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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA 2014/2015 RELATÓRIO FINAL DE PESQUISA LISSANDRA TAÍSA BALDISSERA INICIAÇÃO CIENTÍFICA PESQUISA VOLUNTÁRIA IC 2015/2015 PLANO DE TRABALHO: O uso da cor na arquitetura Relatório final apresentado à Coordenadoria de Iniciação Científica e Integração Acadêmica da UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ UFPR por ocasião do desenvolvimento das atividades voluntárias de Iniciação Científica Edital 2014-2015. NOME DO ORIENTADOR: Prof. Dr. Antonio Manoel Nunes Castelnou, neto Departamento de Arquitetura e Urbanismo TÍTULO DO PROJETO: Green Architecture: Estratégias de sustentabilidade aplicadas à arquitetura e design BANPESQ/THALES: 2014015429 CURITIBA PR 2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

PROGRAMA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA – 2014/2015

RELATÓRIO FINAL DE PESQUISA

LISSANDRA TAÍSA BALDISSERA

INICIAÇÃO CIENTÍFICA – PESQUISA VOLUNTÁRIA IC 2015/2015

PLANO DE TRABALHO:

O uso da cor na arquitetura

Relatório final apresentado à Coordenadoria de

Iniciação Científica e Integração Acadêmica da

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ – UFPR por

ocasião do desenvolvimento das atividades

voluntárias de Iniciação Científica – Edital

2014-2015.

NOME DO ORIENTADOR:

Prof. Dr. Antonio Manoel Nunes Castelnou, neto

Departamento de Arquitetura e Urbanismo

TÍTULO DO PROJETO:

Green Architecture: Estratégias de sustentabilidade aplicadas à

arquitetura e design

BANPESQ/THALES: 2014015429

CURITIBA PR

2015

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1 TÍTULO

O uso da cor na arquitetura

2 RESUMO

Ao longo da história da humanidade, a relação entre cor e obra arquitetônica tem sido

frequentemente abordada, uma vez que o tratamento cromático dos espaços criados pelo ser

humano promovem diversos efeitos, os quais estão ligados às propriedades físicas, aos aspectos

psicológicos e aos valores culturais que as cores apresentam. Em conjunto com a luz, que a

revela, a cor foi empregada em diferentes épocas, ainda que com finalidades distintas,

intensificando emoções, provocando sensações e, inclusive, indicando funções em determinados

espaços. Os vitrais multicoloridos do período gótico representavam a presença divina, assim

como, durante o Barroco, cores e luzes serviam para criar uma atmosfera teatral. Por sua vez, a

busca pela pureza e funcionalidade no Modernismo fez com que apenas se empregassem as

cores primárias, o preto e o branco.

Atualmente, devido à evolução da tecnologia da iluminação, ao avanço das indústrias e ao

aprimoramento da fabricação de tintas e corantes, entre outros, as possibilidades de uso da cor

têm sido ampliadas. Tal desenvolvimento vem acompanhado de estudos relacionados à cor e a

sua influência sobre os seres humanos, atingindo campos cada vez maiores, desde o interiorismo,

design e comunicação visual até sociologia, antropologia cultural e psicologia comportamental,

passando por estudos recentes sobre sua influência na saúde física e mental, conduzindo à

chamada bioarquitetura.

Esta pesquisa em iniciação científica, de caráter teórico-conceitual e cunho exploratório,

teve como objetivo geral abordar e caracterizar os atuais usos da cor na arquitetura,

considerando-se aspectos psicológicos e socioambientais. De modo específico, procurou

encontrar as relações estabelecidas entre cor, espaço e usuário em três casos particulares da

arquitetura sustentável. A metodologia baseou-se na investigação web e bibliográfica sobre o

assunto, partindo do estudo de infográficos e textos complementares, seguido da seleção,

descrição e comparação de três obras contemporâneas, identificando suas características

funcionais, técnicas e estéticas. Como resultado, observou-se que a correta aplicação das cores

pode influir não apenas no comportamento do usuário e em sua percepção espacial, mas também

em determinados aspectos ambientais. Conclui-se que a cor constitui em ferramenta relevante

para o arquiteto, sendo capaz de transmitir mensagens visuais, transformar as percepções

humanas do espaço arquitetônico e influenciar em questões ligadas à identidade cultural, saúde e

bem-estar.

