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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
PROGRAMA DE DOUTORADO INTEGRADO EM ZOOTECNIA
DESENVOLVIMENTO FETAL E COMPOSIÇÃO CORPORAL DE
CABRAS MOXOTÓ EM GESTAÇÃO
LÍGIA MARIA GOMES BARRETO
AREIA – PB
FEVEREIRO - 2012
i
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
PROGRAMA DE DOUTORADO INTEGRADO EM ZOOTECNIA
DESENVOLVIMENTO FETAL E COMPOSIÇÃO CORPORAL DE
CABRAS MOXOTÓ EM GESTAÇÃO
LÍGIA MARIA GOMES BARRETO
Zootecnista
AREIA – PB
FEVEREIRO - 2012
ii
LÍGIA MARIA GOMES BARRETO
DESENVOLVIMENTO FETAL E COMPOSIÇÃO CORPORAL DE
CABRAS MOXOTÓ EM GESTAÇÃO
Tese apresentada ao Programa de Doutorado Integrado
em Zootecnia, da Universidade Federal da Paraíba,
Universidade Federal Rural de Pernambuco e a
Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial
para obtenção do título de Doutora em Zootecnia.
Área de concentração: Nutrição Animal
Comitê de Orientação:
Prof. Dr. Ariosvaldo Nunes de Medeiros
Prof.ª Dr.ª Izabelle Auxiliadora Molina de Almeida Teixeira
Prof. Dr. Roberto Germano Costa
AREIA-PB
FEVEREIRO – 2012
Ficha Catalográfica Elaborada na Seção de Processos Técnicos da
Biblioteca Setorial do CCA, UFPB, Campus II, Areia – PB.
B273d Barreto, Lígia Maria Gomes.
Desenvolvimento fetal e composição corporal de cabras Moxotó em
gestação. / Lígia Maria Gomes Barreto. - Areia: UFPB/CCA, 2012.
108 f. : il.
Tese (Doutorado em Zootecnia) - Centro de Ciências Agrárias.
Universidade Federal da Paraíba, Areia, 2012.
Bibliografia.
Orientador(a): Ariosvaldo Nunes de Medeiros.
Co-orientador(a): Izabelle A. M. de Almeida Texeira, Roberto Germano Costa.
1. Caprino – abate comparativo 2. Caprino – glândula mámaria 3. Caprino
– útero grávido 4. Caprino – Semiárido I. Medeiros, Ariosvaldo Nunes
(Orientador) II.Título.
UFPB/CCA CDU: 636.39(043.2)
iii
iv
DADOS CURRICULARES DA AUTOR0A
LÍGIA MARIA GOMES BARRETO - Filha de José Gomes Filho e Maria de Lourdes
Barreto Gomes, nascida em 09 de Fevereiro de 1983, na cidade de Gurjão-PB. Residiu
durante toda infância e adolescência na cidade de Santo André-Paraíba, onde estudou na
Escola Estadual Álvaro Gaudêncio de Queiroz desde o primário até sua conclusão do
ensino médio em dezembro de 1999. Em 2001 ingressou no curso de Zootecnia da
Universidade Federal da Paraíba, Campus II, Areia. Quando acadêmica foi bolsista
PIBIC/CNPq por 44 meses, participando de diversos trabalhos nas áreas de Sistemas de
Produção, Reprodução e Nutrição Animal, neste período foi orientada pelo professor
Dr. Edgard Cavalcanti Pimenta Filho. Em 17 de Junho de 2006, graduou-se em
Zootecnia pela UFPB. Em Março de 2006 ingressou no Curso de Mestrado em
Produção Animal, no Programa de Pós-Graduação em Zootecnia/UFPB, no qual foi
bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES,
desenvolvendo sua pesquisa na área de Nutrição de Ruminantes, sob a orientação do
prof. Dr. Ariosvaldo Nunes de Medeiros, Março de 2008. Em 04 de Março de 2008
ingressou no Programa de Doutorado Integrado em Zootecnia/UFPB/UFRPE/UFC, em
que foi bolsista do CNPq. Durante este período, participou de missão de estudos na
Universidade Estadual Paulista-Jaboticabal, através do Programa de Cooperação
Acadêmica-PROCAD/CAPES, também foi bolsista de Doutorado Sanduíche/CNPq
para realização de intercâmbio na Università degli Studi di Sassari, na Itália, sob a
orientação do professor PhD. Antonello Cannas. Em 29 de fevereiro de 2012 submeteu-
se à defesa desta tese, para obtenção do título de Doutora em Zootecnia.
v
Ao único, que é digno de receber
A honra e a glória, a força e o poder
ao REI eterno imortal, invisível, mas REAL
A ELE ministramos o louvor
Coroamos a ti ó rei JESUS
Adoramos o teu nome
Nos rendemos aos seus pés
Consagramos todo o nosso ser a ti... (Aline Barros)
Ao Deus do impossível que tudo sabe, tudo faz, tudo criou e tudo fará,
Nada seria possível sem sua mão amiga, fiel, misericordiosa e amorosa
Que me sustentou todos os dias para que eu não caísse
Que me carregou nos braços quando não tiver forças para caminhar
Que me fez enxergar a luz nos dias escuros
Que enviou seu amado filho para salvação dos meus pecados
Tudo que sou hoje é por Ele e para Ele, para sempre...
O MEU DEUS!
vi
A minha amada família,
Meus pais, José Gomes Filho e Maria de Lourdes Barreto Gomes, pelo amor,
incentivo, por acreditarem, torcerem e vencerem junto comigo.
Minhas irmãs, Estefânia Gomes Barreto, Jacinta de Fátima Gomes Figueiredo
e Amanda Gomes Barreto.
Minha sobrinha querida, Anna Laryssa Fernandes Barreto.
E meu amado Esposo, Jone Emanuel da Silva Pereira, por todos os dias vividos
e os que ainda viveremos, por estar presente e por ser um presente em minha vida, por
me ajudar, me ouvir, me apoiar, confiar, vibrar e, principalmente, me amar...
Esta vitória é nossa e só vocês sabem profundamente todas as lutas, angústias, medos,
batalhas e conquistas.
Dedico
vii
AGRADECIMENTOS
A toda minha família: tias, tios, Huma (mãe do coração) e minhas primas que
me apoiaram e se alegraram com a minha conquista. A família “da Silva Pereira” que
me acolheu, me apoiou e abraçou esta causa junto comigo.
A Danieli da Silva Pereira e Alexandre Parente Lima, que estiveram presentes
nos momentos mais difíceis da minha vida, que me ajudaram de maneira especial, me
fizeram aquilo que somente verdadeiros irmãos são capazes de fazer.
A Universidade Federal da Paraíba, especialmente ao Programa de Doutorado
Integrado em Zootecnia, pela oportunidade de fazer este Curso de Doutorado.
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico - CNPq,
pela concessão das bolsas de doutorado aqui no Brasil e no exterior e demais
investimentos nas etapas da realização deste projeto.
Ao Professor Ariosvaldo Nunes de Medeiros, exemplo de trabalho e dedicação,
por me orientar, por me abrir todas as portas que foram necessárias, por apoiar as
minhas decisões, me ensinar a ser independente e a ser forte, por não impedir os meus
sonhos, por estar presente nos momentos mais críticos e por ter a palavra de apoio no
momento certo.
A Professora Izabelle Auxiliadora Molina de Almeida Teixeira, que me abriu as
portas para um novo mundo, por me acolher na UNESP, me orientar, me incentivar e
me mostrar que o distante pode se tornar próximo se tivermos vontade e perseverança.
Ao professor Kleber Tomás Resende, por me receber em sua equipe e pela
atenção dada durante o período que estive em Jaboticabal.
Ao professor Antonello Cannas, pela impagável honra que me deu de conviver
alguns meses com sua equipe na UNISS em Sassari-IT, por me ensinar um pouco do
muito que sabe e, principalmente, por demonstrar sua grandeza na simplicidade com
que trata a todos no âmbito profissional e pessoal.
A Università degli Studi de Sassari - UNISS, pela oportunidade do intercâmbio.
Aos demais professores e técnicos da UNISS pela atenção e apoio dispensados,
especialmente a Ana Helena Dias Francesconi.
Ao corpo docente do PDIZ/UFPB pelos ensinamentos. A secretária do PDIZ,
Maria das Graças Silva Cruz de Medeiros pela ajuda e amizade. Aos demais
funcionários: Dona Carmem e Sr. Damião.
viii
Aos funcionários da Estação Experimental de São João do Cariri/UFPB e seus
familiares, bem como aos funcionários do Laboratório de Análise e Avaliação de
Alimentos do CCA/UFPB pelo apoio.
A Alessandro Francisco dos Santos, funcionário da Bacia Escola/UFCG, pela
amizade e fornecimento dos dados meteorológicos.
As professoras Madalena Guerra e Áurea Wischal da UFRPE, por disponibilizar
equipamentos e pessoas competentes de sua equipe para fazer o diagnóstico gestacional.
Aos professores da Banca Examinadora, pelas valiosas contribuições neste
trabalho. Minha admiração pela competência de todos vocês: Profa. Ângela Maria
Vieira Batista, Prof. Francisco Fernando Ramos de Carvalho, Prof. Aderbal Marcos da
Silva e Prof. Severino Gonzaga Neto.
Ao prof. José Humberto Vilar, por disponibilizar o Laboratório de Análises de
Alimentos na UFPB-Bananeiras para que pudéssemos finalizar mais rapidamente as
análises.
Ao Prof. Walter Esfraim Pereira, por estar sempre pronto para nos ajudar com as
análises estatísticas, até mesmo nos momentos de férias.
A Rinaldo José de Souto Maior Júnior, amigo, companheiro de experimento, de
momentos marcantes, de muitas alegrias e tristezas também, por estamos juntos nesta
luta do início ao final.
A André Mariano Batista e Pedro Leopoldo Jerônimo Monteiro Júnior pelo
fundamental apoio, amizade e pela disposição em viajar a São João do Cariri por vários
meses, para realizarem o diagnóstico gestacional.
A Anaiane Pereira Souza, Luana Paula dos Santos Ribeiro e Romildo da Silva
Neves que estiveram comigo dias, noites e madrugadas para que este trabalho pudesse
ser concluído “em tempo”.
Aos amigos Lisiane Dorneles de Lima e Herymá Giovani de O. Silva, que me
acolheramno experimento de suas teses durante o período de treinamento na
UNESP/Jaboticabal, os quais continuaram comigo mesmo distantes, ajudando da
melhor maneira para este trabalho fosse realizado.
Aos funcionários Carlinhos e Juninho do Setor de Caprinocultura da UNESP e
toda equipe da Cabritolândia que receberam com muita atenção e alegria: Daiana,
Bruno (Faiado), Matheus, Helen, Samuel, Nariane, Alana e Tiago.
ix
A Mariany Brito, Reutman Alves e Arabella que me acolheram e ajudaram no
período que estive fazendo as análises no Campus III da UFPB em Bananeiras.
Aos amigos e ex-bolsistas PNPD/CAPES: Marcos Jácome de Araújo e
Wellington Samay de Melo, que estiveram conosco nesta caminhada.
Aos amigos de convivência mais próxima, com os quais pude contar com o
apoio no experimento, nas discussões da tese, na convivência e na confidência, que
dividiram as tristezas e multiplicaram as alegrias comigo: Andrezza, Regina, Aurinês,
Cicília, Anaiane, Luana, Aldivan, Thadeu, Meiry, Darklê, Lisiane, Daiana de Oliveira,
Juliana (Nana) e Jussara.
A Andrezza Araújo de França que me acolheu em sua casa nos tempos difíceis,
me transmitiu valores e me ensinou como e porque buscar a Deus para enfrentar os
desafios da vida.
Aos que ajudaram diretamente durante o período experimental e conviveram
comigo em São João do Cariri: Anny Graycy, Juraci Marcos, Vinícius Fonseca, Marcus
Venícius, Maurício, Diego, José Helder, Adriano, Jaqueline, Francisca, Flávio, Ariolino
Neto, Edmarões, Lídia, Rosimery, Saúde, Wésia, Élida, Celso, Renato, Antônio, Rosa,
Gil e Vanúbia.
Ao grupo Nutriáridus pelos bons momentos que tivemos juntos: Alenice, Karla,
Rebeca, Mayara, Gabriel, Cláudio, Maurício, Messias, Mariana, Ana Paula, Hugo e
Alma.
A Oscar Boaventura Neto, mais que um amigo, um irmão, um anjo de guarda,
pessoa de coração grandioso, que me ajudou de maneira incalculável durante a
temporada na Itália.
Agli amici italiani e l'amica spagnola, vi ringrazio l'amicizia e per avete fatto i
miei giorni all’estero più felice , io non vi dimenticherò mai: Marta Concas, Gabriella
Serra, Rossella Manca, Natália Castañares Castro, Giustino Gaspar, Maria Grazia
Manca, Elisa Ortu, Elia Pintus, Maria Anunzziata Pintus, Gian Franco Gaias e sua
fidanzata Elisabeta, Maura Lovico, Alberto Stanislau Atzori e Marta sua sposa,
Alessandro Mazzete, Claúdio Carzzeda, Luana Incollu, Ilsen Cafer e Gavina Mulas.
Muito Obrigada!!!
x
SUMÁRIO
Página
Lista de Tabelas.............................................................................................. xii
Lista de Figuras............................................................................................... xiv
Resumo Geral.................................................................................................. xvi
Abstract xviii
Considerações Iniciais.................................................................................. 1
Capítulo I – Consumo e Digestibilidade dos Nutrientes por Cabras
Moxotó em Gestação .....................................................................................
3
Resumo........................................................................................................... 4
Introdução....................................................................................................... 6
Material e Métodos......................................................................................... 7
Resultados e Discussão................................................................................... 11
Conclusões...................................................................................................... 29
Referências Bibliográficas.............................................................................. 30
Capítulo II – Desenvolvimento Fetal de Caprinos Moxotó.......................... 34
Resumo........................................................................................................... 35
Introdução....................................................................................................... 37
Material e Métodos......................................................................................... 38
Resultados e Discussão................................................................................... 42
Conclusões...................................................................................................... 53
Referências Bibliográficas.............................................................................. 54
Capítulo III – Composição Corporal de Cabras Moxotó na Fase de
Gestação..........................................................................................................
56
Resumo........................................................................................................... 57
Introdução....................................................................................................... 59
Material e Métodos......................................................................................... 60
Resultados....................................................................................................... 64
xi
Discussão........................................................................................................ 76
Conclusões...................................................................................................... 83
Referências Bibliográficas.............................................................................. 84
Considerações Finais e Implicações............................................................ 86
xii
LISTA DE TABELAS
Capítulo I - Consumo e Digestibilidade dos Nutrientes por Cabras Moxotó em
Gestação
Página
Tabela 1. Distribuição das cabras nos tratamentos experimentais.................. 7
Tabela 2. Composição nutricional dos ingredientes das dietas
experimentais...................................................................................
8
Tabela 3. Composição da dieta experimental.................................................. 8
Tabela 4. Consumo de nutrientes e energia em função dos dias de gestação,
do número de fetos e do nível de restrição......................................
12
Tabela 5. Composição da dieta efetivamente consumida em função dos
dias de gestação, do número de fetos e do nível de restrição..........
15
Tabela 6. Consumo de água em função dos dias de gestação, do número de
fetos e do nível derestrição..............................................................
17
Tabela 7. Coeficientes de digestibilidade aparente (CD) dos nutrientes em
função dos dias de gestação, do número de fetos e do nível de
restrição...........................................................................................
19
Tabela 8. Balanço de nitrogênio (g) em função dos dias de gestação, do
número de fetos e do nível de restrição...........................................
20
Tabela 9. Partição da energia ingerida em função dos dias de gestação, do
número de fetos e do nível de restrição...........................................
22
Tabela 10. Peso dos órgãos e componentes do trato gastrintestinal em função
dos dias de gestação, do número de fetos e do nível de restrição...
27
Capítulo II - Desenvolvimento Fetal de Caprinos Moxotó
Página
Tabela 1. Distribuição das cabras nos tratamentos experimentais.................. 39
Tabela 2. Composição nutricional dos ingredientes das dietas
experimentais..................................................................................
39
xiii
Tabela 3. Composição da dieta experimental................................................. 40
Tabela 4. Peso corporal (g) e medidas morfométricas (cm) dos fetos em
função dos dias de gestação, do tipo de gestação e do nível de
restrição...........................................................................................
42
Tabela 5. Coeficientes de correlação de Pearson entre o peso individual dos
fetos e suas respectivas medidas morfométricas.............................
45
Tabela 6. Taxas de crescimento diária, relativo e instantâneo dos fetos em
função do tipo de gestação..............................................................
46
Tabela 7. Ganho em peso diário (g/dia) das cabras em função do tipo de
gestação e nível de restrição............................................................
47
Tabela 8. Consumo de nutrientes e energia em função dos dias de gestação,
do número de fetos e do nível de restrição......................................
49
Tabela 9. Composição química dos fetos em função dos dias, do tipo de
gestação e da dieta...........................................................................
51
Capítulo III - Composição Corporal de Cabras Moxotó na Fase de Gestação
Página
Tabela 1. Distribuição das cabras nos tratamentos experimentais................... 60
Tabela 2. Composição nutricional dos ingredientes das dietas
experimentais....................................................................................
61
Tabela 3. Composição da dieta experimental................................................... 61
Tabela 4. Consumo de nutrientes e energia em função dos dias de gestação,
do número de fetos e do nível de restrição.......................................
65
Tabela 5. Escore de condição corporal (ECC), peso corporal, ganho em
peso, peso de corpo vazio e de carcaça em função dos dias de
gestação, do número de fetos e nível de restrição............................
65
Tabela 6. Composição do corpo vazio livre em função dos dias de gestação,
do número de fetos e do nível de restrição.......................................
69
Tabela 7. Composição do útero grávido em função dos dias de gestação, do
número de fetos e do nível de restrição............................................
71
xiv
Tabela 8. Composição da glândula mamária em função dos dias de gestação,
do número de fetos e do nível de restrição.......................................
75
LISTA DE FIGURAS
Capítulo I - Consumo e Digestibilidade dos Nutrientes por Cabras Moxotó em
Gestação
Página
Figura 1. Mudança no peso corporal (kg) das cabras consumindo dieta
com 0% de restrição do início ao final da gestação.......................
25
Figura 2. Mudança no peso corporal (kg) das cabras consumindo dieta
com 20% de restrição do início ao final da gestação.....................
25
Figura 3. Mudança no peso corporal (kg) das cabras consumindo dieta
com 40% de restrição do início ao final da gestação.....................
26
Capítulo II - Desenvolvimento Fetal de Caprinos Moxotó
Página
Figura 1. Retenção de matéria seca, água, proteína, gordura, matéria
mineral (g) e energia (kcal) em função da interação tipo gestação
e dias de gestação.............................................................................
52
Capítulo III - Composição Corporal de Cabras Moxotó na Fase de Gestação
Página
Figura 1. Variação do ECC em função dos dias de gestação e do nível de
restrição.............................................................................................
66
Figura 2. Peso de corpo vazio em função dos dias de gestação e do nível de
restrição.............................................................................................
67
Figura 3. Peso de corpo vazio livre em função dos dias de gestação e do nível
de restrição..........................................................................................
68
Figura 4. Quantidade de gordura (a) e energia (b) retidas no corpo vazio
xv
livre, em função dos dias de gestação e do nível de restrição............ 70
Figura 5. Crescimento do útero grávido em função dos dias e do tipo de
gestação..............................................................................................
73
Figura 6. Quantidades de proteína (a) e gordura (b) retidas no útero grávido
em função dos dias e do tipo de gestação...........................................
73
Figura 7. Participação percentual dos conceptos em relação ao peso do útero
grávido em função dos dias de gestação.............................................
74
xvi
DESENVOLVIMENTO FETAL E COMPOSIÇÃO CORPORAL DE CABRAS
MOXOTÓ EM GESTAÇÃO
RESUMO GERAL
Objetivou-se avaliar o consumo, digestibilidade, desenvolvimento fetal e composição
corporal de cabras da raça Moxotó em gestação. Este trabalho foi conduzido na Estação
Experimental de São João do Cariri-PB. Oito cabras não prenhes foram abatidas para
representar a composição corporal inicial. Um grupo de cabras aptas à reprodução foi
submetido à sincronização de cio, mediante aplicação de hormônios e, aquelas que
apresentaram cio foram cobertas, por meio de monta natural controlada. Trinta dias após
o primeiro acasalamento, foi realizado o diagnóstico de gestação e a contagem do
número de fetos, por meio da técnica de ultrassonografia. Após confirmada a gestação e
determinados o número de fetos, as cabras foram agrupadas conforme o dia de gestação
(50, 100 e 140 dias), o tipo de gestação (simples ou gemelar) e o nível de restrição (0%,
20% e 40% de restrição). O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente
casualizado, em arranjo fatorial 3x2x3 (dia gestacional, número de fetos e nível de
restrição). As cabras permaneceram em baias individuais, com 3,75 m2 e piso de chão
batido durante todo período experimental. As cabras que foram abatidas aos 140 dias,
foram colocadas em gaiolas para ensaio de metabolismo nas diferentes fases avaliadas
(50, 100 e 140 dias) e permaneceram nestas por um periodo de 15 dias, 10 para
adaptaçao e 5 para coleta de material. Os abates foram realizados aos 50, 100 e 140 dias
após a última cobertura, através de concussão cerebral e posterior sangria. O sangue foi
colhido e pesado, bem como o trato gastrintestinal (antes e após retirada do conteúdo) e
todos os órgãos individualmente. O úbere e o útero grávido (útero, fetos, estruturas e
líquidos fetais) foram removidos, pesados e congelados. As amostras congeladas foram
serradas, moídas e homogeneizadas e novamente congeladas, após congelamento foi
feita a liofilização e as análises laboratoriais. Os resultados apontaram que as cabras
elevaram o consumo de nutrientes e energia no período final da gestação, mas não
modificaram a digestiblidade dos nutrientes, por aumentarem as perdas de energia nas
fezes e na forma de gases. A restrição alimentar melhorou a digestibilidade da fibra e
diminuiu as perdas de nitrogênio e energia, não afetando o crescimento fetal. Fetos
oriundos de gestações duplas são menos desenvolvidos individualmente que fetos
xvii
simples. O acúmulo de nutrientes nos fetos acompanha seu ganho em peso. A fase de
gestação é determinante de primeira ordem nas mudanças ocorridas no organismo
materno e no desenvolvimento dos conceptos e da glândula mamária, mas as mudanças
mais significativas ocorrem somente no terço final desta fase. A restrição alimentar
durante a fase gestacional promove modificações na composição corporal materna, no
intuito de garantir o desenvolvimento dos tecidos prioritários, sem que ocorram
alterações na composição química destes tecidos.
