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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO LENIR TOMAZELI FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA NO PRIMEIRO CICLO: ANÁLISE DO PROJETO DE ESTUDOS E INTERVENÇÕES PEDAGÓGICAS EM UMA ESCOLA PÚBLICA DE CÁCERES- MT CUIABÁ - MT 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

LENIR TOMAZELI

FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA

NO PRIMEIRO CICLO: ANÁLISE DO PROJETO DE ESTUDOS E

INTERVENÇÕES PEDAGÓGICAS EM UMA ESCOLA PÚBLICA DE CÁCERES-

MT

CUIABÁ - MT

2018

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LENIR TOMAZELI

FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA

NO PRIMEIRO CICLO: ANÁLISE DO PROJETO DE ESTUDOS E

INTERVENÇÕES PEDAGÓGICAS EM UMA ESCOLA PÚBLICA DE CÁCERES-

MT

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação da

Universidade Federal de Mato Grosso como requisito para obtenção

do título de Mestre em Educação, Linha de Pesquisa Educação em

Ciências e Matemática.

Orientadora: Prof.ª Drª Rute Cristina Domingos da Palma

CUIABÁ - MT

2018

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Ficha Catalográfica

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Dedico essa conquista, com

todo meu amor e gratidão, a

meus pais, Ledina e Alfonso,

que sempre acreditaram,

incentivaram, apoiaram e

oraram por mim.

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AGRADECIMENTOS

A DEUS...

Pai da Divina Providência, que sempre me atendeu, protegeu, guardou, sustentou,

livrando-me de todo mal, estando comigo em todos os momentos, a ti meu amor e gratidão.

“Sois meu refúgio e minha fortaleza, meu Deus, em quem eu confio” (Salmo 90, 2).

Contigo aprendi que devo “render graças, sem cessar [...]” (Efésios 5, 20). Por isso

agradeço em especial:

À minha família, meu bem maior... Fui agraciada em ter vindo ao mundo sob os

cuidados da melhor família que um ser humano poderia ter. Pai e mãe, sou resultado

da soma do que há de melhor em vocês dois. Leônea, Lenildo, Luzia e Leidiane, irmãos abençoados. Temos tudo em comum e dividimos sempre o que temos com

alegria o que nos dá a certeza de que podemos enfrentar o que vier porque teremos

sempre o apoio uns dos outros. Hellen, Weder, Aline, Vitória, Valentina, Vitor e

Lorenzo, sobrinhos a quem amo como os filhos que sempre desejei, mas que não pude

ter. O mesmo sinto por Sofia, minha sobrinha neta, que ainda não conheço

pessoalmente, porém já ocupa um espaço no meu coração. Amo muito cada um e

“agradeço a meu Deus toda vez que me lembro de vocês” (Filipenses 1:3).

À minha orientadora, professora doutora Rute Cristina Domingos da Palma. Com

Deus aprendi que “O ensino dos sábios é fonte de vida e afasta o homem das armadilhas da

morte” (Provérbios 13:14). Foram muitos os ensinamentos proporcionados por ti nesses

dois anos de convivência, tanto na carreira profissional quanto os ensinamentos que

levarei por toda minha existência. Você me mostrou uma nova maneira de olhar a

vida. Com toda certeza, com sua contribuição, não sou mais a mesma de quando

ingressei no mestrado. Obrigada por ter acreditado que eu era capaz.

Às professoras doutoras Gladys Denise Wielewski, banca interna e Loriége Pessoa

Bitencourt, banca externa. Deus me disse, “Ouça conselhos e aceite instruções, e

acabará sendo sábio” (Provérbios 19:20), assim fiz e sempre farei. Obrigada por

participarem da banca examinadora deste trabalho e contribuírem com orientações

pelas quais foi possível finalizá-lo.

À minha amiga, companheira em todos os momentos, Adália Silva Castrillon, por tudo que fez e faz por mim e minha família. “Um amigo fiel é uma poderosa proteção:

quem o achou, descobriu um tesouro. Nada é comparável a um amigo fiel, o ouro e a

prata não merecem ser postos em paralelo com a sinceridade de sua fé. Um amigo fiel

é um remédio de vida e imortalidade; quem teme ao Senhor, achará esse amigo. Quem

teme ao Senhor terá também uma excelente amizade, pois seu amigo lhe será

semelhante” (Eclesiático 6:14-17). Tenho certeza de que você, minha amiga, é o tipo

de amiga descrita nesta escritura.

Às minhas amigas e colegas de trabalho Soninha, Marisa, Elisana e Edilaine,

obrigada por me ajudarem a iniciar o mestrado, praticamente me obrigando a fazer

a inscrição. Obrigada pelos conselhos, apoio, segurança e por confiarem em mim.

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Às meninas da 65a ... Deus disse que “é melhor ter companhia do que estar sozinho,

porque maior é a recompensa do trabalho de duas pessoas. Se um cair, o amigo pode

ajudá-lo a levantar-se!” (Eclesiastes 4: 9). Obrigada pelo carinho, cuidado,

orientação e por me ajudarem a concluir o mestrado (sem vocês não teria

conseguido). Vocês foram muito importantes para mim nessa fase da minha vida. Sala

65a, laboratório humano de aprendizagens. Lugar onde, durante dois anos,

compartilhei risos, choros, medos, comilanças, ansiedades... e que ficará para sempre

na minha memória.

À minha irmã gêmea do mestrado Marcela Bonet Becher Shavaren, pessoa mais que especial, com quem partilhei medos, superações e lágrimas (muitas lágrimas) ...

Obrigada por ter sido uma fortaleza que fez com que eu me sentisse protegida.

À todos os Colegas de turma do mestrado, em especial ao que se tornou um amigo irmão, Benedito Eduardo. Obrigada meu amigo pelos cuidados e mimos (cajá manga,

manga, bocaiúvas, etc.).

À todos que direta ou indiretamente colaboraram para a realização deste trabalho.

Enfim, sou grata a Deus por ter colocado cada um de vocês no meu caminho. “Até

aqui nos ajudou o Senhor”. (1 Samuel 7:12).

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RESUMO

Este estudo tem como objeto a formação continuada, especificamente a política de formação

continuada do Estado de Mato Grosso, denominada Projeto de Estudo e Intervenção

Pedagógica (PEIP). O PEIP foi implementado em 2016, prevendo estudos e projetos voltados

para a superação das dificuldades dos alunos detectadas nas avaliações externas e internas de

língua portuguesa e matemática, focando nas necessidades de aprendizagens dos alunos.

Buscamos responder a seguinte questão problema: “como a formação continuada PEIP foi

concebida, desenvolvida e avaliada por professores que ensinam matemática no primeiro ciclo

em uma escola estadual do município de Cáceres-MT”. Nosso objetivo constitui-se em

analisar como os professores compreenderam, desenvolveram e avaliaram as ações que

envolveram os conhecimentos matemáticos no PEIP. Temos ainda a intenção de identificar a

percepção das professoras sobre os estudos teóricos realizados; compreender quais foram as

relações estabelecidas pelas professoras entre as avaliações internas, externas e as ações do

PEIP; identificar como as professores relacionaram os estudos e projetos realizados no PEIP

com suas necessidades formativas e dos alunos e identificar quais foram os dilemas, os

conflitos e as aprendizagens manifestadas pelos professores na participação da formação

continuada PEIP. A pesquisa se caracteriza numa perspectiva qualitativa do tipo estudo de

caso, referendada por André (1995), Ludke e André (1986), Gonzáles Rey (2015) e Fioretini

e Lorenzato (2012). Dentre as principais contribuições teóricas destacam-se Gatti e Barreto

(2009), Imbernóm (2010) e Fiorentini e Nacarato (2005) nas discussões sobre formação

continuada e D’Ambrósio (1993, 1996), Fiorentini (1995), Chacón (2003), Nacarato (2013),

Darsie (1999), Palma (2011), Palma e Darsie (2013), Moura (2002, 2007, 2011) e Moretti

(2015) nas discussões sobre os processos de ensino-aprendizagem da matemática. A pesquisa

foi realizada com cinco professoras alfabetizadoras em uma escola da rede estadual do

município de Cáceres-MT. Para a produção de dados utilizamos entrevistas, caderno de

campo, observações, cadernos dos alunos, cadernos de registros avaliativos, planejamentos,

etc. Os resultados indicam que as professoras conceberam que a dinâmica não favoreceu o

protagonismo docente nem possibilitou o fortalecimento da escola enquanto lócus de

formação, pois foi a formação foi na e não da escola. O PEIP foi marcado por uma série de

ações inconclusas, desconsiderando as necessidades formativas, contrariando as expectativas,

ocasionando avaliação negativa da formação continuada. Isso denotou desrespeito com o

tempo e esforços empenhados na realização da formação. Destacamos que o PEIP, vinculado

à Avaliação Diagnóstica do Ensino Público Estadual de Mato Grosso (ADEPE-MT), cujos

resultados não foram compatíveis com as avaliações internas realizadas no primeiro ciclo,

especificamente as de matemática, devido às complexidades do ato de avaliar, pois as

intencionalidades e concepções de ensino-aprendizagem das professoras não coincidem com

as da Secretaria de Educação do Estado de Mato Grosso (SEDUC-MT), representou mais uma

tentativa de controlar o que é ensinado na escola. Diante de todos os conflitos e dificuldades

próprias do modelo de formação tecnicista, as professoras vivenciaram ainda o dilema de optar

entre fazer uma formação que não concordam ou serem prejudicadas na atribuição de aulas.

Palavras – chave: Formação Continuada, Educação Matemática, Ensino-aprendizagem

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ABSTRACT

The purpose of this study is the continued formation, specially politic of continued formation

of Mato Grosso State named Project of Studying and Pedagogic Intervation (PEIP). This

Project was implemented in 2016, predicting studying and projects with a vew to overcoming

difficulties of students in the outside and inside evaluations of Portuguese and Mathematic,

focus on the necessities of the students learning. We looking for answering specially the

following question: “how the continued formation PEIP was understood, developed and

evaluated by teachers that teach mathematic in the first cycle in a state school in Cáceres-

MT”.Our purpose consist in to analyze how the teachers understood, developed and avaluated

the actions that involved the mathematic learning in the PEIP. We still intend to identify the

perception of the teachers about theoretical studies realized; comprehend how were the

relationship established between the outside and inside evaluations and the actions of the

PEIP; to identify how the teachers relationship with the studies and the projects realized in the

PEIP with their formative needs as like the students and identify how were the doubts, the

conflicts and the learning presented by the teachers in the participation of the continued

formation PEIP. The search characterize in the qualitative perspective of the kind case

studying, to referred by André (1995), Ludke and André (1986), Gonzáles Rey (2015) and

Fioretini and Lorenzato (2012). Among the main theorical contributions we emphasize Gatti

and Barreto (2009), Imbernóm (2010) and Fiorentini and Nacarato (2005) in the discussions

about continued formation and D’Ambrósio (1993, 1996), Fiorentini (1995), Chacón (2003),

Nacarato (2013), Darsie (1999), Palma (2011), Palma and Darsie (2013), Moura (2002, 2007,

2011) and Moretti (2015) in the discussions about the teaching-learning process of

mathematics. The research was realized with five literacy teachers in a state school in Cáceres-

MT. For the production of the data we used interviews, daily notebook, observations, students

notebooks, evaluated record notebooks, plannings, etc, The results indicate that the teachers

understood the PEIP like an technicalist formation, because was used a dynamic that favored

neither the protagonism of the teachers nor possibilited the strengthening of the school as

formation locus, because was in and not from the school. The PEIP, was marked by a series

of unfinished actions and that was disregard their formative necessities, contradicting their

expectations, causing negative evaluation of the continued formation. It denoted disrespect

about the time and efforts engaged in the accomplishment of the formation. We emphasize

that the PEIP, linked to the Diagnostic Evaluation of the Public Teaching of Mato Grosso

(ADEPE-MT), whose results were not compatible with the inside evaluation did in the first

cycle, specially of the mathematics because the complexity of the evaluation considering that

the objectives and conceptions of the teaching-learning of the teachers do not coincide with

the State Secretary of Education of Mato Grosso (SEDUC), it presented one more tentative

of control that is taught in the school. In the face of all these conflicts and own difficulties of

the model of thecnicalist formation, the teachers lived the doubt about to opt between do a

formation that do not agree or to be prejudiced in the classes assignment.

Key-words: Continued Formation, Mathematics Education, Teaching-Learning.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Organograma representativo da formação hierarquizada .................................... 32

Figura 2 - Organograma representativo de formação cujo centro é o aluno ......................... 33

Figura 3 - Perspectivas de ensino-aprendizagens tradicionais ............................................. 41

Figura 4 - Critério para contagem de pontos no formulário de seleção de professores em

2014, para os anos letivos de 2015 e 2016 no quesito frequência ........................

72

Figura 5 - Critério para contagem de pontos no formulário de seleção de professores em

2016, para o ano letivo de 2017 no quesito frequência ........................................

72

Figura 6 - Critério para contagem de pontos no formulário de seleção de professores em

2017, para o ano letivo de 2018 no quesito frequência ........................................

72

Figura 7 - Critério para contagem de pontos no formulário de seleção de professores 2015

publicado em 7 de novembro de 2014 .................................................................

76

Figura 8 - Caderno de aluno do 1º ano – Professora Jade ..................................................... 81

Figura 9 - Caderno de aluno do 2º ano – Professora Pérola .................................................. 82

Figura 10 - Caderno de aluno do 2º ano – Professora Ágata ................................................ 82

Figura 11 - Caderno de aluno do 3º ano – Professora Rubi .................................................. 82

Figura 12 - Caderno de aluno do 3º ano com dificuldades de aprendizagem ....................... 82

Figura 13 - Gráfico representativo dos resultados da ADEPE-MT turma da professora

Ágata ................................................................................................................

111

Figura 14 - Gráfico representativo dos resultados da ADEPE-MT turma da professora

Pérola ...............................................................................................................

111

Figura 15 - Registro avaliativo da professora Ágata – 1º bimestre 2016 ............................. 115

Figura 16 - Gráfico resultado avaliação ADEPE X avaliação da aprendizagem da

professora Ágata ...............................................................................................

116

Figura 17 - Caderno da coordenadora Turquesa ................................................................. 120

Figura 18 - Caderno da coordenadora Turquesa ................................................................. 120

Figura 19 - Caderno da professora Jade .............................................................................. 121

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Números de professores alfabetizadores da rede estadual de Cáceres-MT........ 24

Quadro 2 - Atribuições dos atores da formação continuada PEIP conforme portaria

161/2016/SEDUC/MT ......................................................................................

28

Quadro 3 - Concepção de Matemática segundo Chácon (2003) .......................................... 38

Quadro 4 - Caracterização das professoras ......................................................................... 57

Quadro 5 - Siglas dos instrumentos para análises ................................................................ 62

Quadro 6 - Textos indicados na portaria 161/2016/SEDUC-MT para a etapa de estudos.... 66

Quadro 7 - Cronograma de estudos do PEIP na escola Gemas ............................................ 73

Quadro 8 - Valores pago pela SEDUC-MT à empresa pertencente ao grupo Falconi pelo

serviço prestado ................................................................................................

105

Quadro 9 - Conteúdos registrados por Jade e Ágata no diário de classe (Sistema eletrônico

Sigeduc) no primeiro bimestre de 2016 .............................................................

126

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LISTAS DE SIGLAS

ADEPE/MT Avaliação Diagnóstica do Ensino Público do Estado de Mato Grosso

ANA Avaliação Nacional da Alfabetização

CAED Centro de Políticas e Avaliação da Educação

CEFAPRO Centro de Formação e Atualização dos Profissionais da Educação

CEP Comitê de Ética em Pesquisa

ENEM Encontro Nacional de Educação Matemática

GeoGebra Software matemático que reúne geometria, álgebra e cálculo

MEC Ministério de Educação e Cultura

NAIADE Núcleo de Avaliação, Investigação e Análise de Dados Educacionais

NDPE Núcleo de Desenvolvimento Profissional na Escola

PEIP Projeto de Estudos e Intervenções Pedagógicas

PNAIC Pacto Nacional da Alfabetização na Idade Certa

PPP Projeto Político Pedagógico

PSE Projeto Sala de Educador

SAEB Sistema de Avaliação da Educação Básica

SEDUC-MT Secretaria de Educação do Estado de Mato Grosso

SEMIEDU Seminário de Educação

SUFP Superintendência de Formação dos Profissionais da Educação

UFJF Universidade Federal de Juiz de Fora

UFMT Universidade Federal de Mato Grosso

UNEMAT Universidade Estadual de Mato Grosso

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.................................................................................................... 14

1 O CONTEXTO DA FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES

NO BRASIL .........................................................................................................

18

1.1 Panorama da Formação Continuada no Brasil ................................................. 18

1.2 A formação continuada de professores que ensinam matemática no primeiro

ciclo .......................................................................................................................

21

1.2.1 A formação continuada em rede nacional .............................................................. 22

1.2.2 Políticas de Formação continuada em Mato Grosso: do Projeto Sala de Educador

ao PEIP ..................................................................................................................

25

2 SOBRE APRENDER E ENSINAR MATEMÁTICA NO PRIMEIRO

CICLO: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES ........................................................

36

2.1 Concepções de matemática e de ensino aprendizagem da matemática............. 36

2.2 A matemática no primeiro ciclo .......................................................................... 44

3 CAMINHO METODOLÓGICO DA PESQUISA ............................................ 52

3.1 Tipo de pesquisa ................................................................................................... 52

3.2 O contexto e os participantes da pesquisa .......................................................... 53

3.2.1 Perfil das professoras colaboradoras ...................................................................... 55

3.3 Os instrumentos e procedimentos de produção de dados ................................. 58

3.4 Procedimentos de análise de dados ..................................................................... 62

4 FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORAS QUE ENSINAM

MATEMÁTICA NO PRIMEIRO CICLO NO PEIP .......................................

65

4.1 Eixo Temático 1 - Dinâmica da etapa de estudos coletivos na escola

Gemas....................................................................................................................

65

4.1.1 A seleção dos textos e o papel do coordenador pedagógico.................................... 66

4.1.2 Da frequência ......................................................................................................... 70

4.1.3 Cronograma dos encontros – o estudo prescrito e o estudo realizado ..................... 73

4.1.4 Da condução dos encontros .................................................................................... 77

4.1.5 Da retomada pós-greve .......................................................................................... 78

4.1.6 Do GeoGebra – mudança de rumo ......................................................................... 79

4.1.7 Algumas considerações sobre a organização da etapa de estudos coletivos............ 84

4.2 Eixo Temático 2 - Como as professoras conceberam, desenvolveram e

avaliaram a formação continuada PEIP em 2016 ..............................................

86

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4.2.1 Sobre a organização e condução da formação ........................................................ 87

4.2.2 Do descompasso entre o PEIP e o que as professoras esperavam de uma formação

continuada .............................................................................................................

93

4.2.3 Percepções e sentimentos em relação a formação continuada PEIP ....................... 98

4.3 Eixo Temático 3 – Percepções das professoras sobre a avaliação externa

ADEPE e internas nas ações do PEIP .................................................................

108

4.3.1 Das Avaliações Externas nas vozes das professoras que ensinam matemática no

primeiro ciclo.........................................................................................................

108

4.3.2 Das Avaliações Internas......................................................................................... 113

4.3.2.1 Dos registros avaliativos ........................................................................................ 118

4.3.2.2 Das dificuldades detectadas ................................................................................... 122

4.3.3 A relação entre as avaliações externas e as avaliações internas .............................. 125

4.3.4 Reflexões sobre as implicações das Avaliações Externas no processo ensino-

aprendizagem ........................................................................................................

129

CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................. 134

REFERÊNCIAS................................................................................................... 140

ANEXOS............................................................................................................... 145

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INTRODUÇÃO

A formação continuada de professores no Brasil, que até a década de 1990 era sinônimo de

cursos de reciclagem, treinamento, capacitação, atualização, pautados na racionalidade técnica,

onde os professores não passavam de executores de propostas externas, foi sendo substituída por

novos modelos de formação, como por exemplo, a ideia de formação continuada como

desenvolvimento profissional tendo a reflexão sobre a prática como princípio, colocando em

destaque o protagonismo do professor, a formação centrada no fortalecimento institucional e a

formação em rede.

Os professores que atuam no ciclo da alfabetização, que em Mato Grosso é denominado de

primeiro ciclo, têm sido contemplados com a formação continuada em rede, criada pelo Ministério

de Educação e Cultura (MEC).

No Estado de Mato Grosso, das formações em rede, foi proporcionada de 2005 a 2009 o

Pró-Letramento e de 2013 a 2016 o Pacto Nacional da Alfabetização na Idade Certa (PNAIC1), que

abrangiam as escolas das redes municipais e estaduais em todos os estados do Brasil. Estas

propostas visavam a melhoria no processo de ensino-aprendizagem da leitura, escrita e da

matemática.

Como orientadora de estudo do Pró-Letramento e do PNAIC – matemática no período de

2013 a 2015 no município de Cáceres – MT, o interesse pelas discussões sobre formação

continuada tem se intensificado a partir do diálogo com os professores do primeiro ciclo e reflexões

acerca das possíveis contribuições para a prática educativa, especificamente na área da matemática.

Nas formações em matemática, os professores do primeiro ciclo, geralmente relatam

aspectos semelhantes quanto a escolaridade e a formação inicial. As narrativas indicam que a

maioria teve uma formação em matemática desvinculada da realidade, com ênfase nos cálculos e

na aprendizagem das técnicas operatórias. E que os cursos de formação inicial não possibilitaram

aprender os conteúdos e as metodologias necessárias para a docência nos anos iniciais. Sendo

assim, é importante ouvir o que esses professores têm a nos dizer, o que aprendem e sentem nos

1 A formação continuada PNAIC, proposto pelo MEC aos professores das escolas públicas que atuam nos três

primeiros anos do Ensino Fundamental, denominado ciclo de alfabetização, tinha por objetivo que as crianças fossem

alfabetizadas em, no máximo, até aos 8 anos de idade.

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processos de formação continuada e como mobilizam os conhecimentos profissionais para ensinar

matemática.

Por ter2 vivenciado as mesmas dificuldades que as professoras relatavam diante das

mudanças que nos desafiavam e causavam inquietações surge o interesse em ingressar no mestrado

em 2016 e os motivos que justificam a produzir este trabalho estão relacionados com minha

atividade profissional, pois sempre estive envolvida com a formação continuada, primeiro como

professora alfabetizadora, de 1989 a 2008, depois como professora formadora responsável pela

área da alfabetização no pólo de Cáceres-MT, de 2009 a 2015.

No Estado de Mato Grosso, os professores do primeiro ciclo da rede estadual, além de

participarem das formações específicas para a alfabetização ofertadas pelo MEC, participam

também da formação continuada desenvolvida na própria escola.

Em 2016, a Secretaria de Educação do Estado instituiu uma nova proposta de formação,

substituindo o Projeto Sala de Educador pelo Projeto de Estudo e Intervenções Pedagógicas (PEIP)

destinado aos docentes e o Projeto de Formação Continuada dos Profissionais Técnicos e Apoio

Administrativo Educacionais (PROFTAAE) para os demais funcionários, e cria o Núcleo de

Desenvolvimento Profissional na Escola (NDPE), conforme Portaria 161/2016/GS/SEDUC-MT,

publicada em Diário Oficial no dia 14 de Abril de 2016.

O PEIP teve como objeto a formação de professores e foi previsto a realização de estudos,

pesquisas e os projetos de intervenção pedagógica que deveriam ter foco na análise de necessidades

de aprendizagem dos estudantes, visando a superação das dificuldades diagnosticadas ou

potencializar a aprendizagem discente, permitindo, também, a aprendizagem docente.

Deste contexto emergiram alguns questionamentos: como foi a dinâmica de formação PEIP

nas escolas? Seguiu ritmo próprio respeitando o contexto e a diversidade ou foi padronizada para

todo o Estado? A formação continuada atendeu as expectativas das professoras3 do primeiro ciclo?

Qual foi o papel do professor do primeiro ciclo nessa modalidade de formação, protagonista ou

apenas executor? Quais necessidades de aprendizagens dos estudantes em matemática foram

2 Em alguns momentos, na introdução, utilizarei a primeira pessoa do singular, pelo fato deste texto tratar sobre a

trajetória profissional da pesquisadora. 3 Como as participantes da pesquisa são todas do sexo feminino, fizemos a opção de chamá-las de professoras. Quando

usarmos o termo professores, estaremos nos referindo ao grupo maior, incluindo os demais professores que

participaram da formação juntamente com nossas interlocutoras.

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detectadas pelos professores do primeiro ciclo? Quais medidas foram tomadas para superar as

dificuldades detectadas?

A partir desses questionamentos delineamos o nosso problema de investigação: como a

formação continuada PEIP foi concebida, desenvolvida e avaliada por professores que ensinam

matemática no primeiro ciclo em uma escola estadual do município de Cáceres-MT?

Temos como objetivo geral analisar como os professores compreenderam, desenvolveram

e avaliaram as ações que envolveram os conhecimentos matemáticos no Projeto de Estudo e

Intervenções Pedagógicas (PEIP).

Para atingir nosso objetivo geral na pesquisa, estabelecemos os seguintes objetivos

específicos:

Identificar a percepção das professoras sobre os estudos teóricos realizados.

Compreender quais foram as relações estabelecidas pelos professores entre as avaliações internas, externas e as ações do PEIP.

Identificar como os professores relacionavam os estudos e projetos realizados no PEIP com suas necessidades formativas e dos alunos.

Identificar quais foram os dilemas, os conflitos e as aprendizagens manifestadas

pelos professores na participação da formação continuada PEIP.

Delimitamos nossa área de pesquisa em uma escola estadual do município de Cáceres no

Estado de Mato Grosso que ofertasse o primeiro ciclo e que os professores participassem da

formação continuada PEIP.

Decidimos por direcionar nosso olhar para as ações que envolviam os conhecimentos

matemáticos no PEIP, para isso, fizemos a opção pela pesquisa qualitativa do tipo estudo de caso,

utilizando procedimentos e instrumentos para produção de dados como a observação participante,

a entrevista semiestruturada, o questionário, os registros escolares e o caderno de campo.

Para apresentar nossa pesquisa organizamos a dissertação em quatro capítulos e as

considerações finais. No capítulo I – O contexto da Formação Continuada de professores no Brasil

– de cunho teórico, tratamos do movimento de formação continuada no Brasil nas últimas décadas,

especificando as formações que ocorreram em âmbito nacional destinadas aos alfabetizadores, e

destacamos as orientações para a reorganização das novas Políticas Educacionais de formação

continuada no Estado de Mato Grosso.

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No capítulo II – Sobre aprender e ensinar matemática no primeiro ciclo: algumas

considerações – tratamos das concepções de matemática, das concepções de ensino-aprendizagem

e da matemática no primeiro ciclo, dialogando com educadores matemáticos, a fim de melhor

analisar as práticas formativas e pedagógicas, ocorridas na escola.

No capítulo III - apresentamos os caminhos percorridos durante a pesquisa – Caminho

metodológico da pesquisa – descrevemos o tipo de pesquisa que utilizamos, como foi realizada a

seleção do contexto e dos participantes da pesquisa, os instrumentos e procedimentos de produção

e coleta de dados, os procedimentos de análise e o balanço de produção.

No capítulo IV – Formação continuada de professores que ensinam matemática no primeiro

ciclo no PEIP – apresentamos as análises dos dados construídos no percurso da pesquisa que

revelam como as professoras do primeiro ciclo compreenderam, desenvolveram e avaliaram a

formação continuada PEIP, destacando suas concepções, conflitos e dificuldades enfrentadas no

decorrer do percurso formativo em 2016.

Nas considerações finais retomamos os principais assuntos abordados e as respectivas

análises procurando responder a indagação que nos levou a realizar essa pesquisa, bem como novas

questões que surgiram e que não foi possível aprofundarmos por não ser nosso foco, mas que,

certamente, poderão fomentar novas pesquisas.

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1 O CONTEXTO DA FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES NO BRASIL

Inicialmente, tratamos brevemente do movimento de formação continuada no Brasil nas

últimas décadas, especificando as formações que ocorreram em âmbito nacional destinadas aos

professores do primeiro ciclo. Destacamos as orientações para a reorganização das novas Políticas

Educacionais de formação continuada para o Estado de Mato Grosso.

1.1 Panorama da Formação Continuada no Brasil

A formação continuada nem sempre foi concebida como compreendemos hoje. Fiorentini

e Nacarato (2005, p.8) apontam que, entre 1970 e 1980, a formação continuada era sinônimo de

cursos de reciclagem, treinamento, capacitação, atualização e que esse modelo de formação era

padronizado e estava pautado na “racionalidade técnica”, alheios ao contexto escolar, ignorando

os saberes e os problemas que os professores enfrentavam.

Gatti e Barreto (2009, p. 201 - 202) apontam, a partir de análises de estudos sobre formação

continuada, que uma das razões para a ineficácia deste modelo de formação se deve a

[...] limitada, senão ausente, participação dos professores na definição de políticas

de formação docente, como categoria profissional e na formulação de projetos que

têm a escola e o seu fazer pedagógico como centro. Nestas condições, eles não se

envolvem, não se apropriam dos princípios, não se sentem estimulados a alterar

sua prática, mediante a construção de alternativas de ação, ao mesmo tempo em

que se recusam a agir como meros executores de propostas externas.

As autoras relatam que a partir da criação da a Lei 9.394/96, que estabelece as Diretrizes e

Bases da Educação Nacional, deu-se um prazo de dez anos para que todos os professores fizessem

a formação em nível superior. Nessa ocasião, se inicia uma grande busca pela formação superior.

Como não haviam vagas nas universidades públicas para todos, a solução encontrada eram as

universidades particulares que ofertavam cursos à distância possíveis de serem feitos por

professores que já exerciam a docência e não dispunham de tempo para frequentar cursos

presenciais. Ou, quando conseguiam em universidades públicas, tinham que cursar no período

noturno, após uma longa jornada de serviço, comprometendo a qualidade da aprendizagem.

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Nesse contexto, segundo Gatti e Barreto (2009, p. 200), com os diversos problemas nos

cursos de formação inicial, indicados nas avaliações dos cursos e no desempenho dos alunos, “a

formação continuada, além de ser vista como uma forma de aprimoramento, passou a exercer

também uma função compensatória, pois os currículos dos cursos não forneciam instrumentos

necessários à prática docente”.

Gatti e Barreto (2009, p. 201) apontam que:

[...]As reformas curriculares dos anos 1990, a mudança de paradigmas de

conhecimento nos diferentes domínios teóricos que estão na base dos conteúdos

curriculares da escola básica, trouxeram desafios às instituições formadoras de

professores que não foram adequadamente equacionados por estas em seus

currículos nas licenciaturas. Decorreu daí, em parte, o desenvolvimento intenso

de programas de educação continuada com o objetivo de promover capacitação

para implantação de reformas educativas.

Após as reformas mencionadas pela autora, questões relacionadas a interdisciplinaridade,

ciclo de desenvolvimento humano, ensino por projetos, as discussões sobre a diversidade étnico-

racial na escola passaram a ser temáticas de estudo nos momentos de formação continuada.

A partir da década de 90, segundo Gatti e Barreto (2009, p. 20) se inicia um movimento de

“reconceitualização” da formação continuada que passa a centrar no potencial do professor,

valorizando a trajetória que este percorreu no exercício profissional como base para iniciar novos

conceitos, ao colocar em discussão a identidade profissional do professor.

[...]As representações, atitudes, motivação dos professores passam a ser vistas

como fatores de capital importância a se considerar na implementação de

mudanças e na produção de inovações na prática educativa. O protagonismo do

professor passa a ser valorizado e a ocupar o centro das atenções e intenções nos

projetos de formação continuada. Novos modelos procuram superar a lógica de

processos formativos que ignoram a trajetória percorrida pelo professor em seu

exercício profissional (GATTI; BARRETO, 2009, p. 202).

Esta nova concepção, apontada pela autora, do processo de formação continuada é definida

como “um movimento com diferentes fases da vida profissional que vai desde o início da carreira,

passando pelo processo de desenvolvimento, até os tempos mais avançados em que o professor

consolida a sua experiência profissional” (GATTI; BARRETO, 2009, p. 203).

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Fiorentini e Nacarato (2005, p. 8) afirmam que essa transformação ocorrida na formação

continuada foi motivada pelo “[...] conceito de professor reflexivo e investigador de sua prática, e

pelos resultados das experiências e estudos dos próprios formadores-pesquisadores, alguns

realizados em colaboração com professores escolares”.

Segundo Fiorentini e Nacarato (2005, p. 9) o professor, nessa perspectiva,

[...] constitui-se num agente reflexivo de sua prática pedagógica, passando a

buscar, autônoma e/ou colaborativamente, subsídios teóricos e práticos que

ajudem a compreender e a enfrentar os problemas e desafios do trabalho docente.

O movimento de ação-reflexão-investigação permanente dos professores sobre

sua prática pode ser comparado a um espiral auto-reflexiva de desenvolvimento

profissional e de transformação curricular na escola [...]

Neste modelo de formação, os professores, cuja função destinada era de ouvintes, passam

a principais protagonistas de seu desenvolvimento profissional.

Em seus estudos Gatti e Barreto (2009, p. 203) ressaltam que a ideia de formação

continuada como “desenvolvimento profissional é a base de dois modelos amplamente aceitos e

defendidos na literatura educacional mais recente: as oficinas de reflexão sobre a prática e a

formação centrada no fortalecimento institucional”.

Neste caso, a autora alerta que, o fortalecimento da escola e as práticas reflexivas,

necessitam de “envolvimento dos professores, de um ambiente propício a realização de trabalho,

onde haja coletividade, gestão participativa e recursos necessários”. (GATTI; BARRETO, 2009 p.

203).

Corroborando com Gatti e Barreto (2009), Imbernón (2010, p. 43) diz que é preciso a

Criação de estruturas organizativas, redes, que permitam um processo de

comunicação entre indivíduos iguais e troca de experiências, para possibilitar a

atuação em todos os campos de intervenção educativa e aumentar a comunicação

entre os professores. [...]

Assim, é preciso que os gestores das unidades escolares criem condições para que o

professor esteja em constante reflexão, com seus colegas de trabalho, sobre a complexidade que é

ensinar. Concordamos com Moretti (2007, p. 101) quando afirma que os momentos de formação

continuada são propícios para isso, pois, ela diz que é “oscilando entre momentos de reflexão

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teórica e ação prática e complementando-os simultaneamente que o professor vai se constituindo

como profissional por meio de seu trabalho docente, ou seja, da práxis pedagógica”.

Diante do exposto, cabe aqui esclarecer, de forma sintetizada, que a formação continuada

que acreditamos é:

Uma formação não apenas em noções ou disciplinas, o que podemos chamar de

“conhecimento objetivo”, embora esse termo não seja completamente certo, mas,

sim, uma formação em um maior “conhecimento subjetivo”: autoconceito,

conflito, conhecimento de si, comunicação, dinâmica de grupos, processos de

tomadas de decisão coletivas, etc. A formação e a reflexão sobre os aspectos

éticos, relacionais, colegiais, atitudinais e emocionais dos professores, os quais

vão além dos aspectos puramente técnicos e “objetivos” (IMBERNÓN, 2010,

p. 43).

Enfim, uma formação cujo objetivo seja:

[...] Refletir sobre a prática educacional, mediante análise da realidade do ensino,

da leitura pausada, da troca de experiência, dos sentimentos sobre o que está

acontecendo, da observação mútua, dos relatos da vida profissional, dos acertos e

erros, etc. Estruturas que tornem possível a compreensão, a interpretação e a

intervenção sobre a prática (IMBERNÓN, 2010, p. 43)

Ou seja, da diversidade de formação continuada existente consideramos que aquela

pensada, organizada e desenvolvida na escola, a partir das necessidades da escola, e que, acima de

tudo, respeite o conhecimento e o percurso que os participantes da formação já desenvolveram, é

a que melhor se adequa às necessidades atuais.

1.2 A formação continuada de professores que ensinam matemática no primeiro ciclo

Nos últimos anos, os professores que atuavam no primeiro ciclo, tiveram acesso a formação

continuada que foi implementada pelo MEC, como o Pró-Letramento e o PNAIC, e em Mato

Grosso, as que foram promovidas pela própria escola como o Projeto Sala de Educador(PSE) e o

PEIP.

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1.2.1 A formação continuada em rede nacional

Dentre as formações continuadas que aconteceram no Brasil houve, a partir de 2005, a

formação em rede destinada a todos os professores que atuavam nos anos iniciais do ensino

fundamental das escolas das redes municipais e estaduais, especificamente o Pró-Letramento e o

PNAIC, que visavam a melhoria do processo ensino-aprendizagem da língua portuguesa e

matemática, que trataremos a seguir.

O programa Pró-Letramento, realizado entre 2005 e 2009, era destinado a todos os

professores da rede pública que atuavam nos anos iniciais do ensino fundamental, visando a

melhoria da qualidade da aprendizagem da leitura e da escrita, assim como da matemática, com

duração prevista para oito meses sendo realizados encontros presenciais e atividades a distância,

totalizando 120 horas.

A concepção de formação continuada prevista nos fascículos, livros impressos

disponibilizados aos professores, era de caráter reflexivo, com troca de experiências e visando a

superação das dificuldades encontradas na prática pedagógica.

