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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA E ENGENHARIA
DE MATERIAIS
JOSÉ CARLOS DOS SANTOS
OBTENÇÃO DE NANOCRISTAIS SEMICONDUTORES DE CdTe VIA SÍNTESE IN
SITU EM MATRIZES MESOPOROSAS MCM-41 PARA APLICAÇÃO EM
SENSORES ELETROQUÍMICOS NA DETECÇÃO DE ÍONS Cu2+
São Cristóvão - SE
Abril/2016
OBTENÇÃO DE NANOCRISTAIS SEMICONDUTORES DE CdTe VIA SÍNTESE IN
SITU EM MATRIZES MESOPOROSAS MCM-41 PARA APLICAÇÃO EM SENSORES
ELETROQUÍMICOS NA DETECÇÃO DE ÍONS Cu2+
JOSÉ CARLOS DOS SANTOS
Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-
Graduação em Ciência e Engenharia de Materiais da
Universidade Federal de Sergipe como parte dos requisitos
necessários para a obtenção do título de Doutor em
Ciência e Engenharia de Materiais.
ORIENTADORA: PROF.ª DRª. IARA DE FÁTIMA GIMENEZ
COORIENTADORA: PROF.ª DRª. ANNE MICHELLE G. P. SOUZA
São Cristóvão - SE
Abril/2016
FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
S237f
Santos, José Carlos dos Obtenção de nanocristais semicondutores de CdTe via síntese
in situ em matrizes mesoporosas MCM-41 para aplicação em sen-sores eletroquímicos na detecção de íons Cu2+ / José Carlos dos Santos ; orientador Iara de Fátima Gimenez. - São Cristóvão, 2016.
100 f. : il.
Tese (Doutorado em Ciência e Engenharia de Materiais) - Uni-
versidade Federal de Sergipe, 2016.
1. Semicondutores. 2. Sílica. 3. Íons. 4. Compostos de telúrio.
5. Detectores. I. Gimenez, Iara de Fátima, orient. II. Título.
CDU 621.382
DEDICATÓRIA
Aos três personagens fundamentais que deram asas aos sonhos, num cantinho
aconchegante chamado de “Bonsucesso”, buscando a aprovação no vestibular /2000.
No entanto, no referido concurso apenas um seguiu, os outros dois ficaram, mas como
disse um destes personagens:
- “Deus deu a aprovação a quem ele não tinha nada de melhor a oferecer
naquele momento”.
No ano 2001, chegou a vez do segundo personagem, ficando apenas você que
transformou a vida daqueles que precisavam e continuam precisando da sua presença
física. Apesar das adversidades e os desígnios de Deus, cada qual desempenhou seu
papel honrosamente e com maestria no cenário desta longa caminhada.
Aos respectivos personagens “Tonha”, “Rê” e “Zequinha”, que serão eternizados e
interconectados nos singelos versos abaixo:
“De tarde quero descansar
Chegar até a praia e ver se o vento ainda está forte
Vai ser bom subir nas pedras
Sei que faço isso pra esquecer
Eu deixo a onda me acertar e
E vento vai levando tudo embora
Agora está tão longe ver
A linha do horizonte me distrai
Dos nossos planos é que tenho mais saudade
Quando olhávamos juntos na mesma direção.
Aonde está você agora, além de aqui,
Dentro de mim?
Agimos certo sem querer
Foi só o tempo que errou.
Vai ser difícil eu sem você
Porque você está comigo o tempo todo
E quando eu vejo o mar, existe algo que diz
Que a vida continua
E se entregar é uma bobagem.
Já que você não está aqui
Que posso fazer é cuidar de mim
Quero ser feliz ao menos
Lembra que o plano era ficarmos bem?
Olha só o que eu achei
Cavalos-marinhos
Sei que faço isso pra esquecer
Eu deixo a onda me acertar
E o vento vai levando tudo embora
(Vento no Litoral - Legião Urbana)”.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus por ter me concedido a capacidade de concluir mais uma
etapa da minha vida – um sonho idealizado em 2011, do qual optei por fazer a escolha
de deixar um trabalho concursado no Banco do Brasil, e apesar das provações e
dificuldades, concedestes-me a possibilidade de torná-lo realidade.
A uma pessoa importante, principalmente desde a referida dada citada acima
que me dedicou atenção, tempo, apoio moral, bem como, a amizade fraternal
incondicional, que acreditou em mim e me fez acreditar que seria capaz e deveria
finalizar esta etapa como forma de superação estudantil, quando impossível seria o
mais certo, conseguiu de forma salutar e brilhante estender a mão pra caminhar ao
lado. Este ser humano incrível e indescritível recebe o codinome de Charlene Regina
Santos Matos, em extensão também ao seu cônjuge Alisson Gomes dos Santos. Os
quais foram uma dádiva na minha vida.
Aos meus familiares em especial aos meus pais Maria José e José Miguel por
acreditarem e confiarem sempre em mim. Aos meus irmãos – Mauro e Marina, e aos
respectivos cônjuges – Rosane e Reginaldo. Obrigado por terem cuidado de mim
quando já não o conseguia por si só, dedicando-me o máximo de atenção,
compreensão e paciência com minhas imperfeições e dificuldades salutares. Não
obstante, Mauro e Rosane por me resgatarem quando tudo parecia perdido, mas
como diz a letra da música: “Quando tudo está perdido, sempre existe um caminho”
(Renato Russo/ Via-Láctea).
A minha orientadora, professora Dra. Iara F. Gimenez proporcionar
aprendizados desde o nível intelectual ao profissional, ao mesmo tempo, em que
enfatizo e reafirmo esse sentimento por meio da reprodução a seguir de um dos e-
mails enviados por mim: “Agradeço imensamente a senhora pela amizade, por saber ouvir e
silenciar, apoiar e confiar, o que sem isso não teria nem conseguido chegar até aqui, para poder
agradecer por esses valores nobres inerentes a sua personalidade”. Além de conquistar o meu
respeito, tanto como pessoa quanto profissional. Digo em metáforas: “Tiro meu chapéu pra
senhora”! "Obrigado pela orientação segura e paciente.”
ii
A coorientadora, professora Dra. Anne Michele, que contribuiu com o referido
trabalho e incentivou pra que fizesse o doutorado, bem como, acreditou no meu
potencial e superação.
A professora Dra. Eliana Midori por ter disponibilizado o laboratório e meios
necessários para realização de parte do trabalho, bem como, pela amizade e apoio.
Além disso, a liberação dos alunos de pesquisa Hélio, George e Tiago, que
contribuíram de forma brilhante.
Agradeço especialmente a Ângela – amiga da época dos Correios – que me
apoiou incondicionalmente na minha decisão de pedir exoneração dos Correios em
2009 (mestrado em Química), e BB em julho de 2011, por acreditar na minha
capacidade de vencer os obstáculos e ter êxito – digamos você é uma “futurista”.
“Ainda consigo recordar os seus gritos de felicidade ao telefone, em contraste com o
medo “medonho” de ter feito a coisa errada, segundo “os padrões da sociedade de
mentes limitadas”, naquele início do que fora uma longa noite de sexta-feira”. Em
extensão, agradeço também ao seu consorte Marcelo pela ajuda profissional no início
do doutorado.
A todos os Professores do P2CEM e do Departamento de Química, e membros
externos a UFS, que compartilharam o conhecimento nas disciplinas e bancas de
pesquisas, em extensão aos referidos membros que estão compondo a banca da
defesa da tese, com suas contribuições científicas.
A todos (as) colegas e amigos (as) da jornada da vida, em especial: Sílvia
Caroline, Ivory, Thalita, Grazy, Cássio, Madrinha Fátima, Liliane, Verônica, Cochiran,
Sidney, Dayara, Silvânio, Cristiane, Jeferson, Andrea, Dárcio, Daniel, Helton,
Celestino, Paulo Moura, Anderson, Patrícia, Janaína, Buzinaro, Jamilly, Jamila,
Alex, Claudia, Renam, Mônica, Vilma, Eugênio, Paulo, Regivânia, Sanny, Thiago
gallo, Ricardo, Douglas, Lane, Yane, Diego, Mirna.
A todos os professores, funcionários e colegas dos Departamentos de
Engenharia de Materiais e Química, que diretamente ou indiretamente contribuíram
para a conclusão deste trabalho. Em especial, aos professores Dr. Glauber – amizade
iii
durante o início do doutorado - e Dra. Eliane Mesquita – amizade desde o início da
graduação e ter sempre me dito que o meu lugar é no meio acadêmico.
Ao meu filho Carlos Miguel por ter me proporcionado momentos de
aprendizados, descoberta do amor fraternal e pela paciência nas minhas ausências.
Ao meu primogênito reservo as singelas e sinceras palavras ad aeternum: “Meu filho,
haja o que houver, eu estou aqui. Espero por ti, oh meu amor, volta depressa. Há quanto tempo
já esqueci porque fiquei longe de ti, cada momento é pior, volta no vento, por favor. Eu sei quem
és pra mim, haja o que houver espero por ti” (Madredeus/Haja o Que Houver).
As pessoas especiais que surgiram na minha vida: Dr. Maurício e D. Maria,
Dra. Sandra e Dra. Tatiana, pelo profissionalismo, amizade e incentivos.
Ao ensino da rede pública que contribuiu para minha formação profissional,
proporcionada pelos os profissionais desde a educação básica ao ensino superior, ao
mesmo tempo, com imensa honra, homenageio e agradeço aos professores (as) do
Colégio Estadual João Salônio - Ensino Fundamental (5ª a 8ª séries) – e em especial,
a Profa. Maria José Oliveira da Escola Municipal Luís Oliveira - (séries iniciais),
Povoado Bonsucesso, respectivamente, localizados em Nossa Senhora Aparecida -
SE.
A Capes e ao CNPq pelas bolsas concedidas.
iv
Resumo da Tese apresentada ao P2CEM/UFS como parte dos requisitos necessários
para a obtenção do grau de Doutor em Ciência e Engenharia de Materiais (D.Sc.).
OBTENÇÃO DE NANOCRISTAIS SEMICONDUTORES DE CdTe VIA SÍNTESE IN
SITU EM MATRIZES MESOPOROSAS MCM-41 PARA APLICAÇÃO EM SENSORES
ELETROQUÍMICOS NA DETECÇÃO DE ÍONS Cu2+
José Carlos dos Santos
Abril/2016
Orientadora: Iara de Fátima Gimenez
Programa de Pós-Graduação em Ciência e Engenharia de Materiais
Nanopartículas semicondutoras de CdTe possuem propriedades ópticas únicas ajustáveis,
que são dependentes de seus tamanhos, devido ao efeito do confinamento quântico. No
presente trabalho, nanopartículas estáveis de CdTe foram sintetizadas confinadas em um
ambiente mesoporoso de uma sílica MCM-41 funcionalizada com grupos tióis, através do
método de funcionalização com o uso do ácido 3-mercaptopropiônico. Os materiais obtidos
foram caracterizados por espectroscopia vibracional na região do infravermelho,
adsorção/dessorção de nitrogênio, espectroscopias eletrônicas de absorção UV-Vis e
emissão, microscopia eletrônica de transmissão (MET) e caracterização eletroquímica; já
as caracterizações por difração de raios X (DRX) e análise termogravimétrica foram
usadas para sílica MCM-41. As propriedades de emissão do CdTe mostraram relação de
dependência da proporção da matriz mesoporosa usada nas sínteses, resultando em
emissão abaixo da faixa de comprimento de onda usualmente obtido para CdTe em meio
coloidal aquoso. A detecção de íons Cu2+ através de eletrodos de pasta de carbono
modificados foi realizada por voltametria de redissolução anódica, a qual apresentou sinal
somente para as amostras de CdTe in situ, o que evidenciou o papel do semicondutor
como fase ativa do eletrodo. A amostra mais ativa foi aquela que continha a menor
proporção CdTe, evidenciando que é possível reduzir a dosagem de Cd2+ nos nanocristais
enquanto se aperfeiçoam suas propriedades, o que é crucial do ponto de vista das
aplicações de nanocristais de CdTe.
Palavras Chaves: Semicondutores; CdTe; MCM-41; íons Cu2+; sensores.
v
Abstract of Thesis presented to P²CEM/UFS as a partial fulfillment of the requirements for
the degree of Doctor in Materials Science and Engineering (D.Sc.)
OBTAINING SEMICONDUCTORS NANOCRYSTALS CdTe BY SYNTHESIS IN SITU
INTO MESOPOROUS OF MCM-41 MATRIX FOR APPLICATION
ELECTROCHEMICAL SENSORS IN THE Cu2+ IONS DETECTION
José Carlos dos Santos
April/2016
Advisors: Iara de Fátima Gimenez
Departament: Materials Science and Engineering
CdTe semiconductor nanoparticles have unique optical properties, which can be
tunable sizes, due to the quantum confinement effect. In the present work, stable CdTe
nanocrystals were grown in the mesoporous environment of thiol-functionalized MCM-
41 mesoporous silica from an approach employing 3-mercaptopropionic acid, an
efficient capping agent. The obtained materials were characterized by infrared
spectroscopy, N2 dessortion/adsorption, UV-Vis emission and absorption spectroscopy,
transmission electron microscopy (TEM) and electrochemical characterization; X-ray
diffraction (XRD) and thermogravimetric analyses were used to MCM-41 silica. The
emission properties of CdTe were found to be dependent on the proportion of
mesoporous matrix used in the synthesis, yielding CdTe nanocrystals emitting below
the wavelength range usually obtained from aqueous colloidal synthesis. The
detection of Cu2+ ions using modified carbon paste electrodes by anodic stripping
voltammetry was possible only with samples of CdTe in situ, evidencing the role of the
semiconductor as active phase. The most active sample obtained here was exactly that
containing the lowest CdTe loading, showing it is possible to reduce the dosage of Cd-
containing nanocrystals while improving their properties, which is crucial to concretize
applications of CdTe nanocrystals.
Key words: semiconductor; CdTe; MCM-41; Cu2+ ions; sensors.
vi
SUMÁRIO
CAPÍTULO I ..................................................................................................................... 1
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 1
1.1. ESTRUTURA DA TESE .............................................................................................. 1
1.2. CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE O TEMA DE PESQUISA E JUSTIFICATIVA .................. 1
1.3. OBJETIVOS .............................................................................................................. 4
1.3.1. Objetivo Geral ................................................................................................. 4
1.3.2 Objetivos Específicos ....................................................................................... 4
CAPÍTULO II .................................................................................................................... 5
2. ESTADO DA ARTE ...................................................................................................... 5
2.1. SÍLICAS POROSAS ................................................................................................... 5
2.2. SÍLICA MESOPOROSA M41S .................................................................................... 6
2.2.1 Sílica Mesoporosa MCM-41 ............................................................................ 8
2.2.2. Funcionalização da Sílica Mesoporosa MCM-41 ......................................... 11
2.3. COLOIDES ............................................................................................................. 13
2.4. SEMICONDUTORES ................................................................................................ 16
2.4.1 Nanocristais Semicondutores ........................................................................ 17
2.4.2 Nanocristais semicondutores de CdTe.......................................................... 25
2.5. MÉTODOS ELETROQUÍMICOS PARA ESTUDOS DE QUANTUM DOTS (QDS) ............... 27
2.5.1. Sensores eletroquímicos .............................................................................. 29
2.5.2. Sensores químicos à base de nanopartículas de CdTe .............................. 30
CAPÍTULO III ................................................................................................................. 33
3. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL ......................................................................... 33
3.1. REAGENTES .......................................................................................................... 33
3.2. SÍNTESE DA MATRIZ SÍLICA MESOPOROSA DO TIPO MCM-41 .................................. 33
3.3. FUNCIONALIZAÇÃO DA SÍLICA MESOPOROSA DO TIPO MCM-41 .............................. 34
3.4. PREPARAÇÃO DAS NANOPARTÍCULAS DE CDTE IN SITU NO MATERIAL FMC-41 ....... 34
3.5. ESTUDOS ELETROQUÍMICOS .................................................................................. 35
3.6. PROCEDIMENTO ANALÍTICO .................................................................................... 36
vii
3.7. TÉCNICAS DE CARACTERIZAÇÃO ............................................................................ 36
3.7.1 Termogravimetria ........................................................................................... 36
3.7.2. Espectroscopia vibracional na região do infravermelho com transformada de
fourier (FTIR) ........................................................................................................... 37
3.7.3 Difratometria de raios X (DRX) ...................................................................... 37
3.7.4 Fluorescência de Raios X por Dispersão em Energia (FRXDE) .................. 37
3.7.5 Espectroscopia de Absorção na região do ultravioleta-visível (UV-Vis) . 37
3.7.8. Microscopia Eletrônica de Transmissão (MET) ........................................... 38
CAPÍTULO IV ................................................................................................................. 39
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES ............................................................................... 39
4.1. AVALIAÇÃO DA SÍNTESE DA SÍLICA MESOPOROSA TIPO MCM-41 E DO PRODUTO DA
FUNCIONALIZAÇÃO COM 3-MERCAPTOPROPRILTRIMETOXISILANO (MPTMS) .................. 39
4.2. ESTUDO DA PREPARAÇÃO E FORMAÇÃO DAS NANOPARTÍCULAS DE CDTE IN SITU NOS
CANAIS DA MATRIZ MESOPOROSA FUNCIONALIZADA FMC-41 ........................................ 45
4.3. COMPORTAMENTO ELETROQUÍMICO DO ELETRODO DE PASTA DE CARBONO
MODIFICADO COM A MATRIZ FUNCIONALIZADA (FMC) .................................................... 64
4.4 CARACTERÍSTICAS ANALÍTICAS DO ELETRODO DE PASTA DE CARBONO MODIFICADO
COM A AMOSTRA FMC-41/CDTE ..................................................................................... 67
CAPÍTULO V .................................................................................................................. 72
5. CONCLUSÕES .......................................................................................................... 72
CAPÍTULO VI ................................................................................................................. 74
6.1. TRABALHOS FUTUROS .................................................................................... 74
6.2. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................... 75
viii
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Representação idealizada de uma zeólita com estrutura faujasita. Adaptado
da referência MARTINS e CARDOSO, 2006. ................................................................. 6
Figura 2. Representação das diferentes fases das sílicas mesoporosas: a) hexagonal:
MCM-41; b) cúbica: MCM-48; c) lamelar: MCM-50. Adaptado da referência
MASCARENHAS et al. 2001. ........................................................................................... 7
Figura 3. Imagens de microscopia eletrônica de transmissão da sílica mesoporosa
MCM-41 com diferentes tamanhos de poros: a) 2nm; b) 10 nm. Adaptado da referência
TURNER et al., 2005. ....................................................................................................... 9
Figura 4. Fluxograma das etapas da rota de síntese da sílica mesoporosa MCM-41.
Adaptado da referência TURNER et al., 2005. .............................................................. 10
Figura 5. Representação pictórica da modificação da superfície dos materiais
mesoporosos. A área retangular representa a parede do poro do MCM-41. Adaptado
da referência RATH, et al., 2014. ................................................................................... 13
Figura 6. Diagramas de níveis de energia para os metais, semicondutores e isolantes.
As caixas preenchidas correspondem às bandas de valência; e as caixas vazias, às
bandas de condução. Adaptado da referência: MURPHY e COFFER, 2002. .............. 17
Figura 7. Representação ilustrativa de nanomateriais em zero dimensão: sólido
reduzido nas três dimensões. Adaptado da referência SCHMID, 2009. ...................... 18
Figura 8. Bandas de energia formada por níveis de energia discretos de orbitais
atômicos para um material semicondutor. Adaptado da referência SCHMID, 2009. ... 19
Figura 9. Dispersões coloidais aquosas de nanocristais semicondutores de CdTe com
variação das cores de emissão em função do tamanho. Adaptado da referência SILVA
et al., 2010a. ................................................................................................................... 20
Figura 10. Espectros de dispersões coloidais aquosas de nanocristais semicondutores
de CdTe: (a) absorção óptica (UV-Vis); (b) fotoluminescência (FL). Fonte: Referência
SILVA et al., 2010a. ........................................................................................................ 21
Figura 11. Representação pictórica da absorção e emissão de luz, e dos processos
eletroquímicos de transferências de elétrons nas nanopartículas semicondutoras.
Adaptado da referência BARD et al., 2005. ................................................................... 27
ix
Figura 12. Representação da redução e oxidação eletroquímica de nanocristais.
