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Universidade Federal do Ceará
Instituto de Ciências do Mar
Pós-graduação em Ciências Marinhas Tropicais
SANDRA PIEDAD VELASQUEZ MEDINA
CRIOPRESERVAÇÃO DO SÊMEN DE PIRAPITINGA
Piaractus brachypomus (PISCES, CHARACIDAE)
Fortaleza, Ceará
2008
ii
Universidade Federal do Ceará
Instituto de Ciências do Mar
Sandra Piedad Velásquez Medina
CRIOPRESERVAÇÃO DO SÊMEN DE PIRAPITINGA
Piaractus brachypomus (PISCES, CHARACIDAE)
Dissertação apresentada à Coordenação do Curso de Ciências Marinhas Tropicais do Instituto de Ciências do Mar da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Ciências Marinhas.
Área de concentração: Utilização e Manejo de Ecossistemas Marinhos e Estuarinos
Orientador: Prof. Dr. Luiz Drude de Lacerda.
Co-orientadora: Dra. Cristiane Clemente de Mello Salgueiro.
Fortaleza, Ceará
2008
iii
Velásquez-Medina, Sandra P.
Criopreservação do sêmen de pirapitinga, Piaratus
brachypomus (Pisces, Characidae)/ Sandra Velásquez
Medina – Fortaleza, 2008.
96 f.
Dissertação (Mestrado em Ciências Marinhas
Tropicais) - Universidade Federal do Ceará, Instituto de
Ciências do Mar.
1. Sêmen. 2. Criopreservação. 3. Pirapitinga.
iv
Dedico este trabajo a mi papá Luis
Francisco, a mi hermana Vicky y a
Gustavo que son para mi las
personas mas importantes en mi
vida.
v
“En el fondo, los científicos somos gente con suerte:
podemos jugar a lo que queramos durante toda la vida”.
Lee Smolin
“Si no conozco una cosa, la investigaré”.
Louis Pasteur
vi
AGRADECIMENTOS
Meus agradecimentos a continuação são de todo coração, já que estas pessoas colocaram seu grãozinho de areia tanto de forma emocional, educativa ou laboral para a realização desta dissertação:
Ao professor Luiz Drude agradeço imensamente por ter-me apoiado neste projeto no ultimo momento e ter-me brindado sua orientação sabendo do pouco tempo que ele dispõe.
A minha família por estar sempre me ajudando e me animando em tudo o que eu preciso.
A Cristiane Mello por seu tempo e sugestões em cada uma das páginas deste trabalho.
Ao meu querido Gustavo, namorado, noivo, amigo, cúmplice, confidente e demais, que está todos os dias lutando do meu lado para conseguir as coisas “tavo, sin ti no se a donde mi mente hubiera vagado”.
À Pós-Graduação em Ciências Marinhas Tropicais da Universidade Federal do Ceará, pela oportunidade concedida.
À CAPES pela ajuda financeira para me manter no Brasil nestes anos.
Ao pessoal do Laboratório de Tecnologia de Sêmen Caprino e Ovino da UECE, em especial ao Marcelo e à Audália, sendo pessoas maravilhosas, ensinando-me os primeiros passos da criopreservação e ajudando-me nas minhas coletas.
Ao pessoal do DNOCS por permitir-me realizar minhas coletas nas suas instalações e em especial ao Pedro e ao Alexandre pela grande disposição em colaborar.
A meus amigos brasileiros Fredy, Luciano, Eduardo e Fabiano, que sempre me escutaram e me alegraram.
Ao pessoal dos Laboratórios de Ecologia Marina e Ecotoxicologia do LABOMAR, pessoas tão amáveis que sempre me abriram as portas para compartir com eles.
Ao professores e funcionários do LABOMAR nos momentos de gentileza para comigo, em especial à Maria Gomes por ser um tipo de pessoa de quem mais precisa o mundo, com seu bom dia e sorriso a cada dia.
Ao Frank pelas conversas e ajuda nas minhas dúvidas na língua inglesa.
Ao Ricardo e Lula, por tentar ajudar-me no meu anterior projeto com os ariacós L. synagris.
vii
RESUMO
A pirapitinga (Piaractus brachypomus) é uma espécie de peixe exótico introduzido
no nordeste brasileiro, o qual tem grande importância comercial devido a seu hábito
alimentar, excelente crescimento, resistência ao manejo em cativeiro e às
enfermidades. A criopreservação de seu sêmen pode contribuir nos aspectos
econômico, genético e meio ambiental da região e da espécie. O objetivo deste
trabalho foi desenvolver um protocolo adequado de congelação seminal para poder
obter motilidades próximas ao sêmen a fresco. Trabalhou-se com o sêmen de 19
machos maduros de dezembro de 2007 a março de 2008, determinando as
características seminais; a toxicidade dos crioprotetores DMSO 10% e metilglicol
10%, diluídos em glicose 5%, ACP-104 e solução Ringer nas diluições de 1:3, 1:5 e
1:7, durante 15 minutos a 4°C; a criopreservação a -196°C com as mesmas
criodiluições usando palhetas de 0,25 e 0,5 mL, congeladas em vapores de
nitrogênio líquido em caixas de isopor ou em “dry shipper”, sendo depois transferidas
para botijões criogênicos durante 15 dias. Foram avaliadas as motilidades e
velocidades através da análise seminal auxiliado por computador (CASA) pós-
descongelação; e a morfologia seminal a fresco e pós-descongelação. Os
parâmetros seminais a fresco observados foram: motilidade objetiva média de 94%,
concentração de 44 x 109 spzt/mL, volume de 7 mL, osmolaridade de 317 mOsm/Kg
e pH de 8,4. Nos testes de toxicidade não foram encontradas diferenças
significativas entre o T3 (Ringer+Metilglicol 10%) na diluição 1:3 comparado com o
grupo controle (P=0.06), apresentando motilidade de 80% e VCL de 95 µm/s. O
melhor método de congelamento foi o “dry shipper” utilizando palhetas de 0,5 mL,
registrando motilidade de 62% para o T6 (Glicose+DMSO 10%) na diluição 1:7,
entretanto, apresentaram baixas velocidades para todos os tratamentos, com
melhores resultados de VCL, VSL e VAP para o T6. No sêmen fresco, a
morfoanomalia mais encontrada foi a cauda dobrada (20%) e no sêmen pós-
descongelação, a cauda enrolada (23%). Comparando-se os resultados de
morfoanomalias antes e pós-descongelamento foram observadas diferenças
significativas entre as amostras (P<0,05). Conclui-se que o sêmen de pirapitinga
pode ser preservado em Ringer+Metilglicol 10% em 1:3, sem apresentar altas
toxicidades, e criopreservado em Glicose+DMSO 10% utilizando o “dry shipper”.
Palavras-chave: sêmen, criopreservação, pirapitinga.
viii
ABSTRACT
The pirapitinga (Piaractus brachypomus) is a species of exotic fish introduced in the
Brazilian north-eastern, with great commercial importance for its alimentary habit,
excellent growth, handling resistance in captivity and against diseases. The
cryopreservation of its semen can contribute in the economic, genetic and
environment aspects of the region and the species. The objective of this work was to
develop an adequate protocol of seminal frozen to be able to obtain motility closer to
the fresh semen. It was worked with the semen of 19 mature males between
December of 2007 and March of 2008, determining its seminal characteristics; the
cryoprotectants toxicity DMSO 10% and methylglicol 10%, diluted in glucose 5%,
ACP-104 and Ringer solution at 1:3, 1:5 and 1:7 dilutions, during 15 minutes at 4°C;
the cryopreservation at -196°C with the same cryoextenders using 0,25 and 0,5 mL
straws, frozen in nitrogen vapor inside styrofoam boxes or in dry shipper, being later
transferred to cryogenic containers for 15 days. It was evaluated the motilities and
speeds through the computer-assisted sperm analysis (CASA) post-thawed; and the
morphology in fresh and post-thawed semen. The seminal parameters observed in
fresh semen were: objective mean motility of 94%, concentration of 44 x 109 spzt/mL,
semen volume of 7 mL, osmolarity of 317 mOsm/kg and pH of 8,4. In the toxicity
tests weren’t find significant differences between T3 (Ringer+Methylglicol 10%) at 1:3
dilution compared with the control group (P=0.06), showing motility of 80% and VCL
of 95 µm/s. The best frozen method was in dry shipper using 0.5 mL straws,
registering motility of 62% for T6 (Glucose+DMSO 10%) at 1:7 dilution, however,
showing low speeds for all treatments, with better results of VCL, VSL and VAP to
T6. In fresh semen, the morpho anomalies most found was the tail doubled (20%)
and in the post-thawed semen, the tail coiled (23%). Comparing the morpho
anomalies results before and after frozen it was observed significant differences
between samples (P<0.05). It was concluded that the pirapitinga semen can be
preserved in Ringer+Methylglicol 10% in 1:3, without presenting high toxicities, and
cryopreservated in Glucose+DMSO 10% using dry shipper.
Key words: semen, cryopreservation, pirapitinga.
ix
SUMÁRIO
Pág.
RESUMO................................................................................................................ vii
ABSTRACT............................................................................................................. viii
LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS............................................................ xi
LISTA DE FIGURAS............................................................................................... xii
LISTA DE TABELAS E QUADROS ....................................................................... xvi
1. INTRODUÇÃO................................................................................................... 01
2. REVISÃO DE LITERATURA.............................................................................. 03
2.1. Descrição da espécie................................................................................. 03
2.2. Características gerais do espermatozóide de teleósteos........................... 05
2.2.1. Motilidade......................................................................................... 06
2.2.2. Morfoanomalias................................................................................ 08
2.3. Processo de Congelamento...................................................................... 10
2.3.1. Agentes crioprotetores.................................................................... 12
2.3.2. Meios diluentes................................................................................ 13
2.4. Avaliação da cinética espermática através de análise seminal auxiliada
por computador (CASA)........................................................................... 14
3. JUSTIFICATIVA................................................................................................. 16
4. OBJETIVOS....................................................................................................... 18
4.1. Objetivo Geral............................................................................................ 18
4.2. Objetivos Específicos................................................................................ 18
5. MATERIAL E MÉTODOS................................................................................... 19
5.1. Local do experimento e animais experimentais......................................... 19
5.2. Hipofisação dos reprodutores.................................................................... 20
5.3. Coleta de sêmen........................................................................................ 20
5.4. Teste de contaminação do sêmen............................................................. 21
5.5. Avaliação da motilidade............................................................................. 21
5.6. Características seminais............................................................................ 22
5.7. Estudo da toxicidade do crioprotetor......................................................... 23
5.8. Congelamento e descongelamento seminal.............................................. 24
Experimento 1: Congelamento em rampa em palheta de 0,25 mL............ 24
x
Experimento 2: Congelamento em rampa em palheta de 0,5 mL.............. 27
Experimento 3: Congelamento em “dry shipper” em palhetas de 0,5 mL.. 27
5.9. Análise morfológica do sêmen................................................................... 28
5.10. Análises estatísticas................................................................................. 29
6. RESULTADOS.................................................................................................. 30
6.1. Características do sêmen........................................................................... 30
6.2. Estudo da toxicidade dos crioprotetores.................................................... 31
6.2.1. Motilidade......................................................................................... 31
6.2.2. Velocidades...................................................................................... 32
6.3. Congelamento e descongelamento seminal.............................................. 37
Experimento 1: Congelamento em rampa em palheta de 0,25 mL............ 37
Experimento 2: Congelamento em rampa em palheta de 0,5 mL.............. 40
Experimento 3: Congelamento em “dry shipper” em palhetas de 0,5 mL.. 43
6.4. Análise morfológica do sêmen................................................................... 50
7. DISCUSSÃO...................................................................................................... 53
7.1. Características do sêmen.......................................................................... 53
7.2. Estudo da toxicidade de crioprotetores...................................................... 54
7.3. Testes de Criopreservação........................................................................ 57
7.4. Análise morfológica do sêmen................................................................... 61
8. CONCLUSÕES.................................................................................................. 64
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................... 65
xi
LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS
% Porcentagem
ACP-104 Meio diluente à base de água de coco em pó para sêmen de peixes
ATP Adenosina trifosfato
AMPc Adenosina monofosfato ciclico
°C Graus Celsius
CASA Computer Assisted Semen Analysis
DMSO Dimetil sulfóxido
EP Erro padrão
LTSCO Laboratório de Tecnologia do Sêmen Caprino e Ovino
M Mol
mL Mililitro
mOsm Miliosmoles
N2L Nitrogênio líquido
pH Potencial hidrogeniônico
s Segundo
SCA Sperm Class Analyzer
T1 Tratamento 1 (Ringer + DMSO 10%)
T2 Tratamento 2 (ACP-104 + DMSO 10%)
T3 Tratamento 3 (Ringer + Metilglicol 10%)
T4 Tratamento 4 (ACP-104 + Metilglicol 10%)
T5 Tratamento 5 (Glicose 5% + Metilglicol 10%)
T6 Tratamento 6 (Glicose 5% + DMSO 10%)
µL Microlitros
µm Micrômetro
VAP Velocidade média
VCL Velocidade curvilinear da trajetória
VSL Velocidade linear
xii
LISTA DE FIGURAS
Pág.
Figura 1. Adulto de pirapitinga (Piaractus brachypomus).............................. 05
Figura 2. Espermatozóides de Piaractus brachypomus a 400X, corados
com azul de bromofenol................................................................ 06
Figura 3. Dinâmica dos mecanismos de inibição e ativação espermática
em peixes de água doce (Adaptado de Tabares et al., 2005)...... 08
Figura 4. Equipamentos para congelamento de sêmen: (A) geladeira de
poliestireno com rampa metálica, (B) “dry shipper”...................... 12
Figura 5. Representação esquemática das diferentes velocidades medidas
pelo sistema de análise seminal (CASA). VCL= velocidade
curvilinear; VSL= velocidade em linha reta; VAP = velocidade
média.............................................................................................. 15
Figura 6. Leitura da marcação eletrônica com chip das pirapitingas............. 19
Figura 7. Coleta do sêmen de pirapitinga em Epperdorf................................ 20
Figura 8. Teste de toxicidade, criodiluições resfriadas a 4°C........................ 23
Figura 9. Preenchimento de palhetas com as criodiluções............................ 25
Figura 10. Raques com globetes para o armazenamento das palhetas........ 25
Figura 11. Descongelamento das palhetas em banho-maria......................... 26
Figura 12. Página principal do resultado da avaliação de motilidade com o
sistema CASA............................................................................... 26
Figura 13. Representação dos movimentos dos espermatozóides de
pirapitinga avaliados com o método CASA.................................. 27
Figura 14. Congelamento em “dry shipper” a -170°C.................................... 28
Figura 15. Média ± erro padrão da motilidade de espermatozóides
progressivos, rápidos, médios e lentos nas criodiluições
avaliadas no teste da toxicidade. T1 = Ringer+DMSO 10%; T2 =
ACP-104+DMSO 10%, T3 = Ringer+Metilglicol 10%; T4 = ACP-
104+Metilglicol 10%; T5 = Glicose 5%+Metilglicol 10%; T6 =
Glicose 5%+DMSO 10%. Letras diferentes são
significativamente diferentes (P<0.05)......................................... 34
xiii
Figura 16. Média ± erro padrão das velocidades espermáticas, em µm/s,
nas diferentes criodiluições avaliadas no teste da toxicidade.
