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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS
FACULDADE DE TECNOLOGIA
PROGRAMA DE MESTRADO EM ENGENHARIA DA
PRODUÇÃO
ESTUDO DE CASO DO PROCESSO PRODUTIVO DE UMA
AGROINDÚSTRIA DE AÇAÍ E SEU IMPACTO NAS
DIMENSÕES ECONÔMICA, SOCIAL E AMBIENTAL
JOÃO PAULO PENHALOSA DUARTE
MANAUS
2011
JOÃO PAULO PENHALOSA DUARTE
ESTUDO DE CASO DO PROCESSO PRODUTIVO DE UMA
AGROINDÚSTRIA DE AÇAÍ E SEU IMPACTO NAS
DIMENSÕES ECONÔMICA, SOCIAL E AMBIENTAL
Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado
em Engenharia da Produção da Universidade
Federal do Amazonas, como requisito para obtenção
do título de Mestre em Engenharia da Produção.
Orientador: Prof. Dr. Cláudio Dantas Frota
MANAUS
2011
Dedico aos que semearam as virtudes necessárias
para que pudesse chegar até aqui, através de
ações e especialmente dos exemplos que me
educam como ser humano. Pai, Mãe, Mana e
Amigos: muito obrigado, nós construímos isso!
Obrigado Deus por tornar tudo isso possível.
“In memorian” de Natália Penhalosa Duarte e
seu amor pelas pesquisas que realizava.
Mana! Onde estiver que sejas paz!
AGRADECIMENTOS
À SUFRAMA em particular a Sra. Syglia Said e Sra. Eliany Gomes que não só autorizaram a
pesquisa como forneceram dados, informações e experiência importantes para a análise
proposta.
À Cooperativa de Açaí e Frutas Regionais, aos cooperados que auxiliaram, em particular ao
Sr. Presidente Carlos Crispim, que gentilmente nos recebeu, cedendo informações,
documentos, etc.
A Sra. Maria de Fátima Vieira Nowak (INPA) que deu de seu tempo para fornecer
informações, e de sua experiência científica sobre a cadeia do açaí em Codajás.
Joel e Camila vocês foram fundamentais em diversos momentos dessa jornada acadêmica,
obrigado pela amizade.
Ao Prof. Dr. Nilson Barreiros pela orientação em momento inicial deste trabalho.
Ao Prof. Dr. Claudio Dantas Frota, não só pela orientação, mas principalmente pela amizade
demonstrada nestes últimos 5 anos, que antecede o período de realização deste trabalho.
A Erika Ribeiro pela ajuda técnica e principalmente pelo carinho e preocupação demonstrado
durante a elaboração deste trabalho.
À minha família, Jaqueline Penhalosa (Mãe), João Bosco Araujo Duarte (Pai) e Natália
Penhalosa Duarte (Irmã), pelo amor e apoio incondicional em todas as horas.
E todos que embora não citados contribuíram para a realização deste trabalho.
A Deus e àqueles que agem de forma anônima pelo bem de todos.
RESUMO
Vive-se um período de destaque da temática ambiental, convergindo pesquisas, ações não
governamentais e de governo, dentre outras, que almejam ou guiam-se pelo conceito da
sustentabilidade. Temática essa, de grande relevância para a Amazônia, tanto pela presença de
um dos maiores e mais ricos ecossistemas naturais, como pela necessidade de estabelecer
cadeias tecno-produtivas com base na biodiversidade e de forma sustentável. O objetivo do
trabalho foi analisar a sustentabilidade da agroindústria de açaí de Codajás em sua tríade
aspecto econômico, social e ambiental. Para tanto se utilizou de pesquisa bibliográfica para
descrever os pressupostos teóricos acerca de crescimento, desenvolvimento, sustentabilidade,
e indicadores de sustentabilidade. Utilizou-se também de pesquisa de campo e de documentos
presentes na SUFRAMA da agroindústria citada. Diante dos dados coletados, realizou-se
estudo de caso, onde se pôde identificar que a agroindústria de açaí de Codajás gerou impacto
econômico e social positivo e baixo impacto ambiental.
Palavras-chave: Sustentabilidade; Suframa, Codajás e agroindústria de açaí.
ABSTRACT
We live in a period of prominence of environmental issues, converging research, actions of
governmental and non-government, among others, who want or are guided by the concept of
sustainability. This theme of great relevance to the Amazon, both by the presence of one of
the largest and richest natural ecosystems, and the need to establish techno-productive chains
based on biodiversity and sustainably. The objective of this study was to analyze the
sustainability of agro-industry acai Codajás triad in its economic aspect, social and
environmental. For this purpose it will use the literature to describe the theoretical
assumptions about growth, development, sustainability, and sustainability indicators. We also
used field research and present the documents cited SUFRAMA agribusiness. From the data
collected, there was a case study, where we could identify that the agro-industry acai Codajás
generated positive social and economic impact and low environmental impact.
Keywords: Sustainability. Suframa. acai Codajás and agribusiness.
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - Quantidade Produzida de Açaí em Codajás ................................................... 105
Gráfico 2- Quantidade Produzida de Açaí em Codajás .................................................... 105
Gráfico 3 – Relação matéria-prima x produto x resíduo .................................................. 120
Gráfico 4 - Grau de Importância atribuído à atividade exercida .................................... 144
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Pirâmide de Informações ..................................................................................... 61
Figura 2 - Dashboard of sustainability ................................................................................. 74
Figura 3 - Espécies de Açai – Euterpe oleracea à esquerda e Euterpe precatória á direita
................................................................................................................................................ 100
Figura 4 - Açaí em estoque na Câmara Frigorífica ........................................................... 108
Figura 5 - Fluxo da Extração do Açaí ................................................................................. 109
Figura 6 - Extração artesanal do açaí ................................................................................. 110
Figura 7 - Fluxo de Produção .............................................................................................. 110
Figura 8 - Ventilador de Caroços ........................................................................................ 112
Figura 9 - Tanques de Higienização .................................................................................... 112
Figura 10 - Tanque de Maceração ...................................................................................... 113
Figura 11 - Esteira de transporte e base do despolpador ................................................. 113
Figura 12 - Despolpadeira .................................................................................................... 114
Figura 13 - Pausterizador .................................................................................................... 115
Figura 14 - Tanque homogeneizador .................................................................................. 116
Figura 15 -Empacotadora .................................................................................................... 116
Figura 16 – Produto Final .................................................................................................... 118
Figura 17 - Máquina Despolpadeira e descarte do resíduo por rosca sem fim ............... 127
Figura 18 - Descarte de resíduo ........................................................................................... 127
Figura 19 - Agricultor utilizando resíduos da fábrica....................................................... 128
Figura 20 – Fluxo do Resíduo .............................................................................................. 128
Figura 21 - Briquetes de Resíduos ...................................................................................... 132
Figura 22 - Açaí em forma bruta e despolpado ................................................................. 134
Figura 23 - Peletes................................................................................................................. 136
Figura 24 - Layout do Sistema de Produção ...................................................................... 137
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Dimensões do ambientalismo ............................................................................. 41
Quadro 2 - Critérios de Sustentabilidade ............................................................................. 48
Quadro 3 - Categorias de Território ..................................................................................... 71
Quadro 4 - Indicadores de fluxo e estoque do dashboard of sustainnability .................... 75
Quadro 5 - Índice de sustentabilidade do dashboard of sustainability ............................. 76
Quadro 6 - Categorias/Dimensão de Análise ....................................................................... 82
Quadro 7 - Quadro síntese da análise seletiva (Social) ....................................................... 84
Quadro 8- Quadro síntese da análise seletiva (Econômico) ................................................ 86
Quadro 9 - Quadro síntese da análise seletiva (Ambiental) ............................................... 87
Quadro 10 - Quadro geral de dimensões, temas e nº total de indicadores ........................ 89
Quadro 11 - Indicadores de Sustentabilidade Utilizados .................................................... 90
Quadro 12 - Descrição dos Indicadores ................................................................................ 91
Quadro 13 - Fonte e meio de coleta de dados dos indicadores ........................................... 98
Quadro 14- Número de envolvidos na produção de açaí .................................................. 103
Quadro 15 – Dados Comerciais aproximados da Agroindústria de Açaí de Codajás
(2009) ..................................................................................................................................... 153
Quadro 16 - Margem Líquida e Disponibilidade de Matéria-prima ............................... 157
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Área apropriada equivalente das nações ............................................................ 72
Tabela 2 - Valor pago pela cooperativa por kg de açaí bruto de maio a junho .............. 111
Tabela 3 – Capacidade de produção em toneladas ............................................................ 119
Tabela 4 – Relação proporcional produção x resíduo ....................................................... 120
Tabela 5 - Capacidade de Processamento de Matéria-prima ........................................... 121
Tabela 6 – Capacidade de geração de resíduos .................................................................. 121
Tabela 7-Participação relativa do endocarpo e da parte comestível (epicarpo +
mesocarpo) na composição do fruto de dez plantas-matrizes da coleção de germoplasma
de Açaizeiro da Embrapa Amazônia Oriental. .................................................................. 130
Tabela 8 - Histórico de Produção de Açaí no município de Codajás ............................... 143
Tabela 9 - Comparativo de valores pago pelo intermediário x valor pago pela
cooperativa (diversas fontes de dados) ............................................................................... 146
Tabela 10 - Indicadores da dimensão econômica .............................................................. 150
Tabela 11 - Capacidade Produtiva, de Processamento e Geração de Resíduos da
Agroindústria de Açaí .......................................................................................................... 151
Tabela 12 - Histórico de Produção da Agroindústria de Açaí de Codajás ...................... 152
Tabela 13 - Tipo de açaí e sua concentração de sólidos .................................................... 152
Tabela 14 - Valores referência para calculo das simulações ............................................ 154
Tabela 15 – Tabela de Análise de Viabilidade ................................................................... 156
LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS
CEAM Companhia Energética do Amazonas
CEARA Cooperativa Energética e Agroextrativista Rainha do Açaí
CPM Capacidade de Processamento de Matéria-prima/dia;
CPA Capacidade Produção Anual Máxima Atual;
CPM
Capacidade Máxima de Produção por Dia;
CMMAD Comissão Mundial Sobre o Meio Ambiente;
CNUMAD Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente
EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDAAM Instituto de Desenvolvimento do Amazonas
OCB Organização das Cooperativas do Brasil
ONU Organização das Nações Unidas
CMP Capacidade Máxima de Produção/ dia.
PDM Tempo com matéria-prima disponível.
PIB Produto Interno Bruto
PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
CMGR Capacidade Máxima de Geração de Resíduos/ dia.
RDH Relatório de Desenvolvimento Humano
SEDUC Secretaria do Estado de Educação do Amazonas
SUFRAMA Superintendência da Zona Franca de Manaus
UEA Universidade do Estado do Amazonas
UFAM Universidade Federal do Amazonas
ZFM Zona Franca de Manaus
IDH Índice de Desenvolvimento Humano
PNB Produto Nacional Bruto
CGDER Coordenação Geral Desenvolvimento Regional
TMI Total Material Inpurt
EFM Ecologial Footprint Method
SUMÁRIO
CAPÍTULO I – ELEMENTOS PRÉ-TEXTUAIS ................................................................... 14
1.1. Introdução .................................................................................................................. 14
1.2. Justificativa ................................................................................................................ 16
1.3. Problema da Pesquisa ................................................................................................ 17
1.4. HIPÓTESE ................................................................................................................. 18
1.5. Objetivos .................................................................................................................... 18
1.5.1. Geral ................................................................................................................... 18
1.5.2. Específicos .......................................................................................................... 18
CAPÍTULO 2 – Meio Ambiente, Desenvolvimento e Sustentabilidade .............................. 19
2.1. Crescimento e desenvolvimento econômico .............................................................. 19
2.2. Desenvolvimento e Regulação Ambiental ................................................................. 30
2.4. Indicadores de Sustentabilidade: Aspectos gerais ...................................................... 57
2.5. Indicadores ................................................................................................................. 58
2.6. Indicadores de Sustentabilidade: discutindo o conceito ............................................. 62
2.6. Sistema de Indicadores Relacionados ao Desenvolvimento Sustentável ................... 68
CAPÍTULO 3 – procedimentos metodológicos .................................................................... 78
3.1. Conceitos Norteadores da Análise ............................................................................. 79
3.2. Indicadores de Sustentabilidade adotados .................................................................. 88
3.3. Tipo da Pesquisa......................................................................................................... 91
3.4. Coleta de Dados ......................................................................................................... 94
CAPÍTULO 4 – ESTUDO DE CASO DA AGROINDÚSTRIA DE AÇAÍ DE CODAJÁS
99
4.1. Localidade do Empreendimento................................................................................ 99
4.2. Características Gerais do Açaí: Planta e Produto ..................................................... 100
4.3. Aspectos Gerais da Cadeia Produtiva do Açaí em Codajás ..................................... 101
4.4. Agroindústria de Açaí de Codajás – Projeto Estudado ............................................ 106
CAPÍTULO 5 - Análise de Sustentabilidade ...................................................................... 122
5.1. Dimensão Ambiental ................................................................................................ 122
5.2. Dimensão Social ....................................................................................................... 142
CAPÍTULO 6 - Considerações Finais ................................................................................ 161
6.1. Sugestões para Agroindústria com Base nas Informações e Análises Realizadas ... 163
6.2. Dificuldades Encontradas ......................................................................................... 164
6.3. Contribuições para a academia ................................................................................. 165
6.4. Sugestões de Pesquisas Futuras................................................................................ 165
6.5. Há sustentabilidade da Agroindústria de Açaí de Codajás? ..................................... 166
5. Referências ...................................................................................................................... 168
APÊNDICE 1 – Detalhamento das Bases de cálculo da Tabela de Análise Econômica ....... 175
14
CAPÍTULO I – ELEMENTOS PRÉ-TEXTUAIS
1.1. INTRODUÇÃO
Em função de movimento peculiar de grande destaque da temática ambiental, são
comuns as discussões sobre o tema, assim como, o crescimento de esforços para indução do
desenvolvimento dito sustentável. As empresas lidam com o imperativo de unir a produção
com responsabilidade ambiental, dessa forma à sustentabilidade está presente em discursos
oficiais, documentos, assim como diversas organizações governamentais e não
governamentais incorporam estas idéias como imperativo de suas ações, ou seja, a
sustentabilidade está em voga (BELLEN, 2007).
Porém se o discurso da sustentabilidade ou do ambientalmente correto atingiu alto
grau de difusão de informação e conhecimento, não se pode afirmar ao certo quanto às práxis
destas idéias. Ou seja, ainda há segundo Bellen (2007) baixa operacionalidade do conceito,
existindo assim grande espaço para o desenvolvimento de ferramentas gerenciais, e demais
instrumentos que mensurem eficazmente a sustentabilidade.
Além disso, a Amazônia emerge como foco de preocupações ambientais, e ao mesmo
tempo devido à riqueza biótica da região se torna alvo de interesses econômicos, possíveis
geradores de oportunidades para o desenvolvimento da região. E embora não haja
unanimidade quanto aos limites da pura racionalidade econômica, grande parte dos teóricos
,que trabalham com essa temática, aponta para um desenvolvimento que contempla também
racionalidades ambientais e sociais. Mas apesar dessa visão preponderante ainda existem em
certas regiões da Amazônia, onde ainda atividades que se baseiam numa ótica puramente
15
econômica, apresentando caráter de insustentabilidade, principalmente quanto aos aspectos
ambientais (BECKER, 2005; BELLEN, 2007; VEIGA, 2006).
Mas, a Amazônia também apresenta processos e/ou atividades econômicas com
impactos ambientais mais positivos entre eles, um grande exemplo é apontado por Becker
(2005), apresentando o modelo Zona Franca de Manaus (ZFM) contribuidor para preservação
da floresta, que no Amazonas apresenta taxas de 98% de área florestal preservada. Segundo a
autora grande parte dessa preservação deve-se ao fato da ZFM concentrar as atividades
econômicas em torno da capital.
No Amazonas, até 2008, os cinco maiores municípios do amazonas eram responsáveis
por 88,1% do PIB, destacando-se como o estado que apresenta a maior concentração de renda
espacial do país (IBGE, 2010).
Em função do cenário apontado pelo IBGE (2010) de baixa dinâmica produtiva na
maior parte dos municípios do interior, a SUFRAMA através de programas de incentivo passa
a financiar projetos na área da produção, incentivando o turismo e a formação de capital
intelectual, dentre outras, com a finalidade de interiorizar o desenvolvimento.
É importante considerar que os projetos passam por processo avaliativo por setores
específicos e tem a chancela final do Conselho de Administração da SUFRAMA. A
Superintendência, para fins de análise de sua atuação quanto aos projetos de interiorização do
desenvolvimento, contratou a Universidade Federal do Amazonas (UFAM) para a realização
do estudo técnico de avaliação socioeconômica de um conjunto de 73 convênios.
Dentre os diversos projetos avaliados pela UFAM, foi escolhido um projeto de
produção para aprofundamento e ampliação do escopo de análise por meio de estudo de caso.
16
Assim, analisou-se a sintonia do processo produtivo da “Agroindústria de Açaí de Codajás”
com os critérios de sustentabilidade.
1.2. JUSTIFICATIVA
No período de 2000 a 2009, o Programa de Interiorização do Desenvolvimento da
SUFRAMA repassou recursos a fundo perdido totalizando R$ 621.351.133,93. Buscando
dimensionar o peso dos investimentos no ano, só em 2009 a superintendência firmou 49
convênios com Governos, Prefeituras e Entidades dos Estados do Acre, Amazonas, Roraima e
Rondônia, no montante de R$ 34.463.000,00 (SUFRAMA, 2010) 1,
Como pode ser observada nos dados demonstrados, a influência dos investimentos da
SUFRAMA na região é significativa, podendo-se inferir da sua interferência nos fenômenos
econômicos, sociais, culturais e ambientais em sua área de atuação.
É interessante destacar a proposição de Becker (2005), com relação ao caráter
imperativo do desenvolvimento de cadeias produtivas com base na biodiversidade na
Amazônia, e que promova o crescimento econômico, socialmente justo e de baixo impacto
ambiental.
O estudo de caso proposto busca analisar a sustentabilidade do projeto de produção
“Agroindústria de Açaí de Codajás”, que tem por base a utilização de insumos típicos da
região, consideradas por estudos da Suframa (2003) como potencialidades, o que demonstra
grande possibilidade de serem realizados outros investimentos similares na região. Ou seja, é
de grande importância a análise do empreendimento, para verificar se o mesmo atende ou não
1 Dados obtidos no Relatório de Gestão da SUFRAMA relativo às atividades do exercício de 2000 a 2009.
17
os critérios de sustentabilidade, em sua tríade (econômico, social e ambiental) apontando
caminhos para empreendimentos sustentáveis dessa natureza.
Portanto este projeto fundamenta sua importância pela análise do projeto de produção
de interiorização da SUFRAMA “Agroindústria de Açaí de Codajás”, em sua dimensão
econômico, social e ambiental, propondo-se a fornecer linhas empírico-conceituais que
auxiliem aos gestores, empreendedores e organizações públicas no estabelecimento/fomento
de negócios para incentivo e o desenvolvimento sustentável na Amazônia.
1.3. PROBLEMA DA PESQUISA
Um grande desafio para Amazônia conforme expresso por Becker (2005), é o
desenvolvimento de cadeias técnico-produtivas com base na biodiversidade, que sejam
capazes de promover socialmente as comunidades, com empreendimentos viáveis e que ainda
respeitem os limites ambientais.
O município de Codajás foi contemplado com a instalação de uma agroindústria de
açaí, fruto de recursos provenientes da SUFRAMA, que tem por norte institucional promover
o desenvolvimento sustentável em sua área de atuação, sendo relevante a análise se o
empreendimento atende os critérios da sustentabilidade.
Diante dessa situação, a pesquisa procurará responder ao seguinte problema: O
projeto de produção “Agroindústria de Açaí de Codajás” apresenta processo produtivo
em sintonia com critérios de sustentabilidade?
18
1.4. HIPÓTESE
Hipótese 1: A “Agroindústria de Açaí de Codajás” não apresenta processo produtivo
em sintonia com critérios de sustentabilidade, de modo que a impactar negativamente as
dimensões econômica, social e ambiental da comunidade onde se situa.
Hipótese 2: A “Agroindústria de Açaí de Codajás” demonstra sintonia com os
critérios de sustentabilidade de modo que a atuação da agroindústria impacta positivamente
nas dimensões econômica, social e ambiental da comunidade onde se situa.
1.5. OBJETIVOS
1.5.1. GERAL
Analisar se o processo produtivo da Agroindústria de Açaí de Codajás apresenta
sintonia com critérios de sustentabilidade.
1.5.2. ESPECÍFICOS
1. Descrever pressupostos teóricos acerca de crescimento, desenvolvimento,
sustentabilidade, e indicadores de sustentabilidade;
2. Apontar aspectos gerais da cadeia produtiva do Açaí no município de Codajás;
3. Descrever o processo produtivo da Agroindústria de Açaí de Codajás;
4. Aplicar os critérios de sustentabilidade visando mensurar a sustentabilidade da
Agroindústria de Açaí de Codajás.
19
CAPÍTULO 2 – MEIO AMBIENTE, DESENVOLVIMENTO E SUSTENTABILIDADE
A relação do homem com seu meio ambiente apresenta logo a forma como ele
constrói suas condições de vida, as quais refletem as opções econômicas adotadas, assim as
condições de vida construídas podem apresentar efeitos deletérios para meio ambiente
(SEIFFERT, 2008). Neste capítulo, estão expostas as abordagens teóricas referentes ao meio
ambiente e desenvolvimento, e indicadores de sustentabilidade. De modo a apontar
conceitos de crescimento econômico, desenvolvimento, regulação e sustentabilidade
ambiental. E num segundo momento abordam-se os indicadores de forma geral dando ênfase
aos indicadores de sustentabilidade.
2.1. CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
Até a década de 60 do século XX, não havia a necessidade de diferenciar o termo
crescimento econômico de desenvolvimento, pois se entendia que nações desenvolvidas
eram aquelas que se industrializaram e nações subdesenvolvidas eram as que não tinham
alcançado um aprimoramento ou modernizado seu parque industrial (VEIGA, 2006).
Ao longo do tempo, entretanto, muitos dos países tipificados como
subdesenvolvidos, conseguiram atingir significativos patamares de industrialização que
fizeram crescer o valor do Produto Interno Bruto (PIB) e da renda per capita, sem que esses
índices, contudo, refletissem a real condição das populações mais pobres ,que não
participaram deste processo, não tiveram acesso aos bens materiais e culturais característicos
dos países desenvolvidos, e essa nova realidade sócio-econômica incorporou a necessidade
de diferenciar crescimento econômico de desenvolvimento (VEIGA, 2006).
20
Um avanço conceitual e prático importante foi dado pela Organização das Nações
Unidas (ONU) que, em 1990, publicou o “Relatório de Desenvolvimento Humano” (RDH)
onde o conceito de desenvolvimento se institucionaliza e se diferencia do crescimento
econômico. A partir desse relatório, a riqueza das nações medida pelo PIB e renda per
capita deixaram de ser indicadores de desenvolvimento, já que esse termo traduz uma série
de indicadores como nível de saúde e de educação, entre outros.
A discussão sobre o significado dos dois termos, não se esgotou com o Relatório da
ONU e, embora quase todos os países tenham seu diagnóstico do Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH) separado das estatísticas econômicas. Veiga (2006)
demonstra esta divergência ao apresentar pensamento de teóricos como Arrighi (1997),
Rivero (2002), dentre outros que continuam acreditando que o desenvolvimento é algo
mitológico, distante da realidade, um estágio social inalcançável.
Arrighi (1997) busca demonstrar o caráter inalcançável do desenvolvimento,
utilizando da distribuição da população mundial pelo Produto Nacional Bruto (PNB) per
capita no período de 1938 a 1983. Dessa forma ele demonstra o caráter excepcional de
países pobres ou emergentes subirem na hierarquia de riqueza da economia capitalista
mundial, demonstrando pouco horizonte de mobilidade para estes países.
Em linha similar de creditar o caráter utópico do desenvolvimento, Rivero (2002),
considera a miséria científico-tecnológica e a explosão demográfica como razões da
inviabilidade econômica da grande maioria dos países em desenvolvimento. Para isso, dados
que demonstram a grande diferença de crescimento da demanda anual mundial de serviços
de alta tecnologia (15%), produtos com baixo grau de transformação (4%) e matérias-primas
(3%).
21
Para Rivero (2002), é a incapacidade de transferir recursos do mercado mundial para
crescentes populações urbanas, o que os torna Economias Nacionais Inviáveis (ENIs). O
autor propõe como única solução a redução da taxa de natalidade e modernização de sua
produção, dessa forma, alcança-se um equilíbrio entre crescimento da população e de
recursos vitais (alimentos, energia, água, etc.).
Veiga (2005) ao tecer crítica sobre esta vertente, avalia um erro considerar o PNB
como medida de análise do desenvolvimento. Veiga (2005) refuta a afirmação de
“desenvolvimento como ilusão” de Arrighi (1997, p.217), dissertando que se constata, de
fato, uma grande morosidade na elevação PNB per capita dos países periféricos e
emergentes para o núcleo orgânico (desenvolvidos), mas isso só demonstra a lentidão
relativa ao processo de desenvolvimento. Veiga (2005, p.22) também considera um erro
equivaler PNB per capita e desenvolvimento, para o autor isso representa um reducionismo
significativo, considerando inaceitável “tão simplória definição”.
Na argumentação de Rivero (2002), destaca-se a miséria científico-tecnológica como
uma das causas da inviabilidade econômica da grande maioria dos países em
desenvolvimento. Esse posicionamento induz a considerações sobre a importância da
educação no processo de desenvolvimento dos países, dado que será pouco provável a
modernização da produção proposta sem a melhoria efetiva dos meios de educacionais.
Apesar de Rivero (2002) ampliar um pouco mais a noção de desenvolvimento
quando comparado com Arrighi (1997), o autor continua numa perspectiva quantitativa do
mundo, de tal modo, que foca suas considerações em fenômenos econômicos como
evolução do mercado acionário, comportamento das exportações e crescimento do PIB.
Ambos os autores ignoram o que Veiga (2005, p.22-23) chama de “processos qualitativos
22
histórico-culturais, o progresso não linear da sociedade, as abordagem éticas, e até
prescindem dos impactos ecológicos” além de confundir “crescimento econômico com o
desenvolvimento de uma modernidade capitalista que não existe em países pobres”
Essa visão quantitativa que ignorar diversos fatores, adotada por Arrighi (1997) e
Rivero (2002) talvez possa ser explicada pela canalização do gênio inventivo do homem
para a criação técnica, processo este que marcou os últimos duzentos anos (FURTADO,
1974).
Furtado (1974, p.7) explica este movimento ao abordar a ideia de criatividade
cultural e morfogênese social: “a humanidade interage com o meio no empenho de efetuar
suas potencialidades”. Segundo o autor, a invenção cultural tende a ocorrer em torno de dois
eixos: a busca da eficácia na ação (racionalidade instrumental ou formal) e busca de
propósito para a vida (racionalidade substantiva ou dos fins).
Não se conhece ao certo as razões por que em determinado momento histórico o
homem canaliza seu esforço criativo na racionalidade instrumental ou substantiva. Apesar
desse vácuo de conhecimento, Furtado (1974) identifica que nos últimos duzentos anos, o
homem focou esforços na expansão dos meios de produção, e este fenômeno influenciou
fortemente a teoria do desenvolvimento, circunscrevendo-a lógica dos meios.
Furtado (1974) destaca que apesar do padrão recente de foco nos meios, o
desenvolvimento também deve ser entendido como processo de transformação da sociedade
contemplando não só as lógicas dos meios mas também dos fins. Dessa forma o autor
apresenta uma contraposição ao pensamento de Arrighi (1997) e Rivero (2002), ao afirmar
23
que o desenvolvimento deve ser entendido como um processo de transformação social que
contemple a racionalidade instrumental (meios) , mas também à lógica substantiva (fins).
A ideia de desenvolvimento como mito também é dissertada por Furtado (1974;
2002), destacando um efeito pernicioso sobre o pensamento social assim como aponta o
valor do mito para o desenvolvimento das ciências sociais.
Quanto ao aspecto pernicioso ao pensamento social, o autor disserta que a ideia do
desenvolvimento como quimera, tem o efeito de desviar a atenção da tarefa básica de
identificar as necessidades fundamentais da sociedade e das possibilidades abertas ao
homem com avanço da ciência, para voltar à atenção para objetivos abstratos como
investimentos, exportações e crescimento.
O autor aponta que o mito do desenvolvimento exerce inegável influência na mente
dos homens que se empenham em compreender e atuar sobre a realidade social, de modo a
apresentar forte influência na atual visão de mundo da atualidade. Dessa forma,
compreende-se o homem como agente transformador do mundo inspirando os rumos
adotados pela sociedade (FURTADO, 2000).
Enquanto autores como Arrighi (1997) e Rivero (2002) consideram o
desenvolvimento como uma quimera e apresenta caráter mitológico. Outros veem o
desenvolvimento se identificava com o progresso material, pelo menos até meados de 1970,
quando se tinha a ideia predominante que o progresso material levaria espontaneamente a
melhoria dos padrões sociais. Porém esse entendimento cai por terra com o surgimento do
primeiro Relatório de Desenvolvimento Humano (1990), quando especialistas passam
compreender o crescimento como elemento de um processo maior onde os resultados
24
econômicos não replicam automaticamente em benefícios sociais (CARDOSO, 1995;
VEIGA, 2005).
Entre os teóricos do crescimento e os do desenvolvimento apresentados, surgiu mais
recentemente uma nova corrente de pensamento intitulada “caminho do meio” que Veiga
(2005) determina como aquela que congrega explicações sinalizadoras de que o
desenvolvimento nada tem de quimérico e nem pode ser amesquinhando como crescimento
econômico, será apresentado algumas das visões que caracterizam essa corrente.
As conferências intituladas Desenvolvimento como Liberdade, proferidas entre 1996
e 1997 pelo indiano Amartya Sen (2000), representam mudança fundamental no modo de
entender o desenvolvimento. Para ele é fundamental o reconhecimento do papel das
diferentes formas de liberdade no combate às absurdas formas de privações, destituições e
opressões. Assim a liberdade é vista por ele como principal fim e meio do desenvolvimento,
como se pode observar no trecho a seguir:
O desenvolvimento requer que se removam as principais fontes de privação de
liberdade: pobreza e tirania, carência de oportunidades e econômicas e destituição
social sistemática, negligência dos serviços públicos e intolerância ou interferência
de Estados repressivos (SEN, 2000, p.18).
Ainda na visão do autor, o desenvolvimento é relevante inclusive para países
considerados muito ricos, devendo ser considerados os contrastes intergrupais como
elemento essencial da concepção de desenvolvimento e subdesenvolvimento. Ilustra essa
questão ao expor o caso dos EUA, que apesar de ser a nação mais rica do mundo, quando
analisado internamente, os afro-americanos são relativamente pobres comparados aos
americanos brancos, mas são muito mais ricos que moradores dos países da periferia.
