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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
DIRETORIA DE PESQUISA
PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA
RELATÓRIO TÉCNICO-CIENTÍFICO
Título do Projeto de Pesquisa: Mídias Alternativas na Amazônia
Nome do orientador: Célia Regina Trindade Chagas Amorim
Titulação do Orientador: Doutora
Faculdade: Universidade Federal do Pará
Unidade: Faculdade de Comunicação
Título do Plano de Trabalho: Mapeamento 2: Mídias Alternativas impressas em Belém
do Pará – De 1986, pós-ditadura militar, até os dias atuais.
Nome do Bolsista: Roberta Aragão Machado
Tipo de Bolsa: AF/ UFPA
INTRODUÇÃO
O plano de trabalho intitulado: “Mapeamento 2: Mídias Alternativas impressas
em Belém do Pará – De 1986, pós-ditadura militar, até os dias atuais”, vinculado ao
Projeto Mídias Alternativas na Amazônia, coordenado pela Professora Drª Célia
Trindade Amorim, da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal do Pará
(UFPA), tem como principal objetivo investigar pequenos jornais e revistas de linha
contra hegemônica na região para a composição do primeiro Mapa das Mídias
Alternativas na Amazônia.
É importante desmistificar uma das ideias correntes em pesquisas de
comunicação de que a imprensa alternativa é um fenômeno da Ditadura Militar (1964-
1985). As mídias alternativas não são produtos exclusivos de períodos de exceção. A
bandeira de pequenos jornais ou revistas, como o primeiro Mapa das Mídias
Alternativas na Amazônia está apontando (VER ITEM RESULTADOS) não é mais
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contra o autoritarismo vigente. É em defesa da cidadania, da territorialidade amazônica,
em uma época de democracia estabelecida.
Na primeira fase do projeto, de setembro de 2011 a fevereiro de 2012, a equipe
encontrou cerca de 35 jornais alternativos de linha contra hegemônica em bibliotecas
públicas e em casas de ativistas dessas mídias. Com o avanço do marco teórico para
identificar parâmetros para mapear tais formas de comunicação, algumas delas
deixaram de figurar na lista parcial por se intitularem jornais de resistência, porém
apresentavam uma linha de defesa nos moldes das mídias oficiais. Outros novos jornais
foram acrescentados. No total a lista conta com 59 jornais e revistas coletados
configurando o Primeiro Mapa das Mídias Alternativas na Amazônia.
O presente trabalho é organizado metodologicamente em três etapas. A primeira é
referente à pesquisa bibliográfica sobre a temática em questão, com inserção na época
da Ditadura Militar (1964-1985), mas concentrando os estudos no período democrático,
caracterizado pelo novo ambiente multimidiático em rede. Os autores que sustentam
este percurso são PERUZZO 2008; MORAES, 2007, DOWNING 2002, GRAMSCI
1987, CASTELLS, 1999. A segunda diz respeito ao aporte teórico sobre o contexto
amazônico a partir do projeto geopolítico militar de integração do território da região ao
conjunto da economia nacional e internacional até a geopolítica contemporânea, que
exige um poder não mais centrado na figura do Estado, mas na capacidade de influir na
tomada de decisão dos Estados sobre o uso de seus territórios, por meio de redes
complexas de comunicação. (BECKER, 2005). Na Amazônia, as mídias alternativas
assumem suas próprias territorialidades contra hegemônicas, articulando-se em escala
planetária para impedir a livre mercantilização da região. Os autores que ajudam na
compreensão deste contexto são COSTA SOBRINHO 2000; IANNI 1986; BECKER
2005; BOMFIM 2010. A terceira parte trata da pesquisa documental, por meio da
investigação, coleta e análise de jornais, revistas, boletins nos acervos da Coleção
Vicente Salles, no Museu da UFPA; da Biblioteca Pública Arthur Vianna, na seção
Obras do Pará, Centur e em casas de ativistas dessas mídias, que também foram
entrevistados.
O Primeiro Mapa das Mídias Alternativas na Amazônia vem constituindo-se em
uma produção científica relevante na área da Comunicação. Ao construí-lo e analisá-lo
sistematicamente (VER INSTRUMENTOS DA PESQUISA LOGO ABAIXO) é
possível observar o quanto esses meios são importantes no processo de democratização
da comunicação na região, como o jornal Resistência que está há 34 anos em atividade,
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começando em 1978; o Jornal Pessoal desde 1987, completando em setembro de 2012,
25 anos de existência, ambos com versões na internet, dentre outros, que ajudaram nas
lutas por cidadania, não só no período da Ditadura Militar como também no período de
democracia na região Amazônica.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Para se adentrar na pesquisa dessas importantes formas de comunicação, uma
das obras clássicas no assunto é “Jornalistas e revolucionários: nos tempos da imprensa
alternativa” (1991), de Bernardo Kucinski. Na obra citada o autor fez um levantamento
de cerca de 150 jornais da imprensa alternativa no Brasil, no período de (1964-1980),
nos seus mais diversos formatos, como standard, ofício, tabloides, minitabloides.
Alguns se auto-sustentavam, outros contavam com publicidades ou direcionamento de
partidos políticos.
Apesar da diversidade de propostas e tendências, alguns satíricos, outros
políticos, feministas, ecológicos ou culturais, o que identificava o campo de atuação da
imprensa alternativa era o combate “político-ideológico à ditadura, na tradição de lutas
por mudanças estruturais,” (KUCINSKI, 1991, p.6), mas também criticavam
severamente o capitalismo e o imperialismo.
Ampliando as análises de Kucinski, o jornalista e ativista da imprensa alternativa
nos anos de chumbo no Brasil, Raimundo Rodrigues Pereira, por meio do artigo
intitulado Vive a imprensa alternativa. Viva a imprensa alternativa!...(1986), revela
características do fenômeno alternativo nacional no período da ditadura militar e na
redemocratização do País e lança luz para o entendimento da possível práxis dessa
imprensa na Amazônia. Para o autor a imprensa alternativa fez mais do que opor-se a
forma política de ditadura militar assumida pelo regime, opôs-se ao conteúdo anti-
nacional e anti-popular e à monopolização da economia. Percebe-se que os alternativos,
neste momento histórico de censura brasileira, estavam interessados em noticiar e
denunciar os graves crimes que aconteciam no País como, por exemplo, as formas de
torturas implementadas pelos militares. Tratava-se de claro posicionamento, onde estar
a favor ou contra era essencial para realizar ações opositoras e resistentes na derrubada
do regime.
O pesquisador britânico, John Downing, em Mídia Radical – Rebeldia nas
Comunicações e Movimentos sociais (2004) possibilitou o alargamento do estudo ao
revelar conceitos de cultura popular, hegemonia, resistência, movimentos sociais,
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diálogo, democracia, explorados na composição do conceito do autor sobre mídia
radical alternativa. É importante destacar uma característica agregada pelo pesquisador
que ampliou a ideia quanto à multiplicação de formatos e à periodicidade não só de
jornais como também de outras formas de comunicação alternativa: “Refiro-me à mídia
- em geral de pequena escala e sob muitas formas diferentes – que expressa uma visão
alternativa às políticas, prioridades e perspectivas hegemônicas”. (2002, p21).
Downing se refere a uma comunicação assentada no desenvolvimento da
sociedade, buscando melhorias para a população. Certamente que as pessoas que atuam
com esse universo devem possuir um pensamento aberto direcionado a mudanças,
possibilitando o início de um caminhar para uma intervenção eficaz e transformadora.
De acordo com Downing, não basta ter um discurso puramente transformador, mas a
atuação dessa mídia no campo do real deverá ser obrigatoriamente transformadora.
Nesse sentido Downing acredita que “comunicadores e intelectuais/ ativistas se
integrem organicamente com as classes trabalhadoras para o desenvolvimento de uma
ordem social justa e culturalmente superior.” (2002, p. 48).