Palavras-chaves: Abate comparativo, caprino nativo, glândula mamária, útero grávido,
semiárido
xviii
FETAL GROWTH AND BODY COMPOSITION OF PREGNANT MOXOTÓ
GOATS
ABSTRACT
The aim of the present study was to evaluate food intake and digestibility, fetal
development and body composition in pregnant goats of the Moxotó breed. The study
was conducted at the Experimental Station in São João do Cariri, state of Paraíba,
Brazil. Eight non-pregnant goats were slaughtered for the determination of initial body
composition. A group of goats were selected for the synchronization of estrus by the
application of hormones and those in estrus were submitted to controlled, natural
mating. Thirty days after the first mating, pregnancies were diagnosed and fetal counts
were performed using ultrasound. The goats were then grouped based on day of
gestation (50, 100 and 140 days), type of pregnancy (single or twin) and feeding level
(0%, 20% and 40% restriction). The experimental design was completely randomized in
a 3x2x3 factorial arrangement (pregnancy day, number of fetuses and restriction level).
The animals remained in individual pens measuring 3.75 m2 with a dirt floor throughout
the experimental period. The goats were placed in metabolism cages for testing at
different stages of development (50, 100 and 140 days) and remained in these cages for
a period of 15 days (10 for adaptation and 5 for sample collections). Goats were
slaughtered at 50, 100 and 140 days after the last cover by cerebral concussion and
subsequent bleeding. Blood was collected and weighed. The gastrointestinal tract
(before and after removal of content) and all the organs were weighed individually. The
udder and gravid uterus (womb, fetuses, fetal fluids and structures) were removed,
weighed and frozen. Frozen samples were sawn, milled, homogenized and frozen again,
followed by freeze drying and laboratory testing. The results showed that goats
increased the consumption of nutrients and energy in late gestation, but did not affect
digestibility of nutrients by increasing energy losses through the feces and in the form
of gas. Food restriction improved fiber digestibility and reduced the loss of nitrogen and
energy, with no effect on fetal growth. Fetuses resulting from twin gestations were
individually less developed that those from single gestations. The accumulation of
nutrients in the fetuses accompanied their weight gain. The stage of pregnancy is a
xix
determinant of first-order changes in the mother, fetal development and the mammary
glands. However, the most significant changes only occur in the final third of gestation.
Food restriction during gestation promotes changes in maternal body composition in
order to ensure the development of priority tissues, with no changes occurring in the
chemical composition of these tissues.
Keywords: Comparative slaughter, mammary gland, native goat, pregnant uterus,
semiarid
1
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O nordeste brasileiro abriga a maior população caprina do país, composta por
animais de diversas raças e aptidões, petencentes aos troncos europeu, africano e os
genótipos nativos ou naturalizados. Grande parte desse efetivo conta com animais sem
padrão racial definido, oriundos de cruzamentos das raças nativas com exóticas. Das
raças nativas do Nordeste, a Moxotó destaca-se com a maior população, sendo a
primeira destas com registro genealógico reconhecida oficialmente pelo Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
A atividade caprina no nordeste brasileiro apresenta-se como alternativa viável
para geração de renda nas pequenas propriedades, principalmente pelo fácil manejo dos
animais e exigência de pequenas áreas para a criação. O sistema de produção extensivo
é predominante na maioria das propriedades rurais, principalmente na criação desses
caprinos para corte, onde os animais ficam vulneráveis aos efeitos da sazonalidade da
disponibilidade de recursos forrageiros. No caso da caprinocultura leiteira, este
panorama é diferenciado, a cadeia produtiva do leite caprino está se estabelendo e
organizando-se, com o crescimento impulsionado por incentivos governamentais.
Na caprinocultura como em qualquer sistema de produção animal, ainda são
verificadas dificuldades na implementação de programas alimentares, sendo
imprescindível o correto manejo nutricional, com dietas devidamente balanceadas e
adequadas ao estádio fisiológico (cria, recria, gestação, lactação ou terminação) e nível
de produção dos animais, desta forma evita-se desperdício financeiro e ambiental.
Neste sentido, as cabras gestantes carecem atenção especial, pois os nutrientes
exigidos pelo organismo da fêmea nesta fase atenderão à manutenção do corpo,
processos vitais, metabolismo basal, mas principalmente, serão direcionados ao útero
grávido e glândula mamária. No primeiro e segundo terço da gestação, que compreende
ao período da concepção aos 100 dias gestacionais, os requerimentos de proteína,
energia, minerais e vitaminas podem ser semelhantes às exigências de mantença. Nos
últimos 50 dias ocorrem modificações mais intensas no metabolismo, uma vez que as
necessidades nutricionais dos produtos da gestação (útero, placenta, fetos, líquidos e
2
glândula mamária) tornam-se maiores, principalmente devido ao crescimento dos fetos
que ocorre de forma exponencial.
Aliada à nutrição adequada, é importante que as cabras estejam com boa
condição corporal neste período, uma vez que a partição dos nutrientes favorece o
crescimento fetal em detrimento aos requerimentos das fêmeas gestantes, marcadamente
no terço final, pois este momento culmina com a redução da ingestão de matéria seca,
provocada por mecanismos físicos e hormonais inerentes a esta fase, de forma que deve-
se aumentar a concentração energética da ração. Nos casos em que as fêmeas são
submetidas a um nível nutricional inadequado durante o terço final da gestação, utilizam
suas reservas corporais na tentativa de manter o aporte de nutrientes priorizado para o
crescimento fetal, resultando em perda de peso das fêmeas.
Diversos fatores podem alterar o crescimento e desenvolvimento dos produtos
da gestação, podendo-se destacar alguns como: a influência do número de fetos, raça,
idade materna e nível de alimentação. Destes, a subalimentação pode provocar prejuízos
à mãe, por prolongar a recuperação da condição corporal, aumento do intervalo entre
partos, redução do número de partos gemelares e má preparação da glândula mamária
para a fase lactacional. No caso dos fetos, a consequência da subnutrição ultrapassa a
fase fetal, gerando redução do peso ao nascimento, retardo de crescimento, capacidade
de crescimento muscular reduzida e maior tempo para atingir o peso ao abate.
Para tanto, o enfoque deste estudo no período gestacional faz-se necessário, em
razão do reduzido número de trabalhos abordando esta etapa do ciclo produtivo, aliado à
utilização de uma raça nativa, a Moxotó, que representa a realidade da Região Nordeste,
pois não seria indicado utilizar modelos produtivos oriundos de regiões diferentes, sem
as devidas adaptações para a realidade local.
Diante do exposto, serão apresentados três capítulos de resultados desta
pesquisa: o capítulo I aborda o Consumo e a digestibilidade de nutrientes por cabras
Moxotó em gestação; o capítulo II o Desenvolvimento fetal de caprinos Moxotó e; o
capítulo III trata da Composição corporal de cabras Moxotó na fase de gestação. Por
fim, são realizadas as considerações finais e algumas implicações sobre o tema
abordado.
3
CAPÍTULO I
CONSUMO E DIGESTIBILIDADE DE NUTRIENTES POR
CABRAS MOXOTÓ EM GESTAÇÃO
4
CONSUMO E DIGESTIBILIDADE DE NUTRIENTES POR CABRAS
MOXOTÓ EM GESTAÇÃO
RESUMO
Objetivou-se avaliar a influência do período de gestação, do número de fetos e do nível
de restrição sobre consumo, digestibilidade, balanço de nitrogênio e partição de energia
em cabras gestantes da raça Moxotó em confinamento. O delineamento utilizado foi o
inteiramente casualizado em um arranjo fatorial 3x2x3 (três períodos de gestação, dois
tipos de fetos e três níveis de restrição). Houve aumento no consumo de MS, PB, EE,
EM, FDN e água com o avanço da gestação, mas não foram modificados os coeficientes
digestiblidade. O número de fetos não alterou o consumo nem o aproveitamento dos
nutrientes pelas cabras gestantes. Com a restrição alimentar e consequente diminuição
do consumo de nutrientes, houve aumento na digestibilidade da FDN, além de redução
nas perdas de nitrogênio (g) e energia (kcal) na forma de fezes e urina. O peso dos
órgãos foi influenciado pelos dias de gestação, com aumento no peso do sangue,
coração, fígado e tratogastrintestinal (TGI), mas as reservas de gordura interna foram
reduzidas. O número de fetos não afetou estas variáveis, mas o TGI reduziu de peso
com o nível de 40% de restrição, que também promoveu diminuição da gordura
mesentérica. No entanto, devido ao crescimento dos produtos da concepção, o peso
corporal das cabras aumentou, independentemente do número de fetos e da dieta
consumida.
Palavras-chave: caprino nativo, partição de energia, semiárido, status nutricional
5
NUTRIENT INTAKE AND DIGESTIBILITY IN PREGNANT MOXOTÓ
GOATS
ABSTRACT
The aim of the present study was to evaluate the influence of gestation period, number
of fetuses and restriction level on nutrient intake, digestibility, nitrogen balance and
energy partitioning in pregnant goats of the Moxotó breed in confinement. The
experimental design was completely randomized in a 3x2x3 factorial arrangement (three
periods of gestation, two types of fetuses and three restriction levels). Increased DM,
CP, EE, NDF and water occurred with the advance in gestation, but with no change in
digestibility coefficients. The number of fetuses did not affect nutrient intake or use by
the pregnant goats. With food restriction and the consequent reduction in nutrient
intake, improved NDF digestibility and reduced losses of nitrogen (g) and energy (kcal)
in the form of feces and urine were detected. Organ weight was influenced by days of
gestation, with an increase in the weight of the blood, heart, liver and gastrointestinal
tract, but diminishing reserves of internal fat. The number of fetuses did not affect these
variables. Forty percent restriction led to a reduction in the weight of the gastrointestinal
tract as well as a reduction in mesenteric fat. However, due to the growth of the fetuses,
the body weight of the goats increased, regardless of the number of fetuses and diet
consumed.
Keywords: native goat, energy partitioning, semiarid, nutritional status
6
INTRODUÇÃO
A fase de gestação é de extrema importância na vida reprodutiva e produtiva de
cabras, por conseguinte, a ingestão de alimentos e o aproveitamento adequado dos
nutrientes pelo organismo são decisivos para o bom desenvolvimento de suas crias.
A ingestão de alimentos é geralmente proporcional à demanda energética. No
animal gestante, a demanda nutricional pelo feto aumenta progressivamente e
concomitante ao volume ocupado na cavidade abdominal, que afeta a ingestão
voluntária de alimentos (Van Soest, 1994).
O consumo e a digestibilidade de nutrientes podem estar correlacionados entre
si, dependendo da qualidade da dieta. Para dietas de alta digestibilidade (acima de 66%),
ricas em concentrado (acima de 75%) e com baixo teor de FDN (abaixo de 25%), o
consumo será menor quanto mais digestível for o alimento e, em dietas de baixa
qualidade (acima de 75% de FDN), o consumo será maior quanto melhor for a
digestibilidade do alimento (Mertens, 1994).
Em pesquisas com vacas e ovelhas, constatou-se decréscimo na ingestão de MS
no período que compreende o terço final da gestação. Segundo Drackley (1999), a
redução na ingestão de MS pode atingir níveis entre 25 e 35% em vacas e, de acordo
com o NRC (2001), o fornecimento de ração mais energética durante as três semanas
pré-parto promove benefícios nesta etapa produtiva. Todavia, estes mecanismos ainda
não estão bem entendidos. Principalmente para cabras, o efeito da distensão física sobre
a ingestão de alimentos no período gestacional não está claro.
Para a espécie caprina evidencia-se a necessidade de avaliar os mecanismos que
envolvem a variação de consumo e de digestibilidade no período de gestação e, deste
modo, pretende-se realizar estudos com caprinos nativos da Região Nordeste do Brasil,
uma vez que ainda são poucos os trabalhos com tais raças. Portanto, objetivou-se avaliar
a influência da fase gestacional, do número de fetos e do nível de alimentação, sobre o
consumo, digestibilidade, balanço de nitrogênio e partição de energia por cabras da raça
Moxotó em confinamento.
7
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi desenvolvido na Estação Experimental de São João do Cariri,
pertencente ao Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba -
CCA/UFPB, localizada no município de São João do Cariri – PB. O período
experimental foi de 22 meses, compreendidos entre abril de 2009 e fevereiro de 2011.
Em condições pré-experimentais, as cabras utilizadas foram escolhidas em
função da ordem de parição, de forma que tivessem parido no mínimo uma vez, que
tivessem glândula mamária em ótimo estado, e que estivessem em final de gestação ou
recém-paridas. Em função das diferenças na fase produtiva e condição corporal, houve
um período de adaptação e homogeneização dos lotes por cerca de cinco meses. Todas
as fêmeas foram vermifugadas e vacinadas contra clostridioses, além de receberem
aplicação do complexo vitamínico ADE.
À medida que as cabras não gestantes e não lactantes atingiram escore de
condição corporal entre 2,0 e 3,0 pontos, foram submetidas à sincronização de cio
através de um protocolo com oito dias de duração. No primeiro dia foi colocado o
dispositivo intravaginal impregnado com progesterona sintética e aplicado 0,5mL de um
agente luteolítico (d-Cloroprostenol, análogo sintético da PGF2α). Sete dias após, foram
retirados os dispositivos intravaginais e aplicado 1,0 mL de gonadotrofina coriônica
equina (eCG), via intramuscular. As cabras ciclaram no oitavo dia, cerca de 24 horas
após a aplicação da eCG, quando foram utilizados dois reprodutores da mesma raça para
fazer a cobertura das fêmeas.
Trinta dias após a cobertura foi realizado o diagnóstico de gestação e a contagem
do número de fetos, por meio de ultrassonografia em via transretal. Com a confirmação
do tipo de prenhez (simples ou gemelar), foram constituídos os grupos experimentais,
em função do número de fetos e nível de restrição. Os animais foram abatidos nas três
fases da gestação, aos 50, 100 e 140 dias (Tabela 1).
Tabela 1. Distribuição das cabras nos tratamentos experimentais
Fase gestacional 0% de restrição 20% de restrição 40% de restrição
1 feto 2 fetos 1 feto 2 fetos 1 feto 2 fetos
50 dias 4 4 4 4 4 4
100 dias 4 3 3 4 4 4
140 dias 4 4 4 4 4 4
8
As cabras foram mantidas confinadas em baias individuais de 3,75 m2
cada,
recebendo dieta balanceada para atender as exigências de gestação, com 2,49 Mcal de
energia metabolizável por quilograma de matéria seca (Tabelas 2 e 3).
A ração foi fornecida duas vezes ao dia, às 7h e 15h, ajustadas de forma que as
sobras fossem em torno de 15% do fornecido para o grupo alimentado ad libitum, com
disponibilidade irrestrita de água para todos os animais. O volumoso utilizado foi o feno
de tifton 85 e o concentrado a base grão de milho triturado, farelo de soja, suplemento
mineral e calcário calcítico, em uma relação volumoso:concentrado de 60:40 na MS
(Tabelas 2 e 3).
Tabela 2. Composição nutricional dos ingredientes das dietas experimentais
Item (g/kg) Feno de tifton Milho moído Farelo de soja
Matéria seca 870,2 868,9 877,9
Matéria mineral 75,5 19,0 62,1
Proteína bruta 63,2 85,4 475,1
Extrato etéreo 21,1 46,2 20,2
Fibra em detergente neutro cp1 740,3 138,2 111,4
Fibra em detergente ácido 426,1 42,4 70,3
Carboidratos não fibrosos 99,8 711,2 331,1 1Corrigida para cinzas e proteína
Tabela 3. Composição da dieta experimental
Ingrediente g/kg de MS
Feno de tifton 85 600,0
Milho moído 280,0
Farelo de soja 95,0
Calcário calcítico 15,0
Suplemento mineral1 10,0
Composição química (g/kg de MS)
Matéria seca 873,1
Proteína bruta 107,0
Extrato etéreo 27,5
Fibra em detergente neutro cp2 493,5
Fibra em detergente ácido 274,2
Carboidratos não fibrosos 290,5
Nutrientes digestíveis totais 655,5
Valor energético (Mcal/kg de MS)
Energia metabolizável 2,49 1Suplemento mineral (nutriente/kg de suplemento): vitamina A 135.000,00 U.I.; Vitamina D3 68.000,00 U.I.;
vitamina E 450,00 U.I.; Ca 240 g; P 71 g; K 28,2 g; S 20 g; Mg 20 g; Cu 400 mg; Co 30 mg; Cr 10 mg; Fe 2500 mg;
I 40 mg; Mn 1350 mg; Se 15 mg; Zn 1700 mg; F máximo 710 mg; Solubilidade do Fósforo (P) em ÁcidoCítrico a
2% (min.). 2Corrigida para cinzas e proteína
9
A restrição alimentar foi aplicada após confirmação da prenhez, realizando-se
ajuste diário da ração oferecida em função da quantidade consumida pelas fêmeas que
recebiam ração ad libitum. Os níveis de restrição aplicados foram de 20 e 40%. Cada
cabra do grupo restrito nutricionalmente consumia de acordo com uma cabra do grupo
ad libitum que tivesse o peso corporal mais próximo ao seu. O acompanhamento do
peso corporal das cabras foi realizado semanalmente, antes do arraçoamento matinal.
Para a avaliação da digestibilidade, foram utilizadas apenas as cabras que foram
abatidas aos 140 dias de gestação. O ensaio de metabolismo foi realizado em três
períodos distintos: dos 35 aos 50 dias (terço inicial da gestação), dos 85 aos 100 dias
(terço médio da gestação) e dos 125 aos 140 dias (terço final da gestação). Cada período
consistiu em 10 dias para adaptação dos animais às gaiolas e 5 dias para coleta de
material. Todas as cabras foram pesadas antes e após o término de cada ensaio de
digestibilidade, sempre antes do fornecimento matinal de alimentos. As gaiolas para
ensaio de metabolismo foram colocadas dentro da baia de cada fêmea avaliada e eram
providas de comedouro, bebedouro e dispositivo para coletas separadas de fezes e urina.
Nas coletas de urina, foram utilizados baldes confeccionados em plástico
contendo 100 mL de H2SO4 na concentração de 20 mL/100 mL para conservar o
nitrogênio da urina, bem como acidificar o meio e evitar proliferação microbiológica.
Os baldes foram cobertos com um pano filtrante para evitar a contaminação da urina
com material externo.
As amostras das rações, ingredientes, sobras, fezes e urina foram colhidas
durante cinco dias e retiradas alíquotas de 20% do total de cada dia, as quais foram
colocadas em sacos plásticos e armazenadas em congelador a -20°C para posteriores
análises químicas.
As análises químicas foram realizadas no Laboratório de Nutrição Animal do
Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba. Foram determinadas
matéria seca (MS) método 967.03 (AOAC, 1990), matéria mineral (MM) método
942.05 (AOAC, 1990), proteína bruta (PB) método 981.10 (AOAC, 1990) e extrato
etéreo (EE) método 920.29 (AOAC, 1990). Para determinação da fibra em detergente
neutro (FDN) e fibra em detergente ácido (FDA), utilizou-se a metodologia determinada
por Van Soest et al. (1991) em aparelho ANKOM220®
, da Ankom Tecnology
Corporation, com modificações nos sacos, que foram confeccionados com TNT (tecido
10
não tecido) gramatura 100 g/m2. As amostras de FDN foram corrigidas para cinzas e
proteína, conforme recomendações de Licitra et al. (1996) e Mertens (2002),
respectivamente. A energia bruta (EB) foi determinada em bomba calorimétrica
adiabática de Parr.
Os carboidratos não fibrosos (CNF) foram calculados de acordo com Detmann
& Valadares Filho (2010) como: CNF (%) = 100 - % MM - %EE - %FDNcp - %PB. Os
coeficientes de digestibilidade da MS, PB, EE, FDN, CNF e EB foram determinados
por: CD = (consumido (g) – excretado (g)) / consumido (g).
Com a determinação da quantidade de calorias dos ingredientes da dieta, das
sobras de alimento deixadas nos comedouros, da urina (EBU), das fezes (EBF) e da
produção dos gases digestivos (EPGD), foi calculada a partição da energia ingerida
(EBI) da seguinte forma: EBU, EBF ou EPGD x 100 / EBI. O calor da produção de
gases digestivos foi determinado pela equação: PGD (%) = 4,28 + 0,059 x CDEB
(coeficiente de digestibilidade da energia bruta), conforme Blaxter e Clapperton (1965),
a PGD (kcal) foi obtida através da fórmula: PGD (kcal) = (PGD (%) * EBI (kcal)) /100.
As cabras foram abatidas nos diferentes dias de gestação (50, 100 e 140),
utilizando-se pistola de dardo cativo para insensibilização, por meio de técnicas de abate
humanitário. A sangria foi feita através da seção das jugulares e carótidas e, todo o
sangue foi colhido e pesado. Após constatação da ausência de reflexos nas pálpebras e
interdigitais, foram removidas a glândula mamária e o útero grávido, o qual foi pesado e
dissecado em feto, placenta, placentônios, líquido placentário e útero vazio.
O restante do corpo de cada cabra foi separado em carcaça, órgãos (coração, rins,
fígado, baço, pulmão e pâncreas), trato gastrintestinal – TGI (rúmen-retículo, omaso,
abomaso, duodeno, jejuno, íleo, ceco, colón), gorduras (gordura renal, gordura pericárdica,
gordura omental, gordura mesentérica e gordura abdominal). Todas as partes foram
colocadas em sacos plásticos previamente identificados e, congelados a -20°C.
O experimento foi realizado em delineamento inteiramente casualizado, em
esquema fatorial 3x2x3 (três fases gestacionais, dois tipos de fetos e três níveis de
alimentação). Para os ensaios de digestibilidade e avaliação do consumo de água foram
utilizadas 24 cabras em três diferentes períodos, início, meio e final da gestação. Os
dados foram submetidos à análise de variância e teste de médias pelo procedimento
GLM, bem como o teste de correlação de Pearson, pelo PROC CORR do SAS 9.2. Os
11
dados de consumo de MS, PB, FDN e EM, peso corporal e escore de condição corporal
durante todo o período experimental (da cobertura aos 140 dias) foram testados em
função das semanas de gestação para cada tratamento e, submetidos à análise de
regressão pelo PROC MIXED (SAS 9.2). Para tanto foram utilizadas 70 cabras, das
quais também foram analisados os dados relativos ao tamanho de órgãos e componentes
do TGI, que foram submetidos ao teste de médias. Em todas as análises considerando-se
α = 0,05.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As médias de consumo dos nutrientes variaram entre os períodos de gestação e
níveis de restrição testados, porém não houve efeito do número de fetos sobre este
consumo (P>0,05) (Tabela 4). Os valores médios do consumo de MS (g/dia) não
diferiram entre 50 dias e 100 dias (449,8 e 503,7 g/dia respectivamente), mas foi
superior aos 140 dias de gestação (644,5 g/dia).