Adaptado da referência BARD et al., 2005. ................................................................... 28
Figura 13. Esquema pictórico da formação da matriz MCM-41. Adaptado da referência
YANG et al., 2012. .......................................................................................................... 34
Figura 14. Curvas termogravimétricas das amostras de sílica mesoporosa MCM-41:
MCM-41 NC (não calcinada); FMC-41 (funcionalizada); MCM-41 (calcinada). ........... 40
Figura 15. Espectros vibracionais na região do infravermelho da sílica mesoporosa:
não calcinada (MCM-41 NC); calcinada (MCM-41) e funcionalizada com MPTS (FMC-
41). .................................................................................................................................. 42
Figura 16. Padrões de difração de raios X do material não calcinado (MCM-41 NC). 43
Figura 17. Padrões de difração de raios X do material mesoporoso: (a) calcinado
(MCM-41); (b) funcionalizado (FMC-41). ....................................................................... 44
Figura 18. Imagem MET da amostra de sílica mesoporosa calcinada MCM-41. ........ 45
Figura 19. Espectros eletrônicos de fotoluminescência: suspensão de nanopartículas
de CdTe (CdTe/MPA); matriz funcionalizada (FMC-41); nanopartículas de CdTe
adsorvidas na matriz (FMC-41-CdTe/MPA)................................................................... 46
Figura 20. Imagem MET da amostra de sílica mesoporosa com nanopartículas de
CdTe ancoradas (FMC-41-CdTe). ................................................................................. 47
Figura 21. Imagem MET da amostra FMC-41-CdTe com nanopartículas de CdTe
desprendidas na superfície. ........................................................................................... 48
Figura 22. Imagem MET da amostra com nanocristais de CdTe crescidos in situ. ..... 49
Figura 23. Variação da taxa de concentração para o silício em função da massa da
amostra FMC-41. ............................................................................................................ 53
Figura 24. Espectros vibracionais na região do infravermelho das amostras: FMC-41;
FMC025; FMC05; FMC1; FMC2 e FMC35. ................................................................... 55
Figura 25. Espectros de absorção modo reflectância difusa UV-Vis das amostras:
FMC025; FMC05; FMC1; FMC2; FMC35. ..................................................................... 57
Figura 26. Espectros de fotoluminescência das amostras: FMC025; FMC05; FMC1;
FMC2; FMC35. ............................................................................................................... 61
Figura 27. Espectros de fotoluminescência das amostras: MCM-41; FMC-41;
nanopartículas de CdTe adsorvidas na matriz (MCM@CdTe e FMC@CdTe). ............ 63
x
Figura 28. Imagens MET das amostras: (a) FMC025; (b) FMC1; (c) FMC2; (d) FMC35.
........................................................................................................................................ 64
Figura 29. Voltamogramas cíclicos do eletrodo de pasta de carbono (a), modificado
com FMC-41 (b) e eletrodo FMC35 (c), em solução tampão de fosfato (pH= 7,0) e
velocidade de varredura 20 mV.s-1. ............................................................................... 66
Figura 30. Voltamogramas cíclicos dos eletrodos de pasta de carbono modificado com
FMC em diferentes composições: FMC1 (a), FMC2 (b) e FMC35 (c), em solução
tampão de fosfato (pH= 7,0) e velocidade de varredura de 50 mV.s-1. ........................ 67
Figura 31. Voltamogramas de redissolução anódica do eletrodo de pasta de carbono
modificado com a amostra FMC-41 (a) e FMC35 (b) na presença de 0,5 x 10-6 mol L-1
de Cu2+. As condições experimentais foram solução tampão de fosfato (pH= 7,0),
potencial de acumulação de -0,8 V para 300 s e velocidade de varredura 20 mV.s-1. 68
Figura 32. Voltamogramas de redissolução anódica obtidos com o eletrodo de pasta
de carbono modificado FMC35 em soluções do branco (a) e em diferentes
concentrações de íons Cu2+ (0.5, 0.8, 1.1, 1.4 e 1.7 x 10-6 mol L-1) (b-f). As condições
experimentais foram soluções tampões de fosfato (pH 7,0), potencial de acumulação
0.8 V para 300 s e velocidade de varredura de 20 mV.s-1. ........................................... 69
Figura 33. Mecanismo proposto para a determinação do Cu2+ usando o eletrodo de
pasta de carbono FMC (SANTOS et al., 2015). ............................................................ 71
xi
LISTA DE ABREVIATURAS, NOMENCLATURAS E SIGLAS
Band gap - Banda proibida
BC - Banda de condução
BET - baseado nas letras iniciais dos autores Brunauer, Emmett e Taller
BJH - baseado nas letras iniciais dos autores Barret, Joyner e Halenda
Bottom up - Abordagem de baixo para cima
Bulk – O termo bulk se refere a material na forma extensiva nas três dimensões
BV - Banda de valência
CTAB - Brometo de cetiltrimetilamônio
DLVO - Derjaguin-Landau-Verwey-Overbeek
DRX - Difratometria de raios X
e- - Elétron
EDX - Do inglês Energy Dispersive X-ray Detector (Espectroscopia por energia
dispersiva de raios X)
EDXRF - Do inglês Energy Dispersive X-ray Fluorescence (Fluorescência de raios X
por dispersão em energia)
Eg - Do inglês energy of band gap (energia do band gap)
EPC – Eletrodo de pasta de carbono
EPCM - Eletrodo de Pasta de carbono Modificada
EPC-Kryptofix 22 - Eletrodo de pasta de carbono modificado com Kryptofix 22
EPNC - Eletrodo de pasta de nanotubos de carbono modificado com quitosana
eV - Elétron-volt
FL - Fotoluminescência
FMC41 - Sílica funcionalizada com 3-aminopropiltrimetoxissilano
FTIR - Do inglês Fourier transform infrared spectroscopy (Espectroscopia de absorção
no infravermelho com transformada de Fourier).
HRTEM - Do inglês high-resolution transmission electron microscopy (Microscopia
eletrônica de transmissão de alta resolução).
xii
Mb - Mioglobina
MCF - Do inglês “mesostructured cellular foam”
MCM - do inglês Mobil’s composition of matter
MCM-41/48/50 - sílica com rede de poros hexagonais (41), poros cúbicos (48) e
lamelares (50).
MET - Microscopia eletrônica de transmissão
MPA - Do inglês Mercaptopropionic Acid (ácido 3-mercaptopropiônico)
MPTS - 3-mercaptopropiltrimetoxissilano
Nanoclusteres – O termo nanocluster se refere a um agrupamento de um número de
nanopartículas.
OR - Do inglês Ripening Ostwald (crescimento orientado de Ostwald)
QDs - Do inglês Quantum dots (pontos quânticos)
Queching - Em fluorescência o termo inglês quenching se refere a qualquer processo
que diminui a intensidade da fluorescência de uma dada substancia, por exemplo,
processos tal como transferência de energia.
t - temperatura
T - tempo
TEOS - Do inglês Tetraethyl orthosilicate (Tetraetilortossilicato)
UV-Vis - espectroscopia de absorção no ultravioleta-visível
λmáx - comprimentos de onda máximos de absorções
1
CAPÍTULO I
1. INTRODUÇÃO
1.1. Estrutura da Tese
A tese apresentada está organizada da seguinte forma: no primeiro capítulo é
abordada de forma contextualizada a importância do tema estudado, bem como a
justificativa e os objetivos do trabalho. No segundo capítulo é apresentado o estado da
arte, discorrendo sobre os materiais mesoporosos ordenados e a síntese in situ de
quantum dots de CdTe, bem como a aplicação dos mesmos como sensores na
detecção de íons Cu2+ em solução. Os procedimentos experimentais são descritos no
terceiro capítulo, enquanto que, os resultados e discussões são apresentados no
quarto capítulo de forma subdividida em tópicos: no primeiro subitem são mostradas
as considerações sobre a síntese da matriz mesoporosa MCM-41; no segundo, são
apresentadas as considerações da formação das nanopartículas de CdTe in situ na
matriz; e no terceiro, engloba-se a caracterização eletroquímica das amostras de CdTe
in situ, juntamente com aplicação em sensores eletroquímicos na detecção de íons
Cu2+ em soluções aquosas. As conclusões são apresentadas no quinto capítulo,
enquanto que no sexto capítulo são apresentados os trabalhos futuros e as referências
bibliográficas.
1.2. Considerações gerais sobre o tema de pesquisa e justificativa
Nos últimos anos, nos meios de comunicação científica e de massa, vem-se
usando constantemente o termo “nano” para temas, que abrangem estudos da ciência
fundamental, bem como no campo da pesquisa aplicada no desenvolvimento de novos
dispositivos. Uma forma padrão encontrada para classificar o que pertence ao mundo
“nano” é usar a escala nanométrica (1 nm = 10-9 m) como parâmetro. Nesse contexo,
a nanociência e a nanotecnologia são áreas que lidam com o estudo e aplicação das
estruturas da matéria que apresentam pelo menos uma das dimensões com
comprimento menor que 100 nm (RIU et al., 2006).
Os estudos focados em nanocristais semicondutores têm apresentado
crescentes avanços nos últimos anos, tanto no campo acadêmico quanto tecnológico,
merecendo destaque as pesquisas voltadas à síntese e aplicação tecnológica desses
materiais. O grande interesse por essa classe de nanomaterias está intrinsicamente
relacionado ao fato que esses materiais apresentam propriedades físicas e químicas
2
dependentes dos seus tamanhos, atribuídas aos efeitos de confinamento quântico, em
particular, as propriedades ópticas especiais, tal como a forte intensidade de
luminescência dos nanocristais semicondutores, as quais podem ser ajustáveis
através do tamanho das nanopartículas formadas. Por sua vez, as aplicações destes
materiais abrangem dispositivos optoeletrônicos e fotovoltaicos (CHEN et al., 2008),
sensores biológicos fluorescentes (FARIAS et al., 2008, HOWES et al., 2014),
fotocatálise (SHENGLI et al., 2009), dentre outros.
Na classe de nanocristais semicondutores, merece destaque os nanocristais de
telureto de cádmio (CdTe), os quais nos últimos anos têm despertado interesse devido
suas propriedades ópticas especiais, em particular, sua fotoluminescência intensa na
região do visível (WANG et al., 2012). Por sua vez, essas propriedades podem ser
controladas por meio da síntese de tamanhos dejesados dos nanocristais no interior
de matrizes porosas, as quais permitem a obtenção de nanocompósitos de qualidade
satisfatória (cristalinidade, redução dos defeitos de superfície das nanopartículas,
entre outras), fator determinante na aplicação dos nanocristais nos dispositivos, bem
como das propriedades dependentes de tamanhos e superfícies (PARALA et al., 2000,
TURNER et al., 2005).
A obtenção controlada de óxidos na forma nanométrica e nanocristais
semicondutores de calcogenetos têm atraído atenção, visto que as propriedades
ópticas e espectroscópicas são fortemente dependentes dos tamanhos e morfologias
dos nanocristais. Sendo assim, é possível obter materiais com emissão em toda a
faixa do visível até o infravermelho próximo, mediante o controle de tamanhos, formas
e características de superfície de um mesmo semicondutor. Logo, fazem-se
necessárias investigações adicionais sobre o processo de confinamento dos
nanocristais CdTe nos canais da sílica mesoporosa MCM-41, uma vez que a obtenção
destas nanopartículas nos poros tem apresentado desafios, tais como escurecimento
e decomposição do material após a sua obtenção (TURNER et al., 2007). Além disso,
pouco é conhecido a respeito da influência nas propriedades ópticas da obtenção dos
nanocristais de CdTe in situ nos materiais mesoporosos.
Por outro lado, os materiais mesoporosos apresentam destaque devido às suas
aplicações como catalisadores, adsorventes, sensores químicos, além de suportes
para nanodispositivos optoeletrônicos (CHEN et al., 2006). Isso se deve ao fato
desses materiais possuírem porosidades periódicas e poros de tamanhos ajustáveis, o
que proporciona a aplicação como nanoreatores para a obtenção de nanocristais
semicondutores com arquiteturas controladas e propriedades bem definidas. Nesse
contexto, as sílicas mesoporosas MCM-41 (do inglês “Mobil’s Composition of Matter”)
aparecem como uma alternativa promissora no estudo do crescimento e das
3
propriedades dos nanocristais confinados em uma matriz inorgânica mesoporosa, pois
oferecem um ambiente de poros de tamanhos nanométricos (TURNER et al., 2005).
Não obstante, na literatura tem sido mostrado o potencial de aplicação dos
nanocristais semicondutores em diferentes áreas, tais como no campo dos
biossensores eletroquímcos. Nesse contexto, merece destaque a aplicação dos
nanocristais semicondutores em sensores modificados que pode ser considerada
vantajosa na detecção de diferentes famílias de analitos, como por exemplo, a
detecção de diferentes íons de metais pesados (WHANG et al., 2009). Sendo assim,
nesse trabalho o interesse foi voltado, particularmente, para o efeito da matriz
mesoporosa do tipo MCM-41 nas propriedades ópticas dos nanocristais
semicondutores de CdTe obtidos in situ, bem como para as propriedades
eletroquímicas promissoras do MCM-41/CdTe na detecção eletroquímica de íons
Cu2+.
Além disso, o desenvolvimento de mecanismo visando o monitoramento de
metais pesados é de grande importância tanto para o monitoramento ambiental quanto
para a saúde pública. Sabe-se que o excesso de íons Cu2+ pode causar problemas à
saúde e torna-se imprescindível a detecção de Cu2+ em amostras de águas. Sendo
assim, neste trabalho também foi realizada a determinação de íons cobre (Cu2+) em
meios aquosos através de um eletrodo de pasta de carbono modificado (PCM) com
quantum dots de CdTe formados in situ na matriz MCM-41.
4
1.3. Objetivos
1.3.1. Objetivo Geral
Sintetizar, caracterizar e avaliar a aplicação eletroquímica dos quantum dots de
CdTe obtidos in situ na matriz mesoporosa MCM-41 na detecção de íons Cu2+ em
meio aquoso.
1.3.2 Objetivos Específicos
Sintetizar sílicas mesoporosas MCM-41;
Funcionalizar a superfície da sílica mesoporosa com o agente sililante 3-
aminopropiltrimetoxissilano (MPTS);
Caracterizar a sílica mesoporosa MCM-41 utilizando-se das técnicas de
espectroscopia vibracional na região do infravermelho, termogravimetria,
área superficial, fluorescência de raios X por dispersão em energia,
difratometria de raios X e microscopia eletrônica de transmissão.
Sintetizar as nanopartículas de CdTe in situ no interior dos canais do MCM-
41;
Caracterizar os materiais nanocompósitos através das técnicas de
espectroscopia no infravermelho, termogravimetria, difratometria de raios X,
área superficial, fluorescência de raios X, espectroscopia de absorção na
região do ultravioleta-visível (UV-Vis), espectroscopia de fotoluminescência,
microscopia eletrônica de transmissão e voltametria cíclica.
Aplicar os nanocristais de CdTe obtidos in situ na matriz MCM-41 na
detecção eletroquímica de íons Cu2+em meios aquosos.
5
CAPÍTULO II
2. ESTADO DA ARTE
2.1. Sílicas Porosas
Nas últimas décadas, os materiais silicatos porosos ordenados têm despertado
grande interesse tanto no campo da ciência quanto em aplicações industriais - como
adsorventes de metais pesados em águas residuais (DAN e HUA, 2013). Essa
atenção voltada para os materiais porosos está fortemente ligada à capacidade de
interagir com átomos, íons, moléculas e nanopartículas não apenas nas suas
superfícies, mas também através dos poros existentes em todas as suas extensões,
devido às suas grandes áreas superficiais e volumes de poros notáveis. Isso torna
esses materiais apropriados para uma ampla variedade de aplicações, tais como
catálise (YOKOI et al., 2012), adsorção (TURNER et al., 2005), separação (STEIN,
2003), nanoreatores químicos para síntese de nanopartículas (TURNER et al., 2005,
BRONSTEIN, 2003), estabilização de hospedeiros reativos e sensores (STEIN, 2003).
Portanto, a presença dos poros nesses materiais nanoestruturados é responsável
pelas propriedades químicas e físicas (LI e ZHAO, 2013).
Outro fator relevante que contribui para o papel de destaque desempenhado
por esses materiais no campo da ciência moderna e aplicações tecnológicas está
relacionado à síntese de obtenção desses materiais que pode ser realizada de forma
menos complexa em etapas simples, obtendo-se assim poros com tamanhos e formas
controladas (BROYER et al. 2002, EARTAN et al., 2009).
Segundo a IUPAC (1972), os sólidos porosos podem ser classificados, de
acordo com os tamanhos de poros, ou seja, os diâmetros esféricos de abertura dos
poros, em três grupos: microporosos, mesoporosos e macroporosos. Os materiais
microporosos compreendem aqueles, cujos diâmetros de poros são menores que 2
nm. Já os mesoporosos possuem poros de tamanhos na ordem de 2 a 50 nm e os
materiais macroporosos possuem diâmetro de poros maior que 50 nm (BROYER et al.
2002, TURNER et al., 2005, EARTAN et al., 2009).
Dentre os materiais poros, as zeólitas (Figura 1) são materiais microporosos
que apresentam uma rede de poros interconectados com estrutura cristalina rígida,
fornecendo propriedades satisfatórias de adsorção e catalítica, as quais são
importantes para os materiais híbridos orgânico-inorgânicos. No entanto, esses
materiais possuem limitações relacionadas às aplicações nas escalas industriais, em
virtude dos tamanhos de poros - aproximadamente 1,5 nm – limitando-os somente às
6
aplicações industriais com moléculas de dimensões menores que 1,2 nm.
Diferentemente das zeólitas, as sílicas mesoporosas possuem tamanhos de poros de
2 a 50 nm, capazes de acomodarem moléculas maiores que 1,2 nm, o que as tornam
candidatas promissoras em diversas aplicações (BROYER et al. 2002, YOKOI et al.,
2012).
Figura 1. Representação idealizada de uma zeólita com estrutura faujasita. Adaptado da
referência MARTINS e CARDOSO, 2006.
Os materiais mesoporosos foram descobertos pelos cientistas da Mobil Oil
Research and Development, em 1992, os quais reportaram a síntese de uma nova
família de peneiras moleculares mesoporosas denominada de M41S (Mobil 41
Synthesys), através de sínteses hidrotermais a partir de surfactantes catiônicos como
moldes direcionadores de estruturas (brometo de cetiltrimetilamônio – CTAB) e
soluções de ânions de silicatos para auto-organização das estruturas dos materiais, a
partir do método molde cristal líquido. A partir dos anos 90, o termo “peneiras
moleculares mesoporosas” foi mencionado na literatura, todavia o termo “mesoporo” já
havia sido definido pela IUPAC. Não obstante, na década de 60 foi sintetizado um
material semelhante ao MCM-41, sendo os materiais formados denominados de sílicas
de baixas densidades nas formas massivas, devido às faltas de caracterizações
detalhadas (TURNER et al., 2005, LACERDA JR. et al., 2013, LI e ZHAO, 2013).
2.2. Sílica Mesoporosa M41S
Desde a sua descoberta por pesquisadores da Mobil, as sílicas mesoporosas
que apresentavam diâmetros de poros entre 2 a 50 nm, e elevadas áreas superficiais
Cavidade
7
da ordem de grandeza de 1000 m2 g-1, têm passado por aperfeiçoamentos nos
métodos de obtenção e têm atraído considerável atenção, devido às composições e
estruturas de poros ajustáveis por meio das variáveis de sínteses das sílicas
mesoporosas, tais como pH (potencial hidrogeniônico) e temperatura de aquecimento
das soluções precursoras contendo o agente direcionador de estrutura e a fonte
inorgânica de sílica, dentre outras (YOKOI et al., 2012).
As sílicas mesoporosas da família M41S são formadas por três materiais
distintos (Figura 2), os quais se distinguem entre si em função das estruturas dos
arranjos de poros: MCM-41 com estruturas hexagonais (rede hexagonal distinta de
canais mesoporosos uniformes); MCM-48 com estruturas cúbicas (canais
tridimensionais) e MCM-50 com estruturas lamelares (PINNAVAIA e TUNEV, 1996,
TURNER et al., 2005, LINARES et al., 2014).
Figura 2. Representação das diferentes fases das sílicas mesoporosas: a) hexagonal: MCM-
41; b) cúbica: MCM-48; c) lamelar: MCM-50. Adaptado da referência MASCARENHAS et al.
