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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA HOSPITAL UNIVERSITÁRIO POLYDORO ERNANI SÃO THIAGO RESIDÊNCIA INTEGRADA MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE PATRÍCIA MARA MACHADO CONSTRUÇÃO DE UMA CULTURA DE HUMANIZAÇÃO UM DESAFIO PARA O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE FLORIANÓPOLIS 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

HOSPITAL UNIVERSITÁRIO POLYDORO ERNANI SÃO THIAGO

RESIDÊNCIA INTEGRADA MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE

PATRÍCIA MARA MACHADO

CONSTRUÇÃO DE UMA CULTURA DE HUMANIZAÇÃO – UM

DESAFIO PARA O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE

FLORIANÓPOLIS

2014

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PATRÍCIA MARA MACHADO

CONSTRUÇÃO DE UMA CULTURA DE HUMANIZAÇÃO – UM

DESAFIO PARA O SISTENA ÚNICO DE SAÚDE

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado

ao Programa de Residência Integrada

Multiprofissional em Saúde do Hospital

Universitário Polydoro Ernani de São Thiago

da Universidade Federal de Santa Catarina

HU/UFSC como requisito para conclusão do

curso de especialização.

Orientador: Ms. Arnaldo Xavier.

FLORIANÓPOLIS

2014

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A CONSTRUÇÃO DE UMA CULTURA DE HUMANIZAÇÃO – UM

DESAFIO PARA O SUS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como pré-requisito para a obtenção

do título de Residente Multiprofissional em Saúde, área de concentração Urgência

e Emergência. Hospital Universitário Prof. Polydoro Ernani de São Thiago Curso

de Residência Integrada Multiprofissional em Saúde.

Florianópolis, 24 de fevereiro de 2014.

___________________________________________

Prof° Ms. Arnaldo Xavier

Departamento de Serviço Social – UFSC

Orientador

____________________________________________

Profª Dra. Keli Regina Dal Prá

Departamento de Serviço Social – UFSC

1ª Examinadora

_____________________________________________

Assistente Social Fernanda Schütz

Hospital Universitário – UFSC

2ªExaminadora

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"Nós não podemos nunca entrar no mesmo rio,

pois como as águas, nós mesmos já somos outros".

Heráclito de Efeso

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RESUMO

A proposta da Política Nacional de Humanização (PNH) vai em direção aos princípios

constitucionais do Sistema Único de Saúde, sustentando-se na proposição que a saúde é

um direito de todos. A PNH não inaugura o tema humanização, em certa medida

assume um caráter singular, haja vista, que sua finalidade objetiva-se em modificar e de

interferir nos processos de trabalho no campo da saúde com base nos seus princípios,

diretrizes e dispositivos. Assim afirma-se como política pública em saúde com base nos

seus princípios: inseparabilidade entre atenção e gestão, corresponsabilidade entre os

agentes envolvidos nos processos de saúde e transversalidade – sendo esse entendido

como a ampliação dos processos de comunicação. A PNH enfatiza sua preocupação

com as práticas de atenção à saúde valorizando os aspectos subjetivos, respeitando a

autonomia dos sujeitos. Este é um trabalho de pesquisa bibliográfica exploratória,

dividido em duas seções: a primeira apresenta o tema humanização e a direção que essa

concepção acarretou para a saúde com o Programa de Nacional de Humanização da

Assistência Hospitalar e a PNH e a segunda seção discute-se sobre a construção da PNH

na assistência à saúde, cujo objetivo geral é refletir sobre a PNH como proposta para a

qualificação dos serviços de saúde superando a concepção biomédica. Resulta na aposta

que com a inclusão dos diferentes sujeitos nos processos de saúde é possível criar

estratégias e praticas de humanização nos serviços de saúde.

Palavras-chaves: PNH, humanização da assistência em saúde, transversalidade,

Indissociabilidade entre gestão e atenção, protagonismo entre os sujeitos, SUS.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 7

2 CONCEITO DE HUMANIZAÇÃO: APORTES PARA DISCUSSÃO ............... 10

2.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO SURGIMENTO DA IDEIA DE

HUMANIZAÇÃO. ..................................................................................................... 10

2.2 PROGRAMA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA ASSISTENCIA

HOSPITALAR. ........................................................................................................... 14

2.3 POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO (PNH) ..................................... 25

3 CONSTRUÇÃO DE UMA CULTURA DE HUMANIZAÇÃO – UM DESAFIO

PARA O SUS ................................................................................................................. 34

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 42

REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 46

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1 INTRODUÇÃO

Ao pensar em uma pesquisa no âmbito da saúde direcionado ao Sistema Único

de Saúde (SUS), logo remete-se sobre o texto constitucional que estabelece aportes para

que os direitos sociais se afirmem. No entanto, ainda existem desafios para a sua

materialilzação. Entre eles observamos o desmonte da própria noção de saúde pública

coletiva.

O sucateamento da saúde e as críticas ao SUS são constantes e podem ser

evidenciadas tanto na mídia como na própria atuação dos profissionais da saúde.

Apresenta-se uma saúde má vista pela população, com dificuldade de acessar a porta de

entrada de hospitais e especialidades clínicas, profissionais sobrecarregados que

enfrentam as mais diversas adversidades refletindo condutas inapropriadas no campo da

atenção. Tem-se um leque de falhas que impossibilitam que as cláusulas da Constituição

Federal sobre da saúde que dizem respeito a integralidade, universalidade, se

concretizem.

A busca por um Sistema Único de Saúde que supere a lógica centrada na doença

e que responsabilize o Estado pela implementação de ações na direção das diretrizes

preconizadas possibilitou que diversos atores sociais – usuários, profissionais e até

segmentos governamentais – construíssem uma agenda de reivindicações por melhoria

no atendimento e na rede como um todo.

Essas ações realizadas de forma cotidiana abriram espaço para a luta no sentido

de superar a lógica presente de assistência à saúde, buscando a melhoria do contato

humano na intervenção no atendimento a saúde modificando a relação Estado versus

Saúde – almejando ações humanizadas. É neste contexto que o Programa Nacional de

Humanização da Assistência Hospitalar (PNHAH) vai criando forma, objetivando

promover uma mudança de cultura no atendimento na área hospitalar, valorizando a

comunicação e considerando os aspectos psicossociais do usuário.

Assim, é a partir desse marco que o presente trabalho se alicerca buscando

discutir os avanços regulatórios em relação a PNHAH e seus desdobramentos numa

Política Nacional de Humanização. Além do que se faz pertinente pensar na concepção

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do que é humanizar, pois criar uma política com esse nome é no mínimo curioso e alvo

constante de indagações sobre o porquê do nome humanização.

Por meio da ampliação do diálogo entre os atores envolvidos na saúde, a

proposta da PNHAH toma uma dimensão mais ampla e seu foco deixou de ser o sistema

hospitalar, passando a ser todo o sistema de saúde. Desenvolve-se assim, a Política

Nacional de Humanização (PNH), a qual reconhece e valoriza a corresponsabilização

dos diferentes sujeitos implicados no processo de produção de saúde: os usuários, os

trabalhadores e os gestores.

A proposta da PNH vai ao encontro dos princípios do SUS enfatizando a

necessidade de assegurar atenção integral à população visando às transformações das

relações sociais e contemplando as demandas psicossociais dos usuários. Pois não basta

que uma politica assegure maior acesso a assistência à saúde se esse não proporcionar

mudança no tipo de atendimento ofertado.

Uma questão fundamental é o entendimento de que inclusão e participação dos

sujeitos envolvidos nos processos de saúde implicam diretamente na possibilidade do

conhecer e com isso dialogar e deliberar com o outro. Por isso a PNH é uma política

que afirma a impossibilidade de separar gestão do cuidado/atenção em produzir saúde e

a valorização dos aspectos subjetivos.

Em alguma medida, as contribuições da PNH assumem um caráter singular, haja

vista que sua finalidade tem sido de alterar a maneira de trabalhar e de interferir nos

processos de trabalho no campo da saúde. Desta forma, a PNH coloca-se como uma

política constituída em um conjunto de princípios e diretrizes que operam por meio de

dispositivos, afirmando-se como política pública nos princípios da inseparabilidade

entre atenção e gestão, corresponsabilidade entres os sujeitos envolvidos nos processos

de saúde e transversalidade.

Considerando que as ações humanizadoras na atenção à saúde envolvem

processos de longo prazo, dinâmicos e complexos, na qual avalia como necessária uma

abordagem ampliada, incluindo os “comos” e “porquês” do processo, é que elegimos

em uma pesquisa qualitativa. A abordagem qualitativa tem pertinência em identificar e

compreender os elementos, preocupando-se com as relações estabelecidas entre os

significados dos fenômenos, não apenas com generalizações.

Para tanto, foi preciso uma fundamentação teórica sobre a temática constituída a

partir de um levantamento bibliográfico exploratório, na qual permite um amplo alcance

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de informações. Procurou-se que no levantamento bibliográfico houvesse um resgate

histórico em banco de dados científicos e específicos que tratam da temática da

humanização. Para isso, realizou-se uma análise do conteúdo selecionado possibilitando

uma síntese integradora dos documentos (MIOTO e LIMA, 2007).

Assim, este trabalho que tem como objetivo geral refletir sobre a Política

Nacional de Humanização (PNH) como proposta para a qualificação dos serviços de

saúde superando a concepção biomédica, está dividido em dois momentos: o primeiro

aborda a ideia de humanização, com o surgimento do Programa Nacional de

Humanização da Assistência Hospitalar por meio de uma reflexão sobre esse marco

regulatório. Posteriormente analisa-se a Política Nacional de Humanização e seu

contexto de formulação, desenvolvimento e configurações. Já no segundo momento

discute-se a cultura de humanização como um desafio para o SUS observando como os

princípios da PNH podem direcionar um atendimento mais humanizado.

É importante frisar que a elaboração desse estudo emerge da experiência da

atuação na Residência Integrada Multiprofissional em Saúde (RIMS) e do entendimento

da humanização na saúde como uma política estratégica, que busca superar a concepção

biomédica que minimiza o usuário a um coadjuvante diante da sua situação clínica,

sendo ainda um instrumento de mobilização social e institucional, que pode possibilitar

a formação de uma nova dinâmica no âmbito da saúde. No entanto, ressalta-se que uma

política é apenas um passo para exercer qualquer tipo de mudança, pois perpetua-se,

ainda, um sistema social que não enaltece a sociedade.

Então ao pensar na Política de Humanização deve se pautar pela proposta da

qualificação dos serviços de saúde, na efetivação de novos processos de trabalho

calcados na indissociabilidade entre gestão e atenção, na qual tem em seu bojo uma

maior responsabilização dos entes envolvidos nos processos de produção em saúde,

superando a concepção biomédica que reduz o usuário a um portador de patologias.

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2 CONCEITO DE HUMANIZAÇÃO: APORTES PARA DISCUSSÃO

2.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO SURGIMENTO DA IDEIA DE HUMANIZAÇÃO.

Um dos grandes temas da atualidade é a humanização dos serviços hospitalares

de saúde pública, cuja preocupação esta baseada nas relações e no cuidado ao sujeito no

ambiente hospitalar. Os aspectos envolvidos na relação entre usuário, o serviço e os

profissionais de saúde são complexos e não podem ser analisados de forma linear, dada

a dicotomia entre a disponibilidade de um conjunto de ações e serviços e a dificuldade

de acesso aos mesmos.

Desta forma está circunscrito a necessidade de se firmar um padrão de

atendimento horizontalizado, na qual a equipe de saúde comprometa-se com uma

postura de proximidade, vínculo entre usuários e profissionais e acolhimento tanto das

demandas biológicas como nas demandas psicossociais dos usuários (MORETTI-

PIRES, 2008).

