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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES CURSO DE LETRAS A DISTÂNCIA KÁTIA VIANA DOS SANTOS DIFICULDADES ORTOGRÁFICAS NA PRODUÇÃO TEXTUAL DOS ALUNOS DO 6º ANO DA ESCOLA MUNICIPAL DR. JARQUES LÚCIO DA SILVA EM SÃO BENTO - PB SÃO BENTO NOVEMBRO DE 2013

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE … · a percepção de que os alunos chegam à idade escolar cada vez mais despreparados no que tange ao domínio das noções elementares

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

CURSO DE LETRAS A DISTÂNCIA

KÁTIA VIANA DOS SANTOS

DIFICULDADES ORTOGRÁFICAS NA PRODUÇÃO TEXTUAL DOS

ALUNOS DO 6º ANO DA ESCOLA MUNICIPAL DR. JARQUES LÚCIO

DA SILVA EM SÃO BENTO - PB

SÃO BENTO

NOVEMBRO DE 2013

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

CURSO DE LETRAS A DISTÂNCIA

KÁTIA VIANA DOS SANTOS

DIFICULDADES ORTOGRÁFICAS NA PRODUÇÃO TEXTUAL DOS

ALUNOS DO 6º ANO DA ESCOLA MUNICIPAL DR. JARQUES LÚCIO

DA SILVA EM SÃO BENTO - PB

Artigo apresentado ao Curso de Letras a Distância da

Universidade Federal da Paraíba, como requisito para a

obtenção do grau de Licenciada em Letras. Sob

orientação da professora Dra.Marluce Pereira da Silva.

SÃO BENTO

NOVEMBRO DE 2013

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KÁTIA VIANA DOS SANTOS

DIFICULDADES ORTOGRÁFICAS NA PRODUÇÃO TEXTUAL DOS

ALUNOS DO 6º ANO DA ESCOLA MUNICIPAL DR. JARQUES LÚCIO DA

SILVA EM SÃO BENTO - PB

Artigo apresentado ao Curso de Letras a Distância da Universidade Federal da Paraíba, como

requisito para a obtenção do grau de Licenciatura em Letras.

Data de aprovação: ____/____/____

Banca examinadora

____________________________________________________________________

DRA.MARLUCE PEREIRA DA SILVA

ORIENTADORA

PROF. MAGNAY ERICK CAVALCANTE SOARES

EXAMINADOR

PROFª MARIA REGINA BARACUHY LEITE

EXAMINADORA

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RESUMO

O ensino de Língua Portuguesa tem apresentado grandes dificuldades nos últimos anos, é

considerável o número de alunos que terminam o ensino básico e não dominam boa parte dos

conhecimentos em língua materna. Esse fato tem inquietado professores e gerado um leque de

discussões a respeito do tema. Levando esses aspectos em consideração, este trabalho

analisou as dificuldades ortográficas apresentadas na produção textual dos alunos do 6º Ano

da Escola Municipal do Ensino Infantil e Fundamental Dr. Jarques Lúcio da Silva na cidade

de São Bento – PB. Para isso, foram observadas trinta produções dos alunos e feita uma

discussão teórica a fim de encontrar respostas para a problemática apresentada. Ao final,

foram analisados os dados e algumas considerações a respeito do tema foram formuladas

através da leitura de teóricos como Travaglia (2007) e Bagno (2007) os quais analisam e

refletem sobre a importância dos usos da língua. Não é um estudo que apresenta soluções

definitivas visto ser o problema ainda carente de soluções concretas, mas é uma reflexão que

toma como parâmetro a concepção de língua como elemento de interação social e como tal

percebe a necessidade de muitos outros desdobramentos.

PALAVRAS CHAVES: Ensino, Língua, Alunos, Dificuldades ortográficas

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1. INTRODUÇÃO

Ultimamente muito se tem discutido acerca das concepções de linguagem, esse

debate está presente em todos os meios acadêmicos, principalmente porque há uma intensa

preocupação com os rumos do ensino de língua materna nos últimos anos. Vários

profissionais têm colocado suas angústias em pauta principalmente porque é comum e notória

a percepção de que os alunos chegam à idade escolar cada vez mais despreparados no que

tange ao domínio das noções elementares da escrita. Alguns erros são “gritantes” e culminam

no fracasso escolar.

