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Dissertação – Abraão Santos Silva i
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA E ENGENHARIA DE MATERIAIS (P2CEM)
ABRAÃO SANTOS SILVA
ESTUDO DAS TRANSFORMAÇÕES
MICROESTRUTURAIS DECORRENTES DO
TRATAMENTO CRIOGÊNICO EM LIGAS DE TITÂNIO
(TiNbSn) PRÉ DEFORMADAS A FRIO
SÃO CRISTÓVÃO, SE - BRASIL
FEVEREIRO DE 2017
Dissertação – Abraão Santos Silva ii
ESTUDO DAS TRANSFORMAÇÕES
MICROESTRUTURAIS DECORRENTES DO
TRATAMENTO CRIOGÊNICO EM LIGAS DE TITÂNIO
(TiNbSn) PRÉ DEFORMADAS A FRIO
Dissertação submetida ao corpo docente do PROGRAMA DE PÓS-
GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA E ENGENHARIA DE MATERIAIS da Universidade
Federal de Sergipe como parte dos requisitos necessários para a obtenção do
titulo de MESTRE em CIÊNCIA E ENGENHARIA DE MATERIAIS.
Aprovada por:
_______________________________________
Prof. Dr. SANDRO GRIZA
_______________________________________
Prof. Dr. WILTON WALTER BATISTA
_______________________________________
Prof. Dr. FREDERICO GUILHERME DE CARVALHO
CUNHA
SÃO CRISTÓVÃO, SE – BRASIL
FEVEREIRO/2017
Dissertação – Abraão Santos Silva iii
FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
S586e
Silva, Abraão Santos
Estudo das transformações microestruturais decorrentes
do tratamento criogênico em ligas de titânio (TiNbSn) pré
deformadas a frio / Abraão Santos Silva ; orientador Sandro
Grizo. – São Cristóvão, 2017.
78 f. ; il.
Dissertação (mestrado em Ciência e Engenharia de
Materiais) – Universidade Federal de Sergipe, 2017.
1. Engenharia de materiais. 2. Ligas de titânio. 3. Baixa temperatura - Pesquisa. I. Grizo, Sandro, orient. II. Título.
CDU: 620.1
Dissertação – Abraão Santos Silva iv
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a Deus, minha
família, meus mestres e meus amigos.
Dissertação – Abraão Santos Silva v
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus sem o qual não sou nada e nem posso pensar em
futuro. Aos meus pais que são à base da minha vida e os principais
responsáveis pelo meu desejo de seguir sempre avante. A minha amada
esposa por está sempre ao meu lado, colaborando em tudo que é possível. Ao
meu mestre Prof. Eng. Dr. Sandro Griza pelas orientações e pelo tempo
disponibilizado para a realização deste trabalho. A minha família como um
todo. Aos meus colegas, amigos e mestres (Eng. Antônio, Eng. Thiago, Eng.
Thiago Nunes, Eng. Celestino, Eng. Silvando, Jáder, Lucas, Rebeca, Ihana,
Renan, Matheus, Eng. Raphael, Prof. Tentardini, Prof. Frederico, Prof. Eng.
Wilton, Prof. Eng. Ueki, Prof. Luiz Eduardo, Prof.ª Ledjane, Prof. Euler e tantos
outros) que direta ou indiretamente contribuíram para a realização deste
trabalho. Muito obrigado por vocês fazerem parte desta vitória.
Dissertação – Abraão Santos Silva vi
Resumo da Dissertação apresentada ao P²CEM/UFS como parte dos requisitos
necessários para a obtenção do título de Mestre em Ciência e Engenharia de
Materiais.
Abraão Santos Silva
Fevereiro / 2017
Resumo
Ligas de titânio têm apresentado interessantes combinações de
propriedades mecânicas e de corrosão, gerando assim grande aceitação como
material estrutural em componentes de aeronaves e também como substituinte
do tecido ósseo, o que justifica as diversas pesquisas que estão sendo
desenvolvidas. O presente estudo avaliou as modificações das fases nas ligas
Ti35Nb(0,0; 2,5; 5,0; 7,5)Sn decorrentes da conformação mecânica (80% de
deformação a frio), tratamentos térmicos de solubilização, têmpera em água,
tratamento criogênico (-198ºC) e tratamento de envelhecimento através das
técnicas de microdureza Vickers, metalografia e análise de imagens. Os
resultados demonstram que o tratamento criogênico após a têmpera aumentou
significativamente a dureza da liga com teor inferior a 5,0 % de estanho, sendo
que este resultado é decorrência da tensão imposta no tratamento criogênico o
qual aumenta a semelhança entre as estruturas cristalinas da fase beta (CCC)
e α” (Ortorrômbica). Os resultados das metalografias e de dureza
demonstraram que o tratamento criogênico após a têmpera aumentou o
número de agulhas de martensíta, responsáveis pela melhoria de propriedade
de dureza. A análise de imagem demonstrou de maneira quantitativa o mesmo
padrão. De acordo com os resultados encontrados foi possível concluir que a
temperatura de total transformação para as ligas com teor superior a 2,5% de
estanho é inferior a temperatura ambiental e que o tratamento criogênico é um
processo eficaz na melhoria das propriedades mecânicas das ligas estudadas.
Orientador: Sandro Griza
Programa de Pós-Graduação em Ciência e Engenharia de Materiais
Dissertação – Abraão Santos Silva vii
Abstract of Master dissertation presented to P²CEM/UFS as a partial fulfillment of the requirements for the degree of Master in Materials Science and Engineering (D.Sc.)
STUDY OF MICROSTRUCTURAL TRANSFORMATIONS
ARISING FROM CRYOGENIC TREATMENT IN TITANIUM
ALLOYS (TiNbSn) PREFORMED TO COLD
Abraão Santos Silva
February / 2017
Titanium alloys have been interesting combinations of mechanical properties
and corrosion, thus generating great acceptance as structural material in aircraft
components and also as a substitute of bone tissue, which justifies how many
researches are being developed. The concentrations of the mechanical
conformation (80% cold deformation), thermal treatments of solubilization, water
quenching, Cryogenic treatment (-198ºC) and aging treatment through Vickers
microhardness, metallography and image analysis techniques. The results
demonstrate that the treatment is critical after an increase in the hardness of the
alloy with less than 5.0% of tin, and this result is the result of Beta (CCC) and α
"(Ortorrômbica) tension. Results from the hardness analyzes showed that the
treatment should be followed by an increase in the number of martensite
needles or an improvement in the hardness property. The image analysis
demonstrated the same pattern in a quantitative manner. Construction of a
temperature measurement system for the construction of a temperature
measurement system.
Advisoris: Sandro Griza
Department: Materials Science and Engineering
Dissertação – Abraão Santos Silva viii
Sumário
Sumário ............................................................................................................ viii
LISTA DE FIGURAS........................................................................................... x
LISTA DE TABELAS ......................................................................................... xii
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................. 1
2. OBJETIVOS ................................................................................................. 5
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .................................................................. 6
3.1- Titânio e suas Ligas .................................................................................... 6
3.2- LIGAS DE TITÂNIO ALFA ........................................................................... 9
3.3- LIGAS DE TITÂNIO ALFA+BETA ............................................................. 10
3.4- LIGAS DE TITÂNIO BETA ........................................................................ 11
3.5- LIGAS METAESTÁVEIS ........................................................................... 13
3.6- LIGA Ti-Nb-Sn ........................................................................................... 15
3.7- Transformação Martensítica ...................................................................... 19
3.8- Tratamento Criogênico .............................................................................. 23
3.9- Tratamento Criogênico em Ligas de Níquel Titânio .................................. 28
3.10- Efeito do tratamento criogênico em liga de titânio ................................... 29
4. MATERIAIS E MÉTODOS ......................................................................... 32
4.1- Preparação das matérias-primas .............................................................. 34
4.2- Fusão a Arco-Voltaico ............................................................................... 34
4.3- Tratamentos Térmicos e Conformação Mecânica ..................................... 35
4.4- Microscopia ............................................................................................... 39
4.5- Difração de Raios-X .................................................................................. 39
4.6- Análise de imagem .................................................................................... 40
4.7- Ensaios de Microdureza ............................................................................ 40
4.8- Análise estatística ..................................................................................... 41
5. RESULTADOS E DISCUSSÕES ............................................................... 41
5.1- Análise Metalográfica ................................................................................ 41
5.2- Análise de imagem .................................................................................... 49
5.3- Análise por Raios-X................................................................................... 52
5.4- Análise de dureza...................................................................................... 53
Dissertação – Abraão Santos Silva ix
6. CONCLUSÕES .......................................................................................... 57
7. SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ......................................... 57
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................... 59
Dissertação – Abraão Santos Silva x
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Estrutura cristalina da fase HC alfa, à esquerda, e CCC beta, à direita [19]. ................. 7
Figura 2: Influência do elemento de liga no diagrama de fases da liga de titânio [19]. ............... 8
Figura 3: Ilustração de diagrama de fases pseudo-binário do tipo beta-isomorfo [22]. .. 9
Figura 4: Diagrama de fases binário apresentando prováveis alterações de fases em ligas de
titânio, com produtos de decomposição da fase beta [27]. ..................................................... 14
Figura 5: Diagrama pseudo-binário do titânio com o produto da decomposição da fase beta
[29]. ........................................................................................................................................ 15
Figura 6: Efeito do nióbio no módulo de elasticidade do titânio puro [32]. .................... 16
Figura 7: Efeito do tratamento térmico na evolução das propriedades mecânicas da liga Ti-
30Nb-4Sn em função do tempo de envelhecimento [23]. ........................................................ 18
Figura 8: Módulo de elasticidade em função da quantidade de Sn e histórico térmico (recozida
(forno) e laminada a quente e temperada em água (laminada/água)) a qual foram submetidas
às ligas Ti-35Nb-XSn, [30]. ....................................................................................................... 18
Figura 9: Esquema da correspondência entre as redes CFC e TCC [39]. .................................... 20
Figura 10: Máxima deformação (ε) necessária para formar a fase α” a partir de beta [42]....... 22
Figura 11: Estruturas cristalinas das fases beta (superior) e α” (inferior), mostrando a mudança
da estrutura em decorrência da tensão de contração σ provocada no tratamento criogênico
das ligas de titânio. ................................................................................................................. 32
Figura 12: Fluxograma esquemático com as etapas realizadas durante o trabalho. ................. 33
Figura 13. Corpo de prova sendo conformado (A) e amostra antes da deformação (B1), após a
deformação (B2) e a metade de uma amostra após o tratamento térmico (B3). ...................... 36
Figura 14: Fluxograma de delimitação da amostragem. ................................................. 38
Figura 15: Esquema das indentações e metalografia obtidas para as análises de
imagem. ................................................................................................................................ 40
Figura 16: Microestrutura da liga Ti357A (a) e Ti357AN (b), mostrando grãos de fase matriz
beta. Pontos dispersos sobre os grãos primários de beta são pites decorrentes do ataque
químico. .................................................................................................................................. 43
Figura 17: Microestrutura da liga Ti355A (a) e Ti355AN (b), ambas apresentando grãos
poligonais da fase beta. .......................................................................................................... 44
Figura 18: Microestrutura da liga Ti352A formada por grãos da fase beta (a) e Ti352AN (b),
formada por grãos de fase beta e fase α” (agulhas escura). ..................................................... 45
Dissertação – Abraão Santos Silva xi
Figura 19: Microestrutura da liga Ti350A (a) e Ti350AN (b), mostrando grãos de fase beta nas
duas amostras e fase α” (agulhas escuras). ............................................................................. 46
Figura 20: Microestrutura característica da liga Ti355AN formada por grãos equiaxiais
da fase beta homogeneamente distribuídos (a). Vista em maior detalhe em (b)
mostrando os pites do ataque. ............................................................................................ 47
Figura 21: Grãos beta e agulhas de α” na liga Ti352AN. ................................................ 48
Figura 22: Martensíta em forma de finas agulhas transversais às agulhas de
martensíta na forma de agulhas alongadas na liga Ti352AN. ......................................... 48
Figura 23: Metalografia da liga Ti352AN com os contornos de grão pintados (vermelho). ....... 50
Figura 24: Amostra anterior com a fase α” pintada (azul). ....................................................... 50
Figura 25. Gráfico que correlaciona o percentual de transformação da martensíta alfa
duas linhas a partir da fase precursora beta em função da temperatura e teor de Sn na
liga Ti35Nb. Influência da temperatura na transformação martensitica de ligas Ti35Nb
com a adição de Sn. ............................................................................................................ 51
Figura 26: Difratograma de raios-X das amostras da liga Ti350A (a) e após tratamento
criogênico Ti350N (b). A intensidade da contagem para a fase alfa duas linhas é superior na
amostra tratada em criogenia. ................................................................................................ 53
Dissertação – Abraão Santos Silva xii
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Composição da liga de Ti c.p de acordo com a norma ASTM F67 de 2006. [24]. ....... 10
Tabela 2: Propriedades mecânica de ligas de alfa + beta [19]. ................................................. 11
Tabela 3: Composição, categoria, aplicação das principais ligas de titânio beta [19]. ............... 12
Tabela 4: Composição química nominal (% em peso) e as fases correspondentes para as ligas
Ti-Nb-Zr-Sn temperadas [21]. .................................................................................................. 16
Tabela 5: Matérias primas utilizadas na preparação das ligas. ................................................. 34
Tabela 6: Resultado da análise de fase das ligas estudadas. Valores percentuais de
fase α” encontradas em relação à fase beta matriz. Valores de desvio padrão entre
parêntesis. ............................................................................................................................ 50
Tabela 7: Análise de dureza dos grupos estudados. Valores na escala Vickers (HV1).