25
Ele ainda compara as expectativas de vida dos afro-americanos e dos chineses ou
indianos do Kerala, que ao considerar os negros americanos como um país separado, eles
seriam classificados como 11ª nação mundial quanto ao PIB, mostrando-se uma nação rica
dentro de padrões de crescimento econômico, porém quando comparado com chineses e
indianos quanto à expectativa de vida, os afro-americanos acabam apresentando expectativa
de vida similar a estes países de periferia.
Assim segundo o autor, os negros americanos sofrem uma privação relativa em
termos de renda per capita, em relação aos americanos brancos, mas também apresentam
uma privação absoluta maior do que os indianos e indianos do Kerala, que possuem baixa
renda e os chineses, quanto à expectativa de viver até idades mais avançadas (SEN, 2000).
Essa visão traz a compreensão que o desenvolvimento deve contemplar aspectos de
desigualdade tanto interno quanto externos, além de levantar questionamentos sobre a renda
como elemento suficientemente capaz, de por si só, gerar aumento da qualidade de vida,
ficando exposto que existem outros elementos que influenciam neste processo.
Um destes elementos é a distribuição de renda, a qual foi analisada por Kuznets
(apud VEIGA, 2005; 1986). O autor desenvolve estudos que culminaram na conhecida
“curva de Kuznets”, de modo a demonstrar a relação entre crescimento e distribuição de
renda, e identifica que a desigualdade de renda tende aumentar na fase inicial da
industrialização, para depois inverter a tendência, quando país atinge o patamar de
desenvolvido.
26
Veiga (2005) questiona esta assertiva ao analisar a base de dados que levou as
inferências de Kuznetz (1955;1986), afirmando que o posicionamento do autor se explica
pela precariedade das evidências disponíveis no período de publicação de sua obra.
Sen (2000) aborda a questão, questiona se distribuições de renda e de riqueza seriam
mesmo temas centrais para a justiça e equidade nos países em desenvolvimento,
apresentando dados que demonstram o papel importantíssimo da renda, mas que deve ser
integrado a um quadro mais amplo e completo de êxito e privação. Assim apresenta que a
pobreza deve ser vista como uma privação de capacidades básicas, e não apenas como baixa
e precária distribuição de renda. Apesar da essência econômica que caracteriza a ideia do
desenvolvimento
Veiga (2005) notifica que embora o desenvolvimento seja uma ideia essencialmente
econômica, é fundamental a inserção da dimensão cultural na discussão para o entendimento
complexidade do conceito.
Dentro desta perspectiva, teóricos como Smith (1979 apud Veiga, 2005), Landes
(1998) e Douglas North apresentam aspectos culturais do desenvolvimento. Smith (1979
apud Veiga, 2005) coloca que existe estreita ligação entre privação cultural e pobreza
econômica, de tal modo que a pobreza não só assume forma de privação física, mas também,
gera obstáculos a segmentos da sociedade em participar da vida social e cultural da
comunidade. (NORTH, 1981 apud VEIGA, 2006)
Landes (1998) expõe que a história do desenvolvimento econômico demonstra que a
cultura é a principal geradora de diferença entre países, dessa forma busca explicar por que
algumas nações são tão ricas e outras tão pobres.
27
North (1981) em perspectiva similar, aborda que o fator cultural tem fortíssima
influência sobre o desenvolvimento das nações, dissertando que desenvolvimento depende
essencialmente da qualidade das instituições de cada sociedade, sendo que para ele, as
instituições são a sínteses da crença de seu povo ou expressão concreta da mentalidade das
pessoas. O autor ressalta o papel determinante das peculiaridades naturais, na formação
institucional de países, fazendo-se entender que as instituições são mais resultantes do que
fundamento das relações concretas que a espécie humana vem estabelecendo em ambientes
naturais.
Diante das visões anteriormente elencadas fica clara a complexidade do tema, onde
diferentes elementos como crescimento do PIB, distribuição de renda, fatores ambientais e
territoriais, cultura, dentre outros, compõe o fenômeno do desenvolvimento, logo constitui
equívoco dizer que somente um destes elementos é responsável pela totalidade do que
conceitua desenvolvimento. De tal modo que ações fomentadoras deste estado conceitual
assim as análises do fenômeno devem englobar a complexidade da questão.
Dito isso, e expressa à diversidade de óticas dentro do chamado “caminho do meio”,
o leitor é levado a indagações sobre o que realmente significa desenvolvimento, e se é
possível uma resposta concisa sobre o conceito. A esse respeito, Veiga (2006) aponta 3
visões que correspondem a respostas positivas sobre o que é desenvolvimento.
A primeira é o teórico Sachs (2004), que refuta algumas visões sobre
desenvolvimento. Para ele a renuncia do conceito desenvolvimento, deve-se à armadilha
ideológica para permanência da estrutura assimétrica entre a minoria dominante e a maioria
dominada, essa corrente de negação do desenvolvimento propõe um estágio de pós-
desenvolvimento, sem explicar ao certo seu conteúdo operacional.
28
Para Sachs (2004), o desenvolvimento tem se apresentado como exceção histórica e
não regra geral, colocando por terra a ideia de que o crescimento econômico por si só levaria
ao desenvolvimento, ou seja, o próprio crescimento é um dos elementos, dentre os vários
que compõe o processo de desenvolvimento.
Sachs (2007: p. 80) aponta no seguinte trecho a síntese de sua ideia sobre
desenvolvimento que muito transcende a ótica econômica:
[...] desenvolvimento pode permitir que cada indivíduo revele suas
capacidades, seus talentos e sua imaginação na busca da autorealização e
da felicidade, mediantes esforços coletivos e individuais, combinação de
trabalho autônomo e heterônomo e de tempo gasto em atividades não
econômicas.
O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) tem oferecido
grande apoio teórico sobre desenvolvimento tem sido dado por seus Relatórios Anuais, em
especial o relatório de 2004 onde se pode ler que:
O desenvolvimento humano tem a ver primeiro e acima de tudo, com a
possibilidade das pessoas viverem o tipo de vida que escolheram – e com a
provisão dos instrumentos e das oportunidades para fazerem as suas escolhas. Nos
últimos anos, o Relatório do Desenvolvimento Humano tem defendido fortemente
que esta é uma questão, tanto de política, como de economia – desde a proteção
dos direitos humanos até ao aprofundamento da democracia. A menos que as
pessoas pobres e marginalizadas – que na maioria das vezes são membros de
minorias religiosas, étnicas, ou migrantes – possam influenciar ações políticas, a
nível local e nacional, não é provável que obtenham acesso equitativo ao emprego,
escolas, hospitais, justiça, segurança e a outros serviços básicos. (PNUD, 2004;
p.5)
Um dos economistas brasileiros que deu mais atenção ao conceito de desenvolvimento
foi Celso Furtado que o separou do conceito de crescimento econômico e destacando a efetiva
melhoria das condições de vida das pessoas, afirmando:
“O crescimento econômico tal como conhecemos, vem se fundando na
preservação dos privilégios das elites que satisfazem seu afã de
modernização; já o desenvolvimento se caracteriza pelo seu projeto social
subjacente. Dispor de recurso para investir está longe de ser condição
29
suficiente para preparar o melhor futuro para a massa da população. Mas
quando o projeto social prioriza a efetiva melhoria das condições de vida
dessa população, o crescimento se metamorfoseia em desenvolvimento”
(FURTADO, 2004. p.:484).
Ainda na perspectiva de ênfase no elemento humano, destaca-se a citação: “as
pessoas são verdadeira riqueza de uma nação”. Apresentada no Relatório do
Desenvolvimento Humano (RDH) de 1990, a frase sintetiza a nova abordagem acerca do
desenvolvimento, de modo que o ser humano passa a ter centralidade na discussão e
direciona esforços não só para a ampliação da capacidade produtiva de uma nação, mas
também, criar um ambiente propício para que as pessoas desfrutem de vidas longas,
saudáveis e criativas (PNUD,2010, p.1) .
Assim a perspectivas apresentadas por Sachs (2002, 2004 apud VEIGA, 2006), Pnud
(2004), PNUD (2010) e Furtado (2004 apud VEIGA, 2006) ressaltam, de forma
contundente, a importância da participação social no processo de escolha do modelo e a
centralidade do elemento humano, além de estabelecer que desenvolvimento não é um
conceito rígido e estabelecido. Assim, padrões estabelecidos por determinadas culturas,
ideologias, etc., não têm validade universal, estabelecendo que o conceito de
desenvolvimento deva ser definido por cada sociedade que tem suas próprias visões sobre o
futuro. Esse aspecto, sem dúvida, é de essencial importância, porque a discussão da
problemática ambiental e dos caminhos para o almejado desenvolvimento deve estar sempre
associada ao modo de vida das pessoas e da comunidade, o que retira qualquer possibilidade
de colocar o desenvolvimento como um modelo de natureza impositiva.
É preciso destacar a importância desta visão de desenvolvimento, em particular para
Amazônia, pois os processos, modelos ou práticas que visem o desenvolvimento da região,
30
devem ter por essência a liberdade de escolha. De tal modo que as ações realizadas na
Amazônia não sejam produto de uma imposição externa, seja política, econômica ou
ideológica, mas sim, resultado de um processo amplo de participação social que contemple
as classes marginalizadas e as minorias permitindo a reflexão/investigação/ação sobre o que
é, e o que se deseja para a Amazônia em suas diversas dimensões, tendo por cerne, a efetiva
melhoria das condições de vida da sociedade.
2.2. DESENVOLVIMENTO E REGULAÇÃO AMBIENTAL
Apesar do desenvolvimento também ter por cerne a possibilidade das pessoas
viverem o tipo de vida que escolherem, este imperativo de escolha não é um critério
absoluto, é preciso ponderar e refletir sobre as limitações que o ambiente oferece ao
processo de desenvolvimento emergindo daí considerações quanto ao aspecto ambiental.
Seiffert (2008) coloca que a relação do ser humano com o seu meio ambiente
apresenta imediatamente a questão de como ele constrói as suas condições de vida, e que as
mesmas são reflexos das opções econômicas adotadas, salientando, que a qualidade de vida
do homem é uma consequência direta da qualidade ambiental.
A autora aborda que a preocupação com o esgotamento dos recursos naturais surge
pós Revolução Industrial, com o surgimento da percepção do aumento significativo da
capacidade do ser humano de alterar o meio ambiente, gerando consequências positivas e
negativas. Esta constatação de limite da capacidade de suporte de um ecossistema tem
levado, segundo a autora, a uma crescente preocupação com elaboração de políticas que
permitam a conciliação das atividades econômicas com a proteção ambiental.
31
Ainda na perspectiva de limites ambientais, Cavalcanti (1998) em sua obra
Desenvolvimento e Natureza, assim aborda a impossibilidade de extrapolar, no sentido
econômico a curva de transformação ou “possibilidades de produção” da natureza. De modo
a demonstrar que sustentabilidade estabelece que os conceitos e métodos a serem usados na
ciência econômica devem levar em consideração as restrições ambientais ao
desenvolvimento social
São claras as consequências ambientais resultantes da ação humana, expansão urbana
desordenada, poluição (hídrica, eólica, sonora, visual, etc.), o aumento de doenças, dentre
outras consequências negativas. Em função dessa degradação, vem ocorrendo intensa busca
por soluções nesta área.
Ainda segundo Seiffert (2008), a amplitude de fatores e atores envolvidos, leva a
reflexões sobre a necessidade de conciliar os imperativos sociais, econômicos e ambientais
em um contexto mais abrangente de melhoria social. Segundo a autora essa conciliação vem
sendo obtida, ainda que parcialmente, principalmente pela regulação ambiental.
No Brasil, estabeleceu-se todo um arcabouço legal visando conciliar a necessidade
econômica de uma comunidade e os determinantes ambientais do espaço físico. Além da
Constituição, há uma serie de leis ambientais consistentes, e que oferecem uma base sólida
para os órgãos ambientais agirem em defesa do meio ambiente (MAGLIO, 1995).
É preciso destacar que a questão da constatação de limites ambientais, e conciliação
entre dimensão econômica e ambiental têm estreita relação com conceito de
sustentabilidade, e a esse respeito não há unanimidade teórica-conceitual, inclusive quanto
ao aspecto de conciliação entre atividades econômicas e proteção do meio ambiente. Sobre
32
isso, Veiga (2006) coloca que similarmente a questão do desenvolvimento, há 3 padrões
básicos de respostas para a questão da sustentabilidade, sendo duas linhas de argumentações
extremas, e uma terceira buscando o “caminho do meio”.
Assim, brevemente são demonstrados os diversos caminhos para tratar da temática,
porém essa discussão será mais bem aprofundada no item a seguir, onde se tratará da
sustentabilidade ambiental.
2.3. Sustentabilidade Ambiental
O ponto seguinte de reflexão é sobre o conceito de sustentabilidade, pois, é
imprescindível que a sociedade ao escolher o seu futuro esteja plenamente consciente do
significado de cada termo, tanto do ponto de vista da definição como da abrangência. Um
dos pontos mais significativos para embasar a sociedade no sentido de encontrar seu próprio
caminho é aquele que escolhe o modelo que tem como seu mais importante objetivo, a
melhoria da qualidade de vida, sem dúvida um dos temas cruciais da para a discussão
proposta (DUARTE, 2009). Embora a qualidade de vida tenha relativa centralidade na
discussão, são diversos os caminhos propostos para abordar a temática da sustentabilidade,
conforme poderá ser observado no item 2.3.2.
É importante considerar antes de aprofundar na significação do conceito
desenvolvimento sustentável, que similarmente ao desenvolvimento, o sentido do termo e
conceitos que o antecederam passaram, e ainda passam, por um caminho evolutivo, de modo
que, determinado eventos ou relatórios publicados tornaram referência para a
compreensão/aceitação do fenômeno/ valor sustentável. Dessa forma, e considerando a
33
importância de contextualizar a construção do termo, brevemente se apontou estes marcos
quanto ao entendimento e aceitabilidade do conceito desenvolvimento sustentável.
2.3.1. Evolução e Legitimação do Conceito Desenvolvimento Sustentável
Embora hoje se constate significativa difusão de valores e de discursos embasados
em preocupações ambientais, houve um processo gradativo de emersão do conceito até
atingir o valor imperativo que hoje se observa (BARBIERI, 2011;VEIGA, 2010).
De acordo com autores (JIMENÉZ, 1997; BIFANI, 1999; FREITAS, 2000; VEIGA,
2005; BARBIERI, 2011, DIEGUES, 1992, LEFF, 2009) a criação do conceito
desenvolvimento sustentável relaciona-se diretamente com trabalhos preparatórios para a
Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano em 1972, e com o
conceito anterior do “eco desenvolvimento” 2. Sendo que ambos surgem num cenário de alto
grau de resistência e conflito entre países desenvolvidos e não desenvolvidos.
Os países desenvolvidos encontravam-se preocupados com a poluição industrial,
escassez de recursos energéticos, decadência de suas cidades e outros problemas decorrentes
de seus processos de desenvolvimento. Já os países não desenvolvidos temiam que as
medidas de controle dos efeitos negativos do crescimento significasse limitar o
2 Sachs (1980 apud BARBIERI, 2011), compreende o ecodesenvolvimento como uma corrente de
pensamento que leva em conta não só os fins do desenvolvimento, mas também os meios, afirmando o
compromisso básico de valorizar a contribuições das populações locais nas transformações dos recursos de seu
meio.
34
desenvolvimento dos países mais pobres, que focavam o discurso no combate à pobreza e a
possibilidade/direito de se desenvolverem nos moldes dos países já desenvolvidos
(BARBIERI, 2011; DIEGUES, 1992).
A Conferência constitui marco fundamental, sendo considerada por Barbieri (2011)
uma etapa importante da percepção dos problemas relacionados ao binômio
desenvolvimento-meio ambiente. Essa etapa é caracterizada pela percepção da degradação
ambiental como um problema global, como um “sintoma da crise de civilização” (LEFF,
2009, p.17), que impacta em todos os seres e que decorre do tipo de desenvolvimento
adotado pelos países. Esta perspectiva induz a um conjunto de ações voltadas para o
questionamento das políticas e metas de desenvolvimento adotadas pelos estados nacionais,
que geralmente são embasados numa visão economicista e guiados por indicadores como
PIB, renda per capita, etc. (VEIGA, 2005).
Além disso, a Conferência de Estocolmo teve o mérito de rejeitar duas ideias
extremas: cornucopianos, com a crença ilimitada no progresso técnico científica, e os
mathusianos, que pregavam a incapacidade do progresso técnico superar os problemas de
escassez. E desse confronto duplo, surge à proposta que Sachs (1993) atribuí o nome de
ecodesenvolvimento e que futuramente tornou-se o desenvolvimento sustentável.
Se os eventos/discussões anteriores representam os movimentos inicial para
estabelecimento do conceito desenvolvimento sustentável. A publicação do documento
intitulado, Nosso Futuro Comum em 1987, é um marco para o estabelecimento do conceito,
e é considerado por autores como Veiga (2006) e Leff (2009) como o momento onde o
conceito é legitimado.
35
O documento traz a definição de desenvolvimento sustentável mais conhecida, e que
tem maior aceitação acadêmica e política. (DIEGUES, 1992) E estabelece uma relação de
responsabilidade de atendimento de necessidades presentes, sem comprometer o direito das
gerações futuras também atenderem suas necessidades (BRUNDTLAND, 1987).
Característica importante do relatório é o reconhecimento das disparidades entre
nações, ao mesmo tempo em que busca um estabelecimento de um terreno comum que
dissolva as diferentes visões e interesses dos países, povos e classes sociais (LEFF, 2009).
Talvez por isso Gro Harlem Brundtland (Presidente da Comissão Mundial sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento – CMMAD) afirme o desenvolvimento sustentável como um
“conceito político” e um “conceito amplo para o progresso econômico e social” Veiga
(2006, p.113).
Em 1992, representantes de 178 países, incluindo 100 chefes de Estado, estiveram na
cidade do Rio de Janeiro na Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e
Desenvolvimento (CNUMAD), também chamada popularmente como RIO 92. Paralelo ao
evento oficial intergovernamental, foi realizado o Fórum Global das ONGs, reunindo cerca
de 4.000 entidades da sociedade civil de diversas partes do mundo, um evento de
magnitudes sem precedentes, seja pelo número entidades e pessoas envolvidas, seja pela
quantidade de documentos e planos de ação elaborados, que totalizaram 36 (BARBIERI,
2011).
Para Barbieri (2011) a CNUMAD inaugura um ciclo de conferência sobre
desenvolvimento e meio ambiente no âmbito da ONU, de tal modo que após o evento são
realizadas diversas outras conferências e convenções para tratar de problemas como água,
saneamento, energia, saúde, meio ambiente, erradicação da pobreza, etc.
36
Além de estimular o novo ciclo conferências e convenções a RIO 92 teve a força de
aprovar importantes documentos oficiais, conforme apontam Novaes (2003) e Barbieri
(2011), que trazem a tona o conceito de sustentabilidade e principalmente representam o
esforço de operacionalizar/concretizar o termo “sustentável”. São os documentos.
Declaração do rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e o Desenvolvimento;
Convenção sobre Mudanças Climáticas;
Declaração de Princípios das Florestas;
Convenção da Biodiversidade;e
Agenda 21.
Os eventos citados ao longo do item 2.3.1. São referenciais temporais que favorecem
a compreensão do processo de emersão do conceito/valor “desenvolvimento sustentável”.
Destaca-se que apesar da linha de desenvolvimento cronológica adotada, não ocorreu
evolução linear do conceito, de modo que hoje se tenha uma unanimidade quanto ao
conceito (BARBIERI, 2011). Porém destaca-se a grande representatividade de Estados e
organizações sociais nas Conferências citadas, o que confere legitimidade e maior nível de
concordância sobre as decisões e conceitos estabelecidos (LEFF, 2009; VEIGA, 2005).
Diante desses fatos, observa-se atualmente uma difusão do discurso voltado para a
preocupação ambiental bem maior do que no primeiro quinquênio do século XX. Soma-se a
essa difusão acadêmica e governamental o fato que atualmente a adjetivação sustentável tem
relativa popularidade e se encontra presente em discursos empresariais e do terceiro setor,
apesar de muitas vezes o termo ser utilizado sem muito critério o que gera o
37
empobrecimento da percepção do que seja o conceito/valor sustentável (BARBIERI, 2011;
BELLEN, 2007; VEIGA, 2010).
A leitura de Leff (2009), Barbieri (2011), Veiga (2005), Bursztyn (2001) e Sachs
(1997, 2007) permite perceber a importância da sustentabilidade, de modo que o conceito
apresenta valor imperativo e portanto, com força de influência no campo filosófico/prático
das organizações públicas, privada e terceiro setor.
O caráter imperativo identificado assim como a significativa difusão dos termos
“sustentável”, “desenvolvimento sustentável” e similares, suscitou o uso por diversas
organizações, que muitas vezes se utilizam do termo de forma indevida. Em função dessa
adjetivação sem critério científico/etimológico que Veiga (2010) aponta em sua obra
“Sustentabilidade: a legitimação de um novo valor”, a relevância de aprofundamento teórico
do que seja efetivamente expressão desenvolvimento sustentável.
A apropriação generalizada e principalmente a análise proposta torna necessária à
discussão mais aprofundada do que seja o desenvolvimento sustentável, de modo a
identificar as principais correntes, e definir os conceitos norteadores da presente análise.
2.3.2. Aspectos Gerais e Conceitos mais difundidos
Conforme já exposto, o relatório de Brundtland traz o conceito mais conhecido
(LEFF, 2009; VEIGA, 2005; BELLEN, 2006). Para Brundtland (1987, p.9) a humanidade é
capaz de alcançar o desenvolvimento sustentável, ou seja, de “garantir que ele atenda as
38
necessidades do presente sem comprometer a capacidade de as gerações futuras atenderem
também às suas”.
O conceito estabelece limites ao desenvolvimento, porém, não limites absolutos, pois
considera que há limitações impostas pelo estágio da tecnologia e organização social, no que
diz respeito ao uso de recursos ambientais e ao mesmo tempo reconhece os limites
ambientais em absorver os efeitos das atividades humanas. Dessa forma o conceito absorve
as duas correntes de pensamento que antes eram antagônicas, e principalmente demonstra
que a tecnologia e organização social podem ser aprimoradas para proporcionar uma “nova
era de crescimento econômico” (BRUNDTLAND, 1987)
Similarmente a perspectiva do Brundtland (1987), Goldsmith e coautores (1972 apud
BELLEN, 2006) uma sociedade é sustentável quando seus propósitos e intenções podem ser
atendidos indefinidamente, fornecendo satisfação ótima para seus membros. Para os autores,
o desenvolvimento sustentável é quando o crescimento econômico é capaz de trazer justiça e
oportunidades para todos os seres humanos, sem destruir recursos naturais finitos e sem
ultrapassar a capacidade de carga do sistema.
Para Constanza (1991 apud BELLEN, 2006) e Cavalcanti (1998), o desenvolvimento
sustentável implica na inserção do sistema econômico e humano num sistema maior, o
ecológico. Desta forma, o modelo de desenvolvimento adotado deve assegurar que a vida
humana possa continuar indefinidamente com desenvolvimento e crescimento de sua
cultura, sem extrapolar as “possibilidades de produção” da natureza.
A Cúpula da Terra que ocorreu em 1992, mas conhecida como Rio 92, teve o mérito
de aprovar diversos documentos oficiais, conforme já citado no item anterior. Dentre estes
39
documentos, destaca-se a Agenda 21, ao se considerar o pressuposto de ser um plano de
ação para alcançar os objetivos do desenvolvimento sustentável, que consolida diversos
relatórios elaborados na esfera da ONU (Assembleia Geral, FAO, PNUMA, UNESCO, etc.)
(BARBIERI, 2011; VEIGA, 2005).
Barbieri (2011) descreve a Agenda 21:
Documento longo, mais de 800 folhas, dividido em 4 seções, com 40 capítulos,
com a seguinte organização: Preâmbulo; Seção I com 7 capítulos que tratam das
dimensões sociais do desenvolvimento sustentável (cooperação internacional,
padrão de consumo, população, saúde, etc.); Seção II, sem título, com 14 capítulos
que abordam as dimensões ambientais (atmosfera, oceanos, ecossistemas frágeis,
biodiversidade, etc.); a Seção III dedica 9 capítulos aos principais grupos sociais,
mulheres jovens, populações indígenas, trabalhadores, empresários, ONGs,
autoridades locais e outros cuja atenção e participação efetiva são consideradas
decisivas para alcançar este novo tipo de desenvolvimento; a Seção IV refere-se
aos meios para implantar os programas e atividades recomendados na seções
anteriores (recursos financeiros, transferência de tecnologia, educação, etc.). Cada
capítulo apresenta, via de regra, uma introdução ao problema e às áreas do
programa de ação com objetivos, atividades e meios de implementação, incluindo
estimativas quanto aos recursos financeiros necessários.
A Agenda 21 é documento de alcance global, nacional e local e que embora diversos
chefes de governo tenham apoiado as propostas e acordos internacionais, muito do que foi
tratado na Agenda não saiu do papel. Apesar disso não se pode negar a importância do
evento, principalmente pelos fatos, da Agenda reafirmar de modo enfático a inseparabilidade
das questões do desenvolvimento e meio ambiente e seu esforço de concretização do
conceito desenvolvimento sustentável (BARBIERI, 2011).
Apesar da Agenda 21 e o conceito estabelecido no Relatório de Brundtland (1987)
terem em torno de si um nível significativo de concordância, e ser considerado por alguns
autores como etapas legitimadoras do conceito (VEIGA, 2005; BARBIERI, 2011), há
críticas a essas visões, consideradas mais difundidas.
40
Viola & Leis (1991) observam que a linha mestra do Relatório Brundtland é
influenciada fortemente pela concepção desenvolvimentista e modernizadora que se
estendeu nos pós-guerra. Similarmente, Novaes (2002) afirma que tanto o relatório quanto a
Agenda 21 é depositária de uma concepção reformista, cujo norte é a sustentabilidade do
capital.
Novaes (2002) afirma que o ideal presente nos documentos supracitados, representa
um projeto específico de sustentabilidade, de modo que suas elaborações são resultado de
um processo de coalizão envolvendo forças econômicas políticas e sociais hegemônicas, as
quais têm, por sua vez, tem por objeto central a manutenção da própria sustentabilidade.
Dessa forma, percebe-se, brevemente, a ausência de unanimidade quanto ao conceito
e a diversidade de interpretações do ideário desenvolvimento sustentável, sendo relevante o
aprofundamento do conceito e da exposição das diferentes perspectivas empírico-conceituais
existentes. Destaca-se que não é objetivo deste trabalho o esgotamento das visões do
conceito “desenvolvimento sustentável” que BELLEN (2006) aponta ser superior a 160, mas
expor a variação de entendimento existente e identificar qual perspectiva mais se adéqua a
análise proposta.
2.3.3. Perspectiva acerca do Conceito Desenvolvimento Sustentável.
O conceito desenvolvimento advém de um processo histórico de reavaliação crítica
da relação homem e meio ambiente. Trata-se de um processo continuo e complexo, e que
41
proporciona diversas interpretações do que seja desenvolvimento sustentável (SEIFFERT,
2008; BELLEN, 2006).
Pearce (1993 apud BELLEN) sugere um quadro com diferentes graus de
sustentabilidade, onde demonstra a existência de diferentes ideologias ambientais que
explicam o dinamismo e complexidade do ambientalismo. Para o autor, o ambientalismo
compreende dois extremos ideológicos: o tecnocentrismo e o ecocentrismo, o primeiro tem
pressupostos aproximados do modelo antropocêntrico na relação homem-natureza, enquanto
o posicionamento ecocêntrico, tem por base uma relação simétrica entre o homem e a
natureza.
Compreendido nestes extremos, há quatro campos de gradações que perpassam pela
sustentabilidade muita fraca, sustentabilidade fraca, sustentabilidade forte, sustentabilidade
muito forte, conforme se pode observar no quadro a seguir:
Quadro 1 - Dimensões do ambientalismo
DIMENSÕES DO AMBIENTALISMO
TECNOCÊNTRICO ECOCÊNTRICO
Cornucopiana Adaptativa Comunalista Ecologia
profunda
Exploração de
recursos,
orientação pelo
crescimento
Conservacionismo
dos recursos,
posição gerencial.
Preservacionismo
dos recursos.
Preservacionismo
profundo. Rótulo
Ambiental
Economia
antiverde livre
mercado.
Economia verde,
mercado verde
conduzido por
instrumentos de
incentivos
econômicos.
Economia verde
profunda.
Economia steady-
state, regulação
macro ambiental.
Economia verde
muito profunda,
forte regulação
para minimizar a
tomada de
recursos
Tipo de economia
42
Objetivo
econômico,
maximização do
crescimento
econômico.
Considera o
mercado livre em
conjunção com o
progresso técnico
deve possibilitar a
eliminação das
restrições relativas
aos limites e à
escassez
Modificação do
crescimento
econômico, norma
do capital
constante, alguma
mudança de
escala.
Crescimento
econômico nulo,
crescimento
populacional nulo.
Perspectiva
sistêmica, saúde
do todo
(ecossistema)
hipótese de Gaia e
suas implicações.
Reduzida à escala
da economia e da
população.
Imperativa
mudança de
escala,
interpretação
literal de Gaia.
Estratégia de
Gestão
Direitos e
interesses dos
indivíduos
contemporâneos,
valor instrumental
da natureza.
Equidade intra e
intergeracional
(pobres
conteporâneos e
gerações futuras)
valor instrumental
da natureza.
Interesse coletivo
sobrepuja o
interesse
individual, valor
primário dos
ecossistemas e
valor secundário
para suas funções
e serviços.
Bioética (direitos
e interesses
conferidos a todas
as espécies), valor
intríseco da
natureza. Ética
Sustentabilidade
muito fraca.
Sustentabilidade
Fraca.
Sustentabilidade
forte.
Sustentabilidade
muito forte
Grau de
sustentabilidade
Fonte: Pearce (1993) apud Bellen (2006)
Naess (1996 apud BELLEN, 2006) também estabelece diferenciação de extremos,
onde em uma extremidade há a ecologia profunda e noutra a ecologia superficial. Na
primeira, o objetivo central é a saúde das pessoas , a luta contra poluição e depleção dos
recursos, enquanto a ecologia profunda foca no igualitarismo biosférico e nos princípios da
diversidade, complexidade e autonomia.
Similarmente, Veiga (2005) apresenta 2 vertentes/categoria de conceitos extremas
uma intitulada como “caminho do meio”.
Segundo o autor, na primeira, estão os que acreditam que a conservação ambiental e
o crescimento econômico é totalmente compatível, aliás, para essa corrente não existe
dilema nesta relação de fenômenos. Representando essa corrente ultraotimista, têm-se
43
diferentes teóricos como Grossman e Krueger (1995 apud VEIGA, 2006), que para eles as
fases de degradação ambiental e recuperação estariam separadas por ponto de mutação que
se situaria em torno de 8.000 dólares de renda per capita. Assim o estado de sustentabilidade
seria mera consequência do crescimento econômico.
