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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG Instituto de Ciências da Natureza Curso de Geografia Licenciatura DENIS DE OLIVEIRA RODRIGUES REGIÃO E REDES DE SAÚDE: UMA ANÁLISE DA REGIONALIZAÇÃO NO SUL DE MINAS GERAIS Alfenas - MG 2015

UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG · fluxos de atendimentos de mortalidade, nascimentos e internações. Nesta parte do estudo de caso, foi utilizada como objeto a área da macrorregião

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG

Instituto de Ciências da Natureza

Curso de Geografia – Licenciatura

DENIS DE OLIVEIRA RODRIGUES

REGIÃO E REDES DE SAÚDE: UMA ANÁLISE DA

REGIONALIZAÇÃO NO SUL DE MINAS GERAIS

Alfenas - MG

2015

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DENIS DE OLIVEIRA RODRIGUES

REGIÃO E REDES DE SAÚDE: UMA ANÁLISE DE

REGIONALIZAÇÃO NO SUL DE MINAS GERAIS

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentada como parte dos

requisitos para obtenção do título de

Licenciado em Geografia pelo

Instituto de Ciências da Natureza da

Universidade Federal de Alfenas-

MG, sob orientação do Prof. Dr.

Flamarion Dutra Alves.

Alfenas – MG

2015

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DENIS DE OLIVEIRA RODRIGUES

REGIÃO E REDES DE SAÚDE: UMA ANÁLISE DE

REGIONALIZAÇÃO NO SUL DE MINAS GERAIS

A Banca examinadora abaixo-

assinada aprova o Trabalho de

Conclusão de Curso apresentada

como parte dos requisitos para

obtenção do título de Licenciado em

Geografia pelo Instituto de Ciências

da Natureza da Universidade Federal

de Alfenas- MG.

Aprovado em: Profº. Instituição: Assinatura: Profº. Instituição: Assinatura: Profº. Instituição: Assinatura:

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RESUMO

A complexidade dos termos de região e redes tem sido incorporada por diversos

segmentos de estudos e práticas. Na área da saúde, tanto o uso com distribuição

de doenças e unidades de saúde, quanto como direcionador para formas de

regionalização tem fortalecido os conceitos de região e redes. O presente estudo

descritivo trata da relevância do objeto região para o avanço dos conceitos na

saúde e teve como objetivo analisar as regiões e redes de saúde pública no

Brasil, em especial sua constituição no sul de Minas Gerais, além de discutir a

viabilidade de uma nova forma de regionalização. Os resultados obtidos

demonstraram viáveis para aprofundamento da questão e massivamente

relevante para discussão, de forma descentralizada, no nível local.

Palavras-chave: Geografia da Saúde; Região; Redes.

ABSTRACT The complexity of the terms of the region and networks has been built by various

segments of studies and practices. In the health area, so use with distribution of

diseases and health facilities, and as a driver for regionalization forms has

strengthened the concepts of area and networks. This descriptive study deals

with the relevance of the object region to advance concepts in health and aimed

to analyze regions and public health networks in Brazil, especially its

incorporation in southern Minas Gerais, and discuss the feasibility of a new form

of regionalization. The results showed feasible for deepening of the issue and

massively relevant for discussion in a decentralized manner at the local level.

Key words: Health Geography; Region; Networks.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Estruturação assistencial estabelecida pela estratégia da NOAS.....30

6

LISTA DE QUADROS Quadro 1. Classificação do tempo previsto entre municípios da macrorregião

sul de Minas Gerais e municípios polos............................................................13

Quadro 2. Esquema de download de dados no sítio DATASUS/MS................13

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LISTA DE TABELAS Tabela 1. Classificação geográfica e viária entre os municípios da macrorregião

sul de Minas Gerais e seus polos assistenciais..................................................35

Tabela 2. Número total e porcentagem de habitantes por região de saúde

proposta em relação à macrorregião sul, Minas Gerais, 2015............................37

Tabela 3. Número total e porcentagem de habitantes por região de saúde atual

em relação à macrorregião sul, Minas Gerais, 2015...........................................37

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LISTA DE MAPAS Mapa 1. Mapa dos Polos Macrorregionais, Plano Diretor de Regionalização da

Saúde, Minas Gerais, 2001/2002.......................................................................31

Mapa 2. Divisão territorial por mesorregiões, Minas Gerais, 2001......................32

Mapa 3. Mapa dos Polos Macrorregionais, Plano Diretor de Regionalização da

Saúde, Minas Gerais, 2003................................................................................33

Mapa 4. Proposta de regionalização por regiões de saúde, Macrorregião Sul,

Minas Gerais, 2015............................................................................................38

Mapa 5. Análise de fluxo de óbito segundo região de saúde proposta,

Macrorregião sul, Minas Gerais, 2009-2013.......................................................38

Mapa 6. Análise de fluxo de nascimento segundo região de saúde proposta,

Macrorregião sul, Minas Gerais, 2009-2013.......................................................39

Mapa 7. Análise de fluxo de internação segundo região de saúde proposta,

Macrorregião sul, Minas Gerais, 2009-2013.......................................................40

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................. 10

OBJETIVOS ..................................................................................................... 11

Objetivo Geral ............................................................................................... 11

Objetivos Específicos .................................................................................... 11

1 - PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ....... Erro! Indicador não definido.

2 - DEFINIÇÃO DE REGIÃO E REDE E SUA APLICAÇÃO NA GEOGRAFIA

DA SAÚDE ....................................................................................................... 14

2.1 - Breve resgate do conceito de Região ................................................... 14

2.2 - Introdução às Redes Geográficas ......................................................... 21

2.3 - Evolução da geografia da saúde no Brasil ............................................ 25

3 - REGIÃO E REDE DE SAÚDE E O CASO DE MINAS GERAIS ................. 29

4 - ANÁLISE DA REDE E REGIÃO DA SÁUDE NO SUL DE MINAS

GERAIS.............................................................. Erro! Indicador não definido.5

5 - CONCLUSÕES ......................................................................................... 422

6 - REFERÊNCIAS .......................................................................................... 43

10

INTRODUÇÃO

Os estudos com a temática região têm sido abordados por muitos

autores da geografia (LENCIONI, 2003; BEZZI, 2004; GOMES, 2005;

GUIMARAES, 2005; MOREIRA, 2007). A ligação da geografia com a saúde

também tem sido citada, tanto na forma de uso da geografia na saúde na

regionalização ou na distribuição das doenças e unidades de saúde, quanto na

contribuição da epistemologia do termo geografia da saúde e auxílio na

regionalização da saúde (BARCELLOS, 1997; ROJAS, 1998; ANDRADE, 2000;

BOUSQUAT, 2004; GUIMARAES, 2005; PEITER, 2005; BARCELLOS, 2008;

MAZETTO, 2008; OLIVEIRA, 2008; JUNQUEIRA, 2009; DUTRA, 2011;).

Logo, o impacto da dimensão geográfica no acesso aos serviços de

saúde é parte de análise e compreensão do processo de planejamento das redes

destes serviços, seus polos de atração, distâncias percorridas pela população,

as barreiras para o acesso aos serviços mais frequentes e aos de maior

complexidade (OLIVEIRA, 2008).

Torna-se relevante o objeto de estudo que considere a regionalização

como um processo geográfico, inclusive aos profissionais da geografia que

atuam com a temática de geografia urbana, geografia das redes e geografia da

saúde.