Essa nova postura emerge a partir de um processo histórico e cultural, que busca

romper com a alternância entre doença e saúde. Ou seja, um processo que busca sair e

superar o modelo hospitalocêntrico, a fim de que as normas e os procedimentos por si

só não respondem as demandas pautadas no modelo biomédico. Dentro dessa

perspectiva é que surge o termo humanização, entendido inicialmente como um

Processo fundamentado no respeito e valorização da pessoa humana,

que visa à transformação da cultura institucional por meio da

construção coletiva de compromissos éticos e de métodos para as

ações de atenção à saúde e de gestão dos serviços. Sua essência é a

aliança da competência técnica e tecnológica com a competência ética

e relacional (RIOS, 2009a, p.253).

O termo humanização pode ainda guardar em si um traço maniqueísta, estando

sua abrangência e aplicabilidade pouco demarcadas, mas que rememora em si valores

humanos adormecidos no contexto histórico e cultural em que a sociedade pós-moderna

revisa seus valores e atitudes que perpassam, muitas vezes, pela naturalização do não

reconhecimento do outro como seu semelhante (RIOS, 2009a).

Tal expressão não é nova, já podia ser observada no movimento renascentista,

com a disseminação do humanismo iniciado na Itália no século XIV. De forma geral, o

humanismo manifesta o interesse que os intelectuais e artistas dessa época tiveram em

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tratar e explorar os assuntos que estivessem intimamente ligados à figura do homem,

procurando o melhor nos seres humanos e para os seres humanos (BEZERRA e

BEZZERA, 2012).

Para uma breve exposição sobre o termo humanização, pode-se utilizar as

contribuições de Minayo (2004) que apresenta o humanismo, como doutrina, na qual

centra-se nos interesses e valores humanos, sobrepondo-os sobre os valores religiosos e

transcendentais. Historicamente, sobretudo, a Igreja católica, teve um forte papel social

ao influenciar na forma em que os homens dessa época deveriam compreender a

realidade que os cerca e, que sempre chamou para si a explicação da natureza humana e

do papel do ser humano no mundo, caracterizando-se por uma valorização do espírito

humano e de uma atitude crescentemente individualista.

O humanismo vem se contrapor a esse movimento, laicizando-no.

Apesar de seu sentido laico e de sua busca de diferenciação em

relação ao domínio da teologia católica, essa corrente, que no século

20 vai estar presente no pensamento e na obra de vários autores,

sempre terá como referência a filosofia cristã cujas teorias passaram a

expressar na revista Ésprit, a partir da dos anos 30 na França, tiveram

como cenário de suas reflexões a crise econômica e a desorientação

política e moral da Europa no período entre as duas guerras mundiais

(MINAYO, 2004, p.18).

Ainda na vertente das relações entre os homens, a perda de suportes sociais e

éticos somada ao modo narcísico de ser que “ora ressaltando o individualismo, o culto

ao corpo e a supervalorização dos aspectos da aparência estética, ora ressaltando o

exibicionismo” cria as condições para a intolerância à diferença, e o outro é visto não

como parceiro ou aliado, mas como ameaça. Tal disposição, associada à rapidez e ao

pouco estímulo à reflexão sobre os aspectos existenciais e morais do viver humano, faz

com que a violência se apresente também como modo de resolver conflitos (RIOS,

2009a, p.254).

No contraponto, também se iniciam respostas para a sociedade que visa ao

direitos humanos, bioética, proteção ambiental, cujas práticas ganham ênfase no

cotidiano remetendo a outra realidade distinta da apresentada, que estão direcionadas

para valores éticos em que o investimento no individuo seria uma solução para os

impasses de seu tempo, especialmente nos discursos e nas intervenções que afirmavam

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a necessidade de aprimoramento do sujeito diante das questões político-sociais

(COHEN e GOBBETTI, 2004).

Nesse sentido, na área da saúde, a humanização volta-se para as práticas

concretas comprometidas com a produção de saúde visando à transformação dos

modelos de atenção e de gestão nos serviços de saúde, indicando como norte a

construção de novas relações entre usuários, gestores e trabalhadores. Corroborando

com o texto, a autora Deslandes (2004) apresenta que o termo humanização tem

contornos teóricos e operacionais pouco definidos e não consensuais, com sua

abrangência e aplicabilidade pouco demarcada.

Outra questão repousa no fato de que ao defender a humanização das práticas

assistenciais indiretamente admiti-se que a atuação profissional na área da saúde não é

exercida de forma humana. Ao mesmo tempo o termo humanização relaciona se como

uma palavra de ordem com baixa capacidade de desencadear questionamentos o que

pode provocar uma banalização do mesmo, diminuindo a capacidade de provocar

reflexões e revisões ampliadas nas políticas e nas ações da saúde (SOUZA e

MOREIRA, 2008). Essas são algumas questões que giram em torno deste termo e de

seu uso na área da saúde.

Posto isto, a humanização no campo da saúde aponta como norte, a algo perdido

ou abandonado e que, portanto, merece ser resgatado: a dimensão pessoal.

Refletir sobre a humanização da saúde quando o aspecto humano já deveria estar

intrínsecos perpassa por determinantes nos quais a humanização é direcionada a uma

ação a fim de transformá-la de um ato mecânico para um ato pensado, pois é um ato

constante de pensamento crítico reflexivo na qual não se resume apenas de um trabalho

intelectual, mas sim na práxis – ação e reflexão no sentido de abdicar da ação mecânica

e tecnicista, para uma atuação humanizada. É necessário sim considerar as habilidades e

especificidades profissionais, no entanto sem desconsiderar a valorização do ser

humano (FREIRE, 1979).

Todavia, por trás da recusa da violência contra os usuários dos serviços, da má

qualidade técnica da assistência, das precárias condições de trabalho dos profissionais

de saúde e da pobreza da comunicação entre equipes de saúde e usuários aponta-se um

denominador em comum: a invisibilidade do outro e a necessidade de interagir

efetivamente com esse outro. Valoriza se, sobretudo, a abertura à interação dialógica

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com o outro de modo a construir práticas de humanização na assistência (AYRES,

2004).

Neste ínterim, um dos grandes dilemas para a proposta da humanização pauta-se

nos paradigmas biomédicos que priorizam os fenômenos biológicos, na qual a doença

centraliza-se como tema privilegiado. Assim sendo, é importante pensar a formação dos

profissionais inseridos na área da saúde, no sentido em que seja articulada a teoria com

a prática de forma contextualizada, promovendo uma formação humanizadas, trazendo

em seu bojo questões relacionadas a ética. Faz-se pertinente, que a atuação não

contemple apenas os aspectos biológicos, mas em outros determinantes do processo

saúde-doença considerando assim a peculariedades do trabalho multiprofissional

(MORETTI-PIRES, 2008).

A necessidade de humanizar a atenção à saúde é decorrente da

observação de que, em algum momento no desenvolvimento da

prática clínica tradicional, a perspectiva da relação entre o agente da

terapêutica e o paciente foi estruturada/orientada essencialmente pela

dimensão da patologia e pelos diversos fatores a ela relacionados

(SOUZA e MOREIRA, 2008, p.330).

Com isso, pela reinvindicação de todos os atores envolvidos nos processos de

saúde que contemplam o SUS é que a humanização da saúde tornou-se uma

preocupação do Estado. Haja visto, que o objetivo do ensino da saúde deveria ser

trabalhado de forma distinta de outras ciências, em consonância com as diretrizes do

SUS e fugindo da perspectiva reducionista e mecanicista. Desta forma, a humanização

almeja uma atuação para além da atenção aos cuidados curativos, reduzindo situações

complexas a relações simples, em que os aspectos sociais, psicológicos e

comportamentais são agrupados como determinantes secundários e não valorizados

frente às questões de cunho biológico (MORETTI-PIRES, 2008).

Todavia, a consolidação do SUS como um sistema coerente com seus princípios

fundamentais apresenta importantes avanços, mas, demostra ainda um distanciamento

entre educação e formação de recursos humanos considerando as reais necessidades em

saúde, bem como as demandas sociais que apresentam-se como um desafio, uma vez

que ainda perpetua-se um modelo distanciado do indivíduo que centralize o usuário e as

suas necessidades de cuidado.

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Então, após identificar a necessidade de mudanças na cultura do atendimento à

saúde no país, oriundas de uma movimento maior, pois “a história nos ensina que

movimentos de crítica e recomposição no campo da saúde, que redefinem conceitos e

modos de organizar o setor, são incessantes e ininterruptos” o Governo Federal

apresentou respostas as demandas trazidas pela sociedade e no ano 2000 o Projeto-

Piloto1 do Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar (PNHAH), no

intuito de alcançar uma expectativa almejada pelo Sistema Único de Saúde (SUS) de

proporcionar uma atenção que contemple o usuário em todos os seus aspectos (PACHE;

PASSOS, 2008, p.93).

Sendo assim, é pertinente pensar sobre valores que norteiam a humanização,

pois têm em seu bojo a autonomia e o protagonismo dos sujeitos, a corresponsabilidade

entre eles, o estabelecimento de vínculos solidários e a participação coletiva no processo

de gestão, ainda, no sentido de organização da atenção à saúde em diferentes aspectos e

dimensões, objetivando um serviço pautado no respeito ao ser humano (BRASIL 2008).

2.2 PROGRAMA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA

HOSPITALAR.

O SUS é uma conquista nascida das constantes lutas pela democracia, resultado

do movimento de Reforma Sanitária, no qual o modelo de assistência à saúde era

centrado na lógica de atenção biomédica e hospitalocêntrica, que vinculado a este

movimento não atendiam as demandas da população. Assim, as reinvindicações

ganharam em 1988 o status constitucional, e postulavam de maneira ímpar a

necessidade de existência de um sistema de saúde que tenha como norte a

1 Segundo Brasil (2001, p.9) A primeira etapa deste Programa foi a realização de um Projeto-Piloto

Implementado em dez hospitais distribuído em várias regiões do Brasil, situado em diferentes realidades

socioculturais, e que possuíam diferentes portes, perfis de serviços e modelos de gestão, “cujo principais

objetivos do Projeto-Piloto foram: a) deflagrar um processo de humanização dos serviços de forma

vigorosa e profunda, processo esse destinado a provocar mudanças progressivas, sólidas e permanentes na

cultura de atendimento à saúde, em benefício tanto dos usuários-clientes quanto dos profissionais; b)

produzir um conhecimento específico acerca destas instituições, sob a ótica da humanização do

atendimento, de forma a colher subsídios que favoreçam a disseminação da experiência para os demais

hospitais que integram o serviço de saúde pública no Brasil”.

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universalidade, integralidade de assistência, participação da comunidade e a

descentralização político-administrativa, como princípios fundamentais, portanto, um

importante marco político e ideológico para a sociedade brasileira (BRAVO, 2001).

Nesse sentido a Carta Magna assegura que a saúde é direito de todos e dever do

Estado, propondo uma mudança na relação Estado/Saúde, e desta forma, representa um

instrumento legal assegurador dos direitos, na qual se determina que a saúde é de acesso

a todos os cidadãos. Entretanto, a reforma do sistema de saúde permanece na agenda

política e necessita envolver uma abordagem de saúde pública baseada na combinação

de um “modelo médico e social” (BOARETTO, 2003, p.111).

Neste âmbito, cabe expor da fragilidade do modelo de atenção à saúde que

distancia os profissionais dos debates e formulação das políticas de saúde. Além disso,

há escassa participação dos gestores nos serviços de saúde, de forma que no espaço

institucional seria preciso assegurar caminhos que viabilizassem mudanças na gestão

dos serviços de saúde. Acrescenta-se ainda, o pouco investimento em educação

permanente para os trabalhadores da saúde e por fim aponta-se a fragilidade do vínculo

com o usuário (COSTA, 2012).

