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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ INSTITUTO DE CIÊNCIAS DO MAR
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS MARINHAS TROPICAIS
ISABEL CRISTINA HIGINO SANTANA
Estudo Morfológico do Sistema Reprodutor Feminino do
Camarão Farfantepenaeus subtilis (Pérez-Farfante, 1967), do
Litoral Cearense.
Fortaleza –CE
2005
Estudo Morfológico do Sistema Reprodutor Feminino do
Camarão Farfantepenaeus subtilis (Pérez-Farfante, 1967), do
Litoral Cearense
ISABEL CRISTINA HIGINO SANTANA
Dissertação submetida à coordenação do Curso de Ciências Marinhas Tropicais
do Instituto de Ciências do Mar como parte dos requisitos necessários à obtenção
do grau de Mestre em Ciências Marinhas Tropicais, outorgado pela Universidade
Federal do ceará.
ORIENTADOR: José Roberto Feitosa Silva
Instituto de Ciências do Mar
Universidade Federal do Ceará
Fortaleza –CE
2005
Após a finalização dos trabalhos da defesa de Dissertação de Mestrado da
aluna ISABEL CRISTINA HIGINO SANTANA, intitulada “ESTUDO MORFOLÓGICO DO SISTEMA REPRODUTOR FEMININO DO CAMARÃO FARFANTEPENAEUS SUBTILIS (PÉREZ FARFANTE, 1967), DO LITORAL CEARENSE”, a Banca Examinadora considerando o conteúdo do trabalho e a
apresentação realizada considera a DISSERTAÇÃO APROVADA.
Prof. Dr. José Roberto Feitosa Silva ___________________________________
(Orientador)
Profa. Dra. Tereza Cristina Vasconcelos Gesteira _________________________
(Membro Efetivo)
Profa. Dra. Célia Maria de Souza Sampaio ______________________________
(Membro Externo)
....à minha mãe Peta, minha filha Mariana
e meu amado, Wilson, Por tudo...
v
AGRADECIMENTOS
Ao final de mais esta jornada percebo como fui auxiliada por tantas pessoas,
desde uma simples conversa até mesmo em viagens durante as madrugadas.
Seria uma injustiça minha não reconhecer e, portanto, agradecer a essas
pessoas. Aquelas que por ventura eu venha a esquecer nestes agradecimentos
sintam-se, de coração, eternamente agradecidas.
A Deus por todas as coisas.
Ao meu orientador Prof. Dr. José Roberto Feitosa Silva, que mais uma vez
se faz presentes em meus projetos acadêmicos e que muito contribui para minha
retomada profissional e crescimento como pessoa. Apoio, respeito, paciência são
características encontradas em um bom orientador, como é o caso.
À Prof. Dra. Tereza Cristina Vasconcelos Gesteira, pelo acolhimento em seu
laboratório tratando-me como se fosse sua orientanda. Pelo constante apoio,
disposição, sugestões e esclarecimentos e os exemplos de um bom profissional,
durante todos os momentos desse trabalho.
À Prof. Dra. Cristina Rocha do Instituto de Ciências do Mar por sua amizade,
apoio e conselhos.
Aos Profs. Helena e Paulo Cascon, e à engenheira de pesca, Dra. Odete
Parente e à profa. Arlete Soares do Depto. de Biologia da UFC pela autorização
do uso dos aparelhos de microscopia de seus laboratórios, bem como amizade e
apoio.
Ao amigo Nilson de Souza Cardoso, pela presença e ajuda durante a fase
inicial desse trabalho em muitas atividades de laboratório, que viravam a noite,
muitas vezes, sempre disponível, sem fazer qualquer objeção.
vi
Aos colegas do mestrado da turma III: Gil, Geraldo, Sérgio, Gualdino,
Leonardo, Carol e Luís Ernesto pelos vários momentos vividos dentro do curso e
fora dele.
Aos amigos Guelson pela disponibilidade e extrema ajuda durante a coleta
realizada no Município de São Gonçalo do Amarante, sem o qual não teria sido
possível; e Esaú pelo seu auxílio na fazenda de cultivo de camarão. Além de
serem colegas de turma.
Ao novo amigo, Cleiton que tanto ajudou durante a coleta dos animais em
ambiente de cultivo.
Em especial aos colegas: Marquinhos (Marcos Leite), Jana (Janaina), Lulu
(Lucélia), Gleire e André pelo apoio e amizade, e P.A. (Pedro Alexandre), que
tanto me auxiliou nos trabalhos de rotina histológica no laboratório de
enfermidades de camarões – CEDECAM, Labomar, nunca permitindo que eu
ficasse “para baixo”.
Aos colegas do Laboratório de Zoobentos por todos os momentos de
descontração na hora do café.
A todos aqueles que fazem o Labomar pela amizade e carinho dedicados a
mim.
Ao engenheiro de pesca Enox Paiva, pelo fornecimento dos animais de
cultivo, bem como o espaço para estocagem desses animais.
À EMBRAPA que permitiu a realização dos procedimentos de microscopia
eletrônica, em especial na pessoa da Bióloga Celly Rodrigues Muniz.
Ao colega Leonardo Hislei pelo fornecimento do mapa para a localização dos
pontos de coleta deste trabalho.
vii
À toda a minha família sempre manifestando carinho, apoio e torcida, mesmo
aqueles que estão distantes.
À minha mãe, minha principal incentivadora e fã incondicional, pelos muitos
cafés e chás nos momentos de cansaço e principalmente pelo amor infinito, me
guiando, à sua maneira, a ser uma pessoa cada vez melhor.
Ao meu principal incentivador Wilson, que está comigo em todos os
momentos desde o início de minha formação profissional. Sua força,
companheirismo e amor são meu porto seguro.
À minha filha Mariana meu principal incentivo e motivo pelo qual eu busco
sempre o melhor de mim.
Às eternas amigas biólogas Betânia, Inês e Clébia, sempre próximas.
A todos os pescadores da orla cearense com que tive a oportunidade de
conversar e pedir ajuda em busca de animais para a realização deste trabalho.
À Associação Brasileira dos Criadores de Camarão – ABCC – que forneceu
auxílio financeiro para a realização dessa pesquisa.
À CAPES, pela concessão da bolsa de estudo.
viii
“...Na Escola da Vida Não se Paga Matrícula,
e o Grande Mestre, é o Tempo.”
(Cora Coralina)
ix
RESUMO
O presente trabalho trata da caracterização macroscópica do sistema
reprodutor feminino do camarão peneídeo Farfantepenaeus subtilis, e ainda, da
descrição histológica e respostas histoquímicas dos componentes ovarianos em
diferentes estágios de maturação, e do oviduto. O sistema reprodutor dessa
espécie é formado de ovário, ovidutos e télico. O ovário apresenta-se simétrico,
com um par de lóbulos anteriores, sete pares laterais e um par posterior. Os
lóbulos laterais envolvem a glândula digestiva, exceto o sétimo par, que é voltado
para o abdômen. O sexto par liga-se ao oviduto. O télico, fechado, foi
considerado, para essa espécie, uma estrutura reprodutora. Possui placas laterais
com elevações na borda da linha mediana. Análises à microscopia eletrônica de
varredura evidenciaram a presença de cerdas em toda a sua superfície,
principalmente na área das referidas bordas. Análises histológicas permitiram
identificar a organização dos constituintes somáticos e germinativos em unidades
denominadas nódulos ou cistos. Os constituintes somáticos são: fibras colágenas,
fibroblastos, vasos sanguíneos e células foliculares. As fibras colágenas
apresentaram aspecto ondulado, com fibroblastos entre as mesmas. Os vasos
sanguíneos, constituídos de tecido epitelial, foram encontrados entre os cistos. As
células foliculares foram encontradas, aglomeradas ou não, ao redor das células
germinativas e apresentando aspecto cubóide ou achatado, de acordo com o
estágio de maturação da referida célula. Foram descritos os seguintes estágios
das células da linhagem germinativa: oogônias, oócitos em pré-vitelogênese
inicial, oócitos em pré-vitelogênese final, oócitos vitelogênicos e oócitos maduros.
Estes tipos celulares apresentaram características próprias nos diferentes
x
estágios de maturação. As análises histoquímicas evidenciaram mudanças nos
componentes citoplasmáticos à medida que as células amadurecem. O oviduto foi
caracterizado como uma estrutura secretora, constituído externamente por uma
camada de fibras musculares lisas e, sob estas, uma camada de epitélio colunar
simples, o qual apresenta invaginações em direção ao lúmen.
xi
ABSTRACT
The present work presents of the macroscopic characterization of the
female reproductive system of the penaeid shrimp Farfantepenaeus subtilis, as
well the histological and histochemical description of the ovarian components in
different maturation stages, and the oviduct. The female reproductive system of
this species is formed by ovary, oviduct and telycum. The ovary is symmetrical,
with one pair of anterior lobes, seven lateral pairs and one pair of posterior ones.
The lateral lobes involve the digestive gland, except the seventh, that is directed
towards the abdomen. The sixth pair is linked to the oviduct. The thelycum is
closed and was considered a reproductive structure. It has lateral plates with
elevations at the edge of the medium line. Analysis by the scanning electronic
microscopy evidenced the presence of setae in the entire surface of it, mainly in
the area of the referred edges. Histological analysis allowed identifying the
organization of somatic and germinative components in units denominated
nodules or cysts. The somatic components are: collagen fibers, fibroblasts, blood
vessels and nurse cells. The collagen fibers presented a wavy aspect with
fibroblasts among them. The blood vessels are formed by epithelial tissue and
were found among the cysts. The nurse cells were found, agglomerated or not,
around the germinative cells and presented cuboid or flat aspect, depending of the
stage of maturation of the cell. The stages of the germinative cells lineage were
described as: oogonia, initial previtellogenic oocytes, final previtelogenic oocytes,
vitelogenic oocytes and ripe oocytes. These cellular types showed typical
characteristics at the different maturation stages. The histochemical analysis
evidenced changes in the citoplasmatic components as the cells ripen. The
xii
oviduct was shown to be a secretory structure constituted externally by a layer of
smooth muscle fibers and under it a layer of simple columnar epithelium, which
presents invaginations towards the lumen.
xiii
LISTA DE FIGURAS E TABELAS
Figura 01. Mapa localizando os pontos de coleta de camarão Farfantepenaeus
subtilis. ................................................................................................................ 18
Figura 02. Artes de pesca utilizadas para captura dos exemplares estudados. .. 19
Figura 03. Fêmeas da espécie Farfantepenaeus subtilis capturadas em ambiente
natural. ................................................................................................................ 21
Figura 04. Caracteres diagnósticos da espécie F. subtilis. ................................. 36
Figura 05. Caracteres sexuais externos da fêmea de F. subtilis. ........................ 38
Figura 06. Eletromicrografias de varredura do télico de F. subtilis. ..................... 40
Figura 07. Aspectos gerais do sistema reprodutor feminino de F. subtilis. ......... 42
Figura 08. Aspectos gerais de ovário maduro de F. subtilis. ............................... 44
Figura 09. Fotomicrografias estereoscópicas do oviduto. ................................... 46
Figura 10. Revestimento do ovário de F. subtilis. ................................................ 48
Figura 11. Fotomicrografia dos vasos presentes no ovário de F. subtilis. ........... 50
xiv
Figura 12. Fotomicrografias de células foliculares presentes nos ovários de F.
subtilis. ................................................................................................................ 52
Figura 13. Fotomicrografias de oogônias dos ovários de F. subtilis. ................... 54
Figura 14. Fotomicrografias de oócitos pré-vitelogênicos nos ovários de F. subtilis.
............................................................................................................................. 56
Figura 15. Fotomicrografias de oócitos vitelogênicos nos ovários de F. subtilis. 58
Figura 16. Fotomicrografia de oócitos maduros nos ovários de F. subtilis. ......... 60
Figura 17. Fotomicrografia do oviduto de fêmeas de F. subtilis. ......................... 62
Tabela I. Reação dos componentes ovarianos e oviduto de fêmeas
Farfantepenaeus subtilis às diferentes técnicas de coloração empregada. ........ 35
xv
SUMARIO
AGRADECIMENTOS ............................................................................................ v
RESUMO ............................................................................................ ix
ABSTRACT .......................................................................................................... xi
LISTA DE FIGURAS E TABELAS ..................................................................... xiii
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................. 1
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................. 7
2.1. Maturação Gonadal ................................................................................ 11
2.2. Nutrição ................................................................................................... 15
3. METODOLOGIA ............................................................................................. 18
3.1. Procedimentos de coleta ....................................................................... 19
3.2. Metodologia para microscopia de luz .................................................. 21
3.3. Metodologia para microscopia eletrônica de varredura ..................... 22
4. RESULTADOS ................................................................................................ 24
4.1. Caracteres de reconhecimento da espécie no litoral cearense ......... 24
4.2. Sistema reprodutor ................................................................................ 25
4.2.1. Morfologia ......................................................................................... 25
4.2.2. Constituintes microscópicos .............................................................. 27
4.2.2.1. Componentes Somáticos ........................................................... 28
a. Revestimento .................................................................................. 28
b. Células foliculares .......................................................................... 29
4.2.2.2. Células Germinativas ................................................................. 30
a. Oogônias ........................................................................................ 30
b. Oócitos pré-vitelogênicos ............................................................... 31
xvi
c. Oócitos vitelogênicos ...................................................................... 32
d. Oócitos maduros ............................................................................ 33
4.2.3. Descrição Histológica do Oviduto ..................................................... 34
5. DISCUSSÃO .................................................................................................. 64
5.1. Caracteres de reconhecimento da espécie .......................................... 64
5.2. Aspectos Macroscópicos do Sistema Reprodutor ............................. 65
5.3. Análises Microscópicas ......................................................................... 68
6. CONCLUSÕES ............................................................................................... 75
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................... 77
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor...
