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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS ANDREZA GALINDO ALVES DE QUEIRÓZ REDES DE COOPERAÇÃO NA PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE: UM ESTUDO SOBRE UM PROGRAMA DE FISCALIZAÇÃO GOVERNAMENTAL NO VALE DO SÃO FRANCISCO MACEIÓ - ALAGOAS 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS

ANDREZA GALINDO ALVES DE QUEIRÓZ

REDES DE COOPERAÇÃO NA PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE: UM ESTUDO

SOBRE UM PROGRAMA DE FISCALIZAÇÃO GOVERNAMENTAL NO VALE DO

SÃO FRANCISCO

MACEIÓ - ALAGOAS

2017

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ANDREZA GALINDO ALVES DE QUEIRÓZ

REDES DE COOPERAÇÃO NA PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE: UM ESTUDO

SOBRE UM PROGRAMA DE FISCALIZAÇÃO GOVERNAMENTAL NO VALE DO

SÃO FRANCISCO

Dissertação apresentada à Universidade

Federal de Alagoas sob a forma de relatório

técnico, como parte das exigências do

Programa de Pós-Graduação em

Administração Pública, Mestrado Nacional em

Administração Pública em Rede Nacional -

PROFIAP, para obtenção do título de Mestre.

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RESUMO

A importância dada à questão ambiental cresceu de maneira bastante expressiva nas últimas

décadas, ganhando espaço nas ações governamentais. A Bacia Hidrográfica do Rio São

Francisco vem sofrendo múltiplos danos nas últimas décadas, tornando-se ponto central de

discussões tanto na esfera pública como privada. Nesse sentido, um programa de fiscalização

ambiental foi criado com a finalidade de conter o avanço da degradação ambiental perante a

referida Bacia. Desse modo, a partir de uma iniciativa bem-sucedida, realizada no estado da

Bahia, foi implantado em Alagoas o Programa Fiscalização Preventiva Integrada da Bacia

Hidrográfica do Rio São Francisco (FPI São Francisco), que tem como objetivo a proteção do

meio ambiente natural, cultural, do trabalho e construído desta Bacia e a melhoria da

qualidade de vida da população por meio de ações planejadas e integradas de conservação e

revitalização. O presente trabalho tem como problema de pesquisa a seguinte questão: como

se deu a implantação do Programa Fiscalização Preventiva Integrada do Rio São Francisco em

Alagoas e quais fatores interferiram nesse processo? Para responder a pergunta, o estudo

pretende, a partir da análise do Programa FPI São Francisco, no estado de Alagoas, no

período de 2012 a 2016, identificar os fatores que facilitaram e dificultaram a implementação

deste, a partir da ótica dos atores participantes do Programa. A pesquisa explora o tema redes

interorganizacionais para implementação de programas governamentais, caracterizando uma

pesquisa exploratória, de abordagem qualitativa, delineada por meio do método estudo de

caso. A triangulação resultou da análise e discussão dos pontos convergentes entre as fontes

de evidências oriundas dos métodos utilizados e das relações com o referencial teórico. Os

fatores facilitadores da implementação do Programa foram: o apoio institucional e financeiro

do CBHSF, a persistência e desempenho dos técnicos, a força dos órgãos e apoio do MPE-

AL, a integração com os parceiros da Bahia e a reduzida extensão territorial do estado de

Alagoas. Os fatores dificultadores foram: a carência de técnicos nos órgãos e instituições

participantes do programa, questões políticas e dificuldades com alguns gestores dos órgãos

participantes, a falta de apoio da população, no momento inicial, questões logísticas e de

relacionamento e, por fim, as dificuldades financeiras dos órgãos. Por conseguinte, com base

no diagnóstico realizado, apontou-se algumas proposições, por meio de um plano de ação, de

modo a contribuir para o aperfeiçoamento do Programa FPI Alagoas e, também, no

fortalecimento da questão ambiental nesse estado.

Palavras-chave: redes de cooperação, bacia hidrográfica, programa governamental.

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ABSTRACT

The importance given to the environmental issue has grown quite expressively in recent

decades, gaining space in government actions. The San Francisco River Basin has suffered

multiple damages in the last decades, becoming a central point of discussion in both the

public and private spheres. In this sense, an environmental monitoring program was created

with the purpose of containing the advance of the environmental degradation before said

Basin. In this way, the Integrated Preventive Inspection Program of the São Francisco River

Basin (FPI São Francisco) was implemented in a state-of-the-art initiative in the state of

Bahia, with the objective of protecting the natural environment , Cultural, labor and

construction of this Basin and the improvement of the quality of life of the population through

planned and integrated actions of conservation and revitalization. The present study has as a

research problem the following question: how did the implementation of the Integrated

Sanitation Program of the São Francisco River in Alagoas take place and what factors

interfered in this process? To answer the question, the study intends, from the analysis of the

São Francisco FPI Program, in the state of Alagoas, between 2012 and 2016, to identify the

factors that facilitated and made difficult the implementation of this one, from the perspective

of the participants actors of the Program. The research explores the topic of

interorganizational networks for the implementation of governmental programs,

characterizing an exploratory research, of qualitative approach, delineated through the case

study method. The triangulation resulted from the analysis and discussion of the convergent

points between the sources of evidence from the methods used and the relations with the

theoretical reference. The facilitating factors in the implementation of the Program were:

CBHSF institutional and financial support, persistence and performance of technicians,

strength of the organs and support of MPE-AL, integration with partners in Bahia and the

limited territorial extension of the state of Bahia. Alagoas. The difficult factors were: the lack

of technicians in the organs and institutions participating in the program, political issues and

difficulties with some managers of the participating organizations, the lack of support from

the population, in the initial moment, logistical and relationship issues and, finally, the

Financial difficulties of the organs. Therefore, based on the diagnosis made, some proposals

were pointed out, through a plan of action, in order to contribute to the improvement of the

Alagoas FPI Program and also in the strengthening of the environmental issue in that state.

Keywords: cooperation networks, watershed, government program.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Modelos de governo 29

Figura 2: Rede formal do Programa FPI Alagoas 38

Figura 3: Cronologia do Programa FPI São Francisco 47

Figura 4: Subcategorias da categoria Formação da Rede Interorganizacional 49

Figura 5: Subcategorias da categoria Atuação da rede interorganizacional 54

Figura 6: Conteúdos da categoria Fatores Facilitadores para implementação do

Programa FPI São Francisco 57

Figura 7: Conteúdos da categoria Fatores Dificultadores para implementação do

Programa FPI São Francisco 60

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Contingências críticas para a formação de redes 20

Quadro 2: Classificação de redes quanto ao foco de atuação 20

Quadro 3: Classificação das redes 21

Quadro 4: Classificação de redes quanto ao foco de atuação 21

Quadro 5: Noções associadas ao conceito de rede 23

Quadro 6: Classificação de redes na implementação de políticas públicas 24

Quadro 7: Classificação de redes quanto ao foco de atuação 27

Quadro 8: Inovações no campo de ação pública com a utilização das redes 28

Quadro 9: Classificação da rede interorganizacional do Programa FPI Alagoas 30

Quadro 10: Modelo Teórico-Empírico empregado na pesquisa 42

Quadro 11: Categorias, subcategorias e respostas que compõem a análise de conteúdo 43

Quadro 12: Identificação dos participantes entrevistados 46

Quadro 13: Unidades da Federação que compõem a BHRSF e a situação perante o

Programa FPI São Francisco 47

Quadro 14: Síntese dos fatores facilitadores para implantação do Programa FPI 65

Quadro 15: Síntese dos fatores dificultadores para implantação do Programa FPI 66

Quadro 16: Plano de ação 68

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Unidades da Federação que compõem a Bacia do Rio São Francisco 31

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ADEAL Agência de Defesa e Inspeção Agropecuária de Alagoas

BHRSF Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco

BPA Batalhão de Polícia Ambiental de Alagoas

CBHSF Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco

CREA Conselho Regional de Engenharia e Agronomia

CRMV Conselho Regional de Medicina Veterinária

DNPM Departamento Nacional de Produção Mineral

IBAMA Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

IMA-AL Instituto do Meio Ambiente de Alagoas

IPHAN Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

FPI Fiscalização Preventiva Integrada

FUNASA Fundação Nacional da Saúde

FUNAI Fundação Nacional do Índio

MB Marinha do Brasil

MPE-AL Ministério Público do Estado de Alagoas

MPF Ministério Público Federal

MPT Ministério Público do Trabalho

PRF Polícia Rodoviária Federal

RSF Rio São Francisco

SEAGRI Secretaria de Estado da Agricultura e Desenvolvimento Agrário

SEFAZ Secretaria da Fazenda do Estado de Alagoas

SEMARH Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos

SEPAQ Secretaria de Estado da Pesca e da Aquicultura

SPU Secretaria do Patrimônio da União

TCT Termo de Cooperação Técnica

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SUMÁRIO

Capítulo 1

1. Introdução............................................................................................................................. 11

1.1 Contextualização e Problemática....................................................................................... 12

1.2 Objetivos............................................................................................................................ 14

1.2.1 Objetivo geral.................................................................................................................. 14

1.2.2 Objetivos específicos....................................................................................................... 14

1.3 Justificativa e Relevância................................................................................................... 14

1.4 Estrutura do Trabalho......................................................................................................... 15

Capítulo 2

2.1.Referencial teórico.............................................................................................................. 16

2.1.1 Conceitos de redes........................................................................................................... 16

2.1.2 Características de redes................................................................................................... 18

2.1.3 Redes interorganizacionais.............................................................................................. 23

2.1.4 Redes interorganizacionais no setor público................................................................... 25

Capítulo 3

3.1. A Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (BHRSF) .................................................... 30

3.2 O Programa FPI São Francisco.......................................................................................... 31

3.2.1 A origem do Programa FPI São Francisco na Bahia....................................................... 32

3.2.2 A expansão do Programa FPI São Francisco.................................................................. 32

3.3 O Programa FPI São Francisco em Alagoas...................................................................... 33

3.4 A estrutura de atuação do programa .................................................................................. 34

Capítulo 4

4. Metodologia.......................................................................................................................... 38

4.1 Coleta de dados................................................................................................................... 39

4.2 Análise dos dados............................................................................................................... 41

4.3 Estudo de caso.................................................................................................................... 43

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4.3.1 Unidade de análise........................................................................................................... 43

4.3.2 Pesquisa de campo........................................................................................................... 43

Capítulo 5

5. Diagnóstico organizacional.................................................................................................. 48

5.1 Formação da Rede Interorganizacional para implementação do Programa....................... 48

5.2 Atuação da Rede Interorganizacional para implementação do Programa.......................... 52

5.3 Fatores Facilitadores para implementação do Programa FPI............................................. 56

5.4 Fatores Dificultadores para implementação do Programa FPI........................................... 59

5.5 Síntese dos principais resultados do estudo........................................................................ 62

Capítulo 6

6.1 Descrição do plano de ação................................................................................................ 67

6.2 Considerações finais........................................................................................................... 68

Referências............................................................................................................................... 70

Apêndice A............................................................................................................................... 76

Apêndice B............................................................................................................................... 77

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Capítulo 1

1. Introdução

A importância dada à questão ambiental cresceu de maneira bastante expressiva nas

últimas décadas, ganhando espaço nas ações governamentais. O estudo dos impactos

ambientais ocasionados pelo exercício de diversas atividades, a progressiva escassez de

recursos naturais e o desenvolvimento do arcabouço legal de proteção ao meio ambiente são

fatores que evidenciam as preocupações governamentais relacionadas à sustentabilidade.

Nesse sentido, problemas como a poluição do solo e dos corpos d’água, a falta de

saneamento básico, a ocupação irregular nas margens dos cursos d’água, o tráfico de animais

silvestres, dentre tantos outros, passaram a compor a agenda das políticas públicas

relacionadas ao meio ambiente.

A Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco tem sido palco de diversos conflitos nas

últimas décadas, tornando-se ponto central de discussões tanto na esfera pública como

privada. Diversos trabalhos apresentam as adversidades enfrentadas pela Bacia, cujos

conflitos envolvem o controle sobre os recursos naturais, os impactos ambientais e sociais

ocasionados pela ação humana e o uso dos conhecimentos ambientais. Assim, questões como

transposição e captação de recursos hídricos, produção de energia, regularização da vazão,

governança, dentre tantos outros temas têm motivado trabalhos acerca das ações de múltiplos

atores perante essa Bacia (HENKES, 2014; LOUREIRO et al, 2014; VELHO CHICO, 2014;

SIEGMUND-SCHULTZE, 2015; ARAÚJO et al, 2016; SANTANA et al, 2016).

Com a finalidade de realizar um diagnóstico socioambiental da Bacia do Rio São

Francisco, no estado de Alagoas, de modo a contribuir com a prevenção de impactos

ambientais e a recuperação dos danos que foram detectados, o Ministério Público do Estado

de Alagoas, a partir de um programa de sucesso no estado da Bahia, coordenou um grupo de

instituições na implantação do Programa de Fiscalização Preventiva Integrada na Bacia do

Rio São Francisco – Programa FPI (VELHO CHICO, 2014).

O Programa FPI atua no sentido de fiscalizar o desenvolvimento de atividades com

maior potencial para causar danos na referida bacia hidrográfica, bem como orientar os

diversos atores sociais no que tange às normas vigentes e aos procedimentos que devem ser

observados a fim de evitar a degradação ambiental (MORIMOTO, 2014; VELHO CHICO,

2014).

O objetivo do Programa FPI é proteger o do meio ambiente natural, cultural, do

trabalho e construído desta Bacia e melhorar a qualidade de vida da população por meio de

ações planejadas e integradas de conservação e revitalização. Portanto, a fiscalização busca

diagnosticar a situação ambiental da Bacia, identificando não-conformidades a partir de um

esforço coletivo de órgãos e instituições de diversos âmbitos do setor público, de um olhar

interdisciplinar e da compreensão da complexidade dos problemas identificados (VELHO

CHICO, 2014, p.121).

O modelo tradicional e hierárquico de implementação de programas que compõem as

políticas públicas não atende às demandas dos tempos atuais, tendo em vista que estão em

rápida transformação. A implementação dos programas dependem cada vez menos de

funcionários públicos em papéis tradicionais e mais de uma rede de parceiras, contratos e

alianças entre diversos atores (AVELAR, 2014).

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A palavra rede tem sido usada para caracterizar diversos tipos de relacionamentos

entre indivíduos, organizações, entre outros. Recentemente a ideia de redes foi adotada na

gestão pública no sentido de analisar o pluralismo desta, as novas formas de gestão

compartilhada e a dinâmica das relações interorganizacionais. O conceito de redes de políticas

públicas vem sendo utilizado na administração pública com o fito de identificar relações

estáveis entre os atores de uma rede interorganizacional e isso tem colaborado para a

formulação e a implementação de políticas públicas, cujas redes possibilitam que os atores

públicos e privados promovam o fluxo de recursos necessários para alcançar seus objetivos e

maximizar sua influência sobre os resultados (NASCIMENTO; CKGNAZAROFF, 2007).

1.1 Contextualização e Problemática

Os problemas enfrentados pelo Brasil na atualidade - agravados por fatores como a

grande dimensão territorial, a diversidade e os contrastes regionais - transcendem o campo da

especialização e são inseridos nos domínios da interdisciplinaridade e da ação

interinstitucional (PECI; COSTA, 2002).

Cavalcanti (1994, p.163) menciona o gerenciamento de recursos hídricos como um

exemplo clássico que evoca a natureza integrada dos problemas e a complexidade do contexto

socioeconômico em que nascem e se equacionam. O autor sublinha que, durante muito tempo,

esse gerenciamento foi examinado apenas do ponto de vista da geração de energia elétrica,

quando se sabe que a água tem usos múltiplos que requerem a consideração de usos relativos

ao consumo humano, animal, à piscicultura, à navegação fluvial, à irrigação, ao turismo e ao

meio ambiente.

O modelo burocrático, com seu foco na especialização funcional, serviu

adequadamente aos propósitos do Estado nos tempos caracterizados pela estabilidade e

continuidade do desenvolvimento econômico e social. Entretanto, seu poder analítico e

normativo está hoje bastante reduzido, em face dos níveis de incerteza e do ritmo intenso das

mudanças. A cooperação interinstitucional, voltada para o alcance de sinergia na

implementação de políticas públicas, passa pela necessidade de adotar um novo paradigma de

gestão (PECI; COSTA, 2002).

Emirbayer e Goodwin (1994) apresentam duas abordagens para representar a estrutura

social por meio da análise de redes: a relacional e a posicional. A abordagem relacional

examina conexões diretas e indiretas entre os atores na rede. Já a análise posicional concentra-

se na posição ou papel que o conjunto de atores ocupa dentro de um sistema. Nesta, as redes

são percebidas como ferramenta analítica. Dessa forma, a abordagem posicional focaliza as

relações sociais internas na organização (redes intraorganizacionais), relações entre

organizações (redes interorganizacionais) ou no ambiente das organizações (relações entre

redes).

Considerando a análise perante uma iniciativa coletiva do setor público, o presente

estudo priorizou a análise da rede interorganizacional por entender que esta é a melhor

maneira de avaliar como um conjunto de órgãos e instituições atuam em rede para

implementar um programa que colabora para a consolidação de diversas políticas públicas

relacionadas ao meio ambiente, saúde e desenvolvimento econômico.

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A rede interorganizacional é definida, no presente trabalho, como uma estrutura

organizacional concebida por um conjunto de atores que se relacionam com a finalidade de

implementar programas que compõem políticas públicas, e que não poderiam alcançar tais

objetivos isoladamente (MIGUELETO, 2001; PROVAN; KENIS, 2008; GONTIJO, 2012;

BALESTRIN; VERSCHOORE, 2014).

A carência de pesquisas voltadas às redes governamentais, ainda que exista um campo

emergente no cenário acadêmico brasileiro, demanda dedicação dos pesquisadores na

compreensão dos desafios e especificidades desse novo modelo de atuação integrada e no

preenchimento das lacunas existentes, o que justifica os esforços de pesquisa presentes nesse

trabalho (OLIVEIRA et al, 2016).

As relações estabelecidas na rede são importantes, tendo em vista que as atitudes e os

comportamentos dos atores da rede tem a compreensão facilitada em razão da sua posição e

atribuições nesta. Contudo, os órgãos e entidades que compõem a rede investigada por esse

trabalho possuem atribuições impostas pela legislação vigente. Com isso, parcela considerável

das relações sociais da rede são definidas por normas e papeis atribuídos aos indivíduos para a

realização do trabalho de fiscalização.

Perante o exposto, este trabalho visa responder a seguinte questão: como se deu a

implantação do Programa Fiscalização Preventiva Integrada do Rio São Francisco em

Alagoas e quais fatores interferiram nesse processo?

O estado de Alagoas é formado por 102 municípios e está situado no nordeste

brasileiro, ocupando uma área de 27.933km, o que corresponde a 0,32% do território nacional

e divide-se em três mesorregiões: agreste, sertão e leste alagoano. A Bacia Hidrográfica do

Rio São Francisco, no estado de Alagoas, localiza-se nas mesorregiões sertão e agreste.

O objeto escolhido para o estudo foi o Programa Fiscalização Preventiva Integrada do

Rio São Francisco em Alagoas, instituído por um conjunto de órgãos e instituições atuantes

do estado de Alagoas, sendo coordenado pelo Ministério Público do estado de Alagoas. Ele

tem como meta a fiscalização de todos os municípios integrantes da Bacia Hidrográfica do

Rio São Francisco, especificamente na região do Baixo São Francisco, em Alagoas, o que

abrange o total de 50 municípios.

O programa teve início no estado da Bahia e encontra-se em expansão para atingir os

demais estados cortados pela referida bacia. Entretanto, esse trabalho optou por estudar o

programa no Estado de Alagoas por conveniência, em virtude da possibilidade da realização

das entrevistas com os atores que nele atuam, e também porque após a consolidação do

programa no estado da Bahia, este foi o primeiro estado a replicar o modelo empreendido

pelos órgãos e instituições baianas.

Importante ressaltar que, desde a sua implantação, o programa já fiscalizou 36

municípios, em etapas de fiscalização ocorridas no período de 2014 e 2016, e tem caráter

perene, visando a constante fiscalização de atividades relacionadas ao meio ambiente e que

podem impactar negativamente na Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco.

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1.2 Objetivos

A partir da contextualização e do problema de pesquisa exposto, foram definidos o

objetivo geral da pesquisa e seus objetivos específicos.

1.2.1 Objetivo geral

O objetivo geral da presente pesquisa é identificar o processo de implantação do

Programa Fiscalização Preventiva Integrada do Rio São Francisco no estado de Alagoas e os

fatores facilitadores e dificultadores de sua implementação, segundo a ótica dos atores

participantes do Programa.

1.2.2 Objetivos específicos

a) Caracterizar o contexto da formação da Rede Interorganizacional para o Programa

Fiscalização Preventiva Integrada do Rio São Francisco, no estado de Alagoas;

b) Descrever a atuação da rede interorganizacional do Programa Fiscalização Preventiva

Integrada do Rio São Francisco, no estado de Alagoas;

c) Identificar fatores que interferiram na implementação do Programa Fiscalização Preventiva

Integrada do Rio São Francisco, no estado de Alagoas, no período de 2014 a 2016, na ótica

dos demais atores da rede.

1.3 Justificativa e Relevância

A principal relevância deste estudo consiste no entendimento de como a atuação dos

órgãos e instituições do setor público em Rede Interorganizacional contribui na

implementação do Programa Fiscalização Preventiva Integrada. Além de ampliar a discussão

sobre formação de redes interorganizacionais para promoção de futuros programas.