Palavras-chave: Arquitetura. Sustentabilidade. Cor.

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3 OBJETIVOS

De modo geral, esta pesquisa em iniciação científica tem como objetivo, a partir de uma

revisão web e bibliográfica, identificar e caracterizar os atuais usos da cor na arquitetura, por meio

de sua aplicação em obras contemporâneas, procurando relacioná-los a psicológicos e culturais.

Pretende-se ainda explorar a relação entre o emprego da cor e a sustentabilidade. De modo

específico, busca-se definir a relação entre o individuo, a cor e a arquitetura, a partir da descrição

e análise de 03 (três) casos ilustrativos de arquitetura sustentável, considerando seus aspectos

funcionais, técnicos e estéticos.

4 INTRODUÇÃO

De acordo com Gaetano Kaniza (1986), citado por Holland (1994), as cores podem ser

definidas pelo menos por três pontos de vista: pelas teorias físicas, pelo sistema fisiológico e pela

análise psicológica. Para a Física, a cor nada mais é do que uma forma de energia formada por

vibrações eletromagnéticas. Já a Biologia indica que o sistema fisiológico influencia muito a

percepção das cores, já que o aparelho ótico transforma os raios luminosos em sensações

cromáticas com suas diferentes qualidades: matiz, saturação e luminosidade. E, por sua vez, a

psicologia revela os efeitos diferentes provocados pela cor em observadores segundo a

diversidade de experiências, sensibilidades e inteligências.

Ao longo da história, o estudo da cor fascinou toda a humanidade. Passando pelos antigos

egípcios, pela civilização grega até as descobertas da Renascença, em especial às de Isaac

Newton (1642-1727), a cor instigou filósofos, cientistas, pintores e arquitetos, entre outros. Uma

das principais discussões acerca do tema tratava-se da natureza e da definição da cor. Na

antiguidade, Aristóteles (385-322 a.C.) entendia a cor como uma propriedade inerente da matéria.

Contudo, Leonardo Da Vinci (1452-1519), em seus estudos, apontaria falhas na teoria aristotélica.

Porém, foi apenas no século XVII, com René Descartes (1596-1650) e suas pesquisas sobre a

refração e a reflexão da luz, que a ideia da materialidade da cor foi definitivamente abandonada. A

partir de então – e até hoje em dia –, a cor deixou se ter uma “existência material” e passou a ser

entendida apenas como uma

[...] sensação produzida por certas organizações nervosas sob a ação da luz – mais precisamente, é a sensação provocada pela ação da luz sobre o órgão da visão. Seu aparecimento está condicionado, portanto, à existência de dois elementos: a luz (objeto físico, agindo como estímulo) e o olho (aparelho receptor, funcionando como decifrador do fluxo luminoso, decompondo-o ou alterando-o através da função seletora da retina). (PEDROSA, 2014, p.20)

Junto com Descartes, outros matemáticos e físicos ocuparam-se do estudo da luz e das

cores, culminando no nascimento da Óptica Física, especialmente através de Isaac Newton, o

qual seria responsável por uma das maiores descobertas no estudo das cores: o comprimento de

onda. Este se trata de uma propriedade dos raios luminosos, o que torna possível defini-los

quantitativamente em milimícrons. Conforme Pedrosa (2014), esta e outras descobertas uniram a

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ciência e a cor, a qual deixou de ser apenas um fenômeno subjetivo. Além disso, alguns estudos

realizados por meios perceptivos também permitiram a classificação e a caracterização das cores,

o que pode ser resumido na sequência.

