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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE LINGUAGENS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DE LINGUAGEM LOUREDIR RODRIGUES BENEVIDES OS GÊNEROS MULTIMODAIS NOS LIVROS DIDÁTICOS DE HISTÓRIA: UM ESTUDO CRÍTICO-DIALÓGICO CUIABÁ-MT 2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE LINGUAGENS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DE LINGUAGEM

LOUREDIR RODRIGUES BENEVIDES

OS GÊNEROS MULTIMODAIS NOS LIVROS DIDÁTICOS DE HISTÓRIA: UM ESTUDO CRÍTICO-DIALÓGICO

CUIABÁ-MT 2015

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LOUREDIR RODRIGUES BENEVIDES

OS GÊNEROS MULTIMODAIS NOS LIVROS DIDÁTICOS DE HISTÓRIA: UM ESTUDO CRÍTICO-DIALÓGICO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Estudos de Linguagem, Instituto de Linguagens da Universidade Federal de Mato Grosso, como requisito para obtenção de título de Mestre em Estudos de Linguagem sob orientação da Professora Doutora Cláudia Graziano Paes de Barros.

CUIABÁ-MT 2015

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Dedico este trabalho

À memória do meu pai, Lourival Rodrigues Benevides, que só deixou exemplos de amizade sincera e desinteressada, trabalho, honradez e ações singelas no ordinário da vida, em defesa da vida humana e da natureza.

À Memória de Ana Auxiliadora de Anunciação, mãe da minha filha, pela vida, mesmo que breve, dedicada com entusiasmo e esperança, à educação do município de Várzea Grande-MT.

À Leyner Tani Benevides, companheira sempre presente em minha vida, e motivo de orgulho e alegria pelo simples fato de ser a minha filha.

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AGRADECIMENTOS

A Jesus, o Cristo no qual confio, e a quem dedico minhas ações em contribuição a

favor da construção de um outro mundo possível.

À professora Dra. Cláudia Graziano Paes de Barros (UFMT/IL/PPGEL), pela

confiança, orientação, seriedade, amizade e momentos de descontração e celebração

da vida.

À professora Dra. Leny Caselli Anzai (UFMT/PPGHis), pelas relevantes contribuições

e subsídios teóricos.

À professora Dra. Vânia Cristhina Nadaf (IFMT), pelas importantes contribuições e

reflexões teóricas.

À Taurina Maria Benevides, pelo amor, demonstração de carinho e preocupação ao

longo da minha vida e, em especial, nestes anos de estudo.

À Luciene Luzia Benevides Schommer, pela amizade e companhia sempre presentes.

Aos colegas e amigos do GELL - Grupo de Pesquisa em Estudos Linguísticos e de

Letramento da UFMT/IL.

À Elizangela Patrícia Moreira da Costa (UNEMAT), Jefferson Ferreira (CEFAPRO-

MT), Lezinete Regina Lemes (UFMT) e Shirlei Neves dos Santos (SEDUC-MT), pelo

ensino, amizade, presteza e alegria dispensados em momentos de encontros e

reencontros sem álibis, me fazendo imergir no mundo das linguagens, levando-me a

perceber outras possibilidades de leitura da minha própria vida, causando desvios de

rotas na até então tranquila trilha metodológica no processo de ensino-aprendizagem

de História.

À Nereide Lucia Abreu Telles Almeida, Secretária da Escola Estadual Jupiara, pela

ajuda, sempre que necessária.

À Iris de Paiva Aydos Berto e Luciana Fassicolo, queridas amigas do Fórum da

Comarca de Campo Verde-MT, pela atenção e alegria sempre dispensados.

À Secretaria de Estado de Educação (SEDUC/MT).

À Renata Siqueira e Ernandes Araujo Nascimento pela paciência nas escutas das

minhas concepções e dúvidas teóricas. Com gratidão especial à Renata Siqueira pela

sempre disposição em ajudar.

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Perguntas de um Operário Letrado

Quem construiu Tebas, a das sete portas?

Nos livros vem o nome dos reis,

Mas foram os reis que transportaram as pedras?

Babilônia, tantas vezes destruída,

Quem outras tantas a reconstruiu? Em que casas

Da Lima Dourada moravam seus obreiros?

No dia em que ficou pronta a Muralha da China para onde

Foram os seus pedreiros? A grande Roma

Está cheia de arcos de triunfo. Quem os ergueu? Sobre quem

Triunfaram os Césares? A tão cantada Bizâncio

Só tinha palácios

Para os seus habitantes? Até a legendária Atlântida

Na noite em que o mar a engoliu

Viu afogados gritar por seus escravos.

O jovem Alexandre conquistou as Índias

Sozinho?

César venceu os gauleses.

Nem sequer tinha um cozinheiro ao seu serviço?

Quando a sua armada se afundou Filipe de Espanha

Chorou. E ninguém mais?

Frederico II ganhou a guerra dos sete anos

Quem mais a ganhou?

Em cada página uma vitória.

Quem preparava os banquetes da vitória?

Em cada década um grande homem.

Quem paga suas despesas?

Tantas histórias

Quantas perguntas.

Bertold Brecht

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RESUMO

Esta pesquisa visa a discorrer acerca das atividades compostas de gêneros multimodais de uma coleção de livro didático de História do Ensino Médio, utilizada nas escolas públicas do município de Campo Verde-MT. Para tanto, embasa-se no aporte teórico da leitura à luz dos estudos dos novos letramentos (STREET, 1996), letramento visual (KRESS, VAN LEEUWEN, 1996). Igualmente, recorremos aos conceitos de enunciado, discurso, gêneros discursivos e esferas de produção, circulação e recepção de Bakhtin e o Círculo (BAKHTIN,1929; 1952; 1952-1953/1979; 1973/1975; BAKHTIN/VOLOCHINOV, 1929), ressignificados como gêneros multimodais, à luz da perspectiva teórica da Pedagogia dos Multiletramentos (THE NEW LONDON GROUP, 1996). Além disso, também nos ancoramos nos pressupostos de Paes de Barros (2005; 2009), no que trata das capacidades de leitura de textos multimodais, aplicadas à compreensão das atividades compostas de textos visuais na coleção estudada. Ainda em Vygotsky encontramos o arcabouço teórico sócio-histórico (VYGOTSKY, 1930; 1933), em especial, as suas ponderações acerca do ensino-aprendizagem de História (VYGOTSKY, 1926). De natureza sócio-histórica também são os construtos sobre letramento crítico, em uma releitura contemporânea de Freire (1970; 1979; 1981). O percurso metodológico traçado foi de natureza quantitativa e qualitativa uma vez que inicialmente foram quantificados os gêneros multimodais, cujas maiores incidências indicam a predominância de reproduções de pinturas e fotografias, sendo que as análises qualitativas revelaram o seu emprego mais nos níveis básicos das capacidades de leitura de textos multimodais, pois esses gêneros, na coleção observada, são utilizados mais como ilustrações dos saberes históricos e, por consequência, não avançam para outras dimensões de capacidades de leitura de textos multimodais. Concluímos que as atividades compostas de gêneros multimodais não contribuem para o desenvolvimento dos letramentos visual e crítico, pois limitam-se, em sua maioria, à utilização das imagens como ilustração de textos verbais, deixando de promover a reflexão crítica sobre esses textos tão importantes na atualidade. PALAVRAS-CHAVE: Livro didático de História. Letramento visual e crítico. Capacidades de leitura de textos multimodais.

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ABSTRACT

This research has the aim to discuss about the activities composed of multimodal genres from one serie of History´s textbook for Secondary Level used by public state schools in the city from Campo Verde – Mato Grosso. Therefore, it underlies upon the theoretical framework of teaching and learning reading in the light of New Literacies Studies (STREET, 1996) and visual literacy (KRESS, VAN LEEUWEN, 1996). As well as, we used the concepts from utterance, discourse, speech genres and discoursive domains of production, circulation and reception from Bakhtin´s Circle (BAKHTIN, 1929; 1952; 1952-1953/1979; 1973/1975; BAKHTIN/VOLOCHINOV, 1929), resignified as multimodal genres in light of the theoretical perspective of Pedagogy of multiliteracies (THE NEW LONDON GROUP, 1996). Furthermore, we also anchored on the assumptions from Paes de Barros (2005; 2009), in dealing with multimodal texts reading skills, applied to the understanding of composite activities of visual texts in the textbook serie studied. Also in Vygotsky, we find the socio-historical theoretical framework (VYGOTSKY, 1930; 1933), in particular, their weightings about History teaching and learning (VYGOTSKY, 1926). From socio-historical nature also are the constructs of critical literacy in a contemporary rereading of Freire (1970; 1979;1981). The methodological course was traced on quantitative and qualitative nature since the multimodal genres were initially quantified, whose highest incidences indicate the predominance of painting reproductions and photographs, where as qualitative analysis revealed his employment over the basic levels of multimodal texts reading skills because these genres in the three observed volumen, are used for more as illustrations of historical knowledge and, consequently, they do not advance to other dimensions of multimodality observation strategies (PAES DE BARROS, 2009). We conclude that the composed activities of multimodal genres do not contribute to the development of visual and critical literacies, for the reason that they are limited mostly to the use of images as illustration of verbal texts, and consequentely, they failed to promote critical reflection on these important texts in the present time. KEYWORDS: History Textbooks. Visual and critical literacy. Multimodal texts reading skills.

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Quantidade de unidades por volume ........................................................ 78 Quadro 2: Síntese de gêneros multimodais com imagens, presentes na Coleção do livro didático de História ............................................................................................ 91 Quadro 3: Incidência geral de gêneros multimodais na Seção “Atividades” ............. 96 Quadro 4: Incidências de gêneros multimodais na Seção “Atividades” com o item reproduções de pinturas ............................................................................................ 97 Quadro 5: Gêneros Multimodais com maior incidência na seção “Atividades” ........ 101 Quadro 6: Parâmetros de observação das atividades ............................................. 103

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LISTA DE IMAGENS

Imagem 1: Imagens do gênero Perguntas no compêndio de Macedo (MATTOS, 1993, p. 147-148). ..................................................................................................... 63 Imagem 2: Imagens do gênero Perguntas no compêndio de Macedo (MATTOS, 1993, p. 149-150). ............................................................................................................... 64 Imagem 3: Atividade número 3 da seção “Vestibular/ENEM”, capítulo 3, unidade 1, volume 1 (BRAICK & MOTA, 2013, 2010, Vol. 1, p. 53). ........................................ 104

Imagem 4: Atividade número 1, da seção “Explorando o conhecimento”, capítulo 16, unidade 3, volume 2 (BRAICK & MOTA, 2013, 2010, vol. 2, p. 242). ...................... 107 Imagem 5: Imagem da atividade número 05 da seção “Explorando o conhecimento”, capítulo 5, unidade 1, volume 3 (BRAICK & MOTA, 2013, 2010, Vol. 3, p. 88). ...... 111 Imagem 6: Atividade nº 7 da seção “Explorando o Conhecimento”, Introdução do Volume I (BRAICK & MOTA, 2013, 2010, Vol. 1, p. 24).......................................... 117

Imagem 7: Atividade nº 8 da seção “A História e o tempo presente”, capítulo 7, unidade 2, Volume 2 (BRAICK & MOTA, 2013, 2010, Vol. 2, p. 106). ..................... 120 Imagem 8: Atividade número 8 da seção “A história e o tempo presente”, capítulo 14, unidade 3, volume 3 (BRAICK & MOTA, 2013, 2010, Vol. 3, p. 234). ..................... 122

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1: Síntese de gêneros multimodais presentes na Coleção do livro didático de História ...................................................................................................................... 90 Gráfico 2: incidências dos gêneros multimodais na seção “Atividades” da coleção .. 95 Gráfico 3: Incidências de gêneros multimodais na Seção “Atividades” com o item reproduções de pinturas ............................................................................................ 97

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 15

CAPÍTULO I ........................................................................................................................ 20

LETRAMENTO CRÍTICO E CAPACIDADES LEITORAS MULTIMODAIS .......................... 20

1.1 Históricos breves sobre os estudos de letramento(s) ..................................................... 20

1.2.Letramento visual no Ensino-aprendizagem de História................................................. 23

1.3 Multimodalidade, modos de significação ou semióticos ................................................. 24

1.4 A Teoria Cognitiva da Aprendizagem Multimídia ............................................................. 27

1.5 As capacidades de leitura multimodais .......................................................................... 29

1.6 Pedagogia dos multiletramentos .................................................................................... 32

1.7 A educação e alfabetização crítica por Paulo Freire ....................................................... 35

CAPÍTULO II ....................................................................................................................... 38

BAKHTIN, O CÍRCULO E VYGOTSKY: A INFLUÊNCIA SOCIAL NA PRÁTICA EDUCATIVA CONTEMPORÂNEA ...................................................................................... 38

2.1 Introdução ...................................................................................................................... 38

2.2 A influência do social e do histórico: a URSS ................................................................. 40

2.3 Bakhtin e o Círculo: concepção de linguagem enunciativo-discursiva ............................ 41

2.3.1 Bakhtin e o Círculo: Enunciado e discurso .................................................................. 43

2.4 Lev Vygotsky: ensino-aprendizagem na interação social e coletiva ............................... 47

2.4.1 Lev Vygotsky: o ensino aprendizagem de História ...................................................... 48

2.4.2 Vygotsky: capacidades humanas ................................................................................ 51

CAPÍTULO III ...................................................................................................................... 53

3.1 O Programa Nacional do Livro Didático: breve historiografia ......................................... 53

3.1.1 O Programa Nacional do Livro Didático de Ensino Médio ........................................... 54

3.2 Uma historiografia do livro didático de História .............................................................. 55

3.3 O Livro Didático de História na contemporaneidade ...................................................... 69

CAPÍTULO IV ...................................................................................................................... 75

METODOLOGIA DE PESQUISA ......................................................................................... 75

4.1. Pesquisa em Ciências humanas: a abordagem enunciativo-discursiva ......................... 75

4.2 O objeto de pesquisa: o livro didático de História ........................................................... 76

4.3 Um panorama geral da coleção do livro didático ............................................................ 77

4.3.1 Um panorama específico da leitura no livro didático de História ................................. 81

4.4 A seleção das amostras para as análises quantitativa e qualitativa ................................ 82

4.5 Metodologia de análise de dados ................................................................................... 83

CAPÍTULO V ....................................................................................................................... 85

INCIDÊNCIA E POSIÇÃO DOS GÊNEROS MULTIMODAIS NO LIVRO DIDÁTICO DE HISTÓRIA ........................................................................................................................... 85

5.1 Tratamento didático dos gêneros multimodais ............................................................... 85

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5.2 Os dados das incidências de gêneros multimodais no livro didático de História ............. 90

5.3 As incidências dos gêneros multimodais na seção “Atividades” da coleção ................... 95

CAPÍTULO VI .................................................................................................................... 101

OS GÊNEROS MULTIMODAIS NA SEÇÃO DE ATIVIDADES DO LIVRO DIDÁTICO DE HISTÓRIA ......................................................................................................................... 101

6.1 Os principais gêneros multimodais recorrentes na seção “Atividades” ......................... 101

6.2 Agrupamento 1º: Propostas de atividades com o gênero reproduções de pinturas ..... 104

6.3 Agrupamento 2º: Propostas de atividades com o gênero fotografia ............................. 115

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 125

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................. 130

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INTRODUÇÃO

Nos dias atuais, em nossa sociedade, cada vez mais a utilização da

comunicação e interações se intensificam entre seus usuários, graças aos intensos

avanços propiciados pelas inovações tecnológicas e pelas ferramentas tecnológicas,

as quais acabam influenciando as inúmeras interações entre os participantes das

atividades comunicativas, sobretudo por intermédio das múltiplas utilizações das

linguagens, um dos pilares de uma formação integral e cidadã do indivíduo.

Mais que a predominância de um único modo ou modalidade de linguagem, os

modos interativos nas atividades humanas contemporâneas caracterizam-se pela

presença de outras modalidades, visuais, gestuais, audiovisuais, etc. Assim, na

atualidade há uma diversidade de modos de representação, concretizando-se dessa

forma, em uma multiplicidade de textos - visuais, verbais escritos, orais, verbo-visuais,

etc.

Dentre esses, podemos elencar gravuras, mapas históricos, fotografias,

pinturas, entre outros gêneros que são ressignificados na esfera escolar, como o livro

didático – e, em especial no livro didático de História. No escopo deste trabalho

científico, a coleção de Ensino Médio intitulada “HISTÓRIA – Das Cavernas ao

Terceiro Milênio” de autoria de Braick e Mota (2013, 2010) da Editora Moderna.

No passado caracterizado na forma de compêndios ou manuais escolares,

conforme a historiadora Bittencourt (1996, 1997), e atualmente como livro didático de

História, é um objeto didático tradicionalmente utilizado pelos seus principais

interlocutores em salas: os docentes e discentes presentes no domínio escolar a fim

de realizar uma gama de atividades. Há que se considerar que tanto no passado como

no presente, dos clássicos manuais escolares aos correntes livros didáticos de

História apoiam-se na utilização de imagens para as atividades de ensino-

aprendizagem de História (BITTENCOURT, 1996, 1997).

Observamos que o livro didático de História se compõe de cenas históricas

constituídas de pinturas, gravuras, infográficos, dentre outras, as quais têm a

atribuição de facilitar a memorização dos conteúdos (BITTENCOURT, 1993, p. 75).

Assim, com o objetivo de compreender como esses textos são empregados nas

atividades, nossa pesquisa visa colocar em relevo a importância das práticas de leitura

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propiciadas pela utilização das imagens na seção de atividades da referida coleção

didática de História.

Ainda, para entendermos as práticas leitoras mobilizadas nas atividades da

seção “atividades” destacamos o aporte teórico das teorias que discutem o(s)

letramento(s), e, em especial, os letramentos1 visual e crítico como importantes

componentes para o ensino-aprendizagem na disciplina de História.

Cabe destacar que nas pesquisas em História relacionadas aos estudos

científicos sobre as imagens, alguns Programas de Pós-Graduação e alguns de seus

pesquisadores estudam a leitura de imagens como por exemplo, os pesquisadores

Profa. Dra. Maria de Fátima Gomes Costa e o Prof. Dr. Pablo Marcelo Diener Ojeda

do Programa de Pós-Graduação em História (PPGHis) da UFMT. Estes investigam a

relevância das influências das representações de imagens como instrumentos

políticos.

Já no âmbito das pesquisas à luz da Didática de História, a historiadora

Bittencourt (1997) defende que pouco se conhece sobre as formas de leitura de

imagens utilizadas em salas de aulas (BITTENCOURT, 2012, 1997, p. 72). A

historiadora afirma que é necessária pesquisa acerca das imagens porque os alunos

são provenientes de uma geração formada pela saturação de imagens

(BITTENCOURT, 2012, 1997, p. 72). Geração que acredita nas imagens mostradas e

circuladas na televisão, nas propagandas impressas, nos jornais e revistas. Da

mesma forma ocorre com as imagens veiculadas nos livros didáticos de História e

suas “atividades” escolares, as quais são tomadas acriticamente como práticas visuais

decodificativas de ilustração do conteúdo na forma de fatos históricos.

Contrários a esta tradição, apresentamos nesta pesquisa, a análise de

atividades constituídas de imagens e texto verbal escrito, ou textos verbo-visuais,

neste trabalho designados de gêneros multimodais2, em uma coleção de livros

1Toda forma de letramento é realizada por meio de textos concretizados na forma de gêneros

discursivos – formas mais ou menos estáveis de discursos orais e escritos produzidos, circulados e recebidos por partícipes das interações sociais em certos domínios de atividades humanas. Letramentos são práticas sociais de leitura e escrita. Tal conceito será abordado com mais acuidade nos capítulos teóricos posteriores. 2 Os gêneros multimodais são formas mais ou menos estabilizadas de discursos visuais, verbo-visuais, pictóricos, multimodais produzidos e que circulam nas diversas esferas de atividades humanas para auxiliar nas interações humanas. Abordaremos tal conceito com mais profundidade nos capítulos primeiro e segundo deste trabalho.

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didáticos de História do Ensino Médio, à luz das capacidades de leitura de textos

multimodais, conforme cunhadas por Paes de Barros (2005, 2009).

O estudo das imagens é recorrente na disciplina da História da Arte. Um dos

expoentes nesse estudo é o germânico Erwin Panofsky. Em uma de suas mais

famosas obras, o significado das artes visuais, no capítulo primeiro, intitulado

iconografia e iconologia: uma introdução ao estudo da arte da renascença, o autor

propõe a premissa da distinção entre iconografia e iconologia.

Nos seus estudos, Panofsky (1979) define que iconografia é o ramo da história

da arte que trata do tema ou mensagem das obras de arte em contraposição à sua

forma (PANOFSKY, 1979, p. 47).

Por iconografia, entende-se etminologicamente que

o sufixo “grafia” vem do verbo grego graphein, “escrever”; implica um método de proceder puramente descritivo, ou até mesmo estatístico. A iconografia é, portanto, a descrição e a classificação das imagens; [...] é um estudo limitado e, como que ancilar, que nos informa quanto e onde temas específicos forma visualizados e por quais motivos

específicos (PANOFSKY, 1979, p. 53).

Além disso, a iconografia alicerça-se no

significado [...] percebido [e...] da natureza elementar e facilmente compreensível e passaremos a chamá-lo de significado fatual; é apreendido pela simples identificação de certas formas visíveis com certos objetos que já conheço por experiência prática e pela identificação da mudança de suas relações com certos ações ou

fatos(PANOFSKY, 1979, p. 48) [ênfase adicionada].

A iconografia estuda o significado visual de uma imagem. Está mais presa às

identificações das partes internas da imagem, do objeto imagético, às distinções de

seus elementos materiais visuais.

Ainda, Panofsky (1979) amplia as discussões no campo dos estudos da arte a

partir de determinados questionamentos acerca da iconografia e de sua abordagem

de cunho descritivo, em contrapartida, propõe os estudos da arte ancorado na noção

de iconologia a fim de interpretar as obras de artes. No âmbito dos estudos de

Panofsky (1979), a pesquisadora Pifano (2010) diz que há distinção entre iconografia

e iconologia. A iconografia é o estudo do tema ou assunto; e a iconologia se ocupa da

interpretação dos objetos a partir da decomposição das imagens e reconstrução de

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seus percursos no tempo e espaço, buscando o seu significado.

Conhecedores desses estudos, no escopo deste trabalho, sustentamo-nos nos

arcabouços teóricos de Bakhtin e o Círculo (1929; 1934-35; 1952, 1952-53/1979),

Bittencourt (1994, 1996, 1997, 2004), Street (1996), Kress & Van Leeuwen (1996),

dentre outros.

As atividades a serem analisadas constam de uma coleção de livro didático de

História para o Ensino Médio, que se utilizam de gêneros multimodais. Assim, a

pesquisa tem como objetivos:

1. Identificar os gêneros multimodais presentes em uma coleção de livros

didáticos de História do 1º ao 3º ano do Ensino Médio.

2. A partir desses dados, identificar quais gêneros multimodais são trabalhados

nas atividades da coleção.

3. Verificar as capacidades de leitura mobilizadas nessas atividades, a fim de

observar as possibilidades de desenvolvimento do letramento crítico dos

alunos.

Para alcançar esses objetivos, delimitamos três perguntas de pesquisa:

1. Quais gêneros multimodais estão presentes em uma coleção de livros

didáticos de História do 1º ao 3º ano do Ensino Médio?

2. Dos gêneros encontrados, quais são trabalhados nas atividades?

3. Que capacidades são mobilizadas nas atividades referentes aos gêneros

multimodais na coleção?

O levantamento da coleção utilizada pelos docentes de História foi realizado

em três escolas estaduais do município de Campo Verde, Mato Grosso. Foi levantado

que nessas unidades escolares, o livro adotado é o da coleção “HISTÓRIA – Das

Cavernas ao Terceiro Milênio” de autoria de Braick e Mota (2013, 2010), Editora

Moderna. Assim, organizamos o nosso trabalho da seguinte forma:

No capítulo 1, apresentaremos os aportes teóricos. Primeiramente, abordamos

a historicidade das teorias de letramento. Em seguida, apresentamos os alicerces na

Pedagogia dos Multiletramentos, e, mais especificamente, a redescoberta das obras

de Paulo Freire à luz da educação crítica, conscientizadora e problematizadora e suas

apropriações para os domínios do letramento crítico. Por fim, exploramos a Teoria

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Cognitiva de Aprendizagem Multimídia e suas releituras à luz das estratégias de

observação e capacidades leitoras de textos multimodais.

O capítulo 2 objetivou traçar pressupostos teóricos que alicerçaram a nossa

pesquisa no que tange às concepções sócio-histórica da linguagem e de gêneros do

discurso. Também pautam este capítulo os construtos de Lev Vygotsky relativos à

apropriação das ferramentas ou instrumentos semióticos para o desenvolvimento e

aprendizado humanos e reflexões vygotskyanas sobre o ensino-aprendizagem de

História. Finalizando o capítulo, discorremos sobre a utilização dos gêneros

discursivos como mega-instrumentos de ensino-aprendizagem de leitura.

No capítulo 3, abordamos, primeiramente o Programa Nacional do Livro

Didático, assim como o Programa Nacional do Livro Didático de Ensino Médio. Em

seguida, descrevemos o Livro Didático e o Livro Didático de História e sua sócio-

historicidade no Brasil. Finalizando, delineamos as influências educacionais de âmbito

federal nos saberes históricos a serem tratados na obra didática de História e nas

atividades escolares de História em conformidade com a legislação em vigor.

No capítulo 4, delineamos o processo metodológico de coleta e análise dos

dados da pesquisa.

No capítulo 5, apresentamos os dados da análise quantitativa da coleção

selecionada em conformidade com os critérios dispostos no capítulo anterior. Nesse

capítulo, respondemos a primeira e a segunda questões de nossa pesquisa:

1. Quais gêneros multimodais estão presentes em uma coleção de livros

didáticos de História do 1º ao 3º ano do Ensino Médio?

2. Dos gêneros encontrados, quais são trabalhados nas atividades?

No capítulo 6, apresentamos a análise qualitativa das atividades selecionadas

presentes na seção “Atividades”, a fim de compreender o projeto didático-editorial das

autoras da coleção selecionada para as atividades que se utilizam dos gêneros

multimodais. Nesse capítulo, respondemos a terceira questão de nossa pesquisa:

3. Que capacidades são mobilizadas nas atividades referentes aos gêneros

multimodais na coleção?

Por fim, apresentamos as nossas considerações finais sobre os dados

coletados e analisados.

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CAPÍTULO I

LETRAMENTO CRÍTICO E CAPACIDADES LEITORAS MULTIMODAIS

Neste capítulo, delinearemos os aportes teóricos que alicerçam nossa

dissertação de mestrado. Primeiramente, abordaremos a historicidade das teorias de

letramento e sua ampliação como letramentos (STREET, 1984), (SOARES, 2010),

letramento visual (KRESS, VAN LEEUWEN, 2001; DIONISIO,2005), letramento

multimodal (KRESS, 2003, 2006, 2010) como também a multimodalidade (KRESS,

VAN LEEUWEN, 1996). No segundo momento, alicerçaremos na Pedagogia dos

Multiletramentos The New London Group, (1996) e mais especificamente em sua

redescoberta das obras de Paulo Freire à luz da educação crítica, conscientizadora e

problematizadora Freire (1967, 1968, 1973, 1996), e Freire & Macedo (1987) com

suas apropriações para os domínios do letramento crítico. Por fim, exploraremos a

Teoria Cognitiva de Aprendizagem Multimídia (MAYER, 2001; DIONISIO, 2005) e suas

releituras à luz das estratégias de observação e capacidades leitoras de textos

multimodais (PAES DE BARROS, 2005, 2009).

1.1Históricos breves sobre os estudos de letramento(s) No Brasil, em 1986, Mary Kato apresenta o termo letramento pela primeira vez.

A tradução do termo literacy, que tem origem no latim littera, se refere à letra. Segundo

Soares (2010), em meados dos anos 1980 introduzimos a palavra letramento no

Brasil, surgiu literacia em Portugal, littéracie ou littératie, em alguns países de língua

francesa, sobretudo no Canadá; illettrisme, na França[...] (SOARES, 2010, p. 58).

Ainda, outras versões são na França, [... há] a palavra aparece escrita de três

maneiras – littéracie, littératie, litéracie [e...] illettrisme[...] Enquanto no México, por

exemplo, literacy é alfabetización ou cultura escrita (MARINHO, 2010, p. 15).

No âmbito das distinções entre letramento e alfabetização, tanto Tfouni (1988)

quanto Kleiman (1995) e Soares (1998) afirmam que o uso do conceito de letramento

instaurou-se a partir do instante em que pesquisadores acadêmicos notaram algo

mais além das práticas decodificadoras da alfabetização, no caso, outras práticas

leitoras e escritas a mais, as práticas diversas de uso da linguagem escrita. As autoras

sugerem que letramento deve ser compreendido como um processo sócio-histórico

que vai além da alfabetização.

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Embasados nesses autores, constatamos que o letramento é resultado do

conjunto de capacidades de usos da escrita e da leitura e necessariamente não podem

ser considerados como indispensavelmente associado à alfabetização (ao domínio da

codificação e decodificação do código escrito e/ou numérico). Dessa forma, o

letramento está relacionado ao domínio da escrita, e a alfabetização está vinculada

ao domínio do escrito. Assim, o termo letramento é utilizado para designar as práticas

leitoras e escritas de usos das escritas (SOARES, 2010).

Com o tempo, o conceito de letramento, inicialmente utilizado de forma mais

evidente no campo da língua portuguesa e pedagogia, foi sendo apropriado por outros

componentes curriculares como no ensino das Ciências com letramento científico

(MATO GROSSO, SEDUC, 2012); Matemática – letramento matemático, relido, nesse

documento como numeramento. Ainda, [...] em outras áreas do conhecimento, a

construção de um conceito de letramento vem se tornando alvo das produções

acadêmicas [...] No ensino de História, a discussão dos conceitos de letramento, ainda

que incipiente, vem se ampliando (SILVA, 2011, p. 112).

