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JANICE GOMES CAVALCANTE
FATORES ASSOCIADOS À ESTRUTURA DA COMUNIDADE DE
LIQUENS CORTICÍCOLAS CROSTOSOS EM DUAS ÁREAS DE
CAATINGA NO ESTADO DE ALAGOAS
São Cristóvão – Sergipe
2012
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA E
CONSERVAÇÃO
CURSO DE MESTRADO
2
JANICE GOMES CAVALCANTE
FATORES ASSOCIADOS À ESTRUTURA DA COMUNIDADE DE
LIQUENS CORTICÍCOLAS CROSTOSOS EM DUAS ÁREAS DE
CAATINGA NO ESTADO DE ALAGOAS
São Cristóvão – Sergipe
2012
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de
Pós-graduação em Ecologia e Conservação da
Universidade Federal de Sergipe, como parte dos
requisitos exigidos para a obtenção do título de mestre
em Ecologia e Conservação. Orientadora: Marcela
Eugênia da Silva Cáceres.
3
C376f
Cavalcante, Janice Gomes
Fatores associados à estrutura da comunidade de líquens
corticícolas crostosos em duas áreas de caatinga no Estado de
Alagoas / Janice Gomes Cavalcante ; orientadora Marcela Eugênia da
Silva Cáceres. – São Cristóvão, 2012.
67 f. : il.
Dissertação (Mestrado em Ecologia e Conservação) –
Universidade Federal de Sergipe, 2012.
1. Líquens. 2. Diversidade biológica. 3. Ecologia de comunidade –
Líquens. 4. Caatinga – Alagoas. I. Cáceres, Marcela Eugênia da Silva,
orient. II. Título.
CDU 582.29(813.5)(213.52)
4
5
Dedico esta dissertação à minha família,
em gratidão pelo apoio incondicional.
6
AGRADECIMENTOS
E então, o óbvio esperado aconteceu!
Mas não poderia seguir sem antes agradecer...
Àqueles que apenas mostraram o caminho...
Aos que me acompanharam à entrada,
E também aos que seguiram comigo!
Àqueles que me abandonaram pelo caminho...
Aos que sempre acreditaram que eu conseguiria
E aos que supunham ser impossível...
Àqueles que, num repente, foram uma boa surpresa
E àqueles, cuja surpresa, não foi tão boa assim...
Aos que provocaram tantas lágrimas,
Mas também, aos que tanto fizeram para que elas não caíssem.
Àqueles, cujos abraços foram abrigo nos momentos de angústia.
E àqueles que, com suas palavras, também me fizeram duvidar...
Aos que me fizeram conhecer melhor o medo, a insegurança.
Mas principalmente àqueles que foram fonte de conhecimento, fortaleza, certeza!
Aos que, com alegria, me abriram portas...
E também aos que, duramente, as fecharam.
Àqueles que, comigo, esperaram ansiosos pelo fim ideal...
Aos que duvidaram desta possibilidade!
Aos que, de algum modo, tornaram a caminhada menos dura.
E a tantos outros que seguirão a trilha recente...
Dedico também esta dissertação a todos aqueles que nesta caminhada foram, a seu modo,
presença constante em minha vida, mente e coração. E a todos estes, minha eterna gratidão
por terem contribuído, de um modo ou de outro, para que este sonho se tornasse mais uma
feliz realidade em minha vida. Sozinha, não teria chegado ao fim da jornada.
A todos, o meu muito obrigada!
7
O que verdadeiramente somos é aquilo que o impossível cria em nós.
Clarisse Linspector.
8
RESUMO GERAL
Cerca de um quinto dos fungos encontrados na natureza estão em simbiose com algas e/ou
cianobactérias, a maior parte destes fungos é do Filo Ascomycota, com alguns
representantes Basidiomycota. A esta associação, considerada uma estratégia nutricional
de sucesso, dá-se o nome de liquenização, e à estrutura formada neste processo, líquen.
Nesta unidade biológica estável, o fungo é o micobionte e os organismos fotossintetizantes
são os fotobiontes. A Caatinga é um bioma endêmico do semiárido brasileiro, dominado
por tipos de vegetação com características xerofíticas e extratos compostos por gramíneas,
arbustos e árvores. No Estado de Alagoas, a Caatinga ocupa uma área de 16.350km2 e,
apesar de suas características extremas de temperatura e pluviosidade, abriga importantes
grupos liquênicos ainda não devidamente estudados no Estado. Este trabalho foi realizado
em duas áreas de Caatinga no sertão Alagoano, situadas no município de Santana do
Ipanema. A primeira área é a R.P.P.N. Fazenda Cachoeira, na Serra da Tocaia, e a segunda
é uma área antropizada, situada à 10 km do perímetro urbano, na Serra do Gugi. Os
resultados do presente trabalho estão distribuídos em dois capítulos. O primeiro relaciona
os grupos liquênicos registrados nas áreas de estudo, onde foram coletadas amostras de 60
forófitos hospedeiros, relaciona também dados ecológicos como elevação, diâmetro à
altura do peito e pH da casca. Um total de 61 táxons foi identificado, distribuídos em 18
famílias e 34 gêneros. Destes, 01 é novo registro para a ciência; 08 representam novas
ocorrências para a América Latina; 10 para o Brasil; 04 para o Nordeste e 49, para o
Estado de Alagoas. No segundo capítulo, é apresentada a descrição de uma espécie nova
para a ciência, Opegrapha caeruleohymeniata J.G. Cavalcante, Aptroot & M. Cáceres. O
pioneirismo desta pesquisa e os dados levantados apontam para a necessidade de novos
trabalhos na região que se mostra rica e inexplorada. Além disso, representa contribuição
significativa para as pesquisas liquenológicas no país.
Palavras-chave: Caatinga. Liquens. Alagoas. Diversidade. Ecologia.
9
GENERAL ABSTRACT
About one fifth of the fungi are found in nature in symbiosis with algae and / or
cyanobacteria, most of these fungi members of the Phylum Ascomycota, with only a few
representatives of Basidiomycota which are lichenized. This association, considered a very
successful nutritional strategy, is called lichenization, and the structure formed in this
process, lichen. In this stable biological unit, the fungus is the mycobiont and
photosynthetic organisms are photobionts. The Caatinga biome is an endemic Brazilian
semiarid region, dominated by vegetation types with xerophytic characteristics and extracts
composed of grasses, shrubs and trees. In the State of Alagoas, the Caatinga occupies an
area of ca. 16.350km2 and in spite of extreme temperature and low amount of rainfall, it
comprises important lichen groups not yet properly studied in the State. This study was
conducted in two areas in the hinterland of Caatinga in Alagoas State, located in the
municipality of Santana do Ipanema. The first area is the R.P.P.N. Farm Waterfall in Serra
da Tocaia, and the second is a disturbed area, located 10 km from the city limits, in the
Serra do Gugi. The results of this study are divided into two chapters. The first relates
lichens groups registered in the study areas, where samples were collected from 60
phorophytes hosts also relates ecological data such as elevation, diameter at breast height
and pH of the bark. A total of 61 taxa were identified, distributed in 18 families and 34
genera. Of these, one species ise new to science; 08 represent new records for Latin
America, 10 for Brazil, 04 for the Northeast Region and 49 are new to the State of
Alagoas. The second chapter presents the description of a new species to science,
Opegrapha caeruleohymeniata JG Cavalcante, Aptroot & M. Cáceres. The pioneering
aspect of this work and the data obtained point to the need for further studies in the region,
which was showed to be lichen rich and unexplored. Moreover, it represents a significant
contribution to the field of lichenology in the region and in the country.
Keywords: Caatinga. Lichens. Alagoas. Diversity. Ecology.
10
LISTA DE FIGURAS
CAPÍTULO 1
Figura 01 – Mapa Politico do Estado de Alagoas. Fonte IBGE ( modificada)....................20
Figura 02 – Pontos de coleta ao longo dos cinco transectos delimitados em cada
uma das duas áreas...............................................................................................................22
Figura 03 – Coleta de material liquênico (A) e dados ecológicos ambientais – pH de casca -
(B) na Serra da Tocaia entre os meses de setembro/2011 a janeiro/2012............................22
Figura 04 – Amostras dos talos liquênicos e substratos ordenados em prensa botânica de
onde seguiram para posterior processamento.......................................................................23
Figura 05 – Georeferenciamento das unidades amostrais (UA) - Serra da Tocaia............23
Figura 06 – Delimitação da área de coleta nas unidades amostrais (UA) - Serra do
Gugi......................................................................................................................................23
Figura 07 – Gráfico demonstrativo de táxons. Somatório das famílias registradas nas Serras
do Gugi e Tocaia, com indicação do número de gêneros e espécies....................................34
Figura 08 – CCA – Diagrama com variáveis ambientais (vermelho); localização das U.A.
(T = Tocaia e G = Gugi) e vetores (verde) indicativos dos dado abióticos..........................38
Figura 09 – Gráfico de dispersão indicando o número de espécies por área e por unidade
amostral................................................................................................................................39
Figura 10 – Média do número de espécies por unidade amostral em cada fragmento de mata.
..........................................................................................................................................................40
Figura 11 – Relação entre unidades amostrais e pH da casca dos fragmentos avaliados
..............................................................................................................................................42
Figura 12 – Média de pH entre unidades amostrais nos fragmentos de mata. Desvios-
padrão: Gugi: 0.49. ; Tocaia: 0.81........................................................................................42
Figura 13 – Gráfico de dispersão relacionando Elevação com unidades amostrais.............43
Figura 14 – Relação entre cada fragmento de mata e a elevação registrada........................44
Figura 15 – Gráfico de relação entre o númeo de espécies e as distâncias demarcadas nos
transectos de cada fragmento de mata pesquisado........................................................................45
Figura 16 – Gráfico de dispersão relacionando DAP com unidades amostrais...................46
Figura 17 – Média do DAP entre as unidades amostrais de cada fragmento de mata..........46
CAPÍTULO 2
Figura 18 – Opegrapha caeruleohymeniata (holotype). A-B sections through ascoma in
water, B-D sections through ascoma with ascus and ascospores, E-F habitus……………59
11
LISTA DE TABELAS
CAPÍTULO 1
Tabela 01 – Posição taxonômica dos liquens corticícolas crostosos registrados para a Serra
da Tocaia e a Serra do Gugi, no semiárido Alagoano..........................................................26
Tabela 02 – Espécies catalogadas para o estado de Alagoas...............................................29
Tabela 03 – Novos registros para o estado de Alagoas........................................................33
.
12
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO GERAL 13
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 14
CAPÍTULO 01 15
Fatores associados à estrutura da comunidade liquênica
corticícola crostosa (Ascomycota) em duas áreas de Caatinga no
Estado de Alagoas – Brasil.
15
RESUMO 15
ABSTRACT 15
INTRODUÇÃO 16
MATERIAIS E MÉTODOS 20
Área de estudo 20
Coleta e processamento das amostras liquênicas 21
Coleta e análise de dados abióticos 24
Identificação das amostras liquênicas 25
RESULTADOS E DISCUSSÕES 26
Comparação entre áreas 36
Número de espécies 39
Elevação 43
Diâmetro à altura do Peito – DAP 46
CONCLUSÃO 48
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 50
CAPÍTULO 2
The new lichen species Opegrapha caeruleohymeniata from
Alagoas State, NE Brazil
56
ABSTRACT 56
INTRODUÇÃO 56
MATERIAIS AND MÉTHODS 57
13
ANEXOS:
58
Tabela 04 – Pontos georeferenciados – Serra do Gugi 62
Tabela 05 – Pontos georeferenciados – Serra da Tocaia 63
Tabela 06 – Resumo – dados abióticos – Serra do Gugi 64
Tabela 07 – Resumo – dados abióticos – Serra da Tocaia 65
Figura 19 - Imagens Serra da Tocaia – Fonte: Arquivo pessoal 66
Figura 20 - Imagens Serra do Gugi – Fonte: Arquivo pessoal 67
14
INTRODUÇÃO GERAL
Liquens são unidades biológicas resultantes da associação simbiótica entre um
parceiro heterotrófico, o fungo, e um parceiro autotrófico, que pode ser uma alga ou
cianobactéria (NASH, 2008). Este processo de associação, denominado de liquenização, é
encontrado em cerca de 20% de todas as espécies de fungos conhecidas, demonstrando ser
uma estratégia nutricional e evolutiva de sucesso para estes organismos (WEBSTER &
WEBER, 2007).
