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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MATO GROSSO REDE AMAZÔNICA DE EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICA - REAMEC DOUTORADO EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICA MARCELO MARQUES DE ARAÚJO O ENSINO DE NÚMEROS DECIMAIS EM UMA CLASSE INCLUSIVA DO ENSINO FUNDAMENTAL: Uma proposta de metodologias visando à inclusão Belém Fevereiro de 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MATO GROSSO

REDE AMAZÔNICA DE EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICA - REAMEC

DOUTORADO EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICA

MARCELO MARQUES DE ARAÚJO

O ENSINO DE NÚMEROS DECIMAIS EM UMA CLASSE INCLUSIVA DO ENSINO

FUNDAMENTAL: Uma proposta de metodologias visando à inclusão

Belém

Fevereiro de 2017

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MARCELO MARQUES DE ARAÚJO

O ENSINO DE NÚMEROS DECIMAIS EM UMA CLASSE INCLUSIVA DO ENSINO

FUNDAMENTAL: Uma proposta de metodologias visando à inclusão

Tese apresentada ao Programa de Pós-graduação de

Educação em Ciências e Matemática, da Rede

Amazônica de Educação em Ciências e Matemática –

REAMEC, como parte de requisitos para a obtenção

de etapa de qualificação para o título de Doutor, em

Educação em Ciência e Matemática.

Orientador: Prof. Dr. Elielson Ribeiro de Sales

Belém

Fevereiro de 2017

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COMISSÃO EXAMINADORA

______________________________________

Prof. Dr. Elielson Ribeiro de Sales

Orientador - UFPA

______________________________________

Prof. Dr. Osvando dos Santos Alves

Membro Externo (UEPA)

___________________________________________

Profa. Dr

a. Elizabeth Cardoso Gerhardt Manfredo

Membro Externo (UFPA)

___________________________________________

Profa. Dr

a. Marisa Rosâni Abreu da Silveira

Membro Interno (UFPA)

_________________________________

Prof. Dr. Erasmo Borges de Souza Filho

Membro Interno (UFPA)

___________________________________________

Profa. Dr

a. Ruth Daysy Capistiano de Souza

Membro Externo (UFRA)

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DEDICATÓRIA

Aos meus pais e familiares, pelas angústias e preocupações, que

passaram por minha causa, por terem dedicado suas vidas a mim, pelo

amor, carinho e estímulo que me ofereceram, dedico-lhes esta

conquista como gratidão.

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AGRADECIMENTOS

Ao meu querido, estimado e muito competente orientador Prof. Dr. Elielson Ribeiro

de Sales, pelo apoio constante, pelos ensinamentos, pela paciência e compreensão, pelas

sempre atenciosas e valiosas contribuições dadas na construção deste trabalho e durante todo

este percurso no curso de doutorado.

Aos meus queridos professores do Programa em Educação Matemática da REAMEC,

Terezinha Valim, Marisa Abreu, Isabel Lucena, Rosália Magalhães, José Moyses, Fátima

Vilhena, Licurgo Brito e demais professores, que contribuíram significativamente para minha

formação doutoral.

Aos meus colegas de turma da REAMEC, por todos os momentos de troca e pleno

debate e aprendizado.

Aos membros de minha banca de qualificação, que me honram com sua presença e

contribuições.

Aos professores e alunos participantes desta investigação, pela acolhida,

disponibilidade e significativa colaboração na construção deste trabalho.

Aos meus queridos amigos do grupo de pesquisa Ruaké, que me possibilitaram muitas

trocas e momentos de estímulo e conhecimentos compartilhados.

À minha família pela compreensão e apoio.

A todos que compartilharam e me apoiaram na longa trajetória deste doutorado.

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Ninguém caminha sem aprender a caminhar, sem aprender

A fazer o caminho caminhando, refazendo e retocando

o sonho pelo qual se pôs a caminhar.

Paulo Freire

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RESUMO

O presente estudo teve como objetivo investigar quais as contribuições de metodologias de

ensino e aprendizagem das operações aditivas com números decimais voltadas a educação de alunos

de uma classe inclusiva no terceiro ciclo do Ensino Fundamental. A pesquisa foi desenvolvida com 10

participantes, sendo dois docentes, um professor de matemática da turma investigada e outro que

atendia na sala de recursos, e oito discentes participantes de uma turma inclusiva do município de

Belém (PA), sendo um deles era deficiente visual. A pesquisa se efetivou em seis meses e constou de

um período de observação das aulas de matemática e demais disciplinas da classe investigada com

uma duração de dois meses, além de ter contado com a aplicação de uma entrevista semiestruturada

com os dois docentes e a discente com deficiência visual da turma investigada, aplicação de questões

de sondagem e aplicação de questões de verificação da acomodação do conteúdo trabalhado após o

período de uso das metodologias empregadas com os discentes participantes da investigação. A

pesquisa teve a abordagem qualitativa e utilizou como metodologia a pesquisa-ação, tendo a aplicação

de duas metodologias de intervenção: o uso do software MusiCALcolorida e o uso do Tabuleiro de

Decimais, a fim de entendermos quais os aspectos propositivos destas duas ferramentas ao processo de

ensino e aprendizagem dos números decimais aditivos direcionados aos discentes com deficiência

visual e sem deficiência. Os resultados obtidos pela pesquisa demonstraram que o uso do software

MusiCALcolorida e do Tabuleiro de Decimais foram propositivos não só para o aprendizado e

compreensão dos números decimais em operações aditivas com o discente com deficiência visual, bem

como para os demais alunos participantes sem deficiência visual. Assim, a análise dos dados

demonstrou que houve relevante aumento da compreensão nas operações aditivas com os números

decimais em media de 60% pelos discentes no aproveitamento da compreensão e operação do referido

assunto matemático, além de representar um fortalecimento da interação e socialização entre os

discentes como uma ferramenta para diminuir o processo de segregação e incidir na conquista de

caminhos voltados à inclusão dos discentes com a questão da valorização e enriquecimento da

percepção do aluno com necessidades educativas especiais junto à turma pesquisada.

Palavras-chave: Números Decimais. Calculadora Musical. Tabuleiro de Decimais.

Deficiência Visual. Inclusão.

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ABSTRACT

This study aimed to investigate which the contributions of teaching methods and learning of

additive operations with decimals oriented education students in an inclusive class in the third

elementary school cycle. The research was conducted with 10 participants, two teachers, a math

teacher investigated class and another who served in the resource room, and eight students

participating in an inclusive class in the city of Belém (PA), one of them was visually impaired . The

research took place for a period of six months and consisted of an observation period of math classes

and other disciplines of the class investigated for a period of two months, and has relied on the

application of a semi-structured interview with both teachers and students with visual impairment of

the investigated group, application probing questions and application of accommodation verification

issues of content worked after the period of use of the methodologies used by the participants of the

research students. The research had a qualitative approach and used as a methodology to action

research, and the application of two intervention methods: the use of MusiCALcolorida software and

the use of decimals Board, in order to understand which propositional aspects of these two tools to

process teaching and learning of decimals additives geared to students with visual impairment and

without disabilities. The results obtained from the survey showed that the use of MusiCALcolorida

software and Decimals board were propositional not only for learning and understanding of decimals

in additive operations with students with visual impairment, as well as the other participating students

without visual impairment. Thus, the analysis of the data showed that there was significant increase in

understanding the additive operations with decimals on average 60% of the students in the use of the

understanding and operation of that mathematical subject, and represents a strengthening of interaction

and socialization among students as a tool to reduce the segregation process and focus on winning

paths aimed at inclusion of students with the question of recovery and enrichment of perception of

students with special educational needs with the searched class.

Keywords: Decimal Numbers. Musical Calculator. Board Decimals. Visual

Impairment. Inclusion.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Representação do cálculo de divisão 52/99 representado em 18 colunas pela

Calculadora MusiCALcolorida ....................................................................................... 194

Figura 2 - Representação do cálculo de divisão 52/99 representado em 47 colunas pela

Calculadora MusiCALcolorida ....................................................................................... 195

Figura 3 - Representação do cálculo de divisão 7/9 representado em 46 colunas feito pela

última versão feita pela Calculadora MusiCALcolorida ................................................ 196

Figura 4 - Representação da ferramenta Tabuleiro de Decimais ............................................ 199

Figura 5 - Representação do número decimal 3,45 no Tabuleiro de Decimais ...................... 200

Figura 6 - Representação dos números no Tabuleiro de Decimais de 0 a 9 ........................... 201

Figura 7 - Demonstração da representação do número 231 no Tabuleiro de Decimais ......... 202

Figura 8 - Demonstração do Tabuleiro de Decimais em situação de zerado ......................... 202

Figura 9 - Representação dos números 0 a 9 no Tabuleiro de Decimais ................................ 203

Figura 10 - Representação do número 987.654 no Tabuleiro de Decimais ........................... 204

Figura 11 - Registro da primeira parcela 2263 no Tabuleiro de Decimais............................. 205

Figura 12 - Registro do produto da operação 2263 + 1324 no Tabuleiro de Decimais ......... 206

Figura 13 - Registro da adição 85 no Tabuleiro de Decimas para a operação 85 + 46 .......... 207

Figura 14 - Demonstrativo da execução da operação no Tabuleiro de Decimais da adição 85 +

46 ................................................................................................................................. 207

Figura 15 - Demonstrativo da operação de adição 8 -3 =5 no Tabuleiro de Decimais .......... 208

Figura 16 - Indicação do registro do número 21 na operação 21 -14= 7 no Tabuleiro de

Decimais .......................................................................................................................... 209

Figura 17 - Representação decimal de um décimo (0,1) no Tabuleiro de Decimais .............. 210

Figura 18 - Representação fracionária de um décimo no (1/10) no Tabuleiro de Decimais .. 210

Figura 19 - Representação da adição dos decimais 0,1 + 0,3 = 0,4 ........................................ 211

Figura 20 - Operação de subtração dos decimais 0,3 – 02 = 0,1 no Tabuleiro de Decimais..212

Figura 21 - Manuseio de experimentação do software MusiCALcolorida com os participantes

da pesquisa ...................................................................................................................... 278

Figura 22 - Desenvolvimento da primeira sessão com o Tabuleiro de Decimais com os

participantes .................................................................................................................... 298

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Figura 23 - Ilustração de um momento inicial com a participante 07 para recapitular o

manuseio da metodologia Tabuleiro de Decimais .......................................................... 323

Figura 24 - O uso do Tabuleiro de Decimais na primeira sessão com a participante 07 ..... 324

Figura 25 - Desenvolvimento da segunda sessão com a participante 07................................ 331

Figura 26 - Participante 07 no desenvolvimento da terceira sessão com o Tabuleiro de

Decimais .......................................................................................................................... 335

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Crescimento da educação inclusiva e perspectivas ................................................ 46

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Crescimento da educação inclusiva entre 2000 e 2010 .......................................... 46

Quadro 2 - Diferenciação entre a abordagem médica e educacional ....................................... 80

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LISTA DE TABELAS

Tabela 2 - Síntese dos itens escolhidos e somados pelas duplas usados no software

MusiCALcolorida ........................................................................................................... 279

Tabela 3 - Itens que os participantes desenvolveram operações nas sessões com o Tabuleiro

de Decimais ..................................................................................................................... 309

Tabela 4 - Itens que a participante 07 desenvolveu operações na primeira sessão com o

Tabuleiro de Decimais .................................................................................................... 324

Tabela 5 - Itens que a participante 07 desenvolveu operações na segunda sessão com o

Tabuleiro de Decimais .................................................................................................... 330

Tabela 6 - Itens que a participante 07 desenvolveu operações na terceira sessão com o

Tabuleiro de Decimais .................................................................................................... 336

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 15

CAPÍTULO 2 – INCLUSÃO E EDUCAÇÃO MATEMÁTICA ................................... 29

2.1 EDUCAÇÃO PARA TODOS? ...................................................................................... 29

2.2 EDUCAÇÃO MATEMÁTICA PARA TODOS, POR QUÊ? ....................................... 48

2.3. O ENSINO DA MATEMÁTICA PARA ALUNOS COM DEFICIÊNCIA ................. 64

CAPÍTULO 3 - A DEFICIÊNCIA VISUAL: PRESSUPOSTOS ETIOLÓGICOS E

EDUCACIONAIS ................................................................................................................... 74

3.1. DEFICIÊNCIA VISUAL ............................................................................................... 75

3.2. ENTENDENDO O DESENVOLVIMENTO DA VISÃO ........................................... 87

3.3. O CONHECIMENTO MATEMÁTICO E A QUESTÃO DA DEFICIÊNCIA VISUAL

.................................................................................................................................................. 91

3.4. POR QUE ENSINAR MATEMÁTICA A ALUNOS CEGOS? ................................... 98

CAPÍTULO 4 - O ESTUDO DOS NÚMEROS DECIMAIS ............................................ 106

4.1. OS NÚMEROS DECIMAIS: COMO SURGIRAM? COMO SE APRESENTAM? .. 108

4.2. ENSINO E APRENDIZAGEM DOS NÚMEROS DECIMAIS ................................. 117

4.3. SOBRE OS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS DE MATEMÁTICA

PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA E OS NÚMEROS DECIMAIS ........................................ 126

4. 4 . DESAFIOS NO ENSINO DOS NÚMEROS DECIMAIS .......................................... 136

CAPÍTULO 5 - CAPÍTULO 5 – METODOLOGIA ......................................................... 165

5.1 A OPÇÃO METODOLÓGICA .................................................................................... 165

5.1.1.Pesquisa- Ação ...................................................................................................... 171

5.2 OS PARTICIPANTES DA PESQUISA ...................................................................... 174

5.3. O CAMPO DA PESQUISA ........................................................................................ 175

5.4. A QUESTÃO LEGAL ................................................................................................ 176

5.5. OS INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS ................................................ 179

5.5.1 Observação ............................................................................................................ 179

5.5.2 Entrevista ................................................................................................................ 182

5.5.3 Vídeo Gravação ...................................................................................................... 185

5.5.4 Diário de Campo ..................................................................................................... 187

5.6 AS ETAPAS NA COLETA DE DADOS DA PESQUISA .......................................... 188

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5.7 OS RECURSOS PEDAGÓGICOS USADOS NA ETAPA DE INTERVENÇÃO DA

PESQUISA ............................................................................................................................. 192

5.7.1 Software MusiCALcolorida .................................................................................... 193

5.7.2 Tabuleiro de Decimais ............................................................................................. 197

5.8 AS ATIVIDADES ....................................................................................................... 212

5.9 A PRODUÇÃO, O REGISTRO DOS DADOS E ANÁLISE DOS DADOS............. 213

CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS.........................................215

6.1. ANÁLISE SOBRE AS OBSERVAÇÕES DAS AULAS DE MATEMÁTICA.........216

6.2. ANÁLISE DA ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA REALIZADA COM A

DISCENTE COM DEFICIÊNCIA VISUAL ........................................................................ 226

6.3. ANÁLISE DA ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA REALIZADA COM OS DOIS

DOCENTES QUE ATUAM COM A ALUNA COM DEFICIENCIA VISUAL ................. 237

6.4. ANÁLISE DA APLICAÇÃO DAS QUESTÕES DE SONDAGEM ....................... 271

6.5. DESENVOLVIMENTO DAS ATIVIDADES DE INTERVENÇÃO DA FASE I: O

USO DO SOFTWARE MUSICALCOLORIDA ................................................................... 276

6.6. DESENVOLVIMENTO DAS ATIVIDADES DE INTERVENÇÃO DA FASE II: O

USO DO TABULEIRO DE DECIMAIS .............................................................................. 295

6.7. ANÁLISE DA APLICAÇÃO DAS QUESTÕES DE VERIFICAÇÃO DA

ACOMODAÇÃO DO CONTEÚDO JUNTO AOS PARTICIPANTES APÓS A ETAPA DE

INTERVENÇÃO ................................................................................................................... 338

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 344

REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 351

APÊNDICES ..................................................................................................................... 377

ANEXOS

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15

INTRODUÇÃO

A educação é um processo interativo entre sujeitos. É uma interação entre pessoas em

desenvolvimento científico e social com o objetivo de possibilitar a cada indivíduo o pleno

desenvolvimento de suas potencialidades, o preparo para o exercício da cidadania e sua

qualificação para o trabalho (BRASIL, 1997).

Dessa forma, ensinar não é sinônimo de transmitir informações e aprender não é

apenas aceitar o que se escuta. Segundo Grando (2004), aprender é construir significados ou

conceitos e ensinar é oportunizar essa construção.

Historicamente, a sociedade reservou às pessoas com deficiência um lugar marcado

pela segregação, onde, geralmente, prevalece um jogo contraditório posto que estas são

consideradas, ao mesmo tempo, “normais” - quando lhes são atribuídas características

especiais legitimadas pela configuração da diversidade humana - e “anormais” - por não

atenderem às exigências dos padrões culturais relacionados à forma de organização social

vigente. Em decorrência, a educação é marcada pela coexistência de padrões distintos de

escolaridade para segmentos socialmente diversos. A escolarização de crianças e adolescentes

com deficiência é um dos temas discutidos pela literatura especializada na área de educação

especial, principalmente na perspectiva de inclusão desses alunos em escolas regulares.

(MANTOAN, 2001).

Segundo Mantoan (2003), essa reflexão se encontra, atualmente, motivada

internacionalmente por documentos e campanhas que visam demonstrar a importância da

convivência com as diferenças. Tais iniciativas têm como referência a escola para todos que é

uma diretriz dos organismos internacionais, e se, por um lado, reflete o desejo dos educadores

críticos no sentido da universalização da educação, por outro, revela a formulação do direito

que, por si só, não elimina a seletividade.

A área da educação especial vem sendo criticada sob a argumentação de que as

investigações procedidas em seu âmbito carecem de suporte teórico consubstanciado em

análises sociológicas e não apenas baseadas em medicina e psicologia. De acordo com

Carvalho (2000), a crise anunciada estaria no fato de que as reflexões empreendidas têm

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origem, quase exclusivamente, entre aqueles diretamente envolvidos com a educação

especial: pais, profissionais e movimentos sociais, que restringem suas análises à prática, sem

argumentação crítica que produza algum impacto ou gere reorientação teórica. Suas práticas

parecem ser fortemente marcadas por intenções assistencialistas, herança das Instituições

filantrópicas, cujas ações quase sempre não coadunam com pesquisas e estudos sobre as

possibilidades concretas de aprendizagem de pessoas com deficiência.

A educação inclusiva surge como proposta de renovação da escola, a partir de 1990,

no Brasil, como uma política educacional visando à construção de uma nova proposta de

ensino, no intuito de combater o ensino segregado, embora sua origem esteja nos movimentos

civis da sociedade que, progressivamente, incorporaram discussões na área de educação

especial. Por isso, se considera a grande demanda de alunos com deficiência, posto que as

críticas são dirigidas, sobretudo, às suas práticas segregadoras, representadas por um sistema

separado, distinto, advindos de um corpo teórico-conceitual que pressupõe uma série de

métodos especiais. O debate sobre a proposta inclusivista na educação transcorreu durante a

década de noventa do século passado no Brasil, e prossegue, como afirma Montes (2002),

recorrente e controvertido

Para Bueno e Martins (2003), as discussões polarizando educação especial enquanto

modalidade de ensino e educação inclusiva não consideram que escola regular e ensino

especial têm uma história contraditória de ampliação do acesso e de desqualificação do

processo pedagógico, especialmente a partir da instituição da educação de massas, nas

décadas de 1960 e 1970. Ressalta que o resultado desse processo tem sido a não incorporação

de grande contingente de alunos, ao qual se atribui responsabilidade pelo fracasso escolar,

independente de serem vinculados ao ensino regular ou especial.

Neste novo paradigma curricular de inclusão, a ênfase e a responsabilidade pela

aprendizagem são deslocadas do aluno e dirigidas para os procedimentos de ensino. Ou seja,

não é o aluno que tem que se adaptar, geralmente sem condições para tal, sua forma de

aprender ao ritmo da aula, mas ao contrário, o ritmo e dinâmica da aula é que devem ser

adaptados para permitir a participação e a aprendizagem de todos os alunos. As aulas têm que

adquirir uma dinâmica interdisciplinar, possibilitando atividades diversificadas, que

incentivem a participação e colaboração de todos. Na escola inclusiva, a cooperação e não a

competição é o instrumento utilizado para incentivar a aprendizagem. Cada aluno deve

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receber as condições para conhecer o seu próprio processo de aprendizagem, suas

características e necessidades. Ter conhecimento de seus limites e, como meta, a superação

dos mesmos.

De fato, pode-se afirmar que a política educacional brasileira incorporou princípios da

educação inclusiva, considerando os vários documentos que a mencionam como modelo.

Carvalho (2000) refere-se à escassez de pesquisas que analisem como essa orientação está

sendo encaminhada nas escolas, a partir de variáveis tais como: tipos de deficiência, formação

de professores, atitudes dos participantes no processo, entre outros.

Neste contexto, a educação da pessoa com deficiência visual precisa ser entendida de

um modo mais planejado e estruturado visando contribui para a integração das informações

captadas pelos diferentes sentidos num todo coerente, por isso a questão pedagógica e

metodológica deve ser valorizada pela prática escolar (CULLATA, TOMPKINS; WERTS,

2003).

Se fizéssemos alusão à questão da visão, poderíamos ouvir um pássaro cantar, sentir as

suas penas, o seu bico e até o vento provocado pelo seu esvoaçar, mas é através da visão que

integramos todos esses elementos como partes de um todo, que é o pássaro. Quando o sentido

da visão se encontra em falta é importante entender outros elementos usados pelo sujeito para

interagir no ambiente social, de forma a garantir, principalmente em cenários de educação

formal. Isto para que este não se torne uma barreira no acesso à participação do sujeito nos

processos de ensino e de aprendizagem, e propiciar construção do sucesso acadêmico de

discentes com deficiência visual (BATISTA, 2005; CULLATA et al., 2003).

A linguagem desempenha um papel importante tanto no desenvolvimento como na

educação dos alunos cegos (BATISTA, 2005; CULLATA et al., 2003; OCHAÍTA, 1993). A

linguagem matemática deve, por um lado, ser descritiva e, por outro, cuidada, procurando

atender ao rigor da escrita da matemática (CULLATA et al., 2003; SANTOS, 2008). A

linguagem escrita, concretamente, a grafia braille para a matemática e para a língua

portuguesa é um elemento fundamental da aprendizagem e para o desenvolvimento da

autonomia nos alunos cegos. A literatura especializada em educação de alunos com

deficiência visual considera ser importante que o professor de matemática tenha

conhecimentos neste domínio, no sentido de acompanhar o trabalho desenvolvido pelo aluno

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cego, à semelhança do que faz para os alunos que usam a escrita convencional dos videntes

(SANTOS; CÉSAR, 2007).

Vale ressaltar que para alunos cegos, o desenvolvimento do sentido do tato é outro

aspecto significativo do desenvolvimento da sua autonomia. Este sentido permite-lhes

explorar, a nível individual, a realidade que os rodeia e que está ao alcance das mãos. Um dos

aspectos que potencia o desenvolvimento deste sentido nas aulas de matemática é o uso de

materiais manipulativos (SANTOS, 2008; SANTOS; CÉSAR, 2007).

A organização do trabalho na sala de aula é um elemento que pode contribuir para a

inclusão dos alunos cegos. Concretamente, a organização dos alunos em pequenos grupos, nos

quais se procura fomentar as interações aluno-aluno, permite que os alunos se confrontem

com diferentes perspectivas e cria condições, não apenas para o desenvolvimento cognitivo

mas também de competências sociais. Santos e César (2007) consideram que os alunos cegos

devem ser incluídos em pequenos grupos, que incluam também alunos ditos videntes,

potenciando as oportunidades de participação de todo e qualquer aluno, tal como subscrevem

os princípios da educação inclusiva, nas atividades da sala de aula. Importa, para que tal seja

possível, que todos os alunos tenham a possibilidade de desenvolver as mesmas tarefas, ainda

que o façam em níveis ou com ritmos diferentes.

Batista (2005) relembra, ainda, a importância da interligação entre as aprendizagens já

realizadas e as novas aprendizagens. Estes elementos, que são de grande importância no

ensino da matemática para todos os alunos, são-no também para os alunos cegos. Contudo,

para estes alunos, por exemplo, os conceitos de paralelismo de retas e planos podem

constituir-se como uma forma de descrever objetos que podem não estar ao alcance do tato,

porque são inacessíveis, ou porque são muito grandes.

Podemos encontrar elementos na literatura que podem contribuir para o

desenvolvimento de cenários de educação formal, mais inclusivos, capazes de responder, não

apenas aos alunos cegos, como a todo e qualquer aluno, criando oportunidades de sucesso

para todos (SANTOS; CÉSAR, 2007). Contudo, ressalta-se que o conhecimento

metodológico, por parte dos professores, desempenha um papel fundamental nas aulas de

matemática em que estejam incluídos alunos cegos, pois possibilitam o desenvolvimento do

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pensamento lógico-matemático do educando e sua inclusão no mundo de forma ativa e

participativa.

De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN (BRASIL, 1997), a

matemática tem o intuito de formar cidadãos, ou seja, preparar para o mundo, ter uma relação

com as outras pessoas que vivem no seu meio social. A educação matemática deve atender

aos objetivos do ensino fundamental explicitados nos PCN (1997:21) “utilizar a linguagem

matemática como meio para produzir, expressar e comunicar suas ideias e saber utilizar

diferentes recursos tecnológicos para adquirir e construir conhecimentos”. Deste modo a

expressão Educação Matemática, que deriva da expressão em inglês, reflete a concepção de

uma educação por meio da matemática.

Nesta perspectiva, o professor de matemática deve assumir uma postura de atuação

profissional na perspectiva de pesquisador, desenvolvendo ações pedagógicas em seu fazer

profissional, usando da construção da pesquisa tanto na construção de ações dirigidas ao

conteúdo como também em relação às metodologias a serem adotadas para a mediação de tais

conteúdos. Deve ter a preocupação em conhecer a realidade de seus alunos, detectando seus

interesses, necessidades e expectativas em relação ao ensino, à instituição escolar e à vida.

Grando (2004) ressalta que os recursos metodológicos devem propiciar o

desenvolvimento de estratégias visando à expressão do conhecimento matemático na medida

em que possibilita a investigação, ou seja, a exploração do conceito através da estrutura

matemática subjacente as estratégias presentes no processo de ensino. Pode-se dizer que a

metodologia de ensino voltada ao aluno com deficiência visual possibilita uma situação de

prazer e aprendizagem significativa nas aulas de matemática (SMOLE; DINIZ; MILANI,

2007).

Borin (1998) corrobora afirmando que dentro da situação de aprendizagem o aluno

não pode ser visto como um ser passivo e sem bagagem educativa. Deve haver por parte da

concepção do docente um melhor desempenho e atitudes mais positivas frente a seus

processos de aprendizagem de seus alunos, sobretudo, os especiais. Para o autor, a introdução

de atividades provenientes de contextos sociais numa dimensão mais lúdica nas aulas de

matemática é uma possibilidade de diminuir os bloqueios apresentados por muitos dos alunos,

os quais temem a matemática e sentem-se incapacitados para aprendê-la.

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Alunos com deficiência visual já se encontram na escola regular desde a

implementação da política de inclusão em nosso país, desde o início dos anos noventa do

século XX, entretanto, poucos conseguem avançar nos níveis de escolarização. Esse é um fato

que dá oportunidade de se pensar sobre os diversos aspectos que o condicionam: a questão da

aprendizagem, a formação dos professores, as políticas educacionais, as adaptações

curriculares etc.

É compreensível que estudantes com deficiência visual apresentem dificuldades com a

sistemática do ensino de matemática atual, visto que o mesmo, quase sempre se fundamenta

em referenciais funcionais visuais (MASINI, 2002). Apesar dos outros sentidos serem de

grande importância para a observação e compreensão do mundo lógico-matemático

(CAMARGO, et. al. 2001), o sentido visão parece dominar toda e qualquer atividade que se

realize no ambiente escolar. Anotações no caderno, textos transcritos na lousa, provas

escritas, medições, entre outras, sentenciam o aluno com deficiência visual ao fracasso escolar

e a não socialização (MANTOAN, 2002).

No entanto, de acordo com Borin (1998), considerando especificamente as práticas

escolares relacionadas ao ensino de matemática, percebe-se que estas não têm favorecido um

adequado desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem. De acordo com os PCN do

Ensino Fundamental (BRASIL, 1997), há uma grande insatisfação tanto por parte dos alunos

como professores em relação ao ensino de matemática. Os alunos constatam que deveriam

aprender a disciplina por ser importante e os professores geralmente se deparam com

resultados negativos obtidos em relação a essa aprendizagem. Essa insatisfação, de acordo

com Borin (1998) revela que há problemas a serem enfrentados, tais como tentar transformar

um ensino centrado em procedimentos mecânicos em um ensino voltado para a busca de

metodologias compatíveis com a formação hoje exigida pela sociedade.

Uma visão ainda presente na concepção no ensino da matemática é ela ser entendida

como uma disciplina “pronta”, definitiva e acabada, percebe-se de uma forma geral que não

há a possibilidade de enganos ou outros caminhos a serem percorridos. Este olhar sobre a

disciplina impossibilita considerar a matemática de forma ativa, ou seja, como um processo de

descobertas em que o sujeito pode ter múltiplas possibilidades e potencialidades para

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construir e apropriar-se de um conhecimento que servirá para compreender e transformar sua

realidade.

Sabemos que o trabalho com a matemática não deve iniciar-se apenas no ensino

fundamental e que essa disciplina não se resume a uma lista de fatos que devem ser

memorizados. Aprender números vai muito além de saber quantificar objetos, não

desmerecendo é claro sua importância no cotidiano. Fernandes e Healy (2008, p. 67) afirmam:

As noções básicas em matemática, lógica e geometria começam ser

elaboradas a partir dos 4,5 anos de idade, portanto é vital que a base seja

sólida, bem construída e bem trabalhada, para que nela se assentem os

conhecimentos matemáticos futuros. Mas é importante lembrar que estimular

o raciocínio lógico-matemático é muito mais do que ensinar matemática – é

estimular o desenvolvimento mental, é fazer pensar.

Nesse contexto, o professor possui uma função importante que é propiciar às crianças

um ambiente em que possam explorar diferentes ideias matemáticas, que não sejam apenas

numéricas, mas também referentes à geometria, às medidas e às noções de estatística, de

forma prazerosa e que possam compreender a matemática como fator inserido na vida:

É preciso que as crianças sintam-se participantes num ambiente que tenha

sentido para elas, para que possam se engajar em sua própria aprendizagem.

O ambiente da sala de aula pode ser visto como uma oficina de trabalho de

professores e alunos, podendo transformar-se num espaço estimulante,

acolhedor, de trabalho sério, organizado e alegre (SANTOS, 2008, p. 52).

Desta forma, na perspectiva de Santos (2008), aprender matemática em qualquer nível

de ensino (educação infantil, ensino fundamental, ensino médio, etc), vai além de apenas

aprender técnicas de cálculo. É desenvolver um raciocínio lógico, tendo a capacidade de

pensar e se expressar matematicamente, interpretar dados, resolvendo problemas e criando

estratégias.

Sabemos que as crianças possuem necessidades distintas entre si, por isso não

podemos fornecer “receitas mágicas” para o ensino de matemática, mas podemos oferecer

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sugestões de atividades que podem ser recriadas e modificadas, de acordo com a realidade em

que está sendo trabalhada (SINCLAIR, 2000).

Como tornar a matemática interessante para os alunos? O que fazer para que a

aprendizagem não seja algo tão penoso e desgastante? De modo geral o ensino e a

aprendizagem não são atividades envolventes do ponto de vista dos alunos. Por que a escola e

a matemática se tornaram tão desinteressantes? Essas questões simplificam várias outras as

quais a sociologia, a filosofia e a psicologia tentaram responder para modificar a forma de se

ensinar em sala de aula.

Parte desse desinteresse pela matemática, segundo Araújo (2000), deve-se em parte a

grande diferença que se estabeleceu entre a matemática que se “aprende” na escola e a

matemática que os indivíduos veem surgindo diante deles e por suas mãos em seu cotidiano.

Esse descompasso faz o aluno a perceber que há duas matemáticas: uma do cotidiano ligada à

vida prática do aluno e outra ligada ao currículo no ambiente escolar.

Amiralian (2002) e De Masi (2002) abordam que amplos estudos e pesquisas sobre

como a didática e a metodologia de ensino pode possibilitar um aprendizado mais

significativo e eficiente à educação de pessoas com deficiência sensorial, dentre eles os

discentes com deficiência visual. Isso também está contido nas discussões da transformação

da metodologia tradicional da matemática para videntes com a criação e aplicação de

metodologias voltadas a temáticas específicas da matemática no seu uso com o público de

educação especial, em especial, aos alunos com deficiência visual.

Montes (2002) tem afirmado que os materiais que são usados em sala de aula refletem

diretamente a concepção de que tipo de ensino e concepção os docentes têm do processo de

ensino aprendizagem e dos próprios discentes. Observa-se que quando o professor usa

metodologias homogeneizadoras, ele tem uma concepção de ensino que não trabalha e nem

acolhe as diferenças e não as entende como constituidoras da própria identidade da natureza

humana.

Magalhães et al (2002, p. 26) diferenciam deficiência primária (o não ver – a

deficiência sensorial em si) de deficiência secundária (as barreiras pedagógicas) e

concordamos quando defendem que algumas vezes, o que faz nascer a desvantagem do aluno

com deficiência na escola “não é o não ouvir, o não ver, mas o fato de a escola não encontrar

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alternativas para adequar o processo de ensino e aprendizagem às peculiaridades destes

alunos”.

Ao procurarmos materiais didáticos disponíveis, percebemos então, a escassez de

material adaptado, fato já constatado por Caiado (2003, p. 57), que infere: “existem poucas

traduções de livros didáticos na linguagem Braille e os materiais didáticos são insuficientes”.

Em virtude desse quadro, intui-se que o aluno com deficiência visual sente-se excluído da

rede regular de ensino. Baumel e Castro (2003, p. 97) afirmam que “materiais e recursos são

condicionantes de uma relação pedagógica eficaz, de respostas à inclusão dos deficientes

visuais e de todos os alunos no processo escolar”.

Concordamos com Cerqueira e Ferreira (2000, p. 24), quando afirmam que em

nenhuma outra forma de educação os recursos didáticos assumem tanta importância como na

educação especial de pessoas deficientes visuais, levando-se em conta a carência de materiais

adequados pode conduzir a aprendizagem da criança deficiente visual a um mero verbalismo,

desvinculado da realidade; a formação de conceitos depende do íntimo contato da criança com

as coisas do mundo; bem como de alguns recursos podem suprir lacunas na aquisição de

informações pela criança deficiente visual.

Ochaita e Espinos (2004, p.183) afirmam que a cegueira tem consequências sobre o

desenvolvimento e a aprendizagem no ambiente escolar, “tornando-se necessário elaborar

sistemas de ensino que transmitam, por vias alternativas, a informação que não pode ser

obtida através dos olhos”. Conforme Sá, Campos e Silva, (2007, p. 21) as crianças cegas

operam com dois tipos de conceitos: aqueles que têm significado real para elas a partir de suas

experiências; aqueles que fazem referência a situações visuais, que embora sejam importantes

meios de comunicação, podem não ser adequadamente compreendidos ou decodificados e

ficam desprovidos de sentido. Nesse caso, essas crianças podem utilizar palavras ou

expressões descontextualizadas, sem nexo ou significado real, por não basearem-se em

experiências diretas e concretas. Esse fenômeno é denominado verbalismo e sua

preponderância pode ter efeitos negativos em relação à aprendizagem e ao desenvolvimento.

Esses autores corroboram com Cobo, Rodriguez e Bueno (2003) ao afirmarem a

importância da diversidade das experiências e tarefas para a construção de conceitos pelos

deficientes visuais. Segundo esses autores, tais pessoas necessitam de grande estruturação dos

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conceitos para poder assimilá-los e propiciar um desenvolvimento e aprendizagem posterior,

ao contrário dos indivíduos videntes, que verificam grande quantidade de conceitos de

maneira espontânea, graças à visão.

Durante pesquisas exploratórias com alunos desprovidos de visão, Leite et al. (2010)

perceberam como muitas vezes alguns assuntos não são abordados simplesmente por não

saber como fazê-lo. O tratamento da informação é um conteúdo importantíssimo para todo

aluno. Então, nada mais natural que todos tenham acesso a esse conhecimento dentro da

escola. Por ter limitações, os alunos cegos precisam de materiais especialmente desenvolvidos

para o ensino e aprendizagem desse conteúdo.

Mesmo quando um assunto parece impossível de ensinar para um determinado grupo

de alunos, se desenvolvemos um olhar atento e curioso e uma postura de professor

investigador, no sentido de encontrar uma possível solução para um desafio que instiga, muito

provavelmente encontraremos uma forma viável de ensinar. Este se configura como o nosso

desafio e objeto de estudo, ou seja, criar recursos metodológicos para auxiliar o

desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem de números decimais aos alunos com

deficiência visual.

Fernandes e Healy (2008) falam acerca dos procedimentos para melhorar o ensino da

matemática para alunos com deficiência visual nas escolas inclusivas adotando tais ações: a

importância de recursos pedagógicos adaptados para garantir que os educandos com

deficiência visual possam atingir os mesmos níveis de aprendizagem matemática de seus

colegas videntes.

Na perspectiva do ensino de matemática para alunos com deficiência visual, algumas

questões amplas poderiam ser apresentadas: Que tipo de atitude pode ser adotada a fim de se

adaptar ou mesmo construir uma prática educativa de matemática que contemple as

necessidades educacionais dos alunos com deficiência visual? Que características devem

possuir atividades de ensino, para que alunos com deficiência visual motivem-se em estudar

conteúdos relacionados a esse campo do conhecimento? Em quais referenciais de ordem

sensorial e educacional as citadas atividades devem ser estruturadas e conduzidas para que

alunos com a referida deficiência motivem-se a aprender matemática?

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Evidentemente que as respostas a questionamentos como os acima colocados

encontram-se principalmente no rompimento de hábitos estabelecidos em práticas educativas

tradicionais e que se constituíram em modelos de “como se deve dar aula”, “quais atividades

metodológicas devem ser usadas” ou de “como se deve avaliar” (CAMARGO; SILVA, 2003).

Nesse sentido, buscando contribuir com a construção de uma prática de ensino de matemática

que contemple especificidades sensoriais e educacionais de alunos com deficiência visual,

desenvolveu-se um conjunto de atividades de ensino no âmbito do conceito “inclusão”, cuja

estrutura fundamenta-se no desenvolvimento de ações de cunho institucional por parte da

escola e da sociedade. Isto implica desde a preocupação de elaboração de metodologias e

práticas metodológicas especiais para cada especificidade dos discentes até a valorização da

diversidade humana no ambiente escolar. Com tais propósitos, não só o aluno com

necessidades educacionais especiais tem o direito de aprender e desenvolver sua autonomia e

sua escolarização na rede pública regular de ensino, mas todos os estudantes ali incluídos.

No campo de revisão para a área de pesquisa no que se refere ao desenvolvimento de

teorias na área de educação matemática, esta pesquisa pretende ampliar, visto a carência de

pesquisas na área, as discussões acerca do ensino de números decimais para estudantes cegos.

De acordo com Batista, Muniz e Silva (2004), o processo de ensino e aprendizagem da

matemática na abordagem do conteúdo dos números decimais em sala de aula, geralmente,

não aparece como em nosso cotidiano, expressos pelo sistema monetário ou pelo sistema de

medidas. Mas, ao estudá-los na escola, percebemos significados diferentes dos encontrados

em nosso contexto social.

Segundo Bianchini (2001), os números decimais da forma que são estudados na escola

parecem não fazer sentido para o aluno que não consegue estabelecer relação entre o

conhecimento escolar e as formas como esses números aparecem no dia a dia. Por isso, de

acordo com o autor, essa descontextualização do ensino dos números decimais acarreta

dificuldades no processo de ensino e aprendizagem. Isto porque, os alunos encontram

dificuldades no momento em que são colocados em contato com os “números com vírgulas”.

Fato que corrobora com o pensamento de Zunino (1995, p. 29), o qual afirma que a

“deficiência do aluno em operar com os números naturais só se manifesta em algumas

situações, enquanto para os números decimais, o problema surge em várias situações nas

quais eles aparecem envolvidos”.

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Diante das dificuldades que norteiam a problemática do ensino de números decimais,

surgiu o interesse em realizar um estudo que ajudasse no processo de ensino e aprendizagem

dos números decimais no contexto de alunos com deficiência visual inseridos no sistema

regular de ensino. Vale ressaltar que minha vivência da prática docente, bem como na

observação da prática de outros professores no ensino desse conteúdo, nota-se que os alunos

são levados a memorizar as regras das operações, que são esquecidas logo após as avaliações.

Tal situação faz com que os estudantes sigam por séries posteriores sem saber operar com

esses números. Isso talvez ocorra porque tendemos a reproduzir os modelos de ensino de

nossos professores.

Parece que a forma como os números decimais vêm sendo tratados na escola não

fazem sentido para o aluno. Isso corrobora a quantidade de pesquisas que se tem desenvolvido

em relação a esse conteúdo. Ao realizar a revisão da literatura especializada, percebemos as

dificuldades que os alunos apresentam na compreensão do conceito/algoritmo dos números

decimais, nos erros que cometem na leitura, representação e em operacionalizar esses

números.

Diante do exposto neste estudo nos propomos a responder a seguinte questão: Em que

aspectos a aplicação do software MusiCALcolorida e utilização da metodologia Tabuleiro

para Decimais podem contribuir para a apropriação das operações com números decimais

para alunos com deficiência visual?

O que me interessa, contudo, como objeto de investigação é focar o olhar na questão

da seleção e utilização de procedimentos metodológicos de ensino, a fim de esses servirem

efetivamente de material de apoio, em Matemática, ao ensinarem-se os números decimais em

operações aditivas a alunos com deficiência visual.

Nesse contexto, constituo como objeto de investigação o seguinte: Investigar a

potencialidade do software MusiCALcolorida e da ferramenta metodológica Tabuleiro de

Decimais no ensino de números decimais em operações aditivas em uma turma inclusiva.

Os objetivos específicos são, portanto:

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Identificar as dificuldades apresentadas pelos discentes cegos da escola pesquisada

quanto ao ensino dos números decimais;

Caracterizar o processo de ensino dos números decimais com discentes de uma turma

inclusiva;

Aplicar o software MusiCALcolorida para ser usado como ferramenta de apoio ao

processo de ensino aprendizagem quando do ensino dos números decimais voltado a

alunos com deficiência visual e videntes;

Avaliar a ferramenta metodológica Tabuleiro de decimais como metodologia para ser

usada no ensino de números decimais a clientela de alunos com deficiência visual;

Identificar quais as dificuldades, crenças e concepções apresentadas pelos docentes no

processo do ensino e aprendizagem na perspectiva inclusiva;

Entender a utilidade e a eficiência das ferramentas metodológicas usadas pela pesquisa

para os discentes com deficiência visual na escola investigada quanto ao processo de

ensino aprendizagem dos números decimais.

Nossa hipótese de trabalho foi o entendimento que o processo de ensino dos números

decimais a deficientes visuais deve implicar uma metodologia de ensino que respeite e leve

em conta não só aspectos epistemológicos relevantes desses números, mas também

características cognitivas da atribuição de significados usuais dos cegos e especificidades de

aprendizagem desses discentes na escola.

Para o desenvolvimento desta investigação, estruturamos nosso trabalho em sete

capítulos.

Nas considerações iniciais, que representam nosso capítulo 1, apresentamos nossa

problemática, os objetivos e a questão de pesquisa, que configuram nossa investigação

proposta nesta tese.

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No capítulo 2, fazemos uma discussão acerca da educação inclusiva e seus

apontamentos históricos e epistemológicos, discutimos a questão de educação para todos, que

ainda representam um elemento fundamental em nossa política educativa e normatiza de certo

modo a nossa política de inclusão. Neste capítulo também discutimos a questão da educação

matemática e seu desafio na construção de práticas e concepções, que visem trabalhar o

atendimento da diversidade humana na ótica da educação inclusiva.

No capítulo 3, esboçamos uma revisão da literatura acerca da deficiência visual e

tratamos de sua conceituação e definição, além de abordar a questão da educação inclusiva

voltada a esta clientela e o desafio do ensino da matemática voltado a este público, na

perspectiva da inclusão.

No capítulo 4, discorremos sobre o ensino dos números decimais e fazemos uma

revisão da literatura sobre esta temática. Enfocamos qual a perspectiva dos Parâmetros

Curriculares Nacionais (PCN) quanto a este conteúdo matemático e enfocamos algumas

pesquisas desenvolvidas no Brasil e fora do país sobre quais as dificuldades vinculadas ao

processo de ensino e aprendizagem dos números decimais, a fim de entendermos os seus

aspectos mais representativos para compreendermos a conjuntura que, geralmente, permeia

este assunto no ambiente educacional formal.

No capítulo 5, expomos o desenho metodológico da pesquisa e os procedimentos

metodológicos da mesma. Justificamos cada elemento metodológico com o uso da literatura

pertinente e descrevemos como funcionam os recursos metodológicos usados na investigação

e o lócus onde desenvolvemos nosso estudo e caracterizamos os participantes e etapas da

pesquisa.

No Capítulo 6, apresentamos a análise dos dados coletados durante a pesquisa de

campo e discutiremos a luz do aporte teórico correspondente, a fim de entendermos as

questões decorrentes da investigação proposta no entendimento e nas discussões levantadas e

decorrentes dos resultados obtidos durante as etapas aplicadas na pesquisa em conformidade

com os seus dados coletados e examinados por uma reflexão acerca do processo de ensino e

aprendizagem dos números decimais em seus aspectos aditivos em uma classe inclusiva.

Por fim, no capítulo 7, desenvolveremos nossas considerações e reflexões preliminares

sobre a pesquisa realizada e debateremos algumas questões tendo como base os dados da

pesquisa e a temática da educação inclusiva.

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CAPÍTULO 2 - INCLUSÃO E EDUCAÇÃO MATEMÁTICA

Este capítulo tem como objetivo discutir e refletir alguns pressupostos sobre a

educação especial e a educação inclusiva de forma breve, a partir dos apontamentos legais de

sua criação e aplicação no Brasil, a partir de seus avanços e recuos na educação brasileira,

além de suas marcas sociais. Abordarei também a questão da educação matemática e seu

desafio na construção de concepções e práticas que visem atender as pessoas com deficiência

sob o prisma de trabalhar na perspectiva da diversidade humana dentro do paradigma da

inclusão.

2.1 EDUCAÇÃO PARA TODOS?

Se olharmos para a história da humanidade, a educação era um bem que não

pertencia a todos. A educação atendia apenas uma pequena parcela da população mundial.

Havia escolas que atendiam apenas uma pequena parcela da sociedade. De acordo com os

pressupostos de Mazzotta (2001), a escola era até considerada de cunho elitista por se

caracterizar nos séculos XV, XVI, XVII e XVIII, em sua maioria, em atender apenas uma

parte da população, normalmente, a elite. Além disso, existiam escolas apenas para meninos e

outras para meninas, isso sem contar que existiam escolas apenas para pessoas com

deficiência também.

Em consonância ao pensamento de Sassaki (1999), entende-se que o processo de

exclusão pelo qual, sobretudo, as minorias vêm, historicamente, passando, e, dentre estas, as

pessoas com deficiência, impossibilitou a importante construção de uma sociedade capaz de

quebrar as barreiras históricas da desigualdade, criando modelos educacionais segregadores e

excludentes.

Historicamente, notamos as concepções equivocadas sobre deficiência ainda são

muito presentes em nosso contexto atual. Conforme salienta Sassaki (1999), do século XV ao

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séc. XVIII, períodos históricos marcados pelas grandes descobertas no campo da medicina, da

biologia e da saúde, ocorrido no final da Idade Média foi marcado pelos estudos que

fundamentavam a deficiência, sobretudo, em causas orgânicas, produzidas no início do

desenvolvimento humano e dificilmente modificadas, assim a atenção às pessoas com

deficiência limitava-se à procura de respostas médicas para seu problema. Por isso, dá-se

início a fase denominada segregação institucional, na qual as pessoas com deficiência eram

entendidas como “doentes”, e por isso eram excluídas da família e da sociedade para serem

tratadas em instituições religiosas ou filantrópicas, com consentimento governamental, e,

onde muitas vezes passavam toda a sua vida, sem que a família pudesse ter algum controle na

qualidade do atendimento recebido.

De acordo com Mazzotta (2001), com o advento da reforma religiosa e,

consequentemente, a perda do poder da igreja, principalmente de seus membros mais

conservadores, grupos mais humanizados como os franciscanos passam a ter mais espaço no

cenário católico, e por volta dos séculos XVI a XVIII, começam a surgir algumas

experiências positivas voltadas para a educação de pessoas com deficiência. Consciente de

que para se chegar ao reconhecimento de que as pessoas com deficiência teriam

possibilidades de educabilidade.

Segundo Torres (2001), no final do séc. XVIII, inicia-se o despertar da sociedade

para diferentes formas de pensar e conceber o mundo e a humanidade. Embalados pelas

revoluções científica e tecnológica principalmente no campo das telecomunicações, que

ampliam e dimensionam as comunicações, acompanhadas das reflexões e discussões sobre as

atitudes discriminatórias, segregadoras e excludentes, suscitadas pelos movimentos sociais,

envolvendo as minorias e ainda um crescente pensar de cunho sociológico questionador das

contradições de uma sociedade que clama por democracia, a sociedade contemporânea vê-se

diante de um significativo repensar em relação às concepções filosóficas, legislações e

políticas públicas para melhoria na qualidade social do atendimento aos segmentos excluídos

da sociedade.

Foi principalmente na Europa que surgiram os primeiros movimentos pelo

atendimento a pessoa com deficiência “[...] refletindo mudanças na atitude dos grupos sociais,

que se concretizaram em medidas educacionais” (MAZZOTTA, 2001, p. 17). De acordo com

o autor, posteriormente, expandindo-se para os Estados Unidos e Canadá e, posteriormente, a

outros países, entre os quais o Brasil. Surgem assim as primeiras escolas especiais, centros de

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reabilitação e oficinas protegidas de trabalho, que demonstraram naquele momento o

reconhecimento, de que as pessoas com deficiência poderiam ser produtivas, caso recebessem

tratamento e treinamento adequados a modificabilidade de sua condição e de seus

comportamentos.

No entanto, a evidência dessa pequena mudança de olhar sobre a questão, muito

embora contribua para a superação do medo e da rejeição predominante no contexto histórico

educacional, ainda encontram-se carregadas de concepções excludentes, evoluindo para a

visão de tutela e de isolamento, à medida que propõe protegê-los e proteger a sociedade,

utilizando-se de asilos, abrigos e escolas especiais, nas quais são submetidos a tratamentos e

práticas condicionantes e alienantes. Na opinião de Pinheiro (2003), essa fase demonstra o

alto índice de exclusão da época. Já que “os deficientes vistos como “não desejados” e “nada

atraentes fisicamente” viveram encarcerados, durante quase todo o século XIX, em instituições prisão,

autênticos guetos, “depósitos” e “reservas” de segregados” (PINHEIRO, 2003, p. 71)

Para referir-se ao atendimento social destinado a esses grupos, nesse período,

Mazzotta, (2001, p. 17) chama atenção para algumas das denominações utilizadas:

“Pedagogia de Anormais, Pedagogia Teratológica, Pedagogia Curativa ou Terapêutica,

Pedagogia da Assistência Social, Pedagogia Emendativa”. Constatando-se que a atenção ora

instituída, não mais se pautava na ideia de que a pessoa com deficiência era amaldiçoada,

como se revelava no período anterior, agora tinha uma forte concepção clínica da deficiência,

sendo, portanto, dado ênfase ao aspecto terapêutico, às práticas curativas, com pouca

relevância ao aspecto educacional.

É nesse período que começam a serem desenvolvidas, no Brasil, as primeiras

iniciativas em relação ao atendimento educacional especializado (século XIX), primeiro com

ações isoladas e particulares. Em 1942, já havia no país 40 escolas públicas regulares que

prestavam algum tipo de atendimento à deficiência mental e 14 que atendiam outras

deficiências. A partir de 1957 o atendimento educacional às pessoas, até então consideradas

“excepcionais”, foi explicitamente assumido, a nível nacional, pelo governo federal, por meio

de campanhas voltadas à causa das pessoas com deficiência (MAZZOTTA, 2001).

Consequentemente o modelo de atenção que se inseriu no país, nesse período,

encontrava-se imbuído de toda a concepção e práticas que vinham se desenvolvendo em

outras sociedades do mundo. Considerando o aspecto político de elaboração e implementação

das ações voltadas para atender essas clientelas, Pinheiro (2003) classifica esse período como

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das “políticas tradicionais” para as pessoas com deficiência, podendo ser identificadas em

fases: a) Fase caritativa, na qual a pessoa com deficiência era vítima do “estereotipo do não

produtivo”, passando a ser vista pelo prisma da incapacidade, tornando-se “objeto de

caridade” devendo ser submetida à proteção e a tutela do Estado por meio das instituições

especializadas; b) Fase reabilitatória, a deficiência entendida como doença, faz com que a

atenção encontre-se na perspectiva de cura. Na condição de paciente, a pessoa com

deficiência passa a ser concebida pelo “estereotipo da anormalidade”, precisando ser tratada.

Ao questionar o chamado “Modelo médico da deficiência”, Sassaki, (1999) e

Pinheiro (2003) afirmam que esta concepção tem sido responsável pela resistência em se

mudar as estruturas e práticas para poder incluir, acreditando-se que a deficiência é um

problema existente exclusivamente na pessoa do “deficiente” e por isso cabe a mesma

resolvê-lo, pois “[...] a pessoa deficiente é que precisa ser curada, tratada, reabilitada etc., a

fim de ser adequada à sociedade como ela é, sem maiores modificações” (SASSAKI, 1999, p.

29).

De acordo com Fonseca (1990), ainda nessa fase, um pouco mais adiante na história

(1900 até a década de 70), o sistema educacional público cria as classes especiais ou classe de

“anormais”, por meio da categorização e classificação das deficiências, que passam a

funcionar no interior da escola regular. Essas classes, para Sassaki (1999), não surgiram por

questões humanitárias, como se pode pensar, mas “ para garantir que as crianças deficientes não

“interferissem no ensino” ou não “absorvessem as energias do professor” a tal ponto que o impedisse

de instruir adequadamente o número de alunos geralmente matriculados numa classe. (SASSAKI,

1999, p. 112)

Ou seja, a deficiência, em plena Modernidade, compreendida, antes de tudo, como

uma ruptura “vertical” com a Idade Média, implicando transformações radicais em todos os

campos “[...] da economia à política, da cultura à mentalidade, ao estilo de vida: permanente

já que age de maneira constante por muitos séculos: conscientes também como manifestam as

oposições às práxis medievais [...]” (CAMBI, 1999, p. 38 – 39), ainda era concebida como um

grande obstáculo para que esses educandos pudessem frequentar os mesmos espaços de

aprendizagem dos alunos considerados “normais”, pois ambos poderiam sair perdendo, vale

ressaltar que essa ideia ainda é muito difundida em nossa realidade educacional brasileira

(MANTOAN, 1999).

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Dessa forma, pode-se afirmar que esse modelo, por ter uma organização de

atendimento segregacionista, compreendida como uma prática que mantém os alunos com

necessidades especiais separados por categorias para serem atendidos em instituições ou

classes especiais, continua sustentando as ideias excludentes de “invalidez” e “dependência”

em relação às pessoas com necessidades especiais. E ainda tornaram-se campo fértil para as

rotulações, estigmas e preconceitos.

De acordo com Gadotti (1990), esse modelo apesar de criar inúmeras mazelas sociais

às pessoas com deficiência, trouxe em si uma proposta, que durante muito tempo foi bem

aceita e desenvolvida por profissionais da área, o integracionismo, que a partir do conceito de

“normalização” entendida como possibilidade da pessoa com deficiência desenvolver um tipo

de vida tão normal quanto possível, concebia que esses alunos deveriam ser submetidos a um

estudo avaliativo para se detectar, precisamente, a deficiência, tendo como relevância as

impressões médicas, principalmente, por meio da psicometria, para poderem receber atenção

educacional especial, distinta e separada da organização educacional regular. Assim,

passariam por um processo de preparação para a possível integração no ensino regular, que

dependeria dos esforços individuais e da atuação precoce e sistemática da educação especial.

Segundo Torres (2001), analisando-se o caminho histórico até aqui percorrido,

verifica-se que o modelo segregacionista/integracionista surgiu carregado de determinismo,

seletividade e porque não dizer de exclusões, uma vez que bem poucos eram os que

conseguiam a tão sonhada integração, pois muitos envelheciam nas instituições e classes

especiais como um processo natural. Pode-se, então, entender que essa perspectiva foi

necessária ao processo, pois, aponta outro horizonte com uma nova compreensão em relação à

deficiência que, até então se encontrava centrada unicamente no sujeito como um fenômeno

autônomo, passando a considerar também os fatores ambientais, o que promove outras

perspectivas educacionais, apontadas principalmente pela psicologia com maior importância

aos processos de aprendizagem.

Em 1948, nos Estados Unidos, um importante passo é dado rumo à chamada era dos

direitos, com a elaboração da Declaração Universal dos Direitos Humanos, para assegurar a

igualdade de direitos a todos os cidadãos e cidadãs, primando pelo respeito à dignidade

humana, o que certamente veio a impulsionar o início da construção do paradigma da Inclusão

social. Para as pessoas com deficiência ou outra necessidade especial, esse período passa a

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representar a abertura para o reconhecimento do valor humano e, como tal, o reconhecimento

de seus direitos até então negligenciados.

Nesse sentido, de acordo com o pensamento de Fonseca (1990), sustentado por esses

paradigmas e concepções, a atenção às pessoas com deficiência em instituições especializadas

e classes especiais, é predominante até os meados do século XX, tendo maior crescimento no

Brasil na década de 1960. É só ao final da década de 1980, início de 1990 que esse paradigma

começa a ser questionado, e, pouco a pouco, começa a ser impressa a ideia, por meio dos

movimentos organizados de luta em favor dessas minorias, de que o segregacionismo e a

visão da deficiência voltada exclusivamente para âmbito da saúde, já não mais respondem aos

anseios da categoria, surgindo à necessidade de redimensionar essa atenção privilegiando o

processo educacional dessas pessoas, afinal, acredita-se que a pessoa com deficiência não

pode ser concebida como doente, incapaz. Além do que a “[...] uniformidade cultural e a

normalidade ideal, verdadeiros dogmas, seletivos e reprodutivos” (FONSECA, 1990, p.

73), não mais cabem num universo de diversidades culturais e sociais que clamam por

reconhecimento e respeito.

Ao se olhar criticamente essa fase, pode-se afirmar que os avanços, mesmo que ainda

não representem o desejo e a necessidade de tratamento digno às pessoas com deficiência,

passam a ter um significado importante para os envolvidos nesse processo de evolução social,

à medida que se consegue perceber a concentração de esforços em torno da causa dos

excluídos, evidenciando-se o processo de amadurecimento e de humanização da sociedade,

por meio dos que nela vivem. Acredita-se que toda construção social precisa ser

coletivamente assumida, e por isso quando alguns começam a inquietar-se com uma

determinada realidade, já se pode acenar para a mudança. Foi assim no início, quando...

[...] determinadas pessoas, homens e mulheres, leigos ou profissionais,

portadores de deficiência ou não, despontaram como líderes da sociedade em

que viviam, para sensibilizar, impulsionar, propor, organizar medidas para o

atendimento de pessoas portadoras de deficiência. (MAZZOTTA, 2001, p.

17)

A esse despeito, espera-se que essa constatação mobilize, em outras fases da história,

outros sujeitos a tornarem-se participantes da sua história, mas não uma história de fatos, e

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sim a história de crescimento humano e social que precisa sempre avançar para novas

perspectivas. A partir de tais contribuições, hoje se pode afirmar que foram os resultados

dessas primeiras experiências educativas e dos estudos voltados às pessoas com deficiência,

pautadas em uma filosofia humanística e na crença da possibilidade de respostas das mesmas,

que possibilitaram ao final do século XIX, o despertar para uma nova concepção em relação à

deficiência, e, consequentemente, uma nova forma de atender as pessoas com necessidades

educativas especiais. Essa mudança de pensamento e postura demarca um novo período na

história dos mesmos.

Constata-se uma urgente e necessária mudança da atitude frente à exclusão social e

educacional, pois é preciso considerar que esta é uma nova realidade.

Marcada pela centralidade das ideologias, pelas lutas sociais (de classe,

nações e etnias), pelo desenvolvimento tecnológico e científico (que renovou

saberes e modelos formativos), pelo crescimento da sociedade de massa e

dos mass media (que introduziu uma revolução educativa: escolar,

curricular, disciplinar, como também perspectiva, cognitiva e ética) tendo

como alvo o pensamento científico e o controle social, redefinindo

radicalmente os processos educativos (mais sociais e mais científicos) e seus

objetivos, conformação e liberação, emancipação e controle, produtividade e

livre formação humana. (CAMBI, 1999, p. 40)

E, portanto, sendo um contexto inovador, precisam ser traçados outros rumos para as

políticas de atenção às pessoas com necessidades educacionais especiais. E é Impulsionado

por esse novo pensar advindo das aceleradas mudanças e avanços em vários aspectos da

sociedade, que se intensificam os movimentos em favor do direito dessas pessoas e de outros

grupos minoritários para a mudança no enfoque dos esforços, no sentido de se garantir que

todos os cidadãos e cidadãs possam ter participação e igualdade de direitos e oportunidades,

em todos os âmbitos da sociedade.

Nesse contexto, começam a ser constatados importantes indicadores do interesse da

sociedade para com a educação das pessoas com deficiência, como: estudos e publicação de

vários trabalhos científicos, ampliação dos atendimentos especializados mantidos pelo poder

público e pela iniciativa privada e, principalmente, o fortalecimento dos grupos de defesa dos

seus direitos.

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Na maioria das sociedades esse processo de busca de sentido para as relações sociais

justas, tem se acirrado, em especial, a partir da década de 60 do século passado, conduzindo

as sociedades para a construção de políticas, programas e projetos que promovam a inclusão

social, principalmente das minorias excluídas. Entretanto, a Inclusão enquanto política

educacional, só começa a ser implementada, timidamente, a partir da segunda metade da

década de 80 do século XX nos países desenvolvidos, chegando aos países em

desenvolvimento em 1990, inicialmente, com a Conferência Mundial sobre Educação para

Todos (Tailândia – 1990), e posteriormente reafirmada com a Conferência Mundial sobre

Necessidades Educativas Especiais (Espanha-1994) da qual surge o referencial para a

educação das pessoas com necessidades educacionais especiais: A Declaração de Salamanca

trazendo uma nova perspectiva de educação a ser implementada em todos os países que ainda

possuem sistemas educacionais considerados excludentes, entre os quais o Brasil. Dessa

forma, a Educação Inclusiva, que, entre outros pressupostos, exige mudanças significativas na

forma de conceber e tratar a diferença (social, cultural, física, sensorial, emocionais...) nos

contextos das escolas, buscando mecanismos que assegurem o acesso e a participação de

todos os alunos, independente de suas peculiaridades e necessidades, recomenda que...

[...] os sistemas educativos devem ser projetados e os programas aplicados

de modo que tenham em vista toda a gama dessas diferentes características e

necessidades; (...) as pessoas com necessidades educacionais especiais

devem ter acesso às escolas comuns que deverão integrá-las numa pedagogia

centralizada na criança, capaz de atender a essas necessidades;... adotar com

força de lei ou como política, o princípio da educação integrada que permitia

a matrícula de todas as crianças em escolas comuns [... ](UNESCO, 1994, p.

82).

Representando uma total reestruturação dos sistemas educacionais, por meio de

políticas, projetos, programas, campanhas e outras ações voltadas para a construção de uma

sociedade e uma educação para todos. Essa proposta é um compromisso a ser cumprido por

toda a sociedade até o século XXI (SASSAKI, 1999). Com esse documento, sustentado por

outras legislações surgidas nos séculos XX e XXI, é assegurado maior abertura às lutas em

favor dos direitos das pessoas com necessidades especiais, para que estes comecem a ser

reconhecidos e valorizados como cidadãos portadores de direitos e deveres.

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Esse quadro que agora se delineia dentro das políticas públicas, pode ser considerado

como a fase da “autonomia pessoal/vida independente” (PINHEIRO, 2003), representando

uma nova, e até então inédita, perspectiva para a educação de pessoas com deficiência.

Concebendo-se autonomia como “[...] a condição de domínio no ambiente físico e social,

preservando ao máximo a privacidade e a dignidade da pessoa que a exerce” (SASSAKI,

1999, p 36), e independência como “[...] a faculdade de decidir sem depender de outras

pessoas, tais como membros da família ou profissionais especializados” (idem, p. 36), é

coerente afirmar que dar oportunidade às pessoas com necessidades especiais de exercerem a

sua autonomia e sua independência é preservar a identidade e a dignidade dessa categoria,

deslocando as dificuldades que, historicamente, vem se centrando no indivíduo, levando-as

para o seu contexto social.

Nesse enfoque aumenta a responsabilidade e participação social de todos os setores

da sociedade. Assim, pode-se afirmar que a inclusão escolar é um processo multidimensional

que envolve aspectos políticos, porque perpassa pela garantia de direitos; o técnico-científico

porque envolve a pesquisa para construção de novos saberes; o administrativo porque exige

planejamento e a garantia de recursos humanos, materiais e financeiros, além, e

essencialmente, do cunho pedagógico que prevê todo um repensar da educação e do processo

ensino e aprendizagem na diversidade.

Chegado ao Brasil a partir da referida Declaração de Salamanca, a política de

Educação Inclusiva, vem, a passos lentos, tentando se firmar nos sistemas educacionais,

porém, ainda são muitos os obstáculos frente a esse processo em todos os aspectos (estrutural,

organizacional, pedagógico...). Um dos grandes problemas do Brasil é a evidente discrepância

entre as leis proclamadas e as práticas sociais efetivadas, acompanhada do “movimento de

resistência” a mudança, que segundo Mantoan, (2003) impede que esse processo evolua

significativamente.

Segundo Mantoan (2003), a Declaração de Salamanca é transformada em política

educacional em 2001, por meio das Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na

Educação Básica, com parecer do CNE/CEB nº. 17/2001, encaminhando aos sistemas

educacionais as principais linhas de ação a serem efetivadas em todas as instituições escolares

do país, sob a responsabilidade do poder público e da comunidade educacional, com a

participação da sociedade em geral. Nesse mesmo ano, o Decreto nº. 3.956/2001, elaborado a

partir da Convenção celebrada na Guatemala, reitera a necessidade de se avançar no processo

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de inclusão educacional, condenando toda e qualquer forma de discriminação resultante da

deficiência.

Segundo Torres (2001), embora nas últimas décadas tenha-se evoluído nas

perspectivas, passando-se do enfoque caritativo-assistencialista, para o da garantia de direitos

a cidadania ainda permanece inúmeras formas de preconceito, discriminação e exclusão, quer

seja do convívio social quer seja no acesso e usufruto aos bens e serviços socialmente

construídos e que deveriam estar disponíveis a todos.

Entre os vários fatores, que certamente contribuem para a não superação das práticas

excludentes, destaca-se a concepção de mundo, de homem, de sociedade, historicamente

construída pela sociedade, pois “[...] Ocorre que, saibamos ou não, estamos sempre agindo,

pensando, propondo, refazendo, aprimorando, retificando, excluindo, ampliando segundo

paradigmas” (MANTOAN, 2003, p. 14).

Entendendo “paradigma” em sua acepção moderna, como valores, regras, crenças e

princípios coletivamente institucionalizados em um dado contexto histórico, e que norteiam

ações e posturas, como refere Mantoan (2003), pode-se afirmar que a mudança de concepção

ou de paradigma, constitui-se num processo complexo, que exige um esforço coletivo e

responsável, considerando a busca de conhecimento, de informação e, acima de tudo, o

reconhecimento da necessidade acompanhada do desejo de se construírem novas e

significativas relações sociais, capazes de eliminar as barreiras da desigualdade em todos os

campos da vida em sociedade.

Entretanto, ultrapassar essas fronteiras requer bem mais que um conjunto de leis e

pressupostos organizados sob a forma de regras, critérios, orientações e metas postos à

sociedade como política pública, tornando-se necessário, a construção de uma nova

consciência capaz de compreender o significado de “Igualdade” (de direitos e deveres),

enquanto políticas afirmativas de inclusão em qualquer dimensão.

De acordo com Piketty (2015), em um país com crescente índice de desigualdade

econômica e social, a igualdade enquanto respeito às condições básicas da vida de todo e

qualquer sujeito não tem passado de retórica. A história de forte presença das práticas

separatistas, que castram os direitos e negam o respeito a determinados grupos, tem deixado

suas marcas explícitas na organização e na convivência social frente à diversidade.

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Falar de política de inclusão em nosso país na área educacional pode representar uma

espécie de fuga da realidade econômica e social brasileira, pois em nossa realidade a exclusão

social é tão gritante quanto os parâmetros de qualidade nos ambientes educacionais nas mais

diversas regiões e contextos. Para se ter uma ideia das desigualdades sociais, de acordo com a

Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (PNAD), divulgada pelo IBGE, em 2014,

apontou uma oscilação nos índices de pobreza no Brasil, com a queda de 5,4% indo de 30,33

milhões de considerados pobres para 28, 69 milhões. O número de miseráveis cresceu de

10,08 milhões para 10,45 milhões entre 2012 e 2013 (BRASIL, 2014).

Nesse sentido, constata-se a necessidade de se compreender a inclusão como um

processo que exige transformações profundas nas raízes sociais e em todas as suas complexas

dimensões (política, educacional, administrativa, econômica, familiar, filosófica,

geográfica...) para que possa ser reconhecida e viabilizada enquanto política, porém, como um

valor e não apenas como um procedimento, como afirma Stainback e Stainback (1999), pois

somente com uma ampla compreensão e com a participação dos vários grupos sociais

(governo, família, escola, empresas, sociedade civil...), por meio de ações conjuntas e de um

trabalho interinstitucional, será possível alcançar o verdadeiro sentido da Inclusão, pautado

nos princípios humanos e como política social, que revele novas formas de tratar as pessoas

estigmatizadas pela diferença, entre estas as pessoas com deficiência, por meio de...

Ações afirmativas em que as lutas pela dignidade, justiça, solidariedade e

pelo fim de todas as formas de opressão e discriminação não sejam meros

argumentos de retórica, mas, sim princípios básicos norteadores de ações e

proposições concretas e efetivas no sentido da construção da cidadania [...]

aqui entendida como direito de ter direitos realmente consolidados, a partir

de processos formadores do sujeito histórico-social que pautem uma nova

ética nas relações sociais (PINHEIRO, 2003, p. 117).

Precisa-se do reconhecimento de toda a sociedade sobre o valor que a inclusão traz,

buscando-se a efetivação de ações por meio de “políticas públicas generalistas”, para que se

possa dar solidez a essa construção, sem se correr o risco da mesma não passar de mais uma

estratégia política, para camuflar diferentes mecanismos de exclusão. Só assim, a inclusão

educacional ou social, estará resgatando os princípios elementares dos direitos humanos,

entendidos como “[...] direitos históricos que emergem gradualmente das lutas que o homem

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trava por sua própria emancipação e das transformações das condições de vida que essas lutas

produzem” (BOBBIO, 1992, p. 5).

Colocando-se na condição de instrumento de descontinuidade das políticas

tradicionais paternalistas e assistencialistas, que vêm historicamente sendo adotadas em nosso

país, sob forma de práticas compensatórias na atenção as minorias desprovidas das

características aceitáveis pela sociedade (os negros, homossexuais, índios, pessoas com

deficiência...). Dessa forma, quando a inclusão é colocada à sociedade, por meio de

pressupostos legais e político-filosóficos, como:

[...] a garantia, a todos, do acesso contínuo ao espaço comum da vida em

sociedade, sociedade essa que deve estar pautada por relações de

acolhimento a diversidade humana, de aceitação à diferenças individuais, de

esforço coletivo na equiparação de oportunidades de desenvolvimento com

qualidade, em todas as dimensões da vida (BRASIL, 2001. p. 08).

Acredita-se na oportunidade de se resgatar a dívida social que se tem com essas

minorias, que, ao longo dos tempos, carregam o estigma de diferença como motivo para

serem relegados à condição de excluídos sociais.

Segundo o pensamento de Piketty (2015), ao debater a economia da desigualdade, ao

dotar-se da consciência de que tais pressupostos vêm de encontro às velhas ideias, práticas e

posturas historicamente cristalizadas pelas relações de poder em favor das ideologias

dominantes, torna-se urgente e necessário que os pressupostos da inclusão sejam conhecidos,

para que seu valor possa ser reconhecido e sua política adotada por todos os sujeitos sociais,

transformando a rejeição em aceitação e a política de papéis em prática social.

Nessa perspectiva, pressupõe-se que a efetivação desse novo paradigma perpasse

pelo domínio dos principais conceitos, princípios, pressupostos teórico-filosóficos, e legais,

que o sustentam, pois...

[...] Eles moldam nossas ações. E nos permitem analisar nossos programas,

serviços e políticas sociais [...] Portanto, é imprescindível dominarmos bem

os conceitos inclusivistas para que possamos ser participantes ativos na

construção de uma sociedade que seja realmente para todas as pessoas,

independente de sua cor, idade, gênero, tipo de necessidade especial e

qualquer outro atributo pessoal (SASSAKI, 1999, p. 27).

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Conhecê-los criticamente é, sem dúvida, um dos caminhos necessários a serem

percorridos, frente aos grandes desafios que a proposta inclusiva traz. Apesar de recente na

literatura especializada, os conceitos inclusivistas envolvem valores humanos que vêm,

historicamente, sendo aperfeiçoados por todos que participam ativamente do processo de

construção e de justiça social. De acordo com Sassaki (1999), os conceitos inclusivistas já

vêm fazendo parte do imaginário de todos aqueles comprometidos com o avanço da sociedade

rumo a uma realidade social sem exclusões.

Como ressalta Mantoan (2003), a construção de uma escola e educação para todos

representa o redimensionamento da escola em todos os aspectos (curricular, pedagógico,

administrativo, físico, prático-metodológico...), para que possa encontrar respostas educativas

para as necessidades de seus alunos, favorecendo não só os que apresentam algum tipo de

deficiência, mas a todas as necessidades advindas da diversidade presente no contexto escolar.

Nesse quadro, defende Mendes (2006), pode-se inferir que a escola de hoje precisa

mudar toda a concepção e prática que construiu sobre si mesma, pois, se a escola não

consegue ensinar a todos os alunos é porque há muito tempo vem pensando, se organizando e

atuando, para atender alguns. O conceito de inclusão escolar sugere a total mudança dessa

atual perspectiva, uma vez que o princípio fundamental da Linha de Ação sobre Necessidades

Educacionais Especiais, Salamanca (1994), defende que:

[...] as escolas devem acolher todas as crianças, independente de suas

condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas e outras.

Devem acolher crianças com deficiência e crianças com superdotação;

crianças de rua e que trabalham; crianças de populações distintas ou

nômades; crianças pertencentes a minorias linguísticas; étnicas ou culturais e

crianças de outros grupos ou zonas, desfavorecidas ou marginalizadas [...]

(BRASIL, 2005, p.18).

Assim, considera-se que a inclusão escolar e a educação para todos, pressupõe o

reconhecimento da diversidade, por meio da mudança de pensamento, e de atitudes em

relação à educação dos grupos, até então excluídos desse processo, pela própria sociedade da

qual é parte integrante.

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Um aspecto relevante para se perceber todos esses marcos históricos de avanços e

recuos no atendimento das pessoas com necessidades especiais consiste no modo como esses

indivíduos foram vistos ao longo do contexto histórico e quais papeis foram designados aos

mesmos pelo processo educacional. Na verdade, essa relação de como eram entendidos e a

educação destinada aos mesmos só refletem a constatação de como os mesmos eram

percebidos pela sociedade, ou seja, de forma marginalizada e diferenciada.

Entende-se que para se pensar a inclusão escolar para pessoas com necessidades

especiais, deve-se compreender mais acerca de desenvolvimento e aprendizagem destas para

se operacionalizar procedimentos educacionais voltados as mesmas. Por isso, em consonância

com o pensamento de Vigotski (1997), em sua obra intitulada fundamentos de defectologia, as

leis de funcionamento psíquico de pessoas com deficiência são iguais os de qualquer outro ser

humano, se desenvolve do exterior ao interior, o que difere é que elas se organizam de outra

forma. O autor faz uma crítica à ideia de quantificar o grau de uma deficiência ou classificar

em níveis de incapacidade de uma pessoa. Para ele, o que se deve focar são os aspectos

qualitativos da deficiência e não suas limitações. Por isso, o autor concebe que há dois tipos

de deficiência. Ele define como deficiência primária os problemas de ordem orgânica,

enquanto a deficiência secundária as consequências psicossociais proporcionadas pela

deficiência.

O pensamento coletivo é a fonte principal da compensação das

consequências da cegueira. Desenvolvendo o pensamento coletivo,

eliminamos a consequência secundária da cegueira, rompemos no ponto

mais débil de toda a cadeia criada em torno do defeito e eliminamos a

própria causa do desenvolvimento incompleto das funções psíquicas

superiores na criança cega, estendendo ante ela enormes e ilimitadas

possibilidades (VIGOTSKI, 1997, p. 230).

Para Vigotski (1997), o grande obstáculo para a educação da pessoa com deficiência

consiste na deficiência secundária, a qual é direcionada pela sociedade, pois a cultura e os

processos educativos estão voltados a um determinado “padrão” de normalidade, o que acaba

por excluir as pessoas com deficiência. De acordo com o pensamento de Vigotski (1997),

quando o mesmo fala da compensação social, em sua obra em fundamentos da defectologia, o

mesmo não está se referindo de modo algum ao posto no entendimento do senso comum em

que um órgão do sentido fica mais aguçado pela ausência de outro, pelo contrário, ele

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menciona acerca do uso dos sistemas de mediação simbólica sendo a forma de o indivíduo

vencer as adversidades impostas pela deficiência. Por isso, ele reitera a necessidade de que os

sistemas de ensino estejam instrumentalizados para proporcionar esses instrumentos de

mediação, “no caso do cego, a origem da compensação não é o desenvolvimento do toque ou

refinamento da audição, mas a fala, o uso da experiência social e a comunicação com o

vidente” (VIGOTSKI, 1997, p.08).

Desse modo, ao pensarmos no caso específico do processo de ensino e aprendizagem

na educação voltada a pessoa com deficiência visual, Vigotski reflete que é necessário um

estudo e aprofundamento acerca de se compreender o desenvolvimento cognitivo das pessoas

com deficiência. Para Vigotski,

A cegueira não é meramente a ausência da visão (o fracasso de um órgão

isolado); a cegueira causa uma total reestruturação de todas as

potencialidades do organismo e personalidade. A cegueira, na criação de

uma nova e única forma de personalidade, traz à vida forças novas; ela muda

as tendências normais de funcionamento; ela, criativa e, organicamente,

refaz e transforma a mente de uma pessoa. Consequentemente não é um

mero defeito, um menos, uma fraqueza, mas é em algum sentido também a

origem de manifestações de habilidades, um mais, uma força (contudo

estranha ou paradoxal como pode parecer!) (VIGOTSKI, 1997, p.1).

Nesse sentido, Vigotski concebe que os indivíduos apropriam-se do conhecimento de

modo diferente, o que reflete um princípio que constitui a própria diversidade humana, pois,

para o autor, a educação precisa voltar-se para o desenvolvimento pleno do indivíduo, por isso

o mesmo se refere a um aspecto importante no que diz respeito à intervenção do docente. Para

ele, a intervenção adequada é aquela que proporciona trocas do indivíduo com o objeto de

conhecimento, explore sua natureza e permita que o mesmo efetue relações de mesma

natureza, a fim de construir o conhecimento. Para Vigotski (1997), conceituar refere-se à

capacidade de reaprender um objeto pelo pensamento por meio das palavras e dos signos,

levando-o assim ao discente domine suas próprias ações psíquicas, visando o curso de suas

atividades e orientando-o a resolvê-las mesmo sem o auxílio da visão.

Para a lógica formal, o conceito não é outra coisa senão uma representação

geral, que se origina como resultado da distinção de uma série de traços

comuns. A lei fundamental, a que está subordinado o movimento do

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conceito, formula-se na lógica como a lei de proporcionalidade inversa entre

o volume e o conteúdo do conceito. Quanto mais ampla é a extensão de

algum conceito, isto é, quanto mais geral é um conceito e quanto mais vasto

é o âmbito dos objetos a que se refere, tanto mais pobre se torna seu

conteúdo, isto é, a quantidade de traços que pensamos estarem contidos no

conceito. O caminho da generalização é, portanto, um caminho que leva da

riqueza da realidade concreta ao mundo dos conceitos, ao reino das

abstrações esquálidas, alijadas da vida real e do conhecimento vivo. Na

lógica formal, o conceito se revela mais rico de conteúdo que a

representação, posto que a generalização não é a separação formal de traços

singulares, senão a revelação de vínculos e relações de um objeto com

outros, e se o objeto não se revela verdadeiramente na vivência direta, senão

em toda a diversidade de nexos e relações que determinam seu lugar no

mundo e sua conexão com a restante realidade, o conceito é mais profundo,

mais adequado à realidade, e é reflexo mais autêntico e pleno da mesma que

a representação (VIGOTSKI, 1997, p. 229-230).

Para Vigotski, a criança desenvolve o pensamento infantil efetuando formação de

conceitos tendo como partida a sua socialização, por isso, para o autor, deve haver uma

interação colaborativa entre coetâneos sem e com deficiência. Para ele, o discente aprende

efetuando imitação, fazendo oposição, internalizando símbolos e significados e construindo

analogias, tudo isto em um ambiente social e historicamente localizado. Desse modo, o aluno

tem um papel fundamental ao interagir com o meio. Já que o desenvolvimento do pensamento

infantil em relação à formação de conceitos é construído a partir da socialização, tendo em

vista que para Vigotski, os sistemas simbólicos são de extrema relevância para o

desenvolvimento dos processos mentais superiores e são desenvolvidos por meio das relações

sociais.

Desse modo, uma das teses difundidas por Vigotski se refere a questão de que

qualquer criança, independentemente de suas limitações ou não, pode se apropriar do

conhecimento humano através de mediações com outros homens da sua cultura. Por isso,

torna-se, relevante investir na qualidade de profissionais mediadores e na formação técnica, a

fim de oportunizar às pessoas com alguma deficiência mediações significativas visando a

apropriação do conhecimento.

Vigotski (1997) concebe o conteúdo curricular semelhante a todos os discentes, pois

entende que os conceitos científicos devem se constituir ferramentas para a pessoa com

deficiência aprender acerca do mundo e intervir sobre o mesmo. Para o autor, através das

experiências qualitativas com os conceitos científicos que o indivíduo desenvolve suas

habilidades psicológicas de interagir com o mundo.

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Vigotski (1997) entende também a relevância dos recursos didáticos, pois o concebe

como uma ponte para a pessoa com deficiência desenvolver uma melhor maneira de

apreensão dos conhecimentos. Ele afirma que a deficiência não pode ser entendida como uma

barreira para a educação do discente com alguma deficiência, mesmo que ainda a sociedade

veja a deficiência de modo pejorativo. No entendimento de Vigotski (1997), não devemos

defender uma sociedade que respeite as diferenças, mas, aquela que não estabeleça tais

diferenças.

Partindo das ideias apresentadas por Vigotsky (1997), podemos fazer uma reflexão

que o processo de inclusão escolar, em nosso contexto, necessita ampliar o olhar e atuação

para se estabelecer além do parâmetro do acesso à escola regular e caminhar para a

perspectiva de se criar ações e práticas que privilegiem a aprendizagem não mecanicista, mas

aquela que vise a possibilidade de competências e habilidades que não restrinjam, mas

ampliem e dimensionem a acomodação de novas aprendizagens e conhecimentos para uma

educação que se constitua na direção da independência e cidadania plena.

No tocante ao respeito e ao acolhimento das diferenças pela sociedade, em

conformidade à própria legislação vigente, percebemos um aumento significativo de

crescimento do atendimento da educação inclusiva no Brasil no período de 2000 a 2010

(Quadro 1 e Gráfico 1) e a perspectiva de crescimento de acordo com o Plano Nacional de

Educação para o decênio de 2011 a 2020, se prevê universalizar o atendimento para educando

com deficiência de 4 a 17 anos na rede regular de ensino. No entanto, necessitamos garantir

esta universalização de atendimento com parâmetros de qualidade que assegurem educação

pública de qualidade e atue na esfera da transformação social, pois a pessoa com algum tipo

de deficiência ou transtorno global ou altas habilidades não basta ter acesso à escola ou a

escolarização. É fundamental poder aprender e se desenvolver visando à participação social e

cidadania.

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Quadro 1 – Crescimento da educação inclusiva entre 2000 e 2010

INDICADORES

CENSO ESCOLAR/INEP

2000 2010 CRESCIMENTO

%

Municípios com matrículas de alunos público-alvo da

educação especial

3.401 5.497 61,6%

Matrículas de alunos público-alvo da educação

especial na rede pública

208.586 532.620 155,3%

Matrículas de alunos público-alvo da educação

especial no ensino regular

81.695 484.332 492,8%

Escolas comuns com matrículas de alunos público-alvo

da educação especial

13.087 85.090 550%

Escolas públicas com acessibilidade 6.770 28.650 323%

Fonte: Brasil. Marcos Políticos-Legais da Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, 2010.

Gráfico 1- Crescimento da educação inclusiva e perspectivas

Fonte: Brasil. Marcos Políticos-Legais da Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, 2010.

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Na prática, promover a inclusão para o exercício da cidadania implica no

reconhecimento de que a sociedade é comprometida com todos e não apenas com os que se

adéquam a mesma, e se não responde a todas as necessidades de seus cidadãos e cidadãs ela é

seletiva, segregadora e excludente. Reverter esse quadro implica redimensioná-la, eliminando

todas as barreiras físicas, programáticas, atitudinais que ferem os princípios da verdadeira

cidadania como defende Sassaki (1999). Esta é a direção ao que se exige para a existência de

uma sociedade democrática, plural e inclusiva.

Desta forma, de acordo com o pensamento de Soares e Carvalho (2012), a educação

a todos deve ser de todos e para todos e por isso é importante à formação docente para dar

conta dessa demanda e a atuação do docente especializado não se limita apenas a eventuais

adaptações, mas sua formação deve ser revista no sentido de garantir uma inclusão qualificada

em diversas áreas do conhecimento, pois,

Se a inclusão qualificada depende do trabalho realizado em sala de aula, não

há como se prescindir, de um lado, do apoio especializado efetivo e concreto

durante as atividades desenvolvidas na classe regular; de outro lado, para

que o trabalho especializado redunde em um melhor rendimento escolar, o

professor por ele responsável necessita não só se inteirar do que se realiza na

sala de aula, mas também possuir formação suficiente para, com base no que

conhece do aluno com deficiência, sugerir modificações didáticas

compatíveis com suas características (SOARES; CARVALHO, 2012, p.62).

O Brasil é, por excelência, o país das leis. Pode-se afirmar que, se a sociedade

dependesse somente dos documentos oficiais, a inclusão não estaria sendo tão desafiadora

como os contextos mostram, pois, legalmente, a construção de uma sociedade para todos já

vem sendo historicamente prevista, contudo, ainda existe uma grande distância entre o

preconizado nas leis e a garantia dos direitos e deveres sociais, na prática.

De acordo com Ribeiro (2003), a partir dessas e outras constatações, um significativo

desafio está posto a todos: permitir à escola e à sociedade uma dimensão que trabalhe todas as

potencialidades dos educandos, visando desenvolvimento holístico e cidadão, sem ter o rótulo

de discentes com deficiência. No entanto, construir uma caminhada nessa direção pressupõe

profundas reflexões e a aquisição de conhecimentos advindos de pressupostos teóricos e das

experiências vividas por estes cidadãos e cidadãs, que possam situar os sujeitos sociais no

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processo de construção e responsabilidade social de todos os envolvidos nesse desafio e

entendimento.

Segundo Fernandes e Healy (2007), a inclusão deve ser entendida muito mais que

aplicação de leis e instrumentos legais,

A inclusão exige mais do que leis. Exige uma atenção adequada. Oferecer

materiais, salas de recursos ou equipes especializadas que visitem as escolas

eventualmente são necessárias, mas não suficientes. Os problemas surgem

no dia a dia, em sala de aula, e transcendem esse âmbito reduzido, atingindo

a responsabilidade da equipe docente. Não bastam, também, os prometidos

apoios institucionais, sem a participação efetiva do aluno, e principalmente,

sem o professor (FERNANDES; HEALY, 2007, p. 73).

De acordo com Fernandes e Healy (2007), diante do novo desafio de uma escola que

prima pela inclusão de todos em nosso cotidiano propagado em consonância ao pensamento

difundido pelas políticas públicas, pelas abordagens pedagógicas e pela mídia. Essa escola

não pode ficar apenas no discurso inclusivo de admitir a pessoa com alguma deficiência, mas

oportunizar de fato ações pedagógicas que possam construir na ação uma educação de todos e

para todos, no sentido de acolher e saber trabalhar com a diversidade humana e possibilitar a

transformação social também de uma sociedade de todos e para todos.

2.2. EDUCAÇÃO MATEMÁTICA PARA TODOS, POR QUÊ?

Podemos nos questionar, inicialmente, qual a finalidade ou entendimento da educação

matemática? Será que a educação matemática está condizente para uma aprendizagem

matemática voltada à vida e às transformações sociais? Ela está difundida ou voltada para a

educação de todos no sentido de possibilitar o entendimento necessário para se operar na

resolução das problemáticas atuais de nosso mundo social na construção da cidadania?

Se olharmos para o que se preconiza nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e

nos discursos legais as finalidades e os objetivos que justificam a operacionalização do ensino

da matemática, encontramos uma resposta condizente a práticas favorecedoras na construção

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da cidadania, no desenvolvimento do pensamento crítico e das relações sociais no sentido da

implementação de práticas frente aos problemas sociais. No entanto, nas práticas

educacionais, no interior das salas de aula, não é essa matemática que observamos. Vemos

outra matemática, muitas vezes, descontextualizada, formal, objetiva demais frente a

complexidade dos problemas e demandas sociais, uma matemática tratada de forma

“ingênua”, como diria Skovsmose (2008), que não opera na construção do pensamento crítico

e cidadão.

De acordo com Baldino (1995), não podemos ter uma educação desvinculada do

mundo social, que não trata e interfere acerca dos problemas sociais, que apresenta uma

postura “neutra” e até “ingênua” de caráter conformista com a referida realidade social.

Temos que pensar em uma educação articulada ao contexto social a que se destina e onde se

vai aplicá-la no sentido de entendê-la, visando à resolução de problemas desse contexto, a fim

de intervir, agir e transformá-lo. Para o autor, não podemos assumir uma postura de

neutralidade no entendimento da educação. Isso seria entendido com um certo grau de

ingenuidade e de forma descontextualizada.

No tocante ao ensino da matemática, percebemos, muitas vezes, em nosso dia a dia

que ela está tão presente que muitos já não a observam. Conforme lembram Alves e Matos

(2006), nossa realidade e sociedade são permeadas por modelos matemáticos que a

matemática configura-se como parte de nossa estrutura social vigente. Desta forma, ela

constitui nossa realidade física e social através de códigos e linguagens matemáticos, que

entendê-los e usá-los estão representados no sentido da própria sobrevivência humana e

social.

Diante do pensamento de Garcia (2009), poderíamos justificar o ensino da matemática

em várias direções e argumentos desde criar melhor instrumental para subsidiar o ingresso do

discente no mundo do trabalho, no desenvolvimento do pensamento lógico, no sentido de

possibilitar a resolução de diversos problemas na vida social; porque a matemática representa

um patrimônio da humanidade, dentre muitos outros argumentos e justificativas. No entanto,

podemos refletir que o valor da matemática vai além de todos esses elementos e

características, ela representa a própria constituição do ser humano, no sentido de pensar,

abstrair e fazer uso do próprio pensamento e ação humana, sendo uma ferramenta que permite

ao homem fecundar e vivenciar suas características mais elementares e ao mesmo tempo

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complexas representado pela própria cognição de ser humano no sentido psicológico,

antropológico e evolucionário.

No entanto, de acordo com Knijnik (2001), atualmente, a discussão acerca do ensino

da matemática tem ganhado novas discussões no sentido de conseguir contemplar a dimensão

política e cultural no entendimento de perceber esses elementos na vivência da matemática,

conforme salienta Sales (2013, p. 34): “(...) distante de construir um juízo de valor em relação

às razões tradicionais, vemos como necessária uma análise mais profunda que reconheça de

fato o papel da matemática na elaboração de muitos aspectos de nossa realidade”.

Nessa discussão, o pensamento de Skovsmose (2007) se configura relevante em

conceber a dimensão crítica de se entender e usar a matemática no sentido de se entender que

não se podem pensar os conteúdos matemáticos e a própria matemática de forma neutra no

processo de ensino, mas entendê-la como uma ferramenta que precisa ser usada para

decodificar e intervir de forma crítica no contexto social, político e cultural.

Se a educação, como prática e pesquisa, deve ser crítica, ela deve discutir

condições básicas para se obter conhecimento, ela deve estar atenta a

problemas sociais, desigualdades, supressões, etc., e deve tentar fazer a

educação uma força social progressiva ativa. [...] A educação crítica não

pode ser uma simples prolongação das relações sociais existentes. Ela não

pode ser um aparato para prevalecer desigualdades na sociedade. Para ser

crítica, a educação deve reagir a contradição social (SKOVSMOSE, 2007,

p.37-38).

Para Skovsmose (2008), a matemática faz parte de nossa vida em sociedade,

sobretudo, através da tecnologia presente na mesma de modo a constituí-la e influenciá-la em

seu funcionamento.

A Matemática pode ser vista como parte de um processo do sistema

desenvolvido, que é o modo de colocar a computação/informática em

prática. [...] Se subtrairmos a Matemática de nossa sociedade altamente

tecnológica, o que resta? O resíduo dificilmente teria muita coisa em comum

com nossa sociedade atual. O que significa que a Matemática tem se tornado

uma parte de nossa cultura (SKOVSMOSE, 2008, p.36).

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Skovsmose (2008) salienta ainda que a matemática apresenta um certo “poder”

formatador no entendimento de vários aspectos sociais que às vezes se configura como

invisível em nosso contexto social, o que muitas vezes não é contemplado em seu processo de

ensino e aprendizagem, levando-se a pensar na neutralidade da matemática.

Os poderes da Matemática estão habilitados para interagir com outros

‘poderes’. Nós encontramos que o poder formatador da matemática é real,

tanto no sentido físico (por exemplo, modelos de forças gravitacionais e

magnéticas), e como no sentido sociológico (como num modelo de forças

econômicas e políticas), precisamente porque a matemática pode interagir

com ambos os tipos de poder. E uma das implicações desta interação é o

surgimento de novas estruturas de risco (SKOVSMOSE, 2008, p.275).

O autor concebe que a matemática poderia ser entendida no sentido de possibilitar um

entendimento mais complexo, global e crítico no seu processo educacional. Ela deveria operar

não em esquemas de certezas cartesianas, mas ser entendida na ótica de uma filosofia “ do

aprender o que a incerteza poderia significar no que diz respeito a razão, à racionalidade e, em

particular, à matemática em ação” (SKOVSMOSE, 2007, P. 53).

Para ele, a educação matemática deve quebrar a prática tradicional do que ele chama

de “paradigma do exercício”, na qual o autor faz alusão às aulas de matemática que o docente

apresenta algumas ideias e técnicas matemáticas e, posteriormente, os discentes desenvolvem

exercícios selecionados. Para o autor, a educação matemática crítica poderia fazer uso da

resolução de problemas com temáticas sociais e trabalhar mais com projetos

interdisciplinares, nos quais fosse possível o aluno ser visto como agente ativo desse

processo..

um cenário para a investigação é aquele que convida os alunos a formular

questões e a procurar explicações. [...] Quando os alunos assumem o

processo de exploração e explicação, o cenário para investigação passa a

constituir um novo ambiente de aprendizagem. No cenário para investigação,

os alunos são responsáveis pelo processo. [...] o cenário somente se torna um

cenário para investigação se os alunos aceitam o convite. [...] O que pode

servir perfeitamente como um convite a um grupo de alunos numa situação

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particular pode não representar um convite para um outro grupo de alunos

(SKOVSMOSE, 2008, p. 21).

Para o autor, se essas práticas fossem difundidas, teríamos um outro entendimento e

valor atribuídos ao uso da matemática. Nesse aspecto, o processo exerceria um papel mais de

orientador. Fazendo uma provocação, o autor, afirma “que os livros didáticos poderiam

descansar seguramente no canto da sala de aula“ (SKOVSMOSE, 2008, p. 30).

Neste aspecto, a ideia de matemática para todos são se refere apenas que a mesma seja

redimensionada às pessoas com alguma deficiência ou dificuldade de aprendizagem, mas que

o seu entendimento e ação sejam ampliados e contextualizados de modo a atender as

demandas sociais de modo mais crítico e efetivo no processo de ensino e aprendizagem.

Como reitera Skovsmose (2008), a relevância de se dimensionar o uso e olhar da

matemática visando os problemas ligados à realidade social, tendo em vista,

como cidadãos do futuro, alunos terão que enfrentar muitos problemas do

mundo real que parecem não ser matematicamente claros... O cidadão é

competente para distinguir entre inferências matemáticas necessárias e os

pressupostos de modelagem pendentes de interesse? Pode-se esperar que ao

colocar mais atenção na qualidade da negociação do significado matemático

na sala de aula possa melhorar a educação do ‘leigo competente’

(SKOVSMOSE, 2008, p.52).

Assim, para discutirmos a educação matemática para todos, temos que entender a

matemática e redimensioná-la em um novo olhar que propicie ações de pensar, refletir e

buscar uma matemática voltada para à vida real e cidadã. Como lembra Gerardo (2008),

temos que pensar e usar a matemática visando perceber o que está em nossa volta no sentido

de atribuirmos um valor mais condizente a propiciar aos discentes o desenvolvimento de

competências e habilidades importantes para perceber a dimensão cidadã do seu fazer

enquanto instrumento de emancipação.