É inegável que, após anos de desenvolvimento e luta, muito tem sido promovido

pelo SUS em termos de ampliação de cobertura e acesso. Nesse contexto cabe a Política

Pública de saúde, incluindo os gestores, trabalhadores da área da saúde e usuários,

propor um novo patamar de desenvolvimento que se defronta com a necessidade de

melhorar qualitativamente os serviços prestados à população.

Trata-se então de retificar o contexto deficitário da dimensão da saúde,

almejando assim firmar o texto transcrito na Carta Magna. Nessa direção, a partir de

1998, o Ministério da Saúde (MS) o publicou Portarias Ministrais e Interministrais que

apresentavam como norte as ações a serem implementadas pelos Serviços Públicos de

Saúde, na qual em seu bojo estava relacionadas ao tema humanização, no entanto sem

uma definição concreta a respeito do tema (MATOSO, 2010).

Esse processo se inicia com premiação, ao ser publicada a 1ª Portaria

GM/MS nº 2.883, de 04.06.1998, que institui o Prêmio Nacional

Professor Galba de Araújo, destinado ao reconhecimento do

estabelecimento de saúde integrante da rede SUS, com destaque no

atendimento obstétrico e neonatal. Com o mesmo intuito, de

premiação, mais duas portarias são publicas:

a)Portaria GM/MS nº 728, de 14.06.2003 - Instituiu o Prêmio

Nacional Professor Fernando Figueira, destinado ao reconhecimento

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dos estabelecimentos hospitalares de saúde integrantes da rede SUS,

com destaque ao atendimento pediátrico b) Portaria GM/MS nº 2406,

19.12.2003 - que estabelece o Prêmio Nacional David Capistrano -

HumanizaSUS, seus objetivos, o regulamento, os critérios de

avaliação e fixando valor (MATOSO,2010, s/p).

Com essas propostas nos anos 20002, foi realizada a 11ª Conferência Nacional

em Saúde com o título “Acesso, qualidade e humanização da atenção à saúde como

controle social” que propôs, ainda que timidamente as discussões para implantação e

implementação do tema humanização SUS (PASCHE e PASSOS, 2008).

Seguem também no compasso outras iniciativas como a Humanização do Parto,

Saúde da Criança, Saúde da Mulher - visando como norte o respeito aos direitos

reprodutivos - e da luta antimanicomial, na área da Saúde Mental. Desta forma,

iniciaram-se ações que visaram à mudança do padrão de assistência ao usuário do SUS,

melhorando a eficácia da assistência para promover uma melhoria na qualidade do

atendimento à saúde (DESLANDES, 2004; REIS, MARAZINA; GALLO, 2004).

Assim de 2000 a 2002, a temática ganha legitimidade quando o Ministério da

Saúde regulamente o Programa Nacional de Humanização da Atenção Hospitalar

(PNHAH), regido pela Portaria nº 881, de 19 de Junho de 2001 que considera a

necessidade da criação de uma “nova cultura de atendimento aos usuários nas

organizações em saúde, pautada pelo mais amplo respeito à vida humana, pela

observância dos princípios ético-morais na convivência entre profissionais e usuários,

para a conquista da qualidade no atendimento à saúde” (BRASIL, 2001b, s/p).

Considerando a relevância da portaria supracitada que se propõe a buscar a

melhoria da qualidade na assistência hospitalar que não se limitasse ao aperfeiçoamento

técnico, científico e gerencial dos recursos existentes, mas calcada, fundamentalmente,

em um novo padrão de convivência entre o gestor, o profissional de saúde e o cidadão

usuário do SUS. Para tal, as intervenções institucionais para a criação, desenvolvimento

e sustentação de iniciativas humanizadoras, devessem ser introduzidas progressiva e

permanentemente (BRASIL,2001a, s/p).

2 Anterior a tal data é criada em a Portaria GM/MS nº 985, de 05.08.1999 - Cria o Centro de Parto

Normal. No ano de 2000 são publicadas as portarias: Portaria GM/MS nº 569, de 01.06.2000, que institui

o Programa de Humanização no Pré-Natal e Nascimento, no âmbito do Sistema Único de Saúde e Portaria

GM/MS nº 693, de 05.07.2000, que aprova a Norma de Orientação para a Implantação do Método

Canguru. E em 2001, o MS publica as portarias; Portaria SAS/MS nº 202, de 19.06.2001; Portaria

SAS/MS nº 210, de 20.06.2001 (MATOSO, 2010).

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Desta forma o documento oficial do PNHAH inicia a partir do diagnóstico de

insatisfação dos usuários que demonstrava que a qualidade da atenção prestada ao

usuário constituía uma das questões mais críticas do sistema de saúde brasileiro. O

sucateamento dos serviços de saúde devido à má gestão dos serviços públicos, filas

intermináveis, pacientes mal atendidos por profissionais mal remunerados e

desvalorizados ao limite do esgotamento para proferir a quaisquer tipo de atendimentos.

É tamanha a crítica que as demandas e suas expectativas chegam a ser mais valorizados

que a falta de médicos, a falta de espaço nos hospitais, a falta de medicamentos

(BRASIL, 2001a).

Assim a justificativa para a criação da PNHAH pauta-se dessa forma em:

[...] um conjunto de ações integradas, na área da assistência hospitalar,

visando à melhoria da qualidade de atendimento nos hospitais da rede

SUS. Este conjunto de ações inclui grandes investimentos para a

recuperação das instalações físicas das instituições, a renovação de

equipamentos e aparelhagem tecnológica moderna, o barateamento

dos medicamentos, a capacitação do quadro de recursos humanos etc.

Faz parte deste conjunto de medidas, como forma de garantir o melhor

uso desta infraestrutura, o desenvolvimento de ações que busquem a

melhoria do contato humano presente em toda intervenção de

atendimento à saúde. A eficiência técnico-científica e a racionalidade

administrativa nos serviços de saúde, quando desacompanhadas de

princípios e valores como a solidariedade, o respeito e a ética na

relação entre profissionais e usuários, não são suficientes para a

conquista da qualidade no atendimento à saúde (BRASIL, 2001a, s/p).

Considerando o exposto, Morretti-Pires (2008) discutem o contexto sobre a

implementação do SUS e os debates se direcionam sobre a perspectiva que não basta

aumentar a disponibilidade e o acesso ao atendimento, mas deve-se sim refletir que tipo

de atendimento está sendo oferecido. A humanização propõe a construção coletiva de

valores que resgatem a dignidade humana na área da saúde e o exercício da ética, aqui

pensada como um princípio organizador da ação, no que refere-se à reflexão crítica que

cada profissional da saúde, deve realizar, confrontando, muitas vezes, com as

dificuldades institucionais.

Para tanto, é necessário que as ações de gestão hospitalar busquem resgatar a

humanidade no atendimento, com o propósito de cuidar dos próprios profissionais da

área da saúde, constituindo equipes de trabalho saudáveis e, por isso mesmo, capazes de

promover a humanização dos serviços de saúde, promovendo uma nova cultura do

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atendimento, centrado na possibilidade de diálogo entre usuários, profissionais e

gestores, sendo deste modo o norte do Programa Nacional de Humanização da

Assistência Hospitalar (BRASIL, 2001a).

O texto que o Ministério da Saúde apresenta sobre a PNHAH aponta ações

integradas, na área da assistência hospitalar, visando à melhoria da qualidade de

atendimento nos hospitais da rede SUS com a proposta de valorização da dimensão

humana e subjetiva, bem como busca estratégias que possibilitem a melhoria do contato

humano entre profissionais de saúde e usuários, dos profissionais entre si e ainda do

hospital com a comunidade. Assim a PNHAH apresenta como objetivos:

1- Difundir uma nova cultura de humanização na rede hospitalar

pública brasileira; 2- Melhorar a qualidade e a eficácia da atenção

dispensada aos usuários dos hospitais públicos no Brasil; 3- Capacitar

os profissionais dos hospitais para um novo conceito de assistência à

saúde que valorize a vida humana e a cidadania; 4- Conceber e

implantar novas iniciativas de humanização dos hospitais que venham

a beneficiar os usuários e os profissionais de saúde; 5- Fortalecer e

articular todas as iniciativas de humanização já existentes na rede

hospitalar pública; 6- Estimular a realização de parcerias e

intercâmbio de conhecimentos e experiências nesta área; 7-

Desenvolver um conjunto de indicadores de resultados e sistema de

incentivos ao tratamento humanizado e 8- Modernizar as relações de

trabalho no âmbito dos hospitais públicos, tornando as instituições

mais harmônicas e solidárias, de modo a recuperar a imagem pública

dessas instituições junto à comunidade (BRASIL, 2001a, p.14).

Salienta-se ainda a constituição de Grupos Multiplicadores, formado por

profissionais capacitadores, que compões o quadro da Secretária Estadual de Saúde

(SES), Secretaria Municipal de Saúde (SMS) e equipes de apoio técnico do Ministério

da Saúde, espalhados pelas cinco regiões brasileiras com a função de divulgar a

PNHAH e criar grupos de trabalho de humanização em hospitais da rede pública de

saúde (BRASIL, 2001a).

Assim o PNHAH propõe um conjunto de ações integradas que visam

mudar substancialmente o padrão de assistência ao usuário nos

hospitais públicos do Brasil, melhorando a qualidade e a eficácia dos

serviços hoje prestados por estas instituições ao valorizar a dimensão

humana e subjetiva, presente em todo ato de assistência à saúde

(BRASIL, 2001a, p. 8).

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Este conjunto de ações inclui medidas de desenvolvimento de ações que buscam

a melhoria do contato humano presente em toda intervenção de atendimento à saúde,

aliados a tecnologia/infraestrutura nos serviços de saúde (DESLANDES, 2004). Assim,

segundo o Ministério da Saúde (2001a, p.11) ratifica que: “a proposta de humanização

da assistência à saúde é um valor para a conquista de uma melhor qualidade de

atendimento à saúde do usuário e de melhores condições de trabalho para os

profissionais”. Rios (2009a) consegue enriquecer a discussão quando escreve que a

humanização é ferramenta de gestão, pois valoriza a qualidade do atendimento, preserva

as dimensões biológicas, psicológicas e sociais dos usuários e enfatiza a comunicação e

a integração dos profissionais.

Nesta direção a costura final do PNHAH demonstra a necessidade de mudança

na forma de gerir a relação entre usuário, profissional de saúde e gestor reconhecida na

deficiência do diálogo, nos espaços de comunicação entre os entes envolvidos,

refletindo nos cuidado prestado ao sujeito. Portanto, a PNHAH apresenta-se com a

proposta de mudança no padrão de atendimento ofertado aos usuários do SUS, tendo em

vista a necessidade da já mencionada “valorização da dimensão humana e subjetiva”

que segundo Deslandes (2004, p.10) aponta que:

[...] de todas as demandas e problemas diagnosticados, os documentos

apontam a deficiência do dialogo, a debilidade do processo

comunicacional entre profissionais e usuários e entre profissionais e

gestores, repercutindo de forma negativa no cuidado prestado. O

desrespeito à palavra e a falta de troca de informações, a debilidade da

escuta e do diálogo acabam por comprometer a qualidade de

atendimento.

A humanização então é vista como ampliação do processo comunicacional

(DESLANDES, 2004) e pode ser reconhecida como tecnologia leve3 que constitui-se

como elemento primordial de gestão e vai ao encontro de oferecer atendimento de

qualidade, como ferramenta com potencialidade para humanização dos e nos serviços de

3 Segundo Casate e Corrêa (2005) as tecnologias podem ser compreendidas de forma ampliada a saber

que: a tecnologia representada por máquinas e aparelhos diz-se tecnologia dura, a tecnologia que engloba

o saber profissional que pode ser estruturada e protocolizada diz-se tecnologia leve-dura e a tecnologia

leve refere-se à cumplicidade, à responsabilização e ao vínculo manifestados na relação entre usuário e

trabalhador de saúde.