Nos momentos das primeiras pesquisas, o termo letramento estava relacionado

ao texto verbal, mais especificamente à modalidade da língua escrita, e ao modo

linguístico-verbal-escrito.

Concomitantemente as pesquisas acadêmicas sobre letramento (no singular)

avançam e começam a desvelar outros modelos de letramentos, agora no sentido

mais amplo do termo. Portanto, letramentos no plural.

Entre as décadas de 1980 e 1990 do século passado, em países de língua

inglesa, os estudiosos ampliam o arsenal teórico de pesquisas sobre os processos de

letramento, o qual passou a ser evidenciado como letramentos, isto é, na sua forma e

sentido plurais: literacies (letramentos). Por consequência, ampliam-se as

abrangências do conceito letramentos: multimodal, visual, iconográfico, global, local,

dominante (institucionalizado), vernacular (cotidiano), de adulto, urbano, crítico,

emergente, funcional etc. Os letramentos ou os múltiplos letramentos são designados

como os Novos Estudos sobre Letramento (NLS – New LiteracyStudies) (GEE, 1990;

STREET, 1996).

Os letramentos múltiplos ou Novos Estudos sobre Letramento relacionam-se

às abordagens e às pesquisas que têm apontado para a heterogeneidade das práticas

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sociais de leitura, escrita e uso da língua/linguagem em geral em sociedades letradas

e têm insistido no caráter sociocultural e situado das práticas de letramento (ROJO,

2009, p. 102).

Os novos letramentos levam em conta práticas situadas contextualizadas em

domínios ou espaços sociais específicos. Nesses estudos, o letramento é situado em

um espaço social e tempo histórico, em certo domínio ideológico, em uma área/esfera

de atividade humana.

Os letramentos múltiplos se relacionam ao escopo das

disciplinas/componentes curriculares também, porque [...] considera-se que cada área

de conhecimento exige um letramento específico, e então se fala em letramento

geográfico, científico, histórico etc. (SOARES, 2010, p. 59). Em corroboração com as

ponderações da autora, nossa pesquisa irá constituir-se nos múltiplos letramentos à

luz do letramento histórico visto que nossa graduação acadêmica é em História e

ministramos aulas no componente curricular História na Área de Conhecimentos

Ciências Humanas.

Assim, no domínio das práticas envoltas no letramento escolar e histórico, no

trabalho didático com uma atividade escolar de História em que constem texto verbal

e visual, não se utiliza da mesma prática letrada leitora para ler o texto verbal e o

visual, porque as práticas são diferentes, não homogêneas. Como também não se lê

um texto na forma de uma linha histórica da mesma maneira que se lê um mapa

histórico. As práticas de ler são heterogêneas, não similares. Igualmente, não se

desenha e escreve uma charge histórica da mesma maneira que uma caricatura

histórica. Não se faz leitura de um texto didático histórico igualmente como se realiza

a leitura de uma atividade escolar de História. São práticas plurais. Ainda, o letramento

histórico está implicado nas práticas de catalogações realizadas nas fontes

documentais históricas como também nas práticas de pesquisas historiográficas.

É importante frisar que: o conceito de letramentos (múltiplos), que não faz

senão apontar para a multiplicidade e variedade das práticas letradas, valorizadas ou

não nas sociedades em geral [...] (ROJO e MOURA, 2012, p. 13). São modos e

maneiras plurais de leitura, multifacetadas práticas de ler, pluralidades de modos de

ler, múltiplas valorações distintas de práticas leitoras, múltiplos letramentos.

Como os letramentos são muitos, um recorte é necessário e por isso, nossa

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pesquisa, em livros didáticos de História e em atividades escolares, analisará o

letramento visual, que será explorado a seguir.

1.2. Letramento visual no Ensino-aprendizagem de História

Considerando-se os objetivos do nosso trabalho, nesta seção, trataremos da

importância do letramento visual ser considerado nas aulas de História. Em relação à

visualidade, Dionísio (2005) assevera: na sociedade contemporânea, a prática de

letramento da escrita, do signo verbal deve ser incorporada à prática de letramento da

imagem, do signo visual (DIONÍSIO, 2005, p.160). Dionísio (2005) ilustra um exemplo

à luz da História:

O letramento visual está diretamente relacionado com a organização social das comunidades e, consequentemente, com a organização dos gêneros textuais. Basta lembrarmos, por exemplo, as pinturas das cavernas, onde os homens registravam a história de sua comunidade. Certamente, os membros daquele grupo podiam “ler” os desenhos ali registrados. No Egito e na China, as pictogravuras eram utilizadas para transmitir informações de forma direta. […] As grandes catedrais da Europa Medieval simbolizavam verdadeiros livros didáticos sobre a teologia cristã, como ainda se observa atualmente no interior de

algumas igrejas [e catedrais] (DIONISIO, 2005, p. 134).

A autora defende que as práticas de ler imagens variam no tempo e espaço

sócio-históricos conforme a cultura e o leitor. Assim, leem-se as pinturas rupestres

para perceber registros pictográficos de certos grupos humanos que por ali passaram

ou fixaram. Já nos vitrais enormes no interior das catedrais européias na Idade Média

em que o povo era praticamente analfabeto, os atos de ler visualmente eram para ser

alfabetizado na história religiosa sagrada cristã e para aceitar e submeter-se ao poder

da Igreja como detentora dessa história sagrada (DIONISIO, 2005). Ler para perceber

registros pictóricos, ler para se alfabetizar, decodificar, aceitar e reverenciar a imagem

divina (palavra divina) são práticas sociais de letramento visual.

O letramento visual é importante na disciplina de História. Nas pesquisas à luz

da Didática de História, a pesquisadora Circe Bittencourtt (1997, 2012) critica que

pouco se conhece sobre as formas de leitura de imagens utilizadas em salas de aulas

(BITTENCOURT, 2012, 1997, p. 72).

Assim, há poucos estudos de práticas de leitura de imagens na disciplina de

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História. A historiadora afirma que é necessária pesquisa porque os alunos são

provenientes de uma geração formada pela saturação de imagens (BITTENCOURT,

2012, 1997, p. 72). Geração que acredita nas imagens mostradas e circuladas nas

televisões, nas propagandas impressas, nos jornais e revistas. E igualmente,

naquelas propagadas pelos livros didáticos de História e seus exercícios escolares,

as quais são tomadas acriticamente como práticas visuais decodificativas de

ilustração do conteúdo na forma de fatos históricos. Em oposição a isso, o letramento

visual defende práticas lecto-visuais mais questionadoras e críticas.

A respeito do letramento visual, Kress e Van Leeuwen (1996) asseveram:

Acreditamos que a comunicação visual está se tornando um campo cada vez menos de especialistas e cada vez mais crucial à comunicação pública. Isso inevitavelmente leva ao surgimento de novas regras, de regras mais formais de ensino. Não ser letrado em comunicação visual poderá acarretar sanções sociais. Dominar o chamado letramento visual será uma questão de sobrevivência,

especialmente nos locais de trabalho (KRESS & VAN LEEUWEN, 1996, p. 2-3).

As ponderações sobre o letramento visual levam à questão da multimodalidade

e do letramento multimodal, que serão abordados a seguir.

1.3 Multimodalidade, modos de significação ou semióticos

Segundo Kress (2010) modos são os resultados de uma formação social e

histórica de materiais escolhidos por uma sociedade para representação (KRESS,

2010, p. 11). Por consequência, os modos têm como princípio de base certos materiais

(verbais, palavras, pictográficos, cores, gestos, etc.) selecionados por participantes

em domínios sócio-históricos para serem empregados na comunicação e na

representação.

Outras definições de modos são: um modo é um recurso formado social e

culturalmente para a construção de significação. Imagem, escrita, layout, fala,

imagens em movimentos são exemplos de diferentes modos (KRESS, 2010, p. 79).

E, também, modos ou modos semióticos, similarmente, são formados por ambas

características intrínsecas e potencialidades do meio e pelas necessidades, histórias

e valores das sociedades e de suas culturas (KRESS, 2010, p. 79).

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Com isso, os modos ou as semioses plurais presentes nos textos extrapolam a

tradicional e clássica modalidade verbo-oral, porque contemplam mais que signos

verbais, contemplam os signos não verbais também.

Tradicionalmente, principalmente anterior à década de 1980, nos estudos

linguísticos, os modos de representação ou modalidades eram dispostos em dois: o

oral e o escrito. São aqueles que tentam reproduzir e entender os significados por

meio de registros escritos ou falados presentes nos textos escritos ou falados. Muitas

vezes, estes textos são designados como textos linguísticos ou verbais, porque o

significado está preso na parte verbal das palavras orais e/ou escritas.

A leitura, as práticas leitoras e o letramento e suas pesquisas predominavam

no uso dos textos verbais no modo escrito. Com o predomínio da modalidade da

linguagem escrita, os textos verbalizados e seus significados eram quase sempre

estudados na forma de uma monomodalidade, porque não se recortavam outros

modos de significação ou semióticos.

Para Rojo e Moura (2012),

a multimodalidade trata-se de uma extensão do conceito de modalidade de língua (oral e escrita) a outras semioses, organizadas e materializadas em outras configurações e outras lógicas, estendendo, por exemplo, o conceito de gramática “a uma gramática

visual” (ROJO & MOURA, 2012, p. 23) [ênfase dos autores].

Assim, tradicionalmente a modalidade de língua era estudada somente escrita

ou oral, em sua materialidade verbal ou linguística.

Entretanto, as duas modalidades não dão conta das demandas de leituras

múltiplas e práticas leitoras atuais, principalmente, na leitura de textos multimidiáticos,

eletrônicos, digitais e multimodais.

Assim, não é possível estudar a modalidade oral isolada dos gestos

(modalidade gestual) ou dos ritmos e entonações (modalidade sonora/musical). Ainda,

não é possível compreender mais profundamente, a modalidade escrita sem levar em

consideração a visual. Isto pode ser facilmente notada nas pesquisas em acervos de

documentos históricos escritos de séculos passados. Um dos fatores de credibilidade,

da autenticidade dos manuscritos antigos é a coloração que é apropriada por outro

modo de representação que não somente o escrito, ou seja, o modo visual, constituído

na cor sépia de tonalidade amarelada ou marrom acinzentado destes registros

históricos. Geralmente, a cor em sépia tem o significado de algo envelhecido, antigo,

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registro gasto ao longo do tempo, caracterizada com uma aparência de algo

envelhecido, desbotada pelo transcorrer do tempo; a foto em tonalidade de sépia

assume a significação de caráter de envelhecido, antigo. E, historicamente, a

fotografia em sépia remete ao tempo passado, ao tempo historiográfico e, em

consequência, propicia a significação de analogia com o tempo passado e datado.

Para Kress (2010), as semioses são os modos ou modos de significação e

sentidos dos signos verbais e não verbais e por serem vários são multimodais. O autor

traz a questão da multimodalidade presente nos textos por causa dos cinco modos de

linguagens existentes, no caso, visual, sonoro [musical], gestual, linguístico

[oral/escrito] e espacial (KRESS, 2003, 2006, 2010).

Kress et ali. (2006) dizem que multimodalidade está baseada na pressuposição

que a significação é construída através de muitos meios (nós chamamos esses como

modos) que uma cultura formou para aquele propósito (KRESS & CHARALAMPOS &

JEWITT & OGBORN, 2006, p. 21).

Contudo, com os avanços das práticas digitais propiciadas pelas TICs e novas

mídias, das convergências entre as mídias, novos manuseios das ferramentas

tecnológicas, o impulso dados pela comunicação móvel, das interações digitais nas

redes sociais, o uso da língua pelo modo ou modalidade escrita se híbrida cada vez

mais com as outras modalidades de representação, muitas vezes, mesclando

representações sígnicas verbais ora escritas, ora mais próximas das orais, ou ora

mescladas com elementos pictóricos (emoticons de mensagens e e-mails coloridos,

por exemplo), e por tais razões, os pesquisadores do Grupo Nova Londres começam

a rever a multimodalidade no que diz respeito à quantidade de cinco modos de

representações ou modalidades semióticas.

Kalantzis e Cope (2013) sustentam que

[...] os sentidos assíncronos através da distância que eram uma vez a principal preservação da palavra escrita, são agora feitos em condições onde os modos linguísticos escritos de sentidos interfaceiam com registros (gravações) e transmissões dos modos de sentidos oral, visual, audível (musical), gestual, táctil e espacial

(KALANTZIS & COPE, 2013, p. 1).

Estes pesquisadores expandem os cinco modos de semioses para sete

modalidades de representação dos sentidos: do anterior modo linguístico, eles

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desdobram-no nos modos orais e escritos, mantendo os modos visuais, espacial,

sonoro/musical, gestual e apresentando como uma novidade o modo táctil.

Os autores consideram que as representações linguístico-alfabéticas não dão

conta de abordar todas as significações dos textos que circulam correntemente porque

nos meios de aprendizagem hoje em dia, nós precisamos suplementar a leitura e a

escrita tradicional com estas representações multimodais, e particularmente, com

aqueles típicos da nova mídia digital (KALANTZIS & COPE, 2013, p. 1).

Em nossa pesquisa, recorreremos à leitura dos modos de representação

linguístico-escrito e visual à luz de Aprendizagem Multimídia, de Mayer (2001) já que

analisaremos material impresso verbo-imagético estático. E, com Dionísio (2005),

esclarecemos que os termos multimodal e multimídia estão sendo usados como

sinônimos para designar os modos de apresentação, ou seja, representação verbal e

pictorial da investigação (DIONÍSIO, 2005, p. 141).

1.4 A Teoria Cognitiva da Aprendizagem Multimídia A pesquisa de Richard E. Mayer (2001) apresenta importantes contribuições

para pensar sobre as capacidades de leitura na dimensão do mundo digital. No

entanto, os resultados dessa pesquisa servem-nos para empregá-la em leitura verbo-

visual ou visual em material impresso em livro didático de História em diálogos com

Dionísio (2005) e Paes de Barros (2005, 2009).

Transposta para o nosso objeto de pesquisa – as atividades escolares em Livro

Didático de História – a pesquisa pode ser empregada para ler imagens e escritas

presentes em textos tais como charges, iluminuras, fotos, retratos, caricaturas,

tirinhas, histórias em quadrinhos (HQ), pinturas, desenhos rupestres, gravuras, linha

de tempo histórica, primeiras páginas de jornais, mapas históricos, etc.

Apesar de, na atualidade, o termo multimídia designar meios de comunicação

digitais, refere-se aqui como os múltiplos meios de comunicação presentes em

diversos textos, sejam eles por meio dos portadores digitais ou impressos como por

exemplo páginas de livros didáticos de História, nosso objeto de estudo.

Embasada em Mayer (2001), Dionísio (2005) concebe aprendizagem por

multimídia como aquela desenvolvida a partir de um trabalho com impressos, em que

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se observam que até mesmo as fontes utilizadas, ou o tamanho das letras impressas,

como também textos que aliam imagens estáticas com textos verbais escritos,

disposição de imagens e da escrita e das cores, além dos textos com músicas,

imagens em movimento, presentes no ambiente virtual.

Há de se observar que a presença de textos com os modos visual e escrito é

algo recorrente nos livros didáticos de História já há muito tempo. Por exemplo: um

texto escrito sobre a chegada do colonizador europeu no Brasil e imagens dos índios

como canibais dos europeus. Tinha-se como objetivo reforçar a ideia da barbárie de

povos diferentes do europeu civilizado. Retratava-se uma ideologia da superioridade

racial do povo europeu. A imagem costumava ser utilizada para reforçar o conteúdo

escrito.

Como bem afirma Dionísio (2005), as modalidades ou os modos de

representação e imagens não são meramente formas de expressão para divulgação

de informações, ou representações naturais (DIONÍSIO, 2005, p. 131). Ou seja, os

textos com imagens e escritas para o aprendizado do conteúdo de História não são

verdades únicas, absolutas e acabadas, mas representam discursos e ideologias

dominantes do poder no tempo e espaço nos quais foram produzidos e postos em

circulação.

Mayer (2001) apresenta-nos sete princípios básicos de organização de textos

multimodais à luz da TCAM, três deles possíveis de serem utilizados para material

impresso em livros didáticos:

1. Princípio da multimídia: estudantes aprendem melhor a partir de palavras e imagens que de apenas palavras. 2. Princípio da Contiguidade Espacial: estudantes aprendem melhor quando palavras e imagens correspondentes são apresentadas próximas do que quando estão afastadas umas das outras na página ou na tela de computador. 3. Princípio da Contiguidade Temporal: estudantes aprendem melhor quando palavras e imagens correspondentes são

apresentadas simultaneamente do que sucessivamente (DIONÍSIO, 2008 apud MAYER, 2001, p. 129-130).

Para os objetivos da nossa pesquisa, não utilizaremos todos os sete princípios

uma vez que alguns são específicos para letramento digital, pois trabalham com sons

(modo sonoro/musical) e com textos na tela digital de computador (modo visual em

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movimento) e com espacialidade (modo espacial).

1.5 As capacidades de leitura multimodais

Embasada em Kress e Van Leeuwen (1996; 2001), Mayer (2001), Kress (2003),

e Dionísio (2005), dentre outros, a pesquisadora Paes de Barros (2005), refletindo

sobre a leitura de textos multimodais, cunha, as estratégias de observação da

multimodalidade. Nas palavras da autora, os leitores têm de recorrer a estratégias de

observação da multimodalidade, estratégias que utilizam na reconstrução dos

sentidos dos textos multimodais […] textos que aliam a materialidade visual à escrita

(PAES DE BARROS, 2005, p. 84). Já em 2009, Paes de Barros propõe outro sentido

às estratégias como capacidades de leitura de textos:

1. Seleção e verificação das informações verbais – refere-se à ativação das capacidades de compreensão e apreciação da leitura dos textos verbais, como parte do processo de compreender a significação do texto como um todo. 2. Organização das informações da sintaxe visual – trata-se da observação dos elementos pictográficos de modo a selecionar e organizar as informações relevantes à construção da significação. 3. Integração das informações verbais e não verbais – trata-se da capacidade de observar e conjugar as informações da materialidade verbal à pictográfica, relacionando-as no ato de construção dos sentidos dos textos.

4. Percepção do todo unificado de sentido que se compõe através da integração dos materiais verbais e não verbais – trata-seda ativação de diversas capacidades linguístico-discursivas e de leitura aliadas à organização e observação das informações, através das

quais o leitor constrói um todo de significação (PAES DE BARROS, 2009, p. 166).

Na capacidade Seleção e verificação das informações verbais, no livro didático

de História, o aluno, diante de um gênero multimodal em uma atividade escolar,

seleciona o texto pelo modo verbal-escrito. A partir da compreensão verbal, avaliará

por meio de uma apreciação valorativa positiva ou negativa; e com isso, aceitando,

negando, questionando os sentidos das significações verbais escritas.

Na capacidade Organização das informações da sintaxe visual, no livro didático

de História, em uma atividade escolar, o aluno, diante de um gênero multimodal, –

desenhos, figuras, pinturas a óleo, iluminuras, pinturas rupestres, charges, etc. -,

visualiza os elementos imagéticos tais como cores (preto e branco em fotos antigas e

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coloridas nas atuais), perspectiva da imagem, o plano de fundo, o plano de frente e a

luz (sombras ou partes escuras ou mais claras).

Na capacidade de Integração das informações verbais e não verbais, na

atividade escolar, o estudante perante um texto multimodal – realiza a estratégia de

articular os elementos do modo verbal com o visual para construir e atribuir

significados e sentidos ao texto.

Na capacidade de Percepção do todo unificado de sentido que se compõe

através da integração dos materiais verbais e não verbais, o aluno sintetiza os atos

percebidos nas dimensões escrita e visual, e realiza uma apreciação do todo do texto.

Em outras palavras, a partir da compreensão verbo-visual, ele avaliará as

significações unificadas por meio de uma apreciação valorativa positiva ou negativa;

e com isso, aceitando, negando, questionando, desvelando, ou mesmo criticando os

sentidos das significações verbo-imagéticas.

Dessa forma, o estudante pode desvelar a articulação aparente de uma foto

montada em outras camadas (layers), como no caso do gênero fotomontagem

realizada em photoshop. Quando o aluno logra êxito em reconhecer vários planos

numa fotomontagem rudimentar e elementar (em que é possível perceber nitidamente

a foto como uma montagem), inicia-se um processo de questionamento imagético e

posterior desvelamento deste material pictográfico-verbal. Podemos inferir que a tese

básica de Paes de Barros (2005) é a de que há uma relação dialógica entre palavras

e imagens, ou entre os modos de representação visual e linguístico-escrito.

Consequentemente, os modos semióticos e suas potencialidades de sentidos são

infinitamente superiores aos significados ou sentidos de cada uma das modalidades

de representação quando observadas ou lidas isoladamente.

Isto quer dizer que, quando percebemos e lemos esses modos de

representação, podemos mobilizar capacidades de leitura multimodais mais precisas

para subsidiar a criação de efeitos de sentidos nos atos de leitura.

Sobre as estratégias multimodais, Paes de Barros (2009) diz que:

Desse modo, as especificidades dos textos que aliam a materialidade verbal à pictográfica exigem que o leitor recorra não somente às estratégias de compreensão e apreciação, mas também as estratégias particulares de observação multimodal que o levam a selecionar e verificar as informações verbais e organizar as informações da sintaxe

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visual. Estas últimas proporcionam a integração de materiais verbais e pictográficos que, por sua vez, ocasiona a percepção do todo unificado de sentido que se compõe através da integração dos

materiais verbais e visuais (PAES DE BARROS, 2009, p. 167).

Em nosso trabalho, as capacidades de leitura de textos multimodais de Paes

de Barros (2005, 2009) são uma das principais categorias de análises das atividades

escolares presentes nos livros didáticos de História.

Além disso, em concordância com a autora, defendemos que no ensino-

aprendizagem escolar é extremamente relevante o domínio das capacidades de

leitura [...] como condição para acesso ao conhecimento, à participação social e o

exercício efetivo da cidadania (PAES DE BARROS, 2012, p. 1). E, ainda com a autora,

concordamos que para muito além da aula de língua portuguesa – é preciso que

nossos alunos saibam ler e escrever, de forma hábil e eficiente, em todas as

disciplinas que compõem o currículo escolar (PAES DE BARROS, 2012, p. 1). Por

consequência, para muito além da disciplina de Língua Portuguesa é obrigação das

demais disciplinas e, em particular da História encaminharem o aluno ao

desenvolvimento das mais diversas capacidades leitoras.

Em diálogo com as capacidades elencadas pela autora, compreendemos que

estas podem ser potencializadas no bojo da educação crítica freiriana, redescoberta

e apropriada à luz do letramento crítico como proposto pelos teóricos da Pedagogia

dos Multiletramentos.

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1.6 Pedagogia dos multiletramentos

Conforme os estudos sobre letramentos avançam com suas implicações nas

práticas de uso da linguagem contextualizadas em domínios – escolar, urbano; ou em

espaços sociais – globais, locais; ou contextualizadas em modos de usos das

linguagens – visuais, funcional (linguagem verbal), alguns estudiosos realizam

reflexões acerca de suas integrações à uma educação mais crítica e conscientizadora

e principalmente mais inclusiva às minorias – imigrantes, indígenas, etc. Reflexões

abarcadas e propostas em um manifestado intitulado “Pedagogia dos

Multiletramentos” pelo Grupo Nova Londres (THE NEW LONDON GROUP, 1996).

O manifesto é intitulado A pedagogy of multiliteracies: Designing social futures

(THE NEW LONDON GROUP, 1996). A equipe que compõe o grupo é composta por

estudiosos de vários continentes e países e seus membros são Courtney Cazden, Bill

Cope,James Cook, Norman Fairclough, Jim Gee, Mary Kalantzis, Gunther Kress, Allan

Luke, Carmen Luke, Sarah Michaels e Martin Nakata.

Os multiletramentos implicam uma gama de letramentos, visto que abarcam

muitos deles – visual, digital, multimidiático – e, mais um tipo bem específico – o

letramento crítico. Este é redescoberto por intermédio de achados do arcabouço

teórico de Freire e Freire & Macedo. De Freire, apropriam-se de várias obras como

Pedagogy of the oppressed (1968), Education for critical consciousness (1973). Já de

Freire & Macedo, do livro Literacy: Reading the world and reading the word (1987).

Os multiletramentos implicam uma educação inscrita em uma gama de

letramentos, uma valoração do letramento crítico, uma pluralidade de culturas (no

plural) – diversidades culturais, inclusão social inclusive das minorias mais oprimidas,

e primordialmente uma formação cidadã de respeito às diversidades e às alteridades

dos sujeitos humanos. Por consequência, multiletramentos compõem e se constituem

de múltiplos letramentos, múltiplas práticas, múltiplas linguagens, múltiplas semioses,

múltiplas modalidades, múltiplas culturas, múltiplos saberes, múltiplos modos de

representação. E, no escopo de nossa pesquisa, em diálogos com a pesquisadora

Paes de Barros (2009), multiletramentos podem implicar também a dimensão das

múltiplas capacidades leitoras.

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Muitas reflexões da Pedagogia dos Multiletramentos tornam-se valiosas nas

inter-relações entre os contextos globais e locais e, no caso específico da imigração

e de uma educação voltada aos imigrantes. Já nos anos 1990, uma reflexão cara ao

grupo era: O que é uma educação apropriada para mulheres, para indígenas, para

imigrantes que não falam a língua nacional, para falantes dos dialetos não padrão?

(THE NEW LONDONGROUP, 1996, p. 10). Nitidamente, o questionamento do Grupo

Nova Londres já era brilhantemente problematizado no âmbito de uma educação

libertadora, popular e inclusiva por Freire desde os anos 1950.

Ainda nas reflexões educacionais, o Grupo Nova Londres indaga: O que é

apropriado para todos no contexto de fatores de diversidade local e conectividade

global cada vez mais críticos? (THE NEW LONDONGROUP, 1996, p. 10). Na

perspectivados multiletramentos, o Grupo inter-relaciona letramento global, local e

crítico com a diversidade de culturas dentre outros mais.

Como os multiletramentos trabalham com modos de representação das

linguagens, dos signos e dos discursos, são relevantes à nossa pesquisa, visto que

muitos livros didáticos de História consideram as imagens implicadas nas gravuras e

mais ainda nas fotografias como claras fontes fidedignas de reproduções ou ainda

como reflexos verdadeiros de uma época ou era histórica. Em contrapartida à

reprodução, os multiletramentos possibilitam contemplar as imagens constantes dos

livros didáticos de História como representações multimodais, logrando com isso, a

ampliação de nossa visão da Historiografia à luz dos discursos e dos gêneros.

Como já dissemos, muitas das reflexões da Pedagogia dos Multiletramentos

sobre uma educação crítica implicada nos saberes da comunidade, do educando

como também na sua cultura e das culturas da comunidade em nível regional, local e

nacional já eram discutidas e aplicadas pelo educador Paulo Freire desde os anos de

1950 no Brasil.

De acordo com Knoble e Lankshear (2006), um dos responsáveis é o pensador

Paulo Freire. Para eles, uma [das razões] era o crescimento da predominância do

trabalho de Paulo Freire dentro de um contexto mais amplo de movimento radical

educacional nos finais dos anos da década de 1960 e iniciais da década de 1970

(KNOBLE & LANKSHEAR, 2006, p. 9).

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Os trabalhos freirianos com camponeses na América do Sul e África ancorada

em sua perspectiva emancipadora, libertadora e conscientizadora de

educação/alfabetização permitiram entrever que um trabalho com letramento pode ser

central às abordagens radicais para uma educação objetivada na construção de uma

práxis social crítica (KNOBLE & LANKSHEAR, 2006, p. 9).

Em diálogos com as obras de Freire, Knoble e Lankshear (2006) traduzem a

alfabetização freiriana como letramento e dizem que seu conceito de letramento como

‘ler o mundo, ler a palavra’ envolve muito mais de que meramente as ideias de

decodificar e codificar o impresso (KNOBLE & LANKSHEAR, 2006, p. 9).

Entende-se, assim, letramento numa abordagem mais ampla em que não se

prende somente a decodificação/descodificação de um texto escrito. Não se atem à

decodificação da palavra unicamente, mas a leitura do mundo mediado por práticas

sociais diversas. Por consequência, Freire coloca e aplica noção de práxis ou prática

social na ordem do dia nos estudos de letramento.

Nessa perspectiva, compreende-se que o

[...] ensino de como decodificar e descodificar o impresso alfabético era integrado numa pedagogia mais expansiva na qual grupos de aprendizes buscam colaborativamente a conscientização crítica de seu mundo via um processo de reflexão e ação reflexiva ou “cíclica”

(KNOBLE & LANKSHEAR, 2006, p. 9) [ênfase dos autores].

Assim, através de seus esforços de agir no mundo, e para analisar e entender

os resultados de suas ações, as pessoas podem vir a conhecer o mundo melhor: mais

‘profundamente’ e ‘criticamente’ (KNOBLE & LANKSHEAR, 2006, p. 9) [ênfase dos

autores].

Por esta razão, torna-se necessário redescobrirmos o estudioso brasileiro no

próximo tópico.

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1.7 A educação e alfabetização crítica por Paulo Freire

A concepção de Educação Freiriana calcava a defesa das artes e culturas

populares regionais e nacionais nos mergulhos em fontes comunitárias presentes nos

Círculos de culturas. A diversidade de culturas é um dos alicerces da educação

emancipatória e crítica.

Na década de 80 do século XX, Freire e Macedo (1987) relacionam a pedagogia

crítica à alfabetização crítica. Eles definem alfabetização crítica como forma de política

cultural, levando em consideração a experiência do educando, considerando os seus

problemas, sua cultura, seus saberes, suas práticas e necessidades como referência

inicial da prática pedagógica emancipatória.

Na proposta desses autores, percebe-se uma valorização do mundo vivido pelo

educando e de suas práticas e da comunidade como elementos propulsores na

construção de capacidades de desvelar a realidade social e opressora, desmitificar o

outro, considerando este outro como aquele detentor do discurso hegemônico, que dá

suporte à perpetuação de determinado pensamento de longa duração e que dá

guarida aos conceitos e preconceitos que levam à exclusão e às desigualdades e

injustiças sociais.