O Programa Fiscalização Preventiva Integrada como objeto de análise se justifica em

razão do seu potencial perante o diagnóstico de problemas públicos e na promoção de

políticas públicas relacionadas ao meio ambiente e, também, pelo fato de que a pesquisa

contribui para a área de conhecimento de redes interorganizacionais, por se tratar de um

estudo empírico que aborda a implementação do programa em questão, permitindo sua

utilização como referência para outros programas e órgãos públicos interessados na

identificação de problemas e promoção de políticas públicas para a solução destes.

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1.4 Estrutura do Trabalho

O trabalho está estruturado em seis capítulos e os principais temas contemplados em

cada um deles. Este capítulo introdutório apresentou a contextualização do problema de

pesquisa, seus objetivos geral e específicos, além da justificativa e relevância do estudo.

O capítulo 2 apresenta o referencial teórico do trabalho, em que são abordadas

questões sobre conceito e tipologia de redes organizacionais, rede interorganizacionais

aplicadas no setor público.

O capítulo 3 apresenta a Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, o Programa FPI

São Francisco, a sua origem e expansão no estado da Bahia, o Programa FPI Alagoas e a sua

estrutura de atuação.

O capítulo 4 apresenta a caracterização da pesquisa e os procedimentos metodológicos

utilizados para sua condução, abarcando a coleta e análise de dados.

O capítulo 5 apresenta o diagnóstico organizacional mediante a apresentação da

formação da rede, da atuação da rede e dos fatores facilitadores e dificultadores do Programa

FPI.

O último capítulo apresenta o plano de ação e as considerações finais seguidas das

referências bibliográficas consultadas e apêndices.

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Capítulo 2

Neste capítulo são apresentadas as abordagens de redes interorganizacionais e suas

implicações para implementação de programas voltados ao meio ambiente. Para isso, o

capítulo inicia-se com a indicação de conceitos importantes sobre as redes organizacionais e

suas tipologias.

2.1.Referencial teórico

2.1.1 Conceitos de redes

Castells (1999) define o termo "rede" como um conjunto de “nós” interconectados. O

autor ilustra que a chamada “sociedade em rede” consolida o mundo contemporâneo por meio

de complexas teias de relacionamentos. A partir desse amplo conceito de redes, o autor torna

a sua aplicação passível em diversas áreas de conhecimento.

Burt (1992), Miles e Snow (1992), Nooteboom, Hans e Niels (1997) e Uzzi (1997)

conceituam redes como um padrão de troca de alianças entre organizações distintas e/ou

estabelecimentos das mesmas organizações. Fonseca e Machado-da-Silva (2010) destacam

que, por intermédio das redes de relacionamento, é possível identificar os valores, crenças e

regras que transmitem conceitos sobre modos de fazer e de agir de certo grupo.

A partir do século 20, a ideia de rede alcança uma crescente importância, passando a

representar o comportamento de inúmeros sistemas complexos. Na atualidade, o termo goza

de grande popularidade, sendo mencionado em práticas e debates que envolvem natureza,

sociedade, Estado, mercado, conhecimento, informação, dentre outros temas

(BAUMGARTEN, 2015).

De modo resumido, uma rede é composta por nós e elos que interligam esses nós, os

quais, nas ciências sociais, são representados por sujeitos sociais (indivíduos, grupos,

organizações etc.) conectados por algum tipo de relação (MARTELETO; SILVA, 2004).

Assim sendo, as redes podem ser entendidas como um conjunto de nós e um conjunto

de laços que representam um relacionamento, ou a ausência de um relacionamento, entre os

nós. Os nós também podem ser chamados de atores e o conteúdo das relações representadas

pelos laços é limitado pela imaginação do pesquisador (BRASS et al, 2004).

Cavalcanti (1991) entende que a situação definida como "rede" caracteriza-se por

arranjos interorganizacionais interdependentes. O objetivo da interação entre atores e

organizações nas redes, é uma tentativa de ampliar o número de parceiros, a fim de viabilizar

interesses e projetos comum (CANDIDO; ABREU, 2004).

Posto isso, as redes são vistas como entidades complexas, caracterizadas como

arranjos organizacionais únicos, dotadas de estrutura formal própria, de mecanismos de

coordenação específicos e de práticas de cooperação que transcendem esforços individuais,

cuja evolução depende da sua capacidade de facilitar a comunicação entre seus componentes e

da coerência entre seus objetivos com os seus componentes (THOMPSON, 2003).

Tal conceito sugere que as redes de cooperação são estruturas interorganizacionais

capazes de superar limites durante sua trajetória evolutiva por meio da coordenação de

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recursos compartilhados, os quais viabilizam o fomento de atividades inovadoras e promovem

seu desenvolvimento (ZANCAN et al, 2013).

A Análise de Redes Sociais (ARS) vem sendo evidenciada desde a década de 30 e tem

por objetivo entender as relações entre atores organizacionais (WASSERMAN; FAUST,

1994; CARRINGTON; SCOTT; WASSERMAN, 2005). Contudo, o interesse sobre esse tema

tem aumentado significativamente nos últimos anos, conforme mencionam Granovetter

(1994), Balestrin e Vargas (2002) e Otte e Rousseau (2002).

A ARS parte do princípio de que são as relações entre entidades, as quais podem ser

entendidas como indivíduos, organizações e grupos sociais variados, que conformam a

sociedade, razão pela qual tais entidades não podem ser pensadas fora dessas relações

(MARQUES, 2015).

No âmbito dos estudos organizacionais, a perspectiva de Redes Sociais emergiu no

final dos anos de 1970, quando autores como Aldrich (1979) e Williamsom (1975) passaram a

sustentar a forma de relacionamento interorganizacional como foco de análise (MARTES et

al., 2006). Segundo Baumgarten (2015), trata-se de uma teoria que tem potencialidade para

ser um elemento mediador da construção de políticas públicas a partir de teias coletivas,

solidárias e interativas.

Especificamente no Brasil, conforme Tomaél e Marteleto (2013), a ARS obteve

progresso considerável na última década. Para elas, a ARS consiste no método que possibilita

o estudo das redes sociais pelo mapeamento e descrição das ligações entre os atores.

A análise de redes sociais está baseada na ideia de que as relações entre unidades são

importantes. Portanto, as relações definidas por ligações entre partes são componente

fundamental da abordagem relacional (AVELAR, 2014). Nessa perspectiva, segundo Kenis e

Oerlemans (2008), os atores estão imersos em redes de relacionamentos que tanto

proporcionam oportunidades, como geram restrições à atuação dos envolvidos.

Wasserman e Faust (1994) explicam que os atores e suas ações são vistos como

interdependentes; e que as ligações entre tais atores caracterizam canais para transferência, ou

fluxo de recursos. No mesmo sentido, Miguelleto (2001) destaca que os atores sociais

mantêm a sua autonomia na rede e estabelecem múltiplos vínculos de interdependência entre

si, o que resulta em uma dinâmica arena permeada por relações de cooperação e conflitos de

opinião.

Avelar (2014) entende que essa autonomia permite o estabelecimento de múltiplos

vínculos de interdependência que colaboram para que a rede atue de forma conjunta no

sentido de aliar interesses em comum e ampliar os resultados de uma ação.

A concepção de rede aponta soluções para problemas teóricos e empíricos que os

"quadros teóricos tradicionais não são capazes de iluminar", sobretudo em razão do

reducionismo intrínseco que apresentam, alicerce do paradigma da ciência moderna

(BAUMGARTEN, 2015, p.834).

Portanto, o conceito de rede neste trabalho abrange uma estrutura organizacional

composta por um conjunto de atores que se articulam com a finalidade de reunir interesses em

comum, resolver problemas complexos e expandir os resultados de uma ação, pois percebem

que não podem alcançar tais objetivos de modo isolado.

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Logo, os órgãos e instituições que atuam no Programa FPI caracterizam uma rede,

haja vista que tais atores encontram-se interconectados em busca de objetivos comuns e que a

interdependência horizontal entre eles é um fator considerado para o alcance desses objetivos,

conforme descrito em Velho Chico (2014).

2.1.2 Características de redes

No contexto brasileiro, nos estudos voltados ao campo do Estado, as redes sociais

podem ser entendidas como formas de articulação entre agências governamentais e/ou destas

com redes sociais, atores privados ou grupos que lhes permitem enfrentar problemas sociais e

implementar políticas públicas (LOIOLA; MOURA, 1997, p.56).

Originadas de relacionamentos interorganizacionais, as redes expressam o grau de

maturidade das articulações dos atores que as compõem, além das instituições em seu entorno,

caracterizando um relacionamento dinâmico e complexo. Nesse sentido, para uma rede

interorganizacional surgir e crescer, ela necessita de uma sequência de eventos e interações

durante o tempo, que resultam em seu desenvolvimento (RING; VAN DE VEN, 1994).

O grau de formalização da rede indica a necessidade das bases contratuais e não

contratuais que visam principalmente a regulação da rede e do relacionamento entre seus

membros. Já o grau de centralização corresponde à importância da presença de um agente

central, que tem o objetivo de coordenar os contatos formais e informais entre as organizações

que participam da rede (FERREIRA JUNIOR, 2006).

Nessa lógica, Balestrin e Verschoore (2008) sublinham que as características

recorrentes nas tipologias de redes são a existência de objetivos comuns aos atores, a

constante interação entre os agentes, e a presença de uma gestão coordenadora.

A formação de redes entre as organizações e o modo como esses entes buscam se

relacionar tem chamado a atenção de pesquisadores em diversas áreas. A crescente

disseminação das relações interorganizacionais no ambiente organizacional evidencia a

importância do entendimento e dos determinantes desse tipo de relação (OLIVER, 1990).

O trabalho de Oliver (1990) se destaca pela atribuição de seis elementos responsáveis

pela formação de redes interorganizacionais, a saber: necessidade, assimetria, reciprocidade

de cooperação, eficiência, estabilidade e legitimidade.

As contingências explicadas no Quadro 1 podem interagir e, conjuntamente,

permitirem o fortalecimento de redes interorganizacionais (OLIVER, 1990). Nesse sentido,

Laimer (2014) corrobora que as organizações podem estabelecer relações

interorganizacionais motivadas por diversas combinações de contingências, as quais estão

relacionadas às pressões de autoridade superior, à escassez de recursos, ao exercício de

poder, à colaboração, à relação de custo e benefício, à incerteza ambiental e às condições

institucionais.

Para Oliver (1990), esses fatores são as principais motivações que explicam e/ou

motivam as organizações a estabelecerem as relações interorganizacionais. O autor ainda

destaca que embora sejam elementos explicados de maneira isolada, eles geralmente podem

ser identificados simultaneamente nas redes interorganizacionais.

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Quadro 1. Contingências críticas para a formação de redes.

Contingência crítica Justificativa

Necessidade As relações são estabelecidas a fim de satisfazer exigências legais, isto é, por força da

legislação vigente e imposições de instâncias superiores.

Assimetria

As relações são impulsionadas pelo potencial de exercer poder ou controle sobre uma

outra organização ou perante os seus recursos, caracterizando uma relação “forçada”

que visa o controle de recursos escassos.

Reciprocidade

A relação é baseada na troca de experiência ou na assistência mútua, situação em que

as organizações cooperam entre si. Tais organizações buscam objetivos comuns ou que

beneficiam todos os envolvidos.

Eficiência

A eficiência impulsiona as organizações de modo que busquem relacionamentos

interorganizacionais com a finalidade de otimizar os custos transacionais, os quais

condicionam o grau de interdependência e as possíveis áreas de acordo.

Estabilidade A relação é concebida com a intenção de alcançar estabilidade, representando a união

pela busca da sobrevivência, minimização das incertezas e compartilhamento de riscos.

Legitimidade

As relações são estabelecidas para melhorar a reputação, a visibilidade, imagem e

prestígio por meio de interconexões com organizações aceitas e respeitadas em seu

meio.

Fonte: Adaptado de Oliver (1990).

Dentre os diversos pesquisadores que investigam o modo como as redes de cooperação

são construídas, desenvolvidas e desfeitas, destaca-se também o trabalho de Ebers (2002), o

qual arrola a necessidade de se analisar três fases de desenvolvimento das redes, conforme

apresentado no Quadro 2.

Quadro 2. Classificação de redes quanto ao foco de atuação.

Momento da rede Definição

Fase 1 - "Pré-rede" ou

"definição do problema"

As condições para o estabelecimento de uma relação são definidas. Assim, consiste

em identificar os potenciais parceiros e controlar possíveis interesses comuns.

Fase 2 - "Definição de

rumo"

As condições para construir um relacionamento são estabelecidas, isto é, representa

o momento em que os parceiros em potencial devem articular seus valores e

começar a desenvolver um senso de propósito comum.

Fase 3 - "Estruturação" Nesse momento, as relações se solidificam. Ocorre quando os parceiros

desenvolvem e constroem as estruturas que se destinam a apoiar as suas atividades.

Fonte: Adaptado de Ebers (2002).

Segundo Ebers (2002), tais fases foram compiladas dos trabalhos de Gray (1987),

Larson (1992) e Snow e Thomas, (1993). Além disso, ele entende que, para compreensão da

participação na rede devem ser considerados, conjuntamente, três níveis de análise, quais

sejam: nível do ator, nível relacional e nível institucional.

As redes apresentam variadas estruturas organizacionais, mas também possuem

características comuns. No tocante à tipologia de redes, Balestrin e Vargas (2004), com base

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no modelo conceitual desenvolvido por Marcon e Moinet (2000), elaboraram uma

classificação para as redes, conforme apresentado no Quadro 3.

Quadro 3. Classificação das redes.

Tipo de

rede Definição

Vertical Possui clara estrutura hierárquica. Enquadram-se nessa classificação as organizações que

adotam a configuração em rede em razão da dispersão espacial.

Horizontal

Composta por organizações em que cada uma guarda sua independência, mas que optam por

coordenar atividades específicas de forma conjunta. Apresentam relações complexas nas quais

os atores concorrentes optam por cooperar dentro de certo domínio. Favorece a concentração de

esforços, sem privar a liberdade de ação estratégica de seus membros.

Formal Formalizada por meio de termos contratuais que estabelecem regras de conduta entre os atores.

Informal Baseada em encontros informais com o objetivo de trocar experiência e informação. Esse tipo

de rede não apresenta nenhum tipo de contrato formal.

Fonte: Adaptado de Balestrin e Vargas (2004).

Balestrin e Vargas (2004, p. 209) ressaltam que a tipologia descrita no Quadro 3 é uma

“simplificação forçada” da ampla variedade de tipologias de redes e menciona exemplos

voltados para organizações do setor privado. Para esses autores, as redes detêm características

diversas quanto ao grau de formalidade e hierarquia e sublinham que dificilmente existirão

duas redes estruturadas de maneira idêntica.

Inojosa (1999) apresenta uma diferenciação de redes quanto ao foco de atuação na

rede, que está baseada nos objetivos da criação e que são almejados pelos atores participantes

da rede. O Quadro 4 apresenta as principais características desses tipos de redes:

Quadro 4. Classificação de redes quanto ao foco de atuação.

Tipo de rede Definição

Redes de

mercado

São articuladas em função da produção e/ou apropriação de bens e serviços;

Possuem foco na potencialização dos parceiros face ao mercado;

As relações são orientadas pelos interesses do mercado e podem flutuar entre

cooperação e competição;

A relação de parceria nas redes de mercado tende a ser de subordinação ou tutela.

Redes de

compromisso

social

São articuladas em função de questões sociais;

Possuem o objetivo de complementar a ação do Estado ou de suprir a sua ausência na

condução de problemas sociais complexos, em que há risco de desequilíbrio social;

As relações surgem e se alimentam de uma visão comum sobre a sociedade ou sobre

determinada questão social e da necessidade de uma ação solidária;

Requer estratégias de mobilização das parcerias.

Fonte: Adaptado de Inojosa (1999).

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O Programa FPI se caracteriza como uma rede horizontal, pois as atividades são

desenvolvidas por organizações independentes, embora atuem de forma coordenada. As redes

formais são estabelecidas por meio de termos contratuais que estipulam regras de conduta

entre os envolvidos. A gestão do Programa FPI é estabelecida por regras claras, mediante

cláusulas explícitas, constantes em um Termo de Cooperação Técnica.

As redes de mercado tem seus atores focados na produção e apropriação de bens ou

serviços, em que os atores convivem com competição e a cooperação. Já nas redes de

compromisso social, a atuação se dá a partir de uma ideia-força e a definição de seu produto

será estabelecida no próprio processo de compartilhamento dessa ideia e na explicitação do

propósito de sua existência, que será configurado em um projeto de atuação (INOJOSA

1999).

Inojosa (1999) também procura distinguir os tipos segundo a relação entre os

parceiros. Para ela, há três tipos de redes, são elas: rede subordinada, rede tutelada e rede

autônoma ou orgânica.

A rede subordinada é composta por entes que fazem parte de uma organização ou um

sistema específico em que os objetivos não são comuns, mas existe uma interdependência de

objetivos. Já na rede tutelada os entes têm autonomia, mas se articulam sob a coordenação de

uma organização “que os mobiliza em função de um papel de regulação legal ou de

capacidade de financiamento e que, por isso, modela o objetivo comum”. Cada ente tenderá a

subordinar sua permanência na rede a esta organização (INOJOSA, 1999, pp.118-119).

A rede autônoma ou orgânica, é constituída por entes autônomos, com objetivos

específicos próprios e que passam a se articular em função de uma ideia abraçada

coletivamente. Tal ideia leva à definição de um objetivo comum, o qual é realizado por meio

da articulação entre os entes. Nesse caso há um processo de "tecelagem contínuo" mediante o

compartilhamento de interpretações e sentidos e da realização de ações articuladas pelos

parceiros (INOJOSA, 1999, pp.118-119).

Loiola e Moura (1996) identificam quatro tipos de rede relacionadas aos seguintes

campos: relações interpessoais, movimentos sociais, Estado e negócios, conforme apresentado

no Quadro 5.

Na condição do foco recair sobre o indivíduo, a rede tende a se constituir por meio de

interações que visam à comunicação, à troca e à ajuda mútua, a partir de interesses

compartilhados e de situações vivenciadas em agrupamentos ou localidades. Podem ser

enquadradas nesse primeiro campo as redes primárias, as redes naturais, as redes submersas e

as redes de comunicação. Já no campo dos movimentos sociais, a rede se origina a partir de

articulações e interações entre organizações, grupos e indivíduos vinculados a ações e

movimentos reivindicatórios, visando a mobilização de recursos, o intercâmbio de dados e

experiências e a formulação de políticas e projetos coletivos (MINHOTO; MARTINS, 2002).

De acordo com Minhoto e Martins (2002), no campo do Estado, as redes representam

formas de articulação entre agências governamentais e/ou destas com redes sociais,

organizações privadas ou grupos que lhes permitem enfrentar problemas sociais e

implementar políticas públicas. Fazem parte deste grupo as redes institucionais, redes

secundárias formais, redes sociogovernamentais e redes locais de inserção.

Por fim, no campo dos negócios, a rede assume a forma de organização intermediária

entre a firma e o mercado, levando à superação do princípio da hierarquia inflexível, que

caracteriza a firma, e do princípio da liberdade de movimentos, que é típica do mercado. Nos

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estudos dessa área, fala-se em redes de inovadores, redes sistêmicas, redes secundárias não-

formais e redes estratégicas (MINHOTO; MARTINS, 2002).

Quadro 5. Noções associadas ao conceito de rede.

Campo Atores Características

Interpessoal Indivíduos

Informalidade;

Interesses e valores comuns;

Troca/ajuda mútua;

Confiança/cumplicidade;

Interações horizontais;

Mudanças/flutuações;

Engajamento voluntário;

Racionalidade comunicativa/instrumental

Movimentos

sociais

ONG,

organizações

populares,

grupos, atores

políticos,

associações

profissionais,

sindicatos etc.

Informalidade/pouca formalidade

Interesses e projetos políticos/culturais coletivos

Mobilização de recursos/intercâmbio

Solidariedade/cooperação/conflito

Interações horizontais

Mudanças/flutuações

Engajamento voluntário

Racionalidade comunicativa/instrumental

Estado/

Políticas

Públicas

Agências

governamentais,

governos locais e

outros

níveis

Formalidade/informalidade

Problemas, ações, projetos concretos e gestão de processos

complexos

Associação de recursos/intercâmbio

Cooperação/reconhecimento de competências/respeito

mútuo/conflito;

Centro animador, operador catalisador; hierarquia/não-hierarquia

Efêmero/grupo definido

Adesão por competência/interesse

Racionalidade instrumental/comunicativa

Produção/

Circulação

Agentes

econômicos:

produtores,

fornecedores,

usuários etc.

Formalidade/informalidade

Interesses e projetos precisos

Troca, associação de recursos, intercâmbio, aprendizado

Reciprocidade/cooperação/confiança/competição

Empresa focal, liderança/hierarquia/não-hierarquia

Flexibilidade/longo prazo

Adesão por competência/ contingência

Racionalidade instrumental/comunicativa

Fonte: Adaptado de Loiola e Moura (1996, p. 59).

O programa FPI pode ser caracterizado como uma rede horizontal, tendo em vista que

as atividades de fiscalização são realizadas por órgãos e entidades independentes, mas atuam

de forma coordenada. É também uma rede formal, haja vista a existência de um termo de

cooperação que regula a participação e atuação dos seus membros. Além disso, está inscrito

no campo do Estado, uma vez que este representa a articulação entre entidades

governamentais visando o enfrentamento de problemas socioambientais.

