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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS UFMG INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS - ICB DEPARTAMENTO DE MICROBIOLOGIA A CRIPTOCOCOSE EM PACIENTES COM HIV/AIDS LUCRÉCIA DE FÁTIMA GERALDO Belo Horizonte 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS – UFMG

INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS - ICB

DEPARTAMENTO DE MICROBIOLOGIA

A CRIPTOCOCOSE EM PACIENTES COM HIV/AIDS

LUCRÉCIA DE FÁTIMA GERALDO

Belo Horizonte

2017

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LUCRÉCIA DE FÁTIMA GERALDO

A CRIPTOCOCOSE EM PACIENTES COM HIV/AIDS

Belo Horizonte

2017

Trabalho de Conclusão apresentado ao Curso de Pós-graduação em Microbiologia da Universidade Federal de Minas Gerais como requisito à obtenção do título Especialista. Aluna: Lucrécia de Fátima Geraldo Orientadora:Prof.(a) Dr(a) Susana Johann Co-orintadora: Ms(a). Nívea Pereira de Sá

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III

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho à DEUS, a minha orientadora, meu pai (in memorian), minha mãe, irmãos e vários colegas que contribuíram para a conclusão deste

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IV

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus pela vida e o amor, pelas oportunidades

encaminhadas a mim e pelas pessoas que estiveram e estão presentes na minha

vida.

Ao Prof(a). Dra Susana Johann pela orientação, pela oportunidade, pela

disponibilidade, pela atenção e ensinamentos que foram imprescindíveis na

realização deste trabalho.

A coorientadora Mestra Nívea Pereira de Sá pela coorientação e pela

disponibilidade em me ajudar.

Aos colegas da especialização que de alguma forma me ajudaram e

apoiaram.

Agradeço a minha colega Luciana que com sua experiência contribuiu e muito

para realização deste trabalho.

Agradeço aos meus pais pela vida, pelo amor, exemplo e incentivo e aos

meus irmãos pelo companherismo e apoio.

A todos os meus colegas, que de longe ou de perto acompanharam e

torceram por mim e de uma forma ou de outra, contribuíram para a finalização deste

trabalho.

Muito obrigada!

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V

“Desistir...eu já pensei seriamente nisso, mas nunca me levei realmente a sério; é que tem mais chão nos meus olhos do que o cansaço nas minhas pernas, mais esperança nos meus passos, do que tristeza nos meus ombros, mais estrada no meu coração do que medo na minha cabeça.”

CORA CORALINA

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VI

RESUMO

A Sindrome de Imunodeficiência Adquirida é uma doença causada pelo Vírus de Imunodeficiênica Humana (HIV) e infecta milhares de pessoas em todo o mundo. A infecção causada por este vírus permiti a infecção por agentes oportunistas como os do Gênero Cryptococcus causador da criptococose, uma doença fúngica diretamente correlacionada com a infecção por HIV. As espécies C. neoformans e C. gattii são as que mais acometem o organismo humano, e são adquiridos por inalação de propágulos fúngicos. A epidemiologia deste fungo se deve a sua distribuição universal, prevalente em climas subtropicais e tropicais. É um fungo com grande virulência e atinge inicialmente os pulmões podendo se instalar em outros órgãos, como o sistema nervoso central, sendo a forma mais grave da doença, levando vários indivíduos à morte. O diagnóstico é realizado por métodos como Tinta Nanquim (exame direto), sorologia, cultura, citologia e histologia. A criptococose é mais prevalente em países africanos, considerando o alto índice de pessoas imunodeprimidas, mas há inúmeros relatados de pessoas infectadas em todo mundo, como América do Norte, continente Europeu e mesmo no Brasil. Há vários registros da doença nos estados brasileiros, inclusive no estado de Minas Gerais. O tratamento desses indivíduos é realizado pela administração de anfotericina B, padrão ouro no tratamento de criptococose graves, como no caso da meningoencefalite. Ações permanentes e constantes devem ser empregadas no acompanhamento e tratamento dos indivíduos acometidos com a criptococose, favorecendo sua melhor sobrevida, auxiliando na redução dos sintomas.

Palavras-chave: AIDS/HIV, CRIPTOCOCOSE, INFECÇÃO, EPIDEMIOLOGIA

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VII

ABSTRACT

Acquired Immunodeficiency Syndrome is a disease caused by the Human Immunodeficiency Virus (HIV) and infects thousands of people around the world. The infection caused by this virus allowed infection by opportunistic agents such as the Cryptococcus genus causing cryptococcosis, a fungal disease directly correlated with HIV infection. The species C. neoformans and C. gattii are the ones that most affect the human organism, and are acquired by inhalation of fungal propagules. The epidemiology of this fungus is due to its universal distribution, prevalent in subtropical and tropical climates. It is a fungus with great virulence and initially reaches the lungs and can settle in other organs, such as the central nervous system, being the most severe form of the disease, leading several individuals to death. Diagnosis is performed by methods such as India ink (direct examination), serology, culture, cytology and histology. Cryptococcosis is more prevalent in African countries, considering the high rate of immunocompromised people, but there are numerous reports of infected people worldwide, such as North America, European continent and even Brazil. There are several records of the disease in the Brazilian states, including in the state of Minas Gerais. Treatment of these individuals is performed by administration of amphotericin B, gold standard in the treatment of severe cryptococcosis, as in the case of meningoencephalitis. Permanent and constant actions should be employed in the monitoring and treatment of individuals affected by cryptococcosis, favoring their better survival, helping to reduce symptoms.

keyword: AIDS/HIV, CRYPTOCOCCOSIS, INFECTION, EPIDEMIOLOGY

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VIII

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Impacto da infecção pelo HIV sobre a imunidade celular para fungos patogênicos oportunistas.......................................................

21

Figura 2 Nódulos pulmonares em um paciente assintomático com criptococose pulmonar isolada..........................................................

25

Figura 3 Coloração da tinta nanquim. Levedura encapsulada visto na preparação nanquim de líquido cefalorraquidiano (LCR) em um paciente com meningite criptocócica.................................................

29

Figura 4 Histologia hepática mostrando células de levedura PAS-positiva em um caso decriptococose disseminada.........................................

31

Figura 5 Desenvolvimento e disseminação de infecções no hospedeiro humano...............................................................................................

40

Figura 6 Estudo do perfil dos pacientes na admissão no Hospital- Mulago Hospital Nacional de Referência e Ensino, em Kampala, Uganda...............................................................................................

51

Figura 7 Incidência geográfica de MC nos EUA............................................... 56

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IX

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 Dados obtidos de estudos realizado no Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, México, Peru, Venezuela, Guatemala e Espanha com amostras de pacientes com HIV/AIDS..........................................

47

Gráfico 2 Sorotipos de C. Neoformans identificados no período entre 1987 e 2001 em cinco regiões da Colômbia. Não foram isolados sorotipos AD ou D. ........................................................................

48

Gráfico 3 Hospitalizações para MC nos EUA................................................ 56

Gráfico 4 Na mortalidade hospitalar por milhão de população em pacientes infectados pelo HIV........................................................

57

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X

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Total de isolados de Cryptococcus neoformans de amostras clínicas, veterinárias e ambientais, incluindo a Espanha.................

46

Tabela 2 Características dos Pacientes Recém-Inscritos em uma Clínica de HIV / AIDS Malawiana e Prevalência de CrAg com Contagem de CD4 <100 Células / mL ou Estágio III ou IV Clínico de HIV / AIDS da OMS............................................................................................

53

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XI

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Diagnóstico de criptococose em 131 pacientes de acordo com o local da infecção...........................................................................

49

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XII

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AIDS: Sindrome da Imunodeficiência Adquirida

AHRQ: Agência de Pesquisa e Qualidade em Saúde

AmBd: Anfotericina B

BAL: MiniBall – Coletor de amostras de aspirado traqueal

BMEC: Células endoteliais microvasculares cerebrais

CDC: Centro de Controle e Prevenção

CSF: Flúido Cerebro Espinhal

CrAg Antígeno Polissacarídeo Capsular Criptocócico

COAT: Teste cronológico criptocócico óptico

EUA: Estados Unidos da América

Fator Kb: Factor nuclear kappa B

GalXM: Galactoxylomanana

GXM: Glucuronoxylomanana

HIV: Vírus da Imunodeficiência Humana

IL Interleucina

IRIS Síndrome Inflamatória da Reconstituição Imunológica

INF-γ Interferon Gama

LCR Líquido Céfalorraquidiano

L-DOPA Levodopa

MC Meningite Criptocócica

MHC Complexo de Histocompatibilidade

Mpr1 Metalloprotease

OMS Organização Mundial de Saúde

PAS Coloração de Ácido Periódico – Schiff

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XIII

pH Potencial Hidrogeniônico

PNO Pacífico Noroeste

RNA Ácido Ribonucleico

SNC Sistema Nervoso Central

TAR Terapia Antirretroviral

TCD4 Células de Linfocitos CD4

TCR Receptor de Células T

Th2 Células T Auxiliares

Th17 Células T Auxiliares

TNF Fator de Necrose Tumoral

5-FC Flucitosina

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XIV

SUMÁRIO

1 INTRODUÇAO.................................................................................................. 16

2 OBJETIVO........................................................................................................ 18

2.1 OBJETIVO GERAL..................................................................................... 18

2.2 OBJETIVO ESPECÍFICO........................................................................... 18

3 METODOLOGIA .............................................................................................. 19

4 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA............................................................................. 20

4.1 INFEÇÃO FÚNGICA E HIV/AIDS............................................................... 20

4.2 CRIPTOCOCOSE....................................................................................... 22

4.3 GÊNERO E ESPÉCIE................................................................................. 22

4.4 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS................................................................... 24

4.4.1 Infecção Pulmonar.......................................................................... 24

4.4.2 Infecção no SNC............................................................................ 25

4.4.3 infecção em outros órgãos e tecidos.............................................. 26

4.4.3.1 Pele........................................................................................... 26

4.4.3.2 Próstata.................................................................................... 26

4.4.3.3 Ocular........................................................................................ 27

4.4.3.4 Ossos....................................................................................... 27

4.5 DIAGNÓSTICO........................................................................................... 28

4.5.1 Exame direto.................................................................................. 28

4.5.2 Cultura............................................................................................ 29

4.5.3 Citologia e Histopatologia............................................................... 30

4.5.4 Sorologia........................................................................................ 31

4.6 VIRULÊNCIA.............................................................................................. 32

4.6.1 Enzima Lacase............................................................................... 34

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XV

4.6.2 Inibição do sistema imune.............................................................. 36

4.6.3 Cápsula.......................................................................................... 37

4.6.4 Células Titânicas............................................................................ 37

4.7 PATOGÊNESE............................................................................................ 38

4.7.1 Sistema Nervoso Central................................................................ 39

4.8 TRATAMENTO........................................................................................... 42

4.8.1 Tempo da terapia anti-retroviral..................................................... 44

4.9 EPIDEMIOLOGIA....................................................................................... 45

4.9.1 Epidemiologia Ibero Americana..................................................... 46

4.9.2 Epidemiologia na América do Sul.................................................. 47

4.9.3 Epidemiologia em regiões como a Europa, América do Norte e África.......................................................................................................