2001.
a) b)
c)
8
De forma geral, a formação da sílica mesoestruturada ordenada tem sido
promovida através de um método em que as micelas dos surfactantes atuam como
moldes na formação das estruturas desejadas, através das interações eletrostáticas
entre as cargas dos surfactantes e das fontes inorgânicas precursoras dos sílicios
(YOKOI et al., 2012). A síntese dos materiais da família M41S, em geral, envolve o
uso de surfactantes, como por exemplo, o brometo de cetiltrimetilamônio
[(C16H33(CH3))N+Br- ou CTAB)]. Esse é um agente que desempenha o papel de
direcionador de estrutura ou molde estrutural na formação dos materiais porosos,
cujos tamanhos de poros podem ser ajustáveis, dependendo do tamanho da cadeia
carbônica da espécie surfactante escolhida (AMAMA et al., 2005).
Por sua vez, a obtenção de uma fase das sílicas mesporosas da família M41S,
em detrimento de outra, depende da interação entre os oligômeros de silício com as
micelas formadas pelo surfactante, em condições distintas de pH (potencial
hidrogeniônico), concentração dos reagentes e temperatura. Essas três fases são
distinguidas por meio da técnica de difração de raios X, pois cada sílica mesoporosa
da família M41S apresenta um padrão de difração único, permitindo assim a distinção
entre as fases formadas (TURNER et al., 2005, LACERDA JR. et al., 2013).
2.2.1 Sílica Mesoporosa MCM-41
Dentre os materiais da família M41S, a sílica mesoporosa MCM-41 com arranjo
hexagonal de canais de poros cilíndros unidimensionais (1-D) e com diâmetros de
poros da ordem de 1,6 a 10 nm é a mais estudada. Isso se deve às condições de
síntese menos complexas de formação do MCM-41 comparadas às demais sílicas da
mesma família M41S. Os tamanhos dos poros da sílica MCM-41(Figura 3a) podem
variar, principalmente, em função dos tamanhos das cadeias orgânicas dos
surfactantes escolhidos, ou seja, agentes direcionadores de cadeias orgânicas longas
podem resultar em poros de diâmetros maiores, bem como associados à utilização de
agentes orgânicos, conhecidos como auxiliares de expansão de poros, tal como o
reagente 1, 3, 5 – trimetilbenzeno. No entanto, o uso de reagentes expansores dos
poros durante a síntese da sílica MCM-41 pode ocasionar a diminuição da
regularidade dos canais da rede hexagonal ordenada da estrutura do material poroso
(Figura 3b) [TURNER et al., 2005, MARTINS e CARDOSO, 2006, LACERDA JR. et al.,
2013, CAPONETTI et al., 2010, ORTIZ et al., 2013].
9
Figura 3. Imagens de microscopia eletrônica de transmissão da sílica mesoporosa MCM-41
com diferentes tamanhos de poros: a) 2nm; b) 10 nm. Adaptado da referência TURNER et al.,
2005.
Nas últimas décadas, várias rotas de síntese foram desenvolvidas visando o
aperfeiçoamento da síntese dos materiais mesoporosos do tipo MCM-41 com o
emprego de surfactantes catiônicos como moldes ou agentes direcionadores de
estruturas. No entanto, a síntese original do MCM-41 é realizada em meio reacional
ácido com o emprego de haletos de alquiltrimetilamônio (surfactantes) e silicato de
sódio como fonte de silício. O método proposto para formação do MCM-41 é o molde
cristal-líquido, no qual as espécies do agente direcionador formam as micelas em
solução aquosa com formato de bastões, os quais se alinham formando uma rede
hexagonal. Na etapa seguinte, acontece a polimerização de uma fonte inorgânica de
sílica, com a formação da estrutura do material poroso (Figura 4), seguido pela
remoção do surfactante dos poros do material através de técnicas, tais como extração
por solventes ou calcinação em temperaturas superiores a 500 °C (TURNER et al.,
2005, LINARES et al., 2014).
a) b)
10
Figura 4. Fluxograma das etapas da rota de síntese da sílica mesoporosa MCM-41. Adaptado
da referência TURNER et al., 2005.
As sílicas mesoporosas do tipo MCM-41 possuem porosidades e morfologias
que são determinadas por meio de diferentes parâmetros de síntese, tais como o tipo
do surfactante e a fonte de sílica, composição dos reagentes precursores, pH,
temperatura, tempo de envelhecimento, aditivos e solventes. Dentre as fontes de
sílica, as mais utilizadas para síntese de sílicas mesoporosas são o silicato de sódio
(Na2SiO3) e o tetraetilortossilicato (TEOS). Diferentemente do TEOS, que precisa ser
hidrolisado para obtenção de grupos silanóis, a solução de silicato de sódio já fornece
esses grupos, cuja quantidade depende do grau de pré-condensação. Quanto menor o
grau da pré-condensação da fonte de sílica, maior será a possibilidade de formar
materiais bem ordenados (ORTIZ et al., 2013). Uma das vantagens do uso do silicato
de sódio como fonte de sílica é o custo, quando comparado ao TEOS. Além do mais,
também pode ser empregada a sílica gel como fonte de sílica e em menor proporção o
silicato de sódio que atuará com agente mineralizante (MIYAJI et al., 1999).
Nesse contexto, a descoberta dos primeiros materiais mesoporosos ordenados
foi um marco no avanço da química de obtenção de materiais confinados aos poros,
também conhecido como química do hospedeiro-hóspede. Sendo assim,
desempenham um papel importante, pois possuem áreas superficiais com valores
relativamente elevados em relação a outros materiais porosos, variando entre 700 e
1000 m2 g-1, proporcionadas pela rede de poros ordenados com estreita distribuição de
tamanhos, bem como estabilidade mecânica da estrutura, o que é de importância nas
aplicações que envolvem a inclusão de moléculas hospedeiras (TURNER et al., 2005,
EARTAN et al., 2009).
Arranjo Hexagonal Micelar
Formação das Paredes Inorgâni-
cas MCM-41
Calcinação
Fonte de
Sílica
Formação das Micelas Formação dos Bastões Micelares
Formação das Paredes Inorgânicas MCM-41
Calcinação
Fonte de
Sílica
11
Os materiais mesoporosos MCM-41 (PARALA et al., 2000, WANG et al., 2008,
CAPONETTI et al., 2010, LIHITKAR et al., 2012, BABU et al., 2012, SANTOS et al.,
2016) tanto podem oferecer ambientes de tamanhos nanométricos para inclusão de
moléculas, quanto podem permitir o crescimento de nanocristais semicondutores
confinados. Neste caso, eles podem permirtir um maior controle das propriedades
ópticas das nanopartículas. Essas vantagens mencionadas são atribuídas aos arranjos
hexagonais distintos de canais dos materiais mesoporosos, possibilitando assim,
aplicações como nanoreatores na obtenção de novos nanocompósitos com
arquiteturas controladas e propriedades bem definidas (TURNER et al., 2007).
2.2.2. Funcionalização da Sílica Mesoporosa MCM-41
Por outro lado, sintetizar nanopartículas de semicondutores de forma
controlada no interior dos canais de sílicas mesoporosas, apenas pela impregnação
simples ou por troca iônica, apresenta dificuldades. Isto pode ser atribuído à interação
relativamente fraca entre o cátion metálico (a maioria dos metais de transição) e os
grupos silanóis (Si-OH). Uma alternativa promissora é a funcionalização das sílicas
mesoporosas com grupos funcionais, tais como tióis ou amino, que podem ser
imobilizados sobre as paredes internas destes materiais por um processo de
impregnação com um reagente de acoplamento silano. Sendo assim, os materiais
mesoporosos obtidos por métodos químicos com grupos funcionalizantes podem
frequentemente ser utilizados como materiais hospedeiros na inclusão de
nanopartículas semicondutoras (TURNER et al., 2005, CHEN et al., 2004, SUN e
BAO, 2008, LI et al., 2009).
As sílicas mesoporosas tipo MCM-41, além das elevadas áreas superficiais,
também possuem altas densidades de grupos silanóis nas paredes dos poros, que por
sua vez, possibilitam a modificação química através da introdução de grupos
orgânicos na superfície externa e interna (poros) da sílica. Sendo assim, a engenharia
de modificações seletivas da superfície da sílica mesoporosa MCM-41 tem sido
aplicada na funcionalização orgânica do interior dos poros desses materiais,
resultando em materiais híbridos orgânico-inorgânicos. Como as modificações
acontecem preferencialmente de forma homogênea, a organização estrutural
característica (canais hexagonalmente ordenados) da sílica MCM-41 é preservada.
Permitindo assim aplicações diversas desses materiais, tais como adsorventes
moleculares seletivos, catálise, processos de separação e adsorção de íons, bem
como nanoreatores (RUIZ-HITZKY e JUAN, 2000, YOKOI et al., 2012).
12
A funcionalização dos materiais mesoporosos MCM-41 tem sido estudada com
o objetivo de promover funcionalidades novas aos mesoporos. Os métodos de
funcionalização levam em consideração a existência de grupos silanóis nos materiais
mesoporosos, os quais são reativos e povoam a superfície das paredes dos poros. A
modificação da superfície interna (poros) e externa da sílica pode ser realizada por
dois métodos principais: o método co-condensação direta e o método pós-síntese de
enxerto (TURNER et al., 2005).
O método co-condensação direta corresponde a uma única etapa, que consiste
na condensação simultânea entre as moléculas dos organossilanos e as moléculas da
fonte de silício através do método sol-gel. O material é formado pela condensação
entre os reagentes precursores da sílica e o agente funcionalizante - que possui
grupos, tais como amino ou tióis. Logo, esse método possibilita a incorporação dos
grupos funcionais nos poros dos materiais com menos dificuldades. Já o método pós-
síntese de enxerto compreende uma metodologia envolvendo duas etapas distintas e
independentes: 1) primeiro é realizada a obtenção da sílica mesoporosa, permitindo
assim, um maior controle de tamanhos de poros durante a síntese; 2) na etapa
posterior é realizada a funcionalização dos canais da sílica mesoporosa com os
agentes funcionalizantes escolhidos de acordo com as aplicações desejadas
(TURNER et al., 2005, DAN e HUA, 2013).
O método pós-síntese explora a presença dos múltiplos grupos silanóis
reativos na parede dos poros dos materiais mesoporosos, possibilitando assim, a
reação de condensação entre o grupo alcoxissilano desejado e os grupos silanóis (Si-
OH) das paredes da sílica. O método pós-síntese acontece em duas etapas
experimentais: 1) inicialmente é realizada a síntese da sílica mesoporosa; 2) na
segunda etapa, os grupos funcionais são inseridos como mostra a Figura 5. A
vantagem desse método se deve a retenção da mesoestrutura da sílica, sem
prejudicar a ordem estrutural da rede inorgânica. Por sua vez, após os organossilanos
reagirem com a superfície dos poros, o ancoramento do grupo funcional orgânico à
superfície dos poros acontece efetivamente por meio da formação de ligações
covalentes de silício-oxigênio (CHEN et al., 2004, TURNER et al., 2005, SUN et al.,
2008, LI et al., 2009, SINGH et al. 2011, RATH, et al., 2014).
13
Figura 5. Representação pictórica da modificação da superfície dos materiais mesoporosos. A
área retangular representa a parede do poro do MCM-41. Adaptado da referência RATH, et al.,
2014.
Segundo estudo realizado por ZHANG et al. (2007), a funcionalização de uma
matriz de sílica mesoporosa tipo MCF (mesostructured cellular foam) foi possível
devido às interações fortemente eletrostáticas entre os grupos funcionalizantes, como
exemplo aminas, ligados às paredes da matriz mesoporosa e o ligante ácido
tioglicólico na superfície das nanopartículas de CdTe, permitindo assim, a
incorporação de quantum dots na estrutura mesoporosa, após agitação por 24 h
(ZHANG et al., 2007).
Diante do exposto, a funcionalização da matriz mesoporosa MCM-41 com
grupos orgânicos é uma alternativa promissora, pois esses grupos orgânicos podem
atender a diversos objetivos, tais como a atuação como âncora para os sulfetos
metálicos preparados e o aumento da hidrofobicidade do interior dos poros da sílica,
favorecendo a obtenção de nanocristais semicondutores preferencialmente nos poros
dos materiais mesoporosos (TURNER et al., 2005, TURNER et al., 2007).
2.3. Coloides
Superfície da sílica
mesoporosa
R= CH3, SH, NH2, etc.
R`= alquil
14
Em 1861, o termo “coloide” foi empregado pela primeira vez por Graham para
descrever estados nanocristalinos e a sedimentação que acontecia de forma muito
lenta. Estas duas características são típicas de soluções aquosas resultantes de
componentes comumente conhecidos por serem insolúveis em água, tais como cloreto
de prata e cloreto de ouro. Inicialmente esse termo se referia à suspensão de uma
fase (sólida ou líquida) dentro de uma segunda fase, e foi usado também para os
casos das suspensões aquosas que não se depositavam espontaneamente
(ROUCOUX et al., 2002).
A partir da década de 80, a física e a química coloidais foram consideradas
áreas dominantes e influentes na ciência dos coloides, em virtude do desenvolvimento
dos estudos relacionados às propriedades físicas e químicas dos sistemas coloidais.
Os primeiros candidatos estudados foram limitados aos seguintes materiais: partículas
de látex, óxidos metálicos e sais inorgânicos (por exemplo, iodeto de prata - AgI). No
entanto, nas últimas décadas, os coloides vêm se destacando através da síntese de
uma grande variedade de partículas com tamanhos e formas bem definidas, bem
como estruturas, composições e propriedades físicas desejáveis, em virtude dos
desafios e avanços criados a partir da nanotecnologia (BIGGS et al., 2008).
O campo de estudo dos coloides compreende os sistemas em que um ou mais
dos componentes tem ao menos uma dimensão na escala do nanômetro (10-9 m) ao
micrômetro (10-6 m), ou seja, sistemas contendo moléculas grandes e/ou partículas
pequenas. Por sua vez, levando-se em consideração as propriedades das
suspensões, Graham postulou a seguinte definição: partículas coloidais devem ser
grandes o suficiente (acima de 1 nm) e de tamanhos relativamente menores (abaixo
de 1 µm) de forma que não ocorra a sedimentação (SHAW, 2003, ROUCOUX et al.,
2002).
Segundo KLABUNDE (2001), o coloide é uma fase líquida estável contendo
partículas de tamanhos variando de 1-1000 nm, ou seja, uma partícula coloidal possui
o tamanho de 1 a 1000 nm (KLABUNDE, 2001). Os coloides podem ser classificados
em diferentes tipos, a depender tanto da fase física dos compostos dispersos quanto
do ambiente da dispersão. Logo, o termo “coloide”, do ponto de vista químico, abrange
uma diversidade de compostos, tais como suspensões de polímeros em solução,
emulsões formadas por moléculas anfifílicas em meio orgânico ou aquoso, bem como
dispersões de partículas inorgânicas. Estes coloides inorgânicos, principalmente
nanopartículas metálicas, tem sido estudados nas últimas décadas, pois apresentam
propriedades tecnológicas de interesse comercial, tais como pigmentos em cerâmicas
ou como catalisadores (ROUCOUX et al., 2002).
15
Devido ao progresso no campo da síntese dos coloides metálicos no século
XX, foi possível compreender melhor as etapas envolvidas na formação dos materiais
a nível microscópico, que incluem os seguintes processos: nucleação, crescimento e
aglomeração. Estes processos são dependentes das condições de síntese das
nanopartículas metálicas - reagentes, temperatura, pH, entre outras. Portanto, os
ajustes dos parâmetros de síntese dos coloides também podem ser aplicados com
sucesso na obtenção de nanopartículas coloidais semicondutoras. Além disso, a partir
de estudos cinéticos da síntese de nanoclusteres de metais de transição foi possível
desenvolver um mecanismo novo para a formação desses materiais. Este mecanismo
compreende uma fase inicial, denominada de nucleação, na qual acontece a formação
de núcleos de forma lenta e contínua até atingir um determinado raio específico a
partir do qual são estáveis. Nessa etapa também acontece o crescimento da superfície
de forma rápida, formando-se assim, nanoclusteres de tamanhos aproximadamente
monodispersos (ROUCOUX et al., 2002).
Uma distinção clara entre nanoclusteres modernos e coloides tradicionais foi
proposta por FINKE, através dos seguintes critérios: controle sobre as composições,
tamanhos, ligantes de superfície, bem como controle sobre propriedades desejáveis,
tais como solubilidade em solventes apropriados, remoção do solvente e redissolução
(ROUCOUX et al., 2002).
Apesar do tamanho nanométrico das nanopartículas coloidais ser considerado
uma das principais características. No entanto, essas nanopartículas apresentam
desvantagens, pois são instáveis no meio reacional, e podem se aglomerarem até a
formação do material sólido na forma estendida, podendo haver perdas ou redução de
algumas propriedades, tais como as propriedades luminescentes. Portanto, a
estabilização das nanopartículas coloidais é um aspecto importante a ser levado em
conta durante a síntese (ROUCOUX et al., 2002).
A teoria DLVO foi desenvolvida pelos cientistas Derjaguin-Landau e Verwey-
Overbeek, independentemente, nos anos 40, na qual se admite que apenas duas
forças determinem o grau de estabilidade dos coloides. Estas forças (as forças de van
der Waals e as forças elétricas, as quais são virtualmente aditivas), conseguem
explicar o mecanismo de agregação das partículas coloidais em termos das seguintes
forças: forças de van der Waals e forças entre as duplas camadas elétricas das
partículas. Logo, essa teoria leva em consideração as energias de interação
envolvidas na agregação e dispersão das partículas do disperso em um coloide.
Sendo assim, o uso de agentes estabilizantes é importante, pois proporciona o
surgimento de uma força repulsiva contrária às forças de van der Waals, e
consequente formação de nanopartículas estáveis em solução, visto que a ausência
16
de forças repulsivas provocaria a aglomeração das nanopartículas coloidais
(ROUCOUX et al., 2002).
2.4. Semicondutores
Num sólido as partículas estão ligadas em um arranjo estrutural rígido, com
movimentos restritos às vibrações, devido às forças atrativas relativamente fortes entre
átomos, moléculas ou íons. Os sólidos cristalinos inorgânicos são materiais com
arranjos de partículas bem ordenados, os quais do ponto de vista eletrônico podem ser
divididos em três classes distintas de materiais: metais, semicondutores e isolantes.
Nos sólidos na forma estendida, os orbitais atômicos se superpõem formando níveis
de energia eletrônicos denominados de bandas. Sendo assim, os metais são
eletronicamente caracterizados por possuírem uma banda parcialmente preenchida,
enquanto que, os semicondutores e isolantes possuem uma banda preenchida (banda
de valência - BV) separada da banda de condução (BC) por um band gap (Eg) -
diferença de energia entre as respectivas - ou seja, a energia mínima requerida para
excitar um elétron da BV para BC (MURPHY e COFFER, 2002, SCHMID, 2009,
RICARDO et al., 2012).
Os semicondutores e isolantes são conceitualmente iguais do ponto de vista de
suas estruturas eletrônicas, contudo, os isolantes são diferentes dos semicondutores
do ponto de vista dos valores dos band gaps, ou seja, os isolantes possuem maiores
gaps que os semicondutores (Figura 6). Os seguintes valores de band gap (Eg) são
definidos para os seguintes materiais: metais (Eg < 0,1 eV), semicondutores (0,5 < Eg >
3,5 eV) e isolantes (Eg > 4 eV) [MURPHY e COFFER, 2002].
17
Figura 6. Diagramas de níveis de energia para os metais, semicondutores e isolantes. As
caixas preenchidas correspondem às bandas de valência; e as caixas vazias, às bandas de
condução. Adaptado da referência: MURPHY e COFFER, 2002.
Os materiais semicondutores são também considerados como aqueles que a 0
K (zero Kelvin), a banda de valência (BV) está totalmente preenchida e a banda de
condução (BC) totalmente vazia, funcionando nessa condição como isolantes. Por
outro lado, como o band gap é estreito, por exemplo, da ordem de 1,1 eV para o silício
e 0,72 eV para o germânio, à temperatura ambiente alguns elétrons podem ser
excitados termicamente para a banda de condução, deixando na banda de valência
estados vacantes (buracos), e esses se comportam como partículas positivas
(RICARDO et al., 2012, SCHMID, 2009, FERREIRA e RANGEL, 2009, SILVA et al.,
2010).
