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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAPÁ
DEPARTAMENTO DE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO
CURSO DE BACHARELADO EM CIÊNCIAS AMBIENTAIS
LAIS DA ROCHA FERNANDES
A FLORESTA NACIONAL DO AMAPÁ E REGIÃO DO ALTO E MÉDIO RIO
ARAGUARI: DO CONFLITO SOBRE O ACESSO AOS RECURSOS NATURAIS À
BUSCA POR UMA ESTRATÉGIA CONCILIADORA
MACAPÁ
2014
LAIS DA ROCHA FERNANDES
A FLORESTA NACIONAL DO AMAPÁ E REGIÃO DO ALTO E MÉDIO RIO
ARAGUARI: DO CONFLITO SOBRE O ACESSO AOS RECURSOS NATURAIS À
BUSCA POR UMA ESTRATÉGIA CONCILIADORA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao
Departamento de Meio Ambiente e
Desenvolvimento da Universidade Federal do
Amapá, como requisito parcial à obtenção do título
de Bacharel em Ciências Ambientais.
Orientadora: Dra. Roberta Sá Leitão Barboza
Co-orientador: MsC. Paulo Roberto Russo
MACAPÁ
2014
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Biblioteca Central da Universidade Federal do Amapá
333.72
F363f Fernandes, Lais da Rocha.
A Floresta Nacional do Amapá e região do alto e médio Rio Araguari:
do conflito sobre o acesso aos recursos naturais à busca por uma estratégia
conciliadora / Lais da Rocha Fernandes.
55 p.
Orientadora: Prof. Dra. Roberta Sá Leitão Barboza
Co-orientador: Prof. MS. Paulo Roberto Russo
Trabalho de conclusão de curso (graduação) – Fundação
Universidade Federal do Amapá, Pró-Reitoria de Ensino de Graduação,
Curso de Bacharelado em Ciências Ambientais.
1. Unidades de conservação – Amapá (AP). 2. Recursos naturais –
Conservação. 3. Conflito social – Amapá. 4. Floresta sustentável. 5.
Gestão ambiental. I. Barboza, Roberta Sá Leitão (orient). II. Russo, Paulo
Roberto (co-orient). III. Fundação Universidade Federal do Amapá. IV.
Título.
LAIS DA ROCHA FERNANDES
A FLORESTA NACIONAL DO AMAPÁ E REGIÃO DO ALTO E MÉDIO RIO
ARAGUARI: DO CONFLITO SOBRE O ACESSO AOS RECURSOS NATURAIS À
BUSCA POR UMA ESTRATÉGIA CONCILIADORA.
Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Departamento de Meio Ambiente e
Desenvolvimento da Universidade Federal do Amapá, como requisito parcial à obtenção do
título de Bacharel em Ciências Ambientais.
BANCA EXAMINADORA
________________________________________________
MsC. Paulo Roberto Russo
Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
(Presidente da banca/Co-orientador)
_________________________________________________
Prof. MsC. Alzira Marques Oliveira
Universidade Federal do Amapá
(Membro)
_________________________________________________
Prof. MsC. Renata dos Santos
Universidade Federal do Amapá
(Membro)
Nota: __________ Data: ____ / ____ / _______
“Tudo indica que o homem só desenvolverá seu potencial completo
numa sociedade que permita e facilite a participação de todos”.
(Juan e Diaz Bordenave).
AGRADECIMENTOS
A Deus por ter me dado saúde e força para superar todas as dificuldades enfrentadas.
Aos meus pais José Antonio e Nilsa pela capacidade que vocês têm de acreditar е
investir em mim. Mãe, seu cuidado е dedicação me deram а esperança pаrа seguir. Pai, sua
presença significou segurança е certeza de que não estou sozinha nessa caminhada.
Ao meu namorado Rodrigo, por sua paciência, carinho, amor, apoio e tolerância, que
de forma especial me deu força e coragem, me apoiando nos momentos mais difíceis.
A minha orientadora Roberta Sá pela paciência na orientação e incentivo que tornaram
possível a conclusão deste trabalho. Ao meu co-orientador Paulo Russo por me inspirar a
estudar conflitos socioambientais, por toda amizade, conselhos e tempo disponibilizados na
orientação da minha pesquisa.
Aos professores do Colegiado de Ciências Ambientais por participarem da minha
jornada, por todo o conhecimento que me repassaram, e por contribuírem em minha vida
acadêmica e profissional.
Aos meus amados amigos de classe, em especial, Arthur, Nayara e Naiana e à querida
amiga Raianny, vocês são como irmãos para mim. Sem vocês essa jornada não teria sido a
mesma.
Aos gestores da Floresta Nacional do Amapá Érico Kauano e Sueli Pontes, por toda a
ajuda, apoio e disponibilidade em minha pesquisa, e por todos os ensinamentos que me deram
durante os meses que estive com vocês como estagiária.
Agradeço à Mery Helen pelo companheirismo, amizade e ensinamentos durante a
coleta de dados da pesquisa.
Aos moradores da região do Alto e Médio Rio Araguari por toda a receptividade
durante as atividades de campo.
Ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade em Macapá e
Conservação Internacional do Brasil pelo apoio logístico durante o trabalho de campo.
À Universidade Federal do Amapá e ao Departamento de Meio Ambiente e
Desenvolvimento pela oportunidade de concluir o curso de Ciências Ambientais.
A todos quе direta оu indiretamente fizeram parte dа minha formação, о mеu muito
obrigada.
RESUMO
Com a criação das áreas protegidas sem estudos, algumas atividades passaram a ser proibidas,
gerando situações de conflito entre os moradores e a gestão das unidades. A Floresta Nacional
do Amapá é uma unidade de conservação de uso sustentável e possuía moradores desde a sua
criação. Essas pessoas trabalhavam basicamente com atividades de caça, pesca, agricultura e
garimpagem. Quando houve a transferência de gestão para o Instituto Chico Mendes de
Conservação da Biodiversidade, muitas dessas atividades sofreram mudanças. A caça como
atividade econômica foi terminantemente proibida, a área de pesca passou a ser restrita, houve
o fechamento de um garimpo dentro da unidade e as ações de fiscalização na região foram
intensificadas. Esses fatores podem ser compreendidos enquanto um conflito socioambiental
na região. O presente trabalho tem como objetivo avaliar como a presença do órgão gestor da
Floresta Nacional do Amapá interferiu no padrão de uso e ocupação da região do Alto e
Médio Rio Araguari. Parte da hipótese de que a intensificação da postura regulatória do órgão
gestor da unidade sobre o acesso aos recursos naturais ocasionou mudanças na forma como os
grupos sociais situados na região se organizavam e produziam. Foram realizadas entrevistas
que buscaram a caracterização do perfil dos moradores e averiguar como ocorreu o processo
de ocupação da região, bem como, levantar e discutir as principais estratégias adotadas frente
ao conflito existente pela gestão da Floresta Nacional do Amapá. Em geral os moradores são
ribeirinhos, agricultores familiares, extrativistas e pescadores. As estratégias usadas pela
gestão para possibilitar a conciliação das relações com a população é feita por meio da
demonstração de que a regulação do acesso aos recursos não inviabiliza a economia dos
moradores. Os projetos executados na região têm o objetivo principal de transformar a
unidade em uma indutora do desenvolvimento na região, através da promoção da qualidade de
vida da população do Alto e Médio rio Araguari.
Palavras-chave: Unidade de Conservação de Uso Sustentável, Gestão de conflitos
socioambientais, Amazônia.
ABSTRACT
With the creation of protected areas without studies, some activities have become prohibited,
generating conflict between the residents and unit management. The National Forest of
Amapá is a conservation and sustainable use of residents had since its inception. These people
worked primarily with hunting, fishing, farming and mining activities. When was the transfer
of management to the Chico Mendes Institute for Biodiversity Conservation, many of these
activities have changed. Hunting as economic activity was strictly forbidden, the fishing area
became restricted, there was the closure of a mining within the unit and enforcement actions
in the region were intensified. These factors can be understood as a social and environmental
conflict in the region. This paper aims to assess how the presence of the managing agency of
the National Forest of Amapá interfered in the pattern of use and occupation of the Upper and
Middle Rio Araguari region. Part of the hypothesis that the increased regulatory stance of the
management body of the unit on access to natural resources caused changes in the way social
groups located in the region were organized and produced. Interviews sought to characterize
the profile of the residents and examine how the process of occupation of the area occurred
were performed, as well as raise and discuss the main strategies adopted against the ongoing
conflict for the management of the National Forest of Amapá. Generally residents are locals,
farmers, gatherers and fishermen. The strategies used by management to enable the
reconciliation of relations with the population is made by demonstrating that the regulation of
access to resources does not impair the economy of the residents. Projects implemented in the
region have the main objective to transform the unit into a catalyst for development in the
region through the promotion of quality of life in the Upper and Middle River Araguari
population.
Keywords: Conservation Unit of Sustainable Use, Management of environmental conflicts,
Amazon.
LISTA DE SIGLAS
CI-BRASIL Conservação Internacional do Brasil
DNPM/PA Departamento Nacional de Produção Mineral do Pará
FLOTA Floresta Estadual do Amapá
FN Floresta Nacional
IBAMA Instituto Brasileiro de Recursos Naturais Renováveis
ICMBIO Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
MMA
ONG
Ministério do Meio Ambiente
Organização Não Governamental
PA
PAIFA
Projeto de Assentamento
Programa de Apoio à Implementação da Floresta Nacional do Amapá
PARNA Parque Nacional
SEMA Secretaria Especial de Meio ambiente
SNUC Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza
SUDAM Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia
UC Unidades de Conservação
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 – Localização da Região do Alto e Médio Rio Araguari. .......................................... 26
Figura 2 – Locações ribeirinhas mapeadas no percurso Porto Grande/FN do Amapá e
unidades entrevistadas .............................................................................................................. 28
Figura 3 - Imagem aérea da região do Garimpo da Capivara no interior da FN do Amapá
quando este ainda estava em atividade. .................................................................................... 30
Figura 4 – Experiência profissional anteriormente exercida pelos moradores. ........................ 35
Figura 5 – Imagem da estrutura de uma das casas ribeirinhas do Alto e Médio Rio Araguari 36
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 12
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .......................................................................... 14
2.1 A OCUPAÇÃO DA AMAZÔNIA E A SUA RELAÇÃO COM A ECONOMIA
BRASILEIRA .......................................................................................................................... 14
2.2 AS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO COMO ESTRATÉGIA DE
ORDENAMENTO TERRITORIAL ...................................................................................... 17
2.3 AMAPÁ: BALANÇO HISTÓRICO DE OCUPAÇÃO E A CRIAÇÃO DAS
ÁREAS PROTEGIDAS .......................................................................................................... 20
2.4 CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO ... 22
3 METODOLOGIA DA PESQUISA ........................................................................ 25
3.1 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO ................................................... 25
3.2 MÉTODOS DE PESQUISA E COLETA DE DADOS ........................................... 27
4 APRESENTAÇÃO DOS DADOS E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ............. 30
4.1 PROCESSO HISTÓRICO ECONÔMICO DA REGIÃO ......................................... 30
4.2 CARACTERIZAÇÃO ATUAL DA POPULAÇÃO LOCAL .................................. 34
4.3 PRINCIPAIS ESTRATÉGIAS ADOTADAS PARA A MITIGAÇÃO DO
CONFLITO EXISTENTE ........................................................................................................ 37
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 41
6 REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 43
ANEXOS ....................................................................................................................... 48
12
1 INTRODUÇÃO
Durante o período do Governo Militar, década de 1960 a 1980, as políticas públicas
voltadas para a Amazônia eram direcionadas com o objetivo principal de ocupá-la, com o
lema “Integrar para não entregar”, dessa forma, o Estado criou subsídios para que populações
de outras regiões se interessassem em ir para a Amazônia com o propósito de melhorar suas
condições de vida.
