156
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PRÓ REITORIA DE PESQUISA E PÓS GRADUAÇÃO PROGRAMA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS AMBIENTAIS MÍRIAN CRISTINA DE ALMEIDA Diversidade e vulnerabilidade de insetos aquáticos em paisagens produtivas GOIÂNIA GOIÁS-BRASIL 2014

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

  • Upload
    others

  • View
    3

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

PRÓ – REITORIA DE PESQUISA E PÓS – GRADUAÇÃO

PROGRAMA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS AMBIENTAIS

MÍRIAN CRISTINA DE ALMEIDA

Diversidade e vulnerabilidade de insetos aquáticos em paisagens produtivas

GOIÂNIA

GOIÁS-BRASIL

2014

Page 2: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

i

MÍRIAN CRISTINA DE ALMEIDA

Diversidade e vulnerabilidade de insetos aquáticos em paisagens produtivas

GOIÂNIA

GOIÁS-BRASIL

2014

Tese apresentada à Universidade

Federal de Goiás, como parte das

exigências do Programa de Pós-

Graduação em Ciências Ambientais

para obtenção do título de Doutora

Orientador: Prof. Dr. Paulo De

Marco Júnior

Page 3: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

ii

Page 4: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

iii

MÍRIAN CRISTINA DE ALMEIDA

Diversidade e vulnerabilidade de insetos aquáticos em paisagens produtivas

Apoio Institucional:

Financiamento:

Page 5: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

iv

AGRADECIMENTOS

Agradeço as instituições financiadoras: Fundação O Boticário (2010-20110) e

ao CNPQ (Edital MCT/CNPq Nº 014/2010), pelo apoio a este trabalho, o qual está

inserido em um projeto maior intitulado “O Cerrado em pedaços: múltiplas respostas de

componentes da biodiversidade à fragmentação e à perda de habitats”.

À CAPES pela bolsa concedida durante estes quatro anos de formação.

À meu orientador Professor Dr. Paulo De Marco Júnior por ter aceitado me

orientar em mais esta etapa de formação, pela amizade, carinho e todos os ensinamentos

desde de minha graduação.

Ao Laboratório do Centro Universitário do Norte do Espírito Santo, Frederico

Salles Falcão, Ericksen Raimundi e Kamila Angelin por tão gentilmente me receberem

e auxiliarem na taxonomia dos Ephemeroptera.

Aos professores, Fausto Miziara, Augustina Eschevaria, Laerte Ferreira, Manuel

Ferreira, Luis Mauricio Bini, Marcus Cianciaruso, Thiago Rangel, Levi Carina e Paulo

De Marco Júnior que através de suas disciplinas influenciaram meu processo de

formação.

À Daniel de Paiva Silva e Fábio Carvalho pela ajuda em campo para as coletas

de dados e na direção do carro.

À Denis Nogueira pela ajuda e discussão de questões analíticas.

À Zander Augusto, Felipe Bergamini, Caio Siqueiroli, Maysa Almeida, Carlos

Klein, Lorena, Marco Antônio Sá, Karen, Leticia Almeida e Thais pelo apoio durante as

coletas de dados em campo.

Agradeço a todos os pequenos e grandes proprietários rurais e aos seus

funcionários, por nos receberem e permitirem que coletássemos em suas propriedades.

Page 6: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

v

Ao Analista Ambiental Renato Cézar de Miranda e funcionários da Flona de

Silvânia e ao Analista Ambiental Marcos Cunha do Parque Nacional de Emas pela

recepção e apoio logísticos.

À oportunidade de ter vivenciado e conhecido um pouco do estado de Goiás e

sua gente acolhedora.

À minha família peço desculpas pela ausência e pela impaciência em muitos

momentos deste processo.

À Deus por todo este processo, pelas coisas boas e pelas preciosas lições, que

serviram como o pano de fundo para o meu crescimento pessoal.

Page 7: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

vi

“A atividade científica pode ser comparada à atividade de um músico que compõe para

uma orquestra. Ele deve coordenar uma série de instrumentos para que estes soem de

forma harmoniosa. Um som nunca é certo ou errado apenas adequado ou não, dada a

intenção no momento da composição. Os instrumentos têm suas especificidades, mas há

um objetivo que os une (a música em apresentação). O sentimento do compositor

necessita ser interpretado. O som produzido não é inerte, pois afeta sentimentos,

processos humanos, pode mudar uma história...

...Na orquestra, não se deve priorizar os violinos em detrimento do triângulo, pois suas

qualidades são insubstituíveis em determinados momentos. “Da mesma forma, não se

relegam as questões filosóficas, nem se valoriza sobremaneira as potencialidades

estatísticas.”

Gilson Volpato, Ciência: da filosofia à publicação

Page 8: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

vii

RESUMO

ALMEIDA, M. C. Diversidade e vulnerabilidade de insetos aquáticos em paisagens

produtivas. 2014. 156 f. Tese (Doutorado) – Programa de Pós-Graduação em Ciências

Ambientais, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2014

A perda e a fragmentação de habitats na escala da paisagem, o uso do solo e a

integridade local de habitats (e.g. mata ciliar), associadas à estrutura social das

propriedades rurais são fatores que podem determinar a perda de espécies. Esta perda

poderia ser maior onde a matriz das paisagens é homogeneizada por um mesmo tipo de

uso do solo, como nas áreas agrícolas. Isto tem consequências importantes e fazem com

que as práticas da Biologia da Conservação não se baseiem apenas nas Áreas

Protegidas. Estas abordagens aplicadas aos insetos aquáticos ocorrentes no Cerrado do

estado de Goiás demonstram que as espécies ameaçadas de Odonata, distribuídas na

região centro e sudoeste apresentaram uma perda histórica de 76% de habitat. Na

avaliação regional de acordo com os critérios da IUCN, um total de 34,8% das espécies

estariam ameaçadas, das quais 71,5% estariam Criticamente Ameaçadas, 22,8%

estariam Ameaçadas e 4,9% Vulneráveis.

As variáveis ambientais locais, a estrutura espacial de habitat e da matriz em

área de influência de 250 metros e a estrutura espacial de habitat e matriz nas paisagens

de 25 por 25 quilômetros explicaram a riqueza local de adultos de Odonata em córregos.

A riqueza diminui com o aumento de pastagem na área de influência de 250 metros e

lavoura na paisagem e aumenta com a abertura de dossel. Para os imaturos de

Ephemeroptera, Plecoptera e Trichoptera (EPT), a riqueza aumenta com o aumento da

quantidade de mata ciliar a 250 metros, com a abertura de dossel e a condutividade da

água. Quando consideramos a integridade de habitat (mata ciliar) associada a estrutura

da propriedade rural ao redor de áreas protegidas, a integridade da vegetação ripária

medida pelo NDVI foi menor na Zona de Amortecimento da Unidade de Uso

sustentável associada a pequenas propriedades. A área da propriedade dedicada ao

cultivo e o tamanho do rebanho tem impactos diretos para valores menores de NDVI.

Palavras-Chave: Perda de Habitat, Uso do Solo, Diversidade, Insetos Aquáticos,

Córregos, Mata Ciliar

Page 9: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

viii

ABSTRACT

ALMEIDA, M. C. Diversity and vulnerability of aquatic insects in productive

landscapes. 2014. 156 f. Tese (Doutorado) – Programa de Pós-Graduação em Ciências

Ambientais, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2014

Loss and habitat fragmentation at the landscape scale, the land use and local integrity of

habitats (e.g. riparian forests), associated with the social structure of rural lands are

factors that can determine the loss of species. These could be greater where of

landscapes is homogenized by the same type of land use, such as in agricultural areas.

This has important consequences and could be determine that Conservation Biology

practices are not based only on Protected Areas. These approaches applied to aquatic

insects occurring in Cerrado of Goiás state show that endangered species of Odonata,

distributed in the central and south region presented a historical habitat loss of 76%.

Regional assessment according to the criteria of the IUCN, a total of 34.8% of species

would be in some category of threat, these 71.5% were Critically Endangered, 22,8%

Endangered and 4.9% would be vulnerable. Local environmental variables, spatial

structure of habitat and matrix in buffers of 250 meters and habitat spatial structure and

matrix in the landscapes of 25 by 25 kilometers explained the local richness of Odonata

adults in streams. Richness decreases with increase in pasture in the 250 meters buffers

and crop in the landscape and increases with the opening canopy. For Ephemeroptera,

Plecoptera and Trichoptera (EPT) immature, richness increases with increasing riparian

forest 250 meters buffers, with the opening of canopy and the average conductivity of

the water. When we consider the habitat integrity (riparian) associated with the structure

of rural property around protected areas, the integrity of riparian vegetation as measured

by NDVI was lower in the Buffer Zone of sustainable protect areas associated with

small farms. The area of the property dedicated to the cultivation and cattle size has

direct impacts to lower NDVI values.

Key-words: Habitat Loss, Land Use, Diversity, Aquatic Insects, Streams, Riparian

Forest

Page 10: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

ix

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO GERAL..............................................................................................12

Paisagens agriculturais e paisagens produtivas...................................................13

Fragmentação: conceito e estado da arte.............................................................14

Ocupação do solo e a fragmentação como um processo histórico em Goiás......15

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................19

CAPÍTULO 1

AVALIAÇÃO DA VULNERABILIDADE DAS ESPÉCIES DE LIBÉLULAS

(INSECTA – ODONATA) EM RELAÇÃO AO AVANÇO DA AGRICULTURA

NO ESTADO DE GOIÁS.............................................................................................25

ABSTRACT...................................................................................................................26

INTRODUÇÃO.............................................................................................................27

MATERIAL E MÉTODOS..........................................................................................31

Área de Estudo.....................................................................................................31

Uso do Solo..........................................................................................................32

Modelagem de Nicho...........................................................................................32

Regionalização dos Critérios de Ameaça............................................................34

RESULTADOS..............................................................................................................34

Alterações de Uso do solo em Goiás...................................................................34

Distribuição Observada e Informações Biogeográficas de Odonata..................35

DISCUSSÃO..................................................................................................................45

Vulnerabilidade e futuro......................................................................................48

CONCLUSÃO................................................................................................................51

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................52

Page 11: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

x

CAPÍTULO 2

EFEITO DA AGRICULTURA E DA FRAGMENTAÇÃO DE HABITATS

SOBRE A DIVERSIDADE DE INSETOS AQUÁTICOS NO ESTADO DE

GOIÁS............................................................................................................................63

ABSTRACT...................................................................................................................64

INTRODUÇÃO.............................................................................................................65

MATERIAL E MÉTODOS.........................................................................................72

Arranjo amostral e Seleção de áreas...................................................................72

Arranjo amostral em campo................................................................................75

Amostragem biológica........................................................................................76

Caracterização ambiental dos riachos.................................................................77

Indicadores e caracterização da estrutura da paisagem.......................................78

Análises Quantitativas de Diversidade...............................................................80

RESULTADOS..............................................................................................................85

Riqueza Estimada................................................................................................85

Diversidade Beta.................................................................................................86

Padrões espaciais de habitat e matriz, escalas e diversidade das comunidades de

Odonata e imaturos de EPT.................................................................................92

Variáveis locais, padrões espaciais de habitat em áreas de influência ou padrões

espaciais de habitat na paisagem: quais explicam a diversidade de Odonata e

EPT em riachos?..................................................................................................95

Adultos de Odonata............................................................................................95

Imaturos de EPT..................................................................................................99

Estrutura Paisagem e Diversidade Beta............................................................102

DISCUSSÃO................................................................................................................106

Padrões de riqueza e uso do solo.......................................................................106

Page 12: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

xi

Padrões de composição de espécies (Diversidade Beta) e uso do solo.............110

CONCLUSÃO..............................................................................................................113

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................114

ANEXO 1......................................................................................................................128

ANEXO 2......................................................................................................................131

CAPÍTULO 3

ZONA DE AMORTECIMENTO EM DUAS ÁREAS PROTEGIDAS EM

PAISAGENS AGRICULTURAIS DO ESTADO DE GOIÁS................................134

ABSTRACT.................................................................................................................135

INTRODUÇÃO...........................................................................................................136

MATERIAL E METODOS........................................................................................140

Região estudada.................................................................................................140

Dados físicos......................................................................................................141

Informações para propriedades rurais................................................................142

RESULTADOS............................................................................................................144

Caracterização das propriedades nas Zonas de amortecimento.........................144

Zona de amortecimento e índice de vegetação para a vegetação ripária...........145

DISCUSSÃO................................................................................................................149

CONCLUSÃO..............................................................................................................152

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................153

Page 13: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

12

INTRODUÇÃO GERAL

As práticas para a conservação da biodiversidade não devem focar apenas nas

áreas protegidas, mas devem também considerar a área fora destas, a qual é dominada

pelas atividades antrópicas, como áreas urbanas e de produção agrícola. Neste caso, é

importante considerar um contexto mais amplo de estrutura espacial, definido como

paisagem (FISCHER e LINDENMAYER, 2007).

O conceito de paisagem pode ser definido a partir de uma abordagem geográfica

ou ecológica, e é um conceito que foi construído a partir da perspectiva das atividades

humanas de uso e ocupação do espaço geográfico (FISCHER e LINDENMAYER,

2007, TOGASHI, 2009). Ele abrange uma área espacialmente heterogênea, em termos

geomorfológicos, recursos hídricos ou fisionomias vegetacionais, que nesta escala

devem ser conciliados para atingir o objetivo comum de conservar a biodiversidade,

produzir alimentos e manter as cidades (METZGER, 2001).

A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um

determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes florestais), como também do

padrão espacial destes, como o isolamento e a área (MARTINS et al 2001, TURNER,

1989, TUNER et al., 2001, VILLARD e METZGER, 2014). Neste caso, ela busca a

ligação entre padrões espaciais de disposição de habitats e não-habitats, conhecida como

heterogeneidade espacial e processos ecológicos nas várias escalas espaciais. Ela busca

compreender, como a dispersão, por exemplo, pode afetar a estruturação da

biodiversidade (URBAN et al., 1987, TURNER, 1989; PICKETTS e CADENASSO

1999), fundamentados na Teoria da Biogeografia de Ilhas.

As paisagens apresentam um tipo de estrutura espacial aninhada, onde cada nível

de uma hierarquia contém os níveis abaixo dela (PICKETTS e CADENASSO, 1999).

Para selecionar a escala adequada para o teste de hipóteses, deve-se buscar a relação

entre a heterogeneidade ambiental e um determinado processo de interesse, como a

capacidade de dispersão de alguma espécie biológica (TURNER et al., 2001).

Apesar das paisagens serem o resultado de fatores bióticos, e abióticos como da

ação do clima e características de relevo que interagem entre si e se modificam com o

tempo (MARTINS et al., 2001), as atividades humanas tem uma influência muito

Page 14: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

13

grande nos padrões observados atualmente nas paisagens. Em relação ao tipo de uso do

solo, por exemplo, podemos observar que existem configurações dentro de paisagens

que poderiam apresentar graus crescentes de heterogeneidade ambiental (Cerezo et al

2011). Em um extremo, por exemplo, grandes áreas de lavouras deveriam apresentar

uma menor heterogeneidade espacial, devido à natureza da extensão deste tipo de

atividade. A heterogeneidade deveria aumentar em paisagens mescladas com usos de

lavoura e pastagem até paisagens com predomínio de pastagens (Cerezo et al. 2011).

Paisagens Agriculturais e paisagens produtivas

Algumas estimativas sugerem que as distribuições geográficas de mais da

metade das espécies silvestres estão fora dos limites das Áreas Protegidas, ocorrendo

principalmente em paisagens com o predomínio de uso para a agricultura (BLANN,

2006; NOBREGA e DE MARCO, 2011). A conversão de áreas naturais para o uso pela

agricultura tem grandes impactos na conservação da biodiversidade. A conservação de

algumas espécies ameaçadas ou raras requer manchas de habitats grandes e bem

conectadas. Em alguns casos, porém, algumas espécies ameaçadas de extinção que

apresentam grande porte, como a onça pintada, podem coexistir em paisagens

agriculturais manejadas, mesmo em sistemas de grande rendimento (SIDERIS et al.,

2013).

As áreas produtivas são de grande distribuição e de influência em sistemas

ecológicos naturais, sendo que é estimado que cerca de 80-90% das terras habitáveis

pelo homem são afetadas por algum tipo de atividade produtiva (SANDERSON et al.,

2002). As demandas por matrizes energéticas advindas de biocombustíveis, a demanda

por alimento e de serviços de ecossistema, requerem de fazendeiros, planejadores da

agricultura e biólogos da conservação considerar a relação da produção da agricultura e

a conservação da biodiversidade. Esta situação é forte principalmente no Bioma

Cerrado, onde incentivos tentam centralizar uma produção de grãos em grande escala.

O conceito de paisagens produtivas é aplicado a paisagens dominadas pelas

atividades humanas (URBAN et al., 1987), onde os componentes de habitats naturais

muitas vezes são a minoria e estão entremeados por vários tipos de usos do solo, como

pastagens e lavouras. Compreender as relações de paisagens manejadas, sobre a

diversidade de espécies permite identificar tipos de configurações de paisagem e

Page 15: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

14

práticas que mantenham os processos ecológicos. O entendimento de como a

biodiversidade se estrutura em paisagens produtivas passa necessariamente pela

compreensão de como o tipo de uso predominante nestas (e.g. lavoura ou pastagem) ou

a intensidade de manejo do uso do solo, afetam a riqueza e a composição de espécies

(FILIPPI-CODACCIONI et al., 2010; KRUESS e TSCHARNTKE, 2002; DAUBER et

al., 2003).

As práticas agriculturais que mantêm processos ecológicos (e.g. redução na

entrada de agroquímicos, melhores práticas de manejo do solo, aumento de cultivo

orgânico) estão relacionadas a uma maior diversidade de espécies em paisagens que

apresentam uma pequena quantidade de habitats naturais do que em paisagens mais

complexas (BATARY et al., 2011). Estes efeitos são significativos apenas em áreas de

lavouras, não apresentando efeitos para as áreas de pastagem (BATARY et al., 2011).

Em paisagens intensivamente manejadas, reconciliar a produção e uma

conservação efetiva da biodiversidade deve ser mais crítico e necessariamente leva por

conservar espécies resilientes a fragmentação de habitats e uso do solo pela agricultura.

Neste caso, se devem considerar questões como a conexão entre áreas dentro de

paisagens produtivas, focando na resistência à dispersão devido às características da

matriz em especial para espécies raras, localmente ou globalmente ameaçadas, e aquelas

que requerem maiores extensões de habitat minimamente alterado (SCHERR e

MCNEELY, 2008).

Fragmentação: conceito e estado da arte

Os esforços atuais de considerar questões biogeográficas na escala da paisagem

têm focado nas respostas das comunidades e populações às paisagens fragmentadas. Ela

pode ser descrita por dois processos: a perda de habitat e a fragmentação per se, a qual

ocorre por um processo histórico devido à perda de conexão e ao isolamento de

manchas de habitat (FAHRIG, 2003). A abordagem que testa os efeitos da quantidade

de habitat em manchas individuais, tem sido definidos como estudos na escala da

paisagem, apesar de à rigor não medirem processos nesta escala, uma vez que assume

que a quantidade de habitat na mancha é independente da quantidade de habitat na

paisagem (FAHRIG, 2003). No geral, compara-se a diversidade de paisagens

Page 16: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

15

fragmentadas com outra que seja controle, onde não houve fragmentação. Além da

definição de fragmentação ser nestes casos qualitativa, não leva em consideração o

efeito da quantidade de habitat e que ela muda as propriedades do habitats

remanescentes. (FAHRIG, 2003).

Como processo, a fragmentação pode ocorrer de maneira natural quando

consideramos, por exemplo, no Cerrado manchas de corpos de água com vegetação

ciliar entremeado por córregos naturalmente sem matas ciliares (WANTZEN et al.,

2006), cenário muito comum no Bioma. Porém, ela também pode acontecer devido ao

tipo de atividade humana e padrão de uso do solo (CARVALHO et al., 2009).

Os estudos na escala da paisagem estão associados a dois fatores, a quantidade

de habitat e ao isolamento destes. Porém, outros estudos têm demonstrado que o efeito

da mancha de habitat e do isolamento das manchas de habitat seriam consequências

diretas da quantidade de habitat amostrada da paisagem local, ou da quantidade de

manchas na paisagem (FAHRIG, 2013). Os efeitos da fragmentação e da perda de

habitat nas paisagens podem ser analisados não apenas considerando a riqueza, como

também a diversidade beta. Em paisagens com distribuição não homogênea de manchas

de habitat, por exemplo, grandes manchas podem funcionar como fontes de indivíduos

para manchas menores e mais isoladas, através da dinâmica de efeito de massa

(LEIBOLD et al., 2004).

Ocupação do solo e a fragmentação como um processo histórico em Goiás

No estado de Goiás, as paisagens produtivas são uma realidade, com o

predomínio da produção agropecuária. A história de ocupação do estado está inserida

dentro do contexto geral de ocupação do bioma Cerrado. As alterações no uso do solo

do Cerrado estão associadas as inovações tecnológicas, investimento de capital, energia

e conhecimento aplicados para promoverem a expansão da agricultura intensiva

(ALHO, 1995). Estas transformações foram rápidas e em grande escala, sendo que até

40 anos atrás a região do Cerrado era utilizada para a criação extensiva do gado (ALHO,

1995).

O estado de Goiás está totalmente inserido dentro dos limites de distribuição do

bioma Cerrado. Nele a expansão de fronteiras aconteceu por meio de vários processos

Page 17: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

16

de ocupação como da frente de expansão, da frente pioneira e da expansão da fronteira

agrícola (MIZIARA e FERREIRA, 2008b).

A primeira etapa da ocupação no estado começou na região centro sul com o

ciclo da mineração por volta do século XVIII, quando as principais transformações na

paisagem estavam baseadas na exploração mineral e em uma agricultura de

subsistência, a segunda etapa ocorreu posteriormente no século XIX, onde a mesma

atividade se manteve desenvolvida na região sul do estado, juntamente com a criação

extensiva de gado (MIZIARA e FERREIRA, 2008b). Com uma maior integração da

economia do estado ao resto do país através da construção da estrada de ferro na década

de 1920, tanto a agricultura quanto a pecuária passam a visar o mercado consumidor do

centro-sul, constituindo-se assim na terceira etapa de ocupação do estado. A quarta

etapa de expansão aconteceu por incentivo governamental de integração nacional na

década de 1940, na chamada Marcha para o Oeste, à região do Mato Grosso goiano

passa a apresentar uma economia dinamizada. A quinta etapa, ocorrida em meados da

década de 1970, foi direcionada pela ação do estado através de programas de

desenvolvimento, através da incorporação das modernas tecnologias da Revolução

Verde, como sementes melhoradas, insumos químicos e maquinário agrícola

(MIZIARA e FERREIRA, 2008b). Isto configurou a perda de vegetação com um

padrão autocorrelacionado no bioma Cerrado, com um gradiente crescente no sentido

norte-sul e leste oeste do bioma, com quase total ausência de remanescentes na porção

sul do bioma a 100% de remanescentes para regiões localizadas ao norte do bioma

(DINIZ-FILHO et al., 2009). Esta perda de habitat é em grande parte associada à

criação de gado e secundariamente as atividades de lavouras (DINIZ-FILHO et al.,

2009).

O desmatamento no estado de Goiás reflete o padrão do Bioma Cerrado. No

Bioma Cerrado 22% da área convertida e 13% dos desmatamentos ocorreram entre os

anos de 2003 e 2004 e estão correlacionados à área de agricultura. O estado de Goiás

apresenta o mesmo padrão, apesar de apresentar em grande parte áreas consolidadas,

registrando desmatamentos significativos (2004 e 2005), com um forte padrão de

agregação espacial, principalmente localizados em áreas consolidadas como o sudoeste

de Goiás, nos municípios de Rio Verde, Jataí e Mineiros e no entorno do Distrito

Federal, municípios de Luziânia e Cristalina (FERREIRA et al., 2009).

Page 18: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

17

As paisagens dominadas por vegetação natural estão localizadas no nordeste do

estado, as paisagens dominadas por lavouras estão localizadas nas regiões sul e sudoeste

e aquelas dominadas pela pastagem estão dispersas por toda parte central e oeste,

principalmente na bacia do Araguaia. Esta distribuição de remanescentes também está

associada à topografia dos terrenos sendo que, os remanescentes estão situados em

regiões com o relevo mais acidentado e as lavouras em regiões de relevo plano

(CARVALHO et al., 2009). O padrão de fragmentação de habitats ocorrentes no estado

de Goiás está associado a este processo de ocupação, a fragmentação de habitats é maior

em paisagens dominadas pela lavoura do que por pastagem (CARVALHO et al., 2009).

Dentro deste contexto, os sistemas de drenagem são importantes elementos das

paisagens, apresentando tanto uma dinâmica própria associada a variação de vazão de

acordo com a disponibilidade de chuvas e a distúrbios. Eles também apresentam uma

dinâmica fortemente conectada aos ambientes terrestres devido aos aspectos de

geologia, topografia e tipo de vegetação e devido ao fato de apresentarem uma grande

relação entre perímetro e área o que leva a uma acumulação de nutrientes e detritos. A

influência dos ambientes terrestres também está associada a dinâmica hierárquica destes

sistemas, onde os processos que ocorrem em porções de níveis superiores da drenagem

têm influência sobre os processos que ocorrem em porções inferiores da drenagem

(ALLAN e CASTILLO, 2007).

A perspectiva da paisagem sobre a estruturação da diversidade nestes sistemas é

muito importante, principalmente quando consideramos que impactos ocorrentes nesta

escala poderia a priori selecionar o conjunto de espécies possíveis a ocorrer localmente,

e em adição os próprios fatores locais seriam filtros adicionais ao estabelecimento das

espécies. Dentro de todo este contexto conceitual esta tese está estruturada em capítulos,

construídos ao redor das questões associadas à Ecologia da Paisagem, à fragmentação

de habitats, à agricultura e à diversidade de insetos aquáticos no estado de Goiás. Os

capítulos podem ser organizados considerando a escala espacial para o qual estes foram

desenvolvidos. As escalas variam desde a compreensão da conservação de Odonata na

escala da distribuição biogeográfica no estado de Goiás, da diversidade de insetos

aquáticos em paisagens de dimensão 25 por 25 quilômetros, e da diversidade local de

riachos inseridos nestas paisagens. A integração de todas estas escalas busca

compreender as alterações de habitats e a estruturação da diversidade de adultos de

Page 19: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

18

Odonata e imaturos de insetos aquáticos, advinda da distribuição de usos de solo no

estado de Goiás.

No capítulo um desenvolvi uma análise da vulnerabilidade das espécies de

Odonata em relação à expansão da agricultura entre a década de 80 e o início dos anos

2000 e dentro deste contexto foi feita uma regionalização das categorias de ameaça de

acordo com os critérios da IUCN para o estado de Goiás.

No capítulo dois testei os efeitos das métricas de fragmentação, como a

proporção de áreas remanescentes, isolamento entre áreas remanescentes sobre a

riqueza estimada, e a representação das lavouras e pastagens sobre a estrutura das

comunidades e a diversidade beta de adultos de Odonata em 14 paisagens do estado de

Goiás. Para os imaturos das ordens Ephemeroptera, Plecoptera e Trichoptera (EPT)

estas mesmas informações foram discutidas considerando 8 paisagens. As hipóteses

testadas estão estruturadas para duas escalas, a escala da paisagem, definida aqui como

uma região de dimensão 25 por 25 quilômetros e as áreas de influência anelares com

escalas variando de 250 a 2000 metros.

No Capítulo três testei os efeitos do tipo de estrutura da produção agrícola

predominante, seja ela patronal ou agricultura familiar na conservação da vegetação

ripária das Zonas de Amortecimento de duas unidades de conservação do estado de

Goiás, Parque Nacional de Emas e a Floresta Nacional de Silvânia.

Page 20: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

19

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Allan, J. D. e M. Castillo. 2007. Stream Ecology Structure and function of running

waters.

Alho, C. J. R. 1995. De grão em grão, o cerrado perde espaço: (cerrado, impactos do

processo de ocupação). WWF : PRO-CER, Brasília, DF, Brasil.

Batary, P., B. Andras, D. Kleijn, and T. Tscharntke. 2011. Landscape-moderated

biodiversity effects of agri-environmental management: a meta-analysis.

Proceedings of the Royal Society B-Biological Sciences 278:1894-1902.

Benke, A. C., J. B. Wallace, J. W. Harrison, and J. W. Koebel. 2001. Food web

quantification using secondary production analysis: predaceous invertebrates of

the snag habitat in a subtropical river. Freshwater Biology 46:329-346.

Blann, K. 2006. Habitat in agriculture: how much is enough? A state-of-the-science

literature review.

Borisov, S. 2009. Study of Dragonfly (Odonata) Migrations in the Western Tien-Shan

Mountains Using Ornithological Traps. Zoologichesky Zhurnal 88:1184-1188.

Brauckmann, C. and W. Zessin. 1989. Neue Meganeuridae aus dem Namurium von

Hagen-Vorhalle (BRD) und die Phylogenie der Meganisoptera (Insecta,

Odonata). Deutsche Entomologische Zeitschrift 36:177-215.

Bulet, P., C. Hetru, and J. Hoffmann. 1992 New antibacterial peptide(s) from

dragonfly|for medical, veterinary, agricultural and food preservation use.

Carvalho, F. M. V., P. de Marco, and L. G. Ferreira. 2009. The Cerrado into-pieces:

Habitat fragmentation as a function of landscape use in the savannas of central

Brazil. Biological Conservation 142:1392-1403.

Corbet, P. S. 1999. Dragonflies: behavior and ecology of Odonata. Comstock Publ.

Assoc., Ithaca, NY.

Page 21: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

20

Corbet, P. S. and M. L. May. 2008. Fliers and perchers among Odonata: dichotomy or

multidimensional continuum? A provisional reappraisal. International Journal of

Odonatology 11:155-171.

Costa, J. M., T. C. Santos, and B. B. Oldrini. 2012. Odonata. in G. A. R. Melo, C. J. B.

Carvalho, S. A. Casari, and R. Constantino, eds. Insetos do Brasil: Diversidade e

Taxonomia. Holos, Ribeirão Preto.

Dauber, J., M. Hirsch, D. Simmering, R. Waldhardt, A. Otte, and V. Wolters. 2003.

Landscape structure as an indicator of biodiversity: matrix effects on species

richness. Agriculture Ecosystems & Environment 98:321-329.

Dijkstra, K. D. B., M. T. Monaghan, and S. U. Pauls. 2014. Freshwater Biodiversity and

Aquatic Insect Diversification. Annual Review of Entomology 59:143-163.

De Marco, P., A. O. Latini, and A. P. Reis. 1999. Environmental determination of

dragonfly assemblage in aquaculture ponds. Aquaculture Research 30:357-364.

De Marco, P. Jr. and D. M. Vianna. 2005. Distribuição do esforço de coleta de Odonata

no Brasil: subsídios para escolha de áreas prioritárias para levantamentos

faunísticos. Lundiana 6:13-26.

Diniz-Filho, J. A. F., G. Oliveira, F. Lobo, L. G. Ferreira, L. M. Bini, and T. F. L. V. B.

Rangel. 2009. Agriculture, habitat loss and spatial patterns of human occupation

in biodiversity hotspot. Scientia Agricola 66:764-771.

Fahrig, L. 2003. Effects of habitat fragmentation on biodiversity. Annual Review of

Ecology and Systematics 34:487-515.

Fahrig, L. 2013. Rethinking patch size and isolation effects: The habitat amount

hypothesis. Journal of Biogeography 40:1649-1663.

Ferreira, L. G., M. E. Ferreira, G. F. Rocha, M. Nemayer, and N. C. Ferreira. 2009.

Dinâmica agrícola e desmatamentos em áreas de Cerrado: uma análise a partir

Page 22: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

21

de dados censitários e imagens de resolução moderada. Revista Brasileira de

Cartografia.

Filippi-Codaccioni, O., V. Devictor, Y. Bas, J. Clobert, and R. Julliard. 2010. Specialist

response to proportion of arable land and pesticide input in agricultural

landscapes. Biological Conservation 143:883-890.

Fischer, J. and D. B. Lindenmayer. 2007. Landscape modification and habitat

fragmentation: a synthesis. Global Ecology and Biogeography 16:265-280.

Horvath, G., M. Blaho, A. Egri, G. Kriska, I. Seres, and B. Robertson. 2010. Reducing

the Maladaptive Attractiveness of Solar Panels to Polarotactic Insects.

Conservation Biology 24:1644-1653.

Johnson, D. M., T. H. Martin, P. H. Crowley, and L. B. Crowder. 1996. Link strength in

lake littoral food webs: Net effects of small sunfish and larval dragonflies.

Journal of the North American Benthological Society 15:271-288.

Juen, L. and P. Jr. De Marco. 2011. Odonate beta diversity in terra-firme forest streams

in Central Amazonia: On the relative effects of neutral and niche drivers at small

geographical extents. Insect Conservation and Diversity 4:265-274.

Keller, D. and R. Holderegger. 2013. Damselflies use different movement strategies for

short- and long-distance dispersal. Insect Conservation and Diversity 6:590-597.

Kruess, A. and T. Tscharntke. 2002. Contrasting responses of plant and insect diversity

to variation in grazing intensity. Biological Conservation 106:293-302.

Leibold, M. A., M. Holyoak, N. Mouquet, P. Amarasekare, J. M. Chase, M. F. Hoopes,

R. D. Holt, J. B. Shurin, R. Law, D. Tilman, M. Loreau, and A. Gonzalez. 2004.

The metacommunity concept: a framework for multi-scale community ecology.