Ainda pensando na motivação de se ensinar matemática, nos lembramos de

D’Ambrósio (1990), o qual menciona os cinco valores relativos à matemática no processo de

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ensino e aprendizagem nos ambientes formativos de aprendizagem (valor formativo, valor

sociológico, valor estético, valor cultural e valor utilitário). O autor relaciona que todos esses

valores constituem a natureza que representa a própria matemática no âmbito interno dessa

área quanto no âmbito de sua aplicação no contexto social.

D’Ambrósio (1990) postula o entendimento de que como a matemática se encontra em

tudo em nosso ambiente social, político e cultural, ela deva ser mediada e entendida não

apenas a uma pequena parte destes, no que diz respeito à resolução de problemas de natureza

puramente vinculada a técnicas de aplicação de conteúdos matemáticos e fórmulas, mas no

entendimento da complexidade do contexto social e em sua intervenção no sentido de

entendê-la em contribuir na transformação de suas problemáticas.

As críticas de D’Ambrósio (1990) ao ensino da matemática também refletem acerca

do seu currículo propagado no sistema educacional. Um amontoado de conteúdos que não se

justificam e por isso acabam não contribuindo para a emancipação do homem, mas para a sua

alienação. O autor ainda critica a forma como a matemática é ensinada nas escolas, já que

apenas conteúdos, cálculos, resoluções e exercícios nem sempre permitem ao discente

entender e atuar com o entendimento propositivo, reflexivo e crítico do mundo real e muito

menos em sua transformação.

Em consonância ao pensamento de Baldino (1995), ainda temos uma educação para

todos que não reflete, entende e intervém no mundo real. Uma educação massificante e

tradicional, que não permite a construção da cidadania, mas que a desrespeita em seus

procedimentos equivocados e não induz à curiosidade científica e muito menos a autonomia

intelectual dos membros participantes neste processo. Assim, conceber a matemática em uma

abordagem crítica a todos se faz relevante como um pilar constituidor de se entender o papel

da própria educação de um modo geral.

De acordo com Jacobini e Wodewotzki (2006), torna-se urgente considerar a dimensão

social e política da matemática sob a prerrogativa de se construir uma nova prática educativa

visando ir contra a ótica do ensino tradicional, a fim de ampliar o entendimento e aplicação da

mesma no sentido de possibilitar a dimensão sociopolítica.

Biotto Filho (2008), baseado no conceito de Skovsmose, entende a matemática como

uma abordagem mais crítica no âmbito das competências da mesma a serem desenvolvidas,

fato que contempla o conhecimento reflexivo e tecnológico. Por isso, Skovsmose (2007) não

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entende a “matemacia”, que se referiria o lado reflexivo do uso da matemática, como uma

função a desempenhar na educação apenas do conhecimento matemático difundido nas

práticas, normalmente, no interior das salas de aula tradicional, mas a ampliação dessa

abordagem de implementar uma reflexão sociopolítica mais aplicada em diferentes contextos,

ligada a vida no cotidiano.

Assim, entendemos ser muito ínfimo o pensamento de todos apenas terem acesso à

educação matemática, sendo pessoas com deficiência ou não, mas sem refletirmos acerca de

que educação matemática queremos compartilhar e aprender? Dessa forma, esclareço que

aprender matemática é um direito a todos os membros pertencentes ao ambiente escolar, mas

rediscutir a forma de entendimento e uso da educação matemática na dimensão social é uma

discussão pertinente e urgente para se construir uma nova prática educativa que opere na

emancipação do sujeito e na construção de uma prática transformadora no contexto social.

De acordo com o pensamento de Abrantes, Serrazina e Oliveira (1999), a proposta do

ensino da matemática para todos se constitui um direito de todos tendo em vista a matemática

constituir um patrimônio cultural da humanidade, além de representar um modo de pensar.

Por isso, se considera indispensável não proporcionar a todos os discentes a oportunidade de

se aprender matemática de modo substancialmente significativo, bem como é impensável sua

eliminação da escola.

Dentro desta discussão, pondera-se que as contribuições do ensino de matemática para

a formação do discente serem insubstituíveis, por estarem propiciando para que os discentes

se tornem “competentes, críticos e confiantes nos aspectos essenciais em que a sua vida se

relaciona com a matemática” (ABRANTES, SERRAZINA, OLIVEIRA, 1999, p.18).

Skovsmose (2007) destaca um aspecto relevante e ao mesmo tempo bem particular

acerca do porque estudar a matemática e sua importância quando a concebe ligada ao

exercício do uso do raciocínio, no qual parecemos ser capazes de investigar minúcias

particulares de algo não realizado. Por isso, a matemática é entendida pelo autor sendo uma

ferramenta para experimentos de pensamentos. No entanto, o autor infere que também há uma

certa dicotomia entre o modelo e a complexidade da vida, por isso ele faz a ponderação que “

por meio da matemática é possível investigar detalhes particulares de uma situação hipotética,

mas a matemática causa também uma severa limitação no raciocínio hipotético”

(SKOVSMOSE, 2007, p. 46).

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O autor ainda reintera que a matemática se apresenta como parte desse processo, em

sua realização, que interfere de forma direta no desenvolvimento social, tornando-se

inseparável de outros elementos da sociedade, embora seja ignorada pela mesma em alguns

momentos como nas situações de ações tecnológicas, por isso “a matemática modula e

constitui uma vasta gama de fenômenos sociais e assim se torna parte da realidade”

(SKOVSMOSE, 2007, p.48).

Segundo Skovsmose (2008), a educação matemática crítica não deve ser descrita

apenas por concentrar-se sobre o conhecimento reflexivo, a menos que essas ponderações

também possam abranger a situação educacional como um todo. O autor reitera ser relevante

entender a educação matemática como constituidora também do conhecimento matemático,

tecnológico e reflexivo. Entendendo o primeiro como habilidades desenvolvidas no ensino

tradicional, o segundo associado às competências de modelos matemáticos e o terceiro sendo

entendido como uma competência na avaliação das aplicações da matemática. Por isso, o

autor entende que a matemática influencia nossas vidas e por isso deva ser levada em

consideração pela teorização social e a matemacia objetivaria mudar tal influência e torná-la

mais responsável, ou seja, a matemacia representaria um lado reflexivo relevante nesse

processo.

De acordo com o pensamento de Baldino (1995), baseado nos pressupostos marxistas,

a matemática é usada dentro de uma estrutura capitalista perversa, na qual a matemática é

usada como processo de seleção para a obtenção da mão de obra massificada de grande parte

da população e há uma outra matemática usada para justificar o gerenciamento desse sistema.

Desde que as crianças tenham percebido a existência da verdade

Matemática, mesmo que a maioria delas abandone a escola, primeiro porque

há poucas posições gerenciais para absorvem as que ficam e, segundo,

porque as desistentes já terão introjetado os elementos essenciais para

encarar como legítimo o poder implícito no discurso matemático. Ao ouvi-

lo, elas sabem que ali se esconde uma verdade que lhes escapa, mas que é

preciso respeitar, porque ela ameaça invadir o foro íntimo de quem dela

duvidar e ali impor-se, como contar nos dedos, que aprenderam na escola

(BALDINO, 1995, p.73).

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Baldino (1995) concebe que a matemática escolar tem perdido poder de transformação

e entendimento social devido seu valor de uso na estrutura escolar, que ainda perpetua o

fracasso em vez de transformá-lo. Para o autor, a escola acaba servindo aos ideais da

sociedade capitalista no sentido de massificar o ensino não visando às transformações sociais,

mas para ocupar uma vaga no mercado de trabalho. Assim, a escola acaba perdendo sua

própria intenção de preparar o sujeito para a construção da cidadania plena e crítica, e volta-se

apenas como estrutura massificadora de mão de obra para atender o mercado capitalista.

De acordo com Mattos e Batarce (2010), o objetivo da “matemática para todos” e

“educação para todos” faz parte de uma concepção do imperalismo americano, para os

autores, esconde-se um aspecto ideológico por trás de um slogan democrático, onde o

interesse não reside na transformação social, mas reside na rápida massificação do ensino a

partir da década de 1960 para atender as necessidades do mercado, que precisa de um

contingente grande para operar no mercado de trabalho capitalista.

a educação matemática, assim como outros campos que surgiram no último

século, é produto do surgimento do imperialismo americano e sua política e

ideologia democrática. Disto, seríamos levados a pensar que ‘educação para

todos’ é parte dessa mesma ideologia (MATTOS; BATARCE, 2010, p.287).

Os autores inferem que não é por acaso que o surgimento da expressão da “educação

matemática” não apareça antes do período que relacione com a ideologia das “needs”

(necessidades) e apresente a matemática como uma “need” para todos.

De acordo com Marafon (2004), alterar o objetivo do ensino da matemática não é

fácil, porque nossa sociedade é mediada pelo capitalismo, e por isso a escola produz vários

graus de qualificação que apresentam diferentes valores de trocas. Assim, a autora pondera

que “propor uma alteração na ordem vigente é lutar por uma nova estrutura político-

econômica” (MARAFON, 2004, p.99).

Desta forma, Baldino reintera a posição de que a escola, que “representaria” um

caminho para se ter uma mudança na estrutura de nossa sociedade, acaba difundindo para a

sua reprodução do sistema capitalista, por isso o mesmo o intitula de “teoria perversa”, no

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sentido de mostrar uma certa ironia acerca da perversidade do sistema, no entendimento da

visão romântica atribuída à escola.

a matemática científica (formal) e pedagógica (formal), no sentido de

produzir pesquisas ou textos pedagógicos, se sustentam no processo de

qualificação de trabalho. [...] No entanto, a matemática não-científica

(informal) e não-pedagógica (informal) não produzem aumento do valor de

troca (MARAFON, 2004, p.97).

Conforme a autora menciona há uma matemática “formal” que indica representar um

patamar mais elevado que a “informal”, criando-se certa superioridade e hierarquia. No

entanto, ambas acabam servindo ao sistema para a justificação e perpetuação dos moldes

propícios do próprio sistema capitalista (mercado de trabalho e exclusão social).

De acordo com o autor, na discussão do ensino da matemática para todos, a questão do

ensino é visto de modo desfocado e até ingênuo, já que é entendido sendo de grande

relevância para atuar frente às habilidades cognitivas, mas não opera na perspectiva do

entendimento da premissa da discussão cultural ou do entendimento do sistema político. Para

ele, “há um consenso internacional que as escolas devem transmitir habilidades cognitivas e

destreza procedimental de matemática básica a todas as crianças e adolescentes –

indiferentemente a respectiva cultura ou sistema política” (HEYMANN, 2003, p.1). No

entanto, o autor salienta que o ensino da matemática encontra sérias dificuldades no ambiente

escolar e não satisfaz a demanda social e nem aos interesses dos discentes.

Para ele, a grande importância da matemática se constitui também por representar uma

mediação entre ciência e tecnologia, a fim de possibilitar o desenvolvimento de nossa

civilização. O autor apresenta uma proposta de educação geral baseada em sete objetivos, tais

como: preparação para a vida; promovendo a competência cultural; desenvolvendo um

entendimento do mundo; desenvolvimento do pensamento crítico; desenvolvendo uma

predisposição para assumir responsabilidade; prática na comunicação e cooperação e, por fim,

aumentando e melhorando a autoestima do estudante. Para o autor, deve haver uma maior

relação entre esses sete elementos, a fim de operar uma mediação entre as finalidades do

ensino e sua aplicação no contexto educacional e social pelo educando. O autor pondera ainda

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que a sociedade deve garantir a educação básica a todos os membros da sociedade visando o

desenvolvimento do pensamento crítico e solução de problemas sociais.

Para ele, a matemática escolar deve deixar de ser vista em si mesma e se constituir

como uma ferramenta para se entender a vida diária e percebê-la como elemento presente em

vários aspectos da cultura de nossa sociedade. Além disso, a matemática deve também

possibilitar a construção da próxima geração.

a matemática não é somente uma parte do mundo, ela é constitutiva de nosso

mundo. Ela está aplicada num duplo sentido: ela é constitutiva de uma visão

de mundo racional da cultura ocidental formada pela ciência moderna e é

constitutiva da influência tecnológica [...] desenvolvida desde a revolução

industrial. Por outro lado, a natureza obscura da matemática, seu decaimento

através do fenômeno, é característico por ambas as esferas (HEYMANN,

2003, p.132-133).

Segundo o autor, a relevância da matemática para todos se compreende como sendo

um instrumento epistemológico fundamental para uma compreensão moderna, científica e

racional, pois, para ele, seria impossível uma visão de mundo sem efetivarmos a relevância da

matemática. Para o autor, a matemática está tão presente em nosso mundo que, às vezes, ela

se torna até invisível para alguns, no sentido de não percebê-la em um mundo artificial

construído pelo homem com o advento das tecnologias presente em nosso contexto social.

De acordo com o pensamento de Heymann (2003), na instrução matemática orientada

deve ocorrer uma relação entre os conhecimentos usados pelos educandos em suas vidas

diárias e os propostos em sala de aula. Segundo o autor, não se pode existir um abismo entre o

pensamento matemático exigido na sala de aula e o pensamento do cotidiano.

somente sobre uma base de conhecimento suficientemente matemático o

estudante pode experienciar como os conceitos matemáticos e técnicas são

úteis como ‘amplificação’ de seu pensamento diário em muitas situações. E

somente sobre esta base, a matemática também pode ser experienciada como

um meio para esclarecer os estudantes ou como um tema para a investigação

crítica (HEYMANN, 2003, p.195).

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59

Segundo o autor, deve haver uma cultura de instrução que permita que possa haver um

estreitamento prático percebido pelo aluno dos pressupostos da matemática como elemento

construtivo do exercício da cognição para aprenderem e agirem sobre o mundo. Assim, ele

concebe a relação professor e aluno sendo um elemento muito relevante para a cultura de

instrução matemática. Nessa reação que ocorrerá as interações visando criar condições para o

aluno entender, agir e pensar a matemática, a fim de agir sobre o mundo e criar novas

aprendizagens e soluções para intervir nas questões socioéticas e questões relacionadas aos

objetivos dos alunos.

Heymann (2003) também enfatiza que a instrução matemática pode criar muito mais

que a competência de aplicação na resolução de equações matemáticas, mas em atuar na

efetivação da responsabilidade, comunicação, socialização e cooperação, além de aumentar ou

melhorar a autoestima dos estudantes.

Nesse sentido, ele defende que os objetivos da educação geral devem focar no

desenvolvimento crítico e na cooperação de problemas matemáticos objetivos. Para o autor,

se a instrução matemática compreender apenas no uso de soluções – padrões empregados pelo

ensino tido “tradicional” não estará possibilitando a construção de esforços conscientes,

críticos em atuar na aplicação da matemática no sentido crítico e sua socialização. Para o

autor, “a situação na sala de aula sempre tem a função de socialização, independentemente se

os participantes estão cientes disso e apesar de se o professor pretende isso ou tenta evitar

isso” (HEYMANN, 2003, p. 198, tradução nossa).

Desta forma, a cultura de instrução visa a aprendizagem do conteúdo especializado e

de habilidades sociais no sentido de operacionalizar a aquisição do uso e efetivação do

conhecimento matemático na solução de problemas no âmbito de sua aplicação no contexto

social.

Por isso, que para o autor, a instrução matemática orientada deve atender os sete

objetivos maiores que as escolas devem oportunizar aos educandos, visando às mudanças

necessárias para a prática instrucional existente no sentido de operar uma nova abordagem da

matemática a fim de usá-la numa dimensão mais crítica e contextualizada com o mundo real.

Assim, para ele, a abordagem da matemática deveria ser focada na pessoa, no sentido

de fomentar os objetivos cognitivos de modo a permitir um tratamento mais propositivo ao

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entendimento dos “erros” e interpretações alternativas na resolução de problemas

matemáticos. Para o autor, a matemática deveria deixar de ser trabalhada apenas de uma única

forma e modelo estanque, mas desenvolver a criatividade de várias formas e abordagens para

usar o pensamento matemático em diferentes contextos.

Nesse sentido, percebo a relevância do pensamento de Heymann (2003), que

estabelece uma relação entre a relevância do ensino da matemática para a formação da

sociedade numa expansão de sua dimensão que abarca o sujeito e alcança o contexto social na

perspectiva de uma ponte entre a escola e sociedade e matemática e sociedade.

De acordo com Moses e Cobb Jr (2001), com o advento do avanço tecnológico na

sociedade, cria-se uma nova demanda para o perfil de profissionais no mercado de trabalho,

uma vez que para fazer parte deste mercado torna-se necessário o letramento matemático para

saber interagir com essas ferramentas tecnológicas, por isso surge o projeto Álgebra visando

representar um elemento que possibilitaria não só o acesso ao mundo do trabalho, mas a

construção da cidadania e uma maior relação da aplicação da matemática à sociedade.

Segundo Moses e Cobb Jr (2001), o ensino da matemática deveria ser engajado e

voltado para mudanças além dos muros da escola, no alcance das mudanças sociais. Por isso,

para os autores, o letramento matemático seria um instrumento importante para provocar a

possibilidade de novas aprendizagens e descobertas pelo educando e atuar frente à

marginalização e exclusão social.

De acordo com o pensamento destes autores, a escola não deve se acomodar com uma

visão de sociedade que reflita a violência de suas mazelas. Temos que entender que a ótica do

sistema pode ser questionada e modificada visando as grandes transformações sociais. A

educação deve ser entendida como essa ferramenta que mais do que instrui o indivíduo,

provoca um sentido de possibilitar que ele entenda o sistema e o modifique, mesmo que de

modo em pequenos passos para se chegar a uma distância significativa das velhas práticas

escolares.

Em nossa condição, como pessoas pobres e oprimidas, para tornar-se parte

de uma sociedade significativa, o sistema sob o qual nós, agora, existimos

tem que ser radicalmente mudado. Isto significa que nós deveremos

aprender, para refletir, sobre os termos radicais. Eu uso o termo radical no

seu significado original – tratando e entendendo a causa raiz (central). Isto

significa encarar um sistema que não se presta para suas necessidades e legar

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significados, pelos quais, você muda o sistema. É mais fácil dizer isso do

que fazer. Mas, uma das coisas que deve ser encarada é, no processo de

querer mudar este sistema, quanto teremos de fazer para descobrir quem

somos, de onde viemos e para onde iremos... Eu estou dizendo como você

deve dizer também, que a fim de ver onde estamos indo, nós não devemos

somente nos lembrar de onde estaremos, mas devemos entender onde

estaremos (MOSES; COBB JR, 2001, p.193).

Compreende-se em consonância com a experiência de Moses e Cobb Jr (2001), com a

execução do projeto Álgebra, que aprender tem um significado que vai muito além do que

acumular um grupo de conteúdos. Aprender simboliza provocar grandes mudanças não só em

quem aprende, mas no alcance que esse aprender vai ter no contexto social, ou seja, nas

mudanças e transformações sociais no contexto que esse aprender se constrói e dissipa na

cultura.

De acordo com Mattos e Batarce (2010), a proposta de matemática para todos faz parte

de um projeto maior voltado à educação para todos, mas por si só não atende a construção da

emancipação crítica do homem, mas serve como uma “need”, que é usada para manter as

relações de poder presentes na sociedade, sendo usada para a ação do liberalismo vinculado

ao pensamento democrático. Por isso, que Cardoso (2009) concebe que a imposição da

dimensão da racionalidade técnica está presente nos ideais liberais trabalha na manutenção do

status quo das relações de poder.

Nesse aspecto, de acordo com Althusser (1995), a ideia de que a escola através da

educação para todos não muda a sociedade, mas é usada como aparelho ideológico do Estado,

pois o autor considera que é na escola que a ideologia dominante se desenvolve e concebe a

educação como elemento que visa o papel no modo de produção, seja a de explorado ou

explorador.

Desta forma, podemos inferir então que o slogan de “educação para todos” não é mais

do que uma ideia vestida de aparente democracia, que esconde uma ideologia (neo)liberalista,

a qual visa muito mais a inculcação de uma ideologia que atende a interesses de uma classe

social que não tem intenção de modificações e transformações sociais, mas sua continuidade.

Como diria Moses e Cobb Jr (2001), a educação é usada com representações e significados

que não operam as mudanças e necessidades que deveriam na sociedade e sim é revestida de

outros significados para que você não mude aquele sistema.

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De acordo com Cardoso (2009), a escola ainda dá ênfase à racionalidade técnica e

desconsidera os outros aspectos (reflexivo, histórico, filosófico e lógico) que compõem a

matemática. Para a autora, o que falta é uma postura mais crítica não só dos documentos

oficiais ligados ao currículo da matemática, mas falta uma melhor preparação do professor

para saber articular esse viés crítico e a aplicabilidade no cotidiano da matemática, visando a

transformação da realidade social. Como diria Freire (1997), o ensino deveria ser visto como

um ato político e não um amontoado de conteúdos sem muito significado.

Segundo o pensamento de Bortolucci (2011), buscar apenas mudança nas atividades

matemáticas não é suficiente. Para ele, “é necessário também mudar o conceito da matemática

em nossa cultura, pois esta já é esperada como sendo chata e maçante, que contém algo para

poucos escolhidos que irão formar um selecionado de especiais” (BORTOLUCCI, 2011, p.

141). O autor ainda menciona que a matemática ensinada nas escolas está distante de atender

as necessidades da sociedade e da própria matemática. Para ele, “o ensino da matemática deve

voltar-se para a prática diária como estimar, interpretar e fazer uso inteligente do recurso

tecnológico. Além disso, estabelecer conexões entre a cultura matemática e a não-matemática

de modo a mostrar a matemática como uma criação humana” (BORTOLUCCI, 2011, p.141).

Segundo Bortolucci (2011), o ensino da matemática ainda reflete uma concepção

sobre a própria natureza e concepção dessa ciência, ao modo de ver do autor, ainda

equivocada. Ele infere,

Nesse formato de aula são privilegiados os exercícios que possuem uma

única resposta correta e os alunos buscam lembrar alguma fórmula para

encontrar a tal resposta, já que a utilização de outros instrumentos não é tão

explorada. As aulas muitas vezes são assistidas por uma grande quantidade

de alunos, mas sabemos que elas são preparadas para uma meia dúzia que

assegurarão a qualidade da formação escolar, enquanto os demais tentam não

serem reprovados. E grande parte dessas habilidades e conhecimentos

matemáticos nasceu morta dentro da sala de aula, pois, como os alunos

nunca irão usá-las novamente depois que se safarem dos exames, seu

esquecimento será inevitável (BORTOLUCCI, 2011, p. 142).

O autor questiona que já que o ensino da matemática presente nas escolas, em grande

parte, não consegue atingir os objetivos propostos pela educação, porque mesmo continua?

Para Bortolucci (2011: 143), ”o ensino da matemática já se tornou algo cultural e por isso não

se questiona a possibilidade de se parar tal ensino ou pelo menos mudá-lo em grande parte.

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No máximo, discute-se”. No pensamento do autor, “a matemática escolar parece estar

perdida, não satisfazendo as necessidades diárias, ou do mercado de trabalho e nem para

facilitar o desenvolvimento de futuros matemáticos” (BORTOLUCCI, 2011, p. 144).

Outro aspecto levantado por Lima (1984) é relevante ainda nos dias de hoje acerca do

ensino da matemática. Para o autor, o professor de matemática constrói uma prática

equivocada em relação ao desenvolvimento de alcançar a aprendizagem dos discentes. Para o

autor, ao invés de instigá-lo para que o mesmo tenha suas ideias acerca de um problema

matemático, o docente faz todas as associações e ponderações possíveis e não leva o discente

a pensar, agir e entender o problema no sentido de através de diversas tentativas e possíveis

“erros” construírem várias hipóteses para sua resolução, mas o contrário, ele leva o aluno a

pensar que só há um caminho, que, geralmente, é papel do docente apresentar, deixando o

aluno numa eterna posição de passividade. Além disso, o pior configura-se no problema

matemático que não apresenta alguma relação a uma situação cotidiana vivenciada pelo aluno,

representando um conhecimento inútil a sua sobrevivência.

Para Lins (2005), há existência de duas matemáticas: a escolar e a do cotidiano. O

autor reflete acerca da dicotomia entre os conteúdos e abordagens da matemática fora e dentro

do ambiente escolar. A existência deste, digamos, abismo é a resposta para a ineficiência da

matemática escolar na vida dos educandos, por isso “as escolas de todos os tipos continuam

fracassando” (LINS, 2005, p.17).

Diante da discussão apresentada por este grupo de autores, debatidos anteriormente,

penso que a “matemática para todos” se constitui um direito incontestável a todos os membros

de nossa sociedade. No entanto, esclareço que mais do que refletir acerca desse direito, temos

que ponderar que tipo de educação temos? A quem realmente ela tem servido (ou ainda

serve)? Quais as ideologias escondidas nessa perspectiva, que a meu ver, ainda representa

uma perspectiva do tipo “ingênua” que atende mais a questão mercadológica capitalista no

sentido de operar apenas na formação de mão de obra para o mercado de trabalho, a qual esta

perspectiva oprime mais que liberta, condiciona e não propicia a reflexão. Penso que a

demanda deste século, século XXI, deveria estar focada na construção de uma educação de

qualidade que prime por parâmetros de qualidade, que norteiam, efetivamente, a construção

de uma nova perspectiva de educação, a qual vise à conquista da cidadania plena e das

transformações sociais urgentes e necessárias em nosso contexto social.

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2.3. O ENSINO DA MATEMÁTICA PARA ALUNOS COM DEFICIÊNCIA

A questão da inclusão das pessoas com alguma deficiência no ensino regular é

mundialmente discutida em alguns países desde a década de 1970. No entanto, no Brasil, essa

discussão se inicia na década de 1990 e até os dias atuais ainda encontra uma certa dificuldade

para se efetivar de modo satisfatório nas comunidades escolares.

De acordo com as ideias apresentadas por Cardoso (2009), os objetivos das políticas

públicas brasileiras sempre estiveram articulados a um tipo de corrente política. Não podemos

olhar os documentos oficiais de modo ingênuo e infantil neste aspecto. Para a autora, grandes

partes dos documentos oficiais, geralmente, estavam justificados por uma política neoliberal.

Isso desde a busca da universalização da educação às massas populares.

Para Cardoso (2009), os documentos oficiais tais como a Constituição Federal, a Lei

de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) e o Plano Nacional de Educação

estabelecem as diretrizes gerais a serem aplicadas na educação do país. Estes documentos

oficiais, mesmo que representem um certo avanço no pensamento educacional não se referem

a questão mais prática, no sentido de operacionalizarem os currículos em si. Além disso,

segundo a autora, eles foram fortemente influenciados pelos ideais presentes na corrente

pedagógica conhecida como Escola Nova.

Segundo Cardoso (2009), o Brasil tem leis que até hoje representam avanços no

âmbito legal, no entanto no aspecto prático há um enorme abismo no que os textos legais

tentam regulamentar e o cotidiano educacional brasileiro. Podemos verificar tal elemento no

Art. 214, por exemplo, da Constituição Federativa do Brasil de 05 de março de 1988,

Artigo 214. A lei estabelecerá o plano nacional de educação, de duração

plurianual, visando à articulação e ao desenvolvimento do ensino em seus

diversos níveis e à integração das ações do Poder Público que conduzam à: I

– erradicação do analfabetismo; II – universalização do atendimento escolar;

III – melhoria da qualidade de ensino; IV – formação para o trabalho; V –

promoção humanística, científica e tecnológica do país (BRASIL, 1988).

Percebemos, em consonância ao pensamento da autora, que os incisos descritos na

referida constituição ainda nos dias de hoje, século XXI, representam grandes entraves na

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política brasileira educacional. No que tange a “universalização do atendimento escolar”

presente na ideia “educação para todos” ainda representa um aspecto que gera certa

controvérsia educacional nacional, pois dar acesso à educação básica e não possibilitar

parâmetros de qualidade aceitáveis a essa educação não indica muito avanço. Dar acesso à

educação no Ensino Fundamental e não ao ensino superior e pós-graduação a todos também

constitui um ponto questionável. A educação brasileira enfrenta muitos obstáculos para se

efetivar enquanto mecanismo que propicie cidadania e uma formação plena aos seus

educandos. Para a autora, o que acaba acontecendo é uma formação mínima em todos seus

aspectos que incide mais na preservação das condições estruturais do país ao invés de

representar uma ameaça às estruturas e mazelas sociais.

Diante dessa discussão, Cardoso (2009) desencadeia uma análise minuciosa acerca dos

PCN, que representam a operacionalização mais efetiva do currículo nacional e pondera que

os “Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) constituem-se de textos com os princípios

legais, epistemológicos, metodológicos e axiológicos para a orientação de escolas e

professores na adequação das novas exigências legais.” (CARDOSO, 2009, p.69)

Segundo Cardoso (2009), a matemática é entendida e justificada nos PCN em sua

dimensão utilitarista e está vinculada a três elementos destacados pela autora: trabalho,

cidadania e tecnologia. Assim, para a autora, a importância da matemática se constitui por

representar em três vertentes de pensamento. Ela é vista enquanto ciência “a matemática é

uma ciência com um valor formativo associado ao desenvolvimento do raciocínio dedutivo e

estruturação do pensamento” (CARDOSO, 2009, p. 137). A matemática também é concebida

como linguagem,

matemática é uma linguagem que serve para compreender e explicar o

mundo e as outras ciências; ela é uma linguagem universal. Linguagem é

entendida como sistema de códigos e regras. Essa linguagem serve para

comunicar ideias, modelar a realidade e interpretá-la. [...] A matemática

codifica, ordena, quantifica e interpreta variáveis em todas as atividades da

vida contemporânea; [...] A matemática e as ciências da natureza

compartilham linguagens para a representação e sistematização do

conhecimento de fenômenos ou processos naturais e tecnológicos; [e] os

conceitos matemáticos compõem uma linguagem comum à diferentes

disciplinas científicas (CARDOSO, 2009, p.139).

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A matemática também representaria um instrumento útil a aplicação, visto que a

“matemática tem um valor instrumental, isto é, ela é um conjunto de técnicas e estratégias

uteis para resolver problemas da vida cotidiana, vida profissional e de outras ciências”

(CARDOSO, 2009, p. 140).

No entanto, Cardoso (2009) esclarece que essas três dimensões da matemática estão

presentes nos PCN do Ensino Médio representando uma tendência utilitarista ligada à

racionalidade técnica. A autora menciona que essa vertente não é exclusiva apenas à

matemática, mas “um pensamento que invade a educação, em todas as suas dimensões, e é

apontada como a racionalidade característica da sociedade pós-industrial dos tempos atuais”

(CARDOSO, 2009, p.153).

A autora concebe a racionalidade técnica como um elemento que aliena e não favorece

a construção do pensamento crítico e muito menos na transformação social. Ela concebe,

a matemática útil favorece a racionalidade técnica, pois não oferece

oportunidades de pensamento além das aplicações na sua experiência vivida.

Ao se organizar a sociedade por critérios técnicos, não deixamos espaço para

debates e discussões na sociedade, que são imprescindíveis numa

democracia, mas que nem sempre são desejáveis para os grupos que estão no

poder. Assim, a racionalidade técnica favorece a assimetria nas relações de

poder, ajudando a manter o status quo (CARDOSO, 2009, p149).

A autora ainda afirma que a escola faz uso da racionalidade técnica da matemática,

apoiada na visão positivista. E que essa visão não permite nem mesmo a compreensão da

matemática escolar em seu nível mais elementar.

A racionalidade técnica é a padronização excessiva de todos os produtos,

inclusive os mentais, para satisfazer os padrões técnicos de produção e de

organização da vida diária. Na técnica, só há a necessidade de saber fazer,

isto é, o ‘saber como’ e não o ‘saber por que’. [...] defende o ‘conhecimento

inútil’ (as chamadas, por ele, “ciências puras”), e o ‘ócio criativo’ (atividade

que não visa ao lucro econômico) como atitudes que deveriam ser resgatadas

da Antiguidade Clássica para corrigir os rumos da Educação da época e

contribuir para a formação das pessoas como indivíduos capazes de refletir

sobre si mesmos (CARDOSO, 2009, p.171).

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Cardoso (2009) pondera acerca das razões e motivações acerca do discurso liberalista

constituir o entendimento da matemática na perspectiva técnica. Para a autora,

Somos levados a crer, pelos indícios que levantamos, que o real motivo da

desconsideração dos aspectos reflexivo, histórico, filosófico e lógico da

matemática [nos Parâmetros e Orientações Curriculares] é que eles não

interessam ao discurso liberalista, pois este enfatiza o saber fazer. Além do

mais, o discurso liberal se transforma para manter-se sempre no poder,

aderindo a novas concepções e novas causas. Foi o discurso predominante na

era da produção industrial, com valores culturais modernistas. Na forma

atual – a do neoliberalismo – continua a ser o discurso dominante, com

valores, aparentemente, antagônicos aos do modernismo. Se, na década de

1960, o liberalismo, no ensino de matemática, tirava vantagens do

tecnicismo agora, na primeira década do século XXI, o neoliberalismo quer

tirar proveito da tendência utilitarista (CARDOSO, 2009, p.182).

Desta forma, a autora reflete que a ideologia presente no principal documento oficial

que orienta a aplicação do currículo escolar no país no âmbito da matemática reflete e serve as

velhas práticas de ensino tradicional, que não permitem a vivência plena no sentido crítico da

dimensão dessa área do conhecimento voltada à cidadania, nem a contempla como ciência,

linguagem ou instrumento útil à resolução de problemas.

Abrantes, Serrazina e Oliveira (1999) mencionam que essa perspectiva tecnicista ainda

presente na concepção e nas escolas revelam o quanto a dimensão da racionalidade técnica se

revela nas práticas escolares e não cooperam para uma pessoa ser considerada

matematicamente letrada. Para os autores,

o treino isolado e mecanizado de procedimentos de cálculo, assim como o

conhecimento memorizado de termos e fatos, não ajuda os alunos a

compreender o que é a Matemática, não constitui um pré-requisito para o

desenvolvimento de capacidades ligadas ao raciocínio e à resolução de

problemas e nem sequer garante que os alunos sejam capazes de utilizar na

prática os conhecimentos supostamente adquiridos (ABRANTES;

SERRAZINA; OLIVEIRA, 1999, p.22).

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Corroborando nesta discussão D’Ambrósio (2004) esclarece que “aprendizagem é

aquisição de capacidade de explicar, de apreender e compreender, de lidar, criticamente, com

situações novas. Não é mero domínio de técnicas, habilidades e muito menos a memorização

de algumas explicações e teorias” (D’AMBRÓSIO, 2004, p.39). Ele menciona ainda que

garantir um currículo comum obrigatório que atenda todo país não garante a melhoria da

educação. Para ele, as técnicas têm sua relevância, mas trabalhar apenas com essa perspectiva

que constitui um entrave para alcançar os objetivos da educação.

Neste sentido, pensar inclusão pressupõe uma série de medidas que visem à

preparação do ambiente escolar em seus aspectos arquitetônicos, físicos, pedagógicos e

curriculares, visando garantir não só a presença e permanência física das pessoas com

necessidades educativas especiais, nas escolas regulares, mas sem a mudança de concepções e

práticas nestes ambientes, a inclusão representa ainda em nossa realidade uma contradição e

equívoco, não em sua concepção política e social, mas na operacionalização de sua

implementação (CARVALHO,1997).

De acordo com Carvalho (1997), as escolas devem construir profundas e significativas

mudanças em suas concepções e práticas para atender a implementação de modo ligado ao

que se estabelece a legislação vigente, a fim de que o direito das pessoas com necessidades

educacionais especiais aconteça no âmbito da política de inclusão.

Para Mantoan (2003), em nosso contexto brasileiro ainda realizamos a exclusão todos

os dias dentro da roupagem de que estamos fazendo a inclusão, ou seja, a escola regular ainda

segrega o aluno com algum tipo de deficiência de modo efetivo na prática, pois, para a autora,

não basta colocar o aluno especial na mesma sala de aula, na mesma escola dos demais. É

compromisso e direito criar possibilidades para que esse discente aprenda e se desenvolva de

modo qualitativo e significativo. Uma educação que atue e proporcione uma humanização em

suas concepções e práticas no sentido de operar na concepção da heterogeneidade e não na

perspectiva da homogeneização.

Para Mantoan (2003), um dos aspectos ainda esquecidos em nosso contexto

educacional é entendido como elemento desencadeador fundamental da política de inclusão

que se refere a que tipo de formação que esses docentes têm acerca das diferentes categorias

que constituem a educação especial? A formação desses professores foi significativa para

saber mover conhecimentos e adaptá-los às particularidades do modo de ser e aprender desses

alunos? Que tipo de crenças e concepções os docentes tem acerca de alunos e da política de

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inclusão? Esses questionamentos, para a autora, não respondidos de modo satisfatório na

formação de professores poderá causar entraves na efetivação da política inclusiva na prática

escolar.

Um outro aspecto também constituidor nessa discussão são as políticas públicas no

sentido de modificar o ambiente escolar desde seu âmbito físico até pedagógico para acolher e

proporcionar um atendimento inclusivo em nossos ambientes escolares no Brasil. Há recursos

para garantir o acesso e permanência de todos na escola? O Ministério da Educação

apresentou no ano de 2010 um relatório que sinalizou que menos de 5% das escolas

municipais apresentavam rampas para acessibilidade no país e apenas 7% tinham banheiros

adaptados para atender as necessidades desses educandos especiais.

No tocante a essa discussão dos entraves para se efetivar a política de inclusão, no

âmbito das políticas públicas e práticas escolares no interior desses ambientes, no âmbito da

matemática ainda encontramos um número não significativo de pesquisas, embora esse

número tenha crescido nos últimos anos devido a participação de grupos de pesquisa de

programas de pós-graduação de algumas universidades pelo país, que direcionam um olhar

mais propositivo no sentido de entender o ensino da matemática e torná-lo mais significativo

a diferentes categorias de alunos com alguma necessidade especial.

De acordo com Sales (2013), ainda há muitas dificuldades de se efetivar a inclusão na

questão do ensino da matemática, pois “encontramos nas salas de aula, professores que se

julgam não preparados e, consequentemente, com dificuldades para desenvolver métodos e

adaptações necessárias aos novos alunos, uma vez que há pouco tempo estes últimos

frequentavam apenas escolas especiais” (SALES, 2013, p. 39).

De acordo com Fernandes e Healy (2007), tendo em vista o que estabelece os PCN no

quesito adaptações curriculares...

é que o professor seja especializado em todos os alunos, inclusive os

portadores de necessidades educacionais especiais. Para tanto, é preciso

pensar um modelo de escola que atente para os recursos humanos, mais

especificamente para os professores que precisam ser efetivamente

capacitados para transformar sua prática educativa (FERNANDES; HEALY,

2007, p.64).

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No tocante aos conteúdos matemáticos, as autoras inferem que os docentes apresentam

dificuldades na abordagem de conteúdos devido a falta de formação adequada e também a

falta de material adequado nos ambientes escolares “(...) declaram ainda, que alguns

conteúdos não são trabalhados por falta de preparo deles próprios, que se questionam a

respeito de como abordá-los [...] em outras situações a falta de material de apoio pedagógico

interfere diretamente na prática do professor” (FERNANDES; HEALY, 2007, p. 64).

De acordo com Passos, Passos e Arruda (2013) que analisaram quatro periódicos

acerca da educação matemática inclusiva (Boletim Gepem, Bolema, Zetetiké e Educação

Matemática Pesquisa) até o ano de 2010, consideram que há ainda um reduzido número de

pesquisas que trate do tema inclusão nas aulas de matemática, no que diz respeito à temática

de aprendizagem de alunos com necessidades educacionais especiais e revelam que muito

pouco foi publicado neste âmbito, pois os autores consideram que a educação matemática

inclusiva no Brasil é uma linha de pesquisa relativamente recente e ponderam ser relevante

um número maior de pesquisas que possam refletir num aumento significativo de publicações

neste campo de conhecimento, a fim de permitir uma incidência na melhora do ensino e da

aprendizagem da matemática em salas de aula inclusivas.

De acordo com Zuffi, Jacomelli e Palombo (2011), há uma diversidade de deficiências

e síndromes em sala de aula. Para os autores “a missão da escola será, então fornecer os

apoios necessários para uma vida de qualidade e de plena participação comunitária, indo além

da convivência entre aquelas com ou sem deficiência” (ZUFFI; JACOMELLI; PALOMBO,

2011, p. 5).

Segundo os autores, os currículos e estratégias devem ser flexíveis, dinâmicos e

diversificados. A escola deve se adaptar para fornecer oportunidades de desenvolvimento da

autonomia de todos os alunos, inclusive os especiais, de modo a atender a diversidade em seu

espaço educacional.

Zuffi, Jacomelli e Palombo (2011) realizaram uma pesquisa que consistiu em catalogar

a produção de pesquisas no Brasil, no período de 2001 a 2010, que tematizavam questões

ligadas à inclusão de pessoas com necessidades especiais e o ensino da matemática. Eles

levantaram 49 textos analisados no total sobre as mais variadas categorias de deficiência. Os

autores ponderam que apenas 12 desses trabalhos teriam uma maior relevância para a atuação

dos docentes de matemática por enfocarem discussões ligadas a materiais e métodos ligados

ao processo de ensino e aprendizagem da matemática nas escolas regulares. Isso reflete que há

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uma certa barreira nas pesquisas mais recentes em abordar elementos mais representativos no

sentido prático que evidencie uma aplicabilidade na melhoria das ações docentes no processo

de inclusão de pessoas com necessidades educativas especiais na matemática.

De acordo com Grandi (2012), deve-se investir mais em pesquisa que discutam a

inserção de recursos didáticos como ferramentas no ensino da matemática para alunos com

deficiência visual em sala de aula. Há poucos avanços neste quesito nas últimas décadas. A

educação de uma criança com deficiência visual na escola regular acaba usando os mesmos

procedimentos de ensino usados há muito tempo e as poucas inovações tecnológicas

conquistadas pelo avanço da tecnologia e informática ainda se encontram distantes dos

ambientes escolares e quando se encontram estão em centros especializados, onde o discente

tem que frequentar em virtude de não ter acesso em sua escola regular “inclusiva”.

De acordo Cerqueira e Ferreira (2007), os recursos didáticos são entendidos, como

sendo:

[...] todos os recursos físicos, utilizados com maior ou menor frequência em

todas as disciplinas, áreas de estudo ou atividades, sejam quais forem as

técnicas ou métodos empregados, visando auxiliar o educando a realizar sua

aprendizagem mais eficientemente, constituindo-se num meio para facilitar,

incentivar ou possibilitar o processo de ensino e aprendizagem

(CERQUEIRA; FERREIRA, 2007, p. 01).

Conforme salienta Cerqueira e Ferreira (2007), deve-se selecionar, adaptar ou

confeccionar materiais didáticos visando que estes sejam relevantes para os discentes no

quesito aprendizagem, ou seja, eles não podem ser apenas ferramentas para passar tempo, mas

sim que simbolizem ações educativas que possibilitem novas aprendizagens. Por isso os

autores ressaltam que se deve levar em consideração o entendimento do educador sobre o uso

dessas ferramentas, as motivações e habilidades dos educandos e a oportunidade de emprego

destes materiais, a fim de se alcançar esta finalidade.

Como ressalta Libâneo (1994), o uso de um determinado recurso didático deve atender

os objetivos dos conteúdos, da aula, das características dos discentes respeitados o nível

cognitivo do mesmo e o grau de motivação que serão empregados no manuseio do referido

recurso.

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De acordo com as recomendações do próprio MEC, no documento Atendimento

Educacional Especializado (BRASIL, 2007), deve-se, no caso específico no processo de

ensino aos discentes com deficiência visual, usar

[...] situações e vivências cotidianas que estimulem a exploração e o

desenvolvimento pleno dos outros sentidos. A variedade, a adequação e a

quantidade dos recursos disponíveis possibilitam o acesso ao conhecimento,

à comunicação e à aprendizagem significativa (BRASIL, 2007, p.26).

Como infere Sales (2013) há de se considerar a relevância na produção de pesquisas e

discussões na área da inclusão que possam subsidiar a prática do docente de matemática, visto

que “em sua formação não vivencia, em sua maioria, discussões desta natureza e dimensão.

No entanto, em seu cotidiano são convocados a encontrarem alternativas para o ensino desse

público, na busca da inclusão educacional em suas salas de aula”. (SALES, 2013, p. 41).

Nesta perspectiva, após a discussão de vários autores e posicionamentos divergentes e

até, digamos, antagônicos sobre a questão do entendimento, concepção e prática da educação

matemática, pensamos ser relevante pontuar que para o docente nesta área de conhecimento

poder exercer uma atitude profissional, ele deverá entender que a sua vertente pedagógica e

didática no processo de ensino e aprendizagem, deverá estar embasada numa escolha

epistemológica de forma direta ou indireta. Assim, ele terá que refletir acerca dessa complexa

teia de posições e sentidos para desenvolver sua atuação no ambiente escolar, já que terá de

efetivar uma ação representativa e consciente de qual caminho epistemológico irá conceber e

atuar em sua prática no cenário educacional, bem como entender que essa prática terá ser

condizente com uma perspectiva de entendimento do conhecimento matemático atrelado em

uma compreensão anterior do que ele entende, concebe e desenvolve acerca da constituição e

função da própria matemática.

Tendo em vista todas as discussões levantadas neste capítulo e a literatura abordada,

ponderamos ser de grande relevância pensar e dimensionar o entendimento da educação

matemática no sentido de operacionalizá-la de modo mais sistemático à educação da pessoa

com deficiência visual, por isso se constitui como objetivo do próximo capítulo tematizarmos

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acerca da compreensão da pessoa com deficiência visual com a finalidade de entendermos

elementos que a constituem e subsidiam tal categoria da educação especial e sua educação.

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CAPÍTULO 3 - A DEFICIÊNCIA VISUAL: PRESSUPOSTOS ETIOLÓGICOS

E EDUCACIONAIS

Este capítulo fará uma revisão na literatura acerca da deficiência visual e tratará da

descrição e conceituação da Deficiência visual (DV), abrangendo definições e explicitações

sobre a criança com DV; as reações psicológicas oriundas da visão limitada; esclarecimentos

acerca dos sentidos sensoriais remanescentes e da importância da autonomia, independência e

mobilidade na vida da criança com DV; uma breve descrição do desenvolvimento normal da

visão e o de uma pessoa com déficit grave nesse sentido sensorial. Trataremos ainda da

criança com DV na escola regular, partindo de estudos anteriores a respeito do tema e do

levantamento de alguns fatores importantes para a sua integração na escola comum e sobre o

ensino da matemática voltado a esses alunos com DV.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) –

censo de 2012 – e dados divulgados pela Organização Mundial de Saúde (OMS), há

um significativo aumento na porcentagem de indivíduos com DV no Brasil,

correspondendo cerca de 255 mil crianças nessa situação, incluindo cegueira e baixa

visão.

Do mesmo modo, Ferreira (2012) informa que, no Brasil, em relação ao censo escolar

de 2012, apresentado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas em Educação

(INEP), são 20.257 alunos com DV na educação básica, o que configura a segunda maior

população com alguma deficiência no sistema de ensino brasileiro, visto que a população com

deficiência auditiva é a maior em quantitativo na educação básica em nosso país.

Baseados nestes demonstrativos apresentados acima acerca dos números de crianças

com deficiência visual em nosso contexto brasileiro, a informação e o esclarecimento sobre o

assunto são fundamentais tanto para a sociedade em geral quanto para pais, professores

e pessoas que desenvolvem trabalhos específicos com crianças com déficit na visão,

proporcionando-lhes melhores condições de atuação e convivência com elas. Além

disso, muitos casos de DV podem ser evitados se houver um conhecimento sobre a sua

gênese, suas causas e como impedir que o sujeito seja acometido por essa deficiência.

Assim, serão apresentados, no desenrolar deste capítulo, conteúdos e esclarecimentos

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que são julgados úteis para esta discussão em torno de um aluno com DV na escola regular e,

consequentemente, para uma prática pedagógica mais adequada e consciente.

3.1. DEFICIÊNCIA VISUAL

De acordo com Oliveira (1999), a visão é um dos sentidos principais da fisiologia

humana e desempenha papel fundamental na união do sujeito com o mundo objetivo que o

cerca, pois representa a maioria das impressões que tem do olhos. Constata-se também que a

acuidade visual é relevante para a construção de informações sobre os objetos e a posição do

indivíduo no espaço, suas relações com os outros, sendo dependente da relação entre o

aparelho visual e o cérebro.

De acordo com Gorgatti (2005), a população com deficiência visual é muito

heterogênea, já que a deficiência da visão é capaz de não só anular a capacidade de ver, como

também reduzi-la. Desse modo, fazem parte do grupo de pessoas com DV, são incluídos,

além dos indivíduos que nada enxergam, aqueles que têm pouca capacidade de ver, mesmo

fazendo o uso de lentes corretivas, mas que fazem uso de poucos resíduos de visão em suas

atividades. Diante disso, aqueles são então denominados cegos, enquanto estes são pessoas

com baixa visão ou visão subnormal.

Segundo o pensamento de Veiga (2005), para avaliar o grau da perda visual, são

necessários dois procedimentos. O primeiro seria um exame oftalmológico, dividido em

duas etapas: avaliação da história clínica de cada paciente, que incluirá dados importantes

tanto para o diagnóstico quanto para o tratamento – como a idade de aquisição do déficit

visual e sua etiologia; e exame ocular propriamente dito, com uma avaliação sistemática e

precisa das chamadas medidas de eficiência visual normalizadas (acuidade visual e

campo visual). Já a outra etapa consiste em realizar uma avaliação do grau de visão

funcional, ou seja, os resquícios visuais de que o indivíduo ainda apresenta e que se

constituem de grande relevância para o planejamento de programas de intervenção

educacional à pessoa com perda visual.

Entende-se que crenças e preconceitos vinculados historicamente podem influenciar as

experiências de hoje em relação à DV, bem como a predisposição individual para

determinadas reações. Alguns indivíduos apresentam uma visão meio limitada ao

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entendimento das pessoas com cegueira, elas se referem a esses indivíduos como incapazes de

raciocinar ou refletir, ou que nada sabem, simplesmente por não enxergarem.

Sentimentos como pena e simpatia são comuns por parte dos videntes em relação à

pessoa com DV, e, muitas vezes, os problemas reais de ser cego são incompreendidos ou

desconhecidos. Diante destas formas de conceber a pessoa com deficiência visual, Porto

(2005) infere que as atitudes atuais que envolvem as pessoas com algum déficit na visão

podem ser provenientes da herança cultural de um povo, que interfere como os mesmos são

vistos e entendidos em determinados contextos.

Segundo Carvalho et al (2002), para se estudar a DV, é imprescindível definir e

entender o significado do termo. Algumas definições são baseadas na (in)capacidade

que o ser humano tem de distinguir visualmente mínimos detalhes de objetos, pessoas,

figuras, imagens, entre outros, essa não é uma tarefa muito fácil, uma vez que a

classificação e a definição de DV variam a partir do ponto de vista e da área de estudo

do pesquisador que as utiliza, bem como da aplicação que o mesmo lhes atribui, devido à

abrangência, complexidade e amplitude de áreas afetadas pela ausência da visão. Um

exemplo disso é a diferença de definição entre os aspectos médicos e educacionais, os quais

serão explicitados ao longo do texto.

A literatura especializada na área da deficiência visual médica sinaliza uma certa

dificuldade de se encontrar uma definição ou um conceito único sobre DV, e também por

acreditar, assim como Ferreira e Guimarães (2003, p. 23), que o conceituar pode

mascarar ou aprisionar o pensamento, serão apresentadas diferentes definições a respeito

do tema, porém complementares entre si.

Para Almeida e Conde (2002), a perda visual pode representar a redução da

quantidade de informação que o indivíduo recebe do meio ambiente, em função da

predominância das situações viso-sensoriais. Essa acentuada diminuição de informação

através do canal visual pode abranger vários graus da acuidade visual, o que infere

diferentes classificações de grau de apreensão do uso da visão.

De acordo com Cavalcante (2005), a pessoa é considerada legalmente cega, quando

apresentar menos de um décimo de visão nos dois olhos, com a melhor correção possível, e

essa limitação visual é entendida de modo permanente e incurável.

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Segundo inferem Oliveira, Kara-José e Sampaio (2012) há diversas discussões na

questão da gênese da deficiência visual que sinalizam a existência de um número

considerável de problemas e transtornos visuais são entendidos sob a denominação de

cegueira ou deficiência visual. Três aspectos são relevantes e necessitam ser levados em

consideração para que se possa fazer essa diferenciação: o momento de surgimento dos

problemas visuais (deficiência visual congênita ou adquirida), o modo dessa aparição (de

modo súbito ou gradual) e o grau de perda de visão.

Diante dessa falta de uniformidade de opiniões e pensamentos a respeito do

assunto, a Organização Mundial da Saúde optou por levar em consideração dois enfoques: o

enfoque clínico e o enfoque de caráter educacional. Desse modo, no aspecto clínico, a OMS

orienta critérios para se entender na dimensão clinica a medida descrita na escala de Snellen,

que indica uma classificação para sinalizar o grau de perda da acuidade visual levando-se em

consideração aspectos ligados a percepção visual ligados a distância e capacidade do uso da

visão. Já o enfoque educacional leva em consideração os aspectos ligados a questão da

dimensão funcional e dinâmica do uso da acuidade visual, salientando ser mais importante a

questão do uso que o sujeito faz da visão do que o resultado da acuidade visual.

Segundo as ideias de Gorgatti (2005), a OMS indica a importância da existência de

padrões de definição acerca do entendimento da classificação da perda da acuidade visual, por

isso esta faz uso de uma classificação proveniente de um certo entendimento adotado

mundialmente pela área médica acerca da referida classificação dos níveis de perda visual

internacionalmente vinculados na literatura médica especializada.

Desse modo, este trabalho adotará a sugestão da OMS para a classificação de perda de

visão será demonstrada na Tabela 1, a seguir:

Tabela 1- Classificação da perda visual segundo a escala de Snellen

GRAU DE PERDA DE

VISÃO

Acuidade Visual (com ambos olhos e melhor correção óptica

possível)

Máxima Inferior a Mínima igual ou superior a

1 6/18 metros (*)

3/10 (0,3) 20/70 pés

6/60 metros

1/10 (0,1) 20/200 pés

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2

6/60 metros

1/10 (0,1) 20/200 pés

3/60 metros

1/20 (0,05) 20/400 pés

3 3/60 metros

1/20 (0,05) 20/400 pés

1/60 (conta dedos a 1 metro)

1/50 (0,02) 5/300 pés

4 1/60 (conta dedos a 1 metro) 1/50 (0,02)

5/300 pés

Percepção de luz

5 Não percebe luz

Consideram-se baixa visão as categorias 1 e 2.

Consideram-se cegueira as categorias 3, 4 e 5. (*) A fração 6/18 metros significa que o indivíduo vê a 6 metros o que normalmente se veria a 18 metros; o mesmo ocorrendo com 20/70 pés: ele vê a 20 pés

o que seria visto a 70 e assim sucessivamente, conforme proposto na tabela.

Conforme inferem Baumel e Castro (2003), os indivíduos com campo visual maior

que 5 graus e menor que 10, ao redor do ponto central de fixação, devem ser colocados na

categoria 3 (cegueira); aqueles cujo campo visual não passa dos 5 graus enquadram-se na

categoria 4, nos casos em que a agudeza visual central não está afetada. Dessa forma,

entende-se com o DV, aqueles indivíduos com cegueira e com baixa visão, como na

recomendação da OMS.

De acordo com Gil (2000), os cegos são os alunos que apresentam ausência total de

visão com perda de projeção de luz, devendo utilizar o Sistema Braille no processo de ensino

e aprendizagem, mesmo que a percepção de luz os auxilie na Orientação e Mobilidade.

Já os com baixa visão apresentam condições de indicar projeção de luz até o grau em que a

redução de sua acuidade visual limite o seu desempenho.

Segundo Lora (2000), entende-se a cegueira como sendo a impossibilidade de ver e a

baixa visão, pela dificuldade para ver. Para a autora, quando há um resíduo visual deve-se

considerá-lo não só para se definir a sua categoria de classificação como também para se

trabalhar no aspecto clínico e pedagógico junto a pessoa que se apresenta com problemas

junto a acuidade visual.

De acordo com a definição de Pelechano, Miguel e Ibáñez (1995) uma pessoa é cega

quando a visão corrigida de seu melhor olho é de 20/200, o que significa que ela precisa ficar

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a uma distância de 20 pés (aproximadamente 6 metros) para ler ou identificar algo que uma

pessoa de visão normal enxerga a uma distância de 200 pés (aproximadamente 60

metros). Já a pessoa com baixa visão é aquela que dispõe de 20/70 nas mesmas condições.

Um outro enfoque usado para definir e classificar a DV é o educacional. De acordo

com as concepções de De Masi (2002), as pessoas que apresentam DV não devem ser

entendidas como incapazes, pois mesmo com perdas consideradas há a possibilidade da

reeducação do indivíduo no aspecto educacional no desenvolvimento de um aparato de

técnicas e procedimentos visando o pleno desenvolvimento do sujeito no âmbito educacional.

Para a autora, devemos entender e considerar a aprendizagem ou a reaprendizagem não está

ligada apenas a presença única da acuidade visual, pois grande parte dos alunos com

problemas de acuidade visual tem grandes possibilidades de desenvolvimento educacional,

basta haver adequações das ferramentas metodológicas e didáticas em seu processo escolar

para sua aprendizagem se efetivar como se deve.

Segundo o pensamento de De Masi (2002), a finalidade dos primeiros serviços em

educação especial era conservar a visão, usando materiais e métodos que exigissem sua

mínima utilização, pois acreditava-se que os indivíduos que apresentavam DV grave corriam

o risco de perder a visão caso a utilizassem. Na época, os alunos com baixa visão, os

chamados “amblíopes”, eram aqueles que apresentavam acuidade visual 0,1 a 0,3,

enquanto os de acuidade visual menor que 0,1 eram considerados cegos, sendo estes

forçados a utilizar o Sistema Braille no processo de leitura e escrita.

Diante disso, entende-se que a eficiência visual não pode ser medida

quantitativamente como a acuidade visual e varia entre indivíduos com perdas

semelhantes de visão devido a fatores múltiplos como: quando e por que ocorreu a perda,

reações psicológicas do sujeito com DV, entre outros.

Diante dos enfoques médico e educacional, entendem-se não opositivos e sim

complementares e de grande relevância para uma intervenção ao atendimento do aluno com

DV. Esses enfoques muitas vezes foram entendidos e usados de modo equivocado tanto no

âmbito educacional quanto médico. A pessoa com DV deve ser compreendida como um

sujeito ativo no seu desenvolvimento e participação em sociedade. Não se deve impor

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qualquer parâmetro de limitação oriundo de ausência de entendimento desencadeador de

qualquer aspecto no olhar projetado a essas pessoas.

A seguir, será apresentado, no Quadro 2, uma síntese dos dois enfoques, clínico

e educacional, com base nas informações de De Masi (2002):

Quadro 2: Diferenciação entre a abordagem médica e educacional

Diferenciação entre classificação médica e classificação educacional

ABORDAGEM CLÍNICA ABORDAGEM EDUCACIONAL

Diagnóstico médico

Diagnóstico educacional

Baseado na acuidade visual Baseado na eficiência visual

Ênfase no que enxerga Ênfase em como enxerga

Finalidade legal, econômica e

estatística

Finalidade prática e funcional

Resultado estático em condições

especiais de distância e iluminação Resultado dinâmico em condições de vida de distância e iluminação

Resultado dinâmico em condições de

vida prática

Dados quantitativos Dados qualitativos

Não considera características físicas

e psicológicas do sujeito Considera, além das características físicaspsicológicas do sujeito.

Considera, além das características

físicas do sujeito, as psicológicas,

sociais e econômicas.

OBS.:O diagnóstico médico não leva necessariamente ao prognóstico

educacional – uma capacidade de visão para perto pode existir.

FONTE: DE MASI, 2002.

Segundo Ochaíta e Espinosa (2004), deve haver um certo cuidado no aspecto de se

planejar e preparar um plano educacional adequado às necessidades e às características do

aluno com DV, é fundamental o prévio conhecimento de cada caso, porquanto, muitas

variáveis podem interferir no desempenho visual. Desse modo, entende-se de modo diferente

o desenvolvimento de uma criança cega congênita. Normalmente, o processo de

aprendizagem está ligado a dependência da audição e do tato para obter informações e

conhecimentos para formar imagens mentais, enquanto o desenvolvimento será capaz de reter

essas imagens e relacioná-las com novas informações recebidas pelos outros sentidos.

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De acordo com Rego- Monteiro, Manhães e Kastrup (2007), as pessoas com algum

tipo de deficiência ainda são vistas nos dias atuais como incapazes de realizar atividades e

provocam olhares, admirações e comentários se mostram o contrário. Para a criança com DV,

não é diferente, ela sofre o mesmo preconceito. Na tentativa de amenizar o problema, é

fundamental o conhecimento de suas características, limitações, possibilidades e

potencialidades.

De acordo com Coimbra (2003), deve-se compreender que a criança com DV não é

alguém que sofreu apenas perdas, mas, deve-se trabalhar o olhar para entender que a mesma

busca encontrar em si mesma a autonomia e independência em suas relações afetivas e

sociais.

Diante das várias definições de cegueira, optaremos, neste estudo, em usar a definição

de Amiraliam (2000), que concebe as pessoas cegas como não tendo a visão suficiente

para aprender a ler em tinta, necessitando dos outros sentidos, como tato,

audição, olfato, paladar e cinestesia, no processo de desenvolvimento e

aprendizagem. Neste aspecto, um importante recurso que deverá ser usado no acesso à

leitura e escrita será o Sistema Braille – sistema de sinais em relevo para leitura tátil. No

entanto, nesse grupo de crianças, podem ser percebidas diferenças e individualidades: há

crianças que nada veem, as que têm apenas percepção de luz, as que podem perceber

claro, escuro e delinear algumas formas. O conhecimento dessas diferenças é importante e a

mínima percepção de luz ou vulto pode ser muito útil na orientação espacial,

movimentação e habilidades de independência.

De acordo com Gorgatti (2005), o pesquisador não pode se limitar, apenas, a

conceituar, definir, classificar e conhecer suas características físicas das pessoas com DV.

Torna-se , essencial entender que suas formas diferentes de ser e agir as tornam seres

únicos, devendo ser respeitados e valorizados por suas possibilidades e capacidades de

resolverem questões diversas.

De acordo com Veiga (2005) um elemento relevante para se entender ao estudar a DV

é a constatação de que não se pode desconsiderar o fato de que a maioria das percepções

sensoriais dos indivíduos está relacionada à imagem que veem e têm de objetos,

pessoas e tudo o que os cerca. A falta da visão ou uma limitação grave nesse sentido

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pode provocar muitas alterações nos significados dessas percepções.

De acordo com o trabalho de Gorgatti (2005), as pessoas privadas de visão dispõem de

grandes possibilidades de perceberem o mundo que as rodeia, utilizando os outros sentidos,

ou seja, aqueles de que elas ainda dispõem. Por isso, a educação da pessoa com DV deve

entender os demais sentidos como sendo pontes para se desenvolver novas aprendizagens

devido a esse fato as metodologias devem ser usadas nesta perspectiva.

Amiraliam (2000) ressalta que para um sujeito cego a ausência da visão não

impossibilita de identificar e interagir com o mundo por meio dos outros sentidos: tato,

audição, paladar e olfato. São eles, sobretudo os dois primeiros, que concederão algumas

peculiaridades na construção do desenvolvimento e da aprendizagem da criança com

DV. Desse modo, a pessoa com DV usará como parâmetros outras informações relevantes

para ela como forma, cor, tamanho, mas farão parte de sua descrição a textura (se é áspero,

liso, etc), se o objeto é duro ou mole, se está localizado perto de um ambiente barulhento ou

silencioso, de cheiro bom ou não.

De acordo com Veiga (2005), há diferenças no processo de formação de uma imagem

de um determinado objeto, o uso do tato mesmo sendo um dos principais sentidos que a

criança com limitação visual utiliza para conhecer o mundo à sua volta, é muito mais lento

do que a visão, mas bastante eficiente na coleta de informação sobre os objetos

próximos. Porém, a exploração dos objetos grandes fica fragmentada e em sequência. Para o

cego ter acesso à imagem total de um objeto, após explorá-lo lentamente, terá de integrar as

percepções sucessivas em uma imagem final.

Segundo Oliveira (1999), em relação à audição e ao olfato, ela informa que o

primeiro sentido é utilizado pelas pessoas com DV para a comunicação verbal e como

uma função telerreceptora para a localização e a identificação de objetos e pessoas no

espaço, funções para as quais é menos preciso que a visão. Já o olfato ajuda os outros

sentidos na complexa tarefa de conhecer o espaço distante, reconhecendo ambientes e

pessoas. Além desses dois, ainda há o sistema proprioceptivo, que proporciona

informação imprescindível para a orientação e mobilidade.

Para Veiga (2005) há um equívoco comum ao entendimento da plasticidade cerebral

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do indivíduo com DV. A tal incompreensão se dá por entender que devido a falta da visão, os

cegos ouvem melhor e têm maior sensibilidade tátil e olfativa. O que ocorre é um

aperfeiçoamento da capacidade de atenção aos estímulos táteis e auditivos; eles

aprendem a utilizá-los melhor para outras finalidades distintas do que fazem os videntes, que,

por sua vez, não utilizam, com muita frequência, essa atenção direcionada: Portanto, tal

a “compensação” refere-se, na verdade, à plasticidade cerebral do sistema psicológico

humano para utilizar em seu desenvolvimento e sua aprendizagem vias alternativas que as

usadas pelos videntes.

De acordo com os postulados de Amiralian (2000), é importante enfatizar que a

audição ou mesmo o tato não substituem a visão no reconhecimento do meio. A

pessoa cega ou com baixa visão terá sempre um déficit em relação a esse sentido que lhe

falta. Ao contrário, os órgãos dos sentidos agem de maneira integrada. Assim, não existe a

substituição de um sentido por outro. O conjunto sensorial funciona em sinergia onde

nenhum dos sentidos realiza suas funções de forma isolada, eles se retroalimentam.

Dessa forma, para que a criança com DV se ajuste, é necessário que ela faça uma

reorganização perceptiva, na qual os outros sentidos, principalmente a audição e o sentido

tátil-cinestésico, desenvolvem papéis diferentes daqueles realizados no desenvolvimento de

indivíduos que não têm nenhuma limitação visual.

Veiga (2005) entende haver alguns efeitos diretos da falta ou limitação do sentido

visual sobre a criança, pela necessidade que esta tem de conhecer o mundo que a rodeia

com o auxílio dos outros sentidos.

De acordo com De Masi (2002) são cinco áreas específicas que podem sofrer esses

efeitos provenientes de restrições sociais. A primeira é em relação ao alcance e à variedade de

experiências. Através da visão, os videntes podem perceber algumas propriedades de

objetos e pessoas, como forma, tamanho e espaço, além de diferentes posições e

relações que favorecem para a aquisição dessas experiências, interferindo na mesma. Com a

limitação desse sentido e com algumas ações restritas ao tato e audição, a percepção sobre o

mundo por parte das crianças com DV pode sofrer alterações e lacunas.

Em decorrência da restrição do ato do uso da visão, pode-se chegar à dificuldade

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em relação à formação de conceitos. Nesse caso, pode haver defasagem quanto ao conteúdo

a ser explorado devido à restrição dos aspectos essencialmente visuais que envolvem

cores, movimento e, principalmente, relações de espaço como perspectiva, distância,

projeção e proporções grandes ou pequenas demais. De acordo com De Mais (2002), quando

a criança com DV não recebe orientação adequada por meio de experiências vivenciadas,

pode formar idéias equivocadas em relação a certos conceitos.

Uma outra restrição que a pessoa com DV pode sofrer é a mobilidade, ou sua

capacidade de locomoção. Para a criança com déficit na visão, é difícil tanto superar

obstáculos que aparecem em qualquer caminhada quanto a motivação para fazer essa

caminhada. No entanto, os outros sentidos são úteis para a percepção de alguns

impedimentos físicos como solos irregulares, a presença de grandes objetos, entre outros,

fornecendo importante auxílio para a orientação e mobilidade.

Segundo De Masi (2002), um outro elemento que pode ser prejudicado pela falta

de visão é o controle e relacionamento com o ambiente, pois a visão permite reconhecer

um espaço novo em pouco tempo. Sem ela, o indivíduo não poderá perceber, de

imediato, o ambiente desconhecido. Para a autora, geralmente, esta dificuldade de

relacionar-se com o ambiente limita a criança cega desde a infância, devido grande

parte dos comportamentos aprendidos serem realizados através da imitação e, obviamente,

ela está limitada nesta área.

De Masi (2002) menciona um outro aspecto limitador para a criança com DV é o

acesso às informações escritas. Embora já existam vários recursos tecnológicos que

possibilitam a transcrição de textos escritos para voz, nesta sociedade tida como

visuocêntrica, muitas informações, anúncios e propagandas, avisos e indicações de lugares,

por exemplo, ainda dão preferência às letras, o que impossibilita de forma mais efetiva

a pessoa cega de se informar e tirar dúvidas sobre lugares e direções a serem seguidas.

Assim, a partir da conscientização dessas limitações e dificuldades, sempre que

possível, é preciso oferecer às crianças com DV objetos que passam ser tocados e

manipulados, informando-lhes, verbalmente, sobre o mundo que as rodeiam. Por isso, torna-

se relevante para se pensar em atividades educacionais, sejam elas para crianças videntes ou

com deficiência visual, se pensar na busca pelo desenvolvimento dos aspectos ligados as

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finalidades educacionais da educação: a autonomia e a independência.

De acordo com o pensamento de Sassaki (1997), o termo “independência” é atribuído

à capacidade da pessoa com alguma deficiência de decidir sem depender de outras

pessoas. Essa independência pode variar de acordo com as informações disponíveis no

momento de tomar as decisões ou realizar tarefas e com sua autodeterminação e prontidão

para tomar essas decisões. Para existir de fato uma interação social entre os indivíduos

com DV e a sociedade em que vivem, é imprescindível que eles sejam capazes de

deslocarem-se de forma autônoma e eficaz.

Para Sassaki (1997), autonomia é ter o domínio do ambiente físico e social,

mantendo a particularidade e a dignidade do indivíduo, que terá controle sobre os demais

ambientes que necessitar fazer uso. No entanto, ter autonomia em determinados

ambientes não significa, necessariamente, que a pessoa com deficiência a terá em todos

os ambientes em que estiver, já que estes têm realidades variadas.

Desta forma, discutindo novas dimensões ao conceito de autonomia colocado por

Sassaki, que o vincula à capacidade de deslocamento e locomoção ou mobilidade do

indivíduo com deficiência, Taille, Oliveira e Dantas (1992) esclarecem que Vygotsky,

Wallon e Piaget enfatizaram o sentido político e psicológico do termo. Desse modo, as

autoras elucidam que, para o primeiro teórico, a associação entre o sujeito psicológico e

o contexto cultural não é determinística, pois o indivíduo interioriza formas de

funcionamento psicológico dadas culturalmente, mas as utiliza como instrumentos

pessoais de ação no mundo e para o pensamento. Já em relação a Wallon, colocam que

este considera que é na relação dialética, contraditória com o outro, que o sujeito se

constrói, o que torna essa construção dinâmica e profundamente libertadora.

De acordo com Taille, Oliveira e Dantas (1992), infere-se que Piaget desenvolve o

conceito de autonomia moral, fruto da razão, substituindo o dogma pela justificação

racional. Devido à razão, o sujeito – se tem elementos racionais disponíveis – poderá

se opor à autoridade em qualquer instituição, podendo negar tradições e costumes

impostos externamente. De acordo com a primeira, a autonomia intelectual – também

produto da razão – permite ao indivíduo instituir suas certezas, e, como na moral, libertar-se

de tradições impostas. Aqui, a substituição é das crenças pelas demonstrações. Por último, a

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autonomia afetiva se estabelece na participação e capacidade racional do próprio sujeito

de construir seus conhecimentos e novas formas de pensar criticamente, o que não o

dispensa do contato e da troca com o outro, o meio e os objetos.

Desse modo, de acordo os autores citados e aos conceitos de autonomia colocados

por cada um deles, seja no aspecto físico, político ou psicológico, compreende--se a

importância da própria pessoa com deficiência tomar decisões, interagir criticamente

com o meio, objetos e outras pessoas, adotando uma postura ativa em vez de submissa às

idéias e influências externas.

De acordo com o pensamento de Lora (2000) em relação a deficiência visual se coloca

o sentimento de autonomia do indivíduo com déficit na visão ligado à possibilidade de

mesmo possuir objetos próprios, o seu espaço nas situações de grupos e à

disponibilidade de espaço ou de volume dos arranjos pessoais que se lhe oferecem. É

relevante salientar que autonomia e independência nem sempre se completam, pois uma pode

existir perfeitamente sem a outra, dependendo da situação envolvida.

Para Lora (2000), a mobilidade, juntamente com o trabalho de orientação, é

imprescindível à vida e à autonomia e independência do sujeito com DV, já que este se

mostra, muitas vezes, inseguro e com medo de se colocar nos diversos espaços físicos que

transita. Essa insegurança pode ser percebida ao se observar a postura de alguns indivíduos

desprovidos do sentido da visão, principalmente ao caminhar, colocando-se com os

ombros contraídos e os passos curtos e inseguros.

Para Baumel e Castro (2003), o conhecimento do espaço e o movimento nele são

uma das aprendizagens mais difíceis para a criança limitada visualmente, pois os

sistemas sensoriais que podem ser utilizados para tal são menos apropriados do que a visão.

Entretanto, para se efetivar de fato a integração social dessa criança, é necessário que ela

possa deslocar-se de forma autônoma e eficaz.

De acordo com Veiga (2005), infere-se que uma das grandes dificuldades constitutivas

de sua locomoção tem início na infância devido os estímulos visuais que impulsionam a

criança a se movimentar em direção a um objeto, a se deslocar ou colocar-se de pé na

tentativa de alcançar o que deseja são limitados, necessitando de estímulos auditivos e

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verbais.

Constitui-se um dos entraves para se consolidar as dificuldades de locomoção pela

pessoa com DV, a superproteção e a ansiedade dos adultos que convivem com essas crianças

tendem a aumentar a mesma, e, consequentemente, suas limitações. Por medo dos obstáculos

e perigo da criança cega ou com baixa visão se machucar – o que pode também ocorrer com a

criança vidente – não permitem ou restringem a experimentação de eventos que seriam úteis

para a aquisição de novos conhecimentos e relações sociais. Então, a fim de que ocorra uma

boa mobilidade por parte da criança com déficit visual, é relevante que ocorra uma

orientação mental sobre o ambiente a ser transitado, conseguido por meio do auxílio de um

adulto para o conhecimento do espaço e das características físicas do referido ambiente.

De acordo com Lora (2000), nota-se que a orientação se dá no sentido de desenvolver

a noção espacial, o reconhecimento do corpo e do ambiente e o domínio das noções

de direção e lateralidade (longe, perto, em cima, embaixo, esquerda, direita). Os pontos

de referência são definidos a partir da utilização dos outros sentidos, como olfato e audição.

Quanto à mobilidade, esta é realizada através da capacidade de uso da bengala, que

funciona como uma extensão da mão.

Segundo Amiralian (2000) devido a negação de oportunidades e vivências de novas

experiências para que o indivíduo com DV se desenvolva por si só, planeje seus

movimentos ou enfrente os obstáculos que, constantemente, aparecem em seu cotidiano,

com atitudes como a superproteção, por exemplo, pode-se contribuir para a sua

dependência, baixa autoestima, sensação de incompetência e insegurança, e,

consequentemente, para sua pouca capacidade de mobilidade, estimulando-o a um

comportamento passivo e retraído, o que dificultará seu acesso ao mundo externo.

A seguir, será exposto, de modo resumido, como ocorre, normalmente, o

desenvolvimento do sentido visual.

3.2. ENTENDENDO O DESENVOLVIMENTO DA VISÃO

O desenvolvimento do olho ou da visão se dá como em qualquer outra parte do corpo:

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paulatinamente. De acordo com as ideias de Veiga (2005), o bebê enxerga tanto quanto anda

ou fala. Por volta dos cinco e sete anos de idade, a visão atinge seu pleno desenvolvimento,

se todas as partes do olho estiverem em perfeita ordem e o cérebro for estimulado

com imagens nítidas. A partir daí, o que se aperfeiçoa a se desenvolver é a capacidade

de interpretar o que é captado pelo cérebro.

Para Veiga (2005), o desenvolvimento do sentido visual se dá na seguinte ordem:

a) no nascimento: só há percepção de luz, pois a mácula (pequena depressão amarela

localizada na retina, no ponto onde o eixo óptico atinge o fundo do globo ocular) ainda não

está totalmente desenvolvida e o cérebro ainda não sabe interpretar os estímulos visuais que

recebe; b) por volta dos três meses: o bebê já apresenta a capacidade de fixar num ponto

e seguir um objeto com o olhar, devido a área macular estar estruturada; c) aos noves

meses: inicia-se a visão de relevo; na qual o bebê já desenvolve a noção de distância e

de formas; d) com um ano: as crianças já demonstram a capacidade de reconhecer objetos e

parentes próximos a mesma; e) aos quatro anos: a criança apresenta a visão quase completa e

desenvolvida; e f) aos cinco anos: visão igual a do adulto, podendo melhorar até os sete anos

de idade.

Desse modo, para Veiga (2005, p. 29), para que esse desenvolvimento normal da

visão ocorra, a autora reitera ser importante a constituição de quatro condições:

[...]que a imagem do objeto focado chegue nítida à retina. Para isso, não

pode haver lesão ou alteração de transparência da córnea, pupila, íris, vítreo

ou retina, o que alteraria ou bloquearia a imagem; que o olho seja de

estar atrofiado e não deverá haver lesões na via óptica que leva a

imagem até o cérebro; o cérebro deve ser capaz de interpretar a imagem

recebida. Para isso, não poderão ocorrer alterações cerebrais de ordem

anatômica ou mesmo mentais.

Em relação a esse desenvolvimento da visão, Oliveira, Kara-José e Sampaio (2000, p.

29) afirmam:

[...] as condições de um desenvolvimento harmonioso são sempre, quer

a criança seja deficiente ou não, vinculadas ao meio que fornece ao sujeito

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os sentimentos de segurança, de poder agir e de ser autônomo. A

única diferença entre uns e outros é que a criança denominada normal

consegue encontrar soluções para realizar seu Eu com mais facilidade,

mesmo quando o contexto não lhe facilita as coisas, ao passo que para a

criança denominada deficiente esse mesmo contexto, especialmente a

qualidade do relacionamento com as pessoas, assume valor vital.

De acordo com Veiga (2005), desde os momentos iniciais de vida de uma criança com

a acuidade visual plenamente desenvolvida, nota-se sua atenção a diversos estímulos visuais

que, normalmente, se relacionam com os do rosto humano. A autora esclarece que vários

teóricos assinalam a relevância dos intercâmbios visuais, e consequentemente da visão,

nas primeiras interações comunicativas entre o bebê e o adulto, na espécie humana, para

pleno desenvolvimento infantil. Entretanto, as crianças com DV encontram eficientes tipos

diferenciados como uma possível alternativa para o desenvolvimento dessa comunicação pré-

verbal com os adultos, mesmo sem a visão.

Conforme salienta Amiralian (2000), desde as primeiras semanas de vida, os demais

sentidos já são solicitados e representam muito bem seus papéis de mediadores nas interações

da criança com DV com o mundo que a cerca, seja ao reconhecer a voz da mãe ou de

outra pessoa conhecida, ao uso do tato no rosto do adulto para identificá-lo ou ao sentir

seu cheiro para diferenciá-lo de pessoas fora de seu convívio.

Quanto às posturas, apesar de haver um atraso em movimentos, tais como estender as

mãos, engatinhar e caminhar, as demais etapas de desenvolvimento das crianças com DV

podem ser percebidas dentro dos limites considerados adequados. A criança com DV,

geralmente, apresenta uma certa dificuldade de reconhecimento espacial em seus primeiros 2

anos devido levar em consideração apenas a audição, que sinaliza o seu sentido para mensurar

a distância entre os espaços físicos estabelecidos.

De acordo com Ochaíta e Espinosa (2004), de um modo geral, o desenvolvimento

cognitivo das crianças com graves limitações visuais não apresenta problemas

considerados graves ou preocupantes ao desenvolvimento cognitivo das mesmas, embora

tenha características próprias. O fato de adquirirem informações, muitas vezes, através dos

outros sentidos, pode indicar uma certa dificuldade na realização de tarefas de conteúdo

figurativo e espacial, o que não acontece com as atividades que envolvem o comportamento

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verbal.

Torna-se imprescindível, para o desenvolvimento integral da criança com DV, a

oferta de oportunidades múltiplas de brincar e movimentar-se livremente, para que

descubra o mundo que tem em volta de si.

De acordo com Veiga (2005), saber como a cegueira ou baixa visão afetam o

desenvolvimento da criança com DV congênita e como ocorre a formação de imagens, a

representação mental, bem como o processo simbólico, são questões que geram bastante

controvérsia em pesquisas. Alguns estudos acreditam na hipótese da incidência de condições

diferenciadas no desenvolvimento da criança com DV devido o ato de não ter a visão

influenciará sua apreensão do mundo exterior. No entanto, estes estudos não sabem

dimensionar, com precisão, quais modificações ocorrerão ao longo de seu desenvolvimento.

Na questão tocante ao ingresso de uma criança na escola – seja ela vidente ou com

DV –, muitas vezes, é permeada por sentimentos como insegurança, ansiedade e

desconfiança, devido essa ação representar uma série de mudanças em sua vida,

experimentações e descobertas de diferentes situações e um mundo interminável de

novidades. Carvalho et al (2002) mencionam ser importante que o professor e os demais

profissionais da escola promovam a independência da criança, auxiliando-a na superação

de seus medos e limitações de qualquer tipo.

Martín e Bueno (2003) mencionam alguns cuidados e ações educativas que devem ser

levadas em consideração à educação da criança com baixa visão como organizar as atividades

diárias em sala de aula de modo a permitir momentos de descanso ocular para evitar

uma fadiga visual. Podem ser alternadas, por exemplo, atividades de leitura e escrita

com perguntas orais; atividades na lousa e escrita com trabalhos em artes, bem como

a sugestão para que a criança feche os olhos por alguns momentos. Para os autores, é

relevante orientar quanto ao espaço físico da escola àquelas crianças que apresentam

visão muito baixa ou têm um comprometimento maior de campo visual, mostrando-lhes

a localização das diversas dependências existentes na escola.

De acordo com Amiralian (2000), o docente deve relatar à criança qualquer alteração

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na disposição dos móveis em sala de aula ou na escola em geral. Evitar deixar as portas

entreabertas, mas, sim, totalmente abertas ou fechadas. A menciona ainda acerca da postura

da família, em relação à aceitação da DV e às atividades escolares, ajudará muito a

adaptação da criança, e, consequentemente, seu desempenho e aprendizagem.

Para Martín e Bueno (2003) algumas adaptações físicas que também são necessárias

para facilitar o aprendizado e a inclusão da criança com DV na escola regular. Desse modo,

um bom posicionamento em sala de aula é fundamental. Segundo os autores, normalmente, a

melhor posição para essa criança se sentar é em frente à lousa, no meio da sala. Quando sua

visão for melhor com um dos olhos, pode ser que ela necessite posicionar-se mais para um

dos lados da sala. Logo, orienta-se que a criança deverá sentar-se a uma distância fixa da

lousa (cerca de dois metros). Aos que não usam esse tipo de auxílio, deve ser

permitida a aproximação da lousa sempre que necessário.

De acordo com Carvalho et al (2002), é importante utilizar sistemas de iluminação

variáveis de acordo com as necessidades de cada criança. Os locais devem ser iluminados

de maneira uniforme e a luz natural deve ser sempre priorizada. Os autores salientam

que caso esta não seja suficiente, a utilização de uma luminária portátil próxima à

carteira da criança é uma boa alternativa. Se ela apresentar sensibilidade à luz, é

necessária a utilização de cortinas leves, pois o sol direto nas áreas de trabalho e

superfícies brilhantes deve ser evitado para que não haja ofuscamento.

Embora seja enfatizada e reconhecida a importância de todos esses recursos

para a inclusão da criança com DV na escola regular, e, consequentemente, um melhor

aproveitamento de sua capacidade de aprendizagem, acredita-se ser o melhor recurso para um

bom trabalho com esse aluno a conscientização de que ele tem dificuldades, mas,

principalmente, que é dotado de grandes potencialidades, além de ter, como todo

cidadão, o direito a uma educação de qualidade.

3.3. O CONHECIMENTO MATEMÁTICO E A QUESTÃO DA DEFICIÊNCIA

VISUAL

De acordo com Fabro (2006), a matemática, em sua origem, constituiu-se a partir de

uma coleção de regras isoladas, decorrentes da experiência e diretamente conectadas com a

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vida diária. Não se tratava de um sistema logicamente unificado, com a configuração que

temos hoje. Esse caráter foi sendo adquirido com o tempo, decorrente da necessidade de

organizar o conhecimento em grandes blocos.

Para Leite (2003), a matemática sempre foi entendida como ciência exata, carrega em

si conhecimentos imutáveis, eternos. O tempo nos mostrou que muitos avanços foram feitos e

alguns deles tiveram seu suporte justamente na contradição do que fora verdade em

determinada época. Muito do que foi afirmado por grandes matemáticos no passado, já não se

caracteriza como absoluto. Muitas verdades permaneceram, mas também muitas foram

superadas.

Entende-se, em consonância com o pensamento de Fabro (1996), que o conhecimento

matemático também apresenta características provenientes da dialética no sentido de

apresentar uma possível superação do conhecimento anterior e percebendo os fenômenos em

sua totalidade na sua relação com os demais fenômenos sociais e desta maneira encontrando

nas suas contradições a sua possível superação. De acordo com o autor, essa constante

superação do conhecimento anterior é analisada sob a perspectiva dialética, que percebe os

fenômenos na sua totalidade, na sua relação com os demais fenômenos sociais e, sendo assim,

encontra nas possíveis contradições a sua superação. Assim, a matemática é fruto de um

processo de que fazem parte a imaginação, os contraexemplos, as conjecturas, as críticas, os

erros e acertos e que se desenvolve mediante um processo conflitivo entre muitos elementos

contrastantes: o concreto e o abstrato, o particular e o geral, o formal e o informal, o finito e o

infinito, o discreto e o contínuo.

O autor esclarece ainda que, em se tratando de matemática, especificamente, tem-se a

idéia de que ela é a ciência da quantidade e do espaço, justamente porque seus conceitos

iniciais originaram-se da necessidade de contar, calcular, medir e organizar o espaço e as

formas. Mas sua relevância vai muito aquém disso, pois é instrumental importante para

diferentes áreas do conhecimento (como Física, Química, Astronomia, Geologia, etc.), é

utilizada em estudos tanto ligados às ciências da natureza como às ciências sociais e está

presente na composição musical, na coreografia, na arte e nos esportes. Isso sem mencionar a

organização interpsíquica e intrapsíquica do próprio sujeito.

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De acordo com o pensamento de Leite (2003), a matemática ensinada nas escolas se

encontra numa perspectiva ainda tradicional. Isso porque aos alunos ela costuma ser ensinada

de maneira repetitiva, automática e desligada da realidade, num processo semelhante ao

“adestramento”, no qual primeiro se ensinam todas as regras e, paralelamente, vem a

aplicação da aprendizagem, na forma de resolução de exercícios, onde a solução depende

basicamente da técnica escolhida.

De acordo com Leite (2003), o conhecimento matemático costuma ser apresentado ao

aluno de forma desvinculada das outras disciplinas, como se fosse um ramo à parte, isolado

em seus teoremas e problemas e com caráter tecnicista, onde a técnica prevalece ao raciocínio

lógico. Nesse ponto, Piaget é muito expressivo ao afirmar que a matemática é normalmente

ensinada dissociada do seu tão necessário sentido lógico, e talvez por isso mesmo, seja uma

das disciplinas mais temidas pelos educandos, considerada uma das mais complicadas.

De acordo com Grando e Vieira (2006), entende-se que o estabelecimento de relações

é tão importante quanto à exploração dos conteúdos matemáticos, pois abordados de forma

isolada, estes podem acabar representando muito pouco para a formação do aluno,

particularmente para a formação da cidadania, uma vez que exercer cidadania pressupõe saber

calcular, medir, raciocinar, argumentar e tratar informações estatisticamente, dentre outras

coisas que permitem a inserção das pessoas no mundo do trabalho e nas relações sociais e

culturais.

Para os autores, o ensino da matemática ainda apresenta uma outra dificuldade que

reside na ausência de confrontar os discentes a situações problematizadoras e quando são em

poucos momentos, não são propícios para a construção de desenvolver o raciocínio

matemático de forma adequada. Isso agrava o modo da matemática ser entendida,

normalmente, nas práticas pedagógicas difundidas pelas escolas em situações desconexas da

realidade.

Zunino (1995) esclarece ser relevante a matemática desempenhar seu papel na

formação de capacidades intelectuais, na estruturação do pensamento, na agilização do

raciocínio dedutivo do aluno, na sua aplicação a problemas, situações da vida cotidiana e

atividades do mundo do trabalho e no apoio à construção de conhecimentos em outras áreas

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curriculares. Para a autora, a matemática contém um amplo campo de relações, regularidades

e coerências que despertam a curiosidade e instigam a capacidade de projetar, generalizar,

prever e abstrair, fornecendo a estruturação do pensamento e desenvolvimento do raciocínio

lógico.

Um elemento que corrobora para o entendimento da matemática em nosso contexto

brasileiro está explícito no rendimento nesta área através dos testes de rendimento aplicados

pelo Sistema Nacional de Avaliação Escolar da Educação Básica (SAEB). Em 2013, os

resultados indicaram que 67,7% dos alunos da 1a série do Ensino Fundamental acertavam pelo

menos metade dos testes. Esse índice caía para 17,9% na 3a série, tornava a cair para 3,1% na

5a série e subia para 5,9% na 7

a série. Esses escores evidenciaram, além de um baixo

desempenho global, que as maiores dificuldades são encontradas em questões relacionadas à

aplicação de conceitos e à resolução de problemas, o que evidencia uma certa apatia do aluno

em relação a essa disciplina.

De acordo com Fabro (2006), a matemática é considerada pelos discentes uma das

disciplinas mais complicadas e difíceis, sendo decisiva em processos seletivos como

concursos e vestibulares, principalmente em se tratando de alunos deficientes visuais, que

apresentam maiores dificuldades no trato com esta disciplina.

Entende-se, em consonância ao pensamento de Guelli (1998), ser a matemática uma

criação humana oriunda das necessidades e preocupações de diferentes culturas em diferentes

momentos históricos e ao estabelecer comparações entre os conceitos e os processos do

passado e do presente, o aluno tem a possibilidade de desenvolver uma certa empatia com a

disciplina. No entanto, o autor esclarece que isso não depende só dele, é essencial que o

professor o auxilie nesse processo, fazendo relações com a vida diária e mesmo com as outras

disciplinas. Para o autor, o significado da atividade matemática para o aluno resulta das

conexões que ele estabelece entre ela e as demais disciplinas, entre ela e seu cotidiano e das

conexões que ele percebe entre os diferentes temas matemáticos (BRASIL, 1997).

De acordo com os preceitos dos PCN (Brasil, 1997), a matemática deve ser

transmitida sempre relacionando-se com o contexto social do aluno e com as outras

disciplinas do currículo escolar, para que ele supere as dificuldades e aprenda de forma

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efetiva. Para isso, é necessário haver integração entre os conteúdos, possibilitando ao aluno

uma visão global do que está sendo passado.

Em consonância ao pensamento de Zunino (1995), a matemática tem-se uma noção

muito clara de que a aprendizagem dela está ligada à compreensão e apreensão do significado

de um objeto ou acontecimento pressupõe vê-lo em suas relações com outros objetos e

acontecimento. Para a autora, dois aspectos básicos referentes ao ensino da matemática: um

consiste em relacionar observações do mundo real com representações (esquemas, tabelas,

figuras) e o outro consiste em relacionar essas representações com princípios e conceitos

matemáticos. Nessa perspectiva de ensino da matemática, a comunicação tem grande

importância e deve ser estimulada, levando ao aluno a ‘falar’ e a ‘escrever’ sobre matemática,

a trabalhar com representações gráficas, desenhos, construções, a aprender como organizar e

tratar dados.

Para Almeida e Conde (2002), a mediação do conhecimento matemático com alunos

deficientes visuais parece ser uma tarefa não muito fácil. Isso porque esses alunos precisam

estar em contato direto com o que está sendo ensinado. Ou seja, eles precisam literalmente

“sentir” para poderem fazer suas abstrações. Não que os outros alunos não tenham essa

necessidade, mas é que no caso dos discentes com deficiência visual, o concreto é um dos

únicos meios possíveis de conhecimento das coisas que os cercam. Dessa forma, ao professor

cabe a responsabilidade de estar buscando estratégias concretas que possibilitem a

compreensão de todos os alunos.

Conforme salientam Bruno e Mota (2001), a abordagem construtivista de Jean Piaget

muito auxilia o docente nessa tarefa, uma vez que defende que o desenvolvimento cognitivo é

facilitado quando se trabalha concretamente. Para ele o conhecimento parte de ações sobre

objetos concretos, repousando no tripé sujeito (quem aprende), objeto (o que se aprende) e

social (o outro ou o meio). O aluno, sob essa perspectiva, não é passivo e sim sujeito ativo de

sua aprendizagem, pois agindo sobre o objeto tem a possibilidade de construir o

conhecimento e não simplesmente absorvê-lo. Para os autores, o construtivismo inaugura a

valorização do agir de quem aprende como elemento central para se compreender algo. Desse

modo, consiste ser fundamental valorizar a ação do educando, principalmente em se tratando

de alunos deficientes visuais que, muitas vezes segregados pela sociedade, possuem

autoestima baixa e não acreditam, de certa forma, em suas potencialidades.

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No entanto, conforme Bruno e Mota (2001), deve-se fazer uma ressalva acerca

Entretanto, da abordagem piagetiana, pois, para Piaget, a ação do sujeito só tem sentido

quando há espontaneidade. Desse modo, o educando deve ser instigado a agir sobre o

concreto, sem interferências externas, a fim de assimilar e acomodar às estruturas pré-

existentes em sua mente, os novos conceitos e habilidades agora requeridos. O discente deve

ser entendido como construtor do seu conhecimento pelas conexões que estabelece em seu

conhecimento prévio num contexto de resolução de problemas. Nesta perspectiva de

entendimento conceitual e pedagógico, todos os alunos, independente das diferenças físicas

ou culturais, possuem uma experiência anterior, uns mais que outros, que não pode ser

desprezada e essa experiência auxilia muito na aprendizagem.

De acordo com o pensamento de Amiralian (2000), não há uma vasta alternativa

pedagógica disponível para se trabalhar conceitos matemáticos de forma concreta, além do

soroban. A autora infere acerca do surgimento de novas metodologias estarem sendo criadas

nas últimas décadas, decorrentes principalmente da proposta inclusiva, que prima por salas

heterogêneas o que, de certa forma, estimula o professor a estar buscando alternativas que

possibilitem a aprendizagem de todos os alunos e não apenas de parte deles, mas que no caso

dos alunos cm DV isso ainda é muito incipiente.

Vale ressaltar, de acordo com Cobo, Rodrígues e Bueno (2003) que o docente deve

ficar atento intensificar o uso de materiais concretos, para ajudar na abstração dos conceitos.

Ao criar recursos especiais para o aprendizado de alunos com necessidades especiais, acaba

beneficiando toda a classe, facilitando para todos a compreensão do que está sendo

transmitido.

De acordo com Almeida (2002), o próprio soroban apresenta limitações até para se

trabalhar com os números racionais. Entende-se que, geralmente, a matemática para o aluno

cego fica muito limitada com apenas o uso do soroban, o que em alguns conteúdos

matemáticos nem sempre podem ser apreciados de modo pleno por este instrumento

pedagógico.

Vale mencionar uma constatação efetivada por Magalhães et al (2002) para se

compreender as barreiras efetivadas aos discentes com alguma deficiência. Os autores

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ponderam existir, na verdade, duas deficiências, uma que denomina de deficiência primária (o

não ver, por exemplo) e a deficiência secundária representada pelas barreiras pedagógicas

instituídas aos discentes com deficiência. Por isso, concordamos com os autores, neste

aspecto, quando defendem que algumas vezes, o que faz nascer a desvantagem do aluno com

deficiência na escola não é o não ouvir, o não ver, mas o fato de a escola não encontrar

alternativas para adequar o processo de ensino-aprendizagem às peculiaridades destes alunos.

De acordo com Magalhães et al (2002) ainda existem poucas traduções de livros

didáticos na linguagem Braille e os materiais didáticos são insuficientes. Em virtude desse

quadro, intui-se que o DV sente-se excluído da rede regular de ensino. Os autores esclarecem

acerca da importância de uma ação pedagógica eficaz com o auxílio de materiais e recursos

adequados.

Um outro fato constatado por Brito (2005) em sua dissertação sinaliza a ausência de

materiais didáticos disponíveis ao discente com DV, por isso a carência de materiais

adequados pode conduzir a aprendizagem da criança deficiente visual a um mero verbalismo,

desvinculado da realidade. Para a autora, a formação de conceitos depende do íntimo contato

da criança com as coisas do mundo. Assim, segundo Brito, há uma grande importância dada

ao uso dos recursos pedagógicos e didáticos assumem à educação com pessoas com DV em

maior gravidade quanto a demais deficiências.

Em consonância com o pensamento de Leite et al (2010), a cegueira tem

consequências sobre o desenvolvimento e a aprendizagem, tornando-se necessário elaborar

sistemas de ensino que transmitam, por vias alternativas, a informação que não pode ser

obtida através dos olhos. O autor afirma que as crianças cegas operam com dois tipos de

conceitos: Aqueles que têm significado real para elas a partir de suas experiências e aqueles

que fazem referência a situações visuais, que embora sejam importantes meios de

comunicação, podem não ser adequadamente compreendidos ou decodificados e ficam

desprovidos de sentido. De acordo com os autores, essas crianças podem utilizar palavras ou

expressões descontextualizadas, sem nexo ou significado real, por não basearem-se em

experiências diretas e concretas. Esse método é denominado verbalismo e sua preponderância

pode ter efeitos negativos em relação à aprendizagem e ao desenvolvimento.

