80
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE GRADUAÇÃO EM GEOLOGIA LUCAS FIGUEIREDO GONTIJO Estudo de Mecanismos e Processos de Sedimentação em Fluxos Gravitacionais de Sedimento da Formação Maracangalha, Membro Caruaçu. Aplicação da Metodologia de Estudo Rocha X Perfil na Predição da Qualidade dos Reservatórios. Salvador 2011

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE … · A seção rifte das bacias sedimentares brasileiras representa o registro ... respostas em perfis de gama-ray , além da interpretação

Embed Size (px)

Citation preview

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE GRADUAÇÃO EM GEOLOGIA

LUCAS FIGUEIREDO GONTIJO

Estudo de Mecanismos e Processos de Sedimentação em Fluxos Gravitacionais de Sedimento da Formação

Maracangalha, Membro Caruaçu. Aplicação da Metodologia de Estudo Rocha X Perfil na Predição da

Qualidade dos Reservatórios.

Salvador 2011

LUCAS FIGUEIREDO GONTIJO

Estudo de Mecanismos e Processos de Sedimentação em Fluxos Gravitacionais de Sedimento da Formação

Maracangalha, Membro Caruaçu. Aplicação da Metodologia de Estudo Rocha X Perfil na Predição da

Qualidade dos Reservatórios.

Monografia apresentada ao curso de Geologia, do Instituto de Geociências, Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Geologia. Orientador: Prof. Dr. Carlson de Matos Maia Leite

Salvador 2011

TERMO DE APROVAÇÃO

LUCAS FIGUEIREDO GONTIJO

Salvador, 28 de Novembro de 2011

Estudo de Mecanismos e Processos de Sedimentação em Fluxos Gravitacionais de Sedimento da Formação

Maracangalha, Membro Caruaçu. Aplicação da Metodologia de Estudo Rocha X Perfil na Predição da

Qualidade dos Reservatórios.

Monografia aprovada como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Geologia, Universidade Federal da Bahia, pela seguinte banca examinadora:

_______________________________________________________________ 1º Examinador – Prof. Dr. Carlson de Matos Maia Leite – Orientador Instituto de Geociências, UFBA / Petrobras _______________________________________________________________ 2º Examinador – Prof. Dra. Olívia Maria Cordeiro de Oliveira Instituto de Geociências, UFBA _______________________________________________________________ 3º Examinador – Rodrigo Waldemar de Freitas Petrobras

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente à Deus, por tudo que conquistei nessa vida e pela

felicidade de todos os dias.

Agradeço à minha família, por todo o apoio e carinho cedido ao longo destes anos.

Em especial aos meus pais: Guilherme e Míriam, e aos meus irmãos Fernanda e

Rafael.

Aos professores, tão importantes para minha formação, em especial, a Osmário,

Olívia, Carlson, Flávio, Zoltan, Ângela, Gisele, Maria José, Simone e Ângelo.

Aos amigos tão prestativos da Petrobras: Paulo, Rodrigo, Edson, Márcio, Lucinha,

Míriam, Nivaldo, Adilson, Claudineuza e às estagiárias Laura, Luana e Rebeca.

À Carlson Leite por ter me orientado neste trabalho e por todos os ensinamentos

geológicos. Ao colega e amigo Muriel pelo grande auxílio e amizade.

Aos amigos que nasceram nesta fase da vida: Caio Nunes, Caio Muller, Goiaba

Mendigo, Musca, Marcelo Abbehusen, Marcelo Falcão, Dexter, Ray Charles,

Anderson Barreiras, Lula Molusco, Bunny Man, Tortuga, Bruno Emo, Priscilinha,

Nilsinho, Carlos, Lucas, Tico, Salsicha, Cipri, Mário, Alexandre, Fabinho, Substância,

Acassio, Gleide, Bianca, Priscila, Fabiane e Eula. Aos amigos não geólogos: Davi,

Juan, Binho, Curuma, Spínola, Leite, Edson, Gordo, Afonso, Victor, Jong, Alvinho,

Américo, Pedruce, Limalcool, Pudim, Paulinha e Érica.

“O homem é do tamanho dos seus sonhos"

Fernando Pessoa

RESUMO

A seção rifte das bacias sedimentares brasileiras representa o registro

associado à fragmentação do Gondwana e consequente separação entre a América

do Sul e a África, com a abertura do Oceano Atlântico Sul, gerando os mais

importantes sistemas petrolíferos do país. A Formação Maracangalha (Eocretáceo

ca. 140 Ma), faz parte da seção rifte da Bacia do Recôncavo.

Este estudo buscou, inicialmente, uma descrição das fácies turbidíticas e

lacustres do Membro Caruaçu, Formação Maracangalha, em testemunhos de dois

poços perfurados pela Petrobras no Campo de Fazenda Boa Esperança (Bacia do

Recôncavo), localizado a aproximadamente 100 km a norte da cidade de Salvador,

com o objetivo de agrupá-las em associações de fácies, a partir das estruturas e

litologias sedimentares presentes. Posteriormente, integradas as associações de

fácies e os dados petrofísicos de porosidade e de permeabilidade aos perfis de

radioatividade (GR), de potencial espontâneo (SP), de resistividade (ILD) e de

densidade (RHOB) dos poços testemunhados. Os padrões de correlação foram

utilizados em outros quatro poços não testemunhados para que fossem analisados

dados de perfis (logfácies) em intervalos com potencial para reservatório de

hidrocarbonetos. Foram também confeccionadas duas seções geológicas (strike e

dip) com o intuito de conhecer as extensões laterais das associações de fácies de

turbiditos com potencial para reservatório de hidrocarbonetos.

Com base nessas análises, concluiu-se que a associação de fácies turbidito

distal - F8 (Mutti et. al., 1999) - reúne as melhores condições permoporosas, além

de possuir boa extensão lateral e maior espessura dentre as outras associações de

fácies analisadas. Por isso, é considerada a de maior potencial para acumulação de

hidrocarbonetos, dentre as fácies turbidíticas estudadas.

Palavras-Chave : Membro Caruaçu, Fluxos gravitacionais de sedimento (Turbidito),

seção geológica, qualidade dos reservatórios.

ABSTRACT

The rift-type Brazilian basins represents the record of Gondwana´s break up

and subsequent split between Brazil and Africa, during the opening of the South

Atlantic Ocean, generating the most important petroleum systems of the country. The

Maracangalha Formation of the Early Cretaceous (ca.140 Ma) belongs to the rift

phase of the Reconcavo Basin, northeastern Brazil.

Cores of two wells drilled by Petrobras in the Fazenda Boa Esperança Field,

which is located approximately 100 km northern to Salvador were used, initially, to

describe the turbidites and lake facies of the Caruaçu Member of the Maracangalha

Formation, and, from the sedimentary structures present, cluster them into facies

associations. After that, the identified facies associations were correlated to porosity

and permeability data extracted from the radioactivity (GR), spontaneous potential

(SP), resistivity (ILD) and density (RHOB) wirelogs of these wells. The correlation

patterns obtained were used in four other wells that were not cored with the goal to

identify and extrapolate the potential reservoir intervals for hydrocarbons. Two

geological sections, a strike and a dip one, were prepared in order to know the lateral

extensions of turbidite facies associations with potential for hydrocarbon reservoir.

The data e the analysis show that the association of distal turbidite facies - F8

- keeps the best conditions of porosity and permeability, besides the good lateral

extent and thickest among the other facies associations discussed. Therefore, it is

considered the most potential for hydrocarbon accumulation, among the turbidite

facies.

Keywords : Caruaçu Member, sediment gravity flows (turbidites), geologic

section, quality of the reservoirs.

ÍNDICE DE FOTOS

Foto 1: Arenito maciço...............................................................................................42

Foto 2: Arenito maciço com marca de carga (na base) e presença de concreções

piritosas (topo)............................................................................................................42

Foto 3: Arenito maciço manchado de óleo................................................................42

Foto 4: Arenito com laminação convoluta..................................................................44

Foto 5: Arenito fluidizado com estrutura em prato.....................................................44

Foto 6: Arenito fluidizado preservando estratificação plano-paralela com falhas

normais e reversas.....................................................................................................44

Foto 7: Arenito com laminação convoluta na base preservando estratificação plano-

paralela no topo..........................................................................................................44

Foto 8: Arenito fluidizado com estratificação cruzada cavalgante unidirecional

(climbing ripples) e falhas normais.............................................................................44

Foto 9: Arenito com laminação convoluta e falhas normais....................................44

Foto 10 Arenito fluidizado com pseudo nódulo de areia...........................................45

Foto 11: Arenito Fluidizado com intraclastos de folhelho e concreções piritosas no

topo.............................................................................................................................45

Foto 12: Arenito fluidizado com intraclastos de folhelho orientados e fraturas

preenchidas por calcita...............................................................................................45

Foto 13: Arenito fluidizado com presença de lenho (madeira fóssil) na base..........45

Foto 14: Arenito fluidizado de granulometria grossa com óleo..................................45

Foto 15: Arenito com estratificação cruzada cavalgante unidirecional (climbing

ripples)........................................................................................................................46

Foto 16: Arenito com estratificação cruzada cavalgante unidirecional (climbing

ripples) e estratificação plano-paralela associada (topo)...........................................46

Foto 17: Arenito com estratificação plano-paralela com falhas normais e tapete de

tração.........................................................................................................................47

Foto 18: Feição típica de um ritimito. As camadas de areia estão pouco manchadas

de óleo.......................................................................................................................48

Foto 19: Estrutura em chama e carga nos Ritimitos..........................................48

Foto 20: Arenito intraclástico.....................................................................................49

Foto 21 : Arenito conglomerático com concreções piritosas......................................50

Foto 22 : Contato brusco do conglomerado com arenito maciço apresentando

estrutura plano-paralela pouco definida.....................................................................51

Foto 23: Conglomerado polimítico com seixo de quartzito verde..............................51

Foto 24: Conglomerado polimítico imerso em matriz arenítica grossa......................51

Foto 25: Conglomerado polimítico em matriz fina.....................................................51

Foto 26: Matacão de granito alcalino.........................................................................51

Foto 27 : Folhelho muito escuro e fraturado exibindo espelho de falha.....................52

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 : Localização do Campo Fazenda Boa Esperança. ..................................... 16

Figura 2 : Carta estratigráfica simplificada da Bacia do Recôncavo.. ........................ 17

Figura 3 : Mapa geológico esquemático com localização do Rifte Recôncavo-

Tucano-Jatobá, mostrando a distribuição das sequências: pré-, sin- e pós-rifte.. ..... 19

Figura 4 : Seção geológica esquemática da Bacia do Recôncavo.. .......................... 20

Figura 5 : Carta estratigráfica simplificada da Bacia do Recôncavo. ......................... 22

Figura 6 : Modelo deposicional para os sedimentos pré-rifte aluviais, fluviais, eólicos

e lacustres do Andar D. João, abrangendo as formações Afligidos, Aliança e Sergi...

.................................................................................................................................. 24

Figura 7 : Paleogeografia sin-rifte da Bacia do Recôncavo. ...................................... 25

Figura 8 : Paleogeografia durante a deposição da Formação Taquipe ..................... 27

Figura 9 : (a) Mapa tectônico simplificado da Bacia do Recôncavo com as principais

estruturas rúpteis associadas. (b) Seções geológicas mostrando a posição da borda

falhada da Bacia do Recôncavo. (c) Seção ao longo do strike da Falha de Salvador.

A Falha da Barra é o limite sul da Bacia do Recôncavo.. .......................................... 29

Figura 10 : Bloco diagrama esquemático de uma falha de alívio.. ............................ 30

Figura 11 : Divisão esquemática das partes constituintes de uma corrente de

turbidez mostrando as linhas de fluxo da corrente na cabeça e suas vizinhanças. .. 34

Figura 12 : Corrente turbidítica experimental em um condutor no Caltech.. .............. 35

Figura 13 : Evento de sedimentação episódica ligado à fluxos turbulentos.