Ecology Letters 7:601-613.

Likhter, A. M., K. E. Glushkova, E. Lubyanova, V, A. A. Vetrova, Y. A. Pleshkova, I.

T. Shagautdinova, Y. N. Rogozhina, R. M. Dusaliev, and N. S. Remzov. 2009.

Page 23: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

22

Method of biological protection against bloodsucking flying insects and device

for its realisation.

Lynch, R. J., S. E. Bunn, and C. P. Catterall. 2002. Adult aquatic insects: Potential

contributors to riparian food webs in Australia's wet-dry tropics. Austral

Ecology 27:515-526.

Martins, E. S., A. Reatto, and J. R. Correia. 2001. Fatores ambientais que controlam as

paisagens das Matas de Galeria no bioma Cerrado: exemplos e hipóteses. Pages

79-111 in J. F. Ribeiro, C. E. L. Fonseca, and J. C. Sousa-Silva, eds. Cerrado:

caracterização e recuperação de Matas de Galeria. Embrapa Cerrados,

Planaltina.

May, M. L. 1991. Thermal adaptations of dragonflies, revisited. Advances in

Odonatology 5:71-88.

Metzger, J. P. 2001. O que é Ecologia de Paisagens? Biota Neotropical.

Miziara, F. and N. C. Ferreira. 2008. Expansão da fronteira agrícola e evolução da

ocupação e uso do espaço no Estado de Goiás: subsídios à política ambiental.

Pages 107-125 in L. G. Ferreira, ed. A encruzilhada socioambiental:

biodiversidade, economia e sustentabilidade no cerrado. UFG.

Nobrega, C. C. and P. de Marco. 2011. Unprotecting the rare species: a niche-based gap

analysis for odonates in a core Cerrado area. Diversity and Distributions 17:491-

505.

Paulson, D. R. List of the Odonata od South America, by country.

http://www.ups.edu/biology/museum/ODofSA.html . 2013.

Peacor, S. D. and E. E. Werner. 1997. Trait-mediated indirect interactions in a simple

aquatic food web. Ecology 78:1146-1156.

Picketts, S. T. A. and M. L. Cadenasso. 1999. Landscape ecology: spatial heterogeneity

in ecological systems. NCASI Technical Bulletin 2:420.

Page 24: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

23

Russell, R. W., M. L. May, K. L. Soltesz, and J. W. Fitzpatrick. 1998. Massive swarm

migrations of dragonflies (Odonata) in eastern North America. American

Midland Naturalist 140:325-342.

Sánchez-Herrera, M. and J. L. Ware. 2012. Biogeography of Dragonflies and

Damselflies: Highly Mobile Predators. in Lawrence Stevens, ed. Global

Advances in Biogeography. Tech Edited.

Sanderson, E. W., M. Jaiteh, M. A. Levy, K. H. Redford, A. V. Wannebo, and G.

Woolmer. 2002. The human footprint and the last of the wild. Bioscience

52:891-904.

Scherr, S. J. and J. A. McNeely. 2008. Biodiversity conservation and agricultural

sustainability: towards a new paradigm of 'ecoagriculture' landscapes.

Philosophical Transactions of the Royal Society B-Biological Sciences 363:477-

494.

Sebastian, A., M. M. Sein, M. M. Thu, and P. S. Corbet. 1990. Suppression of Aedes

aegypti (Diptera: Culicidae) using augmentative release of dragonfly larvae

(Odonata: Libellulidae) with community participation in Yangon, Myanmar.

Bulletin of Entomological Research 80:223-232.

Sideris, E., N. M. Tôrres, A. T. A. Jácomo, and L. Silveira. Impact of landscape

structure at multiple scales on the occurrence of medium to large sized mammals

in a fragmented agricultural cerrado biome, Brazil. 2013.

Togashi, H. F. 2009. Interpretação da paisagem: uma tarefa interdisciplinar. Revista

Colombiana de Geografia.

Turner, M. G. 1989. Landscape ecology: the effect of pattern on process. Annual review

of ecology and systematics.Vol.20171-197.

Turner, M. G., R. H. Gardner, and R. V. O' Neill. 2001. Introduction to landscape

Ecology. Pages 1-23 in M. G. Turner, R. H. Gardner, and R. V. O' Neill, eds.

Landscape ecology in theory and practice: pattern and process. Springer.

Page 25: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

24

Urban, D. L., R. V. O'Neill, and H. H. Shugart, Jr. 1987. Landscape Ecology.

BiosScience 37:119-127.

Vianna, D. M. and P. Marco Junior. 2012. Higher-Taxon and Cross-Taxon Surrogates

for Odonate Biodiversity in Brazil. Natureza & Conservacao 10:34-39.

Villard, M. A. and J. P. Metzger. 2014. REVIEW: Beyond the fragmentation debate: a

conceptual model to predict when habitat configuration really matters. Journal of

Applied Ecology 51:309-318.

Wantzen, K. M., A. Siqueira, C. Nunes Da Cunha, and M. D. F. P. De S+í. 2006.

Stream-valley systems of the Brazilian Cerrado: Impact assessment and

conservation scheme. Aquatic Conservation: Marine and Freshwater Ecosystems

16:713-732.

Yule, C. M. 1996. Trophic relationships and food webs of the benthic invertebrate fauna

of two aseasonal tropical streams on Bougainville Island, Papua New Guinea.

Journal of Tropical Ecology 12:517-534.

Page 26: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

25

CAPÍTULO 1

AVALIAÇÃO DA VULNERABILIDADE DAS ESPÉCIES DE LIBÉLULAS

(INSECTA – ODONATA) EM RELAÇÃO AO AVANÇO DA AGRICULTURA

NO ESTADO DE GOIÁS

Page 27: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

26

ABSTRACT

Conflicts between biodiversity conservation and the establishment of areas for

agricultural production could threaten the survival of many species, increasing their

vulnerability. This work produced a risk assessment for the species of Odonata,

considering the vulnerability of areas suitable species of the group in connection with

the conversion of natural areas for use by agriculture and in the end producing a

regional re-categorization of the level of threat these species for Goiás state. Taking into

consideration the size of the Extension Distribution and loss of habitat quality within

this, a total of 34.8 % ( 123 species) would be in a category of threat. These 71.5 %

(88) were Critically Endangered, 22.8 % ( 28 ) Endangered and 4.9 % (6) Vulnerable.

A systematic and spatially aggregated conversion for agriculture in the state of Goiás is

primarily the consequence of persistent impact on the extent of geographical

distribution of only a few species and homogenizes the degree of vulnerability to this

threat in the state.

Keywords: Odonata, Cerrado, endangered species

Page 28: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

27

INTRODUÇÃO

A perda e a fragmentação de habitats por meio da conversão para a agricultura é

um processo mundial, e se tem buscado entender as consequencias disto para as

medidas de conservação da biodiversidade (Dobrovolski et al. 2011a). Nos trópicos, os

efeitos da fragmentação podem ser ainda mais complexos, principalmente quando se

considera a quantidade de interações ecológicas existentes e as suas consequências para

a organização das comunidades. Diretamente associado a fragmentação de habitats está

a perda de habitats para o estabelecimento de áreas agrícolas (Carvalho et al. 2009).

Neste caso, os conflitos entre a conservação da biodiversidade e o estabelecimento de

áreas para a produção agrícola poderiam ameaçar a sobrevivência de muitas espécies

(Dobrovolski et al. 2011a).

Uma questão central é que a expansão destas áreas reproduz um padrão de

vulnerabilidade que já está previsto nos modelos de Conservação, ou seja, elas

tenderiam a aumentar em áreas com grande importância para a biodiversidade e alta

vulnerabilidade, como nos hotspots de biodiversidade (Dobrovolski et al. 2011a). Isto

poderia aumentar a vulnerabilidade das espécies, principalmente com impactos diretos

sobre as áreas oficialmente protegidas (Laurance et al. 2012), através da expansão de

cultivos próximos às zonas tampões destas (Dobrovolski et al. 2011b).

As iniciativas como a avaliação global da vulneralidade das espécies pela

International Union for Conservation of Nature, IUCN (http://www.iucnredlist.org/),

fornecem indicativos de quais delas devem ser o foco mais emergencial para ações de

conservação. Estas ações podem estar voltadas para a conservação ex-situ (Rahbek

1993; 2000; Tschudin et al. 2010), in-situ (Sekercioglu et al. 2012; Gormley et al.

2012), programas de re-introdução (IUCN 1998; Hirzel et al. 2004), ou a recuperação de

habitats chave (Denton et al. 1997).

A avaliação regional é importante, pois constitui o passo inicial para o

estabelecimento de propostas práticas de conservação, como na seleção de áreas

prioritárias (IUCN 2003b; Scaramuzza et al. 2008). Além disso, a avaliação global não

captura a variação local na raridade das espécies, e muitas vezes uma espécie que está

em uma categoria de menor ameaça na escala de toda a extensão de sua distribuição

geográfica poderia estar sob intensa ameaça em regiões mais refinadas. Mesmo em

Page 29: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

28

casos onde uma espécie esteja regionalmente na margem de sua distribuição, estas áreas

poderiam ser particularmente importantes quando consideramos mudanças de extensão

de distribuição devido as mudanças climáticas (Bried & Mazzacano 2010). Neste

contexto, as avaliações regionais permitem o estabelecimento de planos de ação e ajuda

a direcionar as pesquisas para as espécies que são deficientes em dados (Bried &

Mazzacano 2010).

Um ponto frequentemente questionado durante estes procedimentos de avaliação

em sistemas tropicais é a falta de informação detalhada da distribuição de espécies

(Morais et al. 2013). Nesse sentido, as técnicas de modelagem de nicho ecológico

driblam a escassez de dados, através da abordagem de projeção ou inferência (Whittaker

et al. 2005; Diniz et al. 2010; Vandermeer 1972; De Marco Júnior & Siqueira 2009;

Elith et al. 2006; Elith & Leathwick 2007; Elith & Leathwick 2009).

Em geral, a modelagem utiliza padrões geográficos em escalas maiores onde a

amostragem não foi feita de forma intensiva (IUCN 2001). As evidências na literatura

sustentam que a extensão de distribuição geográfica das espécies baseada nesta

metodologia, pode ser de maior precaução do que o polígono mínimo convexo, uma vez

que estes poderiam subestimar a extensão de ocorrência e a consequente riqueza em

diferentes escalas de resolução (De Almeida et al. 2010; Pineda & Lobo 2012).

A relação entre padrões de distribuição geográfica em grande escala e a

fragmentação de habitats tem sido pouco explorada, e incorporar esta informação dentro

do processo de modelagem poderia aumentar a eficiência na predição da ocorrência de

algumas espécies (Reino et al. 2013; Ferraz et al. 2012). O efeito em cascata percebido

na escala das paisagens poderia ser potencializado, se grande parte da distribuição

geográfica de uma espécie é influenciada por áreas de uso humano.

A modelagem de nicho tem sido utilizada em vários contextos associados a

previsão da distribuição geográfica de espécies ameaçadas (Loiselle et al. 2003;

Fourcade et al. 2013b; Hu & Liu 2014). Neste caso, os modelos com baixos erros de

comissão tendem a aumentar o tamanho das áreas selecionadas e a incluir aquelas

determinadas por expertes dos grupos (Loiselle et al. 2003). Outro padrão é que a

adequabilidade ambiental e a intensidade da agricultura, apresentaram uma relação com

a abundância, com uma relação negativa entre a probabilidade da presença da espécie e

a intensidade da agricultura (Fourcade et al. 2013a). Apesar disto, uma critica a

Page 30: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

29

utilização destes modelos refere-se a superestimativa de áreas de distribuição de uma

espécie ameaçada, com aumento dos erros de comissão ou falsos positivos. Isto pode

diminuir a estimativa de risco da espécie, com consequencias drásticas para a sua

conservação, selecionando por exemplo, áreas de reservas que não abrigaria a espécie

(Loiselle et al. 2003).

Os insetos da ordem Odonata representam os primeiros invertebrados a serem

mundialmente avaliados quanto ao risco de ameaça de suas espécies (Clausnitzer et al.

2009). Das 2657 espécies avaliadas (aproximadamente 45% de todas as espécies),

14,2% se encontram em alguma categoria de ameaça e 29,6% apresentam deficiência de

dados (DD) (http://www.iucnredlist.org/). A fauna de Odonata na região Neotropical

apresenta relevância mundial, pois além da maior diversidade e endemismos, algumas

famílias (Dicteriadidae, Politorydae, Pseudostigmatidae e Perilestidae) apresentam uma

forte relação com habitats florestais (Kalkman et al. 2008). Especificamente, na região

Neotropical, a representação de espécies com deficiência de dados é maior

(aproximadamente 31,9%) e 6,3% são consideradas em alguma categoria de ameaça

(Clausnitzer et al. 2009 [padrão de acordo com um subgrupo de 1500 espécies

mundialmente avaliadas]).

Considerando a “Lista da fauna brasileira ameaçada de extinção” são sete as

espécies ameaçadas: 1) Aeshna eduardoi Machado; 2) Praviogomphus proprius Belle;

3) Leptagrion acutum (Santos) (EN); Minagrion mecistogastrum (Selys) (VU);

Heteragrion obsoletum (Selys), Heteragrion petiense (Machado) (VU); Mecistogaster

pronoti Sjostedt e uma já considerada extinta que é Acanthagrion taxaensis Santos

(BIODIVERSITAS 2004), Essa lista está, nesse momento, em revisão e uma análise

prévia mostra que a aplicação dos critérios da IUCN gera uma lista de 372 espécies

potencialmente ameaçadas e de 281 espécies deficientes em dados (De Marco Com.

Pess.).

Os ambientes lóticos e ambientes de água localizados dentro de florestas

apresentam a maior diversidade do grupo, assim como são os ambientes que apresentam

a maior representação de espécies ameaçadas (Clausnitzer et al. 2009). Isto pode ser

devido ao fato das espécies tropicais de paisagens abertas, possuírem uma maior

capacidade de colonizar novos habitats alterados do que as espécies de florestas e

portanto, estas devem apresentar uma maior extensão de distribuição geográfica e serem

Page 31: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

30

menos influenciadas pelas alterações de habitats (Juen & De Marco 2011). No Brasil, os

Biomas Mata Atlântica e Cerrado apresentam relevância mundial, por apresentarem

uma proporção de cerca de 40% de suas espécies avaliadas, classificadas em alguma

categoria de ameaça (Figura 3, Clausnitzer et al. 2009).

A perda de áreas naturais e conversão para a agricultura pode ser uma ameaça

para os insetos da ordem Odonata de muitas maneiras. As áreas utilizadas para a

agricultura muitas vezes apresentam a retirada completa ou de parte da mata ciliar de

córregos, causando a redução na abundância ou número de espécies associadas a mata

ciliar (Smith et al. 2007; Ferreira-Peruquetti & De Marco 2002; Ferreira-Peruquetti &

Fonseca-Gessner 2003). O aumento do escoamento superficial de áreas de recarga das

bacias devido a perda de cobertura vegetal pode levar a uma maior entrada de

sedimento, aumento de vazão e erosão das margens dos cursos de água, conduzindo a

um maior alargamento do canal e maior entrada de luminosidade. O represamento de

córregos na paisagem aumenta a abundância de espécies de ampla distribuição e

territoriais associadas a ambientes lenticos (De Marco, Jr. et al. 2014), com possiveis

reduções na abundância de espécies específicas de riachos.

A estrutura atual das paisagens resulta de diversos fatores históricos. Um deles é

a ocupação antrópica. Considerá-la pode ajudar a entender como as condições atuais das

paisagens podem influenciar muitos dos processos ecológicos e da biodiversidade

presente hoje (Leite et al. 2012). Um exemplo de alterações não lineares na ocupação e

avanço da agricultura é o bioma Cerrado, e em especial no estado de Goiás. O histórico

de avanço da agropecuária intensificou-se nas últimas quatro décadas, causando uma

grande fragmentação de habitats.Os padrões podem ser diferenciados de acordo com o

principal tipo de uso do solo, onde a maior fragmentação ocorre em paisagens que

predominam lavouras (Carvalho et al. 2009).

Em Goiás nas décadas de 60 e 70 houve grandes alterações na estruturação do

meio rural. Estas foram baseadas em uma estrutura agrária baseada em grandes

propriedades rurais, padrão tecnológico da Revolução Verde e na grande atuação do

setor público federal e estadual, com programas e políticas para o crescimento regional

e integração nacional (Silva 2007; Morais 2006; Miziara & Ferreira 2006). A dinâmica

de ocupação dentro destas quatro décadas, resultou no início dos anos 2000 em um

estado com 54% de sua área natural com uso antrópico, com um predomínio de áreas

Page 32: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

31

dedicadas à pastagem (Sano 2007). Os desmatamentos adicionais registrados para o

Bioma Cerrado entre os anos de 2002 e 2008 demonstram que houve uma perda de

3,0% da área de Cerrado no estado de Goiás, o que representa aproximadamente 9.898

Km2

(MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE 2011).

Dentro deste contexto, a avaliação do risco de ameaça das espécies, permite

diagnosticar quais destas devem ser mais vulneráveis regionalmente. Suhonen et al

(2014), por exemplo, obteve que quanto maior a extensão da distribuição geográfica

das espécies de Odonata menor o risco de extinção local e que este efeito era mais forte

para as espécies generalistas, que utilizam ambientes lóticos e lênticos.

A grande perda de área de habitat em pouco tempo, representa uma ameaça a

biodiversidade em escala biogeográfica, considerando isto, o objetivo deste trabalho foi

analisar o risco de extinção de espécies de Odonata. Neste caso foi condiderado como a

conversão de áreas naturais para o uso pela agricultura pode se sobrepor a distribuição

geográfica das espécies. Através deste critério de ameaça foi produzido uma

recategorização regional do nível de ameaça destas espécies.

MATERIAL E MÉTODOS

Área de Estudo

O estado de Goiás apresenta seu limite todo inserido no Bioma Cerrado. Ele

apresenta grande relevância em relação a conservação dos recursos hídricos, pois abriga

parte da maior reserva subterrânea da América do Sul, o aquífero Guarani, e parte das

nascentes das principais bacias hidrográficas do Brasil, como a bacia do Araguaia-

Tocantins (Wantzen et al. 2006).

Dos estados que abrangem o Cerrado, Goiás juntamente com São Paulo e Minas

Gerais são caracterizados por apresentarem um predomínio de cobertura vegetal

antrópica (Sano et al. 2008a). Esta encontra-se espalhada por praticamente todo o estado

devido a ocorrência de extensas áreas de pastagens, com 54% de sua área com uso

antrópico (PROBIO 2002). As áreas mais extensas de vegetação natural encontram-se

na porção nordeste, na região conhecida como Vão do Paranã, onde solos pedregosos e

arenosos tornam esta região pouco atrativa para a agricultura (Sano 2007). O estado é

pouco protegido por Unidades de Conservação, apenas 0,9% da sua área em proteção

Page 33: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

32

integral e 3,5% em uso sustentável, a maioria delas na categoria de Área de Proteção

Ambiental (APA) (Scaramuzza et al. 2008). A grande separação geográfica das áreas

protegidas no estado, reduzem a dispersão da fauna e de propágulos entre fragmentos

remanescentes (Rodrigues et al. 2009).

Uso do Solo

A distribuição de usos do solo no estado de Goiás foi considerada para dois

anos, o ano de 1980 e 2002. Foram consideradas quatro classes de usos do solo, sendo

estes Remanescentes de Vegetação, Antrópico (Lavoura, Pastagem e Mineração) e

Urbano. O mapa de usos para o ano de 1980 foi baseado nos dados de mapeamento

produzido pelo projeto RADAM Brasil a partir da vetorização dos mapas

disponibilizados para o estado de Goiás para os anos de 1981, 1982 e 1983 (Cezare &

Ferreira 2013). O mapa de usos de 2002 foi baseado na classificação de usos realizada

pelo projeto PDIAP (Projeto de Identificação de Áreas Prioritárias para Conservação da

Biodiversidade em Goiás) para o ano base de 2002. Este projeto realizou o mapeamento

dos remanescentes da cobertura vegetal e do uso antrópico para os anos-base das

imagens 2001 e 2002) (Sano et al. 2008b; Scaramuzza et al. 2008)

(http://www.sieg.go.gov.br/). A área de uso antrópico para o ano de 2002 foi

padronizada para a área consolidada em 1980, esta padronização foi necessária para

evitar possíveis distorções devido a escalas diferentes de mapeamento para os mapas de

diferentes anos.

Modelagem de Nicho

O banco de dados de Odonata usado neste trabalho foi compilado inicialmente

por De Marco & Vianna (2005). Ele é continuamente atualizado com novos dados pelo

Laboratório de Ecologia Teórica e Síntese. Ele foi composto por uma grande revisão de

literatura e dos dados de coleta biológica de outros grupos de pesquisa no Brasil

(Angelo Machado e Frederico Lencioni), a partir da informação de museus (Museu

Paraense Emilio Goeldi, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Universidade

Federal da Bahia e Universidade do Estado de Mato Grosso), assim como também

dados não publicados de grupos de pesquisa dos estados do Amazonas, Mato Grosso e

Rondônia.

Page 34: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

33

Este banco de dados representa uma organização dos dados de distribuição de

Odonata de aproximadamente 18 anos, inicialmente organizado e utilizado para

verificar os padrões de vícios de amostragem do grupo no Brasil (De Marco & Vianna

2005) e apresenta um contínuo incremento de sua informação, tendo subsidiado

trabalhos subsequentes, como a análise da lacuna de proteção das espécies de Odonata

no estado de Goiás (Nobrega & de Marco 2011). Adicionalmente foram incorporados

todos os 3000 registros obtidos no estado de Goiás a partir de coleta de campo realizada

em 80 córregos distribuidos em 14 municípios, distribuídos ao longo do estado, para

atender ao projeto sobre os efeitos da fragmentação sobre a biodiversidade.

Foram utilizadas seis variáveis climáticas obtidas a partir do Banco de Dados do

WORDCLIM (http://www.worldclim.org/download): a temperatura média anual, a

sazonalidade da temperatura (desvio padrão multiplicado por 100), a tempertura média

no trimestre mais seco, a precipitação anual, a sazonalidade da precipitação (coeficiente

de variação) e a precipitação no trimestre mais quente. Estas variáveis são baseadas na

interpolação das informações climáticas obtidas para os anos de 1950 a 2000. Foram

utilizadas também duas variáveis topográficas, a altitude e a inclinação do terreno

obtidas a partir do Banco de Dados HYDRO1K South American

(http://eros.usgs.gov/#/Find_Data/Products_and_Data_Available/gtopo30/hydro/sameri

ca). Todas as variáveis, incluindo as variáveis de altitude e relevo foram reescaladas

para 2,5 arc-min ( ≈ 4.5 Km). A escolha destas variáveis deve-se ao fato de estarem

mais associadas a requerimentos ecofisiológicos de insetos ectotérmicos, e a maior

contribuição destas para explicar a distribuição potencial de Odonata em outros

trabalhos (De Almeida et al. 2010; Nobrega & De Marco 2011).

A extensão de ocorrência nos limites do estado de Goiás foi obtida através da

modelagem da distribuição potencial para o Neotrópico das espécies de Odonata com

no mínimo três registros de ocorrência. A modelagem foi realizada utilizando o método

de Máxima Entropia, com o programa Maxent, versão 3.3.3 MAXENT

(http://www.cs.princeton.edu/~schapire/maxent/). Nesta plataforma foram consideradas

as variáveis ambientais brutas (feições lineares), o quadrado das variáveis ambientais

(feições quadráticas). Selecionamos 10000 localizações distribuídas por toda a área de

estudo. Estas foram utilizadas como pseudoausências e utilizadas para a validação

cruzada de presenças e ausências dos dados de distribuição geográfica gerado. Os

Page 35: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

34

modelos foram convertidos em mapas binários, onde um indica a ocorrência da espécie

e zero representa a sua ausência. A conversão da informação contínua de

adequabilidade em valores binários foi realizada a partir do limiar que maximiza a

sensitividade e a especificidade, limiar este derivado da curva ROC (Elith et al. 2006;

Liu et al. 2005).

Regionalização dos Critérios de Ameaça

O processo de avaliação da vulnerabilidade das espécies a nível regional foi

realizado considerando as recomendações dos guias de avaliação geral e regional da

IUCN (IUCN Standards and Petitions Subcommittee 2014; IUCN 2003a). Foram

utilizados os critérios A1 e B. No critério A1 foi considerado um declínio na qualidade

de habitat dentro da área de extensão de ocorrência entre os anos de 1980 e 2002. Neste

caso, as espécies com 30 a 50% de perda de habitat foram consideradas Vulneráveis,

entre 50 a 80% foram consideradas Ameaçadas e acima de 80% de perda foram

consideradas Criticamente Ameaçadas. O critério B, está associado com a extensão

geográfica baseada na extensão de ocorrência. Neste caso as espécies com extensão de

ocorrência < 100 Km2 foram consideradas Criticamente Ameaçadas, < 5000 Km

2 foram

consideradas ameaçadas e aquelas com < 20 000 Km2 foram classificadas como

Vulneráveis.

A área adequada total baseada no modelo de nicho foi sobreposta ao mapa de

usos do solo do estado de Goiás para os anos de 1980 e 2002. A partir desta

sobreposição foram obtidas a área em quilômetros quadrados da distribuição geográfica

das espécies. Este procedimento foi realizado através do programa Fragstats 4.1

(McGarigal & Marks 1995).

RESULTADOS

Alterações de Uso do solo em Goiás

As principais alterações registradas em 2002, referem-se ao aumento das áreas

de agricultura no oeste, noroeste, sudoeste próximo ao região do Parque Nacional das

Emas e no sudeste do estado do estado de Goiás (Figura 1). Em 1980, cerca de 47,4%

da área apresentou uso pela agricultura e em 2002 este valor subiu para 71,9%. Um total

Page 36: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

35

de 47,4% da área analisada apresenta uso consolidado pela agricultura. A área de

remanescentes de vegetação em 1980 representou 51,7% e este valor caiu para 27,1%

no ano de 2002. Cerca de 47,4% da área analisada apresenta uso consolidado pela

agricultura. Estas áreas estão localizadas principalmente na região centro sul do estado.

As áreas convertidas da época de 1980 a 2002 representam cerca de 24,5% da área

analisada.

Figura 1 – Uso do solo para o estado de Goiás, a área em branco localizada a sudeste foi

excluída da avaliação.

Distribuição Observada e Informações Biogeográficas de Odonata

No estado de Goiás e Distrito Federal existem um total de 6016 registros de

Odonata, distribuidos entre 156 espécies. Estes registros constituem 18,7% dos registros

para o Brasil. Os registros não estão homogeneamente distribuídos pelo estado. As

áreas mais representativas estão localizadas na região nordeste e outra na região

sudeste, sendo que a região oeste apresenta-se como a região com maior

desconhecimento da fauna (Figura 2A).

Os registros não estão distribuídos homogeneamente entre as famílias. A família

Coenagrionidae, seguida por Libellulidae apresentam a maior quantidade de registros

(3085 e 1176 respectivamente), reproduzindo o padrão de diversidade do grupo na

Page 37: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

36

região Neotropical. As maiores riquezas estão entre 33 a 44 espécies e encontram-se na

região centro-sul e na região nordeste (Figura 2B).

Das 353 espécies com áreas adequadas no estado de Goiás, 109 espécies foram

avaliadas mundialmente pela IUCN. Destas, três são consideradas Criticamente

Ameaçada (CR): Micrathyria kleerekoperi, Elga newtonsantosi e Erythrodiplax

acantha, as duas últimas com registros coletados no estado de Goiás, quatro

Vulneráveis (VU): Heteragrion flavovittatum, Micrathyria divergens, Mecistogaster

asticta, Micrathyria pseudhypodidyma, e apenas a última apresenta registro coletado em

Goiás e uma Ameaçada (EN): Micrathyria coropinae, que não apresenta registro

coletado em Goiás. Um total de 14 espécies são consideradas como Dados Deficientes e

80 Pouco Preocupante (LC).

Um padrão espacial de agregação ocorre para a distribuição de registros das

espécies ameaçadas e dados deficientes avaliadas pela IUCN. As espécies ameaçadas

estão localizadas principalmente na região centro e sudoeste do estado, apresentando

apenas um registro para cada localidade (Figura 3A). As espécies com Dados

Deficientes apresentam uma maior distribuição no estado, porém a maior quantidade de

registros se encontra na região nordeste (Figura 3B). Algumas espécies consideradas na

categoria de Dados Deficientes, como Argia subapicalis, Heteragrion dorsale,

Heteragrion triangulare, associadas a ambientes lóticos e com mata ciliar apresentam

entre 33 a 44 registros e todos localizados na região nordeste (Figura 3B). A região

com as maiores riquezas de espécies na categoria de Dados Deficientes se encontra na

região oeste, seguida pela região nordeste do estado (Figura 3C).

Page 38: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

37

A)

B)

Figura 2 – Distribuição do número de registros A) e da riqueza B) de Odonata

considerando uma resolução de 0,25 graus (~25 Km).

Page 39: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

38

A)

B)

C)

Figura 3 – Distribuição dos registros de espécies avaliadas pela IUCN como ameaçadas

A), Dados Deficientes B) e a riqueza de espécies Dados Deficientes C)

Page 40: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

39

As espécies ameaçadas de acordo com critérios globais apresentaram uma maior

perda de habitat em sua Extensão de Ocorrência (aproximadamente 76%) entre os anos

de 1980 e 2002 a nível regional (estado de Goiás), do que as espécies não avalidas pela

IUCN, aquelas em categoria Pouco Preocupante e Dados Deficientes (F3,310 = 3,573,

p=0,014) (Figura 4).

Figura 4 – Perda de remanescentes em áreas adequadas de acordo com a modelagem de

distribuição potencial, entre os anos de 2002 e 1980 para as espécies de Odonata não

avaliadas pela IUCN, e avaliadas nas categorias Pouco Preocupante, Dados Deficientes

e Ameaçadas (VU- Vulneráveis, EN - Ameaçadas, CR-Criticamente Ameaçadas).

A medida que aumenta a Extensão de Ocorrência em Goiás, ou área total de

distribuição geográfica, diminui a perda de habitat entre os anos de 1980 e 2002 (R2 =

0,321; p < 0,010; Perda de Habitat = 75,433 – 0.0001* Extensão de Ocorrência). Esta

relação é fortemente determinada pelas espécies que apresentam uma pequena Extensão

de Ocorrência no estado, e demonstra que a medida que aumenta a Extensão de

Ocorrência, a distribuição geográfica das espécies atinge as áreas com maior quantidade

de remanescentes localizadas na região norte do estado de Goiás (Figura 5).

Não Avaliada Pouco Preocupante Dados Deficientes Ameaçadas (Vu, EN, CR)

40

45

50

55

60

65

70

75

80

85

90

95

Per

da

de

Hab

itat

%

Page 41: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

40

Figura 5 – Relação entre a Extensão de Ocorrência ou distribuição geográfica total em

Goiás e a perda de habitat nos limites desta entre os anos de 1980 e 2002, considerando

os dois critérios A e B da IUCN.

O critério A, que leva em consideração a perda de qualidade de habitat dentro da

extensão de ocorrência, classificou mais espécies em categorias de ameaça, devido a

extensão de perda de habitat entre os 22 anos. De fato, de acordo com ele a maioria das

espécies estariam na categoria de Ameaçada (48,2%) apresentando entre 50 a 70% de

perda de habitat, seguida pelas espécies Vulneráveis com 30 a 50% de perda de habitat

(25,5%) e as Criticamente Ameaçadas, com mais de 70% de perda de habitat (25,2%) e

apenas quatro espécies estão na categoria de Pouco Preocupante, abaixo de 30% de

perda de habitat (Figura 5).

Porém, quando consideramos apenas o critério B1, que leva em consideração a

extensão de ocorrência total no estado, aproximadamente 36% das espécies estariam em

alguma categoria de ameaça, destas, 8 espécies apresentam menos do que 100 km2

-20000

-15000

-10000

-5000 0

5000

10000

15000

20000

25000

30000

35000

40000

45000

50000

55000

60000

65000

70000

75000

80000

85000

90000

95000

100000

105000

110000

115000

120000

125000

130000

135000

140000

145000

150000

155000

160000

165000

170000

175000

180000

185000

190000

195000

200000

205000

210000

215000

220000

225000

230000

235000

240000

245000

250000

255000

260000

265000

270000

275000

280000

285000

290000

295000

300000

305000

310000

315000

320000

325000

330000

335000

340000

345000

350000

Extensão de Ocorrência (Km2)

-20

-10

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

110

120

% P

erd

a d

a Q

ua

lida

de

de

Ha

bita

t

PP

CR

AM

AM

CR

VU

VU

*

*

*

*

*

*

Page 42: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

41

(Criticamente Ameaçadas), 66 apresentam menos do que 5000 Km2 (Ameaçadas) e 53

apresentam menos do que 20000 Km2 (Vulneráveis).

Levando em consideração os dois critérios, o tamanho da Extensão de

Distribuição e a perda da qualidade de habitat dentro desta (asterisco na Figura 5), um

total de 34,8% (123 espécies) estariam em alguma categoria de ameaça. Quando os

critérios A e B divergiram para a mesma espécie, considerou-se o nível mais alto de

ameaça de acordo com as recomendações do guia da IUCN. Neste caso, 71,5% (88) das

espécies estariam Criticamente Ameaçadas, 22,8% (28) estariam Ameaçadas e 4,9% (6)

estariam Vulneráveis (Tabela 2).

