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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE PSICOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA ANA FLÁVIA SOARES CONCEIÇÃO RELAÇÕES ENTRE O DESEMPENHO EM MEMÓRIA OPERACIONAL E HABILIDADES DE CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA EM CRIANÇAS DE 1 O AO 4 O ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL Salvador 2014

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE … · Sorrir vem colorir solar, vem esquentar e permitir”. (Nando Reis) ... A minha querida avó que se estivesse conosco teria orgulho

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

INSTITUTO DE PSICOLOGIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM

PSICOLOGIA

ANA FLÁVIA SOARES CONCEIÇÃO

RELAÇÕES ENTRE O DESEMPENHO EM MEMÓRIA OPERACIONAL E

HABILIDADES DE CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA EM CRIANÇAS DE 1O

AO

4O

ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL

Salvador

2014

ANA FLÁVIA SOARES CONCEIÇÃO

RELAÇÕES ENTRE O DESEMPENHO EM MEMÓRIA OPERACIONAL E

HABILIDADES DE CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA EM CRIANÇAS DO 1O

AO

4O

ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL

Dissertação de mestrado apresentada ao

Programa de Pós-Graduação em Psicologia da

Universidade Federal da Bahia, como requisito

final para a obtenção do título de Mestre em

Psicologia.

Área de concentração: Psicologia do

Desenvolvimento.

Orientador: Prof. Dr. Neander Abreu.

Salvador

2014

Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio

convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.

Conceição, Ana Flávia Soares

C744 Relações entre o desempenho em memória operacional e

habilidades de consciência fonológica em crianças do 1o ao 4

o

ano do ensino fundamental. – 2014.

136 f.: il.

Orientador: Profº Drº José Neander Silva Abreu.

Dissertação (mestrado) – Universidade Federal da Bahia.

Instituto de Psicologia, Salvador, 2014.

1. Memória. 2. Fonologia. 3. Neuropsicologia – Avaliação.

4. Compreensão na Leitura. 5. Comunicação escrita. I. Abreu,

José Neander Silva. II. Universidade Federal da Bahia. Instituto

de Psicologia. III. Título.

CDD: 153.1

Nome: Ana Flávia Soares Conceição.

Título: Relações entre o desempenho em memória operacional e habilidades de

consciência fonológica em crianças do 1o ao 4

o ano do ensino fundamental.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia da

Universidade Federal da Bahia, como requisito final para obtenção do grau de

Mestre em Psicologia.

Data: 28/07/2014.

COMISSÃO EXAMINADORA

Prof. Dr. José Neander Silva Abreu (Orientador).

Instituição: Universidade Federal da Bahia – UFBA.

Profa. Dra. Adriana Cristina Boulhoça Suehiro.

Instituição: Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – UFRB.

Profa. Dra. Izabel Augusta Hazin Pires Loreto.

Instituição: Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN.

i

DEDICATÓRIA

Ao meu esposo pela compreensão e dedicação ao longo desses anos. Por

compreender, apoiar, incentivar e me auxiliar em minhas diversas jornadas. Certamente

você torna estas jornadas mais fáceis.

“Pra você guardei o amor que sempre quis mostrar, o amor

que vive em mim vem visitar. Sorrir vem colorir solar, vem

esquentar e permitir”. (Nando Reis)

A minha mãe por ser minha grande incentivadora e admiradora e por tornar este

sonho possível. Esta conquista também é sua. Pelo amor incondicional. E por sempre

me apoiar em meus anseios profissionais.

“Talvez ela saiba de cor tudo que eu preciso sentir. Pedra

preciosa de olhar! Ela só precisa existir para me completar!”.

(Jorge Vercílio)

A minha querida avó que se estivesse conosco teria orgulho de ter uma neta

mestre. Já que o grande desejo de sua vida era aprender a ler (in memoriam).

“Agora está tão longe. Vê? A linha do horizonte me distrai.

Dos nossos planos é que tenho mais saudade, quando

olhávamos juntos na mesma direção. Onde está você agora

além de aqui dentro de mim?”. (Dado Villa-Lobos/Renato

Russo)

ii

AGRADECIMENTOS

Meu agradecimento mais que especial a todos os estudantes de iniciação

científica integrantes do Núcleo de Estudos em Memória e Linguagem (UFRB) por me

auxiliarem na coleta, por estarem sempre comigo e por terem me dado o apoio

necessário para a construção deste trabalho. Esta dissertação também é de cada um de

vocês: muito obrigada!

Agradeço às escolas pela disponibilidade, pela atenção e por toda a colaboração

e a cada um dos pais das 219 crianças que participaram desta pesquisa. Às queridas

crianças, pela participação, carinho, atenção, emoções e trocas durante este processo.

Ao Prof. Dr. José Neander Silva Abreu, meu orientador, pelos anos de salutar

convivência e contínuo aprendizado. Agradeço todo o tempo a atenção, a dedicação e o

desvelo que foram dirigidos a mim ao longo destes anos. Tenho grande admiração e

carinho por ti desde os anos da graduação. Agradeço por ter me ensinado a engatinhar

na neuropsicologia, e, por hoje, me ajudar a dar os meus primeiros passos. A ti serei

sempre grata, além de uma grande admiradora do seu trabalho.

À Profa. Silvana Gaino, por todo apoio prestado no início desta jornada, pela

atenção sem igual, pela escuta de minhas ansiedades e dúvidas, e pelo imenso apoio no

início de minha caminhada profissional e acadêmica. A você, meu eterno carinho e

agradecimento. Ao professor Everson Meireles, pela ajuda sem igual nas análises

estatísticas. Não tenho como agradecer a atenção, a paciência e a colaboração. Como

escrevi um dos e-mails: “Você foi o anjo da estatística em minha vida”. Aprendi muito!

À Ivana, por estar sempre disponível a ajudar no que fosse preciso: muito

obrigada, querida, não sei o que seria de mim sem seu apoio neste momento. E aos

iii

membros da banca, por aceitarem o convite de ler e ouvir um pouco sobre a experiência

destes últimos dois anos.

Aos meus amigos e à minha família, por compreenderem minha ausência e

distanciamento nos últimos anos. À minha filhotinha, por sempre me receber com uma

lambida, abanar de rabo, e, com alegria, sempre desfazer toda e qualquer ansiedade que

a atividade acadêmica pudesse eliciar.

Entretanto, nenhum destes agradecimentos seria possível sem a permissão e

bênção do pai celestial, que durante diversos momentos, sempre me acolheu em seus

braços de amor e fez lembrar-me de suas palavras, quando ele diz: “Por isso não temas,

pois estou com você; não tenha medo, pois sou o seu Deus. Eu o fortalecerei e o

ajudarei; eu o segurarei com a minha destra fiel”.

Ebenézer (até aqui me ajudou o Senhor!).

iv

“Permaneci imóvel, toda minha atenção concentrada no

movimento de meus dedos. Senti, repentinamente, uma

consciência vaga como se fosse de algo esquecido – um frêmito

de um pensamento que retorna; e, de alguma maneira, foi-me

revelado o mistério da linguagem.”

Helen Keller, Story of My Life.

v

RESUMO

Conceição, A. F. S. (2014). Relações entre o desempenho em memória operacional e

habilidades de consciência fonológica em crianças do 1o ao 4

o ano do Ensino

Fundamental. Dissertação de Mestrado, Instituto de Psicologia. Universidade

Federal da Bahia, Salvador.

Introdução: A memória operacional é uma função cognitiva responsável pelo

armazenamento, monitoramento e manipulação temporária da informação, que evoluiu,

conceitualmente, do modelo de memória de curto prazo. O modelo de memória

operacional utilizado neste estudo é o desenvolvido por Baddeley e Hitch (1974)

Baddeley (2000) que possui quatro subsistemas funcionais: a alça fonológica, o retentor

episódico, a central executiva e o esboço visuoespacial. A consciência fonológica é a

habilidade consciente de manipular (mover, combinar ou suprimir) os elementos

sonoros da linguagem oral. Também se caracteriza por apresentar uma relação de

reciprocidade com o desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita. Poucos

estudos têm investigado a relação entre a memória operacional e a consciência

fonológica, e, ao nosso conhecimento, nenhum deles investigou diferenças no

desempenho de escolas públicas e privadas nem a existência de relação de predição

entre estas variáveis, a partir da modelagem por equações estruturais. Objetivos: O

presente estudo teve como objetivo verificar se o desempenho em memória operacional

prediz o desempenho em consciência fonológica de escolares de 1° ao 4° ano do ensino

fundamental em crianças de escolas públicas e privadas. Os objetivos específicos foram:

Avaliar, a partir de testes neuropsicológicos, o desempenho em memória operacional e

consciência fonológica de crianças do 1° ao 4° ano do ensino fundamental; Verificar se

há diferenças entre o desempenho de estudantes de escolas públicas e privadas;

Verificar se há diferenças no desempenho das crianças quando analisadas a partir das

variáveis: sexo, idade e série escolar; Estabelecer modelos de equação estrutural para

vi

verificar a relação existente entre memória operacional e consciência fonológica.

Materiais e Método: Foram avaliados o desempenho em memória operacional e

habilidades de consciência fonológica em um grupo de 219 crianças do 1° ao 4° ano do

ensino fundamental, de escolas públicas e privadas, do município de Santo Antônio de

Jesus, Bahia. Foi aplicada uma bateria neuropsicológica compreendendo os seguintes

domínios cognitivos: Inteligência, Memória Operacional e Consciência Fonológica. Os

pais ou responsáveis responderam um questionário socioeconômico e a um questionário

de saúde da criança. O desempenho neuropsicológico das crianças foi analisado

segundo testes estatísticos paramétricos e a partir da modelagem de equações

estruturais. Resultados e Discussão: Os resultados indicaram um forte índice de

predição entre a memória operacional e as habilidades de consciência fonológica.

Diferenças significativas foram verificadas nesta relação, também, quando considerados

os desempenhos das crianças por idade, por ano escolar e pela natureza da instituição

(pública e privada), não sendo encontradas diferenças significativas a partir da variável

sexo. Juntos, estes dados sugerem que: a memória operacional é uma função cognitiva

importante para o desenvolvimento da consciência fonológica, e por consequência, para

as habilidades de leitura, escrita e para o desempenho escolar. Os resultados

encontrados nesta investigação corroboram os dados da literatura, que indicam que com

o passar dos anos e com a maturação biológica, especialmente do córtex pré-frontal, há

um acréscimo do desempenho das crianças em memória operacional, e que, a

aprendizagem escolar também aumenta a eficiência do sistema; corroborando também

estudos que indicam que o desenvolvimento da consciência fonológica está imbricado

com a escolarização formal. Por fim, importante ressaltar as diferenças de desempenho

encontradas entre as instituições de ensino públicas e privadas, que sugerem a existência

de estratégias de estimulação e alfabetização menos eficazes na instituição pública,

vii

desfavorecendo, assim, o desempenho das crianças em consciência fonológica e no

componente visuoespacial da memória operacional, ressaltando que não houve

diferenças significativas nos resultados do componente verbal e da central executiva.

Palavras-chave: memória operacional, consciência fonológica, avaliação

neuropsicológica, leitura e escrita.

viii

ABSTRACT

Conceição, A.F.S. (2014). Relationship between working memory and phonological

awareness skills in children of 1st to 4th grade of elementary school. Dissertação

de Mestrado, Instituto de Psicologia. Universidade Federal da Bahia, Salvador.

Introduction: Working memory is a cognitive function responsible for storing,

monitoring and temporary manipulation of information, which evolved conceptually

from short-term memory model. The working memory model used in this study was

developed by Baddeley and Hitch (1974) Baddeley (2000) which has four functional

subsystems: the phonological loop, the episodic buffer, the central executive and the

visuospatial sketchpad. Phonological awareness is the conscious decision to manipulate

(move, combine or abolish) the sound elements of oral language. Also is characterized

by presenting a reciprocal relationship with the development of the skills of reading and

writing. Few studies have investigated the relationship between working memory and

phonological awareness, and, of our knowledge, none has investigated differences in the

performance of public and private schools or the existence of predictive relationship

between these variables from the structural equation modeling. Objectives: The present

study aimed to verify whether performance on working memory predicts performance

on phonological awareness of students in 1st to 4th year of elementary school children

in public and private schools. The specific objectives were: to assess, from

neuropsychological tests, performance on working memory and phonological awareness

of children from 1st to 4th year of elementary school; Check for differences between the

performance of students in public and private schools; Check for differences in

children's performance when analyzed from the variables: gender, age, school grade;

Establish a structural equation model to verify the relationship between working

memory and phonological awareness. Materials and Methods: were assessed the

performance in working memory and phonological awareness skill on a group of 219

ix

children from 1st to 4th year of elementary public and private schools, in the

municipality of Santo Antonio de Jesus, Bahia. A neuropsychological battery

comprising the following cognitive domains was applied: Intelligence, Working

Memory and Phonological Awareness. Parents or guardians completed a socioeconomic

questionnaire and a questionnaire about the child's health. The neuropsychological

performance of children was analyzed according parametric statistical tests and from the

structural equation modeling. Results and Discussion: The results indicated a strong

rate of prediction between working memory and phonological awareness. Significant

differences were observed in this respect too, when considering the performance of

children by age, school year and the kind of the institution (public and private), were not

found significant differences from the gender variable. Together, this suggests that:

working memory is an important cognitive function to the development of phonological

awareness, and consequently, for the skills of reading, writing and school performance.

The findings of this research corroborate the literature data, which indicate that over the

years and with the biological maturation, especially of the prefrontal cortex, there is an

increase in performance of working memory in children, and that school learning also

increases the efficiency of the system; Also corroborating studies that indicates the

development of phonological awareness is interwoven with formal schooling. Finally,

important to emphasize that the performance differences found between public and

private institutions, suggests the existence of strategies for stimulation and literacy less

effective in public institution, thus disadvantaging the children's performance on

phonological awareness and visuospatial component working memory, noting that there

were no significant differences in the results of the verbal component and the central

executive.

x

Keywords: working memory, phonological awareness, neuropsychological assessment,

reading and writing.

LISTA DE TABELAS

xi

Capítulo 4

Tabela 1 – Estatística Descritiva dos Testes......................................................... 63

Tabela 2 – Nível Socioeconômico ....................................................................... 63

Tabela 3 – Escolaridade da Mãe .......................................................................... 64

Tabela 4 – Comparações dos Diferentes Testes em Relação aos sexos .............. 64

Tabela 5 – Comparações dos Diferentes Testes em Relação à Escola de

Origem ..................................................................................................................

65

Tabela 6 – Comparações dos Diferentes Testes em relação à idade .................... 66

Tabela 7 - Comparações dos Diferentes Testes em relação ao ano escolar ......... 67

Tabela 8 - Teste de Tukey para comparação por anos de escolaridade ...............

67

Capítulo 5

Tabela 1- Indicadores de Ajuste dos Modelos Testados ...................................... 83

Apêndice

Tabela 1- Indicadores de ajuste para o modelo testado por GLS ......................... 113

LISTA DE FIGURAS

Capítulo 1

xii

Figura 1 - O modelo dos processos embutidos de memória operacional de

Nelson Cowan (adaptado de Moreira, 2007) ....................................................

14

Figura 2 - Representação dos componentes de Memória Operacional

(adaptado de Baddeley, 2012) ...........................................................................

19

Capítulo 5

Figura 1 - Parâmetros estruturais padronizados para o Modelo 1 .................. 83

Figura 2 - Parâmetros estruturais padronizados para o Modelo 2, no qual a

Memória Operacional é representada por uma única variável latente .............

84

Apêndice

Figura 1 - Parâmetros estruturais padronizados alternativos ao Modelo 1b, a

partir do método GLS de estimação.............................................................

113

Figura 2 - Parâmetros estruturais padronizados alternativos ao Modelo 2b, a

partir do método GLS de estimação.................................................................

113

LISTA DE SIGLAS

xiii

ABEP Associação Brasileira de Estudos

Populacionais

AIC Critério de Informação de Akaike

CCEB Critério de Classificação Econômica Brasil

CF Consciência Fonológica

CFI Índice de Ajuste Comparativo

CONFIAS Consciência Fonológica: Instrumento de

Avaliação Sequencial

GLS Mínimos Quadrados Generalizados

ML Máxima verossimilhança

MO Memória Operacional

MOF Memória Operacional Fonológica

MOV Memória Operacional Visuoespacial

OD Ordem Direta

OI Ordem Indireta

RMSEA Raiz do Erro Quadrático Médio

Aproximado

SRMR Raiz do Resíduo Quadrático Médio

Padronizado

VD Variável Dependente

VI Variável Independente

WISC-III Escalas Wechsler de Inteligência para

Crianças - 3ª edição

xiv

Sumário

INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 1

PROBLEMA DE PESQUISA ............................................................................................... 4

OBJETIVO GERAL .............................................................................................................. 5

Objetivos específicos ............................................................................. .......................... 5

CAPÍTULO 1 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA: A MEMÓRIA OPERACIONAL ........ 6

A central executiva ......................................................................................................... 19

A alça fonológica ............................................................................................................ 21

O esboço visuoespacial ................................................................................................... 27

O retentor episódico ........................................................................................................ 29

CAPÍTULO 2 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA: A CONSCIÊNCIA

FONOLÓGICA ................................................................................................................... 32

CAPÍTULO 3 - ESTUDO TEÓRICO 1: RELAÇÕES ENTRE A MEMÓRIA

OPERACIONAL E A CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA E AS HABILIDADES DE

LEITURA E ESCRITA: UMA REVISÃO NARRATIVA DE LITERATURA ................ 41

CAPÍTULO 4 – ESTUDO EMPÍRICO 1: DESEMPENHO DE ESCOLARES DE

1°AO 4° ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL EM MEMÓRIA OPERACIONAL E

CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA ....................................................................................... 52

CAPÍTULO 5 - ESTUDO EMPÍRICO 2: A MEMÓRIA OPERACIONAL É CAPAZ

DE PREDIZER O DESEMPENHO EM HABILIDADES DE CONSCIÊNCIA

FONOLÓGICA? ................................................................................................................. 74

CONCLUSÕES ................................................................................................................... 90

CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 92

REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 94

APÊNDICES ..................................................................................................................... 110

xv

Apêndice I – Distribuição de normalidade dos testes ................................................... 110

Apêndice II – Modelagem de Equações estruturais pelo método Mínimos

Quadrados Generalizados (GLS) ....................................................................................... 113

ANEXOS ........................................................................................................................... 114

Anexo I – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ............................................. 114

Anexo II - Critério de Classificação Econômica Brasil ................................................ 116

Anexo III - Questionário social e de saúde da criança ................................................. 117

1

INTRODUÇÃO

O conceito de memória operacional utilizado na presente investigação,

desenvolvido por Alan Baddeley e Graham Hitch (1974) e Baddeley (2000), define-se

como um modelo multicomponente de memória que evoluiu do conceito de memória de

curto prazo, se caracterizando pela capacidade de monitorar e operar temporariamente a

informação, sendo composto por quatro subsistemas funcionais: a alça fonológica, o

retentor episódico, a central executiva e o esboço visuoespacial.

A consciência fonológica, objeto deste estudo, se refere à habilidade consciente

de manipular os elementos sonoros da linguagem oral, compreendendo que as palavras

faladas são compostas de sons (fonemas), e que estas, podem ser fragmentadas em

sílabas e letras (grafemas) (Kovelman et al., 2012). Caracterizando-se também por

apresentar uma relação de reciprocidade com o desenvolvimento das habilidades de

leitura e escrita.

Diversos estudos, principalmente a partir da década de 1980, têm corroborado a

importância da consciência fonológica para a obtenção das habilidades de leitura e de

escrita (Cardoso-Martins, 1995; Capovilla, Dias & Montiel, 2007; Kovelman et al,

2012, Krajewski & Schneider, 2009; Seabra & Capovilla, 2011). Juntamente com este

fato, estudos indicam a memória operacional enquanto um importante preditor para o

bom desempenho escolar e para o desenvolvimento da leitura (Andrade & Baddeley,

2011; Daneman & Carpenter, 1980; De Jong, 2006; Engel de Abreu et al, 2014;

Gathercole, Brown & Pickering, 2003; Uehara & Landeira-Fernandez, 2010). Pesquisas

sobre a relação entre a memória operacional e a consciência fonológica também têm se

multiplicado de maneira crescente nos últimos anos (Andrade & Baddeley, 2011;

2

Capellini et al., 2007; Cardoso et al., 2013; Jarrold et al., 2009; Oakhill & Kyler, 2000;

Vacari, 2010). Em particular, diversos estudos empíricos têm apontado que a memória

operacional cumpre uma função determinante em uma série de atividades

metalinguísticas, como por exemplo, a aquisição de novas palavras ou a produção e a

compreensão da linguagem oral e escrita (Rodrigues, 2001; Capellini et al., 2007;

Capovilla et al., 2007).

Embora se considere que tanto a consciência fonológica quanto a memória

operacional são componentes do processamento fonológico (Gindri, Keske-Soares &

Mota, 2007), o grau de importância da memória operacional em processos

metalinguísticos está relacionado, em geral, com a necessidade de armazenamento

provisório e com a manipulação de informações durante o processamento das

informações fonológicas (Andrade & Baddeley, 2011; Baddeley, 2012; Capellini et al.,

2007; Oakhill e Kyler, 2000; Rodrigues, 2001).

Este estudo se justifica por não existirem pesquisas, ao nosso conhecimento, que

discutam a possibilidade de a memória operacional ser um bom preditor para o

desempenho da consciência fonológica no que se refere ao contexto do português

brasileiro, considerando as especificidades referentes a escolas públicas e privadas.

Ainda que tenham sido encontrados diversos estudos que discutam: a) a possibilidade

de que ambos sejam bons preditores para o desenvolvimento da leitura e da escrita

(Gindri et al., 2007; Soares, Jacinto & Cárnio, 2012); b) a relação com os transtornos

associados à aprendizagem (Capellini, Padula & Ciasca, 2004; Geary, 2004; Swanson,

Howard & Saez, 2006); c) o índice de correlação entre estas variáveis no contexto

internacional (Bradley & Bryant, 1983; Leather & Henry, 1994; Oakhill & Kyle, 2000),

considera-se que ainda permanece esta lacuna na produção de conhecimento referente a

estas variáveis.

3

Quanto à exposição, este trabalho está estruturado em cinco capítulos. Os dois

primeiros são responsáveis pela apresentação da fundamentação teórica e das variáveis

exploradas por esta pesquisa: Capítulo 1 - Fundamentação Teórica: A Memória

Operacional; Capítulo 2 - Fundamentação Teórica: A Consciência Fonológica. O

terceiro capítulo representa um trabalho de revisão de literatura: Capítulo 3 - Estudo

Teórico 1: Relações entre a Memória Operacional e a Consciência Fonológica e as

Habilidades de Leitura e Escrita: Uma Revisão Narrativa de Literatura. Os dois últimos

apresentam os dados empíricos encontrados através desta pesquisa: Capítulo 4 - Estudo

Empírico 1: Desempenho de Escolares de 1°ao 4° Ano do Ensino Fundamental em

Memória Operacional e Consciência Fonológica; e o Capítulo 5 – Estudo Empírico 2: A

Memória Operacional é Capaz de Predizer o Desempenho em Habilidades de

Consciência Fonológica?.

