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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM RECURSOS NATURAIS MÁRCIA TEIXEIRA FALCÃO COMPARTIMENTAÇÃO DO RELEVO NO HEMIGRÁBEN DO TACUTU, ESTADO DE RORAIMA BOA VISTA 2007

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM RECURSOS NATURAIS

MÁRCIA TEIXEIRA FALCÃO

COMPARTIMENTAÇÃO DO RELEVO NO HEMIGRÁBEN DO TACUTU, ESTADO

DE RORAIMA

BOA VISTA 2007

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MÁRCIA TEIXEIRA FALCÃO

COMPARTIMENTAÇÃO DO RELEVO NO HEMIGRÁBEN DO TACUTU, ESTADO

DE RORAIMA

Orientador: Prof. Dr. José Augusto Vieira Costa

BOA VISTA 2007

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Recursos Naturais –PRONAT da Universidade Federal de Roraima como pré - requisito para obtenção do título de Mestre em Recursos Naturais, com área de concentração em Manejo e Conservação de Bacias Hidrográficas.

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Dados Internacionais de Catalogação-na-publicação (CIP)

F178c Falcão, Márcia Teixeira

Compartimentação do relevo no hemigráben do Tacutu,

Estado de Roraima / Márcia Teixeira Falcão. -- Boa Vista,

2007.

104 f.

Orientador: Profº. Dr. José Augusto Vieira Costa.

Dissertação (Mestrado) – Programa de Recursos Naturais,

Universidade Federal de Roraima.

1 – Geologia. 2 – Geomorfologia. 3-Hemigráben. 4-

Roraima. I- Título. II – Costa, José Augusto.

CDU – 551.4

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MÁRCIA TEIXEIRA FALCÃO

COMPARTIMENTAÇÃO DO RELEVO NO HEMIGRÁBEN DO TACUTU, ESTADO

DE RORAIMA

Dissertação apresentada a Banca Examinadora como pré - requisito para obtenção

do título de Mestre em Recursos Naturais do Programa de Pós - Graduação em

Recursos Naturais da Universidade Federal de Roraima, com área de concentração

em Manejo e Conservação de Bacias Hidrográficas, defendida em 07 em novembro

de 2007.

_________________________________________

Prof. Dr. José Augusto Vieira Costa

Orientador

_________________________________________

Prof. Dr. Valmir da Silva Souza

___________________________________________

Prof. Dr. José Frutuoso do Vale Júnior

___________________________________________

Prof. Dr. Fábio Luiz Wankler

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A minha família em especial a

Nalmir e Eric pela força e

brilhantismo que demonstraram

para superar minha ausência.

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AGRADECIMENTOS

Gostaria de externar os meus sinceros agradecimentos, a todos aqueles

que de uma forma ou de outra contribuíram para o meu desenvolvimento acadêmico

e pessoal durante a realização deste trabalho.

A Universidade Federal – UFRR, pela infra-estrutura disponibilizada;

Á Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES),

pelo apoio financeiro concedido, sem este seria impossível à realização desta

pesquisa.

Ao Professor Dr. José Augusto Vieira Costa, pela orientação, amizade e

paciência que foram de extrema importância para o meu crescimento pessoal e

acadêmico.

A Coordenação do Curso de Mestrado na pessoa do Professor Dr. Marcos

Vital, pela atuação na coordenação do Programa em Recursos Naturais – PRONAT /

UFRR.

Ao Professor Dr. Vladimir de Sousa pela preciosa contribuição para

estruturação deste trabalho.

A secretaria do PRONAT, dona Inácia, pela atenção prestada.

Aos professores, Dr. José Frutuoso e Dr. Renato Evangelista pelas valiosas

críticas (construtivas), discussões e sugestões para o fechamento deste trabalho.

A colega de laboratório Renata Lobato pela valiosa contribuição nos mapas.

Aos colegas, Luciana Barros em especial ao Raimundo Alves dos Reis Neto

pela valiosa amizade conquistada, conversas, companheirismo, estudos incansáveis

e sabedoria compartilhada, meu muito obrigada.

A grande amiga Maria das Neves pela amizade, companheirismo e por

todos os bons momentos vividos nessa jornada, você é muito especial.

A minha família pelo apoio e por acreditar nessa nova conquista, minha

mãezinha Elaine Falcão, Elza Falcão, Edna, Janeth, minha mãe Izabel, meu pai

Anadir, meus irmãos Alan, Mônica e nosso inesquecível Alison, um abraço.

A todos que direta e indiretamente contribuíram para essa conquista, Marta

obrigada

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“O presente é a chave do passado”

Nicolau Steno

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RESUMO

A bacia sedimentar do Tacutu, localizada no estado de Roraima, consiste em um segmento distensivo implantado no Mesozóico (Jurássico Superior – Cretáceo Inferior), um hemigráben encaixado no Escudo das Guianas, que se alonga na direção nordeste – sudoeste, com cerca de 300 km de comprimento, variando entre 30 a 50 km de largura, estendendo-se da República da Guiana, à capital do estado de Roraima, Boa Vista. O hemigráben foi implantado em uma zona de reativação do Cinturão da Guiana Central. A dinâmica e evolução das formas de relevo, estão condicionada ao resultado de sucessivos estágios, os quais tem como influência os processos tectônicos e os agentes externos que variam ao longo do tempo, e que podem ser encontrados nas evidências da bacia do Tacutu, tornando-se, assim, uma área atípica no território. Para realização dessa pesquisa foram levados em consideração os dados já existentes acerca da área em estudo e diversas pesquisas em campo para entendimento do seu processo evolutivo. Dessa forma, buscamos fazer uma abordagem sobre a compartimentação geomorfológica do gráben do Tacutu, utilizando técnicas de Sistema de Informação Geográfica, por meio do aplicativo ArcGis 9.1, que favoreceu a construção de um modelo digital do terreno.Foram delineadas as curvas de níveis e as redes de drenagens baseadas em cartas 1:100.000, cujo procedimento revelou um evidente controle da drenagem sugerindo que a geomorfologia da área pesquisada é controlada pela presença de falhas normais NE-SW e por atividades neotectônicas compartimentais NW-SE, sendo evidenciadas principalmente nos rios Arraia e Tacutu, e que se vinculam ao processo de sedimentação da Formação Boa Vista. A compartimentação geomorfológica da área caracteriza-se por três compartimentos principais: a Planície Amazônica, evidenciada por ser uma área plana suave ondulada, estendendo-se por faixas alongadas depositadas pelos rios através de sedimentos arenosos, argilosos e conglomeráticos, recentes e inconsolidados, em geral associados aos depósitos do Quaternário, principalmente no Holoceno, de origem fluvial; a Depressão Boa Vista, representada por uma superfície de aplainamento, esta desenvolvida sobre rochas pré-cambrianas e fanerozóicas e os Planaltos Residuais, individualizados em: Residuais Vulcânicos, representados pelo Domínio Apoteri, Residuais Sedimentares, representado pela Serra do Tucano e os Residuais do Proterozóico, remanescentes que demonstram a evolução do relevo regional provavelmente desde a instalação da bacia, seguida de sua inversão e a dissecação desses residuais ao longo dos tempos cenozóicos. O processo evolutivo dessa bacia sedimentar esteve condicionado a sucessivas oscilações climáticas ocorridas na região durante o final do Terciário e todo Quaternário, que podem ser observadas nas linhas de pedras e paleodunas, na rede de drenagem, e ainda a presença de falhas normais e transcorrentes, características que corroboraram para a confirmação evolutiva do quadro neotectônico da bacia. Palavras-Chave: hemigráben do Tacutu, anomalias de drenagem, controle neotectônico.

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ABSTRACT

The sedimentary basin of the Tacutu is located in the state of Roraima, Brazil. It is an implanted distensive segment in the Mesozóic (upper Jurassic - lower Cretaceo). It is an half-graben incased in the Shield of the Guianas, prolongated in the northeast direction - southwestern, with about 300 km of length varying 30 the 50 width km, extending itself of the Republic of Guyana to the capital of the state of Roraima, Boa Vista. The half-graben was implanted in a zone of reactivation of the Belt of Central Guyana. The dynamics and evolution of the relief forms are conditioned by the result of successive periods of training in which it has as influence the tectonics processes and the external agents what vary throughout the time and they can be found in the evidences of the basin Tacutu, becoming thus an atypical area in the territory. We consideration the data already concerning the area in study and diverse research to understand the evolution of the process. The approach about the geomorphological compartimentation of graben of Tacutu using techniques of the Geographic Data Sistem by means of applicatory ArcGis 9.1. that favored the construction of a digital model of the land. They were delineated the curves of levels and the nets of drainings based on letters 1:100.000, which procedure disclosed an evident control of the draining suggesting the geomorphology of the searched area is controlled for normal imperfections NE-SW and for neotectonics activities compartimentments NW, being evidenced mainly in the rivers Arraia and Tacutu, and that they are ties the process of sedimentation of the Boa Vista Formation. The geomorphological compartimentation of the area is characterized through three main compartments: the Planície Amazônica, evidenced for being a plain area wich strechs itself for bands lightly prolongated deposited for the rivers arenaceous, argillaceous and conglomerates, recent sediments unconsolidated in general associates to the deposits of the Quaternary, mainly in the Holocene, of fluvial origin; the Boa Vista Depression represented for a planing surface,formed on pre-Cambrian and Phanerozoic rocks and the Residual Plateaus, divided in: Volcanic Residual, represented for the Apoteri Domain, Residual Sedimentary represented for the Tucano Montain range and the Residual of the Proterozoic that they are remainders that demonstrate the evolution of the regional relief, probably since the installation of the followed basin of its inversion, and the dissection of these residuals throughout the cenozoics times. The evolution process of this basin sedimentary was conditional the successive occurred climatic oscillations in the region during the Quaternary, that can be observed in the lines of rocks, as well as in the draining net, and still the presence of normal and transcorrentes imperfections, characteristic these that they had corroborated for the evolutive confirmation of the neotectonic picture of the basin. Key words: half-graben of the Tacutu, anomalies of draining, neotectonic control.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Unidades estratigráficas do hemigráben do Tacutu em Roraima __ 32

Tabela 2 Estratigrafia de Roraima __________________________________ 33

Tabela 3 Categorias de declividade ________________________________ 62

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Mosaico de imagem de satélite do Estado de Roraima com a localização do Hemigráben do Tacutu ................................................

17

Figura 2 a) Aspecto do rio Tacutu no período seco, município de Bonfim, limitando Brasil e Guiana; b) rio Arraia sentido Bonfim, BR 401..........

19

Figura 3 a) Latossolo vermelho , b) Solo Concrecionário Laterítico (Bonfim, BR-401)................................................................................................

21

Figura 4 a) Savana Parque, com sua árvores ordenadas e seu tapete graminoso, na região da Serra do Tucano, sentido Bonfim, BR- 401, b) perfil esquemático da Savana Parque ............................................

22

Figura 5 a) Presença dos buritizais Mauritia flexuosa ao longo dos cursos de água temporários e não temporários; b) Perfil esquemático dos buritizais...............................................................................................

