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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ ANNA KARINA SCARAMELLA DA SILVA REPENSANDO O ESPORTE NA ESCOLA E DA ESCOLA UNIÃO DA VITÓRIA 2008

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ ANNA KARINA … · Porque nas camisas dos jogadores e nos estádios têm várias marcas como patrocinadoras? Porque ... esportivas renderam-se à cultura

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

ANNA KARINA SCARAMELLA DA SILVA

REPENSANDO O ESPORTE NA ESCOLA E DA ESCOLA

UNIÃO DA VITÓRIA

2008

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ANNA KARINA SCARAMELLA DA SILVA

REPENSANDO O ESPORTE NA ESCOLA E DA ESCOLA

Produção Didático - Pedagógica apresentado ao Programa de Desenvolvimento Educacional Universidade Federal do Paraná. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria Regina Ferreira da Costa

UNIÃO DA VITORIA

2008

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UNIDADE DIDÁTICA

REPENSANDO O ESPORTE NA ESCOLA E DA ESCOLA

Anna Karina Scaramella da Silva

Apresentação

Inicialmente, é de fundamental importância entender que o esporte é uma

prática corporal construída socialmente onde reflete a cultura capitalista. Portanto, é

necessário pensar sobre o tratamento pedagógico dado ao esporte, ampliando as

discussões e possibilidades, problematizando-o como fenômeno sociocultural, na

tentativa de diminuir ou até eliminar a resistência de alguns professores/as através

da conscientização com relação à diferenciação do esporte na escola e esporte da

escola.

Esporte fenômeno social

Atualmente o esporte é o conteúdo mais utilizado nas aulas de Educação

Física, sendo inclusive, identificado pelos alunos/as como sinônimo de Educação

Física. Entendo também que o esporte é um fenômeno social complexo, com

inúmeras facetas, e a questão principal é a forma inadequada de como este

conteúdo é tratado na escola.

A crítica se dirige ao esporte que reproduz a ideologia capitalista, onde

valores como ganhar, fracassar, selecionar, são vistos como naturais, além do que,

desenvolve valores conformistas de respeito às regras. Desse modo, passa uma

mensagem onde todos/as têm oportunidade de vencer através do esforço pessoal,

não ocorrendo qualquer forma de questionamento. Infelizmente esse conteúdo ainda

é reproduzido no contexto escolar, envolvendo quase que exclusivamente, a técnica

dos gestos esportivos que visam o rendimento máximo.

Cabe ressaltar que o esporte precisa ser tratado de forma ampla, como

fenômeno cultural socialmente construído, que reproduz de modo eficaz os valores

da sociedade onde está inserido, como também influencia diretamente a vida social.

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A aceitação do esporte como fenômeno social complexo pela escola se faz

necessária, desde que possibilite questionamentos, permitindo assim, uma

reavaliação para discussão e ampliação dos conteúdos relativos ao esporte da

escola, proporcionando uma desmistificação, já que o esporte é conteúdo de fácil

abordagem devido ao seu alcance.

No que concerne ao trato pedagógico do esporte, Valter Bracht (2000, p.16)

assinala que não se trata de negá-lo:

Ao contrário, se pretendemos modificá-lo é preciso exatamente o oposto, é preciso tratá-lo pedagogicamente. É claro que, quando se adota uma perspectiva pedagógica crítica, este tratá-lo pedagogicamente será diferente do trato pedagógico dado ao esporte a partir de uma perspectiva conservadora de educação.

Portanto, é necessário compreender que o conteúdo esporte na escola tem

que se dar a partir de um significado de valores que o legitimem como um bem

social, buscando no esporte valores que tratem do respeito ao ser humano, a

solidariedade, e a coletividade. Mas, para isso é preciso modificar suas regras,

elaborando então, o esporte da escola.

Esporte e suas possibilidades metodológicas

É importante que professores/as conheçam e invistam numa pedagogia do

esporte onde este não seja tratado como um fim em si mesmo, que o fundamental é

ensinar o esporte porque é um fenômeno globalizado. Na realidade, como

formadores/as devemos buscar compreender quais são as influências e quais os

interesses para os quais estamos direcionando tais práticas. Vale assinalar que no

esporte escolar os interesses devem ser educativos, de formação de alunos/as.

Para trabalhar nesta perspectiva, professores/as enfrentarão desafios,

abordando questões como: esporte espetáculo, competição, cooperação, relação de

gênero, consumo de drogas, mídia, violência, preconceitos, etc.