Nesse contexto, Porto (2007) destaca que as transformações econômicas na Amazônia
ao longo dos últimos dois séculos estão associadas diretamente às atividades de ocupação e
extrativismo na região: foram formados núcleos de povoamento, ligados às cheias dos rios, à
distribuição e aos ciclos de produção vegetal, à extração mineral, à implantação de rodovias e
expansão agrícola. No Amapá a história não é diferente, o reflexo da política do Estado
contribuiu diretamente para a construção de suas relações econômicas, políticas e sociais.
Nesse interim, a presença do Estado no Amapá é expressa através da criação de áreas
de uso restrito: as Unidades de Conservação da Natureza (UC) e as Terras Indígenas. A
criação dessas áreas se deu principalmente a partir dos anos 1980, fato que também repercutiu
amplamente no Brasil, com a defesa de implementação dessas unidades restritas, obedecendo
concepções ideológicas que se agrupavam em correntes de pensamento (e ação) ambiental, as
quais escolhem diferentes modalidades de UC, de acordo com essas matrizes de pensamento
(CHELALA, 2008).
Muitas UC foram criadas em lugares onde já havia a presença de populações, o que até
hoje causa conflitos socioambientais entre essas populações e os órgãos gestores. A Floresta
Nacional (FN) do Amapá caracteriza-se como uma dessas UC, cujo território (interior e
entorno) apresentava moradores residindo desde antes de sua criação. Estas pessoas exerciam
diversas atividades ligadas à exploração dos recursos naturais (caça, pesca e garimpagem)
como forma de subsistência e também para fins econômicos.
A FN do Amapá é uma UC de uso sustentável instituída pelo Decreto nº 97.630, de 10
de abril de 1989. Mesmo após a criação da unidade, muitas das atividades de exploração
desenfreadas dos recursos naturais continuaram por falta de um órgão de gestão ambiental
atuante. Quando houve a transferência de gestão para o Instituto Chico Mendes de
Conservação da Biodiversidade (ICMBio), criado pela lei nº 11.516, de 28 de agosto de 2007,
a realidade daquela população teve uma alteração, houve o fechamento de garimpos e as
fiscalizações para coibir atividades de caça e pesca ilegais aumentaram, estes fatores
acabaram ocasionando diversos conflitos entre o órgão de gestão e os moradores.
13
Frente a toda esta situação de conflitos e percebendo a difícil realidade de vida dos
moradores da FN do Amapá, há alguns anos o ICMBio juntamente com parceiros vem
intensificando a execução de projetos de capacitação para os comunitários utilizarem os
recursos naturais de forma mais adequada e racional, com intuito de aproximar a comunidade
da gestão da unidade.
Diante do exposto, este trabalho teve como objetivo avaliar como a presença do órgão
de gestão da FN do Amapá interferiu no padrão de uso e ocupação da região do Alto e Médio
Rio Araguari. Para tal, foi analisada a organização social dos moradores do interior e entorno
da FN, averiguando a existência de conflitos locais, além de discutir as principais estratégias
utilizadas para a gestão dos conflitos existentes.
A pesquisa justifica-se pela importância em conhecer o passado e compreender o
presente como auxílio à equipe gestora da unidade no processo de construção de relações
menos conflituosas com a comunidade, o que resultará na diminuição dos níveis de
degradação ambiental e na busca conjunta pela melhoria da qualidade de vida na região.
Justifica-se ainda na esfera acadêmica na contribuição ao embasamento para estudos análogos
que poderão ajudar no entendimento da realidade de outras comunidades, assim como poderá
ser uma forma de interligação de aprendizados e estimulação para novas metodologias de
pesquisa e gerenciamento de conflitos socioambientais.
14
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 A OCUPAÇÃO DA AMAZÔNIA E A SUA RELAÇÃO COM A ECONOMIA
BRASILEIRA
A partir dos anos de 1960 o governo militar brasileiro adotou uma política de
integração nacional da Amazônia como forma de manter a estrutura de dominação existente
em outras regiões, a partir deste momento teve início o processo de povoamento mais
adensado da região amazônica, que na época era a menos habitada do Brasil.
Os militares falavam em ocupar espaços que estavam vazios, o que gerava uma
contradição, pois na Amazônia já havia a ocupação de dezenas de tribos indígenas, algumas
delas sem qualquer contato com o homem branco; além de ser ocupada ainda que
dispersamente, por uma população camponesa que já estava presente na área pelo menos,
desde o século XVIII (MARTINS, 1997 apud SACRAMENTA & COSTA, 2009).
Os hábitos e o cotidiano da população local acabaram mudando por conta das novas
atividades que foram inseridas para viabilizar a integração da Amazônia no contexto nacional.
Nesse período, de acordo com Becker (1998), o Governo Federal desenvolveu estratégias de
duplo controle técnico-político, sobre o espaço existente com a construção das redes
rodoviárias, de telecomunicações urbanas e de hidroelétricas para a geração de energia para a
própria região e para o Brasil.
O processo de migração que envolveu a chegada de brasileiros vindos de outras
regiões acontecia há anos e essa situação reproduzia os primeiros fluxos que ocorreram no
período da borracha, em sua primeira e segunda fase, e em um terceiro momento onde surgiu
o período do programa do Governo Federal entorno dos “Grandes Projetos”, quando houve a
abertura de estradas, construção de hidrelétricas, projetos agropecuários e exploração mineral
(SACRAMENTA & COSTA, 2009).
No período de ascensão do regime militar, a partir de 1964, os instrumentos de criação
de áreas protegidas no Brasil foram mantidos e posteriormente aperfeiçoados. Pode-se atribuir
tal posicionamento às mudanças de paradigmas que a comunidade internacional teve quanto
aos problemas ambientais, fato que gerou inúmeras mobilizações sociais que incidiram sobre
a elaboração dos acordos e protocolos internacionais dos quais o Brasil se tornou signatário.
Neste ínterim, foi estabelecido um novo Código Florestal em 1965 (MEDEIROS, 2006).
15
Os anos de 1970 despontam como marco inicial da criação de novas áreas protegidas
devido a discussão ter tomado uma dimensão mundial, isso ocorreu em parte ao
reconhecimento da rápida destruição dos recursos naturais trazida pela estratégia do governo
brasileiro de integrar e desenvolver todas as regiões do país, aliada é claro, ao interesse de
controle do território pelo Estado (PECCATIELLO, 2011).
Sendo assim, é importante ressaltar que foi nesse período de integralização que a
Amazônia passou, de fato, a fazer parte do restante do país por meio das ações de
desenvolvimento e expansão do seu território. Porém atrelada às ações de desenvolvimento a
região também passou por profundas alterações ambientais que perduram até a atualidade,
pois neste período houve o aumento da exploração dos recursos naturais quando a região
passou a dar suporte econômico para vários setores da economia brasileira.
O século XXI vivencia diversos desafios socioambientais decorrentes do acelerado
crescimento econômico que gerou muitos benefícios à sociedade, mas que comprometeu
grande parte dos recursos naturais disponíveis, ocasionando danos, muitos desses irreversíveis
aos ecossistemas e às comunidades locais (IPEA, 2009).
Ainda hoje a Amazônia possui um papel importante para o crescimento econômico
brasileiro, seja com atividades de extrativismo mineral e vegetal, ou pela sua potencialidade
energética e agroindustrial. Essas potencialidades foram disseminadas principalmente durante
o período do regime militar.
Neste sentido Becker (2005) explica como as alterações ocorridas na Amazônia
durante este período acabaram contribuindo para o desenvolvimento econômico da região.
No final do século XX, houve, portanto, impactos negativos, mas também mudanças
estruturais e novas realidades geradas na fronteira, a qual tomou como espaço não
plenamente estruturado e por isso mesmo capaz de gerar realidades novas. Dentre as
mudanças, destaca-se a da conectividade regional, um dos elementos mais
importantes na Amazônia. Não se tratam apenas das estradas, elementos que
contribuíram para depredação dos recursos e da sociedade, mas sim, sobretudo, das
telecomunicações, porque a rede de telecomunicações na Amazônia permitiu
articulações locais/ nacionais, bem como locais/ globais. Outra mudança importante
é a da economia, que passou da exclusividade do extrativismo para a
industrialização, com a exploração mineral e com a Zona Franca de Manaus, que foi
um posto avançado geopolítico colocado pelo Estado na fronteira norte, em pleno
ambiente extrativista tradicional. Há problemas na Zona Franca, mas hoje ela é
grande produtora não só de bens de consumo duráveis, como da indústria de duas
rodas, de telefonia e mesmo de biotecnologia (BECKER, 2005, p. 73).
De acordo com dados coletados do Informe Mineral Regional, feito pelo
Departamento Nacional de Produção Mineral do Pará (DNPM/PA) divulgado em 2007, a
região amazônica pode ser considerada hoje como a maior fronteira mineral brasileira. As
16
reservas descobertas até o presente são dos mais diferentes tipos e estão distribuídas entre
todos os estados da região, dentre estas é possível destacar as reservas de minério de ferro,
bauxita, manganês, cobre, entre outros, além de caulim, calcário de uso na indústria
cimenteira e de corretivo de solo e dos agregados utilizados na construção civil (areia, argila,
cascalho e brita) (DNPM/PA, 2007).
Ainda segundo o DNPM/PA (2007), em 2006 a região Norte foi responsável pelo
depósito de R$ 141,3 milhões de um total de R$ 465 milhões de Compensação Financeira
pela Exploração de Recursos Minerais, representando aproximadamente 30,4% do total
arrecadado pelo país, sendo a segunda maior arrecadação por região, perdendo apenas para a
região sudeste que recolheu R$ 267 milhões, o que representou 57% do total.
É inquestionável a importância que a Amazônia tem para a economia brasileira, não só
no cenário mineral como também para o setor energético, neste sentido Souza & Jacobi
(2010) explicam que além da indústria mineral a Amazônia também possui um importante
papel no cenário energético nacional, do total esperado para a geração de energia nos
próximos 20 anos, a bacia do Rio Amazonas deverá produzir 77% do planejado para ser
incorporado ao sistema elétrico, deste percentual 62% possui alguma restrição.
Hidrelétricas como a da Bacia do Xingu são um exemplo clássico da incoerência
existente entre o meio ambiente e o desenvolvimento do país. Segundo Fearnside (2006) a
proposta hidrelétrica de Belo Monte é particularmente controversa porque cinco represas
planejadas teriam impactos especialmente sérios rio acima de Belo Monte, estes incluem a
inundação de terras indígenas, destruição de floresta tropical e emissão de gases de efeito
estufa.