Denomina-se de cor primária aquela que, quando misturada com outra, pode produzir as

demais cores do espectro, sendo, portanto, indecomponível. Considerando a cor em forma de luz,

as cores primárias são o vermelho, o verde e o azul-violetado. A união dessas cores-luz produz o

branco. Já considerando a cor em pigmento, as cores primárias são o vermelho, o amarelo e o

azul, cuja mistura resulta no cinza-neutro. Por cor complementar entende-se aquela que constitui

em par de cores que quando misturadas produzem o branco. E cor secundária constitui-se

naquela formada do equilíbrio entre duas cores primárias. (PEDROSA, 2014)

Ainda segundo o mesmo autor, consideram-se

cores quentes aquelas em que predominam os matizes

do vermelho e do amarelo, enquanto que são cores

frias aquela onde predominam o azul e o verde.

Diversos tons, tais como carmins e esverdeardos,

podem ser classificados como quentes ou frios,

dependendo da quantidade de azul, amarelo e

vermelho em suas composições (Figura 01). A

percepção de uma cor como fria ou quente também

pode variar dependendo da sua comparação com

outras cores.

Toda cor possui três dimensões básicas, a saber: o matiz, o tom e a intensidade. O matiz

refere-se ao “croma” ou à cor propriamente dita, existindo cerca de uma centena. É a

característica que define e distingue uma cor. Vermelho, verde ou azul, por exemplo, são matizes,

cada um deles possuindo uma qualidade própria. Para se mudar o matiz de uma cor, acrescenta-

se a ela outro matiz. O tom refere-se à maior ou menor quantidade de luz presente na cor.

Quando se adiciona preto a determinado matiz, este se torna gradualmente mais escuro, e essas

gradações são chamadas Escalas Tonais. Para se obter escalas tonais mais claras, acrescenta-

se branco. Em outras palavras, o tom refere-se à saturação, isto é, à pureza da cor em relação ao

cinza. Por exemplo, quanto mais saturada uma cor, mais pura ela é e mais carregada de

expressão e emoção ela é considerada. (FARINA, 1986)

Por fim, ainda de acordo com Farina (1986), a intensidade diz respeito ao brilho da cor, o

que se relaciona à sua luminosidade, ou seja, ao valor das gradações cromáticas. Um matiz de

intensidade alta ou forte é vívido e saturado, enquanto o de intensidade baixa ou fraca caracteriza

cores apagadas ou pastel. O disco de cores mostra que o amarelo tem intensidade alta, enquanto

a do violeta é baixa. O termo “apagado” utilizado nesse sentido não significa mortiço ou sem

graça, apenas o contrário de “vívido” ou “intenso”.

FIGURA 01

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Paralelamente, a importância do caráter subjetivo e simbólico da cor manteve-se ao longo

da história. As cores são frequentemente tomadas como signos, nas mais diversas áreas – da

religião ao poder político – como, por exemplo, o vermelho, que era a cor dos imperadores em

Roma, a cor do Amor Divino para os cristãos e, após a Comuna de Paris1, tornou-se símbolo

internacional da luta proletária (PEDROSA, 2014). A construção da simbologia de cada cor varia

de acordo com fatores socioculturais, evoluindo e modificando-se no decorrer dos tempos.

Algumas perpetuam seus valores originais, aos quais vão se agregando novos significados. No

exemplo anterior do uso do vermelho, esta cor aparece em diferentes contextos, acabando por

representar causas distintas, porém em todos os casos a cor associa-se sempre à ideia de poder

e de força.

De acordo com Arnheim (1992), além de Newton, que descreveu as cores como derivadas

das propriedades dos raios que compõem as fontes luminosas, devem ser destacados ainda mais

dois pioneiros da cor que foram responsáveis pelos principais componentes do processo da

percepção cromática: Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832) e Arthur Schopenhauer (1788-

1860). O primeiro proclamou a contribuição dos meios físicos e superfícies encontradas pela luz

enquanto ela viaja de sua fonte aos olhos do observador. Dizia que as cores eram “feitos e

aflições da luz”; e que tais aflições eram o que acontecia quando a pureza virginal – a luz branca,

ou melhor, solar – submetia-se aos meios um tanto opacos e nebulosos e à absorção parcial por

meio de superfícies refletivas. Em uma espécie de resgate aristotélico, Goethe reaproximava a cor

– mais especificamente, a percepção da cor – da matéria.