Em aproximadamente 8% da superfície terrestre os liquens estão presentes como a
forma de vida dominante (ODUM, 2008). A capacidade do líquen de se desenvolver tanto
sobre grande variedade de ambientes como de substratos é amplamente conhecida
(BRODO et al., 2001). Sua abundância é notável em ambientes onde as condições são
extremas para a maioria dos organismos isoladamente (AHMADJIAN, 1993), sendo
capazes de viver em alguns dos mais inóspitos ambientes da terra, muitas vezes atuando
como os primeiros colonizadores de áreas recém-expostas (NASH, 2008).
No Nordeste brasileiro é clara a escassez de pesquisas sobre fungos liquenizados de
forma geral e, mais especificamente, sobre fungos liquenizados crostosos. A Caatinga
alagoana ocupa uma área de 16.350 km2 e, apesar de suas características extremas de
temperatura e pluviosidade, abriga importantes grupos liquênicos ainda não devidamente
estudados no estado, devido aos poucos trabalhos realizados sobre a comunidade liquênica
na área (CÁCERES, 2007; CÁCERES et al., 2008)
Assim, este trabalho se propõe a realizar um levantamento da diversidade de
liquens corticícolas crostosos no semiárido alagoano, relacionar as espécies identificadas
tanto na Serra do Gugi, quanto na Serra da Tocaia, sendo estas duas as áreas de Caatinga
arbóreo-arbustiva que serviram de espaço para a pesquisa no município de Santana do
Ipanema-AL, e abodar/discutir aspectos ecológicos como pH, Diâmetro à Altura do Peito –
DAP e elevação com a finalidade de incrementar o conhecimento sobre este grupo de
organismos nesta vegetação no Estado de Alagoas, região cuja micota liquenizada é ainda
pouco conhecida.
Desse modo, esta dissertação foi organizada em dois capítulos. O primeiro título,
“Diversidade de liquens corticícolas crostosos (Ascomycota) em duas regiões de Caatinga
no semiárido de Alagoas, Brasil”, trata, em síntese, do levantamento da comunidade
15
liquênica das Serras do Gugi e da Tocaia e de abordagens descritivas dos aspectos
ecológicos: pH; Diâmetro à Altura do Peito e elevação. O segundo, “The new lichen
species Opegrapha caeruleohymeniata from Alagoas State, NE Brazil”, descreve um novo
exemplar de Opegrapha encontrado na Serra da Tocaia, situada no município de Santana
do Ipanema, a oeste do Estado de Alagoas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AHMADJIAN, V. The Lichen Symbiosis. New York: John Wiley & Sons. 1993, p. 250.
BRODO, I. M.; SHARNOFF, S. D.; SHARNOFF, S. Lichens of North America. New
Haven: Yale University Press. 2001.
CÁCERES, M. E. S. Corticolous crustose and microfoliose lichens of northeastern
Brazil. Eching, Alemanha: IHW- Verlag, Libri Botanici, 2007. v. 22, p.168.
CÁCERES, M. E. S.; LÜCKING, R.; RAMBOLD, G. Corticolous microlichens in
Northeastern, Brazil: Habitat differentiation between coastal Mata Atlântica, Caatinga
and Brejos de Altitude. The Bryologist, 2008. v. 111, p. 98–117.
NASH. T. H. Lichen Biology. 2ª ed. Cambridge, UK: Cambridge University Press, 2008,
pp. 299–314.
ODUM, E. P. Fundamentos de ecologia. São Paulo: Cegage Learning, 2008.
WEBSTER, J.; WEBER, R. W. S. Introduction to Fungi. 3ª ed. Cambridge: Cambridge
University Press. 2007.
16
Capítulo 01
Fatores associados à estrutura da comunidade liquênica corticícola crostosa (Ascomycota)
em duas áreas de Caatinga no Estado de Alagoas – Brasil
Janice Gomes Cavalcante & Marcela Eugênia da Silva Cáceres
RESUMO
O objetivo desta pesquisa foi avaliar os fatores associados à estrutura da comunidade
liquênica corticícola crostosa (Ascomycota) em duas áreas de Caatinga no Estado de
Alagoas, Brasil. Nas Serras do Gugi e da Tocaia foram demarcados 05 transectos de 100
metros cada um, distantes 150 metros um do outro. Cada área somou 30 unidades
amostrais, sendo 06 por transecto, ficando estas a vinte metros uma da outra. Mediu-se o
pH da casca e o Diâmetro á Altura do Peito ( DAP) de cada hospedeiro. Como resultados
obteve-se a identificação de 61 táxons, distribuídos em 18 famílias e 34 gêneros. Destes,
01 é novo registro para a ciência; 08 representam novas ocorrências para a América Latina;
10 para o Brasil; 04 para o Nordeste e 49, para o Estado de Alagoas. O estudo também
mostrou que o pH da casca não interferiu de modo significativo na presença das espécies
destas áreas, no entanto, indicou que o DAP foi o elemento abiótico de maior relevância na
pesquisa. Tanto para a Serra do Gugi como da Tocaia, a elevação não mostrou-se
significante, e assim, não houve a formação de gradientes ambientais interferindo na
distribuição das espécies. O trabalho é pioneiro na região e se espera que possa contribuir
para outras pesquisas liquenológicas no Estado e no país.
Palavras-chave: Ascomycota. Liquens. Alagoas. Diversidade. Ecologia
ABSTRACT
The objective of this research was to evaluate the factors associated with lichen community
structure (Ascomycota) in two areas of Caatinga in the State of Alagoas, Brazil. In the
Serras Gugi and Tocaia 05 transects were demarcated with 100 meters each, and 150
meters distant from each other. Each sample area totaled 30 units, 06 per transect getting
these twenty yards of one another. We measured the pH of the bark and diameter at breast
height (DBH) of each host. The results yielded the identification of 61 taxa belonging to 18
families and 34 genera. Of these, 01 is new to science record; 08 represent new records for
Latin America, 10 for Brazil, 04 for the Northeast, and 49 to the State of Alagoas. The
study also showed that the pH of the shell does not interfere significantly in the presence of
the species of these areas, however, indicated that DAP was abiotic the element of greatest
importance in research. In both Sierra do Gugi and Serra da Tocaia, the elevation was not
significant, and thus, there was no formation of interfering environmental gradients in
species distribution. The present work is a pioneer study in the region and is expected to
contribute to further lichenological research in the state and the country.
Keywords: Ascomycota. Lichens. Alagoas. Diversity. Ecology.
17
INTRODUÇÃO
Os liquens são unidades biológicas resultantes da associação simbiótica entre um
parceiro heterotrófico, o fungo, e um parceiro autotrófico, que pode ser uma alga ou
cianobactéria (NASH, 2008). Este processo de associação, denominado de liquenização, é
encontrado em cerca de 20% de todas as espécies fúngicas conhecidas, ocorrendo, em 99%
dos casos, com fungos do Filo Ascomycota, demonstrando ser uma estratégia nutricional e
evolutiva de sucesso para os organismos envolvidos (WEBSTER & WEBER, 2007).
Segundo Odum (2008), os liquens são uma evidência de uma evolução do
parasitismo para o mutualismo. Esta associação liquênica é o resultado da adaptação mútua
dos biontes (micobionte e fotobionte) para suprir suas necessidades combinadas, onde a
alga contribui com a produção de açúcares por meio da fotossíntese e, no caso das
cianobactérias, pode ocorrer a produção de aminoácidos a partir de gás carbônico e
nitrogênio atmosféricos (GALUN & BUBRICK, 1984). Os componentes fotossintetizantes
(algas e cianobactérias) provêm os necessários compostos carbônicos ricos em energia para
ambos os simbiontes e são protegidos dos extremos de variação ambiental e dissecação
pelos simbiontes fúngicos; por sua vez, as algas ainda recebem os nutrientes minerais que
os fungos retiram do ambiente externo (RAVEN et al., 1996).
Para alguns estudiosos, no entanto, essa associação não se mostra de igual
vantagem ou necessidade para os dois componentes simbionte, argumentando que o fungo
não sobrevive se isolado da alga. Assim, a tendência atual é acreditar que os liquens são
muito mais estruturas onde os fungos cultivam as algas (ou cianobactérias), das quais se
alimentam (ou obtém alimento) do que casos de convivência harmoniosa e pacífica entre
mutualistas (AHMADJIAN, 1993; PURVIS, 2000; MARCELLI, 2006).
Os liquens apresentam distribuição cosmopolita e, graças à associação liquênica, são
capazes de colonizar vários substratos. Aproximadamente 8% da superfície terrestre tem
liquens como a forma de vida mais dominante (ODUM, 2008). Sua grande resistência a
determinados fatores ambientais como temperatura, radiação e disponibilidade hídrica, lhe
permite persistir em situações de stress, característica de sua natureza poiquilohídrica
(LÓPEZ, 2006)
A capacidade do líquen de se desenvolver tanto sobre grande variedade de
ambientes como de substratos é amplamente conhecida (BRODO et al., 2001). Sua
18
abundância é notável em ambientes onde as condições são extremas para a maioria dos
organismos isoladamente (AHMADJIAN, 1993), sendo capazes de viver em alguns dos
mais inóspitos ambientes da terra, muitas vezes atuando como os primeiros colonizadores
de áreas recém-expostas (NASH, 2008).
Segundo Lücking (1998), os fungos liquenizados podem habitar troncos (e suas
ramificações), solos, rochas, folhas e até substratos não convencionais como o plástico.
Apresentam espécies heliófilas (de ambientes luminosos) e umbrófilas (ambientes
sombreados) e são capazes de permanecer em locais que apresentem variações extremas de
temperatura e luminosidade (LEMOS et al., 2007).
Com relação ao tipo de substrato que colonizam, estes fungos liquenizados podem
ser classificados principalmente em liquens foliícolas (crescem sobre folhas em florestas
tropicais), saxícolas (sobre rochas), terrícolas (no solo) e corticícolas (sobre a casca de
vegetais superiores). Este último tipo corresponde à maioria dos liquens conhecidos no
planeta (MARCELLI, 2006), sendo o objeto do presente trabalho.
A composição química e qualidades físicas específicas do substrato são condições
fundamentais na colonização dos liquens (MARMOR & RANDLANE, 2007), sendo a
distribuição de espécies afetada, principalmente, por condições microclimáticas, tais como
luz, umidade e temperatura, bem como a rugosidade da casca do hospedeiro e capacidade
de retenção de água do substrato (BOURG et al., 2007).
Por serem organismos perenes, não há variação na presença de espécies de liquens
de acordo com as épocas chuvosas ou de estiagem, nas regiões onde os mesmos são
encontrados (CÁCERES, 2007). Estima-se que o número de espécies de liquens
conhecidas varie entre 13.500 a 20.000 (SIPMAN & APTROOT, 2001). O Filo
Ascomycota, que abriga a maioria do líquens, é o maior grupo de fungos existente, com
cerca de 32.000 espécies descritas, incluídas em 3.400 gêneros (KIRK et al., 2001).
Acredita-se, no entanto, que a maioria de suas espécies ainda esteja por ser descoberta, o
que faz desta estimativa inicial um número cerca de 20 vezes menor do que o real
(HAWKSWORTH, 2001).
De um ponto de vista ecológico, poder-se-ia dizer que os liquens apresentam
adaptações à seca, já que a resistência que mostra está fortemente relacionada á
disponibilidade hídrica do hábitat onde se desenvolvem. Uma das principais características
do ciclo vital dos liquens é sua capacidade para trocar rápida e freqüentemente de estado
19
ativo para estado de inatividade metabólica, quando as condições ambientais ficam
adversas. Sua grande resistência a determinados fatores ambientais como temperatura,
radiação e disponibilidade hídrica, lhe permite persistir em situações de “stress”,
característica de sua natureza poiquilohídrica (LÓPEZ, 2006). É provável que estes
organismos tenham um papel importante no ciclo do carbono, sobretudo na composição
gasosa da atmosfera da Terra, funcionando como depósitos de CO2 (AHMADJIAN, 1993).