Outro setor Amazônico que contribui com a economia nacional é o setor da agricultura
familiar e a agroindústria. Grande parte da população rural é de agricultores com
estabelecimentos de pequeno e médio porte (agricultura familiar) com até 200 hectares. A
produção desses agricultores é destinada basicamente aos mercados locais, regionais,
nacionais e em poucos casos internacionais (HURTIENNE, 2005).
Hurtienne (2005) ainda afirma que esse segmento da agricultura sempre foi associado
à lavoura "migratória" de derruba e queima com pouca estabilidade territorial e diversidade
agrícola. Atualmente há a predominância de uma tendência de diversificação crescente dos
sistemas de produção agrário, incluindo formas variáveis de culturas duradouras, a criação de
pequenos animais, a extração vegetal e até mesmo a pecuária. Existe ainda a possibilidade de
crescimento da economia de subsistência por meio da integração a complexos agroindustriais.
17
A potencialidade econômica da região amazônica é sem dúvida evidente quando
relacionada à economia nacional, esta possui respeitável contribuição para o PIB, mas é
importante lembrar os encargos ambientais que esta economia causa a região, pois a
exploração desenfreada dos recursos naturais está diretamente ligada a ela.
2.2 AS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO COMO ESTRATÉGIA DE ORDENAMENTO
TERRITORIAL
A criação de áreas protegidas ou regimes especiais de proteção para os recursos
naturais é uma prática antiga da sociedade humana. No Brasil, essa questão é debatida desde
as primeiras etapas do processo de construção da sociedade “moderna” brasileira, a partir da
colonização portuguesa e que foi se fortalecendo década após década, à medida que a
dependência humana em relação aos recursos naturais foi ficando mais evidente (MEDEIROS
et al., 2006).
A institucionalização política e administrativa da questão ambiental, principalmente
aquelas relacionadas à proteção da natureza só se consolidou no Brasil no final do século XX,
com a estruturação de instrumentos protecionistas jurídico-legais e institucionais que
favoreceram a criação de áreas protegidas. Este progresso se deu por conta do fortalecimento
e o aparelhamento do Estado, a participação e a influência de diferentes segmentos da
sociedade civil e também o contexto internacional (PECCATIELLO, 2011).
A consolidação de um novo ideário de desenvolvimento político do Brasil foi
registrada com a promulgação da segunda constituição republicana brasileira de 1934. Nela,
apareceu pela primeira vez, o termo proteção da natureza como princípio básico para o qual
deviam concorrer o Governo Federal, Estados e municípios (MEDEIROS et al., 2006).
Em relação às políticas públicas voltadas para as questões ambientais, durante o
período da ditadura militar (1964-1984) foram criadas algumas agências setoriais, tais como o
Ministério das Minas e Energia (1961), Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica
(1965), Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (1965), entre outros, além da
Secretaria Especial de Meio ambiente (SEMA) em 1973 (PECCATIELLO, 2011).
Neste sentido, a proteção da natureza adquiriu uma forte conotação geopolítica no
Brasil, principalmente durante os 20 anos que o país esteve sob a ditadura militar. Durante
este período, a criação de áreas protegidas compôs o instrumento estratégico do governo para
as ações de expansão, integração e controle do território nacional (MEDEIROS et al., 2006).
18
É inquestionável que o ordenamento territorial feito por meio da criação de áreas
protegidas especialmente na Amazônia, foi parte de uma estratégia de governo para dominar
espaços da distante região e protegê-los contra possíveis invasões, além de o governo seguir
uma frente internacional de proteção dos recursos naturais, especialmente porque o Brasil já
era reconhecido como um dos maiores detentores de recursos florestais e ambientais do
mundo.
Porém uma questão que está inerente à discussão sobre Ordenamento Territorial e
Ambiental é o aspecto da criação e gestão de UC. Em linhas gerais, é possível dizer que o
conceito de território compreende desde as questões atreladas à sobrevivência, que podem
envolver as relações com o substrato material, até os processos de manutenção, expansão e
consolidação de espaços dominados, ou seja, as relações de poder (VALLEJO, 2002).
Com a redemocratização do país, a partir de 1985, originou-se uma nova fase de
expansão e reestruturação da questão ambiental no Brasil. Houve uma tendência clara de
“simplificação” da política com avanços evidenciados pela criação da Nova Constituição
Brasileira (1988) que possui um capítulo dirigido especialmente à temática ambiental. A
criação do Instituto Brasileiro de Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) em 1989, a criação
do Ministério do Meio Ambiente (MMA) em 1992 e a criação de um sistema integrado de
áreas protegidas em 2000 são provas desta nova fase (MEDEIROS et al., 2006).
O estabelecimento do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza
(SNUC), Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000, foi o grande marco do avanço da política
ambiental brasileira em relação às áreas protegidas, por meio dele é possível constatar que as
diversas categorias de UC e o processo de criação das mesmas refletiram múltiplos interesses
políticos, sociais, econômicos e ambientais, os quais, por sua vez, se manifestam até hoje em
desarticulação na gestão dessas áreas, comprometendo justamente a finalidade de proteção
das mesmas (PECCATIELLO, 2011).
O SNUC trouxe mudanças consideráveis na política de criação e gestão de UC, no
sentido de garantir a efetividade da participação da sociedade nesses processos. Essas
modificações introduzidas trouxeram a convicção de que a participação da sociedade é
indispensável para o sucesso em longo prazo, da estratégia de conservação baseada em UC. A
Lei obriga o Poder Público a consultar a sociedade antes de criar qualquer UC, devendo haver
atenção especial à população local (exceto no caso de Estação Ecológica ou Reserva
Biológica) (MMA, 2004).
Segundo Medeiros & Young (2011) as UC são áreas especialmente criadas pelo poder
público com a finalidade, entre outros objetivos, de proteger os recursos naturais relevantes.
19
Esta ferramenta é uma das formas mais eficientes que estão à disposição da sociedade para
atender a necessidade de preservação.
De acordo com o SNUC em seu Art. 2, inciso I as UC são entendidas como sendo:
Espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais com
características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com
objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração,
ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção (BRASIL, 2000, p.1).
As UC subdividem-se em dois grupos: Unidades de Proteção Integral, que têm como
principal função a preservação da natureza, admitindo apenas o uso indireto dos recursos
naturais, nesta modalidade de UC não é permitido a permanência de moradores dentro do
território integrante da unidade e as Unidades de Uso Sustentável, que têm como objetivo
conjugar a conservação do meio ambiente com formas de vida sustentáveis.
Estas unidades desempenham ainda, importantes funções e seus objetivos são
desfrutados por boa parte dos brasileiros, incluindo os setores econômicos. Um exemplo disso
está na qualidade e quantidade de água que estão nos reservatórios das usinas hidrelétricas,
estas em sua maioria estão asseguradas por UC. O turismo que potencializa a economia de
muitos municípios do Brasil só é possível pela proteção das paisagens naturais dada pela
presença de UC, além da contribuição dessas na mitigação da emissão de gases que causam o
efeito estufa. Esses exemplos constatam que áreas protegidas possuem uma importante função
para a proteção de alguns recursos estratégicos para o desenvolvimento do país (MEDEIROS
& YOUNG, 2011).
As FN integram o grupo de UC de Uso Sustentável, e segundo o SNUC os objetivos
específicos de manejo das FN são baseados e consideram os objetivos da própria lei:
Art. 4º - Contribuir para a manutenção da diversidade biológica e dos recursos
genéticos e para a preservação e restauração da diversidade e dos ecossistemas
naturais; proteger as espécies ameaçadas de extinção e as paisagens naturais;
promover o desenvolvimento sustentável a partir dos recursos naturais; incentivar a
pesquisa científica, estudos e monitoramento ambiental; promover a educação e
interpretação ambiental, a recreação em contato com a natureza e o turismo
ecológico; proteger os recursos naturais necessários à subsistência das unidades
familiares tradicionais, respeitando e valorizando seu conhecimento e sua cultura e
as promovendo social e economicamente (BRASIL, 2000, p. 3).
Além disso, as FN são unidades de direito e propriedade pública, onde é permitida a
permanência de populações tradicionais que já habitavam a unidade desde antes sua criação,
20
as atividades de pesquisa e visitação pública são permitidas, porém estas devem seguir
critérios e normas estabelecidos pelo órgão responsável por sua gestão (BRASIL, 2000).
Ainda segundo Brasil (2000) em seu Artigo nº 17, o objetivo principal das FN é o uso
múltiplo sustentável dos recursos florestais, onde é permitida a permanência de populações
tradicionais que a habitam quando de sua criação, porém esta permanência deve estar em
conformidade com o disposto no Plano de Manejo da unidade.
A criação das UC no Brasil foi (e ainda é) um importante instrumento de proteção dos
recursos naturais, porém a maioria das unidades criadas antes da instituição do SNUC não
consideraram as populações tradicionais durante o seu processo de concepção, isto ocasionou
também o estabelecimento de conflitos sociais e ambientais, ficando aos órgãos de gestão a
responsabilidade de geri-los.
O histórico de proteção dos recursos naturais no Brasil reflete uma dinâmica de
avanços e recuos, de perdas e ganhos, e se consolida num desafio sem precedentes para os
próximos anos (MEDEIROS et al., 2006).
2.3 AMAPÁ: BALANÇO HISTÓRICO DE OCUPAÇÃO E A CRIAÇÃO DAS ÁREAS
PROTEGIDAS
Segundo dados da Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia – SUDAM
(1990) a ocupação do que atualmente constitui o Estado do Amapá se deu por três fases, que
de diferentes formas contribuíram para os fluxos de migração para a região:
Inicialmente destaca-se a fase militar, com a tentativa de colonização com famílias
de pequenos agricultores nos arredores da Fortaleza de São José de Macapá. Esta
tentativa não surtiu os efeitos desejados. A segunda fase a ser considerada, foi
marcada pelo “boom” da borracha que acentuou o interesse genérico pela Amazônia.
Entretanto, como os seringais não eram abundantes na região do Amapá, esta fase
não causou grandes repercussões. A terceira fase foi determinante para a conjuntura
socioeconômica do Amapá. Correspondeu a fase de descoberta do grande potencial
mineral representado pelas jazidas de manganês na Serra do Navio e no rio Amapari.
Nesta fase dá-se a intervenção mais efetiva da União na área, com o objetivo de
desencadear o processo de desenvolvimento do território (SUDAM, 1990, p. 222).
Como parte integrante do programa de governo que tinha como principal objetivo
ocupar a região fronteiriça brasileira, foi criado através do Decreto nº 5.812 de 13 de setembro
de 1943 o Território Federal do Amapá (SUDAM, 1990; PORTO, 2007). Aliado a isso, surgiu
também a economia do território que até então possuía um típico perfil extrativista da
21
Amazônia, produzindo borracha, castanha-do-brasil (Bertholletia excelsa), toras de madeira,
ouro e criação em pequena escala de gado bovino (DRUMMOND & PEREIRA, 2007).