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Segundo Leite et al (2010), constatou-se que alguns assuntos em matemática não são

abordados simplesmente devido o docente não saber como fazê-lo. O tratamento da

informação é um conteúdo importantíssimo para todo aluno. Desse modo, nada mais natural

que todos tenham acesso a esse conhecimento dentro da escola. Por ter limitações, os alunos

cegos precisam de materiais especialmente desenvolvidos para o ensino-aprendizagem desse

conteúdo.

Segundo Almeida (2002) mesmo quando um assunto parece impossível de ensinar

para um determinado grupo de alunos, se procurarmos focar o entendimento de como o aluno

processa o aprendizado daquele determinado conteúdo (postura de professor investigador), no

sentido de encontrar uma possível solução para um desafio que instiga, muito provavelmente

encontraremos uma forma viável de ensinar. Desse modo, o autor afirma ser o grande desafio

de construir uma proposta de refletir acerca de metodologias que favoreçam ao processo de

aprendizagem de números racionais por discentes cegos e entender como se processa na

escola inclusiva o ensino da matemática neste assunto, mas pode ser alcançável, de forma

mais condizente com as necessidades dos educandos, no sentido de construir uma prática

libertadora.

3.4. POR QUE ENSINAR MATEMÁTICA A ALUNOS CEGOS?

Segundo afirmam Leite et al (2010), deve-se considerar em qualquer abordagem sobre

o ensino da matemática para educando cegos, que estes apresentam as mesmas condições que

os educandos videntes para o aprendizado da matemática. Em relação aos conteúdos

programáticos, deverão ser os mesmos que os apresentados aos demais educandos. Para os

autores, as crenças e as concepções de que as possibilidades dos educandos cegos são

limitadas ou ainda de que não existem meios de levá-los a aprender matemática, são

equivocadas.

Para os referidos autores, a grande barreira consiste na concepção que o docente tem

do aluno cego e isso interferirá de modo propositivo ou não na educação do educando cego,

embora como os demais alunos, os mesmos apresentam diferenças individuais que influirão

direta ou indiretamente em seu desempenho na escola.

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De acordo com o pensamento de Costa e Bechara (2000), não cabe ao docente da

classe comum efetuar a mudança de conteúdos vinculados pela escola aos discentes por ter

um aluno cego, mas cabe realçar em sua prática pedagógica atender as especificidades do

referido discente, já que o pressuposto da ação educativa é que os discentes são diferentes em

si e a ação educativa deve atender as peculiaridades dos mesmos, ou seja, o ensino não deve

ser dirigido de forma homogênea e sim heterogênea. No entanto, os autores também

mencionam o fato que um ensino da matemática calcado apenas em exposições teóricas, sem

experiência concreta e significativa, em que falte a participação direta do aluno por

insuficiência de recursos didáticos adequados, poderá propiciar em qualquer educando uma

atitude desfavorável à assimilação e compreensão do conteúdo desenvolvido.

De acordo com Bruno e Mota (2001), o papel do professor de classe precisará ser

desenvolvido em conjunto com o professor especializado, do qual ele obterá as orientações

que julgar necessárias, sem transferir para este, o encargo de ministrar os conteúdos

programáticos.

Para os autores, o docente necessitará buscar informações básicas com referência ao

educando cego, de acordo com o nível de estudos dos símbolos matemáticos usados, por

exemplo, se dispõe de livro-texto transcrito no sistema Braille e se utiliza o soroban como

recurso necessário para aprendizado da matemática.

Segundo Oliveira, Kara-José e Sampaio (2012), em nosso contexto brasileiro, a

formação de professores no domínio da educação inclusiva é bastante ínfima, sendo escasso o

número de docentes que se inscrevem voluntariamente nas ações de formação. Para os

autores, embora aja um grande interesse dos profissionais nesta área educativa, não há muita

disponibilidade de cursos de formação de significativa representatividade para atuarem em

uma capacitação docente consistente na esfera estadual e municipal para instrumentalizarem

os docentes para atuarem frente às diferentes categorias de educação especial, embora estes

alunos já estejam, hoje, inseridos no ensino regular.

De acordo com Cavalcante (1995), o ensino da matemática para educandos cegos

requer a utilização de vários recursos e materiais especiais adaptados, além do sorobã. Desta

forma, o docente de matemática deve buscar outras propostas de ensino e novos instrumentos

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que possam ser usados nas aulas de matemática, com educandos videntes e cegos, fazendo a

interação entre os mesmos.

Segundo Amiralian (2002), o aspecto psicológico do discente deve ser levado em

consideração e valorizado no desenvolvimento de sua aprendizagem. Cada discente cego deve

sentir-se bem-vindo e valorizado, pois a autoestima positiva é um aspecto de fundamental

importância na determinação do desenvolvimento cognitivo e social do aprendiz.

Desse modo, o docente deve estar atento ao relacionamento dos educandos videntes

com os educandos cegos. Por mais que o educando cego tenha dificuldades no aprendizado

dos conteúdos no mesmo intuito de tempo que os demais educandos, o fato de estar

participando das mesmas atividades, trocando experiências e consequentemente se

socializando, é geralmente, tanto para ele quanto para os demais, pois percebem que a

cegueira não implicará só em limites, mas também em muitas possibilidades de aprendizado

que o educando cego tem a demonstrar.

De acordo com Carvalho et al (2002), o docente deve proceder de forma a não

considerar o educando cego como um ser frágil, que precisa de superproteção, mas mantê-lo

conforme suas necessidades específicas para que tenha acesso ao conteúdo desenvolvido em

sala de aula. O professor não deve projetar um olhar de pena ao discente cego, mas deve vê-lo

como um sujeito capaz de construir suas aprendizagens e autonomia intelectual a fim de

conquistar novas aprendizagens no espaço escolar.

Neste aspecto, segundo os autores, o docente, sempre que possível, deve estar atento

ao que esteja sendo representado no quadro, verificar se o educando acompanhou as

atividades e efetuou seu próprio raciocínio, dar tempo suficiente para o educando levantar

dúvidas, hipóteses de resolução do problema e demonstração do raciocínio elaborado e

recorrer ao professor especializado, no sentido de valer-se dos recursos necessários em tempo,

a fim de evitar dificuldades no processos de aprendizagem da matemática.

Almeida e Conde (2002) afirmam da importância no processo de mediação na

educação matemática com educandos cegos, parece ser uma tarefa não muito fácil, pois eles

precisam estar em contato direto com o que está sendo ensinado, ou seja, os educandos

precisam literalmente “sentir” para poderem fazer suas abstrações.

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Segundo os autores, no caso dos discentes cegos, o material manipulado é um dos

únicos meios possíveis de conhecimento das coisas que os cercam. Dessa maneira, ao

professor cabe a responsabilidade de estar buscando estratégias criativas que possibilitem a

elaboração conceitual de todos os educandos, mas ressalta-se que as políticas públicas

educacionais municipais e estaduais tem o compromisso de oportunizar o acesso às

ferramentas metodológicas visando atender esses educandos com algum tipo de DV.

Em consonância ao entendimento de Cavalcante (1995), a matemática ensinada na

maioria das escolas, se encontra numa perspectiva tradicional. Isso porque ela costuma ser

ensinada de maneira repetitiva, automática e desvinculada da realidade social do educando.

Para a autora, o ensino da matemática precisa de um empenho maior por parte do docente no

sentido de dimensioná-lo a atender as particularidades dos discentes com deficiência visual.

A didática e a prática do ensino da matemática em nosso contexto brasileiro,

geralmente, são marcadas em primeiro momento pelo repasse das regras e, paralelamente,

vem a fixação da aprendizagem, através de exercícios, na qual a solução depende basicamente

da técnica escolhida. Desta forma, os educandos não se defrontam com situações

problematizadoras e , quando o são, não conseguem resolvê-las, pois o seu raciocínio não

acompanha a solução do problema.

De acordo com Fabro (2006), a única e grande preocupação equivocada, na primeira

fase do Ensino Fundamental consiste em treiná-los (alunos) a fazer conta e decorar

algoritmos. Não são estimulados a desenvolver a visão espacial e a percepção. Pelo fato de

não saberem interpretar o que leem, apresentam grandes dificuldades em resolução de

problemas.

De acordo com a autora, o conhecimento matemático costuma ser apresentado ao

educando de forma fragmentada sem ligações com as outras disciplinas, como se fosse um

ramo à parte, isolado em seus teoremas e problemas e com caráter tecnicista, onde a técnica

prevalece ao raciocínio lógico. Por isso, o conhecimento matemático deve ser ensinado

sempre relacionando com o contexto social do educando e com as outras disciplinas do

currículo escolar, para que ele supere as dificuldades e aprenda-o de forma significativa.

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Conforme indica os PCN de matemática, tem-se uma noção muito clara de que a

aprendizagem em matemática está ligada à compreensão à apreensão do significado de um

objeto ou acontecimento pressupõe vê-lo em suas relações com outros objetos e

acontecimento (BRASIL, 1997).

De acordo com Fabro (2006), o uso do material didático assume destacada importância

no ensino especializado, em geral. Isso é mais agravado ainda no caso da cegueira ou outra

deficiência visual causar obstáculos, que afasta o indivíduo da realidade física. Por isso, a

autora enfatiza que o docente deve saber usar e direcionar o material didático ao discente com

DV mais adequado, a fim de operacionalizar o desenvolvimento da aprendizagem de

determinado conteúdo matemático ao aluno de modo mais sistemático.

De acordo com Amiralian (2000), os pressupostos da educação de crianças com

cegueira congênita ou adquirida precocemente apresentam mais restrições de vivência e

experiências que as crianças videntes. Esta circunstância poderá influir no rendimento e

escolar do educando, bem como em toda sua vida. Nesta ordem de ideias, o conceito de

material didático para o ensino especializado é muito mais amplo que no ensino comum, no

qual o professor utiliza recursos na medida das necessidades.

Para Gil (2000), quando se trata de educandos cegos, ainda são maiores as carências.

Para eles, o material vivenciará situações corriqueiras, fornecendo informações que

enriquecerão seu acervo de conhecimentos como educando. Cada situação vivida em classe

supõe uma série de conceitos, sobre os quais o professor trabalhará.

De acordo com a autora, as dificuldades existentes deverão ser preenchidas por

situações funcionais, criadas em classe ou na sala de recursos, e socializadas algumas

experiências significativas para vivenciar em sua casa e em sua comunidade.

No entendimento de Bruno e Mota (2001), infere que as considerações mais

aprofundadas sobre o material didático para alunos cegos, em geral, dependerão das

circunstâncias, cabe, no entanto, destacar que ele deve ser variado, farto e significativo. Os

autores orientam estar atento ao uso deste material visando atender as diferentes situações,

provocando o interesse do educando para atender as finalidades a que se propõe. O ensino da

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matemática deve atender à realidade psicológica do educando nas séries iniciais de

escolarização, especialmente na fase de alfabetização.

Segundo Stainback e Stainback (1999) para a educação plena da pessoa com

deficiência visual a utilização de materiais concretos se torna imprescindível, haja vista que

tem no concreto, no palpável, seu ponto de apoio para as abstrações. Segundo os autores, o

discente com DV tem no tato seu sentido mais precioso, pois é através da exploração tátil que

lhe chega a maior parte das informações. É através dela que ele tem a possibilidade de

discernir objetos e formar ideias. As mãos, desta forma, têm um papel fundamental, pois são

elas que vão suprir, de certa maneira, a “inutilidade” dos olhos.

Entretanto, o processo de trabalhar e conhecer através das mãos são demorados e

requer grande esforço do educando cego. Ele precisa de situações adequadas sem que haja

precipitação nem impaciência. Caso contrário, pode se inibir e não tentar, o que dificulta o seu

desenvolvimento.

Para Sassaki (1997), o docente deve se esforçar no sentido de trabalhar todos os

conteúdos de forma significativa, para que os resultados finais sejam alcançados. E trabalhar

de forma significativa com educandos cegos implica materiais que eles possam manipular,

pois é com as mãos que eles têm a possibilidade de enxergar.

Vale ressaltar, conforme orienta Gil (2000), ser essencial que o docente se empenhe

em dar sentido a tudo o que está sendo ensinado, porque o educando cego, por ter maiores

dificuldades de abstração. O conteúdo matemático de forma mais condizente com as

especificidades do discente de modo a assimilar e acomodar a aprendizagem em seu

entendimento e aplicação.

Para Carvalho et al (2002) , a adaptação de textos para serem transcritos, recurso por

muitas vezes usado, não deve ser feita por pessoa que desconheça a matéria, a fim de serem

evitados erros prejudiciais ao aluno. O significado tátil de um desenho em relevo é assunto

que merece, por parte do professor especializado, um conhecimento tão profundo quanto

possível das possibilidades desse recurso. Por isso, deve-se entender que representações em

relevo de linhas, figuras planas como triângulos, quadriláteros ou polígonos em geral, quando

de tamanho adequado e fácil discriminação tátil, são de grande valor no estudo da geometria.

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De acordo com Carvalho et al (2002), a transcrição de livros de matemática para o

sistema Braille tornou-se mais difícil, porque as ilustrações, ainda quando representadas em

relevo, não proporcionam ao tato as mesmas impressões que a visão, associando-se a isto os

problemas técnicos decorrentes da transcrição direta. Neste aspecto, infere-se acerca da

importância a possibilidade do educando conseguir elaborar e representar essas figuras e

objetos em diferentes tamanhos e escalas, com a utilização dos mais variados materiais

manipulativos como: massa, papelão e material de sucata, recursos valiosos para elaboração

conceitual.

Um aspecto muito significativo e muito controverso na educação de um modo geral é

a questão da avaliação da aprendizagem. No tocante, particularmente, ao educando cego, de

acordo com Carvalho et al (2002) evidencia-se o que ele é capaz de fazer para ultrapassar

suas dificuldades, construir conhecimentos, tratar informações, organizar seu trabalho e

participar ativamente da vida escolar. Desta forma, considera-se o sucesso do educando a

partir dos seus avanços em todos os aspectos do seu desenvolvimento.

De acordo com Bruno e Mota (2000), o mais relevante constitui-se para o educador

entender o discente e compreender como ele é (como percebe, age, pensa, fala e sente). O

deficiente visual percebe a realidade que está a sua volta por meio de seu corpo, na sua

maneira própria, de ter contato com o mundo que o cerca. A avaliação da aprendizagem deve

ser continua e servir para determinar o ponto de partida, na qual são verificadas as habilidades

e experiências do educando, pela execução de tarefas variadas. Neste aspecto, devem-se

estabelecer com o mesmo os métodos de avaliação, priorizando os objetivos selecionados

verificando se o educando conseguiu atingir os resultados esperados.

Os autores orientam que a avaliação da aprendizagem pode ser realizada mensal,

bimestral ou semestralmente, consistindo em avaliar-se o desenvolvimento das atividades,

começando sempre pelo conhecimento real do educando, com atuação na zona de

desenvolvimento proximal, para levá-lo ao conhecimento potencial, como preconiza a teoria

sócio histórica de Vigotsky (1998).

De acordo com o pensamento de Vigotsky (1998), o desenvolvimento real é

caracterizado pelas funções já completas, enquanto o desenvolvimento potencial é o

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conhecimento que o educando ainda não atinge sozinho. À distância entre o nível de

desenvolvimento real e o potencial, cria a zona de desenvolvimento proximal, local onde o

professor ou os educandos mais experientes, devem intervir com mediações de qualidade.

Entende-se, em consonância ao princípio vigotskyano, que conceitualmente infere-se

zona de desenvolvimento proximal como sendo a distância entre o nível de desenvolvimento

real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de

desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de

um adulto em colaboração com companheiros mais capazes.

De acordo com Vigotsky (1998), o nível de desenvolvimento de todo educando é

caracterizado por aquilo que ele consegue fazer de forma independente e por aquilo que ele

consegue fazer com a ajuda de outras pessoas mais capazes. Para Vigotsky, o

desenvolvimento humano depende fundamentalmente da existência de situações propícias ao

aprendizado. Assim, o aprendizado passa a ser imprescindível para o desenvolvimento do

indivíduo.

Em consonância ao que preconizam Cobo, Rodríguez e Bueno (2003), o processo

avaliativo pode e deve levar em conta a individualidade de cada educando. Ele não pode

caracterizar os bons e os maus educandos, os que acompanham e os que não acompanham o

processo de aprendizagem. A quantidade e exatamente o que os educandos aprendem

dependem de interações, necessidades e habilidades.

Após a discussão acerca da deficiência visual e as ponderações ligadas à educação

vinculadas a pessoa com deficiência visual, apreciadas neste capítulo, iremos discutir no

próximo capítulo o estudo acerca dos números decimais e seus desdobramentos e

problemáticas relacionados ao processo de ensino e aprendizagem.

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CAPÍTULO 4 - O ESTUDO DOS NÚMEROS DECIMAIS

A matemática é uma das grandes áreas essenciais do conhecimento humano no

grande processo de interpretação de todo o sistema da realidade humana. Ela constitui uma

das ferramentas aprendidas pelo homem que o possibilitam para a intervenção social

consciente junto à realidade. Nesse sentido, o saber matemático representa um conhecimento

relevante para toda a humanidade, pois está presente na vida social e cultural do homem em

qualquer tipo de sociedade e cultura (D’AMBRÓSIO, 1998).

Na perspectiva de Carvalho (1994), entende-se que a matemática precisa ser

ensinada com sentido, ou seja, necessita, inicialmente, ser contextualizada e partir da

realidade do aluno, para que o conteúdo faça sentido e tenha, de certa maneira, maior relação

com a sua vida. Por isso, a autora pondera que uma disciplina só tem sentido ao aluno se fizer

parte da sua realidade social e cultural, e para conseguirmos ensinar, precisamos partir do

concreto para, então abstrair aos poucos o conhecimento adquirido pelo aluno.

O ensino de matemática, em geral, deve ser feito também com uma abordagem

histórica para que os alunos possam situar e compreender os processos ocorridos desde o

surgimento do conteúdo até os dias atuais e descubram o porquê das coisas. Durante todo o

processo de evolução do conceito e uso dos números decimais, várias foram as dificuldades

que surgiram, dificuldades estas, que ainda hoje são enfrentadas pelos alunos em seu processo

de aprendizagem deste conteúdo em sala de aula. Os números decimais e a sua forma de lê-

los, representá-los e interpretá-los pode parecer complicado para o aluno, mas estes números

estão em toda parte do dia a dia do educando, e mesmo assim não são interpretados de forma

adequada.

Os números decimais e fracionários, e, posteriormente, com as operações é um

dos temas fundamentais do ensino, principalmente, nos primeiros anos, pois um claro

entendimento a seu respeito proporciona o desenvolvimento de estruturas mentais importantes

para futuras aprendizagens e, em particular, o raciocínio multiplicativo. O conhecimento

matemático, especificamente os números decimais, não deve ser considerado como “algo”

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que está concluído, deve sim ser considerado como um processo em construção, onde

professores e alunos devem contribuir eficientemente na construção desse conhecimento.

Os números racionais fazem parte do rol de conteúdos matemáticos que os alunos

apresentam dificuldades em compreender em todos os anos da educação básica, muitas vezes,

estas dificuldades se dão em virtude da escola desconhecer os múltiplos significados que

compõem o conceito de números racionais e as orientações presentes nos documentos oficiais

nacionais, como também, as rupturas existentes no ensino e na aprendizagem desses. Além

disso, a dificuldade dos alunos se dá pelo fato de que muitas vezes em determinado assunto o

próprio professor pode estar refletindo a sua dificuldade nesse mesmo assunto, e talvez parte

destas dificuldades seja inerente às concepções e conceitos que os professores constroem

durante sua formação.

Muitas vezes também o ensino dos “números decimais” é realizado com uma

abordagem que privilegia mais os aspectos procedimentais (e operacionais) relacionados aos

mesmos do que os aspectos conceituais (ZABALZA, 1998). Como se dá, por exemplo,

segundo Cunha e Magina (2004, p. 1), “a aprendizagem de técnicas operatórias que

normalmente ocorre de forma repetitiva e mecânica, não favorece a elaboração pelos alunos,

dos nexos conceituais da ideia da medida com o conceito do número”. Certamente, que a

efetiva aprendizagem sobre determinado conteúdo matemático ocorre quando conceitos e

procedimentos são devidamente explorados no desenvolvimento do processo de ensino e

aprendizagem de tal conteúdo.

Cabe aqui ressaltar que, muitas vezes, o conhecimento prévio dos alunos é

desconsiderado, os conteúdos são iniciados, de forma como se os educandos fossem meras

“folhas de papel em branco”, sem se levar em conta a interação social. Assim, para que a

aprendizagem ocorra de forma positiva cabe ao professor considerar, o cotidiano dos alunos e

a diversidade de suas experiências trazidas pelo mesmo, é preciso levar em consideração que

o conceito deve ser construído gradualmente, o conceito de números decimais, que é objeto

deste este estudo, nas séries iniciais, pode ser deixado claro que os números naturais foram os

primeiros a serem descobertos pelo homem, a fim de resolver suas necessidades de contagem,

contudo quando o homem precisou resolver problemas que envolviam suas medidas precisou

criar outro meio, então surgiram os números fracionários.

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De acordo com Muniz, Batista e Silva (2008), o processo de ensino e aprendizagem

da matemática apresenta, ainda em nosso contexto educacional, alguns desafios que ainda

precisam ser resolvidos, os quais representam um entendimento que entenda a matemática

além da aplicação de regras e estabelecimento de cálculos por parte dos docentes aos

educandos. Temos que refletir se esse tipo de ensino permite o uso da matemática como um

mecanismo que possa operar uma ação transformadora que conduza aos estudantes a

contextualizarem a matemática no cotidiano.

Para Muniz, Batista e Silva (2008), o contato com os números decimais acontece

muito antes dos educandos ingressarem nos anos iniciais do ensino fundamental, uma vez que

os números decimais já fazem parte do contexto matemático de várias atividades do dia-a-dia

dos discentes. Por isso, deve-se mudar a prática pedagógica dos professores de matemática,

no que diz respeito ao ensino dos números decimais, a fim de desenvolver mecanismos e

maneiras de abordagem em sala de aula, que vise à transformação da aula de matemática, na

qual os alunos e professores trabalhem de modo ativo em busca do aprendizado, fazendo uma

relação do conhecimento teórico com o social.

É com esse propósito, que através deste capítulo, irá se realizar uma breve análise

dos números decimais, e seu conceito, a partir de então além de uma breve posição acerca dos

números decimais decorrentes das orientações contidas nos Parâmetros Curriculares

Nacionais, será realizada também uma análise das dificuldades do ensino dos números

decimais em sala de aula, e por fim se fará uma descrição de alguns trabalhos que já foram

realizados tendo como temática o ensino de números decimais.

4.1. OS NÚMEROS DECIMAIS: COMO SURGIRAM? COMO SE APRESENTAM?

A humanidade entre tantas invenções tem o número em seu bojo, como resultado da

necessidade de contar, a partir da correspondência do um a um, ou, biunívoca. De acordo com

Ifrah (2005), o homem juntamente com o progresso de suas ações culturais, econômicas teve

o aumento de suas necessidades de contar objetos, fazer registro de bens, de tempo e de

medidas. A própria evolução da inteligência humana em suas diversas etapas, está relacionada

com a necessidade de contar, pois, desde pequena, a criança vai assimilando diversos

conjuntos de seres e objetos que lhe são familiares, tanto por sua natureza quanto pelo próprio

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número. E gradualmente aos dois e três anos com a aquisição da fala, a criança começa a

nomear os primeiros números e ao começar a contar inicia pelo número um vai até o dois,

esquecendo-se do três, e à medida que vai crescendo este conhecimento também acompanha

seu crescimento.

Esta evolução matemática intrínseca no ser humano, segundo Ifrah (2005), ocorre

em virtude do ser humano colocar as forças dos números a seu favor e de seu

desenvolvimento e sobrevivência. Em função dessa importância da matemática e da própria

descoberta dos números para o ensino da matemática é necessário que se faça um estudo

sobre a matemática e a descoberta do sistema de numeração decimal através de sua história,

antiga e contemporânea, e se compreenda a importância da mesma para os dias atuais e o

contexto em que está inserida na humanidade.

Partindo deste pressuposto, da importância da matemática na evolução histórica da

humanidade, considera-se que os textos matemáticos (em escrita cuneiforme, a qual foi criada

pelos sumérios, e sua definição pode ser dada como uma escrita que é produzida com o auxilio de

objetos em formato de cunha. A escrita cuneiforme é uma das mais antigas do mundo, apareceu mais

ou menos na mesma época dos hieróglifos, foi criada por volta de 3.500 a.C. ) mais antigos foram

encontrados na Mesopotâmia. Já na China, é inventado o ábaco, primeiro instrumento

mecânico para calcular. E também lá são criadas as tabuadas e o cálculo de área é

desenvolvido, estas coisas aconteceram aproximadamente entre 3000 e 2500 a.C.

(IFRAH,1997).

O principal texto matemático dos egípcios, O Papiro de Rhind foi escrito

aproximadamente em 1600 a.C., este contém regras para o cálculo de adições e subtrações de

frações, equações simples de 1º grau, além de diversos problemas de aritmética, medições de

superfícies e volumes (IFRAH, 1997).

Entre os anos 300 e 600 o povo hindu cria o sistema numérico decimal que usamos

hoje. Para Ifrah (1997), os hindus não só inventaram o cálculo e a numeração decimal, tal qual

usamos hoje, como também conseguiram tornar teoricamente possível à democratização da

arte do cálculo-domínio este que ficara confinada durante milênios nas mãos de uma classe

privilegiada. Além disso, recorrendo à história, podemos ver que a representação das frações

decimais tal qual a conhecemos hoje com uma vírgula para separar a parte inteira da parte

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decimal, só foi criada no século XVII. No entanto, muito tempo antes havia proposições nesse

sentido (IFRAH, 1997).

O sistema decimal é o sistema numeral que é utilizado atualmente, formado por dez

algarismos (1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 0) e dividem os valores em unidade, dezenas, centenas,

milhares etc. De 1 a 9, são unidades (uma unidade, duas unidades, três unidades etc.) nove

unidades mais uma, forma o número 10, ou uma dezena. Do número 10 até o número 19 é

uma dezena, adicionando mais um valor fica o número 20, ou duas dezenas. As dezenas vão

até nove dezenas e nove unidades, ou seja, 99. Assim que esse valor vira 100, passa ser uma

centena. O número 134, por exemplo, pode ser descrito como uma centena, três dezenas e

quatro unidades. A provável origem desse sistema vem de tempos pré-históricos, já que os

dedos da mão eram o principal instrumento para se contar.

Maravilha de mobilidade e de eficácia, a mão do homem é o mais antigo e

difundido dos acessórios de contagem e de cálculo para os povos através dos

tempos. É a primeira “máquina de calcular” de todos os tempos,

seguramente mais prática do que seria, para um povo, o conjunto de seus

oito tentáculos (IFRAH,1997,P. 10).

Pode-se imaginar como os homens através dos tempos, sem os recursos que se

tem na atual conjuntura, utilizaram os dedos das mãos e seus múltiplos recursos para

ultrapassar as barreiras dos cálculos matemáticos, e através deles chegaram ao número

decimal que se tem na atualidade, contudo não foi tão fácil chegar ao sistema decimal, tal e

qual se tem hoje. Segundo Ifrah (1997), o zero era apenas oral, os hindus precisavam

aperfeiçoar seu conceito abstrato do zero, e torná-lo um número concreto, pois até então

“zero” era apenas um símbolo, assim como seus sinônimos, um espaço vazio. Se fosse

solicitado, no final do século VI, a um indivíduo que relatasse o patrimônio de uma pessoa ele

não saberia como exprimir o “nada” ou o “zero”.

Todavia, os próprios matemáticos hindus conseguiram em pouco tempo

solucionar este problema e atribuir um conceito indistinto de “vazio” ou “nada”, ao conceito

que se tem hoje de “quantidade nula” ou “número zero”. Esta descoberta extraordinária dos

hindus abriu caminho para a ideia do sistema decimal, pois ao reunir as ideias de que para as

unidades de 1 a 9, eles dispunham realmente de algarismos distintos e independentes de

qualquer intuição visual direta; e também já conheciam o princípio da posição dos números e

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agora acabaram de dar significação ao zero, não havia mais possibilidade de erro, todos os

elementos necessários a descoberta do sistema de numeração decimal estavam a disposição

dos sábios da Índia (IFRAH,1997).

Batista, Muniz e Silva (2004) afirmam que na cultura ocidental tem-se por hábito

usar decimais bem mais que as frações: no dinheiro, nas medidas de comprimento, de massa,

capacidade, superfície, volume. E, mais que isso, o próprio sistema de medidas é decimal, o

sistema legal tem por base o dez. É importante salientar que, os números decimais são, na

realidade, a mesma coisa que as frações decimais, porém "escritos" de modos diferentes.

Dessa forma, os números decimais são a maneira que se utiliza para representar números

fracionários como se fossem inteiros; por isso eles terem vírgula em sua representação, pois,

no sistema de numeração decimal, elas indicam que aquele número é um múltiplo de dez - por

exemplo, 0,3 é a mesma coisa que 3/10, e assim por diante.

A origem do número fracionário remonta, aproximadamente, a 3000 a.C. Nessa

época, os geômetras dos faraós do Egito realizavam, para seu povo, a demarcação das terras

que ficavam às margens do rio Nilo. No período de junho a setembro, o rio inundava essas

terras, levando parte de suas marcações, o que acabava gerando a necessidade de se demarcar

novamente as terras. Para tanto, os proprietários usavam cordas (que seriam uma espécie de

medida), esticando-as e, assim, verificavam quantas vezes aquela unidade de medida

(encontrada através da corda esticada) estava contida nos lados do terreno. Mas, raramente,

essas medidas correspondiam exatamente ao tamanho do terreno, pois não cabia um número

inteiro de vezes em seus lados, dificuldade esta que os levou, então, à criação de um novo tipo

de número: o número fracionário, onde eram utilizadas as frações.

Apesar de as frações serem, provavelmente, a forma mais simples e natural de se

representar números não inteiros, a origem dos decimais está associada à necessidade de se

realizar cálculos com tais números como se eles fossem inteiros.

As consequências do surgimento dos números decimais, como outra forma de

representação das frações, foram incalculáveis como afirma Ifrah (2005, p.328), “a começar

pela invenção do sistema métrico”.

Contudo, como dito por Pérez (1988 apud CUNHA, 2002, p.52), é somente no

final do século XVIII, com o surgimento do sistema métrico decimal que o cálculo com

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decimais passou a ser fortemente aceito com interesse para a vida prática. No final do século

XIX, com vários matemáticos, os números decimais ganharam status de números.

A necessidade de representar quantidades menores, como aborda Padovan (2000),

e o uso do sistema de numeração decimal, tornaram-se formas necessárias com o surgimento

dos números decimais. É de suma importância que se entenda a relação entre o sistema de

numeração utilizado pela matemática atual e os números decimais.

Para não restringir o conhecimento dos números decimais somente a sua

nomenclatura, isto é, muitas vezes, o aluno não sabe que as ordens dos números decimais

(décimos, centésimos, milésimos) não são como extensão do sistema de numeração decimal,

Eles, geralmente, compreendem que 10 unidades formam uma dezena, 10 dezenas formam

uma centena e assim por diante, mas têm dificuldades para compreender que uma unidade

pode ser dividida em 10 décimos, 1 décimo pode ser dividido em 10 centésimos, 1 centésimo

em 10 milésimos e assim por diante.

De acordo com Ifrah (1997), Este sistema é decimal, pois faz uso de dez símbolos

(chamados algarismos): nove para representar os números de um a nove e outro para

representar posições vazias ou o número zero, são usados os algarismos 0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8

e 9, além disso, é posicional, pois todos os números podem ser expressos por meio desses

algarismos, que tem o valor alterado à medida que eles avançam para a esquerda na

representação do número: cada mudança para a esquerda multiplica seu valor por dez.

Nota-se que cada sistema de numeração posicional está associado a um conjunto

de símbolos (algarismos), a partir dos quais se escreve todos os outros números. Aos quais

são chamados de base do sistema à quantidade destes símbolos. Por exemplo, os babilônios

usavam um sistema sexagesimal (isto é, de base 60), os maias usavam um sistema vigesimal

(de base 20) e hoje se faz uso do sistema decimal, ou seja, de base 10. A razão de se utilizar

base 10 é convencional e, provavelmente, é consequência do fato de quase todos os povos

terem usado os dedos das mãos para contar. O que cada algarismo representa depende de sua

posição nessa sequência, de acordo com a seguinte regra: cada vez que se desloca uma casa

para a esquerda na sequência anterior, o valor do algarismo fica multiplicado por 10.

Assim, entende-se o que são os números decimais e como são representados, ou

seja, são números equivalentes às frações decimais, que lhes deram origem, sendo

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representados com uma vírgula (ou ponto, como na calculadora e nos países anglo-saxões).

Os algarismos à esquerda da vírgula indicam as quantidades inteiras, enquanto que os

algarismos à direita dela representam partes do inteiro (décimos, centésimos, milésimos, e

assim por diante). Os números decimais são também uma extensão do sistema de numeração

decimal. (PADOVAN, 2000).

Além disso, esses números pertencem ao conjunto dos números racionais, que

pode ser representado por frações e/ou números decimais. Apesar da diferente representação

escrita, como no caso de ½ e 0,5, eles representam a mesma quantidade, ou seja, o mesmo

número. Logo, é fundamental a compreensão de que todo número decimal pode ser

representado por uma fração e todo número fracionário pode ser representado sob a forma

decimal (BITTAR; MAGALHÃES, 2005).

De acordo com Nacarato (2000), é relevante o docente compreender a história por trás

dos números decimais para entender as hipóteses, explicações e entendimentos de sua

compreensão pelos discentes, ou seja, o docente conhecendo mais profundamente o referido

assunto, ele vai organizar melhor as atividades que favoreçam ao discente entender e usar

melhor tal conteúdo, tendo em vista “se a humanidade levou tantos séculos para abstrair um

conceito e criar formas de representação, por que não levar isso em consideração, e não

propiciar situações mais significativas para a criança?” (NACARATO, 2000, p. 105).

Bittar e Magalhães (2005) discutem acerca da complexidade que envolve a

representação dos números decimais, tendo em vista que eles pertencem aos números

racionais e podem ser representados por frações e/ou números decimais. Fato que nem sempre

é compreendido pelos educandos, tendo em vista que formas diferentes de escrita representam

a mesma quantidade, ou melhor, o mesmo número. Tal como a representação de ½ e 0,5.

Logo, podemos compreender que todo numero fracionário pode ser representado por número

decimal e todo número decimal pode ser representado por fração.

De acordo com Pandovan (2000), os números decimais são equivalentes às frações

decimais, que lhe deram origem, sendo representados por uma vírgula. Desta forma, os

algarismos à esquerda da vírgula representam as quantidades inteiras e os algarismos à direita

da mesma sinalizam partes do inteiro (décimo, centésimo, milésimo e demais adiante). Isso

não parece tão simples de ser entendido pelos educandos nos problemas matemáticos, pois,

muitas vezes, os educandos entenderam um outro conceito e entendimento acerca dos

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números decimais, o que muitas vezes o levam à equívocos perante as resoluções de

representação.

De acordo com IFRAH (1997), o sistema de criação pelos hindus do sistema de

numeração decimal foi permeado de contribuições de outros povos cheio de idas e vindas e

não foi algo tão simples e linear como se pode imaginar. Como afirma o autor, a criação do

sistema de numeração decimal nasceu na junção de três ideias há mais de quinze séculos, tais

como:

dar aos algarismos de base sinais gráficos livres de qualquer intuição

sensível, evocando visivelmente apenas o número de unidades apresentadas;

adotar o princípio pelo qual os algarismos de base têm um valor que varia

segundo o lugar que ocupam nas representações numéricas; e, enfim,

conceber um zero totalmente “operacional”, isto é, que permitia substituir o

vazio das unidades faltantes e que tenha simultaneamente o sentido de

“números nulos” (IFRAH, 1997, p. 690).

Segundo Ifrah (1997), o surgimento do sistema decimal não possibilitou a criação de

imediato dos números decimais, eles só foram criados alguns séculos depois. A ideia do

surgimento dos números decimais está relacionado a ideia de fração, já usada pelos egípcios,

datado de aproximadamente de 5 mil anos, na mensuração pelos babilônios (hindus e gregos),

das terras do rio Nilo, o que gerou o surgimento dos números decimais séculos depois.

De acordo com Boyer (1996), o uso de frações decimais usadas desde a China antiga,

na Europa do renascimento e na Arábia medieval que desencadeou que em 1579, François

Viète recomendasse o uso de frações, utilizando-as em suas obras.

Segundo Ifrah (1997), antes do uso da vírgula nos números decimais no início do

século XVII, por Wilbord Snellius, era usado um ponto para separar a parte inteira da

fracionária. No entanto, só com o surgimento do sistema métrico decimal, no final do século

XVIII, passou a ser usado na vida prática e apenas no final do século XIX através dos

matemáticos que ganharam status de números.

Como afirma Zuin (2005, p. 110), com o advento do sistema métrico foi incluído o

número decimal no currículo nos ambientes escolares, visto que,

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Até a primeira metade do século XIX, os autores de livros de aritmética, em

geral, não davam importância aos números decimais se fixando nos

quebrados – ou frações. Não havia uma utilidade prática para os números

decimais até a inclusão do sistema métrico decimal nos programas. Então,

também os números decimais passaram a integrar as aritméticas. As

operações com números decimais tornavam-se um tópico importante na

formação elementar.

De acordo com Pais (2007), os números decimais também foram incorporados no

ensino brasileiro visto a sua intervenção cultural proveniente da França.

A adoção da expressão sistema métrico francês era uma imposição de ordem

cultural, tendo em vista a relação de influência exercida pela França. Vivia-

se naquele momento a tentativa de consolidação de adoção do sistema

métrico decimal, o qual tinha sido oficializado no Brasil em 1862. O estudo

das frações decimais encontra-se proposto antes das frações ordinárias, o

que, de certa forma, é a ordem inversa que a maioria dos livros adota. É

provável que o argumento implícito para justificar essa antecipação do

estudo dos números decimais deve-se ao momento de discussão em torno da

importância do sistema métrico decimal, onde a aplicação desses números

aparece com mais destaque (PAIS, 2007, P. 10).

Portanto, esse conteúdo matemático passou a fazer parte dos currículos escolares em

nosso contexto por representar um relevante veículo como representação do sistema de

medidas mundial.

De acordo com Pandovan (2000), o uso do sistema decimal constitui um elemento de

grande importância para representação de quantidades menores que o inteiro, porém nem

sempre representam entendimento pelos discentes dentro de suas formas de representação,

como exemplo o entendimento de que uma unidade pode ser dividida em 10 décimos, 1

décimo pode ser dividido em 10 centésimos e um centésimo pode ser dividido em 10

milésimos. Assim, a autora pondera que, normalmente, as ordens dos números decimais se

restringem apenas ao uso de nomenclatura e não na construção da formação do pensamento e

entendimento que atue na compreensão e uso dos números decimais.

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De acordo com Pandovan (2000), há de se criar um entendimento no ensino dos

números decimais no sentido de possibilitar o entendimento de que os algoritmos à direita da

vírgula fazem parte do inteiro e que podem ser representados por décimos, centésimos,

milésimos e assim por diante. Logo, a representação 0,2 = 0,20 = 0,200, pois se entende que 2

décimos equivalem a 20 centésimos, que equivalem a 200 milésimos. Assim, como 200

unidades equivalem a 20 dezenas e igual a 2 centenas, ou seja, a regularidade do sistema de

numeração decimal válida para os números inteiros é estendida também aos números

decimais.

Para Bittar e Magalhães (2005), se devem criar condições para os discentes

observarem essa regularidade sem fazer com que os mesmos percebam como regra que deva

ser memorizada quando afirmam aos discentes “serem obrigados a decorá-los, o que

representaria uma regra sem sentido para eles” (BITTAR; MAGALHÃES, 2005, P. 177).

Nesse sentido, as autoras sugestionam o uso do material dourado pelos discentes para

compreenderem melhor as relações entre as frações decimais com os números decimais. Por

isso, as autoras reforçam a ideia de que é mais relevante o aluno entender o conceito de

números racionais, mais do que a aplicação de apenas uma regra tal como inserir 10 no

denominador, coloca-se um algarismo após a vírgula ou 100 no denominador insere-se a

vírgula após dois algarismos.

Abrantes, Serrazina e Oliveira (1999) relatam que os discentes também apresentam

problemas na vinculação de regras usadas apenas aos números inteiros em relação aos

números tal como quanto maior é a quantidade de algarismos maior é o número, pois se

relacionada aos decimais isso não corresponderia a verdade como se pode notar, por exemplo

em: 0,2734 > 0,3. Desta forma, entendemos que a questão dos números decimais representar

uma questão mais complexa dentro do universo dos educandos do que podemos imaginar.

Para as autoras, é necessária cautela na explicação das questões ligadas a ordenação e

comparação, pois,

Os números utilizados em ambas as classes levaram muitos alunos à

generalização de uma falsa regra para a comparação geral dos decimais: a de

que os números com mais ordens decimais seriam sempre menores que os

outros. Esse é um efeito indesejável didaticamente, mas só pode ser evitado

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com o cuidadoso planejamento e observação atenta das respostas dadas pelos

alunos (ABRANTES; SERRAZINA; OLIVEIRA, 1999, p. 46).

Diante disso, Pandovan (2000) afirma que se constitui um elemento importante as

atividades de ordenação e comparação de números decimais, por isso salienta que devemos

usar atividades que favoreçam um melhor entendimento e aplicação dessas regras quanto às

características dos mesmos quanto as propriedades de semelhança, diferença entre esses

conjuntos de números.

De acordo com Abrantes, Serrazina e Oliveira (1999), os discentes utilizam de

diversas regras construídas pelos mesmos para efetuar comparações e ordenar números

decimais e que essas regras podem conduzir ao mesmo tempo a erros e acertos nessa

atividade, tais como a hipótese criada pelos alunos que é menor o número que tem mais

algarismo depois da vírgula, como observamos no exemplo 10, 05 < 10,5, no entanto pode ser

falsa como no exemplo 10,234 <10,2. Por isso, as autoras alertam que o docente deve

compreender as hipóteses criadas pelos discentes e trabalhar no sentido de discuti-las, a fim

de permitir aos educandos a pensarem em sua aplicação não no sentido de inibi-las, mas na

forma de refletir acerca das mesmas.

4.2. ENSINO E APRENDIZAGEM DOS NÚMEROS DECIMAIS

O surgimento do sistema de numeração decimal provocou um grande avanço nos

estudos da matemática, visto que as teorias e suas aplicações podiam basear-se nos números,

na busca por teses e comprovações. E sua relação com o cotidiano faz com que o conjunto dos

números racionais possa ser destacado, justamente por ser um conteúdo que do início até certo

ponto, é tratado, geralmente, como parte da realidade do aluno e usado como material

concreto para a representação da mesma. A partir do momento em que o aluno consegue

identificar “frações”, o professor, na maioria das vezes, deixa de utilizar o referido material e

a sua contextualização para continuar o ensino desse conteúdo, ou até mesmo antes do seu

entendimento. O uso do material concreto é utilizado apenas como introdução do conteúdo.

A dificuldade do aluno pode aumentar ou começar a partir do momento da

abstração desse conteúdo, onde é primordial que o mesmo entenda os processos envolvidos,

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bem como suas operações e propriedades. É importante ressaltar que nem todas as aplicações

da matemática são fáceis de serem percebidas e tão pouco aplicadas. O conhecimento

ensinado na escola e a matemática aplicada ao cotidiano têm abordagens diferentes, uma

enfatiza o conhecimento formal o qual se torna distante da realidade do estudante e a outra dá

ênfase ao cotidiano.

Como afirmam Sá e Jucá (2006):

[...] ao iniciar o estudo dos decimais por meio das frações decimais, o

professor segue apresentando o conteúdo sem fazer nenhuma referência a

outro tópico ou a situações do cotidiano do aluno. O que resulta em

esquecimento logo após as avaliações e dessa forma o aluno segue sem fazer

nenhuma relação desse tópico com outro e sem compreender as operações

por séries posteriores (SÁ; JUCÁ, 2006, P.2).

Os autores confirmam assim o que se tem percebido em sala de aula, geralmente,

sobre o ensino dos números decimais, é que o ensino dos números decimais está totalmente

desvinculado à vida cotidiana do educando, ao contrário do que realmente deveria acontecer,

visto que as próprias reformas no sistema educacional do Brasil propõem que o professor e o

aluno sejam sujeitos ativos nesse processo, e no que diz respeito ao ensino de números

decimais, este assunto é de riquíssima ligação com a realidade social do aluno, o que

facilitaria bastante seu entendimento do conteúdo.

Desse modo, o trabalho com as operações envolvendo os números decimais no

Ensino Fundamental deve ir além do ensino da mecanização e repetição de algoritmos, e ir

além da problematização das técnicas operatórias convencionais.

O ensino dos números decimais deve ser considerado como um conteúdo no

currículo da matemática da sala de aula, que precisa estar ligado aos aspectos sociais,

culturais dos alunos e com o próprio conhecimento matemático em si. Esquecer tal

necessidade configura-se um retrocesso no processo de ensino e aprendizagem de matemática

e aos que buscam, na escola, aprofundar seus conhecimentos, suas reflexões, suas

compreensões sobre o mundo.

Diante de tais perspectivas, a aprendizagem dos números decimais deve auxiliar o

aluno em suas relações sociais, tornando assim, o ensino da matemática além de prazeroso,

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significativo, tanto para o aluno quanto para o professor, pois os dois são sujeitos agentes no

processo de ensino e aprendizagem, o que segundo Vygotsky (1991), está intimamente

relacionado, pois tanto quem ensina, como quem aprende precisam ter compreensão igual dos

significados, isto é, o desenvolvimento dos conceitos científicos está ligado às relações entre

professor e aluno durante o processo de ensino e aprendizagem.

De acordo com o enfoque sócio histórico de Vygotsky (1991), onde se tem a

caracterização dos aspectos tipicamente humanos do comportamento e a elaboração das

hipóteses de como esse comportamento foi formado ao longo da história de vida do indivíduo,

visto que, ao se pensar que o aluno no processo de ensino e aprendizagem tem a compreensão

ou não do significado, no que está aprendendo e o leva para vida inteira, que deve se pautar o

ensino dos números decimais, visto que é um conteúdo importante para vida social do aluno, a

não apropriação do sistema de numeração pode ter consequências em aprendizagens futuras,

inclusive no bom desempenho em aritmética.

A apropriação dos conhecimentos matemáticos tem real importância na vida do

aluno, assim como seu uso em situações do cotidiano, na escola, ou fora dela. E essas

situações sociais, principalmente as que se realizam, além da sala de aula, implicam a

aplicação dos conhecimentos matemáticos já consolidados ao longo do processo de ensino e

aprendizagem, evidenciando a importância e eficácia do ensino da matemática na escola.

Assim, na visão da escola, o estudo do número decimal continua sendo importante

principalmente nas séries iniciais, onde são abertas as portas da linguagem matemática,

formulando, assim, o pensamento matemático do aluno. Contudo, recitar apenas ou falar uma

série numérica, ou contar componentes de um conjunto, identificar números, não significa que

o aluno compreendeu totalmente o conceito do número decimal em si, o sistema de

numeração decimal como um todo e que fará uso dele para resolver problemas em seu dia a

dia, ou mesmo utilizá-lo adequadamente na aritmética, pois tal conceito vai sendo adquirido

gradativamente de forma lenta e processual. O conhecimento do sistema de numeração

decimal vai sendo construído ao longo da vivência escolar do aluno, no momento em que ele

faz uso do sistema de numeração decimal, sem nem mesmo entender como o mesmo se

estrutura. Por isso, o professor precisa levar o aluno a aplicar a teoria dos números decimais a

situações de uso cotidiano, a fim de que o mesmo possa ter uma vivencia do uso do número

decimal em seu dia a dia, e assim compreenda seu conceito.

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Além de tudo que já foi dito é importante ressaltar aqui, ainda que de modo

sucinto, as ideias de Piaget, pois suas ideias no campo da aprendizagem, especificamente, a

forma de conhecimento de sua teoria lógico-matemática, são norteadoras no processo de

ensino e aprendizagem, pois suas descobertas no campo da psicologia permitiram grandes

avanços na educação e orientam quanto à construção do número e ao desenvolvimento

numérico da criança.

Ao final deste estudo, será possível que se perceba ainda mais a necessidade de se

proceder a mudanças nas concepções metodológicas ainda hoje, no ensino da matemática,

mais especificamente no ensino dos números decimais nas séries iniciais do Ensino

Fundamental.

O pensamento lógico matemático está na base de todo o desenvolvimento

cognitivo do sujeito, de tal modo peculiar que Piaget se referiu a este não como uma

invenção, ou como uma descoberta, mas como um resultado de ações e de ações coordenadas

do sujeito. (PIAGET; INHELDER, 1975). Pensar no ensino da matemática exige uma leitura

sobre a ótica de Piaget, como o pensamento lógico-matemático pode ser construído e como

ele funciona.

Segundo Piaget (1975), em suas abordagens, ele realiza classificações e divisões,

entre as quais, a do tipo de conhecimento, é a que interessa para este trabalho, onde se

destacam: o conhecimento físico, conhecimento social e conhecimento lógico-matemático.

Este último acontece nas coordenações de relações, organizada e estruturada pela mente da

criança. A análise do objeto pela criança não é de forma isolada e sim relacional ou

comparativa através da diferença e da igualdade. O raciocínio lógico matemático, na verdade,

tem influência em todas as áreas do conhecimento. O conhecimento lógico-matemático,

segundo Piaget (1979), é uma construção, e resulta da ação mental da criança sobre o mundo.

O conhecimento lógico-matemático não é inerente ao objeto; ele é construído a partir das

relações que a criança elabora na sua atividade de pensar o mundo.

Desse modo, é a partir do conceito lógico-matemático que o conceito de número

ocorre, pois ele é uma operação mental e ocorre a partir de relações que não podem ser

observadas, assim o pensamento lógico-matemático, como também o conceito de número são

construções mentais que ocorrem em virtude de diversos estados de abstrações da criança.

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Assim, de acordo com Kamii (1991), o aprendizado dos números se dá quando a

criança passa aprender pequenos números, e com a estimulação da abstração empírica e com a

construção de relações de objetos comum, ela passa a entender os números maiores, o que se

denomina já como fase de abstração reflexiva.

Segundo Piaget: “Ora, não se poderá, naturalmente, falar em números operatórios

enquanto não se houver constituído uma conservação dos conjuntos numéricos independentes

dos arranjos espaciais.” (PIAGET; INHELDER, 1979, p.115). Isso demonstra que a criança

ainda não assimilou a ordem como um todo sobre o grupo e a inclusão hierárquica, isto

significa que, a tendência das crianças em saltar um objeto ou contá-lo duas vezes, revela que

ela não sente necessidade lógica de colocar os objetos em uma determinada ordem, a qual não

necessita que seja obrigatoriamente ser uma ordem espacial, pois o importante é a ordem

mental que a criança faz.

De acordo com Kamii (1991), o fato da criança não saltar nenhum, e nem contar

o mesmo objeto duas vezes está no que só depois de ordenar os objetos através do

ordenamento mental é que mentalmente a criança só consegue considerar um de cada vez, em

vez de considerar o grupo quando ela aponta os elementos individuais como um, dois, três

etc. Agora quando considera o grupo a criança passa incluir mentalmente um em dois, dois

em três, etc. Passando então, de acordo com Kamii (1991), para inclusão hierárquica. E ai está

um fator importante no ensino da matemática, que é o de estimular nas séries iniciais, levando

o aluno a colocar os diversos conteúdos e ferramentas dentro das relações, porque, segundo

Piaget (1966), o pensamento da criança se torna mais flexível, à medida que é estimulado,

criando uma reversibilidade.

Para Kamii (1991), o aprendizado dos números a luz da abordagem de Piaget

precisa ter uma distinção entre o conhecimento social e o lógico-matemático, longe de ser

uma forma arbitrária de ensinar, pois, para Piaget, na matemática existe um mundo de

números, e que é importante que a criança se socialize com os mesmos. É interessante,

salientar que a criança ao entrar na escola traz consigo informações e experiências

importantes relacionadas ao seu mundo, que estão arquivadas mentalmente. Cabe ao professor

a responsabilidade de fazer uso destas aptidões do aluno, visando sua autonomia e criticidade

individual, e sem dúvida tal estímulo também trará benefícios para o conhecimento lógico-

matemático do aluno, é possível afirmar que, para Piaget, o conhecimento lógico-matemático

é uma função biológica que precisa ser desenvolvida nas crianças através de processos de

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estímulo. O processo lógico-matemático proporciona uma melhor compreensão do mundo e

da sociedade para o aluno.

O professor de matemática ao estar em contato com o aluno possui enorme

importância, porque pode com seus estímulos na prática pedagógica induzir o mesmo ao

desenvolvimento de sua autonomia. Assim, o aluno ao ser estimulado pelo professor a realizar

determinadas tarefas, ações ou pensamentos torna-se consciente de seus atos e do motivo das

coisas se constituírem como são havendo assim uma evolução no conhecimento lógico-

matemático. Logo, mesmo sendo algo intrínseco, o ser humano não nasce com seu

pensamento lógico-matemático pronto, ele se constrói ao longo das etapas de seu

desenvolvimento e de seu conhecimento. A importância do desenvolvimento da autonomia da

criança no processo de construção do pensamento lógico matemático reside na qualidade e na

forma com que ela construirá e na estrutura deste conhecimento, sendo que uma criança com

autonomia mas elevada pode favorecer a construção de um conhecimento lógico-matemático

mais adequado e representativo.

Para Kamii (1991), é preciso facilitar o desenvolvimento do processo cognitivo que a

criança tenha já construção dos “pequenos números”. Isto é, faz-se necessário manter a

criança sobre a mesma linha de aprendizado, pensamento e entendimento da construção dos

“pequenos números” para a construção dos “grandes números”. Já sobre a estrutura do

pensamento lógico-matemático de número, a criança deve construir por conta própria,

cabendo ao professor dispor de ferramentas e métodos variados, para encorajar, pensar,

estimular e colocar situações em relações para que o aluno possa usar na construção da

estrutura lógico-matemático.

Zunino (1995) discute que, geralmente, as operações realizadas com números decimais

nos ambientes escolares se dão de forma mecanizada, pois se dá apenas com a aplicação de

regras e cálculos, sem grandes reflexões e contextualizações, que possibilitem ao discente

compreender o que está realizando e o uso e validade deste conhecimento para a sua vida

social.

De acordo com a pesquisa desenvolvida por Barreto e Maia (2006), realizada com

estudantes do curso de Pedagogia, revelou que os futuros docentes das séries iniciais não

desenvolveram os conhecimentos necessários para atuarem como docentes na área da

matemática em conteúdos simples como resolução de problemas de adição, subtração, divisão

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e multiplicação. Para os autores “eles demonstram repetir formas práticas que aprenderam em

sua vida escolar, sem estabelecer as necessárias relações com o sistema de numeração”

(BARRETO; MAIA, 2006, P. 11).

De acordo com os PCN (BRASIL, 1997), o docente ao trabalhar com os números

decimais deve atuar no sentido de ampliar os conhecimentos que os discentes já possuem

acerca dos mesmos de modo a facilitar o entendimento quanto às regularidades do sistema

decimal, partindo dos registros dos alunos de modo intermediário para se desenvolver ao

registro das técnicas usuais.

O estudo realizado por Pandovan (2000) revela que os discentes participantes embora

não apresentassem dificuldades nas operações com números naturais, o mesmo não se

efetivou com os números decimais, visto que os referidos alunos desenvolveram grandes

barreiras na realização das quatro operações, como informa em cada operação a autora:

(1) na adição (312,5 + 23,75), as dificuldades relacionaram-se ao valor

posicional dos algarismos, o não posicionamento adequado dos algarismos

fez com que alguns dos alunos (20%) somassem os décimos da primeira

parcela com os centésimos da segunda; (2) na subtração (312,5 – 23,75), o

mesmo erro aparece, sendo que alguns alunos (20%) apresentaram

problemas em relação ao valor posicional, como 65 foi feito na adição,

enquanto outros (20%) não preencheram a ordem dos centésimos do

minuendo com zero, acabando por simplesmente registrar os centésimos do

subtraendo no resultado, sem subtraí-los dos décimos do minuendo; (3) na

multiplicação (312,5 x 2,75), a maioria dos alunos (92,5%) apresentou erros,

principalmente relacionados ao valor posicional das ordens decimais e

colocação da vírgula. Convém ressaltar que entre os erros relativos à

colocação da vírgula, há aqueles que colocaram vírgula embaixo de vírgula,

obtendo apenas duas casas decimais no produto, e outros que simplesmente

suprimiram a vírgula; (4) na divisão (312 : 25), um pouco mais que a metade

dos alunos (55%) apresentou algum tipo de erro, sendo os mais comuns

relacionados à colocação da vírgula ou à parte decimal do quociente

(PANDOVAN, 2000, 131).

Diante do exposto por Pandovan (2000), em relação às percepções das hipóteses e

dificuldades manifestadas pelos discentes pesquisados em efetuarem as operações envolvendo

os números decimais, notamos, na verdade, as hipóteses que precisam ser vencidas pelos

alunos no entendimento das operações com este conteúdo matemático. No entanto, essas

hipóteses devem ser levadas em consideração pelo docente na construção de suas práticas

educativas, a fim de serem esclarecidas e superadas.

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De acordo com Abrantes, Serrazina e Oliveira (1999), a habilidade dos discentes de

efetuarem cálculos envolvendo números decimais com êxito também não garante que os

mesmos saibam usar esses conhecimentos em situações cotidianas, visto que,

Dominar a execução de um algoritmo não significa que se compreenda o

sentido da operação correspondente ou que se seja capaz de identificar a

relevância dessa operação e de a usar numa situação concreta. Estudos

nacionais e internacionais sobre competências matemáticas têm mostrado

repetidamente que os nossos alunos têm desempenhos razoáveis nos

procedimentos rotineiros de cálculo, mas têm resultados muito fracos em

tarefas de resolução de problemas (ABRANTES, SERRAZINA,

OLIVEIRA, 1999, p.18).

Moreira e David (2007) também advertem que certa generalização advinda do trabalho

com os números decimais inteiros, sobretudo, provindas da multiplicação e divisão, na

transferência para se trabalhar com os números decimais pelos discentes se constituem como

falsas, fato que confunde os discentes e refletem em obstáculos no ensino e aprendizagem dos

números decimais, tais como:

ao se multiplicar um número inteiro por outro inteiro (sendo este diferente de

0 ou 1) o produto é sempre maior que os fatores (12 x 2 = 24), e ao se dividir

um número inteiro por outro, o quociente encontrado é sempre menor que o

dividendo (100 : 4 = 25). O mesmo, porém, não é válido para os números

decimais (Por exemplo, 12 x 0,5 = 6 e 100 : 0,25 = 400) (MOREIRA;

DAVID, 2007, p.74).

Para Cunha (2002), o trabalho com números decimais deve romper com a perspectiva

de repetição e da mecanização, ele deve conter elementos que visem um aprofundamento que

opere na quebra de velhas práticas e estabeleça novas aprendizagens, que possibilitem ao

educando seu uso em contextos sociais.

De acordo com Gomes (2006), mesmo antes de chegar à escola, a criança já tem

acesso, mesmo que até de forma direta e indireta, com os números decimais através do

contexto monetário. Esse conhecimento prévio pode ser expandido e contextualizado pelos

docentes no sentido de fazer o educando a construir o conceito de número decimal.

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Segundo Marhesi (2001), entendemos que os contextos de medidas e monetário não

podem constituir as únicas formas de se trabalhar os números decimais no ambiente escolar,

pois isso poderia inibir discutir outros elementos que compõem os números racionais, tais

como densidade. No entanto, pode representar um ponto de partida por fazer parte

constituinte, geralmente, dos contextos nos quais os alunos se encontram.

Esclarecemos quanto à questão da densidade, a qual compõe os números racionais de

forma mais simples o entendimento de que como os números naturais há sempre um número

antecessor e um sucessor. Poderíamos nos questionar quantos números decimais existem entre

0,5 e 0, 6? A resposta seria uma infinidade de outros números decimais, e a essa característica

dá-se o nome de densidade, ou seja, o conjunto de elementos entre dois outros que aponte

para uma infinidade de elementos do mesmo conjunto damos a nomenclatura de conjunto

denso. Deste modo, os números naturais não se constituem um conjunto denso e sim os

números racionais. Por isso, Dias (2007) infere que no conjunto usado pelo contexto de

medidas e monetário isso não fica tão evidente, já que o sucessor de 1,53 é 1,54.

Broitman, Itzcovitch e Quaranta (2003) revelam outra problemática em relação ao

sistema de medidas e monetário, que nem sempre é levado em consideração no contexto

escolar. Eles se referem acerca de que a mesma medida pode ser representada de modo

diferente usando para isso outra escrita numérica como, por exemplo, 1,76m podem ser

escrito 176 cm e a escrita 0,7 km pode ser escrita também de 700m, dependendo da unidade

de medida usada como inteiro. Assim, para os autores, essas questões não são muito

difundidas e esclarecidas no contexto escolar, tendo em vista a presença da vírgula,

geralmente, os discentes ficam temerosos nem pensar em outras unidades de medidas para

realizar a mesma comunicação numérica usando uma outra escrita numérica para isso.

Desse modo, de acordo com Schön (1992), o docente deve ter uma formação sólida

para construir uma prática reflexiva, na qual possa ser ponte para o aprendizado de novos

entendimentos e construções pelos educandos. Uma educação que mova o pensar, refletir e

agir, que possa quebrar a regra tradicional de agir sem pensar e refletir. Fazendo uma alusão

do pensamento de Schön à matemática vivenciada de modo geral, nos dias atuais, geralmente,

na maioria das escolas, ela permite muito mais a aplicação de regras (agir) na resolução de

problemas e equações matemáticas do que na perspectiva do pensar e refletir, como aponta

Schön.

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126

Como nos lembram Imenes, Lelis e Milani (2004), temos que entender que ao

trabalhar com os números racionais o docente deve ter um entendimento de que é um longo

caminho que deve ser feito, pois os educandos levam um tempo para entender, pensar e usar

os números decimais e vencer algumas hipóteses, levam, às vezes, uma boa jornada quanto ao

quesito tempo para se efetivar um entendimento mais profundo acerca dessa temática. Por

isso, o docente deve se preocupar em compreender o que o educando sabe sobre determinado

assunto e só assim permitirá que se trabalhe o conteúdo subjacente nas hipóteses que o

educando traz sobre determinado assunto matemático.

4.3. SOBRE OS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS DE MATEMÁTICA

PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA E OS NÚMEROS DECIMAIS

O ensino da matemática no Brasil, principalmente no que diz respeito à educação

básica, das séries iniciais ao ensino médio, tem passado por muitas modificações nos últimos

anos, em virtude das mudanças propostas pelas reformas do ensino no Brasil.

Após as ideias provenientes dos PCN que, com sua implantação nas escolas,

através de seus princípios possibilitaram uma grande contribuição para uma determinada

reflexão junto ao ensino de matemática, tais princípios trazem em seu bojo, não só uma

mudança de conteúdos simplesmente, mas uma urgente reflexão sobre o “o quê?”, “como?”, e

“para quê?” se esta ensinando determinado conteúdo matemático em sala de aula.

Na década de 1990, no Brasil, ensino da matemática tornou-se um dos focos das

reformas educacionais que se reverteram nos PCN, os quais admitem que o ensino da

matemática provoque duas sensações contraditórias: da parte de quem ensina a comprovada

importância desta área de conhecimento para a formação dos estudantes; e do lado de quem

aprende a insatisfação diante de seu baixo rendimento em aprendizagem matemática. A

afirmação dos PCN tem como base princípios decorrente de estudos, pesquisas, práticas e

debates desenvolvidos nos anos anteriores a sua elaboração (BRASIL, 1997).

Os PCN têm um papel importante na estruturação de um novo pensar, no ensino

da matemática.

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127

Tradicionalmente, pensava-se que seria suficiente que o professor fosse

exposto a princípios para que sua prática mudasse imediatamente ao abraçar

uma nova proposta. Hoje em dia, contudo, sabe-se que o processo é muito

mais demorado e complexo, pois a pesquisa indica que, embora os

professores frequentemente compreendam princípios teóricos, ao retornarem

para a sala de aula, costumam interpretar as inovações em termos de crenças

e práticas anteriores (BRASIL, 1998, P. 8).

De acordo com Fiorentini (2010), é interessante constatar que a percepção dos

professores de que ensinar matemática é uma tarefa difícil, mesmo após o surgimento das

leituras dos PCN realizadas nas escolas, não possibilitou um avanço para se entender as

prováveis causas da situação negativa de rendimento e aprendizagem por parte dos discentes

em que se encontra, ainda hoje, o ensino da matemática em muitas salas de aula no Brasil.

Ainda há uma grande resistência dos alunos em relação à disciplina em consequência de

longos anos de desencontro entre as necessidades do ensino e as condições de aprendizagem

dos alunos. Além disso, a própria formação de professores, que, para Fiorentini (2010), é o

reflexo de políticas educacionais, cuja influência tem início na formação básica dos docentes

que atuam em matemática. Ao fazer um retrospecto da situação do ensino, Fiorentini afirma

que os professores não podem modificar as práticas escolares, transformando-se em

professores competentes para enfrentar a realidade da escola atual, caso não ocorra vinculação

entre os profissionais que formam os professores e os próprios professores para que seja

promovida uma aproximação entre a teoria e a prática pedagógica.

O que se tem na verdade é um ponto de grande conflito entre as políticas

educacionais e os responsáveis pela sua elaboração, e os pesquisadores, e os professores que

estão na sala de aula, como ponto de tensão na realização de mudanças nas propostas

curriculares nacionais. Para Arroyo (1999, p. 140):

Quando se formulam políticas, sobretudo curriculares e de qualificação de

professores, deveríamos ter mais cuidado com suas consequências na

inovação ou na manutenção das culturas políticas e pedagógicas. Padecemos

de um conteudismo simplificador das funções sociais, culturais,

socializadoras, formadoras enfim da educação básica. As políticas que

abordam essa tradição, assim como os estudos e as análises sobre os

conteúdos escolares, precisariam criticar melhor a tradição pedagógica e

social que reduziu a função da escola básica ao aprendizado de saberes e

competências funcionais.

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128

Diante do que se lê nas palavras de Arroyo para repensar o currículo é necessário

ir além da visão atual do sistema educacional, que tem os educandos como mercadoria, isto é,

é preciso reavaliar a perspectiva da relação atual no processo de ensino e aprendizagem, onde

há uma relação mecânica entre a escolarização e o mercado de trabalho. Por isso, torna-se

“urgente recuperar o conhecimento como núcleo fundante do currículo e o direito ao

conhecimento como ponto de partida para indagar os currículos” (ARROYO, 2007, p. 26)

De acordo com Arroyo (2007):

[...] desvendar às crianças e aos adolescentes que as ciências estão prenhes

de valores e de culturas é uma função dos currículos. Aproximando-nos dos

conteúdos das ciências com essa visão e aproximando os educandos dessas

linguagens científicas e revelando-lhes que estão carregadas de valores de

mundo e de visões de ser humano, estaremos construindo um currículo a

serviço do seu direito a uma formação mais plena (ARROYO, 2007, P. 44).

Nesta perspectiva, é importante se observar em uma sala de aula até que ponto o

texto dos PCN estão condizendo com a realidade do ambiente escolar, no qual a matemática e

o contexto social do aluno não estão seguindo a mesma direção. Em virtude disso é de

fundamental importância que se fundamente o ensino da matemática com base no texto dos

PCN, que buscam direcionar o conhecimento matemático para o desenvolvimento intelectual

do aluno, objetivando a sua inserção no contexto sócio cultural e ao mesmo tempo

participando e contribuindo na construção da cidadania (BRASIL, 1997).

Assim, de acordo com os PCN de matemática, a participação construtiva do aluno

é de suma importância, aliada a intervenção do professor que possibilitará a aprendizagem dos

conteúdos específicos da matemática, os quais irão favorecer o desenvolvimento do alunado

de forma completa e ativa (BRASIL, 1997).

Diferente do processo de ensino e aprendizagem por etapas ditas “acabadas”, o

que os PCN propõem é uma visão do ensino da matemática de forma completa, somando a

complexidade dos conteúdos apresentados em sala de aula, à formação do conhecimento, que

não ocorre de modo estático, mas com movimento e provisório. Tal caráter provisório se dá

em virtude do conhecimento ser um processo cognitivo, sendo assim não pode ser dado como

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acabado e muito menos justaposto em forma de moldes. Visto que não é possível chegar de

imediato ao conhecimento correto, mas somente por aproximações sucessivas que permitem

sua reconstrução em cada etapa do processo (BRASIL, 1997).

Tanto no que diz respeito aos objetivos educacionais, quanto na contextualização

do significado das áreas de ensino dos temas transversais, os PCN de matemática, têm como

eixo principal o desenvolvimento das capacidades do aluno, e neste momento do processo de

ensino e aprendizagem, no que diz respeito à matemática, os conteúdos curriculares atuam

não como fins em si mesmos, mas como meios para adequação e desenvolvimento das

capacidades de aprendizagem do aluno.

Logo, o que se propõe os PCN, principalmente, é que o aluno possa ser sujeito de

sua própria formação e o professor sujeito do conhecimento transmitido, pois o processo de

ensino e aprendizagem em si é complexo e interativo (BRASIL, 1997).

É importante destacar que a matemática deverá ser vista pelo aluno como um

conhecimento que pode favorecer o desenvolvimento do seu raciocínio, de sua sensibilidade

expressiva, de sua sensibilidade estética e de sua imaginação (BRASIL, 1997), o ensino da

matemática deve desempenhar equilibradamente seu papel na formação do ser intelectual do

aluno, junto com a estruturação de seu pensamento, raciocínio dedutivo, além da influência

desses conhecimentos adquiridos com a matemática em sua vida social, no mundo em que o

cerca. Levando o educando a atuar ativa e conscientemente na sociedade.

No que diz respeito, aos conteúdos nos PCN, estes não são entendidos como uma

listagem de conteúdos. É necessário salientar a necessidade de entender a palavra conteúdo

basicamente em três dimensões: conceitos, procedimentos e atitudes. Valoriza-se, portanto,

muito mais a compreensão das ideias matemáticas. O conteúdo é visto como um meio para se

desenvolver atitudes positivas diante do saber em geral e do saber matemático, em particular.

Os conteúdos aparecem organizados em blocos, diferentemente do modo

tradicional, a saber: Números e operações (Aritmética e Álgebra); Espaço e

formas (Geometria); Grandezas e medidas (Aritmética Álgebra e

Geometria); Tratamento da informação (Estatística, Combinatória e

Probabilidade) (BLUMENTHAL, 2000, P. 17).

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É importante que o professor tenha em mente essa organização de conteúdos

proposta pelos PCN, pois essa articulação dos conteúdos permitirá que o aluno tenha

oportunidade de relacionar os saberes adquiridos na sala de aula de matemática em seu

convívio social.

O gosto pela matemática e o incentivo a procedimentos de busca exploratória,

desenvolvendo uma atitude investigativa diante de situações-problema propostas pelo (a)

professor (a) são alguns exemplos dessa compreensão mais ampla do que é ensinar e aprender

em matemática (BLUMENTHAL, 2000).

Para Fiorentini (1995), entre as diferentes tendências em educação matemática

está a construtivista, que concebe o processo de aprendizagem do conhecimento matemático

por meio da ação interativo-reflexiva do sujeito com o ambiente e com a atividade. Portanto,

“[...] essa corrente prioriza mais o processo que o produto do conhecimento. Ou seja, a

matemática é vista como um constructo que resulta da interação dinâmica do homem com o

meio que o circunda” (FIORENTINI, 1995, P. 20). Logo, o professor deve buscar diferentes

meios para ensinar matemática e deve assumir diferente papeis neste processo.

Primeiramente, como organizador planeja e promove as situações de aprendizagem em sala de

aula. Como consultor, fornece diversos recursos para que os alunos avancem em suas

descobertas. No papel de mediador, suscita debates e estimula a elaboração de sínteses. Atua

como mediador na medida em que estabelece as normas para a realização das tarefas. Por fim,

como incentivador da aprendizagem, estimula a cooperação entre os alunos (BRASIL, 1997).

Este novo papel é proposto para o professor a partir da crítica apresentada nos

PCN em relação à tendência tradicional, em que o ensino dos conteúdos matemáticos é feito

através da exposição de definições, exemplos e demonstrações, seguidos de exercícios de

aplicação e fixação. Na medida em que o aluno é considerado como “protagonista da

construção de sua aprendizagem” (BRASIL, 1997, p. 40). Em virtude disso, as atribuições do

professor assumem novas dimensões no processo de ensino e aprendizagem.

Segundo Arroyo (1999), para inovar, precisamos “redefinir os critérios de seleção

e de organização dos saberem escolares” (ARROYO, 1999, p. 143), a fim de que possamos

contribuir em atividades curriculares que possam fazer os docentes a refletirem acerca de suas

concepções e crenças sobre o currículo escolar, no intuito de questionar o conhecimento

compreendido como oficialmente válido, no sentido de contribuir na recriação crítica dos

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131

conteúdos que os mesmos veiculam, pois essa reflexão na ação possibilitará uma ação

pedagógica mais significativa para a atuação docente e repercutirá também na aprendizagem

dos alunos.

De acordo com Muniz, Batista e Silva (2008), o conteúdo dos números racionais

recebe destaque por ser um assunto que está, geralmente, relacionado com o contexto social

do aluno, por isso se deve utilizar estes elementos para a tematização deste assunto em sala de

aula. Contudo, na realidade, o que acontece, é que a partir do momento em que o aluno

consegue identificar “frações”, o professor, na maioria das vezes, deixa de utilizar a referida

contextualização para continuar o ensino desse conteúdo, ou até mesmo antes do seu

entendimento. Os autores salientam a relevância do uso do material concreto como uma

ferramenta introdutória de abordar este conteúdo, fazendo com que a dificuldade do educando

venha a aumentar ou até começar a partir da abstração desse conteúdo, onde é primordial que

o mesmo entenda os processos envolvidos, bem como suas operações e propriedades.

A fim de procurar conter essas dificuldades no ensino e aprendizado dos números

decimais, é preciso fazer vários estudos sobre o conteúdo com intuito de descobrir realmente

quais são essas dúvidas que os alunos geralmente têm, como por exemplo: onde se coloca a

vírgula?; Como dividir frações?, etc. Através da percepção das respostas a estas dúvidas dos

alunos das séries iniciais, pode-se observar que eles não estão entendendo o processo de

desenvolvimento do conteúdo e sim, procurando decorar regras, o que acaba prejudicando o

aluno quando se trata de interpretar um problema, ao invés de apenas resolvê-lo. E por não

conseguir interpretar problemas simples envolvendo os números decimais é que o sistema

educacional brasileiro encontra-se na situação em que mais de 50% dos alunos da Educação

Básica não conseguem atingir a média necessária para a fase na qual se encontram como

mostra o Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB) de 2013, com resultados muito

baixos em relação à matemática, principalmente, quando se trata de problema envolvendo

números racionais (BRASIL, 2013).

Na matemática escolar, o conteúdo dos números naturais, geralmente, começa a

ser abordado no terceiro ciclo do Ensino Fundamental. Os PCN de matemática sugerem que

os números naturais podem surgir com “uma ampliação do campo aditivo, pela análise de

diferentes situações em que esses números estejam presentes” (BRASIL, 1998, P. 66). No que

diz respeito aos números naturais, os PCN propõem que o aluno tenha oportunidade de

ampliar suas ideias e procedimentos relativos à contagem, comparação, ordenação, estimativa

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e operação que os envolve. E através do estudo do funcionamento do sistema de numeração

decimal, o educando terá possibilidade de interpretar e construir qualquer escrita numérica,

incluindo a dos números racionais na forma decimal. Além disso, são apresentadas aos

alunos, do ensino fundamental, situações-problema, as quais suas soluções não se encontram

no campo de números naturais, possibilitando assim que o mesmo encontre suas soluções e

tenha compreensão do número e de alguns significados tais como, quociente, parte-todo,

razão e de suas representações, fracionária e decimal.

Segundo os PCN, os conhecimentos a respeito dos números naturais são

construídos num processo gradativo, no qual eles aparecem como um instrumento útil para

resolver determinados problemas e como um objeto que pode ser estudado por si mesmo

(BRASIL, 1997). O sistema de numeração, assim como outros conteúdos matemáticos, pode

ser abordado a partir da resolução de problemas e da reflexão sobre os mesmos. Assim, para

que os estudantes possam avançar progressivamente na compreensão do funcionamento do

sistema de numeração, são necessárias condições didáticas que permitam aos mesmos

colocarem em jogo suas hipóteses; para que promovam reflexões sobre as relações que “estão

por trás” das notações; e que gerem confronto entre as escritas não convencionais que

produzem, as escritas e interpretações de seus colegas e as escritas e interpretações

convencionais.

Além disso, os PCN ressaltam no que diz respeito à fração, ou representação

fracionária dos números naturais que os educandos não têm uma utilização cotidiana deste

conteúdo, em seu contexto social o uso da representação fracionária é limitado, limita-se a

utilização de expressões como terços, quartos, na linguagem oral, sem representação escrita.

Os PCN sugerem que a forma mais comum e eficaz de explorar tal conceito é com a

utilização da relação implícita de parte-todo. Assim o educando terá o conhecimento de que a

fração indica a relação que existe entre o número de partes e o total.

Além desse conceito, outro significado das frações, explicitado nos PCN, é a do

quociente, baseado na divisão de um número natural por outro. Para o educando, essa situação

diferencia-se da interpretação acima citada (parte-todo), visto que dividir “um chocolate em

três partes iguais e comer duas dessas partes é uma situação diferente daquela em que é

preciso dividir dois chocolates para três pessoas”. (BRASIL, 1997, p.103). Logo, percebe-se

que as dificuldades mais presentes, no ensino e aprendizado dos números racionais são: a de

efetuar as operações com os números racionais, a de estabelecer relação entre um número

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fracionário com um número decimal, a de representar tais números numa reta numérica, a de

comparar números fracionários e números decimais, entre outras. Além destas, o ensino dos

números racionais passa também pela superação de obstáculos ou rupturas como a noção de

infinitude entre dois números racionais, a não existência de antecessores e sucessores para

esses números, a dificuldade em compreender que o produto de dois números racionais nem

sempre será maior que um deles, entre outros obstáculos (Brasil, 1998).

Além disso, há ainda outra situação diferente das que foram expostas aqui, “é

aquela em que a fração é usada como uma espécie de índice comparativo entre duas

quantidades e uma grandeza, ou seja, quando é interpretada como razão” (BRASIL, 1997,

p.104).

Assim, segundo os PCN, nos anos finais do Ensino Fundamental, os números

racionais devem ser compreendidos como: quociente, razão, parte-todo e operador

multiplicativo. Ao final do 7º ano, os alunos devem conhecer, identificar e construir as

representações equivalentes e localizar os números na reta numérica, comparando quantidades

na forma decimal e fracionária. Todavia, pesquisas como a de Valera (2003) apontam que a

escola desconhece os múltiplos significados que compõem o conceito de números racionais e

as orientações presentes nos documentos oficiais nacionais, como também, as rupturas

existentes no ensino e na aprendizagem desses. Além disso, é importante salientar que muitas

vezes as dificuldades dos alunos em determinado assunto podem ser reflexo da dificuldade do

professor nesse mesmo assunto, e talvez parte destas dificuldades seja inerente às concepções

e conceitos que os professores constroem durante sua formação.

Levando-se em conta o que já foi dito anteriormente sobre a organização dos

conteúdos, segundo a proposta dos PCN, é preciso ressaltar ainda que os conteúdos definidos

nos PCN de matemática para os anos iniciais do Ensino Fundamental estão organizados em

ciclos. Sendo que o primeiro ciclo equivale ao 1º, 2º e 3ºano e o segundo ciclo ao 4º e 5º ano,

é importante lembrar que a nova configuração do Ensino Fundamental no Brasil, corresponde

a nove anos.

As orientações apresentadas são para que os conteúdos favoreçam as crianças o

estabelecimento de relações através da aproximação de alguns conceitos matemáticos,

procedimentos simples e o desenvolvimento de atitudes frente à matemática. Segundo os

PCN:

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134

Para a organização curricular dos três primeiros anos do ensino fundamental

(1º, 2º e 3º anos),são propostas atividades que aproximem a criança do

significado das operações aritméticas (enfoque principal nas operações

de adição e subtração), da escrita e leitura de números naturais, das

medidas, das formas e espaços e da organização de informações(leitura de

informações em tabelas e gráficos). Sobretudo, é importante prever no

currículo a análise das hipóteses levantadas pelos alunos e as estratégias

pessoais usadas para resolver as situações-problema. Contudo, “embora o

professor tenha os blocos de conteúdos como referência para seu

trabalho, ele deve apresentá-los aos alunos deste ciclo da forma mais

integrada possível (BRASIL, 1997, p. 67).

No 4º e 5º anos, o currículo deve contemplar a ampliação da construção dos

conceitos e procedimentos matemáticos. É prevista a continuidade dos

estudos com as operações aritméticas (com enfoque na multiplicação e

divisão), na escrita e leitura de números naturais e racionais (frações e

decimais), sistemas convencionais de medida, classificações e

propriedades das figuras bidimensionais e tridimensionais e a

organização de informações (coleta de dados e interpretação de gráficos e

tabelas). Todavia, “é fundamental que o aluno reafirme confiança em si

próprio diante da resolução de problemas, valorize suas estratégias pessoais

e também aquelas que são frutos da evolução histórica do

conhecimento matemático (BRASIL, 1997, p. 85).

É preciso salientar, a partir desta leitura, que a grande dificuldade para o professor

encontra-se na organização e no tratamento em que se encontram os conteúdos matemáticos

previstos no currículo propostos pelos PCN, em virtude disso é importante que o professor

esteja disposto e apto a trabalhar o currículo de matemática na perspectiva dos PCN. A

organização dos conteúdos curriculares de matemática, segundo os PCN (BRASIL, 1997), em

relação aos números naturais se dá da seguinte forma:

Números Naturais, Sistema de Numeração Decimal e Números Racionais:

Reconhecimento de números naturais e racionais no contexto diário;

Compreensão e utilização das regras do sistema de numeração decimal, para

leitura, escrita, comparação e ordenação de números naturais de qualquer

ordem de grandeza; Formulação de hipóteses sobre a grandeza numérica,

pela observação da posição dos algarismos na representação decimal de um

número racional. Extensão das regras do sistema de numeração decimal para

compreensão, leitura e representação dos números racionais na forma

decimal; Comparação e ordenação de números racionais na forma decimal;

Localização na reta numérica, de números racionais na forma decimal;

Leitura, escrita, comparação e ordenação de representações fracionárias de

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uso frequente; Reconhecimento de que os números racionais admitem

diferentes (infinitas) representações na forma fracionária; Identificação e

produção de frações equivalentes, pela observação de representações

gráficas e de regularidades nas escritas numéricas; Exploração dos diferentes

significados das frações em situações-problema: parte-todo, quociente e

razão; Observação de que os números naturais podem ser expressos na forma

fracionária. Relação entre representações fracionária e decimal de um

mesmo número racional; Reconhecimento do uso da porcentagem no

contexto diário (BRASIL,1998, P.65).

Já no que diz respeito às operações com números naturais e racionais, os PCN

estabelecem:

Análise, interpretação, formulação e resolução de situações-problema,

compreendendo diferentes significados das operações envolvendo números

naturais e racionais; Reconhecimento de que diferentes situações-problema

podem ser resolvidas por uma única operação e de que diferentes operações

podem resolver um mesmo problema. Resolução das operações com

números naturais, por meio de estratégias pessoais e do uso de técnicas

operatórias convencionais, com compreensão dos processos nelas

envolvidos; Ampliação do repertório básico das operações com números

naturais para o desenvolvimento do cálculo mental e escrito; Cálculo de

adição e subtração de números racionais na forma decimal, por meio de

estratégias pessoais e pelo uso de técnicas operatórias convencionais;

Desenvolvimento de estratégias de verificação e controle de resultados pelo

uso do cálculo mental e da calculadora; Decisão sobre a adequação do uso

do cálculo mental — exato ou aproximado — ou da técnica operatória, em

função do problema, dos números e das operações envolvidas e cálculo

simples de porcentagens (BRASIL,1998, P.66).

É possível perceber na organização dos conteúdos dos PCN a preocupação e

consequentemente a relação em trabalhar a matemática e aplicá-la ao cotidiano, de maneira

que o indivíduo possa fazer uso do conhecimento matemático em inúmeras atividades e fazer

uso deste para a construção da cidadania. No entanto, quando se observa uma sala de aula

percebe-se que o texto dos PCN não condiz com a realidade do ambiente escolar. Por isso, é

extremamente relevante enfatizar as fundamentações dos PCN, que buscam direcionar o

conhecimento matemático para o desenvolvimento intelectual do aluno, objetivando a sua

inserção no contexto sócio cultural e ao mesmo tempo participando e contribuindo na

construção da cidadania.

A utilização da história da matemática na abordagem dos conteúdos se torna

interessante e necessária quando o aluno procura entender os processos de desenvolvimentos

e operações relacionadas à disciplina. Mais interessante ainda se torna, quando são utilizadas

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136

as tecnologias como recursos para o processo de ensino e aprendizado. Não pode ser

esquecido que a resolução de problemas facilita a compreensão dos alunos e a sua utilização

no cotidiano.

Nesse sentido, cabe ao professor, mediar, facilitar o encontro do aluno das séries

iniciais com os números decimais, de forma que o mesmo não venha a ter problemas futuros

em seu progresso educacional. Muitas vezes, o professor deixa a desejar ao tratar de medidas

e números decimais, dando maior importância ao número fracionário, e dificulta a

aprendizagem do aluno, pois ao ensinar medidas não passa de meras transformações de

unidades, o que comprova as grandes dificuldades no processo de ensino e aprendizagem

deste conteúdo matemático.

4. 4 . DESAFIOS NO ENSINO DOS NÚMEROS DECIMAIS

De acordo com o pensamento de Behr e Post (1992), um dos conceitos mais relevantes

nas séries iniciais do ensino fundamental aos discentes na área dos conceitos matemáticos se

constitui através da aprendizagem do conceito de número racional, o qual opera no

desenvolvimento de estruturas cognitivas essenciais à aprendizagem da matemática.

De acordo com Behr e Post (1992), os números decimais são uma extensão relevante

tanto do sistema decimal como também dos números racionais. Desta forma, os decimais

podem ser entendidos como uma extensão lógica do sistema de manutenção de base dez “em

que o conjunto é dividido em um certo número de partes iguais, de alguns múltiplos de dez,

sendo o mais comum 10, 100 ou 1000” (BEHR; POST, 1992, P. 56).

De acordo com Bianchini (2001), alguns estudos apontam que os números naturais são

obstáculos didáticos para a aprendizagem dos decimais, por isso o ensino dos números

decimais sem referência ao sistema posicional decimal ou sem menção as frações decimais se

torna um ensino sem significado conceitual para o discente.

Segundo Bianchini (2001), alguns estudos inferem que as dificuldades decorrentes da

não aprendizagem eficiente dos discentes em relação aos números decimais estão mais ligadas

a dificuldades conceituais do que ligadas a aplicação de regras e procedimentos, uma vez que

estes estudos reportam a questão crucial de que se os discentes não entenderem o conceito

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subjacente a esses números a aplicação dos mesmos tende ser mais mecanizada e sem sentido,

ocasionando, muitas vezes, a significativos obstáculos e práticas equivocadas no uso dos

números decimais.

Para Bianchini (2001), esses obstáculos são em demasia percebidos no ambiente de

sala de aula pelos discentes que por não compreenderem conceitualmente os números

decimais desenvolvem equívocos em operações de adição e subtração não entendendo o

sistema posicional decimal, decorridos por não compreenderem o que representa décimos,

centésimos e milésimos que constituem esses números e operações. Isso se aplica pelos

estudantes, segundo o autor, pelas regras e procedimentos que envolvem as operações com

esses números decimais que tendem a ser esquecidos e entendidos como sem importância e

sentido ao longo do tempo.

Bianchini (2001) destaca que este obstáculo também é lembrado nos Parâmetros

Curriculares Nacionais (PCN):

Embora as representações fracionárias e decimais dos números racionais

sejam conteúdos desenvolvidos nos ciclos iniciais, o que se constata é que os

alunos chegam ao terceiro ciclo sem compreender os diferentes significados

associados a esse tipo de número e tampouco os procedimentos de cálculo,

em especial os que envolvem os racionais na forma decimal (BRASIL, 1998,

P. 101).

Esta dificuldade observada nos PCN não é exclusiva apenas nos ciclos iniciais do

ensino fundamental, uma vez que os números decimais encontram-se diluídos nos demais

conteúdos matemáticos em suas diversas representações nos estudos de porcentagem e

frações no ensino médio e com grande dificuldade de entendimento e uso por parte dos

estudantes, como salienta Bianchini (2001).

De acordo com Alves e Gomes (2013), a literatura que envolve estudos sobre os

números decimais é ampla e complexa, pois comporta diversas abordagens e estudos

envolvendo esses números. Em grande parte a esses estudos, os autores também ressaltam que

a compreensão (ou incompreensão) conceitual evidencia dificuldades na leitura,

representação, ordenação e comparação usando os decimais, tendo em vista representarem

dificuldades propriamente conceituais.

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No tocante a revisão da literatura há uma carência em trabalhos que foquem pesquisas

no tocante a procedimentos de ensino acerca do conteúdo de números decimais destinados a

alunos com deficiência visual. Acredita-se que há, geralmente, muitas dificuldades no

entendimento conceitual, uso e transformações envolvendo operações com os números

decimais a discentes videntes, fato que não deve ser diferente com os discentes com

deficiência visual até pela ausência de material disponível e formação adequada para os

mesmos efetuarem os entendimentos necessários para desenvolverem as respectivas

operações.

De um modo geral, grande parte da literatura constituída acerca do ensino dos

números decimais, no Brasil e também fora dele, evidencia que, geralmente, as dificuldades

apontadas pelos discentes em efetuarem operações com números decimais estão ligadas à

falta de compreensão conceitual dos mesmos a estes números. Já outros estudos enfocam a

questão das dificuldades que os discentes apresentam no desenvolvimento das operações com

os decimais.

Na revisão das últimas avaliações nacionais da educação Básica de 2012, 2013 e 2014,

tais como Provinha Brasil, se percebeu um elevado índice de equívocos dos discentes em

questões relativas à resolução envolvendo números decimais em suas várias representações.

(BRASIL, 2014). De acordo com o documento Prova Brasil (BRASIL, 2014, p.108), há uma

orientação explícita que no quesito competências e habilidades em matemática para se dá

ênfase na resolução de problemas, no entanto ponderamos que estes problemas devem

representam situações desafiadoras e de interesse dos discentes, a fim de que os mesmos

trabalhem no uso de estratégias para a resolução de tais problemas.

De acordo com Jucá (2008), há também outra questão que deve ser avaliada na

dificuldade dos discentes em operarem com números decimais que estaria relacionada a

questão das dificuldades que os mesmos apresentam em operações com números naturais. Em

sua dissertação de mestrado, ela concluiu que as dificuldades dos discentes em desenvolverem

operações com números decimais estão ligadas diretamente as dificuldades que os discentes

apresentam de resolver problemas com os números naturais devido à falta de entendimento

conceitual dos naturais afetará o entendimento dos decimais por consequência direta.

De acordo com os estudos pioneiros de Brousseau (1987, 2004) sobre os números

decimais, os quais levantaram grandes discussões sobre questões ligadas a esses números na

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questão dos procedimentos ligados ao ensino, estão em desconsiderar alguns obstáculos para

o entendimento dos decimais por parte dos discentes no processo de aprendizagem, como por

exemplo, a ideia baseada na representação dos números naturais de que os que apresentam

maior quantidade de números são maiores do que os que apresentam quantidade dos mesmos.

Já que para os decimais essa ideia quase sempre representa um obstáculo.

Assim, de acordo com a concepção de Brousseau (1987), geralmente, as relações dos

números naturais para o entendimento dos decimais geram alguns obstáculos de compreensão

pelos educandos como: dificuldade de achar um número decimal entre dois números;

dificuldade de aceitar a dupla escrita decimal, dificuldade de entender que se pode obter um

aumento por divisão e diminuição por multiplicação e a dificuldade de entender o produto de

operações e o uso da vírgula.

No tocante a esses obstáculos, Brousseau (1987) desenvolveu alguns estudos na

França através da metodologia denominada de engenharia didática que tratava os decimais

como racionais particulares. Outro estudo desenvolvido por Doaudy e Perrin-Glorian (1986)

também concebiam os decimais tais como Brousseau e ainda hoje são citados em outros

países, tais como o Brasil, como estudos que visam oportunizar caminhos para operações com

decimais junto a docentes.

Um elemento relevante no trabalho de Brousseau (1987) reside no fato do mesmo

conceber que o ensino de decimais deve, inicialmente, ser introduzido pelo ensino das frações

decimais para só posteriormente se desenvolver o ensino das operações, comparação e

ordenação decimal. Nessa engenharia didática, Brousseau (1987), propõe que os docentes

utilizem problemas e temáticas do cotidiano vivenciadas pelos educandos de modo a levá-los

a pensar sobre as possíveis soluções para tais problemáticas, ou seja, o ensino partiria sempre

de situações-problema visando o entendimento dos números decimais para a ação dos

discentes em sua possível solução.

Um aspecto incluído por Brousseau nas situações didáticas com os decimais refere-se

ao fato de a conclusão de uma operação envolvendo decimal, os alunos realizassem a

transformação para a escrita de fração decimal, visando já desenvolver o entendimento no

educando do sentido do uso da vírgula no uso dos decimais.

No tocante ao uso e importância dos decimais no entendimento de alguns contextos,

lembra-se da proposta didática de Doaudy e Perrin Glorian (1986), que inseriram as ideias

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geométricas tais como perímetro e área para evocar sentido ao uso das operações envolvendo

os decimais. A ideia das autoras é fazer os discentes compreenderem de que os números

decimais surgem para responder as situações que os inteiros seriam limitados, por isso elas

aconselham serem usados para indicar tamanhos, áreas e perímetros. Neste aspecto, o uso das

frações seria entendido como uma forma de simplificar os cálculos e o uso da vírgula já a

simplificação da escrita de frações.

Uma observação percebida pelos estudos de Perrin Glorian (1986) se refere à questão

dos erros cometidos pelos discentes na ordenação dos números decimais. No estudo, os

discentes ordenaram os números decimais 1,8 e 2 e colocaram entre eles os números 1,11 e

1,78. Logo, a autora percebeu que os mesmos discentes levavam em consideração os números

inteiros como base para efetuar a comparação com os decimais. Isso também ficou

evidenciado quando os mesmos deveriam efetuar a comparação de quais números decimais

eram maiores ou menores, tais como 4, 36> 4,8, justificando que o inteiro 36 é maior que 8.

Neste aspecto, Perrin Glorian (1986) infere que há três regras que os discentes usavam

para ordenar e comparar em se tratando com os números decimais que os docentes deveriam

levar em consideração no entendimento, a fim de fazer os mesmos superarem tais hipóteses,

tais como: a ideia de que o maior decimal seria o que possui o maior número inteiro após a

vírgula (EX: 11, 125> 11,5, pois 124 é maior que 5); o número que apresenta mais casas

decimais é menor (EX: 11,125 <11,1) e a composição das duas anteriores. Assim, no

pensamento da autora, essas hipóteses seriam representativas pelos equívocos cometidos pelos

discentes, mas deveriam ser entendidas como formas e maneiras que eles associam para

ordenar e comparar os decimais. Neste aspecto, a autora percebeu que, geralmente, os

discentes entendem os decimais como sendo dois inteiros separados pelo uso da vírgula.

Já no trabalho de Bell et al (1981) propôs a resolução de problemas envolvendo

números decimais com a utilização de jogos e calculadora para compreender as hipóteses que

os discentes criam ao desenvolverem atividades com os decimais em operações de divisão e

multiplicação. A referida pesquisa foi desenvolvida nos Estados Unidos com educandos na

faixa etária de 12 a 16 anos. Os resultados da pesquisa apontaram que os discentes

encontraram dificuldades nas operações em função de generalizações decorrentes da divisão e

multiplicação com os números inteiros, tais como na multiplicação sempre ocorrerá o

aumento do número e na divisão o inverso. Além de problemas ligados ao valor posicional

dos decimais, o entendimento da leitura dos decimais e a presença da hipótese de que o

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dividendo é sempre maior que o divisor. Os autores também perceberam que os alunos

apresentavam dificuldades na interpretação dos problemas e ficavam muito sobre controle se

explicitamente havia indicação literal sobre que tipo de operação se propunha tal questão.

Outro experimento desenvolvido por Fischbein et al (1986), investigou uma questão

relevante envolvendo 623 alunos na Itália. Foi sugerido aos discentes que escolhessem 26

problemas de divisão e multiplicação com números que correspondiam juntos inteiros e

decimais. A ideia dos autores era entender qual modelo intuitivo os discentes usavam ao

efetuarem a resolução de tais operações, se eles entendiam a multiplicação representada pela

ideia de adição repetida e o modelo de partilha ligado à divisão.