2.4.1 Nanocristais Semicondutores
Desde as últimas duas décadas, pode-se observar que a síntese de partículas
cristalinas, com tamanhos de 1 a 100 nm, vem despertando interesse crescente tanto
do ponto de vista fundamental quanto na pesquisa relacionada às aplicações
tecnológicas. Esse papel de destaque pode ser atribuído às propriedades distintas
desses materiais, tais como as propriedades ópticas únicas. Nesse contexto, os
nanocristais são definidos como materiais inorgânicos formados por um agrupamento
En
erg
ia
isolante semicondutor metal
18
pequeno de aproximadamente 10 a 105 átomos, com dimensões nanométricas da
ordem de tamanho de 1 a 10 nm, os quais apresentam um comportamento
intermediário entre moléculas e átomos isolados, o que pode explicar suas
propriedades diferentes dos materiais na forma estendida (FERREIRA et al., 2009,
ANDRADE et al., 2012).
As nanopartículas também são conhecidas como quantum dots (QDs) ou
pontos quânticos, em que os portadores de carga (elétron e buraco) se apresentam
confinados em todas as três dimensões (Figura 7) [FERREIRA et al., 2009, SILVA et
al. 2010, SINGH et al., 2011]. Os portadores de carga formam assim um par elétron-
buraco (éxciton), o que resulta no efeito conhecido como confinamento quântico, o
qual desempenha papel importante nas propriedades ópticas especiais dessas
nanopartículas, uma vez que, as propriedades ópticas podem ser ajustáveis através
do tamanho das nanopartículas formadas (SINGH et al., 2011, ANDRADE et al.,
2012).
Figura 7. Representação ilustrativa de nanomateriais em zero dimensão: sólido reduzido nas
três dimensões. Adaptado da referência SCHMID, 2009.
Dentre os materiais submetidos ao regime nanométrico merece destaque os
semicondutores nanocristalinos coloidais, em que os portadores de cargas estão
submetidos a um regime de confinamento quântico – o qual pode ser fraco ou forte,
dependendo da dimensão do raio da partícula frente ao raio de Bohr do éxciton, ou
seja, diâmetros menores correspondem a confinamento forte, proporcionando assim,
propriedades físicas e químicas distintas dos materiais na forma estendida. Por sua
vez, o confinamento quântico é resultado do fato da transição de elétrons da banda de
valência à banda de condução ficar restrito a níveis discretos de energia (Figura 8).
Por conseguinte, um nanocristal que apresenta este efeito sobre os portadores de
carga possui uma estrutura eletrônica que se assemelha aos estados eletrônicos de
átomos e moléculas (SILVA et al., 2010, SINGH et al., 2011, ANDRADE et al., 2012).
х
z
y
19
Figura 8. Bandas de energia formada por níveis de energia discretos de orbitais atômicos para
um material semicondutor. Adaptado da referência SCHMID, 2009.
Diversas propriedades físicas dos materiais na forma estendida, tais como
ponto de fusão, parâmetros relacionados às transformações de fases, propriedades
espectroscópicas, etc., mudam significativamente quando se encontram na forma de
partículas com tamanhos da ordem de nanômetros (AMELIA et al., 2012).
Diferentemente dos semicondutores na forma estendida, cujas propriedades
químicas e físicas estão relacionadas às composições químicas, os materiais
submetidos ao regime nanométrico têm o “tamanho” como a força motriz das suas
propriedades físicas e químicas, as quais são afetadas pelos tamanhos das partículas
formadas, o que é resultado da influência do confinamento quântico. Sendo assim, as
propriedades dos nanocristais, tais como ópticas e eletrônicas podem ser alteradas
variando-se apenas o tamanho. As relações de dependência entre tamanhos e
propriedades desejadas das nanopartículas as tornam candidatas promissoras na
fabricação de dispositivos cada vez menores, tais como dispositivos ópticos e
eletrônicos (WENG et al., 2006, CHEN et al., 2008, SINGH et al., 2011).
Além disso, os nanocristais semicondutores também são bem estabelecidos
para diversas aplicações, tais como sensores eletroquímicos (ZHANG et al., 2007),
fotocatálise (SHENGLI et al., 2009), marcadores fluorescentes em métodos de
diagnósticos (FARIAS et al., 2008, HOWES et al., 2014).
A descoberta de nanocristais semicondutores emissores de luz foi realizada
através de um estudo publicado por Henglein e Bunsenges na década de 80
(GAPONIK et al., 2010). Esses nanocristais foram preparados na superfície de uma
20
sílica comercial a partir do perclorato de cádmio [Cd(ClO4)2], como precursor de íons
Cd2+, e do sulfeto de sódio (Na2S), precursor de íons S2-. A partir destas
nanopartículas de tamanho nanométrico foram obtidos os primeiros espectros de
absorção e emissão de nanopartículas manométricos (GAPONIK et al., 2010).
No entanto, os nanocristais semicondutores abrangem uma diversidade de
materiais, os quais podem ser classificados em três diferentes grupos da tabela
periódica em: II-VI III-V e IV-VI. Dentre esses, merecem destaque os nanocristais
semicondutores no sistema II-VI, os quais são formados de átomos metálicos do grupo
12 (Zn, Cd, Hg) e átomos de calcogênios do grupo 16 (S, Se, Te) da tabela periódica,
que apresentam propriedades ópticas distintas, tais como fluorescência com diferentes
cores de emissão em função do tamanho das nanopartículas (Figura 9) [EL-SAYED,
2004, SILVA et al., 2010a].
Figura 9. Dispersões coloidais aquosas de nanocristais semicondutores de CdTe com variação
das cores de emissão em função do tamanho. Adaptado da referência SILVA et al., 2010a.
As propriedades ópticas podem ser ajustáveis por meio do controle dos
tamanhos das nanopartículas. Sendo assim, o ajuste dos tamanhos dos nanocristais
21
semicondutores à luminescência desejada é um resultado direto do efeito de
confinamento quântico. Isso pode ser observado através das espectroscopias
eletrônicas de absorção na região do ultravioleta-visível (UV-Vis) e fotoluminescência
(FL) de emissão, nas quais acontecem deslocamentos batocrômicos, ou seja,
deslocamentos das bandas de absorção e de emissão em direção a comprimentos de
ondas maiores, devido ao aumento dos tamanhos das nanopartículas formadas
(Figura 10).
Figura 10. Espectros de dispersões coloidais aquosas de nanocristais semicondutores de
CdTe: (a) absorção óptica (UV-Vis); (b) fotoluminescência (FL). Fonte: Referência SILVA et al.,
2010a.
A síntese química dos nanocristais semicondutores é baseada na abordagem
bottom up (de baixo para cima) e as principais rotas sintéticas são: 1) método não
aquoso (ou organometálicos) e o método aquoso (síntese em refluxo, hidrotermal e
micro-ondas) [GREEN, 2002, FARIAS et al., 2008, BERA et al., 2010, SILVA et al.,
2010, LI et al., 2011].
O método não aquoso é baseado na pirólise de precursores organometálicos,
sendo que o procedimento mais comum consite na mistura do solvente de óxido trioctil
fosfina (TOPO, solvente coordenante), precursor metálico e seleneto de tri-n-octil
fosfina (TOPSe) em tratamentos térmicos com elevadas temperaturas sob atmosferas
inertes (PENG et al., 2001, SILVA et al., 2010).
(a) (b)
Ab
so
rbân
cia
(u
. a)
Lu
min
escên
cia
(c
ps
) Comprimento de onda (nm)
22
O método aquoso é baseado na injeção de precursores de calcogenetos em
soluções aquosas, contendo o precursor metálico e a água como solvente,
abrangendo um período de tempo reacional, o qual pode ser por refluxo, síntese
hidrotermal ou micro-ondas, na temperatura de ebulição da água, sendo comum a
utilização de grupos polifosfatos, tióis ou aminas de cadeias curtas, que atuam como
ligantes com a finalidade de diminuírem os defeitos de superfícies dos nanocristais,
possibilitando a obtenção de semicondutores nanocristalinos coloidais, com
propriedades, tais como reprodutibilidade satisfatória, baixa toxicidade (ausência de
solventes orgânicos) e custo reduzido. Além disso, os produtos preparados em fase
aquosa apresentam solubilidade satisfatória em água, estabilidade e compatibilidade
biológica (WENG et al., 2006, ROGACH et al., 2007, SILVA et al., 2010).
O primeiro estudo na síntese de quantum dots coloidais no sistema II-VI de
CdTe e CdSe (telureto e seleneto de cádmio) foi realizado em 1982, através de um
método de síntese baseado na imersão de certa quantidade de precursores metálicos
e calcogenetos em um material vítreo. Apesar da formação dos nanocristais, o método
apresentou baixa densidade de nanocristais formados e não possibilitou controle
efetivo do tamanho desses materiais (SILVA et al., 2010, VIOL et al, 2011).
Porém, na década de 90, MURRAY et al. (1993) realizaram a síntese de
nanocristais semicondutores de CdE (E = S, Se, Te) de alta pureza e qualidade, com
cristalitos com diametro na faixa 1,2 nm a 11,5 nm com alto grau de
monodispersividade, utilizando uma rota simples de produção, chamada método
organometálico. Os nanocristais sintetizados mostraram absorção relativamente
intensa e emissões características na temperatura ambiente. Além do mais, através da
combinação de imagens de microscopia eletrônica de transmissão e difratogramas de
raios X com simulações computadorizadas foi fornecida a descrição da estrutura
cristalina - estrutura hexagonal (wurtzita) [MURRAY et al., 1993]. Contudo, este
método apresentou desvantagem relacionada à utilização do dimetilcádmio Cd(CH3)2,
que é tóxico, pirofórico, de custo elevado, instável à temperatura ambiente, e explosivo
em altas temperaturas (MURRAY et al., 1993).
Na busca de rotas alternativas de síntese frente a este problema, PENG et al.
(2001) realizaram um estudo, em que foi proposta a substituição do dimetilcádmio por
óxido de cádmio (CdO), de forma que foram obtidos nanocristais de CdTe, CdSe e
CdS monodispersos e com propriedades ópticas satisfatórias (PENG e PENG, 2001).
Também foram realizados estudos para a modificação da síntese dos
calcogenetos metálicos, em que foram empregados agentes estabilizantes de
superfície (ligantes orgânicos - os quais são compostos por uma parte não polar e
outra polar), os quais atuam impedindo a agregação das nanopartículas (SILVA et al.,
23
2010, BOEV et al., 2003, JI et al., 2008). Dentre os estudos realizados sobre os efeitos
dos ligantes na superfície dos nanocristais merece destaque a obtenção de
nanocristais CdSe estabilizados com os ligantes, tais como piridina e aminas,
procurando entender o comportamento desses na superfície dos nanocristais (JI et al.,
2008, PRADHAN et al., 2007).
Inicialmente, as estratégias para síntese química dos nanocristais
semicondutores foram baseadas no uso de precursores organometálicos e renderam
nanocristais hidrofóbicos com propriedades de emissão interessantes: intensidade e
fotoluminescência ajustável aos tamanhos. No entanto, os nanocristais com
características hidrofóbicas não são apropriados para determinadas aplicações
práticas, tais como analíticas e biológicas (LESNIAK et al., 2013).
Por outro lado, a síntese direta de quantum dots (QDs) em meio aquoso
permite a obtenção de nanocristais coloidais. Essa síntese se destaca por apresentar
as seguintes vantagens: reprodutibilidade satisfatória, baixa toxicidade, custo reduzido,
o uso de solventes ambientalmente amigáveis, bem como fornece várias
funcionalidades dos nanocristais devido à utilização de ligantes de superfície ou
moléculas estabilizantes. Por exemplo, para que haja funcionalidades e aplicabilidades
dos nanocristais em determinadas áreas, tais como médica e biológica, é necessário
que essas nanopartículas apresentem estabilidade e compatibilidade biológica (WENG
et al., 2006, ROGACH et al., 2007, SILVA et al., 2010).
Por sua vez, os ligantes são moléculas de compostos empregados no
recobrimento da superfície das nanopartículas, e desempenham o papel de agentes
estabilizadores das superfícies dos núcleos durante os processos de formação das
partículas. Essa etapa é importante porque a superfície das nanopartículas necessita
de um revestimento, o qual possa desempenhar a função de uma barreira entre o
núcleo e o meio reacional, prevenindo assim, a agregação das partículas dispersas em
meio aquoso numa determinada faixa de valores de pH. Uma vez que, essas
moléculas estabilizantes se ligam diretamente à superfície da partícula, pode-se
escolher previamente o ligante apropriado para sintetizar as nanopartículas desejadas,
evitando assim, que outras moléculas circundantes não específicas se liguem as
nanopartículas, ao passo que, também fornecem um ponto de conjugação para
biomoléculas funcionais de interesse específico. Considerando-se que a interface
entre o núcleo das nanopartículas e o meio biológico desempenha papel essencial na
prevenção do processo de agregação, torna-se necessário uma manipulação
apropriada na otimização da síntese das nanopartículas para aplicações em diversos
campos, tal como biossensores. Portanto, o emprego dos ligantes estabilizantes deve-
se à instabilidade das partículas coloidais de tamanhos nanométricos, como forma de
24
prevenir a aglomeração das nanopartículas, formando assim o material na forma
estendida (ROUCOUX et al., 2002, HOWES et al., 2014).
Todavia, para a maioria das aplicações é necessário que os nanocristais
preencham alguns requisitos, tais como distribuição estreita de tamanho, estabilidade
frente à coalescência de nanopartículas e propriedades ópticas satisifatórias, as quais
são dependentes do método de síntese aplicado. Na busca dessas características,
uma alternantiva promissora de síntese é o uso de matrizes sólidas inorgânicas para
obtenção de nanocristais semicondutores (WANG et al., 2008, GAO et al., 2003).
Os nanocristais semicondutores podem crescer tanto na superfície externa
quanto dentro dos poros dos suportes sólidos. Nesse contexto, a abordagem de
síntese que relaciona a maioria dos requisitos acima mencionados, é aquela em que
há o emprego das sílicas mesoporosas como suportes para formação de nanocristais.
Essa abordagem tem sido descrita para composições de diferentes semicondutores,
tais como sulfeto de cádmio (CdS) [HIRAI et al., 1999, ZHANG et al., 2001, XU et al.,
2002, CAPONETTI et al., 2010], sulfeto de zinco (ZnS) [ZHANG et al., 2001, CHAE et
al., 2004] e seleneto de cádmio (CdSe) [PARALA et al., 2000, WANG et al., 2008, BAO
et al., 2008], devido aos seguintes fatores: 1) fornecer um meio de obtenção de
nanocristais com forma e distribuição de tamanhos desejados; 2) nanocristais
suportados numa fase sólida, permitindo assim, o acesso dos analitos às superfícies,
quando necessário; 3) estabilidade frente à coalescência, cujo processo pode levar a
formação do material na forma estendida com perda das propriedades desejáveis
(PARALA et al., 2000, WANG et al., 2008, BAO et al., 2008).
Embora os métodos existentes para estabilização e imobilização de quantum
dots sejam focados em alguns óxidos dielétricos e polímeros funcionais, no entanto, os
materiais mesoporosos MCM-41 (PARALA et al., 2000, LIHITKAR et al., 2012, BABU
et al., 2012) têm sido usados para estabilizarem e imobilizarem nanocristais
semicondutores monodispersos. Isso devido aos materiais mesoporosos oferecerem
ambientes de tamanhos nanométricos para inclusão de materiais, submetidos ao
regime de confinamento quântico, pois a parede dos canais da rede de poros impede
interações cluster-cluster, submetendo o crescimento das partículas encapsuladas ao
regime de tamanho nanométrico. Sendo assim, esses materiais podem ser usados
como nanoreatores para a obtenção de novos nanocompósitos com arquiteturas
controladas e propriedades bem definidas (PARALA et al., 2000, TURNER et al.,
2005).
De acordo com o estudo pioneiro realizado por GAO et al. (2003),
nanopartículas semicondutoras de CdS foram sintentizadas a partir do precursor
calcogento tioglicolato de cádmio dentro da rede de poros da sílica mesoporosa SBA-
25
15. Pode-se observar que os poros da sílica SBA-15 desempenharam o papel de
ambiente de confinamento, pois atuaram limitando o tamanho dos nanocristais obtidos
(GAO et al., 2003).
Segundo estudo realizado por LIHITKAR et al. (2012) nanopartículas de óxido
de zinco (ZnO) foram sintetizadas dentro dos poros da sílica mesoporosa MCM-41,
resultando no encapsulamento das nanopartículas ZnO no interior dos poros sem
danificar a estrutura da rede de poros da sílica MCM-41, bem como as nanopartículas
apresentaram propriedades luminescentes, as quais foram atribuídas ao ambiente da
rede de poros que atuou no controle de tamanhos dos nanocristais formados
(LIHITKAR et al., 2012).
De acordo com BABU et al. (2012) foi observado que a dopagem dos
nanocompósitos de ZnO/MCM-41 com íons magnésio (Mg) possibilita um
melhoramento nas propriedades de fotoluminescência destes em relação aos
nanocompósitos de ZnO/MCM-41 não dopados (BABU et al., 2012).
2.4.2 Nanocristais semicondutores de CdTe
A busca pela simplificação dos procedimentos experimentais, bem como a
redução na utilização de precursores com alta toxicidade, impulsionaram ROGACH et
al. (1996) a realizarem a primeira síntese de nanocristais semicondutores coloidais de
CdTe estabilizados com tióis em meio aquoso. Desta forma, a síntese direta em meio
aquoso aumentou as possibilidades de aplicações dos nanocristais. Dentre as várias
composições de semicondutores coloidais, o CdTe apresenta importância relevante,
pois é o mais bem sucedido, o que está relacionado às suas propriedades ópticas
únicas, em particular, sua fotoluminescência intensa e ajustável na região do visível
(ROGACH et al., 1996, VIOL et al., 2011, LESNIAK et al., 2013).
As abordagens químicas geralmente requerem a adição de agentes
estabilizadores, moléculas com habilidades de se ligarem à superfície dos
nanocristais, controlando assim o crescimento da partícula e fornecendo estabilidade
coloidal para a suspensão de nanocristais formados. Sendo assim, nanocristais
coloidais de CdTe estabilizados com ácidos modificados com grupos mercaptos (SH)
apresentam intensa luminescência, boa estabilidade e espectro de emissão amplo, ao
passo que apresentam aplicações em dispositivos de emissão de luz (LEDs),
marcadores biológicos, dentre outros (LIA et al., 2005, ROGACH et al., 2007, LI et al.,
2011).
Dentre os métodos de síntese, o mais bem estabelecido utiliza o borohidreto de
sódio (NaBH4) como agente redutor do Telúrio (Te0), bem como moléculas contendo o
26
grupo tiol, tal como o ácido mercaptoacético, que atuam como agentes estabilizantes
dos nanocristais, frente ao efeito da estabilização por crescimento das nanopartículas,
com o objetivo de diminuir a energia de superfície (SCHMID, 2004; ZOU et al., 2008).
Contudo, o crescimento das nanopartículas é um processo dinâmico que pode ser
explicado, geralmente, através de um mecanismo que consiste no crescimento das
nanopartículas maiores às custas daquelas menores, presentes no meio reacional,
denominado de Ostwald Ripening (OR) [BALDAN, 2002, LESNYAK et al., 2013].
Na busca do controle das propriedades dependentes do tamanho desses
nanocristais semicondutores de CdTe, alguns trabalhos vêm usando a sílica
mesoporosa tipo MCM-41 como nanoreatores, permitindo o controle de tamanho dos
nanocristais formados. Nesse contexto, somente alguns estudos descreveram a
imobilização do CdTe na matriz mesoporosa, bem como a estratégia amplamente
usada tem sido a introdução de nanocristais pré-formados nos canais (YANG, et al.,
2011, SONG et al., 2009).
ILHEIN et al. (1998) estudaram tanto a ancoragem de nanopartículas pré-
formadas de CdTe estabilizadas com tioglicerol quanto o crescimento dos nanocristais
em suspensões aquosas na sílica MCM-41. Os autores observaram que os espectros
eletrônicos de emissão dos nanocristais de CdTe ancorados na matriz mesoporosa
MCM-41 permaneceram praticamente inalterados. Já quando os nanocristais foram
incorporados durante a síntese da matriz MCM-41, os espectros eletrônicos de
emissão apresentaram deslocamentos batocrômico, ou seja, deslocamentos para
comprimentos de ondas maiores, que correspondem a menores energias (ILHEIN et
al., 1998).
Esse tipo de síntese merece destaque, pois a imobilização bem sucedida de
nanopartículas na superfície de matrizes mesoporosas funcionalizadas tanto pode
manter as propriedades físicas e químicas quanto melhorar sua estabilidade.
Adicionalmente, os materiais híbridos (nanopartículas/silicatos mesoporosos)
resultantes, ainda possuem elevadas áreas superficiais e poros bem definidos, os
quais podem ser usados como materiais multifuncionais com propriedades
satisfatórias (ILHEIN et al., 1998, SONG et al., 2009).