E linha similar de otimismo econômico-tecnológico tem-se Solow (2000 apud
VEIGA, 2006):
No longo prazo, os ecossistemas não oferecerão qualquer tipo de limite, seja como
fonte de insumos ou assimiladores de impacto. Qualquer elemento da biosfera que
se mostrar limitante ao processo produtivo, cedo ou tarde, acabará substituído,
graças a mudanças na combinação entre três ingredientes fundamentais: trabalho
humano, capital produzido e recursos naturais. Isto porque o progresso científico
tecnológico sempre conseguirá introduzir as necessárias alterações que substituam
a eventual escassez, ou comprometimento, do terceiro fator, mediante inovações
dos outros dois ou de algum deles. Em vez de restrição às possibilidades de
expansão da economia, os recursos naturais podem no máximo criar obstáculos
relativos e passageiros, já que são indefinidamente superados por invenções
(SOLOW, 2000 apud VEIGA, 2006).
As visões otimistas estabelecem uma visão linear entre qualidade ambiental e renda
per capita, sendo isso alvo de criticas de Veiga (2005), onde destaca que são tão diversos os
estilos de crescimento e a circunstâncias que ele ocorre, devendo ser rejeitada essa ideia tão
linear. Além disso, o autor afirma existência de indicadores que revelam tragédias
ambientais em países riquíssimos colocando em xeque a relação proposta.
Segundo Veiga (2005), embora tecidas estas argumentações a comunidade científica
deposita crédito na proposição de Groisman e Krueger (1995 apud VEIGA, 2006). Porém
prever que esta visão será colocada em descrédito quando se obtiver, de um grande número
de países, indicadores confiáveis sobre um leque mais amplo de variáveis ecológicas,
levando a comprovação da não linearidade entre qualidade ambiental e renda per capita.
44
Brevemente discutida a visão otimista, tem-se no extremo oposto, os que se baseiam
na segunda lei da termodinâmica do inexorável aumento da entropia, e assinalam que as
atividades econômicas gradualmente transformam energia em formas de calor tão difusas
que são inutilizáveis. Nessa vertente, Veiga (2005) apresenta o expoente mais radical:
Nicholas Georgescu-Roegen (1973, 1995), que relata que em algum momento do futuro, a
humanidade devera se apoiar a continuidade de seu desenvolvimento na retração, ou seja,
decréscimo do Produto Interno Bruto (PIB).
Ainda nesta perspectiva, porém menos radical, Veiga (2006) aponta Herman E. Daly
(1996), para ele só haveria alternativa a decadência ecológica numa “condição estacionária”.
Daly (1996) usa uma exposição didática, fazendo analogia entre economias de ponta (ex:
EUA e Japão) com uma biblioteca cheia de livros, sem espaços para receber novos
exemplares, assim a melhor solução é adotar o princípio que um novo livro só comporá o
acervo se outro for retirado, de modo que o novo exemplar seja melhor do que o livro
recolhido. Ou seja, continua-se a melhorar em termos qualitativos, substituindo, por
exemplo, energia fóssil por energia limpa.
É complicado, e bastante polêmico assentar o desenvolvimento, até mesmo o
sustentável, numa lógica de decréscimo do PIB, conforme propõe Georgescu (1973), sobre
isso, não se buscará neste trabalho a validade econômica de tal proposição, cabendo somente
à citação para ilustração de uma vertente conceitual sobre a sustentabilidade.
Apesar dessa ressalva, julga-se pertinente o destaque à dimensão qualitativa do
crescimento, notadamente aqueles relacionados com a equidade, o uso de recursos – em
particular da energia – e a geração de resíduos. Pois desta forma embora possa não haver
acréscimo quantitativo ao PIB, mas gerará processos que agregam maior valor social e
45
ambiental, tendo sua importância para a melhoria da qualidade de vida da população
(VEIGA, 2005; DALY, 1996).
Mas após o apontamento, em especial das visões extremas, o que seria o “caminho
do meio”?
Veiga (2005) afirma haver um atraso da elaboração conceitual do “desenvolvimento
sustentável” quando comparado ao “desenvolvimento”, demonstrando avanço mais quanto
ao aspecto de institucionalização do conceito.
Veiga (2005, p.170) apresenta ao longo de sua obra Desenvolvimento Sustentável,
diversas visões de teóricos como Adrea Maneschi, Stefano Zamagni, Robert M. Solow,
David William Pearce, dentre outros, que segundo palavras do próprio autor, representam
“obscuras tentativas de construir um discurso sobre o que poderia ser considerado um
caminho do meio”. Feita essa afirmação, qual seria o balanço a ser feito? Será possível uma
resposta direta sobre o que seja “desenvolvimento sustentável”? Veiga (2005) aponta a
resposta a este questionamento.
Inúmeros autores como Veiga (2005, 2010), Barbieri (2011), Leff (2009), Bellen
(2007), Sachs (2007), dentre outros, apontam o Relatório Brundtland como uma referência
para a discussão do tema. Que é entendido como uma busca social continua e consciente
voltada para o atendimento das necessidades intra e intergeracionais. Conforme se pode
observar: “A Humanidade tem a capacidade de atingir o desenvolvimento sustentável, ou
seja, de atender ás necessidades do presente sem comprometer a capacidade das futuras
gerações” (BRUNDTLAND, 1987, p.9).
46
Este é um dos principais referenciais de uma gestão ambiental, com as políticas
públicas devendo ser implantadas de modo a garantir ou visar o atendimento das demandas
sociais presentes, de forma que não se esgotem os recursos naturais para o atendimento das
futuras gerações.
Esse conceito, além de ser um paradigma ambiental ainda estabelece limites para a
racionalidade econômica e aponta os desafios da degradação ambiental, como assinalou Leff
(2010, p. 16-17).
O discurso do desenvolvimento sustentável foi sendo legitimado, oficializado e
difundido amplamente com base na Conferência das Nações Unidas sobre Meio
Ambiente e o Desenvolvimento [...] Naquele momento é que foram assinalados os
limites da racionalidade econômica e os desafios da degradação ambiental ao
projeto civilizatório da modernidade. A escassez, alicerce da teoria e prática
econômica, converteu-se numa escassez global que já não se resolve mediante o
progresso técnico, pela substituição de recursos escassos por outros mais
abundantes ou pelo aproveitamento de espaços não saturados para o depósito dos
rejeitos gerados pelo crescimento desenfreado da produção. (LEFF, 2010, p. 16-
17)
Apesar do reconhecimento já exposto acerca do conceito estabelecido pelo Relatório
de Brundtland (1987). Alguns autores como Novaes (2002), Viola e Leis (1991), e Dahl
(1997) criticam o conceito.
Conforme já exposto e item anterior, Viola e Leis (1991) e Novaes (2002)
consideram o conceito estabelecido no relatório como a crítico, fortemente influenciado pela
concepção desenvolvimentista e modernizadora do pós-guerra. Os autores vão mais longe ao
afirmar que o conceito é embasado numa concepção reformista, que visa com esta estratégia
à sustentabilidade do próprio grupo hegemônico (capital).
Talvez por isso Leff (2009), Barbieri (2011) e Veiga (2005) apontem o conceito de
Brundtland (1987) como um conceito político. Esse caráter reformista talvez seja explicado
47
pelo contexto histórico de extremos ideológicos que existia no período, onde se buscava
formar coalização e terreno neutro para o desenvolvimento de ações conjuntas em prol de
questões globais.
Dahl (1997 apud BELLEN 2006) não entra na discussão do aspecto reformista do
conceito, mas destaca que a ideia apresentada no Relatório de Brundtland e muito geral e
não implica em responsabilidade específica a respeito das dimensões do desenvolvimento
sustentável e nem em relação às gerações futuras. Diferentemente do documento “Agenda
21”, que para autor, possui maior nível de aceitação que o relatório de Brundtland (1987) e
define responsabilidades específicas acercas das dimensões de desenvolvimento sustentável.
Bossel (1999 apud BELLEN, 2006) também discute o conceito de sustentabilidade,
apontando que a sustentabilidade entendida no sentido estrito de manutenção da existência
ou prolongamento, oferece pouca contribuição conceitual para sociedade. O autor destaca
aspecto dinâmico da sociedade, e que a mesma não pode ser mantida no mesmo estado.
Dessa forma Bossel (1999 apud BELLEN, 2006) apresenta aspecto não estático,
dinâmico, e evolutivo que deve ter o desenvolvimento sustentável. Essa perspectiva também
tem a concordância de Schussel (2004), Hardi e Zdan (1997) e Sachs (1997) que ressalta a
importância que deve ser dada mais ao processo de mudança, aprendizagem coletiva,
adaptação do que ao objetivo estático de otimização definidos.
Para Bossel (1999 apud BELLEN, 2006) destacam a importância da sinergia entre
diversas dimensões do desenvolvimento, que para o autor, deve abordar as dimensões
material, ambiental, social, ecológica, econômica, legal, cultural, política e psicológica.
48
Na obra “Caminhos para o desenvolvimento sustentável” o autor Ignacy Sachs
(2007), apresenta o conceito do desenvolvimento é baseado no duplo imperativo ético
sincrônico com a geração atual e diacrônico com as gerações futuras. E impulsiona a busca
de soluções triplamente vencedoras, em termos sociais, econômicos e ecológicos. Também
aponta em mesma obra (SACHS, 2007), 8 critérios para um modelo sustentável, que melhor
detalham o tripé econômico, social e ambiental, e que demonstra a abrangência do conceito,
conforme Quadro 2:
Quadro 2 - Critérios de Sustentabilidade
CRITÉRIOS DETALHAMENTO
Cultural
Mudanças no interior da continuidade (equilíbrio entre respeito à
tradição e inovação);
Capacidade de autonomia para elaboração de um projeto nacional
integrado e endógeno (em oposição às cópias servis dos modelos
alienígenas);
Autoconfiança combinada com abertura para o mundo.
Social
Alcance de um patamar razoável de homogeneidade social;
Distribuição de renda justa;
Emprego pleno e/ou autônomo com qualidade de vida decente;
Igualdade no acesso aos recursos e serviços sociais.
Ecológica Preservação do potencial do capital natural na sua produção de recursos
renováveis;
Limitar o uso de recursos não renováveis.
Política
(Nacional)
Democracia definida em termos de apropriação universal dos direitos
humanos;
Desenvolvimento da capacidade do Estado para implementar o projeto
nacional, em parceria com todos os empreendedores;
Um nível razoável de coesão social.
Territorial
Configurações urbanas e rurais balanceadas (eliminação das inclinações
urbanas nas alocações do investimento público);
Melhoria do ambiente urbano;
Superação das disparidades inter-regionais;
Estratégias de desenvolvimento ambientalmente seguras para áreas
ecologicamente frágeis (conservação da biodiversidade pelo
ecodesenvolvimento).
Econômico
Desenvolvimento econômico intersetorial equilibrado;
Segurança alimentar;
Capacidade de modernização contínua dos instrumentos de produção;
razoável nível de autonomia na pesquisa científica e tecnológica;
Inserção soberana na economia internacional.
49
Ambiental Respeitar e realçar a capacidade de autodepuração dos ecossistemas
naturais.
Política
(Internacional)
Controle institucional efetivo da aplicação do Principio da Precaução na
gestão do meio ambiente e dos recursos naturais; prevenções das
mudanças globais negativas; proteção da biodiversidade biológica (e
cultural); e gestão do patrimônio global, como herança comum da
humanidade;
Sistema efetivo de cooperação científica e tecnológica internacional e
eliminação parcial do caráter de commodity da ciência e tecnologia, como
propriedade da herança comum da humanidade.
Fonte: Adaptado de SACHS (2007).
Analisando os critérios expostos, percebe-se a amplitude conceitual da
sustentabilidade, e que a materialização do que foi descrito não ocorrerá a curto prazo, pois
demandam mudanças estruturais, e nem de forma isolada, por envolver controles
institucionais, que ultrapassam os limites do Estado-nação.
Os critérios proposto por Sachs (2007) tem um alcance macro, com amplitude
global-nacional diferenciando da análise proposta, que tem uma abrangência micro. Apesar
da diferença de amplitude, a abordagem citada do autor tem mérito para o estudo por
demonstrar os diferentes elementos/condições para o alcance do desenvolvimento
sustentável.
Outro autor que também estabelece condições para alcance da sustentabilidade é
Robert et. al. (1995 apud BELLEN, 2006) que apresenta as condições de um sistema para
alcançar o desenvolvimento sustentável. Para o autor, um sistema atinge o status sustentável
quando atende 4 condições, assim expressas:
1. As substâncias na crosta terrestre não devem aumentar sistematicamente na
ecosfera;
2. As substâncias produzidas pela sociedade não devem aumentar
sistematicamente na ecosfera;
50
3. A base física para a produtividade e a diversidade da natureza não deve ser
sistematicamente reduzida;
4. Os recursos devem ser utilizados correta e eficientemente com relação ao
alcance das necessidades humanas.
A visão de Robert et. al (1995) fornece uma visão de sustentabilidade aplicável tanto
em modelos de análise global (macro) quanto à análise de sistemas menores, como do
estudo proposto. A proposta do autor implica que o as atividades econômicas exercidas não
devem comprometer a ecosfera, sendo desenvolvidas sem aumento sistemático de
substâncias que possam comprometer a qualidade de vida da população, e a assegurar a
eficiência na geração de riqueza com o mínimo de impacto ambiental.
Retomando a discussão a respeito das dimensões do desenvolvimento sustentável,
Bellen (2006) reconhece a existência de diversas sugestões de dimensões sobre o
desenvolvimento sustentável, porém sugere o desenvolvimento da temática a partir de cinco
dimensões (econômica, social, ambiental, geográfica e cultural).
Apesar da existência de controvérsias, e diversas sugestões acerca das dimensões que
se relacionam com a sustentabilidade, este trabalho não centrará na discussão sobre o mérito
de tais classificações. Portanto, em função da metodologia utilizada no estudo de caso e
respaldado nos posicionamentos de Veiga (2005), UNCSD (2001) e Bellen (2006) sobre a
adoção das dimensões de Sachs (1997), optou pelo detalhamento das dimensões:
sustentabilidade econômica, social e ambiental (ver Capítulo 3 - Metodologia)
51
2.3.3.1. Dimensão Econômica
A teoria econômica visa o atendimento dos objetivos de alocação, distributivos e de
escala. Para Bellen (2006) alocação é compreendida como disponibilização de recursos em
função das preferências individuais. Distribuição é entendida como divisão de recursos entre
as pessoas. E por fim, a escala refere-se ao volume físico do fluxo de matéria e energia, de
baixa entropia, retirada do ambiente em forma de matéria bruta e devolvida a ele como
resíduos de alta entropia.
Para a economia as questões referentes à alocação e distribuição apresenta
consistência tanto em termos teóricos quanto históricos. Porém, quando se trata da escala,
não é formalmente reconhecida e não conta com instrumentos políticos de execução
(DALY, 1997 apud BELLEN, 2006).
Autores como Rutherford (1997) fornece uma visão de mundo com base em estoques
e fluxo de capital que incorporam aspectos monetário/econômico, ambiental/natural e capital
humano/social. Dessa forma a dimensão econômica da sustentabilidade busca a
maximização dos retornos mantendo o capital natural constante.
É importante destacar que as visões acerca da busca de rendimentos mantendo o
capital natural constante variam conforme a corrente teórica e remete a discussão já exposta
sobre sustentabilidade fraca-forte. Há aqueles que afirmam haver interesse da manutenção
do capital natural total e outras variações teóricas que consideram que categorias de capital
podem ser compensadas por outro tipo de capital (RUTHERFORD, 1997; PEARCE, 1993;
BELLEN, 2006).
52
Para Hardi e Barg (1997) e Cavalcanti (1997), as abordagem partem da premissa que
o capital natural e capital econômico não devem ser tratados de forma isolada. Para tanto
propõe que a integração entre economia e meio ambiente deve ser alcançada dentro do
processo decisório.
Outros autores como Bartelmus (1995) discutem a sustentabilidade a partir da
contabilidade. Tecendo críticas ao modelo convencional de contabilidade financeiro voltado
para medição de riqueza, e ao mesmo tempo em que propõe instrumentos contábeis que
incorporam as preocupações ambientais no modelo contábil-financeiro.
Aponta a ineficiência da pura utilização de mecanismos de controle e comando,
sugerindo a aplicação de mecanismos de mercado de taxação sobre a poluição, mas alerta
para ineficácia destes instrumentos aplicados a noções de equidade, aspirações culturais,
dentre outras similares. Dessa forma, são tecidas críticas à substituição do capital natural
pelo capital intelectual, e críticas à monetarização pura e o desenvolvimento de indicadores
únicos, de modo a indicar que aspectos sociais também devem estar presentes ao avaliar o
desenvolvimento sustentável (BARTELMUS, 1995; DAHL, 1997 apud BELLEN, 2006)
2.3.3.2. Dimensão Ambiental
Sachs (1997) a sustentabilidade sob a ótica ambiental pressupõe a ampliação da
capacidade de utilização do potencial encontrado na natureza, de modo deteriorar
minimamente o ecossistema. O autor aponta para redução da utilização de combustíveis
53
fosseis diminuição da emissão de poluentes, conservação de energia e substituição de
recursos não renováveis por renováveis e aumento da eficiência da utilização de recursos.
2.3.3.3. Dimensão Social
A sustentabilidade pensada a partir da perspectiva social é a ênfase dada à presença
do ser humano na ecosfera. Foco é dado no bem estar humano, a condição humana e os
instrumentos utilizados para fomentar a melhoria das condições de vida.
A dimensão social envolve o acesso a serviços básicos como serviço público de
saúde, água, esgoto, alimentação saudável, ar puro, etc. Sachs (1997) Considera a
sustentabilidade social como um processo de desenvolvimento que impulsione ao
crescimento estável com distribuição de renda, de modo a proporcionar diminuição das
atuais diferenças entre os diversos níveis sociais e melhoria das condições de vida da
população.
Apesar de alguns autores estabelecerem considerarem a questão cultural como uma
dimensão específica, optou-se por incorporá-la na perspectiva social inspirando pela
proposição de categorização da UNCSD (2001 apud GUIMARÃES, 2008).
O aspecto cultural tem sua relevância reconhecida, apesar da sua dificuldade de
mensuração. Sachs (1997) descreve a dimensão como relacionada à ideia de busca de
modernização sem o rompimento da identidade cultural, dentro de contextos espaciais e
periféricos.
54
Sachs (2007) aponta como critério cultural, a capacidade de autonomia para a
elaboração de um projeto nacional e endógeno, se contrapondo a uma lógica de assimilação
cega de modelos alienígenas. Sendo necessário o desenvolvimento de “novas soluções e não
a transposição mímica de soluções desenvolvidas para outros ambientes socioculturais
naturais (MENDES, 1977 apud SACHS, 1997)”.
2.3.3.4. Lógica Amazônica e a sustentabilidade
Emerge das considerações anteriormente expostas, a importância da reflexão sobre a
Amazônia ao apontar perspectivas da sustentabilidade para a região.
É visível a importância da valorização de elementos da realidade regional que evite à
assimilação cega de modelos exógenos a região. Essa visão é bastante presente nos
conceitos de desenvolvimento e desenvolvimento sustentável. Assim torna-se relevante a
busca de uma “lógica amazônica” proposta por Botelho (2006) e que sintetiza as aspirações,
de um desenvolvimento economicamente regional viável, socialmente justo e
ambientalmente correto.
Assim elenca-se a importância de se implementar uma revolução científico-
tecnológica na Amazônia (BECKER, 2005). De modo a ampliar esforços para a realização
de pesquisas, que gerem maior conhecimento sobre o ecossistema amazônico e suas
potencialidades, induzindo a criação de processos produtivos sustentáveis, por meio do
desenvolvimento práticas, instrumentos gerenciais, dentre outros.
55
Conforme observado existe uma grande variedade de concepções de
sustentabilidade, e que também apresentam diversas dimensões de análise do fenômeno
desenvolvimento sustentável. A questão é que ainda não há consenso quanto à definição da
sustentabilidade, tão como não há formalização amplamente aceita e detalhada do conceito
como não há formalização consensual e especifica do conceito como no caso
desenvolvimento. Essa variação de definição do conceito assim como suas dimensões de
análise, se deve ao campo ideológico que o autor se situa, remetendo novamente aos
apontamentos das vertentes teóricas sustentabilidade forte ou fraca, ecocentrismo ou
tecnocentrismo, fatalismo antrópico ou otimismo tecnológico. (BELLEN, 2007; VEIGA,
2006)
Apesar das visões extremas sobre otimismo tecnológico e de fatalidade entrópica, e
das divergências conceitual sobre a sustentabilidade, tem-se como ponto comum que a
racionalidade puramente econômica, não pode ser o único imperativo para indução do
desenvolvimento. (VEIGA, 2006).
Nesse cenário de extremos, Veiga (2005) apresenta Sachs (2002) em sua obra
“caminhos para o Desenvolvimento Sustentável”, como aquele que melhor soube evitar o
ambientalismo extremado que ignora pobrezas e desigualdades e o desenvolvimento
anacrônico que não se importa com o bem estar das gerações futuras propõe um caminho do
meio
Para Sachs (2008) a substância do desenvolvimento sustentável é a harmonização de
objetivos sociais, ambientais e econômicos e defende objetivos específicos para as 8
dimensões/critérios de sustentabilidade já citados no quadro 1.
56
Aponta uma nova dimensão de tempo que deve guiar as ações humanas, embasado
na ética imperativa da solidariedade sincrônica com a geração atual, soma-se a solidariedade
diacrônica com as gerações futuras. Dessa forma, o horizonte de tempo e espaço se amplia
ao ponto de que ações humanas possam afetar locais distantes de onde aconteceram, assim
como interferir em todo o planeta.
Relacionando com o conceito de desenvolvimento a sustentabilidade apresenta
características comuns, principalmente no que tange aos aspectos sociais, e de oferecimento
de uma base econômica que amplie a liberdade dos indivíduos. Além de isso desenvolver de
forma sustentável implica em contemplar as limitações ambientais existentes, e assegurar
condições favoráveis às próximas gerações. Ou seja, não só o critério econômico é guia de
ações, mas busca-se harmonização entre critérios econômicos, sociais e ambientais,
contemplando os direitos das gerações presentes e futuras.
Fica clara a essencialidade da temática, porém, o conceito da sustentabilidade perde
seu sentido de existência se não for aplicado, logo esse arcabouço teórico deve além de guiar
filosoficamente as ações institucionais e organizacionais, deve ser um conceito operacional.
Assim deve-se buscar o desenvolvimento de instrumentos gerenciais/ institucionais que
mensurem, direcionem os esforços organizacionais, sejam públicos ou privados, para a
concretização da sustentabilidade.
Neste aspecto, há grande desafio atual, conforme abordado por Bellen (2007), onde
afirma que apesar da unanimidade quanto ao aspectos gerais do conceito da sustentabilidade,
há baixa operacionalidade do mesmo. Compreende-se a importância da concretização da
sustentabilidade, para isso, é oportuno o desenvolvimento de instrumentos
57
gerenciais/institucionais que mensurem e consequentemente direcionem as organizações e a
sociedade para um padrão de desenvolvimento sustentável.
2.4. INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE: ASPECTOS GERAIS
Foi durante a década de 90, que se desenvolveu o interesse na busca de indicadores
de sustentabilidade por organismos governamentais, não governamentais, institutos de
pesquisa, empresas e universidade em todo o mundo. Foi realizada uma série de
conferências e diversos outros eventos com interesse voltado a discussão e elaboração de
indicadores (MARZALL & ALMEIDA, 2000 apud BELLEN, 2007).
Existe um movimento internacional liderado pela Comissão do Desenvolvimento
Sustentável (CSD) das Nações Unidas, cujo objetivo é a construção de indicadores. Essa
comissão reúne diversas organizações e especialistas de todo o mundo, por pretender por em
prática os capítulos 8 e 40 da “Agenda 21”, firmada na Rio-92, que também trata da
necessidade de informações para a tomada de decisões (VEIGA, 2005)
Diversos trabalhos vêm sendo elaborados no campo do desenvolvimento sustentável,
na busca de princípios, metodologias e ferramentas de avaliação, que tem por objetivos
colaborar para a reversão dos processos de degradação ambiental, alcançando um status de
melhoria de vida (PHILIPPI, 2005).
Apesar dos estudos ainda há pouca disponibilidade e acessibilidade a dados
integrados do tripé econômico, social e ambiental, dificultando o processo de gestão e
conscientização ambiental (PHILIPPI, 2005).
58
Ainda é preciso considerar que as informações disponíveis devem alcançar todos os
atores da sociedade, comunidade, setor empresarial, governo, instituições de pesquisa,
dentre outros, que possibilitem uma definição conjunta de objetivos e metas, como também
o estabelecimento de uma gestão voltada para o desenvolvimento sustentável (PHILIPPI,
2005).
Assim, deve-se possibilitar a concretização de objetivos e metas do desenvolvimento
sustentável, estabelecidos no documento Agenda 21 global ou das Agendas 21 locais, e
demais documentos referência da questão ambiental (PHILIPPI, 2005).
Conhecida a importância e algumas diretrizes imperativas acerca de indicadores de
sustentabilidade, torna-se chave a discussão da abrangência do conceito para nortear a
análise proposta pelo trabalho.
2.5. INDICADORES
Segundo o Dicionário Houaiss (2002), o termo indicador é de etimologia latina
significando descobridor, sinalizador. Significa apontar, anunciar, estimar. Os indicadores
podem informar sobre o progresso em direção à uma determinada meta, e também um
recurso que facilita a percepção de tendência ou fenômeno que não pode ser diretamente
mensurado (HAMOND, 1995 apud BELLEN, 2007).
Para Mcqueen e Noak (1998 apud BELLEN, 2007) é fundamental a criação de
indicadores que “resumam informações relevantes de um fenômeno particular”. Mensurando
59
de alguma forma a ordem de fenômenos tanto econômicos, sociais, culturais e ambientais
que a ação governamental é capaz de gerar.
Complementando a conceituação acima, alguns autores definem como variável
relacionada hipoteticamente com outra variável estudada, que não pode ser diretamente
observada (CHEVALIER et. al., 1992 apud BELLEN, 2007). Sendo que a variável é uma
representação com fins operacionais de qualidade, característica, propriedade de um sistema.
É importante destacar que os indicadores são um modelo de realidade, e não a própria
realidade, porém é preciso refletir o máximo possível à realidade do fenômeno, para que
tenha significado e relevância para a tomada de decisão (HARDI e BARG, 1997;
GALLOPIN, 1996 apud BELLEN, 2007).
Talvez por isso Chevalier (1992 apud BELLEN, 2007) e GALLOPIN (1996 apud
BELLEN, 2007), apontem que algumas definições colocam um indicador como variável
relacionada hipoteticamente com outra variável estudada, que não pode ser diretamente
observada.
É importante também que o indicador tenha significância própria, de modo a ser
comparado com outros tipos e formas de informação, tornando-se relevante tanto para a
política quanto para processo de tomada de decisão. Ou seja, o indicador para ser importante
deve ser reconhecido tanto pelo tomador de decisão quanto pelo público (GALLOPIN, 1996
apud BELLEN, 2007).
Para isso é necessário que os indicadores resumam e simplifiquem informações
relevantes, tornando, de preferência fácil o entendimento para o público, fazendo com que
60
certos fenômenos que ocorrem na realidade se tornem mais aparentes, aspecto que é
particularmente importante na gestão ambiental (GALLOPIN, 1996 apud BELLEN, 2007).
Bellen (2007) também define conceituação de indicadores, afirmando que a partir de
certo nível de agregação ou percepção, podem ser definidos como “variáveis individuais ou
uma variável que é função de outras variáveis”. E esta função pode ser exemplificada como:
uma relação, que mede a variação da variável em relação a uma base específica; um índice,
um número simples que é uma função simples de duas ou mais variáveis; ou de maior
complexidade, como um resultado de um grande modelo de simulação.
Tunstall (1994 apud BELLEN, 2007: 42 p.) disserta que as principais funções dos
indicadores são:
Avaliação de condições e tendências;
Comparação entre lugares e situações;
Avaliação de condições e tendências em relação a metas e aos objetivos;
Prover informações de advertência;
Antecipar futuras condições e tendências.
Para cumprir suas funções, o conjunto de dados/informações que compõe os
indicadores precisam ser coletados e disponibilizados, para isso é relevante uma descrição,
mesmo que brevemente, dos componentes dos indicadores (dados primários, dados
estatísticos e indicadores) e de indicadores agrupados (índices).
Os indicadores são diferentes de dados primários. Já os dados são medidas, ou
observações no caso dos dados qualitativos, dos valores da variável em diferentes tempos,
locais, população ou a sua combinação (GALLOPIN, 1996 apud BELLEN, 2007). A partir
61
de certo nível de agregação ou percepção, os indicadores podem ser definidos como variável
individual ou uma variável em função de outras variáveis (BELLEN, 2007).
A relação entre dados primários e indicadores pode ser demonstrada na pirâmide de
informações proposta por Hammond et al. (1995 apud BELLEN 2007).
Na base da pirâmide encontram-se os dados primários, que são coletados por meio de
monitoramento e pesquisa. Geralmente essa etapa demanda grande esforço, custo e tempo,
inclusive para que se possam ser produzidos dados estatisticamente confiáveis (PHILIPPI,
2005).
Figura 1 - Pirâmide de Informações
Fonte: HAMOND (1995 apud BELLEN, 2006)
Índices
Indicadores
Dados Analisados
Dados Primários
62
Os dados estatísticos, ou analisados, descrevem fenômenos reais, mas geralmente
precisam de interpretação e explicação sobre os resultados. Já os indicadores devem fornecer
informações/mensagens que não necessitem de maiores interpretações.
2.6. INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE: DISCUTINDO O CONCEITO
Sinteticamente podem-se definir indicadores de sustentabilidade como os
componentes da avaliação do progresso em relação a um desenvolvimento dito sustentável.
Mesurando e estimando o alcance de metas referentes à sustentabilidade. (HAMOND et. al.,
1995; GALLOPIN, 1996 apud BELLEN, 2007).
Considera-se que grande maioria dos indicadores são focados em dimensões
específicas: ora ambientais, ora saúde, econômicos ou sociais, ou seja, foram desenvolvidos
por uma necessidade específica. Não podendo ser considerados indicadores de
sustentabilidade em si, embora, muitas vezes, há um potencial representativo dentro do
contexto de desenvolvimento sustentável (BELLEN, 2007).
Abrangência e complexidade do conceito de sustentabilidade talvez expliquem
porque a maioria dos indicadores é específica, o fato é que o termo envolve tanto dimensões
econômicas, sociais, ambientais, e outras mais, dependendo da visão teórica em questão,
(ver item sustentabilidade ambiental) o que torna mais complexo o processo de elaboração
de indicadores de sustentabilidade.
Essa complexidade se manifesta na necessidade de desenvolver sistemas
interligados, indicadores inter-relacionados ou agregação de diferentes indicadores. E que
possam oferecer mecanismos que permitam mensurar, estimar fenômenos relacionados à
63
sustentabilidade. Bellen (2007) aponta que existem poucos sistemas de indicadores que
lidam com o desenvolvimento sustentável, a grande maioria é em caráter experimental, mas
possuem o intento de melhor compreender os fenômenos relacionados à sustentabilidade
(BELLEN, 2007).