O programa inicial da administração do Território Federal do Amapá incluía a criação
de núcleos de povoamento com pequenos agricultores. Em 1949 deu-se início a implantação
da Colônia Agrícola do Matapi. No período de 1954 a 1956 o Governo do Território fundou
mais cinco núcleos coloniais também chamados de Colônias Agrícolas em Oiapoque, Vila
Velha do Cassiporé, Ferreira Gomes, Mazagão e Jarí (SUDAM, 1990).
Os novos surtos garimpeiros, a construção de estradas, portos e uma ferrovia, atraíram
contingentes populacionais de outros estados para o Amapá. Nesta época o território possuía
uma população de aproximadamente 24.500 pessoas, que estavam esparsamente distribuídas.
O fluxo de migração para o Estado ainda é muito diferente dos ocorridos nos outros estados
da região, o autor acredita que isto se deve pela falta de malha viária para ligar o Amapá com
o restante da Amazônia (DRUMMOND & PEREIRA, 2007).
Em relação ao processo de valorização industrial dos recursos minerais na Amazônia,
Porto (2007) indica que este também teve início na década de 1940, com a exploração das
reservas de minério de manganês da Serra do Navio. A exploração desta mina foi o marco
inicial da produção industrial e extrativa mineral na Amazônia, com a venda do minério
voltado ao mercado internacional, essa atividade foi a primeira executada na região após a
Segunda Guerra.
O Amapá também possuiu outro empreendimento de grande porte operando desta vez
na região sul do Estado. Chelala (2008) indica que o complexo industrial que foi idealizado
pelo norte-americano Daniel Ludwig estruturou-se nos limites dos estados do Amapá e Pará,
no final da década de 1960. O objetivo principal do empreendimento era a produção de
celulose com a substituição de aproximadamente 100 mil hectares de floresta nativa pelo
plantio de pinus (Pinus sp.), eucalipto (Eucalyptus sp.) e gmelina (Gmelina arbórea), o
projeto também visava a economia agropecuária (arroz e criação de gado), além da extração
de caulim e bauxita. O investimento total estimado para o projeto girou em torno de 750
milhões a 1 bilhão de dólares.
Atualmente a mineração continua sendo uma das principais atividades econômicas do
Estado, entre os principais recursos produzidos estão o caulim, seguido de minério de cromo,
sendo o Amapá o único produtor dessa substância na região. A produção de ouro em 2006 foi
de 6 mil quilos, o que correspondeu 45% do total produzido na Amazônia. Outras produções
minerais produzidas no estado foram areia, argilas comuns, além de rochas britadas e cascalho
(DNPM/PA, 2007).
22
Assim como o restante da Amazônia, o Amapá reproduz uma economia onde a
exploração dos recursos naturais é uma das bases para a geração de renda no Estado. Porém
contrapondo a corrente de exploração o Amapá possui a denominação de Estado brasileiro
com mais áreas protegidas, possuindo em torno de 50% de sua área territorial protegida por
UC.
Uma das características mais interessantes quando se analisa os potenciais
desenvolvimentistas do Amapá sob o ponto de vista da conservação ambiental, é que boa
parte de seu território é composto de áreas protegidas (DRUMMOND et al., 2008).
O Amapá, por manter uma parte significativa de seu território não antropizada, em
especial as florestas nativas, revelou-se como um estado propício para este movimento de
crescimento de áreas de uso restrito, tanto que a maioria das UC federais do Amapá foram
criadas a partir de 1980 (CHELALA, 2008).
Se forem somadas as cifras referentes a todas as terras indígenas (1.142.471 ha) e as
cifras referentes às UC (6.757.049,80 ha), chega-se a um total de 7.889.520,80 de hectares de
terras amapaenses instituídas para usos sustentáveis ou apenas para usos indiretos (proteção
integral). Isto corresponde a 55,06% da área total do Amapá. Desta forma, o Amapá se
destaca nas políticas ambientais brasileiras de unidades de conservação (DRUMMOND et al.,
2008).
Drummond et al. (2008) ainda afirmam que a FN do Amapá, por exemplo, foi
instituída para ser uma unidade de produção sustentada de bens florestais madeireiros, ainda
que até hoje no Brasil, das FN existentes pouquíssimas foram, de fato, usadas
sistematicamente para este fim.
Frente ao exposto é possível notar que o Amapá também passou pelas mesmas
mudanças econômicas ocorridas nos outros Estados da região Amazônica, passando por
importantes alterações em seu território, o mais evidente deles se deu por meio da criação de
áreas protegidas.
2.4 CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO
Ferreira et al. (2001) demonstra que as populações que vivem em florestas, como
caiçaras, indígenas, caipiras e caboclos ainda apresentam uma economia bastante dependente
da floresta, dos mangues, restingas e outros ecossistemas. Todavia, segundo Theodoro et al.
(2004) as UC propostas no Brasil até o século XX não consideraram o padrão de política de
23
conservação adotado, seja no âmbito federal ou estadual. Elas foram resultado de um processo
arbitrário de tomada de decisões, onde havia suposições de que a conservação de
remanescentes florestais não seria um direito reivindicado pelas coletividades que viviam nos
limites territoriais dessas áreas.
A inexistência de uma estratégia clara de integração das UC às questões locais e
globais ligadas aos principais acordos internacionais feitos nos anos de 1980 e 1990 gerou e
ainda gera, conflitos em diferentes localidades, consequentes, principalmente da criação e
implementação de áreas protegidas feitas de forma autoritária e pouco negociada com os
diferentes segmentos envolvidos (MEDEIROS et al., 2006).
As propostas de conservação estabelecidas em gabinetes fechados, muitas delas
discutidas e referendadas em eventos no exterior, acabaram sendo altamente politizadas e
mobilizaram diversos atores de diferentes áreas do conhecimento; outros tiveram que rever
suas posições e conceitos, entre estes, principalmente os moradores das UC, que em sua
maioria não tiveram nenhuma participação importante no processo de discussão, foram
repentina e inusitadamente lançados a uma situação de ouvintes (THEODORO et al., 2004).
Os conflitos e problemas ambientais gerados por esta forma de criação de UC se
estabeleceram em sua grande maioria, em função da discordância de Políticas Públicas, o que
resulta, frequentemente, no direcionamento do uso do mesmo espaço geográfico e apropriação
da terra de diferentes maneiras (cultivo, extrativismo, caça, exploração da madeira,
implantação de assentamentos, exploração mineral, entre outros), estas por sua vez,
contrariam frequentemente o estatuto de proteção da área em questão (MEDEIROS et al.,
2006).
Para o melhor entendimento do que é conflito e do que é problema ambiental Carvalho
& Scotto (1995 apud QUINTAS, 2002) explicam que problema ambiental é exemplificado
por aquelas situações onde há o risco e/ou dano social/ambiental e onde não há nenhum tipo
de reação dos atingidos ou de outros atores da sociedade civil para a resolução do problema,
enquanto que conflito ambiental é caracterizado por aquelas situações onde há o confronto de
interesses representados por diferentes atores sociais, seja em torno da utilização ou da gestão
dos recursos ambientais. Neste sentindo pode-se afirmar que muitos conflitos ambientais
envolvem um problema ambiental, porém nem todo problema ambiental envolve um conflito.
O desafio enfrentado pelo Poder Público ainda é o de definir instrumentos
institucionais adequados à gestão de UC, pois cada região do Brasil possui um perfil
socioambiental diferente e a proposta criada com o SNUC é a de criar áreas legalmente
protegidas sem que isso signifique abdicar do bem estar dos povos que nelas vivem. É nesse
24
contexto que a ação cotidiana dos órgãos de gestão colocou seus agentes em uma situação
social de confronto com os moradores dessas áreas que estão sobre proteção legal
(THEODORO et al., 2004).
Infelizmente muitas UC foram criadas sem qualquer consulta às comunidades do
entorno e interior das áreas transformadas em espaços protegidos. Quando houve a efetivação
de gestão nessas unidades, os órgãos responsáveis por cumprir as leis ambientais existentes se
fizeram presentes em lugares onde não havia estrutura alguma de governo, isto acabou
gerando mudança no cotidiano desses moradores, o que também criou conflitos pelo fato de o
acesso aos recursos ambientais passarem a ser controlados nesses locais.
Dentro do contexto de confronto ou conflito social em UC, Quintas (2002) sugere que:
Na área ambiental, a ideia de conflito está associada ao controle de recursos que hoje
sabe-se que são limitados e não podem ser utilizados indiscriminadamente. Quando
se analisam conflitos sociais e políticos, deve considerar que eles são inerentes à
própria existência do meio social. Não se tem notícia de sociedade sem conflitos e
por este motivo não se pode acabar com conflitos no meio social, “o processo ou
tentativa mais frequente é de proceder à regulamentação dos conflitos, isto é, à
formulação de regras aceitas pelos participantes, que estabelecem determinados
limites aos conflitos” (QUINTAS, 2002, p. 25).
É importante que haja a participação da sociedade tanto na criação quanto na gestão de
UC, a gestão integrada é hoje um suporte teórico e prático para aqueles que acreditam ser a
participação uma solução viável para a gestão de conflitos e a alternativa mais justa e
democrática nos processos de conservação de aspectos naturais ou socioculturais
(DRUMOND et al, 2009).
Em alguns casos, é preciso que aconteça uma situação de conflito explícito na
sociedade civil, entre atores que defendem interesses coletivos e atores que representem
interesses privados, para que o Poder Público compreenda que há a existência de um dano
e/ou risco ao meio ambiente e assim comece a tomar providências cabíveis (QUINTAS,
2002).
O problema é que em muitos casos há a demora na tomada de decisões por parte do
poder público, resultando em casos extremos e inaceitáveis de embate entre os atores
envolvidos, havendo ameaças, agressões e em situações mais graves até homicídios.
Uma das soluções mais eficientes para a minimização dos conflitos é envolver os
atores locais nas ações de gestão da UC, a participação social tem se mostrado um recurso
eficaz para o controle de conflitos socioambientais.
25
A participação social para a gestão de áreas protegidas envolve questões amplas,
complexas e ambíguas; neste movimento, um dos grandes desafios é o “fazer coletivo”, onde
a afirmação do processo participativo como um novo paradigma nas práticas modernas de
gestão de UC deve entender que a participação social pode ser a garantia ética de
sustentabilidade dos projetos de conservação dos recursos renováveis e/ou de
desenvolvimento local (IRVING, 2003).
As políticas públicas voltadas para a participação social na gestão ambiental têm sido
uma poderosa ferramenta de transformação da sociedade, uma vez que provoca o debate sobre
as limitações, os deveres e direitos que os cidadãos têm em relação ao meio ambiente. Esta,
entre outras razões, pode constituir um novo paradigma, que em seu tempo, implicará um
diferente padrão de relacionamento dos seres humanos com a natureza (THEODORO, 2005).
É imprescindível que haja o envolvimento, quando possível, dos diferentes atores
envolvidos no conflito socioambiental, a mitigação de conflitos tem de ser feita de forma
gradativa e com cuidado para que não haja o agravamento do mesmo. É evidente que o
caminho a ser seguido ainda é longo e árduo, e mesmo que nunca haja o total fim do conflito,
este pode gerar novas realidades de gestão e manejo dos recursos naturais. Desta maneira a
gestão de conflitos socioambientais se mostra uma importante ferramenta na busca por formas
de vida mais sustentáveis.