Os valores de desvio padrão encontram-se entre parêntesis. Os valores de p < 0,05
indicam diferenças significativas. ....................................................................................... 54
Dissertação – Abraão Santos Silva 1
1. INTRODUÇÃO
Ao longo das últimas décadas a expectativa de vida da população
mundial melhorou consideravelmente. Como consequência houve um
incremento na busca por melhoria da qualidade de vida das pessoas. Devido à
perda do tecido ósseo ocasionada por acidentes ou doenças crônico-
degenerativas, tem se tornado cada vez mais importante e decisiva a
realização de pesquisa e desenvolvimento de materiais capazes de substituir e
desempenhar a função estrutural desse tecido no organismo [1].
Pessoas com idade avançada são mais propícias a desenvolverem
doenças crônico-degenerativas, tais como a osteoporose e a artrite reumática.
Neste sentido, a consequência é a fragilização dos tecidos ósseos, tornando-os
mais suscetíveis à ocorrência de fraturas, uma vez que o organismo perde a
capacidade de regeneração e remodelação óssea. Somando-se a isso, o
número cada vez mais crescente de acidentes de trânsito, em que não é
possível reconstituir o tecido ósseo e recuperar suas funções, apresenta
contribuição significativa na necessidade de colocação de implantes cuja
principal finalidade é substituir o tecido ósseo [1].
Entre os diversos materiais, os metais têm demonstrado serem viáveis
para a utilização como biomateriais e materiais médico-hospitalares. Na
atualidade, cerca de 70 a 80% de implantes ortopédicos são obtidos a partir de
metais. No entanto ainda é necessária melhoria na sua característica
biofuncional [2].
Na aplicação de metais como substituto do tecido ósseo são necessários
alguns critérios essenciais: biocompatibilidade, excelente resistência à corrosão
e propriedades mecânicas, como alta resistência mecânica e boa resistência à
fadiga e módulo de elasticidade compatível com o osso humano, para evitar o
fenômeno de reabsorção óssea [3] [4].
Devido a apresentar alta resistência mecânica e resistência à corrosão,
biocompatibilidade, maior resistência específica e menor módulo de
Dissertação – Abraão Santos Silva 2
elasticidade, as ligas de titânio e de titânio puro são apresentadas como
alternativas interessantes quando comparados aos biomateriais tradicionais
como as ligas de aço inoxidável austenítico e Cr-Co-Mo [5]. No entanto, a
escolha de outra liga baseia-se em aspectos técnicos e também em fatores
econômicos. Apesar de apresentar aspectos técnicos satisfatórios, o custo do
titânio e suas ligas ainda é muito elevado em comparação com outras ligas.
Quanto ao aspecto técnico, enquanto o aço apresenta módulo de elasticidade
próximo de 205 GPa e as ligas de Cr-Co-Mo superiores a 230 GPa [6], ligas de
titânio podem apresentar valores aproximadamente de 40 GPa, aproximando-
se mais do módulo de elasticidade do tecido cortical (20-40 GPa). Este fator é
fundamental na escolha do biomaterial para implante ortopédico, pois
possibilita uma melhor distribuição de tensão entre o implante e o osso [7].
Entre as ligas de titânio, a liga Ti-6Al-4V apresenta-se como a de maior
aplicação em decorrência das suas propriedades físicas, químicas e
mecânicas, onde se destaca a sua alta resistência mecânica e baixo módulo de
elasticidade e a boa aceitação do organismo. No entanto, estudos recentes
apontam para a toxicidade do alumínio e do vanádio, como responsáveis por
enfermidade relacionada à sua citotoxidade [8].
As ligas de titânio obtêm grande destaque em relação às outras ligas,
uma vez que apresentam baixo módulo e alta relação entre resistência
mecânica e densidade. Isto decorre, em parte, da natureza das estruturas
cristalinas das fases das ligas de titânio, e em parte da gama de possiblidades
que advêm dos diversos tratamentos térmicos, mecânicos, e termomecânicos
possíveis para manipular as propriedades dessas ligas. Esses tratamentos
visam modificar a microestrutura de tal modo que o módulo de elasticidade, por
exemplo, pode variar de 110 GPa (titânio puro) a cerca de 44 GPa na liga Ti-
31Nb-6Zr-5Mo [9] e chegando até a 36 GPa na liga Ti-33Nb-4Sn [10].
Estudos recentes com ligas Ti-Nb-Sn tem resultado em avanços
significativos, uma vez que essa liga apresenta maior biocompatibilidade, boa
resistência mecânica e módulo de elasticidade semelhante ao do tecido ósseo,
quando devidamente tratadas através de deformação e tratamentos térmicos.
Dissertação – Abraão Santos Silva 3
Além disso, ligas que empregam Nb e Sn como elementos de liga representam
uma vantagem competitiva para o Brasil uma vez que ele detém cerca de 98%
da reserva mundial de Nb e é o quarto produtor mundial de Sn. Quanto ao
titânio, mesmo o Brasil tendo apenas cerca de 6% da reserva mundial, ainda é
um exportador da matéria prima processada [11]. Com todos esses fatores,
essa liga apresenta-se como uma estratégia economicamente interessante
para o desenvolvimento de novos biomateriais com tecnologia nacional.
O tratamento criogênico é uma ferramenta interessante do ponto de vista
das propriedades mecânicas, uma vez que ele pode corroborar com o aumento
do tempo de vida útil de ferramentas, equipamentos e próteses, provocando a
transformação de fases e alívio de tensão residual em peças e ferramentas
termicamente tratadas [11] [12] [13] [14].
Objetivando melhorar as propriedades mecânicas dos aços tratados
termicamente, os tratamentos criogênicos sugiram como um complemento aos
tratamentos térmicos convencionais, sendo aplicados em diversas etapas,
entre a têmpera e o revenimento de ligas de aço e entre a solubilização e o
envelhecimento das ligas no geral [11].
O tratamento criogênico em ligas de titânio atualmente demonstra a
possibilidade de obter modificações como diminuição de tensões residuais e
aumento da resistência à tração, do alongamento e da dureza [15]. Neste
ponto, o principal motivo para a melhoria da resistência mecânica pode estar
relacionada com o fato de que a temperatura de início da transformação
martensíta é inferior à temperatura ambiente [16]. Assim sendo, quando a liga
é submetida à temperatura criogênica ocorre à maximização desta
transformação.
O presente estudo visa à obtenção de ligas Ti-35Nb, Ti-35Nb-2,5Sn, Ti-
35Nb-5,0Sn e Ti-35Nb-7,5Sn, obtidas pelo processo de fusão a arco voltaico,
submetidas ao processo de forjamento livre e tratamento térmico de
solubilização e têmpera, e tratamento criogênico, de modo a verificar possíveis
melhorias de propriedades mecânica em decorrência deste processo de
Dissertação – Abraão Santos Silva 4
fabricação e qual a influência do tratamento criogênico em decorrência da
variação do teor de estanho.
Dissertação – Abraão Santos Silva 5
2. OBJETIVOS
2.1- Objetivo geral
O presente estudo visa à avaliação das transformações
microestruturais e alterações de microdureza decorrentes do tratamento
criogênico nas ligas Ti-35Nb-(0,0; 2,5; 5,0; 7,5)Sn conformadas,
solubilizadas e temperadas.
2.2- Objetivos específicos
Avaliar o efeito do tratamento criogênico na microestrutura e na
dureza de ligas de titânio Ti35Nb previamente deformadas e
solubilizadas;
Avaliar o efeito do teor de Sn no tratamento criogênico de ligas
Ti35NbxSn;
Correlacionar à variação da dureza em decorrência do tratamento
criogênico com a mudança do teor de Sn em cada liga;
Verificar a formação da fase por disfração de raios-X e correlacionar
com a temperatura de transformação destas fases;
Correlacionar microestrutura e propriedades mecânicas das ligas
estudadas.
Dissertação – Abraão Santos Silva 6
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
3.1- Titânio e suas Ligas
O titânio é o elemento que possui número atômico 22, peso atômico
47,9, apresentando densidade de 4,51g/cm³ (60% menor que o ferro), raio
atómico 1,4Å, 2 elétrons na camada de valência, ponto de fusão da ordem de
1668°C, estrutura hexagonal compacta (abaixo de 882,5°C) e cúbica de corpo
centrado (acima de 882,5°C). É considerado um metal relativamente novo para
engenharia. As suas excelentes propriedades consistem em um dos principais
motivos do interesse nele, além da sua abundância, sendo o quarto metal mais
abundante da costa terrestre, perdendo para o alumínio, ferro e magnésio, com
concentração em torno de 0,6% da crosta terrestre [17].
O responsável pelo desenvolvimento do processo de beneficiamento
deste minério foi o Dr. Wilhelm J. Kroll no final da década de 1930, o qual
envolve a redução do tetracloreto de titânio, primeiro com sódio e cálcio, e mais
tarde com magnésio, sob uma atmosfera de gás inerte [18].
Embora as propriedades do titânio puro sejam apreciáveis, normalmente
ele é aplicado em solução sólida formando ligas com outros elementos. As
ligas de titânio se diferenciam das demais devido a duas propriedades: alta
resistência específica e excelente resistência à corrosão, explicando com isso a
sua utilização preferencial no setor de bioengenharia, aeroespacial, na indústria
química e no setor de lazer.
O titânio existe em duas formas cristalográficas. À temperatura
ambiente, o titânio não ligado (comercialmente puro) tem estrutura cristalina
hexagonal compacta (HC) referida como fase alfa. A 883 ° C, ela transforma-se
na estrutura cúbica de corpo centrada (CCC) conhecida como fase beta. A
manipulação destas variações cristalográficas através de adições de elementos
de liga e processamento termomecânico é a base para o desenvolvimento de
uma ampla gama de ligas e propriedades. Estas fases também fornecem uma
maneira conveniente de categorizar produtos de titânio. Com base nas fases
presentes, as ligas de titânio podem ser classificadas como ligas alfa, ligas beta
ou ligas alfa + beta [18].
Dissertação – Abraão Santos Silva 7
A existência de duas estruturas cristalinas diferentes (Figura 1) e a
temperatura de transformação alotrópica correspondente é de fundamental
importância, uma vez que constituem a base para a grande variedade de
propriedades alcançadas por ligas de titânio [19].
Figura 1: Estrutura cristalina da fase HC alfa, à esquerda, e CCC beta, à direita
[19].
Alguns elementos podem ser adicionados para formar as diversas ligas
de titânio. Dependendo da sua influência sobre a temperatura de
transformação, é possível classificar os elementos das ligas de titânio como
neutros, alfa-estabilizadores, ou beta-estabilizadores (Figura 2). Enquanto
alguns elementos atuam aumentando a temperatura de transformação de fase,
estabilizando a fase alfa, outros atuam diminuindo a temperatura de transição
estabilizando a fase beta. Foi observado que os elementos estanho (Sn) e o
zircônio (Zn) independente da sua concentração, não exercem influência na
temperatura de transformação, sendo por isso denominado de elementos
neutros [19].