23

Figura 6 Visão parcial do Pediplano Rio Branco – Rio Negro, município de Normandia, no qual nota-se uma superfície aplainada elaborada em litologias Cenozóicas ...........................................................................

24

Figura 7 Modelo de mecanismos para a formação de rifts. (A) extensão por cizalhamento puro, grábens limitados por falhas normais de alto ângulo, (B) extensão envolvendo falhas de deslocamento de baixo ângulo que cortariam toda a litosfera, formando hemigrábens, Modelo de Wernicke (1981), (C) modelo alternativo do anterior, litosfera com movimento crustal na zona de transição.........................

27

Figura 8 Sistema de formação de rifts, com o sistema de junções de vários braços ..................................................................................................

28

Figura 9 Modelo proposto por Santos (1986), para se referir ao processo de evolução do Hemigráben do Tacutu ....................................................

29

Figura 10 Seção esquemática da estratigrafia da bacia do Tacutu ..................... 35

Figura 11 Mapa das Unidades morfoestruturais do Estado de Roraima ............. 41

Figura 12 Processo de evolução dos inselbergs, representados por falhas normais, esquema evolutivo para o Estado de Roraima......................

45

Figura 13 Etapas para realização da pesquisa ................................................... 49

Figura 14 Carta imagem georreferenciada com a individualização dos padrões de drenagens do Hemigráben Tacutu .................................................

55

Figura 15 Drenagem controlada por falhas, influenciadas pelo controle estrutural do hemigráben, notam-se padrões do tipo retangular a sub-retangular, evidenciados na região do Murupu ............................

56

Figura 16 Carta imagem georreferenciada com padrões de drenagens, com feixes de lineamento indicando a direção preferencial do Hemigráben do Tacutu........................................................................

57

Figura 17 a) Rio Arraia, BR – 401, sentido Boa Vista – Bonfim, encaixado em sistema de falhas e juntas; b) Falhas escalonadas subverticais impressas em basaltos nas margens Rio Arraia, município de Bonfim .................................................................................................

58

Figura 18 Diagrama de Rosetas Família de Juntas: Serra Pau Rainha, sul de Boa Vista, nº de pontos: 70 .................................................................

60

Figura 19 Diagrama de Rosetas Família de Falhas: Serra Pau Rainha, nº de pontos 19 .............................................................................................

60

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Figura 20 Padrões de Falhas e Juntas na Serra Pau Rainha, sul do município de Boa Vista ........................................................................................

61

Figura 21 Família de falhas: rio Arraia, no de pontos 15 ...................................... 61

Figura 22 Modelo Digital de Terreno, evidenciando os limites do Hemigráben do Tacutu..............................................................................................

63

Figura 23 Modelo Digital do Terreno, evidenciando as unidades de relevo que fazem parte da bacia do Tacutu...........................................................

64

Figura 24 Mapa de declividade do Hemigráben Tacutu ...................................... 66

Figura 25 Mapa da Compartimentação Geomorfológica do Hemigráben Tacutu, adaptado de Brasil (1975), IBGE (2005), Costa, Falcão e Sousa, 2007.........................................................................................

67

Figura 26 a) Planície Amazônica representada pelo Rio Tacutu no período de inverno, b) presença de folhelhos nas margens do Rio Tacutu, com ângulos preferenciais 160/75 ..............................................................

68

Figura 27 Setor da Depressão Boa Vista nos domínios do Hemigráben do Tacutu, BR 401, nota-se a presença de degraus que variam entre 80 a 100 m de altitude...............................................................................

69

Figura 28 Serra Nova Olinda, representando a parte sudoeste do hemigráben, presença de derrames basálticos.........................................................

71

Figura 29 Morro do Redondo, afloramento de basaltos do Complexo Vulcânico Apoteri, BR – 401, sentido Boa Vista – Bonfim ...................................

71

Figura 30 Imagem adquirida através do Google Earth, georrefenciada através do aplicativo Arc View 3.2, com a localização da Serra Pau Rainha, limite final do Hemigráben do Tacutu...................................................

72

Figura 31 Serra do Tucano, com a presença de vales encaixados em forma de “V”, BR – 401, sentido Boa Vista - Bonfim, em meio a sedimentos da Formação Boa Vista.............................................................................

73

Figura 32 Presença de juntas na Serra do Tucano.............................................. 74

Figura 33 Morros alinhados ao longo da BR-401 demonstram a estruturação do gráben do Tacutu – RR e correspondem ao limite Sudeste do mesmo, nas proximidades do Morro do Redondo ...............................

76

Figura 34 Compartimentação geomorfológica, visualizada através da técnica de sombreamento ................................................................................

77

Figura 35 Remanescentes de antigas superfícies erosionais de Roraima, modelo baseado em Shaefer; Vale Jr. (1997) produzido a partir de dados do SRTM (NASA) .....................................................................

81

Figura 36 Esboço esquemático do processo evolutivo do Hemigráben do Tacutu ..................................................................................................

82

Figura 37 Perfil de formação de solos em crostas lateríticas, levando em consideração as oscilações climáticas ................................................

84

Figura 38 Perfil na estrada Normandia – Bonfim, onde nota-se a presença de Linhas de Pedras (Stones lines), na parte posterior tem-se o recobrimento da área por um novo colúvio, resultante de um movimento de massa procedente de áreas mais elevadas, com ângulos preferenciais 319/30 ..............................................................

85

Figura 39 a) Complexos de rampa de colúvio na região do Murupu, representando uma paleodepressão do relevo; b) Esquema representativo do complexo de rampa, baseado em Meis; Moura (1984)...................................................................................................

86

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Figura 40 Unidades de relevo e drenagens na bacia do Tacutu ......................... 87

Figura 41 a) Ponte sobre o Rio Surumu, período seco; b) presença de feixes “budins”, confirmando a virada do hemigráben ...................................

89

Figura 42 Estrutura em flor indicando efeito transpressional no Hemigráben do Tacutu ..................................................................................................

91

Figura 43 a) Arcabouço neotectônico da Amazônia e b) em Roraima, onde nota-se a presença das falhas transcorrentes representadas por linhas com ou sem par de setas, indicando movimento relativo, já as falhas normais são as linhas com pequenos traços perpendiculares, as falhas inversas ou de cavalgamento são representadas pelas linhas denteadas..................................................................................

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SUMÁRIO

RESUMO

ABSTRACT

LISTA DE TABELAS

LISTA DE FIGURAS

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................... 15

1.1 Localização e Acesso ............................................................................. 17

1.2 Panorama Fisiográfico Regional ........................................................... 18

1.2.1 Clima ......................................................................................................... 18

1.2.2 Hidrografia ................................................................................................. 19

1.2.3 Pedologia .................................................................................................. 19

1.2.4 Vegetação.................................................................................................. 21

1.2.5 Relevo ....................................................................................................... 23

2 ESTADO DE CONHECIMENTO DO HEMIGRÁBEN DO

TACUTU....................................................................................................

25

2.1 Breve Histórico ........................................................................................ 25

2.2 Geologia do hemigráben e das áreas adjacente .................................. 31

2.3 Estratigrafia da Bacia do Tacutu............................................................ 32

2.3.1 Complexo Vulcânico Apoteri ..................................................................... 35

2.3.2 Formação Manari ...................................................................................... 36

2.3.3 Formação Pirara ........................................................................................ 36

2.3.4 Formação Tacutu ...................................................................................... 37

2.3.5 Formação Serra do Tucano....................................................................... 38

2.3.6 Formação Boa Vista .................................................................................. 39

2.3.7 Formação Areias Brancas ......................................................................... 40

2.4 Geomorfologia Regional ......................................................................... 40

2.4.1 Planalto Sedimentar de Roraima .............................................................. 42

2.4.2 Planalto do Interflúvio Amazonas – Orenoco............................................. 42

2.4.3 Planalto Dissecado Norte da Amazônia .................................................... 43

2.4.4 Planaltos Residuais de Roraima ............................................................... 43

2.4.5 Pediplano Rio Branco – Rio Negro ........................................................... 46

3 OBJETIVOS............................................................................................... 48

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3.1 Objetivo Geral ......................................................................................... 48

3.2 Objetivos Específicos ............................................................................. 48

4 MATERIAIS E MÉTODOS ........................................................................ 49

4.1 Obtenção dos dados ............................................................................... 49

4.2 Digitalização dos dados .......................................................................... 50

4.3 Trabalhos de campo ................................................................................ 52

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES .............................................................. 54

5.1 Compartimentação geomorfológica do hemigráben do Tacutu ......... 54

5.1.1 Análise da rede de drenagem ................................................................... 54

5.1.2 Análise das falhas e juntas da Serra Pau – Rainha .................................. 59

5.1.3 Análise das falhas no Rio Arraia ............................................................... 61

5.2 Modelo Digital do Terreno (MDT) ........................................................... 61

5.2.1 Compartimento 01: Planícies Aluviais ....................................................... 68

5.2.2 Compartimento 02: Depressão Boa Vista ................................................. 68

5.2.3 Compartimento 03: Planaltos Residuais ................................................... 70

a) Planaltos Residuais Vulcânicos ................................................................. 70

b) Planaltos Residuais Sedimentar Serra do Tucano .................................... 73

c) Planaltos Residuais Proterozóicos ............................................................ 75

6 EVOLUÇÃO GEOMORFOLÓGICA DO HEMIGRÁBEN TACUTU .......... 76

6.1 Modelo de evolução geomorfológica do Hemigráben do Tacutu........ 78

6.2 Reestruturação do hemigráben ............................................................. 88

6.3 Influência da neotectônica na reestruturação do Hemigráben

Tacutu

89

7 CONCLUSÕES ......................................................................................... 95

REFERÊNCIAS ......................................................................................... 96

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1 INTRODUÇÃO

O relevo sempre foi notado pelo homem como um dos componentes da

natureza pela sua imponência ou forma, as quais levaram o ser humano, através da

capacidade de observar e raciocinar, a estabelecer as relações entre os processos

modeladores e as formas de relevo.

A superfície da Terra é caracterizada por uma incrível variedade de feições

geomorfológicas, sendo que as formações geológicas que suportam estas feições

variam bastante, seja na idade e na composição, com camadas mais antigas

recobertas muitas vezes por sedimentos mais jovens.

Joinhas (2002), destaca que a compreensão entre a evolução do relevo e o

registro sedimentar constitui bases para o processo de fundamentação e

conhecimento geomorfológico.

Nesse processo de compreensão e de conhecimento, se destaca a

estruturação e os estágios evolutivos, que são extremamente complexos e

diversificados, constituindo, assim, um sistema dinâmico.

Dessa forma, a evolução da paisagem, cujas particularidades proporcionam

a especificidade de compartimentos, resulta no jogo dos agentes internos, que são

comandados pela estrutura tectônica e pelos agentes externos, que se relacionam

aos mecanismos morfogenéticos, como o clima.

Neste contexto, a compartimentação geomorfológica evidencia o resultado

das relações processuais e respectivas implicações tectônico-estruturais, que são

registradas ao longo do tempo. Casseti (1991) relata que o jogo desses

componentes aliado às alternâncias climáticas e às variações estruturais elaboram e

reelaboram a paisagem.

