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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA
Bolsista: Walkerlene Cecília Soeiro Santos
Orientador: Prof.Dr. Horácio Antunes de Sant’Ana Júnior
LEVANTAMENTO DO PROCESSO HISTÓRICO DE OCUPAÇÃO DOS
POVOADOS DO TAIM, RIO DOS CACHORROS E PORTO GRANDE.
PROGRAMA DE AÇÕES AFIRMATIVAS
São Luís – MA
2012
2
____________________________________________
Walkerlene Cecília Soeiro Santos
____________________________________________
Prof.Dr. Horácio Antunes de Sant’Ana Júnior
LEVANTAMENTO DO PROCESSO HISTÓRICO DE OCUPAÇÃO DOS
POVOADOS DO TAIM, RIO DOS CACHORROS E PORTO GRANDE.
Relatório apresentado ao Programa Institucional
de Bolsas de Iniciação Científica – PIBIC, na
Universidade Federal do Maranhão.
São Luís – MA
2012
3
RESUMO
Esse relatório visa sistematizar as informações colhidas na pesquisa sobre o levantamento do
processo histórico de ocupação dos povoados do Taim, Rio dos Cachorros e Porto Grande, no
período de agosto de 2011 a janeiro de 2012, período que corresponde à duração parcial da
bolsa de pesquisa do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica –
PIBIC/UFMA.
A pesquisa está sendo realizado de acordo com o plano de trabalho Levantamento do
Processo Histórico de Ocupação dos Povoados do Taim, Rio dos Cachorros e Porto Grande.
Assim sendo, o presente relatório é um instrumento para avaliação acerca do trabalho
desenvolvido de acordo com o plano de trabalho acima citado, o qual é vinculado ao Projeto
de Desenvolvimento e Conflitos Socioambientais no Maranhão do Departamento de
Sociologia e Antropologiada Universidade Federal do Maranhão.
Palavras-chaves:Conflito socioambiental. Processo Histórico. Ocupação dos Povoados.
4
SUMÁRIO
1-INTRODUÇÃO........................................................................................................05
2- OBJETIVOS............................................................................................................06
2.1 Objetivos Gerais.......................................................................................................06
2.2 Objetivos Específicos...............................................................................................06
3 METODOLOGIA.....................................................................................................07
4 PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS..............................................................08
5- RESULTADOS........................................................................................................10
6- CONCLUSÃO..........................................................................................................19
REFERÊNCIAS........................................................................................................20
5
1- INTRODUÇÃO
Devido ao conflito socioambiental existente entre as populações tradicionais da Zona Rural de
São Luís II(que também compreende os povoados do Taim, Rio dos Cachorros e Porto
Grande), e grandes empreendimentos industriais que ao longo das décadas se instalaram na
área portuária de São Luís, o grupo GEDMMA- Grupo de Estudo Desenvolvimento e Meio
Ambiente do Maranhão vem desenvolvendo o ProjetoDesenvolvimento e Conflitos
Socioambientais no Maranhão do Departamento de Sociologia e Antropologiada
Universidade Federal do Maranhão.Sendo assim, o presente relatório é uma mostra de
resultados parciais da pesquisa desenvolvida através do referido projeto no qual o plano de
trabalho executado corresponde ao Levantamento do Processo Histórico de Ocupação de
Povoamento do Taim, Rio dos Cachorros e Porto Grande.
Essa pesquisa tem como objetivo a investigação científica do processo de habitação dos
povoados já citados, como se deu a ocupação inicialmente, qual o cotidiano das pessoas que
ocuparam esses territórios e porque o ocupou, qual sua cultura, costumes, descendência, entre
outros aspectos. O plano de trabalho desenvolvido visa o registro histórico dessas populações
que ainda hoje reagem aos conflitos socioambientais em prol das suas permanências no local
de suas origens.
6
2 OBJETIVOS
2. 1 Objetivo geral
Identificar e analisar conflitos socioambientais no Maranhão decorrente de projetos de
desenvolvimento instalados a partir do final da década de 1970 e, atualmente, em vias de
instalação.