No entanto, essas propriedades são dependentes dos tamanhos dos
nanocristais e precisam ser monitoradas para um melhor controle dos nanocristais
obtidos. Sendo assim, os efeitos resultantes do confinamento de tamanhos podem ser
monitorados através de algumas técnicas, tais como espectroscopias eletrônicas de
absorção nas regiões ultravioleta-visível (UV-Vis) e de emissão. Essas técnicas
mostram deslocamentos para maiores energias à medida que acontece a diminuição
27
dos tamanhos dos nanocristais comparados ao material na forma estendida (TURNER
et al., 2005).
2.5. Métodos eletroquímicos para estudos de Quantum Dots (QDs)
O aperfeiçoamento das técnicas eletroanalíticas, principalmente aquelas em
que a varredura de potenciais gera sinais elétricos tem permitido a sua aplicação na
determinação de diversos analitos em soluções aquosas. As medidas eletroquímicas
são geralmente empregadas para estimar a energia dos níveis das bandas de valência
e condução das espécies químicas eletroativas, mas também podem fornecer
informações cinéticas de transferências de elétrons e dar acesso a diversos
parâmetros, tais como coeficientes de difusão, propriedades interfaciais, constantes
termodinâmicas e cinéticas das reações juntamente com os processos redox. De
forma análoga, técnicas voltamétricas podem fornencer informações sobre as energias
absolutas das bandas de valência e condução dos quantum dots (AMELIA et al.,
2012).
Por outro lado, os métodos eletroquímicos de caracterização de nanocristais
semicondutores desempenham um papel complementar em relação às técnicas de
caracterização ópticas atualmente empregadas, tais como as espectroscopias
eletrônicas. Diferentemente das espectroscopias eletrônicas de absorção e emissão
que fornecem informações sobre o band gap relacionado às transições eletrônicas do
material, permitindo a interpretação indireta do tamanho dos nanocristais, as técnicas
eletroquímicas permitem obter principalmente informações relacionadas à superfície
das partículas (BARD et al., 2005). Os processos envolvidos nos dois métodos são
mostrados de forma simplificada (Figura 11).
Figura 11. Representação pictórica da absorção e emissão de luz, e dos processos
eletroquímicos de transferências de elétrons nas nanopartículas semicondutoras. Adaptado da
referência BARD et al., 2005.
Eletrodo
Métodos Espectroscópicos
Níveis de energia dos estados de superfície
28
Não obstante, os potenciais eletroquímicos (Figura 12) dos nanocristais
semicondutores obtidos para oxidação e redução também fornecem dados sobre as
energias dos orbitais moleculares, as quais podem ser correlacionadas ao band gap
do nanocristal (BARD et al., 2005).
Figura 12. Representação da redução e oxidação eletroquímica de nanocristais. Adaptado da
referência BARD et al., 2005.
*Nível de Fermi - é a energia do nível ocupado mais energético em um sistema quântico
fermiônico à temperatura de zero absoluto.
As técnicas eletroquímicas mais eficientes, por apresentarem sensibilidade e
reprodutibilidade satisfatórias dos sinais analíticos, são as seguintes: voltametria de
redissolução anódica (VRA), voltametria de redissolução catódica (VRC), voltametria
de pulso diferencial e a voltametria de onda quadrada (CRESPILHO E REZENDE,
2004). Dentre estas, as voltametrias de redissolução são consideradas importantes
ferramentas na pré-concentração do analito na superfície do eletrodo, pois permitem
avaliar o comportamento eletroquímico dos eletrodos empregados. Na voltametria de
redissolução anódica é realizada a aplicação de um potencial negativo até que as
espécies eletroativas sejam reduzidas na superfície do eletrodo, sendo que após a
pré-concentração, o potencial é varrido no sentido inverso, no qual as espécies
Cátodo
Ânodo
Nível de Fermi*
no eletrodo
𝐸𝑎° A → A+ + ℯ
𝐸𝑐° A + ℯ→ A−
29
eletroativas são oxidadas. Por outro lado, na voltametria de redissolução catódica
acontece o processo inverso da VRA (CRESPILHO E REZENDE, 2004).
Dentre as técnicas eletroquímicas aplicadas na caracterização e no estudo dos
QDs, os métodos voltamétricos se destacam, devido ao comportamento das espécies
eletroativas fornecerem dados relacionados à adição ou à remoção de carga, bem
como no que diz respeito à estabilidade da partícula. Dentre estes métodos, a
voltametria cíclica (VC) é uma técnica considerada importante, uma vez que permite a
obtenção de algumas informações importantes, tais como: energias envolvidas no
processo redox, velocidade de transferência de elétrons entre o eletrodo e as espécies
eletroativas, coeficientes de difusão, parâmetros cinéticos e termodinâmicos das
reações químicas redox. Sendo assim, possibilita a obtenção de informações
adicionais sobre os nanocristais semicondutores (BARD et al., 2005; AMELIA et al.,
2012).
2.5.1. Sensores eletroquímicos
Com o advento das técnicas eletroanáliticas nas últimas décadas, o ramo dos
sensores eletroquímicos ganhou a atenção de vários profissionais nas áreas das
ciências básicas e de novas tecnologias, devido à aplicação de diferentes tipos de
eletrodos na quantificação de espécies eletroativas, com destaque para os eletrodos
de pasta de carbono (EPC). No entanto, o primeiro EPC foi desenvolvido por OLSON
e ADAMS (1963) com a finalidade de substituir o eletrodo gotejante de mercúrio,
objetivando atingir potenciais de valores mais positivos, sendo aplicado pela primeira
vez na determinação de ouro e prata, por meio da voltametria de redissolução anódica
(CRESPILHO E REZENDE, 2004, JANEGITZ et al., 2007).
Neste contexto, o desenvolvimento e a aplicação de eletrodos modificados em
diversos campos de pesquisa, com destaque em eletroanálise e sensores químicos
permitiu um maior eficiência na detecção dos analitos desejados. Na década de 70,
MURRAY et al. (1993) sugeriram a terminologia eletrodos quimicamente modificados
para designar eletrodos com espécies quimicamente ativas devidamente imobilizadas
na superfície desses dispositvos. De fato, o eletrodo modificado é construído através
da adição de “agentes modificadores” – que podem ser definidos como quaisquer
espécies químicas ativas - as quais são ancoradas no substrato com a finalidade de
pré-estabelecer e controlar a natureza físico-química da interface eletrodo/solução.
Além disso, pode-se melhorar a sensibilidade e a estabilidade do eletrodo por meio
das características físico-químicas (reatividade, seletividade, dentre outras) do agente
modificador. Desta forma, abre-se a possibilidade de desenvolvimento de dispositvos
como sensores químicos com resposta adequada para vários propósitos e aplicações,
30
tais como medidas ambientais na detecção de poluentes orgânicos ou mesmo íons de
metais pesados, através de sinais ópticos e eletroquímicos (STETTER et al., 2003,
CRESPILHO E REZENDE, 2004, JANEGITZ et al., 2007).
Os sensores químicos são geralmente definidos como dispositivos resultantes
das interações químicas com os analitos, que transformam qualquer informação
química qualitativa ou quantitativa em um sinal analiticamente útil. Contudo a rigor, um
sensor químico é um dispositivo miniaturizado capaz de fornecer informação contínua
em tempo real e on-line acerca da presença de um analito específico numa amostra
(IBAÑEZ e ESCANDAR, 2011).
Um critério comumente usado para classificar os sensores químicos é baseado
no tipo de sinal analitico medido, embora possam ser classificados usando diferentes
critérios. Sensores químicos possuem alvos moleculares ou químicos para serem
medidos. Já os biosensores são aqueles que utilizam biomoléculas e/ou estruturas
para medirem algo com significância biológica ou bioatividade, ou seja, biossensores
têm como alvos as biomoléculas específicas. Não obstante, o sinal de um sensor é
tipicamente de natureza elétrica, como exemplo, corrente, tensão, ou mudança de
condutividade provocada pela alteração da qualidade ou composição do analito de
interesse, sendo assim, os sensores eletroquímicos por definição convencional podem
ser divididos em três categorias: potenciométrico, amperiométrico e dispositivos
baseados em impedância ou admitância. Os sensores eletroquímicos podem ser
aplicados na detecção de analitos líquidos, sólidos ou gasosos, sendo que os dois
últimos são mais comuns (STETTER et al., 2003).
No século XX vários trabalhos abordaram as modificações dos eletrodos de
pasta de carbono, mas o marco no campo dos eletrodos de pasta de carbono foi
somente no início da década de 80 com o desenvolvimento de um sensor modificado
com dimetilglioxima para a determinação de íons de níquel II, o qual apresentou uma
boa seletividade ao analito de interesse. No entanto, a superfície do eletrodo de pasta
de carbono possibilita diversas interações. Sendo assim, o líquido orgânico aglutinante
serve para fixar a pasta ao eletrodo e preencher as cavidades entre as partículas de
grafite, bem como “isolar” o mesmo do contato com soluções aquosas (JANEGITZ et
al., 2007).
2.5.2. Sensores químicos à base de nanopartículas de CdTe
Nas duas últimas décadas têm sido realizadas diversas pesquisas sobre as
sínteses e propriedades fotofísicas dos quantum dots. No entanto, a crescente
necessidade por métodos analíticos simples e confiáveis em diversas áreas, tais como
31
indústria (WANG et al., 2009), farmacologia (ZHANG et al., 2007), meio ambiente
(ZHANG et al., 2008) e medicina (YUAN, J. et al., 2009) tem proporcionado um
impulso significante no desenvolvimento de sensores químicos novos.
No entanto, o desenvolvimento das análises bioquímicas utilizando QDs
começou de modo relativamente tardio comparado com o avanço das aplicações dos
mesmos no campo de bioimagens. Nos últimos anos, um progresso dinâmico tem sido
atingido no desenvolvimento de sensores químicos voltados para análises ambientais,
os quais são baseados nos sinais de fluorescência, fosforescência e
quimioluminescência (IBAÑEZ e ESCANDAR, 2011). Nesse contexto, buscando
aproveitar melhor as propriedades distintas dos QDs, várias estratégias de
desenvolvimento de sensores ópticos baseados na variação da intensidade de
fotoluminescência dos QDs tem sido desenvolvidas, através da mudança das
condições de superfície das nanopartículas (YUAN, J. et al., 2009).
A aplicação dos sensores químicos em medidas ambientais desempenha um
papel de relevância devido às vantagens que esses dispositivos oferecem, tais como
detecção on-line, miniaturização que permite medições locais e produção mínima de
resíduos, contribuindo assim para química verde (STETTER et al., 2003, WANG et al.,
2009).
Os quantum dots são candidatos promissores no desenvolvimento de eletrodos
quimicamente modificados voltados para a aplicação na análise de metais pesados
(íons metálicos, os quais fazem parte de uma importante classe de poluentes) e
também de espécies de interesse biológico (aumento da biocompatibilidade), devido
as suas propriedades eletroquímicas (ZHU e HUANG, 2013). Dentre estes, destacam-
se as nanopartículas de CdTe, as quais podem ser usadas na fabricação de sensores
para detecção de diferentes famílias de analitos químicos e biológicos (WANG et al.,
2009).
Estudos realizados por ZHANG et al. (2008) foram pioneiros no
desenvolvimento de um método sensível e seletivo para detecção de íons cobre (Cu2+)
baseado no “quenching” da eletroquimioluminescência de QDs CdTe em solução
aquosa. Nesse estudo foi observado que o efeito “quenching” do íon Cu2+ na ECL
anódica das nanopartículas de CdTe é dependente da concentração, ou seja, com o
aumento da quantidade de íons Cu2+, a respectiva eletroquimioluminescência diminui
gradativamente (ZHANG et al., 2008).
Segundo o trabalho realizado por HUA et al. (2009) foi demonstrado que os
quantum dots de CdTe coloidais sintetizados apresentaram comportamento
eletroquímico - propriedades eletroquimioluminescentes - dependentes dos tamanhos,
ou seja, a intensidade ECL aumenta gradualmente enquanto os tamanhos das
32
partículas de QDs de CdTe aumentam. Além disso, os potenciais de picos ECL se
deslocaram positivamente com o aumento dos tamanhos ou diminuição do band gap
dos QDs, bem como foi possível desenvolver um método para detecção altamente
seletiva da L-cisteína, mesmo na presença de outros aminoácidos (HUA et al., 2009).
YUAN et al. (2009) realizaram um estudo da aplicação de nanopartículas de
CdTe na área de sensores, a partir do qual foi demonstrado que um sistema simples
de nanopartículas de CdTe estabilizadas com glutationa apresentou alta sensibilidade
à glicose, o que foi observado através da diminuição da emissão de fotoluminescência
quando em contato com o peróxido de hidrogênio (H2O2) - produto da oxidação da
glicose catalisada pela enzima glicose oxidase - permitindo assim, sua aplicação na
detecção do referido açúcar. Também foi observado que esse sistema apresentou
uma maior sensibilidade quando comparado a QDs de CdSe/ZnS. Os resultados
mostraram que os QDs de CdTe menores apresentaram maior sensibilidade a glicose,
tornando-os promissores no desenvolvimento de sistemas sensores para diversos
analitos ou bioprocessos que produzam H2O2. Além disso, a detecção quantitativa da
glicose variou de 1,0 µM a 20 µM com um limite de detecção de 0,1 µM considerado
menor em relação a outros sistemas ópticos baseados em QDs sensíveis à glicose
(YUAN et al., 2009).
A relevância da aplicação de nanopartículas de CdTe confinadas numa matriz
de sílica, obtidos através de uma rota modificada, como sensores químicos na
detecção eletroquímica foi evidenciada por ZHANG et al. (2007). Nesse estudo foi
realizada a imobilização bem sucedida da proteína, bem como foi feito a detecção
eletroquímica direta desta (ZHANG et al., 2007). Isso pode ser atribuído à elevada
área superficial e a porosidade das matrizes, permitindo assim, que os QDs atuem
como marcadores ativos acessíveis ao analito durante as medidas, garantindo
sensibilidade mesmo em concentrações baixas de nanocristais. Além disso, quando
comparado os MCFs não modificadas àqueles MCFs com a proteína mioglobina (Mb)
imobilizada (QDs-MCFs), estes últimos apresentaram um aumento não somente na
transferência direta de elétrons, mas também exibiram melhor desempenho
eletrocatalítico frente ao peróxido de hidrogênio (H2O2), tal como sensibilidade e faixa
linear larga (ZHANG et al., 2007).
Portanto, o desenvolvimento de sensores eletroquímicos modificados, com
nanopartículas de CdTe sintetizadas in situ em matrizes mesoporosas tipo MCM-41,
voltados para detecção de íons cu2+, torna-se uma alternativa promissora no campo da
detecção eletroquímica.
33
CAPÍTULO III
3. Procedimento Experimental
3.1. Reagentes
No presente trabalho foram utilizados os seguintes reagentes: telúrio em pó
(200 mesh, 99,8%), cloreto de cádmio hidratado (CdCl2.H2O, 98%), ácido 3-
mercaptopropiônico (≥ 99%) todos obtidos da Sigma e usados sem purificações
adicionais. Sílica gel 60 (70-230 mesh) e silicato de sódio (Vetec). Outros reagentes e
solventes empregados foram: o tolueno (Isofar), brometo de cetiltrimetilamônia (CTAB,
99,9%) [Neon], 3-mercaptopropiltrimetoxissilano (Merck), nitrato de cobre II trihidratado
[Cu (NO3)2.3H2O], fosfato dissódico (Na2HPO4) e fosfato monossódico
(NaH2PO4.H2O)[Synth]. O hidróxido de sódio P.A. foi obtido da Vetec. Todos os
experimentos foram realizados usando a água ultrapura MILLI Q.
3.2. Síntese da matriz sílica mesoporosa do tipo MCM-41
A metodologia geral adotada consistiu na preparação inicial das matrizes
mesoporosas, através do método hidrotérmico, segundo o trabalho de SOUZA et al.
(2004). Inicialmente duas soluções foram preparadas. A solução (I) contendo a sílica
gel e o silicato de sódio como fontes de silício e sódio, preparadas sob agitação
constante a 70 °C por 2 h. A solução (II) contendo brometo de cetiltrimetilamônio
(CTAB) como agente direcionador de estrutura, preparada a temperatura ambiente
sob agitação constante por 30 min. Em seguida, a solução (I) foi adicionada à solução
(II) e a mistura resultante foi agitada a temperatura ambiente por 30 min, quando um
gel branco foi formado. Este gel foi adicionado a um frasco de teflon e colocado num
reator autoclave, o qual foi aquecido numa estufa a 100 °C por 72 h, com correção do
potencial hidrogeniônico (pH) do gel de 11 para 9 após 24 h e 48 h com uma solução
de ácido acético 30% (v/v). Após 72 h, o material resultante foi resfriado a temperatura
ambiente, lavado com água destilada e filtrado a vácuo, e seco em estufa a 100 °C por
1 h. Posteriormente o material foi calcinado a 450 °C por 2 h em atmosfera de ar. O
processo de síntese hidrotermal da sílica mesoporosa MCM-41 está esquematizado
na Figura 13.
34
Figura 13. Esquema pictórico da formação da matriz MCM-41. Adaptado da referência YANG
et al., 2012.
3.3. Funcionalização da sílica mesoporosa do tipo MCM-41
A sílica mesoporosa tipo MCM-41 após a calcinação foi funcionalizada com
grupos tióis (–SH) de acordo com o método proposto por WALCARIUS et al. (2002).
Inicialmente foi pesado 7 g do MCM-41 calcinado, o qual foi suspenso em 70 mL de
tolueno seguido pela adição de 7 mL de 3-mercaptopropil-trimetoxissilano (MPTS) e a
mistura resultante foi aquecida sob refluxo à temperatura de 120 °C durante 24 h sob
agitação constante. Após este tratamento, o material foi filtrado, lavado com tolueno
(três vezes) e seco em estufa a 50 °C por 18 h. O material MCM-41 funcionalizado foi
denominado como FMC-41.
3.4. Preparação das nanopartículas de CdTe in situ no material FMC-41
Inicialmente 50 mL de uma solução aquosa 0,1 mol L-1 CdCl2 contendo também
0,12 mol L-1 de ácido 3-mercaptopropiônico (MPA) - como estabilizante - foi preparada
e o pH ajustado para 9 com 1 mol L-1 de uma solução de hidróxido de sódio (NaOH).
Após, uma solução de NaHTe (precursora do Te2-) livre de oxigênio foi então
preparada (FARKHANI e VALIZADEH, 2012, LESNIAK et al., 2013) pela adição de
Moléculas surfactante
(CTAB) Micelas
Água
Hidrólise e
condensação
CTAB= Brometo de cetiltrimetilamônio Sílica Mesoporosa
(MCM-41)
Remoção do
direcionador
de estrutura
Calcinação
((450°C/ 2h)
Sílica
35
0,127 g de telúrio em pó em 5 mL de água num frasco Schlenk, seguido pela adição
de uma solução de borohidreto de sódio (NaBH4) [2,5 g/5 mL de água] sob fluxo de
nitrogênio (N2) com agitação vigorosa a 40 °C por aproximadamente 20 min. Após, a
solução incolor de NaHTe recentemente preparada foi injetada dentro da solução
precursora de íons cádmio (Cd2+), imediatamente seguido pela adição do material
FMC-41, previamente seco em estufa a vácuo a 100 °C por 3 h.
A razão molar Cd:Te:MPA usada na síntese das nanopartículas de CdTe foi
1,0:0,2:1,2. Diferentes massas do material FMC-41 foram usadas nesse procedimento
de síntese: 0,25 g; 0,5 g; 1,0 g; 2,0 g e 3,5 g (as amostras foram denominadas de
FM025, FMC05, FMC1, FMC2 e FMC35). A matriz foi adicionada dentro de um frasco
revestido de teflon, o qual foi colocado dentro de um reator de aço inoxidável, sendo
que o meio reacional foi aquecido nas condições hidrotermais à temperatura de 100 °C
por 1 h mediante agitação constante. Após o resfriamento à temperatura ambiente, as
suspensões resultantes foram centrifugadas, lavadas com água destilada e as
amostras foram secas em estufa a vácuo a 50 °C/4 h. O material resultante foi
armazenado para caracterizações.