4

PROBLEMA DE PESQUISA

A partir dos estudos referentes à memória operacional e à consciência

fonológica, considerando as dificuldades relacionadas ao português brasileiro e aos

aspectos socioculturais de uma cidade do interior da Bahia, questiona-se:

A memória operacional é capaz de predizer o desempenho em habilidades de

consciência fonológica de escolares do 1° ao 4° ano do ensino fundamental?

Há diferenças de desempenho entre crianças de escolas públicas e privadas em

memória operacional e consciência fonológica?

Há diferenças entre os sexos no que se refere ao desempenho nesta função e

nesta habilidade cognitiva?

É possível verificar diferenças no desempenho dos instrumentos

neuropsicológicos utilizando os critérios de idade e ano escolar?

5

OBJETIVO GERAL

O objetivo geral desta pesquisa foi verificar se o desempenho em memória

operacional é capaz de predizer o desempenho em consciência fonológica de escolares

do 1° ao 4° ano do ensino fundamental de escolas públicas e privadas de um município

do interior da Bahia.

Objetivos específicos

Avaliar, a partir de testes neuropsicológicos, o desempenho em memória

operacional e consciência fonológica de crianças do 1° ao 4° ano do ensino

fundamental;

Verificar se há diferenças significativas entre o desempenho de crianças:

entre escolas públicas e privadas; considerando a variável sexo; entre as

idades; e entre os anos escolares.

Estabelecer índice de predição, a partir da modelagem por equação

estrutural, para verificar se o mesmo é significativo entre as variáveis:

memória operacional e a consciência fonológica.

6

CAPÍTULO 1 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA: A MEMÓRIA

OPERACIONAL

Apesar das divergências na literatura, confere-se o uso inicial da terminologia

“memória operacional” aos estudos de Miller, Galenter e Pibram (1960), sendo definida

enquanto uma função cognitiva responsável pelo armazenamento temporário de

informações. Outro modelo de memória descrito e verificado empiricamente na década

de 1960, igualmente se refere ao termo “memória operacional" (Atkinson & Shiffrin,

1968).

O modelo de memória operacional utilizado no presente estudo é o preconizado por

Baddeley e Hitch (1974) e Baddeley (2000), que se difere dos modelos inicialmente

propostos à medida que apresenta a memória operacional enquanto uma função

cognitiva integrante de sistemas cerebrais diversos e complexos, responsáveis não

apenas pelo armazenamento provisório, mas, especialmente, pelo monitoramento e

manipulação de informações durante a realização de operações cognitivas diversas

(Baddeley, 2000).

O modelo de memória operacional empregado nos estudos anteriores, comporta a

compreensão da memória humana como um sistema unitário. O modelo de memória

predominante nos anos de 1960, já preconizava a existência de um módulo sensorial,

uma memória de curto prazo (um sistema responsável pelo armazenamento temporário

de informações) e uma memória de longo prazo (Atkinson & Shiffrin, 1968). Neste

pressuposto, a utilização da memória de curto prazo seria essencial apenas para a

consolidação e recordação de informações da memória de longo prazo, além de mediar

o funcionamento cognitivo. A função primordial da memória de curto prazo seria a

reprodução verbal da informação, sendo que, quanto mais tempo determinada

informação ficasse na memória de curto prazo, por meio de um processo chamado de

7

subvocalização, maiores seriam as chances de consolidação na memória de longo prazo

(Atkinson & Shiffrin, 1968). Em função disto, quanto mais próximo do limite da

amplitude da memória de curto prazo, menores eram as chances de consolidação na

memória de longo prazo, uma vez que não haveria recursos suficientes para o processo

de subvocalização. A partir desta concepção, seria inviável a realização de operações

cognitivas simples, como recobrar conhecimentos da memória de longo prazo, caso a

memória de curto prazo estivesse em capacidade limítrofe ou apresentasse determinado

déficit decorrente de uma lesão cerebral (Rodrigues, 2001).

Em função do nível de vinculação e interação postulado por este pressuposto, era de

se acreditar que um sistema único de memória com as suas respectivas subdivisões

particulares, exibisse uma atuação consideravelmente baixa. A partir destes elementos,

esta compreensão de memória acabou apresentando-se como equivocada quando

comparada a diversos estudos neuropsicológicos, realizados com pacientes que

apresentavam déficits expressivos na sua capacidade de armazenamento temporário de

informações, mas que conservavam a sua capacidade de executar outras tarefas

cognitivas (Baddeley & Warrington, 1970; Baddeley, 1986; Rodrigues, 2001; Shallice &

Warrington, 1970). Tais evidências proporcionaram modificações paradigmáticas na

maneira como a memória humana deveria ser analisada futuramente.

Como oposição à perspectiva de que a memória humana era uma entidade única,

com subdivisões específicas, executando, na maior parte do tempo, suas atividades em

série, surgiu à perspectiva de que não existe "a memória" com suas respectivas

subdivisões, mas sim, múltiplos sistemas de memória que podem atuar em paralelo, na

eventualidade da disfunção de algum dos sistemas que a compõem (Tulving & Schacter,

1990). As produções a cerca da temática no âmbito da neuropsicologia cognitiva

apresentam inúmeros relatos (Baddeley & Hitch, 1974; Baddeley, 2000; Lewandowsky

8

& Heit, 2006; McAndrews & Milner, 1991; Reyna et al., 2011; Turner, Denis & Van

Zandt, 2013) que dão suporte empírico à tese de que a memória humana é composta de

diversos sistemas de memória, trazendo à análise diversos fatores que diferenciam os

modelos precursores dos modelos atuais, especialmente, quando abordadas as

diferenças e similaridades entre a memória operacional e a memória de curto prazo

(Gomes, 2007).

A primeira grande diferença entre os modelos precursores de memória e os modelos

atuais, está relacionada à forma de armazenamento temporário na memória operacional,

preconizada por modelos teóricos como o de Atkinson e Shiffrin (1968). Vale a pena

ressaltar que embora este modelo não tenha mais um apoio empírico significativo, ele

foi o precursor de uma série de modelos empíricos da memória operacional. Contudo,

este modelo fundamentava-se na hipótese de que a memória operacional seria um

"depósito" passivo das informações que seriam transferidas para a memória de longo

prazo, ou que, dela seriam readquiridas. Esta compreensão tornou-se obsoleta, uma vez

que atualmente parte-se do pressuposto de que a memória operacional cumpre um papel

basilar, não só no armazenamento provisório de informações, como também na

modificação, monitoramento e manipulação destas (Gomes, 2007).

A segunda diferença decorre da maneira como é descrita a memória, do ponto de

vista experimental. Uma das propriedades mais relevantes deste pressuposto teórico, e

que influenciou consideravelmente o desenvolvimento de teorias sobre elementos e

processos mnemônicos, é o de que a memória humana é um conceito unitário que

possui subdivisões específicas, neste caso, a memória de curto prazo e a memória de

longo prazo. Desde William James, o estudo científico da memória humana vem sendo

caracterizado por uma bifurcação entre memória de curto prazo e memória de longo

prazo (Gomes, 2007; James, 1890; Lasca, 2003; Schultz & Schultz, 2002).

9

A memória de curto prazo, de maneira geral, constitui uma função cognitiva humana

capaz de armazenar informações temporariamente com uma capacidade de

processamento limitada. Já a memória de longo prazo, é conceituada por um sistema no

qual são registradas as informações previamente adquiridas, como por exemplo,

informações semânticas, episódicas, procedimentais, entre outras. Esta compreensão da

memória sobrepujou grande parte dos construtos psicológicos sobre a memória humana,

e, ainda hoje, exerce uma influência muito ampla na maneira de teorização sobre

composições e processos de memória (Eysenck & Keane, 2000). As divergências

existentes entre os modelos mais antigos e unitários de memória, postulados

fundamentalmente entre as décadas de 1960 e 1970, e os modelos atuais de memória

operacional, versam essencialmente sobre a independência operacional, a multiplicidade

de componentes (central executiva, alça fonológica, esboço visuoespacial, retentor

episódico), o fluxo, o monitoramento e a manutenção de informações (Baddeley, 2012).

Vale ressaltar, que os modelos atuais de memória operacional não indicam

necessariamente que a memória operacional não tenha ligação com outros sistemas de

memória, pois consideram, por exemplo, que processos de controle executivo, como os

que são realizados durante a compreensão da linguagem, precisam de uma conexão

entre as informações mantidas na memória operacional e informações recuperadas de

outros sistemas de memória (Rodrigues, 2001). Defende-se, pelo contrário, a hipótese

de que a memória operacional tem uma eficácia maior quando integrada com outros

sistemas de memória, podendo, também, trabalhar de maneira independente (Baddeley,

2012), sendo possível, por exemplo, que uma pessoa com dificuldades em armazenar

informações verbais ou visuoespaciais, tenha um funcionamento cognitivo satisfatório

em outras funções cognitivas (Rodrigues, 2001).

Atualmente, existem diversos modelos teóricos que abordam o conceito de memória

10

operacional, tanto do ponto de vista anatômico quanto cognitivo. Destes, três fruem de

vasta aceitação, são eles: o modelo de Cowan, o modelo de Ericsson e Kintsch e o

modelo de Baddeley e Hitch.

De acordo com o modelo de Cowan (2005), a memória operacional não se

caracteriza como um sistema de memória separado, mas como um componente da

memória de longo prazo. Representações na memória operacional compõem parte do

conjunto das representações da memória de longo prazo, sendo a memória operacional,

constituída por dois níveis embutidos. O primeiro nível versa sobre as representações

que são acionadas da memória de longo prazo, considerando-se que é possível a

existência de um amplo número delas, pois não existe limite para a ativação de tais

representações.

O segundo nível, é denominado como foco de atenção, que apresenta uma

capacidade limitada, sendo capaz de guardar até quatro das representações evocadas. O

foco de atenção é controlado pela central executiva quando são requeridos

processamentos espontâneos de estratégia e por mudanças automáticas de foco

atencional, relativo a alterações abruptas de estímulo (Carneiro, 2008).

De acordo com este modelo, as diferenças desenvolvimentais da memória

operacional decorrem de um funcionamento distinto do foco de atenção (Carneiro,

2008). Estas diferenças desenvolvimentais fazem referência à quantidade de elementos

que podem ser apreendidos pelo foco de atenção, e sugerem que quanto maior for a

quantidade de informação recebida, mais informação será processada. Referem-se

ainda, à eficácia com que a atenção apreende os estímulos relevantes, além de como a

atenção pode ser usada para eliminar ou inibir a ativação de estímulos irrelevantes.

Quando o espaço disponível do armazenamento é assumido por informação irrelevante,

que não foi devidamente suprimida, a memória operacional torna-se menos eficiente.

11

De acordo com este ponto de vista, o desenvolvimento da memória operacional

acontece principalmente porque as crianças, quando mais velhas, são mais competentes

em focar a atenção em informações relevantes e a inibirem características irrelevantes,

que, muitas vezes, são acionadas automaticamente (Cowan, 1997).

A atenção, portanto, exerceria a função de constituir novas ligações entre as

representações existentes na memória de longo prazo, o que, por exemplo, facilitaria a

conexão de diferentes níveis de conhecimento linguístico e/ou de várias proposições

dentro de uma frase. Segundo este modelo, as conexões poderiam também ser

instituídas entre as representações que estão ativadas, mas que não estão dentro do foco

atencional, permitindo assim, um maior suporte automático nas tarefas que necessitam

de maior amplitude da memória operacional (Cowan, 1997).

Oberauer (2002) afirma que a relação entre o armazenamento e o processamento de

informações na memória operacional é mediada pela atenção seletiva, e, a partir desta

afirmação, acrescenta ao modelo do Cowan um terceiro componente: uma região de

capacidade limitada de acesso direto, com o foco atencional mais estreito e que registra

um único estímulo a cada ocasião. Tal foco, limitado a um componente, é embutido no

foco rudimentar e serve para selecionar uma única parte da informação para

processamento.

Diferentes experimentos foram realizados (Oberauer et al., 2001; Oberauer, 2002)

com o objetivo de avaliar a relação entre o armazenamento e o processamento de

informações com base no modelo de memória operacional proposto por Cowan. No

primeiro experimento, foi solicitado a um grupo de jovens e idosos que associassem

uma lista de três a seis dígitos com uma tarefa de cálculo matemático. Em outra

condição, os participantes tiveram que substituir espaços vazios em uma atividade de

cálculo matemático por dígitos específicos da lista de números que foi solicitado que o

12

participante memorizasse. Os resultados indicaram que, desde que a tarefa de

memorização e a tarefa de processamento não estivessem relacionadas, não haveria

efeito da carga de armazenamento sobre os resultados dos cálculos matemáticos,

entretanto, a velocidade e a precisão do cálculo foram prejudicadas pela necessidade de

acessar as informações armazenadas para substituir as lacunas na segunda atividade.

De acordo com Oberauer (2002), tais resultados podem ser interpretados com base

nos estudos desenvolvidos por Cowan (1988, 1995, 1999): nos quais o primeiro

experimento necessitaria do uso da parte ativada da memória de longo prazo, e o

segundo experimento, do foco de atenção. Por outro lado, Oberauer (2002) sugere haver

ambiguidade no modelo de foco de atenção proposto por Cowan (1988,1995, 1999,

2001, 2006, 2007), citando como exemplo os estudos de Garavan (1998) e McElree e

Dosher (1989), onde estes sugerem a existência de um foco mais estreito que é

geralmente restrito a um único objeto.

A partir destas pesquisas, Oberauer (2002) propõe conceituar a memória operacional

como uma estrutura concêntrica de representações, composta por três regiões

funcionalmente distintas: a) a parte ativada da memória de longo prazo (que exerce a

função de memorizar informações durante períodos breves para recordação posterior);

b) a região de acesso direto, com um número limitado de pedaços (chunks) disponíveis

para serem utilizados em processos cognitivos em curso; c) O foco da atenção, que

detém a qualquer momento a informação realmente escolhida como o objeto da próxima

operação cognitiva. O autor ressalta ainda, que apenas as informações contidas na

região de acesso direto são consideradas como candidatas à seleção pelo foco da

atenção. Por fim, Oberauer (2002) pontua que o modelo de memória operacional

proposto por Baddeley e Hitch (1974) e Baddeley (2000) poderia acomodar a

proposição das três regiões distintas, pois assume que os conjuntos de ativos são

13

mantidos na central executiva, ao passo que os conjuntos de passivos são realizados na

alça fonológica.

Desta maneira, é possível compreender que a capacidade efetiva da memória

operacional é uma característica emergente de processos de ativação automáticos e,

especialmente, de processos de controle atencional limitados e não conscientes (Cowan,

1988, 1997, 2010; Moreira, 2007). Mais recentemente, Baddeley, Allen e Hitch (2011),

demonstraram que pelo menos em relação ao processamento da memória para

conjunções (binding) da memória operacional, o processamento parece ocorrer de forma

automática, sendo dependente dos controles atencionais propostos por Cowan (2010).

Cowan (2008) propõe também que a memória operacional não é completamente distinta

da memória de curto prazo, logo, inclui a memória de curto prazo e outros mecanismos

de processamento que ajudam a fazer uso desta.

Cowan e Morey (2006), ao aderir à definição mais tradicional de memória

operacional, propuseram que várias funções da atenção são relevantes para diferenças

individuais em aptidões que costumam ser relacionadas a memória operacional. O

controle atencional é relevante, mas não é uma contribuição independente do número de

itens que podem ser armazenados na atenção, ou seja, a sua amplitude. De acordo com

este ponto de vista, o que pode ser necessário para um procedimento de memória

operacional correlacionar bem com aptidões cognitivas, é que a tarefa evite o ensaio

verbal encoberto, fazendo com que o participante necessite contar com um

processamento atencional mais exigente.

Importante ressaltar que, embora haja algum tipo de ativação da memória para todos

os estímulos, os elementos que estão no foco da atenção são ativados mais

completamente do que os grupos que não estão sob o foco da mesma (Cowan, 1999,

2001, 2010).

14

Figura 1. O modelo dos processos embutidos de memória operacional de

Nelson Cowan (adaptado de Moreira, 2007).

Na figura 1, pode-se observar que quando o estímulo é comum e já conhecido, não

há necessidade de utilização do foco da atenção, exceto aqueles que, apesar de

conhecidos, entram no foco da atenção através de processos voluntários. Observa-se

também que o armazenamento de informações de longo prazo, pode ocorrer

automaticamente ou utilizar-se de recursos atencionais, com o objetivo de possibilitar

uma maior codificação da informação, fato importante tanto para a evocação voluntária

como para o armazenamento episódico (Moreira, 2007).

Sobre as limitações de seu modelo de memória operacional, Cowan pontua que: o

foco da atenção tem capacidade limitada sendo sua capacidade média de quatro itens

não relacionados, ressaltando que nenhuma outra função cognitiva teria um limite em

sua capacidade de armazenamento; qualquer informação que é propositalmente

recordada, independente de ser um estímulo recente ou uma informação presente na

memória de longo prazo, está limitada ao limite do foco da atenção (Cowan, 1999,

2001, 2010). Em suma, Cowan (2008) pontua que saber se a memória de curto prazo e a

15

memória operacional são diferentes, pode se resumir a uma questão de semântica. Há

claramente diferenças entre tarefas de simples recordação em série, que não se

correlacionam muito bem com os testes de aptidão e inteligência em adultos, e tarefas

que exigem memória e processamento sem a possibilidade de ensaio, que se

correlacionam muito melhor com aptidões. Entretanto, usar o termo memória

operacional para o último conjunto de tarefas, ou reservar o termo para todo o sistema

de preservação da memória de curto prazo e para a manipulação de informações, trata-

se, segundo o autor, de uma questão pessoal.

O modelo proposto por Cowan é bastante aceito na atualidade, e influenciou de

maneira significativa a compreensão sobre o papel da atenção no funcionamento da

memória operacional, coexistindo com outros modelos. Discutir-se-á, a seguir, sobre os

outros dois modelos proeminentes da área: o modelo proposto por Ericsson e Kintsch, e,

posteriormente, o modelo que embasa a discussão deste estudo, proposto por Baddeley

e Hitch.

O modelo de memória operacional proposto por Ericsson e Kintsch (1995), concebe

a memória operacional como responsável pela manipulação e monitoramento das

informações para execução de atividades cognitivas, entretanto, difere dos outros

modelos ao sugerir a existência de uma capacidade maior do que a sugerida pelo limite

em tarefas de repetição de dígitos. Contrapõem-se, pois, ao modelo proposto por

Baddeley e Hitch (1974, 2000), ao questionar se os mecanismos que explicam a

capacidade limitada da memória operacional dos sujeitos em tarefas de laboratório,

também são responsáveis pela capacidade de memória operacional em pessoas com

desempenho acima do esperado nesta função. Ericsson e Kintsch (1995) questionaram o

modelo multicomponente de Baddeley e Hitch (1974), ao investigar a interrupção e

retomada em tarefas de memorização sem que os sujeitos tenham prejuízos no

16

desempenho, com base no modelo de armazenamento temporário. Para estes autores, o

modelo de memória operacional multicomponente de Baddeley e Hitch (1974), seria

insuficiente para explicar esta capacidade.

O estudo de Chase e Ericsson (1982) verificou que embora a maior parte dos

adultos possa reproduzir até sete dígitos na ordem correta, depois de várias horas de

prática nesta tarefa, dois indivíduos foram capazes de aumentar seu desempenho de

memória operacional para mais de 80 dígitos. Essa condição é possível por meio de

treinamento extensivo, resultado de uma tática de memorização em que os dígitos em

uma lista são agrupados (geralmente em grupos de três a cinco), e tais grupos são

codificados em uma única unidade fatia (chunk). Para tal, se faz indispensável que os

grupos de dígitos tenham uma ordem conhecida.

Ericsson e Kintsch (1995) defendem que a memória operacional é empregada em

boa parte das atividades diárias, e que tarefas como leitura, por exemplo, demandariam

a sustentação de mais do que sete fatias. Com este limite, a memória operacional tornar-

se-ia sobrecarregada após poucas frases, o que impossibilitaria a compreensão de

relações cognitivas complexas entre informações dadas apenas por um programa de

televisão ou pela leitura de um livro. Segundo estes autores, só é possível armazenar a

maioria das informações processadas na memória de longo prazo ligando as

informações à memória operacional através de estruturas de recuperação. Em função de

tais aspectos, se torna necessário manter, então, apenas poucas informações na memória

operacional.

Para executar tarefas cognitivas complexas, as pessoas devem manter o acesso a

grandes quantidades de informações, por isso Ericsson e Kintsch (1995) sugerem que a

definição padrão de memória operacional é restritiva, pois se refere apenas ao

armazenamento temporário de informações que estão sendo processadas em uma série

17

qualquer de tarefas cognitivas, ou seja, as informações mantidas no armazenamento

temporário serão de fácil acesso apenas por um curto período de tempo, sem ensaio ou

reativação. Portanto, estes autores propõem que o conceito de memória operacional

deva incluir, além do armazenamento temporário de informações, outro mecanismo com

base no uso hábil de armazenamento na memória de longo prazo, o que denominaram

como memória operacional de longo prazo.

Ericsson (1985) demonstrou que geralmente observa-se a melhora do desempenho

da memória após práticas e repetições de tarefas de memória, e que a familiaridade de

um indivíduo com um determinado tipo de material, está relacionada com o tempo

necessário para memorizar a informação requerida. Assim, com mais familiaridade e

experiência com um determinado tipo de estímulo, os indivíduos adquirem ao longo do

tempo um conjunto de padrões complexos de memória de longo prazo, o que lhes

permite representar as informações em termos de padrões já adquiridos (chunks) de

elementos, no lugar de elementos de estímulo individuais (Miller, 1956). As grandes

diferenças entre o desempenho da memória de especialistas e de novatos têm sido

igualmente contabilizadas em termos de fragmentos/fatias (chunks). As maiores

diferenças individuais no desempenho da memória estão associadas com especialistas

de memória e mnemonistas profissionais, cujo desempenho excepcional reflete altas

habilidades adquiridas para armazenar tipos específicos de informações na memória de

longo prazo (Ericsson, 1985, 1988b).