Conforme estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a

macrorregião sul de Minas Gerais é a 2ª região mais populosa de Minas Gerais

(BRASIL, 2015), com 2.737.740 habitantes. Este número representa 13,29% da

população mineira estimada.

Devido a grande influência que, decisões nesta área podem ocasionar,

a seleção desta região para análise foi de grande importância neste trabalho,

possibilitando a ampliação do conceito de região e redes na área geográfica e

na temática da saúde.

11

OBJETIVOS

OBJETIVO GERAL

- Analisar as regiões e redes de saúde pública no Brasil e sua constituição

no sul de Minas Gerais.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

- Realizar um levantamento bibliográfico dos conceitos de região,

regionalização e redes para entender sua aplicabilidade nos estudos da

geografia da saúde;

- Realizar um breve levantamento bibliográfico da evolução da Geografia da

Saúde no Brasil e demonstrar a relevância desse ramo na Geografia

contemporânea;

- Identificar a trajetória das políticas de regionalização realizadas pelo

Ministério da Saúde, após implementação do Sistema Único de Saúde;

- Analisar as redes e regiões de saúde no sul de Minas Gerais, a fim de

discutir a viabilidade e apresentar uma proposta de regionalização.

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1 - PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Esta pesquisa trata-se de um estudo descritivo que realiza na primeira

parte um levantamento bibliográfico de conceito de região e rede, suas

definições e usos conformes as matrizes do pensamento geográfico e evolução

da Geografia da Saúde no Brasil.

Na segunda parte do estudo analisou a regionalização de saúde no

Brasil e os marcos e normas legais para implementação da região e rede de

saúde, verificando o caso de Minas Gerais, com a instituição do Plano Diretor de

Regionalização de Saúde - PDR.

Na terceira parte é demostrado a viabilidade e resultados de uma

proposta de regionalização com base na acessibilidade viária e geográfica e

fluxos de atendimentos de mortalidade, nascimentos e internações.

Nesta parte do estudo de caso, foi utilizada como objeto a área da

macrorregião de saúde que compreende as regiões administrativas de saúde de

Alfenas, Passos, Pouso Alegre e Varginha, localizada ao sul de Minas Gerais.

As regiões citadas foram inclusas como parte da região compondo o objeto de

estudo.

Para análise da acessibilidade geográfica e viária foi realizado um

levantamento utilizando o API Google Maps para criar uma matriz com a

distância em quilômetros e tempo médio em minutos dos traçados de rotas entre

todos os municípios da macrorregião e os quatro municípios polos. Estes polos

foram utilizados como referência inicial os municípios que, previamente, já de

conhecimento do pesquisador a estrutura de saúde para atendimento da

população da região adscrita,

A partir da matriz criada foi realizada a classificação do tempo em cinco

ordens de referência, conforme o Quadro 1.

Assim, os municípios foram classificados de 1ª ordem quando se

localizava em tempo inferior a 30 minutos do município polo mais próximo. De 2ª

ordem quando os municípios se localizavam a uma distância de 31 a 60 minutos

13

de distância e assim, sucessivamente. Caso gerasse conflito de município com

mesma ordem e município polo diferente, o que se localizava a menos tempo do

outro, seria a referência.

Quadro 1. Classificação do tempo previsto entre municípios da macrorregião sul de

Minas Gerais e municípios polos.

Classificação Distância prevista entre municípios e polos

1ª ordem De 0 a 30 minutos, inclusive.

2ª ordem De 31 a 60 minutos, inclusive.

3ª ordem De 61 a 90 minutos, inclusive.

4ª ordem De 91 a 120 minutos, inclusive.

5ª ordem Mais de 120 minutos, exclusive. Fonte: Elaboração do autor.

Os dados de mortalidade, nascimentos e internações foram baixados

do sítio do Departamento de Informática do SUS - DATASUS, órgão ligado ao

Ministério da Saúde. Foi utilizado o esquema apresentado no Quadro 2.

Quadro 2. Esquema de download de dados no sítio DATASUS/MS.

Dados Sistema de Informação Período

Mortalidade Sistema de Informação de Mortalidade

De 2009 a 2013 Nascimento Sistema de Informação de Nascidos

vivos

Internação Sistema de Informação Hospitalar Fonte: Elaboração do autor.

Para tabular os dados e realizar o mapeamento dos fluxos foi utilizado o

software Tabwin versão 3.6b (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2015), disponível no sítio

do DATASUS. Para utilizar este software foi necessário criar um arquivo de

dados específico para tabular dados de pacientes residentes na região de estudo

(município de residência) e para pacientes que tiveram seu registro na região

(município de ocorrência). Este arquivo foi criado para cada sistema de

informação utilizado.

Para elaboração, formatação e adaptação de mapas, foi utilizado o

software Arcgis (ESRI, 2011).

Na última parte, apresenta-se uma breve conclusão do trabalho, e

apontamentos para o gerenciamento dos atendimentos de saúde, em abito

regional levando em consideração as redes que são formadas e suas ligações.

14

2 - DEFINIÇÃO DE REGIÃO E REDE E SUA APLICAÇÃO NA

GEOGRAFIA DA SAÚDE

2.1 - Breve resgate do conceito de Região

A complexidade do conceito de região se dá que, diferentes

conceituações possuem significados próprios em cada corrente de pensamento

geográfico (CORRÊA, 2000). Na polissemia da região, sua complexidade

também se dá devido a processos de regionalização com seu uso como

categoria de análise e prática, a região arte-fato (COSTA, 2010).

Bezzi (2004) lembra que a Geografia teve, durante muito tempo, a região

como objeto de estudo. Moreira (2007, p. 57) também relembra que “fazer

geografia é fazer a região, dizia-se”. Logo, Bezzi (2004) ainda define que,

resgatar região, é resgatar epistemologia da própria geografia, dada a várias

abordagens oriundas do conceito e suas relações com as escolas geográficas.

É possível compreender que a complexidade da definição é a forma de

descrever o uso do termo em diferentes momentos da ciência geográfica. Gomes

(1995, p.54) cita que “ao tentar fazer do termo um conceito científico, herdou-se

as indefinições e a força do uso na linguagem comum” de modo acabou

“restando aos geógrafos adjetivar a noção de região para diferenciá-la do senso

comum”.

Uma ciência como a geografia não pode reduzir um conceito multiface a

uma restrita visão ou único conceito. Gomes (1995) afirma que a geografia deve

procurar evitar conceitos “puros” e investigar para qual uso que o conceito está

sendo utilizado, ou seja, o uso do conceito de região determina sua definição e

compreensão.

Neste contexto a inserção do uso do conceito da região se deu, do final

do século XIX até meados do século XX, como afirma Corrêa (2000), em três

principais: natural, geográfica e classe de área.

O determinismo ambiental do final do século XIX impulsionou a ideia de

uma porção da superfície dimensionada pelos elementos da natureza, que

combinados e se interagindo, diferenciariam as regiões naturais (CORRÊA,

15

2000). Corroborando nesta linha, Gomes (1995) afirma que, região natural, seria

uma divisão física da superfície terrestre integrante da natureza onde o

ambiente, de certa forma, determina o desenvolvimento da sociedade.

Corrêa (2000) coloca a importância da região natural para o padrão

ambiental e para a própria geografia ao citar a divisão regional de Herbertson

(1905)1 que se baseia em elementos como clima, relevo e vegetação para

classificar áreas terrestres e a divisão do Brasil em 5 grandes regiões naturais

de fácil caracterização, distintas e didáticas aceita por Guimaraes (1941)². Este

último, inclusive, conclui em seu trabalho que, divisão regional baseada em

região natural, tem uma grande estabilidade e muito facilita comparações

estatísticas temporais.