Tabela 1 – Espécies de Odonata com áreas adequadas preditas em Goiás e avaliadas

pela IUCN e número de pontos únicos registrados no estado.

Espécie Categoria IUCN Registros em Goiás

Argia bicellulata Dados Deficientes 0

Argia subapicalis Dados Deficientes 12

Cyanallagma ferenigrum Dados Deficientes 0

Elga newtonsantosi Criticamente Ameaçada 1

Erythrodiplax acantha Criticamente Ameaçada 2

Forcepsioneura itatiaiae Dados Deficientes 0

Hetaerina mendezi Dados Deficientes 2

Heteragrion dorsale Dados Deficientes 38

Heteragrion flavovittatum Vulnerável 0

Heteragrion triangulare Dados Deficientes 94

Mecistogaster amalia Dados Deficientes 0

Mecistogaster asticta Vulnerável 0

Micrathyria coropinae Ameaçada 0

Micrathyria divergens Vulnerável 0

Micrathyria kleerekoperi Criticamente Ameaçada 0

Micrathyria pseudhypodidyma Vulnerável 2

Neocordulia volxemi Dados Deficientes 1

Neoneura lucas Dados Deficientes 0

Oligoclada xanthopleura Dados Deficientes 2

Page 43: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

42

Phyllogomphoides suspectus Dados Deficientes 0

Planiplax machadoi Dados Deficientes 0

Progomphus nigellus Dados Deficientes 0

Page 44: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

43

Tabela 2 – Espécies de Odonata com áreas adequadas preditas em Goiás e avaliadas no

critério regional de ameaça para o estado de Goiás. A categoria final leva em

consideração o nível mais alto de ameaça.

Espécie Critério A Critério B Categoria Final

Acanthagrion adustum VU VU VU

Acanthagrion aepiolum CR AM CR

Acanthagrion lancea AM VU AM

Allopodagrion contortum CR VU CR

Anax amazili CR VU CR

Aphylla producta AM VU AM

Archaeogomphus densus VU AM AM

Archaeogomphus nanus AM AM AM

Argentagrion ambiguum CR AM CR

Argia sordida CR VU CR

Argia tamoyo AM AM AM

Argia thespis AM VU AM

Brechmorhoga nubecula CR AM CR

Brechmorhoga praedatrix CR AM CR

Castoraeschna castor CR VU CR

Castoraeschna januaria CR AM CR

Castoraeschna margarethae CR AM CR

Chalcopteryx rutillans AM AM AM

Coryphaeschna adnexa CR CR CR

Coryphaeschna perrensi CR AM CR

Cyanallagma trimaculatum CR VU CR

Dasythemis mincki CR AM CR

Dasythemis venosa CR VU CR

Elasmothemis aequilibris CR CR CR

Elasmothemis schubarti CR AM CR

Elga leptostyla AM VU AM

Elga newtonsantosi CR VU CR

Enallagma cheliferum AM VU AM

Enallagma novaehispaniae CR VU CR

Epigomphus palludosus CR AM CR

Erythrodiplax anomala CR AM CR

Erythrodiplax avittata CR AM CR

Erythrodiplax luteofrons CR AM CR

Erythrodiplax lygaea CR AM CR

Erythrodiplax minuscula CR VU CR

Erythrodiplax pallida AM VU AM

Erythrodiplax hyalina CR AM CR

Forcepsioneura sancta CR AM CR

Gynacanta adnexa CR AM CR

Gynacantha bífida CR VU CR

Hetaerina auripennis AM VU AM

Hetaerina brightwelli CR VU CR

Hetaerina longipes AM VU AM

Hetaerina próxima CR AM CR

Hetaerina hebe CR CR CR

Heteragrion aurantiacum CR AM CR

Page 45: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

44

Heteragrion beschkii CR VU CR

Heteragrion flavovittatum CR AM CR

Homeoura chelifera CR VU CR

Homeoura lindneri CR AM CR

Ischnura fluviatilis AM VU AM

Leptagrion macrurum CR AM CR

Lestes auritus CR AM CR

Lestes dichrostigma CR AM CR

Lestes minutus CR VU CR

Macrothemis declivata CR VU CR

Macrothemis hemichlora CR AM CR

Macrothemis musiva CR VU CR

Macrothemis tenuis CR AM CR

Macrothemis tessellata CR VU CR

Mecistogaster amalia CR VU CR

Mecistogaster asticta CR VU CR

Micrathyria atra VU VU VU

Micrathyria divergens CR AM CR

Micrathyria hypodidyma CR AM CR

Micrathyria iheringi AM VU AM

Micrathyria kleerekoperi CR VU CR

Micrathyria longifasciata CR VU CR

Micrathyria laesa CR CR CR

Minagrion canaanense AM AM AM

Minagrion mecistogastrum CR AM CR

Mnesarete pruinosa CR CR CR

Mnesarete hyalina AM VU AM

Mnesarete lencionii AM VU AM

Nehalennia minuta VU VU VU

Neocordulia setifera CR AM CR

Neoneura bilinearis CR VU CR

Neoneura rubriventris VU VU VU

Nephepeltia aequilibris CR CR CR

Oligoclada borrori AM VU AM

Oligoclada laetitia CR VU CR

Oligoclada nemesis CR AM CR

Orthemis ambinigra CR AM CR

Orthemis attenuata AM AM AM

Page 46: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

45

DISCUSSÃO

O maior desafio para a conservação dos insetos da ordem Odonata é a perda de

habitat (http://www.iucnredlist.org/), associado a isto está a escassez de informação

sobre a ecologia e a distribuição geográfica das espécies, o que faz com que um número

muito grande de espécies seja representada por poucos registros, muitas vezes acidentais

(Clausnitzer 2012; De Almeida et al. 2010).

Uma conversão sistemática e espacialmente agregada para a agricultura no

estado de Goiás tem como principal consequência o impacto persistente sobre a

extensão de distribuição geográfica de apenas algumas espécies e homogeniza o grau de

vulnerabilidade a esta ameaça no estado. Apenas as espécies de Odonata com grandes

extensões de distribuição geográfica estão protegidas em unidades de conservação

(Nobrega & De Marco 2011), e desta mesma maneira as espécies com grandes

extensões de ocorrência apresentam uma menor perda de habitat.

Agravando esta situação, as porções central e oeste não estão protegidas em

Unidades de Conservação de proteção integral (Scaramuzza et al. 2008) e além disso,

as áreas protegidas já existentes e aquelas prioritárias para o estabelecimento futuro de

Unidades, não estão associadas as áreas de maior riqueza e nem de composição única

deste grupo (Nobrega & De Marco 2011). O padrão biogeográfico sistemático de

vulnerabilidade pode de uma maneira mais drástica determinar a extinção regional, se

estas espécies apresentam pequena extensão de ocorrência. O risco de extinção local de

espécies de Odonata é maior para aquelas com poucas populações locais e nos habitats

que não são os preferenciais para a sua reprodução (Suhonen et al. 2010).

Apesar de a incorporação de novas áreas a atividade produtiva e o extensivo

desmatamento ocorrido até a década de 1980, o processo de desmatamento verificado

ocorreu em áreas que já apresentavam uma grande perda de habitat, porém tiveram a

partir de então o seu uso intensificado (Miziara & Ferreira 2008a). Esta intensificação,

com o incremento de áreas convertidas aumenta a vulnerabilidade das áreas adequadas

de espécies de Odonata nas extremidades noroeste, sudoeste, oeste e em pequena

extensão da nordeste. Este incremento apresenta implicações biogeográficas

importantes, considerando que pelo menos para a extremidade oeste existe uma

Page 47: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

46

diferenciação na fauna de Odonata (Almeida & De Marco, dados não publicados),

possivelmente associada ao Rio Araguaia como corredor de dispersão e interligação

com o Bioma Amazônico. A região da bacia do Araguaia entre os anos de 1970 e 1980

apresentou um grande incremento de pecuaristas, e apresenta uma tendência cada vez

mais acentuada do desmatamento devido ao modelo de pecuária extensiva (Morais

2011; Jepson 2005; Mascarenhas et al. 2009).

Da mesma maneira, as espécies com áreas adequadas principalmente no centro

sul do estado, apresentariam uma maior ameaça a diminuição de sua Extensão de

Ocorrência devido principalmente a conversão para uso pela agricultura não apenas no

estado de Goiás como também na porção sul do Bioma Cerrado potencialmente

convertida para pastagens (Sano et al. 2008a).

Evidentemente, o efeito da perda e fragmentação de habitats não é sentido da

mesma maneira por todas as espécies, sendo que algumas podem ser mais resistentes a

este impacto. Em Odonata, a quantidade de remanescentes de vegetação na escala da

paisagem determina a ocorrência de espécies com fase pré-reprodutiva mais longa, o

que pode ser devido ao fato destas espécies interagirem com habitats em uma escala

espacial maior do que as espécies com uma curta fase pré-reprodutiva (Kadoya et al.

2008). Além do mais, a área de floresta e a heterogeneidade da cobertura de solo na

escala da paisagem (10 X 10 Km), tem efeitos positivos sobre a ocorrência de espécies

de Odonata (Tsubaki & Tsuji 2005).

O gradiente ambiental associado à conversão sistemática indo da região centro-

sul a oeste do estado poderia ocasionar gradientes de risco de extinção local e regional

já relatado em casos semelhantes (Thomas et al. 2008). Neste caso, compreendendo a

vulnerabilidade na escala biogeográfica é possível estabelecer as ligações e os possíveis

efeitos sobre a vulnerabilidade na escala da paisagem, principalmente considerando que

espécies com distribuição geográfica mais ampla apresentam uma menor probabilidade

de extinção local (Korkeamaki & Suhonen 2002a). Esta abordagem permitiria fazer um

balanço entre uma abordagem empírica baseda nos dados locais e uma abordagem

teórica, baseada em dados geográficos (Diniz et al. 2010).

Não apenas a quantidade total de remanescentes e a conectividade entre estes na

paisagem (Cooper et al. 2008), mas a presença de pequenos fragmentos em paisagens

muito alteradas poderiam ser de relevância para a manutenção de espécies, uma vez que

Page 48: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

47

este pequenos fragmentos poderiam funcionar como atalhos (stepping stones) para o

deslocamento das espécies de Odonata entre populações (Kadoya & Washitani 2012),

principalmente se estes protegem porções da drenagem de corpos de água de cabeceiras

(Korkeamaki & Suhonen 2002b) e neste caso a dinâmica de metapopulações e a

utilização de vários tipos de habitats para deslocamento (Kadoya & Washitani 2012)

poderiam ser uma adaptação efetiva das Odonata em paisagens dominadas pela

agricultura (Harabis & Dolny 2012; Suhonen et al. 2010).

A região centro sul do estado apresenta remanescentes insubstituíveis em relação

a elementos da biodiversidade de vertebrados e a fitogeomorfologia, porém estes

remanescentes apresentam uma grande fragmentação e nestes casos a criação de

Unidades de Conservação é difícil, devido ao menor estoque de terras públicas para a

desapropriação, restando apenas ações voltadas para a conexão de fragmentos e a

restauração de habitats (Scaramuzza et al. 2008). Neste contexto aumenta a grande

importância da observância da legislação voltada para as propriedades rurais como o

código florestal (= APP- Áreas de Preservação Permanente + RL – Reservas Legais),

considerando que o Brasil apresenta duas vezes mais vegetação natural localizada em

propriedades privadas (42%) do que nas Áreas Legalmente Protegidas (20%)

(Sparovek et al. 2010a). Porém, as áreas de APP apresentam uma maior quantidade de

uso ilegal para pastagem e lavouras (42%) do que as áreas protegidas (3%) (Sparovek et

al. 2010a).

As alterações propostas para o Código teriam grandes impactos em uma região

muito convertida, por meio da dimimuição da faixa de proteção das APP, uma menor

recuperação das áreas desmatadas, a possibilidade dos proprietários rurais protegerem

vegetação natural fora de suas propriedades, os quais poderiam adquirir RL em áreas

com baixa adequabilidade para agricultura e muito distantes da área de suas

propriedades, mantendo assim o gradiente de déficit de áreas naturais em determinadas

paisagens (Sparovek et al. 2012).

Os pequenos fragmentos de tamanhos ente 60 a 250 hectares poderiam ser

relevantes no aumento da sobreposição de áreas adequadas de libélulas a remanescentes.

Considerando a reserva de 20%, as áreas de remanescentes deste tamanho estariam

sendo protegidos em médias (quatro a 15 módulos fiscais) e grandes (acima de 15

módulos fiscais) propriedades, com tamanhos entre 300 a 1000 hectares. Neste caso as

Page 49: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

48

propriedades maiores, poderiam ser as principais responsáveis pela manutenção de áreas

relevantes de remanescentes na escala da paisagem (Santos et al. 2001a).

Adicionalmente, o monitoramento das áreas de APP deveria focar nas áreas com

maior proporção de perda de habitat em relação a área da microbacia (Ferreira et al.

2012b; Tejerina-Garro 2008), pois na escala da paisagem, este impacto estaria mais

relacionado as probabilidades de extinção local de espécies associadas a habitat de Mata

Ciliar. No caso e Goiás estas áreas se localizam na região sudoeste e centro-sul do

estado (Figura 1, Sparovek et al. 2012).

Estabelecer uma ordem de postos para as espécies baseada na vulnerabilidade a

agricultura é um exercício que pode ser realizado sobre graus diferentes de

generalização. Podemos a partir de uma aborgem da Biologia da Conservação do valor

intrínseco da biodiversidade, e utilizando a classificação das ameaças, focar nas

espécies mais ameaçadas como metas para ações imediatas de conservação. No caso, de

invertebrados, porém, a não ser que estas espécies apresentem-se em habitats bem

discretos, como espécies de Odonata de florestas e habitats de fitotelma ou sejam

biogeograficamente restritas, como as espécies de ilhas (Samways 2003a; Samways

2003b), ações de conservação tornam-se impraticáveis. Neste caso uma alternativa fosse

agregar as espécies por suas associações com o tipo de habitat, o que permitiria

monitorar o status de sua integridade em escalas menores e promover ações de

conservação.

Vulnerabilidade e futuro

Reconciliar a produção agrícola e a conservação da biodiversidade é um dos

maiores desafios para o futuro (Dobrovolski et al. 2011a). Um cenário de

vulnerabilidade que não é muito promissor para biodiversidade tende a se tornar ainda

mais alarmante, devido as perspectivas de incremento da produção (Borlaug 2002;

Dobrovolski et al. 2011a; Dobrovolski et al. 2011b) considerando que existe uma

demanda crescente da exportação de grãos e biocombustíveis (Pietrafesa et al. 2011) e

de que ainda existem áreas com topografia mais suave e portanto sujeitas a conversão

antrópica, tais como a porção norte do Bioma e a recente fronteira agrícola localizada

no oeste da Bahia e Mato Grosso (Sano et al. 2008a; Ferreira et al. 2012b).

Page 50: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

49

Após o período aqui considerado, houve um incremento de 9,32% de

desmatamento localizado no estado de Goiás entre o período de 2002 a 2009, sendo o

estado posicionado como o quarto no ranking do desmatamento ocorrido, com uma

concentração do desmatamento nas regiões sudoeste e noroeste (Sano et al. 2008a).

Para os próximos quarenta anos é predito um incremento de 13,5% nas áreas

incorporadas a agricultura (Ferreira et al. 2012b). Em uma escala de tempo mais curta,

parte desta expansão estaria associada a incentivos governamentais para a expansão de

culturas de ciclo curto como a cana-de-açúcar, intensificando o uso em áreas já

alteradas, com a conversão de áreas de pastagens e incremento de áreas em porções com

poucas alterações na paisagem (Ribeiro et al. 2010). Este cenário se torna mais grave

devido ao fato de nas áreas onde ocorre a expansão da agricultura não apresentarem

áreas oficialmente protegidas em unidades de conservação (Sparovek et al. 2010a).

Os impactos sobre as espécies com distribuição em Goiás podem se fazer

sentidos não apenas pelas intensificação no uso do solo no estado, pois o incremento de

desmatamento permaneceria biogeograficamente autocorrelacionado (Ferreira et al.

2012b). Estes impactos também seriam sentidos pois a alteração em porções do

Cerrado ainda pouco alteradas como do norte e sudoeste do Tocantins, oeste da Bahia,

sul do Maranhão e sul do Piauí (Sano et al. 2008a; Ferreira et al. 2012b), poderiam

reduzir a qualidade de habitats, onde as populações poderiam apresentar densidades

mais altas e funcionarem como fontes de dispersores para as populações de Odonata em

Goiás.

A influência desta expansão também altera as diretrizes e ações de conservação,

pois somam-se a esta expansão, conflitos de conservação como a coincidência destas

com regiões de grande relevância para conservação (Dobrovolski et al. 2011a) e a

ameaça das proximidades da zona de amortecimento da rede de unidades de

conservação já implementadas (Dobrovolski et al. 2011b). As ações da Biologia da

Conservação devem ser planejadas para responder a quantidade deste incremento de

área que seria biologicamente suportado e do planejamento de onde estas alterações

podem não ameaçar adicionalmente as espécies, evitando a alteração sistemática de

áreas contíguas e conservando áreas de habitat distribuídas entre porções central e

periférica da extensão de distribuição geográfica das espécies (Thomas et al. 2008). Esta

ação também estaria na estruturação de redes de reservas representativas da

Page 51: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

50

biodiversidade considerando a escala biogeográfica e sua representatividade

taxonômica. Por outro lado, na escala local, as ações devem estar fundamentadas na

reconstituição de habitats chave, como as matas ciliares e as áreas de veredas (Cortes et

al. 2011).

Apesar de a intensificação da agricultura apresentar em alguns casos relação

inversa com a abundância das espécies (Fourcade et al. 2013a), apenas a análise na

escala local poderia permitir validar a contribuição da agricultura sobre possiveis

extinções locais e a contribuição para a extensão da distribuição das espécies. O

interessante seria testar se as espécies com áreas adequadas preditas para o estado e com

grande sobreposição com as áreas antrópicas são frequentes ou não nas amostragens

realizadas em campo, associada a paisgens dominadas por lavouras, isto daria uma

noção do impacto da fragmentação e da agricultura (Houghton and Holzenthal 2010).

Por fim, os exemplos que envolvem a utilização do conhecimento científico para

guiar a política ambiental e a tomada de decisão em um país megadiverso como o Brasil

são raros (Ferreira et al. 2012a) e tem muitas vezes como pressuposto uma

transferência unidirecional da academia para os tomadores de decisão política. Na área

central do Cerrado os desafios futuros deveria envolver também outros atores sociais,

como os proprietários rurais na colaboração e desenvolvimento das políticas públicas.

Page 52: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

51

CONCLUSÃO

As espécies avaliadas pela IUCN como ameaçadas apresentaram uma maior

sobreposição com áreas de agricultura no estado de Goiás e estão mais representadas

nas regiões centro e sul, com uso consolidado no estado. As espécies com Dados

Deficientes apresentam uma maior amplitude de distribuição, porém apresentam uma

maior quantidade de registros na porção nordeste de Goiás. O padrão de vulnerabilidade

baseado na sobreposição com áreas de agricultura é determinado fortemente pelas

espécies com pequenas áreas adequadas no estado. Considerar a taxa de conversão de

remanescentes para a agricultura no estado de Goiás entre a década de 80 e o início dos

anos 2000 conduz a uma perspectiva de grande vulnerabilidade a extensão geográfica da

maioria das espécies. Considerar a classificação de maior ameaça dos critérios Extensão

de Ocorrência e perda de qualidade de habitat 34,8% das espécies estão potencialmente

ameaçadas no estado de Goiás, com um predomínio na categoria Criticamente

Ameaçada, repesentando aproximadamente 70% das espécies ameaçadas.

Page 53: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

52

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

2000. Spix's Macaw Cyanopsitta spixii recovery program progress. Bird Conservation

International, 10:93-94.

Arbo, M. M. and S. M. Mazza. 2011. The major diversity centre for Neotropical

Turneraceae. Systematics and Biodiversity, 9:203-210.

Borlaug, N. E. 2002. Feeding a world of 10 billion people: The miracle ahead. In Vitro

Cellular & Developmental Biology-Plant, 38:221-228.

Bried, J. T. and C. A. Mazzacano. 2010. National review of state wildlife action plans

for Odonata species of greatest conservation need. Insect Conservation and

Diversity, 3:61-71.

Carvalho, F. M. V., P. de Marco, and L. G. Ferreira. 2009. The Cerrado into-pieces:

Habitat fragmentation as a function of landscape use in the savannas of central

Brazil. Biological Conservation, 142:1392-1403.

Cezare, C. H. G. and N. C. Ferreira. 2013. Mapeamento da vegetação nativa original em

áreas antropizadas no estado de Goiás e Distrito Federal utilizando

geoestatística. Boletim Goiano de Geografia, 33:147-167.

Clausnitzer, V. 2012 Beautiful and useful – the guardians of our water.

https://portals.iucn.org/blog/2012/08/22/beautiful-and-useful-the-guardians-

of-our-water/.

Clausnitzer, V., V. J. Kalkman, M. Ram, B. Collen, J. E. M. Baillie, M. Bedjanic, W. R.

T. Darwall, K. D. B. Dijkstra, R. Dow, J. Hawking, H. Karube, E. Malikova, D.

R. Paulson, K. Schutte, F. Suhling, and R. J. Villanueva. 2009. Odonata enter

the biodiversity crisis debate: The first global assessment of an insect group.

Biological Conservation, 142:1864-1869.

Cooper, N., J. Bielby, G. H. Thomas, and A. Purvis. 2008. Macroecology and extinction

risk correlates of frogs. Global Ecology and Biogeography, 17:211-221.

Page 54: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

53

Cortes, L. G., M. C. Almeida, N. S. Pinto, and P. De Marco Júnior. 2011. Fogo em

Veredas: Avaliação de Impactos sobre Comunidades de Odonata (Insecta).

Biodiversidade Brasileira, 128-145.

De Almeida, M. C., L. G. Cortes, and P. de Marco. 2010. New records and a niche

model for the distribution of two Neotropical damselflies: Schistolobos

boliviensis and Tuberculobasis inversa (Odonata: Coenagrionidae). Insect

Conservation and Diversity, 3:252-256.

De Marco Júnior, P. and M. F. Siqueira. 2009. Como determinar a distribuição potencial

de espécies sob uma abordagem conservacionista? Megadiversidade.

De Marco, P. Jr. and D. M. Vianna. 2005. Distribuição do esforço de coleta de Odonata

no Brasil: subsídios para escolha de áreas prioritárias para levantamentos

faunísticos. Lundiana, 6:13-26.

De Marco, P., Jr., D. S. Nogueira, C. C. Correa, T. B. Vieira, K. D. Silva, N. S. Pinto,

D. Bichsel, A. S. Victoriano Hirota, R. R. Silva Vieira, F. M. Carneiro, A. A.

Bispo de Oliveira, P. Carvalho, R. P. Bastos, C. Ilg, and B. Oertli. 2014. Patterns

in the organization of Cerrado pond biodiversity in Brazilian pasture landscapes.

Hydrobiologia, 723:87-101.

Denton, J. S., S. P. Hitchings, T. J. C. Beebee, and A. Gent. 1997. A Recovery Program

for the Natterjack Toad (Bufo calamita) in Britain. Conservation Biology,

11:1329-1338.

Diniz, J. A. F., P. de Marco, and B. A. Hawkins. 2010. Defying the curse of ignorance:

perspectives in insect macroecology and conservation biogeography. Insect

Conservation and Diversity, 3:172-179.

Dobrovolski, R., J. A. Felizola Diniz-Filho, R. D. Loyola, and P. Marco Junior. 2011a.

Agricultural expansion and the fate of global conservation priorities.

Biodiversity and Conservation, 20:2445-2459.

Page 55: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

54

Dobrovolski, R., R. D. Loyola, P. Marco Junior, and J. A. Felizola Diniz-Filho. 2011b.

Agricultural Expansion Can Menace Brazilian Protected Areas During the 21st

Century. Natureza & Conservacao, 9:208-213.

Elith, J., C. H. Graham, R. P. Anderson, M. Dudik, S. Ferrier, A. Guisan, R. J. Hijmans,

F. Huettmann, J. R. Leathwick, A. Lehmann, J. Li, L. G. Lohmann, B. A.

Loiselle, G. Manion, C. Moritz, M. Nakamura, Y. Nakazawa, J. M. Overton, A.

T. Peterson, S. J. Phillips, K. Richardson, R. Scachetti-Pereira, R. E. Schapire, J.

Soberon, S. Williams, M. S. Wisz, and N. E. Zimmermann. 2006. Novel

methods improve prediction of species' distributions from occurrence data.

Ecography, 29:129-151.

Elith, J. and J. Leathwick. 2007. Predicting species distributions from museum and

herbarium records using multiresponse models fitted with multivariate adaptive

regression splines. Diversity and Distributions, 13:265-275.

Elith, J. and J. R. Leathwick. 2009. Species Distribution Models: Ecological

Explanation and Prediction Across Space and Time. Annual Review of Ecology

Evolution and Systematics, 40:677-69

Ferraz, K. M. P. M. B., M. F. Siqueira, E. R. Alexandrino, D. T. A. Luz, and H. T. Z.

Couto. 2012. Environmental suitability of a highly fragmented and

heterogeneous landscape for forest bird species in south-eastern Brazil.

Environmental Conservation 39:316-324.

Ferreira, J., R. Pardini, J. P. Metzger, C. R. Fonseca, P. S. Pompeu, G. Sparovek, and J.

Louzada. 2012a. Towards environmentally sustainable agriculture in Brazil:

challenges and opportunities for applied ecological research. Journal of

Applied Ecology, 49:535-541.

Ferreira, M. E., L. G. Ferreira Jr., F. Miziara, and B. S. Soares-Filho. 2012b. Modeling

landscape dynamics in the central Brazilian sananna biome: future scenarios and

perspectives for conservation. Journal of Land Use Science, 1-19.

Page 56: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

55

Fielding, A. H. and J. F. Bell. 1997. A review of methods for the assessment of

prediction errors in conservation presence/absence models. Environmental

Conservation, 24:38-49.

Fourcade, Y., J. O. Engler, A. l. G. Besnard, D. Âdder, and J. Secondi. 2013.

Confronting expert-based and modelled distributions for species with uncertain

conservation status: A case study from the corncrake (Crex crex). Biological

Conservation, 167:161-171.

Gormley, A. M., E. Slooten, S. Dawson, R. J. Barker, W. Rayment, S. du Fresne, and S.

Braeger. 2012. First evidence that marine protected areas can work for marine

mammals. Journal of Applied Ecology, 49:474-480.

Harabis, F. and A. Dolny. 2012. Human altered ecosystems: suitable habitats as well as

ecological traps for dragonflies (Odonata): the matter of scale. Journal of Insect

Conservation, 16:121-130.

Hirzel, A. H., B. Posse, P. A. Oggier, Y. Crettenand, C. Glenz, and R. Arlettaz. 2004.

Ecological requirements of reintroduced species and the implications for release

policy: the case of the bearded vulture. Journal of Applied Ecology, 41:1103-

1116.

Houghton, D. C. and R. W. Holzenthal. 2010. Historical and contemporary biological

diversity of Minnesota caddisflies: a case study of landscape-level species loss

and trophic composition shift. Journal of the North American Benthological

Society480-495.

Hu, J. and Y. Liu. 2014. Unveiling the Conservation Biogeography of a Data-Deficient

Endangered Bird Species under Climate Change. Plos One.

IUCN. Guidelines for re-introductions. -10. 1998. Gland, Switzerland and Cambridge,

UK.

IUCN. 2001. IUCN Red List Categories and Criteria-Version 3.1.

http://www.iucnredlist.org/info/categories_criteria2001 . 6-4-2007.

Page 57: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

56

IUCN. 2003. Guidelines for Application of IUCN Red List Criteria at Regional Levels:

Version 3.0. IUCN Species Survival Commission. -26. 2003a. Gland,

Switzerland and Cambridge, UK, IUCN.

IUCN. 2014. Standards and Petitions Subcommittee. Guidelines for Using the IUCN

Red List Categories and Criteria. Version 11. Prepared by the Standards and

Petitions Subcommittee.

Jepson, W. 2005. A disappearing biome? Reconsidering land-cover change in the

Brazilian savanna. Geographical Journal, 171:99-111.

Juen, L. and P. Jr. De Marco. 2011. Odonate beta diversity in terra-firme forest streams

in Central Amazonia: On the relative effects of neutral and niche drivers at small

geographical extents. Insect Conservation and Diversity, 4:265-274.

Kadoya, T., S. I. Suda, Y. Tsubaki, and I. Washitani. 2008. The sensitivity of

dragonflies to landscape structure differs between life-history groups.

Landscape Ecology, 23:149-158.

Kadoya, T. and I. Washitani. 2012. Use of multiple habitat types with asymmetric

dispersal affects patchoccupancy of the damselfly Indolestes peregrinus in a

fragmentedlandscape. Basic and Applied Ecology, 13.

Kalkman, V. J., V. Clausnitzer, K. D. B. Dijkstra, A. G. Orr, D. R. Paulson, and J. Van

Tol. 2008. Global diversity of dragonflies (Odonata) in freshwater.

Hydrobiologia, 595:351-363.

Korkeamaki, E. and J. Suhonen. 2002. Distribution and habitat specialization of species

affect local extinction in dragonfly Odonata populations. Ecography, 25:459-

465.

Laurance, W. F., D. C. Useche, J. Rendeiro, M. Kalka, C. J. A. Bradshaw, S. P. Sloan,

S. G. Laurance, M. Campbell, K. Abernethy, P. Alvarez, V. Arroyo-Rodriguez,

P. Ashton, J. Benitez-Malvido, A. Blom, K. S. Bobo, C. H. Cannon, M. Cao, R.

Carroll, C. Chapman, R. Coates, M. Cords, F. Danielsen, B. De Dijn, E.

Dinerstein, M. A. Donnelly, D. Edwards, F. Edwards, N. Farwig, P. Fashing, P.

M. Forget, M. Foster, G. Gale, D. Harris, R. Harrison, J. Hart, S. Karpanty, W. J.

Page 58: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

57

Kress, J. Krishnaswamy, W. Logsdon, J. Lovett, W. Magnusson, F. Maisels, A.

R. Marshall, D. McClearn, D. Mudappa, M. R. Nielsen, R. Pearson, N. Pitman,

J. van der Ploeg, A. Plumptre, J. Poulsen, M. Quesada, H. Rainey, D. Robinson,

C. Roetgers, F. Rovero, F. Scatena, C. Schulze, D. Sheil, T. Struhsaker, J.

Terborgh, D. Thomas, R. Timm, J. N. Urbina-Cardona, K. Vasudevan, S. J.

Wright, G. Arias, L. Arroyo, M. Ashton, P. Auzel, D. Babaasa, F. Babweteera,

P. Baker, O. Banki, M. Bass, I. Bila-Isia, S. Blake, W. Brockelman, N. Brokaw,

C. A. Bruhl, S. Bunyavejchewin, J. T. Chao, J. Chave, R. Chellam, C. J. Clark,

J. Clavijo, R. Congdon, R. Corlett, H. S. Dattaraja, C. Dave, G. Davies, B. D.

Beisiegel, R. D. da Silva, A. Di Fiore, A. Diesmos, R. Dirzo, D. Doran-Sheehy,

M. Eaton, L. Emmons, A. Estrada, C. Ewango, L. Fedigan, F. Feer, B. Fruth, J.

G. Willis, U. Goodale, S. Goodman, J. C. Guix, P. Guthiga, W. Haber, K.

Hamer, I. Herbinger, J. Hill, Z. L. Huang, I. F. Sun, K. Ickes, A. Itoh, N.

Ivanauskas, B. Jackes, J. Janovec, D. Janzen, M. Jiangming, C. Jin, T. Jones, H.

Justiniano, E. Kalko, A. Kasangaki, T. Killeen, H. B. King, E. Klop, C. Knott, I.

Kone, E. Kudavidanage, J. L. D. Ribeiro, J. Lattke, R. Laval, R. Lawton, M.

Leal, M. Leighton, M. Lentino, C. Leonel, J. Lindsell, L. Ling-Ling, K. E.

Linsenmair, E. Losos, A. Lugo, J. Lwanga, A. L. Mack, M. Martins, W. S.

Mcgraw, R. Mcnab, L. Montag, J. M. Thompson, J. Nabe-Nielsen, M.

Nakagawa, S. Nepal, M. Norconk, V. Novotny, S. O'Donnell, M. Opiang, P.

Ouboter, K. Parker, N. Parthasarathy, K. Pisciotta, D. Prawiradilaga, C. Pringle,

S. Rajathurai, U. Reichard, G. Reinartz, K. Renton, G. Reynolds, V. Reynolds,

E. Riley, M. O. Rodel, J. Rothman, P. Round, S. Sakai, T. Sanaiotti, T. Savini,

G. Schaab, J. Seidensticker, A. Siaka, M. R. Silman, T. B. Smith, S. S. de

Almeida, N. Sodhi, C. Stanford, K. Stewart, E. Stokes, K. E. Stoner, R.

Sukumar, M. Surbeck, M. Tobler, T. Tscharntke, A. Turkalo, G. Umapathy, M.

van Weerd, J. V. Rivera, M. Venkataraman, L. Venn, C. Verea, C. V. de

Castilho, M. Waltert, B. Wang, D. Watts, W. Weber, P. West, D. Whitacre, K.

Whitney, D. Wilkie, S. Williams, D. D. Wright, P. Wright, L. Xiankai, P.