Em resumo, com a prática e aquisição de habilidades de memória, os indivíduos

podem melhorar o seu desempenho da evocação de uma tarefa de memória específica

com um determinado tipo de material de estímulo de 100 a 1000 % (Ericson & Kintsch,

1995). A reprodução praticamente perfeita das informações apresentadas, especialmente

na tarefa de extensão de dígitos, demonstra que após a prática, os indivíduos são

18

capazes de usar a memória de longo prazo para o armazenamento destas informações,

mesmo com tempo de estimulação relativamente curto. A melhora se dá devido ao

aumento da capacidade de armazenar informações da memória de longo prazo e a

associação de informações apresentadas com sugestões de recuperação, que permitem

uma recuperação confiável (Ericsson & Kintsch, 1995).

Os resultados de estudos sobre a memória operacional que tem utilizado tarefas

mais complexas e com maiores exigências, como a categorização de um grande número

de estímulos, indicam altos níveis de recordação livre incidental, que se relacionam

diretamente com o número e tamanho das categorias de estímulos que os sujeitos geram

(Mandler, 1967).

Há diferenças entre o modelo de memória operacional preconizado por estes autores

e o modelo multicomponente de memória desenvolvido por Baddeley e Hitch (1974),

que é utilizado como base teórica deste estudo. O modelo multicomponente de memória

operacional proposto por Baddeley e Hitch (1974) e Baddeley (2000), evoluiu do

conceito de memória de curto prazo, diferenciando-se não só pela capacidade de

armazenamento temporário de informações, mas, principalmente, por fornecer

explicações para o processamento de manipulação destas.

De acordo com o modelo multicomponente, a memória operacional permite a

estocagem temporária de uma informação relacionada a um desempenho por ocasião de

uma tarefa cognitiva, tal como a resolução de um problema. Ela é uma memória com

fraca capacidade de estocagem, na qual a informação permanece por muito pouco

tempo e que utiliza todos os elementos necessários para efetuar a tarefa do momento

presente, habitualmente estocados em outros registros de memória (Correia, 2008).

Baddeley e Hitch (1974), inicialmente, incluíram no conceito de memória

operacional apenas três subsistemas funcionais: a alça fonológica, a central executiva e

19

o esboço visuoespacial. Posteriormente, foi incluído um quarto subsistema (Baddeley,

2000), o retentor episódico (Figura 2). Adiante, explorar-se-á melhor cada um dos

subsistemas propostos pelos autores.

Figura 2. Representação dos componentes de Memória Operacional (adaptado

de Baddeley, 2012).

A central executiva

De acordo com Baddeley (2012), a central executiva é o subsistema mais complexo

do modelo de memória operacional. Possui capacidade limitada e é responsável pela

manutenção da interação entre os subsistemas subordinados: a alça fonológica, o esboço

visuoespacial e a memória de longo prazo, além de ser responsável pelas táticas de

seleção e organização de informações (Correia, 2008). A alça fonológica tem dois

subsistemas: a realimentação subvocal e o armazenador fonológico temporário.

Pesquisas realizadas em pacientes com lesão detectada por neuroimagem apontam a sua

localização nas áreas de Brodman 44 e 40. O esboço visuoespacial encontra-se situado,

sobretudo, no hemisfério direito (áreas 6, 19, 40 e 47 de Brodman), e seria responsável

pela manipulação de informação visual, sinestésica e espacial (Baddeley, 2000).

A central executiva supervisiona as atividades de atenção e o controle de respostas,

consistindo um subsistema decisivo para a memória operacional por ser a estrutura de

entrada, que determina a informação a ser processada adicionalmente, e como processá-

la (Sternberg, 2010). É um subsistema exercido preponderantemente pelo lobo frontal e,

20

dentre diferentes funções, supervisiona as informações que serão codificadas,

registradas e evocadas, simultaneamente à sua entrada no sistema (Correia, 2008). Além

disso, está envolvida no raciocínio lógico e na apreensão de informações de ordem

superior, sendo essencial para a inteligência humana (Sternberg, 2010). Responde pela

organização da entrada de informações através da memória operacional, sendo

responsável também pela recuperação da informação da estocagem mais permanente da

memória de longo prazo e pela execução de táticas de recuperação, raciocínio lógico e

cálculo mental (Baddeley, 1986). A literatura sugere que a principal função da central

executiva seja a de coordenar o fluxo de informações através da memória operacional,

sendo esta, também responsável pela recuperação de informações da memória de longo

prazo, assim como, existem indícios de que seja responsável pelo controle das ações,

planificação e controle do comportamento direcionado a uma finalidade específica

(Baddeley, 1986).

Yuill, Oakhill e Parkin (1989) sugerem que o desempenho da central executiva tem

relação direta com o funcionamento da amplitude de dígitos da memória operacional,

que a capacidade de memorização desta amplitude tende a aumentar com a idade, e

sinalizam que crianças que apresentam déficits na compreensão da leitura, muito

provavelmente, apresentam déficits na amplitude da memória operacional.

Gathercole (1998) sugere que a memória operacional é um modelo útil no que tange

as investigações sobre desenvolvimento de diversos processos cognitivos, como

linguagem e aprendizagem. Esta tem sua capacidade ampliada durante a infância

(Gathercole, 1999) e se reduz durante a terceira idade (Linden, Bredart & Beerten,

1994). Gathercole, Pickering, Ambridge e Wearing (2004) e Isaacs e Vargha-Khadem

(1989) indicam que os componentes básicos da memória operacional estariam formados

a partir dos seis anos, ou até mais cedo, na idade pré-escolar, sendo que esta capacidade

21

tende a aumentar de forma significativa até a adolescência.

O mecanismo que permite o aumento gradativo da amplitude de dígitos de acordo

com a idade do sujeito, o aumento da capacidade de realizar operações cognitivas

complexas e o armazenamento de informações parciais, ainda não foi totalmente

esclarecido. Uma das hipóteses é de que a amplitude total da memória operacional

aumenta com o desenvolvimento, outra, é de que a demanda de processamento seja

atenuada com o tempo e, dessa maneira, seja permitido ao sistema um acionamento

maior dos recursos limitados que, nesta hipótese, permaneceriam constantes ao longo da

vida (Pereira, 2007). Pesquisas como a realizada por Kane e Engle (2002), indicam que

o desenvolvimento da central executiva está estritamente relacionado com a maturação

do córtex pré-frontal, sendo o subsistema da memória operacional que se desenvolve

mais tardiamente, chegando a seu ápice apenas no final da adolescência.

A avaliação do desenvolvimento da central executiva tem sido realizada a partir de

atividades complexas, que demandam tanto a retenção quanto a manipulação mental da

informação, como por exemplo, a amplitude de dígitos – Escala Wechsler de

Inteligência para Crianças 3a edição - WISC-III (Pasquali, Wechsler & Bensusan, 2002)

e os Cubos de Corsi (Kessels, Van Zandvoort, Postma, Kappelle & De Haan, 2000) na

ordem inversa. A partir destas tarefas, Siegel (1994) indica que a central executiva se

desenvolve em crianças entre os seis anos e até os 15 anos de idade.

A seguir serão discutidos os aspectos referentes à conceituação e características da

alça fonológica, elemento passivo da memória operacional responsável pelo

armazenamento temporário das informações verbais.

A alça fonológica

De acordo com o modelo de memória operacional desenvolvido por Baddeley e

22

Hitch (1974) Baddeley (2000), a alça fonológica é um subsistema de armazenamento

temporário de informações verbais, sendo necessário para a recordação destas, ao passo

que a central executiva é o subsistema responsável por manipular estas informações.

A alça fonológica processa as informações verbalmente codificadas e sofre

influência do tamanho e da frequência de informações verbais, iniciando seu

desenvolvimento a partir dos seis anos de idade (Baddeley, 2003). Está localizada,

prioritariamente, na região de Broca, no hemisfério esquerdo e no córtex pré-frontal.

A alça fonológica é composta por dois subcomponentes: um armazenador

fonológico e um componente responsável pela realimentação subvocal (também

chamado de alça articulatória). O armazenador fonológico transforma as informações

verbais em um código fonológico, que tem como função arquivar as representações

fonológicas do estímulo recebido (que se perde com o tempo, ao final de dois

segundos). A realimentação subvocal, o segundo elemento da alça fonológica,

rememora as representações deterioradas na armazenagem fonológica, reativando-as e

mantendo-as na memória, além de favorecer o resgate das informações verbais em

declínio com o objetivo de conservá-las na memória. Esta também pode ser

compreendida como um mecanismo articulatório, que opera em tempo real, e que tem

uma quantidade limitada de unidades que podem ser mantidas em seu arquivo.

A realimentação subvocal é o meio empregado para que as representações fiquem

gravadas fonologicamente. A informação pode acessar a entrada para armazenagem

fonológica por duas vias: diretamente, pela apresentação auditiva do estímulo verbal, ou

indiretamente, por meio de uma alça que tem como responsabilidade a geração interna

de códigos fonológicos para inputs não auditivos, como palavras impressas ou objetos

familiares visualmente acessíveis. Estas representações, que são geradas a partir de

estímulos como palavras impressas e imagens, podem ser relembradas de maneira

23

fonológica, no entanto, sua natureza não é auditiva. A informação auditiva ganha acesso

automático e obrigatório ao arquivo fonológico (Pereira, 2007).

Estudos como o de Gathercole e Hitch (1993), em relação ao desenvolvimento da

memória operacional, indicam que a armazenagem fonológica está presente desde muito

cedo no desenvolvimento, contudo, a realimentação subvocal surge em torno dos sete

anos de idade. Pereira (2007) indica que alguns fatores podem influenciar a maneira

como armazenamos as informações na memória operacional, dentre estes, o tamanho

das palavras, advertindo também sobre a relevância da alça fonológica para a

recordação de palavras conhecidas e para a aquisição de novas palavras, além da

apreensão de informações auditivas novas.

De acordo com Gathercole e Adams (1994), que realizaram um estudo com 70

crianças entre quatro e cinco anos de idade, a memória de longo prazo pode ser

empregada enquanto um acessório para representação dos componentes memorizados

na memória operacional fonológica, que induzem a um desempenho melhor para

estímulos familiares. A informação prévia sobre palavras ou estruturas fonológicas já

adquiridas é utilizada com o objetivo de aprimorar o desempenho na repetição de não-

palavras, se estas contarem com estruturas análogas àquelas que já têm representação

lexical desenvolvida. Se as palavras empregadas são não-palavras, ou seja, sem

similares com representação lexical, a repetição parece estar sujeita unicamente à

memória operacional fonológica. A representação lexical das palavras pode ser acionada

pela percepção de não-palavras que partilham semelhança em relação à estrutura

fonológica.

Os dados empíricos sugerem que a alça fonológica é um subsistema especializado,

tanto na retenção, quanto na manipulação de informações verbais. A base para

recordação imediata das informações verbais advém da memorização de longo prazo do

24

conhecimento lexical, ou léxico mental. Ao manipular palavras conhecidas, em

contraponto com não-palavras de tamanhos iguais e que não diferem na duração de

articulação ou na quantidade de informação fonológica, o efeito de lexicalidade

(benefício na lembrança de palavras reais em prejuízo das listas de palavras inventadas)

decorre da acessibilidade ao conhecimento da memória de longo prazo sobre as palavras

previamente adquiridas.

As informações fonológicas, armazenadas sobre a estrutura das palavras, são

utilizadas para completar dados incompletos na representação de palavras no sistema

fonológico. Com estímulos de não-palavras, não há especificação de longo prazo para

recobrar, logo, a informação fonológica é perdida. Gathercole e Adams (1994) pontua

que crianças de cinco anos manifestaram uma vantagem na repetição de não-palavras

quando comparadas com crianças de quatro anos, o que sugere a influência da idade no

desenvolvimento desta função.

Evidências sugerem que existe um tipo básico de conhecimento de longo prazo

sobre as estruturas da língua materna, que mediam o desempenho da memória imediata

ainda que o estímulo seja não-palavra. Este é o conhecimento a respeito das

possibilidades de combinações dos componentes sonoros em cada língua. (Gathercole,

1998).

Segundo Pereira (2007) a alça fonológica é influenciada por alguns fenômenos,

como: 1. O efeito da semelhança fonológica: sons, letras ou palavras auditivamente

parecidas são mais difíceis de serem lembradas com acuidade e eficiência. Baddeley

(2012) indica que o efeito da semelhança fonológica, como descrito anteriormente,

exerce influência principalmente sobre a ordem do armazenamento de informações. De

fato, as semelhanças entre os itens podem auxiliar o armazenamento temporário das

informações, o que explica porque os estudos que visam investigar especificamente a

25

alça fonológica tendem a minimizar a necessidade de manter várias informações sobre o

item, utilizando uma informação limitada para a manipulação e recordação, como, por

exemplo, consoantes.

1. O efeito do comprimento da palavra: palavras mais curtas, pronunciadas em

sequência, são mais fáceis de serem recobradas do que um encadeamento de palavras

compridas. Baddeley, Thomson e Buchanan (1975) realizaram um estudo sobre a

recordação imediata de sequências de cinco palavras, que variaram em comprimento

entre uma e cinco sílabas, onde puderam constatar uma relação diretamente

proporcional entre a quantidade de sílabas e a dificuldade em recordar-se. Como

esperado, quando os participantes eram solicitados a ler palavras de diferentes

comprimentos tão rapidamente quanto possível, houve uma correspondência próxima

entre comprimento de palavra e articulação de tempo. Os resultados sugerem que

palavras mais longas levam mais tempo para serem memorizadas, o que resulta em uma

deterioração mais rápida da informação e, consecutivamente, uma recordação mais

pobre.

2. Efeito de supressão articulatória: quando a utilização do processo de

realimentação subvocal é prejudicado por algum estímulo distrator, como por exemplo,

a emissão de um estímulo sonoro sem um significado claro durante o processo de

recuperação da informação, o desempenho tende a enfraquecer-se de maneira

significativa.

3. Transformação da informação entre códigos: pela eficácia da alça fonológica na

memorização de informação em sequência, sujeitos adultos transformam os estímulos

visuais em dados auditivos nomeando-os, transformando um dado visual em um dado

auditivo.

Um estudo de Gathercole (1998) indica que a partir dos cinco anos de idade, a

26

realimentação subvocal não é utilizada espontaneamente pelos sujeitos, entretanto, a

autora sugere que essa tática possa ser induzida através de treinamento, ressaltando que

as crianças não dependem da estratégia de realimentação subvocal para manter as

informações no seu sistema fonológico, e que o percentual da articulação não influencia

esse armazenamento. Por fim, a autora pontua que crianças abaixo de sete anos, não

evidenciaram sofrer os efeitos de comprimento das palavras neste estudo.

A alça fonológica costuma ser avaliada a partir da amplitude de informações que é

capaz de memorizar. Segundo Pereira (2007), tal amplitude de memória pode ser

conceituada como a capacidade de memorizar um número máximo de itens verbais em

uma sequência correta, e seu aumento, costuma estar relacionado com a idade. Baddeley

(2012), Pereira (2007) e Gathercole (1998) sugerem que a partir dos quatro anos de

idade, a criança já consegue memorizar uma sequência correta de dois ou três dígitos,

enquanto que com 12 anos, essa competência cresce para seis dígitos.

Diversas pesquisas sobre a alça fonológica assinalam para a importância de se

considerar a variabilidade individual, ainda que exista concordância de que a amplitude

aumenta com o desenvolvimento da criança (Daneman & Carpenter, 1980; Jurden,

1995; Primi, 2002). As variabilidades individuais tendem a se relacionar com dois

aspectos da linguagem: a aquisição de vocabulário e a produção da fala, sendo que

ambas, são funções elementares da alça fonológica.

Pereira (2007) aponta que a amplitude da memória tende a aumentar a partir dos sete

anos, pois estas crianças já têm a possibilidade de articular itens mais rapidamente que

crianças mais novas, o que favorece a redução da perda destes itens da memória no

sistema fonológico antes da saída. Tal fato justifica-se porque a melhora na capacidade

de articulação das informações pelas crianças aumenta a efetividade da realimentação

subvocal e, por conseguinte, melhora o desempenho da amplitude da memória. Em

27

função disto, a taxa de articulação e a amplitude da memória operacional, não podem

ser correlacionadas uma à outra com sucesso em crianças com menos de sete anos,

entretanto, essa correlação é extremamente positiva em adultos. Outro fator relevante

sobre o aumento da amplitude da memória operacional fonológica em relação à idade, é

que as crianças tendem a expandir seu vocabulário, e este aumento, permite um melhor

conhecimento sobre as propriedades fonêmicas da língua materna.

Baddeley (2012) relata a investigação de um caso clínico no qual o paciente era

capaz de recordar apenas dois dígitos, apresentando características de um déficit

fonológico bastante específico de memória operacional. Seu intelecto era preservado, e

apresentava produção de linguagem fluente. Tal paciente fundamentou a hipótese de que

a alça fonológica era importante para a aquisição de novas aprendizagens fonológicas

em longo prazo, a partir do momento em que o mesmo não conseguiu aprender uma

única palavra em russo, mesmo depois de dez tentativas sucessivas, ao ponto que todos

os participantes do grupo controle, haviam apresentado desempenho normal para esta

tarefa (Baddeley, Papagno & Vallar, 1988). Ressaltando, por fim, a importância do

trabalho desenvolvido em conjunto com a professora Susan Gathercole, no qual

exploraram o papel da alça fonológica no incremento do vocabulário, tanto em crianças

com distúrbio específico de linguagem, quanto em crianças normais, onde os resultados

demonstraram que a memória operacional atua de maneira significativa nos estágios

iniciais de aquisição de vocabulário, além de estar ligada à habilidade de leitura

(Gathercole & Alloway, 2008).

O esboço visuoespacial

O esboço visuoespacial exerce a função de sustentar e manipular as informações

visuais referentes aos objetos e às relações espaciais existentes entre eles (Galera &

28

Fucks, 2003). É responsável por armazenar as informações visuais e espaciais, bem

como as formas, as cores, a localização e a velocidade dos objetos. Responde pelas

atividades da memória operacional que necessitam de processamento visuoespacial, e,

concomitantemente, exerce função relevante no desenvolvimento e na manipulação de

imagens mentais (Baddeley, 2006).

O esboço visuoespacial possui um armazenador temporário, assim como a alça

fonológica, onde as qualidades físicas dos estímulos visuais são representadas na

consciência. Além disso, esse subsistema da memória operacional é composto por uma

estrutura espacial que admite que o sujeito possa se localizar no espaço, possibilitando o

planejamento dos movimentos a serem executados e a atualização concomitante das

novas informações visuoespaciais advindas do ambiente (Uehara & Landeira-

Fernandez, 2010).

Uma característica importante sobre o funcionamento do esboço visuoespacial é que

o armazenamento e a realimentação das informações visuoespaciais dependem

intensamente da alça fonológica (Pickering, 2001). Segundo Logie (1995), o esboço

visuoespacial também tem dois componentes: um especializado em informações visuais

e outro nas informações geográficas.

A amplitude do esboço visuoespacial também aumenta durante o desenvolvimento

infantil. Na maioria das vezes, as crianças aos quatro anos de idade são capazes de

lembrar uma sequência de duas a três imagens (Gathercole & Baddeley, 1993). A partir

dos cinco, até os 11 anos de idade, a amplitude da memória operacional é duplicada,

atingindo um nível próximo do que se observa na fase adulta (Riggs, McTaggart,

Simpson & Freeman, 2006). Em todas as faixas etárias, quanto mais fácil e simples é o

estímulo visuoespacial, mais fácil será recordá-lo, bem como manipular as informações

advindas deste (cor, tamanho, movimento, direção etc.). Kemps (1999), por exemplo,

29

indica que é mais fácil recordar figuras compostas por blocos dispostos regularmente do

que imagens assimétricas e desestruturadas.

Por fim, é importante ressaltar que o esboço visuoespacial não é responsável pela

manipulação de todas as informações que chegam à memória operacional, cabendo-lhe

armazenar as informações visuais em série, ao passo que o retentor episódico é

responsável por armazenar as informações visuais, em um único padrão complexo, de

informação visual. Sendo assim, o retentor episódico será descrito a seguir.

O retentor episódico

O retentor episódico foi acrescentado ao modelo de memória operacional

desenvolvido por Baddeley e Hitch (1974) nos anos 2000 por Alan Baddeley. Este

subsistema é responsável pela conexão entre as informações conservadas

temporariamente na memória operacional com aquelas oriundas dos sistemas de longo-

prazo, formando uma representação episódica única, porém, com códigos

multidimensionais (Baddeley, 2000). Juntos, os subsistemas da memória operacional

estão imbricados em funções cognitivas superiores, tais como a aprendizagem,

compreensão da linguagem, leitura, aritmética, resolução de problemas e na produção

da própria consciência (Alloway, Gathercole, Willis, & Adams, 2004; Baddeley, 2012).

O retentor episódico é um subsistema de armazenamento temporário com

capacidade limitada, acessível à consciência, que interage com a memória de longa

duração episódica e semântica no desenvolvimento de representações unificadas com

base em uma nova informação. Desta maneira, o retentor episódico coordena uma

grande quantidade de informação, que excede a capacidade de armazenamento da alça

fonológica e do esboço visuoespacial, sem estar sujeito à central executiva (Baddeley,

2003). Sua função é lidar com as informações advindas dos outros subsistemas

30

subordinados e da memória de longo prazo, transformando-as em uma representação

episódica única. Também exerce função relevante na recuperação de informações da

memória de longo prazo e no fornecimento de novas informações para a mesma,

atuando como uma interconexão entre os outros componentes a partir de múltiplos

códigos.

Por fim, é importante ressaltar que não existe consenso na literatura sobre a

influência do nível socioeconômico sob a memória operacional. Um estudo realizado

por Engel, Santos e Gathercole (2008), por exemplo, indica não haver diferenças no

desempenho em memória operacional entre as crianças de diferentes grupos

socioeconômicos, o que corrobora com estudos anteriores que indicam que a memória

operacional não sofre influência de conhecimentos adquiridos, nem do contexto onde a

criança está inserida (Campbell, Dollaghan, Needleman & Janosky, 1997; Dollaghan &

Campbell, 1998; Jensen, 1970; Santos & Bueno, 2003). Entretanto, Evans e Fuller-

Rowell (2013) sugerem que quanto maior a duração da pobreza na infância, desde o

nascimento até os 13 anos de idade, pior será o desempenho da memória operacional

quando esta tornar-se um jovem adulto, em função da exposição a altos níveis de

estresse, o que corrobora com os estudos de Noble, Norman e Farah (2005), Noble,

McCandiliss e Farah (2007), realizados com crianças do ensino fundamental e do ensino

médio, bem com os de Farah et al., (2006), que demonstraram que quanto menor o nível

socioeconômico das crianças avaliadas, menor era o desempenho em atividades que

avaliavam a memória operacional.

