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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO ELISA CALVETE ULEMA RIBEIRO TRANSMIDIAÇÃO DOS CONTOS DE FADAS: A reescrita dos vilões em Once Upon a Time Cuiabá -MT 2016

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO ELISA ......Ela juntou-se a um grande grupo de viajantes iguais a ela. Todos tinham sonhos, e alguns até medo, e também a certeza de um caminho

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

ELISA CALVETE ULEMA RIBEIRO

TRANSMIDIAÇÃO DOS CONTOS DE FADAS:

A reescrita dos vilões em Once Upon a Time

Cuiabá -MT

2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

ELISA CALVETE ULEMA RIBEIRO

TRANSMIDIAÇÃO DOS CONTOS DE FADAS:

A reescrita dos vilões em Once Upon a Time

Trabalho de Conclusão de Curso, requisito para obtenção do

grau de Bacharel em Comunicação Social – habilitação

Radialismo, apresentado ao Departamento de Comunicação

Social, da Universidade Federal de Mato Grosso.

Orientadora Profª. Drª. Lúcia Helena Vendrúsculo Possari

Cuiabá – MT

2016

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AGRADECIMENTO

Em um trabalho sobre Contos de Fadas, meu agradecimento não poderia começar sem

um "Era uma vez".

Era uma vez uma garota que se sentia perdida. Após anos de caminhada, ela ainda não

conseguia se encontrar. Não sabia se era fada, se era guerreira, se era boba da corte ou

camponesa. Então ela decidiu se aventurar em uma nova jornada. Uma jornada que

deveria durar em volta de quatro anos e que traria consigo novos conhecimentos, novas

aventuras e novas dificuldades. E assim ela deu seu primeiro passo.

Junto a ela, encontrou três fadas e um pequeno grande príncipe. Os quatro amigos eram

amantes da literatura e dos sonhos, assim como ela. Em vários momentos, a

acompanharam e a apoiaram quando não sabia o que fazer. À Marília, Elexandra,

Alinee e Julian, não sei como agradecer.

Ela juntou-se a um grande grupo de viajantes iguais a ela. Todos tinham sonhos, e

alguns até medo, e também a certeza de um caminho novo. Ela se aproximou de alguns,

que muito a ajudariam. Colegas e amigos de viagem que com ela, o caminho

percorreriam. À Cláudia, Karina, Yuri, André e Guilherme, obrigada pela companhia. O

que não seria da viagem sem suas presenças no dia a dia?

Então ela encontrou um sábio, com olhar distraído e muito a ensinar. A apresentou para,

veja só, o Papai Noel, que estava sempre a ajudar. E graças a eles, nessa jornada,

houveram tantos novos caminhos, que levaram a Barão, a Santo Antônio, Livramento e

mais conhecimento. Obrigada, professor Dielcio e Clóvis por tanto me ensinarem. Se

estou aqui hoje, em parte é por vocês sempre, a ser melhor, me desafiarem.

Mas os dois eram tão ocupados que não podiam sempre ajuda-la. A apresentaram a dois

amigos que saberiam auxilia-la. Um, veio do oriente e trouxe toda sua sabedoria. O

outro, jogado e de óculos, lhe ensinou fotografia. Daniel e Gabriel, o que seria de mim

sem vocês? A amizade e parceria que me mostraram é algo que jamais deixarei.

O sábio ainda percebeu que ela tinha muito a aprender. Não só com as aulas, mas com o

planejamento e o fazer. Colocou-a em um lugar que precisava trabalhar. E lhe

apresentou duas pessoas sempre dispostas a ensinar. Priscilla e Caio, que tanto me

aguentaram, obrigada, por esses anos de risadas, birras, pautas e UFMT. Ciência.

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E ainda nessa caminhada, há quem lhe faça dar risadas. São amigos que a gente faz e

não consegue deixar pra trás. Alguns vem desde o começo e outros só chegam no final.

O que importa é que essas pessoas te ajudam a combater seu próprio mal. Karina, Gih,

Thiago e Alexander. Obrigada por terem sustentado meus passos quando eu quis

fraquejar.

E no meio do caminho, ela reencontrou alguém. Não sabia se era homem, se era

príncipe, se era bobo ou se era rei. No final, ele era um anjo, e pro céu precisou voltar.

Nossa viajante sentiu-se triste e não sabia mais como andar. Foi quando ela encontrou

pessoas tão especiais. Que se tornavam mais humanas e mais risíveis nos hospitais. Lhe

deram um nariz vermelho, um jaleco branco e disseram, vai! Vai que existem muitos

anjos que estão morando nos hospitais. Juninho e Thainá, jamais deixarei de agradecer,

pelo instrumento de cura que vocês foram no meu ser.

E nessa nova jornada ela encontrou com quem rir. Não se substitui um amigo, mas

outros te levantam quando cair. Aninha, Lissya, Carol, Nashoa, Eustáquio, Larissa,

Max, Mary, Joel, Isac e Mateus... obrigada. Não há o que falar. Só mais uma vez

obrigada, por me ajudar em meu caminhar.

E no fim, ela precisava se apressar. Sua jornada estava no fim e havia muito em que

trabalhar. Com ajuda de muitos sábios, seu trabalho terminou. O caminho se acabava, o

tempo se esgotou. Professora Lúcia Helena, obrigada por me orientar. Professora Vera,

obrigada por me escutar. Aos professores da banca, Professor Pedro Pinto, Aline,

Dielcio e Diego, obrigada por me avaliar. E professora Sílvia, obrigada por meu texto

revisar. São os últimos passos que dou antes da jornada acabar.

E ao olhar pra frente, viu sua família, pai, mãe e irmã que estavam ao ouvi-la. Mesmo

sendo um dos últimos a serem contemplados, um dos mais especiais agradecimentos é o

de vocês, por terem me acompanhado onde venci e onde falhei. Obrigada pela

oportunidade e obrigada por ser minha família. Porque essa família não é perfeita, mas é

minha.

E antes de dar o passo final, a viajante lembrou-se de todos os momentos. Dos bons, dos

ruins, das tantas risadas e do grande número de lágrimas. Se deu conta que em nenhum

momento esteve sozinha, pois mesmo quando assim parecia, ela tinha o grande guia. E

por fim, agradeço a Deus, meu pai, meu amigo. Aquele que nunca desistiu de mim

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mesmo quando eu não estava feliz comigo. Papai, obrigada por não ter me deixado só.

Obrigada por ter me amado mais do que tudo. Se me senti perdida, é porque não te ouvi.

E se hoje tenho alegria é porque não vivo mais sem ti.

E no fim, não é o fim, mas é outro começo. Uma nova jornada, novos passos e novos

tropeços. E nesse final, depois de tanto aprendizado, posso dizer que me encontrei. Sou

humana, sou palhaça, sou filha do Rei. Mas por mais que não seja o final, eu posso dizer

que sou feliz. Levo comigo a alegria de sempre e a fé, esperança e amor que não tem

fim.

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DEDICATÓRIA

A Deus, o meu

amor maior, melhor e inigualável. Aquele que me

sustentou em todas as minhas dores, enxugou

todas as minhas lágrimas e compartilhou comigo

a sua imensa alegria.

E aos meus pais,

que concordaram que eu fizesse um segundo

curso, e por mais que não entendessem, apoiaram

e sustentaram uma das minhas mais loucas

decisões.

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Portanto, agora permanecem esses três:

a fé, a esperança e o amor.

Mas o maior deles é o amor.

(Paulo de Tarso, I carta à igreja de Corinto

Capítulo 13 verso 13)

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Resumo:

Este estudo tem como objeto a série Once Upon a Time, no cenário Netflix. Trata-se de

verificar de que maneira as personagens Rumplestitskin, Rainha Má e Capitão Gancho

se apresentam nesse contexto midiático. O que instigou a pesquisa foi, primeiramente,

constatar que as narrativas dos contos de fadas se modificam a cada mídia em que são

apresentadas: do oral à escrita, da escrita ao audiovisual, do audiovisual, do filme ao

audiovisual para a TV, presente também na Netflix. Objetivei, dessa forma, estudar as

características das personagens adaptadas/transmidiadas nessa contemporaneidade. A

pesquisa é de abordagem qualitativa. Descreve-se e se analisa comparativamente os

personagens no percurso modificado da narrativa, em cada plataforma/mídia que a

acolheu, ou foi escolhida para tal.

Palavras-chave: adaptação/transmidiação; contos de fadas; mídias

contemporâneas

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Sumário

Introdução ......................................................................................................................... 9

1. Da oralidade à TV: As várias maneiras de se narrar os contos de fadas .................... 13

1.1. Literatura oral, livros e teatro............................................................................... 14

1.2. Cinema: Contos materializados nas telas ............................................................. 16

1.2.1. Uma breve história do cinema ......................................................................... 17

1.2.2. A história dos contos no cinema ....................................................................... 18

1.3. TV: Contos de fadas na sala de casa .................................................................... 20

1.3.1. Breve história da TV ..................................................................................... 20

1.3.2 Contos de Fadas na TV: Seriado .................................................................... 21

1.3.3. Tv: A magia do hibridismo .......................................................................... 22

2. Era uma vez na transmidiação: elementos narrativos audiovisuais ........................... 25

2.1. O personagem de ficção ....................................................................................... 28

3. Era uma vez no reino televisivo ................................................................................ 33

3.1. Rumplestiltskin: Da covardia ao poder das trevas ............................................... 34

3.1.2. Covardia em abandono em uma estrada que leva às trevas .......................... 42

3.2. Regina: As consequências de um coração que se feriu. ....................................... 50

3.2.3. Espelho, Espelho, meu .................................................................................. 60

3.3. Um Gancho no lugar de um coração: A história de Kilian Jones ........................ 65

3.3.1. Olhos azuis como o miosótis ......................................................................... 70

Considerações: Ao sabor de linhas de fuga .................................................................... 78

REFERÊNCIAS: ............................................................................................................ 80

REFERÊNCIAS EPISÓDIOS ........................................................................................ 82

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Sumário de fotos:

Foto 01: Rumplestiltskin e Baelfire .......................................................................................... 35

Foto 02: Adaga suja com o sangue de Zoso com o nome de Rumplestiltskin ......................... 36

Foto 03: Rumplestiltskin transformado em The DarkOne ....................................................... 37

Foto 04: Rumpelstiltskin e Bela no castelo do Senhor das Trevas. .......................................... 38

Foto 05: Xícara lascada de Bela em uma espécie de altar. ....................................................... 39

Figura 06: Rumpelstiltskin nesse mundo é o Senhor Gold ...................................................... 40

Foto 07: Ilustração Rumplestiltskin por Veruscha Guerra ....................................................... 44

Foto 08: Regina e Daniel .......................................................................................................... 51

Foto 09: Regina e Cora momentos antes do casamento ........................................................... 52

Foto 10: Regina como Rainha Má ............................................................................................ 53

Foto 11: Regina entregando a maçã envenenada à Branca de Neve ........................................ 54

Foto 12: Regina como prefeita de Storybrooke ........................................................................ 55

Foto 13: Regina e Robin Hood ................................................................................................. 58

Foto 14: Regina e Branca de Neve no livro: inversão de papéis. ............................................. 60

Foto 15: Ilustração Rainha Má por Veruscha Guerra ............................................................... 61

Foto 16: Kilian Jones como oficial da Marinha ....................................................................... 66

Foto 17: Kilian como pirata ...................................................................................................... 66

Foto 18: Gancho e Emma têm uma noite de contos de fadas ................................................... 69

Foto 19: Ilustração de F. D Bedford para Peter and Wendy de J.M Barrie .............................. 72

Foto 20: Ilustração de F. D Bedford para Peter and Wendy de J.M Barrie ............................ 73

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Introdução

A literatura infanto-juvenil passou por diversas mudanças de plataformas

midiáticas. Primeiro, as histórias eram contadas oralmente. Depois, houve registros de

algumas dessas histórias e novas foram escritas por outros autores. Com a tecnologia,

essas histórias estavam em fitas, discos e películas. Hoje, é possível encontrá-las na TV,

no cinema e na internet.

O objetivo do trabalho a ser realizado é discutir a transmidiação dos contos de

fadas e contos infantis para a televisão focando a reescrita da personalidade e da história

dos vilões na série televisa Once Upon a Time1.

A série norte-americana teve sua estreia em 2011 e conta a história de quando os

personagens de histórias infantis são trazidos para esse mundo por causa de uma

maldição lançado pela Rainha Má, Regina, que busca vingança. Tirar o final feliz de

todos, inclusive sua inimiga, Branca de Neve, é o que ela planejou ao lançar o feitiço.

Para isso, ela os envia a um lugar em que não existe mágica, finais felizes e que todos

estariam presos no tempo, sem envelhecer. Antes de a maldição atingir seu objetivo,

Branca de Neve e o Príncipe Encantado conseguem enviar sua filha recém-nascida,

Emma, a esse mundo- o mundo real- para que, futuramente, ela possa ser a pessoa que

quebre a maldição, a salvadora. Ao serem atingidos pelo feitiço, os personagens são

trazidos para cá e passam a viver em uma cidade chamada Storybrooke, no Maine, sem

se lembrar de suas vidas passadas e sem envelhecer. Além dos eventos lineares que

contam a história no tempo real em Storybrooke, a série mostra o passado de todos os

personagens. Por isso, descobrimos porque Rumpelstiltskin se tornou The Dark One2,

porque o Zangado é zangado, porque a Rainha Má odeia Branca de Neve, dentre outros.

A relação com o audiovisual é a escrita de roteiro literário, a adaptação de contos

e histórias da Literatura Infanto Juvenil que passaram por processo de transmidiação e

convergência midiática para o audiovisual. Entretanto, ao contrário do que se via em

maior número, não é apenas o cinema que recebeu essa transmidiação. Once Upon a

Time é uma série televisa cuja exibição é pelo canal ABC Family. Também é possível

1 Era uma vez (tradução do autor). A proposta do título é devido à frase que inicia várias histórias dos

contos de fadas: Era uma vez em um reino distante... 2 "Senhor das trevas" ou "O Sombrio", dependendo da tradução. É o feiticeiro mais poderoso que existe e

trabalha na base dos acordos.

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encontrar os episódios da série em sites de download e no Netflix. Atualmente, Once

Upon a Time está exibindo a sua quinta temporada.

A complexidade do enredo e dos personagens pode ser devido ao tempo de

narrativa da série. Mesmo um filme possui um tempo de duração pequeno. A série,

atualmente, possui quatro temporadas lançadas, tendo cada uma delas vinte e três (23)

episódios de, aproximadamente, quarenta e três minutos cada. Sendo assim, é possível

explorar em sua escritura, detalhes do enredo, características dos personagens, e a

história por trás da história de cada personagem de contos de fadas. Ao ser escrita, o

objetivo da série era mostrar o outro lado da história de Branca de Neve, Príncipe

Encantado, Rainha Má, Rumplestilskin, Capitão Gancho entre outros personagens3.

O objetivo geral desse trabalho é discutir a transmidiação e a reescrita dos vilões

de Contos de Fadas para a série Once Upon a Time. Para isso, foi necessário,

primeiramente, uma revisão do material bibliográfico, consultando tanto teóricos da

comunicação quanto os da literatura infanto-juvenil. Em seguida, após escolher os três

personagens a serem analisados, os contos e histórias foram lidos a fim de obter as

comparações entre os personagens literários e os audiovisuais. Do mesmo modo, assisti

aos episódios da série e analisados até o último episódio da quarta temporada. Fez-se

necessário relacionar as características e histórias dos personagens e enredo do

audiovisual com os da literatura. Finalmente, foi observada a transmidiação desses

personagens na série Once Upon a Time.

Este trabalho se acrescenta aos estudos de transmidiação, no caso, abordando a

literatura infanto juvenil.

A importância desse estudo, a meu ver, é mostrar as mudanças complexas que

essa recriação traz ao enredo e personagens das histórias. Eles se entrelaçam

construindo uma história que começa muito antes do Era uma vez tradicional e tem

continuidade além de viveram felizes para sempre.

A relação que isso traz ao audiovisual é a escrita do roteiro literário e construção

de personagens para tal, sem abandonar características principais dessas histórias (como

a maçã envenenada, por exemplo) mas, contando, também, outras histórias no decorrer

da narrativa. Por se tratar de uma narrativa televisiva, também é importante demonstrar

as mudanças que ocorrem quando uma história é adaptada/transmidiada.

3 Em entrevista, os autores Adam Horowitz e Eddy Kitsis explicam que um dos focos da série é mostrar a

história por trás da história dos personagens que compõem o enredo.

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O objetivo do trabalho é uma demonstrar o novo texto para transmidiação dos

contos de fadas, com foco nos vilões, na série televisiva norte-americana "Once Upon a

Time". A ideia é comparar a maneira como esses personagens foram reescritos,

deixando de ser os personagens planos da literatura infanto-juvenil e se transformam em

personagens redondos adaptados para a mídia contemporânea. Da mesma forma, esses

personagens deixam de ser os antagonistas das histórias dos mocinhos e passam a ser os

protagonistas de suas próprias histórias.

A abordagem da pesquisa é qualitativa. Foi necessária uma pesquisa

bibliográfica de suporte teórico, seguida de pesquisa documental – a própria pesquisa

dos textos-objeto, delimitando o cenário para a Netflix.

O tema foi escolhido devido a uma identificação. Desde minha graduação em

Letras, a literatura infanto-juvenil me desperta fascínio e curiosidade. Desde a infância

fui cercada tanto por produtos literários, os contos infantis, quanto os audiovisuais,

filmes e desenhos animados para TV. Ao descobrir a relevância que essa literatura tinha

na formação do ser humano, o meu interesse não ficou apenas em gostar, mas acabou se

tornando, também, acadêmico. Ao ingressar no curso de Comunicação Social, cursei

uma disciplina do primeiro semestre, Fundamento das Mídias, percebi que os estudos de

transmidiação englobavam algo pelo qual eu era apaixonada e se acrescentava a outro

produto pelo qual descobri ser apaixonada ao longo da minha graduação: o produto de

ficção audiovisual.

Ao assistir a Once Upon a Time, percebi algo que me intrigou: os personagens

tinham um motivo para ser da maneira que eram. Em sua jornada, com o tempo, eles

passavam por diversos eventos que iam moldando suas personalidades e características.

Isso me intrigou, pois, como alguém que estudou os personagens em minha graduação

em Letras, sabia que, nos contos, os personagens eram representações do bem ou do

mal, não existia uma jornada que os levariam a desenvolver seu lado bom ou ruim.

Pensando nessa diferença de narrativa e de construção de personagem, veio-me a

indagação que me instigou pesquisar este tema.

Para isso, primeiro senti a necessidade de explanar, rapidamente, a história e

teoria dos contos de fadas, desde o momento em que eram literatura oral até seu registro

nos livros pelos irmãos Grimm e Esopo, passando também por grandes nomes de

autores, como Hans Christian Andersen. Por isso, no capítulo 01, como base literária,

dialoguei com a professora Nelly Novaes Coelho, pesquisadora no assunto, e Bruno

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Bettelheim, autor que estuda a importância desses contos na construção do ser humano.

Em seguida, sabendo que os produtos audiovisuais têm seu início na história do cinema,

procurei em Philip Kemp um pouco da história dessa arte e de como os contos passaram

a fazer parte das narrativas cinematográficas. Com Miriam de Souza Rossini,

dialogando com outros autores, descrevemos como a televisão e seus produtos são

híbridos de outras narrativas audiovisuais, enfocando o cinema. Também dialoguei com

Juremir Machado da Silva sobre o imaginário. No capítulo 02, trabalhei a narrativa

audiovisual, com o auxílio de Graeme Turner e seu diálogo com o teórico Vladimir

Propp. Logo após, dissertei sobre a classificação e construção de personagem de ficcção

em audiovisual com Afrânio Coutinho, Doc Comparato e Antônio Cândido. Apenas

depois dessa teorização, narrei a jornada dos três personagens escolhidos,

Rumplestiltskin, Regina e Capitão Gancho para adentrar na análise comparativa desses

personagens com os originais, no capítulo 03. É importante trazer a história dos três

personagens, pois, é esse enredo que trabalha a personalidade de cada um. A análise

comparativa entre personagem televisivo e personagem literário veio em seguida da

história dos personagens.