No final do século XIX e primeiro quartil do século XX, uma reação ao

determinismo ambiental surge com um novo padrão focado nas relações entre

homem e natureza. Neste padrão a natureza não é considerada como

determinante do comportamento humano e sim como provedora de

possibilidades (CORRÊA, 2000). Surge neste contexto o nome Possibilismo

atribuído por Lucien Fébvre (MORAES, 2007).

Este modelo possibilista moldado por Lucien Fébvre em 1922, tendo

como mestre Paul Vidal La Blache, e direcionando os estudos da “escola

francesa”, que viriam influenciar o Brasil na defesa de estudos nesta área

(GOMES, 1995). Moreira (2010), inclusive, assume em seu trabalho sobre

matrizes originárias de pensamentos geográficos, a matriz francesa como a

matriz originária brasileira.

Moraes (2007, p.24) em seu estudo de panorama geral da geografia

coloca que Paul Vidal de La Blache “definiu o objeto da Geografia como a relação

homem-natureza, na perspectiva de paisagem”, mas sendo o homem “um ser

ativo, que sofre a influência do meio, porém que atua sobre este, transformando-

1HERBERTSON,A. J. The Major Natural Regions: An Essay in Systematic Geography. Geograpllical fOI/mal, march, 1905. ² GUIMARÃES, Fabio Macedo Soares (1941). “Divisão regional do Brasil”. In Revista Brasileira de Geografia. N°. Especial, ano 50 (Tomo I). 1988. pp. 9-66.

16

o”.

Gomes (1995) lembra ainda que na visão possibilista a região tem saber

geográfico e não morfológico e cita a procura da personalidade da região

considerando o meio físico, população e economia. Caberia ao geógrafo

investigar estas variáveis pela descrição das particularidades de cada região

(CORRÊA, 2000; GOMES, 1995).

Assim, região seria uma expressão espacial de mesma paisagem

geográfica criada e modelada pelo homem de tal forma que lhe confere

singularidade, como afirma Corrêa (2000), ou ainda, como cita Gomes (1995),

uma síntese da ação humana em um determinado ambiente, tendo este

personalidade concreta.

Nesta perspectiva houve a contribuição de Alfred Hettner, geógrafo

alemão que defendia a geografia ideográfica, ou seja, descritiva de um espaço

único e sem generalização das teorias, tendo a geografia como estudiosa das

diferenciações das áreas, e de Richard Harsthorne, geógrafo americano, que

defendia os estudos das diferenças regionais que caberia ao geógrafo descrever

e estabelecer esquemas gerais, e mesmo assim, as regiões possuiriam aspectos

singulares (GOMES, 1995). Harsthorne também propôs a geografia nomotética,

que através de profundidade da análise, maior a singularidade do local

(MORAES, 2007).

A partir do final do século XIX a metade do século XX a região se tornaria

alvo de debates (GOMES, 1995). Moreira (2010) coloca a revolução da ciência

que findou a representação da natureza e alterou o pensamento científico tanto

no campo da física, química, biologia e na técnica em si, quanto no campo das

artes e nas ciências do homem.

Costa (2010) cita um artigo de Schaefer de 1953 questionando a

abordagem não sistemática harstshorneana. Isto é comprovado com Gomes

(1995) quando ressalta que as críticas aumentaram ao modelo da unicidade dos

fatos, sem considerar relações, análises e correlações entre eles. Surgem os

padrões espaciais concebidos pelas técnicas estatísticas (CORRÊA, 2000). Para

Costa (2010), esta seria a primeira morte do conceito da região.

17

Nesta linha, Corrêa (2000) define região como um conjunto de unidades

de área com relações definidas estatisticamente e com objetividade máxima,

onde as diferenças internas são menores do que em face de outros conjuntos.

Gomes (1995, p.63) cita que “a região que passa a ser uma técnica da geografia,

um meio para demonstração de uma hipótese e não um produto final do trabalho

de uma pesquisa”.

Esta concepção é pautada na linha de pensamento da Nova Geografia,

fundamentada no positivismo lógico, que retoma a região por tipologias

classificando-as e não uma diferenciação de áreas (COSTA, 2010; CORRÊA,

1995), mas, conforme Moraes (2007) que afirma que neste pensamento

instrumental da burguesia, houve uma passagem do positivismo para

neopositivismo.

Assim, Corrêa (2005) cita que há uma abundância de estudos neste

contexto com o uso das regiões como estudos de recortes dos países. A nova

geografia era vista como uma produtora de estudos sistemáticos (CORRÊA,

2000).

Nesta forma de análise regional, há o uso da mensuração e classificação

das áreas em regiões homogêneas (ou uniformes), que é um agrupamento por

semelhança de propriedades e características fixas, e regiões funcionais (ou

polarizadas), que se refere a agrupamento por semelhança de relações e fluxos

no espaço (GOMES, 1995; CORRÊA, 2005; COSTA, 2010).

Costa (2010) afirma que há uma ressurreição do termo da região devido

a esta funcionalidade do conceito e da utilização da influência sobre uma

determinada área ou centros polarizados. Alves (2011) resgata Walter Christaller

na teoria dos lugares centrais, que cita que lugares centrais são áreas dispostas

sobre uma região, representam ordem, inclusive em cidades que são para a

região, o centro.

Jacques Raoul Boudeville, economista francês e colaborador de

François Perroux, em 1972 propôs, em sua obra que analisa economia regional,

uma diferenciação de espaço e região, além de três tipos de região: homogênea,

polarizada e planejada.

18

Segundo Boudeville (1972), na região homogênea haveria, num espaço

contínuo, um agrupamento de elementos que apresentam características muito

parecidas. Na região polarizada, há uma heterogeinização de elementos que se

complementam, mantendo um polo central dominante. Na região planejada, os

elementos são dependentes de decisão central relacionados a política

administrativa.

Gomes (1995) coloca que quando se estuda uma região polarizada e

como se dão os fluxos e trocas neste espaço, há uma valorização de ordem

econômica fundamental para estes fluxos. Mas o empobrecimento da análise e

redução da reflexão geográfica, concebendo a região como uma área de

intervenção e planejamento, são as principais críticas da Geografia Crítica

(MORAES, 2007).

No final do século XX, a partir da década de 70, há a presença de

diversas áreas do conhecimento interessadas na dimensão espacial e na

temática região. Estas contribuições aumentaram o pluralismo conceitual da

geografia (CORRÊA, 2005).

Para Costa (2010) é, novamente, a morte da região, tanto lembrando a

crítica de Lacoste (1929) da região vidaliana como um conceito obstáculo para

outras representações como as econômicas, sociais, políticas, industriais e suas

relações, quanto “numa difusão das relações econômicas capitalistas

homogeneizadoras” (p.51). Corrêa (2000) e Moraes (2007) também citam

Lacoste ao relembrar a discussão da postura empirista vidaliana.

Região não seria apenas sua forma ou funcionalidade, mas também a

dimensão espacial da realidade injusta das desigualdades e contradições

produzidas pelas tensões capitalistas, e que não eram selecionadas nos critérios

da nova geografia ou geografia tradicional (GOMES, 1995; CORRÊA, 2000;

MORAES, 2007).