Gallopin (1996 apud BELLEN, 2007) complementa ao colocar que o processo de
avaliação de ações/programas voltados para o desenvolvimento sustentável deve ser
selecionado em diferentes níveis hierárquicos de percepção, assim, valorizando o processo
participativo que o mesmo deve ter.
Outro aspecto importante na discussão é a presença de julgamentos de valor
explícitos e implícitos, que estão presentes no processo de criação dos indicadores. Tendo
grande relevância o entendimento conceitual que se tem da sustentabilidade, pois a partir de
que concepção se tenha deste fenômeno, adotar-se-á determinada linha de criação e
operacionalização destes indicadores. Bellen (2007) também disserta sobre a influência de
valores implícitos e explícitos, conforme podemos observar no trecho a seguir:
Quando se discutem a sustentabilidade e seus indicadores, deve-se ter em vista que
os julgamentos de valor estão sempre presentes nos sistemas de avaliação, nos
diferentes níveis e dimensões existentes. Dentro do contexto do desenvolvimento
sustentável eles podem ser implícitos ou explícitos. Julgamentos de valor explícitos
são aqueles tomados conscientemente e compreendem uma parte fundamental do
processo de criação dos indicadores, mas valores implícitos também estão incluídos
nesse processo. Os julgamentos de valor explícitos podem aparecer da seguinte
maneira na utilização dos indicadores: diretamente no processo de observação ou
medição, como, por exemplo, por meio de preferências estéticas; adicionados à
medida observada, por meio da limitação imposta pelos padrões legais ou metas
desejáveis; pelos pesos atribuídos a diferentes indicadores dentro de um sistema
agregado.Julgamento de valor implícito decorre de aspectos que não são facilmente
observáveis e que são, na sua maioria, inconscientes e relacionados a características
pessoais e de uma determinada sociedade (cultura). A mensuração da influência dos
valores implícitos é difícil de avaliar e afeta de qualquer maneira o processo de
formulação dos indicadores.
BELLEN (2007: p. 46-47)
64
Outro aspecto amplamente discutido em relação aos que procuram avaliar
experiências de desenvolvimento sustentável, é a questão de agregação de dados na sua
formulação. Embora os indicadores agregados sejam necessários para aumentar o grau de
confiança e consciência a respeito dos problemas ambientais, os indicadores desagregados,
são relevantes iniciativas específicas de ação (WALL, 1995 apud BELLEN, 2007)
Complementando Bossel (1999 apud BELLEN 2007) coloca que quanto mais
agregado um indicador mais distante dos problemas em particular e maiores as dificuldades
em articular esforços para resolução do problema específico. Além dos indicadores
altamente agregados têm maior probabilidade de possuir problemas conceituais
É necessário para o monitoramento da sustentabilidade que haja indicadores com
certo grau de agregação. As informações devem ser agregadas, mas os dados devem ser
estratificados, de modo permitir a percepção das particularidades que compõe a informação
agregada. Ou seja, a generalização deve atender a regra geral de que o indicador consiga
capturar eventuais problemas específicos de uma maneira clara e concisa (BELLEN, 2007).
Os índices de sustentabilidade também são indicadores que condensam informações
obtidas pela agregação de dados. Eles são necessários no nível mais alto de tomada de
decisão, dado sua facilidade de entendimento e utilização no processo decisório. Podem ser
elencados como exemplos, embora não sejam indicadores voltados especificamente para a
sustentabilidade, o Produto Interno Bruto (PIB) e o Índice de Desenvolvimento Humano
(IDH) (BELLEN, 2007).
No desenvolvimento do índice, os indicadores devem ser ponderados. No caso do
PIB, há uma ponderação monetária atribuída a cada produto. Entretanto, quando se
considera aspectos ambientais e sociais essa monetarização não é muito simples. Apesar
disso a crescente utilização de indicadores, mostra sua importância como ferramentas para o
processo de tomada de decisão e para melhor compreender e monitorar tendências, além de
sua utilidade na identificação dos dados mais relevantes e no estabelecimento de sistemas
conceituais para compilação e análise dos dados (IDEM, 2007).
65
Para Gallopin (1996 apud BELLEN, 2007: p.49), “existe a necessidade de identificar
interligações entre os diversos aspectos relacionados ao conceito de sustentabilidade”. Para
isso, faz-se necessário estabelecer as relações que existem entre as diferentes variáveis que
definem os indicadores. Isso só pode ser feito com mais pesquisas, empíricas e teóricas, para
auxiliar na compreensão do funcionamento dos complexos sistemas sócio-ecológicos para
que se identifiquem os seus mecanismos, atributos e medidas.
A exposição de indicadores e índices geralmente remete ao aspecto quantitativo
destes instrumentos que objetivam a agregação dados quantitativos, de modo a quantificar e
simplificar informações do complexo fenômeno da sustentabilidade que aponte para o
fenômeno estudado.
Apesar do caráter quantitativo geralmente atribuído aos indicadores, os mesmos
podem ser qualitativos. Sobre isso, Gallopin (1996 apud BELLEN, 2008) estabelece 3
condições específicas que torna preferível os indicadores qualitativos, são elas: quando não
estiverem informações quantitativas disponíveis, quando o atributo de interesse é não
quantificado e quando as determinações de custo assim o obrigarem.
Alguns sistemas de indicadores são desenvolvidos para uma escala nacional, porém a
grande heterogeneidade existente entre os diversos países. Por isso se têm concentrado
esforços em métodos aplicáveis nos níveis subnacional, regional e local (BELLEN, 2007).
Ainda segundo Gallopin (1996 apud BELLEN, 2007), é fundamental para a
aceitação e utilização do sistema de indicadores, que os mesmos sejam compreensíveis. Os
indicadores devem ser meios de comunicação, e toda forma de comunicação requer
entendimento entre os participantes do processo. Daí a transparência deve ser a máxima
66
possível, e devem-se fomentar os usuários a compreender seu significado e sua significância
dentro de seus próprios valores.
A partir desses princípios o autor sugere alguns requisitos universais, os quais devem
estar presentes em um sistema de indicadores:
Os valores devem ser mensuráveis (ou observáveis);
Deve existir disponibilidade dos dados;
A metodologia para a coleta e o processamento dos dados, bem como para a
construção de indicadores, deve ser limpa, transparente e padronizada;
Os meios para construir e monitorar os indicadores devem estar disponíveis, incluindo
capacidade financeira, humana e técnica;
Os indicadores ou grupo de indicadores devem ser financeiramente viáveis;e
Deve existir aceitação política dos indicadores no nível adequado; indicadores não
legitimados pelos tomadores de decisão são incapazes de influenciar as decisões.
Além desses elementos, Gallopin (1996 apud BELLEN, 2007) ressalta a importância
da participação, constituindo elemento fundamental tanto para o sistema de indicadores,
quanto nas políticas públicas, e sociedade civil, reforçando a legitimidade dos sistemas, a
construção do conhecimento e a tomada de consciência sobre a realidade ambiental.
Rutherford (1997 apud BELLEN, 2007) ao abordar metodologias que visam avaliar a
sustentabilidade, disserta que se deve atentar que os melhores métodos são rapidamente
reconhecidos como realmente significante para o alcance de determinado objetivo político.
Outro ponto de destaque apontado pelo autor é que mesmo que não se possa definir
objetivamente um nível crítico da atividade humana, por conta da complexidade dos
67
sistemas que interagem, é possível estabelecer certo nível de atividade a partir de processos
democráticos e de consenso.
Moldan e Bilharz (1997 apud BELLEN, 2007), alerta para a diferença que pode
haver entre a visão dos cientistas e as metas estabelecidas, segundo os autores, na visão dos
cientistas existem uma diversidade entre valores críticos e metas. As metas são mais
resultado do processo político e, portanto definidas por métodos diferentes dos existentes
nas ciências naturais.
Bellen (2007) aponta o cerne que os indicadores de sustentabilidade devem pautar-
se:
O importante que se observa a partir da discussão sobre indicadores relacionados à
avaliação de sustentabilidade é a necessidade que eles têm de ser holísticos, representando
diretamente as propriedades do sistema total e não apenas elementos e interconexões dos
subsistemas (BELLEN, 2007)
Esse caráter holístico apresentado por Bellen (2007) afina-se com o que foi discutido
de sustentabilidade, conforme já exposto, há de falta de consenso quanto à definição de
sustentabilidade, que leva alguns autores a apresentarem este conceito mais com função
orientação ou enfoque, numa ótica mais macro, similarmente apresentado como visão
holística.
Essa falta de consenso acerca do conceito e principalmente a abrangência e
complexidade do mesmo, leva a diferentes formas de mesurar o fenômeno da
sustentabilidade. No próximo item será descrito, de forma geral, alguns sistemas de
indicadores de desenvolvimento.
68
2.6. SISTEMA DE INDICADORES RELACIONADOS AO DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL
Alguns tipos de indicadores vêm sendo utilizados para identificar ou desenvolver
indicadores de sustentabilidade que representam intentos de se mensurar o fenômeno
“sustentável”. Similarmente ao conceito são diversas as abordagens, e serão expostos alguns
modelos de indicadores de sustentabilidade mais conhecidos.
2.7.1. Organization for Economic Cooperation and Development (OECD)
Segundo Bellen (2007), atualmente a maior fonte de indicadores ambientais é a
publicação da OECD que fornece mecanismo para monitoramento do progresso ambiental
nos países que compõe a instituição. O sistema utiliza o modelo pressure, state, response
(PSR), onde assume que existe uma causalidade na interação dos diferentes elementos da
metodologia.
Os indicadores de pressão ambiental (P) representam ou descrevem pressões das
ações humanas sobre o meio ambiente. Os indicadores de estado ou condição (S) se referem
à qualidade do ambiente e à qualidade e quantidade dos recursos naturais. Indicadores de
resposta (R), que demonstram a extensão e a intensidade das reações da sociedade em
responder às mudanças e preocupações ambientais.
69
O sistema objetiva rastrear o progresso ambiental; integração entre preocupações
ambientais e políticas públicas; e integração entre preocupações ambientais e política
econômica.
2.7.2.Total Material Input (TMI)
Outra abordagem é referente a indicadores relacionados ao transporte e fluxo de
material. Essa abordagem permite a ligação entre consumo de materiais e impacto na
natureza. A vantagem do TMI é que fornecem uma ligação entre o consumo de materiais e
seu impacto na natureza.
2.7.3. Biodiversity indicators for policy-makers do World Resorces Institute (WRI)
Um aspecto bastante importante quando se deseja manter o capital natural é
manutenção da biodiversidade. Esta importância se deve tanto por dispor soluções para o
benefício humano que ainda não são conhecidas, mas também por oferecer condicionantes
favoráveis para a manutenção da vida humana.
O sistema é composto por 22 indicadores que fornecem informações para níveis
nacional e internacional. O sistema apresenta algumas falhas, por isso sugere-se a
complementação com dados de gestão e economia para tomada de decisão mais segura.
70
São diversos os sistemas propostos para monitoramento da sustentabilidade, não
sendo oportuna a descrição de todos os sistemas, por isso tomou-se por referência o estudo
de Bellen (2007). O autor a partir de questionários enviado a especialistas selecionou os três
principais sistemas de avaliação da sustentabilidade mais importantes no atual contexto
internacional. Seguindo o seu critério de classificação descrever-se-á com maiores detalhes
os métodos: ecological footprint e dashboard of sustainability.
2.7.4. Ecological Footprint method (EFM)
Sistema lançado com o livro Our ecological footprint, de Wackernagel e Rees (1996),
trabalho pioneiro deste sistema e que marcou o inicio de diversos trabalhos de pesquisadores
e organizações de desenvolvimento.
O escopo da ferramenta é basicamente contabilizar os fluxos de matéria e energia
que entram e saem de um sistema econômico e converte esses fluxos em área
correspondente de terra ou água existente na natureza para sustentar esse sistema (área do
ecological footprint).
São vários os estágios para estimar a área do ecological footprint . Primeiro calcula-
se a média anual de consumo de itens particulares de dados agregados, nacionais ou
regionais, dividindo o consumo total pelo tamanho da população. Numa segunda etapa, é
estimar a área apropriada per capita (kg/capita) pela produtividade média anual (kg/ha).
Geralmente, as estimativas existentes do ecological footprint method são baseadas
em médias de consumo nacionais e de produtividade de terra mundiais. Essa padronização
71
facilita comparações entre países e regiões, porém os autores sugerem que sejam feitos
estudos específicos em análise locais e até mesmo nacionais, propiciando maior sofisticação
e detalhamento nas análises, o que facilita e melhor embasa o processo de tomada de
decisão.Hardi e Barg (1997) afirmam que o propósito da ferramenta é definir a área
necessária para que determinado sistema se mantenha. Para isso Wackernagel e Rees (1996)
apresentam categorias de território, conforme se pode observar no quadro a seguir:
Quadro 3 - Categorias de Território Categorias de Território
Categoria Caracterização
Território de energia Território apropriado pela
utilização de energia fóssil
Território de energia ou CO2
Território consumido Ambiente construído Território degradado
Território atualmente
utilizado
Jardins Ambiente construído reversível
Terra para plantio Sistemas cultivados
Pastagem Sistemas modificados
Florestas plantadas Ecossistemas produtivos
Território com avaliação
limitada
Florestas intocadas Ecossistemas produtivos
Áreas não produtivas Desertos, capa polar
Fonte: adaptado de Wackernagel e Rees (1996) apud Bellen (2007)
Conforme já exposto, o ecological footprint favorece a comparação de diferentes
países e regiões, Chambers (2000) apresenta um conjunto de informações que permite
avaliar/comparar a área apropriada equivalente das nações, conforme pode-se observar:
72
Tabela 1 - Área apropriada equivalente das nações
Fonte: Chambers et al (2000) e Global Footprint Network (2006) apud Bellen (2007)
Obs. 1: As informações numéricas obtidas para o ano de 1999 e 2003 apresentam desvios face à adoção de
apenas uma casa decimal.
Obs. 2: Área apropriada, biocapacidade e déficit/superávit ecológico são medidas em há per capital.
Chambers (2000) apud Bellen (2007) afirma que este estudo revela que para os níveis
de consumo de 1995, a área apropriada por estes países excedia a carga produtiva do planeta
em 37%.
Como toda ferramenta, ela possui suas vantagens e desvantagens. Bossel (1999)
afirma que o instrumento captura de maneira muito eficiente, a esfera ambiental da
sustentabilidade que é afetada pela atividade econômica, mas o sistema não atua na esfera na
dimensão social da sustentabilidade. Outra limitação conforme expõe Hardi e Barg (1997):
73
[...] refere-se ao fato de o sistema ser estático, não permitindo extrapolações no
tempo. Os resultados refletem um estado atual e a ferramenta não pretende fazer
extrapolações, apenas sensibilizar a sociedade. O sistema também não inclui
diversas questões importantes, que muitas vezes estão diretamente relacionadas à
utilização da terra, como áreas perdidas de produtividade biológica em função da contaminação, erosão e utilização urbana. O ecological footprint method
apenas considera os efeitos econômicos das decisões relativas à utilização de
recursos. Essas simplificações nas metodologias de cálculo muitas vezes levam a
perspectivas mais otimistas do que efetivamente ocorre na realidade. (HARDI E BARG, 1997 apud BELLEN, 2007)
2.7.5. Dashboard of sustainability (DS)
Os esforços para a construção do Dashboard of Sustainability iniciaram-se na
segunda metade dos anos 1990, num esforço conjunto de diversas instituições que operam
na área do desenvolvimento. Atualmente é liderado pelo Consultative Group on Sustainable
Development Indicators (CGSDI).
Dashboard significa painel em português. Hardi (2000) descreve o sistema como um
conjunto de instrumentos abaixo do pára-brisa do veículo. A ferramenta apresenta
representação gráfica de um painel visual com três displays, que correspondem a três
dimensões de análise, conforme se pode observar:
74
Figura 2 - Dashboard of sustainability
Fonte: Adaptado de Hardi e Zdan (2000) apud Bellen (2007)
Segundo Hardi (2000), as dimensões podem variar de duas a quatro:
Duas dimensões – bem estar humano e bem estar ecológico;
Três dimensões – bem estar humano, ecológico e econômico;
Quatro dimensões – riqueza material e desenvolvimento econômico, equidade
e aspectos sociais, meio ambiente e natureza, democracia e direitos humanos.
O CGSDI foi gradualmente optando pelo sistema de três dimensões, abrangendo as
questões ambientais, econômicas e sociais. O protótipo mais atual do sistema, apesar de
diversos especialistas sugerirem um sistema baseado em três dimensões, os indicadores
seguem orientação da Comissão de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas e
utiliza além das três já citadas, a dimensão institucional (Quadro 4)
75
Quadro 4 - Indicadores de fluxo e estoque do dashboard of sustainnability INDICADORES DE FLUXO E ESTOQUE DO DASHBOARD OF SUSTAINABILITY
Dimensão ecológica
Mudança climática;
Depleção da camada de ozônio
Qualidade do ar
Agricultura
Florestas
Desertificação
Urbanização
Zona costeira
Pesca
Quantidade de água
Qualidade da água
Ecossistema
Espécies
Dimensão Social
Índice de pobreza
Igualdade de gênero
Padrão nutricional
Saúde
Mortalidade
Condições sanitárias
Água potável
Nível educacional
Alfabetização
Moradia
Violência
População
Dimensão econômica
Performance econômica
Comércio
Estado financeiro
Consumo de Materiais
Consumo de energia
Geração e gestão de lixo
Transporte
Dimensão
institucional
Implementação estratégica do desenvolvimento sustentável
Cooperação internacional
Acesso à informação
Infraestrutura de comunicação
Ciência e tecnologia
Desastres naturais – preparo e resposta
Monitoramento do desenvolvimento sustentável
Fonte: Bellen (2007)
Aplicação desse sistema de indicadores gera dados/informações sobre a
sustentabilidade em diversos países. Segue a seguir um quadro com os cinco melhor avaliados
e os cinco com pior avaliação:
76
Quadro 5 - Índice de sustentabilidade do dashboard of sustainability
Índice de Sustentabidade
Os cinco maiores
País Geral Social Ecológico Econômico Institucional
Suíça 733 815 605 791 724
Dinamarca 730 841 581 732 766
Noruega 729 850 588 787 693
Estados
Unidos 728 827 625 630 830
Japão 718 787 598 654 833
Os cinco menores
Etiópia 494 338 596 603 439
Jordânia 497 718 445 451 376
Nigéria 521 469 571 545 501
África do Sul 542 650 515 513 493
Paquistão 545 558 544 522 558
Brasil
Brasil 615 623 668 641 531
Fonte: Elaborado pelo autor com base em Bellen (2007)
Embora estejam demonstrados alguns poucos países, o sistema permite obter o índice
de sustentabilidade para mais de 200 países. Para cada um dos indicadores é construída uma
escala cujos valores máximo e mínimo correspondem a 1000 e 0 pontos, o que permite a
classificação em faixas de sustentabilidade.
A contribuição deste sistema pode ser sintetizada:
Os pesquisadores reconhecem, entretanto, que a tentativa de se criar um índice de
desenvolvimento sustentável é útil, na medida em que conduz a um esforço
concentrado para se obter um tipo de ferramenta que apresente a complexidade do
sistema de uma maneira mais simples. Mesmo a mais modesta experiência ou
esforço de apresentação de índice ou indicadores agregados pode levar as novas
gerações de políticos e tomadores de decisão em direção às metas do
desenvolvimento sustentável.
(BELLEN, 2007: p. 142)
Bellen (2007) revela uma variedade de sistema de indicadores que, atuando em
diferentes dimensões. A maioria dos sistemas apresenta um foco predominante de análise,
apesar de todos apresentarem o objetivo comum de mensurar a sustentabilidade.
O dashboard of sustainability é o sistema de indicador que inspira/embasa o modelo
das Nações Unidas que é referenciado no presente estudo (UNCSD, 2001).
77
Não é objetivo deste trabalho uma descrição pormenorizada de cada sistema de
indicador, mas sim uma breve descrição para compreensão de seus objetivos e sua
composição, para subsidiar a análise e construção dos indicadores presentes neste trabalho.
Diante do exposto constata-se a importância da operacionalização do conceito
sustentável. Ressalta-se que apesar da falta de unanimidade teórica da sustentabilidade
quanto ao detalhamento/ aprofundamento da conceituação, é fundamental os o dispêndio de
esforços no desenvolvimento de indicadores que objetivam mensurar ao menos aspectos
gerais desta visão, ainda mais, diante de um cenário de significativa aceitação acadêmica,
política, e social do conceito, aceitabilidade mais visível numa ótica de princípios/ valores,
de tal forma, que o “olhar sustentável” adquire caráter imperativo.
O desenvolvimento destes indicadores necessita identificar interligações entre os
diversos aspectos/dimensões da sustentabilidade, buscando compreender o sistema sócio-
ecológico envolvido, de modo a reforçar o reconhecimento destes indicadores pelas partes
interessadas. Podendo-se visualizar a complexidade da análise da sustentabilidade não só
numa ótica conceitual mas também numa perspectiva empírica de desenvolvimento de
instrumentos que mensurem o fenômeno em questão (BELLEN, 2007; GALOPIN 1996).
Compreendido estes componentes, vale ressaltar a o significado atribuído aos
indicadores de “mensurar fenômenos”, sejam econômicos, sociais ou ambientais. O estudo
realizado situa-se nesta linha conceitual, de discussão/análise, se a Agroindústria de Açaí de
Codajás é sustentável, adotando para tal a análise da sustentabilidade nas dimensões
econômica, social, ambiental, geográfica e cultural.
78
Porém quando se observa a o sistema de indicadores apresentados constata-se o
direcionamento mais voltado para macro sistemas, com aplicabilidade mais direcionada para
sistemas nacionais e/ou regionais. Os instrumentos apresentados, apesar de sua relevância
pra mensuração da sustentabilidade em sistemas nacionais/regionais, precisam ser melhor
detalhados, ou apresentados outros instrumentos que refletem os esforços de mensuração da
sustentabilidade em sistemas menores como do presente estudo.
Para tanto se julgou relevante à exposição de estudo com escopo de análise
similar ao trabalho proposto, de modo a subsidiar instrumento analítico apresentado em
capítulo posterior.
CAPÍTULO 3 – PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Foi exposto em capítulos anteriores a essencialidade, abrangência e complexidade do
conceito desenvolvimento sustentável, que se manifesta em boa parte, nas diferentes visões
dos autores e na ampla utilização do termo sustentabilidade/sustentável, seja pelas
organizações públicas, privadas e do terceiro setor (VEIGA, 2005).
Se a o discurso encontra alto grau de difusão, não se pode falar ao certo quanto à
prática “sustentável”, sendo necessário avançar na operacionalização do conceito (BELLEN,
2006).
A proposta do presente trabalho é operacionalizar o conceito sustentável ao analisar a
sustentabilidade da Agroindústria de Açaí de Codajás. E para isso, nos capítulos anteriores
foram abordadas as diferentes perspectivas teóricas sobre crescimento, desenvolvimento,
79
desenvolvimento sustentável e indicadores de sustentabilidade que subsidiaram o presente
trabalho.
A discussão manifesta diferente visões sobre o referido tipo de desenvolvimento e
indicadores que objetivam mensurar a sustentabilidade, porém para operacionalizá-lo é
necessário definir conceitos referenciais de análise e qual sistema de indicadores foi
utilizado. Ou seja, é estabelecer conceitos norteadores e a metodologia do presente estudo.
Neste capítulo será abordada a metodologia adotada no trabalho, de modo a
descrever os conceitos norteadores da análise, categorias de análise, indicadores utilizados,
justificativa da escolha do caso e breve caracterização, tipo de pesquisa e coleta e dados.
3.1. CONCEITOS NORTEADORES DA ANÁLISE
Foi adotado o conceito de Brundland (1987) que define o desenvolvimento
sustentável como aquele que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a
capacidade das futuras gerações satisfazerem as próprias necessidades
A adoção do conceito se justifica por haver em torno do mesmo maior nível de
aceitabilidade e concordância conforme se pode observar na leitura dos autores Veiga
(2006,2010), Leff (2009), Bellen (2007), Barbieri (2011), dentre outros, e por ser o conceito
proposto de pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD),
além de embasar documentos importantes como Agenda 21 e indicadores de
sustentabilidade propostos pela UNCSD (2011).
Porém conforme já exposto, o conceito é fruto dum esforço de coalização política em
torno da problemática ambiental, e talvez por conta disso, a definição é geral e não define
80
responsabilidades específicas (VEIGA, 2005; BARBIERI, 2011). Por isso julgou-se
conveniente à adoção de apontamentos de Sachs (2008), onde há sintonia com proposições
da CNUMAD e que oferecem maior detalhamento do conceito e bases para a sua
categorização.
Destaca-se que a perspectiva de Sachs (2008) similarmente ao relatório de
Brundtland (1987) apóia a solução triplamente vencedora, em termos econômicos, sociais e
ambientais e fundamenta as categorias de análise escolhidas (econômica, social e
ambiental).
O autor estabelece detalhamento da dimensão ambiental ao estabelecer alguns
objetivos, são eles:
Preservação do potencial da natureza para produção de recursos renováveis;
Limitação do uso de recursos não renováveis;
Respeito e realce para a capacidade de autodepuração dos recursos naturais.
Dessa forma o empreendimento sustentável será aquele que for economicamente
viável, socialmente relevante e que gere o mínimo de impacto negativo sobre os recursos
naturais.
Apesar da base de princípios adotada, e do conceito norteador da sustentabilidade, é
importante para mensuração do desenvolvimento sustentável a definição de indicadores de
sustentabilidade.
Para análise proposta, define-se como o referido indicador, aquele que aponta,
anuncia, mensurar alguma coisa, e que pode informar o progresso em direção à determinada
meta, no caso, o desenvolvimento sustentável. (HAMOND, 1995; GALLOPIN, 1996 apud
BELLEN, 2007).
81
3.1.1. Categorias de Análise
As categorias de análise têm fundamento no autor Sachs (2008) e no documento
intitulado ‘Indicators of sustainable development: Framework and methodologies”
(UNCSD, 2011).
Justifica-se a escolha desse autor e proposição temática, pois a temática proposta
pelo UNCSD (2011) não é fruto de estudos de único autor, mas resultado de um amplo
processo de discussão que envolveu pesquisadores de todo o mundo e objetivou a
proposição de um sistema de indicadores que possa mensurar o desenvolvimento
sustentável.
Destaca-se também que o marco ordenador desenvolvido pela UNCSD, compostos
de temas e subtemas e sua categorização é utilizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) que realizou um conjunto de indicadores inspirado na proposta das
Nações Unidas (IBGE, 2002).
É preciso destacar que a categorização proposta pelo UNCSD (2011) inclui além do
tripé já citado (econômico, social e ambiental) é composta da dimensão institucional, porém
em função do escopo de análise do presente trabalho ser bem mais circunscrita (alcance
organizacional e impacto ao redor) do que a proposta original da UNCSD (2001), por isso se
julgou inadequado à utilização da dimensão institucional de análise ao considerar que muitas
das ações/indicadores definidos na dimensão não seriam escopo de ação da agroindústria.
Portanto as dimensões social, ambiental e econômica foram às categorias de análise
selecionadas, conforme se pode ver a seguir.
82
Quadro 6 - Categorias/Dimensão de Análise
CATEGORIAS/ DIMENSÕES DE ANÁLISE
Econômica Social Ambiental
Busca-se identificar o impacto
econômico do projeto, mensurando
a viabilidade econômica.
Busca-se mensurar a impactância
social do projeto, para isso
identificou-se a influência nas
subdimensões educação/
capacitação, emprego e renda e
afinidade cultural.
A dimensão ambiental visa à
identificação do impacto ambiental
resultante da implantação do
projeto, assim foram analisados os
resíduos e o desflorestamento
gerado pela Agroindústria.
Fonte: Elaborado pelo autor
Apesar da temática proposta pela UNCSD (2011) ser fonte de inspiração importante
para o presente trabalho foi necessário selecionar do universo temático proposto, quais
temas poderiam ser utilizados no presente estudo. Essa seleção além fundamentar-se em
critérios de análise expostos a seguir, mas também no fato da abrangência do presente
trabalho ser inferior (micro) quando comparado às aplicações nacionais, regionais e
municipais (macro) sendo relevante a análise seletiva.
Por isso analisou-se a proposição temática da UNCDS com base nos critérios de
aplicabilidade de temática, viabilidade financeira temporal de obtenção dos dados e
disponibilidade dos mesmos, e dessa forma selecionando quais temas poderiam ser
utilizados na análise.
A aplicabilidade temática refere-se ao tema relacionado com a agroindústria, desse
modo foram escolhidos aqueles temas que o referido empreendimento tem capacidade de
influenciar diretamente.
A partir do critério viabilidade financeira temporal foi selecionada a temáticas que
puderam ser coletadas sem grandes implicações nos custos financeiros e que pudessem ser
obtidas dentro do período de desenvolvimento da pesquisa.
83
Algumas temáticas apesar de serem consideradas aplicáveis e viáveis, não foram
obtidas devidos os dados não estarem devidamente organizados na cooperativa ou serem de
baixa confiabilidade.
Com base nos critérios acima elencados foi desenvolvida análise seletiva de
temática, conforme se pode observar no Quadro 7, Quadro 8 e Quadro 9 a seguir:
3.1.1.1. Dimensão Social
A dimensão social envolve o acesso a serviços básicos como serviço público de
saúde, água, esgoto, alimentação saudável, ar puro, etc. Sachs (1997) Considera a
sustentabilidade social como um processo de desenvolvimento que impulsione ao
crescimento estável com distribuição de renda, de modo a proporcionar diminuição das
atuais diferenças entre os diversos níveis sociais e melhoria das condições de vida da
população.
Similarmente à dimensão econômica (3.1.1.2), foi necessária a redução de escopo de
análise da perspectiva social por considerar a abrangência da agroindústria de açaí.
Reconhece-se a importância de serviços públicos de saúde, água, esgoto, dentre
outros serviços conforme expresso em Sachs (1997) e em indicadores e a proposição
temática da UNCSD (2011) para a concretização do desenvolvimento sustentável, porém foi
definida uma abrangência de análise referente ao campo de influência do empreendimento,
conforme expresso análise seletiva presente no quadro 5.
84
Quadro 7 - Quadro síntese da análise seletiva (Social)
DIMENSÃO SOCIAL
Temática Proposta
Potencial de
Utilização
Foi
utilizado
Justificativa
(caso tenham potencial de utilização e
não seja utilizado) S N S N
Educação X X
Emprego X X
Saúde/abastecimento de
água/esgoto
X X Não aplicável, considerando que não é
atribuição da Agroindústria prover aos
cooperados tais serviços.
Moradia X X Não aplicável, considerando que a
moradia seria um benefício indireto do
empreendimento.
Bem estar e qualidade de vida X X Obteve-se dificuldades para aplicação
de questionários a todos aos
cooperados, o que inviabiliza a coleta
de dados voltados para a temática.