3 METODOLOGIA DA PESQUISA
3.1 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
A FN do Amapá foi a primeira UC de Uso Sustentável criada no Estado do Amapá.
Localizada na região central do Estado, a unidade tem uma área de aproximadamente 459.800
hectares, sendo a 5ª maior do Amapá (Figura 1). Está localizada em terras dos municípios de
Amapá, Ferreira Gomes e Pracuúba e está distante 47 km do município de Porto Grande por
via fluvial pelo Rio Araguari (SIMONIAN, 2010).
De acordo com o Decreto nº 97.630, de 10 de abril de 1989 que criou na FN do
Amapá, o principal objetivo da UC é promover o uso múltiplo dos recursos naturais de forma
a permitir a geração permanente de bens e serviços passíveis de serem oferecidos pela UC.
Ainda segundo o seu Decreto de criação, Art. 1 Parágrafo único:
26
A área de que trata este artigo tem seu perímetro definido no lado leste, partindo-se
da cabeceira do rio Falsino até sua confluência com o rio Araguari, limite sul, segue
por este rio até sua confluência com o rio Mutum, limite oeste, segue por este rio até
sua cabeceira, e o limite norte definido por uma linha seca de latitude norte 1°51'42"
até a cabeceira do rio Falsino, ponto inicial da descrição deste perímetro (BRASIL,
1989).
A região conhecida como Alto e Médio Rio Araguari está situada rio acima do
município de Porto Grande, na porção inicial da calha do Rio Araguari que nasce dentro do
Parque Nacional (PARNA) Montanhas do Tumucumaque, na figura 1 esta região é
compreendida pela linha vermelha no mapa.
Figura 1 – Localização da região do Alto e Médio Rio Araguari
Fonte: Dados da pesquisa/2014
É caracterizada por um relevo movimentado, com morros, colinas e encostas que
integram as bordas do chamado Escudo das Guianas, além de platôs remanescentes. Os solos
predominantes são o latossolo amarelo e o latossolo vermelho-amarelo. Possui uma floresta
densa de terra firme, constituída na forma de grandes maciços florestais, que recobrem áreas
extensas e fortemente colinosas. Em aspectos estruturais, constitui-se por formações
luxuriantes, densas, com árvores altas e emergentes e ricas em espécies de valor comercial.
Em aspectos fisiológicos, é apresentada por duas tipologias: floresta densa dos baixos platôs e
floresta densa sub-montana (DRUMMOND et al., 2008).
Drummond et al. (2008) ainda completam dizendo que em relação às espécies de
animais encontrados na FN do Amapá, cinco aparecem na lista oficial de espécies ameaçadas
27
de extinção, são elas: ariranha (Pteronura brasiliensis), tamanduá-bandeira (Myrmecophaga
tridactyla), tatu-canastra (Priodontes maximus), onça-pintada (Panthera onca) e uma espécie
de gato do mato (Leopardus sp.). Para a área também são conhecidos mamíferos de grande
porte como a anta (Tapirus terrestris), o queixada (Pecari tajacu), entre outros, há também
uma alta diversidade de primatas, tais como: macaco-aranha (Ateles paniscus), guariba
(Alouata macconnelli), macaco-prego (Cebus apella), entre outros. Além de duas espécies
raras de primatas: o macaco-voador (Pitheccia pithecia) e o cuxiu (Chiropotes sagulatus).
O clima segue o padrão existente na Bacia do Rio Araguari. Sistemas de grande escala
como a Zona de Instabilidade e a Zona de Convergência Intertropical são predominantemente
atuantes. Estes eventos condicionados aos eventos de El Niño e La Niña influenciam nas
chuvas que ocorrem na região e no Estado do Amapá como um todo, consequentemente
atuam na abundância de água que é disponibilizada para as bacias hidrográficas (OLIVEIRA
et al., 2010).
Na região onde a FN está inserida existem duas outras UC que compreendem grande
parte do seu entorno: o PARNA Montanhas do Tumucumaque (localizado na porção noroeste
da FN) e a Floresta Estadual do Amapá (FLOTA), além de projetos de assentamento (PA) do
INCRA (ICMBIO, 2014).
A FN possui áreas com ocupação humana dentro dos seus limites. Estas estão
concentradas na parte Sul, nos rios Araguari e Falsino e são ocupações típicas de ribeirinhos
que desenvolvem atividades características de subsistência tais como agricultura de coivara,
pesca e caça. Alguns produzem farinha de mandioca para comércio em Porto Grande e
comunidades próximas (SIMONIAN, 2010).
As comunidades do entorno da UC que estão espalhadas por toda a extensão sul
limítrofe da FN, sendo estas: a da FLOTA e do Projeto de Assentamento (PA) Manoel
Jacinto, elas e possuem ligação direta com a unidade e fazem parte da maioria dos programas
que são desenvolvidos pelas entidades parceiras da FN e pela própria gestão da UC.
3.2 MÉTODOS DE PESQUISA E COLETA DE DADOS
A presente pesquisa contou com o apoio do ICMBio e da Organização Não
Governamental (ONG) Conservação Internacional do Brasil (CI-Brasil) para as atividades de
campo. Estas instituições ofereceram a logística e suporte técnico necessários para a pesquisa
nas unidades familiares do interior e entorno da FN do Amapá, através de projetos que
28
incentivam práticas agroecológicas na região, como parte integrante do Programa de Apoio à
Implementação da Floresta Nacional do Amapá (PAIFA).
O estudo foi feito no interior e entorno da FN do Amapá, nas regiões que
compreendem as localidades de Porto Grande, Assentamento Manoel Jacinto, FLOTA e FN
do Amapá. As viagens a campo para execução das entrevistas ocorreram em dois períodos, no
primeiro deles que ocorreu entre os dias 25 de maio e 01 de junho de 2013 onde houve o
mapeamento de todas as ocupações ribeirinhas no percurso Porto Grande/FN do Amapá.
Durante o mapeamento foram identificados 97 pontos com casas na beira do rio, sendo
observadas algumas casas abandonadas; que não possuíam pessoas no momento do
mapeamento; e residências que não sofriam influência das normas de gestão e dos programas
realizados pela UC.
Neste primeiro período foram coletados dados iniciais em 21 unidades familiares, e no
segundo período de coletas que ocorreu entre os dias 17 a 19 de junho de 2013 foram feitas
entrevistas em mais 10 unidades familiares, totalizando 31 unidades entrevistadas. A figura 2
a seguir demonstra onde estão localizados os pontos mapeados e as residências entrevistadas.
Figura 2 - Locações ribeirinhas mapeadas no percurso Porto Grande/FN do Amapá e unidades
entrevistadas
Fonte: Dados da pesquisa/2014
29
Para a caracterização do perfil dos moradores, houve a utilização de alguns temas do
Formulário de Pesquisa de Campo 1 na FN do Amapá (ANEXO A), a fim de avaliar a
percepção ambiental, social e econômica da população ribeirinha da FN do Amapá e seu
entorno (FLOTA e PA Manoel Jacinto), os itens considerados foram: 1.3 (Naturalidade), 1.6
(Quanto tempo mora neste local?), 1.7 (Ocupação principal?), 1.11 (Experiência profissional
anterior), 1.12 (Classificação), 2.2 (Organização Social), 2.3 (Acesso à Educação), 4.6
(Classificação das moradias), 4.7 (Tipo de Construção da Habitação), 5. (Caracterização da
renda familiar), 7.4 (Quais atividades que exerce sofreram mudanças?).
Os formulários foram aplicados nas residências localizadas mais próximas à FN do
Amapá e que fazem parte do público alvo das ações de planejamento e gestão da unidade e do
PAIFA.
Após a tabulação das questões mais relevantes obtidas através dos formulários foi
possível construir gráficos no Excel para a melhor análise dos dados coletados.
Além da aplicação dos Formulários de Pesquisa que possibilitaram o emprego de
perguntas fechadas e diretas, também foram feitas entrevistas semiestruturadas para traçar o
histórico do processo de ocupação da região e identificar as principais mudanças na forma de
organização e produção dos moradores.
Segundo Verdejo (2003) as entrevistas semiestruturadas são guiadas por 10 a 15
perguntas-chave pré-determinadas. A ferramenta facilita criação de um ambiente aberto ao
diálogo e permite à pessoa entrevistada se expressar de forma livre e sem as limitações que
seriam criadas por um questionário. A entrevista semiestruturada pode ser realizada com
pessoas chave ou com grupos.
Estas entrevistas são executadas de forma aberta e informal, são conversas, onde é
possível discutir questões específicas sobre o uso de recursos naturais além de outros fatos
que sejam considerados relevantes para o estudo. A maior parte dos questionamentos surge
durante a entrevista, de acordo com as respostas dadas pelo informante. São inúmeras as
informações que podem ser obtidas e quando intercaladas com outras ferramentas as
entrevistas semiestruturadas podem ser úteis para o aprofundamento de questões importantes
do estudo pretendido (DRUMOND et al., 2009).
As entrevistas semiestruturadas foram feitas com os moradores residentes há mais de
10 anos na região do Alto e Médio Rio Araguari, os entrevistados eram preferencialmente o
1O Formulário de Pesquisa de Campo compõe uma pesquisa maior que está sendo coordenada pela CI-Brasil em
parceria com o ICMBio, que teve por objetivo fazer um Diagnóstico Rural Participativo para a promoção de
atividades agroecológicas na região do Alto e Médio rio Araguari.
30
casal da locação ribeirinha, esses moradores foram escolhidos após a aplicação do Formulário
de Pesquisa de Campo, o registro foi feito em vídeo, e só aconteceu após a aprovação dos
entrevistados.
Além dos moradores também foram feitas entrevistas semiestruturadas em áudio com
os dois analistas ambientais do ICMBio responsáveis pela gestão da FN do Amapá a fim de
ter maiores informações sobre os conflitos socioambientais existentes na UC e as estratégias
adotadas pela gestão para minimização dos mesmos.
Os vídeos foram utilizados exclusivamente para a coleta de dados desta pesquisa, não
havendo, portanto, a divulgação das imagens para outros fins. As informações coletadas nos
vídeos e nos áudios foram transcritas e analisadas antes de serem inseridas nesta pesquisa.
Os mapas foram elaborados pelo programa ArcGis 10, que é um software de análise
geoestatística que possibilita a criação de mapas. Este programa serviu para demonstrar a
região compreendida como Alto e Médio rio Araguari e para mostrar onde a coleta de dados
da pesquisa foi realizada.
4 APRESENTAÇÃO DOS DADOS E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
4.1 PROCESSO HISTÓRICO ECONÔMICO DA REGIÃO
Conflitos socioambientais são comuns em UC de todo o Brasil. Um estudo feito em
unidades de conservação do Vale do Ribeira e Litoral Sul do Estado de São Paulo,
demonstrou que nesta região os impactos advindos da criação de espaços protegidos foram
gerados durante o processo de institucionalização destes. A ação truculenta da Polícia
Florestal prejudicou a aceitação desses espaços pela população local. Os moradores foram
pegos de surpresa, pois não tinham qualquer conhecimento sobre a nova situação legal de suas
antigas posses e sobre as novas normas restritivas ao uso dos recursos, estes acabaram
abandonando as áreas em que moravam. Esses grupos que se encontravam à margem das
políticas públicas e do mercado, e viviam como pequenos agricultores familiares, pescadores
ligados à pesca em pequena escala, extratores de recursos vegetais e animais, experimentaram
no cotidiano a imposição de uma situação de total suspensão de direitos (FERREIRA, 2001).