Também interpretado como uma rede autônoma, em virtude de características como a

composição por entes autônomos e a articulação em razão de uma ideia mobilizadora comum

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a todos os entes, o Programa FPI representa uma rede cujas iniciativas são construídas

coletivamente por meio da realização de ações conjuntas de fiscalização. Ademais, pode ainda

ser entendido como uma rede de compromisso social, uma vez que os seus atores possuem um

objetivo socioambiental comum e agem em prol desta causa.

O Quadro 6 apresenta um resumo das características e classificação das redes,

expondo a justificativa das qualificações indicadas acerca do Programa FPI.

Quadro 6. Classificação de redes na implementação de políticas públicas.

Autor Característica Classificação Justificativa

Balestrin e

Vargas (2004)

De acordo com a

existência de objetivos

comuns, interação entre

os agentes e a presença

de uma gestão

coordenadora

Rede horizontal

Apresenta estrutura na qual as

organizações guardam a sua

independência, mas coordenam

atividades específicas de forma conjunta.

Favorece a concentração de esforços,

sem privar a liberdade de ação

estratégica de seus membros.

Rede formal

Regras estabelecidas em Termo de

Cooperação Técnica assinado por todos

os atores envolvidos.

Inojosa (1999)

De acordo com a relação

entre os parceiros. Rede autônoma

O Programa FPI é composto entes

autônomos que se articulam em função

de um objetivo comum. A iniciativa é

tecida coletivamente por meio da

realização de ações conjuntas. O controle

é localizado segundo sua escolha,

podendo mudar de locus.

De acordo com os

objetivos da criação e a

serem atingidos pela rede

Rede de

compromisso

social

Atores sociais possuem objetivo social

comum de garantir a preservação do

meio ambiente.

Fonte: Elaborado pela autora.

A abordagem de redes organizacionais para o setor público pode trazer benefícios na

implementação de políticas públicas e programas, o que será demonstrado nos próximos

capítulos. A sequência da pesquisa do trabalho aborda redes interorganizacionais no setor

público e a sua importância na implementação de programas públicos voltados ao meio

ambiente.

2.1.3 Redes interorganizacionais

A rede interinstitucional explica um padrão de interação intensiva de organizações

autônomas que se dispõem a atuar conjuntamente, como um sistema, para alcançar objetivos

próprios ou coletivos, ou resolver problemas específicos de um público-alvo

(CAVALCANTI, 1991).

O termo “rede interorganizacional” será utilizado a partir de um amplo conceito,

significando um conjunto de organizações inter-relacionadas (Marcon & Moinet, 2000). Para

maior compreensão das Redes Interorganizacionais (RIs), são discutidos alguns conceitos

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gerais com a finalidade de apresentar as razões para a formação de redes interorganizacionais

e expor a forma como o tema é abordado em estudos recentes.

As RIs são compostas de arranjos interorganizacionais com características próprias e

podem ser compreendidas como um conjunto de organizações que operam em rede para

alcançar coletivamente certos objetivos organizacionais (GRANDORI; SODA, 1995;

FAGGION, BALESTRIN e WEYH, 2002; VERSCHOORE, 2004). Portanto, segundo esses

autores, a rede interorganizacional pode ser definida como a coletividade composta por um

grupo de organizações que possuem objetivos comuns, atuam de forma conjunta e aliam

interesses comuns.

Van de Ven e Ferry (1980) registram como dimensões estruturais de uma rede

interorganizacional: a formalização, a complexidade, a centralização e a intensidade. A

formalização está relacionada com regras, políticas e normas que direcionam o papel de ator

na rede. Já o número de diferentes atores que compõem e devem interagir na rede, representa

a complexidade estrutural. A centralização, por sua vez, representa a centralidade na tomada

de decisão e no fluxo de informações e recursos, ao passo que a intensidade trata da força de

uma rede, sendo utilizada como indicador do investimento que as organizações empregam

numa relação institucional.

Para Castells (1999), na teoria de redes interorganizacionais, o desempenho de

determinada rede dependerá de dois fatores, quais sejam: conectividade, que se refere à

capacidade estrutural de facilitar a comunicação sem ruídos entre seus componentes; e

coerência, ou seja, interesses compartilhados entre os objetivos da rede e de seus atores

(CASTELLS, 1999).

A conectividade da rede trata do fluxo informacional entre os atores, uma vez que a

rede pode se configurar como um espaço para troca de conhecimentos específicos entre os

agentes envolvidos. Tal conceito pode ser então compreendido como a capacidade dos atores

da rede de se comunicarem. Nesse sentido, a estrutura da rede e os mecanismos por ela

utilizados para estimular a interação dos participantes pode favorecer ou não essa troca de

conhecimentos (ZEN; WEGNER, 2008). Balestrin (2005) acrescenta que a conectividade

pode ser facilitada por meio da tecnologia da comunicação ou da interação pessoal.

Já a coerência refere-se ao compartilhamento de interesses entre os objetivos da rede e

de seus atores, sendo a complementaridade de objetivos um fator essencial para o

desenvolvimento dos relacionamentos cooperativos (ZEN; WEGNER, 2008). Balestrin

(2005) registra que os mecanismos de coordenação usados pelas redes são relevantes para

ajustar os interesses dos participantes e os interesses da rede.

A rede interorganizacional do Programa FPI pode ser considerada uma rede

complexa, principalmente por se tratar de uma rede voltada à fiscalização das diversas

atividades que podem impactar negativamente perante a Bacia Hidrográfica do Rio São

Francisco, sejam elas desenvolvidas pela iniciativa privada ou pelo próprio poder público. O

entendimento acerca de redes como esta e a definição de suas características trazem

benefícios à sociedade e aos atores envolvidos, auxiliando no desenvolvimento de programas

correlatos, na expansão do mesmo na própria Bacia do Rio São Francisco e, também, no seu

aprimoramento.

Conforme descrito no trabalho desenvolvido por Avelar (2014), o setor público vem

passando por uma série de transformações, contexto no qual as redes interorganizacionais

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surgem como um tema estratégico e de relevância a ser explorado. Assim, o presente estudo,

ao abordar a relevância das redes interorganizacionais no setor público, representa mais um

esforço de pesquisa voltado à evolução deste campo.

2.1.4 Redes interorganizacionais no setor público

A proliferação da gestão de redes é explicada por uma multiplicidade de fatores que

atuam, de forma simultânea, conformando uma nova realidade administrativa. De um lado,

houve a alteração dos processos produtivos e administrativos, em razão da globalização

econômica, havendo maior flexibilização, integração e interdependência. De outro, as

recentes transformações no papel do Estado e no seu relacionamento com a sociedade

impõem novos modelos de gestão (FLEURY; OUVERNEY, 2011, p. 9).

Fleury e Ouverney (2011) registram que a existência de redes é ainda fruto de outros

fatores relacionados com a maior complexidade dos processos administrativos em um meio

ambiente cuja dinâmica impede qualquer ato isolado de controlar os processos e a velocidade

das mudanças. Os autores também arrolam que as redes tem sido vistas como a solução

adequada para gerir políticas e projetos em que os problemas são complexos, existem

múltiplos atores envolvidos e os recursos são escassos.

Castells (1999) ilustra alguns princípios para uma administração mais maleável e

conectada, que disponha das seguintes características: coordenação e aprendizagem

constante, desenvolvimento tecnológico, maior participação cidadã, maior profissionalização

dos atores que compõem a rede, transparência.

A administração com base nessas características teria como conceito o Estado-rede,

em contraposição ao Estado-nação, que representa assim, uma inovadora forma de gestão que

promove a interação entre os atores públicos e privados. A construção do Estado-rede ocorre

por meio de uma reforma da administração pública e não elimina o Estado-nação, mas o

redefine (CASTELLS, 1999).

Duarte e Hansen (2010, p. 2) investigaram as redes interorganizacionais no setor

público, ilustrando-as como relevantes em razão das mudanças que vem ocorrendo na

sociedade, que provocam movimentos simultâneos e interdependentes das instituições

públicas, com o intuito de responder à crescente demanda por serviços públicos mais

eficientes e de melhor qualidade.

Mandell (1990) aponta que, no setor público, a rede é formada a partir da colaboração

ativa e organizada de organizações públicas, privadas e sem fins lucrativos e/ou individuais,

determinadas a alcançar um objetivo estabelecido.

Fleury (2005) explica que duas habilidades são imprescindíveis para garantir o

comportamento mobilizador da liderança das redes, quais sejam: a habilidade de somar forças

e a habilidade de alcançar metas comuns. Segundo Mandell (1990), como as redes diferem no

tocante aos tipos de mecanismos de coordenação, isso vai demandar distintos estilos

compatíveis de gerência.

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Mandell (1990) propõe uma classificação com base na relação estabelecida entre

Estado e sociedade, conforme o Quadro 7, e distingue dois tipos de rede: mediada e não-

mediada ou voluntária.

Quadro 7. Classificação de redes quanto ao foco de atuação.

Tipo de rede Definição

Rede mediada

Podem ser organizadas pela imposição de uma autoridade ou por meio de uma

mobilização por parte do poder público, reunindo outras organizações envolvidas com

determinada política pública. Pode ainda ser “articulada” horizontalmente por uma

agência designada e que não se sobrepõe aos demais membros.

As redes mediadas são coordenadas por um centro político, mas não há um

relacionamento hierárquico entre os atores, uma vez que a figura da autoridade assume

novo significado.

Rede não-

mediada ou

voluntária

É constituída voluntariamente pelas organizações e a sua coordenação se inicia de forma

casual, não planejada, assumindo igual posição na rede.

Fonte: Adaptado de Inojosa (1999).

Cada uma dessas estruturas demanda diferentes papéis do líder, já que para algumas é

vital a construção da própria mediação entre pares, enquanto para outras essa questão está

resolvida desde a constituição legal da rede e o que se requer é a coordenação dos processos

de negociação e de gestão das interdependências (FLEURY, 2005).

Mandell (1999) ainda sublinha que na rede, as organizações precisam umas das outras

para alcançar seus objetivos particulares e o poder de certa entidade se afirma ao passo que a

sua participação se torna essencial para as ações do grupo. Portanto, a distribuição de poder

não obedece a uma hierarquia, mas sim à importância de cada ator na viabilidade da rede.

Fleury e Ouverney (2011) esclarecem que há uma tendência para o crescimento da

interdependência funcional entre atores públicos e privados na implementação de políticas.

Tais autores arrolam que o fenômeno de expansão das redes em administração pública data

da década de 1990. No entanto, em período anterior, a literatura internacional já desenvolvia

pesquisas sobre a ação do Estado na constituição de arranjos interorganizacionais no setor

público, na implementação de programas federais e na implementação de políticas públicas.

Segundo Lustosa da Costa (2001), um papel importante para a integração e

coordenação de redes é aquele desempenhado pela organização articuladora, a qual funciona

como um "centro animador, integrador de esforços que se empenha mais que os outros

membros da rede no papel da coordenação e articulação", mas que não caracteriza o

“gerente” da rede. Ao contrário disso, é ciente da preservação da autonomia dos seus

membros-instituições individuais e tenta negociar, articular, identificar interdependências e

apontar as sinergias conseqüentes da ação comum dos membros da rede. Peci e Costa (2002)

sublinham que o papel da organização articuladora é essencial, contudo esta não deve tornar-

se um centro de concentração de poder e controle.

No caso do Programa FPI há um "gestor" da rede, chamado de "coordenador do

programa", que é o Ministério Público do Estado de Alagoas, também entendido como

mediador e estimulador da rede, haja vista as competências da entidade perante a lei e o

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Termo de Cooperação Técnica, o qual firma o acordo de cooperação mútua entre as

instituições envolvidas.

Fleury (2005) narra que os atores estão em uma situação de interdependência em uma

rede, a qual é gerada pela necessidade de compartilhar recursos para alcançar um objetivo

comum. Assim, cada ator da rede possui os seus objetivos particulares, mas a autora

esclarece a limitação em se deduzir que a participação desse ator em uma rede seria

conseqüência de suas carências e de um mero comportamento maximizador para atingir seu

objetivo pessoal ou organizacional. Para ela, a construção de uma rede envolve a construção

de um objetivo maior que passa a ser um valor compartilhado, para além dos objetivos

particulares que permanecem.

As atuais funções do Estado colaboram para a atuação em rede, haja vista que as

redes são formas de articulação entre agências governamentais e/ou entre estas e outros

grupos, para enfrentar problemas sociais e implementar políticas públicas. As ações públicas

realizadas por meio das redes substituem a departamentalização e a integração vertical pelos

trabalhos em rede por projeto e a articulação a partir do local, dentre outros. Assim, surgem

novas formas de relacionamento entre o Estado e a sociedade e entre entidades e esferas de

governo (LOIOLA; MOURA, 1996).

Fleury e Ouverney (2011, p. 18) apontam uma tendência para a crescente

interdependência funcional entre atores públicos e privados na implementação das políticas e

explicam que apenas por meio das redes públicas é possível garantir a mobilização de

recursos dispersos e responder eficazmente aos problemas das políticas públicas.

O Quadro 8 apresenta as principais inovações surgidas no campo de ação pública por

meio da utilização das redes sociais, de acordo com Loiola e Moura (1996).

Quadro 8. Inovações no campo de ação pública com a utilização das redes.

Padrões “tradicionais”

de ação Pública

Redes informais e pouco visíveis de acesso a centros decisórios;

Movimentos sociais cobram do Estado ações públicas;

Departamentalização;

Integração burocrática.

Inovações com a

utilização das redes

Negociação, parcerias, espaços, participação, democratização e

mobilização de recursos.

Redes sociogovernamentais de caráter público;

Ação pública via rede de oferta de serviço;

Trabalho em rede por projeto;

Articulação de ações a partir do local. Repartição de competências.

Fonte: Adaptado de Loiola e Moura (1996).

Assim, no campo de ação pública, a utilização das redes permite a realização de

trabalhos em rede por meio de projetos e a articulação de ações a partir do local mediante a

repartição de competências. Logo, a configuração composta por estruturas interdependentes,

que permitem a vinculação a diversos atores com um interesse comum em relação a um

programa público, requer um entendimento do papel de cada ator envolvido, como também

suas competências. Neste tipo de rede é possível observar a aplicação de conceitos de redes

interorganizacionais, em que diversas entidades são envolvidas para executar um programa

específico que compõem uma política pública (LOIOLA; MOURA, 1996).

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Oliveira (2014) registra as tipologias de redes entre organizações privadas e relata que

poucos estudos se debruçam perante a aplicação destas no desenho de redes governamentais.

A partir de então o autor indica a obra traduzida de Stephen Goldsmith e William D. Eggers

(2011) como mais importante referência sobre o tema.

Goldsmith e Eggers (2011) propõem um modelo no qual as instituições públicas

dependem menos de servidores públicos em papéis tradicionais e mais de parceiros não

governamentais, os quais conferem ao governo maior flexibilidade e capacidade de modelar o

sistema de prestação de serviços, atendendo melhor as demandas de cidadãos.

Os modelos de governo propostos por Goldsmith e Eggers (2011) são apresentados na

Figura 1, a seguir:

Figura 1. Modelos de governo.

Elevado

Governo terceirizado Governo em rede

Co

lab

ora

ção

bli

co-

pri

vad

a

Governo hierárquico Governo coordenado

Baixo Baixo Elevado

Fonte: Goldsmith e Eggers (2011).

O modelo de governo hierárquico envolve os sistemas burocráticos que atuam a partir

de procedimentos de comando e controle, sendo impróprio para impedir problemas inerentes

às organizações. No caso do modelo de governo terceirizado, a prestação de serviços e o

cumprimento de objetivos políticos se dá com o auxílio de empresas privadas e organizações

sem fins lucrativos (GOLDSMITH; EGGERS, 2011).

Já no modelo do governo em rede observa-se o alto nível de interação público-privada,

a consolidação da capacidade de gestão em rede, o uso da tecnologia para conectar a rede e o

oferecimento de múltiplas possibilidades de prestação de serviços aos cidadãos. Por fim, no

modelo de governo coordenado, ocorre a união de agências governamentais múltiplas,

inclusive de múltiplos níveis de governo, para a prestação de serviços integrados

(GOLDSMITH; EGGERS, 2011).

Nesse sentido, cabe sublinhar que elementos como o sistema educacional, político e

legal, os profissionais, a cultura (do país, da família e da religião) e a moral nos negócios são

componentes influenciadores da dinâmica e do sucesso das estratégias desenvolvidas em

redes; sendo considerados fatores cruciais na configuração das redes de organizações do setor

público (GOLDSMITH; EGGERS, 2011).

O Programa FPI pode ser classificado como governo coordenado, a julgar pelo acordo

entre agências governamentais múltiplas, dos diversos níveis de governo, para a implantação

Capacidade de gestão das redes

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de um modelo de fiscalização ambiental conjunta, visando a proteção da Bacia Hidrográfica

do Rio São Francisco e a melhoria da qualidade de vida de seu povo.

Em suma, o Programa FPI apresenta diversas características presentes em redes

interorganizacionais no setor público, conforme pode ser verificado no Quadro 9, que

classifica cada uma delas.

Quadro 9. Classificação da rede interorganizacional do Programa FPI Alagoas. Autor Característica Classificação Justificativa

MANDELL (1990) Relação entre estado

e sociedade Mediada

Mobilização por parte do poder

público, reunindo outras

organizações envolvidas com

determinada política pública.

LOIOLA e MOURA

(1996)

Inovações a partir da

utilização das redes

Parcerias; mobilização

de recursos; articulação

de ações a partir do

local.

O Programa FPI conta com

parcerias entre instituições diversas,

que articulam ações a partir do

âmbito local e possibilitam a

mobilização de recursos em prol de

objetivo comum.

GOLDSMITH e

EGGERS (2011) Modelo de governo Governo coordenado

Articulação entre órgãos e entidades

governamentais múltiplas para a

implantação de um modelo de

fiscalização ambiental conjunta.

Fonte: Elaborado pela autora.

A formação de uma rede interinstitucional para implementação do Programa FPI deve

ser realizada a partir da definição de um desenho organizacional entre os atores dessa rede,

em que neste esteja estabelecidas as funções, as atribuições dos atores envolvidos, processos

de tomada de decisão, formas de execução, acompanhamento e avaliação das ações e todo um

conjunto de procedimentos que orientaria o funcionamento da rede (MANDELL, 1990;

LOIOLA; MOURA, 1996; GOLDSMITH E EGGERS, 2011).

O referencial teórico apresentou, assim, a evolução do tema e as razões pelas quais

esta rede colabora para a implementação de um programa que compõe uma política pública.

Na rede interinstitucional do Programa FPI as atribuições dos atores dentro da rede foram

determinadas por leis, normas e pelo Termo de Cooperação Técnica que rege essa estrutura de

múltiplas organizações.

O próximo capítulo serviu de subsídio para que o objetivo específico fosse alcançado,

a partir da apresentação dos antecedentes da formação da rede interorganizacional do

Programa FPI São Francisco e aproximação dos atores.

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Capítulo 3

O presente capítulo aborda a Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, o Programa

FPI São Francisco, a origem do programa no estado da Bahia, a sua expansão para outros

estados componentes desta bacia e o programa no estado de Alagoas.

3.1 A Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (BHRSF)

A Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco é formada pelo Rio São Francisco,

principal curso d'água, e por um conjunto de afluentes permanentes e temporários que nele

deságuam, sendo considerada a terceira maior bacia e a única que ocupa totalmente o

território nacional. A bacia envolve 504 municípios e percorre seis estados da federação

(VELHO CHICO..., 2014).

O nome do rio foi dado em homenagem ao seus padroeiro, tendo em vista que sua foz

foi encontrada por Américo Vespúcio, navegante português, no dia 4 de outubro de 1501, dia

de São Francisco de Assis. Os nativos que habitavam o Brasil, à época de seu descobrimento,

chamavam o rio de Opará, que significa "rio-mar" (VELHO CHICO..., 2014).

As paisagens do rio São Francisco são divididas em quatro regiões fisiográficas, quais

sejam: Alto São Francisco, Baixo São Francisco, Médio São Francisco e Submédio São

Francisco. A grande dimensão territorial da bacia do rio São Francisco, estimada em 639.217

km², motivou essa divisão por regiões, tanto para fins de planejamento como para facilitar a

localização das suas populações e ambiências naturais. A divisão foi realizada conforme o

sentido do curso do rio e de acordo com a variação de altitudes (CBHSF, 2016).

A Tabela 1 apresenta as Unidades da Federação que compõem a Bacia Hidrográfica

do Rio São Francisco e o percentual da Bacia que cada uma delas possui em seu território.

Tabela 1. Unidades da Federação que compõem a Bacia do Rio São Francisco.

Unidades da

Federação

Região da Bacia Hidrográfica

do Rio São Francisco

Percentual da Bacia Hidrográfica

do Rio São Francisco

Alagoas Baixo São Francisco 2,2%

Bahia Médio e Submédio São Francisco 48,2%

Distrito Federal Alto São Francisco 0,2%

Goiás Alto São Francisco 0,5%

Minas Gerais Alto São Francisco 36,8%

Pernambuco Submédio São Francisco 10,9%

Sergipe Baixo São Francisco 1,2%

Fonte: Adaptado de CBHSF (2016).

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O rio São Francisco tem 2.700 km de extensão e nasce na Serra da Canastra, no

município de São Roque das Minas, no estado de Minas Gerais, escoando no sentido sul-norte

pela Bahia e Pernambuco, quando altera seu curso para este, chegando ao Oceano Atlântico

através da divisa entre Alagoas e Sergipe (VELHO CHICO..., 2014; CBHSF, 2016).

