universidade federal da paraíba - ufpb centro de tecnologia

  • Upload
    vonhi

  • View
    218

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARABA - UFPB CENTRO DE TECNOLOGIA

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA DE PRODUO

    ANA LCIA MENEZES DE ALMEIDA

    AVALIAO DE ACIDENTES DE TRABALHO NO SETOR ELTRICO:

    ESTUDO DE CASO NO NORDESTE DO BRASIL

    JOO PESSOA - PB

    2012

  • ANA LCIA MENEZES DE ALMEIDA

    AVALIAO DE ACIDENTES DE TRABALHO NO SETOR ELTRICO:

    ESTUDO DE CASO NO NORDESTE DO BRASIL

    Dissertao apresentada ao curso de

    Ps-Graduao em Engenharia de

    Produo como requisito para

    obteno do ttulo de Mestre em

    Engenharia de Produo.

    Orientador: Francisco Soares Msculo, PhD

    Co-Orientador: Miguel Otvio Barreto Campelo de Melo, Dr.

    Joo Pessoa - PB

    2012

  • A447a Almeida, Ana Lcia Menezes de Avaliao de acidentes de trabalho no setor eltrico: estudo de caso

    no nordeste do Brasil / Ana Lcia Menezes de Almeida Joo Pessoa: UFPB, 2012.

    95f. il.:

    Orientador: Prof. Francisco Soares Msculo, PhD Dissertao (Mestrado em Engenharia de Produo) Universidade

    Federal da Paraba. Centro de Tecnologia. Programa de Ps-Graduao em Engenharia de Produo.

    1. Acidentes do trabalho 2. Setor eltrico 3. Fatores de risco I.

    Ttulo.

    UFPB/BC CDU: 614.8(043)

  • ANA LCIA MENEZES DE ALMEIDA

    AVALIAO DE ACIDENTES DE TRABALHO NO SETOR ELTRICO:

    ESTUDO DE CASO NO NORDESTE DO BRASIL

    Dissertao julgada aprovada no dia 15 de junho 2012, como parte dos requisitos

    necessrios obteno do ttulo de Mestre em Engenharia de Produo, no Programa de Ps-Graduao em Engenharia de Produo da Universidade Federal da Paraba.

    BANCA EXAMINADORA

    Francisco Soares Msculo, PhD

    Orientador UFPB

    Miguel Otvio Barreto Campelo de Melo, Dr. Co-orientador - UFPB

    Antnio Souto Coutinho, Dr

    Examinador Interno - UFPB

    Methodio Varejo de Godoy, Dr. Examinador Externo - UPE

  • DEDICATRIA

    Dedico este trabalho ao meu pai, Layette (in memoriam),

    e minha me, Maria de Jesus, que me transmitiram o amor pelo estudo e a f em Deus.

  • AGRADECIMENTOS

    So tantos!

    Agradeo a Deus, pelas oportunidades que me foram dadas na vida e que faz o

    impossvel se tornar possvel.

    Agradeo tambm ao meu pai, Layette (in memoriam), pelos momentos preciosos

    que passamos juntos na vida, minha me, Maria de Jesus, pelo amor e

    dedicao de sempre.

    minha filha, Marina, por compreender a necessidade de minha ausncia durante

    esse tempo. Eu te amo!

    A Max, pelo carinho, companherismo, pacincia e confiana.

    minha irm, Cristina, pelo suporte, em todos os sentidos, para que eu pudesse

    terminar essa caminhada.

    Por outro lado, agradeo ao meu orientador Professor Chico, pelo exemplo,

    simpatia, pacincia e grande apoio em todos os momentos.

    Ao meu co-orientador, Professor Miguel Melo, principal responsvel por despertar

    o meu interesse pela vida acadmica.

    A todos os professores, em especial ao professor Methdio e ao professor

    Coutinho e aos colegas da turma, que me receberam com muito carinho,

    principalmente a Valeska e sua famlia, pelo apoio logstico e psicolgico, uma

    amizade que vou levar para o resto da vida.

    professora Bernadete, pelas dicas e amizade.

    A Ana Arajo, pela ajuda de sempre e o eterno bom humor.

    Enfim, a todos os que fazem o PPGEP, aos meus amigos e a todos os meus

    familiares que, de uma forma ou de outra, contribuiram para essa etapa da minha

    vida. Obrigada!

  • S sei que nada sei, e o fato de saber isso, me coloca em vantagem sobre aqueles que acham que sabem alguma coisa.

    Scrates

  • RESUMO

    A ocorrncia de acidentes do trabalho ainda um problema relevante, que afeta

    organizaes, trabalhadores e governos em todo o mundo. Os fatores de risco

    associados ao trabalho no setor eltrico so inmeros passando pelos de origem

    eltrica, de queda, de transporte, ocupacionais e outros, de modo que mapear

    esses riscos possibilita sua preveno. No caso deste setor, apesar de ter havido

    um significante decrscimo no nmero de acidentes, a empresa estudada

    apresenta uma taxa de frequncia e gravidade ainda alta. Por isso esta pesquisa

    estudou os registros dos acidentes de trabalho envolvendo profissionais do setor

    eltrico. O mtodo utilizado partiu do levantamento bibliogrfico, referente ao

    tema, e de uma anlise documental, atravs de materiais disponibilizados pela

    empresa. Como resultado, foi possvel observar que a maioria dos acidentes no

    setor eltrico ocorre com homens de 51 a 60 anos, principalmente com

    profissionais tcnicos industriais e de manuteno de linhas de transmisso. A

    maior parte dos acidentes so quedas, sendo classificados como tpicos e

    resultando em incapacidade temporria. Ocorrem dentro da empresa e em sua

    maioria no Sistema Leste. Com a identificao das caractersticas dos acidentes

    obtem-se informaes para embasar medidas preventivas entre os profissionais do

    setor eltrico.

    Palavras-Chave: Acidentes do trabalho. Setor eltrico. Fatores de risco.

  • ABSTRACT

    The occurrence of occupational accidents is still a significant problem that affects

    organizations, workers and governments around the world. Risk factors associated

    with working in the electricity sector are many, going through of electrical origin,

    fall, transportation, occupational and other, so that makes it possible to map these

    risks prevention. In the case of this sector, although there was a significant

    decrease in the number of accidents, the company studied has a frequency rate

    and severity above the industry average. Thus this research studied the records of

    accidents at work involving electrical industry professionals. The method used was

    based on the literature review on the topic, and a documentary analysis, using

    materials provided by the company. As a result, it was observed that most

    accidents occur, in the electricity sector, with men 51-60 years old, with technical

    industrial and maintenance of transmission lines professionals. Most accidents are

    falls, being classified as typical, resulting in temporary disability. Occur within the

    company and mostly in the East System. By identifying the characteristics of the

    accidents we obtain information on which to base preventive measures among

    professionals of the sector.

    Keywords: Work accidents. Electric power sector. Risk factors

  • LISTA DE ABREVIATURAS

    ABNT Associao Brasileira de Normas Tcnicas

    ANEEL Agncia Nacional de Energia Eltrica

    AT Acidentes de Trabalho

    BNDES Banco Nacional do Desenvolvimento

    CAT Comunicao de Acidentes do Trabalho

    CCEE Cmara de Comercializao de Energia Eltrica

    CHESF Companhia Hidroeltrica do So Francisco

    CIAT Comunicao Interna de Acidente de Trabalho

    CME Custo Mnimo Estimado

    CTE Custo Total Estimado

    DNAEE Departamento Nacional de guas e Energia Eltrica

    DP Dias Perdidos

    ELETROBRAS Centrais Eltricas Brasileiras

    FA Taxa de Frequncia

    FUNCOGE Fundao Comit de Gesto Empresarial

    G Taxa de Gravidade

    GRIDIS Grupo de Intercmbio e Difuso de Informaes sobre Engenharia

    de Segurana e Medicina do Trabalho

    HH Horas-Homem

    HHER Horas-Homem de Exposio ao Risco

    IAG ndice de Avaliao de Gravidade

    ID Idade

    INSS Instituto Nacional de Previdncia Social

    MAE Mercado Atacadista de Energia

    MME Ministrio das Minas e Energia

    MPAS Ministrio da Previdncia e Assistncia Social

    NBR Normas Brasileiras

    NOS Operador Nacional do Sistema Eltrico

    OIT Organizao Internacional do Trabalho

  • PCH Pequena Central Eltrica

    REVISE Reviso Institucional do Setor Eltrico

    RIAAT Relatrio de Investigao e Anlise de Acidentes do Trabalho

    SIN Sistema Interligado Nacional

    SQR Square Root

    TT Tempo de Trabalho

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1: Diagrama Bsico Esquemtico de um Sistema de Gerao, Transmisso e Distribuio de Energia Eltrica .................................................................... 14 Figura 2: Custo Total Estimado de Acidentes do Trabalho por Ano (milhes de

    reais) ............................................................................................................. 21 Figura 3: Matriz Eletroenergtica do Brasil em 2010 ......................................... 30 Figura 4: Evoluo da Oferta e Consumo do Brasil (2006-2015) ........................ 31

    Figura 5: Mapa do Sistema Interligado Nacional ............................................... 32 Figura 6: Sistema Eltrico da Regio Nordeste do Brasil - Ano 2010................... 34

    Figura 7: O Modelo Queijo Suio - de como defesas, barreiras e salvaguardas podem ser penetrados por uma trajetria de acidente ...................................... 50 Figura 8: Estatstica de Acidentes do Setor Eltrico Brasileiro 2010 Histrico das

    Taxas de Acidentes do Setor ........................................................................... 60 Figura 9: Nmero de Acidentados Fatais por 100.000 Trabalhadores ................. 61 Figura 10: Taxa de Frequncia - SEB ............................................................... 64

    Figura 11: Taxa de Gravidade - SEB ................................................................ 64 Figura 12: ndice dos Acidentes em Funo da Idade do Acidentado ................. 71 Figura 13: Acidentes em Funo da Idade por Queiroz (2008) .......................... 72

    Figura 14: ndice em Funo do Gnero do Acidentado .................................... 73 Figura 15: ndice em Funo do Dia da Semana do Acidente ............................ 74 Figura 16: Estudo de Guimares (2004) sobre ndice de acidentes tpicos

    envolvendo eletricistas no Rio Grande do Sul ................................................... 74 Figura 17: ndice dos Acidentes em Funo do Ms da Ocorrncia .................... 75 Figura 18: ndice dos Acidentes em Funo da Hora da Ocorrncia ................... 76

    Figura 19: ndice dos Acidentes em Funo da Hora da Ocorrncia por Hinze (1997) e Costella et al (1998) ......................................................................... 77 Figura 20: ndice dos Acidentes em Funo do Ano da Ocorrncia..................... 77 Figura 21: ndice dos Acidentes relacionados a Funo Exercida ....................... 78 Figura 22: ndice dos Acidentes em Funo da rea Geogrfica da Ocorrncia ... 79