Segundo os autores, na verdade, o modelo usado pelos discentes de forma explícita

representa algo inconsciente e intuitivo, ou seja, a operação para resolver um problema

matemático decorre de um modelo primitivo internalizado e aprendido pelo discente, o que

vai possibilitar em possíveis equívocos no desenvolvimento de determinadas equações devido

à interpretação dos dados e modelos assimilados pelo discente. Neste aspecto, o modelo de

adição repetida em uma multiplicação de um número inteiro como 4 vezes 2, significa

2+2+2+2 = 8. Já uma multiplicação na qual o operador é de 0,34 ou 3/8 não apresenta para o

discente nenhum significado intuitivo. No entanto, os autores salientam que embora os

educandos não percebam nenhum significado intuitivo, entendem que há um significado

matemático. O que vale dizer que os discentes encontram, muitas vezes, dificuldades em

compreender a operação de determinado problema devido a condicionamentos decorrentes de

modelos internalizados baseados em aprendizagens com os números naturais em operações

com decimais e, além disso, que os dados numéricos de um problema podem bloquear a

interpretação do modelo a ser utilizada pelo discente na referida operação devido “o caminho

está bloqueado pela incongruência entre os dados numéricos fornecidos e os

condicionamentos específicos do modelo tácito subjacente” (FISCHBEIN et al, 1986, P.04).

Os dados obtidos pelo estudo de Fischbein et al (1986) inferem entender que os

educandos apresentam maiores dificuldades em operações de multiplicar e dividir quando

eram envolvidos números decimais e inteiros, principalmente, quando em uma multiplicação

o decimal era o multiplicando o número foi menos de acertos que quando era o multiplicador.

Já em relação à divisão , quando os números envolviam decimais e inteiros, o escore de

acertos era baixo e quando o divisor era um número decimal, o escore de acertos apresentou

menor ainda número de acertos comparado quando os decimais ocupavam o papel de

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dividendos. No tocante a interpretação dos termos do problema, os alunos, geralmente,

optavam por inverter, de forma intuitiva, a ordem corroborando a ideia de que a ordem em

uma divisão sempre será de um número maior por um menor, como por exemplo, na divisão

4,25 por 6, os alunos invertiam o 6 por 4,25, explicitando o modelo implícito mencionado.

De acordo com o estudo de Hiebert e Wearne (1988), que investigou as habilidades

dos discentes de manipularem os números decimais, o mau entendimento dos alunos é

decorrente do fato dos discentes serem forçados a memorização de grande quantidade de

regras de pouco conteúdo conceitual para os mesmos. Os autores também constatarem que os

alunos apresentam dificuldades de interpretar os dados semânticos devido às aplicações

rotineiras das regras e procedimentos envolvendo decimais, mesmos os discentes que já

haviam estudado antes os decimais. Fato que não só é observado na resolução de problemas

matemáticos como também em outras áreas do conhecimento, a questão da interpretação de

texto. Já que para efetuar uma aplicação de uma regra, torna-se necessário interpretar os dados

para tal.

Neste sentido, os autores inferem que para ocorrer o ensino dos decimais seria mais

relevante atuara frente ao entendimento na questão conceitual dos mesmos junto aos discentes

ao invés de apenas a memorização de procedimentos estanques e sem sentido. Para os autores,

os discentes já apresentam conhecimentos prévios significativos para operarem no âmbito do

entendimento das operações de números decimais, mas o que faltaria seria compreender esses

conhecimentos prévios e significá-los neste novo sistema de símbolos visando sua plena

competência em contextos propícios de significado para os referidos contextos dos discentes.

A pesquisadora Pandovan (2000) desenvolveu um estudo com base nos erros emitidos

pelos discentes de 50 ano de uma instituição particular de São Paulo, envolvendo operações,

representação e identificação com os números decimais. No aspecto quanto à compreensão de

decimais, a autora percebeu que os discentes o conceituaram como sendo números menores

que zero, além de identificarem como números com a presença de vírgula. A autora percebeu

que os discentes obtiveram dificuldades de relacioná-los na forma de fração decimal e

concluiu que os participantes não entenderam o significado conceitual desses números.

Quanto ao entendimento acerca da ordem e escrita dos decimais, Pandovan (2000)

constatou que os discentes atribuíram um número elevado de vírgulas aos números, alegando

que quanto mais tivessem vírgulas, menores os números seriam, ou seja, entenderam o valor

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do número atrelado a quantidade de vírgula, além de não terem, compreendido também o

significado do zero atrelado a presença da vírgula, pois em comparações com decimais do tipo

0,5 e 0,50, os discentes entendiam como um número natural e afirmavam que o zero não

possuía valor algum. Isso também foi confirmado na escrita do número zero, pois na leitura

dos números decimais, a pesquisadora constatou que os discentes escreveram por extenso a

vírgula, demonstrando incompreensão do valor posicional e muitas vezes a tratando como se

fosse um número natural.

Pandovan (2000) constatou no quesito das operações com os números decimais um

número elevado de erros nas operações de multiplicação, divisão e subtração,

respectivamente. No caso do processo de adição houve desvios quanto ao posicionamento dos

algarismos, ocasionando, assim, os erros nesta operação.

De acordo com Pandovan (2000), ainda avaliando as operações envolvendo os

decimais, o aspecto do posicionamento da vírgula também desencadeou bastante equívoco,

pois muitos discentes efetuavam os cálculos e colocavam vírgula em baixo de vírgula e outros

momentos a tiravam do resultado final.

Segundo Pandovan (2000), em operação, por exemplo, como na subtração ocorreu

desvio ao fazer empréstimo de um número para o outro, não completaram o número com zero

para efetuarem a operação. Na divisão, os discentes realizaram o cálculo invertendo os

números, além de erros no posicionamento da vírgula. Em operações envolvendo a

multiplicação, os discentes apresentaram equívocos básicos tais como o posicionamento de

vírgula sobre vírgula e apresentaram dificuldade na operação de colocação da mesma também

no resultado final, bem como em alguns momentos invés de multiplicarem, eles somavam os

algoritmos. Assim, para a pesquisadora, esses desvios corroboram para se entender que os

discentes não compreenderam o conceito de número decimal e devido a este fato

apresentaram todas essas dificuldades.

Outro estudo desenvolvido por Bianchini (2001) propôs o trabalho com os números

decimais aos discentes do 30 ano do ensino fundamental de uma instituição pública na cidade

de São Paulo, envolvendo o sistema de medidas, tentando observar se isso auxiliaria o

entendimento desses 35 discentes ao conceito dos números decimais. Para isso, a

pesquisadora utilizou uma proposta didática construída em dois momentos. O primeiro

enfocando a ideia de limitação dos números naturais na obtenção de medidas e o segundo

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momento a abordagem dos decimais para o uso de medidas. A pesquisadora tentou saber os

conhecimentos prévios dos discentes a fim de fazê-los conceberem os números decimais.

Bianchini (2001) desenvolveu sua investigação usando três representações do número

decimal: figural, decimal e fracionária. Os dados dos resultados da pesquisa demonstram que

os discentes apresentaram equívocos na leitura e representação gráfica dos decimais, além de

demonstrarem dificuldades na transformação da escrita decimal para a fracionária e vice

versa, bem como o não entendimento da vírgula e do traço de fração. Para a autora, essas

dificuldades também reforçam a ideia de não entendimento conceitual dos números decimais

por parte dos discentes.

Outro estudo interessante buscou conceber entender se o sistema monetário auxiliaria

os discentes a compreenderem o conceito dos números decimais. A pesquisadora Cunha

(2002) desenvolveu um questionário contendo 21 questões envolvendo os números decimais,

visando entender o que os discentes de 20 a 5

0 anos de uma instituição pública de São Paulo

compreendiam quanto à representação do número decimal em três contextos,

respectivamente. O sistema monetário, sistema de medidas e sem contextualização.

Os resultados da pesquisa de Cunha (2002) apontaram que os discentes do 50 ano

desenvolveram uma ideia mais adequada dos números decimais nem questões que envolviam

o sistema monetário e os discentes de 20 a 4

0 anos observaram melhor entendimento em

questões que envolveram o sistema de medidas. No entanto, autora constatou que os discentes

apresentavam mais facilidade quanto à compreensão dos números decimais na oralidade do

que sua materialização na escrita. Como se observou os de 50 ano tiveram devido a isso a

compreensão dos dígitos após a vírgula para compreenderem os centavos como elementos da

fração da unidade do real na escrita decimal.

Segundo o estudo de Vieira (2005), o qual focou o entendimento conceitual que os

discentes de 50 e de 8

0 anos de uma escola pública na cidade de Porto Alegre, capital do Rio

Grande do Sul, tem acerca dos números decimais, constatou-se através dos instrumentos

aplicados que foram atividades ligadas ao conceito, operação e aplicação envolvendo os

números decimais, que os discentes não se apropriaram do significado do conceito dos

decimais, além de encontrarem dificuldades na representação de seu valor posicional e em

suas representações.

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De acordo com Vieira (2005), essas dificuldades dos discentes em relação aos

decimais são decorrentes da abordagem equivocada que a escola faz dos decimais. A autora

critica que o espaço escolar fragmenta o pensamento dos decimais fazendo-o estudar fração

para apenas depois abordar os decimais.

Na visão de Vieira (2005), a escola acaba esvaziando o ensino dos decimais ao

mostrá-los de modo mecânico e sem contexto, favorecendo que os alunos o vejam apenas

como número com vírgulas. Assim, os alunos apresentaram dificuldades de compreender em

atividades o que representa a parte decimal e a parte inteira, além de não entenderem a função

do uso da vírgula no mesmo.

Segundo Vieira (2005), em seus resultados, observou-se que os educandos realizavam

as operações de forma simplificada e mecânica devido o ensino utilizar muito mais da

memorização de regras que trabalhar a compreensão de contextos e valor conceitual dos

decimais. Assim, a abordagem dos decimais nos procedimentos ligados ao ensino dos

mesmos deve favorecer uma compreensão mais ampla e contextualizada que apenas uma

justificativa para aplicação de um ritual de regras mecanizadas pelos discentes.

Uma investigação desenvolvida por Fonseca (2005) teve como objetivo entender o

que os discentes sabiam acerca da divisão dos racionais na forma decimal. O autor usou como

instrumento um teste e uma entrevista voltada a discentes do 60 ano de uma instituição pública

na cidade de São Paulo. O autor percebeu que, na maioria das vezes, os discentes

demonstraram completa inoperância no procedimento da divisão envolvendo decimais. Além

de muitos discentes ao realizarem divisão de um decimal por um inteiro não desenvolverem a

equivalência em relação às casas decimais demonstrando incompreensão do valor da vírgula

no divisor e do zero no quociente. Equívocos também observados quanto à compreensão da

vírgula em divisões envolvendo um inteiro por um decimal. Observaram-se também

dificuldades por partes dos discentes em procedimentos de divisão de dois inteiros que

resultariam em um número decimal.

De acordo com os dados obtidos por Fonseca (2005), os discentes demonstraram

grandes dificuldades nessa operação, pois, segundo os resultados da pesquisa, menos da

metade dos participantes sabiam efetuar a técnica da divisão, bem como outros erros estavam

relacionados à ausência e colocação da vírgula no quociente conquistado nas operações da

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divisão. Como uma possível explicação a este fato, o autor poderá que os discentes entendiam

os divisores como sendo inteiros desconsiderando a presença da vírgula nos decimais usados.

Fonseca (2005) pondera também que em muitas resoluções o aluno usava estratégias

equivocadas para a interpretação do problema tais como multiplicação e adição de parcelas

sucessivas para operacionalizar uma divisão.

Silva (2006) realizou uma investigação comparando o que 32 adultos discentes da

educação de Jovens e Adultos (EJA) e 32 alunos do 60

ano da cidade de Recife (PE)

compreendiam após o ensino formal acerca dos números decimais, tendo como objetivo saber

se o aprendizado e os saberes das crianças eram muito diferenciados dos adultos investigados.

Silva (2006) usou como instrumento de pesquisa uma entrevista visando obter

informações sobre as estratégias usadas pelos participantes da pesquisa (crianças e adultos) e

a aplicação de um teste com questões sobre os números decimais, no intuito de compreender

as dificuldades pelos sujeitos no uso e construção do conceito do número decimal.

A pesquisadora utilizou contextos variados como representações simbólicas, sistema

de medidas e monetário visando uma reflexão mais ampla dos participantes das propriedades,

significados e representação do conceito dos números decimais pelos participantes.

De acordo com os resultados obtidos pelo experimento de Silva (2006), quanto à

representação oral e escrita dos decimais, houve um desempenho melhor dos adultos em

relação às crianças. Neste aspecto, até os adultos que não haviam estudado decimais

obtiveram desempenho superior às crianças que já haviam estudado. A interpretação da autora

a este fato se explica em função do adulto usar sua experiência adquirida fora do contexto

escolar para interpretação do contexto monetário envolvendo os decimais, tais como, por

exemplo, ao interpretarem 47, 5, as crianças liam 47 reais e 5 centavos e não 50 centavos.

De acordo com os resultados de Silva (2006), quanto às operações envolvendo os

números decimais, as crianças apresentaram maiores dificuldades, sobretudo, em operações

de divisão comparadas aos adultos. A autora pondera que isso se deva mais uma vez em

função dos adultos apresentarem uma bagagem maior de experiências fora do ambiente

escolar com práticas envolvendo os decimais que as crianças, pois as mesmas tendem a ter um

parâmetro menor de interações com os decimais comparadas aos adultos.

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A pesquisadora também efetivou a comparação entre os resultados obtidos por

crianças que já haviam estudado os decimais com as que ainda não haviam estudado. Os

resultados obtidos não se diferenciaram quanto ao desempenho. A autora percebeu também

que as crianças de um modo geral se saíram melhor na resolução de questões que envolveram

o sistema monetário e não ao sistema de medidas. Já o desempenho dos adultos que haviam

estudado e não estudado os decimais, demonstraram um bom desempenho nos contextos

monetário e de medidas, devido levarem em conta o conjunto de interações e experiências de

vida para resolver tais problemas envolvendo os decimais.

De acordo com os dados obtidos por Silva (2006), notou-se que a instrução escolar

não determinou a resolução de problemas dos alunos adultos da EJA, visto que os mesmos

levaram sua experiência de vida para a resolução dos problemas envolvendo os decimais. Já

as crianças tanto as que haviam estudado quanto não tinham estudado os decimais

demonstraram grandes dificuldades ao desenvolverem cálculos com os decimais. Fato

atribuído devido as crianças apresentarem dificuldades na compreensão do conceito dos

números decimais, o que dificultaria a aprendizagem de suas operações, representações e

comparações.

Uma pesquisa investigou quais os parâmetros que os discentes franceses levam em

consideração para efetuar comparações entre os números decimais. De acordo com Roditi

(2007), os alunos demonstraram em suas comparações com decimais o entendimento como se

operassem com dois inteiros separados por vírgula, efetuando comparações tais como

2,57<2,317, ou seja, para Roditi (2007), a parte decimal era tratada pelos educandos como se

fosse inteira, fato que ocasionava a problemas de entendimento frente a eventuais

comparações.

De acordo com Roditi (2007), compreender um número é demonstrar conhecimento

não só em suas diferentes representações, mas, sobretudo, também efetuar comparações com

outros em contextos que os mesmos representam medidas. Segundo os dados obtidos por

Roditi (2007), os discentes usavam regras implícitas em procedimentos comparativos entre

números decimais para identificar como classificar se um decimal era maior ou menor que

outro. Na concepção dos discentes pesquisados, o número menor seria aquele cuja parte

decimal fosse menor ou o numero seria menor quando a parte decimal tem o maior número de

casas, ou ainda era identificado quanto menor se a parte decimal do número tivesse iniciado

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com o número 0 (zero). O pesquisador ainda explicitou que os discentes obtiveram mais erros

de comparação em situações de contexto do que as comparadas como fora de contexto.

Roditi (2001) desenvolveu outro estudo envolvendo os decimais. Ele procurou

entender com alunos do 60 ano na França como eles efetuavam resolução de problemas de

multiplicação e divisão envolvendo os decimais. Ele constatou que as dificuldades

manifestadas pelos discentes eram decorrentes da abordagem desencadeada pela ação

docente, pois ele observou as aulas durante dois anos de alguns professores e constatou que

este entendimento era proveniente de um ensino que não permitia aos discentes o

entendimento profundo acerca da resolução de problemas quanto à multiplicação e a divisão.

Os discentes entendiam operações de multiplicação com a ideia de adição sucessiva de

parcelas, conforme se estabelecia diversos programas curriculares, o que desencadeava

problemas em sua execução. Além disso, os discentes usavam as mesmas regras aos inteiros

junto aos decimais. Eles tinham internalizado que em uma divisão o resultado sempre será

menor e em uma multiplicação o produto é maior.

Outra dificuldade apontada por Roditi (2001) foi observada na resolução de problemas

multiplicativos e em divisões foi a colocação da vírgula tanto na montagem do problema

quanto na colocação do produto, muitos até ignoravam a vírgula no resultado.

Outro estudo realizado envolvendo decimais foi feito na cidade de Belém (PA) por

Jucá (2004), que desenvolveu várias atividades visando o ensino dos números decimais com

três turmas de 50

ano do ensino fundamental de uma instituição pública na referida cidade. A

pesquisa envolveu atividades que exercitavam o sistema monetário e o uso da calculadora

para efetuarem as operações de adição, multiplicação, divisão e subtração que estavam

relacionadas à resolução de problemas ligados ao sistema monetário.

A pesquisa observou em seus resultados que na operação de adição, os participantes

não demonstraram dificuldade. Já na operação de subtração obtiveram várias dificuldades tais

como em não efetuarem os “empréstimos” de uma unidade quando era necessário; invertiam

os dados colocando o número maior para dividir um número menor, não atentando ao

comando da questão, além de demonstrarem falta de domínio da tabuada, pois só faziam uso

da calculadora para praticamente todos os mais elementares cálculos.

Segundo os dados de Jucá (2004), quanto aos resultados das operações de divisão, os

participantes demonstraram maiores dificuldades em função de não aplicarem as regras de

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divisão de modo adequado assim como ocorreu também na multiplicação devido à falta de

domínio da tabuada e a colocação incorreta da vírgula no produto. Para a autora, os usos do

sistema monetário e da calculadora favoreceram, sobretudo, o raciocínio lógico dos

participantes nas operações de adição e subtração junto aos decimais e inviabilizou que

chegassem a respostas absurdas provenientes dos problemas propostos.

Outro estudo desenvolvido por Jucá (2008) desenvolveu uma sequência didática

visando com que os participantes construíssem as regras das operações usadas pelos discentes

envolvendo os decimais. Após a aplicação da primeira sequência didática, a pesquisadora

aplicava a segunda sequência, a qual consistia a utilização de jogos visando à fixação das

regras usadas nas operações com os decimais.

Os resultados obtidos por Jucá (2008) constataram que nas operações que envolveram

divisão e multiplicação, os discentes demonstraram pouca compreensão dos algoritmos com

dois decimais, além de problemas no uso da vírgula em ambas as operações. Já nas operações

de adição e subtração, os discentes apresentaram um desempenho superior aos obtidos na

divisão e multiplicação. No entanto, a autora pontua que em muitos problemas os discentes

não compreendiam qual operação realizar, ou seja, não sabiam interpretar os dados do

problema e escolher a operação adequada para resolvê-lo, mesmo as situações serem questões

do cotidiano que envolviam o sistema de medidas e monetário, os participantes demonstraram

grande dificuldade de interpretação, o que deve ser explicado devido ao processo formal de

compreensão e interpretação de texto decorrente de um processo escolar deficitário de

letramento e alfabetização escolar que afeta grande parte dos discentes de nosso país.

Para Jucá (2008), as dificuldades decorrentes na aprendizagem pelos discentes dos

decimais são um reflexo da complexidade desses algoritmos e do modo como são ensinados

no ensino tradicional, em virtude de não possibilitar estabelecer “pontes” entre os conteúdos

matemáticos que possam desenvolver uma compreensão mais ampla, crítica e aplicável deste

conteúdo no cotidiano dos discentes.

De acordo com Jucá (2008), outro ponto a se considerar em sua pesquisa foi o fato de

que ela percebeu que a abordagem do sistema monetário nos espaços escolares parece não ter

possibilitado a construção de um conhecimento conceitual por parte dos discentes dos

decimais, conforme indica os dados da pesquisa desenvolvida por Mestre (2007) no ensino de

decimais através de atividades envolvendo o sistema monetário, em função de ter privilegiado

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mais os procedimentos ao invés de ter trabalhado os conceitos e as relações não terem sido

desenvolvidas, a fim de explicitá-los como deveria. Essa ponderação é uma constatação pela

pesquisadora, através dos dados de Mestre (2007), que debate o ensino dos decimais deve ser

mais investigado no sentido de pensarmos como construir atividades didático-pedagógicas

que possam atuar no amadurecimento conceitual dos decimais pelos discentes de modo a

quebrar com os procedimentos imediatistas e rotineiros que geralmente envolvem os decimais

no âmbito escolar.

De acordo com Jucá (2008), a pesquisa de Mestre (2007), que apontou a utilização do

sistema monetário como ferramenta de opção didática para os discentes entenderem os

decimais, pode ter fundamento se forem realizadas as “pontes” entre as propriedades e os

conceitos dos números decimais aos discentes, a fim de não com figurar penas como um

recurso para o exercício de aplicação de regras mecânicas de operações.

Outra pesquisa sobre números decimais foi desenvolvida por Pereira (2011) junto a

discentes do 60

ano de uma escola pública na cidade de Porto Alegre (RS). A pesquisa

consistia fazer os discentes em dupla resolverem problemas de operações com números

decimais no quadro em sala de aula e exporem suas estratégias e soluções para tais resoluções

e abrirem para todos a discussão no sentido de que em grupo conseguiria interferir e construir

um diálogo e entendimento maior para a operacionalização de uma possível solução de

problemas envolvendo os decimais.

De acordo com os resultados obtidos pela pesquisa, Pereira (2011) esclareceu que essa

metodologia permitiu um maior exercício de autonomia pelos discentes, se vendo como

protagonistas de sua própria aprendizagem e desenvolvimento lógico. No entanto, a

pesquisadora pontua que os mesmos demonstraram muitas dificuldades nas operações de

subtração, divisão e multiplicação, além dos discentes demonstrarem dificuldades na

interpretação e compreensão dos problemas e na execução das operações exercitadas. Outro

aspecto notado como deficitário foi também o posicionamento da vírgula no produto

desenvolvido durante as resoluções dos problemas propostos.

Uma pesquisa foi desenvolvida em Portugal com alunos do 30 ano de uma escola

pública pela pesquisadora Mendes (2012). Ela queria entender como os discentes aprendiam a

operação de multiplicação e quais as dificuldades demonstravam com números racionais e

naturais em sua representação decimal. De acordo com as constatações dos resultados obtidos

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pela autora, em sua pesquisa, indicaram que a evolução da aprendizagem dessa operação não

é linear, muito menos se estabelece do mesmo modo para todos os discentes. Mendes (2012)

constatou também que os discentes usam um número diversificado de procedimentos para

resolverem uma operação de multiplicação. No entanto, vale destacar que a autora observou

que os discentes apresentaram, em muitos momentos, tratavam os decimais como naturais em

função de sentirem grande dificuldade na forma de representação decimal.

Tendo como base os estudos demonstrados acima, percebemos que, em geral, os

discentes apresentam certas dificuldades no estabelecimento do entendimento e

operacionalização junto aos decimais. Isso não quer dizer talvez que os decimais sejam

difíceis ou complexos demais, mas que a forma como são tratados no ambiente escolar pode

ser revista e redimensionada no sentido de possibilitar que o ensino dos decimais não recaia

na memorização e aplicação de regras sem sentido, sem o devido entendimento conceitual do

que são e representam os decimais.

De acordo com Ribeiro (2009), algumas das eventuais dificuldades materializadas

pelos discentes não são responsabilidade apenas dos mesmos na compreensão e uso dos

decimais, mas pode representar também uma lacuna presente na formação das práticas e

concepções dos próprios docentes em relação aos decimais, ou seja, podem estar associadas

aos caminhos didáticos usados pelos docentes e como aprenderam e tratam (ou não) este

conteúdo durante sua formação curricular.

De acordo com Pandovan (2000), embora constituam elementos presentes no

cotidiano dos discentes, estes demonstram grandes dificuldades em seu entendimento, uso e

aplicação, chegando a representar barreiras na aprendizagem matemática nos ciclos iniciais no

ensino fundamental, conforme salienta os PCN:

Embora as representações fracionárias e decimais dos números racionais

sejam conteúdos desenvolvidos nos ciclos iniciais, o que se constata é que os

alunos chegam ao terceiro ciclo sem compreender os diferentes significados

associados a esse tipo de número e tampouco os procedimentos de cálculo,

em especial os que envolvem os racionais na forma decimal (BRASIL, 1997,

P. 100).

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Frente a esta problemática, considera-se relevante discutir e enfocar o ensino dos

números decimais de modo mais elucidativo e contextualizado, a fim de que seja melhor

entendido pelos discentes e que façam pensar não apenas em sua aplicação na efetivação de

cálculos, mas no seu entendimento amplo e conceitual no sentido de permitir que pensem e

compreendam melhor os decimais para posteriormente efetuarem resoluções em problemas

matemáticos e que possa haver uma preocupação melhor em compreender também quais os

entraves e dificuldades que os mesmos apresentam na compreensão e uso deste conteúdo

matemático.

De acordo com as avaliações nacionais, tais como Prova Brasil e SAEB (Sistema de

Avaliação do Ensino Básico), uma das áreas do conhecimento que os discentes apresentam

maiores dificuldades é a matemática. Um exemplo disso é a média dos discentes do 50 ano do

Ensino Fundamental no SAEB em 2012 (BRASIL, 2012), foi de apenas 187 pontos, em uma

escala de referência que vai até 425 pontos, fato que preocupa a dificuldade apresentada por

nossos discentes no âmbito da matemática. Evidencia-se também ser um conteúdo

matemático de pouca compreensão pelos discentes, os números decimais, conforme já

desencadearam algumas pesquisas pela literatura nesta área, apresentam algumas dificuldades

de serem efetivamente compreendidos pelos alunos em nosso contexto nacional como

percebemos em alguns trabalhos acerca deste conteúdo matemático (ZUNINO, 1995;

PADOVAN, 2000; PORTO; CARVALHO, 2000; CUNHA, 2002, BATISTA; SILVA, 2004,

SILVA, 2006).

De acordo com os estudos realizados por Zunino (1995, p. 160), nas séries iniciais do

Ensino Fundamental, acerca dos números decimais demonstram “a forma como produzem e

interpretam números decimais revela que não têm tido oportunidades de reconstruir

completamente os conceitos e as relações que eles representam”. No entanto, a pesquisadora

infere que os discentes não apresentam muita dificuldade de interpretar os números decimais

quando eles se referem a contextos relacionados a dinheiro, no entanto aponta que o ensino

desse conteúdo no âmbito escolar se configura esvaziado do significado do mundo

extraescolar no ensino dos números decimais.

Para Zunino (1995), as aulas de matemática poderiam usar em suas formulações de

situações de aprendizagem ações que refletissem mais o conhecimento extraescolar que os

discentes já têm em relação ao sistema monetário e ao sistema de medidas. Para a autora, isso

poderia levar a compreensão e aprendizado dos discentes das relações entre a escrita do zero e

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do posicionamento da vírgula nos decimais, além das diferentes notações (decimal e

fracionária). Deste modo, a autora propõe que as práticas pedagógicas possam ser

redimensionadas no sentido de se efetivar uma maior compreensão e uso pelos discentes do

próprio raciocínio matemático envolvendo os números decimais.

Para a pesquisadora,

As crianças têm aprendido muito na escola. Na primeira série já sabem que

uma dezena tem 10 unidades, na terceira podem posicionar corretamente os

lugares das potências de 10 [...] e também começam a trabalhar com os

décimos, centésimos e milésimos. Sabem ordenar quantidades decimais

levando em conta a vírgula e realizar operações que precisam compor ou

decompor em base 10. Na quinta série podem repetir – em alguns casos

aplicar – as regras de multiplicação e divisão pela base 10 e realizam (com

maior ou menor êxito) multiplicações e divisões com inteiros e decimais.

Porém, todos estes conhecimentos não resultam suficientes para que

compreendam o que é que fazem quando “se leva” ou “pede emprestado”,

não são suficientes para entender a natureza dos números decimais e

diferenciá-los dos inteiros, não bastam para coordenar os diversos aspectos

da função do 0 em nosso sistema de numeração; não servem para descobrir

as razões que fundamentam os mecanismos utilizados (ZUNINO, 1995, P.

188).

De acordo com Batista e Silva (2004), inferem que no ensino dos números decimais há

também um outro obstáculo que reside no fato de se dar uma ênfase muito grande a questão

do estudo de frações e o estudo de decimais e medidas fica numa dimensão de segundo plano.

Segundo os autores isso se dá pelo fato de nosso currículo brasileiro ter recebido uma

influência significativa de culturas diferentes da nossa, especialmente da inglesa e norte

americana, o que reflete no processo de ensino em nosso contexto brasileiro, pois lá por

hábito se usa mais frações que decimais, tais como uma hora e um quarto, um quarto de dólar,

uma libra e meia, uma polegada e meia, etc. Já em nossa cultura acontece o inverso, usamos

mais decimais que sua representação em frações em contextos envolvendo dinheiro, massa,

volume, superfície e medidas de comprimento, por exemplo.

Segundo Batista e Silva (2004), essas diferenças culturais são muito evidenciadas no

contexto de ensino em nosso currículo. O que favorece um ensino deficitário dos números

decimais em nosso contexto escolar. Fato que dificulta o entendimento e uso por parte dos

educandos, pois o estudo da vírgula é feito de modo, muitas vezes, mecânico sem a devida

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compreensão e contextualização como mereceria, tendo em vista a sua aplicação no contexto

social, pois se olharmos a nossa volta, iremos constatar uma variedade de números com

vírgula em jornais, anúncios, revistas, rótulos, embalagens e encartes dos mais variados

segmentos.

Porto e Carvalho (2000) esclarecem que a aprendizagem dos números decimais não é

apenas um problema constituidor de educandos nas séries iniciais do Ensino Fundamental. As

pesquisadoras realizaram um estudo envolvendo jovens e adultos e perceberam que na

resolução de problemas envolvendo comparação e conversão há muita dificuldade também

dos educandos mais experientes nas séries presentes no Ensino Médio.

De acordo com Porto e Carvalho (2000), os discentes apresentam uma série de

dificuldades envolvendo os números decimais devido às práticas de ensino desses conteúdos

ainda estarem ligadas a memorização de regras que aplicam de modo não adequado por não

terem aprendido o conceito na aprendizagem deste conteúdo. Desse modo, as autoras

enfatizam que esse ensino dos números decimais de forma tradicional não colabora para uma

aprendizagem significativa desse conteúdo. Elas propõem que esse ensino seja construído

levando-se em consideração o conhecimento matemático socialmente construído pelos

discentes no que se refere ao sistema de medidas e monetário, visando um redimensionamento

do planejamento pedagógico pelo docente desse conteúdo, levando os conhecimentos prévios

e aplicações dos discentes.

Segundo Porto e Carvalho (2000), o modelo teórico usado pelo docente no ensino dos

números decimais é equivocado, pois, geralmente, enfatiza-se a exercitação de regras pelo

discente e não abre possibilidades para solucionar e debater problemáticas que os discentes

tenham interesse e reflita seu cotidiano mais imediato, o que possibilitaria ao mesmo discutir

coletivamente temáticas, problemas e equações que se encontram em seu contexto real e não

apenas uma justificativa para se exercitar cálculos pelos cálculos sem aplicação fora do

ambiente escolar.

Silva (2006) investigou após o ensino formal, o que crianças (nas séries iniciais do

Ensino Fundamental) e adultos (da EJA) sabem dos números decimais em relação ao uso e

aplicação desse conteúdo, suas representações, propriedades e significados na resolução de

problemas envolvendo esse conteúdo.

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De acordo com Silva (2006), os resultados do ensino dos números decimais dos

adultos revelaram que apresentaram maior facilidade no entendimento e aplicação de regras

nas operações com os números decimais do que os evidenciados pelas crianças, pois uma das

explicações observadas pela autora faz conceber que os adultos levaram a sua “bagagem” de

experiências vivenciadas na sua existência como elemento para aplicar e resolver problemas

envolvendo os números decimais.

No entanto, o estudo de Silva (2006, p. 181) também apresenta que houve dificuldades

apresentadas pelos adultos em relação à aprendizagem dos números decimais no que se refere

ao aspecto posicional da vírgula, fato evidenciado em outros estudos realizados por outros

autores, como se observa as sentenças...

- O número maior é o que tem a parte decimal com o maior número de

dígitos. Assim, por exemplo, 10,25 seria maior que 10,9. - O número é maior

quando tem mais zeros depois da vírgula. Ter-se-ia, por exemplo, 10,09 >

10,9. - Regra dos números inteiros: 10,25 é maior que 10,5 porque 25 é

maior que 5. - Regra da fração: R$ 10,9 é maior que R$ 10,25 porque 9 são

décimos e 25 são centésimos. Embora o julgamento seja correto, pois 10,9 é

de fato maior que 10,25, a justificativa dada é incorreta, pois devia-se

comparar décimos com décimos ou centésimos com centésimos. Assim, 9

décimos é maior que 2 décimos, ou 90 centésimos é maior que 25

centésimos (SILVA, 2006, p.181).

O estudo desenvolvido por Silva (2006) evidenciou também que houve uma

dificuldade encontrada pelas crianças no entendimento do sistema métrico comparado ao

entendimento dos adultos. Fato explicado pelo desenvolvimento de inúmeras aplicações

realizadas pelos adultos usando esse conhecimento em suas práticas cotidianas, quesito nem

sempre apreciado pelas crianças em seu contexto, ou seja, algumas práticas e usos cotidianos

interferiram em um maior entendimento e aplicação dos números decimais. Um traço que

permite a autora relacionar o fato de as práticas escolares evidenciarem mais as práticas

vivenciadas no contexto extraescolar.

Outro estudo desenvolvido por Cunha (2002) investigou a aprendizagem dos números

decimais em crianças nas séries iniciais do Ensino Fundamental quanto a quebra do número

decimal no contexto monetário, de medidas e matemático, apresentam mais facilidade no

entendimento e uso na resolução de problemas.

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156

Os resultados desse estudo feito por Cunha (2002) inferem que as crianças obtiveram

maior facilidade de compreender e usar a quebra do número decimal pelo uso da vírgula em

contexto de medidas e monetário em comparação aos evidenciados nos problemas

matemáticos. O estudo ainda evidenciou que os alunos da 4ª e 5ª séries (50 e 6

0 anos, nos dias

de hoje, respectivamente) ainda apresentaram dificuldades quanto a atribuição de significado

dos números após o uso da vírgula como porções de unidades. Fato que pode ser mais bem

evidenciado no melhor uso de atividades, que visem uma melhor reflexão do entendimento

desse conhecimento que motive os discentes a pensarem mais no uso social dessas unidades.

O estudo de Cunha (2002) evidencia também que houve pouca diferença dos discentes

em relação às séries iniciais do Ensino Fundamental. Fato que é explicado pela autora devido

ao tipo de ensino que esse ensino acaba acontecendo, de forma isolada e descontextualizada,

de outros conteúdos matemáticos. Cunha pondera ainda uma melhor reflexão por parte do

docente acerca dos desvios ou “erros” cometidos pelos discentes neste processo, elemento que

pode ser levado em consideração em seu planejamento e suas intervenções, “uma vez que se

torna possível antecipar as dificuldades que os alunos poderão enfrentar durante o processo de

ensino e aprendizagem” (p.140). Assim, o docente só permite esse olhar na compreensão da

produção do discente como um elemento desencadeador de sua prática quando esse aspecto

foi levado em consideração em sua formação didática de tratar pedagogicamente o conteúdo.

De acordo com a pesquisa de Pandovan (2000), o conteúdo números decimais se

constitui um obstáculo à aprendizagem da matemática mesmo em alunos com uma trajetória

bem sucedida nas operações com os números naturais. A pesquisadora investigou alunos da 5ª

série (atual 60 ano) do Ensino Fundamental e percebeu que os mesmos enfrentam muitos

problemas no sentido de entenderem o uso do entendimento acerca do uso da vírgula e

chegam até o ponto de ignorá-la concebendo o número decimal como um número inteiro.

A autora pondera que no aspecto didático essa confusão do uso da vírgula pode estar

relacionada a diferentes interpretações desenvolvidas pelos discentes ao manuseio da mesma e

indicarem obstáculos em entendimentos tais como dificultar o entendimento de que os

números naturais e os números inteiros também fazem parte dos números racionais e podem

ser representados como números decimais, bastando acrescentar zeros após a vírgula. Pode

também representar um entendimento equivocado do uso da calculadora, que usa um ponto no

lugar da vírgula. Para a autora, o docente deve interrogar o discente no sentido de entender

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qual hipótese ele construiu acerca do número decimal, a fim de auxiliá-lo em seu

entendimento e aplicação adequados.

A pesquisa de Pandovan (2000) também aborda um outro equívoco cometido,

normalmente, pelos discentes, o qual se refere na leitura e escrita dos decimais, em cada

posicionamento do algarismo na parte decimal. A autora percebeu isso também no momento

do discente efetuar cálculo de multiplicação e ter que contar as casas decimais para posicionar

a vírgula no produto. Por isso, a autora pondera, “ensinados de forma não contextualizada e

significativa para os alunos, são aprendidos como fatos, sendo memorizados e, eventualmente,

esquecidos ou utilizados equivocadamente em outras operações” (PANDOVAN, 2000, 139).

Broitman, Itzcovich e Quaranta (2003) investigaram o valor posicional dos números

decimais, tendo como base os trabalhos de Brosseau e também na Teoria de Transposição

Didática, junto a discentes da educação básica. Os autores inferem ser relevante ao docente

partir do sistema monetário e de medida para ensinar os números decimais aos alunos, tendo

em vista serem elementos mais representativos de contextos, geralmente, vivenciados pelos

discentes, no sentido de operar como eixos de ponte ao conhecimento e aplicação da realidade

dos mesmos a construção de novos significados desejados no conhecimento matemático

acerca desse assunto.

Segundo os autores, o docente partindo do sistema monetário e de medidas facilita o

aprendizado dos problemas evidenciados pelos discentes no entendimento equivocado, que,

normalmente, os mesmos atribuem na abordagem dos problemas envolvidos ao processo de

ensino e aprendizagem dos decimais, mesmo os autores considerando que há limitação do

sistema monetário para aprofundar o estudo dos decimais como a relação entre os decimais e

as frações. Eles concebem ser necessário partir do conhecimento e uso que os educando já de

alguma forma partilham o uso no meio social para se ampliar e aprofundar tal entendimento

matemático, visando uma melhor compreensão de operação, interpretação, comparação e

produção com esses números.

Silva (2006), em seu estudo com 522 alunos de pedagogia de quatro universidades, na

Nova Zelândia e Austrália, o qual focava acerca das percepções dos mesmos sobre as

dificuldades frente ao ensino dos números decimais. Os resultados obtidos indicaram que os

docentes apresentam diversas dificuldades no entendimento e no processo de ensino com os

números decimais. Fato que causa um obstáculo na formação dos docentes que irão atuar

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junto aos discentes visto a necessidade de se trabalhar o conhecimento em matemática no

processo de formação desses professores.

De acordo com Moreira e David (2007), sinalizam que há uma certa carência na

formação inicial de professores em se trabalhar alguns conteúdos matemáticos devido a falta

de base para compreender alguns assuntos e conteúdos matemáticos de maior complexidade.

Para os autores, os números racionais são trabalhados de modo muito simples e até superficial

durante a formação matemática do professor que atuará nas séries iniciais, o que dificulta o

entendimento do mesmo frente a sua complexidade na matemática escolar.

Para os autores, o docente, ao trabalhar o conjunto dos números racionais, em um

determinado momento apresenta um aspecto novo, as frações, fato que não é compreendido

pelos discentes, pois eles tendem a reconhecer apenas os números naturais, fato que demanda

um amadurecimento desse conceito que nem sempre acomete aos discentes...

O professor da escola básica tem que trabalhar com os significados concretos

das frações e outros subconstrutos para que o aluno alcance, eventualmente,

a ideia abstrata de número racional, mas esse processo de construção da

abstração não tem como resultado apenas a demonstração da possibilidade

de se exibir formalmente um conjunto com as características essenciais (e já

concebidas) dos racionais. Ao contrário, este conjunto numérico ampliado,

assim como as relações entre seus elementos (os novos números), as novas

formas de representação, a nova ordem, as novas propriedades, são

conhecimentos novos a serem processados e, eventualmente, assimilados

(MOREIRA; DAVID, 2007, p.61).

Diante disso, que os autores inferem ser necessário um estudo de aprofundamento

mais consistente na formação inicial nos cursos de formação de professores que irão atuar

junto às séries iniciais, visando superar uma prática docente que supra maiores entendimentos

de ver as relações entre os números inteiros e os racionais.

Moreira e David (2007) militam na defesa de os docentes que atuarão na educação

básica, no tocante ao conteúdo dos números decimais, ter ciência das dificuldades prévias dos

discentes a este conteúdo como ferramenta que propicie esclarecimentos no sentido de se

construir uma prática pedagógica mais condizente ao entendimento e uso desse conteúdo

matemático. De acordo com os autores, o processo de aprendizagem dos números inteiros e

decimais não representa apenas entender das regras e dos nomes das ordens decimais, mas diz

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respeito uma série de conexões e relações ao sistema de numeração decimal aos conceitos de

numero racional e de frações e sua aplicação no contexto.

Na verdade, entendemos que as pesquisas de Brousseau (1980; 1981) acerca dos

números decimais desencadearam de modo indireto ou direto, todas as pesquisas mencionadas

anteriormente, facilitando um lócus de debate do ensino de números decimais no ambiente

escolar.

De acordo com as pesquisas de Brousseau, verificamos como os números decimais

constituíram o currículo escolar nos anos 60 e 70, do século passado na França, período antes

e posterior a reforma de ensino naquele país. Essa visão, em nosso entendimento, ainda é

muito recorrente atualmente em nosso país, a qual indica a visão dos números decimais como

naturais munidos de uma vírgula e os mecanismos para operações.

Conforme, reitera Damico (2007, p.87), nessa discussão, de acordo com suas

pesquisas,

a ênfase exagerada nos procedimentos algorítmicos e o treinamento

exaustivo por intermédio de extensas listas de exercícios repetitivos e

descontextualizados acarretam, muitas vezes, um distanciamento entre as

operações e a compreensão do significado do cálculo realizado. Quando

estas operações envolvem números racionais, o problema se torna ainda

maior (DAMICO, 2007, 87).

Para Damico (2007), baseado nas concepções de Brousseau, um problema frequente

no ensino dos números decimais está relacionado ao fato de enfatizar os processos de

números racionais do que trabalhar os seus aspectos conceituais. Para o autor, segundo

Brousseau, devia-se dar maior ênfase no trabalho com situações-problemas, no que se refere à

questão do entendimento dos significados desses números. Segundo Damico (2007), muitos

dos obstáculos no ensino de números decimais refletem mais a dificuldade sobre o que e

como ensinar este conteúdo, por isso é necessário entendê-lo de modo mais conceitual para

transformá-lo em algo mais prático neste aspecto.

Concordamos com as ponderações de Ponte (2004) quando relata ser extremamente

complexo o trabalho com os números racionais na escola básica e que deveria subsidiar mais

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pesquisas em educação matemática nesta área, a fim de se melhorar o processo de ensino e

abordagem no ambiente escolar.

De acordo com Silva (2006), em virtude das dificuldades de abordagem no espaço

escolar, deveria haver um numero maior de pesquisas sobre os números racionais, mas

especificadamente aos números decimais, no sentido de discutir melhor como operacionalizar

o ensino desse conteúdo, a fim de desenvolver um melhor entendimento e aplicação pelos

discentes na educação básica.

Segundo os PCN (BRASIL, 1997), constituem-se objetivos para o 20 ciclo do Ensino

Fundamental em matemática em relação ao ensino dos números racionais os seguintes:

construir o significado do número racional e de suas representações

(fracionária e decimal), a partir de seus diferentes usos no contexto social;

interpretar e produzir escritas numéricas, considerando as regras do sistema

de numeração decimal e estendendo-as para a representação dos números

racionais na forma decimal; resolver problemas, consolidando alguns

significados das operações fundamentais e construindo novos, em situações

que envolvam números naturais e, em alguns casos, racionais (BRASIL,

1997, P. 80).

De acordo com os PCN são estabelecidos para se trabalhar neste 20 ciclo (que

corresponde as turmas de 40 e 5

0 anos, atualmente) os seguintes objetivos:

Reconhecimento de números naturais e racionais no contexto diário;

Formulação de hipóteses sobre a grandeza numérica, pela observação da

posição dos algarismos na representação decimal de um número racional;

Extensão das regras do sistema de numeração decimal para a compreensão,

leitura e representação dos números racionais na forma decimal;

Comparação e ordenação dos números racionais na forma decimal;

Localização na reta numérica de números racionais na forma decimal;

Análise, interpretação, formulação e resolução de situações-problema,

compreendendo diferentes significados das operações envolvendo números

naturais e racionais; Cálculo de adição e subtração de números racionais na

forma decimal, por meio de estratégias pessoais e pelo uso de técnicas

operatórias convencionais (BRASIL, 1997, p.85-87).

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No entanto, embora haja a definição pelos PCN do conteúdo e o ciclo correspondente,

o que se problematiza e corresponde à dificuldade iminente no contexto escolar é como o

docente deve trabalhar esses conteúdos, a fim de contribuir significativamente na

aprendizagem de seus educandos.

De acordo com Abrantes, Serrazina e Oliveira (1999, p. 43):

O ensino dos números e das operações na educação básica não deve visar a

aquisição de um conjunto de técnicas rotineiras, mas sim uma aprendizagem

significativa ligada a uma compreensão relacional das propriedades dos

números e das operações. Não basta aprender procedimentos; é necessário

transformá-los em instrumentos de pensamento.

Desse modo, os autores reafirmam que o trabalho docente deve primar em desenvolver

estratégias, que visem os discentes entenderem, pensarem os números decimais para poderem

aplicarem e usarem os mesmos. Assim, ponderamos que talvez represente o erro mais

elementar cometido pelas práticas escolares no trato deste conteúdo, pois, geralmente, se dão

mais ênfase na aplicação de técnicas do que em desenvolver um trabalho relacional para se

efetivar o pensamento do entendimento dos discentes na abordagem deste conteúdo.

Embora sejam muitas ainda as dificuldades relacionadas ao processo de ensino e

aprendizagem dos números decimais em matemática, muitos são os professores que tem

buscado ultrapassar os obstáculos que se apresentam no caminho do ensino da matemática.

Para que haja um resultado positivo na realização de quaisquer atividades é necessário que o

professor desenvolva estratégias e atividades para que os conteúdos trabalhados relacionem-se

com cotidiano dos alunos. Essa contextualização faz com que o aluno relacione o conteúdo

estudado com sua vivência, reconhecendo-o como parte integrante da sua vida e

identificando-o em diversas outras situações diferentes das apresentadas na sala de aula.

Um estudo realizado por Rivolli e Silva (2007) teve como objetivo levar o aluno

a trabalhar com números decimais e medidas de comprimento de forma prazerosa,

relacionado ao próprio corpo, a arte, a ciência.

A importância deste trabalho se dá pelo fato do próprio aluno se encontrar na

atividade, conforme explicação das professoras:

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Esse material relata experiências com atividades de variação de medidas de

comprimento, medidas monetárias, medidas de área de polígonos,

construção de materiais, os quais proporcionam aos estudantes situações

problemas. Para que elas obtenham respostas, os estudantes efetuam

operações com os números decimais, visto que se trabalhando com medidas,

as representações são em quase todas às vezes representadas por valores não

exatos. Tal prática vem de encontro com a proposta desse estudo: de

oportunizar os estudantes a analisarem e operarem com representações não

exatas, que aqui denominamos simplesmente por números decimais. Ao

medirmos as partes do corpo, observaremos que os números inteiros não são

suficientes para expressar as medidas de comprimento analisadas. Surge a

necessidade de representar medidas com números não inteiros [...] Fazer o

aluno entender o conceito do número decimal e partir do entendimento

concreto ao aluno sobre essa temática favorece uma aprendizagem

significativa desse conteúdo da matemática básica (RIVOLLI; SILVA, 2007,

P. 7).

Conforme a citação a aprendizagem do conteúdo se dá de forma significativa, com

a participação concreta e ativa do aluno, o que vai ao encontro do que afirma Sá e Jucá (2006)

afirmam, que, muitas vezes, o ensino dos números decimais é sem sentido, desprovido de

significado, como se fosse um elemento solto, ou sem qualquer vinculo com a vida cotidiana

do aluno. As professoras Rivolli e Silva conseguiram com sua atividade aproximar os

conceitos dos números decimais, medidas e frações a vida social do aluno, como será visto na

descrição da atividade:

Operações com Números Decimais e Medidas: Adição e Subtração: Estando

com as fitas métricas em mãos, após medir algumas partes do corpo,

introduzimos as operações matemáticas com valores exatos e não exatos.

Iniciando pela adição, cada aluno em suas duplas, efetuavam medidas

oralmente e por escrito, como: meu palmo somado com o seu palmo; a soma

de suas alturas; a diferença entre o braço e antebraço e entre os dedos. Os

resultados também foram representados em tabelas, que oportunizavam as

análises de maior que (>), menor que (<) e a igualdade (=); Divisão com as

medidas e Números Decimais: O nosso propósito, neste momento, foi o de

ampliar e aprofundara discussão em torno das operações com números

decimais; com apropriação significativa dos conceitos epistemológicos a

partir de questões pré-estipuladas e as que emergirem no decorrer das

aplicações. Ao constatar e analisar que a longitude de suas mãos é um

décimo da sua altura, os alunos estavam convidados a efetuar cálculos de

divisão com números decimais. (RÍVOLLI; SILVA, 2007, P 13-14).

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163

O trabalho realizado por estas professoras na escola, mostra que existem

possibilidades de diminuir as dificuldades no processo de ensino e aprendizagem dos números

decimais. Transformando a aula de matemática em uma atividade prazerosa, pois a sala de

aula deve ser espaço de interação, de troca, de produção, de reelaboração, de discussão, de

mediação, aqui compreendida como:

espaço de encontro, espaço a ser ocupado pelo diálogo, pela reciprocidade de

pensamento e sentimentos entre o educador e o educando, entre educadores,

entre educandos, pessoas em processo de humanização – um espaço a ser

construído. (...) A mediação se dá quando o professor pensa sobre como o

aluno está pensando ou se sentindo sobre algo, quando o aluno pensa sobre

como o professor e outros pensam e se sentem sobre esse mesmo algo, e

quando, nesse momento, seus olhares cruzam-se e interpretam-se,

percebendo-se enquanto sujeitos concretos, com seus jeitos particulares de

ser, de conhecer, de existir (HOFFMANN,1998, p. 9).

Pois a atividade do professor é por excelência uma atividade de mediação, e a

ação do professor precisa estar com essa base. Outra atividade aqui descrita vai ao encontro

do que diz Hoffmann, a sequência didática foi desenvolvida em duas turmas de 5ª série do

ensino fundamental:

A sequência didática foi elaborada com o objetivo de fazer uma introdução

ao estudo dos números decimais e foi organizada em três atividades, cujos

objetivos eram: Primeira atividade – reconhecer números decimais expressos

por preços de produtos em panfletos de supermercado a partir da pronúncia

dos mesmos; Segunda atividade – classificar números decimais expressos

por preços de produtos em panfletos de supermercado em ordem crescente;

Terceira atividade – realizar operações de adição de números decimais

expressos por preços de produtos em panfletos de supermercado e de

multiplicação destes por números naturais com auxílio de calculadora

(COELHO; COSME; MARCARINI, 2013, P. 2-3).

Esta atividade aqui apresentada exemplifica como o professor pode aplicar o

conceito de números decimais, de forma que o aluno possa aplicá-lo em seu cotidiano, saindo

da aprendizagem mecanicista, este trabalho atinge os objetivos para o Ensino Fundamental, de

acordo com os PCN, e que foram analisados aqui de modo resumido, os quais visam levar o

aluno a compreender e transformar o mundo à sua volta, estabelecer relações qualitativas e

quantitativas, resolver situações-problema, comunicar-se matematicamente, estabelecer as

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164

relações matemáticas e as interconexões com as demais áreas do conhecimento, desenvolver

sua autoconfiança no seu fazer matemático e interagir adequadamente com seus pares. A

matemática pode colaborar para o desenvolvimento de novas competências, novos

conhecimentos, para o desenvolvimento de diferentes tecnologias e linguagens que o mundo

globalizado exige das pessoas. Assim, se concebe que o ensino de matemática prestará sua

contribuição “à medida que forem exploradas metodologias que priorizem a criação de

estratégias, a comprovação, a justificativa, a argumentação, o espírito crítico e favoreça a

criatividade, o trabalho coletivo” (BRASIL, 1997, P. 57).

Tendo como base os estudos demonstrados acima, percebemos que, em geral, os

discentes apresentam certas dificuldades no estabelecimento do entendimento e

operacionalização junto aos decimais. Isso não quer dizer talvez que os decimais sejam

difíceis ou complexos demais, mas que a forma como são tratados no ambiente escolar pode

ser revista e redimensionada no sentido de possibilitar que o ensino dos decimais não recaia

na memorização e aplicação de regras sem sentido, sem o devido entendimento conceitual do

que são e representam os decimais.

Assim como estes professores, outros educadores matemáticos envolvidos na formação

e na educação continuada do professor podem colaborar para um melhor entendimento e,

consequentemente, para o uso adequado dos conceitos dos números decimais, evitando assim

que, um aluno esteja fadado ao fracasso, ou a possíveis problemas em relação à matemática e

ao conteúdo dos números decimais em virtude da falta de compreensão dos obstáculos e

hipóteses construídas pelo discente neste processo de aprendizagem em sua caminhada

acadêmica no espaço escolar.

Após a apreciação, neste capítulo, acerca da literatura acima abordada a respeito dos

números decimais e suas possibilidades no processo de ensino e aprendizagem, iremos

abordar no próximo capítulo sobre o desenho metodológico da pesquisa e seus fundamentos

teóricos e procedimentais.

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165

CAPÍTULO 5 – METODOLOGIA

Este capítulo tem como objetivo abordar os passos metodológicos que foram

desenvolvidos na execução desta pesquisa e apresentar as etapas e procedimentos que

representaram as etapas constituidoras para a execução da produção e tratamento dos dados

no sentido de contemplar os procedimentos metodológicos visando a apreciação do processo

de ensino e aprendizagem dos números decimais com os alunos participantes deste estudo.

5.1 A OPÇÃO METODOLÓGICA

A opção por fazer uso neste estudo da abordagem qualitativa se deu em virtude de ela

representar os propósitos e concepções metodológicas adequadas ao tipo de estudo que

pretendemos realizar e a opção pela pesquisa-ação nos pareceu ser condizente nesse contexto.

Além disso, entendemos com Gatti (2007, P. 51), que “qualitativo, em pesquisa, não é

dispensa de rigor e consistência”.

Erickson (1986) concebe a pesquisa qualitativa como uma terminologia muito ampla,

que engloba vários tipos de metodologias, tais como: fenomenológica, antropológica,

etnográfica, estudo de caso entre outras formas de investigação. Ele destaca o fato de a mesma

ser interpretativa, pois possibilita ao pesquisador realizar uma investigação precisa e pontual

de um aspecto central de investigação qualitativa, que consiste no entendimento dos

significados que as pessoas atribuem aos objetos, eventos e ações, em suas interações e ações

dentro de um contexto social e, por conseguinte, na possibilidade de exposição e elucidação

desses significados pelo pesquisador.

De acordo com Denzin e Lincoln (2006), a abordagem qualitativa é considerada uma

abordagem naturalista, tendo em vista que o pesquisador mergulha no universo da realidade

pesquisada, em seu cenário natural, visando compreendê-lo em sua plenitude, verificando os

seus ritos, significados, suas práticas e vivências no interior deste ambiente. Isso favorece

uma prática interpretativa mais consistente e recheada de elementos para efetuar a

compreensão do fenômeno investigado.

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166

A pesquisa qualitativa envolve o estudo do uso e coleta de uma variedade de

matérias empíricas: estudo de caso; experiência pessoal; introspecção;

história de vida; entrevista; artefatos; textos e produção cultural; textos

observacionais, históricos, interativos e visuais [...]. Entende-se, contudo,

que cada prática garante uma visibilidade diferente ao mundo. Logo,

geralmente, existe um compromisso no sentido do emprego de mais de uma

prática interpretativa em qualquer estudo (DENZIN; LINCOLN, 2006, P.

17).

Neste aspecto, percebemos que a abordagem qualitativa permite uma análise com uma

variedade de técnicas no sentido de entender e interpretar um determinado objeto de estudo,

fato que enriquece a análise do fenômeno abordado e permite inclusive uma triangulação de

ferramentas de pesquisa para se compreender de modo mais aprofundado e significativo tal

foco de investigação.

Em consonância ao pensamento de Croker (2009), a pesquisa qualitativa se debruça

em entender e interpretar os dados, buscando não julgá-los, mas entende-los de modo que

permita compreender o objeto fruto de investigação. Ela consiste em se caracterizar como um

profundo e rico entendimento do contexto pesquisado, por isso sua coleta deve combinar

diferentes instrumentos para se chegar nessa compreensão mais totalizadora do problema

investigado.

De acordo com Moreira e Caleffe (2006), a abordagem qualitativa permite também

uma compreensão mais apurada do universo investigado por permitir focar o pesquisador no

universo social que o fenômeno ocorre, possibilitando que os dados, comportamentos

observados e demais observações nos permitam visualizar de modo mais amplo e genuíno a

totalidade do objeto foco de investigação.

Tendo como base o pensamento de Godoy (1995), a abordagem qualitativa partem de

estudos sobre o mundo real, no sentido de representar o local onde ele acontece e se propaga

em contrariedade a abordagem quantitativa que não se preocupa em focar seu objeto de

estudo no ambiente natural. Ela concebe:

Os estudos denominados qualitativos têm como preocupação fundamental o

estudo e a análise do mundo empírico em seu ambiente natural. Nessa

abordagem valoriza-se o contato direto e prolongado do pesquisador com o

ambiente e a situação que está sendo estudada. No trabalho intensivo de

campo, os dados são coletados utilizando diversas técnicas [...]. Para esses

pesquisadores um fenômeno pode ser mais bem observado e compreendido

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167

no contexto em que ocorre e do qual é parte. Aqui o pesquisador deve

aprender a usar sua própria pessoa como o instrumento mais confiável de

observação, seleção, análise e interpretação dos dados coletados (GODOY,

1995, P. 62).

Segundo Hammersley e Atkinson (1994), esse enfoque possibilita um entendimento da

dinâmica no contexto natural dos comportamentos e interações ali vividos, garantindo uma

visão de como acontecem os dados e como agem os grupos estudados de modo a garantir uma

análise mais próxima desta realidade.

Em consonância ao pensamento de Laplantine (2003), essa abordagem revela uma

ampliação do entendimento de entender como se dão as relações, os comportamentos, as

práticas e saberes vivenciados pelos sujeitos investigados no momento em que acontecem,

permitindo até se fazer uma alusão às relações mais amplas compreendidas como

socioculturais.

Beuad e Weber (2007) concebem a abordagem qualitativa como representativa de

uma ação que emerge de um contexto (social e cultural). Por isso, para se averiguar o que se

passa neste contexto, torna-se necessária uma vivência no mesmo sentido de operar a

compreensão em seus significados, relações, elementos que o constitui enquanto ambiente; e

isso só se torna possível, efetivamente, com a interação do pesquisador no ambiente

investigado junto aos participantes da pesquisa.

De acordo com André (1997), na pesquisa qualitativa, o pesquisador foca seu olhar,

observação e atenção em um aspecto ou fenômeno. Ele procura entender como ele se

apresenta, interpreta e fica imerso no fenômeno de interesse, no sentido de se familiarizar com

o mesmo para poder compreendê-lo, por isso seu comportamento enquanto investigador

consiste em efetuar registros, observações, ouvir pessoas, documentar, registrar e atribuir

significados ao fenômeno investigado.

Para André (2008), a pesquisa qualitativa como sendo uma realidade socialmente

construída, na qual o pesquisador também se faz presente e a “verdade”, representa uma

questão de concordância em um contexto, ou seja, há a compreensão dos elementos sociais

que constroem e determinam aquele fenômeno. Por isso, é relevante um profundo contato

neste universo para o pesquisador poder desvelar e compreender tal realidade.

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168

De acordo com Chizzotti (2003), a observação qualitativa possibilita uma grande

variedade de métodos de coleta de dados e, por conseguinte, isso implica em um trato e

análise desses dados de forma mais ampla e significativa, possibilitando ao pesquisador dar

sentido e interpretar seu objeto de estudo usando diversas possibilidades de foco e

investigação.

Nesta abordagem qualitativa, de acordo com Matos (2001), o papel do pesquisador,

portanto, se configura como elemento de grande relevância, pois ele precisa, ao mesmo

tempo, ser muito sensível para conduzir sua investigação de modo a conseguir obter

informações, dados dos sujeitos e eventos em sua análise que possam permitir-lhe

compreender o fenômeno investigado.

De acordo com Angrosino e Flick (2009), podemos entender que dentro da

investigação qualitativa, a etapa de produção de dados exige significativa atenção do

pesquisador, pois essas informações coletadas estão, geralmente, numa complexa gama de

variáveis entrelaçadas, por isso definir o modo de como ele irá produzir os dados se torna

decisivo para dar sentido e interpretar o fenômeno investigado.

Moreira (2006) chama atenção ao fato de a pesquisa de abordagem qualitativa se

construir praticamente na ação que o objeto de estudo acontece, ou seja, no campo de

investigação e não em dados analisados em laboratório e codificados estatisticamente, por isso

torna-se relevante para o pesquisador estar atento neste campo de coleta e exercitar a

observação precisa e sensível para conseguir verificar determinada realidade, a fim de poder

interpretá-la e ser possível explicá-la em seus passos metodológicos de coleta.

Macedo (2010) salienta um aspecto relevante que embasa o enfoque da abordagem

qualitativa que se refere ao aspecto de tempo e espaço, pois o pesquisador deve entender que

as possíveis conclusões que ele pode inferir ou sinalizar se referem de modo provisório e

mutável, pois como sua pesquisa acontece num momento de tempo e espaço num “ lócus”

social, os fenômenos são mutáveis e não estáticos pela demanda das relações postas e

singularidades vivenciadas entre seus pares. Fato que evidencia suas investigações

equivalentes a uma fotografia daquele momento e ação, mas isso não torna essa investigação

menos válida ou importante por isso, pelo contrário, torna-se relevante para compreender o

que se está evidenciando naquele momento e espaço no referido lócus, no sentido de

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169

ressignificá-los seja no âmbito do entendimento do que se evidencia ali e até em se pensar e

abstrair em eventuais intervenções.

De acordo com Melo (2002), outro aspecto relevante para se entender a relevância na

escolha pela abordagem qualitativa se refere ao fato de a mesma possibilitar uma série de

inferências no sentido de manter um diálogo mais dinâmico e efetivo entre os participantes

pesquisados e o pesquisador, formando uma teia de significados e possibilidades que

permitem uma variedade de práticas interpretativas de modo interligado que possibilita

entender o objeto de pesquisa em seu próprio contexto.

Como postula Flick (2004), a pesquisa qualitativa representa uma escolha consciente

da trajetória que a pesquisa pretende investigar, do contexto e sujeitos, mas que esse caminho

não se fecha no planejamento inicial dessa jornada, mas se constrói e reconstrói a cada novo

passo em direção a várias tomadas de decisão visando a melhor forma de entender o objeto de

estudo e até poder intervir nele.

Para tal percurso de pesquisa sustentamos o uso da pesquisa qualitativa, conforme

orientam Ludke e André (1986), que descrevem cinco características que caracteriza uma

abordagem de pesquisa qualitativa: a fonte direta dos dados é decorrente do ambiente natural

e o investigador é o principal agente na coleta dos dados; os dados que o investigador coleta

são essencialmente de caráter descritivo; os investigadores que usam metodologias

qualitativas têm maior interesse de entendimento do processo em si do que pela valorização

dos resultados em si; a análise dos dados é feita de forma indutiva e o pesquisador destaca

interesse em compreender o significado que os participantes atribuem às suas experiências.

Segundo Brzezinski, Abbud e Oliveira (2007, p.83), a pesquisa qualitativa no âmbito

educacional se mostra uma tipologia multivariada, pois “agrupa vários tipos de investigação

com características semelhantes”. Os autores ainda salientam que o enfoque qualitativo

possibilita uma riqueza de possibilidades para se compreender o espaço escolar, pois pode

revelar a complexa teia de relações que acontecem na dinâmica de sala de aula, mostrando

como se dá o processo educativo em sua interface cultural, institucional e a prática

pedagógica através da relação professor e pesquisador imersos no cotidiano escolar.

Na perspectiva de Moreira e Caleffe (2006), o enfoque qualitativo sinaliza um olhar

sensível e atento que dirige para uma observação e registro, o qual possibilitará uma

visualização mais holística do fenômeno investigado, permitindo revelar as minúcias que

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170

compõem as ações e relações entrelaçadas no contexto enfocado. Esse aspecto é de suma

relevância e demonstra o quanto esta abordagem é viável para o trabalho de investigação pelo

figura do pesquisador na plena compreensão do que ele pretende desvelar e conhecer como

objeto de estudo, sobretudo, em contextos educativos formais, que constituem um rico arsenal

de complexidade e variáveis imbrincadas em sua realidade.

Para André (2008), o olhar qualitativo permite o conhecimento mais pleno do

ambiente educacional, por que é mais sensível para obter informações que geralmente não são

alcançadas pela abordagem quantitativa, uma vez que permite a compreensão do pensamento,

sentimento e ação dos sujeitos envolvidos no ambiente que os mesmos próprios produzem e

como produzem tais acepções. Para ela, “(...) a descoberta de novos conceitos, novas relações,

novas formas de entendimento da realidade” (ANDRÉ, 2008, p.30) está intimamente presente

no universo complexo educacional em seu aspecto micro e macro.

Nesse sentido, podemos perceber que a abordagem de cunho qualitativo busca

primordialmente metodologias que possam gerar dados descritivos, os quais possam refletir o

modo de pensar dos sujeitos da pesquisa. Assim, o pesquisador precisa estar atento e

participar ativamente das atividades propostas, com o objetivo de ouvir, conversar, dialogar e

possibilitar a expressão livre de seus participantes e procurar sempre refletir atentamente

sobre as mesmas, no sentido de ressignificá-las no entendimento de seu próprio objeto de

estudo e olhar suas motivações e intenções de compreender a situação investigada.

O presente estudo foi desenvolvido em função de uma abordagem qualitativa, com

suporte na pesquisa-ação, em que utilizamos como técnicas de dados a constituição de um

grupo colaborativo e a observação participante e como instrumentos de produção de dados:

diários de campo, anotações, máquina fotográfica e trabalhos realizados pelos alunos.

O estudo assumido é de cunho qualitativo uma vez que, procuramos compreender

como se dá em “loco” as necessidades formativas do ensino de matemática quanto à

abordagem dos números decimais na educação de discentes com deficiência visual e por

entendermos que este enfoque nos permite uma compreensão mais substancial do objeto

investigado, nos possibilitando não só poder entender como se dá essa conjuntura, mas

também em refletir e possibilitar novas construções e práticas visando o desenvolvimento de

práticas de ensino diferenciadas ao método tradicional.

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171

5.1.1.Pesquisa- Ação

Elegemos a Pesquisa-ação para o delineamento da pesquisa por considera-la oportuna

em possibilitar uma ação efetiva quanto à problemática enfocada e permitir a construção de

uma resposta interventiva mais sistemática para construir uma prática no processo de

intervenção do estudo proposto durante a aplicação da pesquisa. A opção por tal modalidade

de pesquisa permite levar as nossas discussões a um plano prático, em locais, onde

pudéssemos realmente intervir e de alguma maneira ajudar a fazer mudanças naquela

realidade. Já que, de acordo com Thiollent (2011), a pesquisa-ação é um tipo de pesquisa

social que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução

de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes representativos da

situação da realidade a ser investigada estão envolvidos de modo cooperativo e participativo.

Outro aspecto constituidor da pesquisa-ação, de acordo com Thiollent (2011), diz

respeito a sua estrutura ser flexível. Não se tem uma estrutura determinada e rígida, toda

ordenada e cartesiana. Ela se constitui como um vai e vem de adaptações em função da

dinâmica do grupo investigado e construída com ele e por ele. O pesquisador e o grupo

investigado têm uma interação com a situação investigada de modo a permitir esta estrutura

dinâmica e flexível.

Com a orientação metodológica da pesquisa-ação, os pesquisadores em

educação estariam em condições de produzir informações e conhecimentos

de uso mais efetivo, inclusive ao nível pedagógico. Tal orientação

contribuiria para o esclarecimento das microssituações escolares e para a

definição de objetivos da ação pedagógica e de transformações mais

abrangentes (THIOLLENT, 2011, P. 85).

Neste aspecto, um dos elementos que fazem parte do entendimento da pesquisa-ação

seria a possibilidade de uma ação que possa ser refletida não apenas no aspecto do

pensamento, mas na conjuntura da ação coletiva e práticas educativas que possam responder

às problemáticas de forma mais prática e efetiva, na ação e pela ação dos participantes

envolvidos, de forma conjunta e integrada.

A pesquisa-ação exige uma estrutura de relação entre os pesquisadores e pessoas

envolvidas no estudo da realidade do tipo participativo/ coletivo. A participação dos

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pesquisadores é explicitada dentro do processo do “conhecer” com os “cuidados” necessários

para que haja reciprocidade e complementariedade por parte das pessoas e grupos implicados,

que têm algo a “dizer e a fazer”. Não se trata de um simples levantamento de dados.

De acordo com Tripp (2005), a pesquisa-ação, como método de conhecimento da

realidade, tem utilizado várias matrizes teóricas. Sua principal característica, a intervenção, se

presta tanto à ação educativa, como conscientizadora junto aos envolvidos no processo de

pesquisa.

No entendimento da ação de transformação presente na Pesquisa-ação: uma

metodologia do "conhecer" e do "agir" da realidade social exige da equipe de pesquisa,

preparação, pois a pesquisa científica dos processos sociais, tanto objetivos como subjetivos,

deve saber trabalhar o objeto de estudo de forma interdisciplinar, integrante de diferentes

concepções teóricas e práticas direcionadas à tomada de consciência coletiva para uma ação,

também coletiva, na busca dos interesses dos envolvidos na pesquisa, ou seja, pesquisadores,

pesquisados e comunidade.

Desta forma, segundo Tripp (2005), na pesquisa-ação acontece simultaneamente o

“conhecer” e o “agir”, uma relação dialética sobre a realidade social desencadeada pelo

processo de pesquisa.

Para Thiollent (2011), há a necessidade de o pesquisador estar atento ao maior número

possível de informações que possam contribuir para se conhecer o fenômeno estudado. Ele

destaca a importância do registro apurado das atividades, para garantir a transparência da

descrição fidedigna com a realidade em que a experiência foi realizada.

Para Severino (2007, p.82) "na reflexão deliberativa e na pesquisa-ação, mediante as

quais os professores elaboram suas próprias soluções em relação aos problemas práticos com

que se deparam é que os professores se formam”. Este modelo de formação, segundo este

autor favorece os professores a preencher o vazio que existe entre a pesquisa e a prática, além

de permitir que os professores possam desenvolver suas habilidades na tomada de decisões.

Embora cada método de pesquisa seja um método, e seu desenvolvimento dependa da

imaginação de quem o emprega, podemos destacar alguns elementos em comum que

configuram os passos deste modelo com o de pesquisa-ação proposto por Severino (2007,

p.75):

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173

Os professores e professoras identificam um problema ou um tema de seu

interesse a partir de uma observação ou de uma conversa reflexiva; Propõem

formas diferentes de recolher a informação sobre o problema inicial, que

pode implicar tanto um estudo bibliográfico como partir de dados obtidos em

sala de aula ou na escola; Esses dados são analisados individualmente ou em

grupo; Por fim, são realizadas as mudanças pertinentes; E volta-se a obter

novos dados e ideias para analisar os efeitos da intervenção realizada e

continuar o processo de formação a partir da prática.

No caso deste estudo, durante a realização das entrevistas realizadas com a equipe

técnica e os professores participantes da pesquisa, pudemos selecionar nossas ações de forma

que, todos tomassem conhecimento do estudo a ser realizado e a partir de nossas discussões e

reflexões fizemos as devidas modificações e adaptações necessárias.

As discussões levantadas na realização do planejamento e do desenvolvimento das

atividades de pesquisa foram importantes para ajudar a esclarecer dúvidas sobre o tema, para

interferir nas discussões ou durante a concretização das atividades sugerir intervenções de

forma a dar sentido aquelas experiências vivenciadas por todos os participantes da pesquisa.

Na pesquisa-ação o pesquisador desempenha um papel ativo no processo de

equacionamento dos problemas encontrados, no planejamento, no acompanhamento e na

avaliação das ações desencadeadas na pesquisa. Nesse aspecto, há uma simbiose entre a figura

do pesquisador e as pessoas inseridas no contexto pesquisado. Deve haver interação,

entendimento e participação coletiva. Embora o pesquisador deva estar sempre atendo às

situações, ele também como membro da pesquisa pode alterar o contexto assim como os

demais participantes, por isso deve haver um diálogo, o qual possibilite o entendimento

mutuo e cooperação entre todos.

De acordo com Elliott (2000, p.209), a pesquisa-ação deve ser entendida como um

processo no qual os práticos “coletam evidências a respeito de suas práticas e pressupostos

críticos, crenças e valores subjacentes a elas”. Analogamente, McNiff (2002) diz que a

pesquisa-ação implica em tomar consciência dos princípios que nos conduzem em nosso

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174

trabalho: temos de ter clareza a respeito, tanto do que estamos fazendo, quanto do por que o

estamos fazendo.

Ao longo do desenvolvimento das atividades procuramos refletir sobre a nossa prática

docente, seja na troca de experiências, na análise de estratégias mais adequadas para o

desenvolvimento das práticas, seja na proposição de experiências em Matemática, no foco de

estudo abordado, na avaliação das potencialidades das atividades e ao propor novas formas de

avaliação dos alunos envolvidos, no tocante aos ajustes das tarefas educativas, sempre que aja

algum problema, procurando sempre adaptá-las à diversidade e ao contexto dos alunos e

intervir com a perspectiva de provocar mudanças significativas tanto nos alunos quanto nos

docentes envolvidos.

5.2 OS PARTICIPANTES DA PESQUISA

Foram selecionados oito educandos de uma turma inclusiva, sendo que um deles

apresenta deficiência visual, e dois docentes, sendo um docente da disciplina de Matemática

que atuava junto à turma e a docente da sala de recursos, a qual atendia à discente com

deficiência visual. Informamos que a turma era composta de 20 alunos matriculados, mas

apenas 16 alunos frequentando. Nesse sentido, assim, atingimos a representação do

equivalente a 50% da turma como participantes de forma voluntária.

Os discentes participantes eram pertencentes às séries iniciais do terceiro ciclo do

Ensino Fundamental. Todos os participantes da pesquisa assinaram os Termos de

Consentimento Livre Esclarecido (TCLE), conforme apêndices A, B e E, e tiveram suas

identidades preservadas durante toda a execução da pesquisa. Eles foram nomeados pelos

termos: Participante 01, Participante 02, Participante 03, Participante 04, Participante 05,

Participante 06, Participante 07 e Participante 08. Já os docentes foram identificados como:

Docente 01 para indicar o docente que atuava como docente da disciplina Matemática na

turma participante e Docente 02 para indicar a docente que atendia a aluna com deficiência

visual na sala de recursos na referida instituição. Tendo em vista que nosso objetivo não

consistia em estabelecer ponderações, juízo de valor e nem qualquer acepção aos

participantes, mas o nosso foco consistiu em entender e possibilitar a reflexão sobre o

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175

processo de ensino do conteúdo abordado, verificando as potencialidades dos instrumentos

usados na execução da pesquisa.

5.3. O CAMPO DA PESQUISA

A presente investigação foi realizada em uma escola da rede pública da cidade de

Belém/PA, considerada de grande porte, localizada na periferia da referida cidade, a qual

atende em média em torno de mil e duzentos alunos/ano, na Educação Infantil, Ensino

Fundamental e EJA, distribuídos em três turnos de funcionamento.

A escolha por esta unidade de ensino, primeiramente, se deu em função de contemplar

uma aluna com deficiência visual, a única da referida unidade, que atendia a série investigada

havia uma aluna com deficiência visual no turno noturno e que tinha como identidade

pedagógica ser designada como uma escola inclusiva, pois ela apresentava alunos com

deficiência, tais como: deficiência auditiva, deficiência intelectual, autismo, deficiência

visual, deficiência múltipla e deficiência física. A unidade é caracterizada como escola polo

da região e oferece também Atendimento Educacional Especializado (AEE), por meio do uso

da sala de recursos multifuncionais, que atende os alunos com deficiência incluídos no ensino

regular em diferentes disciplinas contidas no currículo escolar tais como: ciências, língua

portuguesa, matemática, história, geografia e artes.

Outro aspecto considerado foi ser uma escola de grande prestígio e referência em

nosso cenário local e estadual, visto que queríamos entender sua dinâmica de funcionamento e

como se dava o processo de inclusão na referida unidade, atrelado também ao fato de sua

localização, o que nos permitiu maior facilidade de acesso, aspecto apontado por Bogdan e

Biklen (1994, p.86), não pode ser descartado, em função de “se a fonte de dados não lhe for

facilmente acessível não será possível entrar e sair do campo de observação”.

Outro aspecto a ser considerado também foi a questão da receptividade da unidade

escolar de estar aberta, autorizando a execução da pesquisa, por parte de seus gestores.

Encontramos bastante segurança, disponibilidade e interesse por parte da escola em ser

parceira em discutir e levantar questões e até desenvolver intervenções de nossa parte para o

desenvolvimento da pesquisa no sentido de pensar e proporcionar elementos capazes de se

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176

operar na busca de qualidade na aprendizagem da matemática, sobretudo, dos números

decimais aos educandos com necessidades educativas especiais, particularmente junto a

discente com deficiência visual, visando provocar uma maior reflexão e problematização

acerca do processo inclusivo em nosso contexto frente as barreiras ainda existentes e

vivenciadas pelas pessoas com necessidades especiais em nosso contexto local e também

regional.

5.4. A QUESTÃO LEGAL

Compreendemos que o fazer científico é de suma importância para o entendimento da

construção do conhecimento e suas possíveis disseminações no campo social e cultural,

entendemos que esse fazer se constrói por pilares de profunda dedicação, estudo e uso de

procedimentos que visem equacionar qualquer eventual barreira de investigação científica e

que há certas orientações e procedimentos, os quais devem ser seguidos visando o pleno

desenvolvimento de este fazer científico. Por isso, reiteramos que desenvolveremos todos os

cuidados éticos necessários para conduzir esta investigação pelo respeito à pessoa do

participante da pesquisa e ao lócus onde se desenvolverá a mesma, no sentido de operar uma

relação de respeitos aos preceitos éticos e de cumprir os parâmetros de investigação científica.

Compreendemos a ética como um elemento vital para o fazer humano que ora se

encontra explicito ou implícito na conduta e consciência humana seja no âmbito

interpsicológico ou intrapsicológico. Assim, o fazer humano é baseado por um código de ética

que está presente no comportamento social e no pensamento humano. Entendemos o código

de ético como:

um acordo explícito entre os membros de um grupo social. Seu objetivo é

explicitar como aquele grupo social, que o constitui, pensa e define sua

própria identidade política e social; e como aquele grupo social se

compromete a realizar seus objetivos particulares de um modo compatível

com os princípios universais da ética. Um código de ética começa pela

definição dos princípios que fundamentam e se articulam em torno de dois

eixos de normas: direitos e deveres (CASALI, 2000, P. 15).

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177

Neste aspecto, os códigos de ética devem ser constituídos por determinados elementos

que estabeleçam e normatizem as ações de uma determinada categoria profissional, caso

presente nos entendimentos dos preceitos, normas e regulamentações impostas aos

pesquisadores no âmbito do conhecimento científico na esfera local e internacional, no intuito

de respeito ao outro e ao exercício da cidadania. Assim, a ética na pesquisa não pode ser

entendida como um elemento burocrático, mas de extrema relevância para a construção do

próprio conhecimento científico e do bem estar social.

No decorrer da investigação proposta por este estudo, tivemos o princípio e o cuidado

ético na condução da pesquisa, pois entendemos que a ética representa um elemento reflexivo

que norteia o conduzir e ser humano em todas suas ações. Isso não seria diferente na

construção do princípio ético de se fazer pesquisa, pois como menciona Freire, nós, seres

“históricos sociais, nos tornamos capazes de comparar, de valorar, de intervir, de escolher, de

decidir, de romper, por tudo isso, nos fizemos seres éticos” (FREIRE, 1997, P. 36).

Nesse sentido, fazemos alusão ao pensamento de Oliveira (2004) que concebe a ética

como um elemento de construção do bem estar comum e um elemento vital para a

compreensão e vivência da cidadania plena, por isso todo nosso trabalho como pesquisador

entende esse aspecto de condução da investigação científica como elemento atrelado a esse

conceito e entendimento, no sentido de operar os procedimentos e técnicas para que possa

respeitar os direitos humanos de nossos participantes e do lócus de pesquisa de nosso

ambiente de investigação.

Em consonância ao pensamento de Vieira e Hossne (1998), compreendemos que a

estreita relação entre ética e ciência deve ser valorizada como um viés de responsabilidade na

e com a pesquisa, no sentido de assumir uma postura de respeito ao participante da pesquisa

no âmbito de respeitá-lo enquanto pessoa e cidadão. Já que o ato em si de construir não se

mostra um ato neutro, mas entendido como uma ação ética, política e histórica. Fazendo

alusão ao pensamento também de Freire (1997), reiteramos ser a ética um elemento

fundamental e constituidor ao existir humano e da plena convivência cidadã, pois “ como

presença consciente no mundo não posso escapar à responsabilidade ética do meu mover-me

no mundo” (FREIRE, 1997, P. 21).

Neste aspecto, destacamos um documento internacional importante, Código de

Nuremberg, de 1964, que deu norte a levarmos em consideração as diretrizes para serem

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seguidas em pesquisas envolvendo seres humanos, que embora não tenha força de lei,

influenciou a construção de princípios e regulamentações em diversos países do mundo,

inclusive em nosso contexto brasileiro, no qual destacamos alguns fragmentos que compõem

este documento e refletem diretamente em nossa legislação brasileira assim bem como

internacional também,

[...] o dever e a responsabilidade de garantir a qualidade do consentimento

repousam sobre o pesquisador que inicia ou dirige um experimento ou se

compromete nele. São deveres e responsabilidades pessoais que não podem

ser delegados a outrem. (...) o experimento deve ser tal produza resultados

vantajosos para a sociedade, que possam ser buscados por outros métodos de

estudo, mas não podem ser feitos de maneira casuística ou

desnecessariamente. (...) o experimento deve ser conduzido de maneira a

evitar todo sofrimento e danos quer físicos, quer materiais desnecessários.

(...) devem ser tomados cuidados especiais para proteger o participante do

experimento de qualquer possibilidade de dano, invalidez ou morte, mesmo

que remota. O experimento deve conduzido apenas por pessoas

cientificamente qualificadas. O participante da pesquisa deve ter a liberdade

de se retirar no decorrer do experimento, se assim o desejar. O pesquisador

deve estar preparado para suspender os procedimentos experimentais em

qualquer estágio, se ele tiver motivos razoáveis para acreditar que a

continuação do experimento provavelmente causará algum dano de qualquer

ordem ao participante[...] (CÓDIGO DE NUREMBERG, 2009, P. 1).

Notamos que muitas das orientações no aspecto ético da pesquisa presentes no Código

de Nuremberg acabaram sendo acolhidos e aceitos internacionalmente, inclusive em nosso

contexto brasileiro, e foram adotados como orientações para desenvolver pesquisas

envolvendo seres humanos. Nesse sentido, reiteramos que em nosso experimento seguiremos

os preceitos da legislação em vigor sobre os princípios éticos no sentido de modo algum

causar qualquer desencontro ao que estabelece ao descumprimento do que preconiza a

discordância desses preceitos legais.

Ressaltamos que os cuidados éticos foram seguidos rigorosamente conforme a

legislação que determina as pesquisas realizadas com seres humanos, por meio do Termo de

Consentimento Livre Esclarecido (TCLE), no qual todos os participantes desta pesquisa

autorizaram a sua participação na pesquisa, a utilização de suas respostas, bem como gravação

de áudio e vídeo, além de resguardar sua integridade em todos seus aspectos, em todos os

momentos da execução da pesquisa, bem como a sua identidade na socialização dos

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resultados da referida investigação científica ora proposta, podendo, no entanto, “se recusar a

participar ou retirar seu consentimento, em qualquer fase da pesquisa” (BRASIL, 1996, P.5).

Informamos que o TCLE foi desenvolvido com base nas orientações presentes nas

Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisa Envolvendo Seres Humanos, Resolução

196/96, (BRASIL, 1996), do Conselho Nacional de Saúde. Inferimos que foi assegurado aos

participantes o sigilo e privacidade quanto à identificação dos mesmos. Nesse sentido, foi

desenvolvido um TCLE que contemplasse odos os aspectos designados pela legislação

vigente e que informava os objetivos da pesquisa, a participação dos mesmos junto a

pesquisa, bem como informava sobre os instrumentos usados na coleta, a não identificação

dos participantes e a possível e eventual desistência dos mesmos em qualquer momento da

realização da coleta de doados.

5.5. OS INSTRUMENTOS DE PRODUÇÃO DE DADOS

A produção de dados desta pesquisa foi desenvolvida com os seguintes instrumentos

de dados: observação, aplicação de entrevista semiestruturada, vídeo gravação e o diário de

campo. A seguir iremos fazer uma caracterização de cada um desses instrumentos de coleta

com a literatura especializada e informamos como usamos em nossa execução na pesquisa.

5.5.1 Observação

A observação constitui um importante instrumento para a investigação científica por

permitir ao pesquisador um contato direto junto ao objeto de investigação e possibilitar a

descrição dos fatos observados de modo a conduzir a pesquisa de modo a compreensão de

como, quando e o que acontece tal qual os dados se mostram e se evidenciam junto ao objeto

investigado.

De acordo com Cowie (2009), a observação é uma metodologia de suma importância

para se conhecer um determinado fenômeno, pois permite entender como acontece e de qual

forma acontece, a fim de se conseguir entender como se configura determinada realidade, a

fim de desvelá-la em todos os seu elementos constitutivos que nos remetem a compreender tal

evento ou objeto de investigação.

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180

Segundo Vianna (2007), a observação consiste em ver e não interpretar de modo

imediato. É relevante efetuar a observação e relatá-la como foi visualizada, processada e

percebida sem que, a princípio, as ideias interpretativas dos observadores sejam levadas em

consideração. Nesta ótica, a observação deve ser apenas registrada tal como se evidenciou

sem a emissão de qualquer análise ou juízo de valor do pesquisador.

De acordo com Hood (2009), a observação também pode ser compreendida como

verificação ou constatação de um fato, podendo se apresentar como do tipo espontânea ou

casual, mas pode ser também apresentada como metódica ou planejada, dependendo do tipo

de intenção e postura do pesquisador e da natureza da pesquisa.

Nesta perspectiva, em consonância as ideias de Vianna (2007), a observação só deve

ser analisada após se processar a sua descrição minuciosa em relação aos elementos

constitutivos do referido ambiente e dos objetos de estudo descritos. Nesta ótica, o papel do

pesquisador consiste em descrever e relatar o evento ou fenômeno investigado e não interferir

nesta etapa com acepções de qualquer ordem de análise e nem nos processos alvo de

observação, pois isso impediria o mesmo de ser fiel neste momento em descrever tal qual a

realidade se apresenta no lócus de investigação contido pela figura do observador.

Em consonância com o pensamento de Stake (2011), a observação pode permitir ao

pesquisador ainda ter uma percepção completa de alguns elementos que configuram a sua

pesquisa, tais como: espaço, procedimentos, objetos, comportamentos, pessoas que compõem

o universo pesquisado em um único momento. Assim, a observação torna-se um instrumento

viável para descobrir novos elementos presentes na realidade investigada que ainda não

tinham sido captados por outros instrumentos; possibilitar uma triangulação combinada com

outros métodos de coleta para uma percepção mais efetiva do objeto de estudo investigado;

um elemento relevante mais apropriado para compreender a complexidade de um ambiente

como uma sala de aula, tal como é o lócus de nossa pesquisa será desenvolvida.

Um elemento relevante no exercício de observação consiste na postura do pesquisador,

ele deve efetuar uma descrição dos dados observados de modo a possibilitar uma conexão que

possa ajudar na analise do entendimento do objeto investigado, com elementos que muitas

vezes não são ditos em outros instrumentos de coleta, mas podem ser facilmente percebidos

no contexto investigado de modo direto ou indireto, através das interações e relações sociais

dos sujeitos envolvidos na pesquisa.

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181

De acordo com Vianna (2007), quanto aos tipos de observação, ela pode ser uma

observação estruturada, observação aberta (livre). A observação estruturada consiste em ser

aquela que o pesquisador elenca elementos que servirão de base para sua coleta no momento

de observação, que geralmente são determinados e definidos antes do mesmo se deslocar ao

ambiente que será objeto de observação. Já a observação aberta, também identificada como

livre, como sugere a nomenclatura se refere aquele momento de observação totalmente sem

qualquer amarra ou objeto predeterminado, consiste em entender os elementos que se dão

num determinado contexto e descrevê-los de modo mais livre e focar em mais elementos que

o constitui.

Segundo Danna e Matos (2006), quanto a postura do pesquisador, a observação pode

ser classificada como participante ou não –participante. A primeira é entendida com a figura

do pesquisador integrando o ambiente investigado, ele participa também como sujeito do

referido ambiente e deve também ser encarado como um sujeito. Já a não-participante se

identifica como o observador não participando de modo efetivo do contexto observado, numa

postura mais independente e distante do contexto observado. Essa escolha se configura em

consonância com a escolha metodológica adotada pela natureza da pesquisa proposta pelo

pesquisador.

Para Gray (2012), na observação estruturada, cabe ao pesquisador ter uma postura de

ser o mais objetivo possível, eliminando por completo sua influência sobre os eventos

enfocados pelo estudo e se limitar a tão somente descrever as ocorrências predeterminadas

acerca do fato em questão. Assim, para a autora, cabe salientar que o pesquisador deve

estabelecer um plano de observação minucioso previamente estabelecido para permitir

elementos necessários à análise da situação investigada, que se configura como um estudo de

observação iminentemente exploratório.

Segundo a perspectiva de Esteban (2010), a observação proporciona uma experiência

direta do pesquisador com o evento investigado, além de constituir um possível

descobrimento de aspectos novos do problema fruto da investigação científica. Para a autora,

a observação também cria um elemento de suma validade no sentido de construir um elo de

aproximação do pesquisador no entendimento cerca da ótica de perspectiva dos participantes,

que configuram seu objeto investigativo.

Para Marcondes (2010), a observação é um instrumento que deve ser estudado e

exercitado dentro de uma perspectiva sociológica e antropológica, pois sempre se remete a um

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contexto social e cultural, que apresenta crenças, valores, costumes e ritos comportamentais

típicos, os quais precisam ser entendidos e decodificados. Para a autora,

É preciso assim que o pesquisador compartilhe de forma mais completa

possível dessa realidade que investiga, participando dos hábitos sociais, dos

rituais, das práticas cotidianas, enfim, da cultura que é seu objeto de análise.

Trata-se, no entanto, de uma participação orientada por seus objetivos

teóricos e metodológicos que, por seu turno, orientam seus registros e

tornam sua visão seletiva. Ou seja, o pesquisador visa sempre a reconstruir o

significado desta realidade, no sentido da determinação de suas implicações

e pressupostos e não apenas integrar-se a ela (MARCONDES, 2010, P.29).

Nesta perspectiva, em consonância ao pensamento da autora, os contextos devem ser

entendidos como ambientes carregados de significados que precisam ser decodificados,

vivenciados e entendidos pelo pesquisador, de modo a garantir seu entendimento nesta

realidade cultural e saber efetuar o sentido dos fenômenos observados em suas análises, a fim

de explicitar esses construtos de modo que permita o uso de sua interpretação sem perceber o

caráter sociológico da realidade investigada.

Gray (2012) orienta que o pesquisador use algum elemento tecnológico para efetivar a

observação, a fim de proceder ao registro da observação de campo, tipo gravador, vídeo ou

máquina fotográfica. O autor orienta que em muitos momentos os eventos observados possam

e devam ser documentados, a fim de serem valorizados os eventos observados de modo a

serem usados na análise dos dados da pesquisa.

A intenção de nosso momento de observação consistiu na escolha pela opção de uma

observação estruturada do espaço, tendo em vista que nosso objeto de estudo pretendia

entender como se dá o ensino da matemática, particularmente, do conteúdo números decimais,

junto à turma que o discente com deficiência visual estava inserido e intervir nesse processo.

Tivemos como objetivo descrevermos como se dá a interação entre aluno-aluno, aluno-

professor, os aspectos metodológicos e didáticos usados em sala de aula e o processo de

ensino da matemática no intuito de perceber se ela acontecia de modo inclusivo, no tocante ao

aluno com deficiência visual.

5.5.2 Entrevista

De acordo com Hood (2009), a entrevista compreende um dos instrumentos mais

usados em uma pesquisa de enfoque qualitativo. Ela tem como objetivo, geralmente,

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183

possibilitar acesso a um tipo de informação que nem sempre é produzido no momento de

observação e, muitas vezes, retrata até uma contradição inerente veiculada pelos próprios

participantes da pesquisa, quando falam o que pensam de uma determinada forma e realizam

sua prática totalmente diferente do que haviam dito. Essa contrariedade pode ser bem vinda

para a análise dos dados pelo pesquisador, que pode demonstrar esta contrariedade na

triangulação dos dados coletados na pesquisa.

Segundo Manzini (2004), a entrevista pode ser classificada de três formas: Entrevista

estruturada, entrevista aberta e entrevista semiestruturada. Entende-se entrevista estruturada

como sendo aquela do tipo mais controlada, na qual o pesquisador formula questões

previamente planejadas ao participante e segue essas questões em sua coleta durante a

realização da entrevista. Já a entrevista aberta, como a própria nomenclatura sugere,

possibilita uma maior liberdade por parte do pesquisador em coletar informações junto a seu

participante. Ela equivale a uma conversa, sem questões pré-estabelecidas pelo pesquisador.

Ela pode entender deixar o participante mais à vontade e tocar em diversos assuntos de modo

livre para envolver o participante e tentar captar suas intenções e pensamentos de modo

menos “armado” e de forma mais descontraída.

Já a entrevista semiestruturada, notamos a presença de tópicos que podem dirigir

previamente a interação entre os assuntos a serem produzidos junto ao participante pelo

pesquisador, sem se configurar um esquema de perguntas fixas e fechadas. Ela permite que o

pesquisador siga uma direção e pode estar atento as respostas do participante e formular

outras questões com base nelas também. Esse tipo de entrevista equivale a um meio termo das

outras duas apresentadas aqui.

Para a realização de qualquer tipo de entrevista, de acordo com Bauer e Gaskell

(2002), o pesquisador precisa estar atento que a escolha por determinado tipo de entrevista

deve estar conectado aos objetivos da pesquisa e possibilitar-lhe coletar informações dos

participantes levando em consideração questões como sua duração (tempo), as relações com o

objeto investigado e as possíveis reações do e com o participante.

Segundo Rea e Parker (2000), o papel de condução da entrevista pelo pesquisador

deve permitir que o mesmo consiga coletar informações cruciais para sua investigação, tipo

onde, o que, quem, quando, em que condições e tentar conseguir obter o que o participante

entende sobre determinada conjuntura e como ele pensa e se comporta frente a wla.

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184

De acordo com o pensamento de Lage (2001), durante a execução da entrevista é de

bom tom que o pesquisador possa refletir sobre o que o seu participante lhe informa e não

deixar de entender o que ele quer dizer com determinados termos ou expressões que possa vir

a fazer uso. Ele pode convidar o participante a falar mais sobre um determinado assunto ou

explicar ou exemplificar uma determinada situação que seja de seu interesse entender, além

de não permitir que fique qualquer duvida no que o participante quis dizer em sua fala.

Durante a realização da pesquisa, segundo Fagundes (1999), o pesquisador deve usar

um tipo de instrumento que possa descrever o que o participante disse e como disse, tal qual o

uso de um gravador ou até filmar a entrevista. Não esquecer também de quando estiver

transcrevendo, possa ser fiel ao que foi coletado pelo participante, inclusive alguns elementos

de sua prosódia tais como entonação, pausa, risos, corte de palavras e tom de voz.

Segundo Lage (2001), o pesquisador deve ser a pessoa aberta para ouvir o participante

no momento da entrevista, uma escuta sensível e ativa, ele demonstrar interesse na fala do seu

informante, na manifestação de suas emoções e eventuais conjunturas, podendo até efetuar

questionamentos que venham dialogar com o mesmo sem influenciar seu discurso ou induzi-

lo. Assim, ele demonstra interesse pelos detalhes no sentido de ressignificá-los e aprofundar

as questões apresentadas pelo participante.

Para Romanelli e Biasoli-Alves (1998), durante o momento de análise do conteúdo da

entrevista, o pesquisador pode criar categorias para analisar as repostas do participante e

efetuar análise com o objeto de estudo por ele investigado e até efetuar comparações com

dados de outros instrumentos de coleta realizados para tentar desvelar o que o participante diz

e como isso está relacionado com o assunto investigado.

Em consonância ao que Duarte (2004) menciona, a entrevista acaba funcionando como

o “coração” da coleta de dados na pesquisa qualitativa, pois junto com demais instrumentos

de coleta, permite ao pesquisador compreender aquele objeto de investigação de modo mais

amplo e rico, podendo realizar a triangulação da pesquisa, permitindo uma análise mais

apurada e satisfatória do fenômeno investigado.

