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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ PROGRAMA DE DOUTORADO INTEGRADO EM ZOOTECNIA DESENVOLVIMENTO FETAL E COMPOSIÇÃO CORPORAL DE CABRAS MOXOTÓ EM GESTAÇÃO LÍGIA MARIA GOMES BARRETO AREIA PB FEVEREIRO - 2012

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

PROGRAMA DE DOUTORADO INTEGRADO EM ZOOTECNIA

DESENVOLVIMENTO FETAL E COMPOSIÇÃO CORPORAL DE

CABRAS MOXOTÓ EM GESTAÇÃO

LÍGIA MARIA GOMES BARRETO

AREIA – PB

FEVEREIRO - 2012

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

PROGRAMA DE DOUTORADO INTEGRADO EM ZOOTECNIA

DESENVOLVIMENTO FETAL E COMPOSIÇÃO CORPORAL DE

CABRAS MOXOTÓ EM GESTAÇÃO

LÍGIA MARIA GOMES BARRETO

Zootecnista

AREIA – PB

FEVEREIRO - 2012

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LÍGIA MARIA GOMES BARRETO

DESENVOLVIMENTO FETAL E COMPOSIÇÃO CORPORAL DE

CABRAS MOXOTÓ EM GESTAÇÃO

Tese apresentada ao Programa de Doutorado Integrado

em Zootecnia, da Universidade Federal da Paraíba,

Universidade Federal Rural de Pernambuco e a

Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial

para obtenção do título de Doutora em Zootecnia.

Área de concentração: Nutrição Animal

Comitê de Orientação:

Prof. Dr. Ariosvaldo Nunes de Medeiros

Prof.ª Dr.ª Izabelle Auxiliadora Molina de Almeida Teixeira

Prof. Dr. Roberto Germano Costa

AREIA-PB

FEVEREIRO – 2012

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Ficha Catalográfica Elaborada na Seção de Processos Técnicos da

Biblioteca Setorial do CCA, UFPB, Campus II, Areia – PB.

B273d Barreto, Lígia Maria Gomes.

Desenvolvimento fetal e composição corporal de cabras Moxotó em

gestação. / Lígia Maria Gomes Barreto. - Areia: UFPB/CCA, 2012.

108 f. : il.

Tese (Doutorado em Zootecnia) - Centro de Ciências Agrárias.

Universidade Federal da Paraíba, Areia, 2012.

Bibliografia.

Orientador(a): Ariosvaldo Nunes de Medeiros.

Co-orientador(a): Izabelle A. M. de Almeida Texeira, Roberto Germano Costa.

1. Caprino – abate comparativo 2. Caprino – glândula mámaria 3. Caprino

– útero grávido 4. Caprino – Semiárido I. Medeiros, Ariosvaldo Nunes

(Orientador) II.Título.

UFPB/CCA CDU: 636.39(043.2)

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DADOS CURRICULARES DA AUTOR0A

LÍGIA MARIA GOMES BARRETO - Filha de José Gomes Filho e Maria de Lourdes

Barreto Gomes, nascida em 09 de Fevereiro de 1983, na cidade de Gurjão-PB. Residiu

durante toda infância e adolescência na cidade de Santo André-Paraíba, onde estudou na

Escola Estadual Álvaro Gaudêncio de Queiroz desde o primário até sua conclusão do

ensino médio em dezembro de 1999. Em 2001 ingressou no curso de Zootecnia da

Universidade Federal da Paraíba, Campus II, Areia. Quando acadêmica foi bolsista

PIBIC/CNPq por 44 meses, participando de diversos trabalhos nas áreas de Sistemas de

Produção, Reprodução e Nutrição Animal, neste período foi orientada pelo professor

Dr. Edgard Cavalcanti Pimenta Filho. Em 17 de Junho de 2006, graduou-se em

Zootecnia pela UFPB. Em Março de 2006 ingressou no Curso de Mestrado em

Produção Animal, no Programa de Pós-Graduação em Zootecnia/UFPB, no qual foi

bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES,

desenvolvendo sua pesquisa na área de Nutrição de Ruminantes, sob a orientação do

prof. Dr. Ariosvaldo Nunes de Medeiros, Março de 2008. Em 04 de Março de 2008

ingressou no Programa de Doutorado Integrado em Zootecnia/UFPB/UFRPE/UFC, em

que foi bolsista do CNPq. Durante este período, participou de missão de estudos na

Universidade Estadual Paulista-Jaboticabal, através do Programa de Cooperação

Acadêmica-PROCAD/CAPES, também foi bolsista de Doutorado Sanduíche/CNPq

para realização de intercâmbio na Università degli Studi di Sassari, na Itália, sob a

orientação do professor PhD. Antonello Cannas. Em 29 de fevereiro de 2012 submeteu-

se à defesa desta tese, para obtenção do título de Doutora em Zootecnia.

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v

Ao único, que é digno de receber

A honra e a glória, a força e o poder

ao REI eterno imortal, invisível, mas REAL

A ELE ministramos o louvor

Coroamos a ti ó rei JESUS

Adoramos o teu nome

Nos rendemos aos seus pés

Consagramos todo o nosso ser a ti... (Aline Barros)

Ao Deus do impossível que tudo sabe, tudo faz, tudo criou e tudo fará,

Nada seria possível sem sua mão amiga, fiel, misericordiosa e amorosa

Que me sustentou todos os dias para que eu não caísse

Que me carregou nos braços quando não tiver forças para caminhar

Que me fez enxergar a luz nos dias escuros

Que enviou seu amado filho para salvação dos meus pecados

Tudo que sou hoje é por Ele e para Ele, para sempre...

O MEU DEUS!

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vi

A minha amada família,

Meus pais, José Gomes Filho e Maria de Lourdes Barreto Gomes, pelo amor,

incentivo, por acreditarem, torcerem e vencerem junto comigo.

Minhas irmãs, Estefânia Gomes Barreto, Jacinta de Fátima Gomes Figueiredo

e Amanda Gomes Barreto.

Minha sobrinha querida, Anna Laryssa Fernandes Barreto.

E meu amado Esposo, Jone Emanuel da Silva Pereira, por todos os dias vividos

e os que ainda viveremos, por estar presente e por ser um presente em minha vida, por

me ajudar, me ouvir, me apoiar, confiar, vibrar e, principalmente, me amar...

Esta vitória é nossa e só vocês sabem profundamente todas as lutas, angústias, medos,

batalhas e conquistas.

Dedico

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vii

AGRADECIMENTOS

A toda minha família: tias, tios, Huma (mãe do coração) e minhas primas que

me apoiaram e se alegraram com a minha conquista. A família “da Silva Pereira” que

me acolheu, me apoiou e abraçou esta causa junto comigo.

A Danieli da Silva Pereira e Alexandre Parente Lima, que estiveram presentes

nos momentos mais difíceis da minha vida, que me ajudaram de maneira especial, me

fizeram aquilo que somente verdadeiros irmãos são capazes de fazer.

A Universidade Federal da Paraíba, especialmente ao Programa de Doutorado

Integrado em Zootecnia, pela oportunidade de fazer este Curso de Doutorado.

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico - CNPq,

pela concessão das bolsas de doutorado aqui no Brasil e no exterior e demais

investimentos nas etapas da realização deste projeto.

Ao Professor Ariosvaldo Nunes de Medeiros, exemplo de trabalho e dedicação,

por me orientar, por me abrir todas as portas que foram necessárias, por apoiar as

minhas decisões, me ensinar a ser independente e a ser forte, por não impedir os meus

sonhos, por estar presente nos momentos mais críticos e por ter a palavra de apoio no

momento certo.

A Professora Izabelle Auxiliadora Molina de Almeida Teixeira, que me abriu as

portas para um novo mundo, por me acolher na UNESP, me orientar, me incentivar e

me mostrar que o distante pode se tornar próximo se tivermos vontade e perseverança.

Ao professor Kleber Tomás Resende, por me receber em sua equipe e pela

atenção dada durante o período que estive em Jaboticabal.

Ao professor Antonello Cannas, pela impagável honra que me deu de conviver

alguns meses com sua equipe na UNISS em Sassari-IT, por me ensinar um pouco do

muito que sabe e, principalmente, por demonstrar sua grandeza na simplicidade com

que trata a todos no âmbito profissional e pessoal.

A Università degli Studi de Sassari - UNISS, pela oportunidade do intercâmbio.

Aos demais professores e técnicos da UNISS pela atenção e apoio dispensados,

especialmente a Ana Helena Dias Francesconi.

Ao corpo docente do PDIZ/UFPB pelos ensinamentos. A secretária do PDIZ,

Maria das Graças Silva Cruz de Medeiros pela ajuda e amizade. Aos demais

funcionários: Dona Carmem e Sr. Damião.

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Aos funcionários da Estação Experimental de São João do Cariri/UFPB e seus

familiares, bem como aos funcionários do Laboratório de Análise e Avaliação de

Alimentos do CCA/UFPB pelo apoio.

A Alessandro Francisco dos Santos, funcionário da Bacia Escola/UFCG, pela

amizade e fornecimento dos dados meteorológicos.

As professoras Madalena Guerra e Áurea Wischal da UFRPE, por disponibilizar

equipamentos e pessoas competentes de sua equipe para fazer o diagnóstico gestacional.

Aos professores da Banca Examinadora, pelas valiosas contribuições neste

trabalho. Minha admiração pela competência de todos vocês: Profa. Ângela Maria

Vieira Batista, Prof. Francisco Fernando Ramos de Carvalho, Prof. Aderbal Marcos da

Silva e Prof. Severino Gonzaga Neto.

Ao prof. José Humberto Vilar, por disponibilizar o Laboratório de Análises de

Alimentos na UFPB-Bananeiras para que pudéssemos finalizar mais rapidamente as

análises.

Ao Prof. Walter Esfraim Pereira, por estar sempre pronto para nos ajudar com as

análises estatísticas, até mesmo nos momentos de férias.

A Rinaldo José de Souto Maior Júnior, amigo, companheiro de experimento, de

momentos marcantes, de muitas alegrias e tristezas também, por estamos juntos nesta

luta do início ao final.

A André Mariano Batista e Pedro Leopoldo Jerônimo Monteiro Júnior pelo

fundamental apoio, amizade e pela disposição em viajar a São João do Cariri por vários

meses, para realizarem o diagnóstico gestacional.

A Anaiane Pereira Souza, Luana Paula dos Santos Ribeiro e Romildo da Silva

Neves que estiveram comigo dias, noites e madrugadas para que este trabalho pudesse

ser concluído “em tempo”.

Aos amigos Lisiane Dorneles de Lima e Herymá Giovani de O. Silva, que me

acolheramno experimento de suas teses durante o período de treinamento na

UNESP/Jaboticabal, os quais continuaram comigo mesmo distantes, ajudando da

melhor maneira para este trabalho fosse realizado.

Aos funcionários Carlinhos e Juninho do Setor de Caprinocultura da UNESP e

toda equipe da Cabritolândia que receberam com muita atenção e alegria: Daiana,

Bruno (Faiado), Matheus, Helen, Samuel, Nariane, Alana e Tiago.

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A Mariany Brito, Reutman Alves e Arabella que me acolheram e ajudaram no

período que estive fazendo as análises no Campus III da UFPB em Bananeiras.

Aos amigos e ex-bolsistas PNPD/CAPES: Marcos Jácome de Araújo e

Wellington Samay de Melo, que estiveram conosco nesta caminhada.

Aos amigos de convivência mais próxima, com os quais pude contar com o

apoio no experimento, nas discussões da tese, na convivência e na confidência, que

dividiram as tristezas e multiplicaram as alegrias comigo: Andrezza, Regina, Aurinês,

Cicília, Anaiane, Luana, Aldivan, Thadeu, Meiry, Darklê, Lisiane, Daiana de Oliveira,

Juliana (Nana) e Jussara.

A Andrezza Araújo de França que me acolheu em sua casa nos tempos difíceis,

me transmitiu valores e me ensinou como e porque buscar a Deus para enfrentar os

desafios da vida.

Aos que ajudaram diretamente durante o período experimental e conviveram

comigo em São João do Cariri: Anny Graycy, Juraci Marcos, Vinícius Fonseca, Marcus

Venícius, Maurício, Diego, José Helder, Adriano, Jaqueline, Francisca, Flávio, Ariolino

Neto, Edmarões, Lídia, Rosimery, Saúde, Wésia, Élida, Celso, Renato, Antônio, Rosa,

Gil e Vanúbia.

Ao grupo Nutriáridus pelos bons momentos que tivemos juntos: Alenice, Karla,

Rebeca, Mayara, Gabriel, Cláudio, Maurício, Messias, Mariana, Ana Paula, Hugo e

Alma.

A Oscar Boaventura Neto, mais que um amigo, um irmão, um anjo de guarda,

pessoa de coração grandioso, que me ajudou de maneira incalculável durante a

temporada na Itália.

Agli amici italiani e l'amica spagnola, vi ringrazio l'amicizia e per avete fatto i

miei giorni all’estero più felice , io non vi dimenticherò mai: Marta Concas, Gabriella

Serra, Rossella Manca, Natália Castañares Castro, Giustino Gaspar, Maria Grazia

Manca, Elisa Ortu, Elia Pintus, Maria Anunzziata Pintus, Gian Franco Gaias e sua

fidanzata Elisabeta, Maura Lovico, Alberto Stanislau Atzori e Marta sua sposa,

Alessandro Mazzete, Claúdio Carzzeda, Luana Incollu, Ilsen Cafer e Gavina Mulas.

Muito Obrigada!!!

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x

SUMÁRIO

Página

Lista de Tabelas.............................................................................................. xii

Lista de Figuras............................................................................................... xiv

Resumo Geral.................................................................................................. xvi

Abstract xviii

Considerações Iniciais.................................................................................. 1

Capítulo I – Consumo e Digestibilidade dos Nutrientes por Cabras

Moxotó em Gestação .....................................................................................

3

Resumo........................................................................................................... 4

Introdução....................................................................................................... 6

Material e Métodos......................................................................................... 7

Resultados e Discussão................................................................................... 11

Conclusões...................................................................................................... 29

Referências Bibliográficas.............................................................................. 30

Capítulo II – Desenvolvimento Fetal de Caprinos Moxotó.......................... 34

Resumo........................................................................................................... 35

Introdução....................................................................................................... 37

Material e Métodos......................................................................................... 38

Resultados e Discussão................................................................................... 42

Conclusões...................................................................................................... 53

Referências Bibliográficas.............................................................................. 54

Capítulo III – Composição Corporal de Cabras Moxotó na Fase de

Gestação..........................................................................................................

56

Resumo........................................................................................................... 57

Introdução....................................................................................................... 59

Material e Métodos......................................................................................... 60

Resultados....................................................................................................... 64

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xi

Discussão........................................................................................................ 76

Conclusões...................................................................................................... 83

Referências Bibliográficas.............................................................................. 84

Considerações Finais e Implicações............................................................ 86

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xii

LISTA DE TABELAS

Capítulo I - Consumo e Digestibilidade dos Nutrientes por Cabras Moxotó em

Gestação

Página

Tabela 1. Distribuição das cabras nos tratamentos experimentais.................. 7

Tabela 2. Composição nutricional dos ingredientes das dietas

experimentais...................................................................................

8

Tabela 3. Composição da dieta experimental.................................................. 8

Tabela 4. Consumo de nutrientes e energia em função dos dias de gestação,

do número de fetos e do nível de restrição......................................

12

Tabela 5. Composição da dieta efetivamente consumida em função dos

dias de gestação, do número de fetos e do nível de restrição..........

15

Tabela 6. Consumo de água em função dos dias de gestação, do número de

fetos e do nível derestrição..............................................................

17

Tabela 7. Coeficientes de digestibilidade aparente (CD) dos nutrientes em

função dos dias de gestação, do número de fetos e do nível de

restrição...........................................................................................

19

Tabela 8. Balanço de nitrogênio (g) em função dos dias de gestação, do

número de fetos e do nível de restrição...........................................

20

Tabela 9. Partição da energia ingerida em função dos dias de gestação, do

número de fetos e do nível de restrição...........................................

22

Tabela 10. Peso dos órgãos e componentes do trato gastrintestinal em função

dos dias de gestação, do número de fetos e do nível de restrição...

27

Capítulo II - Desenvolvimento Fetal de Caprinos Moxotó

Página

Tabela 1. Distribuição das cabras nos tratamentos experimentais.................. 39

Tabela 2. Composição nutricional dos ingredientes das dietas

experimentais..................................................................................

39

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xiii

Tabela 3. Composição da dieta experimental................................................. 40

Tabela 4. Peso corporal (g) e medidas morfométricas (cm) dos fetos em

função dos dias de gestação, do tipo de gestação e do nível de

restrição...........................................................................................

42

Tabela 5. Coeficientes de correlação de Pearson entre o peso individual dos

fetos e suas respectivas medidas morfométricas.............................

45

Tabela 6. Taxas de crescimento diária, relativo e instantâneo dos fetos em

função do tipo de gestação..............................................................

46

Tabela 7. Ganho em peso diário (g/dia) das cabras em função do tipo de

gestação e nível de restrição............................................................

47

Tabela 8. Consumo de nutrientes e energia em função dos dias de gestação,

do número de fetos e do nível de restrição......................................

49

Tabela 9. Composição química dos fetos em função dos dias, do tipo de

gestação e da dieta...........................................................................

51

Capítulo III - Composição Corporal de Cabras Moxotó na Fase de Gestação

Página

Tabela 1. Distribuição das cabras nos tratamentos experimentais................... 60

Tabela 2. Composição nutricional dos ingredientes das dietas

experimentais....................................................................................

61

Tabela 3. Composição da dieta experimental................................................... 61

Tabela 4. Consumo de nutrientes e energia em função dos dias de gestação,

do número de fetos e do nível de restrição.......................................

65

Tabela 5. Escore de condição corporal (ECC), peso corporal, ganho em

peso, peso de corpo vazio e de carcaça em função dos dias de

gestação, do número de fetos e nível de restrição............................

65

Tabela 6. Composição do corpo vazio livre em função dos dias de gestação,

do número de fetos e do nível de restrição.......................................

69

Tabela 7. Composição do útero grávido em função dos dias de gestação, do

número de fetos e do nível de restrição............................................

71

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xiv

Tabela 8. Composição da glândula mamária em função dos dias de gestação,

do número de fetos e do nível de restrição.......................................

75

LISTA DE FIGURAS

Capítulo I - Consumo e Digestibilidade dos Nutrientes por Cabras Moxotó em

Gestação

Página

Figura 1. Mudança no peso corporal (kg) das cabras consumindo dieta

com 0% de restrição do início ao final da gestação.......................

25

Figura 2. Mudança no peso corporal (kg) das cabras consumindo dieta

com 20% de restrição do início ao final da gestação.....................

25

Figura 3. Mudança no peso corporal (kg) das cabras consumindo dieta

com 40% de restrição do início ao final da gestação.....................

26

Capítulo II - Desenvolvimento Fetal de Caprinos Moxotó

Página

Figura 1. Retenção de matéria seca, água, proteína, gordura, matéria

mineral (g) e energia (kcal) em função da interação tipo gestação

e dias de gestação.............................................................................

52

Capítulo III - Composição Corporal de Cabras Moxotó na Fase de Gestação

Página

Figura 1. Variação do ECC em função dos dias de gestação e do nível de

restrição.............................................................................................

66

Figura 2. Peso de corpo vazio em função dos dias de gestação e do nível de

restrição.............................................................................................

67

Figura 3. Peso de corpo vazio livre em função dos dias de gestação e do nível

de restrição..........................................................................................

68

Figura 4. Quantidade de gordura (a) e energia (b) retidas no corpo vazio

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xv

livre, em função dos dias de gestação e do nível de restrição............ 70

Figura 5. Crescimento do útero grávido em função dos dias e do tipo de

gestação..............................................................................................

73

Figura 6. Quantidades de proteína (a) e gordura (b) retidas no útero grávido

em função dos dias e do tipo de gestação...........................................

73

Figura 7. Participação percentual dos conceptos em relação ao peso do útero

grávido em função dos dias de gestação.............................................

74

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xvi

DESENVOLVIMENTO FETAL E COMPOSIÇÃO CORPORAL DE CABRAS

MOXOTÓ EM GESTAÇÃO

RESUMO GERAL

Objetivou-se avaliar o consumo, digestibilidade, desenvolvimento fetal e composição

corporal de cabras da raça Moxotó em gestação. Este trabalho foi conduzido na Estação

Experimental de São João do Cariri-PB. Oito cabras não prenhes foram abatidas para

representar a composição corporal inicial. Um grupo de cabras aptas à reprodução foi

submetido à sincronização de cio, mediante aplicação de hormônios e, aquelas que

apresentaram cio foram cobertas, por meio de monta natural controlada. Trinta dias após

o primeiro acasalamento, foi realizado o diagnóstico de gestação e a contagem do

número de fetos, por meio da técnica de ultrassonografia. Após confirmada a gestação e

determinados o número de fetos, as cabras foram agrupadas conforme o dia de gestação

(50, 100 e 140 dias), o tipo de gestação (simples ou gemelar) e o nível de restrição (0%,

20% e 40% de restrição). O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente

casualizado, em arranjo fatorial 3x2x3 (dia gestacional, número de fetos e nível de

restrição). As cabras permaneceram em baias individuais, com 3,75 m2 e piso de chão

batido durante todo período experimental. As cabras que foram abatidas aos 140 dias,

foram colocadas em gaiolas para ensaio de metabolismo nas diferentes fases avaliadas

(50, 100 e 140 dias) e permaneceram nestas por um periodo de 15 dias, 10 para

adaptaçao e 5 para coleta de material. Os abates foram realizados aos 50, 100 e 140 dias

após a última cobertura, através de concussão cerebral e posterior sangria. O sangue foi

colhido e pesado, bem como o trato gastrintestinal (antes e após retirada do conteúdo) e

todos os órgãos individualmente. O úbere e o útero grávido (útero, fetos, estruturas e

líquidos fetais) foram removidos, pesados e congelados. As amostras congeladas foram

serradas, moídas e homogeneizadas e novamente congeladas, após congelamento foi

feita a liofilização e as análises laboratoriais. Os resultados apontaram que as cabras

elevaram o consumo de nutrientes e energia no período final da gestação, mas não

modificaram a digestiblidade dos nutrientes, por aumentarem as perdas de energia nas

fezes e na forma de gases. A restrição alimentar melhorou a digestibilidade da fibra e

diminuiu as perdas de nitrogênio e energia, não afetando o crescimento fetal. Fetos

oriundos de gestações duplas são menos desenvolvidos individualmente que fetos

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xvii

simples. O acúmulo de nutrientes nos fetos acompanha seu ganho em peso. A fase de

gestação é determinante de primeira ordem nas mudanças ocorridas no organismo

materno e no desenvolvimento dos conceptos e da glândula mamária, mas as mudanças

mais significativas ocorrem somente no terço final desta fase. A restrição alimentar

durante a fase gestacional promove modificações na composição corporal materna, no

intuito de garantir o desenvolvimento dos tecidos prioritários, sem que ocorram

alterações na composição química destes tecidos.