VCL = velocidade curvilinear; VSL = velocidade linear; VAP =
velocidade média. T1 = Ringer+DMSO 10%; T2 = ACP-
104+DMSO 10%, T3 = Ringer+Metilglicol 10%; T4 = ACP-
104+Metilglicol 10%; T5 = Glicose 5%+Metilglicol 10%; T6 =
Glicose 5%+DMSO 10%. Letras diferentes são
significativamente diferentes (P<0.05)......................................... 34
Figura 17. Médias e intervalo de confiança da motilidade de
espermatozóides progressivos, rápidos, médios e lentos nas
criodiluições avaliadas no teste de toxicidade. T1 =
Ringer+DMSO 10%; T2 = ACP-104+DMSO 10%, T3 =
Ringer+Metilglicol 10%; T4 = ACP-104+Metilglicol 10%; T5 =
Glicose 5%+Metilglicol 10%; T6 = Glicose 5%+DMSO 10%........ 35
Figura 18. Médias e intervalo de confiança das velocidades espermáticas,
em µm/s, nas diferentes criodiluições avaliadas no teste da
toxicidade. VCL = velocidade curvilinear; VSL = velocidade
linear; VAP = velocidade média. T1 = Ringer+DMSO 10%; T2 =
ACP-104+DMSO 10%, T3 = Ringer+Metilglicol 10%; T4 = ACP-
104+Metilglicol 10%; T5 = Glicose 5%+Metilglicol 10%; T6 =
Glicose 5%+DMSO 10% 36
Figura 19. Curva de congelamento dos experimentos 1 e 2 utilizando o
equipamento de geladeira de isopor com rampa durante 5
minutos......................................................................................... 37
Figura 20. Média e erro padrão da motilidade de espermatozóides
progressivos, rápidos, médios e lentos pós-descongelamento
utilizando palheta de 0,25 mL e rampa de congelamento. T1 =
Ringer+DMSO 10%; T2 = ACP-104+DMSO 10%, T3 =
Ringer+Metilglicol 10%; T4 = ACP-104+Metilglicol 10%; T5 =
Glicose 5%+Metilglicol 10%; T6 = Glicose 5%+DMSO 10%....... 38
xiv
Figura 21. Média e erro padrão das velocidades espermáticas, em µm/s,
pós-descongelamento, em palheta de 0,25 mL e rampa de
congelamento. T1 = Ringer+DMSO 10%; T2 = ACP-104+DMSO
10%, T3 = Ringer+Metilglicol 10% ; T4 = ACP-104+Metilglicol
10%; T5 = Glicose 5%+Metilglicol 10% ; T6 = Glicose
5%+DMSO 10%............................................................................ 40
Figura 22. Média e erro padrão da motilidade de espermatozóides
progressivos, rápidos, médios e lentos pós-descongelamento
utilizando palheta de 0,50 mL e rampa de congelamento. T1 =
Ringer+DMSO 10%; T2 = ACP-104+DMSO 10%, T3 =
Ringer+Metilglicol 10%; T4 = ACP-104+Metilglicol 10%; T5 =
Glicose 5%+Metilglicol 10%; T6 = Glicose 5%+DMSO 10%........ 41
Figura 23. Média e erro padrão das velocidades espermáticas, em µm/s,
pós-descongelamento, em palheta de 0,50 mL e rampa de
congelamento. T1 = Ringer+DMSO 10%; T2 = ACP-104+DMSO
10%, T3 = Ringer+Metilglicol 10%; T4 = ACP-104+Metilglicol
10%; T5 = Glicose 5%+Metilglicol 10%; T6 = Glicose
5%+DMSO 10%........................................................................... 43
Figura 24. Média e erro padrão da motilidade de espermatozóides
progressivos, rápidos, médios e lentos pós-descongelamento
utilizando palheta de 0,50 mL e “dry shipper”. T1 =
Ringer+DMSO 10%; T2 = ACP-104+DMSO 10%, T3 =
Ringer+Metilglicol 10% ; T4 = ACP-104+Metilglicol 10%; T5 =
Glicose 5%+Metilglicol 10% ; T6 = Glicose 5%+DMSO 10%....... 46
Figura 25. Média e erro padrão das velocidades espermáticas (curvilinear,
linear e média) pós-descongelamento utilizando palheta de 0,50
mL e “dry shipper”. T1 = Ringer+DMSO 10%; T2 = ACP-
104+DMSO 10%, T3 = Ringer+Metilglicol 10% ; T4 = ACP-
104+Metilglicol 10%; T5 = Glicose 5%+Metilglicol 10% ; T6 =
Glicose 5%+DMSO 10%............................................................... 46
Figura 26. Análise geral das criosoluções e criodiluições em palhetas de
0,25 e 0,5 mL e pelos métodos de congelamento em rampa
dentro de geladeira de isopor e “dry shipper” (média ± ep).......... 48/49
xv
Figura 27. Porcentagem média das características morfológicas do sêmen
de Piaractus brachypomus a fresco............................................. 51
Figura 28. Porcentagem média das características morfológicas do sêmen
de Piaractus brachypomus pós-descongelamento nos meios
diluentes Ringer, ACP-104 e Glicose e nos crioprotetores
DMSO e Metilglicol........................................................................ 51
xvi
LISTA DE TABELAS E QUADROS
Tabela 1. Diluentes e crioprotetores utilizados no teste de toxicidade e na
criopreservação de sêmen de pirapitinga (Piaractus brachypomus) 24
Tabela 2. Morfoanomalias em espermatozóides de pirapitinga (Piaractus
brachypomus)................................................................................... 29
Tabela 3. Características seminais das pirapitingas, avaliadas durante o
período de dezembro de 2007 a março de 2008.............................. 30
Tabela 4. Características dos “pools” de sêmen de pirapitinga......................... 31
Tabela 5. Valores médios das porcentagens de motilidade total (MT),
espermatozóides rápidos, médios e lentos, e velocidades
curvilinear (VCL), linear (VSL) e média (VAP) (µm/s) nos testes de
toxicidade.......................................................................................... 33
Tabela 6. Média e erro padrão da motilidade, em porcentagem, de
espermatozóides progressivos, rápidos, médios e lentos, e
velocidades curvilinear (VCL), linear (VSL) e média (VAP), em
µm/s, no teste de congelamento na geladeira de isopor, em
palheta de 0,25 mL........................................................................... 39
Tabela 7. Média e erro padrão da motilidade, em porcentagem, de
espermatozóides progressivos, rápidos, médios e lentos, e
velocidades curvilinear (VCL), linear (VSL) e média (VAP), em
µm/s, no teste de congelamento na geladeira de isopor, em
palheta de 0,50 mL........................................................................... 42
Tabela 8. Média e erro padrão da motilidade, em porcentagem, de
espermatozóides progressivos, rápidos, médios e lentos, e
velocidades curvilinear (VCL), linear (VSL) e média (VAP), em
µm/s, no teste de congelamento no “dry shipper”, em palheta de
0.50 mL............................................................................................. 45
Quadro 1. Análise subjetiva da motilidade (adaptado de Strussman et
al.,1994)............................................................................................ 21
Quadro 2. Parâmetros estabelecidos para a análise pelo sistema CASA do
sêmen de pirapitinga (Piaractus brachypomus).............................. 22
xvii
Quadro 3. Alterações morfologicas do sêmen de Piaractus brachypomus,
lâminas coradas com azul de bromofenol: (A) normal; (B) cabeça
deformada; (C) peça intermediária degenerada; (D, F, G, H) cauda
enrolada; (E) cauda dobrada na ponta; (I) cauda dobrada; (J) gota
citoplasmática proximal; (K) gota citoplasmática distal; (L) cauda
quebrada........................................................................................... 52
1
Sandra Velásquez Medina Criopreservação de sêmen de pirapitinga
1. INTRODUÇÃO
As populações naturais de peixes têm diminuído nas ultimas décadas devido à
degradação ambiental e à pesca excessiva, fatores que aceleram a
descaracterização e o desaparecimento do habitat aquático natural e dos
organismos que nele vivem (Miliorini, 2006). Com o passar dos anos a demanda de
pescado vem aumentando impulsionada principalmente pelo crescimento da
população e a tendência mundial da procura de alimentos saudáveis indicados para
a saúde humana, como o pescado, sendo este uma alternativa alimentar de alto
valor nutritivo, baixo teor de gordura e alta digestabilidade (Andrade e Yusi, 2003).
Visando suprir este desequilíbrio ecológico e aumentar os benefícios
econômicos, a piscicultura que produz 43 milhões de toneladas por ano (FAO, 2007)
gera constantemente inúmeros trabalhos no âmbito de técnicas de cultivo, controle
de doenças, avaliação dos gametas produzidos em cativeiro e técnicas para
congelamento seminal, entre outras (Yao et al., 2000; Williot et al., 2000; Tvedt et al.,
2001; Taddei et al., 2001; Tanaka et al., 2002).
O conhecimento e desenvolvimento de novos protocolos para o
armazenamento de sêmen de peixes vêm avançando desde a última década,
mostrando sempre a sua importância como ferramenta em programas de
melhoramento genético de espécies de interesse econômico, em iniciativas de re-
estabelecimento das populações de ambientes em recuperação, na criação de
importantes bancos de sêmen de peixes nativos e no aumento das produções em
cativeiro (Carneiro, 2007).
A técnica de criopreservação fundamenta-se no congelamento de gametas
em nitrogênio líquido, podendo ser preservadas por um período de vários anos
(Suquet et al., 2000). O primeiro trabalho de congelamento foi realizado por Blaxter,
em 1953 (citado por Suquet et al., 2000), que viabilizou o cruzamento de duas
espécies de arenque que desovam em épocas diferentes do ano. Desde então, tem-
se gerado um grande número de protocolos tanto para espécies de água doce
(salmão e carpa) como marinhas (linguados e tainhas), entre outras (Suquet et al.,
2000). Na atualidade existem no mundo bancos genéticos de peixes na Rússia,
Ucrânia, Finlândia, Noruega, Reino Unido, Filipinas, Estados Unidos, Canadá, índia,
Brasil e Colômbia (Harvey et al., 1998).
2
Sandra Velásquez Medina Criopreservação de sêmen de pirapitinga
No Brasil, mais especificamente no Sudeste, várias espécies de peixes
encontradas nos Estados de Santa Catarina, São Paulo e Minas Gerais, têm sido
objetos de diversos estudos relacionados à criopreservação, destacando-se
trabalhos com as espécies Pseudoplatystoma corruscans (pintado), os characideos
curimba (Prochilodus lineatus), pacu (Piaractus mesopotamicus), piapara (Leporinus
elongatus), dourado (Salminus maxillosus) (Carolsfeld et al., 2003), a falsa
pirapitinga (Brycon nattereri) (Oliveira et al., 2006) e a piracanjuba (Brycon
orbignyanus) (Bedore, 1999; Murgas et al., 2001, 2004, 2007; Carolsfeld et al., 2003;
Maria et al., 2006). Nestes trabalhos vários tipos de crioprotetores e diluentes foram
testados, dos quais o dimetilsulfóxido a 10%, combinado com a glicose a 5% e a
gema de ovo mostraram motilidades espermáticas acima de 50%.
No Nordeste do Brasil, este tipo de pesquisa tem sido pouco abordada. No
caso do Estado do Ceará só foram realizados dois trabalhos, um deles com a
espécie Colossoma macropomum (tambaqui), realizado por Farias (1998) que
utilizou a água de coco como ativador e como diluente do sêmen, em várias
osmolaridades, conseguindo resultados promissórios. O outro trabalho realizado por
Carvalho (1999), mostrou motilidades baixas dos espermatozóides ao criopreservar
sêmen da espécie Ciprinus carpio (carpa) em água de coco acrescida de glicerol ou
etileno-glicol como crioprotetores.
Embora seja endêmica do Amazonas, a espécie Piaractus brachypomus
(pirapintiga ou pacu branco), pertencente aos characideos, é uma espécie altamente
comercial na região Nordeste brasileira pela qualidade de sua carne. Recentemente,
a diminuição na diversidade genética observada nos plantéis de reprodutores das
fazendas dedicadas à produção de alevinos e os freqüentes fenômenos cíclicos de
secas, os quais exercem acentuada ação sobre seus processos reprodutivos, obriga
a regularizar ou desenvolver tecnologias que permitam o intercâmbio de material
seminal entre os produtores, aproveitar as gametas que possam obter-se de
indivíduos silvestres e conservar amostras seminais nos períodos menos favoráveis
(Farias, 1998; Fresneda et al., 2004).
3
Sandra Velásquez Medina Criopreservação de sêmen de pirapitinga
2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1. Descrição da espécie
A pirapitinga (Piaractus brachypomus) é uma espécie nativa dos rios
Amazonas, Orinoco e seus afluentes. Foi introduzida no Ceará em 1972 pelo
Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS). Os primeiros
exemplares trazidos de Iquitos (Peru) foram com o objetivo de povoamento dos
açudes e estocagem em viveiros para seu cultivo intensivo (Sobrinho et al., 1984).
Hoje em dia o Centro de Pesquisas em Aqüicultura do DNOCS produz grandes
quantidades de alevinos provenientes do cruzamento dos estoques originais.
A espécie apresenta de 33 a 37 rastros no primeiro arco branquial, 88 a 98
escamas na linha lateral e 1 a 3 dentes no maxilar. Atinge 79 cm de comprimento
total e 11 kg de peso corporal. Sua cor é branco prateada, com nadadeiras peitorais
de cor amarela, abdominais e anal vermelhas. A coloração vermelha vivo no peito
aparece na época de desova e é muito acentuada (Fig. 1). A espécie é conhecida no
mundo como cachama, cachama blanca, freshwater pompano, pacu, red pacu,
redbellied pacu, morocoto, paco e caranha.
Classificação taxonômica (FISHBASE, 2008):
Reino Animália
Filo Chordata
Classe Teleostei
Ordem Cypriniforme
Família Characidae
Gênero Piaractus (Holmberg, 1887)
Espécie Piaractus brachypomus (Cuvier, 1818)
Sinônimos ambíguos (FISHBASE, 2008):
Colossoma mitrei (non Berg, 1895)
Myletes edulis (non Castelnau, 1855)
Myletes mitrei (non Berg, 1895)
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Sandra Velásquez Medina Criopreservação de sêmen de pirapitinga
Piaractus mitrei (non Berg, 1895)
Sinônimos Unambíguos (FISHBASE, 2008):
Colossoma bidens (Spix e Agassiz, 1829)
Colossoma brachypomum (Cuvier, 1818)
Colossoma branchypomus (Cuvier, 1818)
Colossoma paco (Humboldt, 1821)
Myletes bidens (Spix e Agassiz, 1829)
Myletes brachypomus (Cuvier, 1818)
Piaractus mesopotamicus (Cuvier, 1818)
Piaractus brachipomus (Cuvier, 1818)
Piaractus briachypumus (Cuvier, 1818)
Os indivíduos em cativeiro não conseguem desovar naturalmente porque
nessas condições não encontram estímulos físico-químicos para completar seu ciclo
de reprodução, sendo necessária a indução hormonal com hipófise de carpa e a
fertilização artificial. Nas condições naturais, estes peixes migram rio acima no
período entre junho/julho até outubro, quando os ovários das fêmeas ainda não
estão desenvolvidos, por isso são chamadas de espécie de piracema. A desova
ocorre no período de novembro a fevereiro quando as condições ambientais se
tornam ideais, com temperatura media da água de 27°C após as primeiras chuvas.
As fêmeas de pirapitinga alcançam sua maturidade sexual ao cabo de três
anos, enquanto que a dos machos ocorre ao final de dois anos. São espécies de
fecundação externa as quais liberam seus gametas no meio ambiente (Almeida,
1997).
Segundo Mesa e Botero (2007) as pirapitingas são espécies de grande
importância comercial devido a seu hábito alimentar (frutas, restos de cultivos
agrícolas, farelo de trigo, cuim, etc.), excelente crescimento, resistência ao manejo
em cativeiro, apresenta alta docilidade, resistente às enfermidades, é de fácil
adaptação às condições limnológicas desfavoráveis por períodos não prolongados e
porque podem ser criadas com outras espécies, tais como as tilápias e as carpas.
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Sandra Velásquez Medina Criopreservação de sêmen de pirapitinga
Figura 1. Adulto de pirapitinga (Piaractus brachypomus)
2.2. Características gerais do espermatozóide de teleósteos
O espermatozóide dos peixes com fecundação externa tem uma estrutura do
tipo simples (Fig. 2), apresenta uma cabeça que mede entre 2-4 micrometros, sendo
quase esférica e conformada por um núcleo no qual se encontra o DNA, um colar
que forma a peça intermediária onde se encontram os centríolos e de 2 a 9
mitocôndrias, um flagelo que pode medir entre 20 e 100 mm constituído por um
axonema com nove pares de microtubulos periféricos e um par central. A membrana
que recobre o espermatozóide está composta de fosfolipídios, lipídios neutros e
glicolipídios, sua função é fundamental para a regulação de diferentes atividades
celulares e vias de sinalização que podem conduzir à motilidade espermática.
Os espermatozóides da maioria dos peixes não possui acrossoma,
característica que os diferença do sêmen de mamíferos, não precisam desta
estrutura porque as gametas, ao serem liberados no meio, entram diretamente na
micrópila dos ovócitos, finalizando a fecundação. Esta cavidade permanece pouco
tempo aberta, se fechando em poucos minutos ao hidratar-se o ovócito no momento
de ser liberado na água (Morales, 1986).
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Sandra Velásquez Medina Criopreservação de sêmen de pirapitinga
Figura 2. Espermatozóides de Piaractus brachypomus a 400X, corados com azul de
bromofenol.
2.2.1. Motilidade
O sêmen de peixes se encontra inativo dentro dos testículos, ao entrar em
contato com a água, contam com um breve período de ativação, que se expressa no
movimento e velocidade para lograr a fertilização. Esta motilidade se deve a
mudanças na pressão osmótica, balanço iônico e pH (Fig. 3).
Todo o processo começa quando os espermatozóides passam pelo conduto
espermático, onde são banhados pelo fluido testicular ou plasma seminal, o qual tem
pH básico e é rico em bicarbonato (HCO3), fazendo com que permaneçam imóveis e
com metabolismo reduzido, onde as mitocôndrias se encontram com baixo potencial
de membrana a fim de preservar as poucas reservas energéticas e diminuir a
formação de compostos de oxidação.
Quando ocorre a espermiação no meio aquoso, os fatores que suprimem a
motilidade são neutralizados no momento pelas condições do meio ambiente e a
motilidade espermática é parcialmente controlada pela pressão osmótica. Em peixes
continentais, a água tem uma baixa osmolaridade em comparação com o plasma
seminal, ocorrendo assim um choque hiposmótico que gera o sinal inicial para os
eventos que conduzem à ativação e que, na maioria dos peixes de água doce, tem
uma duração de 30 a 40 segundos. Com uma solução ativadora de qualquer
composição iônica, entre a faixa de 100 a 200 miliosmoles (mOsm/kg), já é possível
desencadear a ativação por abertura de canais iônicos ao provocar um estiramento
das células por hiperpolarizando a membrana.