A região seria uma articulação do modo de produção e acumulação

capitalista, regionalização da divisão social, e reprodução da força de trabalho e

processos políticos e ideológicos (CORRÊA, 2005). Surge um conceito de região

fundamentada no materialismo histórico e dialético marxista (CORRÊA, 1995;

19

CORRÊA, 2005; MOREIRA, 2010).

No trabalho de Corrêa (2005, p.188), nesta concepção marxista, “a

região é considerada como foco de identificação”, um elemento de identidade e,

ainda, como “meio para interações sociais”, numa “visão política da região com

base na dominação e poder” para diferenciação de áreas.

Mas paralelo a estes pensamentos, Castro (2005, p. 214) lembra que

“não é mais possível analisar o mundo, sob quaisquer dimensões, sem

referência ao fenômeno globalização”. Durante o final do século XX, a

globalização, com avanço das técnicas, principalmente pelas técnicas da

informação, e a dita emergência de um mercado global, foi o ponto alto do

processo de internalização do capitalismo (SANTOS, 2010).

Castro (2005) argumenta que é muito simplista a redução da

globalização na temática econômica. Mas houve um momento pós-segunda

guerra mundial, conforme Harvey (2011), que, como rivalidades econômicas

fomentaram a guerra, a economia mundial deveria sofrer um desbloqueio do

comércio internacional. Com o início da guerra fria, os Estado Unidos se

encarregaram de “proteger” aliados assumindo o poder hegemônico e

organizaram suas taxas de câmbio conforme o dólar para facilitar o comércio.

Com as crises do dólar durante a década de 60, o capitalismo tornou-se

competitivo a nível global e deslocou excedente de capital. O avanço das

técnicas disciplinou o trabalho. Com o fim da guerra fria, a ameça comunista era

irrelevante e foi moldando-se o sistema econômico capitalista global. As crises

de 1945 a 2007 possibilitaram a reconfiguração radical do capital (HARVEY,

2011).

Santos (2010) afirma que a crise é estrutural e a globalização é perversa,

pois através de informação, capital e competitivade é imposta uma visão única

de mundo, porém, a hegemonia empresarial foi criando fragmentações do

espaço. Corrêa (2000) e Harvey (2011), corroborados na contextualização de

Moraes (2007), Costa (2010) e Santos (2010), recorreram ao desenvolvimento

geográfico desigual para explicar as respostas diferentes das regiões ao avanço

do capitalismo que gerou diferenciações locais ou até detrimento de regiões.

20

Para Castro (2005), que analisou em seu trabalho os conflitos territoriais

na linha política, as dimensões afetadas pela globalização fazem surgir uma

revalorização de identidade e pressão por autonomia no nível local. Gomes

(1995, p. 67) cita que a “região passa a ser vista como um produto real,

construído dentro de um quadro de solidariedade territorial”, uma consciência

regional na valorização do espaço vivido. Esta forma de valorização é também

citada por Corrêa (2005) ao observar que a geografia humanista se projeta da

tradicional ao considerar a região como espaço vivido.

Lencioni (2003) observa que ao tratar espaço vivido houve a ênfase da

categoria geográfica lugar, por relacionar-se com as experiências do ser e estar

além de um lugar objetivo. Costa (2010) lembra, ao tratar a região como arte-

fato, que as abordagens funcionalistas de região negligenciam a dimensão do

vivido, de forma que qualquer análise regional deve-se, também, levar em conta

o vivido como simbólico-cultural e menos objetivo.

Costa (2010) argumenta que as combinações dos eventos complementa

a própria unicidade destes eventos. De forma que, ao tratar a cidade-região,

lembra que não há hierarquia clara e estão mais complexas e descontínuas, já

que “falar em estabilidade e continuidade (física) dos fenômenos no espaço é

muito problemático” (p.152). Assim, este autor declara que, diante as

contradições e evidência da globalização, o regionalismo e identidades regionais

ainda pautarão o debate geográfico, tornando as diferenças regionais mais

visíveis.

Sabiamente, Costa (2010) coloca que, dependendo da forma da

priorização das questões estudadas, poderá ser usada uma concepção de

região e que, apreender estes conceitos não demonstra verdade, mas

apresentações às indagações propostas. Obviamente, a centralidade da

discussão pelo autor nos sujeitos sociais que regionalizam o espaço ascende a

pauta região articulada e transformada, mas ainda complexa.

Nesse sentido, estudar as regiões e suas formações e ligações são

importantes para entender a dinâmica dos fenômenos socioespaciais, como é o

caso dos atendimentos e ocorrências de saúde.

21

2.2 - Introdução às Redes Geográficas

O uso do conceito de redes e sua aplicação vêm sendo, atualmente,

ampliada e muito difundida. Entretanto, a origem do termo, que vem do latim

“rete”, significa o entrelaçamento de fios e malhas, criando uma rede, de maneira

que as linhas seriam as relações criadas entre os envolvidos e os nós, os

envolvidos (LOIOLA & MOURA, 1997). Estas mesmas autoras definem em seu

trabalho sociológico que, a utilização do termo rede, está em várias disciplinas e

diferentes contextos.

A polissemia do termo é abordada pelo filósofo francês e historiador

Pierre Musso, inspirado pelo, também filósofo francês, Claude Henri de Saint-

Simon, quando é valorizada pela sua utilidade na operacionalização dos

processos. Musso (2004) revisa o conceito de rede resgatando seu uso na

França, no século XII e no final do século XVIII, quando além de fluxos orgânicos,

também é usado como algo externo ao corpo, como uma técnica, pois pode

servir para organização do espaço sendo, portanto, construída.

Dias (1995) aponta autores que, no século XIX, analisaram as redes de

maneira técnico-operacional como Saint Simon propondo um estado organizado

racionalmente em sua obra “Le nouveau Christianisme”, e como Michael

Chevalier, economista francês que apresentou uma relação entre as

comunicações das vias de transporte e o crédito dos bancos, ressaltando uma

exploração do globo.

Para Dias (1995, p. 147) “a rede aparece como o instrumento que

viabiliza exatamente essas duas estratégias: circular e comunicar” e seria uma

matriz técnica que avança nesta linha apontando que a sociedade lida “com a

rede resultante das manifestações das coações técnicas, econômicas, políticas

e sociais” (p. 148).

Dias (1995) também aponta a execução de um sistema geral de

comunicação, combinado entre estradas de ferro e canais fluviais, tendo um

projeto comum de integração regional para mercados. Assim deixa clara a

consolidação da rede de transporte, como forma de comunicação e organização

espacial. A autora resgata que, como resultados das inovações da época às

22

demandas da burguesia para operacionalização dos processos de produção,

surgiram as ferrovias, a telefonia, a telegrafia permitindo a redução das

distâncias. Estas inovações foram fundamentais para o capitalismo mundial, pois

permitiram circulação de bens, de serviços e de pessoas, modificando os

espaços nacionais.

A partir da década de 1990, Brito (2002) afirma que, os elementos

morfológicos que colaboram na análise de densidade da rede, ou seja, as

ligações entre os elementos e a centralidade que esta possui, demonstra a

sofisticação das relações entre empresas que existe na dinâmica econômica

atual. Estas redes de empresas demonstram a comunicação entre os agentes

da empresa, integração da cadeia produtiva e integração de conhecimentos e

competências para a busca de inovações.

