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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEAR-CAMPUS DO CARIRI
CENTRO DE PESQUISA E PS-GRADUAO DO SEMIRIDO
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL
SUSTENTVEL
GILDO PEREIRA DE ARAUJO
CULTIVO DO ALGODO AGROECOLGICO NO SEMIRIDO COM NFASE
NO MANEJO DE PRAGAS: EM BUSCA DA SUSTENTABILIDADE.
JUAZEIRO DO NORTE - CE
2013
GILDO PEREIRA DE ARAUJO
CULTIVO DO ALGODO AGROECOLGICO NO SEMIRIDO COM NFASE NO
MANEJO DE PRAGAS: EM BUSCA DA SUSTENTABILIDADE.
Dissertao de Mestrado apresentado ao Programa de Ps-Graduao em Desenvolvimento Regional Sustentvel, da Universidade Federal do Cear Campus do Cariri, como requisito parcial para a obteno do Ttulo de Mestre em Desenvolvimento Regional Sustentvel. Orientador: Prof. Dr. Francisco Roberto de Azevedo.
JUAZEIRO DO NORTE - CE
2013
GILDO PEREIRA DE ARAUJO
CULTIVO DO ALGODO AGROECOLGICO NO SEMIRIDO COM NFASE NO
MANEJO DE PRAGAS: EM BUSCA DA SUSTENTABILIDADE
Dissertao de Mestrado apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Desenvolvimento Regional Sustentvel - PRODER, da Universidade Federal do Cear - Campus Cariri, como requisito parcial para a obteno do Ttulo de Mestre em Desenvolvimento Regional Sustentvel. rea de Concentrao: Ambiente e Desenvolvimento Regional Sustentvel.
Aprovada em: 08/05/2013.
BANCA EXAMINADORA
______________________________________
Prof. Dr. Francisco Roberto de Azevedo (Orientador)
Universidade Federal do Cear (UFC)
______________________________________
Prof. Dra. Suely Salgueiro Chacon (Coorientadora)
Universidade Federal do Cear (UFC)
______________________________________
Pesquisador Dr. Fbio Aquino de Albuquerque
Embrapa Algodo (CNPA)
Meus pais, Nequinho e Valdeci.
Minha esposa Vera e meu filho Gabriel, vocs
so a minha inspirao e o meu refgio, amo
vocs infinitamente.
Dedico.
AGRADECIMENTOS
Deus, por me conceder o dom da vida e me dar fora para perseverar a cada dia.
minha esposa Vera e meu filho Gabriel, por suportarem minhas ausncias e
ampararem-me nos momentos mais difceis.
Aos meus pais, no h como agradecer tamanha dedicao.
Ao meu orientador, professor Francisco Roberto de Azevedo, pelas valiosas
contribuies, pelos ensinamentos, pela pacincia e todo apoio concedido.
Ao amigo Fbio Aquino, pelas sugestes, contribuies e tamanha disponibilidade
em ajudar.
Aos amigos da Embrapa Algodo, Joo Luis, Ramon, Tarcsio, Everaldo,
Carlinhos, Clio, Luis Veras, Jalmi, Napoleo Beltro e Cabo Silva.
minha famlia, apesar da distncia fsica que nos separa estamos sempre juntos
no corao, em especial aos meus irmos: Luis Carlos, Gilson, Leonete, Marcos, Laurinha,
Petinha e Luzinete.
Aos meus sobrinhos e sobrinhas, pelos quais tenho muita amizade e os considero
como meus irmos mais novos.
A todos os meus familiares da cidade de Pombal PB.
A Damio loucura e Renato, que tanto contriburam para a realizao do
experimento.
Aos estagirios Luan (UEPI) e Dbora (CVTEC-Barbalha/CE), pelo auxlio nas
amostragens.
Ao professor Valmir, pela enorme contribuio nas anlises estatsticas.
Aos alunos do curso de agronomia da UFC, campus Cariri, Toni, Eridiane e Nere,
certamente no conseguiria sem a ajuda deles.
professora Suely Chacon, nossas conversas a respeito do homem do semirido
nordestino e as aulas de desenvolvimento regional sustentvel me fizeram acreditar cada vez
mais neste sonho.
professora Vernica, suas aulas ajudaram-me a compreender melhor a difcil
arte do ensinar.
Ao PRODER, coordenadores e professores, pela oportunidade concedida.
Aos colegas de mestrado do PRODER, pelo convvio harmonioso e oportunidades
de debates enriquecedores.
Aos amigos Gleidson, Diego Coelho e Flvio, compartilhamos sonhos, iluses,
vamos todos conseguir, com a graa de Deus.
escola pblica brasileira, todos os seus professores e funcionrios, que
facilitaram meus estudos desde a alfabetizao ps-graduao.
Aos agricultores familiares do semirido nordestino, em especial aos do territrio
do Serto do Araripe-PE.
A todos aqueles que de forma direta ou indireta, contriburam para a realizao
deste trabalho.
Bate a enxada no cho
Limpa o p de algodo
Pois para vencer a batalha,
preciso ser forte, robusto, valente ou nascer
no serto
Tem que suar muito para ganhar o po
E a coisa l n brinquedo no
Mas quando chega o tempo rico da colheita
Trabalhador vendo a fortuna se deleita
Chama a famlia e sai, pelo roado e vai
Cantando alegre ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai,
Sertanejo do norte
Vamos plantar algodo
Ouro branco que faz nosso povo feliz
Que tanto enriquece o pas
Um produto do nosso serto.
(Luiz Gonzaga)
RESUMO
O algodo j foi a principal cultura cultivada no Nordeste, a sua produo alavancou o
desenvolvimento de muitas cidades e contribuiu para o desenvolvimento da regio semirida.
Ataque de pragas, baixas produtividades, alto custo de produo e baixa nos preos no
mercado internacional, aliado a falta de assistncia tcnica adequada, contriburam para o
declnio da cultura. Esta pesquisa tem o objetivo de estudar as alternativas mais eficazes de
controle de pragas no algodoeiro agroecolgico, como tambm a organizao coletiva dos
agricultores, tendo em vista a otimizao da produo do algodo em conscios agroecolgico
na regio do semirido brasileiro. Os estudos foram desenvolvidos no campo experimental da
Embrapa Algodo em Barbalha-CE e no Territrio do Serto do Araripe, estado de
Pernambuco, em localidades assistidas pelo projeto algodo em consrcios agroecolgicos.
Em Barbalha instalou-se o experimento para avaliao dos produtos naturais, com o
delineamento experimental em blocos ao acaso e com quatro repeties, representado por seis
tratamentos: T1-Testemunha (sem aplicao), T2-Pimenta malagueta, T3-Caulim, T4-
Azamax, T5-Rotenat e T6-Pironat. Os produtos foram aplicados a cada sete dias,
seguidos de avaliaes tambm semanais, considerando o efeito dos tratamentos sobre a
ocorrncia dos insetos pragas do algodoeiro e de seus inimigos naturais. O caulim foi o mais
eficiente no controle do bicudo do algodoeiro, Anthonomus grandis Boheman, atrasando o
incio da infestao. A pimenta malagueta no foi eficiente no controle das pragas. Os
produtos aplicados no influenciaram na presena de inimigos naturais, nem a produtividade e
precocidade da cultura. Os agricultores aplicam diversos produtos naturais encontrados na
prpria comunidade, participam de todas as etapas de produo, certificao orgnica e
comercializam seus produtos agroecolgicos a um preo justo, fortalecendo a organizao
coletiva. A maior renda proveniente da venda da pluma do algodo orgnico, sendo a
mamona, amendoim e gergelim boas alternativas para gerao de renda. Nas capacitaes dos
agricultores o saber local valorizado, provocando autoestima nas comunidades. A
diversificao permite ao agricultor um uso mais eficiente da terra, maior gerao de renda,
segurana alimentar e garantia de alimentao para os animais. O cultivo do algodo em
consrcios agroecolgicos pode representar uma possibilidade de reintroduo desta cultura
na agricultura familiar do semirido brasileiro.
Palavras-chave: Desenvolvimento regional sustentvel, consrcios, produtos naturais.
ABSTRACT
The cotton was once the main crop grown in the Northeast, its production boosted the
development of many cities and contributed to the development of the semiarid region. Pest
attack, low productivity, high production costs and low prices on the international market,
coupled with the lack of adequate technical assistance contributed to the decline of culture.
This research aims to study the most effective alternatives for pest control in cotton
agroecosystem, as well as the collective organization of farmers, with a view to optimizing
the production of cotton in agroecological fellow members in the Brazilian semiarid region.
The studies were carried out in the experimental field of Embrapa Cotton Barbalha-CE and
Territory Hinterland Araripe, state of Pernambuco, in locations served by the project consortia
agroecological cotton. Barbalha settled in the experiment for evaluation of natural products,
with the experimental design of randomized blocks with four replicates, represented by six
treatments: T1-Control (without application), T2-Pepper chili, Kaolin-T3, T4- Azamax ,
Rotenat -T5 and T6-Pironat . The products were applied every seven days, followed by
weekly assessments also considering the effect of treatment on the occurrence of insect pests
of cotton and their natural enemies. The kaolin was the most effective in controlling the boll
weevil, Anthonomus grandis Boheman, delaying the onset of infestation. The chili was not
effective in controlling pests. The products applied did not influence the presence of natural
enemies, nor productivity and precocity of culture. The farmers apply various natural products
found in the community, participate in all stages of production, organic certification and
market their agroecological products at a fair price, strengthening the collective organization.
The higher income is from the sale of organic cotton lint, with castor, groundnut and sesame
good alternatives for income generation. In the training of farmers local knowledge is valued,
causing self-esteem in the communities. Diversification allows farmers to more efficient use
of land, greater income generation, food security and ensuring food for the animals. The
cultivation of cotton in agroecological consortia may represent a possible reintroduction of
this crop in the semiarid Brazilian family farming.
Keywords: Sustainable regional development, consortia, natural products.
LISTA DE ILUSTRAES
Figura 01 - Mapa com a nova delimitao do Semirido...................................................... 31
Figura 02 - Croqui do ensaio Teste com inseticidas naturais................................................ 42
Figura 03 - Local onde for feita a amostragem de pulges, tripes e caro branco................ 44
Figura 04 - Local onde foi feita a amostragem da mosca branca.......................................... 44
Figura 05 - Local onde foi feita a amostragem dos caros e a lupa para contagem.............. 45
Figura 06 - Localizao territorial dos municpios que compe o territrio do Araripe....... 47
Figura 07 - Mapa do Territrio Serto do Araripe-PE.......................................................... 68
Figura 08 - Agricultores reunidos para apresentao do mdulo a ser apresentado............. 76
Figura 09 - Agricultores marcando curvas de nvel.............................................................. 77
Figura 10 - Agricultores preparando sementes para o plantio (a); Plantio dos consrcios
(b).........................................................................................................................