Admitir a linguagem como interação social é o primeiro passo para o

entendimento de que se faz necessária uma reflexão aprofundada sobre a maneira como o

ensino e a apreensão dos conceitos de língua materna vêm sendo desenvolvidos nas escolas

brasileiras. Entender o código escrito e saber usá-lo nas mais variadas formas de interação

social garante aos sujeitos um alto grau de promoção pessoal.

Para que esse objetivo seja alcançado, se faz necessário perceber que tipo de

dúvidas o alunado traz para a sala de aula, como escreve e de que maneira escreve é o

primeiro grande passo para a construção de um ensino de língua eficaz e comprometido com o

crescimento crítico-social do sujeito. Assim, refletir sobre a língua é tarefa primordial para o

desenvolvimento de um ensino de português que realmente dê conta das demandas

linguísticas existentes.

Dentro dessa problemática, surge a necessidade de entendimento sobre as

concepções de linguagem, fator essencial para a construção de conceitos que permeiam e

direcionam os debates atuais a respeito do ensino da língua. Para Travaglia (2007):

Questão importante para o ensino da língua materna é a maneira como o professor

concebe a linguagem e a língua, pois o modo como se concebe a natureza

fundamental da língua altera em muito como se estrutura o trabalho com a língua

em termos de ensino. A concepção de linguagem é tão importante quanto a postura

que se tem relativamente à educação. (TRAVAGLIA, 2007, p21)

De fato, é interessante que o professor perceba a linguagem como um importante

fator de natureza social, pois só assim poderá estabelecer um ensino de língua eficaz, uma vez

que esse tipo de abordagem confere à linguagem uma importância social e o aluno passa ser

visto como um sujeito de interação com amplas condições de emancipação social sabendo

usar os mais variados discursos.

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Para que esse objetivo seja alcançado, a prática pedagógica também passa por

mediações e é nesse sentido que o professor desloca sua prática para o palco das reflexões e a

comunicação adquire importância primordial nas relações sociais. Todo esforço só é possível

mediante uma tomada de consciência a respeito da relevância do ensino da língua para a

promoção intelectual.

Assim sendo, o enfoque deste artigo leva em consideração a concepção de

linguagem como forma de processo de interação humana usado para produção de sentidos

entre interlocutores em um contexto sócio-histórico. Para tanto, é feita uma análise da

produção textual de 30 alunos do 6º ano de ensino fundamental. O objetivo central é entender

como a variação linguística se faz presente nos textos dos alunos e estabelecer um

entendimento sobre quais os fatores que ocasionam a ocorrência de tais variações.

Este aspecto é relevante porque é comum perceber que os alunos de ensino

fundamental apresentam grandes dificuldades de escrita, apresentando textos muitas vezes

ilegíveis e carregados de variações que carecem de explicações mais completas. Assim,

sabendo que a língua está em constante mutação, é interessante buscar explicações para os

fenômenos que essas mudanças ocasionam. De acordo com Nogueira (2012)

A variação linguística é um fenômeno natural; a língua portuguesa, como todas as

línguas, apresenta inúmeras variações e passa por mudanças no tempo –

historicamente – e no espaço – geograficamente. Entretanto, tal fato não é

compreendido pela grande maioria da população brasileira, que ainda acredita que a

língua é um objeto homogêneo, uniforme. Essa ideia de uniformidade vem sendo

propagada há muito tempo por professores que pautam o ensino da língua apenas

nas gramáticas normativas, ignorando a diversidade linguística no meio escolar,

talvez por falta de preparo para lidar com as variações linguísticas. (NOGUEIRA,

2012, p. 2)

Dentro desse contexto, este artigo tenta tecer algumas considerações acerca de

como essas variações ocorrem e qual o papel do professor enquanto mediador no processo de

ensino-aprendizagem da língua materna, uma vez que o ensino deve ser pautado na reflexão

de modo a garantir uma tomada de consciência e uma emancipação social por parte dos

indivíduos.