    Figura 23: ndice dos Acidentes em Funo do Local do Acidente ...................... 80 Figura 24: Dados de Acidentes em Funo da sua Categoria (tpico ou trajeto) .. 80 Figura 25: Consequncia do Nmero de Dias Perdidos Devido ao Acidente ........ 80

    Figura 26: Dados de Acidentes em Funo do Tipo de Incapacidade ................. 81 Figura 27: Estudo de Costella sobre Atividade da Empresa X Tempo de Afastamento .................................................................................................. 82

    Figura 28: Tringulo de Heirich e Tringulo de Bird .......................................... 82 Figura 29: Tipo de Acidente ............................................................................ 83 Figura 30: Localizao da Leso ...................................................................... 84

    Figura 31: Visualizao do Modelo 2 ................................................................ 85 Figura 32: Visualizao do Modelo 3 ................................................................ 86

  • LISTA DE QUADROS

    Quadro 1: Relatrio de estatstica de acidentes do setor eltrico brasileiro - 2010 ..................................................................................................................... 19 Quadro 2: As Mudanas no Setor Eltrico Brasileiro .......................................... 27

    Quadro 3: Sistema Regional Norte ................................................................... 34 Quadro 4: Sistema Regional Sul ...................................................................... 35 Quadro 5: Sistema Regional Leste ................................................................... 36

    Quadro 6: Sistema Regional Oeste .................................................................. 37 Quadro 7: Sistema Regional Centro ................................................................. 38 Quadro 8: Sistema Regional Sudoeste ............................................................. 39

    Quadro 9: Extenso das Linhas de Transmisso da CHESF ................................ 40 Quadro 10: Relatrio de estatstica de acidentes do setor eltrico brasileiro - 2010 ..................................................................................................................... 62

    Quadro 11: Relatrio de estatstica de acidentes no setor eltrico 2010 - CHESF 62 Quadro 12: Modelos Adequados ...................................................................... 84

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1: Tipo de Acidente ............................................................................. 83

  • SUMRIO

    1 INTRODUO .................................................................................. 13

    1.1 JUSTIFICATIVA ....................................................................................... 17 1.2 OBJETIVO GERAL .................................................................................... 22 1.3 OBJETIVOS ESPECFICOS ........................................................................... 22

    2 REVISO DA LITERATURA ............................................................... 23

    2.1 SETOR ELTRICO .................................................................................... 23

    2.1.1 O Novo Modelo do Setor Eltrico .................................................... 26 2.1.2 O Sistema Interligado Nacional (SIN) .............................................. 28 2.1.3 Cenrios para o Setor .................................................................... 29

    2.2 SEGURANA DO TRABALHO ........................................................................ 40 2.3 ACIDENTES DO TRABALHO - AT .................................................................. 41

    2.3.1 Normas Brasileiras de Segurana .................................................... 43 2.3.2 Histrico........................................................................................ 44 2.3.3 Teorias sobre Acidentes ................................................................. 45

    2.4 INDICADORES ......................................................................................... 51

    2.5 INDICADORES DE SEGURANA DO TRABALHO .................................................. 54 2.5.1 Indicadores Gerais de Segurana do Trabalho no Setor Eltrico ........ 55 2.5.2 Dados Gerais de Segurana do Trabalho do Setor Eltrico ................ 59

    3 PROCEDIMENTOS METODOLGICOS ............................................... 66

    3.1 CARACTERIZAO E OBJETO DA PESQUISA ..................................................... 66 3.2 INSTRUMENTOS DA PESQUISA ..................................................................... 68

    3.3 DEFINIO DAS VARIVEIS DE INVESTIGAO ................................................. 68 3.4 DADOS E PROCEDIMENTOS DE ANLISE ......................................................... 68

    4 RESULTADOS DA ANLISE DOS DADOS DOS ACIDENTES DE TRABALHO ............................................................................................ 70

    5 CONCLUSES ................................................................................... 87

    6 RECOMENDAES............................................................................ 89

    REFERNCIAS ....................................................................................... 90

  • 13

    1 INTRODUO

    O setor eltrico caracteriza-se por um conjunto de processos, instrumentos e

    equipamentos voltados gerao, transmisso e distribuio de energia eltrica

    (OLIVEIRA, 2009). A energia eltrica, produzida na usina geradora, transmitida s

    subestaes abaixadoras atravs de linhas de transmisso em alta tenso 500 kV,

    230 kV. As subestaes abaixadoras, localizadas em pontos estratgicos, prximos

    aos grandes centros de consumo, transformam a energia de alta para mdia tenso

    (MT normalmente tenses de 69 kV). A energia ento conduzida atravs das

    Linhas de Distribuio Primrias, normalmente em 13,8 kV at os chamados

    Transformadores de Distribuio, instalados nos postes, instalaes subterrneas,

    ou abrigados em dependncias prediais (subestaes consumidoras) onde h uma

    transformao para 230 volts, que a alimentao dos aparelhos domsticos.

    Ressalta-se que alguns consumidores industriais em funo do suporte recebem a

    tenso diretamente em 69 kV (ELETROBRAS, 1982 apud MELO, 2003).

    A figura 1 esquematiza de uma forma simplificada todo este processo desde quando

    a energia deixa a sua fonte geradora (1), passando por uma subestao elevadora

    de tenso (2), pelo seu transporte por longas linhas de transmisso at as reas

    onde h sua necessidade nos centros consumidores. Uma vez neste ponto, o nvel de

    tenso rebaixado por outra subestao (4) sendo que as linhas do sistema de

    distribuio (5) encarregam-se de levar a energia eltrica at as residncias, centros

    comerciais e industriais.

    No entanto, para manter o nvel de tenso dentro de certos limites operacionais

    aceitveis, tanto em nvel de transmisso como de distribuio, so necessrias

    medidas de controle e de acompanhamento tanto dos rgos de fiscalizao como

    das concessionrias fornecedoras de energia. Isto se deve ao fato de que, tanto os

    sistemas de distribuio como de transmisso esto constantemente sujeitos a

    ocasionais variaes de tenso. Estas variaes, mesmo dentro de limites pr-

    estabelecidos, podem causar operaes incorretas de sensveis equipamentos

    eltricos nos diversos setores (OLESKOVICZ, 2004).

  • 14

    Fonte: Oleskovicz (2004)

    Figura 1: Diagrama Bsico Esquemtico de um Sistema de Gerao, Transmisso e

    Distribuio de Energia Eltrica

    Alm da rea administrativa, comum a outras organizaes, as principais atividades

    no setor eltrico so: Operao e Manuteno. Na rea de operao h uma rotina

    de procedimentos que envolve recebimento de informaes do turno anterior

    reunidas em um aplicativo, verificao da funcionalidade de outros aplicativos e das

    intervenes previstas para o horrio. Observao das condies do sistema quanto

    s grandezas eltricas em linhas de transmisso e equipamentos. Execuo de

    manobras em equipamentos e linhas de transmisso para regulao e/ou liberao

    para manuteno. Segundo Oleskovick (2004), para manter o nvel de tenso dentro

    de certos limites operacionais aceitveis so necessrias medidas de controle e de

    acompanhamento que so efetuadas dentro das subestaes.

    Na rea de manuteno h a execuo de manobras em equipamentos e linhas de

    transmisso para regulao e, principalmente atuao em ocorrncias visando

    restabelecer o fornecimento de energia eltrica. O trabalhador deste posto opera em

    redes de alta tenso que podem estar energizadas ou no, realizando os diferentes

    tipos de atividades de manuteno preventiva e/ou corretiva no sistema eltrico,

  • 15

    tendo em vista garantir o fornecimento de energia populao usuria e que podem

    ocorrer dentro ou fora das subestaes.

    Os operadores que trabalham em subestaes ficam expostos aos choques eltricos

    e induo, j que, para Scopinho (2002) a existncia de correntes eltricas de alta

    tenso e campos eletromagnticos tornam a subestao um dos locais mais

    insalubres e perigosos. Para os trabalhadores da manuteno acrescentam-se ainda

    o trabalho em campo aberto, onde ficam sujeitos s intempries e radiao solar e

    o trabalho em altura aumentando sensivelmente os riscos de acidentes.

    Os acidentes no so inevitveis, no surgem por acaso. Eles so causados e,

    portanto possveis de preveno atravs da eliminao, a tempo, de suas causas.

    Assim surge a segurana do trabalho que, como diz Martins (2003), o conjunto de

    medidas adotadas com o intuito de reduzir os acidentes de trabalho, doenas

    ocupacionais, bem como proteger a integridade e a capacidade de trabalho do

    trabalhador.

    To importante quanto os outros servios que as empresas mantm em benefcio

    dos empregados, a segurana do trabalho indispensvel para o desenvolvimento

    satisfatrio do trabalho. Portanto, deve-se implantar a segurana do trabalho a fim

    de que sejam reduzidos at serem extintos os acidentes. Assim, fazendo-se gerar

    desenvolvimento e satisfao por parte dos trabalhadores em saber que esto

    trabalhando num ambiente livre de riscos de acidentes. Porm, para que se consiga

    obter esse ambiente sadio, preciso entender o que vem a ser acidente do

    trabalho e conhecer quais os fatores responsveis pelos mesmos (VERAS, 2003).

    Acidente de trabalho toda a ocorrncia que interfere no andamento normal do

    trabalho, envolvendo, alm do trabalhador, outros fatores de produo e resultando

    em perdas pessoais, de materiais ou, pelo menos, de tempo. A sua preveno

    consiste na ao de evitar ou diminuir os riscos atravs de um conjunto de medidas

    que devem ser tomadas em todas as fases da atividade da empresa.

    Tambm considerado como acidente do trabalho o acidente ocorrido no trajeto

    entre a residncia e o local de trabalho, a doena profissional, assim entendida a

  • 16

    produzida ou desencadeada pelo exerccio do trabalho peculiar a determinada

    atividade, e a doena do trabalho, adquirida ou desencadeada em funo de

    condies especiais em que o trabalho realizado e com ele se relacione

    diretamente (CASTRO, 2007).

    Os acidentes podem ser causados por alguns fatores que Melo (2003) descreve como

    riscos ambientais, que so os agentes fsicos, qumicos e biolgicos existentes no

    ambiente de trabalho, alm dos riscos mecnicos ou de acidentes e os riscos

    ergonmicos.

    Segundo a Previdncia Social, os acidentes podem ser classificados em:

    - Acidentes Tpicos so os acidentes decorrentes da caracterstica da atividade

    profissional desempenhada pelo acidentado;

    - Acidentes de Trajeto so os acidentes ocorridos no trajeto entre a residncia

    e o local de trabalho do segurado e vice-versa; tambm os acidentes de carro

    ocorridos no desempenho de atividades a servio da empresa.

    - Doena Profissional ou do Trabalho so aquelas produzidas ou

    desencadeadas pelo exerccio peculiar a determinado ramo de atividade

    constante do Anexo II do Regulamento da Previdncia Social RPS, aprovado

    pelo Decreto n 3.048, de 6 de maio de 1999; e por doena do trabalho,

    aquela adquirida ou desencadeada em funo de condies especiais em que

    o trabalho realizado e com ele se relacione diretamente, desde que

    constante do Anexo citado anteriormente;

    - Acidentes com CAT Registrada correspondem ao nmero de acidentes cuja

    Comunicao de Acidentes do Trabalho CAT foi cadastrada no INSS;

    - Acidentes sem CAT Registrada correspondem ao nmero de acidentes cuja

    Comunicao de Acidentes do Trabalho CAT no foi cadastrada no INSS.