1. INTRODUÇÃO
Os camarões são organismos bentônicos habitantes de oceanos e águas
dulcícolas, pertencentes ao táxon Decapoda, onde estão incluídas também as
lagostas, lagostins, caranguejos e siris, muitos deles, apresentando grande
importância comercial. Todos esses animais são portadores de oito pares de
apêndices torácicos, dos quais, os três primeiros são modificados como
maxilípedes e os cinco pares restantes, funcionam como patas ou apêndices
locomotores, de onde deriva o termo Decapoda, como afirmam Ruppert e Barnes
(1996). Além dessas características comuns, os camarões são animais de fácil
reconhecimento. Apresentam um corpo comprimido lateralmente, formado por
tagmas com membranas articuladas e recoberto por uma carapaça relativamente
rígida. Possuem duas regiões distintas, a anterior denominada de cefalotorácica e
a região posterior, abdominal.
Burkenroad (1963) citado em Dall et al. (1990) divide os decápodes nas
subordens Pleocyemata e Dendobranchiata. A diferença entre os representantes
desses dois grupos está relacionada basicamente a um aspecto da reprodução,
ou seja, as fêmeas dos Pleocyemata retêm, ou incubam os ovos nas cerdas dos
apêndices abdominais, os pleópodos, e a eclosão ocorre no estágio de zoea. Já
os Dendrobranchiata, os ovos são planctônicos, não sendo transportados nos
pleópodos das fêmeas e o nauplius é o primeiro estágio larval (Ruppert e Barnes,
1996). Os animais conhecidos como camarões são encontrados nas duas
subordens, sendo os gêneros Penaeus, Farfantepenaeus, Sicyonia,
representantes de Dendrobranchiata, enquanto os Pleocyemata incluem os
carídeos e os palemonídeos, sendo os primeiros representados pelos gêneros
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor... 2
Alpheus, Crangon e Synalpheus, enquanto Palaemonetes, Macrobrachium e Atya
constituem exemplos de palemonídeos.
No táxon Dendrobranchiata, Pérez-Farfante (1988) inclui a Superfamília
Penaeoidea, reconhecendo sete famílias, 56 gêneros e aproximadamente 500
espécies.
Na revisão taxonômica da família Penaeidea, Pérez-Farfante & Kensley
(1997) determinaram 26 gêneros e para o gênero Penaeus, algumas espécies
receberam nova classificação, passando então a pertencer aos gêneros
Litopenaeus, Farfantepenaeus, Marsupenaeus e Fenneropenaeus. Entretanto,
algumas espécies de valor econômico não sofreram modificações em sua
nomenclatura, permanecendo no gênero Penaeus, como P. monodon, P.
esculentus e P. semisulcatus. Barbieri-Júnior & Neto (2001) indicam 110 espécies
de camarões pertencentes à família Penaeidae que são pescadas em todo o
mundo.
Como muitos outros crustáceos decápodes, os camarões constituem uma
importante fonte de divisas para a economia de cada região, pelo fato de
atingirem grande porte e a maior parte do seu corpo, o abdômen ser utilizado
como alimento. Morales (1983), compara a vantagem dos crustáceos em relação
a moluscos e peixes, indicando seu alto conteúdo protéico em quantidade e em
qualidade. Como desvantagem cita a existência do crescimento por mudas, o que
diminui a eficiência de sua alimentação e contribui com uma alta porcentagem de
canibalismo.
O cultivo de camarão é uma atividade bastante antiga, executada
tradicionalmente na Ásia como prática de subsistência familiar (Marchiori, 1996).
Com o conhecimento do ciclo de vida desses animais, foi possível, na década de
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor... 3
30, o desenvolvimento de técnicas específicas de produção em cativeiro; no
entanto, de acordo com Shigueno (1975), citado em Machado (1988) a prática de
cultivo do camarão em escala comercial data dos anos 60, no Japão, embora
essa atividade seja uma prática tradicional, que já acumula alguns séculos de
experiência.
Entretanto, sabe-se que para a utilização de uma espécie no cultivo é
fundamental conhecer a sua biologia (ciclo reprodutivo, ecologia,
comportamento). Os aspectos reprodutivos são de fundamental importância, pois
é a partir desses que poderemos conhecer melhor o desempenho do organismo.
Mesmo sabendo dessas necessidades, poucas pesquisas básicas são
desenvolvidas envolvendo a biologia de camarões, principalmente das espécies
nativas que apresentam interesse econômico. No entanto, grande parte dos
estudos, tem sido realizada em espécies dos gêneros Litopenaeus, por ser um
dos gêneros mais cultivados mundialmente, juntamente com o Penaeus. Os
requerimentos nutricionais, imunológicos, histopatológicos e genéticos são os
principais temas (Wouters et al., 2001; Maldonado et al., 2004; Gusmão et al.,
2005; Leino et al., 2005)
Poucos estudos são desenvolvidos enfocando uma descrição morfológica do
sistema reprodutor de espécies nativas de camarões peneídeos, podendo ser
citado estudo de King (1948), para a espécie Penaeus setiferus, que descreveu
morfologicamente os órgãos reprodutivos de machos e fêmeas.
A fêmea de camarão peneídeo F. subtilis descrita por Pérez-Farfante em
1967, inicialmente identificada como a espécie P. subtilis, foi considerada uma
subespécie do camarão P. aztecus (Pérez-Farfante, 1969). Entretanto estudos
morfológicos em P. subtilis observaram que o sulco adrostral é curto e nunca
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor... 4
atinge a margem posterior da carapaça, diferente do encontrado em P. aztecus e
P. notialis. (Takeda & Okutami, 1983). Posteriormente, após revisão sistemática
realizada por Pérez-Farfante & Kinsley (1997), a espécie P. subtilis passou a
pertencer ao gênero Farfantepenaeus.
A espécie Farfantepenaeus subtilis também conhecida como camarão
marrom, camarão rosa e camarão lixo entre outras denominações, é encontrada
desde Cuba através das Antilhas e Honduras e por toda a costa do Caribe,
América do Sul e Central (Cervigón et al., 1992). No Brasil sua distribuição é
observada desde a região Norte até o litoral de Cabo Frio no Rio de Janeiro
(Pérez-Farfante, 1969; Holthuis, 1980; Pérez-Farfante, 1988).
O habitat preferencial dessa espécie caracteriza-se por ser um ambiente de
fundo lodoso, lamoso ou areno-lamoso, com profundidades de 1m até 190 m
(Holthuis, 1980). A mesma apresenta bom crescimento em viveiro, com o
comprimento total máximo de macho e fêmea chegando a 152mm e 205mm,
respectivamente (Cervigón et al. 1992).
Por ser uma espécie nativa da região Nordeste do Brasil, existe um grande
interesse sobre a mesma por parte dos carcinicultores, já que atualmente a
carcinicultura brasileira encontra-se envolvida com uma única espécie em cultivo,
o camarão marinho Litopenaeus vannamei. Esta por ser uma espécie exótica
causa preocupações entre os criadores devidos aos problemas ambientais
observados em cativeiro, como é o caso das enfermidades. Esse problema é
considerado atualmente um fantasma na carcinicultura, principalmente as
enfermidades de origem viral, que causam grandes perdas econômicas e
assustam órgãos ambientais preocupados com os efeitos que poderiam advir da
contaminação de estoques naturais de camarões (Borghetti et al., 2002). Por
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor... 5
outro lado, as doenças são muito raras na carcinicultura de água doce (Valenti,
1998). No Brasil foram atingidas de maneira rápida várias instalações de cultivo,
principalmente na região Nordeste e à nível mundial, no Equador onde foram
dizimadas criações inteiras. As enfermidades passam a ser freqüentes à medida
que se intensificam os sistemas de produção (Subasinghe, 1997).
A espécie F. subtilis apresenta um rostro serrilhado com dentes dorsais e
ventrais mostrando-se maior que o pedúnculo ocular. O sulco adrostral presente
não atinge a borda posterior da carapaça. O télico é do tipo fechado localizado
ventralmente entre o 5º par de pereópodos e os gonopóros pares entre o 3º par
de pereópodos.
Esta espécie foi utilizada como recurso econômico na década de 70 e 80
por criadores de camarões marinhos no litoral brasileiro, pois a mesma possui
uma larga tolerância às variações de salinidade, desenvolvimento rápido e
disponibilidade de fêmeas maduras e de pós-larvas na natureza (Maia, 1983).
Acreditava-se na época, que a mesma por ser nativa apresentaria condições
favoráveis de cultivo em escala comercial. Apesar das tentativas feitas em cultivos
durante esse período, a referida espécie não apresentou os resultados esperados
em cativeiro, principalmente no que diz respeito aos ganhos de peso e tamanho
(Maia op. cit.).
Em termos de futuro da nossa carcinicultura, é relevante que novas
pesquisas sejam realizadas, objetivando conhecer melhor as espécies de
camarões marinhos de nossa região, que possam eventualmente ser utilizadas
com sucesso no processo de cultivo e com isso, minimizar a dependência de
espécies exóticas. Acredita-se, portanto, que se deve incrementar investigações
que possam oferecer novas opções e garantir a sustentabilidade da carcinicultura
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor... 6
brasileira. Apoiado nas necessidades de se obter registros sobre os aspectos
reprodutivos de espécies nativas, o presente projeto teve por objetivos:
Descrever morfologicamente o sistema reprodutor feminino da
espécie F. subtilis incluindo caracteres sexuais secundários externos
Compreender o funcionamento do sistema reprodutor desta espécie
a partir da descrição histológica e histoquímica dos tipos celulares
constituintes do processo de maturação.
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor...
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
A aqüicultura é uma atividade sustentável que permite o cultivo de
espécies predominantemente aquáticas em ambiente de cativeiro. Dentre elas
podemos destacar os peixes, moluscos, crustáceos, anfíbios e plantas aquáticas.
Mundialmente, essa atividade é amplamente dominada pela Ásia, que
responde por 91% da produção aqüícola; os dez maiores países produtores são
asiáticos, com a China como maior produtor, com 66,7% da produção, enquanto a
América do Sul responde por apenas 1,8% da produção mundial (Ostrensky et al.,
2000).
Borghetti et al. (2002), afirmaram que a produção mundial de crustáceos
passou de 758 mil toneladas, em 1990 para 1,9 milhões de toneladas em 2001,
com o camarão peneídeo Penaeus monodon sendo o responsável por 50% dessa
produção. Segundo dados da FAO (2003), órgão das Nações Unidas, dedicado a
agricultura e produção de alimentos o grupo de crustáceos apareceu em 2001,
em quarto lugar em termos de produção mundial, porém, em terceiro lugar em
relação às receitas geradas.
Segundo Barbieri-Junior & Neto (2001), cerca de 340 espécies de
camarões são pescadas comercialmente no mundo todo. Dessas, 110 pertencem
à uma mesma família, Penaeidae. Atualmente, mais de 40 países cultivam
camarões, utilizando cerca de 32 espécies de origem marinha ou de água doce.
Do total de camarão cultivado, 88% é de origem marinha (Borghetti, op cit).
Segundo esses autores, no Brasil a produção aqüícola teve um aumento de 925%
em 2001. De acordo com dados do IBAMA (2002), a Região Nordeste dominou na
produção nacional em águas marinhas, com 94% na produção de crustáceos.
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor... 8
Isso ocorreu devido a maior concentração de fazendas de cultivo de camarão
registradas na área, enquanto a Região Sul dominou na produção nacional em
água doce com 55%, com o Estado de Santa Catarina ocupando o primeiro lugar
em produção nacional (Valenti, 2000).