Subdivisões da camada empregadas por Bouma (1962).. ........................................ 37

Figura 14 : Esquema de um depósito turbidítico em domínio profundo, com indicação

dos níveis da sequência de Bouma que se depositam em cada zona. ..................... 37

Figura 15 : Arcabouço genético de fácies.. ............................................................... 40

Figura 16 : Figura ilustrando as associações das fácies com base na granulometria e

estruturas e suas respectivas porcentagens em ocorrência nos testemunhos

analisados. ................................................................................................................ 53

Figura 17 : Intervalo exemplificando a associação de fácies turbidito proximal com

fácies arenito intraclástico e arenito maciço contendo indícios de HC.. .................... 55

Figura 18 : Intervalo exemplificando a associação de fácies turbidito proximal com

fácie arenito maciço contendo fortes indícios de HC. Destacado em vermelho um

matacão de rocha metamórfica do embasamento cristalino.. ................................... 55

Figura 19: Imagem do Anasete mostrando associação de fácies turbidito distal

contendo, predominantemente, a fácies arenito maciço com fortes indícios de HC.. 57

Figura 20 : Imagem do Anasete com dois intervalos (a; b) exemplificando a

associação de fácies turbidito distal com predominância de sedimentos de

granulometria areia muito fina a argila relacionadas, principalmente, às fácies F8 e

F9 de Mutti et. al. (1999). .......................................................................................... 57

Figura 21 : Imagem do Anasete mostrando associação de fácies Lacustre contendo,

predominantemente, folhelho.. .................................................................................. 58

Figura 22 : Ambiente de canhão sublacustre formado na borda de falha normal de

alívio caracterizando rampa de revezamento e associado à depósitos de fluxos

gravitacionais de sedimento. ..................................................................................... 59

Figura 23 : Desenho esquemático dividindo as três associações de fácies (turbidito

proximal, turbidito distal e lacustre) com suas respectivas contribuições sedimentares

em cada um dos seis ambientes deposicionais interpretados................................... 60

Figura 24 : Imagem do Anasete com as principais fácies e a associação de fácies do

ambiente deposicional de borda de falha. ................................................................. 62

Figura 25 : Imagem do Anasete com as principais fácies e a associação de fácies do

ambiente deposicional de canais sublacustre/ Lobo Turbidítico Proximal. ................ 63

Figura 26 : Imagem do Anasete com as principais fácies e a associação de fácies do

ambiente deposicional de Lobo Turbidítico Distal. .................................................... 64

Figura 27 : Imagem do Anasete com as principais fácies e a associação de fácies do

ambiente deposicional de Lobo Turbidítico Distal/ Lacustre. .................................... 65

Figura 28 : Mapa de localização dos poços............................................................... 67

Figura 29 : Seção geológica aproximadamente na direção da falha de Araçás (seção

strike) relacionando as fácies descritas nos poços 1 e 2 e suas respectivas respostas

em perfis de gama-ray (poço 2) e potencial espontâneo (poço 1) e a interpretação da

continuidade lateral dos corpos arenosos com potencial para reservatório de

hidrocarbonetos.. ....................................................................................................... 68

Figura 30 : Seção geológica aproximadamente na direção perpendicular à Falha de

Araçás (seção dip) relacionando as fácies descritas no poço 2 e suas respectivas

respostas em perfis de gama-ray, além da interpretação quanto à continuidade

lateral dos corpos arenosos com potencial para reservatório de hidrocarbonetos.. .. 68

Figura 31 : (a) intervalos identificados nas seções geológicas strike e dip do poço 2 .

(b), (c) e (d) intervalos 1, 2 e 3, descritos no programa Anaset, de propriedade da

Petrobras, do poço 2 nas duas seções.. ................................................................... 71

Figura 32 : Imagem amplificada da parte em destaque (retângulo vermelho) da figura

30 (Seção strike).. ..................................................................................................... 73

Figura 33 : Imagem amplificada da parte em destaque (retângulo vermelho) da figura

31 (Seção dip).. ......................................................................................................... 73

Figura 34 : Valores quantitativos de porosidade (%) e permeabilidade (mD) obtidos

em análises petrográficas de plugues dos testemunhos dos poços 1 e 2. ................ 75

ÍNDICE DE TABELA

Tabela 1: Resumo das características de cada associação de fácies com potencial

para reservatório descritas nos poços 1 e 2 da figura 19.. ........................................ 69

SUMÁRIO

SUMÁRIO ................................................................................................................. 14

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 16

2. GEOLOGIA REGIONAL .............................. ......................................................... 19

2.1. A BACIA DO RECÔNCAVO ............................................................................... 19

2.2. O EMBASAMENTO DA BACIA .......................................................................... 20

2.3. EVOLUÇÃO TECTONO-SEDIMENTAR ............................................................ 21

2.3.1. SUPERSEQUÊNCIA PALEOZÓICA ............................................................... 22

2.3.2. SUPERSEQUÊNCIA PRÉ-RIFTE ................................................................... 23

2.3.3. SUPERSEQUÊNCIA RIFTE ............................................................................ 24

2.3.4. SUPERSEQUÊNCIA PÓS-RIFTE ................................................................... 27

2.4. ARCABOUÇO ESTRUTURAL ........................................................................... 28

3. METODOLOGIA DE TRABALHO E ESTUDO .............. ...................................... 31

4. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA. ......................... .................................................. 33

5. FÁCIES SEDIMENTARES. .......................... ........................................................ 41

5.1. ARENITOS MACIÇOS (AR-MA) ........................................................................ 41

5.2. ARENITOS FLUIDIZADOS (AR-FD) .................................................................. 43

5.3. ARENITOS COM LAMINAÇÃO CRUZADA CAVALGANTE UNIDIRECIONAL (AR-RP). .................................................................................................................... 46

5.4. ARENITOS COM ESTRATIFICAÇÃO PLANO-PARALELA (AR-PP) ................. 47

5.5. RITIMITOS (RT-PP) ........................................................................................... 47

5.6. ARENITOS COM INTRACLASTOS (AR-IC) ...................................................... 48

5.7. ARENITOS CONGLOMERÁTICOS (ARC-MA) .................................................. 49

5.8. CONGLOMERADOS (CG) ................................................................................. 50

5.9. LAMITOS (LM) ................................................................................................... 52

7. ASSOCIAÇÃO DE FÁCIES. .......................... ....................................................... 53

7.1. TURBIDITO PROXIMAL. .................................................................................... 54

7.2. TURBIDITO DISTAL........................................................................................... 56

7.3. LACUSTRE. ....................................................................................................... 58

8. MODELO DEPOSICIONAL. ........................... ...................................................... 59

8.1. AMBIENTE 1 (FIGURA 23) - BORDA DE FALHA .............................................. 61

8.2. AMBIENTE 2 (FIGURA 23) – CANAIS SUBLACUSTRE/ LOBO TURBIDÍTICO PROXIMAL ................................................................................................................ 62

8.3. AMBIENTE 3 (FIGURA 23) – LOBO TURBIDÍTICO DISTAL ............................. 64

8.4. AMBIENTE 4 (FIGURA 23) – LOBO TURBIDÍTICO DISTAL/LACUSTRE ......... 65

8.5. AMBIENTE 5 (FIGURA 23) – LACUSTRE ......................................................... 66

9. CORRELAÇÃO ROCHA X PERFIL E QUALIDADE DO RESERV ATÓRIO. ...... 67

9.1. TURBIDITO DISTAL........................................................................................... 69

9.2. TURBIDITO PROXIMAL ..................................................................................... 70

9.3. QUALIDADE DOS RESERVATÓRIOS .............................................................. 74

10. CONCLUSÕES .................................................................................................. 76

11. REFERÊNCIAS. .................................................................................................. 78

16

1. INTRODUÇÃO

Esta monografia é resultado da análise faciológica sedimentar, sistemática,

de 273 metros de testemunhos de dois poços perfurados pela Petrobras no Campo

Fazenda Boa Esperança (Bacia do Recôncavo), localizado a aproximadamente

100km a norte da cidade de Salvador (Figura 1). Os dois poços distam,

aproximadamente, 2km um do outro e estão alinhados na direção NNE-SSW.

Figura 1: Localização do Campo Fazenda Boa Esperança (em destaque), no contexto da Bacia do Recôncavo.

17

A Bacia do Recôncavo representa o ramo abortado do sistema de riftes do

Atlântico Sul, evoluído durante o Mesozóico e que resultou no quebramento do

supercontinente Gondwana. Esta bacia já produziu mais de 230 milhões de metros

cúbicos de óleo equivalente e se espera produzir mais 250 milhões de metros

cúbicos. Hoje se produz 50.000 bbl/dia, o que é aproximadamente 1/3 do seu pico

produtivo, que ocorreu no início da década de 70. Tendo em vista a tendência

mundial de crescimento do preço do barril de petróleo e a adoção de diversos

métodos auxiliares para uma melhor recuperação de óleo em poços de campos

maduros (caso de vários campos da Bacia do Recôncavo), pode-se concluir que a

Bacia do Recôncavo não tem somente uma grande importância econômica como,

também, uma importância estratégica para o país.

A seção estratigráfica estudada nos testemunhos corresponde à Formação

Maracangalha, um sistema lacustre com fluxos gravitacionais associados

depositados durante o Valangiliano, Andar Estratigráfico Rio da Serra superior, Zona

004.2 (Figura 2).

Figura 2: Carta estratigráfica simplificada da Bacia do Recôncavo. Silva et. al. (2007).

18

Os arenitos que ocorrem nela são subdivididos nos membros Caruaçu e

Pitanga. A deposição desses arenitos é resultante de fluxos gravitacionais de massa

e sedimentos, associados à movimentação tectônica na bacia e de variações

climáticas que condicionaram subidas e descidas do lago profundo “Maracangalha”

e variações de regimes de fluxo.

Os arenitos dos Membros Pitanga e Caruaçu são importantes produtores de

gás na Bacia do Recôncavo. Apesar de formarem pacotes com espessuras

consideráveis, tais corpos arenosos são de difícil correlação lateral, com baixa

continuidade faciológica lateral e vertical dos depósitos. Devido a isso, a produção

de hidrocarbonetos é muito complexa.

Caixeta (1988) concluiu que o Membro Pitanga é representado por arenitos

mais argilosos, que foram depositados por fluxos de detritos, enquanto o Membro

Caruaçu é representado pelos arenitos mais limpos, provenientes de frentes

deltaicas, deslizamentos (slides), escorregamentos (slumps), turbiditos canalizados

ou turbiditos em lobos.

Este trabalho teve como objetivo descrever e interpretar as litofácies

encontradas nos testemunhos dos dois poços e correlacioná-las estratigraficamente.

Além disto, a correlação litofácies x logfácies (gamma-ray, resistividade e

densidade), foi utilizada como parâmetro de assinatura em perfil para rastreamento

de possíveis litofácies presentes em poços não testemunhados e para obter

respostas sobre a existência ou não de continuidade lateral entre os corpos

arenosos, avaliando-os assim quanto ao seu potencial como reservatórios.

19

2. GEOLOGIA REGIONAL

2.1. A Bacia do Recôncavo

A Bacia do Recôncavo é parte do sistema de riftes Recôncavo-Tucano-Jatobá

(Figura 3), e ocupa uma área de aproximadamente 45.000 km², na região nordeste

do Brasil. Este sistema de riftes representa ao ramo abortado do rifte-drifte Atlântico

Sul. A Bacia do Recôncavo tem área de cerca de 11.500 km², sendo os seus limites

definidos pelo Alto de Aporá, a norte e noroeste, pelo sistema de falhas da Barra, a

sul, Maragogipe, a norte-noroeste, e de Salvador (falha de borda) a sul-sudeste

(Milhomem et al., 2003).

Figura 3: Mapa geológico esquemático com localização do Rifte Recôncavo-Tucano-Jatobá,

mostrando a distribuição das sequências: pré-, sin- e pós-rifte. (Magnavita, 1992).

20

A Bacia do Recôncavo pode ser definida, morfológicamente, como sendo um

meio gráben assimétrico, alongado na direção NE-SW, com depocentro localizado a

leste, próximo ao sistema de falhas de Salvador (Figura 4). A Bacia foi preenchida

por sedimentos do Jurássico e do Cretáceo inferior, sendo que as camadas

sedimentares mostram mergulho geral para SE. Esta bacia encontra-se alinhada de

acordo com as descontinuidades litoestruturais pré-brasilianas do Cráton do São

Francisco (Sapucaia et al., 2003).

Figura 4: Seção geológica esquemática da Bacia do Recôncavo; observe que a cunha de

sedimentos que preenche a bacia aumenta de espessura para leste, próximo a Falha de Salvador, em função do grande deslocamento do embasamento na borda falhada da bacia. Retirado de

Milhomem (2003).

2.2. O Embasamento da Bacia

O embasamento cristalino da Bacia do Recôncavo é representado,

predominantemente, por gnaisses granulíticos arqueanos pertencentes ao Bloco

Serrinha, a oeste e norte; aos cinturões Itabuna-Salvador-Curaçá, a oeste-sudoeste;

e Salvador-Esplanada, a leste-nordeste, além das rochas sedimentares siliciclásticas

e carbonáticas da Formação Estância (Silva et al., 2007).