Palavras-chaves: Abate comparativo, caprino nativo, glândula mamária, útero grávido,

semiárido

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xviii

FETAL GROWTH AND BODY COMPOSITION OF PREGNANT MOXOTÓ

GOATS

ABSTRACT

The aim of the present study was to evaluate food intake and digestibility, fetal

development and body composition in pregnant goats of the Moxotó breed. The study

was conducted at the Experimental Station in São João do Cariri, state of Paraíba,

Brazil. Eight non-pregnant goats were slaughtered for the determination of initial body

composition. A group of goats were selected for the synchronization of estrus by the

application of hormones and those in estrus were submitted to controlled, natural

mating. Thirty days after the first mating, pregnancies were diagnosed and fetal counts

were performed using ultrasound. The goats were then grouped based on day of

gestation (50, 100 and 140 days), type of pregnancy (single or twin) and feeding level

(0%, 20% and 40% restriction). The experimental design was completely randomized in

a 3x2x3 factorial arrangement (pregnancy day, number of fetuses and restriction level).

The animals remained in individual pens measuring 3.75 m2 with a dirt floor throughout

the experimental period. The goats were placed in metabolism cages for testing at

different stages of development (50, 100 and 140 days) and remained in these cages for

a period of 15 days (10 for adaptation and 5 for sample collections). Goats were

slaughtered at 50, 100 and 140 days after the last cover by cerebral concussion and

subsequent bleeding. Blood was collected and weighed. The gastrointestinal tract

(before and after removal of content) and all the organs were weighed individually. The

udder and gravid uterus (womb, fetuses, fetal fluids and structures) were removed,

weighed and frozen. Frozen samples were sawn, milled, homogenized and frozen again,

followed by freeze drying and laboratory testing. The results showed that goats

increased the consumption of nutrients and energy in late gestation, but did not affect

digestibility of nutrients by increasing energy losses through the feces and in the form

of gas. Food restriction improved fiber digestibility and reduced the loss of nitrogen and

energy, with no effect on fetal growth. Fetuses resulting from twin gestations were

individually less developed that those from single gestations. The accumulation of

nutrients in the fetuses accompanied their weight gain. The stage of pregnancy is a

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determinant of first-order changes in the mother, fetal development and the mammary

glands. However, the most significant changes only occur in the final third of gestation.

Food restriction during gestation promotes changes in maternal body composition in

order to ensure the development of priority tissues, with no changes occurring in the

chemical composition of these tissues.

Keywords: Comparative slaughter, mammary gland, native goat, pregnant uterus,

semiarid

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CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O nordeste brasileiro abriga a maior população caprina do país, composta por

animais de diversas raças e aptidões, petencentes aos troncos europeu, africano e os

genótipos nativos ou naturalizados. Grande parte desse efetivo conta com animais sem

padrão racial definido, oriundos de cruzamentos das raças nativas com exóticas. Das

raças nativas do Nordeste, a Moxotó destaca-se com a maior população, sendo a

primeira destas com registro genealógico reconhecida oficialmente pelo Ministério da

Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

A atividade caprina no nordeste brasileiro apresenta-se como alternativa viável

para geração de renda nas pequenas propriedades, principalmente pelo fácil manejo dos

animais e exigência de pequenas áreas para a criação. O sistema de produção extensivo

é predominante na maioria das propriedades rurais, principalmente na criação desses

caprinos para corte, onde os animais ficam vulneráveis aos efeitos da sazonalidade da

disponibilidade de recursos forrageiros. No caso da caprinocultura leiteira, este

panorama é diferenciado, a cadeia produtiva do leite caprino está se estabelendo e

organizando-se, com o crescimento impulsionado por incentivos governamentais.

Na caprinocultura como em qualquer sistema de produção animal, ainda são

verificadas dificuldades na implementação de programas alimentares, sendo

imprescindível o correto manejo nutricional, com dietas devidamente balanceadas e

adequadas ao estádio fisiológico (cria, recria, gestação, lactação ou terminação) e nível

de produção dos animais, desta forma evita-se desperdício financeiro e ambiental.

Neste sentido, as cabras gestantes carecem atenção especial, pois os nutrientes

exigidos pelo organismo da fêmea nesta fase atenderão à manutenção do corpo,

processos vitais, metabolismo basal, mas principalmente, serão direcionados ao útero

grávido e glândula mamária. No primeiro e segundo terço da gestação, que compreende

ao período da concepção aos 100 dias gestacionais, os requerimentos de proteína,

energia, minerais e vitaminas podem ser semelhantes às exigências de mantença. Nos

últimos 50 dias ocorrem modificações mais intensas no metabolismo, uma vez que as

necessidades nutricionais dos produtos da gestação (útero, placenta, fetos, líquidos e

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glândula mamária) tornam-se maiores, principalmente devido ao crescimento dos fetos

que ocorre de forma exponencial.

Aliada à nutrição adequada, é importante que as cabras estejam com boa

condição corporal neste período, uma vez que a partição dos nutrientes favorece o

crescimento fetal em detrimento aos requerimentos das fêmeas gestantes, marcadamente

no terço final, pois este momento culmina com a redução da ingestão de matéria seca,

provocada por mecanismos físicos e hormonais inerentes a esta fase, de forma que deve-

se aumentar a concentração energética da ração. Nos casos em que as fêmeas são

submetidas a um nível nutricional inadequado durante o terço final da gestação, utilizam

suas reservas corporais na tentativa de manter o aporte de nutrientes priorizado para o

crescimento fetal, resultando em perda de peso das fêmeas.

Diversos fatores podem alterar o crescimento e desenvolvimento dos produtos

da gestação, podendo-se destacar alguns como: a influência do número de fetos, raça,

idade materna e nível de alimentação. Destes, a subalimentação pode provocar prejuízos

à mãe, por prolongar a recuperação da condição corporal, aumento do intervalo entre

partos, redução do número de partos gemelares e má preparação da glândula mamária

para a fase lactacional. No caso dos fetos, a consequência da subnutrição ultrapassa a

fase fetal, gerando redução do peso ao nascimento, retardo de crescimento, capacidade

de crescimento muscular reduzida e maior tempo para atingir o peso ao abate.

Para tanto, o enfoque deste estudo no período gestacional faz-se necessário, em

razão do reduzido número de trabalhos abordando esta etapa do ciclo produtivo, aliado à

utilização de uma raça nativa, a Moxotó, que representa a realidade da Região Nordeste,

pois não seria indicado utilizar modelos produtivos oriundos de regiões diferentes, sem

as devidas adaptações para a realidade local.

Diante do exposto, serão apresentados três capítulos de resultados desta

pesquisa: o capítulo I aborda o Consumo e a digestibilidade de nutrientes por cabras

Moxotó em gestação; o capítulo II o Desenvolvimento fetal de caprinos Moxotó e; o

capítulo III trata da Composição corporal de cabras Moxotó na fase de gestação. Por

fim, são realizadas as considerações finais e algumas implicações sobre o tema

abordado.

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CAPÍTULO I

CONSUMO E DIGESTIBILIDADE DE NUTRIENTES POR

CABRAS MOXOTÓ EM GESTAÇÃO

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CONSUMO E DIGESTIBILIDADE DE NUTRIENTES POR CABRAS

MOXOTÓ EM GESTAÇÃO

RESUMO

Objetivou-se avaliar a influência do período de gestação, do número de fetos e do nível

de restrição sobre consumo, digestibilidade, balanço de nitrogênio e partição de energia

em cabras gestantes da raça Moxotó em confinamento. O delineamento utilizado foi o

inteiramente casualizado em um arranjo fatorial 3x2x3 (três períodos de gestação, dois

tipos de fetos e três níveis de restrição). Houve aumento no consumo de MS, PB, EE,

EM, FDN e água com o avanço da gestação, mas não foram modificados os coeficientes

digestiblidade. O número de fetos não alterou o consumo nem o aproveitamento dos

nutrientes pelas cabras gestantes. Com a restrição alimentar e consequente diminuição

do consumo de nutrientes, houve aumento na digestibilidade da FDN, além de redução

nas perdas de nitrogênio (g) e energia (kcal) na forma de fezes e urina. O peso dos

órgãos foi influenciado pelos dias de gestação, com aumento no peso do sangue,

coração, fígado e tratogastrintestinal (TGI), mas as reservas de gordura interna foram

reduzidas. O número de fetos não afetou estas variáveis, mas o TGI reduziu de peso

com o nível de 40% de restrição, que também promoveu diminuição da gordura

mesentérica. No entanto, devido ao crescimento dos produtos da concepção, o peso

corporal das cabras aumentou, independentemente do número de fetos e da dieta

consumida.

Palavras-chave: caprino nativo, partição de energia, semiárido, status nutricional

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NUTRIENT INTAKE AND DIGESTIBILITY IN PREGNANT MOXOTÓ

GOATS

ABSTRACT

The aim of the present study was to evaluate the influence of gestation period, number

of fetuses and restriction level on nutrient intake, digestibility, nitrogen balance and

energy partitioning in pregnant goats of the Moxotó breed in confinement. The

experimental design was completely randomized in a 3x2x3 factorial arrangement (three

periods of gestation, two types of fetuses and three restriction levels). Increased DM,

CP, EE, NDF and water occurred with the advance in gestation, but with no change in

digestibility coefficients. The number of fetuses did not affect nutrient intake or use by

the pregnant goats. With food restriction and the consequent reduction in nutrient

intake, improved NDF digestibility and reduced losses of nitrogen (g) and energy (kcal)

in the form of feces and urine were detected. Organ weight was influenced by days of

gestation, with an increase in the weight of the blood, heart, liver and gastrointestinal

tract, but diminishing reserves of internal fat. The number of fetuses did not affect these

variables. Forty percent restriction led to a reduction in the weight of the gastrointestinal

tract as well as a reduction in mesenteric fat. However, due to the growth of the fetuses,

the body weight of the goats increased, regardless of the number of fetuses and diet

consumed.

Keywords: native goat, energy partitioning, semiarid, nutritional status

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INTRODUÇÃO

A fase de gestação é de extrema importância na vida reprodutiva e produtiva de

cabras, por conseguinte, a ingestão de alimentos e o aproveitamento adequado dos

nutrientes pelo organismo são decisivos para o bom desenvolvimento de suas crias.

A ingestão de alimentos é geralmente proporcional à demanda energética. No

animal gestante, a demanda nutricional pelo feto aumenta progressivamente e

concomitante ao volume ocupado na cavidade abdominal, que afeta a ingestão

voluntária de alimentos (Van Soest, 1994).

O consumo e a digestibilidade de nutrientes podem estar correlacionados entre

si, dependendo da qualidade da dieta. Para dietas de alta digestibilidade (acima de 66%),

ricas em concentrado (acima de 75%) e com baixo teor de FDN (abaixo de 25%), o

consumo será menor quanto mais digestível for o alimento e, em dietas de baixa

qualidade (acima de 75% de FDN), o consumo será maior quanto melhor for a

digestibilidade do alimento (Mertens, 1994).

Em pesquisas com vacas e ovelhas, constatou-se decréscimo na ingestão de MS

no período que compreende o terço final da gestação. Segundo Drackley (1999), a

redução na ingestão de MS pode atingir níveis entre 25 e 35% em vacas e, de acordo

com o NRC (2001), o fornecimento de ração mais energética durante as três semanas

pré-parto promove benefícios nesta etapa produtiva. Todavia, estes mecanismos ainda

não estão bem entendidos. Principalmente para cabras, o efeito da distensão física sobre

a ingestão de alimentos no período gestacional não está claro.

Para a espécie caprina evidencia-se a necessidade de avaliar os mecanismos que

envolvem a variação de consumo e de digestibilidade no período de gestação e, deste

modo, pretende-se realizar estudos com caprinos nativos da Região Nordeste do Brasil,

uma vez que ainda são poucos os trabalhos com tais raças. Portanto, objetivou-se avaliar

a influência da fase gestacional, do número de fetos e do nível de alimentação, sobre o

consumo, digestibilidade, balanço de nitrogênio e partição de energia por cabras da raça

Moxotó em confinamento.

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MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi desenvolvido na Estação Experimental de São João do Cariri,

pertencente ao Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba -

CCA/UFPB, localizada no município de São João do Cariri – PB. O período

experimental foi de 22 meses, compreendidos entre abril de 2009 e fevereiro de 2011.

Em condições pré-experimentais, as cabras utilizadas foram escolhidas em

função da ordem de parição, de forma que tivessem parido no mínimo uma vez, que

tivessem glândula mamária em ótimo estado, e que estivessem em final de gestação ou

recém-paridas. Em função das diferenças na fase produtiva e condição corporal, houve

um período de adaptação e homogeneização dos lotes por cerca de cinco meses. Todas

as fêmeas foram vermifugadas e vacinadas contra clostridioses, além de receberem

aplicação do complexo vitamínico ADE.

À medida que as cabras não gestantes e não lactantes atingiram escore de

condição corporal entre 2,0 e 3,0 pontos, foram submetidas à sincronização de cio

através de um protocolo com oito dias de duração. No primeiro dia foi colocado o

dispositivo intravaginal impregnado com progesterona sintética e aplicado 0,5mL de um

agente luteolítico (d-Cloroprostenol, análogo sintético da PGF2α). Sete dias após, foram

retirados os dispositivos intravaginais e aplicado 1,0 mL de gonadotrofina coriônica

equina (eCG), via intramuscular. As cabras ciclaram no oitavo dia, cerca de 24 horas

após a aplicação da eCG, quando foram utilizados dois reprodutores da mesma raça para

fazer a cobertura das fêmeas.

Trinta dias após a cobertura foi realizado o diagnóstico de gestação e a contagem

do número de fetos, por meio de ultrassonografia em via transretal. Com a confirmação

do tipo de prenhez (simples ou gemelar), foram constituídos os grupos experimentais,

em função do número de fetos e nível de restrição. Os animais foram abatidos nas três

fases da gestação, aos 50, 100 e 140 dias (Tabela 1).

Tabela 1. Distribuição das cabras nos tratamentos experimentais

Fase gestacional 0% de restrição 20% de restrição 40% de restrição

1 feto 2 fetos 1 feto 2 fetos 1 feto 2 fetos

50 dias 4 4 4 4 4 4

100 dias 4 3 3 4 4 4

140 dias 4 4 4 4 4 4

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As cabras foram mantidas confinadas em baias individuais de 3,75 m2

cada,

recebendo dieta balanceada para atender as exigências de gestação, com 2,49 Mcal de

energia metabolizável por quilograma de matéria seca (Tabelas 2 e 3).

A ração foi fornecida duas vezes ao dia, às 7h e 15h, ajustadas de forma que as

sobras fossem em torno de 15% do fornecido para o grupo alimentado ad libitum, com

disponibilidade irrestrita de água para todos os animais. O volumoso utilizado foi o feno

de tifton 85 e o concentrado a base grão de milho triturado, farelo de soja, suplemento

mineral e calcário calcítico, em uma relação volumoso:concentrado de 60:40 na MS

(Tabelas 2 e 3).

Tabela 2. Composição nutricional dos ingredientes das dietas experimentais

Item (g/kg) Feno de tifton Milho moído Farelo de soja

Matéria seca 870,2 868,9 877,9

Matéria mineral 75,5 19,0 62,1

Proteína bruta 63,2 85,4 475,1

Extrato etéreo 21,1 46,2 20,2

Fibra em detergente neutro cp1 740,3 138,2 111,4

Fibra em detergente ácido 426,1 42,4 70,3

Carboidratos não fibrosos 99,8 711,2 331,1 1Corrigida para cinzas e proteína

Tabela 3. Composição da dieta experimental

Ingrediente g/kg de MS

Feno de tifton 85 600,0

Milho moído 280,0

Farelo de soja 95,0

Calcário calcítico 15,0

Suplemento mineral1 10,0

Composição química (g/kg de MS)

Matéria seca 873,1

Proteína bruta 107,0

Extrato etéreo 27,5

Fibra em detergente neutro cp2 493,5

Fibra em detergente ácido 274,2

Carboidratos não fibrosos 290,5

Nutrientes digestíveis totais 655,5

Valor energético (Mcal/kg de MS)

Energia metabolizável 2,49 1Suplemento mineral (nutriente/kg de suplemento): vitamina A 135.000,00 U.I.; Vitamina D3 68.000,00 U.I.;

vitamina E 450,00 U.I.; Ca 240 g; P 71 g; K 28,2 g; S 20 g; Mg 20 g; Cu 400 mg; Co 30 mg; Cr 10 mg; Fe 2500 mg;

I 40 mg; Mn 1350 mg; Se 15 mg; Zn 1700 mg; F máximo 710 mg; Solubilidade do Fósforo (P) em ÁcidoCítrico a

2% (min.). 2Corrigida para cinzas e proteína

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A restrição alimentar foi aplicada após confirmação da prenhez, realizando-se

ajuste diário da ração oferecida em função da quantidade consumida pelas fêmeas que

recebiam ração ad libitum. Os níveis de restrição aplicados foram de 20 e 40%. Cada

cabra do grupo restrito nutricionalmente consumia de acordo com uma cabra do grupo

ad libitum que tivesse o peso corporal mais próximo ao seu. O acompanhamento do

peso corporal das cabras foi realizado semanalmente, antes do arraçoamento matinal.

Para a avaliação da digestibilidade, foram utilizadas apenas as cabras que foram

abatidas aos 140 dias de gestação. O ensaio de metabolismo foi realizado em três

períodos distintos: dos 35 aos 50 dias (terço inicial da gestação), dos 85 aos 100 dias

(terço médio da gestação) e dos 125 aos 140 dias (terço final da gestação). Cada período

consistiu em 10 dias para adaptação dos animais às gaiolas e 5 dias para coleta de

material. Todas as cabras foram pesadas antes e após o término de cada ensaio de

digestibilidade, sempre antes do fornecimento matinal de alimentos. As gaiolas para

ensaio de metabolismo foram colocadas dentro da baia de cada fêmea avaliada e eram

providas de comedouro, bebedouro e dispositivo para coletas separadas de fezes e urina.

Nas coletas de urina, foram utilizados baldes confeccionados em plástico

contendo 100 mL de H2SO4 na concentração de 20 mL/100 mL para conservar o

nitrogênio da urina, bem como acidificar o meio e evitar proliferação microbiológica.

Os baldes foram cobertos com um pano filtrante para evitar a contaminação da urina

com material externo.

As amostras das rações, ingredientes, sobras, fezes e urina foram colhidas

durante cinco dias e retiradas alíquotas de 20% do total de cada dia, as quais foram

colocadas em sacos plásticos e armazenadas em congelador a -20°C para posteriores

análises químicas.

As análises químicas foram realizadas no Laboratório de Nutrição Animal do

Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba. Foram determinadas

matéria seca (MS) método 967.03 (AOAC, 1990), matéria mineral (MM) método

942.05 (AOAC, 1990), proteína bruta (PB) método 981.10 (AOAC, 1990) e extrato

etéreo (EE) método 920.29 (AOAC, 1990). Para determinação da fibra em detergente

neutro (FDN) e fibra em detergente ácido (FDA), utilizou-se a metodologia determinada

por Van Soest et al. (1991) em aparelho ANKOM220®

, da Ankom Tecnology

Corporation, com modificações nos sacos, que foram confeccionados com TNT (tecido

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não tecido) gramatura 100 g/m2. As amostras de FDN foram corrigidas para cinzas e

proteína, conforme recomendações de Licitra et al. (1996) e Mertens (2002),

respectivamente. A energia bruta (EB) foi determinada em bomba calorimétrica

adiabática de Parr.

Os carboidratos não fibrosos (CNF) foram calculados de acordo com Detmann

& Valadares Filho (2010) como: CNF (%) = 100 - % MM - %EE - %FDNcp - %PB. Os

coeficientes de digestibilidade da MS, PB, EE, FDN, CNF e EB foram determinados

por: CD = (consumido (g) – excretado (g)) / consumido (g).

Com a determinação da quantidade de calorias dos ingredientes da dieta, das

sobras de alimento deixadas nos comedouros, da urina (EBU), das fezes (EBF) e da

produção dos gases digestivos (EPGD), foi calculada a partição da energia ingerida

(EBI) da seguinte forma: EBU, EBF ou EPGD x 100 / EBI. O calor da produção de

gases digestivos foi determinado pela equação: PGD (%) = 4,28 + 0,059 x CDEB

(coeficiente de digestibilidade da energia bruta), conforme Blaxter e Clapperton (1965),

a PGD (kcal) foi obtida através da fórmula: PGD (kcal) = (PGD (%) * EBI (kcal)) /100.

As cabras foram abatidas nos diferentes dias de gestação (50, 100 e 140),

utilizando-se pistola de dardo cativo para insensibilização, por meio de técnicas de abate

humanitário. A sangria foi feita através da seção das jugulares e carótidas e, todo o

sangue foi colhido e pesado. Após constatação da ausência de reflexos nas pálpebras e

interdigitais, foram removidas a glândula mamária e o útero grávido, o qual foi pesado e

dissecado em feto, placenta, placentônios, líquido placentário e útero vazio.

O restante do corpo de cada cabra foi separado em carcaça, órgãos (coração, rins,

fígado, baço, pulmão e pâncreas), trato gastrintestinal – TGI (rúmen-retículo, omaso,

abomaso, duodeno, jejuno, íleo, ceco, colón), gorduras (gordura renal, gordura pericárdica,

gordura omental, gordura mesentérica e gordura abdominal). Todas as partes foram

colocadas em sacos plásticos previamente identificados e, congelados a -20°C.

O experimento foi realizado em delineamento inteiramente casualizado, em

esquema fatorial 3x2x3 (três fases gestacionais, dois tipos de fetos e três níveis de

alimentação). Para os ensaios de digestibilidade e avaliação do consumo de água foram

utilizadas 24 cabras em três diferentes períodos, início, meio e final da gestação. Os

dados foram submetidos à análise de variância e teste de médias pelo procedimento

GLM, bem como o teste de correlação de Pearson, pelo PROC CORR do SAS 9.2. Os

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dados de consumo de MS, PB, FDN e EM, peso corporal e escore de condição corporal

durante todo o período experimental (da cobertura aos 140 dias) foram testados em

função das semanas de gestação para cada tratamento e, submetidos à análise de

regressão pelo PROC MIXED (SAS 9.2). Para tanto foram utilizadas 70 cabras, das

quais também foram analisados os dados relativos ao tamanho de órgãos e componentes

do TGI, que foram submetidos ao teste de médias. Em todas as análises considerando-se

α = 0,05.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As médias de consumo dos nutrientes variaram entre os períodos de gestação e

níveis de restrição testados, porém não houve efeito do número de fetos sobre este

consumo (P>0,05) (Tabela 4). Os valores médios do consumo de MS (g/dia) não

diferiram entre 50 dias e 100 dias (449,8 e 503,7 g/dia respectivamente), mas foi

superior aos 140 dias de gestação (644,5 g/dia).