Herança cultural X X
Pobreza/ distribuição de renda X X
Crime X
População
Valores sociais e éticos X X
Papel da mulher X Obteve-se dificuldades para aplicação
de questionários a todos aos
cooperados, o que inviabiliza a coleta
de dados voltados para a temática.
Acesso a terra e aos recursos X X Obtiveram-se dificuldades para
aplicação de questionários a todos aos
cooperados, o que inviabiliza a coleta
de dados voltados para a temática.
Estrutura comunitária X X Obtiveram-se dificuldades para
aplicação de questionários a todos aos
cooperados, o que inviabiliza a coleta
de dados voltados para a temática.
Equidade/ exclusão social X X Item é mensurado/ discutido no tema
“herança cultural” que no estudo
adquire a nomenclatura “afinidade
cultural”.
Fonte: Elaborado pelo autor.
Conforme observado no Quadro 7, na dimensão social foram utilizadas seis
temáticas de avaliação de um universo de quatorze que são propostos pelo sistema de
85
avaliação da UNCSD (2001). Algumas temáticas como Saúde/abastecimento de água/esgoto
e Moradia não foram utilizados por considerar que as ações da agroindústria não trariam
impactos diretos sobre estas dimensões. As dimensões Bem estar e qualidade de vida,
Estrutura comunitária, Papel da Mulher e Acesso a terra e aos recursos, apesar do
reconhecimento da relevância para estudo, não foram utilizadas em função das dificuldades
de aplicação dos questionários aos cooperados.
Destaca-se que mesmo com o reconhecimento do potencial de uso e aplicabilidade
dos temas Equidade/ exclusão social e Pobreza/Distribuição de Renda, a análise dos mesmos
foi realizada em temáticas que se julgaram correlatas, de modo a serem agrupados na
temática Emprego e Renda.
Assim as temáticas utilizadas foram:
Emprego e Renda;
Afinidade Cultural;
3.1.1.2. Dimensão Econômica
Apesar da relevância da contextualização teórica da dimensão realizada no item
2.3.3.1, ao apontar, mesmo que de forma breve, o estado da arte referente à temática,
destaca-se que o presente estudo tem foco de análise mais micro que muito dos sistemas de
mensuração ali expostos. As considerações anteriormente elencadas aplicam-se facilmente a
nações e grandes sistemas de análise, e portanto foi necessário refletir a dimensão
econômica a nível organizacional.
Desse modo a dimensão econômica para o referido estudo passa a ter abrangência do
impacto do projeto, de modo a mensurar a viabilidade econômica da agroindústria.
86
Quadro 8- Quadro síntese da análise seletiva (Econômico)
DIMENSÃO ECONÔMICA
Temática Proposta
Potencia
l de
Utilizaçã
o
Foi
utilizado Justificativa
S N S N
Dependência econômica/dívida X X Dados não informados
Energia X X
Consumo e modelo de
produção¹
X X
Gestão de Resíduos² X X
Transporte X X Inviabilidade financeira e
temporal de obtenção de dados.
Mineração X X
Estrutura econômica e
desenvolvimento
x x
Comércio X X
Produtividade X X Indisponibilidade de dados.
Educação X X
1- Essa temática já é desenvolvida no item sustentabilidade do uso de recursos na dimensão ambiental.
2 – Apesar da metodologia UNCSD (2001) considerar gestão de resíduos como componente econômico,
julgou-se conveniente a alocação da temática na dimensão ambiental, por considerar que a gestão desse
elemento impacta diretamente sobre o meio ambiente.
Conforme o Quadro 8, os temas Dependência econômica/dívida, Transporte,
Mineração, Estrutura econômica e desenvolvimento e Produtividade apesar de sua
relevância não foram utilizados, por se considerar a inviabilidade financeira e temporal de
obtenção de dados e assim como a indisponibilidade ou não cessão de informação por parte
da agroindústria. A temática Gestão de Resíduos apesar de ser considerada UNCSD (2001)
como componente econômico, julgou-se conveniente a alocação da temática na dimensão
ambiental, por considerar que a gestão desse elemento impacta diretamente sobre o meio
ambiente.
O tema Consumo e Modelo de Produção teve redução de escopo e mudou para a
nomenclatura de Modelo de Produção. De modo similar o tema Comércio foi modificado
para Estratégia de Mercado e Comércio.
87
Dessa Forma na dimensão econômica dos nove temas propostos, foram
selecionados dois temas, são eles:
Modelo de Produção;
Estratégia de Mercado e Comércio.
3.1.1.3. Dimensão Ambiental
Para Sachs (1997) a sustentabilidade sob a ótica ambiental pressupõe a ampliação da
capacidade de utilização do potencial encontrado na natureza, de modo deteriorar
minimamente o ecossistema. Sob esta diretriz conceitual é abrigada a dimensão ambiental
no presente estudo, onde se busca identificar o impacto ambiental resultante da implantação
do projeto.
Mas para efetuar a análise da dimensão ambiental, procedeu-se de modo similar às
outras categorias/dimensões, selecionando os temas para análise da sustentabilidade na
perspectiva ambiental, conforme expresso no Quadro 9.
Quadro 9 - Quadro síntese da análise seletiva (Ambiental)
DIMENSÃO AMBIENTAL
Temática Proposta
Potencia
l de
Utilizaçã
o
Foi
utilizado
Justificativa
(caso tenham potencial de
utilização e não seja utilizado)
S N S N Água de superfície/subterrânea X X Agrupado ao tema Gestão de Resíduos.
Agricultura/ abastecimento seguro de
alimentos
X X
Urbanização X X
Zonas Costeiras X X
Meio ambiente X X
Marinho/ proteção de coral de recifes X X
Pesca X X
Biodiversidade/ biotecnologia X X
Os temas foram agrupados num único
tema: Sustentabilidade no Uso dos
Recursos.
Gerenciamento sustentável de florestas X X
Poluição de ar/ camada de ozônio X X
Mudanças climáticas/ elevação do
nível do mar
X X
Sustentabilidade no uso de recursos X X
88
Gestão de Resíduos X X
Turismo sustentável X X
Capacidade de suporte restrita X X
Mudança no uso da terra X X
Fonte: Elaborado pelo autor.
Dos quinze temas propostos somente seis foram utilizados. Dos temas adotados cita-
se: Biodiversidade/ biotecnologia, Gerenciamento sustentável de florestas, Poluição de ar/
camada de ozônio e Mudanças climáticas/ elevação do nível do mar foram agrupados no
tema Sustentabilidade no Uso dos Recursos. O agrupamento foi realizado considerando a
impossibilidade de obter dados para análise de cada item isoladamente, porém como se pode
observar no estudo de caso, o modelo de produção da agroindústria acaba por influenciar
conjuntamente os temas agrupados. Também foi agrupado o tema Água de
superfície/subterrânea à Gestão de Resíduos, por considerar que a influência do
empreendimento nas águas de superfície ou subterrânea se dá em grande parte pelo resíduo
líquido resultante do processo produtivo, que já é avaliado na dimensão Gestão de Resíduos.
Desse modo os temas adotados na dimensão ambiental são:
Gestão de Resíduos
Sustentabilidade no uso de recursos
3.2. INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE ADOTADOS
Apesar da base de princípios adotada, e do conceito norteador da sustentabilidade,
das categorias e temas de análise, é importante para mensuração do desenvolvimento
sustentável a definição de indicadores de sustentabilidade.
Para análise proposta, define-se como indicador de sustentabilidade aquele que
aponta, anuncia, mensurar alguma coisa, e que pode informar o progresso em direção a
89
determinada meta, no caso, o desenvolvimento sustentável. (HAMOND, 1995; GALLOPIN,
1996 apud BELLEN, 2007).
Conforme exposto, a divisão temática utilizada no presente trabalho é fortemente
inspirada no modelo proposto pela UNCSD (2001), e partir das temáticas selecionadas foi
desenvolvido nove indicadores para a dimensão social, quatro para ambiental e quatro para a
econômica (ver Quadro 10)
Quadro 10 - Quadro geral de dimensões, temas e nº total de indicadores
Dimensões Temas Nº de Indicadores
Social Emprego e Renda, Afinidade
Cultural. 5
Ambiental
Gestão de resíduos e
Sustentabilidade no uso dos
recursos
4
Econômico
Dependência econômica/Dívida,
Energia, Viabilidade econômica
do empreendimento e Estratégia
de Mercado e Comércio
2
Fonte: Elaborado pelo autor.
Existe número diferenciado de indicadores por dimensão, de modo a não haver
equiparação quantitativa ou equivalência proporcional entre as dimensões. Quando se
observa a relação tema e indicador, também se nota uma ausência de proporcionalidade, de
tal forma que há temas que possuem número maior de indicadores em determinadas
temáticas, conforme apontado no quadro a seguir.
90
Quadro 11 - Indicadores de Sustentabilidade Utilizados
Dimensões Temas Nº de Indicadores
Social Emprego e Renda (2),
Afinidade Cultural (3)
(2) Empregos Gerados
(2) Aumento da renda dos cooperados
(3) Existe afinidade cultural com empreendimento?
(3) Histórico de Produção de Açaí do Município
(3) Importância atribuída à cultura do açaí
Ambiental
(1) Gestão de resíduos e (2)
Sustentabilidade no uso dos
recursos
(1) Impacto ambiental do resíduo gerado
(1) Destino adequado aos efluentes
(2) Área desflorestada para instalação do
empreendimento
(2) Impacto ambiental da extração de matéria-prima
Econômico
(2) Estratégia de Mercado e
Comércio e (3) Viabilidade
Econômica do
Empreendimento
(2) A estratégia de mercado favorece o crescimento
do empreendimento?
(3) Lucratividade
Fonte: Elaborado pelo autor.
Apesar de a perspectiva social ter número indicadores superior aos demais eixos de
análise (ambiental e econômico), as dimensões possuem mesmo peso. Característica similar
encontra-se dentro das dimensões, mesmo que determinados temas tenham quantidade maior
de indicadores, isso não implica em peso superior na análise (ver quadro 9).
A seguir (Quadro 12) podem-se observar os indicadores utilizados com sua
respectiva descrição:
91
Quadro 12 - Descrição dos Indicadores
INDICADOR DESCRIÇÃO
DIMENSÃO SOCIAL
Aumento de empregos Quantidade de empregos gerados
Aumento da renda Preço do açaí pago ao cooperado
Histórico de Produção Histórico de produção de açaí no município
Importância atribuída à
cultura do açaí
Grau de importância atribuído a cultura do açaí (obtido no estudo de
Nowac e Santos (2009/2010)
DIMENSÃO AMBIENTAL
Impacto dos Resíduos Impacto ambiental do resíduo gerado
Destino adequado dos
efluentes
Cumprimento dos procedimentos estabelecidos em legislação
Desflorestamento Área (m²) desflorestada para instalação do empreendimento
Impacto ambiental da
Extração matéria-prima
Qual o impacto ambiental da extração de matéria-prima? (obtido por
estudo de Neumann & Hirsch (2000) e Rocha (2004)
DIMENSÃO ECONÔMICA
Estratégia de mercado A estratégia de mercado favorece o crescimento do empreendimento?
Lucratividade Qual o lucro líquido da empresa para cada um real vendido?
Fonte: Elaborado pelo autor.
Apesar de parte dos indicadores utilizados serem de natureza quantitativa, a
abordagem utilizada na presente pesquisa foi qualitativa.
Grande parte dos indicadores possui formas objetivas de serem mensuradas e foram
obtidas por meio de pesquisa documental ou entrevista. Porém há indicadores, como a
Importância atribuída à cultura do açaí que apesar de utilizar dados quantitativos, a
abordagem de mensuração é eminentemente qualitativa conforme se pode observar no item
a seguir.
3.3. TIPO DA PESQUISA
Ao observar os sistemas de indicadores de desenvolvimento sustentável no item 2.4,
verifica-se metodologias predominantemente quantitativas, com a forte presença de
92
indicadores e índices com balanceamento matemático e tratamento estatístico, que compõem
o instrumental para a mensuração da sustentabilidade em nações e grandes regiões, estados,
dentre outros.
Apesar do reconhecimento da validade dos instrumentais citados, que é demonstrado
pela utilização por órgãos e entidades de renome, como o caso da Organização das Nações
Unidas, foi necessário refletir sobre quais indicadores poderiam ser aplicados no presente
estudo e principalmente sobre a natureza da abordagem.
Entretanto, mesmo com o intento inicial de definir indicadores quantitativos para
análise do fenômeno da sustentabilidade, encontrou-se um cenário de baixa disponibilidade
e organização de dados o que acabou por dificultar o objetivo inicial e direcionou o presente
estudo para uma abordagem qualitativa.
Assim, e embasado na taxonomia de Vergara (2006) o método adotado no presente
estudo é de natureza qualitativa. Optou-se pelo viés qualitativo em função do desafio
complexo e particular de mensurar a sustentabilidade numa agroindústria na Amazônia, que
conforme análise identificada, apontou para uma impactância a nível econômico, social e
ambiental.
Destaca-se que escolha da abordagem qualitativa se justifica em sua maior parte pelo
cenário de baixa disponibilidade de dados/informações que permitiu o enquadramento do
presente trabalho na assertiva de Gallopin (1996) acerca do uso de indicadores qualitativos
para mensuração do desenvolvimento sustentável.
Para Gallopin (1996) os indicadores qualitativos são preferíveis aos quantitativos em
3 situações específicas: quando da indisponibilidade de informações quantitativas; quando o
93
atributo de interesse não pode ser quantificado; e por fim, quando fatores de custo assim
determinarem.
Das situações elencadas por Gallopin (1996) identificou na pesquisa documental e de
campo, baixa disponibilidade de dados/informações quantitativas e fatores de custo que
inviabilizaram a mensuração de algumas temáticas conforme já expresso no Quadro 7,
Quadro 8 e Quadro 9.
Quanto aos meios utilizou-se de pesquisa bibliográfica, documental e pesquisa de
campo. Os dois primeiros objetivos específicos (ver item 1.4. Objetivos) foram atingidos,
por meio de pesquisa bibliográfica e documental, sendo que análise documental centrou-se
mais no segundo objetivo. Os documentos foram cedidos pela Agroindústria de Açaí e
também foi autorizado acesso ao processo de aprovação do referido empreendimento no
acervo da Coordenação Geral de Desenvolvimento Regional (CGDER).
O objetivo 3 foi alcançado por meio de pesquisa qualitativa utilizando os
instrumentos de entrevistas semi-estruturadas e análise documental.
Desse modo se construiu a base conceitual necessária ao trabalho, assim como se
obtiveram dados, informações, experiências que permitiram analisar processo produtivo da
Agroindústria.
Para atender o objetivo 4, foi feita análise do empreendimento em sua tríade aspecto
(ambiental, social e econômico) utilizando indicadores/critérios de análise em cada
dimensão conforme expresso no Quadro 10, Quadro 11 e Quadro 12.
A análise ambiental foi feita tomando por base a geração de resíduos e seu impacto
ambiental.
94
Quanto à dimensão social, buscou-se mensurar predisposição da comunidade para a
cultura do açaí, para isso utilizou-se como indicadores o histórico de produção do município
de Codajás, e a importância atribuída à atividade do município. Utilizou-se também o
indicador de elevação de renda dos cooperados e a geração de empregos.
Por último, buscou-se mensurar o impacto econômico do empreendimento onde se
utilizou dos indicadores de aumento do preço da matéria-prima ao cooperado, geração de
empregos e lucro operacional.
3.4. COLETA DE DADOS
3.4.1. Levantamento Bibliográfico
O levantamento de dados objetivou alicerçar teoricamente o presente estudo de modo
a promover revisão bibliográfica sobre crescimento e desenvolvimento econômico,
sustentabilidade, indicadores e indicadores de sustentabilidade.
É importante destacar que o meio de coleta bibliográfico também foi utilizado para
levantamento de dados/informações para os indicadores: Histórico de produção, Importância
atribuída à cultura do açaí, Destino adequado de efluentes e Impacto ambiental da extração
de matéria-prima, conforme apontado no
95
Quadro 13.
3.4.2. Pesquisa Documental
Também foi utilizado de pesquisa documental, sendo cedido tabelas de controle de
produção por parte da Agroindústria que foram fundamentais para definição de valores
médios pago ao produtor (ver Tabela 2).
De acordo com o já explicitado na introdução, a SUFRAMA é a entidade que
aprovou e financiou a fundo perdido o empreendimento “Agroindústria de Açaí de
Codajás”, e portanto, possui informações e análise técnicas relevantes para o presente
trabalho. As informações utilizadas foram obtidas na Coordenação Geral de
Desenvolvimento Regional (CGDER) que forneceu amplo acesso ao Processo relativo ao
Convênio 047/2002, Volumes I, II, III e IV.
O relatório traça um perfil sócio-econômico dos projetos de interiorização
fomentados pela SUFRAMA nos estados do Acre, Amazonas e Roraima.
Outro documento que também foi utilizado o trabalho técnico desenvolvido pela
Universidade Federal do Amazonas (UFAM) a pedido da SUFRAMA, o trabalho foi
intitulado “Relatório das Visitas técnicas de campo para aplicação do questionário de coletas
de dados referente aos Indicadores de Avaliação Socioeconômica dos Projetos de
Interiorização do Desenvolvimento”.
3.4.3. Pesquisa de Campo
96
Foi delimitado que esta pesquisa seria desenvolvida no município de Codajás,
interior do Amazonas, mesorregião do centro amazonense e da microrregião de Coari, mais
especificamente na “Agroindústria de Açaí de Codajás”.
É interessante contextualizar para fins de justificativa da escolha do estudo de caso,
que em momentos iniciais de pesquisa a fonte e objeto primeiro de inspiração era o
“Relatório das Visitas técnicas de campo para aplicação do questionário de coletas de dados
referente aos Indicadores de Avaliação Socioeconômica dos Projetos de Interiorização do
Desenvolvimento” e os dados brutos de análise e pré-análise.
O referido relatório faz análise socioeconômica de 74 convênios/ contratos de
repasse nos estados do Acre, Amazonas e Roraima. Por questões de custo de deslocamento,
optou-se pelos convênios/ contratos de repasses localizados no Estado do Amazonas. Desse
universo situado no Amazonas, apenas dois convênios são enquadrados como Projeto de
Produção, sendo que a “Agroindústria de Açaí de Codajás” era o único efetivamente
implantado, desse modo, escolheu-se a referida agroindústria.
Também influenciou na escolha o fato do município possuir forte identidade com a
cultura/produto do açaí e envolver um grande número de famílias, o que permite inferências
sobre a influência do produto na região. (Quadro 14) (NOWAC e SANTOS, 2009/2010;
IBGE, 2010).
Boa parte dos dados e informações coletadas da agroindústria foi feito por entrevistas
(ver
97
Quadro 13). As entrevistas foram realizadas no mês de junho de 2011 com a equipe
gestora da agroindústria, porém maior parte da informação foi fornecida pelo Presidente da
Cooperativa Carlos Crispin Rodrigues.
98
Quadro 13 - Fonte e meio de coleta de dados dos indicadores
INDICADOR FONTE DE
INFORMAÇÃO
MEIO DE COLETA
Aumento de empregos Agroindústria/
UFAM/SUFRAMA
Entrevista/ Pesquisa
documental
Aumento da renda Agroindústria Pesquisa Documental
Histórico de Produção IBGE Pesquisa Bibliográfica
Importância atribuída à cultura do açaí NOWAC e SANTOS
(2009/2010)
Pesquisa Bibliográfica
Impacto dos Resíduos Agroindústria Entrevista
Destino adequado dos efluentes Agroindústria / legislação Entrevista/ Pesquisa
Bibliográfica/ Observação “in
loco”
Desflorestamento SUFRAMA Pesquisa Documental
Impacto ambiental da Extração
matéria-prima
Agroindústria e FREIRE e
PELEGRINE, 2000
Entrevista/ Pesquisa
Bibliográfica
Estratégia de mercado SUFRAMA/ Agroindústria Pesquisa Documental
Lucratividade¹ Agroindústria e Modelo de
Análise
Entrevista/ Pesquisa
Documental
Qualificação da mão de obra Agroindústria Entrevista
Fonte: Elaborado pelo autor
Nota: 1 – Ver Apêndice que detalha os indicadores econômico-financeiros
3.4.3.1. Entrevistas com cooperados e aplicação de questionários
Ressalta-se que em etapas iniciais da presente pesquisa se objetivava a
realização de entrevistas com cooperados e caso necessário a aplicação de questionários,
porém nos momentos das visitas só estavam presentes na agroindústria a equipe gerencial do
referido empreendimento, o que inviabilizou a coleta de dados/informações com outros
cooperados.
99
CAPÍTULO 4 – ESTUDO DE CASO DA AGROINDÚSTRIA DE AÇAÍ DE CODAJÁS
4.1. LOCALIDADE DO EMPREENDIMENTO
O empreendimento estudado localiza-se na cidade de Codajás, interior do Amazonas,
mesorregião do centro amazonense e da microrregião de Coari. Situada a margem esquerda
do rio Solimões (Amazonas), em terreno plano e de pouca elevação, está plantada a antiga
povoação, hoje cidade de Codajás. Primitivamente era aldeia de Cudaiá, de índios do mesmo
nome, mais tarde tornou-se pousada dos índios Muras ou Môras, que ainda em meados do
século XVIII ocupavam as margens e os lagos do rio Amazonas e Madeira. (CODAJAS,
2011; IBGE, 2011)
Nas imediações da localidade há numerosos lagos, bastantes piscicosos, entre eles o
lago de Cudaiá, (Miuá) onde em 1864 aportou o cidadão procedente de ″Thuryassú″, no
Maranhão, José Manoel da Rocha Thury, trazendo consigo várias famílias e lançando os
fundamentos de Codajás, que contribuiu para o crescimento do lugar, implantando uma
fazenda de gado que se tornou próspera (CODAJAS, 2011).
O município de Codajás possui 23.206 habitantes e se apresenta como importante
produtor de açaí, que juntamente com pesca, são importantes fontes de recursos do
município, para se ter uma dimensão em termos quantitativos, só em 2009 ouve uma
produção de 167 toneladas de açaí, gerando mais de 160 milhões de reais, fazendo de
Codajás o 5ª maior produtor do fruto no Amazonas (IBGE, 2011).
Apesar de não ser o principal produtor de açaí do Amazonas, o município se
autodenomina Terra do Açaí e comemora anualmente a Festa do Açaí. Esta
autodenominação deve-se ao fato da principal atividade econômica do município ser o açaí,
100
concentrando o maior número de famílias que trabalham com o produto no Estado
(NOWAK & SANTOS, 2009/2010).
4.2. CARACTERÍSTICAS GERAIS DO AÇAÍ: PLANTA E PRODUTO
O açaizeiro, é palmeira típica da Amazônia que produz o conhecido fruto açaí,
ocorre naturalmente nos Estados do Pará, Amapá, Maranhão e leste do Amazonas. Muito
apreciado pelo excelente sabor de sua polpa, o açaí é uma das frutas amazônicas atualmente
mais conhecidas fora da região, e com boas perspectivas quanto à conquista de novos
mercados (SUFRAMA, 2003).
Existem duas principais espécies de açaí, que ocorrem em abundância na região
amazônica, a Euterpe oleracea, conhecido como açaí de touceira que se concentra em maior
quantidade nos estados do Pará e Amapá e a Euterpe precatória também conhecido como
açaí solteiro ou de terra-firme, dominante no estado do Amazonas.
Figura 3 - Espécies de Açai – Euterpe oleracea à esquerda e Euterpe precatória á direita
Fonte: INPA
101
O açaí é um fruto de grande riqueza nutricional, apresenta abundância de compostos
fenólicos e antocianinas, substâncias com elevada capacidade antioxidante e de
comprovados efeitos benéficos à saúde, quando presentes na alimentação humana (ROGEZ
2000, Del POZO-INSFRAN et all, 2004). Em função destas características o consumo do
açaí apresenta perspectivas de crescimento e ultrapassando a fronteira amazônica
consolidando perspectivas promissoras no mercado nacional e internacional, atraindo o
interesse de produtores e empresários pelo seu cultivo (MENEZES et all, 2005).
Na região, a polpa do açaí é utilizada tradicionalmente como "vinho de açaí" que, em
algumas áreas, constitui-se num dos alimentos básicos da população. Conforme explicitado,
o produto, apesar de originalmente da Amazônia, vêm ultrapassando este limite territorial,
nos últimos anos, tornou-se conhecida em outras regiões do país, principalmente a sudeste, e
vem tendo grande e crescente aceitação. Industrialmente sua principal aplicação é na
fabricação de sorvetes (SUFRAMA, 2003).
A SUFRAMA publicou estudo de potencialidades regionais, focado no açaí, onde
apresenta as potencialidades de mercado para o produto, afirmando que já há um mercado
consumidor tradicional na região, fruto do hábito de sua população de tomar o “vinho de
açaí”. Aponta também que nos últimos anos da década de 90, identificou-se crescente
consumo na região sudeste do país, como alimento amplamente utilizado em academias de
ginástica, praias, esportistas e turistas (SUFRAMA, 2003).
4.3. ASPECTOS GERAIS DA CADEIA PRODUTIVA DO AÇAÍ EM CODAJÁS
Nowac & Santos (2009/2010) apontam que a produção de açaí no Estado do
Amazonas não é grande quando comparada com outros estados do norte, no entanto esta
102
produção apresenta sua importância por compor a alimentação básica da população e ser
matéria-prima de pequenas indústrias. É importante não excluir dos apontamentos, o açaí é
um produto com perspectiva econômica , conforme estudo já citados.
De acordo com Menezes (2005) grande parte da produção do açaí amazonas é de
origem extrativista, onde 98% do açaí (Euterpe precatoria) produzido vêm da floresta e
somente 2% vêm de plantios mistos (E. precatoria e E. oleracea). De um modo geral os
açaizais amazônicos são livres de problemas fitossanitários e em um plantio com
concentração de 400 plantas por hectare o açaí chega a produzir 15 toneladas de frutos por
ano. A produção do açaí (E. precatoria e E. oleraceae) vai de janeiro a dezembro, sendo que
a safra de Euterpe precatoria ocorre de dezembro a junho e a de E. oleracea ocorre de julho
a novembro.
No Amazonas 62 municípios (Figura 1) podem ser considerados produtores de açaí,
sendo que os que mais produziram, são: Manicoré (336 t), Manacapuru (217 t), Manaquiri
(200t) Jutaí (175 t), Codajás (167 t) e Fonte Boa (21 t), que juntos, respondem por mais de
75% da produção estadual, equivalente a 1.216 toneladas no ano de 2009, segundo IBGE
(2010).
Com base nos citados dados do IBGE, o município de Codajás se apresenta como o
quinto maior produtor do Estado, juntamente com estes dados, julga-se interessante observar
o quadro a seguir, que demonstra a quantidade de famílias envolvidas com a produção do
açaí. Podendo constatar que apesar de Codajás não possuir a maior produção do Estado, está
localizado no polo com maior quantidade de famílias envolvidas (700) com a extração do
açaí, podendo-se inferir a influência econômica e social desta cultura no município.
103
Quadro 14- Número de envolvidos na produção de açaí
Polo/ Calha Qtd. De Famílias
Envolvidas
Polo de Codajás, alto Solimões Japurá 700
Calha do rio Negro 230
Calha do médio Solimões 200
Calha do rio Madeira 100
Polo de Fonte Boa, alto Solimões Japurá 45
Polo de Tabatinga, alto Solimões Japurá 30
Calha do rio Purus 30
Calha do Juruá (Guajará-Ipixuna) 15
TOTAL 1350
Fonte: Amazonas (2005)
Um dado relevante para análise é saber a participação do açaí na renda familiar, a
esse respeito Amazonas (2009), afirmam não haver informações precisas que permitam
afirmar o peso do açaí no orçamento familiar. Mas segundo informações coletadas na I
Conferência de Populações Tradicionais, estima-se que durante a safra do açaí no estado do
Amazonas, em 6 meses do ano, a média da participação do açaí na renda familiar é de 38%.
Em Codajás, estima-se que no período de safra, o açaí represente 80% da renda familiar
(NOWAK & SANTOS, 2009/2010)
Ainda segundo Nowac & Santos (2009/2010), 60,7% dos codajaenses consideram
atividade de açaí é muito importante e 22% consideram a atividade importante, além de
quase 70% dos produtores apresentarem satisfação com a atividade. Apesar de não haver
precisão de dados
Outro aspecto interessante do mercado de açaí de Codajás, é o relevante consumo
local do produto, que atinge 47% da produção, de modo que o restante é destinado para o
mercado regional, nacional e internacional (NOWAC & SANTOS, 2009/2010).
Apesar dos números expressivos, os produtores quando indagados a definir o estado
do processo produtivo, mais de 80% dos entrevistados avaliam como completamente
artesanal e rudimentar, podendo inferir grandes possibilidades de crescimento dessa
104
produção. Além do caráter rudimentar apontado, é importante destacar que o escoamento
representa a principal dificuldade apontada por estes mesmos produtores. (NOWAC &
SANTOS, 2009/2010).
Os dados apresentados permitem visualizar a importância do produto na economia
do município, seja pelo número expressivo de famílias envolvidas, como pelo
reconhecimento cultural do fruto, expresso pela Festa Anual do Açaí. Apesar destas
observações favoráveis, Nowac & Santos (2009/2010) apontam gargalos no processo
produtivo do açaí, que compromete uma maior qualidade e quantidade da produção.
Conforme se pode observar:
A problemática que envolve a cadeia produtiva do açaí vai desde a dificuldade de
organização dos produtores; padronização da produção de polpa; cuidados de
higiene no beneficiamento, para evitar a contaminação; padronização e aquisição de
novos equipamentos para beneficiar o açaí; necessidade de ações da vigilância
sanitária municipal para garantir a padronização e qualidade do produto e preço
justo aos produtores que atendem às condições de qualidade e pureza; dificuldade de
transporte, do local de coleta até o beneficiamento e até o mercado consumidor;
manejo inadequado na coleta, embalagem e transporte, gerando perda de produção
durante a coleta e fermentação dos frutos pelas embalagens inadequadas e manuseio
durante o transporte; falta de assistência técnica para o manejo de açaí nativo e o
plantio de açaí; o armazenamento do açaí depois de beneficiado.
NOWAC & SANTOS, 2009/2010: p. 2.
Os gargalos apontados demonstram perdas de oportunidades do município, pois
apesar das dificuldades elencadas, Codajás apresentou expressiva produção de açaí, e
crescimento contínuo da produção nos últimos 10 anos ( Gráfico 1). O que permite
inferir que o município tem potencial de produção superior aos resultados apresentados.
105
Gráfico 1 - Quantidade Produzida de Açaí em Codajás
Gráfico 2- Quantidade Produzida de Açaí em Codajás
Fonte: IBGE (2010)
Quanto à participação do açaí na renda familiar, não há informações disponíveis.
Dados do IBGE indicam que o valor da produção de açaí no estado subiu de R$ 5 mil, em
1994, para R$ 632 mil, em 2002. Um salto, que, evidentemente, acompanhou o grande
aumento da produção no período, mas que evidencia o baixo preço que o produtor está
conseguindo pelo produto: menos de R$ 0,60 por quilo do fruto (a produção, em 2002, foi
de 1.103 toneladas). Certamente, reflexos dessa situação estão atingindo a renda das famílias
produtoras de açaí, que em grande medida ainda dependem da intermediação para
comercializar seu produto (NOWAC & SANTOS, 2009/2010).