O Bloco Serrinha, morfologicamente, se apresenta como uma estrutura oval,

com área aproximada de 21000 km², com idades de rochas entre 3,1 a 2,8 Ga

(Barbosa & Sabaté, 2003). É composto por ortognaisses migmatizados arqueanos,

seqüências vulcanossedimentares da fácies xisto verde (Greenstone Belts do Rio

Itapicuru e do Capim) intrudidas por numerosos corpos de granitos

Paleoproterozóicos, com assinatura geoquímica calcio-alcalina normal,

peraluminosa a metaluminosa, até alcalina, passando por tipos shoshoníticos (Rios,

2002 apud Barbosa et al., 2003).

21

O Bloco Itabuna-Salvador-Curaçá é composto por grupos de

tonalitos/trondhjemitos/granodioritos arqueanos (idades próximas a 2,6 Ga) e

paleoproterozóicos (idade em torno de 2,1 Ga) (Barbosa & Peucat, 2003 apud

Barbosa & Sabaté, 2003), ocorrendo, subordinadamente, charnokitos com

intercalações de rochas supracrustais, metassedimentares e metavulcânicas de

fontes mantélicas (Teixeira, 1997 apud Barbosa & Sabaté, 2003). Todas estas

rochas foram reequilibradas na fácies granulito, no Paleoproterozóico.

O Cinturão Salvador-Esplanada é constituído por duas faixas litotectônicas. A

faixa ocidental (granulítica) compreende ortognaisses charnoenderbíticos a

charnockíticos, biotita gnaisses migmatizados, lentes de metanorito e rochas

supracrustais. A faixa oriental consiste em uma associação ortognáissica migmatítica

de fácies anfibolito alto, bimodal, com termos félsicos tonalíticos-granodioríticos e

máficos representados por gabros anfbolitizados (Bizzi et al., 2003).

A Formação Estância consiste numa sucessão não-deformada de

conglomerados, arenitos, folhelhos e carbonatos do Neoproterozóico-Cambriano,

exposta na porção sudoeste da bacia.

2.3. Evolução Tectono-Sedimentar

A Bacia do Recôncavo foi originada da mesma maneira que as demais bacias

meso-cenozóicas da margem continental brasileira, ou seja, pelo processo de

estiramento crustal que culminou com a fragmentação do Gondwana e deu origem

aos continentes Sul-Americano e Africano. No final do Cretáceo Inferior (Andar

Alagoas), o ramo oeste do rifte foi abandonado, congelando esta fossa em uma fase

anterior à ruptura total da crosta e consequentemente, não houve oceanização

(fases SAG e drifte) (Santos & Braga, 1990).

A sucessão estratigráfica do Rifte do Recôncavo inclui estratos com idades

desde o Paleozóico até o Cenozóico (Figura 5). Os pacotes de idade paleozóica são

registros de uma bacia marinha rasa, intracratônica, de idade permiana. A fase sin-

rifte aconteceu desde o Neojurássico/Eocretáceo, prolongando-se até o Aptiano. A

espessura sedimentar total acumulada durante esta fase excede os 6 km no

depocentro principal da Bacia do Recôncavo, o Baixo de Camaçari-Miranga

(Magnavita et al., 2005).

22

Figura 5: Carta estratigráfica simplificada da Bacia do Recôncavo (Silva et. al., 1994).

2.3.1. Supersequência Paleozóica

Segundo Aguiar & Mato (1990), a Formação Afligidos (Membros Cazumba e

Pedrão) representa o registro sedimentar do Paleozóico da bacia. A Formação

Afligidos é constituída por arenitos sobrepostos por folhelhos vermelhos. A unidade

é considerada como sendo do Permiano (Kunguriano) e há uma possibilidade de

idade Triássica para sua porção superior (Membro Cazumba). Esta formação foi

depositada sob paleoclima árido e em contexto de bacia intracratônica.

As associações faciológicas, que caracterizam estas unidades, sugerem uma

tendência geral regressiva, com transição de uma sedimentação marinha rasa,

marginal, a bacias evaporíticas isoladas, ambientes de sabkha continental e, por fim,

sistemas lacustres (Aguiar e Mato, 1990). Arenitos com feições de retrabalhamento

por onda, laminitos algais e evaporitos, principalmente anidrita, caracterizam o

23

Membro Pedrão. No Membro Cazumba, predominam pelitos e lamitos vermelhos

lacustres, com nódulos de anidrita na base da seção (Silva et al., 2007).

2.3.2. Supersequência Pré-Rifte

A supersequência pré-rifte tem a deposição dos seus sedimentos relacionada

a um prolongado estágio de subsidência que propiciou o desenvolvimento de uma

bacia continental do tipo intracratônica (Santos & Braga, 1990). Segundo Silva

(2007), este prolongado estágio de subsidência ocorreu em resposta aos esforços

distensionais que originaram o sistema de riftes no Eocretáceo. Nesta bacia

intracratônica ocorreu a deposição, da base para o topo, das Formações Aliança,

Sergi, Itaparica e Água Grande (Figura 6).

A Formação Aliança é sobreposta à Formação Afligidos, através de

discordância regional, subdividindo-se nos membros Boipeba e Capianga. O

Membro Boipeba consiste de arenitos esverdeados a avermelhados, finos, com

seleção regular e estratificação cruzada de médio a grande porte. O Membro

Capianga constitui-se de folhelhos avermelhados, com raras intercalações de

arenitos vermelhos, claros e finos. Segundo Magnavita et al. (2005), o Membro

Boipeba representa depósitos de um sistema fluvio-eólico, enquanto as rochas

sedimentares do Membro Capianga foram depositados em ambiente lacustre.

A Formação Sergi é sobreposta à Formação Aliança, sendo composta por

arenitos finos a conglomeráticos, cinza-esverdeados a vermelhos, com estratificação

cruzada acanalada (Viana et al., 1971 apud Caixeta et al., 1994). Estas rochas foram

depositadas por sistema fluviais entrelaçados, com posterior retrabalhamento eólico

(Caixeta et al., 1994).

A Formação Itaparica apresenta-se sobreposta concordantemente à

Formação Sergi e discordantemente sotoposta à Formação Água Grande, sendo

composta por folhelhos marrons a cinza-oliva, provenientes de ambiente lacustre

(Silva, 1978 apud Caixeta et al., 1994).

A Formação Água Grande é sobreposta discordantemente à Formação

Itaparica, consistindo de arenitos finos a grossos, cinza-claros a esverdeados, com

estratificações cruzadas acanaladas de médio e grande porte (Silva, 1978 apud

Caixeta et. al., 1994). Esta formação foi depositada em ambiente fluvial, com

24

retrabalhamento eólico (Barroso & Rivas, 1984; Casanova e Guimarães, 1985;

Durães, 1989 apud Caixeta et al., 1994).

Figura 6: Modelo deposicional para os sedimentos pré-rifte aluviais, fluviais, eólicos e lacustres do

Andar D. João, abrangendo as formações Afligidos, Aliança e Sergi. Modificado de Medeiros & Ponte (1981).

2.3.3. Supersequência Rifte

O limite entre os estágios pré-rifte e rifte tem sido objeto de discussão entre

muitos autores. No trabalho ora apresentado, o limite entre estes estágios é o

sugerido por Caixeta et al. (1994) e Magnavita (19996), que relacionam o início do

rifteamento ao evento de transgressão regional que sobrepõe os pelitos lacustres do

Membro Tauá às fácies eólicas presentes no topo da Formação Água Grande. Esta

transgressão é relacionada a uma variação climática, associada a um incremento

nas taxas de subsidência da bacia devido ao estiramento crustal regional. O modelo

adotado define o limite entre as fases pré-rifte e rifte como sendo a base do Membro

Tauá.

As rochas desta fase estão posicionadas do Andar Rio da Serra Inferior ao

Andar Jiquiá (Berriasiano Inferior ao Aptiano Inferior), sendo esta representada, da

base para o topo, pelas formações Candeias, Maracangalha, Salvador, Marfim,

Pojuca, Taquipe e São Sebastião(Figura 7).

25

Figura 7: Paleogeografia sin-rifte da Bacia do Recôncavo (Medeiros & Ponte, 1981 apud Magnavita

et al., 2005). A Formação Candeias é subdividida em membros Tauá e Gomo. O Membro

Tauá faz, em sua base, contato com a Formação Água Grande, sendo composto por

folhelhos escuros, físseis, com partição acicular (Caixeta et al., 1994). O Membro

Gomo, é composto por folhelhos cinza-esverdeados (cerca de 75%), com

intercalações de arenitos (maciços ou estratificados, calcários e conglomerados

(Bruhn, 1985). Estas rochas foram depositadas em ambiente lacustre, num contexto

tectônico de altas taxas de subsidência e forte aporte sedimentar (Caixeta et al.,

1994, Bruhn, 1985).

A Formação Maracangalha é composta por folhelhos lacustres, cinza-

esverdeados a cinza-escuros, dentro dos quais ocorrem corpos de arenitos finos,

argilosos e maciços (Membro Pitanga) e camadas lenticulares de arenitos finos a

médios, com estratificações plano-paralelas e cruzadas tangenciais (Membro

Caruaçu). Estes dois membros estão relacionados a fluxos gravitacionais de

sedimentos provenientes da ressedimentação de sequências deltáicas (Caixeta et

al., 1994).

A Formação Salvador é composta por uma cunha de sedimentos terrígenos

conglomeráticos a arenosos grossos, os quais se restringem à borda leste da Bacia

(Bruhn, 1985). Ocorrem, predominantemente, conglomerados com seixos de

granulito, migmatito e de rochas meta-sedimentares, que são derivados do bloco alto

da falha de borda (Falha de Salvador) (Magnavita et al., 2005). Os arenitos que

26

ocorrem associados à Formação Salvador, foram denominados de Membro

Sesmaria.

A Formação Marfim é composta por arenitos muito limpos (pouco argilosos),

finos a médios, bem selecionados, cinza-claros, com camadas intercaladas de

folhelhos cinza-esverdeados (Viana et al.,1971 apud Caixeta et al., 1994). Sua

gênese é relacionada à sedimentação de fácies deltáicas que progradaram na bacia

sob condições de relativa quiescência tectônica (Milhomem et al., 2003).

A Formação Pojuca é composta por uma intercalação de arenitos cinza,

muito finos a médios, folhelhos cinza-esverdeados, siltitos cinza-claros, e calcários

castanhos (Viana et al., 1971) apud Caixeta et al., 1994). Sua origem é relacionada

a um ambiente deltaico (Caixeta et al., 1994).

A Formação Taquipe é constituída por folhelhos cinza, com estratificação

plano-paralela e lentes de arenitos muito finos maciços Caixeta et al. (1994). Estes

arenitos são finos a médios, bem selecionados, podendo ser maciços ou apresentar

laminações cruzadas (Magnavita et al., 2005). São interpretados como depósitos de

fluxos de detritos que foram remobilizados a partir de frentes deltaicas. Esta

formação representa o preenchimento de um canyon (Figura 8), desenvolvido

durante queda do nível de base regional (Magnavita et al., 2005).

A Formação São Sebastião é constituída por arenitos grossos, amarelo-

esverdeados, com intercalações de material argiloso, depositados por sistemas

fluviais (Bruhn, 1985 e Caixeta et al., 1994).

27

Figura 8: Paleogeografia durante a deposição da Formação Taquipe (Figueiredo et al., 1994 apud

Magnavita et al., 2005).

2.3.4. Supersequência Pós-Rifte

Segundo Caixeta et al. (1994), a fase pós-rifte ocorreu do Aptiano ao Albiano

inferior (112 Ma) e é representada pela Formação Marizal. Esta formação é

composta por arenitos grossos e conglomeráticos, depositados, discordantemente,

sobre as outras formações mesozóicas Bruhn (1985).

No Eomioceno, ocorreu a deposição dos folhelhos e calcários ricos em

foraminíferos da Formação Sabiá (restritos à porção leste da Bacia do Recôncavo).

Sobrepostos a estes, ocorrem arenitos continentais do Grupo Barreiras, depositados

no Plioceno-Pleistoceno, constituindo camadas com menos de 100m de espessura

(Petri, 1972 apud Magnavita et al., 2005).

No Quaternário, a sedimentação, basicamente, se restringe aos depósitos

litorâneos no Recôncavo meridional e por sedimentos aluviais presentes ao longo

dos principais cursos d’água da região.

28

2.4. Arcabouço Estrutural

Segundo Milhomen et al. (2003), a configuração estrutural da Bacia do

Recôncavo é definida principalmente por falhamentos normais, com direção

preferencial N30°E, que condicionam o mergulho regi onal das camadas para SE, em

direção das áreas mais subsidentes (Figura 9). Ocorrem diversos blocos falhados,

com geometria de meio-graben, seccionados em compartimentos

perpendicularmente a estas falhas normais devido à existência de feições

transversais identificadas como falhas de transferência/alívio/acomodação

(Magnavita et al., 2005).