Sabe-se que o ensino de língua ainda é pautado na gramática normativa, os alunos

recebem instrução de normas que muito pouco são assimiladas, e o que se vê como

consequência disso é o fracasso linguístico estampado em textos desconexos para a maioria

dos professores de português. É preciso uma mudança na visão de ensino de língua, e

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principalmente um trabalho reflexivo por parte do professor no sentido de entender as

diferenças linguísticas e saber trabalhar com as variações destruindo qualquer barreira que

possa ocasionar o preconceito linguístico tão amplamente debatido nas discussões docentes.

Assim sendo, esse artigo não pretende estar fechado e concluso, seria muita

pretensão uma vez que a busca pelo entendimento sobre a prática docente está sempre pautada

na reflexão e no debate contínuo. Antes, busca ser o ponto inicial de um estudo mais

aprofundado sobre os aspectos que ocasionam a variação linguística nas produções dos alunos

do 6º ano fundamental da escola Doutor Jarques e apresenta algumas possíveis conclusões.

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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Na análise das abordagens teóricas sobre a linguagem é possível perceber um

entendimento de que o uso da língua assume um sentido social, pois está em constante

processo de mudança assumindo uma importância primordial nas relações entre os indivíduos

e a sociedade à qual está inserida. É o pensamento defendido por grandes teóricos e converge

para o conceito de que o uso da linguagem é inerente ao contexto social dos indivíduos,

portanto, não há como concebê-la estatizada da forma como encontra-se nos manuais usados

na rede de ensino brasileira. Para Bakhtin “a língua vive e evolui historicamente na

comunicação verbal concreta, não no sistema linguístico abstrato das formas da língua nem no

psiquismo individual do falante” (BAKHTIN, 1986. p. 124)

Através do conceito de Bakhtin a linguagem, com a qual o homem se comunica,

adquire importância primordial nas relações professor/aluno/escola/relações sociais, pois a

educação como prática social é uma atividade ligada às relações entre as classes e se constitui

como forma concreta dessas relações. É na interação verbal estabelecida pela língua com o

sujeito falante e com os textos anteriores e posteriores que a palavra torna-se real e ganha

diferentes sentidos conforme o contexto.

O pensamento bakhtiniano contribui para integrar o conceito do ato individual

num contexto mais amplo, aproximando o fato linguístico do aspecto social. É esse

entendimento que norteia este trabalho, pois parte da ideia de que a linguagem não é um fator

isolado no processo de comunicação e seu uso traduz exatamente as transformações sociais

pelas quais a humanidade passa. Nesse sentido, se faz interessante evidenciar o que diz

Macedo (2009) sobre os conceitos de Bakhtin:

Conforme Bakhtin, a língua não existe por si mesma, em conjunção com a estrutura

individual de uma enunciação concreta, ela se consolida através da enunciação, a

língua mantém contato com a comunicação tornando-se realidade. São as condições

sociais de cada época que determinam as condições de comunicação verbal, suas

formas e métodos, logo a língua é um legado histórico-cultural da humanidade.

(MACEDO, 2009, p. 4)

Atualmente, a forma de se comunicar passa por grandes transformações

sociais. Há uma ampliação nas formas comunicacionais, as expressões comunicativas tornam-

se cada vez mais complexas em termos dos recursos utilizados e dos modos de representar o

que se quer dizer. São criadas novas formas de interação, mas a língua – falada e escrita

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continuam sendo o ponto de partida para toda e qualquer manifestação linguística de modo

que não há como concebê-la à margem de todo esse processo de construção de sentidos.

A língua portuguesa e em especial o português falado e escrito no Brasil, passou e

passa por grandes mudanças ao longo dos anos. Desde a chegada dos europeus até a invasão

das novas tecnologias no cotidiano das pessoas é possível perceber uma interação e

intervenção cada vez maior no formado das construções linguísticas. Esse fato, faz surgir uma

variedade cada vez maior de linguagens e formas de conceber o português usado pelos

falantes.