50

4.9.3.1 Epidemiologia em Uganda........................................................ 50

4.9.3.2 Epidemiologia em Malawi......................................................... 52

4.9.3.3 Dados epidemiológicos em várias regiões da África SubSaariana.............................................................................

53

4.9.3.4 Epidemiologia no Estados Unidos............................................ 54

4.9.3.4.1 Tendências da Hospitalização total...................... 55

5 CONCLUSÃO................................................................................................. 58

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................. 60

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1 INTRODUÇÃO

O HIV, Vírus da Imunodeficiência Adquirida, é um vírus que ao ser transmitido

invade as células do sistema imunológico, desencadeando uma série de processos.

O Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) é um vírus acomete grande parte da

população mundial, sendo descrito em vários países. É precursor de inúmeras

doenças pela capacidade reduzida do organismo humano em reagir contra diversas

infecções. Esse vírus infecta as células de leucócitos TCD4, driblando e

desestabilizando o sistema imune de forma a fazê-lo incompetente diante de outras

infecções, tornando as pessoas infectadas imunodeprimidas. Em indivíduos que não

foram diagnosticados e não realizam o tratamento adequado desenvolvem a AIDS

(Síndrome de Imunodeficiência Adquirida), fase em que o organismo não consegue

mais reagir a presença do vírus, dando origem a doença propriamente.

A criptococose é umas das infecções mais prevalentes em indivíduos com

HIV/AIDS, é adquirida por inalação de propágalos fúngicos que estão presentes no

ambiente. Esta levedura é encontrada em locais de clima tropical e subtropical,

sendo encontrada nas fezes de aves, como pombos e ocos de árvores, com

distribuição universal, inclusive em ambientes urbanos. Esta levedura é encontrada

também no Canadá, mostrando a adaptação deste fungo ao clima temperado. O

gênero Cryptococcus é pertencente à Classe dos Basidiomicetos e as espécies C.

neoformans e C. gattii e são as que mais acometem o homem.

A Criptococose tem fase inicial nos pulmões, após inalação os macrófagos

alveolares são infectados desencadeando uma resposta celular, podendo ocasionar

derrames pleurais, linfadenopatia hilar, cavitação pulmonar e invadir outros órgãos

como pele e ossos. A meningoencefalite ou neurocriptococose é a forma mais grave

da doença, consequência da invasão do sistema nervoso central através da barreira

hematoencefálica pelo fungos via sistemas descritos como paracitose, transcitose e

“cavalo de tróia”. Os fatores de virulência do Cryptococcus são muitos, dentres eles,

citamos a presença da cápsula polissacarídica, que tem a capacidade de dificultar a

fagocitose, a produção da enzima lacase, enzima inibidora das espécies reativas de

oxigênio presentes nos fagócitos e produção melanina, conferindo a levedura certa

proteção a exposição a luz UV. Esses fatores de virulência em conjunto propiciam

ao fungo sobreviver em ambientes naturais, inclusive em organismos como amebas,

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sendo estas umas das responsáveis pelo desenvolvimento destes fatores e possível

resistência às defesas do organismo humano, favorecendo assim, sua disseminação

para outros órgãos e tecidos.

O diagnóstico mais usado em laboratórios de análises clínicas é a pesquisa

da Tinta Naquim, no LCR (líquido céfalorraquidiano), exame rápido de fácil

realização, permite identificar as leveduras pela a visualização da cápsula

polissacarídica presente no fungo. Outros métodos também são usados, como

sorologia, histologia, citologia e cultura.

A anfotericina B (AmBd) é padrão ouro no tratamento de criptococose grave,

como no caso da meningoencefalite. A anfotericina B lipossomal tornou-se uma

opção de preferência com resultados semelhantes à AmBd para reduzir os efeitos

nefrotóxicos. Em pacientes com disfunção renal a flucitosina (5-FC) é associada com

a AmBd no tratamento de meningite criptocócica ou criptococose pulmonar.

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2 OBJETIVO

2.1 OBJETIVO GERAL

O objetivo deste trabalho é obter dados epidemiológicos de doenças

infecciosas causadas por Cryptococcus spp. em pacientes infectados pelo HIV

(Vírus de Imunodeficiência Humana), bem como relatar as manifestações clínicas da

doença e a forma de diagnosticá-las. Além de relatar também a virulência deste

agente patogênico e possíveis tratamentos para as patologias associadas.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Descrever o histórico da infecção pelo vírus HIV;

Descrever o histórico da infecção por Cryptococcus spp.;

Descrever correlação entre infecção por HIV e infecção por Cryptococcus

spp.;

Fazer uma revisão bibliográfica sobre dados epidemiológicos do

Cryptococcus spp. ;

Citar os fatores de virulência do Cryptococcus spp;

Relatar a patogênese e as manifestações clínicas da criptococose;

Citar os diagnósticos laboratoriais usuais para a criptococose;

Citar os tratamentos e as perspectivas na criptococose;

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3 METODOLOGIA

Esta monografia é descritiva, baseada em pesquisa qualitativa e utilizou como

metodologia de composição o acesso às literatura corrente nas bases: Scielo,

Pubmed, base de dados da Capes, Google Acadêmico, base de dados da

Organização Mundial de Saúde, Ministério da Saúde, DST/HIV.

Os trabalhos analisados foram obtidos em publicações de acesso público, via

internet e revistas científicas, sendo preferencialmente analisadas as publicações

dos últimos vinte e sete anos.

Foram pesquisadas publicações preferencialmente da língua inglesa, sendo

usados como critério de inclusão os artigos publicados atuais e de revistas

científicas de referência. Foram usados como critério de exclusão publicações que

relatavam pouco conteúdo sobre os assuntos pesquisados.

Para obtenção dos dados foram pesquisados artigos científicos publicados

entre o período de 1989 a 2016 e os seguintes termos foram utilizados como

palavras-chaves: “Epidemiologia; criptococose; HIV; AIDS; Cryptococcus spp.; C.

neoformans; C.gattii. “.

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4 REVISÃO DE LITERATURA

4.1 INFECÇÃO FÚNGICA E HIV/AIDS

O HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana) é um vírus pertencente ao gênero

Lentivirinae e família Retroviridae e que tem como constituintes uma bicamada

fosfolipídica no envelope externo, um capsídeo, camada proteíca que serve como

envoltório para a dupla fita de RNA de cadeia simples. Este vírus é o causador da

Síndrome de Imunodeficiência Adquirida, conhecida habitualmente como AIDS

(MOMBELLI et al., 2015; MINISTÉRIO DA SAUDE, 2013).

O vírus, ao infectar células humanas, inicialmente penetra na mucosa,

permitindo que continuem infectando linfócitos T CD4, além de infectar macrófagos e

células dendríticas. As células fagocitárias são responsáveis pela resposta

imunológica inata que encaminha mais células T susceptíveis ao foco da infecção,

acometendo linfonodos locais e o sistema linfático de forma a estabelecer e manter

um reservatório viral latente, principalmente em linfócitos T CD4+ de memória

(MINISTÉRIO DA SAUDE, 2013).

Além disso, o pico de viremia acontece em um período entre 21 a 28 dias

após a exposição do vírus. Ademais, a viremia está associada a um acentuado

declínio das células linfocíticas TCD4 e após a indução tardia e insuficiente da

resposta imunológica devido a disseminação sistêmica ativa do vírus (MINISTÉRIO

DA SAUDE, 2013).

Em decorrência da ação viral, o sistema imunológico induz a produção de

linfócitos TCD4 que se tornam alvos para outras infecções e produção de linfócitos

TCD8 que controlam de forma parcial a infecção, mas não impede a depleção de

linfócitos TCD4, progredindo para instalação da doença (MINISTÉRIO DA SAUDE,

2013). Em consequência, a carga viral plasmática entra em declínio após uma

resposta imune celular específica contra o HIV, que resulta em síntese de anticorpos

específicos de cada indivíduo, chegando ao estágio de uma infecção crônica

(MINITÉRIO DA SAÚDE, 2013).

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Esse declínio é considerado um mal prognóstico em relação aos linfócitos

CD4 no sangue periférico por desencadear depleção no sistema imune em resposta

à infecção pelo vírus HIV, que ao infectar células humanas macrofágicas, causam

imunossupressão em favor de sua replicação, resultando em falha na detecção

específica nesta população de linfócito, tornando se mais susceptível a diversos

processos infecciosos (Figura 1) (ARMSTRONG-JAMES; MEINTEJS; BROWN,

2014).

Figura 1. Impacto da infecção pelo HIV sobre a imunidade celular contra fungos patogênicos oportunistas. O HIV provoca múltiplos defeitos tanto na resposta inata como na adaptativa do sistema imune, levando a susceptibilidade intensificada a doenças fúngicas invasivas. A infecção de macrófagos pelo HIV compromete a produção de citocinas, afetando as respostas de células dendríticas, tornando-as desreguladas com baixa capacidade de apresentar antígenos aos linfócitos T,influenciando assim no processo de infecção fúngica. O número de linfócitos T são reduzidos, com defeitos específicos na resposta Th17. A perda de subconjuntos de memória celular clonal B contribui ainda mais para respostas com deficiência, especialmente contra organismos encapsulados. Abreviaturas: PRR, receptor de reconhecimento de padrões; (TCR), receptor de células T; (MHC) complexo principal de histocompatibilidade Adaptado de (ARMSTRONG-JAMES; MEINTEJS; BROWN, 2014).

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Dentre outros processos infecciosos citamos as infecções fúngicas, que está

entre as principais causadoras do aumento no índice de mortalidade em todo mundo

em pessoas acometidas com AIDS (ARMSTRONG-JAMES; MEINTEJS; BROWN,

2014). Visto que esta síndrome é apresentada como uma doença com característica

endêmica, constituída de fenômenos pandêmicos, que vem sofrendo alterações

epidemiológicas nos últimos anos (MOMBELLI et.,al 2015). Entre as principais

doenças fúngicas que mais acometem pessoas com HIV, podemos destacar a

criptococose (RAMOS-E-SILVA, 2012).

4.2 CRIPTOCOCOSE

Criptococose é uma doença infecciosa, cujo agente etiológico é pertencente a

classe dos Basidiomicetos do gênero Cryptococcus, sendo identificada no final do

século XIX pelo médico patologista Otto Busse e médico Abraham Buschke apartir

de um granuloma crônico na tíbia de uma paciente de trinta anos (KNOKE e

SCHWESINGER, 1994; GULLO et al., 2013; MAZIARZ e PERFECT, 2016). Quase

um século depois Cryptococcus spp. foi reconhecido como um importante patógeno

ameaçador da saúde humana após o quadro pandêmico de AIDS na década de 80,

classificando a criptococose como fator determinante para análise da infecção

causada pelo vírus HIV, ao verificar a maior redução no índice de células T (MAY et

al., 2016; ARMSTRONG-JAMES;MEINTEJS; BROWN, 2014).