Yonzon, and F. Zamzani. 2012. Averting biodiversity collapse in tropical forest

protected areas. Nature, 489:290-U137.

Legendre, L. and P. Legendre. 1998. Numerical Ecology. Elsevier, Amsterdam.

Page 59: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

58

Leite, C. C., M. H. Costa, B. S. Soares-Filho, and L. B. V. Hissa. 2012. Historical land

use change and associated carbon emissions in Brazil from 1940 to 1995.

Global Biogeochemical Cycles, 26.

Liu, C. R., P. M. Berry, T. P. Dawson, and R. G. Pearson. 2005. Selecting thresholds of

occurrence in the prediction of species distributions. Ecography, 28:385-393.

Loiselle, B. A., C. A. Howell, C. H. Graham, J. M. Goerck, T. Brooks, K. G. Smith, and

P. H. Williams. 2003. Avoiding pitfalls of using species distribution models in

conservation planning. Conservation Biology, 17:1591-1600.

Maciel, N. M., W. Vaz-Silva, R. M. De Oliveira, and J. M. Padial. 2012. A new species

of Pristimantis (Anura: Strabomantidae) from the Brazilian Cerrado. Zootaxa,

43-56.

Mascarenhas, L. M. d. A., M. E. Ferreira, and L. G. Ferreira. 2009. Sensoriamento

Remoto como instrumento de controle e proteção ambiental: análise da

cobertura vegetal remanescente na bacia do Rio Araguaia. Sociedade e

Natureza.

McGarigal, K. and B. J. Marks. 1995. FRAGSTATS: spatial pattern analysis program

for quantifying landscape structure. USDA For. Serv. Gen. Tech. Rep..

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Plano de ação para prevenção e controle do

desmatamento e das queimadas: cerrado. -200. 2011. Brasilia, MMA.

Miziara, F. and N. C. Ferreira. 2008. Expansão da fronteira agrícola e evolução da

ocupação e uso do espaço no Estado de Goiás: subsídios à política ambiental. A

encruzilhada socioambiental: biodiversidade, economia e sustentabilidade

no Cerrado. Editora UFG, Goiânia.

Miziara, F. and N. C. Ferreira. 2006. Expansão da fronteira agrícola e evolução da

ocupação e uso do espaço no Estado de Goiás: subsídios à política ambiental.

Pages 94-109 in L. G. Ferreira, ed. Conservação da Biodiversidade e

Sustentabilidade Ambiental em Goiás: Prioridades, Estratégias e

Perspectivas. Ed. Canone, Goiânia.

Page 60: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

59

Morais, R. P. 2006. Transformações Socioeconômicas e Ambientais do Cerrado. in L.

D. Guimarães, M. A. D. Silva, and T. C. Anacleto, eds. Natureza Viva

Cerrado: Caracterização e Conservação. Editora da UCG, Goiânia.

Morais, R. P. 2011. Desmatamento do Cerrado e Mudanças no Uso da Terra na Bacia

do Rio Araguaia entre as décadas de 1960-1990 e suas consequências para a

morfologia do canal do médio Araguaia. in J. P. Pietrafesa and S. Dutra e Silva,

eds. Transformações no Cerrado: Progresso, Consumo e Natureza.

Nobrega, C. C. and P. de Marco. 2011. Unprotecting the rare species: a niche-based gap

analysis for odonates in a core Cerrado area. Diversity and Distributions,

17:491-505.

Pietrafesa, J. P., S. Sauer, and A. E. A. F. Santos. 2011. Políticas de Recursos Públicos

na Expansão dos Agrocombustíveis em Goiás: Ocupação de novos espaços em

áreas de Cerrado. in J. P. Pietrafesa and D. S. Silva, eds. Transformações no

Cerrado: Progresso, Consumo e Natureza. Editora da PUC Goiás, Goiânia.

Pineda, E. and J. M. Lobo. 2012. The performance of range maps and species

distribution models representing the geographic variation of species richness at

different resolutions. Global Ecology and Biogeography, 21:935-944.

Rahbek, C. 1993. Captive breeding useful tool in the preservation of biodiversity?

Biodiversity and Conservation, 2:426-437.

Raw, A. 2006. A new subgenus and three new species of leafcutter bees, Megachile

(Austrosarus) (Hymenoptera, Megachilidae) from central Brazil. Zootaxa, 25-

34.

Reino, L., P. Beja, M. B. Araujo, S. Dray, and P. Segurado. 2013. Does local habitat

fragmentation affect large-scale distributions? The case of a specialist grassland

bird. Diversity and Distributions 19:423-432.

Ribeiro, N. V., L. G. Ferreira, and N. C. Ferreira. 2010. Expansão sucroalcooleira no

estado de Goiás: Uma análise exploratória a partir de dados sócio-econômicos e

cartográficos. Geografia, 35:331-344.

Page 61: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

60

Ribeiro, S., W. Vaz-Silva, and A. P. Santos Jr. 2008. New pored Leposternon

(Squamata, Amphisbaenia) from Brazilian Cerrado. Zootaxa.

Rodrigues, R. R., R. A. Lima, S. Gandolfi, and A. G. Nave. 2009. On the restoration of

high diversity forests: 30 years of experience in the Brazilian Atlantic Forest.

Biological Conservation, 142:1242-1251.

Samways, M. J. 2003a. Conservation of an endemic odonate fauna in the Seychelles

archipelago. Odonatologica, 32:177-182.

Samways, M. J. 2003b. Threats to the tropical island dragonfly fauna (Odonata) of

Mayotte, Comoro archipelago. Biodiversity and Conservation, 12:1785-1792.

Sano, E. E., R. Rosa, J. L. S. Brito, and L. G. Ferreira. 2008a. Mapeamento

semidetalhado do uso da terra do Bioma Cerrado. Pesquisa Agropecuaria Brasileira,

43:153-156.

Sano, E. E. Mapeamento da Cobertura Vegetal do Bioma Cerrado: Edital Probio

02/2004. Projeto Executivo B. 02.02.109. Relatório Final. 2007.

Sano, E. E., L. A. Dambrós, G. C. Oliveira, and R. S. Brites. 2008. Padrões de cobertura

de solos do Estado de Goiás. in L. G. Ferreira Jr., ed. A encruzilhada

socioambiental. Editora UFG, Goiânia.

Santos, N. A., J. Hoffmann, A. Roosevelt, F. T. Chaves, and C. E. L. Fonseca. 2001.

Análise Socioeconômica da Interação Entre a Sociedade e a Mata de Galeria:

Implicações para a formulação de políticas públicas.Cerrado: caracterização e

recuperação de Matas de Galeria. EMBRAPA Cerrados, Planaltina.

SAVE Brasil. 2009. Áreas Importantes para a Conservação das Aves no Brasil: Parte II

- Amazônia, Cerrado e Pantanal.

Scaramuzza, C. A. M., R. B. Machado, S. T. Rodrigues, M. B. R. Neto, E. R. Pinagé,

and J. A. F. Diniz Filho. 2008. Áreas prioritárias para conservação da

biodiversidade em Goiás. Encruzilhada socioambiental: biodiversidade,

economia e sustentabilidade no Cerrado. Editora UFG, Goiânia.

Page 62: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

61

Sekercioglu, C. H., R. B. Primack, and J. Wormworth. 2012. The effects of climate

change on tropical birds. Biological Conservation, 148:1-18.

Silva, E. R. 2007. Evolução econômica de Goiás até 1980. Economia Goiana no

Contexto Nacional 1970-2000. Editora da UCG, Goiânia.

Smith, J., M. Samways, and S. Taylor. 2007. Assessing Riparian Quality Using Two

Complementary Sets of Bioindicators. Biodivers Conserv, 16:2695-2713.

Sparovek, G., G. Berndes, A. G. D. P. Barretto, and I. L. F. Klug. 2012. The revision of

the Brazilian Forest Act: increased deforestation or a historic step towards

balancing agricultural development and nature conservation? Environmental

Science & Policy, 16:65-72.

Sparovek, G., G. Berndes, I. L. F. Klug, and A. G. O. P. Barretto. 2010. Brazilian

Agriculture and Environmental Legislation: Status and Future Challenges.

Environmental Science & Technology, 44:6046-6053.

Suhonen, J., M. Hilli-Lukkarinen, E. Korkeamaki, M. Kuitunen, J. Kullas, J. Penttinen,

and J. Salmela. 2010. Local Extinction of Dragonfly and Damselfly Populations

in Low- and High-Quality Habitat Patches. Conservation Biology, 24:1148-

1153.

Tejerina-Garro, F. L. 2008. Biodiversidade e Impactos ambientais no estado de Goiás: o

Meio Aquático.Cerrado, Sociedade e Ambiente: Desenvolvimento Sustentável

em Goiás. Rocha, C.; Tejerina-Garro, F.L.; Pietrafesa, J.P., Goiânia.

Thomas, C. D., C. R. BULMAN, and R. J. WILSON. 2008. Where within a

geographical range do species survive best? A matter of scale. Insect

Conservation and Diversity, 1:2-8.

Tschudin, A., H. Rettmer, R. Watson, and M. H. S. Clauss. 2010. Evaluation of hand-

rearing records for Spix's macaw Cyanopsitta spixii at the Al Wabra Wildlife

Preservation from 2005 to 2007. International Zoo Yearbook, 44:201-211.

Page 63: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

62

Tsubaki, Y. and N. Tsuji. 2005. Dragonfly distributional predictive models in Japan:

relevance of land cover and climatic variables. Forests and dragonflies.

Vandermeer, J. H. 1972. Niche theory. Annual Review of Ecology and Systematics,

3:107-132.

Wantzen, K. M., A. Siqueira, C. N. Cunha, and M. F. P. Sá. 2006. Stream-valley

systems of the Brazilian Cerrado: impact assessment and conservation scheme.

Aquatic Conservation: Marine and freshwater ecosystems, 13:713-732.

Whittaker, R. J., M. B. Araujo, J. Paul, R. J. Ladle, J. E. M. Watson, and K. J. Willis.

2005. Conservation Biogeography: assessment and prospect. Diversity and

Distributions, 11:3-2

Page 64: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

63

CAPÍTULO 2

EFEITO DA AGRICULTURA E DA FRAGMENTAÇÃO DE HABITATS

SOBRE A DIVERSIDADE DE INSETOS AQUÁTICOS NO ESTADO DE GOIÁS

Page 65: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

64

ABSTRACT

Productive landscapes with the predominant use facing agriculture are a reality in the

central portion of the Cerrado Biome and freshwater habitats. Then, the effects of

terrestrial landscape around streams could have several impacts, such as changing

characteristics of species niche, and specifically the change of land surrounding

conditions could alter patterns of dispersal and foraging. In this work, the effect of the

remaining habitats fragmentation, the type of land use (grazing or farming) in the

central portion of the Cerrado Biome were used to test the diversity patterns associated

with richness and beta diversity of aquatic insects in two phases, for immature EPT (

Ephemeroptera, Plecoptera and Trichoptera ) and adults of Odonata at the landscape

scale and the scale of the streams based on a multiscale approach . The regional richness

of both groups is associated with the amount of remaining types of the remaining

habitats, and in the case of Odonata is also associated negatively of pasture

proporpotion and positively with crops proportion. But the richness local is more

influenced by local environmental conditions of streams, such as canopy cover and

water conductivity. The turnover of species of Odonata within landscapes was not

associated to the amount of crop, grazing and types of remnants. But, the turnover of

immature EPT is associated with variation in the amount of crop, grazing and riparian at

2000 metros buffers. Process associated with environmental filters should determine the

richness and composition of aquatic insects, but regional richness is directly determined

by the amount remaining in the landscapes, and the coexistence of remaining areas well

distributed across the landscape could mitigate the effects of large systems of soil

management.

Keywords: Streams, Cropland, Pasture, Fragmentation, Cerrado, Odonata

Page 66: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

65

INTRODUÇÃO

As atividades humanas incluindo o estabelecimento de áreas urbanas, a produção

de alimentos e a criação de animais têm sido responsáveis por grandes alterações nos

ecossistemas (Millenium Ecosystem Assessment 2005). Aproximadamente 30% da

superfície terrestre apresenta utilização direta para atividades como a agricultura

(Millenium Ecosystem Assessment 2005; Rudel et al. 2009). As duas alterações mais

simples e intuitivas é a redução da quantidade da área de habitat disponível e da

conexão entre as áreas remanescentes, em um processo conhecido como fragmentação

de habitat (Fahrig 2003). Em uma escala mais ampla, as manchas de habitat disponível

geram diferentes configurações espaciais, o que possibilita uma maior ou menor

interação entre os componentes da biodiversidade associados a estas (Fischer e

Lindenmayer 2007). Recentemente no Brasil, um rol maior de projetos tem aumentado

a lista de atividades geradoras de fragmentação de habitats, como as obras de grande

infra-estrutura do país através da construção de rodovias, ferrovias, grandes

hidrelétricas, gasodutos e o plantio de lavouras para os biocombustíveis (Wanderley et

al. 2007).

O Bioma Cerrado apresenta estimativas de perdas de 47,8% da sua área nativa

até 2008, com 6,2% da sua área mantida em áreas protegidas (Ministério Do Meio

Ambiente 2011; Myers et al. 2000). As áreas com maior quantidade de remanescentes

não estão distribuídas aleatoriamente, sendo que aquelas onde há uma maior

declividade, os solos são pouco profundos ou sujeitos à inundação periódica, impedem

o estabelecimento de atividades agrícolas (Machado et al. 2004; Carvalho et al. 2009).

Um componente diferencial para os impactos da fragmentação de habitats neste bioma é

a presença de lavouras temporárias em grande escala, sendo que em biomas como a

Mata Atlântica são mais frequentes a influência das pastagens e das lavouras

permanentes.

Uma grande parte dos estudos de Biologia da Conservação voltados para os

efeitos do aumento de áreas produtivas sobre a biodiversidade tem seu foco nos limites

de perda de habitat que pode levar à extinção das espécies, considerando mecanismos

Page 67: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

66

como a área de vida mínima, a quantidade de recursos e a perda da heterogeneidade

sobre processos populacionais. No entanto, esses estudos podem não demonstrar efeitos

significativos simplesmente porque poderia existir um balanço de perda de espécies

especialistas e raras contrabalançado pelo incremento de espécies generalistas e de áreas

abertas conduzindo a uma falta de efeito de gradientes ambientais sobre a riqueza.

Outros estudos têm sugerido que o isolamento entre as manchas de habitat, o tamanho

médio e a percolação mudam não linearmente com a perda de habitat, o que leva a

respostas não lineares para processos como extinção e colonização das espécies e na

escala das comunidades para a riqueza de espécies (Rigueira et al. 2013; Lima e

Mariano-Neto 2014).

As questões sobre fragmentação do Cerrado são um pouco mais complexas,

dada a sua variação fitofisionômica no sentido horizontal, que forma um mosaico de

tipos de habitat campestres, florestas e áreas úmidas (Eiten 1982). O padrão da

fragmentação está associado com o tipo de uso de solo predominante e com a

topografia, com uma maior quantidade de habitat em terrenos de maior declive e uma

maior quantidade de manchas de habitat mais irregulares em áreas de uso para as

lavouras (Carvalho et al. 2009).

Em adição aos efeitos da fragmentação de habitats, estão os efeitos do tipo de

uso do solo, que estariam associados com a matriz na qual os remanescentes estão

emersos (Ficetola et al. 2009). O tipo de uso do solo e as práticas agriculturais a eles

associadas como aragem, pesticidas, fertilizantes e intensificação do rebanho teriam

impactos diretos sobre a alteração das características locais e regionais de uma paisagem

(McLaughlin e Mineau 1995) levando a homogeneização desta (Zeni e Casatti 2014;

Nakamura e Yamada 2005). As alterações nos habitats advindas da intensificação de

uso do solo pela agricultura podem conduzir a vários tipos de respostas, desde a perda

de espécies, a estabilização desta com a substituição de espécies, sendo que os

invertebrados tem apresentado uma sensibilidade de resposta a estas alterações (Burel et

al. 1998).

A relação entre a heterogeneidade de paisagens e a riqueza de espécies

demonstra que no geral paisagens heterogêneas suportam mais espécies do que

paisagens modificadas menos heterogêneas (Tscharntke et al. 2005). Uma importante

predição é a teoria de “quantidade de habitat” sugerem que a perda da conectividade é

Page 68: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

67

severa particularmente abaixo de 30% de perda da cobertura da vegetação nativa,

conduzindo ao aumento da perda de espécies que dependem da vegetação nativa (Fahrig

2003). Outra relação que surge é que a alteração da composição de espécies por si pode

conduzir a uma extinção em cascata quando espécies chave ou que apresentam uma

interação muito forte são eliminadas.

Em habitats de água doce, os efeitos da paisagem terrestre ao redor teriam vários

tipos de impactos, como a alteração de características de habitat local (Zeni e Casatti

2014), alterando as características do nicho das espécies, e especificamente a alteração

de condições terrestres ao redor poderia alterar padrões de dispersão e de

forrageamento. A separação entre habitats de forrageamento e habitats de reprodução

em espécies com reprodução dependente de riachos e rios, mais do que a fragmentação

da paisagem per se, tem efeitos mais fortes sobre a abundância de espécies,

principalmente para aquelas que apresentam uma forte associação com as florestas

(Becker et al. 2007).

A relação específica entre uso do solo, fragmentação de habitats e cursos de

água lóticos demonstra que os efeitos locais poderiam ser mais importantes ao

influenciar a diversidade destes sistemas, sendo que em alguns casos a quantidade de

agricultura na região ripária tem efeitos quatro vezes maiores sobre a riqueza de táxons,

do que a quantidade de agricultura na microbacia (Waite 2014; Rawi et al. 2013).

As paisagens dominadas por pastagens devotadas à criação de gado devem

induzir a um aumento do acesso de gado aos córregos além do represamento dos riachos

(De Marco, Jr. et al. 2014) e através da diminuição da vegetação ripária aumenta a

entrada de luz e a temperatura, a entrada de sedimentos finos e diminui a entrada de

folhas e de invertebrados terrestres (Nakamura e Yamada 2005), levando a uma menor

diversidade de espécies e guildas tróficas (Zeni e Casatti 2014). O aumento das lavouras

nas bacias conduz a entrada de defensivos agrícolas nos corpos de água, a demanda por

água para irrigação o que poderia desestabilizar a vazão de corpos de água, ao aumento

da entrada de sedimentos e a alteração da quantidade e qualidade dos substratos

(Nakamura e Yamada 2005).

A Ecologia da Paisagem em ecossistemas aquáticos é de grande interesse e

aplicabilidade. Aplicada a estes ambientes ela parte do princípio de considerar estes

habitats como “Paisagens Riverinas”. Estes ambientes por si só já constituem uma

Page 69: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

68

paisagem, considerando que são um mosaico de características geomorfológicas,

entremeando habitats lênticos, lóticos, áreas alagadas e onde as estruturas de distúrbio,

produtividade e a escala são muito importantes para determinar os padrões de

diversidade das espécies (Ward et al. 2002; Wiens 2002; Allan 2004). Neste caso,

podemos aplicar a estes ambientes a mesma estrutura conceitual da Ecologia da

Paisagem, onde é possível estudar a interação entre os padrões espaciais e processos

ecológicos, levando em consideração a heterogeneidade espacial através de várias

escalas (Ward et al. 2002). Os fatores como a qualidade da mancha de habitat, a

fronteira da mancha de habitat, associada à troca de materiais, energia e indivíduos, a

escala espacial e a diferença nas respostas entre os indivíduos seriam importantes para

compreender a estruturação da diversidade (Wiens 2002).

Considerando que manchas de habitat local estão interligadas em um processo

hierárquico, os efeitos da paisagem e da fragmentação deveriam apresentar

consequências para alterar condições locais dos habitats, principalmente através da

intensificação de transferência de matéria orgânica, nutrientes, sedimentos e

contaminantes da paisagem terrestre ao redor (Allan 2004; Palmer et al. 2000). A

diversidade biológica em habitats de água doce é fortemente influenciada pela

heterogeneidade de habitat em trechos curtos como de 10 a 1000 metros as quais são

influenciadas por mais amplas escalas, como as bacias e pela paisagem terrestre ao

redor (Allan 2004). Outro fator a ser considerado é a covariação de fatores naturais da

paisagem e fatores antrópicos, como o tipo de uso do solo, sendo que os fatores naturais

podem ser importantes quando a influencia humana é distribuída uniformemente ao

longo de toda uma paisagem (Allan 2004).

A resposta aos padrões espaciais de fragmentação está associada a diferentes

escalas de acordo com a capacidade de dispersão dos organismos, hábitos de

alimentação e a sua relação com a percepção e a utilização de elementos da paisagem ao

redor das suas manchas de habitats (Chust et al. 2004b; Pearman 2002; Cadenasso et al.

2003; Boscolo e Metzger 2009). Um padrão geral para alguns grupos demonstra que, as

respostas de componentes da fauna ocorrem para pequenas áreas de influência (c.a. 250

a 600 metros) e que à medida que aumenta a quantidade de habitat em pequenas escalas

aumenta a riqueza de algumas guildas e a frequência de utilização das manchas de

Page 70: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

69

habitat, mesmo para organismos de grande porte como os mamíferos (Pearman 2002;

Lyra-Jorge et al. 2010).

Os insetos aquáticos são tradicionalmente utilizados nos estudos de

biomonitoramento de corpos de água, onde a presença, abundância e ou comportamento

servem como surrogate para os efeitos sobre toda a biota aquática (Bonada et al. 2006).

Os habitats deste grupo são manchas discretas isoladas de outras por habitats terrestres

(Bilton et al. 2001). Neste caso a dispersão que ocorre pelos habitats terrestres é

limitada, muitas vezes por curtas distâncias e se processa através do vôo de adultos. A

amplitude de distribuição espacial ao longo de uma bacia, as abundâncias locais, a

associação com microhabitats hidrológicos, de entrada de luminosidade e matéria

orgânica bem como a sensibilidade a alterações da integridade de habitats de água doce

fazem de grupos como os Trichoptera, Ephemeroptera e Plecoptera bons modelos para

testar os efeitos do tipo de uso do solo e da fragmentação de ecossistemas de água doce

(Pereira et al. 2012; Shimano et al. 2010).

Os insetos aquáticos das ordens Ephemeroptera, Plecoptera, Trichoptera e

Odonata constituem um grupo não homogêneo ecologicamente, tanto quando

consideramos à diversidade de cada um destes grupos, a história evolutiva e as

particularidades de histórias de vida (Merritt e Cummins 1979). Porém, de comum a

todos eles está uma história de vida anfibiótica com a utilização de habitats terrestres e

aquáticos. A diversidade deste grupo em ambientes de água doce é determinada tanto

pelas condições físico-químicas da água (Couceiro et al. 2011; Castillo et al. 2006), a

estrutura da paisagem ao redor de corpos de água e por regimes de distúrbio do leito de

córregos (Townsend et al. 1997; Effenberger et al. 2006; Death e Winterbourn 1995). A

distribuição e a diversidade deste grupo em escalas regionais seria o reflexo de

diferenças locais associadas ao nicho, padrões de distúrbios (Townsend et al. 1997) e a

dinâmica regional de imigração e extinção.

As características locais dos riachos como a presença de substratos com grandes

interstícios e substratos orgânicos apresentam efeitos diretos sobre uma maior riqueza e

na diferenciação da composição de insetos aquáticos (Duan et al. 2009; Costa e Sanches

Melo 2008). As características regionais também apresentam uma grande relevância

para a diversidade de insetos aquáticos sendo que padrões vegetacionais biogeográficos

associados a biomas explicam mais da diversidade destes táxons do que fatores

Page 71: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

70

históricos (Vinson e Hawkins 2003) e que à perda a montante da bacia de drenagem

reduz a riqueza de insetos aquáticos e em especial da guilda de fragmentadores (Reid et

al. 2010). A riqueza de insetos aquáticos é maior em riachos em paisagens com mais

remanescentes quando comparado a riachos inseridos em áreas urbanas e próximos a

agricultura (Hepp et al. 2010).

Os adultos de insetos aquáticos apresentam uma grande associação com a

vegetação ciliar, sendo que as principais atividades destes tendem a se localizar nesta

região em faixas de distância próximas a água (Collier e Smith 1998). Considerando o

estágio de vida adulto outras variáveis ambientais, associadas principalmente ao meio

terrestre passam a ser importantes. Para os adultos de Odonata, por exemplo, a sua

distribuição é diretamente influenciada por características de sua história de vida como

a ecofisiologia da termorregulação (May 1976; May 1977; May 1979; May 1982; Fried

and May 1983; May 1991; May 1995) e a habilidade de dispersão, ambas determinadas

por fatores de tamanho corporal (Juen e De Marco, Jr. 2012; Anholt 1990; McCauley

2010; Harabis e Dolny 2011). Em áreas de reprodução (corpos de água), o espaçamento

entre os indivíduos de adultos é influenciado pela densidade populacional e a

territorialidade e quando este limite é alcançado ocorre a dispersão, podendo promover

uma dispersão por mais longas distância e levando a uma maior ocupância na paisagem,

(Kormondy 1961; Wolfenbarger 1946).

A região Neotropical apresenta apenas duas subordens, a qual além de ser uma

divisão taxonômica e filogenética tem apresentado alguns padrões ecológicos, com os

Zygoptera no geral representando espécies de menor tamanho corporal, capacidade de

dispersão relativamente pequena, geralmente passando grande parte de sua atividade

diária pousados (perchers) (Corbet e May, 2008) e apresentando uma termorregulação

realizada por processos convectivos e os Anisoptera com maior tamanho corporal,

capacidade de dispersão relativamente maior, geralmente passando grande parte de sua

atividade diária em vôo (Corbet e May, 2008) e apresentam uma termorregulação

realizada por processos de radiação solar e endotermia (May, 1991).

O ISI Web Knownledge apresentou 226 artigos indexados para o período de

publicação de 1945 a 2013 com as combinações: Odonata AND Fragment, Odonata

AND Landscape, Odonata AND Agricultur*, Odonata AND “land use”, Dragonflies

AND Fragment*, Dragonflies AND Landscape, Dragonflies AND Agricultur*,

Page 72: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

71

Dragonflies AND “land use”, porém destes artigos apenas 145 apresentaram alguma

abordagem que fosse útil para entender a relação entre agricultura, fragmentação e uso

do solo sobre a diversidade de Odonata.

Um total de 43,4% (63 artigos) corresponde a trabalhos associados aos efeitos da

agricultura sobre a diversidade de Odonata, sendo que 15,9% (10) destes trabalhos

foram realizados para espécies de Odonata em categorias de ameaça e 17,4% (11). Dos

trabalhos que apresentaram alguma abordagem voltada para a agricultura 93,5% (58),

destes basearam-se em dados de coleta biológicos apenas para adultos (41,9% - 26),

apenas para larvas (35,4% - 22), apenas para exúvia (3,2% - 2). Os trabalhos que

utilizaram mais do que uma fase de desenvolvimento foram 6,4% - 4 (adultos e larvas),

4,8% - 3 (adultos, larvas e exúvias), 1,6% - 1 (adultos e exúvias), Os demais 6,4% – 4

foram baseados em bancos de dados. Os estudos que abordaram a agricultura são no

geral voltados para os habitats lênticos (60,7% - 37), seguido pelos habitats lóticos

(22,9% - 14), e que abordam ambos os ambientes (6,5% - 4).

O padrão e a dinâmica de dispersão de Odonata têm sido testado a partir de

métodos de marcação e recaptura, ou inferência de padrões a partir da distância ou

isolamento de habitats, sendo que as análises genéticas estão presentes em apenas

27,5% (11) trabalhos. A dispersão em adultos de Zygoptera ocorre principalmente ao

longo de habitats reprodutivos, próximos aos corpos de água. Ela tende a ocorrer por

curtas distâncias, inferiores a 1,5 Km, sendo que eventos de dispersão por longa

distância, acima de 1,5 Km são mais raros e acontecem principalmente através de

habitats não reprodutivos, atravessando a matriz de áreas com lavouras (Keller e

Holderegger, 2013).

As características da paisagem baseadas em NDVI (Normalized Difference

Vegetation Index), não apresentaram efeito sobre a riqueza estimada de Zygoptera e

Anisoptera, apresentando porém, efeitos negativos sobre a diversidade beta de

Anisoptera, com a substituição de espécies em áreas preservadas e o aumento do

aninhamento nas áreas alteradas (Batista et al. 2013). A riqueza de Odonata e

Anisoptera é maior em ambientes localmente degradados, assim como a composição

difere entre ambientes preservados e degradados (Monteiro Júnior et al. 2013; Oliveira-

Page 73: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

72

Junior et al. 2013; Juen et al. 2013), apesar de alguns estudos não encontrar relação com

as condições locais (Batista et al. 2013; Oliveira-Junior et al. 2013).

Os padrões de diversidade em relação a fragmentação de habitats em multi-escalas,

associado ao tipo de uso do solo, permanece inexplorado para os insetos aquáticos.

Portanto, dentro deste contexto teórico neste trabalho serão testadas as seguintes

hipóteses:

i) A estrutura de comunidade de adultos de Odonata e Zygoptera está mais

associada à quantidade de habitat em pequenas escalas e para adultos de

Anisoptera está mais associada à quantidade de habitat em grandes escalas;

ii) A estrutura da comunidade de imaturos de EPT está associada à quantidade

de habitat em pequenas escalas;

iii) As abundâncias de adultos de Odonata, Zygoptera, Anisoptera, e imaturos de

EPT devem apresentar uma redução com o aumento da quantidade de

lavoura em todas as escalas consideradas;

iv) As abundâncias de adultos de Odonata, Zygoptera, Anisoptera e imaturos de

EPT devem apresentar um aumento com o aumento da quantidade de

pastagem em todas as escalas consideradas;

v) A riqueza de insetos aquáticos deve aumentar com a quantidade de mata

ciliar;

vi) A diversidade beta de insetos aquáticos deve aumentar em paisagens com

menos remanescentes;

vii) A contribuição do aninhamento para a diversidade beta deve aumentar a

medida que diminui a quantidade de área remanescente nas paisagens e

diminui a heterogeneidade das paisagens.

MATERIAL E MÉTODOS

Arranjo amostral e Seleção de áreas

Page 74: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

73

O arranjo amostral desse estudo foi projetado para o teste de hipóteses associada

à escala da paisagem, a qual foi definida a partir do estudo realizado por Carvalho et al.

(2009). Neste trabalho, os autores testaram o padrão de fragmentação em paisagens do

estado de Goiás com dimensões de 50 por 50 quilômetros em relação ao tipo de uso do

solo. Considerando uma melhor relação entre esforço de amostragem para a

representação das informações biológicas da paisagem, aqui o mesmo procedimento

realizado para a obtenção de métricas de fragmentação foi aplicado à escala da

paisagem para os limites de 25 por 25 quilômetros. Neste caso uma malha de 25 por 25

quilômetros foi sobreposta à classificação de usos do solo baseada em imagens

LANDSAT TM do ano 2002, classificação realizada como parte do projeto de seleção

de áreas prioritárias para a conservação no estado de Goiás (Scaramuzza et al. 2008).

Para cada célula da malha, as métricas de fragmentação, proporção de cada uma das

classes de uso lavoura, pastagem e área remanescente e isolamento médio para cada

uma das classes foram obtidas utilizando o programa Fragstats versão 4.2 (McGarigal e

Marks 1995).

Uma regressão linear simples realizada entre a proporção de área remanescente

(Habitat Amount) e o logarítmo do isolamento médio entre os remanescentes

(Fragmentação), que representa o processo de fragmentação, foi realizada entre estas

duas métricas. A partir desta regressão foram selecionadas 20 quadrículas dispersas ao

longo do gradiente de fragmentação e que deveriam atender os seguintes critérios: i)

estarem totalmente localizadas dentro do estado de Goiás, ii) apresentarem pelo menos

5% de área de lavoura em seus limites (FIGURA 1). Quinze das 20 paisagens foram

selecionadas para serem amostradas biologicamente em campo, porém apenas 14 foram

efetivamente amostradas, considerando a indisponibilidade de córregos padronizados

wm estrutura de vegetação e regime hídrico no município de Chapadão do Céu.

Em cada uma das paisagens o habitat de foco foram os riachos, cada um dos

riachos amostrados foi considerado como uma mancha de habitat e as 14 quadrículas de

25 por 25 quilômetros foram definidas como a unidade de paisagem, uma vez que

abrangiam todas as manchas de habitat (os riachos) amostrados para uma determinada

região. Foram amostrados um total de 80 riachos nas 14 paisagens (TABELA 1 e

FIGURA 1).

Page 75: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

74

Figura 1 - Processo de seleção de quadrículas para serem amostradas. 1 – Sobreposição

de malha de 25x25 Km a área do estado de Goiás, desconsiderando as margens. 2 – Em

cada célula da malha foi a quantidade de remanescente e o isolamento médio entre estes

foram aplicados a uma regressão linear. 3 – Seleção de 15 células que representaram o

gradiente de fragmentação ao longo do estado de Goiás. 4 – Regressão entre a

quantidade de remanescente e o isolamento médio destes, para as células selecionadas.

Page 76: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

75

Arranjo amostral em campo

As paisagens foram inspecionadas utilizando a plataforma do Google EarthTM

para a seleção dos córregos a serem amostrados. A seleção dos córregos atendeu aos

seguintes critérios: i) serem córregos de até terceira ordem; ii) permitirem amostras de

parte dos pontos próximos a áreas de lavoura e parte longe dessas áreas.