O consumo de MS preconizado pelo NRC (2007) para cabras não lactantes com
30 kg de peso corporal é de 810 e 850 g/dia para as gestações simples e 880 e 800 g/dia
para as gestações duplas, no início e final da fase, respectivamente. Tomando-se a
média do consumo da gestação simples e dupla, verifica-se que no início e final da fase
gestacional a ingestão foi de 845 e 825 g de MS/dia, nesta ordem. Estes resultados são
43,6 e 21,8% superiores a ingestão observada nas cabras deste trabalho. Por se tratar de
uma raça nativa, de porte naturalmente pequeno e adaptada a ambiente semiárido, as
cabras Moxotó podem ter o consumo inferior ao preconizado pelo NRC, porém, com
melhor aproveitamento do alimento ingerido. Por outro lado, como as recomendações
deste Comitê de alimentação não são baseadas em caprinos deste grupo genético, é
possível que estas estimativas não representem a realidade dos animais nativos do
semiárido. Torreão (2007) trabalhando com ovelhas gestantes da raça Morada Nova,
verificou que as ovelhas ingeriram 20% a menos que o recomendado pelo NRC (1985).
12
Tabela 4. Consumo de nutrientes e energia em função dos dias de gestação, do número de fetos e do nível de restrição
Variável Dias de gestação P Número de fetos P Nível de Restrição P
50 100 140 1 2 0% 20% 40%
Matéria seca (g/dia) 449,76b 503,70
b 644,48
a *** 515,48 544,28 ns 700,21
a 480,06
b 407,66
b ***
Matéria seca (g/kg de PC) 15,55b 17,38
ab 20,46
a ** 18,24 17,49 ns 23,02
a 15,64
b 14,39
b ***
Matéria seca (g/UTM) 36,00b 40,25
ab 48,35
a ** 41,98 41,22 ns 53,93
a 36,72
b 33,16
b ***
Matéria organica (g) 366,57b 415,92
b 509,64
a *** 407,70 446,64 ns 572,01
a 384,08
b 327,50
b ***
Matéria organica (g/UTM) 29,27b 33,03
ab 38,26
a ** 33,16 33,77 ns 43,90
a 29,35
b 26,65
b ***
Proteína bruta (g/dia) 50,19b 55,27
b 71,37
a ** 56,73 60,48 ns 79,27
a 51,80
b 44,51
b ***
Proteína bruta (g/kg de PC) 1,74b 1,90
ab 2,26
a * 2,01 1,94 ns 2,60
a 1,69
b 1,57
b ***
Proteína bruta (g/UTM) 4,02b 4,41
b 5,34
a ** 4,62 4,57 ns 6,09
a 3,97
b 3,61
b ***
Extrato etéreo (g/dia) 12,23b 13,31
b 17,91
a *** 14,70 14,33 ns 19,36
a 12,67
b 11,12
b ***
Extrato etéreo (g/kg de PC) 0,42b 0,46
b 0,57
a ** 0,52 0,46 ns 0,64
a 0,41
b 0,39
b ***
Extrato etéreo (g/UTM) 0,98b 1,07
b 1,34
a *** 1,20 1,08 ns 1,49
a 0,97
b 0,90
b ***
Nutrientes digestíveis totais (g/dia) 300,42b 321,73
b 408,68
a ** 336,17 346,91 ns 444,16
a 299,36
b 275,76
b ***
Nutrientes digestíveis totais (g/UTM) 24,06b 25,65
b 30,92
a * 27,71 26,21 ns 34,2
a 23,4
b 22,4
b ***
Energia metabolizável (Mcal/dia) 0,92b 0,97
b 1,26
a * 1,03 1,06 ns 1,32
a 0,92
b 0,89
b **
Energia metabolizável (kcal/UTM) 73,76b 77,23
ab 91,84
a * 85,17 79,99 ns 101,36
a 70,70
b 72,23
b **
Fibra em detergente neutro (g/dia) 198,90b 232,11
b 295,05
a *** 235,95 246,22 ns 296,13
a 228,99
b 197,88
b ***
Fibra em detergente neutro (g/kg PC) 6,87b 8,00
ab 9,41
a ** 8,32 7,94 ns 9,76
a 7,42
b 6,99
b **
Carboidratos não fibrosos (g/dia) 151,21b 160,74
b 207,22
a ** 166,24 177,77 ns 245,34
a 148,18
b 121,23
b ***
Carboidratos não fibrosos (g/kg PC) 5,24b 5,56
ab 6,54
a * 5,91 5,70 ns 8,06
a 4,87
b 4,28
b ***
Probabilidade: *** <0,001; ** de 0,001 a 0,01; * de 0,01 a 0,05; ns = não significativo.
13
A elevação do consumo de MS do início para o final da gestação, diverge dos
diversos autores ao afirmarem que a ingestão de MS por fêmeas em gestação apresenta
variação de forma quadrática, isto é, crescente no primeiro e segundo terço da gestação
e decrescente durante o terço final (Forbes, 1970; Moulin, 1991; Valadares et el., 1992;
Zambom et al., 2005; Torreão, 2007).
Estes resultados podem estar relacionados à diminuição na condição corporal
com o avanço dos dias gestacionais, demonstrada pela mobilização de gordura interna
ocorrida no final da gestação. Paratanto, houve maior ingestão de alimento na tentativa
de mobilizar menos tecidos do corpo, dado que pode ser visualizado posteriormente na
Tabela 8. Fato que também pode ser confirmado pelas observações de Forbes (2007),
em trabalho com ovelhas magras e gordas durante o período gestacional, em que as
ovelhas gordas são mais suscetíveis ao declínio na ingestão voluntária no final da
gestação do que as magras.
Rodrigues et al. (2007) trabalhando com cabras Alpinas nos últimos 30 dias de
gestação, verificaram influência do escore de condição corporal e dos níveis de FDN e
energia na dieta, sobre o consumo destas cabras no final da gestação. Os resultados
apontaram redução da quantidade ingerida pelas fêmeas com ECC maior que 3,25,
indicando que as cabras mais gordas tiveram suas necessidades nutricionais supridas
com menor quantidade de alimentos, por possuírem maior quantidade de reservas de
energia, enquanto as mais magras consumiram mais alimento na tentativa de suprir as
necessidades nutricionais dessa fase.
Seguindo o aumento do consumo de MS no terço final da gestação, a ingestão de
PB, EE, NDT, EM, FDN e CNF também aumentou, em todas as formas que foram
expressas (g/dia, g/ UTM, Mcal/dia e kcal/UTM). É normal este comportamento, uma
vez que a ingestão destes nutrientes e energia está diretamente relacionada com a
quantidade de MS ingerida e, consequentemente, podem ser explicados com os mesmos
argumentos anteriores.
O consumo médio de PB aos 50 e 100 dias gestacionais (52,8 g) é 27,7% menor
que o indicado pelo NRC (2007) para cabras com fetos simples e 37,9% inferior ao
indicado para cabras com fetos duplos. Aos 140 dias, o consumo foi 30,7 e 41,9%
menor que o preconizado para cabras com gestações simples e gemelares, nesta ordem.
14
A ingestão de NDT foi 27% inferior ao indicado para partos simples no inicio e
final da gestação, respectivamente, para fetos duplos, o consumo foi 33,8 e 36,1% no
inicio e final do período gestacional. Para a energia metabolizável, foi verificada
redução de 39, 38, 44, 46% para as cabras com gestação simples e dupla no início e
final da gestação, nesta ordem.
Os valores indicados pelo NRC (2007) 73g de PB, 430 g de NDT e 1,55 Mcal de
EM no início e 103g de PB, 560 g de NDT e 2,02 Mcal de EM no final, para gestação
simples. No caso de gestação dupla, os valores são de 85g de PB, 470 g de NDT e 1,68
Mcal de EM no início e 123g de PB, 640 g de NDT e 2,31 Mcal de EM no final.
As diferenças na ingestão de nutrientes das cabras Moxotó com o que preconiza
o NRC (2007) para faixa de peso (30 kg de PC) e estádio fisiológico semelhantes,
demonstram baixa capacidade ingestiva por parte destas cabras nativas do Nordeste
brasileiro, que não se pode afirmar que seja causada por limitação anatômica ou por
estas fêmeas estarem em ambiente confinado, de forma que possa afetar o
comportamento ingestivo das mesmas.
Grovum (1993) reporta que a diminuição do consumo no período final da gestação,
está associada à ocorrência da distensão do retículo-rúmen, em função destes
compartimentos reunirem grande quantidade de receptores de tensão e mecanoreceptores,
os quais estão relacionados com as limitações físicas de redução do espaço nestes
compartimentos. Forbes (1986) destaca que mudanças nas concentrações de progesterona
e estrógenos, como ocorrem na gestação, podem influenciar na passagem da digesta, por
aumentar a mobilidade intestinal, causando efeitos diretos no consumo. Em 2007, Forbes
reforça esta atuação de estrógenos na diminuição do consumo, explicando que a teoria da
limitação física pode ser contestada.
Para cabras bem adaptadas a clima semiárido, como é o caso da Moxotó, Morand-
Fehr (2005) reporta que existe a possibilidade de modificação da forma de utilização da
dieta e, que estes animais, podem não sofrer alteração no consumo no período final da
gestação. Indicando ainda que as cabras possuem as características metabólicas básicas
muito semelhantes às ovelhas e, em alguns casos, às vacas, mas a capacidade de adaptação
fisiológica a diversas condições agroclimáticas podem ser modificadas extensivamente
pelas cabras.
15
Os percentuais de MS e PB das dietas efetivamente consumidas foram
ligeiramente maiores que na dieta ofertada (Tabela 5), já o percentual de EE manteve-se
próximo ao ofertado. Na concentração de FDN, percebe-se redução de 3,8 pontos
percentuais em função dos dias de gestação e do número de fetos, quando comparada a
dieta oferecida. Quanto aos níveis de restrição, observou-se que no grupo de cabras
alimentado ad libitum, a concentração de FDN foi de 42,6%, que corresponde à redução
de 6,8 pontos percentuais em relação ao ofertado (49,35%). Nas cabras alimentadas com
restrição, houve menor seleção das porções menos fibrosas da ração ofertada, que é
justificada pela redução quantitativa da oferta de alimento.
Tabela 5. Composição da dieta efetivamente consumida em função dos dias de gestação, do número de
fetos e do nível de restrição
Variável Dias de gestação P Número de fetos P Nível de Restrição P
50 100 140 1 2 0% 20% 40%
MS (%) 88,7 88,7 88,8 ns 88,8 88,7 ns 88,8 88,6 88,8 ns
PB (%) 11,2 11,0 11,0 ns 11,1 11,1 ns 11,3a 11,2
ab 10,9
b *
EE (%) 2,6 2,7 2,7 ns 2,7 2,6 ns 2,8a 2,7
a 2,5
b ***
FDN (%) 45,7 45,2 45,9 ns 45,5 45,6 ns 42,6b 46,7
a 47,5
a ***
CNF (%) 33,4 31,5 31,7 ns 31,9 32,4 ns 35,3a 31,3
b 29,9
b ***
NDT (%) 66,1 64,1 64,1 ns 66,4 63,6 ns 63,7 63,0 63,0 ns
EM (Mcal/kg MS) 2,51 2,43 2,43 ns 2,52 2,41 ns 2,42 2,39 2,39 ns
Probabilidade: *** <0,001; ** de 0,001 a 0,01; * de 0,01 a 0,05; ns = não significativo.
A concentração de CNF efetivamente consumida foi maior que na dieta ofertada,
além disso, observa-se que as cabras submetidas a restrição alimentar tiveram a dieta
efetivamente consumida diferente daquelas que receberam alimentação irrestrita. No
maior nível de restrição (40%) o percentual de CNF foi igual ao da dieta ofertada. A
concentração de NDT encontra-se próxima daquela formulada e disponibilizada às
cabras.
Tendo em vista que um dos grupos de cabras haviam consumindo ração sem
restrição e, considerando a capacidade natural de selecionar as partes mais nutritivas dos
alimentos que os caprinos possuem, esperava-se maior seleção da dieta por parte destas
cabras. Isto pode ter ocorrido também porque alimentação foi fornecida na forma de
ração completa, não influenciando na seletividade.
O consumo da água de bebida (L/dia, mL/UTM), da água dietética (mL/dia) e da
água total (L/dia) foi influenciado pelo período gestacional (P<0,001). As cabras
ingeriram mais água após 100 dias de gestação, da mesma forma como ocorreu para o
16
consumo de MS (Tabela 6). Este aumento na ingestão de água no final da gestação
corrobora com revisão feita por Ehrlenbruch et al. (2010), que cabras em final de
gestação aumentam a ingestão de água entre 40-50%, registrando média 165 g/UTM.
Com relação ao número de fetos, estas variáveis não foram alteradas. Em função
do nível de restrição alimentar, observou-se que apenas a água de origem dietética foi
ingerida em menor quantidade pelas fêmeas dos grupos restritos, resultados que
corroboram com o consumo de nutrientes, que foi menor nestes grupos (Tabela 6).
De acordo com Welch & Hooper (1993), o consumo de água pode ser afetado
pela natureza da dieta e pela exigência do animal. No caso da dieta, o consumo de
forragens suculentas fornecem maior parte ou toda água necessária para o animal.
Ehrlenbruch et al. (2010) conduziram trabalho com o objetivo de verificar a
influência de uma dieta a base de feno ou silagem sobre ingestão de água por cabras
leiteiras, observando que o feno estimulou a ingestão da água de bebida (L/dia e L/kg de
MS) em função de maior necessidade de secreção salivar, para acompanhar a
transferência de fluidos extracelulares através da parede ruminal. No caso da dieta a
base de silagem, a necessidade de ingerir água de bebida foi menor, pelo fato das cabras
possuem um eficiente sistema renal quando alimentadas com dietas abaixo de 30% de
MS.
17
Tabela 6. Consumo de água em função dos dias de gestação, do número de fetos e do nível de restrição
Variável Dias de gestação
P Número de fetos
P Nível de Restrição
P 50 100 140 1 2 0% 20% 40%
Água de bebida (L/dia) 1,43b 1,74
b 2,36
a *** 1,69 1,95 ns 1,80 1,90 1,84 ns
Água de bebida (mL/UTM) 0,12b 0,14
b 0,18
a *** 0,14 0,15 ns 0,14 0,15 0,15 ns
Água da dieta (mL/dia) 0,06b 0,06
b 0,08
a *** 0,07 0,07 ns 0,08
a 0,07
ab 0,05
b **
Água Total (mL/UTM)1 0,12
b 0,14
b 0,18
a *** 0,14 0,15 ns 0,14 0,15 0,15 ns
Água, L/kg de MS 3,19 3,45 3,66 ns 3,29 3,58 ns 2,57b 3,96
a 4,50
a ***
Água, L/kg de PB 28,56 31,47 33,06 ns 29,87 32,21 ns 22,69b 36,74
a 41,25
a ***
Água, L/kg de FDN 7,21 7,49 8,00 ns 7,18 7,91 ns 6,07b 8,31
ab 9,28
a **
Água, L/Mcal de EM 1,56 1,79 1,87 ns 1,64b 1,84
a ** 1,37
b 2,07
a 2,07
a *
Perdida nas fezes (g) 121,5b 166,1
b 276,3
a *** 171,7 199,3 ns 300,9
a 153,8
b 102,7
b ***
Perdida na urina (g) 543,1b 756,2
ab 853,4
a * 596,0
b 801,7
a * 643,2 757,0 757,6 ns
1água total (bebida+dieta); Probabilidade: *** <0,001; ** de 0,001 a 0,01; * de 0,01 a 0,05; ns = não significativo.
18
Para o consumo de água em litros por kg de MS, PB e FDN, e Mcal de EM
consumido, observa-se que não houve efeito dos dias de gestação, relacionado ao
aumento do consumo de MS neste período final ,que pode ter estimulado o consumo de
água para facilitar os processos digestivos (Tabela 6).
O número de fetos influenciou apenas o consumo de água em L/Mcal de EM, de
modo que as cabras gestantes de fetos duplos apresentaram maior valor. Quanto aos
níveis de restrição, as cabras dos grupos alimentados restritamente ingeriram maior
quantidade de água por unidade do nutriente consumido. Estes resultados podem ser
decorrentes do baixo consumo de MS pelos grupos com restrição alimentar que,
consequentemente, elevam esta relação de consumo de MS: consumo de água, como
mencionado por Rossi, et al. (1999). Outro aspecto importante é que o aumento desta
relação ingestão de alimento: ingestão de água pode ter ocorrido pela necessidade de
participação da água nas reações metabólicas, uma vez que estava ocorrendo
mobilização de tecidos do corpo das cabras, principalemente daquelas do grupo de
maior demanda nutriconal (final da gestação, fetos duplos e submetidas à restração
alimentar)
A perda de água através das fezes e urina (g/dia) aumentou no final do período
de gestação, que pode estar relacionada à elevação do consumo de nutrientes, que
requer maior quantidade de água para as atividades metabólicas. A perda urinária de
água foi maior nas cabras com gestação dupla, mas não foi afetada pelo nível de
restrição. Já a perda pelas fezes foi influenciada pela dieta consumida, sendo menor nas
cabras que pertenciam aos grupos de 20 e 40% de restrição. O NRC (2007), a partir de
sua revisão bibliográfica, aborda que estas perdas de água dependem da capacidade do
animal em concentrar a urina e de retirar água a partir do intestino grosso para produção
de fezes secas, ocorrendo aumento do conteúdo de água das fezes com o incremento da
ingestão de nitrogênio e de outras moléculas osmoticamente ativas, que está relacionado
ao transporte ativo de sódio e absorção passiva de cloro, que fornecem gradiente
osmótico para a absorção de água no cólon.
Perdas de água pelo organismo são influenciadas pela espécie, hábitos e
ambiente onde vivem. De acordo com Welch & Hooper (1993), animais adaptados ao
deserto raramente ingerem água na estação seca, por esta razão a recuperação da água a
partir do intestino grosso é maior, também ocorre adaptação dos rins, que permitem a
19
produção de urina mais concentrada, que reduz a quantidade de água ingerida e a
frequência com que é feita.
Os coeficientes de digestibilidade aparente (CD) dos nutrientes não diferiram
entre os dias de gestação (Tabela 7). Talvez esta ausência de significância tenha
ocorrido devido ao aumento do consumo de MS do início para o final da gestação, não
provocando efeito no aproveitamento do alimento. Segundo Molina et al. (2001), em
função das adaptações fisiológicas ocorridas no organismo da fêmea no período
gestacional, pode haver redução do consumo diário de matéria seca, com elevação da
taxa de passagem, minimizando o tempo de retenção dos nutrientes no trato
gastrintestinal, isto sem que haja depressão na digestibilidade da matéria seca. Mas, no
caso destas cabras, o consumo aumentou, elevando-se também a excreção fecal, não
havendo alteração nos coneficientes de digestibilidade.
Tabela 7. Coeficientes de digestibilidade aparente (CD) dos nutrientes em função dos dias de gestação, do
número de fetos e do nível de restrição
Variável Dias de gestação P
Número de fetos P
Nível de Restrição P
50 100 140 1 2 0% 20% 40%
CDMS 0,681 0,662 0,676 ns 0,694 0,658 ns 0,656 0,662 0,701 ns
CDMO 0,711 0,693 0,682 ns 0,707 0,688 ns 0,690 0,669 0,726 ns
CDPB 0,708 0,679 0,663 ns 0,698 0,674 ns 0,691 0,680 0,678 ns
CDEE 0,479 0,444 0,483 ns 0,547a 0,417
b * 0,535
a 0,500
a 0,371
b *
CDFDN 0,520 0,520 0,520 ns 0,534 0,511 ns 0,446b 0,494
b 0,621
a **
CDCNF 0,937 0,938 0,924 ns 0,944 0,926 ns 0,939 0,933 0,928 ns
CDEB 0,639 0,614 0,634 ns 0,640 0,612 ns 0,600 0,617 0,671 ns
Probabilidade: *** <0,001; ** de 0,001 a 0,01; * de 0,01 a 0,05; ns = não significativo.
O número de fetos não influenciou a digestibilidade aparente, exceto a do extrato
etéreo que foi maior no grupo de cabras com feto simples. Pela necessidade materna de
ser mais eficiente no aproveitamento dos nutrientes em casos de gestações gemelares,
em função da maior demanda nutricional, esperava-se que o coeficiente de
digestibilidade fosse maior nestas fêmeas. Com base nos dados de excreção de EE
através das fezes, observou-se que os valores foram superiores nas cabras com fetos
duplos (P<0,05) e, considerando-se que não houve diferença no consumo, pode-se
inferir que ocorreu maior contribuição de EE endógeno nas fezes destas cabras, que
afeta diretamente a digestibilidade aparente. Este coeficiente também foi alterado
20
(P<0,001) pelo nível de restrição, sendo este CDEE inferior para o maior nível 40% e
igual entre 0% e 20% de restrição.
O contrário ocorreu com o CDFDN, o maior valor foi observado nas cabras
submetidas ao nível de 40% de restrição, fato que aponta para maior eficiência
metabólica em digerir carboidratos fibrosos das cabras que recebiam menor quantidade
de ração. Como relatado por Swenson & Reece (1996), que os animais para atenderem
sua demanda de nutrientes podem compensar uma menor ingestão de alimento através
do aumento da eficiência de utilização destes.
Outro aspecto a ser observado, conforme reportado por Merchen (1993), é que o
coeficiente de digestibilidade pode ser modificado em função do nível de ingestão
alimentar, que em grande quantidade pode acelerar a taxa de passagem, reduzindo o
aproveitamento do alimento, assim como ocorre pela alta quantidade de grãos presentes
na dieta. No presente trabalho, pode-se reforçar a ideia que a digestibilidade aumentou
nas cabras do grupo restrito por ter elevado também o tempo de permanência do
alimento no rúmen. Entretanto, no caso do CDEE, a redução pode ser atribuída ao efeito
do EE metabólico.
O balanço de nitrogênio não foi influenciado pelos dias de gestação nem pelo
número de fetos. Esta ausência de significância do balanço em função dos dias, pode
estar associada à alta variação individual dentro dos tratamentos. Em relação aos níveis
de alimentação o balanço foi mais positivo nas cabras que constituíram o grupo de
alimentação ad libitum (Tabela 8).
Tabela 8. Balanço de nitrogênio (g) em função dos dias de gestação, do número de fetos e do nível de
restrição
Variável (g) Dias de gestação P
Número de fetos P
Restrição P
50 100 140 1 2 0% 20% 40%
N ingerido 8,0b 8,8
b 11,4
a *** 8,9 9,7 ns 12,7
a 8,1
b 7,1
b ***
N fezes 2,3b 2,8
b 3,7
a *** 2,6 3,1 ns 4,0
a 2,4
b 2,2
b ***
N urina 4,8 5,7 5,7 ns 5,4 5,4 ns 6,4 4,9 4,8 ns
Balanço de N 1,0 0,3 2,1 ns 1,1 1,2 ns 2,2a 1,0
ab 0,09
b *
Probabilidade: *** <0,001; ** de 0,001 a 0,01; * de 0,01 a 0,05; ns = não significativo.