Nessa bacia, os biomas são diversificados, abrangendo floresta atlântica, cerrado,

caatinga, costeiros e insulares. As águas do Rio São Francisco são de fundamental

importância tanto para os povos ribeirinhos, que vivem em seu entorno e dependem do rio,

como para a nação brasileira. Isso ocorre tanto pelo volume de água transportado em uma

região semi-árida, como também, pelo potencial hídrico passível de aproveitamento e por sua

contribuição histórica e econômica para a região. As principais formações vegetais da Bacia

apresentam grande diversidade de fauna e flora, incluindo pelo menos uma centena de

diferentes tipos de paisagens peculiares (MMA, 2006; CBHSF, 2016).

Cabe ilustrar que o rio São Francisco recebe água de 90 afluentes pela margem direita

e de 78 pela margem esquerda, num total de 168 afluentes e destes, 99 são perenes, isto é,

nunca secam totalmente (VELHO CHICO..., 2014).

3.2 O Programa FPI São Francisco

O estágio de degradação ambiental verificado no Rio São Francisco e nos seus

afluentes é causado por diversos danos ambientais como a supressão de vegetação, o

lançamento de efluentes nos cursos d’água, a extração mineral irregular, a apreensão de

animais silvestres, dentre diversos outros. Haja vista a dimensão e complexidade dos impactos

negativos, concluiu-se que não haveria como enfrentar esses problemas com ações pontuais e

isoladas por parte dos órgãos ambientais (VELHO CHICO..., 2014).

Dessa forma, houve a necessidade de congregar esforços para reverter os problemas

mediante a identificação dos danos e a adoção imediata de medidas para a sua reparação. Com

isso, surge a Fiscalização Preventiva Integrada (FPI) da Bacia do Rio São Francisco, a partir

da necessidade do Ministério Público da Bahia em obter um diagnóstico dos danos ambientais

dos municípios integrantes da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco no estado da Bahia

(VELHO CHICO..., 2014, p. 113). Sob essa ótica, o formato de atuação em rede parece servir

aos problemas vivenciados na Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco.

Assim, partindo da percepção do grave estado de degradação ambiental da Bacia do

Rio São Francisco (desmatamento, utilização indiscriminada de agrotóxicos, ocupação

irregular das áreas de preservação permanente e de reserva legal, derramamento de efluentes

líquidos e sólidos, utilização intensiva da água, queimadas, extração mineral irregular, dentre

outros), o Ministério Público do Estado da Bahia articulou-se com diversas instituições,

relacionadas à esfera ambiental, no intuito de desenvolver o Programa de Fiscalização

Preventiva Integrada – FPI em 2002 (MPE-BA, 2013, p. 1).

É oportuno sublinhar que o Programa FPI possui caráter perene, pois ainda que os

danos sejam reparados e que os seus vetores sejam todos responsabilizados, sempre haverá a

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necessidade de diagnosticar e refletir conjuntamente sobre os problemas diante da realidade

plural e da necessidade de prevenir novos danos (VELHO CHICO..., 2014).

Para os fins desse estudo, serão entendidos como sinônimos do Programa Fiscalização

Preventiva Integrada da Bacia do Rio São Francisco os termos: FPI, FPI São Francisco,

Programa FPI e, no caso dos estados, quando os entes forem citados juntos aos termos

sinônimos do programa, a exemplo de FPI Alagoas e FPI São Francisco - Alagoas.

3.2.1 A origem do Programa FPI São Francisco na Bahia

O Programa de Fiscalização Preventiva Integrada – FPI foi iniciado a partir de um

projeto-piloto realizado em 2002, o qual foi inspirado em um projeto existente no sistema

CREA/CONFEA e que pode ser caracterizado como a primeira etapa da FPI Bahia. Ao longo

do tempo, muitos órgãos aderiram ao programa, sendo decidido, posteriormente, que essa

iniciativa não seria mais um projeto pontual, mas sim um programa continuado de constante

aprimoramento (VELHO CHICO..., 2014).

Assim sendo, o referido programa foi sendo qualificado ao longo de mais de dez anos

de experiência e, perante uma realidade multifacetada, percebeu-se que não seria possível

enfrentar os vetores responsáveis pelos danos ambientais apenas por um prisma ou mesmo

com ações isoladas. Desse modo, essa iniciativa coletiva é realizada por diversos órgãos

estaduais e federais de meio ambiente e de saúde, Ministérios Públicos e polícias com o

objetivo de melhorar a qualidade ambiental da Bacia e a qualidade de vida de seu povo

(VELHO CHICO..., 2014).

Tal programa se constitui em uma ação continuada com objetivo de melhorar a

qualidade ambiental dos recursos naturais e a qualidade de vida dos Povos da Bacia do Rio

São Francisco, compreendendo 115 municípios no Estado da Bahia, contribuindo de diversas

formas para promover a Inclusão Social (KHOURY, 2011, s/p).

Nesse sentido, embora muitos dos órgãos executores já tivessem consolidado a sua

participação, a partir do planejamento e orçamentos internos incluindo as ações da FPI, em 22

de setembro de 2010 foi assinado Termo de Cooperação Técnica com diversos parceiros

(VELHO CHICO..., 2014, p.114). Ou seja, a FPI Bahia foi sendo construída e modelada aos

poucos, tanto que apenas após oito anos de operação é que um termo de cooperação recíproca

foi efetivamente firmado.

Assim, ao longo de mais de doze anos esse programa foi sendo aprimorado e,

atualmente, é realizado por diversos órgãos estaduais e federais de meio ambiente e de saúde,

Ministérios Públicos e polícias, de modo a melhorar a qualidade ambiental da Bacia e a

qualidade de vida de seu povo (VELHO CHICO..., 2014, p.115).

3.2.2 A expansão do Programa FPI São Francisco

Outros estados da Bacia do Rio São Francisco, em especial Sergipe e Alagoas,

demonstraram interesse em realizar o Programa em seus territórios. Tal iniciativa foi

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incentivada e apoiada pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) e,

com o apoio deste Colegiado e da Associação Executiva de Apoio a Gestão de Bacias

Hidrográficas Peixe Vivo - AGB Peixe Vivo, a equipe do Programa FPI da Bahia esteve nos

dois estados (VELHO CHICO..., 2014).

Em seguida, representantes dos órgãos do estado de Alagoas estiveram presentes em

duas etapas de fiscalização, no estado da Bahia, para conhecer o trabalho e contribuir nessas

operações. Após a realização de reuniões preparatórias e a participação nas operações da

Bahia, os órgãos alagoanos decidiram realizar o Programa FPI em Alagoas, cuja primeira

etapa foi realizada em maio de 2014 e contou com o apoio de representantes do Programa FPI

Bahia (VELHO CHICO..., 2014, p.116).

3.3. O Programa FPI São Francisco em Alagoas

A primeira etapa do programa, no estado de Alagoas, foi realizada em 2014, marcando

o início da execução do programa nesse ente da federação, bem como dando continuidade ao

processo de criação e fortalecimento da rede FPI Alagoas, cujo trabalho está associado a

busca por um desenvolvimento mais sustentável na região.

O Programa FPI São Francisco - Alagoas conta com uma permanente atuação de

equipes compostas por profissionais especializados de diversas áreas, a qual atua em prol da

proteção da bacia, na região do Baixo São Francisco, especificamente no estado de Alagoas, e

também, visando a realização de um diagnóstico preciso acerca da situação ambiental da

Bacia do Rio São Francisco.

Nessa perspectiva, vale registrar a atuação do Ministério Público do Estado de

Alagoas como entidade coordenadora do Programa, tendo em vista que a Constituição de

1988 (CF/88) foi responsável por estabelecer o seu papel como instituição permanente,

essencial à função jurisdicional do Estado, incumbida da defesa da ordem jurídica, do regime

democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis, conforme consta no art. 127

de Brasil (1988).

Além de sua definição, a CF/88 também cuidou de prever as garantias institucionais e

funcionais, ambas ajustadas ao novo papel da instituição, tais como a independência

funcional, autonomia administrativa, autonomia financeira, vitaliciedade, inamovibilidade e

irredutibilidade dos subsídios de seus membros.

A função constitucional de ser o fiscal da lei e defensor da sociedade se apresenta

como extensa e de elevado nível de complexidade, o que representa uma ampla gama de

responsabilidades a serem suportadas pelos membros do Ministério Público. Tal extensão de

atribuições se acentua não pela quantidade, mas sim pela importância, a exemplo da tutela do

meio ambiente, que por si só denota grandes desafios (RODRIGUES, 2002, p.138).

No novo Estado Democrático brasileiro, o Ministério Público passa para a posição de

defensor da sociedade, com legitimidade para agir em defesa dos direitos sociais e individuais

indisponíveis em questões processuais civis, alcançando a proteção de direitos coletivos,

difusos e individuais homogêneos (LIMA, 1999, p.51).

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Assim, a instituição se insere no cenário em que o meio ambiente adquire caráter de

direito fundamental difuso e coletivo, como garantidor da aplicação e dessa importante

categoria de direitos. Além de procurar máxima eficiência em suas ações para atingir êxito em

suas funções, a instituição busca rearticular forças, métodos e metas, desenvolvendo-se para

obter resultados práticos aproximando a legalidade da legitimidade popular (ALONSO JR.,

2006, p.171). Dessa forma, compreende-se a dimensão do Ministério Público na busca pela

defesa do meio ambiente e a independência desta instituição em relação aos demais poderes e

órgãos da Administração Pública.

3.4 A estrutura de atuação do programa

Acerca do vínculo existente entre as instituições participantes do programa, o modo de

colaboração entre esses órgãos parceiros e o processo de formação da rede FPI Alagoas foram

identificados com base na análise de documentos institucionais acerca do Programa FPI, bem

como de documentos e relatórios escritos durante a operação e após a sua finalização, a

exemplo de relatórios técnicos de campo e de relatórios institucionais.

O Programa FPI Alagoas foi instituído no âmbito do Ministério Público Estadual de

Alagoas (MPEA/AL) no ano de 2012, por meio do Ato Normativo PGJ/AL nº 13 de 2012 e

tem sido realizado sob a coordenação do Núcleo de Defesa do Meio Ambiente do MPE/AL,

com o apoio da 4ª e da 5ª Promotoria de Justiça da Capital (ALAGOAS, 2015).

Segundo os relatórios institucionais que tratam da FPI Alagoas, os órgãos envolvidos

no programa são: Ministério Público do Estado de Alagoas (MPE/AL), Ministério Público

Federal – Procuradoria da República no Estado de Alagoas (MPF/AL), Ministério Público do

Trabalho – Procuradoria Regional do Trabalho da 19ª Região (MPT 19ª Região), Conselho

Regional de Engenharia e Agronomia de Alagoas (CREA/AL), Instituto Brasileiro de Meio

Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA/AL), Departamento Nacional de

Produção Mineral (DNPM/AL), Polícia Rodoviária Federal (PRF/AL), Secretaria do

Patrimônio da União (SPU/AL), Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA/AL), Comitê

da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), Marinha do Brasil (MB), Fundação

Nacional da Saúde (FUNASA), Fundação Nacional do Índio (FUNAI), Instituto do

Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), Agência de Defesa e Inspeção

Agropecuária de Alagoas (ADEAL), Batalhão de Polícia Ambiental de Alagoas (BPA),

Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de Alagoas (CRMV/AL) e o Governo

do Estado de Alagoas por meio da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos

Hídricos (SEMARH), da Secretaria da Fazenda do Estado de Alagoas (SEFAZ), da Secretaria

de Estado da Saúde de Alagoas (SESAU), da Secretaria de Estado da Agricultura e

Desenvolvimento Agrário (SEAGRI), da Secretaria de Estado da Pesca e da Aquicultura

(SEPAQ), o que totaliza vinte e dois órgãos atuando de forma conjunta.

A adesão ao Programa FPI ocorre a partir da assinatura do Termo de Cooperação

Técnica por parte do órgão parceiro e, também, com a indicação de ao menos um

representante institucional para discutir as informações e ações acerca do Programa, bem

como participar dos eventos relacionados à operação.

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Desse modo, entende-se nesse trabalho que o Programa FPI funciona como uma rede

na medida em representa um vínculo especial entre diversos órgãos e instituições que

compartilham objetivos comuns ligados à questão ambiental, o que parece convergir com os

conceitos de Burt (1992), Miles e Snow (1992), Nooteboom, Hans e Niels (1997) e Uzzi (1997).

Nas palavras de Marteleto e Silva (2004), uma rede é composta por "nós" e elos que

interligam esses nós, o que no caso desse programa, reflete-se como o conjunto de instituições

interligadas pelos relacionamentos que foram firmados a partir da assinatura de um Termo de

Cooperação Técnica. Esses "nós", conforme aponta Brass et al (2004), podem ser chamados

de atores, representando sujeitos sociais, segundo Marteleto e Silva (2004).

A assinatura desse documento representa então a existência de um “relacionamento

interorganizacional”, o que dá origem a uma rede, conforme a ideia de Ring e Van de Ven

(1994) e que nesse trabalho é chamada de “rede FPI Alagoas”.

No tocante ao formato de atuação do programa, verificou-se o seguinte padrão,

conforme descrito em Velho Chico (2014) e Alagoas (2015): são planejadas etapas de

operação conjunta e, para cada uma delas, são realizadas quatro fases: o planejamento, a

execução, a audiência pública e os desdobramentos.

O Programa FPI foi implantado desde 2012 e as operações em campo vem sendo

realizadas desde maio de 2014, totalizando seis etapas até o presente momento. Assim, do

total de 51 municípios alagoas que fazem parte da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco,

já foram fiscalizados o total de 43 municípios.

Durante o planejamento de cada etapa de operação, são realizadas reuniões

preparatórias para definir a região a ser fiscalizada, a logística da operação e efetuar o

levantamento dos dados das principais atividades impactantes nos municípios que serão alvos

da etapa que está sendo planejada (ALAGOAS, 2015).

Na fase da execução, as atividades de campo são realizadas mediante a visita aos

alvos, conforme a área de fiscalização, cuja responsabilidade recai sobre certa equipe

multidisciplinar encarregada de fiscalizar os alvos determinados anteriormente, sendo o grupo

formado por representantes dos órgãos e entidades parceiras e cujo conhecimento técnico

guarda relação com a área de atuação da equipe (ALAGOAS, 2015).

Esse modo de compor cada grupo de fiscais possibilita o desenvolvimento de um

trabalho integrado e permite um olhar multidisciplinar na identificação de inconformidades

ambientais, bem como na propositura de medidas reparatórias para os danos encontrados.

Além disso, também facilita o registro detalhado do trabalho de campo, o que fomenta

a elaboração dos relatórios de fiscalização. Esses documentos são os principais produtos a

serem entregues pelas equipes ao final de cada etapa e subsidiam a adoção de possíveis

medidas administrativas posteriores, bem como medidas judiciais e extrajudiciais adotadas

pelos Ministérios Públicos, dentro de sua esfera de competência (ALAGOAS, 2015).

A terceira fase abrange a realização da audiência pública e a apresentação dos

resultados, momento em que todos os interessados se reúnem, o que envolve desde os fiscais

participantes do programa até os gestores municipais e empresários fiscalizados, incluindo

também representantes das entidades da sociedade civil e a população em geral. Nesse

encontro é apresentado o diagnóstico das atividades realizadas durante a etapa de fiscalização

(ALAGOAS, 2015).

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Portanto, constata-se que a audiência pública viabiliza uma aproximação entre a

comunidade e os empreendedores e gestores municipais e a compreensão como um todo da

realidade ambiental de cada município, sendo um importante veículo de inclusão social e de

transparência.

Finalmente chega-se à fase dos desdobramentos, os quais ocorrem com base no

conjunto das medidas administrativas adotadas pelos órgãos parceiros e dos encaminhamentos

pelos Ministérios Públicos, baseados nos relatórios de fiscalização a fim de prover a

responsabilização civil e criminal dos transgressores. O objetivo dessa fase é punir os

infratores e exigir a reparação do dano ambiental identificado. Logo, os relatórios também

fornecem subsídios para que os agentes possam vislumbrar formas de prevenção aos danos

ambientais e trabalhar na conscientização da população, já que esses documentos representam

o diagnóstico ambiental de cada situação fiscalizada, sendo cruciais para atuação da rede e

para a efetiva revitalização do Rio São Francisco (ALAGOAS, 2015).

Dessa maneira, essas experiências podem ser consideradas inovadoras na medida em

que constroem uma proposta de diagnóstico dos problemas socioambientais enfrentados na

Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco e de atuação das instituições públicas no papel de

fiscal do meio ambiente com efetiva participação dos níveis federal e estadual, aproximando-

se dos conceitos apresentados por Inojosa (1999) e Loiola e Moura (1996).

Além disso, o diagnóstico serve como estímulo à criação ou reorganização de políticas

públicas voltadas à saúde e ao meio ambiente, pois registra questões relevantes para

compreensão da realidade regional e apresenta dados concretos que foram coletados no

trabalho de campo (VELHO CHICO, 2014).

No que diz respeito ao papel da instituição que coordena o Programa FPI, é preciso

considerar as atribuições constitucionais do Ministério Público. Tal instituição possui a

função de promover a tutela de grande parte dos bens ambientais, bem como as garantias

dadas aos seus membros para que possam desempenhar o seu trabalho com zelo, o que parece

ter influência sob a minimização das possibilidades de influências de diversas formas que

tenham o intuito de prejudicar o bom andamento do programa.

Por essa razão, entende-se que o Ministério Público é entendido como ator central da

rede FPI Alagoas. Ou, nas palavras de Lustosa da Costa (2001) e Peci e Costa (2002),

representa a organização articuladora.

De todo modo, a partir da análise das ligações entre os atores sociais, a rede foi

desenhada com base na fundamentação exposta na legislação, na doutrina e nos documentos

institucionais analisados.

Portanto, com base nessa análise, esse ator social central apresenta maior capacidade

de sustentar a rede, haja vista o poder que possui para a tutela do meio ambiente, além das

garantias e segurança dadas ao ocupante do cargo de membro do Ministério Público,

conforme versam Lima (1999), Rodrigues (2002) e Alonso Jr. (2006).

Entendeu-se então que a rede formal é composta pelas instituições arroladas

anteriormente como parceiras da rede FPI Alagoas e de seus respectivos representantes,

conforme Figura 2.

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Figura 2. Rede formal.

Fonte: Elaborado pela autora a partir do software NetDraw, conforme recomenda Borgatti (2002).

Assim, fica registrada a existência de uma rede social no Programa FPI voltada à ação

socioambiental no território alagoano, sendo demonstrado o processo de seu

desenvolvimento, que ocorreu a partir de uma iniciativa no estado da Bahia e foi replicada em

Alagoas e cuja atuação aproxima-se do conceito de governo coordenado, de Goldsmith e

Eggers (2011).

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Capítulo 4

4. Metodologia

O objeto dessa pesquisa motivou a realização de um estudo exploratório haja vista que

esse tipo de investigação procura conhecer as características de um fenômeno e, também,

explicações das causas e consequências do dito fenômeno (RICHARDSON, 1989, p. 281).

Assim sendo, buscou-se proporcionar maior familiaridade com o tema de redes

interorganizacionais aplicado à implementação de um programa criado pelo setor público.

A exploração é particularmente útil quando o pesquisador não tem uma ideia clara dos

problemas que serão encontrados durante o estudo e um maior conhecimento do tema se faz

necessário (COOPER; SCHINDLER, 2016), além de que proporciona a formação de ideias

para o entendimento do conjunto do problema (MALHOTRA, 1993).

Assim, o objetivo nesta pesquisa exploratória foi compreender as particularidades da

investigação proposta, ampliando o conhecimento acerca do fenômeno a partir da

identificação de questões importantes que orientaram a realização das entrevistas para

finalização deste trabalho.

A abordagem qualitativa foi escolhida pela necessidade de compreender a natureza de

um fenômeno social visando o aprofundamento do conhecimento sobre o objeto de

investigação, conforme indicado por Richardson (1989). Assim, para identificar os fatores que

interferiram na implementação do Programa da Fiscalização Preventiva Integrada, esse tipo

de abordagem se revelou a mais adequada.

Finalmente, o delineamento adotado foi o método do estudo de caso. Segundo

Fernandes e Gomes (2003), o estudo de caso constitui-se em um método amplamente

utilizado para a execução da pesquisa exploratória e trata-se de um estudo em profundidade

de uma unidade de interesse, que pode ser único ou múltiplo.

O estudo de caso é adequado para a construção de uma investigação empírica que

explora fenômenos dentro de seu contexto real, situação em que há pouco controle do

pesquisador sobre as manifestações do fenômeno. Para tanto, deve-se reunir, com base em

uma plataforma teórica, o maior número possível de informações, em função das questões

orientadoras do trabalho, por meio do uso de diferentes técnicas de levantamento de

informações, dados e evidências (MARTINS, 2008).

O estudo de caso é empregado em diversas situações como método de pesquisa com a

finalidade de contribuir no conhecimento de fenômenos individuais, grupais, organizacionais,

sociais, políticos, dentre outros e permite, da mesma forma que experimentos únicos,

generalizações e proposições teóricas. (YIN, 2015).

Yin (2015) ilustra que a escolha do método a ser empregado deve ocorre com base em

três condições: o tipo de questão da pesquisa, a extensão do controle do pesquisador sobre os

acontecimentos e o grau de enfoque sobre eventos contemporâneos em oposição aos eventos

totalmente históricos.