78
Figura 11 - Agricultores fabricando biofertilizante (a) e realizando tratos culturais (b)....... 79
Figura 12 - Agricultores reconhecem insetos que visitam consrcios (a) e visitam rea
com aplicao de caulim (b)................................................................................
80
Figura 13 - Selos que identificam os produtos orgnicos..................................................... 82
Figura 14 - Agricultor na colheita (a) e Descaroamento do algodo (b)............................ 85
Figura 15 - Intercmbio entre agricultores............................................................................ 86
LISTA DE GRFICOS
Grfico 01 - rea colhida com algodo no Brasil e regies................................................. 22
Grfico 02 - Produo de algodo no Brasil e regies.......................................................... 23
Grfico 03 - Nvel de infestao do bicudo do algodoeiro dos 40 aos 103 DAE das
plantas do algodoeiro. Barbalha-CE, 2012.......................................................
58
Grfico 04 - Porcentagem de infestao de inimigos naturais em algodoeiro consorciado
tratado com diferentes inseticidas vegetais e o caulim dos 19 aos 103 DAE.
Barbalha-CE, 2012...........................................................................................
65
Grfico 05 - Porcentagem de infestao de inimigos naturais associados mosca branca
B. tabaci Bitipo B e pulgo verde A. gossypii em algodoeiro consorciado.
Barbalha- CE, 2012..........................................................................................
67
Grfico 06 - Populao do Territrio Serto do Araripe no ano de 2012............................. 69
Grfico 07 - ndice de Desenvolvimento Sustentvel do Territrio do Serto do Araripe
em 2012............................................................................................................
70
Grfico 08 - Produo das culturas plantadas no territrio do Serto Araripe - PE em
2011.................................................................................................................
72
Grfico 09 - Valores arrecadados com a produo dos consrcios....................................... 73
Grfico 10 - Custos para produo de 1 ha de algodo consorciado.................................... 73
LISTA DE TABELAS
Tabela 01 - Especificao dos tratamentos, com os nomes tcnicos, nomes comerciais,
grupos qumicos e dosagens dos produtos utilizados.......................................
43
Tabela 02 - Porcentagem de infestao do pulgo verde Aphis gossypii Glover em
algodoeiro consorciado tratado com diferentes inseticidas vegetais e o
caulim dos 19 aos 103 dias aps emergncia das plantas. Barbalha-CE,
2012...................................................................................................................
51
Tabela 03 - Porcentagem de infestao da mosca branca Bemisia tabaci (Gennadius)
bitipo B em algodoeiro consorciado tratado com diferentes inseticidas
vegetais e o caulim dos 19 aos 103 dias aps a emergncia das plantas.
Barbalha-CE, 2012............................................................................................
54
Tabela 04 - Porcentagem de infestao da vaquinha Diabrotica speciosa em algodoeiro
consorciado tratado com diferentes inseticidas vegetais e o caulim dos 19
aos 103 dias aps a emergncia das plantas. Barbalha-CE, 2012.....................
56
Tabela 05 - Porcentagem de infestao do bicudo Anthonomus grandis Boheman em
algodoeiro consorciado tratado com diferentes inseticidas vegetais e o
caulim dos 43 aos 102 dias aps a emergncia das plantas Barbalha-CE,
2012...................................................................................................................
60
Tabela 06 - Porcentagem de infestao de caros fitfagos em algodoeiro consorciado
tratado com diferentes inseticidas vegetais e o caulim dos 61 aos 103 dias
aps a emergncia das plantas Barbalha-CE, 2012..........................................
62
Tabela 07 - Produtividade (Kg/ha) e precocidade em algodoeiro consorciado tratado
com diferentes inseticidas vegetais e o caulim. Barbalha-CE, 2012................
63
Tabela 08 - Principais culturas cultivadas no territrio em 2009......................................... 70
Tabela 09 - Estabelecimentos agrcolas que praticam a agricultura orgnica certificada e
no certificada...................................................................................................
82
Tabela 10 - Evoluo dos consrcios entre os anos de 2009, 2010 e 2011. Territrios
Inhamuns - CE, Serto Central - CE, Apodi - RN, Cariri - PB, Paje - PE
Araripe - PE......................................................................................................
87
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ADEC Associao de Desenvolvimento Educacional e Cultural.
ASA Articulao no Semirido Brasileiro.
ATP Assessoria Tcnica Permanente.
BNB Banco do Nordeste do Brasil.
DDT Dicloro-Difenil-Tricloroetano.
DNOCS Departamento de Obras Contra as Secas.
ECO 92 Conferncia das Naes Unidas Sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento.
EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria.
ESPLAR Centro de Pesquisa e Assessoria.
FIDA International Fund For Agricultural Development.
FINOR Fundo de Investimentos do Nordeste.
GEF Global Environment Facility.
GGT Grupo de Gesto Territorial.
GTDN Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste.
IBD Instituto Biodinmico de Desenvolvimento Rural.
IDH ndice de Desenvolvimento Humano.
IDS ndice de Desenvolvimento Sustentvel.
IFOCS Inspetoria federal de Obras Contra as Secas.
MDA Ministrio do Desenvolvimento Agrrio.
MI Ministrio da Integrao Nacional.
OAC Organismo de Avaliao da Conformidade.
ONG Organizao No Governamental.
ONU Organizao das Naes Unidas.
OPAC Organismo Participativo de avaliao da conformidade.
PAA Programa de Aquisio de Alimentos.
PDHC Projeto Dom Hlder Cmara.
PNDR Programa Nacional de Desenvolvimento Regional.
PNAPO Poltica Nacional de Agroecologia e Produo Orgnica.
PNUMA Programa das Naes Unidas Para o Meio Ambiente.
POLONORDESTE Programa de Desenvolvimento de reas Integradas do Nordeste.
PROLCOOL Programa Nacional do lcool.
PRONAF Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar.
PROJETO SERTANEJO Programa Especial de Apoio ao Desenvolvimento da Regio
Semirida do Nordeste.
SCI Sistema de Controle Interno.
SisOrg Sistema Brasileiro de Avaliao da Conformidade Orgnica.
SPG Sistema Participativo de Garantia da Qualidade Orgnica.
SUDENE Superintendncia do Desenvolvimento do Nordeste.
SUMRIO
1 INTRODUO ...................................................................................................... 16
2 ALGODO NO SEMIRIDO, AGROECOLOGIA, PROJETO ALGODO
EM CONSRCIOS AGROECOLGICOS E DESENVOLVIMENTO
REGIONAL: UM LEVANTAMENTO HISTRICO E CONCEITUAL.........
20
2.1 Algodo na regio Nordeste: incio, importncia, declnio ................................. 20
2.2 Agroecologia.............................................................................................................. 24
2.3 Algodo em bases agroecolgicas........................................................................... 28
2.4 Projeto algodo em consrcios agroecolgicos...................................................... 29
2.5 Desenvolvimento sustentvel................................................................................... 33
2.6 Desenvolvimento regional sustentvel no semirido............................................. 37
3 MATERIAL E MTODOS..................................................................................... 41
3.1 Abordagem quantitativa.......................................................................................... 41
3.1.1 Local de estudo.......................................................................................................... 41
3.1.2 Aplicao dos tratamentos........................................................................................ 42
3.1.3 Amostragem das pragas e seus inimigos naturais.................................................... 43
3.1.4 Avaliao da precocidade e produtividade............................................................... 45
3.1.5 Anlise estatstica...................................................................................................... 46
3.2 Abordagem qualitativa............................................................................................ 46
3.2.1 Local de estudo.......................................................................................................... 46
3.2.2 Estudo de caso........................................................................................................... 47
4 RESULTADOS E DISCUSSO............................................................................. 49
4.1 Efeito de Produtos Naturais no Controle do pulgo verde Aphis gossypii
Glover........................................................................................................................
49
4.2 Efeito de Produtos Naturais no Controle da mosca branca Bemisia tabaci
bitipo B....................................................................................................................
52
4.3 Efeito dos Produtos Naturais no Controle da Vaquinha Diabrotica speciosa
(Germar) ..................................................................................................................
55
4.4 Produtos Naturais no Controle do Bicudo do Algodoeiro Anthonomus
grandis Boheman.....................................................................................................
57
4.5 Efeito dos Produtos Naturais no Controle de caros fitfagos............................ 61
4.6 Avaliao da Produtividade e Precocidade do Algodoeiro frente a utilizao
dos produtos naturais para o controle das pragas................................................ 62
4.7 Ocorrncia de predadores e parasitides associados ao pulgo (Aphis
gossyppii) e a mosca branca (Bemisia tabaci bitipo B) .......................................
63
4.8 Estudo de caso.......................................................................................................... 68
4.9 A assistncia tcnica e o processo de formao dos agricultores......................... 74
4.9.1 Primeira formao ou mdulo I.............................................................................. 76
4.9.2 Segunda formao ou mdulo II.............................................................................. 77
4.9.3 Terceira formao ou mdulo III............................................................................. 78
4.9.4 Quarta formao ou mdulo IV............................................................................... 79
4.9.5 Quinta formao ou mdulo V................................................................................. 80
4.9.6 Sexta formao ou mdulo VI.................................................................................. 84
4.9.7 Intercmbios entre agricultores................................................................................ 85
4.9.8 Principais resultados alcanados pelo projeto......................................................... 86
5 CONCLUSES........................................................................................................ 90
REFERNCIAS....................................................................................................... 92
APNDICE A PRIMEIRO ROTEIRO DE ENTREVISTA APLICADO
AOS AGRICULTORES PARTICIPANTES DO PROJETO ALGODO
EM CONSRCIOS AGROECOLGICOS.........................................................
100
APNDICE B SEGUNDO ROTEIRO DE ENTREVISTA APLICADO
AOS AGRICULTORES PARTICIPANTES DO PROJETO ALGODO
EM CONSRCIOS AGROECOLGICOS.........................................................