O trend geral NE-SW dos blocos que constituem a Bacia do Recôncavo é

interrompido por uma zona de falha transversal (falha de transferência) orientada na

direção NW-SE, a Falha de Mata-Catu. Esta zona de falha controla o principal trend

de petróleo da bacia (campos de Miranga, Candeias e Brejinhos). Destro et al.

(2003) interpretou esta zona como constituída por duas falhas de alívio, que foram

geradas para compensar a variação do rejeito ao longo das falhas de Salvador (falha

de borda do Recôncavo) e de Tombador (limite leste do Alto de Aporá) (Figura 10).

29

Figura 9: (a) Mapa tectônico simplificado da Bacia do Recôncavo com as principais estruturas rúpteis

associadas. A porção sul da Falha de Mata-Catu e a Falha de Itanagra Araçás conectam-se com a Falha de Salvador, enquanto que a porção norte da Falha de Mata-Catu conecta-se com a Falha de

Tombador. (b) Seções geológicas mostrando a posição da borda falhada da Bacia do Recôncavo. (c) Seção ao longo do strike da Falha de Salvador. A Falha da Barra é o limite sul da Bacia do

Recôncavo. Modificado de Destro et al. (2003).

As principais falhas que ocorrem na Bacia do Recôncavo são: Falha de

Maragogipe, (N10°, oeste da bacia), Sistema de Falh as de Salvador (N30°, borda

leste da bacia); e as falhas de transferências; conhecidas também como, que

suportaram diferentes taxas de estiramento crustal durante o desenvolvimento da

bacia, sendo elas: Falha de Mata-Catu (N140°, centr o da bacia); e por fim, Falha de

Falha Normal

Rochas Pré-Cambrianas

Sedimentos Pré-Rifte

30

Itanagra-Araçás (N150°, nordeste da bacia), sendo a s duas últimas consideradas

como sendo zonas de acomodação longitudinais (relay zones) ou falhas de

transferência/alívio/acomodação (Figura 10).

Figura 10: Bloco diagrama esquemático de uma falha de alívio. Modificado de Destro et al. (2003).

Plano de Falha

Plano de Falha

Fratura de Alívio

Falha de Alívio

Falha Normal

DIREÇÃO DE EXTENSÃO

31

3. METODOLOGIA DE TRABALHO E ESTUDO

O trabalho de estudo faciológico consistiu da análise de testemunhos e perfis

de dois poços do Campo de Fazenda Boa Esperança (FBE), perfurados pela

Petrobrás no ano de 1970. Os testemunhos analisados somam um total de 273

metros que amostram o Membro Caruaçu, da Formação Maracangalha. Estes

testemunhos foram descritos de acordo com o padrão da Petrobras em relação às

suas texturas, estruturas, cor, fácies, associação de fácies, ambiente deposicional,

percentagem de hidrocarbonetos e de cimentação (calcita e/ou dolomita). Para os

pacotes arenosos portadores de óleo, o percentual de hidrocarbonetos foi estimado

com base na fluorecência à lâmpada ultra-violeta e no corte do óleo ao fluido de

isqueiro. Para a descrição dos testemunhos, montagem das seções geológicas e

interpretação das diferentes associações de fácies foi utilizado o programa AnaSete,

da Petrobras. As associações de fácies representam características estruturais e

genéticas semelhantes de cada fácie, onde cada associação, em sua

particularidade, representa o processo de sedimentação, seja este formado por

fluxos gravitacionais de massa (slide ou slump), de sedimento (hiperpicnito) ou por

sedimentação lacustre. Todo o trabalho de interpretação da faciologia foi registrado

no arquivo do programa Análise Seqüencial de Testemunhos (AnaSeTe).

Foram feitos registros fotográficos de todo o intervalo testemunhado e

também fotografias de detalhe de estruturas/texturas/fácies de partes específicas,

visando uma melhor caracterização e visualização das feições mais representativas

dos ambientes deposicionais e deformacionais associados aos reservatórios do

Membro Caruaçu.

O passo seguinte compreendeu a análise de perfis para a integração rocha-

perfil. Perfis de potencial espontâneo (SP), gama-ray (GR), densidade (RHOB),

caliper (CAL), resistividade (RLLD e ILD) e dados petrofísicos de porosidade (PHI) e

permeabilidade (K), foram utilizados para se eliminar divergências e incoerências

que poderiam existir entre a profundidade descrita nos testemunhos e a

profundidade, mais precisa, obtida através da perfilagem.

De posse da caracterização faciológica e das respectivas respostas em perfis,

procedeu-se à correlação entre os dois poços, através da construção de seções

geológicas no ambiente do programa Sistema de Geologia e Geofísica (SIGEO),

desenvolvido pela Petrobras.

32

Esta metodologia visou compreender a distribuição dos corpos arenosos e

reconhecer suas correspondentes associações de fácies nos perfis rádio-elétricos e

densidade, correlacionando-os aos mecanismos e processos de sedimentação que

lhes deram origem, na tentativa de predizer a qualidade dos reservatórios arenosos

portadores de hidrocarbonetos do Membro Caruaçu, da Formação Maracangalha.

33

4. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.

Os dois testemunhos do Campo Fazenda Boa Esperança, pertencentes ao

Membro Caruaçu, Formação Maracangalha, indicam uma sedimentação por fluxos

gravitacionais subaquosos de massa (Slide e Slump) e de sedimentos (correntes de

turbidez e fluxo de detritos), intercalados por pacotes de sedimentos pelíticos de

origem lacustre. As fácies turbidíticas são as feições mais comumente encontradas

nestes testemunhos e são objetivos de estudo e de tema nesta monografia do

Trabalho Final de Graduação II (GEOA76).

As correntes turbidíticas contêm grãos de sedimentos que são sustentados

principalmente pela componente dirigida para cima da turbulência do fluido. “São

chamadas correntes de turbidez os fluxos mantidos por ação da gravidade sobre

partes com densidade ligeiramente diferentes de uma massa fluida” (Suguio, 1980).

As correntes de turbidez são fluxos gravitacionais subaquosos que ocorrem

episodicamente em intervalos médio de centenas de anos e carregam um grande

volume de sedimentos por longas distâncias dentro da bacia. Tanto o trecho

percorrido como a deposição dos sedimentos ocorrem em intervalos de tempo muito

curtos (minutos ou horas) (Della Fávera, 2001).

As correntes turbidíticas são correntes de densidade controladas por

fenômenos turbulentos que mantêm uma grande quantidade de sedimentos em

suspensão, caracterizando uma alta densidade do fluxo. A manutenção das

partículas em suspensão depende, principalmente, da presença de materiais finos

em suspensão, que constituem a matriz do meio, e as colisões entre elas. Essas

colisões entre as partículas em suspensão e as movimentações ascendentes do

fluido através do conjunto dessas partículas são dois fatores muito importantes para

a dispersão das mesmas (Alveirinho Dias, 2004).

Para Nelson e Kulm (1973, apud Suguio, 1980), as correntes de turbidez são

geradas em canyons submarinos e percorrem grandes distâncias confinadas em um

canal, começando a perder energia assim que o deixam e se aproximam das

porções distais do leque submarino espalhando-se lateralmente sobre o assoalho

subaquático e sobre o próprio leque.

As correntes turbidíticas ficam confinadas em canais e, assim que o deixam,

perdem rapidamente competência e depositam sedimentos em forma de deltas

subaquáticos nas bases de vertentes, rampas, ou nas partes proximais das planícies

34

abissais. Nestas regiões, normalmente, ocorre apenas sedimentação pelágica,

exceto quando há um fluxo turbidítico que carrega partículas mais grossas (areia)

(Alveirinho Dias, 2004).

As correntes de turbidez podem ser divididas em três partes distintas (Suguio,

1980): (1) cabeça, que é mais espessa e apresenta um comportamento hidráulico

erosivo (distinto das demais partes); (2) corpo, que apresenta uma espessura

uniforme; (3) cauda, que é mais diluída e bem menos espessa (Figura 11).

Figura 11: Divisão esquemática das partes constitui ntes de uma corrente de turbidez

mostrando as linhas de fluxo da corrente na cabeça e suas vizinhanças (Suguio, 1980).

Bell (1942) e Kuenen (1937 e 1950) apud Suguio (1980) demonstraram que

um depósito turbidítico é caracterizado por um contato brusco na base e uma

granodecrescência ascendente de grãos de areia, silte e argila em um espaço de

poucos centímetros.

Experimentações laboratoriais indicam que a densidade das correntes

turbidíticas varia de aproximadamente 1,00g/cm^3 a 1,58 g/cm^3. A partir dessa

variação pode-se dividir em correntes de baixa densidade (valores de densidade

inferiores a 1,1 g/cm^3), na qual são transportadas apenas partículas finas, e

correntes de alta densidade (valores de densidade acima de 1,1 g/cm^3), que

transportam grãos de areia. As correntes turbidíticas com valores de densidade da

ordem de 1,2 g/cm^3 podem ser catastróficas (Alveirinho Dias, 2004). A figura 12 é

um exemplo de experimentação laboratorial de uma corrente de turbidez em um

condutor de Caltech (Walker, 1984).

35

Figura 12 : Corrente turbidítica experimental em um condutor no Caltech. A profundidade da água é

de 28cm. Note a forma característica da cabeça da corrente e os redemoinhos atrás dela. Os sedimentos são lançados para fora do fluxo principal por esses redemoinhos. O fluxo principal é

aproximadamente apenas metade da altura da cabeça (apud Walker, 1984).

De acordo com o mesmo autor, “as correntes turbidíticas não se iniciam sem

haver qualquer mecanismo exógeno que faça com que grande quantidade de

sedimento entre em suspensão”. Estes fatores exógenos podem ser abalos

sísmicos, grandes temporais, deslizamentos de terras, deposição sedimentar rápida

em vertentes inclinadas na sequência de cheias fluviais, etc. As correntes de

turbidez são frequentemente originadas a partir da instabilidade de grande

quantidade de sedimentos provenientes da plataforma que estão concentrados na

porção superior das vertentes. Nas zonas de maior declividade essas correntes

ganham um poder erosivo, incorporando material sedimentar, condição esta

necessária para a manutenção da corrente bem como a constituição do fluido.

As principais estruturas sedimentares encontradas nos turbiditos são (Suguio,

1980): (1) marcas basais (turboglifos, estrias, estruturas de sobrecarga, etc.); (2)

laminação convoluta, formada pela liquefação parcial da areia fina a muito fina; (3)

estratificação gradacional, que quase sempre se apresenta com uma diminuição da

granulometria rumo ao topo, porém o inverso pode ocorrer se a natureza da corrente

for de alta concentração; (4) laminação plano-paralela; (5) laminação cruzada de

marca ondulada, que resulta da combinação de tração (para formar marcas

onduladas) e rápida decantação de sedimentos em suspensão.

36

Como a corrente de turbidez é um fluxo subaquoso, a parte frontal está

constantemente incorporando água ao sistema e diluindo-se progressivamente,

acarretando uma perda de densidade, porém a fricção com o fundo e com a água

envolvente diminui a velocidade do fluxo. A densidade do fluxo e o gradiente do

terreno influenciam diretamente na velocidade da corrente e na distância percorrida.

Para que os últimos sedimentos da corrente se depositem na parte distal do

turbidito, a densidade deve se manter maior que a água do ambiente envolvente

(Alveirinho Dias, 2004).

Bouma (1962) esquematizou as principais fácies para a identificação dos

turbiditos, que ficou conhecida como sequência de Bouma (depositadas por

correntes de turbidez de baixa densidade). Essa sequência é dividida, da base para

o topo, nas seguintes fácies: (a) arenitos maciços com granulometria gradacional; (b)

arenitos com laminação paralela; (c) arenitos com microlaminação cruzada

cavalgante; (d) ritimitos siltosos e arenitos muito finos ou siltosos; (e) folhelhos da

sedimentação lacustre ou oceânica. O intervalo hemipelágico é formado por níveis

delgados de argila e ou carbonatos e são depositados nos períodos entre os pulsos

de correntes de turbidez (Figuras 13 e 14).

37

Figura 13: Evento de sedimentação episódica ligado à fluxos turbulentos. As letras a,b,c,d e e indicam as subdivisões da camada empregadas por Bou ma (1962). Modificado de Seilacher,

1982 apud Della Fávera (2001).

Figura 14 : Esquema de um depósito turbidítico em domínio profundo, com indicação dos níveis da sequência de Bouma que se depositam em cada zona (Alveirinho dias, 2004).