Ferreira (2001) ainda afirma que o impacto desta etapa deixou marcas suficientes para
gerar uma onda de revolta e perplexidade naqueles sujeitos. Essas marcas refletiram-se em
31
forte desconfiança nos agentes institucionais, porém este estado de conflito inicial foi
substituído por uma opção pela negociação e colaboração de ambas as partes.
Brito (2008) descreve que não se pode afirmar que os que os conflitos na gestão
ambiental e, principalmente, no gerenciamento das UC, são totalmente negativos, pois estas
relações conflituosas surgem de diversas formas, e dão origem as negociações e a busca por
mecanismos para a regulação da gestão destas áreas. As UC podem ser consideradas como um
laboratório para o estudo dos conflitos, pois, é um espaço com limites definidos, onde podem
ser observados e analisados diversos aspectos conflitantes, necessitando uma visão
interdisciplinar dos problemas.
Na região do Alto e Médio Rio Araguari no estado do Amapá diversas atividades no
passado movimentaram a sua economia. A extração do látex caracterizou-se como uma das
primeiras atividades realizadas, entretanto frente ao declínio do preço da borracha os
seringueiros foram forçados a modificar suas atividades. Alguns passaram a “mariscar”
(termo utilizado pelos moradores para a atividade de pesca), outros trabalharam na extração
da maçaranduba (Manilkara amazônica) e outros trabalharam como “gateiros” (termo
utilizado para designar os homens que caçavam felinos de médio de grande porte para a
comercialização de suas peles).
As mudanças ocorridas na realidade da população local se deram principalmente com
a criação de instrumentos legais como a Lei de caça (Lei nº 5.197, de 3 de janeiro de 1967)
que tornou crime o exercício profissional da caça e a comercialização de fauna silvestre e de
produtos oriundos de animais silvestres, e a Lei de Crimes ambientais (Lei nº 9.605, de 12 de
janeiro de 1998), a qual tornou crime a derrubada de madeira em floresta considerada de
preservação permanente sem a prévia permissão da autoridade competente, e ratificou a lei nº
5.197/1967, atribuindo penalidades mais rígidas aos crimes contra a fauna silvestre (BRASIL,
1967; BRASIL, 1998).
Segundo Medeiros et al. (2006) um fator importante para algumas mudanças ocorridas
no Brasil com a instituição de novos instrumentos legais, foi o fato de que o país passou por
diversas alterações políticas e sociais que modificaram o contexto das ações de proteção dos
recursos naturais, as principais delas ocorreram durante os 20 anos quando o Brasil viveu sob
a ditadura militar (1964-1984). Neste período, o governo atrelado a outros interesses internos
dos Estados subordinados a ele, criou uma forte conotação geopolítica para a proteção da
natureza.
32
Mesmo que os interesses do regime ditatorial fossem escusos à preservação do meio
ambiente, as políticas ambientais iniciadas neste período acabaram determinando o
fortalecimento da instrumentação legal brasileira em relação às questões ambientais.
Instituídas em momentos diferentes da história da região, essas leis foram
determinantes para o estabelecimento de novas atividades de geração de renda dos moradores
do Alto e Médio Rio Araguari, até então não havia uma presença intensa de pessoas na área
onde hoje existe a FN do Amapá. A maioria das atividades exercidas nestes períodos era
realizada especialmente por moradores do município de Porto Grande.
O histórico de ocupação dessa região se deu de forma lenta e gradual através de surtos
populacionais, o principal deles aconteceu durante a descoberta nos anos de 1970 de áreas
com potencialidade para o garimpo de ouro. Com a descoberta desses garimpos muitas
pessoas migraram para a região, alguns para trabalhar como garimpeiros, outros para lucrar
com a economia que o garimpo possibilitava.
Os moradores que não eram garimpeiros trabalhavam como agricultores, vendendo
toda a produção (legumes, frutas, verduras e principalmente a farinha de mandioca) para o
garimpo, cuja economia movimentou a realidade da região durante mais de 30 anos.
Somente com a criação da FN do Amapá em 1989 novas mudanças começaram a
acontecer. O garimpo, gerador de renda para toda aquela população, passou a fazer parte do
território da UC, porém continuou em plena atividade até o ano de 2008.
Apesar das áreas de garimpos serem mais antigas que a criação da UC, a ocorrência da
atividade de extração ilegal de minérios na FN e região de entorno só foi evidenciada no final
de 1993, quatro anos após a criação da unidade, quando houve a construção da sua base física
(ICMBIO, 2014).
Em 2003, o IBAMA realizou o cadastramento da população garimpeira que atuava na
região, houve a identificação dos garimpos ativos na época. Neste cadastramento foi
constatada a existência de sete garimpos em atividade, um deles situado no entorno da FN, na
região do igarapé do Josefi, e todos os outros no interior da unidade, na região do igarapé da
Capivara (Figura 3), os quais estavam instalados nos igarapés Boca do Braço, Tamanduá e Dá
o Jeito (ICMBIO, 2008).
33
Figura 3 - Imagem aérea da região do Garimpo da Capivara no interior da FN do Amapá
quando este ainda estava em atividade.
Fonte: ICMBio, 2008.
O relatório do ICMBio (2008) ainda aponta que os garimpeiros cadastrados estavam
fixados na área desde meados da década de 1970 e operavam sem nenhum tipo de licença
para realização de lavra na região.
Somente em 2008 quando aconteceu a transferência de gestão do IBAMA para o
ICMBio e houve o investimento de recursos da União para potencializar as atividades do
instituto, foi possível proceder o fechamento dos garimpos existentes na região do Igarapé da
Capivara. Foi a partir deste momento que a realidade da região mudou. Houve a saída em
massa de pessoas das áreas que ocupavam as margens do rio Araguari, principalmente
daquelas mais próximas ao garimpo, e os moradores que permaneceram não tinham mais uma
fonte de renda permanente.
Segundo a maioria dos moradores o fechamento do garimpo foi uma ação muito
negativa para a região, pois boa parte dessas pessoas não continuou morando de forma
permanente nas áreas ribeirinhas, as quais se transformaram em moradia secundária, pois se
mudaram para o município de Porto Grande. Os moradores que ficaram continuaram com as
atividades de agricultura, porém esta se tornou basicamente de subsistência.
Nesse mesmo período houve também a intensificação das operações de fiscalização
para coibir atividades de caça e pesca ilegal dentro da unidade. Os moradores não estavam
acostumados com a presença do Estado na área e foram levados a cumprir as leis ambientais
vigentes.
Theodoro (2005) explica que nas sociedades contemporâneas cresceu a importância de
uma modalidade particular de conflito – aquele que se dá em torno do meio ambiente. Entre
34
os principais problemas, destacam-se a finitude e a eventual escassez de alguns bens
(petróleo, água potável, peixes), a poluição do ar e da água, a contaminação por substâncias
tóxicas, a extinção de espécies e a redução de seus habitats, a perda ou esterilização de solos
agrícolas por conta de práticas predatórias, o desmatamento, o efeito estufa, as ameaças à
biodiversidade, entre outros, que somados possuem relação com quase todos os recursos
naturais.
Diversos autores (FERREIRA et al,, 2001; MARINHO, 2006; SIMON, 2003) têm
descrito como ocorrem os conflitos socioambientais em UC brasileiras: estão sempre
relacionados ao modo de utilização dos recursos naturais. Em geral há divergências entre o
posicionamento dos gestores das unidades e a população (CREADO, 2008; ALENCAR,
2004; GOMES et al., 2004; NASCIMENTO & BURSZTYN, 2010).
Na FN do Amapá o conflito típico existente é aquele gerado pelo interesse diverso em
relação ao uso do meio ambiente. O conflito ocorreu principalmente a partir do
estabelecimento de um órgão regulatório na região após um longo período de exploração dos
recursos naturais sem qualquer presença institucional no local.
4.2 CARACTERIZAÇÃO ATUAL DA POPULAÇÃO LOCAL
Por meio do Formulário de Pesquisa de Campo foi possível identificar que a maioria
dos moradores são do Estado do Amapá (cerca de 53%), seguidos de moradores vindos do
Estado do Pará, Maranhão e Rio Grande do Norte, 35%, 6% e 3% respectivamente. 77% dos
entrevistados moram há pelo menos 20 anos na região, mas há casos de moradores que vivem
há mais tempo no local, sendo 16% residindo entre 21 e 40 anos e 6% de 41 a 60 anos.
A principal atividade exercida pelos moradores é a agricultura e/ou pesca (94%),
havendo também os casos de pessoas que trabalham como barqueiros e caseiros, 3% cada. No
caso dos agricultores poucos vendem a produção, a maioria planta para o próprio consumo,
sendo a farinha de mandioca o único produto que normalmente é comercializado por alguns
moradores. A principal finalidade da pesca também é a subsistência.
Quando perguntados sobre a atividade anteriormente exercida (Figura 4) os
entrevistados responderam o seguinte: trabalhavam como garimpeiros (32%), comerciantes
(16%), autônomos (10%) e empregados rurais (10%). Curiosamente 32% dos entrevistados
não responderam essa pergunta, portanto o número de atividades exercidas por estes
moradores pode ser maior.
35
Figura 4 - Experiência profissional anteriormente exercida pelos moradores.
Fonte: Elaboração da autora/2014
Uma parcela de 68% dos entrevistados participa de alguma modalidade de
Organização Social, contra 32% que afirmaram não participar de nenhuma. Uma das
organizações sociais com mais associados na região é a Colônia de Pescadores Z-16. No local
existe também a Associação de Moradores Agroextrativistas do Alto e Médio Araguari (BOM
SUCESSO) que ainda está em fase de implantação, esta foi criada em 2013 com o apoio do
ICMBio, CI-Brasil e outros parceiros.
As ações executadas pelo PAIFA têm como público alvo os associados da BOM
SUCESSO, pois estes são em geral moradores da região do Alto e Médio Rio Araguari,
enquanto que a Colônia Z-16 possui membros com residência fixa em Porto Grande.
Atualmente existe um acordo entre a gestão da FN e a Colônia de Pescadores Z-16 de
Porto Grande, permitindo aos pescadores associados exercerem a atividade de pesca no Rio
Araguari dentro da FN do Amapá. Para tal, os pescadores devem se apresentar na base de
campo da UC portando a carteira da colônia antes e ao final da pescaria, sendo expressamente
proibidas a pesca no rio Falsino ou a pesca comercial por não associados da colônia de
pescadores Z-16.
Quando perguntados sobre as formas de acesso à escola, 42% dos entrevistados
responderam que este acesso é difícil, apenas 10% responderam fácil acesso e o restante
(48%) não respondeu à pergunta, pois não possuíam crianças em idade escolar na unidade
familiar. Na região existe apenas uma escola em funcionamento, e esta possui turmas até o
quinto ano (antiga quarta série) do ensino fundamental, para dar continuidade aos estudos as
crianças precisam se deslocar até o município de Porto Grande. Infelizmente como a situação
10% 10%
16%
32% 32%
Autônomo Empregado
Rural
Comerciante Garimpeiro Não
responderam
36
de renda dos moradores em geral é baixa, uma parte das crianças para de estudar neste
período.