A maior ingestão de MS pelas cabras ao final da gestação contribuiu para o
aumento da ingestão de N que, por sua vez, também induziu uma maior excreção por
meio das fezes, quando comparada as fases iniciais da gestação (50 e 100 dias).
21
Além de uma quantidade de N ingerido e excretado significativamente superior
no grupo com 0% de restrição (P<0,001), houve diferença no próprio balanço, que foi
inferior quando se aplicou o nível de 40% de restrição (1,1g), indicando que estas cabras
tiveram menor disponibilidade de N para desenvolvimento de suas atividades
metabólicas, quando comparadas àquelas que receberam alimentação ad libitum e,
consequentemente, mobilizaram maior quantidade de reservas corpóreas para síntese de
tecidos fetais.
Considerando a excreção de nitrogênio urinário dividida pelo peso corporal
metabólico, têm-se os valores médios de 0,36, 0,46 e 0,44 g/UTM aos 50, 100 e 140
dias, respectivamente. Para cabras com fetos simples ou duplos (0,42 g/UTM) e 0,50,
0,36 e 0,40 g/UTM para os níveis de 0, 20 e 40%, nesta ordem. Estes valores
encontram-se abaixo do reportado por Sahlu et al. (2004) para perdas de nitrogênio
endógeno, que correspondem a 1,03 g/UTM para caprinos adultos em geral. Isto pode
ser um indicativo de que cabras Moxotó têm os requerimentos proteicos de mantença
abaixo do preconizado por este autor.
Segundo Kozloski (2002), a quantidade de nitrogênio excretado nas fezes
aumenta com a elevação na atividade fermentativa no intestino grosso, ocorrendo
quando as dietas são ricas em grãos de cereais como o milho e o sorgo. Isto evidencia o
que ocorreu para o peso dos intestinos, sugerindo aumento da atividade fermentativa
nestes compartimentos no final da gestação e no grupo alimentado com dieta sem
restrição nutricional.
As perdas de N urinário são originadas de duas vias distintas, a primeira
representada pelo N endógeno, que é excretado a uma taxa relativamente constante pelo
organismo, que está associado à oxidação de aminoácidos e tunover de proteínas; a
outra parte é de origem dietética, que são os produtos resultantes do metabolismo
absortivo (NRC, 2007; CSIRO, 2007). Já o N fecal inclui enzimas e células epiteliais,
além de bactérias de origem intestinal e ruminal. Merchen (1993) relatou que o N fecal
endógeno corresponde a 74-86% do N total das fezes.
Os resultados referentes à partição da energia ingerida diferiram entre os dias de
gestação e os níveis de alimentação (P<0,05), não diferindo em relação ao número de
fetos (Tabela 9).
22
Tabela 9. Partição da energia ingerida em função dos dias de gestação, do número de fetos e do nível de restrição
Variável Dias de gestação P
Número de fetos P
Restrição P
50 100 140 1 2 0% 20% 40%
EB ingerida (kcal) 1738,8b 1958,3
b 2490,1
a *** 1969,8 2113,2 ns 2673,8
a 1837,6
b 1608,2
b ***
EB fezes (kcal) 608,2b 762,1
ab 965,4
a ** 716,7 815,0 ns 1071,4
a 707,8
b 528,3
b ***
EB urina (kcal) 71,3 70,2 63,4 ns 61,2 73,2 ns 77,8a 66,5
ab 60,1
b ns
EB gases (kcal) 141,1b 154,4
b 196,5
a ** 158,2 167,0 ns 209,0
a 145,3
b 132,6
b ***
ED (kcal) 1130,6b 1196,5
b 1524,8
a ** 1253,1 1298,2 ns 1602,4
a 1129,7
b 1080,0
b **
EM (kcal) 921,4b 971,6
b 1264,8
a ** 1033,6 1059,8 ns 1315,6
a 921,3
b 887,4
b **
Percentual da energia bruta ingerida destinada para cada componente
% EB fezes 36,1 38,6 38,3 ns 36,0 38,8 ns 40,0 40,2 32,9 ns
% EB urina 4,1a 3,8
a 2,7
b ** 3,4 3,6 ns 3,1 3,6 4,0 ns
% EB gases 8,1 7,9 7,9 ns 8,1 7,9 ns 7,8 7,8 8,2 ns
% EB digerida 63,9 61,4 61,7 ns 64,0 61,2 ns 60,0 59,8 67,1 ns
% EB metabolizada 51,7 49,7 51,1 ns 52,5 49,7 ns 49,1 48,4 54,9 ns
% ED metabolizada 80,4b 80,4
b 82,7
a ns 81,9 80,7 ns 81,5 80,2 81,6 ns
Probabilidade: *** <0,001; ** de 0,001 a 0,01; * de 0,01 a 0,05; ns = não significativo.
23
A energia bruta foi ingerida em maior quantidade pelas cabras aos 140 dias
(2490,1 kcal), em função do aumento no consumo em matéria seca, já relatado
anteriormente (Tabela 4). Da mesma forma como ocorreu para os níveis de restrição, as
cabras do grupo ad libitum ingeriram maior quantidade de MS e, por conseguinte,maior
ingestão de energia bruta, contribuindo para elevação da excreção fecal, que não diferiu
entre os grupos de 20 e 40% de restrição.
A produção de gases foi influenciada pelo efeito dos dias de gestação, de modo
que as cabras de 140 dias liberaram mais energia na forma de gases que as cabras de 50
e 100 dias. Entre os níveis de alimentação, a produção de gases resultou em maiores
valores para as cabras do grupo ad libitum. Para ambos os casos, uma possível
explicação é o maior consumo em MS, levando a atividades metabólicas mais intensas
no processo de digestão, aumentando o incremento calórico. Este aumento da
quantidade de energia perdida nas fezes e na forma de gases pode ter contribuído para
não alterar o coeficiente de digestibilidade dos nutrientes em função dos dias de
gestação.
As perdas energéticas na forma de gases, que em sua maioria é composto pelo
metano, correspondem a média geral de 8,0%. De acordo com Resende et al. (2011) este
percentual de perda é observado quando ingestão encontra-se no nível de mantença, no
momento em que este nível de alimentação é aumentado, este percentual cai para 6%.
Entretanto, estas cabras estão em estádio fisiológico muito particular, passando por
diversas modificações metabólicas para ajustes do suprimento de nutrientes aos fetos,
por isso, não se pode inferir, pelas observações de Resende et al. (2011) que estas cabras
se alimentando em nível de mantença.
Foi observado que os valores de energia digestível calculados em função da
energia bruta ingerida (Mcal/dia) menos a energia excretada nas fezes (Mcal/dia),
determinadas em bomba calorimétrica, são em média 15,5±6,8% inferiores ao valores
determinados pelos nutrientes digestíveis totais. Esta diferença percentual também foi
verificada na energia metabolizável.
Com relação a metabolizabilidade da dieta, que na Tabela 10 está expressa como
% da EB metabolizada, cujos valores não diferiram entre os fatores estudados. Apesar
deste parâmetro variar em função do nível de alimentação, por aumentar a taxa de
passagem e consequente redução da digestibilidade, causada pelo aumento das perdas
24
fecais (AFRC, 1993), esta variação não foi observada neste trabalho, em razão de não
ter havido alteração nos coeficientes de digestibilidade, uma vez que o aumento da
ingestão de alimentos foi seguido de aumento na excreção fecal e produção de gases.
A relação EM/ED, expressa na Tabela 10 como % da ED metabolizada, também
não apresentou diferença entre os fatores. Merece atenção o fato de que este percentual
encontra-se na média geral de 81,2%, semelhante ao fator de conversão (0,82) da ED
para EM, encontrado em bovinos e indicado pelo NRC (2001). Resende et al. (2011)
destacam que trabalhos conduzidos no Brasil, em condições de alimentação diferentes,
observaram relações de 0,81 para bovinos, 0,86 para caprinos e 0,73 para ovinos.
Short & Adams (1988) afirmaram que a utilização da energia pelos animais é
resultado de interações complexas entre quantidade e qualidade da dieta, suas reservas
corporais e a demanda do seu metabolismo e produção. Resultados semelhantes foram
encontrados com relação aos valores de energia digestível e metabolizável, em que
foram verificados os maiores valores nas cabras de 140 dias e, em relação ao nível de
restrição, nas cabras alimentadas ad libitum.
Comparando-se os valores desta pesquisa com trabalho realizado por Saama et
al. (1993) que, trabalhando com vacas nas primeiras 2 semanas pós-parto, encontraram
valores de 33,5% de energia perdida nas fezes, 2,7% na urina, 4,5% de metano, 66,5%
digestível e 59,3% metabolizável, percebe-se que apenas os valores correspondentes ao
percentual de energia perdido na urina e na produção de gases não foram semelhantes.
As cabras Moxotó perderam maior quantidade de energia nestas duas fontes, porém, o
percentual da energia metabolizada foi o mesmo. No entanto, estes valores podem ser
alterados em função do animal e da dieta consumida.
De acordo com o teste de médias não houve mudanças no peso corporal (PC) em
função dos fatores avaliados (dias de gestação, número de fetos e nível de restrição),
devido esta ausência de significância entre os fatores e suas respectivas interações, foi
feita a análise de regressão do PC no decorrer de todo o período gestacional, sendo os
resultados apresentados em função das dietas consumidas (Figura 1, 2 e 3).
25
Figura 1. Mudança no peso corporal (kg) das cabras consumindo dieta com 0% de
restrição do início ao final da gestação.
Figura 2. Mudança no peso corporal (kg) das cabras consumindo dieta com 20% de
restrição do início ao final da gestação.
Ŷ = 0,7355x + 26,088
R² = 0,931
25,0
27,5
30,0
32,5
35,0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Pes
o c
orp
ora
l, k
g
Quinzena
Ŷ = ns
25,0
27,5
30,0
32,5
35,0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Pes
o c
orp
ora
l, k
g
Quinzena
26
Figura 3. Mudança no peso corporal (kg) das cabras consumindo dieta com 40% de
restrição do início ao final da gestação.
Observou-se aumento linear (P<0,01) no PC de 0,74 kg a cada 15 dias para o
grupo que recebia alimentação ad libitum (Figura 1). Nos grupos que se alimentaram
com 20% (Figura 2) e 40% (Figura 3) de restrição, não houve efeito linear ou
quadrático. No entanto, verifica-se que o PC também aumenta nestes dois últimos
grupos, devido ao crescimento do útero grávido e glândula mamária, que não
representam necessariamente o ganho em peso da cabra, mas dos produtos da gestação,
que em muitos casos, a ingestão de nutrientes não consegue suportar a demandas do feto
(principalmente) e os mecanismos homeorréticos coordenam modificações metabólicas
para atendimento destes requerimentos, como é o caso da mobilização de tecidos do
corpo, que foi comparada, neste caso, pela redução da gordura intracavitária.
De acordo com Geraseev et al., (2006) o peso corporal de ovelhas com sem
restrição alimentar até os 100 dias de gestação não diferiu, após o parto, observou-se
que àquelas submetidas à restrição alimentar, apresentaram um menor PC comparadas
com as ovelhas que não sofreram restrição, o que evidência o uso das reservas
corporais destas ovelhas.
O peso do sangue, fígado e coração aumentou (P<0,05) dos 100 aos 140 dias de
gestação (Tabela 10), possivelmente pela intensificação do metabolismo em função do
crescimento do útero grávido. O número de fetos influenciou o peso dos pulmões, as
Ŷ = ns
25,0
27,5
30,0
32,5
35,0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Pes
o c
orp
ora
l, k
g
Quinzena
27
cabras com gestação dupla apresentaram menor peso deste órgão, que pode ter
diminuído de tamanho em função da compressão da caixa torácica promovida pelo
aumento do tamanho dos fetos. Lima (2011), em trabalho semelhante a este, com cabras
Saanen e Alpinas, reportou que houve diminuição do peso dos pulmões e do diafragma
no final do período gestacional, não sendo verificado efeito do número de fetos ou da
dieta no peso dos órgãos.
Tabela 10. Peso dos órgãos e componentes do trato gastrintestinal em função dos dias de gestação, do
número de fetos e do nível de restrição
Variável (g) Dias de gestação
P Número de fetos
P Restrição
P 50 100 140 1 2 0% 20% 40%
Sangue 1167b 1110
b 1354
a *** 1187 1234 ns 1201 1160 1270 ns
Fígado 350,7b 384,3
ab 418,0
a ** 377,9 390,8 ns 398,5 385,0 369,6 ns
Coração 121,1b 144,4
ab 129,0
b * 133,8 129,2 ns 134,3 139,7 120,5 ns
Pulmão 194,6 184,9 198,7 ns 199,0a 186,5
b * 199,4 193,1 185,8 ns
Diafragma 97,0 96,3 101,6 ns 98,9 97,7 ns 103,7a 90,7
b 100,5
ab *
Rins 70,8 62,3 68,9 ns 68,2 66,5 ns 64,3 67,9 69,8 ns
Pâncreas 46,2 44,2 44,8 ns 43,0 47,1 ns 47,4 44,3 43,5 ns
TGI vazio 1475b 1504
ab 1679
a * 1568 1537 ns 1657
a 1532
ab 1468
b *
Rúmen-ret. 559,0 590,7 585,2 ns 605,5 551,1 ns 596,2 602,8 535,9 ns
Omaso 82,8 80,0 109,7 ns 79,5 102,1 ns 98,1 76,8 97,5 ns
Abomaso 143,3 143,3 165,0 ns 152,1 149,0 ns 152,6 148,5 150,5 ns
Duodeno 25,7 29,5 31,1 ns 28,7 28,8 ns 30,0 29,5 26,7 ns
Jejuno 330,6b 316,8
b 389,0
a *** 341,1 349,8 ns 384,3
a 338,9
b 313,2
b **
Íleo 10,8 9,4 11,1 ns 10,7 10,2 ns 11,8 9,6 9,9 ns
Ceco 32,4b 35,0
ab 40,5
a ** 38,0
a 33,9
b * 39,5
a 33,9
b 34,5
b *
Cólon-reto 290,1b 299,6
b 347,6
a * 312,8 312,0 ns 344,3 292,5 300,5 ns
Gordura
Cardíaca 116,5a 79,5
b 79,0
b *** 91,2 92,2 ns 77,4
b 94,3
ab 77,4
a *
Renal 632,8a 508,8
ab 402,6
b ** 544,9 484,6 ns 517,2 564,5 462,5 ns
Omental 1142a 968,2
b 895,9
b * 974,9 1030 ns 1065 983,1 959,2 ns
Mesentérica 571,1 551,0 512,5 ns 538,6 551,1 ns 662,4a 462,2
b 509,9
b **
Abdominal 105,7 115,3 102,4 ns 110,4 105,2 ns 83,8 111,4 128,1 ns
Total 2561a 2218
ab 1990
b * 2256 2257 ns 2400 2212 2156 ns
Probabilidade: *** <0,001; ** de 0,001 a 0,01; * de 0,01 a 0,05; ns = não significativo.
O peso do trato gastrintestinal vazio aumentou (P<0,05) na fase final de
gestação, mas quando se observa os componentes em separado, verifica-se que somente
o peso do jejuno, ceco e cólon-reto aumentaram ao longo da gestação. O peso do
intestino acompanhou o aumento do consumo de nutrientes no final da fase gestacional,
pela necessidade de aumentar a capacidade digestiva neste período. Além deste
incremento de consumo e de peso do TGI, houve diminuição das reservas de gordura
28
com o avanço da gestação, uma vez que as demandas nutricionais do útero grávido e da
glândula mamária tornam-se maiores nesta fase. Corroborando com Furlan et al. (2006)
que observaram que, quanto maior o intestino, maior a capacidade para digerir fibras.
McNeill et al. (1997) também não verificaram efeito da fase de gestação e da dieta
ofertada a ovelhas no peso dos estômagos.
Forbes (2007) relata a existência de correlação positiva entre o nível de ingestão
e o peso do retículo-rúmen vazio, mas com causa e efeito ainda difíceis de esclarecer.
No caso deste trabalho, a diferença na ingestão de nutrientes não foi suficiente para
afetar o peso destas estruturas.
O peso do ceco diminuiu nas cabras gestantes de fetos duplos, podendo ter
ocorrido por diminuição do espaço em função do crescimento fetal, além disso, como
não houve diferença no consumo de nutrientes entre as cabras de gestação simples e
dupla, os processos fermentativos ocorreram suficientemente no rúmen (Tabela 10).
O nível de restrição reduziu o peso do TGI vazio, jejuno e ceco, o que sugere
efeito causado pela limitação do consumo de nutrientes que, por sua vez, favoreceram
menor desenvolvimento destes tecidos. A gordura mesentérica também foi influenciada
pela restrição alimentar.
Macedo Júnior (2008), trabalhando com ovelhas Santa Inês, encontrou
resultados semelhantes aos desta pesquisa, destacando que o aumento do peso dos
intestinos pode estar associado ao aumento no consumo de grãos e possível
deslocamento do sítio de digestão do rúmen para os intestinos delgado e grosso. Além
disso, a possível atuação de mecanismos fisiológicos na elevação da taxa de passagem
dos alimentos, que acabam por modificar o local de digestão que podem comprometer a
digestibilidade dos nutrientes.
Diferentemente dos resultados de Lima (2011), com cabras Saanen e Alpinas,
que registrou redução do tamanho dos estômagos com o avanço da gestação e com a
restrição aplicada, não encontrando diferenças no tamanho dos componentes do TGI,
concluiu que o efeito do consumo e da compressão do útero grávido se dá
principalmente no estômago.
29
CONCLUSÕES
Cabras da raça Moxotó elevam o consumo de nutrientes e energia no período
final da gestação, sem promover modificação na digestibilidade do alimento.
O número de fetos não promove alterações no consumo e aproveitamento dos
nutrientes. A restrição alimentar melhora a digestibilidade da fibra e diminui as perdas
de nitrogênio e energia.
30
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34
CAPÍTULO II
DESENVOLVIMENTO FETAL DE CAPRINOS MOXOTÓ
35
DESENVOLVIMENTO FETAL DE CAPRINOS MOXOTÓ
RESUMO
O trabalho foi realizado com o objetivo de avaliar a influência da fase gestacional, do
número de fetos e da restrição alimentar, sobre o desenvolvimento e composição
corporal dos fetos de cabras da raça Moxotó. Foram utilizadas 70 cabras gestantes,
agrupadas em arranjo fatorial fatorial 3x2x3 (3 fases de gestação, 2 tipos de feto e 3
níveis de restrição), em delineamento inteiramente casualizado. Foi realizado abate
destas cabras aos 50, 100 e 140 dias de gestação, quando foi feita a pesagem,
identificação do sexo e biometria fetal. Foram colhidas amostras dos fetos
separadamente para determinação da matéria seca, proteína bruta, extrato etéreo,
minerais e energia. Foi observado que o crescimento fetal progrediu exponencialmente
ao longo da gestação, havendo diferença significativa entre os dias gestacionais para
todas as variáveis analisadas. Não houve diferença entre os níveis de restrição para as
variáveis estudadas. Verificou-se que os fetos de gestações simples foram mais pesados
e apresentaram maiores taxas de crescimento que os fetos duplos, quando comparados
individualmente. Conclui-se que os níveis de restrição alimentar aplicados não afetam o
crescimento fetal e que o acúmulo de nutrientes nos fetos acompanha o ganho em peso
ao longo dos dias gestacionais.
Palavras-chave: biometria, caprino nativo, crescimento, prenhez
36
FETAL DEVELOPMENT OF MOXOTÓ GOATS
ABSTRACT
The aim of the present study was to evaluate the influence of gestational phase, number
of fetuses and food restriction on body composition and development of fetal goats of
the Moxotó breed. Seventy pregnant goats were grouped in a 2x3x3 factorial
arrangement (three stages of gestation, two types of fetus and three levels of restriction)
in a completely randomized design. Slaughter was carried out at 50, 100 and 140 days
of gestation, followed by the weighing, sex identification and biometrics of the fetuses.
Samples were collected from fetuses separately for the determination of dry matter,
crude protein, ether extract, minerals and energy. Fetal growth progressed exponentially
throughout gestation, with no significant differences between gestational days regarding
any of the variables analyzed. Moreover, no differences were found between the levels
of restriction for any of the variables. Fetuses from single pregnancies were heavier and
had higher growth rates than those from twin gestations when compared individually. In
conclusion, the restriction levels tested had no influence over fetal growth and the
accumulation of nutrients in the fetuses accompanied weight gain throughout gestation.
Keywords: biometrics, growth, native goat, pregnancy
37
INTRODUÇÃO
O crescimento do animal pode ser descrito como a produção de novas células,
que geram aumento de massa de tecidos, incluindo não apenas a multiplicação celular
(hiperplasia) ocorrida em maior escala no período embrionário e fetal, mas também no
alargamento destas (hipertrofia), sendo esta mais intensa na fase pós-natal (Owens,
1993). Do ponto de vista nutricional, o crescimento pode ser simplesmente definido
como o acréscimo progressivo de nutrientes e metabólitos no organismo, tendo início na
concepção, continuando enquanto o fornecimento de nutrientes excede os requisitos do
metabolismo oxidativo e regeneração dos tecidos existentes (Byers & Schelling, 1993).
No período pré-natal, o crescimento é dividido em duas fases: a fase
embrionária, que em pequenos ruminantes tem duração de 35 dias, a partir da
concepção, e a fase fetal, que ocorre logo após a embrionária (Lawrence & Fowler,
2002). A curva de crescimento normalmente é construída com base no acúmulo de
massa em função da idade, apresenta comportamento sigmoide, que consiste em uma
fase acelerada, que culmina com a puberdade e, uma fase desacelerada, pós-puberdade
(Owens, 1993).
Antes e durante o período gestacional, a mãe passa por uma série de adaptações
metabólicas, como aumento do volume e alterações no fluxo sanguíneo, alteração na
resistência a insulina, para atender as necessidades da placenta e do feto em crescimento
(Gluckman & Pinal, 2002).
Todas as funções fisiológicas do organismo são reguladas por mecanismos de
homeostase e homeorrese. A homeostase regula estas funções de forma constante, com
prioridades estabelecidas, enquanto que a homeorrese atua por mecanismos subjacentes
que regem as prioridades e as modifica para a função do tecido em questão, como o
desenvolvimento dos conceptos, em casos de gestação (Owens, 1993).