Sendo assim, transformações que se processaram na natureza em

diferentes escalas temporais e suas mudanças em geral não podem ser percebidas

a olho nu, sendo, muitas vezes, necessário recorrer a equipamentos de precisão,

assim, não é fácil correlacionar às modificações supracitadas com aquelas que

ocorreram a milhares ou milhões de anos.

Para a compreensão de tal estudo, Salgado-Laboriau (1999), enfatiza que

devemos nos remeter a períodos que possam estabelecer o elo entre o passado

geologicamente pouco remoto e o presente, para reconstituição do ambiente

estudado.

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16

A evolução mesozóico-cenozóica do relevo no território brasileiro tem

mostrado uma associação direta com os processos de abertura do Atlântico Sul e

outros mais modernos, responsáveis por soerguimentos, por abatimentos e

basculamentos de blocos e reorganização da rede de drenagem.

Assim sendo, a morfologia atual preserva, muitas vezes, indicadores, como

as formas de relevo ou os depósitos correlativos, que permitem a reconstituição e

compreensão da paisagem ao longo do tempo geológico.

No Brasil, esses indicadores são bem evidentes, tanto na porção litorânea,

como na Amazônia, mas, apesar dos extraordinários avanços no se refere à

pesquisa, faculta um maior grau de detalhes e integração de dados.

A Bacia do Tacutu caracteriza-se por distintos domínios geológicos e

geomorfológicos, com predomínio de grandes extensões de relevo plano coberto por

savanas graminosas, áreas abatidas (abaciadas) e áreas com relevo ondulado

(lateritas).

Geomorfologicamente, a área em estudo apresenta uma série de planícies,

onde morros do tipo inselbergs se elevam bruscamente e seqüências de morros

alinhados identificam movimentação do hemigráben, a partir de eventos

transcorrentes no Cenozóico.

Com base no descrito, propomos, através desta pesquisa, abordar um

estudo sobre a evolução da paisagem para o Quaternário na Bacia do Tacutu,

localizado na porção nordeste do Estado de Roraima, buscando, através de uma

perspectiva integrada, associar os materiais deposicionais (estratigráfico) às feições

geomorfológicas.

Para tanto, foram levados em consideração os dados já existentes acerca da

área em estudo e diversas pesquisas em campo para chegarmos ao objetivo

principal que foi a elaboração de um modelo morfoestrutural para o Cenozóico,

através de aplicativo de Sistema de Informações Geográficas Arc Gis 3.2, no qual

foram digitalizadas informações para entendermos todo o seu processo evolutivo.

A partir desse panorama traçado, fica evidente a importância de pesquisas

voltadas para a dinâmica das unidades da paisagem, onde a compartimentação

geomorfológica, como a do Hemigráben do Tacutu, uma das poucas bacias da

região em sedimentos mesozóicos, apesar dos poucos estudos, desperta interesse

da comunidade científica, tanto em relação aos processos de formação como a sua

potencial riqueza econômica.

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1.1 Localização e acesso

A área estudada localiza-se no setor centro-nordeste do Estado de Roraima,

abrangendo os municípios de Bonfim e Boa Vista, entre as coordenadas 3º a 3º 45’

de latitude norte e 59º 40’ a 60º 33’ longitude oeste, abrangendo as Folhas NA-21-V-

A (Bonfim), NA-20-X-D (Boa Vista) e NA-21-V-C (Rio Tacutu).

O acesso à área é feito em Boa Vista pela rodovia Federal BR 174 e

estadual RR-401, que liga Boa Vista ao município de Bonfim, cerca de 125 km da

capital. Os estudos admitem que a área encontra-se inserida numa unidade

geotectônica denominada Cinturão Guiana Central. A região limita-se ao norte com o

município de Normandia, a leste com a República da Guiana, a oeste com os

municípios de Boa Vista e Cantá e, ao sul, com o município de Cantá (figura 1).

1 Áreas de Savana 2 Áreas de Floresta Tropical 3 Campinarana. Figura 1: Mosaico de imagem de satélite do Estado de Roraima com a localização do Hemigraben do Tacutu. Fonte: ITERAIMA (1996)

1

2

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1.2 Panorama Fisiográfico Regional

Nessa unidade são descritos os aspectos fisiográficos regionais, a partir de

uma síntese de trabalhos esparsos anteriores, na tentativa de se obter uma visão

geral do clima, da hidrografia, pedologia, vegetação e do relevo da área estudada.

1.2.1 Clima

O Estado de Roraima é um dos estados da Região Norte que agrega

tipologias climáticas diferenciadas, devido à disposição física do Estado, ladeado ao

sul e a oeste pela Floresta Amazônica; a leste pelas savanas, que se estendem

pelos campos da Guiana; e ao norte pelo complexo montanhoso de

Roraima/Pacaraima, além de inúmeras serras que condicionam aspectos climáticos

diferenciados.

Segundo as diferentes literaturas, Roraima caracteriza-se por ter três grupos

climáticos, segundo a classificação de Koppen: Af, Am e Aw, Barbosa (1997) define

os limites desses climas em função do aumento das unidades de observação

pluviométrica no estado.

O clima do tipo Af caracteriza-se por ser constantemente úmido, pois,

corresponde aos climas de florestas tropicais. Tanto as temperaturas como as

chuvas sofrem um mínimo de variação anual. Já o tipo Am caracteriza-se por ter um

verão úmido e um “inverno” seco acentuado (BRASIL, 1975).

A região em estudo está estabelecida na classificação Aw, que predomina no

nordeste do estado em uma área de período seco, definido por cerca de 4 meses do

ano. Este período alcança entre os meses de dezembro e março, marcando a

presença de uma fase seca, devido à extrema queda nos índices pluviométricos

(média de 36,2 mm mês) (BARBOSA, 1997).

Essa região corresponde à área onde o sistema de circulação massa

equatorial continental - mEc e o de convergência intertropical (CIT), possuem menos

influência no inverno, provocando uma “espécie de área nuclear seca” entre esses

sistemas de circulação que são os principais agentes atmosféricos que atuam nessa

área.

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1.2.2 Hidrografia

A rede hidrográfica de Roraima é marcada pelo rio principal, o Branco, que

possui 584 km de extensão, área da pesquisa, é formada pela junção dos rios

Tacutu e Uraricoera, que, para muitos estudiosos, é um prolongamento do rio

principal.

O Rio Tacutu tem o seu curso seguindo na direção geral N-S, o que equivale

a 600 km, ao receber o Rio Maú, na altura do paralelo 3º 35’, descreve um cotovelo

e toma a direção Nordeste-Sudoeste, até alcançar o Uraricoera, para formar a bacia

principal (AMBTEC, 1994).

O Rio Tacutu abrange cerca de 21% da bacia do Rio Branco, a quarta parte

do rio Tacutu localiza-se na República Guiana, tem como afluentes: Surumu,

Cotingo e Maú (apenas a margem direita pertence ao Brasil) (AMBTEC, 1994).

Ainda se destaca na região o rio Arraia, localizado na BR-401, sentido

Bonfim, caracterizado por uma grande anomalia de drenagem (figura 2).

Figura 2: a) Aspecto do rio Tacutu no período seco, município de Bonfim, limitando Brasil e Guiana; b) rio Arraia sentido Bonfim, BR 401.

1.2.3 Pedologia

Roraima apresenta uma grande variedade de solos, muitos com limitações

químicas quanto ao uso agrícola, pois, a presença de rochas básicas é bastante

ab

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limitada, responsáveis pela formação de solos de melhor fertilidade. Nas formações

holocênicas de relevos planos, representadas por estreitas faixas aluvionais ao

longo do baixo e médio curso dos principais rios que drenam a região, encontramos

solos aluviais, planossolos e neossolos quartzarênicos (BRASIL, 1975).

A Formação Tacutu é constituída por arenitos finos a conglomeráticos,

siltitos e folhelhos com intercalação do basalto da Formação Apoteri, constituindo o

material de origem dos Latossolos Vermelhos e Plitossolos Pétricos Concrecionários

Lateríticos (BRASIL, 1975) (figura 3).

Na base da Serra Nova Olinda, encontra-se a presença de Vertissolo que se

destaca pela presença de minerais de argilas de alta atividade (esmectita), o que lhe

confere elevada plasticidade e pegajosidade quando molhados, e extremamente

duros quando secos, o que limita sua utilização agrícola (VALE Jr. 2000).

Os Latossolos Vermelhos são formados por produtos da decomposição de

rochas do pré – cambriano (granitos, gnaises, basaltos / diabásio, arenitos sua

coloração é avermelhada com matiz 2,5YR, possuem boas características físicas e

morfológicas, apresentando um potencial agrícola elevado.

Na região do Bonfim, ao longo da BR 401, destacam-se ainda o Latossolo

Vermelho Escuro Eutrófico e Distrófico, que resultam do intenso intemperismo do

material de origem, são ricos em óxido de ferro, titânio e manganês (BRASIL, 1975;

VALE Jr.; SOUSA, 2005).

Os Plitossolos Pétricos Concrecionários são medianamente profundos,

formados por uma mistura de partículas mineralógicas finas e concreções

ferruginosas de vários diâmetros, e, quando contínuas formam, bancadas lateríticas

com inclusões brancas e / ou amarelo acinzentadas de material argiloso. (BRASIL,

1975)

Pulvast e Sales (2002) relataram que a presença de solos concrecionários,

na realidade são testemunhos de ciclos de erosão sucessivos, e ainda reconhecem

a renovação de seus regolitos e de seus solos, fato que dificulta a reconstituição da

paisagem.

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Figura 3: a) Latossolo vermelho , b) Solo Concrecionário Laterítico (Bonfim, BR-401).

Na região da Serra do Tucano, nota-se a presença das Areias Quartzosas

associadas ao Latossolo Amarelo, em relevo plano a suavemente ondulado, as

quais se originam de sedimentos arenosos do Quaternário (VALE Jr., 2000).

São pouco desenvolvidas, com textura arenosa e fortemente drenada.

Apresentam baixa fertilidade e baixa soma de bases trocáveis. O horizonte

superficial tem espessura média de 50 cm, estrutura muito fraca, pequena, granular

ou mais frequentemente maciça (VALE Jr., 2000).

1.2.4 Vegetação

A vegetação do Estado de Roraima é caracterizada pela presença de três

grandes sistemas fitofisionômicos: as savanas ou cerrados, as campinas ou

campinaranas e as florestas. As Savanas constituem cerca de 37.800 km², ou seja,

pouco mais de 16% do estado, sendo a maior área contínua no bioma amazônico,

as Savanas do hemisfério norte ocupam áreas pré-Cambrianas, Terciárias e

Quaternárias (VALE Jr.; SOUSA, 2005).

Na área em estudo predominam principalmente os ecossistemas da Savana

– Parque, Savanas Estépica e a Savana Gramíneo – Lenhosa (BRASIL, 1975).