Por sua vez, Schopenhauer anteviu, em uma teoria de imaginação, embora estranhamente

profética, a função das respostas retinianas dos nossos olhos. Devotando-se à teoria da cor por

sugestão de Goethe, foi além do mestre, especulando o papel decisivo da retina na criação da

experiência de cor. Argumentando a importância do subjetivo, somente através do qual o objetivo

existe, Schopenhauer propôs que a sensação do branco acontece quando a retina responde com

uma ação plena, enquanto o preto resulta da ausência de ação. E apontando para as cores

complementares produzidas por pós-imagem, propôs que pares de cores complementares

acontecessem por meio de bipartições qualitativas da função retiniana. (ARNHEIM, 1992)

A partir do século XX, avanços industriais e tecnológicos possibilitaram a expansão dos

usos da cor. Consoantes ao desenvolvimento tecnológico, pesquisas sobre seus efeitos nos seres

humanos também despontaram, impulsionando o emprego da cor em novas atividades e com

diferentes objetivos. Dentro desse contexto, a relação dos efeitos cromáticos nos ambientes é um

tema recorrente na arquitetura. Nas últimas décadas, tal discussão ganhou uma nova perspectiva:

a da sustentabilidade.

1 A Comuna de Paris foi o primeiro governo operário da história, fundado em 1871 na capital francesa por ocasião da resistência popular ante a invasão por parte do Reino da Prússia. (N. Autora)

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5 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Considerando a arquitetura uma obra de arte, ela necessariamente é dotada de uma

mensagem estética. A diferença entre ela e a mera construção está no fato de que, apesar de

ambas mostrarem como os homens vivem, apenas a arquitetura sugere como os homens

deveriam viver. Por este motivo, de acordo com Puls (2006), muitas vezes a forma arquitetônica

distancia-se da funcionalidade. Em um mundo ideal, elas seriam uma só. Ademais, para que a

mensagem estética possa ser transmitida, devem ser utilizados signos construtivos. Sendo a visão

o sentido mais refinado do homem, geralmente utilizam-se predominantemente signos visuais na

arquitetura, como é o caso da cor (SCHMID, 2005). Em conjunto com a luz, ela tem sido

amplamente utilizada ao longo da história da humanidade, passando pelos diversos estilos

arquitetônicos até chegar aos dias atuais.

Cor e Arquitetura

Desde os primórdios, segundo Holland (1994; 1999), o homem utilizava formas e cores

para se expressar. Dos registros mais antigos de Altamira na Espanha, Lascaux na França ou

mesmo de São Raimundo Nonato, no Piauí (Brasil), verifica-se que a cor está sempre presente,

atendendo a diversas finalidades. O homem pré-histórico realizava suas expressões estéticas em

cores tentando chegar através delas ao espiritual e ao domínio do não-concreto, ou seja,

acreditava que uma vez dominada a imagem do objeto, em seguida o próprio objeto estaria

também dominado. Irwin Panofsky (1968), citado pela autora, acredita que, dentre as ferramentas

de linguagem dos povos pré-históricos, a pintura colorida era realizada no fundo das cavernas, em

locais de difícil acesso, por ter uma função mágica.