Sendo assim, o Pró-Letramento em matemática foi concebido como formação

continuada de caráter reflexivo, que considera o professor sujeito da ação, valoriza

suas experiências pessoais, suas incursões teóricas, seus saberes da prática, além

de no processo, possibilitar-lhe que atribua novos significados à sua prática e

ainda compreenda e enfrente as dificuldades com as quais se depara no dia-a-dia

(BRASIL, 2008, p. 8).

O curso Pró-Letramento foi organizado em oito fascículos assim nomeados:

Números naturais

Operação com números naturais

Espaço e forma

Frações

Grandezas e medidas

Tratamento da informação

Resolver problemas: o lado lúdico do ensino da matemática

Avaliação em matemática nos anos iniciais

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Seguindo o mesmo modelo do Pró-Letramento, teve início em 2013, de forma mais intensa

e com uma carga horária maior, o programa de formação continuada PNAIC, proposto também

pelo MEC aos professores das escolas públicas que atuavam no primeiro ciclo. Neste ano foi

priorizado a língua portuguesa. Tendo sequência em 2014, com foco na matemática e em 2015 e

2016 com a integração das áreas do conhecimento.

Em 2014, todos os professores do primeiro ciclo que aderiram ao PNAIC realizaram a

formação em matemática, que se caracterizava como formação em rede. Os professores

formadores, selecionados pelo MEC, via universidades, recebiam a formação, repassavam para os

professores orientadores em encontros bimestrais, que conduziam as atividades juntamente com os

professores alfabetizadores em seus respectivos municípios. Os encontros eram em alguns

momentos presenciais e em outros a distância. Para cada grupo de 25 professores havia um

orientador de estudo.

A dinâmica de trabalho dos encontros do PNAIC seguia uma estrutura contida nos 8

cadernos com o intuito de auxiliar os professores. Os cadernos eram organizados pelas seções:

Aprofundando o tema; Compartilhando; Para saber Mais; Sugestões de Atividades para os

Encontros em Grupos; Atividades para Casa e Escola.

Ao final de cada unidade trabalhada, era destinado um tempo para o planejamento das

atividades a serem realizadas com as crianças. A intenção era que os professores criassem situações

de aprendizagem em que as atividades sugeridas na seção “atividades para casa e escola”, fossem

desenvolvidas e relatadas nos momentos de socialização nos encontros presenciais.

As atividades que os professores tinham que executar nem sempre coincidiam com o

planejado para suas turmas o que tendia a ser um trabalho paralelo, o que consideramos um grande

problema enfrentado pelos professores. Era como se tivessem que desenvolver dois trabalhos, um

para o que a escola e o contexto exigiam e outro para o PNAIC, uma vez que o critério para o

recebimento das bolsas4 era a apresentação de atividades desenvolvidas.

Outro problema que gostaríamos de chamar a atenção que está acontecendo no primeiro

ciclo, em Mato Grosso, que precisa ser resolvido com a máxima urgência é a “rotatividade

constante dos professores nos anos iniciais” (TOMAZELI; PALMA, 2016a, p. 4), percebemos, em

4 Os professores que participavam do PNAIC recebiam, mensalmente, o valor de R$200,00 referente às bolsas que o

FNDE ofereceu durante o curso da formação continuada.

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estudos anteriores, que são poucos os professores que querem permanecer neste ciclo. Na primeira

oportunidade eles vão para as turmas do segundo ciclo, o que acaba não acontecendo a continuidade

das formações dirigidas a estes professores. É o que podemos ver no quadro 1:

Quadro 1 – Números de professores alfabetizadores da rede estadual de Cáceres-MT

Ano em que houve o

PNAIC Atuavam no 1º ciclo

Não estavam atuando no

primeiro ciclo em 2016

2013 72 42

2014 62 30

2015 62 23

Fonte: TOMAZELI; PALMA. Rotatividade de professores no 1º ciclo: em discussão o Pacto Nacional de

Alfabetização na Idade Certa-PNAIC. (2016b, p. 4)

Como podemos verificar no quadro 1dos 72 (setenta e dois) professores que atuavam no

primeiro ciclo em 2013, 46 (quarenta e seis), ou seja, 63,8% não estavam neste ciclo em 2016.

Reafirmamos, pois, que é preciso a garantia de continuidade dos professores do

primeiro ciclo, sendo eles efetivos ou não, pois com essa descontinuidade do

trabalho, como já dito, teremos sempre professores inexperientes e o processo de

formação continuada não surtirá efeito. Além dessa garantia é preciso dar suporte

ao professor iniciante, orientando-o e proporcionando formação continuada

adequada aos seus anseios, para que este queira permanecer nesse ciclo

(TOMAZELI; PALMA, 2016a, p 11.).

No Estado de Mato Grosso, os professores que atuam no primeiro ciclo da rede estadual,

além de participarem das formações específicas para a alfabetização, promovidas pelo MEC,

participam também, juntamente com demais profissionais, da formação continuada desenvolvida

na escola, a partir de orientações da Secretaria de Educação do Estado de Mato Grosso.

1.2.2 Políticas de Formação continuada em Mato Grosso: do Projeto Sala de Educador ao PEIP

Tratamos neste item das questões relacionadas à formação continuada dos professores da

rede estadual no Estado de Mato Grosso, tendo em vista que essa formação acontece na instituição

escolar desde 2003, com o Projeto Sala de Professor, depois, ratificado em 2009, PSE e substituído

em 2016 pelo Projeto de Estudo e Intervenções Pedagógicas (PEIP).

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O Projeto Sala de Educador, como política educacional, foi implantado em todas as escolas

da rede estadual de ensino em Mato Grosso e teve como finalidade o desenvolvimento da formação

continuada de todos os profissionais da educação que estavam em serviço.

O projeto de formação continuada concedido em Mato Grosso em 2003, como

“sala de professor” tinha, em sua gênese, um comprometimento com a formação

continuada dos docentes. Esse espaço de formação foi ganhando corpo ao longo

dos anos, com a participação dos profissionais que atuam nas escolas, levando-

nos a repensar esse espaço formativo não mais como do “professor”, mas como

de todo aquele que trabalha na escola, o que foi ratificado em 2009 com a

publicação da Lei 12.014, que reconhece os funcionários de escolas habilitados,

como profissionais da educação (MATO GROSSO, 2010, p. 23).

Nos anos que aconteceram o Projeto Sala de Educador, SEDUC-MT sempre publicava em

diário oficial, no início do ano letivo, documentos orientativos que direcionavam as escolas para

uma prática de formação continuada mais autônoma, onde o grupo de profissionais de cada escola

escolhia as temáticas, os textos que pretendiam estudar no decorrer do ano, o período, a dinâmica

e elaboravam seu projeto de formação continuada de acordo com suas necessidades. Geralmente o

coordenador pedagógico era responsável pela condução dos encontros, porém com

acompanhamento e parecer avaliativo de professores formadores do Centro de Formação e

Atualização dos Profissionais da Educação (CEFAPRO)5, responsável por chancelar os

certificados ao término da carga horária destinada à formação.

O espaço de formação continuada ofertada aos docentes das unidades de ensino

da rede estadual de ensino do Mato Grosso, através do projeto Sala de Educador

se apresenta como uma das possibilidades de melhoria no ensino e na superação

das dificuldades de cada escola, se apresenta como oportunidade de se promover

reflexões coletivas, perspectivando o favorecimento das trocas de experiências e

estudos sobre os aspectos da profissionalidade docente. Dessa forma, segundo o

Documento Orientativo/2014-2015, estende à cada unidade escolar, oportunidade

de vislumbrar possibilidades de inovação para as suas práticas pedagógicas, em

especial as de alfabetização (OLIVEIRA, 2016, p. 75).

5 Os CEFAPROs são criados segundo Decreto 2.007/1997, 2.319/1998 e 6.824/2005, com a finalidade de desenvolver

projetos de formação continuada para professores da rede pública de ensino e projetos pedagógicos para a qualificação

dos profissionais da educação. O município de Cáceres foi contemplado como polo nesse ano, juntamente com outros

12 distribuídos em diferentes regiões do Estado de Mato Grosso.

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O projeto Sala de Educador visava a melhoria e a superação das dificuldades encontradas

por cada escola, onde os participantes da formação tinham, ou deveriam ter, a oportunidade de

refletirem suas dificuldades ou problemas relacionados ao contexto escolar, coletivamente,

principalmente aos que se referiam aos aspectos pedagógicos.

Oliveira (2016) realizou entre os anos de 2014 e 2015, pesquisa de mestrado cujo título é

As contribuições do Projeto Sala de Educador para o Ciclo de Alfabetização – um estudo de caso,

com o objetivo de investigar a produção de conhecimento perspectivada a partir da formação obtida

no projeto Sala de Educador em sua inter-relação com as práticas de alfabetização dos sujeitos da

pesquisa. Em suas considerações, a pesquisadora salienta que:

[...] as alfabetizadoras compreendem o respaldo da formação como extensão

complementar de suas ações através das trocas de experiências e das práticas

vivenciadas com os outros pares do ciclo da alfabetização. Por outro lado, as

interlocutoras relatam também as necessidades de algumas reestruturações nessa

estratégia de formação continuada e como política educacional, no que diz

respeito à organização, atendimento pedagógico, as condições de trabalho e a

formação continuada (OLIVEIRA, 2016, p. 152).

Oliveira (2016, p. 153), ao término de seus estudos, conclui que é preciso uma “reavaliação

das políticas públicas de educação, principalmente as que tratam das questões da formação

continuada existentes nas unidades de ensino do Estado de Mato Grosso.” E que essa reavaliação

deva vir com propostas de “ações mais dinâmicas e significativas para o coletivo da escola, entre

educadores e educando.” (OLIVEIRA, 2016, p. 153). Podemos observar pela pesquisa citada que

o modelo de formação vigente não estava sendo significativo para os professores que atuavam no

primeiro ciclo.

Em 2016, o governo do Estado de Mato Grosso apresentou, na Portaria 161/2016/GS/S

EDUC-MT/MT, publicada em Diário Oficial no dia 14 de Abril de 2016, uma proposta de

Formação Continuada denominada Projeto de Estudos e Intervenção Pedagógica (PEIP) e o Projeto

de Formação Continuada dos Profissionais Técnicos e Apoio Administrativo Educacionais

(PROFTAAE), como projetos experimentais, e cria o Núcleo de Desenvolvimento Profissional na

Escola (NDPE), em substituição ao Projeto Sala de Educador. Sendo que o grupo dos professores

passou a ser coordenado pelo coordenador pedagógico e o grupo dos técnicos e apoio

administrativo passou a ser coordenado pelo diretor da unidade escolar.

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As orientações que constam na portaria especificada, passou a nortear o processo formativo

em todas as unidades escolares do Estado, em 2016, sob monitoramento dos professores

formadores dos CEFAPROS, incumbidos também de fazer a formação com os coordenadores

pedagógicos e diretores.

Em relação a como deveria acontecer as formações, o Orientativo, sinaliza em Mato Grosso

(2016a, p. 42-43) os seguintes apontamentos:

O Projeto de Estudo e Intervenção Pedagógica contemplará ações distintas,

mas complementares, realizadas em duas etapas. Na primeira, será realizado

um estudo coletivo com temáticas propostas, que abrangerá o I semestre letivo.

A segunda etapa será desenvolvida no II semestre letivo, quando serão

realizadas ações de intervenção.

Cada escola irá elaborar o seu PEIP, a fim de atender as necessidades de

aprendizagem dos estudantes. Esse PEIP será composto de três macro ações a

saber. 1) – Ação 1 – Estudos Gerais (ocorrerá no 1º semestre, temas: Avaliação

Educacional, Projeto de Intervenção Pedagógica e Pesquisa-ação); 2) – Ação

2 – Planejamento da Intervenção Pedagógica (1º semestre); 3) – Ação 3 –

Intervenção (na regência), estudos específicos e socialização (ocorrerá no 2º

semestre).

A portaria determina ainda que as escolas, na pessoa do coordenador pedagógico,

responsável pela formação, deveriam elaborar para os docentes um cronograma de estudos

coletivos com temáticas propostas na portaria 161/2016/SEDUC-MT.

As orientações que constam na portaria apontam características de uma prática de formação

continuada pautada no tecnicismo, onde a imposição do querer de quem desconhece a realidade da

escola e que decidem o que, como e quando os professores devem estudar, tentam imperar, uma

vez que a referida portaria não menciona parceria de nenhum representante da escola no momento

de elaboração do orientativo, e não se sabe se houve uma pesquisa in loco para tal elaboração. Uma

portaria que apresenta uma formação sem a participação ativa dos professores em todas as etapas

e decisões, vai contra a formação que acreditamos seja necessária no contexto escolar.

A SEDUC-MT considera como atores da formação e desenvolvimento profissional os

“Professores, Diretor, Coordenador Pedagógico, Assessores Pedagógicos, Profissionais

Administrativos, Profissionais do CEFAPRO e Superintendência de Formação (SUFP)” (MATO

GROSSO, 2016a, p. 46) e normatiza as atribuições dos atores da formação e desenvolvimento

profissional conforme apresentamos no quadro a seguir.

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Quadro 2 - Atribuições dos atores da formação continuada PEIP conforme portaria

161/2016/SEDUC/MT

SUFP/SAPE Promover e administrar a Política de Formação e Desenvolvimento dos Profissionais da

Educação Básica do Estado de Mato Grosso;

Firmar parcerias com Instituições Formadoras nos âmbitos federal, estadual e municipal

das redes públicas e privada;

Implementar mecanismos de monitoramento e de avaliação das ações de formação e

desenvolvimento profissional dos profissionais e do atendimento dos CEFAPROS;

Monitorar os mecanismos integrados para avaliação dos resultados dos indicadores

educacionais da SEDUC-MT;

Articular ações de formação contínua com as demais superintendências da

SAPE/SEDUC-MT;

Propor e coordenar a partir de demanda levantada, formação continuada com os

profissionais das escolas, nos pólos dos CEFAPROS;

Propor e coordenar com o CEFAPRO, a partir de demandas levantadas, formação

continuada com os profissionais das escolas, nos pólos dos CEFAPROS.

Coordenar ações de monitoramento e avaliação dos CEFAPROS.

Assessor

pedagógico

Colaborar com a análise dos dados das avaliações internas e externas de cada escola, de

modo a verificar quais ações de planejamento administrativo as escolas estão realizando

ou devem elaborar para melhorar a proficiência;

Colaborar com o Coordenador Pedagógico no levantamento de dados que subsidiarão a

análise do diagnóstico das necessidades formativas dos profissionais de cada escola;

Acompanhar se as ações da gestão escolar estão resultando na implementação das

políticas de educação;

Orientar a participação de todos os profissionais na formação e desenvolvimento

profissional, de modo que compreendam seu papel nas ações para a melhoria da

educação.

CEFAPRO Responsável regional da implementação da política de formação e desenvolvimento

profissional;

Orientar e colaborar com a elaboração, execução e avaliação do PEIP e PROFTAAE;

Orientar e colaborar com a análise dos resultados das avaliações externas (ADEPE-MT,

IDEB, PROVA BRASIL, ANA, entre outras) e internas para a elaboração do diagnóstico

que subsidiará o PEIP e PROFTAAE;

Analisar e emitir parecer para início do PEIP e PROFTAAE;

Esclarecer acerca dos procedimentos metodológicos do PEIP;

Subsidiar as necessidades teórico-metodológicas dos grupos de estudos e intervenção

pedagógica na escola;

Orientar a prática das avaliações diagnóstica, formativa e somativa no PEIP;

Organizar as estratégias de monitoramento das ações do PEIP;

Encaminhar à SUFP suas necessidades formativas, o PPDC e o Plano de Ação Anual;

Elaborar relatório dos monitoramentos;

Chancelar os certificados do PEIP.

Coordenador

Pedagógico

Organizar um momento de estudo, com as ações de formação e desenvolvimento

profissional na escola conforme Orientativo e estratégias colaborativas;

Estabelecer coletivamente o dia e hora de execução do PEIP e PROFTAAE;

Zelar pelo cumprimento da carga horária;

Coordenar a elaboração do PEIP e do PROFTAAE;

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Coordenar a organização do grupo de estudo das temáticas comuns e dos grupos de

estudos de temáticas específicas (por disciplina);

Coordenar, com os docentes, a análise dos resultados da ADEPE-MT e das demais

avaliações externas e internas para a elaboração do diagnóstico que subsidiará o PEIP.

Intermediar as dificuldades de ordem teórico-práticas dos profissionais com apoio do

CEFAPRO, solicitando orientações e/ou outras demandas formativas;

Incentivar a leitura antecipada do material a ser estudado, como atitude plausível de

cultura profissional;

Monitorar o cumprimento da carga horária do PEIP.

Professores

das escolas

Contribuir na elaboração coletiva e colaborativa do PEIP;

Inserir-se no grupo de estudo de temáticas comuns e no grupo específico de sua

disciplina;

Estar presente na hora e local determinado para o desenvolvimento do PEIP;

Contribuir com o embasamento teórico e metodológico diante das necessidades

suscitadas pelos diagnósticos, análises e ações de intervenções;

Utilizar os dados fornecidos pelos órgãos federais, estaduais e municipais (IDEB,

ADEPE-MT, SIGA e outros) como apoio para o diagnóstico e tomadas de decisão acerca

de seu próprio processo formativo e intervenções pedagógicas no processo de

aprendizagem dos estudantes;

Solicitar ao coordenador pedagógico apoio para ações de formação e desenvolvimento

profissional, caso encontre dificuldades teórico-práticas;

Utilizar-se da formação como meio para melhorar o desenvolvimento pessoal,

profissional e institucional com vistas à promoção da qualidade no processo de ensino e

aprendizagem, bem como da própria profissionalidade;

Nos grupos de estudo de temas específicos, um dos professores assume a função de

mediador. Fonte: Organizado pela autora.

A referida portaria, em seu Artigo 3º, § 2º orienta que “Os estudos, as pesquisas e os projetos

de intervenções pedagógicas deverão ter o foco na análise de necessidades de aprendizagem dos

estudantes, para superar as dificuldades diagnosticadas ou potencializar a aprendizagem discente”

e para isso determinou que o PEIP fosse produzido.

[...] a partir da análise dos resultados da ADEPE-MT, assim como as advindas das

avaliações internas de todas as disciplinas do currículo (para as escolas que

participaram do processo), das avaliações internas e do diagnóstico das

necessidades formativas. Para as escolas que não participaram da ADEPE-MT, a

escrita do Projeto de Estudo e Intervenção Pedagógica será feita a partir dos

resultados de outras avaliações externas (IDEB, PROVA BRASIL, PROVINHA

BRASIL, ANA, ENEM, dentre outras) e das avaliações internas (MATO

GROSSO, 2016a, p. 42).

Assim, diante do exposto até o momento, é possível perceber a grande mudança que ocorreu

na formação continuada em Mato Grosso com a implantação do PEIP. O Projeto Sala de Educador

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que “[...] esteve pautado no reconhecimento da escola como espaço de formação coletiva, de

produção e socialização de conhecimentos, visando a melhoria da qualidade da educação, em uma

proposta de gestão democrática” (COSTA; GENTIL; AMARAL, 2016, p. 11) foi, substituído por

um modelo de formação em que

[...] os processos estão sendo “dirigidos” e pautados no tecnicismo e no “saber

fazer”, visando resultados condizentes com as avaliações, portanto relacionados

às demais ações e propostas políticas em andamento, na contramão das conquistas

anteriores relativas à participação e democratização (COSTA; GENTIL;

AMARAL, 2016, p. 14).

Nesse contexto, convém esclarecer algumas questões que consideramos pertinentes com o

objetivo de, no capítulo das análises, compreender quais são as relações estabelecidas pelas

professoras entre as avaliações externas ADEPE realizadas no PEIP e as avaliações internas, uma

vez que, a formação continuada em Mato Grosso, em 2016, foi pautada nas avaliações externas.

Em 2016, a SEDUC-MT, formou parceria com o Centro de Políticas Públicas e Avaliação

da Educação da Universidade de Juiz de fora (CAED/UFJF), instituição privada, para avaliarem os

estudantes do Ensino Fundamental e Médio em toda rede estadual, através da ADEPE-MT, cujo

objetivo era “contribuir para a elaboração e proposição de ações de melhoria da qualidade de

educação ofertada pelas redes públicas de ensino do Mato Grosso” (Revista ADEPE-MT, 2016, p.

5).

Com a parceria firmada entre a SEDUC-MT e a CAED, a educação pública em Mato Grosso

caminha para uma nova estruturação. Segundo, Costa, Gentil e Amaral (2016, p. 15)

[...] está em curso a desestruturação da educação pública no Estado por meio da

desconstrução das políticas democráticas e participativas já conquistadas e sua

substituição por políticas de caráter gerencialista, que vem cristalizando a ideia de

educação como mercadoria e de minimização da responsabilidade do Estado para

com o que deveria ser público.

O primeiro passo diante dessa mudança foi criar o Núcleo de Avaliação, Investigação e

Análise de Dados Educacionais (NAIADE), para coordenar as ações relacionadas às avaliações e

orientar os rumos do sistema de ensino em Mato Grossopois a ADEPE-MT serviria de base para a

formação continuada dos profissionais da rede estadual em 2016.

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Na realização das provas, fizeram parte da equipe, além dos membros do NAIADE, 120

assessores pedagógicos, sendo um assessor por município, os coordenadores pedagógicos das

escolas e os professores aplicadores. A formação dos assessores para o desenvolvimento da prova

foi feita nos dias 2, 3 e 4 de março de 2016, em Cuiabá, sequencialmente, repassaram a formação

para os coordenadores pedagógico que fizeram a formação com os professores aplicadores. Para

as turmas do 2º ano, a prova não poderia ser aplicada pelo professor regente.

A ADEPE-MT foi aplicada nas turmas de 2º, 4º, 6º e 8º anos do Ensino Fundamental e 1º e

2º anos do Ensino Médio, nas disciplinas de Língua Portuguesa e Matemática, nos dias 29 e 30 de

março de 2016 na maioria das escolas da rede estadual.

Após saírem os resultados da ADEPE-MT no dia 26 de agosto de 2017, novamente os

assessores pedagógicos, desta vez juntamente com os professores formadores dos CEFAPROs,

passaram por formação, sobre como analisar os resultados da ADEPE-MT. Isso aconteceu no mês

de setembro, devido a greve dos profissionais da rede estadual. No iníco de outubro, após a

formação nos CEFAPROs, os coordenadores foram incubidos de repassarem a formação para os

professores.

A demora na divulgação dos resultados da ADEPE-MT, principal avaliação que subsidiaria

a formação continuada em 2016 e na formação dos coordenadores sobre a análise das avaliações,

desencadeou uma série de problemas na formação.

As ações de formação relacionadas a ADEPE, no PEIP, foram desenvolvidas de forma

padronizada para todo o Estado, desrespeitando a diversidade de um Estado tão grande,

geograficamente e culturalmente, como o Mato Grosso, seguindo uma hierarquia, passando,

sequencialmente, pelos técnicos da SEDUC-MT, as assessorias pedagógicas, os CEFAPROS, os

coordenadores pedagógicos até chegar nos professores. Gatti e Barreto (2009, p. 202) alertam para

a pouca efetividade desse tipo de formação que ela chama de modelo “em cascata”.

[...] as características de um modelo “em cascata”, no qual um primeiro grupo de

profissionais é capacitado e transforma-se em capacitador de um novo grupo que

por sua vez capacita um grupo seguinte. Mediante esse procedimento, que

geralmente percorre os diferentes escalões da administração dos extensos sistemas

de ensino, corpo técnico-pedagógico, supervisores regionais, professores

especialistas, embora permita envolver um contingente profissional bastante

expressivo em termos numéricos, tem-se mostrado pouco efetivo quando se trata

de difundir os fundamentos de uma reforma em suas nuances, profundidade e

implicações (GATTI; BARRETO 2009, p. 202).

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A nosso ver, foi este o modelo seguido no PEIP. Concordamos com a autora quando fala

da ineficácia deste modelo de formação, pois, ao desenvolverem ações formativas de forma

hierarquizada, de cima para baixo, perpassando por diferentes setores, até chegar na escola, a

proposta pode sofrer alterações devido a diferentes concepções e ideologias a que estão filiados os

diversos profissionais da educação.

O organograma que montamos na figura 1 retrata o modelo de formação realizado em 2016:

Figura 1 - Organograma representativo da formação hierarquizada

Fonte: Organizado pela pesquisadora

Quando a formação segue esse modelo, o aluno, que deveria ser o primeiro beneficiado, é

o último a ser contemplado.

Acreditamos em uma formação cujo centro é o aluno, onde todos os setores/profissionais

da área da educação devem corresponder, estando ligados a este centro. Como exemplificado no

organograma que apresentamos na figura 2.

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Figura 2 - Organograma representativo de formação cujo centro é o aluno

Fonte: Organizado pela pesquisadora

A tentativa de realizar a formação continuada focando nas necessidades de aprendizagens

dos alunos, conforme idealizado o PEIP, foi equivocada quando passou a ser planejada e conduzida

fora da escola. Concordamos com Freitas (2009, p. 47) ao afirmar que:

As avaliações de redes de ensino seriam mais eficazes se planejadas e conduzidas

no nível dos municípios pelos conselhos municipais de educação. A unidade deve

ser o município e não a federação ou o estado. Isso não impede estes últimos de

conduzirem suas avaliações de escala, mas não com o propósito de avaliar uma

escola e suas salas de aula.

Impedida de exercer a autonomia na condução da formação continuada, as escolas tiveram

que esperar a SEDUC-MT disponibilizar os resultados da ADEPE. Somente os resultados gerais

das avaliações foram disponibilizados na Revista do Sistema de Avaliação. Os dados

individualizados foram fornecidos apenas para as escolas avaliadas. Acreditava-se, dessa forma,

que cada professor e unidade escolar conheceriam as dificuldades de aprendizagem de cada

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estudante, para planejar procedimentos didáticos que os auxiliassem no processo de construção do

conhecimento e desenvolvimento de habilidades, capacidades e competências.

Segundo Freitas (2009, p. 65) “[...] No Brasil, não é raro encontrar a tendência de se querer

fazer da avaliação de sistemas um instrumento de avaliação da sala de aula e da escola. [...]”.

Parece-nos que foi este o propósito da SEDUC-MT ao realizar a ADEPE-MT.

Porém, somente “[...]enviar à escola os resultados da avaliação com o objetivo de que seja

examinada pelos profissionais de cada escola e alternativas sejam elaboradas com a finalidade de

melhorar as práticas de ensino e aprendizagem [...]” (FREITAS, 2009, p. 65) não mobiliza os

professores para mudanças, pois, segundo o autor, “os dados não são ‘reconhecidos’ pelas escolas

e seu uso fica limitado”.

Quando uma política de formação é pensada e organizada somente por um grupo, que vai

repassando hierarquicamente, uma etapa de cada vez aos demais envolvidos no processo, há que

se esperar que algo não dará certo. O estresse de quem está na ponta e não sabe qual será o novo

passo a ser dado, pior ainda, se haverá um novo passo, tende a gerar desânimo e desmotivação.

A avaliação ADEPE-MT, que no PEIP objetivava “o levantamento das necessidades de

aprendizagem” dos alunos deveria ser usada, na escola, juntamente com outras avaliações externas

e internas, para “desencadear ações de intervenção pedagógica[...]” (ADEPE-MT, 2016a, p. 6).

As matrizes curriculares utilizadas para elaboração da avaliação ADEPE-MT foram

organizadas a partir das Orientações Curriculares do Estado de Mato Grosso, dos dados obtidos

nos diários de classe das turmas avaliadas, das matrizes curriculares das escolas estaduais, dentre

outros instrumentos, conforme constam no Orientativo para aplicação da ADEPE-MT, publicado

no site da SEDUC-MT, no dia 10 de março de 2016.

Os alunos eram classificados conforme os padrões de desempenho estudantil

disponibilizado pela revista ADEPE-MT (2016a, p. 22) que variavam em abaixo do básico,

básico, proficiente e avançado, de acordo com o nível de acertos das competências e habilidades

desenvolvidas para cada etapa de escolaridade.

Consideramos importante destacar que avaliar envolve tomada de decisões e a ênfase maior

deve ser dada ao que fazer com os resultados destas avaliações, planejando ações pedagógicas, de

forma que, partindo do que o aluno já apropriou do conceito a ser ensinado, haja avanço no processo

de aprendizagem.

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Pautar a formação continuada e o ensino nos resultados de avaliações externas, como foi

proposto no PEIP através da ADEPE, pode ser um equívoco se consideramos que o foco principal

da avaliação externa é o sistema educacional e não o processo ensino-aprendizagem.

Em se tratando de avaliação do processo ensino-aprendizagem, em sua pesquisa, Paula

(2010, p. 36) afirma que “[...] a condução do processo avaliativo e o direcionamento dado à ação

avaliativa são carregados de intenções e estas não são construções essencialmente individuais e

pessoais, mas também históricas, culturais, sociais e políticas.”

Como podemos perceber, a partir das considerações da pesquisadora, necessitamos estar

atentas à complexidade que é o ato de avaliar, pois tudo depende da intencionalidade que está por

trás de todos os envolvidos no processo ensino-aprendizagem.

Consideramos, também, que a concepção de avaliação do processo ensino-aprendizagem

dos conteúdos da matemática também muda de acordo com a concepção que se tem de matemática.

O que se espera que o aluno saiba, o que é cobrado nas avaliações, também varia conforme a

concepção de ensino-aprendizagem.

Por fim, resta-nos esclarecer, mais uma vez, que nossa intenção é compreender como o

processo formativo PEIP se desencadeou e como as professoras do primeiro ciclo se inseriram

nesse processo, especificamente para a área da matemática. Desta forma, trataremos no próximo

capítulo sobre as concepções de matemática e os processos de ensino-aprendizagem da matemática.

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2 SOBRE APRENDER E ENSINAR MATEMÁTICA NO PRIMEIRO CICLO:

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

Neste capítulo, fazemos uma discussão, no primeiro item sobre as concepções de

matemática e de ensino-aprendizagem da matemática e no segundo item sobre a matemática no

primeiro ciclo. Direcionamos nosso olhar para o ensino da matemática na perspectiva da resolução

de problema destacando a matemática como conhecimento dinâmico.

2.1 Concepções de matemática e de ensino aprendizagem da matemática

Considerando que o ensino da matemática no primeiro ciclo requer que o professor tenha

conhecimentos e concepções sobre a matemática e os processos de aprender e ensinar matemática,

e considerando ainda que, a orientação da Superintendência de Formação dos Profissionais da

Educação SUFP/SEDUC-MT, na portaria 161/2016 SEDUC-MT, (p. 50), que versa sobre o PEIP,

afirma que, “de modo articulado, cada um dos envolvidos no processo educativo assuma suas

responsabilidades pela melhoria da qualidade da educação”, a análise que pretendemos realizar e

apresentar ao final deste estudo, requer a compreensão das concepções de matemática e de ensino-

aprendizagem que permeiam a escola, por acreditar que as mesmas podem influenciar no que se

concebe como educação matemática e no que o professor espera de um processo de formação

continuada.

Concordamos com Fiorentini (1995) quando considera que a melhoria na qualidade do

ensino está relacionada às concepções pedagógicas e determinações socioculturais e políticas da

qual estão filiados os responsáveis pelo processo educativo, ao afirmar que:

Há, entretanto, diferentes modos de conceber e ver a questão da qualidade do

ensino da Matemática. Alguns podem relacioná-la ao nível de rigor e formalização

dos conteúdos matemáticos trabalhados na escola. Outros, ao emprego de técnicas

de ensino e ao controle do processo ensino/aprendizagem com o propósito de

reduzir as reprovações. Há ainda aqueles que a relacionam ao uso de uma

matemática ligada ao cotidiano ou à realidade do aluno. Ou aqueles que colocam

a Educação Matemática a serviço da formação da cidadania (FIORENTINI, 1995,

p. 2).

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Desta forma, podemos constatar que a matemática vivenciada na escola nem sempre é a

mesma que os proponentes e elaboradores dos documentos orientativos, dos currículos, das

avaliações externas almejam alcançar com as constantes propostas de mudanças nas políticas

educacionais implementadas nas escolas. Para isso, torna-se fundamental, também, esclarecermos

as concepções que assumimos em relação a matemática. Para tal, dialogamos, neste texto, com

educadores matemáticos.

D’Ambrosio (1996, p. 7) vê a matemática como “uma estratégia desenvolvida pela espécie

humana ao longo de sua história para explicar, para entender, para manejar e conviver com a

realidade sensível, perceptível, e com seu imaginário, naturalmente dentro de um contexto natural

e cultural”.

Por outro lado Moura, (2007, p. 44) vê a matemática como:

[...] produto das necessidades humanas, insere-se no conjunto dos elementos

culturais que precisam de ser socializados, de modo a permitir a integração dos

sujeitos e possibilitar-lhes o desenvolvimento pleno como indivíduos, que, na

posse de instrumentos simbólicos, estarão potencializados e capacitados para

permitir o desenvolvimento do colectivo (MOURA, 2007, p. 44).

O autor destaca ainda que o conteúdo matemático, é constituído de signos articulados por

regras que “operadas de forma lógica, produzem um resultado que tem um suporte na realidade

objectiva. Isto é, ao serem aplicados na solução de problemas concretos, os conceitos deverão

permitir uma intervenção objectiva na realidade” (MOURA, 2007, p. 50).

Bittar e Freitas (2005, p. 17) apresentam a matemática como “rica de valores estéticos, de

coerência interna, além de ser extremamente útil para resolver problemas da realidade” e que

“qualquer pessoa tem condições de compreendê-la, de gostar dela e de produzir matemática”.

Em concordância com os autores citados, assumimos a matemática como conhecimento

dinâmico, elaborado ao longo da história, fruto das necessidades humanas, que envolvem aspectos

históricos, sociais e estéticos em sua constituição.

Fiorentini (1995, p. 4) afirma que não basta descrever os diferentes modos de aprender e

ensinar matemática, mais importante é destacar o que está “implícito ou explícito” em cada ato e

em cada escolha.

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Desta forma, visando ter subsídios teóricos para analisar criticamente as diferentes formas

de ensino-aprendizagem da matemática, a fim de que as práticas, pedagógicas e formativas,

ocorridas na escola não nos cause tanta estranhesa e possamos sobretudo entender os problemas

decorrentes desta complexa relação, trazemos os estudos realizados por Chacón (2003, p. 64) que

reforça a visão de que as concepções epistemológicas da matemática que o professor tem influencia

em sua prática de ensino.

Um dos pontos-chaves na produção de mudanças em didáticas da matemática e

na aplicação de reformas educativas é o professorado. Em grande parte, os

avanços dependem, essencialmente, das mudanças produzidas no professor, como

indivíduo, em sua aproximação ao ensino e à aprendizagem da matemática e em

suas crenças (CHACÓN, 2003, p. 64).

Chacón (2003, p. 61) busca em Thompson (1992) a definição de concepções “como uma

estrutura mental geral, que abrange crenças, significados, conceitos, proposições, regras, imagens

mentais, preferências e semelhanças”. A autora, baseando-se em Thompson (1984) e Ernest (1988)

destaca três concepções ou sistemas de crenças sobre a natureza da matemática que estão

“arraigados nas diferentes visões da filosofia da matemática”: a) visão utilitarista; b) visão

platônica; e a c) Perspectiva de resolução de problemas; que organizamos em um quadro que será

exposto a seguir:

Quadro 3 – Concepções de matemática segundo Chacón (2003)

Concepção de matemática

Concepção de

aprendizagem da

matemática

Concepção de

ensino da

matemática

Visão

utilitarista

Matemática como uma caixa de

ferramentas. A matemática torna-se

acumulativa na medida em que

existem objetivos externos que ela

pode ajudar a conseguir. O fim que

persegue a criação do conhecimento

matemático é o desenvolvimento de

outras ciências e técnicas. A

matemática como um conjunto de

fatos não-relacionados.

Aquisição de

conhecimento de

ferramentas,

procedimentos e

conceitos básicos.

Aprender é reter na

memória

Um instrumentalista

ensina de maneira

prescritiva,

enfatizando regras e

procedimentos.

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Visão Platônica

Matemática como corpo estático e

unificado de conhecimento. A

matemática, então, somente se

descobre, não se cria.

Descoberta da

matemática

(Nem todos estão

aptos para essa

descoberta)

Um platônico ensina

enfatizando o

significado

matemático dos

conceitos e da lógica

dos procedimentos

matemáticos.

Perspectiva de

resolução de

problemas

Visão dinâmica da matemática

como um campo de criação humana

em contínua expansão, no qual

serão gerados modelos e

procedimentos que são aprimorados

como conhecimentos. A

matemática como algo aberto e seus

resultados permanecem abertos à

revisão.

Apropriação do

conhecimento

matemático

elaborado pela

criação humana de

forma a garantir sua

dinamicidade

Um matemático que

estiver na linha de

resolução de

problemas enfatizará

atividades que levem

o estudante a

interessar-se por

processos gerativos

da matemática.

Fonte: Organizado pela autora – Síntese das Concepções de Matemática (CHACÓN, 2003, p. 64 a 75).

Em pesquisa desenvolvida, Nacarato, Mengali e Passos (2011, p. 25), revela que entre os

modelos apresentados por Chacón (2003), a visão utilitarista da matemática “é o que se faz mais

presente no discurso das alunas da pedagogia – algumas delas já atuando como profissionais por

serem portadoras de diploma de magistério, em nível de ensino médio”. Esta visão no primeiro

ciclo traz consequências para a aprendizagem da matemática para os anos posteriores e para o

desenvolvimento cognitivo.