Entretanto, alguns estudos mostram que quando os elementos de liga Zr
e Sn estão presentes em alta concentração, promovem a estabilização da fase
alfa e em baixa concentração estabilizam a fase beta além de atuar na
Dissertação – Abraão Santos Silva 8
supressão das fases metaestáveis, tanto a martensíta alfa” quanto a ômega, as
quais podem ser formadas durante o resfriamento rápido das ligas [20] [21].
Figura 2: Influência do elemento de liga no diagrama de fases da liga de titânio
[19].
Em suma, é possível obter ligas de titânios com variações
microestruturais e de propriedades pela aplicação e controle de diferentes
tratamentos térmicos e adição de elementos de liga. Pelo controle dessas
variações, que constituem a base para o desenvolvimento de uma ampla
variedade de ligas com propriedades distintas, é possível classificar essas ligas
em três categorias: (ligas alfa, alfa+beta, beta), dependendo da sua
microestrutura (Figura 3) [22].
neutro alfa estabilizador beta estabilizador
beta isomorfo beta eutetóide
Dissertação – Abraão Santos Silva 9
Figura 3: Ilustração de diagrama de fases pseudo-binário do tipo beta-
isomorfo [22].
O titânio apresenta vantagens também para aplicações em temperaturas
elevadas. Embora a temperaturas inferiores a 300°C alguns compósitos de
polímero com fibra de carbono têm uma resistência específica mais elevada do
que as ligas de titânio, em temperaturas mais altas, a resistência específica das
ligas de titânio é particularmente atraente. Em contraste, a temperatura máxima
de aplicação é limitada pela sua facilidade de oxidação. Porém, aluminetos de
titânio superaram parcialmente esta desvantagem, tornando-se o assunto de
intensos esforços de desenvolvimento da liga. Embora as ligas de titânio
convencionais para aplicação em elevadas temperaturas sejam usadas apenas
até temperaturas ligeiramente acima 500°C, ligas à base de TiAl podem
competir diretamente com aços resistentes a alta temperatura estabelecidas e
superligas à base de Ni [19].
3.2- LIGAS DE TITÂNIO ALFA
Entre as diversas ligas, as com baixo volume de elementos de liga beta-
estabilizadores (entre 2 – 5%) são classificadas como ligas alfa. Essas se
baseiam na estrutura hexagonal compacta (HC) do titânio puro em baixas
temperaturas e podem conter elementos de liga substitucionais ou intersticiais.
Dissertação – Abraão Santos Silva 10
Entre as principais instituições classificadoras de materiais, a Sociedade
Americana para Testes de Materiais (American Society for Materials and
Testing - ASTM) classifica-as como ligas de titânio c.p. (comercialmente puro),
que podem ser subdivididas em quatro graus. Tais subdivisões são
diferenciadas basicamente pelo teor de ferro e dos elementos intersticiais
oxigênio e nitrogênio [23]. Foi possível perceber que a adição desse tipo
elemento de liga ao titânio provoca aumento da resistência mecânica e perda
de tenacidade, sem, no entanto, apresentar transição frágil-dúctil. Por isso são
indicadas para aplicação criogênicas [19] [22]. Na tabela 1 são apresentas as
composições químicas das principais ligas comerciais de titânio c.p.
Contudo, é possível aumentar a resistência mecânica dessa liga com um
acréscimo de até 5% (em peso) de alumínio, o que resulta em ampliação de
aproximadamente duas vezes a resistência inicial, sendo que outros elementos
de liga como paládio, molibdênio e níquel em pequenas quantidades conferem
a essas ligas melhor resistência à corrosão [23].
Tabela 1: Composição da liga de Ti c.p de acordo com a norma ASTM F67 de
2006. [24].
Elemento Composição (% peso)
Grau 1 UNS R50250
Grau 2 UNS R50400
Grau 3 UNS R50550
Grau 4 UNS R50700
Nitrogênio, máx. 0,03 0,03 0,05 0,05 Carbono, máx. 0,08 0,08 0,08 0,08
Hidrogênio, máx. 0,015 0,015 0,015 0,015 Ferro, máx. 0,20 0,30 0,30 0,50
Oxigênio, máx. 0,18 0,25 0,35 0,40 Titânio Balanço Balanço Balanço Balanço
3.3- LIGAS DE TITÂNIO ALFA+BETA
O grupo de ligas contendo entre 10 a 50% em volume da fase beta,
apresenta uma ampla variedade de microestruturas, em especial se
comparadas com as das ligas do tipo alfa [20], sendo por isso denominada de
ligas alfa+ beta. Exibem propriedades mecânicas sensíveis a variações de
frações volumétricas das fases alfa e beta. De modo geral, nessa classe de
ligas, também é possível realizar tratamentos térmicos que melhorem as
Dissertação – Abraão Santos Silva 11
propriedades mecânicas a temperatura ambiente [25]. Tais ligas possuem
pouca aplicação em temperaturas elevadas em decorrência da presença da
fase beta que diminui a resistência à fluência. A principal liga dessa classe, que
também é a principal entre todas as ligas de titânio, é a Ti-6Al-4V, a qual foi
desenvolvida inicialmente para aplicação no setor aeroespacial devido a sua
elevada disponibilidade, ótima trabalhabilidade e comportamento mecânico
superior em baixas temperaturas, vindo a tornar-se posteriormente uma das
principais ligas em implantes ortopédicos.
Apresenta-se como uma das mais interessantes liga para aplicações
estruturais em condições extremas, uma vez que exibe excelente resistência
mecânica, baixa densidade, resistência à corrosão e boa ductilidade, somadas
a níveis aceitáveis de tenacidade à fratura, de resistência à fluência e boa
soldabilidade. É possível verificar algumas ligas deste tipo na tabela 2 com as
suas respectivas propriedades mecânicas.
Tabela 2: Propriedades mecânica de ligas de alfa + beta [19].
Ligas
𝑻𝜷
(°C)
Dureza (HV)
E (GPa)
𝝈𝒆 (MPa)
𝝈𝒕 (MPa)
ΔL %
𝑲𝑰𝑪
(MPa.𝒎𝟏/𝟐)
Ti-6Al-4V 995 300-400 100-140
800-1000
900-1200
13-16
33-110
Ti-6Al-6V-2,5Sn 994 300-400 110-117
950-1050
1000-1100
10-19
20-70
Ti-6Al-6V-2Sn-2Zr-2Mo-2Cr-0,25Si
110-120
1000-1200
1100-1300
8-15 65-110
Ti-6Al-2Sn-4Zr-6Mo
940 330-400 114 1000-1100
1100-1200
13-16
30-60
Ti-5Al-2Sn-2Zr-4Mo-4Cr
890 400 112 1050 1100-1250
8-15 30-80
3.4- LIGAS DE TITÂNIO BETA
Entre os tipos de ligas de titânio, o do tipo beta tem apresentando
significativo destaque. O fato de a liga possuir elevado teor de elementos
betagênicos proporciona estabilidade desta fase à temperatura ambiente e
módulo de elasticidade inferior aos observados nas ligas (alfa) e (alfa +beta)
[19] [23]. Além de apresentarem ótima capacidade de deformação plástica em
elevadas temperaturas, também exibem excelente razão entre baixo módulo
Dissertação – Abraão Santos Silva 12
elástico, elevada resistência mecânica e à corrosão [25]. Estudos recentes
demonstram que a liga Ti-35Nb-4Sn apresenta módulo de elasticidade de 40
GPa, semelhante ao módulo de elasticidade do osso (10-40GPa) [6].
O grande interesse no desenvolvimento dessas ligas de titânio beta se
deve ao fato de apresentarem baixo módulo, característica muito importante
pelo fato de que foi observado que diferença significativa entre o módulo do
metal e do tecido pode resultar em reabsorção óssea e ocasionar falha do
implante [21].
Para ilustrar o comportamento desse grupo de ligas com a variação do
teor de elementos betagênicos é possível verificar no diagrama da figura 3 que
a medida em que o teor de beta estabilizador é maior que o ponto crítico beta,
tem-se a fase beta estável. “Consequentemente, para teores menores de
elementos betas estabilizadores a liga quando resfriada rapidamente a partir de
altas temperaturas poderá apresentar microestrutura com fases metaestáveis,
como as fases martensíticas alfa’ e alfa”.
As ligas dessa classe são as mais versáteis entre as ligas de titânio, e o
principal fator que contribui para isso é a relação entre resistência e peso,
tenacidade e resistência à fadiga em seções transversais de grande porte.
Algumas das desvantagens em relação às ligas alfa+beta são o aumento da
densidade e um custo mais elevado. No entanto, mudanças microestruturais e
de composição, com adição de vários elementos de liga, podem resultar em
uma gama de ligas com diferentes resistências mecânicas, onde algumas delas
estão descritas na tabela 3 [19].
Tabela 3: Composição, categoria, aplicação das principais ligas de titânio beta
[19].
COMPOSIÇÃO DA LIGA NOME
COMERCIAL CATEGORIA APLICAÇÃO
Ti-35V-15Cr Liga c Beta Liga resistente à queima
Ti-40Mo Beta Resistência à corrosão
Ti-30Mo Beta Resistência à corrosão
Ti-6V-6Mo-5.7Fe-2.7Al TIMETAL
125 Metaestável Fixadores de alta resistência
Dissertação – Abraão Santos Silva 13
Ti-13V-11Cr-3Al B 120 VCA Metaestável Fuselagem, trem de pouso, molas
Ti-1Al-8V-5Fe 1-8-5 Metaestável Fixadores
Ti-12Mo-6Zr-2Fe TMZF Metaestável Implantes ortopédicos
Ti-4.5Fe-6.8Mo-1.5Al TIMETAL
LCB Metaestável Baixo custo, alta resistência da liga
Ti-15V-3Cr-1Mo-0.5Nb-
3Al-3Sn-0.5Zr VT 35 Metaestável Alta resistência de estruturas fundidas
Ti-3Al-8V-6Cr-4Mo-4Zr BETA C Metaestável Campos de petroleo, molas e
fixadores
Ti-15Mo IMI 205 Metaestável Resistência à corrosão
Ti-8V-8Mo-2Fe-3Al 8-8-2-3 Metaestável Alta resistência forjadas
Ti-15Mo-2.6Nb-3Al-0.2Si
TIMETAL 21S
Metaestável Resistência oxidação/corrosão, TMCs
Ti-15V-3Cr-3Sn-3Al 15-3 Metaestável Chapas, placas e estruturas fundidas
Ti-11.5Mo-6Zr-4.5Sn Beta III Metaestável Alta resistência
Ti-10V-2Fe-3Al 10-2-3 Metaestável Alta resistência forjadas
3.5- LIGAS METAESTÁVEIS
Entre as diversas ligas existentes, as do tipo beta em sua maioria são de
natureza metaestável. As fases metaestáveis são formadas principalmente por
cisalhamento e colapso de planos atômicos e separação de fases quando em
condições de resfriamento rápido a partir do campo beta ao atravessarem uma
temperatura bem definida conhecida como Ms – início de transformação
martensítica [25] [26]. Pela ilustração da figura 4 é possível perceber as
prováveis alterações de fases em ligas de titânio, como produtos de alterações
da fase beta [27].
Dissertação – Abraão Santos Silva 14
Figura 4: Diagrama de fases binário apresentando prováveis alterações de
fases em ligas de titânio, com produtos de decomposição da fase beta [27].
Estudos sobre essas transformações revelam que é possível, por um
tratamento térmico, decompor a fase beta em uma estrutura supersaturada
denominada de fase α’ mantendo a estrutura cristalina CCC da matriz. Esse
processo, no entanto é adifusional e resulta no cisalhamento de planos
atômicos. A fase α’ formada pode apresentar-se com morfologia em forma de
agulha ou como martensíta acicular [28]. Para ligas com maiores teores de
elementos estabilizadores da fase beta, é possível o surgimento da fase
martensítica ortorrômbica α’’ em decorrência das distorções provocadas pelas
transformações da martensíta na fase α’ induzida por tensão mecânica a
temperatura ambiente (Williams, 1973 apud [29]), ou por cisalhamento
microscópico e homogêneo, devido ao movimento coordenado de átomos [20].
A fase beta martensítica pode se transformar parcialmente na fase
𝑜𝑚𝑒𝑔𝑎 𝑎𝑡é𝑟𝑚𝑖𝑐𝑎 durante o processo de têmpera, em um intervalo de
temperaturas, dependendo da taxa de resfriamento e composição da liga,
sendo essa uma fase adifusional e com a mesma composição da fase beta [29]
figura 5.