A estratégia de crescimento de nanocristais in situ na matriz FMC-41 foi
comparada à adsorção de nanocristais de CdTe formados, obtidos pelo mesmo
procedimento descrito acima sem adição de matriz sólida. Após o resfriamento do
meio reacional à temperatura ambiente, nanocristais CdTe foram precipitados com a
adição de álcool isopropílico, coletado pela centrifugação e ressuspendido em 50 mL
de água. Para a adsorção nos canais da amostra de FMC-41, 5 mL de uma suspensão
aquosa de CdTe foi colocada num balão de fundo redondo seguido pela a adição de
0,5 g da matriz FMC-41. A suspensão resultante foi agitada à temperatura ambiente
por 48 h, centrifugada e lavada 03 (três) vezes com água destilada e o material
resultante foi seco em estufa a 50 °C por 24 h.
3.5. Estudos eletroquímicos
As medidas eletroquímicas foram executadas com um
potenciostato/galvanostato µ-Autolab modelo tipo III. Os experimentos voltamétricos
cíclicos e voltamétricos por redissolução foram realizados em uma célula
compartimento único de 15 mL. Foi utilizado um sistema de três eletrodos, sendo que
o eletrodo de trabalho foi o de pasta de carbono (sem modificação e quimicamente
modificado com QDs de CdTe in situ), o auxiliar, um eletrodo de fio de platina, e o de
referência, um eletrodo Ag/AgCl (KCl/ 3 mol L-1). Os experimentos foram realizados à
temperatura de 25 ± 1 °C. O valor de pH da solução aquosa foi tamponado a uma
36
força iônica (medida da concentração dos íons em solução) de 0,25 mol L-1 por fosfato
dissódico ou hidrogenofosfato dissódico (Na2HPO4) e hidrogenofosfato dissódico
hidratado Na2HPO4.H2O (pH = 7,0). As medidas eletroquímicas das amostras e os
procedimentos de detecção correspondente foram realizados com as soluções
preparadas pela diluição de uma solução aquosa estoque de cobre (II). As soluções
foram desaeradas em atmosfera de nitrogênio (N2) por 15 min e mantido sob esta
atmosfera durante o experimento.
Eletrodos de pasta de carbono (JANEGITZ et al., 2009; ZAYED et al., 2013;
TAKEUCHI et al., 2007) não modificados contendo a proporção de 7:3 por massa de
pó de carbono: óleo mineral foram usados para o propósito de comparação. Os
eletrodos modificados contendo 1:11,5 por massa de FMC-41:pasta de carbono e
FMC-41/CdTe:pasta de carbono (FMC) foram usadas para avaliar diferentes amostras
preparadas (FMC1, FMC2 e FMC35). A pasta de carbono obtida foi inserida num
suporte construído com um tubo de vidro de paredes espessas com 0,4 cm de
diâmetro interno. Um fio de cobre revestido com borracha isolante foi adaptado à
função de êmbolo, o qual foi montado na parte superior do tubo de vidro. Ao
movimentar a parte superior do sistema, o êmbolo pode ser aplicado para deslocar
para fora do tubo cilindro de vidro a camada de pasta de carbono usada, a qual foi
removida, formando uma superfície com a pasta renovada após a realização de um
polimento manual num papel de pesagem de sólidos (SANTOS et al., 2015).
3.6. Procedimento analítico
Uma solução estoque de nitrato de cobre (II) [0,5 mmol L-1] foi preparada e
alíquotas foram diluídas com uma solução tampão de fosfato (pH = 7,0) para obter um
intervalo de concentração de 0,5 a 1,7 µmol L-1. As determinações de íons Cu2+
usando eletrodos com diferentes amostras foram realizadas através das análises
voltamétrica de redissolução anódica. Os parâmetros usados nas técnicas de
voltametria para diferentes medidas de cobre foram avaliados. Todos os parâmetros
foram medidos à temperatura ambiente de 25 °C.
3.7. Técnicas de Caracterização
3.7.1 Termogravimetria
A análise termogravimétrica (TG) foi usada para avaliar a estabilidade térmica
do material por meio das variações de massa das amostras submetidas a
37
aquecimento numa atmosfera controlada. Sendo assim, foi possível monitorar as
perdas de massas das amostras calcinadas e funcionalizadas da sílica mesoporosa
MCM-41, as quais foram submetidas à análise em uma termobalança da Netzsch,
modelo STA 449F3, em atmosfera de nitrogênio com fluxo de 50 mL min-1, submetidas
a aquecimento na faixa de temperatura de 30 a 900 °C, em uma taxa de aquecimento
de 10 °C min-1, em cadinho de alumina com aproximadamente 10 mg de cada amostra
analisada.
3.7.2. Espectroscopia vibracional na região do infravermelho com transformada
de fourier (FTIR)
Os espectros das amostras foram obtidos usando um equipamento
espectrofotômetro da Perkin Elmer, modelo Spectrum BX FT-IR System com leitura na
faixa de 400 a 4000 cm-1 através do método de pastilhas das amostras, usando o KBr
como agente dispersante.
3.7.3 Difratometria de raios X (DRX)
As propriedades estruturais dos materiais mesoporosos MCM-41 calcinados,
funcionalizados (FMC-41) e impregnados foram obtidas por difratometria de raios X
pelo método em pó, a partir de um equipamento da Rigaku modelo MiniFlex II. As
medidas foram realizadas usando radiação CuKα, operando em 30 Kv e 15 mA no
intervalo de 2θ = 1,5 a 10°, com velocidade de varredura de 2° min-1.
3.7.4 Fluorescência de Raios X por Dispersão em Energia (FRXDE)
As medidas foram realizadas no equipamento da Shimadzu modelo EDX-
720HS, utilizando tubo gerador de raios X de ródio (Rh), faixa de voltagem de 5 a 50
kV, corrente de 1 a 1000 µA e um detector de estado sólido de Si (Li) resfriado com
nitrogênio líquido. O equipamento permite medidas na faixa do sódio (11Na) ao urânio
(92U). As análises foram realizadas no modo quali-quanti pelo método em pó em
atmosfera inerte.
3.7.5 Espectroscopia de Absorção na região do ultravioleta-visível (UV-Vis)
38
As medidas das amostras por reflectância difusa - forma em pó - foram
realizadas num espectrofotômetro Ocean Optics HR2000 acoplado a uma fibra óptica
e uma esfera integradora.
3.7.6. Espectroscopia de Fotoluminescência (FL)
Os espectros de fotoluminescência para as amostras em pó foram medidos
com um espectrofluorímetro ISS/PCI – Photon Couning Spectrofluoromer equipado
com uma lâmpada 300 W de xenônio (Xe). As amostras foram excitadas em
comprimento de onda de 250 nm.
3.7.7. Adsorção/dessorção de N2
As medidas de adsorção e dessorção de N2 das amostras foram realizadas a
77 K usando um equipamento QuantaChrome modelo NOVA 1200. A área superficial
específica e volume de poro das amostras foram calculados através do método BET
(Brunauer-Emmett-Teller), enquanto que os diâmetros dos poros foram calculados
usando o método BJH (Barret, Joyner e Halenda) [TURNER et al., 2005].
3.7.8. Microscopia Eletrônica de Transmissão (MET)
As micrografias foram obtidas utilizando um microscópio de transmissão
modelo TEM-MSC-JEOL 2100 (UNICAMP-SP) em uma voltagem de aceleração de
200 kV e um microscópio modelo JEOL JEM-1400 Plus (CMNano-UFS/SE) em 120
kV. As amostras usadas para observação no TEM foram preparadas através do
gotejamento de uma suspensão das amostras de FMC-41 com nanocristais in situ
sobre uma malha de cobre revestida com carbono, permitindo assim, que o solvente
evaporasse a vácuo.
39
CAPÍTULO IV
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Os resultados serão apresentados da seguinte forma: 1º) Avaliação da síntese
da matriz sílica mesoporosa tipo MCM-41 (com e sem funcionalizante) por meio de
análise térmica, medidas de difração de raios X (DRX), espectroscopia vibracional na
região do infravermelho com transformada de Fourier (FTIR), microscopia eletrônica
de transmissão de alta resolução (MET-AR) e adsorção/dessorção de Nitrogênio; 2º)
Avaliação da formação das nanopartículas de CdTe in situ nos canais da matriz
mesoporosa MCM-41 por meio das três últimas técnicas citadas, bem como por meio
de fluorescência de raios por dispersão em energia (FRXDE) juntamente com as
espectroscopias eletrônicas; 3º) Caracterização eletroquímica das nanopartículas de
CdTe in situ no MCM-41 e aplicação como sensor na detecção de íons Cu2+.
4.1. Avaliação da síntese da sílica mesoporosa tipo MCM-41 e do produto da
funcionalização com 3-mercaptopropriltrimetoxisilano (MPTMS)
Diversas rotas são usadas na obtenção das sílicas mesoporosas MCM-41.
Apesar disso, há uma busca constante por rotas que possibilitem a formação desses
materiais de forma simples. Neste trabalho foi utilizado o método de síntese sol-gel
baseado no trabalho de SOUZA et al. (2004). Com o objetivo de estudar as
propriedades estruturais e a estabilidade térmica da sílica mesoporosa sintetizada
MCM-41 e do produto da funcionalização com 3-mercaptopropriltrimetoxisilano
(MPTMS) foram realizadas as caracterizações por análise termogravimétrica (TG),
espectroscopia vibracional na região infravermelho com transformada de fourier,
medidas de DRX, adsorção/dessorção de nitrogênio e microscopia eletrônica de
transmissão.
As curvas termogravimétricas das amostras de sílica mesoporosa não
calcinada (MCM-41 NC), calcinada (MCM-41) e funcionalizada (FMC-41) são
apresentadas na Figura 14. A partir da curva termogravimétrica da amostra MCM-41
NC, pode-se verificar a presença de duas perdas de massas principais: a primeira
acontece abaixo de 120 ºC; enquanto a segunda, abaixo de 500°C. A Figura 14a,
mostra que a sílica MCM-41 antes da remoção do CTAB libera moléculas de água e
gases adsorvidos, tais como CO2 (gás carbônico) a 72 °C, bem como a liberação de
moléculas de água referente à condensação dos grupos silanóis que acontece a 253
40
°C. Já as moléculas do surfactante direcionador de estrutura empregado na síntese
são decompostas em 352 °C (SOUZA et al. 2004, SANTOS et al., 2015).
A partir da curva termogravimétrica, também pode ser observado que após a
calcinação (Figura 14c), o MCM-41 exibe a maior perda de massa relacionada às
moléculas de água à temperatura de 90 °C, o que indica que a sua superfície é
altamente hidrofílica, bem como uma pequena perda de massa entre 180 e 230 °C –
atribuída a condensação dos grupos silanóis presentes na rede mesoporosa,
produzindo água (SOUZA et al. 2004). Logo, observa-se que a amostra MCM-41 não
apresentou perdas de massa referente ao agente direcionador de estrutura (CTAB), o
que corrobora com o espectro vibracional na região do infravermelho da amostra que
será apresentado na sequência (Figura 15), o qual não apresentou bandas relativas ao
agente direcionador da estrutura MCM-41 (CHEN et al.1993, SOUZA et al. 2004).
100 200 300 400 500 600 700 800
70
80
90
100
Pe
rda
de
Ma
ss
a (
%)
Temperatura (°C)
FMC-41
MCM-41
MCM-41 NC
Figura 14. Curvas termogravimétricas das amostras de sílica mesoporosa MCM-41: MCM-41
NC (não calcinada); FMC-41 (funcionalizada); MCM-41 (calcinada).
Após a funcionalização da matriz MCM-41calcinada (Figura 14b), o produto
resultante (FMC-41) tornou-se menos hidrofílico, como indicado pela diminuição na
perda de massa atribuída a umidade liberada, ou seja, relativo à água adsorvida à
superfície do material. Foi observada uma perda de massa a 345 °C, referente à
41
decomposição dos grupos do agente funcionalizante MPTMS. Portanto, foi possível
determinar a temperatura na qual os grupos tióis se decompõem (345 ºC), o que será
de relevante importância na realização do processo de desgaseificação das amostras
– etapa realizada antes da adsorção/dessorção de nitrogênio para liberação de gases
presentes nos poros da amostra - para determinação da área superficial do material
(AIROLDI, 2000, SOUZA et al., 2004).
Os espectros vibracionais na região do infravermelho da sílica mesoporosa não
calcinada (MCM-41 NC), calcinada (MCM-41) e funcionalizada (FMC-41) são
mostrados na Figura 15. O espectro da amostra da sílica mesoporosa antes da
calcinação (MCM-41 NC) exibe bandas em: 3400 cm-1 atribuídas aos estiramentos O-
H dos grupos silanóis (Si-OH) da rede da sílica mesoporosa com estrutura MCM-41 e
das moléculas de água adsorvidas na superfície do material; 2912 e 2852 cm-1
atribuídas aos modos vibracionais de estiramentos da ligação C-H, referentes aos
grupos funcionais orgânicos, CH2 e CH3, do agente direcionador CTAB; 1643 cm-1
relacionadas à deformação angular da ligação Si-OH dos grupos silanóis, bem como
das ligações H-O-H das moléculas de água adsorvidas; 1480 cm-1 relativo à
deformação angular do grupo orgânico CH2 atribuído ao agente direcionador CTAB;
1235 e 1075 cm-1 correspondente ao estiramento assimétrico das ligações Si-O-Si da
rede de sílica condensada; 962 cm-1 referente ao estiramento assimétrico Si-O dos
grupos Si-OH; 796 cm-1 devido ao estiramento simétrico das ligações Si-O do grupo
Si-O-Si; 460 cm-1 relativo à deformação angular das ligações Si-O-Si (WINKLER et al.,
1999, BROYER et al., 2002, SOUZA et al., 2004, IGLESIA et al., 2006, CHEN et al.,
2006, HUO et al., 2014).
O espectro vibracional da amostra após a calcinação (MCM-41) apresenta um
alargamento da banda em 3448 cm-1, o qual foi atribuído ao estiramento da ligação O-
H das moléculas de água adsorvida após o armazenamento para caracterizações,
bem como o estiramento dos grupos O-H da estrutura de rede da sílica. A ausência de
bandas em 2921 e 2851 cm-1, características dos grupos orgânicos do agente
direcionador CTAB, no espectro da amostra MCM-41, sugere que a calcinação
realizada a temperatura de 450 °C (determinada através da curva termogravimétrica)
permitiu a remoção completa do surfactante dos canais da matriz mesoporosa MCM-
41. Além disso, nenhuma diferença significativa foi observada em relação às bandas
dos grupos inorgânicos da sílica (Si-O-Si) [WINKLER et al., 1999, BROYER et al.,
2002, CHEN et al., 2006].
O espectro da amostra funcionalizada (FMC-41) apresentou bandas em: 2934
cm-1 atribuída à vibração de estiramento assimétrico e simétrico da ligação C-H dos
grupos CH2 da cadeia orgânica do agente funcionalizante; 2565 cm-1 que corresponde
42
a uma banda menos intensa quando comparada as demais, referente ao estiramento
S-H dos grupos tióis. Além disso, a banda em 2565 cm-1, bem como uma diminuição
da banda em 962 cm-1 após a funcionalização, atribuída ao estiramento da ligação Si-
O dos grupos silanóis terminais, que são sítios de sililação usados pelo MPTMS, são
dados consistentes com a modificação bem sucedida da superfície da sílica
mesoporosa MCM-41 (ZHAO e LU, 1998, OSHIMA et al., 2006).
4000 3500 3000 25001600 1400 1200 1000 800 600 400
10
75
12
35
79
6
46
096
2
14
80
16
43
28
52
29
12
Comprimento de Onda (cm-1
)
MCM-41 NC
96
2
34
48
Tra
ns
mit
ân
cia
(u
.a.)
MCM-41
29
34
96
2
FMC-413
40
0
Figura 15. Espectros vibracionais na região do infravermelho da sílica mesoporosa: não
calcinada (MCM-41 NC); calcinada (MCM-41) e funcionalizada com MPTS (FMC-41).
43
Na Figura 16 são apresentados os padrões de difração de raios X da amostra
da matriz mesoporosa não calcinada (MCM-41 NC). Na amostra MCM-41 NC é
possível observar a presença de 03 picos de reflexões relacionados aos planos (100),
(110) e (200), confirmando que após a síntese o material foi formado (SOUZA et al.,
2004).
2 3 4 5 6 7 8 9 10
(20
0)
(11
0)
(10
0)
MCM-41NC
Inte
nsid
ad
e (
u.a
)
2 (graus)
Figura 16. Padrões de difração de raios X do material não calcinado (MCM-41 NC).
Já na Figura 17 são apresentados os padrões de difração de raios X da
amostra calcinada (MCM-41) e funcionalizada (FMC-41). A presença de quatro picos
bem definidos para a amostra calcinada, os quais podem ser indexados às reflexões
dos planos (100), (110), (200) e (210), confirmam a formação do material sílica
mesoporosa MCM-41 com estrutura de poros ordenados hexagonalmente. Pode-se
verificar que após a realização da funcionalização, a amostra FMC-41 apresentou três
picos referentes aos planos (100), (110) e (200), que permaneceram com posições
inalteradas e alta intensidade. A retenção dos picos atribuídos aos planos
característicos da rede hexagonal do material mesoporoso confirma que a
funcionalização do MCM-41 com grupos tióis não afetou a estabilidade da rede de
poros da sílica mesoporosa (CHEN et al., 1993, TURNER et al., 2005).
44
2 3 4 5 6 7 8 9 102 3 4 5 6 7 8 9 10
2 (graus)
MCM-41
(a)
(b)
(21
0)
(10
0)
(20
0)
(11
0)
Inte
ns
ida
de (
u.a
)
2 (graus)
FMC-41
Figura 17. Padrões de difração de raios X do material mesoporoso: (a) calcinado (MCM-41);
(b) funcionalizado (FMC-41).
A evidência direta da formação de canais da sílica mesoporosa MCM-41 foi
fornecida através da microscopia eletrônica de transmissão de alta resolução
(HRTEM). A imagem de MET (Figura 18) obtida para amostra calcinada MCM-41
mostra a presença de canais alinhados característicos da orientação dos canais na
direção paralela ao feixe de elétrons.
45
Figura 18. Imagem MET da amostra de sílica mesoporosa calcinada MCM-41.
4.2. Estudo da preparação e formação das nanopartículas de CdTe in situ nos
canais da matriz mesoporosa funcionalizada FMC-41
Inicialmente foi avaliada a estratégia de adsorção das nanopartículas de CdTe
nos poros do produto funcionalizado - FMC-41. A Figura 19 permite a comparação
entre os espectros de fotoluminescência (FL) da matriz FMC-41, da suspensão de
nanocristais de CdTe (CdTe/MPA) e do espectro medido no estado sólido da matriz
contendo nanocristais adsorvidos (FMC-41-CdTe/MPA). Apesar da matriz FMC-41 não
possuir propriedades de emissão, os espectros de fotoluminescência mostram que
tanto a suspensão de CdTe quanto os nanocristais adsorvidos na matriz mesoporosa
emitem na região do visível. Após a adsorção, é possível observar a presença de um
deslocamento batocrômico do máximo da emissão, ou seja, deslocamentos para
46
menores comprimentos de onda (de 574 nm para 562 nm), sugerindo que a adsorção
foi mais efetiva para os nanocristais de CdTe de tamanhos menores (SANTOS et al.,
2015).
Nesse contexto, ELISEEV et al. (2004) reportaram o uso de sílicas
mesoporosas como peneiras seletivas de tamanhos na separação de nanocristais de
PbSe, mostrando que os canais das sílicas mesoporosas podem atuar de forma
seletiva na retenção das nanopartículas de tamanhos diferentes a partir da suspensão
líquida (ELISEEV et al., 2004).
500 550 600 650 700
FMC-41-CdTe/MPA
FMC-41
CdTe/MPA
In
ten
sid
ad
e (
u. a
.)
Comprimento de Onda (nm)
Figura 19. Espectros eletrônicos de fotoluminescência: suspensão de nanopartículas de CdTe
(CdTe/MPA); matriz funcionalizada (FMC-41); nanopartículas de CdTe adsorvidas na matriz
(FMC-41-CdTe/MPA).
47
As imagens de MET mostram claramente a presença de nanocristais esféricos
de CdTe ancorados na matriz sílica mesoporosa funcionalizada (FMC-41) [Figura 20].
Figura 20. Imagem MET da amostra de sílica mesoporosa com nanopartículas de CdTe
ancoradas (FMC-41-CdTe).
No entanto, em algumas regiões o desprendimento dos nanocristais pode ser
visto (Figura 21), indicando que as nanopartículas não estão ligadas efetivamente às
paredes dos poros da sílica mesoporosa.
48
Figura 21. Imagem MET da amostra FMC-41-CdTe com nanopartículas de CdTe desprendidas
na superfície.