Destacamos, como consequências posteriores da visão utilitarista para o ensino-

aprendizagem da matemática, o que Nacarato, Mengali e Passos (2011, p. 26) chama de

“reducionismo da matemática escolar” em que utiliza-se, na maioria das vezes, de “procedimentos

de cálculos”, pois o professor geralmente ensina o que considera útil, prático, possível de ser usado

no dia-a-dia.

O modo de ensinar requer, também, clareza quanto à finalidade do ensino da matemática e

neste sentido é importante considerar qual o objetivo de ensinarmos matemática na escola,

especificamente para crianças de seis a oito anos.

Quanto a finalidade, o ensino da matemática deve contemplar duas importantes dimensões,

uma que capacita o indivíduo para o exercício pleno da cidadania, que D’Ambrosio (1993, p. 16)

associa ao valor utilitário e significa “[...] desenvolver a capacidade do aluno para manejar

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situações reais, que se apresentam a cada momento, de maneira distinta” e a outra, associada ao

valor formativo, que visa o desenvolvimento do raciocínio lógico, o pensamento cognitivo, que

potencializa a aquisição do conhecimento, não só o matemático, mas também o das demais áreas

do conhecimento.

Não se trata de dar mais ênfase a uma dimensão e ignorar a outra. Moretti (2015, p.28)

aponta que os professores devem explorar “a relação entre os conceitos e seus usos sociais [...]”, e

a “[...] mediação dos docentes durante todo o processo de resolução é condição fundamental para

explicitar o conceito presente no contexto explorado, superando a atividade apenas empírica e

favorecendo o desenvolvimento do pensamento teórico (MORETTI, 2015, p. 28-29). É isto que

torna o ensino-aprendizagem da matemática mais significativo.

Além das dimensões utilitária e formativa, D’Ambrosio (1993) elenca mais três dimensões

que justificam o ensino da matemática na escola: a cultural, por ser parte integrante de nossas raizes

culturais; a sociológica pela sua universalidade; e a estética, por sua beleza própria.

D’Ambrosio (1993, p. 16) afirma ainda que “[...] poderíamos defender, sem hesitação, a

matemática nas escolas, em todos os níveis, como fator de progresso social, como fator de liberação

individual e política, como instrumentador para a vida e para o trabalho”.

Ao abordar reflexões sobre o processo de ensino-aprendizagem, elencamos questões

essenciais referente a interação existente entre o ensino e a aprendizagem.

As ideias de como se dá o processo de aprendizagem direciona o processo de ensino e

podem ser agrupadas em dois movimentos que se contrapõem, um considerado tradicional, do qual

destacamos as perspectivas empiristas e racionalistas, e outro, mais recente em relação ao primeiro,

o interacionista, da qual destacamos os construtivistas e os sociointeracionista, também conhecida

como teoria histórico-cultural, que defendemos e consideramos mais voltada para o

desenvolvimento humano.

O cenário de mudanças que ocorre entre uma perspectiva e outra, acaba por dar novos rumos

também ao ensino da matemática, pois, de acordo com a concepção de ensino-aprendizagem o

professor organiza o trabalho pedagógico. É o que podemos constatar na figura 3.

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Figura 3 - Perspectivas de ensino-aprendizagens tradicionais

Fonte: Organizado pela autora – Síntese das Concepções empiristas e racionalistas (DARSIE, 1999, p. 10 a 13).

O que se observa a partir do exposto, e que chama nossa atenção é o deslocamento que

acontece no papel atribuído aos alunos nas escolas. Segundo Marta Darsie (1999, p. 10), na

tendência empirista, estes não passam de “receptores de informações e do seu armazenamento na

memória” e passivamente, sem questionar nem argumentar durante a permanência na sala de aula,

apenas obedecem e executam atividades propostas em um modelo de ensino desprovido de sentido.

Nesta perspectiva, quando o aluno, sem atribuir sentido ao que está fazendo, repete o que o

professor quer saber, por ter memorizado, é considerado por este um ótimo aluno.

A este tipo de aprendizagem denominamos aprendizagem repetitiva, onde o aluno

recebe os conteúdos que deve aprender em sua forma final, pronta e acabada, não

se faz necessária a compreensão ou a atribuição de significado aos mesmos,

bastando que o aluno seja capaz de reproduzi-los quando solicitado. (DARSIE,

1999, p. 11)

Na concepção racionalista, o aluno acaba, de certa forma, sendo responsabilizado por seu

sucesso ou fracasso, pois, com visão inatista do conhecimento acredita-se que nem todos

conseguem aprender matemática, uma vez que esse conhecimento está na herança genética e por

exemplo: se o pai não aprendeu matemática, é natural que o filho também não aprenderá. Há um

certo conformismo que tira da escola e do professor a responsabilidade do fracasso escolar. Nessa

concepção, segundo Darsie (1999, p.13) pais e professores afirmam que “[...] Uns nasceram para

aprender, e aprendem facilmente; outros não nasceram para o estudo, se fracassam, o fracasso é só

deles. [...]”.

Empiristas

O conhecimento vem duma informação sensorial,transmitida do exterior para o interior, através dosórgãos dos sentidos. Para os empiristas a criançaaprende através de atividades repetitivas queresultam no acúmulo de fatos e informaçõesisoladas, por meio de um ensino fechado,acabado, livresco, com quadro cheio de cálculos efórmulas ou definições a serem memorizadas,armazenadas, sem significado real e, quandosolicitado são recuperadas e reproduzidas.

Racionalistas

Para os racionalistas o conhecimento e conceitos sãoinatos e desabrocham em função da maturidade. Cadaindivíduo já traz o programa pronto em seu sistemanervoso, isto significa que, ao nascermos, já estádeterminado quem será ou não inteligente devido abagagem hereditária. alguns professores afirmam darboas aulas, mas é natural que nem todos aprendam eque nem todos tenham condições para aprender: "eleé fraco", isso significa que nasceu fraco, não queesteja por alguns motivos, defasado.

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Darsie (1999, p. 15) afirma que “Piaget põe em xeque a idéia de conhecimento dado, seja

na bagagem hereditária, ou no meio físico ou social e cria a idéia de conhecimento – construção.

Piaget constrói uma teoria construtivista do conhecimento: da sua gênese e do seu

desenvolvimento”.

Os alunos, que nas perspectivas empiristas e racionalistas eram passivos, nesse enfoque

“[...] desenvolvem questionamentos visando à construção de sua própria aprendizagem [...]”

(ALMEIDA, 2016, p. 36).

Nessa perspectiva muda também o papel do professor no ensino que passa a ser o de “[...]

agente mediador entre o sujeito que aprende e o conteúdo a ser aprendido [...]” (DARSIE, 1999, p.

19) deixando de ser aquele que detém o “[...] conhecimento absoluto, passando a desenvolver no

aluno ações curiosas que direcionem ao crescimento cognitivo” (ALMEIDA, 2016, p. 36).

Segundo Darsie (1999, p. 20),

As intervenções do professor no processo de aprendizagem dever centrar-se em

criar um ambiente rico em desafios que leve o aluno a produzir e explorar idéias.

Propor situações pedagógicas capazes de provocar desequilíbrio nos esquemas

prévios dos alunos, não perdendo de vista a importância do desenvolvimento

cognitivo do aluno como o conhecimento da estrutura da matéria a ser aprendida,

e seu percurso histórico de construção.

Na concepção histórico-cultural, na qual nos posicionamos, o aluno tem uma relação mais

dialógica. O conhecimento prévio e as estratégias próprias para resolução de problemas são

valorizadas. Nessa perspectiva, o processo ensino-aprendizagem acontece a partir da “mediação

entre a cultura e os educandos, de tal modo que, nesse processo, o sujeito interioriza, transforma e

garante a continuidade desta cultura” (MORETTI, 2015, p. 25)

Na perspectiva histórico-cultural a relação dos alunos com a matemática muda, pois,

deixam de temê-la, oposto do que acontece nas tendências tradicionais empiristas e racionalistas.

Segundo Moretti (20015, p.70) “a criança pode reconhecer a Matemática como um instrumento

simbólico que a auxilia na compreensão e resolução de problemas [...]”, o que a torna mais

significativa.

O processo ensino-aprendizagem na perspectiva histórico-cultural acontece de forma

dinâmica, inter-relacionado.

Moura (2002, p. 158) afirmar que:

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[...] Os educadores que procuram dar significado ao que estão ensinando poderão

unir os seus objetivos às necessidades dos alunos. Desta maneira, as ações

educativas poderão se aproximar das ações de aprendizagem e, sendo assim, o que

realizam, além de ser uma atividade de ensino, poderá transformar-se em atividade

de aprendizagem.

Ao enunciar “poderão se aproximar”, o autor expressa que o ensinar se relaciona com a

aprendizagem, estabelecendo uma interação com as necessidades dos educandos, concordamos

com o autor e compreendemos que nem todo ensino tem como consequência, a aprendizagem.

Moura (2002, p. 157) ressalta ainda que:

[...] a definição do objeto de ensino, que deverá se transformar em objeto de

aprendizagem, pois nem todo objeto de ensino é de aprendizagem. É isso que

queremos dizer, pois para ser objeto de aprendizagem é necessário que seja uma

necessidade dos sujeitos que aprendem. É por isso que dizemos que a elaboração

da atividade implica uma atenção especial aos sujeitos que deverão aprender. Os

sujeitos colocados em situação de aprendizagem muitas vezes deverão realizar

ações que não estão de acordo com os seus motivos para aprender. Quando isto

acontece, agem como se o que estão a realizar fosse importante para satisfazer a

necessidade de outro e não a dele. Desse modo, o que deveria ser uma atividade

passa a ser uma simples tarefa, o que afasta as ações dos sujeitos do motivo de

realizá-la.

O aspecto apontado pelo autor permite-nos entender que para que a aprendizagem aconteça,

o ensinar articula-se com os interesses de quem aprende no processo de ensino, quando isso não

ocorre o ensinamento pode não contribuir para que a aprendizagem aconteça, pois apresentará

conceitos irrelevantes ao aluno.

Moura (2002, p. 154) afirma que é consenso do grupo dos construtivistas e

sociointeracionistas “[...] que os sujeitos aprendem ao lidar com situações-problemas geradoras de

conflitos cuja superação os coloca diante de novos conhecimentos que mais tarde servirão de base

para a solução de novos problemas [...]” (MOURA, 2002, p. 155). Deste modo, o educando constrói

sua aprendizagem relacionando conceitos antes vivenciados e novos, frente aos conflitos propostos

pelos educadores. Para Moura (2002, p. 155) esse é um processo que necessita de “[...] interação

entre sujeitos ou entre sujeitos e objetos para que se instaure a necessidade do novo conhecimento”.

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Na concepção do autor, para que a interação aconteça é necessário a “[...] a organização das

ações educativas de modo a atender as especificidades dos propósitos da escola (MOURA 2002,

p. 159), neste aspecto, se configura o papel do professor.

Compreendemos que os apontamentos de Moura (2002) representam possibilidades de

mudanças que há tempos buscamos para o ensino e que merecem reflexões na formação

continuada, tendo em vista a melhoria no processo ensino-aprendizagem.

No grupo dos interacionistas, tanto os construtivistas quanto os sociointeracionistas,

desconsidera-se a aptidão para a aprendizagem da matemática, ou seja, todos têm condições de

aprender, rompendo com o ensino excludente, cabendo ao professor:

[...] desenvolver métodos diferenciados, almejando alcançar o máximo de

compreensão dos educandos. Compreendemos que cada aluno estabelece a

aprendizagem de forma diferenciada, em tempos diversificados e, para tal, o

Professor deve se apresentar preparado pedagogicamente para lidar com essas

alternâncias presentes nos espaços educativos. (ALMEIDA, 2016, p. 36).

Porém, por não compreender profundamente a teoria interacionista, a maioria dos

professores, na prática oscilam, cometem equívocos, avançam e retrocedem para o tradicional,

embora no discurso demonstram ter conhecimentos das concepções mais recentes.

Diante do exposto, pressupõem-se, então, que as concepções de matemática e de ensino-

aprendizagem, bem como as finalidades para o seu ensino, são muito importantes e precisam ser

levadas em consideração nos processos de formação continuada e das práticas pedagógicas do

ensino-aprendizagem da matemática dos professores que atuam no primeiro ciclo.

2.2 A matemática no primeiro ciclo

Partindo do pressuposto de que “para o atendimento das crianças nos anos iniciais do Ensino

Fundamental se faz necessário considerar a etapa de vida em que as mesmas estão vivenciando, a

infância, considerando a singularidade desta etapa [...]” (NAKAZAWA, 2014, p. 132), de modo

semelhante, no ensino da matemática no primeiro ciclo, aspectos específicos da infância precisam

ser considerados para garantir a aprendizagem desejada. É sobre isso que nos propomos a tratar

neste item.

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Como vimos há diferentes concepções de matemática e de ensino-aprendizagem que

direcionam a prática pedagógica. Além disso, há exigências próprias para cada faixa etária que nos

levam a repensar o papel do professor que ensina matemática no primeiro ciclo que acreditamos

deverá consistir em criar situações-problemas que desencadeiem aprendizagens.

Moretti, (2015) ao se basear nas ideias de Moura (2002) apresenta o desenvolvimento desse

processo nos anos iniciais do Ensino Fundamental:

No ensino da matemática, o conhecimento sobre a história da produção do

conceito (as necessidades que o motivam, as soluções encontradas para responder

a essa necessidade, suas contradições e seus impasses) permite que os professores

proponham situações de ensino que coloquem para as crianças necessidades

análogas, o que não significa reproduzir o seu contexto histórico de produção

(MORETTI, 2015, p. 26).

Assim, criar situações em que as crianças necessitem utilizar um conceito que elas ainda

não se apropriaram, por exemplo, quando o professor necessita iniciar o trabalho com medidas, o

fato de terem que representar esse novo conhecimento gera a necessidade de aprender, o que pode

desencadear motivações e ocorrer aprendizagem significativa. Como em um momento de recreação

em que os alunos tenham que delimitar um espaço para que seja o campo onde irão brincar, o

professor pode lançar desafios problematizando e a partir daí, iniciar o trabalho com medidas.

Nesse sentido, Moretti (2015, p. 28) afirma que “do ponto de vista das tarefas atribuídas

aos professores, organizar o ensino para o desenvolvimento dos conceitos científicos nas crianças

é um importante compromisso de sua prática pedagógica, o que demanda a organização intencional

das ações. [...]”

Concordamos com Moura, (2011, p. 10) quando diz que

[...] ao colocar o aluno diante de situações-problemas capazes de mobilizá-lo para

a aprendizagem de instrumentos simbólicos que podem ampliar o seu modo de

apropriar-se de bens culturais e de intervir conscientemente no seu meio, a escola

configura-se como o lugar privilegiado de produção do motivo de aprender

(MOURA, 2011, p. 10).

No entanto, se observarmos atentamente nossas escolas, no que se refere ao ensino da

matemática, não é esta a dinâmica vivenciada. Moura (2011, p. 7) alerta que:

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[...] É grande a distância entre as necessidades dos sujeitos e o conhecimento que

lhe é apresentado na escola. Dessa maneira, é comum os alunos se sentirem

impotentes diante de um conhecimento constituído como por um milagre. É

necessário, portanto, dar condições para que os aprendizes se percebam numa

dinâmica de produção global do que se produz na terra para que não se sintam

como meros consumidores. E isto é possível de ser feito se ele perceber que a cada

momento a sociedade produz em sua dinâmica, novos problemas e novas

soluções. É a percepção deste movimento que pode fazer com que os alunos

sintam-se pertencentes a um mundo pulsante, vivo e que o motivo desta vida tem

a ver com a sua existência e com a dos outros com os quais ele compartilha a vida.

Concordamos com as considerações do autor supracitado e temos constatado, em pesquisas

realizadas recentemente, que este tipo de ensino ainda está longe de se tornar realidade na maioria

de nossas escolas. O que vemos é a constância de uma prática repetitiva, com exercícios de fixação,

no ensino da matemática, que faz com que o aluno crie certa aversão por esta disciplina pois

geralmente não fazem sentido as atividades que precisam ser realizadas todos os dias.

Pesquisas realizadas por Curi (2005 p. 26) nos mostram que “[...] no que concerne aos

conhecimentos pedagógicos referentes aos conteúdos matemáticos, os professores pesquisados

afirmaram que frequentemente usam aulas expositivas e a resolução de listas de exercícios,

preferencialmente com pouco texto”, quando se trata do ensino-aprendizagem de matemática.

Alguns anos depois das pesquisas realizadas por Curi (2005), as pesquisas realizadas pelas

integrantes do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Matemática, do Instituto de Educação

da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Nakazawa (2014, p. 127), Amaral (2015, p.

185), Silbert (2015, p. 171) e Silva (2016) revelam que, apesar dos avanços nos processos de

ensino-aprendizagem, nas práticas educativas o ensino da matemática no primeiro ciclo continua

baseado em aulas expositivas com exercícios repetitivos e pouco atrativos.

Nakazawa (2014, p. 35) constatou em suas pesquisas que as crianças do primeiro ciclo

[...] possuem características peculiares para esta faixa etária, como a imaginação

e a criatividade. Entretanto, tais características também sofrem forte influência do

contexto em que a criança está inserida. É importante que o professor conheça as

características dos alunos, tenha domínio do conteúdo e clareza da sua

intencionalidade educativa de modo a organizar a atividade de ensino que

proporcione ser uma atividade de aprendizagem para a criança.

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A pesquisadora suparacitada, baseada nas ideias de Lorenzato (2011), afirma ainda que as

características específicas da infância é “a facilidade em exteriorizar suas emoções e opiniões, o

que torna a criança sociável, além do interesse contínuo em querer saber o mundo circundante”

Nakazawa (2014, p. 35). Assim, é próprio da criança ser criativa, comunicativa e curiosa. Tais

características, na matemática, podem ser potencializadas ou diminuídas conforme os professores

propõem e conduzem as atividades.

O que fica provado na pesquisa realizada por Nakazawa (2014) é que os alunos, logo no

início do primeiro ciclo, ou seja, aos seis anos de idade, já são conduzidos a uma prática que

consiste em “[...] exercícios repetitivos e mecânicos, com ausência do lúdico, da imaginação e da

criatividade” Nakazawa (2014, p. 130), prática esta que tende a podar a criatividade e a curiosidade

das crianças.

Amaral (2015, p. 32), que também pesquisou a matemática no primeiro ciclo, concluiu que

“[...] não é possível pensar na melhoria da aprendizagem dos conhecimentos matemáticos pelos

alunos dos anos iniciais, dissociada do tipo de ensino desenvolvido pelo professor [...]”. E em suas

considerações finais também constatou que

As práticas pedagógicas observadas evidenciam, de modo geral, que o modelo

tradicional de ensino da Matemática, embora em níveis diferentes, ainda

predomina no fazer pedagógico das professoras participantes da pesquisa.

Traduzem a concepção de conhecimento matemático visto como pronto e acabado

e, portanto, precisa ser transmitido. (AMARAL, 2015, p. 184)

O mesmo contatou Silva (2016) que pesquisou a educação matemática na transição da

Educação Infantil para o Ensino Fundamental ao chegar na seguinte conclusão:

Como vimos, de modo geral, os dados deste estudo indicam que o trabalho

pedagógico com a matemática tanto na pré-escola, quando no 1º ano do EF,

baseia-se pela ideia de que a criança aprende exercitando determinadas noções

matemáticas ou ouvindo as informações das professoras, que por sua vez

preocupam-se em trabalhar apenas: reconhecimento de algarismos; nome dos

números; domínio de sequência numérica, bem como os nomes de algumas

figuras geométricas (quadrado, triângulo e o retângulo). (SILVA, 2016, p. 128)

Como resultado de sua pesquisa Nakazawa (2014, p. 131) concluiu que “a mediação

pedagógica não ocorre no sentido de mobilizar os alunos a pensarem, a argumentarem, a avançarem

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em suas ideias e registros. Caracteriza-se pela orientação coletiva sobre os procedimentos a serem

adotados para resolução dos exercícios propostos [...]”.

Concordamos com Nakazawa (2014, p. 35) quando diz acreditar “que as experiências

vivenciadas nos primeiros anos de escolarização exercem forte influência nos anos seguintes,

denotando real importância proporcionar aos alunos experiências matemáticas desde a sua entrada

no ambiente escolar”.

O exposto até aqui nos leva a refletir sobre a grande responsabilidade do professor que atua

no primeiro ciclo para a aprendizagem da matemática nos anos posteriores, quando os alunos

precisam resolver problemas que exigem criatividade e autonomia, acabam por se sentirem

impotentes, prejudicando a dinamicidade da matemática e, consequentemente, a sua evolução.

Nas leituras por nós realizadas sobre a matemática no primeiro ciclo, constatamos que o

ensino tem sido focado no ensino dos numerais e das quatro operações, de forma repetitiva, com

muitas cópias e exercícios de fixação, o que não garante o desenvolvimento da capacidade de usar

esses conhecimentos em situações práticas uma vez que o ensino de técnicas desprovido de

significado acaba sendo prejudicial ao desenvolvimento do raciocínio da criança.

O reducionismo do currículo paraticado no primeiro ciclo faz com que a criança seja privada

de construir conceitos matemáticos necessários nesta fase de desenvolvimento e que pode

prejudicar sua aprendizagem e desenvolvimento nos anos posteriores, como por exemplo,

conteúdos relacionados a geometria e medidas, que necessitam ser introduzidos no primeiro ano e

aprofundados nos anos posteriores do ensino fundamental. Como afirma Moura (2011, p. 8):

[...] Ao compreender um conceito o sujeito se apropria de um conjunto de regras

e signos que o capacita para lidar com os outros conceitos em uma rede de

conhecimento que lhe permite ir para um outro nível de compreensão do

conhecimento disponível no seu meio cultural [...] (MOURA, 2011, p. 8).

E privar a criança do conhecimento necessário à sua idade é condená-la a viver à margem,

dependente de outras pessoas, fácil de ser manipulada e incapaz de exercer a cidadania plenamente.

Isso porque, como declara Moura (2011, p. 8)

Ao compreender o conceito matemático o sujeito o faz como parte de uma

dinâmica de produção cultural que o coloca em sintonia com um bem cultural

produzido. Aprender os signos e as regras que lhes dão significado deverá,

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portanto, lhe munir de certos instrumentos intelectuais que lhe permitirá agir de

modo semelhante diante de certos problemas que estes instrumentos lhes

parecerão os mais indicados para agir. [...]

Na afirmação do autor, sobressai a visão dinâmica do conhecimento matemático. O que

exige um modo de ensinar diferente da visão instrumentalista.

Quando os alunos se deparam com situações em que tenham que resolver problemas,

percebemos que não estão preparados, uma vez que a prática da técnica por si só, através de

exercícios repetitivos, facilmente encontrado nos cadernos dos alunos do ciclo da alfabetização,

não garantem que os mesmos estejam capacitados para resolver problemas matemáticos, pelo

contrário, faz com que o aluno não desenvolva o raciocínio lógico matemático e a autonomia ao

resolver uma situação problema, pois, embora acerte o que foi solicitado ao utilizar determinada

técnica, não consegue explicar o processo que utilizou, pois na verdade não compreendeu o

procedimento, simplesmente operacionalizou de forma mecânica o que a atividade exigia.

Seria correto se a prática pedagógica contemplasse o conhecimento prévio das crianças e

as estratégias próprias para a resolução de problemas apresentados. Para isso, como já assegura

D’Ambrosio (1993, p. 37), o professor, quem conduz as atividades, cria um “[...] ambiente positivo

que encoraja os alunos a propor soluções, explorar possibilidades, levantar hipóteses, justificar seu

raciocínio e validar suas próprias conclusões. [...]” (D’AMBROSIO, 1993, p. 37).

Neste modelo de ensino “[...] Respostas incorretas constituem a riqueza do processo de

aprendizagem e devem ser exploradas e utilizadas de maneira a gerar novo conhecimento, novas

questões, novas investigações ou um refinamento das ideias existentes” (D’AMBROSIO, 1993, p.

37). Acreditamos que este processo, apresentado pelo autor, retrata o movimento dinâmico do

conhecimento matemático e que precisa ser desenvolvido o quanto antes, principalmente no

primeiro ciclo.

Palma (2011, p. 168) diz que:

A importância da resolução de problemas tem ocupado lugar de destaque nos

estudos sobre o processo de ensino e aprendizagem da matemática escolar. Há um

consenso entre as pesquisas desenvolvidas em diferentes áreas – Matemática,

Psicologia, Educação -, ao considerarem que a resolução de problemas é um

elemento imprescindível no desenvolvimento do raciocínio lógico e na construção

significativa dos conhecimentos matemáticos.

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Na mesma perspectiva, Nacarato (2013, p. 34) afirma que “[...] os alunos precisam resolver

problemas para aprender matemática, e não aprender matemática para aplicar em resolução de

problemas.” Reconhecendo a importância da resolução de problemas no ensino da matemática, a

autora destaca ainda que:

A matemática escolar dos anos iniciais precisa ser pautada na construção de

significados, e essas são decorrentes do trabalho com resolução de situações-

problemas que sejam instigantes aos alunos e os coloquem na condição de

aprender matemática. Trabalhar com matemática nessa perspectiva pressupõem

que a sala de aula seja um espaço onde o aluno tenha que se posicionar, tomar

decisões, argumentar e comunicar suas ideias. Para isso, a resolução de problemas

se constitui num campo fértil de trabalho. Ou seja, aprender matemática é

aprender a resolver problemas (NACARATO, 2013, p. 33).

Assim, é importante que os professores tenham a possibilidade de avançar em suas

concepções sobre a matemática, a aprendizagem e o ensino da matemática, para que possam

planejar e desenvolver aulas mais significativas para as crianças do primeiro ciclo. Percebendo-se

“[...] como sendo aquele que organiza a aprendizagem de modo que o aprendiz se coloque numa

dinâmica de busca de sentido para o que aprende. [...]” (MOURA, 2011, p. 14).

Por isso, não podemos perder de vista que “educar matematicamente envolve entender o

ato educativo como exercício de um autêntico ‘diálogo’, não um discurso onde um fala e o outro

passivamente escuta [...]” (PAULA, 2010, p. 109). É necessário ter clareza de todo o processo,

principalmente do que está implícito em cada escolha, em cada ato, para que, conscientemente,

possamos olhar para o processo ensino-aprendizagem e tomar as decisões cabíveis para diminuir,

paulatinamente, uma prática que vem sobrevivendo nas escolas há séculos, sem possibilitar

mudanças no processo educativo.

A partir desse entendimento, concordamos com Fiorentini (1995, p. 29) quando afirma que:

O processo de construção de um ideário pedagógico, tanto individual como

coletivo, é sempre dinâmico e dialético. De fato, se estamos permanentemente

refletindo sobre nossa prática pedagógica, se discutimos com nossos pares, se

pesquisamos e buscamos continuamente novas fontes teóricas e novas alternativas

de ação em sala de aula, ... então, é de se esperar que nosso ideário também esteja

em permanente mutação.

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Entendemos que são nos momentos destinados à formação continuada que poderão surgir

as oportunidades de reflexão sobre as práticas pedagógicas que possibilitarão as mudanças

necessárias no ensino da matemática, desde que nesses momentos sejam oportunizados aos

professores discutirem com seus pares a busca de alternativas para solucionarem os problemas

encontrados no dia a dia da sala de aula na tentativa de melhorar o ensino-aprendizagem da

matemática.

Nessa direção, Palma e Darsie (2013), apontam que:

Acreditamos que o distanciamento entre a concepção de resolução de problemas

como processo de aprender/fazer matemática e a proposta de resolução de

problemas como mero exercício, está ainda presente com muita intensidade nas

escolas, só tenderá a diminuir na medida em que os cursos de formação inicial e

continuada contemplarem esta temática em suas propostas. Além disso, o

professor precisa se conscientizar de que evoluir em suas práticas pedagógicas em

relação à resolução de problemas matemáticos exige leitura e estudo, para a

apropriação de referenciais teórico-metodológicos; dedicação e criatividade na

elaboração, na proposição e na avaliação de situações problemas; e investigação

e reflexão sobre os processos de ensino-aprendizagem em matemática (PALMA;

DARSIE, 2013, p. 22).

Assim, é preciso reafirmar que, para a melhoria do ensino-aprendizagem da matemática na

escola é fundamental investir nos momentos de reflexões e trocas de experiências,

preferencialmente na formação continuada.

Nesse sentido, acreditamos que a matemática, se ensinada de forma significativa, exercerá

função primordial no desenvolvimento pleno da criança que frequenta o primeiro ciclo. Portanto,

como já dito, é preciso criar situações na escola em que os professores tenham a oportunidade de

discutirem com seus pares sobre suas concepções de matemática e suas práticas pedagógicas, a fim

de propiciar melhorias no ensino e aprendizagem e, em consequência, melhorar a qualidade da

educação.

Apresentamos no próximo capítulo os aspectos metodológicos da nossa pesquisa.

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3 CAMINHO METODOLÓGICO DA PESQUISA

A seguir será exposto o caminho metodológico que seguimos, afim de responder ao nosso

problema de pesquisa “como a formação continuada PEIP é concebida, desenvolvida e avaliada

por professores que ensinam matemática no primeiro ciclo em uma escola estadual do município

de Cáceres-MT?”. Para isso, delineamos como foi realizada, a seleção do contexto e dos

participantes da pesquisa, os instrumentos e procedimentos de produção de dados.

3.1 Tipo de Pesquisa

Para a realização desta pesquisa fizemos a opção por uma abordagem qualitativa do tipo

estudo de caso, uma vez que concordamos com Godoy (1999, p. 62) ao dizer que “a pesquisa

qualitativa tem o ambiente natural como fonte direta de dados e o pesquisador como instrumento

fundamental”.

Isso porque, essa abordagem possibilita compreender nosso objeto de estudo pois, conforme

aponta André (1995, p. 26) o estudo de caso é o mais indicado:

(1) quando se está interessado numa instancia em particular, isto é, numa

determinada instituição, numa pessoa ou num específico programa ou currículo;

(2) quando se deseja conhecer profundamente essa instância particular em sua

complexidade e em sua totalidade; (3) quando se estiver mais interessado naquilo

que está ocorrendo e no como está ocorrendo do que nos seus resultados; (4)

quando se busca descobrir novas hipóteses teóricas, novas relações, novos

conceitos sobre um determinado fenômeno; e (5) quando se quer retratar o

dinamismo de uma situação numa forma muito próxima do seu acontecer natural.

O caso que propomos investigar se refere à formação continuada PEIP, apresentada aos

professores da escola pesquisada, elaborada pela SEDUC-MT, na visão das professoras que

ensinam matemática no primeiro ciclo em uma escola estadual do município de Cáceres-MT.

Segundo Ludke e André (1986, p. 20), “estudos de caso procuram representar os diferentes e às

vezes conflitantes pontos de vistas presentes numa situação social”. Em função disso, os resultados

do estudo realizado podem despertar diferentes questionamentos e os resultados ficam disponíveis

para que o pesquisador interprete segundo seu ponto de vista.

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Estudamos um caso quando ele próprio se reveste de um interesse muito especial,

e então procuramos o pormenor da interação com os seus contextos. O estudo de

caso é o estudo da particularidade e complexidade de um único caso, conseguindo

compreender a sua actividade no âmbito de circunstâncias importantes (STAKE,

2012, p. 11).

Desta forma, acreditamos que a metodologia escolhida favorecerá o entendimento do

fenômeno e grupo estudados e, nesse processo, destacamos a importância do contexto da pesquisa,

sobre o qual trataremos a seguir.

3.2 O contexto e os participantes da pesquisa

A pesquisa foi realizada com um grupo de professoras que atuam no primeiro ciclo em uma

escola estadual do município de Cáceres-MT no contexto da formação continuada.

O município de Cáceres, segundo dados levantados no site do IBGE 2015, está localizado

no centro-sul de Mato Grosso, a 240 km de Cuiabá. Tem uma população composta por 90.881

habitantes. Faz fronteira com a Bolívia e é popularmente conhecida como “Princesinha do

Paraguai”. Possui uma área de 24.577.142 km² e o bioma é formado por Cerrado, Amazônia e

Pantanal.

Tem atualmente 14 escolas estaduais na área urbana, destas, 12 ofertam o 1º ciclo do

Ensino fundamental, sendo este um universo muito amplo para a realização deste estudo.

A definição da escola, por nós identificada como escola Gemas, se deu pelo fato da mesma

ser a segunda que possui o maior número de salas com atendimento para o Ciclo de alfabetização

(1º Ciclo), portanto, uma das que tem um maior número de professores do primeiro ciclo. A maior

escola recentemente participou de uma pesquisa semelhante a esta e por esse motivo não foi

contactada.

As informações a seguir foram obtidas através do documento Projeto Político Pedagógico

(PPP) e dos registros nos cadernos de campo da pesquisadora.

A escola Gemas foi fundada pelo decreto nº 171 de 10 de setembro de 1982, e reconhecida

como Escola de Ensino Fundamental pelo parecer nº 1.607/85 de 30 de setembro de 1985. Porém,

recebeu autorização para funcionar o Ensino Fundamental e Médio em 18 de dezembro de 1978.

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A estrutura física da escola conta com sala de professores, sala de coordenadores, sala de

diretor, sala de articulador, secretaria, biblioteca, laboratório de informática com 20 computadores

com acesso à internet, quadra coberta, cozinha, refeitório, cantina, depósito e dezesseis salas de

aula.

Em função da localização da escola, região periférica e próxima a BR 070, recebe um

número expressivo de alunos oriundos dos bairros vizinhos que iniciam no primeiro ano do Ensino

Fundamental na escola e concluem o Ensino Médio, o que contribui para que seu número de alunos

seja elevado.

A escola Gemas oferta o Ensino Fundamental, do 1° ao 9° Ano e o Ensino Médio, nos

períodos matutino e vespertino. No ano de 2016 esta Unidade Escolar atendeu a um total de 970

alunos, distribuídos nos dois turnos, perfazendo um total de 32 turmas. Destas, 5 são do primeiro

ciclo e compuseram as turmas pesquisadas. Sendo considerada, portanto, uma escola de grande

porte. Compôs a equipe gestora: o diretor, a secretária e três coordenadores pedagógicos. O quadro

docente foi constituído por 43 professores, sendo 26 efetivos e 17 interinos. A escola contou ainda

com 01 professor articulador e 01 professor em desvio de função que atendiam alunos que

necessitavam de apoio pedagógico, além de 01 professor responsável pela biblioteca, que também

realizava atendimento pedagógico. Possuía 01 técnico responsável pelo laboratório de informática,

05 técnicos responsáveis pela secretaria e 06 apoios administrativos educacionais que exerciam as

funções de merendeira, serviços gerais e guardas.

A princípio, agendamos um encontro com os gestores da escola para a apresentação do

projeto de pesquisa. Após o aceite da direção, fizemos uma reunião com os professores regentes

do 1º Ciclo, apresentamos o projeto, explicamos a todos o processo da pesquisa, o compromisso

ético com cada um, dando-lhes a garantia do sigilo sobre a fonte de informação e deixando a critério

de cada um o aceite ou não para fazer parte da pesquisa. Passado esse momento, recolhemos

assinaturas das autorizações nos Termos de Consentimento e Livre Esclarecido (Diretora,

Coordenadora Pedagógica e professoras do primeiro ciclo). Concordaram em colaborar com a

pesquisa os cinco professores do primeiro ciclo, sendo uma professora do primeiro ano, duas do

segundo ano e duas do terceiro ano.

Após a análise e aprovação do projeto pelo Comitê de Ética em Pesquisa – (CEP) da

Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) iniciamos a pesquisa de campo.

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3.2.1 Perfil das professoras colaboradoras

Uma vez que não serão divulgados os nomes das participantes da pesquisa, por uma questão

ética, optamos por chamá-las por codinomes Rubi, Pérola, Esmeralda, Ágata e Jade, pedras

preciosas. Isso porque, cada uma delas, a seu modo, foi se transformando, com o tempo de

convivência nessa pesquisa, de pedra bruta a gemas raras, pessoas muito especiais que, mesmo

com suas sofridas histórias de vida, com seus problemas pessoais, que não são poucos, somados

aos profissionais, dedicam-se ao trabalho docente, em situações estruturais problemáticas, foram

nos cativando.

Todas as alfabetizadoras participantes da pesquisa eram efetivas e possuíam ensino superior

em Pedagogia, modalidade presencial, pela Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT).

A carga horária de trabalho, de trinta horas semanais, sendo vinte horas em regência e dez de hora

atividade6, com exceção de Jade que trabalhava em duas escolas. Destas, quatro eram destinadas

para formação continuada e seis o professor usava para planejamento, preparar atividades

pedagógicas, confecção de materiais manipuláveis ou atender aluno que necessitava de reforço.

Em linhas gerais, usando o questionário de caracterização preenchidos pelas próprias

participantes, entrevistas e as anotações do caderno de campo da pesquisadora, apresentamos a

seguir características das alfabetizadoras.

Rubi é natural de Cáceres-MT, tem 38 anos de idade. Terminou a graduação em 2008

fazendo em seguida o concurso para ingressar como professora na rede estadual. Tomou posse do

concurso em outro município conseguindo ser transferida para Cáceres logo após o período

probatório. Possui especialização em Educação Infantil pela instituição São Braz tendo concluído

em 2016. Sua experiência como professora se restringe à alfabetização onde leciona há seis anos.