Assim, a alfabetização, nesta concepção, é vista como um conjunto de práticas

que funcionam para empoderar ou desempoderar pessoas (FREIRE & MACEDO,

1987, p.98).

Estes, em defesa da educação e alfabetização crítica de empoderamento do

sujeito, do ser social, da comunidade e da coletividade, questionam e criticam uma

alfabetização que nega sistematicamente as experiências culturais dos grupos

linguísticos que são subordinados às políticas de alfabetização do estado (FREIRE &

MACEDO, 1987, p.98).

Desse modo, os autores aliam a alfabetização crítica à questão cultural: em um

sentido mais amplo, a alfabetização é analisada de acordo se ela serve para

reproduzir formações sociais existentes ou serve como um conjunto de práticas

culturais que promovam mudança democrática e emancipatória (FREIRE & MACEDO,

1987, p.98).

Além da questão da alfabetização crítica à luz das práticas sociais

empoderadoras dos povos oprimidos ou subordinados, Freire e Macedo (1987)

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salientam que: […] é um fenômeno eminentemente político e deve ser analisado no

contexto de uma teoria das relações de poder e de uma compreensão da [à luz das

teorias de] reprodução e produção social e cultural (FREIRE & MACEDO, 1987, p.98).

Na relação entre alfabetização crítica e culturas, os autores afirmam que a

alfabetização deve ser vista como um meio que constitui e afirma os momentos

históricos e existenciais da experiência vivida que produzem uma cultura subordinada

ou viva (FREIRE & MACEDO, 1987, p.98). Analogicamente, a cultura subordinada é

a reprodução cultural enquanto a cultura viva é a produção cultural. Nas palavras dos

autores: Por “reprodução cultural”, nos referimos às experiências coletivas que

funcionam no interesse dos grupos dominantes, e não no interesse dos grupos

oprimidos que são o objeto destas políticas (FREIRE & MACEDO, 1987, p.98).

Nos livros didáticos de História, a reprodução cultural se efetiva quando os fatos

históricos ali apresentados são interpretados como verdades universais, sem

quaisquer questionamentos. Quer sejam esses fatos apresentados na forma de textos

verbais ou não-verbais (fotografias e imagens em geral). A atividade escolar no Livro

didático de História apresenta uma visão de reprodução cultural, quando os

enunciados direcionam o aluno a apenas localizar informações, retirando do texto

fatos, dados ou conteúdos de um modo de ensino que se restringem à reprodução

repetitiva dos autores do texto. A reprodução cultural visa à aceitação, submissão,

manutenção da ordem imposta por uma classe social, manutenção dos significados

dos fatos históricos sem quaisquer tomadas de posição e posicionamento crítico em

relação a eles. Portanto, visam à reprodução da visão de mundo de uma classe social.

Nós usamos produção cultural para nos referir a grupos específicos de pessoas que produzem, mediam e confirmam os elementos ideológicos mútuos que emergem e reafirmam as suas experiências vividas diariamente. Neste caso, estas experiências estão enraizadas

no interesse da autodeterminação individual e coletiva (FREIRE & MACEDO, 1987, p. 98-99).

O trabalho voltado para a produção cultural, no livro didático de História, visa a

dar voz e vez ao estudante ao buscar relacionar o conteúdo do texto ou os enunciados

propostos nas atividades escolares com os seus saberes vividos. Esta relação leva

ao questionamento do lido e do percebido (visto) dando novos sentidos avaliativos

aos enunciados a ele apresentados num nítido posicionamento de avaliação

apreciativa com julgamento tomando a partir disso, posicionamentos críticos e que

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levam ao estudante a própria autoria em relação ao texto escrito no livro didático de

História ou na atividade escolar de história. É a ideia do ver, julgar e agir, nos dizeres

freirianos.

Freire e Macedo (1987) afirmam que para a noção de alfabetização se tornar

significativa, tem que ser situada dentro de uma teoria de produção cultural e vista

como uma parte integrante da forma como as pessoas produzem, transformam e

reproduzem sentidos (FREIRE & MACEDO, 1987, p.98).

Portanto, de acordo com os autores, é preciso mais que ler as palavras. É

preciso ler o mundo, ler a cultura, ler a palavra criticamente e de forma questionadora

e transformadora. Os achados de Freire (1967, 1968, 1973) e Freire e Macedo (1987)

têm sido revisitados por diversos autores.

Alicerçados nos pesquisadores e pensadores elencados, pensamos que o

significado dos termos alfabetização de jovens e adultos e alfabetização crítica e

problematizadora podem produzir e assumir outros efeitos de sentidos, no caso,

letramento e mais ainda, letramento crítico.

Para nós, na acepção da leitura de mundo freiriana, e na leitura do mundo atual

[do mundo social das realidades acadêmicas e escolares] as citações compostas de

“alfabetização”, na perspectiva freiriana, podem assumir efeitos de sentidos como

letramentos.

No próximo capítulo, abordaremos a teoria de ensino-aprendizagem de Lev

Vygotsky e algumas dimensões do aporte teórico de Mikhail Bakhtin e o Círculo.

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CAPÍTULO II

BAKHTIN, O CÍRCULO E VYGOTSKY: A INFLUÊNCIA SOCIAL NA PRÁTICA EDUCATIVA CONTEMPORÂNEA

O presente capítulo objetiva traçar pressupostos teóricos que alicerçam a

nossa pesquisa no que tange às concepções sócio-histórica da linguagem e de

gêneros do discurso (BAKHTIN, 1929; 1952; 1952-1953/1979; 1973/1975;

BAKHTIN/VOLOCHINOV, 1929; BAKHTIN/MEDVEDEV, 1928). Também pautam este

trabalho os construtos de Lev Vygotsky relativos à apropriação das ferramentas ou

instrumentos semióticos para o desenvolvimento e aprendizado humanos

(VYGOTSKY, 1930; 1933), e suas reflexões sobre o ensino-aprendizagem de História

(VYGOTSKY, 1926). Finalizando o capítulo, discorremos sobre a utilização dos

gêneros discursivos como mega-instrumentos (SCHNEUWLY, 1997, 2000, 2004) de

ensino-aprendizagem de capacidades.

2.1 Introdução

A disciplina de História, como as outras no domínio escolar, precisa da

linguagem e seus usos para se constituir e avançar no seu saber e processo de

conhecimento histórico. Com função primordial, a História visa a contribuir com a

cidadania em acordo com a Constituição Federal de 1988 (Constituição Cidadã). As

finalidades comuns a todas as disciplinas escolares são estabelecidas no Artigo Nº 32

da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – (LDB), LEI Nº 9.394, de 20 de

dezembro de 1996:

Art. 32 -O ensino fundamental obrigatório, com duração de 9 (nove) anos, gratuito na escola pública, iniciando-se aos 6 (seis) anos de idade, terá por objetivo a formação básica do cidadão, mediante: I - o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo; II - a compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade; III - o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes e valores; IV - o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de solidariedade humana e de tolerância recíproca em que se assenta a vida social

(BRASIL, MEC, 1996, s/p.).

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Em vista do Artigo, nota-se a leitura como compromisso de todas as áreas do

conhecimento. Igualmente o desenvolvimento das capacidades de aprendizagem, a

apropriação dos conhecimentos sócio-historicamente construídos.

Em concordância com a lei, entende-se ser preciso na esfera escolar abranger

o ensino-aprendizagem de História também como instrumento de desenvolvimento de

capacidades leitoras em busca da plenitude da formação da cidadania e da

apropriação do conhecimento construído ao longo da extensa linha de tempo das

relações coletivas e humanas.

No âmbito da formação de um leitor crítico, espera-se que o professor de

História em suas práticas didáticas, tenha capacidade de planejar uma sequência de

atividades capazes de abranger as múltiplas capacidades necessárias para a leitura

crítica.

No que diz respeito à formação crítica, a Seção IV intitulada Do Ensino Médio

estabelece que:

Art. 35. O ensino médio, etapa final da educação básica, com duração mínima de três anos, terá como finalidades: [...] III - o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico

[...] (BRASIL, MEC, 1996, s/p.) [ênfase adicionada].

Tal revisão das práticas de metodologia passaria pela integração das disciplinas

(nas várias áreas do conhecimento) especificamente no Ensino Fundamental. Um

possível caminho seria perceber e aprender o uso da linguagem e sua influência em

todos os campos e áreas do conhecimento. Como também a historicidade da

utilização da linguagem como inerente a uma melhor compreensão dos

conhecimentos acumulados na sócio-história do Homem.

Na contemporaneidade, portanto, a prática educativa de História não se

sustenta sem se levar em consideração uma determinada concepção de linguagem

em uso, relações de ensino-aprendizagem, leitura, desenvolvimento das capacidades,

modos e formas de apropriar o conhecimento e os atos de criticidade.

Nesse sentido, pautamos a nossa pesquisa nos construtos de Bakhtin e o

Círculo (1929; 1952; 1952-1953/1979; 1973/1975) e Vygotsky (1926; 1930; 1933),

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estudiosos de forte influência nos documentos curriculares educacionais nacionais.

2.2 A influência do social e do histórico: a URSS

A concepção de linguagem dialógica, defendida por Bakhtin (BAKHTIN. 1952;

1952-1953/1979) exige um conhecimento historicamente construído por membros

participantes de certos discursos e formas discursivas de determinada esfera de

atividade humana, assim como pressupõe o conhecimento construído pela própria

humanidade.

Numa linha de tempo histórico, tanto Bakhtin e o Círculo como Vygotsky

viveram e produziram suas obras numa época de revoluções, à luz de uma revolução

socialista e em forte contraposição ao pensamento de concepção burguês-individual

de ser humano que apreende o mundo por si só e somente por suas próprias

condições e ainda de um pensamento de Humanidade sem laços históricos, a-

histórica e acrítica. Por isso, o emprego e as ressonâncias do histórico mediado,

intermediado, entremeado, interagido nas relações sociais coletivas nas concepções

teóricas dos dois grupos de estudiosos é significativa e serve de pilar básico às

quaisquer pensamentos ou escritos dos dois grupos de intelectuais russos.

Esses autores viveram em uma das eras mais revolucionária e de

transformações das relações sociais, na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas

– antiga URSS. Como dois termos da própria designação já enfatiza – União e

Socialistas -, naquele período, pós-revolução do Outubro Vermelho do ano de 1917,

buscava-se uma união dos pensadores soviéticos e russos para a construção de uma

sociedade, de uma revisão histórica à imagem do social e à luz das relações sociais

e da construção de um legado social do que é ser humano e de Humanidades. Daí,

por consequência o termo ‘socialista’, na realidade um discurso fortíssimo, repercutir

tanto nos pensamentos de Bakhtin e o Círculo e Vygotsky. Nas diversas obras dos

autores a linguagem e tudo a que ela se relaciona origina-se no social, tudo se constrói

nas relações humanas no seio sócio-histórico das evoluções, revoluções e através

das interações sociais.

Por consequência, escrever e tentar pensar sobre os dois grupos soviético-

russos é ter em mente a forte influência da união social, da sociabilidade e do social

como o pilar fundante de suas concepções teóricas. Tendo isso em mente,

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passaremos a discorrer sobre as duas abordagens, bases de nossa dissertação.

2.3 Bakhtin e o Círculo: concepção de linguagem enunciativo-discursiva

No passado, era denominado Círculo de Bakhtin, hoje adota-se outra

designação: Bakhtin e o Círculo conforme a estudiosa Beth Brait (BRAIT, 2009).

Segundo Brait e Campos (2009), o Círculo é composto de [...] um conjunto de

intelectuais, cientistas e artistas que, especialmente nas décadas de 1920 e 1930,

dialogaram em diferentes espaços políticos, sociais e culturais (BRAIT & CAMPOS,

2009, p. 15). Os pensadores integrantes são Mikhail M. Bakhtin, Valentin N.

Volochinov, Pavel Medvedev, I.Kanaev, M. Kagan, L. Pumpianskii, M. Yudina, K.

Vaguinov, I. Sollertinski, B. Zubakin (BRAIT & CAMPOS, 2009, p. 17).

Um forte conceito que fundamenta as ideias desse grupo de pensadores está

na seguinte citação: A verdadeira substância da língua [e linguagem] é constituída [...]

pelo fenômeno social da interação verbal (BAKHTIN/VOLOCHINOV, 2004, 1929, p.

123-124). No sentido mais amplo, as interações são atos verbalizados, isto é, atos de

fala e escrita. A interação verbal constitui assim a realidade fundamental da língua

(BAKHTIN/VOLOCHINOV, 2004, 1929, p. 123-124).

Assim, eles buscam abarcar os estudos da língua e linguagem nas interações

ocorridas nas situações concretas nas mais diferentes esferas, campos ou domínios

da atividade humana. Esse estudo é defendido por Bakhtin e o Círculo, porque é nelas

que se dão os sentidos e significados aos enunciados ali praticados. De acordo com

Bakhtin: Todos os diversos campos da atividade humana estão ligados ao uso da

linguagem (BAKHTIN, 2003, 1952-1953/1979, p. 261-262). Porque O emprego da

língua efetua-se em forma de enunciados (orais e escritos) concretos e únicos,

proferidos pelos integrantes desse ou daquele campo da atividade humana

(BAKHTIN, 2003,1952-1953/1979, p. 261-262).

Por consequência, todas as ações humanas na serventia do emprego da

linguagem são, antes de tudo, contextualizadas em domínios ou esferas. Numa

acepção marxista, é território do social, é espaço da coletividade das relações inter-

humanas construídas, forjadas e instrumentalizadas na longa e extensa sócio-história

coletiva de seres humanos. Porque para os autores, nos vários campos ou domínios

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das relações humanas, isto é, das relações sociais, o ser humano caracteriza-se,

antes de tudo, como um ser social. Assim, o ser significa ser para o outro e, através

dele, para si. O homem não tem um território interior soberano, está todo e sempre na

fronteira, olhando para dentro de si ele olha o outro nos olhos ou com os olhos do

outro... (BAKHTIN, 2003, 1952-1953/1979, p. 341).

No universo da concepção de linguagem desse autor russo, a língua e a

linguagem só podem ser pensadas considerando-se o seu vínculo com a situação

social, histórica e cultural onde se efetiva. Assim, a linguagem é interação, isto é,

dialógica, levando sempre em consideração a palavra do outro, e as condições

concretas da enunciação.

As interações e as condições concretas sócio-verbais alicerçadas nas relações

coletivas entre os homens acabam por gerarem produtos, os enunciados concretos

ou as enunciações. Deste modo, a enunciação enquanto tal é um puro produto da

interação social (BAKHTIN/VOLOCHINOV, 2004, 1929, p. 124). Como produto

resultante evolutivos das inter-relações sócio-verbais, a enunciação não surge do

nada ou de um ser humano isolado visto que:

O enunciado é um elo na cadeia da comunicação verbal. Tem fronteiras nítidas, determinadas pela alternância dos sujeitos falantes (dos locutores), mas dentro dessas fronteiras, o enunciado, [...], reflete o processo verbal, os enunciados dos outros e, sobretudo, os elos anteriores (às vezes os próximos, mas também os distantes,

nas áreas da comunicação cultural) (BAKHTIN, 2003, 1952-1953/1979, p. 319) [ênfase adicionada].

Por consequência, um enunciado leva a outro(os) tanto(os) já ditos ou escritos

como os possíveis futuros enunciados, caracterizando desta feita uma corrente

dialógica de elos de discursos.

Um estudo da linguagem embasado na compreensão enunciativa-discursiva

abarca o entendimento dos enunciados atuais em relação aos discursos já

ditos/impressos/visualizados. Isto porque é um dos princípios da linguagem interativa,

isto é, a interação entre a enunciação corrente com as outras já

faladas/escritas/visualizadas. Assim, as interações ocorrem em contextos sócio-

históricos (esferas de atividade humana) e acontecem nas complexas teias das

relações sociais entre seres humanos.

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O autor versa sobre o estudo das linguagens em relação à enunciação concreta

e, por isso, é necessário entender os sentidos da terminologia enunciado ou discurso

no aporte teórico enunciativo-discursivo.

2.3.1 Bakhtin e o Círculo: Enunciado e discurso

Em várias obras, o Círculo faz uma analogia entre enunciado e discurso. Para

o grupo, enunciado, enunciado concreto, enunciação, discurso, discurso concreto,

atos de fala e atos de fala impresso [atos escritos] são todos sinônimos (SOUZA,

2002).

No artigo Diálogo, escrito no ano de 1952, como um pré-texto ao ensaio dos

gêneros do discurso dos anos de 1952-1953, Bakhtin versa acerca de discurso e

enunciação concreta. Por discurso, o autor traça a seguinte noção: Língua e discurso.

Discurso é a realização da língua em um enunciado concreto (BAKHTIN, 1952 apud

MIOTELLO, 2009, p. 12). Deste modo, o discurso é a linguagem em uso, nos

intercâmbios sociais, nas interações humanas constitutivas de quaisquer enunciados

ou discursos concretos.

Ainda no texto Diálogo, Bakhtin (1952) caracteriza outro viés do discurso: [...]

Podemos realizar a análise [...] de qualquer discurso, e mesmo de qualquer enunciado

ou de uma parte (um fragmento). Porém, qualquer análise pode ser do discurso

concreto (exemplos, imagens, etc.) (BAKHTIN, 1952, apud MIOTELLO, 2009, p. 12)

[ênfase adicionada]. Aqui, de forma sucinta, o autor amplia a acepção de discurso para

discurso concreto de imagens, isto é, para o discurso visual.

Bakhtin (1929) indica a possibilidade de estudo [...] de um fenômeno concreto,

muito complexo e multifacético – o discurso -, mas estudam sob diferentes aspectos

e diferentes ângulos de visão (BAKHTIN, 2010, 1929, p. 207). Com isso em mente, é

possível analisar o discurso como um objeto enunciativo multifacetado, mais complexo

e mais abrangente de que somente o verbal. Como bem indica o pensador russo,

trata-se de abranger o discurso num plano mais amplo, mais plural, mais

multifacetado. Assim, pode-se tomar outros ângulos de percepção para estudar o

discurso, ilustradamente tomando-o na dimensão da visualidade, conforme vemos

em:

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Para entrar na nossa experiência (experiência social, inclusive), esses significados, quaisquer que eles sejam, devem receber uma expressão espaço-temporal qualquer, ou seja, uma forma sígnica audível e visível por nós (um hieróglifo, uma fórmula matemática, uma

expressão verbal e linguística, um desenho, etc.) (BAKHTIN, 2002,1973/1975, p. 361-362).

Expressão, aqui, na sua forma de algum signo visível é o que pode ser

percebido como o discurso visual.

Na concepção de dialogismo de Bakhtin e o Círculo, estudar sobre diálogo e

dialogismo é atingir a conclusão que é necessário abranger a interação e enunciação.

Uma coisa leva a outra e a outra corrente de diálogos e discursos.

No senso restrito, o diálogo é entendido de forma óbvia como sendo a

conversação entre duas pessoas (BAKHTIN, 1952). Quando aqui, usamos termos

como diálogo, dialógico, dialogismo, apropriar-nos-emos da concepção bakhtiniana,

que considera a linguagem humana como uma complexa rede de inter-relações

dialógicas.

Para a análise dos discursos na forma dialógica, embasamo-nos na seguinte

consideração de Bakhtin, Volochinov no texto Filosofia da linguagem e psicologia

objetiva (1929)

[...] As unidades do discurso que poderiam ser chamadas enunciações, estão ligadas uma à outra, e sucedem-se uma à outra, não segundo as regras da lógica ou da gramática, mas segundo leis de convergência apreciativa (emocional), de concatenação de diálogos, etc. e numa estreita dependência das condições históricas

da situação social [...] (BAKHTIN/VOLOCHINOV, 2006, 1929, p. 40).

Por consequência, os discursos ou enunciados são uma cadeia de elos de

concatenação, de união social de diálogos consoantes às condições do momento

sócio-histórico. Seus sentidos variam conforme a época histórica. Enunciados como

“Nunca na história desse país...”, “Brasil: ame ou deixei-o”, “Pão e Circo”, “Brasil: terra

do futebol e do carnaval” remetem-se a outros discursos, a outras concatenações de

sentidos discursivos. Similarmente, os conhecimentos históricos presentes nos livros

didáticos de História são uma ampla e enorme concatenação de discursos, de

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sentidos enunciativos do(s) outro(s) pelo(s) outro(s) e para o(s) outro(s) partícipes da

História.

Dessa forma, estamos envoltos em um mundo de relações dialógicas, e desse

modo o “meu eu”, se constitui à medida que vai ao encontro do outro, ao ponto de que

o meu próprio discurso se constitui através de enunciados de outros. O meu discurso

nada mais é de que o resultado da interação de uma multiplicidade de vozes interiores

do “meu eu”, com de muitos outros, constituídos a partir do contexto histórico-social.

Outra característica muito importante dos enunciados é sua produção,

circulação e recepção em formas discursivas, formas relativamente estáveis de

enunciações: os gêneros discursivos ou gêneros do discurso (BAKHTIN, 1952-

1953/1979).

No âmbito da teoria enunciativo-discursiva de linguagem, o discurso constitui-

se em forma de enunciações verbais, visuais, ou verbo-visuais, notadamente, os

gêneros do discurso.

Para Bakhtin (1952-1953/1979): cada campo de utilização da língua elabora

seus tipos relativamente estáveis de enunciados, os quais denominamos gêneros do

discurso (BAKHTIN, 2003, 1952-1953/1979, p. 262).

Para se observar a presença e trabalho desenvolvido com os gêneros

discursivos, um dos objetivos do nosso trabalho, é necessário estudar seus vínculos

e inter-relações com os campos ou domínios de emprego das linguagens. Nesse

sentido, o estudo dos gêneros perpassa pelo seu entendimento nos domínios de

produção, circulação e recepção. Como bem salienta Brait (2012):

[um] aspecto essencial à concepção de gênero presente no pensamento bakhtiniano: a noção de esfera ideológica que envolve e constitui a produção, circulação e recepção de um gênero, pontuando

sua relação com a vida, no sentido cultural, social etc. (BRAIT, 2012, apud BAKHTIN/MEDVEDEV, 2012, 1928, p. 15).

Os diferentes gêneros discursivos são produzidos, recebidos e circulam nas

mais diversas esferas da comunicação ou atividade humanas. Nessa medida, os

significados e os efeitos de sentidos são ressignificados de modos variáveis em

conformidade com a esfera em que são produzidos, ou circulam e são recebidos.

Como exemplo, o gênero charge é produzido no campo do jornalismo impresso, com

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determinada função, significação e sentidos nessa esfera de produção. Contudo, nos

domínios de circulação e recepção, o gênero charge elaborará outros efeitos de

sentido conforme os seus interlocutores. Já a mesma charge, posta em circulação e

recepção no livro didático de história possibilitará outros efeitos de sentidos e

apreciações valorativas. Portanto, as esferas de circulação e recepção influem na

observação e mobilização de uma gama de efeitos de sentidos apreciativos.

Para Bakhtin (1952), as esferas de aplicação da linguagem são quase

ilimitadas. Isto determina a multiplicidade das funções e, por conseguinte, dos gêneros

do discurso (BAKHTIN, 1952, apud MIOTELLO, 2009 p. 12). Visto que os campos e

as aplicações de uso da linguagem são múltiplos devido às atividades variadas –

científica, escolar, editorial, midiática, política, oficial, burocrática, etc. -, terminam-se

por serem plurais, e por consequência, plurais e diversificados são os gêneros

discursivos.

Ainda no texto Diálogo, Bakhtin (1952) ilustra uma infinidade de gêneros

discursivos:

Gêneros: diálogos cotidianos diversos e formas de réplicas destes diálogos, aspectos de diálogos técnicos (?) (léxico militar, as ordens), respostas, formas de imperativo, formas de comunicação no trabalho, perguntas e respostas padronizadas), gêneros literários, gêneros de discurso cientifico, discurso periodístico e informativo, gêneros propagandísticos, formulação de leis. Diversidade extraordinária dos

gêneros discursivos (BAKHTIN, 1952, apud MIOTELLO, 2009, p. 12).

No livro didático de História, estão presentes os mais diversos gêneros

discursivos: são os questionários com perguntas e respostas, os excertos de decretos

e documentos com formulações de leis, os gêneros informativos como notícias ou

reportagens históricas, as capas de revistas, as tirinhas de jornais, os gêneros

publicitários como os da propaganda nazista, os anúncios publicitários, as cartilhas de

propaganda nacionalista, os cartazes [do período comunista, da revolução cubana, da

intifada palestina); literários como os poemas, as letras de canção de protesto, as

letras de canção, etc.

Nos estudos da História Geral e Escolar, os gêneros discursivos são os

documentos históricos, as leis antigas, os decretos, os manifestos, as caricaturas, as

charges, as notícias ou reportagens históricas, as antigas cartas endereçadas aos reis

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(a carta de Caminha e de Vasco da Gama), dentre tantos outros.

Numa concepção mais ampla de discurso à luz da verbo-visualidade e

multimodalidade, também são gêneros as gravuras, afrescos, murais, as pinturas

rupestres, as iluminuras, as inscrições antigas, os documentos históricos manuscritos,

os mosaicos, as reproduções de pinturas, as reproduções de telas, o retrato, a

fotografia preto e branco ou colorida, os quadros, as tabelas, a linha de tempo

histórico, os mapas geográficos e históricos, os atlas históricos, os gráficos, os

infográficos, etc. Para que se concretizem os objetivos que traçamos nesta pesquisa,

buscaremos focalizar a presença e utilização dos gêneros que aliam as materialidades

visual e verbal presentes na coleção estudada.

Na seção a seguir, discorreremos alguns conceitos de outro pensador russo,

cujas reflexões sobre a importância das interações na construção do conhecimento

se aliam às considerações bakhtinianas de linguagem.

2.4 Lev Vygotsky: ensino-aprendizagem na interação social e coletiva

O pensador russo Lev Vygotsky tem contribuído com a prática educativa dos

nossos dias. É referencial nos Parâmetros Curriculares Nacionais. Ensino,

aprendizagem e interação são pontos centrais na teoria do autor. Para ele, não há

uma cisão entre ensino e aprendizado porque o ensino e a aprendizagem (a palavra

obuchenie, em russo, como em algumas outras línguas, engloba os dois conceitos)

(LUNT, 1995, p. 235).

Ainda nas premissas e reflexões vygotskyanas, o ensino e a aprendizagem

intensificam o desenvolvimento. Por sua vez, ensino-aprendizagem e

desenvolvimento se realizam nas interações sociais (VYGOTSKY, 1933).

Com isso em mente, percebe-se a questão do ensinar e do aprender, cujas

interações orais e escritas são componentes básicos, é que levam a uma questão

muito mais complexa do que somente transmitir conhecimentos.

As inter-relações entre as atividades de ensino-aprendizagem específicas à

disciplina de História são abordadas no aporte teórico vygotskyano por serem

relevantes para nossas reflexões e posterior análise dos dados pesquisados.

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2.4.1 Lev Vygotsky: o ensino aprendizagem de História

A disciplina de História e a Área de conhecimentos das Ciências Humanas

foram dois domínios relevantes de estudos para o psicólogo Lev Vygotsky. Na

realidade, a questão da História e da historicidade perpassa e permeia toda a teoria

sócio-histórica desse autor. Seus estudos implicam a historicidade em todo seu corpo

teórico como no exemplo da história da formação dos conceitos, dos conhecimentos,

das capacidades, das linguagens (no plural), dos usos das ferramentas e dos signos,

do ensino-aprendizagem e desenvolvimento histórico-cultural, etc.

Na obra Teoria e método em psicologia, no apêndice intitulado Artigo da

introdução sobre o trabalho criativo de L. S. Vigotski, Alexander N. Leontiev (1968)

aponta um fato relevante a nossa pesquisa relacionada às questões da sócio-história

do ensino-aprendizagem de História. Conforme Leontiev (1968), Vygotsky:

Iniciou suas atividades científicas quando ainda era estudante da Faculdade de Direito da Universidade de Moscou (estudava simultaneamente na Faculdade de História e Filologia da Universidade). Durante esse período (1913-1917), seus interesses tinham um marcado caráter humanístico. Graças as suas extraordinárias faculdades e a sua séria formação, Vygotsky pôde trabalhar ao mesmo tempo e com o mesmo êxito em vários campos: no da crítica teatral, da história (dirigiu em Gomel, sua cidade natal, um círculo de história para os alunos das classes superiores da escola)

(LEONTIEV, 1968 apud VYGOTSKY, 2004, 1968, p. 431).

Em vista de sua formação acadêmica como historiador e seus conhecimentos

da disciplina de História e da Filosofia, entende-se que seus apontamentos e

ponderações na área das Ciências Humanas podem subsidiar e serem de grande

valia à nossa pesquisa.

Embasados no apontamento de Leontiev (1968) - um psicólogo da equipe de

Vygotsky - nossa pesquisa possibilita vislumbrar outra perspectiva aos estudos do livro

didático de História e da História: as questões didáticas da disciplina de História à luz

da teoria sócio-histórica de ensino-aprendizado deste renomado pensador marxista.

Portanto, possibilita-nos perceber outras dimensões do livro didático e das atividades

de ensino-aprendizagem de História - objetos de investigação desta dissertação.

No texto Enfoque psicológico da educação pelo trabalho, Vygotsky (1926) traça

as distinções entre três tipos de escola para o trabalho. Concomitantemente, realiza

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algumas ponderações relacionadas à disciplina de História, essenciais para o nosso

objeto de pesquisa, o livro didático de História.

De início, ele aborda o ensino-aprendizagem da História na instituição escolar:

Digamos que em uma escola o estudo da História; nesse caso, a tarefa do professor, como a de costume, é elaborar nos alunos o conhecimento mais nítido e preciso possível dos fatos, teses e leis da história. Mas é precisamente para atingir o conhecimento abstrato que se torna útil levar os alunos a desenharem mapas, esculpirem modelos de edificações antigas, reproduzirem o vestiário e o armamento. Daí surge uma atividade de trabalho muito complexo para os alunos, mas a orientação da educação e sua aspiração básica permanece o tempo

todo fora do trabalho (VYGOTSKY, 2004, 1926, p. 248).