2. 2 Objetivos Específicos
Considerando o conflito socioambiental atualmente existente entre grandes empreendimentos
localizados nas proximidades do Complexo Portuário de São Luís e os moradores dos
povoados que demandam a instalação da Reserva Extrativista de Tauá-Mirim na Zona Rural
II (segundo a Lei de Zoneamento, Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo do Município de
São Luís), prioriza-se o estudo dos povoados do Taim, Porto Grande e Rio dos Cachorros,
tendo como objetivos específicos:
Identificar e acompanhar ações de grupos sociais selecionados;
Conhecer a organização social, cultural e econômica dos grupos atingidos;
Fazer o levantamento do histórico de ocupação da área, através de consultas ao
Arquivo Público, Diocese de São Luís e Capitania dos Portos;
Aprofundar os estudos teóricos sobre: modelos e projetos de desenvolvimento,
questões socioambientais, conflitos, populações tradicionais, legislação ambiental.
7
3- METODOLOGIA
Revisão bibliográfica, para nivelamento teórico;
Trabalho de campo nos povoados selecionados, com observação do cotidiano e de
eventos importantes, registro etnográfico através de diário e caderno de campo e uso
de máquina fotográfica ou filmadora (quando possível);
Realização de entrevistas com uso de gravador junto a interlocutores selecionados,
com utilização, em algumas entrevistas, da técnica de história de vida;
Coleta de material histórico no Arquivo Público, Diocese de São Luís e Capitania dos
Portos.
8
4- PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS
A presente pesquisa está sendo realizada a partir de entrevistas com moradores mais antigos
dos povoados Taim, Rio dos Cachorros e Porto Grande. Seu desenvolvimento dar-se através
de um questionário elaborado para ser utilizado como guia de entrevista, contendo perguntas
relevantes à proposta do projeto, o qual foi respondido por moradores das comunidades que
foram entrevistados conforme o desenvolvimento da pesquisa. Para uma melhor coleta de
informações,foram aplicados 04 questionários em cada povoado a partir do dia 20 de
novembro de 2011.
A s perguntas dos questionários são as seguintes:
1- Quem foram os primeiros moradores dessa comunidade?
2- Do que eles viviam?
3- Quem foram os primeiros que nasceram no povoado?
4- Como foi o processo de habitação do povoado?
5- Há quanto tempo existe a comunidade? (histórico)
6- Qual era a cultura do local: quais as festas, tipos de manifestações, religião, lendas,
costumes, culinária? Essas tradições continuam ou perderam-se com o tempo?
7- Se, perdeu quais os motivos para isso?
8- Qual o significado do nome do povoado?
9- Quantas famílias fundaram a comunidade? Quais os nomes dessas famílias e se há
descendente ainda residente?
10- Quais os meios de transportes?
11- Porque as primeiras pessoas foram para esse local?
12- De onde vieram os primeiros moradores?
13- Quais atividades extrativistas do povoado?
14- Como se dá a organização política da comunidade?
15- Existem associações, agremiações no povoado?
16- Quais as religiões vigentes na comunidade?
17- Quais as religiões que existiam na comunidade?
18- Há relações de parentesco com os povoados vizinhos e como isso se dá?
19- Há liderança comunitária no povoado?
20- Quais tipos de atendimento existiram e ou existe na comunidade?
21- A qual grupo étnico o povoado se denomina?
9
Quanto à revisão bibliográfica, foram e ainda estão sendo feitos estudos de textos
selecionados, com temáticas socioantropológicas de acordo com o projeto ao qual está
pesquisa esta vinculada.
Dentre os textos trabalhados destacam-se:
A Resex de Tauá-Mirim, grandes projetos de desenvolvimento e a resistência socioambiental;
introduzindo o debate.
Autores: Horácio Antunes de Sant’Ana Júnior, Madian de Jesus Frazão Pereira, Elio de Jesus
Pantoja Alves, Carla Regina Assunção Pereira.
Ordenamento territorial e impactos socioambientais no Distrito Industrial de São Luís-MA.
Autora: Fernanda Cunha de Carvalho.
Análise de uma situação social na Zululândia moderna.
Autora: Bela Feldman-Bianco.
Escolher um tema e um campo
Trabalhar as entrevistas e o diário de campo.
Observar.
Autores: Stéphane Beaud e Florence Weber.
A Assim se Chamava Acumulação Primitiva
Autor: Karl Marx
Uma Descrição Densa: Por uma Teoria Interpretativa da Cultura.
Estar Lá: a antropologia e o cenário da escrita
Testemunha ocular: os filhos de Malinowiski.
Estar Aqui: de quem é a vida, afinal?
Autor: Clifford Geertz.