Atuava há apenas um ano na escola pesquisada. Não exercia outra profissão além de professora.

Apesar de gostar de atuar no primeiro ciclo queria trabalhar no segundo ciclo, o que ainda não tinha

sido possível devido a contagem de pontos e o processo de atribuição de aulas. Disse, em entrevista

6A Hora Atividade, é o período correspondente a 10 horas da carga horária de 30 horas que o professor da rede estadual

de Mato Grosso tem que cumprir semanalmente na unidade escolar no período oposto ao que leciona.

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que sua experiência com a matemática enquanto estudante não foi muito boa sendo muitas vezes

castigada por causa da tabuada e da divisão.

Ágata, natural de São Paulo-SP, 39 anos de idade. Concluiu a graduação em 2002 e a

especialização em Psicopedagogia em 2008. Tinha experiência como professora na alfabetização,

leciona há quinze anos e na educação infantil. Atuava há três anos na escola pesquisada. Não

exercia outra profissão além de professora. Colaborava muito com as outras alfabetizadoras, sendo

citada várias vezes nas entrevistas das colegas. Disse, em entrevista que não gostava da matemática

durante o ensino fundamental e que somente na graduação é que foi realmente aprender

matemática.

Jade nasceu em Cáceres-MT, 45 anos de idade. Terminou a graduação em 1995. Possuía

especialização em Planejamento Educacional pela instituição Universo, tendo concluído em 2002.

Sua experiência como professora era na alfabetização onde lecionava há três anos, no período

vespertino. É professora na educação infantil em uma instituição da rede municipal no turno oposto.

Atuava há apenas um ano na escola pesquisada. Disse, em entrevista que não tinha muitas

lembranças da matemática enquanto estudante, só que tinha que decorar e que os professores não

utilizavam materiais concretos.

Esmeralda, natural de Cáceres-MT, 49 anos de idade. Terminou a graduação em 1992.

Possuía especialização em Planejamento Educacional pela instituição Universidade Salgado de

Oliveira, tendo concluído em 2003. O tempo de experiência como professora era maior no segundo

ciclo, na alfabetização lecionava há seis anos. Atuava há 29 anos na escola pesquisada. Não exercia

outra profissão além de professora. Apesar de gostar muito de ser professora sempre sonhou em

ser diretora, oportunidades teve mas, por motivos familiares não foi possível. Esmeralda, assim

como Jade, não tinha lembranças da matemática do período em que estudava. Estava em fase final

de sua carreira profissional e demonstrava preocupação com os anos iniciais.

Pérola era natural de Cerqueira César-SP, tinha 52 anos de idade. Terminou a graduação

em 2007. Possuía especialização em Educação Infantil e Educação Especial pela Faculdade das

Águas Emendadas, tendo concluído em 2010. Sua experiência como professora era maior no ciclo

da alfabetização onde lecionava há 10 anos e também tinha experiência na Educação Infantil.

Atuava há dois anos na escola pesquisada. Não exercia outra profissão além de professora. Sua

relação com a matemática foi muito problemática pois, segundo a professora Pérola, devido as

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dificuldades que tinha, a matemática não entrava em sua cabeça e as práticas de ensino a que eram

expostas colaboravam para que ela pensasse desta forma. Contou um episódio ocorrido na sua

infância em que sua professora, após explicar o exercício havia perguntado se ela havia entendido

a questão, como a resposta foi negativa, a professora apertou sua cabeça e disse que ela tinha a

cabecinha oca, com um buraco dentro o que fez com que a matemática fosse embora de vez da sua

ideia.

É importante apresentarmos nesse momento informações sobre as participantes da pesquisa

por considerarmos que a trajetória histórica, estudantil e profissional refletem de alguma forma na

pessoa/profissional que são. Para sintetizar o perfil profissional e pessoal das professoras que

atuavam no primeiro ciclo elaboramos o quadro a seguir.

Quadro 4 - Caracterização das professoras

Participantes Jade Ágata Pérola Esmeralda Rubi

Idade 45 39 52 49 38

Turma em que

atua 1º ano 2º ano 2º ano 3º ano 3º ano

Formação e

ano de

conclusão

Pedagogia

(1995)

Especialização

em

Planejamento

Educacional

(2002)

Pedagogia

(2001)

Especialização

em

Psicopedagogi

a (2008)

Pedagogia

(2007)

Especialização

em Educação

Especial

(2010)

Pedagogia (1992)

Especialização

em Planejamento

Educacional

(2003)

Pedagogia

(2008)

Especializaçã

o em

Educação

Infantil

(2016)

Tempo de

serviço 3 anos 15 anos 10 anos 29 anos 6 anos

Tempo de

serviço na

escola Gemas

1 ano 3 anos 2 anos 29 anos 1 ano

Fonte: Organizado pela autora a partir do questionário – Perfil das professoras em 2016

Como podemos observar na última linha do quadro 4 somente Esmeralda estava a mais

tempo na escola Gemas. Essa informação é importante no processo de análise dos dados, pois

acreditamos que influencia nas falas e atitudes das participantes no decorrer da pesquisa.

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3.3 Os instrumentos e procedimentos de produção de dados

Ao decidirmos investigar a formação continuada PEIP optamos, a princípio, por

acompanhar as três macro ações que a compõem, quais sejam: a) Ação 1 – Estudos gerais (previstos

para ser realizada no 1º semestre de 2016, onde deverão ser estudados os temas: Avaliação

Educacional, Projeto de Intervenção Pedagógica e Pesquisa-Ação b) Ação 2 – Planejamento da

Intervenção Pedagógica (também prevista para o 1º semestre); c) Ação 3 – Intervenção (na

regência), estudos específicos e socialização (previstos para o 2º semestre). Assim, acreditávamos

ser possível alcançarmos nossos objetivos. Todavia, aconteceram situações imprevistas que

mudaram o rumo da nossa pesquisa devido a ações que não foram concluídas na escola Gemas.

Compartilhamos a ideia de Gonzáles Rey (2015, p. 100) de que “os dados não se coletam,

mas se produzem” e que o dado “é inseparável do processo de construção teórica no qual adquire

legitimidade”. É assumindo essa concepção que elencamos a seguir os procedimentos e

instrumentos de produção de dados que utilizamos no desenvolvimento da pesquisa:

As Observações, primeiro procedimento utilizado na pesquisa, aconteceram em dois

espaços, nos momentos de formação continuada, onde acompanhamos alguns encontros do

processo da formação docente e no desenvolvimento das práticas pedagógicas em sala de aula.

As observações dos encontros de formação continuada ocorreram nos dias seis e treze de

setembro e no dia seis de dezembro de 2016. Não era nossa intenção observarmos todos os

encontros, pois o que queríamos saber era como as professoras do primeiro ciclo concebiam o

PEIP, era o ponto de vista delas que estava em foco. Procuramos evidenciar a fala e a visão das

alfabetizadoras na seleção dos dados produzidos. Nas observações que participamos queríamos

investigar como era o envolvimento das participantes da pesquisa nos estudos coletivos, nas

socializações das discussões, nas decisões, na interação com os pares e na coletividade.

Antes de iniciarmos a observação em sala de aula tivemos primeiramente que optar pelo

tipo de observador que seríamos. Após algumas leituras, decidimos por assumir o papel que Ludke

e André (1986, p. 29) chamam de “observador participante” por considerarmos o ideal para

alcançarmos nossos objetivos.

Isso feito, fomos interagindo com as participantes da pesquisa nos espaços de formação,

nos intervalos das aulas, principalmente na hora do recreio onde se encontravam na sala dos

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professores, a fim de conseguirmos uma aproximação maior com as professoras e o contexto

pesquisado, pois percebemos a princípio uma certa resistência das mesmas em autorizar o início

das observações.

Situações imprevistas, como a greve de professores da rede estadual, ocasionaram atraso

no início das observações em sala de aula. Isso nos causou grande preocupação, pois tínhamos um

prazo datado para encerramento da nossa pesquisa.

Assim, em dezembro de 2016 iniciamos as observações das práticas pedagógicas, período

em que estava acontecendo o terceiro bimestre letivo, devido ao atraso no calendário escolar em

consequência da greve dos professores em todo o Estado.

Dessa forma, iniciamos as observações das professoras que já haviam feito as análises das

avaliações e mesmo o plano de intervenção tendo sido adiado para o próximo ano letivo, decidiram

iniciar as intervenções mesmo assim, durante as aulas, porém sem elaborar o projeto de intervenção

como era esperado, uma vez que já sabiam quais eram as necessidades de aprendizagem dos alunos

e sabiam da consequência de não intervir no momento certo.

Na primeira semana somente duas professoras permitiram fazer as observações que

centraram-se nas aulas de matemática. As outras adiaram alegando que não iriam trabalhar com a

matemática nesta semana devido à proximidade da “Noite Cultural” que a escola estaria

promovendo na próxima semana e que os alunos estariam ensaiando todos os dias após o recreio,

momento em que elas costumam trabalhar a matemática.

Na semana seguinte, além de continuarem os ensaios para a noite cultural aconteceu na

escola pesquisada as “Olimpíadas da escola”, evento muito esperado pelos alunos que acontece

todos os anos em dezembro.

Combinamos com as professoras retomar as observações após o recesso do Natal e Ano

novo. O que acabou não acontecendo, pois as professoras participantes da pesquisa estavam com

estagiárias da UNEMAT em regência nesse período ficando as observações suspensas e, caso

necessário, retornaríamos no próximo ano letivo uma vez que as professoras pretendiam continuar

com as mesmas turmas. Desta forma, foram feitas observações em apenas duas turmas.

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Caderno de campo:

Utilizado para registrar as informações produzidas a partir das observações dos encontros

formativos (organização do ambiente, diálogos, movimentação dos participantes, linguagem não

verbal, fragmentos de falas, interpretação de situações, dúvidas para posterior análise,

envolvimento dos participantes, formação colaborativa ou individualista, articulação com a teoria,

aproveitamento do tempo, e outras questões relacionadas) e das práticas pedagógicas (organização

do trabalho pedagógico, reflexões pessoais, atendimento ao aluno com dificuldade de

aprendizagem, informações que ajudarão na análise do desenvolvimento do plano de intervenção,

etc.)

Esse instrumento possibilitou descrever situações do cotidiano apresentadas no espaço da

pesquisa. Os registros das observações aconteceram, a maioria, no mesmo momento das

observações, procurando reproduzir diálogos, atividades, procedimentos didáticos de forma

descritiva. Posteriormente, mas o mais rápido possível, acrescentávamos nossas reflexões teóricas

sobre pontos considerados importantes que foram observados. Foram registrados também

conversas informais que aconteciam entre as professoras nos intervalos das formações e na hora

do recreio. O caderno de campo foi organizado e paginado visando ser utilizado no momento das

análises.

Questionário:

Foi constituído de questões mistas com o objetivo de obter informações para caracterizar

os sujeitos de nossa pesquisa (as experiências escolares e profissionais) e sobre formação

continuada. Sua distribuição ocorreu na ocasião da segunda ida à escola. Foi preenchido por todas

as participantes e devolvidos para a pesquisadora no mesmo dia;

Entrevistas:

Foram do tipo semiestruturada, visando investigar a formação PEIP a partir do ponto de

vista das professoras do primeiro ciclo.

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As entrevistas foram realizadas primeiramente individual, nos meses de novembro e

dezembro de 2016, mais específicas, sobre os estudos desencadeados e as ações decorrentes desses

estudos no PEIP, com a pretensão de identificar as concepções, experiências e expectativas

relatadas pelos participantes e a outra foi após a transcrição da primeira, no mês de janeiro de 2017,

para retomar pontos que não foram contemplados de forma clara na primeira entrevista.

As participantes da pesquisa optaram por fazerem a segunda entrevista juntas. Como

estávamos com problemas com horário e local resolvemos acatar a sugestão delas, por isso a

denominamos de entrevista coletiva. Esmeralda e Pérola não puderam participar no mesmo dia e

horário então fizeram em outro momento.

Na ocasião da realização das entrevistas já havia acontecido os primeiros contatos com as

participantes quando acompanhávamos as formações e nos intervalos das aulas. Isto possibilitou

criar laços de proximidade com as participantes da pesquisa. Deixávamos sempre claro que

estávamos à disposição delas para que escolhessem o local, o dia e o melhor horário para elas.

Duas das participantes optaram por realizar a primeira entrevista após o horário de aula, ou

seja, às 17:00 h, pois, por motivos familiares, não podiam vir no contra turno. Outras duas fizeram

no período da manhã, enquanto estavam em horário de Hora Atividade e uma preferiu no sábado

pela manhã. Todas as entrevistas aconteceram na escola. As que aconteceram no período da manhã

foram as mais problemáticas, pois não haviam ambientes sossegados, a única opção foi em uma

biblioteca que tinha movimentação constante de alunos e da professora responsável por este

ambiente, ao mesmo tempo que nós.

Tínhamos a preocupação de deixarmos as alfabetizadoras bem à vontade e que, se achassem

necessário, interromperíamos as entrevistas, o que não foi preciso, isso as deixou mais tranquilas.

Após cada entrevista fazíamos imediatamente as transcrições e o levantamento das questões

que não haviam sido contempladas ou pouco esclarecidas, realizando, o mais rápido possível, a

segunda entrevista, para complementar os dados necessários. Todas as entrevistas foram transcritas

na íntegra.

Assim, em janeiro de 2017 concluímos as entrevistas e suas transcrições, desta primeira

etapa passando em seguida para a fase de análise e destaque das falas que consideramos pertinentes.

No decorrer da pesquisa, após as primeiras entrevistas com as professoras, sentimos a

necessidade de entrevistar o coordenador responsável pelo PEIP, que na análise foi identificado

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como Topázio e a coordenadora pedagoga responsável pelo primeiro ciclo identificada como

Turquesa, para uma melhor compreensão da dinâmica da etapa de estudos. A escola conta com

uma terceira coordenadora que não foi entrevistada porque não participa do grupo de estudo das

professoras participantes da pesquisa, mas que será identificada como Safira, caso seja necessário

citá-la no momento das análises.

Documentos escolares:

Documentos elaborados pelos professores: planejamento diário e relatórios avaliativos

específicos da matemática, que permitiram identificar e analisar quais conteúdos foram

contemplados, as atividades e os recursos utilizados, bem como a avaliação.

Cadernos de alunos: são considerados fonte importante para a pesquisa, pois contém

registros sobre as atividades, os conteúdos, os registros espontâneos das crianças, e a avaliação.

Foram recolhidos um caderno por turma. Decidimos scanear todo o caderno, não só as atividades

de matemática, pois queríamos verificar se houve integração dessa disciplina com as outras áreas

do conhecimento.

3.4 Procedimentos de análise de dados

Para identificar os participantes e os instrumentos e procedimentos utilizados na análise das

falas criamos códigos da seguinte maneira:

Quadro 5 – Siglas dos instrumentos para análises

SIGLAS Instrumentos Quantidade

DE Documentos Escolares 05

QC Questionário de Caracterização 05

CCP Caderno de Campo da Pesquisadora 01

CRA Caderno de Registros Avaliativos 03

EI1 Entrevista Individual 1 06

RAA Resultado das Avaliações ADEPE-MT 02

PA Planejamento Anual 02

CI Conversa Informal 01

EI2 Entrevista Individual 2 01

EC Entrevista Coletiva 01 Fonte: Organizado pela autora

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Assim, por exemplo, ao nos referirmos à fala da Professora Pérola, retirada da primeira

entrevista será apresentada da seguinte forma: EI1 PÉROLA.

No segundo semestre de 2016, várias etapas de nossa pesquisa iniciaram paralelamente,

entrevistas, observações, recolha de materiais, enfim, buscávamos tudo que pudesse de alguma

forma ser útil para a nossa pesquisa.

Após a transcrição das entrevistas e conversas informais, fizemos uma leitura geral dos

dados para então iniciarmos a organização, separando os trechos das falas em quadros por sujeitos,

Àgata, Rubi, Esmeralda, Jade, Pérola e por eixos temáticos que melhor respondiam a nossa

questão de investigação e optamos pela modalidade de análise de conteúdo que, segundo Fiorentini

e Lorenzato (2012, p. 137) é concebida “como uma técnica que tem principal função descobrir o

que está por trás de uma mensagem, de uma comunicação, de uma fala, de um texto, de uma prática,

etc.”.

Fiorentini e Lorenzato (2012, p. 137-138) afirmam que a análise de conteúdo:

[...] exige a utilização de critérios claramente definidos sobre registros fornecidos

pelas pessoas interrogadas; tais critérios consideram as palavras utilizadas nas

respostas, as ideias ou opiniões expressas e as interpretações e justificativas

apresentadas. Para tanto, todos os registros devem ser atentamente lidos, vistos e

revistos a fim de efetuar-se um levantamento das principais informações neles

contidas [...] (grifo do autor).

Dos dados em análise emergiram três eixos, o primeiro relaciona-se à dinâmica de estudos

do PEIP, se fez necessário para compreender o contexto da formação continuada, o segundo refere-

se às percepções, avaliações e sentimentos das professoras sobre a formação desenvolvida,

priorizando os dados obtidos nas entrevistas a fim de dar voz às professoras e o terceiro refere-se

às avaliações externas e internas nas ações do PEIP destacando as consequências de pautar a

formação continuada nos resultados das avaliações externas.

Os três eixos fazem parte ação 1 das três macros ações descritas em Mato Grosso (2016a,

p. 43):

a) Ação 1 – Estudos gerais (previstos para ser realizada no 1º semestre de 2016,

onde deverão ser estudados os temas: Avaliação Educacional, Projeto de

Intervenção Pedagógica e Pesquisa-Ação;

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b) Ação 2 – Planejamento da Intervenção Pedagógica (também prevista para o 1º

semestre);

c) Ação 3 – Intervenção (na regência), estudos específicos e socialização

(previstos para o 2º semestre).

A Ação 3 – Intervenção (na regência), estudos específicos e socialização (previstos para o

2º semestre) – seria o nosso quarto eixo do capítulo das análises, no entanto, a pesquisa foi se

delineando sem que pudéssemos prever alguns acontecimentos que acabaram por mudar a direção

pretendida, como por exemplo, as observações em sala de aula que aconteceria durante o período

em que as professoras estivessem desenvolvendo o plano de intervenção pedagógico específico de

matemática, que seria elaborado nos encontros formativos, sofreu alterações, pois houve mudanças

na formação e consequentemente em todas as etapas previstas para o desenvolvimento das ações

do PEIP.

As observações das aulas de matemática no primeiro ciclo que realizamos em 2016 não

foram consideradas como intervenção pedagógica. A escola, devido a greve, atrasos na formação

e informações, incompatibilidade dos resultados da ADEPE-MT, entre outros problemas, decidiu

suspender as ações do PEIP.

Procuramos triangular os dados de forma a justificar nossas análises utilizando instrumentos

de pesquisa variados e teóricos estudiosos das temáticas que emergiram.

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4 FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORAS QUE ENSINAM MATEMÁTICA

NO PRIMEIRO CICLO NO PEIP

Neste capítulo, pretendemos responder como a formação continuada PEIP foi concebida,

desenvolvida e avaliada por professoras que ensinavam matemática no primeiro ciclo em uma

escola estadual do município de Cáceres-MT. Para apresentarmos as análises dispomos os dados

em três eixos temáticos. No primeiro eixo explicitaremos a dinâmica da etapa de estudos coletivos

na escola Gemas analisando o contexto em que se deu a formação na tentativa de interpretar as

percepções das professoras sobre a formação continuada desenvolvida. No segundo eixo traremos

fatos que as professoras apontaram sobre a organização e condução da formação continuada, e que,

a nosso ver, indicam a avaliação, as percepções e sentimentos que as professoras tiveram em

relação ao PEIP. No terceiro eixo procuramos compreender as percepções das professoras sobre as

avaliações externas e internas e as ações do PEIP.

Os três eixos fazem parte ação 1 - estudos gerais, das três macro ações do PEIP descritas

na portaria 161/2016/SEDUC-MT na página 43. As ações 2 e 3 não foram realizadas pela escola

Gemas.

4.1 Eixo Temático 1 – Dinâmica da etapa de estudos coletivos na escola Gemas

A partir da leitura dos dados organizamos este eixo separando dados de forma a esclarecer

e situar o contexto para entender a avaliação e posicionamento das professoras perante a etapa

inicial do PEIP. Aqui apresentamos e discutimos a dinâmica de estudo realizada destacando como

foi organizada a formação. Para isso, iniciamos trazendo dados da entrevista realizada com

Topázio, da portaria 161/2016ª/GS/SEDUC-MT e 322/2016/GS/SEDUC-MT, entre outros, uma

vez que não possibilitaram a participação das professoras nessa etapa do processo formativo.

O sucesso ou o fracasso de um projeto de formação continuada tende a ser determinado já

no início do processo, em sua organização. O primeiro passo para compreendermos as percepções

das professoras, participantes de nossa pesquisa, sobre o PEIP foi saber como aconteceu a dinâmica

da formação. Assim, refletimos sobre a seleção dos textos e o papel do coordenador pedagógico; a

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frequência e cronograma dos encontros; destacando os estudos indicados pela SEDUC-MT e os

estudos que foram realizados; a condução dos encontros formativos; e o curso GeoGebra.

4.1.1 A seleção dos textos e o papel do coordenador pedagógico

Em 2016, a formação continuada nas escolas de Mato Grosso iniciou com um novo formato.

Nos anos anteriores, quando foram desenvolvidos os projetos Sala de Professor e Sala de Educador,

logo no início do ano letivo, os profissionais da escola, juntamente com a equipe gestora, se

reuniam para decidirem o que e como iriam estudar nos encontros formativos. O coordenador, com

auxílio dos formadores dos CEFAPROS, se encarregava de elaborar o projeto, que, depois de

finalizado, era encaminhado para o parecer final do CEFAPRO, que autorizava seu início. Com o

PEIP, essa etapa deixou de existir. A própria SUFP decidiu o que as escolas teriam que estudar na

primeira etapa da formação.

Para o primeiro semestre de 2016, a SEDUC-MT determinou que fossem estudados no

PEIP os seguintes temas: Projeto de Intervenção, Pesquisa-ação e Avaliação educacional. Os textos

sugeridos para leitura estão no quadro abaixo.

Quadro 6 - Textos indicados na portaria 161/2016/SEDUC-MT para etapa de estudos

Temas Textos propostos na portaria 161/2016/SEDUC-MT

Pro

jeto

de I

nte

rv

en

çã

o

CORTESÃO, L. Projecto, interface de expectativa e de intervenção. In: LEITE, E.;

MALPIQUE M.; DOS SANTOS, M. R. Trabalho de projecto, vol.2, 3.ªed. Porto:

Afrontamento, 1993.

LEGRAND, L. A pedagogia do projecto. In: LEITE, E.; MALPIQUE M.; DOS

SANTOS, M. R. Trabalho de projecto, vol.2, 3.ª ed. Porto: Afrontamento, 1993.

VEIGA, I. P. A. Projeto de ação didática: Uma técnica de ensino para inovar a sala

de aula. In: VEIGA, I. P. A. (org.). Técnicas de ensino: Novos tempos, novas

configurações. Campinas: Papirus. p. 69-84. 2006.

VILLAS BOAS, B. M. de F. Projeto de intervenção na escola: Mantendo as

aprendizagens em dia. Campinas, SP: Papirus, 2010. (Coleção Magistério:

Formação e Trabalho Pedagógico)

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67

Pesq

uis

a-a

çã

o

ABDALLA, M. de F. B. A pesquisa-ação na análise do trabalho docente. VI

Seminário Redestrado - Regulação Educacional e Trabalho Docente, 06 e 07 de

novembro de 2006, UERJ - Rio de Janeiro. Disponível em: <www.

fae.ufmg.br/estrado/cd_viseminario/...3/ a_pesquisa_acao.doc>. Acesso em:

24/2/2016.

THIOLLENT, M. Metodologia da pesquisa-ação. 18 ed. São Paulo: Cortez, 2011.

TRIPP, D. Pesquisa-ação: uma introdução metodológica. Revista Educação e

Pesquisa. São Paulo, v. 31, p. 443-466, set. 2005. Disponível em: <http://

www.scielo.br/pdf/ep/v31n3/a09 v31n3.pdf>. Acesso em: 09/01/2016.

Av

ali

açã

o e

du

ca

cio

na

l

CARVALHO, Rosenei Bairros de Freitas. Avaliação para a aprendizagem: a

articulação entre ensino, aprendizagem e avaliação:(Mato Grosso-Brasil). Tese de

doutorado, Instituto de Educação da Universidade de Lisboa, Lisboa, 2014.

FERNANDES, D. (org.). Avaliação em educação: olhares sobre uma prática social

incontornável. Pinhais: Editora Melo, 2011.

FREITAS, L. C. de et al. Avaliação educacional: caminhando pela contramão.

Petrópolis: Vozes, 2009.

HOFFMANN, J. O jogo do contrário em avaliação. Porto Alegre: Mediação, 2005.

________. Avaliar para promover: as setas do caminho. Porto Alegre: Mediação,

2001.

SILVA, J. F. da; HOFFMANN, J.; ESTEBAN. M. T. (orgs.). Práticas avaliativas

e aprendizagens significativas em diferentes áreas do currículo. Porto Alegre:

Mediação, 2003.

Fonte: Organizado pela autora a partir da portaria suparacitada

No mês de setembro, na portaria 322/2016/GS/SEDUC-MT, foi determinado que as escolas

incluíssem as temáticas “Métodos de Ensino (ex: transposição didática, pesquisa-ação em sala de

aula, pedagogia de projetos, sequência didática, resolução de problemas, ensino e aprendizagem

baseada em investigação, etc.) e Teorias de Aprendizagem” (MATO GROSSO, 2016b, p. 45).

Consideramos que as temáticas indicadas na primeira portaria são muito importantes para

serem discutidas na formação continuada, no entanto, o processo de aprendizagem e de como lidar

com as aprendizagens no contexto atual também devem ser discutidos, pois entendemos que a

concepção de aprendizagem, ou seja, as ideias do professor de como se dá o processo de

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aprendizagem vão direcionar o processo de ensino e suas escolhas na organização do trabalho

pedagógico, como vimos no segundo capítulo. Desta forma, se o professor tem uma concepção

empirista de aprendizagem, é possível que não atribua sentido aos estudos referentes a projetos

didáticos, pois terá dificuldade em relacionar o que estudou com o que pensa sobre como a criança

aprende. Consideramos que seria importante criar uma dinâmica de discussão onde os professores

pudessem confrontar suas ideias com as de seus colegas e refletissem sobre suas convicções. Isso

não significa dizer que não consideramos que as práticas dos professores sofrem influências do

contexto em que estão inseridas, e das políticas educacionais.

Ao comentar sobre como se deu o início da formação continuada PEIP na escola Gemas, o

coordenador Topázio, responsável pela formação, iniciou sua fala criticando a atitude de imposição

da SUFP,

[...] Então o que aconteceu, essa organização que a SEDUC-MT propôs enquanto

calendário veio prejudicar a formação contínua e quando se fala de Projeto

PEIP, o projeto já está elaborado. Nós não temos que sentar com os professores

ou com os coordenadores e fazer um projeto, escolher textos junto com os

professores, ouvir opiniões, porque esse aí foi apresentado, foi proposto e nós

seguimos a portaria. Não houve uma discussão, nós não sentamos para debater,

porque o projeto estava elaborado e a gente tinha apenas que executar. [...] (EI1,

Topázio, coordenador).

Todavia, apesar de dizer que não houve necessidade de se reunir com os professores para a

escolha dos temas e textos a serem estudados, como era feito nos anos anteriores, percebemos que

no cronograma de estudos, elaborado por Topázio, os textos não eram os mesmos sugeridos pela

SUFP, conforme podemos observar no quadro 7, página 73, porque optou por substituir os textos

“mesmo com as orientações da portaria nós selecionamos os textos [...], conseguimos outros

autores para podermos complementar o que estava na portaria” (EI1, Topázio, coordenador).

Ao ser questionado se os professores participaram da escolha dos novos textos o

coordenador volta a falar das mudanças na formação continuada e não justifica sua decisão de não

consultar os professores nesse momento de planejamento da ação formativa.

Contradizendo a crítica que fez à atitude de imposição da SUFP, também não possibilitou

que os professores participassem da escolha dos textos que substituiriam os da portaria. Imbernón

(2010, p. 43) orienta que é importante criar “[...] redes, que permitam um processo de comunicação

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entre indivíduos iguais e troca de experiências, para possibilitar a atuação em todos os campos de

intervenção educativa e aumentar a comunicação entre os professores. [...]”.

No PEIP, como indicado no quadro 2, podemos perceber, implicitamente, que, na etapa de

estudos, a principal atribuição do coordenador pedagógico é monitorar o cumprimento da carga

horária PEIP e do CEFAPRO é monitorar as ações do PEIP, uma vez que as temáticas a serem

estudadas já haviam sido determinadas. Se analisarmos atentamente, podemos perceber um

retrocesso no papel destes profissionais na formação continuada, pois, ao procurarmos o

significado do termo monitorar constatamos que é o mesmo que “vigiar”, atribuição superada há

algum tempo com a extinção do cargo de supervisor. Acreditamos que, tanto o coordenador

pedagógico, eleito pelos pares, quanto os formadores do CEFAPRO, devem coordenar, de forma

colaborativa, as ações formativas, a fim de que possam ser vistos pelos professores como parceiros.

Segundo Domingues (2009, p. 162) “A escola é um lugar de embates, de jogos de poder,

tensões e de contradições, que interferem nos projetos e nas relações interpessoais estabelecidas.

Pensar o espaço formativo é considerar essas e outras questões que podem comprometê-lo de

alguma forma”. E afirma ainda que:

Nesse contexto, o coordenador pode ser compreendido como um elo entre os

docentes e as determinações das políticas públicas, ou como um articulador das

decisões coletivas visando ao pleno desenvolvimento da atividade pedagógica, em

prol da aprendizagem dos alunos e do aprimoramento dos professores e, ainda

assim, sua ação poderá produzir aproximação ou afastamento, atenção ou

resistência, pautadas na compreensão subjetiva do papel deste profissional.

Contudo, se os coordenadores não considerarem os saberes docentes, ou mesmo

se não ouvi-los no processo de formação, as manifestações podem tornar-se ainda

mais difíceis (DOMINGUES, 2009, p. 162).

Percebemos, desta forma, que não houve participação da escola na seleção das temáticas,

uma vez que veio determinado na portaria 161/2016/GS/SEDUC-MT, que deveriam, no primeiro

semestre, fazer estudos dos temas gerais “Avaliação Educacional, Projeto de Intervenção

Pedagógica e Pesquisa-ação” (MATO GROSSO, 2016a, p. 42), nem a participação dos professores

na decisão da escolha dos textos que seriam estudados, desconsiderando o “protagonismo”

(GATTI; BARRETO, 2009, p. 202) do professor esperado em um modelo de formação continuada

realizada na escola, o que ocasionou desânimo e não envolvimento por parte das professoras.

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70

Assim, negar a participação da escola e dos professores na etapa inicial do PEIP não foi a

melhor escolha para o desenvolvimento da formação continuada em 2016. O essencial não é apenas

a existência da formação continuada na escola mas, sobretudo, a forma como o processo formativo

acontece.

4.1.2 Da frequência

Decidido os textos que iriam estudar a escola Gemas seguiu realizando os encontros todas

as terças-feiras, com os professores divididos em dois grupos, em turnos opostos ao período que

lecionavam, ou seja, quem estava em sala de aula no período matutino participava da formação à

tarde e vice versa. As professoras participantes da nossa pesquisa frequentavam os encontros

realizados no período da manhã.

Até 2014 as escolas podiam optar em realizar os encontros formativos fora da jornada de

trabalho do professor, como por exemplo aos sábados, ou dividir esse tempo de 4 horas em dois

encontros semanais de 2 horas feitas inclusive, se assim decidissem, em horários intermediários

entre um turno e outro, para possibilitar a participação do professor que tinham vínculo em duas

redes. Cabendo ao professor a decisão de participar ou não da formação.

A partir de 2015, com maior cobrança em 2016 com o PEIP, a frequência do professor na

formação tornou-se obrigatória, sob ameaça de desconto em folha de pagamento. Em relação à

frequência e carga horária a SEDUC-MT determina que:

A carga horária para a formação e desenvolvimento profissional é de 04 (quatro)

horas semanais, previstas nas dez horas atividades que computam, com as 20

(vinte) horas da regência, a jornada de trabalho de 30 (trinta) horas semanais, em

conformidade com a Lei 050/1998. Por exemplo, se são quarenta semanas letivas,

a carga horária será computada da seguinte maneira: 40 x 4 = 160 (quarenta

semanas letivas vezes quatro horas semanais são iguais a cento e sessenta horas

anuais de formação e desenvolvimento profissional) (MATO GROSSO, 2016a, p.

46).

Determina ainda que, “para efeito de certificação, serão computadas as horas efetivamente

cumpridas no PEIP com a formação e o desenvolvimento profissional, de acordo com o

cronograma elaborado pela escola com o monitoramento do CEFAPRO”.

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Nas citações expostas anteriormente, estão implícitas duas formas de obrigar os professores

a frequentarem a formação continuada na escola. A certificação e a ameaça do desconto em

pagamento.

Gatti e Barreto (2009) mostram em pesquisas realizadas em vários municípios brasileiros

que há uma variedade de formas de incentivos para fazerem com que os professores participem da

formação continuada, entre elas citamos a “remuneração direta”, quando o Estado ou município

remuneram como “serviço extraordinário”, ou por meio de “[...] certificados e pontos para

classificação de atribuição de aulas [...]” (GATTI; BARRETO, 2009, p. 217).

A segunda variável tem sido utilizada nas escolas da rede estadual em Mato Grosso, antes

com o projeto Sala de Educador e agora com o PEIP. Quanto a segunda variável apontada pelas

autoras, a SEDUC-MT inverte a forma e ao invés de incentivo remunerado utiliza ameaça de

desconto em pagamento ao ter que realizar a formação no momento de hora atividade.

A professora Esmeralda, em entrevista, disse “eu não faço formação por causa de ponto no

final de ano sabe [...]” (EI1, ESMERALDA – Prof.ª 3º ano). Para ela, que já tinha 29 anos que

lecionava, isso já não prejudicava, pois sempre ficava em uma colocação confortável, podendo

escolher sempre a turma que desejava, pois os critérios que mais pesavam na contagem de pontos

até 2014 eram o tempo de serviço na rede estadual de educação e de serviço prestado na unidade

escolar que pretendia assumir turma. A partir de 2015 a SEDUC-MT-M aboliu esse critério do

formulário de contagem de pontos.

Assim como Esmeralda, até 2015, vários professores, principalmente efetivos, não

participavam da formação sob essa ameaça de contagem de pontos.

Agora não cabe ao professor a opção de participar ou não da formação. Infelizmente, o que

era para ser uma conquista, que partiu da reivindicação da categoria dos professores, tornou-se

obrigatória e das 10 horas destinadas a hora atividade, que o professor poderia utilizar conforme

suas necessidades pedagógicas, 4 horas passaram a ser utilizadas na formação continuada PEIP

como uma exigência do Estado.

Traremos a seguir, nas figuras 4, 5 e 6, os critérios para a contagem de pontos nas

normativas que dispõem sobre o processo de atribuição de classes e/ou aulas do professor em 2014,

2015, 2016 e 2017, que referem-se à assiduidade do professor na formação continuada que acontece

na escola.

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72

Figura 4 - Critério para contagem de pontos no formulário de seleção de professores em 2014, para os

anos letivos de 2015 e 2016 no quesito frequência.

Fonte: Instrução Normativa nº 018/14/GS/SEDUC-MT, publicada em 07 de novembro de 2014, p. 82

Figura 5 - Critério para contagem de pontos no formulário de seleção de professores em 2016, para o ano

letivo de 2017 no quesito frequência.

Fonte: Instrução Normativa nº 008/2016/GS/SEDUC-MT, publicada em 24 de outubro de 2016, p. 172

No ano letivo de 2017, a formação continuada PEIP, novamente mudou de nome passando

a ser chamada de Pró-escolas Formação na Escola (PEFE).

Figura 6 - Critério para contagem de pontos no formulário de seleção de professores em 2017, para o ano

letivo de 2018 no quesito frequência.

Fonte: Instrução Normativa nº 014/2017/GS/SEDUC-MT, publicada em 26 de outubro de 2017, p. 82

Podemos observar na figura 6 que para 2018 o indicativo de pontuação para o critério de

frequência nos encontros formativos dobrou, passando de 5.0 para 10.0 para o profissional que

tiver 100% de assiduidade. Caberia aqui uma análise mais aprofundada que sugerimos para

pesquisas posteriores uma vez que não é este o foco da nossa pesquisa.

Assim, vimos que, com o PEIP, a SEDUC-MT encontrou nova forma de obrigar os

professores a participarem da formação, decretando que esta fosse feita na hora atividade, sendo

computada na carga horária do professor.

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73

4.1.3 Cronograma dos encontros – o estudo prescrito e o estudo realizado

De posse do cronograma de estudos fornecido por Topázio e diante dos relatos das

professoras sobre não terem tido contato com os textos, questionamos em entrevista o coordenador

sobre quais textos foram de fato lidos e debatidos pelo grupo de professores. Ele disse:

Nem todos, principalmente esses que estão aqui (apontou no cronograma

impresso que mostrei a ele). Porque nós começamos aqui no mês de abril, foi

mais uma parte informativa, leitura sobre o que se fala na portaria

161/2016/SEDUC-MT, na sua essência [...] (EI1, Topázio, coordenador).