4.3 GÊNERO E ESPÉCIE

O Cryptococcus neoformans foi considerado o único agente etiológico da

criptococose, mas em 2002 métodos moleculares revelaram enorme variedade do

agente Cryptococcus neoformans var. gattii, classificando posteriormente

Cryptococcus gattii como espécie distinta (HAGEN et al., 2015). Essas duas

espécies, Cryptococcus neoformans e Cryptococcus gattii normalmente causam

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doenças em humanos, que podem ser oportunistas, relacionadas principalmente ao

C. neoformans, associadas à condição de imunodepressão, enquanto a infecção

primária ocorre principalmente em hospedeiros imunocompetentes infectados com

C. gattii. Verificou-se recentemente um surto em pessoas imunocompetentes na

América do Norte e no Canadá, abrindo discussões acerca da capacidade de

algumas linhagens se comportarem como patógenos primários, o que reforça

análises baseadas em sequenciamento genômico, induzindo mais a divisão do C.

neoformans em sorotipos A, D e AD, surgindo duas variantes (C. neoformans var.

grubii (sorotipo A) e C. neoformans var. neoformans (sorotipo D), delineando as

espécies (C. neoformans e Cryptococcus de neoformans) e o C. gattii com sorotipo

B e C. em cinco espécies (C. gattii, Cryptococcus bacillisporus, Cryptococcus

deuterogattii, Cryptococcus tetragattii e Cryptococcus decagattii) (HAGEN et al.,

2015). Embora tenham sido propostas novas classificações, a taxonomia do gênero

Cryptococcus ainda não está totalmente definida, sendo assim este trabalho

apresentará as informações existentes referindo-se apenas a C. neoformans e C.

gattii (GULLO et al.,2013; MAZIARZ e PERFECT, 2016).

Considerando características comuns, entre as espécies C. neoformans e C

gattii, como o fato de adaptar-se a pressões ambientais e a semelhança em carácter

evolutivo, elas diferem em relação à distribuição geográfica, manifestações clínicas,

virulência e a nichos ecológicos (GULLO et al.,2013; MAZIARZ e PERFECT, 2016).

A espécie C. neoformans é globalmente distribuída, já C. gattii tem sido visto como

um fungo predominante em regiões de clima tropical ou subtropical. Porém, foram

verificados a presença de reservatórios ambientais para C. gattii no Canadá, norte

da Europa e Estados Unidos, esses achados confirmam a amplitude de

ecossistemas onde esta espécie é encontrada. Ademais, tanto C. neoformans

quanto C. gattii tem como características comuns a capacidade de sobreviver e

replicar em amebas e nematódeos de vida livre de solo, verificando assim a

possibilidade destes hospedeiros alternativos desempenharem importante papel na

distribuição geográfica e na virulência das espécies fúngicas (STEENBERGEN,

SHUMAN, e CASADEVALL, 2001).

Além de ser considerada uma doença importante em todo o mundo devido o

surgimento da Síndrome de Imunodeficiência Adquirida (AIDS), a criptococose é a

causa regular de meningoencefalite, destacando-se como uma doença sentinela

para HIV/AIDS. Entretanto a doença não é notificada de forma obrigatória, logo as

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estimativas verdadeiras sobre a distribuição geográfica e prevalência são poucas.

Contudo a incidência global da criptococose reduziu devido o uso de (TAR) terapia

Antirretroviral altamente ativa mas ainda assim, registra-se com número elevado de

óbitos, chegando 625.000 mortes por ano, principalmente nos países em

desenvolvimento por não terem um acesso amplo ao tratamento (MADURO et al.,

2015).

4.4 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS

4.4.1 INFECÇÃO PULMONAR

A infecção por Cryptococcus ocorre devido à inalação de propágulos

infecciosos, que ao serem inalados pelas vias áreas alcançam os macrófagos

alveolares desencadeando uma resposta celular. Esta resposta envolve células T

helper e fatores pró-inflamatórios contribuindo, desta forma, para formação de

granulomas (nódulos não calcificados) e estabelecimento uma infecção latente nos

fagolisossomos, inativando as leveduras e permanecendo, estas, viáveis nos

linfonodos pulmonares em indivíduos assintomáticos (Figura 2), (MAZIARZ e

PERFECT, 2016).

Essa sintomatologia é observada em um terço dos pacientes

imunocompetentes que permanecem assintomáticos na maioria dos casos por anos.

Entretanto com uma imunossupressão esses granulomas são reativados e a sua

proliferação no local da infecção pode causar derrames pleurais, linfadenopatia hilar,

cavitação pulmonar, podendo disseminar para outros órgãos e tecidos (MAZIARZ e

PERFECT, 2016).

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Figura 2: Nódulos pulmonares em um paciente assintomático com criptococose pulmonar isolada. (Courtesy of J. R. Perfect, MD, Durham, NC.) - (MAZIARZ e PERFECT, 2016)

4.4.2 INFECÇÕES NO SNC

Em indivíduos imunocomprometidos como é o caso de pacientes com HIV,

além do envolvimento pulmonar, o quadro pode levar a instalação da forma mais

graves da infecção no sistema nervoso central. Isso ocorre pela dispersão do

patógeno na corrente sanguínea alcançando e invadindo o sistema nervoso central,

atravessando a barreira hematoencefálica. Essa barreira é uma interface entre a

circulação periférica e o sistema nervoso central (SNC), responsável pela

homeostasia e regulação de entrada de substâncias necessárias para o bom

funcionamento cerebral (LIU, PERLIN e XUE, 2012).

Um dos mecanismos utilizados pelas formas livres das células leveduriformes

criptocócicas, assim como outros microrganismos para atravessar essa barreira é

conhecido como “cavalo de Tróia”. Processo pelo qual se refere à penetração do

patôgeno, interiorizado nos fagolisossomos dos linfócitos, através das junções entre

as células epiteliais, alcançando o sistema nervoso central (LIU, PERLIN e XUE,

2012).

A neurocriptococose desencadea sintomas como fortes dores de cabeça,

irritação, perda de memória, febre, neuropatia craniana, atividade mental

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comprometida. Esse quadro gera pressão intracraniana devido à presença

aumentada carga de microrganismos observados no líquor (líquido

cefalorraquidiano) (MAZIARZ e PERFECT, 2016). Ademais, a meningite criptocócica

tornou-se uma importante infecção a nível global no decorrer das décadas devido ao

crescimento das populações vulneráveis, chegando a milhares de novos casos de

infecção ao ano e registrando números expressivos de mortalidade e referida

morbidade, principalmente em indivíduos com o vírus da imunodeficiência adquirida

(MAZIARZ e PERFECT, 2016).

Apesar de acometerem preferencialmente o sistema nervoso central e

pulmões, os agentes C. neoformans e C. gattii podem ser encontrados em vários

locais do corpo, infectando articulações, ossos, pele e próstata em pacientes com

sistema imunológico extremamente imunocomprometidos (MAZIARZ e PERFECT,

2016).

4.4.3 INFECÇÃO EM OUTROS ÓRGÃOS E TECIDOS

4.4.3.1 Pele

A terceira manifestação clínica mais comum são as lesões cutâneas, que

muitas vezes são indistinguíveis de outras infecções, sendo necessária biópsia e

histopatologia para chegar a um diagnóstico preciso. No entanto, a detecção de

lesões na pele é indicativa de uma infecção disseminada (MAZIARZ e PERFECT,

2016).

As lesões cutâneas estão presentes na criptococose primária e apresentam

características que variam de lesões acneiformes a vesicular e se assemelham a

lesões de herpes simples ou herpes zoster, ou com aspecto nodular, nódulo

ulcerativa a ulceração franca, simulando pioderma gangrenoso. Essas lesões podem

apresentar também em forma de celulite, sendo esta um sinal frequente de difusão

da doença cutânea primária, principalmente em paciente com imunodeprimidos

(CHRISTIANSON, ENGBER e ANDES, 2003).

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4.4.3.2 Próstata

Criptococose prostática em geral é assintomática, embora não seja um local

raro para infecção criptocócica, servindo como reservatório da doença após recidiva.

É o que se observa em uma infecção latente como exemplo a de C. neoformans

durante um procedimento cirúrgico ao disseminar na corrente sanguínea, podendo

chegar a outros órgãos, inclusive a próstata. Além disso, o líquido seminal e a urina

podem ser positivos para Cryptococcus como consequência de um tratamento mal

sucedido em pacientes com HIV, reforçando a necessidade de um tratamento

prolongado (MAZIARZ e PERFECT, 2016).

4.4.3.3 Ocular

Entre os sintomas e manifestações oculares observamos papiledema,

paralisias oculares, incluindo lesões de retina que devido a infiltrações por leveduras

no nervo óptico. Além disto, a hipertensão intracraniana pode agravar o quadro

clínico do paciente (MAZIARZ e PERFECT, 2016).

4.4.3.4 Ossos

C. neoformans é uma levedura que normalmente acomete qualquer órgão do

corpo, sendo os primeiros registros de infecção observados em um paciente com

osteomielite tibial no século XIX pelos professores Helferich e Grawitz da

Universidade de Greifswal (KNOKE e SCHWESINGER, 1994). Observou-se também

maior prevalência de lesões em vértebras e osteomielite criptocócica consequente

de infiltrações relacionada à medula óssea presente em imunocomprometidos

(MAZIARZ e PERFECT, 2016).

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4.5 DIAGNÓSTICO

Amostras de sangue, medula óssea, líquido cefalorraquidiano, secreção

ocular e do trato respiratório, urina, mucosas, pele e outros tecidos podem ser

utilizadas em testes para identificar a presença do patógeno. Para análise destes

materiais biológicos são usados métodos como detecção de antígeno ou a presença

de leveduras encapsuladas em exame direto, onde são usadas LCR, sangue, urina

e líquidos corporais para otimizar o tratamento. Além disso, são utilizadas cortes

histológicos para isolamento de Cryptococcus (RODRÍGUEZ-CERDEIRA et al.,

2014).

Existem vários métodos para identificação de Cryptococcus spp., dentre os

mais usados destacamos a tinta da china ou tinta nanquim, que consiste em um

método de detecção direta a fresco a partir da amostra clínica, a histopatologia de

tecidos infectados, os métodos sorológicos e os testes moleculares. Os testes

moleculares são usados somente para pesquisa (MAZIARZ e PERFECT, 2016).

4.5.1 EXAME DIRETO

O exame direto é o método mais usado por ser rápido e de fácil realização.