Sobre o Artesanato Intelectual e outros Ensaios
10
Autor: Wright Mills
11
RESULTADO:
Povoado doTaim.1
A pesquisa está sendo realizada através de entrevista com moradores dos povoados Taim,
Porto Grande e Rio dos Cachorros, e como resultado parcial temos o levantamento do
processo histórico de povoamento do Taim e do Rio dos Cachorros.
O Taim, inicialmente o nome era Itaim, nome originado da mistura de dialeto africano com
idioma indígena que significa pedra + povo, apesar de idioma indígena também compor o
nome da comunidade, não se tem registro histórico da passagem de índios no local e sim de
uma nação africana conhecida como taínos, que eram negros escravos que daquela região
fizeram seu quilombo, sua moradia, ou seja, o Taim é tido como uma comunidade
remanescente de quilombo e se intitula como tal.
A principalatividade econômica desse grupo étnico era a curtição de couro, pois no povoado
há vestígios de construções de tanques cobertos de cerâmicas muito comumente utilizadas
pelo povo taino em suas passagens em outros lugares como, por exemplo, nos povoados de
Camboa dos Frades, Rio dos Cachorros e Porto Grande,todos localizados nas redondezas do
Taim. 2Segundo Alberto Deusded – Arqueólogo do Instituto do Patrimônio Histórico e
1Foto: Avenida principal do Taim.
2IPHAN: Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
12
Artístico Nacional- IPHAN, que foi oresponsável pela realização dos exames para comprovar
que a cerâmica utilizada pelos tainos no Taim, era da mesma espécie encontrada em Camboa
dos Frades, Rio dos Cachorros e Porto Grande, o que comprova também a participação do
povo taino nos povoados já citados.
A data de sua fundação não é exata, estima-se que por vota de 120 a 130 anos, pois os
moradores mais antigos do Taim conhecidos como Dona Arcângela Ramos e Sr. Dionísio
Moraes,basearam-se como indício de data de fundação do povoado,o festejo mais antigo da
comunidade, que é o de São Benedito, realizado há 97 anos.
Sobre os primeiros moradores, o Taim começou o seu processo de habitação através
famíliasde Arcângela Ramos, Dionísio Moraes, João Câncio de Moraes e Evangelina de
Moraes. Segundo o Sr. Alberto Cantanhede, mais conhecido como Beto do Taim, essas
famílias tinham como economia local, predominantemente, a roça e o transporte marítimo o
qual utilizavam para conduzir frutas, carvão e mercadorias diversas para serem vendidas no
centro de São Luís e em povoados vizinhos e também como meio de transporte de
passageiros.
Em outubro de 1997, o Taim passou pelo processo de legalização das terras, uma vez que a
comunidade já vinha tendo sérios problemas socioambientais no que tange a instalação de
grandes empreendimentos industriaisnas suas proximidades. Na época, o Taim contabilizava
57 famílias que receberam títulos de terras e nesses títulos há um acordo que se constitui em:
famílias constituídas naquela data, seus os filho independentemente da sua idade na época,
teriam direito a terra, sem ônus quando adultos se quiserem permanecer na comunidade.
Apesar de titulada a terra para as famílias, através de ação do Instituto de Terra do Maranhão -
ITERMA, os moradores do Taim não cercaram seus terrenos,ou seja, no Taim, não há um
costume de demarcação de terras, são poucos moradores que fazem essa prática. Portanto,
trata-sede terras de uso comum.
Sobre as Manifestações Culturais do Taim, um dos mais antigos festejos que se tem
registroera o do Divino Espírito Santo, realizada pela Sra. Maria Salomé. Coma morte de
Dona Salomé, assim conhecida, a manifestação foi extinta por não haver interesse pela
conservação da mesma por parte de seus familiares, uma vez que a realização do festejo é o
pagamento de uma promessa passada de geração em geração na família de Dona Salomé.
13
Também existiu o Bumba-meu-boi de Sabina, organizado por dona Sabina, assim chamada
por toda redondeza. Inicialmente chamado de boi de cofo, o boi de Sabina tinha como Amo o
Sr. Miguel Baldez, e essa era uma forma de entretenimento da comunidade. O boi de cofo
com o passar dos anos se transformou em um bumba-meu-boi tradicional de sotaque da Ilha,
ou seja, sotaque de matraca como é popularmente conhecido esse sotaque em todo o país.
Nessa época, o Taim, através desse boi, fazia uma brincadeira chamada de disputa de amos
que se caracterizava pela participação de vários amos de Bumba-meu-boi de matraca, que
vinha de diversos locais de São Luís para disputarem com suas toadas. Hoje o festejo já não
existe mais.
