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Memórias de um frade no Brasil holandês
Sylvia Brandão Ramalho de Brito
Universidade Federal da Paraíba
As crônicas produzidas pelos colonizadores acerca da América portuguesa constituem-se
em importantes fontes de estudo para os mais variados campos do conhecimento. O Valeroso
Lucideno e o triunfo da liberdade, obra composta em Pernambuco durante a dominação
holandesa, pelo frade português Manuel Calado, nos permite analisar o universo colonial luso-
brasileiro a partir da concepção histórico-cristã. Ao delinear a cultura histórica de seu tempo,
percebemos nos escritos de Calado uma interessante situação de contato cultural, muito
diferente da que vivenciaram europeus e nativos, mas ainda assim uma situação de conflito
entre duas visões de mundo e duas formas de comportamento social, vazadas em termos de uma
polêmica religiosa entre católicos e protestantes, que se estendeu a todas as esferas da vida
pública e privada. Os percalços da guerra levaram Calado a se tornar um dos comensais da corte
de Nassau. A pequena burguesia bajuladora era vista freqüentemente nos banquetes oferecidos
no palácio, ocasiões onde o frade entrava em contato com costumes e tradições dos flamengos.
A posição de Calado era ambígua e ele, por ter consciência disto, tenta a todo o momento,
mostrar que a sua proximidade com os “hereges” se devera às circunstâncias. São vários os
flagrantes revelados sobre o cotidiano da nobreza da terra: a vida reclusa das mulheres
portuguesas em contraposição à movimentada rotina das estrangeiras; a relação intempestiva da
corte holandesa com os moradores; a convivência de amor e ódio entre judeus, católicos e
calvinistas, os salões de festas e, obviamente, as guerras. A partir do Valeroso Lucideno,
pretendemos compreender determinadas representações e simbologias relativas ao período em
questão, de forma a indicar de que maneira tais acepções se refletiram no imaginário colonial a
posteriori.
Palavras-chave: Manuel Calado; cultura histórica; historiografia.