Esclarecemos que, neste estudo, optamos pelo uso da entrevista semiestruturada, em

função da mesma representar uma forma mais adequada de conduzirmos nosso diálogo com

os participantes no sentido de obter dados para entender o contexto de como se dá o processo

de ensino e aprendizagem dos números decimais no contexto investigado e outros elementos

que estão relacionados à questão da inclusão que serão apreciados junto à situação observada

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na turma investigada. Para isso, optamos em entrevistar os dois docentes (Apêndice F) e a

única (1) discente da turma investigada com deficiência visual (Apêndice C), foco também

deste trabalho, pois queríamos entender qual o ponto de vista deles sobre como acontece o

processo inclusivo naquela realidade, a fim de entendermos como os docentes e a discente

pensam, compreendem e agem frente à educação inclusiva.

Informamos que gravamos as entrevistas com os participantes (docentes da turma

investigada e a discente) da pesquisa e, posteriormente, transcrevemos seu conteúdo, a fim de

analisá-las no momento oportuno e que usamos as respostas tais quais foram dadas pelos

participantes, sem a necessidade de realizar uma eventual correção ortográfica, bem como

preservamos a identidade dos mesmos nesta pesquisa, conforme informamos no item “os

participantes da pesquisa”, visando não alterar a forma como eles se comunicam e se

posicionam.

5.5.3 Vídeo Gravação

Segundo Reyna (1995), as pesquisas qualitativas tem primado por usar recursos de

vídeo gravação como técnica de coletar e armazenar dados provindos da coleta de dados. As

imagens e os sons gravados são um material rico para a descrição e interpretação do

pesquisador em sua análise de dados. O uso dessas técnicas também podem endossar

momentos distintos durante a execução da pesquisa seja como representativos da

complementação de uma observação registrada de modo escrito durante a observação ou até

mesmo um importante registro para comprovar um dado percebido na observação em sala de

aula, por exemplo. Às vezes, estes recursos podem até substituir a presença do pesquisador

em uma eventual ausência física no momento de coleta.

De acordo com Ciavatta e Alves (2004), o registro das imagens vem sendo uma

ferramenta para registrar comportamentos e ações. Elas constituem um mecanismo capaz de

captar diversas questões que nem sempre o pesquisador consegue a olho nu em uma

determinada circunstância e momento, além de reduzir o risco de eventual seletividade de

registro por parte do pesquisador e representa um elemento consistente da fidedignidade dos

dados coletados e estabilidade ao referido estudo.

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Para Fischman (2004), a técnica de uso dos equipamentos de áudio e vídeo infere na

qualidade de análise que o pesquisador pode fazer uso, já que pode analisar quantas vezes

forem necessárias para poder descrever e analisar os fenômenos observados, o que nem

sempre é possível apenas com o registro escrito no momento em que um evento acontece.

Uma das grandes vantagens do uso desses recursos, de acordo com Kenski (2003), se

dá em função do grau de exatidão de coleta das informações, o que permite uma eventual

comprovação dos dados coletados e a possíveis questionamentos quanto sua existência e

quanto a eventual subjetividade da pesquisa qualitativa perante alguns questionamentos junto

o resultado das análises.

Segundo Loizos (2002), os usos dos recursos de áudio e vídeo em pesquisa amplia o

olhar do que foi pesquisado, pois permite ver um fenômeno de um ângulo e entender o que

ocorre numa observação, que muitas vezes pela disposição espacial do pesquisador não é

possível, ou seja, pode ser agregador para o surgimento de um dado novo durante a coleta de

dados, podendo operar também na ampliação do dado observado e entender particularidades

constituidoras do objeto de investigação.

Para Pinheiro, Kakehashi e Angelo (2005), para fazer uso desses instrumentos

tecnológicos é necessário preparo também do pesquisador. Ele necessita escolher o ambiente

levando em conta a estrutura física do mesmo, a disposição dos mobiles do ambiente, o fluxo

de trânsito de terceiros e a disposição da iluminação e eventuais poluições ambientais quanto

ao áudio. Um aspecto relevante também discutido pelos autores se refere quanto ao uso dos

recursos audiovisuais representarem um entrave para a participação dos participantes, no

sentido de inibirem sua participação, comportamentos, eventuais ações e até opiniões.

Nesta pesquisa, usamos o recurso de gravação de áudio no momento de execução das

entrevistas junto aos participantes da pesquisa, a fim de registarmos suas falas que foram

depois transcritas e analisadas no momento oportuno. Usamos vídeo gravações em áudio e

vídeo da etapa de intervenção junto aos discentes nas atividades envolvendo o conteúdo de

números decimais com o manuseio das duas ferramentas metodológicas de ensino propostas

por esta pesquisa: Software MusiCALcolorida e o Tabuleiro de Decimais. Vale ressaltar que

nosso objetivo não consiste em descrever todas as horas gravadas e sim alguns momentos

pontuais, mais representativos, para exemplificarmos ou elucidarmos no momento de análise

de dados dos dados investigados.

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5.5.4 Diário de campo

O diário de campo constitui um instrumento acessível e menos intimidador para o

pesquisador usar em um processo de coleta de campo, pois ele pode discretamente efetuar os

devidos registros e de forma menos inibidora frente aos participantes do ambiente observado

comparado como o uso de uma câmera de filmagem, por exemplo, que pode inibir os

membros daquele ambiente em um primeiro momento de coleta de informações.

Patterson (2005, p. 142) define o diário de campo como um "registro pessoal de

eventos diários, observações e pensamentos". Essa definição é ampliada pelo universo de

dados que podem ser coletados pelo uso do diário de campo por Symon (2004, p. 98) que

menciona os tipos de registros que podem ser efetuados, tais como: "reações, sentimentos,

comportamentos específicos, interações sociais, atividades e/ou eventos", em um determinado

espaço de tempo.

De acordo com Alaszewski (2006, p. 1), diário "é um documento criado por um

indivíduo que mantém ou manteve um registro regular, pessoal e contemporâneo". Assim,

para o autor, há quatro características que caracterizam um diário: a regularidade do registro,

que se constituem numa sequência de registros regulares durante um determinado período de

tempo; ser pessoal, que seja desenvolvido por um indivíduo que possa ser identificável; ser

contemporâneo, sendo efetuados os devidos registros no momento em que os eventos ou

atividades se realizaram; e representar um registro propriamente dito, apresentar os elementos

que sejam substanciais que o redator considere relevante para ser adicionado e relatado que

possam embasar uma possível analise ou representação de eventos, atividades, interações,

impressões e sentimentos dos envolvidos no registro.

Segundo Bolger (2003, P. 580), o diário de campo representam "instrumentos de auto-

relato usados repetidamente para examinar experiências correntes". Assim, seu uso é

relevante, pois permite o registro de eventos que podem ser refletidos em diferentes contextos.

No contexto educativo, Zabalza (2004) focou o seu uso cotidiano na prática educativa,

particularmente, no uso dos registros de docentes acerca de sua prática e sobre as turmas e as

ações decorridas em sala de aula, bem como o comportamento e atitudes dos discentes sobre

diversos aspectos.

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188

O diário de campo deve refletir as anotações de relatos ocorridos em cada ida de

campo do pesquisador, a fim de que o mesmo possa depois refletir sobre os acontecimentos

em outro momento sem inibir os acontecimentos naturais que se desenvolvem no ambiente

relatado e nem de forma intimidadora para com os seus membros do referido ambiente de

registro e coleta.

Deste modo, usamos o instrumento de diário de campo na primeira fase de nossa

investigação científica, na Fase Exploratória, que foi posteriormente complementado pelo uso

de entrevistas junto aos participantes envolvidos no referido estudo.

5.6 AS ETAPAS NA PRODUÇÃO DE DADOS DA PESQUISA

A presente pesquisa foi desenvolvida em dois momentos: Fase Exploratória e Fase

de Intervenção.

A Fase Exploratória consistiu no momento, no qual o pesquisador usou a observação

das aulas de matemática na turma enfocada, visando entender como se dava a rotina e as

interações entre os discentes e destes com o docente, além de verificar quais metodologias

eram usadas neste momento pelo docente participante e como se evidenciava a sua prática

pedagógica. Tudo foi registrado no diário de campo.

Ao final da fase exploratória, aplicamos uma atividade de sondagem junto aos

discentes, contendo 20 questões, baseadas em operações aditivas envolvendo os números

decimais, partindo do que eles haviam contemplado em sala de aula, para tentarmos saber

quais as dificuldades manifestadas no entendimento e operação com os números decimais, a

fim de construirmos na próxima fase (de intervenção) as atividades para poder exercitar tais

dificuldades e contribuir para um melhor aproveitamento da aprendizagem deste conteúdo

pelos participantes da pesquisa.

No segundo momento da pesquisa ocorreu a Fase de Intervenção. Nesta etapa,

inicialmente, desenvolvemos dez sessões com o uso das ferramentas metodológicas propostas

em nosso estudo: O software MusiCALcolorida e o Tabuleiro de Decimais. Informamos que

estas dez sessões foram divididas em cinco sessões para cada metodologia adotada neste

estudo. Após o entendimento e uso por parte dos discentes dessas ferramentas metodológicas,

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desenvolvemos atividades com números decimais baseadas no sistema monetário junto a

aplicação de algumas atividades envolvendo as ferramentas metodológicas, respeitando o seu

número de sessões, a fim de verificarmos se as metodologias contribuíam e se demonstraram

sensíveis para operar na aprendizagem e entendimento dos números decimais pelos referidos

discentes. No final desta intervenção, aplicamos uma atividade de verificação, contendo 20

questões, com os mesmos discentes participantes, a fim de avaliar se houve algum êxito no

entendimento deles após o período de intervenção.

Realizamos também entrevista semiestruturada com os dois docentes e a discente com

deficiência visual participantes da pesquisa para confrontar com os dados coletados durante a

observação de campo e para obter maiores esclarecimentos sobre algumas temáticas e

questões, as quais não haviam sido contempladas anteriormente.

Ainda nesta etapa de intervenção, realizamos registros fotográficos dos momentos de

usos das metodologias empregadas neste estudo e das sessões realizadas durante as operações

envolvendo os números decimais.

Descrevemos abaixo todas as ações presentes nos dois momentos de coleta de dados

desenvolvidos no estudo:

Na Fase Exploratória tivemos a seguinte sequência de procedimentos:

1. Autorização da direção da escola para desenvolvermos este estudo e obtenção das

informações sobre a escola, nosso local de pesquisa, tais como: infraestrutura, projeto

pedagógico, quadro discente, quadro docente e demais informações, que permitiram a

caracterização do espaço;

2. Seleção dos participantes da pesquisa e obtenção de autorização de sua participação,

bem como a Aplicação do TCLE (Apêndices A e B) para os pais dos alunos da turma

onde a pesquisa foi realizada, a Aplicação do TCLE (Apêndice E) para os docentes

participantes da pesquisa;

Salientamos que a aplicação do TCLE é uma normativa para resguardar a participação

e identidade dos participantes da pesquisa e cumprir as normas ligadas às diretrizes

normativas estabelecidas pela legislação vigente.

3. Observação estruturada das atividades desenvolvidas pelos participantes da pesquisa

ligadas ao processo de ensino e aprendizagem dos números decimais;

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190

A observação estruturada das atividades desenvolvidas quanto ao assunto abordado em

sala de aula pelo pesquisador pode ser uma ferramenta importante para entender como

ocorre o processo de ensino e aprendizagem na sala de aula investigada, entender

como se processa a prática docente e o uso das metodologias aplicadas ao processo de

ensino, além de entender como se dá a dinâmica de interação entre discente/discente e

docente/discentes em sala de aula, no intuito de entender mais de perto a dinâmica

daquele ambiente de pesquisa.

4. Aplicação de atividades de sondagem aos discentes participantes da pesquisa;

Tendo como base entender o problema de pesquisa investigado nesse estudo,

buscamos entender quais os conhecimentos que os discentes traziam sobre o assunto

investigado, os números decimais, por isso aplicamos uma sondagem (Apêndice D)

para entendermos quais hipóteses e entendimentos os mesmos partilhavam sobre a

referida temática, visando construir os próximos passos para melhor compreender os

conhecimentos já assimilados e acomodados e os que ainda demandam de uma etapa

de reflexão e construção para serem apreendidos por eles.

Na Fase de Intervenção adotamos os seguintes procedimentos:

1. Desenvolvimento de 10 sessões que envolveram treinamento e uso das

metodologias Software MusiCALcolorida e Tabuleiro de Decimais voltadas ao ensino

dos números decimais junto com os alunos participantes da pesquisa.

Tivemos a intenção de usarmos atividades lúdicas e que envolvessem o conhecimento

sobre o sistema monetário para usar em atividades às duas metodologias empregadas

pela pesquisa, no intuito de avaliar o processo de ensino e aprendizagem dos números

decimais através da avaliação dos resultados obtidos através da intervenção

pedagógica juntos aos participantes da pesquisa com o uso das duas metodologias

propostas.

2. Aplicamos atividades de verificação contendo 20 questões, no intuito de perceber se

o processo de intervenção com o uso das duas metodologias tinha oferecido êxito

quanto à superação de algumas hipóteses demonstradas no entendimento do conteúdo

números decimais, comparando o desempenho apresentado pelos discentes com os

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191

resultados obtidos pelas atividades de sondagem aplicadas antes do inicio do uso das

metodologias enfocadas nesta investigação.

3. Realizamos entrevista semiestruturada com a discente deficiente visual (Apêndice

C), pois tínhamos a intenção de obter maiores informações sobre o seu processo de

escolarização, as dificuldades vivenciadas durante seu processo de inclusão e demais

questões ligadas a sua escolarização desenvolvida na instituição investigada.

A entrevista semiestruturada com a referida discente participante seguiu roteiro inicial

contendo 27 questões sobre o processo de ensino e aprendizagem da matemática e

enfocando diversos assuntos ligados à questão metodológica, pedagógica e tentando

compreender quais suas dificuldades no aprendizado dos números decimais.

4. Aplicação da entrevista aos docentes participantes da pesquisa;

Aplicamos um roteiro de entrevista semiestruturada contendo 32 questões inicialmente

(Apêndice F) aos dois docentes participantes da pesquisa, a fim de entender melhor

alguns elementos de como pensam, agem, suas concepções e crenças na construção de

sua prática educativa, no intuito de construirmos uma relação e reflexão sobre o

processo educativo que conduzem e relacionamos aos dados coletados durante o

período de observação de suas atuações no espaço educativo investigado.

Entendemos a entrevista como um elemento relevante para a busca de informações e

dados dos informantes, tendo em vista que possibilita entender o modo de entender tal

realidade investigada na ótica do participante e permite ao pesquisador efetuar

deduções, reflexões e até respostas e questionamentos para entender uma determinada

conjuntura, sem contar em permitir aprofundar e comparar o que o informante fala e

como fala e relativizar com a prática do mesmo, conforme salientam Bogdan e Biklen

(1994).

O desenvolvimento da entrevista com os docentes foi realizado durante a nossa última

etapa da pesquisa, que culminou no último momento de coleta de dados, após o

momento de finalização junto aos discentes participantes com a aplicação de questões

de verificação da acomodação da aprendizagem junto aos discentes. Optamos por

fazer a entrevista por esta representar uma forma mais pessoal de contato com o

docente colaborador, pois possibilita interagir com ele fazendo questionamentos a

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192

partir de um roteiro preestabelecido, adicionando outras questões ao longo da

entrevista decorrentes da fala ou respostas do entrevistado, conforme infere Gil

(2008).

3. A entrevista também proporciona fidedignidade aos dados coletados junto ao

participante. Ela visa resguardar que as respostas representem suas concepções e

crenças dele.

5.7 OS RECURSOS PEDAGÓGICOS USADOS NA ETAPA DE INTERVENÇÃO DA

PESQUISA

Nossa pesquisa usou como ferramenta metodológica na etapa de intervenção duas

metodologias: O software MusiCALcolorida e o Tabuleiro de Decimais. Esses dois recursos

pedagógicos trabalham dois aspectos diferentes no ensino dos números decimais.

O software MusiCALcolorida representa uma calculadora musical que trabalha na

vertente de produzir nos educandos o exercício da percepção visual e a percepção sonora, pois

pode reproduzir um som para correspondente a cada número de 0 a 9, ou mesmo, pode

representar uma cor para cada número de 0 a 9, pois o software possibilita a demonstração do

produto de um cálculo à presença de uma paleta de cores correspondentes ao referido produto

proveniente do cálculo realizado.

O Tabuleiro de Decimais representa uma ferramenta metodológica que usa a

manipulação tátil para desenvolver cálculos, voltados a qualquer discente com ou sem

deficiência, pois há uma representação dos números de 0 a 9 em codas dispostas em duas

colunas, sendo que há 20 colunas no total, divididas em duas extremidades, 10 colunas na

parte superior e 10 colunas na parte inferior, no referido recurso pedagógico, o que possibilita

a escrita em frações e a escrita decimal também com a possibilidade inclusive da inserção da

vírgula. Este recurso metodológico será descrito posteriormente.

Deste modo, estes dois recursos pedagógicos apresentados trabalham elementos

sinestésicos diferentes, os quais se complementam em direção a uma aprendizagem mais

diversificada e direcionada ao exercício de vários órgãos do sentido diferentes, possibilitando

uma aprendizagem holística (integradora) no sentido de possibilitar uma diversidade de

aptidões sensoriais, a fim de oferecer uma aprendizagem mais integradora e até sinestésica,

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193

agindo e se complementando em exercícios mais amplos e complexos sinestésicos, tendo em

vista que os órgãos do sentido associados remetem a sinapses neurofisiológicas mais amplas e

complexas quanto a suas correlações entre os dois hemisférios cerebrais, conforme indicam

Rotta, Filho e Bridi (2015).

Tendo a intenção de esclarecer melhor como funciona cada recurso pedagógico,

iremos descrever um pouco mais cada recurso, o Software MusiCALcolorida e Tabuleiro de

Decimais, com o intuito de descrever como ele surgiu e como funciona cada um destes

recursos visando uma compreensão melhor, a fim de possibilitar um maior entendimento de

seu uso durante a etapa de intervenção e coleta de dados usando tais recursos, que enfocarão o

manuseio de tais elementos metodológicos.

5.7.1 Software MusiCALcolorida

O Software MusiCALcolorida foi inicialmente criado e usado pela pesquisadora

Sinclair (2006). A pesquisadora desenvolveu estudos criando a possibilidade de a calculadora

representar os números de 0 a 9 em diferentes cores nas operações de adição, subtração,

divisão e multiplicação. Assim, inicialmente, o Software MusiCALcolorida focava os o

produtos das operações apenas com a representação visual correspondente a cor representativa

de cada número.

Este estudo desenvolvido por Sinclair (2006) tinha como objetivo compreender quais

as concepções de um grupo de docentes em um curso de formação de professores acerca dos

números racionais. Desse modo, a calculadora só usava naquele momento a representação dos

números, o que se considera como a 1ª etapa de desenvolvimento do software fato que

permitiu a outros pesquisadores desenvolverem uma ampliação desta possibilidade para

alcançar a sua utilização para um público mais abrangente posteriormente.

Partindo das pesquisas realizadas por Sinclair (2006), Healy junto a seus

colaboradores desenvolveram estudos, a fim de possibilitar que o software fosse aperfeiçoado

para atender além da correspondência visual de cores para os números de 0 a 9, também a

possibilidade de representar os respectivos números com determinados sons. Fato que foi

possível, permitindo então que a calculadora pudesse exibir na tela do computador diferentes

representações para os números, tais como a escrita numérica, a representação de uma cor

distinta para cada número e também a possibilidade de representar um som diferente para

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194

cada número, ponderando que esse som pode ser proposto ou modificado pelo usuário da

calculadora.

Outra possibilidade relevante neste aspecto das possíveis representações do software é

a forma de representar os sons e representação do número de vezes de ocorrências dessas

representações em número de colunas quando se trata, por exemplo, de uma divisão de um

número decimal simples ou composto (RODRIGUES, 2008). Tendo em vista que o software

permite a representação de até 500 casas decimais, há a possibilidade de você determinar

quantas colunas você quiser demonstrar, ou seja, pode indicar quantas vezes você quiser

repetir o produto no intuito de informar ao usuário que se trata de uma dízima periódica

simples ou composta, conforme percebemos nas figuras 1 e 2, nas quais temos a

representação da mesma divisão (52/99) e temos duas formas diferentes de representarmos o

seu resultado. Usando 18 ou 47 colunas, por exemplo, conforme respectivamente indicam as

figuras 2 e 3, demonstradas abaixo.

Figura 1:

Representação do cálculo de divisão 52/99 representado em 18 colunas pela Calculadora

MusiCALcolorida

Fonte: Martins (2010).

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195

Figura 2:

Representação do cálculo de divisão 52/99 representado em 47 colunas pela Calculadora

MusiCALcolorida

Fonte: Martins (2010).

Essas duas possibilidades de representação na tabela de cores do software,

demonstrados acima, podem ser muito significativas para alunos com baixa visão e

deficiência auditiva, considerando a visualização e a quantidade de vezes que se representam

o produto das operações através da tabela de cores demonstrada pelo referido software

presentes nos produtos das operações efetuadas, tais como, para exemplificar, a apresentação

de uma dízima periódica simples ou composta. Isso vale também para os discentes cegos

tendo em vista que a repetição do produto através do uso do som permite a compreensão dos

mesmos do mesmo fato refletido, a fim deles entenderem e efetuarem as devidas

diferenciações também quanto ao que configura uma dízima simples ou composta, para

exemplificar nesse mesmo assunto matemático.

Um elemento que podemos acrescentar a essa questão das possibilidades de uso do

software é o fato de o mesmo mostrar em seu visor a operação e o resultado obtido em

numeral como em qualquer outra calculadora, mas há também o fato de a calculadora permitir

uma função que consiste em narrar tudo o que é digitado em sua representação numérica,

equivalente ao uso do sistema de voz para computador conhecido pela nomenclatura dosvox.

Agregando, assim, uma amplitude maior de diferentes tipos de usuários, podendo fazer uso de

tal software tendo ou não alguma deficiência sensorial.

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196

Partindo dos estudos e aperfeiçoamentos propostos por Rodrigues (2008), se deu

posteriormente outros ajustes e alterações propostos por Martins (2010), o que equivale a

constatarmos a dição das funções de permitir ou não representar o número zero por um som,

além do surgimento de uma figura (um martelo) que não possibilita o uso da representação

numérica, podendo ser representada por apenas sons, cores ou números e a inserção de uma

galeria que permite o armazenamento das operações realizadas, na qual é possível armazenar

tanto a sequência de cores presentes no tabuleiro de cores bem como a sequência de sons,

conforme sinaliza a figura 3.

Figura 3:

Representação do cálculo de divisão 7/9 representado em 46 colunas feito pela última versão feita

pela Calculadora MusiCALcolorida

Fonte: Martins (2010).

Houve também outra alteração quanto à possibilidade de modificar o tamanho dos

quadrinhos demonstrados na tabela de cores indicada pelo produto da operação, facilitando

uma maior visibilidade para os educandos com baixa visão ou a outros usuários com

problemas com a acuidade visual, por exemplo.

Martins (2010) também desenvolveu mudanças operacionais quanto ao manuseio pelo

computador adicionando adaptações que pudessem ser usadas pelo teclado do mesmo, tais

como as funções: Ao teclar a letra “C”, a possibilidade de apagar os números inseridos; ao

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197

manusear a tecla “U”, permitir se tocar a música gerada pelo produto da operação e ao usar a

tecla “S”, ser possível parar de emitir o som gerado pelo produto da operação.

Segundo Martins (2010), essas alterações foram importantes para se aperfeiçoar o uso

do software e garantir uma melhor atuação do mesmo, no sentido de oportunizar uma eficácia

pelos diferentes tipos de usuários a exercitar diferentes usos de representação dos números no

manuseio da calculadora MusiCALcolorida, a fim de estar mais ajustada para as diferentes

necessidades de usos e adequadas a todo e qualquer tipo de usuário com deficiência ou não.

5.7.2 Tabuleiro de Decimais

O Tabuleiro de Decimais é uma invenção minha, enquanto pesquisador. A ideia

nasceu quando atuava como participante de um grupo de pesquisa em educação inclusiva no

antigo Campus Universitário da cidade de Marabá/PA, que antes era vinculado a

Universidade Federal do Pará. Hoje, o antigo campus, virou uma universidade federal

independente e chama-se atualmente de Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará

(UNIFESSPA), desde 2012.

O Tabuleiro de Decimais foi então nomeado por mim quando percebi que os discentes

com deficiência visual apresentavam dificuldades no manuseio do Soroban e que, além disso,

os poucos que faziam uso ficavam meio desvinculados dos demais alunos sem deficiência

visual. Os discentes sem deficiência visual que estavam na mesma sala de aula dita

“inclusiva” achavam que o aprendizado do Soroban era muito complexo e neste momento tive

uma ideia de tentar construir um instrumento que fosse mais simples e acessível para ambos

os públicos e que pudesse ser adotado por todos em sala de aula. Neste momento, surgiu o

Tabuleiro de Decimais e alguns docentes puderam usá-lo em sala de aula no município de

Marabá com os seus discentes em diversos conteúdos e momentos.

O instrumento foi inicialmente pensado e estruturado apenas como uma metodologia

para ser usada para representar e transformar números decimais e posteriormente acabou

sofrendo modificações para se efetuar cálculos com os números naturais e decimais,

desenvolvidos por mim. A estrutura do Tabuleiro é de fácil manipulação e entendimento

pelas crianças, sendo este o grande desafio e intuito da criação do referido instrumento. Tinha

intenção de criar algo que pudesse permitir a representação de frações decimais de forma

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198

simples e acessível para o pleno desenvolvimento de sua representação a essa clientela

(videntes e não videntes) em seu contato inicial com o assunto matemático e cobrir algumas

lacunas que não haviam sido pensadas por outros instrumentos já existentes no processo de

ensino e aprendizagem da matemática.

Um primeiro desafio foi criar a possibilidade da escrita de fração de forma mais

simples e em número decimal com a possibilidade desta mesma escrita ter a inserção da

vírgula de forma acessível e sem muita complexidade. Contei com a contribuição de diversos

alunos com deficiência visual em estudos experimentais para aperfeiçoar o instrumento nesta

jornada. Não tive pretensão alguma de criar um instrumento e nada do tipo, ele nasceu da

extrema necessidade de ser um veículo de melhor entrosamento e aprendizagem dos discentes

puderem fazer uso e compartilharem juntos, estarem mais parceiros e perceberem que juntos

poderiam avançar e construir uma aprendizagem significativa e partilhada sem o estigma de

que seria um material apenas para alunos videntes.

O Tabuleiro de Decimais é um instrumento de cálculo matemático, cuja estrutura

lembra um pouco o Soroban, mas há grandes diferenças no manuseio e possibilidades

também, pois a intenção era criar um instrumento mais simples e acessível e que algumas

limitações do Soroban pudessem ser aprimoradas, no sentido de permitir outras possibilidades

de uso. O Soroban apresenta 21 eixos horizontais e o Tabuleiro de Decimais apresenta 20

eixos, sendo divididos em 10 eixos superiores e 10 eixos inferiores. No Soroban destes 21

eixos (colunas) há o eixo (coluna) superior que só é possível a escrita do número 5 e no eixo

(coluna) inferior a escrita até o número 4, totalizando se somarmos os dois eixos (as duas

colunas) a escrita do número 9. Já no Tabuleiro de Decimais, o eixo superior (coluna superior)

permite a escrita do número 0 até o número 9 e no eixo inferior (coluna inferior) permite a

escrita do número 0 a 9, conforme percebemos a representação da metodologia Tabuleiro de

Decimais na figura 4 (abaixo).

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199

Figura 4: Representação da ferramenta Tabuleiro de Decimais

Essa representação do zero (0) constitui outra diferença do Tabuleiro, pois em todos os

eixos há uma conta com textura diferenciada na parte superior e inferior para marcar a escrita

do zero. Ela para os videntes é a única que tem o tamanho menor e a cor transparente. Já para

os usuários com deficiência visual, além deles identificarem por esta questão do tamanho, por

ser menor que as demais, ela apresenta uma viscosidade em toda sua forma que a diferencia

das outras contas que indicam o número um em diante. Há também outra diferença de textura

para representar o número 5, pois ela tem um formato ao toque que se diferencia das demais

por representar uma forma mais quadrada, enquanto as demais são em formato arredondado,

para evitar que os discentes confundam a conta zero (0) como sendo a representativa de um

(1) também. Mesmo que essa questão suscite grande debate na questão da escrita do zero, foi

uma requisição dos próprios usuários com deficiência visual para diferenciar e facilitar

algumas escritas no instrumento, tais como: 2 de 20, 200 e assim por diante.

O Tabuleiro de Decimais também apresenta uma ferramenta de comando no lado

esquerdo que indica qual operação está se efetuando e quando a o uso de fração decimal

também há um comando para sinalizar tal procedimento, que é representado por o único

comando arredondado na parte inferior do lado esquerdo do painel de comando, conforme

percebido na figura 4 acima.

O Tabuleiro de Decimais também apresenta um acessório que pode ser acoplado no

manuseio do instrumento entre os eixos (colunas) e indicar a colocação da vírgula, que pode

ser sentida com um formato triangular para os usuários com deficiência visual e facilmente

visualizada pelos usuários videntes. Esse recurso possibilita a escrita em número decimal de

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200

modo mais simples e acessível e menos complexo que o manuseio do soroban, conforme

percebemos a representação do número 3,45, demonstrados na figura 5 abaixo.

Figura 5: Representação do número decimal 3,45 no Tabuleiro de Decimais

A colocação e a leitura dos números no Tabuleiro de Decimais são bem mais simples e

acessíveis que no Soroban, já que no Tabuleiro cada conta tem o valor representacional mais

próximo do sistema representacional numérico convencional nos eixos superiores e inferiores

que são enumerados de zero (0) a nove (9). Ilustraremos a numeração de 1 a 9 como é

realizada no Tabuleiro, conforme se observa na figura 6 (abaixo). As contas são elevadas para

cima e se indica a representação dos respectivos números em sua representação de

quantidade. Assim, o número 1 será representado por uma conta elevada na coluna, ou seja,

no Tabuleiro de Decimais se representa a indicação de quantidade corresponde à escrita do

algarismo representado.

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201

Figura 6: Representação dos números no Tabuleiro de Decimais de 0 a 9

O Tabuleiro de Decimais tem a mesma relevância de exercitar a compreensão e

manuseio dos sistemas de numeração, pois contextualiza o fundamento posicional das ordens

e classes numéricas já que cada eixo permite o posicionamento de uma ordem: unidade,

dezena, centena; cada três hastes verticais - uma classe: simples, milhar, milhão, e assim por

diante. Há também como induzir a decomposição das ordens, por exemplo, a do número 231

em 200 + 30 + 1, o que faz alusão ao princípio aditivo dos sistemas de numeração.

Destacamos abaixo os números no Tabuleiro de decimais, conforme demonstra a figura 7

abaixo.

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202

Figura 7:

Demonstração da representação do número 231 no Tabuleiro de Decimais

Um primeiro procedimento para se fazer uso do Tabuleiro para Decimais é zerá-lo.

Isso é possível através do movimento de deslizar as contas, que representam os números no

instrumento, para a posição de baixo, tanto da parte superior quanto da parte inferior, a fim de

que a posição das contas retorne para ao plano horizontal, conforme representa a figura 8.

Figura 8: Demonstração do Tabuleiro de Decimais em situação de zerado

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203

Para efetuar qualquer cálculo, basta levantar as contas respectivas correspondentes ao

número no instrumento para iniciar as respectivas representações. Para isso, basta que o

usuário coloque o dedo indicador e o polegar da mão direita, mesmo para os canhotos, e

posicione o número correspondente no instrumento tanto no uso do eixo superior e inferior.

Uma diferença entre o Tabuleiro de Decimais e o Soroban se dá também nas

possibilidades de uso. Já que o tabuleiro permite um manuseio menos complexo que o

Soroban, fato que permite um maior entendimento e uso por discentes com deficiência visual

ou não e seu treinamento e uso é mais acessível neste aspecto.

A colocação e a leitura dos números no Tabuleiro de Decimais são bem mais simples e

acessíveis que no Soroban, já que no Tabuleiro cada conta tem o valor representacional mais

próximo do sistema representacional numérico convencional, nos eixos superiores e inferiores

que são enumerados de zero (0) a nove (9). Ilustraremos a numeração de 1 a 9 como é

realizada no Tabuleiro, conforme se observa na figura 9 (abaixo). As contas são elevadas para

cima e se indica a representação dos respectivos números em sua representação de

quantidade. Assim, o número 1 será representado por uma conta elevada na coluna, ou seja,

no Tabuleiro de Decimais se representa a indicação de quantidade corresponde à escrita do

algarismo representado.

Figura 9: Representação dos números 0 a 9 no Tabuleiro de Decimais

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204

No Tabuleiro de Decimais a coluna das unidades, independente da classe (unidade,

milhar, milhão etc), será sempre uma das colunas com um ponto de referência sobre o eixo

superior ou inferior, por exemplo, primeira coluna à esquerda. Embora, geralmente, a escolha

do ponto de referência ou posição seja livre para representar um número, mas em casos de

operações envolvendo números decimais ou naturais orienta-se que se use a escrita

representada por dezena, centena, unidade de milhar etc. sendo registrado à esquerda, como

na escrita indo-arábico. Além disso, o registro de valores é feito a partir da maior ordem,

como na escrita. Fazê-lo de outra forma tornaria impossível acompanhar a leitura da

representação de um número e sua respectiva escrita, por exemplo, na representação de

987.654, conforme demonstra a Figura 10. No entanto, o Tabuleiro de Decimais permite

registar e/ou operar nos dois sentidos.

Figura 10: Representação do número 987.654 no Tabuleiro de Decimais

OPERAÇÕES MATEMÁTICAS BÁSICAS COM O TABULEIRO DE DECIMAIS

ADIÇÃO DE NÚMEROS NATURAIS

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A ideia da operação de adição está vinculada a noção de acrescentar, juntar. Neste

aspecto, matematicamente seria a ideia da operação: a + b = c onde, a e b são parcelas da

adição e c é a representação da soma. A técnica operatória usada pelo Tabuleiro de Decimais

seria representada pela adição das parcelas uma abaixo da outra e que se adicione da direita

para a esquerda, sendo assim a adição acontece através da sobreposição de parcelas. Você

pode efetuar de duas maneiras a adição, o que chamamos por adição sem transporte (reserva

ou “vai um”) e há adição com transporte. Sendo que a adição sem transporte se dá quando a

soma das contas não ultrapassa nove quantidades, pois se trata de base 10. No entanto, a

adição com transporte acontece quando a soma das contas ultrapassa nove quantidades.

Quando isso ocorre, há a necessidade de se transportar para ordem subsequente.

Temos a operação: 2263 + 1324 = 3587 (Adição sem transporte). Procedimentos:

a)Indica-se que vai trabalhar a adição com o manuseio das duas contas para cima na parte

lateral à esquerda de comando do Tabuleiro de Decimais; b) registrar a primeira parcela 2263;

c) acrescenta-se as quatro contas referentes às unidades da segunda parcela, às três unidades

da primeira parcela; c) acrescentam-se as duas contas referentes às dezenas referentes à

segunda parcela, às seis dezenas da primeira parcela; d) acrescentam-se três centenas

referentes à segunda parcela às duas centenas da primeira parcela; e) acrescenta-se uma conta

referente à unidade de milhar da segunda parcela a duas unidades de milhar da primeira

parcela. Após isso, a operação já está efetuada, conforme indicam as Figuras 11 e 12.

Figura 11: Registro da primeira parcela 2263 no Tabuleiro de Decimais

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Figura 12:

Registro do produto da operação 2263 + 1324 no Tabuleiro de

Decimais

Já para a realização da adição com transporte se faz relevante a compreensão do

sistema de numeração que se está utilizando. Neste caso a base dez, por isso a cada 9

quantidades a ordem se torna saturada, tornando-se necessário o transporte do excedente para

a ordem imediatamente à esquerda (“vai um”). Assim, a cada 10 unidades temos uma dezena;

a cada 10 dezenas uma centena, e assim por diante.

Vale esclarecer que com o Tabuleiro de Decimais se trabalha com quantidades e não

com símbolos como se processa com os algoritmos escritos. Para se realizar a soma: 85 + 46

= 151 (Adição com transporte). Procedimentos: a)Indica-se que vai trabalhar a adição com o

manuseio das duas contas para cima, que sinalizam o procedimento de adição no tabuleiro, na

parte lateral esquerda de comando do Tabuleiro de Decimais; b)Registra-se o número 85 na

parte superior esquerda do tabuleiro de Decimais; c) Registra-se o número 46 na parte inferior

esquerda do Tabuleiro de Decimais efetuando a correspondência de ordem de colocação com

o número acima; d) efetua-se a soma usando as duas partes do tabuleiro, somando as suas

partes e transferindo o resultado para a parte da lateral direita superior ou usa-se a parte

inferior para indicar o produto da operação da soma, e passa-se um eixo (coluna) para indicar

o resultado da operação, conforme demonstram as figuras 13 e 14 abaixo.

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Figura 13:

Registro da adição 85 no Tabuleiro de Decimas para desenvolver a operação 85 + 46

Figura 14:

Demonstrativo da execução da operação no Tabuleiro de Decimais da adição 85 + 46

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SUBTRAÇÃO DE NÚMEROS NATURAIS

A operação de subtração está vinculada à ideia de retirar, complementar ou comparar.

Seja a – b = c onde, a é o minuendo, b é o subtraendo e c é a diferença. No conjunto dos

números naturais, para que seja possível efetuarmos a diferença entre dois números, é preciso

que o minuendo seja sempre maior ou igual que o subtraendo, ou seja, a ≥ b. Desta forma,

para se processar uma subtração no Tabuleiro de Decimais, deve-se partir deste padrão,

ressaltando que há subtração com recurso (“tomar um”) e sem recurso.

Entendemos a subtração sem recurso como o caso mais simples de ser efetuar, quando

a ordem referente ao minuendo é sempre maior que o subtraendo. Ao efetuar a subtração de 8

– 5 = 3, (subtração sem recurso). Temos os seguintes procedimentos no Tabuleiro de

Decimais: a) Indica-se que vai trabalhar a subtração com o manuseio de uma conta para cima

e outra para baixo, que sinalizam o procedimento de subtração na parte lateral esquerda de

comando do Tabuleiro de Decimais; b) indicar o número 8 no tabuleiro e baixar 5 contas; c)

o que restar indica o resultado, 3 contas (que representa 3 unidades), conforme vemos na

Figura 15.

Figura 15:

Demonstrativo da operação de adição 8 -3 =5 no Tabuleiro de Decimais

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No entanto, no procedimento da subtração com recurso é necessário, assim como na

adição, que sejam feitos reagrupamentos, pois se trata do caso em que a ordem do minuendo é

menor que a ordem do subtraendo, conforme se evidencia na subtração: 21 – 14 = 7

(subtração com recurso). Procedimentos: a)Indica-se que vai trabalhar a subtração com o

manuseio de uma conta para cima e outra para baixo, que sinalizam o procedimento de

subtração na parte lateral esquerda de comando do Tabuleiro de Decimais; b)registrar o

número 21; c) retirar 1 dezena; d) retirar 4 unidades. No entanto, não é possível retirar 4 de 1,

então deve-se retirar 1 dezena; e) como foi retirada 1 dezena, então deve-se subtrair 10 de 4 e

teremos 6 unidades, isto é, 10 – 4 = 6, e registrar na haste das unidades. Obtém-se o resultado

7 unidades, com a soma da unidade que existia antes, conforme Figura 16, a seguir.

Figura 16:

Indicação do registro do número 21 na operação 21 -14= 7 no Tabuleiro de Decimais

REPRESENTAÇÃO DO NÚMERO DECIMAL NO TABULEIRO DE DECIMAIS

Podemos representar um décimo de duas maneiras no Tabuleiro de Decimais,

conforme indica a figura 18, na parte de cima a representação fracionária (1/10) e na parte de

baixo a representação decimal (0,1), conforme indica figura 17, por exemplo. Já que um

décimo é a décima parte do inteiro.

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Figura 17: Representação decimal de um décimo (0,1) no Tabuleiro de Decimais

Figura 18:

Representação fracionária de um décimo no (1/10) no Tabuleiro de Decimais

ADIÇÃO COM DECIMAIS

Para se processar a adição com números decimais no tabuleiro, deve-se indicar adição

no posicionamento de comando à esquerda do Tabuleiro de Decimais, que se dá subindo os

dois indicadores de adição para parte superior. Depois coloque os números no lado direito ou

esquerdo na parte superior e caso seja necessário use a parte inferior, caso não seja possível

colocar ambos na parte superior, se excederem o equivalente ao número nove (9).

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Registre um número abaixo do outro, levando em consideração a posição de vírgula

em baixo de vírgula (inserção de marcador no tabuleiro indicador de vírgula).

Após a colocação dos números e das vírgulas, proceda a adição como se fossem

números naturais e insira a vírgula na mesma em sua mesma posição e registre ao lado

esquerdo do Tabuleiro o resultado.

Para exemplificar temos a adição de 0,1 + 0,3, o que representa o produto igual a 0,4,

conforme representa a figura 19.

Figura 19: Representação da adição dos decimais 0,1 + 0,3 = 0,4

SUBTRAÇÃO COM DECIMAIS

Para efetuar subtração com decimais no Tabuleiro de Decimais, deve-se indicar a

subtração no posicionamento de comando à esquerda do Tabuleiro de Decimais, que se dá

subindo uma única conta para parte superior e deixando a outra em baixo. Depois registra-se o

número na parte superior esquerda ou direita dentro do tabuleiro de decimais e o outro na

parte inferior, colocando-os vírgula em baixo de vírgula (inserção do indicador de vírgula do

instrumento no respetivo número indicado).

Efetua-se a subtração como se fossem números naturais e se mantém a posição e

colocação da vírgula no canto direito superior ou inferior do instrumento. Temos como

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exemplo a operação de subtração com os decimais 0,3 – 0,2, resultando no produto 0,1,

conforme figura 20.

Figura 20: Operação de subtração dos decimais 0,3 – 0,2 = 0,1 no Tabuleiro de Decimais

Informo que é possível desenvolver cálculos de multiplicação e divisão com os

números naturais e decimais, mas não constitui o objeto desta pesquisa trabalhar usando tais

tipos de operação, já que estamos desenvolvendo apenas operações aditivas com os números

decimais, pois este foi o conteúdo estudado pelos participantes durante o ano letivo em

questão.

5.8 AS ATIVIDADES

As atividades propostas durante a intervenção junto aos participantes da pesquisa

consistiram em abordar as duas metodologias descritas acima (Software MusiCALcolorida e o

Tabuleiro de Decimais) como mecanismo didático e pedagógico em três atividades lúdicas,

que envolvessem o conhecimento do sistema monetário para fazê-los refletirem, a partir deste

conhecimento matemático, possibilitar junto aos participantes pensarem no conceito e nas

operações envolvendo os números decimais.

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Usamos como atividades dois jogos lúdicos que faziam os discentes pensarem sobre

práticas presentes na realidade através de operações que envolvessem acréscimos e descontos

em alimentos escolhidos pelos próprios discentes como favoritos em seu hábito alimentar.

Buscamos efetuar uma abordagem interdisciplinar que envolvesse os participantes em

pensar nos alimentos referidos em seu hábito alimentar com a representação de cálculos

matemáticos envolvendo os mesmo, tais como o fato de pensar em questões como inflação,

valor alimentar dos alimentos e sua representação no valor de custeio e compra destes

produtos. Queríamos provocar nas atividades que os discentes não apenas operassem cálculos

matemáticos, mas que esses cálculos fossem mais representativos de seu universo, por isso

escolhemos partir dos hábitos alimentares dos discentes para fazê-los entender, discutir e

refletir que a matemática pode estar presente em um universo mais amplo de situações e

elementos do cotidiano representacional dos mesmos, o que nem sempre é trabalhado e

apreciado no ambiente escolar, conforme constatamos em nosso período de observação das

aulas ministradas na turma.

Nossa intenção com estas atividades não era privilegiar apenas a questão do cálculo

matemático, mas também explorá-lo de uma outra dimensão que fosse mais provocador de se

pensar numa prática que pudesse estar mais associada a outras disciplinas e áreas de

conhecimento e não apenas isolada à própria matemática e na resolução de problemas em si.

5.9 A PRODUÇÃO, O REGISTRO DOS DADOS E ANÁLISE DOS DADOS

Os dados produzidos em cada uma das fases da pesquisa foram registrados para serem

posteriormente analisados e descritos para serem apresentados e refletidos com o uso da

literatura especializada no capítulo 06, o qual trata da análise dos dados resultantes da

pesquisa.

Desenvolvemos os registros decorrentes dos elementos que constituíram o momento

de observação das aulas de matemática da sala de aula enfocada por este estudo e

apresentamos os elementos que mais nos chamaram a atenção nas seguintes categorias de

análise: Interação aluno-aluno; interação aluno-professor, questões didático- metodológicas na

abordagem do conteúdo matemático números decimais.

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Outra categoria de análise dos dados da pesquisa constituiu na reflexão acerca dos

dados coletados durante a realização das entrevistas semiestruturadas aos docentes e a

discente com deficiência visual participantes do estudo. Queríamos saber quais as concepções,

crenças, conceitos e ideias da docente acerca de várias discussões sobre a educação inclusiva

e como ela desenvolve o processo de ensino e aprendizagem dentro desta ótica. Pretendíamos

compreender quais as dificuldades e entraves relatados sobre o ensino da matemática a alunos

com deficiência visual e como estavam embasadas suas práticas pedagógicas na perspectiva

inclusiva. Nesta etapa, tivemos a intenção de descrever e analisar as respostas colhidas na

entrevista semiestrutura com os docentes, os quais atuavam na turma investigada e,

posteriormente, fizemos uma análise usando a literatura especializada, demonstrada no

capítulo 6 desta tese.

Levantamos também a literatura especializada para processar a análise realizada com o

conteúdo proveniente da aplicação da entrevista semiestruturada com a discente com

deficiência visual participante da pesquisa. Pretendíamos entender quais os dilemas,

dificuldades que a mesma sente e passa, dentro da ótica da referida discente, acerca do

processo de ensino e aprendizagem da matemática, mais especificamente, quanto ao ensino

dos números decimais. Queríamos saber como ela age, interage, aprende e se desenvolve

dentro da sala de aula investigada.

Investigamos também as contribuições, na fase de intervenção, das atividades

metodológicas aplicadas aos discentes no processo de ensino e aprendizagem dos números

decimais propostas neste estudo com o uso da aplicação do Software MusiCALolorida e do

recurso didático Tabuleiro de Decimais, tentando desvelar se essas metodologias operaram

significativamente para o entendimento e aprendizagem dos discentes quanto ao assunto

matemático investigado neste estudo. Queríamos saber se esses recursos possibilitaram um

maior entendimento e compreensão dos números decimais pelos alunos investigados e se as

duas metodologias operaram na construção mais inclusiva de uma prática compartilhada de

aluno com deficiência visual com alunos sem deficiência visual num aspecto mais inclusivo e

partilhado e não dicotômico e segregador.

Após a apreciação do entendimento metodológico do estudo em questão e do

funcionamento das metodologias adotadas, iremos apresentar os resultados da pesquisa e

faremos a exposição de suas análises com a literatura especializada no capítulo a seguir

(Capítulo 6).

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CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

Este capítulo tem como objetivo apresentar os dados produzidos durante a pesquisa de

campo, tecendo reflexões em diálogo com a literatura pertinente, a fim de entendermos o

objeto de pesquisa, no intuito de entendermos melhor a quais os caminhos e reflexões esses

dados direcionam em termos da problemática investigada. Não temos a intenção de efetuar

julgamentos ou acepções, mas questionamentos no sentido de contribuir em futuros trabalhos

sobre o assunto e provocarmos algumas ponderações do que sinalizam e apontam os dados

coletados no ambiente escolar desenvolvido na referida pesquisa.

Nossa produção de dados constou de algumas etapas previamente planejadas e

executadas tendo a finalidade de nos permitir entender melhor o objeto de estudo. Focalizam a

análise de como se dá o processo de ensino e aprendizagem dos números decimais voltados a

discentes com deficiência visual e de que forma as metodologistas usadas e analisadas em

nossa pesquisa de intervenção podem contribuir na construção de aprendizagens deste

conteúdo matemático junto a discentes pertencentes a uma turma inclusiva foco de nossa

investigação.

Nossa análise de dados constou de observações das aulas de matemática junto à turma

inclusiva investigada; aplicação de entrevistas semiestruturada ao docente de matemática e a

referida docente da sala de recursos responsável pelo atendimento da aluna com deficiência

visual; realização de entrevista semiestruturada com a discente com deficiência visual;

aplicação das questões de sondagem aos 8 alunos da turma investigada, que voluntariamente

aceitaram participar da pesquisa; análise das sessões envolvendo as duas metodologias

propostas por este estudo de intervenção (Tabuleiro de Decimais e o Software

MusiCALcolorida) e aplicação das questões de verificação da acomodação do conteúdo após

a intervenção das metodologias usadas neste estudo.

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6.1. ANÁLISE SOBRE AS OBSERVAÇÕES DAS AULAS DE MATEMÁTICA

Inicialmente, pensamos as observações em sala de aula de matemática como sendo um

elemento que pudesse ser complementar à coleta de dados, a fim de relacionarmos com o que

o docente nos diria no momento de entrevista e com que os discentes também nos diriam no

momento de entrevista. No entanto, após cerca de 800 minutos de observação, distribuídos

por um período de dois meses, percebemos que foi primordial e muito além de apenas um

dado complementar, pois se revelou um elemento primordial para o entendimento do que

acontece nesse espaço e como se relacionam e se comportam os discentes entre si e em

relação ao docente.

Esclarecemos, inicialmente, que não descreveremos todos os momentos observados e

registrados, a fim de não efetuarmos uma descrição cansativa e exaustiva de todos os

episódios, mas contemplaremos alguns elementos, os quais julgamos os mais reveladores e

importantes contidos na descrição das observações realizadas junto à turma, no sentido de

refletir e contextualizar melhor aspectos relevantes para o entendimento do contexto e do que

se constatou na vivência deste contexto, a fim de permitir um entendimento e olhar para o

interior de alguns eventos que são bem elucidativos para se entender a problemática ora

investigada, no intuito de permitir uma melhor contextualização e relação com os demais

dados produzidos e vivenciados durante a referida pesquisa no cenário da sala de aula dita

“inclusiva” fruto de nossa pesquisa.

A princípio fiz observações junto à turma de algumas aulas de outras disciplinas, no

intuito de tentar me aproximar mais do universo e dos participantes, tentar criar um vínculo de

aproximação. No sentido deles se acostumarem com a minha presença em sala de aula, houve

certo estranhamento inicial dos discentes, o que é até esperado e natural, mas após alguns dias

foram não tendo mais ressalvas em minha presença no ambiente de sala de aula. Neste espaço,

procurei observar como se dava as interações e relações entre os discentes e destes com os

docentes, procurava ser discreto em minhas anotações a fim de não criar algum

constrangimento que pudessem tolher seus comportamentos.

Neste momento, algo me chamou a atenção, os discentes se sentavam entre seus pares

de maior afinidade de interação e trocavam informações, interagindo e costuravam diálogos

entre seus pares, os quais se organizavam setorialmente divididos em sala de aula, ou seja,

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eles se sentavam próximos entre si dos demais discentes que tinham maior interação e bem

distantes de outros que nem trocavam alguma palavra e interação durante os momentos de

sala de aula. Isso ficou muito evidente em todos os momentos em que estive em sala de aula,

os mesmos lugares e os mesmos grupos e subgrupos no mesmo arranjo da sala de aula. No

entanto, algo que me surpreendeu. Percebi que uma aluna não fazia parte de grupo algum e

nem de interação alguma junto aos demais colegas, essa discente era a aluna com deficiência

visual da sala dita “inclusiva”. Ela estava sempre segregada das interações dos demais

participantes e se sentava sempre no mesmo lugar bem distante dos demais alunos. Isso me

causou certo desconforto, ao observar tal situação, mas percebi que era algo já naturalizado

por todos, inclusive pela própria discente que ficava segregada.

Nesse quesito, um momento inicial quando perguntei para aproximadamente oito

alunos de forma bem discreta o nome da referida aluna que ficava distante dos demais

discentes, os colegas não sabiam responder com certa segurança o nome da referida aluna, em

muitos momentos diziam “acho que o nome dela é”; “não tenho certeza se o nome dela é

(...)”; “acho que ela se chama (...)”; “não sei o nome dela”; “não tenho muita conversa com

ela”; “ela é meio estranha”; “eu não sei, pergunte para (...)”. Essa série de falas em relação ao

meu questionamento de como se chamava aquela aluna me causou certo constrangimento e ao

mesmo tempo uma surpresa por perceber que os demais alunos não sabiam sequer o nome da

sua colega de turma, a qual conviviam já há certo tempo. Isso para mim, na figura de

pesquisador, foi muito revelador, mas enquanto pessoa foi devastador perceber que não

sabiam nem o nome da colega de turma e muito menos interagiam com a mesma, ou seja,

havia algo por trás deste fato.

Durante este momento de observação de algumas aulas de diversas disciplinas, percebi

que alguns docentes ficaram meio retraídos por constatarem minha presença em sala de aula,

embora tivesse me apresentando anteriormente a todos informando que minha presença

naquele momento em sala de aula se daria no intuito de conhecer melhor como se davam as

interações entre os discentes e não estava julgando o trabalho e nem postura dos docentes,

mesmo assim os docentes ficaram visivelmente constrangidos com minha presença, mais que

os discentes. Esse fato é até compreensível, pois os docentes logo imaginam que serão

avaliados ou julgados por um possível estagiário ou universitário e, geralmente, se retraem um

pouco nesse período. No entanto, um fato mais incômodo não foi esta constatação, mas o fato

de perceber de que os discentes não interagiam com a discente que ficava sentada isolada, a

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qual apresentava uma deficiência visual. Isso também foi observado durante o andamento das

demais disciplinas por partes dos docentes. Eles sequer faziam alguma referência àquela

aluna, nem perguntavam se ela estava entendendo ou compreendendo o assunto abordado,

como eles chamavam o nome dos outros e perguntavam “fulano, você está entendendo” ou

“beltrano você agora conseguiu entender o que falei”.

Neste momento de observação de demais disciplinas, em meu período de habituação,

outro elemento me chamou atenção, os docentes não usavam qualquer outro recurso didático

além do quadro e do livro didático. Não existia qualquer outra metodologia que pudesse ter

sido usada por eles durante a execução de suas aulas, a única exceção se deu em uma aula de

artes que os mesmos efetuaram colagens e pinturas, fato que mais uma vez a aluna com

deficiência visual não participou, pois parece que as atividades não foram planejadas tendo

em vista sua participação. Ela ficava de cabeça baixa desanimada e apática durante a

atividade, nem curiosa ela pareceu em entender o que estava acontecendo ali. Parecia que

aquela situação e omissão já era algo naturalizado por ela. Talvez isso explique que tivesse

dito a docente da sala de recursos que queria abandonar o ano letivo, pois não queria mais ir à

escola. Isso talvez seja muito indicativo de possivelmente não se sentir parte daquele

ambiente e muitas vezes até se perceber isolada e segregada no ambiente escolar. Fiquei

pensando nesta vontade dita a docente da sala de recursos e me interroguei: “será se ela fosse

mais percebida como sujeito naquele ambiente ela teria essa ideia de deixar de frequentar a

escola?”.

Após este momento de habituação junto à turma, passei apenas a frequentar as aulas

de matemática, a qual se refere à área de conhecimento relativa ao objeto de estudo. O

docente foi cortês e educado comigo e com os demais alunos. O horário das aulas eram

sempre os dois últimos das segundas e terças-feiras. Iniciava às 20h 30min e tinha duração até

às 21h50min, tendo cada aula a duração de 40 minutos. Este fato de se planejar o calendário

de aulas da turma e colocar esta disciplina para ocorrer sempre ao final dos horários de aula

já se demonstrou algo problemático, pois como planejar a execução do currículo de

matemática inclusivo dentro desta ótica, já que na turma da noite havia apenas uma discente

com deficiência visual em uma única turma, neste horário noturno, por que não repensar o

horário desta disciplina para outro momento no planejamento acadêmico das disciplinas? Este

fato das aulas de matemática acontecerem sempre nos últimos horários destes referidos dias

causavam alguns problemas ao aprendizado dos discentes, que ora estavam sempre menos

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atenciosos e cansados para exercitarem habilidades ligadas a cálculos de diversos conteúdos

matemáticos e isso era visível também por parte do docente que em alguns momentos tinha

que conter a falta de ânimo e interesse por parte da turma também.

Durante as aulas de matemática, pude constatar que o docente apresentava

conhecimentos pertinentes sobre o conteúdo ministrado, no entanto ele usava apenas o quadro

e o livro didático, assim como os demais docentes de outras disciplinas. Ele, assim como os

demais docentes, não interagia em nenhum momento com a discente, que apresentava

deficiência visual, não havia a execução de atividades que pudessem mover a participação

mais colaborativa da turma como um todo. Eram sempre atividades individuais na resolução

de exercícios para casa ou executados em sala de aula. Os conteúdos abordados pelo professor

não apresentavam uma relação muito representativa de elementos do cotidiano dos alunos.

Houve uma aula na qual o docente disse “você tem 5 pêras e percebe que tem 4 colegas.

Como você divide?” Um aluno disse “ nem pêra eu como porque é muito cara (...)”. Outros

momentos o docente usava apenas a representação numérica sem efetuar a relação com

qualquer elemento do contexto, ou seja, usava os números apenas de forma abstrata e não

representativa com algum elemento do universo de representatividade do discente.

Um aspecto me chamou atenção nas aulas de matemática era a pergunta inicial que o

docente fazia antes de iniciar sua aula: “alguém pode me mostrar o caderno da ultima aula

para saber onde eu parei?” Esse questionamento poderia indicar que o docente desconhecia o

conteúdo que estava abordando junto à turma. Ele não fazia anotações em sua caderneta e não

percebia que era importante fazer uma breve recapitulação do assunto abordado na aula

passada para efetuar a abordagem de um novo. As aulas pareciam não ter um encadeamento

lógico de conteúdos, pois para se ter uma ideia em uma aula ele havia abordado área e volume

e em outra aula ele abordou sistemas de numeração, penso se o mesmo tivesse invertido a

ordem dos assuntos teria tido um melhor aproveitamento do entendimento pelos discentes do

assunto mediado. Neste quesito, penso que talvez a questão da carga horária extensa diária do

docente que atendia outras escolas e atuava nos três turnos não o permitiu executar um

planejamento que visasse um encadeamento mais sistematizado dos assuntos abordados no

sentido de operar uma conexão entre os mesmos, visando atingir uma aprendizagem mais

representativa por parte dos discentes.

Durante minhas observações, nas aulas de matemática, notei que o docente recorria

muitas vezes a exemplos e atividades do livro didático. Isso pode representar inúmeras razões

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e motivos, mas acredito que um dos que posso refletir que sejam mais sérios e

comprometedores sejam no aspecto do contexto, pois ele poderia usar exemplos e ilustrações

de problemas matemáticos mais representativos do contexto de seus discentes, fato que,

geralmente, não é contemplado nos exemplos e situações propostas pelo livro didático, que

representa outra conjuntura social e cultural, muitas vezes até bem distante do universo

cultural dos discentes.

Esse fato pode refletir uma formação com pouco embasamento sobre esta discussão

acerca do material didático ou certo até digamos conformismo e imediatismo por parte do

docente no exercício de sua prática educativa. Já que muitas vezes a formação pedagógica do

licenciado em matemática não é bem problematizada ou até muitas vezes é, mas a sua

concepção e crença do material didático muitas vezes não apresenta certa postura crítica e

emancipadora, como infere Freire (1997), para se possibilitar uma prática que rompa com a

escola tida como “tradicional” é necessário se entender como ela opera em seus elementos

mais representativos desde procedimentos didáticos até na execução de práticas que possam

romper com este modelo de ensino. Já que para o autor, a educação libertadora deve primar

pela emancipação das concepções e práticas dos docentes em sua formação e em sua prática

pedagógica, não caindo no marasmo das “velhas” práticas consagradas pelo ensino

tradicional.

Outro elemento percebido durante as aulas de matemática foi o fato de o docente

sempre dirigir todas as atividades propostas. Ele não dialogava muito com a turma sobre a

matemática numa perspectiva mais contextualizada e social. Não provocava os alunos a

pensarem na matemática para além das abstrações numéricas, como associar a matemática à

vida e ao contexto social. Como D’Ambrósio (1998) sugere o ensino da matemática poderia

ser mais bem contextualizado e percebido pelos discentes. Isso poderia refletir na constatação

que a matemática extrapola a sala de aula e o livro didático, que ela faz parte dos contextos

sociais e culturais de todos. A etnomatemática representa uma possibilidade de um novo

entendimento e concepção de perceber e interagir com a matemática numa perspectiva mais

sociocultural.

Durante as aulas de matemática, percebi um ambiente de pouca interação envolvendo

atividades mais lúdicas e didáticas, penso que o docente poderia propor atividades mais

lúdicas e interativas junto aos discentes. A minha percepção era que se os mecanismos de

ensino tivessem uma participação mais lúdica e interacionista com atividades em grupos e

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duplas, a aprendizagem e cooperação entre os discentes poderiam ser mais colaborativas e

alcançar um melhor aproveitamento das aulas e conteúdos propostos. Notava que muitos

alunos se retiravam das aulas de matemática e diziam coisas “quem merece aquela aula”;

“vou embora já que não vou aprender nada mesmo!”; “Aquela aula de matemática é muito

chata!”; “alguém entendeu os exercícios de matemática?” Em minha concepção, as aulas de

matemáticas estavam muito centralizadas no professor e não nas possibilidades de

aprendizagens da ressignificação da matemática em outras possibilidades e conjunturas para

um melhor entendimento e uso por parte dos discentes.

Entendemos ser fundamental que o docente de matemática ou de qualquer outra

disciplina possa perceber que para se efetivar o processo de ensino e aprendizagem não basta

o docente apenas conhecer o conteúdo programático em si, aquele que será mediado, mas que

o docente possa, como infere Schulman (2000), perceber que o modo de operacionalizar este

conteúdo e torna-lo tratável no sentido de oportunizar um melhor entendimento e se constituir

como aprendizagem é tão relevante como o conteúdo em si por parte do docente de como e o

que ensinar. Assim, o fazer pedagógico e didático torna-se um elemento de grande validade

para se oportunizar as possíveis aprendizagens no processo educativo.

Constatamos que o docente não oportunizava em momento algum material

diferenciado, a fim de ser usado pela discente com deficiência visual, ele usava apenas o

quadro como instrumento pedagógico, o que fazia com que a discente não compreendesse o

que se estava processando naquela referida aula, nem os números escritos no quadro eram

ditos a aluna ou qualquer outra informação para que a mesma soubesse o que o mesmo estava

escrevendo na lousa. Diante disso, a ausência desta adequação metodológica provocava o não

aprendizado por parte da discente, que buscava aprender o que deveria ter feito em sala de

aula junto a docente da sala de recursos. No entanto, como a docente da sala de recursos não

tinha formação específica na área da matemática, sua boa vontade em tentar mediar o

processo de ensino junto a discente ficava impossibilitada em função de não apresentar um

maior aprofundamento no assunto abordado, tendo em vista que sua formação não se

constituía nesta área de conhecimento matemático. Nascia, assim, um perigoso ciclo vicioso

que não permitia a discente efetivar grandes saltos em suas aprendizagens de alguns

conteúdos matemáticos.

Neste aspecto, podemos destacar o que Abrantes, Serrazina e Oliveira (1999)

discorrem acerca da indispensável cadeia de relações e aprofundamentos de conhecimentos

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para se transformarem e gerirem metodologias capazes de trabalharem conceitos e princípios

decorrentes em atividades de ensino que visem à remoção de barreiras e a conquista da tão

almejada aprendizagem pelos discentes.

Nas observações quanto ao ensino dos números decimais na abordagem pelo docente

em sala de aula, percebi que em alguns momentos o docente poderia ter melhor refletido com

os alunos o entendimento deles acerca do conceito de número decimal, pois em suas arguições

e ponderações davam a entender, em alguns momentos, tais como nas operações com os

números decimais, ao discente a ideia de que o número decimal podia ser entendido como o

número natural munido da presença de vírgula. Isso reflete o que Moreira e David (2007)

constataram em seus estudos junto às concepções dos discentes sobre o conceito de número

decimal e o que apontam os trabalhos de Pandovan (2000) e Silva (2006), ao perceberam que

os problemas decorrentes da falta de compreensão e habilidade dos discentes, junto às

operações com os números decimais, estavam condizentes com a ausência de uma

compreensão de seu conceito para poder permitir um uso mais adequado das operações

envolvendo os decimais. Esta dificuldade corrobora com os estudos desenvolvidos por

Brousseau (1987) ao analisar o ensino dos números decimais na França nos anos 1960 e 1970.

Notei durante as aulas sobre os números decimais vivenciadas pela turma, o que

Cunha (2002) havia mencionado quanto à ausência de conexões estabelecidas com outros

conteúdos matemáticos em relação ao sistema de numeração decimal, pois seu ensino se dava

isolado e em sentido único. Penso que faltou uma relação entre o sistema decimal com o

sistema de numeração, o qual os discentes pudessem relacionar e perceber essas relações, tais

como entender que as frações e decimais são formas de representação do número racional.

Constatei durante as aulas de matemática que os discentes em geral apresentavam

inúmeras dificuldades tais como em: ordenação, comparação e leitura dos números decimais,

isso sem mencionar o fato de operações envolvendo as frações. Isso, segundo Damico (2007),

reflete a ausência de compreensão do conceito de numero decimal pelos discentes, já que para

a autora um dos reflexos desta incompreensão se dá em entender os decimais como os

números naturais e transferir as regras usadas nos naturais para os decimais. Assim, por

exemplo, os alunos apresentavam dificuldades como não entender que 0,103 é menor que 0,7,

e pensar equivocadamente que 0,9 é maior que 1,0. Essas incompreensões refletem justamente

o fato deles transferirem o entendimento dos naturais para os números decimais.

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Outro elemento percebido foi o processo de leitura dos decimais pelos discentes nas

atividades propostas em sala de aula, fato que o docente não se importava ou não concebia

como relevante para uma possível sinalização indicativa de falta de compreensão conceitual

por parte dos discentes. Já que os discentes liam os números decimais tais como em alguns

ilustrativos momentos assim: “zero vírgula oitenta e cinco” (0,85), “zero vírgula, cento e

dois” (0,102), “três vírgula cinquenta” (3,50). Isso ilustra e revela que a forma como são lidos

reflete diretamente o entendimento de seu conceito.

De acordo com Alves e Gomes (2013), a compreensão (ou incompreensão) conceitual

evidencia dificuldades na leitura, representação, ordenação e comparação usando os decimais,

tendo em vista representarem dificuldades propriamente conceituais. Por isso, o docente deve

saber trabalhar de uma forma mais elaborada o aspecto conceitual do numero decimal para

que o discente apresente menores problemas decorrentes deste aspecto em outros momentos,

compreensões e operações envolvendo os números decimais.

Bianchini (2001) desenvolveu sua investigação usando três representações do número

decimal: figural, decimal e fracionária. Os dados dos resultados da pesquisa demonstram que

os discentes apresentaram equívocos na leitura e representação gráfica dos decimais, além de

demonstrarem dificuldades na transformação da escrita decimal para a fracionária e vice

versa, bem como o não entendimento da vírgula e do traço de fração. Para a autora, essas

dificuldades também reforçam a ideia de não entendimento conceitual dos números decimais

por parte dos discentes.

Outro aspecto que percebi na abordagem dos números decimais durante as aulas

observadas na sala investigada foi uma intensidade muito maior dada ao se trabalhar fração do

que na forma decimal. Penso, conforme salientam Batista e Silva (2004), que esta inversão

não ajuda o entendimento do educando no conceito de decimal e representa mais uma

importação de ênfase de conteúdos matemáticos provindos mais de outros contextos

curriculares (americano e britânico) do que configuram o nosso contexto de uso nacional.

Segundo os autores isso se dá pelo fato de nosso currículo brasileiro ter recebido uma

influência significativa de culturas diferentes da nossa, especialmente da inglesa e americana,

o que reflete no processo de ensino em nosso contexto brasileiro, pois lá por hábito se usa

mais frações que decimais, tais como uma hora e um quarto, um quarto de dólar, uma libra e

meia, uma polegada e meia, etc. Já em nossa cultura acontece o inverso, usamos mais

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decimais que sua representação em frações em contextos envolvendo dinheiro, massa,

volume, superfície e medidas de comprimento, por exemplo.

Segundo Batista e Silva (2004), essas diferenças culturais são muito evidenciadas no

contexto de ensino em nosso currículo. E isso favorece um ensino deficitário dos números

decimais em nosso contexto escolar. Fato que dificulta o entendimento e uso por parte dos

educandos, pois o estudo da vírgula é feito de modo, muitas vezes, mecânico sem a devida

compreensão e contextualização como mereceria, tendo em vista a sua aplicação no contexto

social, já que se olharmos a nossa volta, iremos constatar uma variedade de números com

vírgula em jornais, anúncios, revistas, rótulos, embalagens e encartes dos mais variados

segmentos.

Notei na abordagem em sala de aula também a ausência de se trabalhar os números

decimais a partir do uso e compreensão do sistema de medidas e monetário no ambiente

escolar, conforme destacam Broitman, Itzcovitch e Quaranta (2003). Eles se referem acerca

de que a mesma medida pode ser representada de modo diferente usando para isso outra

escrita numérica como, por exemplo, transformar metros em centímetros ou quilômetros em

metros, dependendo da unidade de medida usada como inteiro. Assim constatei na prática nas

observações realizadas o que os referidos autores ponderam, ao se perceber que esse

entendimento e compreensão não é muito valorizado no contexto escolar, tendo em vista a

presença da vírgula, geralmente, os discentes ficam temerosos em pensar em outras unidades

de medidas para realizar a mesma comunicação numérica usando outra escrita numérica para

isso.

Concordo com a constatação de Imenes, Lelis e Milani (2004), que temos de entender

que ao trabalhar com os números racionais o docente deve ter um entendimento de que é um

longo caminho que deve ser feito, pois os educandos levam um tempo para entender, pensar e

usar os números decimais e vencer algumas hipóteses, levam, às vezes, uma boa jornada

quanto ao quesito tempo para se efetivar um entendimento mais profundo acerca dessa

temática. Por isso, o docente deve se preocupar em compreender o que o educando sabe sobre

determinado assunto e só assim permitirá que se trabalhe o conteúdo subjacente nas hipóteses

que o educando traz sobre determinado assunto matemático.

Na abordagem dos números decimais, o que me chamou mais atenção foi perceber

uma valorização maior dos elementos contidos no que era proposto pelo livro didático de

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matemática adotado e não uma valorização do conteúdo dos números decimais relacionados

ao contexto social do aluno, por isso se deve utilizar estes elementos para a tematização deste

assunto em sala de aula. Contudo, na realidade, o que notei, na maioria das vezes, deixa de

utilizar a referida contextualização para continuar o ensino desse conteúdo, ou até mesmo

antes do seu entendimento, conforme inferem Muniz, Batista e Silva (2008).

Outro aspecto que gostaria de relatar foi o não uso do material concreto como uma

ferramenta introdutória para se abordar este conteúdo junto aos discentes, fato que poderia até

auxiliar a discente com deficiência visual e os discentes sem a referida deficiência sensorial,

fazendo com que a dificuldade do educando viessem a diminuir no entendimento do seu

conceito e operação; do que começar partindo da abstração desse conteúdo, sendo primordial

que o mesmo entenda os processos envolvidos, bem como suas operações e propriedades,

conforme salientam os PCN (BRASIL, 1997).

Além desse conceito, outro significado das frações, explicitado nos PCN, é a do

quociente, baseado na divisão de um número natural por outro. Para o educando, essa situação

diferencia-se da interpretação da compreensão da relação parte-todo, visto que dividir “um

chocolate em três partes iguais e comer duas dessas partes é uma situação diferente daquela

em que é preciso dividir dois chocolates para três pessoas”. (BRASIL, 1997, p.103). Logo,

percebe-se que as dificuldades mais presentes, no ensino e aprendizado dos números racionais

são: a de efetuar as operações com os números racionais, a de estabelecer relação entre um

número fracionário com um número decimal, a de representar tais números numa reta

numérica, a de comparar números fracionários e números decimais, entre outras. Além destas,

o ensino dos números racionais passa também pela superação de obstáculos ou rupturas como

a noção de infinitude entre dois números racionais, a não existência de antecessores e

sucessores para esses números, a dificuldade em compreender que o produto de dois números

racionais nem sempre será maior que um deles, entre outros obstáculos (BRASIL, 1998).

Neste aspecto, percebo que foram muito relevantes as observações e constatações

percebidas nas aulas de matemática junto à sala investigada no sentido de entender melhor os

problemas e situações que ocorrem neste ambiente, visando ter uma gama de informações que

possibilitem entender sua dinâmica e conjuntura no sentido de se aproximar da realidade

investigada e efetuar as devidas relações com os outros instrumentos usados por esta pesquisa

para ressignificar e até apontar direções a eventuais caminhos que podem ser alcançados.

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6.2. ANÁLISE DA ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA REALIZADA COM A

DISCENTE COM DEFICIÊNCIA VISUAL

A entrevista foi realizada COM a discente logo após o momento de verificação de

acomodação do conteúdo, logo após o uso das duas ferramentas propostas por esta pesquisa,

realizada junto a todos os participantes e se configurou como a última etapa da pesquisa de

produção de dados. A entrevista constou de vinte e seis perguntas sobre diversos temas

ligados a sua identidade pessoal, escolar e ao seu contexto familiar. Irei deter-me em

apresentar algumas dentre as que me chamaram mais atenção e podem contribuir para

entender e contextualizar melhor o tema ora investigado.

A discente está com 23 anos de idade. Ela encontra-se há três anos na instituição e

ainda apresenta grandes dificuldades em todas as disciplinas em curso na terceira etapa da

EJA, sexto e sétimo ano do Ensino Fundamental. Ela se encontra retida nesta etapa já há três

anos consecutivos, incluindo este último ano de 2015, pois nos anos anteriores como ela fazia

parte das séries iniciais não havia a possibilidade de retenção e sim de progressão automática,

conforme salienta a legislação em vigor nacional. Um fato a ser considerado é que a referida

discente se encontra há três anos na instituição, tempo que ela se encontra também retida.

A discente não desenvolve atividade remunerada e é dependente dos pais

financeiramente, ela tem mais um irmão de sete anos, e mora com seu pai e sua mãe. Seus

pais tem uma renda familiar de em media equivalente há 10 salários mínimos, o que dentre os

demais discentes de sua turma, participantes da pesquisa, apresenta uma condição financeira

um pouco mais confortável de vida. Seus pais possuem ensino médio completo e seu pai

segue a carreira militar e exerce a função de sargento do corpo de bombeiros.

A discente não nasceu com deficiência visual, ela adquiriu a deficiência em

decorrência de uma retinopatia proliferativa. É um tipo mais grave que apresenta

microaneurismas e micro-hemorragias nos vasos sanguíneos do olho, que podem romper e

causar a cegueira. Isso ocorreu quando tinha apenas 14 anos de idade, o que ocasionou sua

cegueira consumada após quase dois anos. Esse fato marcou muito sua autoestima e

rendimento escolar, pois ela demorou em aceitar sua nova condição como sendo uma pessoa

que é diagnosticada como cega, o que fez com que até hoje tenha grandes problemas de

autoimagem e autoestima a afetando dentro e fora da escola em seu dia-a-dia de uma forma

muito elevada.

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A discente é muito dependente do auxílio de outra pessoa para se locomover. Ela não

se locomove dentro da escola sem o auxílio de terceiros e nem usa também qualquer auxílio

para sua locomoção, tal como bengala. Ela ainda não foi instrumentalizada para fazer uso

deste recurso para a sua locomoção. O único local que transita sem auxílio de terceiros é em

sua residência e apenas lá. Ela não frequentava qualquer outro lugar sozinha, nem mesmo a

rua onde reside e nem mercearia, supermercado ou qualquer outro local próximo de sua

residência sem a ajuda e presença de um familiar. Seu pai ou outro familiar que vai deixá-la

ou buscá-la na escola. Ela apresenta ainda dificuldades de fazer uso de sua independência fora

do ambiente escolar e ainda apresenta problemas quanto à escrita e leitura em braile também.

Em suas aulas, ela não costuma fazer registro algum de qualquer disciplina e nem faz uso de

máquina de braille em sala de aula também.

Em sala de aula, ela está sempre isolada e ninguém senta ao lado dela durante as aulas

de qualquer disciplina. Esse fato foi até relatado em meu momento de observação de campo

junto à sala de aula da discente, pois a mesma diz durante a entrevista que não tem amigos e

que já pensou muitas fezes em abandonar a escola por este motivo e já chorou por diversas

vezes por se sentir sozinha e às vezes ignorada ou de certa forma excluída das turmas que já

participou na escola.

Como diria Mantoan (2003), o primeiro princípio para inclusão existir é se sentir

aceito e acolhido, pois este acolhimento poderá facilitar o processo de escolarização de

qualquer discente seja por qualquer categoria de deficiência ou não. O que mais me chamou a

atenção foi o fato de ela visivelmente estar sempre sentada distante dos demais alunos, pois

sempre se sentava na quarta fileira da turma que não existia nenhum outro aluno em qualquer

dos lados, na direção da porta da sala.

A discente estava sempre de cabeça baixa e apática nas aulas, não interagia com

nenhum outro aluno e muito menos com os docentes que ali ministravam aula. Este fato foi

muito elucidativo de que não houve um trabalho de acolhimento por parte da escola para que

discentes e docentes pudessem ter outra postura de interação junto à referida discente.

Conforme infere Pinheiro (2003), não pode existir inclusão em um ambiente que sua regra e

atitudes estão presentes pela omissão e ausência de valorização do outro dentro da diversidade

humana.

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228

Quanto questionei a discente se: “Você tem dificuldade em aprender matemática? Por

quê?” Ela respondeu: “A matemática é muito difícil. É a matéria que tenho mais dificuldade

(pausa). Não sei por que não consigo aprender (....) acho que sou muito burra para a

matemática porque nunca conseguir aprender direito...eu conheço um pouco de dinheiro e não

muito a matemática...” Esses fragmentos da fala da discente são muito elucidativos das

dificuldades que a discente apresenta referente ao aprendizado da matemática e também evoca

que a mesma se limita a internalizar a dificuldade da matemática para si mesma e não faz

menção de que essa dificuldade possa estar no seu processo de escolarização, pois ela tende a

perceber as suas dificuldades na matemática decorrentes de sua condição como aluna com

deficiência visual, mas não faz menção que esta sua dificuldade possa representar uma

dificuldade maior ainda do próprio ambiente escolar em propiciar mecanismos e metodologias

que lhe possam auxiliar melhor no aprendizado da matemática.

A fala da discente faz alusão há um aspecto relevante referido por Sassaki (1999),

evidenciando que, de certa forma os marcos históricos de avanços e recuos no atendimento

das pessoas com necessidades especiais consistem no modo como esses indivíduos foram

vistos ao longo do contexto histórico e quais papeis foram designados a eles pelo processo

educacional. Na verdade, essa relação de como eram percebidos e a educação lhes destinada

só refletem a constatação de como os mesmos eram e ainda são percebidos pela sociedade, ou

seja, de forma marginalizada e diferenciada.

Esta fala da discente “A matemática é muito difícil. É a matéria que tenho mais

dificuldade (pausa). Não sei por que não consigo aprender (....)” também evidencia algo que

Silveira (2011) já havia relatado sobre a questão dos discursos associados e produzidos pela

constituição da matemática no imaginário coletivo. Claro que isso também evidencia a

questão das práticas e metodologias usadas durante as aulas da disciplina matemática, pois ela

é carregada de fórmulas, cálculos, exercícios e abstrações, os quais, muitas vezes, não

evidenciam os contextos e problemáticas, fazendo com que os educandos não percebam uma

relação e aplicação desta matemática em algo que possa ser usado fora do ambiente escolar.

Notamos ainda na fala da discente no fragmento “eu conheço um pouco de dinheiro e

não muito a matemática...”, a forma descontextualizada que a matemática deve ter se

apresentado para a discente ao ponto de reconhecer a representação do conhecimento

monetário e ao mesmo tempo diferenciá-lo do conhecimento matemático nos permite inferir

que houve possivelmente um ensino da matemática como algo dicotômico de sua

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representação no uso deste conhecimento contextual e cultural do uso e emprego de sua

representação monetária.

Como afirma D’Ambrósio (1998) que menciona o fato do ensino dicotômico da

matemática no contexto escolar e no contexto social e cultural. É muito frequente os discentes

fazerem uso de construções como o dito pela discente entrevistada: “A matemática é muito

difícil. É a matéria que tenho mais dificuldade (pausa). Não sei por que não consigo aprender

(....) acho que sou muito burra para a matemática porque nunca conseguir aprender direito”,

pois isso reflete que a matemática aprendida no ambiente escolar trata-se de uma matemática

que não é a mesma usada no ambiente sociocultural. Havendo assim uma matemática que o

discente faz uso no cotidiano, a qual ele mesmo reconhece que não representa a mesma que

ele aprende no ambiente escolar.

No questionamento “O seu professor de matemática explica de maneira que você

entenda os assuntos ligados à matemática de modo que você entenda e aprenda?”, a discente

ficou meio pensativa e respondeu: “Ele é um bom professor, eu que sou burra e não consigo

aprender mesmo”. Quando interroguei: “As aulas de matemática são como?” Ela respondeu:

“Ele chega passa a matéria no quadro e explica e depois faz exercícios no quadro”. As

respostas da discente representam um modo particular de como ela observa o docente de

matemática, ela menciona que “Ele é um bom professor, eu que sou burra e não consigo

aprender mesmo”. Essa afirmação mostra certa controvérsia em seu discurso, pois se ele fosse

bom do jeito que ela menciona, ela também aprenderia, mas durante as aulas observadas por

mim durante o período de observação, não existia nem ao menos interação entre o docente e a

discente, fato que até posteriormente foi externado para mim pelo próprio docente que ele

apresenta dificuldades para saber propiciar a aprendizagem da matemática pela discente

devido a questão da deficiência visual por ela apresentada.

Ainda nesta questão sobre como se dá o ensino da disciplina, quando a mesma ressalta

que “Ele chega passa a matéria no quadro e explica e depois faz exercícios no quadro”. Ela

parece que percebe como sendo natural que ele use o quadro apenas e não se preocupe em

instrumentalizar uma metodologia que ela possa acompanhar ou até mesmo ao fazer uso do

quadro possa informá-la sobre o que ele colocou no referido quadro para ela ter noção. Fato

que não aconteceu em episódio algum durante as minhas observações em sala de aula.

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230

Quanto ao fato de como se davam as aulas de matemática, pelo que constatei, durante

o período de observação, a discente não estava compreendendo nada do que estava

acontecendo durante as aulas de matemática, pois sequer o que era escrito no quadro era

verbalizado para a mesma e depois os exercícios propostos pelo docente no quadro e no livro

didático também não estavam disponíveis para a discente, embora existisse uma impressora

em braille em caixa devidamente lacrada na sala de recursos proveniente de uma verba

federal, mas que ninguém sabia usar, pois não foi feito treinamento para o respectivo uso da

mesma e por, possivelmente, acharem que não era tão importante para o aprendizado da

discente, pois além dela no turno noturno havia apenas mais uma discente com deficiência

visual no turno vespertino na escola que não era alfabetizada em braille também.

Outro fato também dito pela docente da sala de recursos que me deixou com várias

inquietações foi quando a mesma relatou que as regletes e pulsões (material usado para se

escrever manualmente em braille) existentes na sala de recursos da escola são de propriedade

da referida docente, pois a instituição não dispunha de tais materiais para uso de eventuais

alunos com deficiência visual na referida unidade escolar, a qual apresenta duas discentes

com deficiência visual, sendo uma aluna do 20

ano do Ensino Fundamental (no turno diurno) e

outra discente da EJA (no turno noturno), a qual foi nossa participante da pesquisa. Outro

fato também relatado pela docente foi a constatação de que as referidas discentes não sabiam

escrever usando tal recurso, o que representa a forma imediata de grafia braille e que

representa o mecanismo de mais baixo custo também.

No tocante ao questionamento: “O seu professor de matemática oferece algum

acompanhamento dentro de sala de aula para lhe ajudar a aprender matemática?”. A discente

menciona: “Não”. Quando a interrogo sobre quem a auxilia quando apresenta dificuldades em

aprender matemática? Ela menciona nome da pedagoga da sala de recursos. No entanto, a

pedagoga por mais bem intencionada que seja não tem a formação em matemática e por esta

questão também apresenta dificuldades em auxiliar a discente. Isso reflete a questão da

formação profissional, pois mesmo atuando na sala de recursos junto a diversos alunos que

apresentam um universo de diferentes deficiências, não por culpa da educadora, ela não

consegue dar conta sozinha de todo este múltiplo universo de categorias de deficiência. Visto

que nem a prefeitura possibilita que ela tenha a possibilidade de participar de uma formação

consistente oferecida pelo município como formação continuada para poder oferecer um

melhor atendimento junto à demanda atendida pela mesma na instituição. A docente até

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relatou que quando há um curso oferecido dentro de alguma temática que precisa participar,

ela teria que desembolsar todo o investimento sem contrapartida alguma pelo órgão

municipal.

Na questão: “Seu professor de matemática demonstra se importar com sua

aprendizagem durante as aulas em sala de aula?” Ela responde: “Acho que sim”. Ele usa

algum material especial que facilite a sua aprendizagem da matemática?” A resposta da

discente “Não, nunca” reforça o que foi constatado durante as observações de campo em sala

de aula por mim, enquanto pesquisador, não foi usando material algum tanto para os alunos

videntes quanto não videntes durante as aulas de matemática, a fim de possibilitar uma melhor

relação dos conteúdos matemáticos abordados em sala de aula. Além disso, embora a discente

queira acreditar que o docente se importe, penso que de forma intrapsicológica até chegue a se

importar, como acredito que, geralmente, todo docente deve importar com o aprendizado e

crescimento de seus discentes. No entanto, esse se importar precisa e deve ser percebido em

ações pedagógicas e didáticas, no sentido de fazer a diferença na aprendizagem e

entendimento das hipóteses que os alunos necessitam vencer e internalizar junto aos

conhecimentos matemáticos, conforme salientam Moreira e David (2007).

No entanto, como inferem Fiorentini e Jimenez (2003), a formação do docente de

matemática deve oportunizar que o mesmo tenha uma solida formação não apenas nos

conhecimentos matemáticos, mas em como oportunizá-los, no sentido de como movê-los para

o entendimento e para a prática cotidiana visando à compreensão e uso por parte não de

matemáticos e sim de discentes dos mais variados níveis e contextos.

Entendo como afirma Diniz-Pereira (2000), que a formação docente deve ser rica em

debates e contextualizações que façam o docente pensar e aplicar o conhecimento das mais

variadas formas e situações e para os mais variados contextos e discentes para que essa

diversidade de possibilidades seja uma ferramenta para se construir uma prática que

possibilite a heterogeneidade e não a homogeneização do conhecimento e da prática

pedagógica.

De acordo com Rocha Falcão (2003), a formação docente deve permitir que o docente

de matemática esqueça que é um matemático e pense e compreenda a própria matemática na

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perspectiva do discente, pois se ele mudar a ótica ou foco de entendimento da própria

matemática, ele poderá mudar também a sua prática e a sua ótica acerca do ensino. Desta

forma, ela caminharia para um ensino que respeitasse e fosse mais acolhedor com as

percepções, entendimentos e compreensões dos discentes e partisse do que eles pensam e

concebem a própria matemática para instrumentalizá-los para ampliarem suas aprendizagens e

concepções sobre um determinado assunto matemático.

Segundo Fiorentini e Miorin (2001), a matemática necessita se adequar às hipóteses

que os educandos vinculam e fazem uso em seu contexto e mostrar que aprender matemática é

algo não só relevante, mas importante e vital para compreender seu próprio contexto e demais

outras disciplinas que estão relacionadas. Aprender matemática deve estar mais relacionado a

algo que possa ser mais concreto e aplicado do que apenas algo abstrato e muitas vezes se

apresenta sem sentido e aplicação imediata na realidade. O ensino da matemática deve criar e

oportunizar infinitas possibilidades, as quais muitas vezes o livro didático não contempla.

Fato constado, durante os momentos de observações em sala de aula, em que o próprio

docente ainda não percebeu essas demais diversidades de possibilidades de se dimensionar a

matemática aos discentes pensarem, aplicarem e refletirem partindo de sua própria realidade.

O professor dava mais ênfase apenas as atividades que eram propostas pelo livro didático

adotado pela turma. Vale ressaltar que este livro também não estava acessível em braile para a

referida discente, assim como os demais adotados pelas outras disciplinas, além da questão de

ele não contemplar, em sua grande maioria de vezes, os contextos e elementos de nossa

realidade social e cultural local.

Na pergunta: “Você diria que sua escola apresenta problemas de estrutura física para

receber você como aluna?”. Discente relatou: “Eu já cai algumas vezes aqui na escola e me

sujei e me machuquei também. Foi horrível”. A escola apresenta pontes dentro de seu

ambiente sem a devida proteção. Além disso, ela apresenta em seu interior inúmeros

caminhos (trilhas), que são cobertos apenas por areia branca, que nem sempre é tão plana,

além de pedras e árvores por toda sua constituição interna. Tendo um agravante que quando

chove, surgem inúmeros buracos e poças de água, que indicam certas dificuldades para

pessoas sem problemas quanto à acuidade visual, imaginem a uma pessoa com problemas

com a visão. Ressalto que embora sejam mais ecologicamente adequados esses nuances da

escola por valorizar um contato maior com a natureza em parte para uma pessoa com certa

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dificuldade na coordenação motora, por exemplo, tal como um cadeirante ou alguém com

dificuldade no aparelho motor, apresentaria certa dificuldade quando a acessibilidade em suas

dependências internas.

Eu mesmo, enquanto pesquisador, me perdi diversas vezes, na verdade, na maioria das

vezes, no interior da instituição, embora seja vidente, quanto mais para alguém com certa

dificuldade visual para transitar nos diversos ambientes internos da instituição. Penso em

consonância com Sassaki (1999), ao referir que uma escola inclusiva deve ser inclusiva não

apenas em seu âmbito pedagógico e didático, mas deve ter dependências arquitetônicas que

permitam o pleno direito de todos transitarem de modo livre e seguro sem ônus algum, ou

seja, deve haver certas adequações que possam garantir esse ir e vir de todos e não que de

alguma forma isso seja cerceado ou ameace a integridade de algum sujeito que possa transitar

por aquele espaço.

De acordo com Dischinger e Machado (2006, p. 36), as barreiras arquitetônicas

representariam “elementos arquitetônicos físicos ou de desenho espacial que dificultam, ou

impedem, a realização de atividades desejadas de forma independente causando diversos tipos

de restrições”.

Durante o meu período de observação na escola constatei várias barreiras de natureza

arquitetônicas, tais como: calçadas sem manutenção ou feitas com piso impróprio, falta de

corrimão, a ausência de rampas ou rampas com inclinação inadequada, portas e banheiros

com tamanho inadequados, objetos colocados nas dependências sem a sinalização adequada,

ausência de sinalização, de referências e de mapas táteis.

Vale salientar que entendemos pelo conceito de acessibilidade, o que preconiza o

Decreto n0 5.296, de 02 de dezembro de 2005, o qual refere: “condição para utilização, com

segurança e autonomia, total ou assistida, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos,

das edificações, dos serviços de transporte e dos dispositivos, sistemas e meios de

comunicação e informação, por pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida”

(BRASIL, 2004, p.03).

No entanto, como afirma Sasazawa (2005, p. 96) mesmo as políticas públicas, por

meio de seus dispositivos legais assegurarem o direito às pessoas com necessidades especiais

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quanto à acessibilidade, porém “Não adquiriram legitimidade, uma vez que ainda não se

desenvolveu a consciência para o atendimento deste direito por parte das instituições de

ensino”.

Oliveira (2003, p.05) evidencia de modo bem claro os prejuízos relativos a problemas

decorrentes da ausência de acessibilidade junto às pessoas com necessidades educativas

especiais, ela pondera:

O impacto da falta de acessibilidade discrimina e segrega as pessoas com

deficiência, ou seja, não lhes possibilita equiparação de oportunidade para

uma vida de qualidade. A inacessibilidade interfere de modo significativo no

cotidiano dessas pessoas, pois estão sendo cerceadas do seu direito de ir e

vir, de circular livremente, de ser autônomas, de ter educação e trabalho,

enfim, elas não têm acesso aos bens e serviços produzidos pela sociedade, e

também não podem ser inseridas no mundo produtivo (OLIVEIRA, 2003, p.

05).

Assim, o relato da participante corrobora com os dados apontados por Pereira (2007),

que também constatou que as dificuldades enfrentadas pelos alunos com deficiência são claras

e evidentes em decorrência da falta de se pensar em espaços coletivos educacionais acessíveis

a todos quanto à acessibilidade espacial em seu arranjo.

Percebi também barreiras pedagógicas como práticas pedagógicas inadequadas,

ausência de material didático adaptado e ausência de livros adaptados. Já nas barreiras

atitudinais, o que mais me chamou a atenção foram as atitudes dos professores em sala de

aula, que sequer interagiam com a discente em sala de aula, tornando-a invisível, além da

ausência do relacionamento da discente com os seus colegas de turma e vice versa.

Na questão “Quais as operações (adição, subtração, multiplicação ou divisão) que

você tem mais dificuldade em efetuar?”. A discente relatou: “Todas” (e esboçou um sorriso

meio constrangido). Isso reflete que o processo de escolarização em matemática não deve ter

sido bem realizado durante sua trajetória de vida escolar. Fato que não é uma exclusividade

apenas desta discente, mas que foi constatado pela maioria de sua turma, durante as

observações realizadas. Os discentes demonstraram sérios problemas quanto às quatro

operações com os números naturais e isso relacionado ao entendimento aos números decimais

era ainda mais evidente e constatado no sentido de ficarem “bloqueados” e desistirem sem

hesitação de efetuarem cálculos e operações quando existia a presença de tais números.

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De acordo com Jucá (2008), há uma estreita relação de dificuldades com os números

decimais decorrentes da falta de superação de hipóteses matemáticas ligadas aos números

naturais. Segundo a autora, as dificuldades não vencidas pelos educandos no aprendizado em

relação aos números naturais representam um verdadeiro entrave ao aprendizado aos números

decimais, pois eles estão mais relacionados entre si do que se pode pensar. Muitas hipóteses

de não entendimento dos discentes eram relação aos decimais são propiciadas de etapas que

precisam ser vencidas ainda pelos números naturais e vice versa. No estudo realizado por Jucá

(2008), as dificuldades em entender e operar com os números decimais estavam ligadas a

problemas decorrentes da falta de conhecimentos prévios dos discentes junto aos números

naturais.

Nos questionamentos: “Você já estudou números decimais?” A discente respondeu:

“Já ouvi falar, mas não aprendi nada” Fato que até inviabilizou o que seria o meu próximo

questionamento: “Você encontrou alguma dificuldade em aprender os números decimais

durante suas aulas de matemática?”. No entanto, na questão: “Seu professor de matemática

usa elementos do seu dia-a-dia para ensinar a matemática?”. Ela ponderou uma pausa e

respondeu: “Acho que sim”, no entanto quando questionei quais elementos do seu dia-a-dia

ele mais fez uso?”, Ela respondeu: “agora você me pegou”. Isso reflete que se ele fez uso em

algum momento, pode ter sido de forma que ela não tenha ponderado como imediatamente

representativo de seu cotidiano, pois talvez o seu cotidiano seja bem diferente do cotidiano

que ele possa ter relatado ou que o livro didático tenha enfocado, pois, na maioria das vezes,

que os exercícios eram propostos para a turma eram embasados pelo livro didático. No

entanto, não quero destituir o valor do uso do livro didático, mas, geralmente, ele representa

uma realidade bem diferente digamos da percebida em nosso contexto local e regional.

De acordo com Naracato, Mengali e Passos (2015), o ensino da matemática, às vezes,

peca pela representação dos contextos matemáticos e suas representações em significados

matemáticos para os discentes. Para os autores, os problemas matemáticos muitas vezes são

desinteressantes de aplicação e resolução para os alunos, o que muitas vezes, pode possibilitar

certo desinteresse em desenvolver os referidos cálculos matemáticos, ou pior, muitas vezes

podem representam elementos que irão desvalorizar os contextos que os alunos possam

atribuir significados, ou seja, os alunos podem entender que os problemas matemáticos são

apenas uma justificativa para se aplicar determinadas formulas e conceitos matemáticos e não

representam nada, além disso. Desse modo, eles não representam a resolução de uma

Page 238: UNIVERSIDADE FEDERAL DO MATO GROSSO REDE … · RESUMO O presente estudo teve como objetivo investigar quais as contribuições de metodologias de ensino e aprendizagem das operações

236

determinada problemática e sim podem ser entendidos como um obstáculo para se fazer uso

da matemática na resolução de um problema mais iminente do universo do significado social

dos discentes.

Meu último questionamento dirigido a discente nesta entrevista semiestruturada foi o

seguinte questionamento: “Você diria que seu professor de matemática sabe ensinar a uma

pessoa como você que é cega? Por quê?” Ela ponderou uma breve pausa e respondeu: “Não

porque ele nunca foi cego. Ele não sabe por que ele vê”. Esta breve resposta da discente me

fez pensar inúmeros aspectos que até me moveram a constituir até esta referida investigação e

que de certo modo me incomodaram epistemologicamente a pensar minha própria tese e

formação doutoral. A resposta me fez alusão ao fato de que todas as leituras sobre essa

temática realizada durante este trabalho de pesquisa talvez tivesse, em sua essência, um olhar

mais profundo na direção da busca desta compreensão de como é um sujeito desprovido da

acuidade visual? De que forma, eu poderia entender uma pessoa com deficiência visual como

sujeito antes de sua condição de aluno ou aluna? Este entendimento poderia me inquietar a

partir disto e das dificuldades que este sujeito, geralmente, passa para aprender este conteúdo

matemático a me possibilitar pensar em novas formas de ensinar e até em novas

metodologias? Poderia me inquietar no sentido de mover a reflexão de uma turma dita

“inclusiva” mover reflexões para como seria aprender junto com outro concebido como

“diferente”?

