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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE GEOLOGIA CARLOS HENRIQUE RABELLO BALOGH INCERTEZAS DOS ATRIBUTOS GEOLÓGICOS EM UM MODELO TRIDIMENSIONAL DE RESERVATÓRIOS PETROLÍFEROS – EXEMPLO NA BACIA DO RECÔNCAVO, BAHIA Salvador 2009

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE … · A Geoestatística proporciona a modelagem numérica da continuidade espacial, através das chamadas funções “estruturais”,

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE GEOLOGIA

CARLOS HENRIQUE RABELLO BALOGH

INCERTEZAS DOS ATRIBUTOS GEOLÓGICOS EM UM MODELO TRIDIMENSIONAL DE RESERVATÓRIOS PETROLÍFEROS –

EXEMPLO NA BACIA DO RECÔNCAVO, BAHIA

Salvador 2009

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CARLOS HENRIQUE RABELLO BALOGH

INCERTEZAS DOS ATRIBUTOS GEOLÓGICOS EM UM MODELO TRIDIMENSIONAL DE RESERVATÓRIOS

PETROLÍFEROS – EXEMPLO NA BACIA DO RECÔNCAVO, BAHIA

Monografia apresentada ao Curso de Geologia, Instituto de Geociências, Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Geologia. Orientadora: Geóloga M.Sc. Jaciara Barreto dos Santos Co-orientadora: Profª. Dra. Olívia Maria Cordeiro de Oliveira

Salvador 2009

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TERMO DE APROVAÇÃO

CARLOS HENRIQUE RABELLO BALOGH

Salvador, 18 de Dezembro de 2009

INCERTEZAS DOS ATRIBUTOS GEOLÓGICOS EM UM MODELO TRIDIMENSIONAL DE RESERVATÓRIOS

PETROLÍFEROS – EXEMPLO NA BACIA DO RECÔNCAVO, BAHIA

Monografia aprovada como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Geologia, Universidade Federal da Bahia, pela seguinte banca examinadora:

BANCA EXAMINADORA MSc Jaciara Barreto dos Santos – Petrobras – Orientadora Dra. Olívia Maria Cordeiro de Oliveira – UFBA – Co-Orientadora MSc. Michael Strugale – Petrobras Geólogo Cesar Henrique de Aleixo Rocha – Petrobras

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Dedico este trabalho a minha mãe pelo incentivo e colaboração

dada a minha formação.

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AGRADECIMENTOS

À Deus por guiar e me dar forças em todos os momentos de minha vida.

À minha família, em especial aos meus pais Lourdes José Rabello e Carlos

Humberto da Paixão Balogh pelo amor, apoio incondicional, e todo os sacrifícios

feitos para que pudesse atingir os objetivos em minha vida.

À minha irmã Ana Cristina Rabello Balogh Tripodi, por sempre acreditar que um dia

iria superar os obstáculos e vence-los.

À minha orientadora Jaciara Barreto dos Santos, pela confiança e paciência durante

todo o processo de construção deste trabalho. À minha co-orientadora Olívia Maria

Cordeiro de Oliveira, pelos ensinamentos acadêmicos que foram de grande

importância e incentivo durante essa jornada.

Aos meus colegas faculdade, Ulisses Soares e Joel Nazário pela colaboração em

discussões que enriqueceram a dissertação com informações adequadas a

realidade.

À família Improta, em especial Tathiane Improta por demonstrar com ações que a

nossa amizade não restringir-se apenas ao meio acadêmico e estar sempre

presente nos momentos bons e ruins.

Àos meus amigos, em especial a Camila Cancio que sempre me presenteou com a sua valiosa amizade e generosidade.

À geológa Mônica Correa, pelo seu carinho, sinceridade e humildade que

certamente contribuíram na solificação da nossa amizade.

À Petrobras e ao Núcleo de Estudos Ambientais (NEA) – UFBA, que permitiram as

consultas das minhas atividades acadêmicas.

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RESUMO

Os reservatórios de petróleo possuem incertezas geológicas que influenciam

significativamente na recuperação de óleo e gás. Essas incertezas podem ser

reduzidas pela obtenção e integração de informações associadas aos modelos

geológicos tridimensionais. Esses modelos são construídos por um procedimento

definido e usado como base para a avaliação das incertezas.

A Geoestatística proporciona a modelagem numérica da continuidade

espacial, através das chamadas funções “estruturais”, tais como o semivariograma,

gerando distribuições que representam a incerteza nos espaços não amostrados de

atributos petrofísicos (dados de poços) de reservatórios utilizando dentre muitas

técnicas de análise de incertezas a simulação probabilística. A simulação dos

atributos volumétricos de um reservatório utiliza a simulação geoestatística gerando

a distribuição de probabilidade do volume de hidrocarboneto in situ através do

processo de quantificação das incertezas relacionadas com as variáveis dos

atributos geológicos do reservatório.

As incertezas da modelagem tridimensional estão associadas tanto para os

dados diretos quanto indiretos, e que são inseridos no processo de modelagem.

Dessa maneira para que as incertezas sejam minimizadas torna-se necessário,

durante o processo de modelagem, o uso não apenas de ferramentas

geoestatísticas, mas também a experiência do geológo durante o tratamento de

dados.

Palavras-Chaves: Incertezas, reservatórios petrolíferos, modelagem

tridimensional, geoestatística.

7

ABSTRACT

The petroleum reservoirs have geological uncertainties that significantly

influence on the oil and gas recovery. Theses uncertainties can be reduced by the

obtaining and integration of these information associated to the tridimensional

geological modeling. These models are building by a defined procedure and used as

base to the evaluation of uncertainties

The Geoestatistic propound a numerical modeling of the spatial continuity,

through the function called “structural”, as the semivariogram, generating

distributions that represent the uncertain in the spaces not sampled of the

petrophysical attributes (well data) of reservoir using among the techniques

uncertainties analyze the probabilistic simulation. The simulations of the volumetric

attributes of the reservoir uses the geoestatistic simulation generating a probability

distribution of the hydrocarbon volume in situ through the quantification process of

the uncertainties related with the variable of the geological attributes of the reservoir.

The uncertainties of the three-dimensional modeling are associated as to the

direct data as to indirect one, and are inserted in the modeling process. However, the

uncertainties become minimized it is necessary during the modeling process, the use

not just the geoestatistic tolls, but also the experience of the geologist during the data

treatment.

Keywords: Uncertainties, petroleum reservoir, three-dimensional modeling,

geoestatistic.

8

LISTA DE SÍMBOLOS

m = média

x(i) = variável regionalizada coletada no ponto i

x(i+h) = variável regionalizada obtidas no i + h

x(n),= realizações de uma variável regionalizada

ħ = distância múltipla

Σ = somatório

E = variância

Z(x) = zona de influência numa determinada região

C(h) = covariância para uma determinada distância

γ(h) = semivariância para uma determinada distância

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CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO 12

1.1 Contextualização da Proposta 12

1.2 Objetivo 13

1.3 Metodologia 15

1.3.1 Levantamento Bibliográfico 18

1.3.2 Métodos Geoestatísticos 18

CAPÍTULO 2. CONTEXTO GEOLÓGICO E ÁREA DE ESTUDO 20

2.1 Bacia do Recôncavo 20

2.2 Campo de Araçás 22

2.3 Membro Santiago 24

CAPÍTULO 3. MODELAGEM GEOLÓGICA 3D DE RESERVATÓRIOS 26

3.1 Modelagem Geoestatística 26

3.2 Etapas da Modelagem 3D 31

3.2.1 Modelo Estrutural 32

3.2.2 Modelo Estratigráfico 33

3.2.3 Modelo de Fácies 35

3.2.4 Modelo Petrofísico 37

3.2.5 Simulação das Linhas de Fluxo 38

3.2.6 Análise das Incertezas 39

CAPÍTULO 4. INCERTEZAS ASSOCIADAS À MODELAGEM 3D EM

RESERVATÓRIOS 41

4.1 Incertezas do Modelo Estrutural 43

4.2 Incertezas do Modelo Petrofísico 44

CAPÍTULO 5. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES 46

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 48

10

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Diagrama dos parâmetros utilizados para a construção de modelos

aplicados em reservatórios. 13

Figura 2: Classificação utilizada nos tipos de heterogeneidades de reservatórios.