A história da carcinicultura no Brasil pode ser dividida em dois períodos:
antes e depois da introdução do camarão marinho Litopenaeus vannamei, o que
aconteceu na década de 80 (Barbieri Júnior & Neto, 2001),
Atualmente, o Brasil utiliza comercial ou experimentalmente na aqüicultura
cerca de 64 espécies de organismos, sendo os peixes maioria absoluta, seguida
pelos crustáceos, moluscos, répteis, anfíbios e algas (Ostrensky et al., 2000).
Dados individuais da produção de 11 espécies de organismos aquáticos
cultivados no Brasil foram relacionados em 2001 (FAO, 2003); destes, o camarão
branco do Pacífico Litopenaeus vannamei e o camarão de água doce
Macrobrachium rosembergii ocupam respectivamente 3º e 6º lugares.
No Brasil, o cultivo de camarões marinhos, atividade denominada de
carcinicultura, teve início da década de 70, com as instalações comerciais
principalmente da região nordeste, introduzindo várias espécies exóticas, como
Marsupenaeus japonicus, L. vannamei, Fenneropenaeus penicillatus, Litopenaeus
stylirostris e P. monodon, todas marinhas (Marchiori, 1996) e ainda, o camarão de
água doce M. rosenbergii. Tais organismos foram importantes contribuições para
o impulso inicial do setor (Valenti, 2000).
Entretanto, essas espécies não atingiram o sucesso esperado devido à
reduzida adaptabilidade às condições de cultivo do País (Borghetti et al, 2002). A
partir desse problema, os produtores passaram a direcionar seus interesses para
as espécies nativas mais adaptadas ao clima e condições locais, como o
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor... 9
Farfantepenaeus subtillis, Litopenaeus schmitti e Farfantepenaeus paulensis. De
acordo com os mesmos autores, o Brasil possui inúmeras espécies nativas com
grande potencial para exploração pela aqüicultura. No entanto, afirmam, que a
grande maioria delas necessita ainda, de uma série de aportes científicos e
tecnológicos para colocá-las em um patamar de plena viabilidade zootécnica e
econômica.
De acordo com Marchiori (1996), as principais espécies marinhas nativas
cultivadas no Brasil eram: L. schimitti, F. brasiliensis, F. paulensis. A primeira
espécie possui uma distribuição geográfica desde a região Norte do Brasil até o
litoral de Santa Catarina. É um camarão de télico aberto, com dificuldades
reprodutivas em cativeiro, entretanto com bom crescimento em viveiro. A espécie
Farfantepenaeus brasiliensis possui distribuição semelhante ao L. schimitti, e
características opostas quanto à reprodução e crescimento em cativeiro e viveiro,
respectivamente. O F. paulensis ocorre desde o litoral de Cabo Frio-RJ, até Mar
del Plata na Argentina e apresenta uma boa adaptabilidade ao clima temperado.
O autor cita ainda outras espécies de camarão que possuem valor econômico
reduzido, como Xiphopenaeus kroyeri, Artemesia longinaris.
A classificação para Crustacea feita por Calman (1909, apud Dall et al.,
1990) tem sido usada mundialmente, até os dias atuais. Nesta, o autor dividiu a
Ordem Decapoda nas Subordens Natantia e Reptantia. A primeira
compreendendo os camarões e crustáceos em forma de camarão, enquanto a
segunda foi representada pelos organismos bentônicos e de carapaça resistente.
Para Abele (1982), o Subfilo Crustacea abrange 40.000 espécies de formas e
habitat variados, contendo o táxon Decapoda, que apresenta as espécies de
grande valor econômico como lagostas, caranguejos e camarões; este último
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor... 10
possui em torno de 1.200 gêneros, com a maioria ocorrendo apenas nos trópicos,
e o restante distribuído em várias regiões do mundo.
Bownman & Abele (1982), dividiram o táxon Decapoda em duas
subordens: Dendobranchiata o qual inclui as Superfamílias Penaeoidea e
Sergestoidea, e na Subordem Pleocyemata compreendendo as infraordens
Astacidea, Thalassinidea, Palinura, Anomura, Stenopodidea, Brachyura e
Caridea. A Superfamília Penaeoidea abrangendo sete famílias, dentre elas, a
Penaeidae representada por 26 gêneros, onde alguns representantes do gênero
Penaeus, no caso, as espécies mais e menos cultivadas receberam nova
classificação, passando a pertencer aos gêneros: Litopenaeus, Farfantepenaeus,
Marsupenaeus e Fenneropenaeus (Pérez-Farfante, 1988).
Membros dessa família possuem uma seqüência de desenvolvimento
semelhante, onde segundo Dall et al. (1990), a principal diferença deve-se à
preferência de habitat entre as fases de pós-larvas, juvenis e adultos e
descreveram ainda, quatro tipos de ciclos de vida para os representantes dessa
família. Na maioria desses organismos, o ciclo de vida compreende duas etapas
distintas: a primeira, denominada de etapa oceânica, em que se pode observar os
processos de maturação, de reprodução e desenvolvimento larval; e a segunda
conhecida como etapa estuarina, quando as pós-larvas permanecem no estuário
até a fase juvenil. Tais etapas compreendem três migrações: pós-larva para o
estuário, juvenil em direção a águas oceânicas mais profundas e por fim, a
terceira e última migração quando os adultos se aproximam da costa para
desovar (Trujillo & Gesteira, 1997). Para Gleason & Zimmerman (1984), a
necessidade do organismo, em viver um determinado período do ciclo de vida no
estuário, deve estar relacionada com a abundância de recursos alimentares, já
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor... 11
que no ambiente marinho a disponibilidade para essa etapa do seu
desenvolvimento é menor.
Segundo Lawrence et al. (1985), os camarões peneídeos são muito
semelhantes quanto à morfologia e fisiologia quando comparados com outros
crustáceos decápodes, como lagostins, lagostas e camarões de água doce.
Pérez-Farfante (1975), classificou os camarões peneídeos em dois táxons com
relação ao receptáculo feminino de estocagem do espermatóforo, denominado de
télico. O primeiro, abrangendo animais de télico fechado, conhecidos como
camarões marrons e brancos e o segundo, com os animais de télico aberto,
denominados de camarões brancos.
2.1. Maturação Gonadal
O sistema reprodutor feminino em camarões peneídeos é composto
basicamente por gônadas pares de estruturas tubulares, que se encontram dorsal
e lateralmente ao intestino. Essas, quando maduras podem atingir ou não o último
segmento abdominal e apresentar cores que variam de uma espécie para outra.
Cada porção do ovário apresenta ainda um oviduto localizado dorsoventralmente
na porção cefalotóracica, e que desemboca em gonóporos na altura do esterno
no terceiro par de pereopodos (King, 1948; Neiva et al., 1971; Worsmann et al.,
1976, Dall et al., 1990; Harrison,1990; Browdy, 1992)
Vários estudos foram realizados objetivando compreender os aspectos de
maturação gonadal em camarões peneídeos (Worsmann et al., 1976; Tan-Fermin
& Pudadera, 1989; Harrison, 1990; Quintero & Garcia, 1998).
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor... 12
Segundo Browdy (1992), apesar de muitas técnicas para maturação e
desova em cativeiro estarem bem definidas, sérias lacunas permanecem quanto
ao entendimento do controle hormonal da reprodução, dos processos de
vitelogênese em camarões peneídeos e dos processos mecânicos e fisiológicos
envolvidos na fertilização, em crustáceos. A maturação sexual possui vários
mecanismos, incluindo a gonadogênese, e no caso das fêmeas observa-se ainda,
a vitelogênese primária e secundária. As fêmeas quando sexualmente maduras
apresentam ovários e oócitos totalmente desenvolvidos e dispostos para uma
possível fertilização (Harrison, 1990).
A ablação é uma técnica usada freqüentemente em instalações comerciais
para acelerar o processo de maturação em muitas espécies de peneídeos
(Browdy, 1992) e carídeos (Santos & Pinheiro, 2000), contudo resultados
controversos foram encontrados quanto à eficácia desse procedimento (Browdy &
Samocha, 1985; Tan-Fermin, 1991).
Neiva et al. (1971) e Worsmann et al. (1976), em estudos distintos
descreveram a maturação da gônada feminina do camarão marinho F. paulensis.
Os primeiros autores caracterizaram-nas quanto aos aspectos morfológicos com
enfoque na afinidade das mesmas à coloração Hematoxilina-Eosina; enquanto os
segundos autores descreveram-na de acordo com as alterações visuais
observadas na coloração das gônadas, e através de análises histológicas.
Brown & Patlan (1974) classificaram três estágios de desenvolvimento
gonadal em fêmeas das espécies P. setiferus e P. aztecus considerando o
tamanho e a coloração das gônadas.
Yano (1995) estudando a maturação final dos oócitos, a desova e
acasalamento em camarões peneídeos, discutiu a diferença que existe entre
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor... 13
esses aspectos reprodutivos em relação ao camarão de télico aberto e de télico
fechado. Tal autor considerou os referidos aspectos, de interesse particular para
esses crustáceos decápodes, já que os mesmos estão entre os mais primitivos do
subfilo e provavelmente representem uma característica ancestral para o táxon.
Medina et al. (1996), ao observarem comparativamente o desenvolvimento
ovariano em Penaeus kerathurus de ambiente natural e de cultivo, caracterizaram
a maturação gonadal dessa espécie baseados em análises histológicas e no tipo
de célula germinativa predominante no ovário. Peixoto et al. (2003), observaram
uma relação entre as mudanças visuais e histológicas da maturação ovariana na
mesma espécie.
Análises biométricas, como tamanho dos animais foram relacionadas ao
desenvolvimento ovariano, bem como, análises histológicas dos estágios de
desenvolvimento das células germinativas, foram critérios utilizados por Ohtomi et
al. (1998), para caracterizar a maturação gonadal na espécie de camarão
peneídeo Solenocera melantho.
A caracterização dos estágios de desenvolvimento gonadal em fêmeas da
espécie F. paulensis realizada por Quintero & Garcia (1998), foi baseada em uma
escala de cores confirmada por análises das secções histológicas. Palacios et al.
(1999), compararam a maturação ovariana através de observação das
características histomorfológicas, entre exemplares reprodutores de diferentes
tamanhos, da espécie Litopenaeus vannamei obtidos a partir de ambiente natural
e de cultivo.
Kao et al. (1999), caracterizaram o desenvolvimento gonadal de um
camarão peneídeo de águas profundas, Aristaeomorpha foliacea quanto à
aparência morfológica do ovário e análise dos seus constituintes histológicos.
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor... 14
Durante suas investigações com as espécies de camarões peneídeos:
Penaeus merguiensis, Penaeus penicillatus, Metapenaeus affins, e
Parapenaeopsis stylifera da costa do Paquistão, Ayub & Ahmed (2002),
descreveram o desenvolvimento ovariano das mesmas, baseando-se na relação
entre as variações de cores e análise histológicas dos ovários.
Para a compreensão da vitelogênese, Bonina (1974) observou
citoquimicamente os oócitos de Palaemon adspersus e concluiu que a formação
do vitelo acontece em estágios sucessivos. Inicialmente pequenos glóbulos foram
observados na área perinuclear que se dispersaram pelo citoplasma; em seguida
surgiram massas de vitelo e por fim, glóbulos de vitelo organizaram-se na periferia
do citoplasma.
A caracterização da vitelogênese primária feita por Charniaux-Cotton &
Payen (1988), descreveu o desenvolvimento do retículo endoplasmático rugoso e
acúmulo de glicoproteínas endógenas em seu interior. A partir dessa etapa a
vitelogênese passou a ser definida como secundária. De acordo com a revisão de
Harrison (1990) para crustáceos decápodes, a vitelogênese inclui ainda, a
produção da substância precursora do vitelo (vitelogenina), a principal lipoproteína
do vitelo (lipovitelina), e acúmulo tanto de substâncias orgânicas como
inorgânicas constituintes do vitelo. O mesmo autor identificou nesse processo dois
estágios: primário e secundário. Estes correspondendo às fontes endógena
(intraooplásmica) e exógena (extraovariana), respectivamente da proteína do
vitelo.