O principal efeito do choque hiposmótico na cascada da iniciação da ativação
da motilidade do espermatozóide é induzir uma imediata hiperpolarização da
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Sandra Velásquez Medina Criopreservação de sêmen de pirapitinga
membrana, o qual leva a um desenvolvimento progressivo da ativação da
motilidade flagelar e também a um incremento do pH intracelular, alterado pelo
incremento ou diminuição da concentração iônica interna (Tabares et al., 2005).
Na carpa, os espermatozóides imóveis têm um potencial de membrana baixo,
devido ao fato de que a carga é maior no plasma seminal (82.4 mM de K+) que em
nível intracelular (60.5 mM de K+). Na iniciação da motilidade induzida por
osmolaridade, diminui a pressão osmótica extracelular e a concentração de K+,
resultando em uma hiperpolarização transitória da membrana (Krasznai et al., 1995).
O balanço iônico também tem papel na aquisição da capacidade para a
ativação da motilidade e está relacionado com as mudanças nas concentrações
extracelulares de K+, Na+, HCO3 e íons hidrogênio. A tensão de membrana modifica
a conformação de algumas proteínas membranais, permitindo o intercâmbio de íons
com o meio extracelular, o Ca2+ ingressa no espermatozóide, e participa na
regulação do início da ativação; desencadeando a transdução de sinais e atuando
como enzima efetora através da adenilato ciclase, a qual regula o metabolismo do
AMPc. Os íons K+ inibem a ativação dos espermatozóides a baixas concentrações.
Devido a isso, se há reportado que a inibição da ação do K+ é regulada
principalmente pelos íons Ca2+, possivelmente devido ao fluxo simultâneo de Ca2+ e
K+. A saída de K+ favorece a abertura de canais de Ca2+ e o ingresso do mesmo até
o interior. O Ca2+ que ingressa, favorece a liberação de Ca2+ intracelular
armazenado e modifica o pHi (pH intracelular) produzindo-se o primeiro sinal Ca2+
dependente e AMPc independente para o início da motilidade. No caso da truta, os
íons Na+ e Mg2+ também participam no processo de ativação, reduzindo a ação
inibitória dos íons K+ (Cosson et al., 1999).
O pH extracelular é outro dos fatores que controla os parâmetros da motilidade,
e seus valores ótimos são necessários mas não suficientes para as condições de
ativação espermática, alterações do pH interno (um possível segundo mensageiro
celular) interferem com a motilidade em diferentes espécies. Portanto, a modificação
do pH intracelular por ação do Ca2+ e outros componentes parecem ser necessárias
no processo de ativação. A motilidade flagelar depende do pH intracelular numa
faixa de 6.5 - 8.5, acima ou abaixo desses valores, se reduz significativamente
(Tabares et al., 2005).
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Figura 3. Dinâmica dos mecanismos de inibição e ativação espermática em peixes
de água doce (Adaptado de Tabares et al., 2005).
2.2.2. Morfoanomalias:
A avaliação morfológica dos espermatozóides é importante, já que poderá
definir o estado das células e a taxa de fecundidade. Suas características foram
classificadas em dois grupos:
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a) Anormalidades secundárias ou menores: espermatozóides que podem
apresentar cabeça isolada, flagelo dobrado ou gotas citoplasmáticas no flagelo
próximas à cabeça. Estas morfoanomalias não afetam significativamente a
fertilidade.
b) Anormalidades primárias ou maiores: são todas as anormalidades de cabeça
(macrocefalia, microcefalia, degenerada), gotas livres ou distais no flagelo, flagelos
curvados, dobrados ou quebrados. Estas morfoanomalias podem afetar
significativamente a fertilidade (Sierra, 2005).
Cada uma destas alterações se define da seguinte forma:
Anormalidades maiores:
a) Macrocefalia: se observa naqueles espermatozóides que apresentam cabeça
gigante, com contorno e forma anormais, sem aparente degeneração cromatínica ou
vacuolar.
b) Microcefalia: espermatozóides com cabeça de tamanho reduzido, com
contorno e forma anormais, sem degeneração cromatínica ou vacuolar aparentes.
c) Cabeça degenerada: espermatozóides com cabeça de tamanho e forma
normais, mas que apresentam contorno irregular e ou degenerações cromatínica ou
vacuolar aparentes.
d) Peça intermediária degenerada (PID): alterações na espessura (terço médio
da peça intermediária), densidade, difração e comprimento da peça intermediária,
envolvendo seu contorno e sua inserção à cabeça (colo).
e) Cauda fraturada: células espermáticas com fratura e retenção da cauda.
f) Cauda fortemente enrolada: consisti da dobradura e enovelamento da cauda
sobre si mesma ou sobre a cabeça.
g) Cauda degenerada: espermatozóides que apresentam descontinuidade da
cauda a partir da peça intermediária.
Anormalidades menores:
a) Cabeça isolada normal: cabeças observadas sem cauda, porém sem
qualquer alteração de cabeça.
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b) Cauda dobrada: dobradura da cauda, em diversos graus, sem envolver a si
mesma ou a cabeça.
c) Gotas citoplasmáticas: gotas posicionadas ao longo do flagelo.
Quando os espermatozóides apresentam morfoanomalias maiores e menores
simultaneamente, são consideradas as alterações maiores e, quando dois tipos de
anormalidade da mesma categoria ocorreram simultaneamente, aquela de maior
implicação sobre a fertilização é considerada.
2.3. Processo de congelamento
A técnica de congelamento celular basicamente resulta na transferência de
temperatura e no transporte de água. Pode ser dividida em três etapas: (1) As
células são submetidas a uma solução crioprotetora (metanol, etileno-glicol, glicerol,
etc.), a qual penetra na célula e substitui a maior quantidade de água intracelular; (2)
Posteriormente, a célula deve regular a osmolaridade, ficando isotônica com o meio
extracelular, o que pode causar efeitos tóxicos e impactos osmóticos nas mesmas;
(3) Na última etapa, se faz diminuir a temperatura passando pelo ponto de
congelamento da água e da solução crioprotetora onde, segundo a curva de
congelamento empregada, se realizará de maneira diferente a formação de cristais,
os quais podem chegar a danificar a célula (Lezcano, 2001).
Se a taxa de resfriamento é baixa, há suficiente tempo para que as células
percam a água necessária para permanecer em equilíbrio osmótico com a solução
extracelular concentrada; embora uma exposição prolongada à solução concentrada
seja geralmente letal. Por outra parte, se a taxa de resfriamento é alta, não há tempo
suficiente para que a água se difunda fora das células formando cristal de gelo. As
células se equilibrarão por congelamento intracelular iniciado por nucleação
homogênea ou heterogênea, sendo o congelamento intracelular fatal.
Uma situação balanceada que permita a sobrevivência pode dar-se quando a
taxa de resfriamento seja o suficientemente alta para minimizar o tempo de
exposição à solução concentrada e, ao mesmo tempo, suficientemente baixa para
minimizar a quantidade de gelo intracelular por abaixo do nível crítico ao criodano
(Sierra, 2005).
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Existem vários utensílios e equipamentos para congelar as amostras de sêmen,
sendo os mais utilizados as geladeiras de isopor, “dry shippers”, freezers reguláveis
e botijões criogênicos, dentro dos quais são introduzidas palhetas francesas
plásticas, cujo volume pode ser de 0,25 , 0,5 e 5 mL (Maisse et al., 1998).
A geladeira de isopor consiste em uma caixa de polietileno de 50x30x30 cm,
dentro da qual é adaptada uma rampa metálica separada do fundo 10 cm, onde a
temperatura desejada se consegue colocando o nitrogênio líquido a certa altura e as
amostras são congeladas só com o vapor do nitrogênio (Fig. 4 A).
O “dry shipper” é um contêiner para transportar com segurança amostras em
temperaturas criogênicas. Trata-se de um botijão em alumínio de 50 cm de altura x
30 cm de diâmetro, cujo interior está recoberto por um material de absorção e no
meio possui um cilindro onde se suspende uma caneca onde são colocadas as
amostras, as quais também são congeladas com os vapores do nitrogênio (Fig. 4 B)
(www.taylorwharton.com).
Vários destes equipamentos foram testados em várias ocasiões, Riley et al.
(2004) congelaram em câmaras frias a -140°C, com uma curva de -16°C/min,
começando de -60°C, já que ao colocar as amostras a temperatura aumentou.
Cruz et al. (2004), usaram o vapor de nitrogênio líquido dentro de uma
geladeira de isopor, colando uma rampa a 3 cm do fundo, estabilizando a
temperatura a -76°C durante 15 minutos e Degraaf et al. (2004), colocando as
amostras em palhetas de 0,5 mL congelou em um freezer programável a -10°C/min
até -150°C, finalmente como a maioria de estudos depois de um tempo determinado
as palhetas foram transferidas ao nitrogênio liquido a -196°C.
No Brasil, Maria (2005), congelou sêmen de piracanjuba (Brycon orbignyanus)
dentro de um “dry shipper” a -170°C, a uma taxa de congelamento de -35.6°C/min
durante 24 horas.
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Figura 4. Equipamentos para congelamento de sêmen: (A) geladeira de poliestireno com rampa metálica, (B) “dry shipper” (www.taylorwharton.com).
2.3.1. Agentes crioprotetores
Os crioprotetores são empregados no congelamento para diminuir os danos
celulares produzidos pelo processo de congelamento-descongelamento. Estas
substâncias devem possuir como propriedades uma baixa toxicidade para as células
e alta solubilidade em água (Miliorini, 2006). Podem ser classificadas como
intracelulares ou permeáveis e extracelulares ou impermeáveis. O crioprotetor
intracelular é uma substância química que retira a água da célula e diminui a
temperatura em seu interior, interferindo na formação de cristais de gelo. Entre os
crioprotetores intracelulares mais utilizados podem ser citados dimetilsulfóxido
(DMSO), glicerol, metanol e etilenoglicol usados geralmente a uma concentração de
10% (Maria, 2005). Recentemente foi descrita a excelente ação do metilglicol como
crioprotetor de sêmen de piracanjuba (Maria, 2005).
O DMSO tem mostrado bons resultados tanto para espécies de água doce
como a truta arco-íris (Oncorrhynchus mykiss) e a piracanjuba (Brycon siebenthale)
com taxas de motilidade de 60 a 80 % (Medina et al., 2005), como para espécies
marinhas como o linguado e o pargo (Dreanno et al., 1997; Riley et al., 2004).
Carolsfeld et al. (2003), trabalhando com criopreservação de sêmen de peixes
migratórios brasileiros, utilizaram o crioprotetor DMSO com sucesso no
congelamento do sêmen das seguintes espécies: curimbatá (Prochilodus lineatus),
pacu (Piaractus mesopotamicus), piapara (Leporinus elongatos), piracanjuba
(Brycon orbignyanus) e dourado (Salminus maxillosus).
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No caso do glicerol este funciona para algumas espécies nas quais seu fluido
seminal é naturalmente rico em glicerol como no peixe Coregonus muksun. E o
metanol, que é altamente inflamável, em peixes tropicais como as tilápias
(Oreochromis sp.) e o Zebrafish (Brachydanio rerio) apresentando altas taxas de
motilidade (Maisse et al., 1998).
Os crioprotetores extracelulares funcionam de forma diferente; ao invés de
entrarem na célula, eles recobrem a superfície celular e estabilizam a membrana,
ajudando, portanto, a minimizar e reparar os possíveis danos celulares causados
pelo processo de congelamento. Incluem açúcares (sacarose, glicose) sendo estes
também considerados como diluentes, polímeros (dextrano, PVP) e proteínas (gema
de ovo e leite em pó) (Sierra, 2005), a combinação de um crioprotetor intra e
extracelular é muito empregada para os processos de criopreservação. Navarro et
al. (2004) criopreservaram sêmen de cachama blanca (Piaractus brachypomus) em
criosoluções contendo glicose, gema de ovo e leite em pó.
2.3.2. Meios diluentes
O sêmen puro é praticamente impossível de ser congelado, necessitando tanto
da adição de crioprotetores como de meios diluentes. Sendo estes últimos soluções
de sais ou de carboidratos, que adicionados ao sêmen, mantém a viabilidade das
células espermáticas durante a redução da temperatura. As condições mínimas
requeridas para um diluente adequado são: isotonicidade, para que não haja
ativação prévia da motilidade espermática; estabilidade, pois suas características
físico-químicas não devem ser alteradas durante o contato com o sêmen;
condutividade térmica elevada, permitindo a rápida transferência de temperatura do
meio externo para os espermatozóides; esterilidade, ou seja, não devem vincular
microrganismos potencialmente nocivos às células espermáticas; e, finalmente,
servir de carreador de crioprotetores. É importante que a motilidade dos
espermatozóides não seja ativada antes do congelamento e nem durante o
descongelamento, pois a mesma pode exaurir a reserva energética necessária à
fertilização (Legendre e Billard, 1980).
Na maioria dos trabalhos, a combinação desses dois agentes (crioprotetores e
diluentes) é diferente sendo muito difícil saber qual é o fator ideal para cada espécie,
já que eles atuam de forma distinta (Maisse et al., 1998).
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Sandra Velásquez Medina Criopreservação de sêmen de pirapitinga
2.4. Avaliação da cinética espermática através do sistema de análise
seminal auxiliada por computador (CASA)
O sistema de análise seminal auxiliado por computador é formado por um
microscópio ótico binocular com contraste de fase acoplado a uma câmera de vídeo
e placa aquecedora, conectados a um computador que utiliza o software SCA. Este
programa provê os meios para uma classificação objetiva e rápida, de uma
determinada população de espermatozóides. Usando imagens digitais da trajetória
de cada célula espermática, o CASA pode analisar, processando algoritmos, as
propriedades de movimento dos espermatozóides (Verstegen et al., 2002).
O sistema é simples, envolve uma câmara filmadora que grava o movimento
através do videomicroscópio e depois recomeça a seqüência quadro a quadro
enquanto marca a posição de cada espermatozóide em um tempo determinado para
assim poder calcular as velocidades e a motilidade. Este programa é muito utilizado
para avaliação de sêmen humano em clínicas de fertilidade, também sendo muito
utilizado para mamíferos, mas que para peixes teve que ser adaptado pelo tempo de
movimento, que é de menos de 2 minutos, comparado às varias horas do sêmen de
mamíferos (Kime et al., 2001).
Os parâmetros do CASA que são geralmente informados incluem:
MOT (%): percentual de espermatozóides móveis ou progressivos, determinando os
que têm movimento rápido, movimento médio e os localmente móveis ou lentos.
VCL (µm/seg): velocidade curvilinear, que é a velocidade do movimento ao longo da
trajetória (Fig. 5).
VSL (µm/seg): velocidade em linha reta, velocidade do movimento a partir do ponto
inicial até o ponto final ao longo de uma linha reta teórica unindo os dois pontos.
VAP (µm/seg): é a velocidade média do caminho.
LIN (%): linearidade, que é a proporção entre a VSL e a VCL (VSL/VCL) e indica que
o maior valor da reta é o caminho mais linear dos espermatozóides.
STR (%) (straightness): índice de espermatozóides na reta.
ALH (µm/seg): deslocamento lateral da cabeça.
BCF (Hz): freqüência de batimentos cruzados.
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Figura 5. Representação esquemática das diferentes velocidades medidas pelo sistema de análise seminal (CASA). VCL= velocidade curvilinear; VSL= velocidade em linha reta; VAP = velocidade média.
Alguns estudos foram realizados em peixes utilizando o sistema CASA para
registrar o movimento dos espermatozóides depois do processo de criopreservação,
um destes é o de Liu et al. (2007), onde avaliaram a motilidade e a velocidade do
sêmen fresco e descongelado do Pagrus major 10 segundos pós-ativação. Os
autores encontraram 87% de motilidade no sêmen fresco e 82% no sêmen
congelado com DMSO a 10%, não existindo diferença significativa entre a
velocidade do sêmen descongelado e o sêmen fresco.
Dreando et al. (1997), analisaram no CASA a motilidade do sêmen pré e pós-
descongelamento do peixe plano Scophthalmus maximus, onde os melhores
resultados (60 e 80% de motilidade) foram obtidos quando se diluiu Mounib
modificado (KHCO3, sacarose e glutationa) em BSA ou DMSO a 10%, enquanto a
velocidade permaneceu estável entre o sêmen puro e o descongelado.
Outros estudos se apóiam no programa para observar características do sêmen
“in natura” ou para testar outros fatores que influenciam a velocidade e o movimento
do sêmen. Dietrich et al. (2005), investigaram os efeitos seqüenciais do sêmen
coletado post mortem e depois da anestesia da truta arco íris (Oncorhynchus
mykiss), percebendo uma diminuição nos parâmetros de motilidade, velocidade e
trajetória. Wilson e Ingerman (2007) obtiveram no peixe zebra (Danio rerio)
motilidades de 83%, VCL de 104 µm/s, VAP de 77 µm/s, VSL de 77 µm/s e LIN de
84 µm/s ativado com água da torneira.