Todo esse tempo e consequentemente o contato com outras culturas fez do

português falado aqui no Brasil um idioma de grandes diferenças em relação ao português

falado em Portugal. Esse fato tem gerado grandes questionamentos acerca do que pode ser

considerado “correto” e o que é “erro” dentro desse universo linguístico que toma por padrão

o idioma fossilizado em manuais

Esse aspecto ocasionou grandes fenômenos linguísticos que terminaram por

acentuar também diferenças socioculturais presentes até hoje no seio das regiões brasileiras. A

incompreensão das variadas formas de falar juntamente com as diferenças sociais já

cristalizadas fez nascerem profundas marcas linguísticas que ocasionaram o surgimento de

preconceito linguístico, até hoje um fator indissociável de análises equivocadas entre

habitantes de regiões diferentes bem como no ensino da língua através de processos

normativos. Esse aspecto pode ser percebido em Bagno (2007)

O preconceito linguístico está ligado em boa medida à confusão que foi criada, no

curso da história, entre língua e gramática normativa. Nossa tarefa mais urgente é

desfazer essa confusão. Uma receita de bolo não é um bolo, o molde de um vestido,

não é um vestido, uma mapa-múndi não é o mundo, também a gramática não é a

língua. (BAGNO, 2007. p. 9)

De fato, a concepção de língua como fator homogêneo tem gerado muitos abismos

tanto na concepção de ensino de língua quanto na classificação dos fenômenos linguísticos

existentes no uso do português cotidiano, o qual difere completamente do que se apresenta

nos manuais ensinados religiosamente nas salas de aula do país. As variações linguísticas se

fazem presentes em todas as formas de comunicação que se pode ter notícia, mesmo assim na

maioria dos casos é incompreendida e taxada como erro. Esse aspecto traduz na maioria dos

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casos o despreparo tanto no ensino quanto na concepção da língua como algo em constante

interação. Para Nogueira:

A variação linguística é um fenômeno natural, a língua portuguesa como todas as

línguas, apresenta inúmeras variações e passa por mudanças no tempo –

historicamente – e no espaço –geograficamente. Entretanto, tal fato não é

compreendido pela grande maioria da população brasileira, que ainda acredita que a

língua é um objeto homogêneo, uniforme. Essa ideia de uniformidade vem sendo

propagada há muito tempo por professores que pautam o ensino da língua apenas

nas gramáticas normativas, ignorando a diversidade linguística no meio escolar,

talvez por falta de preparo para lidar com as variações linguísticas. (NOGUEIRA,

2012. p. 1)

Assim sendo, é possível perceber a importância do ensino da língua materna na

escola, sobretudo diante das grandes transformações sociais dos últimos tempos. Não é

necessária uma análise muito profunda para perceber o baixo nível de desempenho linguístico

dos alunos no que diz respeito ao desenvolvimento de novas competências que são exigidas

em nossa sociedade letrada.

Atualmente, diversas pesquisas têm apontado e defendido que o ensino de

português deve ter como objetivo principal desenvolver a capacidade do aluno de saber

utilizar a linguagem em diversas situações comunicativas.

Todas essas questões são relevantes porque remetem a um estudo de proporções

sociais e históricas, visto que a língua é um objeto inerente à existência humana e como tal

está em constante processo de interação o que a retira desse ideal de processo linguístico

fossilizado.

Dessa forma, este estudo pretende analisar a variação linguística presente na sala

de aula do 6º ano fundamental de uma escola pública. Que implicações essas variações têm no

aprendizado desses alunos e como esse processo se dá? Para entendimento desse assunto, é

importante levar em consideração o pensamento de autores que se ocupam desse aspecto de

maneira profícua, pois é um tema complexo porque se faz presente em absolutamente todas as

séries de ensino.

Para um melhor entendimento dessa temática, é interessante ressaltar o

pensamento de Bagno (2007).