Dissertação – Abraão Santos Silva 15
Figura 5: Diagrama pseudo-binário do titânio com o produto da decomposição
da fase beta [29].
3.6- LIGA Ti-Nb-Sn
Pesquisadores em diversos locais do mundo tem estudado o sistema
ternário Ti-Nb-Sn, visando o desenvolvimento de ligas que apresentem alta
resistência associada a baixo módulo de elasticidade e baixa toxicidade. Este
sistema apresenta biocompatibilidade associada às características mecânicas
semelhantes as do osso ( [23], [26], [30], [30], [31]).
A literatura descreve que para a liga Ti-Nb, a concentração de 10-20% e
35-50% de teor de Nb resultam em liga de baixo módulo de elasticidade, o que
pode ser percebido pela figura 6 [32]. Segundo o autor, a liga Ti-35-Nb-2,5Sn
apresentou módulo de elasticidade de 50,7 GPa, o que representa um valor
menor do que o módulo mais baixo da liga Ti-Nb, sendo que a diminuição do
módulo está atribuída à supressão da fase ô𝑚𝑒𝑔𝑎 𝑎𝑡é𝑟𝑚𝑖𝑐𝑎 e a estabilidade da
fase beta.
Quando o Sn é adicionado a ligas do sistema Ti-Nb, ele pode atuar
como elemento supressor das fases martensíta alfa” e ô𝑚𝑒𝑔𝑎 𝑎𝑡é𝑟𝑚𝑖𝑐𝑎, o que
pode ser explicado pelo aumento nas razões c/a e b/a das estruturas cristalinas
dessas fases [21].
metaestável estável
Instabilidade
mecânica
Elementos beta
estabilizadores (%) Temperatura de
início
Temperatura
Dissertação – Abraão Santos Silva 16
Figura 6: Efeito do nióbio no módulo de elasticidade do titânio puro [32].
A tabela 4 mostra fases metaestáveis e estáveis resultantes de ligas Ti-
Nb com adições de Sn e Zr resfriadas rapidamente [21]. Tais informações
envolvem teores de Nb relativamente baixos e os resultados mais interessantes
em relação à supressão da fase ômega poderiam ser obtidos pelo aumento do
teor de tal elemento. Resultados recentes [33] indicam que a laminação a frio
de ligas do sistema Ti-Nb-Sn, seguida de tratamento térmico de
envelhecimento promove notável aumento da resistência mecânica a tração (>
700 MPa) com manutenção de baixo módulo de elasticidade (< 60 GPa). “Esse
comportamento está associado à formação de martensíta alfa” por deformação
e sua reversão (“alfa” → beta) seguida da precipitação de finas partículas da
fase alfa no envelhecimento.
Tabela 4: Composição química nominal (% em peso) e as fases
correspondentes para as ligas Ti-Nb-Zr-Sn temperadas [21].
20 Nb 22 Nb 24 Nb 26 Nb
2 Zr-7,5 Sn - - β+α” -
4Zr-7,5 Sn β+α” β+α” β Β 8Zr-7,5 Sn - - β+ω -
4Zr-3,5Sn α"+ω α"+ω β+α” β+α”
4Zr-11,5Sn α+ω - β+ω β+ω
Concentração de Nb (% massa)
Mó
du
lo d
e el
asti
cid
ade
E/G
Pa)
Têmpera (Fedotov & Belousov, 1964) Têmpera (este trabalho) Envelhecimento a 573 k por (este trabalho)
Dissertação – Abraão Santos Silva 17
Estudos mais recentes com outras ligas não tem conseguidos resultados
tão satisfatórios, como exemplo os de Ozan et al [34], que estudou o
desenvolvimento de ligas Ti-Nb-Zr com alta tensão admissível para dispositivos
ortopédicos temporários, onde o menor módulo de elasticidade encontrado está
acima dos 60 GPa embora tenha encontrado resistência à tração um pouco
superior a 700 MPa.
Lopes [23], estudando o comportamento do Sn na liga Ti-30Nb-XSn
tratada termicamente por processo de envelhecimento, percebeu que quando
combinado com Nb, o Sn é um agente estabilizador da fase beta e interfere
negativamente na cinética de formação da fase ômega, resultando em
alteração da morfologia dos precipitados da fase alfa, que passam de lamelas
para precipitados finamente dispersos na matriz de fase beta. Observou-se que
à medida que ocorre o aumento do tempo e da temperatura de tratamento
térmico, ocorre maior intensidade da precipitação da fase ômega,
proporcionando precipitação da fase alfa, tendo como principal efeito o
aumento do módulo de elasticidade, no entanto é notado que para tempos
muito longos ocorre redução da dureza e do módulo de elasticidade, como
consequência da diminuição da fração volumétrica da fase ômega (figura 7),
sendo assim necessária a verificação do tempo ótimo. O efeito do Sn na liga de
titânio pode ser entendido pela figura 8 onde a concentração de 4 % em peso
representa aproximadamente a melhor concentração para a diminuição do
módulo de elasticidade [30].
Dissertação – Abraão Santos Silva 18
Figura 7: Efeito do tratamento térmico na evolução das propriedades
mecânicas da liga Ti-30Nb-4Sn em função do tempo de envelhecimento [23].
Figura 8: Módulo de elasticidade em função da quantidade de Sn e histórico
térmico (recozida (forno) e laminada a quente e temperada em água
(laminada/água)) a qual foram submetidas às ligas Ti-35Nb-XSn, [30].
Foi encontrado na literatura [35] [36] que o processo térmico e mecânico
contribuem para o desenvolvimento de ligas de Ti-Nb-Sn com alta resistência
mecânica e baixo módulo, tendo como principal consequência à estabilidade da
fase beta. Matsumoto et al. [33], descreveram que o processo mecânico de
laminação a frio tem como implicação o desenvolvimento de textura da fase
Mó
du
lo d
e El
asti
cid
ade,
E/(
GP
a)
Dissertação – Abraão Santos Silva 19
alfa” como resultado da transformação martensítica por tensão, o que provoca
modificação no módulo de elasticidade.
3.7- Transformação Martensítica
Alguns materiais submetidos a específicos tratamentos térmicos sofrem
reação de transformação de fase que resulta em uma fase denominada de
martensíta. O termo martensíta foi inicialmente utilizado para designar o
resultado da decomposição da austenita durante a têmpera dos aços comuns,
sendo que posteriormente também foi descoberto que algumas ligas não
ferrosas também estavam sujeitas a este tipo de reação, tendo por isso a
mudança do conceito inicial para a caracterização como qualquer produto de
uma transformação adifusional assistida por tensão [37].
No começo do século XX, um pesquisador chamado Bain percebeu que
existe uma deformação que é intrínseca à transformação (ou mudança de
forma) e por isso propôs o mecanismo no qual a martensíta pode ser formada
com um mínimo de movimentação atômica a partir da austenita. Este
mecanismo foi denominado de deformação homogênea no qual o movimento
coordenado dos átomos promove a conversão da rede cubica de faces
centrada (CFC) da fase austenita (A) na fase tetragonal de corpo centrado
(TCC) ou na cúbica de corpo centrado (CCC) da martensíta (M), sendo
possível visualizar essa correspondência entre as redes CFC e TCC na Figura
9 [38].
Dissertação – Abraão Santos Silva 20
Figura 9: Esquema da correspondência entre as redes CFC e TCC [39].
Seguindo os preceitos de Olson e Cohen [40] é possível entender a
transformação martensítica como uma deformação plástica espontânea
resultante das forças químicas internas, também podendo ser definida como as
transformações adifusionais nas quais a energia de deformação da rede
distorcida é responsável pelo controle da cinética e da morfologia do produto
durante a transformação.
É conhecido que a transformação martensítica é regida por nucleação e
crescimento, sendo que são aceitas as seguintes características para a
definição da transformação martensítica [38].
Há uma equivalência cristalográfica entre a rede da martensíta e da
austenita que lhe deu origem;
A martensíta é formada ao longo de planos preferenciais, para os quais
se assume que são macroscopicamente distorcidos ou então que
possuam uma dilatação pequena;
Em decorrência da diferença de volume entre as fases e da continuidade
na interface, acontece uma transformação de forma que provoca relevo
numa superfície pré-polida;
Dissertação – Abraão Santos Silva 21
A reação acontece sem difusão (adifusional);
A transformação é assistida por tensões cisalhantes.
Quando ocorre a transformação martensítica a estrutura cristalina da
austenita que é inicialmente cúbica de faces centradas (CFC) é transformada
em cúbica de corpo centrado (CCC) por um processo que pode ser descrito
como cisalhamento brusco. Nesta nova estrutura, os átomos de carbono,
nitrogênio e dos outros elementos de liga intersticiais permanecem em solução
sólida. A presença de elementos intersticiais em teores acima do limite de
solubilidade da fase CCC promove a distorção tetragonal de corpo centrado
(TCC), sem modificar nem a vizinhança atômica nem a composição química.
Assim sendo, Olson e Cohen [40] descreveram que a reação
martensítica é uma transformação estrutural, virtualmente ela é não-difusional,
gerada por distorção da rede de Bravais, com variação de forma
predominantemente cisalhante e sua morfologia e cinética são decorrência da
energia elástica da transformação.
No estudo de ligas de titânio desenvolvido por Hao et al. [41] sobre o
efeito do Nb, Zr e Sn na formação de fases, eles perceberam que a
temperatura de início da transformação martensítica diminui em cerca de 17,6,
41,2 e 40,9ºC devido à adição de 1% em peso de Nb, Zr e Sn,
respectivamente.
Em estudos recentes [42] sobre a formação da martensíta ortorrômbica
na liga Ti-30Nb-4Sn submetida a tratamento de envelhecimento de 800ºC para
400ºC variando o tempo (0,5 h, 8 h e 24 horas), os autores descrevem que
ligas de titânio beta metaestáveis exibem transformações martensíticas a partir
da fase beta (CCC) para a fase α (Hexagonal compacta) ou α” (Ortorrômbica)
em uma faixa de concentração de solutos. Nas ligas de Ti-Nb, a fase α” é
formada após a têmpera em água do campo da fase beta, em ligas com teores
de Nb superiores a 17,5% em peso e inferior a 36,2% em peso. A fase
martensítica α” do titânio também pode ser induzida por tensão, em
Dissertação – Abraão Santos Silva 22
decorrência da semelhança cristalina entre as redes, principalmente entre a
fase beta (CCC) e α” (Ortorrômbica).
Os autores [42] descreveram que o enriquecimento de Sn contribui para
aumentar a semelhança em termos de parâmetros de rede entre as fases beta
e α”, além do fato de que o enriquecimento de Nb e a tensão de rede localizada
na interface beta/α também contribuem para a formação da fase α” na têmpera
em água. Os autores relatam que quanto maior o tempo no campo beta, mais a
fase α” assemelha-se à fase beta de origem, sendo que a deformação da rede
necessária para formação da fase α” ao longo do eixo [110] beta diminui de
3,6% para amostra temperada em água, para 2,55% em amostra envelhecida
por 24 horas. De acordo com os resultados encontrados por ele as ripas de α
rejeitam Nb e Sn para a vizinhança da fase beta, facilitando a formação de α”
na têmpera em água, a partir de um teor de soluto rico na fase beta. Em
amostras temperadas e envelhecida as fases α’ e α” estão juntas, mas o centro
das ripas é formada por α’ e as bordas por α”. Além dos resultados
supracitados, também foi obtido uma melhoria da dureza Vickers do material de
173 HV1 para 255 HV1 nas amostras somente temperadas para as
envelhecidas por 24 horas em decorrência da transformação beta→ 𝐚𝐥𝐟𝐚". A
mesma relação encontrada na figura 9 (para o aço) é possível verificar na
Figura 10, onde a deformação no reticulado cristalino modifica a célula unitária
de beta para α” em amostras temperadas em água.
Figura 10: Máxima deformação (ε) necessária para formar a fase α” a partir de
beta [42].
Dissertação – Abraão Santos Silva 23
3.8- Tratamento Criogênico
O tratamento criogênico (aqui denominado de TC) foi inicialmente
desenvolvido para resolver um problema do tratamento térmico de têmpera no
qual nem toda a austenita se transforma em martensíta em ligas de aço.