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O estudo de caso é adequado quando a questão de pesquisa envolve perguntas do tipo

“como?” e “por quê?”, quando o objeto não exige controle sobre os eventos ou ainda, no

momento em que enfoca fenômenos contemporâneos, inseridos no contexto da vida real

(YIN, 2015). Em vista disso, justifica-se a escolha do estudo de caso como procedimento

técnico para este trabalho, pois ela atende a essas três condições.

A escolha de uma estratégia de pesquisa deve ser acompanhada do conhecimento de

suas particularidades. O estudo de caso é considerado relevante, segundo Martins (2008),

quando a pesquisa é realizada de modo exaustivo e com profundidade, pois possibilita a

penetração em certa realidade social, a qual não pode ser obtida plenamente por meio de um

levantamento amostral e avaliação exclusivamente quantitativa.

4.1 Coleta de dados

Yin (2015) registra seis fontes de evidências mais utilizadas em pesquisas, são elas:

documentação, registros em arquivos, entrevistas, observação direta, observação participante

e artefatos físicos. Além disso, o autor destaca três princípios que devem ser seguidos para

maximizar o potencial dessas fontes de evidências:

a) usar várias fontes de evidência;

b) criar um banco de dados para o estudo de caso; e

c) manter o encadeamento de evidências, pois a coleta de dados demanda a utilização

de múltiplas técnicas.

Portanto, Yin (2015) recomenda a triangulação nos estudos de caso, que constitui um

dos pois tal procedimento torna a pesquisa mais acurada. O referido autor encoraja a coleta de

dados de fontes múltiplas que visem a corroborar a mesma descoberta perante o fenômeno

estudado.

Na mesma direção, Martins (2008) aponta que a triangulação de informações, dados e

evidências garante a confiabilidade e a validade dos achados do estudo.

Neste trabalho, o levantamento inicial dos dados secundários foi realizado a partir de

pesquisa bibliográfica em livros, teses, dissertações e artigos científicos voltados ao tema.

Também foi realizada pesquisa documental mediante a investigação de documentos

institucionais, com objetivo de identificar fatos relevantes do programa.

A pesquisa documental contribuiu para identificação de relatórios institucionais,

relatórios de fiscalização, ato normativo que regulamenta o programa e o Termo de

Cooperação Técnica (TCT) que vincula as instituições no Programa FPI. Com base nas

informações constantes no TCT, construiu-se uma rede, conforme Figura 2, a partir com o

auxílio do software UCINET for Windows (BORGATTI et al, 2002) e NetDraw

(BORGATTI, 2002).

Richardson (1989) destaca a relevância da interação “face a face” entre o pesquisador

e o objeto de estudo nas pesquisas em Ciências Sociais é relevante a interação face a face

entre o pesquisador e o objeto de estudo. Para esse autor, a entrevista permite o

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41

desenvolvimento de uma estreita relação entre as pessoas e proporciona melhores

possibilidades de investigar em profundidade.

Segundo Yin (2015), a entrevista é uma das mais importantes fontes de informação

para o estudo de caso. Nesta investigação, optou-se pelas entrevistas em profundidade, do tipo

semiestruturada, pois conforme Boni e Quaresma (2005), elas combinam perguntas abertas e

fechadas, onde o informante tem a possibilidade de discorrer sobre o tema proposto.

Esse tipo de entrevista é muito utilizado quando se deseja delimitar o volume das

informações, obtendo assim um direcionamento maior para o tema, com a possibilidade de

intervenção para que os objetivos sejam alcançados. A principal vantagem é que essa técnica

quase sempre produz uma melhor amostra da população de interesse. (BONI; QUARESMA,

2005).

Nesse sentido, Yin (2015) enumera as habilidades que o pesquisador deve ter durante

a realização da coleta de dados em um estudo de caso:

a) capacidade de fazer perguntas adequadas e interpretar as respostas;

b) ser um bom ouvinte e não se deixar influenciar por ideologias e preconceitos;

c) ser adaptável e flexível, considerando novos eventos como oportunidades;

d) compreensão clara das questões que estão sendo investigadas;

e) ser imparcial e receptivo a possíveis evidências contraditórias.

Essas habilidades são exigidas do pesquisador com o fito de minimizar possíveis

deficiências nesta fase e promover um relato do objeto mais próximo da realidade.

O protocolo para o estudo de caso, que consta no Apêndice A, representa uma das

principais estratégias para aumentar a confiabilidade do método e orientar o pesquisador na

coleta de dados. Tal instrumento deve descrever os procedimentos, regras e instrumentos a

serem adotados na coleta de dados, além de definir as variáveis e proposições abordadas nos

roteiros de entrevistas (YIN, 2015).

As questões sobre formação da rede interorganizacional para implementação do

programa foram formuladas a partir do referencial teórico e do capítulo que versa sobre o

Programa FPI. As questões sobre atuação em rede são baseadas no estudo de caso realizado

por Avelar (2010), que avaliou o processo de implementação do Programa ― LUZ PARA

TODOS no Estado do Ceará. Desta forma, as questões da referida autora não foram utilizadas

na totalidade, uma vez que o foco de análise do seu trabalho investigou a atuação de um

programa voltado ao setor elétrico brasileiro.

O protocolo do estudo de caso, que consta do Apêndice A, serviu de guia para a

realização da coleta de dados. As questões visaram a sintonia entre a estratégia de coleta de

dados do campo e os propósitos da pesquisa e foram aplicadas aos atores envolvidos na rede

interorganizacional do Programa Fiscalização Preventiva Integrada do Rio São Francisco, no

Estado de Alagoas.

É importante sublinhar que o referido programa tem sido realizado em alguns estados

que compõem a Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, contudo o presente trabalho optou

pelo Alagoas, haja vista que foi o primeiro estado a implantar o programa após a criação e o

desenvolvimento do mesmo na Bahia.

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O Modelo Teórico-Empírico da pesquisa, apresentado no Quadro 10 a seguir, tem

como premissa indicar o alinhamento entre o problema de pesquisa, objetivo geral, objetivos

específicos, perguntas das entrevistas, técnicas de análise e resultados esperados.

Quadro 10. Modelo Teórico-Empírico empregado na pesquisa.

Problema de pesquisa Como se deu a implantação do Programa Fiscalização Preventiva Integrada do Rio

São Francisco em Alagoas e quais fatores interferiram nesse processo?

Objetivo geral

Identificar os fatores facilitadores e dificultadores na implementação do Programa

Fiscalização Preventiva Integrada do Rio São Francisco, no estado de Alagoas, no

período de 2014 a 2016, segundo a ótica dos atores participantes do Programa.

Objetivos específicos

a) Caracterizar o

contexto da formação da

rede interorganizacional

para o Programa

Fiscalização Preventiva

Integrada do Rio São

Francisco, no estado de

Alagoas.

b) Descrever a

atuação da rede

interorganizacional

do Programa

Fiscalização

Preventiva Integrada

do Rio São Francisco,

no estado de Alagoas.

c) Identificar fatores que

interferiram na implementação do

Programa Fiscalização Preventiva

Integrada do Rio São Francisco,

no estado de Alagoas, no período

de 2014 a 2016, na ótica dos

demais atores da rede.

Perguntas específicas

(Apêndice A)

Questões referentes à

Formação da rede

Questões referentes à

Atuação da rede

Questões referentes aos fatores

que interferiram na

implementação do Programa, na

ótica dos atores da rede

Técnicas de análise Análise documental e

Análise de conteúdo

Análise documental e

Análise de conteúdo Análise de conteúdo

Resultados esperados

Fornecer subsídios para desenvolvimento de rede interinstitucional (RI) na

implementação do Programa FPI. A pesquisa poderá:

a) confirmar a teoria sobre RI;

b) confrontar a teoria sobre RI;

c) elencar o que não foi enfatizado pela teoria sobre RIs.

Fonte: Elaborado pela autora.

As perguntas realizadas nas entrevistas constam no Apêndice A, e estão divididas em

três blocos, a saber: formação da rede, atuação da rede e fatores que interferiram na

implementação do Programa. As respostas atenderam aos objetivos específicos e

correspondem ao seu respectivo bloco de perguntas.

Por fim, a principal técnica de análise de pesquisa empregada neste trabalho foi a

análise de conteúdo, conforme Quadro 11.

4.2 Análise dos dados

As técnicas utilizadas para análise dos dados foram: a análise documental para os

dados secundários; e a análise de conteúdo para os dados primários (RICHARDSON, 1989).

Portanto, para auxiliar a análise de conteúdo, as respostas fornecidas pelos

entrevistados foram integralmente transcritas e analisadas. Quando do término das

transcrições, estas foram codificadas e classificadas em categorias. As categorias estão

diretamente relacionadas aos objetivos específicos da pesquisa. O Quadro 11 apresenta os

códigos que correspondem as respectivas categorias.

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Quadro 11. Categorias, subcategorias e respostas que compõem a análise de conteúdo.

Categorias Subcategorias Conteúdos Ocorrências

Formação da rede

interorganizacional

Antecedentes

Reunião de apresentação da FPI Bahia 4

Participação em etapa da FPI Bahia ou em ações

similares à FPI 5

Bons resultados alcançados na Bahia 5

Assinatura do Termo de Cooperação Técnica 3

Contexto de degradação ambiental enfrentado pelos

órgãos 4

Contexto de baixa integração entre órgãos na

solução de problemas socioambientais 3

Objetivos

Proteção do meio ambiente natural, cultural, do

trabalho e construído da BHRSF 8

Melhoria da qualidade de vida da população por

meio de ações planejadas e integradas de

conservação e revitalização

8

Diagnóstico da situação ambiental da Bacia 3

Atuação da rede

interorganizacional

Atribuição dos

atores Envolvimento do ator no Programa 8

Atuação em

AL

Grau de formalização da rede e formato de

coordenação 5

Inovações perante o modelo da Bahia 2

Relação com os programas desenvolvidos nos

demais estados da bacia. 5

Resultado da implantação da FPI em AL. 8

Fatores facilitadores

Contribuição

positiva à

implantação do

programa

Apoio institucional e financeiro do CBHSF 4

Persistência e desempenho dos técnicos 6

Força dos órgãos e apoio do MPE-AL 5

Integração com os parceiros da Bahia 3

Extensão territorial de Alagoas 2

Fatores

dificultadores

Contribuição

negativa à

implantação do

programa

Carência de técnicos 4

Questões políticas e dificuldades com alguns

gestores dos órgãos participantes 8

Falta de apoio da população no momento inicial 2

Questões logísticas e de relacionamento 3

Dificuldades financeiras dos órgãos 4

Fonte: Elaborado pela autora.

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São três os objetivos específicos da pesquisa, os quais correspondem a quatro

categorias: o primeiro objetivo específico está em caracterizar o contexto da formação da

Rede Interorganizacional para o Programa Fiscalização Preventiva Integrada do Rio São

Francisco, no estado de Alagoas, pois desta forma a categoria correspondente é: formação da

Rede Interorganizacional; o segundo objetivo específico visa descrever a atuação da rede

interorganizacional do Programa Fiscalização Preventiva Integrada do Rio São Francisco, no

estado de Alagoas e, assim, a categoria correspondente é: atuação da Rede

Interorganizacional; o terceiro objetivo específico está em identificar fatores que interferiram

na implementação do Programa Fiscalização Preventiva Integrada do Rio São Francisco, sob

a ótica dos atores da rede, e para isso, foram criadas duas categorias, são elas: fatores

facilitadores e fatores dificultadores.

4.3 Estudo de caso

4.3.1 Unidade de análise

A unidade de análise do estudo de caso é a rede interorganizacional para

implementação do Programa Fiscalização Preventiva Integrada do Rio São Francisco em

Alagoas.

4.3.2 Pesquisa de campo

A pesquisa de campo ocorreu entre os meses de novembro de 2016 e janeiro de 2017,

mediante a realização de entrevistas com representantes das instituições e órgãos que

compõem a estrutura organizacional do Programa Fiscalização Preventiva Integrada do Rio

São Francisco em Alagoas. Tais atores são listados a seguir:

1. Ministério Público do Estado de Alagoas (MPE-AL);

2. Ministério Público Federal (MPF-AL);

3. Ministério Público do Trabalho (MPT 19ª Região);

4. Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Alagoas (CREA-AL);

5. Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA-

AL);

6. Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM-AL);

7. Polícia Rodoviária Federal (PRF-AL);

8. Secretaria do Patrimônio da União (SPU-AL);

9. Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA-AL);

10. Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF);

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11. Marinha do Brasil (MB);

12. Fundação Nacional da Saúde (FUNASA);

13. Fundação Nacional do Índio (FUNAI),

14. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN);

15. Agência de Defesa e Inspeção Agropecuária de Alagoas (ADEAL);

16. Batalhão de Polícia Ambiental de Alagoas (BPA);

17. Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de Alagoas (CRMV/AL);

Além destes, o Governo do Estado de Alagoas por meio dos seguintes órgãos, os quais

são igualmente considerados como atores sociais neste trabalho:

18. Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (SEMARH);

19. Secretaria da Fazenda do Estado de Alagoas (SEFAZ);

20. Secretaria de Estado da Saúde de Alagoas (SESAU);

21. Secretaria de Estado da Agricultura e Desenvolvimento Agrário (SEAGRI);

22. Secretaria de Estado da Pesca e da Aquicultura (SEPAQ),

O Programa Fiscalização Preventiva Integrada do Rio São Francisco em Alagoas é

composto por 22 órgãos e instituições, e foram entrevistados um dos Coordenadores do

Programa no estado de Alagoas, dois representantes do IBAMA/AL, um representante do

IMA/AL, um representante do BPA/AL, um representante da ADEAL, um representante do

MPAL, um representante do CREA/AL.

No total, foram realizadas 8 (oito) entrevistas, todas em formato presencial, com o

auxílio de um gravador. Na ocasião os sujeitos foram informados acerca do estudo e das

condições de entrevista, inclusive da utilização de um gravador. Todos eles leram e assinaram

o termo de consentimento livre e esclarecido, que consta no Apêndice B e permitiram a

gravação. As entrevistas tiveram duração mínima de 9 minutos e 49 segundos e máxima de

29 minutos e 20 segundos. O Quadro 12 apresenta os sujeitos entrevistados que fazem parte

da estrutura organizacional do Programa com as respectivas informações acerca da entrevista.

Embora as entrevistas tenham sido gravadas durante o contato com todos os sujeitos,

os quais responderam a todas as perguntas, é importante ressaltar que parte deles sentiu-se

mais à vontade para responder outros questionamentos a partir do momento em que o

gravador foi desligado. Esses questionamentos que não foram gravados visavam obter

confirmações acerca dos questionamentos já realizados, ou seja, as perguntas foram realizadas

com palavras similares no sentido de obter um retorno mais preciso por parte dos atores

entrevistados. Assim, relevantes dados e informações foram anotados pela pesquisadora, haja

vista a impossibilidade de continuar a gravação sem que a conclusão da entrevista fosse

prejudicada.

Cabe destacar que a escolha dos sujeitos foi intencional visando coletar informações

com atores que exercem, na estrutura organizacional do Programa FPI, atividades

relacionadas com o planejamento da operação em campo e funções de direção, a exemplo dos

coordenadores de equipe. Além disso, também foram priorizados sujeitos que estão no

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programa desde a realização de sua primeira etapa, pois o conhecimento acerca do processo

de implantação do programa pode contribuir no gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio

São Francisco nos demais estados que a compõem.

Quadro 12. Identificação dos participantes entrevistados.

Sujeito Sexo

Órgão/Instituição

vinculada ao

Programa FPI

Data da

entrevista

Participante

desde a 1ª

etapa da FPI

Gravação

permitida

Tempo de

entrevista

gravada

S1 M MPE-AL 25/11/2016 SIM SIM 24min54seg

S2 F IMA-AL 28/11/2016 SIM SIM 9min49seg

S3 M IBAMA-AL 28/11/2016 SIM SIM 14min10seg

S4 M IBAMA-AL 28/11/2016 SIM SIM 27min07seg

S5 M CREA-AL 01/12/2016 SIM SIM 14min34seg

S6 M ADEAL 01/12/2016 SIM SIM 14min15seg

S7 M BPA-AL 01/12/2016 SIM SIM 29min20seg

S8 M MPE-AL 30/01/2017 SIM SIM 23min04seg

Fonte: Elaborado pela autora.

A partir da análise e da apreciação do Quadro 11, é possível afirmar que ao se

entrevistar os representantes do Programa FPI no estado de Alagoas, a pesquisa conseguiu

ilustrar parcela considerável do contexto da formação do Programa FPI no estado de Alagoas,

da atuação do programa e, também os fatores que interferiram nesse processo de implantação.

Com isso, o presente trabalho possibilita que tais variáveis sejam levadas em consideração no

processo de tomada de decisão acerca da expansão do Programa FPI São Francisco em todos

os estados que compõem a BHRSF.

Nesse sentido, com base nos dados e informações coletados durante a realização dessa

investigação, por meio das entrevistas, da pesquisa em documentos institucionais e relatórios

de fiscalização, além da busca de informações nos sítios eletrônicos das instituições, inclusive

na área de notícias, foi possível descrever, conforme apresentado no Quadro 13 a seguir, a

situação atual acerca da implantação do Programa FPI São Francisco ou de tratativas em sua

direção, por parte dos estados que compõem essa Bacia.

Assim, mediante a leitura das informações apontadas no Quadro 13, o qual descreve as

Unidades da Federação que fazem parte da BHRSF, bem como a sinalização do interesse de

cada uma delas acerca da implantação do Programa FPI em seu território, é possível perceber

um retrato do atual cenário.

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47

Quadro 13. Unidades da Federação que compõem a BHRSF e a situação perante o Programa

FPI São Francisco.

Unidade da Federação Interesse na implantação do Programa FPI São Francisco

Alagoas O programa foi implantado desde 2012 e as operações em campo vem sendo

realizadas desde maio de 2014, totalizando 6 etapas até o presente momento.

Bahia O programa foi implantado desde 2001 e as operações em campo vem sendo

realizadas desde maio de 2002, totalizando 38 etapas até o presente momento.

Distrito Federal Informação não identificada.

Goiás Informação não identificada.

Minas Gerais

Sinalizou interesse mediante a definição da coordenação do Programa no estado e

os seus representantes já acompanharam as atividades conjuntas da FPI Bahia, FPI

Alagoas e FPI Sergipe, realizadas em novembro de 2016, de forma simultânea, na

região que envolve as divisas destes estados.

Pernambuco

Tratativas já foram iniciadas por meio do MPE-BA, IBAMA-BA e CBHSF e os

seus representantes já acompanharam as atividades conjuntas da FPI Bahia, FPI

Alagoas e FPI Sergipe, realizadas em novembro de 2016, de forma simultânea, na

região que envolve as divisas destes estados.

Sergipe Programa FPI foi implantado desde 2012 e a primeira etapa de operação foi

realizada em novembro de 2016.

Fonte: Elaborado pela autora a partir das informações obtidas na coleta de dados.

Em síntese, a Figura 3 demonstra a cronologia do Programa FPI São Francisco.

Figura 3. Cronologia do Programa FPI São Francisco

Fonte: Elaborado pela autora, com base nos dados da pesquisa.

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Desse modo, com base no Quadro 13 e na Figura 3, percebe-se claramente a

mobilização de atores sociais em direção ao Programa FPI São Francisco, haja vista a

demonstração de interesse de diversos estados na iniciativa baiana.

No tocante à existência de tratativas com o Distrito Federal e de Goiás, a informação

não foi obtida, sendo necessário o aprofundamento da investigação nesse ponto, por meio de

estudos futuros que envolvam outros atores sociais que possam melhor esclarecer a situação.

Um ponto que merece destaque é a parceria com o CBHSF, o qual parece estar sempre

presente nessas tratativas, empenhando-se em prol da BHRSF e da mobilização dos estados

em sua defesa. Isso é identificado tanto em diversos trechos da obra Velho Chico (2014),

como também nas notícias veiculadas no sítio eletrônico do próprio comitê, conforme CBHSF

(2016), por exemplo.

O próximo capítulo apresenta os resultados alcançados a partir da análise de conteúdo

das entrevistas e a relação dos dados e informações obtidos com a teoria sobre redes

interorganizacionais.

Ressalta-se que, na menção aos trechos das falas dos atores entrevistados, será

indicada a letra "S", relativa ao termo "Sujeito", seguida do número utilizado para nomear os

arquivos de entrevista de cada ator. Desse modo, os atores entrevistados, para os fins desse

trabalho, serão mencionados da seguinte forma: S1, S2, S3, S4, S5, S6, S7 e S8 no sentido de

preservar a identidade de cada um deles.

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Capítulo 5

5. Diagnóstico organizacional

Os resultados serão apresentados a partir da análise de conteúdo realizada. O capítulo

está dividido em cinco subitens, em que os quatro primeiros correspondem aos objetivos

específicos da pesquisa e o último que representa a síntese dos principais resultados do

trabalho.

5.1 Formação da Rede Interorganizacional para implementação do Programa FPI Alagoas

As categorias e subcategorias indicadas refletem uma forma de abstração que, no

durante as transcrições, colaboraram na compilação dos dados e informações específicas para

o conceito. No tocante à categoria "Formação da Rede Interorganizacional", foram utilizadas

duas subcategorias, quais sejam: antecedentes e objetivos.

A subcategoria "antecedentes" objetiva analisar as falas dos entrevistados que

demonstram o conhecimento dos principais fatores que resultaram na FPI Alagoas, em

especial, tratando de elementos relacionados à degradação da BHRSF e dificuldades

enfrentadas pelos órgãos nesse sentido, participação em iniciativas semelhantes ao Programa

FPI, bons resultados em iniciativas coletivas similares à FPI, e experiência em etapas de

fiscalização da FPI Bahia e assuntos relacionados com a assinatura do TCT.