Adaptado de: Cosentino (2001). 15

Figura 3: Diagrama representativo da classificação dos modelos conceitual,

matemático e estatístico. Guimarães (2002). 17

Figura 4: Diagrama hierarquizando o nível de incerteza conforme os dados são

inseridos em cada modelo correspondente. 17

Figura 5: Diagrama da classificação dos tipos de variáveis. Bussab & Morenttin

(1987). 19

Figura 6: Mapa de localização da Bacia do Recôncavo, e dos campos de óleos, em

destaque o Campo de Araçás. Couto Anjos et al. (1988) 20

Figura 7: Seção geológica esquemática ilustrando o complexo sistem a de horst e

meio grabens da Bacia do Recôncavo. Milhomem et al. (2003) 21

Figura 8: Seção esquemática da Bacia do Recôncavo ilustrando as principais

Formações. Passos (1969) 22

Figura 9: Mapa paleoambiental de Araçás indicando o processo de deposição dos

arenitos. Horschutz (1971) 25

Figura 10: Elementos presente em um variograma. Chambers et al. (2000) 28

Figura 11: Modelos tridimensionais usados na visualização e compreensão das

heterogeneidades. Pacheco Neves (2007) 32

11

Figura 12: Etapas de elaboração do modelo estrutural, onde cada um dos modelos

representa novas informações adicionadas. Cosentino (2005) 33

Figura 13: Exemplo de um modelo tridimensional baseado nas informações do topo

e base para delimitação do arcabouço estratigráfico. Soares (2009). 34

Figura 14: Exemplo de um modelo estratigráfico, onde ao lado é representado

tridimensionalmente a camada. Soares (2009). 35

Figura 15: Construção de uma seção com base nos dados do modelo deposicional-

sedimentológico (i.e. granulometria). Overeem (2008). 36

Figura 16: Exemplo de uma modelagem tridimensional de um reservatório com base

na geometria das camadas, nos dados estruturais e estratigráficos. Soares (2009) 37

Figura 17: Exemplos de modelos petrofísicos para reservatórios turbidíticos lacustre:

(A) Modelo petrofísico baseado na porosidade; (B) Modelo petrofísico baseado na

permeabilidade. Pacheco Neves (2007). 38

Figura 18: (A) Modelo geológico tridimensional baseado nos níveis de incerteza e

na curva de contato água-óleo. (B) Histograma elaborado segundo os atributos

geológicos e nos valores da curva água-óleo. Ligero et al. (2008) 40

Figura 19: Diagrama simplificado de um modelo 3D de reservatório. Costa (2003).42

Figura 20: (A) interpretações sísmicas de estruturas com diferentes graus de

complexidade estrutural; (B) Seção sísmica. Pacheco Neves et al. (2007). 44

12

CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO

As incertezas estão presentes em campos de petróleo nas fases de avaliação

e desenvolvimento e são decorrentes, principalmente, do pouco conhecimento

associado à caracterização geológica dos reservatórios, tais como, volume in situ,

continuidade, falhas e propriedades de rochas e fluidos. Este cenário de incertezas

tem influência direta nos resultados econômicos dos projetos. Segundo Begg et al.

(2002) o reservatório é influenciado pelas incertezas, e o baixo investimento

destinado ao processo de tomada de decisão resulta num baixo desempenho da

indústria de exploração e produção de petróleo. Este capítulo tem como objetivo

contextualizar o trabalho, apresentando seus objetivos e relevâncias, seguido das

descrições dos capítulos que compõem esta Monografia.

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DA PROPOSTA

Esta monografia aborda as incertezas associadas à modelagem de

reservatórios que refletem diretamente através da estimativa dos atributos

geológicos. As informações extraídas dos atributos geológicos que compõe um

reservatório determinam as incertezas, onde em seguida serão elaborados modelos

probabilísticos. A análise de incertezas têm a finalidade de minimizar os riscos,

sendo importante ressaltar que durante a construção desses modelos devem ser

considerados os aspectos qualitativos relacionados com a interpretação das

informações exploratórias, e que dependem diretamente da experiência adquirida. E

os aspectos quantitativos que relacionam-se com os dados geológicos, geoquímicos

e geofísicos, onde desse maneira é possível determinar e analisar as incertezas

relacionadas com os atributos geológicos para um modelo tridimensional (Figura 1).

13

Parâmetros

Dados

Sísmicos

Dados de

Poços

Horizontes e

Falhas

Montagem de Grid

Modelo Estrutural

Testemunho

Perfis

Eletrofácies

Modelo Estratigráfico

Propriedades Petrofísicas

Modelo de

Fácies

Modelo Petrofísico

Figura 1: Diagrama dos parâmetros utilizados para a construção de modelos aplicados em reservatórios.

No contexto exploratório as novas tecnologias auxiliam de modo significativo

na descrição da qualidade do reservatório permitindo uma melhor compreensão na

delimitação de zonas portadoras de acumulações de óleo e gás natural. Essas

tecnologias estão baseadas na utilização de aplicativos que realizam a integração de

dados e um ajuste dinâmico na modelagem. Estes programas possuem diversas

interfaces, que atuam com uma significativa rapidez, e para que ocorra o

carregamento de dados, atualização de informações e uma maior resolução das

estruturas do reservatório faz-se necessário a discussão das incertezas que serão

associadas no contexto geológico regional e na modelagem tridimensional do

reservatório.

1.2 OBJETIVO

Neste trabalho são discutidas as informações disponíveis e relevantes para a

construção do modelo geológico tridimensional de um reservatório. A partir desta

premissa, o processo de modelagem tridimensional de um reservatório permite a

identificação das etapas associadas à modelagem tridimensional para as

propriedades dos reservatórios.

14

A modelagem geológica tridimensional de reservatórios não pode ser

considerada por si só apenas como uma finalidade, mas sim como parte do

processo que procura estabelecer a relação entre os resultados mais próximos da

realidade em relação aos objetivos finais, que por sua vez consistem na estimativa

do volume de uma jazida de petróleo, o planejamento de métodos de recuperação

suplementar ou na predição da chegada da água de injeção, ou seja, o

comportamento do fluxo em meio poroso. De acordo com Hu & Le Ravec-Dupin

(2004) o objetivo da modelagem é a construção de representações digitais de

maneira coerente com as regras geológicas, e a utilização de toda a informação

quantitativa disponível.

Segundo Pacheco Neves et al. (2007) durante no processo de modelamento

tridimensional busca-se definir o envelope dos reservatórios, ou seja, modelar as

superfícies, falhas e discordâncias existentes. A caraceterização dos reservatórios é

feita com base nos dados de poços e nos dados sísmicos, quando disponíveis, que

auxiliam no estabelecimento de um ou vários modelos geológicos detalhados,

levando-se em consideração as heterogeneidades que possuem um maior impacto

no fluxo de fluidos. Ainda segundo este autor, as heterogeneidades que ocorrem no

reservatório possuem diferentes escalas, consistindo em um grande desafio para a

modelagem tridimensional a integração dos dados. Porque cada dado está

relacionado ao atributo geológico, que possui a sua própria escala segundo a sua

informação.

De acordo com Cosentino (2001) o fato de que maior parte desse processo

está relacionado com o meio poroso e com o seu preenchimento pelos fluidos, faz-

se então necessário a representação das heterogeneidades que possuem influência

sobre os aspectos dinâmicos do reservatório. Dessa forma, as propriedades de

reservatórios também estão relacionadas com escala de poros, e com as várias

fontes de dados que mostram as heterogeneidades para os diferentes tipos de

suporte de amostragem. Na Figura 2 são ilustrados os tipos de heterogeneidades

que ocorrem num sistema petrolífero.

15

Figura 2: Classificação utilizada nos tipos de heterogeneidades

de reservatórios. Adaptado de: Cosentino (2001).

As escalas dos elementos que fazem parte do modelo geofísico são

baseadas nas ferramentas geoestatísticas multivariadas. Este procedimento é capaz

de reduzir as incertezas associadas no processo de modelagem tridimensional para

o desenvolvimento e produção de petróleo, ressaltando as relações entre as escalas

de caracterização do reservatório e os seus principais atributos geológicos. Neste

sentido o trabalho tem como objetivo analisar a integração de dados afim de

minimizar as incertezas geológicas na construção do modelo tridimensional tendo

como exemplo o Campo de Araçás na Bacia do Recôncavo – Bahia.