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Sandra Velásquez Medina Criopreservação de sêmen de pirapitinga
3. JUSTIFICATIVA
Cada processo de congelamento é espécie-específico, por isso é preciso ter
informações sobre as particularidades do sêmen da espécie objetivo e de diversas
espécies de peixes (volume coletado, motilidade, concentração de espermatozóides,
pH e osmolaridade), o que permite padronizar as técnicas, definir os componentes
crioprotetores e os meios diluentes a testar, bem como os procedimentos adequados
para o congelamento e posterior descongelamento dos espermatozóides (Carneiro,
2007). Também é importante conhecer as morfoanomalias do sêmen antes e depois
de ser congelado, já que estas representam o estado dos gametas no momento do
congelamento e os criodanos causados por este processo.
Ainda existem muitas questões básicas a serem respondidas no tocante às
técnicas de conservação de sêmen de muitas espécies tropicais de interesse
econômico e ambiental. Alguns dos objetivos essenciais da criopreservação são
alcançar taxas de fertilização próximas às obtidas com sêmen fresco, avaliar
criodiluentes que diminuam os efeitos tóxicos, estresse osmótico e criodanos sobre
a célula espermática (alterações na membrana do espermatozóide e em seu DNA) e
conseguir curvas de congelamento e descongelamento benéficas para os
espermatozóides (Deandro et al., 1997; Suquet et al., 2000; Medina et al., 2005).
Portanto, é importante a continua e progressiva pesquisa com crioprotetores, já que
eles são adicionados ao meio para proteger os gametas durante o processo de
criopreservação e descongelamento, sendo fundamentais para evitar a formação de
cristais de gelo intracelular que causariam o rompimento da célula (Medeiros et al.,
2002). Entretanto, altas concentrações de crioprotetores são deletérias aos
espermatozóides devido a sua toxicidade, o qual pode resultar na redução da
motilidade. Igualmente os meios diluentes devem ser adicionados aos crioprotetores,
já que os mesmos prolongam a vida dos espermatozóides in vitro, reduzindo a
atividade metabólica, seja por inibidores químicos ou por redução de temperatura
(Cloud, 2000).
A geração de um protocolo de criopreservação do sêmen da espécie Piaractus
brachypomus (pirapitinga), contribuirá não só para suprir a demanda da espécie
como também trará vantagens ao aqüicultor e ao meio ambiente, devido a seguintes
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Sandra Velásquez Medina Criopreservação de sêmen de pirapitinga
itens: i) redução ou eliminação de reprodutores (machos) mantidos na Estação
experimental, com conseqüente redução de custos; ii) eliminação da assincronia da
atividade reprodutiva entre reprodutores, quando estes não estão preparados
simultaneamente para a reprodução; iii) utilização de um volume total de sêmen,
quando são indivíduos que produzem pouco em cativeiro; iv) disponibilidade de
sêmen fora da temporada de desova; e v) diminuição da pressão sobre as
populações silvestres (Godinho, 2000).
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Sandra Velásquez Medina Criopreservação de sêmen de pirapitinga
4. OBJETIVOS
4.1. Objetivo Geral
Desenvolver um protocolo adequado de criopreservação para o sêmen da
pirapitinga, Piaractus brachypomus, testando diferentes crioprotetores e
diluentes na qualidade “in vitro” dos espermatozóides.
4.2. Objetivos Específicos
Determinar as características seminais da pirapitinga como: volume, pH,
concentração espermática e osmolaridade;
Avaliar a toxicidade dos crioprotetores DMSO e metilglicol a 10%, através
do comportamento cinético espermático após 15 minutos resfriados a 4°C;
Avaliar a cinética espermática em sêmen fresco e diluído em Ringer, ACP-
104 e glicose pós-descongelamento;
Observar as principais alterações morfologicas do sêmen fresco e pós-
descongelamento.
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5. MATERIAL E MÉTODOS
5.1. Local do experimento e animais experimentais
O estudo foi conduzido entre os meses de dezembro de 2007 e março de 2008.
Foram utilizados 19 machos maduros de pirapitinga, os quais apresentaram a papila
urogenital hiperêmica e liberaram sêmen sobre delicada pressão no abdômen. Estes
peixes foram pesados e medidos usando uma balança analítica e fita métrica. Logo
colocados em viveiros de terra de 350 m2, alimentados com rações balanceadas
com 30% de proteína, fornecida diariamente a uma taxa de 3% do peso total dos
indivíduos. Os 19 animais foram marcados com chip, sendo colocado na base da
nadadeira dorsal para sua posterior identificação (Fig. 6).
Figura 6. Leitura da marcação eletrônica com chip das pirapitingas.
Os animais faziam parte do plantel do Centro de Pesquisas Ictiológicas
"Rodolpho von Ihering" do DNOCS, Pentecoste-Ceará, localizado entre os
03°45’00”S e 39°21’00”W, a 90 Km de Fortaleza.
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5.2. Hipofisação dos reprodutores
Os peixes foram divididos em dois grupos, um com 09 e outro com 10 animais.
A indução hormonal se realizou a cada 20 dias, trocando sempre o grupo para que
não fossem induzidos os mesmos peixes, ou seja, cada grupo foi induzido a cada 40
dias durante o período de amostragem. Para tanto, se estimou a média do peso de
cada grupo de reprodutores e procedeu-se a tratamento hormonal com extrato bruto
de hipófise de carpa (EBHC), em uma dosagem para indução à espermiação de 2
mg/kg de peso corporal médio, aplicada próxima à nadadeira dorsal. A coleta de
sêmen foi realizada 12 horas após a injeção.
5.3. Coleta de sêmen
Antes de ser coletado o sêmen, foi realizada uma breve pressão celômica
sobre os rins para eliminar a maior quantidade de urina possível. Seguidamente, a
papila urogenital foi seca com papel toalha para reduzir o risco de possível
contaminação com água, fezes ou resquícios de urina. Em seguida, foram realizadas
massagens manuais leves sobre a parede celômica na área onde se localizam os
testículos, no sentido ântero-posterior. O sêmen foi coletado em tubos Eppendorf de
2 mL e mantido em geladeira de isopor a 4°C (Fig. 7).
Figura 7. Coleta do sêmen de pirapitinga em Epperdorf.
21
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5.4. Teste de contaminação do sêmen
Imediatamente após a coleta, uma alíquota de 2 µL de sêmen fresco de cada
peixe foi colocada em uma lâmina histológica, coberta com lamínula e observada ao
microscópio ótico, sob aumento de 400x, onde foram avaliados três campos,
calculando o porcentual médio de espermatozóides móveis, conforme Strussman et
al. (1994) (Quadro 1). Tendo em vista que os espermatozóides no sêmen fresco,
sem contaminação são imóveis, se considerou adequado para os experimentos o
sêmen que exibiu taxas de motilidade espermática não superior a 5%. Amostras que
apresentaram motilidade foram descartadas dos testes de toxicidade e
criopreservação.
Quadro 1. Análise subjetiva da motilidade (adaptado de Strussman et al.,1994).
Porcentagem de
espermatozóides
móveis
Qualidade dos espermatozóides
0 - 20 Espermatozóides parados ou vibrando.
20 - 40 Espermatozóides vibrando e alguns com movimentos circulares no próprio
local.
40 - 60 Espermatozóides com movimentos circulares no próprio local e alguns com
movimento retilíneo de baixa freqüência.
60 - 80 A maior parte dos espermatozóides apresenta movimento retilíneo linear de
alta freqüência, uns poucos com velocidade retilínea de baixa freqüência e
uma pequena parte com movimento circular.
80 - 100 Espermatozóides móveis com movimento retilíneo de alta freqüência
(movimentos flechantes).
5.5. Avaliação da motilidade
A motilidade foi mensurada subjetivamente segundo o Quadro 1, para cada
peixe durante a coleta (visando formar os “pools” de sêmen) e objetivamente para
cada “pool” no programa SCA (SCA®2005, Microptics S.L., Espanha) usando o
sistema de analise CASA, no Laboratório de Tecnologia de Sêmen Caprino e Ovino
(LTSCO) da Universidade Estadual do Ceará (UECE). Os parâmetros para a análise
pelo sistema CASA se encontram descritos no Quadro 2.
22
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Foi colocado 1 µL de sêmen em uma lâmina e depois foram adicionados 50 µL
de solução ativadora (NaCl 50 mM; Maria et al., 2006) misturando com a ponteira da
micropipeta durante 2 segundos. Finalmente a amostra foi observada em
microscópio ótico a 400x, sendo analisados três campos. A duração da motilidade
espermática foi estimada desde a homogeneização até que somente restassem 10%
de espermatozóides móveis.
Quadro 2. Parâmetros estabelecidos para a análise pelo sistema CASA do sêmen
de pirapitinga (Piaractus brachypomus).
Espécie Peixe
Número de quadros consecutivos a analisar 25
Estáticos <10 µm/seg
Motilidade Lenta 10 µm/seg
Motilidade Média 20 µm/seg
Motilidade Rápida >40 µm/seg
5.6. Características seminais
Amostras de sêmen de cada peixe por coleta foram avaliadas para determinar
suas características: aspecto (denso, semi-denso, ralo); cor (branco leitoso, branco
amarelado, amarelo, transparente); volume (mL; graduação nos Eppendorfs);
osmolaridade (mOsm/Kg; osmômetro), pH (0-14; papel medidor de pH); e
concentração espermática (x109 sptz/mL; câmara Neubauer).
Para mensuração da concentração espermática, uma alíquota de 1 µL foi
diluída em 4 mL de solução formol-salina a 1%; desta amostra, foram colocados 20
µL na câmara de Neubauer, contando os 5 quadrados da diagonal em microscópio
óptico a 400x, realizando 3 leituras por amostra.
23
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5.7. Estudo da toxicidade do crioprotetor
Amostras de sêmen com motilidades maiores a 85% pós-ativação no teste da
motilidade foram selecionadas para os estudos de toxicidade, formando “pools” com
aproximadamente 2 mL de cada amostra e mantidas a 4°C.
Foram avaliados como crioprotetores:
Dimetil sulfóxido (DMSO) a 10%;
Metilglicol a 10%.
E como meios diluentes:
Glicose a 5%;
ACP-104 (meio diluente à base de água de coco em pó para peixes);
Solução Ringer (NaCl, KCl, NaHCO3 e CaCl2).
Nas diluições 1:3, 1:5 e 1:7 (sêmen:criodiluente), conforme Tabela 1.
Cada tratamento foi deixado em repouso por 15 minutos, à temperatura de 4°C
(Fig. 8) e depois analisado usando o método CASA, onde foram capturados e
registrados os dados de cinética espermática pós-ativação com solução de NaCl a
50 mM, segundo Quadro 2.
Figura 8. Teste de toxicidade, criodiluições resfriadas a 4°C.
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Os resultados foram comparados com a motilidade calculada objetivamente dos
“pools” de sêmen fresco no teste da motilidade. Os tratamentos 5 e 6 só foram
avaliados a uma diluição de 1:7 por ser um criodiluente comumente usado em
peixes da mesma família.
Tabela 1. Diluentes e crioprotetores utilizados no teste de toxicidade e na criopreservação de sêmen de pirapitinga (Piaractus brachypomus).
Tratamento Diluente + Crioprotetores Diluições1:31:5T1 Ringer + DMSO 10%1:71:31:5T2 ACP-104 + DMSO 10%1:71:31:5T3 Ringer + Metilglicol 10%1:71:31:5T4 ACP-104 + Metilglicol 10%1:7
T5 Glicose 5% + Metilglicol 10% 1:7T6 Glicose 5% + DMSO 10% 1:7
5.8. Congelamento e descongelamento seminal
Experimento 1: Congelamento em rampa em palheta de 0,25 mL
Utilizou-se 3 “pools” de sêmen das amostras com motilidades pós-ativação
acima de 85%, para os tratamentos mencionados na Tabela 1.
As diluições dos criodiluentes foram realizadas em tubos de ensaio pequenos,
os quais permaneceram resfriados a 4°C durante 30 minutos antes de colocar as
amostras de sêmen correspondentes.
Após diluição, segundo cada tratamento, o sêmen+criodiluente foi envasado
em palhetas francesas de 0,25 mL (três palhetas por tratamento) (Fig. 9), vedadas
com álcool polivinílico e limpas com papel absorvente para evitar aderência de uma
palheta à outra.
25
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Figura 9. Preenchimento de palhetas com as criodiluções.
Em seguida, foram dispostas em raques (suporte de alumínio) (Fig. 10)
marcadas e colocadas sobre rampa de congelamento a 5 cm do nitrogênio líquido
para obter a temperatura de -150ºC, recebendo somente os vapores. O controle da
temperatura foi realizado através de um termômetro digital com sonda. Após 5
minutos, as raques foram transferidas para canecas identificadas dentro de botijão
criogênico a -196ºC, onde permaneceram submersas de 12 a 15 dias.
Figura 10. Raques com globetes para o armazenamento das palhetas.
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Após esse período, cada palheta foi descongelada em banho-maria a 60°C
(Fig. 11), durante 8 segundos, retiradas com pinças, enxutas com papel toalha e
cortadas com tesoura uma das extremidades. O sêmen descongelado foi alocado
em Eppendorfs de 2 mL a temperatura ambiente de 26ºC. Uma alíquota de 1 µL de
sêmen descongelado homogeneizada com 50 µL de solução ativadora de NaCl foi
colocada em câmara de Makler, sendo avaliada usando o CASA. Foram realizadas
três leituras de campos diferentes para cada palheta (Fig. 12 e 13). Vale ressaltar
que todo o procedimento de leitura foi realizado em menos 1 minuto.
Figura 11. Descongelamento das palhetas em banho-maria.
Figura 12. Página principal do resultado da avaliação de motilidade com o sistema CASA.
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Figura 13. Representação dos movimentos dos espermatozóides de pirapitinga
avaliados com o método CASA.
Experimento 2: Congelamento em rampa em palheta de 0,5 mL
Este experimento foi realizado com 3 “pools” com a mesma metodologia
descrita no experimento 1, sendo que com palhetas francesa de 0,5 mL.
Experimento 3: Congelamento em “dry shipper” em palhetas de 0,5 mL
Neste caso foram realizadas 4 réplicas, ou seja, se formaram 4 “pools” de
sêmen. Utilizaram-se palhetas de 0,5 mL e o congelamento foi realizado em um
contêiner de vapor de nitrogênio (Taylor-Wharton, CX100 “dry shipper”) a -170ºC
(Fig. 14), permanecendo as raques durante 5 horas e logo transferidas ao nitrogênio
liquido. Os demais procedimentos foram realizados como no experimento 1.
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Figura 14. Congelamento em “dry shipper” a -170°C.
5.9. Análise morfológica do sêmen
Com o sêmen de cada um dos 19 animais foram realizados esfregaços corados
para calcular as morfoanomalias do sêmen fresco e pós-descongelação.
Uma alíquota de 1 μL de sêmen fresco ou descongelado foi diluída em 4 mL de
solução formol-salina. A seguir, uma fração de 100 μL da amostra foi adicionada
com 2 μL do corante azul de bromofenol (1g azul de bromofenol; 4g citrato de sódio;
100 mL água destilada; pH 8.0) em um Eppendorf. Uma gota desta solução foi
depositada em lâmina histológica, realizado um esfregaço e deixado secar a
temperatura ambiente. As leituras foram realizadas no programa SCA em
microscópio de contraste de fases e campo claro a 400x.
O exame consistiu da observação das morfoanomalias (Tab. 2) de 100
espermatozóides focalizados em diversos campos ao longo de toda a lâmina.
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Tabela 2. Morfoanomalias em espermatozóides de pirapitinga (Piaractus brachypomus).
Parte do espermatozóide Morfoanomalias
Macrocefalia
MicrocefaliaCabeça
Degenerada
Peça intermediária Degenerada
Proximal
Gota citoplasmática Distal
Dobrada
Cauda Enrolada (levemente e fortemente)
5.10. Análises estatísticas
Para as características seminais foi utilizada a média dos dados do mesmo
peixe nas diferentes coletas, devido ao fato de que cada um deles foi induzido várias
vezes. As amostras com sêmen contaminado que apresentaram alto movimento no
teste de contaminação não foram usadas para as análises estatísticas de motilidade.
Finalmente foi calculada a média e erro padrão para todos os peixes do
experimento.
No caso da análise dos testes de toxicidade e descongelamento, os dados das
taxas de motilidades espermática e velocidades de cada experimento foram testados
para distribuição normal. Os valores que não apresentaram essa distribuição foram
transformados em Log x+1 para sua normalização. Então, os dados foram
submetidos à análise de variância fatorial e as médias comparadas pelo teste de
Duncan, com um nível de significância de 0.05% utilizando-se o pacote
computacional Statistica 7, versão 2006.
Para a análise das morfoanomalias, se comparou as porcentagens de
alterações morfologicas encontradas do sêmen fresco e as morfoanomalias das
amostras pós-descongelamento, também entre os mesmos tratamentos. As
variáveis foram observadas quanto à homogeneidade da variância e à normalidade
dos resíduos, para depois serem transformadas e comparadas através do teste t.