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1. Da oralidade à TV: As várias maneiras de se narrar os contos de fadas

Imagine uma noite fria, cuja fonte de aquecimento e conforto é uma fogueira. Ao

redor dela, estão sentados homens e mulheres, cansados de um longo dia de trabalho nas

casas e salões de seus senhores. São servos que se encontram diariamente para combater

o frio das noites europeias e ouvir músicas e histórias. Entre eles, estão jovens, idosos e

crianças. Todos estão atentos às trovas que são cantadas e histórias contadas. Nessas

histórias, surgem elementos do folclore local: fadas, bruxas, gnomos e duendes; seres

que sabemos que existem apenas nos contos de fadas. Aliás, esse é o início de tudo: o

princípio de contos que sobreviverão muitas gerações e serão contados em um mundo

moderno de uma maneira diferente dos seus primórdios. Como por exemplo, a história

de uma sereiazinha que vivia no fundo do oceano, contada pelo escritor Hans Christian

Andersen, e que foi adaptada para o longa de animação "A Pequena Sereia" dos

estúdios Disney, em 1989. Ao invés das páginas ou da oralidade, são usadas

plataformas midiáticas e tecnológicas que os contos antigos classificariam como mágica

ou bruxaria. Sejam narrados em livros, vídeo, filmes cinematográficos, áudio livros e

séries televisivas, os contos de fadas permanecem fortes em nossa cultura do século

XXI e têm suas histórias adaptadas e inovadas.

Ao mudar a plataforma, deve-se trabalhar o conceito de transmidiação. Para isso,

usaremos Vincete Gosciola (2012):

A cultura transmídia, em que pese o seu passado anônimo, se faz

fortemente presente na cultura contemporânea mediada pelas

tecnologias informacionais de comunicação e informação (TICs);

novas possibilidades de comunicação surgem e se disseminam

continuamente. (GOSCIOLA, 2012, p.132)

Além de sua história ser contada por outra plataforma (no caso, o audiovisual),

devido às novas tecnologias e rapidez de informação, surgem novos produtos e novas

histórias. Um exemplo são os fanlabors, trabalhos feitos por fãs e disponibilizados em

sites na internet. Quanto aos novos produtos midiáticos, como os filmes e séries

baseados em histórias já existentes, Comparato (2000), fala sobre a recriação, quando o

roteirista se aproveita da essência da história e desloca seus personagens para outro

tempo e espaço, criando uma nova estrutura.

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Para melhor compreensão da importância desses contos (chamados de literatura

infanto-juvenil) na formação do ser humano, será necessário um trajeto desde a

literatura oral, aos livros, teatro e, finalmente, aos meios de comunicação tecnológicos

modernos. Esse percurso será feito a seguir.

1.1. Literatura oral, livros e teatro

Antes do percurso, é necessário compreender o contexto sócio histórico da

época. A compreensão da noção de infância e crianças, a quem essas histórias eram

direcionada, também é importante.

Não é possível datar o início da literatura infanto-juvenil, embora, alguns autores

considerem François de Fénelon (1652-1715) um dos pioneiros dessa arte. (SILVA,

2009). Entretanto, o que é mais defendido é a característica folclórica e oral dessa

literatura.

A princípio, a literatura infanto-juvenil era considerada parte de um folclore do

povo, uma literatura popular (COELHO, 2014) e não apresentava traços infantis. As

histórias eram contadas pelos camponeses, pessoas que não sabiam ler ou escrever, já

que o aprendizado dessas habilidades era para os senhores. As histórias eram passadas

de pai para filho, de geração em geração. A noção de infância também não existia. Os

pequenos eram tratados como pequenos adultos: vestiam-se e trabalhavam tal como os

pais.

A criança é vista como um "adulto em miniatura", cujo período de

imaturidade (a infância) deve ser encurtado o mais rapidamente possível. Daí

a educação rigidamente disciplinadora e punitiva; e a literatura exemplar que

procurava levar o pequeno leitor a assumir, precocemente, atitudes

consideradas "adultas". (COELHO, 2014, p. 23)

As histórias continham fundo pedagógico, passavam lições para a vida e

alertavam sobre os perigos que poderiam ser encontrados. Os detalhes macabros e

sombrios não eram filtrados, comparando-se com as versões atuais. Em Chapeuzinho

Vermelho, por exemplo, a garota chega a se deitar com o lobo na cama da avó e ambas

terminam a história sendo devoradas pelo lobo. O lobo, na era medieval, era um perigo

real, e ao contrário do que a história nos diz, a probabilidade de um caçador salvar a

vida de alguém era praticamente nula. Por isso, lições de moral, como a obediência aos

pais e senhores e avisos sobre os perigos da vida real, eram ingredientes essenciais nas

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narrativas. Por se tratar de pequenos adultos a periculosidade da vida não era narrada de

maneira eufêmica ou figurada. Pelo contrário: as histórias apresentavam cenas

sangrentas e macabras, que, hoje em dia, não são consideradas saudáveis para que uma

criança leia ou veja. Ao se criar o medo naquela pessoa, ela evitava caminhos que a

levariam para castigos de seus senhores ou caminhos solitários na floresta que poderiam

leva-la à morte.

A partir do século XVII, vários textos e histórias passaram a ser resgatados e

registrados. Dentre essas pessoas que realizaram esses trabalhos, destacam-se Ésopo

(século XVII), La Fontaine (século XVII) e os irmãos Grimm (século XIX). Com o

registro, as histórias ganharam espaço dentro da literatura e a ser conhecidas. Além

disso, não carregam apenas o teor pedagógico, mas passam a constituir, também,

literatura de entretenimento. Essa literatura, porém, não perdeu sua carga pedagógica,

prezando sempre por um fundo moral.

Essa literatura passa a apresentar três diferentes características e de visão de

mundo, de acordo com Coelho (2014): do mundo real, originados da força bruta e do

direito do mais forte com representação da narrativa do simbolismo animal, como por

exemplo, Chapeuzinho Vermelho; do mundo das metamorfoses, que resulta da fusão do

mundo real e transreal. É nesse tipo de história que são encontrados seres maravilhosos

(por exemplo, as fadas), seres superiores (realeza) e os seres servis (plebeus), como

Cinderela, por exemplo; do mundo cristão, no qual a vida terrena é vista como

passageira e que as virtudes são exaltadas e o vício ou pecado dignos de punição, cujo

maior representante é Hans Christian Andersen, autor de O Patinho Feio, A Pequena

vendedora de fósforos e A Pequena Sereia.

Compreende-se que, mesmo com o processo de convergência, saindo da

oralidade e sendo registrados em livros, essas histórias não perdem sua característica

principal, o imaginário, a representação do mundo real.

Num sentido mais convencional, o imaginário opõe-se ao real, na medida em

que, pela imaginação, representa esse real, distorcendo-o, idealizando-o,

formatando-o simbolicamente. Numa acepção mais antropológica, o

imaginário é uma introjeção do real, a aceitação inconsciente, ou quase, de

um modo a ser partilhado com outros, com um antes, um durante e um depois

(no qual se pode interferir e maior ou menor grau). O imaginário é uma

língua. O indivíduo entra nele pela compreensão e aceitação das suas regras;

participa dele pelos atos de fala imaginal (vivências) e altera-o por ser

também um agente imaginal (ator social) em situação. ( SILVA, 2003, p.9)

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Essa representação, segundo Coelho (2014), nos ajuda a compreender a

singularidade de cada momento em que essas histórias foram criadas e contadas. Da

mesma maneira, é possível compreender as modificações, sejam elas pequenas ou não, e

adaptações do conteúdo dessas histórias.

Outro ponto interessante de se observar nessas histórias é a maneira como os

personagens são escritos. Bettelheim (2009) afirma que, ao escreverem vilões e heróis,

tratava-se de passar uma mensagem às crianças. O herói era uma personificação do

bem, o exemplo a ser seguido e, consequentemente, tinha um final feliz. O vilão,

personificação da maldade, era de todo ruim e tinha finais ruins: morte, banimento,

prisões dentre outros. Essa visão do personagem é parte essencial para o nosso estudo e

será trabalhada com maior meticulosidade adiante.

Enquanto os livros chegavam às mãos de crianças e adultos, as histórias

passaram a ser narradas e adaptadas também para o teatro. Da mesma maneira, algumas

histórias fizeram o processo inverso: os roteiros teatrais se tornaram livros. Um exemplo

disso é a história de Peter Pan, escrito por James Matthew Barrie. Ele era um escocês

que se mudou para a Inglaterra e escrevia peças teatrais. A Terra do Nunca foi o cenário

escolhido para uma peça que tinha como público alvo os adultos. Por causa dos

elementos mágicos, como as fadas e sereias, a história de Peter Pan foi adaptada para os

livros e passou a ser considerada infanto-juvenil.

Da oralidade aos livros e dos livros ao cinema. Com a chegada dessa nova

mídia, as histórias que eram contadas e lidas para as crianças são narradas por outra

plataforma midiática: o cinema.

1.2. Cinema: Contos materializados nas telas

Quando os irmãos Lumière fizeram a exibição de "A saída dos operários da

fábrica Lumière", deram início a uma das artes mais populares em nossa sociedade. O

que eles talvez não imaginaram é que, graças a isso, muitos dos os personagens que

líamos nas páginas e tomavam forma em nossa mente, teriam forma e movimentos nas

telas dos cinemas. No entanto, a arte cinematográfica passou por diversos caminhos e

evoluções até chegarmos ao ponto de exibir a mágica dos contos de fadas em suas telas,

como veremos a seguir.

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1.2.1. Uma breve história do cinema

A primeira mostra cinematográfica aconteceu em 1895, com a exibição do filme

"A saída dos operários da fábrica Lumière. Em dezembro os irmãos organizaram a

primeira sessão paga de filmes. E assim nasceu uma arte e um entretenimento que

rapidamente se espalharam universalmente. (KEMP, p. 8).

Tão rápido quanto o cinema, surgiram os gêneros cinematográficos. Graças a

George Meliès, ex-ilusionista, os filmes de fantasia, terror e ficção científica ganharam

seu espaço no cinema. Meliès aproveitava a técnica que usou nos palcos a vida inteira

para trazer ao cinema o mundo da fantasia e do imaginário. Seus filmes tiveram os

primeiros efeitos especiais e seus atores eram vestidos com figurinos de reis, fadas e

outros seres que existem na imaginação e nos livros de contos.

Logo no início da evolução do cinema, alguns pioneiros perceberam o

potencial da sétima arte para apresentar o misterioso, o apavorante, o

fantástico e o sobrenatural. O cineasta francês Georges Meliès (1861- 1948)

foi o primeiro a explorar esse terreno, agarrando-se às possibilidades da

câmera lenta, da câmera rápida, da superposição, da animação quadro a

quadro, das fusões e de todos os demais truques engenhosos que o cinema

poderia pregar nas plateias maravilhadas, perplexas ou aterrorizadas. (KEMP,

2011, p. 40).

Graças ao invento dos irmãos Lumière e a engenhosidade de Meliès, os contos

de fadas, com o tempo, saíam dos palcos e dos livros e ganhavam vida nas telas. Para

trazer a veracidade ao que víamos, o cinema modificou-se ao longo do tempo.

Primeiramente, com o som, que antes era feito por músicos nas salas de cinema e,

posteriormente, o cinema tinha fundo musical:

Poucos filmes mudos eram totalmente silenciosos e os acompanhamentos

musicais iam desde solos de piano até orquestras completas. Durante os anos

1920, houve tentativas de se unir diálogo e músicas às imagens em

movimento, o que levou a O Cantor de Jazz (1927), que continha canções e

trechos falados. (KEMP, 2011, p. 71)

Agora, era possível materializar o que tanto encantava e aquilo que estava

sempre presente desde os primórdios da humanidade: o imaginário.

O cinema foi marcado por uma série de evoluções que traziam maior veracidade

à história que era narrada.

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O segundo século do cinema parece destinado a assistir a mudanças

revolucionárias nessa forma de arte e possivelmente sua metamorfose em

algo radicalmente diferente. Nas últimas décadas, com o advento e a

crescente sofisticação das imagens geradas por computador (CGI), o cinema

se tornou cada vez mais conduzido pela tecnologia cinematográfica- som, cor

e widescreen (tela panorâmica) -, embora tivessem um impacto profundo,

permaneceram subordinados ao processo de produção cinematográfica.

Mesmo quando suas palavras podiam ser ouvidas e as ações vistas em

tecnicolor, em telas imensas, os atores ainda atuavam diante de uma câmera

em um estúdio ou locação, como antes. Porém, os computadores

revolucionaram o cinema de live-action talvez mais do que a animação.

(KEMP, 2011, p. 12).

A evolução do cinema, consequentemente, trouxe evoluções tecnológicas à

narrativa. As imagens geradas por computador possibilitaram a criação de personagens

e cenários com detalhes e sofisticações que acrescentavam veracidade e riqueza de

detalhes à composição de quadros da narrativa cinematográfica.

Devido a isso, foi possível criar o cenário de grandes produções, como, a série

"Senhor dos Anéis", "As Crônicas de Nárnia", "Vingadores" e os últimos filmes de

"Star Wars"). Efeitos especiais são aqueles feitos na produção, como a maquiagem,

figurino, iluminação etc. Os efeitos visuais são aqueles gerados na pós produção, como

a inserção de cenário, por exemplo. Por mais que hajam efeitos especiais os efeitos

visuais, estão cada vez mais presentes, construindo cenários, reinos e, até mesmo,

incorporando personagens.

1.2.2. A história dos contos no cinema

Os contos de fadas já tinham o seu lugar mesmo no cinema mudo. Em 1903, foi

produzido "Alice no País das Maravilhas". O filme era britânico e continha efeitos

especiais do encolhimento da protagonista e cenários com salas com muitas portas, por

exemplo. Em 1933, no centenário de Lewis Carrol, outra versão da história foi filmada.

Trinta anos depois do primeiro conto a ser adaptado ao cinema, essa versão era

inovadora por ser o primeiro filme de histórias infanto-juvenil com som. (ADORO

CINEMA, 2016).

No entanto, foi a Walt Disney Pictures uma das maiores produtoras desses

filmes e responsável pela popularização das histórias nessa nova plataforma midiática.

Foi também a pioneira em produzir longa metragem em cores. Branca de Neve e os sete

anões chegaram aos cinemas no ano de 1927 (The Walt Disney Studios). A princesa de

pele alva como a neve e cabelos negros como a noite foi a protagonista do primeiro

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filme da chamada era de ouro, em que a produtora passou a lançar vários filmes de

animação que encantaram gerações. Mas, trazer um longa em cores não foi a única

inovação que o filme ofereceu. A intenção de Disney era provar que as animações não

serviam apenas para as vinhetas exibidas antes da atração principal. Do mesmo modo, o

cinema era frequentado por crianças, mas era um programa de entretenimento adulto:

A tentativa de Walt Disney de provar que a animação não servia apenas para

curtas-metragens e vinhetas exibidas antes das atrações principais- e que

poderia competir com filmes "de verdade" como palco de grandes histórias,

emoções e reais expressões artística- foi chamada de "a loucura de Disney".

Embora isso possa parecer óbvio, na época, as ambições do animador foram

consideradas uma extravagância. O cinema era uma arte "para adultos" e

quase não se viam filmes realizados exclusivamente para crianças. Branca de

Neve e os Sete Anões foi o primeiro longa-metragem de animação produzido

em Hollywood e distribuído em todo o mundo. (KEMP, 2011, p. 146).

Disney não parou por aí. Ele e seus Nine Old Mans (os nove veteranos,

principais animadores do estúdio) lançaram cinco filmes que mudaram a história da

animação ocidental, até então:

entre 1937 e 1942, lançaram Branca de Neve e os sete anões (1937),

Pinóquio (1940), Fantasia (1940), Dumbo (1941) e Bambi (1942). Cada um

desses filmes é um marco cultural, e, à sua maneira, pioneiro- como no caso

de animação e gravação sonora estereofônica de Fantasia ou do equilíbrio

entre momentos de grande emotividade e passagens sombrias em Pinóquio e

Bambi. (KEMP, 2011, p. 144).

Desde então, era possível ir ao cinema e viver, por algumas horas, no mundo

mágico que encontrávamos nos livros: seja nas profundezas dos sete mares, em um

tapete voador pela Arábia, em Oz, Terra do Nunca ou no País das Maravilhas. Se a

Disney foi a pioneira, outras empresas cinematográficas também começaram a investir

em filmes que atraiam o público que via nos contos de fadas, um bom entretenimento.

Em 2011, observamos outro marco para os contos de fadas no cinema: Shrek, um ogro

(que em outras narrativas é o vilão) é o protagonista de uma franquia que mostra o

direito de todos aos finais felizes. Os contos de fadas saem do seu molde clássico e

passam a ganhar, além da fantasia a qual já estamos habituados, uma visão cômica e

pós-moderna (KEMP, p. 4).

A animação não foi a única a contar aquelas histórias as quais estamos

habituados a ouvir desde crianças. Atores e atrizes transformam-se em príncipes,

princesas, bruxas, fadas e todo o tipo de personagem da literatura infanto-juvenil.

Vários fenômenos têm sido notados. Um deles, os vilões tornando-se os protagonistas

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de filmes e contando sua própria história. Um exemplo disso é o filme “Malévola”

(2014) que conta a história por trás da história da vilã de A Bela Adormecida. A bruxa

foi interpretada pela atriz Angelina Jolie.

1.3. TV: Contos de fadas na sala de casa

Em 2011 um novo produto midiático chega. Entretanto, não é o cinema quem

contará essa nova versão de contos de fadas, mas a televisão. O canal ABC lança a série

Once Upon a Time.

1.3.1. Breve história da TV

Na metade do século XIX, os cientistas se preocupavam em encontrar uma

maneira de transmitir imagens a distância. Em 1842, o engenheiro e inventor Alexander

Bain conseguiu uma transmissão telegráfica de uma imagem, que foi chamada de fac-

símile, atualmente, o fax. Jacob Berzelius, em 1817, descobriu o selênio. Em 1873,

Willougby Smith percebeu que o elemento químico descoberto por Berzelius podia

transformar energia luminosa em energia elétrica. Julius Elster e Hans Getiel

inventaram a célula fotoelétrica, em 1892. O ano de 1906 foi marcado pelo

desenvolvimento de um sistema televisão por raios catódicos, que empregava a

exploração mecânica de espelhos junto ao tubo de raios catódicos. Isso foi desenvolvido

por Arbwehnel, na América, e por Boris Rosing, na Rússia. As transmissões de fato só

aconteceram em 1920, graças ao disco de Nipkow de John Logie Baird. Em 1924, ele

conseguiu transmitir a silhueta de objetos a distância, e, um ano depois, fisionomia de

pessoas. Em 1926, fez uma demonstração para a comunidade científica no Royal

Institute, em Londres. Em seguida, assinou um contrato com a BBC para transmissões

experimentais.

Em 1945, começaram a ser produzido, em nível industrial, o iconoscópio, cuja

pesquisa foi encabeçada por Zworykin, convidado pela RCA. Em 1935, no mês de

março, começam as transmissões na Alemanha. Em novembro, na França. Em 1936,

Londres passa a transmitir sinais com 405 linhas de definição, e inaugura-se a estação

regular da BBC. Em 1939, iniciam-se as transmissões nos Estados Unidos, pela

National Broadcasting Company (NBC). A nova definição era de 340 linhas com 30

quadros por segundo. No mesmo ano, acontece a primeira transmissão de TV em

circuito fechado no Brasil. No entanto, em 1948, Assis Chateaubriand viajou aos

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Estados Unidos para comprar equipamentos de televisão. Ele, dono dos diários

Associados, cadeias de jornais e emissoras de rádio, foi acompanhado de Mário

Alderighi e Jorge Edo, técnicos do rádio brasileiro. Ambos foram estagiários na Radio

Corporation of America (RCA) e na NBC, em Nova York, para aprender a usar os

equipamentos adquiridos e usá-los no Brasil, dois anos depois. Em 1950, é inaugurada a

TV Tupi, em São Paulo. No mesmo ano, a França já possuía uma transmissão com

qualidade de 819 linhas. (TUDO SOBRE TV, 2016).