Esta técnica utiliza tinta nanquim para detecção de leveduras encapsuladas

globulares com ou sem brotamento e com halo claro duplicando o tamanho da

levedura (Figura 3) (FANE et al., 2015). A pesquisa é realizada a partir do líquor

(LCR - líquido cefalorraquidiano), onde observarmos a variação no tamanho da

levedura entre 5 a 20 µm de diâmetro. Na pesquisa verificou-se, que os resultados

falsos positivo oriundos de células linfocíticas intactas, células teciduais ou células

leveduriformes inviáveis limitam o diagnóstico por microscopia. Verificou-se

também, nos resultados falsos negativo que a positividade pode chegar até 84% dos

casos, devido à carga fúngica mínima ou quase inexistente, dependendo de cada

paciente. Portanto, a sensibilidade do teste é dependente da carga fúngica, sendo

descrito em 80% dos casos de meningite criptocócica em pacientes com HIV/AIDS

(FANE et al., 2015 ; MAZIARZ e PERFECT, 2016).

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Figura 3: Coloração por tinta nanquim. Levedura encapsulada visto na preparação nanquim de líquido cefalorraquidiano (LCR) em um paciente com meningite criptocócica.(Courtesyof J. R. Perfect, MD, Durham, NC.) - (MAZIARZ e PERFECT, 2016).

4.5.2 CULTURA

Amostras biológicas como líquor, biópsia, escarro, lavado brônquio alveolar,

aspirado traqueal, ou qualquer fluido ou tecido corporal são facilmente cultiváveis em

meios de cultura bacteriana e em rotina fúngica (ANTINORI, 2013). Em meio de

cultura sólido são observadas colônias cor creme opaca após um período de

incubação de 48 a 72 horas em temperatura de 30°C a 35°C em condição de

aerobiose. Em um período longo de incubação a coloração da colônia altera para um

tom laranja castanha ou castanha. O aspecto mucóide da colônia se deve ao

tamanho da cápsula ao redor das leveduras (MAZIARZ e PERFECT, 2016).

Considerando o crescimento rápido de grande parte das linhagens, é importante

para os pacientes que fazem tratamento antifúngico manter a cultura por

aproximadamente quatro semanas. A cultura do líquor é positiva em até 90% dos

indivíduos adultos com meningite criptocócica associada ao HIV, enquanto no

sangue a positividade chega a 70% nestes pacientes (ANTINORI, 2013).

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Uma ferramenta usada com grande empenho na pesquisa primária para

terapêutica e para avaliar a taxa de eliminação da infecção fúngica é a cultura de

levedura quantitativa de líquor (BICANIC et al., 2009). Embora não tenha se tornado

uma prática na rotina laboratorial, essa quantificação é eficaz e importante para

correlacionar com os resultados do tratamento com antifúngico (BROUWER et al.,

2004).

4.5.3 CITOLOGIA E HISTOPATOLOGIA

Métodos mais sensíveis que a tinta da China, a citologia do sedimento

centrifugado de líquor e de outros líquidos corporais e a coloração histopatológica de

tecidos e órgãos permite melhor identificação de Cryptococcus spp. A identificação e

visualização da levedura são realizadas pela observação de brotamento e manchas

especiais que circundam a cápsula polissacarídica do fungo, como no caso das

colorações de Mucicarmim, de PAS (Reação de Ácido Periódico – Schiff) e Azul de

Alcians (Figura 4). Outras colorações também facilitam a visualização e identificação

do fungo, como na coloração com calcoflúor onde o corante se liga a quitina. Na

coloração pelo método de Fontana Masson o corante diferencia a melanina presente

na parede celular da levedura e no método de Gomori cora-se a parece celular do

fungo. Todas essas colorações podem ser usadas em espécimes clínicos para

identificação (MAZIARZ e PERFECT, 2016).

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Figura 4: Histologia hepática mostrando células de levedura PAS-positiva em um caso de criptococose disseminada (Courtesy Dr. Carlo Parravicini) - (ANTINORI, 2013).

4.5.4 SOROLOGIA

A partir da detecção do antígeno polissacarídeo capsular criptocócica (CrAg)

houve uma melhora significativa dos testes sorológicos para diagnóstico de

criptococose. A pesquisa do antígeno criptocócico é útil na triagem para identificação

de pessoas com a infecção por HIV em estágio avançado da doença e com risco de

evoluir para meningite criptocócica ou para a forma disseminada (ANTINORI, 2013).

Ressalta-se também a necessidade da punsão lombar em muitos casos objetivando

descartar uma possível meningite assintomática. Em concordância, o achado de

imagens compatíveis juntamente com a cultura de escarro positiva fecha o

diagnóstico de doença pulmonar (SCHMIEDEL E ZIMMERLI, 2016).

Os testes sorológicos dispõem de uma gama de materiais biológicos, sendo

os mais coletados o soro e o líquor. As metodologias para pesquisa do antígeno se

diferem em aglutinação em látex com sensibilidade e especificidade de 93 a 100%,

enquanto que o ensaio imunoenzimático apresenta sensibilidade e especificidade de

93 a 98% (MAZIARZ e PERFECT, 2016).

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O ensaio de fluxo lateral teste atualmente aprovado, possui sensibilidade e

especificidade superior a 98% em amostras de soro, sangue capilar, líquido

cefalorraquidiano e urina (JARVIS et al., 2011). As vantagens do teste semi-

quantitativo são muitas sobre outros métodos sorológicos, entre elas, citamos a

necessidade de uma infraestrutura mínima laboratorial, liberação do resultado em 15

minutos, reação estável em temperatura ambiente e baixo custo, além de excelente

desempenho em uma variedade de situações clínicas (JARVIS et al., 2011).

Observa-se também a correlação de títulos basais de antígenos

polissacarídicos no LCR e no soro com a carga fúngica em pacientes com meningite

criptocócica, tendo importância no prognóstico desses pacientes. Contudo, na forma

aguda observa-se que a cinética de apuramento do antígeno é mais lenta e menos

previsível em resposta ao tratamento comparado a cultura, devido a um valor

limitado na monitorização seriada de títulos de antígenos (KABANDA et al., 2014).

Nos resultados falsos negativos constatados no teste de aglutinação em látex é

possível verificar o efeito prozona, consequente de títulos consideravelmente altos

pela presença exacerbada de antígenos, fazendo-se necessário o uso de diluições

(MAZIARZ e PERFECT, 2016).

Ademais, outros fatores também podem desencadear um resultado falso

negativo como no caso de carga fúngica baixa, observada na meningite crônica de

baixo grau e na fase inicial da doença, além do armazenamento de amostras de

forma inadequada (MAZIARZ e PERFECT, 2016).

4.6 VIRULÊNCIA

A infecção criptocócica é adquirida pela inalação de esporos ou células

dessecadas de leveduras. As células criptocócicas tipicamente entram no

hospedeiro humano através da inalação e vão parar nos pulmões. Inicialmente são

reconhecidos pelo recrutamento dos fagócitos, macrófagos alveolares ou células

dendríticas, mas podem evitar a fagocitose, quer por crescer em forma de células

muito grandes as células titânicas, ou devido às propriedades antifagocíticas da

cápsula fúngica. Sendo necessário também o uso de outros fatores de virulência

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para se estabelecer no organismo do hospedeiro (SABIITI et al., 2014; MAY et al.,

2016).

Se ocorrer a fagocitose, contudo, os Cryptococcus podem sobreviver e

persistir nos fagócitos. Para a maioria das linhagens, é então necessária uma falha

na função imune do hospedeiro para permitir a proliferação intracelular. Após a

replicação no pulmão, as células de Cryptococcus são capazes de se disseminar

para outros tecidos, incluindo o sistema nervoso central (SNC), (MAY et al., 2016).

A seleção natural favorece a aquisição de fatores de virulência específicos em

patógenos oportunistas e se torna um enigma evolutivo, uma vez que, outros

membros da população fúngica permanecem como organismos exclusivamente

ambientais. Situação que enquadra perfeitamente ao Cryptococcus, por sua

abundância no ambiente e pela capacidade de adaptar e sobreviver no hospedeiro,

visto que, esta hipótese é sustentada pela observância de que a seleção direta da

patogênese criptocócica não resulta da infecção no hospedeiro mamífero e sim de

patogênese acidental dada pela sua evolução, resultantes de outras pressões

seletivas em nichos ambientais e animais (SABIITI et al., 2014).

No entanto, os isolados de Cryptococcus gattii originários do Pacífico

Noroeste (PNO) podem proliferar em células hospedeiras imunocompetentes,

explorando um mecanismo ainda não esclarecido totalmente: em resposta a

espécies reativas de oxigênio geradas pelos fagócitos, algumas células criptocócicas

adquirem uma morfologia incomum. Esta morfologia é caracterizada por

tubularização extensa de suas mitocôndrias, o que aumenta a sobrevivência das

células vizinhas (através de um mecanismo que permanece obscuro). Proliferação

do Cryptococcus spp. dentro dos fagócitos leva, em última instância, quer à lise das

células hospedeiras, quer a um mecanismo de escape não lítico denominado

vomocitose (MAY et al., 2016).

Dentre os fatores de virulência de Cryptococcus spp. destacam-se o

crescimento a 37°C, a atividade da lacase, a cápsula polissacarídica, a proliferação

intracelular em macrófagos e a síntese de melanina (SABIITI et al., 2014). Além

disso, os fatores de virulência conferem proteção contra dessecação, proteção

contra uma leve exposição à luz ultravioleta e a pressões ambientais (WARPEHA,

PARK e WILLIAMSON, 2013).

Ademais, o Cryptococcus por sistema de evasão evita a morte por células

macrofágicas, sistema este, desenvolvidos ao longo de sua evolução ambiental e

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das interações com microrganismos de solo, como exemplo as amebas,

nematódeos e provavelmente vertebrados, que de alguma forma contribuíram para

seu potencial patogênico (KRONSTAD et al., 2016).

Estudos em laboratórios mostram a pressão seletiva por amebas de vida livre

e sua correlação com sua forma de pseudohifas, que é uma das formas de

resistência dos Cryptococcus no ambiente (MAGDITCH et al., 2012). Essa estrutura

de resistência se modifica ao passar da forma de pseudohifas para leveduriforme em

vertebrados (STEENBERGEN, SHUMAN e CASADEVALL, 2001).

Mesmo com a enorme distância evolutiva entre amebas de vida livres e os

vertebrados, a maioria dos mecanismos adotados pelas células fagocíticas para

eliminar agentes patogênicos, como por exemplo, a geração de espécies reativas de

oxigênio ou a secreção de peptídeos antimicrobianos, são muito semelhantes aos

usados pelas amebas na digestão do material englobado. Desta forma, no decorrer

de milhares de anos, os Cryptococcus desenvolveram estratégias que favoreceram

o crescimento e permanência da levedura no interior das amebas, e, paralelamente

estas estratégias permitem sua sobrevivência nos fagócitos (MAY et al., 2016).