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6. RESULTADOS
Os machos da espécie Piaractus brachypomus mantidos em cativeiro
apresentaram fácil liberação de sêmen quando massageados ventralmente, após o
processo de indução hormonal e, em poucas ocasiões, o sêmen coletado foi
contaminado com urina, fezes, sangue ou água, segundo o teste de contaminação.
6.1. Características do sêmen
As amostras de sêmen dos 19 exemplares de pirapitinga apresentaram
coloração branca leitosa e aspecto semidenso. A maior quantidade de volume
coletado nos indivíduos foi de 12,3 mL e a menor foi de 1,5 mL. O pH apresentou
valores de 8,0 mínimo e 8,6 maximo. A osmolaridade registrou valores entre 272 e
400 miliosmoles (mOsm/kg) e a concentração espermática entre 11 a 70 x 109
espermatozóides/mL. Os espermatozóides não ficaram mais do que 60 segundos
móveis. A média dos dados de cada peixe, a média geral e o erro padrão podem ser
observados na Tabela 3.
Tabela 3. Características seminais das pirapitingas, avaliadas durante o período de dezembro de 2007 a março de 2008
PEIXEN°
CHIPVOL(mL)
pHOSMOL
(mOsm/kg)CONC PESO (g) CT (cm) MOT-S (%)
1 2020 9,8 8,0 319,3 67,5 3616,7 59,3 91,72 3492 5,3 8,2 298,7 28,8 3380,0 57,7 86,73 8474 6,4 8,4 382,7 30,1 3126,7 56,0 90,04 3354 6,8 8,2 349,3 34,2 3400,0 59,0 93,35 6876 8,3 8,3 294,7 57,6 3540,0 59,0 80,06 3568 8,1 8,3 297,0 41,2 3453,3 58,0 92,57 9326 6,7 8,2 272,0 14,3 2466,7 53,3 85,08 4063 12,3 8,5 290,5 26,4 3110,0 58,5 80,09 0196 6,4 9,0 317,5 11,2 2900,0 56,5 90,010 6975 7,9 8,3 300,5 70,3 3570,0 60,5 87,511 8103 7,0 8,5 272,5 49,2 3160,0 62,5 87,512 0290 8,8 8,3 350,5 55,4 3690,0 59,5 85,013 7232 9,4 8,5 294,0 35,1 3340,0 58,0 70,014 2117 6,7 8,6 325,5 46,2 3550,0 59,5 85,015 0373 5,5 8,3 311,0 67,5 4290,0 60,5 82,516 5808 6,7 8,5 313,5 69,3 3510,0 58,5 80,017 5000 1,5 8,5 284,0 17,8 4100,0 63,0 95,018 4389 8,3 8,5 350,5 55,0 3410,0 60,0 92,519 2671 4,1 8,5 400,5 54,2 3320,0 58,5 90,0
Média ± EP 7,1±1,6 8,4 ±0,2 317 ± 27 43,7 ± 16,3 3417 ± 270 59±1,5 86,5±4,7VOL = volume; OSMOL = osmolaridade; CONC = concentração espermática (x109/mL); CT = comprimento total; MOT-S = motilidade subjetiva.
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As características dos “pools” formados com o sêmen dos 19 peixes são
apresentados na Tabela 4. As motilidades subjetiva e objetiva não foram
significativamente diferentes (P>0.05), embora seja mais precisa a objetiva por ser
medida com maior acurácia.
Tabela 4. Características dos “pools” de sêmen de pirapitinga
“POOL” VOL (mL) pHOSMOL
(mOsm/kg)CONC MOT-S (%) MOT-O (%)
1 5,7 8,5 276 19,4 90 942 6,7 8,5 288 25,0 90 973 6,0 8,5 309 10,0 90 934 6,5 8,5 307 13,6 85 915 12,5 8,5 328 53,4 85 966 13,0 8,5 320 58,2 85 937 6,0 8,5 317 52,8 90 998 5,0 8,5 429 57,7 85 929 5,3 8,5 411 39,0 85 9410 9,0 8,5 253 47,0 85 93
P>0.05; VOL = volume; OSMOL = osmolaridade; CONC = concentração espermática (x109/mL); MOT-S = motilidade subjetiva; MOT-O = motilidade objetiva.
6.2. Estudo da toxicidade dos crioprotetores
6.2.1. Motilidade
Os valores médios das motilidades e velocidades das amostras de sêmen
submetidas aos testes de toxicidade durante 15 minutos são apresentados na
Tabela 5. As análises estatísticas não mostraram diferença significativa entre a
maioria dos tratamentos, nem entre as diluições de cada um destes, no caso dos
valores de motilidade total ou progressiva, deslocamento médio e lento (P>0.05).
Entretanto, os espermatozóides do T5 (Glicose 5% + Metilglicol 10%) foram menos
progressivos que os avaliados no T3 (Ringer + Metilglicol 10%) (P=0.03) (Fig. 15).
Observou-se nas amostras que as porcentagens de espermatozóides mais rápidos
encontravam-se nas duas primeiras diluições do T1 (Ringer + DMSO 10%) e T3
(Ringer + Metilglicol 10%), estando muito próximas aos valores do grupo controle
(P>0.05) (Fig. 17), embora entre todos eles não exista uma variabilidade
representativa.
32
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No T3 (Ringer + Metilglicol 10%), na diluição 1:3, após o tempo de espera, se
registrou a maior motilidade do estudo (80%), com uma das maiores porcentagens
de espermatozóides rápidos do experimento, sendo este resultado semelhante aos
valores do grupo controle (P=0.06) (Fig. 17).
Por outro lado, ao comparar as criosoluções e suas respectivas diluições contra
o grupo controle (“pools” a fresco) se verificou uma diminuição na motilidade de
todas as criosoluções na diluição 1:7 (P<0.05), excetuando as do T3 (Ringer +
Metilglicol 10%) (P= 0.07) e T6 (Glicose 5% + DMSO 10%) (P>0.05) (Fig. 17).
6.2.2. Velocidades
Foi observada uma interação significativa da velocidade curvilinear (VCL) de T2
(ACP-104 + DMSO 10%) e T6 (Glicose 5% + DMSO 10%) com T3 (Ringer +
Metilglicol 10%) (P= 0.03), sendo este último quem apresenta os mais altos valores
de VCL do estudo, estando muito próximos aos valores do grupo controle, porém
não evidenciando diferenças estatísticas (P=0.12) (Fig. 16). O teste de Duncan
revelou que todas as diluições do T2 (ACP-104 + DMSO 10%) e T6 (Glicose 5% +
DMSO 10%) são diferentes ao controle, mas que só as diluições 1:5 e 1:7 do T3
(Ringer + Metilglicol 10%) diferem com a diluição 1:7 do T2 (ACP-104 + DMSO 10%)
(P=0.04) (Fig. 18).
A velocidade linear (VSL) permaneceu sem variações consideráveis em todos
os testes, apresentando uma rapidez similar ao sêmen fresco (P=0.37), embora
pareça ser um pouco mais alta no T4 (ACP-104 + Metilglicol 10%) na diluição 1:7
com 55,7 µm/s (Fig. 18).
No caso da velocidade média (VAP), o tratamento que teve maior influência na
sua redução foi o T2 (ACP-104 + DMSO 10%) na diluição 1:7 (42 µm/s) comparado
com o grupo controle (71 µm/s) (P=0.04) e com o T3 (Ringer + Metilglicol 10%)
(P=0.03). Não foram observadas diferenças significativas nas outras criodiluições
avaliadas no teste de toxicidade (P>0.05) (Fig. 18).
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Tabela 5. Valores médios das porcentagens de motilidade total (MT), espermatozóides rápidos, médios e lentos, e velocidades curvilinear(VCL), linear (VSL) e média (VAP) (µm/s) nos testes de toxicidade
Tratamento Diluição MT (%)Rápidos
(%)
Médios
(%)
Lentos
(%)
VCL
(µm/s)
VSL
(µm/s)
VAP
(µm/s)
T1 1:3 75,5 45,8 9,6 20,1 85,7 49,0 72,7
T1 1:5 77,3 43,5 11,8 22,1 80,7 42,2 68,4
T1 1:7 58,5 34,7 10,1 13,7 76,1 43,2 67,4
T2 1:3 61,5 31,8 13,4 16,3 59,3 41,6 53,9
T2 1:5 65,0 26,9 15,6 22,5 50,8 34,3 44,9
T2 1:7 53,3 22,9 13,8 16,7 47,6 32,6 41,9
T3 1:3 80,1* 50,3 13,9 16,1 94,9* 48,4 75,3
T3 1:5 78,9 51,1* 12,0 15,9 93,2 49,3 78,0*
T3 1:7 70,0 42,4 10,7 16,8 87,7 48,2 73,7
T4 1:3 79,7 35,4 22,0* 22,3 82,1 42,4 62,5
T4 1:5 63,6 25,5 13,7 24,3* 71,6 43,4 60,8
T4 1:7 56,0 29,7 9,1 17,2 83,5 55,7* 75,1
T5 1:7 51,5 32,8 7,2 11,5 82,2 50,7 74,0
T6 1:7 61,8 27,5 14,3 20,0 56,5 34,4 50,0
Controle - 94,2 71,1 14,6 8,8 113,7 43,3 71,2
*Maiores valores obtidos entre tratamentos. T1 = Ringer+DMSO 10%; T2 = ACP-104+DMSO 10%, T3= Ringer+Metilglicol 10% ; T4 = ACP-104+Metilglicol 10%; T5 = Glicose 5%+Metilglicol 10% ; T6 =Glicose 5%+DMSO 10%.
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Figura 15. Média ± erro padrão da motilidade de espermatozóides progressivos, rápidos, médios e lentos nas criodiluições avaliadas no teste da toxicidade. T1 = Ringer+DMSO 10%; T2 = ACP-104+DMSO 10%, T3 = Ringer+Metilglicol 10%; T4 = ACP-104+Metilglicol 10%; T5 = Glicose 5%+Metilglicol 10%; T6 = Glicose 5%+DMSO 10%. Letras diferentes são significativamente diferentes (P<0.05).
Figura 16. Média ± erro padrão das velocidades espermáticas, em µm/s, nas diferentes criodiluições avaliadas no teste da toxicidade. VCL = velocidade curvilinear; VSL = velocidade linear;VAP = velocidade média. T1 = Ringer+DMSO 10%; T2 = ACP-104+DMSO 10%, T3 = Ringer+Metilglicol 10%; T4 = ACP-104+Metilglicol 10%; T5 = Glicose 5%+Metilglicol 10%; T6 = Glicose 5%+DMSO 10%. Letras diferentes são significativamente diferentes (P<0.05).
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Figura 17. Médias e intervalo de confiança da motilidade de espermatozóides progressivos, rápidos, médios e lentos nas criodiluições avaliadas no teste de toxicidade. T1 = Ringer+DMSO 10%; T2 = ACP-104+DMSO 10%, T3 = Ringer+Metilglicol 10%; T4 = ACP-104+Metilglicol 10%; T5 = Glicose 5%+Metilglicol 10%; T6 = Glicose 5%+DMSO 10%.
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Figura 18. Médias e intervalo de confiança das velocidades espermáticas, em µm/s, nas diferentes criodiluições avaliadas no teste da toxicidade. VCL = velocidade curvilinear; VSL = velocidade linear; VAP = velocidade média. T1 = Ringer+DMSO 10%; T2 = ACP-104+DMSO 10%, T3 = Ringer+Metilglicol 10%; T4 = ACP-104+Metilglicol 10%; T5 = Glicose 5%+Metilglicol 10%; T6 = Glicose 5%+DMSO 10%.
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6.3. Congelamento e descongelamento seminal
Experimento 1: Congelamento em rampa em palheta de 0,25 mL
Durante os congelamentos em vapores de nitrogênio líquido utilizando a
geladeira de isopor, a temperatura variou constantemente. Na curva de
congelamento apresentada na Figura 19, pode-se observar que nos 2 primeiros
minutos a temperatura aumentou entre 30 e 90°C, estabilizando entre o minuto 3 e 4
e começando a diminuir no quarto, levando aproximadamente 5 a 10 minutos para
retornar a temperatura inicial de -150°C, embora as amostras tenham sido retiradas
aos 5 minutos, para conservar um padrão.
-150-140
-130-120
-110-100
-90-80
-70-60
0 1 2 3 4 5
Tempo (min)
Te
mp
era
tura
(°C
)
Pool 1
Pool 2
Pool 3
Pool 4
Pool 5
Pool 6
Figura 19. Curva de congelamento dos experimentos 1 e 2 utilizando o equipamento de geladeira de isopor com rampa durante 5 minutos.
De maneira geral, todos os tratamentos congelados em palhetas de 0,25 mL
utilizando a técnica de congelamento sobre rampa na geladeira, apresentaram
valores de motilidade total baixos (aproximadamente de 12%) quando comparados
com o grupo controle (94%), apresentando diferença estatística altamente
significante (P<0.01).
Com 40% de motilidade, a criosolução T5 (Glicose 5% + Metilglicol 10%) foi a
única criosolução que se sobressaiu das outras (P<0.05). Foi ainda observado que
26% dos espermatozóides eram rápidos pós-descongelamento. Mesmo assim, estes
valores continuam sendo baixos quando comparados com o sêmen fresco (P<0.05).
38
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A criosolução T6 (Glicose 5% + DMSO 10%) apresentou valores de motilidade
espermática muito semelhante à criosolução anterior (P= 0.1) com maior número de
espermatozóides médios e lentos (Fig. 20).
Progressivos Rápidos Médios LentosT1 T2 T3 T4 T5 T6 Controle
Tratamentos
0
20
40
60
80
100
Mo
tilid
ad
e (
%)
Figura 20. Média e erro padrão da motilidade de espermatozóides progressivos, rápidos, médios e lentos pós-descongelamento utilizando palheta de 0,25 mL e rampa de congelamento. T1 = Ringer+DMSO 10%; T2 = ACP-104+DMSO 10%, T3 = Ringer+Metilglicol 10%; T4 = ACP-104+Metilglicol 10%; T5 = Glicose 5%+Metilglicol 10%; T6 = Glicose 5%+DMSO 10%.
Com relação à progressividade entre diluições, todas apresentaram diferença
dentro do mesmo tratamento (criosolução), exceto o T2 (ACP-104 + DMSO 10%)
cujas diluições não variam (P>0.05). Sendo as melhores diluições em relação a cada
criosolução as de 1:5 no T1 e T3, e 1:3 no T4 (Tab. 6), contendo estas também o
maior número de espermatozóides rápidos com relação às outras (P<0.05).
39
Sandra Velásquez Medina Criopreservação de sêmen de pirapitinga
A velocidade curvilinear (VCL) entre as diferentes diluições variou de 30 a 85
µm/s, sendo de 60 µm/s no T3 (Ringer + Metilglicol 10%) na diluição de 1:3, e de 85
µm/s no T5 (Glicose 5% + Metilglicol 10%) na diluição de 1:7, sendo as únicas
criodiluições cujas velocidades se aproximaram às velocidades do sêmen no meio
natural, mas mesmo assim diferentes tanto para o controle como para as outras
diluições (P<0.05) (Tab. 6). Ao contrário, estes tratamentos apresentaram VSL e
VAP semelhantes as do grupo controle (P>0.05) (Fig. 21).
Tabela 6. Média e erro padrão da motilidade, em porcentagem, de espermatozóides progressivos, rápidos, médios e lentos, e velocidades curvilinear (VCL), linear (VSL) e média (VAP), em µm/s, no teste de congelamento na geladeira de isopor, em palheta de 0,25 mL
Tratamento Diluição Progressivos Rápidos Médios Lentos VCL VSL VAP
T1 1:3 7±2ec 0,6±0,3d 1±0,5cd 5±1cd 33±3e 16±2c 24±3c
T1 1:5 15±4d 2±1cd 4±1cd 9±2a 34±1e 19±2c 26±2c
T1 1:7 5±2ec 0,7±0,3d 1±0,3cd 4±1c 32±4e 17±3c 23±4c
T2 1:3 10±2cd 1±0,2d 2±0,7cd 7±1ad 30±3e 20±3c 25±4c
T2 1:5 6±1ec 1±0,4d 1±0,3cd 3±0,7c 33±5e 23±6cb 27±6cb
T2 1:7 8±2ec 1±0,2d 2±0,4cd 5±1cd 33±4e 23±4cb 27±4cb
T3 1:3 6±2ec 2±1cd 1±0,3cd 3±0,7c 39±9ce 24±9cb 29±9cb
T3 1:5 14±3d 7±2c 2±0,5cd 5±1cd 60±8d 38±7a 52±9a
T3 1:7 3±0,5e 0,2±0,1d 1±0,2cd 2±0,3c 31±3e 13±3c 19±3c
T4 1:3 10±2cd 2±0,5cd 1±0,3cd 7±1ad 39±5ce 23±4cb 30±5cb
T4 1:5 3±1e 0,3±0,1d 0,4±0,2d 2±0,6c 30±3e 11±3c 17±3c
T4 1:7 6±2ec 2±1cd 1±0,5cd 3±0,7c 52±9cd 36±9b 43±9b
T5 1:7 40±4b* 26±4b* 5±0,4c 9±0,5a 85±5b* 56±4a* 78±5a*
T6 1:7 35±0,4b 7±0c 11±0,4b* 17±1b* 27±0,3e 17±0,2c 22±0,1c
Controle - 94±1a 71±5a 15±3a 9±2a 114±7a 43±4a 71±6a
*Maiores valores obtidos entre tratamentos. Letras diferentes entre linhas mostram médias significativamente diferentes (P<0.05). T1 = Ringer+DMSO 10%; T2 = ACP-104+DMSO 10%, T3 = Ringer+Metilglicol 10%; T4 = ACP-104+Metilglicol 10%; T5 = Glicose 5%+Metilglicol 10%; T6 = Glicose 5%+DMSO 10%.