No Taim, o festejo de São Benedito, é a manifestação cultural mais forte do Povoado,
realizada há 97 anos, o festejo inicia-se no domingo de páscoa com o levantamento do mastro
e o ritual compreende 08 dias de ladainhas, procissão, missas,rodas de tambor de crioula,
forró e derrubamento do mastro.
Há também o festejo de São Raimundo dos Mulunduns, que significa feijão brabo, nele
também é realizadas ladainhas na capela de São Raimundo, roda de tambor de crioula, festa
dançante na residência de Seu Raimundo Nonato, localizada no Taim. Na última noite do
festejo, o tambor de crioula toca até o raiar do dia e se encerra com um café da manhã que
geralmente é uma alimentação equivalente a um almoço, ou seja, uma feijoada, um mocotó,
carnes, pescados entre outros, para os participantes. Seu Raimundo Nonato é o único morador
do Taim que possui uma capela em sua residência.
O festejo de Santa Maria, realizado no mês de maio e é um festejo não muito tradicional. Sua
composição também é de levantamento de mastro no dia 1º e derrubamento dia 31, ladainhas
durante todas as noites do festejo em homenagens a uma família da comunidade escolhida
para ser homenageada pelos moradores. O auge do festejo é anoite dos jovens, na qual há um
encontro dos jovens da comunidade com jovens de comunidade vizinhas.
Os festejos do dia dos pais e das mães, são uma forma da comunidade prestigiar pais e mães,
entre os homens, no dia dos pais há uma brincadeira chamada de troca de copo. Eles compram
cerveja e mandam preparar uma feijoada e se confraternizam entre si. Essa brincadeira tem a
participação do Bumba-meu-boi de Maracanã, um dos mais tradicionais do Estado do
Maranhão. Existe uma forte ligação entre a comunidade do Taim e a comunidade de
Maracanã, uma vez que alguns brincantes do boi de Maracanã são do Taim, além da relação
14
de parentesco que o Taim tem com as comunidades próximas e o povoado de maracanã é uma
dessas comunidades. O boi vai visitar o Taim e esse costume antecede a morte do boi e essa
passagem faz parte do auto do Bumba-meu-boi na qual o boi se esconde para não morrer. O
Taim oferece o café da manhã para os brincantes do boi e depois dessa participação no Taim,
o boi do Maracanã segue caminho.Essa manifestação se dá sempre no sábado que antecede o
dia dos pais que é o mesmo dia que antecede a morte do boi que é no mês de agosto.
Em ralação das religiões, o Taim conta com 03 tipos de religião. Entre eles estão o
catolicismo, onde a grande maioria da comunidade se declara católica embora na comunidade
não haja igreja católica, só há uma capela que é a de São Raimundo, as missas são realizadas
pelo padre no espaço da associação de moradores do Taim.
O Protestantismo já se manifesta no povoado e existe uma igreja Evangélica Batista na
comunidade.
A religião de Matriz Africana é uma das mais antigas na comunidade e ainda se mantem no
povoado através do terreiro de um senhor conhecido por Arlindo Baldez, que tem seguimento
de Tambor de Mina e no momento encontra-se em construção civil.
Desde tempos remotos, o Taim mantém relações de parentescos entre as comunidades
vizinhas. A primeira família que se tem registro que manteve relação de parentesco entre as
comunidades é a da família Moraes, que se mudou para o Rio dos Cachorros devido um
casamento entre membro da comunidade do Taim com membro da comunidade Rio dos
Cachorros. É comum até os dias atuais o casamento entre familiares, ou seja, entre primos.
Antigamente algumas famílias promoviam casamentos arranjados e os mesmos advinham da
estreita relação do povoado Taim com povoados próximos.
Sobre os transportes, anteriormente era utilizado o sistema marítimo para condução, com a
chegada de estradas de rodagem, o Taim passou a utilizar sistema de transporte coletivo.
Atualmente, o ônibus passa na comunidade de 01 em 01 hora e faz o percursodo Mercado
Central (próximo ao centro) até o povoado do Porto Grande. São também utilizados carros,
motos e embarcações, sendo que, hoje as embarcações não vão mais até o centro da capital
São Luís e sim até as comunidades de Portinho, Porto Grande, Embaubal, Ilha Pequena,
Jacamim entre outras que formam o conjunto das ilhas do Tauá- Mirim.