De acordo com Passos (2009), a corrente mais completa de memória de curto prazo

é o modelo de memória operacional de Baddeley e Hitch (1974), revisado por Baddeley

em 2000. Assim, a escolha de tal modelo para o presente estudo justifica-se pela

demonstração de sua importância na caracterização do desenvolvimento de memória

31

durante a infância, como apontam vários estudos (Engel, 2009; Engel, Santos, &

Gathercole, 2008; Passos, 2009; Silva, Zaninotto, Lucia & Scaff, 2012), bem como para

o desenvolvimento da linguagem, vocabulário, leitura e escrita (Engel de Abreu et al.,

2014; Gindri, Keske-Soares & Mota, 2007; Soares, Jacinto & Cárnio, 2012).

32

CAPÍTULO 2 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA: A CONSCIÊNCIA

FONOLÓGICA

A consciência fonológica se refere à habilidade de prestar atenção consciente aos

sons da língua falada. É uma capacidade metalinguística, que tem como característica o

fato de o aprendiz pensar e operar com a língua, ponderando sobre os elementos sonoros

internos às palavras. Empregar-se-á, aqui, o conceito de habilidade metalinguística

preconizado pela Psicologia Cognitiva, que pressupõe dois aspectos básicos: “a reflexão

sobre a linguagem, erigida como objeto independente do significado que veicula, e a

manipulação intencional das estruturas linguísticas” (Gombert, 1992).

A consciência fonológica é responsável por desempenhar operações mentais

sobre o que é produzido pelos processos cognitivos envolvidos na compreensão de

frases, palavras, sílabas e fonemas. Deste modo, compreende tanto a consciência de

determinadas propriedades da linguagem, quanto à capacidade de compreender as

formas linguísticas como componentes de análise (Seabra & Capovilla, 2011).

De acordo com Gomes e Guedes (2010), a consciência linguística, ou

metalinguagem, refere-se à capacidade de pensar sobre a língua, isto é, de tratar a língua

como elemento de análise e observação, ou seja, de focalizar a atenção especificamente

em seus elementos e formas. As habilidades metalinguísticas podem estar relacionadas a

três níveis: sintático, lexical e fonológico, os quais se apresentam imbrincados, tanto ao

desenvolvimento linguístico, quanto ao processo de alfabetização (Cielo, 2000). Em

função destes aspectos, Seabra e Capovilla (2011) apontam que as habilidades

metalinguísticas são propositais e conscientes, entretanto, precisam da escolarização

para serem adquiridas.

Tumer e Kohl (1991, citado por Silva, 2003), dentre outros, consideram que a

consciência fonológica pode ser definida como a habilidade consciente de manipular

33

(mover, combinar ou suprimir) os componentes sonoros da linguagem oral, se

caracterizando por apresentar uma relação de reciprocidade com o desenvolvimento da

alfabetização. Não se trata de um fenômeno do tipo tudo-ou-nada, que as crianças e

adultos possuem ou não, visto que a consciência fonológica abarca uma gama de

habilidades que compreendem desde aquelas mais elementares, como a análise de

similaridades e disparidades fonológicas entre as palavras, até a competência para

identificar e segmentar fonemas (Cardoso-Martins, 1991). Gonzalez e Gonzalez (1994),

igualmente, pontuam que a consciência fonológica não compõe uma entidade

homogênea.

Gindri et al. (2007) afirmam que a consciência fonológica se amplia

continuamente durante o desenvolvimento infantil no que se refere a níveis de

complexidade, tratando-se de etapas de aprimoramento sucessivos, não necessariamente

lineares, visto que existem diversas variáveis intervenientes que atuam sobre o

desenvolvimento e maturação de cada criança, determinados por questões

socioeconômicas, culturais e de estimulação escolar. Além disso, deve-se considerar que

a maturação biológica per si também comporta as diferenças intra-individuais (Cielo,

2000).

Importante ressaltar, que o desempenho de crianças e adultos em atividades que

avaliem a consciência fonológica, costuma ser influenciado por fatores como: o nível de

dificuldade da tarefa e a experiência cognitiva que cada uma exige, ou seja, pela

capacidade de processamento de informação que solicitam (Roazzi & Dowker, 1989).

O desenvolvimento das habilidades de consciência fonológica ocorre

normalmente ao longo dos primeiros anos da infância (Carvalho, 2003). Nesta etapa

inicial, de acordo com Poersch (1998), tais habilidades constituem noções

procedimentais que ainda não admitem à criança refletir sobre a sua fala de modo

34

consciente. Assim, o mais adequado seria referir-se a uma sensibilidade fonológica, que

é um “dar-se conta de que algo existe, sem que isso lhe permita considerações mais

reflexivas que levem a explicar o como e o porquê” (Basso, 2006). Contudo,

progressivamente, aperfeiçoam-se os processos atencionais que levarão ao aparecimento

da consciência fonológica. Assim, as habilidades fonológicas apresentam diferentes

etapas de desenvolvimento sobre a composição fonológica da língua: um nível pré-

consciente, o da sensibilidade fonológica, e um nível consciente, o da consciência

fonológica (Basso, 2006).

Pereira (2004), considerando também estas etapas, adverte que as habilidades

que representam a consciência fonológica das crianças se encontram em um contínuo de

complexidade. Na primeira etapa, de menor complexidade deste contínuo, encontram-se

tarefas como a elaboração de rimas e segmentação de frases. No meio desse contínuo,

encontram-se as tarefas de divisão de palavras em sílabas. Em seguida, tarefas como

segmentar as palavras em rimas e aliterações. E, por fim, o mais aperfeiçoado nível de

consciência fonológica: a consciência fonêmica, que se refere à compreensão de que as

palavras são compostas por sons singulares, fonemas, e à habilidade de manipular estes

elementos de maneira consciente (Gomes & Guedes, 2010).

A compreensão sobre a composição sonora das palavras desenvolve-se nas

crianças ouvintes a partir do contato destas com a linguagem oral expressa em sua

língua materna. É a partir da relação da criança com os diferentes modos de expressão

oral, que a consciência fonológica desenvolve-se, desde que a criança esteja imersa em

um ambiente linguístico. As várias naturezas linguísticas, às quais qualquer criança é

apresentada dentro de uma sociedade, vão compondo suas habilidades de consciência

fonológica, dentre elas, sobressaem-se as canções, cantigas de roda, poemas e,

principalmente, a fala propriamente dita (Basso, 2006).

35

O desenvolvimento da consciência fonológica está relacionado ao

desenvolvimento simbólico da criança, em relação ao aspecto de prestar atenção

consciente às características sonoras das palavras (significante), em prejuízo de suas

características semânticas (significado). Neste sentido, vários estudos têm corroborado a

ideia de que existe um longo caminho a ser percorrido até que a criança compreenda

que a escrita não representa diretamente os significados, mas, os significantes verbais a

eles associados (Maluf & Barrera, 1997). Contudo, mesmo quando a criança

compreende a relação entre a escrita e a fala, existe todo um processo de elaboração

cognitiva com o objetivo de compreender como ocorre essa relação, a saber, através da

correspondência entre grafemas e fonemas (Ferreiro & Teberosky, 1987).

Não há uma concordância entre os pesquisadores sobre a ocasião de surgimento

da consciência fonológica ao longo do desenvolvimento, nem sobre o período de início

do desenvolvimento da consciência metalinguística. Autores como Haase (1990), por

exemplo, sugerem que as habilidades de consciência fonológica surgem entre os três e

quatro anos de idade, enquanto que, para outros, como Snowling (2004), o

aparecimento desta habilidade ocorre entre os seis e sete anos (consciência fonêmica),

acontecendo, concomitantemente, ao período de alfabetização, indicando que crianças

pequenas teriam maior consciência de sílabas, aliterações e rimas, e que, apenas

crianças na etapa de escolarização formal, exibiram a consciência dos fonemas (Seabra

& Capovilla, 2011). De fato, é possível observar crianças entre os quatro e cinco anos

parodiando com os nomes dos amigos em brincadeiras de rimas, como: "Joana cara de

banana, Manoel cara de papel", mesmo sem apresentar a consciência do que consiste

uma rima, os jogos não planejados de maneira consciente pelas crianças, corroboram a

ideia de que elas já possuem suas habilidades de consciência fonológica (Basso, 2006).

Cielo (2000) aponta que, entre os estudos sobre esta temática, sinaliza-se uma sequência

36

em ordem crescente com relação ao aparecimento e refinamento das habilidades de

consciência fonológica: “assimilação e produção de rimas (consciência de sequências

fonológicas - nível global e não analítico de consciência); capacidade em consciência

silábica; habilidade em consciência fonêmica (consciência segmental); consciência de

traços fonéticos (consciência fonêmica)”.

Haase (1990) sugere existir uma sequência evolutiva do desenvolvimento da

consciência fonológica: percepção de rima aos três anos, de sílabas aos quatro anos, de

palavra aos cinco ou seis anos e de fonemas aos sete anos de idade, assegurando, assim

como diversos autores (Bernardino, Freitas, Souza, Maranhe, Bandini, 2006; Gomes &

Guedes, 2010; Snowling, 2004), que o desenvolvimento da consciência fonêmica está

sujeito ao aprendizado da leitura e da escrita. Entretanto, Seabra e Capovilla (2011) e

Ferreiro (2003) alegam que o desenvolvimento da consciência fonológica nem sempre

acontece na ordem mencionada anteriormente, ou seja, uma capacidade que comumente

é desenvolvida posteriormente pode ser adquirida em momentos anteriores.

De acordo com Freitas (2004), ultimamente adotam-se os seguintes níveis de

consciência fonológica nos estudos: nível das sílabas, nível das unidades intra-silábicas

e nível dos fonemas. Deste modo, o conceito de consciência fonológica se torna mais

abrangente do que o conceito de consciência fonêmica, já que inclui a consciência de

unidades maiores que os fonemas: sílabas, frases e rimas, por exemplo.

Um estudo realizado por Cardoso-Martins (1991) indicou que crianças na fase

pré-escolar encontravam-se no nível das sílabas, o que de acordo com Silva (2003), é o

modo mais comum e primordial em analisar as palavras. Ainda de acordo com a autora,

outra forma de análise linguística consiste na identificação dos componentes da sílaba:

as unidades intra-silábicas. Por fim, a autora retrata o nível dos fonemas, ou consciência

37

fonêmica, que segundo Freitas (2004), “compreende a capacidade de dividir as

palavras em fonemas” e demanda, em função da sua complexidade, um alto nível de

consciência fonológica, que, por sua vez, depende da instrução formal. “O fonema é a

menor unidade sonora que permite diferenciar uma palavra de outra cuja apreensão de

forma consciente se revelará mais problemática” (Silva, 2003).

A consciência dos segmentos fonêmicos das palavras, último passo do

desenvolvimento da consciência fonológica, normalmente se desenvolve no final da

idade pré-escolar e início do ensino fundamental, em grande parte como resultado do

processo de alfabetização (Cardoso-Martins, 1991). A consciência fonêmica pode ser

conceituada como a habilidade de decompor as palavras aos pequenos componentes ou

sons que as formam (fonemas).

Seabra e Capovilla (2011) previnem que o termo “consciência fonêmica” deve

ser utilizado exclusivamente como referência específica à consciência dos fonemas, não

devendo ser confundido com a consciência fonológica. Ressaltando ainda, que o

desenvolvimento da consciência fonológica a partir da educação formal, da leitura e da

escrita, está sujeito ao tipo de sistema de escrita que está sendo empregado, visto que a

consciência fonêmica se desenvolve apenas em um modelo de educação formal que

utilize um sistema alfabético de escrita, não surgindo quando o sistema de ensino for

silábico ou ideográfico.

Alegria et al. (1997) destacam que a consciência de que a fala possui elementos

fonêmicos subjacentes é extremamente importante para aquisição da leitura, pois

possibilita ao aprendiz a transformação de grafemas em fonemas. Tal estratégia

viabiliza uma representação ortográfica da linguagem oral, possibilitando à criança a

leitura de novas palavras por estratégias de generalização, entretanto, favorece

38

equívocos comuns na leitura de palavras irregulares. Sendo a partir do processamento

fonológico que o leitor se torna apto a ler através da rota lexical.

Considerando o exposto, os instrumentos e atividades utilizadas para avaliar a

consciência fonológica costumam ser classificadas em dois grandes grupos: as

atividades simples e complexas. As atividades simples caracterizam-se pelo fato do

aprendiz ter que realizar uma única operação cognitiva, por exemplo, separar as

palavras em sílabas: “ca – bi – de”. Já as tarefas tidas como complexas, se caracterizam

pelo fato de o aprendiz ter que realizar duas ou mais operações mentais, dentre elas, a de

guardar na memória uma unidade da palavra, enquanto realiza outra operação mental.

Exemplo: se “retirar o /so/ de socorro fica? (corro)” (Moojen et al., 2003).

Sobre esta temática, Yopp (1988) indica a existência de um contínuo de

dificuldade em relação às atividades que avaliam a consciência fonológica: julgamento

de rima, produção de rima, subtração de sons, substituição de sons, detecção ou

julgamento de diferença entre sons, combinação de fonemas ou sílabas, contagem de

fonemas ou sílabas, segmentação de fonemas e sílabas, isolamento de sons. Como

ocorre, por exemplo, no CONFIAS - Instrumento de Avaliação Sequencial (Moojen et

al, 2003).

De acordo com Silva (2003), o pressuposto de que existe uma relação dialética

entre a consciência fonológica e as habilidades de leitura e de escrita, baseia-se em

estudos correlacionais, além de programas de treino e comparações entre bons e maus

leitores. Tal pressuposto é fundamentado, especialmente, por estudos desenvolvidos

pelo grupo de Oxford (Bryant & Bradley 1987, Bradley & Bryant, 1991, Goswami &

Bryant, 1990), que defende a hipótese de que habilidades como as de detectar e produzir

rimas, assim como a consciência de unidades silábicas e intra-silábicas, quando

39

desenvolvidas pelas crianças antes de aprenderem a ler e a escrever, apresentam uma

importante influência no êxito da aquisição da leitura e da escrita.

Dos diferentes estudos que propõem procedimentos de intervenção por meio da

consciência fonológica para as dificuldades de leitura e escrita no Brasil, além de

Cardoso-Martins (1991, 1995), é possível citar os estudos de Capovilla e Capovilla

(1998, 2000) e Seabra e Capovilla (2011), onde concluem que a adoção de um programa

de intervenção que inclua treinos em consciência fonológica e correspondências grafo-

fonêmicas, pode auxiliar a aquisição da leitura e da escrita, especialmente no início do

processo de alfabetização, independentemente do nível socioeconômico.

Importante ressaltar que a relação entre a memória operacional e a consciência

fonológica tem sido investigada no que tange ao processamento fonológico e

desenvolvimento da leitura e da escrita. Curi (2002), Gindri et al., (2007) e Santos e

Siqueira (2002), sugerem que tanto o processamento visuoespacial quanto o fonológico

são importantes para a alfabetização, já que as informações visuais e fonológicas, uma

vez percebidas, são armazenadas na memória operacional e posteriormente transferidas

para a memória de longo prazo, permitindo o aprendizado da associação grafema-

fonema. Mais recentemente, Engel de Abreu, Abreu, Nikaedo, Puglisi, Tourinho,

Miranda, Befi-Lopes, Bueno & Martin (2014) mostraram que a memória operacional e a

flexibilidade cognitiva foram os principais preditores do desempenho de aquisição da

leitura e escrita em crianças brasileiras classificadas por seus professores como “maus”

leitores.

Por fim, demonstradas as relações que se estabelecem entre a memória

operacional e a consciência fonológica, além da necessidade de mais investigações que

possibilitem discriminar as condições necessárias para a aquisição da leitura e da

40

escrita, torna-se indispensável à realização de estudos que promovam a compreensão

das inter-relações existentes entre estes construtos, bem como a influência de ambos,

nos aspectos concernentes ao processo de alfabetização e ao processamento da

linguagem.

41

CAPÍTULO 3 - ESTUDO TEÓRICO 1: RELAÇÕES ENTRE A MEMÓRIA

OPERACIONAL E A CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA E AS HABILIDADES DE

LEITURA E ESCRITA: UMA REVISÃO NARRATIVA DE LITERATURA

Resumo

O presente estudo teve como objetivo identificar na literatura científica, pesquisas

que relatem as relações existentes entre a memória operacional e as habilidades de

consciência fonológica. Trata-se de uma revisão narrativa da literatura, utilizando-se o

Portal Periódicos Capes no período entre os anos 1980 a 2014. Foram utilizados os

descritores: “memória operacional”, “consciência fonológica”, “leitura”, “escrita” e

“processamento fonológico”. Das 164 publicações encontradas com estes descritores,

37 foram incluídas nesta revisão por tratarem especificamente da relação entre estes

construtos. A maioria das publicações encontradas sobre a temática, retratam a relação

entre a memória operacional e a consciência fonológica com o desenvolvimento da

leitura e da escrita, bem como a influência destes no processamento fonológico de

crianças com ou sem déficit fonológico e/ou transtorno de aprendizagem.

Palavras-chave: memória operacional; consciência fonológica; leitura e escrita.

Abstract

The present study aimed to identify in the scientific literature, research that reports

the relationship between working memory and phonological awareness skills. This is a

narrative review of the literature, using Portal Periódicos Capes in the period of 1980-

2014. In the following descriptors, were used: "Working memory", "phonological

awareness", "reading", "writing" and "phonological processing”. In the 164 publications

found with these descriptors, 37 were included in this review as they dealt specifically

about the relationship between these constructs. The publications found on the theme

42

portray, in their great majority, the relationship between working memory and

phonological awareness in the development of reading and writing as well as their

influence on phonological processing in children with and without phonological and / or

learning deficit disorder.

Keywords: working memory; phonological awareness; reading and writing.

Introdução

A consciência fonológica é a capacidade de manipular, segmentar e refletir de forma

consciente sobre a estrutura da fala (Capellini, Oliveira & Pinheiro, 2011; Jarrold, Thorn

& Stephens, 2009). Tais habilidades são compostas por representações fonológicas

distintas: percepção e construção de rimas, segmentação de sentenças, segmentação de

palavras em sílabas, segmentação das palavras em rimas e aliterações, e a consciência

fonêmica (Gomes & Guedes, 2010).

Quanto à memória operacional, trata-se de uma função cognitiva definida como um

sistema que retêm e manipula temporariamente as informações que podem ser mantidas

somente pela repetição ou pela transferência à memória de longo prazo (Alloway,

Gathercole, Willis & Adams, 2004). Segundo Baddeley (2000, 2012) a memória

operacional é dividida em subsistemas responsáveis pelo arquivamento e manipulação

das informações: o esboço visuoespacial e a alça fonológica. Há, ainda, o retentor

episódico e a central executiva, responsáveis pelo controle da atenção e manipulação da

informação.

Estudos sugerem que a consciência fonológica ajuda no estabelecimento da relação

grafema-fonema, e, por conseguinte, no domínio do princípio alfabético da escrita,

cumprindo um papel relevante no desenvolvimento da leitura e escrita (Hulme,

43

Snowling, Caravolas, Carrol, 2005; Krajewski & Schneider, 2009).

Embora o desenvolvimento da consciência fonológica se inicie antes da inserção

escolar, é a partir desta inserção e do aperfeiçoamento da leitura e da escrita que se

desenvolve a última etapa da consciência fonológica: a consciência fonêmica

(Bernardino, Freitas, Souza, Maranhe, Bandini, 2006). Tal dado mostra, como esperado,

que a progressão da idade e, principalmente dos anos escolares, influenciam o

desenvolvimento e o aperfeiçoamento das habilidades de consciência fonológica, que

dependem, em parte, do contato com o aprendizado da escrita (Tenório & Ávila, 2012).

Vários estudos indicam que a memória operacional, o acesso ao léxico mental e

especialmente a consciência fonológica, têm se mostrado de extrema importância para a

aquisição da leitura e da escrita, sendo estes, componentes do processamento fonológico

(Byrne & Fielding-Barnsley, 1993; Gonçalves, 2002; Jenkins & Bowen, 1994;

Lopes, Lopes & Galera, 2005; Lundberg, Frost & Petersen, 1988; Warrick, Rubin &

Rowe-Walsh, 1993; Rodrigues, 2001; Seabra & Capovilla, 2011).

De acordo com Torgesen, Wagner e Rashotte (1994), o processamento fonológico se

refere às operações mentais de processamento de informação baseadas na estrutura

fonológica da linguagem oral, sendo de extrema importância para a aquisição da leitura

e da escrita. O processamento fonológico está subdivido em três categorias: o acesso ao

léxico mental, a memoria operacional fonológica e a consciência fonológica (Seabra &

Capovilla, 2011).

O acesso ao léxico mental se refere ao acesso fácil e rápido a informações

armazenadas na memória de longo prazo. Portanto, segundo Torgesen et al. (1994),

diferenças individuais na agilidade em obter acesso lexical em pré-escolares, tendem a

ser fortes preditores do desempenho da leitura de palavras na 1ª série.

44

A memória operacional fonológica refere-se tanto ao processamento ativo

quanto ao armazenamento temporário de informações fonológicas, e reflete habilidades

de representar mentalmente atributos fonológicos da linguagem (Eysenck & Keane,

2000). Rodrigues e Befi-Lopes (2009) e Soares, Jacinto e Cárnio (2012) apontam para a

existência de elementos que podem afetar a memória operacional fonológica em relação

ao seu armazenamento fonológico, sendo estes: a similaridade fonológica e o efeito da

extensão da palavra, indicando que quanto menor o vocábulo, melhor o desempenho

dos sujeitos nesta habilidade.

Diversos estudos também correlacionam a memória operacional visuoespacial com

as habilidades de leitura, considerando esta, um componente armazenador de

informações visuais e espaciais (Saults & Cowan, 2007). Há evidências de que o uso da

imagem mental tem efeitos significativos sobre a aprendizagem de partes importantes

de uma história, contribuindo para a construção de uma representação mental, que, por

sua vez, permite ao leitor manter por mais tempo a atenção voltada para o conteúdo das

sentenças, facilitando a compreensão do texto (Piccolo & Salles, 2010).

Vacari (2010) sugere que a memória operacional e a consciência fonológica são

habilidades importantes relacionadas à escrita de pacientes com demência de Alzheimer,

considerando a importância de ambos os construtos, não apenas na aprendizagem da

leitura e da escrita, ocorrido nos primeiros anos de vida, mas também em sua

manutenção e suas mudanças, devido à doença neurodegenerativa.

O presente estudo tem por objetivos descrever as relações entre a memória

operacional e as habilidades de consciência fonológica a partir do desempenho nos

diferentes testes neuropsicológicos relatados na literatura.