Leitor de Gramsci, Downing fornece mais elementos para se compreender o
papel da mídia alternativa numa estrutura em que as classes e o estado capitalista são
analisados como controladores e censores da informação: “o de quebrar o silêncio,
refutar as mentiras e fornecer a verdade. Esse é o modelo da contrainformação”
(DOWNING, 2004, p49) como os jornais alternativos do ciclo da Ditadura Militar no
Brasil.
Os estudos de Downing, assim como outros já referenciados neste trabalho,
serviram para se pensar que as mídias alternativas buscam dar voz aos marginalizados,
aos que não têm direitos respeitados na sociedade. Os alternativos, portanto,
materializam aquilo que Downing acredita ser essencial; é da matriz da mídia radical
alternativa, o de dar voz independente da pauta dos poderes constituídos. (DOWNING,
2004).
No tocante à contemporaneidade em tempos de web, Downing já apontava em
2002, no livro supracitado, experiências de ação comunicativa na internet, ou a presença
de movimentos sociais na rede mundial de computadores, ressaltando a presença de
pessoas ativas neste tipo de comunicação, com ações voltadas para o bem comum.
Trata-se de um processo que leva tempo, assim como adquirir uma mentalidade
transformadora.
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Facebook, twitter, orkut ou qualquer outro tipo de plataforma de comunicação
pode ser apropriada pela mídia hegemônica para gerar o tipo de conteúdo mais
adequado para ela, da mesma forma as mídias alternativas, com seu caráter contra-
hegemônico. O que irá diferir é o que o filósofo italiano Gramsci já apontava para a
existência e necessidade de intelectuais orgânicos na sociedade:
El modo de ser del nuevo intelectual no puede seguir consistiendo en la
elocuencia, motriz. exterior y momentánea de los afectos y las pasiones, sino
en el mezclarse activamente en la vida práctica, como constructor,
organizador, "persuasor permanentemente" porque no puro orador, y sin
embargo superior al espíritu abstracto matemático; de la técnica-trabajo llega
a la técnica-ciencia y ala concepción humanista histórica, sin la cual se
permanece como "especialista" y no se llega a "dirigente" (especialista +
político). (GRAMSCI, 1986, p382).
O intelectual orgânico de Gramsci pode ser traduzido em Downing em
comunicador-ativista das mídias alternativas. Trata-se de uma luta que é travada
também no campo digital e pode furar o bloqueio da mídia hegemônica ao utilizar a
web na divulgação e resistência de uma outra comunicação nos mais diversos pontos
longínquos do planeta.
Um caso recente na web foi a onda de protestos contra a ditadura na Líbia em 06
de março de 2011. As forças contrárias ao governo criaram uma conta no twitter para
denunciar que não tinham acesso as reais informações daquele País. O twitter foi a
principal ferramenta para furar o bloqueio da mídia hegemônica e estatal, através dele
manifestantes informavam para o mundo o que ocorria no país no campo social e
político e convocavam a população para protestar contra o governo. Exigiam mais
liberdade para a população. A ação alternativa na rede foi tão efetiva que o governo
precisou desconectar o acesso à internet da população local.
Nos últimos anos, não somente órgãos de informações internacionais, mas o
Twitter e o Facebook foram palco de organizações dos movimentos sociais que
derrubaram Hosni Mubarak há 30 anos no poder no Egito; e Ben Ali, na Tunísia, ambos
em janeiro de 2011.
O papel da mídia na contemporaneidade também foi ressaltado por Manuel
Castells, na obra, A Sociedade em rede, (1942), que destaca a importância da utilização
da internet para a expressão da opinião e a defesa de direitos, principalmente de grupos
minoritários e oprimidos que não tinham voz na sociedade.
(...) Mulheres e outros grupos sociais oprimidos parecem tender a se
expressar de forma mais aberta devido à proteção do meio eletrônico, embora
devamos lembrar que, como um todo, as mulheres representavam uma
minoria de usuários. (CASTELLS, 194, p. 446).
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Nesse sentido, um forte traço dessa contemporaneidade começa a ser
apresentado no que diz respeito à liberdade de expressão. Não é que a liberdade de
expressão seja cerceada fora da internet em tempos de democracia. Mas, através do
meio eletrônico, amplia-se definitivamente o poder de expressão para um número maior
de pessoas terem voz e serem atingidas pela informação, com uma rapidez exponencial
como nunca uma mídia de característica massiva havia conseguido, além da proteção
que o meio oferece ao usuário. Ambiente completamente diferente ao vivido em tempos
de Ditadura Militar (1964-1985). A censura era total. Prisões, torturas e assassinatos
eram a tónica para aqueles que ousavam divergir do regime no país.
O Jornal Pessoal de 1987 relutou em integrar as páginas da web, mas se rendeu
ao observar a potencialidade que o alternativo poderia ter ao possuir uma versão em
impresso e outra na web. Desde 2008 o jornal é publicado na íntegra para a internet,
com a mesma linguagem do impresso. O alcance passou de local para mundial, e só a
internet poderia oferecer isso em questões de minutos ou cliques. Fruto dessa migração
da internet e dada à importância do Jornal Pessoal para a região, a Universidade do
estado da Flórida, nos Estados Unidos, disponibiliza na sua biblioteca on-line, a coleção
do Jornal Pessoal, faltando poucos números. O que antes era uma barreira, um
empecilho e restringia a circulação da informação, hoje foi derrubado. Estudantes de
outras línguas, interessados no tema, agora podem conhecer o jornal alternativo mais
radicalmente livre por meio da internet e do site do jornal.
O poder abrangente da web mais uma vez é ressaltado por Castells. “Na arena
internacional, novos movimentos transnacionais, que surgem para defender as causas
femininas, o direitos humanos, a preservação ambiental e a democracia política, estão
fazendo da internet uma ferramenta essencial para disseminar informações, organizar e
mobilizar.” (CASTELLS, 1942, p. 448).
Certamente que o potencial de uma informação disseminada na internet é sem
limites, entretanto não necessariamente mais importante que outros meios, cada um
deles exercendo uma função de acordo com sua linguagem. Castells crê também que a
internet não deve ser sobreposta a outros meios tradicionais. É desta forma que Dênis
Moraes, em Comunicação Alternativa, redes virtuais, e ativismo: avanços e dilemas
(2007), analisa esta nova realidade por meio de vários coletivos alternativos, webmídias
e ativismos virtuais. Ele notou a maneira como essa informação virtual ultrapassa
limites e une pontos longínquos. Assim o autor percebeu que a internet é uma “teia
gigantesca que desfaz pontos fixos ou limites predeterminados para o tráfego de dados e
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imagens; não há centro nem periferia, e sim entrelaçamentos de percursos.” (MORAES,
2007).
Nesse aspecto, os usuários que compartilham deste meio não tem somente a
chance de ter voz, mas pela natureza gigantesca da internet tem a chance de atuar,
“simultaneamente, como produtores, emissores e receptores”. (MORAES, 2007).
E é sobre essa multiface da internet, de dar voz a todos que Pollyana Ferrari em
A força da mídia social, 2010, tem contribuído para o desenvolvimento do presente
plano. A autora percebe e aponta a força dessa nova mídia, “dá a todos a oportunidade
de falar assim como de escutar. Muitos falam com muitos – e muitos respondem de
volta.” (2010, p. 33). Nesse sentido, ao analisar as mídias alternativas observa-se que
elas têm a possibilidade de criar espaço para discussão e colaboração, uma comunicação
horizontal diferente da manifestada pela mídia tradicional. Nas análises de Ferrari tal
atuação é embasada na tríade “interação, colaboração e criação de conteúdo.” (2010, p.
46).
Trata-se de um fazer jornalismo alternativo, o que nas palavras de Pollyana
Ferrari (2010, p.80) é exposto da seguinte forma: “Creio que já estamos vivenciando
uma reconfiguração do campo do jornalismo, da relação emissor-receptor, antes
bastante vertical e hoje bem horizontal, sem uma hierarquia obrigatória.”. Se as mídias
alternativas já possuíam esse caráter, as mídias oficiais estão sendo obrigadas a dialogar
com maior intensidade com a população, deixando a centralidade típica desse meio.