Em 1929, Hebert Eugene Ives realizou, em Nova York, as primeiras imagens

coloridas. As transmissões em cores nos Estados Unidos só iniciaram em 1954. A

primeira transmissão em cores no Brasil só aconteceu em 19 de fevereiro de 1972.

(TUDO SOBRE TV, 2016).

1.3.2 Contos de Fadas na TV: Seriado

A origem desse tipo de entretenimento veio dos romances de folhetim: os

autores publicavam suas obras por capítulos, nos jornais. Com a chegada do rádio, essas

obras foram adaptadas para essa nova mídia. Na televisão, surgiram os seriados, cujo

primeiro estreou em 1951, uma siticom (comédia familiar) chamada "I Love Lucy".

(Will Big TV, 2012).

Hoje, as séries televisivas são um meio de entretenimento muito popular. As

narrativas combinam toda técnica e linguagem cinematográfica com elementos próprios

da TV. Por exemplo: as chamadas para os próximos episódios, os Breaks,ou comerciais,

em que são passados anúncios dos patrocinadores daquele canal.

Outra característica é o tempo dessas narrativas. Elas são escritas para durar por

mais de uma emissão televisual, ou seja, são vários capítulos exibidos semanalmente.

As histórias podem ser planejada para terem um fim ou serem escritas por várias

temporadas, dependendo do retorno que tiver do público. (SANTOS, 2013, p. 56).

É um pouco complexo datar e explicar sobre a existência dos contos de fadas na

televisão. Nos anos 90, a TV cultura exibia uma série chamada "Teatro de Contos de

Fadas". Cada episódio contava a história de um conto de fadas e era narrado pela atriz

Shelly Duvall. (Guia da semana, 2014).

Muito do que se assistia de contos de fadas na TV eram animações seriadas,

algumas da Disney, outras exibidas pela TV Record ou TV Cultura. A Disney produzia

séries animadas de personagens que já haviam feito sucesso no cinema, como o caso de

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Aladdin, A Pequena Sereia e Hércules. A globo exibiu a história da Imperatriz Sissi em

uma série animada em 1998. Record e TV Cultura exibiram algumas histórias seriadas

animadas, como Branca de Neve e os sete anões e algumas versões de Robin Hood.

Hoje, as temáticas permancem nos seriados, mas não exclusivamente das

animações. Além de Once Upon a Time, também foi produzida a primeira temporada de

Once Upon a Time in Woderland, que foca o País das Maravilhas e Alice. Atualmente,

outras dessas narrativas foram inspiradas nos contos, como, Beauty and the Beast, a

qual a Fera é um soldado geneticamente modificado e a Bela é uma policial que o ajuda

e Grimm, em que um policial tem o dom de enxergar monstros que pensávamos existir

apenas nos contos de fadas e combate aqueles que oferecem perigo à sociedade.

No Brasil, a TVE e, posteriormente, a TV Globo, produziram o seriado "Sítio do

Pica Pau Amarelo", baseado nas histórias do escritor brasileiro Monteiro Lobato. Os

episódios da versão mais antigas foram exibidas no Brasil pela TV aberta. Também teve

episódios exibidos na TV de Portugal.

1.3.3. Tv: A magia do hibridismo

A TV é uma tecnologia relativamente nova, porém, é uma das mais populares

nos dias de hoje:

criada, na década de 20 no século XX, a TV tinha inicialmente uma adesão

muito resumida apenas pelas pessoas que detinham grande poder aquisitivo.

Hoje, popularizada, a televisão detém um papel social imenso como

formadora de opinião, mediadora de discussão e ponte ao acesso de

conteúdos educativos e de entretenimento para a população. (CHAGAS;

FIGUEIREDO, 2015, p. 02)

É importante observar algo nessa plataforma midiática: a TV é um misto, um

hibridismo de outras plataformas midiáticas. Os enquadramentos, movimentos, efeitos

visuais e especiais que, hoje, são vistos em séries televisivas ou novelas, são herança

das evoluções, história e narrativa do cinema.

Faz-se necessário, assim, compreender a evolução da história de ambas

plataformas. Olhando pela tecnologia, ao princípio, eram muito diferentes. Enquanto o

cinema utilizava a impressão em película, as imagens da televisão são uma tradução de

um campo visual para sinais de energia elétrica. Era esse um dos maiores diferenciais

que estabelecia fronteiras entre as duas. Mas, a primeira semelhança apresentada é a

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maneira como traduziram e adaptaram linguagens de outras artes ao produzirem suas

próprias linguagens narrativas. Rossini explica isso:

o cinema desde cedo aprendeu a traduzir linguagens de outras áreas. (...) Da

pintura, trouxe a noção do quadro, enquadramento, da composição dentro

desse quadro (noções essas que já haviam sido aprendidas pela fotografia,

outra tecnologia de produzir imagens técnicas, também desenvolvida no

século XIX). Do teatro, veio a noção de encenação (...). Da literatura, um

pouco mais tarde, veio a noção de montagem, paralela e alternada, de trama e

de conflito, e a própria ideia do primeiro plano, a chamar a atenção para um

detalhe. (ROSSINI, 2012, p. 03).

Assim como o cinema dos primeiros tempos, a tevê também foi buscar seus

elementos narrativos e de produção em outras áreas. O teatro e o rádio foram

as duas áreas a subsidiar os primeiros tempos da tevê, seja com programação,

seja com profissionais técnicos e artísticos. Do cinema vieram as imagens

documentais para preencher os jornais, já que as câmeras de vídeo eram

muito grandes para sair do estúdio. Do cinema também vieram os filmes, os

documentários, muitos dos produtores e artistas. (ROSSINI, 2012, p. 7)

Ao olhar por esse viés, as duas mídias traziam consigo elementos e

características de outras artes, o que, por si só, já as transformavam em artes híbridas.

Outro diferencial apontado por Rodrigues (2010, p. 02) é a TV ser uma indústria que

predomina por produtos de cultura popular e, por isso, são materiais subordinados às

necessidades comerciais. Além disso, segundo François Jost (2004), o público televisivo

pode interagir com a programação, entrando em contato com produtores (via cartas,

telefone e e-mail) ou mudando de canal (zapping), caso a programação não lhe seja

agradável. Em um diálogo com Kellison, Rodrigues (2010, p. 12) sugere que as séries

televisivas conquistam sua audiência, em alguns aspectos, por causa da familiaridade

que existe entre o telespectador e a mitologia do programa. É o que François Jost (2004)

fala sobre acordo (ou pacto) entre público e programação.

No que tange à narrativa, a linguagem básica e estética, TV e cinema apresentam

grandes semelhanças. Se fizermos um recorte, pensando em filmes ficcionais e seriados

de ficção, podemos analisar que ambos possuem a mesma linguagem básica.

Linguagem essa que o próprio cinema adaptou para sua narrativa, e que, posteriormente,

a TV trouxe para si ao tratar de produtos que apresentavam narrativas ficcionais

(CHAGAS; RODRIGUES, 2015).

Em relação às técnicas de narrativa (planos, enquadramentos, movimentos de

câmera), compartilham da mesma linguagem, inclusive, muito da evolução da narrativa

ficcional televisiva se deve ao avanço na narrativa cinematográfica. É possível constatar

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o que Rossini descreverá a seguir, tanto nas telenovelas quanto nas séries televisivas: "a

fragmentação na montagem e nos enquadramentos, as indefinições espaço-temporais, as

grandes elipses narrativas irão propor um outro olhar sobre a audiovisualidade

cinematográfica que se formava ao longo dos cinquenta anos do cinema". (ROSSINI,

2102, p. 05).

A autora conclui que a tecnologia aproxima as duas plataformas midiáticas.

Segundo ela, hoje, devido às fronteiras embaçadas, é difícil falar sobre dois meios de

comunicação. Ela ainda sugere que, ao invés de usarmos TV ou cinema, é necessário

pensar em narrativas audiovisuais. Ainda acrescenta:

Desse hibridismo tecnológico estão surgindo os produtos híbridos,

espécies de servidores de dois amos. No fundo, a aproximação entre

eles sempre esteve no horizonte. O que hoje se vivencia é uma

mudança nos próprios processos produtivos, que passa a marcar

também aquilo que é produzido. Ao invés de pensar em discursos

fatalistas, em que um meio mata o outro, é preciso pensar naquilo que

sempre foi o elemento de vitalização desses meios: a tradução. Ao

traduzir as diferentes tradições audiovisuais cada um dos meios se

reinventa e cria as bases para a sua própria manutenção e existência.

(ROSSINI, 2012, p. 13).

A série Once Upon a Time se adapta bem a esse exemplo de produtos de

espécies de servidores de dois amos. O estilo de narrativa, especialmente o tempo e

interação com os consumidores, é de um produto próprio para televisão. Porém, a

qualidade de efeitos visuais e especiais são característicos de grandes produções do

cinema. Para isso, entende-se a importância de dialogar com a evolução dessas duas

mídias, já que a evolução e história do cinema contribuem para a evolução narrativa da

televisão.

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2. Era uma vez na transmidiação: elementos narrativos audiovisuais

O cinema e a televisão, apesar dos meios físicos diferentes, têm suas

semelhanças quanto à questão de elementos narrativos: uso de planos, elipse temporal,

trilhas musicais e sonoras, efeitos visuais e especiais. Contar uma história no meio

audiovisual é diferente dos contos e romances literários, pois, além de plataformas

midiáticas, a linguagem de ambos é diferente

Segundo a visão de Turner (1997, p. 51) "linguagem é o principal mecanismo

pelo qual a cultura produz e reproduz os significados sociais". A linguagem escrita tem

a gramática, um sistema formal de regras que nos são ensinadas. A partir dela, são

escolhidas as palavras e expressões que constroem um texto escrito, como um romance

ou com conto de fadas, por exemplo. Esses textos geram significados para o seu leitor.

O audiovisual tem sua gramática e produz sentidos com sistemas variados, tem seus

próprios códigos, métodos que estabelecem significados sociais ou narrativos. Esses

sistemas são: a câmera, a iluminação, o som, a mise-en-scène e a edição.

A câmera: a maneira como as imagens são captadas, movimentos, ângulo, e

enquadramento, tudo contribui para dar significado à narrativa. Closes ou planos

detalhes são enquadramentos mais emotivos. Os planos e contra planos são muito

utilizados em momentos de diálogos. A iluminação, de acordo Turner (1997), tem dois

objetivos principais no cinema. O primeiro é expressivo, dá ao filme a aparência, a

estética. O segundo é a contribuição para detalhes da narrativa. A iluminação seleciona

e enfatiza elementos no quadro e isso é um meio de dirigir a atenção do espectador para

um determinado elemento enquanto os outros são obscurecidos. O som é a base

musical, ele compõe a emoção da cena, é responsável pelas falas dos atores e aumenta a

veracidade ao reproduzir os sons que são associados às ações do filme (som de passos,

por exemplo). A música faz parte de um "acordo" com o espectador. Ele sabe que no

mundo real, não é possível uma orquestra ou uma trilha construir a trilha de algum

momento do dia a dia, como nos filmes. Porém, ela é um importante instrumento de

construção de cena e de significado. A mise-en-scène, é um dos elementos mais

túrbidos da teoria do cinema. Em poucas palavras, é tudo que compõe o quadro de uma

tomada: enquadramento, luz, cenário, movimento de câmera, atuação, atores etc. O ator

ou a atriz também fazem parte dessa mise-en-scène. Em muitos casos, os personagens se

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tornam visíveis graças aos atores, quando é ele uma estrela, um profissional já

consagrado. O último sistema é a edição. É ela quem faz a montagem, constrói a relação

entre as tomadas, insere a música nos locais corretos.

Dessa maneira, compreende-se que "todos esses sistemas de significação e de

significados são o produto da combinação daqueles". (TURNER, 1997, p. 69) A união

desses sistemas, dessas linguagens acabam construindo a totalidade de um produto

audiovisual, sendo que, cada um, traz consigo suas convenções, acordos e sua maneira

de representar as coisas. Ou seja, todos eles constroem a linguagem daquele produto.

O produto ficcional do audiovisual gera textos narrativos. Sejam eles longa-

metragens, curtametragens, episódios de séries televisivas, capítulos de telenovelas etc.

Ele compartilha com outras narrativas (a ficção literária) a estrutura básica e as funções

da narrativa (Turner, 1997). A narraciologia, campo de pesquisa que trata justamente

dessa estrutura e da maneira como a narrativa, é parte importante da nossa cultura.

Turner (1997) apresenta os estudos do teórico Vladimir Propp sobre a estrutura de

contos e lendas folclóricas. Segundo a análise de Propp, todos esses contos tinham em

comum aspectos estruturais importantes, mesmo que se diferenciavam em detalhes,

como ambientação, caracterização etc. A seguir, a estrutura organizada em grupos

narrativos:

PREPARAÇÃO:

1. Um membro da família sai de casa.

2. Impõe-se sobre o herói uma proibição ou norma.

3. Essa proibição é violada.

4.O vilão tenta obter informações.

5.O vilão passa a saber algo sobre sua vítima.

6. O vilão tenta enganar a vítima para controlá-la ou tomar posse de

seus pertences.

7.Sem saber, a vítima ajuda o vilão sendo enganada ou infulenciada

por ele.

COMPLICAÇÃO:

8.O vilão prejudica um membro da família.

8a. Um membro da família precisa de alguma coisa ou deseja algo.

9. Essa necessidade ou infortúnio é revelada; o herói recebe um

pedido ou ordem e parte ou é enviado para uma missão/ busca.

10. O herói planeja uma ação contra o vilão.

TRASNFERÊNCIA

11. O herói parte.

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12. O herói é testado, atacado, interrogado, e, consequentemente,

recebe um agente mágico ou ajudante.

13. O herói reage às ações do futuro doador.

14. O herói usa o agente mágico

15. O herói é transferido para o lugar onde está o objeto mágico de sua

missão/busca.

LUTA

16. Herói e vilão se enfrentam num combate direto.

17. O herói é estigmatizado.

18. O vilão é derrotado.

19. O infortúnio, ou necessidade original, é sanado.

RETORNO

20. O herói retorna.

21. O herói é perseguido.

22. O herói é salvo da perseguição.

23. O herói chega em casa ou em algum outro lugar e não é

reconhecido.

24. Um falso herói faz reivindicações falsas.

25. Uma difícil tarefa é estipulada para o herói.

RECONHECIMENTO

26. A tarefa é realizada.

27. O herói é reconhecido

28. O falso herói/ vilão é desmascarado.

29. O falso herói se transforma.

30. O vilão é punido.

31. O herói se casa e é coroado. (TUNER, 1997, p. 74-75)

Não são todas as narrativas que apresentarão a completude das funções, mas elas

são compostas de elementos "que estão nela e somente nela” (TURNER, 1997, p. 75).

Observando as narrativas do cinema popular e da televisão, é possível perceber que a

estrutura é de acordo com os princípios de Propp. Isso nos retoma o que foi comentado,

o produto audiovisual busca inspiração e características em outras artes ao se construir.

A narrativa, proveniente da literatura, se faz presente nesses produtos da TV e do

cinema, no entanto, com uma maneira diferente de contar histórias. São usados os

sistemas já mencionados acima para contar histórias, sejam elas novas ou inspiradas em

histórias que existiam, como as histórias dos contos de fadas, por exemplo. A descrição

de um lugar ou da reação de um personagem não é feito pelas palavras, como na

literatura, mas pela junção das imagens captadas, interpretação dos atores e sequência

construída por diversos enquadramentos, iluminação e som que constroem aquela cena.

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Outra grande diferença é o narrador. Na literatura, há sempre alguém responsável pela

narração, seja ele um personagem ou um observador. O tempo todo aquela voz está

presente, narrando o que observa, seja ele onisciente ou não. No audiovisual, por mais

que haja momentos em que um narrador apareça em voz off (como por exemplo, Ted

Mosby em How I met your mother4), a história é contada pelas ações dos personagens

durante a trama. O personagem, dessa forma, fica responsável por ser a voz da narrativa.

Suas ações, sentimentos e expressões farão toda a narração daquela história, auxiliado

pelos sistemas da linguagem do audiovisual. Antes de adentrar mais nisso, é importante

estabelecer comparações entre o personagem literário e o personagem do audiovisual.

2.1. O personagem de ficção

A literatura infanto-juvenil era usada de maneira pedagógica, passava uma

mensagem aos pequenos adultos, e, posteriormente, era utilizada de maneira

disciplinadora e respeitando a moral e os costumes. Para isso, o personagem, seja ele o

mocinho e o vilão acabavam por ser a personificação do bem e do mau.

(BETTELHEIM, 2009). O intuito era ensinar àquelas crianças a serem boas, o que

Coelho acaba por explicar:

na literatura para crianças, o exemplo quase absoluto da exemplaridade; da

rigidez de limites entre certo/ errado, bom/mau; etc. (...) Moral dogmática,

maniqueísta, de caráter religioso, isto é, assentada na avaliação transcedente

da conduta humana- prêmio à virtude ou castigo ao vício, a serem concedidos

no além- vida. Na literatura para crianças, essa moral aparece na rigidez da

conduta certa ou errada, que se condensa na moral da história ou no prêmio

ou castigo recebido pelos personagens ( COELHO, 2014, p. 20-21).

Dessa forma, o comum era que os vilões, ao final das histórias, tivessem seu

castigo: solidão, prisão, abandono ou morte. Essa era a maneira de trazer ao imaginário

da criança sobre as consequências de se fazer o que é errado.

Entretanto, minha proposta é estudar a complexidade e a participação desses

personagens nas histórias. Ao analisar os contos, observo que não é apresentado um

motivo para que esses vilões sejam maus. Por serem a representação do que é ruim, eles

são maus pelo fato de serem maus. Não há nenhum por que ou explicação. Eles

4 Série televisiva norte-americana que foi ao ar de 2005 até 2013. Em 2030, Ted Mosby conta aos seus

filhos a história de como conheceu a mãe. A série tem cenas em que a voz de Ted comenta parte de uma

história.

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cumpriam o seu papel de antagonista e passavam a mensagem ao receptor: atitudes

ruins levam à consequências ruins.

Pensando nisso, recorremos ao auxílio de um teórico literário para as definições

de personagem:

o protagonista (do grego protos, primeiro, agonistes, que contesta) é o

personagem principal, o herói ou heroína, a figura central, em torno da qual

giram os acontecimentos. Numa estória pode haver protagonistas menores

(que não são personagens secundários). (...)

O antagonista é o que responde ou contesta ao protagonista, isto é, desafia-o,

opõe-se a ele e a seu destino. É o vilão da estória, podendo ser a pessoa ou

força interna ou externa. Como forças externas, citam-se as potências da

natureza (tempestades, mar, etc.), os fatores ambientais (influências de

ambientes sociais degradantes ou vice-versa, educação, etc.), destino, etc.

Quanto às forças internas, consideram-se as virtudes ou defeitos (como

orgulho, o preconceito), as doenças morais ou físicas, etc. (COUTINHO,

1976, p.35)

No primeiro momento, observamos que, nos contos, os vilões eram os

antagonistas, pessoas que se colocavam contra o protagonista (os heróis ou heroínas).

Os nossos personagens escolhidos para análise, Rainha Má (Branca de Neve e os sete

anões), Rumplestiltskin (Rumplestiltskin) e Capitão Gancho (Peter Pan), são aqueles

que dificultam e trazem a infelicidade aos protagonistas. Na literatura, A Rainha Má é

movida pela inveja; Rumplestiltskin deseja ter para si o primogênito da rainha e o

Capitão Gancho é um pirata cruel que deseja se vingar de Peter Pan. De acordo com

Coutinho, os vilões se opõem ao destino de final feliz dos heróis da história. No entanto,

qual o motivo do ódio da Rainha? Ou por que Rumplestiltskin é perverso ao ponto de

querer um bebê de outra pessoa? E por que Capitão Gancho deseja ferir e matar uma

criança? Nos contos, essas histórias não existem. A maldade é característica

fundamental desses personagens e necessária a suas construções. Sobre isso, Coutinho

(1976) também explica: personagens planos ou estáticos são aqueles que não se

desenvolvem, não evoluem no decorrer da história. Eles são maus do início ao fim das

histórias(ou bons, no caso dos protagonistas).