Mundialmente, poucos são os trabalhos de ecologia que se referem aos liquens das
regiões de clima tropical, como o de Wolseley & Aguirre-Hudson (1997) sobre ecologia e
distribuição de liquens em florestas do Nordeste da Tailândia. Há também, o trabalho de
Marmor & Randlane (2007) destacando o efeito do tráfego de auto estradas no pH da casca
e sua influência em liquens epífitas, em Tallinn, na Estônia e destaca-se ainda, um estudo
de Dayer & Letorneau (2007) que avalia determinantes bióticos e abióticos em sub-bosque
de floresta tropical, na Costa Rica.
No Brasil, é possível citar o trabalho de Mistry & Berardi (2005), sobre efeito dos
forófitos em grupos liquênicos do cerrado; os trabalhos sobre ecologia de liquens em
mangues do estado de São Paulo, realizados por Marcelli (1987, 1992); o trabalho de
Käffer (2005) sobre diversidade de liquens corticícolas em vegetação florestal do Sul do
país; o de Martins (2006) sobre a distribuição liquênica em forófitos de restinga, do Rio
Grande do Sul. Há também o trabalho de Cáceres (2006) quanto à distribuição e
diversidade de liquens em remanescentes de Mata Atlântica no Nordeste do Brasil. E entre
as regiões Norte e Nordeste do Brasil, podem ainda ser citados trabalhos e projetos
recentes relacionados com à taxonomia de liquens corticícolas crostosos e foliícolas da
Mata Atlântica, Amazônia Oriental e Semiárido (CÁCERES, 2007, CÁCERES et al.,
2000; LÜCKING & CÁCERES, 2004).
Apesar dos trabalhos supracitados, no Nordeste brasileiro é clara a escassez de
pesquisas sobre fungos liquenizados de forma geral e, mais especificamente, sobre fungos
liquenizados crostosos, com exceção de um estudo relativamente recente no qual são
registradas 450 espécies de liquens, em cinco Estados nordestinos, sendo eles Alagoas,
Sergipe, Bahia e Pernambuco, com pouco destaque para espécies do Rio Grande do Norte
(CÁCERES, 2007). Além do estudo da diversidade, também foi feita uma comparação na
composição de espécies de liquens em três habitats diferentes: Caatinga, Mata Atlântica e
Brejos de altitude, amostrando um total de 22 localidades (CÁCERES et al., 2008).
20
Investigou-se ainda a influência de fatores bióticos e abióticos na composição de espécies
liquênicas de uma floresta tropical úmida, no Estado de Alagoas (CÁCERES, 2007).
Estudos sobre a diversidade de liquens no Estado de Alagoas restringem-se a
poucas pesquisas recentes (CÁCERES 2007; MENEZES et al., 2011). Apenas alguns
trabalhos, além da diversidade de espécies, também tratam de aspectos ecológicos deste
grupo de organismos, como o efeito de fatores bióticos e abióticos sobre a composição de
espécies (CÁCERES et al., 2007) e o efeito de borda na distribuição de dois grupos
funcionais de liquens de mata Atlãntica (PARDOW et al., 2007).
Até o momento, apenas Menezes et al. (2011) estudaram os liquens da região
semiárida de Alagoas, com ênfase na diversidade de espécies, onde foram registrados 44
táxons, sendo 4 novos registros para o Brasil, um novo registro para a região Nordeste e 25
novos registros para o estado. No entanto, este estudo levou em consideração apenas uma
área de Caatinga no município de São José da Tapera, evidenciando então a necessidade de
inclusão de outras áreas na região com vegetação semelhante.
Em áreas de Caatinga, apenas Rodrigues (2012) analisou importantes aspectos
ecológicos de grupos liquênicos neste bioma endêmico do Brasil. Na pesquisa, discutiu-se
que abertura de dossel e DAP responderam por 95% da variação dos dados analisados.
Apesar destes dados não terem sido conclusivos, este foi o primeiro registro de estudos
ecológicos envolvendo liquens corticícolas crostosos na região semiárida brasileira.
No estado de Alagoas, a região semiárida, onde encontramos a Caatinga, ainda é
praticamente desconhecida com relação à diversidade e ecologia de liquens. Recentemente,
o trabalho de MENEZES et al. (2001) mostrou uma parcela mínima da riqueza de espécies
da região, porém sem conotação ecológica.
Ocupando o equivalente a 800.000 km2, a Caatinga é um bioma endêmico do
semiárido brasileiro sendo dominado por tipos de vegetação com características xerofíticas
com extratos compostos por gramíneas, arbustos e árvores, com grande quantidade de
plantas espinhosas entremeadas de outras espécies como as cactáceas e bromeliáceas,
caracterizando um banco genético exclusivo para ao país. O sistema anual de chuvas é
extremamente irregular, resultando em secas periódicas e severas (ALBUQUERQUE &
BANDEIRA, 1995; FERRI, 1980). Cerca da metade da região recebe menos de 750 mm
de chuva/ano, com regiões centrais apresentando o inferior a 500 mm/ano (PRADO, 2000).
21
A Caatinga alagoana ocupa uma área de 16.350 km2 e, apesar de suas
características extremas de temperatura e pluviosidade, abriga importantes grupos
liquênicos ainda não devidamente estudados no Estado, devido aos poucos trabalhos
realizados sobre a comunidade liquênica na área (CÁCERES, 2007; CÁCERES et al.,
2008).
Bioma de sugestiva riqueza biológica,apresenta apenas 41% de sua área total sem
nenhum tipo de investigação e percentual equivalente de áreas subamostradas
(TABARELLI & SILVA, 2004). Santos et al. (2011) afirmam que menos de 1% de sua
área situa-se em unidades de Conservação (UC’s) o que contribui de modo significativo
para a perda de espécies, sejam elas já conhecidas, ou aquelas ainda não catalogadas
(TABARELLI & SILVA, 2004).
MATERIAIS E MÉTODOS
Área de estudo
O trabalho de pesquisa foi realizado em áreas com vegetação de Caatinga Arbóreo-
arbustiva no município de Santana do Ipanema, localizado na região centro-oeste do
Estado de Alagoas, Brasil, ocupando uma área de 437,80 km2, equivalente a 1,6% do
estado (Figura 01). A região apresenta aproximadamente 250 metros de altitude, localiza-
22
se a 9°22’42’’ de latitude Sul e 37°14’43’’ de longitude Oeste, com clima Tropical
Semiárido e temperaturas que variam de 20º a 39º C. O município está inserido na
mesorregião do Sertão Alagoano e na unidade geoambiental do Planalto da Borborema
(MASCARENHAS, 2005).
Foram selecionados na região dois fragmentos de mata. O primeiro, a Serra da
Tocaia, foi a primeira reserva legal de Caatinga no Estado de Alagoas. Situada na Fazenda
Cachoeira com 21,7 hectares, esta R.P.P.N. que se localiza entre as coordenadas 9º 22.944’
de latitude Sul e 37º 15.315’ de longitude oeste e altitude média de 250 metros
(MASCARENHAS, 2005), encontra-se sem exploração antrópica há mais de 80 anos e por
isto atualmente apresenta-se bastante preservada.
O segundo fragmento, a Serra do Gugi, é um ambiente com elevado grau de
antropização e situa-se em uma área de pasto, onde também é comum a agricultura de
subsistência. Localizada entre 9º 21.898’ de latitude sul e 37º 09.088’ de longitude oeste,
com altitude média de 730 metros e estando à 10 km da região central do mesmo
município, é um dos pontos mais altos do Estado. (MASCARENHAS, 2005) e onde é
comum a prática de trilha exploratória por moradores locais.
Coleta e processamento de amostras liquênicas
As coletas de amostras liquênicas e ocorreram entre os meses de agosto de 2011 e
abril de 2012, num total de seis (6) visitas às regiões de estudo, sendo três por área. Em
cada fragmento de mata, foram traçados cinco transectos de 100 metros cada um (Figura
02). Em seguida, selecionou-se sistematicamente uma árvore como primeira unidade
amostral (UA) na borda do primeiro transecto e a partir dela foram marcados seis (6)
pontos de coleta em direção ao interior do fragmento, sendo 20 metros de distância entre
um ponto e outro, ao longo do transecto. A partir deste ponto inicial também foram
demarcados os quatro (4) transectos restantes, obedecendo às distâncias de 150 metros
entre um transecto e outro (Figura 02).
23
Cada forófito hospedeiro, ou unidade amostral, foi marcado inicialmente com
plaquetas plásticas flexíveis, de 12x18 cm, contendo número de transecto e de árvore.
Estas plaquetas foram presas aos hospedeiros com fita de tecido de coloração fluorescente
para melhor visualização dos mesmos, em outros momentos de visita ás áreas. Além disso,
foi feito também o georefernciamento, por área, de cada unidade amostral (Figura 05).
Figura 02 – Pontos de coleta georeferenciados, localizando as unidades amostrais ao longo
dos cinco transectos delimitados em cada uma das duas áreas de coleta.
A coleta dos talos liquênicos foi realizada com uso de faca e martelo (figura 03-A).
Cada unidade amostral teve sua área de coleta delimitada individualmente (Figura-06).
Ainda em campo, as amostras foram armazenadas em sacos de papel, onde foram anotadas
informações como número de transecto e de número da árvore.
Figura 03 – Coleta de material liquênico (A) e dados ecológicos ambientais – pH de casca -
(B) na Serra da Tocaia entre os meses de setembro/2011 a janeiro/2012.
24
Figura 04 – Amostras dos talos liquênicos e substratos ordenados em prensa botânica de
onde seguiram para posterior processamento.
Após duas semanas em prensa botânica (Figura 04), as amostras foram levadas ao
Laboratório de Liquenologia – LALIQ, da Universidade Federal de Sergipe, Campus
Universitário Prof. Alberto Carvalho, em Itabaiana, SE, onde permaneceram por 15 dias
em freezer, à -22º Celsius, para eliminar possíveis insetos ou parasitas que pudessem
comprometer os talos. Em seguida, de acordo com metodologia padrão para confecção de
exsicatas usada no LALIQ, os talos coletados foram colados em pedaços de papel cartão
branco com 14 x 09 cm, para facilitar o manuseio.
Neles foram registrados os dados de cada amostra como local e data de coleta,
número do transecto, número da árvore, e posteriormente dados acerca da identificação de
cada talo liquênico.
25
Coleta e análises dos dados abióticos
As análises estatísticas foram feitas no programa Paleontological Statistic versão
2.13 (freeware PAST ) - (HAMMER et al., 2001). Para os gráficos de comparação entre as
áreas, foi usado o programa Microsoft Excel-2010. A riqueza de espécies de liquens foi
considerada como o número total de espécies de liquens coletados nas áreas.
Para as análises foram produzidas três matrizes com dados abióticos: uma primeira
contendo as elevações, em metros, das unidades amostrais (forófitos hospedeiros) de cada
transecto, a segunda contendo os DAP’s destas unidades amostrais (UA), também
obedecendo à numeração dos transectos e, por fim, uma terceira matriz contendo os
valores de pH de casca de cada uma das 60 U.A.’s. As tabelas 06 E 07 (em anexo)
resumem os dados coletados em campo.
Para a análise dos fatores associados à estrutura da comunidade de liquens
corticícolas crostosos pertencentes a ambos os fragmentos de mata (Serra da Tocaia e Serra
do Gugi), construiu-se uma matriz de presença e ausência das espécies (MARTINS et al.
2003) junto de cada transecto pertencente às áreas. A matriz foi utilizada em uma CCA
(Análise de Correspondência Canônica), baseada na distância Euclidiana.
Foram usados gráficos de dispersão para representar o número de espécies e cada
uma das demais características abióticas analisadas – Elevação, DAP e pH - A
representação das médias de cada característica foi separada em gráficos de barras para
melhor visualização dos resultados.
Usou-se também o teste de Shapiro-Wilk W para testar a normalidade na
distribuição dos dados. E para a variável com distribuição normal (apenas pH) usou-se o
teste T, para verificação de similaridade entre as áreas.
a) pH da casca.