A Savana Parque caracteriza-se por apresentar uma fitofisionomia

campestre com árvores isoladas, espalhadas de maneira mais ou menos ordenada,

na Bacia do Tacutu apresenta-se sempre em grupos lenhosos, tendo como centro

a b

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do grupo a Curatella americana, entremeada por extensões graminosas dominadas

por espécies do gênero Andropogon ora pela Trachypogon plumosus (BRASIL,

1975) (figura 4).

Figura 4: a) Savana Parque, com sua árvores ordenadas e seu tapete graminoso, na região da Serra do Tucano, sentido Bonfim, BR- 401, b) perfil esquemático da Savana Parque. Fonte: BRASIL (1975).

A Savana Estépica ocupa a área dissecada do extremo norte brasileiro,

situada entre a savana da planura de acumulação do Hemigráben do Tacutu ao sul,

e o planalto florestado da Venezuela, a origem dessa formação é bastante

controversa, pois para Brasil (1975), a área sofre ação depredatória do homem,

sendo difícil saber com certeza seu processo de formação.

É valido ressaltar que essas áreas são delimitadas por períodos de

estiagem prolongados e expondo as rochas vulcânicas através do processo de

dissecação, às vezes, ainda capeadas por arenitos horizontais, demostrando um

intenso processo de aplainamento pretérito, o que confirma que a cobertura vegetal

não poderia ter sido uma floresta.

Destaca-se ainda na Serra do Tucano, a savana denominada do tipo

savana estépica parque, localizada em porções das regiões serranas (acima de 600

m), o solo é pedregoso e o estrato graminoso é ralo no período seco, ficando

adensads na época favorável (BRASIL, 1975; BARBOSA; MIRANDA, 2005).

Na área estudada nota-se ainda a presença da Savana de Térmita, que se

destaca principalmente em Normandia e ainda esparçada na Serra do Tucano,

Bigarella et al. (1994) ressaltam que os cupins se destacam pela revolvimento

remoção do solo, provocando o intemperismo químico ao trabalharem as partículas

de solo.

a b

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Entremeadas as savanas, nota-se a presença dos buritizais Mauritia

flexuosa ao longo dos cursos de água temporários e não temporários, enquanto que

o relevo vai ficando distante, este vai se rarefazendo. Os buritis são árvores

pioneiras, pois, antecedem uma sucessão primária que é o assentamento e o

desenvolvimento de comunidades de plantas em habitats recentemente formados,

firmando uma vegetação nativa original (figura 5).

Figura 5: a) Presença dos buritizais Mauritia flexuosa ao longo dos cursos de água temporários e não temporários; b) Perfil esquemático dos buritizais. Fonte: BRASIL (1975)

1.2.5 Relevo

O conjunto geomorfológico de Roraima mais significativo é representado por

um pacote sedimentar, isolado em forma de testemunhos de erosão, disperso a

nordeste e a oeste do Estado. Caracteriza-se por relevos tabulares, esculpidos em

rochas sedimentares do Grupo Roraima, representados por mesas aplainadas, com

altitudes que variam em torno de 1.000m (BRASIL, 1975).

Nesse contexto, com base em Brasil (1975), a região do Hemigráben do

Tacutu caracteriza-se por rochas antigas, intensamente falhadas e fraturas, são

geralmente cristas com vertentes de forte declividade, modeladas por drenagens de

primeira ordem, enquadram-se nesse contexto de relevo as serras do Tucano e de

Nova Olinda, elaboradas em rochas jurássicas da formação Tacutu.

A estrutura na qual se insere a bacia faz parte do Pediplano Rio Branco –

Rio Negro, que insere nos domínios morfoclimáticos de patamares erosivos e

superfície pediplanada, onde feições morfoestruturais que ocorrem em meio a essa

superfície e merecem destaque, pois, são colinas constituídas por afloramentos de

a b

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rochas do embasamento cristalino estruturado, representando remanescentes de

erosão fluvial, devido ao recuo final das vertentes (BRASIL, 1975).

O Pediplano Rio Branco – Rio Negro caracteriza-se por ser uma superfície

relativamente baixa, com a presença de inselbergs, isso se deve ao intenso

processo de aplainamento realizado através das oscilações cíclicas ao longo das

eras geológicas (figura 6).

Shaefer e Vale Jr. (1997) afirmam que nessa área existe a grande presença

de inselbergs graníticos, na qual muitos afloramentos de rochas que ocorrem estão

associados a solos rasos, mas a maior parte destes planos estão sobre sedimentos

terciários da Formação Boa Vista, compreendendo, dessa forma, perfis

profundamente intemperizados.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2005) denominou

essa área em seu contexto geomorfológico de Depressão Boa Vista, baseado na

interpretação de mosaicos, imagens de satélite LandSat TM e remodelagem dos

trabalhos realizados por Brasil em 1975, e ressalta que os domínios morfoestruturais

se caracterizam pela presença de bacias sedimentares e coberturas inconsolidadas.

Ab’ Saber (1997) ressalta o contexto no qual faz parte a área em estudo, na

realidade, é o “baixo estrutural do Rio Branco – Tacutu que inclui a rasa bacia

sedimentar da Formação Boa Vista e um largo compartimento intermontano dotado

de altitudes médias de apenas 100 – 150 m.

Figura 6: Visão parcial do Pediplano Rio Branco – Rio Negro, município de Normandia, no qual nota-se uma superfície aplainada elaborada em litologias Cenozóicas.

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2 ESTADO DE CONHECIMENTO DO HEMIGRÁBEN DO TACUTU

Os poucos estudos existentes sobre a Bacia do Tacutu no Brasil e,

principalmente em Roraima, caracterizam-se por trabalhos que buscaram uma

investigação acerca do potencial petrolífero da bacia, são dados de acesso restrito à

comunidade científica.

Assim, buscamos fazer um breve relato nessa seção sobre o atual estado de

conhecimento em relação ao Hemigráben do Tacutu, enfatizando o processo

histórico, descoberta e exploração, ressaltando o conhecimento geológico já

existente sobre o foco de estudo, e, principalmente, as estruturas internas, ou seja, o

processo de formação estratigráfica, caracterizando cada unidade e de que forma

elas atuaram na formação dessa estrutura.

2.1 Breve Histórico

As primeiras referências sobre o Hemigráben do Tacutu foram descritas no

Brasil por Guerra (1957), que insistiu na existência de uma fossa tectônica anterior à

sedimentação da Formação Boa Vista.

Já Barbosa e Ramos (1959), Braun (1973), Bonfim et al. (1974), Montalvão

et al. (1975) se referiram ao hemigráben como uma área rebaixada onde,

geralmente o seu comprimento é maior que a largura, sendo delimitado por falhas de

gravidade, consideradas ativas, cujo teto desceu em relação ao muro.

Dessa forma, sendo classificado com base nos movimentos relativos entre

os blocos, que possuem caráter de rejeito de mergulho inverso, e o maior eixo de

“tensão” é essencialmente vertical, sendo a direção de maior alívio praticamente

horizontal, relacionando a distensão da crosta terrestre, ou seja, um hemigráben

(LOCZY; LADEIRA, 1981; EIRAS; KINOSHITA, 1988).

Na realidade, ao nos referirmos a uma falha, tratamos como uma superfície

ao qual ocorreu um movimento relativo entre dois blocos que se separam. A

superfície de rotura é plana ou praticamente plana. As falhas podem ocorrer com

dimensões muito variáveis, podendo ser observadas em escalas microscópicas até

grandes falhas regionais (SUMMERFIELD, 1991).

Quando a conjugação dos movimentos dos blocos falhados dá lugar a

estruturas tectônicas como os grábens e horts, consoante os planos de falha

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conjugados, delimitam o teto ou o muro, respectivamente. Por vezes, só uma das

famílias de falhas ocorre, formando-se Hemigráben como o Tacutu ou, em outros

casos, estruturas em dominó (LOCZY; LADEIRA, 1981).

Ab’ Saber (1997) retrata o hemigráben do Tacutu como baixo estrutural do

Rio Branco que se insere na Formação Boa Vista, com aproximadamente 35.000km²

de área, em um largo compartimento intermontano, dotado de altitudes médias de

apenas 100-150 metros.

O processo de formação da bacia sedimentar do Tacutu, conforme

McConnell (1969, citado por BRASIL, 1975), ocorreu com a reativação Wealdeniana

ou Evento Sul-Atlântico (150±146 ma), ou seja, no começo do Jurássico, quando

houve o extravasamento de basalto toleítico, maciço e amigdaloidal, seguido pela

deposição de arenitos finos a conglomeráticos, siltitos e folhelhos.

Na realidade, esse processo se iniciou com a separação dos escudos sul-

americanos, no qual Guimarães (1971) afirma ter ocorrido uma rotação dos escudos

e a existência de um mar continental, responsável pela Bacia Amazônica, desde

antes da era Mesozóica, enquanto que Berrocal et al. (1972) apresentam uma outra

hipótese, baseados na anomalia sistêmica registrada pelo South American Array

System - SAAS (Brasília) e na teoria das placas continentais.

No entanto, Costa et al. (1991) ressaltam que esse evento representa um

processo tectônico que envolveu a formação de bacias no interior da placa Sul

Americana.

Para Hasui (1990), várias das bacias formadas nesse intervalo de tempo são

extensionais, tendo falhas normais lístricas ou planares como elementos estruturais

fundamentais do arcabouço de cada uma delas, e envolvendo reativações de zonas

de fraqueza pretéritas, isto é, tectônica ressurgente.

Além desses processos, a compartimentação do relevo, a evolução da

paisagem, as alternâncias climáticas ocorridas ao longo do tempo e dos processos

geodinâmicos internos, ou seja, o tectônico, levou à ampla transformação na

arquitetura exterior da crosta terrestre (CUNHA; GUERRA, 2003).

Esse processo se inicia com a separação dos continentes africano e sul-

americano, que promoveram um processo de tafrogênese, ou seja, a geração de

grabens, que são vales de grande extensão, que se formam a partir de grandes

movimentos distensivos na crosta, produzindo falhas subverticais e abatimento de

blocos, tanto na América do Sul, como na África.

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Esse grábens evoluíram para o nascimento de crosta oceânica, margem

continental intraplaca, ou ainda para a formação de bacias intracratônicas, nas quais

os grábens são abortados e entram em subsidência térmica, conforme o

resfriamento da crosta, induzido pela ascensão de uma pluma do manto (Hot Spot)

(figura 7).

Figura 7: Modelo de mecanismos para a formação de rifts. (A) extensão por cizalhamento puro, grábens limitados por falhas normais de alto ângulo, (B) extensão envolvendo falhas de deslocamento de baixo ângulo que cortariam toda a litosfera, formando hemigrabens, Modelo de Wernicke (1981), (C) modelo alternativo do anterior, litosfera com movimento crustal na zona de transição. Fonte: Lister et al. (1986)

Durante esse evento, é comum o rompimento da crosta continental ao longo

de um sistema de três fraturas separadas por ângulos de 120°, sendo que duas

delas evoluem para formação de oceanos e de margens continentais passivas e a

terceira fratura, em geral, forma um vale que se estende para dentro das áreas

continentais, mas não chega a desenvolver uma bacia oceânica, constituindo, assim,

um rift abortado.