Cabe dizer que esta discussão existe há muito tempo entre os professores/as

de Educação Física, e na maioria das vezes, permanece um abismo entre a teoria e

a prática pedagógica. O fenômeno esporte deve ser trabalhado de maneira que

possa ser justificado pela amplitude de suas possibilidades pedagógicas e

metodológicas. Ensinar esporte na escola ultrapassa seus fundamentos, técnicas e

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táticas, pois inclui também os valores que resultam em atitudes e relações entre

os/as participantes.

A relação entre teoria e prática pedagógica não pode ser aquela em que a

teoria determina como será a prática. Cabe lembrar que a prática é complexa,

singular e desse modo depende do contexto. De fato a teoria pode orientar o

trabalho docente, mas não pode determiná-lo. Na realidade a teoria e prática são

constitutivas e também é possível questionar a teoria através da prática.

Mauro Betti (2005) afirma que a teoria é vista como reveladora de várias

alternativas e pela análise e diálogo com a situação. Assim contribui para fazer

avançar o conhecimento sobre a validade de cada uma delas, e são geradas

relações de interrogações mútuas entre teoria e prática, em decorrência de ambas

se transformarem.

Com isso surge a necessidade de ampliar as reflexões referentes a uma

pedagogia do esporte, com técnicas e táticas utilizadas apenas como um meio para

a formação dos/as alunos/as, incluindo questionamento de valores como a seleção

dos melhores, a exclusão, a eficiência e a eficácia, etc. Já que o esporte é um

conteúdo que deve visar o sentido formativo de alunos/as, devemos respeitar nas

aulas de Educação Física a diversidade do grupo de alunos/as quanto às suas

habilidades, interesses e expectativas.

Cabe assinalar que a Educação Física tem possibilidade dentro do currículo

escolar devido a amplitude de abordagens que podem ser biológica, antropológica,

sociológica, psicológica, filosófica, política e corporal. Como manifestação humana a

Educação Física assume caráter multidisciplinar e o conteúdo esporte é um entre os

conteúdos a ser trabalhado. Este é um tema polêmico de onde partimos e aonde

queremos chegar com nossa prática pedagógica.

Segundo as Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná (2008, p.31)

A atuação do professor de Educação Física tem sua

importância no sentido de aprofundar a abordagem dos conteúdos, considerando as questões veiculadas pela mídia em sua prática pedagógica, de modo a possibilitar ao aluno discussão e reflexão sobre questões como: a supervalorização de modismo, estética, beleza, saúde, consumo; os extremos sobre questão salarial dos atletas; os extremos dos padrões de vida dos atletas; o preconceito e a exclusão; a ética que permeia os esportes de alto nível, entre outros aspectos que são ditados pela mídia.

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A mídia exerce grande influência sobre o esporte que é praticado na escola,

distorcendo e padronizando o modelo de esporte e de quem pratica. Diante disso,

como professores/as devemos trabalhar as aulas de Educação Física com

criticidade, para que não seja reproduzida principalmente no que diz respeito a

violência e ao consumismo exagerado. Para Assis (2001, p 91) “O esporte, que tem

origem nos jogos produzidos pelo povo, retorna ao povo como espetáculo para

consumo.”

O esporte é um fenômeno cultural de influência sobre os jovens, também

invade o campo pedagógico, no caso vai diretamente ao esporte, construindo sua

própria identidade de consumo.

É possível constatar que, atualmente, as mídias, especialmente a televisão,

(mais popular entre nossos/as alunos/as) assumem o papel de protagonista na

difusão dos interesses de determinados grupos sociais, aparece como a única

maneira de se divulgar a verdade, atuam como transmissores de comportamentos e

valores da cultura esportiva dominante, seja nas reportagens ou simplesmente nas

propagandas comerciais, negando as diversas formas de manifestações das

práticas corporais.

Assinalo que o esporte pode ser um bom exemplo para questionar: porque o

futebol masculino é amplamente transmitido pelos meios de comunicação? A que

interesses estão relacionados? Porque nas camisas dos jogadores e nos estádios

têm várias marcas como patrocinadoras? Porque determinados jogos não são

transmitidos em canal aberto? Porque determinadas emissoras tem direitos de

transmissão de jogos, olimpíadas e etc.?