Cada sequência corresponde a um episódio diferente de sedimentação por

corrente turbidítica, normalmente sobrepondo-se umas às outras. Os leques

formados por depósitos de correntes turbidíticas estão, frequentemente, ligados a

canhões subaquáticos (canyons).

As correntes de turbidez são subdivididas em duas camadas que apresentam

densidade e comportamento distintos. A camada basal tem uma alta densidade e

comporta-se como um fluxo laminar, enquanto que a camada superior é mais diluída

Hemipelagito

10cm

TURBIDITO “CLÁSSICO” DA SEQUÊNCIA DE BOUMA (1962)

38

e, consequentemente, menos densa, apresentando um comportamento

exclusivamente turbulento (Mutti et al., 1999). Esses autores propõem uma divisão

em oito fácies sedimentares turbidíticas (F2 a F9) baseada na relação entre os

tamanhos dos grãos (subgrupos A, B, C e D) com estruturas sedimentares primárias.

As subdivisões com base na granulometria são compostas por quatro subgrupos: (A)

matacões a seixos pequenos, (B) seixos pequenos a areia grossa, (C) areia média a

areia fina, e (D) areia fina a lama. A ocorrência de uma sedimentação que exiba

desde a fácies mais proximal (F2) até a mais distal (F9) depende de uma alta

eficiência de um fluxo, que deve ser de grande volume e de longa duração (Figura

15).

A fácies F2 é representada por paraconglomerados de matriz areno-lamosa,

viscosa, que são praticamente fluxos de detritos. À medida que o fluxo vai

incorporando água do meio, diminui a viscosidade da matriz, ocorre escape dos

fluidos basais e os clastos maiores passam a depositar, resultando nos depósitos da

fácies F3, constituídos por ortoconglomerados com seixos imbricados. Com a

deposição destes sedimentos cascalhosos, o fluxo continua seu deslocamento

mergulho abaixo, transportando na camada basal a população de seixos e de areia

grossa, e no topo as populações de grãos mais finos, em suspensão turbulenta.

Se ocorrer escape total de fluidos da camada basal em movimento, será

desenvolvido um fluxo muito turbulento na camada superior. Com o crescimento do

atrito, seixos e grãos de areia grossa perdem a sustentação e decantam, sendo

cisalhados na interface entre o leito e o fluxo turbulento acima, resultando na

deposição de arenitos muito grossos, com seixos, apresentando laminação plano-

paralela e gradação inversa nas lâminas. Estes depósitos são característicos da

fácies F4.

Se o escape de fluidos for apenas parcial na camada basal, a camada

superior não desenvolverá turbulência acentuada e não conseguirá tracionar a

camada basal impregnada de fluidos e finos, gerando arenitos grossos, maciços ou

com estruturas de escape de fluidos, representativos da fácies F5. Populações de

mesmo tamanho de grão da fácies F5, mas que sofreram maior transporte corrente

abaixo, apresentam maior escape de fluidos e “limpeza” dos finos, podendo ser

retrabalhados pelo fluxo turbulento superior; gerando assim arenitos grossos a

39

médios com estratificação cruzada-acanalada ou laminação plano-paralela, típicos

da fácies F6.

Fluxo abaixo, já na região proximal dos lobos turbidíticos, onde ocorre tração

da carga grossa na camada basal e decantação de areia média a fina da suspensão

turbulenta superior, deposita-se a fácies F7, caracterizada por carpetes de tração

arenosos milimétricos, alternando lâminas de areia grossa com lâminas de areia

média a fina. Numa posição mais distal dos lobos, onde ocorre decantação (a altas

taxas) de grãos arenosos finos da suspensão turbulenta, praticamente sem tração,

depositam-se os arenitos da fácies F8, equivalentes ao intervalo Ta de Bouma. Na

posição mais distal do fluxo, nas franjas dos lobos, deposita-se a fácies F9, formada

durante os estágios tardios, depletivos e desacelerantes das correntes de turbidez.

Neste estágio, a areia fina é depositada por processos de tração e decantação

(apresentando laminação cruzada cavalgante), enquanto os grãos argilosos

depositam-se por decantação, constituindo seqüências Tb-e de Bouma, sem o

intervalo basal Ta.

40

Figura 15 : Arcabouço genético de fácies. Modificado de Mutti et al. (1999).

41

5. FÁCIES SEDIMENTARES.

As fácies deposicionais descritas nos testemunhos, estão associadas a fluxos

gravitacionais de sedimento (turbidito) e a rochas pelíticas da sedimentação lacustre

“Maracangalha”.

5.1. Arenitos Maciços (AR-ma)

São assim denominados os arenitos que têm aspecto maciço (Foto 1), em

geral de cor cinza esverdeado, granulometria de muito fina a média, raramente

grossa, constituídos por grãos subarredondados a subangulosos de quartzo,

moderadamente a bem selecionados, muitas vezes com intraclastos de folhelho,

alguns bastante cimentados por calcita e argilosidade alta. Foram observadas

variações da granulometria de forma contínua em um mesmo pacote, gerando

granodecrescência ascendente (fining upward) (Foto 2) como, também,

granocrescência ascendente (coarsening upward). Em alguns pacotes, esta

unidade apresenta fortes indícios de hidrocarbonetos (Foto 3) com fraca

fluorescência castanha amarelada e corte radial.

Normalmente, formam intervalos de camadas pouco espessas (em média de

30cm a 50cm) intercaladas com pacotes de lamitos (Lm) ou de arenitos fluidizados

(AR-fd). Por vezes, ocorrem intercalados com pacotes de arenito com estratificação

cruzada cavalgante unidirecional (AR-rp), no topo, e com arenitos conglomeráticos

(ARC-ma), na base. Atinge o valor de espessura máxima de 5,5m e mínima de 0,1m

e compõe cerca de 25% do total das litologias descritas.

42

Foto 1 : Arenito maciço. Foto 2 : Arenito maciço com marca de carga (na base) e

presença de concreções piritosas (topo).

Foto 3 : Arenito maciço manchado de óleo.

43

5.2. Arenitos Fluidizados (AR-fd)

São arenitos de cor cinza amarelado, formados por grãos de quartzo

subarredondados, moderadamente a bem selecionados, com granometria muito fina

a fina, raramente média, em alguns pacotes apresentando granodecrescência

ascendente (fining upward) ou o inverso, granocrescência ascendente (coarsening

upward). De maneira geral são bastante cimentados por calcita e bem argilosos.

Esta fácie é caracterizada por apresentar, principalmente, estruturas de

fluidização como laminações convolutas (Foto 4) e estruturas em prato (Foto 5).

Algumas estruturas sedimentares primárias como as estratificações plano-paralelas

(Foto 6 e 7), e estratificações cruzadas cavalgantes unidirecionais (climbing ripples)

(Foto 8) apresentam-se parcialmente preservadas. As estruturas sedimentares

secundárias são fraturas, falhas normal e reversa, normalmente preenchidas por

calcita (Fotos 6, 8 e 9), marcas de carga, estruturas em chama, pseudo nódulos de

areia (Foto 10), bioturbação (fraca a intensa), concreções piritosas (Foto 11) e

silicosas. Foram encontrados intraclastos de folhelho, por vezes orientados (Foto

12), carvão e lenho (Foto 13), além de bases erosionais.

Em geral, não apresentam boa continuidade vertical ocorrendo,

normalmente, intercalados com pacotes de lamitos (Lm) ou de arenito maciço e,

menos frequentemente, com arenitos intraclásticos (AR-ic). Têm espessura média

de 70cm a 90cm, atingindo um máximo de 4,5m e mínimo de 0,1m. Eventualmente,

apresentam indícios de hidrocarbonetos (Foto 14). Representam cerca de 15% do

total das litologias descritas.

44

Foto 4: Arenito com laminação convoluta.

Foto 5: Arenito fluidizado com estrutura em prato.

Foto 6: Arenito fluidizado preservando estratificação plano-paralela com falhas normais e reversas.

Foto 7: Arenito com laminação convoluta na base preservando estratificação plano-paralela no topo.

Foto 8: Arenito fluidizado com estratificação cruzada cavalgante unidirecional (climbing ripples) e falhas normais.

Foto 9 : Arenito com laminação convoluta e falhas normais.

45

Foto 1 0: Arenito fluidizado com pseudo nódulo de areia.

Foto 1 1: Arenito Fluidizado com intraclastos de folhelho e concreções piritosas no topo.

Foto 1 2: Arenito fluidizado com intraclastos de folhelho orientados e fraturas preenchidas por calcita.

Foto 1 3: Arenito fluidizado com presença de lenho (madeira fóssil) na base.

. Foto 1 4: Arenito fluidizado de granulometria grossa com óleo

46

5.3. Arenitos com Laminação Cruzada Cavalgante Uni direcional (AR-rp).

Esta fácie apresenta-se pouco freqüente nos testemunhos, representando

cerca de 3% do total de litologias descritas. É caracterizada por apresentar

estruturas sedimentares primárias de estratificação cruzada cavalgante unidirecional

(climbing ripples) bem marcadas (Foto 15). Associadas a essas estruturas, são

encontradas estratificações plano-paralelas (Foto 16). Apresenta granulometria

muito fina a fina, composta por grãos subarredondados a arredondados de quartzo,

bem selecionados, alta argilosidade e pouco cimentado por calcita. Sua cor é cinza

amarelado. Na maior parte das vezes esta fácie está sobreposta a pacotes de

arenitos maciços (AR-ma) e, um pouco menos freqüente, a pacotes de arenitos

fluidizados (AR-fd). Eventualmente, ocorre intercalada com arenitos intraclásticos

(AR-ic).

São encontradas estruturas sedimentares secundárias em chama, marca de

carga, pseudo nódulos, fraturas preenchidas por calcita e falhas normais. As

camadas são geralmente muito pouco espessas (~10cm) com valor máximo de

70cm e mínimo de 5cm.

Foto 1 5: Arenito com estratificação cruzada cavalgante unidirecional (climbing ripples).

Foto 1 6: Arenito com estratificação cruzada cavalgante unidirecional (climbing ripples) e estratificação plano-paralela associada (topo).

47

5.4. Arenitos com estratificação plano-paralela (AR -pp)

São caracterizados por exibirem, essencialmente, estrutura sedimentar

primária estratificada plano-paralela, podendo apresentar tapete de tração (Foto 18).

Também são encontradas estratificações cruzadas cavalgantes unidirecionais

(climbing ripples) bem marcadas, em pequenos domínios dessa unidade. Sua

espessura média é de 15cm atingindo um valor máximo de 40cm e mínimo de 5cm.

Normalmente são encontradas no topo de pacotes de arenitos maciços (AR-ma)

como também, menos frequentemente, no topo e na base de arenitos fluidizados

(AR-fd). Representam, aproximadamente, 5% do total das litologias descritas.

São pouco a moderadamente cimentados por calcita, bastante argilosos, de

cor cinza amarelado, constituídos por grãos de quartzo de granulometria muito fina a

fina, subarredondados e bem selecionados. Apresentam fraturas preenchidas por

calcita e falhas normais (Foto 17).

Foto 17 : Arenito com estratificação plano-paralela com falhas normais e tapete de tração.

5.5. Ritimitos (RT-pp)

São caracterizados pela alternância de camadas de arenitos muito finos e

folhelhos (Foto 18). Apresentam cor verde oliva claro. A camada de arenito é

composta por grãos subarredondados a subangulosos de quartzo, bem

selecionados, preservando estratificação primária plano-paralela bem marcada e,

menos frequentemente, estratificação cruzada cavalgante unidirecional (climbing

ripples). Em alguns casos, ocorre variação da granulometria em um mesmo pacote,

48

diminuindo o tamanho dos grãos em direção ao topo (fining upward). São muito

argilosos e pouco cimentados por calcita. Apresentam indícios de hidrocarbonetos

com fraca fluorescência castanha e sem corte (Foto 18).

Apresentam espessura máxima de 90cm e mínima de 10cm, ocorrendo

geralmente com uma espessura média de 30cm. Representam, aproximadamente,

8% do total das litologias descritas Em algumas porções são encontradas,

abundantemente, fraturas, falhas normais e reversas. São observadas feições de

bioturbação fraca, estruturas de fluidização em prato, concreções piritosas,

estruturas em chama (Foto 19) e marca de carga (Foto 19). Ocorrem normalmente

intercalados com lamitos (Lm) e arenitos fluidizados (AR-fd) e maciços (AR-ma).

Foto 1 8: Feição típica de um ritimito. As camadas de areia estão pouco manchadas de óleo.

Foto 19: Estrutura em chama (indicada pela seta vermelha) e carga (sobre a linha verde) nos Ritimitos.