O consumo de MS preconizado pelo NRC (2007) para cabras não lactantes com

30 kg de peso corporal é de 810 e 850 g/dia para as gestações simples e 880 e 800 g/dia

para as gestações duplas, no início e final da fase, respectivamente. Tomando-se a

média do consumo da gestação simples e dupla, verifica-se que no início e final da fase

gestacional a ingestão foi de 845 e 825 g de MS/dia, nesta ordem. Estes resultados são

43,6 e 21,8% superiores a ingestão observada nas cabras deste trabalho. Por se tratar de

uma raça nativa, de porte naturalmente pequeno e adaptada a ambiente semiárido, as

cabras Moxotó podem ter o consumo inferior ao preconizado pelo NRC, porém, com

melhor aproveitamento do alimento ingerido. Por outro lado, como as recomendações

deste Comitê de alimentação não são baseadas em caprinos deste grupo genético, é

possível que estas estimativas não representem a realidade dos animais nativos do

semiárido. Torreão (2007) trabalhando com ovelhas gestantes da raça Morada Nova,

verificou que as ovelhas ingeriram 20% a menos que o recomendado pelo NRC (1985).

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Tabela 4. Consumo de nutrientes e energia em função dos dias de gestação, do número de fetos e do nível de restrição

Variável Dias de gestação P Número de fetos P Nível de Restrição P

50 100 140 1 2 0% 20% 40%

Matéria seca (g/dia) 449,76b 503,70

b 644,48

a *** 515,48 544,28 ns 700,21

a 480,06

b 407,66

b ***

Matéria seca (g/kg de PC) 15,55b 17,38

ab 20,46

a ** 18,24 17,49 ns 23,02

a 15,64

b 14,39

b ***

Matéria seca (g/UTM) 36,00b 40,25

ab 48,35

a ** 41,98 41,22 ns 53,93

a 36,72

b 33,16

b ***

Matéria organica (g) 366,57b 415,92

b 509,64

a *** 407,70 446,64 ns 572,01

a 384,08

b 327,50

b ***

Matéria organica (g/UTM) 29,27b 33,03

ab 38,26

a ** 33,16 33,77 ns 43,90

a 29,35

b 26,65

b ***

Proteína bruta (g/dia) 50,19b 55,27

b 71,37

a ** 56,73 60,48 ns 79,27

a 51,80

b 44,51

b ***

Proteína bruta (g/kg de PC) 1,74b 1,90

ab 2,26

a * 2,01 1,94 ns 2,60

a 1,69

b 1,57

b ***

Proteína bruta (g/UTM) 4,02b 4,41

b 5,34

a ** 4,62 4,57 ns 6,09

a 3,97

b 3,61

b ***

Extrato etéreo (g/dia) 12,23b 13,31

b 17,91

a *** 14,70 14,33 ns 19,36

a 12,67

b 11,12

b ***

Extrato etéreo (g/kg de PC) 0,42b 0,46

b 0,57

a ** 0,52 0,46 ns 0,64

a 0,41

b 0,39

b ***

Extrato etéreo (g/UTM) 0,98b 1,07

b 1,34

a *** 1,20 1,08 ns 1,49

a 0,97

b 0,90

b ***

Nutrientes digestíveis totais (g/dia) 300,42b 321,73

b 408,68

a ** 336,17 346,91 ns 444,16

a 299,36

b 275,76

b ***

Nutrientes digestíveis totais (g/UTM) 24,06b 25,65

b 30,92

a * 27,71 26,21 ns 34,2

a 23,4

b 22,4

b ***

Energia metabolizável (Mcal/dia) 0,92b 0,97

b 1,26

a * 1,03 1,06 ns 1,32

a 0,92

b 0,89

b **

Energia metabolizável (kcal/UTM) 73,76b 77,23

ab 91,84

a * 85,17 79,99 ns 101,36

a 70,70

b 72,23

b **

Fibra em detergente neutro (g/dia) 198,90b 232,11

b 295,05

a *** 235,95 246,22 ns 296,13

a 228,99

b 197,88

b ***

Fibra em detergente neutro (g/kg PC) 6,87b 8,00

ab 9,41

a ** 8,32 7,94 ns 9,76

a 7,42

b 6,99

b **

Carboidratos não fibrosos (g/dia) 151,21b 160,74

b 207,22

a ** 166,24 177,77 ns 245,34

a 148,18

b 121,23

b ***

Carboidratos não fibrosos (g/kg PC) 5,24b 5,56

ab 6,54

a * 5,91 5,70 ns 8,06

a 4,87

b 4,28

b ***

Probabilidade: *** <0,001; ** de 0,001 a 0,01; * de 0,01 a 0,05; ns = não significativo.

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A elevação do consumo de MS do início para o final da gestação, diverge dos

diversos autores ao afirmarem que a ingestão de MS por fêmeas em gestação apresenta

variação de forma quadrática, isto é, crescente no primeiro e segundo terço da gestação

e decrescente durante o terço final (Forbes, 1970; Moulin, 1991; Valadares et el., 1992;

Zambom et al., 2005; Torreão, 2007).

Estes resultados podem estar relacionados à diminuição na condição corporal

com o avanço dos dias gestacionais, demonstrada pela mobilização de gordura interna

ocorrida no final da gestação. Paratanto, houve maior ingestão de alimento na tentativa

de mobilizar menos tecidos do corpo, dado que pode ser visualizado posteriormente na

Tabela 8. Fato que também pode ser confirmado pelas observações de Forbes (2007),

em trabalho com ovelhas magras e gordas durante o período gestacional, em que as

ovelhas gordas são mais suscetíveis ao declínio na ingestão voluntária no final da

gestação do que as magras.

Rodrigues et al. (2007) trabalhando com cabras Alpinas nos últimos 30 dias de

gestação, verificaram influência do escore de condição corporal e dos níveis de FDN e

energia na dieta, sobre o consumo destas cabras no final da gestação. Os resultados

apontaram redução da quantidade ingerida pelas fêmeas com ECC maior que 3,25,

indicando que as cabras mais gordas tiveram suas necessidades nutricionais supridas

com menor quantidade de alimentos, por possuírem maior quantidade de reservas de

energia, enquanto as mais magras consumiram mais alimento na tentativa de suprir as

necessidades nutricionais dessa fase.

Seguindo o aumento do consumo de MS no terço final da gestação, a ingestão de

PB, EE, NDT, EM, FDN e CNF também aumentou, em todas as formas que foram

expressas (g/dia, g/ UTM, Mcal/dia e kcal/UTM). É normal este comportamento, uma

vez que a ingestão destes nutrientes e energia está diretamente relacionada com a

quantidade de MS ingerida e, consequentemente, podem ser explicados com os mesmos

argumentos anteriores.

O consumo médio de PB aos 50 e 100 dias gestacionais (52,8 g) é 27,7% menor

que o indicado pelo NRC (2007) para cabras com fetos simples e 37,9% inferior ao

indicado para cabras com fetos duplos. Aos 140 dias, o consumo foi 30,7 e 41,9%

menor que o preconizado para cabras com gestações simples e gemelares, nesta ordem.

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A ingestão de NDT foi 27% inferior ao indicado para partos simples no inicio e

final da gestação, respectivamente, para fetos duplos, o consumo foi 33,8 e 36,1% no

inicio e final do período gestacional. Para a energia metabolizável, foi verificada

redução de 39, 38, 44, 46% para as cabras com gestação simples e dupla no início e

final da gestação, nesta ordem.

Os valores indicados pelo NRC (2007) 73g de PB, 430 g de NDT e 1,55 Mcal de

EM no início e 103g de PB, 560 g de NDT e 2,02 Mcal de EM no final, para gestação

simples. No caso de gestação dupla, os valores são de 85g de PB, 470 g de NDT e 1,68

Mcal de EM no início e 123g de PB, 640 g de NDT e 2,31 Mcal de EM no final.

As diferenças na ingestão de nutrientes das cabras Moxotó com o que preconiza

o NRC (2007) para faixa de peso (30 kg de PC) e estádio fisiológico semelhantes,

demonstram baixa capacidade ingestiva por parte destas cabras nativas do Nordeste

brasileiro, que não se pode afirmar que seja causada por limitação anatômica ou por

estas fêmeas estarem em ambiente confinado, de forma que possa afetar o

comportamento ingestivo das mesmas.

Grovum (1993) reporta que a diminuição do consumo no período final da gestação,

está associada à ocorrência da distensão do retículo-rúmen, em função destes

compartimentos reunirem grande quantidade de receptores de tensão e mecanoreceptores,

os quais estão relacionados com as limitações físicas de redução do espaço nestes

compartimentos. Forbes (1986) destaca que mudanças nas concentrações de progesterona

e estrógenos, como ocorrem na gestação, podem influenciar na passagem da digesta, por

aumentar a mobilidade intestinal, causando efeitos diretos no consumo. Em 2007, Forbes

reforça esta atuação de estrógenos na diminuição do consumo, explicando que a teoria da

limitação física pode ser contestada.

Para cabras bem adaptadas a clima semiárido, como é o caso da Moxotó, Morand-

Fehr (2005) reporta que existe a possibilidade de modificação da forma de utilização da

dieta e, que estes animais, podem não sofrer alteração no consumo no período final da

gestação. Indicando ainda que as cabras possuem as características metabólicas básicas

muito semelhantes às ovelhas e, em alguns casos, às vacas, mas a capacidade de adaptação

fisiológica a diversas condições agroclimáticas podem ser modificadas extensivamente

pelas cabras.

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Os percentuais de MS e PB das dietas efetivamente consumidas foram

ligeiramente maiores que na dieta ofertada (Tabela 5), já o percentual de EE manteve-se

próximo ao ofertado. Na concentração de FDN, percebe-se redução de 3,8 pontos

percentuais em função dos dias de gestação e do número de fetos, quando comparada a

dieta oferecida. Quanto aos níveis de restrição, observou-se que no grupo de cabras

alimentado ad libitum, a concentração de FDN foi de 42,6%, que corresponde à redução

de 6,8 pontos percentuais em relação ao ofertado (49,35%). Nas cabras alimentadas com

restrição, houve menor seleção das porções menos fibrosas da ração ofertada, que é

justificada pela redução quantitativa da oferta de alimento.

Tabela 5. Composição da dieta efetivamente consumida em função dos dias de gestação, do número de

fetos e do nível de restrição

Variável Dias de gestação P Número de fetos P Nível de Restrição P

50 100 140 1 2 0% 20% 40%

MS (%) 88,7 88,7 88,8 ns 88,8 88,7 ns 88,8 88,6 88,8 ns

PB (%) 11,2 11,0 11,0 ns 11,1 11,1 ns 11,3a 11,2

ab 10,9

b *

EE (%) 2,6 2,7 2,7 ns 2,7 2,6 ns 2,8a 2,7

a 2,5

b ***

FDN (%) 45,7 45,2 45,9 ns 45,5 45,6 ns 42,6b 46,7

a 47,5

a ***

CNF (%) 33,4 31,5 31,7 ns 31,9 32,4 ns 35,3a 31,3

b 29,9

b ***

NDT (%) 66,1 64,1 64,1 ns 66,4 63,6 ns 63,7 63,0 63,0 ns

EM (Mcal/kg MS) 2,51 2,43 2,43 ns 2,52 2,41 ns 2,42 2,39 2,39 ns

Probabilidade: *** <0,001; ** de 0,001 a 0,01; * de 0,01 a 0,05; ns = não significativo.

A concentração de CNF efetivamente consumida foi maior que na dieta ofertada,

além disso, observa-se que as cabras submetidas a restrição alimentar tiveram a dieta

efetivamente consumida diferente daquelas que receberam alimentação irrestrita. No

maior nível de restrição (40%) o percentual de CNF foi igual ao da dieta ofertada. A

concentração de NDT encontra-se próxima daquela formulada e disponibilizada às

cabras.

Tendo em vista que um dos grupos de cabras haviam consumindo ração sem

restrição e, considerando a capacidade natural de selecionar as partes mais nutritivas dos

alimentos que os caprinos possuem, esperava-se maior seleção da dieta por parte destas

cabras. Isto pode ter ocorrido também porque alimentação foi fornecida na forma de

ração completa, não influenciando na seletividade.

O consumo da água de bebida (L/dia, mL/UTM), da água dietética (mL/dia) e da

água total (L/dia) foi influenciado pelo período gestacional (P<0,001). As cabras

ingeriram mais água após 100 dias de gestação, da mesma forma como ocorreu para o

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consumo de MS (Tabela 6). Este aumento na ingestão de água no final da gestação

corrobora com revisão feita por Ehrlenbruch et al. (2010), que cabras em final de

gestação aumentam a ingestão de água entre 40-50%, registrando média 165 g/UTM.

Com relação ao número de fetos, estas variáveis não foram alteradas. Em função

do nível de restrição alimentar, observou-se que apenas a água de origem dietética foi

ingerida em menor quantidade pelas fêmeas dos grupos restritos, resultados que

corroboram com o consumo de nutrientes, que foi menor nestes grupos (Tabela 6).

De acordo com Welch & Hooper (1993), o consumo de água pode ser afetado

pela natureza da dieta e pela exigência do animal. No caso da dieta, o consumo de

forragens suculentas fornecem maior parte ou toda água necessária para o animal.

Ehrlenbruch et al. (2010) conduziram trabalho com o objetivo de verificar a

influência de uma dieta a base de feno ou silagem sobre ingestão de água por cabras

leiteiras, observando que o feno estimulou a ingestão da água de bebida (L/dia e L/kg de

MS) em função de maior necessidade de secreção salivar, para acompanhar a

transferência de fluidos extracelulares através da parede ruminal. No caso da dieta a

base de silagem, a necessidade de ingerir água de bebida foi menor, pelo fato das cabras

possuem um eficiente sistema renal quando alimentadas com dietas abaixo de 30% de

MS.

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Tabela 6. Consumo de água em função dos dias de gestação, do número de fetos e do nível de restrição

Variável Dias de gestação

P Número de fetos

P Nível de Restrição

P 50 100 140 1 2 0% 20% 40%

Água de bebida (L/dia) 1,43b 1,74

b 2,36

a *** 1,69 1,95 ns 1,80 1,90 1,84 ns

Água de bebida (mL/UTM) 0,12b 0,14

b 0,18

a *** 0,14 0,15 ns 0,14 0,15 0,15 ns

Água da dieta (mL/dia) 0,06b 0,06

b 0,08

a *** 0,07 0,07 ns 0,08

a 0,07

ab 0,05

b **

Água Total (mL/UTM)1 0,12

b 0,14

b 0,18

a *** 0,14 0,15 ns 0,14 0,15 0,15 ns

Água, L/kg de MS 3,19 3,45 3,66 ns 3,29 3,58 ns 2,57b 3,96

a 4,50

a ***

Água, L/kg de PB 28,56 31,47 33,06 ns 29,87 32,21 ns 22,69b 36,74

a 41,25

a ***

Água, L/kg de FDN 7,21 7,49 8,00 ns 7,18 7,91 ns 6,07b 8,31

ab 9,28

a **

Água, L/Mcal de EM 1,56 1,79 1,87 ns 1,64b 1,84

a ** 1,37

b 2,07

a 2,07

a *

Perdida nas fezes (g) 121,5b 166,1

b 276,3

a *** 171,7 199,3 ns 300,9

a 153,8

b 102,7

b ***

Perdida na urina (g) 543,1b 756,2

ab 853,4

a * 596,0

b 801,7

a * 643,2 757,0 757,6 ns

1água total (bebida+dieta); Probabilidade: *** <0,001; ** de 0,001 a 0,01; * de 0,01 a 0,05; ns = não significativo.

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Para o consumo de água em litros por kg de MS, PB e FDN, e Mcal de EM

consumido, observa-se que não houve efeito dos dias de gestação, relacionado ao

aumento do consumo de MS neste período final ,que pode ter estimulado o consumo de

água para facilitar os processos digestivos (Tabela 6).

O número de fetos influenciou apenas o consumo de água em L/Mcal de EM, de

modo que as cabras gestantes de fetos duplos apresentaram maior valor. Quanto aos

níveis de restrição, as cabras dos grupos alimentados restritamente ingeriram maior

quantidade de água por unidade do nutriente consumido. Estes resultados podem ser

decorrentes do baixo consumo de MS pelos grupos com restrição alimentar que,

consequentemente, elevam esta relação de consumo de MS: consumo de água, como

mencionado por Rossi, et al. (1999). Outro aspecto importante é que o aumento desta

relação ingestão de alimento: ingestão de água pode ter ocorrido pela necessidade de

participação da água nas reações metabólicas, uma vez que estava ocorrendo

mobilização de tecidos do corpo das cabras, principalemente daquelas do grupo de

maior demanda nutriconal (final da gestação, fetos duplos e submetidas à restração

alimentar)

A perda de água através das fezes e urina (g/dia) aumentou no final do período

de gestação, que pode estar relacionada à elevação do consumo de nutrientes, que

requer maior quantidade de água para as atividades metabólicas. A perda urinária de

água foi maior nas cabras com gestação dupla, mas não foi afetada pelo nível de

restrição. Já a perda pelas fezes foi influenciada pela dieta consumida, sendo menor nas

cabras que pertenciam aos grupos de 20 e 40% de restrição. O NRC (2007), a partir de

sua revisão bibliográfica, aborda que estas perdas de água dependem da capacidade do

animal em concentrar a urina e de retirar água a partir do intestino grosso para produção

de fezes secas, ocorrendo aumento do conteúdo de água das fezes com o incremento da

ingestão de nitrogênio e de outras moléculas osmoticamente ativas, que está relacionado

ao transporte ativo de sódio e absorção passiva de cloro, que fornecem gradiente

osmótico para a absorção de água no cólon.

Perdas de água pelo organismo são influenciadas pela espécie, hábitos e

ambiente onde vivem. De acordo com Welch & Hooper (1993), animais adaptados ao

deserto raramente ingerem água na estação seca, por esta razão a recuperação da água a

partir do intestino grosso é maior, também ocorre adaptação dos rins, que permitem a

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produção de urina mais concentrada, que reduz a quantidade de água ingerida e a

frequência com que é feita.

Os coeficientes de digestibilidade aparente (CD) dos nutrientes não diferiram

entre os dias de gestação (Tabela 7). Talvez esta ausência de significância tenha

ocorrido devido ao aumento do consumo de MS do início para o final da gestação, não

provocando efeito no aproveitamento do alimento. Segundo Molina et al. (2001), em

função das adaptações fisiológicas ocorridas no organismo da fêmea no período

gestacional, pode haver redução do consumo diário de matéria seca, com elevação da

taxa de passagem, minimizando o tempo de retenção dos nutrientes no trato

gastrintestinal, isto sem que haja depressão na digestibilidade da matéria seca. Mas, no

caso destas cabras, o consumo aumentou, elevando-se também a excreção fecal, não

havendo alteração nos coneficientes de digestibilidade.

Tabela 7. Coeficientes de digestibilidade aparente (CD) dos nutrientes em função dos dias de gestação, do

número de fetos e do nível de restrição

Variável Dias de gestação P

Número de fetos P

Nível de Restrição P

50 100 140 1 2 0% 20% 40%

CDMS 0,681 0,662 0,676 ns 0,694 0,658 ns 0,656 0,662 0,701 ns

CDMO 0,711 0,693 0,682 ns 0,707 0,688 ns 0,690 0,669 0,726 ns

CDPB 0,708 0,679 0,663 ns 0,698 0,674 ns 0,691 0,680 0,678 ns

CDEE 0,479 0,444 0,483 ns 0,547a 0,417

b * 0,535

a 0,500

a 0,371

b *

CDFDN 0,520 0,520 0,520 ns 0,534 0,511 ns 0,446b 0,494

b 0,621

a **

CDCNF 0,937 0,938 0,924 ns 0,944 0,926 ns 0,939 0,933 0,928 ns

CDEB 0,639 0,614 0,634 ns 0,640 0,612 ns 0,600 0,617 0,671 ns

Probabilidade: *** <0,001; ** de 0,001 a 0,01; * de 0,01 a 0,05; ns = não significativo.

O número de fetos não influenciou a digestibilidade aparente, exceto a do extrato

etéreo que foi maior no grupo de cabras com feto simples. Pela necessidade materna de

ser mais eficiente no aproveitamento dos nutrientes em casos de gestações gemelares,

em função da maior demanda nutricional, esperava-se que o coeficiente de

digestibilidade fosse maior nestas fêmeas. Com base nos dados de excreção de EE

através das fezes, observou-se que os valores foram superiores nas cabras com fetos

duplos (P<0,05) e, considerando-se que não houve diferença no consumo, pode-se

inferir que ocorreu maior contribuição de EE endógeno nas fezes destas cabras, que

afeta diretamente a digestibilidade aparente. Este coeficiente também foi alterado

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(P<0,001) pelo nível de restrição, sendo este CDEE inferior para o maior nível 40% e

igual entre 0% e 20% de restrição.

O contrário ocorreu com o CDFDN, o maior valor foi observado nas cabras

submetidas ao nível de 40% de restrição, fato que aponta para maior eficiência

metabólica em digerir carboidratos fibrosos das cabras que recebiam menor quantidade

de ração. Como relatado por Swenson & Reece (1996), que os animais para atenderem

sua demanda de nutrientes podem compensar uma menor ingestão de alimento através

do aumento da eficiência de utilização destes.

Outro aspecto a ser observado, conforme reportado por Merchen (1993), é que o

coeficiente de digestibilidade pode ser modificado em função do nível de ingestão

alimentar, que em grande quantidade pode acelerar a taxa de passagem, reduzindo o

aproveitamento do alimento, assim como ocorre pela alta quantidade de grãos presentes

na dieta. No presente trabalho, pode-se reforçar a ideia que a digestibilidade aumentou

nas cabras do grupo restrito por ter elevado também o tempo de permanência do

alimento no rúmen. Entretanto, no caso do CDEE, a redução pode ser atribuída ao efeito

do EE metabólico.

O balanço de nitrogênio não foi influenciado pelos dias de gestação nem pelo

número de fetos. Esta ausência de significância do balanço em função dos dias, pode

estar associada à alta variação individual dentro dos tratamentos. Em relação aos níveis

de alimentação o balanço foi mais positivo nas cabras que constituíram o grupo de

alimentação ad libitum (Tabela 8).