Continua mostrando o cronograma, dizendo: “então esses textos, começando aqui nesse

cronograma anual que vem de abril e ele vai se estender até maio foram trabalhados na essência

conforme está aqui.”. Vai explicando e justificando as alterações feitas no cronograma que

organizamos, no quadro 7 a fim de comparar o currículo prescrito pela SEDUC-MT e o currículo

praticado na escola no ano letivo de 2016.

Quadro 7 - Cronograma de estudos do PEIP na escola Gemas

Temáticas selecionadas

para o PEIP em 2017 na

escola Gemas

Temáticas indicadas na portaria 161/2016/

SEDUC-MT

Avaliação

educacional

Projeto de

intervenção

pedagógica

Pesquisa-ação Métodos

de ensino

Teorias de

aprendizagem

19/04/2016 Portaria

322/16/ SEDUC-MT

26/04/2016 Metodologia

para Elaboração de

Projetos

X

03/05/2016 Educação e os

desafios do nosso tempo

10/05/2016 Aluno do

século XXI

17/05/2016 Professor do

Século XXI

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24/05/2016 Variáveis que

interferem nos resultados

do trabalho pedagógico

09/08/2016 Concepções

sobre avaliação escolar X

16/08/2016 Teoria da

aprendizagem (troca de

experiência)

X

23/08/2016 Pesquisa-ação

uma introdução

metodológica

X

30/08/2016 Educação X

Escolarização (vídeo)

06/09/2016 Portaria

322/16 Ensino por

competência e habilidades

13/09/2016 Teorias de

aprendizagem (Valéria da

Hora Bessa)

X

20/09/2016 Teorias de

aprendizagem (Marco

Antonio Moreira)

X

27/09/2016 Avaliação

Institucional da Escola X

04/10/2016 Auto

avaliação participativa da

escola no processo de

ensino aprendizagem

X

11/10/2016 ADEPE

Língua Portuguesa e

Matemática 2º e 4º anos

do Ensino Fundamental

X

18/10/2016 Análise e

apropriação dos

resultados das avaliações

externas e internas

X

25/10/2016 Ensino por

competência e habilidade

01/11/2016 Ensino por

competência e habilidade

08/11/2016 Ensino por

competência e habilidade

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22/11/2016 Dificuldades

na aprendizagem da

leitura (Teoria e Prática)

X

29/11/2016 Planejamento

(análise dos

planejamentos 2016)

06/12/2016 Planejamento

(Oficina)

13/12/2016 Projeto

Político Pedagógico da

escola: uma construção

coletiva

20/12/2016 Guia

Orientativo de

rediscussão do Projeto

Político Pedagógico

Fonte: Organizado pela autora a partir do cronograma de estudo fornecido pela escola em 2016

Como já dito e podemos constatar, comparando os quadros 6 e 7, algumas das temáticas

são diferentes das sugeridas na portaria por opção do coordenador.

Com a adesão à greve, decretada pelos profissionais da educação do Estado de Mato Grosso

que aconteceu de 31 de maio a 09 de agosto de 2016, os encontros formativos na escola Gemas

foram suspensos. Ao retornarem foi acrescentado as temáticas determinadas na portaria 322/2016.

Isso indica que este cronograma foi elaborado após a greve. Não tivemos acesso ao primeiro

cronograma.

Os 6 encontros realizados antes da greve totalizaram 24 horas de formação. Dessas, apenas

o encontro do dia 26/04 referia-se à temática Projeto de Intervenção Pedagógica, indicada pela

SEDUC-MT. E sobre ela Topázio diz:

Essa metodologia para elaboração de projeto era algo que nós queríamos fazer,

porque no ano passado nós vivenciamos um transtorno muito grande em relação

a questão do projeto. As condições que a SEDUC coloca para a contagem de

pontos, o ano passado teve uma confusão tremenda por causa de projetos, porque

a Seduc coloca que os projetos devem ser elaborados e executados fora do

horário de trabalho. Então isso, além de ser desumano, nós não temos condições

de aplicar. Então quando nós discutimos a metodologia para elaboração do

projeto, a forma de elaborar, nós discutimos nesse dia aqui, por exemplo, o que

que a gente poderia fazer, dentro da escola para valorizar esse trabalho desse

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profissional, mesmo não estando contemplado como a Seduc pediu (EI1,

Topázio, coordenador).

O projeto a que Topázio se referiu, foi o projeto horta, executado no ano anterior. Em 2016

optaram em desenvolver o projeto reciclagem. No entanto, nas observações dos encontros

formativos que aconteceram no mês de setembro, ainda não haviam iniciado o projeto e alguns

professores demonstraram não saber que o projeto deste ano não seria mais o projeto horta.

Topázio, ao se referir a questão do projeto, demonstra uma preocupação com a contagem

de pontos, pois esse é um dos critérios no formulário dos professores, como podemos constatar na

figura 7 e em evitar confusão quando chegar esse momento. Este é um dos problemas gerados

quando se atrela a execução de projetos educacionais à contagem de pontos exigida no processo de

atribuição de aula.

Figura 7 - Critério para contagem de pontos no formulário de seleção de professores 2015 publicado em 7

de novembro de 2014

Fonte: Instrução Normativa nº 018/14/GS/SEDUC-MT, p. 82

E assim, a melhoria na qualidade do ensino aprendizagem, que deveria ser o foco quando

se pensa em projetos educacionais, é substituído pela necessidade de acumular pontos para suprir

uma necessidade erroneamente imposta pelo sistema.

Essa preocupação de Topázio com a contagem de pontos em relação ao projeto é também

de todo grupo de professores. Além de falar sobre isso na entrevista, já havia sido discutido com o

grupo na formação continuada do dia 06 de setembro de 2016 e foi registrado por nós no caderno

de campo.

Topázio tomou novamente a palavra e disse que deveriam tocar o projeto da

melhor forma possível e registrar esse projeto, para se resguardarem. Seguiu

então uma discussão relacionando a execução do projeto e a incerteza se a carga

horária do projeto iria ser computada na contagem de pontos e atribuição de aula

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para o próximo ano letivo. Pela discussão ficou claro que a preocupação era com

a certificação para a contagem de pontos. Em momento algum dessa discussão

relacionaram o projeto à melhoria do ensino-aprendizagem. (CCP, página 11)

Assim, constatamos que a contagem de ponto foi o motivo pela qual, fizeram o estudo sobre

metodologia para elaboração de projetos nos encontros do PEIP.

4.1.4 Da condução dos encontros

Topázio, em entrevista, conta como preparava e desenvolvia os encontros formativos,

“então eu preparava tudo isso em slides colocava para o professor, expunha, passava vídeo, buscava

fotos, analogias, comparações, e depois ao final de tudo isso, a gente sentava e discutia. [...]”. Pelo

relato do coordenador, podemos notar que a formação era feita em forma de palestra. E continuando

a entrevista, justifica sua decisão dizendo:

Nós decidimos fazer esse trabalho mais expositivo para não sobrecarregar o

professor porque se a gente distribui o texto, trabalha o texto, esse professor leva

para casa e prepara. Primeiro eu acredito, e os colegas acreditavam também, que

a atividade não era a mesma, era mais desgastante para o colega. Então a gente

discutia naquele momento, expunha o material, ficava menos desgastante, menos

cansativo e menos maçante também (EI1, Topázio).

Além dos temas, portarias e documentos apresentados no quadro 7, Topázio afirmou que

os momentos de estudos também eram destinados a repasse de assuntos internos da escola, como,

por exemplo, da parte administrativa e encaminhamentos pedagógicos, conforme constatamos em

sua fala, “os momentos de formação contínua por mais que fosse à essência utilizada para discutir

o PEIP, nós tínhamos algumas coisas internas da escola que tinham que dar encaminhamentos. E

esse momento era utilizado dessa maneira”.

Consideramos que utilizar o tempo da formação continuada para repasses pode gerar

dispersão no grupo, pois presenciamos um desses momentos em que “a discussão que estava

acontecendo teve que ser interrompida por uns vinte minutos para que a secretária da escola

comunicasse as informações de uma reunião que havia participado na assessoria pedagógica no dia

anterior, foi difícil retomarem o assunto” (CCP, p. 10).

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4.1.5 Da retomada pós-greve

Ao retornarem da greve, iniciaram novamente os estudos em 16 de agosto de 2016, focando

nas análises das avaliações uma vez que estavam preocupados com a questão do tempo, pois já

estavam na segunda quinzena de agosto e os resultados das avaliações internas e externas já não

condiziam com a realidade, decidiram que fariam as análises das avaliações e iniciariam a

elaboração do plano de intervenção. Essa decisão fazia sentido já que as avaliações da ADEPE

haviam acontecido em 29 e 30 de março e a provinha Brasil nos dias 28 e 29 de abril. No caso do

primeiro ciclo este é um tempo muito longo para ficar sem uma intervenção e a demora pode ser

prejudicial ao processo de alfabetização.

Fizeram, então, as análises das avaliações externas e internas nos quatro encontros do mês

de setembro, conforme haviam decidido. Porém as professoras e Topázio não esclareceram como

aconteceram essas análises. Optaram então em dar início aos projetos de intervenção.

No entanto, após a formação realizada com os coordenadores pedagógicos responsáveis

pela formação continuada, que aconteceu de 03 a 05 de outubro de 2016 no CEFAPRO/Cáceres,

de forma “padronizada” para todo o Estado, onde foi feito o passo a passo de como fazer as análises

da ADEPE, foi determinado que a escola alterasse o cronograma de estudos e intervenção

pedagógica estabelecido na portaria 161/2016/GS/SEDUC-MT e que a escola voltasse aos estudos

e à análise das avaliações, conforme orientação da nova portaria, de 322/2016, publicada em 23 de

setembro de 2016.

II - as Unidades Escolares devem retomar os estudos das temáticas propostas:

“Projeto de Intervenção”, e “Avaliação da aprendizagem”, incluindo Métodos de

Ensino (ex.: transposição didática, pesquisa-ação em sala de aula, pedagogia de

projetos, sequência didática, resolução de problemas, ensino e aprendizagem

baseada em investigação, etc.) e “Teorias de Aprendizagem” [...] (MATO

GROSSO, 2016b, p. 45).

Essa determinação não levou em consideração o percurso que a escola já havia realizado.

Isso gerou descrédito e desânimo por parte das professoras. Nesse caso, essa ação não teria sentido.

Um plano de intervenção pedagógica, após ter passado tanto tempo entre as avaliações e as análises,

seria apenas para cumprir uma formalidade, uma exigência da SUFP e não para suprir as

necessidades formativas dos professores ou dos alunos.

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4.1.6 Do GeoGebra7 - mudança de rumo

Após a formação dos coordenadores, ocorrida no início do mês de outubro, Topázio,

entendeu que o plano de intervenção poderia ficar para o próximo ano letivo, decide então

suspender as ações referentes ao PEIP previstas no cronograma de estudos e a partir do dia 18 de

outubro, a formação mudou definitivamente. Os textos do cronograma apresentado no quadro 7

foram substituídos pelo curso GeoGebra que fazia parte de uma pesquisa da Especialização de

Ensino de Ciências e Matemática, desenvolvida pelo curso de Licenciatura em Matemática da

UNEMAT.

Quando questionado sobre a interrupção dos estudos do PEIP na escola Gemas, Topázio

disse, “nós estamos continuando só que não exatamente com o plano de intervenção. Nós temos

um projeto da UNEMAT, com um programa de software educacional. Nós estamos usando esse

momento para que ele (aluno da UNEMAT) possa aplicar esse curso para os professores”.

Indagamos então qual seria a relação desse curso com o PEIP e tivemos como resposta:

Como nós temos hoje professores que tem dificuldades no manuseio do

laboratório de informática, dificuldades com algumas mídias, esse curso vem

para contemplar estes professores em todos os aspectos tecnológicos. Até porque

dentro do nosso plano de intervenção, quando se fala de recursos didáticos, a

escola oferece, a escola tem o recurso para oferecer e o professor, de repente,

não consegue utilizar. Esse curso vai instrumentalizar o professor nesse aspecto

(EI1, Topázio, coordenador).

O curso GeoGebra, segundo relato das professoras, deveria ser direcionado para os anos

iniciais do ensino fundamental. No entanto, conforme retrata o diálogo entre Rubi, Ágata e Jade,

em entrevista coletiva realizada no dia 17 de janeiro de 2017 sobre o curso GeoGebra, elas não

conseguiram visualizar possibilidade de uso deste software nas turmas em que lecionavam.

7 Software de matemática dinâmica que reúne geometria, álgebra e cálculo. Criado em 2001 por Hohenwanter da

Áustria, e aprimorado e melhorado por um grupo de programadores da Universidade de Flora Atlantic (Estados

Unidos). Desenvolvido para aprender e ensinar matemática nas escolas (COSTA, 2016).

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Jade: Foi assim, eles vieram, perguntaram se a gente tinha interesse em fazer

esse cursinho com eles. Só que nós esperávamos que fosse mais voltado para

nossa realidade. Ele falou que seria.

Rubi: Eu gostei. Até já instalei no meu computador, porque se eu for ficar com o

quarto ano vai dar para usar.

Ágata: Então, é isso que eu ia falar, para quarto e quinto ano.

Jade: Até porque nós pedimos para ele se estaria voltado para o primeiro ciclo.

Nós esperávamos que fosse mais voltado para o primeiro ciclo. Rubi: Mas eu lembro, ele pediu primeiro ciclo.

Para Topázio o curso é útil ao primeiro ciclo, embora as professoras dissessem que não. Ele

alega que:

Ele é adequado principalmente na área da matemática, porque, além de toda

estrutura que oferece no manuseio das tecnologias, das tics, é um software

específico para a matemática. Trabalha com sólidos geométricos, situações

problemas. Dentro do software tem as animações. Tem o Joãozinho que vai no

supermercado comparar isso, que gasta aquilo. É bem prático e vai fazer com

que o professor, depois de instalado no nosso laboratório, possa trabalhar com a

turminha dele, para tentar sanar dificuldades, por exemplo, a matemática nesse

aspecto (EI1, Topázio, coordenador).

As professoras, no entanto, não consideraram essa possibilidade.

Acreditamos que isso se deve, primeiro, devido ao direcionamento do curso, cujas

atividades propostas se distanciaram muito das necessidades próprias do ciclo de alfabetização,

uma vez que as professoras foram unânimes em dizer que o GeoGebra não foi direcionado para o

primeiro ciclo, “até agora está mais pro segundo ciclo, porque para o primeiro não vimos nada

que possamos aproveitar” (EI1, RUBI – Prof.ª 3º ano). Consideramos que o condutor do curso

poderia ter indicado possibilidades de uso com as turmas da alfabetização, “para mim enquanto

professora talvez sim porque eu estou na alfabetização agora, mas se eu pegar um quarto ou quinto

ano aí ajuda. Agora para turma que estou trabalhando, que é o terceiro ano não dá, para mim

não” (EI1, ESMERALDA – Prof.ª 3º ano).

O levantamento das necessidades formativas do professor precisa ser levado em

consideração no momento de pensar, planejar e executar um curso como o GeoGebra pois, mesmo

sendo trabalhado com um grupo de 12 professores, sendo 9 pedagogos, dos quais 5 eram

professoras do primeiro ciclo, o curso foi todo direcionado para 2º e 3º ciclos.

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Vale lembrar que estamos nos referindo ao grupo que frequenta a formação no período

matutino, e as falas se referem às professoras do primeiro ciclo, portanto, não estamos aqui

generalizando.

O segundo motivo pela qual as professoras não conseguiram visualizar formas de se

trabalhar com o GeoGebra, a nosso ver, se deve ao fato de terem uma visão instrumentalista de

ensino da matemática, ou seja, acreditam no “ensino prescritivo” (CHACÓN, 2003, p. 66), onde

primeiro se aprende regras e procedimentos, o passo a passo, através de atividades repetitivas, para

depois utilizar em resolução de problemas. Chegamos a essa conclusão a partir dos dados

levantados dos cadernos dos alunos.

Concordamos com Nakazawa (2014, p. 62) que, baseando-se em Kirchner (2008), afirma

que o “uso do caderno como fonte única para a pesquisa não é recomendado, pois os registros nos

cadernos não trazem os registros das intervenções orais e gestuais do professor e do aluno. Portanto,

há necessidade de outras fontes [...]”. Assim recorremos também aos planejamentos diários das

professoras. Apesar de sabermos que, estes também não revelam todas as dinâmicas utilizadas

pelas professoras e que os registros das atividades nos planejamentos diários são, geralmente, para

cumprir uma formalidade, e que muitas atividades significativas não são registradas.

Porém, apesar desses instrumentos por si só indicarem limitações, o que foi registrado dá

indícios da visão de ensino da matemática das professoras conforme podemos observar nas figuras

8, 9, 10, 11 e 12 que selecionamos, como modelo predominante de atividades de matemática

utilizado pelas professoras.

Figura 8 - Caderno de aluno do 1º ano - Professora Jade

Fonte: Acervo da pesquisadora

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Pelas atividades que constam nos cadernos dos alunos percebemos que somente depois de

exercitar várias vezes as “continhas” de adição é que aparecem nos cadernos dos alunos problemas

com essa operação.

Figura 9 - Caderno de aluno do 2º ano -

Professora Pérola

Figura 10 - Caderno de aluno do 2º ano -

Professora Ágata

Fonte: Acervo da pesquisadora Fonte: Acervo da pesquisadora

Fonte: Acervo da pesquisadora Fonte: Acervo da pesquisadora

Figura 12 - Caderno de aluno do 3º ano com

dificuldades de aprendizagem Figura 11 - Caderno de aluno do 3º ano -

Professora Rubi

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O terceiro motivo que possibilita compreender porque as professoras não conseguiram

visualizar possibilidades de uso do GeoGebra em suas turmas se devem ao fato de acreditarem que

as crianças aprendem “através de atividades repetitivas” (DARSIE, 1999, p. 11), ou seja, por terem

uma “concepção empirista” do processo de ensino-aprendizagem, como pareceu-nos ao analisar os

dados, o modelo de ensino que seguem “[...] é fechado, acabado, livresco, no qual a noção de

conhecimento consiste no acúmulo de fatos e informações isoladas, imerso em simbolismos,

quadro cheios de cálculos [...] em que fatos são armazenados e, quando necessário, recuperados”

(DARSIE, 1999, p. 10), oposto do que possibilita o software GeoGebra, que apresenta uma

matemática dinâmica, com possibilidade de atividades significativas onde a criança, ao interagir

ativamente com o objeto de estudo, se apropria de conceitos matemáticos.

O GeoGebra, por possibilitar atividades de resolução de problemas matemáticos que

envolvem “geometria, álgebra e cálculo” (GIL; COSTA; JORGE, 2014, p.717), podem levar “o

estudante a interessar-se por processos gerativos da matemática” (CHACÓN, 2003, p. 66).

Desta forma, o GeoGebra poderia ter sido utilizado como um projeto de intervenção

pedagógica, ação 2 e 3 do PEIP, pois, em pesquisas realizadas, foi comprovada a eficácia deste

Software em crianças com necessidades especiais, como por exemplo a pesquisa desenvolvida por

Gil, Costa e Jorge (2014), que realizaram um estudo de caso analisando o comportamento de uma

criança com dificuldade intelectual e desenvolvimental (DID), utilizando o software GeoGebra

para verificar a influência deste no processo de aprendizagem na disciplina de matemática.

Segundo os pesquisadores, a criança participante da pesquisa apresentava

[...] bastante dificuldades na capacidade de trabalhar com números e em realizar

operações matemáticas simples. Revela ainda, muitas dificuldades na resolução

de situações problemáticas, uma vez que não consegue ler e interpretar as questões

propostas. Apresenta uma reduzida capacidade em se concentrar/manter

intencionalmente a atenção em ações ou tarefas específicas [...] (GIL; COSTA;

JORGE, 2014, p. 719).

E concluem afirmando que:

[...] Esta ferramenta pedagógica utilizada, o GeoGebra, terá em conta o facto de

manusear os materiais de geometria de uma forma simplificada e de envolver uma

aprendizagem relativamente rápida, para utilização ao nível básico, o que facilita

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a sua utilização nos primeiros anos de escolaridade. (GIL; COSTA; JORGE, 2014,

p. 717)

Assim, acreditamos que se o GeoGebra tivesse sido direcionado para o primeiro ciclo

poderia ter sido considerado uma ação interventiva. O que acabou não acontecendo, pois as

professoras não visualizaram possibilidade de uso deste software em suas turmas.

4.1.7 Algumas considerações sobre a organização da etapa de estudos coletivos

Na análise do eixo sobre a organização da etapa de estudos coletivos consideramos que

houve uma tentativa da SEDUC-MT de retomar o controle da formação continuada ao implantar o

PEIP, pois indicou o que estudar, ao determinar as temáticas e textos, o como estudar, ao

determinar as etapas sucessivas do PEIP e o quando estudar, exigindo que fosse na carga horária

do professor.

Ao apresentar as temáticas e textos que deveriam ser estudados no PEIP, percebemos que

foi negado ao professor a participação nesta etapa da formação indicando um retrocesso na

formação continuada. Entendemos que esta atitude representou a desvalorização dos

conhecimentos que o professor já se apropriou ao longo da carreira profissional. Impossibilitar o

protagonismo do professor no PEIP foi de todos, o maior equívoco cometido.

Dos textos e temáticas, chamou-nos a atenção a ênfase dada ao como ensinar. Acreditamos

que o ideal seria, primeiramente, serem estudados temas relacionados à aprendizagem,

proporcionando ao professor momentos em que ele poderia “confrontar suas próprias concepções

epistemológicas[...]” (CHACÓN, 2003, p. 64), com a de seus colegas. Este é um desafio muito

interessante, pois o confronto das ideias diferentes acaba por gerar novas aprendizagens.

Ao iniciar uma discussão em um momento formativo consideramos importante saber qual

a perspectiva do professor sobre aprendizagem e se o que pensam diferem do que é proposto. Isso

implica em um melhor aproveitamento do tempo empenhado na formação continuada e possibilita

um maior envolvimento do professor na formação.

No caso dos professores que ensinam matemática, por exemplo, há que se considerar

primeiro, como afirma Hersh (1986, p. 13, apud CHACÓN, 2003, p. 67) que:

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As próprias convicções do que é matemática afetam a convicção de como deveria

ser apresentada. A própria maneira de apresentá-la é uma indicação do que uma

pessoa acredita que seja o mais essencial nela... A questão, então, não é: qual é a

melhor maneira de ensinar? Mas, o que é realmente a matemática?

Desta forma, consideramos que são nos momentos de discussões e trocas de experiências,

em uma formação continuada que valorize a interação entre o grupo de participantes ao “descobrir

as semelhanças e diferenças das diversas visões[...]” (CHACÓN, 2003, p. 163), que os professores

tendem a mudar suas convicções. Por isso acreditamos que antes de discutir as temáticas indicadas

pela SEDUC- MT é importante refletir sobre essas diferentes visões dos participantes que “[...]

influem no processo ensino-aprendizagem e sobre o que se deve ensinar [...]” (CHACÓN, 2003, p.

164).

Em relação a organização, consideramos ainda que, determinar como deve ser a formação,

ditando as etapas sucessivas, e o período em que cada etapa fosse realizada, sem considerar o

contexto e as necessidades mais urgentes dos professores e da escola foi outro equívoco dos

organizadores do PEIP que gostaríamos de destacar.

No caso da escola Gemas, não foi possibilitado seguir ritmo próprio fazendo com que

houvesse um prejuízo ainda maior na qualidade da formação, pois, diante da imposição de terem

que retomar os estudos quando já iam iniciar os projetos de intervenção, o grupo de professoras

participantes desta pesquisa reagiu, conforme observamos, silenciando, saindo várias vezes da sala

nos momentos formativos ou realizando outras atividades, como por exemplo, o preparo de

atividades para serem feitas em sala de aula no período oposto.

O não envolvimento do grupo precisa ser avaliado criticamente nos momentos de formação.

Há várias formas de interpretar o silêncio. Pode indicar respeito e compreensão ao que está sendo

dito e discutido, mas pode também indicar que o professor discorda da situação e achar que não

adianta discutir. A segunda interpretação consideramos a mais prejudicial e foi o que mais chamou

nossa atenção nos momentos de observação.

Enfim, consideramos que uma formação continuada que possibilite a reflexão sobre os reais

problemas da educação, e as verdadeiras causas desses problemas, com questões que partam das

dificuldades enfrentadas nas escolas e dos problemas sociais que afetam diretamente o processo de

ensino-aprendizagem, podem representar perigo para o sistema político brasileiro. Isso porque, a

formação continuada, como vinha evoluindo nos últimos anos, estava mobilizando os professores

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a refletirem sobre “questões relacionadas a interdisciplinaridade, ciclo de desenvolvimento

humano, ensino por projetos, as discussões sobre a diversidade étnico-racial na escola [...]”

(GATTI e BARRETO, 2009, p. 20), e temáticas como essas podem ser arriscadas quando não se

pretende perder o controle do sistema educativo. Acreditamos que isso pode justificar a tentativa

do Estado de retomar e direcionar o que é discutido nas escolas. Ao controlar o ensino, corre-se

menos riscos de perder o poder que se tem nas mãos.

Nesse subeixo, vimos que na escolha dos textos, temáticas e organização da etapa de

estudos foi adotada uma dinâmica que não favoreceu o protagonismo do professor nem o

fortalecimento da escola enquanto lócus de formação.

Vimos ainda que, as formas de fazer com que o professor frequente os encontros formativos

do PEIP adotados pela SEDUC-MT estão mais voltados para a obrigatoriedade do que pelo direito

a formação.

Vimos também que não foi permitido que a escola agisse autonomamente frente as ações

do PEIP.

Por fim, vimos que o GeoGebra, que poderia ter sido uma ação interventiva para a

superação das dificuldades dos alunos em matemática, não teve aceitação por parte das professoras

participantes desta pesquisa devido a não ser direcionada para as turmas de alfabetização e devido

a concepção instrumentalista de ensino da matemática e da concepção empirista do processo

ensino-aprendizagem.

Refletir sobre o contexto do percurso formativo na escola Gemas em 2016 nos possibilita

entender as avaliações e sentimentos das professoras em relação a formação continuada PEIP.

4.2 Eixo Temático 2 – Como as professoras conceberam, desenvolveram e avaliaram a

formação continuada PEIP em 2016

Neste eixo classificamos, organizamos e analisamos as falas das professoras sobre a

dinâmica da etapa de estudo coletivo realizada na escola Gemas, destacando as queixas, o que

esperam de uma formação continuada e as percepções e sentimentos sobre os estudos teóricos que

revelaram a avaliação das professoras sobre o PEIP

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4.2.1 Sobre a organização e condução da formação

Ao lermos as entrevistas, minuciosamente, percebemos nas falas das professoras, sobre a

organização e condução da formação continuada PEIP, que sobressaiu queixas relacionadas ao

material estudado e às ações realizadas. As falas convergiram em relação ao posicionamento de

insatisfação.

A primeira insatisfação percebida foi por não terem tido acesso aos textos selecionados para

os estudos teóricos, conforme podemos notar nos trechos das falas de Esmeralda, Pérola e Ágata:

Olha, até o momento que eu participei não foi lido, nem sei que textos são esses,

infelizmente (EI1, ESMERALDA – Prof.ª 3º ano).

Quem lia os textos era o coordenador (EI1, PÉROLA – Prof.ª 2º ano).

[...] não tivemos acesso aos textos, como muitos professores das outras escolas

tem as apostilas. Nós não tivemos até hoje, nem no e-mail (EI1, ÁGATA – Prof.ª

2º ano).

Como podemos ver nos relatos, os textos selecionados pelo coordenador não foram

disponibilizados para os professores. Ou seja, além de não participarem da escolha dos textos,

como vimos no primeiro subeixo, não tiveram a oportunidade de lê-los, sequer ter acesso a eles. A

leitura foi realizada apenas pelo coordenador que organizava sínteses em slides e apresentava para

os professores, conforme ele mesmo relata em subitem anterior.

Continuando a conversa, a professora complementa sua fala dando exemplo de como

poderia ser a formação se tivessem o texto em mãos:

[...] se a gente tivesse tido acesso aos textos, a teoria é uma coisa que a gente tem

sempre que estar relendo, mesmo que tenhamos estudado, traria o foco, por

exemplo, se eu tivesse que ler o texto tal para palestrar sobre ele, ministrar uma

aula sobre ele na formação, eu tentaria reverter aquele texto para nossa

realidade, para o que a gente vivencia, para o que a gente conversa no corredor,

as angustias que se tem, as deficiências que se tem. [...] (EI1, ÁGATA – Prof.ª 2º

ano).

E Ágata finaliza esse trecho da entrevista dizendo, “como a gente não teve, ficou o estudo

pelo estudo. Parecia que a gente estava assistindo uma palestra que não contribuiu para a sala de

aula.”

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A decisão de Topázio em ler os textos e apresentar apenas os resumos através de slides nos

momentos formativos, por melhores que fossem as intenções, que era não sobrecarregar os

professores, não foi bem vista pelas professoras participantes de nossa pesquisa.

Os sentidos atribuídos aos textos lidos mudam de indivíduo para indivíduo. Concordamos

com Martins (2006, p. 63) que a leitura “[...] endossa um modo de ler preexistente, condicionado

por uma ideologia. Tal postura dirige a leitura de modo a se perceber, no objeto lido, apenas o que

interessa ao sistema de ideias ao qual o leitor se liga”.

Assim, com a dinâmica de estudo dos textos adotada no PEIP, foi como se as professoras

tivessem lido o texto com os olhos do coordenador.

Isso porque, ao ter que sintetizar um texto lido, as professoras, que são pedagogas em

exercício e que, portanto, vivenciam experiências práticas específicas da alfabetização, com

crianças de seis a oito anos, destacariam pontos que provavelmente Topázio, que é formado em

matemática e que costumava, até então, trabalhar com adolescentes e jovens, não se atentaria.

Desta forma, segundo Martins (2006, p. 66) a leitura “não é importante por ser racional,

mas por aquilo que o seu processo permite, alargando os horizontes de expectativa do leitor e

ampliando as possibilidades de leitura do texto e da própria realidade social”.

O segundo ponto que destacamos como motivo de insatisfação foram as ações iniciadas e

não concluídas.

Como já dito, para o desenvolvimento do PEIP, foi determinado em portaria, uma série de

ações que deveriam ser realizadas. No entanto, situações imprevistas como a greve, atraso nas

orientações, atraso na formação do coordenador, atraso na liberação dos resultados da ADEPE,

entre outros, ocasionaram interrupções nas ações executadas na escola Gemas, sendo esse

considerado outro problema ocorrido na formação continuada apontado pelas participantes de

nossa pesquisa, como podemos perceber na recorrência das falas das professoras:

Este ano estou bem desmotivada... Este ano muito trabalho não deu sequência...

(abaixou muito o tom de voz e finalizou dizendo) deixa quieto... (EI1, JADE –

Prof.ª 1º ano).

Para mim a formação esse ano não foi... (balançou a cabeça negativamente).

Depois da greve eu esperava coisa melhor, mas não teve. Eu estava aqui

cumprindo minha carga horária. [...] Sinceridade, nem teve formação. Foi só

para cumprir carga horária mesmo. [...] Não atinge o que eu queria aprender

(EI1, RUBI – Prof.ª 3º ano).

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Na formação, no primeiro horário, até as nove é o GeoGebra. Depois só fica

aquela conversa, não dá mais continuidade no estudo (EI1, ESMERALDA –

Prof.ª 3º ano).

Então ele (Topázio) veio já com os textos, na visão do entendimento dele, ele

montou os slides a partir do entendimento dele e foi repassando para gente, até

nós não gostamos, zangamos, não queríamos dessa forma e não fizemos. Aí, veio

a provinha do Estado (a ADEPE) aí ele se salvou da nossa insatisfação falando

que agora nós tínhamos que elaborar as provas, nós tínhamos que aplicar as

provas, tabular os dados e foi para essa linha. E foram vários encontros em cima

disso. Então já perdeu do que começou. Aí depois das provas, veio o pessoal da

UNEMAT (curso GeoGebra) e já se perdeu da continuação desse trabalho que

seria o plano de ação, já não fez mais o plano de ação em cima dos dados

tabulados e agora estamos aí, com esse pessoal da UNEMAT que vai finalizar em

janeiro. Enfim, nós não conseguimos finalizar nada da formação este ano. (EI1,

ÁGATA – Prof.ª 2º ano).

A forma como as professoras se expressaram, o tom de voz, as frases interrompidas,

indicavam que estavam aborrecidas com o ocorrido e direcionavam suas insatisfações ao trabalho

desenvolvido por Topázio. Todavia, se levarmos em consideração que situações imprevistas

ocorreram, que 2016 foi o primeiro ano que assumiu a função de coordenador pedagógico, que a

única formação que teve foi em outubro, sendo que os trabalhos foram iniciados em abril. Neste

caso, faz-se necessário um olhar mais atento para o contexto, a fim de perceber problemas maiores

que envolveram o sistema educacional que refletiram na formação continuada, como por exemplo

a formação do coordenador pedagógico para exercer a função de formador.

Em pesquisa realizada, intitulada “Um estudo sobre a formação continuada do Coordenador

Pedagógico desenvolvida pelo CEFAPRO de Cáceres/MT”, Carlos (2013) busca saber em que

medida o coordenador pedagógico está capacitado para exercer as funções atribuídas pela SEDUC-

MT.

A pesquisadora afirma que, “sem formação específica para exercer a função, os poucos

professores que arriscam a assumir a Coordenação Pedagógica enfrentam as resistências dos

professores e a falta de clareza sobre suas reais funções” (CARLOS, 2013, p. 138), e considera

ainda que:

Mesmo entendendo que cada sujeito vai imprimir a sua forma de ser Coordenador

Pedagógico, não podemos deixá-lo na dependência de suas experiências pessoais,

crenças e intuição para conduzir a gestão dos processos pedagógicos, uma vez que

sua atuação deve pautar-se por um projeto institucional (CARLOS, 2013, p. 138).

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A pesquisadora elenca sentimentos e desafios que são vivenciados pelos coordenadores

pedagógicos no pólo de Cáceres-MT, dentre eles destacamos:

[..] a frustração pelo fato de não poderem cumprir com suas reais atribuições.

Assim, os maiores desafios em ser Coordenador Pedagógico consistem em:

exercer a função; fazer a gestão da formação continuada; lidar com as relações

interpessoais; vencer as próprias limitações e resistências; resolver problemas

inerentes à evasão escolar, drogas, alcoolismo; e saber lidar com as dificuldades

dos alunos (CARLOS, 2013, p. 139-140).

Problemas estes que não diferem dos que Topázio necessita enfrentar constantemente e faz

com que dificilmente os professores queiram exercer essa função, daí a rotatividade constante de

coordenadores, o que não possibilita uma formação continuada específica para este profissional.

É possível que a ausência de formações para o coordenador implicou nas dificuldades para

coordenar a formação que desencadeou insatisfações nos professores que esperavam ajuda do

formador responsável pela formação, no caso o coordenador, para lhes ajudarem a solucionar seus

problemas.

Ainda relacionado às ações do PEIP, trazemos o terceiro ponto que consideramos motivo

de insatisfação das professoras perante a formação continuada ocorrida que refere-se ao não

respeito ao contexto e às especificidades da alfabetização revelado nas falas selecionadas.

Ágata, assim como as demais professoras, afirma que a formação continuada se “distanciou

mais ainda de atender a realidade da sala de aula e da escola” e não atende as necessidades da

escola e do grupo.

Faltou atender a identidade do grupo de profissionais da escola. Eu acho que é

isso, na nossa realidade, o nosso nível de formação, onde é que está a nossa

carência, faltou determinar isso. Acompanhar a aprendizagem, onde é que o

professor está precisando de ajuda, porque as vezes o olhar de fora é tão

necessário. Faltou isso. E já veio excluído desde o início do ano, porque o PEIP

já excluiu tudo isso, qual que é a identidade da escola. Veio que tinha que ser

assim e pronto. Nós estamos entrando para um retrocesso histórico (EC, ÁGATA

– Prof.ª 2º ano).

É importante que as formações levem em consideração aquilo que o professor diz, sente, e

principalmente, o que o motiva a fazer uma formação continuada. O que necessita para avançar no

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ponto de vista profissional e que tenha impacto na aprendizagem das crianças precisam ser

consideradas quando se pensa em uma formação continuada.

A fala de Ágata retrata a formação continuada necessária nos dias de hoje.

Uma formação que auxilie o professor nas necessidades mais urgentes no que se refere a

aprendizagem dos alunos. Um acompanhamento mais de perto, não no sentido de julgar o que é

certo ou errado, mas de colaborar com o professor quando este não encontra solução diante das

dificuldades dos alunos, porém, respeitando sempre o protagonismo do professor.

Uma formação que atenda as especificidades do grupo e que respeite o contexto não pode

ser pensada, organizada e conduzida por quem não conhece a realidade da escola, como aconteceu

no PEIP.

O apelo de Ágata é o apelo de todas as participantes da nossa pesquisa e da maioria dos

professores alfabetizadores. Elas necessitam de ajuda. A sobrecarga da total responsabilidade por

um processo tão complexo quanto a alfabetização nas escolas públicas, tem gerado sentimentos de

solidão e impotência, fazendo com que este profissional migre o mais rápido possível do primeiro

ciclo.