101
16
1 INTRODUO
O crescimento e o desenvolvimento da maioria das grandes cidades do interior do
Nordeste foram apoiados pela produo ou comercializao da cultura do algodo, que tinha
neste produto vegetal a principal fonte de gerao de renda para a agricultura familiar
nordestina. Nos tempos ureos quase a metade da populao do Nordeste dependia direta ou
indiretamente da fibra e seus subprodutos como o leo, lnter, torta e farelo de algodo. As
primeiras exploraes tiveram incio ainda no sculo XVI e os estados da Bahia e do Cear
foram os primeiros a cultivar o algodo, que aos poucos se espalhou por praticamente todos
os estados do Brasil (BELTRO, 2003).
Durante muitas dcadas a regio Nordeste foi a principal produtora nacional de
algodo, principalmente do algodoeiro arbreo ou moc que produzia uma fibra de alta
qualidade e muito tolerante seca, que devido s condies climticas do semirido
propiciaram um bom desenvolvimento da cultura. Outro aspecto que colaborou para este
desenvolvimento foi a utilizao do algodoeiro na alimentao do rebanho bovino, ovino e
caprino, aps a colheita os animais eram colocados em sistema de pastagem.
O grande declnio ocorreu durante a dcada de 1980, e muitos so os motivos
atribudos para esta derrocada, dentre eles o longo perodo com escassez de chuvas ocorrida
entre os anos de 1979 e 1983. A falta de modernizao da cadeia produtiva do algodo no
semirido pode ser relevante neste aspecto, aliado ao aumento no custo de produo, queda de
preo nos mercados internacionais, acesso limitado ao crdito, falta de uma poltica que desse
suporte produo regional para impedir que usinas se transferissem para outras regies
(MOREIRA et al., 1997). Juntamente com todos estes fatores ocorreu neste perodo
deteco de uma nova e devastadora praga, o bicudo do algodoeiro, Anthonomus grandis
Boheman, introduzido em Campinas-SP em fevereiro de 1983, em julho do mesmo ano foi
encontrado na Paraba. Em outros pases ele j era conhecido e causava srios danos
econmicos, no Brasil, veio se tornar em pouco tempo na principal praga do algodoeiro
(BARBOSA; BRAGA SOBRINHO; CAMPANHOLA, 1986).
O algodoeiro visitado por um grande nmero de artrpodes fitfagos, com
potencial para tornarem-se pragas. Por este motivo, o uso de inseticidas na cultura do algodo
tem aumentado nos ltimos anos, causando uma srie de problemas de sade ao aplicador e
demais pessoas que trabalham no manejo do algodoeiro, alm de poluir o meio ambiente,
trazendo danos irreversveis ao solo e contaminando fontes de gua (BELTRO et al.,2009).
17
necessrio buscar alternativas para diminuir a quantidade de inseticidas usados
no manejo da cultura do algodo, e neste sentido que as instituies de pesquisas direcionam
seus estudos, desenvolvendo cultivares e/ou variedades que favoream a convivncia com os
insetos-pragas, uso de inseticidas botnicos, utilizao do controle biolgico de pragas por
meio da conservao (controle biolgico natural) e introduo de inimigos naturais exticos
(controle biolgico clssico) e o aperfeioamento do plantio consorciado (BASTOS et al.,
2006).
Na tentativa de revitalizar o cultivo do algodo na regio semirida e tambm por
existir um mercado consumidor crescente de produtos agroecolgicos, iniciou-se em meados
dos anos 1990 no Brasil, uma experincia de produo do algodo agroecolgico, seguindo
uma tendncia que j vinha acontecendo em outros pases como ndia, Sria, Turquia, China,
Estados Unidos, Tanznia, Uganda, Peru, Egito e Mali (TRUSCOTT et al., 2010). Tornando-
se a partir de ento uma alternativa para o agricultor familiar do semirido, que oferece
estrutura adequada para as prticas agroecolgicas, como produo em pequena escala,
trabalho familiar e manual, com pouca ou nenhuma mecanizao. Pode-se dizer que a
agroecologia um conceito em construo, propondo uma agricultura socialmente justa,
vivel economicamente e ecologicamente sustentvel. O sistema tambm prope a
diversificao da produo, que aumenta as possibilidades de renda e favorece o convvio
com as pragas que atacam as culturas (BASTOS et al., 2006; COELHO, 2001).
O uso de produtos de origem botnica tem sido desenvolvido ao longo dos
ltimos anos e difundido em programas de manejo de pragas, principalmente naqueles que
buscam controles alternativos. Existe uma constante necessidade de obteno e avaliao de
produtos de origem natural (RIBEIRO et al., 2009). Neste estudo foram produtos naturais
com comprovada eficincia em diversas culturas, alguns, porm, sem trabalhos especficos
com algodo. O extrato aquoso da pimenta malagueta (Capsicum frutences) utilizado como
inseticida e tem sua eficincia comprovada em algumas culturas. Anjos et al. (2011) ao
estudarem o efeito de pimenta malagueta sobre o pulgo da couve - Brevicoryne brassicae,
concluiram que o extrato foi eficaz no controle deste inseto. Outro produto que tem sido
estudado como inseticida o caulim, que tem apresentado grande potencial no manejo d
bicudo do algodoeiro (A. grandis) (ALBUQUERQUE, 2009; SILVA, 2009; SANTOS,
2011). Showler (2002), avaliou a eficincia deste produto no combate ao pulgo. A atividade
inseticida do extrato das sementes de nim, Azadirachta indica da famlia Meliaceae-,
comprovada por muitos pesquisadores em diversas culturas (MEDINA et al., 2004;
MOREIRA et al., 2008). Azevedo et al. (2005), observaram a eficincia do extrato
18
pirolenhoso e da rotenona no combate mosca branca em meloeiro, enquanto Pissinati
(2009), verificou que estes mesmos produtos podem ser usados no combate esta praga em
couve.
As experincias para produo de algodo agroecolgico no Brasil tiveram seu
incio no estado do Cear, atravs do Esplar, uma organizao no governamental (ONG) que
difundiu suas ideias entre cotonicultores da regio, fato ocorrido no incio dos anos 1990.
Desde ento, outras experincias surgiram e aes governamentais ocorreram, culminando
com o projeto algodo em consrcios agroecolgicos, que apresenta-se como uma
experincia inovadora e indita para o serto nordestino, aliando o cultivo do algodo a outras
culturas, com apoio tcnico permanente, orientaes atravs de cursos, oficinas e
acompanhamentos, utilizando prticas conservacionistas do solo e combatendo pragas com
produtos naturais, buscando um equilbrio entre renda, alimentao e meio ambiente. Neste
contexto, o agricultor como protagonista principal participa diretamente do processo da
certificao orgnica atravs do sistema de controle interno e negocia com os compradores
finais eliminando a figura do atravessador (PDHC, 2012).
Promover o desenvolvimento sustentvel requer elaboraes de aes voltadas
para as necessidades essenciais da humanidade respeitando os aspectos culturais de cada
regio, principalmente a sua vocao produtiva, com ativa participao das comunidades
locais.
O presente trabalho pretende demonstrar que possvel produzir algodo
agroecolgico de forma eficiente e rentvel. Espera-se que possa contribuir nas aes de
pesquisa e identificao de metodologias para a convivncia com o semirido, principalmente
com a cultura do algodo, que tem uma identificao muito forte com o sertanejo e a sua
histria, sendo muito importante social e economicamente. Investigar como esta atividade
ocorre dentro das diretrizes agroecolgicas faz-se pertinente para subsidiar os rgos de
fomento ao desenvolvimento do semirido nordestino com as informaes necessrias para
que um maior apoio tcnico e financeiro possa ser alocado para que estas iniciativas
sustentveis se ampliem.
O objetivo geral deste trabalho foi avaliar as alternativas mais eficazes de controle
das pragas do algodoeiro agroecolgico, como tambm a organizao coletiva dos
agricultores, tendo em vista a otimizao da produo do algodo em consrcios
agroecolgicos na regio do semirido nordestino.
Os objetivos especficos so:
19
I - Verificar a ocorrncia de pragas e seus inimigos naturais presentes no
algodoeiro consorciado;
II - Identificar os produtos naturais utilizados pelos agricultores familiares no
controle das pragas do algodoeiro em consrcios agroecolgicos;
III - Testar inseticidas naturais no controle das principais pragas dessa cultura em
consrcios agroecolgicos;
IV Estudar o modelo de assistncia tcnica, a configurao dos consrcios e sua
importncia na preservao da biodiversidade dos roados e segurana alimentar das famlias
agricultoras.
Assim sendo, a dissertao est estruturada em trs captulos, distribudos da
seguinte forma:
No primeiro captulo, consta a reviso de literatura, que discorrer sobre os temas
centrais da dissertao, com um levantamento histrico e conceitual do algodo no semirido
nordestino, da agroecologia, do projeto algodo em consrcios agroecolgicos e o
desenvolvimento sustentvel. No segundo captulo, a metodologia descrita de forma
detalhada abordando dois aspectos: O quantitativo, que trata dos dados tcnicos referentes
presena de pragas, predadores e parasitides de insetos-praga e as suas formas de controle,
para tanto instalou-se um experimento no campo experimental da Embrapa Algodo em
Barbalha CE, e qualitativa, que trata dos dados referentes s questes socioeconmicos e a
forma de organizao coletiva dos agricultores, neste caso, utilizou-se de observao direta,
anlise de documentos e entrevistas semi-estruturadas com agricultores, agentes envolvidos
na assistncia tcnica e atividades administrativas na comunidade e assentamento. No terceiro
captulo que trata dos Resultados e Discusso, so apresentados os resultados dos testes com
os inseticidas naturais e o efeito sobre os insetos-praga encontrados nos consrcios, assim
como, o comportamento dos inimigos naturais diante da aplicao destes produtos, alm de
grficos e tabelas que so apresentadas para melhor compreenso dos resultados. Apresentar
tambm, um estudo de caso com 15 agricultores do territrio do Araripe pernambucano que
participam do projeto algodo em consrcios agroecolgicos, apresentando o modelo de
assistncia tcnica utilizada projeto, sendo os dados coletados ano agrcola de 2011.
Finalmente, nas concluses retomam-se os objetivos e avalia-se a contribuio da dissertao
para as famlias agricultoras do semirido brasileiro e para desenvolvimento sustentvel da
regio.