Hoje há aberturas importantes nessas mídias provocadas por setores populares. Assim,
Cicília Peruzzo, em Revisitando os Conceitos de Comunicação Popular, Alternativa e
Comunitária, (2006), destaca:
Ao mesmo tempo ocorre a presença cada vez mais substantiva dos setores
populares na mídia (comercial e educativa), que abriu mais espaço para
assuntos antes restritos aos canais alternativos e populares, com destaque
para a programação local e regional, o que também favorece a abordagem de
temas ligados ao desenvolvimento social e à cultura local. (PERUZZO, 2006,
p6).
Especificamente sobre o contexto amazônico, a tese intitulada Meios
Alternativos de Comunicação e Movimentos Sociais na Amazônia Ocidental (ACRE:
1971-81), 2000, de Pedro Costa Sobrinho, foi essencial para se começar a pensar as
particularidades da região e como os novos donos do poder de 1964 articularam a
integração da Amazônia a partir dos grandes projetos geopolíticos à economia nacional
e internacional.
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Operação Amazônia”, de forte conteúdo geopolítico, elaborara uma estratégia
de ocupação do espaço amazônico, e para sua implementação destinara
recursos através do crédito fácil e barato nos bancos públicos e dos incentivos
fiscais, com vistas a promover o deslocamento de migrantes, capitalistas
nacionais e estrangeiros dispostos a participar do grande projeto da ditadura
para integração nacional. (SOBRINHO, 2000, p. 11).
É neste contexto que o autor narra a saga de dois jornais alternativos, Nós
Irmãos e Varadouro, ambos do Estado do Acre que tinham como pauta a resistência à
ditadura e a luta por uma Amazônia mais justa e igualitária. O boletim diocesano Nós
Irmãos de 1971 nasceu das CEBS (Comunidades Eclesiais de Base), abrindo espaço em
suas páginas “para denunciar a violência; orientar as lideranças da resistência dos
trabalhadores; [...] e até mesmo influenciando na organização dos movimentos sociais;”
(SOBRINHO, 2000, p12). O segundo nasceu 6 anos depois, e se intitulava “o jornal das
selvas”, fruto da união de setores da igreja com jornalistas, um deles Elson Martins da
Silveira, correspondente no Acre para O Estado de São Paulo. O Varadouro recebeu
grande resposta da população local, inclusive de parte da elite.
Sobre o papel dos Nós Irmãos na sociedade local, que também serve a
Varadouro, o autor declara:
(...) sua ação fora fundamental como veículo alternativo de comunicação a
serviço dos marginalizados, abrindo suas páginas para denunciar a violência;
para orientar as lideranças da resistência dos trabalhadores; para apoiar o
trabalho educativo das CEBs, e até mesmo influenciando na organização dos
movimentos sociais. (COSTA SOBRINHO, 2000, p.12).
Octavio Ianni, em Ditadura e agricultura (1986), contribui com este estudo ao
enfatizar que uma nova ordem é estabelecida na Amazônia a partir da chamada
“revolução da terra” posta em prática mediante traços da política econômica adota pelos
governos militares que apresentava como características: a abertura do país à livre ação
do capital monopolista estrangeiro, a política de desenvolvimento capitalista dependente
ou interdependente, e a rearticulação da economia do Brasil com o imperialismo,
segundo condições das empresas estrangeiras. Estas mudanças não foram somente
econômicas, políticas, técnicas, mas também ideológicas. Tratava-se, nas palavras de
Ianni, de “um vasto enclave do Imperialismo” (IANNI, 1986).
Não se pode negar que cresceram as exportações de produtos industriais e
produtos agrícolas brasileiros, mas nesta submissão ao imperialismo, cresceram também
a concentração e centralização do capital. As decisões eram postas a serviço do capital
monopolista, com ampla absorção de empresas pequenas e médias por empresas
estrangeiras (IANNI, 1986).
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Um dos pontos que chamou a atenção nos estudos sobre as mídias alternativas
na Amazônia até porque foram incansáveis na publicação de notícias sobre a nova
ordem estabelecida pelo governo militar na região foram matérias jornalísticas sobre a
“revolução na terra”, que teve início quando a economia amazônica ingressou na etapa
da grande empresa privada articulada com apoios e estímulos por parte do governo
militar que criou ou substituiu vários órgãos públicos. Um deles foi a SUDAM
(Superintendência de desenvolvimento da Amazônia) que aprovou 549 projetos, sendo
335 agropecuários, o que na visão Ianni, estimulou a terra tribal a virar mercadoria,
reserva de valor.
Durante esse período houve intensa luta no campo: inúmeras terras indígenas
invadidas, índios prejudicados pelos posseiros; caboclos e posseiros expulsos de suas
terras pelos grileiros; latifundiários ou empresários comprando e grilando terras. Tal
prática tornou-se comum na Amazônia pela ausência de uma reforma agrária séria no
país. Uma série de batalhas culminando nos conflitos agrários existentes até hoje.
Becker, em Amazônia, 2007, esboça as diferentes ações produzidas na região
durante o século XX. Entre 1966 e 1985, a ocupação foi tida como prioritária, visto que
fronteiras de países vizinhos eram vulneráveis e representavam um perigo para a captura
a região. Nesse sentido para acelerar a ocupação, implantou-se a Zona Franca de
Manaus, redes de circulação rodoviária, telecomunicações, fluxo de capitais, Projeto
Calha Norte etc. Tomando como exemplo o período do Projeto Calha Norte (1985)
percebe-se a série de conflitos na região.
Conflitos sociais e impactos ambientais negativos: conflitos entre
fazendeiros, posseiros, seringueiros e índios causado pelo desflorestamento
desenfreado pela abertura de estradas, exploração da madeira seguida da
expansão agropecuária e intensa mobilidade espacial da população.
(BECKER, 2007, p 27).
Becker informa que a região passou por mudanças estruturais em vários campos,
no campo do território os principais impactos negativos foram o desflorestamento, a
migração, a posição de ilha, pois era conectada com o exterior, mas não internamente.
No campo da economia, vieram os grandes projetos com a economia de enclave,
subsídio à grande empresa. No campo da urbanização, a estrutura de povoamento que,
segundo Becker (2007 p.31), “a Amazônia é hoje uma floresta urbanizada”. No campo
da sociedade regional as mudanças foram os conflitos sociais e ambientais e no campo
socioambiental os conflitos de terra, ambientais e de territorialidade.
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Apesar deste cenário negativo, Becker aponta novas perspectivas para a
Amazônia do século XXI, pois não se trata apenas de conflito pela terra, o que exigem
das resistências regionais uma luta mais avançada.
É o conflito de uma região em relação às demandas externas. Esses conflitos
de interesse, assim como as ações deles decorrentes contribuem para manter
imagens obsoletas sobre a região. Dificultando a elaboração de políticas
públicas adequadas ao seu desenvolvimento. (BECKER, 2005, p72).
De acordo com Becker, na multiplicação de diferentes espaços-tempos reside
uma das raízes da geopolítica contemporânea:
As redes são desenvolvidas nos países ricos, nos centros do poder, onde o
avanço tecnológico é maior e a circulação planetária permite que se
selecionem territórios para investimentos, seleção que depende também das
potencialidades dos próprios territórios. Ocorre que ao se expandirem e
sustentarem as riquezas circulante, financeira e informacional, as redes se
socializam. E essa socialização está gerando movimentos sociais importantes,
os quais também tendem a se transnacionalizarem. (BECKER, 2005 p71).
Há, hoje, portanto, dois movimentos internacionais: um em nível do sistema
financeiro, da informação, do domínio do poder efetivamente das potências; e
outro, uma tendência ao internacionalismo dos movimentos sociais. Todos os
agentes sociais organizados, corporações, organizações religiosas,
movimentos sociais etc., têm suas próprias territorialidades, acima e abaixo
da escala do Estado, suas próprias geopolíticas, e tendem a se articular,
configurando uma situação mundial bastante complexa.