Já a subcategoria "objetivos" visa demonstrar se os atores conhecem os principais

objetivos do Programa FPI São Francisco e se estão alinhados em prol do alcance destes.

A Figura 4 destaca as duas subcategorias que formam a categoria "Formação da Rede

Interorganizacional", com a indicação do número de vezes em que os entrevistados citaram

cada um deles.

Figura 4. Subcategorias da categoria Formação da Rede Interorganizacional.

Fonte: Elaborado pela autora.

Acerca dos antecedentes, os entrevistados mencionaram a participação ou o

conhecimento acerca dos assuntos discutidos na reunião em que uma comitiva da FPI Bahia

apresentou o Programa FPI, o que pode ser constatado nos trechos a seguir:

S4: "Em 2012 a gente teve uma visita da FPI Bahia, foi até no Ibama, [...] foi

realizado o convite formal pra gente, tava até nessa reunião."

Formação da

Rede Interorganizacional

Objetivos {19} Antecedentes {24}

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S8: “[...] a Dra. Luciana Khoury, junto a alguns representantes dos órgãos que

compõem a FPI da Bahia, estiveram em Maceió, na sede do Ibama, e passaram a

experiência que a Bahia já tinha na FPI há quase dez anos (na época)."

Na ocasião, o Programa FPI foi apresentado, bem como os resultados obtidos ao longo

de cerca de dez anos de expediência. De acordo com Velho Chico (2014, p.115), a realização

da FPI em outros estados é de grande relevância, pois o meio ambiente não possui fronteiras e

os limites territoriais desenhados são apenas para organização político-administrativa. Para os

autores dessa obra, que também foi escrita coletivamente, é necessário cuidar do "Velho

Chico" em toda a sua extensão para que os resultados sejam mais efetivos e duradouros.

Os atores entrevistados também fizeram menção à participação em etapa da FPI Bahia

ou em ações similares à FPI, conforme as seguintes passagens:

S3: "Quando eu era lotado na Bahia, participei de duas ou três etapas da FPI da

Bahia, aí quando fui transferido para Alagoas, como eu já tinha trabalhado na FPI,

fui convidado pra compor a equipe de planejamento".

S4: "O pessoal já tinha aquele diferencial que foi de participar da FPI Bahia, então o

pessoal já trouxe uma vivência de FPI, que fluiu muito melhor a execução, a

separação dos temas das equipes, seleção dos coordenadores".

S5: "Lá aprendemos como é a operação em si. E desde aquele momento eu entendi

que não é só o meu órgão e sim todo mundo em conjunto".

S8: " A partir dessa visita, desse conhecimento, nós conseguimos pegar o know-how

necessário e isso agilizou bastante o processo de elaboração das etapas, do

planejamento operacional da nossa FPI".

A experiência de outros estados na FPI Bahia também é retratada em Velho Chico

(2014, p. 116), situação em que representantes do MPE-AL, IMA, BPA e CREA estiveram

presentes na 29ª e 32ª etapas de fiscalização daquele estado.

Os resultados alcançados na FPI Bahia também foram destacados pelos atores:

S1: "Outra coisa também foi já o diagnóstico que os órgãos da Bahia, na FPI São

Francisco da Bahia, que conseguiram traçar."

S4: "[...] e eles fizeram uma apresentação fantástica, com os números, com as

melhorias, com os avanços".

S7: " E tomaram como base o sucesso da FPI Bahia que já vinha já nove, dez anos,

acredito, na época, e durante os desdobramentos, conseguiram muitos resultados,

então eu acredito que foi essa a intenção de trazer a FPI pra cá. Primeiramente pelos

bons resultados alcançados na Bahia e trazer esses benefícios para o povo e para o

Rio São Francisco".

S8: "[...] e eles apresentaram a ideia da FPI que era uma experiência exitosa no

estado da Bahia".

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51

Perante os expressivos resultados, os órgãos alagoanos demonstraram interesse em

implementar o programa no estado, o que iniciou a aproximação das instituições e motivou a

realização de diversas reuniões.

A assinatura do Termo de Cooperação Técnica foi igualmente sublinhada pelos

entrevistados:

S1: " eu colaborei [...] para a assinatura do Termo de Cooperação Técnica recíproca

entre os órgãos. Para que ficassem bem definido quais as atribuições de cada um."

S8: " Foram várias reuniões, discussões, proposições, debates.. até que chegamos na

assinatura do termo de cooperação recíproca que foi firmado entre os órgãos".

Dessa forma, o Programa FPI em Alagoas apenas iniciou a sua efetiva operação após a

assinatura do Termo de Cooperação Técnica pelos órgãos participantes, o que foi diferente do

caso da Bahia, haja vista que neste estado a iniciativa foi sendo desenvolvida e, após a sua

consolidação é que houve a assinatura do termo de cooperação recíproca. Esse é um fator

indicativo de que os estados que implementaram o modelo desenvolvido na Bahia já

obtiveram informações acerca dos procedimentos mais adequados, uma vez que puderam

contar com a vasta experiência baiana.

Outros antecedentes mencionados pelos atores foram o contexto de degradação

ambiental enfrentado pelos órgãos e a baixa integração entre eles na solução de problemas

socioambientais, conforme os seguintes fragmentos:

S1: “O principal fator desencadeador da FPI em Alagoas é a situação de degradação

da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco. [...] A FPI hoje é composta por mais de

vinte órgãos e que, antes da FPI, quase não existia integração entre eles. [...] Então

veio pra suprir também essa necessidade de integração, tanto é que pós FPI, várias

operações aconteceram, independente da FPI, mas a partir da coesão que nasceu da

FPI entre os órgãos".

S5: "Depois da 2ª etapa, 3ª etapa, já havia uma relação grande entre os técnicos dos

órgãos envolvidos e conseguimos fazer desdobramentos pós FPI de trabalhos

conjuntos, por exemplo, o CREA fez trabalho junto com o DNPM, fez trabalho

junto com a ADEAL".

S7: "O conhecimento das ações dos outros órgãos e isso que eu acho uma das coisas

mais importantes, o saber conhecer o outro órgão, o que o outro órgão faz, muitas

das vezes, íamos para algumas fiscalizações e algumas das irregularidades que

encontrávamos, não sabíamos a quem recorrer, pra completar a fiscalização e depois

da FPI, esse elo aí ele ficou bem estreito, então os órgãos conhecem, depois da FPI

os órgãos fizeram esses laços e hoje, além da FPI, a gente trabalha diariamente com

os outros órgãos parceiros, em pequenas operações, em pequenas fiscalizações, o

contato ficou mais fácil".

S8: “O que eu vi de mais significativo na FPI foi a integração entre os órgãos, que

passou a existir em face dessa atuação conjunta".

Balestrin e Verschoore (2008) sublinham que as características recorrentes nas

tipologias de redes são a existência de objetivos comuns aos atores, a constante interação

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entre os agentes, e a presença de uma gestão coordenadora. O Programa FPI apresenta em sua

rede inteorganizacional múltiplos atores que compartilham objetivos comuns e estão em

constante interação para alcançá-los e também conta com uma instituição coordenadora que

auxilia nesse processo.

Assim, no tocante à subcategoria "objetivos", os atores mencionaram os três principais

objetivos do Programa FPI, isto é: a proteção do meio ambiente natural, cultural, do trabalho e

construído da BHRSF; a melhoria da qualidade de vida da população por meio de ações

planejadas e integradas de conservação e revitalização e a elaboração do diagnóstico da

situação ambiental da Bacia.

Cabe destacar que os dois primeiros objetivos foram mencionados, de forma unânime,

por todos os entrevistados, o que evidencia que os atores estão alinhados para alcançá-los,

pois demonstraram o seu conhecimento e a relação desses objetivos com as atribuições dos

órgãos aos quais estão vinculados.

Os excertos a seguir ilustram algumas falas dos atores nesse sentido:

S1: “O principal objetivo do programa é contribuir com o processo de revitalização

da Bacia e melhorar a qualidade de vida da população da Bacia do Rio São

Francisco. [...] Aí trazendo os objetivos gerais, além dos específicos que é.. é

melhorar qualidade de vida, saúde, melhorar os recursos hídricos, preservar a mata

ciliar, mananciais. [...] E, além disso, o objetivo que se traz com a FPI é traçar um

panorama, traçar um levantamento de qual é a situação real da bacia porque, pelo

menos partindo da experiência de Alagoas e Bahia, a gente pode observar que, na

verdade, não há uma noção de como está a situação da Bacia porque nos locais

mais.. nos locais mais ermos, não há a presença do poder público, tampouco da

fiscalização. Então a gente não tem nem ideia.. Tem locais que a FPI visita que

nunca foram visitados por um representante do estado".

S2: " O programa visa proteger a bacia, identificando, coibindo e prevenindo danos

ambientais à bacia, que afetem o RSF e, óbvio, toda a sua população, de forma

direta ou indireta."

S3: "Combater e minimizar os ilícitos ambientais, como também a questão social e,

principalmente, a preservação e recuperação da BHRSF. Isso em todos os aspectos,

tipo.. a questão da degradação ambiental através de lançamento de efluentes, de

resíduos sólidos, desmatamento, de assoreamento da própria calha do RSF, a

diminuição da quantidade da ictiofauna, que tá sendo afetada devido a toda essa

degradação".

S4: " Resumindo, é a melhoria da qualidade ambiental frente ao combate de diversos

ilícitos..num primeiro mote a parte ambiental, mas depois... que a gente não tinha

esse conhecimento fora dos órgãos ambientais, IBAMA, IMA, BPA.. Existiam

diversos outros órgãos que trabalhavam fantasticamente pra dar apoio na parte da

melhoria da qualidade ambiental. [...] Realmente a melhoria da qualidade.. da saúde

da população, realmente esse é o grande objetivo que a gente tem dentro da FPI."

S5: "O objetivo da FPI é modificar o cenário atual da Bacia do São Francisco,

prevenir para que ele não morra, recuperar as nascentes principais da bacia.. que

consiga diminuir o dano que já existe [...] o trabalho de conscientização ambiental e

também uma tentativa de reduzir o dano, que já existe, numa ação preventiva, de

prevenir que não sejam causados mais danos."

S6: "Basicamente dois: proteger a Bacia do São Francisco, das agressões ambientais,

recuperando o que já tá degradado e prevenindo a degradação do que ainda existe

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saudável ambientalmente e o outro é.. O outro objetivo é salvaguardar a saúde

pública, a saúde da população que se encontra na Bacia do São Francisco."

S7: "O principal é salvaguardar o meio ambiente naqueles municípios que fazem

parte da Bacia do São Francisco, mas ao longo do tempo foram se agregando vários

outros objetivos secundários, como a questão também da saúde pública, a questão da

segurança no transporte fluvial".

S8: " O objetivo central é a melhoria da qualidade de vida do povo ribeirinho através

da melhoria da qualidade e quantidade dos recursos hídricos e.. redução.. eu

costumo dizer que o grande objetivo da FPI é dar um basta ao processo de

degradação ambiental instalado na Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, desde

o seu descobrimento".

A partir da fala dos atores, é possível constatar que, conforme os conceitos

apresentados por Balestrin e Vargas (2004), trata-se de uma rede horizontal, pois os atores

atuam de forma coordenada. Pode também ser caracterizada como rede formal, a julgar pela

existência de um termo de cooperação que regula a participação e atuação dos seus membros.

Além disso, está inscrito no campo do Estado, uma vez que este representa a articulação entre

entidades governamentais visando o enfrentamento de problemas socioambientais.

De acordo com Inojosa (1999), é possível interpretar o conjunto de instituições que

atua no Programa FPI também como uma rede autônoma, devido a características como a sua

composição por entes autônomos e a articulação em razão de uma ideia mobilizadora comum

a todos os entes. Percebe-se que essa iniciativa coletiva representa uma rede cujas iniciativas

são construídas coletivamente por meio da realização de ações conjuntas de fiscalização.

Ademais, também seguindo as ideias de Inojosa (1999), tal conjunto pode ainda ser

entendido como uma rede de compromisso social, uma vez que os seus componentes possuem

objetivos socioambientais compartilhados e atuam em prol do alcance destes propósitos.

5.2 Atuação da Rede Interorganizacional para implementação do Programa FPI Alagoas

A atuação da rede interorganizacional para implementação do programa é a segunda

categoria da análise de conteúdo. Nesse caso, foram formuladas duas subcategorias, a saber:

"atribuição dos atores" e "atuação no Estado de Alagoas".

A subcategoria "atribuição dos atores" visa identificar se estes compõem a rede

interorganizacional e estão envolvidos com o programa, concordando ou discordando de sua

forma de atuação.

Com relação à subcategoria "atuação no Estado de Alagoas", o objetivo é identificar

elementos sobre o grau de formalização e formato de coordenação da rede, além de fatores

como inovações perante o modelo do estado da Bahia, a relação com este modelo e o

resultado, ainda que parcial, da implantação do programa em Alagoas.

A Figura 5 destaca as duas subcategorias que formam a categoria "Formação da Rede

Interorganizacional", com a indicação do número de vezes em que os entrevistados citaram

cada um deles.

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Figura 5. Subcategorias da categoria Atuação da rede interorganizacional.

Fonte: Elaborado pela autora.

Dentre as dimensões estruturais de uma rede interorganizacional registradas por Van

de Ven e Ferry (1980), destaca-se a formalização, a qual diz respeito às regras, políticas e

normas que direcionam o papel de ator na rede, o que no caso deste trabalho, trata dos papéis

definidos para cada ente componente da rede segundo o Termo de Cooperação Técnica

firmado entre eles. O referido termo foi mencionado dentre os antecedentes, como um fator

que resultou no Programa FPI em Alagoas, visto que a partir de sua assinatura foi possível a

efetiva implantação do programa. Seguem uma passagem que tratam do tema:

S1: "Foram dois anos de conversas e tratativas com o governo do estado, com os

representantes dos órgãos federais em Brasília para conseguir que todos assinassem

e conseguir começar a FPI com um instrumento que desse maior segurança. (...)

Então ele é um sucesso porque mostra que em quinze dias com uma coordenação,

com uma organização e integração entre os órgãos é possível fazer muita coisa.

Ferreira Junior (2006) sublinha que o grau de formalização da rede indica a

necessidade das bases contratuais e não contratuais que visam, principalmente, a regulação da

rede e do relacionamento entre seus membros. Portanto, a existência de um TCT, o qual

regula a rede e o relacionamento entre os seus entes, converge com a ideia desse autor.

Tendo em vista a indicação de Balestrin e Verschoore (2008) acerca da necessidade de

uma gestão coordenadora na rede. Nessa direção, os atores abordaram alguns elementos sobre

a coordenação em prol do sucesso do programa:

S4: "A satisfação que você tem de chegar em um local, pra fazer uma operação, às

vezes de risco e tal, e vê uma coisa bem planejada, isso dá uma grande motivação

pra todos os membros da equipe. Então quando a gente recebeu a primeira FPI, você

via a dedicação do grupo operacional, da coordenação geral na construção dos alvos

[...] da seleção da logística, do envolvimento, colocando mesmo os técnicos de

vários órgãos separadamente.

Os entrevistados também mencionaram adaptações, alterações e inovações perante o

modelo da FPI Bahia, as quais foram colocadas em prática durante a implantação do

programa em Alagoas:

Atuação da

Rede Interorganizacional

Atuação em Alagoas {20} Atribuição dos atores {8}

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S1: "Veio de uma experiência de dez anos que já existia na Bahia, e que eles foram

vendo qual era o potencial da FPI, eles foram vendo o quanto podia trazer de

resultados para a sociedade. E foi construído com o tempo. Alagoas já pegou o

projeto pronto, mas aperfeiçoou e manteve esses princípios".

S4:"A gente sabia que a FPI Alagoas era um pouco diferente da FPI Bahia, em

termos de tamanho, do tipo do ambiente um pouco diferente, dos biomas, que tem

cerrado e caatinga que a FPI Bahia trata, um dos principais focos deles era a

produção de carvão. Então a gente tinha algumas coisas diferentes da FPI Bahia.

Então a gente tentou um pouco adaptar os temas frente ao que mais a gente entendia

que era problemático aqui em Alagoas".

S4:"O que deu certo foi essa experiência que o pessoal tenta fazer agora com o

pessoal de Minas Gerais e Pernambuco, trazer os técnicos que em tese, estão mais à

frente, participando da construção das FPI nesses estados pra ver a experiência e

fazer lá. Creio que facilita muito, é um grande diferencial ter esse contato".

S8: "E já demos contribuições com inovações, que foi a participação, logo na

primeira etapa, da Marinha do Brasil, essa experiência foi seguida tanto pela FPI da

Bahia e Sergipe, né.. Então foi uma contribuição que veio com a participação e a

necessidade da Marinha do Brasil".

Tais modificações foram necessárias em razão das peculiaridades regionais de cada

estado. Nesse sentido, essa variação ocorre desde o tipo de bioma às principais atividades

econômicas desenvolvidas na localidade.

Assim, em algumas áreas específicas, o modelo da Bahia não foi plenamente seguido,

haja vista as principais dificuldades enfrentadas pelo estado de Alagoas, o que parece ter

estimulado pontos de adaptação e inovação. Como exemplo de uma atividade específica, alvo

de determinada equipe de fiscalização, destacamos a seguinte passagem:

S4: "A gente não seguiu muito o modelo da Bahia, porque esse tipo de atividade, de

pesca predatória, nos moldes que a gente faz, ele não tinha na FPI Bahia, então, em

tese a gente introduziu uma forma diferente de uma equipe nova, no modelo FPI,

que a gente absorveu da Bahia".

Todos os entrevistados indicaram um balanço da implantação do programa em

Alagoas. Em geral, eles destacaram pontos positivos, entretanto percebem a necessidade de

algumas melhorias:

S1: "Especificamente no nosso estado eu vejo que o programa [...] é um grande

sucesso. Porque nós temos relatos de órgãos que conseguem fazer a demanda inteira

de um ano nesses dias da FPI. [...] A FPI tem um modelo que se destaca muito pela

forma de atuação em rede, que existe entre os diversos atores, é uma rede complexa,

sob a coordenação do MPE-AL, mas que apesar das dificuldades, deu certo. [...] É

um programa viável, apresenta grandes resultados, ainda há muito o que melhorar".

S3: "Até agora, acho que poderia ter uma participação maior. A gente vê a

dificuldade dos órgãos, a questão de estrutura [...] vê também a questão da pressão

política, porque ninguém gosta de ser fiscalizado, e a gente verifica essa situação de

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degradação que existe, que a gente encontra durante as atividades da FPI, a gente

verifica que não o poder público, mas que o gestor público ainda tem essa

mentalidade de que quer que permaneça aquela situação, principalmente na região

do sertão".

S4: "Creio que foi um grande sucesso, a gente teve esses percalços, mas o grupo de

técnicos, o envolvimento da coordenação, do planejamento operacional foi

realmente fantástico. [...] Então desde a primeira FPI que a gente sabia que não ia ser

fácil, de estar mexendo com o poder econômico, com grandes empresas, grandes

empresários, grandes políticos, que tem os seus interesses individuais, os seus

interesses de manutenção no poder, a gente sabia que não era fácil.. Mas isso foi um

dos grandes incentivos para o sucesso, envolvimento [...] A gente avalia já a 6ª etapa

de operação FPI aqui em Alagoas [...] e cada vez ela.. com uma estrutura maior, com

equipamento, com envolvimento, um cuidado maior no entendimento, nas

autuações, na avaliação dos danos, na avaliação das infrações, na seleção dos alvos,

no planejamento da execução dos alvos. [...] O planejamento bem feito, a doação da

equipe, a sensação de satisfação de participar de um grande evento como esse para a

melhoria ambiental, para mim, é um dos grandes diferenciais que eu vi colegas de

algumas instituições vibrarem, até chorarem durante a FPI, que não sabia que se

podia fazer tanto aqui em Alagoas para combater ilícitos ambientais. [...] Eu vi

relatos de colegas de outras instituições que saíram da FPI mais motivados do que

entraram, eu me incluo nesse rol de motivação da FPI de forma fantástica, creio no

sucesso, creio que nunca vai parar mais [...] FPI veio pra ficar e não tem mais como

dizer que não vai executar a FPI, pode até ter a desistência de um órgão ou outro [...]

uma instituição ou duas no universo de mais de vinte instituições, creio que não vai

fazer tanta diferença".

S6: "Eu acho exitosa, para um estado como Alagoas, de raízes coronelistas e bem

patriarcais, eu acho exitosa, apesar das dificuldades em algumas etapas, que nós

precisamos lutar contra o Estado. [...] Ou seja, Estado querendo desfazer as ações

do Estado. Mas contra fatos não há argumentos, as nossas ações são muito dignas. E

aí, com a capacidade técnica fantástica que os Carrancas tem, que vale salientar, é

uma turma fantástica, os componentes quebram completamente o falso estereótipo

do servidor público preguiçoso, então ela é bastante exitosa, porque nós temos nos

dedicado bastante, então a gente acaba anulando qualquer argumento de combate às

nossas ações".

S7: "Hoje a FPI é um sucesso, mas a primeira etapa foi muito difícil [...)] porque os

órgãos não conheciam a FPI, os órgãos parceiros, os vinte e dois órgãos, a FPI até

então não tinha uma certa credibilidade no estado porque era uma coisa nova, muita

gente ainda não conhecia."

S8: "Entendo ser um programa exitoso. É claro que, à semelhança do aconteceu na

Bahia, nós estamos aguardando fechar o ciclo dos 50 municípios que compõem a

Bacia do São Francisco em Alagoas, para então fazer essa avaliação de toda a ação.