Extensão de cisalhamento puro

Modelo de Wernicke

Modelo alternativo

Astenosfera

Manto superior

Crosta Superior

Lit

osf

era

Crosta Inferior

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Sengor (1995) enfatiza como exemplo de tafrogênese o atual sistema de rifts

do leste da África, no qual as junções formam estrelas de rifts. Na tafrogênese

Mesozóica do oeste da Pangea, formou-se um extenso e diacrônico sistema de rifts,

dando origem ao atual Oceano Atlântico. Nas áreas V – W e X – Y, desenvolveram-

se rifts no intervalo de tempo entre 210 e 170 milhões de anos (figura 8).

Figura 8: Sistema de formação de rifts, com o sistema de junções de vários braços. Fonte: Sengor (1995)

Santos (1986) descreve que a história da formação do Hemigráben do

Tacutu esteve condiciona a três fases distintas: rift ativo, rift passivo e pós-rift.

A fase rift ativo iniciou-se com os derrames suaquosos de lavas toleíticas

(Formação Apoteri) supostamente como conseqüência da fusão parcial da litosfera

causada por anomalia térmica da astenosfera, e, dessa forma, a espessura

relativamente constante desses derrames restritos ao hemigráben, reforça um

modelo ativo para a origem do rift. Ainda nessa fase, houve depósitos dos folhelhos

e calcários lacustres da Formação Manari.

No final do Eocretáceo, tem início a fase de rift passivo, com a geração de

atividades de falhas na borda sudeste, no qual depositaram, sob condições áridas,

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os fanconglomerados de borda, e nos lagos, folhelhos, siltitos, carbonatos e halitas

da Formação Pirara, e com a evolução da sedimentação, depositaram-se as

camadas vermelhas da Formação Tacutu, seguidas pelos arenitos da Formação

Tucano.

A partir daí, o ambiente passa por um período de calmaria tectônica,

predominando os processos de denudação e formação de extensas superfícies de

aplainamento e bacias de acumulação continental (TOMAZZOLI, 1990; THOMAZ

FILHO et al., 2000; TEIXEIRA et al., 2003).

Nesse evento de quiescência tectônica durante o Neocretáceo, que marca a

fase pós-rift, ocorre um evento transformador transcorrente de idade miocênica -

pliocênica, resultante da colisão entre a placa continental da América do Sul e as

placas de Nazca e do Caribe, que restruturam todo o hemigráben. (figura 9)

Figura 9: Modelo proposto por Santos (1986), para se referir ao processo de evolução do Hemigraben do Tacutu. Fonte: Eiras; Kinoshita (1988)

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Durante o Fanerozóico, ocorreram ainda manifestações magmáticas

(intrusões e derrames básicos e intrusões alcalinas), falhamentos e sedimentação.

Até o Mioceno, essas manifestações ocorreram no interior do território, nota-se que

essa bacia tem clara relação com a compartimentação em blocos crustais (HASUI,

1990).

Para Lima; Hamsi Jr. (2003), durante a fase rift no Brasil, de modo geral, a

sedimentação consistiu na colmatagem da calha (compartimentada por horts e

grabens), gerada por falhamentos novos ou reativados pelos esforços distensivos,

que condicionaram a sedimentação em seu interior.

A partir daí, o ambiente começa a variar extremamente através das

condições climáticas de extrema aridez, evidenciada pelas paleodunas cretáceas,

assim como momentos de umidificação intensa, evidenciados por depósitos fluviais

e lacustres (HAFFER; PRANCE, 2002; RODRIGUES, 2003).

Um outro fator importante no relevo brasileiro foi a orogenia andina que já se

processava desde o Paleozóico e se intensificou no final do Mesozóico e durante

todo o Cenozóico, proporcionando reflexos em todo leste da América do Sul, através

de um processo de epirogênese e soerguimento dos relevos serranos atuais e

reestruturando as bacias hidrográficas, como a Amazônica (LOCZY; LADEIRA,

1991).

Na Amazônia, esse processo passa a ser melhor compreendido através das

investigações dos depósitos quaternários. Segundo Costa e Hasui (1997), essa fase

representa uma importante etapa na evolução da Amazônia, a qual produziu o atual

arcabouço neotectônico da região, originando diversas estruturas que afetaram as

rochas das eras anteriores, levando a um controle da sedimentação e afeiçoando o

relevo e a drenagem.

O conceito de neotectônica foi inicialmente empregado por Obruchev (1948,

citado por SALVADOR; RICCOMINI, 1995) com o intuito de designar os movimentos

tectônicos recentes ocorridos no final do Terciário e inicio do Quaternário, dessa

forma, tendo um papel decisivo na formação da morfologia contemporânea, com

uma conotação essencialmente voltada para os movimentos verticais.

Roraima funcionava como fornecedora de sedimentos para a Bacia

Amazônica, principalmente a região nordeste devido às cotas mais elevadas, aliada

ao clima árido ou semi-árido. Após esse processo de sedimentação, também

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forçado pela tectônica, os rios da alta bacia do Rio Branco se adequaram à bacia

sedimentar de Roraima (Ab’SABER, 1997).

Esse processo de erosão e deposição cíclicas são fundamentais para

estudar a morfogênese de Roraima, especificamente da fossa tectônica do Tacutu,

que se desenvolveu sob um arcabouço complexo de blocos compartimentados,

desde o pré-Cambriano, orientado pelo sistema de geofraturas - NE-SW Catrimani-

Apiaú, apresentando também um sistema de falhas transcorrentes do pré-

Cambriano inferior - NW-SE. O desenvolvimento do Hemigráben do Tacutu foi

condicionado por antigas zonas de fraqueza do embasamento (VALE Jr., 1997;

EIRAS; KINOSHITA, 1998; SHAEFER; DALRYMPLE, 1995; ROSS, 2006).

2.2 Geologia do Hemigráben e das áreas adjacentes

Roraima ocupa o “coração” do Escudo das Guianas, dessa forma, Reis e

Fraga (1996) ressaltam que essa característica faz com o estado envolva as

principais feições geotectônicas de sua evolução, nas quais fazem com ao mesmo

tempo tenhamos superfícies antigas de embasamento possivelmente arqueano,

terrenos gnáissico - granítico, cinturões de alto grau metamórfico relacionados ao

Paleoproterozóico que revelam ainda a ampla distribuição de granitóides, anortositos

e representativa cobertura sedimentar intracratônica ao longo do Mesoproterozóico,

culminando no Mesozóico, com a instalação do hemigráben que envolveu derrames

vulcânicos e sedimentação, além da intensa sedimentação quaternária.

Os estudos geológicos sobre o Hemigráben do Tacutu desenvolvidos pela

Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais - CPRM e pelo Projeto Radambrasil,

revelam uma estruturação geológica caracterizada pela reativação do Cinturão da

Guiana Central (CGC), sendo responsável pela instalação do hemigráben no padrão

ENE – WNW, com desnível médio de 150 m em relação à planície, onde o ponto

mais elevado atinge a cota de 320 m, representado pela Serra do Tucano.

Reis et al. (1994) denominaram Formação Serra do Tucano, levando em

consideração a formação estratigráfica do pacote arenítico, que se diferencia da

Formação Tacutu, sendo esta constituída por folhelhos, siltitos e arenitos finos, que

se depositaram em condições climáticas áridas e semi-áridas (tabela 1).

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Tabela 1: Unidades Estratigráficas do Hemigráben do Tacutu em Roraima

Formação Litologia

Profundidade (Total m)

Idade Paleoclima

Tucano Arenitos 2200 Cretáceo Superior/Paleoceno Semi-árido

Tacutu Arenitos, Siltitos vermelhos 2700 Cretáceo Superior

Semi-árido fases úmidas e

secas

Pirara

Fanglomerados, Halita, Calcáreos, margas, siltitos,

argilitos

950 Cretáceo Inferior Árido (deserto)

Manari Calcáreos, argilitos e filitos 300 Jurássico/ Cretáceo

Inferior Semi-árido

Apoteri Basalto 950 Jurássico Médio e Superior Árido

Fonte: Santos (1986).

2.3 Estratigrafia da Bacia do Tacutu

O estado de Roraima incorpora inúmeras unidades litoestratigráficas, de

idades que vão do Pré – Cambriano ao Cenozóico, que conferem características

próprias a cada unidade. Dessa forma, a área estudada está inserida no contexto da

Bacia do Tacutu, e, para melhor compreensão dessa unidade, torna-se necessário

apresentar uma síntese dos principais estudos estratigráficos realizados na área.

As primeiras investigações de cunho estratigráfico na área em questão datam

das décadas de 70, 80 e 90, com os trabalhos de Brasil (1975); Eiras; Kinoshita

(1988) e diversos estudos da Petrobrás, nos quais foram feitas descrições das

unidades aflorantes e não aflorantes e ampliaram a distribuição dos diferentes tipos

de litologias.

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Tabela 2: Estratigrafia de Roraima. Fonte: BRASIL (1999)

TABELA 2: ESTRATIGRAFIA DE RORAIMA

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Kluche et al. (2005) conotam cinco parâmetros controladores de uma bacia

rift, sendo estes importantes para se determinar a seqüência estratigráfica:

1. Tectônica: fator fundamental de controle da preservação sedimentar

nas bacias rifts, pois, praticamente todo o espaço acomodado gerado

está associado a pulsos tectônicos, podendo, dessa forma, gerar

subsidência e soerguimento no sistema hemigráben.

2. Clima: fator controlador fundamental para o preenchimento e

preservação de bacias rift (embora não seja determinante para sua

geração), agindo diretamente sobre os padrões de litologias e estilos

de sedimentação, controlando as taxas de transporte e acumulação,

taxas de intemperismo e erosão.

3. Aporte Sedimentar: diretamente relacionado com a tectônica e com o

clima, pois, controla o preenchimento de um rift e define os padrões de

empilhamento, pois, os mesmos são descritos na forma de uma

relação entre o aporte sedimentar e o espaço de acomodação.

4. Espaço de Acomodação: diretamente dependente da tectônica,

sendo fundamental para a geração, preenchimento e preservação das

bacias rifts, pois, não existe bacia sedimentar sem a criação de

espaço, dessa forma, não há preenchimento sucessivo sem

incremento no espaço criado e não haverá preservação se houver

destruição desse espaço.

5. Eustasia: como os rifts ocorrem em geral sobre a crosta continental, é

comum a continentalização de ambientes de sedimentação e geração

de lagos interiores, nos quais o nível de base para fins de criação e

destruição de espaço de acomodação é relacionado ao nível do lago,

onde as variações eustáticas estão subordinadas a outras variáveis

anteriormente citadas.

A estratigrafia da borda da bacia do Hemigráben do Tacutu, conforme Brasil

(1999), pertence a dois domínios: Cinturão Uraricoera, definida por Pinheiro et al.

(1981) como Suíte Metamórfica, por apresentar uma gama de tipos litológicos que

variam da fácies xisto – verde a granulitos; e Cinturão Guiana Central que envolve

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os grandes elementos estruturais do seu arcabouço tectônico, articulado em dois

grandes blocos, situados a noroeste e sudeste (figura 10).