Esse paradigma se estende para outros patógenos não menos importantes,

como, Aspergillus spp., Blastomyces spp. e Legionella spp. (BLISKA e

CASADEVALL, 2009). Acredita-se que o desenvolvimento de fatores de virulência é

decorrente de maior acesso do homem ao ambiente florestal e a necessidade de

adaptação a novos ambientes devido ao aquecimento global (MAY et al., 2016).

4.6.1 ENZIMA LACASE

A lacase foi caracterizada como um dos primeiros fatores de virulência de C.

neoformans (SALAS et al., 1996). A atividade desta enzima é sugerida como

conversora de catecolaminas em quininas potencialmente tóxicas (LIU et al., 1999;

COLOMBO e RODRIGUES, 2015). Sabe-se de outras maneiras do Cryptococcus

evadir do sistema imunológico, mas muitos destes mecanismos ainda são

desconhecidos. Embora o uso destes recursos antifagocíticos seja acionado, o

englobamento do fungo pelo macrófago acontece. Contudo, após a absorção, o

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Cryptococcus faz uso de artifícios para mudar a estrutura do fagossomo. Dentre

esses artifícios está a modificação lipídica da membrana para troca de nutrientes, e

essa modificação se deve a presença das enzimas lacase e fosfolipase. Além disso,

dentro do fagossomo dos macrófagos, a levedura neutraliza a ação do pH e das

espécies reativas de oxigênio, devido a propriedades antioxidantes da melanina

fúngica e da secreção de urease, além de inibir a maquinaria autofágica do fagócito

pela presença de sua cápsula polissacarídica (COELHO, BOCCA e CASADEVALL,

2014).

Estudos também demonstrarem que a alta atividade da lacase está associada

à sobrevivência criptocócica no interior dos macrófagos no líquido cefalorraquidiano

em pacientes humanos e em ex vivo, ela também tem correlação com permanência

de baixo nível de carga fúngica, mesmo após tratamento no período de duas

semanas com antifúngico (SABITI et al., 2014; QIU et al., 2012; EVANS et al., 2015).

O tropismo de C. neoformans para o cérebro correlaciona-se com a presença

de altas concentrações de compostos fenólicos, precursores para a atividade de

lacase (NOSANCHUK et al., 2000; ZHU E WILLIAMSON, 2004). Na verdade, o

cérebro humano contém concentrações abundantes de compostos fenólicos, como a

norepinefrina, serotonina e dopamina (NOSANCHUK et al., 2000; SABIITI et al.

2014). A dopamina é um neurotransmissor envolvido com a regulação da atividade

motora, processos cognitivos, modulação de funções motivacionais e mecanismos

de defesa e é um dos afetados por C. neoformans (WISE E ROMPRE 1989;

RODGERS; NIKULINAI; COLE, 1994; MILLAN, 2003; HURD; SUZUKI; SEDVALL,

2001; LEE; DICKSON; CASADEVALL, 1996; COLOMBO e RODRIGUES, 2015).

A lacase também está relacionada com biossíntese de melanina, através do

processo catalítico de polimerização deste pigmento na presença de compostos

fenólicos, como por exemplo,o L-DOPA. Após a síntese, a melanina é transferida

para parede celular, tornando essas células melanizadas e mais resistente às ações

de antifúngicos, as enzimas do fagossomo, peptídeo antimicrobianos, as espécies

reativas de oxigênio e a luz ultravioleta (ROSAS et al., 2000; EISENMAN et al.,

2009; NOSANCHUK et al., 2000; ZHU e WILLIAMSON, 2004).

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4.6.2 INIBIÇÃO DO SISTEMA IMUNE

A forma de controle do Cryptococcus no sistema imune consiste em impedir a

morte dos fagócitos, diminuir o processo inflamatório em favorecimento a sua

disseminação para o sistema nervoso central (MAY et al., 2016).

As células fagocíticas tem uma função importante na proteção do organismo

contra infecções, engolfando e destruindo organismos invasores. Apesar de alguns

microrganismos desenvolverem mecanismos para sobreviver nestas células, na

grande parte, estes microrganismos patogênicos destroem o fagócito e infectam

outra célula hospedeira. Entretanto, no organismo humano é demonstrada, a

capacidade do fungo em escapar do macrófago sem matar a célula, por um

mecanismo de expulsão. A expulsão independe do tempo decorrido da fagocitose,

sem prejuízo na morfologia do macrófago, assim, sugere-se um processo que

representa um mecanismo importante no qual os patógenos tem a capacidade de

escapar de células fagocíticas sem desencadear morte para célula hospedeira (MA

et al., 2006). Essa é uma das estratégias capazes de desestabilizar a resposta

imune adaptativa, resultando em uma infecção latente (ALANIO et al., 2015). Essa

capacidade de permanecer latente sem ativar a resposta celular é vista como uma

evidência para a adaptação do hospedeiro a infecção por Cryptococcus (MAY et al.,

2016).

Outra estratégia empregada por Cryptococcus spp. é diminuir a

histocompatibilidade do MHC de classe II do complexo II, através do bloqueio da

maturação das células dendríticas, interferindo assim, na redução na produção de

citocinas e interleucinas (IL 12 e IL23), essenciais na apresentação de antígenos e

na inibição de quimiocinas causando infiltrados pulmonares graves levando a uma

doença fatal (ANGKASEKWINAI et al., 2014).

O tamanho do inóculo, virulência das linhagens e estado do sistema imune do

hospedeiro são importantes para o desenvolvimento ou não da doença. Logo, o

agravo da doença é dependente do equilíbrio entre a quantidade de propágulos

fúngicos inalados e a resposta imune do indivíduo infectado. (CHAYAKULKEEREE e

PERFECT, 2006; TERADA, 2010). No caso do hospedeiro imunodeprimido, as

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células inaladas disseminadas para o cérebro desenvolvem uma infecção latente ou

doença aguda (CHAYAKULKEEREE e PERFECT, 2006).

4.6.3 CÁPSULA

A cápsula está diretamente envolvida na captação de ligação do C.

neoformans por BMEC (células endoteliais microvasculares cerebrais), (SABIITI e

MAY, 2012). Os polissacarídeos capsulares glucuronoxilomanana (GXM) e

galactoxilomanana (GalXM) presentes na cápsula do Cryptococcus são liberados no

tecido do hospedeiro reduzindo a ação inflamatória por supressão pro inflamatória

do fator kB((NF-kB) e pela diminuição dos níveis citocinas pro inflamatórias como o

fator de necrose tumoral (TNF), (MAY et al., 2016). Além disso, observou-se que a

quitina criptocócica e seus derivados também alteram a resposta inflamatória do

hospedeiro no período da infecção (WIESNER et al., 2015). Contudo, testes em

ratos verificaram uma infecção cerebral comparável tanto pelas leveduras

acapsulares, quanto pela encapsuladas (SHI et al., 2010).

4.6.4 CÉLULAS TITÂNICAS

O Cryptococcus emprega inúmeras formas de escapar da fagocitose, como a

produção de células titânicas. Após a entrada nos pulmões do hospedeiro o C.

neoformans produz células titânicas, sendo essas células poliploides são maiores

que as típicas, que tem genoma haploide e medem entre 5 e 7 µm de diâmetro, com

medida até 10 vezes maior que as normais, com predominância tetraplóide e

octoplóide, além de, serem células densas e reticuladas, com parede mais espessa.

Essas características promovem sua sobrevivência no hospedeiro pela redução da

fagocitose (GERSTEIN et al., 2015).

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A viabilidade do fungo, a produção de enzimas e a transição morfológica são

essenciais para a travessia através da barreira hematoencefálica. Ademais, a

variabilidade morfológica foi citada como fundamental na patogênese de C.

neoformans. Estudos independentes dos laboratórios Nielsen e Zaragoza

demonstram a presença de células gigantes (15 µm ou superior) e microcélulas

(inferior a 1 µm) em tecidos infectados (ZARAGOZA et al., 2010; ZARAGOZA e

NIELSEN 2013; ZARAGOZA, 2011; CRABTREE et al., 2012; OKAGAKI e NIELSEN

2012; OKAGAKI et al., 2010). Estes estudos também indicam que a maioria das

células gigantes foram detectadas no espaço extracelular, enquanto as microcélulas

estão associadas ao parasitismo intracelular de macrófagos (CASADEVALL, 2010).

4.7 PATOGÊNESE

Os fungos ambientais em geral provocam uma resposta inflamatória potente

ao entrar em contato com o homem, mas em contraste com fungos patogênicos

humanos, os fungos ambientais resultam em menor liberação de citocinas por parte

do hospedeiro dependendo de características individuais de cada fungo (MAY et al.,

2016).

A patogênese está diretamente relacionada com o metabolismo do fungo

modificado observado no líquor. Como por exemplo, a síntese da cápsula exige

maior demanda de energia e há uma correlação entre a espessura da cápsula e a

gravidade da doença clínica (ROBERTSON et al., 2014). Sugerindo assim, que a

atividade metabólica ativa agrava o quadro das infecções no sistema nervoso

central. Ademais, diferentes estágios metabólicos implicam em diferentes respostas

imunológicas, levando a contribuir para a variação na gravidade da doença. Dentro

desta possibilidade, uma resposta pro inflamatória no líquido cefalorraquidiano que

equivale uma interação com citocinas Th1 (IFN-y robustos e IL-6), TH2 (IL-4 e IL-10)

e TH17 citocinas (IL-17) são indicativas de alívio mais rápido de infecções e,

posterior sobrevida e melhora nos quadro de meningites criptocócica associada

vírus HIV (MAY et al., 2016).

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4.7.1 SISTEMA NERVOSO CENTRAL

A criptococose neurológica é ocasionada por uso de múltiplas estratégias e

manobras moleculares aplicadas pelo fungo para atravessar a barreira

hematoencefálica, nestas estratégias destacam-se enzimas hidrolíticas, inositol e

vesículas extracelulares (HUANG et al., 2012; LIU et al., 2013; VU et al., 2014; XU et

al., 2014).

Na última década, estudos demonstraram que C. neoformans tem a capacidade

de adentrar ao sistema nervoso central por meios indiretos e diretos. Dentre os

mecanismos diretos inclui-se a transcitose através de células endoteliais e a entrada

pelas junções intracelulares, e por métodos indiretos, inclui-se o sistema de

fagócitos, o conhecido sistema de “cavalo de tróia” (CASADEVALL, 2010a;

CHRÉTIEN et al., 2002; CHANG et al., 2004; CHARLIER et al., 2009; SHI et al.,

2010). A passagem do fungo entre as células endoteliais através de transmigração

paracelular é um dos mecanismos sugeridos que ocorre em criptococose (Figura 5)

(MAY et al., 2016; CHEN et al., 2003; LIU PERLIN e XUE, 2012).