20
2 ALGODO NO SEMIRIDO, AGROECOLOGIA, PROJETO ALGODO EM
CONSRCIOS AGROECOLGICOS E DESENVOLVIMENTO REGIONAL: UM
LEVANTAMENTO HISTRICO E CONCEITUAL
Este captulo aborda a reviso de literatura dos temas centrais da dissertao, um
levantamento histrico e conceitual do algodo na regio Nordeste, com nfase no semirido
nordestino. Bases conceituais da agroecologia, fundamentaes e importncia para o saber
local. Apresenta ainda, o projeto Algodo em Consrcios Agroecolgicos e suas diretrizes,
sua rea de atuao e bases norteadoras. O desenvolvimento sustentvel a partir de um
despertar consciente do uso indiscriminado dos recursos naturais e sua consequente
degradao ambiental, fatos que motivaram a criao de organismos, leis e polticas voltadas
para a preservao do meio ambiente. No desenvolvimento regional um enfoque no semirido
nordestino, principalmente no meio rural, potencialidade e avanos nas polticas pblicas
direcionadas para este meio.
2.1 Algodo na regio Nordeste: incio, importncia, declnio
O algodoeiro cultivado uma planta dicotilednea, pertencente ordem Malvales,
famlia Malvaceae, tribo Gossypieae e gnero Gossypium. A sua origem muito antiga,
sendo que os primeiros registros datam de muitos sculos antes de Cristo. Acredita-se que a
ndia seja o pas com evidncias mais antigas de planta cultivada e usada em manufatura. Nas
Amricas os achados mais remotos foram encontrados no Peru (PENNA, 1999). No Brasil,
so raros os relatos pr-histricos a respeito do algodo, embora se saiba que os ndios, desde
muito antes do descobrimento, j utilizavam o seu fio para fabricao de redes e artefatos
(FREIRE, 1995).
O algodoeiro herbceo (Gossypium hirsutum L. raa latifolium Hutch.) uma das
quatro espcies cultivadas no mundo para produo da fibra, contribuindo com mais de 90%
da produo mundial (PENNA, 1999), a fibra txtil mais importante para a humanidade,
usada principalmente para a fabricao de tecidos, contudo, o caroo tambm processado
industrialmente originando subprodutos como o leo, lnter, torta e farelo de algodo
(FERREIRA e FREIRE, 1999). O gnero Gossypium constitudo de 52 espcies, alm da j
citada outras trs so o Gossypium arboreum L., o Gossypium herbaceum L. e o Gossypium
barbadense L.. As demais espcies so silvestres e no apresentam valor econmico
(CARVALHO, 1999).
21
A espcie G. mustelinum, tem como centro de origem e distribuio o Nordeste do
Brasil, tambm conhecida como fibra de macaco por sua tonalidade marrom, no havendo
registros na literatura de sua localizao em outras partes do mundo (FREIRE, 2000).
O Nordeste brasileiro produtor de algodo desde o perodo colonial, cultivando
inicialmente as espcies Gossypium barbadense var brasiliense, conhecido popularmente
como rim de boi, e G. barbadense L (CARVALHO, 1999). Estas foram sendo substitudas
progressivamente por outras espcies, como o algodoeiro anual G. hirsutum r. latifolium
Hutch, G. barbadense L. introduzidos dos Estados Unidos da Amrica do Norte. Segundo
este mesmo autor o algodoeiro anual expandiu-se pela regio semirida, no entanto, a grande
seca de 1877 provocou a sua substituio pela espcie G. hirsutum L. r. Marie galante Hutch,
conhecido popularmente como algodo moc, tolerante seca e de fibra mais longa.
Neves e Junqueira (1965, apud BELTRO, 2003, p.11), afirmam que o algodo
no Brasil teve diversas fases: As primeiras exploraes nos estados da Bahia e Cear, no incio do sculo XVI, a fase de subsistncia que se iniciou no sculo XVII, quando o incremento do cultivo da cana de acar na regio litornea, impeliu a pecuria atravs dos sertes nordestinos, atingindo os estados do Maranho e Minas Gerais. O algodo acompanhou este processo, pois, alm da produo da fibra, seu principal produto, o algodo alimentava o gado com suas sementes, ramos e folhas, muito ricas em protenas de elevado valor biolgico, enquanto o algodo era, durante os sculos XVII e XVIII, cultivado por toda em pequenas roas e em todos os estados da federao. Com a revoluo industrial, iniciada em meados do sculo XVIII, cuja mola mestra e propulsora foi o algodo, pois, foi com a inveno do descaroador de serras que deu incio prpria revoluo industrial e se estabeleceu a fase de exportao de algodo, em especial no estado do Maranho, que chegou a exportar, em 1830, mais de 78.000 sacas de algodo para a Europa, sendo que a cidade de Caxias era o epicentro do algodo no Brasil. Do Maranho, a cultura migrou para Pernambuco e demais estados do Nordeste, de incio no litoral e depois no serto, com o trinmio algodo + boi + culturas alimentares, que perdurou at a dcada de 80 do sculo passado, quando o algodo perene ou moc foi quase extinto, no sendo mais plantado nos dias atuais.
O algodoeiro arbreo ou moc representou um produto de grande importncia na
economia nordestina, chegando a ser chamado de ouro branco, dado riqueza gerada na
regio, onde esta espcie adaptou-se bem, produzindo uma fibra de tima qualidade,
principalmente no serto nordestino devido s condies edafoclimticas: solos rasos, chuvas
escassas e ms distribudas e altas temperaturas. Para Moreira et al. (1989) aps consolidada a
indstria txtil e com a crise do caf no estado de So Paulo, a cultura algodoeira no Brasil
ganhou estabilidade.
O crescimento da rea plantada com o algodo no semirido nordestino fortaleceu
a economia local e tornou-se uma alternativa excelente para o homem sertanejo. Segundo
Morais (2010) a cultura do algodo marcada por ciclos de expanso e declnio no decorrer
22
dos anos, contribuindo de forma decisiva para o desenvolvimento das grandes cidades do
interior do Nordeste, apoiadas pela produo ou comercializao da cultura do algodo, que
tinha neste produto vegetal a principal fonte de gerao de renda para a agricultura familiar
nordestina. Nos tempos ureos quase a metade da populao do Nordeste dependiam direta ou
indiretamente do algodo e seus subprodutos (BELTRO, 2003).
No ano de 1970 o Nordeste colheu 425.569 hectares de algodo, somados os tipos
arbreo e herbceo, uma representatividade de 28,65% da rea nacional, conforme
demonstrado no grfico 01. Neste perodo, a maior rea plantada era com o algodoeiro
arbreo. Em 1975 a rea colhida diminuiu um pouco, ficando em 389.975 hectares, no entanto
a diminuio ocorreu em todo o Brasil, a representatividade do Nordeste comparada ao Brasil
alcanou 38,46%. No ano de 1980, o Nordeste alcana a marca de 40,4% da rea colhida no
Brasil, com 422.056 hectares colhidos.
Grfico 01 - rea colhida com algodo no Brasil e regies.
Fonte: IBGE - Censo agropecurio (2006).
Em 1985, o Nordeste chega a impressionante marca de 960.730 hectares de rea
colhida, o que representava mais de 46% da rea nacional. Muito embora, a participao na
produo nacional no alcanasse um patamar to alto, fato atribudo a uma maior
produtividade das lavouras do Sul e Sudeste, visto que nestas reas eram adotadas tcnicas de
cultivo que proporcionavam este aumento, como: controle fitossanitrio, adubaes,
0
500000
1000000
1500000
2000000
2500000
1920 1940 1950 1960 1970 1975 1980 1985 1995 2006
Brasil
Norte
Nordeste
Sudeste
Sul
Centro-Oeste
23
introduo de cultivares mais produtivas, sementes selecionadas, o que retratado no grfico
02. A partir deste ano, a rea plantada na regio cai drasticamente, chegando ao ano de 1995
com uma rea colhida de 162.436 hectares.
Nos anos seguintes a rea colhida volta a crescer e em 2006 atinge a marca de
237.695 hectares e este aumento se deve ao plantio de algodo no cerrado da Bahia, que se
constitua, desde o final dos anos 90, na nova fronteira agrcola do Brasil (SILVA FILHO;
PEDROSA, 2004).
Grfico 02 - Produo de algodo no Brasil e regies.
Fonte: IBGE - Censo agropecurio (2006).
Muitos so os motivos atribudos ao declnio do algodo no semirido nordestino,
com 75% de sua rea considerada rida e semirida as exploraes agrcolas que dependem
de precipitaes pluviais regulares tornam-se arriscadas, longos perodos com escassez de
chuvas podem impossibilitar a atividade agrcola, perodo caracterizado entre os anos de 1979
e 1983 (BELTRO, 2003). No entanto, como j mencionado antes, o algodo adapta-se bem
a estas condies adversas, no sendo este um fator preponderante para sua derrocada. Para
Moreira e Santos (1994), o produtor nordestino no acompanhou os avanos tecnolgicos
exigidos pela modernizao da cotonicultura, isto pode ser atribudo em parte, ao fato da
lavoura algodoeira ter importncia secundria em relao pecuria.
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Norte
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Os agricultores que cultivavam o algodo tambm sofreram com a abertura da
economia s exportaes, os baixos preos praticados nos mercado internacional, em muitos
pases produtores o algodo subsidiado, e os longos prazos para pagamentos fizeram com
que a indstria txtil nacional optasse pela importao da pluma. Some-se a isso a falta de
uma poltica agrcola visando dar suporte cotonicultura regional, aconteceu neste momento
um desmantelamento do parque de beneficiamento do algodo na regio, as usinas foram
fechadas e suas mquinas transferidas para as regies do centro oeste e sudeste baiano
(MOREIRA et al., 1997).
Outro fato marcante foi a deteco do bicudo do algodoeiro, A. grandis, em
fevereiro de 1983, na regio de Campinas, no estado de So Paulo e em julho do mesmo ano
no estado da Paraba. O inseto j causava severos danos econmicos nos Estados Unidos da
Amrica durante vrias dcadas, sendo o principal inseto com potencial para torna-se praga
do algodoeiro (BARBOSA; LUKEFAR; BRAGA SOBRINHO, 1986). A presena do inseto-
praga foi devastadora, principalmente por ser de difcil controle e exigir a adoo de tcnicas
que, em geral, aumentam o custo de produo (MOREIRA et al., 1997).
Burke (1986) alerta para evidncias que demonstram que a chegada do bicudo do
algodoeiro no Brasil fora resultado de introduo e no de uma expanso natural.