Mudanças bioquímicas observadas por Mohamed & Diwan (1992) na
hemolinfa, ovário e hepatopâncreas do camarão marinho Fenneropenaeus indicus
mostraram uma variação cíclica e acumulação de reservas orgânicas por esses
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor... 15
órgãos durante a síntese de vitelo. Browdy (1992), em sua revisão sobre a
biologia reprodutiva de espécies de camarões peneídeos afirmou que a
vitelogênese, processo no qual o vitelo é produzido e armazenado, caracterizou-
se pelo crescimento rápido, sincronizado e ao mesmo tempo, desenvolvendo
lotes de oócitos. Krol et al. (1992), consideraram a vitelogênese como um
processo que reúne compostos orgânicos e inorgânicos do vitelo para o
desenvolvimento do oócito. Afirmaram que tal substância consiste de água,
proteínas, lipídios e nutrientes necessários ao desenvolvimento do embrião e
material estrutural para os tecidos. De acordo ainda com esses autores, o
processo vitelogênico pôde ser identificado no início por várias mudanças
citoplasmáticas ocorridas no oócito, como a presença de grânulos acumulados
em vesículas no retículo endoplasmático rugoso; durante o prosseguimento desse
processo no qual os oócitos acumularam de maneira sincronizada o vitelo,
observaram uma mudança na coloração do ovário devido ao acúmulo de
vitelogenina contendo pigmentos carotenóides. E finalmente, o final do processo
vitelogênico, onde as microvilosidades desapareceram e a membrana dos oócitos
tornou-se lisa, surgindo grânulos corticais em seu citoplasma.
2.2. Nutrição
Segundo Valenti (1998), a nutrição dos camarões constitui-se um dos
grandes problemas da carcinicultura mundial. Acreditava-se inicialmente que esse
problema se devia à falta de rações balanceadas; entretanto o mesmo estava no
manejo dos alimentos e ainda na manipulação dos mesmos.
Devido ao grande interesse econômico voltado para os camarões
peneídeos como animais criados em cultivo, diversas pesquisas relacionadas com
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor... 16
os aspectos nutricionais desses organismos têm sido desenvolvidas (Nunes et al.,
1997; Glencross et al., 1998; Pedrazzoli et al., 1998; Shiau, 1998; Teshima, 1998;
Foster et al., 2003).
Segundo Shiau (1998), em anos recentes muito se estudou sobre os
requerimentos nutricionais das espécies P. monodon e L. vannamei. Entretanto,
poucas pesquisas foram desenvolvidas envolvendo os requerimentos nutricionais
de outras espécies de camarões que também são consideradas de interesse
econômico.
Diversos estudos têm sido desenvolvidos com o intuito de entender o
processo de maturação ovariana relacionando aspectos nutricionais. Harrison
(1990), em seu trabalho de revisão, citou a importância da nutrição na maturação,
na reprodução e no desenvolvimento embrionário de crustáceos decápodes. No
mesmo artigo o autor comentou ainda, que a dieta é um fator influente no
desempenho reprodutivo e qualidade da desova dos camarões peneídeos
reprodutores. Segundo Bray & Lawrence (1992), uma dieta não balanceada ou
incompleta pode causar um baixo desempenho reprodutivo ou até mesmo
interromper a reprodução dos animais.
Geralmente a dieta para reprodutores é composta de organismos marinhos
(Bray & Lawrence, op cit). Os mais utilizados são moluscos (lula, mexilhão),
crustáceos (camarões, biomassa de Artemia) e poliquetas marinhos (Harrison,
1997). Entretanto para esses autores, algumas desvantagens foram observadas
nesses tipos de alimentos como, por exemplo, alto custo, necessidade de
congelamento, valores nutricionais inconsistentes e risco na transmissão de
organismos patogênicos como vírus e bactérias.
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor... 17
Wouters et al. (2001), realizaram uma extensa revisão quanto à nutrição de
camarões peneídeos reprodutores, enfocando: requerimentos nutricionais e
compostos estimulantes presentes em dieta natural e artificial desconhecidos para
a maturação. Afirmaram ainda que a disponibilidade de uma dieta com potencial
ótimo é tida como fator crucial tanto para a maturação como reprodução de
camarões.
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor...
3. METODOLOGIA
O presente estudo foi realizado com animais coletados em ambiente
natural. Foram realizadas três coletas entre o período de 13 de novembro de 2004
a abril de 2005. A primeira coleta foi realizada na Praia da Caponga no município
de Beberibe, litoral Leste do Ceará, durante o mês de novembro de 2004. A
segunda coleta ocorreu na Praia do Meireles no município de Fortaleza, durante o
mês de março de 2005. A terceira e última coleta aconteceu na Praia do Pécem,
no município de São Gonçalo do Amarante, litoral Oeste do Estado do Ceará no
mês de abril de 2005 (fig. 01).
Os animais coletados foram utilizados para descrição de caracteres de
identificação da espécie, características morfológicas externas e internas do
aparelho reprodutor e análise histoquímica dos constituintes gonadais envolvidos
no processo de maturação.
Figura 01. Mapa localizando os pontos de coleta de camarãoFarfantepenaeus subtilis. Fonte: Cedido por Leonardo Hislei.
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor... 19
3.1. Procedimentos de coleta
As coletas foram realizadas utilizando-se como instrumentos de captura
redes de arrasto de fundo (por embarcações artesanais – fig. 02), redes de
arrasto de praia (tresmalhos) ou tarrafas (manualmente). Na coleta da Praia da
Caponga, os animais foram capturados por meio de tarrafa em uma “boca” de
estuário, por um período de aproximadamente 3h. Na segunda coleta, na Praia do
Meireles, uma embarcação efetuou arrastos de fundo em 11 pontos por um
período de quinze minutos cada, totalizando 3h aproximadamente. Na última
coleta foram lançadas redes de tresmalho durante um período de 3h com um
tempo de 30 minutos cada.
C
BA
Figura 02. Artes de pesca utilizadas para captura dos exemplares estudados. A- Rede de arrasto de fundo (fonte: cedida por Miguel S. C. Braga). B - rede dearrasto de praia (fonte: http://www.cpgg.ufba.br/~asn/artes.htm). C - tarrafa(fonte: http://www.pbase.com/alexuchoa/cascavel).
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor... 20
Nos procedimentos da coleta do mês de novembro os animais foram
fixados no próprio local da coleta, diferentemente dos procedimentos adotados
para as outras coletas. Isso aconteceu devido às condições de difícil acesso ao
local bem como ausência de energia elétrica, o que impossibilitou o uso da
balança digital para o registro da pesagem dos animais capturados.
Para as coletas seguintes, as fêmeas acondicionadas em recipientes
contendo água do local e aeração, foram trazidas para o laboratório. Neste,
realizou-se o processo para obtenção dos dados biométricos, registrados
posteriormente em uma planilha bem como os registros fotográficos.
Os registros fotográficos foram obtidos com os animais em posição dorsal,
lateral (fig. 03) e ventral utilizando-se uma máquina digital Nikon coolpix, de
resolução 4.1 “megapixels”. Registros fotográficos da região dorsal de alguns
animais foram obtidos com o objetivo de demonstrar a coloração da gônada sob a
carapaça, o rostro e o sulco adrostral e a pigmentação presente. A região ventral
foi fotografada com o objetivo de identificar o télico e os gonóporos. Após esses
procedimentos, efetuou-se o processo de fixação das fêmeas utilizando-se
solução de Davidson. Posteriormente esse material foi utilizado nos
procedimentos de rotina histológica.
Outro instrumento utilizado no presente estudo foi o microscópio
estereoscópico com câmera digital acoplada para uma análise mais apurada das
estruturas sexuais secundárias como também de aspectos morfológicos internos
do sistema reprodutor. Animais vivos e fixados foram usados para o registro
fotográfico das estruturas externas e também de regiões internas, principalmente
do sistema reprodutor.
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor... 21
B
A
Figura 03. Fêmeas da espécie Farfantepenaeus subtilis capturadas emambiente natural. A - Visão lateral, comprimento total 88 mm. B - visãodorsal, comprimento total 135 mm.
3.2. Metodologia para microscopia de luz
Cerca de 50 exemplares foram fixados em solução de Davidson para
processamento histológico de rotina e observação em microscopia de luz. Os
animais selecionados para as análises em microscopia de luz permaneceram
inicialmente 48h na solução fixadora. Após esse período, os animais foram
lavados em álcool 50% para a retirada do excesso de fixador e, finalmente
conservados em álcool 70%. Posteriormente, foram seccionados
longitudinalmente na porção mediana do corpo, e então, retiradas porções da
gônada. Esse material foi desidratado em bateria alcoólica crescente (80% -
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor... 22
100%) com banhos de 1 hora cada, clarificado em xilol, embebido e incluído em
parafina. Os cortes ao micrótomo permitiram obter secções de 5 µm de
espessura.
Para uma melhor caracterização dos componentes celulares e teciduais do
sistema reprodutor foram utilizados vários corantes. Substâncias ácidas e básicas
foram evidenciadas pelo método Hematoxilina – Eosina (Junqueira & Junqueira,
1983). Além desse método, foram feitas análises histoquímicas das amostras,
utilizando-se as seguintes colorações: Azan Heidenhain - Mallory (Behmer et al.
1976), para identificação de fibras colágenas e a presença de mucoproteínas;
P.A.S – Periodic Acid Shiff. (Junqueira & Junqueira, 1983), para a detecção de
carboidratos, principalmente glicoproteínas e Azul de Bromofenol (Pearse, 1960)
para detecção de proteínas totais.
As secções histológicas depois de coradas e montadas foram fotografadas
em microscópio de luz com câmera acoplada, efetuando os registros nos
aumentos de 4X -100X com filme Fuji colorido, asa 100.
3.3. Metodologia para microscopia eletrônica de varredura
Para as análises de microscopia eletrônica de varredura porções de 20
animais, aproximadamente, foram fixados previamente em mistura de Karnovski
por um período de 12h. Após esse período, o material foi então transferido para a
desidratação em série crescente de acetona (30% - 100%), com banhos de 1h
cada. No banho em acetona absoluta, o material passou por três repetições com
intervalo de 30 minutos cada.
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor... 23
Após os banhos em acetona, as amostras foram levadas ao ponto crítico
utlizando gás carbônico (CO2) para a sua completa secagem. Para essa etapa do
processo utilizou-se o aparelho Balzers modelo CPD 030. Para a secagem ao
ponto crítico, as amostras foram inicialmente, imersas em uma câmara
hermeticamente fechada contendo acetona. Em seguida o gás carbônico foi
liberado para o interior da câmara para que pudesse remover completamente toda
a acetona presente. Após a completa eliminação da acetona, a câmara foi
novamente preenchida com CO2 e seu interior aquecido com a temperatura
chegando a 40ºC. Ao atingir essa temperatura o gás foi eliminado e o material
retirado da câmara e então, colado em estruturas metálicas (stubs), denominadas
de porta-espécimem e levados para o processo de metalização. Nesta etapa do
processo, o material foi colocado dentro de uma cuba de vidro do aparelho
metalizador modelo MED 010 Balzers. O material foi então submetido a vácuo,
enriquecido com gás argônio e posteriormente banhado em ouro.
As observações e posteriores registros fotográficos foram realizados em
Microscópico Eletrônico de Varredura (MEV) modelo Zeiss DMS 940 A. Todos os
procedimentos realizados no preparo do material para microscopia eletrônica de
varredura foram feitos no laboratório de microscopia eletrônica da Embrapa –CE.
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor...
4. RESULTADOS
4.1. Caracteres de reconhecimento da espécie no litoral cearense
Os exemplares de Farfantepenaeus subtilis coletados na costa cearense
foram facilmente reconhecidos, independentemente do local de coleta, por
apresentarem o exoesqueleto de coloração marrom esverdeado com pontos
marrom escuro em toda a extensão do corpo (figs. 04 A, B).
Na porção antero-dorsal do cefalotórax encontra-se o rostro, uma estrutura
pontiaguda e serrilhada que ultrapassa o pedúnculo ocular e contém sete dentes
dorsais e dois dentes ventrais. Margeando cada lado do rostro, como uma fenda,
encontra-se o sulco adrostral, o qual estende-se até próximo do limite posterior do
cefalotórax (figs. 04 C-F).
O télico ou receptáculo seminal é outra estrutura usada sistematicamente
como um critério na identificação de camarões peneídeos. Localiza-se na região
ventral do cefalotórax e funciona na estocagem do espermatóforo transferido pelo
macho durante o ato da cópula. Ele está situado na porção mediana do corpo na
altura do 5º par de pereiópodos. Na espécie F. subtilis apresenta-se como uma
estrutura fechada, de aspecto liso, terminando na margem posterior do
cefalotórax com o abdômen, observado a olho nu ou em microscópio
estereoscópico, podendo ser pigmentada ou não, como ocorre no restante do
corpo. É constituído por duas placas esternais laterais paralelas. Cada placa é
alongada com a região mediana reta e a lateral de contorno mais arredondado
nas bordas. A confluência das duas placas apresenta uma elevação, onde na
porção mais anterior afastam-se dando aspecto de letra V. (figs. 05 A, B, 06 A-C).
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor... 25
A microscopia eletrônica de varredura evidenciou que a superfície das
placas formadoras do télico é rugosa contendo cerdas curtas e esparsas, com
uma concentração maior nas bordas medianas. A distribuição das cerdas nas
placas apresenta-se com uma cerda central mais espessa e maior, inserida em
uma depressão circular. Em volta desta cerda posicionam-se sete cerdas mais
finas e menores não encaixadas em depressão (fig. 06 D).