(BECKER, 2005 p.72).
Nessa nova geopolítica, o poder não está mais centrado na figura do Estado, mas
na capacidade, de acordo com BECKER (2005), de influir na tomada de decisão dos
Estados sobre o uso de seus territórios. Tal cenário só foi possível pela revolução
científico-tecnológica que possibilitou a ampliação e a circulação da comunicação. Na
Amazônia, as mídias alternativas assumem suas próprias territorialidades contra
hegemônicas, articulando-se em escala planetária para impedir a livre mercantilização
da região. A água, por exemplo, é considerada globalmente o bem mais preciso do
século XXI, “pela escassez e consumo crescente no mundo, sobretudo nos países semi-
áridos que utilizam a irrigação”. (BECKER, 2005, p.78). Esse tema é constante nas
mídias alternativas da região, pela importância que o volume de água da Amazônia tem
para o mundo.
A partir também desse aporte teórico começou-se a construir de forma mais
consistente o contexto amazônico em que essas mídias viviam e vivem, ajudando a
compreender melhor o conteúdo opositor e denunciativo dos jornais e a própria história
da região. À medida que o contexto amazônico era revelado, era revelado também o
porquê das temáticas materializadas nos jornais alternativos serem diferentes das
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encontradas nas mídias alternativas nacionais. Aqui os signos eram outros: a terra, a
água, os conflitos agrários, e as páginas dos alternativos exploravam e exploram tal
problemática de forma veemente. A ditadura da terra foi capa de várias edições do
Jornal Resistência, (1978), os grandes projetos foram estampados nas edições do
Agenda Amazônica, (1999); e são até hoje exploradas nas edições do Jornal Pessoal
(1987), que este ano completa 25 anos de mídia radical alternativa na Amazônia. São
temas dos periódicos: as grandes grilagens, terras indígenas invadidas, mortes no
campo, os projetos hidrelétricos. Os índios com o apoio da Igreja Católica criaram seu
próprio veículo de comunicação, O Mensageiro, (1979), a Revista Ipar, (2000)
abordava as mesmas temáticas com o apoio também da Igreja Católica na região. Esses
jornais estavam prontos para denunciar, mas acima de tudo resistir. “Resistir, é o
primeiro passo”, era o lema do Jornal Resistência.
JUSTIFICATIVA
O plano em tela tem possibilitado a construção do Primeiro Mapa das Mídias
Alternativas na Amazônia. Uma proposta arrojada para a área da Comunicação em
âmbito regional, nacional e internacional. Diferente dos jornais oficiais e de alguns
projetos de jornais alternativos pelo Brasil, o mapa aponta que na Amazônia as mídias
alternativas tomam outro corpo no sentido de adquirirem características baseadas em
temáticas áridas do contexto da região como crimes de latifúndio, trabalho escravo,
violência no campo, grilagem de terras, grandes projetos econômicos e seus impactos
ambientais e sociais, descaso da justiça constituída por poderes oligárquicos na região,
literatura, cultura amazônica, etc.
Frente a esta realidade, o presente plano vinculado ao projeto Mídias
Alternativas na Amazônia, se justifica em face de as “pesquisas nacionais e
internacionais em comunicação priorizarem as chamadas mídias oficiais em seus
estudos” (AMORIM, 2008). Conhecer a realidade Amazônica por meio destes jornais
alternativos, seu conteúdo, sua linha editorial, seus atores sociais, as formas de luta
contra as injustiças sociais, a possibilidade de garantir voz às classes minoritárias, é um
fator relevante para o estudo sistemático destas mídias, que vem se materializando na
ideia de que o fenômeno não surgiu e desapareceu no período da ditadura recente no
Brasil.
Ao estudar, analisar e catalogar os jornais e revistas tem se construído
conhecimento numa área que necessita ser mais explorada pela academia, além de
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contribuir com uma memória das mídias alternativas na região, já que muitas delas, que
escreveram partes importantes da história da Amazônia, não foram registradas, por falta
de entendimento do real valor dessas mídias. Afora isso, muitas delas não só fizeram
parte da história, mas através de seu importante papel seja investigativo, denunciativo
ou informativo, ajudaram a construir a história da região. Em muitos jornais pode-se ler
uma parte da história que foi esquecida ou que não foi contada pela mídia oficial.
OBJETIVOS
No que diz respeito ao primeiro objetivo do Plano de Trabalho: Fazer um estudo
exploratório para mapear as mídias alternativas impressas, categoria jornal, em Belém
do Pará, no período de democracia estabelecida, pós-ditadura militar, de 1986 até os
dias atuais; é importante enfatizar que o estudo (base teórica) foi desenvolvido em
consonância com a investigação e coleta dos jornais, que começaram no acervo Vicente
Salles, do Museu da UFPA, (de outubro a dezembro de 2011) e ampliaram-se para
outros locais como o Acervo Público de Belém e Biblioteca do Grêmio Literário
Português (Nestes dois locais a equipe do projeto não encontrou nenhum registro de
Mídias Alternativas). A biblioteca da Fundação Tancredo Neves, Centur, também foi
visitada, com coletas diárias do material, no período de janeiro a março de 2012, etc.
Com a experiência adquirida nos primeiros meses do projeto e o avanço dos
parâmetros e contextos quanto às mídias alternativas na Amazônia a identificação dos
jornais quanto ao seu modus operandi, conteúdo, temáticas, atores sociais, etc, foi
realizada de forma mais decisiva. Mas é importante ressaltar a dificuldade encontrada
quanto à busca desses jornais e a sua identificação quanto à mídia alternativa, pois não
existe um lócus de memória na Amazônia dessas formas de comunicação.
No que diz respeito ao segundo e terceiro objetivos: Identificar os principais
jornais deste ciclo; e Desenvolver um catálogo com nomes, localizações e ativistas das
mídias alternativas impressas. Atualmente este catálogo está em processo de finalização
para a composição do Primeiro Mapa das Mídias Alternativas na Amazônia, que já
conta com cerca de 59 jornais catalogados com seus respectivos nomes, formatos,
localizações e ativistas das mídias alternativas impressas. Desse total, 47 circunscrito a
este plano de trabalho. O restante está catalogado no plano da bolsista Ana Lúcia de
Oliveira da Cruz.
O quarto objetivo: Registrar quais os atores sociais, os chamados ativistas,
envolvidos e a contribuição dessas mídias no fortalecimento da democracia na região.
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Estes atores sociais foram identificados e ainda continuam sendo a partir de contatos por
meio de jornais e revistas, telefones e e-mails eletrônicos, compondo uma lista de
entrevistas. Mediante esta lista, a equipe do projeto mantém contato com os atores
sociais. Tais entrevistas foram documentadas por meio de vídeos e fotos. A equipe
continua buscando informações dos atores sociais que participaram ou participam
dessas mídias por meio de entrevistas para a ampliação do mapa assim como maiores
informações sobre os jornais a partir da experiência vivida de cada ator.
Já o quinto objetivo: Produzir material que sirva de fonte para ensino e pesquisa.
O (re) conhecimento dos jornais, sua importância como meio de resistência na
Amazônia, tem sido base para gerar artigos científicos em congressos nacionais e
internacionais. Os mais recentes, que serão apresentados em setembro de 2012, “Mídia
radical alternativa na Amazônia” no X Congresso da LUSOCOM - Comunicação,
Cultura e Desenvolvimento, realizado no Instituto Superior de Ciências Sociais e
Políticas, na cidade de Lisboa, em Portugal, de autoria da Professora Drª Célia Regina
Trindade Chagas Amorim e as bolsistas Mariana Costa Castro, Roberta Aragão
Machado e Ana Lúcia Oliveira da Cruz; e “Mídias alternativas na Amazônia: Uma
investigação científica em construção” no XXXV Congresso Nacional de Ciências da
Comunicação, na Universidade Federal de Fortaleza, de autoria da Professora Drª Célia
Regina Trindade Chagas Amorim e as bolsistas Mariana Costa Castro, Roberta Aragão
Machado e Ana Lúcia Oliveira da Cruz.(VER ITEM PUBLICAÇÃO).