Há a considerar uma diferença entre o personagem chamado estático ou

estacionário, o qual se delineia com as suas qualidades completas, logo no

início e assim permanece até o final; e o evolutivo, cujas características se

vão desenvolvendo à medida que a ação progride e sob a influência dos

acontecimentos, dos demais personagens ou do ambiente. (COUTINHO,

1976, p. 36).

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Doc Comparato (2000) também aborda essas classificações de personagens. Ele

recorre à tradição inglesa para explicar a diferença entre personagens planos (flat) e

redondos (round). Em sua elucidação, as planas são chamadas dessa forma por terem

um perfil único e fixo, sem se desenvolver durante o enredo. É o mesmo estacionário

denominado por Coutinho (1976). O personagem redondo, por sua vez, tem uma

conduta surpreendente, antagônica à plana, que sempre é previsível. É o equivalente ao

personagem que Coutinho chama de evolutivo.

Observando os contos analisados, não encontrei características de personagens

redondos nos nossos vilões. É necessário frisar que aqui tratamos de contos clássicos da

literatura infanto-juvenil, a literatura pedagógica e disciplinadora que trabalha com

representações. Os romances literários apresentam a complexidade tanto de enredo

quanto de personagens, ambos heranças para os produtos audiovisuais. Turner (1997),

ao apresentar os estudos de Propp, também nos introduz aos distintos papéis que um

personagem pode desempenhar no desenvolver da trama. São eles:

1. o vilão

2. o doador (provedor)

3. o ajudante

4. a princesa (ou a pessoa procurada) e seu pai

5. o expedidor

6. o herói ou vítima

7. o falso herói (TURNER, 1997, p. 73)

Todos os tipos de personagem e papéis estão descritos nessa lista. A história

necessita deles para que haja encaminhamento na narrativa. Do mesmo modo que a

estrutura narrativa foi herdada para o audiovisual, considerando-se os contos de fadas,

essas "esferas de ação" também são parte dessa arte híbrida.

Candido et al (2014) fazem uma análise sobre o personagem de ficção em três

diferentes plataformas: O romance literário, o teatro e o cinema. No romance, a

afirmação é de que há complexidade do personagem e que este caminha junto ao enredo

da trama, mas, ele é um elemento dentre vários outros que compõem a narrativa da

história. No teatro, o personagem constrói quase que a totalidade da obra. A diferença

de ambos resume-se nas diferenças da narrativa: o romance é narração enquanto o teatro

é ação. A principal diferença entre ambos é que as duas artes falam do homem, do ser

humano, todavia, no teatro, isso é feito pelo próprio homem, na presença encarnada do

ator. (CANDIDO et al., p.2014). Comparato (2000, p.124) explica que "personagem e

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história vivem uma relação perpétua", ou seja, é o personagem elemento narrativo

quem conduzirá a história. Acompanha-lo é observar o enredo.

Ao contrário da literatura, em que se é possível acompanhar o fluxo de

pensamentos do personagem, no audiovisual todo sentimento e emoção ficam por conta

da atuação do ator. Isso se dá em dois momentos: O primeiro é a fala. São poucos os

produtos que trabalham com a voz em off. Para isso, o ator balbucia, fala o que está

pensando, mesmo que seja algo dissimulado. (COMPARATO, 2000). O segundo

momento é a reação do personagem: "O sentir da personagem exprime-se pela sua

atuação, pela sua reação e pelo seu comportamento perante a ação. Por exemplo:

quando ama, beija; quando se irrita, luta; quando está triste, chora." (COMPARATO,

2000, p. 125). Passar esse sentimento com maior intensidade sempre vem acompanhado

de um enquadramento mais fechado, um plano detalhe e sons, sistemas da linguagem

audiovisual que gerarão maior significado.

O audiovisual trouxe para si elementos de outras artes e, assim, fazendo-se e

traduzindo em uma arte híbrida. Ao se falar de elementos de narrativas, pode-se

perceber que o personagem, enquanto elemento da narrativa, trouxe consigo elementos

dessas artes:

graças porém aos recursos narrativos do cinema, tais personagens adquirem

uma mobilidade, uma desenvoltura no tempo e no espaço equivalente às das

personagens de romance. Romance teatralizado, porque a reflexão pode ser

repetida, desta feita, a partir do romance. É a mesma definição diversamente

formulada. (...) O cinema seria pois uma simbiose entre teatro e romance.

(CANDIDO et al, 2014, p. 106).

É como se fosse uma junção das características dos personagens de teatro e

cinema compondo o personagem ficcional não só do cinema, mas do audiovisual. Esses

produtos "evoluem personagens romanescas encarnadas em pessoas, ou se preferir,

personagens de espetáculo teatral que possuem mobilidade e desenvoltura como se

estivessem num romance." (CANDIDO ET AL, 2014, p. 112).

Ao se pensar em personagem do audiovisual, recorda-se do que Juremir Silva

(2003) afirma: o imaginário é uma leitura, uma introspecção do real. Coutinho (1976)

explica que ao se escrever um personagem, alguns dos elementos que inspiram a criação

de um é a própria história do autor (ou roteirista), ou histórias que ouviu falar ou

vivenciou. Considerando tudo isso, entende-se o que Comparato quer dizer com

verossimilhança, um personagem que, mesmo de ficção, apresenta características que o

tornam parecido com o real.

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A complexidade de uma personagem e suas contradições têm de se

manifestar para que seja verossímil, real. Quanto maior for a sua densidade

humana, mais real nos parecerá. (...) O ser humano é imperfeito e, portanto,

conflituoso. (COMPARATO, 2000, p. 128)

Retornando ao que foi discutido por Coutinho, esse personagem é complexo, ele

evolui conforme a trama. Sendo assim, é classificado como um personagem redondo,

ou, evolutivo. Isso já contrasta com os contos originais, em que o personagem era plano

e suas características permaneciam do começo ao fim do enredo.

Ainda há mais um diferencial que deve ser colocado. Cinema e televisão

compartilham os mesmos sistemas de linguagem, e em muito se assemelham quanto à

características do roteiro, como por exemplo, a complexidade do personagem. Mas, o

roteiro de tv apresenta diferença na escrita, quando comparado ao roteiro

cinematográfico. Essa diferença é apresentada por Rodrigues em diálogo com Catherine

Kellison:

Escrever para televisão não é como escrever para o cinema. A principal

diferença são os personagens que compõem o núcleo da história. Em um

filme para o cinema os personagens e suas historias são apresentados, a

história começa, chega ao clímax, acaba e está tudo resolvido. Quando o

filme acaba, a história também acaba. Já na

maioria nos gêneros televisivos, os personagens e suas histórias continuam.

Os roteiristas de TV podem capitalizar essa duração ao criar primeiramente

com personagens fortes, e depois, escrever a historia que se desenrola ao

redor deles. Construindo essa história a partir de duas reações e sempre os

testando. Os espectadores ficam familiarizados como os personagens e suas

historias. O público passa a conhecê-los bem, trazendo suas memórias e

experiência acumuladas ao lado do programa para cada episódio.

(RODRIGUES, 2010, p. 11).

Com essa informação poderemos partir para a análise dos três vilões escolhidos.

Será perceptível notar quantas histórias se desenrolarão ao redor desses personagens

tanto no Bosque Encantado, lugar dos contos de fadas, quanto no nosso mundo, o

mundo fora da ficcção. É por isso que, ao conhecermos mais sobre esses personagens,

são compreensíveis os motivos que os levaram a serem vilões e, posteriormente, o

desenrolar de suas histórias nesse mundo. É o que Kellison diz sobre o público conhecer

bem e trazer suas memórias para cada episódio.

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3. Era uma vez no reino televisivo

Emma Swan está completando vinte e oito anos. É uma mulher residente em

Nova York e ganha a vida encontrando pessoas. Ela acaba de chegar em casa, cansada

de mais uma noite de trabalho, assopra uma vela em um cupcake e faz um pedido: o de

não passar sozinha aquele aniversário. Inesperadamente, uma batida à porta. Ao abrir

depara-se com um garotinho, Henry, sorridente e segurando um livro. Henry se

apresenta como filho de Emma, o qual ela abandonara dez anos atrás. Atordoada pela

visita inesperada, Emma concorda em levar Henry de volta para sua casa na pequena

cidade de Storybrooke. Durante a viagem, Henry lhe conta que a cidade está sob uma

terrível maldição lançada pela Rainha Má. Personagens de contos de fadas estão presos

no tempo e espaço, ou seja, não envelhecem e tampouco podem deixar Storybrooke.

Porém, não é essa a pior parte: todos não se lembram quem realmente são. Vivem

rotinas normais, longe de seus finais felizes. Entretanto, havia uma esperança, que a

filha de Branca de Neve e o Príncipe Encantado voltasse, vinte e oito anos depois, para

quebrar essa maldição e trazer os finais felizes de volta. No caso, a salvadora era Emma.

Ao ser questionado sobre a veracidade e por acreditar, Henry responde que tudo está no

livro que carrega, intitulado Once Upon a Time. O garoto convence Emma a ficar em

Storybrooke. Durante seu percurso, ela resolve lutar pelo garoto, assume o cargo de

xerife da cidade, enfrenta a prefeita, Regina, que na verdade é a Rainha má e a mãe

adotiva de Henry. Ao final da primeira temporada, Emma quebra a maldição em

Storybrooke (com um beijo de amor verdadeiro, em Henry), e os habitantes recuperam

suas memórias.Porém, não voltam para a floresta encantada e a cidade continua como

um dos cenários principais da série.

A análise será de três vilões, Rumpelstiltskin, Rainha Má e Capitão Gancho. O

tempo da série é não linear. No presente, tempo real dos fatos, na grande maioria no

cenário de Storybrooke, a história acontece linearmente. Entretanto, as histórias do

passado dos personagens, que explicam fatos que complementarão a história do

presente, acontecem em flashback. Por exemplo, os flashbacks do episódio piloto

contam, desde o momento em que o Príncipe Encantado desperta Branca de Neve, o

casamento real, a ameaça da maldição feita por Regina, a busca dos heróis para

atrapalhar os planos da Rainha, a profecia sobre Emma, envio de Emma ao nosso

mundo e até a chegada da maldição. Nos episódios posteriores, é narrada a maneira

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como Branca de Neve e o Príncipe se conhecem, como Rumplestiltskin se torna o

Senhor das trevas5 (ou Sombrio), como Regina escureceu seu coração etc. O cenário

dessas passagens é diverso. A primeira temporada, em grande parte, acontece na

Floresta Encantada. Conforme adentram novos personagens, se passa na Terra do

Nunca (Peter Pan), Arendelle (Frozen), e em nosso próprio mundo, o mundo real.

Os roteiristas da série Adam Horowitz e Eddy Kitsis propuseram para esse

produto a explicação de alguns personagens. Isso fica claro desde o episódio piloto, em

que se inicia com os caracteres: "Havia uma floresta encantada com os personagens

clássicos que conhecemos. Ou pensamos conhecer. Um dia eles se viram presos em um

lugar em que seu final feliz foi roubado. O nosso mundo6".

Para compreensão dos personagens, apresento sua história de maneira linear

para, depois, compará-la com as versões dos contos de fadas.

3.1. Rumplestiltskin: Da covardia ao poder das trevas

A história se inicia ainda em sua infância (Pense em coisas boas, Episódio 8,

terceira temporada). O jovem Rumple vive com seu pai, um homem de má índole. Em

um dia em que o menino está com fiadeiras, as mulheres, penalizadas com a má fama do

pai, dão a ele um feijão mágico7, o aconselham a ir embora sozinho. Ao invés de seguir

a sugestão das duas mulheres, o garoto pede ao pai para irem a um novo reino e

recomeçarem suas vidas. Escolhem um lugar que o pai sonhava quando menino: A

Terra do Nunca. O pai não aproveita a ilha da mesma maneira de quando garoto por já

ser adulto. Uma sombra, que guarda, a ilha os vê e propõe um acordo ao homem: cuidar

dela em troca da juventude, mas, apenas ele poderia ficar. Rumple, então, é levado pela

sombra de volta à Floresta Encantada. Enquanto isso, o homem, ao se transformar

novamente em um garoto, passa a se autodenominar Peter Pan. De volta à Floresta

Encantada, Rumple é acolhido pelas fiadeiras que o ensinam a usar o tear.

Na vida adulta, Rumple, agora casado, é convocado para lutar, na guerra, contra

os Ogros (Manhattan, episódio 14, segunda temporada). Nos campos de batalha, o

5Tradução de The DarkOne. Os fãs traduzem como "Senhor das Trevas". A Netflix, no entanto, traduz

como "O Sombrio". 6 Do original: "There was an enchanted forest filled with all the classic characters we know. Or think we

know. One day they found themselves trapped in a place where all their happy endings are stolen. Our

world" 7 Em Once Upon a Time, feijões mágicos quando lançados têm o poder de levar pessoas para reinos

diferentes.

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soldado Rumple é incumbido de tomar conta de uma jaula em que uma vidente está

presa. Ela faz a seguinte profecia: "Você terá um filho e suas ações o deixarão sem um

pai." Temeroso pelo seu futuro, fratura a própria perna para se tornar um inválido e ser

suspenso do exército. Manco, volta para sua casa e encontra Milah (esposa) com um

menino, Baelfire, em seus braços.

Alguns anos se passam (O Crocodilo, episódio 4, segunda temporada) e o

casamento de Milah e Rumplestiltskin não vai bem. Um dia, ele chega a casa e não a

encontra. Ao procurá-la, descobre que ela está em um bar com o pirata Kilian Jones.

Consegue levar Milah para casa, dizendo que se tivesse poder, ela não o trataria daquela

maneira. Alguns dias se passam e Milah some novamente. Rumple descobre que ela

partirá no navio com Kilian. Ele tenta buscá-la, mas Kilian o desafia para um duelo por

Milah. Rumple se acovarda.

Foto 01: Rumplestiltskin e Baelfire

Fonte: Once Upon a Time. Cena de Almas Desesperadas, Episódio 08, primeira temporada

Anos mais tardes, (Almas Desesperadas, episódio oito, primeira temporada), a

guerra contra os ogros continua e os soldados que são recrutados são cada vez mais

jovens. Para o desespero de Rumple, Baelfire é convocado. Apavorado com a

possibilidade de perder o filho, ele tenta fugir, mas é impedido. Um andarilho, que

assistia a tudo, lhe conta que o exército controla Zoso, o Senhor das Trevas, porque tem

em seu poder a adaga mágica do Sombrio. Se Rumple roubasse a adaga e matasse o

Senhor das Trevas, teria o poder para impedir Bae de ir à guerra.

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Rumple toma a adaga para si e invoca o Senhor das Trevas, o próprio Zoso, e o

mata com a arma. O nome de Zoso some e o de Rumplestiltskin aparece em seu lugar.

Foto 02: Adaga suja com o sangue de Zoso com o nome de Rumplestiltskin

Fonte: Once Upon a Time. Almas Desesperadas

A princípio, Rumple ajuda a acabar com a Guerra contra os Ogros, mas, está

cada vez mais sombrio (O Retorno, episódio 19, primeira temporada). Bae busca ajuda

da fada azul, que o encontra e lhe entrega um feijão mágico, aconselhando ao garoto

que ele e o pai deveriam se mudar para um mundo sem mágica e recomeçar a vida.

Balefire propõe o plano a Rumplestiltskin, e, relutante, ele o aceita. Quando o portal se

abre, o Senhor das Trevas fica com medo e tenta fazer Bae voltar. O portal puxa o

garoto. Rumple tenta segurá-lo, mas não pula, porque não quer perder os poderes. Bae

cai no portal que se fecha. Rumplestiltskin fica desesperado e procura a Fada, que lhe

diz que aquele era o último feijão mágico e que o culpado de ter perdido o filho foi o

próprio Rumplestiltskin, já que quebrou o acordo feito com o jovem por covardia. Ele

indaga sobre o mundo em que Baelfire está e se há outra maneira de chegar até ele. Blue

revela que o nosso mundo é onde Bae está e que há uma maldição que levaria Rumple

até ele, mas que o preço seria alto demais.

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Foto 03: Rumplestiltskin transformado em The DarkOne

Fonte: Once Upon a Time, O Pastor, episódio 6, primeira temporada

Após um tempo, o mago encontra uma jovem ambiciosa de nome Cora que se

envolvera em problemas ao dizer ao Rei que possuía o dom de transformar palha em

ouro (A Filha do Moleiro, episódio 16, segunda temporada). Rumple faz um acordo:

ensinaria a jovem a transformar palha em ouro e ela lhe entregaria sua primeira filha.

Cora aceita e, se torna a noiva do príncipe. Ela e Rumplestiltskin começam a se

envolver e eles trocam o acordo: ficariam juntos, teriam uma filha e ele ensinaria

mágica à criança. Guiada pela ambição, Cora arranca seu coração e o guarda em uma

caixa (seu ponto fraco é seu amor por Rumplestiltskin) e o abandona.

Anos se passam e Rumple conhece a noiva do Rei Leopold, Regina (Nós somos

os dois, episódio 02, segunda temporada). Ele lhe diz que tem o dom da magia e quer

treiná-la. O treinamento da Rainha Regina com Rumple se inicia (O Doutor, episódio

05, segunda temporada).

Rumple conhece os poderes de um chapéu encantado que suga seres mágicos (O

Aprendiz, episódio 4, quarta temporada). Ele tem a ideia de "carregar" e usar esse

chapéu para se libertar da adaga e ser invencível. Rumple encontra Anna de Arendelle e

a engana para recolher uma lágrima da moça, alguém que enfrentou seu lado obscuro e

se afastou. Ele necessitará dessa lágrima em sua adaga para manipular a caixa que

contém o chapéu, futuramente. Anna o engana, foge e leva a caixa do chapéu consigo.

Os Ogros começam a invadir um Reino próximo à floresta encantada.

Preocupada com as mortes e com a população, Bela faz um trato com Rumpelstiltskin:

ela será sua serva para o resto da vida contanto que ele proteja o reino (Beleza Externa,

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episódio 12, primeira temporada). A princípio, vê Rumple como uma besta, uma Fera.

O convívio com Bela começa a mostrar mudanças em Rumple. Primeiro, Bela é

sequestrada por Malévola, Cruela e Úrsula (Heróis e Vilões, episódio 11, quarta

temporada). O preço do resgate é uma manopla que aponta a maior fraqueza de alguém.

Ele entrega a manopla, mas, em seguida, a recupera e mantém isso em segredo de Bela.

A moça continua sendo serva e já observa mudanças em Rumple, e ainda se sente

temerosa perto dele (Beleza Externa, episódio 12, primeira temporada). Ele, no entanto,

está mais maleável. Chega a perdoá-la por, sem querer, lascar uma de suas xícaras. Os

dois começam a se aproximar.

Foto 04: Rumpelstiltskin e Bela no castelo do Senhor das Trevas.

Fonte: Once Upon a Time, Beleza Externa, Episódio 12, primeira temporada.

Rumple sugere à Bela que vá à cidade, mas que só deve voltar se tiver vontade.

Ela encontra Regina no meio do caminho e ela lhe diz que o beijo do amor verdadeiro

quebra qualquer maldição. O Sombrio sente-se feliz quando vê a garota de volta. Os

dois se beijam e sua pele começa a voltar ao normal. Ele acha que é um plano para

derrotá-lo e se enfurece e acaba mandando Bela embora. Em um acesso de fúria, ele

quebra todas as porcelanas e vidros da casa, menos a xícara lascada. Regina aparece no

castelo e pergunta se ele sabe o que aconteceu com Bela. Relata a ele que voltou ao

reino e o pai a trancou em uma torre porque achava que estava louca. Por causa dos

maus tratos, ela teria se jogado da torre. Rumpelstiltskin sente-se mal. Tira um cálice

adornado do local que está exposto e coloca a xícara lascada de Bela no lugar.

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Foto 05: Xícara lascada de Bela em uma espécie de altar.

Fonte: Once Upon a Time, Beleza externa, episódio 12, primeira temporada

Rumple continua com seus planos de encontrar Baelfire. Ele precisa fazer uma

poção do amor, que é mágica mais forte do mundo. Para isso, ele usa um fio de cabelo

de Branca de Neve (O café da manhã, episódio 10, primeira temporada) e de David

(Príncipe Encantado) (O coração das trevas, episódio 16, primeira temporada).