Portanto, os TC são úteis para aumentar a porcentagem de transformação da
austenita em martensíta e, consequentemente, aumentar a dureza dos aços.
Em geral, na maioria dos aços a transformação martensítica já está completa
(pelo menos 99% de transformação) em temperatura ambiente, mas há casos
em que a temperatura final da transformação pode estar abaixo da temperatura
ambiente, assim como nos casos de aços de teor de carbono acima do
eutetóide [43].
A terceira lei da termodinâmica afirma que a entropia é zero à
temperatura do zero absoluto. O tratamento criogênico utiliza este princípio
para promover o alivio nas tensões residuais no material, uma vez que quando
a entropia é zero o sistema não apresenta defeitos ou qualquer nível de tensão
residual. Nesse processo os materiais são submetidos a temperaturas
extremamente baixas durante um período prolongado que conduz ao
desenvolvimento de condições de equilíbrio. Isto leva a atingir o estado mínimo
de entropia. Como resultado, a morfologia e tamanho do grão ficam refinados.
A eliminação de defeitos de rede provoca a redução das distâncias
interatômicas. Quando o material é trazido de volta para a temperatura
ambiente, o nível de defeitos reflete uma concentração de equilíbrio [12].
O tratamento criogênico é um tratamento térmico realizado a temperatura
de -196°C (temperatura do nitrogênio líquido) visando modificações micro e
nanoestruturais que resultam na melhoria das propriedades mecânicas de
alguns tipos de ligas como o aço [44], ferro fundido [45] [46] [47], ligas de
alumínio [48] [49] [50] [14] e ligas de titânio [51], [13], [15].
Sabe-se que existem diversos processos desenvolvidos para a realização
do tratamento criogênico, entre eles é relevante citar o criado em 1999,
Dissertação – Abraão Santos Silva 24
denominado de NBP (US Patent 5.259.200) na empresa norte-americana NU-
Bit Inc. O processo consiste em resfriamento lento e direto em nitrogênio
líquido a -196ºC e posterior aquecimento até a temperatura ambiente, com o
posterior revenimento, eliminando assim ciclos múltiplos e longos. Esse
processo produz microestrutura estável e tenaz com um único revenido,
diferenciando de outros que necessitam de cerca de três para obter a mesma
microestrutura [11]. Esse é o procedimento atualmente mais empregado.
Em termos de mecanismos, são propostos alguns, os quais buscam
explicar as transformações nos materiais submetidos a tratamento criogênico:
1) Transformação martensítica: i) transformação da austenita
retida (𝜸𝑹) em martensíta (α’), ii) decomposição e condicionamento da
martensíta [52].
2) Precipitação [52] ou aumento da fração volumétrica de
carbonetos 𝜼 (eta) [53].
Além disso, são propostos na literatura diversos tipos de ciclos térmicos,
com variação em: i) temperatura criogênica; ii) tempo de permanência na
temperatura criogênica (tempo de homogenização); iii) posição do tratamento
de revenimento no ciclo térmico, podendo ser antes ou depois do tratamento
criogênico; iv) número de revenimentos; v) inserção de uma etapa de alívio de
tensões antes do tratamento criogênico.
O tratamento criogênico é responsável por uma parcela dos mecanismos
de transformações de fases que podem ser decorrência do envelhecimento da
martensíta. Esta ideia é descrita por Taylor e Cohen [54] que descrevem que o
envelhecimento resulta de todos os fenômenos relevantes da pré-precipitação
de carbonetos (diferenciado do primeiro estágio do revenimento). É proposto
que o principal fenômeno do envelhecimento acontece quando a martensíta
não revenida se decompõe de modo espinodal formando uma nova estrutura
modulada com regiões coerentes de alto e baixo teor de carbono. Além disto, o
final do envelhecimento é sinalizado pela precipitação de carbonetos, os quais
ocorrem nas regiões de alto carbono da estrutura modulada, sendo que a
Dissertação – Abraão Santos Silva 25
transformação da austenita retida na fase martensítica não está inserida no
processo de envelhecimento da martensíta virgem, ou não revenida.
É descrito na literatura que a temperatura criogênica provoca a
deformação do reticulado da martensíta e também a nucleação de carbonetos
de forma heterogênea ao longo das faixas que são ricas em carbono e as quais
foram desenvolvidas no período da decomposição espinodal da martensíta. A
precipitação dos carbonetos é resultado da contração e expansão da
martensíta em diferentes regiões com uma ligeira troca de átomos de carbono,
de modo a segregar carbonetos ao longo de faixas ricas de carbono,
resultando no aumento da resistência ao desgaste [52].
Já se sabe que finos carbonetos se precipitam na estrutura cristalina
devido a mudanças microestruturais que ocorrem na martensíta, fenômeno
este denominado de condicionamento da martensíta a baixas temperaturas.
Com o resfriamento contínuo ocorre aumento da energia de deformação,
aumentando a instabilidade da martensíta, possivelmente afetando a estrutura
de discordâncias presente, na medida em que a rede cristalina do ferro sofre
contração nos espaçamentos interatômicos [55].
No estudo desenvolvido por Yen [56] é proposta uma teoria para explicar
o condicionamento da martensíta que resulta na precipitação de carbonetos
ultrafinos no revenimento do aço. Segundo o autor, a teoria mais provável para
este condicionamento da martensíta a baixa temperatura seria o fato de que
um contínuo resfriamento ocasiona elevação na energia de deformação da
martensíta, aumentando sua instabilidade e possivelmente, afetando sua
estrutura de discordância na medida em que a rede cristalina do ferro sofre
contração em diferentes direções atômicas. Para um tempo suficientemente
longo, os átomos de carbono seriam forçados para fora das posições onde
formariam a estrutura de um carboneto de transição de dimensões
submicroscópicas. Estas estruturas formadas em grandes quantidades na
matriz martensítica atuariam como núcleos para a formação de finos
carbonetos estáveis quando do aquecimento a temperatura ambiente ou no
revenido. Como resultado deste fenômeno, verifica-se o aumento expressivo
Dissertação – Abraão Santos Silva 26
no volume de carbonetos na microestrutura após o revenimento, significativo
aumento de resistência ao desgaste, aumento da tenacidade pela eliminação
da fragilização da martensíta revenida devido tanto à redução da austenita
retida quanto à precipitação preferencial de finos carbonetos, ao invés da
formação de filmes de carbonetos em contorno de grão e praticamente nenhum
aumento de dureza.
Os micromecanismos de precipitação de carbonetos em temperatura
criogênica, também podem ser explicados pela formação dos aglomerados dos
carbonetos submicroscópicos do 𝑭𝒆𝟐C, que acontece a partir da transformação
da estrutura tetragonal da martensíta, dando origem a estrutura ortorrômbica
dos pré-carbonetos. Portanto, parece coerente afirmar que a maior quantidade
de martensíta tetragonal possibilita a formação de maior quantidade de
aglomerados no tratamento criogênico e, consequentemente, maior
precipitação de finos carbonetos na posterior etapa de revenimento. Embora a
austenita residual seja instantaneamente transformada para a estrutura
tetragonal da martensíta quando resfriada próximo a temperatura de
transformação final da martensítica (Mf) do aço, parece estar cada vez mais
comprovado que essa porção da martensíta na microestrutura não responde ao
tratamento criogênico da mesma forma que a martensíta proveniente da
têmpera [52]. Segundo Yen [56], a martensíta formada no resfriamento
criogênico apresenta uma razão dos parâmetros de rede c/a maior que o da
martensíta originada na têmpera, indicando que estas estruturas distintas
possam apresentar diferentes capacidades de se decomporem, originando os
carbonetos 𝜼.
Devido à contração de volume no processo do TC, o parâmetro de rede
da martensíta tende a diminuir, a deformação cristalina da martensíta em
solução sólida supersaturada tende a aumentar, tornando-a mais instável
termodinamicamente [52]. Como um resultado, a martensíta decompõe-se
precipitando átomos de carbono, aumentado a força motriz de precipitação.
Em estudos com o aço AISI D2, austenitizadas em 1010°C, foi obtido um
aumento na microdureza do material (4,7%) após a aplicação do TC. Contudo,
Dissertação – Abraão Santos Silva 27
amostras austenitizadas a maior temperatura (1100°C) e tratadas
criogenicamente não apresentaram melhoria da resistência ao desgaste e na
microdureza. Este efeito pode estar relacionado aos diferentes níveis de
austenita residual na microestrutura do aço, na condição somente temperado.
Propõe-se que o nível de microdureza e resistência ao desgaste do aço AISI
D2 austenitizado em temperaturas elevadas é predominantemente determinado
por esta etapa do tratamento térmico, devido à grande solubilização de
elementos de liga e carbono na matriz, gerando elevada quantidade de
austenita retida, que ao transformar-se em martensíta durante o TC apresenta
menor capacidade de precipitação de carbonetos ultrafinos [57].
Em outro estudo utilizando medição de resistividade e por uma técnica de
identificação de densidade de defeitos, conhecida como PIPA (Photon Induced
Positron Annihalation) foi possível identificar de forma indireta que durante o
processo criogênico existe, inicialmente, melhoria do potencial termodinâmico
pela migração de átomos e, finalmente, a formação de aglomerados de átomos
de carbono e precipitação de carbonetos durante o revenimento [58].
Em estudos realizados por Huang et al. em aço M2 [53] através de
técnicas de difração de nêutrons, foi possível verificar que os parâmetros “a” e
“c” da martensíta comportam-se de maneira diferente durante as etapas de
resfriamento criogênico e descongelamento. O parâmetro “a” muda linearmente
com as mudanças de temperatura, seguindo praticamente a mesma curva
durante resfriamento criogênico e também durante o descongelamento, o que
indica um efeito termo-elástico puro. Já o parâmetro “c” decresce com o
resfriamento criogênico, mas não segue a mesma curva durante o
descongelamento, tendo aumentado muito pouco seu valor. Estes resultados
sugerem que ocorre segregação de átomos de carbono durante o tratamento
criogênico. Os átomos de carbono ocupam predominantemente os interstícios
octaédricos, supersaturando o reticulado. Quando ocorre, a segregação desses
átomos afeta o parâmetro “c” da estrutura cristalina.
A transformação da martensíta a baixa temperatura é acompanhada por
deformação plástica da martensíta não revenida. Uma importante
Dissertação – Abraão Santos Silva 28
consequência da deformação plástica, que provoca a dissolução parcial de
partículas de carboneto, é a captura de átomos de carbono imóveis em
decorrência do deslizamento das discordâncias e a formação de aglomerados
de carbono, os quais podem servir como locais de nucleação de finas
partículas de carbonetos durante o posterior revenimento [59], [60].
3.9- Tratamento Criogênico em Ligas de Níquel Titânio
Em trabalho recente sobre o efeito do tratamento criogênico na
microestrutura da liga NiTi (Nitinol) [61], os pesquisadores verificaram que o
tratamento é eficiente na transformação da fase austenita retida em martensíta
e que quanto maior o tempo de exposição do material na temperatura
criogênica mais intensa é esta transformação.
A avaliação das propriedades mecânicas em decorrência do tratamento
criogênico da liga NiTi foi avaliada por outro pesquisador [62]. No estudo foi
descoberto aumento de 8,54% de resistência à tração, 16,4% do limite de
escoamento e 8,4% da dureza deste material em decorrência do tratamento
criogênico. O estudo descreve que esta melhoria é atribuída ao aumento da
densidade de discordância e pelo crescimento de placas de martensíta
induzida por tensão térmica.
O efeito do tratamento criogênico em instrumentos endodônticos de NiTi
foi avaliado por Kim et al. [63]. Os pesquisadores descobriram que quando as
amostras foram submetidas a 10 minutos na temperatura de -196°C, seguindo
a recomendação de expor o metal a 1 hora por polegada, foi obtido uma
melhoria significativa da dureza a qual os autores atribuíram a deformação da
rede cristalina em decorrência da deposição de nitrogênio dentro dos espaços
intersticiais, embora a temperatura de início de transformação martensítica
desta liga esteja abaixo da temperatura ambiente não foi possivel verificar a
influência do tratameto em termo de transformação de fase.
