponjoso 3

Úmida, bem aderente à concha 2 Não aderente à concha 1 Valvas Resistência à abertura e as valvas

ter líquido no interior da concha.límpido e incolor

3

Resistência à abertura, sem líquido no interior da concha

2

Não resistência à abertura 1 Aroma Agradável e pronunciado 3 Agradável e pouco pronunciado 2 Desagradável 1 Cor da carne Cinza claro a amarelado Descoloração ?

Fonte: BRASIL (1997a), adaptado.

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ANEXO E- Ficha de análise sensorial para camarão

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

ESCOLA DE NUTRIÇÃO

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DOS ALIMENTOS

PROJETO: A Pesca e a qualidade do pescado na Colônia e em Associações de Pescadores de São Francisco do Conde-BA: diagnóstico na perspectiva social, econômica e sanitária, do barco a comercialização.

Avaliador: ______________

Data: ____/_____/_____

No barco . Na comercialização . Amostra nº _________________ AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DO CRUSTÁCEO (CAMARÃO) Parâmetros de qualidade Descrição Pontos Carapaça Fortemente aderida 3 Aderência média 2 Aderência fraca 1 Aderência da cabeça ao corpo

Fortemente aderida 3

Aderência média 2 Aderência fraca 1 Olhos Vivos e destacados 3 Vivos pouco destacados 2 Opacos, fundos, não destacados 1 Cor Própria à espécie, não apresentar

mancha negra ou alaranjada na carapaça

3

Coloração própria a espécie, com manchas discretas

2

Manchas negras e amarelas pronunciadas

1

Aroma Próprio e suave 3 Próprio, odor fraco 2 Odor desagradável, forte 1

Fonte: BRASIL (1997a), adaptado.