2.2 Agroecologia
A revoluo industrial o grande marco do domnio do homem sobre a natureza,
principalmente a partir da segunda metade do sculo XIX atividades antrpicas iniciam um
processo de alterao das camadas mais superficiais da terra, prejudicando o desenvolvimento
e manuteno de diversas formas de vida, evidenciando sinais de deteriorao do meio
ambiente, principalmente com o advento das descobertas da qumica agrcola (DUARTE;
WEHRMANN, 2008). A partir destas descobertas e com a ampla difuso da adubao
mineral na agricultura, prticas agrcolas conservacionistas so abandonadas, surgindo
problemas relacionados principalmente ao uso inadequado do solo, que passa a ser
considerado um mero sustentculo para as plantas e meio para veiculao de compostos
minerais (ASSIS; ROMEIRO, 2002).
Deste processo emerge a chamada Revoluo Verde, que surge com o propsito
de aumentar a produo agrcola mundial e solucionar o problema da fome, atravs do
desenvolvimento de pesquisas em fertilizao do solo, sementes geneticamente modificadas,
mecanizao agrcola, utilizao de agrotxicos e reduo dos custos de produo (ASSIS,
25
2006). Houve aumentos significativos da produo de alimentos, principalmente a partir da
dcada de 1960, no entanto, o problema da fome no foi resolvido, alm de provocar
problemas relacionados degradao ambiental, aumento da concentrao de riquezas e
disparidades no meio rural, expulsando o agricultor familiar do campo (ASSIS; ROMEIRO,
2002).
Na dcada de 1920, surgem os primeiros trabalhos abordando a ecologia dos
cultivos e contrrios adubao qumica, valorizando o uso da matria orgnica e prticas
culturais que favorecessem a atividade biolgica. Estas atividades alternativas tiveram incio
na Europa com a agricultura biodinmica, iniciada por Rudolf Steiner, a agricultura orgnica,
com seus princpios fundamentados pelo ingls Albert Howard e a agricultura biolgica,
baseada nas ideias de Hans Peter Muller. No Japo, em 1935, surge a agricultura natural,
idealizada por Mokiti Okada (EHLERS, 1994).
Na dcada de 1930, foi proposto o uso do termo agroecologia, que seria a juno
dos termos agronomia e ecologia, as duas cincias das quais a agroecologia deriva. Aps a
segunda guerra mundial com o avano da revoluo verde, o termo agroecologia foi
temporariamente esquecido, voltando a ganhar fora nas dcadas seguintes (MOREIRA;
CARMO, 2004).
Segundo Gliessman (2000), nos anos 80 a agroecologia emerge com estrutura
conceitual e metodologia para estudos de agroecossistemas, que assim o define: Um agroecossistema um local de produo agrcola - uma propriedade agrcola, por exemplo - compreendido como um ecossistema. O conceito de agroecossistema proporciona uma estrutura com a qual podemos analisar os sistemas de produo de alimentos como um todo, incluindo seus conjuntos complexos de insumos e produo e as interconexes que os compe.
Assim, agroecossistema a unidade fundamental de anlise que busca o
entendimento das diferentes interaes ali presentes, nos quais os processos biolgicos, a
biota do solo e os ciclos minerais, a regulao de pragas e doenas, as transformaes
energticas e as relaes socioeconmicas, so vistas e analisadas em conjunto, tendo como
princpio a ampliao e conservao da biodiversidade dos sistemas agrcolas e a sua
sustentabilidade.
De acordo com Altieri (1998, p.23-24)
A produo sustentvel em um agroecossistema deriva do equilbrio entre plantas, solos, nutrientes, luz solar, umidade e outros organismos coexistentes. O agroecossistema produtivo e saudvel quando essas condies de crescimento ricas e equilibradas prevalecem, e quando as plantas permanecem resilientes de modo a tolerar estresses e adversidades. s vezes as perturbaes podem ser superadas por
26
agroecossistemas vigorosos, que sejam adaptveis e diversificados o suficiente para se recuperarem passado o perodo de estresse. Ocasionalmente, os agricultores que empregam mtodos alternativos podem ter de aplicar mediadas mais drsticas (isto , inseticidas botnicos, fertilizantes alternativos) para controlar pragas especficas ou deficincias do solo. A agroecologia engloba orientaes de como fazer isso, cuidadosamente, sem provocar danos desnecessrios ou irreparveis. Alm da luta contra as pragas, doenas ou problemas do solo, o agroecologista procura restaurar a resilincia e a fora do agroecossistema. Se a causa da doena, das pragas, da degradao do solo, por exemplo, for entendida como desequilbrio, ento o objetivo do tratamento agroecolgico restabelec-lo. O tratamento e a recuperao so orientados por um conjunto de princpios especficos e diretrizes tecnolgicas.
Altieri (2002) afirma ainda que, necessrio gerar [...] rendimentos durveis a
longo prazo, atravs de uso tecnologias de manejo ecologicamente adequadas, buscando
otimizar o sistema como um todo e no o rendimento mximo de um produto especfico. A
diversificao da produo importante para os pequenos agricultores, favorecendo o
convvio com as pragas que atacam as culturas, como tambm aumentando as suas
possibilidades de renda (SILVA et al., 2009).
Para Caporal e Costabeber (2004), a agroecologia refere-se a um campo de
estudos para o manejo ecolgico dos recursos naturais, devendo ocorrer atravs de uma
iniciativa social coletiva, estes mesmos autores defendem que a agroecologia nutre-se de
saberes cientficos de muitas reas, compreendendo uma abordagem inter, multi e
transdisciplinar, assim como do conhecimento prtico de agricultores. Estes diversos campos
de conhecimento proporcionam as bases cientficas para apoiar o processo de transio do
modelo atual de agricultura convencional para uma agricultura de base ecolgica.
Gliessman (2000) aponta trs nveis no processo de transio para
agroecossistemas sustentveis. O primeiro refere-se reduo do uso e consumo de insumos
externos com a incrementao de prticas convencionais, para a diminuio dos impactos
negativos da agricultura convencional. O segundo nvel diz respeito utilizao de prticas
alternativas em substituio s prticas convencionais. O terceiro nvel da transio
representado pelo novo formato dos agroecossistemas, que funcionariam com base em novos
conjuntos de processos ecolgicos. Alm dos fatores citados, a transio agroecolgica
depende essencialmente de uma mudana de comportamento dos atores envolvidos na cadeia
produtiva em relao ao manejo e conservao dos recursos naturais, pois se trata de um
processo social (CAPORAL; COSTABEBER, 2000).
Guzmn (2001) defende a agroecologia a partir do desenvolvimento local ou
endgeno e destaca a necessidade de construo e reconstruo do conhecimento local,
visualizando caractersticas que devem ser contempladas no processo de transio
agroecolgica:
27
1 - Integralidade - As estratgias de desenvolvimento, sejam elas voltadas para a
agricultura, pecuria e silvicultura, devem ser aplicadas ao conjunto das oportunidades e
potencialidades existentes no local.
2 - Harmonia e equilbrio - O manejo dos recursos naturais deve ser realizado
buscando uma harmonia entre crescimento econmico e manuteno da qualidade do meio
ambiente, devendo existir um equilbrio entre os sistemas econmico e ecolgico.
3 - Autonomia de gesto e controle - Os prprios agricultores familiares devem
ser os responsveis pela gesto dos elementos do processo, uma interveno pblica pode
ocorrer de maneira que no interfira na autonomia local.
4 - Minimizao das externalidades negativas nas atividades produtivas - Os
insumos utilizados na produo e comercializao devem ter originados, sempre que possvel,
na prpria comunidade, minimizando os impactos negativos gerados a partir da utilizao de
insumos de natureza industrial.
5 - Manuteno e potencializao dos circuitos curtos - A dependncia de
comercializao nos mercados exteriores comunidade, devem ser minimizados a partir da
manuteno e potencializao dos mercados locais, adquirindo experincias nos mercados de
circuitos curtos para em seguida buscar mercados regionais e mais amplos.
6 - Utilizao do conhecimento local vinculado aos sistemas tradicionais de
manejo dos recursos naturais - Os sistemas de manejo dos recursos naturais na agroecologia
devem ser definidos com base no conhecimento local, gerado a partir de observaes dos
aspectos inerentes a cada agroecossistema e passado de gerao gerao, oferecendo
solues especficas a cada realidade.
7 - Pluriatividade, seletividade e complementaridade da renda - Necessidade do
uso mltiplo da propriedade rural, aproveitando todas suas potencialidades por meio da
reutilizao de materiais e energia, estas iniciativas devem buscar uma complementaridade de
renda que permita aos agricultores uma melhor condio do nvel de vida.
Todas as caractersticas descritas devem ser compreendidas com base no conceito
de endgeno, que no pode ser visto como algo esttico que exclua o externo, este deve ser
incorporado, desde que respeite a identidade local e no interfira na lgica do seu
funcionamento.
Segundo Leff (2002, p.36), As prticas agroecolgicas nos remetem
recuperao dos saberes tradicionais, a um passado no qual o humano era dono do seu saber, a
um tempo em que seu saber marcava um lugar no mundo e um sentido de existncia[...]. A
valorizao do saber local, seja ele indgena, quilombola ou agricultor familiar, promove a
28
construo da sustentabilidade e do desenvolvimento rural sustentvel quando aliado ao
conhecimento tcnico multidisciplinar. Neste aspecto, Gliessman (1990) afirma que a
sustentabilidade s existe a partir de uma viso holstica dos agroecossistemas, atendendo de
maneira integrada, os seguintes critrios: a) ruptura da dependncia de insumos externos; b)
utilizao de recursos e energia renovveis existentes no local; c) utilizao dos impactos
benficos que derivam dos ambientes ecolgico, econmico, social e poltico, tanto da
propriedade como externo; d) manuteno do meio ambiente local, aceitando mudanas que
possam significar transformaes nos fluxos de materiais e energia que permitam o
funcionamento do ecossistema; e) regenerao dos materiais deteriorados, permitindo a
manuteno, a longo prazo, da capacidade produtiva dos agroecossistemas; f) valorizao,
recuperao do conhecimento local, proporcionando a melhora do nvel de vida; g)
estabelecimento de circuitos curtos e progressiva expanso para o comrcio externo; h)
potencializao da diversidade biolgica e sociocultural local.
2.3 Algodo em bases agroecolgicas
O Brasil est entre os maiores consumidores mundiais de agrotxicos. O consumo
brasileiro cresce a cada ano, em proporo superior mdia mundial (PELAEZ, 2010). Os
casos de intoxicao no campo aumentam proporcionalmente ao consumo, sendo que em
2011 foram registrados mais de oito mil casos de intoxicao por agrotxicos no Brasil, os
dados so da ANVISA - Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria (ANVISA, 2012). Os
agrotxicos podem causar efeitos indesejveis sobre material gentico e sistemas reprodutivos
de muitas espcies, assim como atingir os mais variados ecossistemas causando efeitos locais
ou regionais (GRISOLIA, 2005).