    A CAT o instrumento de notificao de acidentes de trabalho do Instituto Nacional

    de Seguridade Social do Ministrio da Previdncia e Assistncia Social (INSS/MPAS),

    devendo ser obrigatoriamente preenchida por todas as empresas e encaminhada a

  • 17

    este rgo. As informaes contidas neste documento obedecem a uma

    padronizao que independe do tipo de atividade empresarial. Essas informaes

    abrangem dados sobre a empresa (nome, localizao e cdigo de atividade

    econmica), sobre o trabalhador acidentado (incluindo sua funo) e sobre o evento

    acidental (data, horrio, local, objeto causador, descrio do evento e partes do

    corpo do trabalhador atingidas). Para o registro da CAT as empresas do setor eltrico

    utilizam primeiramente um formulrio de Comunicao Interna de Acidente de

    Trabalho CIAT, onde devem ser preenchidos os dados do acidente e do

    acidentado.

    Neste estudo os dados foram segmentados em caractersticas individuais, como

    idade, gnero; caractersticas temporais, como dia, ms, hora, ano do acidente;

    caractersticas situacionais, sendo, funo, local da atividade, sistema de localizao;

    e, as caractersticas da classificao do acidente segundo a NBR 14280 de 2001,

    como, acidente descrio, dias perdidos, tipo de acidente, dentre outros.

    A proposta desta pesquisa fazer um levantamento destes dados procurando

    identificar as variveis que caracterizam a maioria dos acidentes ocorridos no setor,

    para servir de auxilio em intervenes preventivas da empresa.

    1.1 Justificativa

    Os acidentes de trabalho tm um elevado nus para toda a sociedade, e a sua

    reduo um anseio de todos: governo, empresrios e trabalhadores. Alm da

    questo social, com morte e mutilao de operrios, a importncia econmica

    tambm crescente. Alm de causarem prejuzos s foras produtivas, os acidentes

    geram despesas tais como pagamento de benefcios previdencirios, recursos que

    poderiam ser canalizados para outras polticas sociais. Portanto, extremamente

    importante reduzir os acidentes mediante medidas de preveno (GONALVES,

    2003).

    A ocorrncia de acidentes do trabalho ainda um problema srio, que afeta

    organizaes, trabalhadores e governos em todo o mundo. Ocorrem entre 1,9 e 2,3

    milhes de mortes por ano no mundo, resultado de acidentes de trabalho, de acordo

    com dados da Organizao Internacional do Trabalho (OIT).

  • 18

    Apesar da evoluo das pesquisas em segurana do trabalho na ltima dcada, cerca

    de 5.500 pessoas morrem por dia vtimas de acidentes de trabalho, na Unio

    Europia, e mais de 75.000 ficam incapacitadas de voltar a trabalhar (SAARI, 2001

    citado por SANMIQUEL, 2010).

    No Brasil, dados da Previdncia Social informam que em 2007 foram registrados

    653.090 acidentes e doenas do trabalho, entre os trabalhadores assegurados. Entre

    esses registros contabilizou-se 20.786 doenas relacionadas ao trabalho, e parte

    destes acidentes e doenas tiveram como consequncia o afastamento das

    atividades de 580.592 trabalhadores devido incapacidade temporria, 8.504

    trabalhadores por incapacidade permanente e 2.804 por bito.

    Em 2007, ocorreram cerca de uma morte a cada 3 horas, motivada pelo risco

    decorrente dos fatores ambientais do trabalho e ainda cerca de 75 acidentes e

    doenas do trabalho reconhecidos a cada 1 hora na jornada diria. Foi observada

    uma mdia de 31 trabalhadores/dia que no mais retornaram ao trabalho devido

    invalidez ou morte (BRASIL, 2010).

    No caso do setor eltrico, sendo o trabalho dos eletricitrios, de acordo com Oliveira

    (2009), marcado pela presena de demandas fsicas e mentais importantes com

    elevado grau de risco de acidentes, a eletricidade constitui-se um agente de alto

    potencial de risco ao homem. Mesmo em baixas tenses ela representa perigo

    integridade fsica e sade dos trabalhadores.

    Os dados relativos aos acidentes com eletricitrios, categoria profissional que atua

    com os servios em redes de alta, mdia e baixa tenso entre a gerao, a

    transmisso e a distribuio de energia eltrica, atualmente, so feitos pela

    Fundao COGE (Comit de Gesto Empresarial), que assumiu a incumbncia que

    era atribuda ao GRIDIS (Grupo de Intercmbio e Difuso de Informaes sobre

    Engenharia de Segurana e Medicina do Trabalho) (MELO, 2003).

    Relatrios da Funcoge registram a ocorrncia de 1.392 acidentes no ano de 2010,

    como pode ser observado na tabela a seguir.

  • 19

    Quadro 1: Relatrio de estatstica de acidentes do setor eltrico brasileiro - 2010

    Fonte: Fundao COGE (2011)

    Verifica-se, portanto que nesse ano o contingente de 104.857 empregados prprios

    do setor conviveu, no desempenho dirio de suas atividades, com riscos de natureza

    geral e riscos especficos, registrando-se 651 acidentados do trabalho tpicos sem

    afastamento, 741 acidentados com afastamento e dentre estes, sete com

    consequncia fatal (FUNCOGE, 2011).

    Ainda segundo a FUNCOGE (2011), em 2010 foram perdidas 558.824 horas em

    decorrncia dos acidentes com leso, que se comparadas com as 383.360 horas

    perdidas em 2009, mostram um aumento de 46%, observando-se que o aumento de

    horas trabalhadas (3%), no acompanhou esse crescimento. Contudo, este valor

    continua bastante inferior (40%) ao valor de 925.984 horas de 2008. Esta

    quantidade de horas perdidas em 2010 equivale ao total de horas trabalhadas

    durante um ano de uma empresa do porte da ENERGISA BORBOREMA,

    ELETROACRE, CPFL SANTA CRUZ ou do DME.

    Com base no estudo de Chiara J.F. de Paiva - apoiado na teoria de Heinrich e na

    Pirmide de Bird - voltado realidade dos acidentes no Brasil, que considera ainda

    os acidentes sem perda de tempo e os acidentes com e sem danos materiais, o custo

    dos acidentes no Setor Eltrico Brasileiro seria da ordem de R$ 55.994.164,80.

  • 20

    Calculando o custo mnimo estimado com os acidentados de 2010, considerando-se

    as 558.824 horas de trabalho perdidas, obtemos o seguinte:

    Custo Mnimo Estimado (CME) = 5 (dias perdidos* x salrio mdio/dia no setor)

    CME2010 = 5 x (69.853 x R$ 109,10) = R$ 38.104.811,50**.

    Calculando o Custo Total Estimado - CTE2010 = [50 x (69.853 x R$ 109,10)] na

    hiptese menos conservadora, considerando-se os acidentes sem perda de tempo e

    os acidentes com e sem danos materiais, o mesmo seria da ordem de R$

    381.048.115,00.

    O Custo Total Estimado dos acidentes do trabalho com empregados prprios das

    empresas R$ 381.048.115,00 representa, por exemplo, o investimento necessrio

    para a construo de 6 PCHs Pequenas Centrais Hidreltricas de 30 MW cada, que

    poderiam atender a uma demanda de cerca de 750.000 habitantes.

    Esse custo representa o investimento em 6.570 km de redes de distribuio em

    mdia tenso Spacer Cable.

    O Custo Total Estimado poderia representar, ainda, o montante aproximado

    necessrio para a construo de 1.361 km de linhas de transmisso, em 230 kV,

    circuito simples, incluindo: levantamento topogrfico, projeto de engenharia,

    materiais e construo.

    * dias perdidos = horas de trabalho perdidas (558.824) dividido pela carga horria diria de trabalho (8h/dia).

    ** hiptese conservadora uma vez que foi utilizado o multiplicador 5. A literatura tcnica disponvel

    indica que o custo indireto de um acidente pode variar de 5 a 50 vezes o seu custo direto.

  • 21

    Fonte: Fundao COGE (2011)

    Figura 2: Custo Total Estimado de Acidentes do Trabalho por Ano (milhes de reais)

    A importncia da investigao dos acidentes deve ser considerada como uma fonte

    valiosa de informaes para projetos de melhoria do trabalho e formao dos

    trabalhadores (FISHER, 2004). Como consequncia dessa pesquisa, transformar os

    resultados dessa investigao numa ferramenta inestimvel para a construo de um

    futuro melhor, mais produtivo e eficiente, buscando, ao apurar os resultados, avali-

    los e propor medidas preventivas e corretivas ao alcance das mais diversas empresas

    do setor, para a preservao do maior bem disponvel em nosso planeta, o ser

    humano, a sua vida (FUNCOGE, 2010).

    Diante do exposto, cabe a seguinte indagao:

    COMO AVALIAR OS ACIDENTES DE TRABALHO OCORRIDOS NO SETOR

    ELTRICO NO NORDESTE DO BRASIL COM FOCO EM INTERVENES

    PREVENCIONISTAS?

  • 22

    1.2 Objetivo Geral

    - Avaliar os acidentes de trabalho no setor eltrico com o estudo de caso em

    uma empresa no Nordeste do Brasil com foco em intervees prevencionistas.

    1.3 Objetivos Especficos

    - Fazer um levantamento dos acidentes de trabalho ocorridos no setor eltrico

    brasileiro;

    - Fazer um levantamento dos acidentes de trabalho ocorridos na empresa;

    - Traar um perfil dos acidentes ocorridos;

    - Contribuir para uma poltica prevencionista de ao a partir das causas dos

    acidentes de trabalho.

  • 23

    2 REVISO DA LITERATURA

    2.1 Setor Eltrico

    A histria da eletricidade brasileira tem seus primeiros registros nos ltimos anos do

    Imprio, no final do sculo 19, atravs da concesso de privilgio para a explorao

    da iluminao pblica, dada pelo Imperador D. Pedro II a Thomas Edison (SAUER et

    al, 2003; FERREIRA, 2002).

    A implantao do setor eltrico brasileiro deu-se a partir da construo de usinas de

    pequeno porte entre 1879 e 1910, como as de Ribeiro do Inferno (Diamantina, MG)

    e Marmelos (Juiz de Fora, MG) (ABREU, 2009).

    Segundo o BNDES entre os anos de 1890 e 1900, houve a instalao de vrias

    pequenas usinas, principalmente termeltricas, para atender demanda da

    iluminao pblica, da minerao, do beneficiamento de produtos agrcolas e do

    suprimento de indstrias txteis e de serrarias. O censo de 1920 informa que, em

    1900, existiam no Brasil doze usinas com capacidade instalada superior a 0,7457

    MW. Essas usinas, bem como as de capacidade instalada inferior pertenciam, em

    geral, a concessionrios ou autoprodutores distintos e forneciam eletricidade a

    diversas localidades e tecelagens pelo pas afora.