4.2. Sistema reprodutor
4.2.1. Morfologia
O sistema reprodutor feminino da espécie Farfantepenaeus subtilis é
bilateralmente simétrico, composto por télico, ovários e ovidutos; estes, um par de
pequenos ductos transparentes, localizados dorsoventralmente na porção
posteromediana do cefalotórax, ligando as gônadas à abertura dos gonóporos.
Estas aberturas situam-se na base das coxas do terceiro par de pereópodos,
coincidindo com o limite anterior do télico. Caracterizam-se por serem
protuberâncias de aspecto circular, portando cerdas visíveis a olho nu (fig. 05 C,
D).
Os ovários constituem a porção interna mais desenvolvida do sistema
reprodutor. Sofre alterações de coloração, volume e consistência à medida que
avança nos estágios de maturação. É facilmente visualizado por transparência
através da carapaça das fêmeas em estágio de maturação avançada onde se
apresentam com coloração verde intenso.
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor... 26
No momento da dissecção as características morfológicas das gônadas de
diferentes animais permitiram a classificação de dois estágios: imaturo e maduro.
Os ovários formados por estruturas digitiformes, denominados lóbulos, foram
anatomicamente identificados em anteriores, laterais e posteriores. Os lóbulos
anteriores e laterais situam-se no cefalotórax, enquanto os posteriores dirigem-se
ao abdômen, podendo estender-se até o último segmento abdominal, quando as
fêmeas encontram-se em estágios totalmente maduros.
A identificação e localização dos ovários em fêmeas imaturas foram
possíveis somente após a injeção de fixador no animal e sua posterior dissecção,
dada a semelhança do órgão com a musculatura cefalotorácica e abdominal no
animal vivo (figs. 07 A, B).
Em fêmeas imaturas, o ovário apresentou-se como um órgão de
consistência delgada, transparente ou levemente esbranquiçado, ocupando uma
pequena área da região cefalotorácica, recobrindo parcialmente a glândula
digestiva. Os lóbulos anteriores são duas projeções digitiformes pequenas,
margeando lateralmente o estômago e fundindo-se posteriormente, sobre a
glândula digestiva e o coração. Após a fusão, os lóbulos extendem-se em direção
ao abdômen. Estes se posicionam lateralmente ao tubo digestivo posterior, sendo
denominados lóbulos posteriores. Ainda na cavidade cefalotorácica, os lóbulos
expandem-se lateralmente sob a forma de sete filamentos paralelos entre si.
Esses filamentos são denominados lóbulos laterais. O sétimo par é o menos
desenvolvido e posiciona-se no limite posterior do cefalotórax (fig.07 B).
Nas fêmeas maduras, os ovários apresentaram-se com uma textura
consistente no momento da dissecção, com superfície rugosa, lóbulos bastante
desenvolvidos e coloração verde variando de verde claro a escuro com
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor... 27
pigmentação. A maior porção do ovário é observada na região cefalotorácica, em
virtude dos lóbulos laterais recobrirem dorsal e ventralmente toda a glândula
digestiva (fig. 07 C-E). Os lóbulos anteriores são duas projeções proeminentes
com suas extremidades enrolando-se sobre si mesmas e margeando lateralmente
o estômago (fig. 07 F, 10 B). Os dois lóbulos que se uniram na altura do coração
apresentam-se como estrutura única. Em muitos lóbulos é possível identificar
aglomerados de células maduras, formando unidades funcionais que já podem
ser denominadas de cistos ou nódulos ovarianos. Esses nódulos são facilmente
individualizados quando os ovários são seccionados longitudinalmente, já que
continuam no interior da gônada (fig. 08 C, D).
Estrutura par componente do sistema reprodutor em F. subtilis, o oviduto é
um tubo oco, curto e transparente localizado perpendicularmente a região dorsal
do ovário e encontra-se ligado ao 6º lóbulo lateral ovariano descendo
verticalmente por entre a musculatura ventral do cefalotórax até a base da coxa
do 3º par de pereópodo, desembocando na abertura do gonóporo (fig. 09).
4.2.2. Constituintes microscópicos
As observações ao microscópio estereoscópico evidenciaram um
revestimento translúcido dos lóbulos ovarianos se dirigindo para o interior do
órgão formando subunidades, aqui denominadas nódulos ou cistos ovarianos.
Essa evidência só ocorreu após a fixação dos animais. Nos ovários maduros os
nódulos são proeminentes, chegando a liberar várias células somente com a
manipulação do animal no momento da dissecção. O seccionamento longitudinal
e transversal do órgão evidenciou uma gônada compacta, sem espaços centrais e
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor... 28
totalmente preenchida por células, em todos os indivíduos dissecados (fig. 08 C,
D). A microscopia eletrônica de varredura auxiliou a individualização das
subunidades ovarianas (fig. 08 E, F). As análises em microscopia de luz
permitiram identificar a organização dos componentes somáticos e germinativos
no interior dos lóbulos e nódulos.
As secções longitudinais dos lóbulos permitiram reconhecer uma região
central contendo células menores e aparentemente no mesmo estágio de
desenvolvimento. Nas secções transversais, essa região localiza-se mais
ventralmente. Nos dois casos considerou-se como sendo a zona germinativa
onde ocorre o inicio do desenvolvimento das células da linhagem sexual (fig 12 A,
B).
4.2.2.1. Componentes Somáticos
a. Revestimento
O revestimento translúcido dos ovários de F. subtilis, à microscopia de luz
apresentou-se com natureza fibrosa, penetrando no ovário e formando as
subunidades, já referidas anteriormente (nódulos ou cistos). Essas são fibras
conjuntivas colágenas, de aspecto ondulado, fortemente coradas por Azul de
Bromofenol e Mallory. Adicionalmente a essas colorações, elas reagiram também
de maneira positiva a eosina e ao PAS (fig. 10; Tabela I).
Associadas às fibras, encontram-se células de aspecto oval e delgado sem
limites definidos. O núcleo é o componente mais evidente, refletindo o formato da
célula, como comprovado pela intensa reação positiva a hematoxilina e ao
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor... 29
tricrômico de Mallory. Como as células estavam próximas às fibras, e não no
interior delas, provavelmente os fibroblastos, responsáveis pela renovação das
fibras constituintes dos lóbulos e cistos ovarianos (fig. 10 C, E).
No interior dos lóbulos, contidos em vasos ou espaços não revestidos, foi
observado um material finamente granular, reagindo positivamente à eosina, azul
de bromofenol, PAS, correspondendo a hemolinfa. Os vasos contendo a
hemolinfa são revestidos por epitélio pavimentoso simples, identificados por
reação positiva em todas as colorações utilizadas. Na reação positiva ao azul de
Bromofenol, a hemolinfa mostrou-se sob a forma de pequenos grânulos dispersos
apresentando uma resposta mais intensa ao corante. As células circulantes na
hemolinfa não foram observadas com as colorações utilizadas (fig. 11).
b. Células foliculares
As células foliculares foram outra categoria de componentes somáticos
identificados no interior do ovário. São encontradas abaixo das fibras de
revestimento dos lóbulos e cistos ovarianos. Podem ser visualizadas formando
aglomerados no interior dos lóbulos, bem como ao redor das células germinativas
durante o seu processo de maturação. De acordo com o desenvolvimento
ovariano essas células apresentaram aspectos morfológicos diferentes.
Logo abaixo do revestimento lobular as células foliculares apresentaram
um aspecto oval estando distribuídas em mais de uma camada. À medida que
avança a maturação, algumas células foliculares ainda de aspecto oval circundam
as células germinativas presentes, passando à forma cúbica. Foi possível
identificar o citoplasma como uma faixa larga ao redor de um núcleo pequeno e
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor... 30
centralizado. Este último mostrou-se positivo à hematoxilina, PAS e Tricômico de
Mallory. O citoplasma reagindo positivamente à hematoxilina apresentou uma
resposta mais intensa na região periférica, enquanto para as outras colorações
sua resposta foi de menor intensidade, entretanto positiva. Na presença do Azul
de Bromofenol o citoplasma das células foliculares apresentou uma resposta
negativa.
No último estágio de maturação do ovário, as células foliculares foram
identificadas pelos métodos H-E, PAS e Mallory, mostrando uma resposta positiva
para essas colorações. Nesse estágio as células foliculares circundam células
maduras como uma camada simples pavimentosas e mostraram-se bastante
achatadas com o núcleo acompanhando o aspecto do citoplasma e apresentando
uma forte basofilia identificada nas colorações H-E, PAS. A resposta positiva à
coloração Mallory foi identificada pela cor vermelha (fig. 12, tabela I).
4.2.2.2. Células Germinativas
De acordo com as modificações observadas nestas células pela
decorrência de acúmulo das substâncias que constituirão o vitelo foi possível
identificar quatro tipos: Oogônias, Oócitos pré-vitelogênicos, Oócitos vitelogênicos
e Oócitos maduros.
a. Oogônias
As oogônias são as menores células da linhagem germinativa. Apresentam
geralmente, um aspecto esférico formando grupos, podendo ser localizadas na
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor... 31
região central ou na periferia do lóbulo de forma bastante próxima. Estas células
possuem um núcleo bem desenvolvido em relação ao citoplasma, com diâmetro
médio de 13µm, uma cromatina bastante condensada nas células em estágio
inicial de maturação foi localizada centralmente mostrando diversos graus de
diferenciação, enquanto outras células foram visualizadas em processo de divisão
mitótica nessa região. O citoplasma apresentando um diâmetro médio de 16µm
surge como uma faixa bastante estreita ao redor do núcleo e de fraca basofilia e
reagindo positivamente ao método de mallory especificamente ao azul de anilina.
Quando submetidas aos corantes utilizados nesse estudo, as reações
indicaram que oogônias são células basófilas, e apresentam uma fraca reação do
citoplasma ao Azul de Bromofenol; entretanto as mesmas reagiram positivamente
aos métodos tricômico de Mallory e PAS (fig. 13, tabela I).
b. Oócitos pré-vitelogênicos
De acordo com o diâmetro e reatividade aos corantes, esse tipo celular foi
subdividido em duas categorias: Oócitos em pré-vitelogênese inicial e Oócitos em
pré-vitelogênese final.
Os Oócitos pré-vitelogênese inicial, são células maiores que as oogônias e
caracterizaram-se pela forte basofila do citoplasma em todas as colorações
usadas, principalmente no método PAS. Apresentaram o núcleo com tamanho
médio de 20µm, centralizado, ocupando quase toda a área citoplasmática, a qual
apresentou 40µm de diâmetro médio. A cromatina por sua vez mostrou-se
dispersa já apresentando grande quantidade de nucléolos e demonstrando uma
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor... 32
reação positiva aos corantes PAS, Mallory, Hematoxilina e Azul de Bromofenol.
(fig. 14, tabela I).
Os oócitos em pré-vitelogênese final, caracterizam-se por possuir um
diâmetro maior que o anterior (36µm para o núcleo e 76µm para o citoplasma). O
citoplasma desse tipo celular aparece com uma área mais evidenciada ao redor
do núcleo, apresentando um aspecto bastante homogêneo e reagindo
positivamente a hematoxilina, entretanto com menor intensidade que o tipo
anterior, tornando-se assim menos basófilo. O núcleo mostrou uma cromatina
menos condensada, mas ainda visível e reagindo de maneira positiva aos
métodos PAS, Mallory, H-E e Bromofenol. Os nucléolos, bastante evidentes,
foram observados em número de dois a mais no interior do núcleo apresentando-
se fortemente basofílicos (fig. 14 )
c. Oócitos vitelogênicos
De acordo com o avanço da maturação gonadal, essas células possuem
um diâmetro maior em relação aos estágios anteriores. O citoplasma apresenta
um diâmetro médio de 160µm, enquanto o núcleo possui um diâmetro médio de
80µm. Ocupam quase todo o interior dos cistos ovarianos. O citoplasma dessas
células apresentou-se preenchido com grânulos esféricos de características
eosinófilas. Apresentou ainda reação positiva aos métodos PAS, Mallory e Azul
de Bromofenol, com alguns grânulos citoplasmáticos mostrando-se mais reativos
do que outros. A área perinuclear dos oócitos vitelogênicos apresentou uma
reação fortemente positiva aos corantes PAS e Mallory e menos intensa à eosina
e Azul de bromofenol. O núcleo dessas células possui dois ou mais nucléolos
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor... 33
bastante desenvolvidos e cromatina totalmente dispersa. Observou-se uma
relação indireta quanto ao diâmetro nuclear e citoplasmático, com o núcleo
relativamente menor em relação ao crescimento do citoplasma. Os nucléolos, no
entanto, reagiram intensamente em todas as colorações, principalmente PAS,
Hematoxilina e Mallory.