Da mesma forma, para muitos povos antigos, cor e luz possuíam um caráter místico. Os

egípcios, por exemplo, já exploravam essas características em suas construções. Seus templos

são conhecidos por sua monumentalidade, erguendo-se através de estruturas robustas em pedras

maciças. Contudo, a partir de esquemas de iluminação, os egípcios conseguiam iluminar o interior

desses templos por pequenas aberturas. Estudos específicos possibilitavam que, em certas

épocas do ano, as estatuas dos deuses no interior dos templos fossem especialmente iluminadas

(CASTELNOU, 1990). Isto demonstra certo domínio sobre os efeitos da luz. Em paralelo, a cor era

amplamente utilizada nas pinturas, principalmente por seu caráter simbólico: o azul, por exemplo,

era considerado como a cor da verdade, associado à ideia de morte. Nas necrópoles, as pinturas

que retratavam o julgamento das almas possuíam um fundo azul claro. Tal cor também era

encontrada nas câmaras funerárias para representar a sobrevivência do Ka – a alma do morto. O

amarelo era normalmente utilizado para pintura de corpos femininos e o vermelho para a pintura

de corpos masculinos. (PEDROSA, 2014)

O artista egípcio conseguia tecnicamente desde grandes superfícies coloridas uniformes até linhas finas e contínuas. Dentro do instrumental egípcio, alguns artifícios eram utilizados, como, por exemplo, para se traçar uma linha reta ou para

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delimitar um friso, o artista mergulhava uma corda em pigmento vermelho e esticava pelas extremidades considerando uma cota única. Pelos respingos até hoje encontrados em pinturas não concluídas, percebe-se que as linhas verticais também eram traçadas pelo mesmo processo. (SILVESTRE, 1998, p. 43)

Quanto à Mesopotâmia, segundo Holland (1994), as construções eram realizadas em

tijolos de adobe cozido, os quais, após seu cozimento, recebiam a aplicação de pigmentos; depois

um novo processo de queima e, finalmente, o processo de esmaltação produzia cor e textura. No

período de Nabucodonosor II (604-562 a.C.), a arquitetura tornou-se monumental e os tijolos

esmaltados ostentavam figuras de leões e touros alados, além de outros animais simbólicos com

cores ainda mais fortes. Já na Grécia antiga, os templos eram pintados, porém os pigmentos,

aplicados sobre o mármore, por não terem sido fixados por processos eficazes, desapareceram

pelas intempéries e falta de conservação. A imagem da cor grega como branca, bege e cinza fez

com que o conceito de cor clássica, bastante explorada no século XIX, fosse o conceito

deformado que se reflete na condição semântica de que tudo que é clássico possui essas cores.

A sobrevivência de alguns afrescos e painéis, tanto gregos como romanos, demonstra a

valorização do tratamento cromático – tanto interior quanto exterior – para os povos da

antiguidade clássica, cujas características fundiam-se com as dos locais que dominavam,

variando segundo a tradição cultural de cada lugar. Por exemplo, como os persas dominavam a

tecnologia de esmaltação e painéis cerâmicos que os gregos desconheciam, houve uma

assimilação persa desses processos pelos antigos gregos. Por sua vez, os mosaicos utilizavam os

mesmos recursos da pintura cênica. Tal técnica era encontrada na Grécia desde o século V a.C.,

principalmente como piso e posteriormente em paredes. Os mais antigos apresentavam seixos

rolados, que não permitiam uma representação detalhada da figura. Por volta de 300 a.C., os

seixos foram substituídos por pedras coloridas talhadas em pedaços uniformes. As pinturas e

mosaicos desse período exerceram grande influência sobre as produções murais romanas 2 .

(HOLLAND, 1999)

O uso da cor na arquitetura é igualmente testemunhado nas pinturas nas paredes que

seriam utilizadas nos diversos períodos da história, chegando à atualidade. No entanto, outras

técnicas com cores e luz também seriam desenvolvidas de forma a transformar o espaço

arquitetônico. Exemplificando, os turcos e os árabes desenvolveram técnicas de pintura de lustres.