Ágata chama atenção para o “retrocesso histórico” que está acontecendo na formação

continuada. Retrocesso esse que começa com a retomada das decisões pelo Estado, que antes era

da escola, sobre o que, como e quando deve acontecer a formação continuada.

Assim como Ágata, Jade também aponta que é importante olhar o contexto escolar, “Eu

acho que tinha que olhar mais para escola em si. Ver onde é que o professor está pedindo socorro.

Nós não tivemos isso. É muito mais vantajoso trabalhar as dificuldades que a gente tem do que

está trazendo algo que não está... (silenciou)”

Segundo as professoras, a formação continuada também não levou em conta as dificuldades

que enfrentam na prática pedagógica, “Eu sempre falo, a teoria é sempre bom estudar, rever o que

a gente já viu sempre é bom, mas eu precisava... a minha dificuldade este ano é tal, me ajuda nisso,

eu não consigo esse amparo, esse respaldo da escola” (EI1, ÁGATA – Prof.ª 2º ano).

Para as professoras, a formação continuada deve ter relação com as práticas pedagógicas,

com o contexto em que estão inseridas, para que possa ser útil. Suas falas nos remete a Moretti

(2007, p. 101) quando diz que é “oscilando entre momentos de reflexão teórica e ação prática que

o professor vai se constituindo”. Nesse sentido, consideramos que os apontamentos das professoras

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são relevantes e caminham ao encontro do que acreditamos ser necessário em uma formação

continuada.

Ágata continua sua fala afirmando que:

Assim como para planejar uma aula é preciso conhecer os alunos, o nível de

aprendizagem em que eles estão. A formação teria que ter esse critério também.

Em que nível estão os professores, se são iniciantes, são recém formados, se já

tem uma bagagem. Porque acabou a gente revendo muitas coisas que a gente já

viu, sem avanço. Não que rever é ruim, revemos isso para usar nisso, aí é bom,

mas rever por rever (EI1, ÁGATA – Prof.ª 2º ano).

Quando não se leva em consideração o “contexto onde ocorre a formação, nem se valoriza

a trajetória que o grupo percorreu como base para iniciar um novo estudo ou uma nova discussão”,

como destaca Gatti e Barreto (2009, p. 20), os professores não se envolvem e não atribuem sentido

à formação.

As autoras afirmam ainda que é preciso uma formação continuada que:

[...] orientem e apoiem o professor no desenvolvimento de uma postura crítico-

reflexiva sobre sua ação docente e, ao mesmo tempo, deem condições para que

ele possa construir conhecimentos e acumular um cabedal de recursos que lhe

permitam desenvolver iniciativas para enfrentar seus desafios profissionais [...]

(GATTI; BARRETO, 2009, p. 227).

Assim, diante das queixas das professoras percebemos que suas insatisfações se devem

principalmente porque a formação realizada em 2016 na escola Gemas trouxe, vestígios de uma

formação pautada na “racionalidade técnica” (FIORENTINI; NACARATO, 2005, p. 14), pois,

apesar de ser realizada na escola, ela, ignorou: o contexto escolar, os saberes das professoras e os

problemas que as mesmas enfrentam.

A formação idealizada e conduzida sem a participação dos professores justifica, como já

apontado por Gatti e Barreto (2009, p. 202), a “ineficácia deste modelo de formação”, este é um

dos principais motivos das professoras não atribuírem sentido ao que realizam e destacam também

“não se apropriarem dos princípios, o professor não se sente estimulado a alterar sua prática” uma

vez que se tornam apenas “executores de propostas externas”.

As queixas das professoras participantes da nossa pesquisa não diferem das apresentadas

nos estudos realizados por diversos pesquisadores em várias regiões do Brasil e que Gatti e Barreto

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(2009) sintetizaram e apontaram, “[...] a formação continuada é organizada com pouca sintonia

com as necessidades e dificuldades dos professores e da escola; os professores não participam das

decisões acerca dos processos de formação aos quais são submetidos; [...]” (GATTI; BARRETO,

2009, p. 203).

Desta forma observamos que o que mais comprometeu a formação continuada na etapa de

estudos foi a não inclusão das professoras em todas as etapas do processo da formação,

demonstrando um retrocesso na história da formação continuada, pois “o protagonismo do

professor” que passava a ser valorizado a partir da década de 90, onde o professor ocupava “o

centro das atenções e intenções nos projetos de formação continuada”. (GATTI; BARRETO, 2009,

p. 203), no PEIP, retrocede e passa a ser um figurante, ou seja, um ser passivo, que deverá executar

o que outros determinarem.

4.2.2 Do descompasso entre o PEIP e o que as professoras esperavam de uma formação

continuada

Ao falarem do que esperam de uma formação continuada as professoras foram unânimes

em dizer que querem algo prático, para ser aplicado em sala de aula “[...] ter um tempo para troca,

fazer jogos, confeccionar materiais. Eu acho que nós tínhamos que ir confeccionando na formação

continuada. (EI1, PÉROLA – Prof.ª 2º ano).

Esmeralda, Pérola e Rubi esperam de uma formação a possibilidade de estudar e discutir

sobre as dificuldades de aprendizagens específicas do processo de alfabetização, dos problemas de

sala de aula referentes a conteúdos trabalhados.

Pelo que me passaram o que era o PEIP eu acho que talvez a formação seria útil

para nós professores na sala de aula. Nós íamos realmente trabalhar as

dificuldades dos alunos e a ajudar nas dificuldades dos alunos. Se o PEIP

realmente der certo, se for trabalhar do jeito que é para fazer, eu acho que vai

dar certo. (EI1, ESMERALDA – Prof.ª 3º ano).

Eu gostaria que fosse mais matemática e português, para nos envolver na sala de

aula com os alunos. Porque esse tempo dá para fazer muita coisa. É confecção

de material didático e leitura, porque através da leitura e o material didático a

gente vai ajudar esses alunos em sala de aula a conseguir ler e a aprender

matemática. (EI1, PÉROLA – Prof.ª 2º ano).

Porque onde eu trabalhava a gente fazia a transposição didática de tudo que a

gente aprendia no Sala de Educador, os textos nós colocávamos em prática na

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sala de aula e depois socializávamos os resultados. Eu achei que o PEIP ia ser

desse jeito, mas ainda não está sendo assim.(EI1, RUBI – Prof.ª 3º ano).

Percebemos nessas falas que parecem concordar com a dinâmica prevista no PEIP e suas

frustrações se devem ao fato da não realização do que estava previsto. Provavelmente seja porque

“[...] entendem que a solução de seus problemas está em conhecimentos produzidos fora do espaço

escolar e atribuem aos formadores a competência de resolvê-los” (GATTI; BARRETO, 2009, p.

220).

O que nos chama atenção é que podemos ver uma ambiguidade no querer das professoras.

Ambiguidade no sentido de que, ao mesmo tempo quererem que digam o que devem fazer

queixam-se de serem apenas executoras de propostas alheias, conforme declara Rubi, “Infelizmente

é desde lá de cima e a gente só tem que cumprir” (EC, RUBI – Prof.ª 3º ano).

Essa mesma ambiguidade foi apontada nas pesquisas, realizadas em diversos municípios

brasileiros, analisadas por de Gatti e Barreto (2009). As pesquisas revelaram que as professoras

“[...] Mantêm em relação à formação continuada uma expectativa ambígua: pedem respostas

prontas e únicas, ao mesmo tempo em que advogam valorização de sua experiência, criatividade e

poder de decisão” (GATTI; BARRETO, 2009, p. 220-221).

Isso parece-nos vestígios de anos de formação onde se ditavam o que deveriam fazer para

solucionar os problemas em sala de aula e reflexos de uma formação pautada na concepção de

professor reflexivo.

Em síntese, os dados mostraram que as professoras esperavam que a formação as ajudasse

a identificar as dificuldades dos alunos, atendesse ou diminuísse as dificuldades encontradas, seja

organizada por ciclo, que as discussões fossem feitas em pequenos grupos, que fossem discutidos

problemas da escola; que fosse algo prático para levar para sala de aula (confecções de materiais

manipuláveis, jogos, atividades de português e matemática), que auxiliasse no trabalho com alunos

especiais, que houvesse um tempo para troca de experiência e que ajudasse a ajudar os alunos. Que

fosse mais dinâmica.

Solicitamos que nos dessem um exemplo de como poderia ser então a formação. Em todos

os exemplos sobressaíram a confecção de materiais e elaboração de atividades para serem

desenvolvidas em sala de aula. Somente na fala de Ágata percebemos algo a mais que não aparece

nas demais falas. Para elas na formação, deveriam disponibilizar momentos para troca entre

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professores do ciclo, demonstrando uma abordagem mais reflexiva, apesar de também considerar

que deveria ser usada para confecção de materiais. No trecho que selecionamos, para este

momento, Ágata disse:

Olha, essa turma que estou com ela no segundo ano, eu senti dificuldades em

relação a conteúdos que não foram trabalhados lá no primeiro que eram pré

requisitos para o segundo. Se a gente pensa uma formação por ciclo, no primeiro

ciclo, uma dificuldade que eu estaria relatando, que quem está lá no terceiro ano

poderia me dar um suporte para estar tentando sanar, a do primeiro ano, ficaria

mais atenta para não deixar passar essa lacuna para o segundo e ao mesmo

tempo ela poderia ter também ali alguma metodologia que lhe auxiliasse com

esses alunos que veio com essa carência, ou com uma sala inteira que veio com

essa carência. Quando há uma discussão em um grupo pequeno, e é local, pois

está discutindo coisas da escola é mais produtivo, tanto para as professoras dos

três anos quanto para a escola determinar, ah então vamos trazer alguém lá da

matemática para trabalhar tal conteúdo, no primeiro, no segundo e no terceiro

ano. Aí eu acho produtivo. Eu acho que tem que fazer algo prático para levar

para sala de aula e experimentar, como um laboratório mesmo. (EC, ÁGATA –

Prof.ª 2º ano).

O primeiro trecho da fala de Ágata revela que o que espera de uma formação continuada é

a oportunidade de estar em constante reflexão com suas colegas de trabalho, de ciclo

principalmente, para que juntas e coletivamente, encontrem soluções para problemas específicos

da alfabetização.

Neste contexto entendemos que a formação continuada que proporciona a prática reflexiva

possibilitaria que, na interação entre os pares, concepções de formação continuada que estão

emergindo, como podemos perceber na fala de Ágata, pode, de certa forma, influenciar as colegas.

Concordamos com Fiorentini (1995, p. 29) quando afirma que:

O processo de construção de um ideário pedagógico, tanto individual como

coletivo, é sempre dinâmico e dialético. De fato, se estamos permanentemente

refletindo sobre nossa prática pedagógica, se discutimos com nossos pares, se

pesquisamos e buscamos continuamente novas fontes teóricas e novas alternativas

de ação em sala de aula, ... então, é de se esperar que nosso ideário também esteja

em permanente mutação.

Ou seja, é nos momentos destinados à formação continuada que poderia surgir as

oportunidades de reflexão sobre as práticas pedagógicas que possibilitariam mudanças, desde que

nesses momentos fossem oportunizados aos professores discutirem com seus pares a busca de

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alternativas para solucionarem os problemas encontrados no dia a dia da sala de aula na tentativa

de melhorar o processo de ensino-aprendizagem. Modelo de formação esse que acreditamos e que

difere da dinâmica utilizada no PEIP.

Em vários momentos da pesquisa as professoras falaram que esperavam da formação a

possibilidade de trocas de experiências e reflexões com as colegas. E afirmaram que isso não foi

possibilitado entre as professoras do primeiro ciclo no PEIP.

Lá no CAIC (escola onde trabalhava anteriormente) era gostoso porque tinha os

projetos para trabalhar, a gente trocava material, jogos, era muito gostoso. Faz

falta nessa hora. Uma dava ideia para outra, tinha as trocas, todo mundo

ajudando. Esse ano eu estou bastante cansada, estou até de cabelo em pé, porque

as preocupações são bastante (EI1, JADE – Prof.ª 1º ano).

Assim como Jade, todas as professoras falaram da importância da troca de experiência.

As professoras disseram que fazem reflexões e trocas de experiências nos momentos de

entrada e saída da aula, no recreio e nos intervalos das formações. Como por exemplo, o diálogo

de uma conversa informal registrado no caderno de campo da pesquisadora:

No dia 06 de dezembro de 2016, estava observando o encontro formativo onde

acontecia o curso GeoGebra. Como a atividade não interessava às professoras,

elas foram saindo do encontro antes do momento do intervalo. Como estavam

demorando a retornarem, fui ver se as encontravam. Estavam na sala dos

professores em uma conversa bem interessante sobre o ensino da matemática.

(CCP, p. 53)

A conversa informal, registrada em nosso caderno de campo, retrata um desses momentos

de reflexões onde as professoras conversavam sobre dúvidas em relação a matemática. Entre os

diversos assuntos que surgiram, falaram sobre, se deviam ou não cobrar que os alunos decorassem

a tabuada no primeiro ciclo, sobre quais conteúdos estão trabalhando nesse bimestre, sobre

avaliação da aprendizagem, etc. Conforme trecho registrado, da conversa entre Esmeralda e Rubi,

as duas professoras do terceiro ano, sobre uma aluna de Esmeralda, que segundo ela, não estava

acompanhando a turma, isso porque ela avaliava a aluna comparando-a com a turma e não com o

conteúdo ensinado e Rubi chama a atenção dela em relação a isso, que trazemos a seguir:

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Esmeralda: A Mariana tem dificuldades na matemática.

Rubi: Mas ela sabe Esmeralda. Nós é que queremos avançar muito com a turma.

Os conteúdos do terceiro ano ela sabe. Eles vão para o quarto ano e não vão dar

trabalho. Se continuarem nesse ritmo. (CCP da pesquisadora, p. 59)

Esses momentos de encontro entre as professoras propiciaram discussões e trocas que

deveriam acontecer nos encontros formativos. Como não aconteciam elas improvisam, “burlavam”

o sistema e davam um jeito de se encontrarem.

Uma questão importante a destacar é que, no decorrer da pesquisa, percebemos que as

professoras se encontravam em diferentes fases da “vida profissional” (GATTI; BARRETO, 2009,

p.203). Jade estava trabalhando com os anos iniciais do Ensino Fundamental há 3 anos, Rubi 6

anos, Pérola, 10 anos, Ágata 15 anos e Esmeralda há 29 anos. Neste caso, a troca entre elas seria

essencial.

Jade e Rubi, que tinham menos anos de experiência, e estavam há pouco tempo na escola

Gemas agiam mais passivamente no ambiente escolar. Ágata e Esmeralda eram mais autônomas e

demonstravam mais experiência na prática da profissão. Sempre que podia, Ágata se colocava à

disposição das colegas auxiliando-as com sugestões, informações e por isso foi citada várias vezes

pelas colegas nas entrevistas como a pessoa a que elas recorriam quando necessitavam de ajuda.

Esmeralda e Pérola permaneciam mais afastadas das outras. A dificuldade em se reunirem

foi queixa de todas. A escola não possibilitava este encontro. O lugar mais oportuno seria na

formação continuada, segundo as próprias professoras, mas quase nunca conseguiam, o que

dificultava a troca de experiência entre elas.

Consideramos que valorizar e incentivar o trabalho coletivo, a troca de experiência entre os

profissionais da educação, principalmente entre os que estão em diferentes fases da vida

profissional, proporciona ganhos para todos pois, se de um lado os mais experientes na profissão

podem colaborar com conhecimentos adquiridos com a prática, por outro os que estão mais no

início da carreira podem colaborar com conhecimentos teóricos mais atualizados, troca perfeita e,

segundo Gatti e Barreto (2009, p.202), ideal para “implementação de mudanças e na produção de

inovações na prática educativa”. Além disso, a troca de “subsídios teóricos e práticos” (GATTI;

BARRETO, 2009, p.2002) pode ser a solução para os problemas cotidianos próprios da fase de

alfabetização.

Enfim, concordamos com D’Ambrosio (1996, p. 91) quando afirma que:

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Cada indivíduo tem sua prática. Todo professor, ao iniciar sua carreira, vai fazer

na sala de aula, basicamente, o que viu alguém, que o impressionou, fazendo. E

aí deixa de fazer o que nunca aprovou. Essa memória de experiência é impregnada

de emocional, mas aí entra também o intuitivo – aqueles indivíduos que são

considerados o “professor nato”. Mas sem dúvida o racional, isto é, aquilo que

aprendeu nos cursos, incorpora-se à prática docente. E à medida que vamos

exercendo, a crítica sobre ela, mesclada com observações e reflexões teóricas, vai

nos dando elementos para aprimorá-la. Essa nossa prática, por sua vez, vai

novamente solicitar e alimentar teorizações que vão, por sua vez, refletir em sua

modificação. [...]

Assim, consideramos que houve um descompasso entre o que foi realizado enquanto

formação continuada na escola Gemas e o que as professoras esperavam de uma formação

continuada, embora percebemos que as professoras, ao descreverem o que esperavam de uma

formação continuada, apresentaram expectativas ambíguas. Também não foi possibilitado às

professoras “examinar, questionar e avaliar sua própria prática”, ações que as tornariam capazes

de “analisar e enfrentar as situações do cotidiano da escola” (NACARATO; MENGALI; PASSOS,

2011, p. 124).

4.2.3 Percepções e sentimentos em relação a formação continuada PEIP

Para envolver-se em um processo formativo é necessário que o grupo que o compõe esteja

motivado, embora saibamos que motivação é um sentimento muito subjetivo. Chamou-nos atenção

no momento das análises das entrevistas frases do tipo:

[...] Eu, este ano estou bem desmotivada, [...] Eu estou achando tenso. [...] Eu sei

é que estou meio perdida [...] (Jade, EI ).

Eu fiquei frustrada [...] (Agata, EI).

[...] Eu decepcionei de novo [...] (Esmeralda, EI).

Tais frases revelam sentimentos negativos em relação ao PEIP indicando que as professoras

não estavam concordando com o rumo que a formação continuada está seguindo.

Ágata afirma que [...] a formação para mim este ano foi muito frustrante, porque não

atingiu... nesse ano não, vou falar para você, desde que eu entrei aqui, eu começava, como ainda

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não era obrigado estar fazendo e desistia, [...]. Pela fala da professora podemos perceber que a

formação continuada na escola Gemas já apresentava problemas antes mesmo do PEIP.

Para mim a formação sempre contribuiu mais partindo da realidade da escola.

As dificuldades que eu tive, então, nós vamos estudar isso no ano seguinte, e

trazendo as dificuldades da sala de aula, o que eu sentia no dia-a-dia para

formação. E isso a gente ia adaptando, por mais que a gente tivesse pré

estabelecido um projeto de formação, o que que seria estudado, a gente estava

sempre debatendo alguma coisa, estudando alguma coisa relativa ao que eu

estava sentindo... (EI1, ÁGATA – Prof.ª 2º ano).

Ao falar de formação continuada Ágata sempre exemplificava citando a escola onde

trabalhava anteriormente. Isso porque, segundo ela, a formação que fazia, o PSE, satisfazia suas

necessidades. Ao ser informada da mudança no modelo formativo em 2016 e que teriam que fazer

o que a portaria determinava, já se posicionou contra.

Assim como Ágata, as professoras Rubi e Jade, que também eram de outras escolas, diziam

gostar da formação.

Diferente das colegas, Esmeralda disse que não gostava de participar da formação quando

era o PSE, por não considerá-la útil, viu no PEIP oportunidade de mudança. Ela diz que:

Eu achei que fosse para ser o PEIP, que iria dar certo. Por isso que eu voltei, eu

falei, agora vai dar certo. Fazer aquelas provas, ver as dificuldades. E, queria

que dessem continuidade. Porque antes era muito chato, todo ano era a mesma

coisa, até as temáticas eram repetidas. Hoje eu acho que seria mais útil para sala

de aula. Por isso até que parei, porque eu não faço formação por causa de ponto

no final de ano. Eu queria fazer algo que me ajudasse na sala de aula. [...]Eu

decepcionei de novo porque de uns três encontros para cá parou sabe [...] (EI1,

ESMERALDA – Prof.ª 3º ano).

Quando perguntamos às professoras, na entrevista coletiva, se elas pudessem escolher entre

fazer ou não a formação continuada PEIP, em coro, disseram que não fariam. Isso representa a

decadência pela qual vem passando a formação continuada.

Jade e Rubi disseram que a única utilidade da formação continuada em 2016 foi “só para

contagem de pontos”. Atrelar a formação continuada à contagem de pontos e atribuição de aulas,

como já discutido anteriormente, faz com que muitos professores pensem como Jade e Rubi, ou

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seja, não percebem a real necessidade da formação. É o mesmo que usar cinto de segurança ao

dirigir um carro para não ser multado e não para proteger a vida.

A situação vivenciada por Jade é mais grave ainda, pois como trabalha na rede estadual e

municipal, é obrigada a participar de duas formações, [...] Esse ano eu participei de duas

formações, aqui na escola Gemas e na escola da rede municipal, que não me acrescentaram nada.

[...] eu fiquei muito triste (EC, Jade – Prof.ª 1º ano). Além dessas formações realizadas na escola

citadas pela professora ela participou em 2016 do PNAIC, ou seja, participou de três formações

continuada em um ano.

Segundo Gatti e Barreto (2009, p. 221)

Em geral os professores valorizam o potencial presente nas oportunidades de

formação continuada, não apenas na perspectiva de desenvolvimento profissional,

mas também com objetivos imediatos de melhoria de desempenho em sala de aula.

Entretanto, com frequência o entusiasmo convive com sentimento de fastio, senão

de rejeição, perante as situações que são vivenciadas (GATTI; BARRETO, 2009,

p. 220-221).

Assim, as palavras que destacamos a fim de resumir o sentimento que as professoras

tiveram em relação ao PEIP são insatisfação, frustração, solidão, preocupação, decepção,

desmotivação, cansaço, tristeza entre outras, ou seja, sentimentos negativos que provocaram

rejeição da formação continuada e que devem ser considerados para as próximas propostas de

formação.

As professoras não conseguiram apontar aspectos relevantes como pontos positivos na

formação continuada. O “fato dela continuar existindo, é uma conquista. Ela continuar existindo

ainda é uma conquista”, foi o único ponto positivo que Ágata destacou, parece-nos que ela

compreende a importância da formação continuada e que realmente é uma conquista, resultado de

uma luta da categoria de professores, mas que não está sendo bem aproveitada.

Trazemos a fala de Rubi que depois de muitas conversas e reflexões, posiciona-se contrária

a Esmeralda e Ágata, que culpam o coordenador pelo fracasso da formação. Ela conclui que

“Infelizmente é desde lá de cima e a gente só tem que cumprir. Não tem como. Não é culpa do

coordenador, a culpa é do sistema” (EC, RUBI – Prof.ª 3º ano). A fala de Rubi reforça ainda o papel

desempenhado pelas professoras nessa formação na escola Gemas - o de “executoras”.

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Gatti e Barreto ponderam que, para que os efeitos positivos de uma formação continuada

sejam efetivamente apropriados e incorporados à prática docente é necessária “continuidade” nas

políticas públicas e “não as interrupções sucessivas nessas iniciativas como temos assistido ao

longo dos últimos 20 anos” (GATTI; BARRETO, 2009, p. 224).

Em Mato Grosso, nos últimos anos, presenciamos várias mudanças nas políticas de

formação continuada que tem provocado descontinuidades no processo formativo. A cada início

de ano letivo novos orientativos com novas determinações causam incertezas quanto ao o que

acontecerá e faz com que o trajeto tenha que ser sempre reiniciado. O ímpeto de “fazer nome” nas

políticas educacionais supera o desejo de melhorar a educação no Brasil.

A cada mudança de governo novas mudanças nas políticas de formação continuada, mas

nenhuma procura superar “[...] a lógica de processos formativos que ignoram a trajetória percorrida

pelo professor [...]” (GATTI; BARRETO, 2009, p. 202) e o percurso formativo está em constante

recomeço.

Projetos de formação continuada como o PSE, apesar de apresentar vários problemas,

poderia ter continuado com as devidas adequações, visando melhorar o que não estava dando certo.

O PSE caminhava para o desenvolvimento da autonomia e fortalecimento da escola, com algumas

exceções é claro, quando, por exemplo, a gestão da escola ou formador tentava impor sua vontade.

Substituir projetos formativos como aconteceram nos últimos 3 anos, passando do PSE para

o PEIP em 2016 e do PEIP para o PEFE revelam que, infelizmente, há um pensamento expandindo

cada vez mais em nosso país. Muitos acreditam que investir na formação continuada do professor

é a única solução para resolver todos os problemas educacionais. Isso é um enorme equívoco se

não levarmos em consideração problemas maiores que envolvem o contexto educacional, como

por exemplo, as condições de trabalho que somados a todas as angústias, conflitos e desafios até

aqui apresentados, refletem no bom desenvolvimento de qualquer ação formativa, resultando em

sentimentos negativos por parte das professoras.

Foram muitas as situações presenciadas por nós no decorrer dessa pesquisa que

consideramos percalços para a realização do PEIP, assim como de qualquer formação nesses

moldes. Selecionamos a fala de Pérola, para ilustrar o que passam as professoras no que concerne

as condições estruturais vivenciadas na escola Gemas.

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Eu nunca vou falar que eu sou uma professora 100%, porque nós temos nossas

falhas. É claro, no dia a dia nós temos muita coisa e muita coisa não dá para

estar fazendo, devido a falta de dinheiro para comprar, para poder estar

confeccionando com os alunos, porque nem sempre a escola tem também,

depende de verba e a escola não tem. Até o ambiente onde trabalhamos é

precário, porque as vezes nem ventilador para ventilar os alunos tem. Fiquei

várias semanas ali, sem ventilador na sala de aula, estamos com as janelas

abertas. Aí chega o diretor e fala, olha Pérola, nem tem papel para tirar xerox

para os alunos. Eu tenho que usar o papel, porque o quadro eu não posso, se eu

fechar a janela e fechar as cortinas os alunos vão ficar padecendo aqui no calor,

então tem que ficar com as janelas abertas e se ficar com as janelas abertas não

dá para usar o quadro por causa do reflexo da luz, porque o quadro é de vidro,

então ... (silenciou), (EI1, PÉROLA – Prof.ª 2º ano).

Outro problema ocasionado pela falta de estrutura na escola Gemas apontado pelas

professoras está relacionado a falta de espaço adequado para o atendimento individualizado extra

classe, direito dos alunos que estão em situação de dificuldades de aprendizagem, essencial no

processo de alfabetização. Novamente trazemos a fala de Pérola que descreve o que passam as

professoras nessas situações.

Na semana dou reforço só um dia. Aqui é complicado, porque não tem lugar

suficiente para você ficar tranquila com aluno. Se você vai na biblioteca os outros

alunos ficam toda hora saindo, entrando e é só lá que dá mais ou menos para ir.

Esses outros anos eu levava eles lá no fundo da escola, mas é tão difícil porque

tem as atividades de educação física e eles ficavam só olhando, querendo pegar

a bola, essas coisas. Não tem lugar adequado para gente, para aula de reforço

não. Eu gostaria que tivesse uma sala só de aula de reforço, aí dividiria, tantos

professores viriam na parte da manhã, assim tal hora, tal dia né, mas não tem

(EI1, PÉROLA – Prof.ª 2º ano).

Todas sabem da necessidade de atender os alunos individualmente. Presenciamos Rubi e

Esmeralda, dividindo o espaço da biblioteca para atendimento aos seus alunos juntamente com

alunos de outras turmas que frequentavam este espaço para pesquisas, movimentando-se

frequentemente pela sala, tirando dúvidas com a bibliotecária, que atendia outras crianças que

participavam de um Projeto de Leitura, prejudicando assim a atenção e concentração dos alunos

que necessitavam de reforço.

Presenciamos, ao observarmos o encontro formativo do dia 06 de setembro de 2016, um

momento de grande agitação do grupo quando “a secretária da escola informou que a escola teria

que reduzir os gastos de 20% ainda no decorrer deste ano letivo, conforme orientação do assessor

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pedagógico” (CCP da pesquisadora, p.10). Diante da agitação do grupo, um dos formadores da

equipe multidisciplinar do CEFAPRO/Cáceres que estava presente tomou a fala, que

transcrevemos na íntegra em nosso caderno de campo por considerarmos um dos momentos

reflexivos mais marcantes na realização do PEIP na escola Gemas e trazemos um recorte que

apresentamos a seguir.

[...] O nosso papel nós vamos ter que desenvolver da melhor forma possível.

Agora, colocando que o nosso papel ele depende de uma contrapartida do Estado

e que se essa contrapartida não aparecer, com certeza, aquilo que a gente almeja

no futuro para os nossos alunos não vai acontecer. Porque fazer aula com giz,

língua e quadro não dá conta mais. Não funciona. E o que é que o Estado oferece

para nós? Isso. Então nós temos que deixar claro isso, na formação, no que a

gente escreve e sermos atrevidos. Dizer: Olha, beleza, nós vamos fazer isso, e a

contrapartida? [...]

Eu sempre tive uma coisa para não padecer, é saber que a educação é um

conjunto. Esse conjunto tem várias mãos que sustentam e que quando uma dessas

mãos faz corpo mole ela cai. Existem mãos que são mais resistentes e outras

menos e a mão do Estado, nesse conjunto, ela tem mais força. Mas a mão do

Estado ela geralmente fraqueja e aí, para gente não botar na nossa cacunda a

culpabilização de todo o processo ir por água abaixo, eu tenho um exemplo bem

simples, que eu gosto de repetir. Se você tem um carro velho, que não vale nada,

que não tem suspensão, não tem pneu bom, não tem direção boa, que está todo

bagunçado. Aí você pega um motorista, ele não é um excepcional motorista, mas

pega um Barrichello e põem nesse carro e fala para ele, você vai de Cáceres lá

na Vila Aparecida e vamos supor que a estrada esteja toda acabada. Esse carro

de repente ele vai até chegar lá. Aí, o cara que estava mandando levar a

encomenda fala, espera aí, o Barrichello não está com nada, essa encomenda tem

que chegar com mais facilidade, com mais rapidez, eu vou fazer o seguinte, eu

vou trocar o motorista, e vai lá e pega o Shumacher, põe no mesmo carro, para

fazer o mesmo trajeto. Pode ser que o Shumacher, com toda a experiência dele,

traquejo, ele possa chegar lá com alguma diferença de tempo? Pode ser, mas essa

diferença será tão significativa? Não. O que estamos trazendo é isso gente. No

Estado, o carro chamado Educação, continua o mesmo. Aí eles querem fazer o

quê? Trocar nós, os motoristas, eles estão querendo culpar por a encomenda não

chegar no final, o motorista. Aí, então agora, o que nós temos que ter em mente

bastante tranquilidade, para nós não ficarmos doente. Oh, Estado, nós somos

bons, o problema, é que essa porcaria de carro que está acabado e vocês não

estão fazendo nada. Qual foi o último investimento na escola Gemas que o Estado

fez? De infraestrutura? [...] Vocês estão entendendo? Então é o seguinte, o

primeiro passo para gente não ficar doente, nós temos noção do que nós somos

capazes de fazer. Agora, aquilo que nós sabemos fazer precisa de um outro algo,

que é um algo muito maior que é a força do Estado nos ajudar (CCP, p. 27-29).

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A forma como o professor formador exemplificou a situação precária pela qual está atrelada

a ação prática do professor no sistema educacional como um todo, não há formação continuada que

resolva os problemas que acabam por resultar na baixa qualidade do processo de ensino-

aprendizagem.

Nesse contexto, concordamos com Costa, Gentil e Amaral (2016, p. 15), que em uma breve

análise do processo de implantação do PEIP, constataram que

[...] as ações do governo estão bem concatenadas e articuladas, passando pela

contratação de empresas privadas para a realização de processos de avaliação,

cujos resultados, por sua vez, servirão de argumentos para a implementação da

lógica tecnicista de formação de professores e de ensino, o que aliado a proposta

de parcerias público privado e revisão da legislação que sustenta a gestão escolar

democrática, culmina em propostas de privatização da educação.

A precariedade em que se encontra a escola pública em Mato Grosso não se justifica pela

falta de dinheiro e sim pela má administração desse recurso público. Podemos citar como exemplo

a notícia publicada no site da SEDUC-MT, no dia 17 de abril de 2016, cuja manchete é “Seduc

investe em modelo de gestão para resultados” o secretário de Estado de Educação, Esporte e Lazer,

Permínio Pinto, anuncia que para isso serão investidos R$ 5,9 milhões de reais e explica que essa

iniciativa faz parte das ações do governo para melhorar os resultados educacionais. O secretário

afirma8 que “Com isso, vamos possibilitar ações mais focadas e pontuais que permitam a

otimização de recursos, resultados e melhor desempenho das equipes de trabalho, que é o que

deseja toda a comunidade”. Das ações que a SEDUC-MT destaca na reportagem estão: “melhoria

do aprendizado dos alunos, com equidade (avaliações padronizadas, currículo, correção de fluxo);

formação continuada dos profissionais da educação; desdobramento de metas até o nível da escola

(gestão para resultados)”.

Nessa mesma reportagem do dia 17 de abril de 2016, o líder da consultoria do grupo

Falconi, Wilson Risolia, diz que

Temos uma perspectiva muito boa sobre o trabalho que a Falconi Educação

conduzirá junto ao governo de Mato Grosso. Acreditamos que a boa gestão é

8 Em reportagem cedida à Viviane Saggin, da assessoria da SEDUC-MT, no dia 17 de Abril de 2016, disponibilizado

no site da SEDUC-MT-MT, (acesso dia 17/12/2017).

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capaz de transformar o ensino escolar. Temos exemplos em várias redes que

ratificam nossa crença: Pernambuco, Rio de Janeiro, Ceará, Minas Gerais, Bahia,

São Paulo.

O Instituto de Desenvolvimento Gerencial (INDG), fundado em 2003 pelo grupo Falconi,

presta consultoria a empresas com orientações técnicas e gestão empresarial em todo o Brasil.

Somente em 2015 é criada a Falconi Educação, mesmo ano em que a SEDUC-MT forma parceria

com a empresa. Por que investir tanto dinheiro público em um segmento da empresa Falconi criada

tão recentemente?

Diante dessa notícia, visitamos o site da SEDUC-MT, aba transparência, e verificamos que

em 2015 e 2016 foram pagos a essa empresa os seguintes valores:

Quadro 8 – Valores pago pela SEDUC-MT à empesa pertencente ao grupo Falconi pelo serviço prestado

Data Total pago ao Instituto de Desenvolvimento Gerencial

16/09/2015 853.600,00

04/01/2016 699.950,00

01/03/2016 50,00

30/03/2016 343.400,00

21/07/2016 474.000,00

Total pago 2.371.000,00

Fonte: Organizado pela autora a partir de informações coletadas do site da SEDUC-MT, aba

transparência. No Sistema de Planejamento, Contabilidade e Finanças. Acesso dia

17/12/2017

Não temos conhecimento se o grupo Falconi contratou a CAED/UFJF para fazer a avaliação

na rede ou se foi a própria SEDUC-MT que pagou a pelo serviço prestado em 2016. Tentamos

localizar essa informação no site e não tivemos sucesso. Cabe aqui outra pesquisa, pois, não é esse

o nosso foco, no entanto, não poderíamos seguir nossas análises fingindo ignorar esse fato.

Desejamos que a questão levantada aqui sirva de alerta para que possamos entender as

facetas que estão por traz do discurso sobre a má qualidade da educação pública, que culpa apenas

o professor pela precariedade no ensino público.

Entendemos que, assim como aconteceu em outros setores públicos, quanto mais precárias

estiverem nossas escolas e menos articulados estiverem os profissionais que nelas atuam mais

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facilidade o Estado terá em convencer a população de que a privatização da educação é a melhor

solução. Que estejamos atentos, pois, como sinalizam Costa, Gentil e Amaral (2016, p. 15).

A privatização e a comercialização da educação trazem consequências para toda

a sociedade e em diversos âmbitos, visto que mina desde os fundamentos e

concepções de educação, como processo que oportuniza o desenvolvimento das

potencialidades humanas, até as ações cotidianas dos profissionais da área.

Consideramos que a válvula de escape dessa situação é possível se houver, como alerta

Gatti e Barreto, 2009, p. 203

[...] a introdução de processos formativos que utilizam a reflexão crítica sobre as

práticas no contexto de um compromisso com o fortalecimento da escola,

enquanto instituição com responsabilidade social relevante e desafiadora no

mundo atual, implica ambientes propícios a trabalho coletivo, gestão participativa

e disponibilidade de recursos pedagógicos e materiais apropriados. Ambos os

modelos, o fortalecimento institucional da escola e a prática reflexiva, supõem

transformações que ultrapassam as questões de envolvimento dos professores e

de formação continuada propriamente dita, dado que demandam condições

institucionais e estruturais propícias (GATTI; BARRETO, 2009, p. 203).

Assim, como vimos, a dinâmica de formação continuada PEIP na escola Gemas gerou

sentimentos negativos nas professoras do primeiro ciclo por não serem condizentes com suas

concepções de formação continuada, com suas necessidades formativas e com as condições de

trabalho no contexto escolar.

Dessa forma, consideramos que a formação continuada voltada apenas para “noções ou

disciplinas, o que podemos chamar de conhecimento objetivo, [...]” (IMBERNON, 2010, p. 43),

como é o caso do PEIP, que tem foco nas competências e habilidades, pode não ser a solução ideal

para resolver problemas imediatos e melhorar a qualidade da educação, pois, como vimos pelos

relatos das professoras, há mais urgência em uma formação centrada em um:

[...] “maior conhecimento subjetivo”: autoconceito, conflito, conhecimento de si,

comunicação, dinâmica de grupos, processos de tomadas de decisão coletivas, etc.