Só vai poder ter um número seguro quando nós fizemos uma segunda rodada em

todos os municípios alagoanos. Acreditamos que nesse ano (2017) encerraremos.

Então um período de retorno de 3 anos, ainda é longo. Agora a proposta nossa seria

fazer esse retorno a cada dois anos, o que a gente poderia ter dados mais seguros

acerca do desenvolvimento das políticas públicas".

Desse modo, foi identificado que todos os atores entrevistados estão envolvidos com o

programa, sabem das suas atribuições e concordam com a sua forma de atuação, ainda que

indiquem a necessidade de aperfeiçoamento do mesmo.

Também foi mencionada a necessidade de adaptação do modelo da FPI Bahia para

organização da FPI Alagoas, havendo diversos ajustes e inovações, sendo ainda sublinhada a

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57

importância do relacionamento dos os órgãos parceiros dos outros estados para obter maior

sucesso.

Acerca do diagnóstico da Bacia do Rio São Francisco, especificamente na região do

Baixo São Francisco, no trecho que corresponde ao estado de Alagoas, um dos sujeitos

destacou que o ciclo ainda não foi fechado, isto é, a fiscalização ainda não atingiu o total de

municípios alagoanos pertencentes à bacia. Contudo, ele indicou a previsão de conclusão

dessa primeira fase, que deve ocorrer ainda no exercício de 2017.

Acerca do que ele chamou de "período de retorno", é oportuno esclarecer que é o

tempo que o programa leva, notadamente no estado de Alagoas, para fiscalizar todos os

municípios pertencentes à BHRSF. O referido sujeito ainda sublinhou que a divulgação de

dados seguros acerca da situação ambiental desta bacia só estará disponível após a conclusão

de outro período de retorno, o que proporcionará dois panoramas que irão retratar momentos

distintos deste cenário.

Por fim, acerca dos resultados da implantação em Alagoas, os entrevistados

entenderam que foi exitoso, contudo acreditam que o programa ainda pode melhorar a sua

atuação.

5.3 Fatores Facilitadores para implementação do Programa FPI Alagoas

Os fatores facilitadores para implementação do Programa FPI Alagoas representam a

terceira categoria da análise de conteúdo. Diversos favores foram mencionados pelos

entrevistados, os quais foram organizados em cinco conteúdos: apoio institucional e

financeiro do CBHSF; persistência e desempenho dos técnicos; força dos órgãos e apoio do

MPE-AL; integração com os parceiros da Bahia; e extensão territorial do estado de Alagoas.

A subcategoria "atribuição dos atores" visa identificar se estes compõem a rede

interorganizacional e estão envolvidos com o programa, concordando ou discordando de sua

forma de atuação.

A Figura 6 reúne os cinco fatores que facilitaram a implementação do Programa FPI

em Alagoas, com a indicação do número de vezes em que os entrevistados citaram cada um

deles.

Figura 6. Conteúdos da categoria Fatores Facilitadores para implementação do Programa FPI

São Francisco.

Fonte: Elaborado pela autora.

Fatores Facilitadores

Integração com

os parceiros da

Bahia { 3 }

Apoio

institucional e

financeiro do

CBHSF { 4 } Força dos órgãos

e apoio do MPE-

AL { 5 }

Persistência e

desempenho dos

técnicos { 6 }

Extensão

territorial de

Alagoas { 2 }

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O apoio institucional e financeiro do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São

Francisco foi citado, diretamente, por 4 de 8 entrevistados, conforme registrado pelos

seguintes sujeitos:

S4: "Sem esse aporte financeiro do CBHSF, seria muito difícil executar a FPI".

S7: "O apoio logístico, fundamental e imprescindível do CBHSF... é fundamental.

Talvez se não existisse esse apoio, a FPI também não andasse. [...] Talvez tão

quanto a coordenação do MPE-AL, esse é um fator importantíssimo que é o

engajamento do CBHSF. São dois fatores que eu considero dos mais importantes".

S8: "Principalmente o apoio do comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco [...],

o apoio não só institucional, mas também com recursos do PPA e o que veio a tornar

efetiva a realização dessas etapas".

Esse fator é de grande importância para o Programa FPI São Francisco, haja vista as

restrições financeiras de grande parte dos órgãos. Ademais, tal investimento parece minimizar

os riscos de interferências de cunho político na operação, conforme sugerido por alguns

atores.

A persistência e o desempenho dos técnicos foi o elemento mais registrado. Dentre os

8 entrevistados, 6 deles destacaram essa questão:

S1: "O nível técnico e a vontade de fazer acontecer dos servidores/técnicos que

trabalham na FPI, isso é essencial para o sucesso porque se o servidor vem para a

FPI só querendo dar a sua carga horária, só querendo fazer o básico, não tem como

ter sucesso o trabalho. Tem que todo mundo abdicar daquilo que conhece como

padrão de trabalho e se doar além da.. até, às vezes, além da sua capacidade física e

mental para conseguir os resultados melhores. E isso, quase todos os participantes da

FPI conseguem fazer".

S3: "Foi a persistência e a vontade dos técnicos que participam da FPI, da equipe

organizadora, principalmente o MP de trazer esse know how da Bahia para que seja

implantado aqui em Alagoas."

Isso reflete a importância da dedicação dos atores sociais para que a iniciativa seja

bem-sucedida. Muitos entrevistados destacaram diversas características que os chamados

Carrancas, nome que é atribuído a todos aqueles que participam da operação em alusão às

esculturas, chamadas de carrancas, que eram colocadas nas proas dos barcos daqueles que

navegavam esse rio, com a finalidade de trazer proteção.

A força conjunta dos órgãos e o apoio do MPE-AL, mediante o exercício da

coordenação do programa, foram destacados por 5 atores:

S1: "[...] porque é justamente essa união dos órgãos que impede qualquer tipo de

interferência, que normalmente, infelizmente, acaba ocorrendo em muitas

fiscalizações".

S3: " Então vejo muito positiva essa situação. A força dos órgãos com o apoio do

MP para melhorar essa questão da situação atual que está aí na região da Bacia".

S4: "Esse empoderamento do fiscal, das instituições, principalmente as mais fracas,

para mim foi um dos grandes fatores do sucesso da FPI".

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S5: "A coordenação do MP foi muito boa e a capacidade técnica de cada órgão foi

muito interessante. Os técnicos que se uniram e que mostraram que queriam entrar

pra FPI contribuíram muito, até porque muitos órgãos trabalham seis horas semanais

e na operação, você trabalha mais de oito horas [...] porém isso vem da alma do

técnico, porque ele sabe que ali tem outros órgãos, ele gosta daquele trabalho, ele se

sente bem [...] e essa interação, até para o dia a dia, mesmo pós-FPI, ajuda muito

para o técnico que trabalha com fiscalização".

S6: "O que mais facilitou foi a vontade de fazer acontecer mesmo. Eu imputo um

mérito fantástico aos promotores [...] e acabou que todo mundo se uniu muito num

objetivo de fazer crescer a FPI".

S7: "O que facilitou foi ter o MPE-AL como coordenador, como parte principal da

coordenação, porque como ele é um órgão de defesa, eu até gosto de brincar que é o

nosso escudo, mas assim, como ele é um órgão de defesa e é sinônimo de

transparência, de organização, então assim, ter o MPE-AL à frente foi um dos

principais motivos que levaram a credibilidade da operação e foram um dos

principais fatores do engajamento e da implantação da FPI. [...] O engajamentos dos

órgãos parceiros, porque sem os órgãos a gente não conseguiria formar a FPI".

Os sujeitos mencionaram que sofrem com muitas interferências, mas a força dos

órgãos, atuando conjuntamente, é capaz de combater esse tipo de problema. O papel

constitucional do MPE-AL também foi mencionado, haja vista o seu poder de proteção em

relação às demais instituições, até porque muitas delas são chefiadas por ocupantes de cargos

de confiança designados em razão de acordos políticos, o que acaba por restringir, muitas

vezes, a atuação destes gestores.

Por fim, a integração com os representantes parceiros da FPI Bahia foi registrada

diretamente por 3 atores, sendo destacado um trecho da fala de um deles:

S2: "Eu acho que facilitou essa integração com o estado da Bahia, a gente já copiou

algumas coisas deles, então a interação foi total, pegamos uma experiência que já era

de sucesso, adaptamos para a nossa realidade, então isso foi crucial e a integração

dos órgãos, eles abraçaram, especialmente o corpo técnico de cada órgão e isso

facilitou muito o sucesso da FPI".

Nas primeiras etapas de operação da FPI Alagoas, alguns técnicos baianos

acompanharam a implementação do programa de perto, inclusive participando ativamente nas

etapas de fiscalização em campo. Na 6ª etapa da FPI Alagoas, que coincidiu com a 1ª etapa de

da FPI Sergipe, é que esse apoio foi reduzido, haja vista que este estado necessitava mais do

auxílio dos colegas baianos, bem como a FPI Bahia também estava ocorrendo

simultaneamente, a qual inclusive ficou conhecida como a FPI da Tríplice Divisa, em que os

três estados estiveram em campo ao mesmo tempo. De toda forma, cabe ressaltar que o apoio

por parte dos colegas baianos não cessou, até por conta da proximidade entre as áreas

territoriais que eram alvo dessa etapa.

Além desses fatores, a geografia do estado alagoano, em termos de extensão territorial,

também foi citada como um fator que favoreceu a implementação da FPI Alagoas:

S1: "O tamanho do estado também facilitou o sucesso da operação, porque na Bahia

eles tinham muita dificuldade com locomoção e aqui não existem grandes distâncias

como lá, então tem como pegar um maior número de alvos, fazer ações com mais

qualidade, com mais calma e isso ajudou nos resultados da FPI Alagoas".

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S7: "A geografia de Alagoas, territorial, Alagoas é um estado pequeno, são

cinquenta municípios que [...] fazem parte da CBHSF, então o deslocamento é

pequeno."

Os atores registraram que o tamanho do estado de Alagoas propiciou o atendimento de

mais alvos de fiscalização em relação aos colegas baianos, pois as distâncias aqui percorridas

são pequenas e demandam pouco tempo na estrada, o que poupa tempo e favorece a obtenção

de resultados com mais rapidez.

5.4 Fatores Dificultadores para implementação do Programa FPI Alagoas.

Os fatores facilitadores para implementação do Programa FPI Alagoas representam a

terceira categoria da análise de conteúdo. Diversos favores foram mencionados pelos

entrevistados, os quais foram organizados em quatro conteúdos: apoio institucional e

financeiro do CBHSF; persistência e desempenho dos técnicos; força dos órgãos e apoio do

MPE-AL; e integração com os parceiros da Bahia.

A subcategoria "atribuição dos atores" visa identificar se estes compõem a rede

interorganizacional e estão envolvidos com o programa, concordando ou discordando de sua

forma de atuação.

A Figura 7 reúne os cinco fatores que facilitaram a implementação do Programa FPI

em Alagoas, com a indicação do número de vezes em que os entrevistados citaram cada um

deles.

Figura 7 – Conteúdos da categoria Fatores Dificultadores para implementação do Programa

FPI São Francisco.

Fonte: Elaborado pela autora.

A carência de técnicos foi apontada por alguns entrevistados, os quais demonstraram

preocupação nesse sentido, pois o aperfeiçoamento de diversas atividades dependem dessa

Fatores Dificultadores

Dificuldades

financeiras dos

órgãos { 4 }

Carência de

técnicos { 4 }

Falta de apoio

da população no

momento

inicial{ 2 }

Questões políticas e

dificuldades com

alguns gestores dos

órgãos participantes

{ 6 }

Questões

logísticas e de

relacionamento

{ 3 }

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61

força de trabalho, principalmente no tocante aos desdobramentos do programa. A seguir é

possível verificar uma passagem que trata desse tema:

S8: "Carência [...] de pessoal humano, entre os órgãos de controle, para a realização

da FPI, teve órgão que praticamente se esvaziou. Você imagina que eu vou citar o

caso do DNPM, que mandava dois técnicos de um quadro mínimo, onde você tem

um quadro de dois, três técnicos.. E a FUNAI mesmo, só mandava um servidor [...]".

A junção de dois fatores que dificultaram a implementação do programa também foi

destacada, haja vista a carência de técnicos mencionara anteriormente, a qual é agravada

mediante o jogo político que atrapalha a participação dos mesmos nas etapas de fiscalização,

conforme é possível perceber no seguinte trecho:

S7: "No início a FPI sofreu pressão dessa variável política no sentido de 'o que é que

estava acontecendo', 'o que é que pode ser remediado' [...] 'se essas autuações

poderiam ser amenizadas', depois da 1ª FPI para a 2ª (etapa), começou-se a tentar..

bloquear a ida de agentes dos órgãos, por essa variável política, para parar a atuação

[...] isso aí ficou bem claro [...] mas com o apoio logístico do CBHSF, essas pressões

e essas intenções negativas trazidas pela variável política, ela foi se dissolvendo [...]

A pressão política foi justamente essa, tentar atrapalhar as autuações da FPI, por

diversos motivos [...] elas tentaram neutralizar, como é um estado pequeno, elas

tentaram dificultar a ida dos agentes [...] num segundo momento essa variável

política teve algumas influências negativas na FPI, porque depois de algumas

autuações, alguns agentes de alguns órgãos sofreram certas interferências, como

'despromoção', ou mudança de cargo ou perda de cargo, mas a FPI como um todo,

ela sobrevive a isso, ela é forte a isso, independente de um ou outro agente ter sido

relativamente prejudicado por interferência política, ela continua. Todos os órgãos

fazem plenamente o seu papel, independente de inicialmente ter tido essa

interferência. Hoje muito menos, hoje em dia a FPI está consolidada, hoje em dia a

FPI é até uma parceira do governo, porque a FPI almeja as coisas corretas, então de

certa forma o governo, independente de partido, de qualquer político, e o cidadão

quer que as coisas saiam corretamente."

Dentre os 8 atores entrevistados, 6 destacaram as questões políticas e dificuldades com

alguns gestores dos órgãos participantes como fator que dificultou a implementação do

Programa FPI Alagoas, conforme explicado nos seguintes trechos:

S1: "O que dificultou... para mim foi o jogo político em Alagoas porque como a

maioria dos órgãos de fiscalização não tem quadro técnico suficiente e são

compostos, na sua maioria, por cargos em comissão, então, querendo ou não, esses

órgãos ficam na mão do jogo político que ocorre no estado e isso prejudicou muito o

início e, também, é um dos maiores vilões no desenvolvimento da FPI".

S3: "Essa gerência política de grupos que não tem interesse que as coisas melhorem,

que querem que o estado permaneça na situação que se encontra hoje em dia, ou

seja, a população desassistida, a população carente sem condições, essa degradação

que a gente verifica".

S4: "Existe um interesse político em alguns órgãos, principalmente os estaduais, e às

vezes isso atrapalha. [...] Acho que um dos erros do grupo operacional foi ter mais

gestor do que técnico. E os gestores ficaram meio que...uma das preocupações

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grandes era o período eleitoral municipal, porque 2012 era ano de eleição municipal,

então a gente ficou nessa de os gestores terem essa visão, do grupo político a que ele

estava ligado, então a gente decidiu colocar a primeira FPI em 2013".

S6: "A politicagem, não é a política, é a politicagem, esse paternalismo que existe,

que acabou dificultando um pouco as nossas ações. A gente teve que agir contra

alguns políticos, contra pessoas que procuravam os políticos e esses que procuravam

políticos maiores [...] o pior de tudo é a sabotagem de alguns gestores de órgãos

participantes, faz medo até de falar isso gravado, mas é repugnante saber que tem

um ou dois gestores que querem sabotar, que tem o objetivo de sabotar [...] esse é o

pior de tudo."

A variável política foi bastante enfatizada por vários entrevistados. As passagens

ilustram parte dos desafios vivenciados na esfera política. Nesse ponto, retoma-se a

importância que foi dada ao apoio institucional e financeiro do CBHSF, que por ser um órgão

colegiado que conta com representantes de diversas esferas, parece ter maior autonomia

acerca dos investimentos realizados e sofrer menor interferência em relação a alguns órgãos

governamentais específicos, o que precisa ser investigado com maior aprofundamento.

A falta de apoio por parte da população, em um momento inicial, foi citada por 2

atores, cujos fragmentos são descritos a seguir:

S2: "Principalmente no início era o desconhecimento do que era a operação, então

alguns setores da sociedade não aceitaram.. ver seu empreendimento embargado, a

sua obra interditada. Mas, depois da passagem do tempo, com maior conhecimento,

maior divulgação e com a demonstração dos resultados efetivos, como a gente já

divulgou, de empreendimentos que se regularizaram e hoje a comunidade ao seu

redor entendeu a importância da fiscalização, que é pra trazer maior benefício, um

alimento mais limpo, um ambiente melhor, melhorar a sua vida, então a comunidade

aceitou melhor, a comunidade, a população alagoana aceitou melhor, então a grande

dificuldade acho que foi esse desconhecimento que criou uma cerca resistência na

implantação da operação, então ele vem sendo quebrado dia a dia, e como eu venho

falando, hoje a população é nossa parceira, porque ela é o principal objetivo de tudo

isso".

S7: "Entre a 1ª e a 2ª etapa da FPI, como as ações.. elas foram tidas como radicais,

mas era uma ação legítima e normal de cada órgão, causou uma certa polêmica nas

cidades onde a FPI atuou, porque não se tinha, até então, notícias de operação como

essa, onde vários órgãos se engajavam e efetivamente faziam o seu trabalho. E isso

gerou polêmicas porque alguns estabelecimentos foram interditados, prefeituras

foram multadas, então [...] houve uma repercussão e foi bom que o MPE-AL

mostrou sua força e, na defesa dos direitos, tanto dos órgãos parceiros como do

cidadão [...] mas assim, a gente teve muita pressão, pressão política, pressão local,

pressão dos órgãos, porque estavam sendo pressionados, então assim agente teve

muita dificuldade entre a 1ª e a 2ª (etapas) até as pessoas fazerem entender que a FPI

veio para ficar, que é uma operação séria e que esse tipo de pressão não ia interferir

no trabalho da FPI."

Ao que parece, essas dificuldades junto à população já estão sendo superadas, uma vez

que o programa foi amplamente divulgado e os resultados apresentados nas audiências

públicas realizadas. Nesses momentos, que ocorrem ao final de cada etapa de operação em

campo, múltiplos atores sociais, inclusive a população, são chamados para conhecer a forma

de atuação do programa, os achados da etapa vigente e discutir possíveis soluções para os

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problemas identificados. Portanto, conforme é possível identificar na fala dos sujeitos, a

população alagoana está diminuindo a resistência em relação ao Programa FPI.

Além disso, algumas questões logísticas e de relacionamento também foram

registradas nas falas dos entrevistados:

S3: " A gente vê a dificuldade dos órgãos, a questão de estrutura, pra disponibilizar".

S4: "Um dos grandes problemas é a gestão dessa quantidade de pessoas".

S8: "Carência de materiais, de equipamento [...]".

Nesse sentido, alguns atores explicaram que esses problemas estão sendo minimizados

à medida que o programa vem se fortalecendo. Todavia, eles precisam ser levados em

consideração a fim de buscar alternativas para resolver tais obstáculos de forma coletiva.

Finalmente, as dificuldades financeiras dos órgãos também foram apontadas como um

fator que dificultou a implementação do Programa FPI Alagoas:

S1: "Então isso mostra que o serviço público está defasado. Existe demanda, mas os

órgãos não trabalham por diversos fatores como falta de estrutura, falta de

equipamento, falta de diária, falta de recursos humanos. Então FPI é um esforço que

o servidores fazem além da conta pra conseguir dar uma resposta à demanda que

existe.. ambiental, de saúde pública, a depender da atribuição de cada órgão."

S4: "Um dos grandes problemas é [...] a crise financeira das instituições".

S6: "São as dificuldades do Estado, falta de pessoal [...]".

Por esse ângulo, a expansão das parcerias merece reflexão, pois o estabelecimento de

novas conexões,com a finalidade de obter recursos junto a outras organizações que sejam

sensíveis à questão ambiental e que tenha objetivos semelhantes ao do Programa FPI, pode

significar a minimização dos problemas enfrentados nessa esfera.

5.5 Síntese dos principais resultados

A partir da pesquisa em campo, observou-se que o programa FPI São Francisco, foi

iniciado no estado da Bahia, vem se desenvolvendo nos demais estados que fazem parte da

Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco.

Os antecedentes dessa iniciativa coletiva envolvem diversos fatores, iniciados com

uma série de reuniões realizadas para apresentação do programa por parte do conjunto de

órgãos que deu origem ao programa, seguida da participação de representantes alagoanos em

ações conjuntos com a finalidade de se conhecer melhor tal iniciativa. O interesse dos órgãos

alagoanos foi despertado em razão dos bons resultados alcançados pelos órgãos baianos,

principalmente tendo em vista os contextos de degradação ambiental enfrentado aliado à

baixa integração entre as instituições, o que parecia limitar a busca por soluções para as

complexas questões vivenciadas. Posto isso, a assinatura de um termo de cooperação

recíproca representou um marco para a implementação do programa em Alagoas.

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64

Posto isso, é importante sublinhar que os entrevistados mencionaram em suas falas

algumas contingências, conforme descrito no trabalho de Oliver (1990), que motivaram essas

organizações a estabelecerem relações interorganizacionais, a saber: necessidade,

reciprocidade, eficiência, estabilidade e legitimidade.