15
Conforme os moradores, as atividades extrativistas do Taim eram o plantio, colheita e venda
de frutas nativas como jaca, juçara, buriti, bacaba. Também de verduras e legumes diversos,
coleta de sururu, ostra, sarnambi e a pesca de camarão e peixes como sardinha, tainha,
pacamão, bandeirado entre outras espécies.
Outra atividade muito comum também era a roça de mandioca no mês de julho conhecida
entre os moradores de roça de São Miguel. E o outro tipo de roça era a roça mista, cujo
plantio continha diversos tipos de legumes, verduras, frutas e tubérculos.Os homens eram
responsáveis pela roçagem, às mulheres pela plantação e capina, e todos, homens e mulheres
pela coleta.
Na comunidade do Taim existe uma Associação de Moradores, com data de fundação de 04
de abril de 1987, segundo os moradores, a associação foi implementada pela necessidade
gerada do conflito socioambiental que a comunidade enfrentava na época devido à proposta
de instalação do Pólo Siderúrgico. A associação deu e dá suporte para a organização política,
social e cultural para a comunidade.
O Taim tem outras agremiações, entre elas estão a Associação do Tambor de Crioula e a
Cooperativa de Beneficiamento de Pescado.
Na área da educação, o Taim conta com uma Escola da Rede Municipal de Ensino
Fundamental anexo da Escola Gomes de Sousa localizada na Vila Maranhão.
Não há Postos de Saúde, o Taim conta com somente com a visitação de agentes de saúde da
Vila Maranhão. O sistema de água e esgoto dá-se através de poços artesianos e fossas.
16
3Rio dos Cachorros
Povoado Rio dos Cachorros:
Com mais 200 anos de existência, o povoado Rio dos Cachorros, localizado no braço do mar
onde também se localiza o Porto de Itaqui, um dos maiores e mais importantes do mundo,
próximo também a comunidade de Estiva, bairro que é entrada da Cidade e Zona Rural de São
Luís.
A comunidade era dividida como Santa Cruz, Santo Antonio, Telha, etc. Não eram
considerados bairros, eram apenas denominações que os próprios moradores da época
designavam a localidade em que viviam. A priori tem-se uma justificativa bem convincente
de como o nome do bairro surgiu.
Segundo informações de alguns moradores, a comunidade possui um porto e que neste local
morava uma família com alguns animais de estimação principalmente cachorros que eram em
maior quantidade. Houve a necessidade dessa família se mudar, mudaram-se e não levaram os
animais que possuíam, deixando-os no local.
Havia pessoas que vendia farinha na praia grande e que passavam constantemente pelo
local para a coleta da mandioca que ficava de molho no porto (mangue), na passagem dessas
pessoas os cachorros ficavam agitados e corriam para avançar os visitantes. No momento da
3 Rio dos Cachorros.
17
venda da farinha, as pessoas perguntavam de onde era a mercadoria e os vendedores sempre
diziam que era do Rio dos Cachorros e dessa forma o bairro ficou conhecido por esse nome.
Seus primeiros moradores vieram do outro lado da ilha, o que os moradores não identificam
com plena certeza se é a Ilha da Boa Razão, que se localiza próximo do povoado. As
primeiras famílias a habitar o Rio dos Cachorros foram a Barbosa, a Araújo e a Pires. Todas
ainda têm descendência no povoado.
Conta à história que a comunidade foi habitada inicialmente por descendentes de escravos e
de indígenas, todavia não há documentos e ou escritos que comprovem essa participação, tudo
foi perdido com o tempo, segundo os moradores do povoado Rio dos Cachorros. A única
afirmação dessa história se dá pela descendência da família Pires, uma das mais antigas do
povoado. Conta Dona Maria Máxima Pires, em entrevista no livro Ecos dos Conflitos
Socioambientais: a RESEX de Tauá-Mirim, que sua vó era uma negra e foi trazida em navio
(que certamente pode se tratar de um negreiro) cujo nome era Justina, e sua etnia era
desconhecida. Dona Justina, teve uma filha com um português da família Galvão, fato muito
normal naquela época devido à colonização da Cidade de São Luís pelos povos portugueses,
holandeses e franceses. Essa filha ao se casar teve que dar um dote ao prometido marido e
esse dote segundo dona Máxima, foi a metade das terras do povoado Rio dos Cachorros.