Dissertação – Abraão Santos Silva 29
3.10- Efeito do tratamento criogênico em liga de titânio
Modificações encontradas em ligas de titânio Ti-6Al-4V submetidas ao
tratamento térmico são descritas por Gu e colaboradores [64], os quais
descrevem que a principal razão para a melhoria da dureza pode ser as
modificações subestruturais, como exemplo o movimento de discordâncias e a
formação de maclas induzidas pela diminuição da temperatura. Durante o
processo de tratamento criogênico, a estrutura sofre um alto grau de tensão
devido à contração a baixas temperaturas e aos diferentes coeficientes de
expansão da fase α e da fase β. Estas tensões irão promover o movimento de
discordâncias e a transformação das fases. Como resultado, o aumento da
densidade de discordâncias pode melhorar a dureza dos materiais. No entanto,
o autor descreve que devido ao fato do movimento atômico ser lento na
temperatura criogênica assim como o movimento e a interação das
discordâncias, são necessários tempos de imersão mais longos para se
conseguir o melhor resultado de dureza da liga Ti-6Al-4V.
Em estudos anteriores Ramdan e colaboradores [65] estudaram o
mecanismo de cisalhamento durante o tratamento criogênico da liga Ti6Al4V
por microscopia óptica e eletrônica de varredura e cálculo do parâmetro de
estrutura de pico XRD utilizando o programa Mud-Master. Os pesquisadores
descreveram que tanto o tratamento de laminação a frio quanto o tratamento
criogênico produzem uma estrutura alfa alongada, no entanto o primeiro
processo produz uma estrutura mais refinada. A explicação para este fato é
que no processo de laminação a frio o esforço mecânico é suficiente para
induzir o cisalhamento atômico dentro da liga, já no tratamento criogênico é o
movimento coordenado que possibilita este efeito. Foram observadas bandas
de cisalhamentos para amostras que foram submetidas a cada um destes
processos, sendo que estas bandas estão relacionadas tanto ao início da
plasticidade quanto ao amolecimento térmico do material. Não foi observada
contribuição do mecanismo de cisalhamento por laminação a frio na
transformação martensítica, este fato é decorrência da estrutura cristalina não
ser da fase β. Casos diferentes foram observados nas ligas tratadas
Dissertação – Abraão Santos Silva 30
criogênicamente, nas quais o mecanismo de cisalhamento durante o
tratamento crontribuiu para a formação da martensíta com o deslizamento do
plano atômico (111) da fase β e também foi observada tensão cristalográfica no
plano da fase α induzida pelo cisalhamento atômico neste processo. Os
autores descrevem que o tratamento criogênico provoca o movimento dos
atômos na direção pararela ao plano basal (plano de deslizamento para a fase
hexagonal α da liga de titânio) e o aumento de bandas de cisalhamento,
caracterizando o mecanismo deste processo como típico de deformação
plástica em geral.
Estudos mais recentes sobre o efeito do tratamento criogênico nas
propriedades mecânicas e de corrosão do titânio comercialmente puro soldado
a laser foi desenvolvido por Zhu et al. [66]. Os pesquisadores descobriram que
o tratamento criogênico provocou o refinamento dos grãos, estabilizou a
estrutura de rede cristalina, aumentou a passivação em meio salino (contendo
uma solução artificial de saliva humana) e aumentou a resistência à tração e a
ductilidade sem prejudicar a resistência à corrosão. Segundo os autores estas
melhorias estão relacionadas com o fato de que o tratamento criogênico reforça
as ligações moleculares, provoca o alinhamento de partículas e o refinamento
dos grãos contribuindo assim para a diminuição das tensões interna do
material. Além dos efeitos supracitados, este tratamento também retarda o
movimento ao nível atômico e aumenta a energia de ligação molecular interna,
promovendo um equilíbrio estrutural puro em todo o material, gerando assim
um material com uma microestrutura uniforme, refinada e densa, o que leva a
melhoria das propriedades físicas e mecânicas.
Estudos rescentes sobre o efeito do tratamento criogênico sobre a
tensão residual e propriedades mecânicas das juntas do material Ti6Al4V
soldadas por feixes de elétrons foi realizado por Xu e colaboradores [67]. Os
autores descobriram que o tratamento criogênico aumentou a concentração da
fase martensíta em 47,47%, provocou a diminuição da tensão residual em até
34,1%, da dureza em 8,7% e do alogamento em 46,8%. Segundo os
pesquisadores um tempo de 24 horas foi suficiente para garantir o melhor
Dissertação – Abraão Santos Silva 31
desempenho do processo, uma vez que para tempos maiores o processo não
apresentou resultados tão significativos. A melhoria da resistência mecânica foi
atribuída ao aumento da densidade de transformação da fase martensitica α’ e
a uma pequena precipitação da fase primária α intergranular. A análise por
microscopia eletrônica de transmissão revelou que durante o tratamento
criogênico são formadas redes de deslocamento devido aos movimentos e
interações das descordâncias em baixas temperaturas. A diminuição da fase β
e o aumento da fase martensítica após o tratamento criogênico foram os
responsáveis por garantir uma estrutura de rede cristalina mais refinada e
estável, resultando na diminuição da tensão residual e a melhoria da
resistência mecânica.
O efeito do tratamento criogênico sobre o desempenho de usinagem por
descarga eletrica da liga Ti5Al2,5Sn (titânio alfa) foi avaliado por Kumar e
colaboradores [13]. Os autores descreveram que as peças que foram
criogenicamente tratadas tiveram um aumento de dureza 10,1%, esta diferença
demonstra que o tratamento criogênico é eficiente na modificação da dureza
deste material. Os autores também descreveram que o aumento da dureza do
material base garantiu uma usinagem mais uniforme e o aumento da taxa de
remoção de material e da eficiência do processo.
A transformação da estrutura CCC da fase beta para a estrutura
ortorrômbica da fase α” durante o tratamento criogênico pode ser explicada
pela contração (-σ) da rede cristalina CCC gerando o deslizamento atômico dos
planos {110}, plano preferencial de deslizamento, transformando na celula
cristalina ortorrômbica, como pode ser observado na Figura 11.
Dissertação – Abraão Santos Silva 32
Figura 11: Estruturas cristalinas das fases beta (superior) e α” (inferior),
mostrando a mudança da estrutura em decorrência da tensão de contração σ
provocada no tratamento criogênico das ligas de titânio.
4. MATERIAIS E MÉTODOS
Foram estudadas quatro composições de ligas de titânio: Ti-35Nb; Ti-
35Nb-2,5Sn; Ti-35Nb-5,0Sn e Ti-35Nb-7,5Sn. Todas as composições das ligas
são dadas em porcentagem em massa. Os procedimentos experimentais
seguiram conforme o roteiro abaixo:
Preparação e classificação (pesagem e limpeza) das matérias-primas;
Obtenção das ligas por fusão a arco voltaico em atmosfera inerte;
Tratamentos termo-mecânicos (forjamento livre por esboçamento a frio,
tratamentos térmicos de homogeneização, solubilização, têmpera em
água e tratamento criogênico);
-σ -σ
+є
+є
Dissertação – Abraão Santos Silva 33
Análise microestrutural via microscopia óptica e eletrônica de varredura;
Análise por difração de raios-X;
Medida de microdureza Vickers;
Envelhecimento.
O fluxograma apresentado na Figura 12 mostra as etapas realizadas
durante o desenvolvimento deste estudo. Os detalhes das etapas deste
fluxograma estão descritos nos itens 4.1 a 4.9.
Preparação das ligas
Fusão a Arco
Tratamento térmico de Homogeneização
Forjamento livre por esboçamento a frio
Tratamento térmico de
Solubilização e têmpera
CARACTERIZAÇÃO Metalografia
Análise de imagem Microdureza Vickers
DRX
Tratamento
criogênico
CARACTERIZAÇÃO Metalografia
Análise de imagem Microdureza Vickers
DRX
Análise
estatística
Figura 12: Fluxograma esquemático com as etapas realizadas durante o trabalho.
Tratamento de
envelhecimento
CARACTERIZAÇÃO
Microdureza Vickers
Dissertação – Abraão Santos Silva 34
4.1- Preparação das matérias-primas
As ligas foram produzidas a partir de Ti, Nb e Sn comercialmente puros. O
Ti grau 1 de alta pureza foi adquirido em forma de barras, e o Nb na forma de
placas. Ambos foram cortados em fragmentos menores e decapados
quimicamente, enquanto que o Sn foi utilizado na forma de grânulos. Os graus
de pureza e a procedência dos metais são apresentados na tabela 5.
Para a decapagem do titânio utilizou-se uma solução ácida composta de
água destilada, ácido nítrico (HNO3) e ácido fluorídrico (HF) na proporção 1:1:1
como objetivo de remover os óxidos formados na superfície. Para o nióbio,
utilizou-se uma solução de 10mL de água destilada, 50mL de ácido sulfúrico
(H2SO4), 20mL de ácido nítrico (HNO3) e 20mL de ácido fluorídrico (HF), com
a mesma finalidade. O estanho foi adquirido livre de oxidação, não precisando
assim, ser decapado. Após a decapagem, os materiais foram lavados em água
corrente, em álcool etílico e em seguida secos com ar quente.
Com os materiais limpos e secos, foi realizada a pesagem de cada um
dos metais, utilizando balança analítica (marca Marte, modelo AL200C, Max
200 g, Min 0,02g), com o objetivo de atingir as composições estudadas e
visando-se obter lingotes de 70g.
Tabela 5: Matérias primas utilizadas na preparação das ligas.
Elemento Pureza (%) Procedência
Titânio 99,99 MDT IMPLANTES ORTOPÉDICOS
Nióbio 99,50 CBMM
Estanho 99,99 SIGMA ALDRICH
4.2- Fusão a Arco-Voltaico
As ligas foram preparadas através da fusão dos elementos, utilizando
forno a arco-voltaico com eletrodo não consumível de tungstênio, sob
Dissertação – Abraão Santos Silva 35
atmosfera de argônio puro (99,9999%) e cadinho de cobre refrigerado a água.
O forno de fusão a arco-voltaico é constituído por uma câmara cilíndrica de aço
inoxidável, com parede dupla para permitir a refrigeração do forno. O conjunto
possui sistemas de vácuo e de injeção de argônio, que permitem obter
atmosfera inerte. A câmara possui uma janela que auxilia na visualização da
fusão. A abertura do arco é realizada por uma fonte de rádio frequência, de
forma automática, sem contato do eletrodo com o cadinho.
Os lingotes foram refundidos por seis vezes com a finalidade de
assegurar homogeneidade e a completa fusão dos elementos, principalmente
do nióbio, o qual possui ponto de fusão mais elevado. Para obtenção dos
lingotes de 140g, foi realizada a fusão de dois lingotes de 70g e refundidos por
mais duas vezes, obtendo-se um total de oito fusões para cada composição.
4.3- Tratamentos Térmicos e Conformação Mecânica
As ligas preparadas em forno a arco foram inicialmente submetidas a
tratamento térmico de homogeneização composicional em forno sob atmosfera
de argônio. Neste tratamento as ligas foram homogeneizadas a 1000°C por 12h
e resfriadas em forno.
Os lingotes foram inicialmente laminados a quente formando chapas, em
seguidas foram cortadas às chapas por serra convencional formando 32 cubos
de 10 mm de aresta, que foram lixados com lixas de 60, 120, 220, 320 e 660
Meshs. Após lixados os cubos foram conformados por forjamento livre
(compressão por esboçamento) em uma máquina de ensaios universal
(INSTRON, 250kN) (Figura 13) com velocidade de 0,5 mm/min até 80% de
deformação plástica medida pela deformação do corpo de prova após a
compressão. Para diminuir o atrito da amostra com as garras da máquina, as
amostras foram enroladas em fitas de teflon de baixo atrito. A deformação foi
medida pela equação 1 abaixo, considerando uma deformação de 80%.
∈= 𝑙𝑛𝑙
𝑙0 *100% (Equação 1)
Dissertação – Abraão Santos Silva 36
Onde: ∈ = deformação (%);
𝑙 = altura final (mm);
𝑙0 = altura inicial (mm).
Figura 13. Corpo de prova sendo conformado (A) e amostra antes da
deformação (B1), após a deformação (B2) e a metade de uma amostra após o
tratamento térmico (B3).
A
B1 B2 B3
A
Dissertação – Abraão Santos Silva 37
Observa-se pela Figura 13 que a amostra foi deformada entre as placas
de compressão utilizando duas chapas de aço temperadas e revenidas para
dureza de 54 HRC, a fim de evitar deformação do dispositivo de compressão.