Estes, eram utilizados em mesquitas e, quando a luz incidia sobre eles, projetavam formas no

interior, valorizando o caráter divino do espaço (CASTELNOU, 1990). Já as primeiras basílicas

cristãs tinham seu espaço interior valorizado por meio de mosaicos coloridos, os quais adornavam

2 De acordo com Holland (1994), a escola de pintura mural romana foi a helenística. No Império Romano, há grande dificuldade em se pesquisar pinturas murais devido à maioria ter sido destruída pelo tempo e pelas guerras. Em Pompéia, que foi soterrada pelo Vesúvio em 79 a. C., após as escavações, pôde-se recuperar a dimensão plástica da cor através de pinturas decorativas do interior das casas romanas. Os romanos copiavam pinturas helenísticas, tentando retomar o luxo das casas gregas do século II a.C. O mobiliário apresentava um desenho especial, os pisos eram realizados em mosaico e as paredes com pinturas murais. (SILVESTRE, 1998)

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a nave principal e possuíam um caráter religioso, normalmente retratando passagens bíblicas ou

entidades sagradas.

Na Idade Média, mais especificamente no período gótico, ainda segundo Castelnou (1990),

o desenvolvimento da técnica com arcos ogivais e contrafortes permitiu que se construíssem

catedrais monumentais, com grandes janelas e rosáceas. Essas estruturas severas possuíam um

forte caráter vertical, associado ao poder divino. As janelas cobertas por vitrais coloridos criavam

uma atmosfera mística e, assim como os mosaicos das basílicas bizantinas e românicas,

frequentemente retratavam passagens bíblicas ou histórias relacionadas ao ritual sagrado. Em

uma época que poucas pessoas sabiam ler e a Igreja católica exercia grande influência na

Europa, os vitrais também serviam para educar os fiéis conforme os preceitos da igreja. As cores

aqui se tornam fundamentais para ilustrar, atrair e cativar os crentes, intensificando sentimentos e

evocando sensações.

A luz e a sombra foram os elementos de composição e reconhecimento do espaço medieval francês. As pedras eram talhadas e montadas. As abóbadas em berço demonstravam um trabalho complexo de cantaria. O espaço românico era caracterizado pela simplicidade; as cores advindas da própria tonalidade das pedras e do potencial luminoso dos interiores. O relevo, as imagens, esculturas - pilares e relíquias substituíram as cores dos mosaicos bizantinos. Os afrescos surgiram como uma paleta de cores restrita. Sob uma parede de argamassa fresca, feita de cola e areia, aplicavam-se os pigmentos [...] Na Itália, a Escola Lombarda introduziu cor nas fachadas das igrejas através de motivos geométricos de mármores sobrepostos à estrutura e [deste modo] inspirou posteriormente franceses do período gótico em suas soluções arquitetônicas. (SILVESTRE, 1998, p. 78)

Com a Renascença, ocorreu uma revolução de moral e costumes, que se deu na

passagem dos séculos XIV e XV, provocando profundas modificações em diversas regiões da

Europa, especialmente na Itália. A Igreja encontrava-se desgastada pela sua própria estrutura

organizacional e pelos movimentos reformistas, quando Filippo Brunelleschi (1377-1446) construiu

a cúpula da Igreja de Santa Maria dei Fiori (1420/36) em Florença, adotando os pressupostos que

levaram os romanos à construção do Panteão. Pela primeira vez após a era medieval, conhece-se

uma cúpula sem estruturas internas compostas por arcobotantes, pináculos e contrafortes. Assim,

Bruneleschi revolucionou a arquitetura desenvolvendo novos métodos construtivos e

padronizando materiais, como a terracota de revestimento externo. Para ele, a cor na arquitetura

era dada pelos próprios materiais construtivos empregados. Sua obra desenvolvia-se dentro de

princípios matemáticos minuciosos e a harmonia era dada pela proporção das medidas. No

Renascimento, enfim, os princípios racionais na arquitetura provocaram significativas mudanças

na conduta geral da construção do espaço. (HOLLAND, 1994)

De acordo com Holland (1994; 1999), as características cenográficas associando luz e cor

puderam ser utilizadas ao longo da história da arquitetura para cumprir diversas finalidades, como,

por exemplo, para responder ao papel do Estado absolutista francês como forma de propaganda

e/ou, como na Itália, para atrair novamente os fiéis nos movimentos contra-reformistas. No