Adicionalmente, vistoriados em campo os córregos deviam atender ao critério de

apresentarem vegetação ciliar.

Tabela 1 – As métricas de fragmentação de proporção de área remanescente e

isolamento médio entre os remanescentes nas 14 paisagens de dimensão 25 X 25 Km,

baseadas na classificação de uso solo de imagens LANDSAT TM 2002. NA – Não

aplicado. A paisagem P5 não apresenta a métrica isolamento devido ao fato de ser

composta por apenas uma grande mancha de remanescente a qual apresenta conexão em

toda a extensão da paisagem. Odo – Odonata e EPT – Ephemeroptera, Plecoptera e

Trichoptera. % Reman – Remanescentes de Vegetação, Isol. – Isolamento médio

Paisagens Ano Amostragem Município Riachos % Reman. Isol.

P1 2012 EPT, Odo Serranópolis 6 31,731 1399,073

P2 2012 EPT, Odo Rio Verde 6 8,538 1905,531

P3 2011 Odo Pontalina 6 16,877 1773,457

P4 2011 Odo Pires do Rio 6 27,341 1182,709

P5 2011 Odo Cristalina 6 74,330 NA

P6 2012 EPT, Odo Doverlândia 6 16,403 1568,233

P7 2011 Odo Silvânia 5 34,163 1164,383

P8 2011 Odo Luziânia 6 42,938 1140,412

P9 2012 EPT, Odo Rubiataba 6 32,915 984,646

P10 2012 EPT, Odo Aruanã 4 26,950 1314,424

P11 2012 EPT, Odo Água Fria de Goiás 6 66,502 952,902

P12 2011 Odo Niquelândia 5 55,360 844,125

P13 2012 EPT, Odo Alto Paraíso de Goiás 6 74,118 815,702

P14 2012 EPT, Odo Nova Roma 6 53,133 1296,859

Page 77: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

76

Amostragem biológica

A amostragem de adultos de Odonata ocorreu em 80 riachos, distribuídos em 14

paisagens, através de visitas realizadas em cada um dos riachos por dois dias

consecutivos durantes os meses de Fevereiro a Maio de 2011 e Fevereiro a Maio de

2012. A amostragem seguiu a metodologia de inspeção visual de um transecto de 100

metros, subdividido em 20 segmentos de 5 metros. Essa metodologia é comum nos

estudos de comunidades de Odonata em riachos (Silva et al. 2010; Juen e De Marco

2011; De Marco 1998). A amostragem foi restrita à uma temperatura mínima de 25° C e

tempo ensolarado, a qual foi controlada a partir da utilização de um termohigrômetro. O

transecto foi inspecionado por um observador por 60 minutos. Todos os indivíduos

presentes em cada segmento foram contabilizados e coletados com o auxílio de rede

entomológica. Os exemplares foram individualizados por dia e segmento de coleta.

Após a coleta estes foram emersos em acetona PA 95% por 24 horas, secos e

conservados com pastilhas de naftalina. Os exemplares coletados foram identificados

utilizando lupa estereomicroscópica, utilizando a bibliografia pertinente (Lencioni 2005;

Lencioni 2006), padronizados em cartões de acordo com as normas, e todos os

indivíduos foram tombados no banco de dados digital e abrigados na Coleção Zoológica

da Universidade Federal de Goiás, ZUFG.

A amostragem de imaturos das ordens de insetos aquáticos Ephemeroptera,

Plecoptera e Trichoptera (EPT) ocorreu em uma quantidade menor de riachos (41)

distribuídos em oito paisagens entre os meses de Fevereiro a Maio de 2012. A

amostragem de imaturos de insetos das ordens Ephemeroptera, Plecoptera e Trichoptera

(EPT) foi realizada em transectos de 100 metros, dentro dos quais foram realizadas 12

amostras dos substratos disponíveis. A amostragem foi realizada através de uma rede

Subber de malha de 250 micrômetros, para a coleta de substrato de fundo (pedra, areia e

argila) e a rede D com diâmetro de 18 cm e malha de 250 micrômetros para a coleta de

substrato de margem (raízes) e macrófitas. A amostragem foi realizada por tipo de

ambiente e localização do substrato, sendo divididas seis amostras em área de

correnteza, três para substrato de fundo e três para substrato de margem e seis amostras

para área de remanso três para substrato de fundo e três para substrato de margem.

Page 78: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

77

Os substratos coletados foram preservados em álcool 90% e triados

posteriormente em laboratório com auxílio de lupa estereomicroscópica Leica M80. Os

imaturos coletados foram identificados em nível de gênero utilizando chaves

taxonômicas específicas para Ephemeroptera (Salles, 2006), Plecoptera (Lecci e

Froehlich, 2007) e Trichoptera (Dumas e Nessimian, 2006; Calor, 2007; Adolfo R.

Calor e Claudio G. Froehlich, 2008; Maria J. Martins-Silva et al., 2008) e conservados

em álcool 70%, e em seguida depositados na Coleção Zoológica da Universidade

Federal de Goiás, ZUFG.

Caracterização ambiental dos riachos

Em cada um dos 80 riachos foram retiradas 20 fotos, padronizadas a 1000 cm da

lâmina d´água, no centro do canal utilizando máquina fotográfica do modelo SONY

DSCH3. Estas fotos foram convertidas em imagens monocromáticas no formato TIFF e

para cada uma destas foi contabilizada a porcentagem de cobertura de dossel pela

contabilização média de células brancas e pretas. Para cada riacho foi considerada a

média e o desvio padrão da entrada de luz no riacho. Esta variável foi utilizada para

testar as hipóteses associadas à adultos de Odonata e a imaturos de EPT.

As variáveis físico-químicas da água foram obtidas apenas para os riachos onde

os insetos aquáticos foram amostrados (41 riachos no total) condutividade elétrica

(sonda CD-860) e pH (pHtek) foram medidas em cinco trechos do transecto amostrado.

A vazão foi medida para três trechos em secção de um metro de comprimento através

do método de objeto flutuante. Estas variáveis foram utilizadas para testar as hipóteses

associadas apenas aos imaturos de EPT.

As características de habitat dos 80 riachos foram avaliadas usando o Índice de

Integridade Física (IIF), o qual é baseado na avaliação visual de características locais.

Este índice avalia o uso do solo, a vegetação ripária, e as características do leito e

morfologia do canal do riacho (Nessimian et al. 2008). Cada item foi composto de

quatro a seis alternativas ordenadas em relação aos aspectos percebidos da integridade

do habitat. Para assegurar que cada item tem o mesmo peso na análise, os valores

observados (ao) foram padronizados em relação ao máximo valor da questão em cada

Page 79: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

78

item (am), 𝑝𝑖 = 𝑎𝑜/𝑎𝑚. O índice final é o valor médio das características de habitat (n).

Essa transformação produz um índice que varia de 0 a 1 e está diretamente relacionado

às condições de integridade de habitat:

𝐻𝐼𝐼 =∑ 𝑃𝑖𝑛

𝑖−1

𝑛

Esta variável foi utilizada para testar as hipóteses associadas à diversidade de adultos

de Odonata e de imaturos de EPT.

Indicadores e caracterização da estrutura da paisagem

O grau de fragmentação que caracteriza uma paisagem pode ser descrito por

métricas que podem ser agrupadas em duas categorias, os índices de composição e os de

disposição (Metzger 2003). Os parâmetros de composição dão uma ideia de quais

elementos estão presentes em uma paisagem, da riqueza destes e da área ocupada por

estes. Os parâmetros de disposição quantificam o arranjo espacial destas unidades em

termos de grau de fragmentação, frequência de contato, medidas através do tamanho, da

forma, da distribuição espacial, a densidade de fragmentos ou manchas de habitats.

Foram utilizadas as métricas de disposição, associadas à quantidade de habitat

(Habitat Amount), representada por proporção da área da paisagem e a coesão. A

métrica proporção de área da paisagem representa a proporção de uma determinada

classe de uso na paisagem. Está métrica é igual a soma das áreas medidas em metros

quadrados (m2) de todas as manchas de um tipo de uso, dividida pela área total da

paisagem em metros quadrados (m2), multiplicada por 100. Esta métrica é mais

apropriada para testar a composição de uma paisagem e comparar entre diferentes

paisagens. Esta métrica foi calculada para todos os nove tipos de uso.

Uma segunda métrica foi utilizada para a quantidade de habitat na paisagem, a

métrica de coesão. Ela mede a agregação das manchas de um tipo de uso. A coesão da

mancha aumenta quando estas se tornam mais agrupadas na sua distribuição, e portanto

mais fisicamente conectadas. A coesão varia de 0 a 100, e esta métrica assume o valor

de 0 quando a classe de uso analisada diminui a ponto de tornar-se altamente

subdividida e menos fisicamente conectada. As métricas associadas à fragmentação per

se foram obtidas através das métricas de número de manchas de uma classe de uso e a

distância média em metros entre as classes de um determinado tipo de uso.

Page 80: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

79

Uma abordagem de multiescala para as paisagens foi utilizada (Chust et al.

2004a), consideradas a partir de áreas de influência construídas a partir da coordenada

do transecto amostrado em cada riacho. As áreas de influência são compostas por anéis

com distâncias crescentes de 250 a 2000 metros, com largura e intervalo de 250 metros.

A opção por áreas de influência anelares foi para manter a independência entre as

escalas em relação aos padrões espaciais da paisagem analisados.

As imagens LANDSAT TM 5 (Thematic Mapper) para o mês de Agosto do ano

de 2011 que abrangiam as 14 paisagens amostradas foram obtidas a partir do

depositório do INPE (www.inpe.com.br ). Estas imagens foram georreferenciadas e foi

utilizada a composição RGB, bandas 3 (0,63-0,691m), 4 (0,76-0,901m), 5 (1,55-

1,751m) para a interpretação visual das classes de uso do solo. A classificação baseou-

se em nove classes: 1) Lavoura, 2) Pastagem, 3) Antrópico (estradas e cidades), 4) Mata

Ciliar, 5) Mata Seca, 6) Áreas Úmidas, 7) Formações de Cerrado 8) Água (represas e

grandes rios) e 9) Reflorestamento. A construção dos polígonos de classificação foi

baseada na interpretação visual das imagens e através da comparação com uma melhor

resolução da plataforma Google Earth TM

e pelo conhecimento em campo das áreas

amostradas (Figura 3).

As classes pré-definidas foram baseadas na quantificação de tipos de habitat que

teriam influência direta sobre os insetos aquáticos. As classes com foco principal seriam

a Mata Ciliar, Área Úmida e os tipos de uso do solo por lavoura e pastagem. A

quantidade de Cerrado e Mata Seca poderiam ter impactos diretos sobre o escoamento

superficial das bacias e serem utilizados como habitats de forrageamento para adultos de

insetos aquáticos, principalmente as fêmeas, desde que estas estejam localizadas

próximas a corpos de água.

Foi utilizada a projeção UTM WGS 84 e os arquivos raster em formato GRID

foram analisados no programa Fragstats versão 4.2 (McGarigal e Marks 1995), para o

cálculo das métricas de fragmentação. As métricas de fragmentação foram obtidas para

cada uma das 14 paisagens e em cada paisagem para cada área de influencia e para cada

uma das nove classes consideradas.

As paisagens de 25 por 25 quilômetros também foram caracterizadas a partir de

variáveis fisiográficas de relevo, como a altitude, a declividade e a densidade de

drenagem. As camadas ambientais de altitude e declividade foram obtidas a partir do

Page 81: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

80

banco de dados do Modelo de Elevação Digital Global Hydro-1K, a partir do qual foi

obtida a média e o desvio padrão para cada uma das paisagens. A densidade de

drenagem para a área de cada uma das paisagens foi obtida a partir do dado vetorial de

hidrografia, através da divisão do comprimento total desta pela área de cada paisagem.

Análises Quantitativas de Diversidade

A riqueza estimada foi obtida pelo método não-paramétrico Jackknife de

primeira ordem, considerando no caso de adultos de Odonata, cada segmento dos dois

dias amostrados como réplica para análise e no caso de imaturos de EPT cada uma das

12 amostras de cada riachos (Colwell e Coddington 1994). A riqueza estimada foi

calculada separadamente para cada um dos 80 córregos amostrados (Odonata) e 41

córregos (EPT), dando uma informação local da riqueza e para cada uma das paisagens

de dimensão 25 por 25 quilômetros, utilizando todos os pontos coletados em cada uma

destas utilizando o programa Estimate S versão 9.10 (Colwell 2005).

A diferença de composição entre os riachos, diversidade beta, foi considerada a

partir de duas abordagens, a dispersão multivariada e a partição em componentes de

substituição e o aninhamento. Na abordagem de dispersão multivariada (Anderson et al.

2006), uma estatística F é calculada para comparar as distâncias médias das unidades

amostrais para o centróide de seu grupo (cada uma das paisagens estudadas), definido

no espaço identificado por uma medida de dissimilaridade escolhida. Neste trabalho,

foram utilizados três índices de dissimilaridade. O índice de dissimilaridade de Chao

que leva em consideração a abundância das espécies, o índice de dissimilaridade de

Jaccard que considera apenas a presença e a ausência das espécies e o índice de Rauph-

Crick, que baseado em um modelo nulo controla para diferença na riqueza de espécies

entre as comunidades consideradas. A diversidade beta baseada neste processo foi

realizada através do pacote betadisper presente no pacote vegan (R Development Core

Team 2010).

A diversidade beta de cada uma das paisagens foi adicionalmente particionada

em componentes de substituição e aninhamento baseada em uma medida entre múltiplos

locais dentro de cada paisagem. Estes componentes representam processos diferentes e

permite analisar os processos subjacentes a biodiversidade. No primeiro caso,

Page 82: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

81

considera-se a substituição de espécies e no segundo caso considera-se a perda de

espécies (Baselga 2010; Baselga 2012). O aninhamento das comunidades considera que

a perda de espécies ocorre de uma maneira não aleatória e já a substituição é

fundamentada na variação ambiental ou na restrição histórica e espacial. O

particionamento da composição em elementos de substituição e aninhamento para cada

paisagem foi realizado através da função betamulti (R Development Core Team 2010),

utilizando o índice de dissimilaridade de Jaccard (R Development Core Team 2010).

O teste de hipóteses associados a escala da área de influência e a estrutura das

comunidades de Odonata, Zygoptera e Anisoptera foram testados a partir da Análise de

Regressão Múltipla com o controle da autocorrelação dos resíduos e da correlação de

matrizes através do teste de Mantel, de acordo com o implementado no pacote R-

Package 4.0 (R Development Core Team 2010).

A estatística de Mantel é um teste por permutação e, portanto, não é afetado por

pressupostos de distribuição normal dos dados (Manly 1994). A matriz de espécies (m

espécies por n locais) é composta pela abundância de cada uma das espécies amostradas

nos 41 córregos no caso de EPT e para os 80 córregos no caso de adultos de Odonata.

Foram realizados dois tipos de testes de correlação cada um deles com uma matriz

ambiental de usos para as classes de mata ciliar, lavoura e pastagem. No primeiro a

matriz ambiental utilizada apresentou apenas métricas associadas diretamente à

quantidade de área (proporção da área da paisagem ocupada pelo tipo de uso e a coesão

da classe de uso na paisagem). No segundo caso, a matriz ambiental compreendia as

métricas associadas à fragmentação de habitat, obtida apenas para a mata ciliar (número

de manchas de habitat e isolamento médio em metros).

A similaridade da composição de Odonata dos córregos foi obtida através do

índice de Chao. O índice de Chao é calculado considerando o vetor de abundância

relativa das espécies compartilhadas entre dois pares de locais pesado pelo número de

espécies de um dos pares de locais, que apresenta apenas um ou dois indivíduos no

outro local (Chao et al. 2005). O vetor de abundâncias das espécies foi construído para

cada um dos córregos amostrados. A dissimilaridade entre as comunidades de Odonata,

comparadas par a par, foi realizada com estes vetores através do índice de

dissimilaridade de Chao. Este índice varia de 0 a 1, sendo que o valor 1 é obtido para

comunidades totalmente dissimilares. Optou-se pelo índice de Chao em relação a

Page 83: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

82

outros índices de similaridade, pois ele leva em consideração tanto a abundância das

espécies, quanto uma estimativa das espécies que possivelmente não foram amostradas

(Chao et al. 2005). Muitas espécies não são amostradas e as espécies raras que aparecem

em um local podem ser diferentes das espécies raras que aparecem em outro local,

mesmo que ambas possam estar presentes nos dois locais. Neste caso uma subestimativa

da similaridade poderia ocorrer devido à falha para controlar para as espécies

compartilhadas não amostradas. As análises foram realizadas no programa R através do

pacote vegan (R Development Core Team 2013).

A significância da estatística de correlação de matrizes de Mantel (rM) e o seu

valor entre as escalas foram utilizadas para testar quais áreas de influencia estão mais

associadas com a estrutura das comunidades de Odonata, Zygoptera, Anisoptera e

imaturos de EPT. Assim como o coeficiente de determinação (R2) da Regressão

Múltipla foi utilizado para testar em que escala o padrão espacial de uso explica mais da

riqueza de adultos de Odonata e imaturos de EPT.

A Regressão Múltipla com controle da autocorrelação dos resíduos foi utilizada

para testar se os fatores ambientais locais são mais importantes do que o padrão espacial

nas áreas de influência e na escala da paisagem. Esta análise foi feita através do

programa SAM versão 4.0 (Rangel et al. 2010). A avaliação da autocorrelação dos

resíduos da regressão possibilita que controlemos para o possível efeito de correlações

espúrias entre fatores ambientais e características das comunidades (Legendre 1993;

Sokal and Oden 1978). A multicolinearidade das variáveis foi medida através do VIF

(Fator de Inflação da Variância) e o CN (Número de Condição).

A autocorrelação espacial dos resíduos da regressão foi obtida a partir do Índice

de Moran, com posterior teste de significância para cada uma das classes de distância.

Foram utilizados intervalos iguais de distância para o cálculo da autocorrelação espacial

os quais foram de 35,13, 105,389, 175,648, 245,908, 316,167, 386,426, 456,686,

526,945, 597,204, 667,464 e 737,723 quilômetros.

Para os adultos de Odonata foram utilizados 80 córregos e nestes as variáveis

locais foram a abertura de dossel e o IIF (Índice de Integridade Física). As variáveis na

escala das áreas de influência de 250 a 2000 metros foram, proporção de pastagem,

proporção de lavoura e a proporção de mata ciliar. As variáveis na escala da paisagem

Page 84: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

83

foram proporção de pastagem, proporção de lavoura, proporção de mata ciliar, altitude

média, declividade média e a densidade de drenagem.

Para os imaturos de EPT foram utilizados 41 córregos e nestes as variáveis

locais foram a abertura de dossel, o IIF (Índice de Integridade Física), o pH, a

condutividade, a vazão. As variáveis na escala das áreas de influência de 250 a 2000

metros foram à proporção de pastagem, proporção de lavoura, proporção de mata ciliar.

As variáveis na escala da paisagem foram proporção de pastagem, proporção de

lavoura, proporção de mata ciliar, altitude média, declividade média e a densidade de

drenagem.

Page 85: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

84

P1

P2

P3

P4

P5

P6

P7

P8

P9

P10

P11

P12

P13

P14

Figura 2 – Disposição dos tipos de uso do solo em 2011 para cada uma das 14 paisagens

de dimensões 25 X 25 quilômetros, amostradas no estado de Goiás.

Page 86: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

85

RESULTADOS

Riqueza Estimada

Foram amostrados 3601 indivíduos de adultos de Odonata distribuídos entre 10

famílias e 67 espécies (Coenagrionidae (22), Libellulidae (22), Protoneuridae (9),

Calopterigydae (6), Megapodagrionidae (2), Gomphidae (2), Aeshinidae (1),

Dicteriadidae (1), Perilestidae (1), Politorydae (1)). Os representantes de Anisoptera

foram menos frequente na região de estudo, sendo representado em sete das 14

paisagens. As espécies DD de acordo com a IUCN foram Heteragrion dorsale,

Heteragrion triangulare, sendo que as demais espécies que foram avaliadas estão na

categoria Pouco Preocupante.

A riqueza total amostrada em cada paisagem variou de 9 a 27 e a estimada de

11,990 a 31,969 espécies e no geral as áreas mais ricas estiveram distribuídas na porção

noroeste do estado de Goiás (Figura 1). A curva de acumulação de espécies para cada

uma das paisagens demonstra estabilização na estimativa da riqueza estimada com o

número de amostras considerado (Anexo 1).

Foram amostrados um total de 1208 indivíduos de imaturos de EPT, sendo a

maioria pertencente à ordem Ephemeroptera (777) seguido por Trichoptera (345) e

Plecoptera (86). Eles estiveram distribuídos entre cinco famílias de Ephemeroptera, oito

de Trichoptera e duas de Plecoptera. Foram amostrados 25 gêneros de Ephemeroptera,

14 de Trichoptera e quatro de Plecoptera. O número de gêneros amostrados por família

de Ephemeroptera foram Baetidae (9), Caenidae (2), Calamoceratidae (1),

Euthyplociidae (1), Leptohyphidae (3), Leptophlebidae (8). O número de gêneros

amostrados por família de Plecoptera foram Gripopterygidae (2) e Perlidae (3). O

número de gêneros amostrados por família de Trichoptera foram Glossosomatidae (1),

Helicopsychidae (1), Hydropsychidae (1), Leptoceridae (4), Odontoceridae (1),

Philopotamidae (1) e Polycentropodidae (1).

Page 87: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

86

A riqueza de gêneros por córrego variou de 3 a 17 e a riqueza de gêneros

estimada de 4,83 a 26,17. A riqueza de gêneros apresentou o mesmo padrão

considerando tanto a rarefação quanto a estimativa pelo Jackknife (Anexo 2).

A diversidade gama de cada paisagem variou de 9 a 35 gêneros e a estimada de

12,92 a 46,93. Não existe um padrão para a riqueza de gêneros sendo que as áreas mais

ricas distribuem-se tanto pelo norte quanto pelo sul do estado (Figura 1).

Figura 3 – Riqueza estimada de adultos de Odonata nas 14 paisagens (A) e de imaturos

de EPT nas 8 paisagens (B) do estado de Goiás.

Diversidade Beta

De um ponto de vista geográfico, a dissimilaridade média da composição dos

adultos da ordem Odonata e da subordem Zygoptera dentro de cada região estudada não

difere nem quando consideramos a dissimilaridade a partir da abundância das espécies,

Page 88: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

87

nem quando consideramos apenas a ocorrência das espécies (Tabela 2). Porém, a

dissimilaridade média da composição de adultos de Anisoptera apresenta valores

menores dentro das paisagens 10 e 11, baseadas na dissimilaridade de acordo com a

abundância e quando controlamos para a riqueza de cada paisagem (Figura 4). Não

existe diferença na dispersão média em relação ao centróide da composição dos

imaturos de EPT dentro de cada região nem quando consideramos a dissimilaridade de

acordo com a abundância das espécies, nem quando consideramos apenas a ocorrência

destas (Figura 4).

O principal componente da diversidade beta responsável pela diferenciação das

metacomunidades de adultos de Odonata, Zygoptera e Anisoptera dentro das paisagens

é a substituição de espécies, sendo que está responde por acima de 80% da

diferenciação para as comunidades de Odonata, representando 100% da diversidade

beta em Anisoptera para as quatro paisagens (Figura 6). Em apenas uma paisagem o

aninhamento representou 100% da diversidade beta de Anisoptera. Os maiores valores

de substituição de espécies para Odonata e Zygoptera se encontram na região sudeste e

oeste de Goiás, sendo que na última região a substituição de Anisoptera é mais forte

(Figura 5).

Da mesma maneira, a substituição de espécies representa acima de 85% da

diversidade beta das metacomunidades de imaturos de EPT em todas as paisagens

(Figura 6). Os maiores valores de substituição de gêneros de EPT é no nordeste e

sudoeste de Goiás (Figura 5). A importância do componente de substituição nas

metacomunidades das paisagens estudadas não difere entre os grupos de imaturos de

EPT, adultos de Odonata, Zygoptera e Anisoptera (F(3,38)=0,619, p=0,607).

Page 89: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

88

Tabela 2 – Teste da dissimilaridade de centróides da composição de adultos de Odonata,

Zygoptera, Anisoptera e EPT de acordo com quatro índices de dissimilaridade. GL-

graus de liberdade, F (estatística F), P (probabilidade). Os valores em negrito são

significativis a 5%.

Bray-Curtis Jaccard Chao Ralph-Crick

GL F P F P F P F P

Odonata

Paisagens 13 0,523 0,902 0,485 0,925 1,222 0,357 1,109 0,368

Resíduos 66

Zygoptera

Paisagens 13 0,645 0,808 0,600 0,845 1,236 0,275 0,869 0,587

Resíduos 66

Anisoptera

Paisagens 6 2,220 0,095 1,915 0,140 3,053 *0,035 5,845 *<0,01

Resíduos 16

EPT

Paisagens 7 0,842 0,560 0,797 0,595 1,865 0,108 0,458 0.857

Resíduos 33

Page 90: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

89

A)

B)

C)

D)

Figura 4 – Similaridade da composição de taxa, pelo Índice de Chao entre os córregos

dentro de cada uma das 14 paisagens e 8 paisagens, amostradas respectivamente para

Odonata e EPT. A) Odonata, B) EPT, C) Zygoptera e D) Anisoptera.

P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12 P13 P14

Paisagem

0.0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

0.7

0.8

0.9

1.0

Div

ers

ida

de

Be

ta (

Ind

ice

de

Ch

ao

)

Mediana 25%-75% Intervalo - Não Outliers Outliers

ExtremosOdonata

P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12 P13 P14

Paisagem

-0.1

0.0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

0.7

0.8

0.9

Div

ers

ida

de

Be

ta (

Índ

ice

de

Ch

ao

)

Mediana 25%-75% Intervalo Não-Outliers

ExtremesEPT

P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12 P13 P14

Paisagem

-0.2

0.0

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

Div

ers

ida

de

Be

ta (

Índ

ice

de

Ch

ao

)

Mediana 25%-75% Intervalo Não-Outliers Outliers

ExtremosZygoptera

P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12 P13 P14

Paisagem

-0.2

0.0

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

Div

ers

ida

de

Be

ta (

Índ

ice

de

Ch

ao

)

Mediana 25%-75% Intervalo Não-Outliers Anisoptera

Page 91: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

90

Figura 5 – Componente da diversidade beta baseado na substituição de espécies de

Odonata, EPT, Zygoptera e Anisoptera dentro de cada paisagem. A) Odonata, B) EPT,

C) Zygoptera e D) Anisoptera.

Page 92: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

91

Figura 6 – Componente da diversidade beta baseado na substituição e aninhamento de

espécies de Odonata, EPT, Zygoptera e Anisoptera dentro de cada paisagem. A)

Odonata, B) EPT, C) Zygoptera e D) Anisoptera.

P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12 P13 P140.64

0.66

0.68

0.70

0.72

0.74

0.76

0.78

0.80

0.82

0.84

0.86

0.88

0.90

Div

ers

ida

de

Be

ta

Aninhamento

Substituição

Odonata

P1 P2 P6 P9 P10 P11 P13 P140.66

0.68

0.70

0.72

0.74

0.76

0.78

0.80

0.82

0.84

0.86

0.88

0.90

0.92

Div

ers

ida

de

Be

ta

Aninhamento

Substituição

EPT

P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12 P13 P140.58

0.60

0.62

0.64

0.66

0.68

0.70

0.72

0.74

0.76

0.78

0.80

0.82

0.84

0.86

0.88

Div

ers

ida

de

Be

ta

Zygoptera Aninhamento

Substituição

P4 P6 P9 P10 P11 P14-0.2

0.0

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

1.2

Div

ers

ida

de

Be

ta

Aninhamento

SubstituiçãoAnisoptera

Page 93: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

92

Padrões espaciais de habitat e matriz, escalas e diversidade das comunidades de

Odonata e imaturos de EPT

A maior quantidade de variação da riqueza de adultos de Odonata foi explicada

pela quantidade e o isolamento da mata ciliar e a proporção de pastagem e lavoura nas

escalas de 1250 e 1500 metros (respectivamente 24% e 21%). (Figura 7). A maior

quantidade de variação da riqueza de EPT foi explicada pelo isolamento de mata ciliar e

quantidade de pastagem nas escalas de 250 e 2000 metros (respectivamente 32 e 26%),

considerando a proporção de lavoura foi para as escalas de 1250 e 1750 metros

(aproximadamente 17%) (Figura 7).

Figura 7 – Coeficiente de determinação baseado na Regressão múltipla entre a riqueza

de Odonata e EPT e as métricas de proporção de área e isolamento considerando o uso

por pastagem e mata ciliar apenas (Pastagem/Mata Ciliar) e considerando o uso por

lavoura e mata ciliar (Lavoura/Mata Ciliar).

A similaridade na estrutura das comunidades de adultos de Odonata e Zygoptera

apresenta o mesmo padrão de respostas e está pobremente correlacionada com as

similaridades na quantidade de pastagem, lavoura e mata ciliar nas escalas de 250 a

2000 metros. As maiores correlações ocorrem para a quantidade de pastagem nas

escalas de 1000, 1250 e 1500 metros e para a quantidade de lavoura a 1750 metros (rM

aproximadamente a 0,10) (Figura 8). A quantidade e o isolamento de Mata Ciliar

0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000 2200

Escala

0.08

0.10

0.12

0.14

0.16

0.18

0.20

0.22

0.24

0.26

0.28

0.30

0.32

0.34

Co

eficie

nte

de

De

term

ina

çã

o (

R2)

Odonata

EPT

Pastagem/Mata Ciliar

0 250 500 750 1000 1250 1500 1750 2000 2250

Escalas

0.06

0.08

0.10

0.12

0.14

0.16

0.18

0.20

0.22

0.24

Co

eficie

nte

de

De

term

ina

çã

o (

R2)

Odonata

EPTLavoura/Mata Ciliar

Page 94: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

93

apresenta uma relação fraca em todas as escalas consideradas, sendo que a maior

correlação foi de 0,04 para a escala de 1750 metros.

Ao contrário de Odonata e Zygoptera, os adultos de Anisoptera apresentam uma

correlação maior para a quantidade de lavoura na escala de 250 a 500 metros

(aproximadamente rM=0.11) e uma maior correlação com a área de pastagem a 2000

metros (rM=0.10). A estrutura da comunidade deste grupo também apresenta uma

correlação maior com a quantidade de mata ciliar na escala de 250 metros e com o

isolamento da mata ciliar a 1000 metros (rM=0.10).

Os imaturos de EPT também apresentam uma relação fraca da estrutura de sua

comunidade com a similaridade na estrutura de componentes de habitat e da matriz.

Eles apresentam uma similaridade maior da estrutura de sua comunidade com a

quantidade de pastagem a 500 metros (rM=0.10), a área de mata ciliar a 250 metros

(rM=0.15) e uma relação fraca com a área de lavoura em todas as escalas e o isolamento

da Mata Ciliar.

Page 95: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

94

Figura 8 – Valores da correlação de Mantel rM entre a similaridade das abundâncias relativas e a similaridade da área da matriz ocupada

por lavoura, pastagem, mata ciliar e a fragmentação da mata ciliar em áreas de influência anelares, comparando todas as espécies de

Odonata, Zygoptera, Anisoptera e EPT. Os valores significativos de rM a p 0,05 como critério está indicado por símbolos fechados.

0 250 500 750 1000 1250 1500 1750 2000 2250

Escala

-0.02

0.00

0.02

0.04

0.06

0.08

0.10

0.12

0.14

rM

Odonata

Anisoptera

Zygoptera

EPT

Área (Lavoura )

0 250 500 750 1000 1250 1500 1750 2000 2250

Escala

-0.08

-0.06

-0.04

-0.02

0.00

0.02

0.04

0.06

0.08

0.10

0.12

rM

Odonata

Anisoptera

Zygoptera

EPT

Área (Pasto)

0 250 500 750 1000 1250 1500 1750 2000 2250

Escala

-0.14

-0.12

-0.10

-0.08

-0.06

-0.04

-0.02

0.00

0.02

0.04

0.06

0.08

0.10

0.12

0.14

0.16

rM

Odonata

Anisoptera

Zygoptera

EPT

Área (Mata Ciliar)

0 250 500 750 1000 1250 1500 1750 2000 2250

Escala

-0.08

-0.06

-0.04

-0.02

0.00

0.02

0.04

0.06

0.08

0.10

0.12

0.14

rM

Odonata

Anisoptera

Zygoptera

EPT

Mata Ciliar (Fragmentação)

Page 96: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

95

Variáveis locais, padrões espaciais de habitat em áreas de influência ou padrões

espaciais de habitat na paisagem: quais explicam a diversidade de Odonata e EPT

em riachos?

Adultos de Odonata

As variáveis ambientais locais, a estrutura espacial de habitat e matriz da área de

influência a 250 metros e a estrutura espacial de habitat e matriz nas paisagens de 25 por

25 quilômetros, explicaram a riqueza local de adultos de Odonata em córregos (R2 =

0,473, p < 0,01) (Tabela 3). A autocorrelação dos resíduos considerando o Índice de

Moran para todas as classes de distância consideradas não foi significativa. A abertura

de dossel média, a proporção de pastagem a 250 metros, e a porcentagem de lavoura na

paisagem foram as variáveis que explicaram a riqueza local. A riqueza diminui com o

aumento de pastagem na área de influência de 250 metros e lavoura na paisagem e

aumenta com a abertura de dossel (Tabela 3). A porcentagem de lavoura foi a variável

mais importante seguida da proporção de pasto e da abertura média de dossel (Tabela

3).