A economia dessa comunidade antigamente era exclusivamente a pesca, a lavoura e a
extração de pedra. Apesca era realizada no próprio Rio dos Cachorros, havia uma diversidade
de pescado no rio que variava do camorim, pescada, bagre, até o camarão. A lavoura era farta
de mandioca, feijão, milho entre outras plantações.
No povoado era comum a troca de mercadorias, ou seja, o que não era produzido pela
comunidade era trocado por produtos. As pessoas em geral enfrentavam várias dificuldades
não havia qualquer tipo de tecnologia que facilitasse a vida das famílias, os alimentos eram
cozidos sobre a lenha ou carvão, colher, prato, nada disso as pessoas possuíam, os utensílios
que utilizavam encontravam na natureza como cuia, folha de coqueiro que dobravam e
utilizavam como colher. Quando a pesca não ia bem, a criatividade de misturar e criar
receitas caseiras supria a falta de alimentos. As donas de casa faziam piqui com arroz, caldo
de vinagreira, macaxeira cozida, Chá verde com farinha, pirão, entre outras guloseimas. Atualmente os moradores do Rio dos Cachorros trabalham nas indústrias localizadas ao redor
do povoado como mão de obra braçal.
18
Em relação à quantidade de famílias, o Rio dos Cachorros conta com aproximadamente 500
famílias, e há um problema de moradia, pois existem casas que moram duas e ou três famílias
juntas. O território do Rio dos Cachorros compreende uma área de 279 hectares. Sua
organização político-social é realizada através da União dos Moradores fundada em 1970. Na
visão dos moradores do Rio dos Cachorros, não deveria haver necessidade de uma
organização social para os representá-los, uma vez que para eles, todos nasceram ali e por
esse motivo todos são donos daquela terra e assim sendo, todos devem defender sua
comunidade, porém, o Rio dos Cachorros vem enfrentando problemas socioambientais,
igualmente a outros povoados localizados nas proximidades da área portuária de São Luís.
Sendo assim, os moradores dessa comunidade vêm se organizando politicamente e mudando
seus comportamentos, eles vêm se articulando e mobilizando juridicamente para enfrentar as
dificuldades impostas pelas grandes indústrias que naquela região se firmaram e firmam com
o passar do tempo. Existe também a associação do menor carente que é regularizada e presta
serviços à comunidade na área jurídica em questões que abrangem a área da infância e
adolescência.
Sobre religião o povoado se declara católico embora haja uma igreja protestante no local. Os
moradores afirmam que essa igreja protestante é a Assembleia de Deus e que a mesma veio
para o povoado muito pouco tempo e que foi trazida por pessoas que vieram morar aqui. Há
também na comunidade uma igreja católica que é a de São Miguel, o padroeiro do Rio dos
Cachorros.
Os moradores ainda contam que existem três terreiros de religião de matriz africana na
comunidade e que entre esses três terreiros o mais antigo é o terreiro de Badé, que tem como
responsável uma senhora conhecida na comunidade por Dona Teté. Na comunidade do Rio
dos Cachorros, as religiões vivem em harmonia, segundo seus moradores não há conflitos
entre as mesmas.
Entre os festejos estão o de São Miguel que é o festejo mais antigo e o festejo da família que
não é muito tradicional. O festejo de São Miguel é realizado pela Sra. Rosinete Pires Borges
que herdou de sua avó, o compromisso de manter viva a tradição do mesmo. Nesse festejo há
o ritual de levantamento e derrubamento do mastro, ladainhas.
Há também o festejo de Santana que é realizado através do toque de caixas, levantamento e
derrubamento de mastro, alvorada, festa dançante e passeata de Império que é similar à
19
passeata de império do Divino Espirito Santo onde é composto por Imperador, imperatriz,
mordomo régio entre outros personagens dessa manifestação cultural do Maranhão que foi
trazida pelo povo português e adotada pelos escravos no período escravocrata.
E o festejo de Santo Antônio que é realizado a partir de missas, procissão pelo povoado,
levantamento e derrubamento de mastro, festa dançante e participação da Dança do Boiadeiro
e de outras manifestações culturais. Ainda sobre as manifestações do localos moradores
contam que no Rio dos Cachorros existiu uma quadrilha junina muito conhecida e respeitada
por toda região.
A educação do povoado fica por conta de uma escola de educação infantil e uma escola de
ensino fundamentale que se localiza na Vila Maranhão como também a escola de nível médio,
pois essa escola atende a uma parte da população rural, pois a mesma não tem capacidade de
atendimento para a demanda.