O cultivo do algodoeiro responsvel por um nmero elevado de aplicao de
agrotxicos, em torno de 6% do total comercializado no Brasil (CARNEIRO, 2009),
principalmente nas condies do agronegcio. A maior parte destes produtos so inseticidas,
consequncia do grande nmero de artrpodes fitfagos com potencial para se tornarem
pragas do algodoeiro (ALMEIDA; SILVA, 1999; GALLO et al., 2002).
Com o aumento de demanda e na possibilidade de reintroduzir o cultivo do
algodo no semirido, algumas iniciativas comearam a ocorrer no Brasil. Segundo Coelho
(2001), o incio do cultivo orgnico no Brasil teve incio no final dos anos 70, figurando como
importante pas produtor e consumidor de produtos orgnicos. Dados do IFOAM (2009)
29
demonstram que a rea cultivada no Brasil em 2008 com produtos orgnicos foi de 1.765.793
ha, destes, 932.120 ha eram em reas certificadas e 833.673 ha em transio.
Para Beltro (2003), desde os sculos XVII e XVIII o algodo j era cultivado em
consrcio com culturas alimentares e usado para alimentao bovina. Este tipo de manejo
perdurou at o incio dos anos 80 com o algodoeiro moc ou perene, com a infestao do
bicudo do algodoeiro esta prtica foi abandonada.
Desde o final dos anos 80 vrios pases pelo mundo iniciaram experincia com o
cultivo do algodo agroecolgico como ndia, Sria, Turquia, China, Estados Unidos,
Tanznia, Uganda, Peru, Egito e Mali (TRUSCOTT et al., 2010). No Brasil, especificamente
no Cear, iniciou-se em meados dos anos 90 uma tentativa de produzir algodo em bases
agroecolgicas difundida pelo Esplar (BASTOS et al., 2006). Estes autores indicam a
necessidade de testes para comprovar a eficcia de plantas nativas da regio semirida do
nordeste com caractersticas de ao inseticida, afirmam ainda a inexistncia de estudos que
avaliem os efeitos de cultivos consorciados sobre a entomofauna associada ao algodoeiro no
Brasil.
Albuquerque et al., (2009), em estudo conduzido no estado da Paraba, relata que
encontrou resultados satisfatrios no controle de vrias pragas do algodoeiro utilizando
inseticidas naturais e controle cultural: para o bicudo foi feita a catao de botes florais
atacados e cados no solo, a cochonilha Planococcus minor (Maskell), foi controlada com o
uso de caulim na concentrao de 1,0 kg para 20 L de gua e leo de nim na concentrao de
50 mL para 20 L de gua, para combater o percevejo manchador, Dysdercus sp, utilizou-se
uma calda de nim. O manejo da formiga (sava) foi feito atravs do uso de folhas e ramos de
manioba (Manihot glaziovii Muell. Arg.) e de leucena (Leucaena leucocephala (Lam.) R.
Dewit).
2.4 Projeto Algodo em Consrcios Agroecolgicos
O Semirido brasileiro (Figura 1) tem uma populao de aproximadamente 22
milhes de habitantes, abrangendo uma rea de aproximadamente 969.589 quilmetros
quadrados, compreendendo 1.133 municpios de nove estados brasileiros (BRASIL, 2005). O
ndice de Desenvolvimento Humano (IDH) da regio considerado baixo para
aproximadamente 82% dos municpios, possuindo IDH inferior a 0,65 (ASABRASIL, 2012).
O Brasil possui 5,1 milhes de estabelecimentos rurais, deste total, 4,3 milhes
pertencem agricultura familiar, com 12,3 milhes de pessoas ocupadas com este seguimento
30
e gerando um valor bruto de produo em torno de 54 bilhes de reais, sendo responsvel pela
maioria dos alimentos bsicos consumidos pela populao brasileira (BRASIL, 2009). A
maioria destas propriedades rurais est na regio Nordeste, so mais de 1,7 milhes de
estabelecimentos, s mesmas tm baixo acesso ao crdito e deficiente assistncia tcnica,
quase a metade da populao no Semirido no possui renda ou tem como nica fonte de
rendimento os benefcios governamentais. Os estabelecimentos rurais nordestinos absorvem a
maior parte da mo de obra ocupada no campo, tratando-se de um setor importante na
economia da regio.
31
Figura 01 - Mapa com a nova delimitao do Semirido.
Fonte: MIN (2005).
Como mencionado anteriormente, o algodo sempre teve importncia
fundamental para o agricultor do semirido nordestino. Grande gerador de emprego e renda,
sendo cultivado durante muito tempo no sistema de consrcios com culturas alimentares e uso
da pecuria no aproveitamento dos restos culturais (BELTRO, 2003).
32
A diversificao de espcies vegetais possibilita um melhor aproveitamento dos
recursos naturais das pequenas propriedades rurais, gerando renda e alimento para a famlia,
assim como, garantindo a alimentao animal atravs da produo de forragens (ARAUJO et
al. 2012). Segundo Santiago et al. (2012, p.1), o sistema de consrcios eficiente ao aplicar
tcnicas adaptadas as condies das famlias agricultoras, otimizando a produo [...] com
baixo uso de insumos externos, tornando os agroecossistemas mais resilientes, pois reduz os
riscos de perdas e conserva a base dos recursos naturais.
Com o propsito de resgatar o cultivo do algodo em bases agroecolgicas, teve
incio em meados dos anos 90 um projeto para plantio de algodo consorciado, a iniciativa foi
da organizao no governamental ESPLAR - Centro de Pesquisa e Assessoria, na cidade de
Tau, estado do Cear, nesta cidade contou com a parceria da ADEC - Associao de
Desenvolvimento Educacional e Cultural (ESPLAR, 2012).
Para Albuquerque et al. (2011), a iniciativa do ESPLAR estimulou outras
instituies de pesquisa a conduzirem trabalhos com algodo consorciado, neste sentido, a
Embrapa Algodo a partir do ano de 2005 intensificou estudos na regio do Curimata
paraibano visando o plantio de algodo em consrcios agroecolgicos, em 2008 a rea de
ao foi ampliada atravs da parceria com o Projeto Dom Helder Cmara.
O Projeto Algodo em Consrcios Agroecolgicos teve incio em outubro de
2008 e faz parte de uma ao maior coordenada pelo Projeto Dom Helder Cmara (PDHC),
projeto do Ministrio do Desenvolvimento Agrrio (MDA), tendo como co-financiadores o
Fundo das Naes Unidas para o Meio Ambiente (GEF) e Fundo Internacional para o
Desenvolvimento da Agricultura (FIDA).
Para Sidersky et al., (2010, p.17):
O PDHC um projeto de aes referenciais voltadas para o desenvolvimento sustentvel do semirido do Nordeste do Brasil, que orienta as suas aes embasado no conceito de convivncia com o semirido, articulando as aes sociopolticas, ambientais, culturais, econmicas e tecnolgicas e reconhecendo, nas diferenas estruturais e culturais e nos processos de concertao, as possibilidades para a construo de alternativas.
Constitui-se ainda como um projeto de assistncia tcnica diferenciada e com uma
ao contnua e sistemtica, baseando seus princpios na agroecologia. O PDHC
implementado pelo MDA, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Territorial (SDT).
O objetivo do projeto Algodo em Consrcios Agroecolgicos demonstrar a
possibilidade de expandir a cultura do algodo em consrcio com culturas alimentares. Para
33
Araujo et al. (2012), a ao do projeto no semirido nordestino ampara-se nos seguintes
princpios:
Proposta tcnica de base agroecolgica com prticas de conservao e
manejo da fertilidade dos solos, estratgias de convivncia com o bicudo do
algodoeiro e outras pragas, aliada a produo de alimentos para as famlias e
animais;
Inserir o algodo em pluma em mercado diferenciado com valor agregado, de
acordo com a conformidade orgnica e as formas de produo (comrcio
justo e mercado orgnico);
Fortalecimento da estratgia de integrao lavoura-pecuria;
Fortalecimento da gesto social territorial e local sobre os processos de
produo, certificao orgnica e comercializao.
Conta atualmente com 800 famlias cadastradas em sete territrios da cidadania
do MDA: Cariri Paraibano (PB), Serto So Joo (PI), Serto do Apodi (RN), Serto do Paje
e Serto do Araripe (PE) e Serto Central e Serto dos Inhamuns (CE). A coordenao geral
do projeto responsabilidade do Projeto Dom Hlder Cmara. A Embrapa Algodo
responsvel pela coordenao tcnica nos territrios do Cariri Paraibano (PB), Serto So
Joo (PI), Serto do Apodi (RN), Serto do Paje e Serto do Araripe (PE). O ESPLAR tem
sob sua responsabilidade a coordenao tcnica dos territrios do Serto Central e Serto dos
Inhamuns (CE).
Segundo Sidesrky et al. (2010, p.68), a parceria desenvolvida pelo PDHC com o
Esplar e a Embrapa Algodo para implementao do projeto, aliado a Assessoria Tcnica
Permanente (ATP) do PDHC, [...] oferece um arranjo institucional que permite um sistema
de formao pela experimentao, acompanhamento tcnico e fortalecimento da gesto social
para as famlias; baseada na revitalizao dos roados com algodo consorciado com culturas
alimentares e forrageiras.
2.5 Desenvolvimento Sustentvel
Na segunda metade do sculo XX a humanidade alcana nveis elevados de
tecnologia cientfica, como consequncia, produz muita misria e degradao ambiental
(BUARQUE, 1994 apud CHACON, 2007). Ao mesmo tempo, intensifica-se a preocupao
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com a degradao ambiental a nvel mundial, desastres ecolgicos passam a ganhar
visibilidade, principalmente a partir de publicaes de livros que atraem a ateno da opinio
pblica. Em 1953, Jacques Cousteau publica seu primeiro livro, O Mundo Silencioso,
vendendo mais de cinco milhes de exemplares em todo o mundo. Rachel Carson, (escritora,
ecologista e cientista norte-americana) causa grande repercusso mundial ao lanar o livro
Primavera Silenciosa, a obra chama a ateno para os perigos que o uso do pesticida DDT
pode causar a humanidade e ao meio ambiente (BURSZTYN; PERSEGONA, 2008).