MATERIAIS E METÓDOS
Tendo por base as pesquisas bibliográficas (a primeira já referenciada acima) e a
documental, esta se iniciou em novembro e dezembro de 2011 com a Coleção Vicente
Salles, no Museu da UFPA. O Museu dispõe de uma lista com várias obras arquivadas
das mais diversas áreas do conhecimento. Mediante este acervo, buscou-se identificar
por meio de pesquisa teórica e documental cada jornal para efetuar a investigação e
análise das mídias alternativas impressas. Após a finalização da lista dos jornais
disponíveis no Museu da UFPA, o passo seguinte aconteceu em janeiro de 2012, com a
busca dos jornais do arquivo da Biblioteca Arthur Viana, localizada no Centur. O
processo se assemelhou ao anterior, pois foi mediante à lista disponível que se iniciou a
análise das mídias alternativas na seção Obras do Pará. É importante registrar que nestes
dois locais públicos não existe uma lista de mídias alternativas. Elas se encontram
misturadas a outras formas de comunicação. Seguindo o presente plano, os jornais
14
alternativos foram organizados por ordem cronológica, do período de 1986 para os dias
atuais. Eis a tabela que mostra os jornais e revistas encontrados referentes ao período de
1986 até os dias atuais (objeto deste Mapeamento) e a tabela com os jornais encontrados
resultantes dos dois planos de trabalho (Mapeamento I e Mapeamento II) período de
1964 até os dias atuais catalogados como alternativos.
Tabela 1 - Tabela dos jornais encontrados e coletados no Museu da UFPA, CENTUR, casa de ativistas, entrevistas e
buscas na web, segundo o período pós-ditadura militar 1986 até os dias atuais.
Fonte: Projeto Mídias Alternativas na Amazônia. (2012)
15
Tabela 2 - Tabela dos jornais encontrados e coletados no Museu da UFPA, CENTUR, casa de ativistas,
entrevistas e busca na web, pertencentes ao desenvolvimento dos dois planos de trabalho, do período da ditadura
militar até os dias atuais.
Fonte: Projeto Mídias Alternativas na Amazônia. Fonte: Projeto Mídias Alternativas na Amazônia. (2012)
Após a catalogação dos jornais, registra-se também a técnica da fotografia para a
composição do mapa, todos foram fotografados pela bolsista executora deste plano,
Roberta Aragão, que registrou as capas e reportagens. Nesta fase a equipe do projeto
encontrou resistência no Museu para fazer as fotografias, houve exigência de
cumprimento de burocracia para se ter acesso ao acervo. As negociações com a
coordenadora do projeto durou cerca de dois meses. Uma das exigências era que os
jornais fossem fotografados pelo profissional do Museu da UFPa. Depois de muita
conversa, Roberta Aragão conseguiu autorização para fazer as fotos das capas dos
alternativos, já que o fotógrafo do Museu, Patrick Pardini estava de férias.
16
Foto 1 - Profª Célia Amorim coordenadora do projeto e a bolsista de iniciação científica Roberta Machado
selecionando e fotografando as capas dos jornais no MUFPa.
Fonte: Projeto Mídias Alternativas na Amazônia. Fotos: Patrick Pardinni do Museu da UFPa (2012).
Foto 2 - A bolsista de iniciação científica Roberta Machado selecionando e fotografando as capas dos jornais no
Centur.
Fonte: Projeto Mídias Alternativas na Amazônia (2012).
17
Após o exame dos jornais no Museu da UFPa, a investigação seguiu para o
Centur que abriga a Biblioteca Pública Arthur Vianna, na seção Obras do Pará. No
Centur foi encontrada uma realidade diferente da vivenciada no MUFPa, os jornais não
se encontram em bom estado de conservação, alguns com páginas soltas, riscos de
caneta e outras deteriorações. A investigação seguiu o mesmo roteiro de catalogação
realizada no MUFPa: reconhecimento do modus operandi de cada jornal, os atores
sociais, se continham publicidade, formato, impressão e sede.
Foto 3 - As bolsistas juntamente com a Coordenadora do Projeto examinando jornais no CENTUR.
Fonte: Projeto Mídias Alternativas na Amazônia. (2012).
Depois de encontrar um número considerável de jornais, separam-se os
principais atores sociais destes alternativos e, em uma tabela, a equipe montou uma lista
com respectivos telefones e e-mails para dar início à técnica da entrevista de janeiro a
abril de 2012.
A entrevista é uma das técnicas usada na pesquisa científica. “É acima de tudo
uma conversa a dois, ou entre vários interlocutores, realizada por iniciativa do
entrevistador. Ela tem como objetivo construir informações pertinentes para um objeto
de pesquisa, e abordagem pelo entrevistador, de temas igualmente pertinentes com
vistas a este objetivo” (MINAYO, 2008, p.64). Eis a tabela de atores sociais que agenda
as entrevistas.
18
Tabela 3 - Tabela de atores sociais localizados pelo projeto contendo telefones e e-mails para contato e agendamento
para entrevista.
Fonte: Projeto Mídias Alternativas na Amazônia (2012).
A partir do primeiro contato com os atores sociais, elaborou-se um roteiro de
perguntas para a entrevista objetivando o aprofundamento dos conhecimentos que
previamente haviam sido adquiridos com a leitura dos jornais, mas que não haviam sido
suficientes para a montagem do catálogo. A entrevista neste plano segue a seguinte
classificação: semi-estruturada, que segundo Minayo,“combina perguntas fechadas e
abertas, em que o entrevistado tem a possibilidade de discorrer sobre o tema em questão
sem se prender a indagação formulada” (2008, p.64). Eis a tabela do roteiro de
perguntas:
Tabela 2 - Roteiro de perguntas utilizado nas entrevistas
1. Como surgiu a ideia do jornal?
2. Como foi definido o nome do jornal e qual a motivação para este nome?
3. O que levou você a entrar na imprensa alternativa? Teve influência da sua criação, família ou
ideologias?
4. Qual era o seu papel na construção do jornal?
5. Quem mais participava do jornal?
6. Qual era a linha editorial do jornal?
7. Quais as principais temáticas trabalhadas pelo jornal?
19
8. Como era o retorno do jornal?
9. Como se dava o relacionamento dos que participavam do jornal. Havia divergências político-
ideológicas?
10. Como eram pensadas as pautas?
11. Como se dava a distribuição do jornal?
12. Quanto tempo durou o jornal, quantas edições houve?
13. Como foi a experiência de ter participado do jornal?
14. Depois de ter encerrado o jornal, foram guardadas as edições? Onde podem ser encontradas?
Você dispõe de alguma edição?
15. Como era a relação do jornal com outros jornais alternativos?
16. O jornal contava com publicidade?
17. Qual a contribuição do jornal para o fortalecimento da imprensa alternativa na Amazônia?
18. O que é uma imprensa alternativa? E o que é uma imprensa alternativa na Amazônia?
19. Como você vê a imprensa alternativa do período da ditadura militar e como é a imprensa
alternativa do contemporâneo?
20. Como é fazer imprensa alternativa na Amazônia? Fonte: Projeto Mídias Alternativas na Amazônia. (2012).
Até o momento, foram entrevistados os seguintes atores sociais: Paulo Roberto
Ferreira, no dia 21 de janeiro de 212, do Jornal Resistência; Ubiratan Porto, no dia 25 de
janeiro de 2012, dos alternativos de humor Gafe e ESTE É um país sério. O chargista
dos jornais Xibé e Resistência, Walter Pinto, no dia 2 de fevereiro. A jornalista Érika
Morhy, da grande imprensa que migrou para o Jornal Resistência, hoje em versão
também na internet é atualmente responsável pelo Blog da SDDH (Sociedade Paraense
em defesa dos direitos humanos) e do Resistência On-Line em março de 2012. O
responsável pela edição da Revista Cuíra, João Cláudio Arroyo em março de 2012. O
chargista e fundador do Jornal PQP, Raymundo Mário Sobral, em abril de 2012. No
mês de maio de 2012 foram o editor responsável pelo Jornal Faísca, Fernando Arthur; a
jornalista, professora da UFPa e colaboradora dos Jornais Nanico e Resistência, Rosaly
Brito. O fotógrafo do Jornal Resistência, Miguel Chikaoka e o chargista João Bosco do
jornal Carreto; e o editor da Revista Boca de Forno, o professor Paulo Nunes, em junho
de 2012.