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Figura 5: Disseminação de infecções no hospedeiro humano A entrada no SNC pode ocorrer de três maneiras: espremendo entre as células endoteliais do hospedeiro (parasitose), que envolve a protease fúngica Mpr1 e a enzima urease (o que provavelmente enfraquece a parede do vaso endotelial para facilitar a entrada); Através da deslocação direta através das células endoteliais (transcitose), num processo que é mediado pelo ácido hialurônico na cápsula fúngica e o receptor hospedeiro CD44; Ou por "engatar um passeio" dentro migrando fagócitos, através do que é conhecido como o "Cavalo de Tróia" hipótese. Barreira hematoencefálica. Adaptado de (MAY et al., 2016).

O deslocamento da levedura dos pulmões para a corrente sanguínea e

posterior entrada no SNC envolve todas as estratégias do patógeno, e considerando

que, o SNC é um ambiente altamente estéril, sendo necessária a evolução de

inúmeras dessas habilidades para atravessar a barreira hematoencefálica (MAY et

al., 2016).

Esses mecanismos são propostos para entender o sistema usado pela

levedura para penetrar em uma barreira impenetrável, que é a barreira

hematoencefálica. Primeiramente as células criptocócicas podem forçar sua entrada

por meio das junções apertadas entre as células endoteliais por um processo

descrito como parasitose, fazendo uso de proteases Mpr1 (metaloprotease) para

promover transferência através das células endoteliais (VU et al., 2014).

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No primeiro mecanismo, estudos adicionais utilizaram técnicas mais

aprimoradas e demonstraram a capacidade do Cryptococcus em atravessar a

barreira hematoencefálica pelas microvasculatura da membrana que recobre o

cérebro. Inicialmente a levedura tenta penetrar de forma considerada passiva por um

evento denominado embolia, mas é retida pelo estreitamento microvascular. Em

seguida, sua migração dita de forma ativa, se dá pela secreção da enzima urease,

cujas funções são poucas esclarecidas até o momento (OLSZEWSK et al., 2004).

Contudo, sabe-se da produção de amônia por essa enzima, que é tóxico para

células de mamíferos, ocasionando um enfraquecimento no vaso endotelial,

facilitando assim a entrada do fungo (MAY et al., 2016).

Uma segunda maneira de adentrar na barreira hematoencefálica é a

transcitose pelo uso de proteases extracelulares, necessária para a degradação da

membrana basal e, consequentemente entrada no sistema nervoso central (Vu et

al., 2014; RODRIGUES et al., 2003).

Surpreendentemente, estudos recentes demonstram altos níveis de inositol

no cérebro, esses níveis altos culminam como um disparo na sequência do

processo, elevando a expressão de ácido hialurônico pela levedura (LIU et al.,

2013). Para sair da célula hospedeira infectada, entrar e disseminar no sistema

nervoso central o fungo usa exocitose lítica e não lítica (ALVAREZ e CASADEVALL

2006; MA et al., 2006). Em diversas pesquisas observou-se que os níveis de ligação

C. neoformans com células do hospedeiro foram baixas, mas a percentagem de

células fúngicas internalizadas foi relativamente alta. Isto significa hipoteticamente,

que mesmo uma internalização baixa, pode acarretar em uma elevada proliferação

no parênquima cerebral (SABIITI e MAY, 2012).

Um terceiro e último mecanismo usado pelo Cryptococcus seria o transporte

do fungo dentro dos fagócitos, sistema conhecido como hipótese do ‘cavalo de troia’

(MAY et al., 2016).

O Cryptococcus se dissemina através da transferência da levedura de um

macrófago infectado para outro não infectado. A morfogênese do patógeno no

interior do macrófago propicia a transferência da levedura, inferindo provável ação

da quitina, modificando a estrutura conformacional das células fagocíticas e

projetando o citoplasma até outro fagócito (ALVAREZ e CASADEVALL, 2007). Essa

hipótese sustentada pela observância da depleção de macrófagos alveolares em

modelos animais (KECHICHIAN SHEA e POETA, 2007). Enquanto que ao infectar

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monócitos em testes in vitro, a transferência direta da levedura teve um aumento

significativo de Cryptococcus no cérebro. Contudo, estudos salientam a percepção

de que o fagócito se comporta como portador desses fungos para transcender a

barreira hematoencefálica (CHARLIER et al 2009). Esse sistema apesar de ainda

ser desconhecido, favorece a disseminação e atravessia pela barreira

hematoencefálica no sistema nervoso central (ALVAREZ e CASADEVALL, 2007).

Ademais, estudos mostram que a carga fúngica no sistema nervoso central

está correlacionada com a consequente morte do paciente, pela alta absorção

criptocócica por macrófagos. Desta forma, a fagocitose eficaz predispõe

intuitivamente um mal prognóstico após a infecção criptocócica (SABIITI et al.,

2014).

Apesar da diferença entre os mecanismos de paracitose, transcitose e “cavalo

de tróia”, infere-se que características de cada um deles são observadas e,

presumidamente, acontece concomitantemente durante a infecção natural. Contudo,

o conhecimento sobre estes processos ainda são muito escassos (CHEN et al.,

2014).

4.8 TRATAMENTO

A anfotericina B (AmBd) é de padrão ouro no tratamento de criptococose

graves, como no caso da meningoencefalite. A anfotericina B lipossomal tornou-se

uma opção de preferência com resultados semelhantes a AmBd para reduzir os

efeitos nefrotóxicos é recomendado uma indução primária. Em pacientes com

disfunção renal a flucitosina (5-FC) age em associação com a AmBd na terapia de

primeira linha no tratamento para meningite criptocócica ou criptococose pulmonar

(VAN DER HORST et al., 1997).

Esta associação representa um sistema fungicida mais potente, eliminando

mais rapidamente o patógeno, ocorrendo menos recidivas e diminuição do índice de

mortalidade atribuível (VAN DER HORST et al., 1997; BRATTON et al., 2013). Além

de, beneficiar diretamente a sobrevivência em comparação com monoterapia de

AmBd pela monitorização terapêutica no ajuste da dose de 5-FC de para disfunção

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renal , a terapia também resulta em uma diminuição do efeito colateral primário da

supressão da medula óssea (DAY et al., 2013). Dados demonstram a eficácia na

atividade fungicida semelhante, administrando doses baixas de 5-FC em

combinação com anfotericina B (O’CONNOR et al., 2013). Ressalta-se que no Brasil

a flucitosina não está disponível (MOREIRA, 2005).

Embora, a terapia de indução combinada, seja o método recomentado de

primeira escolha para terapia nos casos de criptococose grave, a 5-FC tem

disponibilidade limitada, considerando situações em que as taxas de sobrecarga e

mortalidade são mais altas (PAPPAS et al., 2009; LOYSE et al., 2012). Neste caso

usa-se de terapias alternativas combinadas, como no caso de AmBd e fluconazol em

doses mais elevadas, com resultados eficazes, recuperando o sistema neurológico e

melhorando as taxas de depuração fúngica, em comparação ao uso isolado de

AmBd ou em combinado com doses mais baixas de fluconazol (PAPPAS et al.,

2009; LOYSE et al., 2012).

A monoterapia com fluconazol não é recomendada para a meningite, visto

que o fármaco possui natureza fungistática, resultando em um aumento nas taxas de

resistência e à recaída. Mas considerando locais com indisponibilidade do AmBd,

pode-se fazer uso do fluconazol em doses acima de 1200mg/dia. Para meningite

criptocócica, o sistema de indução, consolidação e manutenção fazem parte do

tratamento padrão em todos os pacientes, independentes dos fatores de risco

(NUSSBAUM et al., 2010; PERFECT et al., 2010; VAN DER HORST et al.,1997).

No caso de paciente com HIV/AIDS, o tratamento por indução geralmente se

inicia pela terapia combinada, sendo o tratamento consolidado com fluconazol com

doses elevadas em um período de 8 semanas para pacientes com resposta

favorável. Sugeriu-se também o curso de indução por 6 semanas e a terapia de

consolidação (erradicação) na meningite por C. gattii, sem considerar o estado do

sistema imune do paciente, justamente pela severidade do quadro da doenças

neurológicas nestes pacientes. Em geral o tratamento da infecção por C. gattii não

deve ser diferente ao do tratamento da infecção por C. neoformans. Após este

período de consolidação, é iniciada a supressão por um prazo mais longo com

fluconazol de 200 a 400 mg/dia (CHEN, MEYER e SORREL, 2014; CHEN et al.,

2013; FRANCO-PAREDES et al., 2015).

A inclusão desta interpelação possibilitou a redução das taxas de recidiva de

aproximadamente 40% para menos de 5% em doentes com imunossupressão

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grave. Depois de 1 a 2 anos de tratamento antifúngico, a profilaxia secundária é

interrompida em pacientes que tem aumento da contagem de células CD4+ para

mais de 100 células/μL e a diminuição da carga viral de HIV para níveis

indetectáveis num período de pelo menos 3 meses, devido o uso de terapias

antirretrovirais (PERFECT et al., 2010; VIBHAGOOL et al., 2003; MUSSINI et al.,

2004).

Terapia combinada tripla com anfotericina B, flucitosina e itraconazol para

meningite criptocócica e o uso de voriconazol pra infecções fungicas refratárias,

incluindo criptococose foram definidas como sucesso, segundo um estudo recente

(PERFECT et al.,2003). Embora outros estudos avaliaram resposta no âmbito clínico

(sinais e sintomas) e outros no âmbito micológico (cultura de sangue e líquor

negativos) (PITISUTTITHUM et al., 2005, apud COKER et al., 1995). Entretanto, há

estudos demonstrando que, formulações de AmB, itraconazol, fluconazol e

cetoconazol têm um histórico muito fraco para o tratamento de infecções a nível

cerebral e sugere ainda uma resposta relativamente fraca para o tratamento com

voriconazol de meningite criptocócica refratária, com uma taxa de sucesso de 39%,

mas os pacientes avaliados que apresentavam doença estável. Desta forma, o

tratamento não foi considerado um sucesso (PERFECT et al.,2003).

4.8.1 TEMPO DA TERAPIA ANTI-RETROVIRAL

Na associação da infecção criptocócica a infecção por HIV, a terapia

antirretroviral (TAR) tem um grande impacto no prognóstico de longo prazo.

Entretanto, estudos tem sugerido um risco aumentado de Síndrome Inflamatória da

Reconstituição Imunológica (SIRI), em pacientes com vírus HIV iniciados com TAR,

após o diagnóstico de infecção oportunista (SHELBURNE et al., 2005;

LORTHOLARY et al., 2005; BISSON et al., 2013).