1.3 METODOLOGIA

Afim de melhor compreensão das variações relacionadas as fases de

modelagem faz-se necessário a identificação das etapas associadas à modelagem

tridimensional para as propriedades dos reservatórios, estas etapas são as

seguintes:

Heterogeneidades Relacionadas aos Reservatórios

Falhas Selantes, Parcialmente Selantes e Não

Selantes

Zonas de Permeabilidades nas Unidades Geológicas

Lâminas Pelíticas

Laminações e

Estratificações Cruzadas

Fraturas Abertas e

Fechadas

Óleo

16

Etapa 1 – Definição das Incertezas: consistem na seleção dos atributos,

assim como na definição dos seus níveis de incerteza e probabilidades de

ocorrência associada a cada nível. Normalmente são atribuídos três níveis de

incertezas para cada atributo (provável, pessimista e otimista). O desmembramento

para três níveis pode ser uma boa representação inicial dos atributos, de maneira

que quanto mais relavante a importância maior será o número de níveis em que este

atributo será desmembrado;

Etapa 2 – Modelo Determinístico: corresponde à elaboração de um modelo

geológico composto pelos seus valores mais prováveis. Este modelo é denominado

de modelo base porque é composto pelos seus atributos e análogos;

Etapa 3 – Análise de Sensibilidade: consiste na seleção dos atributos mais

críticos para reduzir o número de atributos a serem considerados no processo de

quantificação das incertezas. A análise de sensibilidade define o grau de influência

de cada uma das incertezas no volume do campo e no fator d recuperação;

Etapa 4 – Árvore de Derivação: representa cada ramo correspondente de

um modelo de simulação completo e distinto. O número de atributos a serem

incluídos na área de derivação depende dos objetivos do estudo.

Segundo Bettini et al. (2000) estas etapas são parte integrante da elaboração

de modelos. O modelo conceitual compreende a imagem mental do sistema natural

podendo ser expresso na forma diagramática, onde neste tipo de categoria são

inseridos os blocos diagrama, que são comuns nas comunicações técnicas e

científicas das geociências. Os modelos físicos são representações físicas de

sistemas reais (i.e. poros de uma camada), enquanto que os modelos matemáticos

são abstrações de sistemas reais, representados por expressões contendo

variáveis, parâmetros e constantes que são classificados como probabilísticos e

determinísticos.

O modelo matemático é considerado probabilístico porque contém variáveis

aleatórias (i.e. permeabilidade e/ou porosidade), e no caso do modelo determinístico

ocorre o contrário, a variável aleatória está ausente. A Figura 3 exibe um fluxograma

baseado nos tipos de modelos usados na elaboração da modelagem tridimensional.

17

Modelo

Conceitual

Matemático

Físico

Mental

Diagramático

Solução Exata

Simulação

Escala

Analógico

Determinístico

Estocástico

Nível de

Incerteza

Dados Geofísicos

Dados Poços

Pessimista Provável Otimista

Modelo Estrutural

Modelo Fáceis

Figura 3: Diagrama representativo da classificação dos modelos conceitual, matemático e estatístico.

Guimarães (2002).

A delimitação das incertezas consistiu na seleção de todos os atributos

geológicos, assim como a definição dos seus níveis de incerteza e probabilidades de

ocorrência associada a cada nível. O desmembramento para três níveis pode ser um

boa representação inicial dos atributos contínuos, de maneira que quanto mais

relevante a importância maior será o número de níveis em que este atributo será

desmembrado (Figura 4).

Figura 4: Diagrama hierarquizando o nível de incerteza conforme os

dados são inseridos em cada modelo correspondente.

18

Segundo Xavier (2004), durante as fases de avaliação e desenvolvimento do

campo de petróleo ocorre à quantificação do valor da informação que é realizada por

uma nova e confiável metodologia, e será aplicada tanto nos modelos simples

quanto nos modelos complexos, caracterizando dessa forma poucos ou muitos

atributos geológicos.

1.3.1 LEVANTAMENTO BIBLIOGRÁFICO

O levantamento bibliográfico tem como objetivo selecionar, sob um contexto

geral, a importância e aplicação de análises de decisão nos projetos de exploração e

produção de petróleo, abordando trabalhos que quantificam o impacto de incertezas.

Na literatura nacional e internacional existem vários trabalhos que podem ser

consultados durante a análise dos riscos da fase de exploração e a partir deles,

extrair informações relevantes que podem ser aplicadas no objeto de estudo. Por

sua vez, poucos trabalhos focam a fase de desenvolvimento.

1.3.2 MÉTODOS GEOESTATÍSTICOS

A Geoestatística consiste em um conjunto de métodos capaz de tratar

informações relacionadas aos fenômenos esparçados. É utilizada para a geração de

modelos tridimensionais baseados nos atributos geológicos associados aos

inúmeros parâmetros estatísticos, tais como o variograma. As relações entre os

parâmetros simulados e a informação derivada da sísmica são estatísticas,

codificadas como uma correlação linear entre o parâmetro sísmico e a variável

simulada, esta foi à aproximação denominada “variável primária versus variável

secundária”. Entretanto, a geoestatística traz consigo um paradigma que está

baseado no conceito de trends e da covariância, que são considerados uma

aproximação para a codificação de um modelo pioneiro que é usado na terminologia

Bayesiana.

De acordo com Bortoli et al. (1992) e Haas & Dubrule (1994) a realização de

impedâncias acústicas associada à geoestatística de inversão, permite a elaboração

da modelagem a partir de dados sísmicos. O conceito da geoestatística de inversão

nos estudos convencionais de simulação tem um importante enfoque no que se

refere ao bloco de sísmica tridimensional. Entretanto, para Bortoli et al. (1992) uma

19

Variáveis

Qualitativas

Quantitativas

Nominal

Ordinal

Discreta

Contínua

dúvida é pertinente tanto para a fidedignidade de dados de poços e de variogramas

quanto para os blocos de dados sísmicos. A solução proposta por este autor é

encontrada nos algoritmos, que representam apenas uma extensão da Simulação

Gaussiana Seqüencial (SGS) onde para cada região do espaço de amostragem

inúmeras realizações dos traços de impedância acústica local são produzidas. De

modo que esses traços são convolvidos com as ondas sísmicas fazendo com que os

traços de impedância acústica promovam o melhor encaixe com os traços sísmicos

na locação selecionada. Portanto, o algoritmo percorre de uma região do espaço

para outra, de modo que quando todo o espaço é preenchido com traços são obtidos

mais de uma realização global.

Segundo Bussab & Morenttin (1987), as variáveis são qualitativas e

quantitativas e podemos classificar os atributos em um conjunto de amostra

ordenável ou não. As variáveis qualitativas são subdivididas em nominal (i.e. fácies)

e ordinal (i.e. mineralogia). Por sua vez, as variáveis quantitativas representam

medidas e podem ser subdivididas em variáveis discretas e contínuas. A relação

entre essas variáveis com o nível de informação aumenta a partir das qualitativas

nominais para as quantitativas contínuas com métodos específicos para tratar cada

tipo que permitem extrair o máximo proveito da informação que colaboraram com a

distribuição de fácies num grid geológico (Figura 5).

Figura 5: Diagrama da classificação dos tipos de variáveis. Bussab & Morenttin (1987).

20

CAPÍTULO 2. CONTEXTO GEOLÓGICO DA ÁREA EM ESTUDO

O Campo de Araçás está localizado na Bacia do Recôncavo (Figura 6) e

também fazendo parte dele está o Membro Santiago. Este é caracterizado como

reservatório pertencente à Formação Pojuca, de idade do Cretáceo Inferior que tem

na sua composição os arenitos que tornaram este Membro como o maior produtor

em reservatórios do Campo de Araçás. A origem dos reservatórios do Membro

Santiago é de grande importância porque permite a compreensão dos inúmeros

sistemas de trapas estratigráficas e estruturais que ocorrem no Bacia do Recôncavo.