Segundo o roteiro pré-elaborado de perguntas, coletaram-se os depoimentos
sobre a colaboração desses ativistas, sua análise do contexto vivido na época do
surgimento do jornal, a concepção sobre Imprensa Alternativa na Amazônia, sua
história de vida, etc. É válido registrar que tais depoimentos foram importantes para a
composição do mapeamento, pois pesquisas desse tipo só podem ser efetivadas a partir
de fontes orais pela falta de documentos escritos. Atualmente, a galeria dos atores
sociais desta primeira etapa do projeto está em fase de finalização, com o registro de
fotos e vídeos produzidos pela bolsista executora deste plano. Registram-se abaixo três
atores sociais fotografados pela lente de Roberta Aragão Machado:
20
Foto 4 - João Cláudio Arroyo, editor da Revista Cuíra.
Fonte: Projeto Mídias Alternativas na Amazônia. Fotos: Roberta Machado (2012).
Foto 5 - Raymundo Mário Sobral, chargista e fundando do Jornal PQP.
Fonte: Projeto Mídias Alternativas na Amazônia. Fotos: Roberta Machado (2012).
Foto 6 - Paulo Nunes, editor da Revista Boca de Forno.
Fonte: Projeto Mídias Alternativas na Amazônia. Fotos: Roberta Machado (2012).
É importante ressaltar que à medida que o mapeamento avançava, observou-se
que a maioria dos jornais alternativos não apresentava a coleção completa das edições;
outros se apresentavam nos museus e bibliotecas com poucos números, outros estavam
na lista das bibliotecas, mas não havia nenhum exemplar.
21
Aos poucos a equipe do projeto compreendeu tamanha realidade a partir da
leitura de Downing, pois uma das principais lutas desses grupos é referente à sua
sobrevivência perante as forças hegemônicas do Estado e das mídias tradicionais. Para
esses poderes constituídos é preferível que tais formas de comunicação não existissem.
Não obstante Downing ressalta ainda uma das características das mídias alternativas
para a compreensão desta falta de uma memória alternativa de comunicação.
Pois é quase da natureza dessa mídia o fato de que, com frequência, não se
possa medi-la nem contá-la, e que seja tão pouco conhecida nos círculos
oficiais ou fora de sua localidade. Em geral (...), seu poder é mal avaliado,
porque ela está fora do estereótipo da mídia convencional.(DOWNING, John,
2002, p60).
Frente ao que Downing nos ensina as mídias alternativas amazônicas já
mapeadas não apresentam com tamanha precisão o números de edições, o tempo de
resistência dedicada a uma Amazônia mais justa e igualitária, etc. Mas somente por está
neste combate, elas por si só são importantes no processo de democratização da
comunicação da região.
RESULTADOS
Os resultados obtidos neste Plano de Trabalho foram cumpridos, possibilitando
ações para o desenvolvimento de novas atividades dentro do projeto. Certamente que a
temática e o mapa não foram esgotados, mas já é possível visualizar o Primeiro Mapa
das Mídias Alternativas, que já apresenta 59 delas catalogadas no período determinado
da Ditadura Militar (1964-1985) até os dias atuais. Deste total, 12 delas figuram no
plano de trabalho do período da Ditadura Militar, da bolsista Ana Lúcia Oliveira da
Cruz; e 47 neste plano, pós-ditadura militar em diante.
Os estudiosos da área de mídias alternativas e de temáticas relativas à Amazônia
à época da ditadura militar e pós-ditadura militar neste primeiro momento (KUCINSKI,
1991, FESTA 1986, PEREIRA 1986, BONFIM 2010, BECKER, 2005, MORAES,
2007) possibilitaram um aporte teórico para a classificação da impressa alternativa que
aprendemos a chamá-la de Mídia alternativa, dada a possibilidade de possuir cada uma
delas mais de um suporte de comunicação na contemporaneidade. Como é o caso do
jornal Resistência, que é impresso e está na web.
No decorrer do desenvolvimento do plano, novos autores surgiram para suprir a
fundamentação teórica exigida para o cumprimento dos objetivos do trabalho. Teórico
essencial como DOWNING (2002) para o conceito de Mídia alternativa; CASTELLS
(2008) para se começar a pensar a sociedade em rede, fruto dessa contemporaneidade,
22
entre outros. As entrevistas com os atores sociais, ativistas dessas mídias, possibilitaram
ampliar o conhecimento sobre os jornais, principalmente porque a maioria dessas
mídias não possui registro. Este é o caso do jornal Carreto, 1997, o Jornal Xibé, 1982, o
Jornal Faísca, 1983, foram conhecidos a partir de entrevistas, com alguns exemplares
sendo disponibilizados pelos ativistas. A figura abaixo mostra a primeira versão do
catálogo dos jornais alternativos, obedecendo ao período de 1986 aos dias atuais. No
catálogo há informações dos jornais, formato, as temáticas, os atores sociais, a galeria
dos atores sociais e se contém publicidade, e o modus operandi da equipe do projeto
Mídias Alternativas na Amazônia na captura dos jornais. Eis a versão parcial do
catálogo com capa, jornais mapeados, galeria dos atores sociais e o gráfico dos jornais
organizados por ordem cronológica.
Figura 1 - Capa do catálogo do Mapeamento das Mídias Alternativas na Amazônia
Fonte: Projeto Mídias Alternativas na Amazônia. (2012)
23
Figura 2 - Página do catálogo resultante do Mapeamento do Jornal Pessoal
Fonte: Projeto Mídias Alternativas na Amazônia. (2012)
Figura 3 - Página do catálogo resultante do Mapeamento da Revista PZZ
Fonte: Projeto Mídias Alternativas na Amazônia. (2012)
24
Figura 4 - Página do catálogo resultante do Mapeamento da rede Mocoronga
Fonte: Projeto Mídias Alternativas na Amazônia. (2012)
Figura 6 - Página do catálogo resultante do Mapeamento da revista Em questão
Fonte: Projeto Mídias Alternativas na Amazônia. (2012)
25
Figura 7 - Galeria dos Atores Sociais
Fonte: Projeto Mídias Alternativas na Amazônia. (2012)
Gráfico 1 - Gráfico dos Jornais por ano de 1986 até os dias atuais encontrados e coletados durante o desenvolvimento
deste plano de trabalho.
Fonte: Projeto Mídias Alternativas na Amazônia. (2012)
Re-vista Poética / Kaiapó/ Jornal
Pessoal/ O Penta/ O grito do Pescador/
Komabu; 1987
Merda; 1988
Arte e Manha/ Pedra Escrita/ Cuíra; 1991
Este é um país sério/ Identidade
Noturna/Setentrião; 1992
Boca de Forno/ Asa da Palavra/; 1995
SOS Amazônia/ Cabocla/ O Amazônida/
Sentinela; 1996
Informativo/ O carreto; 1997 Cururu/ Agenda
Amazônica; 1999 Japim/ Amazônia
Ipar; 2000 Capixaba; 2002
Tapajós/ Parauara/ Em questão; 2003
Afirmativo do Tapajós; 2004
Grutesa/ Pzz; 2005
Colunão/ Polichinelo/ O cametá; 2006
Folha de Samaúma/ Tapára; 2007
Aminã hoje; 2008
Diário do Arapiuns/ Amazônia Viva; 2011
Itapará/ Jornal Mauary; 2012
Diário/ A voz da Juventude/ A folha do Tapajós/ O pai
degua; não divulgam data
26
PUBLICAÇÕES
Artigo científico intitulado Imprensa Alternativa na Ditadura Militar: Um
olhar jornalístico e acadêmico de Bernardo Kucinski, no Evento Internacional II
Conferência Sul Americana / 7º Conferência Brasileira de Mídia Cidadã. /UFPA de 17 a
22 de outubro de 2011. Autores: Professora Dra Célia Regina Trindade Chagas Amorim
e as bolsistas Michelle dos Santos Fernandes e Raquel Sales Trindade. (VER ANEXO).