Tabela 8. Balanço de nitrogênio (g) em função dos dias de gestação, do número de fetos e do nível de

restrição

Variável (g) Dias de gestação P

Número de fetos P

Restrição P

50 100 140 1 2 0% 20% 40%

N ingerido 8,0b 8,8

b 11,4

a *** 8,9 9,7 ns 12,7

a 8,1

b 7,1

b ***

N fezes 2,3b 2,8

b 3,7

a *** 2,6 3,1 ns 4,0

a 2,4

b 2,2

b ***

N urina 4,8 5,7 5,7 ns 5,4 5,4 ns 6,4 4,9 4,8 ns

Balanço de N 1,0 0,3 2,1 ns 1,1 1,2 ns 2,2a 1,0

ab 0,09

b *

Probabilidade: *** <0,001; ** de 0,001 a 0,01; * de 0,01 a 0,05; ns = não significativo.

A maior ingestão de MS pelas cabras ao final da gestação contribuiu para o

aumento da ingestão de N que, por sua vez, também induziu uma maior excreção por

meio das fezes, quando comparada as fases iniciais da gestação (50 e 100 dias).

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Além de uma quantidade de N ingerido e excretado significativamente superior

no grupo com 0% de restrição (P<0,001), houve diferença no próprio balanço, que foi

inferior quando se aplicou o nível de 40% de restrição (1,1g), indicando que estas cabras

tiveram menor disponibilidade de N para desenvolvimento de suas atividades

metabólicas, quando comparadas àquelas que receberam alimentação ad libitum e,

consequentemente, mobilizaram maior quantidade de reservas corpóreas para síntese de

tecidos fetais.

Considerando a excreção de nitrogênio urinário dividida pelo peso corporal

metabólico, têm-se os valores médios de 0,36, 0,46 e 0,44 g/UTM aos 50, 100 e 140

dias, respectivamente. Para cabras com fetos simples ou duplos (0,42 g/UTM) e 0,50,

0,36 e 0,40 g/UTM para os níveis de 0, 20 e 40%, nesta ordem. Estes valores

encontram-se abaixo do reportado por Sahlu et al. (2004) para perdas de nitrogênio

endógeno, que correspondem a 1,03 g/UTM para caprinos adultos em geral. Isto pode

ser um indicativo de que cabras Moxotó têm os requerimentos proteicos de mantença

abaixo do preconizado por este autor.

Segundo Kozloski (2002), a quantidade de nitrogênio excretado nas fezes

aumenta com a elevação na atividade fermentativa no intestino grosso, ocorrendo

quando as dietas são ricas em grãos de cereais como o milho e o sorgo. Isto evidencia o

que ocorreu para o peso dos intestinos, sugerindo aumento da atividade fermentativa

nestes compartimentos no final da gestação e no grupo alimentado com dieta sem

restrição nutricional.

As perdas de N urinário são originadas de duas vias distintas, a primeira

representada pelo N endógeno, que é excretado a uma taxa relativamente constante pelo

organismo, que está associado à oxidação de aminoácidos e tunover de proteínas; a

outra parte é de origem dietética, que são os produtos resultantes do metabolismo

absortivo (NRC, 2007; CSIRO, 2007). Já o N fecal inclui enzimas e células epiteliais,

além de bactérias de origem intestinal e ruminal. Merchen (1993) relatou que o N fecal

endógeno corresponde a 74-86% do N total das fezes.

Os resultados referentes à partição da energia ingerida diferiram entre os dias de

gestação e os níveis de alimentação (P<0,05), não diferindo em relação ao número de

fetos (Tabela 9).

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Tabela 9. Partição da energia ingerida em função dos dias de gestação, do número de fetos e do nível de restrição

Variável Dias de gestação P

Número de fetos P

Restrição P

50 100 140 1 2 0% 20% 40%

EB ingerida (kcal) 1738,8b 1958,3

b 2490,1

a *** 1969,8 2113,2 ns 2673,8

a 1837,6

b 1608,2

b ***

EB fezes (kcal) 608,2b 762,1

ab 965,4

a ** 716,7 815,0 ns 1071,4

a 707,8

b 528,3

b ***

EB urina (kcal) 71,3 70,2 63,4 ns 61,2 73,2 ns 77,8a 66,5

ab 60,1

b ns

EB gases (kcal) 141,1b 154,4

b 196,5

a ** 158,2 167,0 ns 209,0

a 145,3

b 132,6

b ***

ED (kcal) 1130,6b 1196,5

b 1524,8

a ** 1253,1 1298,2 ns 1602,4

a 1129,7

b 1080,0

b **

EM (kcal) 921,4b 971,6

b 1264,8

a ** 1033,6 1059,8 ns 1315,6

a 921,3

b 887,4

b **

Percentual da energia bruta ingerida destinada para cada componente

% EB fezes 36,1 38,6 38,3 ns 36,0 38,8 ns 40,0 40,2 32,9 ns

% EB urina 4,1a 3,8

a 2,7

b ** 3,4 3,6 ns 3,1 3,6 4,0 ns

% EB gases 8,1 7,9 7,9 ns 8,1 7,9 ns 7,8 7,8 8,2 ns

% EB digerida 63,9 61,4 61,7 ns 64,0 61,2 ns 60,0 59,8 67,1 ns

% EB metabolizada 51,7 49,7 51,1 ns 52,5 49,7 ns 49,1 48,4 54,9 ns

% ED metabolizada 80,4b 80,4

b 82,7

a ns 81,9 80,7 ns 81,5 80,2 81,6 ns

Probabilidade: *** <0,001; ** de 0,001 a 0,01; * de 0,01 a 0,05; ns = não significativo.

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A energia bruta foi ingerida em maior quantidade pelas cabras aos 140 dias

(2490,1 kcal), em função do aumento no consumo em matéria seca, já relatado

anteriormente (Tabela 4). Da mesma forma como ocorreu para os níveis de restrição, as

cabras do grupo ad libitum ingeriram maior quantidade de MS e, por conseguinte,maior

ingestão de energia bruta, contribuindo para elevação da excreção fecal, que não diferiu

entre os grupos de 20 e 40% de restrição.

A produção de gases foi influenciada pelo efeito dos dias de gestação, de modo

que as cabras de 140 dias liberaram mais energia na forma de gases que as cabras de 50

e 100 dias. Entre os níveis de alimentação, a produção de gases resultou em maiores

valores para as cabras do grupo ad libitum. Para ambos os casos, uma possível

explicação é o maior consumo em MS, levando a atividades metabólicas mais intensas

no processo de digestão, aumentando o incremento calórico. Este aumento da

quantidade de energia perdida nas fezes e na forma de gases pode ter contribuído para

não alterar o coeficiente de digestibilidade dos nutrientes em função dos dias de

gestação.

As perdas energéticas na forma de gases, que em sua maioria é composto pelo

metano, correspondem a média geral de 8,0%. De acordo com Resende et al. (2011) este

percentual de perda é observado quando ingestão encontra-se no nível de mantença, no

momento em que este nível de alimentação é aumentado, este percentual cai para 6%.

Entretanto, estas cabras estão em estádio fisiológico muito particular, passando por

diversas modificações metabólicas para ajustes do suprimento de nutrientes aos fetos,

por isso, não se pode inferir, pelas observações de Resende et al. (2011) que estas cabras

se alimentando em nível de mantença.

Foi observado que os valores de energia digestível calculados em função da

energia bruta ingerida (Mcal/dia) menos a energia excretada nas fezes (Mcal/dia),

determinadas em bomba calorimétrica, são em média 15,5±6,8% inferiores ao valores

determinados pelos nutrientes digestíveis totais. Esta diferença percentual também foi

verificada na energia metabolizável.

Com relação a metabolizabilidade da dieta, que na Tabela 10 está expressa como

% da EB metabolizada, cujos valores não diferiram entre os fatores estudados. Apesar

deste parâmetro variar em função do nível de alimentação, por aumentar a taxa de

passagem e consequente redução da digestibilidade, causada pelo aumento das perdas

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fecais (AFRC, 1993), esta variação não foi observada neste trabalho, em razão de não

ter havido alteração nos coeficientes de digestibilidade, uma vez que o aumento da

ingestão de alimentos foi seguido de aumento na excreção fecal e produção de gases.

A relação EM/ED, expressa na Tabela 10 como % da ED metabolizada, também

não apresentou diferença entre os fatores. Merece atenção o fato de que este percentual

encontra-se na média geral de 81,2%, semelhante ao fator de conversão (0,82) da ED

para EM, encontrado em bovinos e indicado pelo NRC (2001). Resende et al. (2011)

destacam que trabalhos conduzidos no Brasil, em condições de alimentação diferentes,

observaram relações de 0,81 para bovinos, 0,86 para caprinos e 0,73 para ovinos.

Short & Adams (1988) afirmaram que a utilização da energia pelos animais é

resultado de interações complexas entre quantidade e qualidade da dieta, suas reservas

corporais e a demanda do seu metabolismo e produção. Resultados semelhantes foram

encontrados com relação aos valores de energia digestível e metabolizável, em que

foram verificados os maiores valores nas cabras de 140 dias e, em relação ao nível de

restrição, nas cabras alimentadas ad libitum.

Comparando-se os valores desta pesquisa com trabalho realizado por Saama et

al. (1993) que, trabalhando com vacas nas primeiras 2 semanas pós-parto, encontraram

valores de 33,5% de energia perdida nas fezes, 2,7% na urina, 4,5% de metano, 66,5%

digestível e 59,3% metabolizável, percebe-se que apenas os valores correspondentes ao

percentual de energia perdido na urina e na produção de gases não foram semelhantes.

As cabras Moxotó perderam maior quantidade de energia nestas duas fontes, porém, o

percentual da energia metabolizada foi o mesmo. No entanto, estes valores podem ser

alterados em função do animal e da dieta consumida.

De acordo com o teste de médias não houve mudanças no peso corporal (PC) em

função dos fatores avaliados (dias de gestação, número de fetos e nível de restrição),

devido esta ausência de significância entre os fatores e suas respectivas interações, foi

feita a análise de regressão do PC no decorrer de todo o período gestacional, sendo os

resultados apresentados em função das dietas consumidas (Figura 1, 2 e 3).

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Figura 1. Mudança no peso corporal (kg) das cabras consumindo dieta com 0% de

restrição do início ao final da gestação.

Figura 2. Mudança no peso corporal (kg) das cabras consumindo dieta com 20% de

restrição do início ao final da gestação.

Ŷ = 0,7355x + 26,088

R² = 0,931

25,0

27,5

30,0

32,5

35,0

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Pes

o c

orp

ora

l, k

g

Quinzena

Ŷ = ns

25,0

27,5

30,0

32,5

35,0

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Pes

o c

orp

ora

l, k

g

Quinzena

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Figura 3. Mudança no peso corporal (kg) das cabras consumindo dieta com 40% de

restrição do início ao final da gestação.

Observou-se aumento linear (P<0,01) no PC de 0,74 kg a cada 15 dias para o

grupo que recebia alimentação ad libitum (Figura 1). Nos grupos que se alimentaram

com 20% (Figura 2) e 40% (Figura 3) de restrição, não houve efeito linear ou

quadrático. No entanto, verifica-se que o PC também aumenta nestes dois últimos

grupos, devido ao crescimento do útero grávido e glândula mamária, que não

representam necessariamente o ganho em peso da cabra, mas dos produtos da gestação,

que em muitos casos, a ingestão de nutrientes não consegue suportar a demandas do feto

(principalmente) e os mecanismos homeorréticos coordenam modificações metabólicas

para atendimento destes requerimentos, como é o caso da mobilização de tecidos do

corpo, que foi comparada, neste caso, pela redução da gordura intracavitária.

De acordo com Geraseev et al., (2006) o peso corporal de ovelhas com sem

restrição alimentar até os 100 dias de gestação não diferiu, após o parto, observou-se

que àquelas submetidas à restrição alimentar, apresentaram um menor PC comparadas

com as ovelhas que não sofreram restrição, o que evidência o uso das reservas

corporais destas ovelhas.

O peso do sangue, fígado e coração aumentou (P<0,05) dos 100 aos 140 dias de

gestação (Tabela 10), possivelmente pela intensificação do metabolismo em função do

crescimento do útero grávido. O número de fetos influenciou o peso dos pulmões, as

Ŷ = ns

25,0

27,5

30,0

32,5

35,0

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Pes

o c

orp

ora

l, k

g

Quinzena

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cabras com gestação dupla apresentaram menor peso deste órgão, que pode ter

diminuído de tamanho em função da compressão da caixa torácica promovida pelo

aumento do tamanho dos fetos. Lima (2011), em trabalho semelhante a este, com cabras

Saanen e Alpinas, reportou que houve diminuição do peso dos pulmões e do diafragma

no final do período gestacional, não sendo verificado efeito do número de fetos ou da

dieta no peso dos órgãos.

Tabela 10. Peso dos órgãos e componentes do trato gastrintestinal em função dos dias de gestação, do

número de fetos e do nível de restrição

Variável (g) Dias de gestação

P Número de fetos

P Restrição

P 50 100 140 1 2 0% 20% 40%

Sangue 1167b 1110

b 1354

a *** 1187 1234 ns 1201 1160 1270 ns

Fígado 350,7b 384,3

ab 418,0

a ** 377,9 390,8 ns 398,5 385,0 369,6 ns

Coração 121,1b 144,4

ab 129,0

b * 133,8 129,2 ns 134,3 139,7 120,5 ns

Pulmão 194,6 184,9 198,7 ns 199,0a 186,5

b * 199,4 193,1 185,8 ns

Diafragma 97,0 96,3 101,6 ns 98,9 97,7 ns 103,7a 90,7

b 100,5

ab *

Rins 70,8 62,3 68,9 ns 68,2 66,5 ns 64,3 67,9 69,8 ns

Pâncreas 46,2 44,2 44,8 ns 43,0 47,1 ns 47,4 44,3 43,5 ns

TGI vazio 1475b 1504

ab 1679

a * 1568 1537 ns 1657

a 1532

ab 1468

b *

Rúmen-ret. 559,0 590,7 585,2 ns 605,5 551,1 ns 596,2 602,8 535,9 ns

Omaso 82,8 80,0 109,7 ns 79,5 102,1 ns 98,1 76,8 97,5 ns

Abomaso 143,3 143,3 165,0 ns 152,1 149,0 ns 152,6 148,5 150,5 ns

Duodeno 25,7 29,5 31,1 ns 28,7 28,8 ns 30,0 29,5 26,7 ns

Jejuno 330,6b 316,8

b 389,0

a *** 341,1 349,8 ns 384,3

a 338,9

b 313,2

b **

Íleo 10,8 9,4 11,1 ns 10,7 10,2 ns 11,8 9,6 9,9 ns

Ceco 32,4b 35,0

ab 40,5

a ** 38,0

a 33,9

b * 39,5

a 33,9

b 34,5

b *

Cólon-reto 290,1b 299,6

b 347,6

a * 312,8 312,0 ns 344,3 292,5 300,5 ns

Gordura

Cardíaca 116,5a 79,5

b 79,0

b *** 91,2 92,2 ns 77,4

b 94,3

ab 77,4

a *

Renal 632,8a 508,8

ab 402,6

b ** 544,9 484,6 ns 517,2 564,5 462,5 ns

Omental 1142a 968,2

b 895,9

b * 974,9 1030 ns 1065 983,1 959,2 ns

Mesentérica 571,1 551,0 512,5 ns 538,6 551,1 ns 662,4a 462,2

b 509,9

b **

Abdominal 105,7 115,3 102,4 ns 110,4 105,2 ns 83,8 111,4 128,1 ns

Total 2561a 2218

ab 1990

b * 2256 2257 ns 2400 2212 2156 ns

Probabilidade: *** <0,001; ** de 0,001 a 0,01; * de 0,01 a 0,05; ns = não significativo.

O peso do trato gastrintestinal vazio aumentou (P<0,05) na fase final de

gestação, mas quando se observa os componentes em separado, verifica-se que somente

o peso do jejuno, ceco e cólon-reto aumentaram ao longo da gestação. O peso do

intestino acompanhou o aumento do consumo de nutrientes no final da fase gestacional,

pela necessidade de aumentar a capacidade digestiva neste período. Além deste

incremento de consumo e de peso do TGI, houve diminuição das reservas de gordura

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com o avanço da gestação, uma vez que as demandas nutricionais do útero grávido e da

glândula mamária tornam-se maiores nesta fase. Corroborando com Furlan et al. (2006)

que observaram que, quanto maior o intestino, maior a capacidade para digerir fibras.

McNeill et al. (1997) também não verificaram efeito da fase de gestação e da dieta

ofertada a ovelhas no peso dos estômagos.

Forbes (2007) relata a existência de correlação positiva entre o nível de ingestão

e o peso do retículo-rúmen vazio, mas com causa e efeito ainda difíceis de esclarecer.

No caso deste trabalho, a diferença na ingestão de nutrientes não foi suficiente para

afetar o peso destas estruturas.

O peso do ceco diminuiu nas cabras gestantes de fetos duplos, podendo ter

ocorrido por diminuição do espaço em função do crescimento fetal, além disso, como

não houve diferença no consumo de nutrientes entre as cabras de gestação simples e

dupla, os processos fermentativos ocorreram suficientemente no rúmen (Tabela 10).

O nível de restrição reduziu o peso do TGI vazio, jejuno e ceco, o que sugere

efeito causado pela limitação do consumo de nutrientes que, por sua vez, favoreceram

menor desenvolvimento destes tecidos. A gordura mesentérica também foi influenciada

pela restrição alimentar.

Macedo Júnior (2008), trabalhando com ovelhas Santa Inês, encontrou

resultados semelhantes aos desta pesquisa, destacando que o aumento do peso dos

intestinos pode estar associado ao aumento no consumo de grãos e possível

deslocamento do sítio de digestão do rúmen para os intestinos delgado e grosso. Além

disso, a possível atuação de mecanismos fisiológicos na elevação da taxa de passagem

dos alimentos, que acabam por modificar o local de digestão que podem comprometer a

digestibilidade dos nutrientes.

Diferentemente dos resultados de Lima (2011), com cabras Saanen e Alpinas,

que registrou redução do tamanho dos estômagos com o avanço da gestação e com a

restrição aplicada, não encontrando diferenças no tamanho dos componentes do TGI,

concluiu que o efeito do consumo e da compressão do útero grávido se dá

principalmente no estômago.

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CONCLUSÕES

Cabras da raça Moxotó elevam o consumo de nutrientes e energia no período

final da gestação, sem promover modificação na digestibilidade do alimento.

O número de fetos não promove alterações no consumo e aproveitamento dos

nutrientes. A restrição alimentar melhora a digestibilidade da fibra e diminui as perdas

de nitrogênio e energia.

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CAPÍTULO II

DESENVOLVIMENTO FETAL DE CAPRINOS MOXOTÓ

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DESENVOLVIMENTO FETAL DE CAPRINOS MOXOTÓ

RESUMO

O trabalho foi realizado com o objetivo de avaliar a influência da fase gestacional, do

número de fetos e da restrição alimentar, sobre o desenvolvimento e composição

corporal dos fetos de cabras da raça Moxotó. Foram utilizadas 70 cabras gestantes,

agrupadas em arranjo fatorial fatorial 3x2x3 (3 fases de gestação, 2 tipos de feto e 3

níveis de restrição), em delineamento inteiramente casualizado. Foi realizado abate

destas cabras aos 50, 100 e 140 dias de gestação, quando foi feita a pesagem,

identificação do sexo e biometria fetal. Foram colhidas amostras dos fetos

separadamente para determinação da matéria seca, proteína bruta, extrato etéreo,

minerais e energia. Foi observado que o crescimento fetal progrediu exponencialmente

ao longo da gestação, havendo diferença significativa entre os dias gestacionais para

todas as variáveis analisadas. Não houve diferença entre os níveis de restrição para as

variáveis estudadas. Verificou-se que os fetos de gestações simples foram mais pesados

e apresentaram maiores taxas de crescimento que os fetos duplos, quando comparados

individualmente. Conclui-se que os níveis de restrição alimentar aplicados não afetam o

crescimento fetal e que o acúmulo de nutrientes nos fetos acompanha o ganho em peso

ao longo dos dias gestacionais.

Palavras-chave: biometria, caprino nativo, crescimento, prenhez

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FETAL DEVELOPMENT OF MOXOTÓ GOATS

ABSTRACT

The aim of the present study was to evaluate the influence of gestational phase, number

of fetuses and food restriction on body composition and development of fetal goats of

the Moxotó breed. Seventy pregnant goats were grouped in a 2x3x3 factorial

arrangement (three stages of gestation, two types of fetus and three levels of restriction)

in a completely randomized design. Slaughter was carried out at 50, 100 and 140 days

of gestation, followed by the weighing, sex identification and biometrics of the fetuses.

Samples were collected from fetuses separately for the determination of dry matter,

crude protein, ether extract, minerals and energy. Fetal growth progressed exponentially

throughout gestation, with no significant differences between gestational days regarding

any of the variables analyzed. Moreover, no differences were found between the levels

of restriction for any of the variables. Fetuses from single pregnancies were heavier and

had higher growth rates than those from twin gestations when compared individually. In

conclusion, the restriction levels tested had no influence over fetal growth and the

accumulation of nutrients in the fetuses accompanied weight gain throughout gestation.

Keywords: biometrics, growth, native goat, pregnancy

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INTRODUÇÃO

O crescimento do animal pode ser descrito como a produção de novas células,

que geram aumento de massa de tecidos, incluindo não apenas a multiplicação celular

(hiperplasia) ocorrida em maior escala no período embrionário e fetal, mas também no

alargamento destas (hipertrofia), sendo esta mais intensa na fase pós-natal (Owens,

1993). Do ponto de vista nutricional, o crescimento pode ser simplesmente definido

como o acréscimo progressivo de nutrientes e metabólitos no organismo, tendo início na

concepção, continuando enquanto o fornecimento de nutrientes excede os requisitos do

metabolismo oxidativo e regeneração dos tecidos existentes (Byers & Schelling, 1993).

No período pré-natal, o crescimento é dividido em duas fases: a fase

embrionária, que em pequenos ruminantes tem duração de 35 dias, a partir da

concepção, e a fase fetal, que ocorre logo após a embrionária (Lawrence & Fowler,

2002). A curva de crescimento normalmente é construída com base no acúmulo de

massa em função da idade, apresenta comportamento sigmoide, que consiste em uma

fase acelerada, que culmina com a puberdade e, uma fase desacelerada, pós-puberdade

(Owens, 1993).

Antes e durante o período gestacional, a mãe passa por uma série de adaptações

metabólicas, como aumento do volume e alterações no fluxo sanguíneo, alteração na

resistência a insulina, para atender as necessidades da placenta e do feto em crescimento

(Gluckman & Pinal, 2002).

Todas as funções fisiológicas do organismo são reguladas por mecanismos de

homeostase e homeorrese. A homeostase regula estas funções de forma constante, com

prioridades estabelecidas, enquanto que a homeorrese atua por mecanismos subjacentes

que regem as prioridades e as modifica para a função do tecido em questão, como o

desenvolvimento dos conceptos, em casos de gestação (Owens, 1993).