Confesso que esta resposta me inquietou e me surpreendeu e me fez pensar algum

tempo: Será que a forma mais simples de construir um ambiente de fato inclusivo é algo tão

simples e ao mesmo tempo complexo, tal como se permitir em se colocar no lugar do outro?

De se permitir pensar na possibilidade de nem que seja por algum instante viver como o outro

ou sentir o que ele, geralmente, está acostumado a sentir? Este eterno ser e tornar a ser que é

um dos pilares da formação através da educação sistemática ou assistemática me fez ir longe

ao ponto de perceber que, na verdade, somos habituados pela diferença e fazemos a diferença

quando nos importamos com o outro. Como pondera Garcia-Roza (2000), ao estudar a

constituição do sujeito freudiano, o outro me constitui e o outro me diferencia de mim mesmo

a todo o momento, no entanto sem o outro o meu universo não seria um meio e sim um fim

em si mesmo. O meu universo seria um fragmento de mim mesmo ou de meus vários “eus”

que se constituem através do eu dos outros e também me permite me aproximar de mim

mesmo e do outro.

Page 239: UNIVERSIDADE FEDERAL DO MATO GROSSO REDE … · RESUMO O presente estudo teve como objetivo investigar quais as contribuições de metodologias de ensino e aprendizagem das operações

237

Mesmo tendo a concepção que a discente tenha construído sua resposta como algo

mais efemeramente simples de que ele não faz ideia do que é aprender determinado conteúdo

matemático sendo desprovido da visão, podendo representar até um mero desabafo, esta

resposta me fez ir longe epistemologicamente falando e perceber quem está sem enxergar?

Quem não vê o outro como sujeito? Como capaz? Quem vê e concebe o outro com um olhar

limitador? Quem pode estar, na verdade, não enxergando bem é aquele que se diz vidente ou

aquele que não precisa enxergar para poder ver? Estas questões filosóficas me inquietaram e

me inquietam ao ponto de questionar quem enxerga, realmente, consegue ver o outro?

6.3. ANÁLISE DA ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA REALIZADA COM OS

DOIS DOCENTES QUE ATUAM COM A ALUNA COM DEFICIENCIA VISUAL

Nesta etapa da pesquisa, foram entrevistados de modo separado os dois docentes que

compõem como participantes desta pesquisa, sendo o docente da disciplina Matemática, que

atua junto à turma investigada e a docente que atende a discente na sala de recursos da

instituição, na qual se realizou a pesquisa. Estas entrevistas marcam o último procedimento

realizado em campo, para não interferir de forma mais precisa nos itens que foram coletados e

percebidos acerca da atuação dos docentes envolvidos na educação da aluna com deficiência

visual durante o período de observação junto à turma dita “inclusiva” em questão.

Nossa intenção ao fazer estes 32 questionamentos, aos docentes deste estudo, não foi

de emitir qualquer julgamento de valor acerca da atuação profissional deles em seu exercício

docente e nem culpabilizá-los. Entendemos que suas respostas transmitem alguns elementos

que gostaríamos de refletir e discutir para a temática da educação inclusiva, no intuito de

entendê-la dentro das perspectivas dos profissionais que lidam diretamente junto à construção

e efetivação da educação de modo mais propositivo enquanto docentes. Queremos refletir

acerca do que pensam e como concebem algumas discussões e temáticas ligadas à educação

inclusiva, a fim de relacionar e corresponder se de algum modo se estas reflexões chegam e

como chegam ao embasamento da construção de suas práticas pedagógicas na perspectiva

inclusiva.

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238

O docente que leciona a disciplina matemática junto à turma investigada, identificado

como Docente 01, nesta investigação, tem 50 anos de idade, atua na docência há 20 anos,

possui mestrado em educação matemática, atua na esfera municipal nos turnos da tarde e noite

e atua junto a uma escola na esfera federal no turno da manhã, ou seja, atua em todos os três

turnos. Ele informa que tem uma jornada de trabalho de 32 horas semanais. Ele informa que

durante a sua formação acadêmica, na graduação, não teve disciplinas para embasar sua

atuação profissional frente à educação de pessoas com necessidades educativas especiais. O

docente não possui algum familiar e/ou pessoa próxima em seu convívio com alguma

deficiência.

Já a docente que atua na sala de recursos junto a discente investigada tem 36 anos de

idade, identificada como Docente 02, nesta pesquisa, atua há 10 anos na docência, embora

tenha concluído a graduação em 2001. Ela realizou uma especialização em Docência do

Ensino Superior, há 8 anos atrás, e atua apenas na escola investigada. Atua nos períodos da

tarde e noite e tem carga horária de 30 horas semanais na referida escola. Ele teve formação

em graduação em Educação Especial e teve embasamento na graduação com as temáticas da

educação direcionada a pessoas com necessidades educativas especiais. A docente não

apresenta algum familiar e/ou pessoa próxima em seu convívio com alguma deficiência.

Como a entrevista foi realizada em 32 questionamentos, iremos abordar algumas

questões, que julgamos mais ilustrativas para a investigação proposta neste estudo, no sentido

de elucidar temáticas que julgamos ser importantes para o debate do entendimento acerca das

práticas oferecidas pelos dois profissionais focos desta etapa de investigação.

Neste sentido, nossos primeiros questionamentos aos dois docentes pretendiam

entender qual o entendimento deles acerca de suas concepções sobre quatro elementos

considerados importantes no fazer profissional educativo, tais como o entendimento deles

acerca dos questionamentos: Qual a concepção de aluno? Qual a concepção de docência?

Qual a concepção do processo de ensino e aprendizagem? Qual concepção sobre a educação

inclusiva?

No questionamento relacionado à Qual sua concepção de aluno? Os docentes assim

responderam:

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239

Considero o aprendiz, ou seja, a pessoa em processo formativo e que

necessita ser orientado para desenvolver suas capacidades criativas

(Docente 01).

O aluno de hoje vem de diferentes origens sociais e culturais. Nenhum

aluno que está na escola é uma folha em branco. Todos têm

conhecimentos prévios e experiências de vida que precisam ser

considerados, pois estes fatores afetarão significativamente o ensino

(Docente 02).

Nota-se pelas respostas fornecidas pelos dois docentes que a concepção de discente em

ambos é entendida de modo diferente. Enquanto o docente 01 enfatiza a necessidade da

orientação mais sistematizada para o desenvolvimento das capacidades criativas do discente.

Já a docente 02 contempla a questão de que os discentes precisam ser vistos de forma mais

ampla em seus aspectos social e cultural, ou seja, não demonstrar apenas a relação de o

discente ser apenas um sujeito cogniscente, mas constituído de outros elementos que o

configuram e operam em sua constituição e identidade enquanto sujeito. No entanto, podemos

ampliar esta percepção e acrescentar outros elementos tais como os seus valores, crenças,

identidade de gênero, personalidade, a questão de sua natureza emocional, afetiva entre outros

elementos que o configuram enquanto homem.

Fazendo alusão ao momento das práticas observadas no período de observação em

campo, não percebi estes elementos que são identificados pelos docentes como

representativos da condição de sujeito direcionados aos discentes nas práticas desenvolvidas.

Apenas constatei a questão do exercício ao aspecto cognitivo e as demais dimensões que

compõem o sujeito não foram observadas na prática educativa desenvolvida pelos referidos

docentes. No entanto, observei que a docente da sala de recursos demonstrava em sua

atividade profissional uma postura mais acolhedora e afetuosa junto aos discentes atendidos

em comparação ao outro docente.

Penso que conforme infere Chacón (2003), a dimensão emocional e afetiva é muito

importante para a construção do ambiente educacional não só da matemática como das demais

áreas do conhecimento humano. Quando o discente se sente acolhido e emocionalmente

valorizado isto contribui para que ele se sinta aceito e valorizado no ambiente escolar e isso

contribui de forma direta e indireta para as aprendizagens que serão apreciadas no ambiente

educacional.

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Segundo Antunes (2011), o docente deve buscar construir um relacionamento afetivo

com seu aluno, fazendo com que o discente perceba o professor como um efetivo ajudante, a

fim de oportunizar que o aluno possa caminhar com segurança e eficiência.

Vale também destacar que o aluno constrói seu próprio conhecimento e jamais o

recebe pronto do professor. No entanto, esta construção é partilhada no ensino escolar em um

processo compartilhado, conjunto, no qual o aluno, auxiliado pelos seus pares e pelo docente,

pode mostrar-se progressivamente autônomo na sua construção educacional. Por isso, a

questão da interação é relevante para o processo de ensino. Assim, o docente deve não apenas

conceber o aluno de forma holística, mas interagir e conhecê-lo visando operar como um

instrumento em sua aprendizagem e desenvolvimento humano e educacional.

Na questão acerca do que os docentes pensavam e concebiam quanto à pergunta: Qual

a concepção de docência? Notamos as seguintes colocações:

Concebo como uma profissão que permite contribuir para que o outro

desenvolva suas potencialidades cognitivas (Docente 01).

É a base da formação e da ação educativa do profissional licenciado e,

não se restringe às atividades pedagógicas em sala de aula. O docente

deverá estar preparado para desenvolver outros trabalhos de natureza

educativa, incluindo-se aí a pesquisa e a gestão educacional democrática

(Docente 02).

Através das respostas dos dois docentes fica clara a posição do docente 01 com uma

visão mais ligada a questão da docência ligada apenas a oportunização do desenvolvimento

cognitivo do discente, o que poderíamos relacionar a uma visão mais tradicional do ensino, o

que de certo modo contempla a visão que o mesmo concebe o aluno também. Já a docente 02

destaca a questão da docência não restrita apenas a questão do desenvolvimento das questões

pedagógicas em sala de aula, mas a inserção de outras atividades junto ao discente.

No entanto, podemos ampliar tais colocações pensando na questão da relevância da

docência no sentido de operar a constituição do pleno desenvolvimento da cidadania pelo

educando, do desenvolvimento de seu pensamento crítico, a questão da construção de sua

independência e emancipação epistemológica junto ao trabalho de favorecer a sua construção

plena em todos os aspectos de sua formação enquanto sujeito: éticos, estéticos, sociais,

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culturais, políticos, sexuais, cognitivos, afetivos, emocionais entre outros, tais como são

destacados por Colinvaux (2007).

De acordo com Altrichter, Posch e Somekh (1996), o trabalho docente deve estar

condizente com a concepção de que o mesmo entende acerca da docência e quais as suas

finalidades educacionais e sociais. Os métodos e ações desenvolvidos pelo docente ao longo

de sua prática não podem perder de vista esta compreensão, pois esta compreensão vai

permear todas as ações que o professor desenvolver em sala de aula junto aos seus discentes.

Segundo Day (1999), muitos professores entendem que a docência seja construída

fundamentalmente na ação do trabalho docente, por isso o docente não pode entender seu

trabalho apenas com as aplicações das ações didáticas e metodológicas, mas o que estas

escolhas didáticas e metodológicas representam para a construção da docência. A autora

propõe que por trás de uma escolha metodológica e didática há um entendimento acerca da

concepção de educação e docência, a qual permeia todo o trabalho do docente, e se constitui

muito além apenas da aplicação de metodologias e didáticas, mas opera na esfera dos

princípios e finalidades de seus usos, os quais remetem a sua concepção de docência e ao

processo de ensino e aprendizagem.

Quanto ao questionamento acerca do entendimento dos docentes sobre a questão: Qual

sua concepção do processo de ensino e aprendizagem? Eles contemplaram as seguintes

acepções:

É o processo mediante o qual o docente contribui, com atividades e

situações de aprendizagens para que o aluno (aprendiz) desenvolva suas

potencialidades num processo de formação permanente (Docente 01).

O processo de ensino e aprendizagem é ou pelo menos deveria ser

concebido para formar sujeitos autônomos, participantes de um mundo

que está em constante mudança, que exige, sempre, posicionamento e

reflexão de quem nele atua. Para que isto ocorra, as propostas de trabalho

para o aluno devem dar condições para que ele exerça a tomada de

decisões, desenvolva a capacidade de colaborar e trabalhar em equipe, a

capacidade de desenvolver projetos, que sejam desafiadoras e instiguem a

criatividade dos alunos, visando à constituição do sujeito criativo,

autônomo e crítico para que possa atuar em sua realidade social e pessoal

(Docente 02).

Page 244: UNIVERSIDADE FEDERAL DO MATO GROSSO REDE … · RESUMO O presente estudo teve como objetivo investigar quais as contribuições de metodologias de ensino e aprendizagem das operações

242

De acordo com as concepções dos docentes, podemos perceber que os docentes

entendem o processo de ensino e aprendizagem como um elemento permanente e continuo, no

qual o discente possa desenvolver suas potencialidades. No entanto, contatamos que a docente

02 contempla habilidades e competências decorrentes do processo da docência de forma mais

ampla e detalhada em sua resposta, contemplando elementos quanto esse processo poder

permitir a questão do desenvolvimento do pensamento crítico, criativo e autônomo do

educando frente às demandas provindas de sua realidade social e pessoal.

Neste aspecto, conforme salienta Melo (2008), a concepção de docência é um pilar

relevante para se construir uma prática docente, pois a prática deve refletir uma concepção

anterior aprendida ou ressignificada perante a vivência do sujeito em formação ou em sua

formação acadêmica mais sistematizada de modo a operar diretamente e refletir sua prática.

No exercício da docência, o docente deve ter de forma clara e consciente o que ele pretende

com as atividades que faz a mediação junto a seus educandos, pois quanto mais essa ponte for

estreita do que ele concebe da docência e sua relação com sua prática, mas coerente será sua

atuação profissional enquanto veículo de formação educativa por este sujeito.

De acordo com Antunes (2011, p.22), os discentes não vão à escola somente para

aprender determinados conteúdos de diversas áreas do conhecimento. Eles vão para construir

conhecimentos em um sentido de aproximar-se do culturalmente estabelecido, mas “também

como o motor do desenvolvimento de seu tempo, de suas capacidades e equilíbrio pessoal, de

sua inserção social, de sua autoestima e relações interpessoais”. Logo, a concepção de

docência deve contemplar estes elementos de forma integrante e holística, pois deve refletir a

que tipo de homem pretende refletir.

Vale frisar, em consonância também as ideias de Antunes (2011, p. 21), que os saberes

não se acumulam, não representam estoque que se agrega à mente, e sim a “integração,

modificação, estabelecimento de relações e coordenação entre esquemas de conhecimento que

já possuímos em novos vínculos e relações a cada nova aprendizagem conquistada”. Assim,

concebemos que o discente aprendeu significativamente porque construiu um sentido próprio

e pessoal para um objeto de conhecimento já existente.

Segundo Hargreaves (1998), em nossa época Pós-Moderna, não podemos mais

conceber o processo de ensino e aprendizagem na escola como a única alternativa de

aprendizagem por parte dos discentes. Devemos conceber que aprendemos em múltiplas

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situações e interações com o uso de diversas ferramentas e lugares. A escola e nem o

professor poder conceber e reduzir o processo de ensino e aprendizagem há apenas o ensino

do tipo enciclopédico e repetitivo, mas concebê-lo como um ensino conectado, na ação, na

experimentação, no desafio e na resolução de problemas reais e presentes em nossos

contextos.

De acordo com Tomaz e David (2008), o processo de ensino e aprendizagem deve ser

visto pelo docente como um viés interdisciplinar e transdisciplinar. Para os autores não é mais

possível pensar apenas em conteúdos de apenas uma disciplina e mover a aprendizagem dos

discentes em apenas um caminho ou sentido. A complexidade de se fazer o processo e

concebê-lo devem estar pautados em agir de modo integrado a outras áreas do conhecimento e

em relação com outras disciplinas de forma conjunta e constante visando sempre à formação

integral do aluno como cidadão. Assim, o docente deve tratar o ensino da disciplina levando-

se em conta a complexidade do contexto social e a riqueza da visão interdisciplinar na relação

entre ensino e aprendizagem, sem esquecer-se de pontuar também a questão inserida nos

desafios e as dificuldades dessa prática.

Já o questionamento acerca do entendimento do que os docentes concebem sobre a

educação inclusiva, tivemos as seguintes respostas:

É o processo educativo que atende a todas as pessoas num mesmo

ambiente independente do tipo de deficiência que a pessoa possa ter,

desse modo ela é incluída no processo educativo (Docente 01).

A Educação Inclusiva se configura na diversidade inerente à espécie

humana, buscando perceber e atender as singularidades/necessidades

educativas especiais de todos os sujeitos/alunos, em salas de aulas

comuns, em um sistema regular de ensino, de forma a promover a

aprendizagem e o desenvolvimento pessoal de todos (Docente 02).

Percebemos pelas respostas dos dois docentes uma grande disparidade, pois enquanto

o docente 01 entende a educação inclusiva apenas como a presença das pessoas no mesmo

ambiente no processo educativo. Já a docente 02 entende a questão do acolhimento da

diversidade humana como algo inerente a nossa espécie. Ela concebe que a educação

inclusiva deve atender as particularidades e necessidades educativas de todos os sujeitos ali

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incluídos de modo a oportunizar aprendizagens e desenvolvimento a todos. No entanto, penso

que pela formação em educação especial na graduação da docente 02, esta questão tenha sido

melhor tematizada e contemplada que comparado à formação do docente 01, já que o próprio

faz menção em outra pergunta do questionário que não teve formação durante sua graduação

de disciplinas e discussões acerca da inclusão e isso reflete diretamente a sua concepção

acerca da temática não só no âmbito conceitual, mas também, sobretudo, na dimensão do

trabalho profissional em sala de aula.

Segundo Crochík (2011), a educação inclusiva não pode ser entendida apenas pelo

acolhimento dos alunos com alguma deficiência junto aos sistemas de ensino, mas representar

a garantia de acesso à aprendizagem em todos os seus aspectos e dimensões por meio do

desenvolvimento de competência social, do acesso ao conhecimento, à cultura e às formas de

trabalho valorizadas pela comunidade, a qual estes discentes fazem parte.

De acordo com Cesar (2003), ao constatarmos a deficiência como uma das

manifestações da diversidade humana, a nossa ação deve estar pautada em impedir que

obstáculos educacionais, de acessibilidade e sociais provoquem a desigualdade. A sala de aula

não pode fabricar “deficiências”, ela deve representar um lócus de possibilidades e novas

competências e construção de habilidades. A escola e suas práticas não podem reproduzir a

desigualdade e nem justificar tal desigualdade sobre o uso de algum slogan que aponte

qualquer conotação e ação excludente.

Em consonância com o pensamento de Mittler (2003), a garantia apenas do acesso ou

matricula de uma discente com deficiência na escola regular constitui algo muito ínfimo, pois

apenas isso não é o bastante e nem o suficiente. Para o autor, a educação inclusiva pressupõe

que todos os educandos tenham a mesma oportunidade de acesso, aproveitamento e

permanência na escola, independentemente de qualquer característica que o mesmo apresente

ou não em sua existência sensorial, social ou cultural.

Para Pacheco (2007), é elementar e fundamental que as crianças, com alguma

deficiência sensorial ou intelectual, tenham todo o apoio que necessitem, como acesso físico,

comunicação (tecnologia assistiva), equipamentos para locomoção e os suportes pedagógicos

e metodológicos necessários. Sem esquecer que a prática da educação inclusiva envolve não

só a figura do docente, mas a família e toda a comunidade escolar.

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245

Embora o Decreto n0 7.611/2011, no seu artigo 2

0, § 2

0 determine que: “O atendimento

educacional especializado deve integrar a proposta pedagógica da escola (...)”. Constatei que

o Projeto Pedagógico da escola enfocada, datado de 2005, não apresenta qualquer menção à

questão da educação inclusiva e acerca deste tipo de atendimento em seu ambiente

educacional. Foi me informado que o Projeto Pedagógico da escola esta passando por uma

reformulação e que está em processo de construção para atender o que preconiza a legislação

vigente. O meu questionamento se refere ao fato como uma escola em pleno funcionamento

no século XXI funciona sem ter um Projeto Pedagógico, o qual em seus princípios,

finalidades e ação educativa não estejam ainda pautadas em tal legislação vigente?

Nesta discussão da educação inclusiva, observei, durante os momentos de observação

em sala de aula no ambiente dito “inclusivo”, que o docente 01 não oportunizava qualquer

ponderação de uma prática que pudesse contemplar as necessidades da aluna com deficiência

visual ali presente em sala de aula (“incluída”). Ela estava fisicamente presente, mas quanto

ao aspecto de ser percebida e valorizada na dimensão da aprendizagem e desenvolvimento

enquanto sujeito não houve qualquer metodologia ou até mesmo preocupação e,

principalmente, ação pedagógica que pudesse inferir neste possível acolhimento, o qual

correspondesse há pelo menos há existência de qualquer momento, mesmo que isolado, de

aprendizagem para com a referida aluna por parte do referido docente 01.

No entanto, nos acompanhamentos realizados pela docente 02, observados por mim no

período de observação, o tratamento e interação eram mais acolhedores e propositivos. No

entanto, foi relatado pela própria docente 02 que sabia o código braille, mas que o processo de

mediar o ensino de tal código não havia sido oferecido, ou seja, ela tinha muitos

questionamentos de como poderia ser construído esse processo, porque não tinha sido

possibilitado para a mesma um curso especifico por parte do município ou em sua formação

inicial ou continuada, que pudesse instrumentalizá-la acerca do processo de ensino e

mediação do referido código junto a este público. Percebi que a docente trabalhava apenas no

ensino do código braille na perspectiva da alfabetização tradicional e não era trabalhada a

questão da alfabetização com base em práticas ligadas ao letramento, ou seja, era o ensino do

código pelo código sem a valorização de seus usos sociais e do uso de metodologias, que

visassem à reflexão e uso por parte da discente deste código em diferentes contextos de

interpretação e produção textual.

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246

Conforme destacam Shor e Freire (1986), muitos são os dilemas e lacunas que os

docentes lidam em seu cotidiano decorrentes de uma formação que não possibilitou tais

maturações de ordem conceitual ou prática. Por isso, não quero de modo algum emitir um

juízo de valor para culpar o docente a referida lacuna, mas refletir que esta possível lacuna

afeta diretamente o exercício de sua atividade profissional e aos aspectos contemplados pela

política de inclusão concebida em nossa contemporaneidade. Assim, o docente vira uma

vítima da ausência de política pública educacional que o instrumentalize para melhor

desenvolver suas atividades profissionais no âmbito inclusivo e muitas vezes é culpabilizado

sozinho por esta lacuna que não foi responsável por ainda existir e constituir em seu fazer

profissional.

De acordo com Curi (2005), durante a sua formação inicial os docentes de matemática

apresentam inúmeras lacunas provenientes de sua formação que repercutem no seu fazer

enquanto docente nas séries iniciais. Para a autora, não há uma preocupação curricular na

formação do docente de matemática que entenda de temáticas que são necessárias para dar

sustentação a sua prática de modo consistente junto aos anos iniciais em sua atuação

pedagógica. Isso poderá representar um entrave ou barreira para o mesmo desenvolver sua

prática e incidirá, muitas vezes, em dificuldades evidentes por parte dos discentes na

aprendizagem da matemática na esfera específica de conteúdos, habilidades e competências

necessárias para o mesmo ter sucesso em sua jornada acadêmica ao longo de seu processo

formativo.

Segundo Carvalho (2000), as propostas curriculares de matemática representam

engodos, que operam práticas obsoletas e sem conexão aos novos conhecimentos e

concepções educativas. Há a necessidade de se rever o currículo do curso de matemática, a

fim de possibilitar uma maior formação e possíveis contribuições que possam

instrumentalizar este profissional para um desenvolvimento de práticas que operem no uso da

matemática numa perspectiva condizente as demandas sociais e culturais dos processos de

formação e constituição do sujeito no viés enquanto sujeito de transformação e participação

social no dinâmico mundo contemporâneo globalizado e ao mesmo tempo em que contemple

as esferas de sua constituição no contexto brasileiro.

De acordo com Freitas (2006), a formação do professor de matemática deve favorecer

que o mesmo entenda e conceba o processo de ensino e aprendizagem de modo dinâmico e

contínuo, no qual não basta apenas saber os conteúdos específicos da área da matemática, mas

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247

saber mediar estes conteúdos no sentido de os mesmos poderem ser usados de modo a

garantir recursos para os discentes para entenderem a própria realidade e poderem operar nela

tanto no sentido de percebê-la, quanto no aspecto de modificá-la, de intervir na mudança de

paradigma e perspectiva de construção de uma nova realidade.

Uma questão trazida por Thompson (1997) acerca do ensino da matemática nos parece

relevante que se refere à questão da compreensão do que os docentes contemplam como entre

o que representa as suas concepções da matemática e a relação com as práticas que

desenvolvem sobre a mesma. A autora discute que a crença e concepção sobre os conteúdos

matemáticos e sua abordagem no ambiente educacional refletem, geralmente, o entendimento

que eles acabam refletindo no processo de ensino e aprendizagem da matemática. Se eles

desenvolveram uma concepção mais tradicional da matemática, esta concepção será

relacionada à prática que eles irão desenvolver em sua atividade enquanto docentes. Já se

concebem a matemática de uma forma mais contextualizada e crítica, esta abordagem tende a

ser dimensionada no ambiente educativo em sua atividade profissional.

Segundo Critovão (2007), se a educação fosse voltada na perspectiva de atender a

diversidade nem precisaríamos debater a questão da inclusão escolar, pois seria algo

redundante e se constituiria até um pleonasmo. No entanto, se ainda temos que debater a

educação inclusiva é porque não entendemos e nem trabalhamos na direção de um processo

educacional, o qual trabalhe na perspectiva de acolher, atender e trabalhar na ótica da

heterogeneidade e diversidade humana, denunciando assim, que estamos ainda trabalhando na

perspectiva da homogeneização.

Nesse sentido, inicialmente, discutimos estes quatro questionamentos e seus conceitos

relacionados porque entendemos que eles sejam bem representativos do direcionamento e

entendimento que os docentes contemplam, geralmente, na construção e desenvolvimento de

sua prática pedagógica junto ao exercício profissional de sua atuação educativa. Eles

embasam e refletem o que os docentes entendem, buscam, desenvolvem e agem no seu fazer

profissional. Logo, em concordância com Charlot (2005), se há lacunas evidentes neste

entendimento conceitual poderá também representar e evidenciar algumas barreiras na

efetivação de uma prática educativa por parte destes sujeitos.

No tocante há outro questionamento feito que possa também estar associada

diretamente a qualidade do serviço educacional prestados pelos docentes pesquisados,

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248

questionamos: Qual sua jornada de trabalho? Você tem tempo para planejar, estudar e

executar uma prática docente considerada satisfatória? Você poderia falar sobre esse assunto?

Os docentes responderam da seguinte forma:

É de 32 h/a semanais. Sim, tenho tempo para planejamento, estudo e

execução de uma prática profissional que considero satisfatória (Docente

01).

Tenho uma jornada pela manhã em outra atividade (6h/d), trabalhando como

Técnica Científica em Pedagogia. Então, se considerarmos o deslocamento

diário (atravesso o Centro de Belém até a Ilha de Caratateua/Outeiro) sobra

pouco tempo para um planejamento satisfatório das atividades a serem

desenvolvidas com os alunos a serem atendidos (Docente 02).

De acordo com as respostas obtidas pelos docentes podemos evidenciar que embora o

docente 01 diga que tem tempo para planejamento e que considera este tempo satisfatório,

questionamos se isso é verdade, pois se o mesmo atua nos três turnos em duas escolas e mais

seu deslocamento semanal isso incide não só na ausência de tempo adequado de planejamento

e qualificação em atualização e preparação de aulas como também é pouco eficiente para

combater o stress e o cansaço proveniente da longa jornada de trabalho.

Contrariando a fala do docente, durante os momentos de observação em sala de aula,

não observei nada tão proveniente de tanto planejamento, pois o mesmo sempre ao entrar na

sala solicitava para ver o caderno de um discente para saber onde havia parado ou discutido.

Se houvesse um registro ou planejamento de fato, esta ação não se realizaria. Outro aspecto a

ser considerado é o fato de o único recurso usado pelo docente ser o livro didático, o qual não

era acessível pela aluna com deficiência visual, pois o mesmo não estava em linguagem braile

para a discente poder acompanhar. Além do outro recurso em todas as aulas do docente ser o

quadro e não era informado a discente com deficiência visual, o que o docente havia

registrado em tal recurso.

Estes fatos refletem o que mencionam Moreira e David (2007), que para ser um bom

docente de matemática e ter uma prática pedagógica satisfatória é necessário mover outros

conhecimentos além dos conteúdos matemáticos, pois só os matemáticos terão pouco impacto

no mover e construção de parâmetros de qualidade e de oportunidade de uma aprendizagem

Page 251: UNIVERSIDADE FEDERAL DO MATO GROSSO REDE … · RESUMO O presente estudo teve como objetivo investigar quais as contribuições de metodologias de ensino e aprendizagem das operações

249

relevante e condizente ao que se espera dos discentes em seu uso social. É necessário termos

uma formação mais adequada e de qualidade que opera uma atuação profissional mais

satisfatória ao docente e também que seja garantida uma jornada de trabalho e formação

continuada para que esse docente possa exercer e almejar a tal eficiente qualidade em sua

atuação profissional.

Já em relação a docente 02, notei uma análise mais sincera e condizente com o

material observado durante o período de observação de sua prática. Por ela ter que atender

mais de 20 alunos com diferentes tipos de deficiência de forma semanal e por ter apenas uma

graduação na área e uma especialização em docência do ensino superior. Como a mesma

docente relata: “sobra pouco tempo para um planejamento satisfatório das atividades a serem

desenvolvidas com os alunos a serem atendidos”. Esta constatação incide diretamente na

qualidade do serviço oferecido, não por culpa da docente, mas pela ausência de cursos de

formação e jornada de trabalho exaustiva oferecidas pelo poder público municipal.

Constatei, durante os momentos de observação realizados junto a docente, que os

conhecimentos demandados em suas atividades estavam muito mais próximos a atividades de

prontidão e repetição no ensino da língua portuguesa ou atuando com material dourado em

matemática. Acredito pela falta de formação adequada para atuar dentro deste grande universo

de atendimentos dos mais variados, mesmo demonstrando compromisso e afetividade pelo

trabalho exercido, a docente deveria ter mais tempo de formação continuada oportunizada

pelo poder público municipal e ter uma jornada de trabalho menor com a possibilidade de

auxílio de outros profissionais, pois sozinha e sem a formação plena e suficiente ela incidia

pouco na questão de uma prática plenamente eficiente junto à clientela atendida.

De acordo com Jiménez (2002), um grave entrave que não possibilita a adoção de um

maior estudo, planejamento e busca pela qualificação na educação continuada do professor

em nosso país é a extrema e desgastante jornada de trabalho. Essa jornada não permite que o

mesmo tenha um planejamento digno e nem a preparação adequada de suas atividades de

ensino, além de causar sérios prejuízos em sua qualidade de vida.

A questão da falta de formação adequada para o exercício da atividade docente e

jornada exaustiva não é apenas uma exclusividade dos dois docentes pesquisados, mas

representa uma realidade muito evidente, conforme salientado por Nacarato (2004), pela

maioria dos docentes em nosso país, os quais apresentam lacunas em sua formação e elevada

Page 252: UNIVERSIDADE FEDERAL DO MATO GROSSO REDE … · RESUMO O presente estudo teve como objetivo investigar quais as contribuições de metodologias de ensino e aprendizagem das operações

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jornada de trabalho que não possibilita oferecer um exercício de qualidade satisfatória para a

comunidade que desenvolvem atividades profissionais. Além disso, são cobrados a exaustão e

culpabilizados pelos problemas e situações de ausência de qualidade dos índices educacionais

ligados a sua atividade profissional.

Uma outra questão realizada junto aos participantes me pareceu relevante até

investigativa para saber como em sua formação inicial, na graduação, a questão da inclusão

foi contemplada, tentando desvelar se houve disciplinas que tratavam da questão para embasar

uma prática nesta questão, por isso perguntei: Na sua formação acadêmica, na graduação,

você teve disciplinas para embasar sua atuação profissional frente à educação de Pessoas com

necessidades educativas especiais? Se sim, quais? Elas foram significativas para você exercer

sua prática docente?

Não houve preparação nesse sentido (Docente 01).

Minha formação inicial é Licenciatura em Pedagogia com habilitação em

Educação Especial. Entretanto, o currículo do curso trabalhado naquela

época na UEPA, enfatizava claramente a Deficiência Intelectual. As demais

deficiências não tiveram abordagem no curso. Eventualmente, um aluno da

classe buscava conhecimentos em cursos livres, principalmente em Libras.

Desta forma, afirmo que a formação acadêmica recebida naquela época,

propiciou somente subsídios para a atuação docente com a deficiência

intelectual (Docente 02).

Voltei a efetuar um novo questionamento ainda sobre a questão da graduação: Durante

sua formação na graduação, lhe foi oportunizado aprender a adequar atividades de ensino e

fazer adaptações curriculares de acordo com as necessidades individuais educacionais dos

discentes? Por quê?

Não. A preocupação relevante era com a dificuldade de aprender a disciplina

pelos alunos considerados normais, sem preocupação com nenhum caso de

deficiência (Docente 01).

Sim, somente com foco na Deficiência Intelectual (Docente 02).

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De acordo com as respostas coletadas pelos docentes participantes ficou claro e

evidenciado que a formação inicial, na graduação, não oportunizou uma solida formação, nem

mesmo para a docente 02, que cursou a graduação em educação especial. Já que a mesma

ressalta que a tal graduação e seu currículo contemplava mais a categoria da deficiência

intelectual dentre as demais existentes. Já o docente 01 mencionou que não houve qualquer

tipo de formação inicial. Fato que colabora e repercute de forma direta e indireta na atuação

junto a uma ação pedagógica mais satisfatória e condizente junto a este público por parte dos

docentes. No entanto, não entendemos que isso seja culpa dos mesmos, a ausência de

formação curricular adequada estar relacionada, geralmente, a entendimentos pelas

instituições de ensino do perfil de formação profissional do tipo de profissional que deseja

formar e atrelado às normatizações e legislações vigentes quanto à constituição do desenho

curricular de cada curso oferecido.

Para Michels (2011), a questão da formação de professores no contexto brasileiro para

atender e comtemplar a educação inclusiva ainda é muito recente em nossa história

educacional. Mesmo tendo tido avanços significativos na legislação e na regulamentação de

política pública educacional na área, elas não foram suficientes para permitir e operar uma

formação sólida e de qualidade para estes diversos profissionais para atender de modo

satisfatório em sua formação inicial.

Segundo Guérios (2002), os espaços de formação dos docentes não os permitem

pensar e refletir sobre muitos elementos que vão estar associados diretamente e indiretamente

a sua atuação profissional. Os cursos de formação apresentam múltiplos problemas de

identidade na questão de pensar e construir um profissional que oportunize uma prática

condizente com as novas demandas educacionais, pedagógicas, metodológicas e didáticas

visando atender os discentes em suas múltiplas especificidades e demandas.

De acordo com González (2002), a educação para a diversidade deveria ser algo

natural e cotidiano nos ambientes escolares, mas, na verdade, ainda há muitos desafios para

serem vencidos para operar dentro desta ótica de ação educativa. Os professores ainda pensam

e agem numa perspectiva muito homogeneizadora em relação a conceber e lidar com os seus

educandos. Este aspecto representa um enorme problema para se pensar e criar uma prática

que favoreça uma educação voltada à valorização e acolhimento da diversidade em todos os

seus aspectos humanos e educacionais.

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Meirieu (2005) pondera que o cotidiano da escola e da sala de aula ainda é muito

complexo e cheio de assimetrias, pois mesmo uma escola tendo um princípio educacional na

perspectiva de entender e trabalhar a diversidade e conceber o aluno como um ser único e

plural. No desenvolvimento das práticas no interior das salas de aula esse princípio, muitas

vezes, opera de forma muito diferente e até divergente. A escola não consegue ter uma

filosofia aplicada de modo prático e evidente. Há vários universos de atuação e compreensão

da dinâmica da ação educativo no interior de uma mesma escola, muitas vezes, até totalmente

discordantes entre si e até aviltantes de sua concepção e princípio educativo.

Já ao questionamento acerca se durante a formação na graduação, foi oportunizado

aprender a adequar atividades de ensino e fazer adaptações curriculares de acordo com as

necessidades individuais educacionais dos discentes? E depois questionado o entendimento do

por que, caso não tivesse sido. Notou-se na resposta do docente 01 que “Não. A preocupação

relevante era com a dificuldade de aprender a disciplina pelos alunos considerados normais,

sem preocupação com nenhum caso de deficiência”. Assim, ficou evidente que por conta

desta ausência durante a formação, o docente percebia a discente com deficiência visual como

uma aluna “vidente”, pois não era direcionada qualquer atividade ou abordagem em sala de

aula que contemplasse a sua condição de não vidente nas atividades ora propostas pelo

docente em questão.

No tocante a resposta da docente 02, no que se refere a mesma questão, percebemos

que a mesma enfatiza mais uma vez a questão da lacuna de sua formação onde relata que a

questão das adaptações curriculares foram discutidas na graduação contemplando apenas uma

categoria de deficiência: “Sim, somente com foco na Deficiência Intelectual”. Desta forma,

esta incompletude na formação e atuação profissional remete a reflexão de Meirieu (2002),

que discute a questão do fazer atrelado a um desafio novo, que, geralmente, não teve

embasamento prévio na formação, ou seja, os docentes são desafiados na própria construção

da prática e na dinâmica de ter que agir frente a diversas problemáticas que ele vai se

construindo e instrumentalizando na ação prática e pela prática.

De acordo com Peres (2008), a relação do currículo com a cultura e que concepção de

sujeito se entende e pretende formar é muito importante, pois as lacunas, geralmente, sentidas

no currículo evidenciam não lacunas na perspectiva de sujeito e profissional que se pretende

ter e formar, pois o currículo evidencia de modo bem direto e condizente qual concepção de

homem deseja operar. Neste sentido, não podemos entender as lacunas do currículo como

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algo ingênuo ou equivocado, mas algo muito revelador e explícito de qual concepção de

homem o reflete e pretende com tal ação disciplinar.

Segundo Zoía (2006), embora se tenha percorrido um significativo caminho de se

conceber e pensar a educação inclusiva na legislação brasileira, a cultura escolar em sua

forma prática, na maioria das escolas, ainda tenta normalizar o aluno o aluno tido como

especial como se ele fosse um aluno sem qualquer deficiência e necessidade. A escola ainda o

concebe e trabalha numa perspectiva de contemplá-lo como sendo igual a seus pares sem

deficiência no sentido de não efetivar uma prática que atenda e contemple suas

especificidades enquanto sujeito. O mais grave ainda , segundo a autora, está no entendimento

equivocado que seu sucesso ou insucesso está depositado e percebido unicamente através da

atuação dele mesmo junto ao seu processo de escolarização.

Já em relação há outro questionamento feito aos docentes: Quais as maiores

dificuldades você encontra para exercer sua atuação profissional neste estabelecimento de

ensino? Os mesmos responderam da seguinte forma:

Creio que seja a falta de recursos materiais para desenvolver atividades com

maior qualidade visando à aprendizagem matemática dos alunos (as)

(Docente 01).

Entraves burocráticos, ineficiência da gestão, ausência de materiais

pedagógicos adequados para atendimento dos alunos e investimento na

qualificação docente, entre outros (Docente 02).

Percebemos pela resposta do docente 01, que, para ele, o grande problema configura

apenas a questão de ausência de recursos materiais. Quem dera que apenas isso representasse

o grande problema da educação local e até nacional. De acordo com Delors (2005), temos

uma questão mais ampla e complexa neste quesito, tais como: a ausência de investimento a

educação, ausência de formação inicial e continuada de qualidade aos docentes, gestão pouco

eficiente e colaborativa, ausência de condições de trabalho, falta de infraestrutura adequada,

exaustivas jornadas de trabalho, baixa remuneração, baixa participação da comunidade

escolar e da família na educação, currículos desconectados e fragmentados, ausência de

material pedagógico e didático adequados entre outros.

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Já a docente 02 pontua quatro elementos mais amplos, até mesmo dentre os

ponderados por Delors (2005), e que refletem de modo indireto e direto a questão das

dificuldades que, geralmente, os docentes não só daquela instituição, mas demais outras de

nosso país enfrentam em seu cotidiano profissional e que representam barreiras para que o

mesmo possa desenvolver uma atuação mais ligada a elevados parâmetros de qualidade e

oportunidades de aprendizagens eficientes, relevantes e mais significativas aos discentes, os

quais ora atuam mais diretamente.

Para Costa (2004), os docentes são mal assessorados pelas tecnologias de informação

e comunicação provindas de seu não oferecimento pela maioria das escolas publicas em nosso

país. Além deste fato há também a pouca formação e treinamento para entender e valorizar

estes recursos na preparação e desenvolvimento das aulas. Os docentes tendem a pensar que

estas ferramentas darão trabalho para ser usadas e as aulas terão um tempo maior de

planejamento e devido ao fator tempo que os mesmos não dispõem, geralmente, acabam por

optar por mecanismos mais ao alcance de forma imediato e pouco atrativo como o livro

didático e o quadro.

De acordo com Penteado e Borba (2000), embora estejamos em um ambiente que tem

o predomínio do uso dos mecanismos da informática, o seu uso pelos docentes em sala de

aula ainda é muito pouco aproveitado e realizado em sala de aula devido a problemas de

infraestrutura das escolas e até mesmo de formação dos docentes para se fazer uso destas

tecnologias. No entanto, as autoras ponderam que se bem usadas em sala de aula, a

informática pode representar um veículo relevante para mediar a participação e o interesse do

discente em atividades que possam repercutir em seu processo de ensino e aprendizagem.

Outro questionamento realizado junto aos docentes investigados foi muito elucidativo

acerca da questão de sua atuação junto à inclusão, quando perguntamos: Você se sente

preparado para promover a inclusão de discentes com as diversas deficiências em suas aulas?

Por quê?

Não, porque nossa formação inicial e mesmo a formação continuada não nos

prepara para este processo (Docente 01).

Nunca estamos devidamente preparados. A própria inclusão da maneira que

se apresenta na teoria, está distante de nossa realidade prática, enquanto

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escola pública que se pretende inclusiva. Além do mais, somos seres em

constante formação, curiosos, em busca de respostas de dúvidas que surgem

diariamente e, estamos em contato com outros seres (profissionais da

educação) que nem sempre apresentam motivação similar a nossa (Docente

02).

Como observamos na resposta do docente 01, o mesmo relata não estar preparado em

decorrência de ausência de sua formação inicial e continuado acerca da temática da inclusão.

Volto a frisar que o docente tem mestrado em educação matemática e mesmo assim nesta

formação stricto sensu não deve ter obtido uma formação em educação inclusiva para operar

o processo de ensino e aprendizagem da matemática para as pessoas com necessidades

educativas especiais. Isso me parece um aspecto muito urgente e sério, pois será que os

currículos de cursos de pós-graduação e até mesmo da graduação possuem disciplinas

suficientes para se trabalhar esta relevante questão? A formação inicial e continuada tem

permitido uma forma solida formação para atender as demandas decorrentes da educação

inclusiva?

Estes questionamentos me provocam também a pensar nas reflexões de Smith (2008),

que menciona um questionamento relevante a este aspecto. Ele reflete que para

oportunizarmos uma educação de fato inclusiva temos que ser formados com tal princípio em

não apenas em relação à questão do conhecimento especifico em si, mas em movermos o

pensamento e ações voltados a perseguir um processo de ensino inclusivo. Devemos mudar

nossa ótica de pensar no prisma da exclusão, classificação, rótulos e estigmas e

oportunizarmos a ação nas potencialidades na ação educativa.

De acordo com Sawaia (2006), a exclusão acontece todos os dias no ambiente

educacional, pois fora dele é muito evidente. A autora pondera fazer parte do imaginário e da

ação à prática da exclusão e por isso é tão complexo tentar efetivá-la apenas no âmbito

educacional. Para ela, há uma relação muito estreita do aspecto psicossocial da prática

educacional. Lembramos até de Foucault (2001), em a microfísica do poder, que relata haver

uma espécie de estrutura de opressão em nosso imaginário, por isso poderíamos conceber que

é “normal” ser excluído ou excluir. Estes aspectos são relevantes para se discutir a questão da

formação e prática docente, pois podemos perceber que de forma inconsciente e não tão direta

a exclusão se faz muito mais presente na prática docente que pensamos.

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Essa discussão mais sofisticada dos aparelhos ideológicos de opressão e exclusão,

mencionados por Foucault (2001), nos permitem refletir que isso também foi aprendido não

só no âmbito familiar e social, mas também, sobretudo, no ambiente educacional. Neste

aspecto, partindo da resposta da docente 02, a qual infere: “A própria inclusão da maneira que

se apresenta na teoria, está distante de nossa realidade prática, enquanto escola pública que se

pretende inclusiva”. Notamos uma dicotomia acerca de como a educação inclusiva acontece

na teoria e na prática. Podemos até refletir uma grande barreira no aspecto até funcional e

ideológico do papel da escola, pois como ela vai se tornar inclusiva se ela, em sua origem e

funcionamento, sempre se mostrou mais eficiente sendo excludente em todos os aspectos!?

Esta indagação é uma provocação para se pensar que a questão da inclusão escolar não vai ser

resolvida apenas pelo âmbito e ação da escola, mas vai depender de outras esferas e

complexas relações de ordem política, econômica, social e cultural, o que passa também pela

questão da construção de uma política educacional, que busque e conceba a formação de outro

tipo de homem, desatrelado a questão superestrutura como diria Bourdieu e Passeron (1992).

De acordo com Critovão (2007), uma grande barreira para a educação inclusiva

acontecer, antes mesmos das questões pedagógicas e didáticas surgirem, há o problema das

crenças e valores dos docentes do entendimento à diversidade, pois eles ainda tendem a

pensar o discente dentro de uma perspectiva de modelo, algo idealizado, o qual foge a

qualquer peculiaridade de atendimento ao âmbito da diversidade. Os docentes ainda são

formados para conduzir sua atividade profissional visando apenas um tipo de aluno e isto é

algo ilusório e não correspondente na realidade. Se os mesmos fossem desafiados em sua

formação inicial ou continuados a superar esta crença e concepção, começaríamos e ponderar

uma nova perspectiva de educação e começar a delinear uma educação mais inclusiva.

Em outro questionamento realizado junto aos dois docentes, questionei aos mesmos:

Você teve acesso a cursos de formação continuada na área da educação inclusiva? Se sim,

quais? Eles foram oferecidos gratuitamente pelo município ou você teve que custear essa

formação?

Sim tive acesso a dois cursos voltados para a educação de alunos com

deficiência visual. Esses cursos foram oferecidos pelo município de Belém

gratuitamente (Docente 01).

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Eventualmente a SEMEC oferece cursos gratuitos, mas de forma

descontínua. Fiz introdução a Libras e Braille no CRIE (Centro de

Referência Inclusiva e Educação). Entretanto, fiz com investimentos

próprios, o intermediário e avançado de Braille, bem como, outros

cursos/oficinas menores, mas de grande importância para o meu trabalho

(Docente 02).

Já ao questionamento: Os cursos de formação continuada que você teve acesso foram

suficientes e ou significativos para você atuar frente a alunos com deficiência visual? Por

quê?

Acredito que foram um pontapé inicial e que necessitava de continuidade

porque são múltiplos os desafios nua sala de aula tendo alunos com

deficiência (Docente 01).

Não o suficiente, pois sempre foi uma demanda minha em todos os cursos

que participei, de que apesar de conhecermos o Braille, não sabemos

alfabetizar as pessoas. É um processo bem mais complexo. Entretanto,

apesar dos “pontos negativos”, destaco que os cursos realizados na Escola

Estadual Álvares de Azevedo, foram extremamente importantes, pois além

de trabalharmos na reglete, aprendemos a manusear a máquina Braille

(Docente 02).

Nesta questão da formação continuada, pondero em consonância com Galvão (1998),

que considera que o docente diferente de outros profissionais necessita sempre estar em

constante aperfeiçoamento no exercício da atividade docente, por isso os cursos de educação

continuada são muito relevantes, sobretudo, para atender lacunas deixadas na formação inicial

e exigidas na atuação profissional.

No entanto, pelas falas dos dois docentes fica claro que ou poucos cursos cursados e

oferecidos pelo governo municipal foram insuficientes para permitir uma formação

continuada condizente com o que se espera de uma prática inclusiva. O docente 01 chega a

relatar: “tive acesso a dois cursos voltados para a educação de alunos com deficiência visual”;

“Acredito que foram um pontapé inicial e que necessitava de continuidade porque são

múltiplos os desafios numa sala de aula tendo alunos com deficiência”.

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Neste sentindo, o docente 01 pondera necessitar de continuidade pela complexidade da

demanda e pelas lacunas provenientes das necessidades em sala de aula. Fazendo alusão aos

momentos de observação do docente em relação a discente com deficiência visual, acredito

ter ficado claro a ausência de conhecimentos necessários para operar na aprendizagem da

matemática junto à mesma, como já relatei anteriormente, nem a interação se dava em sala de

aula. Penso que isto evidencia um problema muito maior, como afirma Santos (2005), sem

interação como se vai construir uma aprendizagem seja em matemática ou em qualquer outra

área do conhecimento. Sem a interação para a construção de uma relação entre docente e

discente e discente e discente como a aprendizagem ocorrerá? A sala de aula tem que

representar um ambiente de troca e interação senão a aprendizagem dificilmente ocorrerá.

No entanto, esclareço que isto não é uma exclusividade apenas da matemática, mas

isso acontecia da mesma forma nas demais disciplinas, não havia interação alguma dos

docentes com a referida aluna, parecia que a mesma não era notada ou era entendida de modo

como se fosse “vidente” como os demais alunos em sala de aula. Como diz Zoía (2006), a

escola ainda lida com a inclusão no papel e a exclusão na prática em seu ambiente de ensino.

Esse jogo é perverso e esconde para debaixo do tapete o problema de construir uma prática

que atenda de fato a todos de modo inclusivo.

Já a docente 02 relata um elemento preocupante na questão da oferta de eventuais

cursos pelo poder municipal local, ela pondera: “Eventualmente a SEMEC oferece cursos

gratuitos, mas de forma descontínua. Fiz introdução a Libras e Braille no CRIE (Centro de

Referência Inclusiva e Educação). Entretanto, fiz com investimentos próprios, o intermediário

e avançado de Braille, bem como, outros cursos/oficinas menores, mas de grande importância

para o meu trabalho”. Neste aspecto, a docente infere que não há continuidade da formação e

ainda afirma ter que investir de próprio bolso em cursos e oficinas para poder se sentir melhor

preparada para o exercício da profissão docente.

Outro ponto apontado pela docente 02 se refere à questão da alfabetização em braille,

ela afirma: “Não o suficiente, pois sempre foi uma demanda minha em todos os cursos que

participei, de que apesar de conhecermos o Braille, não sabemos alfabetizar as pessoas. É um

processo bem mais complexo”. Este fato é muito emblemático acerca da questão do processo

de mediação do código braille, pois para ensiná-lo não basta apenas ter aprendido o mesmo,

mas deve ter uma concepção de alfabetização e letramento, que, geralmente, reflete outra

lacuna dos profissionais ligados a sua mediação, os profissionais não têm esta formação e

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ensinam o código apenas como prontidão e esquecem-se da questão do letramento e uso

social do código, como ressalta Borges (2003).

Esta dificuldade no processo de ensino do braille pela docente 02 foi percebida

durante as observações de campo junto a discente com deficiência visual, fato que dificultava

o entendimento e uso do código pelo código pela discente, pois os exercícios de prontidão não

devem mais ser usados nem para os discentes videntes no aprendizado de uma língua e

também não refletem aprendizado em um código tal como o braille, pois escrever em uma

folha uma única letra até a exaustão do aluno não vai garantir que o mesmo possa ativar sua

memória a tal modo de nunca mais esquecer de como se escreve tal letra. Há outros exercícios

e metodologias que podem e devem operar mais na aprendizagem que apenas a repetição de

letras isoladas e descontextualizadas. Isso reflete uma concepção de alfabetização no mínimo

ultrapassada e incoerente, como alude Capovilla (1997).

De acordo com Bruno (1993), a deficiência visual necessita de um docente receptivo,

sensível e instrumentalizado desde sua concepção e prática de ensino, pois ele será uma

preciosa ponte para o aluno poder “enxergar” sem o auxílio da visão e aprender sentindo e

vivenciando de modo ativo, explorando, manuseando e interagindo no plano escolar na esfera

da sala de aula. O docente deve ser a primeira ponte, mas não devemos esquecer-nos dos

recursos didáticos e pedagógicos que possibilitaram tal ação educativa.

De acordo com um estudo realizado por Castro (2004), ao investigarem suas próprias

práticas, os docentes perceberam que não dispunham de todas as ferramentas necessárias para

operar uma significativa atuação e remeteram esta ausência em sua formação inicial e a falta

de possibilidades de efetivar uma educação continuada, a qual sinalizasse o entendimento e

uso de novas ferramentas para poderem ser usadas no processo de ensino, pois, para os

docentes, mesmo que eles tivessem estas ferramentas em seu aprendizado, a escola em que

atuam não teria condições de possibilitar o seu uso em seu trabalho no dia a dia, pois a escola

ainda tem uma perspectiva muito tradicional de agir e o docente acaba seguindo este caminho

para se adequar a este modelo de instituição educacional.

Fiorentini (2000), ao investigar o processo de produção dos saberes docentes junto aos

professores, constatou que os mesmos relatam muitos problemas presentes em seu cotidiano e

decorrentes diretamente de sua prática profissional que os mesmos relatam não terem

condições de resolver. Para o autor, estas lacunas são decorrentes do entendimento de

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fragmentação do conhecimento dos professores fruto de sua formação incompleta e

dicotômica, na qual aprenderam que sua intervenção está mais diretamente delimitada na

questão de operacionalizar o entendimento de determinados conteúdos e não de agir de forma

mais ampla e contextualizada em outras direções mais complexas e que fujam a este

entendimento.

Já quanto ao questionamento: Quais as maiores dificuldades que você encontra em sua

prática docente junto a alunos com deficiência visual? Por quê?

Preparação de material alternativo para eles. Porque temos poucos recursos e

pouca formação para produzi-los (Docente 01).

Quando associada à deficiência visual, temos uma deficiência intelectual.

Além de ausências constantes por motivos de saúde, o que interfere na

continuidade das atividades planejadas (Docente 02).

Uma dificuldade percebida nas aulas do docente 01 se refere à questão da ausência de

material didático e pedagógico voltado a discente com deficiência visual, mas como já foi dito

anteriormente, o que mais me impressionou foi a completa ausência de interação do docente

junto a referida discente com deficiência visual. Fazendo uma alusão ao pensamento de

Bruner (1997), acerca dos atos de significação, a interação humana é rica destes atos em

qualquer tipo, o que possibilita a troca e a construção de uma relação entre pares.

No entanto, a ausência de interação também representa um ato de significação e

simbologia muito evidente de como o outro é visto dentro da relação social. Este fato foi

percebido não apenas dos professores para com a discente, mas também dos demais discentes

para com a mesma. Isso me incomodou demais durante as observações em campo, pois nem

perto de outros discentes a aluna sentava e vice versa. Ela ficava isolada não só através da

ausência do ato interativo, mas também fisicamente no espaço escolar.

Já a docente 02 me preocupou em sua resposta: “Quando associada à deficiência

visual, temos uma deficiência intelectual. Além de ausências constantes por motivos de saúde,

o que interfere na continuidade das atividades planejadas”. Ela ponderou que quando o aluno

que apresenta mais de uma deficiência associada representaria uma dificuldade para a mesma

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no desenvolvimento de sua atividade profissional. Este fato não condiz no prisma de trabalhar

a diversidade humana em toda sua forma e gênese. Então um discente com deficiência

múltipla por si só já representaria uma barreira?

Concebo que pode demandar mais tempo e ação favorecer a aprendizagem de um

discente com deficiência múltipla, mas penso que não se torna um obstáculo, dificuldade ou

barreira para um profissional oportunizar um ambiente de aprendizagem e desenvolvimento.

Este fato conota mais uma vez a questão de ausência de formação para ter uma atuação

profissional adequada. Como afirma Pires (2000), a organização curricular deve oportunizar

uma prática e ensino antenados e relacionados. Este elemento me faz pensar na lacuna da

questão das adaptações curriculares que irão refletir e interferir na construção de uma prática

voltada para atender um aluno com uma deficiência múltipla, por isso que a docente pode

ponderar como um elemento de dificuldade.

Um questionamento que me parecia muito acessível e até superado me causou enorme

desconforto ao observar as respostas dos docentes: Você acredita que é possível trabalhar com

discentes com deficiência na sala de aula do ensino regular? Por quê?

Sim, desde que eles não tenham outros tipos de deficiência como deficiência

cognitiva. Por que quando utilizamos material manipulativo verificamos sua

participação e interesse na aprendizagem (Docente 01).

Sim, entretanto a inclusão ainda é utópica. Os docentes não estão preparados

para a quebra do status quo, apesar de sempre trabalharmos, ao menos, a

sensibilização das partes envolvidas no processo. A Escola não está

estruturada, física e pedagogicamente falando. Os profissionais inseridos na

escola não recebem formação mínima para a atuação diária. Enfim,

problemas que podem ser superados, mas vai levar um tempo considerável

para atingirmos o aceitável (Docente 02).

Diante da resposta do docente 01, constatei que ele pondera ser aceitável trabalhar

com alunos com alguma deficiência no ensino regular desde que o mesmo não apresente mais

de uma deficiência associada. Então, pelo que compreendo, há uma seleção dentro do que é

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possível e aceitável, ou seja, nem todos podem ser incluídos, há um grupo de indivíduos que,

na perspectiva do docente, devem ser excluídos do ensino regular por uma questão de não

atender a diversidade neste aspecto.

Neste caso, que conceito e percepção de inclusão devemos ter? Uma inclusão presa a

princípios de exclusão? Uma inclusão parcial e não plena e total? Esta fala para mim é muito

reveladora de qual concepção muitos docentes ainda compreendem a respeito da inclusão.

Como afirma Crochík (2011), há um preconceito muito enviesado nas concepções de

inclusão, o que de fato ilustram muitas práticas e procedimentos no âmbito interno da sala de

aula e externo da mesma no espaço escolar. Penso que para se pensar em práticas, temos antes

que operar nas concepções e crenças que muitos profissionais apresentam a respeito do

entendimento da inclusão.

Como afirma González (2002), a educação está ainda muito longe de trabalhar no

prisma de atender a diversidade como algo natural e intrínseco a identidade do ser humano.

Há diversos mecanismos visíveis e invisíveis que ainda impedem o entendimento e ação

dentro da cultura do atendimento a diversidade humana. O que nos causa mais espanto é que

esses mecanismos foram mediados pelo próprio processo de educação que representam o

entendimento destes profissionais. Assim, eles são vítimas da seleção e do olhar naturalizado

de que faz parte ocorrer a homogeneização no âmbito do ensino e da aprendizagem. Todos

devem aprender de um único jeito e forma e ser de um único jeito e forma.

No entanto, na resposta da docente 02, constatamos que a mesma concebe a própria

inclusão como uma “alegoria” da realidade, um ideal utópico a ser alcançado: “Sim,

entretanto a inclusão ainda é utópica. Os docentes não estão preparados para a quebra do

status quo, apesar de sempre trabalharmos, ao menos, a sensibilização das partes envolvidas

no processo”, pois, para a docente, os demais docentes não estão preparados para quebrar a

questão da estrutura educacional. Para a docente isto é o reflexo da ausência de estrutura

física e pedagógica da escola é devido também a questão da formação docente, pois para ela:

“A Escola não está estruturada, física e pedagogicamente falando. Os profissionais inseridos

na escola não recebem formação mínima para a atuação diária. Enfim, problemas que podem

ser superados, mas vai levar um tempo considerável para atingirmos o aceitável”.

Os meus eventuais questionamentos ligados então diante da fala da docente 02, se

referem: Os trabalhos então em sala de aula e na escola não condizem com a educação

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inclusiva? Ela não desenvolve então práticas inclusivas ou não acredita também nelas? Se a

inclusão escolar é uma utopia então a realidade escolar também desenvolve a inclusão? Se ela

não desenvolve a inclusão então ela opera no prisma da exclusão? Analiso esta fala como um

desabafo da docente frente aos inúmeros problemas que ela sozinha deve enfrentar em dois

turnos na sala de recursos junto ao atendimento de diversos alunos com diversas necessidades

educativas especiais. Fato que ela não deva conseguir o resultado esperado, além da

frustração, devido à ausência de parceria também com os demais membros da comunidade

escolar e da família destes discentes ali inseridos.

Nesse sentido, penso que a descrença no princípio da inclusão ainda é muito

evidenciado e percebido não apenas no discurso, mas, sobretudo, nas práticas ou na ausência

delas na maioria das escolas brasileiras, que não têm um suporte devido dos dirigentes,

representantes das secretarias de educação, gestores municipais, estaduais e federais e de

políticas públicas, fomentos e investimentos dignos na esfera educacional deste país, que

possam operar no prisma da escola ser realmente de todos e para todos.

Quando questionamos: Em sua opinião, quais são as maiores dificuldades

apresentadas por seus alunos com deficiência visual para aprender matemática? Elas são

devidas a que fator? Por quê?

Acredito que seja por falta de conhecimentos prévios, inclusive sobre os

números naturais e suas operações básicas. Creio que são devidas da falta de

inclusão no processo educativo desenvolvido anteriormente (Docente 01)

Principalmente as metodologias excludentes adotadas. Não culpo o professor

por isso, mas acredito que todos juntos podemos fazer a diferença (Docente

02).

Notamos que o docente 01 foi muito enfático e específico em culpabilizar os próprios

discentes ao se referir à questão da ausência dos conhecimentos prévios por partes dos

mesmos, mas esqueceu de ponderar que essa ausência não é proveniente da deficiência em si

apresentada pelos discentes, mas, sobretudo, decorrente de um processo de escolarização

pautado em uma visão e ação no mínimo pouco propositiva em entender e operar o processo

educativo em matemática junto aos discentes, como pondera Boavida (2005).

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Já a docente 02 contempla a questão das metodologias adotadas: “Principalmente as

metodologias excludentes adotadas. Não culpo o professor por isso, mas acredito que todos

juntos podemos fazer a diferença”. No entanto, as metodologias excludentes são originarias

de práticas e concepções também excludentes e equivocadas, as quais são provenientes

também de uma formação pouco propositiva em construir uma reflexão, concepção e ação

condizente e direcionada a este público em foco, que por sua vez reflete um currículo também

pobre e muitas vezes ausente de fomento para melhor embasar esta formação tanto inicial

como continuada do docente.

Em outro questionamento mais específico ao código braille, perguntamos: Você

conhece o código braile? Se sim, como você usa em suas aulas?

Conheço o código braile, entretanto não o utilizo em minhas aulas (Docente

01).

Sim. Estamos trabalhando primeiro a cela Braille ampliada, utilizando

materiais alternativos para tal. Através do lúdico, os alunos aprendem a

posição de escrita e leitura na cela Braille, sem a utilização da reglete. Em

alguns casos, quando há grandes dificuldades no trabalho com a reglete,

passamos direto para a utilização da máquina Braille (Docente 02).

Fica evidente pela fala do docente 01 que o mesmo diz conhecer, mas também afirmar

que não utiliza. Podemos pensar então: Ele não usa por qual motivo? Não usa porque seria

difícil? Não usa porque não acha necessário? Por que não percebe ou entende sua relevância

para a educação de sua única aluna com deficiência visual? Não usa porque nem interage com

a discente com deficiência visual? Muitos questionamentos decorrentes de uma ausência e

lacuna, a qual reflete uma concepção e prática, possivelmente, explícita em seu fazer

profissional.

Já a docente 02 menciona fazer uso, no entanto, a forma de uso do braille em seu

processo de ensino e mediação deve ser revisto, pois como já relatei anteriormente, atividades

de prontidão e repetição de grafemas isolados não contemplam a alfabetização na perspectiva

do letramento, conforme salienta Capovilla (1997). Além disso, há outro problema relatado

pela docente da sala de recursos de que as únicas regletes e pulsões, as quais se referem a

instrumentos usados na forma manual de escrita do código braille não existem disponíveis no

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espaço da referida instituição. As únicas que existem são de propriedade da própria docente,

que teve que comprar para poder fazer uso. Outro aspecto a ser questionado é o fato de só a

discente com deficiência visual ter a obrigação de aprender e fazer uso do referido código e os

demais docentes não!

Em outro questionamento, queríamos entender qual o suporte oferecido da escola ou

pelo poder municipal aos docentes, por isso, perguntamos: Há algum suporte da coordenação

pedagógica da escola ou do município para a sua atuação profissional junto aos discentes com

deficiência? Se sim, quais? Você avalia que são suficientes?

Sim. O acompanhamento dos discentes pelo AEE (Atendimento Educacional

Especializado) e a aquisição de material pedagógico de apoio. Avalio que

ainda são insuficientes haja vista que deveriam investir mais na formação

dos docentes nesta área (Docente 01).

Normalmente nas sextas-feiras temos um professor referência no Distrito de

Outeiro que atende a todas as escolas municipais existentes na ilha.

Entretanto, essas orientações são repassadas pela manhã e não no horário em

que o professor encontra-se lotado. Fato que dificulta minha presença, pois

trabalho em outro local distinto da escola. Porém, destaco que todas as vezes

que precisei de orientação específica para casos isolados, fui prontamente

atendida (Docente 02).

Esta questão do suporte oferecido pela coordenação pedagógica é muito relevante,

pois ele estaria mais próximo dos profissionais que atuam juntos aos discentes dirimindo

duvidas e avaliando questões, ajustando abordagens e metodologias e procedimentos de

ensino. No entanto, a escola é carente deste tipo de assessoria, pois a coordenação pedagógica

desenvolve mais um trabalho, digamos, burocrático junto a escola e esquece de ter uma

atuação mais presente ao aspecto de oferecer este importante elo de assessoramento junto aos

docentes. Além disso, a coordenação pedagógica não tem formação específica na questão da

educação inclusiva e não dispõem de subsídios para prestar o devido assessoramento nesta

área. Como o próprio docente 01 relata: “Avalio que ainda são insuficientes haja vista que

deveriam investir mais na formação dos docentes nesta área”.

De acordo com o que foi constatado durante o momento de observação, o município

oferece um docente que atua como itinerante junto a diversas escolas municipais. Ele presta

orientação pedagógica eventual aos docentes quando é solicitado, mas o mesmo se encontra

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em apenas um dia pela manhã e isso dificulta a comunicação e interação com os demais

profissionais que não trabalham neste período junto à escola. Como é o caso da docente 02, a

qual atua junto à sala de recursos no horário da tarde e noite e o docente 01, que também se

encontra apenas nestes mesmos horários na escola.

Questiono a questão de o docente itinerante estar apenas uma vez na semana em um

único horário, pois entendo que ele devia estar de forma mais constante e efetiva junto a

instituição e acompanhar inclusive os discentes e docentes em sala de aula e não ficar em uma

sala da coordenação pedagógica efetuando outras atividades, muitas vezes, até nem ligadas ao

seu fazer profissional.

Na verdade, penso que a figura do professor itinerante é mais um “jeitinho brasileiro”

de dizer que o poder público cumpre a legislação e tem um profissional para prestar assessoria

e acompanhamento pedagógico na perspectiva da educação inclusiva, que realmente prestar

um serviço que possa ir de encontro ao acompanhamento mais sistemático e assessorar tais

profissionais e comunidade escolar. Entendo que se investisse mais em formação dos docentes

neste âmbito seria mais propositivo, uma vez que o docente está efetivamente mais presente

do educando e dos demais membros da comunidade escolar. Não se pode ter um profissional

itinerante, que não acompanha os discentes em sala de aula e não se encontra integralmente na

escola para interagir e mediar o processo de ensino e aprendizagem. Este tipo de serviço é

pouco eficiente e até digamos insuficiente no aspecto propositivo.

De acordo com Tardif (2002), investir na formação docente é sempre o melhor

caminho, pois ele deve estar preparado e instrumentalizado para ter uma atuação sempre

desafiadora dentro dos acontecimentos que fazem o processo de ensino e aprendizagem. Ele

representa o instrumento de maior acesso e interação junto ao discente. Ele está sempre mais

próximo de melhor entender e compreender os dilemas, necessidades e dificuldades do

discente, por isso sua atuação deve ser muito atenta e propositiva. Não se pode querer

melhorar a qualidade da educação sem esquecer-se de investir mais na qualificação da

formação continuada do professor.

Na questão levantada acerca se o docente se percebe preparado para efetivar a

inclusão, perguntamos: Você está sendo preparado para oportunizar a inclusão de discentes

com as diversas deficiências em sua prática pedagógica em sala de aula? Por quê?

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Creio que sim, mas ainda de forma pouco satisfatória e não sistemática

(Docente 01).

No AEE sinto dificuldade no trabalho, pois é como se o professor da Sala de

Recursos tivesse que dominar todas as deficiências e práticas pedagógicas

diferenciadas adaptadas a cada caso. Mas, não tenho medo de enfrentar o

desconhecido. Não sei, pergunto, pesquiso, faço cursos em plataformas

virtuais. Estou na constante busca de aprendizado (Docente 02).

De acordo com a resposta do docente 01, notamos uma certa contradição, pois ao

mesmo tenho que ele acredita estar, o mesmo também relata que essa preparação é pouco

satisfatória e não sistemática, ou seja, se é pouco satisfatória e sistemática então entendo que

não está preparado. Até porque pelo que já relatei sobre o período de observação e a prática

observada junto a discente com deficiência visual posso ser enfático em afirmar de fato que

realmente não está preparado de forma alguma para atuar junto à mesma. No entanto, essa

ausência de preparação não é culpa do docente, mas da falta de investimento na formação

continuada e ausência de orientações, assessoramento e acompanhamento pedagógica da

equipe pedagógica da escola e também do poder público municipal.

Já na resposta da docente 02, que trabalha na sala de recursos, esboça suas limitações e

dificuldades para sozinha ter que atender um universo de atendimentos, que muitas das vezes

não teve formação para ser mais propositiva: “No AEE sinto dificuldade no trabalho, pois é

como se o professor da Sala de Recursos tivesse que dominar todas as deficiências e práticas

pedagógicas diferenciadas adaptadas a cada caso”. No entanto, ela demonstra uma intenção de

não ficar se justificando em tal limitação e diz estar em constante busca de informação e

formação para tentar oferecer um melhor atendimento: “Mas, não tenho medo de enfrentar o

desconhecido. Não sei, pergunto, pesquiso, faço cursos em plataformas virtuais. Estou na

constante busca de aprendizado”.

Nesta questão, penso no papel importante que a pesquisa pode oportunizar na prática e

formação do docente. O princípio da pesquisa deve ser um pilar da ação profissional do

professor, como nos lembra Tardif (2002), sem ele o professor não consegue fazer o seu

serviço profissional, sem ele o docente não consegue viver a docência de modo pleno e

satisfatório.

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268

Ao questionamento: Há um diálogo com os pais de seus alunos? Como acontece esse

diálogo? Os pais participam e demonstram interesse pela educação de seus alunos com

necessidades educativas especiais durante o ano letivo?

Fico sabendo pelos colegas do AEE que há esse diálogo com os pais,

entretanto nunca participei de nenhum. Percebo haver pouca participação

dos pais nesse processo (Docente 01).

O trabalho com pais residentes na periferia nem sempre é fácil. Às vezes, por

falta de informação, outras tantas o diálogo não acontece, pois os pais têm

que trabalhar para o sustento da família. Mas, quando presentes na escola,

recebem as orientações (quando necessárias) de coração aberto. São

amorosos com seus filhos e, na medida do possível, participam de atividades

paralelas junto com a escola. Destaco, contudo, que existem pais extremante

presentes na vida escolar de seus filhos (Docente 02).

Percebemos pela resposta do docente 01 que o mesmo relata nunca ter participado de

qualquer diálogo com os pais, além de informar que observa pouca participação dos mesmos

no processo de aprendizagem dos educandos. No entanto, será que como docente ele não

poderia valorizar mais esse diálogo e buscar meios para essa interação pudesse acontecer?

Será que desenvolver um trabalho isolado da família dos discentes não afeta os eventuais

resultados obtidos pelos seus discentes? Será que há essa falta de interesse por parte do

docente porque ele também não acredita em tal diálogo? São muitos questionamentos para um

fato comprovado pela fala do próprio docente, a ausência de interação junto aos pais dos

discentes.

Já na fala da docente 02, constatamos uma explicação que esse diálogo com a família

tem seus percalços e problemas, por diversos fatores, inclusive por incompatibilidade de

horário em função dos pais desenvolverem suas atividades profissionais, mas ela interage e

mantém um diálogo quando é possível junto aos pais dos educandos: “Mas, quando presentes

na escola, recebem as orientações (quando necessárias) de coração aberto. São amorosos com

seus filhos e, na medida do possível, participam de atividades paralelas junto com a escola.

Destaco, contudo, que existem pais extremante presentes na vida escolar de seus filhos”.

Durante minhas observações de campo constatei que a docente 02 efetivava um

dialogo com os pais dos educandos e até ligava para alguns para saber por que seu filho estava

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faltando nas atividades desenvolvidas junto à sala de recurso. Ela demonstrava ser receptiva e

mantinha um canal de comunicação afetuoso e cordial com os mesmos. No entanto, pondero

que o que penso que faltou foi criar mecanismos, os quais oportunizassem aos pais

participarem juntos com a docente de atividades com os seus filhos e uma forma de eles

estarem mais presentes em atividades em conjunto na educação dos mesmos junto com os

demais profissionais da comunidade escolar.

Discutir o papel da comunidade escolar e da participação dos pais representa um

elemento de suma importância para se pensar e efetivar a inclusão escolar. Como nos lembra

Beyer (2005), a escola deve fomentar prática inclusivistas, as quais envolvam os seus

membros da comunidade escolar e as famílias destes alunos. A escola não pode pensar a

inclusão apenas no ambiente da sala de aula, pois se assim o fizer não estaremos fazendo a

inclusão de fato, mas voltando atrás no tempo da integração.

Já na questão acerca de como se dá a avaliação, interroguei: O que você entende por

avaliação? Há alguma forma ou metodologia que você usa para avaliar o seu aluno com

deficiência visual? Justifique sua resposta.

Entendo que avaliar é verificar o progresso dos alunos no processo de

ensino/aprendizagem, sendo desenvolvida de forma sistemática e continua

com o uso de diferentes instrumentos avaliativos. Com alunos portadores de

deficiência visual já utilizei: Diálogo sobre os assuntos estudados e

atividades em pequenos grupos para verificar sua participação e interesse.

Entretanto, não obtive grandes resultados porque verifiquei que não houve

aprendizagem e não soube mais o que fazer (Docente 01).

Entendo a avaliação como um processo natural e contínuo que acontece para

que o professor tenha uma noção dos conteúdos assimilados pelos alunos,

bem como saber se as metodologias de ensino adotadas por ele estão

surtindo efeito na aprendizagem dos mesmos. Agora, para muitos

professores, falar em avaliação de alunos com deficiência é algo complexo

(seja qual for à deficiência). Destaco que alunos com deficiência devem ser

avaliados da mesma maneira que seus colegas (não, necessariamente, da

mesma forma), para que possamos pensar essa avaliação como instrumento

que permite o replanejamento das atividades e que só faz sentido quando

leva ao desenvolvimento do educando. Lembro que as avaliações devem ser

feitas de acordo com as potencialidades e os conhecimentos adquiridos pelo

aluno. Dessa forma, é possível descobrir quais são suas habilidades e

dificuldades e definir se os instrumentos usados estão de acordo com as

respostas que o aluno pode dar. Geralmente as avaliações não são adaptas,

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pois os professores de área não repassam com certa antecedência o que será

trabalhado com este educando (Docente 02).

Tendo como base a resposta do docente 01, constato que embora o docente tenha

evidenciado um possível conceito sobre avaliação, não observei na prática este aspecto

continuo e processual. Já que ele infere: “Entendo que avaliar é verificar o progresso dos

alunos no processo de ensino/aprendizagem, sendo desenvolvida de forma sistemática e

continua com o uso de diferentes instrumentos avaliativos”. Não havia qualquer anotação e

registro do desempenho ou dificuldades dos discentes, como por exemplo, da aluna com

deficiência visual. Não percebi também o uso de diferentes mecanismos ou instrumentos

avaliativos como o docente informa. Apenas observei prova e exercícios decorrentes do uso

do livro didático.

Já no caso específico a questão de como se dá o processo de avaliação junto aluno com

deficiência visual, o docente 01 diz já ter feito uso de conversas dos assuntos estudados e

atividades em grupo com os alunos, ao mencionar: “com os alunos portadores de deficiência

visual já utilizei: Diálogo sobre os assuntos estudados e atividades em pequenos grupos para

verificar sua participação e interesse. Entretanto, não obtive grandes resultados porque

verifiquei que não houve aprendizagem e não soube mais o que fazer”. No entanto, não

observei nada neste sentido durante as observações em campo em sala de aula.

Destaco ainda a última frase do docente 01, que remete a questão de ter usado as

conversas e atividades em grupos e como não houve aprendizagem não soube mais o que

fazer, quando diz: “Entretanto, não obtive grandes resultados porque verifiquei que não houve

aprendizagem e não soube mais o que fazer”. Essa fala demonstra e elucida que como os

mecanismos usados não deram certo ele não buscou mais outras formas e maneiras de

construir este caminho e dialogo. Talvez isto explique porque tanto distanciamento do docente

em relação a discente com deficiência visual.

Neste sentido, volto mais uma vez a mencionar a questão da pesquisa como um

elemento importante na fomentação da prática educativa docente, pois com ela é possível

buscar maneiras, modos, instrumentos, maneiras, alternativas para intervir junto a uma

determinada problemática e situação. Como docentes não podemos aceitar como normal não

saber o que fazer e deixar isso para lá. Devemos não nos acomodar com as problemáticas e

naturalizarmos essas situações de limitação. Devemos ter uma atitude de investigação e busca

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por sempre operar na possibilidade de favorecer o processo de ensino dos educandos e não

aceitar as eventuais barreiras que possam surgir como intransponíveis e aceitáveis, senão

como infere Bonilla (2005) não estaremos executando uma postura aprendente e nem

operando na construção de uma prática docente.

Já a docente 02 pontua um entendimento mais amplo do processo de avaliação do

aluno com uma deficiência na perspectiva da inclusão, mas ressalta uma problemática muito

evidenciada na escola investigada também: “Geralmente as avaliações não são adaptas, pois

os professores de área não repassam com certa antecedência o que será trabalhado com este

educando”. A ausência de avaliações adaptadas fere a questão da prática inclusiva, pois ela

deveria ser pensada e realizada de forma em conjunto e não da maneira que observei na

escola. Elas deveriam fomentar ações em conjunto da docente da sala de recursos e o

professor de classe. Sem esta parceria fica difícil se pensar em uma ação de cunha inclusivo

de modo que o trabalho é fragmentado e sem conexão e interação continua e constante.

Este momento de entrevista junto aos dois docentes foi muito elucidativo e revelador

de entendermos o que eles pensam sobre várias temáticas ligadas a construção e efetivação da

inclusão e fazermos uma reflexão e conexão acerca do que foi percebido em suas práticas

profissionais atrelando o que falam e o que de fato fazem nela. Considero como Galvão

(1998), que infere que uma coisa é o que os docentes falam e outra é o que eles realizam em

sua prática, pois, muitas vezes, o que eles dizem e pensam acaba não se efetivando

diretamente de modo satisfatório em sua prática profissional.

6.4. ANÁLISE DA APLICAÇÃO DAS QUESTÕES DE SONDAGEM

Informo que após o momento de observação, apliquei uma etapa que nomeie de

sondagem junto aos oito participantes da pesquisa, os quais concordaram em participar

voluntariamente e assassinaram o Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE), o que

representava uma amostra de 50% dos alunos da turma, já que estavam frequentando no

referido ano letivo na referida turma apenas 16 alunos. Esclareço ainda que foram elaborados

dois tipos de TCLE já que dentre os discentes participantes alguns eram maiores de idade e

outros menores, os quais estes foram autorizados a participarem mediante a autorização dos

seus responsáveis legais.

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Ressalto que esta turma de EJA era composta de 20 alunos matriculados durante o ano

letivo de 2015, mas havia frequentando apenas 16 alunos neste mesmo período, em função da

evasão de quatro alunos durante o referido ano letivo, fato que foi confirmado pela secretaria

acadêmica da instituição como “normal”, pois existia, segundo relato da própria secretaria,

sempre a presença de evasão por se tratar de uma turma noturna e de EJA, por diversos

motivos que me foram expostos, tais como: cansaço por parte dos discentes por trabalharem

durante o dia; falta de interesse pelos discentes por diversas questões indo de questões sobre o

valor da educação para os mesmos até por questão de desmotivação em frequentar a escola

por não se habituarem aquele espaço educacional; até me foi relatado que as aulas não eram

muito atrativas e o rendimento dos discentes eram baixos e alguns “naturalmente” preferiam

desistir do ano letivo.

Confesso que esses argumentos por parte da secretaria da instituição, mesmo que

coletados informalmente me causaram estranheza, pois como foi me relatado os possíveis

motivos da evasão dos discentes como um elemento que já fazia parte do habitual naquele

espaço escolar, ou seja, já eram encarados como esperados e naturalizados de certo modo por

parte da escola que nada tinha a fazer sobre o assunto. Isso me faz lembrar o grande pensador

Bourdieu (2000), que fala que o sucesso escolar está associado a uma disposição para o

conhecimento associada intimamente ao capital cultural que esses educandos trazem de seus

contextos para a escola, visto que para ele a escola tem sido muito mais de reprodutora das

diferenças sociais do que de transformadora dessa realidade. Por isso, ele relata em seu livro A

Reprodução, que há os “excluídos do interior”, que são entendidos por aqueles discentes que

estão incluídos no sistema educacional, mas não aprendem e por isso se evadem ou desistem

da escola. Isso sem falar nas práticas escolares que naturalizam através do habitus, que é

constatar como algo natural entender que alguns não conseguem aprender e justificar a evasão

escolar ou até mesmo a retenção escolar.

A aplicação das questões de sondagem tinha como objetivo entender quais

conhecimentos e habilidades os discentes apresentavam acerca do assunto números decimais.

Usamos no respectivo teste operações envolvendo mais ênfase em questões que envolviam

adição e subtração, além de atividades para demonstrarem o reconhecimento da escrita

decimal e sua compreensão de leitura e escrita. Embora tenhamos usado um número menor de

questões que envolviam divisão envolvendo números decimais, pois o docente havia relatado

que esse conteúdo não tinha sido muito trabalhado junto aos discentes naquele ano letivo, em

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273

virtude de os mesmos terem muitas dificuldades em desenvolver operações com decimais

com cálculos em adição e subtração e por isso ele havia deixado de abordar com maior ênfase

a multiplicação e divisão envolvendo os decimais.

Ressalto que a constituição das questões de sondagem foram baseadas nos

conhecimentos apreciados pelos discentes relatados pelo docente de matemática da turma e

que alguns foram até acompanhados em nossa observação em campo, pois nossa intenção era

de perceber que habilidades e conhecimentos os mesmos haviam acomodados dentro do que

haviam sido abordados em sala de aula pelos referidos discentes. No entanto, demos uma

ênfase maior em algumas questões em atividades que envolviam os conteúdos do sistema

monetário, no intuito de entendermos que seria mais representativo do universo cotidiano dos

discentes em seu uso no contexto social e cultural.

Havia também no teste questões que faziam os discentes pensarem acerca do conceito

de número decimal e suas formas de representação, além de questões em que eles pudessem

efetuar comparações entre os números decimais, a fim de verificarmos se eles saberiam inferir

como identificar o valor representativo do número decimal comparado entre outros, no intuito

de entender se conseguiam estabelecer as diferenças e propriedades de classificação se eram

maiores ou menos, por exemplo.

Avaliando os resultados obtidos pelos testes aplicados junto aos participantes,

constatamos que muitos apresentaram dificuldades significativas no entendimento dos

números decimais e também recorriam para questionarem sobre o que deviam fazer em

algumas questões, por não compreenderem ou apresentarem dificuldades quanto à

interpretação de texto. No entanto, as questões apresentavam uma linguagem acessível aos

discentes, pois realizamos um teste de conteúdo e aplicamos a uma turma para verificarmos os

termos e vocabulários, a fim de percebermos se seriam adequados e de simples compreensão

antes de aplicarmos a referida sondagem junto aos participantes para efetuarmos esta

produção de dados.

Uma explicação a esta problemática foi percebida pelo relato dos próprios docentes da

turma participante da pesquisa, que expressaram uma queixa de base quanto à alfabetização e

letramento dos discentes. Os docentes relatavam que os discentes apresentavam enormes e

consideráveis dificuldades de compreensão e leitura de texto, mesmo em comandos de

questões simples de matemática e de outras disciplinas está dificuldade era percebida por

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274

parte dos docentes. Fato que foi comprovado na execução da sondagem junto aos referidos

alunos.

Mesmo diante dos esclarecimentos que eu, na qualidade de pesquisador fazia a cada

participante que chamava meu auxílio para perguntar o que fazer em algumas questões do

teste, eles obtiveram, mesmo assim um aproveitamento junto às questões propostas de baixo

rendimento. Diante das 20 questões contidas no teste, nenhum participante conseguiu sequer

20% de aproveitamento de acertos no total, o que equivale a quatro questões respondidas de

forma adequada no referido teste. Outro fato que me causou estranheza também foi a única

discente com deficiência visual não acertar questão alguma da sondagem. Isso me possibilitou

entender e constatar que a metade da turma, que estava participando da pesquisa encontrava

enormes dificuldades neste assunto matemático, conforme demonstra os dados obtidos pela

referida sondagem proposta junto aos participantes. Isso também comprovou o que o próprio

docente de matemática havia relatado quanto ao fato dos discentes apresentarem extrema

dificuldade em efetuar operações mais básicas e simples com os números naturais, tais como

adição e subtração. Este fato foi ainda mais sentido e notado de forma mais evidente ainda

junto aos números decimais.

Segundo o docente de matemática da turma investigada, todos os discentes apresentam

problemas estruturais quanto aos conhecimentos de língua portuguesa e de matemática, fato

que se reflete nas demais disciplinas do currículo escolar dos mesmos. O docente relatava que

os alunos por serem da EJA, apresentam, geralmente, significativas dificuldades de uma boa

base de alfabetização em língua portuguesa ou em matemática, em decorrência de terem tido

problemas evidenciados em seu período de início de escolarização, apresentavam lacunas que

eram muito difíceis de serem totalmente superadas anos depois, em função de não terem

aprendido como deveriam e quando deveriam, fato que foi incidindo e comprometendo ainda

mais o rendimento e aprendizagem dos mesmos em outros momentos de sua escolarização.

Ressalto que isso não é uma exclusividade apenas dos alunos da EJA, mas de grande parte de

alunos que não tiveram uma boa base de letramento matemático e linguístico nas series

iniciais do Ensino Fundamental decorrentes de inúmeras problemáticas já de conhecimento de

nosso contexto escolar brasileiro.

Os resultados da sondagem realizada também revelaram além destas dificuldades de

base de entendimento e representação de uma boa base de letramento matemático e

linguístico, as hipóteses que os alunos ainda apresentam acerca do entendimento dos números

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decimais, pois em suas respostas eles demonstraram de forma explícita estas hipóteses de

modo muito evidente. Tais como podemos perceber para exemplificar a questão 07 (conforme

Apêndice D), na qual eles deveriam marcar o correspondente a oito décimos em sua

representação decimal e todos marcaram a letra A, a qual indicava o número natural oito em

sua representação matemática (8) e não perceberam que a representação da letra C,

correspondia à escrita adequada matemática adequada do referido número decimal (0,08).

Outra questão usava o sistema monetário com dois valores representados tal como R$ 10,25 e

R$10,5. A maioria indicou que a representação R$ 10,25 era maior que R$ 10,5. Isso nos faz

compreender que eles estão ainda sobre pressão de hipóteses do entendimento de números

naturais e projetam no entendimento dos números decimais. Assim, devem ter compreendido

que 25 era maior que 5, mas esqueceram de notar que o cinco depois da virgula representava a

dezena e não as unidades na escrita dos decimais. Tais respostas dos discentes não fizeram

entender quais hipóteses eles demonstravam relacionar há diferentes contextos e

representações acerca dos números decimais.

Diante disso, a atividade de sondagem me possibilitou a constatação dos inúmeros

problemas de ordem conceitual e operacional envolvendo os números decimais junto aos

discentes. Fatos e evidências que até me causaram certa reflexão, enquanto pesquisador, pois

não havia esperado escores de aproveitamento tão baixos envolvendo todos os discentes

participantes do experimento de sondagem.

Assim, tive que modificar e adequar as sessões prévias envolvendo o manuseio junto

as ferramentas propostas (Tabuleiro de Decimais e o software MusiCAlcolorida) e voltei a

dialogar com o docente de matemática da turma para planejarmos as sessões para

executarmos com os participantes, mas o mesmo informou que não poderia contribuir nestes

momentos, pois estaria sem tempo para sentar e planejar junto comigo, enquanto pesquisador,

em função de ter uma jornada de trabalho muito exaustiva, o que não favorecia

disponibilidade de tempo para estes momentos. No entanto, o mesmo me deixou muito à

vontade para planejar e executar as sessões das próximas etapas da pesquisa.

Diante desta recusa, confesso que fiquei desapontado, pois tinha intenção de

desenvolver uma pesquisa do tipo pesquisa ação com plena participação e colaboração do

docente de matemática responsável pela turma, mas como isso não foi possível, em função da

longa jornada de carga horária do docente, fato que até compreendo, busquei tentar contar

com a participação das contribuições da docente da sala de recursos, já que a mesma tinha se

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276

interessado em participar das sessões que envolviam a discente que era atendida por ela com

deficiência visual, a qual participava da turma pesquisada.

No entanto, em virtude de a docente da sala de recurso não ter formação da área da

matemática, as suas contribuições foram poucas no sentido de planejar e executar as sessões,

as quais envolviam as metodologias enfocadas durante a fase de intervenção junto aos

participantes da pesquisa, mas entendo que esses elementos acabam acontecendo na execução

de pesquisas, embora tenha uma ideia e entendimento de que nem tudo opere como o

pesquisador havia idealizado ou pensado, como afirma Lakatos (2000), a pesquisa se

configura em uma dinâmica muito própria e particular, que subverte as intenções e

planejamentos prévios e cria novas estruturas e dinâmicas em seu mover e se constituir

enquanto evento científico.

Tendo em vista as situações relatadas acima, as atividades da Fase I e Fase II foram

planejadas e distribuídas em 10 sessões no total, sendo que cinco sessões com duração de 60

minutos cada para o desenvolvimento da Fase I, que estava representada pelo uso do software

MusiCALcolorida, totalizando 300 minutos no total destas sessões e cinco sessões de também

60 minutos cada para o desenvolvimento da Fase II, que correspondia ao uso de atividades

que envolviam da metodologia Tabuleiro de Decimais, totalizando 300 minutos no total desta

fase.

6.5. DESENVOLVIMENTO DAS ATIVIDADES DE INTERVENÇÃO DA FASE I: O

USO DO SOFTWARE MUSICALCOLORIDA

Neste primeiro momento de intervenção junto aos participantes foi apresentado o

software MusiCALcolorida, demonstrei o seu funcionamento junto aos 8 participantes e as

possibilidades de uso para se efetuar o seu manuseio em atividades as quatro operações com

números naturais e decimais. Isso aconteceu em uma sala de aula cedida para a execução das

atividades que antecedia o horário de entrada dos discentes, as cinco sessões ocorreram em

cinco dias seguidos, no horário das 18 às 19h, equivalendo a 60 min, em cada sessão, já que a

aula regular dos mesmos ocorria regularmente às 19h.

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277

A grande novidade para os discentes participantes eram as possibilidades de

demonstração do produto da calculadora, pois eles nunca haviam tido contato ou haviam

experimentado a possibilidade de representação dos números através de cores ou de sinais

sonoros. Esta primeira sessão foi muito importante para eles terem este contato com o

instrumento e treinarem a percepção visual, no caso dos discentes videntes, e também,

sobretudo, a percepção sonora (de todos os participantes) dos produtos dos cálculos que foram

desenvolvidos por eles neste primeiro contato.

A primeira e a segunda sessões serviram para os discentes experimentarem o

manuseio do software e experimentarem as possibilidades de uso do mesmo em

procedimentos de adição e subtração (conforme ilustração na figura 22), tendo como desafios

propor aos demais um treinamento da representação dos números quanto a suas cores e as

formas de representação sonora dos mesmos em seu produto como resultado das operações

propostas. Durante estas duas sessões, eu abordei também acerca dos números decimais e qual

a sua relação e importância em nosso contexto matemático. Tentei abordar os números

decimais partindo de elementos presentes no conhecimento do sistema monetário e de

medidas para fazê-los compreender seu uso em nosso contexto social e cultural. Assim, estas

duas primeiras sessões foram marcadas pelas explicações de usos e possibilidades do

manuseio do software e, em paralelo, uma abordagem da representação dos números decimais

em nosso contexto social. Em cada uma dessas sessões os alunos puderam livremente fazer

uso e manusear de forma a vontade o referido instrumento.

Neste momento de manuseio pelos participantes, percebi um certo entusiasmo dos

educandos envolvidos em experimentar e explorar as possibilidades do software

MusiCALcolorida e constatei um momento de grande empolgação dos mesmos com o

referido instrumento, pois para eles representavam uma forma nova de efetuar cálculos e com

as possibilidades de representação dos produtos com a representação sonora e através do

painel de cores, houve a percepção de que poderia haver novas formas de representação dos

números, o que para eles até então era uma novidade. Alguns até chegaram a manifestar isto

em suas falas: “Nossa...nunca pensei que podia mudar os números em cores diferentes”

(Participante 03); “Tem cada música diferente para dizer a mesma coisa nos números...legal”

(Participante 06); “É bem diferente do que tinha já vi... que maneiro isso” (Participante 08);

“É bem legal...acho que seria mais bacana isso aqui na aula de matemática” (Participante 01).

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278

Figura 21:

Manuseio de experimentação do software MusiCALcolorida com os participantes da pesquisa

Nesta terceira sessão, pedi para formarem duplas e cada dupla efetuaria um cálculo de

adição para as demais tentarem identificar o produto final através da emissão sonora e

tentarem descobrir quais números representavam os referidos cálculos propostos. Ressalto que

era repetida a representação sonora do produto até as duplas conseguirem associar quais

números estavam representados naquele respectivo produto, sendo que o mecanismo que usei

para as duplas efetuarem os cálculos de adição propostos foram estabelecidos através de uma

atividade desenvolvida por mim (jogo intitulado “Jogo da inflação”), para que eles pudessem

efetuar o cálculo de adição junto ao manuseio da calculadora.

O jogo intitulado “Jogo da inflação” funcionava da seguinte maneira: cada dupla

escolheria quatro cartas do grupo A, no qual era composto no total de 16 cartas, que

indicavam itens representativos da dieta alimentar dos discentes e seus respectivos valores

correspondentes atribuídos presentes nas respectivas cartas e escolhiam duas cartas do grupo

B, que era composto no total de 8 cartas, que sinalizavam um acréscimo no valor dos itens

(inflação) que deveriam ser somados pelos participantes aos valores das duas cartas do grupo

A para a execução de cada adição feita pelas duplas, sendo que cada dupla executava duas

adições, ou seja, cada dupla usava duas cartas (das quatro escolhidas) para efetuar um

processo de soma mais o acréscimo de uma carta do grupo B (das duas cartas do grupo B

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279

escolhidas pela dupla). Os referidos itens do grupo A representavam os itens constituídos de

elementos componentes da dieta alimentar selecionados pelos próprios alunos participantes da

pesquisa, que faziam uso em seu dia a dia, que estavam em consonância ao solicitado na

aplicação da segunda questão do teste de diagnóstico, aplicado junto aos discentes

participantes da pesquisa, na etapa inicial de coleta de dados.

Durante a execução da atividade, as duplas escolheram as cartas do grupo A

(alimentos) e seus respectivos valores correspondentes e as cartas do grupo B (acréscimo dos

valores que deveriam efetuar em cada produto das cartas do grupo A, fato que representava a

discussão do advento da inflação). Desse modo, as duplas tiraram as cartas e efetuaram a

soma em cada produto e lançaram na calculadora visando obter o produto da adição

estabelecida pelos respectivos itens, (conforme mostra a tabela 2 abaixo), a fim de que as

demais duplas pudessem relacionar através do estímulo sonoro, o valor representativo do

produto da adição estabelecida pela dupla.