Artigo científico intitulado Mídias Alternativas na Amazônia: Intercom /
Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXX IV –
Congresso Brasileiro de Ciência da Comunicação / Recife - Pernambuco de 02 a 6 de
setembro de 2011. Autora: Professora Dra Célia Regina Trindade Chagas Amorim.
Artigo científico intitulado O contexto da Imprensa Alternativa na Amazônia
no período da ditadura militar (1964-1985) no XI Congresso de Ciências da
Comunicação na Região Norte /Universidade Federal do Tocantins, de 17 a 19 de maio
de 2012. Autores: Professora Dra Célia Regina Trindade Chagas Amorim e as bolsistas
Mariana Costa Castro, Roberta Aragão Machado e Ana Lúcia Oliveira da Cruz.
Artigo científico intitulado Mídias alternativas na Amazônia: Uma
investigação científica em construção no XXXV Congresso Nacional de Ciências da
Comunicação, realizado na Universidade Federal de Fortaleza, em setembro de 2012.
Autores: Professora Dra Célia Regina Trindade Chagas Amorim e as bolsistas Mariana
Costa Castro, Roberta Aragão Machado e Ana Lúcia Oliveira da Cruz.
Artigo científico intitulado Mídia radical alternativa na Amazônia no X
Congresso da LUSOCOM - Comunicação, Cultura e Desenvolvimento, realizado no
Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, na cidade de Lisboa, em Portugal, em
setembro de 2012. Autores: Professora Dra Célia Regina Trindade Chagas Amorim e as
bolsistas Mariana Costa Castro, Roberta Aragão Machado e Ana Lúcia Oliveira da
Cruz.
ATIVIDADES A SEREM DESENVOLVIDAS NOS PRÓXIMOS MESES
Continuação da seleção da bibliografia referente ao tema para enfrentar os
objetivos do plano de trabalho tanto no que circunscreve a imprensa alternativa .
Continuação do mapeamento das mídias impressas, Biblioteca Arthur Vianna, da
Fundação Cultural Tancredo Neves, CENTUR, em outros locais que os pesquisadores
encontrarem ao longo da investigação para identificar os principais jornais e outros
27
impressos do movimento alternativo amazônico no período proposto pelo plano de
trabalho;
Realização de entrevistas com os outros atores sociais das mídias investigadas,
pois esses ativistas têm possibilitado uma reconstrução de histórias deste movimento
não registradas;
Ampliação do catálogo com nomes dos jornais e outros impressos, localizações
e ativistas das mídias alternativas na Amazônia;
Produção de mais artigos científicos como fonte para o ensino e pesquisa e a
participação em congressos.
CONCLUSÃO
O plano em tela possibilitou a construção do Primeiro Mapa das Mídias
Alternativas na Amazônia, originando o desenvolvimento do catálogo dessas formas de
comunicação que contém 59 jornais e revistas. Tal estudo tem se constituído um norte
para se entender o que são as Mídias Alternativas na Amazônia, meios de comunicação
que refletem em suas páginas parte da história e da cultura local como a problemática
enfrentada pela população da região como índios, caboclos, seringueiros, pessoas de
outras regiões que sofrem com a implantação dos grandes projetos na Amazônia, as
periferias das grandes cidades amazônicas, além de denuncias de políticos que abusam
do poder utilizando essas populações marginalizadas que não possuem noção de direitos
sociais, etc.
Os estudos até então desenvolvidos têm possibilitado perceber, por meio das
mídias alternativas, o que era dito nas épocas dos grandes projetos, o que era proposto
para população, e as consequências disso na região, enfim traçar um panorama de como
se deu este processo, que não passou em branco pelas páginas das mídias alternativas
daquele período e como estas caminham nos dias de hoje. Por exemplo, o jornal
Varadouro nasceu da necessidade de luta por direitos dos povos da Selva Acreana, que
tinham direitos negados devido a uma série de planos impostos a região, que vinham de
encontro com o direito à terra. O Mensageiro foi um jornal que tentou suprir a
necessidade do diálogo de índios para índios, contextualizando o processo histórico
vivido por esta comunidade. Era uma mídia que servia de ensinamento para outras
gerações indígenas, denunciava o prejuízo para os povos indígenas de obras de
desenvolvimento nacional como a hidrelétrica do Xingu. O Jornal Pessoal, que nasceu
em 1987 da necessidade de denunciar que crimes de latifúndio não podem ficar
28
impunes, é um periódico que por meio de investigação e checagem dá o panorama da
realidade dos projetos grandes projetos da Amazônia e dos reais impactos à população,
além da análise da vida política em Belém do Pará e da metalinguagem midiática na
região. Desde 2008 está na internet. Após a publicação no impresso o Jornal Pessoal
vai na íntegra para o site, assim como outro jornal, o Resistência, que desde 2011 aderiu
a publicação online. Ambos os jornais tem ampliado o seu raio de alcance e perpetuação
graças à migração para a internet. A Rede Mocoronga, outro resultado da pesquisa, é
um site de uma rede ligada a aproximadamente 35 comunidades. As principais notícias
dessas principais comunidades são publicadas no site levando ao leitor de qualquer
lugar do país, e do mundo um pouco da história e do que vivencia a população local de
Santarém, no Pará. Todos estes dados só puderam ser coletados a partir da construção
do mapa dos jornais, uma experiência que possibilita o fortalecimento das pesquisas em
Comunicação na Amazônia.
Quanto às entrevistas, no total 13 ativistas, já apresentam informações sobre a
história de vida destes atores sociais envolvidos nos jornais, suas motivações, sua visão
sobre o período vivido e a base para a caracterização de como é fazer Mídia alternativa
na Amazônia, e o que é Mídia Alternativa na Amazônia. O relato oral, de fundamental
importância, ajudou a situar quanto ao contexto vivido e o nascimento de jornais,
ligação esta possível pela leitura do jornal e o relato com mais propriedade por aqueles
que o escreviam.
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29
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direitos humanos e indígenas na perspectiva de militares e políticos brasileiros. In XXVI Encontro
Anual da ANPOCS, 2002.
DIFICULDADES
A maior dificuldade nesta etapa está sendo encontrar as mídias alternativas. Uma
grande parte delas não foi preservada. O acesso ao acervo de Vicente Salles foi um
ganho representativo para o início do mapa. Ao conversar com os atores sociais a
equipe tomou conhecimento de outros jornais que não possuem registro no Museu da
UFPA, nas bibliotecas públicas, nem na internet como o alternativo Xibé, uma indicação
do cartunista Ubiratan Porto em sua entrevista, realizada no dia 25 de janeiro de 2012.
30
Outra dificuldade foi o embasamento das mídias alternativas na Amazônia. Autores
como Bernardo Kucinkski (1991), Raimundo Pereira (1986) dentre outros já citados,
serviram de aporte teórico inicial para a análise de alguns jornais, porém as
peculiaridades da Amazônia são muitas, conflitos agrários, expropriação e grilagem de
terras, trabalho escravo, etc., o que levou a equipe a buscar autores com fundamentação
nesta realidade amazônica (Bonfim, 2010, Costa Sobrinho 2000, etc), além de jornais
alternativos e atores sociais, e partir para entrevistas com eles, pois assim se
aprofundava de forma mais concreta o conhecimento da imprensa alternativa na
Amazônia, aumentando os estudos sobre esta forma de comunicação, importante na
democratização da comunicação na região.