Alguns fatores podem influenciar o desenvolvimento dos fetos, como número de
partos, nutrição materna, número de fetos, tamanho da placenta, tamanho da mãe e
estresse climático. Destes fatores, o tamanho da mãe, a nutrição materna e o número de
fetos são mais determinantes (Jainudeen & Hafez, 1995). Considerando a importância
do período gestacional na primeira etapa de crescimento do animal, optou-se por
realizar um experimento direcionado a esta problemática, utilizando como objeto de
38
estudo a raça caprina nativa, Moxotó, para proporcionar a ampliação das informações
existentes, que em sua maioria são oriundas de ovinos.
Neste contexto, pretendeu-se reunir informações substanciais de três aspectos, a
espécie caprina, a raça Moxotó e a fase de gestação. Para tanto, trabalhou-se com o
objetivo de avaliar o desenvolvimento fetal sob influência da fase gestacional, do tipo
de gestação e da restrição alimentar em cabras da raça Moxotó em confinamento.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi desenvolvido na Estação Experimental de São João do Cariri,
pertencente ao Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba -
CCA/UFPB, localizada no município de São João do Cariri – PB. O período
experimental foi de 22 meses, compreendidos entre abril de 2009 a fevereiro de 2011.
As cabras utilizadas foram escolhidas em função da ordem de parição, de forma
que tivessem parido no mínimo uma vez, que tivessem glândula mamária em ótimo
estado, e que estivessem em final de gestação ou recém paridas. Em função das
diferenças na fase produtiva e condição corporal, houve um período de adaptação e
homogeneização dos lotes por cerca de cinco meses. Todas as fêmeas foram
vermifugadas e vacinadas contra clostridioses, além de receberem complexo vitamínico
ADE.
À medida que as cabras não gestantes e não lactantes atingiram escore de
condição corporal entre 2,0 e 3,0 pontos, foram submetidas à sincronização de cio
através de um protocolo com oito dias de duração. No primeiro dia, foi colocado o
dispositivo intravaginal impregnado com progesterona sintética e aplicado 0,5mL de um
agente luteolítico (d-Cloroprostenol, análogo sintético da PGF2α). Sete dias após, foram
retirados os dispositivos intravaginais e aplicado 1,0 mL de gonadotrofina coriônica
equina (eCG), via intramuscular. As cabras ciclaram no oitavo dia, cerca de 24 horas
após a aplicação da eCG, quando foram utilizados dois reprodutores da mesma raça para
fazer a cobertura das fêmeas.
Trinta dias após a cobertura, foi realizado o diagnóstico de gestação e a
contagem do número de fetos, por meio de ultrassonografia em via transretal. Com a
39
confirmação do tipo de prenhez (simples ou gemelar), foram constituídos os grupos
experimentais, em função do número de fetos, nível de restrição, e abatidos nas três
fases da gestação, 50, 100 e 140 dias (Tabela 1).
Tabela 1. Distribuição das cabras nos tratamentos experimentais
Fase gestacional 0% de restrição 20% de restrição 40% de restrição
1 feto 2 fetos 1 feto 2 fetos 1 feto 2 fetos
50 dias 4 4 4 4 4 4
100 dias 4 3 3 4 4 4
140 dias 4 4 4 4 4 4
As cabras foram mantidas confinadas em baias individuais de 3,75 m2
cada,
recebendo dieta balanceada para atender as exigências de gestação, com 2,49 Mcal de
energia metabolizável por quilograma de matéria seca (Tabelas 2 e 3).
A ração foi fornecida duas vezes ao dia, às 7h e 15h, ajustadas de forma que as
sobras fossem em torno de 15% do fornecido para o grupo alimentado ad libitum, com
disponibilidade irrestrita de água para todos os animais. O volumoso utilizado foi o
tifton 85 e o concentrado a base grão de milho triturado, farelo de soja, suplemento
mineral e calcário calcítico, em uma relação volumoso:concentrado de 60:40 na MS
(Tabelas 2 e 3).
Tabela 2. Composição nutricional dos ingredientes das dietas experimentais
Item (g/kg) Feno de tifton Milho moído Farelo de soja
Matéria seca 870,2 868,9 877,9
Matéria mineral 75,5 19,0 62,1
Proteína bruta 63,2 85,4 475,1
Extrato etéreo 21,1 46,2 20,2
Fibra em detergente neutro cp1 740,3 138,2 111,4
Fibra em detergente ácido 426,1 424,0 703,0
Carboidratos não-fibrosos 998,0 711,2 331,1 1Corrigida para cinzas e proteína.
40
Tabela 3. Composição da dieta experimental
Ingrediente g/kg de MS
Feno de tifton 85 600,0
Milho moído 280,0
Farelo de soja 95,0
Calcário calcítico 15,0
Suplemento mineral1 10,0
Composição química (g/kg de MS)
Matéria seca 873,1
Proteína bruta 107,0
Extrato etéreo 27,5
Fibra em detergente neutro cp2 493,5
Fibra em detergente ácido 274,2
Carboidratos não fibrosos 290,5
Nutrientes digestíveis totais 655,5
Valor energético (Mcal/kg de MS)
Energia metabolizável 2,49 1Suplemento mineral (nutriente/kg de suplemento): vitamina A 135.000,00 U.I.; Vitamina D3 68.000,00 U.I.;
vitamina E 450,00 U.I.; Ca 240 g; P 71 g; K 28,2 g; S 20 g; Mg 20 g; Cu 400 mg; Co 30 mg; Cr 10 mg; Fe 2500 mg;
I 40 mg; Mn 1350 mg; Se 15 mg; Zn 1700 mg; F máximo 710 mg; Solubilidade do Fósforo (P) em ÁcidoCítrico a
2% (min.).
A restrição alimentar foi aplicada após confirmação da prenhez, realizando-se
ajuste diário da ração oferecida em função da quantidade consumida pelas fêmeas ad
libitum. Os níveis de restrição alimentar aplicados foram de 20 e 40%, onde cada cabra
do grupo restrito nutricionalmente, consumia de acordo com uma cabra do grupo ad
libitum que tivesse o peso corporal mais próximo possível. O acompanhamento do peso
foi realizado semanalmente, antes do arraçoamento matinal.
As cabras foram abatidas utilizando-se pistola de dardo cativo para
insensibilização, por meio de técnicas de abate humanitário. Após abate, as cabras
foram submetidas ao processo de sangria através da seção das jugulares e carótidas e
todo o sangue foi colhido e pesado. Em seguida, foram removidas a glândula mamária e
o útero grávido, o qual foi pesado e dissecado em feto, placenta, placentônios, líquido
placentário e útero vazio. Posteriormente, feita a esfola e a separação da carcaça quente
e dos órgãos internos, gorduras e trato gastrintestinal (TGI). Todas as partes foram
colocadas em sacos plásticos e congelados a -20°C.
Os fetos foram retirados do útero, identificados quanto ao sexo e depois pesados.
Foi feita a mensuração dos fetos com auxílio de fita métrica e paquímetro, registrando-
se as seguintes medidas: comprimento corporal (CC) - distância entre as articulações
escapulo-umeral e a coxofemoral; altura da cernelha (AC) - distância entre a região da
41
cernelha e a extremidade distal do membro anterior; altura da garupa (AG) - distância
entre a tuberosidade sacral, na garupa, e a extremidade distal do membro posterior;
largura da garupa (LG) - distância entre os trocânteres maiores dos fêmures;
comprimento da garupa (CG) - distância entre as partes cranial da tuberosidade ilíaca e
a caudal da tuberosidade isquiática; largura do peito (LP) - distância entre as faces das
articulações escápuloumerais; perímetro torácico (PT) – perímetro tomando-se como
base o esterno e a cernelha, passando por trás da paleta; e perímetro abdominal (PA) –
circunferência externa do abdômen, na linha da cicatriz umbilical.
Depois de congelados, os fetos foram individualmente cortados em serra de fita,
triturados em moinho tipo Cutter (30 HP; 1775 rpm), homogeneizados e retiradas três
amostras representativas que foram destinadas às análises. Outra amostra foi deixada
como reserva. As amostras foram novamente congeladas, liofilizadas e depois trituradas
em liquidificador tipo industrial. Os fetos de 50 dias foram colocados diretamente em
placa de Petre e, em função do baixo peso, foram feitas análises da amostra composta
por tratamento.
Após moagem, fez-se a extração da gordura com éter etílico em aparelho
Soxhlet de acordo com a AOAC (1990), método 920.29. As amostras desengorduradas
foram trituradas em moinho de bola e armazenadas em recipientes plásticos
hermeticamente fechados, das quais foram feitas as análises de nitrogênio total, com o
resultado multiplicado por 6,25 para obtenção da proteína bruta, método 981.10
(AOAC, 1990). O teor de matéria seca total (engordurada) foi determinado em estufa a
105°C até peso constante, método 967.03 (AOAC, 1990) e, na sequência, estas amostras
foram incineradas em mufla a 600ºC por 4 horas, método 942.05 (AOAC, 1990). A
energia foi determinada pelo calor de combustão em bomba calorimétrica adiabática de
Parr.
As taxas de crescimento foram calculadas de acordo com Rattray et al. (1974),
sendo a taxa de crescimento diário (g/dia) = (W2 – W1)/T2 – T1; o crescimento relativo
(%) = (W2 – W1) x 100/W2 e; a taxa de crescimento instantânea (%) = (LogeW2 –
LogeW1) x 100/ (T2 – T1), onde W2 e W1 são os pesos final e inicial do intervalo
avaliado e, T2 e T1 as idades em dias. Estes cálculos foram feitos para fetos simples e
duplos em separado, nas diferentes fases gestacionais.
42
O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado, distribuído em
esquema fatorial 3x2x3 (três fases de gestação, dois tipos de fetos e três níveis de
restrição). Todos os dados foram submetidos à análise de variância e teste Tukey pelo
PROC GLM. O peso e medidas corporais também foram submetidos a teste de
correlação de Pearson, pelo PROC CORR. Todas as análises foram processadas no SAS
9.2, considerando-se α = 0,05.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O peso corporal dos fetos aumentou exponencialmente em função dos dias de
gestação (P<0,05), observando-se aumento de 98,1% dos 50 para os 100 dias de
gestação, e de 75,9% dos 100 para os 140 dias de gestação. Apesar deste aumento na
fase final representar menor desenvolvimento, em termos absolutos, este valor é mais
elevado, pois aos 50 dias de gestação o peso médio corporal do feto foi de 9,4 g,
enquanto que aos 140 dias o peso foi de 2069,2 g (Tabela 4).
Tabela 4. Peso corporal (g) e medidas morfométricas (cm) dos fetos em função dos dias de gestação, do
tipo de gestação e do nível de restrição
Variável Dias de Gestação
P Tipo de gestação
P Nível de Restrição
P 50 100 140 Simples Gemelar 0% 20% 40%
n 36 33 37 - 34 72 - 35 35 36 -
PC (g) 9,4c 499,2
b 2069,2
a *** 892,7
a 875,2
b ** 906,0 851,6 884,8 ns
Centímetros
CC 3,3c 14,7
b 24,9
a *** 14,1 14,5 ns 14,2 14,3 14,6 ns
AC 3,2c 17,1
b 31,2
a *** 17,1 17,4 ns 17,4 16,9 17,6 ns
AG 3,0c 16,9
b 32,1
a *** 17,4 17,5 ns 17,5 17,1 17,8 ns
CG 0,8c 3,1
b 6,7
a *** 3,5 3,6 ns 3,5 3,4 3,7 ns
LG 0,8c 4,2
b 6,5
a *** 4,6 3,5 ns 4,8 3,5 3,3 ns
LP 1,1c 4,1
b 5,9
a *** 3,7 3,7 ns 3,7 3,6 3,7 ns
PT 5,0c 17,2
b 27,4
a *** 16,7 16,6 ns 16,9 16,4 16,5 ns
PA 5,3c 18,6
b 28,4
a *** 17,7 17,4 ns 17,6 17,2 17,6 ns
Probabilidade: *** <0,001; ** de 0,001 a 0,01; * de 0,01 a 0,05; ns = não significativo; CC = comprimento do corpo;
PT = perímetro torácico; PA = perímetro abdominal; AC = altura da cernelha; AG = altura da garupa; CG =
comprimento da garupa; LG = largura da garupa; LP = largura do peito.
O suporte deste crescimento deve-se a capacidade da placenta em trocar
substâncias com o feto de maneira muito eficiente, de modo que, segundo revisão feita
por Gluckman & Pinal (2002), a placenta desenvolve uma variedade de mecanismos
43
para o transporte de nutrientes através das fronteiras materno-fetais, que com o avanço
da gestação as necessidades metabólicas do feto e da placenta tornam-se maiores,
levando ao aumento da capacidade de transporte placentário e da expressão de
transportadores específicos que são modificados para atender estas demandas.
As medidas morfométricas se comportaram de modo semelhante ao peso
corporal dos fetos no decorrer dos dias (P<0,01). Dos 50 para os 100 dias de gestação
foi observado aumento de 76,5%, enquanto que dos 100 aos 140 dias houve acréscimo
de 40,6%, verificando-se, portanto, que cada fase foi diferente da outra. Este
comportamento dos dados é biologicamente normal, o que demonstra redução da taxa
de crescimento com a proximidade do parto, que será detalhada posteriormente (Tabela
4).
Silva (2010) apontou crescimento exponencial com taxa de crescimento (k)
quadrática para fetos Saanen e Alpino entre 80 e 140 dias de gestação e, a partir destes
dados, o autor desenvolveu equações de predição da idade gestacional em função das
medidas morfométricas. Em trabalho semelhante, Lima (2011) observou aumento de
93% nos pesos individuais, bem como crescimento incremento médio de 64% nas
medidas biométricas.
O peso fetal foi influenciado pelo tipo de gestação, os fetos oriundos de
gestações simples foram 2% mais pesados que o peso individual das gestações
gemelares (Tabela 4). Estes resultados demonstram que, mesmo havendo diferença
significativa entre os pesos, que foi causada pela redução do espaço intrauterino, que
por sua vez limita o desenvolvimento de fetos gêmeos, a diferença percentual foi muito
pequena entre ambos, principalmente quando comparados a outros trabalhos que
avaliam o peso ao nascer. É importante destacar ainda que, caso estes fetos viessem a
nascer, esta pequena diferença de peso seria compensada na fase pós-natal, desde que
oferecida nutrição adequada.
Como reportado em revisão feita por Hafez (1963), em espécies que
normalmente gestam um único feto, caso ocorra prenhez gemelar, é possível haver
menor desenvolvimento dos fetos gêmeos, este fato não acontece em espécies como a
suína, por exemplo. Além disso, a subnutrição da mãe no período final afeta mais os
gêmeos, talvez, porque os substratos nutricionais não cheguem a ambos os fetos da
mesma maneira.
44
Silva et al. (2001) destacam que o peso ao nascimento de crias Moxotó oriundas
de parto simples, foram 11% mais pesadas que aquelas de parto duplo. De acordo com
Oliveira (2007), o tipo de parto também exerceu efeito sobre o peso ao nascer, bem
como sobre o peso aos 30 e 60 dias de idade em cabritos da raça Anglo Nubiano, já para
os animais oriundos de nascimento simples apresentaram peso correspondente a 10 e
18% superiores àqueles de nascimento duplo, respectivamente.
Gluckman & Pinal (2002) apontam que o peso ao nascimento é determinado e
influenciado predominantemente pelo ambiente uterino do que pela carga genética,
sugerindo que existem limitações na capacidade do útero em suportar o crescimento
fetal e, por isso, o feto não cresce à sua capacidade genética máxima, isto demonstra um
mecanismo perfeito, uma vez que o desenvolvimento excessivo promoveria maior
incidência de distorcia. A este limite de capacidade uterina dá-se o nome de restrição
materna, que atua de maneira significativa no caso de gestações gemelares.
O nível de restrição aplicado às cabras durante o período gestacional não afetou
o desenvolvimento fetal (Tabela 4), o que demonstra a eficiência materna na utilização
da energia dietética.
Relatos da literatura (Rattray et al., 1974; Hafez, 1965) apontam para o efeito
negativo da restrição alimentar em estágios finais da gestação sobre desenvolvimento de
fetos, isto não ocorreu nesta pesquisa, corroborando com Lima (2011), que ao avaliar os
mesmos níveis de restrição utilizados neste estudo, sobre o desenvolvimento de fetos de
cabras Saanen e Alpinas em diferentes fases gestacionais. Geraseev et al. (2006)
verificaram que o peso ao nascer de ovinos da raça Santa Inês foi, em média, 25%
inferior quando as ovelhas foram submetidas à restrição alimentar de 40% das
necessidades energéticas totais.
Lawrence & Fowler (2002) mencionam alguns dos princípios fundamentais da
Escola Hammond, que tratam dos efeitos da nutrição sobre o desenvolvimento fetal,
destacando que a grave subnutrição materna não tem efeitos de retardo no
desenvolvimento do fetos em estágios posteriores à vida fetal; que o efeito desta
restrição promove retardo nos diferentes tecidos na ordem direta de maturidade, sendo
mais prejudicadas os tecidos de amadurecimento final como músculo e gordura; tecidos
retardados pela subnutrição apresentam grande potencial de recuperação quando um alto
nível de alimentação é restaurada.
45
Clarke et al. (1998) publicaram um estudo sobre o efeito da nutrição no
desenvolvimento da placenta, onde apontam que a restrição aplicada entre os dias 30 e
80 pós concepção tem efeitos limitantes sobre o crescimento do componente fetal da
placenta, apesar de aumentar a abundância de placentônios. Além disso, também foi
verificado que os cotilédones das ovelhas do grupo restrito continham menos DNA, que
por sua vez menos núcleos, com mais tecido por núcleo, que proporcionou a maior
concentração de hemoglobina, elevando a taxa de perfusão sanguínea.
No caso desta pesquisa, foi possível observar que a dieta não afetou o peso ou
número de placentônios, como reportado por Clarke et al. (1998), o que indica a atuação
de outros mecanismos compensatórios. Como descrito por Gluckman & Pinal (2002), a
nutrição fetal não é simplesmente a consequência passiva da ingestão materna, mas o
culminar de hormônios e outras influências sobre a compartimentalização dos nutrientes
maternos e metabolismo placentário.
O hormônio do crescimento pode estimular o crescimento, mesmo não
parecendo essencial neste caso; a insulina aumenta o fluxo de substratos energéticos e
estimula o crescimento placentário; os hormônios da tireoide (com exceção em algumas
espécies) atuam na maturação dos músculos e do esqueleto; os fatores de crescimento
semelhantes a insulina (IGF I e II) atuam no fluxo da glicose e, em conjunto com os
hormônios placentários, regulam a atividade metabólica materna de modo que exista um
suprimento contínuo de substratos para o feto (Jainudeen & Hafez, 1995).
Foram verificadas altas significâncias (P<0,001) e excelentes coeficientes de
correlação entre o peso dos fetos e suas respectivas medidas morfométricas, exceto para
a largura de garupa, que apresentou baixo coeficiente de correlação (Tabela 5).
Tabela 5. Coeficientes de correlação de Pearson entre o peso individual dos fetos e suas respectivas
medidas morfométricas
Variável Peso CC PT PA AC AG CG LG
CC 0,93***
PT 0,93*** 0,98***
PA 0,92*** 0,98*** 0,99***
AC 0,95*** 0,99*** 0,99*** 0,99***
AG 0,96*** 0,98*** 0,99*** 0,99*** 0,99***
CG 0,97*** 0,97*** 0,96*** 0,96*** 0,98*** 0,98***
LG 0,51*** 0,54*** 0,56*** 0,55*** 0,53*** 0,54*** 0,53***
LP 0,90*** 0,96*** 0,98*** 0,98*** 0,98*** 0,97*** 0,94*** 0,55*** Probabilidade: *** <0,001; CC = comprimento do corpo; PT = perímetro torácico; PA = perímetro abdominal; AC =
altura da cernelha; AG = altura da garupa; CG = comprimento da garupa; LG = largura da garupa; LP = largura do
peito.
46
Resultados semelhantes foram encontrados por Silva (2010), trabalhando com
fetos de cabras Saanen e Alpinas, tendo observado que as medidas morfométricas são
altamente correlacionadas com o peso fetal, com exceção do comprimento de garupa. A
alta correlação entre estas variáveis possibilitou elaboração de equações de predição do
peso fetal, que podem auxiliar no uso de técnicas não-invasivas de acompanhamento do
crescimento fetal, possibilitando melhorias no manejo das fêmeas gestantes.
O perímetro torácico (Oliveira, 2007; Yáñez et al., 2004) e o comprimento do
corpo (Oliveira, 2007) são as medidas biométricas que melhor predizem o peso vivo de
caprinos Anglo Nubianos e Saanen.
Como o nível de restrição não afetou o desenvolvimento dos fetos, as taxas de
crescimento foram calculadas considerando apenas o tipo de gestação. As taxas de
crescimento não variaram entre fetos oriundos de gestação simples ou gemelar dos 50
aos 100 dias de gestação (P>0,05), entretanto, no terço final da gestação (dos 100 aos
140 dias), os fetos simples apresentaram maiores taxas de crescimento diário, relativo e
instantâneo (Tabela 6).
Tabela 6. Taxas de crescimento diário, relativo e instantâneo dos fetos em função do tipo de gestação
Dias de gestação Diário (g/dia) P Relativo (%) P Instantâneo (%) P
Simples Gemelar Simples Gemelar Simples Gemelar
50 a 100 9,95 10,03 ns 1,96 1,96 ns 7,87 7,86 ns
100 a 140 43,36a
37,13b *** 1,93
a 1,86
b *** 3,71
a 3,42
b ***
Probabilidade: *** <0,001; ** de 0,001 a 0,01; * de 0,01 a 0,05; ns = não significativo.
O crescimento pré-natal continua absoluto durante todo o período gestacional,
enquanto que o relativo começa a diminuir após meados da gestação (Hafez, 1963),
período em que ocorre aumento no consumo de oxigênio fetal, embora seja em ritmo
mais lento do que o corpo em crescimento (Bell et al., 1987). O crescimento fetal
relativo é o aumento percentual em peso e dimensões por unidade de tempo, sendo mais
rápido nos estágios iniciais, diminuindo à medida que progride a gestação, de modo
inverso ao crescimento absoluto por unidade de peso, o qual aumenta exponencialmente
ao longo dos dias, atingindo o máximo crescimento no final da gestação (Jainudeen &
Hafez, 1995).
47
A média de peso dos fetos de gestação simples no final da gestação, aos 140
dias, foi de 2,20 kg e, 1,96 kg para o peso individual de fetos gemelares. Aplicando-se a
taxa de crescimento diário de 43,36 e 37,13 g nos fetos únicos e de gestação dupla,
obtem-se peso ao nascer de 2,63 e 2,33 kg, respectivamente, valor próximo ao
observado por Silva et al. (2001) para cabritos Moxotó que foi de 2,73 kg. Comparando-
se com o NRC (2007), o peso ao nascer de cabritos oriundos de partos simples e
gemelares é de 2,9 e 2,6 kg, respectivamente, para cabras com peso corporal de 30 kg
(faixa de peso próximo a média das cabras deste experimento). Isto mostra a diferença
da raça Moxotó e aquelas usadas para originar os resultados do NRC, que também foi
evidenciada no consumo de nutrientes, que esteve abaixo do preconizado por este
Comitê de alimentação.