Alguns fatores podem influenciar o desenvolvimento dos fetos, como número de

partos, nutrição materna, número de fetos, tamanho da placenta, tamanho da mãe e

estresse climático. Destes fatores, o tamanho da mãe, a nutrição materna e o número de

fetos são mais determinantes (Jainudeen & Hafez, 1995). Considerando a importância

do período gestacional na primeira etapa de crescimento do animal, optou-se por

realizar um experimento direcionado a esta problemática, utilizando como objeto de

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estudo a raça caprina nativa, Moxotó, para proporcionar a ampliação das informações

existentes, que em sua maioria são oriundas de ovinos.

Neste contexto, pretendeu-se reunir informações substanciais de três aspectos, a

espécie caprina, a raça Moxotó e a fase de gestação. Para tanto, trabalhou-se com o

objetivo de avaliar o desenvolvimento fetal sob influência da fase gestacional, do tipo

de gestação e da restrição alimentar em cabras da raça Moxotó em confinamento.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi desenvolvido na Estação Experimental de São João do Cariri,

pertencente ao Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba -

CCA/UFPB, localizada no município de São João do Cariri – PB. O período

experimental foi de 22 meses, compreendidos entre abril de 2009 a fevereiro de 2011.

As cabras utilizadas foram escolhidas em função da ordem de parição, de forma

que tivessem parido no mínimo uma vez, que tivessem glândula mamária em ótimo

estado, e que estivessem em final de gestação ou recém paridas. Em função das

diferenças na fase produtiva e condição corporal, houve um período de adaptação e

homogeneização dos lotes por cerca de cinco meses. Todas as fêmeas foram

vermifugadas e vacinadas contra clostridioses, além de receberem complexo vitamínico

ADE.

À medida que as cabras não gestantes e não lactantes atingiram escore de

condição corporal entre 2,0 e 3,0 pontos, foram submetidas à sincronização de cio

através de um protocolo com oito dias de duração. No primeiro dia, foi colocado o

dispositivo intravaginal impregnado com progesterona sintética e aplicado 0,5mL de um

agente luteolítico (d-Cloroprostenol, análogo sintético da PGF2α). Sete dias após, foram

retirados os dispositivos intravaginais e aplicado 1,0 mL de gonadotrofina coriônica

equina (eCG), via intramuscular. As cabras ciclaram no oitavo dia, cerca de 24 horas

após a aplicação da eCG, quando foram utilizados dois reprodutores da mesma raça para

fazer a cobertura das fêmeas.

Trinta dias após a cobertura, foi realizado o diagnóstico de gestação e a

contagem do número de fetos, por meio de ultrassonografia em via transretal. Com a

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confirmação do tipo de prenhez (simples ou gemelar), foram constituídos os grupos

experimentais, em função do número de fetos, nível de restrição, e abatidos nas três

fases da gestação, 50, 100 e 140 dias (Tabela 1).

Tabela 1. Distribuição das cabras nos tratamentos experimentais

Fase gestacional 0% de restrição 20% de restrição 40% de restrição

1 feto 2 fetos 1 feto 2 fetos 1 feto 2 fetos

50 dias 4 4 4 4 4 4

100 dias 4 3 3 4 4 4

140 dias 4 4 4 4 4 4

As cabras foram mantidas confinadas em baias individuais de 3,75 m2

cada,

recebendo dieta balanceada para atender as exigências de gestação, com 2,49 Mcal de

energia metabolizável por quilograma de matéria seca (Tabelas 2 e 3).

A ração foi fornecida duas vezes ao dia, às 7h e 15h, ajustadas de forma que as

sobras fossem em torno de 15% do fornecido para o grupo alimentado ad libitum, com

disponibilidade irrestrita de água para todos os animais. O volumoso utilizado foi o

tifton 85 e o concentrado a base grão de milho triturado, farelo de soja, suplemento

mineral e calcário calcítico, em uma relação volumoso:concentrado de 60:40 na MS

(Tabelas 2 e 3).

Tabela 2. Composição nutricional dos ingredientes das dietas experimentais

Item (g/kg) Feno de tifton Milho moído Farelo de soja

Matéria seca 870,2 868,9 877,9

Matéria mineral 75,5 19,0 62,1

Proteína bruta 63,2 85,4 475,1

Extrato etéreo 21,1 46,2 20,2

Fibra em detergente neutro cp1 740,3 138,2 111,4

Fibra em detergente ácido 426,1 424,0 703,0

Carboidratos não-fibrosos 998,0 711,2 331,1 1Corrigida para cinzas e proteína.

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Tabela 3. Composição da dieta experimental

Ingrediente g/kg de MS

Feno de tifton 85 600,0

Milho moído 280,0

Farelo de soja 95,0

Calcário calcítico 15,0

Suplemento mineral1 10,0

Composição química (g/kg de MS)

Matéria seca 873,1

Proteína bruta 107,0

Extrato etéreo 27,5

Fibra em detergente neutro cp2 493,5

Fibra em detergente ácido 274,2

Carboidratos não fibrosos 290,5

Nutrientes digestíveis totais 655,5

Valor energético (Mcal/kg de MS)

Energia metabolizável 2,49 1Suplemento mineral (nutriente/kg de suplemento): vitamina A 135.000,00 U.I.; Vitamina D3 68.000,00 U.I.;

vitamina E 450,00 U.I.; Ca 240 g; P 71 g; K 28,2 g; S 20 g; Mg 20 g; Cu 400 mg; Co 30 mg; Cr 10 mg; Fe 2500 mg;

I 40 mg; Mn 1350 mg; Se 15 mg; Zn 1700 mg; F máximo 710 mg; Solubilidade do Fósforo (P) em ÁcidoCítrico a

2% (min.).

A restrição alimentar foi aplicada após confirmação da prenhez, realizando-se

ajuste diário da ração oferecida em função da quantidade consumida pelas fêmeas ad

libitum. Os níveis de restrição alimentar aplicados foram de 20 e 40%, onde cada cabra

do grupo restrito nutricionalmente, consumia de acordo com uma cabra do grupo ad

libitum que tivesse o peso corporal mais próximo possível. O acompanhamento do peso

foi realizado semanalmente, antes do arraçoamento matinal.

As cabras foram abatidas utilizando-se pistola de dardo cativo para

insensibilização, por meio de técnicas de abate humanitário. Após abate, as cabras

foram submetidas ao processo de sangria através da seção das jugulares e carótidas e

todo o sangue foi colhido e pesado. Em seguida, foram removidas a glândula mamária e

o útero grávido, o qual foi pesado e dissecado em feto, placenta, placentônios, líquido

placentário e útero vazio. Posteriormente, feita a esfola e a separação da carcaça quente

e dos órgãos internos, gorduras e trato gastrintestinal (TGI). Todas as partes foram

colocadas em sacos plásticos e congelados a -20°C.

Os fetos foram retirados do útero, identificados quanto ao sexo e depois pesados.

Foi feita a mensuração dos fetos com auxílio de fita métrica e paquímetro, registrando-

se as seguintes medidas: comprimento corporal (CC) - distância entre as articulações

escapulo-umeral e a coxofemoral; altura da cernelha (AC) - distância entre a região da

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cernelha e a extremidade distal do membro anterior; altura da garupa (AG) - distância

entre a tuberosidade sacral, na garupa, e a extremidade distal do membro posterior;

largura da garupa (LG) - distância entre os trocânteres maiores dos fêmures;

comprimento da garupa (CG) - distância entre as partes cranial da tuberosidade ilíaca e

a caudal da tuberosidade isquiática; largura do peito (LP) - distância entre as faces das

articulações escápuloumerais; perímetro torácico (PT) – perímetro tomando-se como

base o esterno e a cernelha, passando por trás da paleta; e perímetro abdominal (PA) –

circunferência externa do abdômen, na linha da cicatriz umbilical.

Depois de congelados, os fetos foram individualmente cortados em serra de fita,

triturados em moinho tipo Cutter (30 HP; 1775 rpm), homogeneizados e retiradas três

amostras representativas que foram destinadas às análises. Outra amostra foi deixada

como reserva. As amostras foram novamente congeladas, liofilizadas e depois trituradas

em liquidificador tipo industrial. Os fetos de 50 dias foram colocados diretamente em

placa de Petre e, em função do baixo peso, foram feitas análises da amostra composta

por tratamento.

Após moagem, fez-se a extração da gordura com éter etílico em aparelho

Soxhlet de acordo com a AOAC (1990), método 920.29. As amostras desengorduradas

foram trituradas em moinho de bola e armazenadas em recipientes plásticos

hermeticamente fechados, das quais foram feitas as análises de nitrogênio total, com o

resultado multiplicado por 6,25 para obtenção da proteína bruta, método 981.10

(AOAC, 1990). O teor de matéria seca total (engordurada) foi determinado em estufa a

105°C até peso constante, método 967.03 (AOAC, 1990) e, na sequência, estas amostras

foram incineradas em mufla a 600ºC por 4 horas, método 942.05 (AOAC, 1990). A

energia foi determinada pelo calor de combustão em bomba calorimétrica adiabática de

Parr.

As taxas de crescimento foram calculadas de acordo com Rattray et al. (1974),

sendo a taxa de crescimento diário (g/dia) = (W2 – W1)/T2 – T1; o crescimento relativo

(%) = (W2 – W1) x 100/W2 e; a taxa de crescimento instantânea (%) = (LogeW2 –

LogeW1) x 100/ (T2 – T1), onde W2 e W1 são os pesos final e inicial do intervalo

avaliado e, T2 e T1 as idades em dias. Estes cálculos foram feitos para fetos simples e

duplos em separado, nas diferentes fases gestacionais.

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O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado, distribuído em

esquema fatorial 3x2x3 (três fases de gestação, dois tipos de fetos e três níveis de

restrição). Todos os dados foram submetidos à análise de variância e teste Tukey pelo

PROC GLM. O peso e medidas corporais também foram submetidos a teste de

correlação de Pearson, pelo PROC CORR. Todas as análises foram processadas no SAS

9.2, considerando-se α = 0,05.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O peso corporal dos fetos aumentou exponencialmente em função dos dias de

gestação (P<0,05), observando-se aumento de 98,1% dos 50 para os 100 dias de

gestação, e de 75,9% dos 100 para os 140 dias de gestação. Apesar deste aumento na

fase final representar menor desenvolvimento, em termos absolutos, este valor é mais

elevado, pois aos 50 dias de gestação o peso médio corporal do feto foi de 9,4 g,

enquanto que aos 140 dias o peso foi de 2069,2 g (Tabela 4).

Tabela 4. Peso corporal (g) e medidas morfométricas (cm) dos fetos em função dos dias de gestação, do

tipo de gestação e do nível de restrição

Variável Dias de Gestação

P Tipo de gestação

P Nível de Restrição

P 50 100 140 Simples Gemelar 0% 20% 40%

n 36 33 37 - 34 72 - 35 35 36 -

PC (g) 9,4c 499,2

b 2069,2

a *** 892,7

a 875,2

b ** 906,0 851,6 884,8 ns

Centímetros

CC 3,3c 14,7

b 24,9

a *** 14,1 14,5 ns 14,2 14,3 14,6 ns

AC 3,2c 17,1

b 31,2

a *** 17,1 17,4 ns 17,4 16,9 17,6 ns

AG 3,0c 16,9

b 32,1

a *** 17,4 17,5 ns 17,5 17,1 17,8 ns

CG 0,8c 3,1

b 6,7

a *** 3,5 3,6 ns 3,5 3,4 3,7 ns

LG 0,8c 4,2

b 6,5

a *** 4,6 3,5 ns 4,8 3,5 3,3 ns

LP 1,1c 4,1

b 5,9

a *** 3,7 3,7 ns 3,7 3,6 3,7 ns

PT 5,0c 17,2

b 27,4

a *** 16,7 16,6 ns 16,9 16,4 16,5 ns

PA 5,3c 18,6

b 28,4

a *** 17,7 17,4 ns 17,6 17,2 17,6 ns

Probabilidade: *** <0,001; ** de 0,001 a 0,01; * de 0,01 a 0,05; ns = não significativo; CC = comprimento do corpo;

PT = perímetro torácico; PA = perímetro abdominal; AC = altura da cernelha; AG = altura da garupa; CG =

comprimento da garupa; LG = largura da garupa; LP = largura do peito.

O suporte deste crescimento deve-se a capacidade da placenta em trocar

substâncias com o feto de maneira muito eficiente, de modo que, segundo revisão feita

por Gluckman & Pinal (2002), a placenta desenvolve uma variedade de mecanismos

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para o transporte de nutrientes através das fronteiras materno-fetais, que com o avanço

da gestação as necessidades metabólicas do feto e da placenta tornam-se maiores,

levando ao aumento da capacidade de transporte placentário e da expressão de

transportadores específicos que são modificados para atender estas demandas.

As medidas morfométricas se comportaram de modo semelhante ao peso

corporal dos fetos no decorrer dos dias (P<0,01). Dos 50 para os 100 dias de gestação

foi observado aumento de 76,5%, enquanto que dos 100 aos 140 dias houve acréscimo

de 40,6%, verificando-se, portanto, que cada fase foi diferente da outra. Este

comportamento dos dados é biologicamente normal, o que demonstra redução da taxa

de crescimento com a proximidade do parto, que será detalhada posteriormente (Tabela

4).

Silva (2010) apontou crescimento exponencial com taxa de crescimento (k)

quadrática para fetos Saanen e Alpino entre 80 e 140 dias de gestação e, a partir destes

dados, o autor desenvolveu equações de predição da idade gestacional em função das

medidas morfométricas. Em trabalho semelhante, Lima (2011) observou aumento de

93% nos pesos individuais, bem como crescimento incremento médio de 64% nas

medidas biométricas.

O peso fetal foi influenciado pelo tipo de gestação, os fetos oriundos de

gestações simples foram 2% mais pesados que o peso individual das gestações

gemelares (Tabela 4). Estes resultados demonstram que, mesmo havendo diferença

significativa entre os pesos, que foi causada pela redução do espaço intrauterino, que

por sua vez limita o desenvolvimento de fetos gêmeos, a diferença percentual foi muito

pequena entre ambos, principalmente quando comparados a outros trabalhos que

avaliam o peso ao nascer. É importante destacar ainda que, caso estes fetos viessem a

nascer, esta pequena diferença de peso seria compensada na fase pós-natal, desde que

oferecida nutrição adequada.

Como reportado em revisão feita por Hafez (1963), em espécies que

normalmente gestam um único feto, caso ocorra prenhez gemelar, é possível haver

menor desenvolvimento dos fetos gêmeos, este fato não acontece em espécies como a

suína, por exemplo. Além disso, a subnutrição da mãe no período final afeta mais os

gêmeos, talvez, porque os substratos nutricionais não cheguem a ambos os fetos da

mesma maneira.

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Silva et al. (2001) destacam que o peso ao nascimento de crias Moxotó oriundas

de parto simples, foram 11% mais pesadas que aquelas de parto duplo. De acordo com

Oliveira (2007), o tipo de parto também exerceu efeito sobre o peso ao nascer, bem

como sobre o peso aos 30 e 60 dias de idade em cabritos da raça Anglo Nubiano, já para

os animais oriundos de nascimento simples apresentaram peso correspondente a 10 e

18% superiores àqueles de nascimento duplo, respectivamente.

Gluckman & Pinal (2002) apontam que o peso ao nascimento é determinado e

influenciado predominantemente pelo ambiente uterino do que pela carga genética,

sugerindo que existem limitações na capacidade do útero em suportar o crescimento

fetal e, por isso, o feto não cresce à sua capacidade genética máxima, isto demonstra um

mecanismo perfeito, uma vez que o desenvolvimento excessivo promoveria maior

incidência de distorcia. A este limite de capacidade uterina dá-se o nome de restrição

materna, que atua de maneira significativa no caso de gestações gemelares.

O nível de restrição aplicado às cabras durante o período gestacional não afetou

o desenvolvimento fetal (Tabela 4), o que demonstra a eficiência materna na utilização

da energia dietética.

Relatos da literatura (Rattray et al., 1974; Hafez, 1965) apontam para o efeito

negativo da restrição alimentar em estágios finais da gestação sobre desenvolvimento de

fetos, isto não ocorreu nesta pesquisa, corroborando com Lima (2011), que ao avaliar os

mesmos níveis de restrição utilizados neste estudo, sobre o desenvolvimento de fetos de

cabras Saanen e Alpinas em diferentes fases gestacionais. Geraseev et al. (2006)

verificaram que o peso ao nascer de ovinos da raça Santa Inês foi, em média, 25%

inferior quando as ovelhas foram submetidas à restrição alimentar de 40% das

necessidades energéticas totais.

Lawrence & Fowler (2002) mencionam alguns dos princípios fundamentais da

Escola Hammond, que tratam dos efeitos da nutrição sobre o desenvolvimento fetal,

destacando que a grave subnutrição materna não tem efeitos de retardo no

desenvolvimento do fetos em estágios posteriores à vida fetal; que o efeito desta

restrição promove retardo nos diferentes tecidos na ordem direta de maturidade, sendo

mais prejudicadas os tecidos de amadurecimento final como músculo e gordura; tecidos

retardados pela subnutrição apresentam grande potencial de recuperação quando um alto

nível de alimentação é restaurada.

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Clarke et al. (1998) publicaram um estudo sobre o efeito da nutrição no

desenvolvimento da placenta, onde apontam que a restrição aplicada entre os dias 30 e

80 pós concepção tem efeitos limitantes sobre o crescimento do componente fetal da

placenta, apesar de aumentar a abundância de placentônios. Além disso, também foi

verificado que os cotilédones das ovelhas do grupo restrito continham menos DNA, que

por sua vez menos núcleos, com mais tecido por núcleo, que proporcionou a maior

concentração de hemoglobina, elevando a taxa de perfusão sanguínea.

No caso desta pesquisa, foi possível observar que a dieta não afetou o peso ou

número de placentônios, como reportado por Clarke et al. (1998), o que indica a atuação

de outros mecanismos compensatórios. Como descrito por Gluckman & Pinal (2002), a

nutrição fetal não é simplesmente a consequência passiva da ingestão materna, mas o

culminar de hormônios e outras influências sobre a compartimentalização dos nutrientes

maternos e metabolismo placentário.

O hormônio do crescimento pode estimular o crescimento, mesmo não

parecendo essencial neste caso; a insulina aumenta o fluxo de substratos energéticos e

estimula o crescimento placentário; os hormônios da tireoide (com exceção em algumas

espécies) atuam na maturação dos músculos e do esqueleto; os fatores de crescimento

semelhantes a insulina (IGF I e II) atuam no fluxo da glicose e, em conjunto com os

hormônios placentários, regulam a atividade metabólica materna de modo que exista um

suprimento contínuo de substratos para o feto (Jainudeen & Hafez, 1995).

Foram verificadas altas significâncias (P<0,001) e excelentes coeficientes de

correlação entre o peso dos fetos e suas respectivas medidas morfométricas, exceto para

a largura de garupa, que apresentou baixo coeficiente de correlação (Tabela 5).

Tabela 5. Coeficientes de correlação de Pearson entre o peso individual dos fetos e suas respectivas

medidas morfométricas

Variável Peso CC PT PA AC AG CG LG

CC 0,93***

PT 0,93*** 0,98***

PA 0,92*** 0,98*** 0,99***

AC 0,95*** 0,99*** 0,99*** 0,99***

AG 0,96*** 0,98*** 0,99*** 0,99*** 0,99***

CG 0,97*** 0,97*** 0,96*** 0,96*** 0,98*** 0,98***

LG 0,51*** 0,54*** 0,56*** 0,55*** 0,53*** 0,54*** 0,53***

LP 0,90*** 0,96*** 0,98*** 0,98*** 0,98*** 0,97*** 0,94*** 0,55*** Probabilidade: *** <0,001; CC = comprimento do corpo; PT = perímetro torácico; PA = perímetro abdominal; AC =

altura da cernelha; AG = altura da garupa; CG = comprimento da garupa; LG = largura da garupa; LP = largura do

peito.

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Resultados semelhantes foram encontrados por Silva (2010), trabalhando com

fetos de cabras Saanen e Alpinas, tendo observado que as medidas morfométricas são

altamente correlacionadas com o peso fetal, com exceção do comprimento de garupa. A

alta correlação entre estas variáveis possibilitou elaboração de equações de predição do

peso fetal, que podem auxiliar no uso de técnicas não-invasivas de acompanhamento do

crescimento fetal, possibilitando melhorias no manejo das fêmeas gestantes.

O perímetro torácico (Oliveira, 2007; Yáñez et al., 2004) e o comprimento do

corpo (Oliveira, 2007) são as medidas biométricas que melhor predizem o peso vivo de

caprinos Anglo Nubianos e Saanen.

Como o nível de restrição não afetou o desenvolvimento dos fetos, as taxas de

crescimento foram calculadas considerando apenas o tipo de gestação. As taxas de

crescimento não variaram entre fetos oriundos de gestação simples ou gemelar dos 50

aos 100 dias de gestação (P>0,05), entretanto, no terço final da gestação (dos 100 aos

140 dias), os fetos simples apresentaram maiores taxas de crescimento diário, relativo e

instantâneo (Tabela 6).

Tabela 6. Taxas de crescimento diário, relativo e instantâneo dos fetos em função do tipo de gestação

Dias de gestação Diário (g/dia) P Relativo (%) P Instantâneo (%) P

Simples Gemelar Simples Gemelar Simples Gemelar

50 a 100 9,95 10,03 ns 1,96 1,96 ns 7,87 7,86 ns

100 a 140 43,36a

37,13b *** 1,93

a 1,86

b *** 3,71

a 3,42

b ***

Probabilidade: *** <0,001; ** de 0,001 a 0,01; * de 0,01 a 0,05; ns = não significativo.

O crescimento pré-natal continua absoluto durante todo o período gestacional,

enquanto que o relativo começa a diminuir após meados da gestação (Hafez, 1963),

período em que ocorre aumento no consumo de oxigênio fetal, embora seja em ritmo

mais lento do que o corpo em crescimento (Bell et al., 1987). O crescimento fetal

relativo é o aumento percentual em peso e dimensões por unidade de tempo, sendo mais

rápido nos estágios iniciais, diminuindo à medida que progride a gestação, de modo

inverso ao crescimento absoluto por unidade de peso, o qual aumenta exponencialmente

ao longo dos dias, atingindo o máximo crescimento no final da gestação (Jainudeen &

Hafez, 1995).

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A média de peso dos fetos de gestação simples no final da gestação, aos 140

dias, foi de 2,20 kg e, 1,96 kg para o peso individual de fetos gemelares. Aplicando-se a

taxa de crescimento diário de 43,36 e 37,13 g nos fetos únicos e de gestação dupla,

obtem-se peso ao nascer de 2,63 e 2,33 kg, respectivamente, valor próximo ao

observado por Silva et al. (2001) para cabritos Moxotó que foi de 2,73 kg. Comparando-

se com o NRC (2007), o peso ao nascer de cabritos oriundos de partos simples e

gemelares é de 2,9 e 2,6 kg, respectivamente, para cabras com peso corporal de 30 kg

(faixa de peso próximo a média das cabras deste experimento). Isto mostra a diferença

da raça Moxotó e aquelas usadas para originar os resultados do NRC, que também foi

evidenciada no consumo de nutrientes, que esteve abaixo do preconizado por este

Comitê de alimentação.