O Clube de Roma, grupo formado por economistas, cientistas e educadores,
publica em 1971 um relatrio intitulado Os Limites do Crescimento, que alerta sobre a
explorao exagerada dos recursos naturais.
Em 1972 acontece a Conferncia de Estocolmo, evento organizado pelas Naes
Unidas que contou com a presena de 113 pases e que produziu a Declarao sobre o Meio
Ambiente Humano, a declarao que continham uma lista de princpios que deveriam indicar
as aes de governos referentes s questes ambientais (MARTINS, 2002).
Outro resultado da conferncia foi a criao do Programa das Naes Unidas para
o Meio Ambiente (PNUMA), segundo Bursztyn e Persegona (2008, p.151), o rgo [...] teve
seu mandato ampliado com o advento da Agenda 21, passando a ser responsvel, junto com
os Estados e organismos da ONU, pela concretizao dos objetivos da Conferncia das naes
Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento e pela Agenda 21. Com sede central em
Nairobi, o PNUMA o primeiro programa com alcance mundial instalado na frica
(SACHS,1986).
De acordo com Bursztyn e Persegona, (2008, p.151-152):
A delegao brasileira na Conferncia de Estocolmo declara que o pas est aberto poluio, porque o que precisa dlares, desenvolvimento e empregos. Apesar disso, contraditoriamente, o Brasil lidera os pases do Terceiro Mundo quanto a no aceitar a Teoria do Crescimento Zero proposta pelo Clube de Roma.
Em 1973, surge o termo Ecodesenvolvimento, lanada por Maurice Strong e
seu conceito desenvolvido por Ignacy Sachs, que busca o uso racional dos recursos naturais,
tanto nas reas rurais como nas urbanas, integrando crescimento econmico e preservao
ambiental. Para Sachs (2009):
Os objetivos do desenvolvimento so sempre sociais, h uma condicionalidade ambiental que preciso respeitar, e finalmente, para que as coisas avancem, preciso que as solues pensadas sejam economicamente viveis. [...] Fazer Ecodesenvolvimento saber aproveitar os recursos potenciais do meio, dar prova de crescer na adaptao ecologicamente prudente do meio s necessidades do homem.
35
Ainda segundo Sachs (1994 apud CHACON, 2007), para que o
ecodesenvolvimento acontea ele prope cinco dimenses, que so inseparveis e
complementares, suas dimenses so:
Sustentabilidade social, necessrio que se busque uma sociedade mais justa
diminuindo as diferenas entre suas vrias camadas.
Sustentabilidade ambiental, usar os recursos naturais de maneira racional,
adotar medidas efetivas para a limitao do uso dos recursos no renovveis,
uma gesto do meio ambiente urbano que mobilize a populao para prticas
como reciclagem do lixo, reutilizao de restos de construo, uso consciente
de energia eltrica e gua.
Sustentabilidade espacial, distribuio equilibrada dos recursos, das
atividades e das populaes rurais e urbanas.
Sustentabilidade econmica, distribuio equitativa dos bens materiais no s
local, mas a nveis mundiais.
Sustentabilidade cultural, promoo da cultura e dos saberes locais.
Sachs (1986) destaca ainda que o desenvolvimento sustentvel ampara-se em
cinco pilares: Social, ambiental, territorial, econmico e poltico, onde a governana
democrtica um valor fundador e essencial para os acontecimentos.
Em outubro de 1974, acontece um simpsio de especialista em Cocoyoc, no
Mxico, organizado pelo PNUMA e pela Conferncia das Naes Unidas sobre Comrcio e
Desenvolvimento (UNCTAD). O documento produzido, a Declarao de Cocoyoc,
considerado fundamental para identificao de fatores econmicos e sociais que culminam
com a destruio da natureza, influenciando nas atitudes dos pensadores ambientais, alertando
para que os limites sociais e ambientais para o desenvolvimento fossem respeitados (SACHS,
2005).
A Conferncia de Tbilisi, aconteceu na Gergia, em 1977, considerado um dos
principais eventos sobre educao ambiental do planeta, organizada pela UNESCO e o
PNUMA, deste encontro, saram s definies, os objetivos, os princpios e as estratgias para
a educao ambiental no mundo, dando destaque para seu carter interdisciplinar, tico,
transformador. Nesta Conferncia estabeleceu-se que:
Uma vez compreendida devidamente, a educao ambiental deve constituir um ensino geral permanente, reagindo s mudanas que se produzem num mundo em rpida evoluo. Esse tipo de educao deve tambm possibilitar ao indivduo compreender os principais problemas do mundo contemporneo, proporcionando-lhe conhecimentos tcnicos e as qualidades necessrias para desempenhar uma
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funo produtiva visando melhoria da vida e proteo do meio ambiente, atendo-se aos valores ticos. Ao adotar um enfoque global, fundamentado numa ampla base interdisciplinar, a educao ambiental torna a criar uma perspectiva geral, dentro da qual se reconhece existir uma profunda interdependncia entre o meio natural e o meio artificial (MMA, 2012, p.01).
Em 1983, ocorre criao da Comisso Mundial para o Ambiente e
Desenvolvimento pela assembleia Geral das Naes Unidas, o objetivo era reexaminar as
questes relativas ao meio ambiente e propor medidas de alcance mundial com aes voltadas
para a preservao ambiental. Como resultado das reunies desta comisso, foi elaborado um
relatrio final intitulado Relatrio Brundtland, Our Commum Future (Nosso Futuro Comum)
em referncia a ento Primeira-ministra da Noruega Gro Harlem Brundtland, e apresentado a
Assembleia Geral da ONU em 1987 (BURSZTYN; PERSEGONA, 2008). O documento
apresenta a definio de desenvolvimento sustentvel como sendo o desenvolvimento que
satisfaz s necessidades do presente sem comprometer a habilidade das futuras geraes de
satisfazer suas necessidades, tornando este conceito o mais popularmente conhecido.
A Conferncia das Naes Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento,
popularmente conhecida como ECO-92, ocorreu no Brasil em 1992, o encontro proporcionou
um amplo debate e uma grande mobilizao da comunidade internacional em busca de meios
que propiciasse o desenvolvimento socioeconmico aliado preservao ambiental. Dentre os
documentos gerados pela ECO-92 encontram-se A Carta da Terra, Agenda 21 que
referia-se a implementao do desenvolvimento sustentvel nos pases, Declarao do Rio
sobre Ambiente e Desenvolvimento, Declarao de Princpios sobre Florestas e
convenes sobre desertificao, biodiversidade e mudanas climticas (CAVALCANTI et
al., 1994).
No ano de 1997, foi assinado o Protocolo de Kyoto, essa conveno serviu para
firmar o compromisso, por parte dos pases industrializados, em reduzir a emisso de gases.
Os Estados Unidos da Amrica, que respondem por 1/3 das emisses de dixido de carbono,
no aderiram ao protocolo (BURSZTYN, 2004). O protocolo entra efetivamente em vigor no
ano de 2005.
As naes Unidas realizaram em 2002, na frica do Sul, uma conferncia que
marcava os dez anos da ECO-92, a Cpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentvel,
como ficou conhecida, tinha entre os objetivos a implementao efetiva da Agenda 21,
avaliao dos resultados alcanados aps a ECO-92, estabelecer novas prioridades para o
sculo 21, como a reduo da pobreza e a proteo ao meio ambiente (TROBE e GREEN,
2003).
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Aps vinte anos de realizao da Conferncia das Naes Unidas sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento, a ECO-92, aconteceu a Conferncia das Naes Unidas sobre
Desenvolvimento Sustentvel, a RIO+20. O evento era aguardado com grande expectativa,
esperava-se que a conferncia levasse definitivamente a um desenvolvimento sustentvel,
para Goldemberg (2012):
Do ponto de vista de resultados concretos como foi a RIO92, contudo a Conferncia ser desapontadora. Ao que tudo indica, sero apenas enunciados na RIO+20 objetivos de desenvolvimento sustentvel a exemplo do que ocorreu com as Metas do Milnio adotada pelas Naes Unidas no ano 2000. No entanto, os temas especficos que constaro destes objetivos ainda no foram definidos nem propostas de aes concretas para atingi-los. Um passo importante que talvez seja adotado ser o lanamento de um processo de negociao para definir estas aes de forma quantitativa a ser a concludo at 2015; o que apenas adia o problema.
Goldemberg destaca como ponto positivo da RIO+20 a proposio de transformar
o Programa das Naes Unidas para o Meio Ambiente - PNUMA - em uma agncia da ONU,
a exemplo da Organizao Mundial da Sade (OMS).
Feldman (2012), aponta que a falta de lideranas da rea cientfica pode ter
comprometido os resultados finais da RIO+20:
Se perguntarmos aos diplomatas brasileiros, diro que RIO+20 foi um grande sucesso, porque para eles o importante era chegar a um documento final, mesmo que incuo. O fato do professor Goldemberg no ser um diplomata foi um fator importante para o sucesso da ECO-92.
Ele afirma que a conferncia contou com iniciativas positivas, destacando a
participao do setor empresarial e a mobilizao da comunidade cientfica na criao do
programa Future of Earth, trata-se de uma ao internacional de pesquisa interdisciplinar que
visa coordenar as pesquisas e as polticas relacionadas s mudanas do meio ambiente.
2.6 Desenvolvimento regional sustentvel no semirido
O Brasil sempre foi marcado por grandes desigualdades regionais, principalmente
do ponto de vista econmico, sempre existiu uma diferena de ritmo de crescimento entre o
Nordeste e o Centro-Sul, fazendo crescer as disparidades econmicas entre as diversas regies
do pas. No intuito de minimizar as diferenas regionais, tem incio no Brasil nas dcadas de
1950 e 1960, aes do governo federal visando o desenvolvimento regional, principalmente
do Nordeste (ARAUJO, 2009).
Uma grande seca assolou a regio Nordeste ano de 1951, o governo federal, sob
presidncia de Getlio Vargas, criou o Banco do Nordeste do Brasil S.A atravs da Lei n
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1649 de 19/07/1952, o objetivo principal era fomentar o desenvolvimento da regio Nordeste,
assolada por constantes secas e escassez de recursos estveis, na opinio do governo central o
organismo financeiro seria capaz de estruturar a economia da regio implementando uma
nova mentalidade empresarial (BNB, 2012). Foi de responsabilidade do BNB implantar o
Fundo de Investimentos do Nordeste FINOR, com o objetivo de transformar o setor
secundrio da economia regional. Pode-se destacar ainda iniciativas como o Programa de
Desenvolvimento de reas Integradas do Nordeste POLONORDESTE, o Programa
Especial de Apoio ao Desenvolvimento da regio Semirida Projeto Sertanejo e o Programa
Nacional do lcool PROLCOOL.