Para melhor explicar o crescimento fetal, está apresentado na Tabela 7 o ganho
em peso das cabras, no mesmo intervalo de tempo usado para calcular a taxa de
crescimento fetal. Os resultados demonstram que o ganho em peso das cabras foi
semelhante ao ganho em peso dos fetos, quando se trata de tipo de gestação. No entanto,
houve diferença no ganho das cabras em função do nível de restrição.
Tabela 7. Ganho em peso diário (g/dia) das cabras em função do tipo de gestação e nível de restrição
Dias de gestação Tipo de gestação Nível de restrição
Simples Gemelar P 0% 20% 40% P
50 a 100 14,96 14,63 ns 25,78a 13,53
ab 5,10
b *
100 a 140 47,00a
39,97b *** 47,77 59,31 18,92 ns
Probabilidade: *** <0,001; ** de 0,001 a 0,01; * de 0,01 a 0,05; ns = não significativo.
As cabras reduziram o ganho com o aumento do nível de restrição alimentar, as
cabras do nível mais alto de restrição (40%) ganharam apenas 5,1 g/dia no intervalo de
50 a 100 dias de gestação, este acréscimo de peso não é compatível com o crescimento
fetal neste mesmo período, o que indica mobilização de tecidos corporais para suprir as
demandas do útero grávido, embora nesta fase, os requerimentos da fêmea gestantes não
sejam altos quanto na fase final.
No intervalo de 100 a 140 dias houve redução do ganho diário das cabras
submetidas a 40% de restrição alimentar, onde a ausência de significância deve-se ao
elevado coeficiente de variação (208%) desta variável, tendo em vista que um número
elevado de cabras apresentou ganho negativo, em função da maior demanda nutricional
48
deste período. Estas mudanças evidenciam a prioridade materna em demandar todo o
fluxo de nutrientes para nutrição do útero grávido e glândula mamária, que tem seu
meior desenvolvimento neste período, mobilizando também suas reservas corpóreas
para suprir estas necessidades.
O consumo de nutrientes (g/dia) aumentou com os dias gestacionais, não
havendo diferença entre 50 e 100 dias, entretanto aumentou aos 140 dias (P<0,001),
conforme Tabela 8. As cabras gestantes de fetos gêmeos ingeriram mais nutrientes
(g/dia) e energia (Mcal/dia) que as cabras com fetos únicos (Tabela 8), de modo que os
requerimentos nutricionais para gestar dois ou mais fetos são superiores. Foi observado
que o peso e medidas morfométricas não diferiram quanto ao tipo de gestação mas,
verificou-se que houve necessidade de aumentar a ingestão de alimento por parte destas
fêmeas com o intuito de evitar prejuizos aos fetos. Aliado ao aumento no consumo, foi
observado redução do ganho em peso da cabras com fetos duplos, no período final da
gestação (Tabela 7).
Quanto aos níveis de restrição, naturalmente as cabras submetidas à dieta
irrestrita nutricionalmente, consumiram mais nutrientes que as demais dos grupos de 20
e 40% de restrição (Tabela 8). É importante destacar que mesmo as cabras que não
recebram restrição nutricional, o consumo de nutrientes não atingiu os valores indicados
pelo NRC (2007) para esta categoria, que faz recomendações de ingestão diária de 800
g de MS, 123 g de PB, 640 g de NDT e 2,31 Mcal de EM, isto para cabras com 30 kg de
PC, em final de gestação com dois fetos. Como a alimentação foi disponibilizada de
modo que as cabras regularam o consumo voluntariamente, pode-se perceber que estas
possuem capacidade de ingestão inferior àquelas que originaram os dados do NRC, que
por sua vez são fêmeas de tronco leiteiro, diferente do caso da Moxotó, que não possue
aptidão especifica, a princiapal delas é a alta capacidade de sobrevivência em ambientes
com disponibilidade irregular de alimentos.
49
Tabela 8. Consumo de nutrientes e energia em função dos dias de gestação, do número de fetos e do nível de restrição
Variável Dias de gestação
P Número de fetos
P Nível de Restrição
P 50 100 140 1 2 0% 20% 40%
Matéria seca (g/dia) 412,23b 456,63
b 567,27
a *** 421,23
b 482,85
a ** 596,92
a 415,98
b 339,09
c ***
Matéria organica (g/dia) 383,49b 424,78
b 527,15
a *** 391,90
b 448,95
a ** 555,75
a 386,38
b 315,29
c ***
Proteína bruta (g/dia) 45,53b 50,34
b 62,47
a *** 46,54
b 53,20
a ** 66,87
a 45,37
b 36,86
c ***
Extrato etéreo (g/dia) 10,87b 12,45
b 15,64
a *** 11,47
b 12,88
a * 16,51
a 11,31
b 8,54
c ***
Nutrientes digestíveis totais (g/dia) 266,33b 294,82
b 363,81
a *** 278,93
b 304,74
a * 378,67
a 263,74
b 223,15
c ***
Energia metabolizável (Mcal/dia) 1,01b 1,12
b 1,38
a *** 1,06
b 1,16
a * 1,44
a 1,00
b 0,87
c ***
Fibra em detergente neutro (g/dia) 185,40b 205,92
b 258,64
a *** 189,46
b 218,66
a ** 257,54
a 191,90
b 161,61
c ***
Carboidratos não fibrosos (g/dia) 137,62b 151,66
b 185,07
a *** 140,31
b 159,58
a ** 208,61
a 133,99
b 105,23
c ***
Probabilidade: *** <0,001; ** de 0,001 a 0,01; * de 0,01 a 0,05; ns = não significativo.
50
Complementando os resultados anteriores dos efeitos causados pelos fatores dias
de gestação, número de fetos e nível de restrição sobre o desenvolviemento fetal, pode-
se verificar na Tabela 9, a composição corporal dos fetos.
Quando expressa em percentual, a composição química dos fetos foi
influenciada (P<0,01) pelos dias gestacionais, exceto para o percentual de proteína.
Houve aumento do percentual de matéria seca (7,9; 12,4; 17,1%) presente no corpo dos
fetos, sendo estes inversamente proporcional ao percentual de água encontrada no corpo
(92,1; 87,7; 82,9%). As percentagens de gordura e matéria mineral diminuíram,
provavelmente, seguindo o decréscimo na sequência de formação do corpo na fase
embrionária e fetal, a qual, inicia-se pelos tecidos nervosos, depois os ossos,
posteriormente os músculos e depois gordura (Lawrence & Fowler, 2002).
O acúmulo de nutrientes até os 100 dias gestação representou, em média, 19%
da retenção total aos 140 dias, seguindo o crescimento fetal em gramas de peso corporal
que foi equivalente a 24,1% nesta fase. Contudo, em função do modelo de crescimento
exponencial, a maior parte deste desenvolvimento ocorreu no terço final da gestação,
onde a retenção de MS, água, proteína, gordura, MM e energia corresponderam a
82,5%, 75,2%, 82,4%, 83,6%, 79,2% e 83,3%, respectivamente, seguindo o incremento
de peso corporal fetal de 75,9%.
O tipo de gestação além de influenciar na quantidade de gordura, matéria
mineral e energia (kcal/kg MS) presente no corpo dos fetos, verificou-se influência
quanto aos fetos duplos, que tiveram menor valor de gordura e maior de MM e energia.
Quanto à composição absoluta, os fetos de gestações duplas apresentaram as maiores
médias, o que era de se esperar, em razão das amostras serem dos dois fetos juntos. Em
média, a retenção de nutrientes nos fetos simples foi equivalente a 52,5% daquela nos
fetos duplos.
O consumo de nutrientes seguiu a tendência da deposição de nutrientes nos fetos
em função dos dias e do tipo de gestação, no tocante a restrição alimentar aplicada,
observa-se que as cabras foram muitos eficientes, uma vez que a ingestão foi
quantitativamente reduzida nos níveis de 20 e 40% de restrição, mas isto não foi
suficiente para promover alterações na composição corporal destes fetos.
51
Tabela 9. Composição química dos fetos em função dos dias de gestação, do tipo de gestação e do nível de restrição
Variável Dias de gestação
P Tipo de gestação
P Nível de restrição
P D*G D*R G*R
50 100 140 simples gemelar 0% 20% 40% P P P
Matéria seca (%) 7,9c 12,4
b 17,1
a *** 12,2 12,7 ns 12,6 12,5 12,3 ns *** ns ns
Água (%) 92,1a 87,7
b 82,9
c *** 87,8 87,3 ns 87,4 87,5 87,7 ns *** ns ns
Proteína (%) 59,9 57,8 56,2 ns 57,1 58,2 ns 56,0 57,8 60,1 ns ns ns ns
Gordura (%) 15,1a 9,0
b 9,4
b *** 11,8
a 10,8
b * 12,3
a 11,0
b 10,4
b *** ns ns ns
Matéria mineral (%) 25,0a 20,6
b 16,9
c *** 20,5
b 21,2
a * 20,6 21,6 20,5 ns ns ns ns
Energia Bruta (kcal/kg) 4799a 4115
b 4050
a *** 4326 4328 ns 4315 4296 4370 ns ns * ns
Total na MS
Matéria seca (g) 1,6c 94,7
b 542,2
a *** 147,5
b 281,0
a *** 228,4 210,3 210,0 ns *** ns ns
Água (g) 16,3c 656,1
b 2645,9
a *** 745,2
b 1472,0
a *** 1150,3 1089,6 1117,2 ns *** ns ns
Proteína (g) 0,9c 54,0
b 307,4
a *** 81,4
b 161,7
a *** 121,4 118,2 128,2 ns *** ns ns
Gordura (g) 0,2c 8,3
b 50,5
a *** 14,4
b 25,4
a *** 22,7 20,3 17,2 ns *** ns ns
Matéria mineral (g) 0,4c 19,3
b 92,6
a *** 25,1
b 50,1
a *** 39,3 38,4 36,2 ns *** ns ns
Energia Bruta (kcal) 6,2c 407,8
b 2446,2
a *** 679,1
b 1242,8
a *** 1060,2 958,2 891,9 ns *** ns ns
Probabilidade: *** <0,001; ** de 0,001 a 0,01; * de 0,01 a 0,05; ns = não significativo.
52
Chama atenção a quantidade de energia metabolizável consumida, tomando-se
os valores dos pontos de maior demanda nutriconal, aos 140 dias (1,38 Mcal), gestação
dupla (1,16 Mcal) e fêmeas submetidas a 40% de restrição (0,87 Mcal), comparando-se
com energia depositada nos fetos nestes mesmos pontos, temos 2,45, 1,24 e 0,89 Mcal
de energia, respectivamente. É notório que a quantidade de energia depositada no corpo
do feto é superior a ingerida, isto sem considerar o que foi retido no útero, placenta,
líquidos e glândula mamária, além do que utilizado para manutenção do corpo materno.
Na Figura 1 observa-se o efeito da interação entre os dias de gestação e tipo de
gestação (P<0,01) para praticamente todas as variáveis (matéria seca, água, proteína,
gordura, matéria mineral e energia) em gramas totais.
Figura 1. Retenção de matéria seca, água, proteína, gordura, matéria mineral (g) e
energia (kcal) em função da interação tipo gestação e dias de gestação.
MS = 0,024 e 0,0719x
R² = 0,97
MS = 0,0862 e 0,0661x
R² = 0,95
0
100
200
300
400
500
600
700
800
900
1000
0 50 100 150
Ma
téria
seca
(g)
Dias de gestação
Simples
Gemelar
Água = 0,5434 e 0,0606x
R² = 0,96
Água = 1,3993 e 0,0577x
R² = 0,9399
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
4500
5000
0 50 100 150
Ág
ua
(g
)
Dias de gestação
Simples
Gemelar
Ptn = 0,015 e 0,0709x
R² = 0,97
Ptn = 0,054 e 0,0654x
R² = 0,95
0
100
200
300
400
500
600
0 50 100 150
Prote
ína
(g
)
Dias de gestação
Simples
Gemelar
Gord = 0,0047 e 0,066x
R² = 0,97
Gord = 0,0151 e 0,0607x
R² = 0,95
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
0 50 100 150
Gord
ura
(g
)
Dias de gestação
Simples
Gemelar
MM = 0,0074 e 0,0674x
R² = 0,96
MM = 0,0273 e 0,0618x
R² = 0,94
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
0 50 100 150
Maté
ria
min
eral
(g)
Dias de gestação
Simples
Gemelar
En = 0,0819 e 0,0739x
R² = 0,9742
En = 0,3795 e 0,0661x
R² = 0,95
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
4500
0 50 100 150
En
ergia
(k
cal)
Dias de gestação
Simples
Gemelar
53
Os resultados destas interações estão demonstrados na forma de gráficos, com
suas respectivas equações exponenciais (Figura 1). Com a deposição dos nutrientes de
forma exponencial é possível visualizar a magnitude do aumento destas demandas no
terço final da gestação, considerando as diferenças entre os tipos de gestação, pode-se
perceber que o acúmulo de nutrientes de fetos gemelares é maior, porém as taxas de
crescimento neste grupo são inferiores, em respostas a limitação materna, provocada
pelo espaço intrauterino. Diversos trabalhos que avaliaram o desenvolvimento fetal e/ou
a deposição de nutrientes neste e no útero grávido como um todo, observaram este
crescimento exponencial (Koong, 1975; Moulin, 1993; McNeill, 1997; Costa, 1996;
Macedo Junior, 2008; Silva, 2010; Lima, 2011). Rattray et al. (1974) citam que a
tendência exponencial do crescimento fetal é contínua, desde a fase pré-natal e início do
crescimento pós-natal, sendo o período fetal parte da fase auto-acelerada do crescimento
normal.
CONCLUSÕES
A restrição alimentar de 20 e 40% aplicada a cabras Moxotó durante o período
gestacional não afeta o crescimento fetal.
Fetos oriundos de gestações gemelares são menos desenvolvidos
individualmente que fetos de gestações simples.
O acúmulo de nutrientes nos fetos acompanha o ganho em peso, fetos gêmeos
acumulam maior quantidade de nutrientes sob taxas de crescimento mais lentas que os
fetos únicos.
54
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56
CAPÍTULO III
COMPOSIÇÃO CORPORAL DE CABRAS MOXOTÓ NA FASE
DE GESTAÇÃO
57
COMPOSIÇÃO CORPORAL DE CABRAS MOXOTÓ NA FASE DE
GESTAÇÃO
RESUMO
Conduziu-se este trabalho com o objetivo de avaliar a influência da fase gestacional, do
número de fetos e da restrição alimentar, sobre a composição corporal materna, do útero
grávido e da glândula mamária de cabras da raça Moxotó. As cabras foram submetidas à
sincronização de cio, mediante aplicação de hormônios e, posteriormente, foram
cobertas por meio de monta natural controlada. Trinta dias após o acasalamento, foi
realizado o diagnóstico de gestação por meio da ultrassonografia, para que fossem
agrupadas conforme o dia de gestação (50, 100 e 140 dias), o tipo de gestação (simples
ou gemelar) e o nível de restrição (0%, 20% e 40%), utilizando o delineamento
experimental inteiramente casualizado, em arranjo fatorial 3x2x3. As cabras
permaneceram em baias individuais e foram abatidas nos diferentes dias de gestação.
Foram colhidas amostras separadas do corpo das cabras, útero e membranas, líquidos,
fetos e glândula mamária. Foram feitas as análises laboratoriais para determinação da
matéria seca, proteína, extrato etéreo, minerais e energia. O escore de condição corporal
ao abate (ECCabt) e o peso da carcaça diminuiram com o avanço da gestação e, o nível
de restrição também influenciou no ECCabt. O peso corporal final aumentou em função
dos dias, havendo diminuição na deposição de nutrientes no corpo das cabras e aumento
destes no útero grávido e glândula mamária. As mudanças ocorridas no organismo
materno e o desenvolvimento dos conceptos e da glândula mamária, são altamente
dependentes da fase de gestação, sendo o terço final, responsável pelas diferenças no
crescimento do útero grávido e na deposição de nutrientes no mesmo, em cabras com
gestação simples ou gemelar. A restrição alimentar promove modificações na
composição corporal materna, no intuito de garantir a desenvolvimento dos tecidos
prioritários da gestação, sem que ocorram alterações na composição química dos
mesmos.
Palavras-chave: caprino nativo, conceptos, placenta, status nutricional
58
BODY COMPOSITION OF MOXOTÓ GOATS DURING GESTATION
ABSTRACT
The aim of the present study was to evaluate the influence of gestational phase, number
of fetuses and food restriction on maternal body composition, the pregnant uterus and
mammary glands of goats of the Moxotó breed. The goats were subjected to estrus
synchronization by the application of hormones, followed by controlled, natural mating.
Thirty days after mating, pregnancies were diagnosed using ultrasound and the animals
were grouped based on gestation day (50, 100 and 140 days), type of pregnancy (single
or twin) and level of nutrient restriction (0%, 20% and 40%), using a completely
randomized design in 3x2x3 factorial arrangement. The goats remained in individual
pens and were slaughtered on different days of gestation. Samples were collected from
the body, uterus and membranes, fluids, fetuses and mammary glands. Laboratory
analyzes were performed for the determination of dry matter, protein, lipids, minerals
and energy. The final body condition score (BCSfinal) and carcass weight decreased with
the advance in gestation. The level of restriction also influenced the BCSfinal. Final body
weight increased with the increase in the number of days, accompanied by a decrease in
the deposition of nutrients in the body as well as an increase in nutrient deposition in the
pregnant uterus and mammary glands. Changes in the mother, developing fetuses and
mammary glands are highly dependent on the stage of pregnancy. Significant
differences in the growth of the pregnant uterus and the deposition of nutrients in goats
with a single or twin gestation occurred in the final third of gestation. Food restriction
during gestation promotes changes in maternal body composition in order to ensure the
development of priority tissues, with no changes occurring in the chemical composition
of these tissues.
Keywords: fetus, native goat, nutritional status, placenta
59
INTRODUÇÃO
No período gestacional, importantes modificações fisiológicas e metabólicas estão
ocorrendo no organismo materno, uma vez que grande parte dos nutrientes disponíveis
será direcionada para os produtos da concepção (Lopez & Robinson, 1994). A nutrição
adequada que a fêmea gestante recebe garante que as exigências de energia, proteína,
vitaminas e minerais para manutenção e, subsequente desenvolvimento e crescimento fetal
sejam atendidos, mas em casos de subnutrição, o feto é parte prioritária na partição dos
nutrientes (NRC, 1985).
Em funçãodo maior desenvolvimento fetal ocorrer no terço final da gestação,
deve ser dada atenção especial à fêmea neste período (Moulin, 1991). Para suprir a
grande demanda nutricional ocorrida nesta fase, ocorrem ajustes metabólicos que
refletem na composição corporal, no consumo de nutrientes e de energia (Hafez &
Hafez, 2004). Este alto requerimento nutricional exige que o sistema metabólico
materno transporte grande quantidade destes nutrientes para o útero, fato que tem sido
extensivamente avaliado. No entanto, os mecanismos fisiológicos utilizados para
atender estas necessidades adicionais e, ao mesmo tempo combinadas com os efeitos da
restrição alimentar, não estão bem esclarecidos (Scheaffer et al., 2004 a,b).
A fase de gestação ainda tem muitos gargalos, sobretudo quando se trata da
espécie caprina, a qual é menos estudada entre os principais ruminantes comercialmente
utilizados. De acordo com Atzori et al. (2005), os sistemas que determinam as
exigências nutricionais desta espécie são empíricos e pouco flexíveis quando
comparados aos estabelecidos para bovinos ou ovinos que, em parte, deve-se ao menor
número de experimentos conduzidos com caprinos e, por se tratar de ambientes
produtivos extremamente diversos, tornam os modelos relativos a estes requerimentos
ainda mais complexos.
Por estas razões, trabalhou-se com o objetivo de avaliar a influência da fase
gestacional, do número de fetos e da restrição alimentar, sobre a composição corporal
materna, do útero grávido e da glândula mamária de cabras da raça Moxotó em
confinamento.
60
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi desenvolvido na Estação Experimental de São João do Cariri,
pertencente ao Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba -
CCA/UFPB, localizada no município de São João do Cariri – PB. O período
experimental foi de 22 meses, compreendidos entre abril de 2009 a fevereiro de 2011.
As cabras utilizadas foram escolhidas em função da ordem de parição, de forma
que tivessem parido no mínimo uma vez, que tivessem glândula mamária em ótimo
estado, e que estivessem em final de gestação ou recém-paridas. Em função das
diferenças na fase produtiva e condição corporal, houve um período de adaptação e
homogeneização dos lotes por cerca de cinco meses. Todas as fêmeas foram
vermifugadas e vacinadas contra clostridioses, além de receberem do complexo
vitamínico ADE.
À medida que as cabras não gestantes e não lactantes atingiram escore de
condição corporal entre 2,0 e 3,0 pontos, foram submetidas à sincronização de cio
através de um protocolo com oito dias de duração. No primeiro dia foi colocado o
dispositivo intravaginal impregnado com progesterona sintética e aplicado 0,5mL de um
agente luteolítico (d-Cloroprostenol, análogo sintético da PGF2α). Sete dias após, foram
retirados os dispositivos intravaginais e aplicado 1,0 mL de gonadotrofina coriônica
equina (eCG), via intramuscular. As cabras ciclaram no oitavo dia, cerca de 24 horas
após a aplicação da eCG, quando foram utilizados dois reprodutores da mesma raça para
fazer a cobertura das fêmeas.
Trinta dias após a cobertura foi realizado o diagnóstico de gestação e a contagem
do número de fetos, por meio de ultrassonografia em via transretal. Com a confirmação
do tipo de prenhez (simples ou gemelar), foram constituídos os grupos experimentais,
em função do número de fetos, nível de restrição, e abatidos nas três fases da gestação,
50, 100 e 140 dias (Tabela 1).
Tabela 1. Distribuição das cabras nos tratamentos experimentais
Fase gestacional 0% de restrição 20% de restrição 40% de restrição Não
gestante 1 feto 2 fetos 1 feto 2 fetos 1 feto 2 fetos
Referência - - - - - - 8
50 dias 4 4 4 4 4 4 -
100 dias 4 3 3 4 4 4 -
140 dias 4 4 4 4 4 4 -
61
As cabras foram mantidas confinadas em baias individuais de 3,75 m2
cada,
recebendo dieta balanceada para atender as exigências de gestação, com 2,49 Mcal de
energia metabolizável por quilograma de matéria seca (Tabelas 2 e 3).