A verificação dos índices de pH da casca dos forófitos foi obtido com o uso de
medidor de pH de superfície, Checker portable pH meter, Hanna instruments. O processo
consistiu em testar o pH de superfície da casca com um eletrodo de ponta plana que após
26
aproximadamente 30 segundos de contato com o córtex vegetal, estabilizava os valores e
permitia a coleta dos dados. Em seguida o eletrodo era lavado com água destilada pra que
o processo fosse repetido no forófito seguinte, sem interferências físicas/mecânicas.
b) Elevação
Os pontos de georeferenciamento foram marcados com aparelho de GPS, modelo
Garmim MapSource, obedecendo à ordem de coleta nas unidades amostrais em cada um
dos fragmentos de mata. A elevação foi marcada em pés, sendo posteriormente convertida
em metros pelo mesmo programa (MapSource) oferecido pelo aparelho Garmin.
c) Diâmetro á altura do peito
O DAP - Diâmetro à Altura do Peito, à 1,30 cm - foi obtido com uso de fita métrica,
através da medição da circunferência do tronco dos forófitos amostrados
Identificação das amostras liquênicas
A análise das características macroscópicas foi realizada com o auxílio de lupa
binocular (microscópio estereoscópico) da marca Leica, modelo EZ4. Foram observados os
seguintes caracteres para a separação de grandes grupos taxonômicos: tipo, estrutura e cor
do talo liquênico, tipo de estruturas de reprodução (apotécio, peritécio, lirelas), tipo e cor
da margem apotecial, localização do ostíolo em peritécios e configuração e estriação de
lirelas.
Para a observação de caracteres microscópicos foi utilizado o microscópio óptico
Leica DM500. Utilizando lâminas de aço, foram feitas secções anatômicas transversais dos
corpos de frutificação e talos dos liquens, as quais foram montadas em preparação de
lâmina e lamínula com uma gota de água destilada. Foram observados os seguintes
caracteres: presença, estrutura, formato, tipo de septação, tamanho, ornamentação e
coloração dos esporos, número de esporos por asco, presença ou não de inspersão do
himênio, largura e comprimento de epimênio, presença e ramificação de paráfises, largura
e carbonização do excípulo. Foram utilizados, adicionalmente, testes de coloração
27
histoquímica para a observação de reações positivas e negativas como característica
taxonômica na presença de solução de Iodo-lugol a 2% (Teste I), hidróxido de potássio
(KOH) a 10% (Teste K), hipoclorito de sódio comercial – NaClO (Teste C) (NASH 2008).
Todas as características observadas foram registradas e foi feita a identificação dos
táxons, sendo a maioria em nível de espécie, com o auxílio dos seguintes trabalhos e
chaves de identificação: Staiger (2002), Sipman (2002), Cáceres (2007), Lucking & Rivas-
Plata (2008), Lücking et al (2009), Aptroot (2008, 2012), Dal-Forno (2009), Rivas-Plata et
al (2009), entre outros.
Número de espécies
Para o levantamento do número de espécies por forófito foram produzidas exsicatas
de 14 X 9 cm, onde foram colados, com cola branca, os córtices coletados de cada uma das
unidades amostrais (UA). Nestes fragmentos de casca, os talos liquênicos eram
inicialmente identificados com o auxílio de lupa binocular (microscópio estereoscópico) da
marca Leica, modelo EZ4. Para a observação de caracteres microscópicos de identificação
foi utilizado o microscópio óptico Leica DM500. Foram feitas secções anatômicas
transversais com lâmina de aço dos corpos de frutificação e talos dos liquens, as quais
foram montadas em preparação de lâmina e lamínula com uma gota de água destilada. As
características de estrutura e reação química eram observadas/anotadas e levadas à
identificação com o auxílio das chaves para a identificação das espécies. Posterior a este
processo, produziu-se uma matriz com o nome das espécies identificadas. Estas foram
listadas em planilha que além do nome do organismo, indicava também o local da coleta, o
número do transecto e das unidades amostrais em que os exemplares foram encontrados.
Assim, produziu-se um banco de dados com as espécies de liquens e demais características
identificadas em cada forófito (UA).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram analisadas 213 amostras (exsicatas) de liquens corticícolas crostosos, sendo
120 destas pertencentes à Serra da Tocaia e 93 à Serra do Gugi. Um total de 34 gêneros foi
identificado, distribuídos por 18 familias e resultando em 61 táxons para a pesquisa.
28
Destes, um é novo registro para a ciência, 8 são novos registros para a América do sul, 10
representam novos dados para o Brasil, 04 para o Nordeste e 49 para o Estado de Alagoas.
Embora a pesquisa tenha sido realizada em região de Caatinga Alagoana, para a análise e
identificação das espécies, considerou-se os dados disponíveis nos poucos trabalhos
realizados tanto neste bioma (MENEZES et al., 2011; RODRIGUES, 2012) como os que
também foram realizados em região de Mata Atlântica brasileira (PEREIRA et al., 2006;
CÁCERES, 2007; CÁCERES et al., 2007; 2008a). Foram analisados, ainda, trabalhos para
outras regiões tropicais do mundo (MARBACH, 2000; SIPMAN, 2003; APTROOT, 2008;
LÜCKING et al., 2009).
Tabela 01 – Posição taxonômica dos liquens corticícolas crostosos registrados para a Serra
da Tocaia e a Serra do Gugi, no semiárido Alagoano.
FAMÍLIA GÊNERO ESPÉCIES
Arthoniaceae Arthonia Arthonia redingeri Grube
Arthonia cf subvelata Nyl.
Coniarthonia Coniarthonia aff. gregorina (Willey)
Grube
Coniocarpon Coniocarpon cinnabarinum DC.
Arthopyreniaceae Mycomicrothelia Mycomicrothelia anonacea (Müll.
Arg.) D. Hawksw
Mycomicrothelia modesta (Müll. Arg.)
D. Hawksw
Brigantieaceae Brigantiaea Brigantiaea leucoxantha (Spreng.) R.
Sant.& Haf.
Caliciaceae Endohyalina Endohyalina circumpallida (H. Magn.)
Marbach
Stigmatochroma Stigmatochroma gerontoides (Stirton)
Marbach
Coenogoniaceae Coenogonium Coenogonium isidiosum (Breuss) Rivas
Plata, Lücking, Umaña & Chaves.
Chrysothrichaceae Chrysothrix Chrysothrix chlorina (Ach.) J. R.
Laundon
Graphidaceae Carbacanthographis Carbacanthographis marcescens (Fée)
Staiger & Kalb
Fissurina Fissurina sp.
Glyphis Glyphis cicatricosa Ach.
Glyphis scyphulifera (Ach.) Staiger
Glyphis substriatula (Nyl.) Staiger
Graphis Graphis arbusculaeformis (Vain.)
29
Lücking
Graphis anfractuosa (Eschw.) Eschw.
Graphis funilina Aptroot
Graphis ingarum (Vain.) Lücking
Graphis leptocarpa Fée
Graphis lineola Ach.
Graphis modesta Zahlbr.
Graphis parallela (Müll. Arg.) Cáceres
& Lücking
Graphis scripta Ach.
Graphis stellata Cáceres & Lücking
Graphis streblocarpa (Bél.) Nyl.
Graphis submarginata Lücking
Graphis tenella Ach.
Graphis virescens Müll. Arg.
Hemithecium Hemithecium chlorocarpum (Fée)
Trevis.
Sarcographa Sarcographa tricosa (Ach.) Müll. Arg.
Haematommataceae Haematomma Haematomma persoonii (Fée) A.
Massal.
Lecanoraceae Lecanora Lecanora alba Lumbsch
Lecanora helva Stizenb.
Lecanora tropica Zahlbr
Ramboldia Ramboldia haematites Körb.
Ramboldia russula (Ach.) Kalb,
Lumbsch & Elix
Pertusariaceae Pertusaria Pertusaria flavens Nyl.
Pertusaria carneola (Eschw.) Müll.
Arg.
Physciaceae Buellia “Buellia” rhambispora Marbach
“Buellia” yaucoensis Vain.
Cratiria Cratiria amphorea (Eckfeldt) Marbach
Pyrenulaceae Anthracothecium Anthracothecium macrosporum (Hepp)
Müll. Arg.
Pyrenula Pyrenula micromma (Mont.) Trevis.
Pyrenula ochraceoflava (Nyl.) R.C.
Harris
Pyrenula quassiaecola Fée
Pyrenula tenuisepta R.C. Harris
Ramalinaceae Bacidia Bacidia aff. varia S. Ekman
Bacidia medialis (Tuck) Zahlbr
Phyllopsora Phyllopsora kalbii Brako
Roccellaceae Enterographa Enterographa multilocularis (Müll.
Arg) Sparrius
Enterographa anguinella (Nyl.)
Redinger
30
É novo registro para a ciência, Opegrapha caeruleohymeniata J.G. Cavalcante,
Aptroot & M. Cáceres (no prelo), encontrada na Caatinga Alagoana e cujas características
taxonômicas a diferencia das outras espécies do gênero (ver capítulo 2).
Dos novos registros para a América do sul, os destaques são: Arthonia redingeri
Grube, citada apenas para a Flórida por Grube (2007); Coniarthonia aff. gregorina
(Willey) Grube; Graphis arbusculaeformis (Vain.) Lücking, registrada para a China como
Graphis centrífuga Räsänen e citada para a Tailândia por Lucking (2009); Strígula zizphi
A. Massal., com todas as espécies do gênero localizadas entre a Europa e a Macaronésia –
Ilhas do Atlântico Sul – (ROUX et al., 2004) e algumas poucas espécies registradas para o
sul do Brasil, porém não estando esta incluída na lista brasileira (SPIELMANN, 2004).
“Buellia” rhambispora Marbach e “Buellia” yaucoensis Vain. (SIPMAN, 2003),
Polymeridium quinqueseptatum (Nyl.) R.C. Harris, e Mycomicrothella anonacea (Müll.
Arg.) D. Hawksw, ambos citados para a Costa Rica por Aptroot (2008).
Tabela 02 – Espécies catalogadas para o Estado de Alagoas.
TÁXONS Serra da Tocaia
Serra do Gugi
S. José da Tapera
(Menezes et al. 2011)
“Buellia” rhambispora Marbach X
“Buellia” yaucoensis Vain. X
Anthracothecium macrosporum (Hepp) Müll. Arg. X
Arthonia aff. complanata Fée X
Arthonia cf. subvelata Nyl. X
Arthonia redingeri Grube X
Opegrapha Opegrapha caeruleohymeniata J.G.
Cavalcante, Aptroot & M. Cáceres
Stictidaceae Trinatotrema Trinatotrema stictideum (Nyl) Lücking,
R. Miranda & Kalb
Strigulaceae Strigula Strigula ziziphi (A. Massal.) Roux &
Sérus.
Thelotremataceae Leucodecton Leucodecton occultum (Eschw.) A.
Frisch.
Chapsa Chapsa leprocarpoides (Hale) Cáceres
& Lücking
Trypetheliaceae Polymeridium Polymeridium quinqueseptatum (Nyl.)
R.C. Harris
Pseudopyrenula Pseudopyrenula subnudata Müll. Arg.