Figura 6: Mapa de localização da Bacia do Recôncavo, e dos campos de

óleos, em destaque o Campo de Araçás. Couto Anjos et al. (1987)

2.1 BACIA DO RECÔNCAVO

A Bacia do Recôncavo é caracterizada por um complexo sistema de horst

secundários e meio grabens orientados (Figura 7). As maiores falhas normais, como

a Falha de Salvador, tem o direção nordeste, enquanto que os altos estruturais da

bacia estão orientados preferencialmente noroeste.

BACIA DO

RECÔNCAVO

38 00´ 38 30´ ALTO

APORÁ

OCEANO ATLÂNTICO

ARAÇÁS

21

Figura 7: Seção geológica esquemática ilustrando o complexo sistem a de horst e meio grabens

da Bacia do Recôncavo. Milhomem et al. (2003)

Segundo Asmus & Porto (1980), dois estágios de sedimentação levaram ao

preenchimento do lago tectônico do Recôncavo: o primeiro está relacionado com a

seqüência continental e o outro com a seqüência do lago. Esta última seqüência é a

mais importante por cauda da sua espessura, que é resultado de uma importante

progradação de sistemas flúvio-deltaicos de noroeste a sudeste, dos quais

eventualmente entraram em contato com depósitos fan-lacustrino grossos

relacionados com a ativação da Falha de Salvador à leste. O preenchimento ocorreu

durante os estágios Rio da Serra, Aratu, Buracica e Jiquiá culminando com uma

inconformidade regional angular relacionada com o soerguimento tectônico.

Segundo Ponte & Medeiros (1981) o arcabouço estrutural da bacia foi gerado

por dois principais episódios de falhas normais: o primeiro episódio ocorreu durante

o estágio Rio da Serra e o segundo estágio após o estágio Buracica. Uma reativação

de falhas do embasamento formou novas falhas na sequência rifte, e gerou um

complexo sistema de blocos de falhas. Após este segundo episódio, nenhuma outra

atividade tectônica intensa ocorreu na bacia.

O desenvolvimento da Bacia do Recôncavo assim como as demais bacias

marginais continentais brasileiras foi envolvida durante a ruptura do Gondwana e a

abertura do Oceano Atlântico Sul. Entretanto, esta bacia trata-se de um rifte

abortado dentro do sistema de riftes de vales, e exibe somente apenas os dois

primeiros estágios deposicionais das bacias marginais continentais que foram

nomeadas de estágios pré-rifte e rifte.

22

A arquitetura estrutural da Bacia do Recôncavo foi gerada a partir de dois

principais episódios de falhas normais, onde o primeiro ocorreu durante no Rio da

Serra e o segundo em Buracica.

De acordo com Ponte & Medeiros (1981), após este segundo episódio

nenhuma outra atividade tectônica ocorreu na bacia. A elevada taxa de deposição

flúvio-deltaica e sedimentação lacustre favoreceram o desenvolvimento de

estruturas não-diastróficas, como o crescimento de falhas, diápiros de argilas, e

compactação de domos os quais permitiram a complexidade estrutural em

determinadas áreas. Segundo Passos (1969), o primeiro episódio de falhamento,

durante a deposição das Formações Candeias e Marfim, formou as principais falhas

nos campos, o que inclui a falha Araçás. Ao final da deposição da Formação Pojuca,

a estrutura do domo já existia, e foi demonstrada por mapas de isopacas e estrutural

ocorrendo ainda arenitos de diferentes espessuras como sugerido pela compactação

de arenito (Figura 8).

Figura 8: Seção esquemático da Bacia do Recôncavo ilustrando as

principais Formações. Passos (1969).

2.2 CAMPO DE ARAÇÁS

O Campo Araçás foi descoberto em 1961 com a produção iniciada em 1965.

A petrografia detalhada e as análises petrofísicas do Campo de Araçás permitiram

que o reservatório fosse classificado de acordo com os tipos de arenitos que

geraram uma interdistribuição nos depósitos das baías permitindo distinguir as

23

propriedades deposicionais e os processos diagenéticos, como a cimentação e

dissolução, e os processos deposicionais. O comportamento do arcabouço dos

arenitos traduz o processo deposicional que integrado as estruturas sedimentares

permite a reconstrução de paleoambientes.

Segundo Freitas et al. (1969) os processos diagenéticos são controlados pela

estrutura de compactação dômica que atuam diretamente na dissolução dos

cimentos assim como no intercrescimento das intrapartículas de calcita gerando uma

porosidade secundária, principalmente, em direção ao centro do domo. Ainda

segundo o autor citado, onde ocorre apenas os arenitos puros a distribuição da

porosidade ocorre de forma reversa, contudo as intercalações de uma matriz

enriquecida e microfácies argilosos dentro de qualquer reservatório inibem até um

determinado momento a ação de soluções dissolventes que conduziram para

reversão da distribuição da porosidade que estará concentrada nas bordas do domo.

Em todos os casos, o padrão de permeabilidade não segue o arcabouço dos grãos,

cimentos e da porosidade ilustrando assim a complexa interação para os fatores que

regulam os parâmetros petrofísicos.

No Campo de Araçás contém o Membro de Santiago numa profundidade

entre 1100 e 1250 metros, com uma espessura de aproximadamente 100 metros e

um intervalo de óleo entre 20 metros, o qual é dividido em cinco intervalos de

reservatórios nomeados de S-1, S-2, S-3, S-4, e S-5, que podem ser facilmente

correlacionados com o Campo de Araçás. De acordo com Freitas et al. (1969) a

freqüência de microfácies no reservatório representa uma excelente ilustração de

suas características individuais, onde nos intervalos S-2 as microfácies possuem em

suas características o cimento de calcita residual que é muito importante para

explicar a sua pobre qualidade. Em contraste, o intervalo S-4 contém todos os tipos

de microfácies e a freqüência das microfácies argilosas explica os baixos valores

gerais de porosidade e permeabilidade deste reservatório. No intervalo S-5 é

limitado e a distribuição das microfácies pode não ser representativa; embora, a

cimentação a base de calcita esteja evidente.

Segundo Kiang & Kowsman (1984) a evolução diagenética desses

reservatórios, inclui três estágios: o primeiro está relacionado com a destruição

primária da porosidade pela compactação e intercrescimento no quartzo e nos grãos

de feldspatos, e pelo soterramento do cimento de calcita; o segundo estágio

corresponde ao surgimento da porosidade secundária devido ao desenvolvimento

24

químico de cimentos e grãos; e o terceiro estágio ocorre pela diminuição da

porosidade secundária por causa de uma posterior cimentação. Boa parte dos

arenitos permaneceram porosos devido ao terceiro estágio ter sido limitado em

extensão, provavelmente como resultado do empacotamento do óleo, o qual detém

qualquer futuro desenvolvimento diagenético mineral. Isso é decorrente em resposta

ao conjunto tectônico, pois as bacias riftes e as reações orgânicas e inorgânicas

ocorrem geralmente no desenvolvimento da bacia como um efeito do alto fluxo de

calor. A geração de óleo no Campo de Araçás ocorreu no fim do estágio do Jiquiá,

que está próximo deposição do Membro Santiago e a formação e compactação de

estruturas dômicas. Entretanto, para Cohen (1985) durante um intervalo de tempo

(110-120 milhões de anos atrás) a média do gradiente geotérmico foi na ordem de

40°C/cin, de modo que a temperatura da superfície era 27°C, e a temperatura limite

do Membro Santiago estava entre 73°C e 79°C, este intervalo de tempo é

característico durante o desenvolvimento de várias fases diagenéticas.

2.3 MEMBRO SANTIAGO

O Membro Santiago pertencente à Formação Pojuca, onde ocorreu a

deposição de arenitos feldspáticos do Cretáceo Inferior. Diversos fatores

estratigráficos e/ou estruturais conduziram esses arenitos a tornarem-se os maiores

reservatórios produtores de óleo no Campo Araçás.

A composição deste membro consiste predominantemente de arenitos, dentre

os quais são em maioria com argilas, siltitos e calcarenitos subordinados. Devido a

esta característica este reservatório possui uma boa qualidade ressaltando que os

arenitos exibem grãos de quartzo com ou sem intercrescimento sob uma intensa

reposição de cimento composto por calcita. A matriz desses arenitos consiste de

clorita inter-estratificada com uma matriz de camadas de illita e esmectita.