Método

45

Trata-se de uma revisão narrativa da literatura, utilizando-se o Portal Periódicos

Capes no período de 1980 a 2014. Foram utilizados os descritores: “memória

operacional”, “consciência fonológica”, “leitura”, “escrita” e “processamento

fonológico”. Das 164 publicações encontradas, 37 foram incluídas nesta revisão. O

critério de inclusão dos estudos encontrados foi o estabelecimento de relação entre a

memória operacional e a consciência fonológica. A maioria dos estudos encontrados

versa sobre a relação destes construtos e o processo de aquisição de leitura e da escrita,

bem como as dificuldades de aprendizagem associadas a estas habilidades.

A consciência fonológica e a memória operacional no processo de alfabetização

Vários estudos (Bernardino et al., 2006; Barrera & Maluf, 2003; Gonçalves,

2002, Hatcher, Hulme & Snowling, 2004) têm indicado que a memória operacional

fonológica e as habilidades de consciência fonológica estão fortemente relacionadas à

aquisição da leitura e da escrita, uma vez que a primeira, opera como um sistema que

retêm e manipula temporariamente as informações verbais, e a segunda, representa a

competência de refletir sobre a composição da fala. Estudos indicam a existência de

uma influência múltipla entre o desenvolvimento da consciência fonológica e os níveis

de alfabetização (Bradley & Bryant, 1983; Maluf & Barrera, 1997; Santamaria, Leitão

& Assencio-Ferreira, 2004). Nunes, Frota e Mousinho (2012), por exemplo, ressaltam

que mesmo com as diversas evidências da importância da consciência fonológica para o

processo de alfabetização, tanto a escola como os profissionais da educação estimulam

pouco às habilidades fonológicas, tendo como enfoque o desenvolvimento e

aprimoramento de habilidades visuais relevantes para o desenvolvimento da escrita.

46

Os autores supracitados citam a existência de uma ferramenta para o

desenvolvimento da consciência fonológica, desenvolvida no Brasil – o CD/ROM

ALFABETIZAÇÃO FÔNICA COMPUTADORIZADA, que utiliza a rota fonológica e,

por conseguinte, a alça fonológica da memória operacional, para a aquisição da leitura e

da escrita, tornando-se assim, evidente a participação tanto da consciência fonológica

como da memória operacional nos processos de codificação e decodificação da

linguagem (Dias, 2006). Importante ressaltar que não foram encontrados estudos que

questionem a importância das habilidades de consciência fonológica para a aquisição da

leitura, fator que sugere a existência de um consenso na literatura sobre a importância

desta habilidade para o processo de alfabetização.

A relação entre a leitura e a memória operacional é evidenciada em diversos

estudos (Cain, Bryant & Oakhill, 2004; Gathercole, Alloway, Wilis, Adams, 2006;

Leather & Henry, 1994; Palladino, Cornoldi, De Beni, Pazzaglia, 2001; Seigneuric,

Ehrlich, Oakhill, Yuill, 2003; Swanson & Berninger, 1995), que apontam para o fato

desta exercer: a função de armazenar as palavras lidas até que ocorra o processamento

de seu significado (Giangiacomo & Navas, 2008); ser responsável pela aquisição de

múltiplos conhecimentos, sendo preponderante no processo de alfabetização (Baddeley,

1986); além de ser a função cognitiva essencial para o funcionamento executivo em

diversas atividades cotidianas (Gathercole, 1999). Deste modo, é importante identificar

até que ponto a memória operacional se relaciona com as habilidades de consciência

fonológica, além das possíveis consequências desta relação para o desempenho em

habilidades escolares, a fim de que sejam ampliados os programas de prevenção e

intervenção que têm como objetivo proporcionar melhores resultados para o processo de

alfabetização das crianças que falam o português brasileiro. Deve-se considerar ainda,

as particularidades de transposição grafema-fonema existentes nesta língua, além de

47

maximizar pesquisas sobre os critérios cognitivo–linguísticos na avaliação e

compreensão do desenvolvimento da leitura e da escrita, favorecendo, assim, uma

melhor compreensão das dificuldades específicas apresentadas pelos escolares no

processo de alfabetização.

Consciência fonológica, memória operacional e transtornos de

aprendizagem da leitura e da escrita

A memória operacional exerce um papel relevante em diversas funções

cognitivas, tais como a aprendizagem, o raciocínio e a compreensão da linguagem.

Logo, déficits na memória operacional podem trazer prejuízos à aprendizagem e, por

consequência, baixo rendimento escolar (Alloway, 2006).

De acordo com o DSM – IV (2003) os transtornos da aprendizagem podem ser

caracterizados como um rendimento significativamente abaixo do esperado para a

idade, escolarização e nível de inteligência das crianças em habilidades de leitura,

escrita e aritmética. Segundo Ciasca (2003), o desempenho abaixo do esperado nestas

habilidades acadêmicas está, muito possivelmente, associado a déficits no

processamento, armazenamento ou manipulação de informações na memória

operacional. Crianças que apresentam transtorno de aprendizagem costumam

demonstrar dificuldades na capacidade de armazenamento ou organização das

informações processadas, apresentando, assim, problemas para evocar informações

necessárias para a execução de uma atividade acadêmica. A partir disto, pode-se inferir

que problemas de aprendizagem durante a infância podem estar associados com o de

desenvolvimento de um ou vários subsistemas da memória operacional (Souza & Sisto,

2001).

48

Ao considerar especificamente a relação entre a memória operacional e os

problemas de leitura e de escrita, De Jong (2006) aponta que aprender a ler abrange a

aquisição da habilidade de consciência fonológica de decodificar uma palavra – que é a

habilidade de identificar cada palavra separadamente – e a habilidade de compreender o

texto escrito, obtendo uma coesão entre os conceitos e as informações previamente

existentes na memória de longo-prazo. De tal modo, um subsistema da memória

operacional fundamental nesse processo é a alça fonológica.

Os estudos de Barnes, Faulkner, Wilkinson e Dennis (2004) e De Beni e

Palladino (2000) assinalam que crianças ou adultos que exibem dificuldades na

compreensão da leitura, costumam apresentar déficits em mecanismos inibitórios para

suprimir significados de palavras ambíguas e irrelevantes. Ou seja, quando uma pessoa

executa as etapas específicas necessárias para a compreensão da leitura (decodificação

de letras e palavras, acesso lexical, segmentação sintática, construção e monitoramento

de inferências e integração de texto) de maneira ineficiente, consome boa parte dos

recursos da memória operacional, e, consequentemente, passa a ter menos recursos

disponíveis para reter as informações já processadas, bem como, menos recursos

indispensáveis para dar continuidade ao processo de leitura.

A relevância da consciência fonológica e da memória operacional sobre a

aprendizagem da leitura e da escrita, incluindo crianças que apresentam transtornos do

desenvolvimento, é atestada por diversos estudos (Capovilla & Capovilla, 2000;

Capellini, Padula, Santos, Lourenceti, Carrenho & Ribeiro, 2007; Cielo, 2001; Seabra

& Capovilla, 2011). Crianças com dificuldades de leitura e escrita apresentam

dificuldades em tarefas envolvendo processamento temporal auditivo, mas não há

consenso na literatura de que esta dificuldade pode estar correlacionada com o

desempenho em tarefas de leitura e consciência fonológica (Murphy & Schochat, 2009).

49

Os estudos de Capovilla e Capovilla (2002) e Garcia, Campos e Padovani (2005),

indicam que déficits no processamento auditivo produzem dificuldades de

discriminação, coordenação e integração no domínio verbal e não-verbal, envolvendo

nomeação, repetição, memória operacional e memória de longo prazo. Tais déficits

podem trazer prejuízos à compreensão de enunciados de problemas e cálculos

matemáticos, os quais necessitam de correspondência léxico-mental e representação

numérica, e comprometem a realização não apenas da leitura, como também das

atividades aritméticas (Geary, 2004).

Sobre as atividades aritméticas, Silva (2013) demonstrou que grupos com

diferentes níveis de desempenho em consciência fonêmica apresentam escores

diferentes em relação ao desempenho escolar e à medidas de aritmética e

transcodificação, revelando existir correlação entre estes, sendo a consciência fonêmica

um bom preditor do desempenho em tarefas de leitura de números.

Quanto ao desempenho nos instrumentos de avaliação de consciência

fonológica, verificou-se que os estudos apontam que os indivíduos com dislexia tendem

a apresentar melhor desempenho no componente silábico do que fonêmico (Barros &

Capellini, 2003; Capellini et al., 2007; Snowling, Gallagher & Frith, 2003). Os

resultados de diversas pesquisas indicam que crianças com dislexia apresentaram

desempenho significativamente inferior quando comparadas com grupos controle em

relação à consciência fonológica (Fox & Routh, 1980; Mody, Studdert-Kennedy &

Brady, 1997).

No Brasil, as pesquisas sobre a dislexia demonstram evidências de atraso em

aliteração, manipulação e segmentação fonêmicas (Barros & Capellini, 2003; Capellini,

Padula & Ciasca, 2004; Geary, 2004; Swanson, Howard & Saez, 2006). No que

concerne à memória operacional, os estudos indicam que as alterações ocorrem

50

geralmente relacionadas à alça fonológica (Capellini et al, 2007). Estas alterações são

relacionadas à dificuldade de acessar e recuperar as informações fonológicas necessárias

para o bom desempenho em tarefas de leitura e escrita.

Discussão

Nas últimas décadas, conforme foi descrito, ocorreu uma grande variedade de

estudos sobre a consciência fonológica, a memória operacional e a relação de ambas

com a aprendizagem da leitura e da escrita e, por conseguinte, com os transtornos e

dificuldades referentes a esta função e habilidade cognitiva. Entretanto, deve-se

considerar que além destes aspectos, para um bom desenvolvimento das crianças em

habilidades de leitura e escrita são necessárias não só condições intrínsecas favoráveis

(funções cognitivas) como extrínsecas (estimulação psicossocial, neuropsicológica e

educacional).

Os estudos acadêmicos apresentados nesta revisão de literatura demonstram a

necessidade de compreender melhor as habilidades metafonológicas e cognitivas que

podem influenciar de forma positiva o desenvolvimento de programas de estimulação,

habilitação e reabilitação no desenvolvimento do letramento. Este estudo tem como

propósito evidenciar a importância das relações existentes entre a memória operacional

e a consciência fonológica (já que ambas costumam estar associadas a prejuízos ou

dificuldades de aprendizagem, especialmente durante o processo de alfabetização) e de

se considerar o princípio alfabético durante o processo pedagógico, tentando evitar

falhas no processo de conversão grafema-fonema e, consequentemente, déficits no

desenvolvimento da consciência fonológica.

51

A consciência fonológica e a memória operacional têm sido assinaladas, em

diferentes pesquisas, como componentes essenciais para o desenvolvimento da leitura e

da escrita, entretanto, deve-se ponderar que este desenvolvimento sofre a influência de

outras variáveis, como, por exemplo, o acesso ao léxico mental. Desenvolver estudos

de revisão sobre a memória operacional e a consciência fonológica, a fim de auxiliar as

crianças em processo de alfabetização a relacionarem os grafemas aos fonemas, se faz

indispensável com o objetivo de fornecer suporte teórico para que as instituições de

ensino alcancem seu maior intento: a alfabetização. Compete, pois, às instituições de

ensino, embrenhar-se no desenvolvimento de atividades que estimulem a consciência

fonológica e a memória operacional de seus aprendizes, especialmente nos primeiros

estágios de alfabetização, para que, por fim, estes apresentem um desempenho cada vez

melhor nas competências relacionadas à leitura e a escrita.

Além dos temas anteriormente mencionados, é importante lembrar o papel

promocional e preventivo que profissionais da psicologia e da educação podem

desenvolver nas instituições de ensino, auxiliando não apenas na identificação de

alterações ou déficits cognitivos, mas, principalmente, proporcionando a estimulação

adequada para as crianças e a orientação aos pais e professores sobre as distintas

maneiras de estimulação das habilidades e funções cognitivas.

Para finalizar, ressalta-se a importância de estudos que congreguem o

conhecimento da neuropsicologia e da área da educação que favoreçam a compreensão

sobre os aspectos relacionados às dificuldades de leitura, a importância da consciência

fonológica não apenas como modelo de explicação, mas como técnica de intervenção,

bem como auxiliem o desenvolvimento de novos artifícios que visem o avanço da

qualificação profissional e o progresso científico do campo em ascensão.

52

CAPÍTULO 4 – ESTUDO EMPÍRICO 1: DESEMPENHO DE ESCOLARES DE

1°AO 4° ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL EM MEMÓRIA OPERACIONAL

E CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA

Resumo

Objetivos: Investigar o desempenho em memória operacional e consciência fonológica

de crianças do 1° ao 4° ano do ensino fundamental de escolas públicas e privadas do

município de Santo Antônio de Jesus - Bahia, verificando se existem diferenças no

desempenho das crianças a partir dos critérios tipo de escola, sexo, idade e ano escolar.

Métodos: Participaram do estudo 219 crianças com idades entre cinco e onze anos. As

crianças não possuíam queixas de perda auditiva, visual e/ou alterações

neurológicas/psicológicas. Todos os sujeitos foram submetidos individualmente às

avaliações de inteligência, memória operacional e consciência fonológica. Resultados e

discussão: Foram observadas diferenças estatisticamente significativas entre o

desempenho de crianças de escola pública e privada, bem como entre os anos escolares

e entre as idades. As crianças de escola privada apresentaram desempenho melhor em

atividades que avaliaram a consciência fonológica e a memória operacional (esboço

visuoespacial), fato que sugere a influência do tipo de escola no desenvolvimento destas

habilidades e funções cognitivas, bem como a existência de diferentes estratégias de

estimulação existentes entre as escolas. Não foram encontradas diferenças significativas

a partir da variável sexo. As diferenças em relação à idade e ao ano escolar corroboram

com diversos estudos que indicam que, quanto maior a maturação biológica e a

exposição da criança ao ambiente escolar, melhor será o seu desempenho.

Palavras-chave: memória operacional, consciência fonológica, avaliação

neuropsicológica, educação fundamental.

53

Abstract

Objectives: Investigate the performance in working memory and phonological

awareness of children from 1st to 4th year of elementary school in public and private

schools in Santo Antonio de Jesus - Bahia, checking whether there are differences in the

performance of children from the criteria kind of school, gender, age and school year.

Methods: The study included 219 children aged between five and eleven. The children

had no complaints of hearing and visual loss, and/or neurological/psychological

disorders. All subjects were tested individually for intelligence, working memory, and

phonological awareness. Results and Discussion: Statistically significant differences

were observed between the performance of children in public and private schools, as

well, between school years and age. Children from private schools performed better in

activities that assessed phonological awareness and working memory (visuospatial

sketchpad), which suggests the influence of the kind of school in the developing of

these skills and cognitive functions, as well as the different strategies that exists

between stimulation of the schools. No significant differences were found about gender

variable. The differences in relation of PA and WM to age and grade corroborate

several studies that indicate that the higher biological maturation and exposure of the

child to the school environment, better your performance.

Keywords: working memory, phonological awareness, neuropsychological assessment,

basic education.

54

Introdução

O termo "memória operacional" evoluiu a partir do conceito anterior de memória

de curto prazo, onde o último se refere ao simples armazenamento temporário de

informações, em contraste com o primeiro, que implica uma combinação de

armazenamento, monitoração e manipulação destas (Baddeley, 2012). Tal componente

das funções executivas é responsável por sustentar uma quantidade limitada de

informações durante um período delimitado de tempo, se tornando base para processos

cognitivos complexos, a exemplo da linguagem (Baddeley, Allen & Hitch, 2011). A

memória operacional é dividida em três subsistemas principais, gerenciados pela central

executiva, que são: a alça fonológica, o esboço visuoespacial e o retentor episódico.

A alça fonológica é responsável pelo armazenamento de informações verbais de

curto prazo e pelo processo de recapitulação subvocal. Se a recapitulação não acontece,

a informação fonológica rapidamente decai. O acréscimo na taxa de recapitulação com a

idade tem sido considerado o principal fator de desenvolvimento da capacidade da

memória operacional, pois admite que maior quantidade de informação verbal seja

mantida no registo fonológico (Carneiro, 2008).

Gathercole e Hitch (1993) pontuam que o início do processo de recapitulação

espontânea ocorre somente por volta dos sete anos de idade, ressaltando, que antes

dessa idade, a capacidade da alça fonológica corresponde à capacidade do seu

armazenamento. Logo, crianças antes dos sete anos não utilizam a recapitulação

subvocal como meio de manter o material verbal no armazenamento fonológico.

Para avaliar o componente fonológico da memória operacional normalmente são

utilizados instrumentos que avaliam a sua amplitude (a capacidade de armazenar e

repetir uma lista na ordem direta ou inversa, segundos após a apresentação) com o

55

objetivo de verificar sua capacidade de armazenamento (Malloy–Diniz, Paula, Sedó,

Fuentes & Leite, 2014; Sagrilo & de Lima Ferreira, 2013). Em média a amplitude de

memória para dígitos de um adulto é de aproximadamente 7 ± 2 itens (Miller, 1956).

O esboço visuoespacial é composto por um componente visual e outro espacial,

e que armazena e manipula as características físicas dos estímulos, tais como a forma, a

cor e o movimento. O esboço visuoespacial também se modifica com a idade, sendo os

sete anos uma idade importante no seu marco de desenvolvimento.

Estudos como de Hitch, Halliday, Schaafstal e Schraagen (1988) indicam que

crianças mais novas, aos cinco anos de idade, por exemplo, têm mais dificuldade em

recordar objetos que possuem muitas características físicas do que objetos que partilham

poucas características físicas. E já as crianças mais velhas, aos dez anos, por sua vez,

não são sensíveis à similaridade física dos objetos, mas apresentam menores níveis de

recordação quando os objetos possuem um nome maior.

A partir dos sete anos as crianças melhoram suas capacidades em recordar os

objetos por haver uma maior facilidade de usarem a recapitulação para codificar os

inputs visuais numa forma fonológica, ressaltando, entretanto, não haver consenso

relativo à explicação do aumento de desempenho nos testes que avaliam a amplitude do

esboço visuoespacial com a idade, sendo consideradas as hipóteses de que tal melhora

esteja relacionada com mudanças na capacidade do próprio armazenamento do esboço,

bem como com a aplicação de estratégias mais eficazes ou ainda com o maior apoio da

central executiva ao longo dos anos (Gathercole, Pickering, Benjamin, & Hannah,

2004), havendo indícios de que há um aumento regular da amplitude de memória

visuoespacial entre os cinco e os 11 anos (Gathercole, 1998). Para avaliar o

componente visuoespacial da memória operacional o Teste dos Cubos de Corsi

(Kessels, Van Zandvoort, Postma, Kappelle & De Haan, 2000) costuma ser amplamente

56

utilizado, “sendo considerado a contraparte do teste de Amplitude de Dígitos” (Malloy-

Diniz et al., 2014).

A central executiva tem como função controlar o fluxo de informações na

memória operacional, recuperando material dos sistemas da memória de longo prazo e

ainda controlando e planejando a ação. O desenvolvimento deste componente tem sido

analisado através de tarefas complexas que requerem o armazenamento da informação e

a transformação do material, tais como tarefas de amplitude de leitura e escuta e de

memória para dígitos em sentido inverso (Carneiro, 2008).

De acordo com Dempster (1981) estudos desenvolvimentais que usaram este

tipo de tarefa evidenciaram diferenças etárias ao nível da amplitude da memória,

aumentando esta gradualmente com a idade, indicando que aos dois anos a amplitude de

memória é de aproximadamente dois itens, aos nove anos é, em média, de seis itens.

A memória operacional sofre influência de fatores semânticos e fonológicos e,

por este fator, a recordação imediata de palavras com semelhança fonológica pode ser

prejudicada. Este fato é conhecido como efeito de similaridade fonológica, acontecendo

já que a similaridade sonora provoca uma confusão fonológica (Andrade, 2002).

A consciência fonológica consiste na habilidade em decompor e manipular os

elementos fonológicos da linguagem oral, de maneira independente do conteúdo da

informação (Cielo, 2001; Gombert, 2006), e envolve habilidades de consciência de

palavras, de rimas (manipulação de palavras pela brincadeira irrefletida com os sons da

fala), de sílabas (habilidade de segmentar as palavras em sílabas – síntese, exclusão,

manipulação, transposição) e de fonemas (compreensão de que a fala é compostas por

sons ínfimos que formam diferentes palavras/ transposição grafema-fonema) (Ribeiro,

2011). Habilidades de consciência fonológica podem ser notadas em crianças pequenas

a partir dos três anos de idade (rimas), e aos quatro anos já é possível observar

57

habilidades concernentes à separação de sílabas, exibindo sensibilidades às regras

fonológicas existentes na língua materna (Haase, 1990). A partir dos seis e anos e da

inserção no ambiente escolar no 1° ano do ensino fundamental, a criança começa a

desenvolver as habilidades fonêmicas e já apresenta domínio quase total da consciência

silábica. Apenas ao final do processo de alfabetização se torna capaz de alcançar todos

os níveis da consciência fonológica (Cardoso-Martins, 1991; Haase, 1990; Ribeiro,

2011). Importante ressaltar que o desenvolvimento dos níveis de consciência fonológica

é subordinado a alguns fatores, tais como maturação, ambiente linguístico e

aprendizagem de um sistema de escrita alfabético (Godoy, 2005).

O estudo de Giangiacomo e Navas (2008), que revisou publicações desde a

década de 80, indica que existe um acréscimo da capacidade de arquivamento

fonológico com o desenvolvimento infantil, o qual promove a obtenção de novos

vocabulários e a compreensão de sentenças amplas ou com maior complexidade

sintática, o que favorece o desenvolvimento das habilidades de leitura e de escrita.

Cavalheiro, Santos e Martinez (2010) apontam que a consciência fonológica não pode

ser desvinculada da aprendizagem da leitura e da escrita. Desta maneira, a inserção de

atividades que tenham em vista a reflexão consciente sobre o arcabouço fonológico da

língua podem prenunciar resultados satisfatórios bem como servir de condição essencial

no processo de aquisição da leitura e da escrita em português brasileiro.

Já quando fala-se acerca das diferenças entre os sexos, Harness, Jacot, Shauna,

White e Warnick (2008) pontuam que, sujeitos do sexo feminino exibem desempenho

superior em memória operacional visuoespacial, entretanto, de acordo com Alloway,

Gathercole e Pickering (2006) não existe diferença de desempenho em atividades de

memória operacional fonológica e visuoespacial entre os sexos.

58

Diversos estudos (Andreazza-Balestrin, Cielo, Lazzarotto & Lasch, 2008; Lasch,

Mota & Cielo, 2009; Meneses, Lozi, Souza & Assencio-Ferreira, 2004; Moura,

Mezzomo & Cielo, 2009) verificaram tendência à superioridade feminina no

desempenho da maioria das tarefas de consciência fonológica. Segundo estes, as

meninas obtiveram um desempenho significativamente superior nas tarefas de

segmentação silábica, na detecção de fonemas em posição final, na segmentação

fonêmica de palavras com seis fonemas, na reversão fonêmica para palavras com dois e

três fonemas, nas tarefas de detecção de rima com trissílabos e síntese com quatro

fonemas.