A formação e a reflexão sobre os aspectos éticos, relacionais, colegiais, atitudinais

e emocionais dos professores, os quais vão além dos aspectos puramente técnicos

e “objetivos” (IMBERNÓN, 2010, p. 43).

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107

Enfim, uma formação cujo objetivo seja:

[...] Refletir sobre a prática educacional, mediante análise da realidade do ensino,

da leitura pausada, da troca de experiência, dos sentimentos sobre o que está

acontecendo, da observação mútua, dos relatos da vida profissional, dos acertos e

erros, etc. Estruturas que tornem possível a compreensão, a interpretação e a

intervenção sobre a prática (IMBERNÓN, 2010, p. 43)

Pensar sobre melhorias no processo educativo requer direcionar para uma “[...] maior

aderência da formação continuada à realidade das escolas, pode-se afirmar que a ênfase nos

problemas concretos que emergem do trabalho cotidiano é um fator de valorização pessoal e

profissional [...]” (GATTI; BARRETO, 2009, p. 227).

Diante do que foi apresentado nesse segundo eixo é justificável a avaliação negativa que as

professoras fizeram do PEIP, porque a dinâmica utilizada na organização e condução da etapa de

estudos não envolveu as professoras na escolha das temáticas e textos a serem estudados que

demonstraram insatisfação por não terem tido acesso a estes textos estudados, cuja leitura foi

realizada apenas pelo coordenador pedagógico, pelas ações inconclusas, devido a situações

imprevistas e por não haverem respeitado o contexto da escola bem como as especificidades do

ciclo da alfabetização.

Vimos que a formação continuada não contemplou as expectativas das professoras, pois

queriam discutir sobre as dificuldades de aprendizagens e sobre os problemas que encontram na

prática pedagógica no coletivo de professores do ciclo de alfabetização para que pudessem trocar

experiências.

Nesse contexto, consideramos que é preciso levar em conta o fortalecimento da escola na

formação continuada, para que, de fato, a formação seja da escola, e não apenas uma formação

realizada na escola, que da escola não tenha nada. Para isso, Gatti e Barreto (2009 p. 203) indica

que é preciso criar um ambiente que possibilite o “envolvimento dos professores, de um ambiente

propício a realização de trabalho, onde haja coletividade, gestão participativa e recursos

necessários”, pontos importantíssimos para uma formação continuada que acreditamos e que não

foi possível ver durante o percurso formativo.

Foi nossa intenção, neste segundo eixo, explicitar a dinâmica da etapa de estudos teóricos

coletivos na escola Gemas, interpretando as percepções que as professoras tiveram sobre a

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108

formação continuada desenvolvida em 2016. Dando sequência nas análises apontaremos no

próximo eixo as percepções das professoras sobre as avaliações desenvolvidas que serviriam de

base para a continuidade do PEIP.

4.3 Eixo Temático 3 – Percepções das professoras sobre a avaliação externa ADEPE e

internas nas ações do PEIP

Neste eixo direcionamos nosso olhar para as avaliações que subsidiariam a formação

continuada PEIP caso a escola tivesse seguido a portaria161/2016/GS/SEDUC-MT, pois, a

formação estava vinculada à avaliação externa ADEPE-MT e basicamente todas as ações do PEIP

estavam ligadas a ela.

Primeiramente apresentamos os resultados da ADEPE-MT de matemática das turmas do

segundo ano do Ensino Fundamental e o posicionamento das professoras quanto a sua necessidade.

Posteriormente, levantamos as falas das professoras sobre as avaliações internas enfatizando como

as professoras avaliam a aprendizagem dos alunos, dando destaque para os registros avaliativos e

as dificuldades detectadas em matemática para então averiguar se as avaliações foram ou não

compatíveis. Para finalizar este eixo apresentamos, brevemente, reflexões sobre as implicações das

avaliações extenas no processo ensino-aprendizagem.

4.3.1 Das Avaliações Externas nas vozes das professoras que ensinam matemática no primeiro

ciclo

Neste subeixo apresentamos os resultados da ADEPE em matemática das turmas do

segundo ano do Ensino fundamental e o que as professoras dizem a respeito dessa avaliação. Antes

porém, gostaríamos de contextualizar em que circunstâncias ocorreu esse processo.

A escola Gemas, com todos os percalços descritos no eixo anterior, tentou seguir ritmo

próprio no PEIP iniciando o processo de análise das avaliações antes da formação prevista para os

coordenadores, uma vez que havia uma grande preocupação com a questão do tempo, pois já

estavam na segunda quinzena de agosto e os resultados das avaliações internas e externas já não

condiziam com a realidade, decidiram que fariam as análises das avaliações e iniciariam a

elaboração do plano de intervenção. Essa decisão fazia sentido já que as avaliações da ADEPE

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109

haviam acontecido em 29 e 30 de março e a provinha Brasil nos dias 28 e 29 de abril. No caso do

primeiro ciclo este é um tempo muito longo para ficar sem uma intervenção e a demora pode ser

prejudicial ao processo de alfabetização.

Fizeram, então, as análises das avaliações externas e internas nos quatro encontros do mês

de setembro, conforme haviam decidido e dariam início ao projeto de intervenção. No entanto,

após a formação realizada com os coordenadores pedagógicos responsáveis pela formação

continuada, que aconteceu de 03 a 05 de outubro de 2016 no CEFAPRO/Cáceres, de forma

“padronizada” para todo o Estado, onde foi feito o passo a passo de como fazer as análises da

ADEPE, foi sugerido que a escola voltasse aos estudos e à análise das avaliações, conforme

orientação da nova portaria, 322/2016, publicada em 23 de setembro de 2016, alterando o processo

de construção e execução do PEIP e o cronograma de estudos e intervenção pedagógica

estabelecido na portaria 161/2016/GS/SEDUC-MT, sem levar em consideração o percurso que a

escola já havia realizado. Isso aumentou ainda mais o descrédito e desânimo por parte dos

professores. Nesse caso, essa ação perdeu completamente o sentido. Um plano de intervenção

pedagógica, após ter passado tanto tempo entre as avaliações e as análises, seria apenas para

cumprir uma formalidade, uma exigência da SUFP e não para suprir as necessidades formativas

dos professores ou dos alunos.

Além das avaliações da ADEPE, na escola Gemas, foram realizadas a Provinha Brasil nos

dias 28 e 29 de abril de 2016, nas turmas do segundo ano das professoras Ágata e Pérola e a prova

da Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA), realizada em 16 de novembro de 2016, nas turmas

do terceiro ano das professoras Esmeralda e Rubi. A turma do primeiro ano, da professora Jade,

não realizou nenhuma avaliação externa, somente a avaliação diagnóstica, nome dado à avaliação

interna preparada pelos professores nas turmas que não fizeram a ADEPE, conforme fala de

Topázio, “Chegamos de executar a avaliação diagnóstica em todas as séries do ensino

fundamental que não fizeram a prova ADEPE. Analisamos e tabulamos os dados”.

Os resultados da ADEPE-MT foram divulgados no site da SEDUC-MT-MT no dia 26 de

agosto de 2016. Neste dia, foi publicada também a versão online da Revista do Sistema de

Avaliação Diagnóstica do Ensino Público Estadual de Mato Grosso (ADEPE-MT).

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110

Dos 22 alunos da professora Ágata que realizaram a prova, 1 foi considerado proficiente, 1

básico e 20 avançados. Na figura 13 é possível ter uma visão geral do desempenho desta turma em

matemática, segundo os resultados da ADEPE-MT.

Figura 13 - Gráfico representativo dos resultados da ADEPE turma da professora Ágata.

Fonte: Organizado pela pesquisadora

Podemos notar que a maioria dos alunos de Ágata conseguiu pontuação que os

classificassem como avançado. Segundo revista ADEPE-MT (2016a, p. 2), os alunos neste nível

de proficiência “demonstram desempenho além do esperado para a etapa de escolaridade em que

se encontram”. Dos que foram considerados avançados, 10 obtiveram proficiência no intervalo

entre 550 a 600 e os outros 10 entre 600 a 650. O aluno que foi considerado proficiente fez 549

pontos e o aluno que foi classificado como básico conseguiu 371,74 pontos.

A turma da professora Pérola, de acordo com a ADEPE, a maioria dos alunos conseguiu

pontuação que os classificassem como básico. Segundo a ADEPE-MT (2016a, p. 2), os alunos

deste grupo são “caracterizados por um processo inicial de desenvolvimento das competências e

habilidades correspondentes à etapa de escolaridade e área do conhecimento avaliadas”. Como

podemos observar no gráfico representado na figura 14:

20

1 1

0

Padrão de desempenho ADEPE-MT/2016

2º ano EF, turma A - matemática

avançado

proficiente

básico

abáixo do básico

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111

Figura 14 - Gráfico representativo dos resultados da ADEPE turma da professora Pérola.

Fonte: Organizado pela pesquisadora

Na turma de Pérola, dos 21 alunos que fizeram a ADEPE, nenhum aluno atingiu pontuação

que classificasse como avançado, 4 alunos foram considerados proficientes, sendo que dois

conseguiram entre 450 a 500 pontos e 2 conseguiram de 500 e 550 pontos. A maioria da turma,

precisamente 14 alunos, foram considerados básicos, destes, 8 obtiveram de 350 a 400 pontos e 6

obtiveram entre 400 e 450 pontos. Classificados como abaixo do básico ficaram 3 alunos que não

chegaram a atingir 350 pontos, sendo que, na avaliação da aprendizagem realizada pela professora

são 5 os alunos que estão abaixo do básico.

As professoras, na entrevista coletiva, falaram sobre o que pensaram e como lidaram com

a questão da avaliação ADEPE.

Ágata: No sentido prático para sala de aula para mim a ADEPE não

corresponde. Não corresponde à realidade da sala de aula. Não corresponde ao

que nós temos que rever para estar traçando novas estratégias, novas

metodologias de ensino.

Rubi: Até por que os objetivos quase não são os mesmos. Para mim esse ano foi

um choque. A gente tinha uma maneira, era relatório no sistema, de repente veio

esses objetivos e nós já tínhamos feito o planejamento anual. Para mim foi que

foi tudo diferente. Nosso planejamento é uma coisa, no diário eletrônico pede

outra totalmente diferente.

Ágata: Fora que nos diários, os objetivos de aprendizagem no diário eletrônico

são muito difícil de se traduzir o que eles querem. Que é muito específico da

disciplina, da área, e a nossa formação é para unidocência, então a gente não

entra profundamente em cada disciplina.

Ágata: A gente acaba até procurando os professores da área aqui da escola para

eles falarem qual atividade que pode ser feita na prática com os alunos para gente

atingir aquele objetivo. Eles não conseguiram. Eles conseguiram dar exemplo só

com alunos do fundamental dois e ensino médio. Mais do ensino médio ainda.

4

14

3

Padrão de desempenho ADEPE-MT/2016

2º ano EF, turma B - matemática

avançado

proficiente

básico

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112

As professoras demonstraram que foram surpreendidas pelas mudanças que ocorreram em

2016, o que consideramos um descaso para com as mesmas.

Segundo as professoras, houve mudanças de 2015 para 2016 nos objetivos de aprendizagem

descritos nos relatórios de avaliação dos alunos disponíveis no sistema, que as professoras

preenchem a cada término de bimestre letivo. Os objetivos de aprendizagem que constam no

sistema foram adequados ao que previa a ADEPE. Porém, as professoras disseram que quando a

mudança ocorreu já haviam feito o planejamento anual e já havia iniciado o ano letivo de 2016.

Não houve nenhuma formação para sanar as dúvidas que surgiram com as mudanças.

Com isso, nem tudo que o que está na ficha avaliativa do sistema eletrônico foi de fato

trabalhado. Por isso, o que foi avaliado pela ADEPE no final do primeiro bimestre letivo de 2016

não foi o que as professoras ensinaram de matemática nesse período, como constatamos ao

analisarmos os cadernos dos alunos, os planejamentos e os diários eletrônicos. Assim,

consideramos que há um descompasso entre o que é ensinado e o que é avaliado. E não convém

fazer o que a SEDUC-MT propõe que é querer fazer da avaliação externa, como está acontecendo

com a ADEPE, “[...]um instrumento de avaliação da sala de aula e da escola. [...]” (FREITAS,

2009, p 65), pois há aqui intencionalidades diferentes.

Quanto a importância da ADEPE para as turmas do segundo ano do Ensino Fundamental

Ágata diz que não teria sido necessária a ADEPE uma vez que, todos os anos os alunos já fazem a

Provinha Brasil.

Entre as duas provas, fazendo um paralelo entre elas, eu acho que, primeiro, não

era necessário a do Estado porque a PROVINHA BRASIL já vem fazer essa

avaliação. Porque como já tem uma certa frequência de ano que ela é feita, não

há muitas mudanças de um ano para outro na PROVINHA BRASIL, são sempre

umas adaptações que fazem diferença para as crianças. Eu acho que a

PROVINHA BRASIL atendeu mais a realidade do ensino hoje do que essa que foi

pelo Estado, porque a do Estado, o peso dela foi maior em outras questões, eram

questões mais abstratas, era para criança que já lê e já escreve, e a PROVINHA

BRASIL já me pareceu mais para construção do conhecimento, ela priorizou mais

a construção do conhecimento (EI1, ÁGATA – Prof.ª 2º ano).

Ágata parece perceber que há concepções diferentes entre as avaliações ADEPE e

PROVINHA BRASIL. Acreditamos que é necessário estarmos atentas à complexidade implícita

no ato de avaliar, pois tudo depende da intencionalidade que está por trás de todos os envolvidos

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113

no processo ensino- aprendizagem. Concordamos com Paula (2010, p. 36) ao afirmar que “[...] A

condução do processo avaliativo e o direcionamento dado à ação avaliativa são carregados de

intenções e estas não são construções essencialmente individuais e pessoais, mas também

históricas, culturais, sociais e políticas.”

Outra questão importante sobre a avaliação ADEPE que precisa ser destacada é levantada

pela professora Pérola que diz “por exemplo, essa prova do Mato Grosso que teve (ADEPE), foi

elaborada em Minas Gerais que é bem diferente da nossa realidade aqui, da nossa sala de aula,

da escola, por ser outro Estado [...]” (EI1, PÉROLA – Prof.ª 2º ano). Consideramos o apontamento

de Pérola um problema sério decorrente da avaliação externa, pois, parece-nos quase impossível

levar em conta o contexto cultural onde a escola está inserida quando se pensa em uma avaliação

a nível estadual, como a ADEPE, pior ainda, é quando a prova é elaborada em outro Estado.

Percebemos, assim, que, embora os resultados da avaliação ADEPE em matemática tenham

sido muito bons para os alunos da turma de Ágata e básico para os alunos da turma de Pérola, a

forma como foi planejada, sem orientação prévia do que e como seria avaliado, e não ter sido

considerado o trabalho realizado pelas professoras no período que antecedeu a aplicação da prova,

revelou incoerências desse modelo de avaliação e a avaliação interna, o que torna impossível

utilizar esses dados para a elaboração de um plano de intervenção como propõe o PEIP.

Acreditamos que se o tempo e o esforço dedicado à avaliação ADEPE tivesse sido

empenhado no atendimento aos alunos que realmente necessitavam de acompanhamento

pedagógico, utilizando os recursos, pessoal e financeiro, com o que realmente é útil, como por

exemplo, na construção de novas salas de aula para diminuir o número de alunos nas turmas, ou

contratando profissionais com formação especializada em psicopedagogia, para auxiliar as

professoras em suas dificuldades, para que efetivamente a aprendizagem aconteça, com certeza

teríamos um resultado mais apropriado no processo de aprendizagem de nossos alunos.

4.3.2 Das Avaliações Internas

Neste subeixo analisamos as percepções das professoras sobre as avaliações internas em

matemática comparando com a ADEPE, dando destaque para os registros avaliativos e as

dificuldades em matemática detectadas pelas professoras.

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114

Vejamos o que Ágata nos diz em relação a avaliação da aprendizagem dos alunos que,

segundo a professora, é feita continuamente.

[...] deficiência maior que eu vejo é essa relação número e numeral ainda. Então,

às vezes eu estou resolvendo uma operação no quadro mas, como a gente

trabalhou muito a base dez, eles já têm esse conceito formado, na oralidade eles

resolvem tudo comigo, mas quando vai pro individual, pro caderno eles não

conseguem, “professora, que número que é esse? Aqui vai dar onze mas qual que

é o onze?” eles precisam ainda desse auxílio (EI1, ÁGATA – Prof.ª 2º ano).

De acordo com a fala de Ágata, os resultados da ADEPE não coincidem com a avaliação

da aprendizagem realizada pela professora. Há uma contradição entre os dois resultados. Segundo

a ADEPE (2016a, p. 29), os alunos já “consolidaram a habilidade de identificar igualdades e

desigualdades numéricas por meio da contagem” o que faz com que a professora não concorde com

a avaliação ADEPE, haja vista que não houve utilidade o esforço empenhado na realização e análise

da referida avaliação.

Ágata nos mostra que em sua avaliação diária algumas crianças apresentam dificuldades

em representar os numerais sendo que pelo resultado da ADEPE esses mesmos alunos já se

apropriaram desses conceitos. A professora nos forneceu o caderno de registro da avaliação e

encontramos a anotação, que apresentamos a seguir, que possibilitou a comparação entre as duas

avaliações.

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115

Figura 15 - Registro9 avaliativo da professora Ágata – 1º bimestre 2016

Fonte: Acervo da pesquisadora.

Podemos verificar a grande diferença existente entre as duas avaliações. Por meio do gráfico

a seguir é possível comparar a ADEPE e a avaliação realizada por Ágata no primeiro bimestre de

2016, para melhor compreensão desta diferença observada.

9 Os alunos 3, 7 e 20 foram avaliados apenas por Ágata. Foram transferidos de escola antes da avaliação ADEPE. A

informação estava escrita sobre o nome por isso não aparece.

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116

Figura 16 - Gráfico resultado avaliação ADEPE X Avaliação da aprendizagem da professora Ágata

Fonte: Organizado pela pesquisadora

Pela figura 16 é possível perceber o contraste dos resultados.

Destacamos, a partir do exposto, que Ágata tem conflitos a resolver em relação à formação

continuada, pois como vimos, as avaliações não coincidiram. Os resultados da ADEPE apresentam

o ideal de turma, onde os alunos estão em um nível bem avançado na aprendizagem e Ágata tem

em mãos uma realidade completamente diferente, ou seja, o dilema do aluno ideal e o aluno real.

Pelos resultados da ADEPE não há necessidade de um plano de intervenção pedagógica para essa

turma. Plano este que faria parte da segunda e terceira ação do PEIP, pois não há alunos em

situações de dificuldades de aprendizagem.

Não foi possível fazer o gráfico comparativo da turma da professora Pérola porque ela não

disponibilizou registros avaliativos. Diz conhecer bem os alunos e consegue lembrar o que cada

um sabe.

As turmas de Esmeralda e Rubi, professoras do terceiro ano, realizaram a prova diagnóstica

que elas mesmas prepararam. Ao vermos as provas percebemos que se tratava de questões da

Provinha Brasil de matemática dos anos anteriores.

0 1 1

20

710

50

0

5

10

15

20

25

abaixo do básico básico proficiente avançado

Gráfico comparativo da avaliação ADEPE e a avaliação da aprendizagem realizada pela professora Ágata

ADEPE ÁGATA

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117

As professoras falaram sobre como detectam as aprendizagens e dificuldades dos alunos

em sala de aula.

Eu estou tentando avaliar mais observando mesmo. Porque não tem provinha. Eu

vou passando na carteira. Praticamente todos os dias a gente tem um ponto de

interrogação, [...] Diariamente, constantemente. Em que eles evoluíram? o que

acrescentou? (EI1, JADE – Prof.ª 1º ano).

Eu não faço prova. Eu avalio através das atividades. Vou avaliando no dia-a-dia

para ver se a criança construiu o conceito de número, se o conceito de quantidade

dela corresponde ao conceito do valor do algarismo, se ela consegue fazer o

raciocínio aditivo, se ela consegue fazer subtração em todos os aspectos, se ela

consegue reagrupar, se ela consegue interpretar a matemática no dia-a-dia, num

probleminha. Eu tento atender individualmente, eu não gosto de corrigir no

quadro, a não ser que eu sinta que é uma dificuldade de vários alunos, [...]

geralmente é um a um, porque a criança está num certo processo em que ele está

ainda com dificuldades na construção de relacionar quantidade ao algarismo.

Então não tem como... (EI1, ÁGATA – Prof.ª 2º ano).

Através das atividades que eles fazem. Na correção, eu vejo. Em trabalhinhos em

grupo também. Quando eu percebo que eles não sabem eu coloco com aqueles

que tem maior facilidade (EI1, RUBI – Prof.ª 3º ano).

Eu trabalho é corredores de carteiras, olhando como é que está, incentivando,

ajudando aqueles que precisam, até porque agora estamos na escola ciclada e a

gente não faz mais prova diária, toda semana, todo mês. [...] Eu avalio todo dia,

eu passo mais tempo próximo deles, aí eu estou trabalhando individual com eles

e anotando [...]. (EI, ESMERALDA – Prof.ª 3º ano).

As falas das professoras sobre a avaliação da aprendizagem convergiram quando disseram

que avaliam no “dia a dia”, referindo-se a avaliação contínua e processual, como nos apresenta

Freitas (2009, p. 16) quando destaca que

[...] a avaliação não é uma questão final de processo, mas que ela está o tempo

todo presente, consciente ou inconscientemente, orienta nossa atuação na escola

e na sala de aula atuais. Quanto mais elementar é o nível de ensino, mais contínua

e difusa é a presença da avaliação. Perguntemos a um professor de primeira série

do ensino fundamental como ele conduz o processo de avaliação e obteremos a

resposta: “eu avalio no dia-a-dia”. Portanto, a avaliação já é contínua e processual.

A ênfase com que as professoras afirmam o modo como avaliam, denotam que levam em

consideração o processo de aprendizagem e o atendimento individualizado, passos importantes em

uma avaliação contínua.

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118

Um equívoco recorrente nas falas das professoras do primeiro ciclo sobre as avaliações que

realizam em sala de aula é quando afirmam que agora não podem mais fazer provas. Acreditamos

que as provas que devem ser evitadas no ciclo de desenvolvimento humano são as que

Vasconcellos (2008, p. 124) destaca:

No enfrentamento da distorção do processo de avaliação de ensino-aprendizagem,

temos apontado a necessidade de superação da avaliação tipo “prova”. Queremos

deixar claro que estamos nos referindo à prova entre aspas, qual seja, àqueles

“momentos especiais”, com rituais especiais, dificuldades especiais, etc. que

representam uma verdadeira descontinuidade na prática pedagógica, e não às

atividades – escritas, inclusive – que o professor utiliza no cotidiano da sala de

aula para coletar informações sobre a aprendizagem dos alunos. [...]

Apenas Pérola afirma realizar provas para avaliar os alunos, “Às vezes no dia a dia eu dou

umas atividades e falo para eles que é uma provinha. Peço para cada um sentar longe do outro

para eu avaliar quem realmente assimilou” (EI1, PÉROLA – Prof.ª 2º ano).

No entanto, apesar de dizerem que avaliam os alunos diariamente, em relação aos conteúdos

de matemática, ficamos preocupadas com a falta de registros destas avaliações.

4.3.2.1 Dos registros avaliativos

Ao analisarmos os cadernos de registros de avaliações das professoras encontramos

pouquíssimas anotações que se referiam à matemática e as anotações que haviam se restringiam

aos numerais e aos algoritmos.

Jade disse que fazia suas anotações em um caderno “Eu anotei no caderno porque algumas

coisas são meio complicadas, no primeiro ano, então eu fui anotando. (EC, JADE – Prof.ª 1º ano).

Tivemos acesso ao caderno de registro avaliativo de Jade e verificamos que a grande maioria das

observações eram referentes à linguagem. Foram raras as anotações que se referiam à matemática.

Pérola afirma “às vezes registro, às vezes não”, então questionamos se ela consegue lembrar

depois o que foi avaliado. Ela disse que:

Sim. Ao longo do ano você sabe quem é aquele aluno. Até que fase ele está. Se ele

está bem nas atividades e nos conteúdos que você passou durante o ano ou não.

No início foi bem difícil, principalmente quando vem de outro lugar. Você não

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119

conhece bem o aluno ainda. Mas depois de alguns dias que ele já está ali com

você, qual o nível de aprendizagem e passo atividades diferenciadas para eles.

Depois dou aula de reforço (EI1, PÉROLA – Prof.ª 2º ano).

Assim como Pérola, Esmeralda também disse que às vezes costumava anotar no caderno

de plano as avaliações contínuas, porém, nenhuma das duas disponibilizaram esses registros, por

mais que insistíssemos. Confiar apenas na memória, no caso da avaliação contínua, pode gerar

problemas futuros.

Além da avaliação feita no dia a dia, conforme relato das professoras, é feita uma avaliação

individual com a coordenadora responsável pelo primeiro ciclo.

Em entrevista, a coordenadora, que fez a avaliação da aprendizagem dos conteúdos de

matemática previstos para as turmas do primeiro ciclo, demonstrou contentamento ao dizer que:

Na matemática eu achei que estavam melhor do que em português. Posso te dizer

que a grande maioria já está bem. O terceiro ano por exemplo está perfeito. Eu

tenho até... (levantou-se nesse momento e pegou um caderno no armário onde

registrava informações das avaliações feitas para me mostrar). A grande maioria

da turma do primeiro aninho sabe os numerais até o 100. Continhas simples, as

mais elaboradas não sabem. No segundo, a grande maioria está bem. Os do

terceiro, numerais eles estão bem, a maioria ok nos numerais. Eu vou mostrando

e trabalhando a sequência, vou mostrando salteado. Assim, eu mostro os

numerais, as continhas mais simples. [...] (EI1, TURQUESA, coordenadora).

A fala de Turquesa mostra que o que ela considera importante ensinar nesta fase de

desenvolvimento é a aprendizagem dos numerais e das quatro operações. Ela afirma que as turmas

estão muito bem em matemática, pois já reconhecem os numerais.

Tivemos acesso ao caderno de registros das avaliações individuais dos alunos do primeiro

ciclo que Turquesa mencionou na fala anterior e verificamos que as únicas observações referentes

aos conteúdos de matemática no primeiro ano são dos numerais, como podemos verificar a seguir:

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120

Figura 17 – Caderno da coordenadora Turquesa

Fonte: Acervo da pesquisadora

Todos os alunos foram avaliados pela coordenadora, que concluiu que a turma está muito

bem, pois sabem os numerais de 0 a 10. As outras turmas do primeiro ciclo, além da observação

dos numerais aparecem também operações de adição e subtração, como no modelo abaixo.

Figura 18 – Caderno da coordenadora Turquesa

Fonte: Acervo da pesquisadora

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121

Observamos que em nenhum momento aparecem os outros blocos de conteúdos, espaço e

forma, grandezas e medidas, tratamento da informação, que são previstos nos documentos

curriculares nacionais e estaduais, somente o bloco dos números e operações.

A professora Jade, que atua no primeiro ano, também tem a mesma visão, pois disse em

entrevista: “estou sentindo que eu estou com uma turminha que está aprendendo bem, bem mesmo

a matemática. A coordenadora já avaliou”. Também tivemos acesso ao seu caderno de registros

avaliativos e das quarenta e duas páginas encontramos apenas oito anotações, sendo que cinco

diziam que os alunos reconhecem alguns números e associa números e numerais e três não

reconhecem os numerais. Apesar de não especificar no registro os números e numerais a que se

refere são os numerais de 0 a 10. O que confirma a ênfase que é dada ao eixo dos numerais no

primeiro ciclo.

Figura 19 – Caderno da professora Jade

Fonte: Acervo da pesquisadora

As anotações que trazemos dos cadernos de registros avaliativos revelam que o que as

professoras e coordenadora consideram importante ensinar no primeiro ciclo são os números e as

quatro operações. Tais registros reforçam a fala das professoras, com exceção de Ágata e Pérola,

de que os alunos estão muito bem em matemática.

Assim, avaliar continuamente como as professoras dizem fazer é muito importante, porém,

diante do exposto,

Isso torna a questão um pouco mais complexa, pois devemos qualificar o que

estamos reivindicando como avaliação contínua adicionando que, além de ser

contínua, tem a finalidade de orientar a inclusão e o acesso contínuo de todos a

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todos os conteúdos. Esta é, ao mesmo tempo, a contradição e a possibilidade

existentes nos processos de avaliação de aprendizagem (FREITAS, 2009, p. 16)

Os dados analisados indicam que o trabalho das professoras do primeiro ciclo, no ano de

2016, na escola pesquisada priorizou o ensino de números e operações aritméticas. Os demais

conteúdos matemáticos que constam na ficha avaliativa dos alunos, previstos na matriz curricular

de referência da ADEPE-MT para as turmas do segundo ano do Ensino Fundamental, espaço e

forma, grandezas e medidas e tratamento da informação, não foram contemplados, ou apresentados

apenas superficialmente, através de atividades impressas e sem sequência.

Consideramos que faltou, por parte das professoras, conhecimento maior sobre a

importância de se trabalhar os blocos de conteúdos espaço e forma, grandezas e medidas e

tratamento da informação, para o processo de aprendizagem da criança. Acreditamos que esse seria

um tema importantíssimo para ser trabalhado nos encontros de formação continuada realizados na

escola.

4.3.2.2 Das dificuldades detectadas

De acordo com o relato das professoras, ao serem questionadas sobre quais foram as

dificuldades em matemática encontradas nas avaliações que realizaram, os numerais e a resolução

de problemas foram as mais indicadas pelas participantes da pesquisa.

Pérola em suas avaliações cotidianas destaca que:

É assim, o aluno sabe contar, por exemplo até o dez, mas não assimila qual é o

dez. Ou a quantidade [...]Mas tem outros que já sabem até duzentos, trezentos,

quatrocentos, quinhentos, mil. A gente fica até surpresa. Têm uns que sabe só até

vinte, outros sabem até cinquenta, outros sabem só até quinze e não passa disso.

[...]Probleminhas, eles desenvolvem mais oralmente. Para eles estarem fazendo,

(registrando) eles têm dificuldades, [...] (EI, PÉROLA – Prof.ª 2º ano).

Em relação as dificuldades detectadas, Esmeralda disse que “hoje eu tenho dois meninos e

uma menina só que apresentam dificuldades em matemática, que não acompanham [...]”,e assim

como Rubi e Pérola, destaca que a maior dificuldade dos três alunos está relacionada ao conceito

de número, “[...] Eu reviso com atividades diferenciadas, por exemplo se é numeral, porque eles

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tem muita dificuldade em dezenas exatas, centenas exatas, eles fazem atividades com materiais

diversificados (EI, ESMERALDA – Prof.ª 3º ano).

Rubi considera que seus alunos apresentam dificuldades na [...] interpretação do problema.

Eles conseguem fazer as contas, são bons de matemática só que a questão da interpretação que

ainda falta melhorar. A dificuldade é saber se é de mais ou é de menos (risos). Essa é a dificuldade

(EI, RUBI – Prof.ª 3º ano).

Observamos que Rubi considera que seus alunos são “bons de matemática” porque

conseguem fazer contas, embora apresentem dificuldades na interpretação dos problemas. Nessa

fala percebemos indícios de uma concepção empirista do processo ensino- aprendizagem pois, os

alunos exercitam diariamente os algoritmos em atividades repetitivas tipo “arme e efetue”.

Segundo Darsie (1999, p. 11) na concepção empirista “o aluno recebe os conteúdos que

deve aprender em sua forma final, pronta e acabada, não se faz necessária a compreensão ou a

atribuição de significado aos mesmos, bastando que o aluno seja capaz de reproduzi-los quando

solicitado”. Assim, é natural que os alunos de Rubi, ao terem que usar esse conhecimento em uma

situação problema apresente dificuldades.

A resolução de problemas apenas após muitas atividades do tipo “arme e efetue” pouco

ajudam no processo de ensino-aprendizagem.

[...] a inserção dos alunos no mundo dos problemas matemáticos escolares tem

sido determinada pela sequência de conteúdos apresentados nos livros didáticos,

em que a resolução de problemas aparece, com frequência, após o trabalho

desenvolvido com as operações aritméticas. O professor apresenta problemas de

adição após trabalhar com os alunos a técnica de adição; propõe problemas de

subtração após os alunos conhecerem a técnica da subtração; e assim

sucessivamente. Dessa forma, o aluno, depois de resolver alguns problemas,

percebe que não precisa mais analisar os outros enunciados, basta retirar os

nímeros do texto e fazer a conta que foi trabalhada anteriormente (PALMA;

DARSIE, 2013, p. 13).

Em consequência da prática, em que as crianças usam mecanicamente a técnica para

resolver problemas, poda-se a criatividade e a autonomia dos mesmos, fazendo com que utilizem,

com frequência maior a cada ano, a pergunta tão conhecida para os que já passaram pelas turmas

dos anos iniciais do Ensino Fundamental, O problema é de mais ou é de menos? Isso porque, nesta

prática, segundo Palma e Darsie, (2013, p. 14) a “ finalidade do professor, ao propor resolução de

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problemas matemáticos, é a de exercitar os algoritmos anteriormente trabalhados. Acredita-se que,

pela repetição e pela memorização, os alunos aprendem os conhecimentos matemáticos.”

Não há dúvidas sobre a importância da resolução de problemas no processo ensino-

aprendizagem no primeiro ciclo, porém é preciso rever a forma como é utilizado pois pode tanto

desenvolver o raciocínio lógico, a construção dos conceitos matemáticos, a criatividade na busca

de estratégias próprias e a autonomia do aluno, quanto a dependência constante do professor, a

passividade, se tornando um indivíduo facilmente manipulável, incapaz de contestar, argumentar

ou defender uma ideia, apenas obedecer.

A importância da resolução de problemas tem ocupado lugar de destaque nos

estudos sobre o processo de ensino e aprendizagem da matemática escolar. Há um

consenso entre as pesquisas desenvolvidas em diferentes áreas – Matemática,

Psicologia, Educação -, ao considerarem que a resolução de problemas é um

elemento imprescindível no desenvolvimento do raciocínio lógico e na construção

significativa dos conhecimentos matemáticos (PALMA, 2011, p. 168).

Na mesma perspectiva, Nacarato (2013, p. 34) diz que “[...] os alunos precisam resolver

problemas para aprender matemática, e não aprender matemática para aplicar em resolução de

problemas.”

Reconhecendo a importância da resolução de problemas no ensino da matemática a autora

destaca ainda que:

A matemática escolar dos anos iniciais precisa ser pautada na construção de

significados, e essas são decorrentes do trabalho com resolução de situações-

problemas que sejam instigantes aos alunos e os coloquem na condição de

aprender matemática. Trabalhar com matemática nessa perspectiva pressupõem

que a sala de aula seja um espaço onde o aluno tenha que se posicionar, tomar

decisões, argumentar e comunicar suas ideias. Para isso, a resolução de problemas

se constitui num campo fértil de trabalho. Ou seja, aprender matemática é

aprender a resolver problemas (NACARATO, 2013, p. 33).

Assim, consideramos que as percepções das professoras sobre as avaliações internas, que

dizem ser contínua e processual, embora ainda não tenham uma preocupação com o registro

avaliativo; o que acreditam ser importante ensinar; e as dificuldades detectadas, são determinantes

para analisarmos nosso próximo subeixo.

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4.3.3 A relação entre as avaliações externas e internas

Consideramos que as avaliações das aprendizagens, realizadas pelas professoras em sala de

aula, são mais importantes do que as avaliações externas, pois são elas que estão mais próximas,

que têm contato direto com os alunos e têm, assim, maior autoridade para afirmar como os alunos

estão no processo de apropriação dos conhecimentos ensinados na escola. Com intenção de discutir

como as professoras relacionaram as duas avaliações, se houve correspondência entre os resultados

da ADEPE e o que elas observaram em sala de aula, trouxemos as falas que indicam se houve ou

não coincidência entre as avaliações externas e internas.

Nem sempre os alunos que sabem vão bem nas provas [...] Eu percebi que os

alunos que fazem as atividades, que eu sei que sabem, não foram muito bem.

Parece que eles têm uma barreira quando falam que é avaliação. Eu aproveito a

avaliação externa e a avaliação que eu faço que dão um suporte para mim (EI1,

RUBI – Prof.ª 3º ano).

A do Estado eu fiquei bem frustrada com ela. Porque alunos que não sabem nem

o A, foram muito bem na provinha do Estado e alunos que sabem ler com mais

facilidade não foram tão bem. Porque ela parece que não foi adequada muito à

realidade do ensino hoje. Os resultados não coincidiram com minhas avaliações

diárias que faço com os alunos (EI1, ÁGATA – Prof.ª 2º ano).

Não, não condiz. Eles marcam X, marcam X, marcam X... eu tive um aluno que

marcou quase tudo certo e é aluno que tem dificuldade, tanto na matemática

quanto no português e aí, você vai mentir que ele não tirou uma nota boa para

colocar no sistema. Eles pedem para estar colocando em que nível o aluno está.

Às vezes ele está em um nível bom ali mas só que o nível dele seria outro. Na

PROVINHA BRASIL você tem que colocar no sistema em que nível o aluno está

(EI1, PÉROLA – Prof.ª 2º ano).