40
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VCLVSLVAP
T1 T2 T3 T4 T5 T6 Controle
Tratamentos
0
20
40
60
80
100
120
140V
elo
cid
ad
e (
µm
/s)
Figura 21. Média e erro padrão das velocidades espermáticas, em µm/s, pós-descongelamento, em palheta de 0,25 mL e rampa de congelamento. T1 = Ringer+DMSO 10%; T2 = ACP-104+DMSO 10%, T3 = Ringer+Metilglicol 10% ; T4 = ACP-104+Metilglicol 10%; T5 = Glicose 5%+Metilglicol 10% ; T6 = Glicose 5%+DMSO 10%.
Experimento 2: Congelamento em rampa em palheta de 0,5 mL
As amostras de sêmen do T6 (Glicose 5% + DMSO 10%) apresentaram as
taxas mais altas de motilidade de espermatozóides progressivos, médios e lentos
pós-descongelamento dentre os outros tratamentos, mas não chegando a igualar ou
se aproximar da motilidade dos espermatozóides progressivos à fresco (P<0.05)
(Fig. 22). Entretanto, esta criosolução (T6) não apresenta diferença significativa com
as diluições 1:5 de T1 e de T2, e de 1:3 de T4 (Tab. 7).
A porcentagem mais alta de espermatozóides rápidos (13%) foi registrada no
T4 (ACP-104 + Metilglicol 10%), sendo observada uma redução geral da motilidade
em todos os casos, cujos movimentos menos progressivos se notaram na diluição
1:7 do T1 e T3 (2,4%) (P=0.02).
41
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Progressivos Rápidos Médios Lentos
T1 T2 T3 T4 T5 T6 Controle
Tratamentos
0
20
40
60
80
100
Mot
ilida
de (
%)
Figura 22. Média e erro padrão da motilidade de espermatozóides progressivos, rápidos, médios e lentos pós-descongelamento utilizando palheta de 0,50 mL e rampa de congelamento. T1 = Ringer+DMSO 10%; T2 = ACP-104+DMSO 10%, T3 = Ringer+Metilglicol 10%; T4 = ACP-104+Metilglicol 10%; T5 = Glicose 5%+Metilglicol 10%; T6 = Glicose 5%+DMSO 10%.
42
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Tabela 7. Média e erro padrão da motilidade, em porcentagem, de espermatozóides progressivos, rápidos, médios e lentos, e velocidades curvilinear (VCL), linear (VSL) e média (VAP), em µm/s, no teste de congelamento na geladeira de isopor, em palheta de 0,50 mL
Tratamento Diluição Progressivos Rápidos Médios Lentos VCL VSL VAP
T1 1:3 24±2ce 3±1c 7±1bc 13±1a 25±1b 11±1bd 17±1b
T1 1:5 39±3b 5±1bc 12±1a 21±2b* 27±1b 14±1cd 21±1b
T1 1:7 17±4de 2±1c 4±1bc 9±2ac 29±3b 12±1bd 18±1b
T2 1:3 22±4ce 3±1c 6±1bc 12±1a 24±2b 14±1cd 19±2b
T2 1:5 33±7cb 4±1cb 10±2ac 18±3b 23±1b 13±1bd 17±1b
T2 1:7 24±5ce 4±1cb 6±1bc 13±2a 30±2b 20±2cd 25±2b
T3 1:3 23±4ce 7±2cb 4±1bc 12±1a 41±8b 24±6cd 34±8b
T3 1:5 19±4cde 8±3cb 4±1bc 7±1ac 43±8b* 23±4cd 35±7b*
T3 1:7 8±1d 2±1c 2±1b 4±1c 41±6b 19±4cd 30±6b
T4 1:3 33±8cb 12±5b* 6±1bc 14±2a 41±10b 25±7c 34±10b
T4 1:5 30±4cb 9±3cb 7±1bc 13±1a 38±7b 25±5c 32±7b
T4 1:7 16±3de 3±1c 4±1bc 8±2ac 40±7b 27±5c* 34±6b
T5 1:7 21±1c 3±1c 6±1bc 12±1a 26±1b 14±1cd 20±1b
T6 1:7 44±6b* 8±1cb 15±2a* 20±3b 29±1b 17±1cd 24±1b
Controle - 94±1a 71±5a 14±3a 9±1a 113±6a 43±3a 71±5a
*Maiores valores obtidos entre tratamentos. Letras diferentes entre linhas mostram médias significativamente diferentes (P<0.05). T1 = Ringer+DMSO 10%; T2 = ACP-104+DMSO 10%, T3 = Ringer+Metilglicol 10%; T4 = ACP-104+Metilglicol 10%; T5 = Glicose 5%+Metilglicol 10%; T6 = Glicose 5%+DMSO 10%.
Das criosoluções testadas, o único parâmetro que não se viu afetado em
comparação ao controle foi a motilidade média dos espermatozóides, onde o T1
(Ringer + DMSO 10%) e o T2 (ACP-104 + DMSO 10%) na diluição de 1:5 ou o T6
(Glicose 5% + DMSO 10%) na diluição de 1:7 apresentaram resultados similares
(P>0.05). Estas mesmas criosoluções proporcionaram altas porcentagens de
espermatozóides lentos, característica que no meio natural deveria ser baixa, como
nas amostras recém colhidas (Tab. 7).
Nesse experimento, a velocidade curvilinear (VCL) não ultrapassou os 43 µm/s
e a velocidade média (VAP) os 34 µm/s. O teste de Duncan não revelou alterações
entre as diferentes criosoluções e diluições testadas, mas entre as velocidades
espermáticas, que foram significativamente mais baixas que as observadas antes do
congelamento. Entretanto, constatou-se que o T4 (ACP-104 + Metilglicol 10%) e o
T3 (Ringer + Metilglicol 10%) apresentaram resultados melhores que os outros
tratamentos (Tab. 7; Fig. 23).
43
Sandra Velásquez Medina Criopreservação de sêmen de pirapitinga
A velocidade linear também foi alterada significativamente ao longo dos
tratamentos, mas neste caso, todas as diluições do T4 (ACP-104 + Metilglicol 10%)
apresentaram velocidades superiores que as do T1 (Ringer + DMSO 10%) (P<0.05).
VCL VSL VAPT1 T2 T3 T4 T5 T6 Controle
Tratamento
0
20
40
60
80
100
120
Vel
ocid
ades
(µ
m/s
)
Figura 23. Média e erro padrão das velocidades espermáticas, em µm/s, pós-descongelamento, em palheta de 0.50 mL e rampa de congelamento. T1 = Ringer+DMSO 10%; T2 = ACP-104+DMSO 10%, T3 = Ringer+Metilglicol 10%; T4 = ACP-104+Metilglicol 10%; T5 = Glicose 5%+Metilglicol 10%; T6 = Glicose 5%+DMSO 10%.
Experimento 3: Congelamento em “dry shipper” em palhetas de 0,5 mL
As palhetas acondicionadas no “dry shipper” em meio ao vapor de nitrogênio
líquido alcançaram temperaturas de -170 °C depois de 300 segundos, congelando-
se a uma taxa de -14°C/min entre -100 e -170 °C.
Nesse experimento foi possível observar que as porcentagens de motilidades
aumentaram em aproximadamente 20% comparadas com as motilidades dos outros
dois experimentos precedentes, embora as velocidades continuassem sendo muito
44
Sandra Velásquez Medina Criopreservação de sêmen de pirapitinga
baixas com relação às dos “pools” de sêmen à fresco. Neste caso, o melhor
tratamento continuou sendo o T6 (Glicose 5% + DMSO 10%) com 62% de
espermatozóides progressivos, dos quais os rápidos e médios apresentaram
resultados superiores com relação às outras criodiluições dos demais tratamentos.
Igualmente, as velocidades (VCL, VSL, VAP) apresentaram valores um pouco
melhores que as dos outros testes neste experimento (Fig. 24 e 25).
Entretanto, através das análises estatísticas, se confirmou que o T6 (Glicose
5% + DMSO 10%) apresentou resultados significativamente diferentes aos do grupo
controle e das demais criosoluções, exceto na diluição 1:7 de T1 (Ringer+ DMSO
10%) e 1:3 de T2 (ACP-104 + DMSO 10%) (P>0.05), sendo o T6 o que apresenta
maior porcentagens de espermatozóides rápidos (20%) e médios (22%) e os outros
dois tratamentos com movimentos médios e lentos maiores.
Em contrapartida, o T4 (ACP-104 + Metilglicol 10%; 1:7) e o T3 (Ringer +
Metilglicol 10%; 1:5 e 1:7) apresentaram resultados semelhantes de
espermatozóides lentos em relação ao sêmen fresco (9%) (P>0.05), mas com
valores de progressividade muito baixa.
Embora o T6 seja o que melhor respondeu às criodiluições e ao congelamento,
é possível observar que apresenta semelhanças nas velocidades com respeito aos
demais tratamentos; no caso da VCL, é comparável com o T1 (Ringer + DMSO 10%)
e T2 (ACP-104 + DMSO 10%), na VSL com T1 (Ringer + DMSO 10%) e as duas
últimas diluições de T2 (ACP-104 + DMSO 10%), e na VAP com as duas últimas
diluições de T1 (Ringer + DMSO 10%) e T2 (ACP-104 + DMSO 10%) (P>0.05) (Tab.
8).
45
Sandra Velásquez Medina Criopreservação de sêmen de pirapitinga
Tabela 8. Média e erro padrão da motilidade, em porcentagem, de espermatozóides progressivos, rápidos, médios e lentos, e velocidades curvilinear (VCL), linear (VSL) e média (VAP), em µm/s, no teste de congelamento no “dry shipper”, em palheta de 0,50 mL
Tratamento Diluição Progressivos Rápidos Médios Lentos VCL VSL VAP
T1 1:3 46±4a 10±2acd 16±2a 21±1a 29±2acd 14±1ad 21±1be
T1 1:5 45±3a 12±2acd 14±1a 18±1a 32±2ad 17±1d 25±2abe
T1 1:7 50±4ab 15±4ab 17±2ab 18±2a 34±3d 16±2ad 25±3abe
T2 1:3 57±5ab 12±2ad 20±2b 25±1a* 29±1acd 15±1a 22±1abce
T2 1:5 47±4a 10±1ad 14±2a 23±2a 32±2ad 19±1d 26±2ae
T2 1:7 41±3a 9±1cd 12±1ac 21±2a 30±1adc 18±1d 24±1abe
T3 1:3 26±3c 4±0.5c 7±1c 15±1b 26±1ac 13±1a 19±1bc
T3 1:5 22±2c 3±0.3c 7±0.6c 13±2bc 24±1c 12±1a 17±1c
T3 1:7 18±3c 4±2c 5±0.7c 9±1bc 29±3acd 13±2a 20±3ce
T4 1:3 36±4a 6±1c 12±2a 19±2a 25±1ac 14±1a 19±1ce
T4 1:5 36±3a 6±1c 11±1a 20±2a 28±1ac 17±1a 22±1ae
T4 1:7 16±1c 3±0.4c 4±0.3c 9±0.6bc 26±1a 17±1a 20±2ce
T5 1:7 41±7a 8±2cd 13±3a 20±2a 27±2a 14±1a 21±2e
T6 1:7 62±7b* 20±3b* 22±3b* 19±1a 35±2d* 19±1d* 28±2a*
Controle - 94.2±1e 71±5e 15±3b 9±2c 114±8b 43±4e 71±6d
*Maiores valores obtidos entre tratamentos. Letras diferentes entre linhas mostram médias significativamente diferentes (P<0.05). T1 = Ringer+DMSO 10%; T2 = ACP-104+DMSO 10%, T3 = Ringer+Metilglicol 10%; T4 = ACP-104+Metilglicol 10%; T5 = Glicose 5%+Metilglicol 10%; T6 = Glicose 5%+DMSO 10%.
46
Sandra Velásquez Medina Criopreservação de sêmen de pirapitinga
Progressivos Rápidos Médios LentosT1 T2 T3 T4 T5 T6 Controle
Tratamento
0
20
40
60
80
100
Mo
tilid
ad
e (
%)
Figura 24. Média e erro padrão da motilidade de espermatozóides progressivos, rápidos, médios e lentos pós-descongelamento utilizando palheta de 0,50 mL e “dry shipper”. T1 = Ringer+DMSO 10%; T2 = ACP-104+DMSO 10%, T3 = Ringer+Metilglicol 10% ; T4 = ACP-104+Metilglicol 10%; T5 = Glicose 5%+Metilglicol 10% ; T6 = Glicose 5%+DMSO 10%.
VCL VSL VAP
T1 T2 T3 T4 T5 T6 Controle
Tratamento
0
20
40
60
80
100
120
140
Ve
loci
da
de
(µ
m/s
)
Figura 25. Média e erro padrão das velocidades espermáticas (curvilinear, linear e média) pós-descongelamento utilizando palheta de 0.50 mL e “dry shipper”. T1 = Ringer+DMSO 10%; T2 = ACP-104+DMSO 10%, T3 = Ringer+Metilglicol 10% ; T4 = ACP-104+Metilglicol 10%; T5 = Glicose 5%+Metilglicol 10% ; T6 = Glicose 5%+DMSO 10%.
47
Sandra Velásquez Medina Criopreservação de sêmen de pirapitinga
Os resultados dos três experimentos juntos são apresentados na Figura 26,
onde é possível observar que o melhor tratamento foi o T6 (Glicose 5% + DMSO
10%), com motilidade progressiva média de 50%, e com espermatozóides rápidos,
médios e lentos apresentando porcentagens mais altas em relação aos demais
tratamentos (Fig. 26 A).
As velocidades (VCL, VSL e VAP), em geral, mostraram um aumento no T5
(Glicose 5% + Metilglicol 10%), entretanto, estas velocidades foram afetadas após o
processo de congelamento, chegando só a 45 µm/s, 20 µm/s e 30 µm/s para VCL,
VSL e VAP, respectivamente (Fig. 26 B).
As melhores motilidades e velocidades entre diluições variaram muito de
tratamento para tratamento, o T5 (Glicose 5% + Metilglicol 10%) e o T6 (Glicose 5%
+ Metilglicol 10%) por terem somente uma taxa de diluição (1:7) foram comparado
somente com os outros tratamentos em geral. Com relação à motilidade espermática
(progressivos, rápidos, médios e lentos), a diluição 1:5 foi a que apresentou
melhores resultados para T1 (Ringer + DMSO 10%); 1:3 para T2 (ACP-104 + DMSO
10%) e T4 (ACP-104 + DMSO 10%); e T3 com as duas primeiras diluições (1:3 e
1:5), as quais não apresentaram grande diferença entre elas (Fig. 26 C). As
velocidades entre diluições por tratamento não variaram consideravelmente para T1
(Ringer + DMSO 10%) e T2 (ACP-104 + DMSO 10%), ao passo que T3 (Ringer +
Metilglicol 10%) se destaca com 1:5, e T4 (ACP-104 + DMSO 10%) com 1:7 (Fig. 26
D).
Foi possível confirmar que a porcentagem de espermatozóides móveis, em
geral, foi maior com o uso de palhetas de 0,5 mL e ao congelar no “dry shipper” a -
150°C. Entretanto, a velocidade espermática, em geral, apresentou resultados um
pouco melhores em palhetas de 0,25 mL e congeladas sobre a rampa dentro da
geladeira de isopor (Fig. 26 E e 26 F).
48
Sandra Velásquez Medina Criopreservação de sêmen de pirapitinga
Progressivos Rapidos Medios LentosT1 T2 T3 T4 T5 T6
Tratamento
0
10
20
30
40
50
60
70M
otilid
ade
(%)
VCL VSL VAP
T1 T2 T3 T4 T5 T6
Tratamento
0
10
20
30
40
50
60
70
80
Ve
loci
da
de
(µ
m/s
)
Progressiv os Rapidos Medios Lentos
T1
1--3
1--5
1--7
0
10
20
30
40
50
60
Mot
ilida
de (
%)
T2
1--3
1--5
1--7
T3
1--3
1--5
1--7
T4
1--3
1--5
1--7
T5
1--3
1--5
1--7
T6
1--3
1--5
1--7
VCL VSL VAP
T1
1--3
1--5
1--7
0
10
20
30
40
50
60
Vel
ocid
ade
(µm
/s)
T21-
-3
1--5
1--7
T3
1--3
1--5
1--7
T4
1--3
1--5
1--7
T5
1--3
1--5
1--7
T6
1--3
1--5
1--7
Figura 26. Análise geral das criosoluções e criodiluições em palhetas de 0,25 e 0,5 mL e pelos métodos de congelamento em rampa dentro de geladeira de isopor e “dry shipper” (média ± ep).