Quando Branca de Neve cai sobre a maldição do sono (Uma maçã vermelha

como o sangue, episódio 21, primeira temporada), Rumpelstiltskin faz um acordo com o

Príncipe Encantado: Se ele guardar a poção do amor dentro de uma fera (Malévola), ele

mostraria onde Branca de Neve está. Rumpelstiltskin pinga uma gota da poção do amor

no pergaminho da maldição que entregará à Regina. Assim, a filha dos heróis será capaz

de quebrar a maldição.

Após um acordo com Cinderela que pede um preço muito alto à moça (O preço

da magia, episódio 04, primeira temporada), Rumple cai em uma cilada que o paralisa

com tinta de Lula, uma das únicas coisas que paralisa criaturas mágicas. Ele é preso em

uma masmorra.

A maldição é lançada e, nesse mundo, Rumpelstiltskin é dono de quase todas as

propriedades da cidade e de uma loja de antiguidades. É conhecido como Sr. Gold.

(Piloto, episódio 01, Primeira Temporada).

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Figura 06: Rumpelstiltskin nesse mundo é o Senhor Gold

Fonte: Divulgação Once Upon a Time

Em Storybrooke, a jovem Ashley (Cinderela na Floresta Encatada) precisa

entregar seu bebê ao Sr. Gold, mas não o quer. (O preço da magia, episódio 03, primeira

temporada). Emma faz um acordo com o empresário: futuramente, quando ele precisar

dela, vai ajudá-lo. Em troca, ele deixa o bebê com a mãe.

Emma consegue recuperar o elixir preso em Malévola e entrega a Gold.

Jefferson solta Bela, que ficou todo esse tempo presa em um manicômio, e diz que ela

deve procurar o Senhor Gold, porque ele irá protegê-la. Ao vê-la, Gold fica muito feliz,

especialmente quando a maldição é quebrada e ela se lembra de quem é. Ambos vão até

o poço de Storybrooke e Gold lança a poção do amor verdadeiro. A mágica chega à

cidade(Uma terra sem magia, episódio 22, primeira temporada).

Agora que a mágica voltou e a maldição foi quebrada, Rumplestiltskin

finalmente se vê perto de reencontrar Baelfire (Nós somos os dois, episódio dois,

segunda temporada), mas, ele descobre que quem tenta sair da cidade, tem as memórias

alteradas. Frustrado, começa a trabalhar em uma maneira de sair de Storybrooke sem

perder as memórias.

Ele descobre que usando uma poção em seu objeto mais precioso, não perde as

memórias (A trama do grilo, episódio dez, segunda temporada). No caso de Rumple, o

objeto mais precioso é o xale de Bae.

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Ele decide cobrar o favor de Emma e vai até Nova York procurar Baelfire

(Manhattan, episódio 14, segunda temporada). Baelfire na verdade é Neal, ex-namorado

de Emma e pai de Henry.

Ao saber que Henry foi sequestrado, Rumple decide ir junto resgatá-lo, para

honrar a memória de Baelfire, o qual todos achavam estar morto (Seguindo até o

amanhecer, episódio 22). Parte em uma jornada com Emma, Gancho, Branca de Neve,

David e Regina para a Terra do Nunca.

Ao chegar, ele decide partir em sua jornada sozinho (O coração do verdadeiro

crédulo, episódio 01, primeira temporada). Ele reencontra o filho na Terra do Nunca,

mas Baelfire não acredita na boa vontade do pai (Maus hábitos, episódio 04, terceira

temporada). Na tentativa de salvar Henry, ele prende o corpo de Peter Pan na caixa de

Pandora (A Nova Terra do Nunca, episódio 10, terceira temporada) sem saber que

momentos antes, Pan trocou de corpo com Henry. Ao descobrir o erro e, depois dos

corpos novamente trocados, Rumple se sacrifica para salvar Storybrooke e a família

(Serenata de Nova York, episódio 12, terceira temporada).

O feiticeiro é ressuscitado por Bela e Neal (Mentes Silenciosas, episódio 15,

terceira temporada), mas toda mágica tem um preço e no caso, é a vida de Neal. Rumple

tenta salvá-lo, colocando-o dentro de seu próprio corpo enquanto Zelena toma a adaga e

o tem sob seu controle. Entretanto, ao voltarem à Storybrooke, Neal decide morrer para

poder contar que Zelena é a Bruxa Má do Oeste. Após a derrota de Zelena (Kansas,

episódio 20, terceira temporada), o feiticeiro entrega a adaga à Bela e a pede em

casamento. Ele promete não matar Zelena, porém descumpre com o acordo. Eles se

casam (Portal do tempo, episódio 21, terceira temporada). Ao descobrir que o chapéu

está em Storybrooke, Rumple recupera a adaga. (Dentro do gelo, episódio 02, quarta

temporada).

Rumple faz com que Killian sugue o Aprendiz para dentro do chapéu, grava e

usa isso para que Gancho o ajude em seus planos de ser invencível. Usando diversas

tramoias e enganos, inclusive, tentando sugar o poder de Emma Swan (Queda, episódio

09, quarta temporada), o Sombrio procede em seus planos de se livrar da adaga, todavia,

Anna revela que já o conhecia antes (Escuridão nos limites da cidade, episódio 12,

quarta temporada) e Bela encontra a manopla que a guia até a adaga verdadeira. Ao se

deparar com isso, ela o controla momentos antes dele matar Gancho (precisava do

coração de alguém que o conhecera antes de se tornar o Senhor das Trevas para

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completar o feitiço que o tornaria invencível) e o bane da cidade. Por ir para o mundo

sem poderes, ele volta a ser manco. Procura abrigo com Úrsula, a Bruxa do mar.

Rumplestiltskin procura Úrsula e Cruela para reescreverem seus finais felizes.

(Sem perdão, episódio 13, quarta temporada). O plano para isso é encontrar o autor do

livro de Henry, pois acreditam que tudo o que ele escreva, acontece. Pedirão para que

ele reescreva seus finais felizes. Emma permite a entrada de Úrsula e Cruela na cidade

(por terem ajudado a vencer um monstro) e, mais tarde, elas permitem a entrada de

Rumplestiltskin. Eles dão início ao seu plano, que consiste em ressuscitar Malévola,

encontrar o autor, escurecer o coração de Emma e reescrever seus finais felizes. Ele

recupera a adaga se passando por Gancho (Pobre alma, episódio 15, quarta

temporada).Porém, ele revela que está em débito com a magia, seu coração está ficando

negro e consumido pelas sombras. Ele precisa reverter as regras de maneira rápida, por

isso precisa do autor. (O coração de Gold, episódio 17, quarta temporada). Caso não

consiga reverter, seu coração ficará petrificado e ele perderá a capacidade de amar.

(Lily, episódio 19, quarta temporada). O autor vai até Rumple com a pena e tinta e

reescreve a história de todos (Operação Mangusto, episódio 21, quarta temporada).

Nessa nova história, Rumple é um herói, casado com Bela e ambos têm um filho. O

autor o convence que Henry fará com que perca seu final feliz, e ele tenta matá-lo, em

vão, porque Regina o salva. Henry é escolhido como novo autor e leva todos de volta à

Storybrooke. Rumple piora e o aprendiz tenta tirar a escuridão do seu coração. Ele

consegue, mas Rumple perde os poderes, seu nome não está mais na adaga e seu

coração volta a ser puro. Mas, sua escuridão vai para Emma. (Operação Mangusto,

episódios 22 e 23, quarta temporada).

Em OnceUpon a Time, Rumplestiltskin é interpretado pelo ator Robert Carlyle.

3.1.2. Covardia em abandono em uma estrada que leva às trevas

Na versão compilada pelos irmãos Grimm, Rumplestiltskin (ou Rumpelstino, em

algumas traduções) é um homem pequeno que propõe acordos. Na história, a filha de

um moleiro é levada até o rei pelo pai porque este dizia que a moça sabia transformar

palha em ouro. A sentença do rei é que a garota transforme um quarto cheio palha em

ouro até a manhã seguinte. Se a moça não desse conta, morreria. Após ficar sozinha, ela

chorava e um homenzinho entrou e indagou o motivo da aflição. Ao ouvir, ele sugere

que faria o serviço proposto desde que ganhe algo em troca. A moça lhe dá o colar. O

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rei, ambicioso ao ver o resultado do trabalho, a conduz a uma sala ainda maior com a

mesma ordem. O homenzinho apareceu novamente e, desta vez, a garota lhe deu o anel

que usava para que, novamente, transformasse palha em ouro. Mais uma vez, a ambição

do rei cresceu e a conduziu ao terceiro quarto. A promessa era que se a moça, mais uma

vez, transformasse palha em ouro, seria a nova rainha. Quando o homenzinho chegou, a

moça não possuía mais nada. Então, ele sugeriu que ela lhe entregasse o primeiro filho.

Um ano após esse acontecimento, o homenzinho volta ao palácio para buscar o príncipe

recém-nascido. Após ver o desespero da rainha, propõe um último acordo: a moça

precisa descobrir seu nome e ele desistirá da criança. Após três dias de busca, ela

consegue e o Rumplestiltskin é derrotado e some.

De repente, a porta abriu-se e entrou um homenzinho.

-Boa noite, moça, por que choras tanto?

-Ah! disse ela.- Devo transformar palha em ouro e não sei fazê-lo.

-Que me darás se o fizer por ti?

-O meu colar. (GRIMM, 1968, p. 93).

Um homenzinho engraçado saltava numa perna só em volta da

fogueira dizendo:

"Chamo-me Rumpelstino,

Vou buscar o menininho

Da moleira, hoje a rainha.

E por isso danço e canto,

Mesmo que eu a deixe em pranto". (GRIMM, 1968, p. 94).

O primeiro elemento a ser observado são as características físicas do

personagem. Na literatura, o personagem é descrito como um homem pequeno,

semelhante aos gnomos e duendes. Não se fala muito mais sobre a aparência do

personagem.

Em Once Upon a Time, quando Rumplestiltskin se torna o Sombrio e ganha seus

poderes, sua aparência se transforma. Ao contrário da versão literária, Rumplestiltskin

possui a altura normal de um homem. Doc Comparato (2000) explica que, ao batizar um

personagem, "o nome representa classe e origem, e também predestina" (p. 127). Ao ser

construído, a aparência de Rumple chama a atenção, especialmente por sua pele

esverdeada e de aspecto enrugada. Desmembrando o seu nome, Rumple, em inglês,

significa amassado, enrugado, stil, também do inglês, é estilo, e skin, pele. O

significado seria estilo de pele enrugada, que foi usada no personagem. O personagem

tem unhas compridas e negras, os olhos se assemelham aos olhos de um réptil (cor), os

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dentes são amarelados e o cabelo frisado tem o comprimento até os ombros. As roupas

sempre têm mangas compridas e um colete, variando entre as cores.

Foto 07: Ilustração Rumplestiltskin por Veruscha Guerra

Fonte:

http://www.veruschkaguerra.com/#!untitled/zo

om/ucpjl/dataItem-iirzzdax

Quanto aos poderes de Rumplestiltskin, na literatura, o poder apresentado é a

capacidade de transformar palha em ouro usando uma máquina de fiar. Não é

apresentada outra capacidade mágica do personagem.

Já na série, o personagem se apresenta como o feiticeiro das trevas mais

poderoso que existe. Em vários momentos o vemos sentado à roca fiando fios de ouro.

Mas em Once, a mágica de Rumplestiltskin quase não tem limites. Alguma das únicas

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limitações impostas a ele é o poder de ressuscitar mortos e viajar entre os mundos. Do

contrário, não há limites para o que Rumplestiltskin possa fazer com sua magia. A

capacidade de fiar ouro foi usada como inspiração para o nome que possuiria no mundo

real: Gold.

O enredo da história apresenta Rumplestiltskin como alguém que faz serviços

mágico em troca de algo, que faz acordos. A princípio, seu interesse é por objetos

materiais: colar e anel da moça. Por fim, ele pede o primogênito da moça, a quem vai

cobrar assim que a criança nasce.

Já o Rumplestiltskin televisivo é procurado quando é necessária ajuda mágica.

Rumplestiltskin lhe responde que "Mágica sempre tem um preço", e cobra o equivalente

à magia praticada. Em alguns momentos, é uma informação, um objeto valioso, ou uma

serviçal - caso de Bela. Em outros, é algo que o auxiliará em uma poção, como os fios

de cabelo de Branca de Neve e o Príncipe Encantado.

Quanto ao modo de ser Rumplestiltskin literário não tem muito o que apresentar.

Mostra-se ambicioso, ao sugerir trocas por seus serviços, sagaz e explosivo, como na

última cena em que fica furioso pela rainha acertar seu nome. O homenzinho bate o pé

com tanta força que abre um buraco enorme. Não há transformações em seu caráter: ele

anda linearmente e sabe-se o que esperar do personagem.

Na série Once Upon a Time é apresentado com história de vida mais complexa:

é repleto de traumas- devido aos abandonos que sofreu, medo de ser covarde como o pai

e muito ambicioso, após ser corrompido pelo poder das trevas. Seu caráter sofre

transformações no desenrolar da história, tornando-o um personagem complexo.

Quando ele perde Baelfire e Bela, em alguns momentos, torna-se vingativo e perigoso.

Quando os têm por perto, o amor que sente por ambos controla seu pior lado e revela o

lado humano que possui. Sua briga entre trevas e luz está sempre constante, dificultada

pelo amor ao poder que adquiriu em seus anos como Sombrio. A cena em que conversa

com Emma Swan exemplifica isso:

Emma: O que você faria?

Rumplestiltskin: Não iria lá por nada.

Emma: O quê? Por quê?

Rumplestiltskin: Porque, Emma, não sou como você. Sou um homem

que faz decisões erradas, egoístas.

Emma: Mas gastou aquele tempo procurando por Neal. Sacrificou-se

pela cidade. Casou-se com Bela.

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Rumplestiltskin: E cada vez, cuidadosamente, desfaço tudo de bom.

Neal se foi, a cidade ainda corre perigo e, Bela, para bem ou mal, sabe

quem sou, e esse é o homem que sempre escolhe o poder.

Emma: Ela acha que você pode mudar.

Rumplestiltskin: E a amo por isso. Mas temo que esteja errada.

(ONCE UPON A TIME, 2014, episódio 09, quarta temporada

Alguns elementos que não aparecem na história original são apresentados em

Once. O principal é a presença da adaga, que deu poder a Rumplestiltskin quando matou

o antigo Sombrio e dá o controle do feiticeiro a quem possuí-la. É o maior símbolo de

seu poder:

Rumple: Isso [adaga] me transformou em um monstro obcecado por

poder, quando tudo que eu realmente precisava era de você. Do seu

amor. E agora, com Bela, eu tenho amor na minha vida de novo.Eu só

menti para ela para vingar sua morte. E garanto, Baelfire, que serei

aquele homem [pelo qual você morreu]. (ONCE UPON A TIME,

2014, episódio 01, quarta temporada)

Na literatura, a principal participação do personagem é auxiliar uma moça em

problemas a transformar palha em ouro. O Rumplestiltskin da série repete essa façanha.

Mas, ele se apaixona e se envolve com a moça, Cora. Em seguida é abandonado por ela.

Também é possível notar que o personagem assume outros papéis de histórias

da literatura infantil. A exemplo, o Crocodilo, inimigo do Capitão Gancho, na história

de Peter Pan. Nessa versão, o aspecto enrugado e esverdeado de sua pele, se assemelha

à pele do crocodilo. Ele cumpre seu papel arrancando a mão do capitão que o faz usar o

gancho. Ao invés de devorá-la, como o crocodilo faz no livro, ele a decepa com uma

espada. Ainda assume o papel da Fera, em A Bela e a Fera. Embora Bela e Rumple se

apaixonem no período em que ela era sua serviçal (ao contrário do livro, em que ela é

uma hóspede), o final feliz do casal não acontece na Floresta Encantada, pois a ganância

de Rumple por poder sempre o afasta de Bela.

Ao observar a história de Rumplestiltiskin, é possível notar dois fatores

importantes: o primeiro é o abandono. O personagem é abandonado primeiro pelo pai,

pela esposa, por Cora e, por fim, acaba abandonando o filho, Balfire. O segundo fator é

a covardia, seja o medo de ser covarde, seja as consequências de decisões tomadas em

alguns momentos.

Rumple: Isso [adaga] me transformou em um monstro obcecado por

poder, quando tudo que eu realmente precisava era de você. Do seu

amor. E agora, com Bela, eu tenho amor na minha vida de novo.Eu só

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menti para ela para vingar sua morte. E garanto, Baelfire, que serei

aquele homem [pelo qual você morreu]. (ONCE UPON A TIME,

2014, episódio 01, quarta temporada)

Ao observar o personagem televisivo, percebe-se um personagem repleto de

medos e traumas sofridos desde a infância. O garoto não tinha mãe, foi abandonado pelo

pai, é chamado de covarde por fugir da guerra, é abandonado pela esposa e tem grandes

chances de perder seu filho, a quem mais amava, para a guerra. Rumple não teve uma

vida fácil, o que fez que tomasse decisões erradas. Sua história oscila entre ele sendo

um herói e um vilão. Ao final da quarta temporada, compreende-se que, sem a mágica

das trevas, ele pode ter a chance de reescrever a sua história como um homem normal.

Ao colocar a história de Rumplestiltskin na estrutura proposta por Propp,

percebe-se que a história repete os ciclos de preparação, transferência e luta antes de

chegar ao reconhecimento. É necessário pensar em Rumplestiltskin como protagonista/

herói de sua própria história, apesar de suas atitudes, em vários momentos, serem as de

um vilão, papel que exerceu em um período na série.

PREPARAÇÃO:

1- Um membro da família sai de casa: Pai de Rumplestiltskin o abandona.

Posteriormente, Milah o abandona.

COMPLICAÇÃO

8- O vilão prejudica um membro da família: Bae é convocado para a guerra.

9- Essa necessidade ou infortúnio é revelada; o herói recebe um pedido ou

ordem e parte ou é enviado para uma missão/ busca: Rumplestiltskin parte para o

castelo em busca da adaga do Senhor das Trevas

10-O herói planeja uma ação contra o vilão: Rumplestiltskin planeja tomar o

castelo incendiando o lugar, esvaziando e roubando a adaga.

12- O herói é testado, atacado, interrogado, e, consequentemente, recebe um

agente mágico ou ajudante: Rumplestiltskin testa sua própria coragem ao entrar no

castelo em chamas e pegar a adaga. Encontra e tem o poder sobre Zoso.

13- O herói usa o agente mágico: Mata Zoso e torna-se o Senhor das Trevas.

18- O vilão é derrotado: Como Sombrio, Rumplestiltskin impede a ida de

Baelfire à guerra. Em outro episódio, é comentado que ele acabou com a guerra, mas

isso não é mostrado no enredo da série.

A história entra em um novo ciclo

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PREPARAÇÃO

2- Impõe-se sobre o herói uma proibição ou norma: Rumplestiltskin tem o poder

das trevas.

COMPLICAÇÃO

8- O vilão prejudica um membro da família: Por medo de perder seu poder,

Rumplestiltskin abandona Baelfire que cai no portal que o levará a outro mundo.

8a- Um membro da família precisa de alguma coisa ou deseja algo: Baelfire

precisa ser resgatado.

9- Essa necessidade ou infortúnio é revelada; o herói recebe um pedido ou

ordem e parte ou é enviado para uma missão/ busca: Rumplestiltskin descobre sobre a

maldição e parte em busca dela.

10- O herói planeja uma ação contra o vilão: Entra todo o planejamento de

Rumplestiltskin, desde treinar alguém para que lance a maldição, descobrir a poção do

amor, a mágica mais poderosa de todos, para que haja alguém que quebre a maldição,

trazer a magia a este lugar para que recupere seus poderes como Sombrio e procure por

Baelfire.

12. O herói é testado, atacado, interrogado, e, consequentemente, recebe um

agente mágico ou um ajudante: Após anos de busca, ele conhece Regina, uma moça que

tem seu coração partido e a escolhe para lançar a maldição. Começa a lhe ensinar

magia.