Corrêa (2005) explica que as redes já passariam de redes físicas como

organização espacial e ligações entre caminhos e localizações, para se

manifestar de diversas formas com o capitalismo. Raffestin (2011, p.182) traduz

isto quando cita que “o verdadeiro poder se desloca para aquilo que é invisível”

e complementa com “a rede faz e desfaz as prisões do espaço” (p.183),

entendendo que as redes são imagem do poder.

Santos (2006) afirma que o termo redes na geografia sofre da mesma

ambiguidade e imprecisão que o próprio conceito já possui, considerando duas

matrizes: a realidade material e o dado social. Corrêa (2012) considera também

que redes são sociais por serem construções humanas de relações sociais e

passariam a geográficas quando considerarmos sua espacialidade.

Corrêa (2005) coloca que as diversas formas de se utilizar o conceito

tornaram uma tarefa relevante para geógrafos. Este autor expõe que, na

expansão do capitalismo pelas redes técnicas, as redes se manifestam nas

complexidades urbanas dos centros, focos de diversos fluxos.

No final do século XX, a questão das redes é retomada e renovada pelas

mudanças que tratam de relacionar com a urbanização, de modo que enfatiza a

importância do entendimento dos fluxos, sendo que estes pressupõe a existência

da rede (DIAS, 1995).

23

Santos (1978), na sua teoria sobre circuitos econômicos, introduziu o

conceito de redes que interligam centros urbanos através da oferta de bens e

serviços, de forma que a distância é um fator determinante da relação da oferta

e demanda. Corrêa (2005) define que um conjunto de centros urbanos

funcionalmente articulados entre si é denominado como rede urbana.

Nesta linha, as redes urbanas seriam um resultado social de interações

espacializadas para garantia de sua existência e reprodução. Esta existência é

condicionada a economia de mercado com produção e relação externa, pontos

fixos de transação e interação entre estes pontos fixos (CORRÊA, 2005).

Corrêa (2005) ressalta quatro características na rede urbana brasileira:

complexidade genética, os padrões espaciais, a complexidade dos centros e a

integração interna e externa. Estas caraterísticas seriam uma evolução dos

centros urbanos. Estas características geraram uma integração desigual de

forma que foram acentuadas as diferenças na rede urbana revelando até uma

exclusão da população.

Nesta linha Haesbert (2002) lembra que a atual globalização capitalista

gera uma exclusão da sofisticação tecnológica que permite uma proliferação de

redes econômicas e ilegais, como o narcotráfico, por exemplo. Dias (1995, p 154)

lembra que “o Estado deve enfrentar múltiplos conflitos ampliados pelo processo

de desigualdade sócio-espacial”.

Mas paralelos a todos estes estudos, há um avanço da tecnologia,

sendo, por exemplo, a internet considerada por Sposito (2008) como a

concretização da rede que se dissemina pela rede urbana, que Corrêa (2005)

considera como fluxos imateriais toda forma de comunicação e informação num

ciberespaço.

Corroborando com isso, Dias (1995) lembra que algumas teses

reducionistas do espaço impregnaram a reflexão de redes. A autora analisa que

não se pode negar o espaço reduzindo o mesmo a categoria distância, ou aliado

a categoria tempo reduzindo este a noção de tempo real.

Assim, Corrêa (2005, p. 109) lembra que “de um modo ou de outro, todos

estamos inseridos em mais de uma rede geográfica e simultaneamente,

24

excluídos ou ausentes de um número ainda maior de redes”. Esta visualização

põe as claras as possibilidades futuras que os estudos e abordagens da

geografia poderão desenvolver, em face da inserção do ambiente colaborativo e

construção coletiva de conhecimento num fluxo de conhecimento em rede.

25

2.3- Evolução da geografia da saúde no Brasil

Apesar de guardar uma constância e sincronismo com a ciência mãe, a

Geografia da Saúde, assim como qualquer ciência, tem um início difícil de afirmar

(MAZETTO, 2008). Obviamente, muitas contribuições deste tema vieram dos

estudos da medicina, como Hipócrates em torno de 480 a.C., demonstrou em

seu estudo os determinantes e condicionantes de saúde e relacionou o

conhecimento médico com as condições do clima, vegetação, relevo e da

qualidade da água das cidades. Provavelmente o pioneiro na temática, sendo

ainda considerado, inclusive, o “pai da medicina”.

Apesar da importante contribuição hipocrática milenar, não houve muitos

estudos que acrescentassem conhecimento sobre este tema até o século XIX,

quando houve grande desenvolvimento das ciências naturais, principalmente da

Biologia, com o advento das teorias naturalistas da evolução das espécies de

Jean-Baptiste Lamarck e Charles Darwin.

Com a influência do naturalismo, houve uma renovação nos estudos das

ciências no mundo e em 1844, a obra de Carl Friedrich Philipp von Martius,

denominada “Natureza, doenças, medicina e remédios dos índios brasileiros”,

inova ao registrar a medicina indígena no Brasil (MAZETTO, 2008). Apesar de

impressa na Alemanha e, só após, resgatada no Brasil, na obra é possível

verificar as características biofísicas do índio e quais suas vulnerabilidades a

doenças. Neste período, os estudos muito se alinharam no determinismo

ambiental da geografia clássica.

Contribuindo para a evolução da geografia médica, vários estudiosos

das ciências médicas brasileiras contribuíram para o avanço deste tema,

destacando-se Lutz (1927) que, com sua obra “Problems in the Colonization and

Settlement of Tropical South America”, descreve na linha do determinismo

geográfico, a colonização e desenvolvimento da América do Sul e as condições

sanitárias propícias às doenças que afligiam o sanitarismo, como

Esquistossomose, Filariose e Malária e foca, ao citar o Brasil, a seca do norte e

nordeste do país.

26

Destaca-se também Carlos Chagas que elaborou estudos sobre o

Trypanosoma cruzi, e analisou, mesmo de forma demonstrativa, ou seja, sem

usar o fenômeno como objeto, a distribuição espacial dos transmissores da

tripanossomíase americana e além de seu diagnóstico (CHAGAS, 1920;

CHAGAS, 1922).

Em 1946, o Geógrafo Josué de Castro em sua grande obra “Geografia

da Fome” explícita as condições de saúde das regiões do Brasil realizando uma

análise regional conforme a alimentação. Castro (1946) relaciona também as

condições fisiológicas e o clima, além de apresentar proposições para melhorias

dentro do mosaico alimentar brasileiro.

Castro (1946) expõe ainda a forma colonialista que o Brasil exportou

suas riquezas e não sustentou seu progresso, gerando grandes marginalidades

em sua estrutura continental e que a integração nacional passaria pelo cunho

sociocultural e econômico. Uma obra de grande peso geográfico que se

estreitaria, mais a frente nas décadas, aos pensamentos sociais da Geografia

Crítica.

Avançando no tempo, Ruella (1949 apud PESSOA; 1978, p. 88) definiria

a finalidade da Geografia Médica como “a pesquisa do conjunto de endemias ou

de epidemias que estão em ligação com certos caracteres geográficos de uma

região, em particular com os caracteres climáticos e biológicos”.

Mazetto (2008) ao tratar os pioneiros da geografia da saúde, cita que a

geografia médica teve, como principal característica, a identificação da

distribuição espacial de doenças infecciosas até primeira metade do século XX.

Nesta linha, Pessoa (1978, p.87), que contribuiu imensamente com este ramo

da Geografia, definiu Geografia Médica como:

O estudo da distribuição e da prevalência das doenças na superfície da terra, bem como de todas as modificações que nelas possam advir por influência dos mais variados fatores geográficos e humanos. (PESSOA, 1978, p.87).