A B
C
D
Sandra Velásquez Medina Criopreservação de sêmen de pirapitinga
49
Progressivos Rapidos Medios Lentos
1 2
Palheta
0
10
20
30
40
50
60M
otilid
ade
(%)
VCL VSL VAP
1 2
Palheta
0
10
20
30
40
50
60
70
Vel
ocid
ade
(µm
/s)
Progressivos Rapidos Medios Lentos
a b
Metodo de Congelamento
0
10
20
30
40
50
60
Mo
tilid
ad
e (
%)
VCL VSL VAPa b
Metodo de Congelamento
0
10
20
30
40
50
60
Vel
ocid
ade
(µm
/s)
Figura 26. Análise geral das criosoluções e criodiluições em palhetas de 0,25 e 0,5 mL e pelos métodos de congelamento em rampa dentro de geladeira de isopor e “dry shipper” (média ± ep).
EF
G H
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50
6.4. Análise morfológica do sêmen
Os esfregaços de sêmen fresco das pirapitingas mostraram uma porcentagem
média de alterações morfologicas totais de 31%, onde a principal morfoanomalia
observada foi de cauda (Fig. 27). Dos 100 espermatozóides analisados por peixe,
20% apresentaram o flagelo dobrado e 5,3% cauda enrolada, sendo este primeiro
valor uma alteração menor. As outras anomalias representam somente 5,5 % das
amostras.
O Quadro 3 ressalta as diferentes alterações morfológicas apresentadas pelos
espermatozóides em suas diferentes regiões (cabeça, peça intermediaria e flagelo).
No caso da cauda ou flagelo, podem ser observadas diversas formas para uma
mesma alteração.
Das diferentes alterações não foi possível determinar as morfoanomalias de
cabeça isolada e cauda degenerada, devido ao grande número de partículas
adjacentes presentes nas lâminas. Também não se encontrou, amostra alguma
problemas relacionados a microcefalia e, no caso de macrocefalia, foram poucas as
ocasiões onde foram observadas esta alteração.
O sêmen de pirapitinga diluído com as criosoluções pós-descongelamento
apresentou um aumento nas porcentagens das morfoanomalias (44%) (Fig. 28). As
alterações maiores, cauda enrolada e cauda quebrada (as quais não tinha aparecido
no sêmen à fresco) evidenciaram diferenças estatísticas com as amostras à fresco
(P<0.05), representando 23% e 1% do total, respectivamente (Fig. 28). Outra
anomalia secundária que aumentou em 3% foram os problemas na peça
intermediária, que se apresentou com encurvamento da cauda na altura da peça.
Não foi possível observar outra morfoanomalia na peça, devido a seu tamanho
reduzido e de difícil diferenciação.
A análise estatística não evidenciou diferenças significativas entre as
criosoluções e as diluições (P>0.05).
Sandra Velásquez Medina Criopreservação de sêmen de pirapitinga
51
Morfoanomalias
1%20%
69%1%1%
1% 3%
5%
Normal
Cabeça deformada
Peça inter. degenerada
Gota distal
Gota proximal
Cauda enrolada
Cauda dobrada
Macrocefalia
Figura 27. Porcentagem média das características morfológicas do sêmen de Piaractus brachypomus à fresco
Morfoanomalias apos descongelamento
56%
1%
4%4%
2%
23%
1%
8% 1% Normal
Cabeça deformada
Peça inter. degenerada
Gota distal
Gota proximal
Cauda enrolada
Cauda dobrada
Macrocefalia
Cauda quebrada
Figura 28. Porcentagem média das características morfológicas do sêmen de Piaractus brachypomus pós-descongelamento nos meios diluentes Ringer, ACP-104 e Glicose e nos crioprotetores DMSO e Metilglicol.
Sandra Velásquez Medina Criopreservação de sêmen de pirapitinga
52
Quadro 3. Alterações morfológicas do sêmen de Piaractus brachypomus, lâminas coradas com azul de bromofenol: (A) normal; (B) cabeça deformada; (C) peça intermediária degenerada; (D, F, G, H) cauda enrolada; (E) cauda dobrada na ponta; (I) cauda dobrada; (J) gota citoplasmática proximal;(K) gota citoplasmática distal; (L) cauda quebrada.
Sandra Velásquez Medina Criopreservação de sêmen de pirapitinga
53
7. DISCUSSÃO
7.1. Características do sêmen
As características seminais das pirapitingas induzidas com hipófises de carpa
neste estudo apresentaram valores similares aos relatados por Fresneda et al.
(2004) cujo sêmen tinha cor branca leitosa, pH de 8.8, motilidade de 91% e tempo
de ativação de 72 segundos. Embora a concentração espermática de 30 x 109
sptz/mL e o volumem do sêmen de 0.83 mL tenham apresentado valores inferiores
aos aqui obtidos (43,7 x 109 sptz/mL e 7 mL, em média, respectivamente). Já
Navarro et al. (2004) coletaram uma boa quantidade de sêmen (13,4 mL) de
indivíduos da mesma espécie na Colômbia, mas ainda assim com baixas
concentrações (17,7 x 10 9 sptz/mL).
Shimoda (1999) afirmou que o volume seminal pode ser muito variável entre e
intra-espécies, dado que diversos fatores devem influenciá-los, como por exemplo, o
estado nutricional, o peso, o grau de maturidade, a metodologia de coleta, dentre
outros. A grande quantidade de sêmen produzido por esta espécie depois da
indução hormonal torna desnecessário o sacrifício do animal para coleta seminal.
Tal característica facilita a aplicação de técnicas de criopreservação, permitindo a
utilização de diferentes meios diluentes para um mesmo ejaculado.
Em outras espécies brasileiras de água doce foram obtidas concentrações
espermáticas de 24,8 (x109sptz/mL) para Brycon insignis (Andrade-Talmelli et al.,
2001); 9,6 para Brycon cephalus (Ninhaus-Silveira et al., 2006); 64,6 para
Steindachneridion scripta (Luz et al., 2001); 5,31 para Brycon orbignyanus (Maria,
2005); 5,73 para Salminus maxillosus e 30.0 para Brycon nattereri (Oliveira, 2006) e
37,4 e 42,4 para Piaractus mesopotamicus (Shimoda, 1999; Bedore,1999,
respectivamente), sendo estes dos últimos valores os mais próximos aos obtidos no
presente estudo, cuja espécie pertence ao mesmo gênero.
Şahinöz et al. (2008) afirmaram que as altas concentrações espermáticas
podem estar relacionadas à época reprodutiva e à idade. No momento das
amostragens, as pirapitingas se encontravam na época reprodutiva que vai desde
novembro a fevereiro (Almeida, 1997), influenciando possivelmente à obtenção de
grandes concentrações espermáticas.
Sandra Velásquez Medina Criopreservação de sêmen de pirapitinga
54
A mensuração da osmolalidade ou pressão osmótica do meio diluente é de
suma importância pela sua marcada influência sobre a motilidade espermática,
sendo a ativação dos espermatozóides parcial ou totalmente dependente da iso ou
hipotonicidade da mesma em relação ao plasma seminal. A pressão osmótica média
no plasma seminal das pirapintingas foi de 317±27 mOsm/kg. No mundo, a
osmolaridade (mOsm/kg) do plasma seminal de alguns peixes de água doce foi
avaliada: Salmo salar (245±11; Aas et al., 1991); Oncorhynchus mykiss (297±15;
Morisawa, 1985), (322±21; Glogowski et al., 2002); Salvelinus fontinalis (300±11;
Marshall, 1986); Cyprinus carpio (302±5; Morisawa et al., 1983) e Perca flavescens
(317±13; Koenig et al., 1978), sendo muitos próximos aos relatados para o sêmen de
Piaractus brachypomus.
7.2. Estudo da toxicidade de crioprotetores
Efeitos tóxicos de crioprotetores no sêmen de peixes têm sido observados
especialmente quando utilizados em altas concentrações. Por esta razão, o teste de
toxicidade deste trabalho envolveu a concentração de 10%, sendo a mais
comumente utilizada na criopreservação (Maisse et al., 1998). A criosolução de
Ringer + Metilglicol 10% na diluição de 1:3 foi a que mais se aproximou ao grupo
controle (80% de motilidade total), embora os tratamentos que utilizaram o DMSO
tenham apresentado valores muito próximos, estes apresentaram maior número de
espermatozóides com movimentos médios e lentos. Godinho et al. (2003),
trabalhando com o sêmen de tilápia-nilótica, na diluição de 1:10, em meios com
DMSO ou etilenoglicol (10%), registraram 92 e 88% de motilidade no primeiro minuto
de ativação, respectivamente. Da mesma forma, Melo e Godinho (2000) utilizando
os mesmos meios diluentes, na mesma proporção, a temperatura ambiente,
obtiveram motilidades de 87 e 82%, respectivamente, em Brycon orthotaenia,
indicando que os crioprotetores utilizados no presente trabalho podiam ser bons
candidatos para experimentos de criopreservação. Apesar de não haver informações
disponíveis sobre o uso do metilglicol no resfriamento ou toxicidade de sêmen de
Piaractus sp, esta substância tem sido utilizada em experimentos de criopreservação
com outras espécies brasileiras (Maria et al., 2006). O efeito dos crioprotetores na
viabilidade dos espermatozóides deve ser avaliado quando se tem a intenção de
Sandra Velásquez Medina Criopreservação de sêmen de pirapitinga
55
utilizá-los em espécies onde não foram anteriormente testados (Melo e Godinho,
2006).
No caso dos meios diluentes, Murgas et al. (2007) e Milioniri (2006) utilizaram o
BTS a 5%, acrescido de metanol ou DMSO a 10%, na diluição de 1:4. O diluente
BTS possui alguns componentes semelhantes ao diluente Ringer, como o
bicarbonato de sódio e o cloreto de potássio, não havendo diferença significativa
entre seus tratamentos, apresentando motilidades médias de 86% ao ser ativado
com bicarbonato de sódio 60 mM, o que supera bem pouco a motilidade obtida
neste estudo, ativada com cloreto de sódio 50 mM. Ao contrário, Cruz (2001)
observou valores de motilidade de 62% para o sêmen de curimbatá (Prochilodus
lineatus) em diluente contendo DMSO a 10%, embora a duração média da
motilidade fosse superior àqueles acrescidos de etilenoglicol. O sêmen de
piracanjuba, ao ser resfriado a 4°C com BTS por 0, 72 e 144 horas, alcançou
motilidades médias de 76% (Murgas et al., 2004).
Os meios diluentes como Ringer, Glicose ou Solução Fisiológica e água de
coco industrializada (KeroCoco) já foram testados por Muchlisin et al. (2004) e Maria
et al. (2006). No primeiro estudo, após 24 horas, o sêmen resfriado a 4°C na diluição
de 1:20 registrou 65% de movimento para a Glicose e 71% para o Ringer. Por outro
lado, estes autores, ao manter outras amostras a 23°C nos primeiros 15 minutos,
obtiveram motilidades de 80% em ambas as soluções. No segundo estudo, nota-se
que depois de uma hora, observa-se 83% de espermatozóides móveis na água de
coco industrializada (KeroCoco) e 63% no Ringer Ginsburg na diluição de 1:5. De
forma similar, Carvalho et al. (2002) diluiu o sêmen de carpa em meio diluente à
base de água de coco in natura e registrou 71% de espermatozóides móveis após
30 minutos.
A composição do Ringer basicamente consiste em NaCl, KCl, CaCl2 e NaHCO3,
contendo assim alguns íons, como K+ e Ca2+, que estão ausentes nos outros
diluentes testados, o que poderia explicar as diferenças observadas quanto à
porcentagem de espermatozóides móveis. O fluido seminal em peixes geralmente
tem altas concentrações de íons K+, Na+ e Cl-, mas baixas concentrações de Ca2+ e
Mg2+, embora estes íons tenham papéis variados em inibir ou ativar os
espermatozóides de peixes em cada espécie. Portanto, muitas características dos
espermatozóides de peixes são espécie-especificas (Muchlisin et al., 2004).
Sandra Velásquez Medina Criopreservação de sêmen de pirapitinga
56
Várias pesquisas relacionadas às diluições para preservar a motilidade do
sêmen de peixes têm sido realizadas e, como se percebeu nos trabalhos
anteriormente mencionados, estas aparentam ser muito variadas entre as espécies
de peixes, apresentando melhores resultados no resfriamento de pirapitinga, na
diluição de 1:3 nas criosoluções com metilglicol e na diluição de 1:5 com DMSO. No
caso dos tratamentos com Glicose só foi testada a diluição de 1:7, verificando que
esta, em proporções maiores no resfriamento, não está sendo tão eficaz como em
outros ensaios com vários peixes brasileiros, obtendo resultados promissores nas
diluições de 1:3 e 1:4 (Carolsfeld et al., 2003).
Em Piaractus brachypomus a ativação da motilidade é breve (ao redor de 1
minuto), sendo necessário o uso de métodos rápidos e precisos para avaliar a
qualidade do sêmen através da cinética espermática (porcentagem de
espermatozóides móveis, qualidade do movimento, velocidades, etc.). A velocidade
inicial de deslocamento dos espermatozóides de pirapitinga a fresco (113 µm/s)
esteve em uma faixa similar às observadas em teleósteos de água doce como
Chalcalburnus chalcoides (84.6±17.4 µm/s; Lahnsteiner et al., 1999); Perca fluviatilis
(122±22 µm/s; Lahnsteiner et al., 1995); Onchorhynchus mykiss (105±18.8 µm/s;
Lahnsteiner et al., 1999); Silurus glanis (125±10 µm/s; Billard et al., 1997). Os outros
parâmetros de velocidade avaliados por Ravinder et al. (1997) para o sêmen de
carpa in natura, variaram de 31 a 148 µm/s para a VSL, e de 138 a 145 µm/s para a
VCL.
No teste da toxicidade, o T3 (Ringer + Metilglicol 10%) foi o que mais se
acercou ao grupo controle quanto à velocidade curvilinear (VCL) enquanto as outras
duas velocidades (VSL e VAP) não variaram consideravelmente, exceto no caso do
T2 (ACP-104 + DMSO 10%) na VAP. Poucos estudos foram realizados com o
objetivo de avaliar a toxicidade através do CASA nas diferentes velocidades, sendo
difícil comparar dados, já que sempre se avaliam diferentes crioprotetores, meios
diluentes, diluições e tempo de resfriamento. Por outro lado, Rurangwa et al. (2001)
reportam, como no presente estudo, pouca diminuição das velocidades ao cabo de
30 minutos de resfriamento a 4°C, caindo a VCL de 55 a 45 µm/s, a VSL de 49 a 35
µm/s e a VAP de 50 a 40 µm/s, entre as amostras a fresco e diluídas em Mounibs +
DMSO 8%. É provável que neste último caso as diferenças entre os tratamentos se
devam à velocidade em que o crioprotetor penetra na célula, e que o metilglicol entre
e saia da célula mais rápido do que o DMSO, ambos a 4°C.
Sandra Velásquez Medina Criopreservação de sêmen de pirapitinga
57
Neste estudo foi demonstrada que a maiores diluições existe uma tendência a
decrescer a velocidade, embora não sejam observadas diferenças estatísticas. Nos
experimentos com bagre africano, Mansour et al. (2004) não encontraram
diminuição significativa da velocidade em diferentes diluições a 4°C, permanecendo
entre 108 e 100 µm/s e só diminuindo um pouco com a maior diluição. É possível
que, ao aumentar as diluições, os componentes do plasma seminal percam sua
influência protetora, como acontece com as atividades líticas enzimáticas no plasma
seminal dos peixes, as quais decrescem sob essas condições (Lahnsteiner et al.,
1997).
Como os procedimentos que antecedem o congelamento do sêmen de peixes
geralmente devem ser conduzidos em pouco tempo, o período de estabilização
entre o crioprotetor e o sêmen (15 minutos) empregado no presente estudo
certamente favoreceu a manutenção da qualidade seminal de pirapitinga, permitindo
o congelamento de amostras com viabilidade assegurada. Em futuros experimentos
de resfriamento de sêmen ou toxicidade dos crioprotetores em tempos mais
prolongados, seria necessário subministrar oxigênio para evitar seu rápido
deterioramento, assim como antibióticos e antifúngicos, avaliando a viabilidade das
criosoluções através da cinética espermática.
7.3. Testes de Criopreservação
A técnica de congelamento seminal mais difundida em peixes utiliza vapores de
nitrogênio líquido, sendo a velocidade de congelamento um dos fatores mais críticos
e menos padronizado do processo. No presente estudo não foi possível padronizar
uma curva de congelamento em graus por minuto usando a geladeira de isopor
porque todas as curvas foram diferentes entre si. Lahnsteiner e Patzner (1996)
afirmaram que isto acontece pela rápida evaporação do nitrogênio líquido quando do
uso de sistemas abertos, como as caixas de congelamento. Apesar disso, Cruz et al.