Em relação à principal origem de renda familiar, 45% recebem somente o seguro
defeso, 26% recebem somente aposentadoria e 13% recebem somente a Bolsa Família,
enquanto 16% recebem outra forma de renda. Estes dados demonstram a difícil situação de
vida dos moradores, constituída por fonte de renda baixa.
Um percentual de 81% dos moradores classificou a moradia ribeirinha no entorno da
FN como moradia principal, já para 19% dos entrevistados a residência ribeirinha é
secundária, pois possuem casa principal no município de Porto Grande ou em outros
municípios do Estado. As casas ribeirinhas são construídas principalmente com madeira
(84%) (Figura 5) e pequena parte com madeira e alvenaria (13%) ou apenas alvenaria (8%).
Figura 5 - Estrutura de uma das casas ribeirinhas do Alto e Médio Rio Araguari
Fonte: Elaboração da autora/2013
As casas em geral não possuem rede de esgoto, e nem banheiros, em 50% das
residências os banheiros são feitos sobre fossas negras, 27% utilizam o rio para a destinação
do esgoto sanitário, apenas 18% possuem fossa séptica e 5% disseram dar outro destino aos
detritos.
Não há a disponibilização de água tratada, a distância das residências não permite que
estas façam parte das redes de água e esgoto. Sendo assim, boa parte dos moradores utiliza a
água proveniente do rio Araguari e em alguns casos o tratamento dado à água é feito através
da dissolução de hipoclorito para que esta se torne própria ao consumo.
37
Os resultados obtidos por meio dos formulários permitiram identificar que os
moradores se classificam principalmente como ribeirinhos, agricultores familiares,
extrativistas e pescadores; no caso daqueles que moram no PA Manoel Jacinto também se
classificam como assentados rurais. Estes possuem uma forma de vida simples e têm uma
relação econômica intimamente ligada à utilização dos recursos naturais.
4.3 PRINCIPAIS ESTRATÉGIAS ADOTADAS PARA A MITIGAÇÃO DO CONFLITO
EXISTENTE
A partir das entrevistas semiestruturadas feitas com a equipe gestora da FN do Amapá
foi possível chegar aos seguintes resultados:
Para os analistas ambientais da FN a tendência é que ocorra a diminuição desses
conflitos. Com a proibição da atividade de garimpo iniciou-se um embate na região, pois
aquelas pessoas estavam há 30 anos praticando as mesmas formas de exploração da natureza e
foram obrigadas a mudar de atividade. Porém novos projetos estão sendo desenvolvidos com
a população, estes objetivam provocar uma visão mais participativa dos comunitários, pois se
estes estiverem mais envolvidos nas ações da unidade, esta poderá tornar o conflito um agente
modificador da realidade da região.
Quando ocorreu a real consolidação da unidade a nova gestão buscou trabalhar
somente o que fosse permitido para a área. Mesmo com todo o contexto de conflito gerado a
partir dessa consolidação atualmente os gestores da UC percebem a diminuição na lavratura
de autos de infração dentro da FN, em virtude da maior ocorrência de operações de
fiscalização, levando os moradores e os pescadores do entorno a respeitar mais as normas
aplicadas.
Para esses gestores o conflito com os moradores está mais controlado, havendo um
problema específico com apenas um morador, o qual ainda não aceita as normas
estabelecidas. Já houve por parte da equipe de gestão a tentativa de inserção deste em projetos
de geração de renda, mas todas acabaram fracassando, pois o morador continuou cometendo
infrações no interior da unidade. Os demais conflitos existentes estão ligados principalmente
àqueles que não moram na UC e nem em seu entorno, mas que utilizam a região para
atividades de pesca e caça ilegal. A ocorrência maior de infrações acontece com pessoas que
desconhecem as normas de gestão da unidade.
38
A fim de permitir a utilização racional dos recursos, uma das primeiras ações da
gestão foi a de realizar a elaboração do Plano de Manejo da FN, publicado no início de 2014.
No plano de manejo existem algumas atividades permitidas como alternativa de renda para os
moradores, entre elas estão: a instalação de práticas agroecológicas na região, o uso
sustentável dos recursos não madeireiros e o turismo.
Para o envolvimento efetivo dos moradores em projetos desenvolvidos pela unidade e
por seus parceiros, foi trabalhada em 2012 e 2013 a criação da associação BOM SUCESSO.
Com ela instituída será possível trabalhar com mais eficácia os projetos de iniciativa da UC,
além promover aos moradores a busca pela melhoria na qualidade de vida. A criação da
associação poderá facilitar o financiamento de ações por outras instituições que possuem
interesse em investir em iniciativas sustentáveis e a melhoria da qualidade de vida de
populações com baixa renda.
Theodoro (2005) demonstra que o processo de gestão ambiental deve compreender
que uma situação de conflito pode se converter em um momento ideal para o fortalecimento
da participação da sociedade, capacitando-a, quando necessário, ou viabilizando mecanismos
e métodos que possam intervir ativamente no manejo, na resolução ou mediação desses
conflitos, os quais a população interessada não teria capacidade de enfrentar sem o apoio
externo.
Neste sentido Ayres & Irving (2006) explicam que uma proposta de gestão
participativa para as áreas protegidas requer um investimento no ser humano e no grupo,
promovendo a descoberta do seu potencial, provocando atitudes e valores que favoreçam a
prática plena do seu papel como agente transformador e facilitador das relações interpessoais
na convivência social.
Sob essa perspectiva de manejo participativo os gestores da FN verificaram que
quando a gestão passou a apoiar e promover projetos incluindo os moradores, foi criada
também uma ferramenta de aproximação destes com a unidade. A partir dessas ações espera-
se haver o maior engajamento dos comunitários com as atividades permitidas na FN do
Amapá, além de transformá-los em agentes modificadores de suas realidades.
Mesmo com todo o histórico de exploração dos recursos naturais, atualmente os
moradores ribeirinhos do Alto e Médio Rio Araguari não vivem somente do extrativismo, as
principais atividades exercidas estão relacionadas com a agricultura de subsistência, por isso a
gestão também está incentivando o desenvolvimento dessas atividades, as quais em geral não
se contrapõem aos objetivos da UC. Através da implantação das práticas agroecológicas será
39
possível haver o uso racional dos recursos com a melhoria na qualidade da natureza e na
saúde da população local.
O incentivo ao manejo florestal comunitário principalmente relacionado aos recursos
não madeireiros está em fase de implantação na FN do Amapá, e contempla a cadeia
produtiva do Açaí (Euterpe oleracea), da Andiroba (Caraba guianensis Aubl.), do Breu
Branco (Protium heptaphyllum), e outras resinas que podem ser encontradas na região.
A gestão percebe ainda como atividade possível de ser realizada na UC o turismo
ecológico de base comunitária como uma boa alternativa de geração de renda para a
população local. A região possui esta potencialidade e atualmente ela não é exercida de forma
profissional, mas esse uso pode ser aperfeiçoado e potencializado para ser explorado de uma
melhor maneira.
Bellinassi et al. (2011) fazem uma ressalva a importância do retorno econômico
acarretado pelo ecoturismo, porque poderá possibilitar o subsídio financeiro à população e
justificar, por meio dos resultados de visitação, a alocação de verbas do Estado para a UC. O
ecoturismo implica na participação ativa da comunidade local, e consequentemente uma
gestão descentralizada da UC. Isso exige de um lado o empoderamento das comunidades
locais e de outro lado abertura dos gestores para um processo de gerenciamento
compartilhado e descentralizado.
Existe ainda um projeto sendo executado na unidade relacionado às boas práticas de
manejo e uso dos recursos pesqueiros, tendo em vista a importância da pesca para moradores
da FN e seu entorno, além dos pescadores associados à colônia Z-16.
As principais prioridades para a gestão da FN são a implementação do seu plano de
manejo dando continuidade às atividades de proteção da área, o funcionamento das ações que
possibilitem o uso sustentável dos recursos da unidade, a implementação da concessão
florestal na zona de manejo florestal empresarial, a utilização dos recursos não madeireiros e
madeireiros de forma comunitária e a implementação do turismo ecológico de base
comunitária.
Tais atividades objetivam ajudar a população local na melhoria de suas condições de
vida. A equipe gestora acredita que quando esses moradores começarem a perceber os
benefícios oriundos da UC modificarão o pensamento em relação a unidade ser um empecilho
e começarão a vê-la como algo necessário à sua sobrevivência
Para Layrargues (2009) a sustentabilidade ambiental depende do enfrentamento
simultâneo dos problemas ambientais derivados da pobreza e da riqueza. Em síntese a
desigualdade não se manifesta apenas em termos econômicos de distribuição de renda, as
40
políticas públicas voltadas para o enfrentamento dessa problemática também são um agente
transformador, quando se cria a mudança do pensamento e das atitudes de uma pessoa em
relação à forma como esta explora os recursos naturais, cria-se também a possibilidade de
haver ações de sustentabilidade.
Entretanto existem algumas dificuldades que impedem a realização desses projetos, a
principal delas diz respeito à falta de equipe técnica na unidade. São somente dois analistas
ambientais para executar todos os seus projetos e suas atividades, sendo necessário aumentar
o quadro técnico e funcional da UC. Além de recursos humanos, a FN do Amapá necessita de
recursos financeiros para a melhoria da gestão, pois há dificuldades na manutenção da
estrutura física básica a manutenção da própria unidade.
Bensusan (2006) indica que, em geral, existem duas grandes dificuldades na
implementação e na gestão de UC no Brasil: a de natureza financeira, que inclui sua efetiva
implantação após a criação, e a de natureza ecológica, que implica, entre outros aspectos, a
falta de conhecimento sobre a totalidade dos processos que geram e mantêm a biodiversidade.
Hoje o que se vê em muitas UC brasileiras é a total falta de mecanismos financeiros
que permitam o aparelhamento de sua gestão para executar os programas e atividades visando
a sua real consolidação. Um estudo feito com os gestores de UC no Estado do Mato Grosso
apontou como esta situação é refletida para outras regiões brasileiras, segundo este as maiores
dificuldades no processo administrativo de gestão de áreas protegidas estão relacionados à
ausência de recursos financeiros, número de funcionários insuficiente e falta de apoio
institucional e de infraestrutura. Foram elencadas ainda a situação fundiária e a falta de um
Conselho como dificuldades relevantes no processo administrativo (SANTOS & KRAWIEC,
2011).
Os analistas da FN apontam ainda a necessidade de aumento do quadro de técnicos
ambientais e do quadro funcional com a contratação de mais serviços gerais, barqueiros e
motoristas, além da aquisição de novas embarcações, motores e veículos, ou seja, haver uma
melhor estrutura institucional para que haja a melhor gestão da UC.
41
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo permitiu mostrar que os conflitos são parte integrante e indissolúvel de
qualquer sociedade, o mais correto no caso da existência de um conflito é proceder a criação
de alternativas que possibilitem sua mitigação.