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Barroco, o espaço material não era equivalente ao sensório, pois se fazia uso de artifícios

ilusionistas, como o Tromp d’Oleil; um efeito de perspectiva já utilizado na corte helenística, na

arquitetura romana e em afrescos florentinos. Contudo, foi especialmente na França que se

produziu uma intensa experimentação de aplicações de cores. Durante as épocas de Louis XIV

(1638-1715) e Louis XV (1710-74), a manufatura de gobelinos – tapeçarias feitas em

tecidos ricamente ilustrados com composições da Manufacture Nationale des Gobelins –

impulsionou cada vez mais o desenvolvimento da tinturaria e, consequentemente, de pigmentos.

A época do Barroco foi marcada por tensões sociais, revoltas populares e, principalmente,

pela Reforma. Tanto o Clero como a Monarquia, buscando conter essas tensões e garantir sua

hegemonia, apoiaram-se em dois pilares: a punição e a persuasão. A punição tratava-se dos

castigos impostos pela igreja àqueles que praticassem heresia, sendo seu símbolo máximo o

Tribunal do Santo Ofício. Já a persuasão dizia respeito ao uso da arte como uma forma de

seduzir, convencer e manipular as grandes massas, consistindo em seu símbolo máximo a arte

barroca (BAETA, 2011). Assim, todas as manifestações artísticas, incluindo arquitetura e

decoração, passaram a ser marcadas por avanços na técnica da comunicação visual, o que fez

com que o uso da cor buscasse cada vez mais explorar a emoção. Utilizada com a luz, a cor

produzia um efeito teatral nos ambientes, provocando diversas sensações e encantando o público.

Segundo Holland (1994), o Barroco procurou estimular a imagem através dos sentidos. Na

arquitetura, a luz era o símbolo mais sensível e o mais espiritual, ao mesmo tempo em que a cor

apresenta-se sob diversos aspectos, explorando contrastes e tensões. Na Itália barroca, a

arquitetura e decoração provocavam o aparecimento das nuanças de luz pelo polimento de

mármores preciosos e jogos de perspectiva através de reflexão. Grandes artistas, como o escultor

e arquiteto Gian Lorenzo Bernini (1598-1680), criaram obras a serviço da Contra-Reforma,

expressando a essência barroca; uma verdadeira antítese ao Renascimento, esta baseada no

dinamismo, no sentimento e no subjetivo. Contudo, em meados do século XVIII, após esgotadas

as possibilidades do Barroco e Rococó, um novo momento invocou a retomada de padrões

grecorromanos: o Neoclassicismo.

As intervenções normativas de regulamentação na produção de tintas deveram-se em muito à grande variedade de anilinas, cuja produção industrial deu-se mais tarde no final do século XIX. O desenvolvimento de corantes fez com que a França, até a época de Napoleão, fosse a principal fornecedora destes. Porém um desafio ainda estava por se concretizar: fazer das tintas cores permanentes. (SILVESTRE, 1998, p. 106)

Foi somente com a difusão dos métodos industriais por toda a Europa, que a produção

artesanal foi substituída por técnicas que permitiram maior acessibilidade, durabilidade e

qualidade em relação à pintura, tingimento e brilho das superfícies e acabamentos. As cidades

transformaram-se em grandes polos de atração, passando a crescer vertiginosamente e, na

passagem para o século XX, o Art Nouveau surgia como a última síntese linguística, na qual

pintura, escultura, arquitetura e decoração trabalhavam juntas. Com a eclosão da arte moderna,

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houve uma verdadeira revolução estética, na qual novos conceitos – tanto científicos como

artísticos – modificaram drasticamente a concepção dos espaços arquitetônicos, os quais

passaram a reunir prioritariamente aspectos funcionais e tecnológicos, em detrimento aos

subjetivos.