Observa-se também que a peça deformada apresentou deformação
homogênea, sem formação de trincas e sem formação de formato de barril. A
deformação homogênea foi incentivada pelo uso de fitas de teflon de baixo
coeficiente de atrito envolvendo as amostras em compressão. A deformação
homogênea também é resultado do elevado coeficiente de encruamento
dessas ligas [30].
Foram confeccionadas 32 amostras, 4 em cada condição, divididas da
seguinte maneira: 2 (dois) grupos de 16 amostras cada, todas foram
deformadas a 80%. Cada grupo foi formado por 4 subgrupos de cada uma das
4 ligas (composição) como é possível perceber pela Figura 14.
Todas as amostras foram solubilizadas a 900°C por 30 min com
resfriamento em água. Em seguida as amostras do grupo 2 (Figura 14) foram
submergidas em nitrogênio líquido a -196ºC e mantendo nessa temperatura até
a homogeneização (15 minutos), seguindo o princípio do processo NBP [11]
[56].
Foi realizado tratamento térmico de envelhecimento a 400°C por 48
horas em 6 (seis) amostras da liga Ti35Nb2,5Sn as quais foram previamente
deformadas a 80% de deformação plástica, solubilizadas e temperadas a
900°C por 30 min com resfriamento em água (3 amostras) e resfriamento em
nitrogênio líquido (3 amostras).
Portanto, as amostras foram assim denominadas:
Ti35Nb solubilizada e temperada em água: Ti350A;
Ti35Nb solubilizada, temperada em água e nitrogênio liquido: Ti350N;
Ti35Nb2,5Sn solubilizada e temperada em água: Ti352A;
Dissertação – Abraão Santos Silva 38
Ti35Nb2,5Sn solubilizada, temperada em água e nitrogênio liquido:
Ti352N;
Ti35Nb2,5Sn solubilizada, temperada em água, nitrogênio líquido e
envelhecida: Ti352ANE;
Ti35Nb2,5Sn solubilizada, temperada em água e envelhecida: Ti352AE;
Ti35Nb5,0Sn solubilizada e temperada em água: Ti355A;
Ti35Nb5,0Sn solubilizada, temperada em água e nitrogênio líquido:
Ti355N;
Ti35Nb7,5Sn solubilizada e temperada em água: Ti357A;
Ti35Nb7,5Sn solubilizada, temperada em água e nitrogênio líquido:
Ti357N;
Tratamento Térmico de Solubilização
Tratamento Térmico de Têmpera de 36 amostras
Grupo 1 - Caracterização
de 4 grupos com 4
amostra cada
Tratamento
criogênico
Grupo 2 -Caracterização
de 4 grupos com 4
amostra cada
Figura 14: Fluxograma de delimitação da amostragem.
Envelhecimento
em 3 amostras de
1 dos grupos
Envelhecimento
em 3 amostras de
1 dos grupos
Dissertação – Abraão Santos Silva 39
4.4- Microscopia
Na preparação metalográfica, as amostras foram cortadas ao meio no
plano da espessura produzida pelo forjamento livre e embutidas a quente de
modo a analisar a superfície perpendicular ao plano de corte. Em seguida as
amostras foram lixadas com lixas de SiC de grana 120, 220, 320, 400, 600,
800, 1.200 e 1.500, e então polidas utilizando-se politriz (Arotec modelo Aropol-
V2) e panos com abrasivo de suspensão de diamante de 6, 3 e 1µ,
sequencialmente, lubrificados com álcool etílico. Para a revelação da
microestrutura foi empregada uma solução de ataque químico de Kroll
consistindo de 6 ml de HNO3, 3 ml de HF e 91 ml de H2O. Em seguida, as
amostras foram analisadas e fotografadas em microscópio óptico (Carl ZEISS
Axio SCOPE A.1). A análise microestrutural também foi realizada em
microscópio eletrônico de varredura (JEOL JCM-5700 CARRY SCOPE),
obtendo-se imagens por elétrons secundários. A preparação das amostras
para a análise por microscopia eletrônica de varredura envolveu
procedimento análogo ao da análise por microscopia óptica.
4.5- Difração de Raios-X
A análise de difração de raios-X foi realizada a partir de amostras lixadas
e polidas expostas à radiação Cu-Kα(λ =1,54Å) em difratômetro (XRD-6000
SHIMADZU) de acordo com as seguintes especificações: tensão de 40kV,
corrente de 30mA, varredura de 1,2°/min, com variação 2θ de 30 a λ0°. Para a
identificação das fases foram utilizadas as fichas de padrões cristalográficos do
JCPDS (Joint Committe e for Power Diffraction Standards). Estudo anterior [68]
comprovou que as ligas Ti35Nb2,5Sn deformadas, solubilizadas e temperada
em água não apresentam a fase alfa”. Em decorrência disto, optou-se por fazer
análise de DRX somente na liga Ti352A e Ti352AN de modo a comprovar a
diferença da concentração das fases em decorrência do tratamento criogênico.
Dissertação – Abraão Santos Silva 40
4.6- Análise de imagem
No microscópio ótico foram obtidas 9 imagens formando um X em cada
uma das 4 amostras de cada condição estudada, assim como esquematizado
na Figura 15.
As imagens tiveram os contornos de grãos pintados manualmente com
uma cor diferente do restante da imagem usando software “Paint®”, de modo
que essas partes não fossem computadas na análise de imagens.
As imagens com os contornos de grão pintados foram analisadas por
software de análise de imagens (AVSoft BioWiew 4.0.1). O procedimento
consistiu em abrir a imagem no programa, escolher uma cor a ser analisada (o
preto da fase α” contrastando com o claro da matriz beta e o vermelho dos
contornos), informar o tamanho da imagem e o programa faz a análise da
proporção de cores automaticamente de acordo com a cor escolhida.
Figura 15: Esquema das indentações e metalografia obtidas para as análises
de imagem.
4.7- Ensaios de Microdureza
Amostra com pontos
de indentações e
pontos de aquisição de
metalografias
Dissertação – Abraão Santos Silva 41
O ensaio de microdureza Vickers foi aplicado nas amostras embutidas,
lixadas e polidas, conforme determinam os procedimentos de preparação e
análise de microdureza descritos nas normas ASTME 92 (2003) e ASTME 384
(2009). Na determinação da microdureza das fases observadas nas
microestruturas foi utilizado microdurômetro Vickers (Future Tech FM 800).
Para cada amostra foram realizadas 9 indentações (formando um X do centro
da amostra para as extremidades seguindo o mesmo padrão da figura 15). Foi
utilizada carga de 1kgf aplicada por um período de 10 segundos, obtendo-se
como resultado a média e desvio padrão de microdureza de cada grupo de
amostras.
4.8- Análise estatística
Os dados foram analisados pelo método One Way Anova fator único
com p<0,05 usando o software Excel e o suplemento de análise de dados.
Foram analisadas a diferença de dureza e presença da fase martensítica α”
para cada liga, comparando as que foram somente solubilizadas e temperadas
em água, nas que também foram posteriormente tratadas com nitrogênio
líquido e nas envelhecidas.
5. RESULTADOS E DISCUSSÕES
5.1- Análise Metalográfica
As metalografias que serão apresentadas são representativas das 9
imagens obtidas a partir de cada grupo de amostras. As amostras Ti355A,
Ti355AN, Ti357A e Ti357AN não tiveram diferença em termos de
microestrutura, apresentando grãos poligonais uniformes da fase beta (Figuras
16 e 17). Segundo pesquisas [42], [16], ligas TiNbSn com teores de Sn acima
de 4% temperadas em água apresentam apenas a fase beta. No presente
estudo percebeu-se que a fase beta também é mantida quando as ligas são
Dissertação – Abraão Santos Silva 42
resfriadas em nitrogênio. Isso indica o efeito de estabilização da fase beta
através da adição de teores de Sn superiores a 4 % em liga Ti35Nb. Além
disso, indica que a temperatura de início da transformação martensítica em tais
composições é muito baixa, abaixo da temperatura do nitrogênio líquido.
As Figuras 18 e 19 mostram a microestrutura das ligas Ti352(A e AN) e
Ti350(A e AN), sendo que com a concentração de 2,5% de estanho é possível
perceber algumas agulhas da fase α” após o tratamento criogênico. Na liga que
não contem estanho, a liga Ti350(A e AN), esse efeito é mais acentuado, ou
seja, ocorre a formação de maior quantidade de α”.
Os resultados acima sugerem que o estanho em concentração de até
2,5% não consegue estabilizar a fase beta, de modo que o tratamento
criogênico aplicado consegue provocar a precipitação da fase α”. A liga Ti35Nb
contendo 5% de Sn, por sua vez, apresentou a fase beta estabilizada e não foi
possível detectar a formação da fase α” mesmo após o tratamento criogênico.
Dissertação – Abraão Santos Silva 43
(a)
(b)
Figura 16: Microestrutura da liga Ti357A (a) e Ti357AN (b), mostrando grãos
de fase matriz beta. Pontos dispersos sobre os grãos primários de beta são
pites decorrentes do ataque químico.
Dissertação – Abraão Santos Silva 44
(a)
(b)
Figura 17: Microestrutura da liga Ti355A (a) e Ti355AN (b), ambas
apresentando grãos poligonais da fase beta.
Dissertação – Abraão Santos Silva 45
(a)
(b)
Figura 18: Microestrutura da liga Ti352A formada por grãos da fase beta (a) e
Ti352AN (b), formada por grãos de fase beta e fase α” (agulhas escura).
Dissertação – Abraão Santos Silva 46
(a)
(b)
Figura 19: Microestrutura da liga Ti350A (a) e Ti350AN (b), mostrando grãos
de fase beta nas duas amostras e fase α” (agulhas escuras).
A análise por MEV (Figura 20) demonstra a microestrutura homogênea
característica da fase beta com presença de pites de ataque na superfície da
Dissertação – Abraão Santos Silva 47
liga que podem estar relacionados aos defeitos do material que sofre a
passivação [69]. Nas figuras 21 e 22 é possível verificar a morfologia da fase α”
a qual é formada por agulhas partindo dos contornos de grão (Figura 22). É
possível observar martensítas em forma de agulhas próximas ao contorno de
grão (Figura 21).
Figura 20: Microestrutura característica da liga Ti355AN formada por grãos
equiaxiais da fase beta homogeneamente distribuídos (a). Vista em maior
detalhe em (b) mostrando os pites do ataque.
(a)
(b)
Dissertação – Abraão Santos Silva 48
Figura 21: Grãos beta e agulhas de α” na liga Ti352AN.
Figura 22: Martensíta em forma de finas agulhas transversais às agulhas
de martensíta na forma de agulhas alongadas na liga Ti352AN.
Dissertação – Abraão Santos Silva 49
5.2- Análise de imagem
Uma imagem representativa daquelas cujos contornos de grão foram
delineados pode ser visualizada na Figura 23 enquanto que uma imagem
representativa das metalografias que receberam tratamento de identificação de
proporção de fases pelo software AVSoft, realçando as agulhas da fase α”,
pode ser visualizada na Figura 24. As ligas com teor de estanho a partir de 5%
não apresentaram a fase α”, independente do tratamento. A precipitação da
fase α” na forma de agulhas só foi visualizada nas ligas com teores de até 2,5%
de estanho e a concentração dessa fase foi mais significativa na liga TiNb.
Os resultados (“percentual da fase alfa”) (Tabela 6) demonstram que na
média o tratamento criogênico afetou a microestrutura da liga com
concentração de até 2,5 % de estanho. O alto desvio padrão pode estar
relacionado à diferença de deformação ao longo das amostras, sendo este um
dos motivos para a aquisição das imagens e análise da dureza seguindo o
procedimento adotado e descrito anteriormente. Heterogeneidades
microestruturais como de tamanho de grão, nível de defeitos de estrutura,
deformação prévia entre outros podem favorecer a nucleação da fase
martensítica em determinados grãos em detrimento a outros, o que provoca a
formação de sítios com maior ou menor quantidade de martensíta ao longo da
seção metalográfica. Isto provocou o elevado desvio padrão. A análise dos
resultados demonstram que existe diferença significativa na liga Ti352A em
relação à liga Ti352AN, assim como nas ligas Ti350A e Ti350AN.