O Teste de Cronologia Óptica de TAR Otimizada (COAT), recentemente

concedeu algumas diretrizes definitivas para retardar o início de TAR em pacientes

com meningite criptocócica em um período de no mínimo 4 semanas após o começo

da terapia antifúngica. Uma melhor sobrevida destes pacientes com meningite

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criptocócica foi verificada em estudo randomizado, após o adiamento de até 5

semanas para início da TAR depois deste indivíduos serem diagnosticados, em

comparação com a TAR imediata entre as duas primeiras semanas ( BOULWARE et

al., 2014). Apesar de observada as taxas aumentadas de SIRI com TAR prévio não

atingirem dados estatísticos significantes, os marcadores de ativação de macrófagos

cresceram neste grupo precoce, propondo que SIRI subclínica ou

compartimentalizada pode acontecer e influenciar a mortalidade (SCRIVEN et al.,

2015; BOULWARE et al., 2014).

4.9 EPIDEMIOLOGIA

A espécie C. gattii é prevalente em zonas rurais, embora estudos tenham

demonstrado o isolamento dessa espécie em árvores urbanas. A espécie de

levedura tem associação às determinadas árvores como, por exemplo, o eucalipto.

Geralmente a espécie é encontrada em regiões tropicais e subtropicais e atinge

principalmente imunocompetentes (KIDD et al., 2004; RODRÍGUEZ-CERDEIRA, et

al., 2014). Enquanto C. neoformans prevalente em climas temperados, áreas

urbanas frias e solos contaminados com fezes de aves. Possui distribuição universal

e os indivíduos imunodeprimidos são mais acometidos (KIDD et al., 2004).

Existem algumas diferenças entre C. gattii e C. neoformans. A primeira

diferença diz respeito à ecologia das espécies, com C. neoformans encontrado

principalmente no solo contaminado por fezes de aves (Columba livia) e que

apresentem uma distribuição universal, enquanto o principal nicho de C. gattii são as

cavidades de eucaliptos, razão pela qual a infecção da espécie C. gattii ocorre

principalmente em regiões tropicais e subtropicais (CHEN et al., 2000).

Vários autores notaram a propagação da infecção pela espécie C. gattii, uma

vez que houve um surto na ilha de Vancouver, Canadá, o noroeste do Pacífico e do

sudeste dos Estados Unidos, indicando que esta levedura mostra uma adaptação a

um clima temperado. Estudos demonstram a universalidade ecológica com relação

ao nicho ambiental devido a presença de pombos em vários ambientes, inclusive

ambientes urbanos, tornando esses agentes ubíquos. Outro sistema que pode

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compreender a ecologia desses agentes é o estudo de insetos e substratos para

disseminação de fungos e leveduras (JESUS et al.,2012; KIDD et al., 2004).

Dados epidemiológicos descritos confirmam a prevalência da infecção C.

neoformans em todo o mundo segundo estudos epidemiológicos assim como

relação direta com imunodeficiência (PERFECT et al.,2010).

4.9.1 EPIDEMIOLOGIA IBERO AMERICANA

Testes realizados no Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, México, Peru,

Venezuela, Guatemala e Espanha, analisaram por método molecular um total de

340 amostras de Cryptococcus neoformans, sendo 67 isolados do meio ambiente, 7

em animais e 266 isolados clínicos (1961 a 2000) (Tabela 1). Amostras de pacientes

com AIDS somam 177 isolados clínicos, entre estes isolados avaliou-se a presença

de 86% do sorotipo A, 7,4% do sorotipo AD híbrido, 3,4% do sorotipo D, e os

restantes 2,8% dos sorotipos B e C (Gráfico 1) (MEYER et al., 2003). Tabela 1: Total de isolados de Cryptococcus neoformans de amostras clínicas, veterinárias e ambientais, incluindo a Espanha (1961 a 2000) (MEYER et al., 2003).

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Gráfico 1: Dados obtidos de estudos realizado no Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, México, Peru, Venezuela, Guatemala e Espanha com amostras de pacientes com HIV/AIDS (1961 a 2000) (MEYER et al., 2003).

4.9.2 EPIDEMIOLOGIA NA AMÉRICA DO SUL

Um total de 100 amostras biológicas isoladas obtidas no Brasil, Venezuela e

Chile foram analisadas e identificadas apartir de análise bioquímica e

micromorfológica. Sendo dessas amostras 60 colhidas de paciente HIV positivo, e

40 de outros pacientes. O estudo permitiu verificar que 89 isolados foram

identificados como C.neoformans variante neoformans e 11 identificados como C.

neoformans variante gattii. De 62 isolados de C. neoformans variante neoformans,

60 (96,8%) são de sorotipo A, enquanto que dos 11 C. neoformans variante gattii 09

são sorotipo B. Observou-se neste estudo a presença do sorotipo AD apenas em

amostras isoladas do Chile (CALVO et al., 2001).

Além dos dados anteriores, no ano de 1987 a 2004 foram isolados 247

amostras ambientais e 178 clínicas em cinco regiões da Colômbia. Ressaltamos um

traçado do perfil clínico, o que verificou 91,1% dos isolados do sorotipo A, 8,4%

sorotipo B, 0,5% sorotipo C, enquanto o perfil ambiental verificou-se os sorotipos A

com 44,2%, o sorotipo B com 42,6% e C (13,2%) (Gráfico 2). Nestes isolados não

identificaram os sorotipos AD ou D (GULLO et al., 2013).

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Gráfico 2: Sorotipos de C. Neoformans identificados no período entre 1987 e 2001 em cinco regiões da Colômbia. Não foram isolados sorotipos AD ou D. (GULLO et al., 2013).

Um estudo realizado entre 1998 e 2010 no Hospital Universitário de Uberaba

no estado de Minas Gerais, Brasil, a partir de prontuários médicos laboratoriais, foi

observado um total de 163 amostras diferentes recuperadas de 131 pacientes com

HIV diagnosticados com infecção por Cryptococcus. O nível da infecção por HIV foi

avaliada pelos métodos de ELISA (Welcozyme, Dartford, Oxford, Reino Unido) e

confirmados pelo método de Western Blot (MORA et al., 2011).

Destes 131 pacientes com criptococose, 107 foram identificados a partir de

amostras de líquor, sendo que quatro deles apresentavam recidiva clínica. Dos 107

isolados, 102 (94,4%) tiveram como agente causador o C. neoformans e cinco

(5,6%) causados por C. gattii (MORA et al., 2011). Destes 131 pacientes, 119

(90,83%) estavam com AIDS e 69,46% eram homens com idade média de 38,7

anos. A meningite criptocócica foi diagnosticada em 103 (78,6%) casos, percebido a

disseminação da doença em 29 (30,85%) dos 94 pacientes com AIDS e com

meningite criptocócica. A análise laboratorial em amostras de sangue, urina e BAL

verificou a presença de C. neoformans em 14 (48,27%), 09 (31,03%) e 05 (17,24%)

casos, respectivamente. Entre eles, oito pacientes apresentaram cultura positiva em

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três ou mais locais, e um paciente masculino sem AIDS apresentava meningite

causada por C. gattii, e este, evoluiu para criptococose disseminada (Quadro 1)

(MORA et al., 2011).

Quadro 1: Diagnóstico de criptococose em 131 pacientes de acordo com o local da infecção (1998 e 2010).

CrAG: antígeno criptocócico; LCR: líquido cefalorraquidiano. Dados em %.(MORA et

al., 2011).

Os pacientes com HIV e diagnosticados com MC (meningite criptocócica)

somam 94 (91,26%) e tiveram a criptococose como a primeira a definir a AIDS em

61 (64,9%), enquanto 37 (60,65%) foram diagnosticados simultaneamente no

instante da admissão. Observou a ocorrência de infecções oportunistas antes do

diagnóstico criptocócico em 33 (35,1%) pacientes, enquanto 39 (41,5%) já faziam o

uso de TAR. Sintomas clínicos como alteração do estado mental, dor de cabeça,

convulsões e papiledema na internação foram associadas estatisticamente a um

resultado ruim em pacientes com MC (MORA et al., 2011).

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4.9.3 EPIDEMIOLOGIA EM REGIÕES COMO A EUROPA, AMÉRICA DO NORTE E

ÁFRICA

4.9.3.1 EPIDEMIOLOGIA EM UGANDA

Um estudo realizado no Hospital - Mulago Hospital Nacional de Referência e

Ensino, em Kampala, Uganda, envolveu 1500 leitos considerando pacientes

internados e pacientes ambulatoriais em tratamento. Os pacientes do estudo foram

admitidos nas enfermarias e no ambulatório de HIV entre dezembro de 2009 e

março de 2010. Destes 1500, foram selecionados 1.146 pacientes (OYELLA et al.,

2012).

Para a pesquisa foram usados critérios como o fato dos pacientes serem

nativos, portadores de HIV positivos, considerando os pacientes com contagens de

CD4 + ≤100 células / mm3, sem história prévia de criptococose e que não estavam

recebendo tratamento com fluconazol, além da avaliação para verificar os sinais

clínicos correspondentes à meningite (OYELLA et al., 2012).

Dos pacientes examinados 370 corresponderam aos critérios exigidos.

(Figura 6), sendo admitidos no hospital um total de 367 doentes com uma media de

CD4 + contagem de 23 células / mm3. A média de idade dos pacientes foi de 32

anos, havendo (52%) de mulheres e (48%) homens, constituindo (45%) dos

participantes casados, (52%) com ensino primário completo, e, (77%) residentes em

áreas urbanas. Um total de 97,3% dos participantes eram pacientes internados, e

2,7% eram pacientes ambulatoriais (OYELLA et al., 2012).

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Figura 6: Estudo do perfildos pacientes na admissão no Hospital- Mulago Hospital Nacional de Referência e Ensino, em Kampala, Uganda (OYELLA et al., 2012).

Testes microbiológicos como o exame a fresco com tinta da China e culturas

para C. neoformans foram realizados em pacientes positivos para o antígeno

criptocócico sérico, usado como critério para tratamento. Foram realizadas punções

lombares para excluir a meningite criptocócica, mas 43,5% dos pacientes com teste

positivo criptocócico concordaram em fazer a punção. Os testes realizados

demonstraram que 24 pacientes eram positivos para meningite criptocócica, três

possuíam antigenemia criptocócica isolada e três não receberam classificação

devido a resultados incompletos. Os pacientes diagnosticados foram tratados

conforme sua clínica, não sendo dado nenhum outro seguimento (OYELLA et al.,

2012).

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4.9.3.2 EPIDEMIOLOGIA EM MALAWI

Uma avaliação realizada em uma clínica em Hope, em Lilongwe, no Malawi

determinou a prevalência de infecção criptocócica em pacientes recentemente

infectados pelo HIV e iniciando a terapia anti-retroviral (TAR) com CD4 <100

células/mL ou em pessoas com HIV / AIDS na terceira ou quarta fase da doença

segundo critérios da OMS (Organização Mundial de Saúde) e para determinar a

aceitabilidade e viabilidade de iniciar um programa de rastreio pelo CrAg

(CHIFUNDO CHIPUNGU et al., 2015).