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saúde. Para isso, entra em cena o acolhimento, a escuta, os vínculos e o direito a

diferença, bem como redes de comunicação4 (MACHADO et al, 2010).

Alterar o padrão de comunicação implica reconstruir a relação entre os sujeitos

que compõe os serviços de saúde e está intimamente ligada às relações estabelecidas

pela equipe de saúde com o usuário. O atendimento ao sujeito depende, quase sempre,

do tipo de comunicação e da interpretação que ocorre entre ele e o profissional de saúde,

estabelecendo um nexo intersubjetivo. Assim o processo comunicativo faz parte das

relações humanas que se estabelece (SILVA, 2010).

A humanização coloca ênfase na importância de construir espaços que permitam

as relações entre os indivíduos (intersubjetividade), nos quais os usuários ou

trabalhadores da saúde pudessem pensar a si mesmos e nos outros como sujeitos das

práticas de saúde, permitindo que os serviços estejam não apenas disponíveis aos

usuários mais também acessíveis, inclusive pela linguagem e no trato de suas

necessidades.

Trata-se de compreender que o significado da vida no processo de cuidado inclui

não somente atribuições técnicas do profissional, mas na capacidade de perceber e

compreender o ser humano, como ele está no seu mundo, como constrói e desenvolve

sua própria história. A concepção do modelo biomédico se mostra enraizadas em um

modelo totalmente funcional, condicionada a uma visão individualista, fragmentada e

descontextualizada dos comportamentos humanos relacionados à saúde e à doença

(CAETANO, 2012).

Considera-se a necessidade de estabelecer um processo de acolhimento dos

usuários e famílias, com vistas a proporcionar efetivo acesso ao sistema de saúde e de

proteção social. É importante pensar que o exercício profissional perpassa diferentes

expressões/manifestações e, concordando com Bravo e Matos (2006) e Caetano (2012)5,

requer atuar a partir da compreensão dos aspectos sociais, econômicos, culturais que

interferem e determinam no processo saúde-doença.

4 Foi criada a Rede Nacional de Humanização, com o intuito de interligar as instituições por meio de um

portal eletrônico pelo qual fosse possível “o intercâmbio constante de ideias”, estruturada em três níveis

distintos: presencial, eletrônica (WEB) e audiovisual (não-eletrônica) (BRASIL, 2001a, p.17). 5 O assunto pode ser aprofundado em: CAETANO, P. S.. O serviço de emergência sob o prisma da

integralidade: um olhar para além das demandas biomédicas. 2012. 62 f. Trabalho de Conclusão de

Curso (Especialização Modalidade Residência Integrada Multiprofissional em Saúde – Área Urgência e

Emergência) – Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, Florianópolis.

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Nesse sentido faz-se indissociável a participação do sujeito considerando seus

conhecimentos próprios e não menos importantes que os saberes específicos de saúde.

A participação do individuo constitui-se principalmente como ações de respeito às

necessidades dos usuários, em que o acolhimento seja entendido como atenção

organizada de forma de incluir o sujeito no processo terapêutico, caracterizando uma

importância singular decorrentes dos vínculos estabelecidos ao mesmo tempo que

estabelece um espaço privilegiado de cidadania e democracia (MORETTI-PIRES,

2008).

O cuidado à vida, portanto, não pode estar desvinculado e descontextualizado

dessas circunstâncias vividas pelos sujeitos, pois somente será possível percebê-lo, se

compreendermos o ser humano em sua totalidade, nas suas diferenças, no pluralismo e

na diversidade. A humanização, aspira, uma ampliação do horizonte qual extrapola a

definição de saúde formulados pela Organização Mundial de Saúde (OMS)6 e aos

problemas tecnocientíficos estrito dos riscos, disfunções e dismorfias (AYRES, 2005).

Segundo Mota (2006), o desenvolvimento tecnológico e científico, corroborou

sem dúvidas uma serie de benefícios à saúde, um mundo novo está sendo construído a

partir das revoluções tecnológicas, mas teve como efeito adverso o incremento da

desumanização, visto que com a objetividade da ciência a anamnese passa a

compreender apenas a coleta de informações de cunho técnico pela suposta objetividade

da ciência.

Destarte, as ações profissionais minimizam-se a objetivos específicos de cada

categoria profissional. A ciência e a tecnologia tornam-se desumanizantes na ação

profissional quando reduz o usuário a objetos despersonalizados da própria técnica, de

uma investigação fria e direta em que a objetividade reduz a possibilidade de um recorte

da realidade. Ainda, obedece a uma ordem dicotômica que tem na doença sua

centralidade reduzindo o usuário a um coadjuvante, na qual seu corpo é sede de

patologias (SOUZA e MOREIRA, 2008).

6 Conceito adotado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 1948 que define que a saúde é o

estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença. No entanto,

diversas tentativas vêm sendo feitas a fim de se construir um conceito mais dinâmico, que dê conta de

tratar a saúde não como imagem complementar da doença e sim como construção permanente de cada

indivíduo e da coletividade, levando em consideração as relações com o meio físico, social e cultural, no

sentido que o processo de viver com ou sem saúde não se minimiza, portanto, a uma evidência orgânica,

natural e objetiva e nem como um estado de equilíbrio, mas está intimamente relacionada às

características de cada contexto sociocultural e aos significados que cada indivíduo delega ao seu

processo de viver (Dalmolin et al, 2011).

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A necessidade de humanizar a atenção à saúde é decorrente da

observação de que, em algum momento no desenvolvimento da

prática clínica tradicional, a perspectiva da relação entre o agente da

terapêutica e o paciente foi estruturada/orientada essencialmente pela

dimensão da patologia e pelos diversos fatores a ela relacionados [...]

o que sintetiza as ideias de uma certa autonomia da doença sobre o

sujeito humano, de uma supervalorização do corpo biológico e da

desatenção para as experiências sociais e culturais do adoecer e do

cuidado. Tal perspectiva se desenvolve dentro de uma tradição da

prática clínica na qual o corpo é tornado o lócus da intervenção e da

operacionalização do saber científico dos especialistas. A

biomedicina, ao fragmentar o corpo em diversas partes, que se tornam

objetos das mais diversas especialidades, separa a doença de seu

caráter de experiência humana, passível de significação e

processualidade. O sucesso da biomedicina advém de sua capacidade

de se tornar um campo de saber produtor de um ethos de classe, cuja

característica central é a desumanização de seus praticantes, em nome

do não envolvimento afetivo, garantindo uma intervenção clínica

orientada exclusivamente pela objetividade (SOUZA e MOREIRA,

2008, p.330).

Neste sentido, destacam-se as contribuições de Deslandes (2004) quando este

discute que é preciso perceber o usuário no contexto ampliado de saúde, extrapolando

as dimensões biológicas do sujeito, em que destaca se a humanização como oposição à

violência seja física e psicológica que se expressa nos maus-tratos, seja simbólica, que

se apresenta pela dor do usuário de não ter a compreensão de suas demandas e

expectativas atendidas. Muitas vezes, a própria estrutura hospitalar, a qual foi

organizada para atender a doença e não à pessoa humana, isso por si só, simboliza algo

ameaçador e que apresenta mudanças no cotidiano durante a hospitalização.

Conforme Cassorla (2012), nas últimas décadas do século XIX o homem foi

sedendo o direito sobre a própria saúde, que passou a ser controlada, medicalizada e

hospilatizada, em específico por profissionais da saúde, acerca dos critérios biomédicos,

usualmente, tomados para avaliar e validar as ações na saúde.

Inicialmente, a medicalização se referia à transformação de problemas

sociais em problemas de saúde. [...]. Aos poucos, a medicalização foi

abrangendo problemas que em épocas anteriores não teriam a

medicina como destino, mas, sim, outras áreas do saber. Com o

aumento da crença das pessoas no que consideram verdades

científicas na área da saúde e a decadência do valor socialmente dado

às outras formas de compreensão da existência humana, toda e

qualquer expressão da vida passa por um diagnóstico previsto em

algum CID (Código Internacional das Doenças) e busca remédio na

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medicina. Assim, toda tristeza vira depressão, toda inquietação vira

ansiedade e todo mundo procura os serviços de saúde atrás de

respostas rápidas e deglutíveis (RIOS, 2009a, p.256).

Desta forma, a saúde passou a ser estigmatizada, um fenômeno técnico, que

determinadas categorias profissionais se apropriam de conhecimentos especificos e

ainda desafia a onipotência humana profissional, uma vez que os profissionais da saúde,

em seus curriculos acadêmicos são ensinados a cuidar da vida, e não do sujeito.

(BRÊTAS; OLIVEIRA; YAMAGUTI, 2006). Nesta corrente a tecnologia comparece

como algo que contribui para a coisificação da pessoa humana, sendo que a necessidade

de humanização vem acompanhada da necessidade da ampliação do foco do cuidado,

descontruindo as ações que estão centradas simplesmente na sobrevivência do individuo

(SOUZA e MOREIRA, 2008).

Costa e Lima (2005) também corroboram com a discussão pois refletem que é

nos hospitais que encontram-se os aparelhos de alta tecnologia7 que são utilizados para

manterem o organismo do paciente em condições clínicas de sobrevivência, e que estes

profissionais são habilitados para manipulá-los, porém sem preparo para assistir as

demais necessidades do indivíduo, assim como as demanda da família do usuário.

Tais equipamentos favorecem o atendimento hospitalar, proporciando

segurança para toda a equipe de saúde. Porém, em contrapartida,

podem contribuir para tornar as relações humanas mais distantes,

fazendo com que o paciente se sinta abandonado, levantando a

premissa de que talvez saibamos mais sobre a máquina e pouco sobre

o paciente que estamos cuidando, tratando-o às vezes como objeto das

determinações ou do cuidado (MARQUES e SOUZA, p.142, 2010).

Neste contexto, a comunicação é caracterizada como elemento chave no cuidado

prestado à pessoa, funciona como elemento essencial para executar o cuidado,

valorizando a autonomia e o protagonismo dos sujeitos, reconhecendo o indivíduo como

participante em seu processo de cura e reabilitação (BRASIL, 2008). Todavia, os

processos de informação e comunicação em saúde têm importância crítica e estratégica

7 No campo da saúde a introdução de instrumentos para o ato cirúrgico e o surgimento de equipamentos

para os diagnósticos foram os movimentos mais evidentes da inserção da tecnologia na terapêutica. A

Revolução Industrial e a Segunda Guerra Mundial proporcionaram a união da ciência à tecnologia,

adequando-a aos princípios científicos, passando a utilização dos equipamentos mais simples aos

sofisticados (BARRA, et al, 2006).

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porque podem influenciar significativamente a qualidade dos cuidados realizados na

saúde.

Com base no exposto, pode-se pensar, que a importância dos processos de

comunicação em saúde está relacionada com a construção de mensagens que almejam,

de certa forma, influenciar os comportamentos de adesão às recomendações de saúde,

desenvolvimento do autocuidado ao mesmo a adesão a comportamentos preventivos

relevantes para reduzir risco à saúde, tanto a nível individual reforçando atitudes

favoráveis aos comportamentos protetores da saúde, como a nível coletivo promovendo

mudanças positivas, melhorando a acessibilidade dos serviços de saúde (TEIXEIRA,

2004).

Com isto, a humanização dos serviços proposta pela PNHAH objetiva a

qualificação da atenção, construindo um conjunto de estratégias representadas pela

construção de atitudes que norteiam as ações pela defesa da vida, operando

transversalmente em toda a rede do sistema de saúde. Deste modo, é o dialogo que

aciona as mudanças, e possibilita incorporar novos elementos na concretização das

Políticas Públicas (MACHADO et al, 2010).

Portanto considera-se que a comunicação expressa pelo diálogo é ferramenta

essencial da humanização nas práticas de saúde, pois a informação humaniza a relação

entre os sujeitos, promovendo a aproximação entre equipe e indivíduo proporcionando a

confiança necessária para uma abordagem mais ampla e adequada ao processo de

estabelecimento do cuidado da saúde. A comunicação permite ao usuário expressar suas

necessidades e emoções que se manifestam diante do sofrimento (ZOMBINI et al,

2012).