Rubi, Ágata e Pérola disseram que os resultados das avaliações externas não coincidiram

com os resultados de suas avaliações. Das professoras participantes da nossa pesquisa somente

Esmeralda concordou com as avaliações externas afirmando que os resultados correspondem

sempre com suas avaliações “Eu concordo com avaliações externas porque assim eu fico sabendo,

na realidade, o que meus alunos sabem. Muitas vezes você acha que o aluno está bom e quando

vai perceber [...] (EI1, Esmeralda – Prof.ª 3º ano).

Segundo Freitas (2009, p. 48):

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As políticas de avaliação centralizadas se esquecem que não basta o dado do

desempenho do aluno ou do professor coletado em um teste ou questionário e seus

fatores associados. É preciso que o dado seja “reconhecido” como “pertencendo”

à escola. Medir propicia um dado com vistas ao futuro. Isso implica a existência

de um processo interno de reflexão nas escolas [...] (FREITAS, 2009, p. 48, grifo

do autor).

Parece-nos ser esse mais um motivo que levaram as professoras a não atribuírem sentido às

avaliações, pois elas não reconheceram os resultados da avaliação ADEPE como pertencendo à

escola, pois já que os resultados não coincidiram com o que sabem que seus alunos já se

apropriaram ou não.

Além disso, como vimos no capítulo teórico, o objetivo da ADEPE-MT, era “contribuir

para a elaboração e proposição de ações de melhoria da qualidade de educação ofertada pelas redes

públicas de ensino do Mato Grosso” (Revista ADEPE-MT, 2016, p. 5).

Consideramos que o termo melhoria da qualidade de educação é muito subjetivo. O que

é melhoria para o Estado, ao propor novas políticas educacionais pode não ter o mesmo significado

para o professor que está em sala de aula, com o que acredita ser importante o aluno aprender. Isso

pode variar até mesmo entre os professores do primeiro ciclo, pois, apesar dos conteúdos de

aprendizagem da matemática disponíveis no sistema eletrônico serem os mesmos para o primeiro

ciclo, ou seja, para o primeiro, segundo e terceiro ano, o que Jade e Ágata consideram importante

ensinar é diferente. Como podemos observar no quadro a seguir.

Quadro 9 – Conteúdos registrados por Jade e Ágata no diário de classe (Sistema eletrônico Sigeduc) no

primeiro bimestre de 2016

BIM

ES

TR

E

JADE ÁGATA

Estudos dos números e numerais até 3; Revisando numerais e quantidades até 50\

escrita de nomes de numerais

Atividades impressa sequência dos números

até 9; Complete com os números

Estudos dos numerais até 10; -Atividades com

materiais concreto utilizando tampinhas

enumeradas;

Construindo gráfico e resolvendo situações

problema a partir das datas de nascimento dos

educandos.

Atividade impressa música a Galinha do

vizinho leitura e escrita dos números de

acordo com os numerais;

Relação número e numeral: representando os

dias do mês de fevereiro / medidas de tempo:

localização do dia e mês do aniversário no

calendário de 2016/ leitura individual da lista

de nomes dos meses

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Ligue os números aos numerais

representantes;

Medidas de tempo: estudando a composição

do mês

Atividades impressa história matemáticas:

Tinha, Ganhou e Ficou; -

Atividades no livro de matemática páginas: 11

até 15

Medidas de tempo: calendário diário/

completando intervalos na sequência

numérica de 0 a 100/ escrita dos nomes dos

numerais.

Pinte de acordo com a quantidade indicada

pelo número; -Ligue os conjuntos ao número; Resolução de situações problemas.

Atividade impressa música 10 Indiozinhos; -

Pintura do índio Estudando a base dez: jogo nunca dez.

Escrita dos números de 0 a 10 Estudo da base dez: resolução de exercícios

Atividade impressa envolvendo percepção

matemática Resolução de situações problema.

Fonte: Organizado pela autora a partir do diário de classe das professoras

Como podemos notar, Jade ao ensinar matemática, dá muita ênfase na escrita do numeral

hindu/arábico, ou seja, no registro de quantidades, quando essa seria a fase ideal para as crianças

vivenciarem situações em que tenham a necessidade de contar, controlar quantidades e registrar,

utilizando variadas formas de representações de quantidade, como o desenho, o numeral repetitivo,

etc. para daí passar a utilizar o numeral hindu-arábico.

O fato de realizar atividades como as propostas por Jade não garante que as crianças tenham

compreendido o conceito de número. Elas podem facilmente memorizar e repetir a sequência

numérica em diversas atividades, mas se tiverem que utilizar esse conhecimento em situações

problemas demonstram não saber.

No entanto, Jade considera que seus alunos estão muito bons em matemática porque

conseguem realizar as atividades que ela propõe.

Já Ágata, considera que seus alunos têm dificuldades em matemática, como podemos

constatar no recorte a seguir

Como eu te falei, eles vieram com algumas deficiências do primeiro ano e a

deficiência maior que eu vejo é essa relação número e numeral ainda. Então, as

vezes eu estou resolvendo uma operação no quadro mas, como a gente trabalhou

muito a base dez, ele já tem esse conceito formado, na oralidade ele resolve tudo

comigo, mas quando vai pro individual, pro caderno eles não conseguem,

“professora, que número que é esse? Aqui vai dar onze mas qual que é o onze?”

eles precisam ainda desse auxílio, aí eu tenho que mostrar qual que é o onze, aí

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ele pega e coloca, porque esse conceito pulou realmente (EI1, ÁGATA - Prof.ª do

2º ano)

Ao observarmos os registros de Ágata podemos perceber que ela preocupa-se mais com a

construção da ideia de número.

Temos assim dois olhares diferentes a se considerar ao avaliarmos o desenvolvimento da

aprendizagem dos alunos em matemática. Isso influencia no que se considera melhoria da

qualidade da educação, no caso, melhoria no ensino aprendizagem da matemática. Não estamos

aqui querendo julgar a prática das professoras e sim mostrar que a concepção e ensino

aprendizagem de cada professora influencia no que consideram o aluno ser proficiente.

Por isso, reforçamos nossa convicção recorrendo a Fiorentini (1995) quando afirma que a

melhoria na qualidade do ensino está relacionada com as concepções pedagógicas e determinações

socioculturais e políticas da qual estão filiados os responsáveis pelo processo educativo.

Concordamos com o autor que há:

[...] diferentes modos de conceber e ver a questão da qualidade do ensino da

Matemática. Alguns podem relacioná-la ao nível de rigor e formalização dos

conteúdos matemáticos trabalhados na escola. Outros, ao emprego de técnicas de

ensino e ao controle do processo ensino/aprendizagem com o propósito de reduzir

as reprovações. Há ainda aqueles que a relacionam ao uso de uma matemática

ligada ao cotidiano ou à realidade do aluno. Ou aqueles que colocam a Educação

Matemática a serviço da formação da cidadania (FIORENTINI, 1995, p. 2).

Assim, fica evidente que a matemática vivenciada na escola nem sempre é a mesma que os

proponentes e elaboradores dos documentos orientativos, dos currículos, das avaliações externas

almejam alcançar com as constantes propostas de mudanças nas políticas educacionais

implementadas nas escolas.

Nesse contexto, temos por um lado o Estado, cuja preocupação é melhorar o nível de “[...]

proficiência na Prova Brasil/SAEB, intensificando o trabalho com o conteúdo das áreas de Língua

Portuguesa e Matemática, a partir das habilidades e competências avaliadas nos exames nacionais”

(AMARAL, 2014, p. 163), e por outro lado o professor que está preocupado com o processo de

ensino-aprendizagem, mas que, em meio a tantas cobranças vivenciam situações conflituosas entre

o que acreditam como ideal de ensino aprendizagem e o que o sistema impõe. Como veremos a

seguir.

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4.3.4 Reflexões sobre as implicações das avaliações externas no processo ensino-aprendizagem

Nas últimas décadas têm sido intensivas as discussões sobre as avaliações externas. Não é

difícil encontrar escolas, cujas atividades organizadas pelos professores estão voltadas para o

preparo dos alunos para avaliações externas inclusive com aplicação de simulados. Já no primeiro

ciclo a exigência é grande, pois os alunos são expostos, muito cedo a esse tipo de avaliação, como

por exemplo a ANA, a Provinha Brasil, e agora a ADEPE. As professoras discutiram sobre as

implicações dessas avaliações para o processo de ensino-aprendizagem.

Quando eu fiz em Pontes e Lacerda (município onde ela trabalhava

anteriormente), na provinha ANA [...] tinha gabarito, então eu não treinei meus

alunos a preencherem o gabarito, nós não treinamos. Mas, esse ano eu treinei

bastante a preencherem o gabarito e este ano não teve gabarito. Na primeira

prova ANA eu senti prejudicada e meus alunos também porque eles sabiam. (EC,

RUBI – Prof.ª 3º ano).

Estas provas externas elas são muito delicadas. É conflitante porque a gente fica

preocupada por um lado em querer sair bem e por outro é uma avaliação que tem

os objetivos deles, pré determinados, não correspondem aos nossos objetivos da

aprendizagem que temos como meta para atingir. Eu só ensino para eles como é

que preenche [...] não fico preocupada em treinar para fazer[...] Se o aluno sabe

ele vai conseguir um resultado bom, (EC, ÁGATA – Prof.ª 2º ano).

A professora Rubi afirma que, na sua prática pedagógica, acaba treinando seus alunos para

as avaliações externas. Já a professora Ágata, a princípio, diz que não faz este “treinamento” na

sua prática pedagógica. No entanto, após algumas discussões, ela admite que as avaliações externas

estão interferindo na sua prática, no processo de ensino-aprendizagem.

Eu estou fazendo muito isso esse ano, agora é aula de matemática, eu quero

atender tal e tal objetivo. Eu sofri com esse conflito, porque a gente tenta fazer

um trabalho interdisciplinar, [...] Mas agora, com essa nova roupagem de

avaliação do sistema e os objetivos de aprendizagem do PACTO a gente está meio

que retrocedendo. [...] Então a minha visão, o meu foco de avaliação está

interferindo na minha metodologia [...] Quando eu entrei em 2000 já era

interdisciplinar. Foi um desafio muito grande, eu comecei a caminhar nesse

processo, então, quando voltou por disciplina eu achei super difícil porque parece

que eu estou fazendo algo errado. Então, quando eu trabalhava mais

interdisciplinar, eu colocava as crianças mais para ler, para questionar, o que

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que está pedindo o exercício [...] Então as vezes eu me pego pulando um processo

que poderia ser bem interessante (EC, ÁGATA – Prof.ª 2º ano).

O dilema vivido pelas professoras da escola Gemas não difere de outras realidades. Apesar

das instituições formadoras indicarem um movimento de aprendizagem da docência que fosse mais

significativa para as crianças as alfabetizadoras acabam tendo que agir segundo a política pública

educacional do Estado, indo na contra mão daquilo que acreditam com as avaliações externas, e é

perceptível o pesar na voz da professora Ágata ao dizer “eu acabo pulando um processo que

poderia ser bem interessante”. Assim, como diz a professora, ela tem que deixar de fazer uma

metodologia, uma organização do processo de ensino que ela acredita para se enquadrar naquilo

que o governo quer.

Segundo Gatti; Barreto; André (2011, p. 36),

Se, por um lado, o discurso pedagógico focalizava a avaliação do ponto de vista

dos processos de ensino-aprendizagem; por outro lado, o modelo de gestão das

políticas de currículo centrado nos resultados não se mostra particularmente

preocupado com os processos. Em princípio, as redes e as escolas podem escolher

o caminho que quiserem, mas têm de chegar aos resultados esperados. A

tradicional autonomia do(a) professor (a) para manejar o currículo estaria

garantida dessa forma, não fosse a enorme pressão do sistema educacional para o

cumprimento das metas e o alcance dos resultados dos rendimentos do(a) aluno(a)

dentro dos quesitos definidos pela matriz do Saeb. Com metas pré-determinadas

a atingir, a postura mais flexível e aberta em relação aos currículos começa a

fechar-se e chega, em alguns casos, a fechar-se seriamente (GATTI; BARRETO;

ANDRÉ, 2011, p.41)

Nossa preocupação diante do que vem ocorrendo no processo de ensino-aprendizagem é

que, com o ensino sendo direcionado pelas avaliações externas, a escola pode perder de vista a sua

“[...] função primeira que é educar com qualidade [...]” (FREITAS, 2009, p. 23) ao desrespeitar o

desenvolvimento próprio de cada indivíduo, pois, acaba valorizando mais o resultado final do que

o processo de aprendizagem.

A formação continuada pautada nas avaliações externas indica que há uma tentativa de

fortalecer ainda mais o modelo de gestão das políticas de currículo centrado nos resultados.

O fracasso do PEIP poderia ter sido evitado se tivéssemos uma política pública de educação

do Estado e não de governo, pois, os mesmos erros foram cometidos em anos anteriores quando

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ocorreram as parcerias público/privado com a Fundação CESGRANRIO em 2006 e com o Instituto

Ayrton Sena em 2007 e 2008.

Amaral (2014) analisou, em sua pesquisa de doutorado, a implantação das parcerias

público-privado entre a SEDUC-MT e entidades Fundação CESGRANRIO e o Instituto Ayrton

Sena.

Segundo a pesquisadora com a CESGRANRIO,

A parceria com a SEDUC teve início em 2006, com o objetivo de avaliar os mais

de 300 mil alunos do Ensino Fundamental das escolas estaduais, nas disciplinas

de Matemática e Língua Portuguesa e capacitar 5.800 professores efetivos em

exercício das respectivas disciplinas, visando reverter os indicadores. (SEDUC-

MT, site, acesso em 16.09.2012). (AMARAL, 2014, p. 128)

A formação continuada promovida pela CESGRANRIO, que em Mato Grosso teve o nome

de Eteno Aprendiz, “teve carga horária total de 100 horas” (AMARAL, 2014, p. 129).

A parceria da SEDUC-MT com o Instituto Ayrton Sena,

Teve início em 2007, a partir de mais uma iniciativa da Secretaria em buscar meios

de melhorar os índices do Estado. Inicialmente foram implantados os programas

emergenciais Se Liga e Acelera Brasil. No ano de 2008 o Se Liga não foi

renovado, passando a ser implantado o Circuito Campeão, de cunho preventivo,

com estratégias de gerenciamento dos resultados da aprendizagem [...]

(AMARAL, 2014, p. 138, grifo da autora).

A falta de transparência na contratação das parcerias é destacada pela pesquisadora nos

resultados finais da pesquisa, pois não teve acesso aos documentos que ajudariam a compreender

as bases que regulamentavam as parcerias que ela pesquisou.

[...] a falta de acesso a documentos que deveriam ser de domínio público, significa

mais que um percalço na execução metodológica da pesquisa. Estes documentos

determinam não apenas como as parcerias funcionam, mas também contém

informações sobre os gastos que os órgãos públicos teriam com sua implantação

e implementação, além de fornecerem dados que poderiam nos esclarecer sobre

os direitos e deveres de cada uma das partes (AMARAL, 2014, p, 146)

E a situação se repete oito anos depois, novamente a SEDUC-MT

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[...] recorre a parcerias com o setor privado com a clara intenção, dentre outras

justificativas, de melhoria dos índices. A contratação do Caed e a realização das

provas de avaliação com os estudantes em todo o Estado de Mato Grosso, seguida

da afirmação de que a formação continuada dos professores deverá se pautar

nesses resultados para planejar ações de intervenção em salas de aula, mais uma

vez, demonstram a centralidade que vem adquirindo os processos avaliativos. Ou

seja, cresce a atuação do Estado Avaliador como afirma Dias Sobrinho (2002),

com a diminuição do papel do Estado na área educacional e a consolidação da

matriz de referência da Avaliação em larga escala como o padrão de qualidade

que se espera da escola. (COSTA; GENTIL; AMARAL, 2016, p. 7-8)

Como vimos, no decorrer da nossa pesquisa, o PEIP, em 2017, mudou novamente, passando

a se chamar PEFE. Felizmente a formação proposta não deu resultados. Felizmente porque não

concordamos com as decisões da SEDUC-MT. Infelizmente, porém, mais uma vez o dinheiro

público foi utilizado sem retorno para a população. E o PEIP, da mesma forma como iniciou, foi

encerrado, como aconteceu com as parcerias anteriores, sem nenhuma justificativa para as escolas,

“as duas parcerias terminaram abruptamente, da mesma forma que começou” (AMARAL, 2014,

p. 156). Sem esclarecimentos do recurso financeiro utilizado.

A partir do que foi dito pelas professoras e demais dados de nosso acervo podemos

considerar que a avaliação externa ADEPE não foi compatível com a avaliação feita pelas

professoras.

A tentativa de realizar a formação continuada focando nas necessidades de aprendizagens

dos alunos, conforme realizada no PEIP em 2016, foi equivocada quando passou a ser planejada e

conduzida fora da escola. Além disso, a demora e o desencontro de formações, informações e

orientações colaboraram para que o fracasso da formação fosse ainda mais rápido, já que tinha

tendência ao fracasso, por dar demasiada importância às avaliações externas.

As professoras afirmaram que acabaram mudando suas metodologias com coisas que não

acreditam para se encaixarem dentro de um modelo que não concordavam. Mesmo tendo uma

formação que indica um trabalho formativo que valoriza o processo de aprendizagem das crianças

as professoras se voltam a uma prática que não consideram ideal para se adequarem a um sistema

que concebe melhoria na qualidade da educação como a elevação de índices de avaliações externas.

Enfim, neste eixo, procuramos apresentar as ações relacionadas às avaliações externas e

internas no PEIP destacando que as percepções das professoras sobre as avaliações externas porque

estas, além de prejudicar o andamento da formação continuada, não coincidiram com as avaliações

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que realizavam no dia a dia. Como vimos, houve uma série de ações inconclusas que fizeram com

que a escola Gemas suspendesse todas as ações relacionadas ao PEIP, não cumprindo o que havia

sido determinado. Uma das ações suspensas, talvez a mais importante nesse processo, pois, é a que

chegaria ao aluno, seria a intervenção pedagógica que visava a superação das dificuldades

detectadas. O que acabou não acontecendo.

Não realizar as ações determinadas pela SUFP pode parecer rebeldia ou afronta por parte

da escola. Acreditamos porém, que, pior seria, se tivessem feito todo o processo apenas para

cumprir uma formalidade, sem sentido algum para a escola, uma vez que o atraso que aconteceu

na formação, que estava atrelada ao processo avaliativo ADEPE, provocou um descompasso entre

os resultados das avaliações externas, internas e a formação continuada.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao concluirmos esta pesquisa sobre a formação continuada que foi implementada no ano

de 2016 em Mato Grosso, buscamos responder a seguinte questão problema: Como a formação

continuada PEIP foi concebida, desenvolvida e avaliada por professores que ensinam matemática

no primeiro ciclo em uma escola estadual do município de Cáceres-MT? Para isso, organizamos

os dados que compuseram o capítulo das análises em três eixos: no primeiro apresentamos como

foi a dinâmica da etapa de estudos coletivos da escola Gemas, necessário para entender o contexto,

as concepções, avaliações e sentimentos das professoras em relação a formação continuada PEIP,

no segundo interpretamos como as professoras conceberam, desenvolveram e avaliaram a

formação continuada PEIP em 2016 e no terceiro destacamos as percepções das professoras sobre

as avaliações externas ADEPE e internas nas ações do PEIP. Procuramos retratar a formação

continuada a partir do olhar das professoras, do contexto onde estão inseridas utilizando, como

principal instrumento na produção de dados, a entrevista semiestruturada.

No que diz respeito à dinâmica da etapa de estudos coletivos na escola Gemas, diante dos

dados analisados destacamos:

Primeiro, na escolha dos textos, temáticas e organização foi adotada uma dinâmica que não

favoreceu o protagonismo do professor nem o fortalecimento da escola enquanto lócus de

formação. Entendemos que esse foi o primeiro passo para o fracasso dessa formação, pois o PEIP,

conforme previsto na portaria, foi elaborado sem participação de representantes das escolas e sem

pesquisar o que realmente era importante como necessidade formativa para o momento. Ignorando

o contexto da escola impôs o que, como e quando estudar, o que fez com que a formação fosse

caracterizada como tecnicista ao ser determinada num cumpra-se, tornando os professores apenas

executores da proposta.

Segundo, as formas de fazer com que os professores frequentassem os encontros formativos

do PEIP adotados pela SEDUC-MT estão mais voltados para a obrigatoriedade, por ser computada

à carga horária a ser cumprida pelo professor, do que pelo direito a formação. As professoras foram

unânimes em dizer que se pudessem escolher entre fazer ou não a formação continuada PEIP, não

fariam. Neste caso, a professora Jade, que atuava em duas redes, municipal e estadual, teve uma

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135

dificuldade ainda maior em participar do PEIP, pois tinha que pagar substituta na outra escola para

conseguir participar da formação continuada na escola Gemas.

Também notamos em suas falas que outro motivo de realizarem essa formação em 2016 foi

devido à contagem de pontos e atribuição de aulas. Entendemos que essa atitude faz com que haja

uma distância cada vez maior entre o que leva os professores a fazerem a formação e a real

necessidade da formação continuada. Elas sabem que necessitam de formação continuada, mas não

nesse modelo e vivenciaram o dilema de terem que optar entre fazer uma formação que não

concordam ou sofrer as consequências impostas pela SEDUC.

Terceiro, vimos que o GeoGebra, curso realizado nos últimos encontros do PEIP, não teve

aceitação por parte das professoras participantes desta pesquisa devido a não ser direcionado para

as turmas de alfabetização e devido a concepção instrumentalista de ensino da matemática e da

concepção empirista que elas têm do processo ensino aprendizagem.

Acreditamos que esses pontos aqui elencados, dentre outros apresentados no primeiro eixo,

de certa forma “justificam” a avaliação negativa que as professoras fizeram do PEIP.

No segundo eixo, ao analisarmos como as professoras conceberam, desenvolveram e

avaliaram a formação continuada PEIP em 2016, interpretamos que os dados, advindos das

entrevistas e demais instrumentos e procedimentos, revelaram que a formação continuada PEIP foi

concebida por elas como uma formação tecnicista. Constatamos essa característica ao considerar

que o PEIP:

- Não respeitou o contexto da escola nem as especificidades do ciclo da alfabetização. É

assim, por exemplo, que Ágata ao se reportar ao PEIP afirmou que a formação continuada se

“distanciou mais ainda de atender a realidade da sala de aula e da escola”.

- Ignorou os saberes das professoras, porque, segundo Ágata, “acabou a gente revendo

muitas coisas que a gente já viu, sem avanço. Não que rever é ruim, revemos isso para usar nisso,

aí é bom, mas rever por rever.”

- Ignorou os problemas que enfrentam no cotidiano da sala de aula, uma vez que, conforme

afirmou Jade, faltou “ver onde é que o professor está pedindo socorro”.

- Não possibilitou o protagonismo das professoras em todas as etapas do processo

formativo, sendo que, todas as decisões foram tomadas por terceiros e o que as professoras

disseram resumimos na fala de Rubi, “a gente só tem que cumprir”.

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Ainda com base nas falas das professoras, pudemos constatar, sobre o desenvolvimento do

PEIP em 2016 na escola Gemas, além das dificuldades já elencadas, o que mais marcou foram as

ações inconclusas. Os estudos dos textos foram suspensos devido à greve e não foram retomados.

As análises das avaliações ADEPE, que demoraram a ser feitas devido atraso na divulgação dos

resultados, e que culminariam na elaboração e desenvolvimento do plano de intervenção

pedagógico, tiveram que ser retomadas depois da formação do coordenador. O plano de

intervenção pedagógica foi adiado para o ano seguinte. O curso do GeoGebra, que aconteceu após

a greve, também não foi concluído. Enfim, Ágata, assim como as demais professoras, concluíram

que “nós não conseguimos finalizar nada da formação este ano”

Compreendemos que tudo isso denotou desrespeito com o tempo e esforços empenhados

na realização da formação continuada, o que resultou em desmotivação, por parte das professoras,

em participarem da formação continuada e fez com que a professora Rubi não considerasse sequer

as ações desenvolvidas como formação continuada além de dizer: “[...] eu estava aqui cumprindo

minha carga horária. ”

Assim, as falas das professoras levaram-nos a interpretar que elas avaliaram negativamente

a formação continuada PEIP que não contemplou suas expectativas por não serem condizentes com

suas necessidades formativas.

Outro ponto que destacamos e discutimos nesse eixo foram as dificuldades em relação às

condições de trabalho no contexto escolar, frisado nas falas das professoras nas entrevistas e nas

discussões em um dos encontros formativos registrados no caderno de campo, que nos levou a

refletir sobre a tendência que considera que basta investir apenas na formação continuada dos

professores para resolver todos os problemas que resultam na má qualidade da educação. Tendência

essa que responsabiliza apenas o professor pela não aprendizagem dos alunos e que inculca na

população esse pensamento, desvalorizando cada vez mais esse profissional.

Acreditamos que, enquanto o sistema educativo continuar precário, devido à má utilização

dos recursos destinados à educação, não há formação continuada que resolva o problema da má

qualidade do ensino. Não queremos aqui negar a importância da formação continuada, pelo

contrário, é através dela que a saída pode ser encontrada. Porém, não é com o modelo de formação

continuada desenvolvido no PEIP que ocorrerá essa mudança e sim quando os professores, unidos,

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resistirem à imposição do sistema, discutirem os problemas reais da educação, nos momentos

formativos.

Enquanto isso não acontece o que vemos são professores envolvidos em um círculo vicioso,

pois geralmente coloca-se em prática na sala de aula o que é vivenciado na formação continuada,

ou seja, ao participar da formação passivamente, apenas obedecendo regras, acaba-se por colocar

em prática esse modelo no ensino, fazendo com que os alunos apenas obedeçam, não contestem,

apenas executem o que o professor manda, ou seja, uma formação empirista mantenedora do

sistema atual.

Quando se ensina, por exemplo a matemática, embasados numa concepção empirista,

através de exercícios repetitivos, do tipo arme e efetue, copie os numerais, entre outros, os

professores impedem os alunos de pensarem, de desenvolverem o raciocínio lógico, tornando-se

indivíduos fáceis de serem manipulados. Aqui chamamos a atenção para o trabalho exercido pelos

pedagogos, que atuam no início do ensino fundamental, tamanha é a responsabilidade desses

profissionais, pois é onde, na maioria das vezes, os alunos passam até 5 anos de formação escolar

impedidos de pensarem, de exercerem a autonomia intelectual, dependendo sempre do que o

professor dita como regra. Assim, muitos professores que no discurso se posicionam contra o

sistema acabam, na prática, por colaborar indiretamente em sua manutenção.

Desta forma, não realizar as ações determinadas pela SUFP pode parecer rebeldia ou afronta

por parte da escola Gemas. Acreditamos porém, que esse pode ter sido o primeiro passo na decisão

de não aceitar a condição de passividade por parte da escola e das professoras. Pior seria, se

tivessem feito todo o processo apenas para cumprir uma formalidade, sem sentido algum para a

escola.

Uma formação continuada, atrelada ao processo avaliativo ADEPE, com parcerias com o

setor privado, como foi o caso do PEIP, com intencionalidades suspeitas, cujo objetivo, parece-nos

que é provar que a solução para a educação pública é a privatização, se tivesse tido sucesso poderia

representar a abertura de um caminho para que o Estado, definitivamente, direcionasse o ensino

público, iniciando pela privatização da formação continuada, como já foi proposto em anos

anteriores em Mato Grosso com as parcerias com a CESGRANRIO e Instituto Airton Sena.

Os resultados da avaliação ADEPE, realizada pelo CAED/UFJF, que analisamos no terceiro

eixo, marcou um descompasso com as avaliações internas nas ações do PEIP, o que fez com que

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as professoras não estabelecessem nenhuma relação entre as duas avaliações, uma vez que o que

foi ensinado difere do que foi avaliado e com isso, as professoras tiveram dificuldades até mesmo

no preenchimento do relatório avaliativo do aluno no sistema eletrônico.

Segundo as professoras, não haveria necessidade da avaliação ADEPE no primeiro ciclo

em Mato Grosso uma vez que os alunos já fazem todos os anos a Provinha Brasil, cujos resultados

se encontram disponíveis no Portal Inep. Se houvesse, realmente, tanta necessidade desse tipo de

avaliação bastaria o Estado acessar esses resultados.

Portanto, consideramos que a formação continuada PEIP, focada nas avaliações externas,

foi um erro em todos os sentidos, desde o princípio, principalmente quando passou a ser planejada

e conduzida fora da escola. Além disso, a demora e o desencontro de formações, informações e

orientações anteciparam o fracasso da formação que já era previsto, devido a demasiada

importância dada às avaliações externas e a tentativa do Estado em direcionar ainda mais o ensino

escolar.

Acreditamos que é preciso considerar a complexidade implícita no ato de avaliar, pois tudo

depende da intencionalidade de quem avalia e, com certeza, as intenções políticas da SEDUC-MT

ao propor a ADEPE, diferem da intencionalidade das professoras ao avaliarem seus alunos. Haja

vista que a concepção de aprendizagem, também, influencia no que se considera importante avaliar.

Embora o PEIP não tenha dado certo, esse modelo de formação deixa consequências no

processo de ensino-aprendizagem, porque as professoras manifestaram o dilema que vivenciaram

dizendo que acabaram sendo obrigadas a ensinar focando nos resultados e não no processo, que

poderia ser mais significativo para as crianças, para se encaixarem dentro de um modelo imposto

pelo sistema.

Enfim, o que percebemos, nessa pesquisa, é que os dados, tanto os que se referem à

formação continuada PEIP quanto os que apontam para o desenvolvimento e organização do

trabalho pedagógico, indicam uma prática formativa que não colabora para a construção da

autonomia da escola, nem dos professores e muito menos dos alunos.

Parece-nos que há um controle, cada vez maior do Estado sobre o que, como e quando

estudar ao aderir ao modelo de formação continuada pautada na avaliação externa que indica uma

concepção de ensino aprendizagem empirista que coloca o professor em situações passivas, onde

apenas executa o que os outros determinam e acabam por colocar em prática esse mesmo modelo

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na sala de aula. Romper com o círculo vicioso dessa prática empirista, focada nos resultados, pode

parecer impossível, mas, acreditamos que uma das possibilidades de mudança seria formação

continuada, desde que promova e favoreça a reflexão.

Esperamos que nossa pesquisa possa despertar outros questionamentos para novas

pesquisas, principalmente que deem voz aos professores, uma vez que trouxemos reflexões que

não foram aprofundadas por não ser nosso objeto de pesquisa, como por exemplo, o que resulta ao

se tratar a formação continuada como uma obrigação e não como um direito? Houve participação

de representantes dos professores na decisão de como utilizar os recursos financeiros destinados à

formação continuada gastos pela SEDUC-MT nos últimos anos? Quais as consequências, a longo

prazo, de uma formação continuada baseada nas avaliações externas para o processo ensino-

aprendizagem? Um dos pontos que consideramos mais difícil na realização desta investigação foi

manter o foco diante de inúmeras questões que foram surgindo a cada dado analisado.

Consideramos que está nas mãos dos professores, principalmente dos que atuam nos anos

iniciais do Ensino Fundamental, a chave para a mudança no processo de ensino-aprendizagem da

matemática, porque ao conduzir o ensino onde o aluno é passivo, obediente, em uma matemática

focada apenas nos resultados e não no processo de construção dos conceitos, acabam por fomentar

e manter o sistema, não capacitando a todos para o exercício da cidadania, pois não é possível

contestar, argumentar, num ciclo vicioso, em que a lógica, não só a matemática, continua nebulosa,

impedindo de ver a realidade, as várias facetas do sistema educacional público.

A realização dessa pesquisa possibilitou-nos refletir sobre nossa própria prática enquanto

professora alfabetizadora da rede estadual. Víamo-nos em muito do que as professoras

participantes da nossa pesquisa disseram e no que seus registros revelaram. Pudemos rever nossas

convicções, na maioria das vezes empiristas, ao confrontar nosso ponto de vista com outras

concepções, que resultaram em riquíssimas aprendizagens.

Muitas das inquietações que nos acompanharam ao longo dos anos na carreira docente,

principalmente em relação a aprendizagem, puderam enfim ser compreendidas. Outras

inquietações surgiram, como por exemplo, quais atividades podem potencializar a construção dos

conhecimentos matemáticos? Acreditamos que é isso que nos mobiliza a nunca parar de pensar,

questionar, sentir e agir!

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145

ANEXOS

Questionário de Caracterização do Professor ....................................................................... 146

Roteiro da Entrevista ............................................................................................................ 148

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146

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

MESTRADO EM EDUCAÇÃO

Professora, gostaríamos de contar com a sua colaboração para responder a este questionário de caracterização. O mesmo tem como objetivo levantar informações que serão importantes para o

desenvolvimento da dissertação de Lenir Tomazeli, mestranda do Instituto de Educação da UFMT,

na Linha de Pesquisa Educação em Ciências e Matemática. Agradecemos pelo seu tempo, atenção

e valiosa colaboração.

QUESTIONÁRIO DIRECIONADO AO PROFESSOR PROFESSOR

1- Dados Pessoais

a) Nome completo:____________________________________________________________

b) Data de nascimento:_______________c) Natural de:____________________________

Telefone:________________________ celular:____________________________________

Email:_____________________________________________________________________

2- Formação Acadêmica

a) Curso de Graduação:___________________ Instituição:___________________________

Ano de ingresso:______Ano de Conclusão: _____ Cidade /Estado:_____________________

b) Pós-Graduação: ( ) Especialização ( ) Mestrado ( ) Doutorado

Curso:____________________________ Instituição:________________________________

Ano de ingresso:______Ano de Conclusão: _____ Cidade /Estado:_____________________

3- Experiência profissional

a) Qual sua situação trabalhista:

( ) Efetivo ( ) Concursado ( )Prestador de serviço por contrato

b) Especifique a(s) escola(s) que você atua:

Nome da escola Turma de

atuação

Tempo de

atuação

Turno de

atuação

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c) Qual a sua jornada de trabalho semanal? _______________________

d) Exerce outra profissão além de professor?

( ) Sim ( ) Não

e) Já atuou em quais etapas da Educação Básica?

Creche ( )

Educação Infantil ( ) 4 anos ( ) 5 anos

Ensino Fundamental ( ) Anos Iniciais ( ) Anos Finais

Ensino Médio ( )

f) Há quantos anos leciona no 1º ciclo?___________

4 - Formação continuada:

a) Você participou de alguma formação específica de matemática nos últimos cinco anos? Qual?

A formação contribuiu para a melhoria de sua prática em sala de aula? Se não, justifique. Se sim,

em que aspectos?

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Cáceres-MT, _______de ____________________de 2016.

Assinatura do professor(a):_____________________________________________

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

MESTRADO EM EDUCAÇÃO

LINHA DE PESQUISA: EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICA

GRUPO DE PESQUISA: EDUCAÇÃO EM MATEMÁTICA

LENIR TOMAZELI

ROTEIRO PARA ENTREVISTA

O presente roteiro tem como objetivo subsidiar-nos em relação a entrevista e se estrutura a partir

de três blocos:

Relação escolar, acadêmica e profissional com a Matemática;

Formação Continuada;

Ensino da matemática;

BLOCO 1 – Relação escolar, acadêmica e profissional com a Matemática (trajetória escolar e

profissional):

a) Como foi sua vida escolar, onde estudou? Você gostava de Matemática? Por quê?

b) Por que escolheu ser professora?

c) Na graduação, você teve alguma disciplina específica sobre Matemática? Essa disciplina

contribuiu para você ensinar matemática?

d) Caso tenha contribuído pouco, onde você aprendeu a ensinar matemática?

e) Onde você prefere atuar no primeiro ou no segundo ciclo do Ensino Fundamental? Por

que?

BLOCO 2 – Formação Continuada

a) Quais foram seus sentimentos/expectativas ao ser informada sobre a implantação do

Projeto de Estudos e Intervenção Pedagógica (PEIP)?

b) O que motiva você a participar do PEIP?

c) Até o momento, como você avalia o PEIP?

d) Você tem tido alguma dificuldade para participar do PEIP?

e) Você gostou das temáticas que foram propostas para estudar no PEIP? Essas temáticas

condizem com as necessidades formativas do grupo? Como foi a dinâmica de estudo?

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Quantos textos foram lidos? E discutidos? Você participou das discussões? Você teve

tempo para ler esses textos? Quais foram lidos? Vocês conseguiram ler todos os textos

previstos? O que você leu e gostaria de destacar?

f) Como você age quando encontra dificuldades teórico-práticas?

g) Pela portaria 161/2016 Seduc-MT, os projetos devem ser elaborados a partir das

avaliações externas e internas, você acha isso pertinente? Como isso tem sido feito na

escola?

h) Quais necessidades de aprendizagem dos alunos em matemáticas foram detectadas?

i) Quais as medidas serão tomadas para superar as dificuldades detectadas?

BLOCO 3 – Ensino da matemática

a) Você sente dificuldades para ensinar Matemática? Quais? Justifique.

b) Qual a finalidade para ensinar matemática no primeiro ciclo?

c) Como você planeja as aulas de matemática? Consegue integrá-la com as outras áreas do

conhecimento?

d) Quais conteúdos de matemática está propondo para este ano?

e) Onde você costuma se subsidiar para planejar as aulas de matemática?

f) Como você avalia as aprendizagens de matemática de seus alunos? Quais instrumentos

você utiliza? Quando você avalia?