Por outro lado, a imagem MET dos nanocristais de CdTe crescidos in situ na
matriz sílica mesoporosa também são mostradas para fins de comparação (Figura 22),
evidenciando-se que nesse caso estão com tamanhos significativamente reduzidos,
bem como nenhum sinal de desprendimento dos nanocristais pode ser observado.
Deste modo, a abordagem de crescimento de nanocristais in situ foi escolhida no
presente trabalho.
49
Figura 22. Imagem MET da amostra com nanocristais de CdTe crescidos in situ.
Os resultados da adsorção/dessorção de nitrogênio para a sílica mesoporosa
calcinada (MCM-41) e funcionalizada (FMC-41) sem a presença de nanopartículas de
CdTe, bem como o produto da funcionalização com nanopartículas formadas in situ
são mostrados na Tabela 1. A partir dos dados das propriedades texturais, é possível
observar que o MCM-41 obtido apresentou diâmetros de poros de médias 3,6 nm, os
quais estão em boa concordância com trabalhos realizados para obtenção destes
materiais (TURNER et al., 2005).
Após a formação das nanopartículas de CdTe in situ nas matrizes
mesoporosas funcionalizadas (FMC025, FMC05, FMC1, FMC2 e FMC35) houve uma
redução significativa da área superficial tanto em relação à amostra FMC-41 quanto
em relação à matriz MCM-41, bem como entre as respectivas amostras de CdTe in
situ. Com base nisso, pode-se sugerir que as nanopartículas de CdTe estão
localizados nos canais da matriz. Como tendência geral, a redução da área superficial
50
e a diminuição dos diâmetros dos poros após o crescimento dos nanocristais de CdTe
in situ na matriz são evidências do preenchimento parcial dos poros (SANTOS et al.,
2015).
Estudos realizados por BROYER et al. (2002) comprovaram que a obtenção de
nanopartículas de semicondutores nos canais das sílicas mesoporosas MCM-41
resulta na redução da área superficial desses materiais (BROYER et al., 2002).
Tabela 1. Propriedades texturais das amostras da sílica mesoporosa antes e após a formação
in situ das nanopartículas CdTe.
Amostras Área Superficial
(m2/g)
Volume de poro
(cm3/g)
MCM-41 777 0,8
FMC-41 580 0,6
FMC025 41 0,15
FMC05 44 0,15
FMC1 86 0,2
FMC2 39 0,2
FMC35 46 0,2
Na Tabela 2 são apresentadas as concentrações, expressas em μg g-1, dos
elementos químicos presentes nas amostras, obtidas através das análises semi-
quantitativas das medidas por espectroscopia por energia dispersiva de raios X (EDX)
realizadas nas amostras de sílica mesoporosa com nanopartículas de CdTe formadas
in situ (FMC025, FMC05, FMC1, FMC2 e FMC35). A partir dos dados é possível
identificar a presença dos seguintes elementos químicos nas amostras: cádmio (Cd),
telúrio (Te), enxofre (S) e silício (Si). Esses dois últimos são atribuídos
respectivamente ao ligante MPA - agente funcionalizante - e a estrutura da sílica
mesoporosa MCM-41. Já a presença do Cd e Te é um indicativo da formação dos QDs
de CdTe na matriz mesoporosa (SANTOS et al., 2015).
Além disso, a concentração dos precursores, natureza dos estabilizantes e
razão Cd2+/Te2-/tiol são fatores importantes na determinação da cinética de
51
crescimento das nanopartículas, a qual pode ser explicada por meio de efeitos
eletrostáticos que acontecem na superfície das nanopartículas (LESNIAK et al., 2013).
Tabela 2. Concentrações e desvios padrões (μg g-1) de Cd, Te, Si e S nas amostras,
determinadas por EDX, na forma sólida.
Amostras Cd Te Si S
FMC025 5627,9 ± 12,0 1747 ± 18,8 586,2 ± 0,6 622,0 ± 8,3
FMC 05 6349 ± 5,0 2423,2 ± 79,9 382,7 ± 4,2 292,2 ± 8,2
FMC1 6146,8 ± 31,6 1577,0 ± 27,0 1045,1 ± 19,5 628,1 ± 7,4
FMC2 1763,4 ± 0,3 447,1 ± 16,4 1150,6 ± 1,7 180,0 ± 0,8
FMC35 1517,4 ± 0,7 201,4 ± 3,6 1320,4 ± 12,4 159,2 ± 0,2
Na Tabela 3 são mostrados os valores das concentrações relativas
normalizadas para o silício (Si). Embora existam algumas flutuações (como por
exemplo, a amostra FMC05), em geral as concentrações de todos os elementos
relativos ao silício diminuem quando a massa da matriz usada na síntese aumenta.
Como a concentração de íons Cd2+ e NaHTe adicionados foram mantidos constantes,
isso revela que o aumento na massa da matriz leva a formação de nanocristais cada
vez mais dispersos por todo material, proporcionando assim a obtenção de partículas
menores (SANTOS et al., 2015).
52
Tabela 3. Concentrações elementares relativas para o silício (Si) a partir de dados originais de
EDX (em μg g-1
) das amostras de sílica mesoporosa após formação de CdTe in situ.
Amostras Cd Te Si S Razão Cd:Te
FMC025 9,6 3,0 1,0 1,1 3,2 : 1,0
FMC05 16,6 6,3 1,0 0,8 2,6 : 1,0
FMC1 4,4 0,8 1,0 0,6 5,2 : 1,0
FMC2 1,5 0,4 1,0 0,2 3,9 : 1,0
FMC35 1,1 0,2 1,0 0,1 7,5 : 1,0
A Figura 23 é útil no esclarecimento do comportamento de cada elemento
químico. Pode-se observar que em todas as amostras a proporção de Cd é maior que
de Te, como esperado para o CdTe, visto que na síntese foi usada a razão molar de
1,0:0,2 (Cd:Te). De forma geral, verificou-se que quanto maior a proporção de matriz
mesoporosa, maior o valor obtido da relação Cd:Te nas amostras. Isto acontece
provavelmente porque as nanopartículas de CdTe formadas são menores, bem como,
possuem maior quantidade de defeitos na forma de vacâncias de ânions. As amostras
FMC05 e FMC2 apresentaram oscilações em relação à tendência das demais
amostras. De fato isso pode ser atribuído à formação de menor quantidade de
vacâncias, e consequentemente, menor quantidade de íons não complexados como
CdTe (SANTOS et al., 2015).
53
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
Ta
xa
de
co
nc
en
tra
ça
o p
ara
o S
i (%
)
Massa da amostra FCM-41 (g)
Cd:Si
Te:Si
S:Si
Cd:Te
Figura 23. Variação da taxa de concentração para o silício em função da massa da amostra
FMC-41.
Essa tendência de variação das nanopartículas formadas em função da massa
da matriz funcionalizada (FMC-41) foi sugerida pelos espectros vibracionais na região
do infravermelho das nanopartículas de CdTe formadas in situ (Figura 24) em que as
54
amostras com menores massas da matriz (FMC025 e FMC05) possuem uma maior
quantidade de nanocristais formados, como revelado pela maior intensidade das
bandas do agente estabilizante MPA, embora aquelas bandas possam ser vistas para
todas as amostras. Após a formação das nanopartículas na matriz FMC-41, é possível
observar que a banda na região de 3420 cm-1, relacionada ao estiramento da ligação
do grupo OH, tornou-se maior que a banda em de 1000 cm-1 (atribuída ao estiramento
da ligação Si-O) devido à contribuição das moléculas de MPA. Bandas atribuídas ao
MPA também são visíveis em 1650 cm-1 (estiramento da ligação C=O da forma ácida),
bem como o par de bandas em 1560 e 1400 cm-1 atribuído ao estiramento simétrico e
assimétrico das ligações no grupo COO-, indicando que o ligante também está
presente na forma do grupo carboxilato (SANTOS et al., 2015).
Além disso, há alargamentos e deslocamentos das bandas de estiramento
assimétrico Si-O-Si para menores comprimentos de onda. Começando do
comprimento de onda de 1091 cm-1 para a matriz (FMC-41), e diminuindo para os
valores de 1005 cm-1 (FMC025), 1005 cm-1 (FMC05), 1010 cm-1 (FMC1), 1028 cm-
1(FMC2) e 1039 cm-1 (FMC35), respectivamente, para as amostras na razão do
aumento da proporção da massa da matriz. Os deslocamentos observados podem ser
indicativos do aumento no comprimento da ligação dos grupos envolvidos (SANTOS et
al., 2015). Esse comportamento está em concordância com relatos precedentes da
obtenção de nanocristais de óxido de zinco (ZnO) em matrizes MCM-41 (LIHITKAR et
al.,2012).
O espectro vibracional da amostra FMC05 mostra também uma banda em 943
cm-1, possivelmente atribuída aos grupos Si-O terminais livres, o que sugere a
incorporação de íons Cd2+ dentro da rede de sílica, resultando em ligações Si-O-Cd
como discutido por DE et al. (1996) [DE et al., 1996, MISHRA et al., 2013]. Também foi
observado uma banda em 680 cm-1, atribuída às deformações angulares dos grupos
metileno (CH2-) do MPA, sugerindo a formação da ligação entre os íons Cd2+ e Te2-,
formando assim as nanopartículas de CdTe (GUI et al., 2013, ARIVARASAN et al.,
2014).
55
3750 3000 1500 1000 500
FMC35
1650
1560
1400
FMC05
Tra
ns
mit
ân
cia
(u
. a
.)
943
1650
1560
FMC025
1400
FMC2
FMC1
Comprimento de Onda (cm-1)
FMC 41
Figura 24. Espectros vibracionais na região do infravermelho das amostras: FMC-41; FMC025;
FMC05; FMC1; FMC2 e FMC35.
56
Nanocristais podem ser formados tanto dentro dos canais quanto na superfície
externa da sílica mesoporosa. Dessa forma é possível que a variação da massa da
matriz na síntese influencie na contribuição relativa de ambas as situações. Isso
também pode ter um efeito no tamanho dos nanocristais, visto que se espera que os
nanocristais formados dentro dos poros sejam menores que aqueles formados sobre a
superfície externa. Por fim, a razão Cd:Te aumentou com o aumento na massa da
matriz, indicando que os nanocristais se tornam progressivamente mais ricos em íons
Cd2+ do que Te2-, que pode também ser compreendido como um aumento na
concentração de vacâncias aniônicas (TURNER et al., 2005, ANDRADE et al., 2012,
SANTOS et al., 2015).
A estequiometria nominal otimizada para síntese aquosa de nanocristais de
CdTe usa um excesso de íons Cd2+, e aqui foi observado que esse excesso aumentou
ainda mais com o aumento da massa da matriz. Uma vez que, um aumento na
concentração dos defeitos é esperado para nanocristais menores, isso pode ser um
indicativo que o aumento na massa da matriz pode favorecer a formação de
nanocristais ao longo dos canais do FMC-41 (ANDRADE et al., 2012, SANTOS et al.,
2015). Sendo assim, as caracterizações espectroscópicas podem adicionar
informações para explicar esse ponto (LESNIAK et al.,2013).
A Figura 25 mostra os espectros de absorção óptica na região ultravioleta-
visível (UV-Vis) tanto da amostra de sílica mesoporosa funcionalizada, bem como das
amostras com nanopartículas de CdTe formadas in situ (FMC025; FMC05; FMC1;
FMC2 e FMC35). Todos os espectros exibiram alargamentos das bandas de
absorções na região do visível com formas assimétricas e bandas claramente não
resolvidas contribuindo para banda de absorção total. Isso sugere a existência de
nanocristais de CdTe com tamanhos médios diferentes, bem como dispersões de
tamanhos, ao invés de distribuição de tamanho larga de nanocristais variando
continuamente o tamanho (SANTOS et al., 2015). Contudo, tentativas de tratamento
espectral a fim de separar os componentes não levaram a resultados confiáveis.
As nanopartículas de CdTe obtidas in situ na matriz mesoporosa funcionalizada
FMC-41 apresentaram um espectro de absorção na faixa de 350 a 700 nm, ou seja,
um perfil de absorção amplo, o qual é característico para esses semicondutores,
resultante da população de nanocristais com tamanhos médios diferentes na amostra.
Pode-se observar também que há um deslocamento geral do máximo de absorção
(λmáx) para menores comprimentos de onda quando comparado ao material CdTe na
forma estendida (841nm). Isso pode estar relacionado à diminuição do tamanho médio
das nanopartículas obtidas in situ, possivelmente, devido ao efeito do confinamento
quântico nas propriedades ópticas, uma vez que, quanto maior os deslocamentos λmáx
57
para menores comprimentos de onda, menores são os tamanhos das nanopartículas.
Isso pode ser resultado do papel desempenhado pelos poros da sílica mesoporosa
FMC-41 - matriz hospedeira - que atuam limitando o crescimento das nanopartículas
de CdTe (ROLO et al., 2002, WENG et al., 2006, TURNER et al., 2007).
350 400 450 500 550 600 650 700
Ab
so
rbâ
nc
ia (
u. a
.)
Comprimento de Onda (nm)
FMC025
FMC05
FMC1
FMC2
FMC35
Figura 25. Espectros de absorção modo reflectância difusa UV-Vis das amostras: FMC025;
FMC05; FMC1; FMC2; FMC35.
58
Além disso, percebe-se claramente que há a definição de mais de um valor dos
comprimentos de onda máximos de absorções (λmáx), particularmente em
comprimentos de ondas menores, após o aumento na massa da matriz. A Tabela 4
mostra os valores dos λmáx observados nos espectros de absorção. De fato, pode ser
observado que as posições dos máximos de absorção não variam significativamente
ao longo das diferentes amostras, mas são as intensidades relativas que variam,
sugerindo assim, que a concentração de nanocristais menores é favorecida quando a
massa da matriz aumenta (Santos et al., 2015).
De acordo com ANDRADE et al. (2012), a obtenção de nanopartículas de
seleneto de cádmio (CdS) ancorados numa matriz de sílica, variando a proporção
relativa da matriz, resultou num deslocamento do máximo de absorção para
comprimentos de onda menores, ou seja, região visível do espectro eletromagnético
correspondente à cor azul, com o aumento da massa da matriz. Isso pode estar
relacionado à dependência da estrutura eletrônica do CdTe em relação ao tamanho
dos quantum dots obtidos.
Vale ressaltar que os nanocristais de CdTe formados in situ na matriz MCM-41
funcionalizada apresentaram os valores dos máximos de absorção abaixo daqueles
para a síntese aquosa de nanocristais de CdTe, que pode ser correlacionado ao papel
desempenhado pela matriz no controle de tamanho (LESNYAK et al., 2013).
Tabela 4. Valores dos comprimentos de onda máximos de absorções (λmáx) das amostras a
partir dos espectros de absorção UV-Vis.
Amostras λmáx (nm)
FMC025 510 481 443 - 409
FMC 05 - 491 445 426 403
FMC1 - 479 442 417 -
FMC2 - 459 441 417 -
FMC35 - 485 446 429 411
59
Os valores de band gap dos comprimentos de onda máximos de absorção de
cada amostra foram calculados a partir da equação empírica Eg = 1240/λg, os quais
são apresentados na Tabela 5. Pode-se observar que esses valores são maiores do
que aquele apresentado pelo CdTe na forma estendida (1,50 eV), sugerindo assim
que os nanocristais de CdTe formados estão na escala nanométrica (BABENTSOV et
al., 2008).
De fato, a energia do band gap varia com os tamanhos dos nanocristais, assim
o aumento dos valores do band gap observado nas amostras está relacionado aos
efeitos de confinamento quântico, ocasionando deslocamentos para maiores energias
dos λmáx quando há diminuição do tamanho das nanopartículas formadas (TURNER et
al., 2005).
Tabela 5. Valores de band gap calculados (Eg) dos comprimentos de onda máximos de
absorções das amostras.
Amostras Eg (eV) Eg (eV) Eg (eV) Eg (eV) Eg (eV)
FMC025 2,43 2,58 2,80 - 3,03
FMC 05 - 2,52 2,79 2,91 3,08
FMC1 - 2,59 2,81 2,97 -
FMC2 - 2,70 2,81 2,97 -
FMC35 - 2,56 2,78 2,89 3,02
Na Figura 26 são mostrados os espectros eletrônicos de fotoluminescência das
amostras da matriz funcionalizada (FMC-41) com nanopartículas de CdTe formadas in
situ (FMC025; FMC05; FMC1; FMC2 e FMC35) usando comprimento de onda de
excitação de 250 nm. A mesma tendência dos espectros de absorção, intensidade
relativa variando ao longo das diferentes amostras, é observada nos espectros de
emissão, confirmando assim a crescente contribuição dos nanocristais de CdTe dentro
dos poros. Esses espectros também exibem claramente bandas com diferentes
máximos de emissão (λmáx), com uma aparência geral de ruído típica de espectros
60
medidos no estado sólido para diferentes populações de nanocristais (SANTOS et al.,
2015).
Outro ponto importante, particularmente observado para as amostras obtidas
com o aumento na massa da matriz é que a posição dos máximos de emissão estão
abaixo de 500 nm, o que não é comumente observado para nanopartículas de CdTe
(TURNER et al., 2005).
Segundo ROGACH et al. (2007), os nanocristais de CdTe estabilizados com
ácido mercaptopropiônico (MPA) e na ausência de uma matriz mesoporosa
apresentam emissão que pode variar na região de 530 a 800 nm (ROGACH et al.,
2007). Nanocristais de CdTe preparados em meio aquoso na forma de suspensão
exibem emissões em comprimentos de onda que correspondem às variações de cores
do verde ao vermelho do espectro eletromagnético na região do visível, com bandas
de emissão variando ao redor de 520 a 650 nm (ROGACH et al.,2007).
Nanocristais de CdTe emitindo em comprimentos de onda, correspondente ao
azul do espectro eletromagnético na região do visível, devem ter tamanhos menores e
raramente são obtidos. No entanto, as condições de síntese podem ser ajustadas para
garantir taxas muito baixas de crescimentos de cristais, limitando o crescimento dos
núcleos nos estágios iniciais após a nucleação (SHAO et al., 2012).
No presente trabalho foram obtidos nanocristais de CdTe estáveis com
intensidade de emissão forte e com tamanhos, provavelmente, abaixo dos valores
reportados para nanocristais obtidos em meio aquoso. Vale ressaltar também que as
amostras são estáveis sob condições ambientais, uma vez que o único relato de
nanocristais de telureto de cádmio obtido in situ numa sílica mesoporosa reportou a
obtenção de nanopartículas instáveis (TURNER et al., 2007).
61
300 350 400 450 500 550 600 650 700 750 800
0
50
100
150
400 600 800
0
50
100
150
400 600 800
0
50
100
150
400 600 800
0
50
100
150
400 600 800
0
50
100
150
In
ten
sid
ad
e (u
. a
.)
Comprimento de Onda (nm)
FMC025
FMC05
FMC1
FMC2
FMC35
Figura 26. Espectros de fotoluminescência das amostras: FMC025; FMC05; FMC1; FMC2;
FMC35.
Conforme descrito, os comprimentos de ondas dos máximos de emissão, cujos
valores são reportados na Tabela 6, apresentam-se menores quando comparados as
nanopartículas de CdTe sintetizadas em meio aquosos, evidenciado assim que a
matriz FMC-41 desempenha papel fundamental no controle do tamanho dos
nanocristais formados. Além disso, os deslocamentos dos comprimentos de onda
máximos de emissão das bandas para a região do espectro eletromagnético
correspondente a cor azul estão relacionados aos efeitos de confinamento de tamanho
atribuído à rede de canais de diâmetros nanométricos da sílica mesoporosa
hospedeira. Outro fator indicativo da diminuição do tamanho das nanopartículas é o
deslocamento do λmáx para maiores energias quando comparado ao CdTe na forma
estendida (790 nm) [TURNER et al., 2005].
62
Tabela 6. Valores dos comprimentos de onda máximos de emissão (λmáx) das amostras a partir
dos espectros de fotoluminescência.