31
Bacidia aff. varia S. Ekman X
Bacidia medialis (Tuck.) Zahlbr X
Baculifera entochlora (J. Steiner) Marbach X
Baculifera pseudomicromera Marbach X
Baculifera xylophila (Malme) Marbach X
Brigantiaae leucoxantha (Spreng) R. Sant & Haf. X
Carbacanthographis marcescens (Fée) Staiger & Kalb X
Chrysothrix chlorina (Ach.) J.R. Laundon X X X
Coenogonium isidiosum (Breuss) Rivas Plata,
Lücking, Umaña & Chaves
X
Coenogonium moniliforme Tuck X
Coniarthonia aff.gregorina (Willey) Grube X
Coniocarpon cinnabarinum DC. X X
Cratiria amphorea (Eckfeldt) Marbach X
Cratiria obscurior (Stirton) Marbach & Kalb X X
Endohyalina circumpallida (H. Magn.) Marbach X
Enterographa anguinella (Nyl.) Redinger X
Enterographa multilocularis (Müll. Arg) Sparrius X
Fissurina sp. X
Glyphis cicatricosa Ach. X X
Glyphis scyphulifera (Ach.) Staiger X X X
Glyphis substriatula (Nyl.) Staiger X X X
Graphis arbusculaeformis (Vain.) Lücking X
Graphis anfractuosa (Eschw.) Eschw. X
Graphis funilina Aptroot X
Graphis glauconigra Vain. X
Graphis handelii Zahlbr. X
Graphis ingarum (Vain.) Lücking X
Graphis leptocarpa Fée X
Graphis lineola Ach. X
Graphis lineola (Eschw.) Eschw. X
Graphis modesta Zahlbr. X
Graphis neoelongata (Lücking) X
Graphis palmyrensis Zahlbr. X
Graphis parallela (Müll. Arg.) Cáceres & Lücking X
Graphis pavoniana Fée X
Graphis scripta Ach. X X
Graphis seminuda Müll. Arg. X
Graphis stellata Cáceres & Lücking X
Graphis streblocarpa (Bél.) Nyl. X
Graphis submargiata Lücking X X
Graphis tenella Ach. X
Graphis virescens Müll. Arg. X
Hemithecium chlorocarpum (Fée) Trevis X
Haematomma persoonii (Fée) A. Massal. X X
Hafellia bahiana (Malme) Sheard X
Hafellia curatellae (Malme) Marbach X
Hafellia demutans (Stirton) Pußwald X
Hafellia desertica Marbach X
Lecanora achroa Nyl. X
32
Lecanora alba Lumbsch X
Lecanora caesiorubella Ach. X
Lecanora helva Stizenb X X
Lecanora hypocrocina Nyl. X
Lecanora tropica Zahlbr X
Leucodecton occultum (Eschw.) A. Frisch X X X
Mycomicrothelia anonacea (Müll. Arg.) D. Hawksw. X
Mycomicrothelia modesta (Müll. Arg.) D. Hawksw. X
Opegrapha caeruleohymeniata J.G. Cavalcante,
Aptroot & M. Cáceres
X
Opegrapha cf. arengae Vain. X
Pertusaria carneola (Eschw) Müll. Arg. X
Pertusaria dehiscens Müll. Arg. X
Pertusaria flavens Nyl. X X X
Pertusaria tetrathalamia (Fée) Nyl. X
Phaeographis sp. X
Phylopsora kalbii Brako X
Polymeridium quinqueseptatum (Nyl.) R.C. Harris X
Polymeridium proponens (Nyl.) R.C. Harris X
Pseudopyrenula subnudata Müll. Arg X
Pyrenula anomala (Ach.) Vain. X
Pyrenula micromma (Mont.) Trevis. X
Pyrenula ochraceoflava (Nyl) R.C.Harris X
Pyrenula quassiaecola Fée X
Pyrenula tenuisepta R.C. Harris X
Ramboldia haematites Körb X X X
Ramboldia russula (Ach.) Kalb, Lumbsch & Elix X X
Rinodina sp. X
Stigmatochroma gerontoides (Stirton) Marbach X X
Strigula ziziphi (A.Massal)Roux & Sérus X
Trinatotrema stictideum (Nyl) Lücking, R. Miranda &
Kalb
X
Trypethelium eluteriae Spreng. X X X
Trypethelium ochroleucum (Eschw.) Nyl. X
Vainionora flavovirens (Fée) Kalb X
Para o Brasil, são considerados registros inéditos, Endohyalina circumpallida (H.
Magn.) Marbach, Enterographa multilocularis (Müll. Arg.) Sparrius, Lecanora alba
Lumbsch & Elix, na Austrália; Pyrenula tenuisepta R.C. Harris, listada para a Flórida
(HARRIS, 1989); Mycomicrothelia anonacea Aptroot (APTROOT, 2008); Cratiria
amphorea (Eckfeldt) Marbach, espécie pantropical, citada para a China. E ainda as
Grafidáceas: Graphis anfractuosa (Eschw.) Eschw., Graphis ingarum (Vain.) Lücking;
Graphis leptocarpa Fée, Graphis modesta Zahlbr, Graphis substriatula, , que foram
registradas para a Costa Rica por LÜCKING et al. (2009).
33
Segundo Lücking et al. (2011), Trinathotrema stictideum (Nyl.) Lücking, R.
Miranda & Kalb já havia sido registrado para o Mato Grosso do Sul. Esta espécie agora
aparece como novo registro para o nordeste brasileiro, assim como Graphis lineola Ach e
Graphis scripta ( L) Ach. que também foram citadas para o Rio Grande do Sul por
Spielmann (2004).
A espécie Carbocanthographis marcescens (Fée) Staiger & Kalb catalogada em
Singapura, foi registrada para o Rio Grande do Norte, em região de Mata atlântica
(CÁCERES, 2007), agora aparece como novo registro em região de Caatinga, sobretudo
Alagoana.
As espécies relacionadas a seguir já foram citadas para o Nordeste no Estado de
Pernambuco, mas são agora novos registros para a Caatinga alagoana. São elas: Arthonia
cf. subvelata Nyl.; Brigantiaea leucoxantha (Spreng.) R. Sant & Haf., Chapsa
leprocarpoides (Hale) Cáceres & Lücking; Fissurina sp., Graphis submarginata Lücking;
Graphis tenella Ach.; Graphis virescens Müll. Arg.; Lecanora helva Stizenb; Lecanora
trópica Zalhbr.; Pertusaria carneola (Eschw.) Müll.Arg.
A espécie Ramboldia haematites aparece como Pyrrhospora haematites (Fée) Kalb,
citada por Menezes et al. (2011) para o estado de Alagoas, e Ramboldia russula como
Pyrrospora russula (Ach.) Haf., citada com mesmo nome por Osório et al. (1997) para o
Rio Grande do Sul e Pertusaria flavens Nyl., citada ainda para o estado de Sergipe, por
Cáceres (2007); Pseudopyrenula subnundata Müll. Arg., Pyrenula micromma (Mont.)
Trev.; Pyrenula ochraceoflava (Nyl.) R.C. Harris, também aparecendo em Alagoas e
Pyrenula quassiaecola Fée, que além de Pernambuco também tem registro no Rio Grande
do Norte. Para Alagoas, Cáceres também já havia catalogado Enterographa anguinella
(Nyl) Redinger e Graphis parallela (Müll.Arg.) Cáceres & Lücking.
Das espécies catalogadas na pesquisa, Cáceres (2007) citou, simultaneamente, para
os estados de Alagoas, Pernambuco e Sergipe, Glyphis sciphulífera (Ach.) Staiger;
Coniocarpum cinnabarinum DC.; Haematomma persoonii (Fée) A. Massal. e Trypethelium
eluteriae Spreng. Estas quatro espécies também foram registradas para o estado de Alagoas
por Menezes et al. (2011), para o município de São José da Tapera.
34
Dentre os grupos liquênicos registrados e que apareciam no nordeste, mas apenas
para o estado de Sergipe, podem ser citadas Bacidia aff. varia S. Ekman; Coenogonium
isidiosum (Breuss) Rivas Plata, Lücking, Umaña & Chaves; Glyphis substriatula (Nyl.)
Staiger; Graphis parallela (Müll. Arg.) Cáceres & Lücking; Graphis stellata Cáceres &
Lücking e Phyllopsora kalbii Brako. Todos estes citados por Cáceres em seu livro Libri
Botanici (2007), onde estão também as chaves utilizadas à identificação de algumas das
espécies liquênicas catalogadas para o nordeste do Brasil.
Bacidia medialis (Tuck.) Zahlbr, Sarcographa tricosa (Ach.) Müll Arg. que
apareceram nos trabalhos de Cáceres (2007) para a Mata Atlântica Alagoana, agora foram
também registradas para Serra da Tocaia; Bacidia aff. varia também aparece para a Mata
Atlântica Pernambucana. Neste trabalho, no entanto, é citada como novo registro para a
Caatinga Alagoana.
Menezes et al. (2011) citaram Leucodecton occultum (Eschw.) A. Frisch para São
José da Tapera, no Sertão Alagoano, sendo , portanto, registrada para as três localidades já
pesquisadas no estado. Stigmatochroma gerontoides (Stirt.) Marbach , também já havia
sido citado por Menezes et al. (2011) para o Semiárido Alagoano, aparecendo também para
a Serra da Tocaia.
A considerar as espécies reportadas nesta pesquisa e associando esses dados com os
trabalhos de Menezes et al. (2011) e Cáceres (2007), ambos pioneiros na identificação das
amostras liquênicas no estado de Alagoas, são catalogados como novos registros para o
semiárido alagoano as espécies listada na tabela 03.
São 49 táxons, distribuídos em 29 gêneros e 16 famílias, compondo os novos
registros para o estado de Alagoas. Graphidaceae, a familia mais representativa, aparece
com 04 gêneros e 20 novos registros para esta região do semiárido (figura 05). A família
Trypetheliaceae surge com 02 gêneros e 02 espécies. As famílias Arthoniaceae,
Lecanoraceae, Physciaceae, Pyrenulaceae e Ramalinaceae e Rocceliaceae apresentam 02
gêneros e de 03 a 05 espécies. Arthopyreniaceae apresenta 01 gênero e duas espécies. As
demais famílias aparecem com 01 gênero e 01 espécie cada uma. São elas:
35
Brigantiaeaceae, Caliciaceae, Coenogoniaceae, Pertusariaceae, Stictidaceae,
Strigulaceae, Thelotremataceae.
Figura
07 – Gráfico demonstrativo de táxons. Somatório das famílias registradas nas Serras do
Gugi e Tocaia, com indicação do número de gêneros e espécies.
Tabela 03: Novos registros para o Estado de Alagoas.
FAMÍLIA GÊNEROS ESPÉCIES
Arthoniaceae Arthonia Arthonia redingeri Grube
Arthonia cf. subvelata Nyl.
Coniarthonia Coniarthonia aff.gregorina (Willey) Grube
Arthopyreniaceae Mycomicrothelia Mycomicrothelia anonacea (Müll. Arg.) D.
Hawksw
Mycomicrothelia modesta (Müll. Arg.) D. Hawksw
Briganteaceae Brigantiaea Brigantiaea leucoxantha (Spreng.) R. Sant. & Haf.
Caliciaceae Endohyalina Endohyalina circumpallida (H. Magn.) Marbach
36
Coegoniaceae Coenogonium Coenogonium isidiosum (Breuss) Rivas Plata,
Lücking, Umaña & Chaves.
Graphidaceae Carbacanthographis Carbacanthographis marcescens (Fée) Staiger &
Kalb
Fissurina Fissurina sp.
Glyphis Glyphis substriatula (Nyl.) Staiger
Graphis Graphis arbusculaeformis (Vain.) Lücking
Graphis anfractuosa (Eschw.) Eschw
Graphis funilina Aptroot
Graphis ingarum (Vain) Lücking
Graphis leptocarpa Fée
Graphis lineola Ach.
Graphis modesta Zahlbr.
Graphis scripta Ach.
Graphis stellata Cáceres & Lücking
Graphis streblocarpa (Bél.) Nyl.
Graphis submarginata Lücking
Graphis tenela Ach.
Graphis virescens Müll. Arg.
Hemithecium Hemitecium chlorocarpum (Fée) Trevis
Sarcographa Sarcographa tricosa (Ach.) Müll. Arg.
Lecanoraceae Lecanora Lecanora alba Lumbsch
Lecanora helva Stizenb.
Lecanora tropica Zahlbr.
Ramboldia Ramboldia haematites Körb
Ramboldia russula (Ach.) Kalb, Lumbsch & Elix
Pertusariaceae Pertusaria Pertusaria carneola (Eschw.) Müll. Arg.
Physciaceae Buellia “Buellia” rhambispora Marbach
“Buellia” yaucoensis Vain.
Cratiria Cratiria amphorea (Eckfeldt) Marbach
Pyrenulaceae Anthracothecium Antracothecium macrosporum (Hepp) Müll. Arg.
Pyrenula Pyrenula micromma (Mont) Trevis.