Sabendo-se que a memória operacional e a consciência fonológica exercem

papel fundamental nas atividades cognitivas e acadêmicas e, considerando a influência

dos fatores socioeconômicos em seu desenvolvimento, o presente estudo tem como

objetivo averiguar a amplitude verbal e visuoespacial da memória operacional e o

desempenho em consciência fonológica de escolares de 1° ao 4° ano do ensino

fundamental. Ao lado disso, pretende-se verificar se há diferença de desempenho entre

as crianças do sexo feminino e masculino, entre escolas públicas e privadas, bem como

entre as idades e os anos escolares.

Método

Participantes

Esta pesquisa foi realizada com 219 crianças entre o 1° e o 4° ano do ensino

fundamental de escolas públicas (111 crianças – 52 do sexo masculino e 59 do sexo

feminino) e privadas (108 crianças – 53 do sexo masculino e 55 do sexo feminino)

matriculadas no município de Santo Antônio de Jesus, interior da Bahia.

59

Foram utilizados os seguintes critérios de inclusão: desenvolvimento

neuropsicomotor normal; desenvolvimento típico de fala; não apresentar deficiência

auditiva ou visual; não apresentar suspeita de alterações psicológicas, neurológicas e

fonoaudiológicas e apresentar desenvolvimento normal de inteligência (verificado a

partir do desempenho nas Matrizes Progressivas Coloridas de Raven).

Aspectos éticos

A pesquisa obteve aprovação do Comitê de Ética em Saúde da Escola de

Enfermagem da Universidade Federal da Bahia (parecer 274.225/ data: 08/05/2013). As

crianças participaram apenas após a obtenção do Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido (anexo I) por escrito pelos pais ou responsáveis e por via oral das crianças

participantes.

Todas as informações de identificação dos participantes foram mantidas em

sigilo. Os participantes foram informados da possibilidade de desistir de participar da

pesquisa a qualquer momento sem nenhum ônus. Todas as etapas da pesquisa estão

descritas no Termo de consentimento Livre e Esclarecido, assim como possíveis

benefícios e malefícios ao aceitar participar da pesquisa.

Procedimento

Avaliação neuropsicológica

As crianças que não apresentaram nenhuma alteração de acordo com os critérios

de inclusão foram convidadas a participar da avaliação da inteligência a partir das

Matrizes Progressivas Coloridas de Raven - infantil, a fim de se verificar se a criança

60

estava dentro da norma esperada para idade, último critério para participação nas

próximas etapas da pesquisa.

Todo o processo de avaliação neuropsicológica foi realizado em um ambiente

reservado dentro das escolas participantes, onde um grupo de 16 estudantes de

psicologia e um psicólogo foram devidamente treinados e monitorados. Em todas as

avaliações foram requeridos os termos de consentimento livre e esclarecido com a

autorização dos pais ou responsáveis para posteriormente iniciar a avaliação da criança

(Anexo I). Os seguintes instrumentos foram utilizados:

A classificação socioeconômica da ABEP (Associação Brasileira de Empresas

de Pesquisa - ABEP, 2011) baseada nos itens possuídos em casa (geladeira, carro,

empregado mensalista, televisão, banheiro, máquina de lavar, etc.) e escolaridade do

chefe da família. O total do escore da ABEP é classificado em oito classes sociais (1-

A1, 2-A2, 3-B1, 4-B2, 5-C1, 6-C2, 7-D e 8-E).

O Teste das Matrizes Progressivas Coloridas - Raven Infantil (Pasquali,

Wechsler & Bensusan, 2002): tem como objetivo avaliar a inteligência não verbal,

baseado no conceito do fator "g" de inteligência geral, proposto por Spearman.

Consiste em um subconjunto de 36 figuras, extraído das 60 figuras do Raven Geral,

divididos em três conjuntos de dificuldade crescente: A, Ab, e B onde se apresenta

uma matriz de figuras existindo padrão lógico entre estas. Uma das casas da matriz é

deixada em branco e o examinando é incentivado a preencher a casa com a figura

correta segundo o seu raciocínio. O total parcial de cada conjunto é calculado para

determinar a consistência do resultado, e o total de respostas bem-sucedidas é

convertido em percentil. Este instrumento foi escolhido por ser indicado

principalmente para crianças de 5 a 11 anos, faixa etária da amostra.

61

Dígitos WISC-III (Wechsler, 2002) e Cubos de Corsi (Kessels, Van Zandvoort,

Postma, Kappelle & De Haan, 2000) correspondem a dois testes clássicos, bem

conhecidos na literatura para a avaliação de memória operacional. Ambas as tarefas

têm a mesma lógica de repetir sequências de números (dígitos) ou tocar os cubos

(cubos Corsi) em ordem direta (avaliam a alça fonológica e esboço visuoespacial,

respectivamente) e ordem indireta (que avalia a central executiva). Foi obtido o

desempenho das crianças em duas medidas: escore ou frequência de acertos somente

na ordem direta e somente na ordem inversa de ambos os instrumentos.

Consciência Fonológica: Instrumento de Avaliação Sequencial

(CONFIAS) (Moojen et al., 2003): é um instrumento que tem como objetivo avaliar

a consciência fonológica de forma abrangente e sequencial. Indicado para crianças a

partir de quatro anos de idade. Abrange diferentes tarefas em consciência fonológica

e apresenta dificuldade gradativa ao longo de sua realização. Tarefas de síntese,

segmentação, identificação, produção, exclusão e transposição silábica e fonêmica

compõem o instrumento. A pontuação máxima no nível silábico é de 40 pontos e no

nível fonêmico é de 30 pontos, totalizando 70 pontos entre os dois níveis testados.

Procedimento de análise de dados

Foram realizadas estatísticas descritivas (média, desvio padrão, mediana, valores

mínimos e máximos) dos escores dos testes neuropsicológicos das crianças de escolas

pública e privada, bem como dos dados sobre o nível socioeconômico. Análise da

distribuição da amostra permitiu condições para análises paramétricas. O efeito de

magnitude foi calculado entre os grupos para determinar a força das diferenças

observadas a partir d de Cohen (Dancey & Reidy, 2006). As análises foram realizadas

no programa SPSS 20.0 pra Windows (SPSS Inc., Chicago, IL). Considerando o

62

tamanho da amostra, foi realizado o teste t de Student para comparar as médias dos

testes entre os grupos e a ANOVA. Importante ressaltar que ambos os testes estatísticos

também podem ser utilizados desde que os dados tenham uma distribuição

aproximadamente normal (Dancey & Reidy, 2006) ou não normal em amostras grandes.

O nível de significância foi p<0,05.

RESULTADOS

A Tabela 1 mostra média, desvio padrão, e os valores mínimos e máximos de

acertos nos testes e subtestes para as crianças das escolas públicas e privadas. No

alcance do teste de Amplitude de Dígitos - WISC-III – Ordem Direta (OD) o pior

desempenho foi 2 acertos e o melhor 9 acertos, sendo a média de 4,98 e o desvio

padrão 1,32. No alcance do subteste de Amplitude de Dígitos - WISC-III – Ordem

Indireta (OI), o pior desempenho foi de nenhum acerto e o melhor desempenho 6

acertos sendo a média de 2,85 e o desvio padrão igual a 1,09. Nos Cubos de Corsi –

ordem direta (OD) alcance, o pior desempenho foi de nenhum acerto e o melhor foram

7 acertos, sendo a média de 4,13 e o desvio padrão 1,05. Nos Cubos de Corsi – Ordem

Indireta (OI), o pior desempenho foi de nenhum acerto e o melhor desempenho foram 7

acertos sendo a média de 3,34 e o desvio padrão igual a 1,44. No subteste CONFIAS –

silábico o pior desempenho foi de 10 acertos e o melhor desempenho foram 40 acertos

sendo a média de 31,63 e o desvio padrão igual a 6,50. No subteste CONFIAS –

fonêmico o pior desempenho foi de nenhum acerto e o melhor desempenho foram 32

acertos sendo a média de 19,31 e o desvio padrão igual a 6,75. No CONFIAS – escore

total, o menor desempenho foi de 15 acertos e o maior de 70 acertos, onde a média foi

de 51,01 acertos e o desvio padrão igual a 12,40.

63

Tabela 1

Estatística Descritiva dos Testes

Testes

Intervalo de Confiança

95% Amplitude

N Média DP Limite

Inferior

Limite

Superior Mínimo Máximo

Dígitos WISC-III – OD/

Alcance 219 4,98 1,32 4,80 5,16 2 9

Dígitos WISC-III – OI/

Alcance 219 2,85 1,09 2,71 3,00 0 6

Cubos de Corsi – OD/

alcance 219 4,13 1,05 3,99 4,27 0 7

Cubos de Corsi- OI/alcance 219 3,34 1,44 3,15 3,53 0 7

CONFIAS – Silábico 219 31,63 6,50 30,76 32,50 10 40

CONFIAS – Fonêmico 219 19,31 6,75 18,41 20,21 0 32

CONFIAS – escore total 219 51,01 12,40 49,36 52,66 15 70

Foram analisados o nível socioeconômico (Tabela 2) e a escolaridade das mães

(Tabela 3) das crianças participantes. A maior parte das crianças avaliadas era oriunda

das classes D (35,2%), C2(33,8%) e C1(13,7%) de acordo com o Critério de

Classificação Econômica Brasil (CCEB) compondo a amostra 9,6% de crianças da

classe E, 6,8% da classe B2 e 0,9% e da classe B1. Não houve participantes da classe A.

Tabela 2

Nível Socioeconômico

Nível * Frequência Percentagem

Percentagem

cumulativa

B1: 29 - 34 PONTOS 2 0,9 0,9

B2: 23 - 28 pontos 15 6,8 7,8

C1: 18- 22 PONTOS 30 13,7 21,5

C2: 14- 17 PONTOS 74 33,8 55,3

D: 8- 13 PONTOS 77 35,2 90,4

E: 0-7 PONTOS 21 9,6 100,0

Total 219 100,0

* Critério de Classificação Econômica Brasil (CCEB, ABEP, 2010).

Os dados indicam que 41,1% das mães das crianças avaliadas apresentaram

nível de formação de ensino fundamental II completo, 34,2% o ensino médio completo,

16,4% o ensino fundamental I completo, 5% ensino superior completo, e 1,8% Curso

64

Técnico Superior Completo (Tabela 3).

Tabela 3

Escolaridade da Mãe

Escolaridade* Frequência Percentagem

Percentagem

cumulativa

Fundamental Incompleto 3 1,4 1,4

Fundamental I Completo 36 16,4 17,8

Fundamental II Completo 90 41,1 58,9

Médio Completo 75 34,2 93,2

Curso Técnico Superior

Completo 4 1,8 95,0

Ensino Superior Completo 11 5,0 100,0

Total 219 100,0

* Critério de Classificação Econômica Brasil (CCEB, ABEP, 2010).

Nas análises relatadas a seguir foram comparadas as pontuações médias das

variáveis dos testes Dígitos - WISC-III, os Cubos de Corsi e o CONFIAS em função de

características da amostra que, potencialmente, podem diferenciar as crianças em

grupos: sexo, idade, ano escolar e escola de origem (pública ou privada).

Primeiramente foi realizada a comparação dos escores em função do sexo das crianças.

A comparação entre as médias de acerto alcançadas por meninos e meninas, em

cada subteste da escala de avaliação mostrou não haver diferenças estatisticamente

significativas entre os sexos. O resultado dessa análise é apresentado na Tabela 4.

Tabela 4

Comparações dos Diferentes Testes em Relação aos Sexos

SEXO N Média DP T p

Dígitos WISC-III – OD/

Alcance

Masculino 105 4,97 1,431

-0,110

0,912

Feminino 114 4,99 1,230

Dígitos WISC-III – OI/ Alcance Masculino 105 2,85 1,125

-0,081

0,936

Feminino 114 2,86 1,080

Cubos de Corsi – OD/ alcance Masculino 105 4,26 1,118

1,691

0,092

Feminino 114 4,02 0,977

Cubos de Corsi- OI/alcance Masculino 105 3,51 1,481

65

Feminino 114 3,18 1,397 1,742 0,083

CONFIAS – Silábico Masculino 105 31,61 7,014

-0,045

0, 964

Feminino 114 31,65 6,032

CONFIAS – Fonêmico Masculino 105 19,17 6,941

-0,292

0,771

Feminino 114 19,44 6,615

CONFIAS – escore total Masculino 105 50,78 13,163

-0,261

0,795

Feminino 114 51,22 11,722

Nas variáveis Cubos de Corsi – Ordem Direta e Ordem Inversa foram

observadas diferenças nas médias onde os meninos foram melhores que as meninas,

sendo que nas variáveis de ordem fonológica (WISC – Ordem Direta/Ordem Inversa e

CONFIAS – Fonêmico e Escore Total) o desempenho do grupo feminino foi melhor

quando comparado ao desempenho do grupo masculino, entretanto, estas diferenças não

foram estatisticamente significativas.

Foram encontradas diferenças significativas nas comparações das médias dos

diferentes testes em relação à escola de origem. Os resultados revelaram a existência de

diferenças significativas entre as escolas em todos os subtestes que avaliam a

consciência fonológica (CONFIAS) e nos Cubos de Corsi Ordem Direta. Tais

diferenças não foram observadas nos testes Dígitos do WISC – III (Ordem Direta) e nos

Cubos de Corsi Ordem Indireta, onde os índices de variância foram significativamente

altos. A análise do tamanho do efeito através do d de Cohen (1988) demonstrou um

efeito moderado para a diferença nos Cubos de Corsi com vantagem para a escola

privada, bem como efeito grande para os resultados nos subtestes do CONFIAS (Tabela

5).

Tabela 5

Comparações dos Diferentes Testes em Relação à Escola de

Origem

Escola N Média DP t p d de Cohen

Dígitos WISC-III – OD/

Alcance

Pública 111 4,88 1,312 -1,118

0,265

Privada 108 5,08 1,340

Dígitos WISC-III – OI/

Alcance

Pública 111 2,72 1,207 -1,827

0,069

Privada 108 2,99 0,962

Cubos de Corsi – OD/

alcance

Pública 111 3,87 1,019 -3,800

0,001

0,52 Privada 108 4,40 1,023

Cubos de Corsi- OI/alcance Pública 111 3,19 1,437 -1,549

66

Privada 108 3,49 1,444 0,123

CONFIAS – Silábico Pública 111 28,99 6,969

-6,664

0,001

0,92 Privada 108 34,34 4,655

CONFIAS – Fonêmico Pública 111 16,57 6,803

-6,668

0,001

0,91 Privada 108 22,13 5,447

CONFIAS – escore total Pública 111 45,65 12,918

-7,198

0,001

0,99 Privada 108 56,52 9,034

Ao comparar o desempenho das crianças em função do critério idade foram

encontradas diferenças estatisticamente significativas em todos os testes, exceto nos

dígitos do WISC – III – Ordem Direta (Tabela 6).

Tabela 6

Comparações dos Diferentes Testes em relação à idade

Média dos Quadrados F Sig.

Dígitos WISC-III – OD/

Alcance Entre Grupos 1,498 0,846 0,563

Dígitos WISC-III – OI/

Alcance Entre Grupos 2,442 2,104 0,037

Cubos de Corsi – OD/

alcance Entre Grupos 2,320 2,189 0,030

Cubos de Corsi- OI/alcance Entre Grupos 5,323 2,711 0,007

CONFIAS – Silábico Entre Grupos 129,158 3,309 0,001

CONFIAS – Fonêmico Entre Grupos 120,176 2,805 0,006

CONFIAS – escore total Entre Grupos 477,256 3,370 0,001

Por fim, os resultados demonstraram haver diferenças estatisticamente

significativas em todos os instrumentos quando comparados a partir do critério ano

escolar, 1°, 2°, 3° e 4° anos, demonstrando a influência da escolarização sobre o

desempenho das crianças na avaliação neuropsicológica (Tabela 7).

67

Tabela 7

Comparações dos Diferentes Testes em relação ao ano escolar

Testes Média dos Quadrados F Sig.

Dígitos WISC-III – OD/ Alcance 7,320 4,348 0,005

Dígitos WISC-III – OI/ Alcance 8,130 7,315 0,001

Cubos de Corsi – OD/ alcance 8,402 8,365 0,001

Cubos de Corsi- OI/alcance 16,069 8,493 0,001

CONFIAS – Silábico 298,851 7,711 0,001

CONFIAS – Fonêmico 159,910 3,627 0,014

CONFIAS – escore total 821,359 5,680 0,001

A análise post-hoc com o teste de Tukey confirmou e definiu as diferenças nos

subtestes por ano de escolaridade. A Tabela 8 apresenta os resultados que foram

significantes para cada uma das sete medidas neuropsicológicas.

Tabela 8

Teste de Tukey para comparação por anos de escolaridade

Testes Ano de Escolaridade

(Média no Teste)

Diferença da Média p

Dígitos WISC-III – OD/ Alcance 1º ( 4,56) 2º ( 5,28) 0,71 0,041

4º ( 5,32) 0,75 0,009

Dígitos WISC-III – OI/ Alcance 1° ( 2,39) 4° ( 3,29) 0,90 0,001

Cubos de Corsi – OD/ alcance 1° ( 3,63) 2° ( 4,30) 0,67 0,008

4° ( 4,52) 0,89 0,001

Cubos de Corsi- OI/alcance 1° ( 2,67) 3° ( 3,44) 0,78 0,014

4° ( 3,92) 1,25 0,001

CONFIAS – Silábico 1° (28,63) 3° (31,95) 3,32 0,023

4° (34,08) 5,45 0,001

CONFIAS – Fonêmico 1° (17,07) 4° (21,03) 3,96 0,007

CONFIAS – escore total 1° (46,07) 4° (55,13) 9,06 0,001

Discussão

O presente estudo comparou o desempenho de crianças de escolas públicas e

privadas em testes de memória operacional e de consciência fonológica. Os resultados

mostraram que as crianças que estudam em escolas privadas apresentaram um melhor

desempenho em todas as medidas neuropsicológicas que avaliaram a consciência

68

fonológica, sugerindo que o tipo de escola influenciou o desempenho na aquisição desta

habilidade entre o primeiro e quarto anos do ensino fundamental.

A maioria das crianças incluídas neste estudo era oriunda das classes C e

D, nas quais a mãe era a principal cuidadora e, em sua maioria, possuía o ensino

fundamental completo. A influência do nível socioeconômico no desenvolvimento das

funções neuropsicológicas vem sendo objeto de estudo da neuropsicologia em diversos

estudos (Hackman & Farah, 2009; Sbicigo, Abaid, Dell'Aglio & Salles, 2013; Stevens,

Lauinger & Neville, 2009).

De maneira geral, diversos estudos sugerem que as diferenças de desempenho

pelo nível socioeconômico em memória operacional podem ser observadas a partir dos

três anos de idade (Farah, Shera, Savage, Betancourt, Giannetta, Brodsky & Hurt, 2006;

Fernald, Weber, Galasso & Ratsifandrihamanana, 2011; Noble, McCandliss & Farah,

2007; Sarsour, Sheridan, Jutte, Nuru-Jeter, Hinshaw & Boyce, 2011). Estudos também

indicam (Arán-Filippetti, 2011; Ardila, Rosselli, Matute & Guajardo, 2005; Hurks,

Schrans, Meijs, Wassenberg, Feron & Jolles, 2010) que o nível educacional dos pais

exerce efeito em habilidades de consciência fonológica. Deve-se considerar não só estes

aspectos socioeconômicos em relação ao funcionamento neuropsicológico destas

crianças, mas também as diferenças de estimulação existentes entre as escolas públicas

e privadas, já que boa parte das crianças do estudo de escolas públicas obtiveram

médias inferiores. O presente estudo corrobora e estende os achados de Engel de Abreu,

Abreu, Nikaedo, Puglisi, Tourinho, Miranda, Befi-Lopes, Bueno & Martin (2014), que

mostraram que crianças de escolas privadas, independentemente do nível

socioeconômico obtiveram melhor desempenho em provas neuropsicológicas quando

comparadas com crianças de escolas públicas, bem como melhores resultados no

desempenho acadêmico. Além disso, foi possível mostrar que o tipo de escola parece

69

favorecer a aquisição de habilidades de consciência fonológica, fator fundamental para

o desenvolvimento das aquisições de escrita e leitura ao longo dos primeiros anos do

ensino fundamental.

De acordo com Lima (2006), a diferença de estimulação e de desempenho entre

as crianças entre escolas públicas e privadas advém da pressão do mercado competitivo

existente entre as escolas privadas, da maior exigência em relação ao ensino dos pais, o

que, segundo o autor, faz com que as cobranças aumentem igualmente sobre os

docentes que, por conseguinte, aperfeiçoam as condições de ensino.

Engel, Santos e Gathercole (2008) em um estudo realizado no Brasil

comparando resultados da avaliação de memória operacional com habilidades da

linguagem, em crianças na primeira infância indicaram diferenças significativas apenas

nos instrumentos que avaliaram as habilidades linguísticas, não observando diferenças

nos resultados de memória operacional, o que corrobora os resultados encontrados na

presente investigação.

Foi possível também investigar o desempenho considerando diferenças

existentes entre os sexos. As crianças do sexo feminino apresentaram desempenho

superior em atividades de memória operacional fonológica e consciência fonológica

quando comparadas com as crianças do sexo masculino, entretanto as mesmas não

foram estatisticamente significativas, dados corroboram diversos estudos (Alloway,

Gathercole & Pickering, 2006; Kessler, 1997) que também verificaram não existir

diferença de desempenho em provas de memória de operacional fonológica e

visuoespacial entre os sexos e com o estudo de Salles (1999), no qual foi avaliada a

consciência fonológica em 53 crianças com desenvolvimento normal e verificou-se que

a consciência fonológica desenvolve-se com o aumento da idade e é favorecida pelo

70

tempo de escolaridade, mas não depende do fator sexo. Os presentes resultados

contrastam com outros estudos (Andreazza-Balestrin, Cielo, Lazzarotto, & Lasch, 2008;

Lasch, Mota & Cielo, 2009; Moura, Mezzomo & Cielo, 2009, Sagrilo & de Lima

Ferreira, 2013) que indicam existir diferenças relacionadas ao sexo no desempenho da

consciência fonológica.