Existe uma interação entre a proporção de pasto na área de influência a 250

metros e a proporção de lavoura na paisagem. Quando consideramos sozinha a

influência da proporção de pasto à riqueza de adultos de Odonata aumenta à medida que

aumenta a proporção de pasto em todas as áreas de influência (250 a 2000 metros). A

quantidade de variação explicada foi baixa e variou de 6% a 15,2%, sendo que a maior

variação explicada foi para as escala de 1000 metros. O tamanho do efeito é

praticamente o mesmo para todas as escalas de áreas de influência variando de 0,031 a

0,045 (Figura 9). Quando consideramos a proporção de pasto conjuntamente com as

outras variáveis locais e da paisagem, a riqueza de adultos de Odonata diminui à medida

que aumenta a proporção de pasto.

As variáveis que tendem a mudar a direção do efeito da proporção de pasto é a

proporção de lavoura, tanto na paisagem, quanto na área de influencia de 250 metros. A

riqueza de Odonata diminui com a proporção de lavoura em todas as áreas de influência

Page 97: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

96

(250 a 2000 metros). A quantidade de variação explicada foi baixa e variou de 5,8% a

18,6%, sendo que a maior variação explicada foi para as escala de 1250 metros. O

tamanho do efeito é praticamente o mesmo para todas as escalas de áreas de influência

variando de 0,028 a 0,04.

Tabela 3 – Efeito da proporção de lavoura, pasto, mata ciliar, áreas úmidas na escala de

uma paisagem de 25 X 25 Km e em áreas de influência de 250 a 2000 metros, de

variáveis locais IIF (Índice de Integridade Física), Abertura Dossel, Altitude,

Declividade e Densidade de Drenagem sobre a riqueza estimada de adultos de Odonata

no estado de Goiás. VIF – Variance Inflaction Factor, IIF – Índice de Integridade Física.

Escala Variável

B

Padron. VIF Erro Padrão T P

Locais Dossel (média) 0,231 1,267 0,096 2,312 0,024

IIF -0,116 1,236 4,088 -1,179 0,243

Área Influência Lavoura 250 m (%) -0,187 1,954 0,02 -1,507 0,137

Mata Ciliar 250 m (%) -0,094 1,486 0,023 -0,868 0,388

Pastagem 250 m (%) -0,297 2,065 0,022 -2,332 0,023

Área Úmida 250 m (%) 0,12 1,131 0,117 1,268 0,209

Isol. Mata Ciliar 2000 m -0,081 1,127 <,001 -0,856 0,395

Paisagem

(25 x 25 Km) Densidade Drenagem -0,009 1,326 1,88 -0,087 0,931

Lavoura (%) -0,7 1,888 0,034 -5,746 <0,001

Altitude Média 0,067 1,559 0,003 0,609 0,545

Altitude (DP) -0,139 1,948 0,018 -1,124 0,265

Declividade (DP) -0,138 1,975 0,017 -1,104 0,274

Page 98: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

97

Figura 9 – Regressão linear entre a proporção pastagem nas escalas de 250 a 2000

metros sobre a riqueza observada de adultos de Odonata.

% Pasto

Riq

ue

za

Ob

se

rva

da

250 metros

-20 0 20 40 60 80 100024

68

1012

1416

18

500 metros

-20 0 20 40 60 80 100

750 metros

-20 0 20 40 60 80 100

1000 metros

-20 0 20 40 60 80 1000

24

68

1012

1416

18

1250 metros

-20 0 20 40 60 80 100

1500 metros

-20 0 20 40 60 80 100

1750 metros

-20 0 20 40 60 80 100024

68

1012

1416

18

2000 metros

-20 0 20 40 60 80 100

r2 = 0,062; p = 0,026;

y = 6,705 + 0,031*xr2 = 0,129; p < 0,01

y = 6,337 + 0,038*x

r2 = 0,129; p < 0,01;

y = 6,214 + 0,045*x

r2 = 0,090; p < 0,01;

y = 6,400 + 0,038*xr2 = 0,118; p < 0,01;

y = 6,255 + 0,043*x

r2 = 0,118; p = 0,002;

y = 6,255 + 0,043*x

r2 = 0,136; p < 0,01;

y = 6,194 + 0,044*xr2 = 0,152; p < 0,01

y = 6,174 + 0,043*x

Page 99: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

98

Figura 10 – Regressão linear entre a proporção lavoura nas escalas de 250 a 2000

metros sobre a riqueza observada de adultos de Odonata.

% Lavoura

Riq

ueza O

bserv

ada

250 metros

-20 0 20 40 60 80 100 120024

68

1012

1416

18

500 metros

-20 0 20 40 60 80 100 120

750 metros

-20 0 20 40 60 80 100 120

1000 metros

-20 0 20 40 60 80 100 1200

24

68

1012

1416

18

1250 metros

-20 0 20 40 60 80 100 120

1500 metros

-20 0 20 40 60 80 100 120

1750 metros

-20 0 20 40 60 80 100 120024

68

1012

1416

18

2000 metros

-20 0 20 40 60 80 100 120

r2 = 0,058; p = 0,031;

y = 8,01 - 0,028*x

r2 = 0,133; p < 0,01;

y = 8,418 - 0,035*x

r2 = 0,129; p < 0,01;

y = 8,385 - 0,034*x

r2 = 0,161; p < 0,01;

y = 8,598 - 0.039*x

r2 = 0,186; p < 0,01;

y = 8,731 - 0,042*x

r2 = 0,177; p < 0,01;

y = 8,69 - 0,041*x

r2 = 0,175; p < 0,01;

y = 8,708 - 0,04*x

r2 = 0,163; p < 0,01;

y = 8,678 - 0,040*x

Page 100: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

99

Imaturos de EPT

As variáveis ambientais locais e a estrutura espacial de habitat (mata ciliar) na

área de influência a 250 metros, explicaram a riqueza de gêneros local de imaturos de

EPT em córregos (R2 = 0,480, p = 0,046) (Tabela 4). A autocorrelação dos resíduos

considerando o Índice de Moran para todas as classes de distância consideradas não foi

significativa. A abertura de dossel média, a condutividade média e a proporção de mata

ciliar a 250 metros foram as variáveis que explicaram a riqueza local. A riqueza

aumenta com o aumento de mata ciliar a 250 metros, com a abertura de dossel e a

condutividade média (Tabela 4). A condutividade média foi a variável mais importante

seguida da abertura média de dossel e a proporção de mata ciliar a 250 metros (Tabela

4).

Tabela 4 – Efeito das variáveis ambientais locais, da área de influência e da paisagem

sobre a riqueza de EPT em córregos no estado de Goiás. VIF – Variance Inflaction

Factor, IIF – Índice de Integridade Física.

Escala Variável B

Padron. VIF Erro Padrão T P

Locais Dossel (média) 0.42 1.6 0.18 2.436 0.022

IIF 0.223 1.5 8.012 1.338 0.192

pH média -0.035 2.8 1.266 -0.152 0.880

Condut. média 0.643 4 8.771 2.357 0.026

Área Influência Lavoura 250 m (%) 0.238 2.2 0.043 1.168 0.253

Mata Ciliar 250 m (%) 0.508 2.1 0.048 2.584 0.016

Pastagem 250 m (%) 0.277 2.8 0.044 1.21 0.237

Área Úmida 250 m (%) 0.027 1.4 6.099 0.168 0.868

Isol. Mata Ciliar 2000m -0.199 1.4 0.002 -1.219 0.233

Paisagem Mata Ciliar (%) -0.487 5.1 0.306 -1.589 0.124

Lavoura (%) 0.086 2.3 0.091 0.417 0.680

Altitude Média 0.198 2.1 0.005 0.999 0.327

Page 101: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

100

A riqueza regional de adultos de Odonata está positivamente associada à

quantidade de mata ciliar das paisagens (R2=0,375, p<0,01) e as maiores riquezas

regionais estão positivamente associadas com maiores riquezas locais dentro de cada

córrego (R2=0,321, p<0,01). A riqueza regional de adultos de Odonata diminui com o

aumento da quantidade de lavoura (R2=0,575, p<0,01) e aumenta com o aumento da

quantidade de pastagem (R²= 0,516, p<0,01) nas paisagens.

A riqueza regional de imaturos de EPT está positivamente associada à

quantidade de mata ciliar, cerrado e mata seca das paisagens (R2=0,496, p<0,01), sendo

as a quantidade de Mata Seca é a variável que mais explica a riqueza de EPT. As

maiores riquezas regionais estão positivamente associadas com maiores riquezas locais

dentro de cada córrego (R2=0,307, p<0,01). A riqueza regional de EPT não está

associada a quantidade de pastagem (R2=0,016, p= 0,438) nem de lavoura (R

2=0,066,

p=0.106) das paisagens.

Tabela 5 – Efeito da quantidade de habitats remanescentes na paisagem sobre a riqueza

regional. BPadro – coeficiente de regressão da Regressão Padronizado, VIF – Variance

Inflaction Factor.

BPadro VIF Erro Padrão t p

Odonata

% Cerrado -0.124 1.449 0.058 -1.132 0.261

%Mata Ciliar 0.528 1.035 0.124 5.688 <0.01

% Mata Seca 0.103 1.253 0.370 1.007 0.317

% Área Umida 0.157 1.205 0.230 1.562 0.123

% Lavoura -0.758 1 0.033 -10.263 <0.01

% Pastagem 0.719 1 0.035 9.126 <0.01

EPT

% Cerrado 1.21 11.166 0.205 3.061 <0.01

%Mata Ciliar 0.77 4.635 0.427 3.022 <0.01

% Mata Seca 1.521 11.236 1.746 3.838 <0.01

% Área Umida 0.067 3.195 0.519 0.317 0.753

% Lavoura 0.256 1 0.115 1.656 0.106

% Pastagem -0.125 1 0.092 -0.784 0.438

Page 102: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

101

Figura 11 – Relação entre a riqueza regional e a riqueza em cada córrego para Odonata

e EPT.

P11

P11P11

P11

P11

P11

P13

P13

P13

P13

P13

P13

P10

P10

P10

P10

P5

P5

P5P5

P5P5

P6P6

P6

P6

P6

P6

P8P8

P8

P8

P8P8

P12

P12

P12

P12

P12P14

P14

P14

P14P14

P14

P4

P4

P4

P4

P4

P4P3

P3

P3

P3

P3

P3 P2

P2

P2

P2P2

P2

P9P9

P9

P9

P9

P9

P1

P1

P1

P1

P1

P1P7P7

P7

P7

P7

10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34

Riqueza Paisagem

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

22

24

26

Riq

ue

za

rre

go

Odonata

P11P11

P11

P11

P11

P13

P13

P13

P13

P13

P13

P10

P10

P10P6

P6

P6

P6P6

P6

P14

P14

P14

P14P14

P14

P2

P2

P2

P2

P2

P2

P9

P9

P9P9

P1

P1P1

P1

P1

10 15 20 25 30 35 40 45 50

Riqueza Paisagem

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

22

24

26

28

Riq

ue

za

rre

go

EPT

Page 103: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

102

Estrutura Paisagem e Diversidade Beta

A dissimilaridade ambiental medida pela estrutura espacial da quantidade de

lavoura e mata ciliar, abertura média de dossel e do índice de integridade física,

explicou pouco da dissimilaridade das comunidades de adultos de Odonata. Porém,

existe uma relação positiva entre estas duas variáveis, e os córregos mais dissimilares

ambientalmente para as comunidades de adultos de Odonata (R2=0,051, p=0,044) e de

adultos de Zygoptera (R2=0,057, p=0,033) (Figura 13). A dissimilaridade ambiental

considerando as mesmas métricas não explica a dissimilaridade da composição para

Anisoptera (R2=0,007, p=0,703) e imaturos de EPT (R

2=0,001, p=0,834).

A dissimilaridade ambiental quando consideramos a estrutura espacial associada

a quantidade de pasto e mata ciliar, abertura média de dossel e índice de integridade

física não explica a dissimilaridade da composição das comunidades de adultos de

Odonata (R2=0,037, p=0,086), Zygoptera (R

2=0,062, p=0,254), Anisoptera (R

2=0,062,

p=0,253) e imaturos de EPT (R2=0,001, p=0,817).

Page 104: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

103

Figura 13 – Relação entre dissimilaridade ambiental, através das varáveis ambientais

locais e da paisagem em relação ao uso por lavoura e a dissimilaridade das comunidades

de Odonata e Zygoptera.

A substituição de espécies de Odonata dentro de cada paisagem não é explicada

pela quantidade de vegetação ciliar e pastagem da paisagem, bem como pela variação

0 2 4 6 8 10 12

Dissimilaridade Ambiental (Distância Euclidiana )

0.0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

0.7

0.8

0.9

1.0

Dis

sim

ilarid

ad

e O

do

na

ta (

Índ

ice

de

Ra

up

h-C

rick)

Diss. Odonata = 0,237 + 0,026* (Diss. Amb.)Lavoura

0 2 4 6 8 10 12

Dissimilaridade Ambiental (Distância Euclidiana )

0.0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

0.7

0.8

0.9

1.0

Dis

sim

ilarid

ad

e Z

yg

op

tera

(Ín

dic

e R

au

ph

-Crick)

Diss. Zygoptera = 0,349 + 0,026* (Diss. Amb.)Lavoura

Page 105: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

104

destes tipos de usos em áreas de influência de 2000 metros entre os córregos amostrados

(R2=0,309, p=0,63) e quantidade de lavoura (R

2=0,606, p=0,124).

A proporção de lavoura e mata ciliar na paisagem, bem como a variação da

quantidade de lavoura, pastagem e mata ciliar em áreas de influência de 2000 metros,

entre os córregos amostrados explicam a variação da substituição de gêneros de EPT

dentro de cada paisagem (R2= 0.946, p<0,01), porém ao consideramos a proporção de

pastagem ao invés de lavoura, não existe relação com a substituição de espécies nas

paisagens (R2= 0,796, p<0,117) (Tabela 5).

Page 106: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

105

Tabela 5 – Efeito do padrão espacial de uso do solo na escala da paisagem e a variação

deste em áreas de influência de 2000 metros entre os córregos amostrados, sobre a

substituição de espécies dentro das paisagens. CV – (Coeficiente de Variação) VIF –

Variance Inflaction Factor, BPadro – coeficiente de regressão da Regressão

Padronizado.

B Padro VIF SE t P

Odonata

Paisagem

% MataCiliar 0,705 1,879 0.003 1,890 0,101

Pastagem -0,445 1,935 <0,01 -1,176 0,278

CV Lavoura -0,032 1,531 <0,01 -0,096 0,927

Pastagem 0,439 1,133 <0,01 1,514 0,174

Mata Ciliar 0,038 1,481 <0,01 0,114 0,913

Paisagem

% Lavoura -0,123 2,554 0,001 -0,218 0,834

Mata Ciliar 0,507 3,687 0,003 1,079 0,316

CV Lavoura 0,126 1,492 <0,01 0,351 0,736

Pastagem 0,334 1,047 <0,01 1,110 0,304

Mata Ciliar 0,211 2,015 <0,01 0,505 0,629

EPT

Paisagem

% Mata Ciliar 1,057 2,033 0,005 2,320 0,028

Pastagem 0,031 1,536 0,001 0,080 0,899

CV Lavoura 0,958 2,530 <0,01 1,885 0,047

Pastagem 0,166 1,068 <0,01 0,504 0,447

Mata Ciliar 0,844 1,369 0,002 2,259 0,03

Paisagem

% Lavoura 0,583 2,259 0,001 2,359 0,026

Mata Ciliar 1,129 2,068 0,003 4,771 0,004

CV Lavoura 0,558 2,947 <0,01 1,976 0,042

Pastagem 0,165 1,064 <0,01 0,972 0,191

Mata Ciliar 0,699 1,405 <0,01 3,582 0,008

Page 107: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

106

DISCUSSÃO

Padrões de riqueza e uso do solo

O padrão espacial de uso do solo, associado a atividades produtivas como as

pastagens e as lavouras bem como a quantidade de habitat em uma paisagem em relação

a padrões de diversidade, são questões muito importantes para a ameaça da

biodiversidade no Cerrado de Goiás. Porém, buscar uma generalização para seus efeitos,

considerando as condições ambientais locais de habitat em uma perspectiva de escala é

muitas vezes difícil. De importância para a compreensão da estruturação da diversidade

seria de fato do quanto a alteração de fatores locais poderia afetar os padrões de

diversidade em grandes escalas como a escala regional (He et al. 2005; Srivastava 2005;

Starzomski e Srivastava 2007; Gilbert et al. 2008), ou o quanto os fatores que ocorrem

na escala regional poderiam afetar os fatores locais de modo a alterar as populações

(Vinson e Hawkins 2003; Alexander et al. 2011).

A quantidade de habitat presente na escala de paisagem teve efeito sobre a

riqueza regional de adultos de Odonata e imaturos de EPT. A riqueza de Odonata

aumenta com a quantidade de mata ciliar, e de fato, uma maior quantidade de vegetação

ciliar deve possibilitar uma maior quantidade de espécies de Zygoptera e espécies raras

que têm maior relação com habitats florestados e apresentam uma pequena capacidade

de dispersão (Dolny et al. 2012). Já a riqueza de EPT foi mais explicada pela quantidade

de Mata Seca, seguida pela quantidade de Cerrado o que sugere que processos

associados à funcionalidade em córregos baseada no escoamento superficial em uma

bacia, a produção e entrada de matéria autóctone por folhas teriam impactos diretos

sobre a diversidade de imaturos destes grupos em córregos. As condições ecológicas

regionais, principalmente aquelas associadas à densidade de vegetação tem demonstrado

afetar mais a riqueza de EPT e poderia estar associada à perda regional da diversidade

de grupos biologicamente associados à entrada de matéria orgânica particulada nestes

sistemas (Vinson e Hawkins 2003; Houghton e Holzenthal 2010), a quantidade de

floresta em microbacias está diretamente associada com a riqueza de grupos como os

Page 108: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

107

Plecoptera, sendo que seus efeitos são sentidos a partir de limiares de 54% de perda nas

microbacias, assim como com uma maior diversidade genética das populações

(Tornblom et al. 2011; Alexander et al. 2011).

A quantidade de lavoura e pastagem na escala da paisagem não tiveram efeitos

sobre a riqueza regional de gêneros de EPT, porém uma maior quantidade de lavouras

está associada a uma menor riqueza de adultos de Odonata, assim como uma maior

quantidade de pastagem está associada a uma maior riqueza deste grupo. Uma riqueza

regional maior de imaturos de EPT em regiões com o predomínio de agricultura tem

sido encontrada em algumas situações (Moore e Palmer 2005), e tem estado associada a

boas práticas agriculturais adotadas nas fazendas, como a utilização de faixa de

vegetacional como filtros ao longo de riachos e áreas de drenagem, o que poderia

diminuir a entrada de sedimentos e a erosão de cursos de água, pastagem rotacional e ao

manejo de nutrientes (Moore e Palmer 2005). Neste trabalho esta poderia não ser a

situação, considerando que no Cerrado de Goiás apesar da tecnificação da produção,

práticas que mantém processos ecológicos, como a adequação no uso de fertilizantes e

defensivos agrícolas, a recuperação de pastagens degradadas, ainda não são difundidas

(Duarte e Theodoro 2002). Porém, isto sugere que apresentando uma grande quantidade

de remanescentes naturais nas paisagens os impactos da agricultura parecem não ter

efeito para a riqueza regional de EPT.

Apesar de maiores riquezas locais estarem associadas a maiores riquezas

regionais, estas não foram explicadas pela estrutura espacial de habitat e uso do solo na

escala da paisagem, com exceção para a riqueza local de adultos de Odonata que

diminui com o aumento de lavoura na paisagem. Na escala da paisagem, o incremento

da quantidade de lavoura, é um tipo de alteração que ocorre em grandes escalas, teria

impactos diretos sobre a rede de drenagem, um impacto mais regional sobre o

funcionamento de metacomunidades. Espacialmente de fato, podemos constatar que as

menores riquezas estiveram presentes na porção central (ver Resultados Figura 1) do

estado onde existe o uso consolidado para este tipo de uso do solo.

As lavouras enquanto processo de fragmentação e perda de habitat é subsequente

a alteração pelas pastagens (Rudel et al. 2009; Gardner et al. 2013) e agregam efeitos

em áreas já impactadas por aquele tipo de uso. Entre os fatores associados à

intensificação de lavouras estaria a perda da complexidade da vegetação que acarreta

Page 109: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

108

em uma diminuição da heterogeneidade horizontal de habitats e diminui a

disponibilidade de fontes alimentares e o risco a predação, conduzindo a um declínio de

espécies especialistas de florestas (Goulart et al. 2013). A redução da riqueza de adultos

de Odonata em áreas com grande proporção de lavouras remete ao fato de que as

alterações em grandes escalas deste tipo de uso, acabam por influenciar de maneira

homogênea as características locais de toda uma rede de drenagem. Esta

homogeneização dos habitats limítrofes as matas ciliares leva a uma consequente

redução da diversidade e da abundância de invertebrados que seriam recursos diretos do

forrageamento para os adultos de Odonata.

As paisagens agriculturais com o predomínio de lavouras apresentariam a priori

maiores impactos regionais, uma vez que cria ao redor dos riachos as mesmas condições

ao longo de uma microbacia. Considerando no geral a grande área de conversão a

lavouras no estado, e que este seria um efeito em grandes extensões, a escala de tempo

passa a ser outra variável muito importante a ser considerada, porque neste caso, os

processos de extinção local aconteceriam sobre taxas mais lentas, o que aumenta o

atraso de tempo nas respostas e efeitos indiretos ficam mais importantes (Wiens 1989).

A abertura de dossel, ou mesmo as pastagens associadas à criação extensiva de

gado em áreas próximas a estes, estariam mais associadas a impactos locais. Em relação

às áreas de influência mais próximas aos córregos, a riqueza local de adultos de

Odonata apresenta uma relação maior com a quantidade de pastagem a distância

menores dos córregos (250 a 500 metros) e de lavoura a distâncias maiores (1500

metros), e EPT apresenta uma relação maior com a quantidade de lavoura e pastagem

em escalas menores (250 metros). Ao considerarmos o efeito conjunto do uso do solo

em áreas de influência e condições ambientais locais a riqueza de adultos de Odonata e

de imaturos de EPT responderam a estrutura e tipos de uso do solo diferentes. Enquanto

os Odonata tiveram maiores riquezas associada a uma maior quantidade de pastagem

em áreas de influência de 250 metros, os imaturos de EPT responderam apenas a

quantidade de mata ciliar em área de influência de 250 metros. A influencia de padrões

espaciais em curtas distâncias sobre a densidade de insetos adultos, tem estado

associado a insetos com pequena capacidade de dispersão (Cozzi et al. 2008), e

similarmente não apenas a escala como também o tipo de uso do solo do entorno tem

Page 110: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

109

efeitos, com maiores abundâncias em áreas sobre a influência de pastagens (Cozzi et al.

2008).

O processo associado aos efeitos de uso na escala de áreas de influência

próximas aos riachos, como 250 metros estaria associado à alteração da qualidade local

dos habitats como a perda de mata ciliar e ao represamento dos córregos (Nessimian et

al. 2008). Uma avaliação ad hoc, de fato, demonstra que a abertura de dossel e a

variação média da abertura de dossel aumentam à medida que aumenta a quantidade de

pastagem nestas áreas de influência e tem em torno de 11% de sua variação explicada

por esta variável. Tanto a abertura de dossel, quanto o aumento de áreas represadas (De

Marco, Jr. et al. 2014), tendem a aumentar a riqueza de adultos de Odonata, as represas

em paisagens com predomínio de pastagem apresentam uma grande riqueza de adultos

de Odonata. A disponibilidade de recursos alimentares para os adultos de Odonata

deveria ser maior, considerando que áreas de pasto, principalmente os de uso extensivo

tendem a apresentar uma maior diversidade de insetos. Para os imaturos de EPT, a

quantidade de vegetação ciliar nesta escala atua diretamente na disponibilização de

matéria orgânica particulada e em maiores densidade de macroinvertebrados

(Miserendino e Pizzolon 2000; Herringshaw et al. 2011).

Porém, as condições locais foram mais importantes para explicar a riqueza local,

onde tanto adultos de Odonata e imaturos de EPT estiveram associadas à abertura de

dossel e a condutividade elétrica da água à riqueza de imaturos de EPT. Estas condições

em altos níveis seriam uma medida direta de impactos locais nos riachos, uma maior

abertura de dossel apor exemplo, está associada a uma menor densidade de vegetação

em matas ripárias. Uma maior diversidade de comunidades de EPT e de grupos mais

especialistas da ordem Plecoptera, no geral está associada a baixos valores de

condutividade em riachos (Budin et al. 2008; Hepp et al. 2013; Tornblom et al. 2011) e

da mesma maneira a riqueza de táxons e de Ephemeroptera tem relação com a entrada

de luz em outros trabalhos (Hawkins et al. 1982; Hughes 1966; Shimano et al. 2010) e

uma maior quantidade de espécies especialistas e da subordem Zygoptera estão

associadas a ambientes com menor abertura de dossel (Dolny et al. 2012).

Neste caso, as maiores riquezas nestes níveis de gradientes estariam associadas à

coexistencia de espécies de ampla distribuição. Isto pode ser observado pela maior

representatividade de gêneros de Ephemeroptera em relação à fauna de EPT, os quais

Page 111: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

110

estão associados a bacias mais degradadas (Romero et al. 2013), ou mesmo para

espécies de Odonata que estão mais associadas a áreas abertas, porém utilizam

ambientes de mata ciliar para pousarem e se alimentarem (Paulson D. 2005). A abertura

de dossel cria condições de maior entrada de radiação solar e interfere diretamente na

produtividade dos ecossistemas aquáticos associada a uma maior riqueza de

invertebrados aquáticos, em especial coletores e filtradores (Houghton e Holzenthal

2010; Couceiro et al. 2011), relação esta estabelecida teoricamente (Vannote et al.

1980). Para adultos de Odonata esta condição possibilita uma maior disponibilidade de

nichos microclimáticos, possibilitando uma maior abundância local e a coexistência

tanto de espécies estenotópicas associadas a ambientes sombreados, (Loiola e De Marco

2011; Shelly 1982), conformadoras termais (Shelly 1982; Dolny et al. 2012), quanto

espécies heliotérmicas (Remsburg et al. 2008; Calvao et al. 2013) e ruderais.

Padrões de composição de espécies (Diversidade Beta) e uso do solo

Na escala regional, a substituição de espécies de Odonata dentro das paisagens

não esteve associada a maior similaridade nos padrões espaciais de pastagem, lavoura

ou mata ciliar entre os córregos, nem a quantidade de mata ciliar, lavoura ou pastagem

na escala da paisagem. Outros estudos também não tem encontrado relação entre a

substituição de espécies e o tipo de uso do solo. As comunidades de adultos em áreas

úmidas próximas a lavoura não apresentaram um maior aninhamento em relação as

comunidades próxima a pastagens (Craig et al. 2008) e não existiu relação entre a

diversidade total e a equitabilidade de comunidades de adultos de Odonata em áreas

úmidas de habitats lenticos sobre a influência de pastagem e lavoura, apresentando uma

grande sobreposição na similaridade da composição de espécies entre estes ambientes

(Reece e Mcintyre 2009).

A substituição dentro de cada paisagem foi alta e muito semelhante para todas as

regiões estudadas. Neste caso a perda de conexão da taxa de substituição de espécies e

padrões espaciais de uso do solo, e o mesmo padrão para todas as paisagens sugere que

esta deveria estar sendo estruturada por mecanismos muito semelhantes e considerando

a biologia de Odonata, isto poderia estar associado a mecanismos comportamentais

Page 112: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

111

associados à territorialidade no grupo, considerando que em média a composição é

muito semelhante entre as paisagens também. Considerando que a abertura de dossel foi

a variável mais importante localmente para a riqueza, localmente esta seria um filtro

ambiental a selecionar as mesnas espécies de Odonata baseada em restrições

termorregulatórias.

Considerando um maior sedentarismo dos imaturos e uma maior ligação com os

processos locais, um aumento da substituição de gêneros de EPT entre córregos de uma

paisagem esteve associado a uma maior diferenciação entre estes em relação à estrutura

de uso do solo para pastagem, lavoura e mata ciliar, o que demonstra um efeito de filtros

ambientais e mecanismos de seleção de espécies nesta escala para as comunidades

locais de EPT, considerando que também existe uma maior incorporação de espécies

satélites raras, à medida que se amplia a escala espacial, associada principalmente ao

aumento da heterogeneidade de habitats (apesar de uma resolução taxonômica no nível

de gênero diminuir este efeito) (Heatherly et al. 2007). Considerando que a

heterogeneidade espacial de habitats seria importante para a diversidade regional de

insetos aquáticos (Vinson e Hawkins 1998), isto sugere que paisagens uniformes em

relação a apenas um tipo de uso, como lavouras de grande escala, poderiam apresentar

uma perda da diversidade de EPT na escala regional.

Este trabalho é importante por considerar padrões espaciais de habitat e uso do

solo na escala da paisagem, permitindo testar seus efeitos para a diversidade local e

regional do grupo de insetos aquáticos em riachos, considerando que os maiores focos

para a biodiversidade em escalas mais amplas tem sido baseada em sua grande maioria

nas diferenças biogeográficas (Vinson e Hawkins 1998) ele também contribui com o

aumento do conhecimento de informações biogeográficas para o grupo de insetos

aquáticos, em especial os Odonata, os quais apresentam um grande desconhecimento no

Bioma Cerrado (Vianna e De Marco 2012).

A respeito de questões metodológicas, o balanço da amostragem para a

compreensão de fenômenos como o estudado aqui se situa entre amostrar

extensivamente uma paisagem ou explorar uma maior dispersão de gradiente ambiental

e espacial para compreender como o padrão de uso do solo pode estar interferindo na

estruturação da diversidade de ecossistemas aquáticos. Neste trabalho as consequências

de se usar a avaliação de paisagens em anéis em relação à consideração da área total

Page 113: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

112

acumulada deve explicar o fato de não se obter uma variação grande explicada da

riqueza local de espécies. Adotar este tipo de metodologia garante a independência na

avaliação de padrões espaciais da paisagem, porém, pode desconectar os processos

espaciais associados à determinação das riquezas locais.

As alterações associadas ao uso do solo na maior escala, ou mesoescala estudada

aqui, permite como sugerido por Gardner et al. (2013) coincidir muitas vezes com a

escala de municípios o que auxilia no planejamento ambiental. Um contexto

ambientalmente mais sustentável para um estado onde as atividades agrícolas são

predomionantes é a busca por práticas agrícolas ecologicamente embasadas. Como

vimos, a riqueza regional é diretamente determinada pela quantidade de remanescentes

nas paisagens, e uma coexistência de áreas remanescentes bem distribuídas ao longo da

paisagem poderiam mitigar os efeitos de grandes sistemas de manejo do solo. Práticas

como a integração lavoura-pecuária e integração lavoura-pecuária-floresta poderiam

trazer menos impactos em regiões com uso intensivo, levando a uma maior cobertura do

solo o ano todo, reduzindo os efeitos da erosão e do escoamento superficial das águas, a

diminuição da quantidade de pragas e maior ciclagem de nutrientes (Faleiro et al. 2009;

Faleiro e Neto 2008).

Page 114: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

113

CONCLUSÃO

A riqueza regional de insetos aquáticos está diretamente associada à quantidade

de tipos de remanescentes nas paisagens. E no caso de adultos de Odonata, também foi

negativamente afetada pela proporção de lavouras e positivamente associada à

quantidade de pastagem nesta escala. Apesar de existir uma relação da riqueza local

com a riqueza regional, a variação das riquezas locais de ambos os grupos é mais

determinada pelas condições ambientais locais como abertura de dossel e

condutividade. Porém a riqueza local apresenta uma relação positiva com a quantidade

de vegetação ciliar em escalas de 250 metros para os imaturos de EPT e está

inversamente associada a quantidade de pasto na mesma escala para os adultos de

Odonata, não sendo afetada pela representação de tipos de uso na escala da paisagem. A

substituição de espécies de Odonata dentro de cada paisagem é alta e não é explicada

pela proporção de usos do solo nesta escala, nem para variação destes nas áreas de

influencia local. Porém os imaturos de EPT apresentam uma maior substuição de

espécies associada a uma maior variação na quantidade de mata ciliar entre os córregos

e a uma maior proporção de mata ciliar na paisagem.

Page 115: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

114

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Allan JD (2004) Landscapes and riverscapes: The influence of land use on stream

ecosystems. Annual Review of Ecology Evolution and Systematics 35:257-284.

Alexander LC, Hawthorne DJ, Palmer MA, Lamp WO (2011) Loss of genetic diversity

in the North American mayfly Ephemerella invaria associated with deforestation of

headwater streams. Freshwater Biology 56:1456-1467.

Anderson MJ, Ellingsen KE, McArdle BH (2006) Multivariate dispersion as a measure

of beta diversity. Ecology Letters 9:683-693.

Anholt BR (1990) Size-biased dispersal prior to breeding in a damselfly. Oecologia

(Berlin) 83:385-387.

Baselga A (2012) The relationship between speciesreplacement, dissimilarity derived

fromnestedness, and nestedness. Global Ecology and Biogeography 21:1223-1232.

Baselga A (2010) Partitioning the turnover andnestedness components of beta diversity.

Global Ecology and Biogeography 19:134-143.

Batista JD, Zanuncio JC, Pacifico E, Juen L, Corrêa CC, De Marco P. (2013)

Turnover/nested partition of Odonate Beta Diversity in a Forest Cover Gradient.