14- O herói usa o agente mágico: Rumplestiltskin induz Regina a lançar a

maldição e assim ela o faz.

15- O herói é transferido para o lugar onde está o objeto de sua missão/ busca:

Rumplestiltskin chega ao nosso mundo, em Storybrooke.

LUTA:

19- O infortúnio, ou necessidade original, é sanado: Baelfire é encontrado.

RETORNO:

20- O herói retorna: Rumplestiltskin e Baelfire (Neal) vão a Storybrooke.

23- O herói chega em casa ou em algum outro lugar e não é reconhecido:

Baelfire não acredita na mudança do pai

24- Um falso herói faz reinvidicações falsas: Greg e Tamara querem destruir a

magia e sequestrar Henry.

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25- Uma difícil tarefa é estipulada para o herói: Salvar Henry na Terra do

Nunca.

26- A tarefa é realizada; Resgatam Henry, o levam de volta para casa. Mas para

salvar a todos, incluindo o filho, o neto, Bela e todos os habitantes da cidade,

Rumplestiltskin se sacrifica.

27- O herói é reconhecido: Todos honram a morte de Rumplestiltskin.

RETORNO

21- O herói é perseguido: Zelena faz com que Bela e Neal ressuscitem

Rumplestiltskin e toma a adaga para controlá-lo.

22- O herói é salvo da perseguição: Após ser controlado, Regina derrota Zelena

e Rumplestiltskin é liberto de seu controle.

30- O vilão é punido: Zelena é morta.

31- O herói se casa e é coroado: Casa-se com Bela

Outro ciclo começa:

PREPARAÇÃO:

7- Sem saber, a vítima ajuda o vilão sendo enganada ou influenciada por ele:

Rumplestiltskin, ao descobrir sobre o chapéu, é influenciado por sua ganância a obter

mais poder.

8- O vilão prejudica um membro da família: Bela é magoada ao descobrir as

mentirar que Rumplestiltskin contou por causa de sua ganância.

COMPLICAÇÃO

9- Essa necessidade ou infortúnio é revelada; o herói recebe um pedido ou

ordem e parte ou é enviado para uma missão/ busca: Após ser banido por Bela,

Rumplestiltskin perde os poderes e volta a ser manco. Também lhe é revelado que seu

coração está virando carvão pelos anos que usou o poder das trevas. Descobre sobre o

poder do livro e do autor e que isso poderia salvá-lo.

TRANSFERÊNCIA

12. O herói é testado, atacado, interrogado, e, consequentemente, recebe um

agente mágico ou um ajudante: Após ter de reconquistar a confiança de Cruella, Úrsula

e Malévola, Rumplestiltskin volta à cidade de Storybrooke e encontra o autor.

14- O herói usa o agente mágico: O autor reescreve as histórias

15- O herói é transferido para o lugar onde está o objeto de sua missão/ busca:

Livro Vilões e Heróis.

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LUTA

19- O infortúnio, ou necessidade original, é sanado: Henry se torna autor, todos

voltam à Storybrooke e o ajudante de Merlim remove as trevas de Rumplestiltskin.

Ao observar a história de Rumplestiltskin, esses são os seus vilões: primeiro, A

guerra dos Ogros; segundo, as Trevas que o dominam; terceiro: Zelena, a bruxa má do

Oeste; quarto: sua ambição por poder/ trevas. O ciclo de Rumplestiltskin não se fecha,

já que a série ainda não foi finalizada. Ao final da quarta temporada, ele tem uma

chance de reescrever a sua história, porque não tem o que mais o atrapalhava em suas

decisões: o poder das trevas do Sombrio.

3.2. Regina: As consequências de um coração que se feriu.

Regina é filha da Feiticeira Cora com Henry. A garota está solteira, sem planos

para casamento e constantemente corrigida por sua mãe, por meio de magia (O homem

do estábulo, episódio 18, primeira temporada). Ela ama e mantém um relacionamento

em segredo como cocheiro da família, Daniel. Um dia, quando ambos estão no campo,

um cavalo desgovernado passa por eles com uma garotinha em cima. Regina monta em

seu cavalo e a salva. A garota é a jovem princesa Branca de Neve. O Rei quer agradecer

à moça por ter salvado sua filha. Então, ele vai até a jovem e lhe propõe casamento.

Cora aceita o pedido pela filha. Desesperada, Regina procura conforto nos braços de

Daniel e propõe fuga. Ele pega um anel de um estribo e lhe pede em casamento. Eles se

beijam e são pegos por Branca de Neve.

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Foto 08: Regina e Daniel

Fonte: Once Upon a Time, O Homem do estábulo, episódio 18, primeira temporada

Regina pede à menina para não contar a ninguém. Branca de Neve concorda,

mas, enganada por Cora, conta à feiticeira sobre os planos de Regina e Daniel. Cora os

surpreende e finge abençoa-los, mas quando vai conversar com Daniel, lhe arranca o

coração e o esmaga. Regina entra em pânico. Branca de Neve comenta com Regina que

foi ela quem contou à Cora sobre os dois. Sua justificativa é que não queria que Regina

ficasse sem a mãe. Regina esconde da menina que Daniel foi morto e lhe diz que este

fugiu.

O maior medo de Regina é se tornar parecida com a mãe. Ela conhece

Rumplestiltskin e ele a aconselha a aprender magia (Nós somos os dois, episódio 02,

segunda temporada). No dia de seu casamento, ela recebe um espelho de presente.

Enquanto conversa com Cora, Rumple aparece no espelho e a ensina a prender Cora

dentro dele. Regina usa mágica pela primeira vez e Rumple lhe diz que a ensinará.

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Foto 09: Regina e Cora momentos antes do casamento

Fonte: Once Upon a Time, Nós somos os dois, episódio 2, quarta temporada.

A Rainha ainda está deprimida. Ela não quer ter um futuro tenebroso como o de

Rumplestiltskin (Uma Fada Comum, episódio 03, terceira temporada). Acidentalmente

ela cai da torre do seu castelo, mas é salva por Sininho. A fada lhe diz que o que Regina

precisa é amor e que pode ajudá-la a encontrá-lo. Rouba um pouco de pó das fadas e a

conduz até o homem que é destinado a ela (um homem com tatuagem de leão no braço).

No entanto, Regina se acovarda e foge. Por causa disso, a Fada é penalizada e perde as

suas asas.

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Foto 10: Regina como Rainha Má

Fonte: Divulgação Once Upon a Time

Após perseguir Branca de Neve de diversas maneiras, Regina, finalmente,

captura o Príncipe e diz à Princesa que se ela quer que as perseguições cessem, inclusive

a perseguição aos seus amigos, ela deve encontrá-la no lugar em que se conheceram

(Uma maçã vermelha como o sangue, episódio 21, e Uma Terra sem magia, episódio

22, primeira temporada). Ao chegar, Regina aponta o túmulo de Daniel, e lhe conta a

história verdadeira sobre sua morte. Ela guarda o anel que o cocheiro lhe deu com a

imagem feita com mágica. Regina diz que sua vingança é essa: se ela não teve final

feliz, Branca de Neve também não teria. Ela entrega à Branca de Neve a maçã

envenenada. Branca a come e cai na maldição do sono.

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Foto 11: Regina entregando a maçã envenenada à Branca de Neve

Fonte: Once Upon a Time, Uma maçã vermelha como o sangue, episódio 22, primeira

temporada

(A trama do grilo, episódio 10, segunda temporada). Em um plano para testar a

Rainha, que ela falha, um encanto é lançado e ela não pode mais ferir Branca de Neve

ou as pessoas do reino. Regina fica furiosa, então, Rumplestiltskin lhe conta sobre uma

maldição que colocaria fim nos finais felizes de todo reino.

Regina começa a colocar o plano em prática. Primeiro, ameaça o novo reino no

casamento de Branca de Neve e Príncipe Encantado (Piloto, episódio 01, primeira

temporada). Em seguida, começa a procurar pela maldição (Aquilo que você mais ama,

episódio 02, primeira temporada). Ao consegui-la com Malévola, ela entra em dúvida

quanto ao último ingrediente, o coração de quem mais ama. Primeiro, ela faz um acordo

com Gancho (Rainha de Copas, episódio 09, segunda temporada) para que mate Cora, já

que considerava o amor como fraqueza e a mãe era sua fraqueza. Depois, arranca o

coração de seu pai, Henry, e lança a maldição (Aquilo que você mais ama, episódio 02,

segunda temporada).

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Foto 12: Regina como prefeita de Storybrooke

Fonte: Once Upon a Time, Piloto,episódio 01, primeira temporada

Após lançar a maldição, Regina acorda em Storybrooke e, nos primeiros dias,

sente-se satisfeita. (Bem vindos à Storybrooke, episódio 17, segunda temporada). No

local em que a cidade apareceu, um homem, Greg, acampa com seu filho, Owen. Ao

passar dos dias, Regina vai se cansando da rotina de Storybrooke e não está tão feliz

como achou que estaria. Ela conhece Owen e Kurt. A princípio, tem medo de que

ambos atrapalhem seus planos. Acaba se afeiçoado ao garoto e pede ao pai que ele e

filho fiquem na cidade. O homem se recusa, o que faz Regina entrar em desespero e

pedir a Graham (ex-caçador, agora Xerife de Storybrooke), para prender Kurt. O pai

tenta fugir, consegue fazer com que Owen escape da cidade, mas acaba sendo preso e

ficando nela.

Regina sente falta de Owen e procura Gold para que ele lhe ajude a adotar uma

criança (Salvar Henry, episódio 09, terceira temporada). Ela adota um garotinho e o

chama de Henry Daniel Mills. Descobre que Emma, a filha de Branca de Neve, é a mãe

biológica do garoto. Pensa em abandoná-lo, mas, acaba amando-o e desiste da ideia.

Coloca-o em primeiro lugar e toma uma poção para esquecer sobre Emma.

Dez anos se passam e Emma chega à Storybrooke (Piloto, episódio 01, primeira

temporada). Regina sente-se assustada ao saber que a mãe biológica de Henry está ali.

Ela trava uma guerra com a salvadora. Na eminência de perdê-lo e ter a maldição

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quebrada, com a ajuda de Jeferson, Regina busca a maçã a qual envenenou Branca de

Neve e faz uma torta para Emma (Uma maçã mais vermelha que o sangue, episódio 21,

primeira temporada). Porém, é Henry quem come a torta e a cai na maldição do sono.

As duas mães têm de se unir para salvar a vida de Henry. Recebem a notícia de que o

menino não resistiu. Regina entra em desespero ao pensar que o perdeu. A maldição é

quebrada, a memória de todos volta, e Regina precisa se esconder.

A mágica está diferente em Storybrooke. Regina pede a Rumplestiltskin o livro

de magias da mãe (Nós somos os dois, episódio 02, segunda temporada). No entanto,

Henry pede que ela não use mais magia, por ele e ela aceita o desafio pelo menino. Para

ajudá-la, procura o psicólogo (e Grilo Falante), Dr. Hooper (O Doutor, episódio 05,

segunda temporada).

Quando Branca e Emma retornam à cidade, é feita uma comemoração (A trama

do Grilo, episódio 10, segunda temporada) e Regina é convidada. Ela vai, mesmo que se

sentindo deslocada. No entanto, Cora e Gancho também chegam à cidade e querem

Regina em seus planos. Eles sequestram Dr. Hooper e a incriminam. Quando é acusada,

acaba perdendo o controle com a magia e foge. Archie consegue fugir e Regina é

declarada inocente (O Forasteiro, episódio 11, segunda temporada).

Cora se disfarça de Henry para encontrar a filha (Em nome do irmão, episódio

12, segunda temporada). Ela convence a filha a ficar do seu lado, usando o argumento

de que a cidade se viraria contra ela na primeira oportunidade. Regina reata com Cora

na esperança de trazer Henry de volta. A escuridão parece começar a voltar em Regina.

Rumplestiltskin induz Branca de Neve a matar Cora. Para isso, ele diz que a vida

dele que está em risco pode ser trocada pela da Bruxa. Ela só precisa sussurrar em uma

vela preta o nome de Cora e convencer Regina a colocar o coração de volta no peito da

mãe. O argumento de Branca é que dessa maneira, Cora será capaz de amar novamente.

No ímpeto de ser amada, ela coloca o coração na mãe sem saber que está enfeitiçado.

Cora morre em seus braços (A Filha do Moleiro, episódio 16, segunda temporada).

A Rainha escuta os planos de Mary Margaret e David de irem embora com

Henry e Emma, e deixar a Rainha para trás (A Rainha Má, episódio 20, segunda

temporada). Ela conta a Henry sobre um gatilho na maldição que, se acionado, matará a

todos.

Gancho ajuda Emma, Mary Margaret e David a libertar Regina (que foi

sequestrada por Owen/Greg e Tamara) e todos passam a trabalhar juntos (Seguindo até

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o amanhecer, episódio 22, segunda temporada). Quando o gatilho é ativado, Regina

decide se sacrificar para salvar Henry e a cidade. Emma tenta impedi-la. Ambas

trabalham juntas e conseguem parar o gatilho.

Greg e Tamara sequestram Henry, o que faz com que Emma, David, Branca de

Neve, Rumplestiltskin, Regina e Gancho irem até a Terra do Nunca para salvá-lo.

Ao chegarem à Terra do Nunca, passam a trabalhar juntos. Conseguem levar o

menino para casa, sem saber que Pan trocou de corpo com Henry (A Nova Terra do

Nunca, episódio 10, terceira temporada). Quando fazem a troca (Serenata de Nova

York, episódio 12, terceira temporada), e Pan coloca a vida dos habitantes da cidade em

perigo, Regina vê a solução: Levar os moradores de volta à Floresta Encantada. No

entanto, Henry e Emma ficariam.

Todos voltaram à floresta encantada. Regina sente muita dor, por isso, tenta

retirar e esconder seu coração para não sentir a dor de não ver mais Henry (Caça à

Bruxa, episódio 13, terceira temporada). Ela conhece Robin Hood. O castelo de Regina

foi invadido e ela e Robin tentam retomá-lo. Na verdade, ela queria dormir sob efeito da

maldição do sono para não viver sem Henry. Porém, ela descobre que Zelena, a bruxa

má do oeste é sua irmã e isso lhe dá motivos para ficar acordada. Ela ajuda Branca de

Neve e David a criarem uma nova maldição que os enviará para Storybrooke. Zelena

lança um feitiço na maldição que não os deixará se lembrar do tempo em que passaram

na floresta encantada (Uma coisa curiosa, episódio 19, terceira temporada). Todos

voltam para o nosso mundo.

Quando Henry e Emma retornam à cidade, Regina se emociona ao rever Henry

(Caça à Bruxa, episódio 13, terceira temporada). Todavia, ele não a reconhece e isso a

entristece. Ela reencontra Robin em Storybrooke, e eles ficam próximos. Ela vê a

tatuagem de leão em seu braço.

Regina e Branca de Neve finalmente se tornam amigas. Branca diz que o

coração de Regina encontrará felicidade. Zelena rouba o coração de Regina para usar

em um feitiço, pois é um coração resiliente. É um portal do tempo que faria com que

Rumple a escolhesse como aprendiz ao invés de Regina. Rumple lhe responde que

optou por Regina porque ela era capaz de amar. Regina resolve se arriscar e beija Robin

(Passado obscuro, episódio 18, terceira temporada).

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Foto 13: Regina e Robin Hood

Fonte: Once Upon a Time, Passado Obscuro, episódio 18, terceira temporada.

Regina quebra a maldição de Zelena dando um beijo na testa de Henry (Uma

coisa curiosa, episódio 19, terceira temporada). Todos têm suas memórias de volta após

a quebra da maldição. Ela descobre que tem “magia de luz” (Kansas, episódio 20,

terceira temporada) e derrota Zelena com essa magia. Quando Rumplestiltskin se liberta

e tenta matar a bruxa má do Oeste, ela o impede, alegando que “Heróis não matam”.

O portal do tempo de Zelena é ativado (O lar é o melhor lugar, episódio 22,

terceira temporada). Emma e Gancho caem nele e tentam voltar ao presente em nosso

mundo. Quando retornam, trazem consigo uma mulher, livrando-a da morte. Não

sabem, no entanto, que essa mulher é Marian, esposa de Robin Hood.

Regina fica arrasada ao descobrir quem é Marian (Um conto de duas irmãs,

episódio 01, quarta temporada). Robin escolhe a esposa por causa de Rolan, seu filho.

Ela prova à Marian que mudou quando tem a oportunidade de deixá-la morrer, mas a

salva.

Regina e Henry começam a buscar o autor do livro (Estrada Rochosa, episódio

03, quarta temporada). Marian é enfeitiçada e Regina lhe tira coração (para o feitiço não

atingi-lo) e promete que encontrará uma cura.

Robin liga para Regina e quando o encontra, ele diz que surgiu em sua bolsa

uma página do livro que contaria a história de Regina e Robin caso ela tivesse entrado

na taberna (Queda, episódio 09, quarta temporada). Regina percebe que a página se

encaixa na mesma página que, originalmente, ela foge.

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Com a Rainha da Neve morta, Regina desperta Marian (Escuridão nos limites da

cidade, episódio 12, quarta temporada). A moça diz que não ficará no caminho de

Regina e Robin. Ele escolhe Regina, mas Marian cai sob o feitiço novamente. A Rainha

sugere que ele, Marian e Roland se encaminhem para fora dos limites de Storybrooke,

no mundo sem mágica para que Marian sobreviva. Contudo, graças ao feitiço da Rainha

da Neve, quem sai da cidade não pode mais voltar.

Com a chegada das “Rainhas da escuridão” em Storybrooke, é pedido a Regina

que se infiltre nos planos das vilãs, fingindo não ter mudado (A volta do dragão,

episódio 14, quarta temporada). Ela consegue enganar Rumple e as vilãs, mas é

descoberta e o feiticeiro lhe pede ajuda, usando a vida de Robin como instrumento de

barganha. (Lily, episódio 19, quarta temporada). Ele liga e Marian atende, porém, na

verdade, é Zelena, quem está viva, e tomara o lugar de Marian apenas para tirar a

felicidade de Regina. A Rainha teme pela vida do amado. Emma e Regina saem de

viagem para Nova York (Mãe, episódio 20, quarta temporada). Elas encontram Robin e

descobrem que Zelena está grávida.

Regina e Emma voltam à Storybrooke, levando consigo Zelena, Robin, Roland e

Lily (Operação Mangusto, episódio 21, quarta temporada). Regina desiste de reescrever

sua história: "Robin não é o meu final feliz. Meu final feliz é me sentir bem em um

mundo e Robin faz parte dele."

O autor foge com a tinta e a pena e vai ao encontro de Rumple. Escreve um livro

chamado "Vilões e Heróis". Nele, Regina é uma mocinha que foge da Rainha Má, que

nessa versão, é Branca de Neve (Operação Mangusto, episódios 22 e 23, quarta

temporada). Henry acredita que se ele unir Regina e Robin antes que os sinos toquem,

que é o final, todos sairão do livro.

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Foto 14: Regina e Branca de Neve no livro: inversão de papéis.

Fonte: Once Upon a Time, Operação Mangusto, episódio 21, quarta temporada.

Henry se torna o novo autor e usa o sangue heroico de Regina para escrever um

novo final e salvar todos.

O aprendiz retira as trevas de Rumple e as coloca no chapéu. Porém, elas

escapam e procuram por Regina. Emma a salva e atrai as trevas para si para que,

finalmente, a amiga tenha seu final feliz.

Em OnceUpon a Time, Regina é interpretada pela atriz Lana Parrilla.

3.2.3. Espelho, Espelho, meu

Na versão compilada pelos irmãos Grimm, a Rainha má é a madrasta de Branca

de Neve e a persegue porque a princesa é mais bela do que ela. Todos os dias, a Rainha

indagava ao espelho quem era a mais bela do reino. Um dia, o espelho lhe responde que

é Branca de Neve. Com inveja, a rainha, primeiro, envia um caçador para matá-la e

arrancar-lhe o coração. Após descobrir que não foi isso que aconteceu, a Rainha envia à

moça um espartilho tão apertado que a princesa desmaia por falta de ar. Por último, usa

sua magia para envenenar uma maçã e se disfarçar de idosa. Ao final da história, a

Rainha Má acaba perdendo seu reino. Em algumas versões ela é morta, em outras, é

banida.