Vygotsky (1926) alia as questões da prática à abstração dada pelos

conhecimentos à luz da História. Questiona uma inter-relação de ensino e

aprendizagem embasada somente num ponto de partida de ensino no conhecimento

histórico abstrato, sem quaisquer elos com os conhecimentos e saberes dos alunos.

Portanto, não se leva em conta os saberes e outros modos de trabalho além do

ilustrativo - o de desenhar ou reproduzir ou ilustrar algum fato ou conteúdo histórico.

Vygotsky (1926) defende que o trabalho com o modelo histórico não faz a

criança avançar no conhecimento da história, mas a retém inteiramente sob o domínio

do já percorrido. Nitidamente, o psicólogo russo questiona o modelo clássico e

arraigado de ensinar História pelo viés da história passada. Critica, portanto, um

modelo transmissivo de passar o objeto histórico na forma do conhecimento ou

informação histórico somente de modo prescritivo (passado), sem ponderar um modo

mais prospectivo (presente-futuro). Cortam-se, com isso, os fios discursivos com os

discursos presentes e futuros, pois o trabalho escolar se atém ao tempo passado.

É como se o estudo da história fosse suspenso enquanto os alunos estão ocupados com o trabalho ilustrativo, e o próprio trabalho adquire o trabalho não do movimento para frente mas de uma repetição estagnada, de um reforço e assimilação de resultados já obtidos, de

uma corrida no mesmo lugar (VYGOTSKY, 2004, 1926, p. 251).

Mais uma vez, o autor alerta-nos para um ensino da História focada unicamente

no objeto de conhecimento e suas especificidades e saberes históricos já dados, já

passados. Em boa medida, ele critica um ensino mecânico ou comportamentalista

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embasado nas atividades de repetição, reforço, assimilação e transmissão de

conteúdos ou dados históricos passados. O trabalho mental ou psicológico não

avança adiante porque está preso somente ao passado. Ainda de acordo com o

estudioso russo:

Torna a surgir uma extrema discrepância entre as habilidades exigidas especialmente para o trabalho e para o objeto a que esse trabalho deve servir de ilustração. Fazer um bom molde ou uma arma é uma tarefa que exige em si mesma tanto atenção, habilidade e trabalho do pensamento e dos braços que o sentido puramente histórico dos

objetos elaborados passa como que a segundo plano (VYGOTSKY, 2004, 1926, p. 251).

Nitidamente, o autor defende que o ensino-aprendizagem de História não deve

colocar os conhecimentos forjados na extensa e ampla história coletiva humana em

segundo lugar ou como pano de fundo. O sentido sócio-histórico dos objetos e obras

históricas devem estar em primeiro plano.

Nas ponderações vygotskyanas, nota-se a relevância e preferência à questão

de um trabalho escolar que desvele as potencialidades de sentidos dos objetos ou

conhecimentos históricos. Também se percebe um questionamento a um trabalho

escolar de História focado unicamente com os significados já cristalizados, já dados

ou passados, como os são aqueles arraigados nas atividades escolares tradicionais.

Como bem salienta Vygotsky (1926), mas o mal está em que essa escola cultua

formas de trabalho que pertencem mais ao passado que ao futuro: toda ela olha para

trás e não para a frente. E o que ela comunica aos seus alunos não é de grande valor

para a vida atual (VYGOTSKY, 2004, 1926, p. 252).

À luz dessas considerações, percebe-se uma crítica ao trabalho escolar da

disciplina História pelo viés do acúmulo e memorização ou recitação de fatos, dados,

informações, conteúdos históricos passados ou saberes eruditos, porque cabe ao

aluno a repetição e constituição linear dos conteúdos ou conhecimentos com uma

exatidão puramente mecânica e acrítica. Com isso em mente, ele entende tal trabalho

escolar mecanizado que não leva o aluno a ser um regulador de funções

organizacionais superiores das mais complexas (VYGOTSKY, 2004, 1926, p. 256).

Ainda, para o historiador russo (1926):

Basta lembrar os exames, as notas, as explicações das aulas, o

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aprendizado de memória e coisas similares para se perceber que todas as partes do processo pedagógico careciam de qualquer relação orgânica entre si e só mecanicamente se unificava em um processo

global graças ao fato de que uma sucedia a outra (VYGOTSKY, 2004, 1926, p. 265).

Todas as críticas e posicionamentos vygotskyanos são relevantes à nossa

análise das atividades escolares de História, pois nos possibilitam compreender sócio-

historicamente as finalidades das atividades escolares que circulam no livro didático

de história como igualmente, as capacidades mobilizadas e desenvolvidas por seu

intermédio.

2.4.2 Vygotsky: capacidades humanas

Para Vygotsky, a apropriação das relações sociais de ensino aprendizagem se

instaura pelo uso das ferramentas ou instrumentos. Primordialmente, Vygotsky aborda

o termo ferramentas e instrumentos como sinônimos. E, ainda são construções sociais

forjadas na ampla sócio-história dos seres humanos reunidos em grupos ou domínios

sociais de uso da linguagem (SCHNEUWLY, 2000).

No ensaio O método instrumental em psicologia (1930), Vygotsky discute a

distinção sobre ferramentas técnicas e psicológicas. Por instrumentos técnicos, o

pensador russo visualiza aqueles que influem na natureza tal como o martelo, a foice,

etc. (uma visão totalmente marxista impregnada no próprio símbolo da bandeira

soviética, a foice e o martelo). Em suma, os técnicos são direcionados aos domínios

dos processos da natureza (VYGOTSKY, 2004, 1930).

Com foco na primazia dos estudos sobre as ferramentas psicológicas, Vygotsky

salienta que os instrumentos psicológicos são criações artificiais; estruturalmente, são

dispositivos sociais e não orgânicos ou individuais dos processos próprios ou alheios

(VYGOTSKY, 2004, 1930, p. 93). Coerente a concepção socialista presente na sigla

URSS, as ferramentas ou instrumentos são, antes de tudo, elaborações sociais, são

elaborações das relações socializadoras, socialistas e coletivas. São forjadas na união

de um coletivo organizado em determinadas relações sociais.

Vygotsky, numa visão marxista, apropria-se da noção de ferramentas de

produção de Marx e Engels, e reelabora como ferramentas psicológicas ou

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semióticas, cujas funções principais são o desenvolvimento mental e social dos

domínios dos processos mentais superiores dos próprios sujeitos e daqueles que

estejam em interações com eles.

Para Vygotsky (1930) são ferramentas psicológicas: a linguagem, as diferentes

formas de numeração e cálculo, os dispositivos mnemotécnicos, o simbolismo

algébrico, as obras de arte, a escrita, os diagramas, os mapas, os desenhos [...] etc.

(VYGOTSKY, 2004, 1930, p. 93).

Na abrangência da nossa investigação científica, algumas ferramentas

presentes nos livros didáticos de História são os mapas geográficos e históricos, os

algarismos romanos e cardinais (diferentes formas de numeração conforme

Vygotsky), as obras de artes exploradas pela História na forma de pinturas rupestres,

mosaicos, retratos, pinturas a óleo, iluminuras, quadros pintados a mão e outras mais.

Assim, podemos conceber que são ferramentas semióticas: as ilustrações, o desenho

de um gesto, os algarismos romanos, as cores, etc.

Embasado nos pensamentos vygotskyanos, Schneuwly (1997/2004) sustenta

que

(...) toda capacidade humana é construída pela apropriação de instrumentos semióticos. O sujeito que age sobre o mundo – podendo aqui o mundo ser seus próprios processos psíquicos – com a ajuda de instrumentos que são ferramentas psicológicas ou semióticas constrói novas funções psíquicas, exatamente concebidas como transformações dos próprios processos psíquicos pela integração

desses novos instrumentos (...) (SCHNEUWLY, 2004, 1997, apud PAES DE BARROS, 2005, p. 41).

Nesse sentido, Schneuwly (1997) salienta que as ferramentas semióticas

potencializam no sujeito o desenvolvimento de capacidades semióticas. Portanto, as

ferramentas semióticas assumem papel preponderante na construção e mobilização

das capacidades, inclusive das capacidades leitoras ou das capacidades de leitura de

textos multimodais – foco de nosso estudo.

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CAPÍTULO III

Neste capítulo abordaremos, primeiramente, o Programa Nacional do Livro

Didático (BRASIL, MEC/FNDE, 1983, 1985, 1995, 1997, 1999, 2014). Logo após,

exploraremos o Programa Nacional do Livro Didático de Ensino Médio (BRASIL,

MEC/FNDE, 2004, 2007, 2014). Em seguida, descreveremos o Livro Didático (CAIMI,

1999) e o Livro Didático de História e sua sócio-historicidade no Brasil conforme os

pesquisadores Bittencourt (1993, 2004, 2010, 2011), Silva (2008) e Mattos (1993,

2007). Logo em seguida, delinearemos as influências educacionais de âmbito federal

nos saberes históricos a serem tratados na obra didática de História e nas atividades

escolares em conformidade com a LDB nº 9394/96 atualizada (BRASIL, MEC, 1996,

2003, 2008, 2014), do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), os Parâmetros

Curriculares Nacionais do Ensino Médio (BRASIL, MEC, 1999, 2000, 2001), e das

Diretrizes Curriculares Nacionais de Ensino Médio (BRASIL, MEC, 1998-2001, 2013).

3.1 O Programa Nacional do Livro Didático: breve historiografia

O estabelecimento de uma política pública para o livro didático brasileiro

remonta ao ano de 1929, por meio do Instituto Nacional do Livro (INL). Sua criação

contribuiu para dar maior legitimidade ao livro didático nacional e, consequentemente,

subsidiou o aumento de sua produção, circulação e recepção, cujas atribuições

envolviam o estabelecimento de regras para a produção, a compra, a importação e o

uso da obra didática (MEC, FNDE/PNLD, 2014).

Conforme o sítio do MEC (2014), por meio do Decreto-Lei nº 1.006, de

30/12/38, o Estado institui a Comissão Nacional do Livro Didático (CNLD),

estabelecendo sua primeira política de legislação e controle de produção e circulação

do livro didático no país (MEC, FNDE/PNLD, 2014, s/p.). Em 1945, um decreto legisla

sobre a escolha das obras didáticas por parte dos próprios professores.

No período da ditadura em nível nacional e Guerra Fria em nível internacional,

precisamente no ano de 1966, ocorre um acordo entre o então Ministério da Educação

e Cultura (MEC) com a Agência Norte-Americana para o Desenvolvimento

Internacional (USAID em inglês) permitindo com isso, a criação da Comissão do Livro

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Técnico e Livro Didático (COLTED). Sua função era coordenar as ações referentes à

produção, edição e posterior distribuição gratuita do livro didático no Brasil no período

de três anos (MEC, FNDE/PNLD, 2014).

Já em 1970, o MEC, sob a égide do Instituto Nacional do Livro (INL), constitui

e implanta o sistema de co-edição dos livros didáticos com as editoras nacionais. Em

1971, O INL desenvolve o Programa do Livro Didático para o Ensino Fundamental

(PLIDEF). Simultaneamente, ocorre o término do convênio MEC/USAID. Em 1976, há

a extinção do INL e a criação da Fundação Nacional do Material Escolar (FENAME),

que passa a distribuí-los por intermédio do FNDE.

De acordo com o site do MEC/FNDE/PNLD: Em 1983 - em substituição ao

Fename, é criada a Fundação de Assistência ao Estudante (FAE), que incorpora o

Plidef. [...]. Em 1985 - Com a edição do Decreto nº 91.542, de 19/8/85, o Plidef dá

lugar ao Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) (MEC, FNDE/PNLD, 2014, s/p.).

Em 1996, o fator mais relevante no PNLD, é a adoção de critérios mais

profundos do processo de avaliação pedagógica dos livros das editoras participantes

do edital para o PNLD de 1997. Já em 1997, há a extinção da FAE e a política pública

federal do PNLD é dada ao FNDE. Por meio deste, a política de adoção dos Livros

Didáticos é ampliada com o MEC/FNDE/PNLD avaliando e adquirindo os de

Alfabetização, Língua Portuguesa, Matemática, Ciências, Estudos Sociais das

séries/anos iniciais do Ensino Básico. Notam-se três fatores interessantes: o primeiro

é a seleção de Livros Didáticos somente na etapa inicial do ensino fundamental; o

segundo, a escolha de manuais didáticos para a disciplina de Estudos Sociais (e não

Geografia e História) e o terceiro é a ausência de uma política de livros didáticos

direcionada ao Ensino Médio.

Em decorrência das avaliações das obras didáticas das séries iniciais, em

1999, o PNLD analisa as das etapas finais (antigas 5ª a 8ª séries) do Ensino

Fundamental. E com isso passa a comprar as das disciplinas de Geografia e História.

Porém, as obras didáticas do Ensino Médio ainda não são contempladas nem

avaliadas pelo PNLD, cabendo ao Programa Nacional do Livro Didático de Ensino

Médio (PNLEM) implantado somente no ano de 2003.

3.1.1 O Programa Nacional do Livro Didático de Ensino Médio

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O Programa Nacional do Livro Didático de Ensino Médio - PNLEM foi criado a

partir da Resolução Normativa n° 38 do FNDE de 15/10/2003 (BRASIL, 2003), cuja

função era disponibilizar Livros Didáticos aos alunos do Ensino Médio público. Sua

operacionalização iniciou-se em 2004 com alguns componentes curriculares e

somente em 2007, foram disponibilizados os Livros Didáticos de História para uso no

triênio seguinte (2008-2010). O PNLEM vigorou entre os anos 2003-2011. Em 2012,

foi incorporado ao PNLD.

É necessário salientar que o PNLEM dialogava com as Diretrizes Curriculares

Nacionais do Ensino Médio (BRASIL, MEC, 1998-2001) e nesse contexto, os Livros

Didáticos de História faziam parte da antiga Área de Conhecimento Ciências Humanas

e suas Tecnologias.

No âmbito de nossa pesquisa, analisaremos livros de História do Ensino Médio

avaliados à luz do PNLD e não do PNLEM. A obra composta de três volumes está

contemplando o triênio de 2012-2013-2014. O uso do PNLD e de seus critérios de

avaliação sobre a composição, publicação e recepção poderá subsidiar-nos nas

compreensões e análises (no capítulo 5) das incidências de determinadas fontes

historiográficas e não outras, de certos gêneros multimodais e não outros. Como

nosso objeto de pesquisa é o livro didático de História e no escopo de uma pesquisa

sócio-histórica e enunciativo-discursiva, é necessário realizar uma investigação

histórica desta obra didática no Brasil, próxima seção deste capítulo.

3.2 Uma historiografia do livro didático de História Como nossa pesquisa tem o livro didático de História como foco central de

investigação, é necessário procedermos a uma breve digressão sócio-histórica a fim

de compreender como foi constituído o referido objeto didático e as influências do

passado e da produção passada deste manual didático nas atividades ou exercícios

escolares que circulam nas edições atuais.

Os livros didáticos, em conjunto com os documentos oficiais da educação, as

leis de educação, as diretrizes curriculares nacionais com suas resoluções e

pareceres, os editais, os parâmetros e as orientações curriculares, assumem papéis

preponderantes para que se possa compreender a história da educação, a

historiografia escolar como igualmente a história de uma disciplina. No nosso caso, os

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Livros Didáticos e, em especial, os Livros Didáticos de História possibilitam a

compreensão da própria disciplina de História ou História Escolar.

Os Livros Didáticos são uma força importante de realização da didática escolar,

bem como as atividades de ensino-aprendizagem na concretização do currículo

escolar.

A terminologia livro didático é um termo utilizado para os manuais didáticos há

menos de oitenta anos, com a criação governamental do Instituto Nacional do Livro –

INL no ano de 1937. Segundo Caimi (1999):

Em um decreto de 1938, aparece pela primeira vez uma definição de livro didático: Art 2º, Inciso 1º – Compêndios são livros que exponham total ou parcialmente a matéria das disciplinas constantes dos programas escolares; Inciso 2º - Livros de leitura de classes são os livros usados para leitura dos alunos em aula; tais livros também são chamados de texto, livro texto, compêndio escolar, livro escolar, livro

de classe, manual, livro didático (CAIMI, 1999, p. 35-36) [ênfase adicionada].

Nesse sentido, antes do termo ‘livro didático’ era mais comum termologias

como manuais, manuais escolares, compêndios ou livros de lições das coisas. A gama

de nominação do livro didático indica também a manutenção de outros já usuais no

domínio escolar do início do século XX e de todo o século XIX. Dentre as designações

usuais, cabe destacar o termo compêndios. Estudar os compêndios é notadamente

estudar as origens da disciplina História Escolar como igualmente a instauração das

pesquisas historiográficas no Brasil. Isso se inicia na época do Império do Brasil com

Dom Pedro II e com a criação do Imperial Colégio Pedro II no ano de 1837.

O Colégio Pedro II foi inaugurado em 1837 na capital do Brasil, o Rio de Janeiro.

Uma de suas funções principais era aplicar os exames de nível secundário para o

nível superior desde a época do Império até a República. Outro aspecto relevante à

nossa pesquisa sobre as práticas leitoras nos exercícios ou atividades escolares do

Livro Didático de História é referente ao fato de que o Colégio Pedro II tem forte

influência no ensino de História e nos seus programas de ensino produzidos,

circulados, recebidos e adotados por muitas escolas secundárias brasileiras nos

períodos do Império e da República.

A influência do Colégio Pedro II é enorme na disciplina de História, dado que já

em 1838, no seu primeiro regulamente determinou a inserção dos estudos históricos

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no currículo a partir da 6ª série (CAIMI, 1999, p. 34). Estudos estes que tinham como

foco a História da Europa Ocidental devido à importação e aplicação de um currículo

com matizes e modelos da França e embasados num clássico manual escolar

daquelas eras: os compêndios, visto que pautando-se pelo modelo francês, o ensino

de História estruturou-se com base na tradução de compêndios franceses [e...] na

ausência de traduções, adotavam-se diretamente os manuais em língua francesa

(CAIMI, 1999, p. 34).

Outra característica importante é destacada, e conforme Silva (2008), nos anos

iniciais do Colégio Pedro II, a cadeira História Geral aglutinava também o ensino de

‘História Pátria’ bem como, Geografia e Cronologia. [...] o professor de História

lecionava também Geografia (SILVA, 2008, p. 83). Por consequência, os materiais

escolares impressos a serem manuseados em sala de aula de História contemplavam

igualmente Geografia e Cronologia. Outro fator interessante é que o docente de

História era muitas vezes o que ministrava Geografia e vice-versa. Inclusive, muitos

geógrafos [...escreviam] livros didáticos de História do Brasil [...dado que] a disciplina

Corografia do Brasil era um misto de História e Geografia, e muitos livros

incorporavam esta perspectiva (SILVA, 2008, p. 104). Reafirmamos a influência do

Imperial Colégio Pedro II, em especial, na participação de seus professores

assumindo papel de autores de livros escolares de História.

Outra constatação relevante é a influência dos estudiosos do IHGB – Instituto

Histórico e Geográfico Brasileiro – nos ditames de seleção dos programas e

conteúdos de ensino como igualmente de seus membros integrantes como autores

de muitos manuais escolares de História. A enorme influência do IHGB e do Colégio

Pedro II por intermédio de fornecimento de seus membros integrantes como

produtores de compêndios ou livros didáticos de História tem tudo a ver com a

influência do sistema político vigente em boa parte da época do século XIX - O Império

Brasileiro - dado que [...] em meados do Império, as fontes de apoio, mais

recorrentemente buscadas são nas relações com o poder imperial, via instituições

como IHGB e o Colégio Pedro II (SILVA, 2008, p. 66).

Com o advento de outras instituições de instrução educacionais como os

colégios normais, os colégios militares, os liceus, as classes elementares, o mercado

do livro escolar expandiu e por causa disso, a obra didática caracterizou-se, desde

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seus primórdios, por tiragens elevadas comparando-se à produção de livros em geral

(BITTENCOURT, 1993, p. 106). Por consequência, a expansão do domínio editorial

brasileiro é cara aos manuais escolares ou livros escolares, cujas divulgações,

circulações, produções e recepções se davam em expressivas quantidades quando

relacionadas às outras obras impressas.

Como já dito anteriormente, nesse período, o termo livro didático assumia

várias outras acepções, ilustradamente, manuais escolares ou livros escolares. Uma

muito comum era compêndios. Outras mais específicas são: lições, resumos, pontos,

etc. Nesse sentido, as acepções indicam as outras múltiplas formas discursivas das

obras didáticas. Assim, nas próprias designações das obras educacionais de História

escolar, há a adoção da forma no título da obra didática. Por exemplo, há os

Compêndios de História do Brasil, os Compêndios de Corografia do Brasil, as Lições

de História do Brasil para uso das escolas; o Resumo de História do Brasil, etc.

Os primeiros livros escolares que circulavam e eram recebidos no domínio

escolar da época do Império brasileiro eram produções de autores estrangeiros e

impressos em tipografias francesas (geralmente em Paris) com suas versões

traduzidas para a língua portuguesa. Assim,

[...] este foi o caso do primeiro livro didático utilizado no ensino do Colégio Pedro II recém inaugurado. BELLEGARDE, H. L. de Niemeyer. Resumo da História do Brasil até 1828. Traduzido de

Ferdinand Denis. RJ: Typographia de Gueffier E. C. 1832 (SILVA, 2008, p. 79).

No âmbito da gama variada de formas discursivas que o Livro didático de

História assume, destacam-se os compêndios. Segundo Silva (2008), Outra editora

de prestígio na época, a Laemmert [...] publicou também o primeiro livro [...] de História

do Brasil indicado pelos programas de ensino do Colégio Pedro II (SILVA, 2008, p.

48). Em nota de rodapé, a historiadora indica o nome de primeiro impresso nacional

na forma de uma obra didática, no caso, o manual escolar de História: Compêndio de

História do Brasil de José Inácio Abreu e Lima, ano de 1843, 2 volumes, Rio de

Janeiro, RJ. Eduardo e Henrique Laemmert (SILVA, 2008, p. 48).

Os compêndios são formas discursivas antigas do livro didático de História

composta de volumes de uma coleção rica e densa de saberes eruditos. São gêneros

escolares impressos de ensino, muito comuns nos séculos XIX e XX, inclusive em

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outras disciplinas dos clássicos colégios, escolas militares, normais ou liceus,

ilustradamente, Língua Portuguesa, Literatura, Gramática, Geografia, Música,

Desenho, Desenho Técnico, etc.

Apesar dos compêndios indicarem seus destinatários nos seus prefácios como

os da mocidade brasileira presentes nos colégios e liceus, muitas vezes eram mais

direcionados aos docentes de que aos discentes.

Como bem salienta Bittencourt (2004) sobre os compêndios e antigos manuais

escolares: inicialmente produzido para professores, o livro didático vai se tornando

livro do aluno (BITTENCOURT, 2004, p. 1). Por consequência, os primeiros

interlocutores dos manuais que circulavam no domínio escolar eram os próprios

professores visto que muitos tinham problemas de formação inicial e domínio nos

afazeres escolares de como ministrar aulas ou instruir nos afazeres educativos

relacionados às noções de educação oriundas do Império Brasileiro. Por causa disso,

estabelece-se um fato interessante visto que as editoras [...] considerando seu público

consumidor, estavam atentas às preferências dos professores. Livros do nível

secundário com maior sucesso de venda eram os provenientes “das aulas” dos

professores (BITTENCOURT, 2004, p. 483).

Segundo os estudos da historiadora Mattos (2007) acerca dos compêndios, um

deles se constituía na forma composicional, composta por uma capa preta e branca e

sem ilustrações como ainda também: a primeira edição era apresentada em dois

tomos. O texto principal era constituído de uma “Introdução” e oito capítulos ou

“épocas”, complementadas por alentadas notas de pé de página e a transcrição de

inúmeros documentos (MATTOS, 2007, p. 102).

Segundo Mattos (2007), na etapa final da estrutura composicional dos

compêndios, havia um “Aviso ao encadernador” referente à “colocação de estampas”

em cada um dos tomos” (MATTOS, 2007, p. 100). E o que continham estas estampas?

Estas se constituíam de retratos desenhados por desenhistas ou retratistas. Conforme

Mattos 2007, no compêndio analisado:

Sete “estampas” ou retratos davam relevo a personagens (cinco no primeiro tomo: “D. Pedro I, no frontispício”, “Cristovão Colombo, em frente da página XVI da introdução”, “Cabral, em frente da pág. XX da introdução”, “Camarão, em frente da pág. 170” e “Henrique Dias, em frente da pág. 148”; e outras duas no segundo tomo: “D. Pedro II, no

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frontispício”, e “José Bonifácio”, em frente da pág. 20, de acordo com

o “Aviso ao encadernador”) [...] (MATTOS, 2007, p. 102) [ênfase da autora].

Por consequência, a utilização de imagens nos antigos manuais escolares na

forma de compêndios já se iniciava como uma prática que se fortaleceria pouco a

pouco na sócio-história do Livro Didático de História. Surge e circula nos manuais

escolares históricos desde seus primórdios. Os retratos ou “estampas” são um dos

primeiros gêneros multimodais representando uma combinação de dois modos de

linguagens muitos recorrentes naquela época: as linguagens verbal e pictórica (esta

na forma de desenhos). Uma outra característica dos retratos já marcante dos

manuais históricos: o uso de imagens para representar os grandes heróis nacionais

ou mundiais. Outro aspecto importante sustentado por Mattos (2007) é que como é

sabido, imagens sob a forma de estampas ou outra qualquer era coisa pouco comum

em livros editados no Império em meados do século XIX (MATTOS, 2007, p. 104). Por

fim, a pesquisadora salienta outro fato interessante: as estampas ou gravuras não

eram impressas ao lado do texto, e sim, reproduzidas em folhas individuais e soltas,

que deveriam ser inseridas no livro pelo encadernador posteriormente, após a venda

(MATTOS, 2007, p. 110).

Ainda na estrutura composicional dos compêndios, cabe destacar a circulação

de imagens na forma discursiva de retratos desenhados por desenhistas. Além disso,

os compêndios caracterizavam-se da seguinte forma:

Inicialmente, até por volta de 1870, predominavam os Compêndios de História do Brasil. Estes eram mais volumosos, densos, grossos, em mais de um volume às vezes, voltados para um público mais restrito e específico muitas vezes identificados nos seus subtítulos como os alunos das escolas secundárias, o professorado, dentre outros. Uma característica deste tipo de livro era copilar obras de outros autores, estudos, pesquisas, com a inclusão de mapas, longas exposições, etc.

(SILVA, 2008, p. 88).

Percebe-se, assim, que os compêndios englobam e ampliam os seus corpos

didático-textuais com a inclusão de outras formas discursivas caras ao domínio

historiográfico e histórico-escolar como por exemplo, os mapas históricos, os mapas

cartográficos, as pesquisas historiográficas, os estudos teóricos, etc.

Por consequência, os compêndios são uma forma complexa de compilações

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de saberes eruditos e de experts em determinado campo do conhecimento. Em

decorrência dos ditos saberes muito especializados, aparecem alguns

questionamentos, por parte dos editores, em relação aos aspectos densos e com

edições extensas visto que esses fatos [...] eram um problema para difusão dos livros

para outros leitores e públicos leitores. Além disso, havia uma necessidade de tornar

os densos e volumosos manuais em uma leitura palatável e adaptada a usos mais

‘didáticos’ (SILVA, 2008, p. 88).

Outra característica dos compêndios era a utilização de anexos em seu corpo

de texto. Especificamente aos compêndios de História com seus anexos é

corroborado por uma historiadora do instituto RIHGB com sua crítica aos manuais

escolares nas formas de compilações, cujo teor era que:

[...] não permitiam aos alunos apreciar a nossa História [...] era repetir o que estava no compendio e nada mais. (...). E mandar o aluno transcrever na pedra, palavra por palavra, os fastidiosos mapas

anexos ao compêndio? (...) (FAZENDA, 1924 apud SILVA, 2008, p. 92) [ênfase da autora].

Como os compêndios ou antologias eram manuais escolares volumosos,

grossos com quantidade densa de informações e também com uma gama enorme de

conteúdos ou saberes históricos e eruditos compostos e apresentados na forma de

anexos, alguns autores de obras didáticas históricas escolares começaram a

questioná-los no que diz respeito ao seu caráter pouco didático para determinada faixa

de público leitor escolar. Em certa contraposição aos compêndios, alguns autores de

obras didáticas escolares de história propõem a elaboração de um manual didático na

forma de lições. Um desses autores questiona o caráter nada facilitador dos

compêndios no que diz respeito ao ensino dos conteúdos históricos:

Escrevi, pois, o presente livrinho de rigoroso acordo com o atual programa, que não contêm mais que 12 lições. Representa, apenas, o desejo de facilitar os jovens estudantes das escolas municipais o conhecimento da matéria exigida sem obrigá-los ao fatigante

trabalho do manuseio dos compêndios existentes (CABRAL, 1918 apud SILVA, 2008, p. 90) [ênfase adicionada].

Por causa da complexidade de conteúdos eruditos dos compêndios e devido

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aos interlocutores de tais obras e aos seus domínios de circulação e recepção – a

esfera escolar no caso, alguns autores defendem os Livros Didáticos de História na

forma de Lições. Por isso, para Silva (2008),

[...] os livros intitulados Lições de História do Brasil eram mais sistematizados que os compêndios, voltavam-se para o estudo na sala de aula, pensando o livro como mediador na relação professor/aluno. ‘O livro didático’ deveria auxiliar o professor na organização dos conteúdos ministrados em sala de aula, além de ‘facilitar’ o manuseio do aluno daí a divisão dos livros não mais em longos e cansativos capítulos, mas em ‘lições’, ‘aulas‘ com propostas e exercícios de

fixação (SILVA, 2008, p. 88) [ênfase da autora]. Como as Lições de História levam em conta mais a questão de aprendizagem

do alunado, novas formas composicionais se configuram nesses manuais escolares.

Uma delas, do autor Joaquim Manuel de Macedo, intitulado Lições de História do

Brasil, inova na reconfiguração de sua estrutura composicional.