Para melhor explicar o crescimento fetal, está apresentado na Tabela 7 o ganho

em peso das cabras, no mesmo intervalo de tempo usado para calcular a taxa de

crescimento fetal. Os resultados demonstram que o ganho em peso das cabras foi

semelhante ao ganho em peso dos fetos, quando se trata de tipo de gestação. No entanto,

houve diferença no ganho das cabras em função do nível de restrição.

Tabela 7. Ganho em peso diário (g/dia) das cabras em função do tipo de gestação e nível de restrição

Dias de gestação Tipo de gestação Nível de restrição

Simples Gemelar P 0% 20% 40% P

50 a 100 14,96 14,63 ns 25,78a 13,53

ab 5,10

b *

100 a 140 47,00a

39,97b *** 47,77 59,31 18,92 ns

Probabilidade: *** <0,001; ** de 0,001 a 0,01; * de 0,01 a 0,05; ns = não significativo.

As cabras reduziram o ganho com o aumento do nível de restrição alimentar, as

cabras do nível mais alto de restrição (40%) ganharam apenas 5,1 g/dia no intervalo de

50 a 100 dias de gestação, este acréscimo de peso não é compatível com o crescimento

fetal neste mesmo período, o que indica mobilização de tecidos corporais para suprir as

demandas do útero grávido, embora nesta fase, os requerimentos da fêmea gestantes não

sejam altos quanto na fase final.

No intervalo de 100 a 140 dias houve redução do ganho diário das cabras

submetidas a 40% de restrição alimentar, onde a ausência de significância deve-se ao

elevado coeficiente de variação (208%) desta variável, tendo em vista que um número

elevado de cabras apresentou ganho negativo, em função da maior demanda nutricional

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deste período. Estas mudanças evidenciam a prioridade materna em demandar todo o

fluxo de nutrientes para nutrição do útero grávido e glândula mamária, que tem seu

meior desenvolvimento neste período, mobilizando também suas reservas corpóreas

para suprir estas necessidades.

O consumo de nutrientes (g/dia) aumentou com os dias gestacionais, não

havendo diferença entre 50 e 100 dias, entretanto aumentou aos 140 dias (P<0,001),

conforme Tabela 8. As cabras gestantes de fetos gêmeos ingeriram mais nutrientes

(g/dia) e energia (Mcal/dia) que as cabras com fetos únicos (Tabela 8), de modo que os

requerimentos nutricionais para gestar dois ou mais fetos são superiores. Foi observado

que o peso e medidas morfométricas não diferiram quanto ao tipo de gestação mas,

verificou-se que houve necessidade de aumentar a ingestão de alimento por parte destas

fêmeas com o intuito de evitar prejuizos aos fetos. Aliado ao aumento no consumo, foi

observado redução do ganho em peso da cabras com fetos duplos, no período final da

gestação (Tabela 7).

Quanto aos níveis de restrição, naturalmente as cabras submetidas à dieta

irrestrita nutricionalmente, consumiram mais nutrientes que as demais dos grupos de 20

e 40% de restrição (Tabela 8). É importante destacar que mesmo as cabras que não

recebram restrição nutricional, o consumo de nutrientes não atingiu os valores indicados

pelo NRC (2007) para esta categoria, que faz recomendações de ingestão diária de 800

g de MS, 123 g de PB, 640 g de NDT e 2,31 Mcal de EM, isto para cabras com 30 kg de

PC, em final de gestação com dois fetos. Como a alimentação foi disponibilizada de

modo que as cabras regularam o consumo voluntariamente, pode-se perceber que estas

possuem capacidade de ingestão inferior àquelas que originaram os dados do NRC, que

por sua vez são fêmeas de tronco leiteiro, diferente do caso da Moxotó, que não possue

aptidão especifica, a princiapal delas é a alta capacidade de sobrevivência em ambientes

com disponibilidade irregular de alimentos.

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Tabela 8. Consumo de nutrientes e energia em função dos dias de gestação, do número de fetos e do nível de restrição

Variável Dias de gestação

P Número de fetos

P Nível de Restrição

P 50 100 140 1 2 0% 20% 40%

Matéria seca (g/dia) 412,23b 456,63

b 567,27

a *** 421,23

b 482,85

a ** 596,92

a 415,98

b 339,09

c ***

Matéria organica (g/dia) 383,49b 424,78

b 527,15

a *** 391,90

b 448,95

a ** 555,75

a 386,38

b 315,29

c ***

Proteína bruta (g/dia) 45,53b 50,34

b 62,47

a *** 46,54

b 53,20

a ** 66,87

a 45,37

b 36,86

c ***

Extrato etéreo (g/dia) 10,87b 12,45

b 15,64

a *** 11,47

b 12,88

a * 16,51

a 11,31

b 8,54

c ***

Nutrientes digestíveis totais (g/dia) 266,33b 294,82

b 363,81

a *** 278,93

b 304,74

a * 378,67

a 263,74

b 223,15

c ***

Energia metabolizável (Mcal/dia) 1,01b 1,12

b 1,38

a *** 1,06

b 1,16

a * 1,44

a 1,00

b 0,87

c ***

Fibra em detergente neutro (g/dia) 185,40b 205,92

b 258,64

a *** 189,46

b 218,66

a ** 257,54

a 191,90

b 161,61

c ***

Carboidratos não fibrosos (g/dia) 137,62b 151,66

b 185,07

a *** 140,31

b 159,58

a ** 208,61

a 133,99

b 105,23

c ***

Probabilidade: *** <0,001; ** de 0,001 a 0,01; * de 0,01 a 0,05; ns = não significativo.

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Complementando os resultados anteriores dos efeitos causados pelos fatores dias

de gestação, número de fetos e nível de restrição sobre o desenvolviemento fetal, pode-

se verificar na Tabela 9, a composição corporal dos fetos.

Quando expressa em percentual, a composição química dos fetos foi

influenciada (P<0,01) pelos dias gestacionais, exceto para o percentual de proteína.

Houve aumento do percentual de matéria seca (7,9; 12,4; 17,1%) presente no corpo dos

fetos, sendo estes inversamente proporcional ao percentual de água encontrada no corpo

(92,1; 87,7; 82,9%). As percentagens de gordura e matéria mineral diminuíram,

provavelmente, seguindo o decréscimo na sequência de formação do corpo na fase

embrionária e fetal, a qual, inicia-se pelos tecidos nervosos, depois os ossos,

posteriormente os músculos e depois gordura (Lawrence & Fowler, 2002).

O acúmulo de nutrientes até os 100 dias gestação representou, em média, 19%

da retenção total aos 140 dias, seguindo o crescimento fetal em gramas de peso corporal

que foi equivalente a 24,1% nesta fase. Contudo, em função do modelo de crescimento

exponencial, a maior parte deste desenvolvimento ocorreu no terço final da gestação,

onde a retenção de MS, água, proteína, gordura, MM e energia corresponderam a

82,5%, 75,2%, 82,4%, 83,6%, 79,2% e 83,3%, respectivamente, seguindo o incremento

de peso corporal fetal de 75,9%.

O tipo de gestação além de influenciar na quantidade de gordura, matéria

mineral e energia (kcal/kg MS) presente no corpo dos fetos, verificou-se influência

quanto aos fetos duplos, que tiveram menor valor de gordura e maior de MM e energia.

Quanto à composição absoluta, os fetos de gestações duplas apresentaram as maiores

médias, o que era de se esperar, em razão das amostras serem dos dois fetos juntos. Em

média, a retenção de nutrientes nos fetos simples foi equivalente a 52,5% daquela nos

fetos duplos.

O consumo de nutrientes seguiu a tendência da deposição de nutrientes nos fetos

em função dos dias e do tipo de gestação, no tocante a restrição alimentar aplicada,

observa-se que as cabras foram muitos eficientes, uma vez que a ingestão foi

quantitativamente reduzida nos níveis de 20 e 40% de restrição, mas isto não foi

suficiente para promover alterações na composição corporal destes fetos.

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Tabela 9. Composição química dos fetos em função dos dias de gestação, do tipo de gestação e do nível de restrição

Variável Dias de gestação

P Tipo de gestação

P Nível de restrição

P D*G D*R G*R

50 100 140 simples gemelar 0% 20% 40% P P P

Matéria seca (%) 7,9c 12,4

b 17,1

a *** 12,2 12,7 ns 12,6 12,5 12,3 ns *** ns ns

Água (%) 92,1a 87,7

b 82,9

c *** 87,8 87,3 ns 87,4 87,5 87,7 ns *** ns ns

Proteína (%) 59,9 57,8 56,2 ns 57,1 58,2 ns 56,0 57,8 60,1 ns ns ns ns

Gordura (%) 15,1a 9,0

b 9,4

b *** 11,8

a 10,8

b * 12,3

a 11,0

b 10,4

b *** ns ns ns

Matéria mineral (%) 25,0a 20,6

b 16,9

c *** 20,5

b 21,2

a * 20,6 21,6 20,5 ns ns ns ns

Energia Bruta (kcal/kg) 4799a 4115

b 4050

a *** 4326 4328 ns 4315 4296 4370 ns ns * ns

Total na MS

Matéria seca (g) 1,6c 94,7

b 542,2

a *** 147,5

b 281,0

a *** 228,4 210,3 210,0 ns *** ns ns

Água (g) 16,3c 656,1

b 2645,9

a *** 745,2

b 1472,0

a *** 1150,3 1089,6 1117,2 ns *** ns ns

Proteína (g) 0,9c 54,0

b 307,4

a *** 81,4

b 161,7

a *** 121,4 118,2 128,2 ns *** ns ns

Gordura (g) 0,2c 8,3

b 50,5

a *** 14,4

b 25,4

a *** 22,7 20,3 17,2 ns *** ns ns

Matéria mineral (g) 0,4c 19,3

b 92,6

a *** 25,1

b 50,1

a *** 39,3 38,4 36,2 ns *** ns ns

Energia Bruta (kcal) 6,2c 407,8

b 2446,2

a *** 679,1

b 1242,8

a *** 1060,2 958,2 891,9 ns *** ns ns

Probabilidade: *** <0,001; ** de 0,001 a 0,01; * de 0,01 a 0,05; ns = não significativo.

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Chama atenção a quantidade de energia metabolizável consumida, tomando-se

os valores dos pontos de maior demanda nutriconal, aos 140 dias (1,38 Mcal), gestação

dupla (1,16 Mcal) e fêmeas submetidas a 40% de restrição (0,87 Mcal), comparando-se

com energia depositada nos fetos nestes mesmos pontos, temos 2,45, 1,24 e 0,89 Mcal

de energia, respectivamente. É notório que a quantidade de energia depositada no corpo

do feto é superior a ingerida, isto sem considerar o que foi retido no útero, placenta,

líquidos e glândula mamária, além do que utilizado para manutenção do corpo materno.

Na Figura 1 observa-se o efeito da interação entre os dias de gestação e tipo de

gestação (P<0,01) para praticamente todas as variáveis (matéria seca, água, proteína,

gordura, matéria mineral e energia) em gramas totais.

Figura 1. Retenção de matéria seca, água, proteína, gordura, matéria mineral (g) e

energia (kcal) em função da interação tipo gestação e dias de gestação.

MS = 0,024 e 0,0719x

R² = 0,97

MS = 0,0862 e 0,0661x

R² = 0,95

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

1000

0 50 100 150

Ma

téria

seca

(g)

Dias de gestação

Simples

Gemelar

Água = 0,5434 e 0,0606x

R² = 0,96

Água = 1,3993 e 0,0577x

R² = 0,9399

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

3500

4000

4500

5000

0 50 100 150

Ág

ua

(g

)

Dias de gestação

Simples

Gemelar

Ptn = 0,015 e 0,0709x

R² = 0,97

Ptn = 0,054 e 0,0654x

R² = 0,95

0

100

200

300

400

500

600

0 50 100 150

Prote

ína

(g

)

Dias de gestação

Simples

Gemelar

Gord = 0,0047 e 0,066x

R² = 0,97

Gord = 0,0151 e 0,0607x

R² = 0,95

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

0 50 100 150

Gord

ura

(g

)

Dias de gestação

Simples

Gemelar

MM = 0,0074 e 0,0674x

R² = 0,96

MM = 0,0273 e 0,0618x

R² = 0,94

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

0 50 100 150

Maté

ria

min

eral

(g)

Dias de gestação

Simples

Gemelar

En = 0,0819 e 0,0739x

R² = 0,9742

En = 0,3795 e 0,0661x

R² = 0,95

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

3500

4000

4500

0 50 100 150

En

ergia

(k

cal)

Dias de gestação

Simples

Gemelar

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Os resultados destas interações estão demonstrados na forma de gráficos, com

suas respectivas equações exponenciais (Figura 1). Com a deposição dos nutrientes de

forma exponencial é possível visualizar a magnitude do aumento destas demandas no

terço final da gestação, considerando as diferenças entre os tipos de gestação, pode-se

perceber que o acúmulo de nutrientes de fetos gemelares é maior, porém as taxas de

crescimento neste grupo são inferiores, em respostas a limitação materna, provocada

pelo espaço intrauterino. Diversos trabalhos que avaliaram o desenvolvimento fetal e/ou

a deposição de nutrientes neste e no útero grávido como um todo, observaram este

crescimento exponencial (Koong, 1975; Moulin, 1993; McNeill, 1997; Costa, 1996;

Macedo Junior, 2008; Silva, 2010; Lima, 2011). Rattray et al. (1974) citam que a

tendência exponencial do crescimento fetal é contínua, desde a fase pré-natal e início do

crescimento pós-natal, sendo o período fetal parte da fase auto-acelerada do crescimento

normal.

CONCLUSÕES

A restrição alimentar de 20 e 40% aplicada a cabras Moxotó durante o período

gestacional não afeta o crescimento fetal.

Fetos oriundos de gestações gemelares são menos desenvolvidos

individualmente que fetos de gestações simples.

O acúmulo de nutrientes nos fetos acompanha o ganho em peso, fetos gêmeos

acumulam maior quantidade de nutrientes sob taxas de crescimento mais lentas que os

fetos únicos.

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CAPÍTULO III

COMPOSIÇÃO CORPORAL DE CABRAS MOXOTÓ NA FASE

DE GESTAÇÃO

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COMPOSIÇÃO CORPORAL DE CABRAS MOXOTÓ NA FASE DE

GESTAÇÃO

RESUMO

Conduziu-se este trabalho com o objetivo de avaliar a influência da fase gestacional, do

número de fetos e da restrição alimentar, sobre a composição corporal materna, do útero

grávido e da glândula mamária de cabras da raça Moxotó. As cabras foram submetidas à

sincronização de cio, mediante aplicação de hormônios e, posteriormente, foram

cobertas por meio de monta natural controlada. Trinta dias após o acasalamento, foi

realizado o diagnóstico de gestação por meio da ultrassonografia, para que fossem

agrupadas conforme o dia de gestação (50, 100 e 140 dias), o tipo de gestação (simples

ou gemelar) e o nível de restrição (0%, 20% e 40%), utilizando o delineamento

experimental inteiramente casualizado, em arranjo fatorial 3x2x3. As cabras

permaneceram em baias individuais e foram abatidas nos diferentes dias de gestação.

Foram colhidas amostras separadas do corpo das cabras, útero e membranas, líquidos,

fetos e glândula mamária. Foram feitas as análises laboratoriais para determinação da

matéria seca, proteína, extrato etéreo, minerais e energia. O escore de condição corporal

ao abate (ECCabt) e o peso da carcaça diminuiram com o avanço da gestação e, o nível

de restrição também influenciou no ECCabt. O peso corporal final aumentou em função

dos dias, havendo diminuição na deposição de nutrientes no corpo das cabras e aumento

destes no útero grávido e glândula mamária. As mudanças ocorridas no organismo

materno e o desenvolvimento dos conceptos e da glândula mamária, são altamente

dependentes da fase de gestação, sendo o terço final, responsável pelas diferenças no

crescimento do útero grávido e na deposição de nutrientes no mesmo, em cabras com

gestação simples ou gemelar. A restrição alimentar promove modificações na

composição corporal materna, no intuito de garantir a desenvolvimento dos tecidos

prioritários da gestação, sem que ocorram alterações na composição química dos

mesmos.

Palavras-chave: caprino nativo, conceptos, placenta, status nutricional

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BODY COMPOSITION OF MOXOTÓ GOATS DURING GESTATION

ABSTRACT

The aim of the present study was to evaluate the influence of gestational phase, number

of fetuses and food restriction on maternal body composition, the pregnant uterus and

mammary glands of goats of the Moxotó breed. The goats were subjected to estrus

synchronization by the application of hormones, followed by controlled, natural mating.

Thirty days after mating, pregnancies were diagnosed using ultrasound and the animals

were grouped based on gestation day (50, 100 and 140 days), type of pregnancy (single

or twin) and level of nutrient restriction (0%, 20% and 40%), using a completely

randomized design in 3x2x3 factorial arrangement. The goats remained in individual

pens and were slaughtered on different days of gestation. Samples were collected from

the body, uterus and membranes, fluids, fetuses and mammary glands. Laboratory

analyzes were performed for the determination of dry matter, protein, lipids, minerals

and energy. The final body condition score (BCSfinal) and carcass weight decreased with

the advance in gestation. The level of restriction also influenced the BCSfinal. Final body

weight increased with the increase in the number of days, accompanied by a decrease in

the deposition of nutrients in the body as well as an increase in nutrient deposition in the

pregnant uterus and mammary glands. Changes in the mother, developing fetuses and

mammary glands are highly dependent on the stage of pregnancy. Significant

differences in the growth of the pregnant uterus and the deposition of nutrients in goats

with a single or twin gestation occurred in the final third of gestation. Food restriction

during gestation promotes changes in maternal body composition in order to ensure the

development of priority tissues, with no changes occurring in the chemical composition

of these tissues.

Keywords: fetus, native goat, nutritional status, placenta

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INTRODUÇÃO

No período gestacional, importantes modificações fisiológicas e metabólicas estão

ocorrendo no organismo materno, uma vez que grande parte dos nutrientes disponíveis

será direcionada para os produtos da concepção (Lopez & Robinson, 1994). A nutrição

adequada que a fêmea gestante recebe garante que as exigências de energia, proteína,

vitaminas e minerais para manutenção e, subsequente desenvolvimento e crescimento fetal

sejam atendidos, mas em casos de subnutrição, o feto é parte prioritária na partição dos

nutrientes (NRC, 1985).

Em funçãodo maior desenvolvimento fetal ocorrer no terço final da gestação,

deve ser dada atenção especial à fêmea neste período (Moulin, 1991). Para suprir a

grande demanda nutricional ocorrida nesta fase, ocorrem ajustes metabólicos que

refletem na composição corporal, no consumo de nutrientes e de energia (Hafez &

Hafez, 2004). Este alto requerimento nutricional exige que o sistema metabólico

materno transporte grande quantidade destes nutrientes para o útero, fato que tem sido

extensivamente avaliado. No entanto, os mecanismos fisiológicos utilizados para

atender estas necessidades adicionais e, ao mesmo tempo combinadas com os efeitos da

restrição alimentar, não estão bem esclarecidos (Scheaffer et al., 2004 a,b).

A fase de gestação ainda tem muitos gargalos, sobretudo quando se trata da

espécie caprina, a qual é menos estudada entre os principais ruminantes comercialmente

utilizados. De acordo com Atzori et al. (2005), os sistemas que determinam as

exigências nutricionais desta espécie são empíricos e pouco flexíveis quando

comparados aos estabelecidos para bovinos ou ovinos que, em parte, deve-se ao menor

número de experimentos conduzidos com caprinos e, por se tratar de ambientes

produtivos extremamente diversos, tornam os modelos relativos a estes requerimentos

ainda mais complexos.

Por estas razões, trabalhou-se com o objetivo de avaliar a influência da fase

gestacional, do número de fetos e da restrição alimentar, sobre a composição corporal

materna, do útero grávido e da glândula mamária de cabras da raça Moxotó em

confinamento.

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MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi desenvolvido na Estação Experimental de São João do Cariri,

pertencente ao Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba -

CCA/UFPB, localizada no município de São João do Cariri – PB. O período

experimental foi de 22 meses, compreendidos entre abril de 2009 a fevereiro de 2011.

As cabras utilizadas foram escolhidas em função da ordem de parição, de forma

que tivessem parido no mínimo uma vez, que tivessem glândula mamária em ótimo

estado, e que estivessem em final de gestação ou recém-paridas. Em função das

diferenças na fase produtiva e condição corporal, houve um período de adaptação e

homogeneização dos lotes por cerca de cinco meses. Todas as fêmeas foram

vermifugadas e vacinadas contra clostridioses, além de receberem do complexo

vitamínico ADE.

À medida que as cabras não gestantes e não lactantes atingiram escore de

condição corporal entre 2,0 e 3,0 pontos, foram submetidas à sincronização de cio

através de um protocolo com oito dias de duração. No primeiro dia foi colocado o

dispositivo intravaginal impregnado com progesterona sintética e aplicado 0,5mL de um

agente luteolítico (d-Cloroprostenol, análogo sintético da PGF2α). Sete dias após, foram

retirados os dispositivos intravaginais e aplicado 1,0 mL de gonadotrofina coriônica

equina (eCG), via intramuscular. As cabras ciclaram no oitavo dia, cerca de 24 horas

após a aplicação da eCG, quando foram utilizados dois reprodutores da mesma raça para

fazer a cobertura das fêmeas.

Trinta dias após a cobertura foi realizado o diagnóstico de gestação e a contagem

do número de fetos, por meio de ultrassonografia em via transretal. Com a confirmação

do tipo de prenhez (simples ou gemelar), foram constituídos os grupos experimentais,

em função do número de fetos, nível de restrição, e abatidos nas três fases da gestação,

50, 100 e 140 dias (Tabela 1).

Tabela 1. Distribuição das cabras nos tratamentos experimentais

Fase gestacional 0% de restrição 20% de restrição 40% de restrição Não

gestante 1 feto 2 fetos 1 feto 2 fetos 1 feto 2 fetos

Referência - - - - - - 8

50 dias 4 4 4 4 4 4 -

100 dias 4 3 3 4 4 4 -

140 dias 4 4 4 4 4 4 -

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As cabras foram mantidas confinadas em baias individuais de 3,75 m2

cada,

recebendo dieta balanceada para atender as exigências de gestação, com 2,49 Mcal de

energia metabolizável por quilograma de matéria seca (Tabelas 2 e 3).