    A partir do ano de 1883 a 1900, a capacidade instalada no Brasil multiplicou-se por

    178, passando de 61 kW para 10.850 kW, dos quais 53% de origem hidrulica

    (BNDES).

    A dcada de 20 ficou marcada pela necessidade de ampliao do parque gerador no

    intuito de atender aos constantes aumentos de consumo de energia eltrica

    demandados pelo desenvolvimento do setor industrial (ABREU, 2009).

    Em 1930, a potncia instalada no Brasil atingia cerca de 350 MW, em usinas hoje

    consideradas como de pequena potncia, pertencentes a indstrias e a prefeituras

    municipais, na maioria, hidroeltricas, operando a fio dgua ou com pequenos

    reservatrios de regularizao diria. Em 1939, no Governo Vargas, foi criado o

    Conselho Nacional de guas e Energia, rgo de regulamentao e fiscalizao, mais

    tarde substitudo pelo Departamento Nacional de guas e Energia Eltrica DNAEE,

  • 24

    subordinado ao Ministrio de Minas e Energia. A primeira metade do sculo 20

    representa a fase de afirmao da gerao de eletricidade como atividade de

    importncia econmica e estratgica para o pas (FERREIRA, 2002).

    A partir do fim da Segunda Guerra Mundial, o Sistema Eltrico ganhou impulso com a

    construo da primeira grande usina, a de Paulo Afonso I, com a potncia de 180

    MW, seguida pelas usinas de Furnas, Trs Marias e outras, com grandes

    reservatrios de regularizao plurianual. A dcada de 50 foi marcada por grandes

    empreendimentos nacionais especialmente na gerao e transmisso de energia, e a

    potncia instalada passou de 1.342 MW em 1945 para 30.068 MW em 1979

    (FERREIRA, 2002; ABREU, 2009; THEOTNIO, 1999).

    Na dcada de 60 houve a criao do Ministrio das Minas e Energia (MME), do

    Departamento Nacional de guas e Energia Eltrica (DNAEE) e das Centrais Eltricas

    Brasileiras SA (ELETROBRAS). A criao destes rgos, aliados aos estudos hidro

    energticos desenvolvidos a partir de 1962, consolidou a estruturao do setor

    eltrico, concatenando, ento, demandas e projetos (SAUER et al., 2003).

    No incio dos anos 70, a crise do petrleo muda a situao energtica no mundo. Os

    pases centrais passam a transferir para pases perifricos e dependentes, ricos em

    potencial energtico como o Brasil, uma srie de indstrias que consomem muita

    energia. Assim, o Brasil se transforma, progressivamente, juntamente com outros

    pases perifricos, em um exportador de produtos eletro intensivos, isto , que

    exigem grande quantidade de energia para serem produzidos (ABREU, 2009).

    Em 1984, entram em operao as primeiras mquinas da Usina Hidroeltrica de

    Tucuru, construda pela ELETRONORTE no Rio Tocantins, uma das maiores do

    mundo junto com ITAIPU Binacional. Em 1988, a CHESF inaugura a Usina de

    Itaparica, cuja obra da barragem afetou a vida de 36 mil habitantes e exigiu o

    reassentamento da populao, alm de alguns projetos de irrigao (ELETROBRAS,

    2006).

    O setor eltrico que se mantivera estvel institucionalmente por um longo perodo,

    sofreu abalos definitivos no final da dcada de 1980 e comeo de 1990. A fase de

  • 25

    aperfeioamento e consolidao do setor eltrico que a levara a padres de eficincia

    e qualidade internacionais entra em crise por razes de ordem econmica e poltica.

    Segundo Brito (2008), as tarifas eram insuficientes para assegurar o cumprimento

    das obrigaes mais elementares e as empresas enfrentavam forte restrio de

    crdito. Iniciou-se ento um ciclo generalizado de inadimplncias, no qual as

    distribuidoras no pagavam a energia comprada das geradoras e estas no

    honravam financiamentos contrados com o aval da Unio nem tinham recursos para

    investir. Era preciso privatizar.

    A fim de tentar recuperar o setor com solues internas, as empresas

    concessionrias, coordenadas pela ELETROBRAS e supervisionadas pelo Ministrio

    das Minas e Energia, buscaram transformar com a abertura da economia brasileira

    uma soluo consensual para estabelecer novas regras de relacionamento. A Reviso

    Institucional do Setor Eltrico (REVISE) foi um programa organizado com o objetivo

    de promover exame geral da situao em que se encontrava o setor eltrico e

    funcionou em 1988/1989. Nesse perodo, houve diversas discusses sobre o novo

    modelo do setor e versaram sobre temas amplos como os critrios de planejamento

    e de concesses de usinas, critrios de operao e de faturamento, energia de Itaipu

    e possibilidade de atuao fora da rea de concesso da empresa. Mas a questo

    bsica era a da equalizao tarifria, alm de sua conteno, por questes de

    natureza macroeconmica.

    De acordo com a ONS (Operador Nacional do Sistema Eltrico), a reformulao do

    setor eltrico iniciou-se com a Lei 8.987 de 14 de fevereiro de 1995, conhecida como

    a Lei de Concesses dos Servios Pblicos, e com a Lei 9.074 de 19 de maio de

    1995, a partir das quais foram estabelecidas as bases para um novo modelo

    institucional do setor eltrico. Simultaneamente foram empreendidas a

    reestruturao organizacional e de propriedade do setor, esta atravs da privatizao

    de empresas e da atrao dos capitais privados para assegurar a sua expanso.

    Em 1994, entrou em operao na CHESF a Usina Hidreltrica de Xing, a maior e

    mais moderna usina da companhia, responsvel sozinha por 30% da capacidade de

  • 26

    gerao de energia da empresa, com uma potncia instalada de 3.162 MW. O Brasil,

    neste perodo, j tinha uma capacidade instalada de energia eltrica de 53.000 MW.

    Em 2000, a capacidade instalada de energia eltrica no Brasil era em torno de

    72.200 MW, e 21 concessionrias estatais haviam sido privatizadas, das quais 17

    distribuidoras e 4 geradoras, com um valor total obtido de cerca de US$ 32 bilhes.

    2.1.1 O Novo Modelo do Setor Eltrico

    De acordo com Tavares (2010), o Novo Modelo do Setor Eltrico Brasileiro hoje,

    um modelo complexo, de grande porte e com um alto nvel hierrquico, que comea

    pelo Ministrio de Minas e Energia, passa pela ANEEL, pelo Operador Nacional do

    Sistema, Eletrobrs, CCEE (antigo MAE) e assim sucessivamente, at que os agentes

    do setor recebam as diretrizes apontadas por esses rgos.

    Os agentes do setor recebem a concesso do poder concedente para atuar nas

    diversas reas existentes seja como gerador, transmissor, distribuidor, autoprodutor,

    produtor independente, comercializador ou consumidor livre.

    Na dcada de 90, o Brasil deu incio modernizao do setor eltrico. Essa

    modernizao veio atravs de marcos regulatrios e da criao de vrias entidades

    do setor, como a ANEEL, o ONS e o MAE (atual CCEE).

    Em 1993, ao reequilibrar as finanas do setor, a Lei 8.631 promoveu a reorganizao

    econmico-financeira das empresas e abriu caminho para a reestruturao da

    indstria de energia eltrica.

    Pode-se dizer que o novo modelo proposto pelo MME tem trs objetivos:

    - garantir a segurana de suprimento de energia eltrica;

    - promover a modicidade tarifria, por meio da contratao eficiente de energia para

    os consumidores regulados;

    - promover a insero social no Setor Eltrico, em particular pelos programas de

    universalizao de atendimento.

  • 27

    A tabela a seguir resume as principais diferenas entre o modelo vigente antes de

    1998 e o novo modelo do setor.

    Quadro 2: As Mudanas no Setor Eltrico Brasileiro

    Modelo Antigo Modelo Novo

    Financiamento atravs de recursos

    pblicos

    Financiamento atravs de recursos

    Pblicos (BNDES) e privados

    Empresas verticalizadas Empresas divididas por atividades: Gerao Transmisso, Distribuio e

    Comercializao

    Empresas predominantemente estatais Abertura para empresas privadas

    Monoplios Competio inexistente Competio na gerao e comercializao

    Consumidores cativos Consumidores livres e cativos

    Tarifas reguladas em todos os segmentos Preos livremente negociados na Gerao

    e Comercializao Fonte: Tavares, (2010)

    Com a reestruturao do setor, em 1998, surgiram novos Agentes e novas funes

    para os Agentes que j existiam, conforme descreve Tavares (2010):

    - Gerao - A atividade aberta competio, no regulada

    economicamente e todos os geradores tm a garantia de livre acesso aos

    sistemas de transporte de energia eltrica (transmisso e distribuio). Os

    geradores podem negociar sua energia com preos livremente negociados. Os

    montantes de energia eltrica a serem gerados so determinados pelo ONS

    (MAE Mercado Atacadista de Energia, p.17).

    - Transmisso - As Linhas de transmisso constituem vias de uso aberto e

    podem ser utilizadas por qualquer agente, com a devida remunerao ao

    proprietrio atravs do custo do uso do sistema de transmisso determinado

    pela ANEEL e administrado pelo ONS (MAE Mercado Atacadista de Energia,

    p.17).

    - Distribuio - A distribuio a atividade que permanece regulada tcnica e

    economicamente pela ANEEL. Assim como as linhas de transmisso, as redes

    de distribuio devem conceder liberdade de acesso a todos os Agentes de

    Mercado, atravs do custo do uso do sistema de distribuio determinado pela

    ANEEL e administrado pelo Distribuidor (MAE Mercado Atacadista de

    Energia, p.17).

  • 28

    - Comercializao - Com a reestruturao do Setor Eltrico, surgiu a figura do

    Comercializador de Energia, responsvel pela compra e venda de energia

    eltrica a Distribuidores, Geradores, ou Consumidores Livres, com preos

    livremente negociados entre as partes. Esta atividade regulada tcnica e no

    economicamente pela ANEEL (MAE Mercado Atacadista de Energia, p.17).

    - Autoprodutor - a entidade que autorizada pela ANEEL produz, de forma

    individual ou consorciada, energia eltrica para uso prprio, podendo fornecer

    o excedente s concessionrias de energia eltrica e/ou ao Mercado de Curto

    Prazo (MAE Mercado Atacadista de Energia, p.17).

    - Produtor Independente - Pessoa jurdica ou empresas reunidas em consrcio

    que recebam concesso ou autorizao do Poder Concedente para produzir

    energia eltrica destinada ao comrcio de toda ou parte da produo, por sua

    conta e risco (MAE Mercado Atacadista de Energia, p.17).

    - Consumidores Livres - O Consumidor Livre pode adquirir energia de qualquer

    fornecedor, no sendo mais obrigado a comprar da distribuidora local.