Uma das inovações é descrita por Bittencourt (2004): o livro Lições de História

do Brasil, de Joaquim Manuel de Macedo, se originou das aulas desse professor no

Colégio Pedro II e inovava pelos exercícios e atividades pedagógicas ao final de cada

capítulo ou “lição” (BITTENCOURT, 2004, p. 483). Por consequência, os manuais

escolares avançam com a inserção de atividades a fim de realizar as funções de fixar,

memorizar passivamente e revisar o conteúdo explanado ou transmitido no corpo do

texto didático da obra de história.

As atividades também se constituem na forma de perguntas, gênero multimodal

precursor do tradicional questionário escolar. Assim, Mattos (1993) salienta que:

[...] ora o livro escolar tem a estrutura composicional disposta em capa, textos e quadro sinóticos (como os para o Colégio Pedro II), ora mais amplo como os para as escolas de instrução primária, ilustradamente dispostos no seu corpo didático na disposição de “textos + explicações

+ quadro sinótico + perguntas (MATTOS, 1993, p. 104).

A citação do manual de Macedo é relevante à nossa pesquisa visto que inova

na disposição didática desde a adoção de lições no lugar de capítulos e pelos usos

de novas formas discursivas didáticas: lições, explicações, quadro sinótico e, mais

notadamente, perguntas.

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Outro fator interessante, é a utilização de perguntas nos compêndios ou

manuais escolares na forma de lições ou resumos.

Seguiam-se as perguntas. Elas procuravam destacar os principais elementos do texto de lição, numa espécie de exercício de fixação após a compreensão possibilitada pelas Explicações e a sistematização permitida pelo Quadro Sinótico. Enfatizando os exemplos passados de amor e heroísmo, as virtudes cívicas, a crença na forma monárquica de governo e no futuro da nação civilizada, as perguntas eram o fecho da narrativa que caracterizava cada lição, cuja finalidade era contribuir para a construção da noção de

singularidade de um Povo (MATTOS, 1993, p. 114) [ênfase adicionada].

No que se refere à seção de perguntas, Bittencourt (1996) relaciona esse

gênero a outro, no caso, o questionário ou questionário escolar, que circula nas seções

de exercícios ou atividades:

Joaquim de Macedo, por exemplo, foi um dos pioneiros na introdução de questionários com o sentido de desenvolver escritas que pudessem auxiliar na memorização dos acontecimentos descritos no texto do livro. Em seu livro Lições de História do Brasil, o autor introduziu uma parte denominada “Perguntas”, com “comos” e “porquês” e “quantos” que os alunos deveriam responder por escrito, mesmo que se

limitassem a copiar palavras do texto (BITTENCOURT 1996, p. 14) [ênfase do autor].

A pesquisadora Mattos (1993) ilustra exemplos de perguntas no compêndio

macediano:

Imagem 1: Imagens do gênero Perguntas no compêndio de Macedo (MATTOS, 1993, p. 147-148).

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Imagem 2: Imagens do gênero Perguntas no compêndio de Macedo (MATTOS, 1993, p. 149-150).

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Os anexos sobre as Perguntas presentes nos compêndios são de suma

importância para nosso entendimento das atividades propostas nos atuais Livros

didáticos de História posto que indicam como vai se configurando e ressignificando

uma prática avaliativa e leitora. Em princípio, pode se contemplar que as Perguntas

são as antigas formas discursivas ou representações discursivas do gênero

Questionário Escolar presente em alguns Livros Didáticos de História. Outro fato

interessante é a ausência de quaisquer comandos no imperativo como ilustradamente,

as instruções didáticas: observe, copie, responda, responda de acordo com o texto

antes das questões. Ainda, percebe-se a ausência de numeração (1, 2, 3,...) antes de

cada questão.

Também observa-se que não há nenhuma imagem disposta ao lado das

perguntas. Outro aspecto relevante é o uso de pronomes interrogativos como – Que,

Quais, Como, Quando, Onde, Em que, Porque, Para que, Para quem, Por quem -,

fato recorrente nas atividades escolares de História atualmente. Portanto, entendemos

que as perguntas são uma prática histórica e de linguagem forjadas na extensa

historiografia escolar e as quais irão se reconfigurando em questionários escolares,

exercícios escolares e nas atividades escolares.

Além dos manuais escolares nas formas de compêndios e Lições, outras formas didáticas de manuais são instituídas, ilustradamente, [...] Epítomes de História do Brasil, Pontos de Histórias do Brasil, Resumos de História do Brasil, Breves Lições de História do Brasil

(SILVA, 2008, p. 88).

A ampla gama das formas escolares ou didáticas, os avanços na tipografia, nas

impressões gráficas, nas encadernações, dentre outros fatores, possibilitaram a

produção, circulação e recepção de novos materiais e objetos educacionais nos

manuais escolares, no caso, a ampliação da aplicação de imagens ou ilustrações nas

mais diversas formas além das tradicionais gravuras ou estampas. Tal fato ocorre após

meados do século XIX sob a égide da implementação do método intuitivo no processo

educacional brasileiro.

Segundo Bittencourt (2004) o método intuitivo possibilitou a circulação de novos

materiais didáticos para dentro de determinada instituição escolar. Dentre os objetos

escolares, iniciam-se a circulação de atlas, mapas cartográficos, mapas históricos,

ilustrações, etc.

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Especificamente aos antigos manuais escolares, apareceu a circulação de

novas formas imagéticas. Isto porque o livro escolar brasileiro era ainda impresso na

França, cuja produção passou por novas ressignificações e práticas livrescas: a

inclusão de imagens no corpo do livro. Dentre os inovadores, destaca-se Ernest

Lavisse, historiador e autor de várias obras didáticas [...na] França (BITTENCOURT,

1997, p. 75).

Os manuais didáticos franceses de Lavisse subsidiaram a produção brasileira

[...] no ensino de História foi proposto pelo historiador francês Ernest Lavisse, cuja obra didática serviu de modelo para a confecção de produção pedagógica nacional, [...] cujo trabalho escolar constituiu-se] de se estabelecer a relação entre a palavra escrita e as imagens. Para isso, em seus livros para a escola primária francesa no fim do século XIX, apresentou uma série de imagens acompanhadas de exercícios e atividades cuja finalidade principal era o reforço para uma “memória

histórica” (BITTENCOURT, 2005, p. 69).

Conforme Bittencourt (1997):

“Ver as cenas históricas” era o objetivo fundamental que justificava, ou ainda justifica, a inclusão de imagens nos livros didáticos em maior número possível, significando que as ilustrações concretizam a noção altamente abstrata de tempo histórico. Para Lavisse, as gravuras dos livros serviriam ainda para facilitar a memorização dos

conteúdos (BITTENCOURT, 1993, p. 75) [ênfase adicionada].

Estas citações trazem um dado importante para nossa pesquisa, uma vez que

a autora, embasada em Lavisse, delineia a primeira e função primordial da utilização

de textos compostos de linguagem visual e verbal: facilitar a memorização dos

conteúdos históricos. Essa função está relacionada a uma das práticas escolares mais

recorrente: a de aprender “de cor”. E, o uso de imagens relacionadas aos textos

verbais escritos vem a reforçar tal prática didática. Portanto, a função caracterizada

por Lavisse é tomada para nossa pesquisa como uma das funções de análise das

atribuições de imagens, cuja função será empregada para posterior análise no

capítulo V.

Segundo Bittencourt (2004):

Com a divulgação dos “métodos intuitivos”, os livros foram se

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transformando visualmente, buscando, autores e editores, através de uma linguagem mais adequada e, principalmente pelas imagens, aproximar-se dos alunos e motivá-los para o domínio da leitura e da

escrita (BITTENCOURT, 2004, p. 19-20) [ênfase adicionada].

Por consequência, novas práticas de desenvolvimento das atividades

mediadas pela dimensão visual são implementadas nos manuais escolares, cuja

guinada é propiciada pela entrada em cena educacional do método intuitivo. E o que

era o método intuitivo?

Segundo Faria Filho (2000):

O assim chamado “método intuitivo” deve essa denominação à acentuada importância que os seus defensores davam à intuição, à observação, [...] para a importância da observação das coisas, dos objetos, da natureza, dos fenômenos e a necessidade da educação

dos sentidos [...] (FARIA FILHO, 2000, p. 143) [ênfase adicionada].

O método intuitivo visa à educação dos sentidos, primordialmente o da visão

visto que priorizava a percepção e observação geral, observação minuciosa das

imagens, ilustrações, de quaisquer objetos escolares. Uma das etapas iniciais é:

“as lições de coisas” [...] em que os alunos possam ver, sentir,

observar os objetos [e também com...] os alunos o acesso a gravuras diversas, que tanto poderiam estar nos próprios livros, de “lições

de coisas” ou em cartazes(FARIA FILHO, 2000, p. 143) [ênfase adicionada].

É desse modo, que os compêndios passam pouco a pouco ser designados

como lições, lições de História e, ainda, esses incorporam cada vez mais textos

imagéticos para o desenvolvimento das habilidades de ver, perceber e observar.

Como salienta Vidal (2000), os antigos colégios ou liceu precisavam propiciar

uma educação dos e pelos sentidos na qual o estudante com base na

[...] visão (observação), pudesse elaborar seu próprio saber.

Aprofundava-se aqui a viragem iniciada pelo método intuitivo no final de século XIX, na organização das práticas escolares. Deslocado [...

o ensino] do “ouvir” para o “ver” (VIDAL, 2000, p. 498) [ênfase da autora].

Portanto, tanto o uso de textos escritos na forma discursiva de variados gêneros

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clássicos – textos didáticos, textos de pesquisas historiográficas, lições representando

aulas, resumos, quadro-sinóticos – como os gêneros multimodais mais ilustrativos

constituídos pela modalidade visual ou pictórica, todos, sem exceções são

manuseadas para a realização de atividades de aprofundamentos dos conhecimentos

historiográficos ou conceitos históricos como a leitura de ‘decoreba’ (de cor), de

memorização.

Essas atividades eram constituídas em práticas de leitura em que:

A sequência da leitura do livro didático, levava [os alunos] a partilhar uma prática erudita e individualizada. O aluno teria que “privatizar” sua leitura, lendo individualmente para decorar textos ou realizar os exercícios pedagógicos ou outras formas de fixação de leitura

(BITTENCOURT, 1996, p. 15) [ênfase adicionada].

Em nossa experiência como professor de História, ampliada agora por nossas

pesquisas, entendemos que a leitura nas aulas de História é de importância vital.

Levar o aluno a pensar historicamente, pressupõe entender passado, presente e

futuro para além de sequência de fatos em ordem cronológica. Não basta o aluno

navegar pela diversidade de gêneros constantes do livro didático de história. Nesse

navegar, o leme necessário para alcançar com sucesso a outra margem, é o aquele

constituído das capacidades de leitura. As capacidades de observar, analisar,

confrontar e contextualizar, dentre outras, levam o aluno a obter sucesso em pensar

historicamente, estabelecendo relações no tripé passado, presente e futuro.

Assim sendo, no ensino-aprendizagem de História, buscamos um leitor

proficiente, que diante de um texto, tenha a capacidade de constatar a sua temática

de estudo, observar eventuais lacunas, que pressupõe a necessidade de outras

pesquisas em outras fontes, e que seja capaz de confrontar as ideias ali presentes

com as ideias e opiniões de outros autores que já produziram sobre o assunto. O bom

e proficiente leitor no ensino aprendizagem de História é aquele que não se contenta

com uma única explicação para o fato histórico posto em estudo na sala de aula.

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3.3 O Livro Didático de História na contemporaneidade

No ensino básico, após a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Brasileira, LDB nº 9.394/96 no final do ano de1996, o governo federal

publica os Parâmetros Curriculares Nacionais, sendo que os de História do Ensino

Fundamental são divididos em dois volumes: os PCN de História de 1º a 2º ciclos

(1997) e os de 3º e 4º ciclos (1998).

Para a etapa do Ensino Médio, são publicados três volumes: Parâmetros

Curriculares Nacionais: Ensino Médio: Bases legais (1999); Parâmetros Curriculares

Nacionais: Ensino Médio: Ciências Humanas e suas Tecnologias (1999) e PCN+

Ensino Médio: orientações educacionais complementares aos Parâmetros

Curriculares Nacionais: Ciências Humanas e suas tecnologias (2002). Enquanto os

PCN direcionados ao Ensino Fundamental são organizados em disciplinas, os do

Ensino Médio são alicerçados pela Área de Conhecimento. Portanto, os dois primeiros

volumes dos PCN têm a disciplina de História como foco central e os Parâmetros do

Ensino Médio têm a Área de conhecimento Ciências Humanas como norte de

parametrização.

A área das Ciências Humanas e suas Tecnologias no Ensino Médio constitui-

se das disciplinas de História, Geografia, Filosofia e Sociologia. A noção de Área de

conhecimentos deve-se a influência didática-legal das antigas Diretrizes Curriculares

Nacionais de Ensino Médio (BRASIL, MEC/CNE, 1998-2001) em que institui

legalmente as três Áreas do conhecimento:

Na sequência, foram formuladas as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, em 1998, que afirmam que as propostas pedagógicas devem ser orientadas por competências básicas, conteúdos e formas de tratamento dos conteúdos previstos pelas finalidades do Ensino Médio. Os princípios pedagógicos da identidade, diversidade e autonomia, da interdisciplinaridade e da contextualização são adotados como estruturadores dos currículos. A base nacional comum organiza-se, a partir de então, em três áreas de conhecimento: Linguagens, Códigos e suas Tecnologias; Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias; e Ciências Humanas e

suas Tecnologias (BRASIL, MEC/CNE, 2013, p.156).

A transposição de algumas noções da Área de conhecimento das Ciências

Humanas nos Livros Didáticos de História se configura num trabalho com temáticas

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relacionadas ao respeito aos direitos humanos, ao Meio Ambiente, à pluralidade

cultural, e ainda uma cara à disciplina de História:

As Ciências Humanas, em especial, devem privilegiar o respeito à diversidade cultural e ao patrimônio artístico e histórico, permitir a construção de princípios éticos e cidadãos e desenvolver a

capacidade analítica, a consciência crítica e a criatividade (BRAICK & MOTA, MANUAL DO PROFESSOR, 2013, p. 6).

Consequentemente, em diálogo com a área de conhecimento das Ciências

Humanas e suas Tecnologias, uns dos conteúdos de muitos Livros Didáticos de

História da etapa final de Educação Básica será dedicado ao patrimônio artístico e

histórico devido à ênfase dada à defesa da conservação e manutenção das fontes

históricas por parte dos estudos Historiográficos e da História escolar.

Outro efeito decorrente das antigas Diretrizes Curriculares Nacionais de Ensino

Médio (BRASIL, MEC/CNE, 1998-2001), da matriz de avaliação do ENEM (BRASIL,

1998), transposta aos dois volumes de PCN do Ensino Médio é a defesa em favor do

trabalho didático intermediado pela noção de competências em todas as disciplinas,

em todas as Áreas de conhecimento já que as Diretrizes Curriculares Nacionais

defendem um currículo voltado para as competências básicas (BRASIL, MEC/CNE,

1998, p. 77). A noção é oriunda do sociólogo suíço Philippe Perrenoud – professor da

Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Genebra -

que afirma: competência é a faculdade de mobilizar um conjunto de recursos

cognitivos - saberes, capacidades, informações etc., para solucionar, com pertinência

e eficácia, uma série de situações-problemas (BRASIL, MEC/SEMTEC, PCN+, 2002,

p. 30).

Como exemplo de uma competência, temos na Área de conhecimento das

Ciências Humanas e suas Tecnologias, uma específica que é compreender os

elementos culturais que constituem as identidades e identificar as manifestações ou

representações da diversidade do patrimônio cultural e artístico em diferentes

sociedades (BRASIL, MEC/CNE, 1998, p. 97). Transpostas à obra didática de

História, observa-se a presença nos livros de reproduções de pinturas rupestres,

reproduções de pintura em tela, gravuras, formas multimodais representativas do

patrimônio material humano. Ainda sob o efeito da área de conhecimento das Ciências

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Humanas e suas Tecnologias, em 2006, o MEC coloca em circulação as Orientações

Curriculares Nacionais compostas de 3 (três) volumes, cada um dedicado a uma Área

do Conhecimento. Cabe destacar que a obra didática pesquisada não faz qualquer

referência bibliográfica ou menções às Orientações Curriculares Nacionais para o

Ensino Médio e nem ao seu Volume três (3): Ciências Humanas e suas Tecnologias,

cujo volume trata da disciplina de História e sua Área de Conhecimento.

Ainda na primeira década do século XXI, em certa conformidade com os

avanços nas pesquisas acadêmicas, novos conhecimentos historiográficos se

impõem às esferas jurídicas, editorial e editorial-didática e, por consequência, nas

obras didáticas de História.

No caso da LDB nº 9.394/96, ano após ano, novas modificações são impostas

em todas as Áreas do conhecimento e inclusive na disciplina de História.

Já no ano de 2003, o governo federal aprova uma nova lei referente à disciplina

de História na LDB nº 9.394-96. Naquela época, a lei visava trabalhar a educação com

mais acuidade nas questões de defesa da cidadania em salas de aulas – pilar da lei

educacional brasileira e da Constituição Federal de 1988 – Constituição Cidadã; como

também promover e defender os Direitos Humanos de todos os cidadãos.

Pesquisadores do domínio acadêmico já denunciavam há muito tempo as

problemáticas envolvendo a questão da cidadania negra e preconceito contra a cultura

afro-brasileira nos manuais escolares.

Uma das pesquisadoras, Bittencourt (1996, 1997), já denunciava o tratamento

didático dado à questão afro-brasileira, desde a época dos compêndios e livros lições

de História. Em decorrência das muitas outras pesquisas acadêmicas e

historiográficas, das lutas das Organizações Não Governamentais (ONGs) de defesa

da cidadania afro-brasileira, de educadores mais comprometidos com a questão da

cidadania afrodescendente, em 2003, uma nova lei educacional é promulgada – a Lei

nº 10.639: que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no

currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura

Afro-Brasileira” (BRASIL, MEC, 2003, 1996, s/p.).

Especialmente ao Artigo nº 1º da Lei nº 10.639, dispõe uma modificação na

LDB nº 9.394/96, Artigo nº 26 para Artigo nº 26-A e promulga que:

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Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira. § 1o O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil.§ 2o Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História

Brasileiras (BRASIL, MEC, 2003, s/p). Decorrente do exposto, o ensino de História e Cultura Afro-Brasileira voltada à

valorização de cidadania dos descendentes afro-brasileiros como bem a valoração

das culturas afro-brasileiras se tornam conteúdos obrigatórios no ensino de História

como também nas obras didáticas da referida disciplina em todas as etapas da

Educação Básica.

Mesmo destacando-se com um avanço educacional na esfera editorial, didática

e escolar, pesquisadoras como Bittencourt (1997, 2001) e outras defendiam avanços

na abordagem às questões da cidadania, agora, voltada às pesquisas historiográficas

sobre a questão indígena e em especial, como era retratada, reproduzida e

representada nos antigos manuais escolares e similares livro didáticos

contemporâneos.

Em boa medida, decorrente das denúncias postas em circulação pelas

pesquisas acadêmicas, e igualmente com a promulgação da Lei nº 11.645, de 10 de

março de 2008, que:

Altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, modificada pela Lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-

Brasileira e Indígena” (BRASIL, MEC, 2008, s/p).

Por consequência, novamente o Artigo nº26-A sofre uma ampliação com a

inclusão de temáticas referentes à cidadania indígena. Assim, a LDB nº 9.394/96,

Artigo nº 26-A advoga que:

Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena (Redação dada pela Lei nº 11.645, de 2008): § 1º. O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá

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diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil (Redação dada pela Lei nº 11.645, de 2008). § 2º. Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de educação artística e de literatura e história brasileiras (Redação dada pela Lei nº 11.645, de 2008). § 4º O ensino da História do Brasil levará em conta as contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação do povo brasileiro,

especialmente das matrizes indígena, africana e européia (BRASIL, MEC, 2014, 1996, s/p).

Consequentemente, as pesquisas historiográficas e acadêmicas

concomitantemente com as modificações legais na LDB nº 9.394/96, em especial no

seu Artigo nº26-A provocará alterações nos posteriores editais do Programa Nacional

do Livro Didático do Ensino Médio – PNLEM e Programa Nacional do Livro Didático -

PNLD direcionados ao Ensino Médio visto que promulgam a necessidade de

contemplar conhecimentos históricos à luz das questões afro-brasileiras e indígenas

nas futuras publicações didáticas direcionadas à instituição escolar.

Já na presente década, a partir do ano de 2014, a disciplina de História passa

por uma alteração na sua designação: além do termo disciplina, passa a utilizar do

termo componente curricular. Assim, livros didáticos de História mais contemporâneos

passam a ilustrar o termo componente curricular: História nas suas capas, páginas de

abertura e ficha catalográfica. A utilização da terminologia deve-se às questões legais

educacionais propostas no Artigo nº 24 da LDB nº 9.394/96, que dispõe:

Art. 24. A educação básica, nos níveis fundamental e médio, será organizada de acordo com as seguintes regras comuns: [...] § IV - poderão organizar-se classes, ou turmas, com alunos de séries distintas, com níveis equivalentes de adiantamento na matéria, para o ensino de línguas estrangeiras, artes, ou outros componentes

curriculares; [...] (BRASIL, MEC, 2014, 1996, s/p) [grifo nosso].

Além da alteração do termo disciplina por componente curricular, outra

mudança ocorrida foi em torno da Área de conhecimento. Atualmente é designada

somente Ciências Humanas. Com isso, não se faz mais uso do termo “Tecnologias”,

como era anteriormente. Esta área faz parte das quatro Áreas do conhecimento

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conforme as novas Diretrizes Curriculares do Ensino Médio, publicada em 2013.

No próximo capítulo, descreveremos a metodologia de pesquisa aplicada em

nosso trabalho.

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CAPÍTULO IV

METODOLOGIA DE PESQUISA

Neste capítulo, delinearemos o processo metodológico de construção da

pesquisa. Primeiramente, descreveremos a natureza qualitativa de nossa pesquisa.

Em seguida, apontaremos os objetivos e as questões de pesquisa; na sequência,

indicaremos o objeto e o tipo de pesquisa científica como também os instrumentos de

coleta de dados. Por fim, apresentamos as categorias de análise dos dados.

4.1. Pesquisa em Ciências humanas: a abordagem enunciativo-discursiva

Com objetivo de discutir a contribuição da História no letramento visual dos

estudantes, pensamos que seria interessante observar a presença e a utilização dos

gêneros multimodais presentes nos livros didáticos de Ensino Médio. Assim, a nossa

pesquisa, de caráter qualitativo, caracteriza-se principalmente pela análise

documental. Em consonância com Bakhtin nos seus estudos do problema do texto

nas ciências humanas buscamos observar as inter-relações nos discursos didáticos

das obras pedagógicas de História, procurando compreendê-los e não somente

descrevê-los ou interpretá-los.

Consideramos com Bakhtin (1971), que ao empreender uma pesquisa em

Ciências Humanas, não se deve descrever o objeto como algo mecânico, mas na

realidade, como uma criação coletiva, de inter-relações humanas, um objeto de estudo

humano: o objeto de investigação científica é o ser expressivo e falante. Este nunca

coincide consigo mesmo e por isso é inesgotável em seu sentido e significado

(BAKHTIN, 2003, 1952-53/1979, p. 395).

Nessa perspectiva, traçamos os seguintes objetivos de pesquisa:

1. Identificar os gêneros multimodais presentes em uma coleção de livros

didáticos de História do 1º ao 3º ano do Ensino Médio.

2. A partir desses dados, identificar quais gêneros multimodais são trabalhados

nas atividades da coleção.

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3. Verificar as capacidades de leitura mobilizadas nessas atividades a fim de

observar as possibilidades de desenvolvimento do letramento crítico dos

alunos.

Para alcançar esses objetivos, delimitamos três perguntas de pesquisa:

1. Quais gêneros multimodais estão presentes em uma coleção de livros didáticos

de História do 1º ao 3º ano do Ensino Médio?

2. Dos gêneros encontrados, quais são trabalhados nas atividades?

3. Que capacidades são mobilizadas nas atividades referentes aos gêneros

multimodais na coleção?

A fim de responder a essas perguntas, dividimos este trabalho em quatro

etapas metodológicas elencadas abaixo:

1ª. Levantamento das unidades escolares públicas e seus atendimentos em

relação às etapas de ensino básico de Campo Verde, estado de Mato Grosso,

para a seleção dos livros ou da coleção, cujas atividades e exercícios de leitura

referentes aos gêneros multimodais comporão o corpus deste trabalho;

2ª. Levantamento dos livros selecionados pelos docentes de História do Ensino

Médio;

3ª. Levantamento de natureza quantitativa dos gêneros multimodais presentes

nos livros didáticos de história selecionados;

4ª. Análise documental de natureza qualitativa e dialógica das atividades de

leitura que acompanham os gêneros multimodais presentes nos livros didáticos

de história selecionados.

4.2 O objeto de pesquisa: o livro didático de História

Para a escolha e seleção da coleção a ser analisada, procuramos investigar

em três das maiores escolas – em número de alunos - da rede estadual do município

de Campo Verde, Mato Grosso, quais os livros adotados pelos professores e em uso

nessas escolas. Observamos que o livro didático de história adotado é o mesmo: a

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coleção “HISTÓRIA – Das Cavernas ao Terceiro Milênio” de autoria de Braick & Mota

(2013), Editora Moderna.

A coleção foi aprovada pelos avaliadores do Programa Nacional de Livro

Didático-PNLD e é comprada e distribuída pelo Fundo Nacional do Desenvolvimento

da Educação-FNDE do Ministério da Educação-MEC, com validade para três anos

para sua utilização no domínio escolar. Assim, é uma coleção para os anos 2012, 2013

e 2014.

Essa coleção, além de ser adotada por todas as escolas de Ensino Médio do

município de Campo Verde, é também adotada em muitas escolas públicas do estado

de Mato Grosso, e em especial da região metropolitana de Cuiabá e Várzea Grande.

Conforme a Editora Moderna, a autora Patrícia Ramos Braick é mestre em

História (área de concentração: História das Sociedades Ibéricas e Americanas) pela

Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e é professora do Ensino Médio

em Belo Horizonte, estado de Minas Gerais (BRAICK, MOTA, 2013, p. 2). E a autora

Myriam Becho Mota é licenciada em História pela Faculdade de Ciências Humanas

de Itabira, Minas Gerais e Mestre em Relações Internacionais pela The Ohio

University, Estados Unidos e professora do Ensino Médio e Superior em Itabira, Minas

Gerais (BRAICK, MOTA, 2013, p. 2).

4.3 Um panorama geral da coleção do livro didático Nesta etapa, descreveremos um panorama geral dos três volumes da coleção,

nos quais a seção “Atividades” compõe o corpus de análise.

A coleção “História: das cavernas ao terceiro milênio” é composta por três

volumes, direcionados aos 1º, 2º e 3º anos do Ensino Médio, respectivamente. É a

segunda edição das autoras Patrícia Ramos Braick e Myriam Becho Mota e foi

publicada em 2013. O título de cada volume é descrito abaixo:

Volume 1 – “Das Origens da Humanidade à Reforma Religiosa na Europa”;

Volume2 – “Da conquista da América ao século XIX”;

Volume3 – “Do avanço imperialista no século XIX aos dias atuais”.

Na seção “Apresentação”, a finalidade principal da coleção é delineada:

A tarefa de construir um saber histórico voltado para a vida, para os

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problemas contemporâneos, que possibilite explicar as bases materiais sobre as quais se assenta a nossa civilização e reconhecer os rumos para onde elas estão nos conduzindo é um dos grandes

objetivos desta obra (BRAICK, MOTA, MANUAL DO PROFESSOR, 2013, p. 3).

Como descrito acima, o foco central de cada volume é trabalhar saberes

históricos e não a leitura ou a produção textual.

Os volumes são constituídos de unidades descritas abaixo:

Quadro 1: Quantidade de unidades por volume

Volume

Quantidade de unidades

Títulos das unidades

1

2

Unidade 1: Dos primeiros humanos ao legado cultural do helenismo Unidade 2: A construção dos sentidos

2

4

Unidade 1: As terras que os europeus conquistaram Unidade 2: É uma casa portuguesa, com certeza! Unidade 3: A era das revoluções Unidade 4: A transição para o século XX

3

3

Unidade 1: A crise do modelo liberal Unidade 2: O mundo bipolar Unidade 3: A nova ordem mundial

Conforme demonstrado nos títulos das unidades, o norte da coleção é o

trabalho didático com a construção dos conhecimentos históricos. Como bem salienta

as autoras 2010: Construir o conhecimento histórico é buscar caminhos possíveis para

transformar a relação entre ensino e aprendizagem e criar estratégias que contribuam

para formar uma prática social humanizadora e cidadã (BRAICK & MOTA, 2013,

MANUAL DO PROFESSOR, p. 3).

Além das unidades, os volumes são constituídos de capítulos em quantidades

diversas. Os volumes 1, 2 e 3 têm 15, 20 e 15 capítulos, respectivamente. Cabe

destacar que somente no volume 1, na unidade 1, há um capítulo introdutório

designado “Introdução: o fazer História”.

Cada volume da obra estrutura-se nas seguintes seções: “Páginas de abertura

de Unidade”, “Páginas de abertura de Capítulo”, “Boxes de diferentes tipos de texto”,

“Analise o documento”, “Lembre-se”, “Técnicas de trabalho”, “Texto complementar” e

“Atividades”.

Já a seção “Atividades” estrutura-se nas seguintes seções: “Explorando o

conhecimento”, “Análise das fontes”, “A História e o tempo presente”, e

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“Vestibular/ENEM”. Por último, há a seção “Ampliando o conhecimento”.