Um ano mais tarde, o rei casou-se novamente com uma mulher muito

bonita, porém pretenciosa e altiva, não suportando que alguém lhe

disputasse a beleza. Possuía um lindo espelho ao qual fazia todas as

manhãs a mesma pergunta: - Diga-me, espelho meu, há alguém no

mundo mais bela do que eu? (GRIMM, 1968, p. 49)

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O texto original não dá características físicas da personagem, exceto pelo fato de

ser muito bonita. Na série, as mudanças físicas são trabalhadas de acordo com o

momento da história. Antes de se entregar às trevas, Regina usava roupas e maquiagens

claras. Os cabelos sempre estavam penteados de maneira simples. Ao se tornar a Rainha

Má, ela passa a usar roupas escuras, em sua maioria negras, variando para alguns

detalhes de vinho, roxo ou vermelho. Olhos e lábios sempre são marcados por cores

fortes e bem delineados. O cabelo sempre está arrumado com penteados complicados,

de uma rainha. Em Storybrooke, a prefeita sempre usa terninhos pretos, variando um

pouco a cor a partir da segunda temporada, mas sem sair dos tons escuros e neutros. Os

lábios sempre têm cores fortes e os olhos são maquiados.

Foto 15: Ilustração Rainha Má por Veruscha Guerra

Fonte: https://www.tumblr.com/search/veruschka%20guerra

Quanto ao modo de ser, na literatura, ela é descrita como invejosa, altiva

pretensiosa e malvada. Não há explicação pelo ódio nutrido à Branca de Neve, apenas o

fato de a moça ter se tornado mais bela do que a rainha. Em Once Upon a Time, a

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personagem, a princípio, se apresenta como uma moça delicada e decente. Após o

assassinato de Daniel, ela se transforma em uma mulher amarga, solitária e com grande

desejo de vingança. Também se mostra ardilosa, ao elaborar planos que a auxiliariam a

se aproximar do seu objetivo. Ao chegar em Storybrooke e adotar Henry, mostra-se

como mãe dedicada e rígida, mas que sempre no melhor para o filho. Depois de

encontrar o caminho para a redenção, devido seu amor a Henry, ela continua com o

humor ácido, porém se torna confiável e uma das líderes da população de Storybrooke.

Alguns símbolos e características são mantidos do conto em que foi inspirado

para o roteiro televisivo. A maçã e o espelho mágico estão presentes nos dois casos e

são importantes para o decorrer da história. O fato de Regina ser usuária de magia

também foi reaproveitado do conto infantil. A série criou uma história dos corações, a

partir do pedido da Rainha ao caçador em arrancar o coração de Branca de Neve. Na

série, quando arrancados por magia, os corações se tornam mais resistentes e a pessoa

que o tem sob sua propriedade pode controlar aquele a quem o órgão pertence. Quando

esmagados, o dono morre, como foi o caso de Daniel, morto por Cora, e Graham

(caçador), morto por Regina.

Um aspecto trabalhado em Regina, mas que não é visto na Rainha Má literária, é

a capacidade de amar, fundamental para dar à personagem a história que lhe foi

proposta: a de ter esperança quando se tem amor. Depois de conhecer Owen, percebe o

quanto é solitária e pensa na adoção de um bebê. O nome da criança remete aos dois

homens que Regina amava: Henry (pai) e Daniel (primeiro amor). Lembrando que

quando um personagem é batizado em um roteiro, já descreve muito do que será. No

caso, Regina o amará mais do que tudo.

O coração de Regina se partiu, todavia o amor por Henry a fez mudar. A

princípio, na primeira temporada, ela continua como vilã, porém sua redenção acontece

quando não quer perder quem mais ama: Henry. Regina pensa em dar sua vida por

Storybrooke apenas para que o filho não a veja morrer como Rainha Má, mas como

Regina. Parte em missão com quem pensava ser seus piores inimigos para encontrá-lo e

é esse amor que a faz pensar na felicidade do garoto em primeiro lugar, ao invés da

dela. Edward Kitsis, um dos roteiristas, em episódio especial do lançamento da quarta

temporada, resume essa mudança em: "O amor que ela [Regina] sentia por ele [Henry]

começaria a mudá-la." (ONCE UPON A TIME, episódio 0, quarta temporada, 2014).

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Encontrar Robin Hood foi o que precisava para finalizar essa transformação,

pois chega a esperança de ser feliz novamente. Mesmo com os obstáculos que lhes são

apresentados, Regina aprende a tomar as decisões corretas, seja para não voltar ao

caminho das trevas, seja para não decepcionar Henry. Os roteiristas apresentam em

Regina uma ideia que permeia todos os personagens da série: "Existe uma linha tênue

entre o bem e o mal. Dissemos no seriado - O mal não vem de berço. É adquirido - e

com Regina, mostramos essa história pelos primeiros anos da série. (ONCE UPON A

TIME, 2014, episódio 0, quarta temporada). Um momento em que essa afirmação é

explicitada no decorrer da série, é em um diálogo entre Regina e Branca de Neve, que a

essa altura da história, já não eram mais inimigas, mas, aliadas:

Regina: Talvez o mal tenha nascido [comigo] e é quem eu sou.

Branca de neve: Regina, você me viu crescer. Sabe o quão egoísta e

fria eu fui quando criança. Sabe o que tenho feito desde então. Você

literalmente viu meu coração. Sabe que não é intocado. Você não é

toda má, e eu não sou toda boa. Não é tão simples assim. (ONCE

UPON A TIME, 2014, episódio 09, quarta temporada).

Esse diálogo deixa clara uma das mensagens da série: a vida dos personagens

eram páginas em branco que foram escritas de acordo com a escolha que tomavam.

Regina não era má, tornou-se assim, porém, encontrou o caminho da redenção, graças

ao amor que tinha por Henry e, posteriormente, por Robin. Regina é uma personagem

que passa por constantes mudanças no decorrer da narrativa, tirando-lhe a linearidade

literária e dando-lhe a característica evolutiva de um personagem de audiovisual.

Relacionando com a lista proposta por Propp, a história de Regina tem a

seguinte estrutura:

Preparação:

2- Impõe-se sobre o herói uma proibição ou norma: Casamento de Regina com o

Rei imposto por Cora.

4- O vilão tenta obter informações/ 5- O vilão passa a saber de algo sobre sua

vítima/ 6- O vilão tenta enganar a vítima para controlá-la: Cora obtém a informação de

que Daniel e Regina estão juntos enganando Branca de Neve.

Complicação:

8- O vilão prejudica um membro da família: Cora mata Henry

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Tranferência:

12- O herói é testado, atacado, interrogado, e, consequentemente, recebe um

agente mágico ou um ajudante: Regina tenta fugir do casamento mas Cora a impede.

Conhece Rumplestiltskin

14- O herói usa o agente mágico: Regina usa magia

Luta:

18- O vilão é derrotado: Cora é presa no espelho por Regina

Ao invés da história ser concluída, ela toma um novo rumo e tem um começo de

uma nova fase de Regina.

Complicação:

8a- Um membro da família precisa de alguma coisa ou deseja algo: Regina

deseja vingança e Rumplestiltskin usa isso para que ela lance a maldição.

9- Essa necessidade ou infortúnio é revelada; o herói recebe um pedido ou

ordem e parte ou é enviado para uma missão/ busca: Regina passa a procurar o

pergaminho da maldição e os ingredientes.

Transferência:

12- O herói é testado, atacado, interrogado e, consequentemente recebe um

agente mágico ou ajudante: Regina precisa arrancar o coração do pai para ter a

maldição. A consequência é a maldição.

13- O herói usa o agente mágico: Regina lança a maldição

15- O herói é transferido para o lugar onde está o objeto de sua missão: Chegada

dos personagens em Storybrooke.

Novamente, a história de Regina tem inicia outra fase:

Preparação:

2- Impõe-se sobre o herói uma proibição ou norma: Regina não consegue amar/

vazio em seu coração que não consegue preencher.

3- Essa proibição é violada: Regina adota Henry

Complicação:

8- O vilão prejudica um membro da família: Henry come a torta envenenada

9- O herói recebe um pedido: Henry pede que Regina mude.

10- O herói planeja uma ação contra o vilão: Todo o percurso de Regina para

mudança: terapia com Doutor Hopper, escolhas feitas para cumprir o que prometeu a

Henry, viagem à terra do Nunca para resgatá-lo, enviar todos de volta para a Floresta

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Encantada para salvar suas vidas, encontrar Zelena na Floresta Encantada, volta para

Storybrooke.

12- O herói é testado, atacado, interrogado, e, consequentemente, recebe um

agente mágico ou ajudante: Regina é desafiada por Zelena, vê seus amigos, filho e

namorado em perigo, luta com a bruxa, perde seu coração, tenta proteger Branca de

Neve e seu filho recém-nascido, mas falha. Ganha magia branca.

13- O herói usa o agente mágico: Regina usa magia branca.

17- O herói é estigmatizado: Marian volta do portal do tempo, ela vê seu

romance com Robin ameaçado. Devido à maldição da Rainha de gelo, Marian precisa

deixar Storybrooke levando Roland e Robin consigo. Regina tem o coração partido mais

uma vez.

24- Um herói falso faz reinvindicações falsas: Marian é na verdade é Zelena e

finge ser a esposa de Robin.

25- Uma difícil tarefa é estipulada para o herói: Regina precisa resgatar Robin de

Zelena e leva-los a Storybrooke.

29- O falso herói/ se transforma: Zelena revela quem é.

30- O vilão é punido: Zelena é presa em Storybrooke com uma pulseira que

anula seus poderes.

31- O herói se casa: Finalmente, Regina e Robin ficam juntos.

É necessário terceiro pensar em Regina como a heroína/ protagonista de sua

própria história. Quanto aos vilões de sua história, o primeiro é Cora, o segundo é o

desejo de vingança e solidão e o, Zelena.

3.3. Um Gancho no lugar de um coração: A história de Kilian Jones

Kilian Jones era tenente de um navio em que seu irmão, Liam, era o capitão

(Agir Corretamente-episódio 05, terceira temporada). Eles estão em uma missão na

Terra do Nunca. O Rei havia dito que lá havia uma planta miraculosa que será usada

como remédio, mas, na realidade, é sono sombrio, um veneno poderoso. Pan os avisa

sobre isso. Indignado com o comentário do menino, o capitão se fere com a planta para

provar a honra do rei e acaba sendo envenenado. Peter Pan fala sobre uma nascente

milagrosa que salvará a vida do irmão de Kilian, porém, avisa que ele não poderá deixar

a ilha. Liam morre ao deixarem a Terra do Nunca. Após a morte do irmão, Kilian se

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torna capitão e, ao invés de servir à marinha, se torna pirata. Segundo ele, o reino é

corrupto e imoral.

Foto 16: Kilian Jones como oficial da Marinha

Fonte: Once Upon a Time, Agir corretamente- episódio 5, terceira temporada.

Anos se passam e, agora, ele é conhecido como o pirata Kilian Jones. Conhece

Milah, esposa de um homem chamado Rumplestiltskin (Crocodilo-episódio 04, segunda

temporada). Ambos se apaixonam e Milah tenta fugir com Kilian. Rumplestiltskin

chega a ir atrás dela, mas não tem coragem de duelar com o pirata por ela. Tempos

depois, agora como o Sombrio, se depara novamente com Kilian.

Foto 17: Kilian como pirata

Fonte: Once Upon a Time, episódio 4, segunda temporada.

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Rumple indaga sobre Milah. Kilian lhe responde que ela está morta e, por causa

da aparência do feiticeiro, o chama de Crocodilo. É desafiado para um duelo, o qual

perde. Quando terá seu coração arrancado, é salvo por Milah. Ela diz ter um feijão

mágico e o trocará pela vida do amado. No momento da permuta, com raiva, Rumple

esmaga o coração de Milah na frente de Kilian e decepa a mão que pensa estar

segurando o feijão mágico. Após o funeral de Milah, ele coloca um Gancho no lugar de

sua mão e vai até à Terra do Nunca usando o feijão mágico.

Na Terra do Nunca, ele salva um garoto do mar (Seguindo até o amanhecer,

episódio 22, segunda temporada). Esse garoto é Baelfire. Ele percebe que ele é filho de

Milah. Pensa em usá-lo em sua vingança com Rumple, mas, acaba se afeiçoando a ele.

Baelfire descobre sobre Milah e confronta Gancho. Ele lhe oferece proteção e diz que

pode mudar, por ele. Bae responde que o pirata odeia tanto Rumplestiltskin que não

percebe que é igual a ele. Gancho o entrega aos meninos perdidos.

De volta à Floresta Encantada, ele descobre que a garota que Rumple ama está

aprisionada por Regina (Rainha de Copas, episódio 09, segunda temporada). Ele tenta

raptá-la, todavia, é pego pela Rainha. Ela entra em um acordo com Kilian: ele deve ir

até o País das Maravilhas, encontrar Cora e arrancar seu coração. Enfeitiça o Gancho do

pirata para isso. Quando ele a encontra, a Rainha de Copas leva vantagem porque

arrancou seu coração há muitos anos. Ela fala sobre a maldição e conta que Gancho

sequer se lembrará de quem é quando for amaldiçoada. Ambos entram em acordo e

fingem a morte de Cora. A bruxa protege uma parte da floresta encantada para que a

maldição não os atinja. Por 28 anos todos dormem para, então, tentar chegar em

Storybrooke.

A maldição é quebrada e, na tentativa de salvar Regina, Emma e Branca de

Neve, caem em um portal que as leva à Floresta Encantada (O Doutor, episódio 05,

segunda temporada). Depois de uma expedição, encontraram a aldeia que as abrigou

destruída e todos mortos, exceto um por um homem. É o capitão infiltrado. Emma

desconfia e o prende. Gancho conta todo o plano e sua união com Cora. Ele promete

ajudá-la a regressar para Storybrooke caso o liberte. O primeiro passo é encontrar uma

bússola encantada. Eles também procuram por um feijão mágico (Tallahasse, episódio

06, segunda temporada). Entretanto, Emma não confia nele e o deixa preso no pé de

feijão. Decepcionado, ele se alia novamente à Cora (Filha da Lua, episódio 07, segunda

temporada), pois tem sede de vingança. Apesar dos esforços de ambos, Emma e Branca

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de Neve voltam para Storybrooke. Porém, Gancho conseguiu um pouco de água do lago

Nostos, um lago que possui propriedades mágicas de cura, e revive um feijão mágico

que tinha guardado. Cora e ele chegam com o Jolly Roger (navio de Gancho) ao nosso

mundo. Eles sequestram o doutor Archie Hooper e o deixam no navio de Gancho, e

fazem com que pareça que Regina o matou. (A trama do Grilo, episódio 10, segunda

temporada).

Gancho indaga ao psicólogo sobre o ponto mais fraco de Rumplestiltskin (O

forasteiro, episódio 11, segunda temporada). Quando Rumplestiltskin vai cruzar a linha

da cidade, Gancho atira em Bela que acaba caindo fora dos limites de Storybrooke.

Logo em seguida, é atropelado por Greg, que acaba de invadir a cidade.

Ao saber que o Crocodilo está fora dos limites de Storybrooke e sem mágica,

Gancho sente-se impelido a ir atrás porque sabe que é o momento certo de vingar-se

(Manhattan, episódio 14, segunda temporada).

Começa a trabalhar com Branca de Neve, David, Regina e Emma para deter a

destruição de Storybrooke. No instinto de sobreviver, Gancho rouba o feijão mágico e

foge. Mas se recorda do tempo em que conviveu com Baelfire e retorna. Ao saber que

Henry foi sequestrado, oferece o Jolly Roger para levá-los à Terra do Nunca. Embarca

com Emma, Regina, Rumplestiltskin, Branca de Neve e David (Seguindo até o

amanhecer, episódio 22, segunda temporada).

David é envenenado pelos meninos perdidos, o mesmo veneno que matou o

irmão de Gancho (Agir corretamente, episódio 05, terceira temporada). Ele convence o

Príncipe a procurar um sextante que auxiliaria a desvendar o mapa de Baelfire. Peter

Pan encontra Kilian e oferece um acordo: matar o Príncipe para voltar para casa com

Emma. O pirata não aceita. Ao chegarem no pico, eles encontram a fonte miraculosa e

Gancho confessa que enganou David para levá-lo à cura. Também o alerta que se beber

daquela nascente, nunca mais sairia da Terra do Nunca. Quando David o agradece, ele

confessa que fez o que fez por Emma.

Ao voltarem para Sotrybrooke, Gancho se separa dos outros em busca do Jolly

Roger. Ele volta a saquear (Jolly Roger, episódio 17, terceira temporada), mas apresenta

mudanças, ao, por exemplo, recusar uma prostituta que lhe foi oferecida pelos seus

homens. Parte com Ariel em busca do navio que está nas mãos do Barba Negra. Ambos

têm um acordo, deixar o pirata viver para contar onde está o Príncipe Eric. Porém, ao

tomar o navio, ele quer se vingar de Barba Negra e o joga da prancha.

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Gancho estava fora da Floresta Encantada quando a segunda maldição aconteceu

(Passado obscuro-episódio 18, segunda temporada). Por isso, Neal, já aprisionado no

corpo do pai, envia um pássaro a ele para que volte ao nosso mundo e encontre Emma.

A mágica precisa de um preço e Gancho entrega o navio para voltar a esse mundo. Ele a

encontra (Serenata de Nova York, episódio 12, terceira temporada) e a convence de que

precisa voltar para Storybrooke.

Após a suposta "morte" de Zelena, o portal do tempo é ativado (Portal do

tempo,episódio 21, terceira temporada). Emma cai nesse portal e Kilian vai atrás. Ele a

ajuda a consertar as coisas quando voltam ao passado. Os dois tem um momento de

Príncipe e Princesa em um baile. Quando voltam, Emma lhe diz que ele também é um

herói. Ela descobre que ele trocou o navio para encontrá-la em Nova York. Emma

resolve dar uma chance a Kilian.

Foto 18: Gancho e Emma têm uma noite de contos de fadas

Fonte: Once Upon a Time, episódio 21, terceira temporada.

Kilian descobre sobre a adaga falsa e começa a barganhar com Rumplestiltskin

(Estrada rochosa, episódio 03, quarta temporada). A primeira coisa que pede é que o

feiticeiro religue sua mão ao corpo para poder abraçar Emma no final no primeiro

encontro (O aprendiz,episódio 04, quarta temporada). Rumple avisa que aquela mão

pertencia ao homem que costumava ser, e por isso, a mão ligada ao corpo poderia ser

influente em sua maneira de ser. Gancho desconsidera o aviso, mas em alguns

momentos da noite, acaba sendo agressivo. Para que a mão seja removida, Rumple

apresenta a condição de que o pirata o ajudaria futuramente. Para isso, Gancho suga o

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aprendiz para dentro do chapéu e Rumplestiltskin grava. Gancho deverá ajudá-lo caso

não queira que o vídeo seja divulgado.

Os planos de Rumple para obter poder vão caminhando e, aos poucos, ele

envolve Kilian (Quebrar o espelho, episódio 08, quarta temporada). Em determinado

momento, ele entende que o plano de Rumple é sugar Emma para o chapéu. Encontra o

mapa de onde ela está e tenta chegar a tempo. Chega ao local, mas é impedido de agir

por Gold. Rumple precisa do coração de alguém que o conhecia antes dele se tornar o

Senhor das Trevas para completar o feitiço. O único que se encaixa é Gancho. Por isso

não o mata. Rumple o obriga a prender as fadas dentro do chapéu (Visão

partida,episódio 10, quarta temporada). Ele começa o feitiço (Escuridão nos limites da

cidade,episódio 12, quarta temporada), mas antes de matar o pirata, é impedido e

controlado por Bela, que encontrou a adaga.

O autor escreve uma nova história e nela (Operação Mangusto,episódio 23,

quarta temporada), Gancho é um marujo covarde que ajuda Henry a libertar Emma. Ao

invés de Rum, ele bebe leite de cabra porque é alérgico. Ele enfrenta os soldados de

Branca de Neve e morre para salvar Emma e Henry. Ela revela que o ama, mas ele

morre sem saber. Depois que Henry tira todos do livro, Emma procura por ele e quase

diz que o ama, mas não consegue. Quando o aprendiz tenta tirar as trevas de Rumple e

Emma as atrai para si, ela finalmente lhe diz que o ama, antes de se tornar a Senhora das

Trevas.