Na FN do Amapá existe um conflito socioambiental definido, este é referente ao
acesso aos recursos naturais da unidade pela população da região que passou a ser regulado,
havendo também o aumento da presença institucional da gestão principalmente a partir de
2007 com início das atividades do ICMBio na UC.
A principal estratégia utilizada pela equipe gestora da unidade para possibilitar a
conciliação das relações com a população local está ocorrendo por meio da demonstração de
que a regulação do acesso não inviabiliza a economia dos moradores. Estão sendo executados
projetos que tem como principal objetivo a transformação da FN do Amapá em uma indutora
do desenvolvimento da região, através da promoção da qualidade de vida da população
situada no Alto e Médio Rio Araguari.
A região é carente de muitos recursos, a vida ribeirinha é repleta de dificuldades e na
maioria dos casos faltam serviços básicos para aquela população, ações de saúde não são
presentes na região, a estrutura de algumas casas chega a ser precária e a educação é
insipiente, ou seja, não é só a presença de uma UC que causa um impacto sobre a vida
daquelas pessoas e sim a inexistência de investimentos de Estado na região.
As capacitações realizadas com a população são recentes, estão ocorrendo há pelo
menos quatro anos, os avanços ainda são pequenos, porém espera-se que em médio prazo,
estes passem a representar uma mudança nos arranjos produtivos locais, promovendo novos
meios de geração de renda. A participação efetiva da população local nos programas
desenvolvidos pela unidade e por seus parceiros é primordial para a diminuição dos conflitos
existentes.
Assim, a questão estudada por esta pesquisa demonstra como ocorre a disparidade
entre a criação de UC e a sua real efetivação, parece simples criar uma área protegida quando
não se sabe como é a realidade da região onde esta será inserida, em muitos casos quando
foram criadas UC, foram criados também os conflitos socioambientais e as políticas
administrativas voltadas para a gestão dos conflitos e a estrutura humana e material ficaram a
cargo apenas dos órgãos responsáveis por sua gestão.
42
Vale ressaltar que a proposição de políticas públicas não deve ocorrer com
autoritarismo, o planejamento participativo das ações é necessário para haver a construção de
acordos que possibilitem a mudança na realidade social da população, se isto for de fato
colocado em prática e houver a efetiva participação dos moradores, poderá haver também a
promoção da sustentabilidade socioambiental da FN do Amapá e da região do Alto e Médio
Rio Araguari.
43
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FORMULÁRIO DE PESQUISA DE CAMPO DA FLONA DO AMAPÁ - 2013
DADOS DA FICHA
N° do Formulário: Município:
Localidade: Entrevistador (a):
Data da entrevista:
1. IDENTIFICAÇÃO DO TITULAR DA FAMÍLIA
1.1. Nome do Entrevistado e Apelido (a): 1.2. Sexo ( ) 1. F ( ) 2. M
1.3. Naturalidade: 1.4. Data de nascimento:
1.5. Quanto tempo mora neste local? 1.6. Ocupação principal?
1.7. Religião: ( ) 1. Católico ( ) 2. Evangélico ( ) 3. Outro: 1.8. Possui Filhos? ( ) Sim ( ) Não Quantos?
_________ Homem ( ) Mulher ( )
1.9. Estado Civil: ( ) 1. Casado ( ) 2. Solteiro ( ) 3. Separado Judicialmente ( ) 4. Viúvo ( ) 5. Divorciado ( ) 6. União Estável
1.10. Experiência Profissional (anterior): ( ) 1. Agricultor/Pecuarista ( ) 2. Autônomo ( ) 3. Empregado Rural ( ) 4. Comerciante ( ) 5. ( )
Garimpeiro ( ) 6. Outro:
1.11. Classificação: ( ) 1. Quilombola ( ) 2. Indígena ( ) 3. Ribeirinho ( ) 4. Agricultor Familiar Tradicional ( ) 5. Assentado ( ) 6. Extrativista ( )
7. Pescador ( ) 8. Outro:
ANEXO A – FORMULÁRIO DE PESQUISA DE CAMPO
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2. CARACTERIZAÇÃO SOCIOCULTURAL
2.1. Composição Familiar (incluindo agregados, se houver)
Nº Nome CPF Grau Escolaridade Completo Sexo Idade Trabalha Com o quê? Como contribui na
propriedade?
1 ENTREVISTADO
2
3
4
2.1.2. Tem familiar que mora fora da propriedade e que contribui com a família? Como contribui?
CÓDIGOS
Grau de Parentesco Escolaridade Completo Sexo Trabalha
1. filho 4. genro/nora 1. ed. infantil 4. ens. superior 1. sim 1. F 1. sim, na propriedade
2. neto 5. outros 2. ens. fundamental 5. sem escalridade 2. não 2. M 2. sim, fora
3. pai/mãe
3. ens. médio 6. analfabeto
3. não
2.2. Organização Social
Participa? ( ) 1. Sim ( ) 2. Não Nome da Organização Social:
Quantos Integrantes? Contribuem com mensalidade (R$)?
Atividades culturais: ( ) 1. igreja ( ) 2. festividade ( ) 3. outro:
51
2.3. Acesso à Educação
Como é o acesso das famílias à escola? ( ) 1. difícil ( ) 2. fácil ( ) 3. Outro: Justifique:
Tipo de escola? ( ) 1. comunitária ( ) 2. estadual ( ) 3. federal ( ) 4. municipal ( ) 5. privada ( ) 6. Outro:
Cursos e Oficinas realizados no último ano? ( ) 1. boas práticas de açaí ( ) 2. pesca ( ) 3. associativismo e cooperativismo ( ) 4. Legislação
ambiental () 5. DRP ( ) 6. outro
3. CARACTERIZAÇÃO PROPRIEDADE
3.1. Nome da propriedade: 3.2. ( ) 1. titulada ( ) 2. não titulada
3.3. Tamanho da propriedade (ha): 3.4. Área cultivada (ha):
3.5. Outras benfeitorias existentes no imóvel: ( ) 1. Casa de Farinha ( ) 2. Viveiro ( ) 3. Galinheiro ( ) 4. Horta ( ) 5. Meliponário ( ) 6. outro:
3.6. Classificação das moradias? ( ) 1. principal; onde: ( ) 2. secundária; onde: Outras:
3.7. Tipo de Construção da Habitação: ( ) 1. madeira ( ) 2. alvenaria ( ) 3. mista ( ) 4. palha ( ) 5. taipa ( ) 6. outro:
3.8. Tipo de cobertura? ( ) 1. laje de concreto ( ) 2. telha de barro ( ) 3. brasilit ( ) 4. palha ( ) 5. cavaco ( ) 6. outro:
3.9. Tipo de piso? ( ) 1. madeira ( ) 2. cerâmica ( ) 3. cimento ( ) 4. terra batida ( ) 5. mista ( ) 6. outro:
3.10. Total de cômodos? ( ) 1. um ( ) 2. dois ( ) 3. três ( ) 4. ( ) quatro ( ) 5. mais de cinco
3.11. Meio de acesso (transporte próprio)? ( ) 1. barco ( ) 2. voadeira ( ) 3. Batelão ( ) 4.outro: Motor?:
3.12. Destino do seu lixo? ( ) 1. leva para Porto Grande ( ) 2. céu aberto ( ) 3. enterrado ( ) 4. queimado ( ) 5. outro:
3.13. Acesso a água potável? ( ) 1. rio ( ) 2. poço ( ) 3. bomba d’água ( ) 4. outro:
3.14. Tipo de Banheiro? ( ) 1. fossa negra ( ) 2. rio ( ) 3. fossa séptica ( ) 4. outro:
4. CARACTERIZAÇÃO DA RENDA FAMILIAR (renda, serviços e benefícios)
4.1. Serviços Salário (R$/mês):
Diárias (R$/dia):
4.2.
Benefícios
Tipo de Benefício Descrição da Atividade ou Benefício Valor (R$)
1. Aposentadoria
52
2. Bolsa Família
3. Cesta Básica
4. Pecúlio
5. Pensão
6. Seguro Defeso
7. Outro:
4.3. Fonte de Produção 4.4. Produto
4.5. Consumo 4.6. Venda 4.7. Preço
Médio de
Venda
(R$/unid.)
4.8.
Safra
(R$)
(média)
4.9.
Escoamento
4.10.
Qual
caça e
pesca?
Obs: Unid. Quant. Unid. Quant.
1. Agricultura Temporária
1. Abacaxi
2. Hortaliças
3. Farinha
4. Mandioca (Raiz)
5. Macaxeira
6. Milho
7. Outro:
2. Agricultura Permanente
8. Banana
9. Cacau
10. Limão
11. Mamão
12. Açaí
53
13. Cupuaçu
14. Coco
15. Manga
16. Abacaba
17. Uxi
18. Abacate
3. Extrativismo
19. Caça
20. Pesca
21. Cipó
22. Açaí
23. Pracaxi
24. Andiroba
25. Piquiá
26. Amapá
27. Breu
28. Copaíba
29. Pupunha
30. outro:
4. Pequenos e Médios Animais
31. Pato
32. Galinha
33. Porco
34. Outro:
54
4.14. Gastos R$/mensal
Alimentação
Gasolina
Óleo Diesel
Remédio
Roupas
Óleo 2 tempo
Óleo 4 tempo
Botijão de Gás
Ferramentas
Outros
5. CARACTERIZAÇÃO DO SISTEMA DE PRODUÇÃO E ACESSO À TECNOLOGIA
5.3. Já teve acesso à
Crédito/Financiamento ( ) 1. Sim
Assistência Técnica ( ) 1. Sim
( ) 2. Não ( ) 2. Não
Tipo/Modalidade Quando Anos:
Finalidade
Cultura
Quem
RURAP
Criação Embrapa
Outro:__________ Outro:__________
Valor Financiado Cultura Finalidade Cultura
5.1. "Mão-de-Obra" (n° de pessoas) 5.2. Insumos
Familiar De Fora Agrotóxicos Adubação Química Adubação Orgânica Ração p/ animal
Adulto Parceiro (a) 1. Sim
1. Sim
1. Sim
1. Sim
Criança Contratado (a) 2. Não
2. Não 2. Não 2. Não
55
Criação Criação
Outro:_______ Outro:_______
6. IMPORTÂNCIA DA PROTEÇÃO AMBIENTAL
6.1. Em sua opinião, quais as consequências da degradação do meio ambiente para sua profissão?
6.2. Qual o seu principal interesse para desejar a conservação do seu ambiente de trabalho? 1. ( ) Agricultura 2. ( ) Uso da água para consumo
3. ( ) Clima 4. ( ) Outros:
6.3. O que você acha do atual estado do meio ambiente para a atividade que exerce? ( ) 1. Péssimo ( ) 2. Ruim ( ) 3. Regular ( ) 4.Bom ( ) 5.
Ótimo
6.4. Quais atividades que exerce sofreram mudanças?
6.5. Você se preocupa com problemas relacionados com o meio ambiente? ( ) 1. Sim ( ) 2. Não
6.6. O que entende sobre proteção natureza?
6.7. O que você acha que deve ser feito para melhorar de vida?
6.8. O que entende sobre UC (FLONA e FLOTA)?
6.9. O que você acha das condições ambientais da região?