Pyrenula quassiaecola Fée
37
Pyrenula tenuisepta R.C. Harris
Ramalinaceae Bacidia Bacidia aff. varia S. Ekman
Bacidia medialis (Tuck.) Zahlbr.
Phyllopsora Phyllopsora kalbii Brako
Roccellaceae Enterographa Enterographa multilocularis (Müll. Arg) Sparrius
Opegrapha Opegrapha caeruleohymeniata J.G. Cavalcante,
Aptroot & M. Cáceres
Stictidaceae Trinatotrema Trinatotrema stictideum (Nyl) Lücking, R. Miranda
& Kalb
Strigulaceae Strigula Strigula ziziphi (A. Massal.) Roux & Sérus.
Thelotremataceae Chapsa Chapsa leprocarpoides (Hale) Cáceres & Lücking
Trypetheliaceae Polymeridium Polymeridium quinqueseptatum (Nyl.) R.C. Harris
Pseudopyrenula Pseudopyrenula subnudata Müll. Arg.
Para que fossem feitas as devidas análises propostas neste trabalho de pesquisa,
criou-se um banco de dados para ser usado na produção das matrizes. Estes dados estão
resumidos em tabelas (ver anexos 07 e 08).
Comparação entre áreas
As Serras do Gugi e da Tocaia, situam-se há doze quilômetros de distância uma da
outra no Sertão alagoano e apresentam características próprias. A primeira é uma área
antropizada, composta por propriedades particulares utilizadas para atividades de
agricultura e pecuária, sendo a maior parte de subsistência. A segunda é uma R.P.P.N. com
mais de 80 anos de preservação.
Muitos estudos ecológicos estão sendo feitos com o uso de fungos liquenizados,
devido a sua imediata resposta aos impactos ambientais (MARTINS et al., 2006). No
entanto, não há registro de estudos que relacionem aspectos ecológicos à estrutura de
comunidades liquênicas em regiões de Caatinga, sobretudo no Estado se Alagoas.
38
O primeiro registro oficial de estudos liquenológicos neste Estado foi produzido por
Cáceres (2007) em duas R.P.P.N.’s, porém, ambas as áreas de estudos eram remanescentes
de Mata Atlântica. Depois disso, o único registro para o estado se restringe à identificação
de 44 ocorrências de liquens corticícolas crostosos e microfoliosos feita por Menezes et al.
(2011) no município de São José da Tapera, também uma região semiárida. É o primeiro
trabalho oficial que relaciona grupos liquênicos característicos da região de Caatinga
sertaneja, no entanto, não faz nenhuma abordagem a aspectos ecológicos destes
organismos.
Como análise inicial, foi produzida para avaliação da área uma CCA – análise de
correlação Canônica - que, entre outras coisas, forneceu dados de autovalores
representados na figura 08 por vetores (cor verde). O comprimento dos vetores indica a
relação entre os dados abióticos e a distribuição dos liquens nas áreas amostradas, sendo os
vetores mais longos, os de maior relevância. Assim, a partir do diagrama de autovalores
estabelecidos pela CCA, tem-se Elevação e DAP como dados abióticos que melhor se
relacionam com a presença dos grupos liquênicos nas áreas. Estas variáveis são
responsáveis por 61,55% (Elevação) e 38,42% (DAP), da explicação dos dados,
totalizando, juntos, 99,7%. Desse modo, o pH dos forófitos explicou apenas 0,03% do total
da variação. Apesar disso, vê-se que este dado é de grande relevância para as espécies
localizadas do lado direito do gráfico, pertencentes à Serra da Tocaia , já que o vetor
consegue ir além do centro do gráfico, posicionando-se à direita, (ponto zero), indicando
uma correlação positiva.
A figura 08 também faz referência à elevação, indicando que as unidades amostrais
da Serra do Gugi estão numa altitude maior que as localizadas na Serra da Tocaia, apesar
de uns poucos pontos (T1, T5, T17, T24, T28 e T30 ) encontrarem-se junto ao aglomerado
localizado no lado esquerdo da imagem, sugerindo elevações semelhantes nestes pontos.
Outra importante observação refere-se ao agrupamento das UA. Percebe-se que no
centro do diagrama ocorreu uma sobreposição de pontos tanto da Serra da Tocaia quanto
da Serra do Gugi, sugerindo uma aproximação considerável na composição liquênica das
áreas.
39
No quarto quadrante surge um aglomerado entre unidades amostrais da Serra da
Tocaia, reunindo os pontos T6, T8, T12, T22 e T23, que mostraram maior aproximação de
suas características bióticas/abióticas.
Embora muitos pontos de UA da Tocaia tenham composto o aglomerado que se
apresenta distribuído entre o centro e o lado esquerdo do diagrama, não há, no lado
correspondente direito, a mesma equivalência para pontos do Gugi, apresentando um
terceiro e quarto quadrantes compostos apenas por UA da Tocaia. Algumas poucas
unidades permaneceram aglomeradas (T26, T20, T13, T29, T14 e T11, T27, T4, T25)
enquanto outras de distribuíram espaçadamente na região medial do terceiro quadrante
(T15, T3, T7, T10, T18). É importe citar que as bordas dos fragmentos amostrados tem
entre si uma diferença inicial de cerca de 100 metros, sendo o Gugi mais elevado, assim os
dados que se referem à elevação foram claramente influenciados por esta diferença em
metros, o que provavelmente teve reflexo na distribuição dos valores analisados.
Figura 08 – CCA – Diagrama com variáveis ambientais (vermelho); localização das
U.A. (T = Serra da Tocaia e G = Gugi) e vetores (verde) indicativos dos dado
abióticos.
40
Número de espécies:
Na maior parte dos pontos amostrais, a Serra da Tocaia apresentou um número de
espécies maior que os pertencentes à Serra o Gugi, (Figura 09) com poucas baixas
numéricas e eventuais elevações ou pontos coincidentes no número de indivíduos.
Os dados indicam uma variação de 0 a 9 espécies por unidade amostral (Figura 09),
totalizando 44 espécies registradas para a Serra da Tocaia e 29, para a Serra do Gugi,
número significativo para as áreas, apesar de não existir indicações oficiais de qual seria o
número esperado para esta região. A média dos pontos amostrais apresentou 3, 066
espécies de liquens por unidade amostral, para a Serra do Gugi e 4, 033, para a Serra da
Tocaia (Figura 10). Não é possível definir a consistência destes valores, já que não há
nenhum número sugerido por qualquer pesquisador para este tipo de Floresta. No entanto,
para Marcelli (1997) o Brasil tem pouco mais de 2500 espécies de liquens catalogadas,
mas o mesmo sugere que o número mais próximo de um levantamento real está em torno
de 4000 a 5000 mil espécies. Esta afirmativa corrobora as ideias de Cornelissen & Ter
Steege (1989); Sipman & Harries ( 1989); Montfoort & Ek ( 1990); Sipman & Canela
( 1990) e Lakatos ( 2004) que afirmam que liquens crostosos são abundantes em Florestas
Tropicais, especialmente em baixas altitudes. Segundo Aptroot & Sipman (1997), em
ambientes de várzea, a estimativa é de 300 espécies por Km2 ou mesmo por hectare
(KOMPOSCH & HAFELLNER, 2000).
Figura 09 – Gráfico de dispersão indicando o número de espécies por área e por unidade
amostral.
41
Considerando o total de área amostrada foi de mil metros, a região de Caatinga
sertaneja mostrou um número claramente inferior. Talvez esta afirmativa tenha mais
respaudo em regiões de Mata Atlântica ou mesmo ambientes que apresentem um conjunto
de condiçôes ecológicas diferentes da Caatinga, considerando que Aptroot chegou a relatar
173 espécies de liquens numa única árvore, na região da Nova Guiné, uma região de
várzea de Floresta Tropical, cujas condições ambientais são bastante diferenciadas. Assim
os resultados indicam a necessidade de estudos mais aprofundados.
pH de casca
O pH registrado para a Serra da Tocaia apresentou uma variação de 4,3 a 7,4
(tabela 08 – anexo), enquanto na Serra do Gugi o indice variou de 4,7 a 6,4 (tabela 07 –
anexo). A relação entre pH de casca e unidade amostral, (figura 11) registrou um banco de
dados relativamente similar, com valores de pH bem semelhantes apesar das diferentes
condições encontradas em cada área, enquanto a Tocaia apresenta cerca de 80 anos de
preservação, o Gugi tem pasto em quase a totalidade de sua área e sofre frequentes
queimadas ao longo do ano. Por si só esta informação já sugere uma série de outras
análises sobre estes ambientes. A figura 12 mostra médias de pH de casca muito próximas,
Figura 10 – Média do número de espécies por unidade amostral em cada fragmento de
mata.
Dv.p: Gugi 2,09.;
Tocaia – 2.18.
42
corroborando os resultados de autovalores da CCA, (figura 08) que indicou este fator como
não sendo elemento determinante para a presença das espécies registradas naquelas
localidades, sobretudo na Sera do Gugi. Assim, é provável que novos estudo direcionem
estes dados a uma compreensão mais ampla do proceso de antropização em áreas
exploradas e a dinâmica em fragmentos de áreas preservados.
Porém, para Hawksworth & Hill (1984), o pH de casca explica a ocorrência da
maioria das espécies de líquens epífitas, pois estes preferem substratos com produtos
químicos e qualidades físicas específicos e, portanto, optam por crescer em determinadas
espécies de árvores. Outros estudos também indicam uma correlação positiva entre o
índice de pH de casca e a presença da comunidade liquênica, como acontece no trabalho de
Mezänca et al. (2008) que, estudando briófitas e liquens epífitas na Letônia, avaliaram a
relação da riqueza total de liquens com a conservação do substrato e especialmente com o
índice de pH da casca. Outro trabalho importante que faz essa correlação positiva entre pH
da casca e riqueza liquênica, foi produzido por Marmor & Randlane (2007), em Tallin,
quando pesquisavam o efeito do tráfego no pH da casca e afirmaram que, considerando as
circunstância, houve sim, uma interferência significativa na riqueza de liquens epífitas
naquela região. Em 2007, Cáceres, relacionando a influência de fatores ambientais em
comunidades liquênicas de Mata Atlântica, também citou uma sutil correlação positiva
entre pH de casca e riqueza liquênica nestas áreas do Nordeste brasileiro. No entanto, o
trabalho de Rodrigues (2012) que avaliou a influência de aspectos ecológicos em
comunidades liquênicas numa região de Caatinga, não obteve uma correlação significativa
do pH de casca com a riqueza de espécies de liquens.
No entanto, apesar de todas estas afirmativas, somente 0,03% destes dados ( pH)
explicaram a presença das espécies nas áreas pesquisadas neste estudo e ainda assim,
foram somente algumas das espécies pertencente à Serra da Tocaia, visto o modo como a
grande maioria destas unidades amostrais encontrava-se distribuídas nos quadrantes 3 e 4
da CCA (figura 08). O teste T realizado na comparação das áreas (apenas para este fator
abiótico, já que foi o único a apresentar distribuição normal dos valores) indicou que este
fator não teve interferência significativa (p = 0,455018) na distribuição das espécies.
43
Desse modo, não é precoce afirmar que são necessárias novas análises para se
compreender este processo, afinal, se, em geral encontrou-se influência do fator pH nas
diversas pesquisas realizadas em Florestas de Mata Atlântia, e o mesmo não foi registrado
nos dois únicos estudos desenvolvidos em região de Caatinga, apenas novas pesquisas
poderão levantar dados suficientes para corroborar ou não qualquer uma das hipóteses que
se possa levantar sobre as áreas amostradas.
Figura 11 – Relação entre unidades amostrais e pH da casca dos fragmentos avaliados.
Figura 12 – Média de pH entre unidades amostrais nos fragmentos de mata.
44
Elevação
Considerando a dinâmica de uso, Tocaia e Gugi são fragmentos de mata bastante
distintos. O gráfico da figura 13 mostra que a base da Serra da Tocaia está a pouco mais de
250 metros, enquanto a base da Serra o Gugi fica a pouco menos de 400 metros de altitude,
assim suas bases começam com uma diferença de elevação superior a 100 metros. Mas na
figura 14, onde são comparadas as duas áreas, a média de elevação faz esse número cair
para pouco mais de 75 metros. Na CCA (figura 08) produzida à partir da matriz de
presença e ausência, ficou clara a relação de influência da elevação com a presença de
espécies, sobretudo na Serra do Gugi, que apresenta o dobro de altitude em relação à
Tocaia. Isto, pórem, não é considerado fator determinante já que ambas as áreas não foram
avaliadas em toda extensão de sua elevação.