A ração foi fornecida duas vezes ao dia, às 7h e 15h, ajustadas de forma que as

sobras fossem em torno de 15% do fornecido para o grupo alimentado ad libitum, com

disponibilidade irrestrita de água para todos os animais. O volumoso utilizado foi o

tifton 85 e o concentrado a base grão de milho triturado, farelo de soja, suplemento

mineral e calcário calcítico, em uma relação volumoso:concentrado de 60:40 na MS

(Tabelas 2 e 3).

Tabela 2. Composição nutricional dos ingredientes das dietas experimentais

Item (g/kg) Feno de tifton Milho moído Farelo de soja

Matéria seca 870,2 868,9 877,9

Matéria mineral 75,5 19,0 62,1

Proteína bruta 63,2 85,4 475,1

Extrato etéreo 21,1 46,2 20,2

Fibra em detergente neutro cp1 740,3 138,2 111,4

Fibra em detergente ácido 426,1 42,4 70,3

Carboidratos não-fibrosos 99,8 711,2 331,1 1Corrigida para cinzas e proteína.

Tabela 3. Composição da dieta experimental

Ingrediente g/kg de MS

Feno de tifton 85 600,0

Milho moído 280,0

Farelo de soja 95,0

Calcário calcítico 15,0

Suplemento mineral1 10,0

Composição química (g/kg de MS)

Matéria seca 873,1

Proteína bruta 107,0

Extrato etéreo 27,5

Fibra em detergente neutro cp2 493,5

Fibra em detergente ácido 274,2

Carboidratos não fibrosos 290,5

Nutrientes digestíveis totais 655,5

Valor energético (Mcal/kg de MS)

Energia metabolizável 2,49 1Suplemento mineral (nutriente/kg de suplemento): vitamina A 135.000,00 U.I.; Vitamina D3 68.000,00 U.I.;

vitamina E 450,00 U.I.; Ca 240 g; P 71 g; K 28,2 g; S 20 g; Mg 20 g; Cu 400 mg; Co 30 mg; Cr 10 mg; Fe 2500 mg;

I 40 mg; Mn 1350 mg; Se 15 mg; Zn 1700 mg; F máximo 710 mg; Solubilidade do Fósforo (P) em ÁcidoCítrico a

2% (min.).

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A restrição alimentar foi aplicada após confirmação da prenhez. Procedeu-se

ajuste diário da ração oferecida em função da quantidade consumida pelas fêmeas ad

libitum. Os níveis de restrição aplicados foram de 20 e 40%, onde cada cabra do grupo

restrito nutricionalmente, consumia de acordo com uma cabra do grupo ad libitum que

tivesse o peso corporal mais próximo possível.

O acompanhamento do peso foi realizado a cada quinze dias, a partir do

momento da cobertura até o abate, com auxílio de balança digital. Na ocasião da

pesagem foi avaliado o escore de condição corporal (ECC) pela apalpação da região

lombar, seguindo uma escala de pontuação que variou de 1 (muito magra) a 5 (muito

gorda), com intervalos de 0,5 pontos.

Para determinar a quantidade de nutrientes retidos no corpo das cabras, bem como

na glândula mamária e útero grávido, foi feito o abate das cabras nas diferentes fases

gestacionais e daquelas não gestantes, como descrito pelo ARC (1980), que possibilitou

a análise química de todos os tecidos do corpo do animal.

As cabras foram abatidas utilizando-se pistola de dardo cativo para

insensibilização, por meio de técnicas de abate humanitário. Após abate, as cabras

foram submetidas ao processo de sangria através da seção das jugulares e carótidas,

todo o sangue foi colhido e pesado. Em seguida, foram removidas a glândula mamária e

o útero grávido, o qual foi pesado e dissecado em feto, placenta, placentônios, líquido

placentário e útero vazio. Posteriormente, feita a esfola e a separação da carcaça quente

e dos órgãos internos, gorduras e trato gastrintestinal (TGI). Todas as partes foram

colocadas em sacos plásticos previamente identificados e, congelados a -20°C.

O peso de corpo vazio (PCV) foi determinado pela diferença do peso corporal ao

abate e o conteúdo do TGI, somado ao da bexiga e da vesícula biliar. O peso de corpo

vazio livre (PCVL) foi obtido pela diferença do PCV e os pesos do útero grávido e da

glândula mamária.

O corpo vazio livre, os fetos e a composta do útero vazio+placenta+placentônios

foram individualmente cortados em serra de fita, triturados em moinho tipo Cutter (30

HP; 1775 rpm), homogeneizados e retiradas três amostras representativas que foram

destinadas às análises. Outra amostra deixada como reserva. As amostras foram

novamente congeladas, liofilizadas e depois trituradas em liquidificador tipo industrial.

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Os fetos de 50 dias foram colocados diretamente em placa de Petre e, em função do

baixo peso, foram feitas análises da amostra composta tratamento.

Após moagem, fez-se a extração da gordura com éter etílico em aparelho

Soxhlet de acordo com a AOAC (1990), método 920.29. As amostras desengorduradas

foram trituradas em moinho de bola e armazenadas em recipientes plásticos

hermeticamente fechados, das quais foram feitas as análises de nitrogênio total, com o

resultado multiplicado por 6,25 para obtenção da proteína bruta, método 981.10

(AOAC, 1990). O teor de matéria seca total (engordurada) foi determinado em estufa a

105°C até peso constante (método 967.03 da AOAC, 1990), e, na sequência, estas

amostras foram incineradas em mufla a 600ºC por 4 horas, método 942.05 (AOAC,

1990). A energia foi determinada pelo calor de combustão em bomba calorimétrica

adiabática de Parr.

O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, em esquema fatorial

3x2x3 (três fases de gestação, dois tipos de fetos e três níveis de restrição). Os dados

foram submetidos à análise de variância e teste de médias pelo PROC GLM do SAS

9.2, considerando-se α = 0,05.

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RESULTADOS

Mudanças no corpo materno

O consumo de nutrientes e energia por unidade de tamanho metabólico (g/UTM

e kcal/UTM) aumentou ao longo dos dias de gestação (P<0,001), no entanto, não foi

influenciado pelo número de fetos. A restrição alimentar promoveu redução da

quantidade de nutrientes ingerida a medida que se elevou o nível de restrição de 20 e

40% (Tabela 4).

Observa-se que o escore de condição corporal inicial (ECCinicial) não diferiu

quanto aos dias de gestação, mas foi diferente para o número de fetos e nível de

restrição, havendo efeito da interação com os dias de gestação versus nível de restrição

(Tabela 5). Todavia, estas diferenças não demonstram efeito dos fatores (dias x feto x

dieta) mas, os efeito do acaso na distribuição das cabras em seus respectivos grupos,

uma vez que esta medida do ECCinicial corresponde ao dia da concepção, ou seja, o dia

em que as cabras iniciaram no experimento.

No momento do abate, as mudanças no ECC foram verificadas com o avanço da

gestação e com o aumento do nível de restrição, sendo indiferente quanto ao número de

fetos (Tabela 5). Além disso, observou-se efeito da interação entre os fatores dias de

gestação e nível de restrição e, número de fetos versus nível de restrição para esta

variável. Estes resultados da interação dias de gestação versus nível de restrição

demonstraram que o ECC ao abate (ECCfinal) sofreu modificações quando comparado

com os valores iniciais. Quando comparados os dias, foi verificada maior pontuação aos

50 dias com a dieta sem restrição, não havendo diferença entre os níveis de 20 e 40%.

Aos 100 dias, somente com 20% de restrição houve menor média e, aos 140 dias não foi

constatada diferenças entre os níveis. Quando comparados os níveis de restrição, as

diferenças ocorreram apenas para as cabras que consumiram ad libitum (0%), que aos

50 dias de gestação estavam com maior ECCfinal e, com 40% de restrição, foi observada

a menor média, sendo diferentes das demais.

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Tabela 4. Consumo de nutrientes e energia em função dos dias de gestação, do número de fetos e do nível de restrição

Variável Dias de gestação P Número de fetos P Restrição P

50 100 140 1 2 0% 20% 40%

Matéria seca (g/UTM) 34,01b 36,41

b 42,31

a *** 35,06 37,29 ns 47,00

a 33,24

b 27,82

c ***

Matéria organica (g/UTM) 31,64b 33,87

b 39,32

a *** 32,62 34,67 ns 43,76

a 30,88

b 25,86

c ***

Proteína bruta (g/UTM) 3,76b 4,02

b 4,66

a *** 3,87 4,11 ns 5,27

a 3,63

b 3,02

c ***

Extrato etéreo (g/UTM) 0,90b 0,99

b 1,17

a *** 0,96 0,99 ns 1,30

a 0,90

b 0,70

c ***

Nutrientes digestíveis totais (g/UTM) 22,01b 23,55

b 27,22

a *** 23,24 23,58 ns 29,89

a 21,12

b 18,88

c ***

Energia metabolizável (kcal/UTM) 83,47b 89,31

b 103,23

a *** 88,11 89,39 ns 113,34

a 80,10

b 71,59

c ***

Carboidratos não fibrosos (g/UTM) 11,40b 12,11

b 13,79

a *** 11,73 12,32 ns 16,44

a 10,80

b 8,64

c ***

Probabilidade: *** <0,001; ** de 0,001 a 0,01; * de 0,01 a 0,05; ns = não significativo.

Tabela 5. Escore de condição corporal (ECC), peso corporal, ganho em peso, peso de corpo vazio e de carcaça em função dos dias de gestação, do número de fetos e

nível de restrição

Variável Dias de gestação

P Número de fetos

P Nível de restrição

P 50 100 140 1 2 0% 20% 40%

ECCinicial (pontos) 2,3 2,3 2,2 ns 2,1b 2,4

a ** 2,5

a 2,2

b 2,1

b **

ECCfinal (pontos) 2,2a 1, 8

b 1,6

b *** 1,8 1,9 ns 2,2

a 1,6

b 1,7

b ***

Variação do ECC (pontos) -0,1b -0,5

a -0,7

a *** -0,3

b -0,6

a * -0,3

ab -0,7

a -0,3

b *

Peso corporal inicial (kg) 27,1 26,6 27,7 ns 26,2 28,0 ns 27,3 27,2 26,8 ns

Peso corporal ao abate (kg) 27,6b 28,6

b 31,5

a *** 28,7 29,8 ns 30,2 29,0 28,6 ns

Ganho em peso total (g) 516b 1502

b 4318

a *** 1573 2652 ns 2963 1879 1495 ns

Ganho em peso médio diário (g) 10,0b 14,8

ab 30,7

a * 13,6 23,4 ns 23,9 17,3 14,3 ns

Peso de corpo vazio (kg) 21,3b 22,6

b 25,7

a *** 22,4

b 23,9

a ** 23,6 23,2 22,8 ns

Peso de corpo vazio livre (kg) 20,6 19,8 19,3 ns 19,8 20,0 ns 20,3 20,1 19,3 ns

Carcaça (kg) 12,0a 11,2

ab 10,7

b ** 11,2 11,5 ns 11,6 11,1 11,3 ns

Probabilidade: *** <0,001; ** de 0,001 a 0,01; * de 0,01 a 0,05; ns = não significativo.

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66

Os resultados da interação feto e restrição para o ECCfinal mostraram que não

houve diferença entre os níveis de 20% e 40%, ou seja, o ECCfinal diminuiu tanto nas

cabras com gestação simples ou gemelar, quando consumiram a dieta restrita. Para o

número de fetos, o valor do ECCfinal foi reduzido nas cabras com gestação simples,

submetidas à restrição de 40%.

Com variação no ECC podem-se observar mais claramente as mudanças

ocorridas no tecidos das região lombar destas fêmeas, houve pouca mobilização de

tecido aos 50 dias, ocorrendo aumento a partir dos 100 dias de gestação (P<0,001). As

cabras gestantes de dois fetos mobilizaram mais reservas que àquelas com apenas um

feto (P<0,05) e, quando observado o efeito da restrição, somente àquelas submetidas ao

nível de 20% apresentaram maior mobilização (P<0,05) (Tabela 3 e Figura 1).

Figura 1. Variação do ECC em função dos dias de gestação e do nível de restrição.

As médias de peso corporal inicial (PCi) não diferiram entre os fatores estudados

(P>0,05); no entanto, devido a diferenças individuais, utilizou-se o PCi como

covariável. O peso corporal ao abate (PCabt) diferiu apenas nos dias de gestação, mas

foi evidenciado somente no final, entre 100 e 140 dias (Tabela 5).

O ganho em peso total (GPT) e ganho em peso médio diário (GPMD)

aumentaram em função dos dias, principalmente aos 140, onde as cabras atingiram

médias de 4318 g de GPT e 30,7 g de GPMD. Aos 50 e 100 dias não foram observadas

diferenças, cujas médias foram de 516 e 1502 g de GPT e, 10,0 e 14,8 g de GPMD,

respectivamente. Quanto ao número de fetos ou nível de restrição, não foi constatada

-1,2

-1,0

-0,8

-0,6

-0,4

-0,2

0,0

20 40 60 80 100 120 140

Va

ria

ção

do

EC

C

Dias de Gestação

0% 20% 40%

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67

diferença. O peso da carcaça diminuiu com o avanço da gestação (P<0,01), cuja redução

foi de 7% entre 50 e 100 dias; 4% entre 100 e 140; e 11% entre 50 e 140 dias; todavia, a

diferença foi significativa somente entre o terço inicial e final (Tabela 5).

Para o peso de corpo vazio (PCV) foi observada diferença entre os dias

(P<0,001), bem como para o número de fetos, onde as cabras com gestação gemelar

apresentaram as maiores médias. O efeito da interação foi significativo (P<0,05) entre

os dias e a restrição (Figura 2). Com o desdobramento da interação, observou-se que o

PCV aumentou nas cabras que consumiram as dietas com 0 e 20% de restrição, todavia,

aquelas do maior nível restrito (40%) não alteraram o PCV ao longo dos dias

gestacionais.

Figura 2. Peso de corpo vazio em função dos dias de gestação e do nível de restrição.

Na Figura 3, observa-se o peso do corpo vazio livre (PCVL), ou seja, o corpo

sem glândula mamária e útero grávido, em função dos dias de gestação, do número de

fetos e do nível de restrição. As médias individuais dos fatores estudados não foram

diferentes, mas houve efeito da interação (P<0,01) dos dias de gestação e nível de

restrição.

18,0

20,0

22,0

24,0

26,0

28,0

40 60 80 100 120 140

PC

V (

kg

)

Dias de gestação

0% 20% 40%

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68

Figura 3. Peso de corpo vazio livre em função dos dias de gestação e do nível de restrição

Os valores relativos à interação demonstrada na Figura 3 apontam que, somente

aos 140 dias e para as cabras que consumiram a dieta com 40% de restrição, houve

redução significava no PCVL (kg) em relação aos demais dias e níveis de restrição.

Na Tabela 6, pode-se observar que a composição do corpo vazio livre apresentou

diminuição nas quantidades absolutas de MS, proteína, gordura, MM e energia com o

avanço da gestação, de modo geral, esta redução correspondeu a 9% na PB e 10% na

MM entre 50 e 100 dias, não havendo diferença entre 100 e 140 dias.

Houve efeito da interação dias de gestação e nível de restrição para MS, gordura

e energia. O comportamento das médias para estes parâmetros foi o mesmo, em que

somente aos 140 dias gestação e nível na dieta com 40% restrição constatou-se redução

significativa nos valores observados (Figura 4).

17,0

18,0

19,0

20,0

21,0

22,0

40 60 80 100 120 140

PC

VL

(k

g)

Dias de gestação

0% 20% 40%

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69

Tabela 6. Composição do corpo vazio livre em função dos dias de gestação, do número de fetos e do nível de restrição

Variável Dias de gestação

P Número de fetos

P Nível de restrição

P 50 100 140 1 2 0% 20% 40%

Total no corpo vazio livre

Matéria seca (kg) 8,3a 7,4

b 7,1

b *** 7,5 7,7 ns 8,0

a 7,5

ab 7,3

b *

Água (kg) 12,3 12,4 12,2 ns 12,3 12,3 ns 12,4 12,5 12,1 ns

Proteína (kg) 3,0a 2,8

b 2,7

b ** 2,76 2,83 ns 2,9

a 2,8

ab 2,7

b *

Gordura (kg) 4,3a 3,7

ab 3,4

b ** 3,8 3,8 ns 4,0 3,7 3,6 ns

Matéria mineral (kg) 0,8a 0,8

ab 0,7

b * 0,8 0,8 ns 0,8 0,8 0,7 ns

Energia (Mcal) 56,5a 48,5

b 46,8

b *** 50,1 51,1 ns 53, 5

a 50,2

ab 48,1

b *

g/kg PCVL

Matéria seca 401a 374,5

b 364,9

b *** 379 381 ns 391

a 376

ab 373

b *

Água 599b 626

a 635

a *** 620 620 ns 609 624 627 ns

Proteína 145 141 138 ns 140 143 ns 145 141 140 ns

Gordura 204a 185

ab 175

b * 188 187 ns 194 185 184 ns

Matéria mineral 40 39 37 ns 39 39 ns 39 39 39 ns

Energia (Mcal/kg PCV) 27,4a 24,4

b 24,1

b *** 25,2 25,4 ns 26,2 25,0 24,7 ns

Probabilidade: *** <0,001; ** de 0,001 a 0,01; * de 0,01 a 0,05; ns = não significativo.

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70

Figura 4. Quantidade de gordura (a) e energia (b) retidas no corpo vazio livre, em função dos dias de

gestação e do nível de restrição.

Quando expressos em g/kg PCVL a MS, gordura e energia diminuíram entre os

50 e 100 dias, de modo que ocorreu o contrário com a quantidade de água; no entanto,

não houve diferenças entre os 100 e 140 dias de gestação para estes parâmetros. Com

relação ao número de fetos, não houve diferenças na composição do corpo vazio livre.

Todavia, com o aumento do nível de restrição, verifica-se redução da proteína em kg

total no PCVL e da MS (g/kg PCVL) (Tabela 6).

Desenvolvimento do útero grávido

O peso e composição química do útero grávido e seus componentes aumentou

com o avanço da gestação (Tabela 7). Houve diferença no peso do útero grávido a cada

fase gestacional; no entanto, o útero vazio (g) aumentou dos 50 para os 100 dias, mas

não houve diferença entre 100 e 140 dias. Com relação ao número de fetos, todos os

componentes aumentaram de peso na gestação gemelar. O incremento de peso no útero

vazio correspondeu a 23,5% da gestação simples para a gemelar. O nível de restrição

aplicado não influenciou nestes resultados.

2

3

4

5

50 100 150

Go

rd

ura

(k

g)

Dias de gestação

0% 20% 40%

a)

30

35

40

45

50

55

60

50 100 150

En

erg

ia (

Mca

l)

Dias de gestação

0% 20% 40%

b)

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Tabela 7. Composição do útero grávido em função dos dias de gestação, do número de fetos e do nível de restrição

Variável Dias de gestação

P Número de fetos

P Nível de restrição

P 50 100 140 1 2 0% 20% 40%

Peso úmido (g)

Útero grávido 540c 2540

b 5810

a *** 2270

b 3660

a *** 2970 2840 3080 ns

Útero vazio 230b 1100

a 1370

a *** 780

b 1020

a * 810 850 1030 ns

Placenta 30,0c 111

b 328

a *** 102

b 212

a *** 133 155 182 ns

Placentônios 46,9b 513a 521

a *** 284

b 436

a *** 332 362 387 ns

Placentônios (n°) 75,9b 113a 99,7

a *** 84,7

b 108

a *** 96,9 97,4 94,8 ns

Feto 20,0c 760

b 3180

a *** 980

b 1650

a *** 1360 1260 1330 ns

Líquido placentário 280c 750

b 1120

a *** 530

b 910

a *** 730 670 760 ns

Gramas totais no útero grávido

Matéria seca 34,6c 235,2

b 732,4

a *** 271,2

b 397,0

a *** 338,0 319,3 345,0 ns

Água 507,4c 2295,9

b 4972,3

a *** 1892,8

b 3290,8

a *** 2523,4 2523,7 2728,4 ns

Proteína 28,5c 160,8

b 439,1

a *** 167,4

b 251,5

a *** 204,5 199,0 224,8 ns

Gordura 5,1c 26,2

b 70,3

a *** 27,1

b 40,6

a *** 35,0 33,4 33,2 ns

Matéria mineral 2,9c 32,9

b 109,8

a *** 36,7

b 60,3

a *** 49,0 47,9 48,6 ns

Energia (kcal) 168,9c 1102,9

b 3344,5

a *** 1276,5

b 1801,1

a *** 1599,9 1527,9 1488,6 ns

g/kg PCV

Matéria seca 1,7c 10,3

b 28,2

a *** 11,3

b 15,6

a *** 12,9 12,7 14,6 ns

Água 24,1c 101,8

b 194,4

a *** 81,4

b 132,1

a *** 99,8

b 102,7

b 117,8

a **

Proteína 1,4c 7,1

b 17,0

a *** 7,0

b 9,9

a *** 7,8

b 7,9

b 9,76

a **

Gordura 0,2c 1,2

b 2,7

a *** 1,1

b 1,6

a *** 1,3 1,3 1,4 ns

Matéria mineral 0,1c 1,5

b 4,2

a *** 1,5

b 2,4

a *** 1,9 1,9 2,0 ns

Energia (kcal/kg PCV) 8,1c 47,9

b 128,8

c *** 52,8

b 70,4

a *** 60,7 64,8 59,2 ns

Probabilidade: ** de 0,001 a 0,01; * de 0,01 a 0,05; ns = não significativo.

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72

Para o número de placentônios, o aumento foi de 149% dos 50 para o 100 dias,

mas não houve diferença dos 100 para os 140 dias. Da gestação simples para a gemelar,

o aumento foi de 127% na quantidade de placentônios. Contudo, nota-se que o líquido

placentário diferiu entre as três fases gestacionais, aumentando de volume à medida que

avançou a gestação, o que correspondeu a 268% de 50 a 100 dias e 149% de 100 a 140

dias. O incremento na quantidade de líquido também pode ser visualizada quanto ao

número de fetos, onde as cabras com gestação dupla tiveram 172% a mais, comparadas

àquelas com feto simples. Quanto ao nível de restrição, não foi constatada diferença

entre os mesmos (Tabela 7).

A composição química do útero grávido sofreu influência dos dias de gestação e

do número de fetos (Tabela 7), além da interação destes fatores (Figuras 5 e 6). O nível

de restrição afetou somente a concentração de água e proteína (g/kg PCV), havendo

interação deste fator com os dias de gestação. Com o desdobramento desta interação,

constatou-se que a dieta influenciou a quantidade de água somente aos 140 dias de

gestação, onde o nível de 40% de restrição incrementou a quantidade relativa em 18%,

não havendo diferença entre os demais dias ou níveis.