Foi possível observar nesse tipo celular, algumas vesículas incolores
devido à ausência de substâncias, conferindo-as um aspecto incolor. Tal
evidência foi identificada, principalmente nos métodos PAS e Mallory.
Provavelmente esses espaços foram preenchidos por gotículas de lipídios
retiradas durante o tratamento histológico (fig. 15, tabela I).
d. Oócitos maduros
São as maiores células da linhagem germinativa sendo encontradas em
toda a área do cisto ovariano. O citoplasma dessas células mostrou-se eosinófilo
com diâmetro médio de 240µm. A relação entre o diâmetro citoplasma - núcleo é
ainda maior que no estágio anterior, com este último podendo ser visualizado ou
não, de acordo com a coloração e apresentando um diâmetro médio de 80µm. A
região citoplasmática apresentou-se fortemente corada por todos os métodos de
coloração utilizados nesse estudo e preenchida por grânulos em toda sua
extensão; esses na coloração com Mallory mostraram uma variação quanto às
cores apresentadas, provavelmente devido a diferentes afinidades ao corante. A
região periférica do citoplasma apresentou vesículas em forma de bastonetes,
denominadas de corpos periféricos. Estas se mostraram relativamente grandes
em relação aos grânulos de vitelo e apresentaram uma reação positiva aos
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor... 34
corantes PAS e Mallory; enquanto na presença do Azul de Bromofenol e Eosina
reagiram de maneira menos intensa, indicando a presença de glicoproteínas no
seu interior. Sua cromatina já não foi mais visível e o núcleo apresentou uma cor
uniforme com a região perinuclear mostrando maior afinidade às colorações PAS,
Mallory e ao corante eosina (fig. 16, tabela I).
4.2.3. Descrição histológica do oviduto
Através das análises microscópicas foi possível identificar a constituição
tecidual do oviduto. Este se encontra paralelo aos lóbulos laterais, em secções
longitudinais e, circundado por fibras musculares lisas nas secções transversais.
No primeiro, mostrou-se como uma estrutura alongada e delgada; enquanto
transversalmente apresenta um lúmen com invaginações lembrando vilosidades.
Caracterizando-o da periferia para o lúmen, foi possível identificar que o
mesmo é constituído externamente por musculatura lisa de caráter eosinófilo,
identificado pelo método H-E. Essas fibras apresentaram ainda, reação positiva
aos métodos PAS, Azul de Bromofenol e tricômico de Mallory.
Abaixo dessas fibras foi identificada camada de epitélio colunar simples.
Este possui o pólo apical secretor reagindo fracamente às colorações utilizadas.
O citoplasma das células epiteliais também foi pouco reativo às colorações,
diferentemente do núcleo, que se mostrou fortemente acidófilo e positivo para os
métodos PAS e H-E, enquanto para Mallory e Azul de Bromofenol, reagiram
fracamente. A secreção produzida por estas células pode auxiliar na eliminação
dos oócitos maduros no processo de ovulação (fig. 17, tabela I).
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor... 35
Tabela I. Reação dos componentes ovarianos e oviduto de fêmeas
Farfantepenaeus subtilis às diferentes técnicas de coloração empregadas.
Tricrômico de Mallory
Azul de Bromofenol PAS Hematoxilina-
Eosina (H-E)Ovário
Componentes somáticos
Fibras do revestimento ++++ ++++ +++ +++ (E)
núcleo ++++ - +++ ++++ (H)
citoplasma
núcleo +++ +++ +++ (H)
citoplasma +++ - +++ ++++ (E)
Céls. Germinativas
núcleo +++ ++ +++ +++ (H)
citoplasma +++ ++ +++ ++ (E)
núcleo +++ +++ +++ +++ (H)
citoplasma +++ +++ ++++ ++++ (H)
núcleo ++ ++ ++ ++++ (H)
citoplasma +++ +++ +++ +++ (H)
núcleo ++++ ++++ (H)
citoplasma +++ +++ +++ +++ (E)
núcleo +++ ++ +++ +++ (H)
citoplasma ++++ ++++ ++++ ++++ (E)
Oviduto
núcleo ++++ ++++ ++++ ++++ (E)
citoplasma ++ ++ ++ ++ (E)
núcleo ++ ++ ++++ ++++ (E)
citoplasma ++ ++ ++ ++ (E)
INTERPRETAÇÃO mucoproteínas Proteinas totais Polis. e glicopr. acidof./basof.
Legenda: (++++) reação intensa Polis.: polissacarídeos (+++) reação moderada Glicopr.: glicoproteínas (++) reação fraca Acidof.: acidofilia ( - ) reação negativa Basof.: basofilia
CorantesComponentes Ovarianos
Fibras musculares
Epitélio
Oócito pré-vitelogênico inicial
Oócito pré-vitelogênico final
Oócito vitelogênico
Oócito maduro
Fibroblastos
Céls. Foliculares
Oogônia
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor... 36
FIGURA 04. Caracteres diagnósticos da espécie F. subtilis.
A - Aspectos gerais de fêmeas, mostrando a coloração em toda a extensão do
corpo.
B - Cromatóforos (Crt) presentes na carapaça e mais intensamente na região
de articulação dos segmentos (AS).
C - Rostro (R) serrilhado e pontiagudo.
D - Extensão do rostro (R) maior que a inserção do pedúnculo ocular (IPO) e
mostrando sete dentes dorsais (DD) e dois ventrais (DV).
E - Visão dorsal da extensão do sulco adrostral (SA), próximo à região terminal
do cefalotórax.
F - Detalhe do sulco adrostral (SA).
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor... 37
IPO
R
D C
E
SA
SA
R
F
DD
B A
Crt
AS
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor... 38
FIGURA 05. Caracteres sexuais externos da fêmea de F. subtilis.
A - Visão ventral de uma fêmea mostrando os pereópodos (P), a localização
do télico (T) e dos gonóporos (G). 10X.
B - Borda anterior (BA) e posterior (BP) do télico e a linha mediana (Lm) entre
as placas laterais (PL). 30X.
C - Gonóporos (G) localizados na base do terceiro par de pereópodos. 40X.
D - Cerdas (C) próximas das aberturas dos gonóporos (G). 50X.
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor... 39
A
PL P P
T
LM
BA
G
C G
D C
B
BP
T
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor... 40
FIGURA 06. Eletromicrografias de varredura do télico de F. subtilis.
A - Visão dorsal do télico e suas bordas anterior (BA) e posterior (BP).
B - Linha mediana (LM) formada pela aproximação das placas laterais (PL).
C - Visão postero-mediana das placas mostrando a elevação na borda da
linha mediana (BLM) e cerdas (C) em sua superficie.
D - Detalhe das cerdas encontradas na superficie das placas do télico: uma
central e sete circundantes.
SANTANA, I. C. H. Estudo
C
BA
B
morfológico do sistema reprodutor... 41
B
D
BP
LM LM
PL
PL
A
C
LM
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor... 42
FIGURA 07. Aspectos gerais do sistema reprodutor feminino de F. subtilis.
A - Fêmea imatura. Comprimento total 70 mm.
B - Ovário imaturo mostrando o aspecto digitiforme dos lóbulos anteriores (LA)
e laterais (LL). 40X.
C - Fêmea de ambiente de cultivo. Comprimento total 86 mm.
D - Fêmea de ambiente natural. Comprimento total 100 mm.
E - Organização interna e de um ovário maduro (Om) e sua coloração verde
intensa.
F - Ovário maduro dissecado evidenciando os lóbulos anteriores (LA), os
laterais (LL) como uma estrutura única, e os posteriores (LP), com aspecto
unitário ou fundido.
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor... 43
OM
A B
C D E F
LP
LL
LL
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor... 44
FIGURA 08. Aspectos gerais de ovário maduro de F. subtilis.
A - Visão dorsal do cefalotórax mostrando a coloração da gônada
evidenciando os lóbulos laterais.
B - Visão lateral mostrando os lóbulos laterais (LL) e lóbulos anteriores (LA)
margeando o estômago (E).
C - Corte longitudinal de uma fêmea madura fixada, com ovário maduro (OM)
envolvendo parcialmente a glândula digestiva (GD). 30X.
D - Ovário maduro fixado apresentando uma aparência rugosa e oócitos
maduros (Om) no interior dos cistos (Cis), e o tecido de revestimento (R).
40X.
E - Eletromicrografias de varredura mostrando a superfície de um lóbulo com
as delimitações dos cistos (Cis).
F - Eletromicrografias de varredura mostrando os cistos ovarianos (Cis) de um
lóbulo. Notar sua delimitação.
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor... 45
Cis
Cis
Cis
Cis
CisOm
R
GD
OM
ELA
LL
E F
C D
B A
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor... 46
FIGURA 09. Fotomicrografias estereoscópicas do oviduto.
A - Posicionamento do oviduto (Ov) localizado entre a musculatura ventral
(MV) do cefalotórax e os lóbulos ovarianos. 40X.
B - Ligação do oviduto ao sexto lóbulo ovariano lateral (LL). 60X.
C - Ligação do oviduto com a musculatura da região ventral do cefalotórax,
próxima ao gonóporo. 60X.
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor... 47
MV
LL
MV
Ov
Ov
Ov
C
B
A
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor... 48
FIGURA 10. Revestimento do ovário de F. subtilis.
A - Secção transversal de um lóbulo ovariano mostrando seu aspecto geral e a
zona germinativa (ZG). Os cistos (Cis) são evidentes.
B - Secção longitudinal de um lóbulo ovariano mostrando sua organização
interna e a localização da zona germinativa, musculatura dorsal (MD) e a
glândula digestiva (GD) corada pelo método de Mallory e PAS.
C - Fibras colágenas (FC) constituintes do revestimento dos lóbulos e cistos
ovarianos, e células associadas (fibroblastos - Fb). Coloração: Azan-
Mallory.
D - Eletromicrografia de varredura mostrando detalhes das fibras de
revestimento (fibras colágenas - FC) e abaixo a presença de cistos (Cis).
E - Visão geral das fibras de revestimento (FC) mostrando o aspecto ondulado
e sua reatividade positiva ao azul de bromofenol.
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor... 49
FC
FC
Cis
FC
Fb
GD
ZG
MD
ZG
D E
C
B
A
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor... 50
FIGURA 11. Fotomicrografia dos vasos presentes no ovário de F. subtilis
A - Vaso (Vs) contendo hemolinfa, localizado no interior de um lóbulo
ovariano, corado pelo azul de bromofenol.
B - Secção transversal evidenciando vaso sanguíneo (Vs) entre os cistos (Cis)
ovarianos preenchidos com células germinativas. Coloração: PAS.
C - Vaso sanguíneo (Vs) mostrando a presença do epitélio (Ep) constituinte e a
hemolinfa (H) em seu o interior. Coloração: PAS.
D - Secção longitudinal de um ovário maduro mostrando vaso sanguíneo na
sua periferia com a hemolinfa reagindo positivamente à eosina. Epitélio
pavimentoso formador do vaso também evidente.
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor... 51
Ep Ep
Cis Cis
Vs
Vs
Vs
Vs
H
C D
B A
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor... 52
Figura 12. Fotomicrografias de células foliculares presentes nos ovários de F.
subtilis.
A - Aglomeração de células foliculares (CF) ao redor de oócitos pré-
vitelogênicos na periferia do lóbulo ovariano. Coloração H-E.
B - Células foliculares (CF) de aspecto cubóide ou oval com núcleo (N)
fortemente basófilo circundando um oócito pré-vitelogênico com vários
nucléolos (Nc).
C - Oócitos pré-vitelogênicos apresentando-se cercados por células foliculares
com aspectos morfológicos oval a pavimentoso. Coloração Mallory.
D - Oócitos maduros separados por fibras de revestimento (FC) que mostram
uma camada de células foliculares já destacadas dos oócitos. Pode ser
visualizada, ainda, a presença de vesículas (V) de vitelo na periferia da
célula germinativa e fibroblastos (Fb) próximos às fibras.
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor... 53
Fb
Fb
V
CF
CF
N
Nc
CF
CF
D
C B
A
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor... 54
Figura 13. Fotomicrografias de oogônias dos ovários de F. subtilis.
A - Oogônias (Og) apresentando aspectos arredondados, com citoplasma
reagindo positivamente ao azul de anilina da coloração Azan-Mallory. Pode
ser observado um núcleo (N) bastante desenvolvido com a cromatina (Cr)
localizada na região perinuclear.
B - Oogônias localizadas na região periférica do lóbulo. Notar o grande número
de células em divisão (setas), com a cromatina bastante condensada,
apresentando um caráter fortemente basófilo. O citoplasma mostrou-se
fracamente eosinófilo. Células foliculares (CF) e oócitos pré-vitelogênicos
(Opv).