A seção “Páginas de abertura de Unidade” tem como objetivo introduzir alguns

temas que serão tratados na Unidade e permitir ao aluno um contato preliminar com

problemáticas básicas que permearão os assuntos abordados posteriormente

(BRAICK & MOTA, MANUAL DO PROFESSOR, 2013, p. 11). Já a seção “Páginas de

abertura de Capítulo”, com os diferentes gêneros textuais e iconográficos seguidos de

um texto didático introduzem o tema do capítulo. Quaisquer que sejam os recursos, a

abertura apresenta uma problemática atual, que estabelece a ponte passado-presente

e contribui para motivar o estudo dos conteúdos do capítulo (BRAICK & MOTA,

MANUAL DO PROFESSOR, 2013, p.11) [grifo nosso]. Portanto, as autoras levam em

conta o tratamento didático com os gêneros no corpo teórico do capítulo.

A seção “Boxes de diferentes tipos de texto” tem como finalidade abordar

diversas visões construídas acerca de determinado fato, vivência e acontecimento

histórico. A seção “Analise o documento” objetiva ampliar a ideia da categoria de

documento ou fonte histórica para o aluno. Já a outra seção, “Lembre-se”, está no

final de cada capítulo, esta seção destaca os principais assuntos trabalhados, fazendo

um apanhado das ideias mais importantes que fundamentam os temas abordados

(BRAICK & MOTA, MANUAL DO PROFESSOR, 2013, p.11). Historicamente, esta

seção remete às antigas seções designadas como “Pontos” nos compêndios e

manuais escolares de Lições em que objetivavam revisar os principais pontos da

temática estudada.

A seção “Técnicas de trabalho” objetiva que os alunos terão a oportunidade de

aprimorar e extrapolar o uso de técnicas aprendidas em anos anteriores (BRAICK &

MOTA, MANUAL DO PROFESSOR, 2013, p.11). Geralmente, aparece no final de

cada unidade de cada volume da coleção. Por fim, a seção “Texto complementar” visa

a ampliar o conhecimento sobre o tema, estimular o debate e a habilidade de

argumentação (BRAICK & MOTA, MANUAL DO PROFESSOR, 2013, p.11).

Já a seção “Atividades”, o foco central de nossa pesquisa tem como subtítulo,

uma comanda: “Registre em seu caderno”. É estruturada em: “Explorando o

conhecimento”, “Análise das fontes”, “A História e o tempo presente”,

“Vestibular/ENEM”. Historicamente, remete às seções dos manuais escolares

denominadas como “Perguntas”, nos antigos compêndios e Lições de História em que

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objetivavam fixar e avaliar as principais temáticas históricas estudadas.

A seção “Explorando o conhecimento” visa tanto a sistematizar os

conhecimentos históricos como a aprimorar habilidades inerentes à disciplina de

História (BRAICK & MOTA, 2013).

Segundo as autoras: A História e o tempo presente: As atividades desta seção

permitem relacionar o passado e o presente, estimulando o aluno a conhecer e a se

posicionar diante de questões relevantes para a sociedade contemporânea (BRAICK

& MOTA, MANUAL DO PROFESSOR, 2013, p. 12).

Como última etapa da seção “Atividades”, há ainda a subseção

“Vestibular/ENEM”, cuja finalidade é propor atividades oriundas dos cadernos de

questões do ENEM e dos exames vestibulares das universidades federais e estaduais

bem como das privadas de todo o país. Como finalidade secundária, as autoras

evidenciam: contemplar os conteúdos essenciais de cada capítulo e atender aos

objetivos estabelecidos para a disciplina, tanto os que envolvem questões conceituais

quanto aqueles que remetem à tarefa de preparar para a prática da cidadania

(BRAICK & MOTA, MANUAL DO PROFESSOR, 2013, p. 13). Nesse sentido, a seção

trabalha questões e problemáticas sobre a formação da cidadania, respeito ao Meio

Ambiente, Pluralidade Cultural, participação cidadã na luta por direitos, respeito aos

direitos humanos e combate a todas as formas de preconceitos.

Por fim, após a seção “Atividades” há a “Ampliando o conhecimento”, cujo

objetivo é indicar sugestões de leitura, sites e filmes, recomendados para o trabalho

com os conteúdos tratados (BRAICK & MOTA, MANUAL DO PROFESSOR, 2013, p.

13). Nesse sentido, as autoras indicam certas práticas comuns na disciplina de

História, como as práticas de pesquisas em sites, exibição de filmes ou documentários

historiográficos, como também há indicações de sugestões de leitura de obras

paradidáticas, muitas das quais presentes na biblioteca escolar.

Todas as seções estão relacionadas com o papel principal da disciplina História,

de acordo com as autoras:

Entendemos que é papel do ensino de História e de toda prática educativa contribuir para a formação de pessoas conscientes dos problemas sociais do seu tempo e das mudanças necessárias para superá-los, comprometidas com os princípios da tolerância, da

democracia, da paz e da solidariedade (BRAICK & MOTA, MANUAL

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DO PROFESSOR, 2013, p.12).

De acordo com o Manual do Professor, podemos observar um projeto editorial

que busca assumira prática educativa de História como instrumento de transformação

social, embasada nos princípios da Constituição Federal – Constituição Cidadã, como

também com os princípios educacionais da LDB – nº 9.394/96.

4.3.1 Um panorama específico da leitura no livro didático de História Como já demonstrado anteriormente, as autoras privilegiam um trabalho

didático com os conhecimentos históricos à luz das análises das fontes

historiográficas. Contudo, no Manual do Professor, há algumas indicações acerca do

tratamento didático da leitura.

Segundo as autoras, o livro auxilia os alunos a desenvolver as capacidades

necessárias na busca de significados para as questões da contemporaneidade e da

vida (BRAICK & MOTA, MANUAL DO PROFESSOR, 2013, p.6). Nesse sentido,

propõe-se um trabalho pedagógico com a leitura para o desenvolvimento de

capacidades, dentre as quais, as capacidades leitoras, foco da nossa pesquisa. A fim

de desenvolver capacidades, as autoras sugerem, ainda, situações didáticas leitoras

embasadas nas [...] diferentes formas de escrita e leitura (BRAICK & MOTA, MANUAL

DO PROFESSOR, 2013, p.6).

Para o trabalho da leitura através das fontes históricas, as autoras defendem o

ensino-aprendizagem de História também no viés do aprimoramento das capacidades

leitoras mediadas por alguns gêneros multimodais – pintura, fotografia, cena de filme

de cinema, etc., pois:

Dessa forma, o trabalho didático com a História em sala de aula, realizada a partir do uso de diferentes fontes, como o cinema, a História oral, obras artísticas com a literatura, a pintura, a fotografia, a música, entre outras, permite que o aluno se aproxime do pensamento historiográfico e amplie a sua visão de mundo. Além disso, favorece a formação nos alunos da capacidade de realizar a leitura das diversas fontes, de expressar ideias e inferir informações e de analisar e comparar diferentes elementos que forneçam a compreensão das

relações que constituem os momentos distintos da História (BRAICK & MOTA, MANUAL DO PROFESSOR, 2013, p. 7).

Com esta proposta de trabalho, as autoras apresentam atividades de

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observação, comparação e interpretação, a fim de possibilitar leitura e a compreensão

presente à luz do passado, e vice-versa, [...] (BRAICK & MOTA, MANUAL DO

PROFESSOR, 2013, p.7).

4.4 A seleção das amostras para as análises quantitativa e qualitativa

A fim de realizar a observação da incidência de gêneros multimodais e a

seleção de atividades a serem analisadas, executamos um levantamento quantitativo

dos gêneros multimodais nos três volumes da coleção. Para a realização do intento,

categorizamos os gêneros em conformidade com as próprias classificações das

autoras dos livros didáticos de História, com as fontes bibliográficas constatadas nos

créditos e legendas das imagens, e com os ditames legais presentes no Programa

Nacional do Livro Didático de História de Ensino Médio.

Essa etapa de catalogação e classificação funcionou como uma pré-análise a

fim de mapear as incidências de gêneros multimodais com imagens tanto no corpo

total da coleção como na seção específica de “Atividades”.

O procedimento de pré-análise permitiu uma visão de maior amplitude, no que

diz respeito ao tratamento didático dos gêneros multimodais nos três volumes da

coleção e possibilitou realizar um levantamento quantitativo, em resultados

percentuais, das incidências desses gêneros.

Os resultados dos dados quantitativos foram dispostos em tabelas e,

posteriormente, em gráficos, apresentados nos capítulos de análise. Nesse sentido,

na primeira análise quantitativa, apresentamos os gêneros multimodais constituídos

de imagens presentes em toda a coleção. Delineamos, em seguida, as incidências na

seção “Atividades”: “Explorando o conhecimento”, “A história e o tempo presente”,

“Análise das fontes” e “Vestibular/Enem”.

Durante a catalogação dos gêneros multimodais presentes na seção

“Atividades”, observamos que a seção “Análise das fontes” não contém gêneros

multimodais. Por consequência, tal seção não será foco de análise.

Ainda, na seção “Atividades”, observamos os gêneros multimodais mais

representativos em dados percentuais nos três volumes. Nosso foco de observação

constituiu-se em: examinar o índice percentual de incidências dos gêneros

multimodais predominantes em toda a coleção; elaborar tabelas e gráficos

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demonstrativos dos gêneros mais representativos às análises qualitativas e

interpretativas. Posteriormente, foi realizado o cruzamento dos dados a fim de

elaborar planilhas e gráficos de seleção do corpus de nossa pesquisa: atividades de

leitura relativas aos gêneros multimodais e identificação das amostras para a análise

qualitativa. Por consequência, houve outro tratamento dos dados com a elaboração

de outros gráficos demonstrativos das incidências dos gêneros multimodais

específicos às atividades de leitura.

4.5 Metodologia de análise de dados

Em nosso trabalho, de natureza qualitativa, com descrição e análise dos dados

quantitativos, entendemos que, como analistas devemos abordar os dados de forma

criteriosa a fim de obtermos uma riqueza e precisão minuciosa nos dados a serem

descritos e analisados no próximo capítulo. Nos dizeres de Bodgan e Biklen (1994),

na descrição, os pesquisadores tentam analisar os dados em toda a sua riqueza,

respeitando, tanto quanto possível a forma em que estes foram registrados ou

transcritos (BODGAN, BIKLEN, 1994, p. 48).

Para a análise das atividades, buscamos utilizar como categoria de análise,

para observação e compreensão das capacidades mobilizadas nas atividades de

leitura, as capacidades de leitura de textos multimodais, conforme cunhado por Paes

de Barros (2005):

1- Seleção e verificação das informações verbais – refere-se à

ativação das capacidades de compreensão e apreciação da leitura dos textos verbais, como parte do processo de compreender a significação do texto como um todo.

2- Organizações das informações da sintaxe visual – trata-se da observação dos elementos pictográficos de modo a selecionar e organizar as informações relevantes à construção da significação. 3- Integrações das informações verbais e não verbais – trata-se da capacidade de observar e conjugar as informações da materialidade verbal à pictográfica, relacionando-as no ato de construção dos sentidos dos textos. 4- Percepções do todo unificado de sentido que se compõe através da integração dos materiais verbais e não verbais – trata-se da ativação de diversas capacidades lingüístico-discursivas e de leitura aliadas à organização e observação das informações, através das quais o leitor

constrói um todo de significação (PAES DE BARROS, 2009, p.161-186).

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Assim, para alcançar os objetivos traçados, nos próximos capítulos

apresentamos as análises quantitativa e qualitativa dos gêneros multimodais

presentes na obra didática pesquisada.

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CAPÍTULO V

INCIDÊNCIA E POSIÇÃO DOS GÊNEROS MULTIMODAIS NO LIVRO DIDÁTICO DE HISTÓRIA

Neste capítulo delinearemos os resultados quantitativos da coleção

selecionada em conformidade com os critérios dispostos no capítulo anterior. Ainda,

visamos responder a primeira e segunda questões de nossa pesquisa:

1. Quais gêneros multimodais estão presentes em uma coleção de livros

didáticos de História do 1º ao 3º ano do Ensino Médio?

2. Dos gêneros encontrados, quais são trabalhados nas atividades?

Desta forma, este capítulo está articulado na seguinte ordem:

I. Apresentação das características gerais da coleção de livros didáticos,

com foco nos aspectos referentes à incidência dos gêneros multimodais,

constituindo-se uma análise quantitativa;

II. Apresentação dos gráficos e tabelas dos resultados obtidos pela análise

quantitativa da coleção dos três volumes da 2ª edição do livro didático

de História: das cavernas ao terceiro milênio (BRAICK & MOTA, 2013).

Delineamento de um esboço dos perfis encontrados nos três volumes

da coleção.

5.1 Tratamento didático dos gêneros multimodais

Nesta seção, destacamos trechos dos manuais dos professores relativos à

especificidade da seleção dos gêneros multimodais que aliam as linguagens verbal e

visual nas atividades. Entendemos que as orientações e sugestões teórico-

metodológicas dos referidos manuais poderão subsidiar uma compreensão mais

aprimorada das propostas didáticas embasadas nos gêneros multimodais e

propiciadas pelas autoras.

Como base da orientação didática das autoras, o gênero é tomado como

princípio balizador conforme assertiva presente no manual do professor: nas páginas

de abertura de capítulo, diferentes gêneros textuais e iconográficos, seguidos de um

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texto didático, introduzem o tema do capítulo (BRAICK & MOTA, MANUAL DO

PROFESSOR, 2013, p.11). Percebe-se, portanto, a filiação desta autoria à teoria dos

gêneros textuais. Contudo, nas referências bibliográficas tanto do Manual do

Professor quanto do Manual do Aluno, não consta nenhum pensador deste aporte

teórico ou de quaisquer estudiosos que realizaram uma releitura da referida teoria.

A ênfase pelo trabalho didático pelo viés dos gêneros é acentuada novamente

na etapa de avaliação do Manual do Professor: Nesta obra apresentamos atividades

de vários gêneros que podem ser utilizadas pelo professor para avaliar e aperfeiçoar

o aprendizado dos alunos (BRAICK & MOTA, MANUAL DO PROFESSOR, 2013,

p.11). Mais uma vez, observa-se a filiação à acepção teórica dos gêneros, cujos

alguns destes são manuseados como instrumentos avaliativos, a saber: [...] atividades

de leitura, compreensão e produção de textos, análise de imagens, de gráficos e

mapas, elaboração de pesquisas, montagem de painéis, debates, entre outras

(BRAICK & MOTA, MANUAL DO PROFESSOR, 2013, p.11).

Em outra etapa do Manual do Professor – “Texto complementar”, as autoras

acentuam que as leituras selecionadas para esta seção caracterizam-se pela

diversidade de gêneros textuais (textos jornalísticos, históricos, historiográficos,

científicos, de apoio didático, poesias, letras de música, quadrinhos e infográficos)

(BRAICK & MOTA, MANUAL DO PROFESSOR, 2013, p.12).

Ainda, mais adiante, na seção – “Atividades”: “Explorando o conhecimento”, as

produtoras da obra didática acentuam que nas atividades, oferecemos ao professor

uma variedade de questões que trazem textos de diferentes gêneros, pinturas,

gráficos, tabelas, mapas e charges, que possibilitam aprofundar os conceitos de cada

capítulo [...] (BRAICK & MOTA, MANUAL DO PROFESSOR, 2013, p.12).

Percebe-se as intenções discursivas das autoras, e claramente suas filiações

às correntes que tratam ou ensejam-se na perspectiva dos gêneros textuais – formas

mais ou menos estáveis de comunicação/interações entremeadas pelos empregos

das linguagens na forma de discursos concretos.

Em certa medida, as produtoras da referida obra didática indicam uma

aproximação ou redescoberta de ensino-aprendizagem de História à luz dos gêneros

textuais, engajamento mostrado na carta de apresentação ao aluno [e ao docente]

presente no livro didático do aluno: Procuramos contemplar os diferentes discursos,

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vozes e ações, tratados como expressão das tensões históricas (BRAICK & MOTA,

2013, p.3).

Sem negarmos as influências do aporte teórico da História Nova ou História

Cultural, que visam a recuperar o estatuto relevante das vozes não emancipadas, não

ouvidas, lidas, mostradas no escopo da Historiografia Clássica, também,

compreendemos um ensejo de abordagem à luz do discurso. E, mais nitidamente,

percebemos um certo viés de engajamento autoral em relação ao trabalho didático

com os diferentes discursos: discursos orais, escritos, visuais, verbo-visuais, e

notadamente, discursos multimodais.

No bojo de ampla gama de gêneros selecionados pelas autoras, podemos

contemplar relações dialógicas delas com os elaboradores/ avaliadores do Guia de

Livros Didáticos do PNLD 2012: História para a etapa do Ensino Médio (BRASIL, MEC,

2011). Este documento legal dispõe, que uma obra didática de História a ser avaliada

e aprovada precisa constituir-se de [...] recursos variados quanto às possibilidades de

significação histórica, como diferentes textos, relatos, depoimentos, charges [...]

(BRASIL, MEC, SEB, 2011, p. 15).

Assim, a orientação da proposta das autoras em favor do trabalho didático com

gêneros multimodais está inter-relacionada a outra abordagem do Guia do PNLDH de

Ensino Médio (BRASIL, MEC, 2011). Sua avaliação consta no site das obras didáticas

avaliadas condizentes à questão da multiplicidade de linguagens, na qual defende a

pluralidade de empregos das linguagens: Quanto aos tipos de linguagens, foram

identificadas quatro modalidades de sites: textuais, textuais com imagens,

hipertextuais e multimodais (BRASIL, MEC, SEB, 2011, p. 25). Consequentemente,

os avaliadores do Guia reconhecem e “dialogam” com a multimodalidade presente no

trabalho com a linguagem. Em boa medida, a autoria coletiva da obra analisada

igualmente “dialoga” com os avaliadores institucionais.

No escopo das relações dialógicas, compreendem-se os enunciados didáticos

em favor dos gêneros textuais presente no Manual do Professor e elencados e citados

anteriormente como uma resposta aos discursos legais dispostos no Guia do PNLD

História: Ensino Médio, a saber:

Nas coleções avaliadas, as atividades propostas caracterizam-se [...] pela diversificação [...] dos objetivos com que operam o conjunto de

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[...] diferentes gêneros de textos complementares, imagens,

fontes históricas variadas, mapas, tabelas, gráficos etc. (BRASIL, MEC, SEB, 2011, p. 20) [ênfase adicionada].

Portanto, a autoria coletiva do livro didático de História dialoga e responde aos

ditames do Guia do PNLDH para o Ensino Médio.

Em um primeiro olhar sobre os dizeres das autoras, podemos entrever os

gêneros textuais e iconográficos e dialogarmos com tais noções e compreendermo-

nas pelo viés das integrações e relações entre as linguagens verbais, visuais,

pictóricas, iconográficas, cujas relações dialógicas podem ser percebidas à luz da

dimensão multimodal nas linguagens e consequentemente, compreendidas à imagem

dos gêneros multimodais.

Embasado nas citações e nos trechos extraídos do Manual do Professor das

autoras, a primeira constatação é a utilização de terminologia gêneros. A nosso ver,

esta constatação é extremamente relevante dado que desloca totalmente nosso

posicionamento como pesquisador nesta coleção de livro didático de História.

Decorrente do dado levantado, empreendemos uma busca em todo o corpo do

manual do professor dos três volumes a fim de levantarmos a filiação das autoras a

determinado estudioso da teoria dos gêneros. Não logramos êxito na primeira

empreitada posto que não está nítido ou explícito a filiação teórica autoral nem no

corpo textual do manual do professor, nem nas referências bibliográficas tanto no

manual do professor quanto nos livros didáticos dos alunos.

Entretanto, percebemos a predominância do pesquisador historiográfico Peter

Burke nas referências bibliográficas como igualmente no corpo do texto teórico e com

uma citação destacada no meio do texto dos três manuais do professor. Após esta

observação, empreendemos pesquisas documentais em várias obras de Peter Burke,

nas quais levantamos sua filiação à Nova História e, mais especificamente, a

determinadas dimensões de teoria bakhtiniana. Essencialmente, Burke (1992, 1997)

alicerça-se nas ponderações da teoria bakhtiniana acerca dos conceitos de vozes,

plurivocalidade, esferas de atividades humanas, carnavalização, discursos e gêneros

discursivos (BURKE, 1992, 1997).

E, é no bojo das inter-relações históricas entre as autoras, Burke e Bakhtin, que

nos posicionamos como pesquisadores e compreendemos ativo e responsivamente

que o emprego dos termos vozes, discursos nas cartas de apresentação aos alunos

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e aos docentes como igualmente a terminologia gêneros podem indicar relações

dialógicas com o aporte enunciativo-discursivo bakhtiniano. Por consequência, as

citações das autoras acerca do trabalho didático com os gêneros remetem ao

pensador russo.

Em decorrência de todo exposto, entendemos que uma análise dialógica e

enunciativo-discursiva pode ser empregada na análise dos discursos didáticos

multimodais que circulam no livro didático de História.

As observações elencadas parecem indicar a relevância propiciada às

atividades de textos constituídos de múltiplas linguagens por parte das autoras.

Embasados nesse dado preliminar, poderíamos elaborar a hipótese de que a autoria

do livro didático encaminha variadas atividades com os gêneros multimodais. Mais

adiante, confirmaremos tal hipótese.

Contudo, cabe destacar outra citação das autoras:

Desenvolvimento da leitura e da escrita. O professor pode solicitar atividades de pesquisa e produção de textos. Essa tarefa auxilia os alunos a desenvolver as seguintes habilidades: selecionar informações, destacando as centrais e periféricas; compreender os

elementos que compõem a escrita do texto (BRAICK & MOTA, MANUAL DO PROFESSOR, 2013, p. 9).

Com base na citação, podemos observar o trabalho didático com a leitura

alicerçadas nos componentes verbais dos textos a fim de subsidiar futuras pesquisas

e produção escrita.

Na próxima seção, delinearemos os dados quantitativos dos gêneros

multimodais coletados, cuja quantificação poderá jogar luzes em como a coleção do

livro didático de História trata esses gêneros.

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5.2 Os dados das incidências de gêneros multimodais no livro didático de História

Em nosso levantamento, buscamos elencar uma descrição e posterior

distribuição dos gêneros multimodais no corpo da coleção pesquisada. Mais

especificamente, observamos os volumes, as capas, as cartas de apresentação ao

aluno, o sumário, as unidades, capítulos e as seções diversas.

Embasados nos dados coletados, selecionamos as variáveis: gêneros

multimodais com imagens X quantidade, que subsidiou a elaboração de uma tabela

descritiva e quantitativa. Em nossa coleta de dados, observamos a incidência de uma

gama de gêneros multimodais com imagens, muitos dos quais apresentados nas

citações acima mencionadas, pelas autoras da coleção, e que foram dispostos nos

gráfico e quadro a seguir:

Gráfico 1: Síntese de gêneros multimodais presentes na Coleção do livro didático de História

42%

12%8%

6,5%

4%

3%

2,9%

2,6%

1,4%1,3%

1,3%1,0%

1,1%

0,9%12%

Síntese de gêneros multimodais com imagens, presentes na Coleção do livro didático de História

Fotografia

Mapa Histórico

Gravura ou Litogravura

Pintura

Capa de DVD

Charge

Iluminura

Óleo sobre tela

Cartaz

Mapa Geográfico

Afresco

Capa de Livro

Desenho

Ilustração

Outros

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Quadro 2: Síntese de gêneros multimodais com imagens, presentes na Coleção do livro didático de História

Gêneros multimodais (coleção completa)

Volume Total

% I II III

Total 269 236 263 766 100

Fotografia 106 50 170 326 42

Mapa histórico 34 36 22 92 12

Gravura ou litogravura 13 43 5 61 8,0

Pintura 12 30 9 51 6,5

Capa de DVD 11 14 7 32 4,0

Charge 3 7 13 23 3,0

Iluminura ou miniatura 21 1 - 22 2,9

Óleo sobre tela ou tela 5 15 - 20 2,6

Cartaz - 2 9 11 1,4

Mapa geográfico 5 - 6 11 1,4 Afresco 8 2 - 10 1,3

Capa de livro 3 6 1 10 1,3

Desenho 3 6 - 9 1,1

Ilustração 5 1 2 8 1,0

Pintura rupestre 7 - - 7 0.90

Caricatura 2 1 4 7 0,90

Cenas de filme 4 1 1 6 0,80

Mosaico 6 - - 6 0,80

Capa de revista - - 5 5 0,65

Aquarela - 4 1 5 0,65

Pintura mural 1 3 0 4 0,52

Retrato 2 2 - 4 0,52

Linha do tempo com imagem 1 - - 1 0,13

Infográfico 3 - - 3 0,40

Anúncio ou propaganda impressa - - 2 2 0,26

Grafite 2 - - 2 0,26

Pintura em tumba 2 - - 2 0,26

Calendário com imagem 4 - - 4 0,52

Capa de disco (LP) - - 2 2 0,26

Capa de cartilha - - 1 1 0,13

História em quadrinho - 2- - 2 0,26

Pintura em quadro 2 1 - 3 0,40

Alegoria 1 2 - 3 0,40

Pintura a óleo sobre madeira 1 - 1 2 0,26

Óleo sobre cobre - 1 - 1 0,13

Cartum - 1 - 1 0,13

Aquarela, tinta e óleo - - 1 1 0,13

Estampa aquarelada - 1 - 1 0,13

Frontispício 1 - - 1 0,13

Ícone 1 - - 1 0,13

Reprodução de partitura musical - 1 - 1 0,13

Primeira página de jornal - 1 - 1 0,13

Tirinha - - 1 1 0,13

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Com base no quadro e gráfico acima, podemos perceber que os gêneros

multimodais que mais circulam na coleção são por ordem de incidência:

1. Fotografias: 42%

2. Mapas históricos: 12%

3. Gravuras ou litogravuras: 8,0%

4. Reproduções de Pinturas: 6,5 %

A ampla quantidade de gêneros multímodas em circulação na obra didática

pesquisada demonstra diversidade de gêneros para compor a coleção.

O percentual relevante de dados comprovando a circulação de gêneros

multimodais permite-nos entender a presença de influências sócio-históricas nesse

material didático, visto que certos gêneros, como as gravuras, quadros, retratos e

mapas históricos são recorrentes neste tipo de obra didática desde a época dos

compêndios de História, onde já se verificava a presença de litogravuras, retratos,

mapa mundi, quadros sinópticos, etc. Também demonstra a ocorrência de um gênero

muito frequênte a este material escolar: os mapas históricos tanto na forma de mapa-

mundi como oriundos de Atlas históricos. Do mesmo modo que os mapas geográficos

são formas multimodais muito recorrentes no livro didático de Geografia, igualmente

os mapas históricos são gêneros multimodais muito frequentes na obra didática de

História.

Além disso, a amplitude dos dados percentuais referentes à gama de imagens

que circulam no livro didático de História permite-nos observar que a autoria didática

da obra pesquisada não é unicamente das duas autoras, mas de uma equipe de

autoria presente na produção da coleção: editores, revisores, escritores. No foco de

nossa pesquisa, os textos multimodais com imagens, há outros produtores dos

discursos autorais conforme a ficha catalográfica da obra didática analisada –

pesquisador iconográfico, editor e coordenador de arte, projetista gráfico, coordenador

de design e projetos visuais, etc.

Como bem salienta Bittencourt 2004:

A partir da década de 1990, comprova o papel do autor de uma obra

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didática tem se modificado em decorrência das inovações tecnológicas impostas pela fabricação do livro. Copidesque, revisor de texto, pesquisador iconográfico, entre outros, constituem uma equipe cada vez mais numerosa de pessoas responsáveis pelo livro

(BITTENCOURT, 2004, p. 2) [ênfase adicionada].

No que diz respeito à Lei de Direitos Autorais, a exigência de créditos nos textos

multimodais presentes na coleção decorre do artigo 184 do Código Penal e da Lei nº

9.610 de fevereiro de 1998. Em decorrência do referido artigo e Lei, o programa de

avaliação de obras didáticas do governo federal também exige a inserção dos créditos

nas imagens que circulam na obra didática de história conforme disposto em um de

seus critérios de avaliação, no caso, a utilização de ilustrações e imagens do livro

didático de história devem [...] Estar acompanhadas dos respectivos créditos e da

clara identificação da localização das fontes ou acervos de onde foram reproduzidas

[...] (BRASIL, MEC, SEB, 2011, p. 14).

Por fim, a alta incidência dos dados coletados relativos aos usos dos créditos

nas imagens deve-se as influências dos discursos de outros interlocutores no

processo editorial da obra didática de história: os pesquisadores historiográficos do

domínio acadêmico ou científico como também os pesquisadores iconográficos – de

imagens - do domínio das artes visuais. Ambos os grupos de especialistas nos seus

campos de saberes exigem a presença de créditos nas imagens em suas pesquisas.

Já no que se refere às legendas, são constituídas nas modalidades verbais

predominantemente, mais apresentam outras modalidades de linguagens. Conforme

os dados coletados, constam-se que as imagens não apresentam legenda na etapa

do sumário (só créditos em todas elas). Contudo, no restante dos volumes, constata-

se 100% das imagens diagramadas com legendas verbais tanto no corpo teórico-

didático como nas atividades da coleção analisada. A capa de cada um dos volumes

apresenta a legenda na página da ficha catalográfica, enquanto o sumário apresenta

textos visuais diversos sem quaisquer legendas. A nosso ver, a predominância das

legendas verbais e com outras modalidades de linguagens abaixo das imagens

podem auxiliar na mobilização de determinadas dimensões das capacidades de leitura

de textos multimodais por consequência, também pode enriquecer e aprimorar as

práticas de leitura do aluno-leitor.

Ao observarmos os gêneros multimodais com maior incidência nas tabelas,

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42% de fotografias, 12% de mapas históricos, 8% de gravuras e 6,5% reproduções de

pinturas, um fato nos chamou a atenção: as relações e aproximações entre alguns

gêneros da ‘pintura’. Especificamente, as similaridades entre pinturas, óleo sobre tela,

quadro com tela, pintura e ícone (pintura sobre madeira); ou então, por um outro viés,

as similaridades entre iluminuras e miniaturas; ou entre a aquarela e a pintura. A partir

dessa premissa entre os gêneros multimodais, empreendemos uma verificação como

estavam descritos no Guia de livros didáticos - PNLD 2012: História (BRASIL, MEC,

2011), onde encontramos: [...] Diferentes textos [...], fotografias, reproduções de

pinturas, dentre outros; [...] (BRASIL, MEC, SEB, 2011, p. 15) [ênfase adicionada].