Isso ocorre em razão do objetivo comum partilhado entre as organizações e que impõe

a necessidade de unir forçar para o enfrentamento de um problema complexo relacionado à

temática socioambiental. Além disso, envolve a troca de experiências; a busca pela

otimização de recursos e redução no tempo-resposta entre o dano ambiental e a solução do

problema apresentado; a minimização das incertezas e o compartilhamento dos riscos, bem

como buscam o envolvimento com organizações aceitas e respeitadas em seu meio.

Nessa perspectiva, destacou-se que o Programa FPI São Francisco visa,

principalmente, a proteção do meio ambiente natural, cultural, do trabalho e construído da

BHRSF e a melhoria da qualidade de vida da população por meio de ações planejadas e

integradas de conservação e revitalização. Ainda mais, também tem o intuito de elaborar um

diagnóstico acerca da situação ambiental da referida bacia. Portanto, este programa destaca-

se no que diz respeito à formação de uma rede de cooperação interorganizacional em que os

atores sociais envolvidos compartilham os objetivos supramencionados.

É notório sublinhar que o entendimento dos objetivos do programa FPI Alagoas estava

claro para todos os entrevistados, haja vista que, em suas respostas, eles mencionaram os

elementos mais importantes desses objetivos, o que converge com o trabalho de Balestrin e

Verschoore (2008), segundo o qual a existência de objetivos compartilhados corresponde a

uma das características recorrentes nas tipologias de redes. Posto isso, nota-se um

alinhamento entre os atores investigados, o que aponta a criação de uma rede de cooperação

para alcançar objetivos comuns.

No tocante à formação de uma rede interorganizacional, destaca-se a formalização de

papéis, que é necessária para o alcance dos objetivos traçados. No Programa FPI Alagoas, por

meio da fala dos entrevistados, identificou-se ainda a existência de uma organização

coordenadora, que em conjunto com o Termo de Cooperação Técnica, representam elementos

característicos de uma rede horizontal e formal, uma vez que embora exista uma organização

que coordena o programa, os atores guardam a sua independência.

A assinatura do referido termo, por parte de todos os entes, regula a atuação dos atores

dentro dessa cadeia, a qual também foi compreendida como uma rede complexa, o que

demanda a compreensão do papel de cada ator envolvido.

Assim, são observadas aplicações dos conceitos de redes interorganizacionais, haja

vista que um conjunto de órgãos e entidades se unem para executar um programa de caráter

socioambiental, que compõe uma política pública, a partir da articulação de ações em parceria

e da mobilização de recursos, o que corrobora com os conceitos de Mandell (1990) e Loiola e

Moura (1996).

No que se refere às atribuições dos atores na rede interorganizacional do Programa FPI

Alagoas, os entrevistados demonstraram o entendimento do seu papel, o que é de grande

importância para que a rede seja bem-sucedida. Ainda nessa linha, cabe reafirmar os conceitos

de Lustosa da Costa (2001) e de Peci e Costa (2002), visto que, segundo as faltas dos

entrevistados, a organização responsável pela coordenação do programa exerce um papel

importante para a integração e proteção da rede, demonstrando inclusive a percepção acerca

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65

da interdependência dos entes que fazem parte da rede, o que afasta ideias relacionadas à

concentração de poder.

Considerando que existe uma articulação entre órgãos e entidades governamentais

múltiplas para a implantação de um modelo de fiscalização ambiental conjunta, o modelo de

governo mais adequado, no presente momento, é o de governo coordenado, segundo o

trabalho de Goldsmith e Eggers (2011), contudo acredita-se que seja possível a evolução para

o conceito de governo em rede, o que será explicado no plano de ação.

Acerca da atuação do estado de Alagoas, quando da implantação do Programa FPI,

sublinharam-se os seguintes elementos: o grau de formalização da rede, as inovações perante

o modelo da FPI Bahia, a relação com os programas desenvolvidos nos demais estados que

compõem a BHRSF e, também, um resultado, ainda que parcial, na visão dos atores, acerca

da implantação do Programa FPI Alagoas.

A atuação no estado de Alagoas teve um diferencial, pois foi construída com o apoio

dos órgãos baianos, que já tinham vasta experiência no programa. Além disso, em razão das

particularidades regionais, os órgãos alagoanos inovaram em alguns pontos que também

foram implantados pelos órgãos baianos.

A participação dos órgãos alagoanos em etapas do programa no estado da Bahia

também se revelou como fator contribuinte em uma melhor atuação no estado de Alagoas,

uma vez que adquiriram experiência prática, a qual também está sendo seguida pelos estados

de Minas Gerais e Pernambuco.

O Quadro 14, a seguir, apresenta uma síntese dos fatores facilitadores para

implementação do Programa FPI Alagoas.

Quadro 14 - Síntese dos fatores facilitadores para implantação do Programa FPI.

Fatores facilitadores Descrição

Apoio institucional e

financeiro do CBHSF

Propiciou a realização das etapas de fiscalização em campo a partir do custeio

de diárias e de gastos não disponibilizados pelos órgãos.

Persistência e

desempenho dos

técnicos

Contribuiu a partir da atuação equilibrada nas autuações, avaliação dos danos

e infrações, com base no conhecimento técnico demonstrado e, também,

mediante a dedicação ao planejamento da operação como um todo.

Força dos órgãos e

apoio do MPE-AL

Assegurou o bom funcionamento do programa no sentido de minimizar e

combater interferências diversas, inclusive políticas, com a finalidade de

atrapalhar as ações da rede.

Integração com os

parceiros da Bahia

Forneceu o suporte necessário para o planejamento e a prática das ações a

partir da disponibilização do modelo de atuação e da cessão de técnicos

experientes para unir esforços e, também, auxiliar na solução de problemas.

Extensão territorial de

Alagoas

Minimizou problemas relacionados ao deslocamento, facilitando o

desenvolvimento de ações de melhor qualidade e o alcance de um maior

número de alvos no tempo disponível para o desenvolvimento do trabalho em

campo.

Fonte: Elaborado pela autora.

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66

Conforme o Quadro 14, os fatores facilitadores da implementação do Programa foram:

o apoio institucional e financeiro do CBHSF, a persistência e desempenho dos técnicos, a

força dos órgãos e apoio do MPE-AL, a integração com os parceiros da Bahia e a reduzida

extensão territorial do estado de Alagoas.

Já os fatores dificultadores apontados pelos entrevistados são : a carência de técnicos

nos órgãos e instituições participantes do programa, questões políticas e dificuldades com

alguns gestores dos órgãos participantes, a falta de apoio da população, no momento inicial,

questões logísticas e de relacionamento e, por fim, as dificuldades financeiras dos órgãos.

Quadro 15 - Síntese dos fatores dificultadores para implantação do Programa FPI.

Fatores dificultadores Descrição

Carência de técnicos Dificuldades na composição de equipes e nos desdobramentos do programa

em razão do reduzido efetivo dos órgãos.

Questões políticas e

dificuldades com

alguns gestores dos

órgãos participantes

Falta de apoio político nas ações do programa;

Falta de interesse dos gestores na solução de questões socioambientais;

Retaliação de gestores e políticos em face da atuação dos órgãos;

Tentativas de interrupção e sabotagem das ações do programa;

Preocupação eleitoreira em detrimento dos problemas socioambientais.

Falta de apoio da

população no momento

inicial

Resistência à implantação do programa em razão de ter sido penalizado ou

conhecer alguém que foi penalizado em razão de degradação ambiental ou ter

efetuado ações que oferecessem riscos à saúde da população e à qualidade do

meio ambiente.

Questões logísticas e

de relacionamento

Dificuldades estruturais e de fornecimento de material pelos órgãos e,

também, no gerenciamento de um grande volume de pessoas.

Dificuldades

financeiras dos órgãos

Crise financeira nas instituições, reduzindo a condição de investimento em

ações dessa natureza.

Fonte: Elaborado pela autora.

Por meio da análise de conteúdo foi possível identificar que as questões políticas e as

dificuldades com alguns gestores dos órgãos participantes caracterizaram o fator que mais

dificultou a implementação do Programa FPI Alagoas, que foi o mais citado nas entrevistas, o

que se deu em razão da falta de interesse dos gestores na solução das questões

socioambientais e da priorização de interesses pessoais em detrimento do interesse público,

especialmente no tocante aos problemas ambientais e de saúde pública.

A carência de pessoal nos órgãos, especificamente de técnicos, e as dificuldades

financeiras foram igualmente mencionadas pelos entrevistados. O primeiro fator atrapalhou a

composição de equipes em algumas ocasiões e tem impedido um trabalho mais eficiente em

prol dos desdobramentos do programa ao passo que o segundo prejudica a organização da

operação, principalmente quando reduz as condições de investimentos dos órgãos nas ações

do programa.

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67

As dificuldades relacionadas às questões logísticas e de relacionamento foram

destacadas por poucos atores, seja porque parte delas estão sendo solucionadas ou a solução

não é difícil, bastando pouco mais do que a concentração de esforços nessa direção, o que

pode ser melhorado a partir do estabelecimento de parcerias com outras instituições, sejam

elas públicas ou privadas, já que um dos elementos mais importante é a existência de

objetivos comuns àqueles almejados pelos órgãos que compõem o Programa FPI.

Por fim, a falta de apoio por parte da população foi destacada por dois atores

entrevistados, contudo eles sublinharam que essa dificuldade vem sendo reduzida, pois os

maiores obstáculos foram enfrentados no início da implementação do Programa FPI Alagoas,

haja vista o desconhecimento das principais características e resultados dessa iniciativa.

Assim, restou clara a necessidade de monitorar essa variável até que o programa apresente

resultados mais consolidados, o que deve levar entre três e quatro anos, segundo foi citado por

um dos entrevistados.

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Capítulo 6

6.1.Descrição do plano de ação

Quadro 16 - Plano de ação

Planejamento Execução Verificação

Item O quê? Quem? Como? Quando Quando Resultados alcançados

1

Estabelecer

novas parcerias

com entidades

voltadas às

questões

ambientais

Coordenação

da FPI São

Francisco

Identificando

organizações

sensíveis à

causa e que

possua

objetivos

comuns

2017

No período

de julho a

dezembro

de 2017.

Alcançar o modelo de

governo em rede, descrito

por Goldsmith e Eggers

(2011) e minimizar

problemas de carência de

pessoal e dificuldades

financeiras das instituições

públicas

2

Incentivar

maior

participação da

sociedade no

Programa FPI

Alagoas

Coordenação

da FPI São

Francisco

Abrindo

espaços para

estimular a

participação

social.

Entre

2017 e

2018

Nos meses

de maio,

junho,

novembro

de

dezembro

de 2017 e

de 2018

Enriquecimento no debate

e na busca de soluções

mais adequadas às regiões

fiscalizadas pelo programa

3

Ampliar a

divulgação do

programa no

estado de

Alagoas

Órgãos

participantes

da FPI São

Francisco

Realizando

ações voltadas

à educação

ambiental que

destaquem os

resultados do

programa

semestre

de 2017

No período

de abril a

junho de

2017.

Maior apoio por parte da

sociedade nas ações do

programa.

4

Ampliar a

divulgação do

programa em

outros estados a

fim de

mobilizar

iniciativas

coletivas em

defesa do meio

ambiente

Órgãos

participantes

da FPI São

Francisco

Participando

de eventos

relacionados à

temática

ambiental e

apresentando

trabalhos que

demonstrem

os resultados

do programa

Entre

2017 e

2018

Nos meses

de março,

abril,

julho,

agosto e

setembro

de 2017 e

2018

Realização de maior

volume de iniciativas

voltadas à questão

ambiental, em especial, na

proteção de bacias

hidrográficas

5

Sensibilizar os

gestores

públicos das

esferas

municipal e

estadual

Coordenação

da FPI São

Francisco

Realizando

eventos de

capacitação e

de educação

relacionados

aos objetivos

do programa

Entre

2017 e

2018

Nos meses

de março,

abril,

julho,

agosto e

setembro

de 2017 e

2018

Ampliação da condição de

atuação dos gestores

públicos na solução dos

problemas

socioambientais

6

Aperfeiçoar a

gestão de

pessoas e a

logística do

programa

Coordenação

da FPI São

Francisco

Realizando

eventos de

capacitação

para os

participantes

do programa

2017

No período

de abril a

setembro

de 2017.

Garantia de um melhor

gerenciamento dos

talentos do programa e de

um planejamento logístico

mais eficiente

Fonte: Elaborado pela autora.

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Com base nos resultados obtidos no diagnóstico realizado, registrou-se a necessidade

de melhorar alguns pontos do Programa FPI. Contudo, restou claro que a maior parte desses

obstáculos podem ser minimizados a partir de uma atuação mais efetiva na solução dessas

questões por parte dos participantes do programa.

O plano de ação descrito no Quadro 16 tem a finalidade de demonstrar algumas

proposições factíveis que podem ser organizadas e executadas pela coordenação do Programa

FPI e, também, pelo conjunto de órgãos que compõem a rede em Alagoas no sentido de

preencher as lacunas identificadas e reduzir as dificuldades enfrentadas no desenvolvimento

dessa ação coletiva.

Nessa perspectiva, as ações foram sugeridas com base nas dificuldades apontadas

pelos sujeitos entrevistados, as quais foram descritas no Quadro 15 e, também, com base na

literatura de redes.

Assim, são propostas ações voltadas ao estabelecimento de novas parcerias que

possam ampliar a esfera de atuação do programa, assim como minorar problemas

relacionados à falta de pessoal, restrição de recursos financeiros, dentre outros; divulgação

das ações e resultados do programa no sentido de obter maior apoio da sociedade e estimular

a realização de iniciativas similares, de modo que a questão ambiental seja priorizada nas

decisões políticas; sensibilização da população e dos gestores públicos perante as ações

realizadas em prol do meio ambiente e da saúde pública, fazendo com que esses indivíduos

reflitam sobre a importância dessas questões e sejam capazes de participar e atuar de maneira

mais ativa nas decisões de interesse público; desenvolvimento de competências voltadas à

gestão dos técnicos e agentes participantes do programa, além do aprimoramento das questões

logísticas mencionadas pelos sujeitos entrevistados.

6.2 Considerações finais

A importância dada à questão ambiental cresceu de maneira bastante expressiva nas

últimas décadas, ganhando espaço nas ações governamentais. Perante o cenário de degradação

em que se encontra a Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, resultado de múltiplos danos

ao longo dos anos, e a existência de inúmeros conflitos em torno dessa bacia, o presente

estudo buscou a compreensão do processo de implantação do Programa Fiscalização

Preventiva Integrada do Rio São Francisco em Alagoas e a identificação dos fatores que

interferiram nesse processo.

A escolha desse tema está relacionada à relevância do entendimento da atuação de

órgãos e instituições públicas na implementação de um programa de fiscalização ambiental,

voltado à proteção de uma bacia hidrográfica, cuja iniciativa apresenta características de uma

rede de cooperação interorganizacional.

Desse modo, a pesquisa explorou o tema redes interorganizacionais para

implementação de programas governamentais, tendo em vista o formato de atuação e as

ligações existentes entre os atores envolvidos no referido programa.

O capítulo 3 descreveu os antecedentes da rede, os quais foram corroborados a partir

da análise das entrevistas realizadas e, a partir destas, foram identificados os fatores que

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facilitaram e dificultaram a implementação do programa, segundo a ótica dos atores

participantes. Registra-se ainda que a rede aqui investigada também apresentou as fases de

desenvolvimento das redes apresentadas por Ebers (2002).

A rede interorganizacional formada com o Programa FPI Alagoas é composta de nós e

ligações entre esses nós, os quais são representados pelos órgãos e instituições públicas, que

também são chamados de atores e são ligados entre si por meio de relacionamentos, cujas

normas são estabelecidas em um Termo de Cooperação Técnica.

Posto isso, resta clara a vinculação do objeto de estudo com a teoria das redes, nos

trabalhos de Castells (1999), Brass (2004), Cândido de Abreu (2004) e Balestrin e Verschoore

(2008). Assim, a rede interorganizacional identificada nesta pesquisa pode ser compreendida

como uma estrutura organizacional composta por um conjunto de atores, os quais se

relacionam com a finalidade de implementar o Programa FPI Alagoas e percebem que não

podem alcançar o objetivo de proteção à Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco a partir de

iniciativas pontuais e isoladas.

Os entrevistados demonstraram elevado conhecimento acerca da atuação do programa,

indicando os principais elementos dos objetivos da FPI Alagoas, o que reflete a existência de

um alinhamento de objetivos e uma constante interação entre eles. Além disso, também

destacaram a existência de uma gestão coordenadora, o que compreende as características

recorrentes nas tipologias de redes, conforme Balestrin e Verschoore (2008).

O presente trabalho teve como objeto de investigação as redes de cooperação

compostas por organizações públicas, restringindo-se então às redes interorganizacionais e

enfatizando as relações formais e organizacionais, visto que o Programa FPI é composto por

organizações do âmbito público as quais estão cooperando em razão de diversos objetivos

comuns, sendo tal relacionamento assegurado por meio de um Termo de Cooperação Técnica

assinado por todos os atores envolvidos. Portanto, posto isso, não foram aqui investigadas as

relações intraorganizacionais e interpessoais, o que representa uma limitação da análise ora

apresentada.

O trabalho manteve o foco nos atores pertencentes ao conjunto de instituições que

compõem o Programa FPI Alagoas. Desse modo, em razão de limitação de tempo e da

necessidade de restringir o público-alvo das entrevistas, não foram entrevistados participantes

da FPI Bahia e da FPI Sergipe.

Entretanto, a investigação dessa lacuna é recomendado em razão da importância dos

olhares desses atores, uma vez que de um lado se tem um grupo de instituições que deu

origem ao programa e incentivou a implantação da ideia nos demais estados, especialmente

em Alagoas e Sergipe. E de outro, um grupo de instituições que receberam um modelo baiano

de atuação e que possivelmente tiveram conhecimentos acerca do formato de implementação

efetivamente realizado no território alagoano, o que denota uma oportunidade de

conhecimento acerca de outras perspectivas e interpretações que ainda não foram

evidenciadas.

Por fim, sugere-se também a investigação da viabilidade de implementação e também

de interesse no programa por parte dos órgãos do Distrito Federal e do estado de Goiás, haja

vista que esses dois entes abrangem, juntos, 0,7% da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco

e não foram obtidas, nesta investigação, informações acerca dessas duas unidades da

federação.

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71

Referências

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Apêndice A

Protocolo para o estudo de caso

Unidades de Análise: Rede Interorganizacional do Programa Fiscalização Preventiva

Integrada do Rio São Francisco, no estado de Alagoas.

Entrevistados:

Período: Entrevistas realizadas entre os meses de novembro e dezembro de 2016.

Procedimentos da coleta de dados: antes das visitas, foram solicitados documentos tais como

estudos prévios, atas de reuniões e outros documentos para entender o funcionamento da

rede interorganizacional formada para implementação do Programa Fiscalização Preventiva

Integrada do Rio São Francisco, no estado de Alagoas, no período de 2012 a 2016.

Categorias que compreendem as questões do estudo de caso: a) Formação da rede

interorganizacional; b) Atuação da rede interorganizacional e c) Fatores que interferiram na

implementação do Programa, na ótica dos atores da rede que compõem a rede

interorganizacional do Programa Fiscalização Preventiva Integrada do Rio São Francisco, no

estado de Alagoas.

Questões do estudo são:

a) Formação da rede:

1. Quais foram os fatores que resultaram no Programa Fiscalização Preventiva Integrada

do Rio São Francisco?

2. Quais são os objetivos do Programa Fiscalização Preventiva Integrada do Rio São

Francisco?

b) Atuação da rede:

3. Quais foram suas atribuições no Programa Fiscalização Preventiva Integrada do Rio

São Francisco, no período de 2012 a 2016?

4. Avalie a atuação do Estado de Alagoas, na implementação do Programa.

c) Ótica dos atores da rede sobre os fatores que interferiram na implementação do Programa:

5. Em sua opinião, quais fatores facilitaram a atuação em rede na implementação do

Programa?

6. Em sua opinião, quais fatores dificultaram a atuação em rede na implementação do

Programa?

Fonte: Elaborado pela autora e adaptado de Avelar (2014).

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Apêndice B

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E

ESCLARECIDO

Prezado(a) participante:

Sou estudante do curso de Mestrado Profissional em Administração da Universidade Federal

de Alagoas. Estou realizando uma pesquisa sob supervisão do(a) professor(a) Claudio Zancan, cujo

objetivo é identificar o processo de implantação do Programa Fiscalização Preventiva Integrada do

Rio São Francisco no estado de Alagoas e os fatores facilitadores e dificultadores de sua

implementação, segundo a ótica dos atores participantes do Programa.

Sua participação envolve uma entrevista, que será gravada se assim você permitir, e que tem

a duração aproximada de vinte minutos.

A participação nesse estudo é voluntária e se você decidir não participar ou quiser desistir de

continuar em qualquer momento, tem absoluta liberdade de fazê-lo.

Na publicação dos resultados desta pesquisa, sua identidade será mantida no mais rigoroso

sigilo. Serão omitidas todas as informações que permitam identificá-lo (a).

Mesmo não tendo benefícios diretos em participar, indiretamente você estará contribuindo

para a compreensão do fenômeno estudado e para a produção de conhecimento científico.

Quaisquer dúvidas relativas à pesquisa poderão ser esclarecidas pela pesquisadora: telefone

(82) 98122-2402.

Atenciosamente,

___________________________ Andreza Galindo Alves de Queiróz

Mestranda Profissional em Administração Pública

________________________ Local e data

Consinto em participar deste estudo e declaro ter recebido uma cópia deste termo de

consentimento.

___________________________ Nome e assinatura do participante

________________________ Local e data