Os principais meios de comunicação de massa apresentam de modo seletivo

e elitista a cultura esportiva dominante, reforçando aspectos como a aquisição de

habilidades de alto nível, a especialização e recompensas, tornando-os naturais e

normais para os praticantes, ou seja, oferecendo-os como a única possibilidade de

fazer e pensar o esporte. Com o apelo financeiro da mídia, algumas modalidades

esportivas renderam-se à cultura dominante. Subordinaram suas regras e suas

tradições históricas em troca de uma nova fonte de recursos financeiros obtidos pela

transmissão dos campeonatos, muitas vezes, com vistas à própria sobrevivência do

esporte profissional. O voleibol, por exemplo, alterou a forma de contagem dos

pontos, incluiu a função do líbero, deixou à disposição da TV a definição dos

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horários das partidas de acordo com a grade de programação. Enfim, tudo isso para

se adaptar aos mandos da transmissão televisiva e seus patrocinadores.

Entre os conteúdos mais trabalhados nas aulas de Educação Física, o futebol

é o seu maior representante, e na maioria dos casos é pouquíssimo aproveitado na

sua amplitude, pois sua prática está restrita a racionalidade instrumental, limitando

desse modo, seu valor pedagógico. Neste caso, há a necessidade de proporcionar

aos alunos/as a reflexão sobre o futebol nos diferentes contextos em que se

apresenta, seja de lazer ou de rendimento buscando ampliar o entendimento de sua

prática cultural.

Cabe salientar, que o futebol pode ser praticado de várias formas. É

importante orientar as práticas educativas despertando a ludicidade e a criticidade

através do diálogo relacionando com as vivências dos/as alunos/as com relação ao

futebol.

É necessário explorar algumas temáticas veiculadas pela mídia, principalmente, aquelas que formam identidades e disfarçam atos preconceituosos.

Ilustração: Camila Scaramella da Silva

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ATIVIDADES

Inicie perguntando aos/as alunos/as qual é o futebol que eles conhecem.

1ª Fase

Jogo pré-desportivo: Futebol de mãos dadas:

A dinâmica do jogo é a mesma do futebol,

• Realizado em duplas, de mãos dadas,

• As mãos não podem ser soltas, ocasionando a perda da posse de bola,

• As duplas têm responsabilidade de atacar, quando de posse da bola ou

defender se estiver sem a posse

• Será praticado em meia quadra com um só goleiro para as duplas

• Dependendo da faixa etária ou quanto ao número de alunos/as poderá ser

feita a variação com trios ou quartetos, ou na quadra inteira com dois

goleiros,

• Observe se há exclusão e incentive modificações para que todos/as

participem.

• Estimule a criação de variações e adaptações de novas regras assim como

a discussão.

2ª Fase

Fale sobre a história do futebol no Brasil, propondo uma discussão sobre os

diferentes aspectos:

• futebol como área predominantemente masculina;

• formação de ídolos, mitos e heróis;

• torcidas organizadas de futebol;

• gestão do futebol brasileiro;

• exacerbação do nacionalismo proposto pelo futebol;

• discriminação racial;

• deficientes físicos;

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A diversidade no tocante a educação nos permite perceber, reconhecer e

valorizar as diferenças, referente à raça/etnia, religião, gênero/sexualidade, biótipo e

habilidade, oportunizando a aprendizagem respeitando as diferenças, sempre

valorizando a convivência e a aprendizagem compartilhada, diversificando as

metodologias de ensino. Para tanto enfrentaremos os preconceitos e aí como

docentes formadores, cabe a nós desconstruir tais preconceitos.

Nas aulas de Educação Física alunos/as ficam expostos/as diante dos/as

professores/as e colegas, conseqüentemente observados/as, avaliados/as através

das diversas expressões corporais e potencialidades.

De modo geral, nas aulas de Educação Física e nas aulas livres evidenciam-

se a divisão de meninos e meninas, onde na maioria das vezes os/as alunos/as

escolhem as atividades que vão realizar e estas se resumem em futebol para os

meninos e vôlei para as meninas. Assinalo que quando nos reportamos ao conceito

de gênero e esporte, vale recordar que gênero é a construção social e histórica da

feminilidade e masculinidade que se dá de modo plural de acordo com a sociedade

em que vivemos e com o momento histórico. Também é importante considerar que o

esporte é genereficado, isto é, institue diferenças entre homens e mulheres,

evidenciando a relação de poder entre os sexos. Não ocorre a articulação e sim as

exclusões com reforço das desigualdades impossibilitando a relação saudável entre

meninos e meninas. Isto não quer dizer que não podemos trabalhar com o conteúdo

esporte. Cabe ressaltar que os/as alunos/as devem vivenciar o esporte

regulamentado e compreender tal contexto. Mas, no contexto escolar, deveríamos

trabalhar com o esporte da escola.