    2.1.2 O Sistema Interligado Nacional (SIN)

    Com tamanho e caractersticas que permitem consider-lo nico em mbito

    mundial, o sistema de produo e transmisso de energia eltrica do Brasil um

    sistema hidrotrmico de grande porte, com forte predominncia de usinas

    hidreltricas e com mltiplos proprietrios. O Sistema Interligado Nacional (SIN)

    formado pelas empresas das regies Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste e parte da

    regio Norte. Apenas 3,4% da capacidade de produo de eletricidade do pas

    encontram-se fora do SIN, em pequenos sistemas isolados localizados principalmente

    na regio amaznica (ONS).

    O SIN tem predominncia de usinas hidroeltricas com reservatrios de regularizao

    plurianual e grande capacidade de armazenamento, principalmente nas regies

    Sudeste / Centro-Oeste e Nordeste, sendo que 65% da capacidade de

    armazenamento do SIN esto concentrados numa rea situada no interior do pas

    denominada Quadriltero dos Reservatrios, onde esto concentrados os grandes

  • 29

    reservatrios de acumulao do sistema, referentes s bacias dos rios Grande,

    Paranaba, So Francisco e Tocantins. Esta caracterstica confere ao SIN uma

    grande dependncia da espacialidade das chuvas, de forma que no basta chover no

    pas, mais sim onde, quando e quanto chove, de forma que essas precipitaes ao

    longo do perodo mido garantam vazes afluentes que possibilitem o

    replecionamento do armazenamento desses reservatrios, assegurando o

    atendimento energtico do SIN (TAVARES, 2010).

    Tavares (2010) destaca a diviso do Sistema Interligado Nacional em quatro

    subsistemas de acordo com as regies geopolticas. Cada subsistema tem a sua

    peculiaridade e apesar da integrao, eles so operados e planejados com polticas

    energticas diferentes entre si.

    a-) Subsistema Sudeste

    b-) Subsistema Sul

    c-) Subsistema Nordeste

    d-) Subsistema Norte

    2.1.3 Cenrios para o Setor

    Em 2005, a capacidade instalada de energia eltrica no Brasil era em torno de

    90.000 MW adicionados 9.000 MW importados de outros pases, com 1.450

    empreendimentos de gerao em operao. Desses empreendimentos 85% do

    setor pblico e 15% do setor privado.

    O Sistema Transmisso do Brasil constitudo de aproximadamente 85.000 km de

    Linhas de Transmisso da Rede Bsica, por meio de 26 concessionrias sendo 15

    privadas. A rea de distribuio de energia constituda de 64 empresas das quais

    80% so do setor privado (ABCE, 2005).

    Na figura 3 apresentado o perfil da Matriz Eletroenergtica do Brasil em 2010, onde

    se observa que a maior parte de origem hidrulica, com quase 75%, incluindo as

    importaes, seguido pelo gs natural (5,7%) (MME, 2011).

  • 30

    Fonte: MME (2011)

    Figura 3: Matriz Eletroenergtica do Brasil em 2010

    Na figura 4, a seguir, so apresentados os diagramas dos Cenrios da Oferta e de

    Carga de Energia Eltrica do decnio 2006-2015 do Brasil. Verifica-se que se projeta

    um aumento na carga de energia de 49,3 GW mdio para 76,9 GW mdio em 2015,

    e que ser necessrio um adicional 44% na oferta de gerao (MW mdio) passando

    dos 53,6 GW mdio para 76,9 GW mdio em 2015.

    HIDRO 74,3%

    NUCLEAR 2,7%

    GS NATURAL 5,7%

    CARVO MINERAL

    1,3%

    DERIVADOS DE PETRLEO

    2,7%

    BIOMASSA 5,1%

    GS INDUSTRIAL 1,5%

    ELICA 0,4%

    IMPORTAO 6,3%

    Nota: inclui autoprodutores (40,4 TWh)

    RENOVVEIS: Brasil: 85,8 % OECD: 16,6 % Mundo: 18,7 %

    TWh TOTAL 544,9

    HIDRO 405,1 GS NATURAL 30,8 DER. PETRLEO 14,6 NUCLEAR 14,5 CARVO 7,1 BIOMASSA 28,0 GS INDUST. 8,2 ELICA 2,2 IMPORTAO 34,4

  • 31

    Fonte: MME (2006)

    Figura 4: Evoluo da Oferta e Consumo do Brasil (2006-2015)

    Na figura a seguir apresentado o Mapa Geogrfico do Sistema Eltrico Interligado

    Nacional (SIN) em 2011. Ressaltam-se as seguintes Interligaes:

    - N-NE em 500 kV

    - N-SE em 500 kV

    - LT Usina Serra da Mesa a Salvador em 500 kV

    - ITAIPU em 750 kV e 600kVDC

    - SE-SUL em 500 kV

  • 32

    Fonte: ONS (2011)

    Figura 5: Mapa do Sistema Interligado Nacional

    A Empresa estudada, CHESF (Companhia Hidroeltrica do So Francisco), uma

    sociedade de economia mista, aberta, criada pelo Decreto-Lei n 8.031, de 3 de

    Outubro de 1945, por Getlio Vargas e constituda na 1 Assembleia Geral de

    Acionistas, realizada em 15 de Maro de 1948. Tem por finalidade gerar, transmitir e

    comercializar energia eltrica.

    O seu sistema de gerao hidrotrmico, com predominncia de usinas hidreltricas,

    responsveis por percentual superior a 97% da produo total. Atualmente, seu

    parque gerador possui 10.615MW de potncia instalada, sendo composto por 14

  • 33

    usinas hidreltricas, supridas atravs de 9 reservatrios com capacidade de

    armazenamento mximo de 52 bilhes de metros cbicos de gua e uma usina

    trmica bicombustvel com 346,80 MW de potncia instalada, localizada em

    Camaari, na Bahia, utilizada principalmente nos perodos de estiagem.

    O sistema de transmisso, cujas primeiras instalaes tiveram operao em 1954,

    abrange os estados de Alagoas, Bahia, Cear, Paraba, Pernambuco, Piau, Rio

    Grande do Norte e Sergipe, composto por 18.588km de linhas de transmisso em

    operao, sendo 5.122km de circuitos de transmisso em 500kV; 12.657km de

    circuitos de transmisso em 230kV; 809km de circuitos de transmisso em tenses

    inferiores; 99 subestaes com tenso maior que 69kV e 755 transformadores em

    operao em todas as tenses, totalizando uma capacidade de transformao de

    43.659MVA, alm de 5.683km de cabos de fibra ptica.

    O Sistema Eltrico da Regio do Nordeste divide-se em Gerncias Regionais e

    interliga-se com o Sistema Norte da ELETRONORTE, Usina de Tucurui e da Usina

    Serra da Mesa, em Gois, como pode ser observado nas figuras a seguir.

  • 34

    Fonte: CHESF (2011)

    Figura 6: Gerncia Regional Norte

    A Gerncia Regional Norte compreende as seguintes subestaes e usinas:

    Quadro 3: Sistema Regional Norte

    CE PB RN

    SE Ico SE Coremas SE Mossor II

    SE Milagres SE/Usina Coremas

    SE Banabuiu

    SE Pici II

    SE Cauipe

    SE Delmiro Gouveia

    SE Fortaleza

    SE Fortaleza II

    SE/Usina de Araras

    SE Taua II

    SE Quixad

    SE Russas II

    SE Sobral II

    SE Sobral III

    Fonte: CHESF (2011)

  • 35

    Fonte: CHESF (2011)

    Figura 7: Gerncia Regional Sul

    A Gerncia Regional Sul compreende as seguintes subestaes e usinas:

    Quadro 4: Sistema Regional Sul

    BA SE

    SE Eunpolis SE Itabaiana

    SE Funil SE Itabaianinha

    SE Itapebi SE Jardi

    SE/Usina Funil

    SE/Usina de Pedra

    SE Olindina

    SE Camaari II

    SE Cotegipe

    SE Catu

    SE Gov. Mangabeira

    SE Jacaracanga

    SE Matatu

    SE Pituacu

    SE Santo Antnio Jesus

    SE/Usina Term. Camaari

    SE Sapeau

    Fonte: CHESF (2011)

  • 36

    Fonte: CHESF (2011)

    Figura 8: Gerncia Regional Leste

    A Gerncia Regional Leste compreende as seguintes subestaes e usinas:

    Quadro 5: Sistema Regional Leste

    AL PB PE RN

    SE Macei SE Bela Vista SE Angelim II SE Au II

    SE Messias SE Camp. Grande II SE Angelim SE Cur. Novos II

    SE Penedo SE Camp. Grande I SE Pirapama SE Natal II

    SE Rio Largo II SE Mussur II SE Tacaimb SE Paraso

    SE Joairam SE Sant. Matos II

    SE Recife II SE Sta. Cruz II

    SE Bongi

    SE Mirueira

    SE Ribeiro

    SE Goianinha

    SE Pau Ferro

    Fonte: CHESF (2011)

  • 37

    Fonte: CHESF (2011)

    Figura 9: Gerncia Regional Oeste

    A Gerncia Regional Oeste compreende as seguintes subestaes e usinas:

    Quadro 6: Sistema Regional Oeste

    PI

    SE Boa Esperana

    SE Eliseu Martins

    SE Picos

    SE Piripiri

    SE So Joo do Piau

    SE Teresina

    SE Teresina II

    SE/Usina Boa Esperana

    Fonte: CHESF (2011)

  • 38

    Fonte: CHESF (2011)

    Figura 10: Gerncia Regional Centro

    A Gerncia Regional Centro compreende as seguintes subestaes e usinas:

    Quadro 7: Sistema Regional Centro

    AL BA PE SE

    SE Paulo Afonso III SE Abaixadora SE Bom Nome SE/Usina Xing

    SE Paulo Afonso IV SE Ccero Dantas SE Itaparica SE Xing 500Kv

    SE/Usina Apol. Sales SE Modelo Reduzido SE Luiz Gonz.500Kv SE Xing 69Kv

    SE Zebu SE Mulungu SE/Us.Luiz Gonzaga

    SE Moxot

    SE/Usina Piloto

    SE/Us. P. Afonso I

    SE/Us. P. Afonso II

    SE/Us. P. Afonso III

    SE/Us. P. Afonso IV

    Fonte: CHESF (2011)

  • 39

    Fonte: CHESF (2011)

    Figura 11: Gerncia Regional Sudoeste

    A Gerncia Regional Sudoeste compreende as seguintes subestaes e usinas:

    Quadro 8: Sistema Regional Sudoeste

    BA

    SE Bom Jesus da Lapa

    SE Barreiras

    SE Irec

    SE Jaguarari

    SE Juazeiro da Bahia II

    SE Senhor do Bonfim II

    SE Sobradinho 500Kv

    SE/Usina de Sobradinho

    Fonte: CHESF (2011)

  • 40

    O sistema de transmisso da empresa estudada interliga os estados do Nordeste e

    une a regio aos sistemas das regies Norte, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil.