Becker CG, Fonseca CR, Haddad CFB, Batista RF, Prado PI. (2007) Habitat split and

the global decline of amphibians. Science 318:1775-1777.

Bilton DT, Freeland JR, Okamura B. (2001) Dispersal in Freshwater Invertebrates.

Annual Review of Ecology and Systematics 32:159-181.

Page 116: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

115

Bonada N, Prat N Resh VH, Statzner B. (2006) Developments in aquatic insect

biomonitoring: a comparative analysis of recent approaches. Annual Review of

Entomology 51:495-523.

Boscolo D, Metzger JP. (2009) Is bird incidence in Atlantic forest fragments influenced

by landscape patterns at multiple scales? Landscape Ecology 24:907-918.

Budin K, Jubok Z, Gabda D, Abdullah N, Ahmed, A. (2008) Effect of Water

Parameters on Ephemeroptera Abundance in Telipok River, Sabah Malaysia .

TRANSACTIONS on ENVIRONMENT and DEVELOPMENT 4.

Burel F, Baudry J, Butet A, Clergeau P, Delettre Y, Le Coeur D, Dubs F, Morvan N,

Paillat G, Petit S, Thenail C, Brunel E, Lefeuvre JC. (1998) Comparative biodiversity

along a gradient of agricultural landscapes. Acta Oecologica-International Journal of

Ecology 19:47-60.

Cadenasso ML, Pickett STA, Weathers KC, Jones CG. (2003) A framework for a theory

of ecological boundaries. Bioscience 53:750-758.

Calvao LB, Vital MVC, Juen L, Lima GF, Oliveira JMB, Pinto NS, De Marco P. (2013)

Thermoregulation and Microhabitat Choice in Erythrodiplax Latimaculata Ris Males

(Anisoptera: Libellulidae). Odonatologica 42:97-108.

Carvalho FMV, De Marco P, Ferreira LG. (2009) The Cerrado into-pieces: Habitat

fragmentation as a function of landscape use in the savannas of central Brazil.

Biological Conservation 142:1392-1403.

Castillo LE, Martinez E, Ruepert C, Savage C, Gilek M, Pinnock M, Solis E. (2006)

Water quality and macroinvertebrate community response following pesticide

applications in a banana plantation, Limon, Costa Rica. Science of the Total

Environment 367:418-432.

Page 117: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

116

Chust G, Pretus JL, Ducrot D, Ventura D. (2004) Scale dependency of insect

assemblages in response to landscape pattern. Landscape Ecology 19:41-57.

Collier KJ, Smith BJ. (1998) Dispersal of adult caddisflies (Trichoptera) into forests

alongside three New Zealand streams. Hydrobiologia 361:53-65.

Colwell RK EstimateS: Statistical estimation of species richness and shared species

from samples. (2005)

Colwell R, Coddington J. (1994) Estimating terrestrial biodiversity throught

extrapolation. Philosophical Transactions of the Royal Society of London 345:101-118.

Costa SS, Sanches Melo A. (2008) Beta diversity in stream macroinvertebrate

assemblages: among-site and among-microhabitat components. Hydrobiologia 598:131-

138.

Couceiro SRM, Hamada N, Forsberg BR, Padovesi-Fonseca A. (2011) Trophic

structure of macroinvertebrates in Amazonianstreams impacted by anthropogenic

siltation . Austral Ecology 36:628-637.

Cozzi G, Muller CB, Krauss J. (2008) How do local habitat management and landscape

structure at different spatial scales affect fritillary butterfly distribution on fragmented

wetlands? Landscape Ecol 23:269-283.

Death RG, Winterbourn MJ. (1995) Diversity patterns in stream benthic invertebrate

communities: the influence of habitat stability. Ecology 76:1446-1460.

De Marco P. (1998) The Amazonian Campina dragonfly assemblage: patterns in

microhabitat use and behavior in a foraging habitat. Odonatologica 27:239-248.

De Marco P, Nogueira DS, Correa CC, Vieira TB, Silva KD, Pinto NS, Bichsel D,

Victoriano Hirota AS, Silva Vieira RR, Carneiro FM, Bispo de Oliveira AA, Carvalho

Page 118: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

117

P, Bastos RP, Oertli B. (2014) Patterns in the organization of Cerrado pond biodiversity

in Brazilian pasture landscapes. Hydrobiologia 723:87-101.

Dolny A, Harabis F, Bárta D, Lhota S, Drozda P. (2012) Aquatic insects indicate

terrestrial habitat degradation:changes in taxonomical structure and functional

diversityof dragonflies in tropical rainforest of East Kalimantan. Tropical Zoology

25:141-157.

Duarte LMG, Theodoro SH. (2002) Agricultura e desenvolvimento sustentável no

Cerrado: uma combinação possível? in Garamond, ed. Dilemas do Cerrado: entre o

ecologicamente (in) correto e o socialmente (in) justo. Rio de Janeiro.

Duan X, Wang ZY, Xu M, Zhang K. (2009) Effect of streambed sediment on benthic

ecology. International Journal of Sediment Research 24:325-338.

Effenberger M, Sailer G, Townsend CR, Matthaei D. (2006) Local disturbance history

and habitat parameters influence the microdistribution of stream invertebrates.

Freshwater Biology 51:312-332.

Eiten G (1982) Brazilian "savannas". Pages 25-47 in B. J. Huntley and B. H. Walker,

eds. Ecological Studies vol. 42: Ecology of Tropical Savannas. Springer-Verlag, New

York.

Faleiro FG, Neto, ALF. (2008) Savanas: desafios e estratégias para o equilíbrio entre

sociedade, agronegócio e recursos naturais. Planaltina - DF.

Faleiro FG, Neto ALF (2009) Savanas: demandas para pesquisa. Planaltina - DF.

Fahrig, L. 2003. Effects of habitat fragmentation on biodiversity. Annual Review of

Ecology and Systematics 34:487-515.

Page 119: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

118

Ficetola GF, Padoa-Schioppa E, De Bernardi F. (2009) Influence of Landscape

Elements in Riparian Buffers on the Conservation of Semiaquatic Amphibians.

Conservation Biology 23:114-123.

Fischer J, Lindenmayer DB. (2007) Landscape modification and habitat fragmentation:

a synthesis. Global Ecology and Biogeography 16:265-280.

Fried CS, May ML. (1983) Energy expenditure and food intake of territorial male

Pachydiplax longipennis (Odonata: Libellulidae). Ecological Entomology 8:283-292.

Gardner TA, Ferreira J, Barlow J, Lees AC, Parry L, Guimaraes Vieira IC, Berenguer E,

Abramovay R, Aleixo A, Andretti C, Aragao LE, Araujo I, Avila WS, Bardgett RD,

Batistella M, Begotti RA, Beldini T, De Blas DE, Braga RF, Braga DL, De Brito JG, De

Camargo PB, Dos Santos FC, De Oliveira VC, Nunes Cordeiro AC, Cardoso TM, De

Carvalho DR, Castelani SA, Mario Chaul JC, Cerri CE, Costa FA, Furtado da Costa

CD, Coudel E, Coutinho AC, Cunha D, D'Antona A, Dezincourt J, Dias-Silva K,

Durigan M, Dalla Mora Esquerdo JC, Feres J, De Barros Ferraz SF, De Melo Ferreira

AE, Fiorini AC, Flores da Silva LV, Frazao FS, Garrett R, Gomes AS, Goncalves KS,

Guerrero J B, Hamada N, Hughes RM, Igliori DC, Jesus EC, Juen L, Junior M, De

Oliveira Junior JMB, De Oliveira Junior RC, Souza Junior C, Kaufmann P, Korasaki V,

Leal CG, Leitao R, Lima N, Lopes Almeida MDF, Lourival R, Louzada J, Mac Nally R,

Marchand S, Maues MM, Moreira FM, Morsello C, Moura N, Nessimian J, Nunes S,

Fonseca Oliveira VH, Pardini R, Pereira HC, Pompeu PS, Ribas CR, Rossetti F,

Schmidt FA, Da Silva R, Viana Martins da Silva RC, Morello Ramalho da Silva TF,

Silveira J, Siqueira JV, De Carvalho TS, Solar RR, Holanda Tancredi NS, Thomson JR,

Torres PC, Vaz-de-Mello FZ, Stulpen Veiga RC, Venturieri A, Viana C, Weinhold D,

Zanetti R, Zuanon J. (2013) A social and ecological assessment of tropical land uses at

multiple scales: the Sustainable Amazon Network. Philosophical Transactions of the

Royal Society B-Biological Sciences 368.

Gilbert B, Srivastava DS, Kirby KR. (2008) Niche partitioning at multiple scales

facilitates coexistence among mosquito larvae. Oikos 117:944-950.

Page 120: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

119

Goulart, F. F., P. Salles, C. H. Saito, Machado RB. (2013) How do different agricultural

management strategies affect bird communities inhabiting a savanna-forest mosaic? A

qualitative reasoning approach. Agriculture, Ecosystems & Environment 164:114-130.

Harabis F, Dolny A. (2011) The Effect of Ecological Determinants on the Dispersal

Abilities of Central European Dragonflies (Odonata). Odonatologica 40:17-26.

Hawkins CP, Murphy ML, Anderson NH. (1982) Effects of Canopy, Substrate

Composition, and Gradient on the Structure of Macroinvertebrate Communities in

Cascade Range Streams of Oregon. Ecology 63:1840-1856.

He FL, Gaston KJ, Connor EF, Srivastava DS. (2005) The local-regional relationship:

Immigration, extinction, and scale. Ecology 86:360-365.

Hepp LU, Milesi SV, Biasi C, Restello RM. (2010) Effects of agricultural and urban

impacts on macroinvertebrates assemblages in streams (Rio Grande do Sul, Brazil).

Zoologia 27:106-113.

Hepp LU, Restello RM, Milesi SV. (2013) Distribution of aquatic insects in urban

headwater streams . Acta Limnologica Brasiliensia.

Herringshaw CJ, Stewart TW, Thompson JR. (2011) Land Use, Stream Habitat and

Benthic Invertebrate Assemblages in a Highly Altered Iowa Watershed. The American

Midland Naturalist 165:274-293.

Houghton DC, Holzenthal RW. (2010) Historical and contemporary biological diversity

of Minnesota caddisflies: a case study of landscape-level species loss and trophic

composition shift. Journal of the North American Benthological Society480-495.

Page 121: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

120

Hughes DA (1966) Mountain streams of the barberton area, eastern transvaal. Part II,

the effect of vegetational shading and direct illumination on the distribution of stream

fauna. Hydrobiologia 27:439-459.

Juen, L. and P. Jr. De Marco. (2011) Odonate beta diversity in terra-firme forest streams

in Central Amazonia: On the relative effects of neutral and niche drivers at small

geographical extents. Insect Conservation and Diversity 4:265-274.

Juen L, Oliveira-Junior JM, Shimano Y, Mendes TP, Cabette HSR. (2013) Composição

e riqueza de Odonata (Insecta) no ecótone Cerrado-Floresta Amazônica em riachos

com diferentes níveis de conservação. Acta Amazonica .

Juen L, De Marco P. (2012) Dragonfly endemism in the Brazilian Amazon: competing

hypotheses for biogeographical patterns. Biodiversity and Conservation 21:3507-3521.

Kormondy EJ. (1961) Territoriality and dispersal in dragonflies (Odonata). Journal of

the New York Entomological Society 69:42-52.

Legendre P (1993) Spatial autocorrelation: trouble or new paradigm? Ecology 74:1659-

1673.

Lencioni FAA (2005) Damselflies of Brazil, an illustrated indentification guide: I - The

non-Coenagrionidae families. All Print Editora, São Paulo, Brazil.

Lencioni FAA (2006) Damselflies of Brazil, an illustrated indentification guide: II -

Coenagrionidae families. All Print Editora, São Paulo, Brazil.

Lima MM, Mariano-Neto E. (2014) Extinction thresholds for Sapotaceae due to forest

cover in Atlantic Forest landscapes. Forest Ecology and Management 312:260-270.

Page 122: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

121

Loiola GR, De Marco P. (2011) Behavioral ecology of Heteragrion consors Hagen

(Odonata, Megapodagrionidae): a shade-seek Atlantic forest damselfly. Revista

Brasileira de Entomologia 55:373-380.

Lyra-Jorge MC, Ribeiro MC, Ciocheti G, Tambosi LR, Pivello VR. (2010) Influence of

multi-scale landscape structure on the occurrence of carnivorous mammals in a human-

modified savanna, Brazil. European Journal of Wildlife Research 56:359-368.

Machado RB, Ramos Neto MB, Pereira P, Caldas E, Gonçalves D, Santos N, Tabor K,

Steininger M. (2004) Estimativas de perda da área do Cerrado brasileiro. Conservation

International, Brasilia.

Manly BFJ, (1994) Multivariate Statistical Methods: A Primer. Chapman and Hall,

London.

May ML (1976) Thermoregulation in adaptation to temperature in dragonflies

(Odonata: Anisoptera). Ecological Monographs 46:1-32.

May ML (1977) Thermoregulation and reprodutive activity in tropical dragonflies of the

genus Micrathyria. Ecology 58:787-798.

May, M. L. (1979) Energy metabolism of dragonflies (Odonata: Anisoptera) at rest and

during endothermic warm-up. Journal of Experimental Biology 83:79-94.

May ML (1982) Heat exchange and endothermy in protodonata damselfly. Evolution

36:1051-1058.

May ML (1991) Thermal adaptations of dragonflies, revisited. Advances in

Odonatology 5:71-88.

Page 123: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

122

May ML (1995) Dependence of flight behavior and heat production on air temperature

in the green darner dragonfly Anax junius (Odonata: Aeshnidae). Journal of

Experimental Biology 198:2385-2392.

McCauley SJ (2010) Body size and social dominance influence breeding dispersal in

male Pachydiplax longipennis (Odonata). Ecological Entomology 35:377-385.

McGarigal K, Marks BJ. (1995) FRAGSTATS: spatial pattern analysis program for

quantifying landscape structure. USDA For. Serv. Gen. Tech. Rep..

McLaughlin A, Mineau P. (1995) The impact of agricultural practices on biodiversity.

Agriculture Ecosystems & Environment 55:201-212.

Merritt RW, Cummins KW. (1979) An Introduction to the Aquatic Insects of North

America. Kendall/Hunt Publ. Co., New York.

Metzger JP. (2003) Estrutura da paisagem: o uso adequado de métricas. Pages 423-453

in L. Cullen Jr, R. Rudran, and C. Valladares-Padua, eds. Métodos de Estudos em

Biologia da Conservação e Manejo da Vida Silvestre. Universidade Federal do Paraná,

Curitiba.

Millenium Ecosystem Assessment. (2005) Ecosystems and human well-being:

synthesis. Island Press, Washington, D.C.

Ministerio do Meio Ambiente (2011) Plano de ação para prevenção e controle do

desmatamento e das queimadas: cerrado. Brasilia, MMA.

Miserendino ML, Pizzolon LA. (2000) Macroinvertebrates of a fluvial system in

Patagonia: altitudinal zonation and functional structure. Archiv für Hydrobiologie

150:55-83.

Page 124: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

123

Monteiro Júnior CS, Juen L, Hamada N. (2013) Effects of urbanization on adult

odonates (Insecta: Odonata) in central Brazilian Amazonia.

Moore AA, Palmer MA. 2005. Invertebrate biodiversity in agricultural and urban

headwater streams: implications for conservation and management. Ecological

Applications 15:1169-1177.

Myers N, Mittermeier RA, Mittermeier CG, Fonseca GAB, Kent J. (2000) Biodiversity

hotspots for conservation priorities. Nature 403:853-858.

Nakamura F, Yamada H. (2005) Effects of pasture development on the ecological

functions of riparian forests in Hokkaido in northern Japan. Ecological Engineering

24:539-550.

Nessimian JL, Venticinque E, Zuanon , De Marco P, Gordo M, Fidelis L, Batista JD,

Juen L. (2008) Land use, habitat integrity, and aquatic insect assemblages in Central

Amazonian streams. Hydrobiologia 614:117-131.

Oliveira-Junior JM, Shimano Y, Gardner TA, Hughes RM, De Marco P, Juen L. (2013)

Neotropical Dragonflies (Insecta:Odonata) as Indicators of Ecological Condition of

Small Streams in the Eastern Amazon.

Palmer MA, Covich AP, Lake S, Biro P, Brooks JJ, Cole J, Dahm C, Gibert J,

Goedkoop W, Martens K, Verhoeven J. (2000) Linkages between aquatic sediment

biota and life above sediments as potential drivers of biodiversity and ecological

processes. Bioscience 50:1062-1075.

Paulson D. (2005) The importance of forests to neotropical dragonflies. in A. C. Rivera,

ed. FORESTS AND DRAGONFLIES, Fourth WDA International Symposium of

Odonatology. Pontevedra, Spain.

Page 125: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

124

Pearman PB. (2002) The scale of community structure: Habitat variation and avian

guilds in tropical forest understory. Ecological Monographs 72:19-39.

Pereira LR, Cabette HS, Juen L. (2012) Trichoptera as bioindicators of habitat integrity

in the Pindaiba river basin, Mato Grosso (Central Brazil). Ann.Limnol. 48:295-302.

R Development Core Team. (2010) R: A language and environment for statistical

computing. Vienna, Austria, R Foundation for Statistical Computing.

R Development Core Team. (2013) R: A language and environment for statistical

computing. Vienna, Austria, R Foundation for Statistical Computing.

Rangel TFLVB, Diniz-Filho JAF, Bini LM. (2010) SAM: a comprehensive application

for Spatial Analysis in Macroecology. Ecography 33:46-50.

Rawi CSM, Al Shami SA, Madrus MR, Ahmad AH. (2013) Local effects of forest

fragmentation on diversity of aquatic insects in tropical forest streams: implications for

biological conservation. Aquatic Ecology 47:75-85.

Reid DJ, Quinn JM, Wright-Stow AE. (2010) Responses of stream macroinvertebrate

communities to progressive forest harvesting: Influences of harvest intensity, stream

size and riparian buffers. Forest Ecology and Management 260:1804-1815.

Remsburg AJ, Olson AC, Samways MJ. (2008) Shade alone reduces adult dragonfly

(Odonata:Libellulidae) abundance. Journal Insect Behaviour 21:460-468.

Rigueira DMG, Da Rocha PLB, Mariano-Neto E. (2013) Forest cover, extinction

thresholds and time lags in woody plants (Myrtaceae) in the Brazilian Atlantic Forest:

resources for conservation. Biodiversity and Conservation 22:3141-3163.

Page 126: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

125

Romero RM, Ceneviva-Bastos M, Baviera GH, Casatti L. (2013) Community structure

of aquatic insects (Ephemeroptera, Plecoptera, and Trichoptera) in Cerrado streams of

Paraguay, Paraná, and São Francisco river basins. Biota Neotropical 13.

Rudel TK, Defries R, Asner GP, Laurance WF. (2009) Changing Drivers of

Deforestation and New Opportunities for Conservation. Conservation Biology 23:1396-

1405.

Scaramuzza CAM, Machado RB, Rodrigues ST, Neto MBR, Pinagé ER, Diniz Filho

JAF. (2008) Áreas prioritárias para conservação da biodiversidade em Goiás. Pages 13-

66A encruzilhada socioambiental: biodiversidade, economia e sustentabilidade no

Cerrado. Editora UFG, Goiânia.

Shelly TE (1982) Comparative Foraging Behavior of Light-Seeking Versus Shade-

Seeking Adult Damselflies in A Lowland Neotropical Forest (Odonata, Zygoptera).

Physiological Zoology 55:335-343.

Shimano Y, Cabette HSR, Salles FF, Juen L. (2010) Composição e distribuição da

fauna de Ephemeroptera (Insecta) em área de transição Cerrado-Amazônia, Brasil.

Iheringia 100.

Silva DP, De Marco P, Resende DC. (2010) Adult odonate abundance and community

assemblage measures as indicators of stream ecological integrity: A case study.

Ecological Indicators 10:744-752.

Sokal RR, Oden NL. (1978) Spatial Autocorrelation in Biology .1. Methodology.

Biological Journal of the Linnean Society 10:199-228.

Sokal RR, Rohlf FJ. (1981) Biometry. W. H. Freeman, San Francisco.

Srivastava DS (2005) Do local processes scale to global patterns? The role of drought

and the species pool in determining treehole insect diversity. Oecologia 145:205-215.

Page 127: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

126

Starzomski BM, Srivastava DS. (2007) Landscape geometry determines community

response to disturbance. Oikos 116:690-699.

Tornblom J, Degerman E, Angelstam P. (2011) Forest proportion as indicator of

ecological integrity in streams using Plecoptera as a proxy. Ecological Indicators

11:1366-1374.

Townsend CR, Scarsbrook MR, Doledec S. (1997) The intermediate disturbance

hypothesis, refugia, and biodiversity in streams. Limnology and Oceanography 42:938-

949.

Tscharntke T, Klein AM, Kruess A, Steffan-Dewenter I, Thies C. (2005) Landscape

perspectives on agricultural intensification and biodiversity - ecosystem service

management. Ecology Letters 8:857-874.

Vannote RL, Minshall GW, Cummins KW, Sedell JR, Cushing CE. (1980) The river

continuum concept. Canadian Journal of Fisheries and Aquatic Sciences 37:130-137.

Vinson MR, Hawkins CP. (1998) Biodiversity of stream insects: Variation at local,

basin, and regional scales. Annual Review of Entomology 43:271-293.

Vinson MR, Hawkins CP. (2003) Broad-scale geographical patterns in local stream

insect genera richness. Ecography751-767.

Waite I. (2014) Agricultural disturbance response models for invertebrate and algal

metrics from streams at two spatial scales within the U.S. Hydrobiologia 726:285-303.

Wanderley IF, Fonseca RL, Pereira PGP, Prado ACA, Ribeiro AP, Viana EMES, Dutra

RCD, Oliveira ABO, Barbosa FP, Pancieira F. (2007) Implicações da Iniciativa de

Page 128: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

127

Integração da Infra-estrutura Regional Sul-americana e projetos correlacionados na

política de conservação no Brasil. Politica Ambiental.

Ward JV, Tockner K, Arscott DB, Claret C. (2002) Riverine landscape diversity.

Freshwater Biology 47:517-539.

Wiens JA (1989) Spatial scaling in ecology. Functional Ecology 3:385-397.

Wiens JA (2002) Riverine landscapes: taking landscape ecology into the water.

Freshwater Biology 47:501-515.

Wolfenbarger DO (1946) Dispersal of small organisms. The American Midland

Naturalist 35.

Zeni JO, Casatti L. (2014) The influence of habitat homogenization on the trophic

structure of fish fauna in tropical streams. Hydrobiologia 726:259-270.

Page 129: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

128

ANEXO 1- Curva de acumulação de espécies em cada uma das 14 paisagens amostradas no estado de Goiás

11

21

31

41

51

61

71

81

91

101

111

121

131

141

151

161

171

181

191

201

211

221

231

241

Amostradas

-4

-2

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

Riq

ue

za

Riqueza Observada

Riqueza Estimada

P1

11

21

31

41

51

61

71

81

91

101

111

121

131

141

151

161

171

181

191

201

211

221

231

241

Amostras

-5

0

5

10

15

20

25

30

Riq

ue

za

Riqueza Observada

Riqueza Estimada

P2

11

21

31

41

51

61

71

81

91

101

111

121

131

141

151

161

171

181

191

201

211

221

231

241

Amostras

-10

-5

0

5

10

15

20

25

30

Riq

ue

za

Riqueza Observada

Riqueza Estimada

P3

11

21

31

41

51

61

71

81

91

101

111

121

131

141

151

161

171

181

191

201

211

221

231

241

Amostras

-10

-5

0

5

10

15

20

25

30

35

40

Riq

ue

za

Riqueza Observada

Riqueza Estimada

P4

10

19

28

37

46

55

64

73

82

91

100

109

118

127

136

145

154

163

172

181

190

199

208

217

Amostras

-4

-2

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

Riq

ue

za

Riqueza Observada

Riqueza Estimada

P5

11

21

31

41

51

61

71

81

91

101

111

121

131

141

151

161

171

181

191

201

211

221

231

241

Amostras

-10

-5

0

5

10

15

20

25

30

35

40

Riq

ue

za

Riqueza Observada

Riqueza Estimada

P6

Page 130: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

129

10

19

28

37

46

55

64

73

82

91

100

109

118

127

136

145

154

163

172

181

190

199

Amostras

-10

-5

0

5

10

15

20

25

30

35

Riq

ue

za

Riqueza Observada

Riqueza Estimada

P7

11

21

31

41

51

61

71

81

91

101

111

121

131

141

151

161

171

181

191

201

211

221

231

241

Amostras

-4

-2

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

Riq

ue

za

Riqueza Observada

Riqueza Estimada

P8

11

21

31

41

51

61

71

81

91

101

111

121

131

141

151

161

171

181

191

201

211

221

231

241

Amostras

-15

-10

-5

0

5

10

15

20

25

30

35

40

Riq

ue

za

Riqueza Observada

Riqueza Estimada

P9

8

15

22

29

36

43

50

57

64

71

78

85

92

99

106

113

120

127

134

141

148

155

Amostras

-10

-5

0

5

10

15

20

25

30

35

40

Riq

ue

za

Riqueza Observada

Riqueza Estimada

P10

11

21

31

41

51

61

71

81

91

101

111

121

131

141

151

161

171

181

191

201

211

221

231

241

Amostras

-6

-4

-2

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

Riq

ue

za

Riqueza Observada

Riqueza Estimada

P11

10

19

28

37

46

55

64

73

82

91

100

109

118

127

136

145

154

163

172

181

190

199

Amostras

-10

-5

0

5

10

15

20

25

30

35

40

Riq

ue

za

Riqueza Observada

Riqueza Estimada

P12

Page 131: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

130

11

21

31

41

51

61

71

81

91

101

111

121

131

141

151

161

171

181

191

201

211

221

231

241

Amostras

-10

-5

0

5

10

15

20

25

30

Riq

ue

za

Riqueza Observada

Riqueza Estimada

P13

11

21

31

41

51

61

71

81

91

101

111

121

131

141

151

161

171

181

191

201

211

221

231

241

Amostras

-10

-5

0

5

10

15

20

25

30

35

Riq

ue

za

Riqueza Observada

Riqueza Estimada

P14

Page 132: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

131

ANEXO 2 – Curva de acumulação de gêneros de EPT em cada uma das oito paisagens amostradas no estado de Goiás

1 2 3 4 5 6 7 8 91

01

11

21

31

41

51

61

71

81

92

02

12

22

32

42

52

62

72

82

93

03

13

23

33

43

53

63

73

83

94

04

14

24

34

44

54

64

74

84

95

05

15

25

35

45

55

65

75

85

96

0Amostras

-10

0

10

20

30

40

50

Riq

ue

za

P1

Riqueza Observada

Riqueza Estimada

1 2 3 4 5 6 7 8 91

01

11

21

31

41

51

61

71

81

92

02

12

22

32

42

52

62

72

82

93

03

13

23

33

43

53

63

73

83

94

04

14

24

34

44

54

64

74

84

95

05

15

25

35

45

55

65

75

85

96

06

16

26

36

46

56

66

76

86

97

07

17

2

Amostras

-20

-10

0

10

20

30

40

50

60

70

80

Riq

ue

za

Riqueza Observada

Riqueza Estimada

P2

1 2 3 4 5 6 7 8 91

01

11

21

31

41

51

61

71

81

92

02

12

22

32

42

52

62

72

82

93

03

13

23

33

43

53

63

73

83

94

04

14

24

34

44

54

64

74

84

95

05

15

25

35

45

55

65

75

85

96

06

16

26

36

46

56

66

76

86

97

07

17

2

Amostras

-10

0

10

20

30

40

50

Riq

ue

za

P6

Riqueza Observada

Riqueza Estimada

Page 133: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

132

1 2 3 4 5 6 7 8 91

01

11

21

31

41

51

61

71

81

92

02

12

22

32

42

52

62

72

82

93

03

13

23

33

43

53

63

73

83

94

04

14

24

34

44

54

64

74

8

Amostras

-6

-4

-2

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

22

24

Riq

ue

za

Riqueza Observada

Riqueza Estimada

P9

1 2 3 4 5 6 7 8 91

01

11

21

31

41

51

61

71

81

92

02

12

22

32

42

52

62

72

82

93

03

13

23

33

43

53

6

Amostras

-4

-2

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

22

24

Riq

ue

za

Riqueza Observada

Riqueza Estimada

P10

2 3 4 5 6 7 8 91

01

11

21

31

41

51

61

71

81

92

02

12

22

32

42

52

62

72

82

93

03

13

23

33

43

53

63

73

83

94

04

14

24

34

44

54

64

74

84

95

05

15

25

35

45

55

65

75

85

96

0

Amostras

-10

0

10

20

30

40

50

Riq

ue

za

Riqueza Observada

Riqueza Estimada

P11

Page 134: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

133

ANEXO 2 – Curva de acumulação de gêneros de EPT em cada uma das oito paisagens amostradas no estado de Goiás

2 3 4 5 6 7 8 91

01

11

21

31

41

51

61

71

81

92

02

12

22

32

42

52

62

72

82

93

03

13

23

33

43

53

63

73

83

94

04

14

24

34

44

54

64

74

84

95

05

15

25

35

45

55

65

75

85

96

06

16

26

36

46

56

66

76

86

97

07

17

2

Amostras

-10

0

10

20

30

40

50

60

70

Riq

ue

za

Riqueza Observada

Riqueza Estimada

P13

2 3 4 5 6 7 8 910

11

12

13

14

15

16

17

18

19

20

21

22

23

24

25

26

27

28

29

30

31

32

33

34

35

36

37

38

39

40

41

42

43

44

45

46

47

48

49

50

51

52

53

54

55

56

57

58

59

60

61

62

63

64

65

66

67

68

69

70

71

72

Amostras

-80

-60

-40

-20

0

20

40

60

80

100

120

Riq

ue

za

Riqueza Observada

Riqueza Estimada

P14

Page 135: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

134

CAPÍTULO 3

ZONA DE AMORTECIMENTO EM DUAS ÁREAS PROTEGIDAS EM

PAISAGENS AGRICULTURAIS DO ESTADO DE GOIÁS

Page 136: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

135

ABSTRACT

Effectiveness and the practical conservation of habitats located within the farms could

have direct impacts on conservation strategies through buffer zone of Protected Areas.

In this work we tested the degree of conservation of riparian vegetation, based on the

NDVI index located in the buffer zone of a integral protection and sustainable use of

protected area, located in agricultural landscapes of the state of Goiás. Conservation of

riparian vegetation was lower in the Buffer Zone of the sustainable use, associated with

a context of small farms. Conservation of riparian vegetation are inversely associated

with the cultived proportion area, size of cattle and directly related to the total size of

farm. Impacts of a lower integrity of riparian vegetation would have direct effects on the

practices of water conservation in protected areas and could be more serious in the

sustainable use units which have a smaller core area in Cerrado.

Keywords – Protected areas, agriculture, riparian vegetation

Page 137: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

136

INTRODUÇÃO

A efetividade e as práticas de conservação de habitats localizados dentro das

propriedades agrícolas poderiam ter impactos diretos sobre as estratégias de

conservação por meio de áreas protegidas (Rylands & Brandon 2005; Schwartzman et

al. 2000), principalmente em regiões onde as atividades agrícolas são os vizinhos

diretos destas áreas, localizadas nas zonas de amortecimento. Esta questão está inserida

em uma abordagem integradora de conservação onde se busca considerar processos

ecológicos em esquemas de conservação regional da biodiversidade (Machado et al.

2009). Adicionalmente, as estratégias de conservação considerando os impactos da

agricultura devem ser pensadas, principalmente quando consideramos uma expansão no

futuro de atividades agrícolas ao redor de áreas protegidas (Dobrovolski et al. 2011).

As zonas de amortecimento (Art. 2º, XVIII, do SNUC Lei 9.985/00) são áreas

intrínsecas as áreas protegidas (Goncalves et al. 2009) e são consideradas “o entorno de

uma Unidade de Conservação, onde as atividades humanas estão sujeitas a normas e

restrições específicas, com o propósito de minimizar os impactos negativos sobre a

Unidade”. Além do mais, esta área é importante para a constituição de corredores

ecológicos, os quais são “porções de ecossistemas naturais ou seminaturais, ligando a

Unidades de Conservação, que possibilitam entre elas o fluxo de genes e o movimento

da biota, facilitando a dispersão de espécies e a recolonização de áreas degradadas, bem

como a manutenção de populações que demandam para a sua sobrevivência áreas com

extensão maior do que aquelas das unidades individuais” (Art. 2º, XIX, do SNUC Lei

9.985/00). Todas as unidades de conservação, exceto a Área de Proteção Ambiental e a

Reserva Particular do Patrimônio Natural, devem possuir uma Zona de Amortecimento,

e, quando conveniente os corredores ecológicos (Art. 25 do SNUC, Lei 9.985/00).

Elas são áreas de transição e constituem-se como medidas de manejo que

garantem a efetividade das unidades de conservação (Alexandre et al. 2010), garantindo

uma coexistência entre estratégias de conservação e as atividades humanas. Os dois

objetivos das zonas de amortecimento são assegurar a integridade das áreas protegidas

permitindo as comunidades locais manterem o seu sustento através do manejo ativo de

recursos naturais fora destas regiões. Elas representam um ponto chave para o manejo,

pois representam a integração entre os manejadores e os habitantes locais e vem sendo

Page 138: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

137

utilizada como estratégia para conservação em escala internacional desde o início da

década de 1980 no âmbito do programa Man and Biosphere (UNESCO 2011).