A ração foi fornecida duas vezes ao dia, às 7h e 15h, ajustadas de forma que as
sobras fossem em torno de 15% do fornecido para o grupo alimentado ad libitum, com
disponibilidade irrestrita de água para todos os animais. O volumoso utilizado foi o
tifton 85 e o concentrado a base grão de milho triturado, farelo de soja, suplemento
mineral e calcário calcítico, em uma relação volumoso:concentrado de 60:40 na MS
(Tabelas 2 e 3).
Tabela 2. Composição nutricional dos ingredientes das dietas experimentais
Item (g/kg) Feno de tifton Milho moído Farelo de soja
Matéria seca 870,2 868,9 877,9
Matéria mineral 75,5 19,0 62,1
Proteína bruta 63,2 85,4 475,1
Extrato etéreo 21,1 46,2 20,2
Fibra em detergente neutro cp1 740,3 138,2 111,4
Fibra em detergente ácido 426,1 42,4 70,3
Carboidratos não-fibrosos 99,8 711,2 331,1 1Corrigida para cinzas e proteína.
Tabela 3. Composição da dieta experimental
Ingrediente g/kg de MS
Feno de tifton 85 600,0
Milho moído 280,0
Farelo de soja 95,0
Calcário calcítico 15,0
Suplemento mineral1 10,0
Composição química (g/kg de MS)
Matéria seca 873,1
Proteína bruta 107,0
Extrato etéreo 27,5
Fibra em detergente neutro cp2 493,5
Fibra em detergente ácido 274,2
Carboidratos não fibrosos 290,5
Nutrientes digestíveis totais 655,5
Valor energético (Mcal/kg de MS)
Energia metabolizável 2,49 1Suplemento mineral (nutriente/kg de suplemento): vitamina A 135.000,00 U.I.; Vitamina D3 68.000,00 U.I.;
vitamina E 450,00 U.I.; Ca 240 g; P 71 g; K 28,2 g; S 20 g; Mg 20 g; Cu 400 mg; Co 30 mg; Cr 10 mg; Fe 2500 mg;
I 40 mg; Mn 1350 mg; Se 15 mg; Zn 1700 mg; F máximo 710 mg; Solubilidade do Fósforo (P) em ÁcidoCítrico a
2% (min.).
62
A restrição alimentar foi aplicada após confirmação da prenhez. Procedeu-se
ajuste diário da ração oferecida em função da quantidade consumida pelas fêmeas ad
libitum. Os níveis de restrição aplicados foram de 20 e 40%, onde cada cabra do grupo
restrito nutricionalmente, consumia de acordo com uma cabra do grupo ad libitum que
tivesse o peso corporal mais próximo possível.
O acompanhamento do peso foi realizado a cada quinze dias, a partir do
momento da cobertura até o abate, com auxílio de balança digital. Na ocasião da
pesagem foi avaliado o escore de condição corporal (ECC) pela apalpação da região
lombar, seguindo uma escala de pontuação que variou de 1 (muito magra) a 5 (muito
gorda), com intervalos de 0,5 pontos.
Para determinar a quantidade de nutrientes retidos no corpo das cabras, bem como
na glândula mamária e útero grávido, foi feito o abate das cabras nas diferentes fases
gestacionais e daquelas não gestantes, como descrito pelo ARC (1980), que possibilitou
a análise química de todos os tecidos do corpo do animal.
As cabras foram abatidas utilizando-se pistola de dardo cativo para
insensibilização, por meio de técnicas de abate humanitário. Após abate, as cabras
foram submetidas ao processo de sangria através da seção das jugulares e carótidas,
todo o sangue foi colhido e pesado. Em seguida, foram removidas a glândula mamária e
o útero grávido, o qual foi pesado e dissecado em feto, placenta, placentônios, líquido
placentário e útero vazio. Posteriormente, feita a esfola e a separação da carcaça quente
e dos órgãos internos, gorduras e trato gastrintestinal (TGI). Todas as partes foram
colocadas em sacos plásticos previamente identificados e, congelados a -20°C.
O peso de corpo vazio (PCV) foi determinado pela diferença do peso corporal ao
abate e o conteúdo do TGI, somado ao da bexiga e da vesícula biliar. O peso de corpo
vazio livre (PCVL) foi obtido pela diferença do PCV e os pesos do útero grávido e da
glândula mamária.
O corpo vazio livre, os fetos e a composta do útero vazio+placenta+placentônios
foram individualmente cortados em serra de fita, triturados em moinho tipo Cutter (30
HP; 1775 rpm), homogeneizados e retiradas três amostras representativas que foram
destinadas às análises. Outra amostra deixada como reserva. As amostras foram
novamente congeladas, liofilizadas e depois trituradas em liquidificador tipo industrial.
63
Os fetos de 50 dias foram colocados diretamente em placa de Petre e, em função do
baixo peso, foram feitas análises da amostra composta tratamento.
Após moagem, fez-se a extração da gordura com éter etílico em aparelho
Soxhlet de acordo com a AOAC (1990), método 920.29. As amostras desengorduradas
foram trituradas em moinho de bola e armazenadas em recipientes plásticos
hermeticamente fechados, das quais foram feitas as análises de nitrogênio total, com o
resultado multiplicado por 6,25 para obtenção da proteína bruta, método 981.10
(AOAC, 1990). O teor de matéria seca total (engordurada) foi determinado em estufa a
105°C até peso constante (método 967.03 da AOAC, 1990), e, na sequência, estas
amostras foram incineradas em mufla a 600ºC por 4 horas, método 942.05 (AOAC,
1990). A energia foi determinada pelo calor de combustão em bomba calorimétrica
adiabática de Parr.
O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, em esquema fatorial
3x2x3 (três fases de gestação, dois tipos de fetos e três níveis de restrição). Os dados
foram submetidos à análise de variância e teste de médias pelo PROC GLM do SAS
9.2, considerando-se α = 0,05.
64
RESULTADOS
Mudanças no corpo materno
O consumo de nutrientes e energia por unidade de tamanho metabólico (g/UTM
e kcal/UTM) aumentou ao longo dos dias de gestação (P<0,001), no entanto, não foi
influenciado pelo número de fetos. A restrição alimentar promoveu redução da
quantidade de nutrientes ingerida a medida que se elevou o nível de restrição de 20 e
40% (Tabela 4).
Observa-se que o escore de condição corporal inicial (ECCinicial) não diferiu
quanto aos dias de gestação, mas foi diferente para o número de fetos e nível de
restrição, havendo efeito da interação com os dias de gestação versus nível de restrição
(Tabela 5). Todavia, estas diferenças não demonstram efeito dos fatores (dias x feto x
dieta) mas, os efeito do acaso na distribuição das cabras em seus respectivos grupos,
uma vez que esta medida do ECCinicial corresponde ao dia da concepção, ou seja, o dia
em que as cabras iniciaram no experimento.
No momento do abate, as mudanças no ECC foram verificadas com o avanço da
gestação e com o aumento do nível de restrição, sendo indiferente quanto ao número de
fetos (Tabela 5). Além disso, observou-se efeito da interação entre os fatores dias de
gestação e nível de restrição e, número de fetos versus nível de restrição para esta
variável. Estes resultados da interação dias de gestação versus nível de restrição
demonstraram que o ECC ao abate (ECCfinal) sofreu modificações quando comparado
com os valores iniciais. Quando comparados os dias, foi verificada maior pontuação aos
50 dias com a dieta sem restrição, não havendo diferença entre os níveis de 20 e 40%.
Aos 100 dias, somente com 20% de restrição houve menor média e, aos 140 dias não foi
constatada diferenças entre os níveis. Quando comparados os níveis de restrição, as
diferenças ocorreram apenas para as cabras que consumiram ad libitum (0%), que aos
50 dias de gestação estavam com maior ECCfinal e, com 40% de restrição, foi observada
a menor média, sendo diferentes das demais.
65
Tabela 4. Consumo de nutrientes e energia em função dos dias de gestação, do número de fetos e do nível de restrição
Variável Dias de gestação P Número de fetos P Restrição P
50 100 140 1 2 0% 20% 40%
Matéria seca (g/UTM) 34,01b 36,41
b 42,31
a *** 35,06 37,29 ns 47,00
a 33,24
b 27,82
c ***
Matéria organica (g/UTM) 31,64b 33,87
b 39,32
a *** 32,62 34,67 ns 43,76
a 30,88
b 25,86
c ***
Proteína bruta (g/UTM) 3,76b 4,02
b 4,66
a *** 3,87 4,11 ns 5,27
a 3,63
b 3,02
c ***
Extrato etéreo (g/UTM) 0,90b 0,99
b 1,17
a *** 0,96 0,99 ns 1,30
a 0,90
b 0,70
c ***
Nutrientes digestíveis totais (g/UTM) 22,01b 23,55
b 27,22
a *** 23,24 23,58 ns 29,89
a 21,12
b 18,88
c ***
Energia metabolizável (kcal/UTM) 83,47b 89,31
b 103,23
a *** 88,11 89,39 ns 113,34
a 80,10
b 71,59
c ***
Carboidratos não fibrosos (g/UTM) 11,40b 12,11
b 13,79
a *** 11,73 12,32 ns 16,44
a 10,80
b 8,64
c ***
Probabilidade: *** <0,001; ** de 0,001 a 0,01; * de 0,01 a 0,05; ns = não significativo.
Tabela 5. Escore de condição corporal (ECC), peso corporal, ganho em peso, peso de corpo vazio e de carcaça em função dos dias de gestação, do número de fetos e
nível de restrição
Variável Dias de gestação
P Número de fetos
P Nível de restrição
P 50 100 140 1 2 0% 20% 40%
ECCinicial (pontos) 2,3 2,3 2,2 ns 2,1b 2,4
a ** 2,5
a 2,2
b 2,1
b **
ECCfinal (pontos) 2,2a 1, 8
b 1,6
b *** 1,8 1,9 ns 2,2
a 1,6
b 1,7
b ***
Variação do ECC (pontos) -0,1b -0,5
a -0,7
a *** -0,3
b -0,6
a * -0,3
ab -0,7
a -0,3
b *
Peso corporal inicial (kg) 27,1 26,6 27,7 ns 26,2 28,0 ns 27,3 27,2 26,8 ns
Peso corporal ao abate (kg) 27,6b 28,6
b 31,5
a *** 28,7 29,8 ns 30,2 29,0 28,6 ns
Ganho em peso total (g) 516b 1502
b 4318
a *** 1573 2652 ns 2963 1879 1495 ns
Ganho em peso médio diário (g) 10,0b 14,8
ab 30,7
a * 13,6 23,4 ns 23,9 17,3 14,3 ns
Peso de corpo vazio (kg) 21,3b 22,6
b 25,7
a *** 22,4
b 23,9
a ** 23,6 23,2 22,8 ns
Peso de corpo vazio livre (kg) 20,6 19,8 19,3 ns 19,8 20,0 ns 20,3 20,1 19,3 ns
Carcaça (kg) 12,0a 11,2
ab 10,7
b ** 11,2 11,5 ns 11,6 11,1 11,3 ns
Probabilidade: *** <0,001; ** de 0,001 a 0,01; * de 0,01 a 0,05; ns = não significativo.
66
Os resultados da interação feto e restrição para o ECCfinal mostraram que não
houve diferença entre os níveis de 20% e 40%, ou seja, o ECCfinal diminuiu tanto nas
cabras com gestação simples ou gemelar, quando consumiram a dieta restrita. Para o
número de fetos, o valor do ECCfinal foi reduzido nas cabras com gestação simples,
submetidas à restrição de 40%.
Com variação no ECC podem-se observar mais claramente as mudanças
ocorridas no tecidos das região lombar destas fêmeas, houve pouca mobilização de
tecido aos 50 dias, ocorrendo aumento a partir dos 100 dias de gestação (P<0,001). As
cabras gestantes de dois fetos mobilizaram mais reservas que àquelas com apenas um
feto (P<0,05) e, quando observado o efeito da restrição, somente àquelas submetidas ao
nível de 20% apresentaram maior mobilização (P<0,05) (Tabela 3 e Figura 1).
Figura 1. Variação do ECC em função dos dias de gestação e do nível de restrição.
As médias de peso corporal inicial (PCi) não diferiram entre os fatores estudados
(P>0,05); no entanto, devido a diferenças individuais, utilizou-se o PCi como
covariável. O peso corporal ao abate (PCabt) diferiu apenas nos dias de gestação, mas
foi evidenciado somente no final, entre 100 e 140 dias (Tabela 5).
O ganho em peso total (GPT) e ganho em peso médio diário (GPMD)
aumentaram em função dos dias, principalmente aos 140, onde as cabras atingiram
médias de 4318 g de GPT e 30,7 g de GPMD. Aos 50 e 100 dias não foram observadas
diferenças, cujas médias foram de 516 e 1502 g de GPT e, 10,0 e 14,8 g de GPMD,
respectivamente. Quanto ao número de fetos ou nível de restrição, não foi constatada
-1,2
-1,0
-0,8
-0,6
-0,4
-0,2
0,0
20 40 60 80 100 120 140
Va
ria
ção
do
EC
C
Dias de Gestação
0% 20% 40%
67
diferença. O peso da carcaça diminuiu com o avanço da gestação (P<0,01), cuja redução
foi de 7% entre 50 e 100 dias; 4% entre 100 e 140; e 11% entre 50 e 140 dias; todavia, a
diferença foi significativa somente entre o terço inicial e final (Tabela 5).
Para o peso de corpo vazio (PCV) foi observada diferença entre os dias
(P<0,001), bem como para o número de fetos, onde as cabras com gestação gemelar
apresentaram as maiores médias. O efeito da interação foi significativo (P<0,05) entre
os dias e a restrição (Figura 2). Com o desdobramento da interação, observou-se que o
PCV aumentou nas cabras que consumiram as dietas com 0 e 20% de restrição, todavia,
aquelas do maior nível restrito (40%) não alteraram o PCV ao longo dos dias
gestacionais.
Figura 2. Peso de corpo vazio em função dos dias de gestação e do nível de restrição.
Na Figura 3, observa-se o peso do corpo vazio livre (PCVL), ou seja, o corpo
sem glândula mamária e útero grávido, em função dos dias de gestação, do número de
fetos e do nível de restrição. As médias individuais dos fatores estudados não foram
diferentes, mas houve efeito da interação (P<0,01) dos dias de gestação e nível de
restrição.
18,0
20,0
22,0
24,0
26,0
28,0
40 60 80 100 120 140
PC
V (
kg
)
Dias de gestação
0% 20% 40%
68
Figura 3. Peso de corpo vazio livre em função dos dias de gestação e do nível de restrição
Os valores relativos à interação demonstrada na Figura 3 apontam que, somente
aos 140 dias e para as cabras que consumiram a dieta com 40% de restrição, houve
redução significava no PCVL (kg) em relação aos demais dias e níveis de restrição.
Na Tabela 6, pode-se observar que a composição do corpo vazio livre apresentou
diminuição nas quantidades absolutas de MS, proteína, gordura, MM e energia com o
avanço da gestação, de modo geral, esta redução correspondeu a 9% na PB e 10% na
MM entre 50 e 100 dias, não havendo diferença entre 100 e 140 dias.
Houve efeito da interação dias de gestação e nível de restrição para MS, gordura
e energia. O comportamento das médias para estes parâmetros foi o mesmo, em que
somente aos 140 dias gestação e nível na dieta com 40% restrição constatou-se redução
significativa nos valores observados (Figura 4).
17,0
18,0
19,0
20,0
21,0
22,0
40 60 80 100 120 140
PC
VL
(k
g)
Dias de gestação
0% 20% 40%
69
Tabela 6. Composição do corpo vazio livre em função dos dias de gestação, do número de fetos e do nível de restrição
Variável Dias de gestação
P Número de fetos
P Nível de restrição
P 50 100 140 1 2 0% 20% 40%
Total no corpo vazio livre
Matéria seca (kg) 8,3a 7,4
b 7,1
b *** 7,5 7,7 ns 8,0
a 7,5
ab 7,3
b *
Água (kg) 12,3 12,4 12,2 ns 12,3 12,3 ns 12,4 12,5 12,1 ns
Proteína (kg) 3,0a 2,8
b 2,7
b ** 2,76 2,83 ns 2,9
a 2,8
ab 2,7
b *
Gordura (kg) 4,3a 3,7
ab 3,4
b ** 3,8 3,8 ns 4,0 3,7 3,6 ns
Matéria mineral (kg) 0,8a 0,8
ab 0,7
b * 0,8 0,8 ns 0,8 0,8 0,7 ns
Energia (Mcal) 56,5a 48,5
b 46,8
b *** 50,1 51,1 ns 53, 5
a 50,2
ab 48,1
b *
g/kg PCVL
Matéria seca 401a 374,5
b 364,9
b *** 379 381 ns 391
a 376
ab 373
b *
Água 599b 626
a 635
a *** 620 620 ns 609 624 627 ns
Proteína 145 141 138 ns 140 143 ns 145 141 140 ns
Gordura 204a 185
ab 175
b * 188 187 ns 194 185 184 ns
Matéria mineral 40 39 37 ns 39 39 ns 39 39 39 ns
Energia (Mcal/kg PCV) 27,4a 24,4
b 24,1
b *** 25,2 25,4 ns 26,2 25,0 24,7 ns
Probabilidade: *** <0,001; ** de 0,001 a 0,01; * de 0,01 a 0,05; ns = não significativo.
70
Figura 4. Quantidade de gordura (a) e energia (b) retidas no corpo vazio livre, em função dos dias de
gestação e do nível de restrição.
Quando expressos em g/kg PCVL a MS, gordura e energia diminuíram entre os
50 e 100 dias, de modo que ocorreu o contrário com a quantidade de água; no entanto,
não houve diferenças entre os 100 e 140 dias de gestação para estes parâmetros. Com
relação ao número de fetos, não houve diferenças na composição do corpo vazio livre.
Todavia, com o aumento do nível de restrição, verifica-se redução da proteína em kg
total no PCVL e da MS (g/kg PCVL) (Tabela 6).
Desenvolvimento do útero grávido
O peso e composição química do útero grávido e seus componentes aumentou
com o avanço da gestação (Tabela 7). Houve diferença no peso do útero grávido a cada
fase gestacional; no entanto, o útero vazio (g) aumentou dos 50 para os 100 dias, mas
não houve diferença entre 100 e 140 dias. Com relação ao número de fetos, todos os
componentes aumentaram de peso na gestação gemelar. O incremento de peso no útero
vazio correspondeu a 23,5% da gestação simples para a gemelar. O nível de restrição
aplicado não influenciou nestes resultados.
2
3
4
5
50 100 150
Go
rd
ura
(k
g)
Dias de gestação
0% 20% 40%
a)
30
35
40
45
50
55
60
50 100 150
En
erg
ia (
Mca
l)
Dias de gestação
0% 20% 40%
b)
71
Tabela 7. Composição do útero grávido em função dos dias de gestação, do número de fetos e do nível de restrição
Variável Dias de gestação
P Número de fetos
P Nível de restrição
P 50 100 140 1 2 0% 20% 40%
Peso úmido (g)
Útero grávido 540c 2540
b 5810
a *** 2270
b 3660
a *** 2970 2840 3080 ns
Útero vazio 230b 1100
a 1370
a *** 780
b 1020
a * 810 850 1030 ns
Placenta 30,0c 111
b 328
a *** 102
b 212
a *** 133 155 182 ns
Placentônios 46,9b 513a 521
a *** 284
b 436
a *** 332 362 387 ns
Placentônios (n°) 75,9b 113a 99,7
a *** 84,7
b 108
a *** 96,9 97,4 94,8 ns
Feto 20,0c 760
b 3180
a *** 980
b 1650
a *** 1360 1260 1330 ns
Líquido placentário 280c 750
b 1120
a *** 530
b 910
a *** 730 670 760 ns
Gramas totais no útero grávido
Matéria seca 34,6c 235,2
b 732,4
a *** 271,2
b 397,0
a *** 338,0 319,3 345,0 ns
Água 507,4c 2295,9
b 4972,3
a *** 1892,8
b 3290,8
a *** 2523,4 2523,7 2728,4 ns
Proteína 28,5c 160,8
b 439,1
a *** 167,4
b 251,5
a *** 204,5 199,0 224,8 ns
Gordura 5,1c 26,2
b 70,3
a *** 27,1
b 40,6
a *** 35,0 33,4 33,2 ns
Matéria mineral 2,9c 32,9
b 109,8
a *** 36,7
b 60,3
a *** 49,0 47,9 48,6 ns
Energia (kcal) 168,9c 1102,9
b 3344,5
a *** 1276,5
b 1801,1
a *** 1599,9 1527,9 1488,6 ns
g/kg PCV
Matéria seca 1,7c 10,3
b 28,2
a *** 11,3
b 15,6
a *** 12,9 12,7 14,6 ns
Água 24,1c 101,8
b 194,4
a *** 81,4
b 132,1
a *** 99,8
b 102,7
b 117,8
a **
Proteína 1,4c 7,1
b 17,0
a *** 7,0
b 9,9
a *** 7,8
b 7,9
b 9,76
a **
Gordura 0,2c 1,2
b 2,7
a *** 1,1
b 1,6
a *** 1,3 1,3 1,4 ns
Matéria mineral 0,1c 1,5
b 4,2
a *** 1,5
b 2,4
a *** 1,9 1,9 2,0 ns
Energia (kcal/kg PCV) 8,1c 47,9
b 128,8
c *** 52,8
b 70,4
a *** 60,7 64,8 59,2 ns
Probabilidade: ** de 0,001 a 0,01; * de 0,01 a 0,05; ns = não significativo.
72
Para o número de placentônios, o aumento foi de 149% dos 50 para o 100 dias,
mas não houve diferença dos 100 para os 140 dias. Da gestação simples para a gemelar,
o aumento foi de 127% na quantidade de placentônios. Contudo, nota-se que o líquido
placentário diferiu entre as três fases gestacionais, aumentando de volume à medida que
avançou a gestação, o que correspondeu a 268% de 50 a 100 dias e 149% de 100 a 140
dias. O incremento na quantidade de líquido também pode ser visualizada quanto ao
número de fetos, onde as cabras com gestação dupla tiveram 172% a mais, comparadas
àquelas com feto simples. Quanto ao nível de restrição, não foi constatada diferença
entre os mesmos (Tabela 7).
A composição química do útero grávido sofreu influência dos dias de gestação e
do número de fetos (Tabela 7), além da interação destes fatores (Figuras 5 e 6). O nível
de restrição afetou somente a concentração de água e proteína (g/kg PCV), havendo
interação deste fator com os dias de gestação. Com o desdobramento desta interação,
constatou-se que a dieta influenciou a quantidade de água somente aos 140 dias de
gestação, onde o nível de 40% de restrição incrementou a quantidade relativa em 18%,
não havendo diferença entre os demais dias ou níveis.