    Quadro 9: Extenso das Linhas de Transmisso da CHESF

    Extenso das Linhas de Transmisso por nvel de tenso

    69 kV 425,5 km

    138 kV 383,9 km

    230 kV 12537,5 km

    500 kV 5121,5 km

    Total 18.468,4 km

    Fonte: CHESF (2011)

    2.2 Segurana do Trabalho

    O termo segurana pode ser entendido como o estado de estar livre de riscos

    inaceitveis de danos, de acordo com as definies de Brauer (1994).

    Saurin (2002) atribui um significado mais amplo ao termo segurana no trabalho,

    ao referir-se tanto preveno de acidentes instantneos, quanto preveno de

    doenas ocupacionais e leses de natureza ergonmica.

    Para Benite (2004), um dos principais objetivos da segurana do trabalho a

    eliminao ou reduo da ocorrncia de acidentes, tendo como foco tambm os

    quase-acidentes, utilizando-se de mecanismos que possibilitem a sua deteco,

    anlise e a implementao de medidas de controle.

    A segurana do trabalho corresponde ao conjunto de medidas tcnicas,

    administrativas, educacionais, mdicas e psicolgicas, empregadas para prevenir

    acidentes, seja pela eliminao de condies inseguras do ambiente, seja pela

    instruo ou pelo convencimento das pessoas para a implementao de prticas

    preventivas (FAFIBE, 2008).

    No entanto preciso primeiro entender o que vem a ser acidente do trabalho.

  • 41

    2.3 Acidentes do Trabalho - AT

    O significado etimolgico do termo acidente est relacionado ideia de evento

    fortuito, de acaso, de imprevisto e de fatalidade. Este significado pertence ao senso

    comum e refere-se aos eventos de natureza geral que se caracterizam pela

    impossibilidade de controle dos fatores causadores dos acidentes (BRAGA, 2000).

    A Associao Brasileira de Normas Tcnicas - ABNT apresenta a seguinte definio

    para o acidente do trabalho: "ACIDENTE DO TRABALHO (ou, simplesmente,

    ACIDENTE) a ocorrncia imprevista e indesejvel, instantnea ou no, relacionada

    com o exerccio do trabalho, que provoca leso pessoal ou de que decorre risco

    prximo ou remoto dessa leso" (NBR 14280/99, Cadastro de Acidentes do Trabalho

    - Procedimento e Classificao).

    Pinheiro (2008) apresenta a definio prevencionista como sendo todo evento

    inesperado e indesejvel que interrompe a rotina normal de trabalho, podendo gerar

    perdas pessoais, de materiais, ou pelo menos de tempo.

    De acordo com o Ministrio da Previdncia Social, Lei 8.213 de 24 de julho de 1991,

    artigo 19, acidente do trabalho aquele decorrente do exerccio do trabalho a

    servio da empresa ou do exerccio do trabalho dos segurados especiais, podendo

    ocasionar leso corporal ou distrbio funcional, permanente ou temporrio, morte e

    a perda ou a reduo da capacidade para o trabalho.

    Ainda segundo a lei 8.213, tambm so considerados como acidentes do trabalho: a)

    o acidente ocorrido no trajeto entre a residncia e o local de trabalho do segurado;

    b) a doena profissional, assim entendida a produzida ou desencadeada pelo

    exerccio do trabalho peculiar a determinada atividade; e c) a doena do trabalho,

    adquirida ou desencadeada em funo de condies especiais em que o trabalho

    realizado e com ele se relacione diretamente. Nestes dois ltimos casos, a doena

    deve constar da relao de que trata o Anexo II do Regulamento da Previdncia

    Social, aprovado pelo Decreto n 3.048, de 6/5/1999. Em caso excepcional,

    constatando-se que a doena no includa na relao constante do Anexo II resultou

    de condies especiais em que o trabalho executado e com ele se relaciona

  • 42

    diretamente, a Previdncia Social deve equipar-la a acidente do trabalho (CASTRO,

    2007).

    No considerada como doena do trabalho a doena degenerativa; a inerente a

    grupo etrio; a que no produz incapacidade laborativa; a doena endmica

    adquirida por segurados habitantes de regio onde ela se desenvolva, salvo se

    comprovado que resultou de exposio ou contato direto determinado pela natureza

    do trabalho.

    Equiparam-se tambm a acidente do trabalho:

    I - o acidente ligado ao trabalho que, embora no tenha sido a causa nica, haja

    contribudo diretamente para a morte do segurado, para perda ou reduo da sua

    capacidade para o trabalho, ou que tenha produzido leso que exija ateno mdica

    para a sua recuperao;

    II - o acidente sofrido pelo segurado no local e horrio do trabalho, em consequncia

    de ato de agresso, sabotagem ou terrorismo praticado por terceiro ou companheiro

    de trabalho; ofensa fsica intencional, inclusive de terceiro, por motivo de disputa

    relacionada com o trabalho; ato de imprudncia, de negligncia ou de impercia de

    terceiro, ou de companheiro de trabalho; ato de pessoa privada do uso da razo;

    desabamento, inundao, incndio e outros casos fortuitos decorrentes de fora

    maior;

    III - a doena proveniente de contaminao acidental do empregado no exerccio de

    sua atividade;

    IV - o acidente sofrido pelo segurado, ainda que fora do local e horrio de trabalho,

    na execuo de ordem ou na realizao de servio sob a autoridade da empresa; na

    prestao espontnea de qualquer servio empresa para lhe evitar prejuzo ou

    proporcionar proveito; em viagem a servio da empresa, inclusive para estudo,

    quando financiada por esta, dentro de seus planos para melhor capacitao da mo-

    de-obra, independentemente do meio de locomoo utilizado, inclusive veculo de

    propriedade do segurado; no percurso da residncia para o local de trabalho ou

  • 43

    deste para aquela, qualquer que seja o meio de locomoo, inclusive veculo de

    propriedade do segurado.

    Entende-se como percurso o trajeto da residncia ou do local de refeio para o

    trabalho ou deste para aqueles, independentemente do meio de locomoo, sem

    alterao ou interrupo voluntria do percurso habitualmente realizado pelo

    segurado. O empregado ser considerado no exerccio do trabalho no perodo

    destinado refeio ou descanso, ou por ocasio da satisfao de outras

    necessidades fisiolgicas, no local do trabalho ou durante este.

    Para que o acidente, ou a doena, seja considerado como acidente do trabalho

    imprescindvel que seja caracterizado tecnicamente pela Percia Mdica do Instituto

    Nacional do Seguro Social (INSS), que far o reconhecimento tcnico do nexo causal

    entre o acidente e a leso; a doena e o trabalho; e a causa mortis e o acidente.

    Na concluso da Percia Mdica, o mdico-perito pode decidir pelo encaminhamento

    do segurado para retornar ao trabalho ou emitir um parecer sobre o afastamento.

    A empresa deve comunicar o acidente do trabalho, ocorrido com seu empregado,

    havendo ou no afastamento do trabalho, at o primeiro dia til seguinte ao da

    ocorrncia e, em caso de morte, de imediato autoridade competente, sob pena de

    multa varivel entre o limite mnimo e o teto mximo do salrio-de-contribuio,

    sucessivamente aumentada nas reincidncias, aplicada e cobrada na forma do artigo

    286 do Regulamento da Previdncia Social - RPS, aprovado pelo Decreto n 3.048,

    de 6 de maio de 1999.

    2.3.1 Normas Brasileiras de Segurana

    Dentre as Normas Brasileiras sobre segurana, existem duas que tem relao direta

    com esta pesquisa. A primeira diz respeito ao cadastro dos acidentes de trabalho, a

    NBR 14.280 de 2001. Esta norma busca identificar e registrar fatos fundamentais

    relacionados com os acidentes de trabalho fixando critrios para o registro,

    comunicao, estatstica e anlise de acidentes do trabalho, suas causas e

    consequncias, aplicando-se a quaisquer atividades laborativas, podendo ser aplicada

    em qualquer tipo de empresa. Contudo a NBR 14280, de 2001, no indica medidas

    corretivas especficas, falhas ou ainda a causa dos acidentes. A norma preocupa-se

  • 44

    em abordar as definies e classificaes dos diversos tipos de acidentes pontuando-

    os de acordo com a parte do corpo atingida, de maneira que posteriormente sejam

    utilizados nos clculos do ndice de frequncia e gravidade.

    A segunda, NR10 (2004), estabelece os requisitos e condies mnimas para

    implementao de medidas de controle e sistemas preventivos, de forma a garantir a

    segurana e a sade daqueles que trabalham em instalaes eltricas, em suas

    diversas etapas, seja projeto, execuo, operao, manuteno, reforma e

    ampliao, incluindo terceiros e usurios.

    2.3.2 Histrico

    O trabalhador sempre conviveu com o risco de acidentes desde os primrdios.

    Partindo da atividade predatria, evoluiu para a agricultura e o pastoreio, alcanou a

    fase do artesanato e atingiu a era industrial, sempre acompanhado de novos e

    diferentes riscos que afetavam e ainda afetam sua vida e sade. Antes da Revoluo

    Industrial, com o artfice individual e ainda quando a fora usada era, em geral, a

    humana ou a trao animal, os acidentes mais graves eram devidos a quedas,

    queimaduras, afogamentos, leses devidas a animais domsticos (ALBERTON, 1996).

    Pelo que se tem notcia, a preocupao com o estudo das relaes entre trabalho e

    sade surgiu na Grcia Antiga, quando Hipcrates fez algumas referncias aos

    efeitos do chumbo na sade humana (PINHEIRO, 2008).

    No sculo XIV, aps a Revoluo Mercantil, surgiram as pesquisas dos mdicos Ulrich

    Ellenbog (que detectou a ao txica do monxido de carbono, do mercrio e do

    cido ntrico), Paracelso (que estudou as doenas dos mineiros), George Bauer e

    outros que estudaram as doenas que se relacionavam com o trabalho.

    No ano de 1700, o mdico italiano Bernardino Ramazzini publica seu livro De Morbis

    Artificum Diatriba (As Doenas dos Artesos), com a descrio de 53 tipos de

    enfermidades profissionais. Por esta obra, Ramazzini passou a ser considerado o Pai

    da Medicina do Trabalho.

    Com o advento da Revoluo Industrial, entre 1760 e 1830, com a aplicao da

    energia hidrulica manufatura, seguida da aplicao da mquina a vapor e

  • 45

    eletricidade, ocorreu uma evoluo grandiosa na inveno de novas e melhores

    mquinas que acompanhassem a industrializao, incorporando novos riscos e

    tornando os acidentes de trabalho maiores e mais numerosos. Um dos fatos que

    tambm levou a este aumento de acidentes foi a explorao da mo-de-obra de

    mulheres e crianas, com pouca experincia e que enfrentavam longos turnos de

    trabalho nas pssimas condies existentes nas fbricas daquela poca (ALBERTON,

    1996; SCHWAB, 2008; PINHEIRO, 2008).