5.6. Arenitos com Intraclastos (AR-ic)

São pacotes arenosos de cor cinza amarelado, de granulometria muito fina a

fina, constituído por grãos subarredondados a subangulosos de quartzo e

intraclastos de folhelho (Foto 20), moderadamente selecionados, cimentados por

calcita e muito argilosos. São encontradas feições de bioturbação. Representam

aproximadamente 3% do total de litologias descritas e ocorrem intercalados com as

49

demais litologias sem um padrão preferencial. Seus pacotes apresentam espessura

média de 20cm a 30cm, podendo variar de 15cm a 2m. Presença de indícios de

hidrocarbonetos, com fraca fluorescência castanho amarelada e corte radial, em

apenas um intervalo dessa fácie.

Foto 2 0: Arenito intraclástico.

5.7. Arenitos conglomeráticos (ARC-ma)

São assim denominados os arenitos de aspecto maciço contendo clastos de

quartzo leitoso, folhelho, feldspato e pirita (Foto 21) imersos em uma matriz

composta de grãos subarredondados a subangulosos de quartzo com granulometria

muito fina a média (na maioria das vezes a matriz é muito fina a fina), apresentando

um mal selecionamento dos grãos. Em um mesmo pacote ocorrem variações na

granulometria dos clastos em direção ao topo (fining upward). É argiloso e pouco

cimentado por calcita com presença de ostracóides. Representam,

aproximadamente, 5% do total de litologias descritas e suas camadas apresentam

uma espessura média de 15cm, chegando a medir no máximo 70cm e no mínimo

5cm. Estão mais frequentemente intercalados com conglomerados (CG).

50

Foto 2 1: Arenito conglomerático com concreções piritosas.

5.8. Conglomerados (CG)

Esta fácie é bastante expressiva em determinadas porções do testemunho,

porém, está ausente na maior parte do mesmo. Aparece intercalada com,

praticamente, todas as litologias descritas e também ocorre em ciclos que se

sobrepõem uns aos outros. Seu contato com as demais litologias é sempre brusco,

na base, e pode ser gradativo ou não no topo (Foto 22). Normalmente não apresenta

boa continuidade vertical e sua espessura é bastante variada (5cm a 70cm). Sua cor

é cinza amarelado. Constituída, principalmente, por blocos e seixos, raramente

matacões, de granito, gnaisse, rocha carbonática, quartzo róseo, quartzo leitoso,

quartizito verde (Foto 23), folhelho e arenito, imersos em uma matriz grossa a muito

grossa (Foto 24), eventualmente em matriz fina (Foto 25) com um mal

selecionamento dos grãos. Foi encontrado um matacão de granito alcalino com

40cm de espessura (Foto 26). Apresenta granocrescência ascendente como

também granodecrescência ascendente. É argilosa e bastante cimentada por calcita,

que também preenche as fraturas. Abrange cerca de 4% do total de litologias

descritas.

51

Foto 2 2: Contato brusco do conglomerado com arenito maciço apresentando estrutura plano-paralela pouco definida.

Foto 2 3: Conglomerado polimítico com seixo de quartzito verde.

Foto 2 4: Conglomerado polimítico imerso em matriz arenítica grossa.

Foto 2 5: Conglomerado polimítico em matriz fina.

Foto 2 6: Matacão de granito alcalino.

52

5.9. Lamitos (Lm)

Esta fácie é composta por sedimentos de granulometria argila a silte e

apresenta-se bastante frequente ao longo de todos os testemunhos descritos,

representando, aproximadamente, 32% do total das litologias dos mesmos. Possui

aspecto maciço a finamente laminado (Foto 27) e, por vezes, com feições de

deformação secundária rúptil, como faces estriadas e espelhadas (Foto 27), ou

deformação sin-sedimentar como injeções de areia e camadas rompidas. Aparece

intercalada com arenitos, em geral, e na base de conglomerados em camadas de

espessuras bastante variadas. A maior espessura dessa fácie mede 18m e a menor

10cm. Sua cor varia de verde escuro (folhelho) a verde acinzentado (siltito) e está

moderadamente a pouco cimentada por calcita.

Foto 27 : Folhelho muito escuro e fraturado exibindo espelho de falha.

53

7. ASSOCIAÇÃO DE FÁCIES.

Nesse estudo da Formação Maracangalha foram individualizadas três

associações de fácies: turbidito proximal, turbidito distal e lacustre. No total de

testemunhos avaliados observa-se um predomínio das associações de fácies de

turbidito distal (54%) e lacustre (36%). Os turbiditos proximais ocorrem em apenas

10% do total de testemunhos analisados (Figura 16).

• População de grãos com granulometria entre matacão e areia grossa.

• População de grãos com granulometria entre pequenos seixos e areia

grossa.

• População de grãos com granulometria entre areia média e fina.

• População de grãos com granulometria entre areia fina e argila.

Turbidito Proximal (CG, ARC-ma, AR-ic, AR-ma e AR-fd). Contem fácies F3 e F5 de Mutti et al. (1999)

Turbidito distal (ARC-ma, AR-ic, AR-ma, AR-fd, AR-pp). Contém fácies F5 e F7 de Mutti et al. (1999).

Lacustre (AR-ma, AR-fd, AR-pp, AR-rp, RT e Lm). Contém fácies F9 de Mutti et al. (1999).

Turbidito distal (AR-ma, AR-fd, AR-pp, AR-rp, RT-pp e Lm). Contém fácies F7, F8 e F9 de Mutti et al. (1999).

Figura 16: Figura ilustrando as associações das fácies com base na granulometria e estruturas e suas respectivas porcentagens em ocorrência nos testemunhos analisados.

10% 54% 36%

TAMANHO DOS GRÃOS

54

7.1. Turbidito Proximal.

As fácies conglomeráticas e arenosas que podem ser associadas à

sedimentos depositados por um fluxo turbulento de alta densidade em seus estágios

proximais de deposição são: CG, ARC-ma, AR-ic, AR-ma e AR-fd de granulometria

entre matacão e areia grossa (Figuras 17 e 18 ). Correspondem,

predominantemente, às fácies F3 e F5 de Mutti, et al. (1999) (Figura 15).

Representam 10% do total de associações de fácies dos testemunhos descritos

(Figura 16), sendo a menos representativa dentre as três associações de fácies.

Ocorrem, concentradamente, em algumas porções dos testemunhos e ausentes na

maior parte dos mesmos. Apresentam poucos indícios de hidrocarbonetos e pouca

continuidade vertical com valor médio de um metro e máximo de 15 metros

(pontualmente). São matacões e seixos subangulosos e polimíticos em matriz

formada por grãos de quartzo e de argila, além da presença de intraclastos de

folhelho. São comumente encontradas estruturas deformacionais sin-sedimentares,

como as estruturas geradas por escape de fluidos (laminação convoluta), e pós-

sedimentares, por deformações rúpteis na forma de falhas normais e fraturas. Bases

erosionais são muito frequentemente encontradas, pois essa associação de fácies é

geneticamente ligada a depósitos de correntes de turbidez de alta densidade e

energia, que podem erodir substratos anteriormente depositados sobre o leito

(canais) percorridos pelos fluxos turbidíticos. São bastante cimentadas por calcita.

55

Figura 17 : Intervalo exemplificando a associação de fácies turbidito proximal com fácies arenito intraclástico e arenito maciço contendo indícios de HC. Figura retirada do programa Anasete.

Figura 18 : Intervalo exemplificando a associação de fácies turbidito proximal com fácie arenito maciço contendo fortes indícios de HC. Destacado em vermelho um matacão de rocha metamórfica do embasamento cristalino. Figura retirada do programa Anasete.

POÇO 2 POÇO 2

56

7.2. Turbidito Distal.

Essa associação de fácies é a mais abrangente dentre todas as três,

correspondendo a 54% dos testemunhos descritos (Figura 16). Consiste em todas

as fácies identificadas, estratificas ou não, que sejam formadas, principalmente, por

grãos de areia média a fina (Figura 19), podendo ocorrer fácies com granulometria

de areia grossa a pequenos seixos representando uma zona de transição entre os

turbiditos proximais e distais (Figura 20). As fácies agrupadas nessa associação

podem representar estágios de depósitos distais de uma corrente de turbidez de alta

densidade, como também podem representar estágios de depósito proximais de

uma corrente de turbidez de baixa densidade. Por vezes apresentam feições

características à fácie F5, F7 e F8 de Mutti et al. (1999) e ao intervalo Ta de Bouma

(1962), porém são predominantes as fácies associadas aos intervalos Tb, Tc e Td

de Bouma referente a fácie F9 de Mutti et al. (1999) (Figuras 13 e 15). Apresenta

espessura média de 3,5 metros com uma espessura máxima de até 24 metros.

Frequentemente ocorrem estruturas de fluidização (laminação convoluta, estrutura

em prato, etc.), estruturas de carga (chama, pseudo-nódulos, marca de carga) e

estruturas maciças e, em menor número, são encontradas estratificações plano-

paralelas e estratificações cruzadas cavalgantes unidirecionais (climbing ripples).

Por vezes são encontradas feições de deformação secundária, tais como falhas

normais e reversas de caráter rúptil. Contém bons indícios de hidrocarbonetos, é

pouco a moderadamente cimentada por calcita e muito argilosa.

57

Figura 20: Imagem do Anasete com dois intervalos (a; b) exemplificando a associação de fácies

turbidito distal com predominância de sedimentos de granulometria areia muito fina a argila relacionadas, principalmente, às fácies F8 e F9 de Mutti et al. (1999).

Figura 19: Imagem do Anasete mostrando associação de fácies turbidito distal contendo, predominantemente, a fácies arenito maciço com fortes indícios de HC. Ocorre também, neste intervalo, a fácies arenito conglomerático como resultado de eventuais processos de sedimentação em que a corrente de turbidez assumia maior energia.

a) b) POÇO 2 POÇO 2 POÇO 2

58

7.3. Lacustre.

Esta associação de fácies é a segunda mais representativa, compreendendo

36% do total dos testemunhos descritos (Figura 16). É formada, principalmente, por

sedimentos pelágicos (argila e silte) ocorrendo também sedimentos de granulometria

areia fina a muito fina intercalados, constituindo ritimitos de espessura centimétrica

(Figura 21). Contem estruturas sin-deposicionais estratificadas plano-paralelas e

cruzadas unidirecionais cavalgantes (climbing ripples) como também estruturas de

fluidização (laminação convoluta) e carga (chama, pseudo-nódulos e marca de

carga). São depósitos de sedimentos distais de uma corrente turbidítica de baixa

densidade e depósitos de lago profundo em períodos de quiescência das correntes

de turbidez. Corresponde aos intervalos Td e Te de Bouma (1962) e às fácies F9b

até F9e de Mutti et al. (1999) (Figuras 13 e 15). Apresenta-se bastante falhada e

fraturada com presença de slikensides e slikenlines.

Figura 21: Imagem do Anasete mostrando associação de fácies Lacustre contendo,

predominantemente, folhelho. Ocorre também, neste intervalo, a fácies arenito fluidizado (AR-fd) e arenito com estratificação cruzada cavalgante unidirecional (AR-rp) como resultado de eventuais

processos de sedimentação em que a corrente de turbidez assumia maior energia.

POÇO 1

59

8. MODELO DEPOSICIONAL.

Considerando que o campo de Fazenda Boa Esperança está situado no contexto da Falha de Araçás, próximo do Alto de Aporá,

(Figura 1), que esta falha esteve ativa durante a deposição do Membro Caruaçu e que os conglomerados são polimíticos com

seixos e matacões de granulitos, granitos e metacarbonatos do embasamento Arqueano-Proterozóico da Bacia, propomos o

seguinte modelo deposicional (Figura 22 e 23):

Figura 22: Ambiente de canhão sublacustre formado na borda de falha normal de alívio caracterizando rampa de revezamento e associado à depósitos de

fluxos gravitacionais de sedimento (Figueiredo, 2011). Retângulo vermelho destaca a área representada na figura 23.

NE

FALHA DE ARAÇÁS

POÇO 2

POÇO 1

60

Figura 23 : Desenho esquemático dividindo as três associações de fácies (turbidito proximal –vermelho arroxeado; turbidito distal- amarelo; lacustre- verde) com suas respectivas contribuições sedimentares em cada um dos seis ambientes deposicionais interpretados. A espessura não é representativa. A figura é ilustrativa e está fora de escala.

+ +

- Lago Profundo.

- Associação de Fácies Lacustre.

- Sedimentos siliciclásticos parcialmente ou totalmente inconsolidados.

- Corrente de turbidez em regime de alta energia (erosivo) confinada em canais (canyons) submarinos.

- Associação de Fácies Turbidito Distal.

- Associação de fácies Turbidito Proximal.