Em 1956, por iniciativa do BNB, foi criado o Grupo de Trabalho para o
Desenvolvimento do Nordeste GTDN, que depois viria a ter a coordenao de Celso
Furtado, o grupo deveria elaborar um conjunto de aes pblicas para alavancar o
desenvolvimento do Nordeste. Segundo Ferreira (2009), o plano de ao econmica proposto
pelo GTDN tinha as seguintes diretrizes bsicas: a) intensificao dos investimentos
industriais; b) transformao da economia da faixa agrria mida; c) elevao da
produtividade da zona semirida, aumentando sua resistncia aos impactos da seca; d)
deslocamento da fronteira agrcola nordestina com a ocupao da hinterland maranhense,
visando ampliao da oferta de alimentos.
A constituio do GTDN propiciou a criao da Superintendncia para o
Desenvolvimento do Nordeste SUDENE, em 1959. Diferente das suas diretrizes bsicas e
do pensamento de Furtado, a proposta da SUDENE priorizou a industrializao do Nordeste.
A proposta de Furtado de trazer o Estado desenvolvimentista para o Nordeste e o consequente
crescimento do povo nordestino no se concretizou, ao contrrio, os incentivos trouxeram
grandes grupos nacionais e internacionais e provocaram um movimento migratrio do
nordestino para a regio amaznica (ARAUJO, 2009; CHACON, 2007).
Ainda em relao s polticas de desenvolvimento para a regio Nordeste
institudas nesta poca, Chacon (2007, p.76), destaca: Depois de dcadas de estratgico esquecimento, com o pretexto de minimizar desigualdades e inserir a regio no processo moderno de desenvolvimento regional, o Nordeste passou a ser alvo de uma poltica industrial pouco eficiente para a regio, semelhante s polticas agrcola e de combate seca, tambm implementadas com o objetivo de promover o desenvolvimento. O que ocorre o desperdcio de recursos empregados em polticas que se baseiam em modelos genricos, concebidos exteriormente regio, sem levar em conta suas especificidades. Alm disso, os programas governamentais so grandemente tragados pela corrupo e mesmo pela incompetncia de governos ainda fixados em prticas assistencialistas e patrimonialistas, pelas quais os recursos pblicos no tinham dono.
39
O Departamento de Obras Contra as Secas DNOCS a mais antiga instituio
federal com atuao no Nordeste, foi criada em 1909, ainda sob a denominao de Inspetoria
federal de Obras Contra as Secas, sendo o primeiro rgo a estudar os problemas da regio
semirida do Brasil. O rgo foi durante muito tempo a nica agncia do governo federal a
executar obras de engenharia na regio, construindo audes, rodovias, ferrovias, portos e
demais obras estruturais (DNOCS, 2012).
As polticas pblicas implementadas pelo estado, principalmente a partir de 1950,
no intuito de desenvolver a regio semirida, favoreciam a industrializao e grandes projetos
de irrigao baseados em monoculturas. Estas medidas acabaram por acentuar a histrica
diferenciao social no meio rural e uma grande degradao do meio ambiente (ANDRADE;
QUEIROZ, 2009).
Nos ltimos anos uma mudana nas aes governamentais, principalmente com
aumento nos investimentos e a participao de novos atores sociais e polticos, surge
possibilidade de um desenvolvimento sustentvel no semirido, atravs do fortalecimento da
agricultura familiar por intermdio de polticas pblicas que incentivem a transio para
produo uma agrcola sustentvel dentro dos princpios da agroecologia. Para alcanar
avanos neste sentido faz-se necessrio a promoo de mudanas, assim, Ehlers (1999)
destaca: [...] o incentivo substituio dos sistemas rotacionais diversificados; a reorientao
da pesquisa agropecuria para um enfoque sistmico e o fortalecimento da agricultura
familiar.
Em 2012 o governo federal instituiu a Poltica Nacional de Agroecologia e
Produo Orgnica PNAPO, atravs do decreto n 7.794. No Brasil, existem mais de 200
mil famlias inseridas na atividade de produo agrcola orgnica e de base agroecolgica,
estes sistemas contribuem de maneira positiva para a garantia da segurana alimentar, para o
diminuio da pobreza e preservao do meio ambiente. A PNAPO tem o objetivo de
promover a transio agroecolgica e a produo orgnica como base do desenvolvimento
rural sustentvel, melhorando a qualidade de vida das pessoas e o uso sustentvel dos recursos
naturais. Esta poltica prev ainda, aes de pesquisa, assistncia tcnica, gesto ambiental,
formao profissional, financiamento para o setor e estmulos produo (BRASIL, 2012).
O governo federal estimula a produo de alimentos orgnicos atravs do
Programa de Aquisio de Alimentos PAA, pagando um adicional de 30% na compra de
alimentos orgnicos. O Pronaf Agroecologia uma linha para o financiamento de
investimentos dos sistemas de produo agroecolgicos ou orgnicos, incluindo-se os custos
40
relativos implantao e manuteno do empreendimento, os valores podem chegar a R$ 130
mil (BANCO DO BRASIL, 2013).
Segundo Chacon (2007, p.129) o Estado sempre ser pea fundamental para
implementao de polticas que promovam o desenvolvimento sustentvel, sobremaneira no
semirido, onde as condies so to precrias.
Um ponto que se destaca quando se trata de desenvolvimento o papel do Estado. Se, de uma maneira geral, o Estado ocupa uma posio fundamental na implementao de polticas que viabilizem o desenvolvimento sustentvel, no Serto semirido esse papel ainda mais importante. Sendo o Estado ainda o grande provedor de recursos, tambm o grande responsvel pelo alcance ou no de uma melhor qualidade de vida para o sertanejo.
To importante quanto o estado neste processo de desenvolvimento do semirido
o trabalho desenvolvido por diferentes organizaes no governamentais e agncias
internacionais, estes organismos tem o foco na agricultura familiar agroecolgica e no meio
ambiente. Propostas da sociedade civil podem desencadear aes e se transformarem em
polticas pblicas assumidas pelo governo, a exemplo do programa Um Milho de Cisternas,
elaborado por organizaes que compe a Articulao no Semirido Brasileiro ASA.
Nos ltimos anos, principalmente aps a criao do Ministrio do
Desenvolvimento Agrrio MDA pelo governo federal, aumentou a quantidade de recursos e
programas destinados a agricultura familiar estes programas incentivam a transio
agroecolgica e na sua essncia buscam promover o desenvolvimento sustentvel do
semirido, resultado de aes, conjuntas ou no, da sociedade civil e do estado.
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3 MATERIAL E MTODOS
Neste captulo, constam os procedimentos metodolgicos utilizados na pesquisa,
que utiliza duas abordagens para atingir seus objetivos: a quantitativa, que trata dos dados
tcnicos referentes presena de pragas, predadores e parasitides de insetos-praga e as suas
formas de controle. A pesquisa quantitativa caracteriza-se pela quantificao na coleta de
dados, assim como, pelos tratamentos estatsticos das informaes coletadas (DALFOVO et
al., 2008). Para representar a informao processada e melhor compreenso dos resultados
tabelas e grficos so desenvolvidos. A qualitativa, que trata dos dados referentes s questes
socioeconmicos e a forma de organizao coletiva dos agricultores. As duas abordagens so
utilizadas aqui como complementares, segundo Brggemann e Parpinelli (2008), as pesquisas
quantitativas e qualitativas podem gerar questes para serem aprofundadas nos seus diferentes
aspectos, no havendo contradio entre as formas de investigao.
3.1 Abordagem Quantitativa
3.1.1 Local de estudo
A pesquisa foi conduzida no Campo Experimental da Embrapa Algodo, em
Barbalha - CE, nas coordenadas geogrficas 071729 S de latitude, 391612 W de
Longitude e a 385 m de altitude acima do nvel do mar, em um plantio consorciado em faixas
de algodo BRS Aroeira, no espaamento de 1m entre fileiras por 0,3 m entre plantas,
contendo duas plantas por cova, intercalado com faixas das culturas consorciadas do Gergelim
BRS Seda, Milho BRS Caatingueiro e o Feijo Maranho, no espaamento de 0,5 m entre
fileiras de 60 metros, totalizando uma rea de 5.200 m2 (Figura 2), durante o perodo de 1 de
junho a 14 de setembro de 2012.
O experimento foi conduzido sob o sistema de irrigao por asperso
convencional, em um solo classificado como neossoloflvico.
Foram adotadas todas as prticas culturais rotineiras, como adubaes, capinas e
irrigaes, sem haver, no entanto, aplicaes de inseticidas qumicos para o controle das
pragas do algodoeiro.
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Figura 02 - Croqui do ensaio testes com inseticidas naturais.
3.1.2 Aplicao dos tratamentos
Os tratamentos e dosagens dos produtos utilizados, bem como suas
especificaes, so apresentados na tabela 01.
65 metros
T3 T2 T6 T6
T5 T6 T2 T2
80 metros T6 T3 T5 T5
T1 T5 T3 T3
T4 T4 T1 T4
T2 T1 T4 T1 B1 B2 B3 B4
Consrcio - Milho, feijo caupi e gergelim Milho Algodo
T1 - Sem aplicao T2 - Pimenta malagueta T3 - Caulim T4 - Azamax T5 - Rotenat T6 - Pironat
Parcelas algodo - 5 Fileiras x 10 m Parcelas consrcio - 5 m x 60 m Espaamento Algodo - 1 m entre fileiras, 30 cm entre covas com 2 plantas. Espaamento do conscio - 50 cm entre fileiras de 60 metros Distribuio do consrcio - Gergelim, feijo, milho, milho, milho, feijo, gergelim
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Tabela 01 - Especificao dos tratamentos, com os nomes tcnicos, nomes comerciais,
grupos qumicos e dosagens dos produtos utilizados.
Princpio Ativo Nome comercial Grupo Qumico Dosagem
capsaicina Pimenta malagueta Alcalide 200 mL/20 L
caulinita Caulim Silicato de alumnio hidratado 60 g/L
azadiractina Azamax Limonide 5 mL/L
rotenona Rotenat Rotenide 7,5 mL/L
extrato pirolenhoso Pironat cido actico 5 mL/L
Fonte: Elaborado