Os resultados deste estudo também evidenciaram diferenças estatisticamente

significativas em relação à idade da criança em todos os instrumentos, exceto na ordem

direta do WISC-III. Esses achados corroboram o estudo de Gindri, Keske-Soares e

Mota (2007) no qual compararam o desempenho em memória operacional e consciência

fonológica de estudantes pré-escolares e do primeiro ano do ensino fundamental e

verificaram a existência de relação direta entre a idade cronológica e a aquisição da

leitura e da escrita, com o desempenho em habilidades fonológicas e memória

operacional, já que os estudantes do primeiro ano do ensino fundamental que obtiveram

melhor desempenho já estavam alfabetizados e tinham mais tempo de interação com as

habilidades metalinguísticas; e com os achados de Lopes, Lopes e Galera (2005) onde

estes avaliaram a memória operacional visuoespacial em crianças entre 7 a 12 anos, e

observaram que as crianças de 11 e 12 anos apresentaram um desempenho

significativamente melhor que as crianças mais novas nesta função cognitiva, sugerindo

que prováveis mecanismos de recitação da informação visual podem ter sido utilizados

de forma paralela à representação visual favorecendo a melhora do desempenho.

De acordo com Gathercole (1998), a amplitude de memória operacional

aumenta nas crianças mais novas possivelmente porque, com a idade, há um incremento

na celeridade com que as informações são articuladas na evocação, o que implica uma

redução no declínio dos itens mantidos no armazenamento fonológico. Ressalta, ainda,

que fatores como o conhecimento do léxico e da estrutura probabilística das

71

combinações de sons na linguagem parecem também colaborar para as modificações

que ocorrem no desempenho em testes de memória imediata.

Gathercole, Pickering, Ambridge e Wearing (2004) ressaltam que a composição

modular básica da memória operacional parece já encontrar-se formada aos seis anos de

idade, ou até mais cedo, entretanto a amplitude de cada subcomponente aumenta

linearmente até à adolescência. A organização estrutural da memória operacional

conserva-se constante com a idade, observando-se, entretanto, uma ligação mais

próxima da central executiva com a alça fonológica e com o esboço visuoespacial ao

longo do desenvolvimento, embora estes dois últimos componentes mantenham-se

relativamente independentes entre si.

Os achados deste estudo em relação às diferenças encontradas a partir do critério

ano escolar corroboram os resultados de diversas pesquisas (Alloway et al., 2006;

Capovilla, Dias, & Montiel, 2007; Cowan, 2007;Engel, 2009; Gindri et al, 2007) que

indicam que a capacidade de armazenamento da memória operacional e da consciência

fonológica melhora com o aprendizado escolar, pois este aumenta a eficiência do

sistema. Também corroboram achados (Capovilla, Dias & Montiel, 2007; Carvalho,

2003; Cielo, 2001; Galera & Souza, 2010) que indicam que a consciência fonológica e a

memória operacional se desenvolvem ao longo dos anos. Crianças pequenas possuem

maior consciência silábica do que a fonêmica, indicando que a consciência fonêmica

necessita de experiências especificas relacionadas à escolarização que ultrapassam a

mera exposição aos conceitos de rima e aliteração de que necessitam a consciência

silábica.

Para considerar que a criança dominou determinada habilidade de consciência

fonológica deve-se considerar o percentual de 80% de produção padrão nos subtestes

utilizados para avaliação (Queiroga, Alves, Cordeiro, Montenegro & Asfora, 2011). De

72

modo semelhante, no presente estudo, foi considerado como indicativo para o ápice do

desenvolvimento nas habilidades de consciência fonológica silábica e fonêmica quando

as crianças apresentaram média de 80% por ano escolar (média de 32 pontos no subteste

silábico e média de 24 pontos no escore do subteste fonêmico).

A partir do padrão proposto por Queiroga et al. (2011) os resultados do presente

estudo indicam que apenas as crianças do quarto ano apresentaram domínio das

habilidades silábicas, não alcançando domínio das habilidades fonêmicas. Tais

resultados também apontam para o atraso no desenvolvimento destas habilidades nas

crianças avaliadas, já que o esperado é que o desenvolvimento de ambas as habilidades

de consciência fonológica estejam finalizadas entre o final da idade pré-escolar –

consciência silábica e início do ensino fundamental – consciência fonêmica, sendo a

última, decorrente, em grande parte, do processo de alfabetização (Cardoso-Martins,

1995).

Seabra e Capovilla (2011) ressaltam que a consciência dos segmentos silábicos

parece desenvolver-se espontaneamente, sendo observada desde muito cedo em crianças

pequenas bem como habilidades de rima e aliterações, e são conjuntamente importantes

e facilitadoras do processo de aquisição da leitura e da escrita, fato que não ocorre com

a consciência fonêmica, já que esta depende da alfabetização para desenvolver-se.

Os resultados encontrados no presente estudo sugerem que as crianças avaliadas

não haviam alcançado o nível alfabético consolidado – fase em que o leitor é capaz de

operar com unidades correspondentes a morfemas (Ehri, 1992, 1998, 2005), até o

momento da avaliação, já que estas não apresentaram desempenho esperado para o ano

escolar em que se encontravam, ainda que apresentassem melhora no desempenho

quando comparadas com as crianças que estavam cursando anos escolares anteriores.

73

Tal hipótese pode ser corroborada por estatísticas Brasileiras sobre o processo de

alfabetização como os dados da Prova ABC (Brasil, 2011) que, ao buscar avaliar o

coeficiente de aprendizagem de crianças egressas do 3º ano do ensino fundamental,

assinalaram que pouco mais da metade delas apresentaram nível adequado de leitura. O

Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Brasil, 2001; 2003; 2006; 2011b)

tem disponibilizado dados que indicam falhas no processo de alfabetização de crianças,

o que acaba se refletindo nos resultados de aprendizagem de leitura e escrita de

estudantes do ensino fundamental, mesmo em anos avançados.

Concluindo, este estudo ressalta a importância de se considerar fatores de

estimulação para o desenvolvimento da consciência fonológica e da memória

operacional tendo em vista a relevância de ambas para o desempenho acadêmico nos

primeiros anos do ensino fundamental. As implicações relacionadas à neuropsicologia

aplicada à educação da presente investigação são bastante expressivas, visto a existência

de poucos estudos sobre a influência de fatores como tipo de escola, idade, sexo e ano

escolar sobre o desenvolvimento da memória operacional e da consciência fonológica.

Além de fomentar a discussão sobre a importância da estimulação escolar sobre o

desenvolvimento da consciência fonológica, e, por conseguinte, da rota fonológica de

leitura, bem como auxiliar estudos sobre técnicas de intervenção com base na

consciência fonológica voltadas para crianças com dificuldades de leitura e escrita.

74

CAPÍTULO 5 - ESTUDO EMPÍRICO 2: A MEMÓRIA OPERACIONAL É

CAPAZ DE PREDIZER O DESEMPENHO EM HABILIDADES DE

CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA?

Resumo

Este estudo teve como objetivo verificar se a memória operacional foi capaz de predizer

o desempenho de escolares de 1° ao 4° ano do ensino fundamental em habilidades de

consciência fonológica. Foram avaliadas 219 crianças de escolas públicas e privadas do

município de Santo Antônio de Jesus, Bahia. Foram utilizados os seguintes

instrumentos de avaliação: Cubos de Corsi, Amplitude de Dígitos (Subteste do WISC –

III) e Consciência Fonológica: Instrumento de Avaliação Sequencial (CONFIAS). Os

resultados, a partir da modelagem por equações estruturais, indicam um forte índice de

predição entre os testes que avaliam memória operacional com os subtestes que avaliam

a consciência fonológica. Tais dados contribuem para a melhor compreensão da

importância da memória operacional para o desenvolvimento das habilidades de

consciência fonológica sugerindo que déficits em memória operacional podem

representar um fator que contribui para dificuldades no desenvolvimento das

habilidades de consciência fonológica, bem como, para o desenvolvimento da leitura e

da escrita.

Palavras-chave: consciência fonológica, memória operacional, neuropsicologia,

modelagem de equações estruturais, leitura e escrita.

Abstract

The aims of this study is to verify if the working memory was able to predict the

performance of students from 1st to 4th year of elementary school in phonological

awareness skills. 219 children from public and private schools were assessed in Santo

75

Antonio de Jesus city, Bahia. The following assessment instruments were used: Corsi

Block-Tapping test, Digit Span (subtest of the WISC III) and CONFIAS. The results

from the structural equation modeling indicate a strong rate of prediction between tests

that assess working memory with subtests that assess phonological awareness. These

results contribute to a better understanding of the importance of working memory in the

development of phonological awareness, suggesting that deficits in working memory

may represent a factor that contributes to difficulties in the development of phonological

awareness, as well as for the development of reading and writing.

Keywords: phonological awareness, working memory, neuropsychology, structural

equation modeling, reading and writing.

Introdução

A memória operacional é uma função executiva, evoluiu, enquanto conceito, da

memória de curto prazo, se diferenciando desta pela capacidade de estocagem,

monitoramento e manuseio temporário da informação. De acordo com o modelo

explicativo da memória operacional, proposto por Baddeley e Hitch (1974) e Baddeley,

(2000) esta possui quatro subsistemas funcionais: a alça fonológica, o retentor

episódico, a central executiva e o esboço visuoespacial.

A central executiva é o subsistema responsável pelo controle de recursos e

monitoramento do processamento de informações entre domínios informativos

(Baddeley & Hitch, 1974). Este sistema é também responsável por uma variedade de

funções reguladoras, incluindo a recuperação da informação da memória e o controle

atencional. Neste modelo, o armazenamento de informação é mediado por dois

subsistemas: a alça fonológica, que fornece armazenamento temporário de informação

76

verbal, e o esboço visuoespacial, especializado na manutenção e manipulação de

informações visuais e de representações espaciais (Baddeley & Hitch, 1974). Um quarto

componente deste modelo foi recentemente adicionado, o retentor episódico (Baddeley,

2000), responsável por manter episódios integrados ou pedaços de um código

multidimensional. Ao fazê-lo ele age como um sistema de armazenamento, não só entre

os componentes da memória operacional, mas também liga a memória operacional à

percepção e à memória de longo prazo (Baddeley, 2012).

Baddeley (2003) propõe que a memória operacional é um sistema de

armazenamento temporário que serve de base a capacidade humana de pensar

exercendo implicações sobre o processamento da linguagem. Logo, déficits na memória

operacional como, por exemplo, na alça fonológica, e em menor medida, nos outros

subsistemas, trariam prejuízos a este processamento.

Estudos demonstram (Fukuda, Kutscher, Frizzo, Isaac, Fernandes & Funayama,

2010; Sagrilo & Ferreira, 2013) que a memória operacional exerce função decisiva no

desenvolvimento da linguagem oral e da comunicação infantil, possibilitando a

aprendizagem formal e informal, alcance de novos conhecimentos e a integração de

informações. A memória e a linguagem são sistemas que se desenvolvem

concomitantemente, interagem entre si e são dependentes (Fukuda et al, 2010), sendo a

memória operacional apontada como um dos componentes cruciais para o

desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita (Capovilla, Joly, Ferracini,

Caparrotti, Carvalho & Raad, 2004).

A consciência fonológica é um termo geral usado para descrever o

conhecimento explícito da estrutura fonológica interna das palavras e as habilidades de

manipular (movimentar, combinar ou suprimir) intencionalmente as unidades

sublexicais que as compõem (Gombert, 1992; Oakhill & Kyle, 2000). Refere-se à

77

habilidade de reflexão sobre as subunidades da língua oral, os fonemas, as sílabas e as

palavras e sobre a manipulação destas subunidades. Caracteriza-se também por

apresentar uma relação de reciprocidade com o desenvolvimento das habilidades de

leitura e escrita (Carvalho, 2003).

Foram encontrados dois estudos brasileiros que verificaram a relação entre

memória operacional fonológica (MOF), consciência fonológica (CF) e escrita em

estudantes da pré-escola e primeira série (Gindri, Keske-Soares & Mota, 2007) e no

último ano do ensino fundamental (Soares, Jacinto & Cárnio, 2012). Os autores do

primeiro estudo constataram que a memória operacional e a consciência fonológica se

inter-relacionam e dependem da idade cronológica e maturidade do sujeito.

Evidenciaram também que tanto a memória operacional quando a consciência

fonológica favorecem a aquisição da escrita e podem sofrer influências dos estímulos

educacionais. Já o segundo estudo não encontrou correlação entre o desempenho em

memória operacional fonológica e habilidades de consciência fonológica nos escolares

do 5° ano do ensino fundamental avaliados. Estudos internacionais como o de Leather e

Henry (1994) sobre as relações entre a memória operacional e a consciência fonológica

indicam alto índice de correlação entre as atividades de memória operacional e

atividades que avaliam a consciência fonêmica. Já e de Oakhill e Kyle (2000) encontrou

correlação positiva entre a e memória operacional e atividades da consciência silábica,

não apresentando correlação com as habilidades fonêmicas.

Baddeley (1986) e Torgesen, Wagner e Rashotte (1994) sugeriram que as

relações entre a memória operacional e a consciência fonológica podem estar associadas

ao fato de que boa parte das atividades que avaliam a consciência fonológica exige

categorização de sons, processamento e armazenamento simultâneo das informações,

características típicas do funcionamento da memória operacional. Entretanto, os estudos

78

que abordam esta relação são geralmente direcionados para os anos iniciais do Ensino

Fundamental, além de associarem estas variáveis ao processo de alfabetização, onde o

papel da consciência fonológica e da memória operacional fonológica já está bastante

fundamentado. Estes estudos tendem a verificar a influência dos dois fatores no

desenvolvimento da leitura não avaliando se a memória operacional é capaz de predizer

o desenvolvimento da consciência fonológica, já que esta é uma habilidade e não uma

função cognitiva. Por conseguinte, se voltam apenas para a influência da alça

fonológica, esquecendo-se da importância do esboço visuoespacial e dos outros

componentes da Memória Operacional.

Tal separação é questionada, por exemplo, por Alloway, Gathercole e Pickering

(2006) que discutem se a memória operacional verbal e visuoespacial em crianças são

separáveis, uma vez que, embora existam aspectos específicos de domínio relacionados

à capacidade de memória operacional associados com o subsistema fonológico e

visuoespacial, a sua capacidade é impulsionada principalmente por um domínio geral

em crianças – a central executiva. Sendo assim, este estudo teve por objetivo investigar

se o desempenho em memória operacional é capaz de predizer o desempenho em

habilidades de consciência fonológica de escolares de 1° ao 4° ano do ensino

fundamental de escolas públicas e privadas.

Métodos

Participantes

Duzentas e dezenove crianças entre o 1° e o 4° ano do ensino fundamental de

escolas públicas e privadas do município de Santo Antônio de Jesus, Bahia. Foram

utilizados os seguintes critérios de inclusão: desenvolvimento neuropsicomotor normal;

desenvolvimento típico de fala; não apresentar deficiência auditiva ou visual; não

79

apresentar suspeita de alterações psicológicas, neurológicas e fonoaudiológicas e

apresentar quociente de inteligência acima de 25% - inteligência mediana (Raven, Court

& Raven, 1998). A pesquisa obteve aprovação do Comitê de Ética em Saúde da Escola

de Enfermagem da Universidade Federal da Bahia (parecer 274.225/data: 08/05/13).

Todos os responsáveis pelas crianças assinaram o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido.

Procedimentos

Avaliação neuropsicológica

As crianças que não apresentaram nenhuma alteração de acordo com os critérios

de inclusão foram convidadas a participar da avaliação da inteligência a partir das

Matrizes Progressivas Coloridas de Raven – infantil (Pasquali et al., 2002), onde era

verificado se a criança estava dentro da norma esperada para idade, último critério para

participação nas próximas etapas da pesquisa.

Todo o processo de avaliação neuropsicológica foi realizado em um

ambiente reservado dentro das escolas participantes, onde um grupo de 16 estudantes de

psicologia e um psicólogo foram devidamente treinados e monitorados. Os

instrumentos de avaliação neuropsicológica utilizados foram:

O Teste das Matrizes Progressivas Coloridas - Raven Infantil

(Pasquali, Wechsler & Bensusan, 2002): tem como objetivo avaliar a

inteligência não verbal, baseado no conceito do fator "g" de inteligência geral,

proposto por Spearman. Consiste em um subconjunto de 36 figuras, extraído das

60 figuras do Raven Geral, divididos em três conjuntos de dificuldade crescente:

A, Ab, e B onde se apresenta uma matriz de figuras onde há um padrão lógico

80

entre as elas. Uma das casas da matriz é deixada em branco e o examinando é

incentivado a preencher a casas com a figura correta segundo o seu raciocínio. O

total parcial de cada conjunto é calculado para determinar a consistência do

resultado, e o total de respostas bem-sucedidas é convertido em percentil. Este

instrumento foi escolhido por ser indicado principalmente para crianças de 5 a

11 anos, faixa etária da amostra.

Amplitude de Dígitos - Escala Wechsler de Inteligência, 3a edição - WISC-III

(Wechsler, 2002) e Cubos de Corsi (Kessels, Van Zandvoort, Postma, Kappelle

& De Haan, 2000) - correspondem a dois testes clássicos, bem conhecidos na

literatura para a avaliação de memória operacional. Ambas as tarefas têm a

mesma lógica de repetir sequências de números (dígitos) ou tocar os cubos em

ordem direta e ordem indireta. Foi obtido o desempenho das crianças em duas

medidas: escore ou frequência de acertos somente na ordem direta e somente na

ordem inversa de ambos os instrumentos.

Consciência Fonológica: Instrumento de Avaliação Sequencial

(CONFIAS) (Moojen et al., 2003): é um instrumento que tem como objetivo

avaliar a consciência fonológica de forma abrangente e sequencial. Faixa etária:

Indicado para crianças a partir de quatro anos de idade. Abrange diferentes

tarefas em consciência fonológica e apresenta dificuldade gradativa ao longo de

sua realização. Tarefas de síntese, segmentação, identificação, produção,

exclusão e transposição silábica e fonêmica compõem o instrumento. A

pontuação máxima no nível silábico é de 40 pontos e no nível fonêmico é de 30

pontos, totalizando 70 pontos entre os dois níveis testados.

Procedimento de análise de dados

81

Para avaliar o impacto da memória operacional sobre o desempenho em

consciência fonológica de estudantes do 1º ao 4º ano do Ensino Fundamental, foram

realizadas análises de Modelagem por Equação Estrutural (SEM). As análises foram

realizadas a partir do software Amos 15, adotando-se o estimador da máxima

verossimilhança (Maximum Likelihood - ML) (Garson, 2012; Kline, 2011).

A avaliação da qualidade do ajuste das modelagens considerou os seguintes

índices de adequação: Índice de Ajuste Comparativo - CFI [valores ≥0,90 indicam

ajuste aceitável; sendo esperados valores ≥0,95 para ajuste]; Raiz do Erro Quadrático

Médio Aproximado – RMSEA e Raiz do Resíduo Quadrático Médio Padronizado –

SRMR [valores próximos a zero indicam ajuste, sendo aceitáveis valores até 0,08]

(Garson, 2012; Hair, Anderson, Tathan & Black, 2005, Kline, 2011). Adicionalmente,

indicadores como o qui-quadrado normado (ᵡ2/gl) e o Critério de Informação de Akaike

(AIC) foram utilizados para avaliar o melhor ajuste entre os modelos alternativos -

valores menores nesses índices indicam o modelo mais parcimonioso e melhor ajustado

aos dados, entretanto, é importante considerar que segundo Kline (2011, p. 204) não

existe na literatura argumentações empíricas e lógicas, acompanhadas de

critérios/pontos de corte para esse índice, de modo que o mesmo deve receber pouca

importância na avaliação do ajuste geral do modelo, podendo ser mais adequadamente

utilizado, em conjunto com os índices (CFI; RMSEA; SRMR; AIC), na avaliação da

parcimônia do modelo avaliado na comparação com modelos alternativos.

Resultados

O desvio da normalidade deste estudo foi relativamente baixo (cf. apêndice I),

embora o Maximum Likelihood (ML) exija que os dados tenham normalidade para a

82

estimação, ele também é utilizado quando o desvio da normalidade é marginal, sendo

adotado neste estudo por ser considerado um método mais robusto e por apresentar

algumas vantagens relevantes, como a facilidade do processamento estatístico sofrer

pouca influência do tamanho da amostra, além da possibilidade de estabelecimento de

diversos índices de adequação (Pilati & Laros, 2007). Vale considerar que foram

utilizados outros modelos que não exigem o pressuposto da normalidade dos dados nos

quais não houve diferença nos resultados encontrados (cf. apêndice II).

Os modelos foram especificados de tal modo que a Consciência Fonológica foi

concebida como uma variável latente, representada pelas variáveis do teste: Consciência

Fonológica: Instrumento de Avaliação Sequencial (CONFIAS) – silábico e fonêmico.

Por sua vez, a Memória Operacional foi representada de duas formas nas modelagens.

No Modelo 1 as variáveis Alcance de Dígitos direto e inverso das escalas WISC-III

adicionados ao alcance direto e indireto do instrumento Cubos de Corsi representam a

Memória Operacional, conforme indicações de Baddeley e Hitch (1974) Baddeley

(2000). Já no Modelo 2, a Memória Operacional foi especificada como uma única

variável latente representada pelas variáveis: Escore Total do subtestes de Dígitos do

WISC-III e Escore Total do instrumento Cubos de Corsi.

Os dois modelos convergiram e foram identificados. Todos os

parâmetros estruturais estimados foram significativos. Do ponto de vista do ajuste geral,

os dois modelos testados produziram índices de ajuste satisfatórios, com discreta

melhoria de ajuste para o segundo modelo (Tabela 1).

83

Tabela 1

Indicadores de ajuste dos modelos testados.

Modelos

testados

Índices de Ajuste

CMIN

(ᵡ2)

gl P ᵡ2/gl CFI RMSEA PCLOSE SRMR AIC

Modelo 1 13,693 8

0,09

1,712 0,983 0,057

[IC90%: 0,000

– 0,107]

0,356 0,038 39,693

Modelo 2 1,632 1 0,20 1,632 0,997 0,054

[IC90%: 0,000

– 0,198]

0,317 0,012 27,632

Os parâmetros estruturais dos modelos testados podem ser visualizados nas

Figuras 1 e 2 a seguir.

Figura 1. Parâmetros estruturais padronizados para o Modelo 1.

Os parâmetros estruturais estimados para o Modelo 1 indicam que todos os

pesos de regressão foram significativos, variando de 0,36 a 0,65. Os coeficientes de

regressão padronizados (betas), também denominados coeficientes path, maiores foram

84

os representados pelo esboço visuoespacial (corsi.span) β= 0,67, seguidos da central

executiva ( digit.inver.span e corsi.inver.span) onde assumiram valores significativos

(β= 0,62 e β=0,59, respectivamente). Os índices de ajustes indicam super ajustamento

do modelo aos dados empíricos, não sugerindo índices de modificação na análise.