As observações petrográficas indicam que a porosidade dos arenitos é de

origem secundária, e resultante de um preenchimento de um cimento rico em calcita.

A característica dessa porosidade é decorrente da dissolução parcial do cimento de

calcita; a prévia distribuição parcial ou total dos grãos de feldspatos calcitificados

que geram a porosidade interpartículas.

25

Horschutz (1971) desenvolveu um mapa paleoambiental da região indicando

que os arenitos do Membro Santiago foram depositados num ambiente de planície

deltaica (Figura 9).

Figura 9: Mapa paleoambiental de Araçás

indicando o processo de deposição. Horschutz

(1971).

26

CAPÍTULO 3. MODELAGEM GEOLÓGICA 3D DE RESERVATÓRIOS

A modelagem tridimensional geológica tem como principal objetivo a

caracterização das propriedades geológicas. Os conceitos geológicos integrados

com os conhecimentos relacionados a área permitem a formulação de modelos

condizentes ao conjunto de fatores e dados usados no processo de modelagem.

Segundo Hu & Le Ravec-Dupin (2004) durante a realização da modelagem

um dos aspectos importantes a ser considerado pelo intérprete é o ambiente

deposicional, porque na integração dos dados geológicos todas as informações

quantitativas permitem a atualização progressiva associada à adição de novos

dados na representação de todos os possíveis cenários dos reservatórios.

A interpretação geológica é uma ferramenta qualitativa e descritiva de modo

que permite a elaboração de modelos para uma área e uma possível representação

por meio de mapas (modelo 2D), seções e perfis geológicos (modelo 1D) e blocos

diagramas.

Segundo Pacheco Neves et al. (2007) na construção de um modelo o geólogo

é forçado a ir além do conjunto de dados existentes onde cada interpretação é

resultado de uma série de decisões subjetivas que só podem ser testadas à medida

que há o desenvolvimento do campo de petróleo onde posteriormente novos dados

são integrados.

3.1 MODELAGEM GEOESTATÍSTICA

A geoestatística define um conjunto de procedimentos matemáticos que

permite que se reconheça e descreva relacionamentos espaciais existentes. Neste

processo, admite-se que a posição de uma amostra é tão importante quanto o valor

medido, para os dados de poços que são freqüentemente espaciais, estes são

relacionados ao controle exercido pela topografia, geologia, massas d’água,

batimetria etc. Desta forma, amostras próximas entre si tendem a ser mais

semelhantes que amostras distantes entre si.

Como nem todas as variáveis permitem a definição de intervalos amostrais

rígidos, a geoestatística auxilia na avaliação do comportamento espacial da variável

adotada. Ela considera a isotropia - a tendência de variação é função apenas da

27

distância de um ponto amostrado, e a anisotropia - a tendência de variação é função

tanto da distância quanto da direção a partir de um ponto com valor conhecido.

A geoestatística tem como ferramenta o variograma que consiste de uma

função que descreve a variação no espaço de um fenômeno regionalizado. Para a

obtenção de um variograma, portanto, é suposto que a variável regionalizada tenha

um comportamento estacionário, onde os valores esperados, assim como sua

covariância espacial, sejam os mesmos por uma determinada área. Assume-se,

desse modo, que os valores dentro da área de interesse não apresentem tendência

que possam afetar os resultados.

A média é obtida por:

m = E[x(i)-x(i+h)] = E[Z(x)] (3.1)

e a variância é dada por:

variância = E{[x(i) – x(i+h)] – m]2} (3.2)

variância = E{[Z(x) – m]2} (3.3)

Onde x(i) representa a variável regionalizada coletada no ponto i, x(i) e x(i + h)

correspondem aos valores de uma variável regionalizada obtidas no ponto i e i + h,

com uma distância múltipla ħ, que é um vetor com direção específica num espaço a

uma, duas ou três dimensões.

O valor de cada ponto está relacionado com valores obtidos a partir de pontos

situados numa certa distância. A influência será tanto maior quanto menor for a

distância entre os pontos, onde o grau de relação entre valores numa certa direção

pode ser expresso pela covariância ou pela variância. A covariância e variância são

valores para uma mesma variável, porém adquiridos nos pontos x e x+h. Em

qualquer deslocamento h, os dois primeiros momentos da diferença [x(i) – x(i+h)] são

independentes da localização de x e função apenas de h. A covariância depende do

tamanho de h e para h = 0, C(h) passa a representar a variância = C(0) e é

calculada através da fórmula:

C(h) = E[Z(x+h).Z(x)] – m2 (3.4)

28

A semivariância representa a metade da variância entre as diferenças x(i+h) – x(i), e é

calculada por:

γ(ħ) = γ(h) = Σ[Z(x+h) – Z(x)] (3.5) 2

Desmembrando a variância temos:

X = [Σx²] – [(Σx)²] (3.6) n n

γ(h) = [1Σ(x(i+h) – x(i))²] – [1Σ (x(i+h) – x(i)] (3.7) 2 n 2 n2

fazendo γ(h) = [1Σ(x(i+h) – x(i))] = 0 (3.8) 2 n

γ(h) = [1Σ(x(i+h)2] + [Σx(i)²] – [Σx(i+h)x(i)] (3.9)

2 n n n

Onde x(1), x(2), .... ,x(i), .... x(n), são as realizações de uma variável

regionalizada satisfazendo a hipótese intrínseca para uma estimativa não

tendenciosa da semivariância dada por:

γ(h) = 1Σ[(x(i+h) – x(i))]2 (3.10)

2 n

O semivariograma é originado quando colocamos a função γ(h) versus h

exibindo as relações através de gráficos.

γ(h) = 1 1=∑

i

n [(x(i+h) – x(i))]2 (3.11)

2n(h)

Segundo Chambers et al. (2000) fazem parte do variograma os elementos: (i)

Alcance: que representa a distância a partir da qual as amostras passam a ser

aleatórias, ou seja, reflete o grau de homogeneização entre as amostras, assim

quanto maior for o alcance mais contínuo será o fenômeno representado; (ii)

Patamar, que corresponde ao valor no qual o variograma estabiliza-se no campo

29

aleatório, consiste no ponto a partir do qual as amostras tornam-se independentes

devido à grande distância que as separa; (iii) Efeito pepita que representa o valor da

função variograma na origem (h=0), teoricamente esse valor deveria ser zero porque

as duas amostras tomadas no mesmo ponto (h=0) deveriam ter os mesmos valores;

entretanto quando não é assim, atribui-se esta diferença, em geral, a erros de

amostragem e/ou análise. Como os erros analíticos atualmente podem ser ou não

desprezíveis, o efeito pepita deve-se a erros de amostragem devido à variabilidade

natural da variável. A Figura 10 ilustra os elementos do variograma.

Figura 10: Elementos presente em um variograma.

Chambers et al. (2000).

Segundo Deutsch (2006) as técnicas geoestatísticas permitem a construção

de modelos tridimensionais do reservatório, em destaque a krigagem e a simulação

estocástica, que permitem calcular o valor para uma determinada propriedade

(fácies, petrofísica, etc) para cada célula de uma malha tridimensional, sendo este

valor condicionado com os dados existentes (sísmica, poços, etc) e uma função de

correlação espacial entre esses dados (variograma).

A krigagem é uma técnica desenvolvida para interpolação de dados dispersos

e pouco abundantes, realizando a análise de componentes de variação espacial,

permitindo uma boa aplicação nos dados onde se reconhecem a existência de

correlação espacial e/ou controle direcional (geologia; geomorfologia, oceanografia).

Dentre as vantagens na utilização da krigagem, destacam-se o rastreamento de

mudanças na dependência espacial ao longo da área de estudo, a geração de uma

30

superfície interpolada suave. A krigagem é um método determinístico que apresenta

apenas única solução, não sendo capaz de representar como um todo a

variabilidade das propriedades estudadas. Dessa maneira além da técnica de

krigagem faz-se necessário à utilização de métodos de simulação estocástica que

permitem melhor representar a variabilidade das propriedades geológicas.

Para Monteiro (2005) a simulação estocástica é um fenômeno regional pode

ser separado em dois componentes: o primeiro, relacionado com a tendência

regional desse fenômeno, que se considera determinístico, e o segundo

componente, que é resultado de um processo de modelamento a partir do resíduo

de variável regionalizada, decorrente da tendência. Assim a simulação estocástica

condicional ou probabilística consiste num método de modelagem que fornece

inúmeros modelos ou realizações para um determinada propriedade.