Já Lacaz (1972 apud ANDRADE, 2000, p.163) afirma que:

Na geografia médica prevalece o ponto de vista geográfico para o conhecimento da distribuição e evolução das doenças nas várias regiões do globo, enquanto na epidemiologia se desenvolve mais

27

o espírito médico de indagação, de fins e de exposição. (LACAZ, 1972).

Pessoa (1978, p.118) também observa que “as contribuições brasileiras

neste campo, têm-se limitado a focalizar um aspecto particular da Geografia

Médica que diz respeito à distribuição geográfica de certas doenças

transmissíveis e de seus vetores” ou “à prevalência regional de outras

endemias”.

A forma de análise das condições de saúde através da espacialização

das doenças tende a reduzir o objeto geográfico. Neste ponto, a geografia

médica aproximou-se com a epidemiologia que utiliza a categoria espaço apenas

como um recurso investigativo, pois se preocupa com a distribuição das doenças

na coletividade, sendo esta seu eixo de análise e não uma visão ecológica do

processo saúde-doença (SILVA, 1997).

Com esta abertura a temas e abordagens da geografia na área da saúde,

em 1976, houve a mudança da denominação de Geografia Médica para

Geografia da Saúde, pela Comissão de Geografia Médica da União Geográfica

Internacional (PEITER, 2005).

Esta denominação mais ampla possibilitou, a partir da década de 1970,

uma abertura com a geografia crítica proposta por Milton Santos, considerando

o espaço como uma construção social de relações humanas com a natureza e

processos socioeconômicos, condições de trabalho, planejamento e qualidade

de vida (ROJAS, 1988; DUTRA, 2011).

Peiter (2005) cita que, ademais, com o uso de modelos teóricos

estatísticos de difusão, procurava-se identificar padrões na forma de propagação

das doenças no tempo e espaço, ganhando força na década de 80 com o

advento do computador e a introdução do Sistema de Informação Geográfica -

SIG, revivendo fortemente a espacialização das doenças com inspiração na

Nova Geografia ou Geografia Quantitativa (BOUSQUAT e COHN, 2004).

Os geógrafos brasileiros se aproximam das questões sobre a saúde e,

da descrição da distribuição de doenças passou-se para descrição da

distribuição de serviços e profissionais de saúde e das difusões das inovações

médicas, utilizando modelos matemáticos e estatísticos mais aprofundados

28

(BOUSQUAT e COHN, 2004; PEITER, 2005; DUTRA, 2011).

Barcellos e Santos (1997) citam que, por suas características, as

técnicas de geoprocessamento se tornam um poderoso instrumento para o

planejamento, monitoramento e avaliação das ações de saúde a partir da década

de 90, década marcada pela disponibilização e acesso facilitado a dados no

Brasil. Estas técnicas, inclusive, foram utilizadas para gerar novas informações

relacionando diversas informações, sendo úteis na integração de dados da

saúde com dados ambientais, demonstrando as inequidades de saúde brasileira.

Corroborando também com a incorporação da geografia no contexto da

saúde, é regulamentado em 1990 pela Lei federal nº. 8.080, o Sistema Único de

Saúde, que trata como princípio a descentralização das ações e serviços de

saúde para os municípios e a regionalização da rede destes serviços, sendo esta

sua organização (BRASIL, 1990). Esta organização foi regulamentada somente

no início do século XXI, conceituando as regiões de saúde e definindo que, o

conjunto das ações e serviços será articulado em redes de atenção à saúde

(BRASIL, 2011).

Estes conhecimentos abrangentes exigem do geógrafo uma

compreensão da saúde coletiva e de conhecimentos originados na medicina, na

economia, na antropologia, na biologia, na epidemiologia, na estatística, entre

diversos outros, num conjunto articulado de fatores, o contexto dos problemas

de saúde (BARCELLOS, 2008). Junqueira (2009) resgata o esforço das

universidades brasileiras nesta compreensão, tanto com as revistas eletrônicas

e publicação de estudos, quanto na organização de eventos científicos como

Simpósio Nacional de Geografia da Saúde.

Nota-se que há, atualmente, uma multiplicidade do uso da informação

de saúde focada na categoria geográfica e um interesse na ampliação do

conhecimento dentro da Geografia. O contínuo avanço das técnicas

informacionais e maior domínio do geógrafo na contextualização do tema permite

também que haja um avanço do pensamento geográfico nesta área.

29

3 - REGIÃO E REDE DE SAÚDE E O CASO DE MINAS GERAIS

A previsão de uma rede regionalizada da área de trabalho saúde só se

deu no final do século XX, pela Constituição Federal em 1988. Mas a

regulamentação da região de saúde se deu apenas em 2001, no âmbito da

regulamentação do Sistema Único de Saúde (SUS), com a Norma Operacional

de Assistência à Saúde 01/2001 (NOAS) – SUS 01/2001 e com a reedição da

Norma em 2002.

Em 2002 foi elaborado um grupo de trabalho com representação das três

esferas governamentais para garantir a implantação da NOAS. Assim, com a

instituição do Plano Diretor de Regionalização (PDR) houve a ordenação do

processo de regionalização da assistência à saúde nos Estados e no Distrito

Federal através de regiões, microrregiões e módulos assistenciais com

hierarquia e fluxos.

Conforme a NOAS 01/2002, região de saúde seria:

Base territorial de planejamento da atenção à saúde, não necessariamente coincidente com a divisão administrativa do estado, a ser definida pela Secretaria Estadual de Saúde, de acordo com as especificidades e estratégias de regionalização da saúde em cada estado, considerando as características demográficas, socioeconômicas, geográficas, sanitárias, epidemiológicas, oferta de serviços, relações entre municípios, entre outras.

Guimaraes (2005) acredita que esta forma de regionalizar é muito similar

a proposta de região de planejamento de Boudeville (1972), por estar pautada

por planejadores, mas se assimila também à região polarizada por estar ligada

ao município sede da região. Nota-se também na definição, a ligação ao conceito

de território de planejamento e poder, citado por Raffestin (2011).

No processo de regionalização do SUS, previstos na NOAS houve a

delimitação de unidades territoriais fundamentais: regiões de saúde,

microrregiões de saúde e os módulos assistenciais. Nesta forma de

planejamento, as ofertas de serviços de saúde manteriam uma escala de

complexidade que iniciaria nos módulos assistenciais, onde haveria os

municípios polos que manteriam serviços de referências para os demais

municípios. Esse processo é resumido na Figura 1.

30

Figura 1. Estruturação assistencial estabelecida pela estratégia da NOAS.

Fonte: OUVERNEY, 2005.

Minas Gerais, em atendimento à estrutura assistencial da NOAS 2001-

2002, elaborou seu PDR em duas etapas: proposta para o PDR e a previsão de

reformulação. Na primeira etapa foram levantados a capacidade técnica

instalada de serviços de saúde ambulatorial e hospitalar, os fluxos das

internações hospitalares, inclusive as internações e procedimento de alto custo,

as condições socioeconômicas e geográficas e fluxos viários (MINAS GERAIS,

2002).

Na primeira etapa foram elaboradas 7 macrorregiões, 21 regiões

assistenciais, 95 microrregiões e 265 módulos assistenciais. No Mapa 1 é

apresentada o resultado da regionalização e nota-se, através da divisão

territorial, a grande extensão de macrorregiões de Belo Horizonte, Montes Claros

e Uberaba.