- Embasamento Cristalino.

– Falha Normal Lístrica

– Limite entre os ambientes

61

8.1. Ambiente 1 (Figura 23) - Borda de Falha

É um ambiente onde sedimentam-se os primeiros grãos provindos de uma

corrente de turbidez bastante densa (porção proximal), de granulometria matacão a

grânulos, polimíticos, ocorrendo também com intraclastos de folhelho. Os depósitos

desse ambiente correspondem, de maneira geral, a depósitos residuais da fácie F3

da classificação de Mutti et al. (1999), podendo ocorrer intercalados com discretos

pacotes arenosos, geralmente maciços ou fluidizados (Figura 24). A grande maioria

dos grãos maiores é fruto da erosão do embasamento de idade proterozóica,

ocasionada por reativações de falhas durante o processo de rifteamento. Podem

também ser de fonte sedimentar, resultante da erosão de leques aluviais e fan-

deltas anteriormente depositados em regiões próximas às falhas, trazidos pela

corrente de turbidez de alta densidade. Esses grãos estão geralmente imersos em

matriz de areia grossa a muito grossa, composta por grãos de quartzo subangulosos

a subarredondados e eventualmente em matriz fina (silte/argila). Nos testemunhos

descritos dos dois poços, apenas 11% dos sedimentos foram relacionados a esse

tipo de ambiente deposicional, chegando a atingir uma espessura máxima de 15m,

porém, em média, em torno de 1,5m.

62

8.2. Ambiente 2 (Figura 23) – Canais sublacustre/ L obo turbidítico proximal

Nesse ambiente há uma coexistência, praticamente na mesma proporção, de

grãos mais grossos e grãos mais finos de areia, formados a partir de depósitos

distais de uma corrente de turbidez muito densa (grãos de quartzo de granulometria

areia média, raramente grossa) e depósitos proximais de uma corrente de turbidez

de baixa densidade (areia média a fina). Ocorrem estruturas sedimentares primárias

geradas por processos trativos e alguma suspensão, formadas em estágios onde o

Figura 24: Imagem do Anasete com as principais fácies e a associação de fácies do ambiente deposicional de borda de falha.

POÇO 2

63

fluxo encontra-se em regime acelerado (tração), gerando estratificações plano-

paralelas, como também em regime desacelerado, gerando estratificações cruzadas

cavalgantes unidirecionais (climbing ripples). Neste ambiente são encontradas fácies

F7, caracterizada por apresentar tapete de tração, e F8, que são arenitos maciços

ou com climbing ripples, de Mutti et al. (1999) (Figura 25). Representa canais

escavados próximos à bordas de falha que canalizam os fluxos turbidíticos (zona de

by-pass (passagem)) e à porção proximal de lobos de deposição formados quando a

corrente de turbidez é desconfinada do canhão e adentra o assoalho lacustre.

Figura 25 : Imagem do Anasete com as principais fácies e a associação de fácies do ambiente deposicional de canhão (canyon) sublacustre/ Lobo Turbidítico Proximal.

POÇO 1

64

8.3. Ambiente 3 (Figura 23) – Lobo turbidítico dist al

São os depósitos formados principalmente por grãos de areia muito fina a fina

quando a corrente de turbidez atinge o assoalho lacustre e perde energia,

depositando sua carga sedimentar por processos mistos de tração e decantação. As

estruturas sedimentares primárias formadas nesse ambiente são as estratificações

plano-paralelas e as estratificações cruzadas cavalgantes unidirecionais (climbing

ripples) em arenitos de granulometria areia fina a silte. As camadas sedimentares

formadas nesse ambiente são de espessura média de cinco metros e máxima de

dez metros. Os sedimentos depositados nesse ambiente correspondem a 23% do

total de sedimentos dos testemunhos descritos. Apresenta as fácies F8 e F9 de Mutti

et al. (1999) e é associado aos intervalos Tb, Tc e Td de Bouma (1962) (Figura 26).

Figura 26: Imagem do Anasete com as principais fácies e a associação de fácies do ambiente

deposicional de Lobo Turbidítico Distal.

POÇO 2

65

8.4. Ambiente 4 (Figura 23) – Lobo turbidítico dist al/Lacustre

São depósitos sedimentares associados a depósitos turbidíticos distais e a

depósitos pelíticos (argila/silte) de lago profundo, representando uma zona de

transição entre esses ambientes. Nos testemunhos analisados há uma maior

contribuição de sedimentos distais de uma corrente turbidítica de baixa densidade

(em camadas com média de oito metros de espessura) apresentando

freqüentemente estruturas maciças, de fluidização e estratificações cruzadas

cavalgantes unidirecionais (climbing ripples) em arenitos de granulometria areia fina

a silte/argila. Essas estruturas são características da fácie F9 de Mutti et al. (1999)

(Figura 27). Representa cerca de 8% do total de dos ambientes relacionados às

decrições dos testemunhos.

Figura 27: Imagem do Anasete com as principais fácies e a associação de fácies do ambiente

deposicional de Lobo Turbidítico Distal/ Lacustre.

POÇO 1

66

8.5. Ambiente 5 (Figura 23) – Lacustre

Os sedimentos depositados em ambiente de lago profundo são de

granulometria argila a silte com discreta contribuição arenosa muito fina pertencente

aos depósitos turbidíticos distais de correntes de baixa densidade. São encontradas

as fácies F9 de Mutti et al. (1999) e corresponde ao intervalo Td e Te de Bouma

(1962) (Figura 21). As camadas sedimentares formadas nesse ambiente apresentam

uma boa continuidade vertical com média de dez metros e atinge duas vezes a sua

espessura máxima de 19 metros. São depósitos que podem demandar um longo

período (séculos ou até milênios) mesmo para formar camadas pouco espessas

devido à baixa taxa de deposição. Dentre os testemunhos dos dois poços

analisados, estima-se que 56% do total dos sedimentos foram depositados nesse

ambiente. Apresentam feições de deformação secundária pós sedimentar, de

caráter rúptil como slikensides e slikenlines.

67

9. CORRELAÇÃO ROCHA x PERFIL E QUALIDADE DO RESERV ATÓRIO.

Com o objetivo de encontrar as extensões laterais das associações de fácies

com potencial para reservatório descritas nos dois poços, foram confeccionadas

duas seções geológicas. A primeira, aproximadamente na mesma direção da falha

de Araçás (seção strike) e, a segunda, com direção aproximadamente perpendicular

à mesma (seção dip) (Figura 28).

Figura 28: Mapa de localização dos poços. A linha vermelha representa a seção strike (Figura 29) e

a linha verde representa a seção dip (Figura 30).

Dentre as associações de fácies descritas, aquelas geradas por fluxos

gravitacionais de sedimentos, com potencial para reservatório, são os turbiditos

distais e os turbiditos proximais, cada qual com valores qualitativos distintos.

A correlação entre as associações de fácies dos diferentes poços que

compõem as duas seções geológicas foi possível através de uma metodologia

baseada na associação entre a descrição das fácies sedimentares dos testemunhos

dos poços 1 e 2 e suas respectivas respostas em perfis rádio-elétricos de gama-ray

FALHA DE ARAÇÁS

68

(GR), potencial espontâneo (SP), densidade (RHOB) e resistividade (RLLD, ILD e

SN), comparando-as com as respostas dos mesmos perfis dos poços 3, 4 e 5, que

não foram testemunhados (Figuras 29 e 30).

Figura 29 : Seção geológica aproximadamente na direção da falha de Araçás (seção strike) relacionando as fácies descritas nos poços 1 e 2 e suas respectivas respostas em perfis de gama-ray (poço 2) e potencial espontâneo (poço 1) e a interpretação da continuidade lateral dos corpos arenosos com potencial para reservatório de hidrocarbonetos. Turbiditos proximais destacados em roxo e distais em amarelo. Dentro do retângulo vermelho, área de interesse de estudo que está amplificada na figura 32.

Figura 30 : Seção geológica aproximadamente na direção perpendicular à Falha de Araçás (seção dip) relacionando as fácies descritas no poço 2 e suas respectivas respostas em perfis de gama-ray, além da interpretação quanto à continuidade lateral dos corpos arenosos com potencial para reservatório de hidrocarbonetos. Turbiditos proximais destacados em roxo e distais em amarelo. Dentro do retângulo vermelho, área de interesse de estudo que está amplificada na figura 33.

69

Foram sintetizadas em uma tabela as informações básicas das duas

associações de fácies turbidíticas e suas respostas em perfil de gama-ray (GR),

usadas para a correlação com os mesmos perfis dos outros poços (Tabela 1). Como

o perfil de potencial espontâneo (SP) foi utilizado apenas no poço 1, devido à falta

de dados de perfil de raios gama (GR) naquele intervalo, as respostas em perfil das

fácies descritas nesse poço não foram correlacionadas a nenhum outro poço, por

isso não estão na tabela.

Tabela 1: Resumo das características de cada associação de fácies com potencial para reservatório descritas nos poços 1 e 2 da figura 28. Destacado pelo retângulo vermelho as associações de fácies

estudadas neste trabalho.

9.1. Turbidito Distal

Essa associação de fácies apresenta os menores valores de radioatividade

em perfis de raios gama (GR) devido à sua baixa argilosidade (Tabela 01; (a)). Nas

porções mais distais dessa fácie, que é uma zona de transição com o ambiente de

sedimentação de lago profundo, há mais argila na matriz e, algumas vezes, ocorrem

camadas de argila intercaladas com camadas de areia (ritmitos). Esse aumento de

material argiloso gera valores de maior radioatividade nos perfis de gama-ray,

podendo apresentar um padrão granodecrescente ascendente (fining upward),

(perfis (a) e (b) da Tabela 01). Os perfis de densidade (RHOB) mostram valores

normalmente baixos, indicando presença de porosidade das rochas. Nos intervalos

das fácies que contém óleo, principalmente na base do intervalo 1 (Figura 31), há

um aumento nos valores do perfil de resistividade do poço 2 (Figura 31; a).

(a) (b)

70

9.2. Turbidito Proximal Através da interpretação das duas seções geológicas, as respostas dos perfis

de raios gama do intervalo descrito no poço 2 que correspondem a essa associação

de fácies foram correlacionadas nos poços 3, 4 e 5, possivelmente como uma

mesma camada de grande extensão lateral, porém pouco espessa (em torno de 15

metros) se comparada à espessura da fácie turbidito distal (Figuras 31 b; c). Nesta

associação de fácies foi constatada a presença de óleo em uma camada com

espessura em torno de 1 metro e em uma outra com metade dessa espessura, cujas

respostas em perfis são de baixa resistividade e baixa densidade (Figura 31 c). No

intervalo 2 (Figura 31; a) as respostas do perfil de densidade mostram que as

rochas dessa associação de fácies são, em geral, mais densas, e, por

conseqüência, menos porosas do que as rochas da fácie turbidito distal devido à

presença de seixos e matacões de granito e granulito do embasamento. Esses

valores se diferem bastante um do outro.

1

2 3

Intervalo 1: Fácies tu rbidito distal

(a)

(b)

GR RHOB RLLD

71

Figura 31: (a) intervalos identificados nas seções geológicas strike e dip do poço 2 . (b), (c) e (d)

intervalos 1, 2 e 3, descritos no programa Anaset, de propriedade da Petrobras, do poço 2 nas duas seções. Na porção intermediária do intervalo 1 ocorre uma sedimentação de fácies slump, descrita no

Anaset (b), porém, para a escala de trabalho em seção geológica, esta fácies foi agrupada à fácies turbidito distal que é mais representativa em todo o intervalo. Destacados pela circunferência laranja

em (b) estão os altos valores de porosidade e baixos valores de permeabilidade dos arenitos turbidíticos distais, pouco espessos, intercalados com pacotes de sedimentos pelíticos (argila e silte).

A continuidade lateral dos corpos arenosos que representam a associação de

fácies turbidito distal é presente tanto na seção dip quanto na seção strike, porém

Intervalo 2: Fácies turbidito proximal

Intervalo 3: Fácies turbidito distal

(c)

(d)

72

não foi possível correlacionar-los com o poço 1 já que este não possui valores de

radioatividade no perfil de gama-ray no intervalo estudado (Figura 32).

Devido ao fato do poço 2 ter mais matacão, isto sugere que a fonte está mais

próxima dele e que o bloco estrutural estaria basculado para sul, porém sem um

controle da paleogeografia da deposição do Mb Caruaçu no Campo de Fazenda Boa

Esperança através de mapas de contorno estrutural (isólitas do Mb Caruaçu, topo da

Fm Maracangalha e a geometria do arcabouço estrutural no topo da Fm

Maracangalha) não dá para afirmar se realmente os fluxos turbidíticos viriam do

Norte, sendo canalizados por rampas de revezamento associados a falhas normais

com blocos basculados para sul.