Assim, constatamos que, apesar de o Guia falar sobre reproduções de pinturas, não

há qualquer detalhamento ou especificação sobre essa categoria.

Em decorrência de nossas reflexões, empreendemos pesquisas, cujos

resultados foram uma ampla gama de gêneros multimodais no escopo da categoria

reproduções de pinturas.

No caso dos murais e afrescos, em nossas pesquisas, chegamos à conclusão

de que são considerados sinônimos. Em conformidade com a “enciclopédia do site

Itaú cultural”: afresco - técnica de pintura mural, executada sobre uma base de gesso

ou nata de cal ainda úmida - por isso o nome derivado da expressão italiana fresco,

de mesmo significado no português (ENCICLOPÉDIA ITAÚ CULTURAL, 2015, s/p.)

[grifo dos autores]. Ainda, segundo Feist (2005), exclusiva da pintura mural, a técnica

de afresco consiste em aplicar o pigmento (a cor) diluído em água sobre o reboco

ainda úmido. [...] O resultado final se chama afresco, mural ou pintura mural (FEIST,

2005, p. 10). Muitos estudiosos das artes visuais afirmam que pintura em tumba é

chamada como pintura mural em tumba. Portanto, murais, pintura mural em tumba e

afrescos são pinturas e constituem-se em reproduções de pinturas.

No que diz respeito à tela, à reprodução de tela, ao quadro, ao óleo sobre tela,

Feist (2005) caracteriza todos como pintura:

A obra pintada [...] É chamada quadro. No entanto, a maneira correta de identificá-la consiste em especificar o tipo de tinta e o tipo de suporte. Assim, em toda publicação de arte, você vai encontrar, p. Ex., ao lado [...] De um quadro a óleo, os termos “óleo sobre tela” ou “óleo sobre madeira”. E também vai ler ou ouvir falar dos óleos ou das telas

de determinado pintor (FEIST, 2005, p. 14) [ênfase de autora].

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Nesse sentido, a partir da próxima seção consideraremos que as reproduções

de pinturas abarcam muitos gêneros multimodais da pintura, a saber: reprodução em

tela, quadro, óleo sobre tela, retrato, alegoria, pintura em tumba, pintura rupestre,

grafite, ícone – pintura em madeira, aquarela, mosaico, afresco e mural.

5.3 As incidências dos gêneros multimodais na seção “Atividades” da coleção Nesta etapa, apresentamos os gráficos e quadros referentes ao corpus de

nossa análise - as atividades da seção “Atividades” – conforme descrito no capítulo

de metodologia de pesquisa.

Gráfico 2: incidências dos gêneros multimodais na seção “Atividades” da coleção

26%

9,8%

8,1%

6,5%6,5%

6,5%

6,5%

6,5%

3,2%

3,2%

3,2%

3,2%1,6%

1,6 1,6% 1,6% 1,6% 1,6% 1%

Fotografias

Reprodução de Pintura

Gravuras

Mapa Histórico

Pinturas rupestres

Calendário com Imagens

Ilustração

Charges

Caricatura

Óleo sobre tela

Iluminura

Afresco

Aquarela

Ícone pintura sobre madeira

Cartaz

Cartaz de filme

Desenho

Mapa geográfico

Outros

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Quadro 3: Incidência geral de gêneros multimodais na Seção “Atividades”

Gêneros multimodais na seção “Atividades”

Volume/Quantidade Total %

I II III

26 13 22 61 100

Fotografias 7 1 8 16 26,2

Reprodução de pintura 1 3 2 6 9,8

Gravuras 1 2 2 5 8,1

Mapa histórico 3 1 - 4 6,5

Pinturas rupestres 4 - - 4 6,5

Calendário com imagens 4 - - 4 6,5

Ilustração 1 3 4 6,5

Charges 1 - 3 4 6,5

Caricatura 1 - 1 2 3,2

Óleo sobre tela ou Tela - 2 - 2 3,2

Iluminura ou Miniatura 2 - - 2 3,2

Mural ou Afresco - 1 1 2 3,2

Aquarela - 1 - 1 1,6

Ícone pintura sobre madeira 1 - - 1 1,6

Cartaz - 1 - 1 1,6

Cartaz de filme - - 1 1 1,6

Desenho - 1 - 1 1,6

Mapa geográfico - - 1 1 1,6

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Gráfico 3: Incidências de gêneros multimodais na Seção “Atividades” com o item reproduções de pinturas

Quadro 4: Incidências de gêneros multimodais na Seção “Atividades” com o item

reproduções de pinturas Gêneros multimodais na seção “Atividades”

Volume/Quantidade Total

%

I II III

26 13 22 61 100

Reproduções de Pinturas 8 7 3 18 29,5

Fotografias 7 1 8 16 26,2

Gravuras 1 2 2 5 8,1

Mapas históricos 3 1 - 4 6,5

Calendários (com imagens) 4 - - 4 6,5

Ilustrações 1 - 3 4 6,5

Charges 1 - 3 4 6,5

Caricaturas 1 - 1 2 3, 2

Cartaz - 1 - 1 1, 6

Cartaz de filme - - 1 1 1, 6

Desenho - 1 - 1 1, 6

Mapa geográfico - - 1 1 1, 6

Reproduções de Pinturas

29,5%

Fotografias26,2%Gravuras

8,1%

Mapas Históricos6,5%

Calendários6,5%

Ilustrações 6,5%

Charges6,5%

Caricaturas3,2%

Cartaz1,6%

Cartaz de filme 1,6%

Desenho 1,6% Mapa geográfico

1,6%

Incidências de gêneros multimodais na Seção “Atividades” com o item reproduções de pinturas

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Na seção “Atividades”, a ordem de incidência dos gêneros multimodais não

difere muito da observada nas incidências de toda a coleção. Vejamos:

1. Reproduções de pinturas: com 29,5%

2. Fotografias: com 26,2%

3. Gravuras: com 8,1%

4. Mapas históricos: com 6,5%

Em termos quantitativos, podemos contemplar a preferência pela incidência

do gênero multimodal Reproduções de pinturas com 29,5% de presença na seção

“atividades”.

No âmbito das análises das reproduções de pinturas, notamos que todas têm

dados no percentual de 100% com créditos e 100% com legendas.

No que diz respeito às legendas, as autoras apresentam certas lacunas na

descrição do referido gênero multimodal, no caso, não apresentam as proporções ou

medidas da imagem visto que os dados coletados indicam a incidência de 100% de

ausências de legendas constituídas com as proporções ou medidas. A nosso ver, esta

ausência de dimensões das imagens nas legendas verbais não está em consonância

com um dos critérios de avaliação do uso de imagens nas obras didáticas de História,

no que se refere às obras artísticas visuais – reproduções de pinturas, gravuras,

litogravuras, as quais precisam [...] respeitar as proporções entre objetos ou seres

representados; [...] (BRASIL, MEC, SEB, 2011, p. 14).

A questão da ausência das proporções das imagens nas legendas verbais,

acarreta a nosso ver, implicações na mobilização de capacidades leitoras de textos

multimodais. No caso das reproduções de pinturas, a lacuna da dimensão de uma

determinada obra – por exemplo, a pintura histórica – prejudica a mobilização de

outros efeitos de sentidos na leitura multimodal já que uma das características deste

gênero – pintura histórica – é, produzida com a finalidade de enaltecer heróis e

mártires construtores dos ideais do estado-nação. Por exemplo, no caso da pintura

histórica que representa a Proclamação da Independência do Brasil, O grito do

Ipiranga – óleo sobre tela de Pedro Américo (1888), produzida no final do Segundo

Reinado, e 66 anos depois do ano da Independência (1822), que porventura, não

apresente a proporção que é de 4,15m de altura por 7,60m de largura, acarreta

dificuldade ou ausência de informação preciosa para a construção de significações à

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leitura daquela obra e que, ocasionará lacunas também na compreensão, por parte

do aluno-leitor ou observador, da grandiosidade da representação do feito histórico,

ou seja, da grandiosidade proposta pelo autor, assim como daqueles que

encomendaram a produção da obra artística visual. Caso a legenda verbal com

detalhes da proporção fosse explicitada pelas autoras do livro didático, o leitor teria

elementos a mais para conceber e construir outros efeitos de sentidos, outros modos

de apreciações valorativas – positivas ou negativas – em relação à pintura histórica.

A apresentação dos elementos referidos às proporções das imagens ajuda na

mobilização das capacidades leitoras e da consequente compreensão.

No bojo da ocorrência de 26,2% do gênero multimodal fotografia, os dados

demonstram incidência de uma única fotografia de tonalidade em sépia, isto é, em

cores mais amarronzadas-cinzentas ou amareladas, aspectos das fotografias mais

envelhecidas como igualmente, uma característica de registros fotográficos mais

relacionados aos estudos historiográficos. A ausência de dados referentes às

fotografias em sépia demonstram com isso, uma transformação do livro didático de

História no que tange à utilização dessa forma de gênero. A nosso ver, deixa-se de

trabalhar uma forma multimodal que era amplamente utilizada e manuseada

antigamente nos manuais escolares de História. E, ainda mais, perde-se uma

dimensão de tratamento didático no escopo da leitura multimodal e, em especial, na

dimensão das capacidades leitoras de textos multimodais, na especificidade das

capacidades da Organização das informações da sintaxe visual (PAES DE BARROS,

2009, p.166), cuja observação desta tonalidade de cor em sépia ajudariam a mobilizar

compreensões mais aprofundadas à construção mais ricas da significação por parte

do leitor-contemplador do registro fotográfico em sépia.

Outro fato interessante nas legendas é a explicitação de que algumas

fotografias (e algumas gravuras ou litogravuras) são colorizadas. A nosso ver, a

explicitação no corpo da legenda referente ao texto visual é relevante, pois mobiliza

outras significações nos atos de leitura e nas observações como também na

mobilização das capacidades leitoras da Organização das informações da sintaxe

visual (PAES DE BARROS, 2009, p.166). Para nós, explicitar se a foto ou gravura é

colorizada ou não, é muito relevante, pois apresenta ao aluno, outros elementos de

subsídios na construção da significação e na potencialização de efeitos de sentidos

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por parte do observador ou leitor.

Assim, a partir dos dados levantados e a reflexão sobre eles, obtivemos

informações para completar nossa análise, com a obtenção da incidência de 29,5%

de reproduções de pinturas e 26,2% do gênero fotografias, fornecendo-nos, dessa

maneira subsídios para a nossa análise qualitativa.

No próximo capítulo, apresentaremos a análise qualitativa das atividades e

seus tratamentos didáticos relativos à questão das capacidades leitoras de textos

multimodais, como também com o do letramento crítico. Em diálogo com este capítulo,

analisaremos os gêneros das multimodalidades embasados no critério de maior

incidência dos gêneros multimodais presentes na seção de “Atividades”.

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CAPÍTULO VI

OS GÊNEROS MULTIMODAIS NA SEÇÃO DE ATIVIDADES DO LIVRO DIDÁTICO DE HISTÓRIA

O presente capítulo apresenta a análise qualitativa das atividades presentes na

seção “Atividades”, em consonância com os critérios elencados na metodologia, a fim

de compreender o projeto didático-editorial da coleção estudada.

6.1 Os principais gêneros multimodais recorrentes na seção “Atividades”

No capítulo V, respondemos as duas primeiras perguntas de pesquisa: quais

gêneros multimodais estão presentes em uma coleção de livros didáticos de História

do 1º ao 3º ano do Ensino Médio? e dos gêneros encontrados, quais são trabalhados

nas atividades?

Assim, elencamos os gêneros multimodais de maior incidência na seção

“Atividades” dos três volumes da coleção, conforme dispostos no quadro abaixo.

Quadro 5: Gêneros Multimodais com maior incidência na seção “Atividades”

Gêneros Multimodais de maior incidência na seção “Atividades”

Gênero Quantidade

Porcentagem (%)

Reproduções de pinturas 18 29,5

Fotografia 16 26,2

Os dados coletados nos permitem analisar os gêneros multimodais em dois

agrupamentos:

Agrupamento 1º: propostas de atividades que partem do gênero “reproduções

de pinturas”;

Agrupamento 2º: propostas de atividades do gênero “fotografia”.

Em nosso trabalho, buscamos perceber sena seção “Atividades” do livro

didático, mobilizam-se determinadas capacidades de leitura de textos multimodais que

levam o aluno a compreender esses gêneros como um enunciado concreto, relativo a

um momento sócio-histórico e situado em uma determinada esfera social, e

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igualmente favorecendo a formação das capacidades leitoras dos alunos.

Neste capítulo de análise, buscamos responder a terceira pergunta desta

pesquisa: que capacidades são mobilizadas nas atividades referentes aos gêneros

multimodais na coleção?

A fim de alcançarmos nosso objetivo e responder a essa questão, analisamos

algumas das atividades em que os gêneros multimodais são trabalhados na coleção.

Para tal, recorremos às estratégias de observação da multimodalidade (PAES DE

BARROS, 2005), em conformidade com o disposto teoricamente nos capítulos

anteriores.

Assim, apoiamo-nos nos seguintes parâmetros:

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Quadro 6: Parâmetros de observação das atividades3

Parâmetros para a observação das atividades

I. Seleção e verificação de informações verbais

Atividades que potencializem:

1. As comandas ou instruções verbais das atividades como leia, observe, observe com atenção, descreva, etc.; 2. A observação das escolhas dos elementos lexicais e numéricos referentes às designações dos gêneros multimodais com imagens; do nome da obra artística, da data, do ano ou do século, como também a observação dos dados numéricos relativos à proporção das larguras, altura e comprimento das imagens; 3. A percepção se certos elementos lexicais são tratados nas atividades como parte componente de um dado gênero, como por exemplo, a assinatura de um pintor de tela; os créditos escritos das agências de imagens ou de particulares, as legendas verbais juntas às reproduções de pinturas e das fotografias.

II. Organização das informações da sintaxe visual

Atividades que levam os alunos a refletir sobre a seleção das cores, das linhas, da disposição dos elementos, das tonalidades, dos planos, dos ângulos das peculiaridades das imagens como constituintes de significação como por exemplo, as tonalidades mais claras ou escurecidas das reproduções de pinturas, a cor amarelada (sépia), as cores preto e branco ou colorida, colorizadas, os ângulos ou planos nas fotografias.

III. Integração de informações verbais e não-verbais

A percepção do gênero multimodal, inter-relacionando-o (texto visual e texto verbal) ao seu domínio de produção e de circulação, como por exemplo, na leitura de uma reprodução de pintura, uma foto preto e branco, os elementos pictóricos e fotográficos, sendo retomados não somente pelo texto, mas relacionado-os com o espaço sócio-histórico em que foram produzidos, circularam e recebidos pelos interlocutores, com o meio de circulação etc.

IV Percepção do todo do enunciado

Atividades que levam os alunos a perceberem, através das relações dialógicas entre os textos verbais e não verbais relacionando-os com o domínio sócio-histórico, de modo a que compreendam o todo do discurso concreto, de forma a desvelar as relações entre os textos, discursos, as intenções e seus significados em cada contexto histórico.

O quadro com os parâmetros acima subsidiará as nossas análises de dois

gêneros multimodais de cada volume da coleção, apresentados em dois

3Para a composição deste quadro, baseamo-nos no elaborado por Costa e Paes de Barros (2012), adequando-o para a análise de uma coleção didática de História.

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agrupamentos: reproduções de pinturas e fotografias.

6.2 Agrupamento 1º: Propostas de atividades com o gênero reproduções de pinturas

A seguir, apresentamos a primeira atividade com reprodução de pintura a ser

analisada:

Imagem 3: Atividade número 3 da seção “Vestibular/ENEM”, capítulo 3, unidade 1, volume 1 (BRAICK & MOTA, 2013, 2010, Vol. 1, p. 53).

Presente na seção, “Vestibular/ENEM”, a atividade na forma de uma questão

avaliativa do ENEM reforça o conteúdo historiográfico trabalhado no capítulo “A

identidade do homem americano” e está relacionada à revisão de uma parte teórica

do capítulo: “Os primeiros brasileiros e os sítios arqueológicos no Brasil”.

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A atividade número três é composta de um enunciado escrito, uma imagem de

reprodução de pintura rupestre com seu crédito escrito, uma legenda verbal e a própria

questão com cinco alternativas.

O enunciado é descrito a seguir:

3 (Enem-MEC) A pintura rupestre [abaixo], que é um patrimônio cultural brasileiro, expressa: (BRAICK, MOTA, 2013, vol. 1, p. 53). Já a legenda indica informação verbal da pintura: Toca da Entrada do Pajaú. Parque Nacional Serra da Capivara, Piauí. Disponível em: www.betocelli.com (idem, ibidem).

Como vemos, a atividade define o gênero: pintura rupestre; o tema: patrimônio

cultural brasileiro; os produtores: o povo indígena brasileiro, e a esfera de circulação:

a comunicação digital. No entanto, como observamos, não há qualquer referência aos

interlocutores –, nem a finalidade e nem o portador do texto visual – as paredes das

cavernas. Por isso, observamos que se as legendas orientam sobre o contexto de

produção do gênero e aliadas às informações verbais, quando bem selecionadas e

detalhadas, ajudam na observação da temática histórica presente no texto visual.

Assim, com Bittencourt (1997), constatamos que nesse sentido, as vinhetas ou

legendas explicativas, colocadas abaixo de cada ilustração [imagem], indicavam o que

o aluno deveria observar e reforçar a ideia contida no texto (BITTENCOURT, 1997, p.

75).

Não consta nenhum tratamento didático com a leitura dos créditos, fator

recorrente em todas as atividades compostas de textos visuais na coleção abordada.

No que trata das estratégias de leitura de textos multimodais, podemos ver que

não há qualquer tratamento didático relativo aos elementos visuais e pictóricos que

compõem o texto visual, nenhuma comanda da atividade se refere nem às formas,

nem aos contornos, nem as cores, nem ao tipo do pigmento usado na pintura. Desse

modo, a atividade não colabora para mobilizar capacidades de organização da sintaxe

visual, não favorecendo a leitura das imagens pelos estudantes. Com Paes de Barros

(2009), entendemos que a atividade não exige que o leitor recorra [...] a estratégias

particulares de observação multimodal que o levam a selecionar e verificar [...] e

organizar as informações da sintaxe visual (PAES DE BARROS, 2009, p. 167).

A proposta da atividade centraliza-se nos enunciados verbais, e não estimula a

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atenção do aluno, para que a reprodução da pintura rupestre acione seus

conhecimentos prévios sobre o conteúdo historiográfico, no caso, o patrimônio cultural

brasileiro, e nem relaciona os textos verbal e não verbal de modo a construir a

compreensão do enunciado. Não leva em consideração a possibilidade de que a

prática de registro nas cavernas na forma das pinturas rupestres pode ser relacionada

com outra prática de registro multimodal mais contemporâneo de algumas ‘tribos’

urbanas de jovens da contemporaneidade: a prática de registro multimodal nos muros

de casas, comércios, viadutos, etc.; a prática da arte do grafite, um gênero de

reproduções de pinturas sócio-historicamente relacionado à pintura rupestre.

Apresentamos nossa segunda análise referente ao gênero multimodal

reproduções de pinturas.

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Imagem 4: Atividade número 1, da seção “Explorando o conhecimento”, capítulo 16, unidade 3, volume 2 (BRAICK & MOTA, 2013, 2010, vol. 2, p. 242).

Procedemos à análise da atividade, iniciando com a transcrição do enunciado

da questão: “A tela A Liberdade guiando o povo, do pintor francês Eugène Delacroix

(1799-1863), é uma alegoria à Revolução de 1830. Observe e responda” (BRAICK &

MOTA, 2013, 2010, Vol. 2, p. 242).

Notamos que há somente uma comanda: Observe e responda, constituída em

verbos no imperativo, um verbo direcionado à observação da imagem da reprodução

de tela e outro à resposta escrita do questionário.

Após a comanda, há a imagem ocupando metade do corpo da atividade 1 (um),

e na parte inferior dela há a legenda “A Liberdade guiando o povo, 1830, tela de

Eugène Delacroix” e, na parte superior, no canto direito há um crédito em forma de

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uma frase maiúscula: MUSEU DO LOUVRE, PARIS (BRAICK & MOTA, 2013, 2010,

Vol. 2, p. 242). Em seguida, há um breve questionário na forma de três (03) perguntas

a, b e c., conforme dispostas abaixo da imagem analisada neste momento.

Como a atividade trabalha um conteúdo histórico, apresentamos uma breve

descrição do saber histórico relacionado à reprodução da tela. “A Revolução de 1830”

é trabalhada no corpo do capítulo 16, na subseção “Novas ondas revolucionárias”. No

caso, trata-se de recuperar o contexto sócio histórico de produção do gênero

reprodução de tela.

A revolução de 1830, em Paris, na França, foi a primeira de uma série ocorridas

naquela década e está intimamente ligada como uma nova etapa da Revolução de

1789. Uma das muitas revoluções da burguesia no século XIX. O pintor Eugène

Delacroix retratou essa revolta no próprio ano da revolução. Pertencente ao período

literário e histórico do romantismo, a pintura foi muito forte na recém Europa

nacionalista e na formação dos estados nações. Representa a dimensão nacionalista,

no caso, a França e suas várias províncias reunidas e tornadas agora, uma nação

homogênea numa língua homogênea, a francesa. Por isso, a mulher que segura a

bandeira tricolor é uma representação da nação francesa. As listras tricolores

simbolizam o lema clássico da Revolução Francesa de 1789: Liberdade, Igualdade e

Fraternidade.

De modo geral, a atividade de número 1 adota a característica de outras da

subseção “Explorando o conhecimento”. Na realidade, essa subseção explora a

fixação dos conhecimentos históricos apresentados no corpo textual teórico do

capítulo. Especificamente, realiza o exercício de fixação do conteúdo histórico da

etapa denominada “Novas ondas revolucionárias”.

Numa abordagem enunciativo-discursiva, percebemos que a proposta de

leitura da imagem está empregada para ilustrar certo conhecimento histórico ou

determinado conteúdo histórico escolar, estudado anteriormente.

No âmbito da leitura da imagem, a comanda “Observe e responda” significa

somente realize uma observação sem questionar, observe de forma passiva, sem

quaisquer questionamentos à ilustração solicitada. Isto porque a comanda cobra para

que o aluno observe e rememorize o conteúdo histórico trabalhado na etapa teórica

do capítulo dezesseis.

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No nosso ponto de vista, os entrelaçamentos entre as pinturas e a quantidade

de perguntas implicam práticas sócio-históricas discursivas próprias da esfera de

produção do livro didático de História. Esses entrelaçamentos discursivos são

oriundos de antigos manuais escolares franceses produzidos pela Editora Lavisse que

se caracterizavam por apresentar e colocar em circulação práticas ilustrativas a

serviço do texto escrito:

(...) estabelecer a relação entre a palavra escrita e as imagens. Para isso, em seus livros para a escola primária francesa no fim do século XIX, apresentou uma série de imagens acompanhadas de exercícios e atividades cuja finalidade principal era o reforço para uma “memória histórica” (BITTENCOURT, 2005, p. 69) [ênfase da autora].

Em nossas observações, concordamos com a autora, já que nossas análises

desvelaram a utilização das imagens com o objetivo de reforçar um conteúdo ou saber

histórico. Ainda em concordância com a pesquisadora, observamos que a inclusão de

imagens nos livros didáticos serviu ainda para facilitar a memorização dos conteúdos

(BITTENCOURT 1993, p. 75).

Na comanda posta para a realização das duas atividades: observar e

responder, o ato de observação é restrito a uma característica funcional em que os

discursos das autoras arregimentam a imagem unicamente com a função de ilustrar o

conteúdo histórico: o avanço dos ideais burgueses.

A nosso ver, a atividade com a pintura promove um trabalho escolar mais

direcionado à compreensão das significações dos discursos concretos históricos. A

proposta das autoras com tal atividade visa à significação, à busca do sentido estável

e estabilizado e está mais no plano dos significados aceitos como verdadeiros no

campo e historiografia e da História escolar.

Como a proposta das autoras visa à leitura das imagens no viés da ilustração,

observamos que tal modo de leitura trata o texto multimodal, analisado na dimensão

forjada e cristalizada nos discursos escolares históricos na extensa linha do tempo

sócio-histórica.

Esse tratamento didático volta-se unicamente à significação histórica. Não

admite diferentes posicionamentos, diferentes apreciações valorativas do conteúdo

historiográfico com o qual as autoras interagem. Trabalha-se a leitura como

interpretação de um significado já esperado. Considerando sócio-historicamente, a

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proposta leitora dada pelas autoras na atividade analisada trata-se de uma prática

leitora muito enfatizada nas inter-relações entre o professor de História e seus alunos

ou mesmo entre os autores de livro didáticos de História e os docentes. Esta prática

de leitura com vistas à interpretação literal de algum significado histórico está

relacionada a toda uma corrente de práticas didáticas – ligadas ao modelo autônomo

de letramento e à visão de leitura como extração de sentido literal do texto [...] que

influenciou (e influencia) fortemente as práticas de leitura presentes até os nossos

dias nas escolas (PAES DE BARROS, 2005, p. 46). Por conseguinte, a proposta está

inter-relacionada a práticas leitoras enraizadas nos processos de ensino-

aprendizagem de História. Defendemos, com Soares (2010), que cada área de

conhecimento exige um letramento específico e então se fala em letramento

geográfico, científico, histórico etc. (SOARES, 2010, p. 59). Assim, o desenvolvimento

do letramento histórico na educação básica é uma das demandas do século XXI.

A seguir, analisamos uma terceira reprodução de pintura, pintura a óleo “A

face da guerra”, de Salvador Dalí de 1940.

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Imagem 5: Imagem da atividade número 05 da seção “Explorando o conhecimento”, capítulo 5, unidade 1, volume 3 (BRAICK & MOTA, 2013, 2010, Vol. 3, p. 88).

A atividade inicia com a seguinte proposta: Observe a figura a seguir com

atenção e responda às questões (BRAICK & MOTA, 2013, 2010, Vol. 3, p. 88). De

modo geral, a proposta leva o leitor a uma observação mais atenciosa da imagem,

porém sem encaminhamentos verbais sobre a averiguação de quais de seus detalhes

ou elementos pictóricos. Por exemplo, nada consta para guiar a atenção do leitor para

certos elementos, como parte do rosto humano – os olhos, ou as laterais esquerda e

direita da face, a presença das outras faces nos espaços que se destinam a olhos e

boca, etc. Caso houvesse tais direcionamentos à observação atenta destas

especificidades de elementos pictóricos, a nosso ver, haveria uma colaboração para

a elaboração de significados no âmbito da dimensão da sintaxe de informações

visuais próprias das capacidades de leitura de textos multimodais. Após a proposta,

observa-se a reprodução de uma pintura a óleo de Dali. Abaixo, há a seguinte legenda

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verbal: “A face da guerra, 1940 – Salvador Dalí”. Não há quaisquer dados quantitativos

referentes à sua proporcionalidade ou tamanho da reprodução de tela.

No canto direito da imagem, observa-se em escrita maiúscula: FONDATION

GALA – SALVADOR DALÍ/LICENCIADO POR AUTVIS, BRASIL, 2010 – MUSEUM

BOYMANS VAN BEUNINGEN, ROTERDÃ (BRAICK & MOTA, 2013, 2010, Vol. 3, p.

88). Como já constatado, novamente não há nenhum trabalho que leve os alunos a

observar os créditos. Nem um breve tratamento didático referente às razões dos

créditos serem escritos com letras maiúsculas. Por decorrência, não se oportuniza a

mobilização de capacidades leitoras na dimensão da seleção e verificação das

informações verbais.

Após a legenda verbal, consta um breve texto verbal constituído de questionário

entremeado entre assertivas (letra a) e perguntas (letras b e c), conforme pode ser

visualizado abaixo da imagem analisada.

A reprodução de tela traduz a visão artística do pintor espanhol/catalão

Salvador Dalí à imagem da corrente artística vanguardista Surrealismo. Por

Surrealismo, compreende-se uma corrente de vanguarda e artística oriunda da

França, de forte propagação após o período compreendido entre as Primeira e

Segunda Guerras Mundiais, cuja ênfase é o papel do inconsciente na criação artística.

Sobre o conteúdo histórico relacionado à reprodução de pintura, como o próprio

título do capítulo cinco indica “A Segunda Guerra Mundial” e seu subtítulo indica “Um

novo conflito mundial”, também a pintura retrata saberes historiográficos

correspondentes aos efeitos desta guerra, principalmente após a Alemanha deflagrar

a invasão e ocupação da Polônia, Noruega, Dinamarca, e da França. A tela procura

retratar, então, as repercussões deste conflito em solo europeu e o autor demonstra

tal fato artisticamente.

A comanda Observe a figura a seguir com atenção e responda às questões

exprime a instrução de realizar atos de observação indicando a presença de imagens

após a comanda e em seguida, outro enunciado instrucional - responda às questões.

Este encaminha o leitor a executar um trabalho didático recorrente à esfera

educacional: realizar observações de ilustrações a fim de dar respostas escritas a um

questionário escolar. Caracteriza-se uma situação didática que se alicerça na prática

visual da observação da materialidade dos textos – prática que provavelmente se

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origina no costume escolar de se enfatizar a localização e cópia de informações na

leitura (PAES DE BARROS, 2005, p.138).

No que diz respeito ao enunciado que se inicia com observe, percebemos que

100% das atividades relacionadas à reprodução de tela iniciam-se com o discurso

instrucional verbal observe. Compreendemos este ato verbal imperativo como um

discurso recorrente no campo da didática de História já que as leituras verbais

entremeadas por observações visuais de imagens é algo comum desde os antigos

manuais escolares a partir da segunda metade do século XIX que já circulavam

compostos entre textos verbais e textos imagéticos (BITTENCOURT, 1996, 1997).