Figura 2. Parâmetros estruturais padronizados para o Modelo 2, no qual a Memória

Operacional é representada por uma única variável latente.

Para o Modelo 2, no qual a variável latente Memória Operacional apresenta um

único path para a variável latente Consciência Fonológica, o coeficiente de regressão

padronizado foi de 0,53, podendo ser considerado como forte.

Discussão

O presente estudo mostrou através da técnica de modelagem de equação

estrutural, que a memória operacional é capaz de predizer a consciência fonológica em

crianças do primeiro ao quarto ano do ensino fundamental, etapa na qual esta habilidade

é essencial para a aquisição das capacidades de leitura e de escrita. Ao nosso

conhecimento, esse é o primeiro estudo com uso desta técnica para avaliar a relação

entre estes construtos, considerando o desempenho de crianças de escolas públicas e

privadas no primeiro ciclo do ensino fundamental no Brasil.

85

A escolha do uso da técnica de modelagem de equação estrutural para análise de

predição entre memória operacional e consciência fonológica foi satisfatória devido a

sua capacidade de adequação ao problema e a proposta deste estudo, considerando que a

mesma permite analisar relações explicativas entre múltiplas variáveis simultaneamente,

sejam essas latentes ou observadas (Pilati & Laros, 2007). Essa técnica é compreendida

por autores do campo (Hair et al., 2005; Klem, 2002) como uma mistura de análise

fatorial e análise de regressão. A modelagem de equações estruturais proporciona um

arcabouço geral e conveniente de procedimentos de análise de dados que incluem vários

procedimentos tradicionais de análise de dados multivariados (Hox & Bechger, 1998).

A partir da modelagem de equações estruturais é possível inferir o quanto as

alterações em um conjunto de variáveis independentes (VI’s) irá afetar a variação em

uma variável dependente (VD). A partir disto pode-se proferir que as VI’s são variáveis

preditoras, uma vez que elas permitem prever a variação da VD ou variável critério

(Pilati & Laros, 2007).

Entretanto isso não significa que a modelagem sozinha possibilite a afirmação da

existência de relações causais entre as variáveis. A causalidade depende do atendimento

de outros pressupostos como uma pesquisa com delineamento experimental e a coleta

de dados em momentos distintos em que as possíveis variáveis antecedentes sejam

coletadas em momentos anteriores à coleta das variáveis dependentes. Mas apesar de

não permitir aferir relações de causalidade, a modelagem de equações estruturais é

muito útil, uma vez que ela permite: determinar a magnitude do relacionamento entre a

VD e cada uma das VI; identificar a melhor equação de predição para um determinado

fenômeno; analisar contingências entre variáveis (o modo que uma VI se comporta no

contexto de outra VI ou de um conjunto de outras VI’s); e estimar parâmetros (quanto

86

será acrescido ou subtraído do escore da VD em função da mudança de uma unidade de

medida da VI) (Hair et al, 2005).

Este estudo demonstrou que os caminhos de todos os fatores são positivos e

apropriados na utilização do modelo de predição da memória operacional em relação às

habilidades de consciência fonológica, evidenciando, assim, que a memória operacional

prediz o desempenho de consciência fonológica na população avaliada. Não existindo

nos dados elementos para falsear os modelos realizados.

Os resultados demonstram que tanto no modelo 1 quanto no modelo 2 o que se

percebe é que a memória operacional prediz fortemente a consciência fonológica entre

os estudantes avaliados. Vale ressaltar que os modelos são equivalentes, tanto que a

força de predição da MO para a CF é basicamente invariante. Contudo, o modelo 2

apresenta-se mais parcimonioso pois envolve menos parâmetros a serem estimados e

exibe índices melhores de ajuste da modelagem.

A relação entre a alça fonológica e a consciência fonológica era esperada, uma

vez que só é possível acessar informações que estiverem armazenadas em um sistema

íntegro de memória (Rodrigues & Befi-Lopes, 2009). Entretanto, tanto o desempenho

na alça fonológica quanto o desempenho no esboço visuoespacial, como também no

modelo geral de memória operacional, foram capazes de predizer de forma significativa

o desempenho de consciência fonológica no grupo estudado. Ou seja, quanto maior a

amplitude de memória operacional, melhor, mais expressivo e mais competente foi o

desempenho em consciência fonológica nas crianças avaliadas.

Diversos estudos expõem resultados diferentes sobre a relação entre a

consciência fonológica e a memória operacional. Alguns (Curi, 2002; Segers &

Verhoeven, 2005; Oakhill & Kyle, 2000) asseguram que essa relação é positiva, e

outros (Gillam & Van Kleeck, 1996) que é negativa. Entretanto, a maioria pressupõe a

87

hipótese de que a memória operacional e a consciência fonológica fazem parte do

processamento fonológico. Deste modo, há correlação entre ambos, evidenciando uma

relação de dependência entre esses dois construtos, já que as operações de memória

operacional, representadas pela codificação, pelo armazenamento e pela recuperação da

informação, são indispensáveis para a execução de atividades de consciência fonológica

(Cardoso, Silva & Pereira, 2013).

Os estudos de Cardoso et al. (2013), Gindri et al. (2007) e Santos e Siqueira

(2002) indicam que a memória operacional e consciência fonológica são,

respectivamente, função e habilidades cognitivas indissociáveis, sugerindo que estas se

desenvolvem simultaneamente, e, nesse processo, operam influenciando no

desenvolvimento de habilidades de leitura e escrita, ou seja, à medida que a consciência

fonológica vai se desenvolvendo, o desempenho da memória operacional também

aumenta e vice-versa. Entretanto, os dados destes estudos não indicam se a memória

operacional é capaz de predizer o desempenho em consciência fonológica (Cardoso et

al, 2013), resultado encontrado no presente estudo.

Vale ressaltar que, tanto a consciência fonológica, quanto a memória operacional

exercem um papel relevante na aquisição da leitura em um sistema de escrita alfabético

(Tenório & Ávila, 2012). De modo geral, as letras do alfabeto simbolizam fonemas,

tornando fácil compreender que a habilidade de identificar, segmentar e manipular

fonemas se correlacione com o aprendizado do princípio alfabético da escrita, base para

o processo de alfabetização (Cardoso-Martins & Pennington, 2001).

Um estudo desenvolvido por Bandini, Santos e Souza (2013) apresenta dados

que corroboram a associação estreita encontrada no presente estudo entre os vários

níveis de habilidades de consciência fonológica (silábica e fonêmica) e a memória

operacional fonológica. Entretanto, os autores pontuam que é importante considerar que

88

os testes que avaliam a consciência fonológica utilizados nos estudos, costumam

necessitar da amplitude da alça fonológica, uma vez que a repetição e a manipulação de

palavras, silabas e fonemas não necessitam de suporte visual. Neste sentido, os dados da

presente investigação contrastam e estendem este estudo, ao verificar que o componente

visuoespacial da memória operacional parece ser relevante também para a aquisição das

habilidades de consciência fonológica. É possível que o sistema de input de informação

visual seja relevante para a codificação fonêmica funcionando como um motor auxiliar

no processo de aquisição da consciência fonológica.

O estudo realizado por Oakhill e Kyle (2000) concluiu que a memória

operacional influencia apenas uma tarefa de consciência fonológica: a tarefa de

segmentação de sílabas, não apresentando índice de correlação em atividades de

consciência fonêmica. Já o estudo de Leather e Henry (1994), sobre as relações entre a

memória operacional e a consciência fonológica, indica alto índice de correlação entre

as atividades de memória operacional e atividades que avaliam a consciência fonêmica.

Ainda que os estudos não tenham verificado predição, mas sim, correlação, os dados da

presente investigação corroboram e estendem parcialmente os dados de Leather e Henry

– consciência fonêmica (1994) e Oakhill e Kyle – consciência silábica (2000), uma vez

que foram achadas relação de predição entre memória operacional e estes componentes.

Segundo os mesmos autores, nenhuma tarefa pode ser considerada como capaz

de fornecer uma avaliação "exclusiva" das habilidades fonológicas, já que elas têm

diferentes exigências de processamento e, em particular, a tarefa de segmentação

silábica necessita mais da memória operacional, dado que corrobora com os resultados

encontrados neste estudo, vide o índice apresentado entre a memória operacional e a

consciência silábica (β = 0,92 – modelo 1, β = 0,95 – modelo 2), fatores devem ser

89

considerados em pesquisas futuras que tiverem como objetivo avaliar a relação entre a

memória operacional e a consciência fonológica.

Os resultados encontrados assinalam que a avaliação do desempenho de crianças

em relação à memória operacional e à consciência fonológica deve ocorrer antes de se

iniciar o processo de alfabetização, o que facilitará o prognóstico do processo de

aquisição da linguagem escrita e poderá fornecer informações sobre as possíveis

alterações de linguagem oral. Logo, este estudo não pretende encerrar as discussões

pertinentes aos modelos de predição entre a memória operacional e a consciência

fonológica, por apresentar algumas limitações.

Inicialmente, o fato de não terem sido encontradas pesquisas que relatem índices

de predição entre a memória operacional e a consciência fonológica inviabilizou a

comparação dos resultados encontrados com estudos similares. Em segundo lugar, vale

a pena ressaltar que este estudo teve caráter não-probabilístico, sendo a amostra por

conveniência, o que faz com o que os resultados não sejam generalizáveis, não sendo

possível mensurar os erros desta amostragem nem realizar uma declaração categórica ou

conclusiva sobre os resultados obtidos (Kinnear & Taylor, 1979). Uma terceira

limitação trata de ter investigado por um método transversal o desempenho nas provas,

sendo que um estudo longitudinal considerando o desempenho pré-escolar em tarefas de

memória operacional e consciência fonológica poderia contribuir para o

estabelecimento consistente de causalidade. A principal implicação teórica deste estudo

é a aplicabilidade de uma abordagem hierárquica e multidimensional para conceituar e

mensurar os índices de predição existentes entre estas duas variáveis. Considerando que

esta pesquisa apresenta dados referentes a uma população específica de crianças de uma

cidade do interior da Bahia, assim sendo é um marco inicial no desenvolvimento de um

90

índice de predição para a memória operacional e para a consciência fonológica, já que

ambas são relevantes para o desenvolvimento da leitura e da escrita.

Os resultados apoiam a utilização deste modelo para avaliar a aquisição da

leitura e da escrita em estudantes de ensino fundamental a fim de desenvolver

estratégias de intervenção que não sejam voltadas apenas para os déficits de consciência

fonológica, mas sim, para o desenvolvimento de uma função cognitiva que anteveem o

desenvolvimento desta habilidade. A implicação prática refere-se à utilização deste

estudo por parte dos profissionais da psicologia e da educação como uma fonte de

planejamento de suas estratégias, técnicas e métodos de alfabetização.

Como dito anteriormente, devido à escassez de estudos na área, considera-se

importante à realização de outros estudos que venham a corroborar ou refutar os dados

encontrados nesta pesquisa a fim de contribuir para a melhor compreensão da influência

da memória operacional no que tange ao desenvolvimento de habilidades importantes

para o desempenho acadêmico como são as habilidades de consciência fonológica.

91

CONCLUSÕES

Todos os objetivos desta pesquisa apresentados anteriormente foram

satisfatoriamente atingidos, obtendo-se as seguintes conclusões:

Os resultados demonstraram que a memória operacional é um

forte preditor da consciência fonológica em escolares de 1° ao 4° ano do

ensino fundamental.

Os resultados da avaliação neuropsicológica indicaram que houve

diferenças estatisticamente significativas entre o desempenho em memória

operacional e consciência fonológica de crianças do 1° ao 4° ano do ensino

fundamental de escola pública e privada, onde as crianças de escola pública

obtiveram um desempenho inferior em atividades que avaliaram a

consciência fonológica e no componente visuoespacial da memória

operacional, não apresentando diferenças estatisticamente significativas em

atividades que avaliaram o componente fonológico e a central executiva.

Não houve diferenças estatisticamente significativas entre o

desempenho das crianças quando analisadas a partir da variável sexo, ainda

que as médias dos meninos tenham sido melhores nos testes de memória

operacional visuoespacial e das meninas nos testes de memória operacional

fonológica e consciência fonológica.

Foram observadas diferenças estatisticamente significativas no

desempenho dos testes neuropsicológicos quando analisados a partir do

critério idade e ano escolar, apresentando evidências de que os anos iniciais

do ensino fundamental são cruciais para o desenvolvimento adequado da

habilidade de consciência fonológica e da memória operacional.

92

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa objetivou verificar se o desempenho em memória operacional

prediz significativamente o desempenho em consciência fonológica de escolares de 1°

ao 4° ano do ensino fundamental. A investigação foi realizada com a colaboração

extensiva das escolas envolvidas.

De acordo com a revisão de literatura realizada, a memória operacional e a

consciência fonológica estão estritamente relacionadas ao desenvolvimento de

habilidades de leitura e de escrita, bem como aos problemas decorrentes do déficit

nestas habilidades.

O presente estudo faz uma contribuição significativa como o primeiro estudo, ao

nosso conhecimento, que testou a hipótese de que a memória operacional é capaz de

predizer o desempenho em habilidades de consciência fonológica, no contexto

brasileiro, considerando os resultados tanto de crianças oriundas de escolas públicas

quanto privadas do 1° ao 4° ano do ensino fundamental.

Importante salientar algumas limitações deste estudo: a) um dos instrumentos

psicológicos utilizados (Cubos de Corsi) ainda não dispõe de normas brasileiras, fato

que dificultou determinadas análises bem como desempenhos ponderados por idade, já

que os sujeitos avaliados pertenciam a um grupo de crianças entre cinco e onze anos de

idade; b) outro fator relevante é que os resultados da presente investigação não são

generalizáveis, já que a amostra foi não–probabilística, e os sujeitos foram selecionados

por conveniência, sendo necessário o desenvolvimento de outros estudos para reforçar a

hipótese de predição da memória operacional sobre a consciência fonológica. Outro

ponto relevante para os próximos estudos é a realização de uma pesquisa longitudinal

para que assim seja possível avaliar o fator de predição de acordo com o

93

desenvolvimento da criança. Por fim, vale ressaltar, que as limitações deste estudo não

invalidam os resultados obtidos, uma vez que foi possível verificar não só o

desempenho destas crianças nestes construtos psicológicos como diversos dados na

literatura que serviram de base para os achados deste trabalho.

Considera-se relevante que sejam desenvolvidas investigações neste tema, não

só com o intuito de avaliar e corroborar os dados encontrados, mas, principalmente,

com objetivo de criar, posteriormente, estratégias de promoção, prevenção e reabilitação

de déficits, tanto de memória operacional, quanto da consciência fonológica, tendo em

vista a importância destes para o desenvolvimento da alfabetização e para o

desempenho acadêmico como um todo. Estudos nesta área, que investiguem a relação

entre funções cognitivas e consciência fonológica são necessários para ampliar o corpo

teórico e de pesquisas empíricas que favoreçam ações futuras acerca do melhoramento

do desempenho cognitivo e escolar, tendo em vista que, diversas políticas educacionais

que impactam sobre o desenvolvimento de técnicas de alfabetização são, muitas vezes,

aplicadas sem consultar investigações sobre a temática.

Conclui-se que os resultados obtidos neste estudo apresentam um valor

significativo quanto a sua contribuição para a neuropsicologia aplicada a educação, uma

vez que apresenta dados relevantes sobre o funcionamento executivo e a sua relação

com o desenvolvimento de habilidades metafonológicas importantes para o

desenvolvimento de habilidades acadêmicas como a leitura e a escrita.

94

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110

APÊNDICES

Apêndice I – Distribuição de normalidade dos testes

111

112

113

Apêndice II – Modelagem de Equações estruturais pelo método Mínimos

Quadrados Generalizados (GLS)

Figura 1. Parâmetros estruturais padronizados alternativos ao Modelo 1b, a partir do

método GLS de estimação.

Figura 2. Parâmetros estruturais padronizados alternativos ao Modelo 2b, a partir do

método GLS de estimação.

Tabela 1

Indicadores de ajuste para o modelo testado por GLS

Modelo

testado

Índices de Ajuste

CMIN

(ᵡ2)

gl p ᵡ2/gl CFI RMSEA PCLOSE SRMR AIC

Modelo 1b

13.945

8 0,083

1,743

0,947

0,058

[IC90%: 0,001

– 0,108]

0,342

0,403

39,945

Modelo 2b

1,614

1 0,204

1,614

0,993

0,053

[IC90%: 0,001

– 0,197]

0,320

0,012

19,614

114

ANEXOS

Anexo I – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

TITULO DA PESQUISA: RELAÇÕES ENTRE O DESEMPENHO EM

MEMÓRIA OPERACIONAL E HABILIDADES DE CONSCIÊNCIA

FONOLÓGICA

Prezada (o) Mãe, pai ou responsável:

Este é um convite para seu (sua) filho (a) participar voluntariamente em uma

pesquisa sobre as “RELAÇÕES ENTRE O DESEMPENHO EM MEMÓRIA

OPERACIONAL E HABILIDADES DE CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA”.

Seu (sua) filho (a) está sendo convidado a participar de um estudo que irá

investigar habilidades de consciência fonológica e a memória de informações espaciais

e fonológicas em crianças. Sua criança está sendo convidada a participar de uma

avaliação neuropsicológica de aproximadamente uma hora, com tarefas simples

(lúdicas, com uso de lápis e papel ou computador) e incluem medidas de inteligência,

consciência fonológica e memória. A avaliação será feita em uma sala reservada na

própria escola da criança por psicólogos ou estagiários de psicologia especialmente

treinados. A participação é totalmente voluntária e é garantida a retirada de

consentimento (desistência) por parte dos participantes a qualquer momento do estudo

sem sofrer qualquer tipo de penalidade. Asseguramos a confidencialidade das

informações, ou seja, a não divulgação da identificação da criança.

O presente trabalho tem como objetivo verificar se o desempenho em memória

operacional prediz o desempenho em consciência fonológica de escolares de 1° ao 4°

ano do ensino fundamental. Os objetivos específicos são: Avaliar, a partir de testes

neuropsicológicos, o desempenho em memória operacional e consciência fonológica de

crianças do 1° ao 4° ano do ensino fundamental; Verificar se há diferenças entre o

115

desempenho de estudantes de escolas públicas e privadas; Verificar se há diferenças no

desempenho das crianças quando analisadas a partir das variáveis: sexo, idade e série

escolar; Estabelecer modelos de equação estrutural para verificar a relação existente

entre memória operacional e consciência fonológica. Qualquer despesa durante o

andamento da pesquisa será absorvida pelo orçamento da pesquisa, ou seja, não será de

responsabilidade do participante da pesquisa. Os participantes do estudo também não

terão nenhuma compensação financeira quanto a sua participação. Os resultados do

estudo serão apresentados de forma geral nas escolas participantes como por palestras e

relatórios técnicos.

Estamos à disposição para esclarecer qualquer pergunta ou dúvida acerca dos

procedimentos do referido estudo. Os pesquisadores responsáveis são Ana Flávia

Soares Conceição, mestranda em Psicologia do Desenvolvimento da Universidade

Federal da Bahia e Professora Substituta da Universidade Federal do Recôncavo da

Bahia, Tel. (75)3632-4674/88667682, e o Dr. Neander Abreu – Professor Adjunto,

Instituto de Psicologia, Universidade Federal da Bahia, Estrada de São Lázaro,

Federação, Salvador – Ba, Tel. 71 3283-6437.

Acredito ter sido suficientemente informado a respeito das informações que li ou

que foram lidas para mim, descrevendo o estudo. Eu

________________________________________________________ responsável por

_____________________________________ (nome da criança) concordo com os itens

anteriormente citados. Concordo voluntariamente em participar e/ou acompanhar

àquele que sou responsável legalmente e que no momento tenho cuidado e, que poderei

retirar o meu consentimento a qualquer momento, antes ou durante o mesmo, sem

penalidades ou prejuízo ou perda de qualquer benefício que àquele que cuido possa ter

adquirido, ou no meu atendimento e/ou no dele (a) neste serviço.

Nome do responsável: ......................................................................................................

Grau de parentesco: ............................................ Data: ........../............/...........

Assinatura: ........................................................................................................................

Nome da Criança: .............................................................................. Sexo: M ( ) F ( )

Data de nascimento: .........../.........../........... Idade: ............ Ano escolar:.................

Turma:.................. Turno:........................................

116

Anexo II - Critério de Classificação Econômica Brasil

CRITÉRIO DE CLASSIFICAÇÃO ECONÔMICA BRASIL (CCEB)

Nome: _________________________________________________

Data:_____/____/______

Apenas para fins de classificação socioeconômica, quantos itens dos abaixo

relacionados existem em sua casa?

Posse de Itens

Itens 0 1 2 3 4 ou

+

Televisão em cores

Rádio

Banheiro

Automóvel

Empregado mensalista

Máquina de lavar roupa

Videocassete e/ou DVD

Geladeira

Freezer (aparelho independente ou parte da geladeira

duplex)

Grau de instrução do chefe da família

Indique o grau de instrução do chefe da família

Analfabeto / Primário incompleto Analfabeto / Até 3ª série

fundamental

0

Primário completo / Ginasial

incompleto

Até a 4ª série fundamental 1

Ginasial completo / Colegial

incompleto

Fundamental completo 2

Colegial completo / Superior

incompleto

Médio completo 4

Superior completo Superior completo 8

Cortes do Critério Brasil

Classe Pontos

A1 42 – 46

A2 35 – 41

B1 29 – 34

B2 23 – 28

C1 18 – 22

C2 14 – 17

D 8 – 13

E 0 – 7

117

Anexo III - Questionário social e de saúde da criança

QUESTIONÁRIO SOCIAL E DE SAÚDE DA CRIANÇA

Nome:_________________________________________________Idade:___________

Qual é o sexo da criança? Masculino ( ) Feminino ( )

Estuda em escola pública ou particular? _____________Qual a série? _______

Apresenta dificuldades de leitura?

( ) não ( ) sim

Realiza algum tipo de acompanhamento

psicológico/psiquiátrico?

( ) não ( ) sim

Realiza acompanhamento

fonoaudiológico?

( ) não ( ) sim

Realiza algum tipo de acompanhamento

psicopedagógico?

( ) não ( ) sim

Tem boas notas no colégio?

( ) não ( ) sim

Apresenta desenvolvimento adequado

de fala?

( ) não ( ) sim

Começou a andar no tempo normal?

( ) não ( ) sim

Apresenta algum tipo de deficiência

auditiva ou visual?

( ) não ( ) sim

Tem diagnóstico de algum tipo de

alteração neurológica ou psiquiátrica?

( ) não ( ) sim

A criança apresenta retardo na

linguagem?

( ) não ( ) sim

Apresenta algum transtorno de

aprendizagem?

( ) não ( ) sim