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor... 55
Cr
Cr
N
Og
A
CF
Opv
B
Og
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor... 56
Figura 14. Fotomicrografias de oócitos pré-vitelogênicos nos ovários de F. subtilis.
A - Conjunto de oócitos pré-vitelogênicos. Notar a basofilia do citoplasma e a
relação núcleo-citoplasmática. Os nucléolos apresentam-se dispersos no
nucleoplasma, em grande quantidade e fortemente corados pela
hematoxilina. Células foliculares (CF) são visíveis em torno dos oócitos.
Oócito em pré-vitelogênese inicial (Opvi) e Oócito em pré-vitelogênese final
(Opvf). Coloração H-E.
B - Visão de oócitos pré-vitelogênicos, corados com azul de bromofenol, onde
os oócitos em pré-vitelogênese inicial (Opvi) apresentam-se mais corados
em relação aos oócitos pré-vitelogênicos finais (Opvf).
C - Oócitos corados em PAS onde se pode identificar os oócitos em início de
pré-vitelogênese (Opvi), com núcleo bastante desenvolvido e citoplasma
ainda pequeno em relação ao núcleo e intensamente basofílico. Os oócitos
pré-vitelogênicos finais (Opvf) já apresentam um citoplasma (Ct) mais
desenvolvido e menos basofílico. Os núcleos das duas categorias celulares
possuem vários nucléolos reagindo positivamente ao PAS.
D - Oócitos pré-vitelogênicos apresentando reação positiva ao método de
Mallory. Notar a presença de vários nucléolos (Nc).
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor... 57
Opvf
Opvi
Opvf
CF
Nc
Opvi
Opvf
Ct
N
D C
A B Opvi
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor... 58
Figura 15. Fotomicrografias de oócitos vitelogênicos nos ovários de F. subtilis.
A - Oócito vitelogênico circundado por células foliculares (CF). Notar a
presença de uma forte reação da região perinuclear ao PAS. O
nucleoplasma apresenta uma cromatina mais homogênea e os nucléolos
são bastante evidenciados. Citoplasma (Ct) totalmente preenchido por
grânulos de vitelo.
B - Reação da célula germinativa ao corante Mallory. Os nucléolos são
identificados pela cor vermelha.
C - Oócito vitelogênico na presença do Azul de Bromofenol.
D - Oócitos vitelogênicos (Ovt) corados em H-E. Pode-se observar o envoltório
nuclear bastante evidente (seta). Os grânulos citoplasmáticos
apresentaram reação menos intensa à eosina. As células foliculares (CF)
são encontradas ao redor de cada célula.
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor... 59
CF
Nc
CF
Nc Ct Ovt
Ovt
Ovt
DC
BA
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor... 60
Figura 16. Fotomicrografia de oócitos maduros nos ovários de F. subtilis.
A - Região periférica de porção de um cisto ovariano mostrando oócitos
maduros com citoplasma granuloso e eosinófilo. Notar os corpos
periféricos (CP). O núcleo (N) possui uma cromatina bastante homogênea
e os nucléolos (Nc) localizam-se na região perinuclear. Pode-se observar
também as células foliculares (CF) em torno das células.
B - Oócito maduro corado pelo método de Mallory. Observar a presença de
vários nucléolos (Nc) em vermelho no interior do núcleo (N).
C - Oócito maduro na presença do Azul de Bromofenol. O citoplasma (Ct) e o
núcleo (N) apresentaram reação intensa ao corante, enquanto os corpos
periféricos (CP) reagiram de forma menos intensa.
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor... 61
Nc
Ct
CP
Nc
N N
CP
N
CF
A
C B
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor... 62
Figura 17. Fotomicrografia do oviduto de fêmeas de F. subtilis.
A - Secção longitudinal do oviduto (Ov) próximo a um lóbulo ovariano.
B - Região do oviduto mostrando a presença de fibras musculares (FM),
externamente, e o epitélio colunar simples (ECS) com o núcleo (N) na
posição basal e reagindo positivamente à coloração PAS.
C - Secção transversal do oviduto mostrando o lúmen (Lm) e as invaginações
(I) da parede do órgão.
D - Camada de epitélio secretor (ES) e fibras musculares lisas (FML) em torno
do oviduto.
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor... 63
D
FM
I
ECS
N
Lm
FM
N
Ov
C
ES
B A
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor...
5. DISCUSSÃO
5.1. Caracteres de reconhecimento da espécie
Caracteres anatômicos macroscópicos são bastante utilizados como
critério de identificação entre os camarões peneídeos como, por exemplo, a
presença de fendas ou sulcos na região do cefalotórax, número de dentes
rostrais, a pigmentação e ainda os caracteres sexuais secundários.
Foi confirmado, na espécie Farfantepenaeus subtilis capturada no litoral
cearense, um rostro com comprimento maior que o pedúnculo ocular, a presença
de dentes dorsais e ventrais em número de sete e dois, respectivamente. Fendas
adrostrais margeando até próximo o limite posterior do cefalotórax também foram
reconhecidas corroborando com os dados de Pérez-Farfante (1988).
Porto & Santos (1996) e Trujillo & Gesteira (1997) fazem referências
quanto ao télico dessa espécie de maneira bastante generalizada. No primeiro
caso, as autoras descreveram-no como bolsas invaginadas de bordos
arredondados, formado por duas expansões laminiformes localizadas entre os
apêndices do último segmento torácico, formando dois receptáculos. No segundo
caso, as autoras caracterizam o télico como uma estrutura constituída por duas
placas divergentes e uma crista mediana em forma de Y. As bordas internas das
placas laterais do télico da referida espécie são divergentes deixando à mostra a
porção posterior constituída de uma crista bifurcada anteriormente (Cérvigon et
al., 1992). Neste trabalho o uso da microscopia eletrônica de varredura (MEV)
permitiu observar a existência de elevações irregulares sobre as bordas das
placas do télico e a presença de cerdas em toda a superfície do télico com uma
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor... 65
maior concentração destas sobre a elevação das bordas. Para essa espécie que
possui télico fechado essas cerdas possivelmente desempenham um papel como
importantes estruturas no processo de copulação e/ou reprodução atuando como
quimiorreceptores no reconhecimento do espermatóforo. Contudo não foi possível
uma maior discussão sobre o assunto devido à carência de bibliografia sobre o
assunto.
5.2. Aspectos Macroscópicos do Sistema Reprodutor
Análise macroscópica externa das gônadas é um critério bastante utilizado
como recurso de seleção de fêmeas reprodutoras em várias espécies de
peneídeos capturados em ambiente natural (Neiva et al., 1971; Tan-Fermin &
Pudadera, 1989; Palacios et al., 1999, 2003; Ayub & Ahmed, 2002; Peixoto et al.,
2002, 2003) e de ambiente de cultivo (Chamberlain & Lawrence, 1981; Tan-
Fermin, 1991; Medina et al., 1996; Palacios et al., 2003). Quintero & Garcia
(1998), no entanto, acreditam que esse critério possa causar confusões quanto às
análises, já que o mesmo pode identificar diferentes tons de cores na gônada
estando o ovário no mesmo estágio de maturação.
A análise histológica parece ser o método apropriado para a classificação
dos estágios de maturação do ovário de camarões peneídeos (Tan-Fermin, 1991;
Quintero & Garcia, 1998; Peixoto et al., 2002, 2003).
A realização das coletas em ambiente natural deste estudo em um
intervalo de seis meses impossibilitou maiores observações quanto a essa
metodologia de classificação em relação à coloração do ovário, entretanto para o
ovário da espécie em estudo encontramos uma variação de cor de translúcido em
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor... 66
fêmeas imaturas a verde escura em fêmeas maduras. O mesmo foi observado
também para outras espécies de Dendrobranchiata, como F. paulensis (Neiva et
al., 1971), F. brasiliensis (Quintero & Garcia, 1998); P. monodon (Tan-Fermin &
Pudadera, 1989) P. duorarum e P. aztecus (Cook & Murphy, 1969); e para os
gêneros Penaeus, Metapenaeus e Parapenaeopis da Costa do Paquistão (Ayub &
Ahmed, 2002). King (1948), estudando a espécie P. setiferus observou uma
coloração semelhante no estágio inicial, entretanto ao final da maturação o ovário
apresentou uma coloração marrom-esverdeada, assim como Cook & Murphy
(1969) confirmaram esse padrão para a mesma espécie e Kao (1999) para o
decápode Aristaeomopha foliacea com o ovário maduro apresentando uma
coloração negra.
Além da coloração, outros critérios podem ser usados na caracterização
dos estágios de maturação do ovário, como análises histológicas, o tamanho e
freqüência dos oócitos e índice Gonadosomático (GSI).
Estudos de maturação ovariana destacam a extensão do ovário imaturo e
maduro nas espécies de peneídeos, associados à coloração (Brown & Patlan,
1974; Quintero & Garcia, 1998; Peixoto et al. 2003).
Nas fêmeas da espécie F. subtilis, do ambiente natural o ovário imaturo se
mostrou pequeno e indistinguível através do exoesqueleto e de difícil visualização
após a dissecação do animal, corroborando com as descrições para outras
espécies de peneídeos (King, 1948; Cummings, 1961; Neiva et al., 1971). Nas
fêmeas maduras da espécie em estudo, do mesmo ambiente, o ovário se mostrou
bastante desenvolvido dorsalmente na região cefalotorácica e se estendendo em
toda a região abdominal sobre o tubo digestivo até o último segmento. Essas
observações corroboram com os trabalhos de King (1948) e Neiva et al. (1971); e
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor... 67
se opõem aos trabalhos de Pillai (1960) para Caridina laevis, no qual o ovário
quando maduro se desenvolve até um pouco mais de ¾ da região abdominal; Kao
et al. (1999) com a espécie Aristaemorpha foliacea em que os lóbulos posteriores
se estendem até 4º segmento abdominal, enquanto Ohtomi et al. (1998)
observaram a extensão dos mesmos lóbulos até o quinto segmento abdominal na
espécie Solanocera melantho, entretanto esses autores fazem referência apenas
à existência de lóbulos cefalotorácicos não fazendo distinção em anteriores e
laterais como observado para F. subtilis.
O oviduto nas fêmeas de F. subtilis foram caracterizados de maneira
semelhante às descritas por Pillai (1960) para a espécie C. laevis e King (1948)
para Penaeus setiferus, no qual são estruturas tubulares finas e curtas ligadas ao
ovário e ao gonóporo. Entretanto Krol et al. (1992), descreve o oviduto de
decápodes como uma estrutura tubular que se estende lateralmente e não
verticalmente como descrito por Dall et al. (1990). Porto & Santos (1996) descreve
essa estrutura para os representantes da espécie P. subtilis da ilha de São Luis,
no Maranhão como condutos de eliminação dos óvulos, localizados na parte
posterior da cavidade geral.
Na espécie F. subtilis o télico foi considerado um constituinte do sistema
reprodutor, entretanto alguns autores (Krol et al., 1992) consideram a mesma em
peneídeos como uma estrutura especializada na recepção do esperma. Dall et al.,
(1990) consideram o télico como uma estrutura única e extensivamente usada na
identificação especifica de cada espécie. Barbieri-Júnior & Neto (2001)
consideram o télico um órgão sexual feminino nos peneídeos, no entanto não o
descrevem como constituinte do sistema reprodutor. Trujillo & Gesteira (1997)
descrevem o télico de F. subitilis como uma estrutura composta por placas
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor... 68
laterais com ângulos anteromedianos divergentes e uma crista mediana em forma
de Y. Porto & Santos (1996) encontraram essa estrutura para a espécie P. subtilis
capturada no estado do Maranhão, entretanto não citam a presença de cristas
sobre as placas do télico. McLaughlin (1980) não considera essa estrutura como
constituinte do sistema reprodutor da fêmea e sim uma área especializada para
receber o esperma que foi transferido do macho. De acordo com Cervigón et al.
(1992) o télico na espécie F. subtilis possui bordas internas das placas laterais
divergentes até adiante deixando exposto o processo pós armado de uma crista
bifurcada anteriormente.
5.3. Análises Microscópicas
As análises microscópicas realizadas no presente estudo evidenciando os
constituintes somáticos e os germinativos permitiram inferir a inter-relação
existente entre os mesmos, assim como a dinâmica no processo de maturação.
O revestimento ovariano constituído por material fibroso, foi citado
anteriormente para algumas espécies de peneídeos: P. setiferus (King, 1948), C.
laevis Pillai (1960); P. paulensis (Neiva et al.,1971).