Entretanto, de acordo com Chambers et al. (2000) a simulação estocástica

não pode ser considerada um método de estimativa porque representa o resultado

de uma distribuição de probabilidades, e esta distribuição é baseada nas

informações dos dados de controle, que podem ser dados primários, dados

secundários ou em um modelo espacial. Deve-se ressaltar que fica critério do

intérprete a decisão, respaldado em conhecimento técnico, de como o

comportamento geológico espacial da propriedade procede. Ainda segundo este

autor, a solução fornecida pela krigagem representa nada mais do que uma média

das numerosas realizações, e a variabilidade ao longo das diferentes realizações

nada mais são do que uma medida da incerteza para cada posição espacial,

portanto o desvio padrão representa a quantificação das incertezas para os valores

simulados.

Segundo Pacheco Neves et al. (2007) existe também um modelo de

simulação de modelos baseados em objetos (Booleanos), que criam modelos de

reservatórios baseados em objetos que tem um significado genético. Para a

utilização desse método faz-se necessário à seleção de uma forma básica para cada

fácies deposicional onde seja descrita a sua a geometria (i.e. triângulos para os

deltas ou meia-elipse para um canal) como também os parâmetros que descrevem

essas geometrias. Em fácies muito complexas este tipo de método é muito utilizado

na elaboração de modelos geológicos, como nas seqüências carbonáticas, nas

relações não bem estabelecidas para as hierarquias de fácies como nos nódulos

diagenéticos, etc.

31

Chambers et al. (2000) estabeleceu um modelo seqüencial e um modelo pixel

que compreende da utilização de um mesmo algoritmo básico para diferentes tipos

de dados, são eles: (i) Simulação Gaussiano Seqüencial (SGS) que é utilizada na

geração de simulações de variáveis contínuas, como as propriedades petrofísicas;

(ii) Simulação Seqüencial da Indicatriz (SIS) que fornece a simulação de variáveis

discretas, como fácies, reservatórios e não reservatórios, entre outros e; (iii)

Simulação Pluri-Gaussiana que são usadas para ambientes geológicos complexos,

com mais de uma direção de anisotropia, como no caso da ocorrência de processos

diagenéticos relevantes ou litofácies associados a diferentes processos

deposicionais.

3.2 ETAPAS DA MODELAGEM 3D

As etadas de construção de modelos 3D são as seguintes: modelos

estruturais, estratigráficos, fácies, petrofísicos, simulação das linhas de fluxo, cálculo

de volume e análise das incertezas. Essas etapas de modelagem 3D destinam-se a

apresentar todas as variáveis identificadas, e que influenciam no comportamento do

fluxo de reservatório. À cada uma dessas variáveis está associado um grau de

incerteza. Embora algumas heterogeneidades possam ser quantificadas por meio de

medidas diretas, o seu efeito global só pode ser melhor compreendido com o auxílio

de modelos.

Segundo Baldissera (1992) muitos métodos de modelagem de

heterogeneidades nos reservatórios assumem uma distribuição estocástica, porém

muitas heterogeneidades geológicas não são aleatórias e dessa forma podem ser

determinadas as incertezas. A Figura 11 permite a compreensão desses modelos,

que de acordo com Pacheco Neves et al. (2007) representa o fluxo de trabalho para

a modelagem geológica tridimensional de reservatórios baseado em Caers (2005).

32

Figura 11: Modelos tridimensionais usados na visualização e compreensão

das heterogeneidades. Pacheco Neves (2007).

3.2.1 MODELO ESTRUTURAL

Nesta fase da modelagem 3D são modelados os dados de falhas e horizontes

de topo e base do(s) reservatório(s). Estas informações são oriundas de dados

sísmicos e de poços.

33

De acordo com Cosentino (2005) o arcabouço estrutural tridimensional é

composto por três etapas: A primeira etapa consiste na modelagem das falhas

principais, a segunda etapa compreende a modelagem das falhas menores e, a

terceira etapa a construção das superfícies geológicas. Ainda segundo o autor citado

as falhas são identificadas a partir de três tipos de informação: (i) evidência

geológica, que identifica as falhas de acordo com a inconsistência na correlação

através de seções; (ii) nas evidências de poços, ou seja, os poços que interceptam

as falhas e; (iii) os dados sísmicos (2D e 3D), que fornece o principal suporte para o

modelo de falhas porque pode recobrir toda a área. A Figura 12 representa a

identificação de falhas conforme os dados geofísicos, onde para cada modelo à

medida que são adicionadas novas informações são elaborados novos modelos.

Figura 12: Etapas de elaboração do modelo estrutural, onde cada um dos modelos representa

novas informações adicionadas. Cosentino (2005).

3.2.2 MODELO ESTRATIGRÁFICO

As superfícies em um modelo estratigráfico representam a base e o topo de

uma camada. Esta representação é feita a partir de informações utilizadas no

modelo estrutural que permitirão a delimitação no modelo estratigráfico. Na

34

modelagem tridimensional de um reservatório é importante o conhecimento do

contexto geológico da região, porque isto reflete diretamente na interpretação dos

dados utilizados no processo de modelagem. (Figura 13).

Figura 13: Exemplo de um modelo tridimensional baseado nas informações do

topo e base para delimitação do arcabouço estratigráfico. Soares (2009).

Segundo Cosentino (2001), determinar o comportamento do fluxo de fluidos

que ocorre em um reservatório é o objetivo principal num processo de modelagem

3D. Contudo, é necessário que seja concisa a definição empregada para o

arcabouço estrutural, assim como para os dados relacionados com a interpretação

de perfis, sísmica, geoquímica, mineralogia, bioestratigrafia e sedimentologia,

porque ajuda na descrição do comportamento estratigráfico, diagenético, ou seja,

dos controladores geológicos (Figura 14).

35

Figura 14: Exemplo de um modelo estratigráfico, onde ao lado é representado tridimensionalmente

a camada. Soares (2009).

3.2.3 MODELO DE FÁCIES

Este modelo tem por finalidade completar o arcabouço gerado na modelagem

tridimensional. Um dos aspectos importante deste modelo está no método

empregado para a resolução de perfis, ou seja, quando a heterogeneidade não

apresenta uma boa representatividade, não ocorre a definição da geometria externa

dos corpos de reservatório, neste caso faz-se necessário que a modelagem seja

feita através do processo pixel. Entretanto, se os dados de litofáceis e petrofísicos

forem representativos a modelagem é realizada através do processo de grids que

permite que os dados sejam analisados através da geoestatística e da geologia.

A escolha do processo (pixel ou grid) a ser aplicado, conforme as dimensões

dos corpos, implica na ocorrência de incertezas porque os dados petrofísicos estão

diretamente relacionados com as fácies sedimentares, a quantidade de poços

precisa possuir uma boa representatividade em litofácies, e as características

sedimentológicas e estruturais incidem efetivamente no controle da distribuição.

Os modelos de fácies representam descrições baseadas nos conjuntos de

atributos litológicos e das estruturas sedimentares que auxiliam na classificação e

modelagem do ambiente deposicional, sendo que este modelo deposicional-

sedimentológico representa a integração e análise dos conceitos geológicos junto

36

aos dados de testemunhos aplicados aos poços onde os testemunhos são

disponíveis.

O processo deposicional tendo como exemplo ambientes deltaícos, permite

que sejam obtidas informações que são relevantes para um modelo de fácies.

Assim, com base na diversificação da energia empregada no processo de

sedimentação, existe em um sistema deltaico subambientes onde os parâmetros

petrofísicos (porosidade e permeabilidade) podem estar condicionados a esses

sítios deposicionais. Por exemplo, numa frente deltaica (barra de desembocadura)

os arenitos apresentam uma maior porosidade, enquanto que em um prodelta os

siltitos, folhelhos e arenitos muito finos e argilosos apresentam uma baixa

permeabilidade.

As subdivisões são representadas pelas planícies deltaícas relacionadas com

a distribuição de canais que conforme a alta energia dos rios a granulometria é

classificada como grossa; à frente deltaíca que tem um aporte sedimentar

influenciado pela ação dos rios e/ou mares confere uma granulometria que varia de

média a grossa; e por fim o prodelta que por causa da variação de energia

empregada pelas marés e lagos possui uma granulometria fina.