Em Once Upon a Time, o capitão Gancho é interpretado pelo ator Colin O’

Donughue.

3.3.1. Olhos azuis como o miosótis

Em "Peter Pan", Capitão Gancho é o principal inimigo do garoto. Ao contrário

dos dois contos anteriores, "Peter Pan" primeiro era uma peça de teatro chamada "Peter

Pan" ou "O menino que não queria crescer". A peça foi lançada em Londres em 1904.

Em 1911, o autor James Barrie reescreveu-a em forma de prosa, intitulando como "Peter

and Wendy" e, posteriormente, "Peter Pan". Ainda diferente dos contos, essa história é

muito mais recente e sua forma não é do conto, mas do romance. No entanto, James

Gancho, o antagonista, se apresenta como um pirata mau desde o primeiro momento em

que é citado, e permanece assim durante a narrativa.

E foi então que Miguel começou a chorar mesmo, e até João só conseguiu

falar com dificuldade, pois eles conheciam a reputação de Gancho.

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-Ele foi imediato de Barba Negra- sussurrou João roucamente. - É o pior

pirata de todos. O único homem que botava medo no famoso Long John

Silver. (BARRIE, 2012, p. 78).

Na história original de Barrie, Capitão James Gancho tem esse nome por ter no

lugar de uma de suas mãos um gancho, resultado de uma luta com Peter Pan, o qual lhe

decepou a mão com uma espada e a atirou ao Crocodilo. Desde então, esse é o maior

medo de Gancho, pois a Fera está sempre a espreita para devorar o resto do pirata. Em

Once Upon a Time, Pan não é o responsável pela perda da mão, mas sim,

Rumplestiltskin. Gancho o chama de Crocodilo devido ao aspecto de sua pele: enrugada

e esverdeada. O que faz com que Rumplestiltskin seja seu maior inimigo não é ter

perdido sua mão, é o fato de o Sombrio ter matado Milah, a mulher que Gancho amava.

Outra diferença que se nota entre livro e série é o nome do personagem: James Gancho,

escrito por Barrie; Killian Jones em Once Upon a Time. O nome predestina um

personagem. Há a semelhança entre Killian e o verbo to kill, cujo significado é matar.

Traduzindo compreende-se que seja Jones o matador, ou, assassino, um nome que

combina com um pirata temido. Mas, ao contrário do livro em que o personagem já se

apresenta mau, Killian era um oficial da Marinha, imediato de seu irmão. Após a missão

falha de levar sono sombrio da Terra do Nunca ao seu reino, o que tem como

consequência a morte de seu irmão mais velho, Killian toma o navio para si, queima a

bandeira e promete não servir mais a um rei corrupto. A partir daí, nasce o pirata, que,

devido ao meio em que vive, torna-se sombrio e frio, qualidades que serão acentuadas

após a morte de Milah.

Outras características que diferem são as físicas das duas versões:

O Capitão Gancho era moreno e cadavérico, e seu cabelo era cheio de cachos

que, a uma certa distância, pareciam velas negras, e davam um ar ameaçador

ao seu belo rosto. Seus olhos eram azuis como o miosótis e tinham uma

expressão de profunda melancolia- a não ser quando ele estava enfiando o

gancho em alguém, pois aí manchas vermelhas apareciam neles e os

deixavam horrivelmente incandescentes. (BARRIE, 2012, p. 86-87).

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Foto 19: Ilustração de F. D Bedford para Peter and Wendy de J.M Barrie

Fonte: BARRIE, 2012, p. 162

Barrie também o compara aos fidalgos, tanto quanto em sua vestimenta, quanto

a sua aparência. Killian, por sua vez, não herdou essas características. Seu cabelo e

roupas passam a impressão de um bad boy, seja enquanto pirata, seja enquanto habitante

de Storybrooke. Seus cabelos são curtos e suas roupas são sempre pretas e de couro. Os

olhos sempre são realçados com delineador preto na linha d'água e a barba está sempre

por crescer. Em uma das orelhas, ele usa um brinco. Duas características permanecem:

O Gancho, símbolo fundamental do personagem, e os olhos azuis. No livro, os olhos

mudam de cor quando o pirata matava alguém com o Gancho. Killian não apresenta

essa peculiaridade.

Outra diferença é quanto ao maior inimigo de Killian. James Gancho vê em

Peter Pan, o garoto seu principal alvo e seus planos estão focados na destruição do

menino. Killian é guiado por um desejo de vingança muito forte, que o faz se retirar

para a Terra do Nunca para elaborar a melhor maneira de matar o Senhor das Trevas.

Há uma inversão de papeis que chama a atenção: Por mais que Killian se intitule

um vilão, especialmente pelo fato de ser um pirata, ele não apresenta a crueldade que

vemos no texto literário. Ao encontrar Baelfire, na Terra do Nunca, e cuidar do menino

por algum tempo, além de se afeiçoar ao garoto, mostra que o pirata tinha esse lado

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"iluminado" que os roteiristas da série quiseram trabalhar. Adam Horowitz declarou que

"Todos os nossos personagens tem luz" (ONCE UPON A TIME, 2014, episódio 0,

quarta temporada). Essa luz pode ser vista em Gancho ainda antes de encontrar Emma.

Killian sempre demonstrou sentir atração por Emma Swan. Quando ajuda no resgate de

Henry, na terra do Nunca, demonstra a ela que não a vê como mais uma de suas

conquistas. Ele revela que a ama e que só há duas coisas pelas quais arriscaria sua vida:

amor e vingança. Quando Regina precisa levar todos de volta para a Floresta Encantada

e apenas Emma e Henry ficam em nosso mundo, o pirata volta a saquear e recupera seu

navio. Ele sabe que lhe falta algo, que pensava ser o Jolly Roger, mas é a presença de

Emma em sua vida. Ao receber o chamado de socorro, ele entrega aquilo que é mais

valioso para voltar ao mundo real e alertar Emma do perigo: seu navio. Ele arrisca a

vida tentando salvar Henry de Zelena e arrisca mais uma vez ao seguir Emma no portal

do tempo que os leva ao passado da Floresta Encantada.

Foto 20: Ilustração de F. D Bedford para Peter and Wendy de J.M Barrie

Fonte: BARRIE, 2012, p. 190

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Killian tem momentos de reflexão sobre o perigo de voltar ao caminho das

trevas. Ao contrário de Rumplestiltskin, que oscila entre o amor que sente por Baelfire e

Bela e sua sede de poder, e, Regina, que apesar do humor ácido, mudou drasticamente

por Henry, Killian teme em se tornar o homem que era antes. No episódio "A Rainha da

Neve" (episódio 07, quarta temporada), Gancho, manipulado por Gold, faz escolhas das

quais se arrepende e tenta alertar Emma sobre o perigo que a moça está correndo: "Ele

[Gold] sabia que faria de tudo para estar com você e usou isso contra mim. Eu só queria

ser um homem melhor para você, Swan, e eu falhei. E posso perdê-la por isso. Sinto

muito." A luta de Killian é contra ele mesmo, contra seu eu do passado. Ele tem ciência

de que apesar de tentar ser bom, ele não é puro, a maldade também está impregnada

nele. Seu medo é perder o seu final feliz: Emma.

Ao final da quarta temporada, ele finalmente ouve "Eu te amo" da mulher que

ama, antes que a mesma seja possuída pelas trevas que antes estavam em

Rumplestiltskin.

Killian é um personagem que é humano: ele toma decisões erradas e torna-se

sombrio quando tem sua vida girada de ponta cabeça: perda da mão e do amor de sua

vida. Ao reencontrar o amor, Killian, aos poucos, se volta de novo para o bem, mas

sempre com o cuidado de não ser quem era antes. Ele demonstra o que Branca de Neve

e Regina dialogam: não existe ninguém totalmente bom ou totalmente mau. A luta

contra a maldade é constante. Ele, da mesma maneira que Regina, retrata a principal

mensagem da série, segundo os roteiristas: a esperança. Mesmo sendo um pirata, que

comete vários erros, com atitudes egoístas que privilegiam seu desejo de vingança e sua

vontade de sobreviver, ele encontra redenção no amor que sente por Emma.

Utilizando a estrutura de Propp, a história de Gancho se apresenta da seguinte

maneira:

PREPARAÇÃO

6- O vilão tenta enganar a vítima para controlá-la ou tomar posse de seus

pertences: Rei envia O capitão Liam e o imediato Killian em uma missão para procurar

uma planta que alegava ser medicinal, mas que na realidade, era um veneno.

7- Sem saber, a vítima ajuda o vilão sendo enganada ou influenciada por ele: Os

irmãos partem em viagem à Terra do Nunca para buscar a planta.

COMPLICAÇÃO

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8- O vilão prejudica um membro da família: Liam tenta comprovar a inocência

do rei e se arranha com a planta. O veneno faz efeito e o rapaz morre.

10- O herói planeja uma ação contra o vilão: Killian rompe laços com o reino e

se torna um pirata.

PREPARAÇÃO

2- Impõe-se sobre o herói uma proibição ou norma: Killian se apaixona por uma

mulher casada, Milah.

3- Essa proibição é violada: Milah foge com Killian.

5- O vilão passa a saber algo sobre sua vítima: Rumplestiltskin descobre que

Milah e Killian estão na mesma cidade que ele.

COMPLICAÇÃO

8- O vilão prejudica um membro da família: Rumplestiltskin mata Milah.

LUTA

16- Herói e vilão se enfrentam num combate direto: Killian ataca

Rumplestiltskin e ambos lutam.

17- O herói é estigmatizado: Rumplestiltskin corta a mão de Gancho achando

que ele segurava o feijão mágico.

COMPLICAÇÃO

10- O herói planeja uma ação contra o vilão: Gancho planeja se vingar de

Rumplestiltskin.

TRANSFERÊNCIA

12- Herói é testado, atacado, interrogado, e, consequentemente, recebe um

agente mágico ou ajudante: Após passar algum tempo na Terra do Nunca e procurando

maneiras de chegar até o Senhor das Trevas, Gancho conhece Cora e faz um acordo

com a bruxa.

14- O herói usa o agente mágico: Cora e Gancho não vão para Sotrybrooke na

maldição de Regina, dormem por vinte e oito anos e acordam quando a maldição é

quebrada. Conseguem um feijão mágico e vão para Storybrooke no navio de Gancho.

PREPARAÇÃO

2- Impõe-se sobre o herói uma proibição ou norma: No decorrer de sua busca

por vingança, Killian se apaixona por Emma.

LUTA

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16- Herói e vilão se enfrentam em um combate direto: Acontece mais de uma

vez. Em uma, Rumplestiltskin quase nocauteia o pirata, em outra Bela é ferida e na

última, Rumplestiltskin é ferido com o gancho sujo de veneno (sono sombrio).

PREPARAÇÃO:

7- Sem saber, a vítima ajuda o vilão sendo enganada ou influenciada por ele:

Após as falhas tentativas de matar o Sombrio, Gancho se alia a Greg e Tamara com a

promessa de que o casal o ajudará em sua vingança.

8- O vilão prejudica um membro da família: Henry é sequestrado por Greg e

Tamara e levado à Terra do Nunca.

9- Essa necessidade ou infortúnio é revelada; o herói recebe um pedido ou

ordem e parte ou é enviado para uma missão/ busca: Ao saber do sequestro e pra onde

iriam, Gancho leva Regina, Emma, Branca de Neve, David e Rumplestiltskin à terra do

Nunca.

20- O infortúnio, ou necessidade original, é sanado: Conseguem resgatar Henry.

PREPARAÇÃO:

2- Impõe-se sobre o herói uma proibição ou norma: Todos os personagens

devem voltar ao seu mundo original e nunca mais voltar ao mundo real.

COMPLICAÇÃO:

8a- Um membro da família precisa de alguma coisa ou deseja algo: Emma

precisa de ajuda, pois Zelena mandou um de seus serviçais procura-la.

9- Essa necessidade ou infortúnio é revelada; o herói recebe um pedido ou

ordem e parte ou é enviado para uma missão/ busca: Killian recebe um aviso de que

Emma está em perigo e que deve procurá-la no mundo real.

10- O herói planeja uma ação contra o vilão: Killian entrega Jolly Roger para

chegar até Emma.

TRANSFERÊNCIA

11- O herói parte: Killian chega ao mundo real.

12- O herói é testado, atacado, interrogado, e, consequentemente recebe um

agente mágico ou um ajudante: Momento em que Killian precisa provar que mudou. Em

diversas vezes suas intenções e ações são postas em dúvida pelos habitante de

Storybrooke.

RETORNO:

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25- Uma difícil tarefa é estipulada para o herói: Emma cai no portal do tempo de

Zelena e Killian a segue.

26- A tarefa é realizada: Conseguem voltar a salvo.

27- O herói é reconhecido: Emma reconhece a mudança em Killian e o chama de

herói.

31- O herói se casa e é corado: Killian e Emma ficam juntos.

PREPARAÇÃO:

6- O vilão tenta enganar a vítima para controlá-la ou tomar posse de seus

pertences: Rumplestiltskin engana Killian para que o ajude a encontrar o chapéu.

Também toma o coração do pirata para poder controlá-lo.

LUTA:

18- O vilão é derrotado: Bela impede que Rumplestiltskin mate Killian e bane o

feiticeiro da cidade.

COMPLICAÇÃO:

8- O vilão prejudica um membro da família: Após as trevas serem retiradas de

Rumplestiltskin, Emma as atrai para si. Ela some e a adaga de Rumplestiltskin cai agora

com o nome de Emma Swan.

As voltas nos elementos narrativos são mais frequentes na história de Killian do

que na de Rumplestiltskin e Regina. O final da quarta temporada apresenta uma nova

complicação para o personagem, que terá história desenvolvida na quinta temporada.

Ao observar os vilões de Killian, percebe-se que são: O governo, primeiro; em segundo,

Rumplestiltskin, terceiro, Peter Pan e seus servos (Greg, Tamara e os meninos

perdidos); Zelena; Rumplestiltskin, mais uma vez; e por último, as trevas.

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Considerações: Ao sabor de linhas de fuga

A proposta desse trabalho é uma análise comparativa entre os vilões

Rumplestiltskin, Rainha Má e Capitão Gancho dos contos de fadas e os personagens

Rumplestiltskin, Regina e Killian Jones de Once Upon a Time. Ainda que se saiba da

impossibilidade de o fazer na inteireza, no primeiro capítulo tratei da história da

literatura infanto juvenil, cinema e televisão, comparei os dois últimos para que o leitor

compreendesse o caráter híbrido da narrativa televisiva e compreender que cinema e tv

tem recursos e linguagens parecidos. No segundo capítulo, explicitei os elementos

narrativos audiovisuais e expliquei os personagens de ficção e suas classificações (plano

e redondo). No terceiro capítulo, contei a história dos personagens escolhidos para

análise, visto que essa é de grande importância para a construção desses vilões, e após

esse embasamento, procedi à comparação das personagens.

No percurso como um todo, pude perceber que o audiovisual como arte

evidencia a complexidade do ser humano reapresentado nos personagens. Pede a

verossimilhança, o que o torna humano. Esse fato foi afirmado pelos roteiristas em

minhas buscas pelas condições de produção. Em Rumplestiltskin, pode-se perceber a

oscilação entre o bem e o mal, presentes como uma constante na vida do personagem

Em Regina, percebe-se as consequências de um trauma, mas a redenção encontrado no

amor materno. Em Killian, há a luta diária do ser humano em não se corromper e a não

se deixar levar por atitudes e escolhas ruins.

Também é possível notar os elementos narrativos de audiovisual ao construir

esses personagens. Visualmente, a mise-en-scène auxilia pois está ligada à

caracterização dos personagens: atores selecionados para lhes dar vida, figurino,

maquiagem, elementos cênicos, entre outros. Os planos utilizados para realçar as

expressões e trejeitos também auxiliam essa construção.

Impossível com este estudo apresentar a completude das comparações. Assim

como para mim, para os leitores ficam algumas lacunas e se perpetuam indagações, o

que possibilita a este estudo continuidade em pesquisa posterior, enfatizando-se outros

temas, delimitações, problematizações e objetivos. São as linhas de fuga que vou

acompanhar para acréscimo de sentidos que implicam o imaginário sem limites.

Com este trabalho, na busca pelas condições de produção, já citadas, os

roteiristas revelam que a esperança é, no fundo, do que se trata a série. Ao saber que a

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arte é uma introspecção do real, já trabalhado durante este trabalho, trouxe a esse

trabalho o que o estudo da arte possibilita à academia: a reflexão acerca da esperança. A

arte reproduz os desejos e anseios do ser humano. Da mesma maneira que a literatura

infanto juvenil, enquanto arte, revelava esses anseios, se vê em Once Upon a Time o

anseio dos roteiristas, e do ser humano, por esperança.

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REFERÊNCIAS EPISÓDIOS

ONCE UPON A TIME. Piloto. Episódio 01, Primeira temporada: 2011.

______. Aquilo que você mais ama. Episódio 02, Primeira temporada: 2011.

______. Almas desesperadas. Episódio 08, Primeira temporada: 2012.

______. Beleza Externa. Episódio 12, Primeira temporada: 2012.

______. O Homem do estábulo. Episódio 18, Primeira temporada: 2012.

______. O Retorno. Episódio 19, Primeira temporada: 2012.

______. Um maçã vermelha como o sangue. Episódio 21, Primeira temporada: 2012.

______. Uma terra sem magia. Episódio 22, Primeira temporada: 2012.

______. Nós somos os dois. Episódio 02, Segunda temporada: 2012.

______. O Crocodilo. Episódio 04, Segunda temporada: 2012.

______. O Doutor. Episódio 05, Segunda temporada: 2012.

______. Rainha de Copas. Episódio 09, Segunda temporada: 2012.

______. A trama do grilo. Episódio 10, Segunda temporada: 2013.

______. O forasteiro. Episódio 11, Segunda temporada: 2013.

______. Manhattan. Episódio 14, Segunda temporada: 2013.

______. A Filha do Moleiro. Episódio 16, Segunda temporada: 2013.

______. Bem vindos a Storybrooke. Episódio 17, Segunda temporada: 2013.

______. A Rainha má. Episódio 20, Segunda temporada: 2013.

______. Seguindo até o amanhecer. Segunda temporada: 2013.

______. O coração do verdadeiro crédulo. Terceira temporada: 2013

_____. Uma fada comum. Episódio 03, Terceira temporada: 2013.

_____. Agir corretamente. Episódio 05, Terceira temporada: 2013.

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______. Pense em coisas bonitas. Episódio 08, Terceira temporada: 2013.

_____. Voltando para casa. Episódio 11, Terceira temporada: 2013.

______. Serenata de Nova York. Episódio 12, Terceira temporada: 2014.

______. Caça à bruxa. Episódio 13, Terceira temporada: 2014.

_____. Mentes silenciosas. Episódio 15, Terceira temporada: 2014.

_____. Kansas. Episódio 20, Terceira temporada: 2014.

_____. Portal do tempo. Episódio 21, Terceira temporada: 2014.

_____. O lar é o melhor lugar. Episódio 22, Terceira temporada: 2014.

_____. Especial. Episódio 0, Quarta temporada: 2014.

_____. Um conto de duas irmãs. Episódio 01, Quarta temporada: 2014.

______. Estrada rochosa. Episódio 03, Quarta temporada: 2014.

_____. O aprendiz. Episódio 05, Quarta temporada: 2014.

_____. Quebrar o espelho. Episódio 08, Quarta temporada: 2014.

_____. Queda. Episódio 09, Quarta temporada: 2014.

_____. Heróis e vilões. Episódio 12, Quarta temporada: 2014.

_____. Escuridão nos limites da cidade. Episódio 13, Quarta temporada: 2015.

_____. Força maior. Episódio 16, Quarta temporada: 2015.

_____. O lado mal. Episódio 17, Quarta temporada: 2015.

_____. Lily. Episódio 19, Quarta temporada: 2015.

____. Operação Mangusto. Episódios 21 e 22, Quarta temporada: 2015.