Worsmann et al. (1976), Levi & Vacchi (1988) observando os ovários de P.
paulensis e Aristaeomorpha foliácea respectivamente, encontraram fibras
reticulares, colágenas e um tecido conjuntivo frouxo. Contudo os autores citados
não realizaram testes histoquímicos desse material. Apesar dos mesmos citarem
a composição fibrosa do revestimento ovariano, não fazem referências quanto à
sua natureza histoquímica. Silva (1999), estudando os aspectos morfológicos do
sistema reprodutor de lagostas do gênero Panulirus descreveu de forma
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor... 69
detalhada esse revestimento e suas características histoquímicas. Este identificou
ainda a existência de tipos celulares presentes por entre as fibras e os define
como miofibroblastos. Worsmann et al. (1976), no entanto não observaram tais
fibras no revestimento ovariano de P. paulensis. Quintero & Garcia (1998), a
respeito do revestimento cita apenas a presença de um epitélio germinativo no
ovário de P. brasiliensis. No presente trabalho não foi possível corroborar a
natureza miofibroblástica dessas células, visto ter sido usada apenas à
microscopia de luz. Dessa forma, só a ultra-estrutura poderá elucidar esse tipo
celular.
O revestimento de lóbulos e cistos ovarianos na espécie F. subtilis é
constituído de fibras colágenas, devido À sua aparência ondulada e reação ao
Mallory, azul de bromofenol, e adicionalmente à Eosina e PAS corroborando com
as análises feitas por Silva (1999). Isso explicaria a adaptação do órgão às
alterações de volume sofridas ao longo do processo de oogênese até a ovulação,
quando o órgão torna-se flácido e mais consistente, tornando em seguida a ir se
estendendo à medida que reinicia o ciclo.
Foram observados seios e vasos sanguíneos externamente e entre os
lóbulos ovarianos de fêmeas de F. subtilis e com características histoquímicas
semelhantes ao encontrado por Silva (1999) para lagostas palinurídeas. Tanto o
revestimento dos vasos como a hemolinfa presente no interior destes
apresentaram reatividade às colorações usadas no presente trabalho semelhante
ao que ocorre com as lagostas.
As células foliculares foram observadas e definidas suas relações entre as
células germinativas. São encontradas abaixo das fibras de revestimento do
lóbulo e cisto ovariano formando aglomerados ou circundando células
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor... 70
germinativas em avançado estágio de maturação. Tal distribuição foi também
descrita para outras espécies de peneídeos: P. setiferus (King, 1948); P.
paulensis (Worsmann et al., 1976) A. foliacea (Kao et al., 1999); e Silva (1999)
para o gênero Panulirus. As alterações morfológicas observadas nessas células
variaram de um aspecto cúbico no inicio da maturação ao aspecto achatado no
final do processo corroborando com os resultados de Worsmann et al. (1976) para
camarão peneídeo e Silva (1999) para lagostas do gênero Panulirus. Entretanto
essas observações para F. subtilis divergiram do resultado para P. monodon
(Tan-Fermin & Pudadera, 1989), em que no final da maturação as células
foliculares apresentaram um aspecto morfológico em forma de fuso. Observaram
histologicamente esse tipo celular em todo o processo de maturação, entretanto
identificaram-nas histoquimicamente apenas pelo método Alcian blue – PAS (AB-
PAS) numa coloração azul brilhante apesar de citarem sua reatividade positiva
aos métodos de Mallory e Sudan black. Silva (1999) observou ainda uma reação
positiva desse tipo celular ao Azul de Bromofenol.
As células foliculares no ovário de F. subtilis analisadas através de testes
histoquímicos demonstraram resultados semelhantes aos encontrados em P.
monodon e lagostas Panulirus, além de reagir positivamente ao Mallory, contudo
não apresentaram reação positiva ao azul de bromofenol como descrito por Silva
(1999), o que pode sugerir pouca ou nenhuma produção de proteínas por parte
dessas células de F. subtilis. Apesar de existência de vários trabalhos de
descrição em microscopia de luz para o sistema reprodutor de peneídeos poucos
fazem referências as células foliculares quanto suas características histoquímicas.
Diversos trabalhos enfocando análises histoquímicas de células
germinativas em camarões peneídeos, utilizando microscopia de luz foram
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor... 71
realizados (Worsmann et al., 1976; Tan-Fermin & Pudadera, 1989; Medina et al.,
1996; Quintero & Garcia, 1998; Ayub & Ahmed, 2002).
A partir dos testes histoquímicos realizados no presente estudo foi possível
classificar as células germinativas em quatro estágios: oogônias, oócitos pré-
vitelogênicos inicial e final, oócitos vitelogênicos e oócitos maduros. Na literatura
sobre o assunto não se observa uma padronização em relação à classificação e
número dos estágios de maturação em camarões peneídeos. Ohtomi et al.
(1998), descreveram quatro estágios para a espécie Solenocera melantho
baseados nos tipos de oócito presente, assim como Peixoto et al. (2003) para a
descrição dos quatro estágios de F. paulensis. Enquanto a incorporação de vitelo
pelo ovário foi o critério usado por Medina et al. (1996) nos cinco estágios da
espécie Penaeus kerathurus e por Tan-Fermin & Pudadera, (1989), os quatro
estágios da espécie P. monodon. Kao et al. (1999) definiram os quatro estágios
para Aristaemorpha foliacea a partir do número de tipos de oócitos predominantes
no ovário; enquanto Ayub & Ahmed (2002) encontraram seis estágios de
maturação analisando o aspecto morfológico do oócito. A afinidade das células
germinativas por corantes ácidos e básicos foi a classificação usada para F.
paulensis (Neiva et al., 1971; Worsmann et al., 1976) e ainda a presença de
corpos periféricos (Worsmann et al., 1976). Trabalhos envolvendo descrição
histológica dos constituintes gonadais em camarões peneídeos foram realizados
por: Neiva et al. (1971); Medina et al. (1996); Ohtomi et al., (1998); Quintero &
Garcia, (1998); Ayub & Ahmed, (2002) e Peixoto et al. (2002, 2003); entretanto
poucos fazem referências à histoquímica (Tan-Fermin e Pudadera, 1989) desses
constituintes.
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor... 72
Em ovário de F. subtilis as células germinativas iniciais denominadas de
oogônias mostraram-se através da microscopia de luz, pequenas estruturas
localizadas em aglomerados como observado por Quintero & Garcia (1998) para
F. brasiliensis e com um citoplasma extremamente fino confirmando as análises
de Ohtomi et al. (1998) em Solenocera melantho. O núcleo mostrou-se bastante
desenvolvido com uma cromatina condensada e central no inicio do processo de
maturação ou próxima do envoltório nuclear ao final e com um nucléolo
fortemente basófilo, semelhante ao encontrado por Silva (1999) para lagostas do
gênero Panulirus. Para a espécie F. subtilis foi observado uma reatividade
positiva dessas células aos corantes Mallory e PAS, enquanto o citoplasma foi
apresentou uma fraca reação positiva ao azul de bromofenol e uma basofilia a
coloração H-E. Isso sugere a ausência da síntese de material protéico que
constitui o vitelo. Apesar das análises histoquímicas nesse tipo celular para a
espécie P. Monodon, Tan-Fermin & Pudadera (1989), não as descrevem
detalhadamente.
Os oócitos pré-vitelogênicos identificados nos lóbulos ovarianos de F.
subtilis do presente trabalho, foram classificados quanto ao tamanho como
realizado por Medina et al. (1996) e quanto sua acidofilia e basofilia como
observado em diversos trabalhos (Neiva et al., 1971; Peixoto et al., 2002, 2003).
Estes oócitos mostraram característica basófilas e acidófilas conforme o
progresso da maturação e demonstrando reação positiva aos corantes PAS,
mallory e H-E. O mesmo sendo observado por Medina et al., (1996) e Peixoto et
al., (2003); quanto ao tamanho dessa célula. Assim como suas características
basófilas e acidófilas. Ohtomi et al. (1998) descreveram os oócitos pré-
vitelogênicos em inicial, intermediário e final. Tan-Fermin & Pudadera, (1989) e
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor... 73
Ayub & Ahmed (2002) classificaram os oócitos pré-vitelogênicos quanto à
localização da cromatina em nucleolar e perinucleolar. Ainda de acordo com os
dois últimos autores a basofilia é observada nos dois tipos de oócitos citados.
Esse tipo celular demonstrou uma reação negativa aos métodos Alcian Blue-PAS,
diferentemente do encontrado na espécie F. subtilis. Peixoto et al., (2002)
observaram no interior do núcleo vários nucléolos dispersos, enquanto para F.
subtilis foram identificados dois ou mais nucléolos, o que evidencia a síntese de
RNA que irá dirigir a formação e acúmulo de proteínas citoplasmáticas no início
da vitelogênese.
Ohtomi et al. (1998) estudando a maturação ovariana de fêmeas
Solenocera melantho, caracterizaram como maduros os oócitos que continham as
criptas corticais presentes na periferia do citoplasma o mesmo sendo registrado
no presente trabalho e por Neiva et al. (1971) com a espécie P. paulensis. A
forma bastonete das vesículas corticais observadas nos oócitos maduros de F.
subtilis difere do formato esférico encontrados por Ayub & Ahmed (2002) para os
oócitos maduros das espécies M. affins e P. stylifera. Esse tipo celular para a
espécie em estudo do presente trabalho apresentou-se fortemente corada em
todos os métodos de colorações usadas, contudo King (1948), detectou uma
natureza não lipídica dos corpos periféricos encontrados nos oócitos maduros de
P setiferus quando esses foram corados com material de natureza lipossolúvel
sendo visualizada apenas como áreas claras no citoplasma. Tan-Fermin (1989)
observou a ausência de lipídios nos corpos corticais dos oócitos maduros de
Penaeus monodon, semelhante aos do presente trabalho. A reação positiva dos
oócitos vitelogênicos em F. subtlis confirmam as observações feitas por Bonina
(1974) para a mesma célula no ovário de Palaeamon adspersus. Worsmann et al.
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor... 74
(1976) fazem referência a presença dos corpos periféricos como estruturas
presentes na célula madura e citam a necessidade de estudos ultraestruturais
sobre a mesma.
O oviduto na espécie F. subtilis mostrou-se constituído externamente por
uma camada de fibras musculares lisas e uma camada de epitélio colunar simples
mais próxima do lúmen, com os núcleos em posição basal apresentando vários
nucléolos confirmando a descrição de Krol et al. (1992) e Bell & Lightner (1988)
para camarões peneídeos. A presença de um epitélio colunar é indicativo de uma
atividade secretora como observado por King (1948) para a espécie P. setiferus.
A camada de tecido muscular encontrada circundando o oviduto de F. subtilis não
foi observada por King (1948) e Bell & Lightner (1988). Estas fibras musculares
auxiliariam a eliminação dos ovócitos para a fecundação. Pillai (1960) apesar de
citar a presença de duas camadas celulares na constituição do oviduto de
Caridina laevis não identifica a natureza de nenhuma.
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor...
6. CONCLUSÕES
1. O sistema reprodutor feminino da espécie em estudo é formado de: ovário,
ovidutos e télico.
2. O lóbulo ovariano possui uma região com grande acúmulo de células
sexuais em início de maturação, denominada zona de proliferação.
3. A zona germinativa localiza-se em toda a extensão do lóbulo em
secções longitudinais ou em aglomerados na periferia do lóbulo,
em secções transversais. 4. O télico apresenta cerdas distribuídas em toda a superfície das placas,
principalmente em suas bordas.
5. A coloração verde do ovário é um indicador macroscópico de fêmeas
maduras.
6. O ovário apresenta sete pares de lóbulos laterais, com o último par sendo
menos desenvolvido em relação aos outros pares.
7. A unidade de maturação da linhagem germinativa é o nódulo ou cisto.
8. Os ovidutos são túbulos translúcidos ligando o 6º par de lóbulos ovarianos
aos gonóporos.
9. Os constituintes somáticos identificados nos ovários são: fibras colágenas,
fibroblastos, células foliculares e vasos sanguíneos.
10. As células foliculares sofrem alterações morfológicas em decorrência do
processo de maturação da célula germinativa.
11. As células germinativas descritas nos ovários da espécie F. subtilis são:
oogônias, oócitos em pré-vitelogênese inicial, oócitos em pré-vitelogênese
final, oócitos vitelogênicos e oócitos maduros.
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor... 76
12. Grânulos citoplasmáticos constituem um indicador do estágio ovocitário
vitelogênico.
13. A presença de vesículas corticais possuindo uma forma de bastonete,
encontradas em toda a periferia do citoplasma da célula, são
características de ovócitos maduros.
14. Os ovidutos são estruturas secretoras constituídas por fibras musculares
lisas e tecido epitelial colunar simples.
SANTANA, I. C. H. Estudo morfológico do sistema reprodutor...
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