Segundo Pacheco Neves et al. (2007), a etapa de correlação de fácies

atribuídas a todos os poços de campo, o modelo deposicional-sedimentológico está

relacionado com os dados de perfis proporcionado a construção de um modelo

preditivo correlacionado com rocha-perfil. Somente a partir da correlação rocha-perfil

é possível a geração da distribuição tridimensional das fáceis ou das eletrofácies

definidas a partir do agrupamento de litofáceis com as similaridades dos perfis ao

longo da modelagem estocástica (Figura 15).

Figura 15: Construção de uma seção com base nos dados do modelo deposicional-

sedimentológico (i.e. granulometria). Overeem (2008).

Argilas

Areias turbidíticas

Progadação Topsets

Distância (km)

Tamanho dos Grãos (km)

Profundidade

Perfil ilustrando a granulometria com base no modelo deposicional-sedimentológico

37

A construção de mapas baseados em dados de poços (Figura 16) permite

que sejam quantificadas as variações laterais na espessura e ocorrência do

reservatório.

Figura 16: Exemplo de uma modelagem tridimensional de um

reservatório com base na geometria das camadas, nos dados

estruturais e estratigráficos. Soares (2009)

3.2.4 MODELO PETROFÍSICO

As informações extraídas das análises petrofísicas de testemunhos e dados

de perfis permitem a quantificação da permeabilidade e porosidade de um

reservatório. A compreensão das relações entre a heterogeneidade do reservatório,

os atributos de arquitetura e a geometria de litofáceis distintas, para diferentes

escalas de observação, permite a modelagem geométrica do reservatório seguida

de uma representação das características petrofísicas. Durante a fase de

desenvolvimento do modelo petrofísico a correlação rocha-perfil nem sempre traz

informações paleoambientais, nesta situação são construídos modelos baseados em

distribuição de fácies que podem ocorrer para mais de dois ambientes

simultaneamente. De posse da informação referente ao ambiente geológico é

possível modelar a arquitetura do reservatório.

Os modelos estocásticos de permeabilidade normalmente são gerados de

acordo com os dados estáticos utilizados na fase de simulação para o reservatório.

A utilização dessas informações nesta fase permite através da modelagem

tridimensional a identificação de conflitos durante a geração dos modelos.

Segundo Pacheco Neves et al. (2007), o conhecimento dos conceitos

geológicos requer a quantificação direta (perfis de poços, amostras de rochas –

testemunhos), ou indireta das propriedades petrofísicas do reservatório (sísmica de

poços e testes de formação), onde a escala ou o domínio de investigação são

distintas. O modelo petrofísico de reservatório pode ser compreendido pela

modelagem estocástica, a partir da simulação ou estimativa dos valores controlados

38

pelo modelo de fácies, onde essas propriedades seguem uma tendência baseada na

geometria das fácies ou dos seus elementos arquiteturais (Figura 17).

Figura 17: Exemplos de modelos petrofísicos para reservatórios turbidíticos

lacustre: (A) Modelo petrofísico baseado na porosidade; (B) Modelo petrofísico

baseado na permeabilidade. Pacheco Neves (2007).

3.2.5 SIMULAÇÃO DAS LINHAS DE FLUXO

Nesta etapa as simulações das linhas de fluxos requerem uma grande

capacidade de processamento do computador para que os dados sejam analisados

em escala de grid. Os atributos geológicos estão relacionados com a

heterogeneidade do reservatório, dessa maneira para que ocorra o ajuste ideal

destes atributos em um modelo tridimensional de reservatório são necessárias

inúmeras simulações.

No processo de simulação através do grid geológico as incertezas estão

relacionadas com as várias simulações que ocorrem em cada zona devido às

A

B

39

pequenas dimensões ocorre a perda de dados das propriedades geométricas,

estruturais e de fácies.

Um aspecto importante que deve ser salientado é o fato de que os dados

referentes a pressão-volume-temperatura (PVT) de um reservatório desempenham

uma importante função durante o processo de simulação, caso não exista esses

dados uma alternativa é a construção de curvas experimentais de saturação água-

óleo. Essa fase é fundamental porque permite compreender e estimar o

comportamento de um reservatório.

O modelo geológico tridimensional deve conter grids individuais relacionados

para cada zona, permitindo que sejam feitas simulações a partir de um grid

geológico ou de um grid de simulação, tendo como função analisar o produto final

realizado em cada grid.

O processo de simulação das linhas de fluxo permite que sejam elaboradas

curvas de produção de água e de óleo com a finalidade de comparar a vazão real e

simulada para compreender o comportamento da pressão. Entretanto, dependendo

da geometria dos corpos, da quantidade de óleo e do arcabouço estrutural

apresenta diferentes comportamentos levando a geração de incertezas.

3.2.6 ANÁLISE DAS INCERTEZAS

A partir dos dados geológicos usados na simulação de uma modelagem

tridimensional são obtidas curvas de probabilidade acumulada geradas por um

histograma baseado nos volumes obtidos para cada simulação. Cada curva de

probabilidade está relacionada com três valores que correspondem a P10, P50 e

P90, sendo P10 o mais otimista e o P90 o mais pessimista. Esta classificação

permite que o P90 represente 90% de probabilidade que o volume calculado tenha

um valor menor ou igual, enquanto que o P50 é apenas usado no cálculo de

reservas e é o valor mais confiável (Figura 18).

40

Figura 18: (A) Modelo geológico tridimensional baseado nos níveis de incerteza e na curva

de contato água-óleo. (B) Histograma elaborado segundo os atributos geológicos e nos

valores da curva água-óleo. Ligero et al. (2008).

Dados

Curva de Saturação Água-Óleo

Curva de Saturação Água-Óleo

Geológico

Dados

Geológico

A B

P90 - Pessimista

P50 - Provável

P10 - Otimista

41

CAPÍTULO 4. INCERTEZAS ASSOCIADAS À MODELAGEM 3D EM

RESERVATÓRIOS

Na avaliação de um reservatório fazem parte a identificação do conjunto de

atributos geológicos sobre o qual incide as incertezas e o estabelecimento das

probabilidades. Contudo, o ponto fundamental está em transformar as variáveis

geológicas em variáveis estatísticas, a partir da integração de n variáveis

reconhecidas para um mesmo contexto de reservatório, que permitem a calibração

de um modelo. As incertezas relacionadas à modelagem tridimensional de um

reservatório requerem que os dados petrofísicos e de fácies sejam quantificados

para que dessa forma sejam feitas as análises. Outro aspecto importante durante a

análise são os cálculos de volume voltados para a variação do contato água-óleo e

de saturação.

O modelo geológico tridimensional apresenta incertezas em escalas de

grande impacto (modelo estratigráfico) e de pequeno impacto (geometria da célula-

reservatório). Entretando, deve-se ressaltar que a origem das incertezas está

concentrada na falta de informação que acompanha a construção do modelo

geológico tridimensional de um reservatório.

No processo de análise das incertezas são utilizados programas específicos

onde é representado o fluxo de trabalho com funções específicas, e assim

agrupando os processos e suas variáveis denominadas incertezas. Por exemplo, no

processo de simulação são estabelecidas a origem e a saída dos dados, assim as

variáveis que são inseridas num fluxo de trabalho devem estar dentro de limites pré-

estabelecidos para que o resultado corresponda a um volume de hidrocarboneto.

As incertezas na modelagem tridimensional está relacionada com o meio

físico, e são provenientes de dúvidas em relação ao modelo estrutural do

reservatório, às propriedades dos fluidos, à interação entre a rocha-fluido, dentre

outros. Na modelagem do reservatório ocorrem poucos dados diretos de poços

perfurados, boa parte é composta por dados indiretos, principalmente sísmicos, ou

de comparações com outros reservatórios do mesmo ambiente deposicional, ou de

um afloramento análogo. Devido às incertezas estarem associadas com as

diferentes fontes de dados, os erros mais comuns que ocorrem são os erros de

42

Modelagem Tridimensional

Incertezas Petrofísicas

Incertezas Geofísicas

Incertezas Geológicas

Porosidade

Permeabilidade

Dados Sísmicos

Correlação Rocha-Perfil

Modelo Estrutural

medidas, os sistemáticos, na distribuição espacial dos atributos geológicos

(heterogeneidades), na falta de representatividade das amostras etc (Figura 19).