Já no que diz respeito à proposta de leitura da referida atividade, a comanda

da letra a - Descreva a imagem, relacionando os elementos que o artista utilizou para

compor a obra com o contexto do período em que ela foi elaborada - solicita que o

aluno realize atos de descrição escrita da pintura a óleo, e também inter-relacione

seus elementos pictóricos com elementos sócio-históricos da época referente (ano de

1940). Chamamos a atenção para o fato de que, para as autoras, somente o ano –

1940, e, em conjunto, o nome da obra – “A face da guerra”; e do autor – Salvador Dalí,

já são suficientes para recuperar o contexto de produção de obra. A nosso ver, essa

comanda apresenta lacunas quanto às capacidades de recuperação do contexto

histórico, uma vez que não especifica nitidamente o gênero representado – a pintura

a óleo; a nacionalidade e posição social do produtor do discurso – um pintor catalão

famoso em sua época; seus interlocutores – para quem era orientada esta obra

artística; o movimento ou escola artística a que se filiava – o surrealismo; sua posição

hierárquica neste movimento – uma das figuras mais proeminentes e um de seus

líderes; a esfera de produção – artística ou domínio das artes visuais; o local da

produção – o continente, e a nação europeia que sofria os efeitos da invasão alemã;

sua finalidade – criticar, desvelando artisticamente os horrores da Segunda Guerra

Mundial.

As capacidades vinculadas à recuperação do contexto são de suma

importância quando se trata do estudo de quaisquer textos, em particular os que aliam

a materialidade verbal à visual. Em nossas reflexões, a recuperação do contexto

sócio-histórico é uma das capacidades leitoras que devem ser privilegiadas no

trabalho didático em atividades de História porque permite que o aluno se oriente e

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comece a aprofundar a sua percepção e a sua compreensão.

Além disso, igualmente favorece os alunos a se posicionarem frente aos

discursos dados na proposta da atividade leitora. Assim, entendemos que quanto as

capacidades de leitura de textos multimodais, as autoras não contemplam as diversas

possibilidades de trabalho, de modo que deixam de explorar essa atividade como uma

situação efetiva de interlocução [... com a] recuperação do contexto de produção do

texto [... e com a] definição, para o aluno, das finalidades das atividades (...) (UFMG,

CEALE, 2007, p. 4).

Em razão de as autoras deixarem lacunas na proposta referente à dimensão

da recuperação do contexto de produção, também não oportunizam um tratamento

didático voltado à dimensão da capacidade de integração das informações verbais e

não verbais (PAES DE BARROS, 2009, p.166).

Já a comanda da letra b: Que sensações a pintura desperta em você?

Observamos que esta se distancia do estilo didático clássico escolar em obra didática

de História, uma vez que dá voz ao aluno e, mais especificamente, proporciona a

mobilização de apreciações valorativas de cunho estético por parte do aluno-leitor.

A comanda interrogativa encaminha para que o leitor aprecie e julgue a

reprodução de pintura em tela e com isso, realize, em certa perspectiva, a leitura como

atividade dialógica (VOLOCHINOV/BAKHTIN, 1929/1979, BAKHTIN, 1971/2003).

Esse tipo de leitura como um conjunto de atos dialógicos pressupõe a realização de

respostas ativas (BAKHTIN, 1971/2003) como apreciar, julgar, valorar, dar e exprimir

a própria opinião, exprimir o gosto artístico, etc.

Por consequência, a proposta da questão, de propiciar a valoração de uma

atitude mais responsiva pelo aluno, possibilita-lhe realizar outros modos de ler, outros

modos de observar e mais especificamente, outros modos de apreciar discursos

visuais.

Na comanda c, com questionamento - Na sua opinião, qual foi a intenção do

artista ao produzir este quadro? A utilização de atividades com o objetivo de realizar

uma discussão oral é muito comum nos vários componentes curriculares escolares.

Inclusive, as atividades de imagens com finalidades de expressão oral são muito

comum na disciplina de História no Ensino Médio.

Assim, ao solicitar ao aluno que responda, oralmente ou por escrito,

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posicionando-se, essa atividade possibilita a réplica ativa dos alunos, encaminhando-

os ao desenvolvimento de capacidades importantes para a reflexão sobre os

diferentes textos e contextos discursivos, promovendo aquilo que Rojo (2004) tão bem

explana:

(...) Ao ler, replicamos ou reagimos ao texto constantemente: sentimos prazer, deixamo-nos enlevar e apreciamos o belo na forma da linguagem, ou odiamos e achamos feio o resultado da construção do autor; gostamos ou não gostamos, pelas mais variadas razões. E isso pode, inclusive, interromper a leitura ou levar a muitos outros textos (ROJO, 2004, p. 7) [ênfase adicionada].

Assim, compreendemos que, nos casos específicos das comandas b e c, as

autoras avançam uma vez que promovem a mobilização de capacidades de leitura de

textos multimodais mais amplas como as capacidades integração das informações

verbais e não verbais, e percepção do todo unificado de sentido que se compõe

através da integração dos materiais verbais e não verbais (PAES DE BARROS, 2009,

p. 166), visto que abordam o discurso visual ou verbo-visual – distanciando-se do

clássico tratamento dado ao discurso verbal escolarizado – porque direciona um

posicionamento do aluno e não se restringe somente ao texto verbal.

6.3 Agrupamento 2º: Propostas de atividades com o gênero fotografia

O segundo agrupamento a ser analisado é o do gênero fotografia, cuja

circulação/recepção é muito presente no nosso objeto de pesquisa – o livro didático

de História.

Sua recorrência é mais presente a partir dos conteúdos que tratam do século

XIX em diante, ou seja, a partir do volume 2 da coleção. Há nessa coleção, um cuidado

com o tratamento desse gênero. Todas as fotografias têm legendas e créditos.

Acreditamos que esse cuidado se deva, sobretudo pelo fato de os estudiosos do

campo da Historiografia tomarem as fotografias como um documento histórico. Nessa

perspectiva, Bittencourt (2005) defende que:

Para que o documento se transforme em material didático significativo e facilitador da compreensão de acontecimentos

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vividos por diferentes sujeitos em diferentes situações, é importante haver sensibilidade ao sentido que lhe conferimos enquanto registro do passado. Nessa condição, convém os alunos perceberem que tais registros e marcas do passado são os mais diversos e encontram-se por toda parte: em livros, revistas, quadros, músicas, filmes e fotografias (BITTENCOURT, 2005, p. 331) [ênfase adicionada].

Apresentamos a primeira análise das fotografias:

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Imagem 6: Atividade nº 7 da seção “Explorando o Conhecimento”, Introdução do Volume I (BRAICK & MOTA, 2013, 2010, Vol. 1, p. 24).

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Selecionamos essa atividade por se tratar de uma questão do ENEM. A

circulação de questões avaliativas do ENEM é um dado recorrente nos três volumes

da coleção desta editora. Sua circulação no trio de volumes ocorre devido ao Exame

Nacional possibilitar a participação do avaliado em quaisquer dos anos em que esteja

cursando o Ensino Médio.

Há muitas atividades relacionadas aos cadernos de questões do ENEM. Todas

são cópias da avaliação nacional. A nosso ver, essas atividades remontam às práticas

de elaboração dos antigos exercícios escolares preparatórios para os vestibulares. A

maioria deles priorizavam os textos verbais e somente alguns apresentavam

exercícios com textos verbo-visuais

A atividade traz a comanda 07: Qual das figuras abaixo retrata patrimônio

imaterial da cultura de um povo? Para a tentativa de acerto da questão avaliativa, o

leitor terá que relacionar o texto verbal escrito – legendas/vinhetas, créditos,

enunciado verbal da questão - às fotografias coloridas. Assim, essa atividade promove

a mobilização de capacidades leitoras de compreensão específicas, visto que propõe

a busca e identificação de uma informação. Por isso, mobilizam-se capacidades de

compreensão na dimensão da:

Localização e/ou cópia de informações: Em certas práticas de leitura (para estudar, para trabalhar, para buscar informações em enciclopédias, obras de referência, na Internet), o leitor está constantemente buscando e localizando informação relevante, para armazená-la – por meio de cópia, recorte-cole, iluminação ou sublinhado – e, posteriormente, reutilizá-la de maneira reorganizada. É uma estratégia básica de muitas práticas de leitura (mas não de outras, como a leitura de entretenimento ou de fruição), mas também não opera sozinha, sem a contribuição das outras que estamos

comentando (ROJO, 2004, p. 5) [ênfase adicionada].

Nesse sentido, a atividade encaminha para a localização e identificação verbal

do fato ou dado ilustrado por meio de fotografias, ou seja, prioriza, sobretudo, a

mobilização das capacidades de leitura multimodal de Seleção e verificação das

informações verbais (PAES DE BARROS, 2009). Vemos o encaminhamento do leitor

para a interpretação do material escrito no enunciado da questão, das legendas e dos

créditos. Portanto, as imagens estão colocadas mais a serviço da extração da

informação verbal, pois o foco maior é a interpretação de uma categoria histórica: o

patrimônio cultural imaterial. No âmbito da disciplina História, o uso de textos visuais

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a fim de ilustrar um texto escrito é uma prática recorrente nos livros didáticos.

Entretanto, concordamos com Kress e Van Leeuwen (1996) quando defendem

que

Acreditamos que a comunicação visual está se tornando um campo cada vez menos de especialistas e cada vez mais crucial à comunicação pública. Isso inevitavelmente leva ao surgimento de novas regras, de regras mais formais de ensino. Não ser letrado em comunicação visual poderá acarretar sanções sociais. Dominar o chamado letramento visual será uma questão de sobrevivência,

especialmente nos locais de trabalho (KRESS & VAN LEEUWEN, 1996, p. 2-3).

Observamos uma atividade composta com imagens a fim de ilustrar um

significado verbal, já que a proposta encaminha o leitor à definição verbal de uma

categoria histórica, deixando de lado a multiplicidade de leituras possíveis,

restringindo, em muito, a aprendizagem dos estudantes. Kalantzis e Cope (2013)

reforçam que as representações linguístico-alfabéticas não dão conta mais de abordar

todas as significações dos textos que circulam correntemente porque nos meios de

aprendizagem hoje em dia, nós precisamos suplementar a leitura e a escrita

tradicional com estas representações multimodais, e particularmente, com aqueles

típicos da nova mídia digital (KALANTZIS & COPE, 2013, p. 1).

À luz das capacidades de leitura de textos multimodais, vemos que as

fotografias não são exploradas no âmbito de suas relações intertextuais,

interdiscursivas etc..

A seguir, passamos à análise da segunda atividade com o uso de fotografias,

que consta no volume 2 da coleção, na seção “A História e o tempo presente”, do

capitulo 7, intitulado A mineração no Brasil colonial.

A justificativa de escolha desta atividade se deve a dois fatores: o primeiro é a

circulação de fotografia na seção “A História e o tempo presente” e outro é que é a

única fotografia presente na seção “Atividades” em todo o segundo volume.

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Imagem 7: Atividade nº 8 da seção “A História e o tempo presente”, capítulo 7, unidade 2, Volume 2 (BRAICK & MOTA, 2013, 2010, Vol. 2, p. 106).

Observamos o direcionamento das autoras no que diz respeito à legenda

verbal, a qual ilustra nitidamente a razão da fotografia na atividade, no caso, o

transbordamento do Rio Muriaé em razão do rompimento de um dique de uma

empresa mineradora no ano de 2007. Neste caso, analisando-se a fotografia na

primeira dimensão das capacidades de leitura de textos multimodais, observam-se

algumas explicações sobre os parâmetros de produção do registro fotográfico como o

momento, ou época sócio-histórica. Porém, a legenda e a fotografia em conjunto não

direcionam de modo explícito o olhar ou a observação do aluno com o restante da

proposta – a de leitura e produção de uma pesquisa ou trabalho escolar por parte do

aluno. Poder-se-ia ter levado os alunos a refletirem criticamente sobre o que está

retratado. Levar-lhes a perceber o que a fotografia mesma crítica: os danos causados

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pela mineradora e seu impacto ao meio ambiente e à sociedade. A fotografia permite

uma série de debates e pesquisas, inclusive interdisciplinares, como recomendam os

Parâmetros Curriculares Nacionais de Ensino Médio (1999).

Um trabalho didático que procure desenvolver a reflexão crítica pode promover

novos modos de agir, de atuar na vida social, visto que através de seus esforços de

agir no mundo, e para analisar e entender os resultados de suas ações, as pessoas

podem vir a conhecer o mundo melhor: mais ‘profundamente’ e ‘criticamente’

(LANKSHEAR & KNOBLE, 2006, p. 9) [ênfase dos autores]. Levar os estudantes a

essa reflexão é um dos papeis fundamentais da disciplina História.

Defendemos, com o Bittencourt (2005), que a utilização das imagens nas

atividades dos livros de História e a exploração das características composicionais do

gênero, com suas características específicas, como no caso, das legendas ou títulos

que conduzem a observação (BITTENCOURT, 2004, p. 306) [ênfase adicionada]

proporcionam um aprendizado muito mais efetivo. Observamos, no entanto, que não

há quaisquer reflexões que encaminhem à leitura da imagem, tornando-a assim, um

mero expediente ilustrativo. Kossoy (2001) alerta que as imagens [...] e seus

conteúdos, entretanto, jamais deverão ser entendidos como meras “ilustrações ao

texto [verbal]” (KOSSOY, 2001, p. 32) [destaque do autor].

Nosso trabalho tem demonstrado que a coleção estudada também utiliza-se

dos gêneros verbo-visuais prioritariamente com a função ilustrativa. Para Bittencourt

(1997), as imagens são meros recursos para motivar e ilustrar o curso [histórico] de

História [...e] são utilizadas para “concretizar” noções abstratas, tais como o tempo

histórico (BITTENCOURT, 1997, p. 70).

Com Bittencourt (1997) e Kossoy (2001), entendemos que a fotografia

apresentada na proposta leitora é empregada como um objeto ilustrativo não como

um objeto de ensino-aprendizagem, que poderia mediar de forma mais profícua a

construção do conhecimento histórico. Ainda, com Vygotsky, (2004/1926),

acreditamos que

É como se o estudo da história fosse suspenso enquanto os alunos estão ocupados com o trabalho ilustrativo, e o próprio trabalho adquire o trabalho não do movimento para frente mas de uma repetição estagnada, de um reforço e assimilação de resultados já obtidos, de

uma corrida no mesmo lugar (VYGOTSKY, 2004, 1926, p. 251).

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A seguir, analisamos a terceira atividade presente no volume 3 da coleção.

Imagem 8: Atividade número 8 da seção “A história e o tempo presente”, capítulo 14, unidade 3, volume 3 (BRAICK & MOTA, 2013, 2010, Vol. 3, p. 234).

A justificativa para a escolha dessa atividade deve-se a ser a única composta

de duas fotografias no volume 3, e também uma das poucas atividades em toda a

coleção que exploram esse recurso (duas fotografias para a comparação). A nosso

ver, essa escolha permite uma abordagem de situação leitora mais aprofundada das

imagens, colaborando para o desenvolvimento de capacidades reflexivas voltadas à

observação da multimodalidade.

Notamos que, na leitura dos créditos e das legendas verbais, alguns

parâmetros são recuperados, como por exemplo o nome do gênero – “foto”; a data da

sua produção (setembro de 2001); o tema: ataque aos prédios do World Trade Center,

em Manhattan, Nova York; os produtores, no caso, as proprietárias dos registros

fotográficos: STR/REUTERS/LATINSTOCK.

Em decorrência, entendemos que os créditos representam uma das dimensões

do gênero: as agências de notícias e seus destinatários que produzem e circulam

informações para a esfera midiática (jornalística, radiofônica, televisiva e digital)

conforme o veículo de circulação.

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A proposta destaca uma seleção de informações acerca de alguns aspectos na

recuperação do domínio de produção do discurso multimodal. Assim, vemos a

Seleção e verificação das informações verbais (PAES DE BARROS, 2009, p.166) que

são parte do processo da compreensão de gêneros que aliam as materialidades

verbais e visuais.

A nosso ver, as referidas capacidades referentes à etapa das informações

verbais presentes na proposta - “observe as imagens” - direciona a leitura visual às

duas fotografias a fim de desenvolver a capacidade de observação, inclusive o próprio

conteúdo da legenda com indicação de leitura nas fotos esquerda e direita,

relacionando-as com dois momentos: o anterior e o posterior nos registros

fotográficos.

Acreditamos que a recuperação do tempo e do espaço sócio-histórico do

enunciado é um dos princípios de base numa proposta efetiva de desenvolvimento da

reflexão e criticidade.

Ao finalizar esta análise, procuramos responder à terceira pergunta de

pesquisa: Que capacidades são mobilizadas nas atividades referentes aos gêneros

multimodais na coleção?

Acreditamos que a maioria das atividades analisadas não oportuniza reflexões

mais profundas sobre as imagens nelas dispostas. Neste sentido, percebemos que a

proposta didática trata de capacidades de compreensão em um nível mais básico,

mais elementar, se restringem a localizar e reconhecer informações em textos simples

ou tecer comparações a partir de seu conhecimento de mundo (PAES DE BARROS,

2012, p. 5).

Outro fator que nos chama a atenção é que a maioria das atividades visa a

reprodução da manutenção de um único ponto de vista, de uma única perspectiva – o

dos autores didáticos, ou dos historiadores – sem propor outros vieses na elaboração

de questionamentos como, por exemplo, realizar atividades em que o próprio aluno

proponha questões aos enunciados verbais e, principalmente, visuais a partir de seus

saberes, sua realidade de vida.

De todas as atividades analisadas, em certa medida, percebemos que somente

uma atividade orienta-se na perspectiva de abordagem mais próxima do

desenvolvimento da reflexão crítica. No caso, atividade número 05 da seção de

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“Atividades”, “Explorando o conhecimento”, capítulo 5, unidade 1, volume 3

reprodução de tela, pintura a óleo “A face da guerra”, de Salvador Dalí de 1940

(BRAICK & MOTA, 2013, 2010, Vol. 3, p. 88).

Nesta atividade, há duas perguntas direcionadas aos conhecimentos ou

experiências extraescolares do aluno-leitor. Estas duas perguntas estão didatizadas

em favor da abertura à voz e à vez do aluno-leitor oportunizando a este leitor,

situações didáticas de reflexões e posicionamento em relação ao conhecimento

histórico ilustrado. Em certa medida, as autoras convocam o leitor a ponderar sobre

as imagens e tomar um posicionamento no texto visualizado na atividade. Há de se

notar que tal posicionamento não está desconectado do conteúdo histórico escolar

trabalhado anteriormente através das imagens ilustrativas: a Segunda Guerra

Mundial. Por consequência, distanciam de um encaminhamento de proposta leitora

voltada ao objeto do discurso historiográfico e ao desenvolvimento de situações

didáticas leitoras que considere somente as capacidades de leitura literal dos textos

(ROJO, 2009, p. 47); em certa medida, tomam uma orientação de abordagem da

leitura à luz das capacidades críticas e mais cidadãs, mais condizentes com a

educação problematizadora e emancipadora freiriana como também com a educação

vygotskyana focada na valorização do sujeito sócio-histórico.

Por fim, refletimos com Vygotsky que

(...) o estudo da História; nesse caso, a tarefa do professor, como a de costume, é elaborar nos alunos o conhecimento mais nítido e preciso possível dos fatos, teses e leis da história. Mas é precisamente para atingir o conhecimento abstrato que se torna útil levar os alunos a desenharem mapas, esculpirem modelos de edificações antigas, reproduzirem o vestiário e o armamento. Daí surge uma atividade de trabalho muito complexo para os alunos, mas a orientação da educação e sua aspiração básica permanece o tempo todo fora do

trabalho (VYGOTSKY, 1926/2004, p. 248).

Adequando a reflexão do autor ao nosso tempo, defendemos, ainda, que, a

leitura de mapas, reproduções de edificações, vestuários e armamentos de época,

através da leitura de imagens pode contribuir sobremodo para o desenvolvimento da

compreensão dos fatos e registros históricos pelos estudantes.

Na seção a seguir, apresentamos as nossas considerações finais deste

trabalho.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao refletir sobre o ensino-aprendizagem de História, partimos da ideia de que

o seu ensino tem como pilar básico a formação para a cidadania que possibilite ao

estudante entender a sociedade em que vive como fruto da ação sócio-histórica

humana, que se faz, refaz e ressignifica-se num processo dotado de historicidade.

Acreditamos que uma coleção de Livro Didático de História possa ser um bom

instrumento mediador para o desenvolvimento dos letramentos necessários para a

contemporaneidade, através dos textos verbais e não verbais ali presentes, e

considerando que o domínio dos letramentos visual e multimodal são uma questão de

sobrevivência e convivência, especialmente na vida cotidiana e no trabalho,

acreditamos que um trabalho que colabore para desenvolver as capacidades de

reflexão sobre os contextos históricos, sociais e culturais, contribua fortemente para

uma formação voltada para o desenvolvimento de sujeitos preparados para o

exercício da cidadania.

Na nossa trajetória de vida como professor de História, deparamo-nos com a

defesa da historiadora e pesquisadora Terra (1997), que também utiliza do aporte

teórico de Bakhtin (1929; 1934-35; 1938; 1952-53), referente à linguagem, como um

fundamento que auxilia a ampliar os estudos das demais áreas das Ciências

Humanas, especialmente no ensino aprendizagem da História, alicerçando-os na

integração entre as áreas de Ciências Humanas e linguagens entre os componentes

curriculares História, Artes e Língua Portuguesa.

Assim, buscamos a compreensão das relações discursivas empregadas nas

atividades presentes em uma coleção de livro didático de História de Ensino Médio, à

luz da teoria das capacidades de leitura de textos multimodais, cunhadas por Paes de

Barros (2009), teóricos do letramento crítico (Freire, 1970; Freire & Macedo, 1987;

Shor, 1999; Luke, 2000), assim como da teoria de ensino-aprendizagem sócio-

histórica de Vygotsky (1930; 1934, 2010).

Dessa forma, a presente pesquisa procurou responder às seguintes perguntas:

1. Quais gêneros multimodais estão presentes em uma coleção de livros didáticos

de História do 1º ao 3º ano do Ensino Médio?

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2. Dos gêneros encontrados, quais são trabalhados nas atividades?

3. Que capacidades são mobilizadas nas atividades referentes aos gêneros

multimodais na coleção?

Para responder à primeira pergunta de pesquisa, pudemos constatar que,

dentre os 766 gêneros multimodais presentes na coleção de livros pesquisados, 326,

ou seja, 42% correspondem ao gênero fotografia, e 92, ou seja, 12% correspondem

ao gênero mapa histórico, seguidos do gênero gravura com 61 de ocorrências (8%) e

pintura com 51 incidências, perfazendo 6,5%, seguindo-se de outros gêneros com

menor número de ocorrências.

Percebemos, nesses dados, a variedade de gêneros que compõem a coleção,

chamando-nos à atenção as relações e aproximações entre alguns gêneros da

pintura, especificamente, as similaridades entre pinturas, óleo sobre tela, quadro com

tela, pintura e ícone (pintura sobre madeira); iluminuras e miniaturas; ou entre a

aquarela e a pintura. Outra reflexão surgiu desse dado: a característica de que muitos

retratos de figuras ou heróis históricos eram retratados por artistas. Nesse sentido, as

reproduções de pinturas estão presentes em muitos gêneros multimodais da pintura:

reprodução em tela, quadro, óleo sobre tela, retrato, alegoria, pintura em tumba,

pintura rupestre, grafite, ícone – pintura em madeira -, aquarela, mosaico, afresco e

mural. Assim, essa variedade de gêneros de pintura foi agrupada neste trabalho e

tomada como um gênero, a que intitulamos, reproduções de pinturas, em seu sentido

amplo, como concebido no ‘Guia do Programa Nacional do Livro Didático de História’,

seguido pelas autoras da coleção estudada, no Manual do Professor.

Considerando-se, então, o gênero reproduções de pinturas em seu sentido

amplo, os dados analisados referentes à segunda pergunta - “Dos gêneros

encontrados, quais são trabalhados nas atividades?”, Vimos que a coleção traz

reproduções de pinturas com 29,5% e fotografias, com 26,2%, com maiores

incidências, seguidos de gravuras com 8,1%, mapas históricos com 6,5% do total dos

dados coletados. Ao observar esses dados, vemos que os gêneros multimodais ali

presentes implicam questões sócio-históricas discursivas próprias da esfera de

produção do livro didático de História. No caso, esses entrelaçamentos discursivos

são oriundos de antigos manuais escolares franceses produzidos pela Editora Lavisse

que se caracterizavam por:

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[...] estabelecer a relação entre a palavra escrita e as imagens. Para isso, em seus livros para a escola primária francesa no fim do século XIX, apresentou uma série de imagens acompanhadas de exercícios e atividades cuja finalidade principal era o reforço para uma “memória

histórica” (BITTENCOURT, 2005, p. 69).

Concordando com a autora, percebemos que a utilização das imagens tem o

objetivo de reforçar um conteúdo ou saber histórico. Constatamos o que a autora já

havia observado em obras didáticas de História das últimas décadas, nos quais a

inclusão de imagens [...] serviriam ainda para facilitar a memorização dos conteúdos

(BITTENCOURT, 1993, p. 75).

Nas nossas análises, observamos que as autoras realizam um tratamento

didático mais focado na dimensão verbal, pois orientam o aluno a realizar leituras

voltadas à identificação, localização das informações verbais do texto verbal escrito.

O texto visual é mais utilizado como ilustração, para a revisão e reforço de informações

verbais ou vinculadas ao conhecimento histórico.

Tal trabalho volta-se quase que exclusivamente ao aspecto de seleção e

interpretação da informação verbal, deixando à parte outras dimensões de leitura e

desenvolvimento de capacidades de observação dos elementos visuais.

Nessas atividades, as possibilidades de reflexão e discussão dos elementos

pictóricos poder-se-iam ligar aos dados históricos e contribuir de modo mais eficaz

para a apreensão dos significados.

No transcorrer do processo de construção desta pesquisa, na etapa de

catalogação de todos os gêneros multimodais presentes na coleção, seguida da

catalogação daqueles trabalhados especificamente na seção de atividades,

observamos lacunas no que se refere ao desenvolvimento de uma perspectiva

didática que considere a dimensão dos gêneros multimodais presentes na

composição do livro. Esta dimensão, em nosso entendimento, é de grande

importância nos tempos atuais em que o aluno produz, lê e recebe uma gama enorme

de informações visuais, muitas vezes de modo acrítico e a-histórico.

Nesse contexto, defendemos um trabalho pedagógico com a leitura das

imagens que vise ao desenvolvimento de capacidades que colaborem para uma

compreensão mais atenta e crítica dos textos contemporâneos. Sua utilização no

ensino-aprendizagem da História a partir da compreensão de que há capacidades de

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leitura a serem desenvolvidas quando trabalhamos com textos multimodais (PAES DE

BARROS, 2009, 2011, 2012). Entendemos que o trabalho pedagógico da leitura

nessas dimensões contribui para o desenvolvimento do letramento visual dos alunos

e para o aprimoramento de capacidades que colaboram para o aluno compreender e

utilizar os textos, enunciados, discursos de modo mais crítico, o que contribuiria para

a tão propalada formação para a cidadania.

Em nossas reflexões, ao observar os nossos construtos teóricos e dados

coletados concluímos, com Bittencourt (1997), que no currículo de História: as

mudanças mais significativas surgem com propostas que ordenam o conhecimento

histórico por temas, sejam os originários de temas geradores, segundo os

pressupostos freirianos (BITTENCOURT, 1997, p. 16).

Rojo (2010) assevera que se deve ensinar os alunos a constantemente ler o

mundo criticamente para compreender os interesses culturais divergentes que

informam significações e ações, suas relações e suas consequências (ROJO, 2010,

p. 14).

O ato de ler o mundo criticamente está o relacionado à leitura de mundo

freiriana. E, igualmente a uma prática leitora mais crítica das modalidades de

linguagens constitutivas dos textos multimodais.

Acreditamos que o ensino-aprendizagem de História deve ter como premissa

orientar o aluno a problematizar as razões pelas quais determinadas classes sociais,

etnias, minorias, relações de poder estão ausentes e certas outras se fazem

presentes. Mais do que somente questionar a presença das imagens, deve-se levar o

aluno a posicionar-se de forma que possa questionar as vozes apagadas ou

silenciadas.

Ao observar o tratamento didático das imagens apresentadas na coleção

estudada, concluímos que os livros podem ter um papel social de meros reprodutores

de modelos culturais, que revozeiam discursos direcionados à estabilização e

manutenção do poder.

Concordamos com Freire e Macedo (1987) quando afirmam: Por “reprodução

cultural”, nos referimos às experiências coletivas que funcionam no interesse dos

grupos dominantes, e não no interesse dos grupos oprimidos que são o objeto destas

políticas (FREIRE & MACEDO, 1987, p. 98).

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Refletir sobre as políticas públicas que direcionam somas vultosas de recursos

− como é o caso dos Programas de avaliação, compra e distribuição de Livros

Didáticos (PNLD) e (PNLEM) do Governo Federal brasileiro – e o ensino-

aprendizagem que de fato promovem, é de caráter urgente.

Para além disso, também se faz necessário refletir sobre a formação dos

professores de História, uma vez que são eles os agentes do ensino-aprendizagem.

Finalizando este estudo, novos questionamentos se apresentam, para futuras

investigações: que uso os docentes têm feito desse material? Ainda se reproduzem

metodologias escolares sacralizadas como a cópia e a memorização de datas e fatos

históricos? A tecnologia disponível tem tido espaço nas aulas das escolas públicas

brasileiras? Os professores estão preparados para os textos, gêneros e discursos

carregados de multimodalidade, presentes no cotidiano? Sabem fazer uso desses

recursos para as suas aulas?

Estes são alguns dos questionamentos que se descortinaram na elaboração

desta pesquisa. Muitos outros se desvelam na corrente discursiva das reflexões que

têm como foco a educação no Brasil. Por fim, tanto com Vygotsky e principalmente

com Freire, defendemos o ensino-aprendizagem da História à luz do sujeito sócio-

histórico, uma vez que, acreditamos no saber da História como possibilidade e não

como determinação. [...] Não sou apenas objeto da História, mas seu sujeito

igualmente (FREIRE, 2000, p. 30).

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