    2.3.3 Teorias sobre Acidentes

    Os acidentes so definidos como ocorrncias imprevistas que resultam em

    ferimentos, mortes, perda de produo ou danos propriedade e bens. Preveno

    de acidentes extremamente difcil na ausncia de uma compreenso das causas

    dos acidentes. A histria da segurana do trabalho rica em teorias que tentam

    explicar a causalidade dos acidentes (CASTRO, 2007). Pesquisadores de diferentes

    campos da cincia e da engenharia procuraram desenvolver teorias que ajudassem a

    identificar, isolar e, finalmente, eliminar os fatores que contribuem para causar

    acidentes (RAOUF, 1998).

    - Teoria da Propenso ao Acidente

    Entre os vrios estudos desenvolvidos no campo da segurana do trabalho, encontra-

    se a Teoria da Propenso ao Acidente que, segundo Fisher (2005), seria a teoria

    mais antiga. O conceito de propenso para acidentes foi primeiramente

    desenvolvido por Greenwood & Woods (1919/1964) que, ao examinarem os

    acidentes ocorridos em uma fbrica de munio inglesa, estudaram a distribuio e

    confiabilidade dos acidentes e concluram que, a um grupo particular de indivduos,

    poderia ser creditada uma responsabilidade considervel pelos acidentes (GANDRA,

    2004).

    Em outras palavras, esta teoria, segundo Raouf (1998), sustenta que, dentro de um

    determinado conjunto de trabalhadores, existe um subconjunto de trabalhadores que

    so mais susceptveis de serem envolvidos em acidentes e que apresentam

    determinadas caractersticas natas que o tornam mais propensos ao acidente.

  • 46

    Dentro desta teoria pode-se incluir a Teoria da Propenso Tendenciosa onde se

    considera que uma vez o trabalhador envolvido em um acidente, as chances de o

    mesmo se envolver em acidentes futuros pode ser aumentada ou diminuida. Ou seja,

    a vtima poder melhorar suas habilidades e conhecimento agindo cuidadosamente

    em novas ocorrncias (BROWN, 1995 apud FISHER, 2005; RAOUF, 1998).

    H tambm a Teoria da Propenso, como descreve Fisher (2005), que considera que

    as pessoas so mais ou menos propensas aos acidentes em determinado perodo da

    vida, principalmente relacionados idade e experincia.

    - Teoria de Heinrich

    Almeida (2006) define como pr-histria da anlise de acidentes a Teoria de

    Heinrich. Em 1926, Herbert William Heinrich postulou que a maioria dos acidentes

    o resultado de atos e condies inseguras. Para ele, 88% dos acidentes so

    causados por atos inseguros das pessoas, 10% por condies inseguras do ambiente

    e 2% por vontade de Deus. Ele props uma sequncia de cinco fatores de

    acidentes onde cada elemento iria acionar o passo seguinte na forma de efeito

    domin. A teoria de Heinrich, teoria dos domins, representava o acidente como uma

    sequncia linear de eventos ou pedras. Quando um dos domins cai, aciona a

    prxima pedra, e a prxima. A sequncia de fatores de acidentes a seguinte:

    a) ancestralidade e o meio social

    As caractersticas fsicas e psicolgicas do indivduo so determinadas pela

    hereditariedade transmitida pelos pais. Por outro lado, o comportamento de cada um

    muitas vezes influenciado pelo ambiente social em que cada um vive.

    b) causa pessoal

    Est relacionada com o conjunto de conhecimentos e habilidades que cada um

    possui para desempenhar uma tarefa num dado momento. A probabilidade de

    envolvimento em acidentes aumenta quando as condies psicolgicas no so as

    melhores (depresso), ou quando no existem preparao e treino suficiente.

  • 47

    c) ato inseguro com risco fsico e mecnico

    Diz respeito s falhas materiais existentes no ambiente de trabalho. Quando o

    equipamento no apresenta proteo para o trabalhador, quando a iluminao do

    ambiente de trabalho deficiente ou quando no h boa manuteno do

    equipamento, os riscos de acidente aumentam consideravelmente.

    d) acidente

    Sempre que existirem condies inseguras ou forem praticados atos inseguros,

    podem-se esperar as suas consequncias, ou seja, a ocorrncia de um acidente.

    e) danos ou ferimentos

    Toda vez que ocorre um acidente, corre-se o risco de que o trabalhador venha a

    sofrer leses, embora nem sempre os acidentes provoquem leses. Mas a remoo

    de um fator-chave, como, por exemplo, uma condio insegura ou ato

    inseguro, impede o incio da reao em cadeia.

    O modelo de domin foi observado como uma sequncia unidimensional dos

    acontecimentos. Os acidentes geralmente so multi-fatoriais e desenvolvidos atravs

    de sequncias relativamente longas de alteraes e erros. Isto levou ao princpio da

    causalidade mltipla.

    - Teoria das Mltiplas Causas

    A teoria das mltiplas causa, de acordo com Raouf (1998), uma consequncia da

    teoria dos domins, mas postula que para um nico acidente pode haver muitos

    fatores contributivos, causas e sub-causas, e que certas combinaes destes do

    origem a acidentes. Segundo esta teoria, os fatores contribuintes podem ser

    agrupados em duas categorias a seguir:

    Comportamental - Esta categoria inclui fatores relacionados ao trabalhador, tais

    como a atitude inadequada, falta de conhecimento, falta de habilidade e condio

    fsica e mental inadequados.

    Ambiental - Esta categoria inclui elementos de trabalho perigosos e degradao de

    equipamentos atravs de procedimentos de uso e inseguros.

  • 48

    A principal contribuio dessa teoria consiste em evidenciar o fato de que raramente,

    ou nunca, um acidente o resultado de uma nica causa ou ao.

    - Teoria do Acaso

    A teoria do acaso sugere que todas as pessoas expostas ao mesmo perigo tm o

    mesmo risco de se envolver em um acidente. Nesta teoria, todos os acidentes so

    tratados como correspondente a atos de Deus, e afirma-se que no existem

    intervenes para preveni-los (MENDES, 1995 apud CORREA, 2007; RAOUF, 1998;

    FISHER, 2005).

    O acidente no um evento isolado. Cada vez mais ele percebido como uma

    sequncia de eventos fortemente interligados, complexos e multicausais. Essa

    compreenso representa um novo caminhar para o abandono dos modelos de

    causalidade dos acidentes centrados na culpabilidade dos trabalhadores focando-se

    nas formas de gesto e organizao do trabalho e trazendo assim novas teorias

    (GANDRA, 2004).

    - Teoria de Bird e Loftus

    Uma importante atualizao da teoria do domin foi apresentada por Bird & Loftus.

    Essa atualizao introduz dois novos conceitos:

    a) A influncia da gesto e do erro de gesto;

    b) A perda, como resultado de um acidente poderiam ser as perdas de produo,

    danos propriedade ou perda de outros ativos, assim como leses.

    - Teoria de Perrow

    A tese bsica de Perrow Teoria da Normalidade dos Acidentes (NAT) que os

    acidentes so inevitveis em sistemas tecnologicamente complexos e fortemente

    interligados, por exemplo, em plantas nucleares, plantas petroqumicas e na aviao.

    O termo acidente normal significa que, dadas s caractersticas dos sistemas

    possurem interaes mltiplas e no previstas, as falhas so inevitveis. Ressalta

    que isto significa uma expresso de uma caracterstica integral do sistema e no de

  • 49

    uma afirmao relativa frequncia, ou seja, no est relacionada sua

    repetitividade. Considera o autor que a interao de mltiplas falhas que conduz a

    um acidente e por mais que esforos sejam feitos para controle total dos diversos

    subsistemas, determinadas reaes so imprevisveis e quando interagem conduzem

    a um acidente ou catstrofe (GANDRA, 2004).

    Perrow conclui que "os acidentes so inevitveis e acontecem o tempo todo, os mais

    srios so inevitveis, mas pouco frequentes; catstrofes so inevitveis, mas

    extremamente raras."

    - Teoria de Reason Queijo Suio

    O "Modelo Reason" proposto pelo Professor James Reason da Universidade de

    Manchester, Reino Unido, ajuda a entender por que ocorrem acidentes e ressalta a

    complexidade da causa e efeito. Este modelo vai alm das circunstncias imediatas

    do acidente e examina cuidadosamente as condies prvias para o evento. Para o

    autor, a maioria dos acidentes o resultado de uma sucesso de fatos e/ou

    comportamentos que levam ao acidente.

    Ele prope uma tipologia de erros humanos introduzida em um contexto, o sistema

    tcnico e os nveis organizacionais. Ou seja, considera o sistema scio-tcnico de

    maneira mais global do que abordagens centradas nos trabalhadores. Um erro

    detectado depois de uma sequncia de acidentes, cujo apoio uma representao

    da relao causal mecanicista do acidente como um todo.

    O modelo desenvolvido por Reason tambm chamado de "modelo de queijo suo".

    Defesas, barreiras de segurana podem ser comparadas com fatias de queijo com

    "buracos" que simbolizam as falhas em cada camada de defesa. Este sistema de

    defesa pode incluir treinamento, procedimentos ou normas relativas segurana,

    defesas tecnolgicas, controles administrativos. Quando existe um alinhamento

    destes buracos nas diferentes camadas do sistema de defesa h a possibilidade da

    ocorrncia de um evento perigoso (CORREA, 2007).

  • 50

    Fonte: Reason, 2000

    Figura 12: O Modelo Queijo Suio - de como defesas, barreiras e salvaguardas podem ser

    penetrados por uma trajetria de acidente

    Os buracos nas defesas surgem por duas razes: falhas ativas e condies latentes.

    As falhas ativas so representadas pelos atos inseguros cometidos pelas pessoas que

    esto em contato direto com o sistema, podendo assumir diferentes formas: deslizes,

    lapsos, perdas, erros e violaes de procedimentos. As falhas ativas geralmente tm

    um impacto de curta durao sobre as defesas. As condies latentes so

    representadas pelas patologias intrnsecas do sistema, e surgem a partir de decises

    dos projetistas, construtores, elaboradores de procedimentos e do nvel gerencial

    mais alto. Tais decises podem se constituir de erros ou no. Toda deciso

    estratgica pode potencialmente introduzir um patgeno no sistema. As condies

    latentes tm dois tipos de efeitos adversos: podem contribuir para o erro no local de

    trabalho (como, por exemplo, presso de tempo, sobrecarga de trabalho,

    equipamentos inadequados, fadiga e inexperincia) e podem criar buracos ou

    fraquezas duradouras nas defesas (alarmes e indicadores no confiveis,

    procedimentos no exequveis, deficincias projetuais e construtivas, dentre outros).

    As condies latentes, como o nome sugere, podem permanecer dormentes no

    sistema por anos antes que se combine com as falhas ativas provocando acidentes.

    As falhas ativas no podem ser previstas facilmente, mas as condies latentes

    podem ser identificadas e corrigidas antes de um evento adverso (REASON, 2000).

  • 51

    Para James Reason, a ideia central focalizar as barreiras e monitorar proativamente

    sua condio, para garantir o rastreamento de erros latentes no sistema.

    Com o conhecimento destas teorias e conceituaes, vem tona a necessidade do

    estabelecimento de critrios os mais claros possveis para que se possam tornar

    evidentes os fatores capazes de desencadear acidentes e/ou adoecimentos no

    trabalho. Para tanto, faz-se mister o uso de indicadores que avaliem as condies de

    segurana no trabalho, facilitando o monitoramento proativo.