Figura 19: Diagrama simplificado de um modelo 3D de reservatório. Adaptado de Costa (2003).

A proposta deste capítulo está na abordagem do modelo tridimensional do

Campo Araçás na Bacia do Recôncavo, onde são abordados os aspectos

qualitativos relacionados com a interpretação das informações geológicas e

geofísicas que permitem a análise das incertezas. Um aspecto importante durante a

fase de modelagem consiste na caracterização do valor atribuído as variáveis

selecionadas passarão por um processo de filtragem, e posteriormente serão

usadas como indicadores de novas descobertas, já levando-se em conta que as

incertezas relacionadas com essas novas descobertas correspondem a uma função

inversamente proporcional ao acerto na predição destas variáveis, ao modelo

proposto para o sistema petrolífero e ao carregamento das informações obtidas

durante as fase de prospecção. Entretanto, dentre os tipos de variáveis usadas no

processo devem ser salientadas as variáveis contínuas porque em uma distribuição

espacial abrange um grande número de valores numéricos (i.e. mapas de contorno –

2D), e as variáveis discretas que representam puntualmente objetos distintos através

da sua presença ou ausência.

Segundo Tamhane et al. (1999), os métodos e as técnicas usados no

processo de quantificação dos atributos geológicos são abordados por inúmeros

autores, entretanto não existe um aprofundamento na descrição e análise dos

fatores relacionados aos ambientes geológicos e seus parâmetros (formas e

43

geometrias dos corpos sedimentares, propriedades petrofísicas, etc). Ainda de

acordo com este autor, a compreensão da geologia acarreta na diminuição da

incerteza para um modelo construído.

Os atributos geológicos geram incertezas que influenciam diretamente nas

decisões que estão relacionadas com o desenvolvimento e estimativa de reservas.

Por isso, a quantificação do impacto nos resultados é de fundamental importância

para aumentar a qualidade das decisões.

Segundo Pacheco Neves et al. (2007), as incertezas que ocorrem no

processo de modelagem tridimensional podem ser agrupadas e relacionadas em

dois grupos: o primeiro refere-se aos próprios dados utilizados, e o segundo tipo

está relacionado com as interpretações e aos modelos construídos durante a

modelagem de reservatório.

4.1 INCERTEZAS DO MODELO ESTRUTURAL

Os dados estruturais geram boa parte das incertezas associadas à

modelagem da geometria extrerna do reservatório porque estão associados à dados

sísmicos espaçados que resultam em erros durante a elaboração deste modelo. A

sísmica de baixa resolução pode implicar em erros na delimitação de um traço de

falha ou no contorno de um horizonte.

As fontes de informação que auxiliam na interpretação das estruturas em

subsuperfície provém da geofísica e dos poços, onde dependendo do tipo de

método empregado os dados podem apresentar limitações quanto à qualidade e a

resolução.

Segundo Pacheco Neves et al. (2007), a correlação entre perfis para poços

diferentes permite que sejam estabelecidas as posições das unidades geológicas de

interesse, considerando que esta correlação é mais refinada quanto maior for à

resolução dos perfis utilizados, e quanto mais homogeneizado lateralmente estiver

às unidades geológicas.

No Campo de Araçás, na Bacia do Recôncavo, existe uma boa quantidade de

poços com dados confiáveis provenientes de levantamento geofísico, fazendo com

que sejam minimizadas as incertezas relacionados à modelagem estrutural. Os erros

associados ao modelo estrutural são muito mais freqüentes que os demais modelos,

porém existem também maneiras de diminuir os erros, depende da oferta de poços e

44

de levantamentos sísmico que conseguem também participar na diminuição das

incertezas.

A Figura 20 utilizada por Pacheco Neves et al. (2007), consiste de uma seção

sísmica onde a interpretação depende das distorções introduzidas pelo mergulho

das camadas e pelas variações verticais e laterais das velocidades das rochas. O

nível de detalhamento da interpretação depende muito da resolução sísmica e as

incertezas nos contatos entre fluídos.

Figura 20: (A) interpretações sísmicas de estruturas com diferentes graus

de complexidade estrutural; (B) Seção sísmica. Pacheco Neves et al.

(2007).

4.2 INCERTEZAS DO MODELO PETROFÍSICO

Uma das formas de definir as incertezas relacionadas com o modelo

petrofísico está na disponibilidade dos dados e na metodologia utilizada para o

preenchimento do arquitetura geométrica construída durante o processo de

modelagem estrutural e estratigráfica. O modelo petrofísico consiste na discretização

do reservatório segundo um número finito de células, onde a partir de um maior

número de células em tamanhos menores resulta no modelo com maior capacidade

de representação do meio geológico.

A modelagem petrofísica requer o conhecimento do ambiente de

sedimentação no qual formou-se a rocha reservatório, pois cada tipo de ambiente

A B

45

apresenta sua própria geometria, e durante este processo os atributos petrofísicos

devem ser estabelecidos com base em medidas diretas (amostra de rocha) ou por

medidas indiretas (perfis de poços). Estes atributos petrofísicos são decorrentes de

dados gerados por interpretações quantitativas de perfis e de dados de teste de

formação, com uma posterior dedução das equações de porosidade e

permeabilidade, além das análises geoestatísticas dos dados.

46

CAPÍTULO 5. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

A definição das incertezas relacionadas à modelagem tridimensional para

campos petrolíferos tem como finalidade dar uma maior qualidade ao processo de

tomada de decisão no desenvolvimento do campo. A determinação das incertezas

relacionadas com a modelagem tridimensional não é um processo simples, pelo fato

de que estas incertezas estão associadas tanto para os dados diretos quanto

indiretos, e que são inseridos no processo de modelagem.

As incertezas são analisadas com base nas características do reservatório, já

que na fase de exploração e descoberta de um campo, a utilização dos dados

indiretos é bastante frequente. A principal disponibilidade de dados em escala real

do reservatório é pontual e está relacionado com os poços perfurados, neste

momento um ponto que deve ser levado em consideração é a quantidade de poços

perfurados porque quanto maior for à quantidade de poços, menor são as incertezas

relacionadas ao dado de poço. Mesmo considerando-se que nem sempre é possível

a obtenção de testemunhos para um grande número de poços.

O imageamento sísmico, mesmo sendo uma excelente ferramenta, ainda não

alcançou a mesma resolução vertical da escala de poços, sendo considerado como

uma das maiores fontes de incertezas. Mesmo apresentando uma boa resolução é

necessário que as variáveis como tempo-profundidade estejam associadas à

sísmica para não tornarem-se geradoras de erros. De maneira geral, as incertezas

relativas às fases iniciais são relacionadas com a quantidade e qualidade dos dados

geológicos, petrofísicos e de fluidos disponíveis; (poços, sísmica) e com a

interpretação dos dados e caracterização do reservatório (seleção de dados,

geração de modelo conceitual de reservatório, inversão sísmica e seleção de

técnicas geoestatísticas). Na elaboração do modelo de fácies do reservatório

Santiago a incerteza mais significativa foi devido a falta de dados sísmicos na

construção do referido modelo.

Uma das metodologias usadas nesta monografia é a geoestatística nesta

monografia utiliza os conceitos da estatística básica (freqüência e probabilidade),

que de acordo com as informações do sistema petrolífero integradas com o modelo

matemático permitem que sejam desenvolvidas fórmulas que serão utilizadas para o

cálculo do volume, que está diretamente relacionado com os parâmetros

47

petrofísicos, variáveis contínuas e discretas, onde o objetivo desse modelo

probabilístico e empírico está na redução das incertezas associadas com cada tipo

de perfil para uma porosidade estimada.

Esta monografia traz como contribuição não só para o ambiente acadêmico,

mas também para os profissionais da área, o fato de que este trabalho não

restringe-se apenas para o reservatório Santiago. Esta monografia consiste de

etapas que podem ser utilizadas não apenas na identificação das incertezas

relacionadas a Bacia do Recôncavo, mas também para outras bacias. Os

procedimentos adotados em cada modelo também podem ser abordados na

modelagem tridimensional de reservatórios.

48

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