O estudo avaliou 552 pacientes que se apresentaram à clínica no período de

07 meses para realizar o tratamento contra HIV. Destes, 176 foram transferidos e já

se encontravam em tratamento e não foram rastreados. Os 376 pacientes restantes

receberam o primeiro tratamento e destes, 258 foram selecionados para o estudo e

113 foram escolhidos. Todos os 113 escolhidos aceitaram a se submeter a triagem

por CrAg. Dentre os 113 escolhidos, o número de mulheres era de 53 (46,9%) e 60

(53,1%) de homens, com média de idade de 36,4 anos. Destes, 08 eram pacientes

clínicos de HIV / AIDS em fase I da OMS (7,1%), 05 pacientes com estádio clínico de

HIV / AIDS II (4,4%), 80 pacientes com HIV / AIDS em fase III (70,8% AIDS IV

(17,7%); A contagem média de CD4 era de 124 células / mL (Tabela 2). Dos 113

pacientes selecionados, 02 pacientes foram CrAg positivo, sendo que a prevalência

total de CrAg para todos os pacientes no estudo foi de 2/113 ou 1,8% (CHIFUNDO e

ECHIPUNGU et al., 2015).

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Tabela 2: Características dos Pacientes Recém-Inscritos em uma Clínica de HIV / AIDS Malawiana e Prevalência de CrAg com Contagem de CD4 <100 Células / mL ou Estágio I ou IV Clínico de HIV / AIDS da OMS (CHIFUNDO CHIPUNGU et al., 2015)

Abreviaturas: (CrAg) antígeno criptocócico; (OMS), Organização Mundial de Saúde. (CHIFUNDO CHIPUNGU et al., 2015).

4.9.3.3 DADOS EPIDEMIOLÓGICOS EM VÁRIAS REGIÕES DA ÁFRICA

SUBSAARIANA

Em um estudo excepcional considerado um marco de 2009, os Centros de

Controle e Prevenção (CDC) estimaram a MC associada ao HIV baseando nos

dados disponíveis de incidência de indivíduos infectados pelo HIV em várias regiões.

Conforme o CDC estima-se a incidência de MC em cerca de um milhão de casos por

ano, atingindo a possível marca de até 500.000 mortes por ano só na África Sub-

Saariana (PARK et al., 2009). Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS)

outros dados sugerem o número de mortes entre 10 a 15% causadas por

criptococose (chegando a atingir 2,3 milhões de pessoas) (FRENCH et al., 2002).

Outra análise atualizada feita por Boulware e colaboradores tem usado uma

abordagem diferente, baseando-se no número de pacientes em risco (com células T

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CD4 +Contagens <100 células/μL) sem considerar o anti-retrovirais eficazes (TAR),

no risco de progressão do MC e na prevalência de antigenemia criptocócica. Esta

nova análise indica um número menor de mortes relativas ao MC, mas deduzem que

MC cause 140 mil mortes por ano, sendo 102.000 relatados na África, e propõe que

a MC representa 17% da mortalidade relacionada com a AIDS (WILLIAMSON et al.,

2016, Apud BOULWARE et al, 2014).

A vigilância criptocócica têm sido realizada desde o início dos anos 2000 na

África do Sul, onde ocorreu uma diminuição modesta da incidência entre 2005 e

2009 (INSTITUTO NACIONAL DE DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS. RAPIDGERMS

RELATÓRIO ANUAL DA ÁFRICA DO SUL, 2014).

Em lugares que dispõe de mais recursos e programa TAR como em

Botswana, a vigilância nacional relata um aumento no número de casos de

criptococose desde o ano de 2011, possivelmente estimulado pelo número de

pacientes que não fizeram o tratamento de forma adequada (TENFORDE et al.,

2016).

Mesmo o número total de casos de MC permanecendo relativamente

estáticos, a gestão do MC é difícil pelo fato de que em muitos centros metade dos

pacientes com MC apresentam-se com história de uso de TAR, mas com insistentes

baixas contagens de células T CD4 +, pela provável falha no acompanhamento, não-

adesão ou pelo desenvolvimento de resistência TAR (Harrison, T. et al., Inscrição

não publicada Dados do ensaio ACTA, ISRCTN 45035509) (BEARDSLEY et al.,

2016).

4.9.3.4 EPIDEMIOLOGIA NOS ESTADOS UNIDOS

Nos Estados Unidos na década de setenta, por ano foram confirmados 338

casos de pacientes neste período, índices seguidos por uma explosão de casos com

o surgimento de uma pandemia da AIDS e um declínio com a implantação da terapia

antirretroviral (PYRGOS et al., 2013).

Usou-se de dados dos bancos estaduais de pacientes internos da Agência de

Pesquisa e Qualidade em Saúde (AHRQ) para compreender o impacto da doença

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criptocócica nos Estados Unidos a partir da implantação da terapia antirretroviral,

com objetivo de descrever a incidência de hospitalizações vinculadas à meningite

criptocócica, que é a forma mais grave da criptococose, no período de 1997 a 2009

(PYRGOS et al., 2013).

Um total de 30.840 hospitalizações por meningite criptococócica foram

registradas em um período de 13 anos, com um total de 1827 hospitalizações

computadas em 2009. Foram associados com HIV, 24.151 destes pacientes, ou

seja, 79.4%. Baseando em dados do censo estadual dos EUA em 2003, estando

incluso nesta análise aproximadamente 53,5% da população do país no período,

com valor estimado para 3.400 hospitalizações associadas com MC anualmente nos

EUA, considerando a extrapolação de dados para uma população de 307 milhões do

país no último ano de estudo (2009), (PYRGOS et al., 2013).

Nos estados da Flórida, Maryland, Geórgia e na cidade de Nova York a

prevalência pela infecção por HIV é maior, seguida das maiores taxas de MC

associadas ao HIV, apesar de evidencia de altas taxas de hospitalizações na região

sudeste dos EUA (média de 19,4 hospitalizações), (Figura 7), (PYRGOS et al.,

2013).

4.9.3.4.1 Tendências da hospitalização total

Ao longo do período de estudos, diminuíram as internações por MC na

população de pacientes infectados pelo HIV, com 16,6 hospitalizações/milhão de

população total em 1997 para 7,7 em 2009 (queda de 53,6%), com a variação anual

percentual declínio de -5,8% (Gráfico 3). Sugerindo que a diminuição do MC não se

deve exclusivamente à redução geral das hospitalizações por HIV. Os homens

predominaram entre os pacientes hospitalizados com meningite criptocócica, somam

78,2% e as taxas de hospitalização por milhão de população total atingiram o pico

na faixa etária de 31 a 40 anos (PYRGOS et al., 2013).

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Figura 7: Incidência geográfica de MC. Mapa dos Estados Unidos mostrando e destacando os estados que relatam ao ARHQ continuamente durante o período do estudo e sua incidência de MC em hospitalizações associadas ao HIV. (PYRGOS et al., 2013).

Gráfico 3:. Hospitalizações para MC nos EUA. Hospitalização por MC por milhão de população em pacientes infectados pelo HIV. (PYRGOS et al., 2013).

A incidência de mortalidade intrahospitalar diminuiu ao longo do período de

estudo, em doentes infectados pelo HIV (Gráfico 4) (PYRGOS et al., 2013).

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Gráfico 4.: Mortalidade hospitalar por milhão de população em pacientes infectados pelo HIV. Doi: 10.1371 / journal.pone.0056269.g002.(PYRGOS et al., 2013).

Conforme um estudo americano realizado no continente europeu e na

América do Norte, ocorreu uma redução drástica no número de casos de

criptococose após a introdução de TAR eficaz. Além disso, o número de

hospitalizações diminuiu pela metade (PYRGOS et al., 2013).

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5 CONCLUSÃO

A criptococose é uma doença grave que desafia a comunidade médica e

cientista, por se tratar de uma infecção que tem como característica a capacidade de

escapar das células que compõem o sistema fagocítico, dentre outros fatores de

virulência favorecendo a sua disseminação no organismo do hospedeiro, e por ser

uma doença oportunista, confirmando sua prevalência a indivíduos infectados por

HIV, agravando assim, a condição clínica do indivíduo acometido.

Embora com status de gravidade essa doença não tem notificação

obrigatória, sendo poucas as estimativas verdadeiras sobre a distribuição geográfica

e prevalência. Observou também uma redução na incidência global da criptococose

devida o uso de terapia antirretroviral altamente ativa, mas mesmo com essa

redução, o registro de óbitos é elevado.

A forma mais grave da doença, a meningite criptocócica, seguida de lesões

cutâneas, ainda é a uma das maiores causas de mortalidade e morbidade em

pacientes com HIV/AIDS, principalmente em países que detém recursos reduzidos

para tratar esses pacientes de forma adequada. O diagnóstico melhorado como a

pesquisa de antígeno polissacarídeo capsular criptocócico e pesquisa por tinta

nanquim tem favorecido no diagnóstico deste agente, acrescentado à introdução de

Terapia Retroviral para amenizar os sintomas e reduzir a carga viral destes

pacientes.

Dentre os tratamentos citamos o uso da Anfotericina B, considerada como

padrão ouro no tratamento de meningite e a associação de outras de drogas

antifúngicas juntamente com acompanhamento desses pacientes favorecendo

melhor sobrevida, reduzindo também a severidade da doença.

A prevalência da criptococose em pacientes com HIV nos Estados Unidos é

demonstrada segundo dados computados em 2009, no período de 13 anos, onde

registrou-se 24.151 hospitalizações por meningite criptocócica associadas ao HIV,

dando ênfase para os estados da Flórida, Maryland, Geórgia e na cidade de Nova

York.

Segundo dados do CDC em 2009 a incidência de mortes por causa da MC na

África Sub-Saariana chega a 500.000 por ano. A vigilância criptocócica têm sido

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realizada desde o ínício dos anos 2000 na África do Sul, onde viu a diminuição

modesta da incidência entre 2005 e 2009.

Verificou-se que mesmo em lugares com mais recursos e programas TAR

como em Botswana, é relatado um aumento de números de casos de criptococose

desde o ano de 2011. Esse número aumentado se deve provavelmente aos

indivíduos que não fizeram o tratamento de forma adequada.

Há registro de casos criptococose em países da América do Sul, incluindo o

Brasil onde foram verificados a presença de sorotipos de Cryptococcus spp.

O fato de este fungo ser ubíquo favorece sua disseminação e prevalência da

doença no globo, pois segundo a Organização Mundial de Saúde, o número de

mortes causadas por criptococose alcança 2,3 milhões de pessoas no mundo.

Ações permanentes e constantes devem ser empregadas no

acompanhamento e tratamento dos indivíduos acometidos com a criptococose,

favorecendo sua melhor sobrevida, auxiliando na redução dos sintomas.

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