Os participantes da I Conferência de Populações Tradicionais estimam que a safra do
açaí no estado do Amazonas, durante 6 meses do ano, a média da participação do açaí na
renda familiar é de 38%.
Diante da contextualização realizada acerca do produto e de aspectos produtivos de
sua cadeia, adentrar-se-á na análise do empreendimento, que é objeto de análise do presente
trabalho.
120
128
141 146 148
151 154
158 163
167
120
130
140
150
160
170
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Quantidade produzida de Açaí em Codajás (toneladas)
Quantidade produzida de Açaí (toneladas)
106
4.4. AGROINDÚSTRIA DE AÇAÍ DE CODAJÁS – PROJETO ESTUDADO
Conforme já abordado, a SUFRAMA instituiu o Programa de Interiorização do
Desenvolvimento, em parceria com governos estaduais, entidades da sociedade civil
(Instituto de C&T, cooperativas, etc.) e prefeituras. A Superintendência que direciona
orçamento para projetos de produção, dentre outros, utilizando os recursos arrecadados com
a Taxa de Serviços Administrativos (TSA3), tendo por fim a interiorização do
desenvolvimento, minimizando o custo amazônico, ampliando a produção de bens e
serviços voltados à vocação regional e, ainda, capacitar, treinar e qualificar trabalhadores
(SUFRAMA, 2008; SÁ E MENESES, 2008).
A presente análise foca no projeto de produção “Agroindústria de Açaí de Codajás”,
que é fruto do Programa de Interiorização do Desenvolvimento que por meio do Convênio
047/2002, financiou R$ 1.256.021,00, sendo que R$ 12.560,21 foi contrapartida da
Prefeitura Municipal de Codajás. O investimento objetivou a construção e a instalação de
uma unidade industrial para processamentos de poupa de frutas regional, especialmente o
açaí, equipada com máquinas e equipamentos e materiais permanentes necessários para o
funcionamento e distribuição física mais adequada à região.
O Convênio visava à instalação da Agroindústria de Açaí no município de Codajás,
usina destinada a processar e embalar a polpa de açaí produzida no município de Codajás,
cuja matéria-prima origina-se tanto dos produtores da Cooperativa Mista quanto de outros
produtores. É interessante elencar que embora a contrapartida tenha sido custeada pela
Prefeitura municipal de Codajás, uma vez inaugurada, a Usina foi cedida em comodato à
Cooperativa, visando sua exploração econômica pelos próprios produtores.
3 Taxa de Serviços Administrativos instituída pela Lei nº 9.960, de 28 de janeiro de 2000, prevendo remuneração
dos serviços prestados pela Suframa.
107
Analisando os dados obtidos pelo Questionário de Coleta de Dados em Campo, fruto
do trabalho técnico da UFAM: “Relatório das Visitas Técnicas de Campo para Aplicação do
Questionário das Coletas de dados referente aos Indicadores de Avaliação Socioeconômica
dos Projetos de Interiorização da SUFRAMA”, observaram-se relatos de que o município
não possuía qualquer experiência anterior na área de processamento industrial de polpas de
frutas.
Considerando o sistema de enquadramento de projetos da SUFRAMA, o presente
empreendimento é tipificado Classe C14 – Projeto de Produção. O empreendimento tem
foco de atividades no beneficiamento de frutas regionais, majoritariamente o açaí,
transformando-os em pacotes de polpas congeladas, ainda que pequena escala industrial.
Grande quantidade dos pacotes embalados pela Usina destina-se ao mercado
nacional, especialmente os estados das regiões Sudeste. Houve, até 2008, também, uma
importante fatia de vendas para o exterior, mas, em função da aplicação de barreiras
fitossanitárias a produtos alimentícios em alguns países (mormente os EUA), as vendas
externas foram interrompidas.
A fábrica possui capacidade instalada de produção de 4 toneladas/dia5 de açaí
embalado em pacotes de 1 kg, apesar capacidade de produção, a unidade fabril só possui
condição de armazenamento de 2 toneladas, de modo que o restante é armazenado na
Câmara refrigerada do IDAAM.
Segundo o relatório técnico da UFAM, realizado em 2009, o projeto original foi
totalmente implantado e está funcionando plenamente. E em visita “in loco” pode-se
constatar que a fábrica continua com suas atividades.
4 A Portaria SUFRAMA nº 205/2004 estabelece os procedimentos, critérios de análise e seleção dos projetos
voltados para a interiorização do desenvolvimento. A portaria disciplina que os projetos podem ser: C1 – Projeto
de Produção, C2 – Projetos de Apoio a Infra-Estrutura Econômica, C3 – Projetos de Apoio ao Turismo, C4 –
Projetos de Pesquisa e Desenvolvimento e C5 – Projetos de Capacitação de Recursos Humanos. 5 Valor obtido por meio de relatos do presidente da cooperativa e no trabalho técnico elaborado pela UFAM:
“Relatório das Visitas Técnicas de Campo para Aplicação do Questionário da Coletas de dados referente aos
Indicadores de Avaliação Socioeconômica dos Projetos de Interiorização da SUFRAMA, elaborado em 2009”
108
Quando da visita “in loco” que ocorreu em julho de 2011, a fábrica não estava em
funcionamento por conta do fim da safra, mas havia funcionários trabalhando na
manutenção da fábrica e a equipe gerencial do empreendimento, e também havia produção
recente em estoque de produto acabado, demonstrando que fábrica estava em atividade.
Figura 4 - Açaí em estoque na Câmara Frigorífica
Fonte: Acervo do autor
Durante a visita foi entrevistada a equipe gestora da agroindústria em especial o
Presidente da Agroindústria, que forneceram informações importantes para o mapeamento
do processo produtivo do empreendimento, identificando-se o fluxo das principais etapas da
produção, conforme poderá se observar no próximo item 3.4.1.
109
4.4.1. Processo Produtivo da Agroindústria de Açaí
Figura 5 - Fluxo da Extração do Açaí
Fonte: Elaborado pelo autor
Em visitas as áreas de coleta de açaí, pôde-se observar o caráter artesanal da coleta do
fruto. Os cachos são coletados geralmente por homens, que com auxílio da peconha6, que
pode ser feito com corda ou com as próprias folhas das árvores, estes indivíduos devem ser
preferencialmente magros, pois precisam subir na palmeira de em média 10 a 15 metros de
altura, e o peso menor evita danos à palmeira.
Em terra, efetua a separação do cacho e frutos manualmente onde são debulhados,
armazenando em cestos, caixas de plásticos, etc. É preciso considerar que nesta etapa já há
seleção dos frutos de acordo com a cor e estado de maturação, além da retirada de frutos
atacados por insetos, contaminado por fezes de animais, doenças, etc. Sugere-se, inclusive, a
não permanência de animais domésticos nas proximidades, conforme alerta estudo da
Embrapa (2005).
6 Espécie de corda feita saco de ráfia ou palha da própria palmeira do açaí, utilizado como instrumento de subida
na palmeira.
COLETA DO AÇAÍ TRANSPORTE ARMAZENAMENTO
110
Figura 6 - Extração artesanal do açaí
Fonte: Lucivaldo Sena/Ag Pará
O produtor/coletor, então, transporta o açaí para a fábrica, a locomoção deve ser
rápida considerando a perecibilidade do fruto, assim evitando a exposição desnecessária ao
sol. Segundo relatos dos entrevistados e segundo apontado por Nogueira (2005), o açaí neste
estado deve ser despolpado em até 24 horas após a colheita em temperatura ambiente, ou
seja, o transporte deve ser realizado no menor tempo possível, evitando queda da qualidade
do produto.
Figura 7 - Fluxo de Produção
Fonte: Elaborado pelo autor
RECEBIMENTO/
ANÁLISE E
SELEÇÃO
HIGIENIZAÇÃO MACERAÇÃOEXTRAÇÃO DA
POLPAEMBALAGEM
ARMAZENAMENTO
Resíduo
111
4.4.1.1. Etapa 1: Recebimento Análise e Seleção
Com a chegada da matéria-prima na agroindústria de açaí, o produto passa
primeiramente por análise de qualidade, onde é classificado por características de odor e cor.
Importante considerar que o valor do Kg pago é realizado conforme a análise de qualidade.
Em pesquisa documental, constatou-se variação nos registros de pagamento de R$ 0,75/kg à
R$0,90/kg, segundo informado pelos cooperados essa variação em um mesmo mês se deve
além da variação de oferta e demanda à análise de qualidade do produto que influencia no
valor pago ao produtor.
Tabela 2 - Valor pago pela cooperativa por kg de açaí bruto de maio a junho Valor Pago pela Cooperativa por Kg de Açaí Bruto (2011)
Abril Maio Junho
Min Max Min Max Min Max
R$ 0,75 R$ 0,80 R$ 0,75 R$ 0,90 R$ 0,80 R$ 0,80
Fonte: Elaborado pelo autor
4.4.1.2. Etapa 2: Higienização/Sanitização
Em caso de aceite da matéria-prima, a mesma para a etapa de higienização, objetiva
a diminuição de elementos biológicos contaminantes que são incorporados ao fluxo na
colheita e transporte. Envolve inicialmente a retirada de impurezas (folhas, terra, insetos,
etc.) presentes no açaí por meio de jatos de ar.
112
Figura 8 - Ventilador de Caroços
Fonte: Acervo do autor
Após esta limpeza a ar, o açaí é posto de molho em tanques com solução em cloro,
de conformidade com orientação da Embrapa (2005) a concentração dever situar entre de 20
a 50 ppm1 de cloro ativo, que deve permanecer de 20 minutos a 40 minutos. É muito
importante que a solução não seja utilizada várias vezes em função da oxidação e
evaporação do cloro, pois prejudica o efeito desinfetante da solução.
Figura 9 - Tanques de Higienização
Fonte: Acervo do Autor
113
4.4.1.3 Etapa 3: Maceração
Após todo o processo de higienização o açaí é posto novamente de molho, porém
agora em água em temperatura de 45ºC por 30 min, com objetivo de promover o
amolecimento da casca e da polpa (epicarpo e mesocarpo) para facilitar o processo de
despolpamento.
Figura 10 - Tanque de Maceração
Fonte: Acervo do autor
4.4.1.4. Etapa 4: Extração da Polpa/ Refino
Figura 11 - Esteira de transporte e base do despolpador
Fonte: Acervo do autor
114
Perpassado o processo de maceração do açaí, o fruto é colocado em recipiente plástico
na esteira, sendo transportado mecanicamente por esteira até a base do despolpador, que por
meio de rosca-sem-fim, o açaí é conduzido ao ponto de despolpamento.
Figura 12 - Despolpadeira
Fonte: Acervo do autor
No despolpamento é injetado água no processo, onde é promovida a fricção entre os
frutos para retirada da polpa, que por efeito da gravidade, passa o segundo estágio de
despolpamento, onde a polpa é refinada por meio de peneiras, retirando a “borra” do açaí,
considerada parte indesejada para o produto.
Nesta etapa é extraída a polpa do restante da massa do fruto, destaca-se que a polpa
representa somente 30% da massa total, ou seja, 70% da massa é descartada no atual processo
produtivo. Diga-se descartada, pois não há nenhum tratamento dos resíduos gerados no
sistema estudado, de modo que os mesmos são armazenados na área externa a fábrica,
entrando em decomposição a céu aberto.
Quando refinado, a polpa é transferida para um tanque de homogeneização. Onde
permanece em processo de homogeneização, de modo que a polpa é constantemente
115
misturada, assegurando que toda a massa tenha características similares de sabor e textura,
evitando decantação.
4.4.1.5. Etapa 5: Pasteurização/ Homogeneização
Após a extração da polpa o açaí passa por tratamento térmico conhecido como
pasteurização, cuja finalidade é a destruição de microrganismos presentes nos alimentos.
Desse modo o açaí é bombeado para um sistema trocador de calor tubular, onde é elevado a
80-85ºC por um período de 10 segundos, e logo após, é submetido a abrupto resfriamento,
saindo sistema com temperatura de 5ºC.
Figura 13 - Pausterizador
Fonte: Acervo do autor
Logo após a polpa vai para tanque de armazenamento onde novamente sofre processo
de homogeneização, assegurando que toda a massa tenha características similares de sabor,
textura, evitando decantação.
116
Figura 14 - Tanque homogeneizador
Fonte: Acervo do Autor
4.4.1.6. Etapa 6: Embalagem
Logo após a homogeneização a polpa é embalada, por meio de envasamento
automatizado em embalagem plástica de baixa densidade
Figura 15 -Empacotadora
Fonte: Acervo do Autor
117
4.4.1.7. Etapa 7: Armazenagem
Mesmo processado, em estado líquido ele ainda possui perecibilidade, sendo
fundamental o congelamento do mesmo. Assim as embalagens processadas vão para câmara
frigorífica onde o produto fica armazenado em uma temperatura de – 32 ºC, aguardando o
momento de ser transportado aos clientes
4.4.2. Capacidade Produtiva da Agroindústria
Durante as entrevistas e análise documental visando à coleta de informações base de
produção, só foi informado o dado de Capacidade Máxima de Produção/ dia, que é de 4
toneladas7 (t) de produto final (Figura 16), embalados em sacos de polietileno de baixa
densidade com capacidade de 1 kg.
Considerando a análise proposta, é importante a posse de dados como: Produção
Anual Máxima Atual, Capacidade Máxima de Processamento de Matéria-prima/dia e ano, e
Capacidade Máxima de Geração de Resíduos/ Dia e ano. Os referidos dados não foram
informados, somente sendo obtida a “Capacidade Máxima de Produção/ dia”, a partir deste
dado, cruzando com informações bibliográficas obtidas, podem-se estabelecer cálculos que
permitem obter os dados e informações relevantes para definir informações importantes do
processo produtivo da Agroindústria, conforme será demonstrado a seguir.
7 E interessante destacar que durante a análise documental na SUFRAMA não foi encontrado a nota fiscal, nem
no detalhamento do Plano de Trabalho a capacidade produtiva máxima instalada na fábrica. Portanto o valor de
4t/dia tem por base o relato do presidente da cooperativa e estudo realizado pela UFAM (Relatório das Visitas
Técnicas de Campo para Aplicação do Questionário da Coleta de dados referente aos Indicadores de Avaliação
Socioeconômica dos Projetos de Interiorização da SUFRAMA) que cita mesmo valor.
118
Figura 16 – Produto Final
Fonte: UFAM
A tabela 2 apresenta 3 tipos de informações relativas à capacidade de produção.
Primeiro, a Capacidade Máxima de Produção que em conformidade com os dados coletados é
de 4t/dia. Em segundo, tem-se Capacidade Anual Máxima Atual que visa demonstrar a
capacidade máxima de produção considerando a realidade atual de disponibilidade de
matéria-prima, que se dá em somente 6 meses do ano, assim obteve-se o valor por meio da
seguinte fórmula:
PDM
Onde:
CPA - Capacidade Produção Anual Máxima Atual;
CPM - Capacidade Máxima de Produção por Dia;
PDM – Tempo com matéria-prima disponível.
Considerando que cada mês possui 20 dias trabalhados e a disponibilidade de matéria-
prima é de 6 meses.
Assim tem-se:
CPA = 480 t
O terceiro é a Capacidade Máxima de Produção Anual, que consiste o potencial de
produção excluindo o fator limitante matéria-prima, assim considera-se um cenário ideal de
119
disponibilidade de matéria-prima por todo o ano. Obteve-se o dado a partir da seguinte
fórmula:
CMI = 4 x 240
CMI = 960 t/ ano
Diante do apontado expõe as informações na tabela 2:
Tabela 3 – Capacidade de produção em toneladas Capacidade de Produção (em Toneladas)
Capacidade Máxima de Produção por
Dia (CMP)
4
Capacidade Produção Anual Máxima
Atual (CPA)
480
Capacidade Máxima de Produção Anual
Ideal (CMI)
960
Fonte: Elaborado pelo Autor
Também são dados de relevância para análise os que se referem ao volume de matéria-
prima processada e a quantidade de resíduo gerado pelo processo produtivo. Ambas as
informações não foram fornecidas pela cooperativa, para obtê-las se recorreu ao estudo de
Oliveira et. Al. (2000), onde aponta que o processo de despolpamento, por meio de máquinas
despolpadeiras é separado a polpa de caroço, fibras e resto da casca, onde os últimos
representam 73,46%8, e o produto polpa representa somente 26,54% da massa do fruto,
conforme se observar no Gráfico 3.
8 Ver Tabela 8.
120
Gráfico 3 – Relação matéria-prima x produto x resíduo
Fonte: Elaborado pelo autor com base nas informações de Xavier (2006)
De posse dessa informação e sabendo a capacidade máxima de produção da fábrica é
de 4 toneladas (t) por dia, pode-se obter Capacidade Máxima de Geração de Resíduos/dia:
Tabela 4 – Relação proporcional produção x resíduo Produção (Toneladas) Percentual (%)
Capacidade Máxima de Produção
por dia 4 26,54%
Capacidade Máxima de Geração de
Resíduos dia R 73,46%
Fonte: Elaborado pelo autor
Identificando o tipo de relação, e resolvendo a equação:
Logo a Capacidade Máxima de Geração de Resíduos dia (R) produzida é 11,07 t.
Considerando ainda que:
Onde:
CP = Capacidade de Processamento de Matéria-prima/dia;
P= Capacidade Máxima de Produção/ dia;
R = Capacidade Máxima de Geração de Resíduos/ dia.
Aplicando os resultados já encontrados tem-se:
1Kg de Açaí
DDEESSPPOOLLPPAAMMEENNTTOO
121
Assim a Capacidade de Processamento de Matéria-prima/dia é de
Dessa forma sintetizando as informações encontradas e aplicando critérios de calculo
similares da Tabela 3, tem-se:
Tabela 5 - Capacidade de Processamento de Matéria-prima Capacidade de Processamento (em toneladas)
Capacidade Máxima de Processamento de Matéria-prima Dia (t) 13,33
Produção Anual Máxima de Processamento de Matéria-Prima Atual(t) 1.599,60
Capacidade Máxima de Processamento de Matéria-prima Anual Ideal(t) 3.199,20
Fonte: Elaborado pelo autor
E também valiosas informações sobre a geração de resíduos, que serão melhor
analisadas no item Dimensão Ambiental:
Tabela 6 – Capacidade de geração de resíduos Capacidade de Geração de Resíduos (em toneladas)
Capacidade Máxima de Geração de Resíduos Dia (t) 9,33
Produção Anual Máxima de Geração de Resíduos Atual(t) 1.119,60
Capacidade Máxima de Geração de Resíduos Anual Ideal(t) 2.239,20
Fonte: Elaborado pelo autor.
Conforme se pode observar a agroindústria só funciona durante 6 meses do ano, em
função da disponibilidade de matéria-prima. Ou seja, embora a fábrica tenha capacidade de
produzir 960 t anuais, somente são produzidas 480 toneladas, de modo que a fábrica fica
inoperante por metade do ano.
Apesar da fábrica só estar em funcionamento por 6 meses do ano, existem custos fixos
vinculados ao empreendimento como pagamento de pessoal, manutenção dos equipamentos,
água, luz, energia, depreciação, dentre outras que consistem em necessidade de desembolso
contínuo da agroindústria para a continuidade das ações. Esse aspecto representa item
importante da análise econômica do empreendimento que será realizada em item posterior.
122
Mas é importante refletir se a fábrica está proporcionando elevação de nível de renda
aos cooperados, de modo que a instalação deste empreendimento tenha proporcionado uma
condição mais favorável do que antes da implementação do mesmo. Representando este eixo
a dimensão social de análise.
Como terceira dimensão de análise tem-se análise dos danos ambientais gerados pelo
empreendimento, analisando o impacto ambiental do mesmo quanto ao impacto da geração de
resíduos e desflorestamento.
Portanto por meio da análise das dimensões econômico, social e ambiental busca-se
mensurar a sustentabilidade do referido empreendimento.
CAPÍTULO 5 - ANÁLISE DE SUSTENTABILIDADE
5.1. DIMENSÃO AMBIENTAL
Apesar do desenvolvimento também ter por cerne a possibilidade das pessoas viverem
o tipo de vida que escolherem, este imperativo de escolha não é um critério absoluto,
conforme já exposto no item 2.3. (Sustentabilidade Ambiental), é preciso ponderar e refletir
sobre as limitações que o ambiente oferece, emergindo daí o critério ambiental de análise e
tomada de decisão que se apresenta como imperativo para gestão de empreendimentos e
políticas públicas.
A sustentabilidade de empreendimentos na Amazônia implica no desenvolvimento de
atividades econômicas que proporcione qualidade de vida, contemplando os limites
ambientais existentes. E principalmente, identificando padrões culturais, potenciais
123
econômicos naturais, dentre outros objetivando materialização do desenvolvimento
sustentável embasado na realidade local, sem a imposição de modelos exógenos.
É importante destacar que a SUFRAMA apresenta direcionamento institucional
voltado para questão da sustentabilidade. Isso fica patente na visão de futuro da autarquia
estabelecido em seu Planejamento Estratégico 2010, quando afirma que pretende “ser uma
agência padrão de excelência na indução do desenvolvimento sustentável”. Considerando a
natureza estratégica do citado plano, as outras ações da SUFRAMA terão, via de regra, o
norteamento estabelecido pela normativa maior. Portanto, a aplicação de recursos que
viabilizou o empreendimento analisado tem por pressuposto a indução de processo de
desenvolvimento que contemple questões ambientais.
E com este pressuposto e diante da disponibilidade de dados encontrados, se realiza
análise dos danos ambientais gerados pelo empreendimento, analisando o impacto ambiental
do mesmo. Para isso utilizou o indicador: geração de resíduos e seu impacto ambiental e
desflorestamento. E também são sugeridas formas de uso sustentável dos resíduos gerados.
5.1.1. Geração de Resíduos e seu Impacto Ambiental
A atividade industrial ganhou caráter de essencialidade na sociedade contemporânea,
fruto em grande parte da evolução dos processos industriais que transformaram muito
produtos em artigos de primeira necessidade. Apesar de sua importância e das facilidades
geradas, a evolução industrial também gerou fenômenos de contaminação ambiental, gerando
resíduos sólidos, líquidos e gasosos (FREIRE E PELEGRINE, 2000).
124
Considerando que o estudo caso proposto analisa a Agroindústria de Açaí de Codajás,
é importante identificar os resíduos gerados pela indústria, seu impacto ambiental, dentre
outras formas de degradação que o empreendimento possa estar gerando.
Para isso, e diante do processo produtivo descrito, identificou-se a etapa geradora de
resíduo ou poluição e a destinação do mesmo. Por meio de pesquisa bibliográfica
caracterizou-se o resíduo, elencando sua composição química, e foram feitas inferências
quanto ao dano ambiental gerado. Considerando grande quantidade de resíduo produzida,
também foi realizado levantamento de estudos/inovações tecnológicas que dão uso
sustentável ao resíduo.
Sintetizando a cadeia produtiva do açaí, suas principais etapas vão desde operação de
extração, passando por sua transformação, até entrega ao cliente. Na Figura 5 e Figura 7, no
item Processo Produtivo da Cadeia do Açaí são descritos os processos de extração e
transformação industrial do açaí, nesse mapeamento são excluídos da análise o processo de
entrega ao cliente. A análise ambiental segue perspectiva similar, é feita análise ambiental do
processo de extração do açaí e sua transformação industrial, identificando os pontos de
vulnerabilidade ambiental excluindo da análise o modal de transporte e processo de entrega ao
cliente.
5.1.1.1. Extração do Açaí
Observa-se o caráter artesanal do processo de coleta, onde um indivíduo por meio da
peconha9 faz a coleta dos frutos e o transporta para agroindústria, onde é armazenado.
9 Espécie de cinto trançado feito com as folhas do açaizeiro ou com fibras sintéticas, utilizados pelos
apanhadores para subida e coleta do açaí.
125
Segundo informado pelos entrevistados após a coleta a matéria-prima é transportada até a
agroindústria por meio de barcos pequenos movidos a motor rabeta 6.0 hp a gasolina, moto ou
carros pequenos com carroceria.
É importante destacar que o manejo dos frutos do açaizeiro fundamentado técnicas/
métodos científicos ou na prática embasada na tradição extrativista aumenta a produtividade,
distribui renda com baixo impacto ambiental dado o uso de um recurso florestal com valor
comercial, e ainda contribui fortemente para a valorização da floresta em pé. De modo geral o
açaizeiro apresenta características ecológicas favoráveis para seu manejo sustentável
(NEUMANN & HIRSCH, 2000; ROCHA, 2004).
Considerando que a manejo do açaí é realizada em “consórcio” com a floresta, não
havendo necessidade de realizar desmate em massa para instalação da cultura. Quanto à
operação de coleta, que se apresenta onerosa e difícil, pode-se dizer que oferece risco de
tombamento e quebra das árvores, mas os mesmos podem ser evitados realizando o manejo
adequado.
Portando pode-se afirmar que a extração do açaí não gera danos ambientais
significativos.
5.1.1.2. Desflorestamento
Conforme citado por Neumann & Hirsch (2000) e Rocha (2004) o manejo do açaí
apresenta características ecológicas favoráveis. A extração do fruto da natureza não necessita
de desmate de outras espécies, havendo uma espécie de “consórcio” com a floresta.
Desse modo o presente empreendimento não promove e nem induz desmate no
processo de extração de matéria-prima.
126
Para a implantação da agroindústria foi necessária área para alocação de máquinas,
equipamentos e instalações. Destaca-se que a área onde foi instalado o empreendimento
localiza-se em área urbana do município de Codajás e já se encontrava desmatado quando
doado pela prefeitura.
Portanto o referido empreendimento não promoveu desmatamento de área florestal.
5.1.1.3. Processo de Transformação Industrial do Açaí
Analisando o fluxo de produção da fábrica (ver Figura 7 - Fluxo de Produção), pôde-se
identificar no momento da extração da polpa a possibilidade de risco ambiental, por isso
ressaltar-se-á a descrição dessa etapa do processo.
Conforme já exposto no item 4.4.1. (Processo Produtivo da Agroindústria de Açaí),
durante o despolpamento, é injetado água no processo, onde é promovida a fricção entre os
frutos para retirada da polpa, que por efeito da gravidade, passa o segundo estágio de
despolpamento, onde a polpa é refinada por meio de peneiras, retirando a “borra” do açaí,
considerada parte indesejada para o produto.
Parte da borra (epicarpo) é descartada junto com os caroços e outra parte é despejada
no ralo da fábrica, onde por efeito da gravidade é direcionado para tanque de estabilização
onde permanece o tempo necessário para a Diminuição da Demanda Bioquímica de Oxigênio
(DBO) antes de ser despejado no rio, conforme estabelecido pela Resolução nº 357/2005 do
CONAMA,
127
Figura 17 - Máquina Despolpadeira e descarte do resíduo por rosca sem fim
Fonte: Acervo do autor
Nesta etapa é extraída a polpa do restante da massa do fruto, destaca-se que a polpa
representa aproximadamente 26,54% da massa total, ou seja, 73,46%10
da massa é descartada
no atual processo produtivo. Diga-se descartada, pois não há nenhum tratamento dos resíduos
gerados, os mesmos são armazenados na área externa a fábrica, entrando em decomposição a
céu aberto.
Figura 18 - Descarte de resíduo
Fonte: Acervo do autor
10 O percentual de participação de polpa e resíduo foi obtido no estudo de OLIVEIRA et al., (2000), para obter
maiores detalhes ver Tabela 7.
128
Em visita “in loco” nos foi relatado que o resíduo era utilizado por cooperados e
agricultores da região como matéria orgânica para suas plantações. No momento da visita foi
identificado um agricultor da região utilizando os resíduos para adubação orgânica do solo.
Conforme exposto na figura a seguir:
Figura 19 - Agricultor utilizando resíduos da fábrica
Fonte: Acervo do autor
Conforme o descrito pode-se representar o fluxo da seguinte maneira:
Figura 20 – Fluxo do Resíduo
Fonte: Elaborado pelo autor
Apesar da citação e até documentação do uso do resíduo como matéria orgânica, não
foi incluído como etapa no fluxo, pois este destino não é sistemático. Ou seja, a cooperativa
atualmente estoca estes resíduos no fundo da fábrica, de modo que aleatoriamente alguém
possa se interessar por tais resíduos e levá-lo por conta própria.
Despolpadeira ResíduoEstocagem
nos fundos da fábrica
129
Conforme demonstra na figura, há uma quantidade expressiva de resíduo armazenado
nos fundos da fábrica sem nenhum tratamento específico, encontrando-se a céu aberto, sujeito
ao processo de decomposição, e representando um problema de higiene, pelo odor
desagradável que emite.
5.1.1.4. Resíduo: O caroço de Açaí
Sobre o resíduo, não se encontrou estudos que demonstrem ou mensurem possíveis
impactos ambientais da decomposição de uma grande quantidade de resíduo do caroço do
açaí11.
Conforme já exposto o açaí faz parte da cultura alimentar da região, e principalmente, é
natural do bioma amazônico, e por já fazer parte deste ecossistema o processo de
decomposição do caroço de açaí em escala natural não oferece risco ao meio ambiente.
A questão surge quando se instala um processo industrial, que processa uma grande
quantidade de matéria-prima, e em consequência, produz grande quantidade de resíduo,
quantidade/concentração esta que não encontra similaridade no meio ambiente. Surgindo
destas considerações, questionamentos se o processo de decomposição de uma grande
quantidade/concentração de resíduos de açaí não gera concentrações em níveis prejudiciais ao
meio ambiente.
O fruto do açaí tem formato arredondado e possui aproximadamente de 1 a 2 cm de
diâmetro, com peso também aproximado de 0,8 a 2,3 g, o epicarpo (“casca”) apresenta cor
violáceo/púrpura quase negra de espessura muita fina . A parte comestível do fruto é formada
11 Busca realizada no Google Scholar e Scielo em 30 de junho de 2011.
130
pelo epicarpo e mesocarpo, e segundo Oliveira et al., (2000) a parte utilizada para fins
alimentares representa 26,54% do fruto, conforme pode ser observado na média expressa na
Tabela 8.
Tabela 7-Participação relativa do endocarpo e da parte comestível (epicarpo + mesocarpo) na composição
do fruto de dez plantas-matrizes da coleção de germoplasma de Açaizeiro da Embrapa Amazônia
Oriental.
Matriz Endocarpo (%) Epicarpo + mesocarpo (%)
311-5 71,66 28,34
416-1 78,31 21,69
417-8 69,25 30,75
419-3 71,92 28,08
424-8 69,52 30,48
430-5 71,63 28,37
464-7 75,49 24,51
477-9 82,51 17,49
468-8 70,64 29,36
547-3 73,63 26,37
Média 73,46 26,54
Fonte: OLIVEIRA et al., (2000)
O 73,46% restantes constituem o caroço, segundo Rogéz (2000) é formado por
pequeno endosperma sólido ligado a um tegumento que quando maduro é rico em celulose,
hemecelulose e cristais de inulina, e rico em lipídeos. O pericarpo é fibroso, rico em sílica e
um endocarpo pouco lenhoso.