Desta maneira, almejando como norte a humanização nos processos de atenção à

saúde em substituição ao modelo de assistência hospitalar centrado nas formas de

violência simbólica descritas por Deslandes (2004) e das tecnociências biomédicas que

não rara às vezes, escamoteiam os aspectos psicossociais, fragmentando o aspecto da

saúde-doença, propõe-se pensar sobre o sentido hermenêutico da palavra humanizar

associado à saúde (AYRES, 2005).

Sendo assim, a reforma do sistema de saúde está na agenda política e necessita

envolver uma abordagem de saúde pública baseada na combinação de um modelo

médico e social. Neste sentido, é preciso no espaço institucional assegurar caminhos

que viabilizem mudanças na gestão dos serviços de saúde, com programas mais bem

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desenhados e políticas mais bem executadas na direção da humanização da atenção e da

inclusão social (BOARETTO, 2003). Para tanto analisaremos a respeito da Política

Nacional de Humanização.

2.3 POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO (PNH)

A Política Nacional de Humanização (PNH) emergiu suas raízes no contexto de

Reforma Sanitária, e sabe-se que as políticas públicas expressam a complexidade do

momento histórico, sendo que esse possibilitou a reformulação do sistema de saúde

brasileiro, bem como o entendimento de saúde enquanto produto de múltiplos

determinantes.

Com o movimento da Reforma Sanitária, a saúde passou a ser vista de forma

ampla e complexa, a busca da garantia do acesso a saúde como um direito e não uma

benesse, centrando as diretrizes de universalidade, integralidade e equidade, diferente

do modelo de saúde anterior, que evidenciava um sistema fragmentado, assistencialista,

voltado para a lógica curativa, sem a participação da população e restrito aos

profissionais da saúde (BRAVO, 2001).

É inegável que a Reforma Sanitária possibilitou grandes avanços no que se

refere à ampliação do conceito de saúde, do ser humano, apreendido em seu contexto

real e concreto. Igualmente, a VIII Conferência Nacional de Saúde que resultou em

mudanças significativas na saúde pública cujas propostas foram defendidas na

Assembleia Nacional Constituinte de 1988 que garantiu o direito a saúde para todos os

cidadãos, transformando-a em um dever do Estado, por meio da criação de um sistema

de acesso universal e igualitário com ações voltadas para sua promoção, proteção e

recuperação denominado Sistema Único de Saúde (PAIM, 2008).

No entanto, podemos apontar algumas debilidades do SUS pois, ainda enfrenta

fragmentação do processo de trabalho e das diferentes relações entre as categorias

profissionais, despreparo para lidar com a dimensão subjetiva nas práticas de atenção à

saúde, um controle social frágil dos processos de atenção e gestão do SUS, bem como o

pouco investimento na qualificação dos trabalhadores (educação permanente),

especialmente no que é direcionada à gestão participativa e ao trabalho em equipe

(Brasil, 2013a).

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Para, além disso, é importante considerar que existem outras questões presentes

que perpassam a própria execução e elaboração da política pública de saúde, que estão

presentes no âmbito da sociedade capitalista. Estas irremediavelmente condicionam em

maior ou menor grau as políticas públicas, inclusive a de saúde. Refletir sobre esses

processos macrossociais nos permite visualizar a correlação de força existente na

sociedade e como elas atuam no âmbito da saúde. É possível mencionar alguns

exemplos como a relação existente entre público e privado e as formas de

financiamento, bem como entraves burocráticos para a materialização da política nas

diferentes esferas governamentais. A partir dessas analises é que pode-se dizer que os

desafios para a efetivação do SUS não estão centrados apenas na política em si, visto

que ela se compõe dentro de um contexto social contraditório.

Na tentativa de superar esses desafios apresentados, pensou-se assim, em uma

Política que ultrapassasse as diferentes ações gestoras do SUS, traduzindo os princípios

deste em uma base articuladora das práticas em saúde, comprometida com a valorização

dos diferentes sujeitos implicados no processo de produção de saúde, bem como o

aumento do grau de corresponsabilidade dos sujeitos. Leva em consideração as

mudança nos modelos de atenção e gestão dos processos de trabalho tendo como foco

as necessidades dos cidadãos e a produção de saúde, considerando a valorização da

dimensão subjetiva e social em todas as práticas de atenção (BRASIL, 2008b).

Considerar a relevância da subjetividade nas ações de saúde significa priorizar o

usuário na sua complexidade, dessa forma, as práticas relacionadas com o processo

saúde-doença, estão longe de se reduzirem a uma evidência orgânica e objetiva, elas

permanecem intimamente relacionadas com as características de cada contexto sócio-

cultural e também com a forma como cada pessoa experimenta subjetivamente esses

estados. Neste sentido, considera-se as contribuições de Yéspez e Morais (2004, p.81)

Parte-se do pressuposto de que as pessoas processam diferentes

significações acerca das diversas dimensões da sua vida cotidiana, de

acordo com a experiência pessoal desses fenômenos e do contexto

sócio-histórico específico no qual estão inseridos, perpassados sempre

pela linguagem. A atenção a esse contexto sócio-histórico é

fundamental, uma vez que é ele que oferece um conjunto de

possibilidades e restrições para o tipo e qualidade das práticas sociais,

as discursivas incluídas. [...] O interessante é perceber, porém, que nas

práticas cotidianas do atual sistema de saúde, baseado no modelo

biomédico hegemônico, continua-se negligenciando essa

complexidade ao enfocar a doença e desconsiderar o valor da

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experiência subjetiva do paciente, além da permanente

interdependência entre os condicionantes biológicos, psicossociais,

culturais e ambientais relacionados ao processo saúde-doença [...] A

comunicação entre estes tende a ser insatisfatória, tanto pela limitação

de tempo e consequente falta de disponibilidade que a maioria desses

profissionais enfrenta por ter que conciliar diferentes atividades,

quanto pela insuficiente preparação para escutar e dialogar com o

paciente.

Circunscrito neste contexto, em 2003 tem-se uma iniciativa inovadora e

desafiadora com a elaboração da Política Nacional de Humanização. Esta se fortaleceu e

investiu na humanização das práticas de gestão e de assistência (nos modos de gerir e

nos modos de cuidar), às quais se propõe aprimorar as relações entre

usuários/profissionais, almejando a melhoria na qualidade de serviços prestados pelas

instituições de saúde, passando a ser analisada no contexto de Política Pública. Por

conseguinte, remete-se à premissa de indissociabilidade entre atenção e gestão,

intervindo de modo transversal, ou seja, aumentando o grau de abertura da comunicação

entre os diferentes entes no campo da saúde (PASCHE, 2009).

Todavia pensar sobre a temática da PNH é bastante pertinente no contexto de

usuários, gestores e trabalhadores de saúde, uma vez que torna se importante dar ênfase

aos sujeitos implicados no processo de produção de saúde, gestão participativa a fim de

torná-los protagonistas no processo de valorização da dimensão humana intrínseca a

toda prática de saúde. Neste sentido transformar práticas de saúde exige mudanças no

processo de construção dos sujeitos dessas ações (PASCHE e PASSOS, 2008).

No entanto ao discutir a humanização das práticas de atenção à saúde no

contexto do SUS exige compreender suas significativas alterações, uma vez que as

bases da Política de Humanização da Assistência à Saúde oferecem uma diretriz que

contempla os projetos de caráter humanizador, estimulando a criação e sustentação

permanente de espaços de comunicação, respeito e a solidariedade. Segundo Benevides

e Passos (2005a, p. 562-563) a “humanização como política pública deveria criar

espaços de construção e troca de saberes, investindo nos modos de trabalhar em equipe.

Isso supõe, é claro, lidar com necessidades, desejos e interesses destes diferentes

atores”.

A ideia de humanizar algum aspecto da vida social remete a necessidade de se

colocarem em dialogo reflexões conceituais, vivências, saberes, ampliando o campo de

debates das políticas públicas. Esta necessidade de abertura do processo de

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comunicação, esta direcionado para a melhoria da qualidade de atenção prestada, com

um possível acréscimo na capacidade de reflexão crítica acerca dos modelos e ações em

saúde (SOUZA e MOUREIRA, 2008).

Neste caminho a PNHAH que antecedeu a PNH visava como proposta ações

centradas nos hospitais como campo de intervenção privilegiado, lugar de relações

verticalizadas orientadas por instrumentos normativos. Ainda, estimulava a

disseminação de ideias da humanização, os diagnósticos situacionais e a promoção de

ações humanizadoras de acordo com as realidades locais (RIOS, 2008).

Quanto a PNH caracteriza-se por uma proposta que apresenta um conjunto de

diretrizes transversais e abrangentes, que norteiam um conjunto toda a atividade

institucional envolvendo usuários e profissionais de saúde, traduzidas em ações não

apenas hospitalar. A PNH ou HumanizaSUS surge, então, como uma política que

engloba as iniciativas já existentes, de forma a aproximá-las e potencializá-las, partindo

de algumas experiências do SUS visando ampliar a discussão sobre o conceito de

humanização, tendo como princípio a indissociabilidade entre a atenção e gestão.

(RIOS, 2008).

A PNH busca, fundamentalmente, fomentar autonomia e

protagonismo de trabalhadores, usuários e gestores, aumentar o grau

de corresponsabilidade na produção de saúde e sujeitos, estabelecer

vínculos solidários e participação coletiva na gestão. Enfim, mudança

nos modelos de atenção e de gestão dos processos de trabalho em

saúde e compromisso com melhoria das condições de trabalho e

atendimento (ARCHANJO e BARROS, s/a, s.p).

Ao reconhecer esse desafio a PNH busca colocar em prática os princípios do

SUS no cotidiano dos serviços de saúde, produzindo mudanças nos modos de gerir e

cuidar. Esta política é vinculada à Secretaria de Atenção à Saúde do Ministério da

Saúde, no Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas (DAPES), acrescenta-

se ainda que a PNH conta com um núcleo técnico sediado em Brasília – DF e equipes

regionais de apoiadores que se articulam às secretarias estaduais e municipais de saúde.

A partir desta articulação se constroem, de forma compartilhada, planos de ação para

promover e disseminar inovações em saúde. Desta forma, a PNH coloca-se como uma

política que são traduzidas em seus princípios, métodos, diretrizes e dispositivos

(BRASIL, 2013b).

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Considera-se importante ressaltar ainda que Documento Base para Gestores e

Trabalhadores dos SUS apresenta versões distintas no tocante aos princípios da PNH.

Na edição publicada em 2004, os princípios norteadores da política estavam baseados

em:

Valorização da dimensão subjetiva e social em todas as práticas de

atenção e gestão no SUS, fortalecendo o compromisso com os direitos

do cidadão, destacando-se o respeito às questões de gênero, etnia,

raça, orientação sexual e às populações específicas (índios,

quilombolas, ribeirinhos, assentados, etc.); Fortalecimento de trabalho

em equipe multiprofissional, fomentando a transversalidade e a

grupalidade; Apoio à construção de redes cooperativas, solidárias e

comprometidas com a produção de saúde e com a produção de

sujeitos; Construção de autonomia e protagonismo dos sujeitos e

coletivos implicados na rede do SUS; Corresponsabilidade desses

sujeitos nos processos de gestão e atenção; Fortalecimento do controle

social com caráter participativo em todas as instâncias gestoras do

SUS; Compromisso com a democratização das relações de trabalho e

valorização dos profissionais de saúde, estimulando processos de

educação permanente (BRASIL, 2004, p. 9 e 10).