A estratigrafia dessa região é formada pelas seguintes unidades

mesozóicas: Tucano, Tacutu, Apoteri (aflorantes), Manari e Pirara (não aflorantes) e

cenozóicas: Formação Boa Vista e Areias Brancas.

Figura 10: Seção esquemática da estratigrafia da bacia do Tacutu. Fonte: Reis et al.(1994)

2.3.1 Complexo Vulcânico Apoteri

A primeira denominação proposta para os derrames associados à

sedimentação Tacutu foi a Formação Nova Olinda, sugerida por Ramos (1956),

McConnell; Williams (1969) substituída por Formação Apoteri, adotada por Melo et

al. (1978, citado por SHOBBENHAUS et al., 1984).

Definido mais recentemente por Brasil (1999) como Complexo Vulcânico

Apoteri, corresponde a corpos de diabásio na forma de diques, encaixados em

fraturas e falhas de direção predominantemente NE- SW, os seus derrames

vulcânicos também ocorrem associados e interpretados como pertinentes à

evolução da Bacia Tacutu, correspondendo a um magmatismo básico instalado no

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Mesozóico, período marcado por expressiva tectônica distensional do Escudo das

Guianas.

Conforme pesquisas já realizadas no município de Boa Vista, essa unidade

tem sua maior expressão na região do conjunto de serras denominado Nova Olinda,

nas adjacências da sede municipal. Comparece na forma de derrames vulcânicos

delineando morros isolados, sustentados por vegetação de médio porte em meio à

savana.

Os diques, aparentemente inexistentes na superfície, Shobbenhaus et al.,

(1984) revelam que, no interior dessa estrutura, são freqüentes, chegando a

constituir verdadeiros enxames, como próximo a Normandia, entre os rios Cotingo e

Maú, com extensões da ordem de dezenas de quilômetros e disposição preferencial

segundo N40-50E.

Costa (2006), retrata que essa área corresponde, em parte, ao extremo

sudoeste do Hemigráben do Tacutu. Entretanto, uma ocorrência isolada no

interflúvio do igarapé Água Boa – Rio Mucajaí, na região da fazenda Pau Rainha, é o

marco que delimita uma das últimas ocorrências dessa unidade e,

conseqüentemente dessa estrutura em território roraimense.

2.3.2 Formação Manari

Essa formação não aflora e foi definida a partir de dados de poços

perfurados pela Home Oil Cº Ltd, no qual o arcabouço estrutural caracteriza-se por

pequenos falhamentos normais, subparalelos à orientação da fossa, é marcada pela

presença de folhelhos e calcáreos lacustres / marinhos (EIRAS; KINOSHITA, 1988;

BRASIL, 1999).

2.3.3 Formação Pirara

Assim como a anterior, a Formação Pirara também não é aflorante e sua

definição também se deu a partir de dados de perfurações; sua característica são os

folhelhos, siltitos, carbonatos e halitas lacustres (EIRAS, KINOSHITA, 1988;

BRASIL, 1999).

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2.3.4 Formação Tacutu

As primeiras referências às exposições da Formação Tacutu na literatura

brasileira, foram efetuadas por Oliveira (1929, citado por SHOBBENHAUS et al.,

1984), nas quais os autores descrevem os arenitos observados na confluência do

Rio Tacutu e Uraricoera.

Paiva (1939 apud SHOBBENHAUS et al., 1984) não consideram essa

descrição relevante para uma formação observada somente linearmente ao longo

dos rios da região. Já para Barbosa; Ramos (1959) esta formação refere-se às

exposições de arenitos da Serra do Tucano.

A denominação Formação Tacutu foi utilizada pioneiramente por Barron

(1965) para designar um pacote sedimentar de folhelhos, siltitos e arenitos finos,

ocorrentes nos barrancos dos rios Tacutu e Maú.

Carneiro et al. (1968) consideram parte do que foi previamente definido na

Guiana como Formação Tacutu aquela pertencente a uma seqüência triássica

(Formação Roraima) e criaram o termo “Arenito Tucano” para os depósitos da serra

homônima, admitida como sendo pré-Tacutu.

Ramgrab (1971) e Ramgrab et al. (1972 apud SHOBBENHAUS et al., 1984)

consideram bastante válida a denominação Formação Tacutu, adotando o termo já

bastante utilizado pelos geólogos guianenses, não empregando o nome arenito

Tucano e redefinindo algumas ocorrências, outrora referidas à Formação Roraima

como realmente pertinente à Formação Tacutu; da mesma, procederam outros

estudiosos.

As primeiras tentativas de fixação cronológica para a Formação Tacutu

foram feitas por McConnell; Dixon (1960 apud SHOBBENHAUS et al., 1984) que

sugeriram uma idade permo - triássica para o pacote sedimentar, através de estudo

de ostrácodes e remanescentes de vegetais.

Os estudos palinológicos realizados por Van der Hammen; Burger (1966),

em amostras obtidas de furos de sondagens com até 100 metros de profundidade,

resultaram em uma idade Jurássico Superior ao Cretáceo Inferior, ao menos para a

seção superior da Formação.

Essa formação caracteriza-se por ser horizontal, sendo afetada por

falhamentos que provocaram o basculamento nas camadas, a Serra do Tucano

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chega a apresentar mergulhos de 20º, com espessura da ordem de 500 metros

(BRASIL, 1975).

2.3.5 Formação Serra do Tucano

A Formação Tucano teve seu processo de formação durante o Mesozóico

Superior – Paleoceno, através do processo de sedimentação e deposição de quartzo

arenitos, arenitos arcoseanos, arenitos conglomerados e subordinados siltitos

(BRASIL, 1975; BRASIL, 1999).

Conforme Brasil (1975), o arenito Tucano é uma formação de idade Juro –

Cretáceo, abaixo do qual seguem-se os derrames basálticos Juro – Triássico.

Shaefer e Vale Júnior (1997) enfatizam que a profundidade dessa formação é de

cerca de 2.200 m, e seu processo está relacionado a um possível paleoclima semi –

árido que tenha ocorrido durante as oscilações climáticas, nesse período, e no final

do Cretáceo, o hemigráben estava totalmente coberto por sedimentos.

No início do Terciário (Paleoceno), uma vasta extensão de solos arenosos se

formou sobre os arenitos dessa formação.

A denominação Tucano é proveniente da serra de nome homônimo, que

atinge a cota de 320 m, Eiras; Kinoshita (1987) afirmam que a formação dessa

unidade está vinculada a uma segunda fase de 'riftiamento', que se deu

acompanhada pela deposição dos arenitos Tucano, que recobriram

estratigraficamente as formações Tacutu, Pirara, Manari e Apoteri (BRASIL, 1999).

Reis et al. (1994) denominaram Formação Serra do Tucano, considerando a

formação estratigráfica dos arenitos que se distinguem da subjacente – a Tacutu.

A Formação Serra do Tucano está recoberta, tanto a norte como a sul, pela

extensa sedimentação da Formação Boa Vista, mas, nas adjacências do Morro do

Redondo e Rio Arraia (sentido Bonfim), tem-se o contato tectônico com os derrames

basálticos, através da falha de Lethem.

Ainda para Reis et al. (1999), Shaefer e Vale Jr. (1997), a sedimentação da

Serra do Tucano está relacionada às condições climáticas áridas em ambientes

francamente continentais, confirmando um passado mais seco na região.

A litologia da região, conforme Brasil (1999), apresenta uma boa seleção de

grãos, cujas principais feições sedimentares relacionam-se a estratificações

cruzadas acanaladas de médio (0,5m) a grande porte (10,0m), sendo estes

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constituídos normalmente por quartzo arenito composto por fragmentos quartzosos

pouco arredondados e mal selecionados, gradacionais a arenitos arcoseanos

friáveis.

Segundo pesquisas realizadas por Brasil (1975), a Serra do Tucano

apresenta constituição de óxido de ferro, minerais argilosos, quartzo, sericita e

feldspatos, com granulometria muito fina, com grãos envolvidos por um cimento de

óxido de ferro e argilo-minerais.

Na Serra do Tucano são observados pavimentos e blocos de canga laterítica

arenosa, com a contribuição de seixos de quartzo leitoso angulosos e

subarredondados, que na área próxima à torre de telefonia, se prolonga com direção

NNW-SSE (REIS et al., 2002).

Souza; Sampaio (2007) relataram a presença de registros de icnofósseis de

artrópodes nesta formação, sugerindo que havia um sistema fluvial de maior volume,

mostrando que o ambiente poderia ser praia ou, ainda, de mangue, sugerindo,

dessa forma, mais estudos para essa formação.

2.3.6 Formação Boa Vista

A referência original ao nome Formação Boa Vista foi dada por Ramos

(1956) para se referir aos sedimentos de idade quaternária, constituídos por areias

argilosas, argila arenosa e cascalhos (BRASIL, 1975).

Melo et al. (1978) atribuíram três tipos distintos de sedimentação cenozóica,

cabendo à Formação Boa Vista apenas os depósitos mais antigos (Terciário

Inferior), distintos daqueles representados por camadas lateríticas e eólicos de

idades mais jovens. Depósitos sub-recentes e recentes foram atribuídos ao

Holoceno, que recobrem o gráben do Tacutu.

O extravasamento dessa Formação nos limites do hemigráben constituem,

dessa forma uma bacia sedimentar com pelo menos 20.000 km² de superfície em

Roraima, no qual o retrabalhamento dessas camadas ocasionaram a presença de

freqüentes depósitos arenosos em superfície em geral representados pelas areias

brancas, cuja origem deve estar relacionada a períodos secos, ou talvez semi-áridos

(MELO et al., 1978).

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2.3.7 Formação Areias Brancas

As areias brancas constituem depósitos que recobrem irregularmente a

Formação Boa Vista em exposições preservadas unicamente nas áreas interfluviais

ou pouco entalhadas, pois, já foram, em grande parte, carreadas pela erosão fluvial

holocênica, isso ocorre em resposta aos períodos muito secos da última glaciação

(SANTOS; NELSON, 1995; LATRUBESSE; NELSON, 2001; REIS; YÁNEZ, 2001).

Melo et al. (1978) foram os primeiros a propor a denominação “Areias

Brancas” para a cobertura arenosa de extensa área entre os rios Surumu e Maú a

sudoeste de Normandia.

Essa Formação, que recobre grande parte do Estado, estende-se desde a

Guiana, regionalmente denominada de “White Sand Formation”, foi seguida também

por Barbosa; Ramos (1959), que a descreveram como uma delgada sedimentação

arenosa, de cores claras, cimento argiloso, intercalando camadas seixosas e

mencionaram ainda a ocorrência de concreções lateríticas na forma de tesos,

sustentados por cascalhos.

Essas áreas encontram-se em processo de pouco retrabalhamento, e como

encontram-se de forma irregular, é impraticável sua separação da Formação Boa

Vista, pois, suas características morfológicas são similares, e respondem à atividade

eólica ocorrida no Pleistoceno Superior Holoceno, cuja aridez encontra respaldo em

um amplo corredor de deflação ao longo do último glacial (MELO et al., 1978; REIS

et al., 2002).