Com o desdobramento da interação entre o número de fetos e os dias de gestação

para os pesos (g) do útero grávido, placenta, placentônios e fetos, observou-se que o

peso do útero grávido e dos fetos aumentou à medida que passaram os dias,

independente do número de fetos. Enquanto que a placenta na gestação simples diferiu

somente após 100 dias e na gestação gemelar a diferença ocorreu também aos 50 dias.

Já os placentônios, aumentaram de peso após 50 dias, mas não foram alterados nas fases

seguintes, para gestação simples ou gemelar.

Para o tipo de gestação não houve diferenças aos 50 dias para nenhuma das

variáveis. Contudo, com exceção da placenta, que não sofreu influência do número de

fetos aos 100 dias, as demais variáveis aumentaram de peso aos 100 e 140 dias nas

cabras com gestação gemelar.

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73

Figura 5. Crescimento do útero grávido em função dos dias e do tipo de gestação.

Figura 6. Quantidades de proteína (a) e gordura (b) retidas no útero grávido em função dos dias e do tipo

de gestação.

Os percentuais do útero vazio e líquido placentário diminuíram em relação ao

peso total do útero grávido, conforme o avanço da gestação (Figura 7), observando-se

que aos 50 dias estes componentes representavam em torno de 32 e 49% do total,

enquanto que aos 140 dias, os valores diminuíram para 9 e 19%, respectivamente. As

proporções da placenta praticamente não foram alteradas com o avanço da gestação,

cujos percentuais corresponderam a 6, 4 e 6% aos 50, 100 e 140 dias, nesta ordem. A

participação percentual dos placentônios aumentou de 10 para 20% dos 50 aos 100 dias

e, posteriormente, diminuíram para 9%. No entanto, os fetos representaram um

crescimento de 3, 30 e 55%, com relação ao peso total do útero grávido ao longo dos

dias de gestação.

0

1.000

2.000

3.000

4.000

5.000

6.000

7.000

8.000

40 60 80 100 120 140

Úte

ro

grá

vid

o (

g)

Dias de gestação

Simples Gemelar

0

100

200

300

400

500

600

40 90 140

Pro

teín

a (

g)

Dias de gestação

Simples Gemelar

a)

0

20

40

60

80

100

40 90 140

Go

rd

ura

(g

)

Dias de gestação

Simples Gemelar

b)

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74

Figura 7. Participação percentual dos conceptos em relação ao peso do útero grávido em função dos dias

de gestação.

Desenvolvimento da glândula mamária

O peso (g) da glândula mamária aumentou em função dos dias de gestação, que

correspondeu à variação de 180% do terço inicial ao médio, havendo maior elevação do

terço médio ao final da gestação, com 252%. Quando foram analisadas para número de

fetos ou nível de restrição, não foram observadas diferenças entre as médias (Tabela 8).

De modo semelhante, na composição química da glândula mamária as alterações

ocorreram somente nos dias de gestação, com exceção da matéria mineral (g/kg PCV),

sobre a qual se verificou influência também do nível de restrição, além de interação dias

x restrição.

A deposição de nutrientes na glândula mamária aumentou ao longo dos dias,

mesmo não havendo diferença dos 50 para os 100 dias, constatou-se tendência nas

respectivas médias. Esta diferença foi significava após os 100 dias, indicando

incremento de 258% na MS, 464% na proteína, 163% na gordura, 361% na MM e

227% na energia, quando avaliados em quantidades absolutas.

0

10

20

30

40

50

60

Útero vazio Placenta Placentomas Liquído Feto

% d

o ú

tero

gra

víd

eo

Dias de gestação 50 100 140

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75

Tabela 8. Composição da glândula mamária em função dos dias de gestação, do número de fetos e do nível de restrição

Variável Dias de gestação

P Número de fetos

P Nível de restrição

P 50 100 140 1 2 0% 20% 40%

Glândula mamária (g) 150c 270

b 680

a *** 350 380 ns 360 360 380 ns

Gramas totais na glândula mamária

Matéria seca 74,9b 86,9

b 224

a *** 121 136 ns 130 127 129 ns

Água 74,9c 179

b 460

a *** 231 246 ns 235 233 247 ns

Proteína 9,0b 22,6

b 105

a *** 42,9 48,2 ns 45,9 42,6 48,2 ns

Gordura 63,1b 56,5

b 92,5

a *** 66,7 74,7 ns 71,7 71,5 68,9 ns

Matéria mineral 0,5c

1,8b 6,4

a *** 2,7 3,1 ns 2,7 2,8 3,2 ns

Energia (kcal) 661b 672

b 1525

a *** 896 1009 ns 961 947 949 ns

g/kg PCV

Matéria seca 3,5b 3,7

b 8,7

a *** 5,1 5,4 ns 5,2 5,1 5,6 ns

Água 3,5c 7,7

b 17,9

a *** 9,7 9,7 ns 9,2 9,3 10,6 ns

Proteína 0,4b 1,0

b 4,1

a *** 1,8 1,9 ns 1,7 1,7 2,1 ns

Gordura 2,9ab

2,4b 3,6

a ** 2,9 3,0 ns 3,0 2,9 3,0 ns

Matéria mineral 0,02c 0,08

b 0,25

a *** 0,12 0,11 ns 0,10

b 0,11

ab 0,14

a *

Energia (kcal/kg PCV) 30,4b 28,3

b 59,4

a *** 38,2 40,6 ns 38,9 38,1 41,1 ns

Probabilidade: ** de 0,001 a 0,01; * de 0,01 a 0,05; ns = não significativo.

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76

A interação dias e dieta para os valores de MM (g/kg PCV) indica que, dentre os

dias, o maior incremento ocorreu no grupo abatido aos 140 dias, registrando-se médias

de 0,21; 0,23 e 0,31 g/kg PCV, quando consumindo as dietas com 0, 20 e 40% de

restrição, respectivamente. Quanto às dietas, a diferença ocorreu para o grupo que

consumiu dieta 40% restrita aos 140 dias de gestação.

DISCUSSÃO

Mudanças no corpo materno

Na tentativa de reduzir esta mobilização de reservas corpóreas e evitar

comprometimento do desenvolvimento dos conceptos, as cabras elevaram o consumo de

nutrientes por unidade de tamanho metabólico do início ao final da gestação (Tabela 4).

Este consumo não sofreu influencia do número de fetos, mas pode-se perceber que as

necessidades nutricionais para suprimento do útero grávido foram maiores nas cabras

com gestação dupla, tendo estas fêmeas utilizado nutrientes do próprio corpo para esta

finalidade. Como pode ser verificado pela variação do escore de condição corporal

(Tabela 5 e Figura 1) e redução do peso total, da gordura e da energia (principalmente)

do corpo vazio livre (Figura 3 e Tabela 6).

Os resultados relacionados à condição corporal das cabras no momento do abate

e a variação desta condição corporal no início para o final da gestação indicaram que

houve mobilização de reservas corpóreas, principalmente no final da gestação, sendo

mais severa para àquelas submetidas à restrição alimentar (Tabela 5 e Figura 1). Fato

este que não interferiu no desenvolvimento dos produtos da concepção, demonstrando

que estas fêmeas direcionaram todo o aporte de nutrientes necessário para o crescimento

normal do útero grávido e preparação da glândula mamária para fase seguinte ao parto.

Aliado a isto, o aumento do peso corporal ao abate e do peso de corpo vazio em função

dos dias, refletiu o desenvolvimento dos produtos da gestação, podendo-se inferir

novamente que, ocorreu mobilização de reservas corpóreas para esta finalidade,

justificada também, pela redução no peso do corpo vazio livre e da carcaça (Tabela 5).

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77

O ganho em peso médio das cabras no final do período gestacional foi de 4,3 kg;

porém, quando se calcula a diferença entre o peso de corpo vazio e os pesos do útero

grávido e da glândula mamária, obtem-se o valor médio de 6,36 kg (Tabela 5),

corroborando com Mellado et al. (2004), os quais afirmam que o incremento médio de

peso em cabras durante a gestação é de aproximadamente 6 e 7 kg, para fêmeas

gestando um e dois fetos, respectivamente. O ganho em peso líquido (sem úbere e útero

grávido) diminuiu no período de 100 a 140 dias de gestação, da mesma forma como

ocorreu com o PCVL destas cabras, havendo diminuição significativa do terço médio

para o final, principalmente nas fêmeas submetidas à restrição de 40%.

Possivelmente, estas cabras usaram mecanismos fisiológicos muito eficientes

para alcançarem o final da gestação sem prejuízos aos conceptos e a glândula mamária,

uma vez que a interação dias e dietas para a composição do corpo vazio livre explica

que aos 140 dias, com o maior nível de restrição aplicado (40%), houve mobilização de

nutrientes na tentativa de suprir a elevada demanda nutricional (Figura 3). Entretanto,

deve-se destacar que esta mobilização pode ser vista nos resultados do escore de

condição corporal, porém, não foi possível observar os reflexos do nível mais baixo de

restrição, sugerindo que avaliação da condição corporal em cabras, quando feitas por

apalpação da região lombar, pode não ser eficaz. Mas, a redução da quantidade de

gordura e energia no corpo vazio livre destas cabras (Figura 4) podem reforçar a

mobilização ocorrida.

O INRA (1988) estabelece que a energia requerida pela fêmea para o

funcionamento de todos os processos fisiológicos destinados ao desenvolvimento do

útero grávido, corresponde a cerca de 2,5 vezes àquela que foi fixada nos conceptos. No

caso da proteína, este sistema estima que uma cabra a partir do terceiro mês de gestação

aumente em torno de 60% as suas exigências proteicas e mais de 110% após os 120

dias, variando de acordo com o peso da cabra e dos fetos, conforme reportado por

Baldwin & Smith (1973), que a mantença é diretamente proporcional ao peso corporal

do animal.

Existe uma busca de explicações para estas modificações no metabolismo da

fêmea gestante, aliando este estado fisiológico particular com a submissão à restrição

alimentar, no intuito de fechar arestas ainda existentes sobre: onde ocorre e como é dado

o processo, em qual momento e por quanto tempo, quanto é gasto nestas etapas, entre

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outras questões. O fato é que ainda não foram obtidas as respostas suficientemente

capazes de anular todas estas dúvidas.

Scheaffer et al. (2004) buscaram estas explicações com base nas modificações

ocorridas no intestino e observaram que existe uma preservação da massa de tecido

funcional, no intuito de apoiar o desenvolvimento dos conceptos, sobretudo porque o

aparelho digestório é comprimido com o crescimento do útero grávido. Além disso,

enfatizaram que em casos de restrição alimentar, o intestino, provavelmente, conserva

os nutrientes da mucosa, diminuindo a massa total do órgão, mantendo a capacidade

absortiva e o volume total microvascular constante. Porém, na gestação, além de

aumentar a capacidade absortiva, também se elevam a massa total, a densidade vascular

e o volume total microvascular.

Van der Linden et al. (2009) justificam que as fêmeas em situações de estresse

fisiológico, como é o caso da gestação ou da lactação, teriam aumentado a capacidade

do fígado no fornecimento de glicose para suprir estas elevadas demandas.

Corroborando com Lodge & Heavey (1973), quando afirmam que há um aumento no

metabolismo hepático em ovelhas gestantes, o qual, em parte se deve a deposição de

gordura, mas que este aumento corresponde a 23% no peso final da massa do fígado.

Dados recentes publicados por Macedo Junior (2008) mostram que ovelhas

Santa Inês, entre 90 e 140 dias de gestação, tiveram a atividade metabólica aumentada,

o que refletiu no aumento da quantidade de nutrientes retidos em órgãos importantes

neste sistema, como o fígado, por exemplo. Foi observada também maior quantidade de

gordura no sangue destas ovelhas com gestação gemelar, devido à mobilização dos

tecidos de reserva, no intuito de aumentar o fluxo de nutrientes direcionados ao útero

grávido. Mas a restrição alimentar promoveu redução no tamanho dos órgãos aos 140

dias nas ovelhas em geral, justificando que foi ocasionada na tentativa de reduzir o

gasto energético com as funções basais e, assim manter o aporte para o útero grávido em

níveis normais.

Desenvolvimento do útero grávido

O peso dos componentes do útero grávido seguiu o crescimento fetal ao longo

dos dias, de modo que estas diferenças foram marcadas em relação ao número de fetos,

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uma vez que as cabras com gestação gemelar necessitavam de maior aporte nutricional

para o suprimento das demandas fetais, sendo constatados também aumento do números

de placentônios nestas fêmeas (Tabela 7).

Todos os resultados, sejam eles relativos ao peso úmido dos componentes do

útero grávido ou da sua composição geral, foram afetados diretamente pela fase de

gestação e pelo número de fetos. A restrição alimentar não promoveu mudanças nestas

variáveis, reforçando que estas fêmeas priorizaram o desenvolvimento normal dos

produtos da gestação, mesmo não havendo suficiente aporte de nutrientes dietéticos para

este fim, sendo necessário para isto, mobilizar reservas corpóreas (Tabela 7).

Corroborando com os resultados obtidos por Macedo Junior (2008), em que

ovelhas da raça Santa Inês em gestação não demonstraram alterações no peso e

composição do útero gravídico provocadas pela restrição alimentar. Isso indica a

prioridade dos conceptos na partição de nutrientes, podendo supor ainda que a restrição

de 15% sobre as exigências destas fêmeas não tenha sido capaz de provocar retardos no

desenvolvimentos dos produtos.

Resultados semelhantes foram obtidos por Rattray et al. (1974), ao avaliarem

ovelhas da raça Targhee abatidas em diferentes estágios de gestação, portando fetos

simples, duplos ou triplos, submetidas a dois tipos de alimentação, observaram

diferenças significativas no peso úmido dos produtos da concepção e útero vazio, em

função do número de fetos e dos dias de gestação.

O número e peso dos plancentomas foram superiores após 100 dias de gestação,

sem diferenças entre esta fase e os 140 dias, da mesma forma que estes valores foram

maiores para as cabras com gestação gemelar (Tabela 7). O que diverge dos resultados

reportados por Lima (2011), trabalhando com cabras Saanen e Alpinas, nas quais não

foram verificadas alterações significativas ao longo da gestação, mas o número de fetos

foi decisivo no aumento do número e do peso de placentônios. O mesmo foi verificado

para o peso da placenta, que nesta pesquisa aumentou em função dos dias e do número

de fetos, mas não foi diferente no trabalho conduzido por Lima (2011). Estas diferenças

podem ter ocorrido por se tratarem de raças muito diversas geneticamente em ambos os

trabalhos.

A participação percentual dos produtos da concepção em relação ao peso total do

útero grávido mostrou-se de acordo com os achados da literatura (Figura 7), em que

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houve diminuição geral na proporção do útero vazio e líquido placentário (32 e 49% aos

50 dias, 9 e 19% aos 140 dias, respectivamente), em oposição ao crescimento fetal ao

longo da gestação, com aumento relativo de 3 para 55% dos 50 para os 140 dias. Os

resultados obtidos por Rattray et al. (1974) foram de 25% para o útero e 37% para o

líquido placentário de ovelhas aos 70 dias, aos 140 a proporção diminuiu para 8 e 20%,

respectivamente.

Os resultados divergem quanto às proporções relativas da placenta e dos

placentônios, onde a placenta permanece praticamente inalterada e, os últimos tem seu

crescimento máximo aos 100 dias, quando diminuem após este período (Figura 7), o

que ainda não se pode afirmar se é uma especificidade da raça, uma vez que existem

poucas informações sobre cabras Moxotó. Fandiño (1989) afirma que o tamanho e a

função da placenta mudam continuamente, tendo o maior crescimento dos 50 aos 100

dias de gestação e, segundo Maynard & Loosli (1974), ao término da gestação, o peso

da placenta não supera 20% do peso total dos produtos da concepção.

Lima (2011) destaca em seus resultados que o peso da placenta, útero vazio,

líquido placentário e placentônios diminuíram proporcionalmente em relação ao útero

grávido, ocorrendo o inverso para a proporção dos fetos ao longo da gestação. Sugere-se

que as diferenças com os nossos resultados se devem, também, a ausência de

significância nos dados absolutos deste autor, que culminam por interferir nos

resultados relativos.

Desenvolvimento da glândula mamária

O desenvolvimento da glândula mamária foi influenciado diretamente pelos dias

de gestação, principalmente após 100 dias, quando a deposição de nutrientes

acompanhou o aumento do peso, período em que ocorreram incrementos médios nas

quantidades absolutas da MS, proteína, gordura, MM e energia (Tabela 8). Mas, é

importante registrar que ocorreram diminuições na gordura (g/ kg de glândula) e energia

(kcal/kg de glândula) ao longos dos dias, o que se deve ao aumento de tecido secretor

em relação ao tecido adiposo. Corroborando com os resultados de Lima (2011), onde a

maior parte do desenvolvimento ocorreu nos 110 e 140 dias, que aponta uma possível

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ligação destes resultados com o aumento do tamanho dos alvéolos e produção de

colostro que se iniciam nesta fase final.

Rattray et al. (1974) observaram que não houve diferença na composição da

glândula até os 70 dias de gestação e, após este período, os percentuais aumentaram de

forma a atingir o máximo aos 125 dias. Com relação composição percentual, a

tendência dos resultados destes autores foram semelhantes aos desta pesquisa, porém

com menores valores de proteína, gordura, minerais e energia para as ovelhas nas

mesmas fases gestacionais.

Não foi verificada diferença quanto ao números de fetos, ao contrário das

observações feitas por Fandiño (1989), quando afirma que durante a gestação o aumento

do peso do úbere sofre influência do número de fetos, sendo esta diferença pouco

perceptível até 50 dias de gestação. Acrescentando que este aumento de peso, deve-se

ao teor de água que se eleva do início para o final da gestação mas, a proporção de

proteína permanece relativamente constante ao longo da gestação. De acordo com Ji et

al. (2006), o desenvolvimento da glândula mamária é mais acelerado no terço final da

gestação, porque este período coincide com a elevação das concentrações séricas de

hormônios mamogênicos como estrogênio, relaxina e prolactina.

A restrição alimentar não promoveu modificações no crescimento e deposição de

nutrientes na glândula mamária (Tabela 8), o que pode ser atribuído ao fato das cabras

utilizadas não serem primíparas, uma vez que as principais modificações influenciadas

pela dieta ocorrem na primeira gestação, quando estas fêmeas ainda não atingiram seu

completo desenvolvimento.

Segundo Carstens et al. (1997), as célula parenquimáticas são muito sensíveis ao

plano nutricional nas novilhas, interferindo na composição tecidual da glândula e,

posterior diminuição da produção de leite. É importante argumentar também que o

menor nível de restrição aplicado pode não ter sido severo o suficiente para influenciar

nestes resultados e, ainda, porque ainda não se tem conhecimento das exigências

nutricionais destas cabras na fase gestacional ou, estas cabras mobilizaram reservas

suficientes para suprirem os requerimentos dos produtos da gestação.

Os resultados corroboram com aqueles encontrados por Nørgaard et al. (2008), em

trabalho com objetivo de verificar o efeito da restrição de 50% na da energia e proteína

em ovelhas pluríparas no final da gestação, sobre o desenvolvimento da glândula,

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desempenho pós-parto da mãe e da cria e concentrações de IGF-1 no sangue e na

glândula, concluíram que a restrição não afetou o desenvolvimento da glândula e dos

fetos, apesar de ter ocorrido diminuição na produção de colostro, não foi de refletida no

desempenho pós-natal. Enfatizando ainda que devido à alta condição corporal no início

da gestação, estas fêmeas tiveram ampla mobilização de tecidos, os quais foram capazes

de suprir o que não estava sendo absorvido, sendo compensado o déficit na fase

seguinte, a lactação. Entretanto, Macedo Júnior (2008) enfatiza que o desenvolvimento

da glândula mamária ovelhas em gestação é altamente dependente da nutrição, do

número de fetos e da fase gestacional.

Anderson (1975) avaliou o desenvolvimento da glândula mamária de ovelhas

Romney dos 5 dias após o nascimento até os primeiros 5 dias de lactação, observando

que 25% do crescimento, com base no peso úmido, ocorre do nascimento ao início da

gestação, 55% durante a gestação e 20% na lactação. Entretanto, quando considerada a

quantidade de DNA existente, que demonstra ser uma medida mais realista, este

crescimento correspondeu a 20% até o início da gestação, 78% durante e, 2% no

período de lactação.

No entanto, Van der Linden, et al. (2009) destacam que borregas nascidas de

ovelhas que se alimentaram com dieta de mantença durante o período gestacional,

obtiveram maior peso da glândula mamária na fase fetal e maior produção de leite

quando atingiram fase adulta. Estes resultados demonstram como a nutrição materna

tem reflexos nas gerações seguintes, porém ainda não esclarecem os mecanismos

fisiológicos envolvidos nestas situações.

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CONCLUSÕES

A fase de gestação é determinante de primeira ordem nas mudanças ocorridas no

organismo materno e no desenvolvimento dos conceptos e da glândula mamária.

O crescimento e a deposição de nutrientes no útero grávido em cabras com

gestação gemelar, somente é evidenciada no terço final desta fase.

A restrição alimentar durante a fase gestacional promove modificações na

composição corporal materna.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS E IMPLICAÇÕES

Conhecer os mecanismos fisiológicos que envolvem o período de gestação é

fundamental para adequação de qualquer sistema produtivo, uma vez que a eficiência

alcançada nesta fase, é condição para o sucesso das fases produtivas subsequentes. As

informações capazes de esclarecer como esses mecanismos funcionam em sua

totalidade, ainda são escassas, principalmente se tratando da espécie caprina.

Evidencia-se a necessidade de avaliar de que maneira estas fêmeas gestantes

modificam o metabolismo, porque algumas respondem com aumento da ingestão de

nutrientes, enquanto outras diminuem, sem que haja prejuízos no desenvolvimento dos

produtos da concepção. É preciso avaliar de modo mais profundo o fluxo de nutrientes e

as modificações nas estruturas histológicas e celulares no organismo materno e fetal,

para se cercar de argumentos suficientes para este entendimento. É importante destacar

que a raça Moxotó demonstrou uma característica pouco comum às outras raças, o

maior consumo de nutrientes no decorrer da gestação, isto sugere, também, a

necessidade de outros trabalhos que avaliem se estas diferenças, principalmente

utilizando modelos experimentais mais simplificados e diretos.

Este trabalho poderá contribuir sobremaneira na área nutricional, porque além de

tratar de um tema complexo, como é o caso da gestação, aborda fatores que interferem

diretamente nesta fase produtiva e, ainda aumenta os questionamentos acerca das

respostas de uma raça adaptada a condições de semiaridez.

Espera-se prosseguir com trabalho dos dados que contemplarão a determinação

das exigências em proteína, energia e minerais, para que futuramente, estes resultados

sejam incorporados aos esforços de outras Instituições do nosso País, tornando possível

a elaboração de uma tabela baseada nas diferentes raças criadas no Brasil, sob as

diversas condições ambientais.