Todavia, esta pesquisa foi desenvolvida de acordo com o Documento Base para

Gestores e Trabalhadores dos SUS de 2008 na qual considera que os princípios da

edição de 2003 devem transformar-se em orientações gerais, uma vez que abarca toda a

base de fundamentação da Política de Humanização.

Portanto, no que refere-se a PNH na edição de 2008 propõe-se três princípios

norteadores: a transversalidade, a indissociabilidade entre atenção e gestão e

o protagonismo, corresponsabilidade e autonomia dos sujeitos e coletivos, entendendo

esses princípios como o que causa ou força a ação, ou que dispara um determinado

movimento no plano das políticas públicas (BRASIL, 2008).

No entanto, a PNH não possui portarias que regulamentem ou normatizem a

política, porém seu caráter transversal permite que tais princípios, diretrizes e

dispositivos se encontrem presentes nas legislações das demais políticas, áreas técnicas

e departamentos (BRASIL, 2008)8.

8 Pode-se citar alguns exemplo como: A Portaria nº 4.279, de 30/12/2010 que propõe incentivar a

organização da porta de entrada, incluindo acolhimento e humanização do atendimento; O Decreto nº

7508 de 28/06/2011 (Federal) no art. 38º que trata que a humanização do atendimento do usuário será

fator determinante para o estabelecimento das metas de saúde previstas no Contrato Organizativo de Ação

Pública de Saúde. A Portaria nº 2.395, de 11/10/2011 art. 4º no seu inciso II ‐ humanização da atenção,

garantindo efetivação de um modelo centrado no usuário e baseado nas suas necessidades de saúde;

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Retomando as orientações da PNH, quanto ao método, dispõe que a inclusão das

diferenças nos processos de gestão e de cuidado abarcam o processo de humanização,

assim o método para o HumanizaSUS, aposta na abrangência de trabalhadores, usuários

e gestores na produção e gestão do cuidado e dos processos de trabalho.

[...] a Humanização é uma aposta metodológica, um certo modo de

fazer, lidar e intervir sobre problemas do cotidiano do SUS. Este

método é a tríplice inclusão: inclusão de pessoas, de coletivos e

movimentos sociais e da perturbação, da tensão que estas inclusões

produzem nas relações entre os sujeitos nos processos de gestão e de

atenção, tomados como indissociáveis (PACHE, 2010, p.67).

Em relação às diretrizes para a implementação do HumanizaSUS suas

orientações gerais se direcionam para atuar a partir de orientações clínicas, éticas e

políticas e se expressam no método da inclusão de usuários, trabalhadores e gestores na

gestão dos serviços de saúde, por meio de práticas como: a clínica ampliada, gestão

democrática, a valorização do trabalho, a defesa dos direitos do usuário, entre outras

(BRASI, 2008).

Os dispositivos, por sua vez, atualizam essas diretrizes por meio de estratégias

construídas nos coletivos concretos destinados à promoção de mudanças nos modelos

de atenção e de gestão em curso, sempre que tais modelos estiverem na contramão do

que preconiza o SUS. Parafraseando Pache (2010, p. 67) as diretrizes – orientações

ético-políticas – “estabelecem os rumos para a construção e experimentação de

dispositivos, que são arranjos de processos de trabalho para alterar a dinâmica de

organização do trabalho, permitindo a construção de novas realidades institucionais, que

permitam a emergência de novos modos de gerir e de cuidar”.

Entre os dispositivos propostos pela PNH, estão: acolhimento com classificação

de risco, colegiado gestor, visita aberta e direito a acompanhante, equipe transdisciplinar

de referência, Programa de Formação em Saúde e Trabalho (PFST), projetos cogeridos

de ambiência (BRASIL, 2008). Neste sentido os dispositivos não são um fim em si

mesmo, mas acionadores de processos de mudança. Assim sendo, a PNH não toma os

dispositivos como um fim, mas como agenciamentos que permitem pôr os sujeitos em

novas relações, mais horizontais, mais democráticas (PACHE, 2010).

Portaria nº 121, de 25/01/2012, parágrafo único - acolhimento humanizado, com posterior processo de

grupalização e socialização, por meio de atividades terapêuticas e coletivas, entre outras.

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A implantação desses dispositivos se efetiva caso a caso, considerando-se a

especificidade dos serviços, partindo sempre da análise dos processos de trabalho,

processos que nunca se repetem. A PNH traz, em seu escopo, a articulação de um

conjunto de referenciais e instrumentos, operando com eles no sentido de propor

processos para a humanização (BRASIL,2008).

O Portal da saúde (2013c)9 apresenta importantes contribuições quando refere

que a PNH trabalha com três macro-objetivos: O primeiro almeja a ampliação das

ofertas da Política Nacional de Humanização aos gestores e aos conselhos de saúde,

priorizando a atenção básica/fundamental e hospitalar, com ênfase nos hospitais de

urgência e universitários. O segundo propõe incentivar a inserção da valorização dos

trabalhadores do SUS na agenda dos gestores, dos conselhos de saúde e das

organizações da sociedade civil. Por último visa divulgar a Política Nacional de

Humanização ao ampliar os processos de formação e produção de conhecimento em

articulação com movimentos sociais e instituições.

Espera-se com estas propostas uma significativa mudança na redução das filas e

o tempo de espera com ampliação do acesso e atendimento acolhedor e resolutivo

baseados em critérios de risco. Deve-se permitir que todo o usuário do SUS tenha

conhecimento de quem são os profissionais que cuidam de sua saúde e os serviços de

saúde se responsabilizarão por sua referência territorial e ainda as unidades de saúde

garantirão gestão participativa aos seus trabalhadores e usuários assim como educação

permanente aos trabalhadores (BRASIL, 2013d).

No entanto, se faz pertinente pensar na concepção do que é humanizar, pois criar

uma política com esse nome é no mínimo curioso e alvo constante de indagações sobre

o porquê do nome humanização. Este vem carregado de tantos sentidos uma vez que

não se tem uma definição clara sobre o termo, apenas o entendimento no qual se deve

valorizar a qualidade do cuidado, associado ao reconhecimento dos direitos e

subjetividades do usuário, levando em consideração suas referências culturais

(BRASIL, 2008).

9 É importante esclarecer que o Portal da Saúde é uma fonte de aproximação entre o Ministério da saúde e

a população. Corrobora com a pesquisa no sentido que dispor informações atualizadas, relevantes e

seguras que são de interesse de usuários, trabalhadores e gestores da saúde visando facilitar o acesso à

informação.

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Abarca ainda, embora pouco discutido, a gestão e a valorização do profissional

da saúde e a implicação para a inserção de novos conceitos e práticas dirigidas para a

humanização da assistência que objetiva a valorização dos diferentes sujeitos

implicados no processo de produção da saúde. O HumanizaSUS é uma Política Pública

de saúde que reafirma os princípios da universalidade, equidade e integralidade do SUS

mas, ao mesmo tempo que também se propõem outros princípios dos quais não se pode

abdicar se queremos um SUS resolutivo e de qualidade. (BRASIL, 2004).

Quando pesquisado o documento de implementação da PNH, o que observa-se é

no despreparo dos trabalhadores para lidar com a subjetividade das ações em saúde.

Tais ações justifica a condução da humanização como política e não mais como

programa. Trata-se de destacar o aspecto subjetivo que deverá estar presente na pratica

de assistência à saúde (BRASIL, 2008).

A permanência de características como a ausência de subsídios teóricos para

sustentar uma prática profissional qualificada, indicam que o exercício profissional está,

por vezes, mais direcionado por lógicas enraizadas culturalmente, cuja atuação tem

como norte práticas de cunho assistencialista. A humanização reconhece o campo das

subjetividades como instância fundamental para a melhor compreensão dos problemas e

para a busca de soluções compartilhadas (RIOS, 2009b).

Neste âmbito, o processo de trabalho deve ser compreendido como um conjunto

de atividades prático-reflexivas voltadas para o alcance de finalidades, as quais

dependem da existência, da adequação e da criação dos meios e das condições objetivas

e subjetivas (GUERRA, 2000).

O não reconhecimento das subjetividades envolvidas nas práticas

assistenciais no interior de uma estrutura caracterizada pela rigidez

hierárquica, controle, ausência de direito ou recurso das decisões

superiores, forma de circulação da comunicação apenas descendente,

descaso pelos aspectos humanísticos e disciplina autoritária fizeram

do hospital um lugar onde as pessoas são tratadas como coisas e

prevalece o não respeito à sua autonomia (RIOS, 2009a, p.256).

Pensar o trabalho em saúde, pressupõe considerar que este possui

especificidades próprias, distintas, pela sua natureza. Porém estas ações estão

permanentemente diante da construção de espaços, na qual a produção e o consumo da

ação se fazem no mesmo momento. (MARTINELLI, 2007). Entretanto, a humanização

só se torna uma realidade, em uma instituição, quando gestores fazerem dela muito mais

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que uma retórica. Ações circunstâncias e boas intenções não sustentam a humanização

como processo transformador. Os instrumentos que de fato asseguram este processo

estão circunscritos na informação, gestão participativa e a educação permanente (RIOS,

2009a).

A partir das considerações realizadas sobre a PNH nessa seção partimos para

refletir sobre alguns desafios que se apresentam para a sua materialização no âmbito do

SUS.

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3 CONSTRUÇÃO DE UMA CULTURA DE HUMANIZAÇÃO – UM DESAFIO

PARA O SUS

É relevante demarcar que o HumanizaSUS atende aos desafios da construção de

uma Política Pública, tomando a saúde como um bem comum. Como já dito, tal aposta

retoma o movimento de reforma sanitária, sabendo que os consensos construídos

inspiraram-se neste movimento, mas não obtiveram o pleno êxito conforme o acordo

social, pois confrontavam-se com interesses empresariais e do próprio governo.

Neste sentido, o SUS se apresenta de tal forma que não possui somente

problemas, é uma política que possui contradições constitutivas de uma sociedade de

classes, bem como é ainda uma política em disputa cotidianamente, na qual está

arraigada em uma lógica de mercado, tanto de insumos como de produção de serviços

(PACHE, 2010).

Segundo Pache (2009), a busca de mudanças culturais pelos quais passa o

sistema de saúde brasileiro requer um processo educacional persistente e indispensável.

Nessa corrente, a saúde pública caminha em defesa da vida e nesses dez anos de

existência, como política de saúde que almeja o fortalecimento e a efetivação do SUS, a

PNH comprometeu-se com a qualificação do sistema de saúde pública, por meio da

capilarização de um novo jeito de produzir saúde, tanto nos modos de gerir, pensar e

assistir, envolvendo assim usuários, gestores e trabalhadores da saúde.

Assim, nada torna-se mais contemporâneo que falar de humanização da saúde,

observando-a nos seus aspectos mais amplos, uma vez que o cenário em que se desenha

a saúde pública no Brasil indica a urgente necessidade de mudanças para que o SUS

alcance seus objetivos, pois, conforme a própria Carta Constitucional, o SUS deve

legislar para todos, garantindo seu acesso a todos, de forma a adequar suas normas,

regras ou procedimentos gerais, garantindo assim o direito de qualquer indivíduo,

mesmo àqueles que não se adequam as regras gerais.

Como identifica Yépez e Morais (2004, p. 80) “embora a saúde seja, um direito

constitucionalmente garantido, um olhar sobre o cotidiano das práticas em saúde revela

facilmente a enorme contradição existente entre essas conquistas estabelecidas no plano

legal e a realidade de crise vivenciada pelos usuários e profissionais do setor”.

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Portanto, conforme Benevides e Passos (2005) a PNH então é um modo de fazer

e dizer, uma vez que retoma a luta pela democracia e apresenta em seu bojo a

construção de um plano comunicacional tendo como desdobramento os princípios do

SUS. Os autores argumentam ainda que o SUS não se sustenta com a abstração e

somente se efetiva por meio de mudanças nas práticas concretas dos modos de fazer.