No Brasil não há registro de trabalhos que correlacionem a presença de liquens
crostosos com gradientes altitudinais em fragmentos de mata, sobretudo na Caatinga.
Nessa perspectiva nenhum estudo foi relatado no país. Há, no entanto, registro de
pesquisas na Malásia, no Nepal e na Turquia que comparam a presença dos diferentes
grupos liquênicos em diferentes níveis de altitude, bem como em regiões bastante distintas,
a exemplo de ilhas, montanhas e florestas.
Figura 13 – Gráfico de dispersão relacionando Elevação com unidades amostrais
45
As pesquisas na Malásia levaram Zulkifly et al. (2011) a concluírem que os liquens
crostosos embora se apresentem mais numerosos em regiões mais baixas, são encontrados
desde o nível do mar até o pico das montanhas de Gunung Machincang, à 600 metros de
altitude. Os liquens foliares, no entanto, aumentaram em número de espécies à medida que
se caminhava em direção ao pico. No Nepal, os trabalhos de Baniya et al. (2009) que
relacionaram a riqueza de liquens com os gradientes de altitude, mostraram resultados que
reforçaram aqueles obtidos nas ilhas da Malásia, bem como fortaleceram os dados obtidos
por Özturk et al. (2010), nas florestas da Turquia, que indicaram que a composição de
espécies de liquens epífitas em altitudes elevadas era bem diferente do que em baixas
altitudes.
Também analisando o crescimento de três espécies de liquens a partir seis níveis de
altitude (de 1000 m até 4310 m), Folmer et al. (1998) concluíram que apenas Rizocarpon
geographicum apresentou ótima correlação de crescimento com a altitude , enquanto
Lecanora conizaeoides e Stereocaulum alpinum não apresentaram influência. Vale
ressaltar, no entanto, que em todas estas análises, foram poucas as espécies testadas e que
Figura 14 – Relação entre cada fragmento de mata e a elevação registrada.
Desvios padrão:
Gugi: 19,75. ;
Tocaia: 10,71
46
os ambientes apresentam condições bastante diferenciadas daquelas oferecidas pela
Caatinga sertaneja.
Apesar das diferenças de altitude entre os fragmentos da Serra do Gugi e da Serra
da Tocaia, suas diferenças de elevações não são significativas e os números não indicam
uma adequação à formação de gradientes ambientais que pudessem servir de comparação
tanto dentro de cada área, quanto entre elas. Ainda assim, o gráfico a seguir (Fig.17)
mostra a distribuição do número de espécies ao longo dos extratos de 0 m, 20 m, 40 m, 60
m, 80 m e 100 m, que compõem as distâncias entre a borda e o interior dos fragmentos
amostrados. Vê-se também que os pontos extremos de borda e do interior dos fragmentos
(0 m e 100 m, respectivamente) apresentam uma maior riqueza da comunidade liquênica, o
que não ocorre nas unidades localizadas ao longo dos transectos avaliados, exceto a 60
metros, onde as unidades amostrais da Serra da Tocaia apresentaram um número
equivalente às extremidades dos transectos pesquisados, sendo considerado alto quando
comparado às da Serra do Gugi, onde, à mesma distancia tiveram sua menor expressão
numérica. Considerando-se apenas os valores sem os pontos extremos, a variação entre as
áreas ficou mais clara no quarto extrato, a 60 metros. Observa-se ainda, uma constância no
número de espécies de liquens entre as distâncias no Gugi. Neste fragmento, os números de
espécies à 20 m e 40 m são iguais e pouco diferem entre si quando atingem os 80 m, em
direção ao interior da mata.
Figura 15 – Gráfico de relação entre o númeo de espécies e as distâncias demarcadas nos
transectos de cada fragmento de mata pesquisado.
47
DAP
Com excessão da unidade amostral situada no ponto 5 da Serra da Tocaia ( Fig.16),
onde se vê um número bastante elevado para o DAP e do ponto 15, onde as duas unidades
amostrais pertencentes à áreas distintas, apresentam medidas bastante próximas, a Serra da
Tocaia manteve um pradrão de DAP inferior em relação a Serra do Gugi, ao longo de toda
curva de dispersão, mostrando um Gugi mais rico em hospedeiros com DAP
elevado.(Figuras 16 e 17).
Figura 17 – Média do DAP entre as unidades amostrais de cada fragmento de mata.
Indicando um Gugi com maior riqueza diamétrica.
Figura 16 – Gráfico de dispersão relacionando DAP com unidades amostrais das
respectivas matas.
Desvios-padrão:
Gugi: 44,27 ;
Tocaia: 25,90.
48
Em seu trabalho pioneiro, que relacionou fatores abióticos com riqueza da
comunidade liquênica em região de Caatinga, Rodrigues (2012) obteve uma correlação
positiva entre a riqueza de espécies e o DAP dos forófitos analisados. Embora pouco
expressivo este resultado corrobora a correlação também positiva da comunidade liquênica
em Caatinga Alagoana. No entanto, no presente trabalho, o DAP apresentou-se como fator
ecológico mais relevante que no primeiro estudo.
A CCA mostrada na figura 08, identifica este elemento - DAP - como responsável
por 61% dos dados registrados na pesquisa de área e agrupa todas as unidades amostrais da
Serra do Gugi. A figura 16 mostra esta Serra com um DAP médio de 67,82 cm, enquanto
que na Serra da Tocaia este valor cai para quase a metade, 35,68 cm, indicando unidades
amostrais com uma considerável diferença diamétrica.
A literatura não é muito rica em estudos que levam em conta esta variável, mas
apesar dos escassos trabalhos, pode-se citar Bunnel et al. (2008), que, ao analisar a
comunidade liquênica em toras de madeira , numa área de exploração desativada, no
sudeste da Columbia Britânica (Canadá), comparou os resultados destes troncos com os
que se encontravam caídos numa área protegida há mais de 140 anos e observou que além
do estágio de decomposição da madeira, o diâmetro à altura do peito – DAP – (Em inglês,
Diameter Breast Height, DBH) foi o fator que melhor explicou a riqueza de espécies
apresentada pela comunidade liquênica naquela área.
Avaliando aspectos semelhantes, Mezâka et al. (2008) , estudando briófitas e
liquens epífitas, relacionaram a riqueza total de liquens com a conservação do substrato e
mais especificamente com o DAP. Encontraram ainda esta última variável ambiental como
fator que afetava mais significativamente a riqueza das espécies liquênicas da área de
pesquisa naquela floresta decidual, na Letônia.
A Serra do Gugi apesar de ser uma região que sofre grande influência antrópica,
passando por frequentes processos de queimadas, além do uso como pasto para o gado,
apresenta hospedeiros que embora estejam em menor número, se comparados à Tocaia,
estes são muito mais velhos, e, portanto apresentam maior diâmetro e, tendo maior
diâmetro, obviamente tem também uma área maior de substrato disponível ao epífita
49
liquênico. Já na Serra da Tocaia, observa-se imediatamente o contrário, um número maior
de hospedeiros por área amostrada, porém organismos mais jovens, cuja média de DAP (
35,68 cm) ficou em torno de pouco mais da metade registrada para o Gugi (67,82 cm). .
CONCLUSÃO
Foram analisadas 120 exsicatas com amostras liquênicas da Serra da Tocaia e 93
esxicatas com amostras da Serra do Gugi, as quais resultaram na identificação de 61
táxons, distribuídos em 34 gêneros e 18 familias. Foram catalogadas 44 espécies para a
Serra da Tocaia e 29 para a Serra do Gugi. Destss, 49 são novos registros para a região
semiárida alagoana, e entre estes houve descrição de uma espécie nova para a ciência -
Opegrapha caeruleohymeniata J.G. Cavalcante, Aptroot & M. Cáceres - 08 novos
registros para a América Latina; 10 espécies citadas pela primeira vez para o Brasil e 04
novos registros para o Nordeste.
Não foram registradas espécies com peritécios na Serra do Gugi, no entanto, entre
as 14 Graphis registradas, 11 apareceram nesta Serra. A espécie Chrysothrix chlorina (Ach.)
J.R. Laundon apareceu em 20 das 60 unidades amostrais, sendo a espécie mais abundante e
distribuiu-se igualitariamente entre as áreas.
As análises de pH indicaram grande variação dentro de cada uma das áreas verificadas
mas, no que diz respeito à influência na estrutura da comunidade liquênica, este fator abiótico não
foi elemento determinante para a presença das espécies registradas nas áreas.
Quanto à elevação, as diferenças indicadas para as Serras não foram significativas, não
sendo possível a ordenação dos dados em gradientes ambientais.
O fator de maior influência na estrtura liquênica destas regiões foi o Diâmetro à Altura do
Peito, DAP, medido à 1,30 m do solo. O que é inequívoco, já que quanto maior é a área, maior
também será o espaço disponível no substrato para fixação dos talos liquênicos.
Os dados indicam que as regiões estudadas têm um inegável potencial
liquenológico, mas vale ressaltar que todo o Estado carece de investigação. Assim, a
inclusão de novas áreas de coleta e o aumento de unidades amostrais na região previamente
50
pesquisada, poderá apresentar, em longo prazo, resultados ainda mais completos e
estimulantes do ponto de vista científico.
O estado de Alagoas, assim como a maior parte do Brasil, carece de informações
mais minuciosas e substanciais acerca de sua flora liquênica. O presente estudo, porém,
mostra-se como um relevante registro das espécies de liquens que compõem parte do
Semiárido deste Estado. Estes dados tornam-se ainda mais relevantes quando se considera
a importância destes organismos como indicadores da qualidade ambiental e, sobretudo por
seu potencial biotecnológico, tão reconhecido entre os liquenólogos mas ainda tão pouco
explorado, sobretudo, nesta região, cujo crescimento científico e tecnológico apresenta-se
obsoleto e com perspectivas de desenvolvimento a longo prazo.
Quando se trata de relatar fatores ecológicos e suas possíveis influências junto à
comunidade liquênica, a grande dificuldade consiste em garimpar informações que se
apresentem. É conveniente frisar, no entanto, que o pioneirismo do trabalho embora
apresente seus méritos, mostra também aspectos de difícil discussão, uma vez que em
outros locais do país e do mundo não há dados suficientes que garantam comparação mais
clara entre os resultados obtidos.
Ainda assim, a pesquisa se apresenta como essencial ponto de partida para análises
ainda mais detalhadas e que permitam conhecer a influência de importantes aspectos
ecológicos sobre a comunidade liquênica em áreas de Caatinga sertaneja Alagoana.
Espera-se que este trabalho seja apenas um ponto de partida para relevantes
descobertas e desenvolvimento científico para a área liquenológica nesta região
51
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57
Capitulo 2
The new lichen species Opegrapha caeruleohymeniata from Alagoas State, NE Brazil
Janice Gomes CAVALCANTE, André APTROOT & Marcela Eugenia da Silva
CÁCERES
J. G. Cavalcante and M. E. S. Cáceres: Departamento de Biociências, Universidade Federal
de Sergipe, CEP: 49500-000, Itabaiana, Sergipe, Brazil. Email: [email protected]
A. Aptroot: ABL Herbarium, G.v.d.Veenstraat 107, NL-3762 XK Soest, The Netherlands.
Abstract: The new species Opegrapha caeruleohymeniata is described from NE Brazil.It
differs from all described species in the genus by the dark blue epihymenium.
Key words: Roccellaceae, Caatinga, Serra da Tocaia, Alagoas.
Introduction
The Northeastern part of Brazil is rich in crustose lichens, including many endemic species
(Cáceres 2007). The vegetation is mainly Caatinga, dry open forest, with some dense rain
forest enclaves, although some small rain forest remnants of Mata Atlântica (Atlantic forest)
also occur along the coast. During an ecological study in areas of Caatinga at Serra da Tocaia,
Alagoas State, as part of the Master’s thesis by the first author, under guidance of the last
author, an undescribed species of Opegrapha was found, which is described below. The
Tocaia Moutain Range is considered a part of the municipality of Santana do Ipanema,
where the Reserva Cachoeira, a private property, is located, with ca. 27ha. It is the first
conserved patch of Caatinga in the State of Alagoas.