73

Figura 32 : Imagem amplificada da parte em destaque (retângulo vermelho) da figura 30 (Seção strike). Turbiditos proximais destacados em roxo e distais em amarelo.

Figura 33: Imagem amplificada da parte em destaque (retângulo vermelho) da figura 31 (Seção dip). Turbiditos proximais destacados em roxo e distais em

amarelo.

POÇO 2 POÇO 3 POÇO 1

POÇO 2 POÇO 4

POÇO 5

N S

NW SE

GR GR SP

GR GR RHOB GR RHOB RHOB

RHOB RHOB RHOB RLLD ILD SN

ILD RLLD ILD

74

9.3. Qualidade dos reservatórios

Para classificarmos qualitativamente as fácies turbidito proximal e turbidito

distal como reservatório de hidrocarbonetos, foram considerados, além da extensão

e espessura das fácies definidas nas seções geológicas strike e dip (Figuras 29 e

30, respectivamente), dados petrofísicos de porosidade e permeabilidade (Figura

34).

Os dados petrofisicos de porosidade (PHI) e permeabilidade (K) são

importantes na avaliação qualitativa dos reservatórios. O gráfico da figura 35

relaciona quantitativamente os valores de porosidade e permeabilidade das fácies

turbidito distal e proximal, com referência às fácies definidas por Mutti et al. (1999).

O gráfico de porosidade x permeabilidade da figura 35 mostra que as

melhores condições para reservatórios de hidrocarbonetos são os turbiditos distais

bem selecionados e pouco argilosos, relacionados à facie F8 de Mutti et al. (1999),

com valores de porosidade e permeabilidade variando entre 11 e 17% e 1,0 e 35mD,

respectivamente (Figura 34). Atingem a espessura máxima de, aproximadamente,

45 metros no intervalo 1 da figura 31. A fácie turbidito distal com maior percentual

em argila, associada à fácie F9 de Mutti et al. (1999), é bem menos abundante e, na

maioria das vezes, apresenta valores intermediários de porosidade, em torno de 8%,

e, geralmente, valores baixíssimos de permeabilidade (Figura 34). Os turbiditos

distais com boa porosidade, porém com baixa permeabilidade (Figura 34),

correspondem a pacotes de arenito pouco espessos intercalados com argila ou silte

que, possivelmente, durante a diagênese os íons de ferro e magnésio das argilas

migraram para os pacotes arenosos ocupando espaços entre os poros e diminuindo

a conectividade entre os mesmos (Figura 31 b).

O gráfico de porosidade x permeabilidade da figura 35 mostra resultados

bastante dispersos em uma faixa que compreende valores de porosidade que vão

de aproximadamente 3,5% a 15%, e valores de permeabilidade de 0,13mD a 16mD.

Estes valores estão associados, principalmente, à fácie F3 de Mutti et. al., (1999) e

tem um baixo potencial para reservatório de hidrocaronetos, visto que, apesar de

apresentarem boa continuidade lateral, são camadas pouco espessas, com valores

dispersos de porosidade e permeabilidade devido à má seleção dos seus grãos

constituintes.

75

Figura 34 : Valores quantitativos de porosidade (%) e permeabilidade (mD) obtidos em análises petrográficas de plugues dos testemunhos dos poços 1 e 2. Dentro da circunferência azul há predominância de depósitos turbidíticos distais pouco argilosos (F8) que são os melhores reservatórios e, pontualmente, há turbiditos proximais. Dentro da circunferência laranja há predominância da associação de fácies turbidito distal-F8, porém não são bons reservatórios por possuírem baixa permeabilidade.

0,01

76

10. Conclusões

A Formação Maracangalha é formada em sua grande maioria por arenitos

finos a médios e folhelhos. Os testemunhos descritos compreendem rochas da

Formação Maracangalha andar Rio da Serra- Aratu. Estes depósitos são fruto de

processos de fluxos gravitacionais de massa (slides e slumps) e de sedimento

(correntes de turbidez), cujo mecanismo principal de disparo desses fluxos são

abalos sísmicos (Raja Gabablia, 1991), que ressedimentaram depósitos deltáicos

em ambiente de lago profundo. Altas taxas locais de sedimentação siliciclástica

podem ter sido um importante mecanismo de disparo para os fluxos de massa e de

sedimentos da Formação Maracangalha. A cor escura dos folhelhos e a presença de

sulfetos, observada nos testemunhos, evidencia a deposição destes sedimentos em

um ambiente de lago profundo (redutor).

Os intervalos descritos como produto de uma sedimentação por corrente de

turbidez apresentam-se intercalados com folhelhos de sedimentação lacustre, com

percentagens aproximadas de 64% fácies turbidíticas e 36% fácies lacustre. As

fácies turbidíticas descritas nos testemunhos apresentam-se, na maioria vezes, de

forma discordante com as fácies sotopostas, sejam elas lacustres ou turbiditos

trazidos por correntes anteriores, em pulsos com diferentes energias. Quando esses

pulsos são correntes turbidíticas de alta densidade, são encontradas mais

comumentemente as fácies CG, ARC-ma, AR-ic, AR-ma e AR-fd com granulometria

areia média a matacão, referentes às fácies F3 e F5 de Mutti et. al. (1999),

apresentando feições erosionais na parte basal. Em pulsos de correntes turbidíticas

com menor energia, ocorrendo também processos trativos e de decantação, são

encontradas com maior frequência as fácies AR-ma, AR-fd, AR-pp, AR-rp, RT-pp e

Lm com granulometria areia média a argila, referentes às fácies F7, F8 e F9 de Mutti

et. al. (1999). Essas fácies foram agrupadas, devido as suas características

semelhantes, em três associações de fácies: turbidito proximal, turbidito distal e

lacustre, e representam litotipos que sofreram algum tipo de deformação, seja ela

rúptil (falhas, fraturas) ou pela ação de escape de fluidos.

Os fluxos turbidíticos são canalizados em canais subaquáticos em zonas de

falha adquirindo alta energia trazendo seixos de quartizito verde, quartzo róseo,

quartzo leitoso, ganito, granulito, gnaisse, rocha carbonática e matacões de até

40cm de espessura de granito alcalino do embasamento cristalino.

77

Através da correlação das rochas que compõem cada associação de fácies

com perfis radio-elétricos de gama-ray (GR), potencial espontâneo (SP), densidade

(RHOB) e resistividade (RLLD e ILD), além da análise de dados petrofísicos de

porosidade e permeabilidade e possível correlação lateral com outros poços, pôde-

se concluir que a fácies turbidito distal referente à fácie F8 de Mutti et. al. (1999) é a

que apresenta potencial para reservatório de hidrocarbonetos.

78

11. REFERÊNCIAS.

AGUIAR, G. A.; MATO, L. F. 1990. Definição e relações estratigráficas da

Formação Afligidos nas bacias do Recôncavo, Tucano Sul e Camamu, Bahia,

Brasil. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOLOGIA, 36, 1990, Natal. Anais. São

Paulo: Sociedade Brasileira de Geologia, 1990. v. 1, p. 157-170.

BARBOSA, J.S.F. & SABATÉ, P. 2003. Colagem Paleoproterozóica de Placas

Arqueanas no Cráton do São Francisco na Bahi a. Rev. Bras. Geoc. v. 33

(1 – suplemento), p. 7-14.

BARBOSA, J.S.F., SABATÉ, P., MARINHO, M.M. 2003. O Cráton do São

Francisco na Bahia: Uma Síntese. Rev. Bras. Geoc. v.33 (1), p.3-6.

BIZZI, L.A.; SCHOBBENHAUS, C.; VIDOTTI, R.M.; GONÇALVES, J.H. (Org.) 2003.

Geologia, Tectônica e Recursos Minerais do Brasil . Texto, Mapas e SIG. Brasília:

CPRM – Serviço Geológico do Brasil, 692 p.

BOUMA, A.H. 1962. Sedimentology of some flysch deposits . Elsevier:

Amsterdam, 168 p.

BRUHN, C. H. L., 1985. Sedimentação e Evolução Diagenética dos Turbiditos

Eocretácicos do Membro Gomo, Formação Candeias, no Compartimento

Nordeste da Bacia do Recôncavo, Bahia . Tese de M. Sc., UFOP, Ouro Preto, MG,

Brasil.

CAIXETA, J.M. 1988. Estudo faciológico e características de reservatóri o dos

arenitos produtores de gás do Campo de Jacuípe (Cre táceo Inferior), Bacia do

Recôncavo, Brasil. UFOP, 1988. Dissertação de mestrado.

CAIXETA, J.M., BUENO, G.V., MAGNAVITA, L.P., FEIJÓ, F.J. 1994. Bacias do

Recôncavo, Tucano e Jatobá . Boletim Geociências Petrobrás, Rio de Janeiro, 8

(1): 163-172.

79

CARLOTTO, M.A. 2006. Análise estratigráfica dos fluxos gravitacionais da

Formação Maracangalha no Campo de Jacuípe, Bacia do Recôncavo, Brasil.

Dissertação de Mestrado, Universidade Federal Rio Grande do Sul. 128pp.

DELLA FÁVERA, J.C., 2001. Fundamentos da Estratigrafia Moderna . Ed. UERJ,

Rio de Janeiro, 264p.

FIGUEIREDO, M.N. 2011 Estudo de Mecanismos e Processos de Sedimentação

em Fluxos Gravitacionais de Massa da Formação Marac angalha, Membro

Caruaçu. Aplicação da Metodologia de Estudo Rocha X Perfil na Predição da

Qualidade dos Reservatórios. UFBA, 2011. Trabalho Final de Graduação.

LOWE, D.R. 1982. Sediment gravity flows II: Depositional models with special

reference to the deposits of high-density turbidity currents . Journal of

Sedimentary Petrology, v.52, no.1, p. 279-297.

MAGNAVITA, L. P. Geometry and kinematics of the Recôncavo-Tucano-Jat obá

rift, NE, Brazil . Oxford: University of Oxford, 1992. 493 p. Tese (Doutorado).

MAGNAVITA, L.P., SILVA, R.R.DA., SANCHES, C.P. 2005. Roteiros geológicos,

guia de campo da Bacia do Recôncavo, NE do Brasil. Bol. Geoci. Petrobrás,13,

p.301-334.

MEDEIROS, R.A.; PONTE, F.C. 1981. Roteiro Geológico da Bacia do

Recôncavo, Bahia. PETROBRÁS/SEPES/DIVEN/ Setor de Ensino na Bahia. 63p.

MILHOMEM, P. S.; MAMAN, E. J.; OLIVEIRA, F. M.; CARVALHO, M. S. S.;

LIMA, W.S. 2003. Bacias Sedimentares Brasileiras: Bacia do Recôncavo .

Fundação Paleontológica Phoenix, ano 5, n 51.

80

MUTTI, E.; TINTERRI, R.; REMACHA, E.; MAVILLA, N.; ANGELLA, S. & FAVA, L.

1999. An introduction to the analysis of ancient turbidit e basin from an outcrop

perspective . AAPG: Tulsa, 61 p.

RAJA GABAGLIA, G.P. 1991. Paleossismicidade e sedimentação - evidências no compartimento sul da Bacia do Recôncavo, Bahia . Boletim de Geociências da PETROBRÁS, 5(1 -4):39-68.

SANTOS, C.F., BRAGA, J.A.E. 1990. O “estado da arte” da Bacia do Recôncavo .

Boletim de Geociências da PETROBRAS, 4(1):35-43.

SAPUCAIA, N.S; PEREIRA, C.P; SOUSA, D.L; DA SILVA, M.G. 2003. A Influência

de Estruturas do Embasamento Cristalino no Contexto Petrolífero da Bacia

Sedimentar do Recôncavo. 2° Congresso Brasileiro de P&D em Petróleo e Gás.

Rio de Janeiro.

SHANMUGAN, G. 1997. The Bouma Sequence and the turbidite mind set . Earth

Science Review, no. 42, p. 201-229.

SILVA, O.B., CAIXETA, J.M., MILHOMEM, P.S., KOSIN, M.D. 2007. Bacia do

Recôncavo. Boletim de Geociências da PETROBRAS, Rio de Janeiro. v.15, n.2:

p. 423.431.

SUGUIO, K. Rochas sedimentartes: propriedades, gênese, importâ ncia

econômica. São Paulo:E.Blücher/Edusp, 1980, 500p.

WALKER R.G. 1984. Turbidites and Associated Coarse Clastic Deposits . In:

R.G. Walker (ed.) Facies Models, Second Edition. Geoscience Canada Reprint

Series 1, p. 171-188.