Logo, remete a gestão dos processos de trabalho e das práticas em saúde. No entanto,

garantir a implementação do que contem na CF para a plena efetivação SUS, propõe-se,

não apenas, mas também, a trilhar mudanças nos processos de produção em saúde.

Indiscutivelmente, são inúmeros os problemas a serem resolvidos no campo da

saúde pública, como o investimento na prevenção e promoção, recursos materiais; o

quadro de desvalorização dos trabalhadores de saúde; a precarização das relações de

trabalho, baixo efetivo; o pouco investimento no processo de educação permanente

desses trabalhadores; ou até mesmo a qualidade do ensino na formação dos

profissionais – currículo acadêmico. Pelo lado dos usuários, a reivindicação pode ser

sintetizada pelo clamor de qualificação e de ampliação do acolhimento, da

resolutividade e da disponibilidade dos serviços, sobretudo porque os modelos de gestão

centralizados e verticais que desapropriam o trabalhador de seu próprio processo de

trabalho (BRASIL, 2008). Sendo o campo político um instrumento para o alcance

dessas alterações, mas não o único.

Neste campo, PNH protagonizou propostas de mudança dos modelos de gestão e

de atenção no cotidiano dos serviços de saúde, propondo-os indissociáveis (BRASIL,

2008). É uma política comprometida com o SUS, que problematizou o conceito de

humanização utilizado até então nos programas do MS, provocando um amplo debate,

incluindo análise do PNHAH devido ao número significativo de queixas dos usuários

relacionadas aos maus-tratos nos serviços de saúde públicos.

Apostar então na PNH é definir a humanização como valorização dos processos

de mudanças, que segundo Benevides e Passos (2005, p.390) consideram que os

“sujeitos engajados em práticas locais, quando mobilizados, são capazes de,

coletivamente, transformar realidades transformando-se a si próprios neste mesmo

processo”. Assim, as mudanças estão ao mesmo tempo circunscritas em mudanças das

práticas e mudanças das posições subjetivas.

Ao contrário do que se imagina a PNH não recomenda definir a humanização

como a valorização do homem bom, no campo da educação, do tratar bem as pessoas,

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do trabalhador que sacrifica-se, ou das práticas de humanização quase que

corporativistas, vinculadas por muito tempo ao gênero de determinadas categorias

profissionais como Enfermagem, Psicologia e Serviço Social, ou ainda do gestor que

não tenciona e do usuário que não reclama (PACHE e PASSOS, 2010) .

Considerando o texto de Benevides e Passos (2005), o conceito de humanização

expressava, até então, as práticas de saúde fragmentadas ligadas ao voluntarismo,

assistencialismo e paternalismo, com base na figura ideal do “bom humano”, que não

coincide com nenhuma existência concreta. A humanização não pressupõe a idealização

do humano, mas indica uma definição em contraste com aquilo que, frequentemente

apontamos nas práticas de assistência dos serviços de saúde, como atos desumanos.

A partir deste ponto de vista, para os pensadores da PNH, a humanização não se

restringe a ações humanitárias e não sugere que deva ser realizada por seres humanos

imbuídos de uma bondade sobre humana na assistência de serviços ideais (Brasil,

2008). Não cabe aqui julgar o trabalhador por suas ações “desumanas”, ou da

naturalização da sua pratica pelos anos de trabalho, mas sim refletir sobre as precárias

condições de trabalho que se apresentam, bem como de nada adianta possuir todo o

conhecimento sobre as técnicas sem a preocupação principal que é o usuário em toda a

sua complexidade.

Deve-se pensar que o acesso a assistência à saúde não deve reduzir-se a técnica é

preciso ampliar e investir na qualidade do atendimento, pois a humanização na saúde

remete o relacionamento entre trabalhadores/gestores com o usuário. Inclui-se também

que não há como cuidar da saúde sem considerar as formas de organização adotadas

pelos trabalhadores, para lidar com demandas do cotidiano no trabalho e estratégias de

enfrentamento às experiências de dor e sofrimento nos serviços de saúde. Portanto, a

humanização deve ser a afirmação de novos processos de participação que garantam a

produção de novos atores, protagonistas e corresponsáveis pelas práticas de produção

em saúde, que, de fato, operem em uma permanente reflexão crítica sobre as ideias e

concepções que orientam as ações em saúde (YÉPEZ E MORAIS, 2004).

Trata-se, portanto, de uma concepção de humano que parte das

formas de ser que se constituem no concreto das experiências dos

serviços. Uma forma de ser humano que não esta dada desde sempre

ou que se define a partir de um modelo geral de humanidade. Por

seguinte, não parte de um entendimento da humanização como um

processo que objetiva aproximar os diferentes sujeitos desse ideal, do

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homem-padrão. A humanização, tal como nos indica a PNH, efetiva-

se nas práticas em saúde a partir delas, ou seja, das formas como

agimos no cotidiano dos serviços. Está voltada para homens e

mulheres comuns que compões o SUS, em suas experiências, com os

trabalhadores e usuários que habitam e produzem o dia-a-dia dos

serviços de saúde. É no encontro entre estes sujeitos concretos, que a

política de humanização se constrói (SANTOS FILHO, BARROS e

GOMES, 2009, p.605).

Busca-se problematizar inseparabilidade entre saúde, trabalho e gestão,

instigando a intervenção nas condições de trabalho, desejando de certo modo a

existência do diálogo crítico, entre os diferentes saberes e práticas, para que subsidiem e

orientem o trabalho em equipes multiprofissionais, atentas à análise da relação dinâmica

entre o fazer e o pensar, sobre o cotidiano do trabalho e a produção de saúde (BRASIL,

2008; PACHE e PASSOS, 2010).

Parafraseando Benevides e Passos (2005), apontar para a humanização da saúde

é provocar a estimulação do processo de transformação dos sujeitos inseridos no

processo de saúde, dos trabalhadores, gestores e usuários do SUS, tendo como norte a

constituição de um novo modelo de atenção e gestão em saúde.

Em alguma medida, a contribuição da PNH assume um caráter singular, haja

vista que sua finalidade tem sido alterar a maneira de trabalhar e de interferir nos

processos de trabalho no campo da saúde (PACHE, 2010). Com esse objetivo, uma das

direções de abordagem da PNH está materializada nos serviços por meio da criação de

formas de trabalho que não se submetam à lógica dos modos de funcionamento

instituídos. Formas de trabalhar que superem as dissociações entre os que pensam e os

que fazem entre, os que planejam e os que executam, entre os que geram e os que

cuidam (BRASIL, 2008).

Ao considerar que a humanização implica envolver os sujeitos no processo de

trabalho, a PNH articular-se aos objetivos institucionais direcionados aos saberes e

interesses dos trabalhadores e usuários. Todavia, o apoio institucional é definido como

acompanhamento qualificado do trabalho de equipes e tem, como característica

principal, a oferta de estratégias metodológicas para implementação das diretrizes e

dispositivos da PNH (BRASIL, 2008). Assim, a proposta seria contribuir com o modo

de discutir e construir, no coletivo, estratégias para melhorar o acesso e a qualidade dos

serviços, entendidos como indissociáveis dos modos como esses são geridos.

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Nesta direção, a política supracitada, aposta na criação de processos de trabalho

que não se distanciam das atividades de gestão e da atenção, remetendo aos modos de

fazer, ou aos princípios metodológicos da PNH (BRASIL, 2008). Assim sendo, parte

fundamental para o enfrentamento dos inúmeros desafios que a assistência à saúde

necessita é o apoio institucional (SANTOS FILHO, BARROS e GOMES, 2009).

Partindo desse referencial, não basta, portanto, ter como direção o apoio

institucional ou a gestão participativa se essa diretriz se operacionaliza de forma

verticalizada de modos de fazer ou metas a serem alcançadas. O sentido que a PNH

atribui ao apoio institucional instaura uma relação dinâmica entre equipe de saúde e

gestor cuja função é contribuir para a gestão e (re)organização dos processos de

trabalho, priorizando o modo de se discutir e articular em equipe substituindo o “que

fazer” para implementar o “como fazer” (SANTOS FILHO, BARROS e GOMES,

2009).

Com este traçado, germinam-se ideias com a pretensão de estar em sintonia com

a missão do SUS, de tal modo que, o movimento a que se propõe é o da mudança dos

modelos de atenção e gestão fundados na racionalidade biomédica, fragmentados,

hierarquizados, centrados na patologia. Contudo, é iminente propor discussões e

propostas que problematizam os modelos hegemônicos das praticas existentes em saúde

no sistema público, que visem políticas estruturantes para o SUS distanciando a PNH de

torna-se uma política funcional do SUS (PACHE, 2009).

Ressalta-se conforme Brasil (2008) que a PNH adota como objetivos de

intervenção dois campos: as praticas em saúde e os modos de gestão, na qual reafirmam

seus três princípios enquanto Política Pública, ao mesmo tempo, que os têm como um

desafio, haja vista que se materializa no cotidiano profissional, sendo que para efetivar-

se é necessário o estabelecimento de redes sólidas entre usuários, trabalhadores e

gestores.

Neste curso, a transversalidade, apresentada como primeiro principio da PNH,

ratifica a importância do aumento da capacidade de comunicação ao reconhecer que as

diferentes especialidades e práticas de saúde podem conversar com a experiência

daquele que é assistido, permitindo um embaralhamento nos eixos de comunicação, ao

mesmo tempo em que possibilita, reconhecer a importância das relações dialógicas

horizontais. Torna-se possível assim, o encontro entre aqueles que têm interesses,

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desejos e necessidades distintos, ou seja, aumento do grau de abertura comunicacional

nos grupos e entre os grupos (PASSOS, 2009).

Considera-se neste contexto, uma unidade hospitalar que é contemplada com as

especificidades de outras categorias profissionais, como uma equipe multiprofissional

em saúde, quiça a residência multiprofissional em saúde. Tal inserção possibilita uma

socialização da informação, respeitando os aspectos éticos, entre os sujeitos da unidade,

permitindo que se considerem todos os aspectos do usuário – contemplando-o de modo

biopsicossocial. Assim, tem-se, concomitantemente, um desafio, proporcionar para

essas vozes e conhecimentos acadêmicos o devido reconhecimento e importância

(PACHE, 2009).

Em relação ao segundo principio, a indissociabilidade entre as práticas de gestão

e de atenção em saúde pondera-se que as ações, clínica e política, em saúde devem ser

inseparáveis. As decisões da gestão interferem diretamente na atenção à saúde. Por isso,

trabalhadores e usuários devem aproximar-se e conhecer o funcionamento da gestão dos

serviços e da rede de saúde, de tal modo a permitir e estimular a inclusão de todos os

agentes envolvidos no processo de produção em saúde na tomada de decisões que dizem

respeito tanto aos trabalhadores/gestores de saúde como os que usufruem dela, ou seja o

usuário (PACHE, 2009).

No entanto, Costa (2012, p.12) enriquece a discussão quando expõe que

“fatores como solidariedade, participação e engajamento dos profissionais com a

humanização não podem ser compreendidos como algo suficiente para dar conta da

infraestrutura das instituições hospitalares, da manutenção de equipes com número

suficiente de profissionais para atenderem as demandas apresentadas”. Neste contexto,

deve-se promover a participação ativa no processo de tomada de decisão dos atores

envolvidos nas organizações de saúde, pois não é possível separar o que é entendido

como praticas de gestão ou gerir, dos processos de trabalho.

O terceiro princípio da PNH esta diretamente vinculado ao princípio da

indissociabilidade, já que considera o protagonismo dos sujeitos coletivos, entendendo-

se que qualquer mudança na gestão e atenção é mais concreta se construída com a

ampliação da autonomia e vontade das pessoas envolvidas, que compartilham

responsabilidades. “Os usuários não são só pacientes, os trabalhadores não só cumprem

ordens: as mudanças acontecem com o reconhecimento do papel de cada um”. Um SUS

que almeja a humanização nos processos de saúde reconhece cada pessoa como legítima

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cidadã de direitos e valoriza e incentiva sua atuação na produção de saúde (BRASIL,

2013e, s/p), percebendo a importância de delegar responsabilidade a todos os atores

envolvidos no processo, no sentido de superar a logica institucional. Quanto ao último

princípio refere-se protagonismo, corresponsabilidade e autonomia dos sujeitos e

coletivos.