Fica claramente demonstrado que maior parte do fruto não é aproveitada no atual
sistema produtivo, mais de 70% da massa da matéria-prima utilizada é descartado no atual
sistema. Conforme já exposto, despejado no fundo da fábrica, de modo que aleatoriamente
algum interessado o utiliza como adubo orgânico. Autores como Altaman (1956) e Kabacznik
& Rogez (1998) já ressaltam o uso do açaí como matéria orgânica para o cultivo de legumes e
plantas ornamentais, apontando-a como possibilidade de uso ambientalmente correto.
131
Mais quais seriam os usos possíveis para este resíduo, além da utilização de matéria
orgânica para atividades agrícolas ou de jardinagem? Alguns estudos autores demonstram
usos para o caroço de açaí.
O estudo elaborado por Guimarães e Filho (2004) aponta o uso do caroço triturado
para compor a biomassa de alimentação da piscicultura de tambaquis.
Santos (2010) demonstra possibilidade de uso do caroço de açaí como substrato para
produção de enzimas por fermentação em estado sólido, com a finalidade de converter
materiais ligno celulósicos em açucares fermentescíveis.
Kabacznik & Rogez (1998), Reis (2002), Silva (2004), Xavier (2006) e Pinho e
Pinheiro (2005) apontam o uso do caroço de açaí como boa alternativa para combustível
natural.
Dentre as possibilidades de uso citar-se-á três estudos que detalham 3 alternativas de
uso sustentável do caroço de açaí.
4.1.1.5. Possibilidades Uso do Caroço de Açaí
O caroço do açaí embora seja tratado pela agroindústria de açaí de Codajás como
resíduo, e portanto, como material inútil ou indesejado, pode ser considerado como matéria-
prima se considerado recentes estudos desenvolvidos por centros científicos da região
amazônica, que propõe inovações tecnológicas capazes de dar uso econômico ao caroço de
açaí.
São diversas as inovações encontradas na literatura, neste trabalho são citadas 3
inovações, que demonstram possibilidades de uso econômico do caroço de açaí. É importante
destacar que os três estudos apontam suas inovações como alternativas sustentáveis ao uso do
132
resíduo, são elas: briquetes energéticos, peletes e geração de energia elétrica a partir do
caroço.
5.1.1.6. Briquetes Energético
A primeira inovação apresentada é a transformação do caroço de açaí em briquetes
para produção de energia, embora o estudo tenha sido desenvolvido no Estado do Pará, que
possui uma produção/ consumo de açaí mais expressivo do que do amazonas, existem
possibilidades de uso considerando a tendência de aumento da produção e quantidade
expressiva produzida pela agroindústria estudada.
É importante destacar a produção de energia elétrica em grande parte da Amazônia é
realizada por termoelétricas movidas a óleo diesel que alimentam pequenas cidades. Esse
modal energético proporciona danos ambientais pela emissão de CO2 e alto custo de
importação e transporte do combustível, de modo a gerar reflexões o este modelo, abrindo
campo para inovações como o uso do caroço do açaí como combustível (REIS, 2002).
Figura 21 - Briquetes de Resíduos
Fonte:<http://www.portaldoagronegocio.com.br/conteudo.php?tit=briquetes_lenha_ecologica_a_
partir_de_residuos_agricolas&id=58597> Acessado em 20 jun. 2011.
133
Os briquetes podem ser utilizados como lenha para uso doméstico e industrial, mas
também como combustível para produção de energia. Segundo Reis (2002) e Rodrigues
(2002) os briquetes de açaí é uma solução viável como fonte energética considerando seu
poder calorífico de 4.500 Kcal/Kg e a abundância da matéria-prima na região e pela vantagem
ambiental desse combustível.
Considerando a capacidade de produção da fabrica e aplicando o método do Reis
(2002):
P = PCS x Q
Onde:
P= Potencial Energético (MWh/ mês)
PCS: Poder calorífico do caroço
Q = Quantidade do caroço produzido/mês
P = 4.500 x 4000
P= 18 MWh/mês
Tem–se um potencial energético de 18 MWh/mês. Isso considerando somente a
produção da agroindústria, pois a cooperativa pode montar parcerias para destinar mais
resíduos para produção de energia.
A desvantagem do processo é que o mesmo necessitam ter triturado ou prensado,
havendo maior custo. A próxima alternativa visa à transformação do caroço de açaí em
combustível sem a necessidade de triturá-lo ou prensá-lo.
5.1.1.7. Peletes de Açaí
Silva (2004) elaborou estudo onde apontam o uso do caroço de açaí como
possibilidade de desenvolvimento no meio rural. O estudo tem por objeto central o uso deste
134
elemento no Estado do Pará, onde em função de sua grande produção de açaí, o autor estima
que caroços apresentam potencial energético em torno de 40 Mwh/mês no Estado.
Os autores apontam que os caroços de açaí podem ser transformados em peletes
naturais sem compactação, funcionando como biocombustíveis de açaí. Estes podem ser
utilizados em gaseificadores, fornos de padaria, caldeiras para geração de energia elétrica,
mecânica e gás, antigos ferros a carvão, etc.
Figura 22 - Açaí em forma bruta e despolpado
Fonte: <http://www.shaine-scrapsoflife.com/2009_08_01_archive.html> / Carbono Social
<http://www.flickr.com/photos/carbonosocial/3788205659/sizes/z/in/photostream/>
135
A metodologia proposta pelos autores, os caroços são lavados para eliminar resíduos
de polpa, depois passam por processo de enxugamento, onde é retirada a umidade excessiva.
Então são submetidos à estufa com temperatura de 105ºC, por 25 horas, perpassado o
processo, a umidade obtida no pelete é de 11,43% e segundo estudos apresenta poder
calorífico de 4.505 Kcal/kg. Em experiências, os peletes obtiveram bom rendimento, foram
levados ao gaseificador de 2 kW, onde foram capazes de alimentar 12 lâmpadas
incandescentes de 60w por um período de 3 horas e alimentar de gás um fogão para cocção,
onde foram cozidos arroz, feijão e carne por um período considerado de 15 min, 30 min e 45
min respectivamente, onde apontou um consumo médio de 4,04 kg/h açaí. Apresentando
resultados preliminares satisfatórios. Silva (2004).
Conforme exposto pelo Silva (2004) a confecção de peletes naturais de açaí, permite
ter como matéria-prima o que antes era considerado resíduo, e era descartado do processo
produtivo, ou, utilizado apenas para produção de adubo orgânico e/ou preenchimento de vasos
de jardinagem. Com a inovação proposta, o caroço de açaí torna-se biocombustíveis de
biomassa, podendo ser utilizado tanto em esfera doméstica quanto em campos industriais e de
geração de energia.
136
Figura 23 - Peletes
Fonte: INPA
5.1.1.8. Geração e Comercialização de Energia Elétrica
Outro estudo que também aponta para o uso sustentável do caroço do açaí foi
elaborado pelo projeto Modelo de Negócio de Energia Elétrica em Comunidades Isoladas na
Amazônia (NERAM) financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ). Com a premissa básica do
aproveitamento global do fruto do açaizeiro, onde apresenta as etapas do processo produtivo
do açaí e demonstra o uso do caroço para geração de energia elétrica (XAVIER, 2006).
Cortez (1997) aponta a utilização insumos energéticos alternativos já possui
aceitabilidade em várias partes do mundo e centros de pesquisa. Faz considerações sobre a
atratividade ambiental e social desse modal energético que podem muito bem ser utilizada
para promover a melhora da qualidade de vida das populações que habitam zonas rurais ou
cidades isoladas. Aponta inclusive que a biomassa já representa 14% da energia utilizada no
mundo e bastante abundante na Amazônia.
137
É importante considerar que a biomassa vem sendo sinalizada como insumo
energético sustentável, capaz de suprir as necessidades da região, mas para isso é necessário o
desenvolvimento de tecnologias voltadas para a realidade amazônica (SOUZA e SANTOS,
2003).
Nesta perspectiva o projeto NERAM apresenta o processo de geração de eletricidade
por meio de tecnologia de gaseificação de biomassa, tendo como insumo de referência o
caroço de açaí. Segue o layout do sistema de produção:
Figura 24 - Layout do Sistema de Produção
Fonte: XAVIER (2006)
Pode-se descrever o funcionamento do sistema:
Cada subsistema de geração é composto por: um reservatório de biomassa (A), com
capacidade de 3 m3; um gaseificador (B), com volume de 0,2 m3 e diâmetro interno
de 41,2 cm, com consumo de caroço de caroço de açaí de 44,3 kg/h que possibilita a
produção de 145 m3/h de gás de baixo teor de alcatrão e particulados, e rico em
hidrogênio (H2); Um filtro de gás (C), tipo baghouse com sistema de auto
desobstrução, um grupo gerador (D) com saída trifásica e potência elétrica variando
de 13 a 40 kW. Os níveis de emissões estão na ordem de 3% de partículas em
relação à massa inicial de biomassa utilizada. Com a potência instalada (80 kW) se
138
pretende atender 130 unidades consumidoras residenciais e uma indústria para
produção de polpa de açaí.
O sistema de secagem (E), é equipado com um secador rotativo, modelo SER-075,
com características técnicas listadas na tabela 1. O secador, além de utilizar calor
residual (gases de escape do motor acoplado ao gerador de energia) tornando mais
eficiente o processo global de gaseificação, será equipado com uma fornalha de
grelha fixa, possibilitando o uso alternativo do calor proveniente do processo de
combustão de material lenhoso. Esta configuração possibilita, caso seja necessário,
direcionar o calor residual proveniente do processo de gaseificação para outra
atividade que não seja a de secagem da biomassa. XAVIER (2006, p.3)
Destaca-se que o sistema energético proposto tem potência instalada de 80 kW, sendo
capaz de atender 130 unidades consumidoras e uma unidade industrial para produção de polpa
de açaí situada no Cristo Rei, Pentecostal do Brasil, Nossa Senhora da Conceição e São
Francisco do Parauá, do sistema Cururu que se estende próximo a Ilha do Parati (3º 30’
0,468’’ S; 60º 45’ 57,528’’ W) até o sistema lacustre do Cururu (3º 26’ 25,116’’ S; 60º 43’
25,572’’ W) no município de Manacapuru - AM, localizadas de acordo com a figura 1
(XAVIER, 2006).
Freitas (2006) ao realizar a análise do custo de geração de energia elétrica do referido
projeto, onde estabelece os custos anualizados do maquinário e infraestrutura, da biomassa
seca e custos de implantação do sistema de geração de energia. Obtendo um custo preliminar
de geração de energia elétrica de R$ 0,23/kWh com fator de carga de 60%, valor competitivo
quando comparado com planta de geração com combustível tradicional a diesel.
Quanto à necessidade de matéria-prima para geração de energia, Freitas (2006) para
gerar 414,72 GWh são necessários 459,39 toneladas de caroço de açaí. Quando se analisa a
capacidade geração de “resíduos” da Agroindústria de Codajás (9,33t), pode-se observar que
o empreendimento gera biomossa suficiente para alimentar o citado sistema de geração de
energia.
139
É interessante destacar que no estudo de Freitas (2006) a cooperativa não tem somente
a produção da polpa de açaí como escopo de produção, mas a conforme o nome já descreve,
Cooperativa Energética e Agroextrativista Rainha do Açaí – CEARA, também tem por
atividade econômica a venda de energia para a Companhia Energética do Amazonas –
CEAM, a organização responsável pelo suprimento energético da região estudada.
Representando uma possibilidade econômica para a Agroindústria de Açaí.
Diante das três inovações apresentadas, fica demonstrado que já existem técnicas/
tecnologias que permitem o uso o econômico do caroço de açaí. Destaca-se que estas
inovações envolvem adequações e investimentos na atual infraestrutura, porém é necessária a
realização de estudos mais aprofundados para definir a viabilidade econômica da implantação
destas tecnologias na região.
5.1.1. Síntese Analítica da Dimensão Ambiental
É interessante resgatar algumas considerações expostas nos itens Desenvolvimento e
Regulação Ambiental e Sustentabilidade, onde é demonstrado às claras consequências das
ações humanas como poluição (hídrica, eólica, visual, etc.), aumento de doenças, dentre
outras consequências negativas. O que acaba por gerar uma dinâmica intensa de busca de
soluções para esta problemática.
Evocando o conceito norteador, tem-se Sachs (2008), ao apontar que a
sustentabilidade implica no alcance de três objetivos: promover a preservação do potencial da
natureza para a produção de recursos renováveis, limitar o uso de recursos não renováveis e
respeitar a capacidade de autodepuração dos recursos naturais, sendo alcançados pelo
empreendimento, conforme expresso nos apontamentos a seguir.
140
Destaca-se que empreendimento analisado também representa o intento de
materialização de uma agroindústria que gere renda, beneficiando a comunidade de modo
harmônico com a natureza na perspectiva proposta.
Apesar do intento sustentável conforme expresso em documentos oficiais da entidade
financiadora (SUFRAMA) é preciso refletir sobre o impacto ambiental gerado pelo presente
empreendimento, direcionar análises para identificar se o processo produtivo estabelecido
gera “inputs” e “outputs” que respeitam efetivamente os limites ambientais.
Para isso, relembram-se as temáticas selecionadas que guiaram a presente análise:
Gestão de resíduos e Sustentabilidade no uso de recursos, ressaltando que o último tema foi
fruto de agrupamento de temas como Biodiversidade, Gerenciamento sustentável de florestas,
Poluição do ar, mudanças climáticas e Águas.
Portanto fazem-se os seguintes apontamentos sobre o impacto ambiental do
empreendimento da Agroindústria de Açaí de Codajás:
1. Na etapa de extração/coleta da matéria-prima não foi constatado danos ambientais
significativos. Identificaram-se operações de caráter artesanal, e cultura de extração
que não exige desmate para criação de uma monocultura de açaí, constatou-se
fenômeno inverso, onde o regime de extração permite a conciliação com o bioma
florestal. Conforme expresso por Rocha (2004) e Neumann & Hirsch (2000), o
açaizeiro apresenta característica ecológicas favoráveis para seu manejo sustentável;
2. O empreendimento não promoveu desmatamento tanto na etapa de extração/coleta
quanto na etapa de beneficiamento do açaí, pelo fato do empreendimento ser instalado
em área já desmatada.
141
3. Pode-se inferir também da influência positiva do empreendimento quanto ao
fenômeno global das mudanças climáticas, por apresentar um processo produtivo que
estimula a conservação da floresta;
4. Quanto ao processo industrial identificaram-se pontos de vulnerabilidades ambientais.
Grande parte da matéria-prima utilizada no processo, cerca de 73% de sua massa, é
descartado como resíduo, sem nenhum tratamento específico, de modo que são
armazenados nos fundos da fábrica, entrando em decomposição a céu aberto, o que
acaba por gerar problemas de higiene por conta do mal cheiro produzido. Desse modo,
o empreendimento mesmo que baixo, está promovendo poluição do ar;
5. Ainda sobre os resíduos, não foram identificados estudos que abordem o impacto
ambiental da decomposição de grande quantidade/concentração de resíduos numa
mesma área. Apesar disso infere-se baixo impacto ambiental considerando que o
resíduo em questão faz parte do ecossistema da região. Porém sugere-se que sejam
realizados estudos para mensurar precisamente o impacto ambiental gerado pela
decomposição de grande quantidade/ concentração de matéria orgânica proveniente do
caroço do açaí num mesmo local;
6. Quanto à pequena parte do resíduo despejado no ralo da fábrica, o mesmo obedece à
legislação pertinente, e, portanto, não representa ameaça à contaminação das águas;
7. O empreendimento trata o caroço de açaí como resíduo, porém já há
estudos/inovações tecnológicas que apontam para o uso sustentável do resíduo do
despolpamento e que representam oportunidade econômica para a Cooperativa,
representando possibilidade de ganho econômico para a cooperativa afinado com
critérios ambientais.
142
Diante do exposto, pode-se afirmar com base nas informações coletadas e análises
realizadas que o empreendimento gerou baixo impacto ambiental.
5.2. DIMENSÃO SOCIAL
A presente dimensão busca mensurar os impactos sociais favoráveis do projeto,
identificando se o projeto gerou empregos, aumentou a renda das famílias envolvidas, além de
identificar o esforço da organização no desenvolvimento de ações de capacitação/ melhoria da
formação, e participação da mulher no referido empreendimento. Busca-se também,
identificar aspectos relativos aos padrões de costumes, de comportamento que favorece e/ou
favoreceu a implantação do empreendimento analisado, de modo a apontar o interesse da
comunidade com a cadeia produtiva do açaí, e ou a pré-disposição para a referida cultura.
Conforme já citado em item anterior, compreende-se a dimensão social como aquele
processo de desenvolvimento que impulsiona ao crescimento estável com distribuição de
renda, ao proporcionar diminuição das atuais diferenças entre os diversos níveis sociais e
melhoria das condições de vida da população (SACHS, 1997).
É preciso considerar que o desenvolvimento, assim como o próprio desenvolvimento
sustentável, não pode se efetivar com a implantação/imposição de determinado modelo dito
“sustentável”, ou seja, é necessário contemplar as peculiaridades locais. Destacam-se frente à
dimensão analisada, aspectos culturais, de costumes característicos da região estudada em
relação ao empreendimento analisado.
Considera-se ainda que os projetos de produção implantados pela SUFRAMA buscam
um enraizamento na economia do município, com forte envolvimento e geração de emprego e
renda e de benefícios para a comunidade local. Sendo importante que modelo produtivo
instalado contemple aspectos culturais da região. Portanto, a presente dimensão propõe
análise dos aspectos culturais, refletindo acerca da aceitação/avaliação da comunidade da
143
região quanto à cultura do açaí, a importância atribuída à cultura, conforme poderá se
observar.
Conforme já expresso, o açaí é um fruto tipicamente amazônico, faz parte da culinária
local, e é amplamente consumido como o tradicional “vinho de açaí”. Também é importante
destacar que localmente a cultura de extração do açaí é anterior a construção da fábrica,
informações que foram relatadas pelos entrevistados, e que pode ser comprovada pelo
histórico de produção de açaí do município.
Tabela 8 - Histórico de Produção de Açaí no município de Codajás
Histórico de Produção de Açaí no município de Codajás/ Amazonas (em toneladas)
Produção 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
48 64 85 88 104 120 131 111 130 134 Fonte: IBGE
O início das obras de instalação do empreendimento se deu no ano de 2003.
Analisando a tabela o acima, observa-se que mesmo nos anos de 2000 e 2001, já havia
expressiva produção de açaí bruto, ou seja, a cultura da extração do açaí é anterior à
instalação do empreendimento. Isso também demonstra o cenário favorável ao projeto na
região, conforme relatado pelos entrevistados, que informaram não haver choque cultural com
a implantação do empreendimento, não havendo resistências, e sim aceitação do
empreendimento.
Para mensurar a predisposição ao empreendimento, considerou o estudo elaborado por
Nowac e Santos (2009/2010) que analisa a Cadeia Produtiva do Açaí no Município de
Codajás. Dentre várias considerações presentes em sua análise, destacam-se os dados
referentes à importância atribuída a atividade que também demonstra a aceitabilidade da
cultura do açaí no município.
144
Gráfico 4 - Grau de Importância atribuído à atividade exercida
Fonte: Nowac e Santos (2009/2010)
Mais de 80% dos entrevistados consideram a atividade produtiva do açaí como
importante ou muito importante, podendo constatar valor expressivo de avaliação positiva do
produto/processo produtivo.
É importante ressaltar que a cultura do açaí é anterior à instalação da fábrica conforme
apresentados Tabela 8, deve-se considerar que apesar da atividade do açaí não apresentar
grandes fluxos econômicos quando comparado com outros municípios, ela envolve grande
número de famílias, denotando importância do produto para a comunidade.
Portanto, pode-se afirmar com base nas informações coletadas que o empreendimento,
não promoveu um choque cultural negativo na região, de modo que a tipo de fábrica instalada
tem como principal matéria-prima, o açaí, é reconhecida sua importância pela comunidade
que já se apresentava como atividade extrativa típica da região, demonstrando a importância
para sociedade de Codajás.
Quanto à geração de empregos. O relatório técnico apresentado pela UFAM aponta
que a Fábrica gerava 21 empregos em 2009, sendo todos com carteira assinada e ensino
médio completo. Porém quando a atual presidência foi entrevistada, foi afirmado que na
Importante; 22,0
Média Importância;
2,4
Muito Importante;
67,1
Sem Resposta; 8,5
145
última safra, que ocorreu entre os meses de julho/2010 a dezembro/2011, apontou que o
empreendimento gerou 48 ocupações, sem carteira assinada, sem informar ao certo o regime
de trabalho. Observa-se um aumento de mais de 100% na quantidade de empregos gerados,
valor de tal modo expressivo que levanta indagações sobre sua veracidade.
Não se obteve acesso aos documentos da cooperativa, de modo que pudesse confirmar
o número exato de ocupações nos referidos períodos. Tornando difícil a averiguação dos
funcionários que efetivamente atuaram na Fábrica de Açaí e que vinculo empregatício era
adotado com os colaboradores da fábrica.
Apesar dessa impossibilidade de averiguar in loco, o quantitativo exato de pessoas
empregadas na fábrica, o dado oferecido pelo Relatório de Visitas Técnicas elaboradas pela
UFAM como trabalho técnico para SUFRAMA (ver item 4.4. Agroindústria de Açaí de
Codajás), apresenta relevância considerando o rigor técnico do mesmo, de modo que o dado
de 21 empregos em 2009 precisa ser considerado.
Essa informação demonstra a importância socioeconômica do projeto, dado que, o
aumento de empregos, possibilita um aumento de renda ao trabalhador do interior do Estado,
contribuindo para a diminuição do êxodo interior-capital. Desse modo, a fábrica de açaí pode
contribuir para a redução do nível de desemprego no interior e melhorar as condições de vida
de seus moradores.
Outro aspecto elencado durante a entrevista e que apontam um possível impacto social
positivo do projeto, é a elevação do preço pago ao pequeno produtor de açaí, quando se
compara com o preço antes da criação da Cooperativa de Produtores de Açaí e Frutas
Regionais. Segundo relato dos cooperados, o pequeno produtor vendia a saca pelo preço de
R$ 10,00 para intermediários, conhecidos como atravessadores, com a criação da Cooperativa
146
o preço pago ao cooperado subiu para R$ 50,00, representando um aumento de 500% no valor
pago ao produtor (ver Tabela 9).
Cruzando o relato do entrevistado com dados de Nowac e Santos (2009/2010),
observa-se que a saca do fruto é vendida a atravessadores por volta de R$ 35,00, no pico da
produção esse valor cai para R$ 20,00.
A cooperativa também cedeu algumas informações financeiras do empreendimento,
que contribuem para presente análise. Foram cedidos dados do valor pago aos cooperados nos
meses de Janeiro – Abril (2011), podendo-se fazer inferências mais precisas quanto ao valor
pago pela saca vendida à cooperativa, estabelecendo comparação com valor pago pelo
atravessador, conforme tabela a seguir:
Tabela 9 - Comparativo de valores pago pelo intermediário x valor pago pela
cooperativa (diversas fontes de dados)
VALOR EM R$ PAGO PELO
INTERMEDIÁRIO
(por saca 50 kg)
VALOR PAGO PELA COOPERATIVA
(por saca 50 kg)
NOWAC E
SANTOS
(2009/2010)
ENTREVISTADOS ENTREVISTADOS ANÁLISE
DOCUMENTAL12
MÍN MAX MED MÍN MAX MED MÍN MAX MED MÍN MAX MED
20,00
35,00
27,50
10,00 N/I * - N/I
50,00
50,00
35,00
45,00
40,00
Fonte: Elaborado pelo autor.
Nota: * (N/I) Dados não informados.
Apesar da divergência de valores, pode-se observar que o valor pago pela cooperativa
constatado em análise documental, é igual ou supera o valor pago pelo atravessador em todas
as outras fontes de dados. Nota-se na Tabela 9, que comparando o maior valor pago pelo
12 Refere-se aos dados cedidos pela cooperativa no período de abril a junho de 2011.
147
atravessador é igual à ao menor valor pago pela cooperativa, demonstrando que a instalação
da cooperativa permitiu maior rendimento para o produtor de açaí cooperado do que a venda
para o intermediário.
Dessa forma, os produtores cooperados ganham maior autonomia frente à figura dos
intermediários e conseguem elevar o preço de venda do açaí.
Conforme já exposto, fábrica de beneficiamento de açaí é gerida por uma cooperativa.
Que conforme o conceito básico de cooperativa, pode-se dizer que é uma associação
autônoma de pessoas que se unem, voluntariamente, para satisfazer aspirações e necessidades
econômicas, sociais e culturais comuns, por meio de um empreendimento de propriedade
coletiva e democraticamente gerido (OCB, 2008)
A fábrica de açaí, gerida pela cooperativa, tem pressupostos que ultrapassam a mera
garantia de emprego, mas pressupõe responsabilidade social para cooperado, assumindo
deveres com a capacitação, qualificação, educação, gestão participativa, e também,
socialização dos ganhos.
Quanto aos rendimentos obtidos pela cooperativa, em entrevista, o presidente da
cooperativa informou que além do pagamento ao produtor pelo produto vendido à
Cooperativa, o lucro apurado é dividido entre os cooperados seguindo o critério de vendas de
matéria-prima (açaí) à cooperativa, assim quanto maiores às vendas, maior o repasse de
lucros.
Apesar dos apontamentos quantos aos critérios de distribuição, como efetivamente os
lucros estão sendo socializados? Embora indagação seja importante para mensurar com maior
precisão o impacto social, não foi possível obter dados financeiros que demonstrem como são
utilizados os lucros obtidos pela cooperativa.
148
5.2.1. Síntese Analítica da Dimensão Social
Diante do exposto, o pesquisador pode aferir o seguinte balanço da dimensão social de
análise.
Ficou clara a falta de precisão de muitos dados, apresentando divergências de algumas
informações, entre dados coletados em entrevistas, análise documental e pesquisa
bibliográfica. Houve dificuldades na coleta de dados documentais, o que prejudicou a análise
da veracidade de informações apontadas pelos entrevistados.
Apesar das dificuldades de pesquisa em ter acesso aos documentos da cooperativa, que
permitiria maior acuracidade nas inferências, foi possível fazer apontamentos que
demonstraram a influência social do empreendimento analisado, conforme a seguir:
1. Mesmo com a diferença de quantitativo de empregos gerados, entre o informado pela
entrevista e estudo técnico da UFAM, e não sabendo ao certo se a carteira foi
devidamente assinada, houve a efetiva criação de ocupações no período de safra, que
contribui para ampliação de empregos na região e proporcionou/proporciona renda às
famílias;
2. A natureza do empreendimento apresenta sintonia com peculiaridades culturais da
região, de modo que o empreendimento instalado já encontrou uma predisposição para
a cultura do açaí, favorecendo sua implantação e não proporcionando choque negativo
aos costumes da região;
3. Deve também ser considerado como influência positiva, a elevação do valor de venda
do açaí bruto ao produtor cooperado, que proporciona maior autonomia dos produtores
frente à figura do atravessador. Essa elevação dos preços cria um cenário mais
favorável ao aumento de renda das famílias envolvidas no processo produtivo do açaí;
149
Diante do exposto, pode-se afirmar com base nas informações coletadas e análises
realizadas que o empreendimento promoveu melhoria social na região
5.3. DIMENSÃO ECONÔMICA
Conforme exposto no item 2.1. Crescimento e Desenvolvimento Econômico, o
caminho do desenvolvimento supera a ótica da busca única do crescimento da renda e do
Produto Interno Bruto (PIB), mas tem por cerne o aumento da qualidade de vida das
populações.
Apesar da relevância da contextualização teórica da dimensão realizada no item 2.1. e
2.3.3.1, ao apontar, mesmo que de forma breve, o estado da arte referente à temática, destaca-
se que o presente estudo tem foco de análise mais micro que muito dos sistemas de
mensuração ali expostos. As considerações anteriormente elencadas aplicam-se facilmente a
nações e grandes sistemas de análise, e portanto foi necessário refletir a dimensão econômica
a nível organizacional.
Desse modo a dimensão econômica para o referido estudo passa a ter abrangência do
impacto do projeto, de modo a mensurar a viabilidade econômica da agroindústria. Por meio
de discussão de 2 temas de análise:
1. Modelo de Produção;
2. Estratégia de Mercado e Comércio.
E utiliza os seguintes indicadores:
150
Tabela 10 - Indicadores da dimensão econômica
INDICADOR DESCRIÇÃO
Estratégia de mercado A estratégia de mercado favorece o crescimento do empreendimento?
Lucratividade Qual o lucro liquido da empresa para cada um real vendido
Fonte: Elaborado pelo autor.
Relembra-se que é princípio do Programa financiador do empreendimento a
interiorização do desenvolvimento, tendo por base os pressupostos anteriormente elencados.
Portanto a agroindústria analisada que foi financiada com recursos do referido Programa, tem
por intento que o empreendimento fomente o desenvolvimento.
A presente dimensão analisou a Agroindústria de Açaí em sua dimensão econômica.
De modo a coletar dados e informações que permitem analisar a situação econômica do
empreendimento e com base nos custos identificados, e a capacidade produtiva da fábrica,
aplicou-se o preço de mercado e foi elaborado modelo para analisar a viabilidade econômica
da fábrica.
5.3.1. Da Produção e da Comercialização Agroindústria
Similarmente as outras dimensões de análise, houve dificuldades e fragilidade em
alguns dados coletados, de modo que não foi possível montar uma série histórica consistente
acerca produção e comercialização da agroindústria, conforme poderá ser observar.
Quanto à capacidade de produção, a Agroindústria de Açaí de Codajás apresenta
capacidade produtiva de 4 toneladas dia. É preciso destacar que apesar da capacidade de
produção instalada chegue a 960 toneladas anuais, o atual sistema produtivo só está em
funcionamento durante 6 meses do ano, em função da disponibilidade de matéria-prima.
151
É preciso considerar que o açaí apresenta características peculiares. Segundo Nogueira
(2005), depois de colhido o açaí o mesmo deve ser despolpado até 24 horas, evitando assim a
queda da qualidade do produto. Esses atributos dificultam o armazenamento do açaí para
produção na entre safra.
Assim, diante das limitações de disponibilidade de matéria-prima, o sistema produtivo
da Agroindústria de Açaí analisado, tem capacidade de Produção de 480 t.
Tabela 11 - Capacidade Produtiva, de Processamento e Geração de Resíduos da
Agroindústria de Açaí
Capacidade de
Produção (t)
Capacidade de
Processamento (t)
Capacidade de
Geração de
Resíduos (t)
Capacidade Máxima de
Processamento por dia (t) * 4 15,07 11,07
Produção Anual Máxima de
Processamento de Atual (t) 480 1808,4 1328,4
Capacidade Máxima de
Processamento de Matéria-prima
Anual Ideal(t)
960 3616,8 2656,8
Fonte: Com base em informações cedidas pela Agroindústria e Relatório UFAM (2009)
Apesar dos apontamentos sobre a capacidade máxima de produção quando se observa
os dados históricos da produção da Agroindústria, constatam-se valores quantitativos
significativamente inferiores principalmente nos anos 2006 e 2011. Os entrevistados
informaram que a fábrica estava parada em 2010, e que somente em 2011 retornou suas
atividades e por isso o baixo registro de produção. Também foi apontado que não havia
registro na cooperativa da produção de anos anteriores, sendo que os dados dos anos de 2006
e 2007 foram obtidos em análise documental na SUFRAMA.