The genus Opegrapha comprises about 40 species in Brazil (Redinger 1940). The
present species differs from all species known so far in the genus by the blue
epihymenium. Blue colouration in chemically untreated lichens is a rare phenomenon,
while blue reactions with IKI are well known.
58
Material and methods
Identification and descriptive work was carried out using an Olympus SZX7
stereomicroscope and an Olympus CH compound microscope sections have been mounted
in tap water, in which also all measurements were taken. The specimens from this study
are preserved in ISE.
Opegrapha caeruleohymeniata J.C. Cavalcante, Aptroot & M. Cáceres sp. nov.
Mycobank No.: MB 800…
Diagnosis: Opegrapha with blue epihymenium, ascospores 5-septate, 21–23 × 4.5–5.5 µm.
Typus: Brazil, Alagoas, Santana do Ipanema, Serra da Tocaia, on bark of tree, 9o
23.233’ S, 37o 15.484’ W, c. 290 m alt., 14 April 2012, M.E.S. Cáceres & J.C. Cavalcante
JGC00109 (ISE—holotypus).(Fig 1)
Thallus corticolous, dull, not corticate, smooth, olivaceous green to olivaceous
brown, without prothallus.
Apothecia rather evenly dispersed, sessile, linear to narrowly fusiform with pointed
ends, unbranched or with one perpendicular branch, often a bit wavy, up to 5 mm long,
0.15–0.2 mm wide, up to 0.2 mm high. Disc black, closed or partly exposed, flat, dull,
without pruina. Apothecium margin prominent, higher than the disc, black, shiny, c. 0.05
mm wide, without thallus cover. Excipulum dense, black, entire below the hymenium,
KOH+ greenish blue. Hymenium not inspersed, c. 100–150 µm high, upper part deep blue,
unchanged in KOH. Epihymenium consisting of a very irregular layer of usually gnarled
paraphyse ends. Hypothecium pale brown, KOH+ blue green. Ascospores regularly
fusiform, mostly 5-septate, 8/ascus, 21–23 × 4.5–5.5 µm, surrounded by a c. 1 µm wide
gelatinous sheath.
Pycnidia not seen.
Chemistry. no substances detected; pigment KOH+ blue green.
Ecology and Distribution. Known from tree bark in Serra da Tocaia, Alagoas, in
Northeastern Brazil.
59
Discussion. This species differs from all other described species of Opegrapha (see
e.g.Ertz 2009 and Redinger 1940) by the blue colour in the epihymenium. This dark blue
colour often occurs after applying IKI to apothecia of other species, but it is very rare in
untreated specimens. However, another undescribed species is known from Costa Rica that
has a blue colouration in the subhymenium. It cannot be totally ruled out that there are
natural sources for IKI or other substances that result in the same reaction, but this is
unlikely as it would in that case have been more regularly observed. In any case, even
when the blue colour is disregarded as key character, the present material cannot be
identifield by the key to the genus Opegrapha from Brazil (Redinger 1940), suggesting
that it is indeed new.
The CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Process
501633/2009-0) is thanked for a research Grant to MESC.
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Brazil. Libri Botanici 22: 1–168.
Ertz, D. (2009) Revision of the corticolous Opegrapha species from the Paleotropics.
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60
FIG. 18. Opegrapha caeruleohymeniata (holotype). A-B sections through ascoma in water,
B-D sections through ascoma with ascus and ascospores, E-F habitus.
61
ANEXOS
62
Tabela 04 - PONTOS GEOREFERENCIADOS – SERRA DO GUGI
GPS LOCAL PONTOS GEOREFERENCIADOS ELEVAÇÃO
34 SERRA DO GUGI S9 21.814 W37 09.067
349 m
35 SERRA DO GUGI S9 21.813 W37 09.067
347 m
36 SERRA DO GUGI S9 21.813 W37 09.067
347 m
37 SERRA DO GUGI S9 21.826 W37 09.035
349 m
38 SERRA DO GUGI S9 21.841 W37 09.048
344 m
39 SERRA DO GUGI S9 21.898 W37 09.088
347 m
40 X X X
41 SERRA DO GUGI S9 21.882 W37 09.074
344 m
42 SERRA DO GUGI S9 21.872 W37 09.086
347 m
43 SERRA DO GUGI S9 21.853 W37 09.080
348 m
44 SERRA DO GUGI S9 21.844 W37 09.100
336 m
45 SERRA DO GUGI S9 21.801 W37 08.978
349 m
46 SERRA DO GUGI S9 21.801 W37 08.977
348 m
47 SERRA DO GUGI S9 21.779 W37 08.984
349 m
48 SERRA DO GUGI S9 21.785 W37 09.003
346 m
49 SERRA DO GUGI S9 21.805 W37 09.012
345 m
50 SERRA DO GUGI S9 21.814 W37 09.014
344 m
51 SERRA DO GUGI S9 21.738 W37 09.002
357 m
52 SERRA DO GUGI S9 21.750 W37 08.974
353 m
53 SERRA DO GUGI S9 21.747 W37 08.945
357 m
54 X X X
55 SERRA DO GUGI S9 21.712 W37 08.926
363 m
56 SERRA DO GUGI S9 21.637 W37 08.912
393 m
57 SERRA DO GUGI S9 21.579 W37 08.839
404 m
58 SERRA DO GUGI S9 21.602 W37 08.835
403 m
59 SERRA DO GUGI S9 21.620 W37 08.841
398 m
90 X X
X
91 SERRA DO GUGI S9 21.631 W37 08.860
389 m
92 SERRA DO GUGI S9 21.642 W37 08.871
386 m
93 SERRA DO GUGI S9 21.660 W37 08.868
384 m
63
Tabela 05 - PONTOS GEOREFERENCIADOS - SERRA DA TOCAIA
GPS LOCAL PONTOS GEOREFERENCIADOS ELEVAÇÃO
60 SERRA DA TOCAIA S9 22.944 W37 15.315
264 m
61 SERRA DA TOCAIA S9 22.959 W37 15.318
270 m
62 SERRA DA TOCAIA S9 22.950 W37 15.297
271 m
63 SERRA DA TOCAIA S9 22.959 W37 15.293
273 m
64 SERRA DA TOCAIA S9 22.957 W37 15.290
276 m
65 SERRA DA TOCAIA S9 22.969 W37 15.285
278 m
66 SERRA DA TOCAIA S9 23.005 W37 15.366
268 m
67 SERRA DA TOCAIA S9 23.011 W37 15.356
271 m
68 SERRA DA TOCAIA S9 23.017 W37 15.351
277 m
69 X X
X
70 SERRA DA TOCAIA S9 23.032 W37 15.335
288 m
71 SERRA DA TOCAIA S9 23.040 W37 15.322
305 m
72 SERRA DA TOCAIA S9 23.077 W37 15.407
273 m
73 SERRA DA TOCAIA S9 23.089 W37 15.399
270 m
74 SERRA DA TOCAIA S9 23.091 W37 15.392
279 m
75 SERRA DA TOCAIA S9 23.103 W37 15.389
294 m
76 SERRA DA TOCAIA S9 23.112 W37 15.378
299 m
77 SERRA DA TOCAIA S9 23.117 W37 15.371
295 m
78 SERRA DA TOCAIA S9 23.137 W37 15.458
282 m
79 SERRA DA TOCAIA S9 23.147 W37 15.453
286 m
80 SERRA DA TOCAIA S9 23.153 W37 15.439
285 m
81 SERRA DA TOCAIA S9 23.161 W37 15.441
292 m
82 SERRA DA TOCAIA S9 23.171 W37 15.431
295 m
83 SERRA DA TOCAIA S9 23.189 W37 15.436
298 m
84 SERRA DA TOCAIA S9 23.202 W37 15.502
276 m
85 SERRA DA TOCAIA S9 23.208 W37 15.495
279 m
86 SERRA DA TOCAIA S9 23.219 W37 15.492
284 m
87 SERRA DA TOCAIA S9 23.227 W37 15.484
289 m
88 SERRA DA TOCAIA S9 23.233 W37 15.484
292 m
89 SERRA DA TOCAIA S9 23.252 W37 15.478
297 m
90 SERRA DA TOCAIA S9 23.250 W37 15.478
391 m
64
Tabela 06 - RESUMO - DADOS ABIÓTICOS – SERRA DO GUGI
LOCAL Nº TRANSECTO DISTÂNCIA Sp (Nº de Especies)
ELEVAÇÃO DAP(cm) PH
GUGI 1 0 9 384 119 5,7
GUGI 1 20 0 386 160 5,7
GUGI 1 40 1 389 29 6,4
GUGI 1 60 1 391 23 6,2
GUGI 1 80 4 403 23 5,6
GUGI 1 100 3 404 7,5 4,8
GUGI 2 0 6 393 84 5,4
GUGI 2 20 1 363 64 4,7
GUGI 2 40 3 357 60 5,2
GUGI 2 60 0 357 84 6,2
GUGI 2 80 3 353 24 5,9
GUGI 2 100 3 357 60 6
GUGI 3 0 2 349 18 5,9
GUGI 3 20 5 348 94 5,8
GUGI 3 40 5 349 55 5,6
GUGI 3 60 1 346 148 5,9
GUGI 3 80 1 345 97 5,4
GUGI 3 100 4 344 11 5
GUGI 4 0 3 344 30 5,7
GUGI 4 20 2 349 82 5,9
GUGI 4 40 3 347 90 6,27
GUGI 4 60 3 347 27 6,4
GUGI 4 80 2 349 183 5,9
GUGI 4 100 1 339 73 6,4
GUGI 5 0 8 347 15 6,4
GUGI 5 20 5 351 102 4,7
GUGI 5 40 4 344 94 6,2
GUGI 5 60 2 347 70 6,1
GUGI 5 80 3 348 54 5,5
GUGI 5 100 4 336 54 5,5
65
Tabela 07 - RESUMO – DADOS ABIÓTICOS – SERRA DA TOCAIA
LOCAL
Nº
TRANSECTO
ÁRVORE/
DISTÂNCIA
(m)
Sp (Nº de
Especies)
ELEVAÇÃO
DAP(cm)
PH
TOCAIA 1 0 4 264 66 7,0
TOCAIA 1 20 3 270 47 6,8
TOCAIA 1 40 4 271 42 7,1
TOCAIA 1 60 8 273 23 5,4
TOCAIA 1 80 1 274 123 5,8
TOCAIA 1 100 3 278 15 5,7
TOCAIA 2 0 8 268 26 6,2
TOCAIA 2 20 7 271 19 5,6
TOCAIA 2 40 2 277 25 7,0
TOCAIA 2 60 3 283 12 7,4
TOCAIA 2 80 3 288 24 6,4
TOCAIA 2 100 7 305 13 5,8
TOCAIA 3 0 4 273 36 5,8
TOCAIA 3 20 5 270 15,5 6,6
TOCAIA 3 40 4 279 69 5,8
TOCAIA 3 60 6 294 12 6,2
TOCAIA 3 80 2 299 27 6,2
TOCAIA 3 100 1 295 22 5,9
TOCAIA 4 0 6 282 14 4,9
TOCAIA 4 20 2 286 49 5,0
TOCAIA 4 40 3 285 53 4,3
TOCAIA 4 60 1 292 18,5 6,2
TOCAIA 4 80 3 295 27,5 5,9
TOCAIA 4 100 1 298 93 6,8
TOCAIA 5 0 8 276 9 4,4
TOCAIA 5 20 6 279 39 5,8
TOCAIA 5 40 4 284 19 5,9
TOCAIA 5 60 3 289 24 4,5
TOCAIA 5 80 3 292 40 5,5
TOCAIA 5 100 6 297 68 4,5
66
Figura 19 : Imagens Serra da Tocaia – Fonte: Arquivo pessoal.
67
Figura 20 : Imagens Serra do Gugi – Fonte: Arquivo pessoal.