O sistema de saneamento básico do Rio dos Cachorros é o mesmo encontrado no Taim e nas
outras comunidades adjacentes ao Porto de Itaqui, a água é advinda de poços artesianos e o
esgoto é realizado através de fossas.
A comunidade do Rio dos Cachorros, assim como Taim, Porto Grande, Embaubal, Ilha
Pequena e outras comunidades vizinhas, também participa diretamente do processo de
regularização da Resex de Tauá- Mirim.
Porto Grande:
A comunidade de Porto Grande recebeu esse nome por ser um local que há um porto onde
muitos barcos atracavam lá, muitas vezes era para arrumar as embarcações (barcos e canoas)
bem como também para realizar negociações comerciais. Daí o nome do povoado e a chegada
dos primeiros moradores, que em sua maioria eram pescadores e migraram para o Porto
Grande pela facilidade de deslocamento pelo mar. Cabe frisar que o Porto Grande é a
comunidade mais próxima ao 4Porto de Itaqui por isso, também sofreu impactos sociais e
ambientais com a instalação do referido porto.
4 PORTO DE ITAQUI: Um dos Portos mais importantes do Brasil.
20
Dizem os moradores desta comunidade que do povoado podia se olhar a Ilha do Encantado,
essa ilha ficava na frente do porto da comunidade e lá eram realizados rituiais de 5Umbanda.
Conta à história que nessa ilha havia uma cobra da espécie jiboia que era a guardiã do local e
que essa cobra atinha poder de encataria. Pela noite os moradores olhavam a Ilha do
Encantado e a visão era de uma luz incandescente parecida com fogo, todos da comunidade
ficavam inculcados com o fato da ilha do encantado pela noite parecer que estava pegando
fogo e na manhã, curiosos ia ver se realmente havia vestígios de fogo na ilha e nada se
confirmava. A ilha do encantado nunca havia pegado fogo, era só feitiçaria realizada pelos
grupos de Umbanda em seus rituais de culto aos seus deuses. Muitos dos moradores ficavam
próximo ao porto só para olhar a ilha incandescente mais alguns que viam jamais tiveram
coragem de ir até o local por conta da guardiã, a cobra jiboia de tamanho extenso não deixava
qualquer pessoa se aproximar do local causando medo e posteriormente tirando a coragem de
quem queria bisbilhotar o que de fato acontecia na ilha.
A Ilha do Encantado não mais existe, com a chegada da empresa 6Alumar e a criação do seu
porto, (o porto da empresa onde atracam vários navios de origem internacional para
carregamento de alumínio, bauxita e outros recursos naturais extraídos do solo maranhense no
território do Porto Grande e áreas adjacentes dominados pela empresa) foi totalmente
destruída a Ilha do Encantado e hoje no seu loca,l é a passagem dos navios internacionais de
grande porte carregados de mátria prima maranhense.
Também contam os moradores que havia um benzedeiro na comunidade conhecido como
Sr.Culuviano, porém, seu nome de batismo era Feliciano e esse senhor tirava olho grande e 7quebrante através de rezas. Dizem também que após a reza e a retirada do quebrante sempre
apareciam três 8tucangueiras, o que fazia com esse benzedeiro fosse muito respeito e temido
pela comunidade por se tratrar de uma pessoa com poderes sobrenaturais.
As primeiras famílias a povoarem o Porto Grande foram a Luz, Aguiar, Veras, Oliveira e
Cantanhede. Hoje entre os moradores mais antigos destacam-se Sraª Dalvina, Dona Maria
Madeira, Senhor Raimundo Côco, Sr Pedro Santos, Eupídio Veras, Merquídeo Saraíva e Sr
Raimunda Moraes.
Esses primeiros moradores do povoado Porto Grande tinham como principais atividades
econômicas a extração de pedra, carpintaria, roça, recuperação de embarcação e a pesca. O
trabalho de extração de pedra grande era realizado pelos homens e as extrações de pedras
pequenas por mulheres. Conta os moradores que esse trabalho prejudicava muito a postura
corpo feminino e causava muitos problemas de saúde tanto em homens quanto nas mulheres
que o executava.
5 UMBANDA: Religião de Matriz Africana muito comum no território maranhense.
6 ALUMAR- Consórcio de Alumínio do Maranhão.
7QUEBRANTE: Espécie de mal olhado, mal estar do corpo que só passa a base de rezas.