152
Tabela 12 - Histórico de Produção da Agroindústria de Açaí de Codajás
Histórico de Produção da Agroindústria de Açaí de Codajás - Abr./Mai/Jun. (2011)
2006 2007 2008 2009 2010 2011
314,60 420,41 N/E* N/E N/E 180,66
Fonte: Cooperativa/SUFRAMA
Notas: *Dados não informados.
**Dados referentes ao período de abril/maio/junho de 2011.
A polpa é vendida em sacos de 1 kg, e pode ser o Açaí do TIPO A, B ou C, conforme
tabela a seguir:
Tabela 13 - Tipo de açaí e sua concentração de sólidos
Fonte: Agroindústria de Açaí de Codajás apud UFAM.
Em 2006 foram vendidos R$ 902.617,60, os rendimento vieram em sua grande
maioria (91,05%) do açaí tipo B, seguindo do tipo C (7,02%) e A (1,9%) das vendas.
A Agroindústria de Açaí produziu polpa de açaí para o mercado local (Codajás),
regional (Amazonas), nacional e internacional em quantidades expressivas, conforme se pode
observar no quadro 3 a seguir:
Tipo de Açaí Caracterização
A Acima de 14% de sólidos
B Entre 11% e 14% de
sólidos
C Entre 8% e 11% de sólidos
153
Quadro 15 – Dados Comerciais aproximados da Agroindústria de Açaí de Codajás
(2009)
Fonte: Agroindústria de Açaí de Codajás
Até 2008, significativa parcela desta produção era destinado ao mercado internacional
e nacional. A partir de 2009 as vendas externas cessaram por conta de barreiras sanitárias
estabelecidas pelo mercado internacional. Apesar da paralisação das vendas no exterior, pode-
se observar o potencial de mercado que o açaí representa no mercado nacional e internacional.
Para afirmar o impacto econômico do empreendimento, respondendo a indagação se o
mesmo gerou efeitos positivos sobre a região, faz-se necessário aprofundar a discussão e
análise. Para tanto foi elaborado um modelo básico de análise que tem por objetivo analisar a
viabilidade econômica da Agroindústria.
5.3.2. Viabilidade Econômica do Empreendimento
O estudo de viabilidade econômica geralmente é realizado antes da instalação do
empreendimento com o objetivo de identificação e fortalecimento das condições necessárias
para o projeto em questão da certo, e também como tentativa de neutralizar fatores que podem
dificultar possibilidades de êxito do empreendimento planejado (KRAYCHETE , 2011).
Mercado Atingido Quantidades
Comercializadas
Local (Codajás) 20 ton./ano
Regional (Amazonas) 150 ton./ano
Nacional 260 ton./ano
Mercado Atingido Quantidades
Comercializadas até 2008
Exterior (até 2008) 300 ton./ano
154
Nesta perspectiva o Estudo de Viabilidade Econômica possui caráter prévio,
diferenciando da presente proposta de análise, que ocorre pós a implementação do
empreendimento. Conforme exposto em itens anteriores a Agroindústria de Açaí de Codajás
teve o Termo de Convênio que viabilizou financeiramente a instalação do empreendimento
em dezembro de 2002, de sua assinatura até hoje já faz 8 anos.
Portanto a presente análise permite balancear se o empreendimento é lucrativo, ou se é
viável economicamente.
O modelo de análise realiza simulações de lucro tendo por base a capacidade de
produção, custos de produção e preços de mercado, e obtêm-se alguns dados/informações
contábeis que embasam o indicador de lucratividade.
Tabela 14 - Valores referência para calculo das simulações
Especificação Valor
Capacidade Máxima de Processamento por dia (t) * 4 toneladas
Quantidade de dias trabalhados no mês 20
Valor de venda da polpa de açaí tipo B 5,00
Valor de venda da polpa de açaí tipo C 1,80
Fonte: Elaborado pelo autor
O tempo de ociosidade da fábrica ainda é um grande desafio para agroindústria
(Tabela 11 - Capacidade Produtiva, de Processamento e Geração de Resíduos da
Agroindústria de Açaí Tabela 11), e talvez o principal elemento que leve a questionamentos
sobre a viabilidade econômica do empreendimento. Desse modo, buscando responder a esta
indagação, foi realizado uma simulação de resultados financeiros da agroindústria com base
na realidade atual de disponibilidade de matéria-prima (que ocorre em 6 meses do ano).
155
A simulação foi realizada com algumas premissas:
1. A fábrica funciona em sua capacidade máxima durante todo o período de safra (6
meses);
2. Tudo o que é produzido é vendido;
3. A produção é 100% de açaí tipo B;
4. O preço de venda do açaí é de R$ 5,00.
Diante destas premissas, incluindo no cálculo os custos fixos e variáveis, tributos,
dentre outros custos expressos na tabela, e mesmo passando 6 meses do ano com a unidade
produtiva ociosa, a agroindústria apresenta lucro.
Tendo por base relatos dos técnicos do Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e
Florestal Sustentável do Estado do Amazonas (IDAM), que foi identificado em algumas
regiões do Município de Codajás, onde há produção de açaí durante entre safra, de modo que
haveria produção do fruto do açaí em 3 meses fora do período usual de safra (Janeiro –
Junho). Os técnicos inferiram da possibilidade de ser uma variação da espécie Euterpe
precatória Mart.
Desse modo, e considerando um cenário futuro, de plantio dessa possível variação da
Euterpe precatória, de modo suprir a necessidade de matéria-prima da agroindústria, a
disponibilidade de matéria-prima se elevaria para 9 meses. E neste cenário a agroindústria
apresentaria Resultado Operacional Líquido 98% superior ao lucro da fábrica em
funcionamento durante 6 meses, ou seja, apesar de ampliar o tempo trabalhado em apenas
25%, o Resultado Operacional Líquido cresce próximo de 100% tornando ainda mais
interessante do ponto de vista econômico o empreendimento.
156
Tabela 15 – Tabela de Análise de Viabilidade
Contas 6 Meses de
Produção
9 meses de
produção
1. Receita Operacional Bruta R$ 2.400.000,00 R$ 3.600.000,00
1.1. Deduções sobre vendas¹ R$ 96.000,00 R$ 144.000,00
2. Receita Operacional Líquida R$ 2.304.000,00 R$ 3.456.000,00
2. Custos Variáveis R$ 1.685.659,50 R$ 2.528.489,25
2.1. Custo com Matérias Primas R$ 1.428.636,00 R$ 2.142.954,00
2.2. Mão de Obra Variável R$ 147.150,00 R$ 220.725,00
2.3. Encargos Sociais/Trabalhistas R$ 42.673,50 R$ 64.010,25
2.4. Outros Custos Variáveis R$ 67.200,00 R$ 100.800,00
3. Margem de Contribuição R$ 618.340,50 R$ 927.510,75
4. Custos Fixos R$ 303.661,90 R$ 303.661,90
4.1. Mão de Obra Fixa R$ 13.080,00 R$ 13.080,00
4.2. Encargos Sociais/Trabalhistas R$ 3.793,20 R$ 3.793,20
4.3. Manutenção e Conservação R$ 7.852,90 R$ 7.852,90
4.4. Outros Custos Fixos R$ 59.040,00 R$ 59.040,00
4.5. Depreciação/Amortização R$ 219.895,80 R$ 219.895,80
5. Resultado Operacional Líquido R$ 314.678,61 R$ 623.848,86
Fonte: Elaborado pelo autor com base em informações fornecidas pelo presidente da
cooperativa
Notas: * ver Apenso 1 - Detalhamento das Bases de cálculo da Tabela de Análise Econômica
1- PIS (3%) e COFINS (1%), destaca-se que a referida agroindústria é incentivada em
conformidade com a Lei 2.826/2003 e decreto lei 288/67e incentivos de IPI.
Apesar de o Resultado Operacional Líquido fornecer um indicador interessante para
análise da viabilidade, e necessário buscar outras indicativos de saúde financeira do negócio
que apontem para a viabilidade econômico-financeira do empreendimento.
Osni (1999) disserta que os quocientes de rentabilidade servem para medir a
capacidade econômica da empresa, isto é, evidenciam o grau de êxito econômico obtido pelo
capital investido na organização. O autor aponta o Giro Ativo, Margem Líquida e outros
indicadores como Rentabilidade do Ativo e Rentabilidade do Patrimônio Líquido como
instrumentos de mensuração da saúde financeira da organização, e que fornecem fortes
indicativos quanto à viabilidade de determinado negócio.
Apesar do reconhecimento da relevância de todos estes indicadores e de sua
aplicabilidade para mensuração da viabilidade da Agroindústria de Açaí de Codajás, o
157
presente esbarrou mais uma vez na baixa disponibilidade de dados, o que inviabilizou a
utilização da maioria dos indicadores citados por Osni (1999).
Dessa forma, utilizou-se o valor do Resultado Operacional Líquido e Margem Líquida
como indicadores para mensurar a viabilidade do negócio.
Osni (1999) descreve o indicador como aquele que revela a margem de lucratividade
obtida pela empresa em função de seu faturamento, ou seja, quanto que a empresa obteve de
lucro líquido para cada real vendido. Para isso utiliza-se a seguinte fórmula:
MARGEM LÍQUIDA = __Lucro Líquido__
Vendas Líquidas
Aplicando os valores expressos na Erro! Fonte de referência não encontrada., têm-se os
seguintes :
Quadro 16 - Margem Líquida e Disponibilidade de Matéria-prima
Margem Líquida de acordo com a disponibilidade de
matéria-prima
6 meses 9 meses
0,14 0,18 Fonte: Elaborado pelo autor.
Observa-se ao analisar o Quadro 16, que a diminuição da capacidade ociosa reflete
diretamente na rentabilidade do negócio. Apesar de fábrica atualmente funcionar somente por
6 meses e apresentar Resultado Operacional Líquido positivo e expressivo, quando simula-se
produção em período superior (9 meses) o Resultado é superior e existe aumento da
rentabilidade, ou seja, há uma elevação do lucro líquido por real vendido.
158
Esse dado também demonstra o impacto favorável sobre empreendimento, caso
confirmado o relato de técnicos do IDAAM quanto à espécie de açaizeiro que produz na
entressafra, e da importância da cooperativa buscar formar de superar esse nível de
capacidade ociosa da fábrica.
Durante a entrevista os cooperados demonstraram estar ciente deste gargalo, e
apontaram para possibilidades de no período ocioso da agroindústria, produzir outro tipo de
polpa (graviola, acerola, etc.) como forma de amenizar o gargalo de ociosidade.
Apesar da identificação da viabilidade econômica do empreendimento, é interessante
refletir sobre a estratégia de mercado adotada pela Agroindústria, conforme relatado pelo
presidente da cooperativa o preço de venda obtido pelo empreendimento é de R$ 5,00/quilo, e
até jun./2011 o único comprador era a SEDUC. O preço adotado paga os custos de produção e
permite resultado operacional do empreendimento, mas surgem questionamentos se este é o
melhor preço possível do produto no mercado ou se esta estratégia de comprador único não é
uma estratégia de risco para o negócio.
5.3.3. Estratégia de Mercado Adotada pela Agroindústria
Os apontamentos aqui citados foram obtidos em grande parte no Relatório de
Auditoria realizado pela SUFRAMA em 2008. E apesar de não ser foco do presente trabalho a
discussão e análise da estratégia de mercado adotada pela agroindústria, julga-se conveniente
elencar alguns apontamentos deste relatório que podem influenciar seriamente na
sustentabilidade13
econômica do empreendimento.
13 Nesse caso, a sustentabilidade tem sentido de permanência ao longo do tempo.
159
Apesar da identificação da viabilidade econômica do empreendimento, é interessante
refletir sobre a estratégia de mercado adotada pela Agroindústria, conforme relatado pelo
presidente da cooperativa o preço de venda obtido pelo empreendimento é de R$ 5,00/quilo, e
até jun./ 2011, o único comprador é a Secretaria do Estado de Educação do Amazonas -
SEDUC.
A estratégia de fornecedor único cria grande dependência do fornecedor do Estado, de
modo que por alguma circunstância, o Estado decida não comprar da agroindústria, a mesma
sofrerá sérias dificuldades financeiras.
Outro aspecto elencado pelo relatório são os mercados atingidos. Em 2008, o preço
praticado no atacado de Manaus e outras capitais são de R$ 5,00 no atacado e R$ 8,00 no
varejo, e em Manaus varia entre R$ 7,00 a 12,00. Nessa época o preço de venda do açaí da
agroindústria era de R$ 2,50 (SUFRAMA, 2008).
Se a agroindústria passar vender normalmente no mercado o preço do seu produto vai
elevar para o patamar entre R$ 5,00 e R$ 8,00, se atacadista ou varejista. Desse modo, podem-
se elevar consideravelmente os resultados financeiros da Agroindústria.
Cita-se algumas considerações do Relatório e Auditoria:
Relatório conclui que a agroindústria de Codajás está deixando de
aproveitar as oportunidades, principalmente, as que o mercado local e nacional estão
oferecendo. [...] somente o mercado local já seria suficiente para viabilizar com
sucesso o empreendimento da agroindústria.
Se considerarmos o mercado internacional a oportunidade é 20 vezes maior do que o
valor recebido atualmente por quilo. O preço praticado nos Estados Unidos, por
exemplo, é de US 28,89 (vinte e oito dólares, e oitenta e nove cents), já na inglaterra
o preço é de £18,33 (dezoito libras e trinta e três cents) o quilo da polpa.
Tal perda de oportunidade (custo de oportunidade) deve-se a estratégia de
comercialização atualmente empregada que está ignorando as oportunidades que o
mercado oferece e que os concorrentes aproveitam.
A alternativa poderia ser a agroindústria contratar profissionais de vendas
capacitados e experientes que sejam remunerados de acordo com seus resultados de
venda, ou seja, com comissão sobre vendas realizadas. Tal procedimento pode
facultar a transferência das experiências desses profissionais à agroindústria que
poderá futuramente ter profissionais capacitados.
Relatório de Auditoria (2008) 14
14 Informação obtida em Relatório de Auditoria do Empreendimento Agroindústria de Açaí de
Codajás cedido pela autarquia.
160
Pode-se observar que apesar das constatações anteriores sobre a viabilidade econômica
da Agroindústria, ainda pode-se estabelecer novas estratégias de mercado que aumentarão o
impacto econômico do empreendimento.
5.3.4. Síntese Analítica da Dimensão Econômica
A compreensão da dimensão econômica neste trabalho tem pontos interseção com a
dimensão social, quando elencou-se o conceito de Desenvolvimento proposto do Sen (2000),
onde o Desenvolvimento, base da economia, tem por objeto central o aumento da qualidade
de vida, removendo diversas formas de privação de liberdade.
Assim, buscou-se uma análise de modo a elencar os resultados financeiros do
empreendimento como condição meio para materializar melhores condições de vida para as
pessoas da região, visão afinada com a base de princípios da SUFRAMA.
Mais uma vez a dificuldade em obter informações foi entrave para maior precisão e
profundidade das análises, mas apesar disso pode-se inferir algumas questões que
demonstram o impacto econômico do empreendimento e algumas sugestões para potencializar
as ações da Agroindústria de Codajás. São elas:
1. Primeiro ponto a elencar é sobre disponibilidade de dados. Já foi expresso a
dificuldades em obtê-los, e quando obtidos constatava-se pouca sistematização dos
mesmos, podendo inferir falta de controle sobre aspectos produtivos e de gestão.
Ressalta-se que é vital para Agroindústria controle sobre sua produção e seus gastos.
2. A ociosidade durante metade do ano é um dos elementos que se destacam no
empreendimento analisado, e que levam a indagações sobre a viabilidade econômica
do empreendimento diante do fato da fábrica permanecer parada durante 6 meses do
161
ano. Constatou-se que apesar da ociosidade o empreendimento é capaz de honrar
custos fixos e variáveis, demais despesas, e ainda gerar resultados financeiros
expressivos;
3. Caso os relatos de técnicos do IDAM tenham validade, e que seja realmente
identificado uma variedade de açaí que produz na entre safra. O período de
disponibilidade de matéria-prima poderá ser ampliar para 9 meses, sendo uma
vantagem competitiva da região, e conforme a simulação, ampliaria os rendimentos e
lucratividade do empreendimento;
4. O açaí é um produto com mercado em expansão, e que oferece oportunidades no
mercado regional, nacional e internacional. A busca por novos mercados ampliará o
escopo de clientes, reduzindo a dependência do cliente Estado. E também poderá
propiciar conquistar mercador com preços mais vantajosos para a Agroindústria;
5. A percepção dos cooperados entrevistados coincidiu com as constatações do Relatório
de Auditoria, onde se observou que a percepção de que a Agroindústria propiciou
melhoria das condições de vida. Permitiu a regulagem do mercado, por promover o
aumento do preço pago pelo quilo do açaí ao produtor, promovendo concorrência
como atravessadores.
Diante do exposto, pode afirmar que a Agroindústria de Açaí de Codajás promoveu
impacto econômico positivo na região.
CAPÍTULO 6 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
O desenvolvimento implica numa busca não só pelo crescimento da renda, mas
principalmente pelo aumento da qualidade de vida, desse modo o empreendimento que
objetiva o desenvolvimento deve ter por norte a melhoria efetiva das condições de vida das
pessoas. Ampliando liberdades dos indivíduos e/ou grupos na área de influência do projeto,
de modo a favorecer as pessoas a viverem o tipo de vida que desejem.
162
Há desta forma uma ideia implícita de autonomia que é relevante para modelos
produtivos a serem aplicados na Amazônia, não cabe à importação cega de modelos,
estratégias, e ideias, e muito menos uma aversão aos conhecimentos e práticas já construídas
em outras regiões. Mas refletir sobre a realidade amazônica, suas peculiaridades, e apontar,
sugerir, propor possibilidades de uso econômico sustentável de suas potencialidades.
O sistema produtivo analisado é fruto do Programa de Interiorização do
Desenvolvimento da SUFRAMA e tem por finalidade promover desenvolvimento no interior
dos Estados sob sua jurisdição. Outro aspecto a destacar, e que denota a importância do
estudo, é que Agroindústria de Açaí de Codajás, representa um tipo de investimento que
carrega consigo anseios e expectativas de viabilizar um tipo empreendimento que utilize os
recursos naturais da região, em “harmonia” com a natureza, que seja economicamente viável e
beneficie as populações locais.
A proposta do presente trabalho foi analisar o processo produtivo da Agroindústria de
Açaí de Codajás quanto sua sintonia aos critérios de sustentabilidade. Pela proposta
metodológica foi analisado se o mesmo é sustentável.
Após a realização o estudo foi identificado que o empreendimento gerou impactos
social e econômicos positivos e baixo impacto ambiental.
A implementação do projeto gerou empregos na região, apesar da falta de clareza e
comprovação se a carteira foi devidamente assinada, houve efetiva criação de ocupações que
proporcionou e/ou proporcionam renda familiar. Outro aspecto identificado e que impacta
positivamente na renda das famílias envolvidas com a coleta de açaí, é a regulagem do
mercado, pois sua atuação proporcionou alternativa de venda ao atravessador e forçando a alta
do valor pago ao produtor, contribuindo para o aumento da renda das famílias.
Constatou-se que apesar da ociosidade de 6 meses em função da disponibilidade de
matéria-prima, o empreendimento é lucrativo conforme exposto na simulação realizada. Caso
seja confirmado o relato dos técnicos do IDAM quanto à variedade do açaizeiro que produz
na entre safra, a lucratividade do empreendimento pode ser ainda maior, o poderá
proporcionar um cenário mais favorável à agroindústria, pois amplia a disponibilidade de
matéria-prima, diminuindo a ociosidade e aumenta o lucro.
Quanto à questão ambiental, não foram identificados danos ambientais significativos.
O cultivo e a coleta do fruto geram baixo impacto ambiental. Quanto ao processo industrial
163
para a produção de polpa, há geração quantidade significativa de resíduos que é armazenado
de forma inadequada. Não se identificou estudos que mensurem o impacto ambiental do tipo
específico de resíduo de Açaí nas quantidades e concentrações identificadas, apesar disso,
infere-se que por ser matéria orgânica típica da região, o dano ambiental seria baixo por ser
um tipo de material que se decompõe naturalmente na natureza.
6.1. SUGESTÕES PARA AGROINDÚSTRIA COM BASE NAS INFORMAÇÕES E
ANÁLISES REALIZADAS
6.1.1. Uso econômico e Sustentável dos resíduos
O resíduo acumulado e armazenado de forma inadequada representa um problema de
higiene em função do mau cheiro e da poluição visual gerada. Apesar de não haver
residências muito próximas a fábrica atualmente, é importante considerar o horizonte de
crescimento da cidade, tornando este resíduo um inconveniente aos moradores caso não se
sistematize uma solução aos caroços e a borra de açaí.
Foram citadas técnicas e tecnologias que dão uso econômico a estes resíduos, quanto
aos caroços existe a possibilidade de produção de peletes ou briquetes energéticos. Sabe-se
também, das dificuldades e dos custos de geração elétrica no interior do Amazonas, podendo
ser uma oportunidade para a Cooperativa que está gerindo a Agroindústria, a geração de
energia a partir dos caroços de açaí em similaridade com “Modelo de Negócio de Energia
Elétrica em Comunidades Isoladas da Amazônia” 15
.
15 o projeto NERAM - Modelo de Negócio de Energia Elétrica em Comunidades Isoladas na Amazônia, em
andamento no CDEAM (Centro de Desenvolvimento Energético Amazônico) e financiado pelo CNPq (Conselho
164
6.1.2. Diminuição ou Eliminação da Ociosidade da Agroindústria
Conforme exposto, existe a possibilidade, caso identificada uma nova espécie de Açaí
que produza na entre safra. E com apoio dos órgãos como IDAM, Ministério da Agricultura,
Secretarias Municipais voltadas para área da produção, em parceria com a Agroindústria de
Açaí e Frutas Regionais poderão promover plantios dessa nova variedade para assegurar
quantitativo suficiente de matéria-prima para a agroindústria durante os 3 de meses de entre
safra.
Outra possibilidade, é a produção de polpa de outras frutas produzidas na região como
graviola, acerola, dentre outras culturas frutíferas já praticadas na região, durante os meses de
entre safra, de modo a diminuir ou eliminar a ociosidade da fábrica.
6.2. DIFICULDADES ENCONTRADAS
A maior dificuldade encontrada foi sem dúvida o acesso aos dados da Cooperativa de
Açaí e Frutas Regionais, que é responsável pela gestão do empreendimento. É importante
elencar que o pesquisador foi bem recepcionado pelo presidente da cooperativa e cooperados
presentes, onde responderam as diversas indagações.
Porém quando se necessitou de comprovação de dados e informações, por meio de
Relatórios de Gestão, Tabelas de Controle de Produção, Histórico de Produção e Vendas,
faturamento, dentre outras informações relevantes para a análise do empreendimento, não se
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). O objetivo deste projeto de pesquisa é recursos locais
para as comunidades isoladas na Amazônia.estabelecer um modelo de eletrificação rural associado à geração de
renda e pautado na utilização sustentável de
165
obteve ou quando foi fornecido acesso, eram dados fragmentados e com baixa organização/
sistematização.
De fato, a acesso aos dados, documentos foi um gargalo no presente estudo e
dificultou o aumento da profundidade de análise das dimensões econômico, social e
ambiental.
6.3. CONTRIBUIÇÕES PARA A ACADEMIA
Do ponto de vista acadêmico, visou-se contribuir para resolução do problema de
pesquisa aqui discutido e apresentado. Foi realizado revisão da literatura pesquisada onde
buscou-se os fundamentos teóricos para análise da sustentabilidade do processo produtivo em
seu tríade aspecto (econômico, social e ambiental).
O presente trabalho representa o esforço de operacionalizar o conceito da
sustentabilidade, de modo a contribuir para geração de conhecimento sobre a implantação de
processos produtivos economicamente viáveis, socialmente relevantes e ambientalmente
corretos na Amazônia.
Ao operacionalizar o desenvolvimento sustentável, chama-se atenção para o potencial
de realização da região Amazônica ao identificar um tipo de empreendimento que concretiza
uma perspectiva sustentável.
6.4. SUGESTÕES DE PESQUISAS FUTURAS
Outras pesquisas direcionadas a melhorar as propostas trabalhadas podem ser
elaboradas a partir desse estudo, sejam nos métodos científicos, no modelo proposto ou
também como respostas a novas questões.
Apesar da citação das possibilidades de aproveitamento econômico do caroço de açaí,
é importante analisar tecnicamente sobre a viabilidade da implantação de tais soluções, para
166
assim apontar caminhos seguros para o desenvolvimento da cadeia do açaí no município de
Codajás.
Foi objetivo do presente trabalho a análise da sustentabilidade do processo produtivo
de uma única agroindústria, onde foi possível apreender aspectos econômicos, sociais e
ambientais do projeto. Apesar da mensuração dessas dimensões trazerem a tona aspecto
relevantes e a demonstração da viabilidade do empreendimento em seu tríade aspecto. É
importante a elaboração de estudo amplo de diversos projetos de produção dessa natureza na
Amazônia, para quem sabe, identificar padrão de sucessos e/ou fracassos e suas causas, de
modo a aprimorar os sistemas públicos de concessão de crédito ou outro tipos de transferência
de recursos em empreendimentos na Amazônia.
Não foi foco deste trabalho a análise de aspectos gerenciais da agroindústria, e adota-
se a premissa de que o empreendimento é gerido adequadamente. Porém houve relatos dos
cooperados referentes a dificuldades de gestão da agroindústria que influenciaram dos
resultados da Agroindústria em anos anteriores. Assim sugere-se o desenvolvimento de
estudos de aspectos gerenciais da Agroindústria buscando identificar elementos que
dificultam ou impedem o empreendimento atingir pontos ótimos de produção demonstrados
na análise proposta.
6.5. HÁ SUSTENTABILIDADE DA AGROINDÚSTRIA DE AÇAÍ DE CODAJÁS?
Resgatando e sintetizando da discussão dos tópicos iniciais, o presente trabalho se
afina com a concepção de sustentabilidade onde as atividades humanas visam o atendimento
das necessidades presentes sem comprometer as necessidades das futuras gerações, de modo
que os modelos, práticas, políticas públicas, ações não governamentais e governamentais
sejam ou promovam a eficiência econômica com justiça social e prudência ecológica.
O presente empreendimento apresenta um modelo produtivo que oferece pouco
impacto ambiental, conforme exposto a matéria-prima utilizada não requer desmatamento, e
ainda possui o mérito de requerer a manutenção do bioma natural para extração de seu
principal insumo.
167
O empreendimento analisado, em sua tríade aspecto, apresentou impacto econômico e
social positivo e baixo impacto ambiental. Além do tipo de produto a ser beneficiado guarda
relações e uma forte vinculação cultural com a sociedade, sendo elemento que compõe a
identidade do município de Codajás. Diante desse tripé positivo pode-se afirmar a
sustentabilidade do presente empreendimento.
A Agroindústria de Açaí de Codajás representa uma experiência positiva de
empreendimento que representa passos iniciais para o estabelecimento de cadeias tecno-
produtivas com base na biodiversidade no município de Codajás, trazendo em si as referidas
características de eficiência econômica com justiça social e prudência ecológica.
168
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175
APÊNDICE 1 – DETALHAMENTO DAS BASES DE CÁLCULO DA TABELA DE
ANÁLISE ECONÔMICA
Tabela 16 – Tabela de Análise de Viabilidade
Contas 6 Meses de
Produção
9 meses de
produção
1. Receita Operacional Bruta R$ 2.400.000,00 R$ 3.600.000,00
1.1. Deduções sobre vendas¹ R$ 96.000,00 R$ 144.000,00
2. Receita Operacional Líquida R$ 2.304.000,00 R$ 3.456.000,00
2. Custos Variáveis R$ 1.685.659,50 R$ 2.528.489,25
2.1. Custo com Matérias Primas R$ 1.428.636,00 R$ 2.142.954,00
2.2. Mão de Obra Variável R$ 147.150,00 R$ 220.725,00
2.3. Encargos Sociais/Trabalhistas R$ 42.673,50 R$ 64.010,25
2.4. Outros Custos Variáveis R$ 67.200,00 R$ 100.800,00
3. Margem de Contribuição R$ 618.340,50 R$ 927.510,75
4. Custos Fixos R$ 303.661,90 R$ 303.661,90
4.1. Mão de Obra Fixa R$ 13.080,00 R$ 13.080,00
4.2. Encargos Sociais/Trabalhistas R$ 3.793,20 R$ 3.793,20
4.3. Manutenção e Conservação R$ 7.852,90 R$ 7.852,90
4.4. Outros Custos Fixos R$ 59.040,00 R$ 59.040,00
4.5. Depreciação/Amortização R$ 219.895,80 R$ 219.895,80
5. Resultado Operacional Líquido R$ 314.678,61 R$ 623.848,86
Fonte: Elaborado pelo autor com base em informações fornecidas pelo presidente da
cooperativa
Notas: * ver Apenso 1 - Detalhamento das Bases de cálculo da Tabela de Análise Econômica
1- PIS (3%) e COFINS (1%), destaca-se que a referida agroindústria é incentivada em
conformidade com a Lei 2.826/2003 e decreto lei 288/67e incentivos de IPI.
1. Receita Operacional Bruta
Obtido pela fórmula: [quantidade de dias trabalhados (podendo ser em 6 meses ou 9 meses)]*
(capacidade de produção máxima/dia)*(preço do produto vendido)
1.1.Deduções sobre as vendas
Obtido pela fórmula: [ PIS(3%)+COFINS (1%] * [receita operacional bruta].
Destaca-se que em conformidade com a Lei Estadual 2.826/2003 e o Decreto lei 288/67, a
referida agroindústria está isenta de pagamento de IPI e ICMS
176
2. Custos Variáveis
Obtido pela soma dos custos de matérias-prima, mão de obra variável, encargos
sociais/trabalhistas, alimentação e transporte.
2.1.Custo com Matérias Primas
Através da fórmula: [Quantidade de dias trabalhados * Capacidade máxima de processamento
por dia(kg)] * (preço médio do kg da matéria-prima), obteve-se o custo com matéria-prima.
2.2.Mão de Obra Variável
Obteve-se por meio: (quantidade de pessoas empregadas* custo médio do trabalhador) *
(quantidade de meses trabalhados)
2.3.Alimentação
Valores médios informado pelo presidente da cooperativa.
2.4.Transporte
Valores médios informado pelo presidente da cooperativa.
3. Margem de Contribuição
= (Receita Operacional Líquida) - (Custos Variáveis)
4. Custos Fixos
Obtido pela soma dos custos de mão de obra fixa, encargos sociais e trabalhistas, manutenção
e conservação, outros custos fixos e depreciação/amortização.
5. Resultado Operacional Líquido
= (Margem de Contribuição) – (Custos Fixos)