Esportes competitivos, de contato, conseqüentemente agressivos e violentos,

são considerados exemplos de virilidade e força, destinado aos meninos, o que

afasta a maioria das meninas da sua prática. Mas, as meninas não são as únicas

• a violência nos estádios de futebol, entre outras temáticas possíveis.

3ª Fase

Os/as alunos/as deverão fazer entrevistas com mães ou avós, para saber sobre o

futebol feminino, como era praticado, depois comente com seus/as alunos/as sobre

as respostas.

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excluídas, isto também acontece com os meninos que não correspondem ao

modelo. O inverso também ocorre quando homens praticam esportes geralmente

ditos femininos.

Quanto à participação de mulheres, Eustáquia Souza; Helena Altmann (1999,

p58) ressaltam,

Entretanto, não se pode considerar que, pelo fato de homens e mulheres praticarem os mesmos esportes, estes tenham deixado de ser genereficados. Basta uma análise mais cuidadosa do noticiário para verificarmos que eles continuam, de maneira geral, estreitamente ligados à imagem masculina: destacam-se a beleza dos atletas, suas qualidades femininas, sempre frisando que são atletas, mas continuam mulheres.

Para Tarcísio Vago (1996, p 13) “... cabe a escola especificamente a Educação

Física oferecer a sociedade outras possibilidades de esporte, produzindo novos

conhecimentos sobre o esporte colocando-o a disposição da sociedade,

diferentemente de ser apenas um lugar de transmissão de conhecimento já pronto.”

Aliado a reprodução que envolve o esporte, o que fica mais evidente é a

resistência dos professores/as à mudança, já que estas propostas não são tão

novas assim. Isso pode ser explicado pela formação tecnicista e pela vivência

esportiva anterior ao curso de formação.

Ressalto que não viso fazer criticas ao trabalho dos/as professores/as com

relação ao modo como o esporte é tratado na escola, mas lembrá-los do poder que

essa prática pedagógica tem no ambiente escolar. Com isso, saliento que o esporte

não desenvolve valores isoladamente, cabe ao professor/a investir tempo, esforço e

planejamento para que o esporte na escola assuma um caráter formativo e

pedagógico na formação de alunos/as críticos/as e participativos/as no processo de

aprendizagem.

O/a professor/a deve ser um transmissor de novos conhecimentos, sendo um

grande desafio para os profissionais de Educação Física que tem sob sua

responsabilidade a oportunidade de transformar conceitos sobre o esporte já

estabelecidos e enraizados nas aulas de Educação Física.

Infelizmente o que presenciamos na escola é a reprodução da instituição

esportiva formal, excessivamente técnica e mecânica, excludente, que enfatiza a

competição.

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A competição está ligada diretamente ao esporte, não se pode excluir ou

ignorar a competição do processo pedagógico, pois é uma constante em nossa

sociedade, deve ser discutida e não abolida do processo educativo. Dependendo da

orientação pode ser um recurso didático. Contudo, devemos ser conscientes quando

optamos poresta prática nas aulas de Educação Física.

A proposta pedagógica deve conter elementos que a norteiem como: a

experiência corporal com o esporte, competição, cooperação, gênero/sexualidade,

raça/etnia, classe, diversidade, diferença, etc. de modo que todos/as se apropriem

das diferentes práticas corporais

Um recurso sugerido são os jogos cooperativos, já que estes apresentam uma

estrutura alternativa diferenciada dos jogos formais. Os/as alunos/as colaboram

entre si para que um objetivo comum seja alcançado, superando desafios em

conjunto, dividindo o sucesso e o fracasso. É evidente que nessa prática a

competição está presente, mas o que acontece aqui é que há um grupo que

participa.

Nos jogos cooperativos, joga-se para vencer o jogo, para superar desafios e

obstáculos, e não para vencer os outros. Joga-se com os outros e não contra os outros. ATIVIDADES

Jogo do Dragão

Material Necessário: Bolas

Objetivo: cuidado, respeito mútuo e coletividade.