Logo, a PNH apresenta-se como uma oferta para lidar com os problemas e

contradições que persistem no SUS, sendo que um dos grandes desafios apresentados à

PNH e já apresentados na pesquisa, está no conjunto de princípios norteadores. Estes

afirmam então, um modo de fazer, um modo para se enfrentar problemas dos serviços e

práticas de saúde, que indubitavelmente ainda enfrentam problemas e contradições,

desde o descaso com os atendimentos até as limitações do SUS “quer seja em relação às

condições concretas de trabalho quer seja em relação aos modos de organização do

processo de trabalho, em geral tendentes à expropriação dos trabalhadores dos processos

decisórios”. (PACHE, 2009, p. 707).

Uma vez que é notório que os princípios e diretrizes do SUS são

negligenciados, uma política como o HumanizaSUS não é exatamente um ponto de

chegada, mas uma forma de construir praticas de gestão em saúde de inclusão, uma vez

que acredita em processos mais democráticos, partilhados e corresponsáveis (BRASIL,

2008). Igualmente, a PNH é uma política de produção constante de tencionamento, uma

tarefa desafiadora, sem dúvida, uma vez que na perspectiva da humanização, isso

corresponde à produção de novas atitudes por parte de trabalhadores, gestores e

usuários, propondo transformações nas relações sociais, por parte de todos os atores

envolvidos.

Existem outros desafios presentes que vão para além dessa política e dizem

respeito a estrutura da sociedade na qual vivemos. Cabe destacar que após 1990 com a

consolidação do neoliberalismo no Brasil as propostas da Reforma Sanitária foram

desmembradas, inclusive com abertura do atendimento à saúde de forma articulada ao

mercado privado, sendo que esse passa a indicar a mínima intervenção do Estado,

recomendando redução dos gastos públicos em saúde, sobretudo levando a precarização

do trabalho (BRAVO, 2006).

Sendo assim, as correlações de forças estabelecidas entre mercado e sociedade

dificultam a efetivação de uma política pública, já que as políticas sociais acabam sendo

subordinadas a lógica econômica. Do mesmo modo, a mudança de postura indicada

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para o Estado no trato com a saúde, acaba sendo ambivalente e remetendo

consequentemente ao sucateamento dos serviços e do próprio SUS (BRAVO, 2006).

Neste cenário, ressalta-se que o humanizaSUS, além de distanciar-se da

concepção inicial do senso comum que trata a humanização de forma simplista

relacionando-a, como elemento essencial para a humanização, a um mero

comportamento de boa educação, não foi uma política dada. Não se trata, portanto, de

uma concessão do Estado e tal política tão pouco indica humanizar o humano, mas a

PNH indica como enfrentar e lidar com as relações de poder e trabalho, estas sim,

muitas vezes “desumanas” (BRASIL, 2008).

Portanto, partindo das contribuições de Pache (2010), humanizar a saúde é

construir relações mais afirmativas dos valores que orientam a política pública de saúde

como a equidade e justiça social. “Assim, a PNH se apresenta como a expressão de um

SUS que dá certo, cuja síntese organiza um conjunto de conceitos e ferramentas para a

superação de problemas e contradições que ainda permanecem como marcas dos

serviços e práticas de saúde” (PACHE, 2009, p.707).

Por conseguinte, proposta da Política Nacional de Humanização coincide sim

com os próprios princípios do SUS, de forma que para ser efetiva, a humanização

precisa, como condição de possibilidade, ser (re)inventada a cada intervenção no SUS,

de modo transversal, com colaboração dos coletivos, no aspecto de direito à saúde,

enfatizando a necessidade de assegurar atenção integral à população e estratégias de

ampliar a condição de direitos, acessos e de cidadania dos sujeitos.

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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A humanização do SUS torna-se um assunto relevante na contemporaneidade,

uma vez que a própria etimologia da palavra tem contorno pouco definidos e até mesmo

maniqueísta. É relativamente fácil reconhecer que certas noções do humanismo,

principalmente o cristão, foram apropriados e disseminados, e por vezes, se

simplificaram no senso comum, fazendo com que ações, comportamentos, e mesmo,

características ou traços de caráter ganhassem o status de "humanos" ou "humanizados"

quando dotados de piedade e de espírito caritativo.

Esse tipo de leitura torna-se ainda mais problemática porque, não rara às vezes,

vem acompanhada de sentidos que, inadequadamente se fundem: a caridade e boa

educação entendidas como "fazer pelo outro" e "fazer para o outro".

Reconhecer as condições dos indivíduos como condicionantes e determinantes

de saúde é base para um olhar mais crítico e que naturalmente, esse modo de pensar

práticas de humanização por si só não se bastariam para responder as demandas da

sociedade. Iniciam movimentos que visam direitos humanos, bioéticos, proteção

ambiental, cujas soluções estariam presentes no aprimoramento de questões político-

sociais.

Da mesma forma, a humanização no campo da saúde aponta como norte a

necessidade da consideração da dimensão social na assistência ao usuário, ultrapassando

a dimensão tecnicista para práticas que englobam ação e reflexão, respeitando as

especificidades, valorizando o indivíduo na sua complexidade, bem como promovendo

o seu protagonismo.

Embora, por muitas vezes, exista a separação do doente e da doença, sendo esta

tratada muitas vezes como objeto que se dá a conhecer independentemente dos modos

pelos quais o doente a singulariza no corpo. Assim, a humanização propõe-se a superar

a visão do sujeito apenas como portador de patologias, pois esta já não atendem as

demandas do usuário, fugindo assim de uma perspectiva reducionista e curativa.

Trata-se de pensar nos processos de informação e comunicação que influenciam

significativamente a qualidade dos cuidados realizados na atenção à saúde humanizando

a relação entre os sujeitos proporcionando a possibilidade do autocuidado ou mesmo a

adesão a comportamentos preventivos.

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Ressalta-se assim a importância da comunicação como estratégia e elemento

chave para o cuidado prestado ao usuário, sendo este elemento essencial para executar a

assistência, valorizando a autonomia e o protagonismo dos sujeitos, uma vez que a

comunicação em saúde tem importância crítica e estratégica, pois podem influenciar

significativamente a qualidade dos cuidados realizados na saúde, ao mesmo tempo que,

aciona as mudanças, e possibilita incorporar novos elementos na concretização das

Políticas Públicas.

Refletindo então na necessidade de mudanças na cultura de atendimento à saúde

do país, e na humanização da assistência, sendo esta uma dimensão do SUS, o

Ministério da Saúde apresentou Portarias Ministrais e Interministrais que propunham

ações a serem implementadas pelos Serviços Públicos de Saúde, remetendo ao tema

humanização, ganhando legitimidade no ano 2000 com o Programa Nacional de

Humanização da Atenção Hospitalar (PNHAH).

O PNHAH propõe-se a um novo padrão de convivência entre os gestores,

trabalhadores e usuários da saúde, atuando de forma integrada, visando a melhoria da

qualidade da assistência nos hospitais da rede SUS, valorizando os aspectos subjetivos

do indivíduo. No entanto, A PNHAH não se resume a atenção prestada aos usuários,

busca contemplar também trabalhadores e gestores, constituindo equipes de trabalho

capazes de promover a humanização dos serviços de saúde – reconhecendo

fundamentalmente a importância do diálogo entre os sujeitos implicados no processo.

No entanto, com ações centradas nos hospitais.

Para tanto, nasce a PNH, uma política que ultrapassa as diferentes ações gestoras

do SUS, desvelando os princípios deste em uma base articuladora das práticas em

saúde. Envolve com a valorização dos diferentes sujeitos implicados nos processo de

produção de saúde, bem como o aumento do grau de corresponsabilidade desses atores.

O documento base do Ministério da Saúde sobre a Política Nacional de

Humanização do Sistema Único de Saúde assume, entre outras diretrizes, que a

humanização deve ser vista como política que transversaliza todo sistema: das rotinas

nos serviços às instâncias e estratégias de gestão. Cria-se metodologias capazes de

fomentar trocas solidárias, em redes multiprofissionais, implicando gestores,

profissionais e usuários em processos humanizados de produção dos serviços, a partir de

novas formas de pensar e cuidar da saúde, considerando tanto a relevância da

subjetividade nas ações de saúde, como as especificidades profissionais.

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Neste sentido, a PNH caracteriza-se por uma proposta que apresenta um

conjunto de diretrizes transversais e abrangentes, que norteiam, em conjunto, toda a

atividade institucional, sendo três princípios norteadores: a transversalidade,

a indissociabilidade entre atenção e gestão e o protagonismo, corresponsabilidade e

autonomia dos sujeitos e coletivos, entendendo esses princípios como o que causa ou

força a ação, ou que dispara um determinado movimento no plano das políticas

públicas.

Acrescenta-se então que a PNH entende humanização como a valorização dos

diferentes sujeitos implicada no processo de produção de saúde. Na qual indica que a

valorização dos sujeitos é a possibilidade de oferecer uma maior autonomia e com isso

amplia a capacidade de transformar a realidade em que vivem, por meio da

responsabilidade compartilhada nos processos de gestão e de produção de saúde.

Apostar na PNH é definir a humanização como valorização dos processos de mudanças,

e estas estão ao mesmo tempo circunscritas em mudanças das práticas e mudanças das

posições subjetivas, operando de forma crítica sobre as ideias e concepções que

orientam as ações em saúde.

Sem dúvida a busca de mudanças culturais pelos quais passa o sistema de saúde

brasileiro requer um processo educacional persistente e indispensável, com a existência

do diálogo crítico entre os diferentes saberes e práticas, para que subsidiem e orientem o

trabalho em equipes multiprofissionais. Desta forma a PNH adota como objetivos de

intervenção dois campos: as praticas em saúde e os modos de gestão, na qual reafirmam

seus três princípios enquanto Política Pública.

Quanto à transversalidade ratifica a importância do aumento da capacidade de

comunicação ao reconhecer que as diferentes especialidades e práticas de saúde,

ressaltando a importância da equipe multiprofissional. Em relação princípio da

indissociabilidade entre as práticas de gestão e de atenção em saúde e do protagonismo

dos sujeitos coletivos devem ser inseparáveis, de tal modo a permitir e estimular a

inclusão de todos os agentes envolvidos no processo de produção em saúde bem como

suas responsabilidades.

Neste contexto, retomam-se as contradições que persistem no SUS, sendo que

este é um dos grandes desafios apresentados à PNH, pois o HumanizaSUS apresenta-se

como uma estratégia para construir praticas de gestão em saúde de inclusão, uma vez

que acredita em processos mais democráticos, partilhados e corresponsáveis.

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Desta forma, o HumanizaSUS distancia-se de qualquer concepção ligada ao

senso comum como uma prática realizada por humanos munidos de uma boa educação,

haja visto que, a PNH em sua raízes, reza pelo tencionamento entre os atores envolvidos

nos processos de saúde, tornando-os protagonistas, conforme prevê a Constituição

Federal em sua clausulas transcritas por meios dos esforços de muitos cidadãos tendo

como o ápice a Reforma Sanitária.

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humanização do atendimento do usuário será fator determinante para o estabelecimento

das metas de saúde previstas no Contrato Organizativo de Ação Pública de Saúde.

______.A Portaria nº 2.395, de 11/10/2011 art. 4º no seu inciso II ‐ humanização da

atenção, garantindo efetivação de um modelo centrado no usuário e baseado nas suas

necessidades de saúde.

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