    2.4 Indicadores

    Segundo Carvalho (2002) todo indicador definido em bases quantitativas.

    Proporcionam as informaes necessrias e mensurveis para descrever tanto a

    realidade como as modificaes devidas presena do servio ou assistncia

    (DONABEDIAN e GASTAL apud KLUK, 2002). a varivel que descreve uma

    realidade, devendo para isso ter as caractersticas de uma medida vlida em termos

    estatsticos, pois representam informaes que devem servir gesto do sistema em

    busca de sua melhoria contnua, da qualidade da assistncia da instituio e da

    sade dos indivduos em especial (KLUCK, 2002).

    De acordo com Caminha (1974), um bom indicador deve apresentar trs

    caractersticas fundamentais:

    - Disponibilidade Os dados bsicos para o clculo do indicador devem ser de

    fcil obteno para diferentes reas e pocas.

    - Confiabilidade Os dados utilizados para o clculo do indicador devem ser

    fidedignos, isto , devem ser capazes de fornecer o mesmo resultado se

    medido por diferentes pessoas em diferentes meios e diferentes pocas, em

    condies similares.

    - Validade O indicador deve ser funo das caractersticas do fenmeno que

    se quer ou se necessita medir. Se o indicador reflete caractersticas de outro

    fenmeno paralelo deixa de ter validade, pois pode levar a uma avaliao no

    verdadeira da situao.

  • 52

    Carvalho (2005) apresenta algumas caractersticas bsicas de um indicador:

    - Serem precisamente definidos;

    - Expressarem a avaliao feita de forma simples, direta e atual;

    - Serem compreendidos por todos;

    - Deve-se garantir a perfeita adequao do indicador situao, ao contexto e

    organizao onde ele est sendo usado;

    - Devem ser representativos.

    Para JANNUZZI (2001), os indicadores podem ser classificados como:

    - Indicadores objetivos - se referem a ocorrncias concretas ou entes empricos

    da realidade social, construdos a partir de dados e estatsticas pblicas

    disponveis. Por exemplo: risco de acidentes de trabalho, taxa de desemprego,

    domiclios com acesso rede de gua.

    - Indicadores subjetivos - se referem s medidas construdas a partir da

    avaliao dos indivduos com relao a diferentes aspectos da realidade,

    levantadas atravs de pesquisas de opinio pblica ou grupos de discusso.

    Por exemplo: ndice de confiana nas instituies, notas avaliativas sobre o

    desempenho dos governantes so alguns dos indicadores subjetivos.

    - Indicadores normativos - refletem explicitamente juzos de valor ou critrios

    normativos com respeito dimenso social estudada so classificados de

    indicadores normativos. Como exemplo pode-se citar: A proporo de pobres

    um indicador normativo de insuficincia de meios para sobrevivncia

    humana, j que, na sua construo h uma srie de decises metodolgicas

    normativas como consumo necessrio de calorias dirias, composio da cesta

    de produtos e servios para consumo entre outros. Taxa de desemprego

    outro conceito normativo, que depende de uma srie de conceitos sobre

    atividade, inatividade e ocupao econmica.

  • 53

    - Indicadores descritivos - apresentam caractersticas e aspectos da realidade

    emprica; no so fortemente dotados de significado valorativo. Situam-se

    nesta classificao: Taxa de evaso escolar, Taxa de mortalidade infantil entre

    outros.

    Quanto natureza dos indicadores, Jannuzzi (2001) classifica em:

    - Indicadores-Insumo - Referem-se s medidas associadas disponibilidade de

    recursos humanos, financeiros ou equipamentos alocados para um processo

    ou programa que afeta uma das dimenses da realidade social. So

    tipicamente indicadores de alocao de recursos para polticas sociais.

    - Indicadores-Produto - So resultantes de processos sociais complexos, como a

    esperana de vida ao nascer ou nvel de pobreza. So medidas

    representativas das condies de vida, sade, nvel de renda da populao,

    indicativas da presena, ausncia, avanos ou retrocessos das polticas sociais

    formuladas.

    - Indicadores-processo - So indicadores intermedirios, que traduzem em

    medidas quantitativas o esforo operacional de alocao de recursos

    humanos, fsicos ou financeiros (Indicadores-insumo) para obteno de

    melhorias efetivas de bem-estar (Indicadores-produto), como nmero de

    consultas peditricas por ms, merendas escolares distribudas diariamente

    por aluno, ou ainda homens-hora dedicados a um programa social.

    No que refere aos Indicadores-produto, ressalta-se que enquanto os Indicadores-

    insumo quantificam os recursos disponibilizados nas diversas polticas sociais, os

    Indicadores-produto retratam os resultados efetivos dessas polticas (JANNUZZI,

    2001).

    Existem diversos tipos de indicadores. Por exemplo, Indicador de Qualidade uma

    informao que avalia componentes importantes de servios, mtodos ou processos

    de produo, informaes (CARVALHO, 2002). Por outro lado um Indicador Social

    uma medida em geral quantitativa dotada de significado social substantivo, usado

    para substituir, quantificar ou operacionalizar um conceito social abstrato, de

  • 54

    interesse terico para pesquisa acadmica ou programtica para formulao de

    polticas (IND Social, 2005). Seguem alguns exemplos dos principais indicadores

    usados:

    - Indicadores de Sade;

    - Indicadores Educacionais;

    - Indicadores de Mercado de Trabalho;

    - Indicadores Demogrficos;

    - Indicadores Habitacionais;

    - Indicadores de Segurana Pblica e Justia;

    - Indicadores Econmicos;

    - Indicadores de Segurana do Trabalho;

    - Indicadores de Desenvolvimento Humano;

    - Indicadores de Infraestrutura.

    2.5 Indicadores de Segurana do Trabalho

    De acordo com Bottani (2005), indicadores so sinais que chamam a ateno sobre o

    comportamento dos sistemas. J Oliveira (2005) define indicador como parmetro

    que mede a diferena entre o comportamento desejado e o real. Saurin (2002)

    ressalta que um bom indicador deve alertar sobre problemas antes destes se

    tornarem graves e/ou irreversveis.

    Benavides, Garca e Ruiz-Frutos (2004) destacam algumas condies necessrias

    para que um indicador funcione adequadamente, sendo elas: a exatido e preciso;

    a reprodutibilidade; e a simplicidade. Em sua grande maioria, os indicadores

    apresentam-se como dados numricos, muito embora determinados fenmenos s

    possam ser analisados mediante a utilizao de indicadores com caractersticas

    qualitativas (ARAUJO, 2006).

    Os indicadores de segurana do trabalho so instrumentos utilizados pela empresa

    tanto para o estabelecimento de polticas empresariais quanto para a gesto dos

    seus recursos humanos. Esses dados subsidiam os programas de preveno de

    acidentes de trabalho, e servem como comparao entre setores econmicos,

  • 55

    empresas e departamentos dentro da prpria empresa. So definidos como

    expresso dos seguintes parmetros: frequncia, gravidade, custo e extenso.

    Quanto frequncia dos acidentes, a concepo do indicador baseada em uma

    medida absoluta, ou seja, o nmero de casos registrados, ou relativos, ponderando a

    frequncia pelo tempo de exposio ao risco. Um ndice bastante empregado a

    Taxa de Frequncia, FA, que mede o nmero de acidentes ocorridos por um milho

    de homens-horas trabalhadas e, matematicamente, definida como sendo:

    FA = N x 1.000.000 / HH, onde:

    N = n de acidentes ocorridos no perodo analisado

    HH = n de homens-horas de exposio ao risco.

    No caso dos indicadores baseados na gravidade, a sua concepo baseia-se no fato

    de que os casos ocorridos apresentam danos diferenciados. Como decorrncia,

    maiores informaes so necessrias, j que se precisa saber o efeito do acidente.

    Na tica da frequncia, tanto um acidente fatal como um superficial seriam tratados

    (ou contabilizados) igualmente. Nesta situao se enquadram os ndices de morbi-

    mortalidade, sejam eles absolutos ou relativos, aos casos ocorridos ou exposio.

    So usuais os ndices Taxa de Gravidade (G) e ndice de Avaliao de Gravidade

    (IAG), calculados por:

    G = DP x 1.000.000 / HH

    IAG = DP / N, onde:

    DP= Nmero de dias perdidos em funo dos acidentes registrados, que igual

    soma dos dias de afastamento dos acidentados que ficaram temporariamente

    incapacitados com os dias debitados em funo de incapacidades permanentes.

    2.5.1 Indicadores Gerais de Segurana do Trabalho no Setor Eltrico

    Segundo Castro (2007), os indicadores de acidentes do setor eltrico, atualmente

    utilizados, so:

  • 56

    - Taxa de Frequncia de Acidentados com Leso com Afastamento

    Nmero de acidentes, com leso com afastamento, ocorridos para cada milho de

    horas-homem de exposio ao risco (HHER), em determinado perodo.

    N de Acidentados Tpicos com Afastamento de Empresas X 1.000.000 FAE =

    HHER

    - Taxa de Frequncia de Acidentados com Leso com Afastamento de

    Contratada

    Nmero de acidentes, com leso com afastamento, ocorridos vezes um milho, por

    horas-homem de exposio ao risco (estimada como 2.000 vezes o nmero de

    empregados das contratadas), em um ano.

    N de Acidentados Tpicos com Afastamento das Contratadas X 1.000.000 FAC =

    2.000 X n de Empregados das Contratadas

    - Taxa de Frequncia de Acidentados com Leso com Afastamento da

    Fora de Trabalho

    Nmero de acidentados com leso com afastamento da empresa mais contratadas

    vezes um milho, por horas-homem de exposio ao risco da empresa mais 2.000

    vezes o nmero de empregados das contratadas, em um ano.

    N de Acidentados Tpicos com Afastamento de Empresas + Contratadas X 1.000.000

    FAEC = HHER + (2.000 X n de Empregados das Contratadas)

    - Taxa de Frequncia de Populao

    Nmero de acidentados com leso e morte da populao vezes um milho, por

    nmero de habitantes da regio em que a empresa atua, em um ano.

  • 57

    (Mortes + Graves + Leves) X 1.000.000 FAC =

    N Mdio de Habitantes

    - Taxa de Gravidade

    Tempo computado (tempo contado em dias perdidos, pelos acidentados, com

    incapacidade temporria total, mais os dias debitados pelos acidentados vtimas de

    morte ou incapacidade permanente, total ou parcial) vezes um milho, por horas-

    homem de exposio ao risco, em determinado perodo.

    Tempo Computado X 1.000.000 G =

    HHER

    - Taxa de Gravidade de Contratada

    Tempo computado (estimado como 6.000 x nmero de acidentados de consequncia

    fatal das contratadas + 500 x nmero de acidentados com leso grave com

    afastamento + 30 x nmero de acidentados com leso leve com afastamento) por

    milho de horas-homem de exposio ao risco (estimada como 2.000 vezes o

    nmero de empre