Dissertação – Abraão Santos Silva 50
Figura 23: Metalografia da liga Ti352AN com os contornos de grão pintados
(vermelho).
Figura 24: Amostra anterior com a fase α” pintada (azul).
Tabela 6: Resultado da análise de fase das ligas estudadas. Valores
percentuais de fase α” encontradas em relação à fase beta matriz. Valores de
desvio padrão entre parêntesis.
Ligas Ti352AN Ti352A Ti350AN Ti350A
Média 14,77 (9,62) 0 21,14 (22,64) 7,86 (9,37)
P - 0,2115
Dissertação – Abraão Santos Silva 51
O gráfico da Figura 25 demonstra que o início da transformação
martensítica encontrada neste estudo é coerente com os estudos anteriores de
outros pesquisadores [16] [42], podendo ser percebido pelo valor de R² dados
pelas linhas de tendência das duas retas. Este resultado corrobora a
importância do tratamento criogênico para a transformação de fase
martensítica garantindo assim a melhoria da resistência mecânica das ligas
Ti35Nb com até 2,5 % de Sn. Matsumoto [16] utilizou a técnica de calorimetria
diferencial de varredura (DSC) para avaliar as temperaturas de transformação
das ligas Ti35Nb. Os resultados indicam que houve correspondência entre a
técnica de análise de imagem aplicada no presente estudo e a técnica usada
por Matsumoto. Por exemplo, ele encontrou que o início da transformação da
martensíta para a liga Ti35Nb com 89% de deformação a frio foi de 40°C,
enquanto nós encontramos que na temperatura ambiente (25°C) existe 7,86%.
Logo, o início da transformação martensítica desta liga deve ser superior a
temperatura de 25°C, corroborando com o estudo de Matsumoto [16].
Figura 25. Gráfico que correlaciona o percentual de transformação da
martensíta alfa duas linhas a partir da fase precursora beta em função da
temperatura e teor de Sn na liga Ti35Nb. Influência da temperatura na
transformação martensitica de ligas Ti35Nb com a adição de Sn.
y = -0,0654x + 8,0968 R² = 0,9996
y = -0,0744x + 0,2592 R² = 0,9991
-5
0
5
10
15
20
25
-250 -200 -150 -100 -50 0 50 100 150
Ms (
%)
T(°C)
Transformação Martensitica
Ti35Nb
Ti35Nb2,5Sn
este estudo [16]
Dissertação – Abraão Santos Silva 52
5.3- Análise por Raios-X
A liga Ti35Nb com teor de Sn superior a 2,5% deformada e solubilizada
em temperatura ambiente apresenta microestrutura composta apenas fase beta
[70]. A análise por DRX da liga Ti35A (Figura 26) comprova que as agulhas
observadas na análise metalográfica consistem em fase α”, uma vez que foram
identificados picos de alta intensidade dessa fase nas amostras. A análise
também demonstrou o aumento da concentração da fase α” presente nas
amostras de Ti35Nb com tratamento térmico de solubilização, têmpera e
criogênico em relação a que não sofreu o tratamento criogênico, uma vez que a
intensidade dos picos é maior para a tratada por criogenia, está em acordo com
os resultados da análise microestrutural.
Dissertação – Abraão Santos Silva 53
(a)
(b)
Figura 26: Difratograma de raios-X das amostras da liga Ti350A (a) e após
tratamento criogênico Ti350N (b). A intensidade da contagem para a fase alfa
duas linhas é superior na amostra tratada em criogenia.
5.4- Análise de dureza
A análise de dureza revelou que quando a liga apresenta até 2,5% de
estanho, o tratamento criogênico consegue aumentar significativamente
(p<0,05) a dureza da amostra em relação a que não sofreu o tratamento
criogênico, ou seja, temperada em água (Tabela 7). Esse resultado reforça o
resultado da análise metalográfica e sugere que a concentração de estanho
acima de 5% estabiliza a fase beta, de modo que o tratamento criogênico
α”
β
α”
β
Dissertação – Abraão Santos Silva 54
aplicado não consegue mudar a microdureza. O tratamento criogênico aplicado
nas ligas Ti352A e Ti350A, em especial esta última, mostraram um apreciável
acréscimo de dureza, atingindo valor de 280 HV. Este resultado é atribuído à
formação da fase α” e demonstra o potencial de acréscimo de resistência
mecânica das ligas. O tratamento apresentou grande potencial, uma vez que
este valor de dureza de 280 HV é encontrado para diversas ligas de titânio beta
obtidas a partir de rotas distintas de fabricação.
Em estudo anterior, Cremasco [71] encontrou o mesmo perfil de
diminuição de dureza em relação ao aumento do teor de estanho nas ligas
Ti35Nb (0,0; 2,0; 4,0) Sn. Nas amostras sem Sn e submetidas à solubilização,
têmpera em água e 46% de deformação a frio foi encontrado 225 HV1 de
dureza, sendo que quando esta liga foi envelhecida por 5 minutos a dureza
aumentou para 270 HV1 e quando submetida a 96 horas de envelhecimento a
dureza passou para 416 HV1. Considerando que a dureza encontrada para a
liga Ti35A chegou a 282 HV1, é possível inferir que esta mesma amostra
quando submetida ao tratamento térmico de envelhecimento deva apresentar
aumento substancial na dureza. Este aumento de dureza é atribuído ao fato de
que na têmpera forma-se α” a qual é decomposta durante o envelhecimento em
finos precipitados da fase beta e da fase alfa, os quais agem como barreira ao
movimento das discordâncias que por sua vez é responsável pelo aumento da
resistência mecânica [26] [71] [70] [72]. O aumento de dureza supracitado e
esperado durante o envelhecimento foi comprovado no presente estudo, como
pode ser observado na Tabela 7. Nas amostras que possuíam maiores
concentrações da fase α” foram obtidas maiores durezas.
Tabela 7: Análise de dureza dos grupos estudados. Valores na escala Vickers
(HV1). Os valores de desvio padrão encontram-se entre parêntesis. Os valores
de p < 0,05 indicam diferenças significativas.
Liga Dureza média p
Ti35AN 282 (30,6) 0,0036
Ti35A 232 (9,0)
Dissertação – Abraão Santos Silva 55
Ti352AN 235 (29,4) 0,0134
Ti352A 199 (3,2)
Ti352AE 325,7 2,12E-15
Ti352ANE 385,3
Ti355AN 193 (1,4) 0,4736
Ti355A 191 (5,7)
Ti357AN 184 (9,4) 0,8954
Ti357A 185 (8,8)
A dureza encontrada nas amostras envelhecidas também está na tabela
7. A hipótese anterior foi comprovada nas amostras da liga Ti35Nb2,5Sn que
foram deformadas (80%), solubilizadas, temperadas em água, criogenicamente
tratadas e envelhecidas (48 horas), as quais obtiveram dureza média de 385
HV1 (desvio padrão de 4,5 HV1) e as que foram deformadas (80%),
solubilizadas, temperadas em água e envelhecidas obtiveram dureza média de
326 (desvio padrão de 4,0 HV1), demonstrando assim que além do tratamento
criogênico aumentar a densidade da fase α” ele também tensiona a rede
cristalina da fase beta e aumenta a semelhança com a estrutura cristalina da
fase α”. O tratamento criogênico provoca o aumento da fase alfa”, que atua
como núcleo para a precipitação de finos precipitados das fases α e β, as quais
aumentam a resistência mecânica do material.
Neste estudo a diferença de dureza da liga Ti35Nb com e sem
tratamento criogênico foi de aproximadamente 18 %. Em outro estudo com a
liga Ti6Al4V [64] a diferença de dureza foi de aproximadamente 2%, o que
demonstra maior eficiência do tratamento criogênico para a liga Ti35Nb. Uma
justificativa para a diferença de dureza é que esta pode estar relacionada ao
fator de que na liga Ti35Nb existe uma maior concentração da fase beta na
temperatura ambiente. Como existe maior semelhança entre as estruturas
cristalinas desta fase com a da fase α”, o tratamento criogênico necessita de
menos esforço (pouca deformação do reticulado cristalino) para transformar
beta em martensíta, garantindo assim a maior eficiência do tratamento.
Dissertação – Abraão Santos Silva 56
A análise da liga com teor de Sn a partir de 2,5% solubilizada em água
não revelou a fase martensítica alfa”, demonstrando que ocorreu a completa
estabilização da fase beta. Segundo a literatura [71] este fenômeno se deve ao
fato de que o teor de elementos de ligas intersticiais modifica a temperatura de
início de transformação martensítica (Mi) e o endurecimento por solução sólida.
Considerando que nas amostras com até 2,5% de Sn que foram submetidas ao
tratamento criogênico foi observada a presença da fase α”, é possível inferir
que a temperatura de completa transformação da liga com até 2,5% de
estranho está entre a temperatura ambiente e -196°C, sendo que para teores
maiores que 2,5%, na rota de processamento utilizada neste estudo, a Ms é
abaixo de -196°C. Considerando os resultados de Hao e colaboradores [21], e
a concentração da fase α” nas ligas com até 2,5 % de estanho, é possível que
a temperatura de Ms para as ligas com maiores teores estejam em temperatura
inferior a -196ºC, sendo que o processo de envelhecimento posterior ao
tratamento criogênico é uma possibilidade para nucleação desta fase, uma vez
que mesmo não sendo possível verificar a diferença em termos de
microestrutura, a simples aplicação do tratamento criogênico é suficiente para
tensionar a estrutura cristalina da fase beta de tal forma que facilite a
nucleação e crescimento da fase α” durante o tratamento térmico de
envelhecimento.
Embora em algumas ligas (com teor de estanho acima de 2,5%) não foi
encontrada diferença de dureza significativa para as amostras que foram
submetidas ao tratamento criogênico e as que não foram, é possível que as
resistências à tração e à fadiga tenham aumentado em decorrência da
influência do tratamento criogênico, como foi encontrado em outro estudo [62].
Os resultados apresentados neste estudo demonstram a vantagem do
tratamento criogênico na melhoria da resistência mecânica das ligas
Ti35Nb(0,0; 2,5)Sn. Já se sabe que a transformação de fase durante o
tratamento criogênico é dependente do tempo de homogênização (tempo de
permanência na temperatura criogênica), no entanto, longos tempos
representam maior custo no produto final. Embora o processo NBP [11] [56]
Dissertação – Abraão Santos Silva 57
seja eficiente, é possível que para esta liga, assim como nos aços [60] tempos
de homogeneização maiores possam resultar em melhores propriedades
mecânica.
6. CONCLUSÕES
De acordo com os resultados obtidos no presente estudo, é possível
concluir que o tratamento criogênico foi eficiente na transformação de fase beta
para α”, em ligas de Ti35Nb com até 2,5% de Sn. Além disso, quanto menor o
teor de Sn mais pronunciada é a transformação de alfa duas linhas.
O tratamento criogênico afeta a microestrutura e a dureza das ligas de
Ti35Nb previamente deformadas e solubilizadas, para teores de Sn inferiores a
5%, e isto está associado à formação de martensíta α”.
O tratamento criogênico é efetivo em ligas Ti35Nb com teor de Sn
inferior a 5 %.
A eficiência do tratamento criogênico foi percebida pela variação da
dureza que reflete a diferença da concentração da fase α”. No presente estudo,
valor de microdureza de 280 HV foi obtido para a liga Ti35Nb tratada por
criogenia, sendo que quando a liga Ti35Nb2,5Sn foi envelhecida por 48 horas
esta liga obteve dureza média de 385 HV1, sendo este valor superior às
amostras que não sofreram tratamentos criogênicos (325 HV1). Esse valor é
comparável ao valor de microdureza encontrado por outros autores em outras
rotas de fabricação de ligas de Ti beta e é considerado um valor promissor de
microdureza em relação à obtenção de liga de Ti beta de elevada resistência
mecânica.
7. SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS
Realizar tratamento criogênico com períodos de homogeneização
diferentes para verificar a influência deste parâmetro nas propriedades
mecânicas.
Dissertação – Abraão Santos Silva 58
Correlacionar as análises de dureza com os resultados de resistência a
tração e módulo de elasticidade das ligas submetidas ao tratamento criogênico.
Fazer tratamento criogênico em ligas que foram solubilizadas,
temperadas em água e deformadas de modo a verificar se a mudança na rota
de processamento modifica a resistência mecânica positivamente.
Dissertação – Abraão Santos Silva 59
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