2.4 Geomorfologia Regional

As superfícies geomorfológicas podem ser definidas como peneplanos,

pediplanos e até ultiplanos (TWIDALE, 1983), de acordo com as teorias em voga,

situam-se depois do século XIX no centro dos grandes modelos de evolução a longo

prazo da evolução do relevo continental.

A partir de meados dos anos 1970, numerosos trabalhos alimentaram a

reflexão sobre a identificação dessas superfícies, funcionais (ativas) ou herdadas

(paleo-superfícies), bem como acerca do significado cronológico dos mecanismos de

erosão envolvidos e, sobretudo, acerca do contexto geodinâmico, ao qual suas

gêneses estão associadas (PEULVAST; SALES, 2002).

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Dessa forma, Brasil (1975), enfatiza cinco unidades morfoestruturais para

Roraima: Planalto Sedimentar Roraima, Planalto Interflúvio Amazonas –

Orenoco, Planalto Dissecado Norte da Amazônia, Planaltos Residuais de

Roraima e Pediplano Rio Branco – Rio Negro. O Planalto Sedimentar Roraima e o

Planalto do Interflúvio Amazonas - Orenoco correspondem ao denominado Planalto

das Guianas (figura 11).

Em 1977, a Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia – SUDAM -

individualizou, de sul para norte: a) a Superfície de Aplanamento Rio Branco com

altitudes entre 80 a 115 metros e elaborada sobre rochas pré-cambrianas; b) os

Planaltos Residuais do Centro de Roraima, expressando-se através de grandes

maciços isolados na superfície de aplanamento, com altitudes variando de 400 a 800

metros, a exemplo da serra da Mocidade; c) os Planaltos Dissecados da Fronteira,

formando dois níveis topográficos (900 e 2000 metros) com formas de relevo

intensamente dissecadas; e d) os Planaltos Conservados, representando extensas

mesas de topos aplainados e horizontalizados, talhados nos pacotes sedimentares

do Supergrupo Roraima (COSTA, 2006).

Figura 11: Mapa das Unidades morfoestruturais do Estado de Roraima. Fonte: BRASIL (1975)

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2.4.1 Planalto Sedimentar Roraima

Esta unidade é constituída por relevos tabulares esculpidos em rochas

metassedimentares e sedimentares do Grupo Roraima, e se distribuem de forma

isoladas na realidade, são grandes mesas de topos aplainados, que representam

relevos residuais, com pacote de rochas sedimentares suavemente dobradas e

intensamente fraturadas, estendendo-se ao norte, em territórios da Venezuela e da

Guiana, com altitudes que variam de 1.000 a 3.000 m (BRASIL, 1975).

Nessa área, aparecem escarpas com extensos pedimentos ravinados, que,

na realidade, são vertentes suavizadas, apresentando fraca declividade, que se

fundem com os relevos dissecados mais baixos da Serra de Pacaraima.

Ainda aparecem outras estruturas geomorfológicas como nos arredores da

Raposa Serra do Sol, a sudeste, com 2.400m de altitude, que apresentam também

escarpas com pedimentos ravinados (BRASIL, 1975).

2.4.2 Planalto do Interflúvio Amazonas – Orenoco

Este planalto constitui o maior divisor de águas das bacias hidrográficas dos

rios Orenco (Venezuela) e Amazonas (Brasil), é constituído de relevos tabulares do

Planalto Sedimentar Roraima e patamares dissecados, com altitudes que variam

entre 600 a mais de 2000 metros, elaborados em rochas metamórficas e ígneas

plutônicas e vulcânicas.

Sendo, denominado de Planalto do Interflúvio Amazonas – Orenoco, que se

estende de sudoeste para noroeste, elaborado em rochas pré-Cambrianas que

pertencem ao Complexo Guianense, Grupo Cauarane, Formação Surumu,

Granodiorito Serra do Mel, Grupo Roraima, Diabásio Pedra Preta e Granito

Surucucu (MONTALVÃO et al., 1975).

Em geral, as formas de relevo encontradas nesse planalto apresentam, em

sua maior parte, vertentes de forte declividade que, na realidade, resultam do

encaixamento da rede de drenagem, principalmente nas fraturas e falhas que

atingiram as rochas (BRASIL, 1975).

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2.4.3 Planalto Dissecado Norte da Amazônia

Essa unidade morfoestrutural comparece pontualmente no setor nordeste

da área central de Roraima, é limitada ao norte, a oeste e a sudoeste pelo Planalto

do Interflúvio Amazonas – Orenoco, e ao sul, pelos Planaltos Residuais de Roraima

e a leste pelo Pediplano Rio Branco-Rio Negro, elaborados em rochas do Complexo

Guianense.

Essa denominação deve-se ao seu posicionamento geográfico e aos vários

tipos de dissecação que apresenta: colinas, colinas com encostas ravinadas e

colinas com vales encaixados (BRASIL, 1975).

A área de maior expressão localiza-se nos médios cursos dos rios

Uraricoera e Mucajaí, constituindo um nível de dissecação; é formado por colinas

com vales encaixados, sendo representada pelos domínios da Serra do Tucano,

elaboradas em rochas jurocretáceas da Formação Tacutu, a qual corresponde a

uma estrutura dissecada em cristas e pontões, elaborada em arenitos mesozóicos

com altitude de até 235 metros (BRASIL, 1975; BRASIL, 1999).

2.4.4 Planaltos Residuais de Roraima

Os Planaltos Residuais constituem diversas serras que se sobressaem

altimetricamente nos relevos colinosos, chamados de inselbergs, são formas de

relevo dispersas, isoladas ou agrupadas regionalmente, elaboradas em rochas

granitóides e gnáissicas pré-cambrianas, predominam na porção sul da região

central de Roraima e interrompem a monotonia do aplanamento do Pediplano Rio

Branco.

Costa et al. (2005), defendem a idéia de que os inselbergs representariam,

em parte, blocos deslocados por falhas normais. Os que mais se destacam são as

serras do Murupu, da Moça, Grande, Malacacheta e da Cigana.

Na região central do Estado, alcançam altitudes superiores a 380 m e

inferiores a 650 m, exibem topos convexos e declividade muito alta (> 20%). É

comum a presença de ravinamentos isolados nos maciços maiores (BRASIL, 1975).

Costa (2006) ressalta que, próximo a essas elevações por vezes ocorrem

remanescentes de relevos residuais na forma de colinas elevadas, com altitudes

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médias em relação ao nível de base local que evoluem para um pavimento de seixos

de quartzo, representando o padrão erosional mais evoluído da região.

Ao sul da região central do Estado, os inselbergs têm maior expressão de

relevo e são elaborados sobre rochas do embasamento gnáissico (Exemplo: serras

de Mucajaí e da Prata) e restbergs, a exemplo da Serra da Lua, com dois níveis de

dissecação, o mais elevado formado por cristas com encostas ravinadas, e o mais

baixo, formado por colinas. (COSTA, 2006)

Nessa região, a superfície de aplanamento desenvolveu-se com maior

eficiência sobre rochas xistosas e foliadas do complexo gnáissico, com a erosão

diferencial delineando os relevos residuais (BRASIL, 1975; BRASIL, 1999; COSTA,

2006).

De acordo com Costa et al. (2005), como na região centro - nordeste do

Estado de Roraima ocorrem os inselbergs elaborados sobre diferentes tipos de

rochas (gnaisses, rochas vulcânicas e granitos), sugere a evolução dessa feição

morfoestrutural, a partir de uma superfície de aplainamento; (a) contendo

descontinuidades pré-existentes (falhas normais e famílias de juntas) aliadas à

percolação de água, controlando a instalação de uma frente de alteração sob

condições tropicais úmidas; e (b) posteriormente, sob condições de clima semi-árido,

teria ocorrido a fase de remoção de grande parte do manto intempérico devido à

erosão fluvial.

Twidale (1983) ressalta que este é o principal agente responsável pela

erosão continental e elaboração da paisagem dos inselbergs, a exemplo do que se

delineou na Bacia do Rio Branco (figura 12).

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Figura 12: Processo de evolução dos inselbergs, representados por falhas normais, esquema evolutivo para o Estado de Roraima. Fonte: Costa et al., 2005 (modificado de COSTA, 1999)

Dessa forma, os processos de erosão fluvial conduziram à formação de

vales planos relativamente limitados (pedimentos intermontanos); (c) e finalmente, a

coalescência desses pedimentos levou à elaboração de uma superfície pediplanada

(Pediplano Rio Branco) e à exposição de relevos residuais (inselbergs).

A elaboração dessas morfoestruturas e seu avanço de amplitude

topográfica foram acompanhados por movimentos neotectônicos, principalmente

falhas normais e transcorrentes, as quais facilitaram a instalação de lagos, escarpas

de falha e captura de drenagem. Sendo assim, os inselbergs representam porções

de prismas rotacionados por falhas normais (COSTA, 2006).

Ab’ Saber (1997), relata que os inselbergs balizam diferentes setores no

espaço campestre, constituindo testemunhos de feições geomórficas que remontam

aos tempos pleistocênicos, nos quais em fases úmidas do passado geológico

recente, eles foram pães – de – açúcar permanecendo como morrotes do tipo

inselberg nas fases de aridez (seca) ou semi-aridez.

Outro fator que favorece a presença desses inselbergs é a natureza das

massas rochosas que garantiram a sua presença na forma de pontões rochosos

salientes, sendo alguns deles constituídos por afloramentos resistentes de granito,

enquanto outros foram elaborados em retalhos de rochas vulcânicas, igualmente

resistentes.

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2.4.5 Pediplano Rio Branco – Rio Negro

O Pediplano Rio Branco – Rio Negro, é a unidade que tem maior expressão

espacial, constitui uma extensa superfície de aplainamento que corresponde a

quase totalidade do Estado, apresenta áreas conservadas e dissecadas em rochas

pré-cambrianas do Complexo Guianense (migmatitos, gnaisses e granitos),

sedimentos inconsolidados da cobertura sedimentar Terciária a Pleistocênica

(cascalhos, areias, silte, argilas, lateritos, arenitos, e outros) e Formação Boa Vista

(sedimentos conglomeráticos, arenosos e argilosos, pouco consolidados, sendo

interrompida pelos inselbergs que se elevam na região (BRASIL, 1975).

Geomorfologicamente, esse compartimento inclui relevo suave

representando as cotas regionais mais baixas, com altitudes variando desde 87

metros, nas drenagens mais expressivas, a 140 metros, próximo às grandes

elevações. A drenagem predominante é do tipo dendrítica, de densidade média, e

subdendrítica de baixa densidade, de pouco entalhe, conforme classificação de Lima

(2002).

Apesar de haver dissecação incipiente, observa-se, por vezes, que nas

drenagens de 2ª ordem (STRAHLER, 1952), o aprofundamento das mesmas

atingem sulcos de 2 m na superfície, à exceção dos grandes rios, onde o entalhe é

superior a 5 m (COSTA, 2006).

De acordo com Brasil (1975), nota-se que as direções estruturais SW-NE e

NW-SE definem os encaixes das drenagens e determinam marcas na elaboração do

aplainamento, no qual os rios que cortam, por exemplo, a Formação Boa Vista,

atingem o embasamento e se encaixam nas direções preferenciais, demonstrando

dessa forma, que a Reativação Wealdeniana continuou atuando até o Pleistoceno.