8 TUCANGUEIRA: Espécie de formiga gigante comum no Nordeste.
21
Por volta do final da década de 1970 e início dos nos 80, foi construído o porto que ocupou o
a área marítima ocupada moradores pela 9CODRASA, e esse novo porto dentro do povoado
fez com que os moradores não utilizassem mais o porto grande para desembarque, sendo
assim, para achar outra saída os moradores criaram um porto menor e quando eles vinham dos
povoados vizinhos era comum se escutar a frase: tu vai pro porto grande ou pro porto
pequeno? As comunidades que utilizavam o antigo porto grande tiveram que se adaptar a uma
nova realidade, pois a 10
EMAP não permite a entrada dos moradores no porto sem a devida
autorização do órgão responsável até os dias atuais.
Em 1982, é criado o cais da Alumar, o que prejudicou totalmente a estrutura do porto pequeno
da comunidade Porto Grande, pois essa construção alterou totalmente o canal e a comunidade
acabou ficando sem porto nenhum. Hoje a comunidade atraca seus barcos num pequeno
pedaço de manguezal castigado pela passagem do progresso.
Os meios de transporte eram principalmente embarcações, hoje é mais comum à locomoção
dos moradores através de ônibus, motos, bicicleta e carros particulares.
Em relação à organização política existe uma Associação de Moradores, um Centro
Comunitário e uma Associação Cultural Beneficente, e para o lazer dos moradores existe o
time de futebol da Associação Esportiva.
Quanto às manifestações culturais, o povoado conta com o Festejo de Nossa Senhora da
Conceição que é realizado pela comunidade há 160 anos. Nesse festejo há missas durante toda
a sua realização. Além do Festejo de Nossa Senhora da Conceição há também o Festejo de
São Pedro que já se realiza há 65 anos e Festejo de Santo Antônio, cuja data de realização não
tem registros.
A religiosidade na comunidade de Porto Grande é divida em 01 igreja Católica que é a Nossa
Senhora da Conceição, 03 igrejas evangélicas que segundo os moradores os idealizadores são
pessoas de fora da comunidade que só frequentam a mesma em dias de culto, e 01 11
terreiro
de culto Afro, conhecido como Terreiro de Dona Maria Pilhar, onde o 12
patrono da casa é São
Sebastião.
Ainda nas manifestações culturais os moradores afirmam que há na comunidade 01 Dança do
Boiadeiro, 01 Dança Portuguesa, 01 Quadrilha, 01 Bloco Alternativo, 01 Bloco Tradicional,
01 Divino Espírito Santo e o Tambor de Crioula Proteção de São Benedito que das
manifestações culturais realizadas no local, ainda é a mais forte e frequente.
9 CODORSA- Cia de Dragagem Andreasa.
10 EMAP- Empresa de Administração Portuária.
11 CULTO AFRO: Culto de Religião de Matriz Africana.
12 PATRONO: O santo que é o dono, o chefe da casa de culto Afro.
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5 CONCLUSÃO
Essa pesquisa tem como foco o levantamento do processo histórico de ocupação dos
povoados Rio dos cachorros, Taim e Porto Grande, todavia como se trata de um relatório
parcial referente ao primeiro semestre do trabalho de campo que ainda se encontra em
andamento, somente está contemplado os processos históricos dos povoados Rio dos
Cachorros e Taim. Para resultados conclusivos estão previstos o final do levantamento do
processo histórico de ocupação do povoado Porto Grande,tal como visitação pra coleta de
material histórico no Arquivo Público, Diocese de São Luís e Capitania dos Portos.
Todas as informações colhidas serão sistematizadas e entregues em relatório final para
oPrograma Institucional de Bolsas de Iniciação Científica – PIBIC/UFMA.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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FELDMAN-BIANCO, Bela. Antropologia das Sociedades Contemporâneas: métodos /Bela
Feldman-Bianco (org.)- São Paulo: editora UNESP, 2010.
BAUD, Stéphan. Guia para pesquisa de Campo: produzir e analisar dados
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tradução de Henrique Caetano Nardi.- Petrópolis, RJ: Vozes, 2007.
GEERTZ, Clifford. Obras e vidas: o antropólogo como autor, por Clifford Geertz; tradução;
Vera Ribeiro. 2. Ed Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2005.
MARX, Karl. O Capital: Crítica da Economia Política.
GEERTZ, Clifford. A Interpretação das Culturas obs: ver a referencia completa
Falta terminar a referencia