Mesmo em tempos de globalização da comunicação, a catalogação dos nomes
dos atores sociais, e-mails e telefones, além das entrevistas iniciadas no mês de janeiro
de 2012 sofreram dificuldades, pois muitos atores sociais não possuem nenhuma
informação na internet e vários jornais já havia se extinguido. Outra dificuldade foi à
utilização de e-mails enviados pela equipe do projeto aos ativistas. Muitos voltaram
porque o endereço eletrônico não existia, outros não foram respondidos. O e-mail
enviado pela equipe informava o que é o projeto, a importância destes meios de
comunicação para a democratização da informação e convoca esses atores sociais para a
realização da entrevista. Todas as entrevistas de atores sociais foram realizadas
diretamente na casa dos ativistas ou no local de trabalho.
PARECER DO ORIENTADOR
O presente plano de trabalho intitulado: “Mapeamento 2: Mídias Alternativas
impressas em Belém do Pará – De 1986, pós ditadura militar, até os dias atuais”,
vinculado ao Projeto Mídias Alternativas na Amazônia, foi desenvolvido dentro do
prazo estabelecido pelo cronograma determinado.
A aluna do Curso de Comunicação Social, habilitação Publicidade e Propaganda
da UFPA, Roberta Aragão Machado, bolsista AF/ UFPA, executora do referido plano,
iniciou suas atividades acadêmicas no final do mês de novembro. O plano foi
desenvolvido em três etapas: bibliográfica referente à busca de literatura referente à
temática do projeto Mídias Alternativas na Amazônia, Ocupação territorial da
Amazônia durante à Ditadura Militar (1964-1985), atuação das mídias alternativas pós-
ditaduras e novo ambiente multimidiático em rede. A segunda diz respeito a visitas
periódicas ao Museu da Universidade Federal do Pará e ao Centur, início em janeiro de
31
2012, os primeiros locais da investigação dos jornais alternativos na Amazônia, além de
entrevistas com ativistas destas mídias com a finalidade de iniciar a terceira parte, o
desenvolvimento do Mapa das Mídias Alternativas na Amazônia. A execução desse
plano é árdua porque a literatura na área ainda é reduzida se se comparar com as mídias
tradicionais. Outra dificuldade é a falta de arquivos que poderiam servir de lócus de
memória das mídias alternativas na Amazônia. Muitas delas existiram mais não foram
registradas. Para enfrentar esses obstáculos, a coordenação do projeto e a bolsista estão
em contato direto com ativistas dessas mídias. Eles têm sido uma das principais fontes
para a construção do mapeamento porque contribuem com relatos orais, fornecimento
de jornais e boletins alternativos. Os que não disponibilizam material, autorizam
Roberta Machado a fazer o registro por meio de fotografias e vídeos.
A aluna já conseguiu catalogar 47 jornais alternativos da Amazônia (VER
INSTRUMENTO DA PESQUISA). Embora o Plano de Trabalho esteja restrito as
mídias impressas alternativas em Belém do Pará, a coordenação tem levado em
consideração à ampliação deste espaço para a Amazônia, já que muitos ativistas e
militantes destas formas de comunicação de outras localidades estão dispostos à
colaborar com a doação de documentos históricos importantes que precisam ser
catalogados para a construção de uma memória dessas mídias na região.
Nesta perspectiva o plano em tela, que tem como principal objetivo desmistificar
a idéia ainda corrente de que a imprensa alternativa é um fenômeno exclusivo da
ditadura militar, foi desenvolvido com responsabilidade acadêmica. O mapeamento já
começa a demonstrar tal hipótese, as mídias alternativas não são produtos exclusivos de
regimes autoritários. As mídias alternativas são fenômenos que fazem parte da história e
cultura de uma sociedade, oferecendo contribuições, à sua maneira, para um sistema
mais democrático de comunicação. Frente ao exposto, o parecer é favorável.
Data: 07 de agosto de 2012
Professora Drª Célia Trindade Amorim
Coordenadora do Projeto Mídias Alternativas na Amazônia
Aluna Bolsista AF/UFPA Roberta Aragão Machado
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INFORMAÇÕES ADICIONAIS
Roberta Marchado entrou para a equipe do Mídias Alternativas após a saída em
outubro de 2011 de Michelle Fernandes, que deixou o projeto porque conseguiu uma
vaga de estagiária na ASCOM da Universidade Federal do Pará. (UFPA).
ANEXOS: CERTIFICADOS
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RESUMO
Mídias Alternativas na Amazônia Título do Plano de Trabalho: Mapeamento 2: Mídias Alternativas impressas em Belém do
Pará – De 1986, pós-ditadura militar, até os dias atuais
Roberta Aragão MACHADO (Bolsista AF/ UFPA – Ações Afirmativas) –
Curso de Comunicação Social, Publicidade e Propaganda, Faculdade de Comunicação, Instituto
de Letras e Comunicação.
Profa. Dra. Célia Regina Trindade Chagas AMORIM (Orientadora) –
Curso de Comunicação Social, Faculdade de Comunicação, Instituto de Letras e Comunicação.
O presente Plano de Trabalho intitulado: Mapeamento II: Mídias Alternativas impressas
em Belém do Pará – de 1986, pós-ditadura militar até os dias atuais - tem como principal
objetivo investigar pequenos jornais e revistas de caráter contra hegemônicos produzidos no
período supracitado. Essa investigação vai originar a composição do primeiro Mapa das Mídias
Alternativas na Amazônia. O estudo insere-se no período de Ditadura Militar (1964-1985), mas
tem como foco a compreensão das transformações pelas quais passaram os periódicos durante a
fase de redemocratização e as formas que assumem hoje com o novo ambiente multimidiático
em rede. O Plano foi organizado metodologicamente em três etapas. A primeira é referente à
pesquisa bibliográfica, foram selecionados autores que permitem a compreensão do fenômeno
das novas reconfigurações que tomam as comunicações alternativas na fase de internet. Os
autores que sustentaram este percurso foram PERUZZO 2008; MORAES, 2007, DOWNING
2002, GRAMSCI 1987, CASTELLS, 1999. A segunda diz respeito ao aporte teórico sobre o
contexto amazônico para se entender a geopolítica militar de integração do território ao
conjunto da economia nacional e internacional e as consequências disso para a
contemporaneidade da realidade da região que exige um poder não mais centrado na figura do
Estado, mas na capacidade de influir na tomada de decisão dos Estados sobre o uso de seus
territórios, por meio de redes complexas de comunicação. (BECKER, 2005). Os autores que
nortearam os estudos sobre o contexto histórico amazônico foram COSTA SOBRINHO 2000;
IANNI 1986; BECKER 2005; BOMFIM 2010. A terceira fase trata da pesquisa documental, por
meio da investigação, coleta e análise de jornais e revistas nos acervos da Coleção Vicente
Salles, no Museu da UFPA; na Biblioteca Pública Arthur Vianna, na seção Obras do Pará,
CENTUR e em casas de ativistas das mídias alternativas que foram entrevistados. O Primeiro
Mapa das Mídias Alternativas na Amazônia já conta com 59 jornais e revistas de Belém e de
outras regiões do Norte do País, constituindo-se em uma produção científica relevante para os
estudos na área da Comunicação. Na Amazônia, as mídias alternativas constroem suas próprias
territorialidades contra hegemônicas, articulando-se em escala planetária para impedir a livre
mercantilização da região. Exemplos de jornais com Resistência de 1978, símbolo de oposição à
Ditadura Militar na Amazônia e o Jornal Pessoal de 1987, que nasceu no início da
redemocratização, estão com páginas na internet revelando, com isso, que as mídias alternativas
acompanham as exigências das transformações históricas.
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Palavras-chave: Mídia Alternativa. Mapeamento. Webmídia. Redes de Comunicação.
Amazônia.
Título do projeto do orientador: Mídias Alternativas na Amazônia
Classificação do trabalho na Tabela de Áreas o conhecimento do CNPq:
Grande-área: Ciências Sociais Aplicadas
Área: Comunicação
Subárea: Jornalismo e editoração