As feições morfoestruturais que ocorrem em meio a essa superfície e que

merecem destaque são as colinas constituídas por afloramentos de rochas do

embasamento cristalino estruturado, representando remanescentes de erosão

fluvial, devido ao recuo final das vertentes (COSTA, 2006).

Nos interflúvios rebaixados, pequenas colinas - tesos - de topos convexos,

são, por vezes, sustentadas pelos remanescentes de crostas ferruginosas, de

pequena elevação em relação à base. Nas proximidades das elevações, o relevo

torna-se suavemente ondulado, delineando colinas de topos planos e extensos,

como é o caso da região da Serra da Lua.

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Costa (2006) individualiza as seguintes unidades: a) Superfície de relevo

ondulado, sustentado por crostas lateríticas; b) Superfície ondulada transicional

Colinas residuais, campos de blocos e material coluvial; c) Superfície pediplanada,

com extensos planos abaciados e forte orientação da rede de drenagem. Domínios

do Hemigráben do Tacutu; d) Planos abaciados. Drenagens concordantes com a

estruturação do domínio litoestrutural Urariqüera, e Planícies e Terraços Fluviais.

O IBGE (2005) individualizou 12 unidades geomorfológicas para Roraima: a)

Planície Amazônica; b) Depressão Rio Branco - Rio Negro; c) Depressão Boa Vista;

d) Planalto Sedimentar Roraima; d) Planalto Interflúvio Amazonas-Orinoco; e)

Planalto Dissecado do Norte da Amazônia; f) Planaltos Residuais de Roraima; g)

Depressão Periférica do Norte do Pará; h) Pediplano Rio Branco - Rio Negro; i)

Depressão Interplanáltica do Trombetas; j) Patamar do Médio Uraricoera e l)

Patamar Dissecado de Roraima.

Nas áreas aplainadas que formam o Pediplano Rio Branco (BRASIL, 1975),

amostras palinológicas em paleossolos mostraram evidências de que a região foi

influenciada por um ambiente de extensa planície de inundação, sob domínio

lacustre, à semelhança do atual pantanal do Mato Grosso (SCHAEFER et al., 1995).

Este paleoambiente esteve, possivelmente, ligado a uma elevação do nível

do mar, e conseqüente retenção da drenagem, em ambiente extensamente plano e

com altitudes reduzidas.

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3 OBJETIVOS

3.1 Objetivo Geral

Delimitar a compartimentação do relevo no Hemigráben do Tacutu, Estado de

Roraima.

3.2 Objetivos Específicos

• Identificar os padrões de drenagem e de relevo, com o intuito de

delinear os alinhamentos do hemigráben;

• Elaborar um modelo morfoestrutural para região;

• Elaborar mapas georreferenciados de drenagem, relevo e

morfoestruturais.

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4 MATERIAIS E MÉTODOS

4.1 Obtenção dos dados

A realização desta pesquisa se deu em três etapas. No primeiro momento,

deu-se prioridade à integração de dados já existentes, através dos dados

litoestruturais, sedimentologia e geomorfologia, mediante a pesquisa bibliográfica,

análise de mapas geológico - estruturais, geomorfológicos, hidrográficos e cartas

estratigráficas. Em um segundo momento, foram digitalizados os dados no aplicativo

Arc Gis 9.1.

Foram feitas cinco saídas de campo, e, finalmente, a tabulação, confecção

de mapas e análise dos dados, sintetizados no fluxograma a seguir (figura 13).

Figura 13: Etapas para realização da pesquisa.

Revisão Bibliográfica

(Síntese)

Análise de Material

Cartográfico

Elaboração de mapas temáticos

e de base

Análise do Relevo

Análise da rede hidrográfica

Trabalho de Campo e

Laboratório

Integração e Modelagem

Morfoestrutura e Evolução

Geomorfológica

Redação Final

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4.2 Digitalização dos dados

A vetorização dos planos de informações (drenagens, vias de acesso,

curvas de níveis, dentre outras) ocorreu no Laboratório de Digitalização de Imagens

no Núcleo de Pesquisas Energéticas - NUPENERG da Universidade Federal de

Roraima. Durante esse procedimento as cartas, imagens raster (cartas

planialtimétricas) e imagens de satélite foram selecionadas conforme o foco da

pesquisa em: hidrográficas, geomorfológicas e geológicas.

Cabe ressaltar que o processamento digital de imagens corresponde à

expressão básica da definição bidimensional na direção dos eixos cartesianos X e Z

ou Y e Z, dos litotipos investigados, e que, na realidade, junto com mapas

geológicos, geomorfológicos e de drenagem compõem elementos básicos para o

entendimento evolutivo de uma determinada área (CAVALVANTE, 2000).

A análise hidrográfica partiu do processamento das Folhas NA-21-V-A

(Bonfim), NA-20-X-D (Boa Vista), NA-21-V-C (Rio Tacutu), e NA-20-X-B-V (Serra da

Moça), no aplicativo de SIG, no qual foram digitalizadas as redes hidrográficas,

observando os padrões de drenagens, bem como as anomalias que envolvem e

caracterizam as coberturas sedimentares cenozóicas.

A definição de áreas erosivas e sedimentares e o levantamento das

estruturas geológicas rúpteis Guerra; Cunha (2003), que refletissem feições no

terreno como os padrões de regularidade e/ou modificações na morfologia dos vales

e drenagens, os contatos abruptos entre diferentes litologias, os alinhamentos

topográficos, o arranjo geométrico.

No tocante à identificação das feições morfológicas das folhas Boa Vista,

Serra da Moça, Tacutu, Bonfim e Normandia, com escala 1:100.000, as imagens de

satélite LandSat 7 ETM+, cenas 232/58; 231/58; 232/57 (cobertura 2000), permitiram

a extração de lineamentos, semelhante à metodologia adotada nos trabalhos de

Riccomini e Crosta (1988), que considera a análise as feições lineares do relevo e

sua relação com a reconstrução de eventos neotectônicos e o conseqüente

desencadeamento dos processos erosivos e deposicionais.

A análise da rede de drenagem se deu a partir das seguintes

características: orientações preferenciais da rede de drenagem e as possíveis

anomalias de drenagem que são os mais expressivos reflexos da atuação tectônica,

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e o seu entendimento nos aponta o controle estrutural neotectônico, tanto em bordas

de placas ativas como intraplaca.

Dessa forma, as anomalias presentes no Hemigráben Tacutu conotam fator

de extrema importância para o entendimento do processo evolutivo da área,

relacionando – as com as estruturas medidas em campo, como falhas e juntas.

Com o georreferenciamento da rede de drenagem do Hemigráben do

Tacutu a partir de dados coletados em gabinete e em campo, a partir de cartas de

drenagens de 1.100.000 e imagens de satélites LandSat ETM 5, com cobertura

2004, foram individualizadas em cinco áreas nos quais podem ser percebidos os

padrões de drenagens estruturados em falhas e juntas.

Os padrões de drenagens individualizados foram baseados em Howard

(1967), Christofoletti (1974) e Summerfield (1991), levando em consideração as

zonas homólogas.

Para a construção do Modelo Digital do Terreno - MDT foram utilizadas

técnicas de geoprocessamento por meio do aplicativo ArcGis 9.1, no qual as

imagens foram obtidas de forma gratuita, a partir do site da EMBRAPA, que

disponibiliza as imagens do satélite Shuttle Radar Topography Mission (SRTM) da

missão da National Aeronautics and Space Administration - NASA.

Foram vetorizadas as curvas de níveis delineadas nas cartas 1:100.000,

também foram vetorizadas as redes de drenagens, feita a classificação dos padrões

e arranjos espaciais das mesmas, associando com a litologia e a geomorfologia.

A partir dos procedimentos de extração dos modelos digitais de elevação

(MDE) foi possível a elaboração de uma série de análises correlatas, considerando

aspectos de relevo e drenagem.

De maneira geral, todos os produtos gerados corresponderam à expectativa

de precisão e praticidade em sua elaboração, sendo possível a geração de dados

com qualidade extremamente satisfatória para escalas a serem trabalhadas.

Também foram possíveis interpolações de isolinhas com eqüidistâncias de 50m para

toda a área de estudo, possibilitando a correlação imediata dos MDEs.

Os dados obtidos foram interpolados com eqüidistância de curvas de 100 m

e através de redes triangulares irregulares (TIN – Triangular Irregular Network). A

malha triangular irregular ou TIN é uma estrutura que representa uma superfície

através de um conjunto de faces triangulares interligadas.

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Para cada um dos três vértices da face do triângulo são armazenadas as

coordenadas de localização (x e y) e o atributo z, com o valor da elevação. As

malhas triangulares são normalmente melhores para representar a variação do

terreno, pois, capturam a complexidade do relevo sem a necessidade de grande

quantidade de dados redundantes (CÂMARA; MONTEIRO, 2001).

Durante a elaboração do MDE, preferiu-se utilizar exagero vertical zero (0),

assim, o resultado se deu de forma satisfatória, no qual a declividade do relevo

tornou-se mais aproximada do real, permitindo uma interpretação de melhor

qualidade.

4.3. Trabalho de campo

As etapas de campo foram intercaladas com a realização das demais

atividades. A primeira delas objetivou o reconhecimento da área de estudo, assim

como sua delimitação operacional e espacial.

Nas etapas seguintes foram observados os afloramentos e percepção das

unidades litológicas, dando atenção às rochas que formam o embasamento

cristalino, através da tomada de atitudes com a utilização da bússola, obtendo

medidas das descontinuidades (como falhas e fraturas, e família de juntas),

fotografando sempre que possível.

Durante as etapas de campo, foram verificados, com muita atenção, os

limites do hemigráben com base em pesquisas existentes, mapas temáticos e

imagens de satélite, dados que serviram de subsídios para comprovação desses

limites estruturais.

Foi feita sobreposição de dados para comprovação desses limites, quanto

às observações acerca dos diferentes tipos de solos existentes, processo de

laterização e o papel de possíveis paleoclimas para atual configuração da área de

estudo, percepção dos sedimentos que recobrem o hemigráben (Formação Boa

Vista e Areias Brancas), além das saídas de campo, buscou-se subsídio também em

trabalhos já existentes na região.

Foram feitos trabalhos específicos na Serra do Tucano, Serra Nova Olinda e

Fazenda Pau Rainha, onde foram verificados os afloramentos rochosos, tipos de

vegetação e solos predominantes. Para tanto, foram realizadas 104 amostragens de

campo aleatoriamente, com o uso da bússola.

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Também foram anotadas as coordenadas geográficas com auxílio do

Sistema de Posicionamento Global – GPS - Garmim 12. De posse dos dados de

campo, os mesmos foram transferidos para Word Pad Texto, a fim de serem

plotados no StereoNet com o propósito de realizar o tratamento estatístico.

A partir desses dados coletados em campo, a atividade laboratorial que

seguia paralela, propiciou um melhor entendimento para o resultado final dessa

pesquisa.