Formação em círculo, em pé;

• Dentro do círculo dois/as alunos/as fazem o “corpo do dragão” (um/a é a

cabeça e outro/ é o rabo) e posicionam-se um/a na frente do/a outro/a, com

as mãos do/a aluno/a de trás, nos ombros ou na cintura do da frente, de

forma a ficarem ligados;

• Os/as outros/as alunos/as (em círculo) têm uma bola e o objetivo é acertar o

rabo do dragão;

• O grupo que estiver no círculo tem que trabalhar junto para que acertem o

“rabo do dragão”.

• Quem acertar o “rabo do dragão” vai para o lugar da cabeça , ou entra entre

o “rabo” e a “cabeça” e vai aumentando o corpo do “dragão” e

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seqüentemente dificultando a mobilidade do mesmo

• Para terminar, abrir para sugestões e compartilhar sensações, idéias, etc...

OBS: Aos poucos o/a professor/a coloca um número maior de bolas no círculo

fazendo com que o desafio aumente.

Outro problema social evidenciado nas aulas de Educação Física é a

violência. Há uma relação da violência fora da escola que adentra os muros das

escolas, mas não podemos esquecer que a escola também produz formas violentas

de lidar com alunos/as.

A escola tem se tornado local de constantes manifestações de violência

desencadeadas por brigas, agressões físicas e verbais, discriminação social, sexual

e racial. E é a escola o local apropriado para ensinar questões referentes a violência,

contudo, é necessário a intervenção constante do/a professor/a para que a violência

não seja tratada como normal ou aceitável.

A violência entre as crianças e os adolescentes durante as aulas de

Educação Física são reproduções da violência presente na sociedade, além do que

a própria prática pode ser violenta para alunos/a, etc. A violência deve ser

compreendida na sua totalidade, não pode ser entendida como apenas algumas

ações isoladas dos/as alunos/as de outras ações sociais.

É importante a interrupção da aula quando ocorrer uma manifestação violenta

e promover a discussão, tomando como exemplo as próprias aulas de Educação

Física. Por exemplo: questionando qual o motivo da violência (física, verbal,

simbólica); aonde presenciam atos de violência, (casa, televisão, rua); o que pode

ser mudado para que não ocorra a violência; sugestão de alguma atividade que não

favoreça nenhum tipo de violência.

Lembre-se que as atividades competitivas acirram a rivalidade entre os/as

alunos/as.

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ATIVIDADES

Futi-pano

Material: 2 bastões(cabo de vassoura), 2 cadeiras e 1 pano grande

• Duas equipes com o mesmo número de participantes, alunos/as sentados/as

em duas fileiras frente a frente, ficando uma em cada lado da quadra.

• Os alunos/as das duas equipes receberão um número, que deverá ser o

mesmo para cada equipe;

• O/a professor/a anunciará o número;

• Os/as alunos/as deverão disputar a posse do pano que deverá ser

empurrado com o auxílio de um bastão embaixo dos pés da cadeira do

adversário, que deverá estar posicionada em extremidades opostas,

representando uma trave;

Poderão ser feitas variações como utilizar mais de dois/as alunos/as ou usar

operações matemáticas para se chegar ao resultado que corresponde ao número

dos/as alunos/as.

Nesta perspectiva uma sugestão de recurso para as aulas de Educação

Física é pular corda, o “rope skipping” que como esporte passou a ter regras e

federação internacional. Uma das características deste esporte é a facilidade de sua

prática, pois não há restrições, além disso, pode ser usado qualquer tipo de corda,

tornando-o bastante acessível. Individualmente busca-se a superação dos próprios

obstáculos, e em grupo, procura-se enfatizar o trabalho em equipe. O/a docente

pode utilizar essa atividade ou outra aproveitando também para ensinar a seus

alunos/as algumas formas tradicionais de pular corda sem se prender em regras do

esporte.

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Ilustração: Camila Scaramella da Silva

ATIVIDADES

PULAR CORDA

Objetivos: promover a vivência de pular corda. Esta atividade se justifica também

como uma interessante e divertida forma de cultivo e valorização da cultura lúdica,

com a possibilidade de relação entre alunos/as na vivência das atividades e com a

experimentação das atividades propostas em contexto individual e ao mesmo tempo

coletivo e principalmente sem a competição exagerada.