Com o desdobramento da interação entre o número de fetos e os dias de gestação
para os pesos (g) do útero grávido, placenta, placentônios e fetos, observou-se que o
peso do útero grávido e dos fetos aumentou à medida que passaram os dias,
independente do número de fetos. Enquanto que a placenta na gestação simples diferiu
somente após 100 dias e na gestação gemelar a diferença ocorreu também aos 50 dias.
Já os placentônios, aumentaram de peso após 50 dias, mas não foram alterados nas fases
seguintes, para gestação simples ou gemelar.
Para o tipo de gestação não houve diferenças aos 50 dias para nenhuma das
variáveis. Contudo, com exceção da placenta, que não sofreu influência do número de
fetos aos 100 dias, as demais variáveis aumentaram de peso aos 100 e 140 dias nas
cabras com gestação gemelar.
73
Figura 5. Crescimento do útero grávido em função dos dias e do tipo de gestação.
Figura 6. Quantidades de proteína (a) e gordura (b) retidas no útero grávido em função dos dias e do tipo
de gestação.
Os percentuais do útero vazio e líquido placentário diminuíram em relação ao
peso total do útero grávido, conforme o avanço da gestação (Figura 7), observando-se
que aos 50 dias estes componentes representavam em torno de 32 e 49% do total,
enquanto que aos 140 dias, os valores diminuíram para 9 e 19%, respectivamente. As
proporções da placenta praticamente não foram alteradas com o avanço da gestação,
cujos percentuais corresponderam a 6, 4 e 6% aos 50, 100 e 140 dias, nesta ordem. A
participação percentual dos placentônios aumentou de 10 para 20% dos 50 aos 100 dias
e, posteriormente, diminuíram para 9%. No entanto, os fetos representaram um
crescimento de 3, 30 e 55%, com relação ao peso total do útero grávido ao longo dos
dias de gestação.
0
1.000
2.000
3.000
4.000
5.000
6.000
7.000
8.000
40 60 80 100 120 140
Úte
ro
grá
vid
o (
g)
Dias de gestação
Simples Gemelar
0
100
200
300
400
500
600
40 90 140
Pro
teín
a (
g)
Dias de gestação
Simples Gemelar
a)
0
20
40
60
80
100
40 90 140
Go
rd
ura
(g
)
Dias de gestação
Simples Gemelar
b)
74
Figura 7. Participação percentual dos conceptos em relação ao peso do útero grávido em função dos dias
de gestação.
Desenvolvimento da glândula mamária
O peso (g) da glândula mamária aumentou em função dos dias de gestação, que
correspondeu à variação de 180% do terço inicial ao médio, havendo maior elevação do
terço médio ao final da gestação, com 252%. Quando foram analisadas para número de
fetos ou nível de restrição, não foram observadas diferenças entre as médias (Tabela 8).
De modo semelhante, na composição química da glândula mamária as alterações
ocorreram somente nos dias de gestação, com exceção da matéria mineral (g/kg PCV),
sobre a qual se verificou influência também do nível de restrição, além de interação dias
x restrição.
A deposição de nutrientes na glândula mamária aumentou ao longo dos dias,
mesmo não havendo diferença dos 50 para os 100 dias, constatou-se tendência nas
respectivas médias. Esta diferença foi significava após os 100 dias, indicando
incremento de 258% na MS, 464% na proteína, 163% na gordura, 361% na MM e
227% na energia, quando avaliados em quantidades absolutas.
0
10
20
30
40
50
60
Útero vazio Placenta Placentomas Liquído Feto
% d
o ú
tero
gra
víd
eo
Dias de gestação 50 100 140
75
Tabela 8. Composição da glândula mamária em função dos dias de gestação, do número de fetos e do nível de restrição
Variável Dias de gestação
P Número de fetos
P Nível de restrição
P 50 100 140 1 2 0% 20% 40%
Glândula mamária (g) 150c 270
b 680
a *** 350 380 ns 360 360 380 ns
Gramas totais na glândula mamária
Matéria seca 74,9b 86,9
b 224
a *** 121 136 ns 130 127 129 ns
Água 74,9c 179
b 460
a *** 231 246 ns 235 233 247 ns
Proteína 9,0b 22,6
b 105
a *** 42,9 48,2 ns 45,9 42,6 48,2 ns
Gordura 63,1b 56,5
b 92,5
a *** 66,7 74,7 ns 71,7 71,5 68,9 ns
Matéria mineral 0,5c
1,8b 6,4
a *** 2,7 3,1 ns 2,7 2,8 3,2 ns
Energia (kcal) 661b 672
b 1525
a *** 896 1009 ns 961 947 949 ns
g/kg PCV
Matéria seca 3,5b 3,7
b 8,7
a *** 5,1 5,4 ns 5,2 5,1 5,6 ns
Água 3,5c 7,7
b 17,9
a *** 9,7 9,7 ns 9,2 9,3 10,6 ns
Proteína 0,4b 1,0
b 4,1
a *** 1,8 1,9 ns 1,7 1,7 2,1 ns
Gordura 2,9ab
2,4b 3,6
a ** 2,9 3,0 ns 3,0 2,9 3,0 ns
Matéria mineral 0,02c 0,08
b 0,25
a *** 0,12 0,11 ns 0,10
b 0,11
ab 0,14
a *
Energia (kcal/kg PCV) 30,4b 28,3
b 59,4
a *** 38,2 40,6 ns 38,9 38,1 41,1 ns
Probabilidade: ** de 0,001 a 0,01; * de 0,01 a 0,05; ns = não significativo.
76
A interação dias e dieta para os valores de MM (g/kg PCV) indica que, dentre os
dias, o maior incremento ocorreu no grupo abatido aos 140 dias, registrando-se médias
de 0,21; 0,23 e 0,31 g/kg PCV, quando consumindo as dietas com 0, 20 e 40% de
restrição, respectivamente. Quanto às dietas, a diferença ocorreu para o grupo que
consumiu dieta 40% restrita aos 140 dias de gestação.
DISCUSSÃO
Mudanças no corpo materno
Na tentativa de reduzir esta mobilização de reservas corpóreas e evitar
comprometimento do desenvolvimento dos conceptos, as cabras elevaram o consumo de
nutrientes por unidade de tamanho metabólico do início ao final da gestação (Tabela 4).
Este consumo não sofreu influencia do número de fetos, mas pode-se perceber que as
necessidades nutricionais para suprimento do útero grávido foram maiores nas cabras
com gestação dupla, tendo estas fêmeas utilizado nutrientes do próprio corpo para esta
finalidade. Como pode ser verificado pela variação do escore de condição corporal
(Tabela 5 e Figura 1) e redução do peso total, da gordura e da energia (principalmente)
do corpo vazio livre (Figura 3 e Tabela 6).
Os resultados relacionados à condição corporal das cabras no momento do abate
e a variação desta condição corporal no início para o final da gestação indicaram que
houve mobilização de reservas corpóreas, principalmente no final da gestação, sendo
mais severa para àquelas submetidas à restrição alimentar (Tabela 5 e Figura 1). Fato
este que não interferiu no desenvolvimento dos produtos da concepção, demonstrando
que estas fêmeas direcionaram todo o aporte de nutrientes necessário para o crescimento
normal do útero grávido e preparação da glândula mamária para fase seguinte ao parto.
Aliado a isto, o aumento do peso corporal ao abate e do peso de corpo vazio em função
dos dias, refletiu o desenvolvimento dos produtos da gestação, podendo-se inferir
novamente que, ocorreu mobilização de reservas corpóreas para esta finalidade,
justificada também, pela redução no peso do corpo vazio livre e da carcaça (Tabela 5).
77
O ganho em peso médio das cabras no final do período gestacional foi de 4,3 kg;
porém, quando se calcula a diferença entre o peso de corpo vazio e os pesos do útero
grávido e da glândula mamária, obtem-se o valor médio de 6,36 kg (Tabela 5),
corroborando com Mellado et al. (2004), os quais afirmam que o incremento médio de
peso em cabras durante a gestação é de aproximadamente 6 e 7 kg, para fêmeas
gestando um e dois fetos, respectivamente. O ganho em peso líquido (sem úbere e útero
grávido) diminuiu no período de 100 a 140 dias de gestação, da mesma forma como
ocorreu com o PCVL destas cabras, havendo diminuição significativa do terço médio
para o final, principalmente nas fêmeas submetidas à restrição de 40%.
Possivelmente, estas cabras usaram mecanismos fisiológicos muito eficientes
para alcançarem o final da gestação sem prejuízos aos conceptos e a glândula mamária,
uma vez que a interação dias e dietas para a composição do corpo vazio livre explica
que aos 140 dias, com o maior nível de restrição aplicado (40%), houve mobilização de
nutrientes na tentativa de suprir a elevada demanda nutricional (Figura 3). Entretanto,
deve-se destacar que esta mobilização pode ser vista nos resultados do escore de
condição corporal, porém, não foi possível observar os reflexos do nível mais baixo de
restrição, sugerindo que avaliação da condição corporal em cabras, quando feitas por
apalpação da região lombar, pode não ser eficaz. Mas, a redução da quantidade de
gordura e energia no corpo vazio livre destas cabras (Figura 4) podem reforçar a
mobilização ocorrida.
O INRA (1988) estabelece que a energia requerida pela fêmea para o
funcionamento de todos os processos fisiológicos destinados ao desenvolvimento do
útero grávido, corresponde a cerca de 2,5 vezes àquela que foi fixada nos conceptos. No
caso da proteína, este sistema estima que uma cabra a partir do terceiro mês de gestação
aumente em torno de 60% as suas exigências proteicas e mais de 110% após os 120
dias, variando de acordo com o peso da cabra e dos fetos, conforme reportado por
Baldwin & Smith (1973), que a mantença é diretamente proporcional ao peso corporal
do animal.
Existe uma busca de explicações para estas modificações no metabolismo da
fêmea gestante, aliando este estado fisiológico particular com a submissão à restrição
alimentar, no intuito de fechar arestas ainda existentes sobre: onde ocorre e como é dado
o processo, em qual momento e por quanto tempo, quanto é gasto nestas etapas, entre
78
outras questões. O fato é que ainda não foram obtidas as respostas suficientemente
capazes de anular todas estas dúvidas.
Scheaffer et al. (2004) buscaram estas explicações com base nas modificações
ocorridas no intestino e observaram que existe uma preservação da massa de tecido
funcional, no intuito de apoiar o desenvolvimento dos conceptos, sobretudo porque o
aparelho digestório é comprimido com o crescimento do útero grávido. Além disso,
enfatizaram que em casos de restrição alimentar, o intestino, provavelmente, conserva
os nutrientes da mucosa, diminuindo a massa total do órgão, mantendo a capacidade
absortiva e o volume total microvascular constante. Porém, na gestação, além de
aumentar a capacidade absortiva, também se elevam a massa total, a densidade vascular
e o volume total microvascular.
Van der Linden et al. (2009) justificam que as fêmeas em situações de estresse
fisiológico, como é o caso da gestação ou da lactação, teriam aumentado a capacidade
do fígado no fornecimento de glicose para suprir estas elevadas demandas.
Corroborando com Lodge & Heavey (1973), quando afirmam que há um aumento no
metabolismo hepático em ovelhas gestantes, o qual, em parte se deve a deposição de
gordura, mas que este aumento corresponde a 23% no peso final da massa do fígado.
Dados recentes publicados por Macedo Junior (2008) mostram que ovelhas
Santa Inês, entre 90 e 140 dias de gestação, tiveram a atividade metabólica aumentada,
o que refletiu no aumento da quantidade de nutrientes retidos em órgãos importantes
neste sistema, como o fígado, por exemplo. Foi observada também maior quantidade de
gordura no sangue destas ovelhas com gestação gemelar, devido à mobilização dos
tecidos de reserva, no intuito de aumentar o fluxo de nutrientes direcionados ao útero
grávido. Mas a restrição alimentar promoveu redução no tamanho dos órgãos aos 140
dias nas ovelhas em geral, justificando que foi ocasionada na tentativa de reduzir o
gasto energético com as funções basais e, assim manter o aporte para o útero grávido em
níveis normais.
Desenvolvimento do útero grávido
O peso dos componentes do útero grávido seguiu o crescimento fetal ao longo
dos dias, de modo que estas diferenças foram marcadas em relação ao número de fetos,
79
uma vez que as cabras com gestação gemelar necessitavam de maior aporte nutricional
para o suprimento das demandas fetais, sendo constatados também aumento do números
de placentônios nestas fêmeas (Tabela 7).
Todos os resultados, sejam eles relativos ao peso úmido dos componentes do
útero grávido ou da sua composição geral, foram afetados diretamente pela fase de
gestação e pelo número de fetos. A restrição alimentar não promoveu mudanças nestas
variáveis, reforçando que estas fêmeas priorizaram o desenvolvimento normal dos
produtos da gestação, mesmo não havendo suficiente aporte de nutrientes dietéticos para
este fim, sendo necessário para isto, mobilizar reservas corpóreas (Tabela 7).
Corroborando com os resultados obtidos por Macedo Junior (2008), em que
ovelhas da raça Santa Inês em gestação não demonstraram alterações no peso e
composição do útero gravídico provocadas pela restrição alimentar. Isso indica a
prioridade dos conceptos na partição de nutrientes, podendo supor ainda que a restrição
de 15% sobre as exigências destas fêmeas não tenha sido capaz de provocar retardos no
desenvolvimentos dos produtos.
Resultados semelhantes foram obtidos por Rattray et al. (1974), ao avaliarem
ovelhas da raça Targhee abatidas em diferentes estágios de gestação, portando fetos
simples, duplos ou triplos, submetidas a dois tipos de alimentação, observaram
diferenças significativas no peso úmido dos produtos da concepção e útero vazio, em
função do número de fetos e dos dias de gestação.
O número e peso dos plancentomas foram superiores após 100 dias de gestação,
sem diferenças entre esta fase e os 140 dias, da mesma forma que estes valores foram
maiores para as cabras com gestação gemelar (Tabela 7). O que diverge dos resultados
reportados por Lima (2011), trabalhando com cabras Saanen e Alpinas, nas quais não
foram verificadas alterações significativas ao longo da gestação, mas o número de fetos
foi decisivo no aumento do número e do peso de placentônios. O mesmo foi verificado
para o peso da placenta, que nesta pesquisa aumentou em função dos dias e do número
de fetos, mas não foi diferente no trabalho conduzido por Lima (2011). Estas diferenças
podem ter ocorrido por se tratarem de raças muito diversas geneticamente em ambos os
trabalhos.
A participação percentual dos produtos da concepção em relação ao peso total do
útero grávido mostrou-se de acordo com os achados da literatura (Figura 7), em que
80
houve diminuição geral na proporção do útero vazio e líquido placentário (32 e 49% aos
50 dias, 9 e 19% aos 140 dias, respectivamente), em oposição ao crescimento fetal ao
longo da gestação, com aumento relativo de 3 para 55% dos 50 para os 140 dias. Os
resultados obtidos por Rattray et al. (1974) foram de 25% para o útero e 37% para o
líquido placentário de ovelhas aos 70 dias, aos 140 a proporção diminuiu para 8 e 20%,
respectivamente.
Os resultados divergem quanto às proporções relativas da placenta e dos
placentônios, onde a placenta permanece praticamente inalterada e, os últimos tem seu
crescimento máximo aos 100 dias, quando diminuem após este período (Figura 7), o
que ainda não se pode afirmar se é uma especificidade da raça, uma vez que existem
poucas informações sobre cabras Moxotó. Fandiño (1989) afirma que o tamanho e a
função da placenta mudam continuamente, tendo o maior crescimento dos 50 aos 100
dias de gestação e, segundo Maynard & Loosli (1974), ao término da gestação, o peso
da placenta não supera 20% do peso total dos produtos da concepção.
Lima (2011) destaca em seus resultados que o peso da placenta, útero vazio,
líquido placentário e placentônios diminuíram proporcionalmente em relação ao útero
grávido, ocorrendo o inverso para a proporção dos fetos ao longo da gestação. Sugere-se
que as diferenças com os nossos resultados se devem, também, a ausência de
significância nos dados absolutos deste autor, que culminam por interferir nos
resultados relativos.
Desenvolvimento da glândula mamária
O desenvolvimento da glândula mamária foi influenciado diretamente pelos dias
de gestação, principalmente após 100 dias, quando a deposição de nutrientes
acompanhou o aumento do peso, período em que ocorreram incrementos médios nas
quantidades absolutas da MS, proteína, gordura, MM e energia (Tabela 8). Mas, é
importante registrar que ocorreram diminuições na gordura (g/ kg de glândula) e energia
(kcal/kg de glândula) ao longos dos dias, o que se deve ao aumento de tecido secretor
em relação ao tecido adiposo. Corroborando com os resultados de Lima (2011), onde a
maior parte do desenvolvimento ocorreu nos 110 e 140 dias, que aponta uma possível
81
ligação destes resultados com o aumento do tamanho dos alvéolos e produção de
colostro que se iniciam nesta fase final.
Rattray et al. (1974) observaram que não houve diferença na composição da
glândula até os 70 dias de gestação e, após este período, os percentuais aumentaram de
forma a atingir o máximo aos 125 dias. Com relação composição percentual, a
tendência dos resultados destes autores foram semelhantes aos desta pesquisa, porém
com menores valores de proteína, gordura, minerais e energia para as ovelhas nas
mesmas fases gestacionais.
Não foi verificada diferença quanto ao números de fetos, ao contrário das
observações feitas por Fandiño (1989), quando afirma que durante a gestação o aumento
do peso do úbere sofre influência do número de fetos, sendo esta diferença pouco
perceptível até 50 dias de gestação. Acrescentando que este aumento de peso, deve-se
ao teor de água que se eleva do início para o final da gestação mas, a proporção de
proteína permanece relativamente constante ao longo da gestação. De acordo com Ji et
al. (2006), o desenvolvimento da glândula mamária é mais acelerado no terço final da
gestação, porque este período coincide com a elevação das concentrações séricas de
hormônios mamogênicos como estrogênio, relaxina e prolactina.
A restrição alimentar não promoveu modificações no crescimento e deposição de
nutrientes na glândula mamária (Tabela 8), o que pode ser atribuído ao fato das cabras
utilizadas não serem primíparas, uma vez que as principais modificações influenciadas
pela dieta ocorrem na primeira gestação, quando estas fêmeas ainda não atingiram seu
completo desenvolvimento.
Segundo Carstens et al. (1997), as célula parenquimáticas são muito sensíveis ao
plano nutricional nas novilhas, interferindo na composição tecidual da glândula e,
posterior diminuição da produção de leite. É importante argumentar também que o
menor nível de restrição aplicado pode não ter sido severo o suficiente para influenciar
nestes resultados e, ainda, porque ainda não se tem conhecimento das exigências
nutricionais destas cabras na fase gestacional ou, estas cabras mobilizaram reservas
suficientes para suprirem os requerimentos dos produtos da gestação.
Os resultados corroboram com aqueles encontrados por Nørgaard et al. (2008), em
trabalho com objetivo de verificar o efeito da restrição de 50% na da energia e proteína
em ovelhas pluríparas no final da gestação, sobre o desenvolvimento da glândula,
82
desempenho pós-parto da mãe e da cria e concentrações de IGF-1 no sangue e na
glândula, concluíram que a restrição não afetou o desenvolvimento da glândula e dos
fetos, apesar de ter ocorrido diminuição na produção de colostro, não foi de refletida no
desempenho pós-natal. Enfatizando ainda que devido à alta condição corporal no início
da gestação, estas fêmeas tiveram ampla mobilização de tecidos, os quais foram capazes
de suprir o que não estava sendo absorvido, sendo compensado o déficit na fase
seguinte, a lactação. Entretanto, Macedo Júnior (2008) enfatiza que o desenvolvimento
da glândula mamária ovelhas em gestação é altamente dependente da nutrição, do
número de fetos e da fase gestacional.
Anderson (1975) avaliou o desenvolvimento da glândula mamária de ovelhas
Romney dos 5 dias após o nascimento até os primeiros 5 dias de lactação, observando
que 25% do crescimento, com base no peso úmido, ocorre do nascimento ao início da
gestação, 55% durante a gestação e 20% na lactação. Entretanto, quando considerada a
quantidade de DNA existente, que demonstra ser uma medida mais realista, este
crescimento correspondeu a 20% até o início da gestação, 78% durante e, 2% no
período de lactação.
No entanto, Van der Linden, et al. (2009) destacam que borregas nascidas de
ovelhas que se alimentaram com dieta de mantença durante o período gestacional,
obtiveram maior peso da glândula mamária na fase fetal e maior produção de leite
quando atingiram fase adulta. Estes resultados demonstram como a nutrição materna
tem reflexos nas gerações seguintes, porém ainda não esclarecem os mecanismos
fisiológicos envolvidos nestas situações.
83
CONCLUSÕES
A fase de gestação é determinante de primeira ordem nas mudanças ocorridas no
organismo materno e no desenvolvimento dos conceptos e da glândula mamária.
O crescimento e a deposição de nutrientes no útero grávido em cabras com
gestação gemelar, somente é evidenciada no terço final desta fase.
A restrição alimentar durante a fase gestacional promove modificações na
composição corporal materna.
84
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86
CONSIDERAÇÕES FINAIS E IMPLICAÇÕES
Conhecer os mecanismos fisiológicos que envolvem o período de gestação é
fundamental para adequação de qualquer sistema produtivo, uma vez que a eficiência
alcançada nesta fase, é condição para o sucesso das fases produtivas subsequentes. As
informações capazes de esclarecer como esses mecanismos funcionam em sua
totalidade, ainda são escassas, principalmente se tratando da espécie caprina.
Evidencia-se a necessidade de avaliar de que maneira estas fêmeas gestantes
modificam o metabolismo, porque algumas respondem com aumento da ingestão de
nutrientes, enquanto outras diminuem, sem que haja prejuízos no desenvolvimento dos
produtos da concepção. É preciso avaliar de modo mais profundo o fluxo de nutrientes e
as modificações nas estruturas histológicas e celulares no organismo materno e fetal,
para se cercar de argumentos suficientes para este entendimento. É importante destacar
que a raça Moxotó demonstrou uma característica pouco comum às outras raças, o
maior consumo de nutrientes no decorrer da gestação, isto sugere, também, a
necessidade de outros trabalhos que avaliem se estas diferenças, principalmente
utilizando modelos experimentais mais simplificados e diretos.
Este trabalho poderá contribuir sobremaneira na área nutricional, porque além de
tratar de um tema complexo, como é o caso da gestação, aborda fatores que interferem
diretamente nesta fase produtiva e, ainda aumenta os questionamentos acerca das
respostas de uma raça adaptada a condições de semiaridez.
Espera-se prosseguir com trabalho dos dados que contemplarão a determinação
das exigências em proteína, energia e minerais, para que futuramente, estes resultados
sejam incorporados aos esforços de outras Instituições do nosso País, tornando possível
a elaboração de uma tabela baseada nas diferentes raças criadas no Brasil, sob as
diversas condições ambientais.