(2004) congelando neste método a 3 cm (-76°C) do nitrogênio líquido e Deandro et
al. (1997) a 2 cm (-148°C), 6.5 cm (-99°C) e 13 cm (-46°C), encontraram motilidades
acima de 55%.
Taxas adequadas de congelamento não podem ser generalizadas, pois
diferentes diluentes, tamanhos de palhetas e temperaturas têm sido utilizadas com
sucesso (Lahnsteiner, 2000). Taxas de congelamento ótimas foram obtidas entre 5 e
Sandra Velásquez Medina Criopreservação de sêmen de pirapitinga
58
50°C/min (Rana e McAndrew, 1989) e entre 10 a 80°C/min (Godinho et al., 2003)
para o sêmen de tilápia. O “dry shipper” utilizado neste estudo foi igualmente
satisfatório para a criopreservação de sêmen de vários peixes neotropicais a uma
taxa de congelamento de 30°C/min (Carolsfeld et al., 2003). No congelamento do
sêmen de pirapitinga se obteve uma taxa boa de congelamento de -14°C/min
comparável com a de Riley et al. (2004) a -16°C/min, chegando até -140°C, onde os
espermatozóides alcançaram motilidades de 80%. Tais fatos demonstram que os
espermatozóides da espécie em questão são pouco tolerantes às mudanças de
temperatura durante o congelamento (caixa de isopor), talvez devido à
desestabilização das membranas, danos físicos no citoplasma e nas membranas
nucleares resultantes da formação de cristais de gelo intracelular (Kang et al., 2004).
O uso das palhetas francesas simplificou e acelerou a manipulação durante o
envase, congelamento e descongelamento do sêmen criodiluído, apesar do tamanho
da palheta aparentemente influenciar a motilidade do sêmen descongelado da
pirapitinga. Verificou-se que a porcentagem de espermatozóides móveis
praticamente dobrou entre as palhetas de 0,25 e 0,5 mL, sendo esta última a melhor.
Carolsfeld et al. (2003) e Maria et al. (2006) verificaram que a palheta de 0,5 mL é a
mais prática para a maioria de espécies, apresenta os melhores resultados e é a
mais apropriada para bancos genéticos (Lahnsteiner, 2000). Ninhaus-Silveira et al.
(2006) por sua parte, ao congelar sêmen de Matrinhã em palhetas de 4 ml e 0,5 mL,
não encontrou diferenças significativas no momento de descongelar, mesmo que os
valores de fertilidade tenham sido um pouco melhores na palheta de 0,5 mL.
Enquanto Medina et al. (2007) observou, em palhetas de 0,5 mL, motilidades
espermáticas e porcentagens de fertilidade significativamente inferiores às
observadas em volumes de 1,8 , 2,5 e 4 mL.
Supõem-se que o sêmen que foi acondicionado em palheta de 0.25 mL tenha
passado por um longo platô do ponto de congelamento (ponto de calor residual
liberado, onde os cristais de gelo são formados por uma subida na temperatura
dentro da palheta) ou por uma faixa de congelamento lenta pelo volume da palheta,
similarmente ao ocorrido nos trabalhos de Richardson et al. (1999) e Velasco-
Santamaria et al. (2006). Devido à temperatura na caixa de congelamento variar
constantemente e existir uma associação direta entre a duração do platô do ponto
de congelamento e o diâmetro da palheta na viabilidade do congelamento-
descongelamento dos espermatozóides, uma redução na duração deste platô
Sandra Velásquez Medina Criopreservação de sêmen de pirapitinga
59
melhoraria provavelmente a motilidade espermática (Velasco-Santamaria et al.,
2006). As mudanças na estrutura e viabilidade dos espermatozóides durante o
processo de congelamento são principalmente influenciados pela longitude do pico
de calor latente, ocasionado pela liberação do calor de fusão que, ao ser liberado
retorna a sua temperatura original, que tarda um pouco mais em palhetas de maior
volume (Richardson et al., 1999) sendo mais homogêneo nas de 0,5 mL.
A utilização de palhetas de maior tamanho auxilia nos processos de fertilização
artificial em escala comercial devido principalmente aos grandes volumes de
ovócitos desovados pelas espécies tropicais cultivadas. Mas, devido à importância
da diversidade genética dos peixes produzidos em cativeiro, não se recomenda o
uso de palhetas grandes, já que o mais importante é conservar a variabilidade
genética em detrimento à quantidade de sêmen criopreservada (Carolsfeld et al.,
2003).
Foi observado que as amostras diluídas em meio contendo DMSO pós-
descongelamento, de maneira geral, apresentaram as maiores porcentagens de
espermatozóides móveis, aproximando-se àquelas observadas no sêmen não
diluído. Esta substância tem sido um crioprotetor efetivo para outros
espermatozóides de teleósteos (Piironen, 1993; Bart et al., 1998; Suquet et al., 2000;
Melo e Godinho, 2006). Mas em algumas outras espécies, como no caso da tilápia-
nilótica (Oreochromis niloticus) não foi tão efetivo como o metanol (Godinho et al.,
2003). Em outras pesquisas realizadas com a mesma espécie do presente estudo,
os resultados apresentaram motilidades superiores às observadas por Navarro et al.
(2004) e inferiores às de Fresneda et al. (2004) (40% e 80%, respectivamente),
ambos os trabalhos utilizando DMSO, glicose e gema de ovo. Isto indica que, neste
caso, o crioprotetor foi suficiente para induzir a saída de água da célula, impedindo a
formação de gelo intracelular, sem produzir retração pela desidratação da célula.
O metilglicol, ao contrário, apresentou as taxas de motilidade mais baixas pós-
descongelamento, contradizendo aos resultados de Maria (2005), que testou o
metilglicol pela primeira vez como agente crioprotetor em sêmen de piracanjuba e
dentre os crioprotetores testados, mostrou ser o mais indicado para a
criopreservação do sêmen dessa espécie.
Nenhum dos meios diluentes testados neste experimento (Ringer, ACP-104 e
Glicose) proporcionou valores superiores a 62% de motilidade progressiva, sendo os
resultados com glicose um pouco melhores. Murgas et al. (2001) destacaram o uso
Sandra Velásquez Medina Criopreservação de sêmen de pirapitinga
60
da glicose e da água de coco industrializada como meios diluentes no congelamento
do sêmen de piracanjuba, apresentando 60% de motilidade pós-descongelamento
no diluente água de coco industrializada. Resultados similares foram relatados por
Carvalho (1999) e Farias et al. (2000) com sêmen de tambaqui e carpa diluídos em
meio diluente à base de água de coco in natura (acima de 50%). É provável que na
criopreservação do sêmen de pirapitinga o meio diluente à base de água de coco em
pó (ACP-104) não tenha oferecido um ambiente iônico favorável, embora tenha
apresentado motilidades representativas, com maior quantidade de espermatozóides
móveis.
A glicose é um meio diluente que tem sido satisfatoriamente utilizado para a
criopreservação do sêmen de várias espécies de peixes como o bagre africano
Clarias gariepinus (Urbányi et al., 1999), várias espécies de esturjão (Tsvetkova et
al., 1996; Glogowski et al., 2002) e a bijupira Rachycentron canadum (Caylor et al.,
1994), dentre outras. O sucesso deste meio diluente pode ser explicado pelo seu
papel como crioprotetor externo estabilizador de membrana (Maisse, 1994) e como
substrato para a síntese de ATP (Murgas et al., 2007). Segundo Cosson et al.
(1999), a fosforilação oxidativa mitocondrial é altamente requerida para a produção
de energia durante o batimento flagelar dos espermatozóides, de modo que a
insuficiência de ATP constitui uma das principais causas da redução da motilidade.
Igualmente este meio diluente é utilizado como um componente semelhante ao
plasma seminal, que possui em sua composição açúcares como a frutose, a
sacarose, etc. (Maisse et al., 1998). Em um estudo comparativo com a truta arco-íris
foi relatado que os efeitos da sacarose, da frutose, da galactose e da glicose
incorporadas a 125 mM como meio diluente são semelhantes quanto à motilidade
seminal (Maisse, 1994). É possível que, neste estudo, os espermatozóides de
pirapitinga metabolizem prioritariamente a glicose como fonte de energia e sua
concentração tenha sido adequada para suprir as necessidades metabólicas das
células espermáticas.
Pôde ser observado que as velocidades espermáticas (VCL, VSL e VAP)
diminuíram consideravelmente nos experimentos 2 e 3 o que pode estar relacionado
com o momento da ativação pós-descongelamento e com os parâmetros
preestabelecidos no sistema CASA no momento da leitura.
No primeiro caso, os recursos energéticos dos espermatozóides de peixes são
limitados; um incremento na velocidade causado por aumento de temperatura leva a
Sandra Velásquez Medina Criopreservação de sêmen de pirapitinga
61
uma diminuição da duração da motilidade e, ao contrário, a diminuição da
temperatura no momento da ativação resulta no prolongamento da duração da
motilidade e na redução da velocidade espermática. Em truta arco-íris a freqüência
de batimento flagelar é menor a 5°C, permanecendo constante a 10°C, aumentando
rapidamente em torno de 14°C e se estabilizando a temperaturas maiores que 21°C
(Hadi e Cosson, 2005). É possível que a temperatura da solução ativadora não
tenha permanecido estável devido às variações na temperatura ambiente do
laboratório, onde algumas vezes aumentava ou diminuía dependendo da hora e do
dia das avaliações. Uma vez que estas sustâncias permanecem conservadas sob
refrigeração, é possível que não se tenha aguardado o tempo necessário requerido
para sua estabilização antes de sua utilização, podendo então ter influenciado a
cinética espermática.
No segundo caso, os parâmetros do CASA devem ser estabelecidos
dependendo ao tipo do movimento (linear, circular ou aleatório) que apresentem os
espermatozóides ao serem descongelados porque, aparentemente, existe uma
influência do padrão de movimento sobre o número de quadros avaliados quanto
aos parâmetros cinéticos. Ravinder et al. (1997) monitoraram os parâmetros em 25 e
60 Hz, variando a VCL de 126 a 152 µm/s, a VSL de 31 a 148 µm/s e a VAP de 106
a 142 µm/s entre os padrões e as taxas. Também Toth et al. (1995) afirmaram que
os parâmetros de velocidade quando são monitorados em uma maior taxa de
quadros leva a um incremento na VCL e na VSL. Seria necessário realizar futuros
experimentos testando essas duas taxas para se avaliar a possível influência sobre
a velocidade dos espermatozóides descongelados de pirapitinga.
7.4. Análise morfológica do sêmen
O colorante azul de bromofenol é um tipo de corante vital que já foi efetivo na
avaliação de espermatozóides ovinos e bovinos (Amaral, 2004) e cuja função é
propiciar a visualização de espermatozóides vivos e mortos, além de diferenciar
suas estruturas. À medida que os espermatozóides sofrem danos, a membrana
espermática torna-se permeável e ficam coradas de azul, com maior intensidade nos
espermatozóides que apresentam maiores danos estruturais (Sierra, 2005). No caso
dos espermatozóides de pirapitinga não foram avaliadas as porcentagens de
espermatozóides vivos e mortos, pela dificuldade de visualização dos tonos de
Sandra Velásquez Medina Criopreservação de sêmen de pirapitinga
62
coloração dos mesmos, mas esse corante foi efetivo na observação das estruturas
espermáticas.
Referente às características estruturais dos espermatozóides de pirapitinga,
Piaractus brachypomus, foi observado que este apresenta o padrão ancestral,
característico das espécies com fecundação externa, sendo muito semelhante aos
espermatozóides descritos nas demais espécies da ordem Characiformes. Eles são
constituídos por cabeça arredondada, sem acrossoma, peça intermediária curta
(poucas mitocôndrias) e flagelo longo, semelhante ao descrito para outros peixes
teleósteos (Romagosa et al., 1999; Vicentini, 2002; Pompiani, 2003).
No presente estudo, a leitura realizada dos esfregaços de sêmen a fresco com
azul de bromofenol mostrou 31% de espermatozóides com morfoanomalias na
cabeça, peça intermediária e cauda, quando considerados os defeitos maiores e
menores em conjunto. Segundo Kavamoto et al. (1999), em curimbatá (Prochilodus
scrofa) a porcentagem de morfoanomalias espermáticas foi de 9,5%. Já Prieto
(2004) reportou 2,5% para piracanjuba, 3,4% para jundiá e 4% para piraputanga.
Contrariamente, Moraes et al. (2004) obtiveram resultados similares aos do presente
estudo, com 38% de morfoanomalias na carpa, 49% no piavuçu e 40% na
curimbatá, sendo as mais freqüentes cabeça solta, cauda solta, cauda enrolada e
cauda degenerada ou dobrada. O sêmen fresco de pirapitinga pode refletir estas
morfoloanomalias nos espermatozóides tanto por variações ambientais e genéticas
(Miliorini, 2006) como por falhas durante a espermatogênese, no caso das
anormalidades primárias (cauda enrolada) ou durante a passagem do sêmen pelo
epidídimo, no caso das secundárias (cauda dobrada) (Moraes et al., 2004).
No caso do sêmen pós-descongelamento não foram observadas diferenças
estatísticas entre tratamentos e/ou diluições, apesar de que existiu um aumento de
13% nas morfoanomalias em relação ao sêmen a fresco. Tal aumento não foi
considerado alto em relação ao apresentado no sêmen de pacu (P. mesopotamicus)
descongelado com DMSO+glicose+gema de ovo (87%), com 50% de alterações
primárias e 37% de alterações secundárias (Streit Jr. et al., 2006). Enquanto em
curimba (Prochilodus lineatus) tanto com metanol como com DMSO 10% foram
observadas alterações morfológicas primárias de 24,4% e secundárias de 1,4%.
Em mamíferos, de acordo com Hafez e Hafez (2000), de um modo geral, as
morfoanomalias secundárias, como cauda quebrada e solta, além de cabeça solta,
podem estar relacionadas à preparação dos esfregaços, e as anormalidades
Sandra Velásquez Medina Criopreservação de sêmen de pirapitinga
63
primárias estão relacionadas às falhas durante a espermatogênese. Outros autores
acham que as alterações primárias podem ter uma resposta negativa a uma
exposição hiposmótica, como no caso do sêmen de carpa que, depois de diluído em
água doce, apresenta o flagelo enrolado na ponta (Tsvetkova et al., 1996) ou no
esturjão siberiano que apresentou pressão osmótica do plasma seminal de 38
mOsm/kg induzindo a uma alteração discreta que só se veria no momento do
descongelamento. As alterações de flagelo são menos prejudiciais que as de cabeça
porque a maioria poderia ainda mover-se e chegar a fecundar um ovócito (Billard et
al., 2000). Enquanto que as alterações de peça intermediária são conseqüência da
desestabilização das membranas lipoprotéicas dos espermatozóides, sobretudo das
mitocôndrias, por influência do congelamento (Miliorini, 2006), causando alterações
progressivas na motilidade, aumentando o número de espermatozóides com
movimentos circulares ou oscilatórios e, conseqüentemente, diminuindo a taxa de
fertilização (Kavamoto et al., 1999). Esta morfoanomalia foi encontrada em baixa
proporção, da mesma forma que a presença de gotas citoplasmáticas. Uma
distribuição anormal das mitocôndrias na peça intermediária poderia impedir a
liberação da gota citoplasmática durante o processo de maturação celular (Amaral,
2004). Para melhor aquilatar a capacidade de fecundação dos espermatozóides
descongelados, seria necessário a avaliação do estado da membrana espermática
através de metodologias mais específicas como sondas fluorescentes, citometria e
fluxo e microscopia eletrônica.
Sandra Velásquez Medina Criopreservação de sêmen de pirapitinga
64
8. CONCLUSÕES
Os machos de pirapitinga se apresentaram como peixes que apresenta fácil
liberação de sêmen após o processo de indução hormonal, com
concentrações espermáticas satisfatórias para utilização em protocolos de
criopreservação e fertilização;
As observações direta subjetiva ou a objetiva, através de métodos de
análise seminal auxiliado por computador (CASA), foram satisfatórias para a
estimativa da motilidade espermática das pirapitingas;
O sêmen de pirapitinga pode ter um tempo de latência resfriado a 4ºC por
15 minutos, quando diluído em Ringer acrescido de metilglicol a 10% na
diluição de 1:3, apresentando baixos níveis de toxicidade refletidos nos
parâmetros cinéticos espermáticos;
O sêmen de pirapitinga pode ser satisfatoriamente congelado na criosolução
Glicose 5% + DMSO 10% utilizando a técnica de congelamento em “dry
shipper” em palhetas de 0,5 mL;
As melhores diluições dos tratamentos com maiores motilidades foram 1:7
para a Glicose 5% + DMSO 10%, seguido da diluição 1:3 do tratamento ACP-
104 + DMSO 10%;
As principais morfoanomalias apresentadas no sêmen a fresco de
pirapitinga são do tipo secundárias, como cauda dobrada, as quais não
afetariam substancialmente as taxas de fecundação; já no sêmen
descongelado foram detectadas algumas morfoanomalias primárias como
cauda enrolada e alterações na peça intermediária;
Sandra Velásquez Medina Criopreservação de sêmen de pirapitinga
65
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