Segundo Guimaraes (2005) as divisões regionais propostas pelo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, quando de sua criação,

serviriam para dar suporte às políticas territoriais brasileiras. Considerando as

referências geográficas para fomentar as alterações das regiões, passando pela

31

criação das microrregiões e mesorregiões, serviram de referência para a

proposta da NOAS.

Mapa 1. Mapa dos Polos Macrorregionais, Plano Diretor de Regionalização da Saúde,

Minas Gerais, 2001/2002. Fonte: MINAS GERAIS, 2002. Adaptado pelo autor.

O Mapa 2, mostra a divisão territorial do Brasil proposta pelo IBGE, por

mesorregiões em 2001. A similaridade das divisões propostas pelo PDR de

Minas Gerais e a divisão de mesorregião do IBGE é notável. Esta similaridade

das regiões de saúde com a divisão territorial é citada Guimaraes (2005) ao tratar

concepções geométricas das políticas territoriais, numa ilusão tecnocrática.

O PDR-Minas Gerais passou por revisão no ano de 2003 visando

adequar aos novos princípios adotados, como ganho de escala, acessibilidade

geográfica e viária. As novas definições do PDR estabeleceram três níveis de

regionalização: macrorregional, microrregional e municipal (MINAS GERAIS,

2013).

32

Mapa 2. Divisão territorial por mesorregiões, Minas Gerais, 2001.

Fonte: IBGE. Adaptado pelo autor.

Na metodologia da revisão de 2003 também foi considerada a existência

de municípios com grande força de atração. Passa-se o PDR a trabalhar, como

propósito, com o conceito de região de:

Conjunto de municípios circunvizinhos que mantêm entre si inter-relações para as questões de promoção e assistência à saúde do SUS, sendo a maioria periféricos a um polo que exerce força de atração sobre os demais, e constituem-se como base populacional e territorial para cálculos do planejamento em saúde e organização de redes. (MINAS GERAIS, 2013, p. 30)

Nesta concepção fica claro o resgate dos princípios da Teoria das

Localidades Centrais de Walter Christaller, onde uma cidade irradia sua

centralidade e importância, atraindo fluxos de pessoas para o centro em busca

de serviços de qualidade e diversidade.

Assim, as macrorregiões existentes no PDR-2000/2002 tiveram as

funções e os papéis redefinidos, sendo reformuladas e transformadas em 13

macrorregiões (Mapa 3). Algumas alterações e correções foram feitas de 2004

33

até 2013 no PDR de Minas Gerais. Visando o ajuste populacional ou estudo de

fluxo, alguns municípios foram adscritos em outras microrregiões, mantendo a

quantidade de macrorregiões.

Mapa 3. Mapa dos Polos Macrorregionais, Plano Diretor de Regionalização da Saúde,

Minas Gerais, 2003. Fonte: MINAS GERAIS, 2013. Adaptado pelo autor.

Importante ressaltar que nas unidades territoriais dos PDR’s de Minas

Gerais não houve planejamento para as regiões administrativas de saúde em

uso.

No âmbito do planejamento do SUS, em 2006, foi instituído o Pacto pela

Saúde (Portaria número 399/GM de 22/02/2006), no qual definiu que

“regionalização é uma diretriz do Sistema Único de Saúde e um eixo estruturante

do Pacto de Gestão, e deve orientar a descentralização das ações e serviços de

saúde, e os processos de negociação e pactuação entre os gestores”.

Em 2010, através da Portaria 4.279, de 30 de dezembro, foram

34

estabelecidas as diretrizes para a organização das Redes de Atenção à Saúde -

RAS “como estratégia para superar a fragmentação da atenção e da gestão nas

Regiões de Saúde e aperfeiçoar o funcionamento político-institucional do

Sistema Único de Saúde (SUS), com vistas a assegurar ao usuário o conjunto

de ações e serviços que necessita com efetividade e eficiência”.

Em 2011, pelo Decreto Federal 7.508, há uma reestruturação do

conceito de região de saúde:

Espaço geográfico contínuo constituído por agrupamentos de Municípios limítrofes, delimitado a partir de identidades culturais, econômicas e sociais e de redes de comunicação e infraestrutura de transportes compartilhados, com a finalidade de integrar a organização, o planejamento e a execução de ações e serviços de saúde.

Nesta nova abordagem do conceito, percebe-se o resgaste ao espaço

contínuo, também pautado no planejamento, mas retomando as possibilidades

de redes técnicas, citadas por Santos (1978), Dias (1995), e Corrêa (2005). Logo,

o pressuposto da concepção da região de saúde atual é a existência da rede de

atenção à saúde.

As redes de atenção à saúde - RAS, é definida como “conjunto de ações

e serviços de saúde articulados em níveis de complexidade crescente, com a

finalidade de garantir a integralidade da assistência à saúde” (BRASIL, 2011).

Neste conceito, há a abertura diferente aos planejadores municipais,

considerando e respeitando a continuidade da integralidade da assistência à

saúde em rede de cuidados à saúde, a elaboração de contratos organizativos de

responsabilidades entre os entes federativos, sendo o mais atual e o mais usado.

35

4 – ANÁLISE DA REDE E REGIÃO DA SÁUDE NO SUL DE

MINAS GERAIS

Na análise da regionalização das regiões de saúde no Sul de Minas

Gerais, mais especificadamente na macrorregião sul, composta pelos municípios

polos Alfenas, Passos, Pouso Alegre e Varginha, foi identificado que não houve

um avanço na absorção destas regiões de saúde, atualmente sob a coordenação

das Superintendências e Gerências Regionais de Saúde.

Assim, na elaboração de uma proposta de regionalização que absorva

as regiões administrativas, foram elencadas as quatro regiões atuais em uso, a

saber: Alfenas, Passos, Pouso Alegre e Varginha e mantiveram-se seus polos

como centros de referências para as complexidades intermunicípios já

concebidas, inclusive para as complexidades básicas de referências

intramunicípios.

Na análise da acessibilidade geográfica e viária entre os municípios da

macrorregião sul de Minas Gerais, foram identificados 11 municípios de 1ª

ordem, 51 de 2ª ordem, 53 de 3ª ordem, 20 de 4ª ordem e 18 de 5ª ordem. A

Tabela 1 demonstra a ordenação detalhada.

Tabela 1. Classificação geográfica e viária entre os municípios da macrorregião sul de

Minas Gerais e seus polos assistenciais.

Classificação

Região de Saúde

Alfenas Passos Pouso Alegre

Varginha Total

1ª Ordem 2 3 3 3 11

2ª Ordem 12 9 23 7 51

3ª Ordem 5 14 23 11 53

4ª Ordem 1 2 8 9 20

5ª Ordem 0 2 1 15 18

Total 22 28 58 45 153

Fonte: Elaboração do autor.

Conforme a Tabela 1, diante esta nova ordenação, a região de saúde de

Alfenas se agrupa em 22 municípios, a região de saúde de Passos em 28

municípios, a região de saúde de Pouso Alegre em 58 municípios e a região de

36

saúde de Varginha em 45 municípios. No Mapa 4 é possível visualizar a

expressão gráfica da nova regionalização.

Mapa 4. Proposta de regionalização por regiões de saúde, Macrorregião Sul, Minas

Gerais, 2015.