É preciso, portanto, que a escola e todas as demais instituições voltadas para a

educação e a cultura abandonem esse mito da “unidade” do português no Brasil e

passem a reconhecer a verdadeira diversidade linguística de nosso país para melhor

planejarem suas políticas de ação junto à população amplamente marginalizada dos

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falantes das variedades não-padrão. O reconhecimento da existência de muitas

normas linguísticas diferentes é fundamental para que o ensino em nossas escolas

seja consequente com o fato comprovado de que a norma linguística ensinada em

sala de aula é em muitas situações, uma verdadeira “língua estrangeira” para o

aluno que chega à escola proveniente de ambientes sociais onde a norma linguística

empregada no quotidiano é uma variedade de português não-padrão. (BAGNO,

2007. p. 11)

A proposta que Bagno (2007.p.11) defende é o que ele chama de “educação

linguística”. Baseada na variação linguística tem como espelho a metodologia das pesquisas

descritivas das línguas. Seu propósito é transformar a atividade de pesquisa na escola numa

verdadeira fonte de aquisição de conhecimento, contrapondo a gramática normativa com

textos presentes no quotidiano. Esse talvez seja o caminho para que o ensino-aprendizado da

língua portuguesa consiga dar conta da imensa gama de variações que nosso idioma contém e

saia da mesmice das aulas reprodutivas que em nada contribuem para a promoção do ensino

promissor, tão almejado em nossos debates pedagógicos.

Assim sendo, entender como as dificuldades ortográficas ocorrem no ensino

fundamental é um fator de grande importância para o entendimento das demais competências

linguísticas, pois é nessa fase que o educando recebe as primeiras e mais valiosas informações

sobre o uso da língua materna. Devendo essas instruções serem cuidadosamente repensadas e

constantemente avaliadas. O domínio da língua é o primeiro passo para a conquista da

cidadania. É o que se pode perceber nos PCN´s de língua portuguesa:

O domínio da língua oral e escrita, é fundamental para a participação social efetiva,

pois é por meio dela que o homem se comunica, tem acesso a informação, expressa

e defende pontos de vista, partilha ou constrói visões de mundo, produz

conhecimento. Por isso, ao ensiná-lo, a escola tem a responsabilidade de garantir a

todos os seus alunos o acesso aos saberes linguísticos necessários para o exercício

da cidadania. PCN Língua Portuguesa (BRASIL, 1998, p. 11)

São esses conceitos que norteiam as novas propostas do ensino de língua materna

adotando como objeto a variação linguística e levando em consideração os diversos contextos

em que as produções textuais são construídas. Pois é primordial favorecer ao aluno o domínio

da língua culta sem desrespeitar a variedade linguística que este traz. Dessa forma, o ensino se

torna mais próximo da vivência do educando e contribui para uma formação mais completa

do mesmo, uma vez que respeita as especificidades de cada indivíduo.

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3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A perspectiva do ensino de língua portuguesa tem encontrado muitos obstáculos

no cotidiano das escolas brasileiras, são problemas que remontam os primeiros anos escolares

época em que os falantes ainda não estão seguros quanto os usos das construções linguísticas.

Diante dessa dificuldade, se faz interessante observar como ocorre esse ensino e

quais as causas de tantos problemas na escrita dos alunos. Compreender como se dá o

processo de aprendizagem da escrita bem como o fato que leva a reincidência de erros

gramaticais é um fator chave para a busca de soluções para uma questão que está presente

desde muito tempo na realidade das escolas brasileiras.

Este estudo tomou como parâmetro a construção textual de 30 alunos do 6º ano do

ensino fundamental de uma escola pública com a faixa etária entre 11 e 12 anos. Para a

pesquisa foi adotado o método de estudo de caso. Através de uma aula expositiva, foi

abordado o tema: violência nas escolas com o intuito de debater sobre um assunto comum na

realidade escolar, visto que são registrados muitos incidentes dentro e fora da instituição.

Após a discussão, os alunos expuseram suas opiniões verbalmente e, em seguida, iniciaram a

produção textual. Esse procedimento foi escolhido porque acredita-se que o texto escrito é

capaz de revelar diferentes tipos de erros ortográficos que o aluno produz ao desenvolver o

processo da escrita. O corpus do trabalho é composto pelos textos dos alunos.