Amostras λmáx (nm)
FMC025 590 575
491
471 - 410
FMC 05 - 576 494 471 - -
FMC1 - 576 494 473 451 413
FMC2 - 576 494 472 452 413
FMC35 - 575 495 472 - 413
De fato, as amostras apresentaram uma correlação direta entre o aumento de
massa da matriz com deslocamentos dos máximos de emissão para a região do
espectro eletromagnético correspondente a cor azul, o que pode ser explicado através
da atuação da matriz favorecendo a formação de nanopartículas menores quando
comparadas as nanopartículas coloidais aquosas de CdTe sintetizadas sem a
presença de uma matriz mesoporosa. Pode-se também observar que os
comprimentos de onda máximos de emissão das bandas dos espectros das amostras
de CdTe in situ na matriz (Figura 26) apresentam deslocamentos para maiores
energias comparados àqueles dos espectros de fotoluminescência do CdTe
adsorvidas no material MCM-41 e FMC-41 (MCM@CdTe e FMC@CdTe) [Figura 27],
cujos comprimentos de onda máximos das bandas de emissão (λmáx) são 572 e 566
nm, respectivamente, sugerindo assim que são quantum dots. Uma vez que as
amostras (MCM-41 e FMC-41) não apresentaram emissão, pode-se concluir que os
deslocamentos do λmáx são resultantes do efeito da redução de tamanhos das
nanopartículas de CdTe obtidas in situ (TURNER et al., 2007).
63
500 550 600 650 700
Inte
ns
ida
de
(u
. a
.)
Comprimento de Onda (nm)
MCM-41
FMC-41
MCM@CdTe
FMC@CdTe
566
572
Figura 27. Espectros de fotoluminescência das amostras: MCM-41; FMC-41; nanopartículas de
CdTe adsorvidas na matriz (MCM@CdTe e FMC@CdTe).
As imagens MET (Figura 28) das amostras obtidas com diferentes massas da
matriz (FMC025; FMC1; FMC2; FMC35) mostram em todos os casos a presença de
nanocristais com forma aproximadamente esféricas ao longo da matriz. No entanto,
não há diferenças claras nos tamanhos dos nanocristais, provavelmente um resultado
da heterogeneidade inerente das amostras nas ampliações usadas nessa técnica. De
64
fato, comparando-se as amostras com valores extremos da massa da matriz parece
que a amostra FMC025 continha uma maior concentração de nanocristais,
provavelmente formados na superfície externa, corroborando com espectro de
fotoluminescência (FL) da respectiva amostra (SANTOS et al., 2015).
Figura 28. Imagens MET das amostras: (a) FMC025; (b) FMC1; (c) FMC2; (d) FMC35.
4.3. Comportamento eletroquímico do eletrodo de pasta de carbono modificado
com a matriz funcionalizada (FMC)
As amostras obtidas foram avaliadas por técnicas eletroquímicas (voltametria
cíclica e voltametria de redissolução anódica) com base na propriedade dos
nanocristais semicondutores de apresentarem sinal eletroquímico.
(a) (b)
(c) (d)
65
O comportamento eletroquímico dos eletrodos de pasta de carbono
modificados (FMC) foram investigados em uma solução tampão de fosfato com pH
7,0. A Figura 29 mostra o voltamograma cíclico da amostra FMC35 (Figura 29c), o
qual exibe o pico anódico A1 (+1,07 V) e o pico catódico C1 (-1,43 V) característicos
dos quantum dots (BAE et al., 2004; LI, et al., 2006; HARAM et al., 2011; AMELIA et
al., 2012; LIU et al., 2014). Sendo assim, é possível calcular o band gap eletroquímico
da amostra a partir da diferença entre os picos de oxidação e redução, cujo valor foi de
2,5 V, em concordância com os valores calculados a partir do espectro de
fotoluminescência para amostra FMC35 (SANTOS et al., 2015).
Também foram observados picos anódicos e catódicos nos potenciais de
valores -0,78 V e -0,99 V, os quais podem ser possivelmente relacionados ao
processo redox do oxigênio dentro dos poros da matriz mesoporosa funcionalizada
FMC-41(SANTOS et al., 2015). No entanto, este processo está sob investigação para
uma classificação mais detalhada (SANTOS et al., 2015).
A ausência de picos relacionados às nanopartículas de CdTe nos
voltamogramas do eletrodo de pasta de carbono (branco) e do eletrodo de pasta de
carbono modificado FMC-41 (Figura 29a-b), confirmando que os picos anódicos e
catódicos presentes no voltamograma da amostra FMC35 (Figura 29c) estão
relacionados à formação dos quantum dots de CdTe in situ na matriz mesoporosa
funcionalizada (SANTOS et al., 2015).
66
-1,5 -1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0
-0,000020
-0,000015
-0,000010
-0,000005
0,000000
0,000005
0,000010
Co
rre
nte
(A
)
E (V vs. Ag/AgCl)
(a)
(b)
(c)A1
C1
Figura 29. Voltamogramas cíclicos do eletrodo de pasta de carbono (a), modificado com FMC-
41 (b) e eletrodo FMC35 (c), em solução tampão de fosfato (pH= 7,0) e velocidade de
varredura 20 mV.s-1
.
Os voltamogramas cíclicos para os eletrodos de pasta de carbono modificados
com diferentes amostras de FMC-41/CdTe (FMC1, FMC2 e FMC35) foram obtidos
para uma comparação do comportamento eletroquímico (Figura 30). Neste contexto,
somente o eletrodo de pasta de carbono modificado com a amostra FMC35 mostrou o
pico de oxidação A1, atribuído as nanopartículas de CdTe, embora outras
caracterizações indicaram a presença de CdTe em todas as amostras. Esta
observação pode ser compreendida considerando que, embora a amostra FMC35
tenha a menor quantidade relativa de nanopartículas de CdTe por massa da matriz, a
caracterização de fotoluminescência (FL) evidenciou que a amostra FMC35 exibiu
nanocristais de CdTe com maiores intensidades de emissões em comparação com as
outras amostras. Este resultado é interessante, pois os semicondutores baseados em
cádmio (Cd) muitas vezes “levantam preocupações” sobre sua toxicidade (SU et al.,
2009, HAN et al., 2012). No entanto, aqui foi mostrado que é possível reduzir a
dosagem e ao mesmo tempo melhorar a atividade do material. Então, esta amostra foi
escolhida para detecção de íons Cu2+ (SANTOS et al., 2015).
67
-1,5 -1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0
-0,00002
0,00000
C1
C1
Co
rre
nte
(A
)
E (V vs. Ag/AgCl)
(a)
(b)
(c)
C1
A1
Figura 30. Voltamogramas cíclicos dos eletrodos de pasta de carbono modificado com FMC
em diferentes composições: FMC1 (a), FMC2 (b) e FMC35 (c), em solução tampão de fosfato
(pH= 7,0) e velocidade de varredura de 50 mV.s-1
.
4.4 Características analíticas do eletrodo de pasta de carbono modificado com a
amostra FMC-41/CdTe
A influência da presença de nanopartículas de CdTe nos eletrodos de pasta de
carbono modificados foi avaliada através das respostas eletroquímicas na detecção de
íons cobre (Cu2+). A Figura 30 mostra os voltamogramas cíclicos obtidos após a pré-
concentração no eletrodo de pasta de carbono FMC-41 [Figura inserida (31a)] e o
eletrodo de pasta de carbono modificado com a mostra FMC35 (Figura 31b). Embora a
matriz de sílica mesoporosa tenha uma capacidade de adsorção elevada (SONWANE
e BHATIA, 1998), a presença de nanopartículas de CdTe é crucial para a resposta
eletroquímica, visto que nenhum pico relacionado ao analito foi detectado na ausência
de CdTe.
68
Por outro lado, os eletrodos modificados com a matriz FMC35 podem ser
empregados com sucesso para a determinação de íons Cu2+ devido à presença de um
pico de oxidação relativo ao Cu0/Cu2+ (-0,12 V) nas curvas voltamogramas de
redissolução anódica (SANTOS et al., 2015).
-0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4
-1,0x10-7
-5,0x10-8
0,0
5,0x10-8
1,0x10-7
1,5x10-7
2,0x10-7
2,5x10-7
-0.4 -0.2 0.0 0.2 0.4
-4.50x10-6
-3.00x10-6
-1.50x10-6
0.00
1.50x10-6
Curr
ent (A
)
E (V vs. Ag/AgCl)
(a)
Co
rre
nte
(A
)
E (V vs. Ag/AgCl)
(b)
Co
rren
te (
A)
Figura 31. Voltamogramas de redissolução anódica do eletrodo de pasta de carbono
modificado com a amostra FMC-41 (a) e FMC35 (b) na presença de 0,5 x 10-6
mol L-1
de Cu2+
.
As condições experimentais foram solução tampão de fosfato (pH= 7,0), potencial de
acumulação de -0,8 V para 300 s e velocidade de varredura 20 mV.s-1
.
A Figura 32 mostra os voltamogramas de redissolução anódica sob condições
otimizadas para determinação de íons Cu2+ nas soluções de cobre (II) com
concentrações entre 0,5 a 1,7 x 10-6 mol L-1, os quais foram obtidos com o eletrodo de
pasta de carbono modificado com a amostra FMC35. Já a curva analítica obtida a
partir das correntes de picos anódicos está ilustrada no detalhe inserido na Figura 31.
Os picos anódicos observados foram proporcionais às concentrações das soluções de
cobre correspondentes.
69
-0,5 -0,4 -0,3 -0,2 -0,1 0,0 0,1 0,2 0,3 0,4
-3,0x10-7
0,0
3,0x10-7
6,0x10-7
9,0x10-7
1,2x10-6
1,5x10-6
Co
rre
nte
(A
)
E (V vs. Ag/AgCl)
(a)
(f)
Figura 32. Voltamogramas de redissolução anódica obtidos com o eletrodo de pasta de
carbono modificado FMC35 em soluções do branco (a) e em diferentes concentrações de íons
Cu2+ (0.5, 0.8, 1.1, 1.4 e 1.7 x 10-6
mol L-1
) (b-f). As condições experimentais foram soluções
tampões de fosfato (pH 7,0), potencial de acumulação -0.8 V para 300 s e velocidade de
varredura de 20 mV.s-1
.
Uma relação linear entre as correntes de redissolução anódica e as soluções
de cobre (II) foram obtidas entre 0,5 a 1,7 x 10-6 mol L-1, cuja equação de regressão
linear é Ip,a (A)= 0,74 x [Cu2+] – 2,34 x 10-7, onde Ip,a é a corrente do pico anódico e
[Cu2+] é a concentração dos íons Cu2+, com um coeficiente de correlação de 0,9985 e
limite de detecção 8,2 x 10-8 mol L-1 (três vezes o desvio padrão da solução branco
dividido pela inclinação da curva analítica). Este valor é comparável com os descritos
na literatura (ZHANG et al., 2014, BEITOLLAHI et al., 2015) para eletrodos de pasta
de carbono modificados com quantum dots, os quais apresentaram sensibilidade
satisfatória. Pode-se observar que a concentração 1.7 x 10-6 mol L-1, apresentou um
deslocamento do pico para esquerda que pode ser relacionada à renovação do
eletrodo de pasta de carbono (SANTOS et al., 2015).
As características analíticas, propriedades analíticas e a seletividade atingida
pelo eletrodo de pasta de carbono modificado FMC35 são comparadas (Tabela 7) com
outros eletrodos empregados na determinação de cobre. A partir dos dados da tabela
4,0x10-7
6,0x10-7
8,0x10-7
1,0x10-6
1,2x10-6
1,4x10-6
1,6x10-6
0,0
2,0x10-7
4,0x10-7
6,0x10-7
8,0x10-7
1,0x10-6
1,2x10-6
I pa (
A)
[Cu2+
] mol.l-1
70
é possível comprovar a eficiência satisfatória do eletrodo desenvolvido no presente
trabalho na determinação de íons Cu2+.
Tabela 7. Comparação da eficiência de alguns eletrodos de pasta de carbono modificados
usados na determinação de cobre.
Eletrodos de
pasta de
Carbono
Faixa linear
(mol L-1
)
Cátions
Interferentes*
Limite de
Detecção
(mol L-1
)
Referências
EPCSP-SiAt 7,5x10-8
a 2,5x10-6
Ni2+
, Zn2+
, Cd2+
, Pb2+
,
Fe2+
3,1 x 10-8
TAKEUCHI et
al., 2007
EPNC 7,9x10-8
a 1,6x10-5
Hg2+
, Pb2+
, Co2+
, Ni2+
,
Cr3+
, Cd2+
1,0 x 10-8
JANEGITZ et
al., 2009
EPCs-SbF 0 a 1,6x10-6
Ag+, Au
3+, Cd
2+ 1,7 x 10
-8
ASHRAFI et
al., 2012
EPC-Kryptofix
22
3,2x10-8
a 2,4x10-6
Ca2+
,Mg2+
, Hg2+
, Fe2+
,
Pb2+
, Sn2+
, Na+, K
+,
Cd2+
,
Ni2+
, Zn2+
, Bi2+
, Mn2+
1,7 x 10-8
MOHADESI
et al., 2011
FMC 5,0x10-7
a 1,7x10-6
Zn2+
, Mn2+
, Cd2+
, Pb2+
8,2 x10-8
O trabalho
presente
*Sob condições de eletrodos modificados.
Também foi realizado o estudo dos interferentes em potencial na detecção de
íons cobre (Cu2+) com o eletrodo de pasta de carbono modificado com FMC-41/CdTe.
Os possíveis interferentes na determinação de íons Cu2+ causados pela presença de
outros íons metálicos foram investigados na solução 1,5 x 10-6 mol L-1 de Cu2+, usando
íons Cd2+, Pb2+, Zn2+ e Mn2+ para avaliar a seletividade dos eletrodos de pasta de
carbono FMC.
Quando os íons Cd2+, Pb2+, Zn2+ e Mn2+ e os íons Cu2+ estavam presentes na
mesma concentração, a seguinte ordem de interferentes na ordem crescente foi
observada: Mn2+ > Cd2+ > Zn2+ > Pb2+ no valor da corrente do pico Cu2+. A Figura 33
mostra o mecanismo proposto para detecção de íons Cu2+ pelos eletrodos de pasta de
carbono modificados quimicamente (FMC). Os resultados experimentais evidenciam a
interação entre os íons metálicos com sítios (L) de coordenação FMC imobilizados na
superfície do eletrodo. Durante o processo de pré-concentração, íons Cu2+ são
reduzidos ao Cu0 no potencial de -0,8 V (Ag/AgCl). Isto é seguido pela imersão do
71
eletrodo na solução eletrolítica, na qual a oxidação do Cu0 adsorvido na superfície do
eletrodo aos íons Cu2+ acontece, resultando em sinais analíticos proporcionais a
concentração dos íons cobre (Cu2+) presente na solução (MURR et al.,1998;
JANEGITZ et al., 2007; JANEGITZ et al., 2009).
FMC L(elect.) + Cu2+(aq) [FMC L Cu2+
](elect.)
[FMC L Cu2+](elect.) 2e-
[FMC L Cu0](elect.)
+
[FMC L Cu0](elect.) FMC L(elect.) + Cu2+
(aq) 2e-+
Figura 33. Mecanismo proposto para a determinação do Cu2+
usando o eletrodo de pasta de
carbono FMC (SANTOS et al., 2015).
Para testar a habilidade do eletrodo de pasta de carbono FMC na detecção de
íons Cu2+, algumas misturas artificiais contendo Cu2+, Pb2+ e Cd2+ foram preparadas,
numa abordagem semelhante àquela descrita na literatura (SINGH et al., 2015).
Amostras com concentrações de íons Cu2+ de 1,5 x 10-6 mol L-1 foram preparadas
contendo a razão íon metálico/Cu2+ igual a 0,1, e a concentração de íons Cu2+ foi
determinada por voltametria de redissolução anódica. Os experimentos foram
realizados em triplicata, determinando-se assim um valor médio da concentração da
amostra real de 1,4 x 10-6 mol L-1.
Aqui novos eletrodos de pasta de carbono quimicamente modificados FMC
foram desenvolvidos, usando quantum dots de CdTe obtidos in situ em materiais
mesoporosos para determinações de íons Cu2+, indicando que os eletrodos podem ser
usados com sucesso para determinações em amostras reais, bem como possuem
características vantajosas que permitem as suas aplicações como sensores. Isto é
particularmente interessante considerando que o CdTe está dentre os nanocristais
semicondutores mais promissores sintetizados em meio aquoso e, uma vez obtido no
ambiente de mesoporosos, gera a possibilidade de ser aplicado com boa resposta em
uma dosagem de nanocristais reduzida.
(eletr.)
(eletr.)
(eletr.)
(eletr.) +
(eletr.) +
(eletr.) +
72
CAPÍTULO V
5. CONCLUSÕES
Neste trabalho foi possível obter as matrizes mesoporosas MCM-41 livres do
agente direcionador (CTAB) mediante o tratamento térmico a 450 °C. Após a
funcionalização, as matrizes resultantes apresentaram qualidades satisfatórias e
manutenção da estrutura da rede hexagonal de poros do MCM-41, evidenciado por
meio dos padrões de difração de DRX.
Já a obtenção de QDs de CdTe foi confirmada através da presença dos
elementos químicos Cd (cádmio) e Te (telúrio) nas amostras, por meio das análises de
EDX. As reduções das áreas superficiais sugerem que a formação dos nanocristais de
CdTe aconteceu, preferencialmente, nos poros da matriz.
Os nanocristais de CdTe obtidos in situ na matriz MCM-41 apresentaram
propriedades ópticas distintas do material na forma estentida, pois apresentam bandas
com deslocamentos batocrômicos, quando comparados ao CdTe formado sem a
presença de uma matriz e obtidos via rotas de sínteses aquosas. Estes deslocamentos
das bandas de absorção UV-Vis e de emissão são resultantes do efeito de
confinamento de tamanho desempenhado pelo ambiente nanométrico – matriz MCM-
41 – na obtenção dos nanocristais, contribuindo no controle do tamanho das
nanopartículas formadas, cuja estrutura eletrônica atua diretamente nas propriedades
ópticas distintas citadas. Sendo assim, os poros da matriz MCM-41 funcionam como
nanoreatores que atuam no controle dos tamanhos das nanopartículas, resultando nos
deslocamentos das bandas de absorção UV-vis e de emissão para maiores energias.
Percebe-se que à medida que foi variando a proporção de massa da matriz
(ordem crescente), houve um deslocamento dos comprimentos de onda máximos de
emissão dos espectros para maiores energias (menores comprimentos de onda).
Sendo assim, esse comportamento das amostras está intimamente relacionado ao
tamanho das nanopartículas formadas em cada amostra, de forma que quanto maior a
massa da matriz, o efeito de confinamento quântico é mais evidenciado, uma vez que
uma maior massa permite uma maior difusão dos núcleos no processo de crescimento
e consequentemente, há um controle mais efetivo no tamanho das nanopartículas.
Logo, neste estudo foi possível obter nanopartículas de CdTe estáveis in situ
nos poros da matriz funcionalizada, possivelmente de tamanhos nanométricos, bem
como armazená-las na ausência de atmosfera de nitrogênio. Este último aspecto
representa um avanço em relação aos materiais sintetizados reportados na literatura,
os quais obtiveram nanopartículas de CdTe instáveis, decompondo-se rapidamente
73
mediante breve exposição ao ar, com necessidade de serem armazenados em
atmosfera de nitrogênio. Sendo assim, o uso do ácido 3-mercaptopropiônico e o MCM-
41 funcionalizado com tiol foi crucial para a estabilização dos nanocristais de CdTe no
ambiente de mesoporosos da matriz sílica, a qual permitiu a obtenção de nanocristais
com emissão em comprimentos de ondas menores comparados àqueles da síntese
aquosa.
Por outro lado o aumento na proporção de massa da matriz na síntese de
CdTe levou à diminuição no CdTe formado; um aumento na intensidade de emissão
concomitantemente a um deslocamento na banda de emissão para a região de
comprimento de onda referente à cor azul do espectro eletromagnético; e o aumento
na resposta eletroquímica.
O eletrodo de pasta de carbono modificado (FMC) apresentou respostas
promissoras (seletividade e sensibilidade) na detecção de íons Cu2+, abrindo grandes
possibilidades na aplicação como sensores eletroquímicos.
74
CAPÍTULO VI
6.1. TRABALHOS FUTUROS
Estudos envolvendo a síntese in situ de nanopartículas de CdTe em outras
matrizes sílicas mesoporosas tipo MCM-48.
Caracterizações e estudos eletroquímicos do material.
Aplicação como sensores eletroquímicos na detecção de metais pesados em
águas residuais.
75
6.2. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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para Metais”, Química Nova, v. 23, pp. 496-503, 2000.
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and CdTe Quantum Dots”, Chemistry Society Review, v.41, pp. 5728-5743, 2012.
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157, 2012.
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copper(II) using antimonyfilm-coated carbon paste electrodes”, Electrochimica
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base superalloys”, Journal of Materials Science, v. 37,pp. 2171-2202, 2002.
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