Conforme a Tabela 2, as regiões de saúde comporiam grande parte da

população residente nas regiões de Pouso Alegre e Varginha, devido a maior

quantidade de municípios referenciados. Esta maior concentração se deu ao fato

da malha viária estar mais acessível até os polos centrais do que em outros,

além da redução de obstáculos geográficos que impedem o trânsito rodoviário e

considerando, inclusive, 68% dos municípios terem sido classificados com 2ª e

3ª ordem.

Elaboração: RODRIGUES, D. O. 2015.

37

Tabela 2. Número total e porcentagem de habitantes por região de saúde proposta em

relação à macrorregião sul, Minas Gerais, 2015.

Região de saúde proposta

Número de habitantes Porcentagem em

relação à Macrorregião

Alfenas 489.799 17.89%

Passos 530.600 19.38%

Pouso Alegre 874.465 31.94%

Varginha 842.876 30.79%

Total 2.737.740 100.00%

Fonte: IBGE. Elaboração: RODRIGUES, D. O. 2015.

Em comparação a atual estrutura, apenas a região de Alfenas teria uma

pequena porcentagem a mais. Nas outras regiões, a escala populacional seria

reduzida, como é possível analisar na Tabela 3.

Tabela 3. Número total e porcentagem de habitantes por região de saúde atual em relação à macrorregião sul, Minas Gerais, 2015.

Região de saúde atual

Número de habitantes Porcentagem em

relação à Macrorregião

Alfenas 479.652 17.52%

Passos 411.679 15.04%

Pouso Alegre 957.517 34.97%

Varginha 888.892 32.47%

Total 2.737.740 100.00%

Fonte: IBGE. Elaboração: RODRIGUES, D. O. 2015.

Na análise epidemiológica, de 2009 a 2013, ocorreram 84.827 óbitos na

macrorregião sul. Este valor representa 13.94% do total de óbitos em Minas

Gerais no mesmo período (n=608.681).

Conforme Mapa 5, os fluxos dominantes tendem a destacar em direção

aos municípios polos (Alfenas, Passos, Pouso Alegre e Varginha). Entretanto, é

possível visualizar outros municípios com atração na mesma região de saúde

proposta e, inclusive, atraindo fluxos de outras regiões.

38

Mapa 5. Análise de fluxo de óbito segundo região de saúde proposta, Macrorregião sul,

Minas Gerais, 2009-2013.

Na mesma linha, na natalidade, ocorreram 156.130 nascimentos na

macrorregião e período do estudo. Este valor corresponde a 12.13% do total de

nascimento em Minas Gerais no período (n=1.286.844).

Analisando o fluxo de nascimentos, a atração dos municípios polo

também é dominante e também são visíveis atração de outros municípios, porém

com maior atração de municípios, possuindo uma rede mais regionalizada.

Em ambos os mapas, há fluxos com distâncias maiores sendo

percorridas, o que se pode entender que há uma referência para serviços mais

complexos como, por exemplo, unidades de tratamentos intensos para neonatais

que serve de referência para muitos municípios, resgatando o que estuda

Oliveira (2008), dizendo da complexidade dos serviços prestados de saúde e

distância destes.

39

Mapa 6. Análise de fluxo de nascimento segundo região de saúde proposta,

Macrorregião sul, Minas Gerais, 2009-2013.

Na análise das internações, foi utilizado um maior número de dados. De

2009 a 2013, ocorreram 807.875 internações na macrorregião e período do

estudo. Na análise do fluxo, nota-se uma maior radicalidade das internações

atraídas ao município polo de Alfenas e um menor número de municípios

atraindo internações, diferentemente do fluxo de óbito e nascimentos.

40

Mapa 7. Análise de fluxo de internação segundo região de saúde proposta,

Macrorregião sul, Minas Gerais, 2009-2013.

Analisando a viabilidade das regiões propostas, nota-se que há um

intenso processo de uso dos serviços de saúde locais, de modo que, totaliza-se

11 fluxos dominantes de atração de pessoas para serviços de referências,

formando assim, 11 redes de atenção à saúde com municípios polos.

Na proposta, a região de saúde do município polo de Alfenas recebe

poucos fluxos de outras regiões e possui um município polarizando sua região e

a região de Pouso Alegre. A região de saúde de Passos recebe fluxos da região

de Varginha e Pouso Alegre, tendo um intenso fluxo interno com três municípios.

A região de Varginha possui também um intenso fluxo interno com cinco

municípios polarizando serviços e a região de saúde proposta para Pouso Alegre

possui dois municípios como polo para outros.

Nota-se, então, as relações interregiões que, devido à proximidade entre

41

os municípios ou suas cidades, definem como fluxo prioritário ou ainda, devido

a possibilidade de pactuação entre os municípios através de uma programação

previamente definida, denominada Programação Pactuada Integrada - PPI.

Brasil (2006, p. 13) define que o objetivo da PPI é “organizar a rede de

serviços, dando transparência aos fluxos estabelecidos e definir, a partir de

critérios e parâmetros pactuados, os limites financeiros destinados à assistência

da população própria e das referências recebidas de outros municípios”. Assim,

há uma polarização em microrregiões que se constituem de uma rede dinâmica

entre as regiões.

42

5- CONCLUSÕES

Como toda e qualquer proposta de regionalização, ou até região, é

complexa, na área da saúde não seria diferente. Ao analisar dados de fluxos de

atendimento, deve-se registrar que o dinamismo da população é multifacetário

sendo possível uma referência para assistência ao parto, mas outra para realizar

internação de algum agravo específico (doenças cardíacas, por exemplo).

As definições de regiões, redes, territórios e espaços conforme os

órgãos públicos e governamentais nem sempre consideram os aspectos

econômicos, políticos e culturais dos lugares, atentando-se as questões ligadas

a esfera administrativa. Houve na saúde mineira uma contínua reformulação das

regiões e regionalizações com intuito de aprimorar os processos e atendimentos

da população. A geografia tem dado suporte a essas questões de regionalização

e pode dar mais subsídio a estudos de planejamento e elaboração de propostas,

a fim de otimizar e melhorar as redes de atendimento em saúde.

Este dinamismo tem que ser registrado também, frente às referências

estaduais e regionais de assistência a um determinado agravo, como os centros

de referências para hepatites, os ambulatórios de referência para gestação de

alto risco ou as redes de atendimento oncológico.

Entretanto, é possível concluir que, massivamente, os fluxos analisados

neste estudo seguem dentro da região de saúde proposta, de modo que se torna

viável a análise mais aprofundada das relações entre os municípios das regiões

de saúde e a análise da dominância dos polos regionais e inter-regionais.

Considerando os impasses a serem aprofundados por estudos mais

específicos, a proposta pode ser incorporada na rotina de planejamento do Plano

Diretor de Regionalização, mas não de modo centralizado e unicamente dos

planejadores, mas realizado pelas equipes regionais que tanto conhecem a

realidade dos municípios.

43

6 - REFERÊNCIAS

ALVES, Flamarion Dutra. Notas Teórico-Metodológicas entre Geografia

Econômica e Desenvolvimento Regional. Anais...V Seminário Internacional

sobre Desenvolvimento Regional. Santa Cruz do Sul-RS, 2011.

ANDRADE, Maria Eliane Brito de. Geografia Médica: origem e evolução. In:

BARATA, Rita Barradas; BRICEÑO-LEÓN, Roberto (Orgs.). Doenças

Endêmicas: abordagens sociais, culturais e comportamentais. Rio de Janeiro:

Ed. Fiocruz, 2000, págs. 151-166.

BARCELLOS, Christovam. A geografia e o contexto dos problemas de saúde.

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