Partindo desses textos, foi realizado o levantamento e a comparação das

manifestações ortográficas não convencionais. A classificação adotada seguiu os seguintes

critérios: trocas de letras; supressões, acréscimos e inversões de letras. Foram separadas as

ocorrências ortográficas para que fosse analisado o motivo das incidências em troca de letras

para que, a partir desse aspecto, fosse tomada como parâmetro a ortografia. Esse aspecto foi

levado em consideração porque estudos consideram que há uma relação entre oralidade e

escrita, mas não direta e, sim, uma relação de continuum. Marcuschi (2003) entende as

relações entre a fala e a escrita dentro de um continuum que, sem anular as diferenças, as

localiza num quadro de relações dinâmicas negando dicotomias estanques. Por essa razão, foi

tomado como aspecto comparativo a escrita, para tentar perceber se há uma confirmação entre

esse posicionamento tão amplamente discutido no meio acadêmico.

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3.1. ANÁLISE DOS DADOS

Através da produção textual, foi possível observar uma grande ocorrência de

“erros” ortográficos assim dispostos:

De acordo com os dados da tabela, observa-se a maior ocorrência dos erros por

troca de letras (cerca de 52% do total de erros cometidos). Nota-se que esse tipo de erro é

cometido por todos os participantes, numa proporção em geral elevada, algumas ocorrências

se mostram repetitivas como por exemplo as palavras: comesaram (começaram), esplicou

(explicou)conceguiram (conseguiram).(figura 1)

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Figura 1

Alguns erros estão relacionados a transcrição da fala: iscuta (escuta), falo(falou).

Tais erros estão relacionados à linguagem oral coloquial, em que é comum pronunciar o e

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inicial das palavras como i, além de omitir o r final dos infinitivos e o u e i de alguns

ditongos. (figura 2)

Figura 2

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Esse tipo de erro ortográfico engloba tanto as trocas entre consoantes surdas e

sonoras quanto trocas entre vogais, ocorrendo também trocas entre consoantes sem qualquer

semelhança fonológica. Na amostra apresentada, foi possível observar uma incidência na

troca de consoantes, uma dificuldade que se não for trabalhada, pode acompanhar o sujeito

durante toda a sua vida escolar.

Essas trocas podem estar relacionadas, segundo Zorzi, (2003) a dificuldades de

discriminação da própria fala, pois, embora esta última seja decorrente de automatismos

(quando falamos, não necessitamos ficar pensando som por som para reproduzirmos as

palavras), já na escrita,

[...] para poder decidir que letras devem ser usadas, a criança necessita ser

capaz de identificar, em sua própria fala, os sons que compõem as palavras,

assim como identificar a ordem sequencial dos mesmos para poder

representá-los, corretamente, na forma de letras (Zorzi, 2003, p. 65)

Os erros por acréscimo/inversão de letras ou sílabas aparecem em menor

proporção 13% erros por acréscimos e 9% por inversão. Algumas possibilidades para explicar

esse tipo de erro seriam a dificuldade para detectar todos os sons que compõem a palavra ou

uma dificuldade em considerar a nasalização dos fonemas. Nas produções analisadas, foi

possível perceber que os alunos não conseguem reconhecer as diferenças entre fala e escrita e

esse aspecto termina por gerar erros gramaticais. (figura 3)

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Figura 3

Esse desconhecimento entre fala e escrita também ocasionou erros de supressão

nas produções analisadas, com uma incidência relevante 26%, essas ocorrências direcionam o

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entendimento para o fato de que os alunos escrevem da mesma maneira em que falam. Dentro

da realidade observada, foi possível verificar também uma grande incidência de supressão de

verbos no infinitivo como exemplo pode-se citar grafias como para para se referir à palavra

parar e pedi para se referir à palavra pedir. (figura 4)

Figura 4

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Finalmente, foram encontrados também alguns erros relacionados à estrutura

gramatical, que indicam desconhecimento das regras de concordâncias nominal e verbal, além

de estarem relacionados, em muitos casos, à transcrição de padrões de fala socialmente

estigmatizados. Como exemplo, temos: “elas era”, “elas estava”, “eles paro”. A confusão

entre as terminações “am” e “ão” também foi encontrada em alguns textos, por exemplo:

“estavão” (estavam), “forão” (foram), “sairão” (saíram), indicando um desconhecimento da

diferenciação dos tempos verbais relativos ao presente/passado (final “am”) x futuro (final

“ão”). Figura 5

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Figura 5

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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através da análise das produções textuais dos alunos do 6º ano do ensino

fundamental da escola Dr. Jarques foi possível perceber que a grande maioria das produções

observadas foram produzidas levando em consideração a língua oral. Esse entendimento foi

possível graças à observação mais profunda das formas como as construções discursivas

foram elaboradas dentro dos textos pesquisados.