Material: corda de sisal de 3 a 5 metros.

• Dois alunos/as batem a corda, o restante da turma vai tentar ultrapassá-la

sem encostar na corda – um a um;

• Depois os alunos passam aos pares;

• Aumenta-se a velocidade da corda;

• Os/as alunos/as passam aos pares, depois aos trios e quartetos, de mãos

dadas.

Dicas Importantes:

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• Cada aluno deve ultrapassar a corda respeitando seu tempo individual,

deixando-a bater tantas vezes quantas forem necessárias até que se sinta

seguro;

• A corda não deve ser enrolada nas mãos das crianças que estão batendo,

em caso de algum tropeço, a corda deve ser largada imediatamente a fim de

evitar maiores acidentes;

• Os/as batedores/as da corda devem sempre ser trocados regularmente;

• Antes de encerrar essa atividade, espere que todas as crianças tenham

êxito. Em todo grupo haverá aqueles/as que realizam as atividades com

maior ou menor facilidade.

Estratégias: É interessante que as atividades propostas anteriormente sejam feitas

com a corda girando no mesmo sentido. Depois, o/a professor/a pode repeti-las

com a corda no sentido oposto, o que obrigará os/as alunos/as a rever sua

estratégia para realizar os exercícios com sucesso. Não se esqueça: o/a professor/a

não deve dar soluções prontas para os/as alunos/as, mas fornecer pistas que levem

a soluções.

Pular corda: O jogo proposto a seguir já é um velho conhecido: cada aluno/a corre

em direção à corda, entra e pula algumas vezes antes de sair pelo lado oposto ao

da entrada. Caso algum/a aluno/a não se sinta seguro/a para executar a tarefa

completa num primeiro momento, é possível começar com os/as alunos/as pulando

sobre a corda esticada, passando de um lado para o outro.

Na medida em que os/as alunos/as adquirem segurança, o/a professor/a pode

sugerir novos desafios: entrar, pular três vezes e sair pelo lado oposto; um/a aluno/a

entra na corda e, enquanto pula; os/as dois/as pulam juntos algumas vezes e o/a

primeiro/a sai e o/a e segue; sugerir que seja feita em tempos determinados.

• O/a primeiro/a aluno/a entra, pula duas vezes e depois entra o segundo/a

aluno/a;

• Os/as aluno/as pulam juntos/as, sai o/a primeiro/a, fica o/a segundo/a e

terceiro e o/a aluno/a entra até que todos os/as alunos/as cumpram a

atividade;

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• Dois alunos/as entram simultaneamente e pulam várias vezes;

• Saem pelo lado oposto ao da entrada;

• A seqüência é repetida depois com três ou quatro alunos, de mãos dadas,

com uma mão depois com as duas.

As variações das atividades tarefas que podem ser feitas é muito grande. É

importante deixar o grupo sugerir novas atividades como forma de motivação e

concentração.

Finalizando: Encerrando a aula com um último desafio. A cada batida da corda uma

criança deverá passar sob a mesma de cada vez, sem que haja batidas vazias,.

Para avaliar o êxito do grupo, todos os/as alunos/as devem passar pelo menos duas

vezes sem que ninguém toque na corda ou ocorram as batidas vazias. O aspecto

interessante desse exercício é a necessidade de maior organização do grupo, sem

que haja competição entre os/as alunos/as.

Para saber mais: http://www.pularcorda.com.br

SUGESTÕES DE FILMES

Driblando o Destino

Bend It Like Beckham – Inglaterra – 2002 – 112 min

O filme se passa em Hounslow, que fica a oeste de Londres e Hamburgo, onde

duas meninas de 18 anos que tem seus destinos cruzados pelo desejo de

participarem e praticarem futebol profissional. Entretanto, uma das meninas tem

uma família um tanto quanto tradicional e ortodoxa, não-ocidental.

Filhos do Paraíso

Bacheha-Ye Aseman – Irã -1997– 88 min

Um menino de 9 anos proveniente de uma família humilde e que vive com

seus pais e sua irmã. Um dia ele perde o único par de sapatos da irmã e, tentando

evitar a bronca dos pais, passa a dividir seu próprio par de sapatos com ela, com

ambos revezando-o. Enquanto isso, o menino sem perceber treina para obter uma

boa colocação em uma corrida que será realizada, pois precisa da quantia dada

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como prêmio para comprar um novo par de sapatos para a irmã.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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