Na prática, as zonas de amortecimento expandem a área protegida, permitindo

que os impactos humanos sejam monitorados em maiores distâncias do aquela das

fronteiras convencionais das Unidades de Conservação. De acordo com estudo da IUCN

as principais ameaças, as quais as unidades de conservação estão submetidas são: o

manejo inadequado de recursos, a invasão de populações humanas, a mudança no

regime hídrico, a caça furtiva, o desenvolvimento das propriedades adjacentes, o

desenvolvimento interno inadequado (como as estradas), a mineração e a prospecção de

recursos naturais, os conflitos de uso e as atividades florestais.

Considerado de um ponto de vista social, os benefícios que a zona de

amortecimento provém poderiam ser questionáveis, principalmente quando se considera

os mecanismos pelos quais as pessoas poderiam se beneficiar a partir da existência da

área protegida. Por exemplo, poderia ser difícil convencer a população local de que uma

área como a Zona de Amortecimento, dentro da qual os usos humanos são restritos,

poderia apresentar algum tipo de benefício para estas pessoas se antes do

estabelecimento da unidade estas pessoas tinham um uso irrestrito desta área.

O uso sustentável de plantas silvestres e de populações de animais poderiam

requerer um limite para a exploração nestas regiões, e um limite sustentável poderia ser

muito difícil de determinar. Mesmo quando estes limites podem ser delimitados com

razoável certeza os mecanismos para a fiscalização poderiam ser difíceis de serem

implementados pelos órgãos do governo no entorno das zonas de amortecimento.Um

conhecimento adequado dos fatores sociais, econômicos, biológicos e culturais na

escala local que determinam os padrões de uso de recursos é um pré-requisito essencial

para alterar os padrões das atividades desenvolvidas dentro da zona de amortecimento

que teriam impactos diretos na viabilidade da Unidades de Conservação.

Os habitats de água doce e em especial os riachos possibilitam uma maneira

integradora para se planejar e avaliar estratégias de conservação da biodiversidade,

principalmente quando pensamos em Zonas de Amortecimento. Em especial como

sistemas hierárquicos, parte destes está localizado e protegido nas áreas das unidades de

conservação e parte está imerso em mais variados tipos de uso do solo, principalmente

associado às atividades agrícolas e urbanas. Nestes ambientes a vegetação ripária (matas

Page 139: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

138

ciliares e de galeria) são um componente essencial para sua funcionalidade, em primeiro

lugar, por se constituírem como uma das poucas formações florestais do Bioma

Cerrado, conjuntamente com o Cerradão e a Mata Seca. Estas áreas são habitats e áreas

de uso e corredores de deslocamento para mamíferos e aves (Lees & Peres 2008),

garantem uma redução no aporte de sedimentos, e outros produtos em áreas com

intensivo uso do solo (Jones & Schilling 2011; Rasmussen et al. 2011).

Os sistemas ripários são importantes elementos das paisagens, com grande

importância biológica, geofísica e também sócio-econômica. Considerando que, a maior

fertilidade dos solos associados a estas formações, devido em parte a posição

topográfica mais baixa, elas apresentam importância em sistemas agrícolas, e são áreas

usualmente utilizadas para a expansão das lavouras e pecuária. Apesar de terem sua

proteção garantida por lei no Brasil (Lei 12.651, 25 de Maio de 2012), as áreas de

proteção permanente apresentam 42% da sua área com uso antrópico (Sparovek et al.

2010) e portanto a dinâmica de uso do solo ao longo do tempo ao redor das áreas

protegidas devem ter efeito direto sobre a estrutura das paisagens localizadas ao redor

destas (Kintz et al. 2006; Arvor et al. 2010). Kaligaric et al. (2008) testaram o efeito da

fragmentação e do mosaicamento das paisagens agrícolas sobre a densidade de

corredores ripários e encontraram um maior número de manchas ripárias na região com

uma menor intensificação da agricultura. Porém, tanto o padrão de fragmentação das

paisagens (Carvalho et al. 2009), o perfil das zonas de amortecimento e a manutenção

da vegetação ripária, por atividades agrícolas, são o reflexo direto de processos sociais e

históricos, os quais dependem não apenas de características naturais das regiões como a

fertilidade do solo e declividade, como também de variáveis sociais como o padrão

tecnológico de uma área e os planos de investimentos governamentais (Miziara 2000;

Miziara & Ferreira 2008a).

As questões da Biologia da Conservação associada ao tipo de produção

predominante têm sido bem exploradas, principalmente em relação aos assentamentos

rurais (Miziara & Silva 2009; Santos et al. 2001). Alguns resultados sugerem que as

pequenas propriedades apresentam uma menor conservação de recursos naturais, e parte

disto deve-se a transferência para as regiões ribeirinhas, de produtores rurais que não

apresentam condições tecnológicas e econômicas para o padrão de agricultura em

grande escala (Miziara & Silva 2009). Em estudo em pequenas propriedades de Goiás

Page 140: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

139

Miziara & Silva (2009), demonstraram que aproximadamente 4,5% (abaixo dos 20%

exigidos pela lei) da área das propriedades é mantida como reserva e demonstra uma

técnica extensiva de produção. Na visão dos produtores, a indisponibilidade destas

regiões devido a mecanismos de coersão da lei, reduz o bem estar social e a produção

(Santos et al. 2001).

Em relação aos tipos de sistemas de produção agrícola podemos discriminar o

sistema patronal e o sistema de produção familiar. O termo agricultura patronal é um

termo jurídico e econômico onde a atividade agrícola acontece em grande escala e é

caracterizada por grandes propriedades, com proprietários fixos ou temporários, se

opondo enquanto sistema a agricultura familiar. Dentro dessa perspectiva uma

importante questão a ser explorada é se o tipo de relação de produção predominante em

uma dada área tem impactos no grau de preservação da mesma, principalmente na

região das zonas de amortecimento de unidades de conservação, onde existe uma maior

coersão por parte da fiscalização ambiental.

Neste trabalho nós vamos testar se o tipo de exploração agrícola predominante

familiar, ou patronal apresenta impactos no estado de conservação da vegetação ripária,

localizadas, nos limites da zona de amortecimento de duas unidades de conservação do

cerrado do estado de Goiás. Neste caso serão testadas as seguintes hipóteses:

i) a conservação da vegetação ciliar em contexto agrícola de agricultura

familiar é menor do que no contexto agrícola da agricultura patronal;

ii) as menores propriedades apresentaram uma menor conservação da vegetação

ciliar;

iii) a autocorrelação espacial da conservação da vegetação ripária no contexto da

agricultura familiar deve ser maior do que no contexto da agricultura

patronal.

Page 141: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

140

MATERIAL E METODOS

Região estudada

Foram consideradas duas Unidades de Conservação presentes no estado de

Goiás, uma da categoria de Uso Sustentável, Floresta Nacional de Silvânia e uma de

Proteção Integral, Parque Nacional de Emas. Além de cada uma destas Unidades além

de diferem na categoria de proteção elas estão inseridas em contextos de paisagens

diferentes. A Floresta Nacional de Silvânia está inserida em uma paisagem em que

predominam a atividade da pecuária, com uma menor representação das lavouras

voltadas para a produção em grande escala. A Flona de Silvânia tem 466,550 hectares

(18 de julho de 2001 pela Portaria no

247), e está localizada no município de Silvânia,

na região leste do estado de Goiás. Esta região teve sua ocupação e uso do solo definida

após o declínio do ciclo do ouro a partir da pecuária extensiva estabelecida na região

por grandes proprietários. A paisagem até a década de 90 era em grande parte

dominada por pecuaristas e após a segunda metade dos anos de 1990, a posse da terra

passou a concentrar-se nas mãos dos grandes produtores, sendo 48,3% da área ocupada

por explorações com mais de 500 ha, 46,9% entre 50 e 500 ha e apenas 4,8% com

menos de 50 ha, mas ainda sim a paisagem é em grande parte dominada pela pastagem

(Sano et al. 2008).

O Parque Nacional de Emas (PNE) está inserido em uma região que passou por

todas as etapas de ocupação observadas no Cerrado. Ela abrange municípios com mais

de 70% de sua área ocupada por culturas agrícolas, com a produção intensiva de grãos

(soja e milho) (Sano et al. 2006; Sano et al. 2008). Nesta região ocorre uma intensa

ocupação das áreas planas de chapada associada à migração de agricultores vindos de

estados do sul do país. Este processo levou a total ocupação das chapadas pela

agricultura mecanizada por volta de 1985, excluindo-se apenas a área do Parque

Nacional das Emas e algumas áreas úmidas. O processo de perda de vegetação nos

municípios onde o parque está inserido tem sido constante entre os anos de 1989 e 2002

(Moreira et al. 2005). O PNE apresenta 132 642,070 hectares (6 de abril de 1972 os

Page 142: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

141

limites da Unidade de Conservação foram delimitados pelo Decreto nº 70.375) localiza-

se no sudoeste do estado de Goiás no município de Mineiros e Chapadão do Céu. O

PNE se destaca entre os parques nacionais pela proteção de formações campestres

(Pinto et al. 2009).

Figura 1- Área de estudo, com o detalhe da hidrografia analisada, em cinza está o limite

das áreas protegidas e em pontilhado o limite de 5 Km da zona de amortecimento da A)

Flona de Silvânia e B) Parque Nacional de Emas, Goiás.

Dados físicos

Os limites das duas áreas protegidas foram obtidos a partir do site do Instituto

Brasileiro de Recursos Renováveis (IBAMA - www.ibama.gov.br/patrimonio/ acessado

Page 143: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

142

em 2011) e para cada uma delas foi delimitada uma zona de influência de cinco

quilômetros. Considerando que a hidrografia disponível não apresentava grande parte

dos corpos de água presentes nas áreas de estudo um modelo de hidrografia para cada

uma das zonas de influência foi desenhado a partir da topografia e posteriormente,

divididos em segmentos de 500 metros. Os segmentos de hidrografia menores que 500

metros não foram considerados. Cada um destes segmentos foi considerado como uma

réplica para o teste da integridade destes corpos de água. As imagens LANDSAT TM 5

com resolução de 30 metros que cobrem a região das duas unidades de conservação

foram obtidas a partir da plataforma do INPE (www.inpe.br), as imagens foram obtidas

para os anos 1985 e de 2010 (julho) para ambas regiões. As imagens foram

georreferenciadas e o NDVI (Normalized Difference Vegetation Index) da zona de

influência (buffer) de 30 metros de cada um dos fragmentos da hidrografia foi calculado

para cada uma das imagens.

Informações para propriedades rurais

As informações sobre a área, localização geográfica e delimitação das

propriedades para os limites da Zona de Amortecimento do Parque Nacional de Emas

foram obtidas a partir das informações vetorizadas disponibilizadas pelos gestores da

Unidade (Figura 2). As informações para as propriedades rurais localizadas no entorno

da Floresta Nacional de Silvânia foram obtidas a partir das informações disponibilizadas

pelos gestores da Unidade a partir de questionário de cadastramento de 42 propriedades

rurais e adicionalmente pelas informações recolhidas através da aplicação de

questionário durante o mês de Agosto de 2011 a mais 30 propriedades rurais,

totalizando 72 propriedades. Para estas propriedades não se tem a informação da

delimitação da propriedade, mas apenas a coordenada geográfica da mesma, a área total

desta, o tipo de uso predominante e a área cultivada, quando presente lavouras. As

questões referentes a características das propriedades, como área da propriedade, área

cultivada, área utilizada para criação de rebanho foram obtidas a partir do questionário

aplicado.

Page 144: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

143

Figura 2 – Propriedades rurais localizadas nos limites da Zona de Amortecimento do

Parque Nacional de Emas (Fonte: ICMBIO: Parque Nacional de Emas) e da Floresta

Nacional de Silvânia (à esquerda).

Para testar o efeito do tamanho das variáveis sócio-econômicas das propriedades

sobre a conservação da vegetação ciliar, a hidrografia foi particionada em segmentos de

500 metros, sendo que cada um deste foi considerado como uma réplica na análise.

Cada segmento foi associado a uma propriedade, no caso do PNE, foi considerado a

intercessão entre a hidrografia e o polígono da propriedade onde o corpo d´água está

inserido. Os trechos de 500 metros localizados entre a divisa de propriedades e na divisa

direta do Parque não foram analisados. Para a Flona de Silvânia a coordenada

geográfica mais próxima ao trecho é que foi considerada como associada aquele trecho

da malha hidrográfica.

Foi calculada a correlação espacial entre o valor médio e o desvio padrão do

NDVI dos segmentos baseada no índice de moran e calculada a partir de uma matriz de

conectividade que considerou a união de segmentos contíguos da malha hidrográfica,

através da utilização do programa SAM 4.0 (Rangel et al. 2010). Foi utilizado um Teste

Page 145: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

144

t para amostras dependentes para testar se o NDVI médio e o desvio padrão do NDVI da

vegetação ripária no ano de 2010 localizada na zona de amortecimento de ambas as

áreas protegidas difere daquele encontrado no ano de 1989.

Uma análise de regressão simples foi utilizada para testar se a área das

propriedades na Zona de Amortecimento do PNE está associada ao estado de

conservação da vegetação ripária baseada na média do NDVI no ano de 2010.Para a

Zona de amortecimento da Flona de Silvânia foi realizada uma análise de Regressão

Múltipla entre a proporção da área da propriedade dedicada ao cultivo, a proporção da

área da propriedade dedicada a criação de animais, o tamanho do rebanho além da área

total da propriedade.

RESULTADOS

Caracterização das propriedades nas Zonas de amortecimento

Um total de 39 propriedades estão localizadas dentro da zona de amortecimento

do Parque Nacional de Emas. Estas propriedades apresentam em média é de 3120,486

hectares (desvio padrão=3758,867), a menor e a maior propriedade apresentam

respectivamente 29,626 e 16 778,4 hectares. O entorno do Parque Nacional de Emas é

caracterizado por uma atividade predominante da agricultura patronal, onde apenas 19%

das propriedades apresentam área menor do que 250 hectares e 45% apresentam área

maior ou igual a 3000 hectares (Figura 3). Predominam proprietários que vieram de

outros estados, principalmente Paraná e Rio Grande do Sul (20), São Paulo (5). As

propriedades localizadas ao redor da Floresta Nacional de Silvânia apresentam em

média 90,013 hectares (desvio padrão=157,2491), a menor e a maior propriedade

apresentam respectivamente 1,210 e 746 hectares. O entorno da Floresta Nacional de

Silvânia é caracterizado como de atividade predominante da agricultura familiar, onde

96% das propriedades apresentam uma área menor do que 200 hectares, ou quatro

módulos fiscais (Figura 3).

Page 146: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

145

A)

B)

Figura 3 –Frequência de ocorrência do tamanho das propriedades rurais localizadas ao

redor da Floresta Nacional de Silvânia (A) and Parque Nacional de Emas (B).

Zona de amortecimento e índice de vegetação para a vegetação ripária

O NDVI médio da vegetação ripária localizada na zona de amortecimento da

Flona de Silvânia em 2010 é menor do que aquele do ano de 1989 (t=2,955, GL=230,

p=0,003). O NDVI médio para a vegetação ripária do ano de 1989 foi de 0,387 e para o

ano de 2010 foi de 0,347 (Figura 4). O desvio padrão do NDVI da vegetação ripária

desta mesma região não difere entre os anos de 1989 e 2010 (t=-1,831, GL=230

p=0,07). De acordo com a análise do NDVI para as APPs da malha hidrográfica do

entorno, no geral a hidrografia apresenta valores altos de NDVI, cabendo considerar

aqui duas regiões com impactos diretos para a Unidade. A primeira região é a do o Rio

Marinho, na porção de limite norte direto com a Unidade, esta faixa apresentou trechos

com baixos valores do índice de vegetação (Figura 5). Nesta região existe o predomínio

de áreas utilizadas para a pecuária e é onde tem sido registrado o avanço de pequenas

erosões (observação pessoal). A segunda região a ser considerada são as nascentes do

Rio Vermelho. Nesta região existe um acúmulo de pequenas propriedades rurais e uma

atividade intensiva de produção de hortifriticultura, com irrigação por canhões de

irrigação.

O NDVI médio da vegetação ripária da zona de amortecimento do PNE no ano

de 1989 não difere do NDVI médio obtido para o ano de 2010 (t=1,172, GL=427

p=0,242) (Figura 4). O desvio padrão do NDVI para a vegetação ripária desta mesma

região também não difere entre os anos de 1989 e 2010 (t=-1,675, GL=427, p=0,095).

<=

5

6 à

10

21

à 4

0

5 à

10

11

à 2

0

41

à 7

0

71

à 1

00

10

1 à

15

0

16

1 à

18

0

20

1 à

25

0

40

0 à

45

0

45

0 à

50

0

50

1 à

60

0

65

0 à

70

0

70

1 à

75

0

Hectares

0

2

4

6

8

10

12

14N

úm

ero

de

Pro

prie

da

de

s

20

à 5

0

80

à 1

00

14

0 à

20

0

22

0 à

25

0

55

0 à

60

0

75

0 à

90

0

10

00

à 2

00

0

21

00

à 3

00

0

31

00

à 4

00

0

42

00

`a

50

00

80

00

à 1

00

00

13

00

0 à

17

00

0

Hectares

0

2

4

6

8

10

12

me

ro d

e P

rop

rie

da

de

s

Page 147: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

146

Existe uma autocorrelação positiva entre os valores de NDVI médio do ano de

1989 da vegetação ripária localizada na zona de amortecimento da Flona de Silvânia

localizados a distância de 500 metros até mil metros (I de Moran=0,224, p=0,001),

sendo que a autocorrelação para classes de distância acima de um quilômetro não foram

significativas. A autocorrelação dos valores médios de NDVI de 2010 na zona de

amortecimento de Silvânia apresenta o mesmo padrão, estando correlacionada a

distâncias de 500 metros a 1000 metros (I de Moran=0,113, p=0,018). Existe uma

autocorrelação positiva entre a diferença do NDVI no ano de 2010 e 1989 localizados a

distância de 500 metros até mil metros (I de Moran=0,124, p=0,008).

Existe uma autocorrelação positiva entre os valores de NDVI médio do ano de

1989 da vegetação ripária localizada na zona de amortecimento do PNE nas classes de

distância de 500 metros até 1000 metros (I de Moran=0,380, p=0,001), de 1000 até

1500 metros (I de Moran=0,260, p=0,001), 1500 metros a 2000 metros (I de

Moran=0,183, p=0,001), 2000 a 2500 metros (I de Moran=0,100, p=0,003) e de 2500 a

3000 metros (I de Moran=0,110, p=0,001). O mesmo padrão de autocorrelação é

observado para os valores de NDVI médio de 2010 nas classes de distância de 500

metros até 1000 metros (I de Moran=0,500, p=0,001), de 1000 até 1500 metros (I de

Moran=0,371, p=0,001), 1500 metros a 2000 metros (I de Moran=0,252, p=0,001),

2000 a 2500 metros (I de Moran=0,196, p=0,001) e de 2500 a 3000 metros (I de

Moran=0,216, p=0,001). O mesmo padrão de autocorrelação ocorre para a diferença do

índice de vegetação entre os anos de 2010 e 1989 para a classe de distância de 500 a 1

Km (I de Moran=0,355, p=0,001), 1 Km a 1,5 Km (I de Moran=0,264, p=0,001), 1,5 a

2,0 Km (I de Moran=0,228, p=0,001), 2,0 a 2,5 Km (I de Moran=0,138, p=0,001) e 2,5

a 3,0 Km (I de Moran=0,216, p=0,001). O tamanho da propriedade rural não está

relacionado à média de NDVI da vegetação ripária inserida nos seus limites, tanto para

a zona de amortecimento do PNE (R2= 0,026, p=0,551), quanto para a zona de

amortecimento da Flona de Silvânia (R2= 0,070, p=0,094).

A média de NDVI na Zona de Amortecimento da Flona de Silvânia diminui com

o aumento do rebanho de gado, e com a proporção da área cultivada, porém aumenta

com o tamanho da propriedade (R2=0,236, p=0,002) (Tabela 1).

Page 148: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

147

A

B

Figura 4 – Relação entre à área da propriedade e o NDVI (média e desvio padrão) na

zona de amortecimento da Flona de Silvânia (A) e o Parque Nacional de Emas (B).

-0.2 0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0

Área Propriedade (log)

-0.1

0.0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

0.7

0.8

ND

VI

dio

em

20

10

R2=0,055, p = 0,059;

y = 0,269 + 0,235*x

-0.2 0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0

Área Propriedade (log)

0.0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

ND

VI

(De

svio

Pa

drã

o)

em

20

10

R2=0.007; p = 0,503;

y = 0.250 - 0.038*x

0.8 1.0 1.2 1.4 1.6 1.8 2.0 2.2 2.4

Área Propriedade (log)

-1.2

-1.0

-0.8

-0.6

-0.4

-0.2

0.0

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

1.2

ND

VI

dio

20

10

R2 = 0.122, p < 0,01

y = 0.903 - 0.511*x

0.8 1.0 1.2 1.4 1.6 1.8 2.0 2.2 2.4

Área Propriedade (log)

-0.2

0.0

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

1.2

ND

VI

(De

svio

Pa

drã

o)

em

20

10

R2=0,003; p = 0,303;

y = 0.301 + 0.031*x

Page 149: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

148

Tabela 1 – Efeito da área da propriedade, da proporção da área cultivada, da área

utilizada para a criação de animais e do tamanho do rebanho sobre o NDVI médio da

vegetação ripária na Zona de Amortecimento da Flona de Silvânia.

B

padro

SE t p

Área Propriedade (log) 0.520 0.184 2.827 0.006

Área Cultivada (%) -0.311 0.138 -2.259 0.028

Área Criação (%) -0.255 0.143 -1.783 0.081

Tamanho do Rebanho

(log) -0.055 0.024 -2.266 0.028

Figura 5 - Distribuição do NDVI da vegetação da hidrografia localizada no entorno da

Floresta Nacional de Silvânia.

Page 150: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

149

DISCUSSÃO

O processo de perda de vegetação ripária deveria ter sido maior na década de 80

para o entorno do PNE quando consideramos a chegada da fronteira agrícola na região,

porém, a vegetação ripária localizada no entorno desta unidade de conservação

apresenta o mesmo padrão de 20 anos, o que indica que a chegada da Fronteira Agrícola

à região não teve maiores impactos nessa vegetação. Já o processo associado a

degradação da vegetação ciliar na Zona de Amortecimento da Flona, deve ter sido

outro. Nesta, o contínuo dos corpos de água está sobre a influência de muitas

propriedades que mantém uma estreita relação com estes (e.g. consumo de água,

residência, a utilização com bombas de água para o cultivo de hortaliças, represamento

para o gado) e isto pode justificar uma perda da densidade de vegetação nestes últimos

20 anos, assim como uma maior autocorrelação da densidade de vegetação em escalas

menores.

Considerando que alterações da vegetação ripária por longos trechos poderia

comprometer a qualidade ambiental para os moradores que mantém estreita relação com

estas áreas em sua propriedade, utilizando os corpos de água como fontes para a água

consumida, ao contrário do que seria esperado pela tragédia dos comuns (Hardin 1968;

Hardin 1994), a alteração de um trecho a montante gera uma fiscalização e cobrança

pelos próprios moradores, permanecendo impactos em pequena escala.

O tamanho do rebanho das propriedades e a proporção da área dedicada ao

cultivo apresentaram uma relação negativa com a densidade da vegetação na Zona de

amortecimento da Flona de Silvânia. Considerando que o padrão tecnológico é baixo, o

aumento do rebanho conduz a um aumento do acesso do gado aos corpos de água e o

represamento dos cursos. Já uma relação negativa com a proporção da área cultivada e

aumento do NDVI com o tamanho total da propriedade indica que as pequenas

propriedades devem apresentar um maior impacto para conservação da vegetação

ripária, uma vez que para o aproveitamento da sua área poderia estender as áreas de

plantio até os limites das zonas ripárias.

Apesar de não existir diferença em relação à quantidade de áreas de agricultura

localizadas próximas a unidades de conservação de proteção integral e uso sustentável

(Dobrovolski et al. 2011) estas devem apresentar impactos diferentes quando

Page 151: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

150

consideramos estas duas categorias de áreas protegidas. Considerando que o tamanho

das zonas de amortecimento depende das pressões sócio-econômicas geradas pela

degradação de recursos na área core de unidades de conservação e um aumento do raio

de fiscalização (Robinson et al. 2013), a influência dos impactos nas zonas de

amortecimento de unidades de uso sustentável poderia ser maior, principalmente

quando consideramos que no Bioma Cerrado estas apresentam uma área menor quando

comparadas as unidades de proteção integral (Figura 6).

No presente caso, a influência da integridade da drenagem localizada dentro na

zona de amortecimento da Floresta Nacional de Silvânia para a manutenção de

processos ecológicos associados aos habitats de água corrente deve ser maior do que

naquela do Parque Nacional de Emas, principalmente quando consideramos o tamanho

da Unidade de Conservação e a representação da drenagem externa em relação à

drenagem interna. Estas questões podem ter impactos diretos sobre a delimitação do

tamanho das zonas de amortecimento (Robinson et al. 2013), neste caso ao invés de se

assumir um padrão para todas as categorias de unidades de conservação, dimensões

contextualizadas para a categoria da UC e o padrão da degradação da paisagem ao redor

deveriam ser considerados. Elas também são importantes quando consideramos a

localização de componentes do sistema de água doce importante para os processos

(Machado et al. 2009), como as nascentes e áreas de veredas, no caso da Floresta

Nacional de Emas, as nascentes dos principais cursos que adentram a unidade estão

localizadas na Zona de Amortecimento, o contrário do observado no PNE.

A conservação da vegetação ripária localizada ao redor das áreas protegidas é

uma medida de responsabilidade dos proprietários rurais que não inviabilizaria a

agricultura localizada no entorno na zona de amortecimento (Fleury & Almeida 2009).

Esta questão demostrada aqui com um estudo para as duas áreas protegidas da porção

central do Cerrado pode ser pensada para todas as áreas protegidas localizadas neste

Bioma onde estas estão inseridas em paisagens com grandes lavouras.

Page 152: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

151

Figura 6 – Tamanho médio das Unidades de Conservação de Proteção Integral e Uso

Sustentável localizadas no Bioma Cerrado.

Uso Sustentável Proteção Integral-1500

-1000

-500

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

3500

Áre

a (

Km

2)

F(1, 19)=4,449, p=0.048

Page 153: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

152

CONCLUSÃO

A integridade da vegetação ripária medida pelo NDVI foi menor na Zona de

Amortecimento da Unidade de Uso sustentável associada a pequenas propriedades.

Considerando as variáveis sócio-econômicas, como proporção da área da propriedade

dedicada ao cultivo e o tamanho do rebanho tem impactos diretos para valores menores

de NDVI, o que sugere que o processo de integridade das Zonas ripárias está associada

a exploração intensiva da propriedade no contexto da agricultura familiar, devido a

limitação de área disponível. Adicionalmente o tamanho do rebanho pode estar

associado ao padrão tecnológico baixo destas propriedades que inserem os corpos de

água como mecanismos de manejo da pecuária, associado ao represamento e ao acesso

do gado a estes ambientes.

Page 154: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

153

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Alexandre, B., Crouzeilles, R. & Viveiros Grelle, C.E. 2010. How Can We Estimate

Buffer Zones of Protected Areas? A Proposal Using Biological Data. Natureza

& Conservacao 8:165-170.

Arvor, D., Meirelles, M.S.P. , Vargas, R., Skorupa, L.A., Fidalgo, E.C.C., Dubreuil, V.,

Herlin, I. & Berroir, J.P. 2010. Monitoring Land Use Changes Around the

Indigenous Lands of the Xingu Basin in Mato Grosso, Brazil. International

Geoscience and Remote Sensing Symposium 3190-3193.

Carvalho, F.M.V., De Marco, P. & Ferreira, L.G. 2009. The Cerrado into-pieces:

Habitat fragmentation as a function of landscape use in the savannas of central

Brazil. Biological Conservation 142:1392-1403.

Dobrovolski, R., Loyola, R.D., De Marco, P. & Felizola Diniz-Filho, J.A. 2011.

Agricultural Expansion Can Menace Brazilian Protected Areas During the 21st

Century. Natureza & Conservacao 9:208-213.

Fleury, L.C. & Almeida, J.P. 2009. A conservação ambiental como critério de relações

entre grupos e valores: representações e conflitos no entorno do Parque Nacional

das Emas, Goiás. Ambiente & Sociedade 12:357-372.

Goncalves, C.N., Augusto Lima, L.H., Lintomen, B.S., Camargo Casella, P.L. &

Berlinck, C.N. 2009. Buffer zone: creation or delimitation? Natureza &

Conservação 7:130-135.

Goulart, F.F., Salles, P., Saito, C.H. & Machado, R.B. 2013. How do different

agricultural management strategies affect bird communities inhabiting a

savanna-forest mosaic? A qualitative reasoning approach. Agriculture,

Ecosystems & Environment 164:114-130.

Hardin, G. 1968. Tragedy of Commons. Science 162:1243-&.

Page 155: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

154

Hardin, G. 1994. The Tragedy of the Unmanaged Commons. Trends in Ecology &

Evolution 9:199.

Jones, C.S. & Schilling, K.E. 2011. From Agricultural Intensification to Conservation:

Sediment Transport in the Raccoon River, Iowa, 1916-2009. Journal of

Environmental Quality 40:1911-1923.

Kaligaric, M., Sedonja, J. & Sajna, N. 2008. Traditional agricultural landscape in

Goricko Landscape Park (Slovenia): Distribution and variety of riparian stream

corridors and patches. Landscape and Urban Planning 85:71-78.

Kintz, D.B., Young, K. R. & Crews-Meyer, K.A. 2006. Implications of land use/land

cover change in the buffer zone of a National Park in the Tropical Andes.

Environmental Management 38:238-252.

Lees, A.C. & Peres, C.A. 2008. Conservation Value of Remnant Riparian Forest

Corridors of Varying Quality for Amazonian Birds and Mammals.

Conservation Biology 22:439-449.

Machado, R.B., Neto, M.B.R., Silva, S.M., Camargo, G., Pinto, E., Fonseca, R.L..

Nogueira, C. & Ribeiro, E.P. 2009. Integrando padrões e processos para planejar

sistemas regionais de unidades de conservação. Megadiversidade.

Miziara, F. 2000. Condições estruturais e opção individual na formulação do conceito

de fronteira agrícola. in L. S. D. Silva, ed. Relações cidade-campo: Fronteiras.

Miziara, F. & Ferreira, N.C. 2008. Expansão da fronteira agrícola e evolução da

ocupação e uso do espaço no Estado de Goiás: subsídios à política ambiental.

Pages 107-125 in L. G. Ferreira, ed. A encruzilhada socioambiental:

biodiversidade, economia e sustentabilidade no cerrado. UFG.

Miziara, F. & Silva, M.A.D 2009. Práticas Produtivas e Geração de Renda em

Assentamentos de Reforma Agrária em Goiás.

Moreira, R.A., Ramos Neto, M.B., Machado, C.P., Gonçalves, D.A., Santos,

N.S.M.B.A.C., Machado, S.J.M. & Ferreira, R.G. 2005. Análise temporal do

Page 156: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PESQUISA E … · A área da Ecologia da Paisagem estuda o efeito de quanto existe de um determinado elemento (e.g. habitats de remanescentes

155

uso do solo nos municípios do entorno do Parque Nacional das Emas com a

utilização de imagens Landsat e CBERS-2. 633-641. Goiânia, Brasil, Anais XII

Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto.

Pinto, J. R. R., Sano, E.E., Reino, C.M. & Pinto, C.A.S. 2009. Parques nacionais do

cerrado e os tipos deformações vegetacionais preservados. Natureza e

Conservação 7:55-71.

Rangel, T.F., Diniz, J.A.F., & Bini, L.M. 2010. SAM: a comprehensive application for

Spatial Analysis in Macroecology. Ecography 33:46-50.

Rasmussen, J.J., Baattrup-Pedersen, A., Wiberg-Larsen, P., McKnight, U.S., &

Kronvang, B. 2011. Buffer strip width and agricultural pesticide contamination

in Danish lowland streams: Implications for stream and riparian management.

Ecological Engineering 37:1990-1997.

Robinson, E.J., Albers, H.J., & Busby, G.M. 2013. The impact of buffer zone size and

management on illegal extraction, park protection, and enforcement. Ecological

Economics 92:96-103.

Sano, E.E., Dambrós, L.A., & Oliveira, G.C. 2006. Padrões de cobertura de solos do

Estado de Goiás. Pages 76-93 in L. G. Ferreira, ed. Conservação da

Biodiversidade e Sustentabilidade Ambiental em Goiás: Prioridades,

Estratégias e Perspectivas. Ed. Canone, Goiânia.

Sano, E.E., Rosa, R., Brito, J.L.S., & Ferreira, L.G. 2008. Mapeamento semidetalhado

do uso da terra do Bioma Cerrado. Pesquisa Agropecuaria Brasileira 43:153-

156.

Sparovek, G., Berndes, G., Klug, I.L. & Barretto, A.G. 2010. Brazilian Agriculture and

Environmental Legislation: Status and Future Challenges. Environmental

Science & Technology 44:6046-6053.

UNESCO. 2011 Man and Biosphere. FAQ: Biosphere Reserves?

http://www.unesco.org.uk/uploads/biopshere%20reserves%20faq.pdf.