Este fato é importante porque leva a crer que os alunos desenvolvem sua escrita

pautados na oralidade. Há uma heterogeneidade linguística que não chega a ser um empecilho

ao ensino-aprendizado desses alunos, é uma questão presente na sala de aula, mas extrapola

os muros da escola e se confronta com o entendimento de mundo que esses alunos trazem de

casa.

São construções que revelam um grande aparto de sentido, mas que estão distantes

do conhecimento mínimo que a gramática normativa exige para um texto coeso. Esse fato

pode se tornar algo mais complexo com o passar dos anos caso não haja um acompanhamento

adequado desses alunos.

Através dessa observação, é interessante destacar que o ensino de português deve

estar mais voltado para a compreensão das formas de comunicação que se fazem presentes no

cotidiano dos alunos criando oportunidades para a reflexão acerca das dificuldades

ortográficas da língua em vez de seguir à risca a preocupação com as formas excludentes de

avaliação.

Todos os alunos observados conseguiram entender a tônica das atividades, são

sujeitos que trazem para a escola seu entendimento de mundo, de forma que não é justo haver

uma distinção de nível intelectual apenas por não haver o cumprimento de normas

ortográficas pautadas em uma língua padrão e estanque. Pois, incorporar a norma ortográfica

é consequentemente um longo processo para quem se apropriou da escrita alfabética.

NOGUEIRA (2012).

Diante dessa realidade, o professor deve se perceber como agente mediador do

processo de formação do aluno, alguém com capacidade de intervenção e orientação. O erro

ortográfico, nesse contexto, deve ser visto como elemento originador de novas propostas e

visões e nunca como aspecto estigmatizante e limitador de sentidos.

É preciso desenvolver nos alunos uma prática de criticidade da língua, uma forma

de pensa-la como algo presente em seu cotidiano e nunca como algo estagnado. Esse deve ser

o aspecto primordial do ensino de língua portuguesa: fazer o aluno perceber que não há

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hierarquia linguística e que o conhecimento das várias construções linguísticas é capaz de

fazê-lo dominar várias formas de comunicação.

Assim, este estudo possibilitou uma reflexão sobre a atuação do professor de

língua portuguesa no ensino fundamental e uma análise aprofundada da metodologia de

ensino uma vez que foi possível perceber que mesmo sem dominar as regras gramaticais, os

alunos foram capazes de externar seu pensamento através de textos complexos e coerentes,

mesmo com a ausência do domínio da forma padrão.

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5. REFERÊNCIAS

BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico. O que é como se faz. São Paulo: Loyola. 49 ed.

2007.

BAKHTIN, M. Marxismo e filosofia da linguagem. Tradução de Michel Lauch e Iara

Frateschi Vieira. São Paulo: Huritec. 1986.

HYMES, Dell. Sobre competência comunicativa. Tradução de Marilda Macedo Souto

Franco. Revista Desempenho . v 10, n. 1 jun/2009.

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO. Secretaria do Ensino Fundamental –

SEF. Parâmetros curriculares nacionais – língua portuguesa. 1997

NOGUEIRA, Francieli Motta da Silva Barbosa. Variações linguísticas e ensino de língua

materna: algumas considerações. In: Anais eletrônicos III ENILL. Itabaiana, Vol 3 ISSN

2012.

TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de

gramática no 1º e 2º graus. São Paulo: Cortez. 2007

ZORZI, J. L. Aprendizagem e distúrbios da linguagem escrita. Porto Alegre: Artmed

2003.