Tabela 2: Síntese dos itens escolhidos e somados pelas duplas usados no software MusiCALcolorida

Composição

dos Integrantes

das Duplas

Carta A

(alimento e valor

correspondente)

Carta A

(alimento e valor

correspondente)

Carta B

(Valor que deveria ser

acrescido nos itens da

carta A = inflação)

Produto

Participante O1

e Participante

O3

AÇAÍ = R$ 8,00 BISCOITO = R$

2,00

R$ 1,40 (valor que deveria

ser acrescido em cada item

de cada carta A)

R$12,80

Participante O1

e Participante

O3

REFRIGERANTE

= R$ 4,00

BATATA FRITA =

R$3,00

R$ 1,30 (valor que deveria

ser acrescido em cada item

de cada carta A)

R$ 9,60

Participante O2

e Participante

O8

SANDUICHE =

R$ 6,00

BISCOITO = R$

3,00

R$ 0,80 (valor que deveria

ser acrescido em cada item

de cada carta A)

R$ 10,60

Participante O2

e Participante

O8

FARINHA = R$

5,00

REFRIGERANTE

= R$ 4,00

R$ 0,90 (valor que deveria

ser acrescido em cada item

de cada carta A)

R$ 10, 80

Participante O4

e Participante

COXINHA = 2,00 BIFE = 12,00 R$ 0,55 (valor que deveria

ser acrescido em cada item

R$ 15,10

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280

O7 de cada carta A)

Participante O4

e Participante

O7

AÇAÍ = R$ 10,00 DANONE = 4,00 R$ 0,75 (valor que deveria

ser acrescido em cada item

de cada carta A)

R$ 15, 50

Participante O5

e Participante

O6

CHOCOLATE =

R$ 4,00

REFRIGERANTE

= 3,50

R$ 0,35 (valor que deveria

ser acrescido em cada item

de cada carta A)

R$ 8,20

Participante O5

e Participante

O6

AÇAÍ = 8,00 OVO = 0,30 R$ 0,40 (valor que deveria

ser acrescido em cada item

de cada carta A)

R$ 9,10

Durante a realização dos cálculos efetivados pela dupla composta pelos participantes

01 e 03, constatou-se que o som produzido pelo produto da adição foi entendido pelas demais

duplas, em geral, como constituidores sonoros diferentes entre si, então não seriam os

mesmos números como resultado. A dupla dos participantes 02 e 08 relatou: “são sons

parecidos...mas parece que não são iguais...” A dupla dos participantes 04 e 07 já foram mais

enfáticos em abordarem que sabiam os dois primeiros números. A participante 07 (aluna com

deficiência visual) chegou afirmar: “os dois primeiros números estão na cara...já os outros

dois estou na dúvida...”. Ela chegou a cochichar para seu parceiro “É o número 1 e o número

2...”. Já a dupla com os participantes 05 e 06 se confundiram e falaram: “É o número 4 e o

número 6...”. Embora nenhuma dupla tenha representado dotas as representações sonoras

correspondentes aos números representativos do valor do produto da adição, a percepção

sonora da participante 07 (aluna com deficiência visual) foi mais precisa, revelando os dois

primeiros números correspondentes do produto. Isto pode ser explicado por ela estar mais

sensível a interpretação dos sons, devido ser uma das formas que a mesma busca interagir

com o seu contexto social. Já os demais alunos, por serem videntes, não estão tão habituados

a exercitarem esta diferenciação de modo mais apropriado.

Como nenhuma dupla acertou o produto, mesmo após a emissão sonora e a indicação

das cores pelo software, a dupla dos participantes 01 e 03 mostrou e falou qual produto era o

primeiro (AÇAÍ = R$ 8,00) e os componentes da dupla deram como pista que o outro produto

não se come junto com açaí. Questionei se o valor atribuído ao açaí era correspondente ao que

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eles costumavam a comprar e a participante 08 chegou afirmar que o açaí mais barato era este

valor. Neste momento, perguntei se eles tomavam açaí e se o valor do açaí tinha ficado mais

caro nos últimos meses e os alunos responderam que sim e que o mesmo estava caro e nem

custava nada para ser feito, pois existia até pés de açaí na casa deles e o que costumava ser

caro era ter uma máquina para bater o açaí. Isso me faz pensar que dificilmente teríamos este

tipo de discussão se levássemos em conta o que estava no livro didático da turma, que não

contemplava este fruto regional e apreciado pelos participantes investigados.

Outro elemento importante, falando ainda do açaí, que ele foi o produto mais citado

pelos participantes como o alimento que mais faziam uso (ele apareceu em três oportunidades

e com dois valores diferenciados, tais com R$ 8,00 e R$10,00). Eu aproveitei e questionei se

existia apenas açaí com este valor ou se existia açaí mais caro ou barato. Os participantes 04 e

06 afirmaram de dependia do local que era vendido e qual “grossura” ele apresentava em sua

forma de apresentação. Questionei quem havia informado na questão de sondagem o açaí

como alimento que mais gostava de consumir e três levantaram a mão. No entanto, quando

disse que dois alunos tinham colocado o valor de R$ 8,00 para o açaí, dois alunos

responderam que tinham colocado. Eles chegaram a dizer: “Ele é o preço que meu pai compra

para a gente tomar... é o açaí mais barato que vende perto de casa” (participante 05); “Eu

gosto do açaí mais barato que eu coloco muita farinha e ele rende mais..” (participante 06).

Mesmo após ter sido revelado a primeira carta pela dupla dos participantes 01 e 03, os

demais não conseguiram identificar todo o produto, solicitei então para a dupla revelar a

próxima carta A com o seu respectivo alimento e valor correspondente (BISCOITO = R$

2,00). O participante 06 disse: “Esse biscoito deve ser aquele ruim que é o mais barato... não

presta...”. Perguntei quem havia colocado biscoito nas questões de sondagem, dois alunos

levantaram a mão. Questionei se eles achavam que açaí era mais saudável que biscoito e a

maioria deles falaram “sim”. Então questionei se dois alunos colocaram biscoito como

alimento que mais faziam uso, deve ter algum motivo e um dos alunos respondeu: “Ele é mais

barato e gostoso e mata a broca (fome), eu como sempre”. Isso me fez pensar como poderia

ser mais bem debatido em várias aulas de ciências se este tipo de alimento e seu valor

nutricional pode estar atrelado a ser nocivo ou benéfico à saúde.

Penso que este e muitos outros questionamentos poderiam ser mais bem apreciados,

contextualizados e debatidos por outras disciplinas, tais como língua portuguesa para explicar

o porquê o nome “biscoito” e quais os outros sinônimos que geralmente são usados para

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identificá-lo. Qual sua raiz etimológica? Como este termo pode ter surgido em nosso contexto

cultural e social. Quais sinônimos podem ser usados quando falamos no modo conotativo que

um sujeito é um “pão” ou “biscoito”. Como na aula de história, poderia ser explorado? Como

esse elemento surgiu na dieta alimentar humana e onde é ele mais consumido ou menos

consumido? Por quê? Qual cultura ele representa? Onde é fabricado? Como ele surgiu em

nossa cultura alimentar? São inúmeros questionamentos que poderiam ser validados e

debatidos em Geografia, Ciências e outras mais disciplinas. Será que essa prática incide no

aumento de doenças e patologias para a saúde do homem? Isso aumenta a obesidade e os

problemas dela decorrentes?

Estes questionamentos nem sempre são desenvolvidos, pois o currículo escolar muitas

vezes não percebe um valor curricular para algumas demandas trazidas de forma mais

iminente pelos discentes e não parece estar muito sensível para estas demandas, pois não

percebe o quanto isto pode estar associado com outros fatores e demandas sociais, tais como

problemas de saúde pública e educação. Como eles estão imbrincados a outras problemáticas

que inferem diretamente nos problemas dos sujeitos e em seu contexto.

Após a revelação dos dois itens correspondentes, solicitei para os alunos ouvirem mais

uma vez o som correspondente ao produto e mesmo assim eles não obtiveram êxito em

corresponder em totalidade o produto da adição acrescido da carta B (inflação). No entanto,

solicitei que a dupla dissesse qual cor era representativa do produto da adição. Após a relação

das cores correspondentes a dupla com os componentes 05 e 06 acertaram o produto de R$

12,80. Eles haviam aprendido a relacionar as cores e sua representação numérica. No entanto,

questionei qual o valor da carta B, a qual indica a inflação de mesmo valor nos dois produtos

das duas cartas A, o grupo não soube responder. Isto pode estar associado a grande

dificuldade demonstrada pelos alunos da turma, em geral, percebido no momento de minha

observação em campo durante as aulas de matemática e comprovado também em conversas

informais com o professor de matemática da classe em questão.

As duplas embora soubessem os valores das duas cartas em questão: AÇAÍ = R$ 8,00

+ BISCOITO = R$ 2,00 e o valor do produto de R$12,80, tiveram dificuldade de perceber e

relacionar o valor de R$ 1,40 como o correspondente ao índice inflacionário adicionado ao

produto total da referida operação de adição. Isto pode refletir a dificuldade de operar com os

números decimais e pode indicar também a questão do tipo de problemas que segundo

Vergnaud (2009) são do tipo algébricos, por se referirem a problemas que são utilizados de

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operações inversas (adição e subtração), que acabam sendo mais representativos de

dificuldades de serem plenamente desenvolvidos pelos discentes em seu aprendizado nas

operações em matemática.

Na execução do próximo cálculo de adição realizado pela dupla com os participantes

01 e 03, que se remetia a adição dos alimentos: REFRIGERANTE = R$ 4,00 (Carta A) +

BATATA FRITA = R$3,00 (Carta A) + R$ 1,30 = INFLAÇÃO (Carta B), totalizando o

produto R$ 9,60, percebi após as três emissões sonoras realizadas pela dupla que os discentes

não haviam identificado tal produto de forma plena e total, mas houve uma manifestação mais

uma vez da participante 07 (aluna com deficiência visual) na identificação do número inicial

(9), pois quando pedi para as duplas escreverem numa folha e mostrarem o valor

correspondente, a única dupla que escreveu corretamente o valor 9 para a pausa sonora

correspondente foi mais uma vez a dupla que havia a participante 07. Quando questionei a

dupla dos participantes 04 e 07 sobre como eles haviam chegado ao valor 9,80, a dupla

relatou que a participante 07 havia sinalizado o início da representação e o participante 04 o

final da representação sonora.

Este fato da dupla ter relatado essa questão aos demais participantes foi muito

relevante, pois havia dito que um dos dois havia acertado tal representação diferente dos

demais e quando indaguei os demais acerca de quem havia acertado, os demais falaram em

maioria que havia sido o participante 04. Isso me fez pensar que embora a participante 07

houvesse acertado uma das representações do produto referente ao cálculo anterior, mesmo

assim, os demais ainda não haviam esboçado confiança na percepção sonora e sua

representação numérica pela referida participante. Isso pode ser demonstrado talvez pela

ausência de valorização da potencialidade da participante 07 durante toda a sua interação

junto à turma, fato também observado durante o período de observação nesta pesquisa de

campo, e pode ser ainda notado certa percepção de ausência de valor as potencialidades

ligadas a participante feita pelos demais discentes.

No entanto, quando relatei que a maioria tinha errado a percepção sonora correta

associada ao número correspondente, os discentes esboçaram surpresa e espanto por

perceberem que mais uma vez que a participante 07 havia melhor correspondido à

representação sonora o número correspondente. A partir deste momento, houve uma nova

forma de acolhimento e valorização da relevância e importância da ação da participante na

atividade ora proposta e trabalhada em questão. Assim, penso que a inclusão deva ser

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trabalhada no sentido de todos perceberem que as pessoas com necessidades educativas

especiais não são sujeitos limitados, mas potencialmente capazes de serem apreciados e

fomentarem a aprendizagem do outro dito “normal” e valorizados dentro da sua diversidade

sensorial ou comportamental. Ter a chance de interagir dentro desta diversidade, permite que

os envolvidos percebam de forma natural estas potencialidades que ora não são valorizadas e,

muitas vezes, até desprezadas pela ausência de contato ou até decorrentes de uma percepção

adequada e valorizada da condição humana.

Ainda em questão a discussão sobre o referido produto em questão, solicitei, na forma

de auxílio, que a dupla que mostrasse um dos itens da carta A em questão e eles mostraram a

carta correspondente a Batata Frita e o seu respectivo valor de R$3,00. Questionei se

gostavam de batata frita e se eles concebiam se o alimento era saudável. Os discentes

chegaram afirmar: “Eu comeria toda hora se pudesse...”(participante 02); “Pode não ser

saudável, mas é muito gostoso...” (participante 05).

Depois solicitei a dupla que mostrasse o valor corresponde ao valor da Carta B, que

remetia ao valor da inflação sobre o produto, que estava representado pelo valor de R$ 1,30.

Quando os questionei como a inflação poderia atingir o preço do referido produto, eles

pensaram e ponderaram: “deve ser pelo preço da batata ...” (participante 03); “Pode ser

também pelo valor do óleo de cozinha professor...” (participante 08); “Seria pelo faturamento

do dono da venda que queria ganhar mais...” (participante 02). Deste modo, questionei: “Será

que não tem o preço do combustível, o qual incide no transporte da batata e do gás de cozinha

para fazer fritar a batata também? Não pode estar relacionado à questão do aumento da

energia elétrica, que o dono do estabelecimento paga para poder vender o produto ou o valor

do aluguel do ponto que ele trabalha? Será que não tem o valor do queijo ralado e do tomate

que são os condimentos que também são adicionados à batata depois de frita também?” Estes

questionamentos e comentários direcionados aos discentes me fizeram perceber que o assunto

inflação já estava começando a fazer sentido para os mesmos e que já começavam a pensar

em como os gêneros alimentares são atingidos pela percepção da inflação, algo muito

representativo de nossa realidade atual econômica e social. Penso que esta atividade é uma

possibilidade de pensar a matemática além dos conteúdos escolares e representar situações

mais ligadas à vida prática e imediata dos discentes em seu contexto econômico, social e

cultural.

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Mesmo após de sinalizar o valor do item da Carta A (BATATA FRITA = R$3,00) e da

Carta B (R$ 1,30 = INFLAÇÃO) e eles terem o indicativo do número inicial (9)

correspondente ao produto da soma em questão, eles apresentaram dificuldades de pensar o

valor equivalente ao produto da soma. Por isso, solicitei que a dupla proponente da adição

informasse quais cores mostradas pela calculadora MusiCALcolorida representava aquele

referido produto. A dupla com os participantes 02 e 08 completaram o produto da soma em

questão através da percepção das duas cores representativas dos números seis (6) e do zero (0)

e completaram o produto da soma. No entanto quando questionei qual valor correspondia ao

outro valor da carta A que estava faltando a dupla com os participantes 5 e 6 responderam o

valor de R$ 4,00, pois seria 2,60+ 3,00 + ? = 9,60, então seria o número quatro o número

oculto, o que era então os R$ 4,00. O que foi plenamente concordado pelos demais

participantes.

Neste momento, constatei que os discentes estavam começando a superar uma

importante hipótese quanto ao entendimento dos elementos propostos pela atividade e que

começavam a dar sentido à regra de adição e como o produto poderia ser alcançado pelo

pensamento e percepção matemático de que na verdade não existia apenas uma equação de

soma, mas ela estava atrelada a própria operação de subtração e que talvez em exercícios

estudados e exercitados em sala de aula, eles não puderam perceber que para resolver alguns

problemas matemáticos uma operação não está sendo usada de forma isolada, mas que pode

haver mais de uma operação sendo usada para se pensar em um cálculo matemático, como o

cálculo de adição em questão proposto.

De acordo com Piaget (1975), quando se remete a simulação de alguns jogos

simbólicos como o pagamento de dívidas, débitos e demais operações matemáticas podem

levar ao entendimento por parte da criança que algumas operações matemáticas estão ligadas

a situações constituidoras de vivências do dia a dia e serem dimensionadas para questões que

envolvam várias operações matemáticas ao mesmo tempo. Este fato pode e deve ser mais bem

trabalhado em sala de aula, propondo situações didáticas visando desenvolver esta percepção

por parte dos educandos, como afirma Freitas (1999).

O final da segunda sessão foi marcado pela participação da dupla com os participantes

02 e 08, que propuseram a adição que envolvia os itens: FARINHA = R$ 5,00 (Carta A) +

REFRIGERANTE = R$ 4,00 (Carta A) + R$ 0,90, acréscimo deste valor em cada produto da

carta A, (Carta B = Inflação), totalizando o produto R$ 10, 80. Esta operação foi bem

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relevante, pois duas duplas acertaram o resultado do produto em questão através da

representação sonora, que foram as duplas com os participantes 01 e 03 e a dupla com os

participantes 04 e 07 (aluna com deficiência visual). No entanto, continuei o jogo a fim de que

eles pudessem demonstrar a percepção dos elementos que deram origem aquele produto,

tendo como objetivo perceber se eles indicariam a percepção quanto o entendimento

representativo da Carta B, a qual indicava o valor representativo de inflação.

Neste sentido, solicitei que a dupla que operava tal procedimento de adição que

mostrasse as duas cartas A e seus respectivos valores correspondentes: FARINHA = R$ 5,00

(Carta A) + REFRIGERANTE = R$ 4,00 (Carta A), no intuito de fazer os discentes pensar no

valor correspondente a Carta B (Inflação). Fato que foi plenamente realizado pelas três duplas

desafiadas. Isto demonstrou que as duplas já estavam superando a hipótese inicial de

reconhecimento e operação com os números decimais quando desafiadas a operarem como

representativo do sistema monetário, ou seja, algo que fosse bem representativo de valor e

significado para eles e aplicado no dia a dia dos mesmos.

Na quarta sessão, o jogo teve sua continuação com a participação das duas duplas de

participantes: Dupla com os participantes 04 e 07 e dupla com os participantes 05 e 06.

Questionei inicialmente, se eles se lembravam da dinâmica realizada no dia anterior e se

estavam cientes da atividade e se apresentavam alguma dúvida na operacionalização da

atividade, se caso tivessem esquecido de alguma etapa da execução do dia anterior. Como

obtive resposta negativa pelos participantes, pedi a dupla com os participantes 04 e 07 para se

dirigirem a frente a conduzirem a atividade.

Neste momento, constatei certo nervosismo da participante 07 (aluna com deficiência

visual), pois ela nunca havia estado neste papel de protagonista à frente de uma atividade em

sala de aula, mas ao mesmo tempo permitir que a mesma embora inicialmente tenha

demonstrado certa insegurança, ela continuasse contribuindo e desenvolvendo com o auxílio

na execução da atividade com a colaboração do participante 04. O mesmo informava os itens

representativos das Cartas A e da Carta B no ouvido para a participante 07 e o produto

alcançado pela aplicação do software MusiCALcolorida e eles desenvolveram a atividade sem

problema algum.

Na execução dos dois cálculos de adição pela dupla houve um fato relevante, pois no

item que representava a segunda operação de adição realizada pela dupla, a qual remetia a

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adição: AÇAÍ = R$ 10,00 (Carta A) + DANONE = 4,00 (Carta A)+ R$ 0,75 (Carta B =

Inflação = valor que deveria ser acrescido em cada item de cada carta A), o que totalizava o

produto total R$ 15, 50. A participante 07 através de sua percepção sonora não consultou o

participante 04 e deu por ela mesma uma pista preciosa aos demais participantes, depois da

terceira emissão sonora do som correspondente vinculado pelo software MusiCALcolorida, o

qual foi o seguinte: “Vocês prestaram atenção que há dois sons iguais um depois do outro no

resultado da continha?”, ou seja, ela havia notado que o número 5 aparecia seguidamente

através do som representado pelo referido produto do cálculo em questão, marcando o

produto total R$ 15, 50.

Após esta pista, os discentes prontamente identificaram o produto em questão (R$

15,50) e pude constatar que na terceira sessão do instrumento algo tinha acontecido, a

participante 07 tinha percebido seu valor dentro do grupo e de sujeito ativo dentro daquela

atmosfera, passou pelo seu desempenho e comportamento como um membro de destaque e

alguém que se via de uma forma diferente, não como antes uma aluna sem contribuições, mas

alguém que poderia ter razões para ser protagonista de sua aprendizagem e contribuir para

uma percepção de valor pelos demais colegas.

Confesso que este momento me possibilitou muitas reflexões, enquanto pesquisador,

pois penso que este protagonismo é um elemento, o qual acredito ser o mais difícil de obter

por um participante, geralmente, em um experimento simples produção de dados por uma

pesquisa deste tipo aplicada, que há muito tempo era visto de forma frágil e sem nada a

contribuir para os demais, e talvez visto até pelo próprio participante como alguém sem o

devido valor e reconhecimento de suas potencialidades e competências. Naquele momento,

pude constatar se outros elementos não fossem mais aprendidos ou relevantes para os

participantes reterem naquele momento de intervenção, o maior objetivo de minha pesquisa já

havia se consolidado através da percepção por ela mesma das potencialidades da participante

07.

Com base neste evento, relatado anteriormente, o qual remetia a percepção da

participante 07 de suas potencialidades, pude refletir acerca do conceito de self, que se refere

ao conjunto de características físicas e psicológicas únicas em cada indivíduo, muito presente

nos estudos da psicologia na compreensão e entendimento do papel do sujeito em

determinados grupos sociais, embora seja marcado de como o outro é visto e percebido pelo

grupo social, aqui o caso das pessoas com necessidades educativas especiais, mais

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precisamente, a pessoa com deficiência visual, geralmente, visto e percebido sem grandes

competências e habilidades no espaço escolar por seus membros, muitas vezes, da própria sala

de aula que frequenta. A mudança de percepção decorrente do autoconhecimento e a

autoimagem, percebido pela própria participante 07, no decorrer das atividades propostas,

acabam se tornando um elemento relevante para se quebrar um self espelhado, que representa

como a pessoa se vê diante de como os outros a percebem dentro do grupo, pois, como infere

Brown (1998), uma autoimagem positiva permite ao sujeito se perceber como um integrante

importante e de valor dentro de um grupo social, possibilitando que até os demais membros

que o percebem de modo contrário, possam concebê-lo como um sujeito de valor e que tem

seu papel no referido grupo.

A quinta sessão tinha a mesma atividade proposta as demais duplas, tendo agora os

itens escolhidos para usar o software MusiCALcolorida feitos pela dupla de alunos

identificados por Participante O5 e Participante O6. Eles estavam muito nervosos durante ao

estabelecimento da atividade, pois afirmaram que nunca estiveram na frente da sala de aula e

dirigindo uma atividade. Este fato faz me pensar sobre a prática docente que, muitas vezes,

não permite ao discente se ver e perceber como protagonista do processo de ensino e

aprendizagem, como inferem Moreira e David (2010), pois, em sua maioria, a escola pública

brasileira, ainda encontra-se com um discurso revolucionista e uma prática mais presa às

práticas da escola tradicional, a qual não percebe o aluno como autor e ativo de seu processo

educacional como afirma Diniz-Pereira (2000).

A referida dupla executa o primeiro cálculo no software MusiCALcolorida, o qual se

refere a somas das duas cartas A (CHOCOLATE = R$ 4,00 + REFRIGERANTE= 3,50) e

mais a carta B (R$ 0,35), a qual representa o valor que deveria ser acrescido em cada item de

cada carta A, e demonstra por três vezes o som produzido pelo produto da soma aos demais

participantes.

As duplas percebem no produto a representação dos três sons diferentes e para auxiliá-

los na compreensão do referido cálculo, solicito que a dupla possa mostrar uma das Cartas A

para ele verem um dos itens que foram somados e seu respectivo valor correspondente. A

dupla mostra a Carta A que indica o item chocolate e seu valor correspondente de R$ 4,00.

Questiono as demais duplas se este item faz parte do item que eles apreciam e, geralmente,

consomem. Quais elementos constituem este produto? Se entendem se é saudável? Se contém

pouca gordura e açúcar? Por que ele é tão desejado por todos e outros questionamentos no

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sentido de efetuar uma sondagem e até reflexão junto aos participantes do valor nutricional do

referido produto e de como devemos consumi-lo em nossa dieta alimentar. Penso que em um

cálculo matemático os itens não podem apenas representar números e sim podem ser melhores

contextualizados e explorados pelo docente, que possam permitir ao discente refletir e

perceber que a matemática não é uma disciplina isolada e exclusivamente presa a questão do

uso ou não da representação numérica, mas envolve um pensamento complexo que pode estar

associado a uma reflexão mais densa e crítica do contexto em todas suas formas e dimensões,

como sugere Rocha Falcão (2003).

Após este momento de discussão acerca do chocolate junto aos discentes, percebemos

algumas falas que se traduzem nos seguintes pensamentos: “Engraçado, quando comemos não

pensamos nisso professor, pensamos na comida e não o que tem nela e como foi feita...”

(Participante 01); “ Não percebemos e nem queremos entender isso...senão nem comemos,

não é verdade!” (participante 04); “acho legal a gente pensar nisso porque comemos e pronto

e não nos ligamos nesta parada de como foi feito e se é bom e tudo mais... se é saudável ou

nutritivo e bom para o corpo ficar bem” (Participante 03). Acredito pelos relatos dos alunos,

que este tipo de atividade os fez provocar o pensamento e de alguma forma fez com que eles

possam entender como as disciplinas estão interligadas, pois a matemática não trata

exclusivamente do uso de operações com os números, mas representa algo muito além desta

forma de representação.

De acordo com Dieudonné (1990), a matemática precisa ser redescoberta não só pelo

discente em formação educacional, mas pelo docente e pelas demais disciplinas em suas

práticas de ensino. Ela não pode ser vista de forma isolada e de modo descontextualizado. Isso

precisa ser revisto e de forma urgente pelo espaço educacional e pela formação docente nos

cursos de formação de professores também.

De acordo com o pensamento de Goodson (1998), o docente deve ser formado com

uma concepção de currículo que o permita trabalhar de um modo mais contextualizado e em

parceria com as demais disciplinas de ensino, pois se isto não acontece a sua visão de

currículo passa a representar uma forma estanque e isolada não só de sua prática pedagógica,

mas não permite ao aluno poder constatar a riqueza de uma visão integralizadora e

contextualizada de um determinado fenômeno enfocado pelo mesmo em seu exercício de

prática educacional.

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Após a exibição da Carta A com a pista do um item (CHOCOLATE =R$ 4,00),

solicitei a dupla que mostrasse a Carta B (R$ 0,35), que representava a inflação, o valor que

deveria ser acrescido nas duas Cartas A, e solicitei que se ouvisse mais uma vez o som

representativo no software MusiCALcolorida para se chegar ao produto em questão solicitado

pelo referido cálculo. Assim, as duplas refletiram entre si e escreveram no papel o valor

correspondido e relataram o referido valor do produto e da outra Carta A, que ainda não havia

aparecido para os demais participantes. A dupla com os participantes 1 e 3 relataram “Agora

entendemos melhor professor o exercício que o senhor fez a gente fazer...tipo não é apenas

para sabermos quanto custa no total, mas quanto custa com a inflação também a outra carta,

não é?” (Participante 03); “Isso parece mais difícil não é porque só tamos acostumados a fazer

a continha e não assim né pessoal” (Participante 01).

Nesta operação apenas a dupla com os participantes 02 e 08 não corresponderam o

valor corresponde a Carta A e ao produto com base apenas na representação sonora emitida

pelo software, mas informaram que ficaram desatentos e se confundiram com a representação

sonora de dois números e apenas representaram corretamente com o auxílio da informação da

representação das cores correspondentes, mas como há uma dupla representação como

possibilidade de representação pelo uso do software através da representação sonora e pela

indicação das cores no produto, considero que houve um aproveitamento do entendimento e

auxílio de tal ferramenta para os discentes pensarem, refletirem e indicarem os valores

correspondentes para processarem tal procedimento de cálculo e abriu uma questão para os

mesmos de poder perceber, exercitar e usar a matemática ancorados não apenas pela

representação da escrita numérica, mas através de outras formas de representação (Sonora e

das cores).

Este breve relato me fez perceber que os alunos começavam a entender que em um

processo de adição não é tão importante saber o valor correspondente do produto, como

afirmam Dickson, Brown e Gibson (1993), mas que ele reflete algo mais importante e

relevante para a execução do referido cálculo, que é a questão da representação das parcelas

que deverão ser somadas, que definirá o valor do produto e que para saber isso basta eu pegar

o produto e subtrair de uma parcela para encontrar a outra em um processo de soma que

evidencie o cálculo com duas parcelas e assim sucessivamente.

As duplas demonstraram não apenas um avanço no processo de entendimento da

execução do cálculo de adição, por todos representarem o resultado do produto adequado (R$

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8,20) sinalizado pelo software MusiCALcolorida, mas um entendimento além apenas da

representação matemática deste referido produto, pois puderam discutir sua representação e

constituição. Além de perceberem que o referido cálculo só pode ser visto isolado em si, mas

relacionado a outros processos matemáticos, pois quem processa uma adição pode não só

saber somar parcelas, mas entender o que isso representa e como para encontrarem a

indicação de uma parcela, podem operar também usando a subtração do produto de uma

parcela para constatar e evidenciar a outra que possa estar “oculta”, sem esquecer como a

inflação opera na representação de valor atribuído a este processo. Como a matemática pode

ser mais crítica e representativa de um entendimento mais contextualizado e crítico de um

elemento presente em nosso contexto mais eminente e até mais macro, tal como a presença do

índice inflacionário que incide no bem mais diretamente ligado a sobrevivência do cidadão,

como a discussão dos alimentos e hábitos culturais aos mesmos associados.

O último cálculo sugerido pela dupla composta pelos Participantes 05 e 06 às demais

duplas, evidenciou uma grande coincidência alimentar, podemos assim entender, no mínimo

muito representativa de um hábito alimentar local de nosso contexto cultural, fato que até me

causou estranheza por ter sido constituído por acaso, dentro de um sorteio das cartas pelos

próprios participantes, foi à presença das duas Cartas A, representadas pelos itens: AÇAÍ =

8,00 + OVO = 0,30, ou seja, um tipo bem paraense de alimentação de nosso contexto social e

cultural, de uma classe de menor poder econômico, típico de nossas periferias, inclusive onde

se encontrava a referida instituição escolar e seus respectivos discentes, até representados

pelos participantes desta pesquisa de campo.

Assim, ao constatar tal coincidência, informei as demais duplas que possivelmente

estes dois itens eram muito consumidos e conhecidos pelos participantes e que poderiam ser

consumidos juntos sem qualquer problema e que diferente de outras duplas alimentares

escolhidas por outras duplas no sorteio das Cartas A, poderia ser entendida como um alimento

saudável e plenamente combinável em nossa cidade e Estado por uma parcela bem

representativa de nossa população local. Deste modo, pedi a dupla efetuar o cálculo de adição

no software MusiCALcolorida e mostrar como de costume a representação sonora por três

momentos seguidos de seu produto e posteriormente revelar uma das Cartas A. Desse modo,

ocorreu e a dupla tirou a carta A indicativa de AÇAÍ no valor correspondente ( R$ 8,00) e

pedi para mostrarem a Carta B (R$ 0,40), indicativa de suposta inflação sobre o produto.

Após este momento, a dupla mais uma vez representou o produto através de sua representação

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sonora e foi solicitado que as duplas conversassem e manifestassem no papel o produto

correspondente na referida operação, como de costume.

No entanto, fui surpreendido por um questionamento do participante 03, o qual

perguntou “este outro alimento é colocado dentro do açaí?”. E quando hesitei em responder a

participante 05 respondeu “Não é farinha!”. Neste momento, percebi que eles estavam

convencidos de que se tratava de uma das refeições mais que basicamente representativas do

hábito alimentar do típico paraense (açaí + farinha). Em contrapartida, constatei que a dúvida

também residia não apenas no produto representativo da Carta A, mas no valor sonoro do

produto representado pelo software em questão, pois para isso a farinha teria que ter um valor

muito mais alto que não condizia com a representação sonora do produto total em questão

pelo referido software (R$ 9,10).

Assim, pude constatar que os participantes haviam efetivado um salto não apenas na

operacionalização do cálculo, mas no entendimento dos itens representativos do valor

atribuído, geralmente, ao referido alimento, pois ao constatar que não podia ser farinha em

função do valor que este item geralmente apresenta em nosso contexto econômico e social

não era compatível com o entendimento do processo do referido cálculo. Isso me fez perceber

que uma hipótese que por vezes tentei perseguir e que confesso até não imaginava que

pudessem conseguir em tão pouco tempo havia se desenhado em prática, a questão de eles

associarem o conhecimento tácito de representação do alimento em nosso contexto como uma

variável de sentido na operacionalização do referido cálculo matemático. Este fato me fez

lembrar os autores Powell e Bairral (2006), os quais fazem menção ao fato das hipóteses que

os discentes usam para operar o conhecimento matemático e sua forma de representação em

cálculos empíricos e de sentido representativo trazidos de seus contextos para o ambiente

escolar.

Neste episódio, apenas uma dupla não conseguiu obter o entendimento e a emissão da

nota referente ao valor sonoro correspondente emitido pelo software, a dupla com os

participantes 01 e 03, pois eles afirmaram, posteriormente, que se confundiram na

representação da representação sonora. No entanto, quando percebi o referido equívoco,

solicitei que a dupla indicasse a representação das cores correspondentes do produto da soma

e da Carta através da representação da emissão das cores correspondentes. Assim, considero

que as duplas obtiveram um aproveitamento de 100%, ou seja, todas acertaram os valores

correspondentes do produto da soma e da Carta A, mas quando foi revelado que se tratava do

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ovo, o elemento da Carta A, o qual estava oculto, eles ponderaram: “só podia ser pelo valor”

(Participante 08); “É bem paraense né professor...” (participante 04); “Lá em casa comem

sempre” (Participante 06). Assim, constato e entendo que não foi à presença em si do software

o elemento mais importante para este exercício, mas a forma de como ele foi usado, visando

os discentes a não somente efetuarem um cálculo matemático, mas perceberem e discutirem

outras variáveis ligadas a execução deste cálculo, que para muitos pode até parecer não tão

rebuscado e complexo, mas para os discentes não foi um exercício tão simples e primário,

mas sim representou uma forma diferente para se entender e processar a matemática de uma

forma que ainda não tinham experienciado em sua prática educativa e que fez com que os

mesmos entendam que não há uma única forma de representar os números e de aprendê-los,

mas que há diversas outras maneiras de se exercitar e praticar as operações e reflexões

matemáticas ligadas ao processo de adição.

Neste momento de reflexão do processo de adição efetuado pela última dupla, pude

perceber que não foi necessário de um grande período de tempo e operações com lista

intermináveis de cálculos sem o menor sentido e relevância para os discentes perceberem as

possibilidades de entendimento e uso do pensamento aditivo para eles procederem de um tipo

de operação que muitas vezes é menosprezado e subutilizado no processo educativo como a

adição. Além disso, pude constatar de como ele pode ser melhor compreendido e usado pelos

discentes para entender seu próprio contexto em infinitas formas de representação, como

partimos do que eles mais apreciam se alimentar para debater elementos mais complexos de

como eles mesmos alimentos são feitos e processados em sua constituição como alimento e

em seu processo de alimentação pelo organismo humano, até abrindo a possibilidade de eles

perceberem e discutirem um problema mais complexo e habitual de nossa política

macroeconômica tal como a ideia de inflação e como ela opera diretamente nos hábitos

alimentares e na vida cotidiana do educando, enquanto sujeito econômico, político, social e

cultural, elementos que muitas vezes são deixados de lado no ato educativo.

Como diria Piketty (2015), a escola produz e reproduz desigualdades e até justifica

que ela continue existindo na esfera educacional e econômica, pois ela atua de forma direta e

indireta na constituição da economia da desigualdade presente no modo de entendimento e

processo capitalista de modo muito evidente e ao mesmo tempo obscuro.

Ressalto que este tipo de atividade (em dupla e grupo) representou a primeira vez que

os discentes participantes da pesquisa trabalhavam de forma conjunta e participativa, pois me

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foi relatado pelos mesmos que nunca haviam desenvolvido atividades em dupla ou em grupo

em sala de aula. A empolgação era visível durante o desenvolvimento do jogo na aplicação do

software MusiCAlcolorida. Um fato que faço o registro também foi à questão da aluna com

deficiência visual, Participante 07, nunca ter desenvolvido junto a turma uma atividade em

dupla com outro colega de sala de aula, fato que até parece meio incomum, mas era muito

representativo da realidade “segregadora” vivenciada pela referida discente. Esse momento de

colaboração e vivência partilhada pelos discentes foi muito reforçador e revelador para os

envolvidos, pois esse momento de participação e troca juntos possibilitou aos discentes

perceberem um novo olhar acerca da importância de entender e valorizar a participação do

outro no desenvolvimento de momentos de ensino e aprendizagem em sala de aula, conforme

salienta Vergnaud (2009).

Durante esta atividade, os discentes puderam contemplar uma reflexão sobre um

elemento econômico muito presente em nossa realidade local e nacional, que é a questão da

inflação nos gêneros alimentícios, pois com esta atividade eles puderam problematizar e

refletir que os valores atribuídos por eles mesmos no momento de uma questão trazida no

teste de diagnóstico, na verdade, ilustrava uma problemática bem representativa do contexto

econômico local e nacional, através do advento da alta dos valores aos alimentos, através do

que conhecemos sobre o termo inflação, que está presente sobre a incidência de uma série de

ações desde o aumento de impostos de vários itens ligados desde a produção, transporte e

distribuição dos gêneros alimentares até a questão do lucro através da comercialização dos

alimentos.

Esta atividade possibilitou todos os envolvidos a perceberem uma reflexão sobre o

valor dos itens constituídos de sua dieta alimentar e entenderem como a inflação corrói o

poder aquisitivo dos mesmos. Neste aspecto, penso que a matemática escolar poderia debater

e enfatizar mais este e outros elementos provindos do contexto social e ressignificá-los junto

aos conteúdos enfocados e debatidos em sala de aula, pois possibilitaria aos alunos um debate,

discussão e reflexão sobre a sua própria realidade social e econômica de nosso contexto

econômico, ou seja, esta não foi apenas uma atividade para efetuar um simples procedimento

de adição descontextualizado, mas muito representativo das demandas sociais, as quais foram

trazidas pelos próprios discentes, já que até os valores frutos do processo de adição foram

estipulados pelos discentes como representativos dos itens, os quais os mesmos consumiam

em seu contexto alimentar.

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Ressalto também se essa discussão fosse trazida para outras disciplinas como Ciências,

História, Geografia, Estudos Sociais, Língua Portuguesa, Língua estrangeira poderia mover

um eixo curricular transversal que poderia ser problematizado e contextualizado nas demais

áreas e disciplinas escolares vivenciadas pelos próprios discentes, como elemento gerador de

discussão e debates para se pensar e problematizar como esse elemento “inflação” é um

elemento constitutivo de entendimento e reflexão para a vida escolar e social de nossa

sociedade brasileira local, regional e nacional.

Durante a execução da atividade, foi constatado que os discentes trocavam ideias em

colaboração em dupla, que não eram muito estimulados no cotidiano de sala de aula, que essa

participação em grupos foi favorecida pela interação da valorização da diversidade de

perceber e valorizar o outro. Esse elemento pode ser um caminho possível de permitir que os

alunos possam interagir mais e constituir relações e interações, que visem perceber, valorizar

e colaborar com o outro em todas as suas dimensões escolares e sociais.

6.6. DESENVOLVIMENTO DAS ATIVIDADES DE INTERVENÇÃO DA FASE II: O

USO DO TABULEIRO DE DECIMAIS

Nesta próxima etapa da produção de dados, intitulada Fase II, a qual foi marcada pela

utilização de outra ferramenta metodológica denominada por Tabuleiro de Decimais, que

representa uma criação nossa, os discentes não iriam mais ter como parâmetro de

representação dos números as cores e nem a representação sonora, mas sim a utilização das

contas, que constituem e representam os números, através da representação manual exercida

pelo tato. Esta ferramenta se aproxima em alguns aspectos do Soroban, por se tratar de uma

ferramenta que é usada para efetuar cálculos matemáticos com o uso do tato, geralmente,

usados por pessoas que apresentam uma deficiência visual. No entanto, há muitas diferenças

em sua constituição e uso em relação ao Soroban, que vão desde a sua constituição de

representação até o seu manuseio nas operações matemáticas.

O Soroban é constituído de diversas colunas, cada uma representando uma unidade,

dezena, centena, etc. Em sua constituição o Soroban apresenta duas partes: uma em cima e

outra embaixo. A peça que constitui a parte superior se chama godama porque go significa

cinco e a peça que aparece na parte inferior do instrumento se chama ichidamas porque ichi

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significa um, ou seja, ele apresenta uma coluna superior com uma peça única que representa 5

e quatro inferiores que representam uma unidade cada, conforme infere Kato (2012).

Já no Tabuleiro de Decimais, há duas partes, sendo que cada coluna superior e inferior

representam dez contas, que representam no número 0 até o número 9, em cada coluna

superior e inferior. Há diferenciações quanto ao tamanho e a representação de algumas contas,

tais como a representação do zero, que representa a primeira conta, tanto na parte inferior

quanto superior, ela é marcada de forma diferente das demais contas, pois seu tamanho é

menor e sua espessura é arredondada e cheia de formatos arredondados que são fáceis de

serem perceptíveis ao toque em diferenciação às demais contas, as quais constituem o referido

instrumento.

Além desta marcação do zero, há mais uma marcação do número 5, que tem um

tamanho mais quadrado e espessura diferenciada ao toque das demais contas, para marcar o

uso no instrumento. Há seus comandos laterais, que sinalizam o uso do cálculo de adição

(duas contas pequenas e em forma diamante que juntas e elevadas a parte superior do painel,

indicam o processo de adição), subtração (duas contas pequenas e em forma diamante que

separadas, sendo uma elevada a parte superior e outra na parte inferior do painel, indicam o

processo de subtração), divisão (duas contas em tamanho grande e em forma diamante que

separadas, sendo uma elevada a parte superior e outra na parte inferior do painel, indicam o

processo de divisão) e multiplicação (duas contas em tamanho grande e em forma diamante

que juntas e elevadas a parte superior do painel, indicam o processo de multiplicação). Além

de um comando marcado na parte lateral direita do Tabuleiro inferior marcada por uma conta

em tamanho grande e em forma arredondada que sinaliza o uso da parte superior e inferior das

colunas do instrumento, sendo que se esta conta arredondada estiver para cima, representar a

marcar da presença de uma fração para o usuário.

Outra marca do Tabuleiro de Decimais que se diferencia do Soroban, é o manuseio da

vírgula que é projetada sobre uma coluna em qualquer parte pelo usuário em formato de V de

ponta cabeça e o uso de uma peça em formato de U em ponta cabeça para diferenciar uma

fração de outra, o que possibilita uma maior dinâmica e manuseio pelo usuário do referido

instrumento, seja ele vidente ou não.

Ressalto que nossa intenção, inicialmente, foi criar uma ferramenta metodológica e

nem efetivar qualquer competição de qualquer ordem com o Soroban, mas em poder criar

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uma metodologia mais acessível e de fácil uso por pessoas com deficiência visual e não

deficiência visual, a fim de que pudessem fazer uso em conjunto sem grandes dificuldades em

sua complexidade de treinamento e uso em cálculos matemáticos. A intenção era uma

ferramenta que pudessem fazer uso sem grandes treinamentos e de forma mais colaborativa e

acessível do ponto de manuseio e cooperação.

Desse modo, pensando na intervenção e no uso do Tabuleiro de Decimais, como uma

nova forma de efetivar junto aos participantes e de representação dos números e, por

conseguinte, de efetivação de cálculo matemático. Pensamos que este exercício através do

tato, o qual representa o manuseio do referido instrumento, seria relevante aos participantes,

pois a própria discente com deficiência visual e os demais participantes do experimento não

tinham ainda está vivência com esta forma de representação nem com o manuseio do Soroban

e muito menos conheciam este instrumento, o qual foi desenvolvido por este pesquisador em

sua vivência através de seu exercício profissional junto ao grupo de pesquisa que coordenava

no Campus Universitário de Marabá, vinculado na época à UFPA, hoje desvinculado da

mesma com o advento da criação de uma nova universidade federal, a Universidade Federal

do Sul e Sudeste do Pará (UNIFESSPA).

Neste aspecto, a primeira sessão com o uso deste instrumento foi marcada pela

demonstração de uso do referido instrumento e manuseio de como usar e efetivar cálculos

matemáticos junto aos participantes, conforme figura 23. Essa demonstração foi feita de

forma expositiva e posteriormente por cada participante da pesquisa, já que só tenho

disponível um único Tabuleiro de Decimais confeccionado para ser usado junto ao

experimento pelos participantes. Esclareço que o Tabuleiro de Decimais se encontra em fase

de Registro de Patente junto ao órgão estadual, visando obter seu registro e uso como um

recurso viável e demonstrativo de fruto de nosso trabalho visando ser melhor aproveitado e

difundido nos ambientes inclusivos educacionais de forma local, regional e nacional.

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Figura 22:

Desenvolvimento da primeira sessão com o Tabuleiro de Decimais com os participantes

Nesta primeira sessão, os participantes foram esclarecidos no manuseio e

manipulação do referido Tabuleiro de Decimais a desenvolverem cálculos de adição e

subtração com naturais e decimais, pois eles não foram devidamente instrumentalizados de

forma mais efetivada em seu processo educacional para os cálculos de divisão e multiplicação

no referido ano letivo, pois eles ainda apresentavam muitos problemas nestas duas operações

com os naturais e o docente ficou de instrumentalizá-los de modo mais sistemático e

apropriado apenas em sua próxima etapa de sua escolarização, tendo em vista por fazerem

parte de uma turma de EJA, eles fazem a cada seis meses uma série e ainda não tinham

vencido tal conteúdo programático, o que nos causou certa estranheza também, mas como

nosso trabalho tinha como objetivo discutir apenas como conteúdo a questão que envolvia as

operações aditivas, não desenvolvemos neste estudo o processo com operações envolvendo

multiplicação e divisão, pois não representava nosso objeto de estudo em questão.

Os participantes apresentaram grandes dificuldades nas operações envolvendo os

cálculos de subtração com decimais, nas observações realizadas em sala de aula durante o

momento de observação na etapa de pesquisa. Nosso objetivo não é sanar os problemas de

modo automático e resolver em cinco sessões tais dificuldades de modo definitivo, mas

propiciar que através da metodologia eles possam refletir e apreender algumas de suas

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hipóteses e até superá-las de modo a contribuir que de forma conjunta e integrada posam

começar a pensar e repensar suas dificuldades e iniciar um processo de construção de

entendimentos visando remover algumas barreiras e hipóteses ainda não vencidas e

entendidas pelos mesmos.

Um aspecto que gostaria de fazer menção se trata da questão tão difundida por Piaget

e Inhelder (1975) e ainda pouco experenciada junto à turma em foco quanto em começar a

propiciar que os discentes possam ser vistos como protagonistas de sua própria aprendizagem

e não meros receptores passivos e submissos de um processo educacional ainda muito

arraigado das práticas educacionais da escola tradicional, a qual os entende como meros

receptores e até ouvintes de ações realizadas e demonstradas pela figura do professor. Pela

inserção das metodologias em questão usadas nesta pesquisa, percebi uma mudança nesta

prática, pois os alunos passaram a serem vistos como protagonistas de seu processo de

escolarização e que de modo compartilhado e coletivo puderam até superar alguns

entendimentos e hipóteses que ora estavam presentes em seu imaginário e ações quanto a

operações envolvendo os números decimais.

Neste sentido, no desenvolvimento da segunda e terceira sessões usando o Tabuleiro

de Decimais tive a intenção de voltar a discutir a uma questão que foi muito percebida no

teste de diagnóstico aplicado junto aos participantes, que representou no entendimento

equivocado de algumas hipóteses que os mesmos até trouxeram de seu contato com os

números naturais para os números decimais. Numa atividade simples de eles estabelecerem

quem se constituía maior ou menor, percebi pelos resultados apresentados no referido teste,

que algumas hipóteses precisavam ser vencidas neste entendimento para poder ter um melhor

aproveitamento das operações envolvendo os números decimais objeto deste estudo.

Assim, foi desenvolvida uma atividade na qual os discentes deveriam tirar de duas

caixas dois números decimais e em dupla poderem refletir usando o Tabuleiro de Decimais

para efetuarem comparações se eram maiores ou menores entre si. Desta forma, numa caixa

foram colocados em cada papel uma dupla com números decimais, os quais deveriam ser

apreciados suas representações pelos participantes da dupla que os retirou e pelas demais

duplas e representar no Tabuleiro de Decimais e classificar se era maior, menor ou igual entre

si. Já na outra caixa, existiam números separados que representavam de 0 a 9, os quais os

participantes deveriam tirar quatro e demonstrar quatro combinações diferentes, usando a

adição da vírgula e posteriormente colocar em ordem crescente e efetuar a comparação entre

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300

os mesmos, a fim de saber qual a representação dos inteiros, décimos, centésimos e milésimos

dos números que haviam sido formados pelas duplas, no intuito de favorecer que eles

pensassem sobre a formação e constituição dos números decimais e sua classificação.

No decorrer desta atividade, os discentes resolveram manter as mesmas duplas que

haviam se formado na atividade com o software MusiCALcolorida antes trabalhado na Etapa

I da pesquisa de intervenção. Logo, foi solicitado que a primeira dupla composta pelos

participantes 01 e 03 tirassem um papel da primeira caixa, a qual era constituída de uma dupla

de números decimais, que deveria ser classificada como maior, menor ou igual pela referida

dupla em questão, assim como pelas demais duplas ali presentes. Desta forma, cada dupla

realizava o registro e poderia também sentir a representação no Tabuleiro de Decimais,

especialmente, a Participante 07, que era deficiente visual, dos números tirados pelos

participantes durante a execução da atividade.

A referida dupla formada pelos participantes 01 e 03 então retirou os seguintes

números decimais: 26,32 ..... 28,32. A dupla representou no Tabuleiro de Decimais e ficou

pensativa na classificação se 26,32 era maior, menor ou igual a 28,32. No entanto, para

favorecer este pensamento e reflexão, fiz com que os discentes representassem os dois

números usando a parte superior para um e inferior para o outro junto ao Tabuleiro de

Decimais, fazendo com que eles colocassem o número na mesma ordem e posição de acordo

com sua representação no posicionamento de vírgula sob vírgula. Após, isto, fiquei

questionando número por número representativo das dezenas, unidades, décimos e centésimos

se eram iguais ou diferentes, para depois provocar a reflexão se os diferentes eram maiores ou

menores entre si das suas representações.

Desta forma, eles perceberam que havia apenas uma diferença entre os mesmos que

estavam representados na medida representativa das unidades através dos números seis e oito

(26,32 e 28,32). Sendo assim, se tornou mais fácil para eles entenderem que seis unidades é

menor que oito (6 < 8), então 26,32 era menor que 28,32. Todas as duplas acertaram tal

comparação.

Na atividade seguinte, a qual a dupla deveria tirar quatro papeis da segunda caixa e

representar quatro números decimais diferentes com a adição do uso da vírgula, os quais não

poderiam ser usados de modo repetido na formação dos números decimais. Os discentes

tiraram os números: três (3), um (1), zero (0) e cinco (5). No entanto, constatei que eles

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ficaram mais pensativos durante certo tempo assim como as demais duplas, pois eles não

estavam acostumados a desenvolverem este tipo de tarefa. Eles sempre eram desafiados com

números já prontos e estavam de certo modo habituados apenas em classificar e não em

construir a representação dos números decimais, tipo eles combinarem entre si do jeito que

acharem convenientes e formarem com os mesmos números em questão, quatro números

decimais diferentes. Eles ficaram meio pensativos de como diferenciar e colocarem a vírgula.

Penso que este momento, por mais que mais demorado foi relevante para eles e os demais

pensarem acerca da formação não apenas de construção de representação dos números

decimais, mas de refletirem também em seu conceito, como infere Ribeiro (2011).

Como resultado de formação no Tabuleiro de Decimais, eles formaram as seguintes

combinações: 31,05; 30,51; 10,53; 53,10. Embora tivesse constatado que eles conseguiram

desenvolver a atividade com êxito, a combinação dos números da dupla me fez refletir que

havia um padrão de representação. Eles usaram um padrão representado pela ordem dezena +

unidade + vírgula + décimo + centésimo.

Desta forma, mediante o padrão de combinação realizado pela dupla anterior, foi

solicitado à dupla formada pelos participante 02 e 08, que usassem os mesmos números para

efetivar uma combinação diferente, a qual usasse apenas unidades e não dezenas. Neste

momento, percebi algo curioso, que eles não estavam certos da posição de dezena e unidade,

então voltei a indicar no Tabuleiro de Decimais a última representação da dupla anterior

(Participantes 01 e 03) que representaram 53,10 e mostrei a representação de cada número

outra vez e pedi que me apontassem no Tabuleiro qual número representava as dezenas. Só

neste momento, a Participante 08 apontou o número 5 como representante das dezenas para os

demais participantes. Neste momento, percebi que eles começavam pensar um pouco melhor

que a posição dos números representavam quantidades e não estavam ali de forma aleatória

apenas.

Assim, foi solicitado que escrevessem uma nova combinação que não estivesse

marcada a presença das dezenas. Após, uma breve pausa e muita reflexão eles realizaram a

seguinte combinação: 3,105. Neste momento, pedi que falassem a ordem das medidas

representativas de cada número construído. Neste momento, percebi que só souberam inferir

de forma segura o número 3 como representativo das unidades e relataram que esqueceram os

demais.

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Desta forma, constatado em consonância com o pensamento de Silva (2006), o qual

infere que as ordens de medida representativas dos décimos, centésimos e milésimos não são

muito bem trabalhadas no processo educacional e nem no contexto prático social em nosso

educandos. Dificilmente se deparam em pensar em situações que possam envolver o uso deste

tipo de medidas, mas há em vários contextos de medidas em nossa realidade exemplos de

situações que envolvam estas medidas, tais como: no marcador dos hodômetros dos veículos,

que indicam a quilometragem percorrida; nos indicativos de peso em balanças, em marcações

de medidas e distâncias; em indicadores da cotação de determinadas moedas, tais como dólar

ou alguma outra, preço dos combustíveis e outros contextos monetários e em medidas de

massa e comprimento e outras mais. Como infere Silva (2006), falta ao educando

experimentar este olhar sobre a realidade e conceber que estes elementos tem uma

representação em seu cotidiano e não apenas no contexto da aula de matemática.

Assim, foi apresentado novamente a representação construída pela dupla dos

Participantes 02 e 08, representada na construção 3,105 e ponderei cada número e sua

representação na ordem de medidas respectiva de cada número e expus que eles poderiam

representar inúmeras situações em nosso contexto, como as relatadas no parágrafo anterior, a

fim de fazer os discentes pensarem que não representavam apenas algo apenas ligado a um

conteúdo matemático sem representação em nosso cotidiano mais iminente constituído.

A próxima dupla a tirar o papel da caixa número 1 e efetivar a devida comparação

entre o par de números decimais foi à dupla composta pelos Participantes 02 e 08, os quais

tiraram a seguinte dupla de números decimais: 9,84 .... 9,804. Neste momento, observei que a

dupla em questão ficou pensativa e sem reação aparente. Foi quando pedi que representassem

no tabuleiro usando a parte superior para um número decimal e a parte inferior para outro e

colocassem vírgula sob vírgula. Mesmo assim percebi que a dupla estava meio confusa assim

como as demais. Logo, eles sinalizaram que 9,84 era menor que 9,804, pois a hipótese deles

baseada nos números naturais era que 84 era menor que 804. Neste momento, as demais

duplas também concordaram com tal proposição. Logo, este tipo de pensamento reflete uma

hipótese muito frequente pelos discentes, em sua maioria, quando começam a ter contato com

os números decimais e sua forma de representação. Eles apresentam uma tendência de

levarem em consideração o entendimento dos números naturais para o entendimento dos

decimais, como sinalizam Jucá (2008), Pandovan (2000), Nacarato (2015), Vieira (2005).

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303

Neste sentido fiz com que eles percebessem na representação no Tabuleiro de

Decimais que não era a quantidade do numero que o fazia maior e sim a posição que esses

números ocupavam nas ordens de medida. Por isso, voltei à referida representação 9,84 ....

9,804 e mostrei que quatro (4) centésimos é maior que zero (0) centésimo. Logo, 9,84 era

maior que 9,804 (9,84 > 9,804). Neste momento, senti que eles começavam a reformular a

hipótese que os números decimais eram a representação dos números naturais com a presença

apenas da vírgula, como sinaliza Perreira (2011) acerca do entendimento que, geralmente, os

discentes têm da representação dos números decimais.

Tendo continuidade na atividade, a dupla com os participantes 02 e 08 tiraram quatros

papeis da caixa número 2 para formarem quatro representações diferentes de quatro números

decimais com a adição do uso da vírgula, que deveriam ser sinalizados no Tabuleiro de

Decimais. A dupla retirou os números: dois (2), três (3), seis (6), nove (9). Eles efetivaram a

seguinte combinação no Tabuleiro de Decimais: 23, 69; 23, 96; 96, 23 e 96, 32. Embora

tivessem sido realizadas as combinações de forma adequadas, percebi o mesmo padrão

realizado para a construção da dupla anterior, no qual usavam a mesma lógica de

representação demonstrada pela ordem dezena + unidade + vírgula + décimo + centésimo.

Por isso, foi solicitado que a outra dupla com os participantes 04 e 07 pudessem

modificar a última combinação no Tabuleiro de Decimais (96, 32), realizada pela dupla

anterior, e que não representasse a ordem das dezenas. Neste momento, pude perceber a

importância deste tipo de material para o manuseio dos dois alunos em questão ora

solicitados, já em cooperação a Participante 07 (com deficiência visual) também pode

contribuir junto com o Participante 04 (sem deficiência visual) de modo colaborativo e

partilhado uma atividade, que antes do experimento não era possível entre ambos, por

questões de barreiras pedagógicas e metodológicas, que de certo modo sugere a uma questão

mais séria e concepção educativa, a qual representa um entrave ao que se entende por um

elemento presente na política de inclusão local, que se trata na valorização e trabalho junto à

diversidade humana. A dupla então realizou a seguinte representação: 9,329. Quando

questionei o que tinha mudado da representação 96, 32 para a representação 9,329, a dupla

relatou a posição do número 9. No entanto, não souberam dizer qual posição o número nove

(9) passou a adquirir na nova construção realizada pela própria dupla, ou seja, ocupava a

posição na escrita decimal de dezena e foi para a posição de milésimo. No entanto, quando

questionei quem era maior 96,32 ou 9,329, a dupla ponderou que a representação 96,32, ou

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seja, eles começavam a superar o pensamento de que a ordem e representação das medidas

estavam começando a serem mais bem apreciadas e relacionadas por eles também.

A dupla com participantes 07 e 04 então conduziram a atividade e tiraram da caixa 01

o papel com a dupla de números decimais representados de: 0,45 ... 0,450. Este momento foi

relevante, pois o participante 04 leu a representação para a participante 07 e a auxiliou para

representar no Tabuleiro de Decimais. No entanto, a dupla ficou algum tempo dialogando

acerca de como poderiam entender esta representação e acabaram indicando que 0,45 era

menor que 0,450, pois, na concepção deles, 450 era maior que 45, logo corresponderam nesta

perspectiva. No entanto, quando questionei os demais participantes sobre o que eles pensavam

sobre a classificação realizada pela dupla, eles foram unanimes em ponderar que haviam tido

o mesmo entendimento.

Deste modo, foi constatado que ainda os discentes estavam com uma percepção para

classificar os números decimais provinda do que eles concebiam com os números naturais e

disse ponderei que os números não eram 45 ou 450, pois estes ali colocados estavam depois

da vírgula e não poderiam ser vistos como números inteiros. Neste momento, foi percebido

certo franzir de testa e silêncio entre os participantes, e pedi para notarem que por se tratarem

de números que estavam após a presença da vírgula, eles deveriam ser compreender de outro

modo já que o quatro (4) não representava os inteiros e sim décimos, o número cinco (5)

representava os centésimos e mesmo que o milésimo não estivesse marcado com a presença

visível do zero (0), ele apresentava o valor de zero. O que era verificado na próxima

representação do número decimal (0,450), que aparecia o número zero visível, por isso

poderiam colocar quantos zeros quisessem visivelmente depois do número 5 que o valor do

número não seria alterado. Por isso, a dupla e os demais alunos deveriam ter contemplado em

sua resposta que os números eram iguais (0,45 = 0,450) entre si. Já que se tivéssemos como

exemplos outras construções, tais como: 0,50= 0,50 = 0,5000, também seriam iguais e não

teriam alteração de valor apresentado.

Neste momento, foi constatado que os discentes começavam a ter que desconstruir

uma regra que faziam uso, transportada dos números naturais, que não poderia ser aplicada

desta forma nos números decimais. Isso me faz alusão que atividades desta natureza

representam uma forma válida de fazer os mesmos pensarem e refletirem acerca de algumas

hipóteses, pois este confronto, desta forma, pode possibilitar uma nova perspectiva de

compreensão do conceito de número decimal e de seu uso por partes dos educandos. Penso

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que através de atividades desta forma mais lúdica e até descontraída possa ser um caminho

para ser buscado, a fim de que os discentes projetem a reflexão sobre algumas hipóteses

acerca da compreensão dos decimais e representem um ambiente rico de superação de alguns

obstáculos ainda existentes neste processo.

Após este momento, a dupla deu prosseguimento na atividade e retirou quatros

números da caixa número 2 para formarem com o uso da vírgula quatro números decimais

diferentes entre si. Os números retirados pela dupla foram: zero (0), seis (6), oito (8) e nove

(9). A dupla em conjunto desenvolveu as seguintes combinações: 0, 689; 60, 98; 90, 86 e 0,

869. Estas representações já foram bem diferentes do padrão, que havia sido representado

pelas demais duplas, que tinham uma tendência para representar a ordem das medidas: dezena

+ unidade + décimo + centésimo. Talvez pela dupla ter sido desafiada no exercício anterior a

modificar o número com a representação de dezena para o uso da representação de milésimo,

eles tenham diversificado esta construção. Fato que já considero positivo, pois percebi que

isto já marque certa maturação na diversidade de representação e percepção do conceito do

número decimal em sua forma representacional.

Ao final da produção desta dupla, realizei uma breve explicação no intuito de que eles

percebessem que embora tenham usado os mesmos números para construir a representação da

escrita decimal, em cada nova escrita, estes números haviam assimilado novos valores e

representações na escrita decimal, tais como ora marcando a unidade de dezena, unidade,

décimo, centésimo ou milésimo. Foi relevante observar que isto foi efetivado e conduzido

pelos próprios discentes nesta atividade, ou seja, como sujeitos ativos deste entendimento e

processo. Este exercício foi relevante para perceberem que este protagonismo deve ser mais

bem incentivado e construído para mobilizar uma maior autonomia de condução de

aprendizagens pelos próprios discentes.

Deste modo, fomos para o exercício da última dupla, Participante 05 e 06, que tiraram

da caixa 01 a seguinte representação de dois números decimais: 7,02 ...7, 20 para serem

representados e classificados no Tabuleiro de Decimais. Decorrente do dinamismo e

facilidade de representação no referido instrumento, o que possibilitou vírgula sob vírgula e

sua representação em quantidade de modo mais representacional de modo não apenas

indicativo de escrita numérica, mas também em representação de quantidade, ficou mais

acessível para os discentes observarem que 02 é diferente de 20, ou seja, que dois centésimos

é menor que vinte décimos. Logo, minha hipótese inicial que eles confundiriam tal proposição

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não se realizou e a dupla em questão pontuou que 7, 02 era menor que 7,20 (7,02 < 7,20) .

Este fato também foi mais facilmente compreendido pelas demais duplas que efetivaram o

mesmo entendimento, tendo em vista a facilidade de representação e ilustração através do

instrumento ora proposto de apoio na materialização dos decimais, o Tabuleiro de Decimais.

Nesta perspectiva, a última atividade executada pela última dupla em questão era

retirar quatro números da caixa número 2 e construir quatro representações diferentes de

quatro números decimais diferentes usando a vírgula. A dupla sorteou os números: um (1),

quatro (4), sete (7) e oito (8). A dupla com os participantes 05 e 06 construíram as seguintes

representações: 1,987; 17,98; 8,179 e 198,7. Dentre estas formas de construção executadas, o

que me chamou mais atenção, foi perceber que a dupla usou um tipo de construção nova, a

representação da ordem de centena para o número inteiro, usando o número um (1) e a

representação de apenas do décimo, usando o número sete (7). Esta forma foi uma surpresa,

pois comecei a perceber que eles estavam começando a conceber um entendimento mais

complexo da escrita decimal e estavam atentos das inúmeras possibilidades de exploração e

representação dos mesmos neste universo.

No entanto, quando interroguei qual o valor assumido na representação do número um

(1) em todas as construções feitas pela dupla, apenas as duplas com os participantes 01 e 03 e

04 e 07 não haviam concebido na representação 198,7, que o número um (1) estava indicando

centena, mas as demais duas duplas haviam realizado este entendimento. Isso me permite a

entender que as duplas, as quais ainda não haviam entendido tal indicação de centena, na

representação em questão, necessitavam de um pouco mais de tempo e trabalho mais

sistemático neste assunto para amadurecem tal percepção e uso deste tipo de representação, o

que acabei interferindo e representando mais duas construções possíveis usando os mesmos

números (719,8 e 971,8) no Tabuleiro de Decimais para as referidas duplas perceberem este

tipo de possibilidade na forma de representação da escrita decimal, mesmo que considere que

isso demande de mais outros momentos e intervenções para se concretizar um melhor

entendimento e reflexão pelos participantes em questão.

Destaco que este exercício foi relevante para possibilitar os discentes envolvidos a

pensarem a forma de concepção, construção, representação e comparação entre os números

decimais, mas como uma forma de repensarem suas hipóteses e entendimentos acerca destes,

a fim de possibilitar uma reflexão e possibilidade de superar obstáculos e entendimentos neste

quesito. Refletir com os discentes que dependendo de como os números eram colocados na

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posição de escrita decimal, eles adquiriam uma nova forma de representação e valores

associados à forma de escrita e a representação de medida. Desta forma, reitero em

consonância com o pensamento de Valera (2003), a qual menciona que as atividades usadas

junto aos discentes com números decimais devem favorecer e ampliar o olhar e entendimentos

deles para a representação conceitual e uso em diferentes perspectivas de entendimento, sem

esquecer-se da dimensão lúdica do aprender. Logo, entendo que este tipo de atividade

proposta contribuiu para os discentes participantes notarem e entenderem esta importante

compreensão para o processo de conceito, significado, leitura e uso da escrita decimal para o

seu amadurecimento de perspectiva e compreensão de forma prática e lúdica.

Para o desenvolvimento das atividades representativas equivalentes as sessões quarta

e quinta usando o referido instrumento, Tabuleiro de Decimais, as quais se refeririam as

últimas duas sessões usando a metodologia e encerrando a pesquisa de campo. Houve a

ausência de duas alunas, as participantes 01 e a 07. Naquele momento não houve qualquer

explicação ou justificativa pelas participantes para justificarem suas respectivas ausências. No

entanto, as duas sessões foram realizadas com os demais participantes e ficamos de tentar

buscar uma possibilidade de outro momento tentarmos redimensionar outro momento para

efetuar as duas últimas sessões com as duas participantes ausentes nesta etapa final.

Como nossa ideia era trabalhar a subtração envolvendo os números demais com o

Tabuleiro de Decimais e ao mesmo tempo contemplar e exercitar a questão da adição

relacionada ao mesmo procedimento, a fim de propor aos discentes um desafio ainda não

exercitado nem em sala de aula ou no experimento. Nosso intuito era tentar identificar como

os mesmos iriam se comportar com duas atividades, as quais geralmente são realizadas de

forma distintas nas aulas e exercícios de matemática, justapostas na mesma atividade, ou seja,

os discentes iriam efetuar a subtração e adição na mesma atividade usando o referido

instrumento de apoio. O que representa para Durval (2003) um problema geralmente mais

difícil de serem resolvidos pelos discentes em sala de aula pela sua dinâmica de

complexidade.

Optamos por trabalhar dentro de uma perspectiva que geralmente é pouco enfatizada

no contexto escolar por entendermos que ela possa exemplificar um exercício mais complexo

e ao mesmo tempo propiciador de reflexão e entendimento pelos discentes, a fim de possam

abranger maiores possibilidades de interpretação visando a resoluções de problemas

matemáticos de diversas formas e origens presentes no cotidiano. Essa possibilidade foi

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escolhida através da estratégia de inversão da sentença geralmente usada nos exercícios

matemáticos realizados pelos discentes em sala de aula, tais como: a + ? = c ou ? + b = c, mas

adicionada de um novo elemento que seria uma adaptação do “jogo da inflação”, trabalhado

no uso da atividade com o software MusiCALcolorida, na etapa I, mas o mesmo iria acontecer

de forma inversa nesta atividade, por isso demos o nome “jogo do desconto”.

Nesta atividade intitulada de “jogo do desconto”, os discentes iriam desenvolver

atividades que envolvessem subtração e adição na mesma operação ou atividade. Ela consistia

de usar os mesmos elementos apontados pelos discentes apresentados e coletados na segunda

questão das questões de sondagem aplicadas junto aos participantes, que indicava os

alimentos que mais gostavam de consumir em seu dia a dia e seus respectivos preços, os quais

haviam sido relacionados pelos mesmos, e até tinham sido até usados na atividade envolvendo

o uso do software MusiCALcolorida, no intitulado “jogo da inflação”. No entanto, na

atividade “jogo do desconto”, a Carta B representaria o valor que deveria ser subtraído dos

valores correspondentes aos alimentos, que seriam sorteados pelos participantes,

representados pela Carta A e posteriormente somados. Assim, os participantes deveriam ter

que ter noção qual o valor que havia sido subtraído das duas Cartas A e qual o valor

correspondente de uma das cartas A que estaria oculta durante a execução da atividade, a qual

seria apresentada no Tabuleiro de Decimais.

Neste sentido, exercitaríamos uma atividade que envolveria dois processos de

subtração e um processo de soma ao mesmo tempo. Tendo em vista que os valores

representados por “a” e “b” na equação a + b = c, já teriam sofrido uma subtração

proveniente de um valor indicado pela Carta B, a qual indicava um desconto que deveria ser

feito nos dois produtos da Carta A. Além do que para eles resolverem tal equação ora “a” ou

“b” estariam ocultos (a + ? = c ou ? + b = c ) na equação a + b= c, ou seja, para resolverem tal

equação, deveriam efetuar uma nova subtração equivalente a: c – a = ? ou c – b = ? Deste

modo, a atividade representaria uma dupla divisão junto ao processo de soma associado, algo

mais complexo e desafiador para os discentes. Fato que queríamos saber se os discentes

conseguiriam processar e de qual forma.

No entanto, para evitarmos que os participantes estivessem sob efeito da atividade

anterior desenvolvida junto ao software MusiCALcolorida e buscassem lembrar dos valores

representativos da Carta B na referida atividade, optamos por manter os valores das Cartas A,

pois queríamos voltar a enfocar e partir dos valores por eles mesmos atribuídos aos alimentos,

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os quais mais apreciam consumir em sua dieta alimentar. Por isso, resolvemos alterar os

valores das Cartas B, mas os mesmos continuariam a representar valores que pudessem ser

entendidos como representativos de números decimais correspondentes aos valores

monetários atribuídos nas Cartas A. Deste modo, as cartas B ficaram com os respectivos

valores: R$ 0,20; R$ 0,25; R$ 0,30; R$ 0,35; R$ 0,40; R$0,45; R$ 0,50 e R$ 0,55.

No entanto, como estiveram ausentes dois participantes durante estas duas últimas

sessões, quarta e quinta sessões da Etapa II, resolvemos associar os Participantes 03 e 04 em

uma única dupla, já que seus demais componentes (Participantes 01 e 07, respectivamente,

estão ausentes nestas duas sessões).

Desta forma, cada dupla deveria tirar duas combinações de duas Cartas A e mais uma

Carta B, a qual deveria ser subtraída dos valores dos respectivos itens das Cartas A e

processar a soma, a fim de que as demais duplas pudessem identificar no Tabuleiro de

Decimais qual Carta A estava oculta no processo da soma e qual o valor do desconto

realizado pela Carta B em cada processo. Logo para isso cada dupla deveria efetuar uma

subtração igual a: c – a = ? ou c – b = ? para descobrir o valor da Carta A oculto e depois

voltar a subtrair somar o valor da Carta B aos itens das Cartas A para saber qual o valor

original da Carta A sem a concessão do respectivo desconto, oferecido pela Carta B, ou seja,

dois processos de soma e subtração associados na mesma atividade.

Após a realização do sorteio das Cartas A e Cartas B pelas duplas participantes,

chegamos as seguintes combinações demonstradas na Tabela 3, demonstrada abaixo:

Tabela 3: Itens que os participantes desenvolveram operações nas sessões com o Tabuleiro de

Decimais

Composição

dos Integrantes

das Duplas

Carta A

(alimento e valor

correspondente)

Carta A

(alimento e valor

correspondente)

Carta B

(Valor que deveria ser

subtraído nos itens da

carta A = Desconto)

Produto

Participante O3

e Participante

O4

COXINHA = 2,00

COXINHA = 1,45

(Valor com

desconto)

BATATA FRITA =

R$3,00

BATATA FRITA =

R$2,45(Valor com

desconto)

R$ 0,55 (valor que deveria

ser subtraído em cada item

de cada carta A)

R$ 3,90

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Participante O3

e Participante

O4

REFRIGERANTE

= R$ 4,00

REFRIGERANTE

= R$ 3,75 (Valor

com desconto)

SANDUICHE = R$

6,00

SANDUICHE = R$

5,75 (Valor com

desconto)

R$ 0,25 (valor que deveria

ser subtraído em cada item

de cada carta A)

R$ 9,50

Participante O2

e Participante

O8

AÇAÍ = R$ 8,00

AÇAÍ = R$ 7,60

(Valor com

desconto)

BATATA FRITA =

R$3,00

BATATA FRITA =

R$2,60 (Valor com

desconto)

R$ 0,40 (valor que deveria

ser subtraído em cada item

de cada carta A)

R$ 10,20

Participante O2

e Participante

O8

BISCOITO = R$

2,00

BISCOITO = R$

1,80 (Valor com

desconto)

BIFE = 12,00

BIFE = 11,80

(Valor com

desconto)

R$ 0,20 (valor que deveria

ser subtraído em cada item

de cada carta A)

R$ 13,60

Participante O5

e Participante

O6

AÇAÍ = R$ 10,00

AÇAÍ = R$ 9,70

(Valor com

desconto)

BISCOITO = R$

3,00

BISCOITO = R$

2,70 (Valor com

desconto)

R$ 0,30 (valor que deveria

ser subtraído em cada item

de cada carta A)

R$ 12, 40

Participante O5

e Participante

O6

AÇAÍ = 8,00

AÇAÍ = 7,50

(Valor com

desconto)

DANONE = 4,00

DANONE = 3,50

(Valor com

desconto)

R$ 0,50 (valor que deveria

ser subtraído em cada item

de cada carta A)

R$ 11,00

Após a realização dos respectivos sorteios pelas referidas duplas, ocorreu apenas uma

única coincidência de um item sorteado antes pela referida dupla (Participante O5 e

Participante O6) na atividade anterior, intitulada “jogo da inflação” com um item na atividade

intitulada “jogo do desconto”, que se remete ao item AÇAÍ = 8,00, ou seja, os demais itens

sorteados eram diferentes dos itens sorteados pelas duplas na atividade anterior. Vale ressaltar

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311

que os valores das Cartas B também foram modificados para esta atividade, como já foi dito

anteriormente.

Desta forma, após a explicação de como iria se desenvolver a atividade e a execução

do sorteio pelas duplas dos itens, a dupla com os Participantes 03 e 04 primeiro realizaram a

subtração das duas Cartas A (COXINHA = 2,00 e BATATA FRITA = R$3,00) pela Carta B

sorteada (R$ 0,55), o que possibilitou os valores: R$ 1,45 (COXINHA) + R$ 2,45 (BATATA

FRITA), o que resultou com o desconto oportunizado pela Carta B no valor total de R$ 3,90.

Assim, a dupla tinha que optar pela representação de uma das duas operações realizadas

demonstrando as demais duplas ora estrutura da sentença: a + ? = c e a posteriormente a outra

representação da sentença igual a : ? + b = c, o representaria respectivamente as seguintes

estruturas: c – a= ? e c – b= ?, referente ao cálculo a ser realizado, no Tabuleiro de Decimais.

A dupla com os Participantes 03 e 04 primeiro representou as duas primeiras

subtrações, as quais representavam cada Carta A pela Carta B e alcançando um produto,

utilizando para isto o software MusiCALcolorida para não revelar de forma visível se fosse

feito no Tabuleiro de Decimais, a fim de que as demais duplas de participantes não

identificassem de forma visível tal subtração. Este fato também colaborou para que se pudesse

relacionar as duas metodologias integradas entre si, dando sustentação a atividade de forma

colaborativa entre as duas metodologias em foco. Assim, uma metodologia poderia dar

suporte à outra na mesma atividade e com maior dinamismo e exercício de percepções

diferentes, ou seja, visão, audição e tato de modo em conjunto.

Durante a execução pela dupla responsável pela operação de condução do “jogo de

desconto”, as demais duplas poderiam trocar informações entre si e efetuar anotações que

julgassem necessárias durante a execução de qualquer etapa da atividade. Fato que foi

percebido no uso do software, pois os participantes já tentavam relacionar qual era o valor do

desconto em questão, pois quando a dupla realizava a subtração do valor original do item da

Carta A pela Carta B, eu solicitava que como critério de pista as demais duplas para que

descobrissem o valor de desconto representativo da Carta B, que eles realizassem outro

cálculo no software, após a realização da subtração da Carta A pela Carta B, que eles fizessem

a operação inversa utilizando o referido software, favorecendo que as demais duplas

pudessem tentar identificar o valor original da Carta A sem a operação de subtração

(desconto) realizada de cada item das duas Cartas A em questão para a realização do processo

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posterior de soma de cada Carta A pela dupla, após o processo de subtração realizado na

referida atividade.

Assim, a dupla com os participantes 03 e 04 realizaram a subtração no software e sua

operação inversa dos dois pares de Cartas A, referentes ao primeiro cálculo realizado pelos

dois primeiros itens sorteados. Percebi que como as demais duplas já haviam sido treinadas

quanto à percepção sonora dos números representados, eles trocaram informações, mas como

estavam sendo desafiados a desenvolverem sempre o pensamento reverso em cada cálculo,

eles ficaram meio confusos com as percepções emitidas pelo software e notei que, em

primeiro momento, a utilização do respectivo software, não proporcionou muitas informações

pertinentes para eles conseguirem identificar o valor correspondente a Carta B, que se referia

ao desconto e valor que deveria ser subtraído de cada carta A em questão.

Desta forma, após o uso do software, a dupla demonstrou no Tabuleiro de Decimais na

parte superior esquerda o valor correspondente ao produto (“c”) e na parte inferior esquerda

apresentou o valor correspondente à parte “a”, com o posicionamento correspondente dos

valores em posição de vírgula sob vírgula no referido instrumento e no canto superior direito

seria colocado o produto da subtração. Deste modo, ficou representado na parte superior 3,90

e na parte inferior 1,45. Fato que deveria ser correspondente à operação de subtração que

indicasse o produto de 2,45, que representaria o correspondente a “b” na sentença: c – a = b.

No entanto, percebi que nenhuma dupla conseguiu efetuar o referido cálculo, por mais

simples que ele visivelmente possa indicar, pois como observei durante os momentos de

observação em sala de aula, os discentes apresentavam muitos problemas com operações

simples envolvendo os números naturais, tais inclusive com o processo de subtração quando

envolviam numerais com dos ou três números. Fato que já havia sido dito pelo próprio

docente de matemática como uma dificuldade de base da maioria da turma que não tinha tido

um processo de numeramento e de operações plenamente desenvolvido com operações com

os naturais e isso era trazido para operações junto aos números decimais com a referida

intensidade e agravamento, conforme salienta Jucá (2008).

Posta esta dificuldade inicial, realizei o referido cálculo inicialmente com o software

MusiCALcolorida, ou seja, a subtração em questão, 3,90 – 1,45 e através do produto pela

representação sonora apenas uma dupla identificou o resultado correspondente (dupla com os

Participantes 02 e 08), quando representei pela representação das cores correspondentes do

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produto, a dupla com os Participantes 05 e 06 representaram corretamente o produto. Isso me

causou até um pouco de surpresa, pois não imaginava que por se tratar de um calculo

aparentemente simples, eles usassem como recurso de identificação tais representações.

Pensei que talvez pela dificuldade decorrente da realização do cálculo matemático

“tradicional”, eles tinham encontrado na metodologia uma forma de realizá-lo visando suprir

tal dificuldade, o que até representa para alguns para se realizar um cálculo matemático de

maior complexidade e em tempo mais exíguo o uso do recurso didático tal como a calculadora

para efetivar tal procedimento.

No entanto, foi demonstrado no referido instrumento o cálculo matemático em questão

e tentei exemplificar de forma a fazê-los entender o manuseio no referido instrumento,

embora já tivesse desenvolvido outros cálculos desta natureza na primeira sessão de

treinamento junto à referida metodologia anteriormente, imaginando que poderiam ter

encontrado dificuldade por se tratar de uma metodologia ainda nova e em processo de

elaboração de uso por parte dos participantes em questão.

Quanto à questão de fazê-los pensar sobre o valor correspondente a Carta B, que

representava o valor de desconto, que se referia ao primeiro processo de subtração executado

na atividade em questão propus outra operação. Informei o valor correspondente ao valor total

dos dois itens representados perlas cartas A somados sem o referido desconto, no valor total

de R$ 5,00 e o valor total obtido pelo desconto representado pelo valor de R$3,90. Logo,

solicitei que realizassem o referido cálculo no Tabuleiro de Decimais, a fim de posteriormente

encontrarem o valor correspondente o valor da Carta B, que representaria a metade do valor

em questão. Neste momento, foi solicitado que cada dupla realizasse tal procedimento no

referido instrumento sem a presença dos demais próximos. No entanto, percebi que embora

fosse um procedimento muito acessível, uma dupla ainda não conseguiu desenvolver tal

procedimento de forma adequada, o que foi constatado pela dupla com os participantes 05 e

06, pois os mesmos obtiveram dificuldades em desenvolver tal procedimento e deram como

resultado R$ 2,10 e não R$1,10, algo matematicamente simples de ser realizado, no entanto

na execução obtiveram problemas e só perceberam tal incongruência quando os fiz pensar que

se esta resposta fosse correta R$2,10 + R$3,90 teriam que ser igual a R$ 5,00, fato que de

acordo com o resultado deles indicou R$ 6,00.

Percebi que esta dificuldade apresentada pela dupla com os participantes 05 e 06 é

muito frequente do que possamos pensar e entender. Segundo Piaget e Willen (1966), o

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pensamento reverso se não acomodado de forma adequada se manifestará em outras formas

de representação, inclusive na resolução de problemas matemáticos simples, como aconteceu

com a dupla em questão. Para se resolver tal problemática e impasse, é necessário fazer com

que os sujeitos envolvidos possam voltar a refletir sobre este tipo de pensamento em situações

que possam exercitar de modo mais sistemático tal procedimento. Nesse sentido, tenho

ciência que este tipo de exercício é um dos pilares destas operações propostas, mas também

entendo que neste curso pequeno de sessões não teríamos como aceitável de entender que essa

eventual hipótese seja superada de um momento para outro, embora pense que possa ser algo

a ser melhor trabalhado pelo docente dos respectivos alunos em outro momentos e reflexões

durante o andamento do ano letivo.

Após propiciar as duplas perceberem que o resultado da operação do valor total sem o

desconto seria a diferença o valor de R$1,10, o qual somado ao valor com o desconto

representasse ao valor de R$ 5,00. Logo, como a Carta B representa o mesmo valor vinculado

de subtração (desconto) em questão, questionei qual valor seria relacionado às duas duplas.

Neste momento, a operação simples a ser executada seria uma divisão simples por dois, a fim

de encontrar o respectivo valor correspondente ao desconto. Fato que talvez pela prática do

manuseio de se tratar de uma operação simples e do cotidiano com o conhecimento monetário

vivenciado pelos discentes, foi amplamente correspondente ao valor adequado de R$0,55.

Isso me fez pensar que a dupla que alcançou maior dificuldade de efetuar o pensamento

reverso, como infere Piaget e Willen (1966), possam estar em um momento transitório de

superação de tal estágio matemático referente à efetivação de tal acomodação.

Dando continuidade a atividade ora proposta, a dupla com os Participantes 03 e 04

primeiro realizaram a subtração das duas outras Cartas A (REFRIGERANTE = R$ 4,00 e

SANDUICHE = R$ 6,00) pela Carta B sorteada (R$ 0,25), o que possibilitou os valores: R$

3,75 (REFRIGERANTE) + R$ 5,75 (SANDUICHE), o que resultou com o desconto

oportunizado pela Carta B no valor total de R$ 9,50. Assim, a dupla tinha que optar pela outra

representação da sentença igual a: ? + b = c, o representaria respectivamente a seguinte

estrutura: c – b = ?, referente ao cálculo a ser realizado, no Tabuleiro de Decimais.

Nesta execução do cálculo junto ao Tabuleiro de Decimais, foi observado que ambas

duplas desenvolveram de forma inadequada tal cálculo matemático, pois ambas representaram

como produto o mesmo valor R$ 4,85. Isso não faz pensar que executaram o cálculo

matemático de forma equivocadamente, pois quando solicitei que explicassem tal

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315

procedimento ambas duplas expressaram a sentença 9,50 menos 5,75 da seguinte maneira:

“zero menos cinco é igual a cinco... cinco menos sete não pode... então pego um do nove e

fica quinze menos sete igual a oito e nova menos cinco é igual a quatro”. (Participantes 06 e

08, respectivamente um participante de cada dupla em questão). Os discentes não perceberam

elementos constituintes simples provenientes da execução de um cálculo matemático sem

muita complexidade. Não evidenciaram as transferências nos três casos de modo adequado,

fato que comprometeu o produto final. Fato que mais uma vez poderia ser revisto, mas uma

vez pela presença do comportamento do pensamento reverso, conforme sinaliza Piaget e

Willen (1966), pois bastaria as duplas efetuarem o pensamento reverso tal como encontrado

na operação de simples adição do representativo de “a” igual 4,85 (encontrado pela dupla) e

somar com representativo de “b” igual a 5,75, produziria o produto 10,60, ou seja, se somados

dariam muito mais que o produto em questão representado por a + b =c, sendo c = 9,50.

Neste aspecto, penso que esta base matemática presente na dificuldade de efetivar o

pensamento reverso já poderia ser um elemento para as duplas observarem que havia um

problema na execução da operação executada. No entanto nos parece fácil e acessível

observar tal incongruência visivelmente, mas para os sujeitos que apresentam tal dificuldade

não se torna algo tão visível e acessível. Como afirma Piaget e Willen (1966), a ausência do

pensamento reverso é algo ainda não assimilado e acomodado na primeira infância que incide

em problemas de várias ordens e aplicações em outras etapas de vida do sujeito, favorecendo

a dificuldades não apenas na questão do pensamento lógico matemático, mas no próprio

entendimento de outros fenômenos ligados ao mundo físico tal como em cálculos de distância

geográfica e de reversibilidade no mundo abstrato do pensamento complexo, para

exemplificar tal dificuldade.

Neste sentido, penso ser grave a ausência de um diagnóstico mais preciso neste quesito

por parte dos docentes e demais profissionais envolvidos durante a trajetória destes

educandos, os quais sempre eram vistos como discentes com dificuldades na execução de

operações matemáticas, como se fossem alunos apenas com dificuldades decorrentes de

efetivação de cálculos e operacionalização de procedimentos ligados ao uso da “tabuada”

como me foram relatados em vários momentos pelos seus respectivos docentes, sem um

estudo e diagnóstico mais preciso e investigativo do que possa ter gerado tal dificuldade.

Assim, não adianta rotular os sujeitos como “pouco eficientes” ou até “fracos” em

matemática, como tive que ouvir relatos se referindo aos mesmos, mas em tentar investigar e

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316

oportunizar qual a gênese de tal eventual dificuldade. Logo, para uma dificuldade sempre há

uma causa. Como esta causa nunca foi percebida e trabalhada? Este questionamento talvez

seja mais representativo nesta questão! Será que esta dificuldade não representa mais um

dentre vários problemas de escolarização do que um problema decorrente apenas e

unicamente do sujeito como ser cognitivo?

No tocante a esta dificuldade, voltei ao Tabuleiro de Decimais e realizei o cálculo para

que os discentes percebessem tal problemática e contemplei a questão do pensamento reverso

no quesito matemático, os fazendo perceberem que para a respectiva operação ser realizada da

forma adequada, sem equívocos, bastaria que os mesmos voltassem a refletir acerca dos

elementos constituintes das partes da respectiva operação em questão “b” e “a”, no intuito de

verificarem se representam o produto “c”. Algo que poderia ser feito sempre que realizassem

tal procedimento como uma possível comprovação ou até verificação de que o referido

cálculo havia sido evidenciado de modo adequado e correto.

Logo, mesmo tendo ciência de que isso não poderia ser plenamente resolvido

unicamente desta forma, penso que este exercício realizado pelos discentes em questão pode

representar uma primeira etapa para os mesmos poderem desenvolver a reflexão e percepção

de que podem assimilar tal habilidade e acomodarem uma aprendizagem que possa inibir tal

equívoco ao menos do ponto de vista matemático.

Dando continuidade ainda a etapa final da quarta sessão, a dupla com os Participantes

02 e 08 foram proponentes de seu primeiro exercício nesta atividade e propuseram o primeiro

cálculo. Assim, a dupla com os participantes 02 e 08 realizaram a subtração no software e sua

operação inversa dos dois pares de Cartas A, referentes ao primeiro cálculo realizado pelos

dois primeiros itens sorteados. Desta forma, continuei percebendo uma eventual confusão no

entendimento deste processo inverso pelos participantes das demais duplas e constatei que

embora que embora uma dupla tenha conseguido retratar parte do produto em questão, não

estavam tão seguros e plenamente relacionados em sua totalidade. Talvez pela dinâmica da

efetivação do cálculo inverso, algo novo ainda para eles, como atividade ao se realizar um

cálculo matemático.

Posteriormente, o uso do software, a dupla demonstrou no Tabuleiro de Decimais na

parte superior esquerda o valor correspondente ao produto (“c”) e na parte inferior esquerda

apresentou o valor correspondente à parte “b”, com o posicionamento correspondente dos

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valores em posição de vírgula sob vírgula no referido instrumento e no canto superior direito

seria colocado o produto da subtração. Deste modo, ficou representado na parte superior

10,20 (representado pelo valor total com o desconto da Carta B) e na parte inferior 2,60

(BATATA FRITA). Fato que deveria ser correspondente à operação de subtração que

indicasse o produto de 7,60, que representaria o correspondente a “b” na sentença: c – b = a.

No entanto, só a dupla com os componentes 03 e 04 conseguiram desenvolver de

forma adequada o referido cálculo de subtração e representar ao produto R$ 7,60 ao valor

correspondente ao que seria o item “a” da sentença em questão, que representava o item

“AÇAÍ”. A dupla com os participantes 05 e 06 ainda se equivocou e representou R$ 8,60 o

produto, pois se esqueceu de subtrair um que havia sido “emprestado” ao número anterior (2)

para efetuar o referido cálculo.

No entanto, pelos equívocos que haviam constituídos junto aos dois procedimentos

anteriores, observei que algumas hipóteses começavam a serem vencidas pela referida dupla

tal como a questão da operação adequada da subtração realizada pela operação doze menos

seis. No entanto, foram distraídos ao contabilizar que o número dez agora não valia mais dez

e sim nove decorrente ao “empréstimo” efetuado na operação realizada ora anteriormente.

Nesse sentindo, volto a mencionar se eles tivessem somado os dois item representados por “a”

e “b” na sentença, iriam perceber tal problemática em operacionalização.

A referida dupla realizou também o outro procedimento de subtração correspondente

ao valor total sem o referido desconto, ocasionado pela Carta B pelo produto com o referido

desconto da referida Carta, a fim de identificar qual o valor representativo da carta de

desconto, Carta B. No entanto, todos os participantes acertaram tal procedimento e até

chegaram a relatar que: “Dá para perceber sem fazer a continha professor...” (Participante 03);

“É muito fácil mesmo (risos) quem não acertar essa pode pedir para sair (risos).” (Participante

06).

A quinta e última sessão continuou a ser dirigida pela dupla com os participantes 02

e 08. Assim, a dupla com os participantes 02 e 08 realizaram a subtração no software e sua

operação inversa dos dois pares de Cartas A, aqui representadas pelos valores ao item

“BISCOITO” que tinha o valor de R$2,00 e passou a ter R$ 1,80 e o item “BIFE” que

apresentava o valor de R$ 12,00 e passou a representar R$ 11,80, referentes ao segundo

cálculo realizado pelos dois itens sorteados. Neste momento, constatei que a dupla com os

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Participantes 03 e 04 conseguiu identificar os produtos das duas operações, através de sua

representação sonora, através pela dinâmica da efetivação do cálculo inverso, mas não

mencionei que eles estavam plenamente corretos e solicitei que tirassem a prova quando

fossem realizar a subtração para alcançarem o valor correspondente ao item “b” da subtração

em questão, na qual se desenvolveria junto ao Tabuleiro de Decimais.

Dando continuidade à atividade em questão, após o uso do software, a dupla

demonstrou no Tabuleiro de Decimais na parte superior esquerda o valor correspondente ao

produto (“c”) e na parte inferior esquerda apresentou o valor correspondente à parte “a”, com

o posicionamento correspondente dos valores em posição de vírgula sob vírgula no referido

instrumento e no canto superior direito seria colocado o produto da subtração. Deste modo,

ficou representado na parte superior 13,60 e na parte inferior 1,80. Fato que deveria ser

correspondente à operação de subtração que indicasse o produto de 11,80 (“BIFE”), que

representaria o correspondente a “b” na sentença: c – a = b.

Efetuando os cálculos no Tabuleiro de Decimais, percebi que as duas duplas foram

muito atentas na execução de tal subtração e levaram em consideração as ponderações dos

problemas nas atividades anteriores e chegaram a efetuarem a subtração com sucesso pleno,

apontando o valor de 11,80 para o item “b”, o qual se encontrava oculto até então. No entanto,

a dupla com os participantes 03 e 04 já haviam descoberto tal valor da etapa inicial com o

apoio do cálculo no software, já que deviam efetuar a operação de subtração e posteriormente

a operação inversa como uma espécie de “dica” para as duplas começassem a pensar em tal

produto ou até mesmo no valor correspondente a Carta de B, que representava o desconto, que

dava nome ao tal jogo em questão.

Penso que o mais relevante nesta atividade foi constatar que a dupla com os

Participantes 05 e 06 souberam usar as dificuldades demonstradas na realização dos cálculos

anteriores como fomento de aprendizagem, pois passaram a estarem mais atentos aos desvios

antes cometidos. Fato que foi muito relevante ter observado, pois penso que quando

propomos aos sujeitos a refletirem sobre as suas hipóteses há a possibilidade de os mesmos as

superarem ou ficarem até mais atentos no sentido de pensarem mais no processo de

construção e aos passos, os quais devem realizar na simples realização de uma determinada

operação matemática.

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Outro aspecto chamou atenção dos participantes que foi o valor representado pelo item

“b”, que se encontrava oculto, pois eles questionaram: “O que custa tudo isso?” (Participante

05); “Nossa! ... bem caro esse né pessoal...”(Participante 03). No entanto, quando a dupla

revelou do que se tratava “BIFE”, os participantes ponderaram: “Ata! É caro mesmo né...por

isso comemos pouco em casa...”(Participante 06). Penso que a atividade foi relevante por

propor o sistema monetário, no qual os itens e os preços foram designados pelos próprios

discentes, serviu para que eles pudessem perceber que o conhecimento matemático e até sua

representação como categoria ligada aos números decimais está muito mais próxima e

refletida na realidade mais iminente dos mesmos do que eles antes percebiam. Por isso que

D’Ambrósio (1998) nos faz pensar que a matemática está em todo lugar e contextos, e se não

conseguimos enxergar, temos que criar novas formas de perceber e entender tal matemática

em nosso contexto social e cultural.

Na outra operação de subtração do valor total do produto “c” sem o desconto (14,00)

com o valor do produto com o desconto (13,60), todas as duplas foram adequadas a

representarem que o desconto era de apenas R$ 0,20, já que o produto da subtração

representava o total de R$ 0,40. O tal “desconto” foi até comentado pelos participantes: “Só

vinte centavos! Melhor não ter dado desconto...” (Participante 06); “Tudo isso de desconto !

(risos)” (Participante 05).

Deste modo, a última dupla com os Participantes 05 e 06 deu continuidade à última

sessão em questão e executaram os dois últimos cálculos. Logo, a dupla realizou a subtração

no software e sua operação inversa dos dois pares de Cartas A, aqui representados pelos itens

“AÇAÍ” e “BISCOITO”, referentes ao primeiro cálculo realizado pelos dois primeiros itens

sorteados. Neste momento, constatei mais uma vez que a dupla com os Participantes 03 e 04

identificaram os valores correspondentes através da representação sonora do uso do software

do valor dos dois itens. Já a outra dupla (Participantes 05 e 06) representou um dos itens

através da representação das cores correspondente a um único item (BISCOITO). No entanto,

não dei a confirmação que estavam corretos e pedi que aguardassem o desenvolvimento da

atividade até o final para perceberem se estavam corretos ou não tal relação obtida através da

representação da calculadora MusiCALcolorida.

Desta forma, após o uso do software, a dupla demonstrou no Tabuleiro de Decimais na

parte superior esquerda o valor correspondente ao produto (“c”) e na parte inferior esquerda

apresentou o valor correspondente à parte “a”, com o posicionamento correspondente dos

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320

valores em posição de vírgula sob vírgula no referido instrumento e no canto superior direito

seria colocado o produto da subtração. Deste modo, ficou representado na parte superior

12,40 e na parte inferior 9,70. Fato que deveria ser correspondente à operação de subtração

que indicasse o produto de 2,70, que representaria o correspondente a “b” na sentença: c – a =

b.

Acredito por já estarem na última etapa da atividade e bem treinados no uso da

metodologia, ambas duplas conseguiram desenvolver sem problemas o processo de subtração

e representaram de forma adequada o item “b”, que se encontrava oculto, no valor

correspondente a R$ 2,70. Este momento foi marcado por um sorriso esboçado pelas duplas

em questão. Fato que constatei particularmente pela dupla com os Participantes 05 e 06 que

relataram que desta vez tinha somados os dois itens para verificar se o total estava certo, ou

seja, eles tinham realizado a operação inversa, a fim de atestar que tal execução da subtração

estava plenamente adequada.

As duplas desenvolveram a subtração referente ao valor total, representado pelo

produto sem o desconto (13,00) e com o valor correspondente ao valor do desconto (12,40), a

fim de identificarem o valor representativo da Carta B, que remeteria ao valor do desconto

atribuído aos itens das duas Cartas A, o qual foi plenamente indicado pelas duplas com o

valor de R$ 0,30, já que o produto da referida operação indicava o total de R$ 0,60.

O mesmo ocorreu com o último cálculo realizado pelas duas duplas. Elas conseguiram

operar a subtração junto ao Tabuleiro de Decimais e corresponder com sucesso o valor

correspondente ao item “a”, o qual estava oculto, representado pelo valor de R$7,50 (AÇAÍ) e

efetuar a ultima subtração referente aos dois produtos, sem desconto e com desconto,

representados respectivamente aos valores 12,00 e 11,00, chegando ao valor correspondente a

Carta B com o valor de R$ 0,50.

Nesse sentido, pude observar que cada vez mais que os discentes usavam tal recurso

metodológico, com as devidas ponderações dos ocasionais desvios cometidos nas operações

anteriores, mas eles obtiveram sucesso na realização dos referidos cálculos. No entanto, os

cálculos realizados tinham um propósito e intenção, amparados por uma dimensão lúdica,

possibilitaram aos discentes pensarem e refletirem acerca de suas hipóteses e compreenderem

a diversidade de forma de conceber e usar a matemática de modo mais prazeroso e

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321

significativo. Além de se perceberem como proponentes ativos deste processo e condutores de

suas aprendizagens e veículos de propagação de aprendizagens entre seus pares.

Concebo que as atividades usadas representam um passo inicial, uma provocação, de

certo modo, para a possibilidade de novas abordagens e significados atrelados ao aprender

matemática e qualquer conteúdo associado à mesma de modo mais representativo e ao mesmo

tempo propulsor de novas reflexões e novas aprendizagens que possam esboçar certo

significado do aprender matemática atrelada ao contexto posto de inserção social da mesma,

percebido pelos discentes e por eles propostos e representativos de suas realidades e usos,

como assinalam Coelho, Cosme e Marcarini (2013).

Como houve a ausência de duas discentes nesta etapa de atividades junto ao Tabuleiro

de Decimais, foi realizado um contato com as duas participantes para que pudesse realizar as

atividades com as mesmas visando entender como o referido instrumento poderia operar junto

à aprendizagem das mesmas nos cálculos envolvendo procedimento de adição e subtração

com decimais. No entanto, a participante 01 não atendeu e nem retornou as ligações, ficando

assim impossibilitada sua participação em um novo agendamento para fazer experimentos

com o Tabuleiro de Decimais. Já a participante 07 aceitou realizar o procedimento em sua

residência, já que a mesma não voltaria mais para a escola no referido ano letivo, fato que foi

acolhido o pedido da referida discente.

Desta forma, foi acionada a docente 02, que atua junto à sala de recursos para me

acompanhar em três visitas junto à residência da participante 07, já que a docente na sala de

recursos com a referida aluna e tem um convívio com os pais da referida participante 07.

Assim, foi realizado o agendamento com o responsável pela aluna e devidamente

acompanhado pela referida docente 02, realizamos as três visitas com o experimento.

Constatou-se que a referida participante 07 havia desistido de voltar ao ano letivo, pois

ela havia me relatado, em cunho informal, o fato de ter conhecimento pela escola que ficaria

retida mais um ano junto à instituição e isso a desanimou a continuar frequentando o referido

ano letivo e por ter sofrido também alguns de comentários desestimulantes por parte de

terceiros junto ao seu desempenho escolar. Pela forma que a discente era segregada na sala de

aula não me foi uma surpresa ela optar por abandonar o ano letivo corrente, mas fiquei

visivelmente inconformado e até entristecido por entender que determinadas condutas

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excludentes ainda são presentes no ambiente educacional, fato que motivou o abandono do

ano corrente pela aluna devido a presença de mais uma retenção escolar.

Este assunto é muito emblemático para a clientela de educação especial, pois como

não há uma preocupação e ações que visem seu aprendizado de forma significativa e de

qualidade, eles acabam internalizando que o problema está contido neles e não pelo processo

de escolarização. O que Beyer (2005) remete ao “discurso do fracasso”, o qual representa o

entendimento pelo próprio sujeito que a limitação se encontra nele e não no ambiente escolar.

O sujeito pensa que como os outros conseguem ter sucesso e aprender e ele não, então a

dificuldade deve estar contida nele próprio e em sua limitação presente na sua deficiência.

Esse discurso perverso ainda marca muito o imaginário coletivo de grande parte dos discentes

incluídos no ensino regular diante da ausência de aprendizagem e sucesso escolar.

A participante 07 disse que como iria ficar retida, ela acabou decidindo marcar um

procedimento cirúrgico, o qual tinha que realizar e tentaria voltar no ano de 2016 para a

escola para tentar obter sucesso com outra turma de seu processo de escolarização. Neste

sentido, o agendamento ocorreu com o responsável da discente só após o período que a

mesma estava recuperada do procedimento cirúrgico realizado, o que ocorreu depois de 15

dias do término do referido procedimento realizado pela participante.

No primeiro dia de experimento prático junto a participante 07 com o Tabuleiro de

Decimais, devidamente acompanhado pela docente 02 na residência da referida aluna.

Constatou-se que fomos bem acolhidos e recebidos e acompanhados pelos responsáveis da

discente, os quais até admiraram termos nos deslocado em sua residência para desenvolver

uma atividade de cunho pedagógico, fato que não havia acontecido antes junto a discente.

Esclareço que mesmo a participante 07 já houvesse participado de um momento prévio

de contato com o instrumento na etapa inicial, em dois momentos na sala de recursos, foi

decidido iniciar com uma recapitulação de como se opera no referido instrumento para deixar

a participante devidamente esclarecida devido algum problema de incompreensão e ausência

de memória de seu uso, conforme se observa na figura 24. Como as três sessões em grupo

foram pensadas para ocorrerem em 60 minutos, achamos prudente realizarmos as três sessões

dentro deste tempo para não criar uma desigualdade em comparação aos demais participantes

de desempenho junto ao experimento com o referido instrumento, por isso esse período de

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recapitulação não foi computado dentro do tempo de três intervenções de 60 minutos cada

com a referida discente em seu domicílio.

Figura 23:

Ilustração de um momento inicial com a participante 07 para recapitular o manuseio da

metodologia Tabuleiro de Decimais

Após então a realização de um período de recapitulação no uso e manuseio do referido

instrumento, iniciamos a primeira sessão dentro do tempo estabelecido anteriormente, de 60

minutos. Propusemos a participante 07 que ela realizasse o mesmo exercício desenvolvido

com os outros participantes. O procedimento consistia em efetuar subtrações entre dois itens,

os mesmos usados pelos demais participantes na referida etapa com o instrumento, ou seja, o

uso da atividade que denominei de “jogo do desconto”.

A participante 07 tirou duas Cartas A (BIFE = 12,00 e BATATA FRITA = R$3,00), as

quais se referiam a dois itens que indicavam dois alimentos que os participantes haviam

apontado como de maior preferencia de consumo, conforme solicita a questão 02 do teste de

diagnóstico aplicado, e informei os valores a mesma e solicitei que a mesma fizesse o registro

no Tabuleiro de Decimais e após este procedimento, solicitei que realizasse a retirada da Carta

B (R$ 0,40), o qual indicava o valor de desconto nos referidos itens das Cartas A (em cada),

demonstrado na Tabela 4 abaixo da primeira sessão.

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Tabela 4: Itens que a participante 07 desenvolveu operações na primeira sessão com o Tabuleiro de

Decimais

Composição

dos Integrantes

Carta A

(alimento e valor

correspondente)

Carta A

(alimento e valor

correspondente)

Carta B

(Valor que deveria ser

subtraído nos itens da

carta A = Desconto)

Produto

da Adição

Participante 07 BIFE = 12,00

BIFE = 11,60

(Valor com

desconto)

BATATA FRITA =

R$3,00

BATATA FRITA =

R$2,60 (Valor com

desconto)

R$ 0,40 (valor que deveria

ser subtraído em cada item

de cada carta A)

R$ 14,20

A discente desenvolveu várias incompreensões no uso do Tabuleiro de Decimais, ela

não conseguia operar a subtração nem no uso do equipamento e nem de outra forma. Neste

momento, constatei que a discente apresentava problemas na efetivação da subtração de forma

mais específica. Ela dizia: “nunca aprendi direito isso de tirar (subtração)”. Fato que durante o

processo de alfabetização matemática e escolarização da discente não foi enfocado,

formalizando assim uma das lacunas em seu processo de aprendizagem.

Figura 24: O uso do Tabuleiro de Decimais na primeira sessão com a participante 07

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Dentro desta perspectiva, tentei partir então do uso direto do conhecimento monetário.

Peguei moedas que representavam 1 real e moedas que representavam 10 centavos para

ilustrar tal procedimento. Primeiro questionei se ela sabia identificar as moedas de 1 real, ela

afirmou que sim: “É a moeda maior e redonda né!”. Neste ponto, pedi que ela sentisse as

moedas postas na mesa e me indicasse qual moeda representava 1 real. A participante não

teve problemas em indicar a moeda correspondente é dizer: “Essa aqui!”. Então solicitei que

contasse doze moedas de 1 real. Ela contou e separou doze moedas de 1 real. Neste momento

relatei que estas doze moedas representavam o valor do item BIFE, o qual custava doze reais.

Neste instante, houve uma pausa e ela ponderou: “Então estas eu compraria o bife?”. Afirmei

positivamente. Neste momento representei doze reais no tabuleiro com o uso da vírgula e

solicitei que a mesma sentisse pelo toque a representação.

Posteriormente, questionei a discente que depois da vírgula quais dois números

estavam representados. Ela sentiu (através do Tabuleiro de Decimais) e respondeu dois zeros.

Neste momento, voltei a questionar se ela sabia o que marcavam aqueles dois zeros. Ela disse

que não sabia. Expliquei então que dentro do aspecto do dinheiro (conhecimento monetário),

aqueles dois zeros representavam a parte decimal do inteiro (doze). Assim, pedi que ela

pegasse uma moeda de 10 centavos e somasse com as doze moedas anteriores de 1 real. Ela o

fez e questionei como você representaria então estes 10 centavos aqui no Tabuleiro de

Decimais? Eles estariam em qual lugar? Neste momento, ela somou no Tabuleiro junto com

as 12 moedas de 1 real, ou seja, na posição antes da vírgula. Foi neste momento que a

interroguei 10 centavos é igual a 1 real? Quem é maior: 10 centavos ou 1 real? Qual vale

mais? Por quê?

Após um momento de silêncio e pausa, ela respondeu que 1 real valia mais. Assim, a

questionei porque 1 real valia mais. Ela falou porque com 1 real ela comprava mais coisas que

com 10 centavos. Neste momento, foi constatado que ela tinha noção do valor da

representação do conhecimento monetário através da prática, ou seja, de seu uso social em

atividade ligada a atividades de uso do dinheiro em situação de compra provinda de seu

cotidiano.

Assim, separei dez moedas de 10 centavos e coloquei de um lado na mesa uma moeda

de 1 real do outro e pedi para ela comparar e dizer onde tinha mais dinheiro. Ela contou as dez

moedas de 10 centavos e sentiu a moeda de 1 real. Ela disse: “Não tem maior, é tudo 1 real

professor!”. Neste momento, percebi que ela compreendia que 10 centavos era uma parte do 1

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real, pois se eu juntasse dez moedas de 10 centavos, eu teria a mesma representação de uma

moeda de 1 real. Desta forma, esclareci que havia então duas formas de representar o mesmo

valor, ou seja, o valor de 1 real. Logo, 10 centavos era uma parte de 1 real. Esta parte no

dinheiro se chama centavos e por ser uma parte de 1 real não podia ser representada junto do

que representava o lugar do real. E disse que deveria estar no lugar que marca essa parte do

real que está colocado na posição após a vírgula.

Então reiterei a participante 07 que os 12 reais representavam a parte inteira da

representação numérica, por isso a terminologia “inteiro” e os 10 centavos representava uma

parte constituinte do inteiro, por isso era denominado e entendido como “decimal”, o qual fica

posicionado depois da vírgula. Já que 10 centavos é uma parte de 1 real. Neste momento,

representei a forma correta no Tabuleiro de Decimais o valor correspondente a R$12,10.

Percebi que aquela abordagem e assunto era uma novidade para a discente. Ela chegou a

ponderar: “Ata... nunca pensei assim e olha que eu usava moeda no tio São João (um

mercadinho)”.

De acordo com Piaget (1975), as situações que simbolizam os jogos simbólicos pelas

educandos em atividades de vivência de pagamentos, compras, dívidas e seus respectivos

registros constituem situações de seu cotidiano (a-didáticas) que podem como sinaliza Freitas

(1999), pode ser usadas como situações didáticas pela matemática no contexto escolar. Neste

sentido, é relevante saber qual noção de valor os educandos possuem. O que representa algo

caro ou barato? Qual a noção do conhecimento monetário que os discentes apresentam e usam

em seu dia a dia.

De acordo com Freitas (1999), os educandos precisam entender que uma relação de

uso do conhecimento monetário resulta em uma operação matemática. O uso do

conhecimento monetário constitui um elemento relevante não só para aprender matemática e

números decimais, mas para fazer uso social e cultural do dinheiro de modo responsável e do

pleno exercício de cidadania e entendimento do conceito de valor atribuído ao dinheiro em

nosso contexto sociocultural.

Para Freitas (1999), estas experiências decorrentes do cotidiano do discente favorecem

ao discente pensar matematicamente os conteúdos aprendidos em sua prática do dia a dia, por

isso a escola deve saber usar este contexto monetário para o contexto curricular matemático,

visando favorecer ao discente um aprendizado atrelado ao uso social do conhecimento e dos

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conteúdos matemáticos de modo mais interligado de modo a fazê-lo entender, refletir e usar

tais situações a-didáticas em situações didáticas na construção deste entendimento e uso.

A partir desta explicação e demonstração, foi constatado que começava a entender e

refletir melhor sobre a questão da representação do inteiro e do decimal e o uso da vírgula. No

entanto, tenho consciência que isso de dá em um processo contínuo e dinâmico por um

período de tempo maior, pois foram anos de lacunas acerca de alguns entendimentos

equivocados e hipóteses que foram internalizadas de modo inconsistente.

Nesse sentido, Cury (2007) reflete que os eventuais “erros” ou incompreensões dos

alunos precisam ser interpretados como hipóteses que os mesmos possuem acerca de uma

determinada temática ou assunto. Assim, a conduta do docente deve ser de entender e

resignificar estas eventuais hipóteses e fazer o aluno refletir e ampliar sua análise favorecendo

há um processo de entendimento e explicação que leve o discente na superação de tais

eventuais dificuldades.

Após está constatação do entendimento da escrita decimal pela participante 07,

continuamos a sessão fazendo com que a mesma procedesse ao entendimento da operação de

subtração do valor correspondente da Carta B (R$ 0,40) em relação ao item da Carta A (BIFE

= R$ 12,00). Este momento foi outro muito complexo e provocativo também para a

participante, pois ela apresentava muitas dificuldades em relação ao procedimento de

subtração com os números naturais e isso operava uma barreira adicional no que se refere aos

números decimais.

Devido a esta dificuldade de operar apenas no aspecto numérico, tive que mais uma

vez recorrer à dimensão do conhecimento do sistema monetário visando ser uma ponte para o

entendimento da compreensão dos decimais. Por isso, partir para mais uma vez no uso das

moedas. Coloquei as doze moedas na mesa e questionei a discente que dentre aquelas moedas,

que somadas equivaleriam a 12 reais, teria que subtrair o valor de 40 centavos, Carta B. Para

facilitar tal reflexão disse para ela substituir uma moeda de 1 real por o correspondente com

moedas de 10 centavos.

Desta forma, ela procedeu contando dez moedas de 10 centavos e pedi que dentre

estas moedas ela retirasse o equivalente a 40 centavos. Ela retirou quatro moedas de 10

centavos. Foi questionado em seguida quanto sobrava? Ela hesitou e voltou a conferir e

chegou ao valor de 11 reais e 60 centavos. Neste instante, questionei a mesma: Então 12 reais

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menos 40 centavos é quanto? Ela então prontamente respondeu: “seria 11 e 60...professor!”.

Isto evidencia que ela começava a pensar a subtração partindo de algo mais real e concreto,

algo mais representativo de significado para ela no seu uso social.

Foi pedido a participante que registrasse esse valor de R$ 11,60 no Tabuleiro de

Decimais e partíssemos para a subtração do outro valor proveniente da outra Carta A, o qual

se refere ao item BATATA FRITA no valor correspondente de R$ 3,00. Foi solicitado que ela

então representasse nas moedas o valor e no tabuleiro. Neste instante, ela separou três moedas

de 1 real, mas representou apenas o número 3 no Tabuleiro de Decimais. Assim, foi

questionado o que estava faltando na representação do Tabuleiro de Decimais? Ela ponderou

e respondeu: “a vírgula...professor!”. Partindo deste ponto, foi questionado: “E depois da

vírgula? Qual a representação de quais números para representar os decimais do valor de 3

reais?” Ela pensou e respondeu: “ata...os zeros né!”.

Assim, foi observado que, para ela, começava a fazer sentido a representação e leitura

do decimal, na qual ela mesma começava a prestar mais atenção nos elementos que eram

constituintes dos mesmos. Como afirma Dalcin (2002), os conhecimentos considerados

paradidáticos estavam operando no entendimento didático do conteúdo matemático. Este fato

ilustra uma gama de possibilidades que estão presentes nos conhecimentos prévios dos

discentes, os quais precisam urgentemente ser mais bem traduzidos e operados para o

contexto matemático visando favorecer o uso e entendimento pelo discente no contexto

escolar.

Após o momento de reflexão sobre o registro do valor correspondente aos 3 reais,

solicitei que a mesma substituísse uma moeda de 1 real pelo equivalente em moedas de 10

centavos fazer mais uma vez fazê-la pensar e refletir na atividade de subtração do valor

correspondente a Carta B, R$0,40, sob o valor de 3 reais. Ela separou dez moedas de 10

centavos e retirou quatro moedas equivalentes a atividade de desconto (Carta B) e solicitei

que a mesma me dissesse quanto tinha restado. Neste momento, percebi que ela voltou a

contar todas as moedas mais uma vez que restavam, ou seja, ela não apresenta ainda o cálculo

realizado de forma mental e abstrata. Ela está presa na questão da dimensão concreta no

entendimento das operações matemáticas.

Após a contagem, ela revelou que “sobrou o valor de 2 reais e 60”. Então foi solicitado

que a mesma representasse usando a vírgula no tabuleiro tal valor. Neste momento, ela

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ponderou, pensou, refletiu um pouco e disse “dois vírgula sessenta né professor! É assim né?”

Aquele questionamento ainda conotava que a mesma não estava totalmente segura do registro

efetuado então explique o porquê os dois reais representavam o inteiro e por isso ficava antes

da vírgula e os sessenta centavos era uma parte dos dois reais, por isso representavam os

decimais e ficavam após a vírgula. Esta linguagem e explicação foram usadas numa

linguagem que ela pudesse entender tal registro e o porquê de sua realização.

Após estes dois registros, foi requerido que a mesma fizesse o processo de adição dos

dois produtos decorrentes das subtrações realizadas e percebi que a mesma não entendeu essa

linguagem matemática e ficou estática sem saber o que fazer. Neste aspecto, pondero que tive

que voltar a usar uma linguagem que fosse acessível para o entendimento da aluna para ela

entender o desenvolvimento de tal atividade. Por isso, falei sabe as duas continhas de menos

que você realizou! Deram um valor e esse dois valores nós vamos somar agora para ver qual

valor chega ao total os dois produtos. Ela ponderou: “Ata...entendi agora professor!”.

Assim, ela colocou os dois itens no Tabuleiro de Decimais com um valor na parte

superior e o outro na parte inferior e vírgula em baixo de vírgula e indicou a operação de

adição no tabuleiro e realizou o referido procedimento. No entanto, o produto que ela chegou

foi o valor de 13,20, pois ela se esqueceu de somar o número 1 proveniente da soma de

R$0,60 com o respectivo valor na representação das dezenas (representados pelo decimal

fazendo alusão a representação dos “décimos”) na referida operação. Assim, disse que tinha

algo não adequado na soma e pedi para ela refazer e mais uma vez ela não efetuou a soma do

1 para ser somado no valor do inteiro.

Devido a este fato, tive que fazer a referida adição e sinalizar para a mesma onde havia

se equivocado, fazendo com que a mesma estivesse mais atenta no referido processo. Então

chegamos ao valor de no total de R$ 14,20. Então diante deste produto, voltei a questionar a

discente sobre qual seria o valor total dos dois itens sem o desconto, já que havíamos dado um

desconto de 40 centavos em cada item. Após um tempo de silêncio a mesma respondeu que

não sabia. Fato que matematicamente seria plenamente acessível de se realizar, bastando

somar o valor do produto com os 80 centavos provenientes do valor total do desconto nos

itens relacionados.

Essa dificuldade da discente me fez constatar o seu nível de entendimento em operar o

pensamento matemático de forma mais abstrata aliada à dificuldade de pensar a operação

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inversa, já que se havíamos subtraído R$ 8,00, no total, os mesmos deveriam ser somados

para se alcançar o valor total correspondente sem o tal desconto. Fato que eu assim expliquei

a discente. Se o desconto era de R$0,40 em cada item, logo o desconto oferecido era

equivalente há R$0,40, já que R$ 0,40 somado com mais R$0,40 daria R$0,80. Logo, esse

valor devia ser somado com o total obtido com o desconto para se saber o valor total sem o

mesmo, o que equivaleria ao total de R$ 15,00.

Assim, como já havia passado 10 minutos dos 60 minutos atribuídos a referida sessão,

optei por encerrar tal sessão e continuar as demais atividades nas duas outras próximas

sessões que iriam acontecer nos próximos dias agendados com o responsável pela discente, já

que seria mais uma vez em sua residência.

A segunda sessão com o Tabuleiro de Decimais se realizou dois dias depois da

realização da primeira sessão e envolveu o processo de operações de adição e subtração de

três operações junto a discente, conforme demonstrado na Tabela 5. Resolvi continuar com o

uso da representação do conhecimento monetário (uso das moedas) associado ao uso do

referido instrumento, visando um melhor entendimento da representação e das operações

junto a discente.

Tabela 5: Itens que a participante 07 desenvolveu operações na segunda sessão com o Tabuleiro de

Decimais

Composição

dos Integrantes

Carta A

(alimento e valor

correspondente)

Carta A

(alimento e valor

correspondente)

Carta B

(Valor que deveria ser

subtraído nos itens da

carta A = Desconto)

Produto

da Adição

Participante 07 BISCOITO = R$

2,00

BISCOITO = R$

1,45 (Valor com

desconto)

AÇAÍ = R$ 10,00

AÇAÍ = R$ 9,45

(Valor com

desconto)

R$ 0,55 (valor que deveria

ser subtraído em cada item

de cada carta A)

R$ 10,90

Participante 07 REFRIGERANTE

= R$ 4,00

REFRIGERANTE

= R$ 3,80 (Valor

AÇAÍ = 8,00

AÇAÍ = 7,80 (Valor

com desconto)

R$ 0, 20 (valor que deveria

ser subtraído em cada item

de cada carta A)

R$ 11,60

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com desconto)

Participante 07 COXINHA = 2,00

COXINHA = 1,75

(Valor com

desconto)

BATATA FRITA =

R$3,00

BATATA FRITA =

R$2,75(Valor com

desconto)

R$ 0,25 (valor que deveria

ser subtraído em cada item

de cada carta A)

R$ 4,50

Na execução destes três problemas matemáticos, destaco dois que mais obtiveram

dificuldades pela discente na execução, o primeiro da segunda sessão e o último da referida

sessão, conforme figura 26. As duas dificuldades foram ocasionadas devido a Carta B ter

números em duas casas representadas em sua posição de centavos, respectivamente R$ 0,55 e

R$ 0,25, o que ocasionava na subtração do valor um produto que representava a presença das

duas casas dos centavos no mesmo, fato que associávamos ao entendimento e representação

dos decimais. Efetuar somar parcelas que eram componentes por três números e ter que

contabilizar números que deviam ser somados nos números posteriores junto com a operação

da adição do referido número associado.

Figura 25: Desenvolvimento da segunda sessão com a participante 07

Decorrente do uso da representação das duas Cartas B tiradas pela Participante 07 e

sua representação de respectivamente R$ 0,55 (primeira atividade da sessão) e R$ 0,25

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(última atividade da sessão), adicionei nas moedas usadas moedas que representavam R$ 0,05

(cinco centavos) junto às demais moedas de R$ 1,00 (um real) e R$ 0,10 (dez centavos), no

intuito de a participante 07 perceber a representação do conhecimento monetário e associá-lo

junto à representação e alusão aos decimais.

Desta forma, foi questionado se tínhamos moedas que poderiam representavam o valor

correspondente disposto na mesa. A discente identificou a representação de dez moedas de 10

centavos e de 1 real e associou a correspondente de cinco centavos a correspondente de um

centavo. Por isso, tive que ir buscar uma moeda de R$ 0,01(um centavo) em meu automóvel

para ela perceber a diferença no toque pelo tamanho e dimensão. Após esta eventual confusão

de representação de um centavo por cinco centavos, a discente foi informada do valor

correspondente da Carta B, R$ 0,55 (cinquenta e cinco centavos), a qual deveria ser subtraído

do valor correspondente ao primeiro item da Carta A (BISCOITO = R$ 2,00). A participante

só conseguiu realizar o referido cálculo usando a representação do sistema monetário através

do manuseio das moedas, ou seja, a representação social de significado ao correspondente

matemático na linguagem abstrata dos números apenas não foi suficiente, tendo em vista que

a mesma apresenta grandes dificuldades na realização de cálculos matemáticos ligados apenas

a questão das quatro operações com os números naturais.

O Tabuleiro de Decimais acabou sendo usado para demonstrar o referido produto de

cada item de cada item e para a mesma perceber sua representação com o advento da inclusão

da vírgula e posteriormente efetuar a realização do processo de adição dos dois itens da

respectiva sentença, após a operação de subtração realizada pela inserção do valor

correspondente ao referido desconto contido na Carta B.

Após a subtração do outro item da Carta A da respectiva sentença (AÇAÍ = R$ 10,00)

pela Carta B representada por R$0,55. Fato que só foi possível através também do uso do

sistema monetário, através do uso das moedas. Ela deveria efetuar a adição dos dois produtos

obtidos pela subtração da respectiva Carta B. Neste momento houve outra dificuldade, pois a

participante 07 relatou nunca ter realizado uma operação de adição envolvendo duas parcelas

que fossem compostas por três números antes (em cada parcela), mesmo o Tabuleiro de

Decimais ter auxiliado com a questão do entendimento da vírgula neste processo, sinalizando

alusão à questão do entendimento do uso e representação da vírgula nos números decimais.

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333

Assim, ela mais uma vez se equivocou na representação dos números com o advento

de adição flutuante de um dois números que estavam associados à transferência de numero

para ser adicionado na soma dos números seguintes. Por isso, ela cinco (5) centavos com

cinco (5) centavos, representou o zero (0), mas não adicionou o número 1 a adição dos

números 4 + 4, representados na posição de quarenta centavos, respectivamente. Diante disso,

o produto efetuado pela discente chegou ao valor de R$ 10,80 e não R$ 10,90 como era o

adequado na adição.

A mesma dificuldade foi percebida no último item da segunda sessão, representados

respectivamente pelos dois itens COXINHA = 1,75 e BATATA FRITA = R$2,75, os quais

deveriam ser somados para se saber do valor correspondente. Em virtude de a participante

mais uma vez ter registrado o zero fruto da adição de cinco centavos de cada item e ter

esquecido de adicionar o número um (1) na adição de 7+7, que representavam setenta

centavos. Assim como aconteceu também de a mesma não ter acrescido com um real

(R$1,00) ao correspondente da soma de setenta centavos mais o mesmo valor (R$ 0,70) na

execução da outra adição. Por isso, seu produto foi representado pelo valor de R$ 3,40 e não o

correspondente há R$ 4,50.

Esta dificuldade possivelmente é proveniente, de acordo com Cury (2007), de

hipóteses que a participante tenha aprendido na operação de parcelas e sua representação ao

longo de seu processo de escolarização, pois, embora, eu tenha pedido que a mesma refizesse

os referidos cálculos com atenção, pois havia o mesmo problema em ambos, ela sozinha não

conseguiu identificar tal dificuldade e tive que intervir e demonstrar onde estava ocorrendo a

eventual ou constante dificuldade demonstrada pela participante 07.

Penso que esta dificuldade não irá ser vencida em apenas uma breve reflexão no uso

de uma operação matemática. Deve haver outros momentos que possam ser redimensionados

no processo de execução de operações com a discente para que a mesma possa superar tal

hipótese. Pois, como infere Gwinner (1992), os eventuais “problemas” ou “dificuldades”

demonstradas pelos discentes em matemática devem ser objeto de investigação e intervenção

pelos docentes, favorecendo que o discente possa vencer tal entendimento e superar assim a

respectiva hipótese.

Já quanto a participante informar nos três produtos quanto representaria o produto se

não houvesse os respectivos descontos ofertados, a participante só conseguiu efetuar com

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sucesso o item b da segunda sessão, que sinalizava o desconto de R$0,20 (em cada item),

totalizando R$0,40 (o valor total do desconto), elemento que foi facilmente adicionado pela

mesma no produto representado de R$ 11,60, o que evidenciou o valor de R$ 12,00.

Já os demais produtos referentes ao produto sem o desconto do primeiro e ultimo itens

da segunda sessão não foi plenamente satisfatório em função da participante apresentar a

referida dificuldade de executar uma transferência em uma operação simples como a de

adição, por exemplo. Diante disso, o primeiro item que apresentou o produto com total de R$

10,90 deveria ser adicionado por R$ 1,10, pois o valor do desconto se referia em R$ 0,55 em

cada item e a participante após realizar a adição chegou ao valor de R$ 11,00 e não o

correspondente há R$ 12,00. A mesma dificuldade ocorreu na adição do produto representado

com o valor do desconto, o qual sinalizava o valor de R$ 4,50 que deveria ser adicionado com

o valor total de R$0,50, já que existia o desconto de R$0,25 em cada item, ocasionando ao

valor adequado de 5,00 e a Participante 07 apresentou apenas R$ 4,00, ou seja, ela nem

percebeu que o valor 4,50 somado com mais R$ 0,50 havia ficado inferior ao original, pois ela

mais uma vez não executou a transferência do número resultante da operação com os números

anteriores para a próxima adição.

Reitero que tais incompreensões e “dificuldades” manifestadas pela participante 07

foram mais uma vez esclarecidas pela minha intervenção, marcando assim o final da

penúltima sessão de intervenção usando o Tabuleiro de Decimais junto à referida participante

em questão.

A terceira e última sessão com o uso do Tabuleiro de Decimais foi realizada após

quatro (4) dias da realização da segunda sessão, pois os responsáveis pela participante 07 não

estariam disponíveis na residência para acompanharem a realização da intervenção.

Esta última sessão usando o Tabuleiro de Decimais constou com a mesma atividade

desenvolvida pelas duas outras sessões com a Participante 07. Sendo que a mesma poderia

continuar fazer uso do sistema monetário, representado por 20 moedas de um real (R$1,00),

vinte moedas de dez centavos (R$0,10) e vinte de cinco centavos (R$0,05), as mesmas usadas

nas outras sessões anteriores com a participante.

A terceira sessão representou uma continuação das atividades antes realizadas nas

duas sessões anteriores, visando perceber se a participante 07 conseguia superar as hipóteses

antes demonstradas quanto às operações de subtração e adição com o sistema monetário no

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335

intuito de fazê-la associar com a representação dos números decimais. No entanto, a grande

dificuldade foi perceber e constatar que a discente apresenta muitas hipóteses, as quais

precisam ser superadas e as mesmas são decorrentes do processo de ausência de um trabalho

mais sistematizado nesta questão com a discente, conforme figura 26.

Figura 26:

Participante 07 no desenvolvimento da terceira sessão com o Tabuleiro de Decimais

No entanto, constatei as mesmas dificuldades apresentadas nas duas sessões anteriores

ainda persistiam. Fato que me faz lembrar o que Parra (1996) relata que as práticas

vivenciadas na escola não auxiliam os discentes a pensarem e refletirem acerca do uso da

matemática. Fica algo abstrato e cheio de regras e aplicações que não possibilitam ao

estudante pensar sobre o processo e evidenciar um entendimento mais crítico e amplo dos

conteúdos matemáticos. O ensino passa a ser algo apenas mecânico e sem propósito de

entender a realidade que o aluno se encontra e operar na resolução de problemas decorrentes

dele.

A Participante 07 ainda apresentou nesta sessão as mesmas dificuldades demonstradas

anteriormente, tais quando foi efetuar a adição dos itens da terceira sessão, ver Tabela 6 dos

itens usados na terceira sessão realizados pela discente, representados pelos itens provenientes

dos produtos após a realização da subtração pelo valor correspondente da Carta B (R$ 0,50), a

qual indica o desconto, aos valores iniciais dos itens. Ela demonstrou a mesma dificuldade no

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transporte de unidades para serem somadas na próxima adição subsequente, tais como em

R$5,50 (SANDUICHE) + R$ 2,50 (BISCOITO), ela representou o produto como no valor de

R$ 7,00 e não R$ 8,00, que seria o adequado decorrente do não transporte da unidade da

operação que envolvia o número anterior.

Tabela 6: Itens que a participante 07 desenvolveu operações na terceira sessão com o Tabuleiro de

Decimais

Composição

dos Integrantes

Carta A

(alimento e valor

correspondente)

Carta A

(alimento e valor

correspondente)

Carta B

(Valor que deveria ser

subtraído nos itens da

carta A = Desconto)

Produto

Participante 07 SANDUICHE =

R$ 6,00

SANDUICHE =

R$ 5,50 (Valor

com desconto)

BISCOITO = R$

3,00

BISCOITO = R$

2,50 (Valor com

desconto)

R$ 0,50 (valor que deveria

ser subtraído em cada item

de cada carta A)

R$ 8,00

Participante 07 DANONE = 4,00

DANONE = 3,70

(Valor com

desconto)

BATATA FRITA =

R$3,00

BATATA FRITA =

R$2,70 (Valor com

desconto)

R$ 0,30 (valor que deveria

ser subtraído em cada item

de cada carta A)

R$ 6,40

O mesmo problema foi evidenciado também na adição dos dois itens componentes da

segunda atividade que compunham a terceira sessão com a discente, ver quadro XX. Ela

somou o item DANONE com o valor de R$ 3,70 e mais o item BATATA FRITA com o valor

correspondente de R$ 2,70 e ao fazer a adição referente a dezena 7, que indicava 70 centavos,

ela somou catorze e indicou o quatro (4) , mas não somou o número transferido junto a adição

do número inteiro subsequente junto com a soma dos inteiros três (3) e dois (2). Devido a

isso, ela representou como o produto da referida soma o valor R$ 5,40.

No entanto, relato que mais uma vez fiz uma intervenção após estes dois episódios

junto à aluna para ela tentar observar tal registro. Minha hipótese é que ela teria que marcar o

número no Tabuleiro de Decimais para ser adicionado em seguida na efetivação da adição dos

números subsequentes. Assim, ela não esqueceria ou deixaria de efetivar a adição dos

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337

mesmos. Pois, se prestarmos atenção neste item, os alunos videntes, geralmente registram

acima do numero subsequente que eles irão realizar a operação o numero representativo que

deverá integrar tal processo e no caso da discente não vidente, penso que ela tivesse em

cuidado no registro usando o Tabuleiro de Decimais, este equívoco não voltaria a acontecer.

Onuchic e Allevato (2004) refletem que o processo de formação dos docentes que

atuaram na área do ensino da matemática deve operar em reflexões e entendimentos além de

execução de exercícios de conteúdos curriculares matemáticos. O docente deve dialogar com

a matemática para que a mesma seja um instrumento de resolução de problemas concretos e

presentes em nosso universo do cotidiano e não apenas no universo abstrato da representação

da matemática dita “pura”.

Durante a experiência com a participante 07, compreendi ser necessário e urgente

também se fazer um trabalho mais sistemático não apenas em relação à matemática, mas em

muitas outras áreas de conhecimento, que devem ter sido pouco trabalhadas não por culpa da

discente, mas pelo sistema de ensino segregador, perverso e excludente, o qual ainda é muito

evidente, infelizmente, em nosso contexto educacional e social. Paralelo a este trabalho, deve

haver ações relacionadas a favorecer sua autoimagem e autoestima, pois se ela mesma

acreditar que é possível vencer as possíveis e eventuais limitações, as quais podem surgir em

seu caminho escolar e social, ela será mais autoconfiante e motivada a ter uma compreensão e

ação sobre seu próprio processo de escolarização, não aceitará ser excluída dentro ou fora do

ambiente escolar.

Concebo que estas sessões representam apenas um trabalho inicial que pode ser

ampliado junto a participante e demais que participaram do experimento com o referido

instrumento didático e pedagógico Tabuleiro de Decimais. Considero que para as sessões

realizadas foram um passo na longa caminhada, a qual poderia ser adotada e experienciada no

sentido de oportunizar trocas mais colaborativas entre os educandos com ou sem deficiência

sensorial. Uma ferramenta pedagógica mais integradora, a qual todos juntos pudessem

representar seus interesses e motivações na construção de um entendimento, reflexão, usos e

ações mais conjuntas e interativas entre os mesmos, que oportunizassem aprender juntos e

com o mesmo recurso pedagógico, o qual pudesse acolher a todos e interagir de modo mais

dinâmico e inclusivo.

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338

De acordo com Smolka (2007), a matemática precisa ser um lócus de aprender,

conhecer, experenciar, compreender, raciocinar e propor aos alunos interagirem e trocarem

pontos de vista e experiências de modo integrado e em conjunto. Por isso, as relações de

ensino devem mover atividades e metodologias que isso seja possível e aconteça de modo

mais direto e sistemático. Assim, penso que as duas metodologias permitem que todos os

discentes trabalhem em conjunto e em parceria de um possibilitar aprender e trocar

experiências e aprendizados em conjunto e de forma mais integrada.

Penso que os instrumentos metodológicos em questão não têm intenção de serem

entendidos como elementos de salvação ou redenção de instrumentação de exímias

competências lógicas matemáticas por parte de seus alunos usuários, mas podem ser

entendidos como uma das possibilidades de perceber, entender, compreender e usar a

matemática de variadas formas e de modo compartilhado por todos os discentes,

independentemente de uma eventual dificuldade sensorial ou ao slogan iminente de fazer

parte de alguma categoria de deficiência. Estas duas metodologias podem inspirar novas

observações e reflexões, que há novas formas e maneiras de se representar e aprender

matemática com uma riqueza maior de possibilidades e uso de sentidos visando ela de fato

representar novas maneiras de sentir e aprender no exercício compartilhado dos aspectos

sinestésicos e cognitivos.

Neste sentido, a escolha metodológica pode representar uma possível reflexão de se

pensar numa inclusão, que não restrinja, mas que dinamize a ampliação de todos poderem

fazer uso e ao mesmo tempo aprenderem numa outra perspectiva e ótica, ampliar as sensações

e sentidos de perceber não só a matemática ou qualquer conteúdo dela provindo, mas de

aprender a aprender, aprender a pensar, aprender a ser, aprender a refletir na riqueza de

possibilidades de nossos infinitos sentidos por nós assimilados e acomodados presentes na

diversidade humana em seu convívio.

6.7. ANÁLISE DA APLICAÇÃO DAS QUESTÕES DE VERIFICAÇÃO DA

ACOMODAÇÃO DO CONTEÚDO JUNTO AOS PARTICIPANTES APÓS A ETAPA

DE INTERVENÇÃO

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339

Esta etapa da pesquisa teve por finalidade comparar os dados obtidos pelos

participantes depois do período de intervenção junto às duas ferramentas pedagógicas

abordadas visando identificar se as mesmas foram propositivas no processo de aprendizagem

do sistema decimal quanto aos termos aditivos dentro da perspectiva de trabalhar o

entendimento deste assunto usando a questão do entendimento do sistema monetário.

Assim, as questões de verificação da acomodação do conteúdo foram aplicadas

contendo 20 questões, o mesmo número de questões aplicadas nas questões de sondagem,

logo após o término em uma sessão subsequente a última intervenção com a metodologia

usada no período de coleta dos dados junto aos discentes, o Tabuleiro de Decimais.

Informamos que a constituição das questões de verificação da acomodação do

conteúdo, bem como as encontradas nas questões de sondagem, foram baseadas nos

conhecimentos apreciados pelos discentes relatados pelo docente de matemática da turma e

que alguns foram até acompanhados em nossa observação em campo, pois nossa intenção era

de perceber que habilidades e conhecimentos os mesmos haviam acomodado dentro do que

tinha sido abordado em sala de aula pelos referidos discentes. No entanto, enfatizamos

algumas questões em atividades que envolviam os conteúdos do sistema monetário, no intuito

de entendermos que seria mais representativo do universo cotidiano dos discentes em seu uso

no contexto social e cultural.

Havia também no teste questões que faziam os discentes pensassem acerca do conceito

de número decimal e suas formas de representação, além de questões em que eles pudessem

efetuar comparações entre os números decimais, a fim de verificarmos se eles saberiam inferir

como identificar o valor representativo do número decimal comparado entre outros, no intuito

de entender se conseguiam estabelecer as diferenças e propriedades de classificação se eram

maiores ou menor, por exemplo.

Como os resultados obtidos pela etapa inicial presente nas questões de sondagem

haviam sido muito baixos, pois diante das 20 questões contidas no teste nenhum participante

conseguiu nem 20% de aproveitamento de acertos no total, o que equivale há quatro (4)

questões respondidas de forma adequada naquele momeno. Resolvemos modificar as questões

que os participantes haviam obtido êxito em seu teor, mas deixando-as bem próximas do que

representavam do que estava contido naquele momento de sondagem, no intuito de

verificarmos se eles continuariam obtendo êxito como manifestaram inicialmente. Assim,

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340

mantivemos as demais questões não obtiveram êxito pelos participantes contidas nas questões

de verificação da acomodação do conteúdo. Já que os discentes não haviam apresentado êxito

anteriormente e queríamos saber se após a intervenção com as ferramentas pedagógicas

usadas na pesquisa, eles poderiam ter superado algumas hipóteses, que dificultaram tal

sucesso no entendimento e ação das atividades contidas neste momento de verificação da

acomodação do conteúdo.

No entanto, foram mantidas as mesmas preocupações com a elaboração das questões

propostas no quesito de apresentarem uma linguagem acessível aos discentes, pois realizamos

um teste de conteúdo e aplicamos a uma turma para verificarmos os termos e vocabulários, a

fim de percebermos se seriam adequados e de simples compreensão antes de aplicarmos o

referido teste junto a outros participantes antes de efetuarmos esta coleta de dados.

As questões que sofreram modificações foram as questões número um, dois, quatro e

seis, as que tiveram maiores êxitos na etapa inicial de sondagem, junto aos participantes. Por

isso, alteramos as mesmas para que fossem modificadas em seu conteúdo, mas que

expressassem o mesmo desafio ora verificado naquele momento de sondagem desenvolvido

anteriormente.

De acordo com os resultados obtidos pela aplicação das questões de verificação da

acomodação do conteúdo, observamos que um discente conseguiu um aproveitamento de

80%, ou seja, ele respondeu de forma adequada e satisfatória 16 questões dentre as 20

questões presentes no referido teste. Já a média geral dos demais participantes foi de 60% de

aproveitamento em relação às questões componentes deste momento de verificação de

acomodação do conteúdo. Isso representou um resultado satisfatório, pois muitas questões

deste momento foram trazidas da etapa inicial de sondagem, por isso constatamos que durante

a etapa de intervenção com as metodologias algumas hipóteses foram vencidas e superadas.

Acreditamos que não tivemos um aproveitamento maior, em virtude de algumas

hipóteses e questões demandarem um tempo de maior de aprofundamento, experiência e

reflexão por parte dos discentes e maturação no sentido de exercitarem e ampliarem mais suas

experiências em outros momentos em sua constituição enquanto discentes no processo de

ensino e aprendizagem.

Como infere Fiorentini e Lorenzato (2006), algumas hipóteses a serem vencidas pelos

educandos levam um tempo singular, o qual não se manifestar de uma hora para outra ou de

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um ano para o outro. Eles testam, ponderam, experimentam e constroem hipóteses a todo

momento, mas algumas necessitam de um tempo de maturação mais intenso para provocar a

sua superação. Por isso, o docente deve estar sempre atento em quais hipóteses seus discentes

manifestam e elaborar atividades com base em permitir que eles reflitam e superem tais

concepções, favorecendo a sua aprendizagem matemática adequada.

No tocante a participante 07, que não tinha desenvolvido nenhuma questão de forma

adequada na aplicação das questões de sondagem, percebemos que a mesma conseguiu um

desenvolvimento equivalente a 40% de aproveitamento. Isso pode ser visto até de modo

pejorativo por alguns, devido ao fato de a mesma não ter atingido o equivalente a menos de

50% de aproveitamento, mas, ponderamos, que o desenvolvimento da referida discente já

demonstra um certo avanço dentro do curto período de tempo realizado pelo experimento e

pelo longo processo de escolarização que a mesma não teve um aprofundamento devido à

temática trabalhada de forma mais sistemática e personalizada, além de não ter sido oferecido

a mesma uma ferramenta pedagógica que ela pudesse desenvolver e usar durante suas aulas

de matemática em sala de aula.

Nosso entendimento é que o aproveitamento da discente atendeu nossas perspectivas e

nos sinalizou um possível caminho, o qual pode ser adotado na referida instituição para

motivá-la ainda mais a buscar e superar as hipótese e lacunas de seu processo de

desenvolvimento quanto à questão do pensamento lógico matemático. É necessário um

período de ações mais sistematizadas e direcionadas, que possibilitem acolhimento,

entendimento e participação da referida discente no processo de ensino escolar em sala de

aula regular.

Fato interessante que chamou atenção, foi a docente 02, que atua na sala de recursos,

que apreciou as duas metodologias, afirmar ter interesse em continuar usando as referidas

ferramentas pedagógicas no processo de escolarização da referida participante 07 e demais

alunos da escola. Ela até solicitou que criássemos um momento para difundirmos o uso destas

duas metodologias junto aos docentes de matemática da escola para que este trabalho pudesse

contemplar a todos os alunos, pois os resultados foram propositivos quanto a integrar e

cooperar a todos usando as ferramentas pedagógicas de forma conjunta, compartilhada e

integrada. Favorecendo assim se pensar em ações de fato que possam convergir para o

acolhimento e trabalho com a diversidade em sala de aula sem o aspecto segregador. Já que

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342

todos poderiam usar e aprender juntos e trocar experiências por meio das interações junto às

duas metodologias usadas e propostas.

Um aspecto que merece um destaque foi a constatação dos discentes ainda terem

manifestado dificuldades para interpretar as questões, mesmo partindo de um cuidado na

seleção do conteúdo e linguagem para que os mesmo pudessem favorecer a compreensão e

entendimento de modo mais satisfatório e acessível, acredito que eles não tiveram mais êxito

em função desta iminente dificuldade de interpretar o comando das questões. Isso até

corrobora como que foi mencionado pelo próprio docente de matemática, o qual manifestou

em sua fala a percepção desta extrema dificuldade em efetuar interpretações nos enunciados

das questões matemáticas por parte dos discentes.

Neste aspecto, salientamos Tomaz e David (2008) relatam de se favorecer há um

trabalho de forma mais conjunta e colaborativa de um ensino mais interdisciplinar, o qual

envolva todas as disciplinas em ações em conjunto para visar um objetivo em comum a ser

perseguido e superado no desenvolvimento das práticas de ensino junto aos discentes. Há

possibilidade de construir um projeto e ações em conjunto para focar nestas dificuldades dos

discentes, não esperando, assim, de uma ação isolada apenas do docente de língua Portuguesa,

no caso enfocado em questão, mas de todos os docentes em suas disciplinas de modo

articulado e integrado.

Pondero também que embora o período de intervenção tenha se realizado em um

período curto de tempo, durante 10 sessões no total, e o uso de duas metodologias diferentes

para tratar de um mesmo assunto, considero que ainda há hipóteses, as quais precisam ser

mais sistematizadas em relação à questão dos números decimais, pois em alguns momentos

percebi que os discentes ainda demonstraram certas dificuldades por conta de lacunas e certas

incompreensões na execução de operações básicas e simples envolvendo os números naturais,

decorrentes de hipóteses ainda não vencidas em seu processo de escolarização, fato que é

transferido para as operações junto aos decimais. Este fato foi um dos possíveis empecilhos

que também dificultou um melhor aproveitamento de forma mais evidente ainda junto aos

números decimais.

Para Grando et al (2000), algumas mudanças curriculares e de abordagem do conteúdo

matemático podem auxiliar um melhor processo de ensino e aprendizagem por parte dos

educandos. Nesta perspectiva, o docente deve estar mais atento a estes possíveis ajustes e

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343

manuseio dos conteúdos tendo sempre como base o repertório de dificuldades e avanços

demonstrados pelos educandos. Ele deve aproximar a abordagem curricular do nível de

entendimento dos discentes, fazendo com que o assunto seja mais bem abordado e

contextualizado, favorecendo que o discente o entenda, use e aplique de forma adequada e em

seu tempo.

Segundo Borba (2006), abordando as tendências internacionais em formação de

professores de matemática, defende que o docente busque o princípio da pesquisa associado

ao princípio da criatividade. Temos que possibilitar que o docente perceba que os desafios e

problemáticas decorrentes do exercício da profissão são propulsores de movermos e criarmos

conhecimento. Vários países trabalham numa ótica de formação de estudo, investigação e

intervenção de modo associado à questão da criatividade e da validade do ensino ligado mais

ao contexto de sua eventual e necessária aplicação, o seu aspecto social e cultural.

Concebemos os resultados e aproveitamentos desta nossa pesquisa nesta direção, pois

não temos a pretensão de afirmar que estas duas metodologias bastam e são plenamente

suficientes, pelo contrário, pensamos que elas podem representam uma provocação e um

primeiro passo para a busca e criação de inúmeras outras, as quais possibilitem pensar em

alternativas metodológicas que possam estar mais disponíveis para todos os discentes

poderem fazer uso e aprenderem de forma interativa, colaborativa e participativa junto ao

processo de ensino e aprendizagem de um determinado conteúdo matemático.

Acredito que todos estes dados coletados e demonstrados acima nos desafiam a refletir

numa dimensão de nos mover para pensar em práticas, ações e caminhos de tentar entender

melhor este universo escolar e propiciar que ele seja mais acolhedor e favorecedor de práticas

que visem não apenas a inclusão das pessoas com necessidades educativas especiais, mas que

represente uma inclusão de todos e para todos que fazem parte da comunidade escolar.

Já que parece que a sociedade resolveu fomentar a politica de inclusão que deveria

estar disseminada por toda a sociedade em todos os seus serviços, atitudes e dimensões a

cargo da escola. Penso que esta escola deva ser melhor instrumentalizada para que possa ter

condições para desenvolver uma educação que mobilize o acolhimento, respeito e valorização

à diversidade humana. Uma escola que consiga fazer com que o outro possa se desenvolver

enquanto cidadão e ser um sujeito crítico e ativo na construção de uma sociedade

efetivamente mais inclusiva e acolhedora a todos os seus membros.

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344

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Um grande desafio presente em nosso cenário educacional consiste em criar um

diálogo entre as diferenças e poder de fato atender a heterogeneidade e diversidade humana.

Neste prisma que pensar inclusão pressupõe uma série de medidas que visem à preparação do

ambiente escolar em seus aspectos arquitetônicos, físicos, pedagógicos e curriculares, visando

garantir não só a presença e permanência física das pessoas com necessidades educativas

especiais, nas escolas regulares, mas sem a mudança de concepções e práticas nestes

ambientes, a inclusão representa ainda em nossa realidade uma contradição e equívoco, não

em sua concepção política e social, mas na operacionalização de sua implementação.

De acordo com Carvalho (1997), as escolas devem construir profundas e significativas

mudanças em suas concepções e práticas para atender as diretrizes legais da política de

inclusão de modo adequado ao que se estabelece a legislação vigente, a fim de que o direito

das pessoas com necessidades educacionais especiais aconteça no âmbito da política de

inclusão.

Para Mantoan (2003), em nosso contexto brasileiro ainda realizamos a exclusão todos

os dias dentro da roupagem de que estamos fazendo a inclusão, ou seja, a escola regular ainda

segrega o aluno com algum tipo de deficiência de modo efetivo na prática, pois, para a autora,

não basta colocar o aluno especial na mesma sala de aula, na mesma escola dos demais. É

compromisso e direito criar possibilidades para que esse discente aprenda e se desenvolva de

modo qualitativo e significativo. Uma educação que atue e proporcione uma humanização em

suas concepções e práticas no sentido de operar na concepção da heterogeneidade e não na

perspectiva da homogeneização.

De acordo com o pensamento de Mantoan (2003), um dos aspectos ainda esquecidos

em nosso contexto educacional é entendido como elemento desencadeador fundamental da

política de inclusão que se refere a que tipo de formação que esses docentes têm acerca das

diferentes categorias que constituem a educação especial? A formação desses professores foi

significativa para saber mover conhecimentos e adaptá-los às particularidades do modo de ser

e aprender desses alunos? Que tipo de crenças e concepções os docentes tem acerca de alunos

e da política de inclusão? Esses questionamentos, para a autora, não respondidos de modo

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satisfatório na formação de professores poderá causar entraves na efetivação da política

inclusiva na prática escolar.

Outro aspecto também constituidor nessa discussão são as políticas públicas no

sentido de modificar o ambiente escolar desde seu âmbito físico até pedagógico para acolher e

proporcionar um atendimento inclusivo em nossos ambientes escolares no Brasil. Há recursos

humanos, didáticos e pedagógicos para garantir o acesso e permanência de todos na escola e

aliado a isso que otimize a aprendizagem destes educandos?

Pondero, bem como inferem Stainback e Stainback (1999), que para a educação plena

da pessoa com deficiência visual a utilização de materiais concretos se torna imprescindível,

haja vista que tem no concreto, no palpável, seu ponto de apoio para as abstrações. Segundo

os autores, o discente com DV tem no tato e demais sentidos sua forma de interagir e

compreender o mundo que o cerca. As mãos e os demais sentidos devem operar a educação

do educando com deficiência visual, dentro e fora do ambiente escolar, por isso considero

relevante discutir metodologias usadas na educação destes educandos.

A educação inclusiva, por exigir mudanças na forma de tratar e de educar as pessoas,

respeitando-lhes as singularidades dos sujeitos, rompe com o com a visão tradicional e

funcional do ensino, no qual ocorre uma prática pedagógica unidirecional, na qual o docente

transmite e o aluno recebe o conhecimento, por meio da aula expositiva e do exercício da

cópia e da memorização.

O desenvolvimento de nossa investigação realizada junto a uma turma dita “inclusiva”

pode indicar que a política de inclusão em nosso Estado ainda caminha de forma muito lenta e

pouco efetiva, no sentido de operar em possibilidades para que ocorra uma educação de

qualidade, a qual garanta pelo menos que as pessoas com necessidades educacionais especiais

tenham a possibilidade de aprender e desenvolver suas habilidades e competências no

ambiente escolar.

Outro fator notado foi de que a política de inclusão na realidade investigada ainda não

se evidenciar nas práticas pedagógicas ali propagadas, pois as mesmas ainda não foram

afetadas pelo movimento inclusivo, o que possivelmente, trará graves comprometimentos ao

desenvolvimento desses alunos lá contidos, como aos demais, pois a inclusão é para todos os

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discentes e não só para as PNEEs. Este fato exige inúmeras reflexões e questionamentos, os

quais colocam em foco desde a formação dos docentes para atuarem junto a diversidade até

questões mais pontuais como a ausência de infraestrutura didática, pedagógica, arquitetônica,

de acessibilidade e, sobretudo, humana para construir práticas realmente inclusivas.

A turma investigada faz alusão ao tipo de inclusão ainda temos no ambiente

educacional em nosso contexto local. Aquele tipo de inclusão que ao invés de incluir, exclui o

sujeito. Aquele tipo de inclusão que em vez de trabalhar as suas potencialidades, faz menção

as suas limitações, muitas vezes, favorecendo ao fracasso escolar pelo sujeito. Este tipo de

inclusão não reflete o que concebemos e almejamos que ocorra em um ambiente educacional.

Já basta termos que constatar no ambiente social cotidianamente a exclusão em todos os

níveis, não podemos tolerar esta reprodução também no ambiente escolar.

No tocante ao conteúdo investigado, foi constatado problemas graves como a ausência

de interação e até segregação dos demais discentes em relação a aluna com deficiência visual.

Penso em consonância com Gil (2000), que o docente deva se empenhar mais em dar sentido

a tudo o que está sendo ensinado, porque o educando cego, por ter maiores dificuldades de

abstração, demanda que o conteúdo matemático seja abordado e entendido de modo mais

condizente com as especificidades do discente de modo a assimilar e acomodar a

aprendizagem em seu entendimento e aplicação.

Ao propormos trabalhar as duas metodologias usadas nesta pesquisa, tínhamos

intenção de refletir junto aos pares que é possível todos aprenderem de uma forma diferente

ao já estabelecido nas aulas de matemática. Há diversas formas de propiciar a participação e

aprendizagem de todos os educandos de forma mais interativa e colaborativa. Nossa intenção

era mostrar que o discente, com alguma eventual deficiência sensorial, pode aprender e

compartilhar juntos dos demais alunos das mesmas potencialidades de aprender e se

desenvolver. Não precisa ele ficar isolado ou ser trabalhado apenas de modo segregador.

Concebemos que todos podem aprender e se desenvolver e que esta mediação pode ser

conquistada de forma compartilhada e interativa entre todos, pois nestas interações muitos

dogmas, preconceitos e intolerâncias serão superados e revistos por todos que possam fazer

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347

parte e ter possibilidade de repensar e refletir sobre suas crenças e valores aprendidos de

forma ainda excludentes por meio de seu processo de convivência social.

Ao focarmos nossa investigação na aplicação de metodologias didáticas não temos a

intenção de concebermos que a educação inclusiva vai se efetivar e operar apenas neste viés,

mas que a partir de novas formas e caminhos para se buscar e alcançar a aprendizagem e

desenvolvimento dos educandos que vamos começar a pensar que a inclusão é de fato uma

nova forma de conceber o processo de ensino e operar na busca de uma construção de

cidadania na escola e pela escola.

Tenho intenção de ter provocado com o advento desta pesquisa uma reflexão em todos

os participantes envolvidos e em eventuais leitores, de que é possível mover a direção do

olhar para o atendimento da diversidade humana. É possível movermos a aprendizagem

usando outras possibilidades e caminhos para se chegar ao processo de ensino, o qual possa

ser mais lúdico e ao mesmo tempo mais próximo do contexto social e cultural.

Nossas atividades propostas também fazem outra provocação ao sistema de ensino

convencional, a qual reflete que podemos criar situações de ensino partindo do conhecimento

trazido do educando, com atuação na zona de desenvolvimento proximal, para levá-lo ao

conhecimento potencial, como preconiza a teoria sócio histórica de Vygotsky (1998). Já que

nossas atividades partiram do entendimento que os discentes tinham acerca do sistema

monetário para aprenderem e moverem conhecimentos para a compreensão dos números

decimais, por isso considero que o objetivo de nossa pesquisa tenha sido considerado

cumprido, pois se constatou que as ações desenvolvidas foram claramente eficientes e

facilitadoras para a compreensão dos números decimais, conforme foi constatado pelo

aproveitamento do desempenho na etapa final de verificação da acomodação do conteúdo

aplicado a todos os discentes participantes.

Os resultados demonstrados pela pesquisa inferem que o aluno com necessidade

educativa especial tem capacidade de transpor barreiras e superar inúmeras dificuldades e

limites impostos não pela presença de sua “deficiência” em si, mas pelo olhar dos outros em

relação a mesma, pois este aluno demonstra, assim como os demais, disposição para superar

sua eventuais dificuldades e anseia ocupar um lugar que lhe é de direito, através de seu mérito

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pessoal, basta que se crie as condições e se use as ferramentas geradoras de oportunidades

para que isso seja possível.

Neste aspecto, um elemento que considero relevante e que não foi abordado

diretamente no corpo e objetivo do trabalho diz respeito à evasão escolar. Durante a pesquisa,

a participante com deficiência visual desistiu do ano letivo, por saber que iria mais uma vez

ser retida. No entanto, ouvi muitos outros relatos demonstrando a mesma situação e ainda

mais graves, relatando que alunos com deficiência haviam desistido e se evadido do espaço

escolar devido às barreiras encontradas no ambiente educacional, fato que deve ser apreciado

e discutido com mais profundidade em novas pesquisas na área. Já que embora tenha se

constatado vários avanços na legislação brasileira que corroboram com a educação das

pessoas com deficiência, percebemos na prática, como esta pesquisa também sinaliza como

infere Silva (2010), que em sua pesquisa que focalizava a Universidade do Estado do Pará,

constatou que são muitas as barreiras arquitetônicas, comunicacionais, pedagógicas e

atitudinais que ainda dificultam a inclusão ocorrer tal qual está posta em sua fundamentação

legal, filosófica e educacional.

Saliento que na perspectiva inclusiva, um eixo importante que precisa ser revisto e

redimensionado é a formação inicial e continuada dos docentes, que possa atender aos

pressupostos de um ensino inclusivo, proporcionando aos docentes competências e

habilidades para identificar e atender as reais necessidades especiais de aprendizagens dos

seus educandos, respeitando-lhes as suas limitações eventuais e valorizando suas

potencialidades.

Assim, considero que o maior desafio da educação brasileira é implementar uma

educação que oportunize o desenvolvimento de todas as suas potencialidades, isso sim seria

uma educação de fato inclusiva. Neste aspecto, a escola também precisa oportunizar um

ambiente acolhedor e motivador para todos os seus sujeitos possam interagir e se desenvolver

de forma livre, sem a presença de qualquer impedimento ou barreira de qualquer natureza,

pedagógica ou arquitetônica, visando contemplar e atender a diversidade de todos e para todos

em suas ações.

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Temos ciência que infelizmente, para as pessoas com necessidades educacionais

especiais, as práticas e a exclusão não se limitam apenas no universo escolar, ou seja, não fica

restrita apenas aos muros da escola, mais em muitos outros setores da vida social, por isso

temos que favorecer que estes e todos os sujeitos dentro do ambiente escolar possam

desenvolver em plenitude para mover, posteriormente, estes conhecimentos para operar nas

exclusões ainda vivenciadas em nosso meio social.

Nossa experiência e pesquisa desenvolvida revelou, em seus dados, que podemos

oportunizar uma reflexão e ampliação do entendimento dos procedimentos de ensino e

aprendizagem, os quais possam mover para novas direções de entender, agir e construir uma

nova forma de se efetivar o processo de ensino não só dos números decimais, mas, bem como

de qualquer outro conteúdo matemático. Esta pesquisa deixa uma reflexão para mim e para

todos os envolvidos e os que possam ter acesso à mesma que podemos operar mudanças,

mesmo que tênues, em nossa forma de entender e processar o ensino e aprendizagem da

matemática no ambiente inclusivo.

Esta pesquisa deixa também uma reflexão que não só os discentes com deficiência

visual operam a aprendizagem de muitas maneiras e modos, não apenas pelo uso do tato,

como geralmente pode ser concebido e até explorado, mas eles assim como os demais alunos

aprendem de forma integrada e holística, no sentido de que envolve a múltipla ação de

diversos órgãos do sentido, ou seja, o campo perceptível como um todo e não algo

fragmentado e dissociado.

Considero relevante fazer menção também acerca de uma maior parceria e relação

entre a universidade e a escola regular, pois penso que ao mesmo tempo temos muito a propor

neste ambiente, temos também muito a aprender e sentir as demandas e necessidades destes

ambientes e fomentar novas formas de entender e intervir sejam na formação de profissionais,

sejam na construção de novas pesquisas e investigações.

Aponto como eventuais ações para se começar a construir uma educação de modo

mais inclusivo na escola pesquisada que se possa romper algumas barreiras ainda existentes,

principalmente, as atitudinais e pedagógicas, sem esquecer claro as arquitetônicas,

promovendo, assim, condições de acessibilidade (física, pedagógica e comunicacional) e

possibilitar a criação de práticas alternativas para se inibir e evitar práticas excludentes por

parte da comunidade escolar pesquisa, sobretudo, por parte dos docentes, oportunizando uma

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formação continuada aos mesmos em trabalho para garantir uma prática mais possibilitadora

de parâmetros aceitáveis de qualidade e acolhimento e trabalho com a diversidade humana.

Saliento que a realização desta pesquisa não evidencia o fechamento desta discussão e

temática abordada, pois ela infere apenas para se refletir sobre o prisma de se ver uma forma

de reforçar a ideia e possibilidade de se pensar acerca da educação da pessoa com deficiência

visual, no sentido de operar uma nova forma de conceber tal processo de modo mais

integrador no debate de oferecer uma educação que propicie a inclusão de novas formas e

meios de conceber e agir na efetivação de novas pesquisas e investigações, as quais

contemplem uma forma mais inclusiva de se ofertar uma educação, a qual transforme e inclua

de fato todos.

Assim, almejamos que a pesquisa realizada e as discussões propostas possam

colaborar na área e que possa motivar outras investigações e olhares para melhorar o

cotidiano e práticas voltadas aos discentes com necessidades educacionais especiais e de

todos os discentes de forma geral. Além de que possa sinalizar uma contribuição para a

comunidade escolar, sobretudo aos educadores e educandos, a fim de perceber a relevância de

se pensar em um ensino, o qual envolva os diversos aspectos e sentidos associados e

integrados visando à plenitude de todos os envolvidos nesse processo.

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dez. 2005. Disponível em Acesso em 18 jun. 2015.

ZUNINO, D. L. A matemática na escola: aqui e agora. 2ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas,

1995.

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377

APÊNDICES

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Apêndice A – Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE) ao Responsável legal

pelo discente

Prezado (a) senhor (a),

Gostaríamos de solicitar a sua autorização como representante legal do

discente,____________________________________________________________________

__________________________________________________, para que o(a) mesmo(a)

participe desta pesquisa, a qual faz parte de um projeto de doutorado vinculado ao Programa

de Pós-Graduação em Ciências e Matemática – REAMEC, vinculado a Universidade Federal

de Mato Grosso/Universidade Federal do Pará/Universidade Estadual do Amazonas. Seu

objetivo é entender como se processa o ensino e aprendizagem dos números decimais junto a

alunos com deficiência visual.

O participante não será identificado com seu nome de nascimento, resguardando a sua

identidade. O mesmo será identificado apenas com uma numeração estabelecida pelo

pesquisador e quando houver uso de fotografia, será feito de modo a não identificá-lo. Tem-se

como benefícios pretendidos a apropriação do conteúdo matemático enfocado pela pesquisa e

possibilitar ao educando um melhor desempenho de seu processo de escolarização e

autonomia junto ao referido conteúdo.

A participação não envolverá auxílio financeiro e caso não haja interesse sua opção

será devidamente respeitada. No tocante aos preceitos éticos, informamos que os resultados

serão utilizados apenas para fins acadêmicos e a identificação do/da participante será mantida

em sigilo, não constando seu nome ou qualquer outra informação referente à sua pessoa que

possa identificá-lo no relatório final ou em qualquer publicação a posterior acerca desta

pesquisa.

Os resultados e conclusões obtidas na pesquisa serão apresentados em forma de tese

de doutorado e poderão ser apresentados em forma de artigo ou de resumo em congressos,

seminários e publicados em diferentes meios.

Este termo foi impresso em duas cópias, você receberá uma cópia deste onde consta o

telefone e o endereço do pesquisador, podendo tirar suas dúvidas sobre o projeto e sua

participação, agora ou a qualquer momento.

Reiteramos agradecimentos e informamos que sua participação é de suma relevância

para a melhoria do processo de educação matemática junto ao assunto abordado nesta

pesquisa.

DADOS DO PESQUISADOR RESPONSÁVEL

Nome: Marcelo Marques de Araújo (RG: 2452777).

Page 381: UNIVERSIDADE FEDERAL DO MATO GROSSO REDE … · RESUMO O presente estudo teve como objetivo investigar quais as contribuições de metodologias de ensino e aprendizagem das operações

Endereço: Rua L2, n. 21 A – 66811-793 – ICOARACI – BELÉM – PA

Telefone: (91) 98215 – 6644 E-mail:[email protected]

Assinatura: ________________________________________________

Declaro que fui devidamente esclarecido(a) do projeto de pesquisa acima citado e

entendi os objetivos e benefícios da participação do menor e tendo ciência das informações

contidas neste Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Ficou claro também, que a

participação do menor que sou responsável legal não terá despesas de alguma ordem e que

concordo em participar voluntariamente desse estudo podendo retirar meu consentimento a

qualquer momento, antes ou durante o mesmo, sem penalidades, prejuízo ou perda de

qualquer beneficio que possa ter adquirido, ou no meu atendimento neste projeto. Desse

modo, declaro que autorizo sua participação.

Eu, _______________________________________________________

________________________________________________________________,

RG:_____________________________, data do nascimento:________________,

endereço:_________________________________________________________

________________________________________________________________,

Telefone:__________________________________.

Belém, ____ de ____________ de 2015.

____________________________________________

Pai/ Mãe ou Responsável Legal

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Apêndice B – Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE) ao Discente

Prezado (a) senhor (a),

Gostaríamos de solicitar a sua autorização como discente para que participe desta

pesquisa, a qual faz parte de um projeto de doutorado vinculado ao Programa de Pós-

Graduação em Ciências e Matemática – REAMEC, vinculado a Universidade Federal de

Mato Grosso/Universidade Federal do Pará/Universidade Estadual do Amazonas. Seu

objetivo é entender como se processa o ensino e aprendizagem dos números decimais junto a

alunos com deficiência visual.

Informamos que o participante não será identificado com seu nome de nascimento,

resguardando a sua identidade. O mesmo será identificado apenas com uma numeração

estabelecida pelo pesquisador e quando houver uso de fotografia, será feito de modo a não

identificá-lo. Tem-se como benefícios pretendidos a apropriação do conteúdo matemático

enfocado pela pesquisa e possibilitar ao educando um melhor desempenho de seu processo de

escolarização e autonomia junto ao referido conteúdo.

A participação não envolverá auxílio financeiro e caso não haja interesse sua opção

será devidamente respeitada. No tocante aos preceitos éticos, informamos que os resultados

serão utilizados apenas para fins acadêmicos e a identificação do/da participante será mantida

em sigilo, não constando seu nome ou qualquer outra informação referente à sua pessoa que

possa identificá-lo no relatório final ou em qualquer publicação a posterior acerca desta

pesquisa.

Os resultados e conclusões obtidas na pesquisa serão apresentados em forma de tese

de doutorado e poderão ser apresentados em forma de artigo ou de resumo em congressos,

seminários e publicados em diferentes meios.

Este termo foi impresso em duas cópias, você receberá uma cópia deste onde consta o

telefone e o endereço do pesquisador, podendo tirar suas dúvidas sobre o projeto e sua

participação, agora ou a qualquer momento.

Reiteramos agradecimentos e informamos que sua participação é de suma relevância

para a melhoria do processo de educação matemática junto ao assunto abordado nesta

pesquisa.

DADOS DO PESQUISADOR RESPONSÁVEL

Nome: Marcelo Marques de Araújo (RG: 2452777).

Endereço: Rua L2, n. 21 A – 66811-793 – ICOARACI – BELÉM – PA

Telefone: (91) 98215 – 6644 E-mail:[email protected]

Page 383: UNIVERSIDADE FEDERAL DO MATO GROSSO REDE … · RESUMO O presente estudo teve como objetivo investigar quais as contribuições de metodologias de ensino e aprendizagem das operações

Assinatura: ________________________________________________

Declaro que fui devidamente esclarecido(a) do projeto de pesquisa acima citado e

entendi os objetivos e benefícios de minha participação enquanto discente e tendo ciência das

informações contidas neste Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Ficou claro

também, que a minha participação não terá despesas de alguma ordem e que concordo em

participar voluntariamente desse estudo podendo retirar meu consentimento a qualquer

momento, antes ou durante o mesmo, sem penalidades, prejuízo ou perda de qualquer

beneficio que possa ter adquirido, ou no meu atendimento neste projeto. Desse modo, declaro

que autorizo minha participação.

Eu, _______________________________________________________

________________________________________________________________,

RG:_____________________________, data do nascimento:________________,

endereço:_________________________________________________________

________________________________________________________________,

Telefone:__________________________________.

Belém, ____ de ____________ de 2015.

____________________________________________

Assinatura do Participante

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Apêndice C – Roteiro de Entrevista semiestruturada a aluna com deficiência visual

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MATO GROSSO.

PÓLO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DOUTORADO EM CIÊNCIAS E

MATEMÁTICA - REAMEC

Caro (a) Aluno (a),

Este instrumento tem como objetivo obter informações para um estudo que pode contribuir

para um entendimento para se compreender melhor alguns obstáculos presentes no processo

de ensino e aprendizagem da matemática com números decimais a alunos com deficiência

visual. Nesse sentido, sua colaboração é de grande importância para o bom êxito do mesmo.

As informações obtidas terão caráter confidencial, ou seja, sua identidade será preservada.

Desde já agradecemos a sua colaboração com a nossa pesquisa.

Obrigado!

1. Idade:_______ Escola: ________________________________________________

2. Você estudou sempre nesta escola? Por quê?

3. Você é dependente ou repetente desta série?

4. Você trabalha de forma remunerada?

5. Você costuma fazer compras no comércio, mercearia, supermercado, açougue, shopping e

outros lugares sozinho ou acompanhado? Se acompanhando, com quem, geralmente?

6. Qual a escolaridade (até que série estudou) de seu pai?

7. Qual a escolaridade (até que série estudou) de sua mãe?

8. Qual a profissão de seu pai?

9. Qual a profissão de sua mãe?

10. Você tem dificuldade em aprender matemática? Por quê?

11. Quem o auxilia nas tarefas (trabalhos, exercícios, dúvidas) de matemática em casa?

12. Suas notas de matemática geralmente são quais? Por quê?

13. O seu professor de matemática explica de maneira que você entenda os assuntos ligados à

matemática de modo que você entenda e aprenda? As aulas de matemática são como?

Page 385: UNIVERSIDADE FEDERAL DO MATO GROSSO REDE … · RESUMO O presente estudo teve como objetivo investigar quais as contribuições de metodologias de ensino e aprendizagem das operações

14. O material da aula de matemática está sempre traduzido em Braille e disponível pela sua

escola para você poder acompanhar as aulas?

15. O seu professor de matemática oferece algum acompanhamento dentro de sala de aula

para lhe ajudar a aprender matemática?

16. A escola oferece algum apoio dentro ou fora de sala de aula para você desenvolver a

aprendizagem da matemática?

17. Você usa algum material especial durante as suas aulas para ajudar aprender matemática?

18. Seu professor de matemática demonstra se importar com sua aprendizagem durante as

aulas em sala de aula? Ele usa algum material especial que facilite a sua aprendizagem da

matemática?

19. Você diria que sua escola apresenta problemas de estrutura física para receber você como

aluno (a)?

20. Quais as operações (adição, subtração, multiplicação ou divisão) que você tem mais

dificuldade em efetuar?

21. Você tem domínio da tabuada?

22. Você já estudou números decimais?

23. Você encontrou alguma dificuldade em aprender os números decimais durante suas aulas

de matemática?

24. Seu professor de matemática usa elementos do seu dia-a-dia para ensinar a matemática?

25. Quando você apresenta alguma dificuldade em matemática, quem você geralmente

procura?

26. Você diria que seu professor de matemática apresenta conhecimentos necessários para

desenvolver ações ligadas ao processo de ensino a uma pessoa com deficiência visual? Por

quê?

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Apêndice D – Atividade de Sondagem

Atividade de Sondagem

O desenvolvimento desta pesquisa terá como elemento norteador a elaboração,

aplicação e a discussão de problematizar alguns recursos metodológicos voltados para se

pensar o ensino dos números decimais voltados aos discentes do Ensino Fundamental.

Esta atividade de sondagem (abaixo) compreende 20 atividades que visa entender qual

conhecimento os discentes participantes da pesquisa apresentam acerca da temática

investigada, a fim de que sejam criadas as atividades para serem usadas para operacionalizar o

processo de ensino e aprendizagem de números decimais voltados aos mesmos.

Informo que esta atividade tem como objetivo identificarmos quais conhecimentos

acerca da temática já foram acomodados e quais ainda necessitam de um pouco mais de

compreensão e entendimento pelos participantes da pesquisa.

ATIVIDADES:

01) Vamos comparar a altura de dois amigos Marcos e Edson. Marcos tem 1,7m e

Edson tem 1,70m.

( ) Marcos é mais alto que Edson ( ) Edson é mais alto que Marcos

( ) Os dois tem a mesma altura ( ) Não dá para comparar as alturas

02) Indique dois alimentos que você mais gosta e que consome mais vezes e atribua o

valor que você o compra.

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

03) O preço de um chiclete no mercado custa sete centavos e na escola custa vinte

centavos. Escreva o valor em número de cada dinheiro no quadrinho.

No mercado: R$ ______________________________________________________

Na escola: R$_______________________________________________________

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04) Se a passagem de ônibus em Belém (PA) custa R$2,75 e se este mesmo valor fosse

escrito na forma decimal 2,75. Qual seria o nome correspondente assumido pelos

números 7 e 5 na escrita decimal?

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

05) Se Eunice tem R$ 2,3, escreva por

extenso:_____________________________________________________________

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

Se Ieda tem R$ 2,03, escreva por extenso:

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

Se Eliana tem R$ 2,30, escreva por extenso:

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

06) Qual destes números é 6 milésimos? Marque

a) 6 b) 0,6 c) 0,06 d) 0,006

07) Qual destes números é 9 décimos? Marque

a) 9 b) 0,9 c) 0,09 d) 0,009

08) Como se escreve dois reais e cinco centavos. Marque com um X o que está correto.

a) 2,50 b) 2,5 c) 2,05

09) Marque na letra correspondente ao número menor.

a) 0,5 b) 0,09 c) 0,1

10) Marque com um X, qual a quantia é a maior.

( ) 2 e cinco centavos

Page 388: UNIVERSIDADE FEDERAL DO MATO GROSSO REDE … · RESUMO O presente estudo teve como objetivo investigar quais as contribuições de metodologias de ensino e aprendizagem das operações

( ) 2 reais e quinze centavos

( ) 2 reais e cinquenta centavos

11) Escreva usando números para cada valor escrito abaixo.

a) Oito centavos: ____________________________________________________

b) Cinquenta reais e seis centavos: ______________________________________

c) Seis metros e dois centímetros: _______________________________________

d) Seis décimos: ____________________________________________________

12) Escreva em cada linha quanto dinheiro eu tenho:

a) 4 moedas de 25 centavos e 4 moedas de 10

centavos:_________________________________________________________

_________________________________________________________________

b) 3 moedas de 0,05:___________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

c) 2 moedas de 0,5 e 3 moedas de 0,05:____________________________________

__________________________________________________________________

d) 5 moedas de 1 centavos:______________________________________________

__________________________________________________________________

e) 20 moedas de 10 centavos:____________________________________________

_________________________________________________________________

13) Efetue a soma de 2+ 0,35 + 0,02 e escreva o resultado abaixo.

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

14) Indique se os números são iguais (=) ou diferentes ( ), colocando o sinal entre os

mesmos.

a) 0,25 0,250:________________

b) 33,00 33:___________________

Page 389: UNIVERSIDADE FEDERAL DO MATO GROSSO REDE … · RESUMO O presente estudo teve como objetivo investigar quais as contribuições de metodologias de ensino e aprendizagem das operações

c) 1,35 1,5:___________________

d) 30,06 30,6:__________________

15)Você fez uma viagem e percebeu que esqueceu a sua escova de dentes em casa.

a) Você foi comprar uma nova escova e notou que ela estava sendo vendida a R$

10,00, mas percebeu que tinha uma etiqueta nela com um desconto de R$ 1,35.

Quanto passou a custar essa escova de dente?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

b) Sua amiga comprou esta mesma escova e pagou com uma nota de R$ 20,00.

Quanto ela recebeu de troco?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

16) Você tinha R$ 16,00 e comprou R$ 4,80 em bombons. Quanto recebeu de troco?

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

17) Se você tem R$ 10,00 e compra quatro chocolates que custam cada R$ 2,30. Quanto

sobra de troco?

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

18) Complete com o numero correspondente o quadro abaixo.

Número Dezena Unidade Décimo Centésimo Milésimo

1,23 3

2 2 3 6

32,06

19) Escreva três números na forma decimal que sejam menores que 1,2.

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Page 390: UNIVERSIDADE FEDERAL DO MATO GROSSO REDE … · RESUMO O presente estudo teve como objetivo investigar quais as contribuições de metodologias de ensino e aprendizagem das operações

20) Escreva três números na forma decimal que sejam maiores que 1,3 e menores que

1,5.

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Page 391: UNIVERSIDADE FEDERAL DO MATO GROSSO REDE … · RESUMO O presente estudo teve como objetivo investigar quais as contribuições de metodologias de ensino e aprendizagem das operações

Apêndice E – Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE) ao Docente

Prezado (a) senhor (a),

Eu, Marcelo Marques de Araújo, docente no Ensino Superior e acadêmico do curso de

doutorado do Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Matemática -

REAMEC, vinculado a Universidade Federal de Mato Grosso/Universidade Federal do

Pará/Universidade Estadual do Amazonas, desejo por meio deste, informar-lhe, que estamos

realizando um trabalho de pesquisa acerca do processo de ensino e aprendizagem dos

números decimais a alunos incluídos no processo educacional. Nosso objetivo é entender

como se processa o ensino e aprendizagem dos números decimais junto a alunos com

deficiência visual.

A fim de que essa pesquisa se efetive, necessitamos da sua colaboração. Por esta

razão, gostaríamos de convidá-lo (a) a participar desta pesquisa. Informamos que a sua

participação neste estudo é livre. Você não será identificado com seu nome de nascimento,

resguardando a sua identidade. Sua identificação será por meio de uma numeração

estabelecida pelo pesquisador e quando houver uso de fotografia, será feito de modo a não

identificá-lo (a). Tem-se como benefícios pretendidos a apropriação do conteúdo matemático

enfocado pela pesquisa e possibilitar ao educando um melhor desempenho de seu processo de

escolarização e autonomia junto ao referido conteúdo.

A participação não envolverá auxílio financeiro e caso não haja interesse sua opção

será devidamente respeitada. No tocante aos preceitos éticos, informamos que os resultados

serão utilizados apenas para fins acadêmicos e a identificação do /da participante será mantida

em sigilo, não constando seu nome ou qualquer outra informação referente à sua pessoa que

possa identificá-lo no relatório final ou em qualquer publicação a posterior acerca desta

pesquisa.

Esclarecemos que sua participação se dará como elemento relevante para o

desenvolvimento de nossa pesquisa, mas, caso deseje, a qualquer momento você pode desistir

de participar e retirar seu consentimento em qualquer etapa da pesquisa. Você também

participará respondendo um questionário com perguntas abertas e fechadas sobre suas

concepções e práticas enquanto docente. Em caso de um eventual constrangimento ao

responder qualquer pergunta durante a aplicação do questionário, fique ciente, que poderá

negar-se a responder qualquer pergunta. Destacamos que, sua recusa não trará nenhum

prejuízo em sua relação com o pesquisador, ou com a instituição de origem do pesquisador.

Os resultados e conclusões obtidas na pesquisa serão apresentados em forma de tese

de doutorado e poderão ser apresentados em forma de artigo ou de resumo em congressos,

seminários e publicados em diferentes meios.

Este termo foi impresso em duas cópias, você receberá uma cópia deste onde consta o

telefone e o endereço do pesquisador, podendo tirar suas dúvidas sobre o projeto e sua

participação, agora ou a qualquer momento.

Page 392: UNIVERSIDADE FEDERAL DO MATO GROSSO REDE … · RESUMO O presente estudo teve como objetivo investigar quais as contribuições de metodologias de ensino e aprendizagem das operações

Reiteramos agradecimentos e informamos que sua participação é de suma relevância

para a melhoria do processo de educação matemática junto ao assunto abordado nesta

pesquisa.

_____________________________________

Marcelo Marques de Araújo

DADOS DO PESQUISADOR RESPONSÁVEL

Nome: Marcelo Marques de Araújo (RG: 2452777).

Endereço: Rua L2, n. 21 A – 66811-793 – ICOARACI – BELÉM – PA.

Telefone: (91) 98215 – 6644 E-mail: [email protected]

Por fim, eu,______________________________________________________

__________________________, RG:________________, data do nascimento:_______

_____________, endereço:_______________________________________________

____________________________________________________________________,

Telefone:_________________, declaro que fui devidamente esclarecido(a) do projeto de

pesquisa acima citado e entendi os objetivos e benefícios de minha participação na pesquisa,

bem como autorizo que sejam feitas entrevistas, aplicação de questionário, gravações,

filmagens, apenas para a coleta de dados, estando preservada minha identidade para demais

fins na socialização da referida pesquisa.

Belém, ____ de ____________ de 2015.

____________________________________________

Assinatura

Page 393: UNIVERSIDADE FEDERAL DO MATO GROSSO REDE … · RESUMO O presente estudo teve como objetivo investigar quais as contribuições de metodologias de ensino e aprendizagem das operações

Apêndice F – Roteiro de Entrevista Semiestruturada aplicado aos docentes

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MATO GROSSO.

PÓLO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DOUTORADO EM CIÊNCIAS E

MATEMÁTICA - REAMEC

Caro (a) Docente,

Este instrumento tem como objetivo obter informações para se entender melhor algumas

questões pertinentes para se pensar na questão da educação inclusiva. Nesse sentido, sua

colaboração é de grande importância para o bom êxito do mesmo. As informações obtidas

terão caráter confidencial, ou seja, sua identidade será preservada.

Desde já agradecemos a sua colaboração com a nossa pesquisa.

Obrigado!

1. Qual sua idade?

2. Quanto tempo você atua na docência?

3. Qual ano você concluiu sua graduação? Em qual Instituição?

4. Você possui curso de Pós-Graduação? Se sim, qual?

5. Se possuir Pós-Graduação, diga em qual área e em qual ano você concluiu?

6. Qual sua carga horária na docência? Você atua apenas no Município ou em outra

esfera Estadual ou Privada na docência? Se atua, qual sua carga horária nessa outra

esfera?

7. Você atua em quais turnos durante a semana? Você atua apenas nesta escola? Se não,

quantas outras e em quais turnos?

8. Qual sua concepção da docência?

9. Qual sua concepção de aluno?

10. Qual sua concepção do processo de ensino e aprendizagem?

11. Em sua opinião, o que é educação inclusiva?

12. Você possui algum familiar e/ou pessoa próxima em seu convívio com alguma

deficiência? Se sim, qual e qual deficiência?

13. Como é para você ser docente de matemática? Você se sente motivado (a) e feliz com

sua escolha profissional nesta área do conhecimento? Justifique sua resposta.

14. Qual sua jornada de trabalho? Você tem tempo para planejar, estudar e executar uma

prática docente considerada satisfatória? Você poderia falar sobre esse assunto?

Page 394: UNIVERSIDADE FEDERAL DO MATO GROSSO REDE … · RESUMO O presente estudo teve como objetivo investigar quais as contribuições de metodologias de ensino e aprendizagem das operações

15. Quais as maiores dificuldades você encontra para exercer sua atuação profissional

neste estabelecimento de ensino?

16. Quais categorias de deficiência você já teve discente na sua atuação profissional?

Quais foram as categorias de deficiência você apresenta melhor preparo para ter uma

atuação profissional mais significativa e por quê?

17. Você se sente preparado para promover a inclusão de discentes com as diversas

deficiências em suas aulas? Por quê?

18. Na sua formação acadêmica, na graduação, você teve disciplinas para embasar sua

atuação profissional frente à educação de Pessoas com necessidades educativas

especiais? Se sim, quais? Elas foram significativas para você exercer sua prática

docente?

19. Durante sua formação na graduação, lhe foi oportunizado aprender a adequar

atividades de ensino e fazer adaptações curriculares de acordo com as necessidades

individuais educacionais dos discentes? Por quê?

20. Você teve acesso a cursos de formação continuada na área da educação inclusiva? Se

sim, quais? Eles foram oferecidos gratuitamente pelo município ou você teve que

custear essa formação?

21. Os cursos de formação continuada que você teve acesso foram suficientes e ou

significativos para você atuar frente a alunos com deficiência visual? Por quê?

22. Como você planeja as atividades de matemática para a seus alunos com deficiência

visual? Quais os elementos que você leva como referência para fazer esse

planejamento de atividades nesta área?

23. Quais as maiores dificuldades que você encontra em sua prática docente junto a alunos

com deficiência visual? Por quê?

24. Qual tipo de metodologia ou recurso você usa para oportunizar o processo de ensino e

aprendizagem a seus alunos com deficiência visual em sala de aula?

25. Você acredita que é possível trabalhar com discentes com deficiência na sala de aula

do ensino regular? Por quê?

26. Em sua opinião, quais são as maiores dificuldades apresentadas por seus alunos com

deficiência visual para aprender matemática? Elas são devidas a que fator? Por quê?

27. Em sua opinião, quais as vantagens e desvantagens de discentes com alguma

deficiência sensorial estudarem junto com discentes sem deficiência sensorial?

28. Você conhece o código braile? Se sim, como você usa em suas aulas?

Page 395: UNIVERSIDADE FEDERAL DO MATO GROSSO REDE … · RESUMO O presente estudo teve como objetivo investigar quais as contribuições de metodologias de ensino e aprendizagem das operações

29. Há algum suporte da coordenação pedagógica da escola ou do município para a sua

atuação profissional junto aos discentes com deficiência? Se sim, quais? Você avalia

que são suficientes?

30. Você está sendo preparado para oportunizar a inclusão de discentes com as diversas

deficiências em sua prática pedagógica em sala de aula? Por quê?

31. Há um diálogo com os pais de seus alunos? Como acontece esse dialogo? Os pais

participam e demonstram interesse pela educação de seus alunos com necessidades

educativas especiais durante o ano letivo?

32. O que você entende por avaliação? Há alguma forma ou metodologia que você usa

para avaliar o seu aluno com deficiência visual? Justifique sua resposta.

Page 396: UNIVERSIDADE FEDERAL DO MATO GROSSO REDE … · RESUMO O presente estudo teve como objetivo investigar quais as contribuições de metodologias de ensino e aprendizagem das operações

Apêndice G – Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE) à Instituição

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO MATEMÁTICA E CIENTÍFICA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICA REDE AMAZÔNICA DE EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICA

GRUPO DE PESQUISA RUAKÉ - EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS, MATEMÁTICAS E INCLUSÃO.

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

O presente termo vem oficializar a de autorização à Direção da Escola

__________________________________________________________, para o

desenvolvimento de pesquisa na turma_______, do Ensino Fundamental que ocorrerá durante

os meses de outubro, novembro e dezembro no ano letivo de 2015. A pesquisa faz parte do

projeto de doutorado vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e

Matemática, na modalidade de associação em REDE de Instituições de Ensino Superior da

Amazônia Legal Brasileira, no âmbito da Rede Amazônica de Educação em Ciências e

Matemática (REAMEC), sob a coordenação geral da Universidade Federal do Mato Grosso –

UFMT e realização do Polo da Universidade Federal do Pará. Seu objetivo é analisar as

proposições das metodologias Software MusiCALcolorida e o Tabuleiro de Decimais para o

processo de ensino e aprendizagem dos números decimais junto a discentes com deficiência

visual e sem deficiência visual em uma turma inclusiva.

Ao participante será possível solicitar a inclusão ou exclusão de informação em

qualquer momento da pesquisa, sem implicação de qualquer natureza para o mesmo. Quanto

aos benefícios pretendidos, espera-se contribuir para a apropriação de conceitos matemáticos

e possibilitar ao estudante a constituir, cada vez mais, sua autonomia, interagindo de

diferentes maneiras durante o seu processo de escolarização.

Não haverá nenhuma forma de benefício financeiro, entre as partes, seja pela cessão de

espaço e/ou pelas atividades desenvolvidas. Os esforços ocorrerão no sentido de que essa

pesquisa fortaleça interação entre universidade e escola pública visando o desenvolvimento de

práticas inovadoras para a sala de aula.

Page 397: UNIVERSIDADE FEDERAL DO MATO GROSSO REDE … · RESUMO O presente estudo teve como objetivo investigar quais as contribuições de metodologias de ensino e aprendizagem das operações

A instituição receberá uma cópia deste termo em que constam o telefone e o endereço

do pesquisador responsável e da professora orientadora, podendo esclarecer quaisquer

dúvidas, agora ou a qualquer momento posterior.

Agradecemos e enfatizamos que a participação da escola é de fundamental

importância para a construção do conhecimento sobre Educação Matemática para turmas

inclusivas nas escolas e que não identificaremos a instituição em nenhuma etapa da pesquisa e

nem na divulgação dos dados coletados e difundidos pela mesma, resguardaremos a

identidade da instituição e dos participantes.

DADOS DO PESQUISADOR RESPONSÁVEL

Nome: MARCELO MARQUES DE ARAÚJO (RG: 2452777/PA)

Endereço completo: Rua L2, n. 21 A – 66811-793 – ICOARACI – BELÉM – PA

Telefones: (91) 98215 6644 E-mail: [email protected]

Assinatura: ____________________________________________

DADOS DO PROFESSOR ORIENTADOR

Nome: Elielson Ribeiro de Sales

Instituição: Instituto de Educação Matemática e Científica (IEMCI/UFPA)

Endereço completo: Campus Universitário do Guamá - Setor Básico - Portão 1 - Avenida

Augusto Corrêa, 1 - Guamá - 66075-110 - Belém/PA

Telefones: (91) 3201-8070 E-mail: [email protected]

Assinatura: __________________________________________

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Declaro que fui devidamente esclarecido do projeto de pesquisa acima citado e entendi

os objetivos e benefícios da participação da instituição e tendo ciência das informações

contidas neste Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, eu autorizo o

desenvolvimento do Projeto “Nexos e reflexos do ensino de Matemática a estudantes

cegos: um estudo sobre o processo de aquisição de números decimais”.

Eu, ____________________________________________________________, RG:

________________, data do nascimento:_____________________, endereço:

___________________________________________________________________________,

telefone:(91) ____________.

Belém, 06 de outubro de 2015.

_________________________________________

Responsável pela instituição

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Apêndice H – Atividade de Verificação

Atividade de Verificação

O desenvolvimento desta pesquisa terá como elemento norteador a compreensão dos

discentes sobre o conceito e representação dos números decimais voltados aos discentes

investigados pela pesquisa.

A atividade de Verificação (abaixo) compreende 20 atividades que visa entender qual

conhecimento os discentes participantes da pesquisa acomodaram acerca da temática

investigada, após o período de apreciação do conceito de número decimal junto às atividades

propostas pela apreciação deste assunto na etapa de intervenção usando as duas metodologias

propostas para operacionalizar o processo de ensino e aprendizagem de números decimais

voltados aos respectivos discentes participantes da pesquisa.

ATIVIDADES:

01 Vamos comparar a altura de dois amigos Sales e Marcelo. Marcelo tem 1,3m e Sales tem

1,30m.

( ) Marcelo é mais alto que Sales ( ) Sales é mais alto que Marcelo

( ) Os dois tem a mesma altura ( ) Não dá para comparar as alturas

02 Marcos tem R$ 10,25, Edson tem R$ 10,5. Compare as duas quantias e diga se eles têm a

mesma quantia ou quem tem mais.

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_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

03 O preço de um chiclete no mercado custa sete centavos e na escola custa vinte centavos.

Escreva o valor em número de cada dinheiro no quadrinho.

No mercado: R$ ______________________________________________________

Na escola: R$_______________________________________________________

04 Se a passagem de ônibus em Belém (PA) custa R$2,85 e se este mesmo valor fosse escrito

na forma decimal 2,85. Qual seria o nome correspondente assumido pelos números 8 e 2

na escrita decimal?

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05 Se Eunice tem R$ 2,3, escreva por

extenso:_____________________________________________________________

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

Se Ieda tem R$ 2,03, escreva por extenso:

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

Se Eliana tem R$ 2,30, escreva por extenso:

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

06 Qual destes números é 8 décimos? Marque

b) 8 b) 0,8 c) 0,08 d) 0,008

07 Qual destes números é 9 milésimos? Marque

b) 9 b) 0,9 c) 0,09 d) 0,009

08 Como se escreve dois reais e cinco centavos. Marque com um X o que está correto.

b) 2,50 b) 2,5 c) 2,05

09 Marque na letra correspondente ao número menor.

b) 0,5 b) 0,09 c) 0,1

10 Marque com um X, qual a quantia é a maior.

( ) 2 e cinco centavos

( ) 2 reais e quinze centavos

( ) 2 reais e cinquenta centavos

11 Escreva usando números para cada valor escrito abaixo.

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e) Oito centavos: ____________________________________________________

f) Cinquenta reais e seis centavos: ______________________________________

g) Seis metros e dois centímetros: _______________________________________

h) Seis décimos: ____________________________________________________

12 Escreva em cada linha quanto dinheiro eu tenho:

f) 4 moedas de 25 centavos e 4 moedas de 10

centavos:_________________________________________________________

_________________________________________________________________

g) 3 moedas de 0,05:___________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

h) 2 moedas de 0,5 e 3 moedas de 0,05:____________________________________

__________________________________________________________________

i) 5 moedas de 1 centavos:______________________________________________

__________________________________________________________________

j) 20 moedas de 10 centavos:____________________________________________

_________________________________________________________________

13 Efetue a soma de 2+ 0,35 + 0,02 e escreva o resultado abaixo.

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

14 Indique se os números são iguais (=) ou diferentes ( ), colocando o sinal entre os

mesmos.

e) 0,25 0,250 :________________

f) 33,00 33:___________________

g) 1,35 1,5:___________________

h) 30,06 30,6:__________________

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15) Você fez uma viagem e percebeu que esqueceu a sua escova de dentes em casa.

a) Você foi comprar uma nova escova e notou que ela estava sendo vendida a R$

10,00, mas percebeu que tinha uma etiqueta nela com um desconto de R$ 1,35.

Quanto passou a custar essa escova de dente?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

b) Sua amiga comprou esta mesma escova e pagou com uma nota de R$ 20,00.

Quanto ela recebeu de troco?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

16) Você tinha R$ 16,00 e comprou R$ 4,80 em bombons. Quanto recebeu de troco?

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

17) Se você tem R$ 10,00 e compra quatro chocolates que custam cada R$ 2,30.

Quanto sobra de troco?

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18) Complete com o numero correspondente o quadro abaixo.

Número Dezena Unidade Décimo Centésimo Milésimo

1,23 3

2 2 3 6

32,06

19) Escreva três números na forma decimal que sejam menores que 1,2.

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20) Escreva três números na forma decimal que sejam maiores que 1,3 e menores que

1,5.

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