O rigor do modernismo privilegiou o uso das

cores primárias, além do preto e do branco. O branco,

em especial, era amplamente empregado nos

exteriores, transformado quase que imediatamente em

símbolo de pureza e de neutralidade, contrapondo-se,

ao mesmo tempo, à miscelânea estilística representada

pelo ecletismo e à profusão decorativa dos ambientes

em Art Nouveau. A cor – ou melhor, não-cor – assim,

deixava de ser carregada de simbologias, expressando

tradição e/ou identidade; e passava a assumir um

caráter neutro e meramente funcional.

Se, por um lado, a Bauhaus (1919/33) foi o

principal reduto das ideias modernas – estas expressas

no trabalho do holandês Piet Mondrian (1872-1944),

que integrou seu quadro de professores –, também foi,

por outro, berço de muitas experimentações

cromáticas. O interior da casa em Dessau de Wassily

Kandinski (1866-1944) – pintor russo que foi precursor

do abstracionismo e igualmente professor na Bauhaus3

– tornar-se-ia uma exceção da aplicação da cor:

enquanto o exterior mantém o branco, as paredes

internas são pintadas não apenas com cores primárias,

mas também em rosa e dourado (Figuras 02 e 03).

Pode-se ainda dizer que o emprego de janelas-fita ou janelas longitudinais, defendido por

Le Corbusier (1887-1965) em sua fase racionalista, catalisava o efeito das cores no interior das

obras. Já, de maneira indireta, a cor apresentava-se na arquitetura de Mies Van der Rohe (1886-

3 Kandinsky estruturou suas aulas a partir da análise e síntese de diversas teorias formais e cromáticas e, desde seu livro “Do Espiritual da Arte” (1910/12), acreditava no caráter de determinadas cores e seus efeitos formais, contrapondo-se muitas vezes a algumas ideias, como as do pintor, também russo e atuante na Bauhaus, Paul Klee

(1879-1940). Entretanto, ambos possuíam cursos divididos entre sistemas de organização das cores; sequências luminosas; e interações entre cor e forma; cor e espaço. Por sua vez, Josef Albers (1888-1976) tornou-se professor da área de objetos, no ateliê de metal e vidro da Bauhaus; e, devido ao fato de se dedicar à fabricação de objetos vítreos, interessou-se sobremaneira pela relação luz/cor, procurando enfatizar a questão da harmonia e contraste das cores. Por fim, deve-se citar Johannes Itten (1888-1967), professor da Bauhaus que criou uma sistematização no ensino da Teoria da Cor, fazendo com que os alunos, através do domínio técnico, atingissem a percepção das cores seriadas. (SILVESTRE, 1998)

FIGURA 02

FIGURA 03

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1969) através da ressonância material, constante em seus projetos, uma vez que matizes e

nuances intensificam-se por meio da textura e brilho de seus materiais de acabamento.

Atualmente, com o crescente desenvolvimento tecnológico, as possibilidades de uso da cor

na arquitetura foram ampliadas. Os avanços industriais e o aprimoramento nos processos de

fabricação permitiram a criação de novas tintas e corantes, as quais passaram a ser utilizadas por

todos os grandes arquitetos. Além disso, a tecnologia da iluminação artificial também evoluiu de

forma significativa nas últimas décadas, sendo que hoje em dia as luzes coloridas são utilizadas

para diversos propósitos e em diferentes meios. (PEDROSA, 2014)

Cor e Comunicação

Acompanhando esse desenvolvimento científico, vários estudos na área de comunicação

visual também prosperaram, em especial a partir do Pós-Modernismo, da década de 1970 em

diante, que aproximou a arquitetura da semiologia. Arquitetos norte-americanos como Charles

Moore (1925-93) e Robert Venturi (1925), entre outros, retomaram os efeitos simbólicos do uso da

cor, associando-os ao mundo do consumo e dos meios de comunicação de massa, sendo

bastante inspirados pela Pop Art. Os efeitos que as cores causam nos seres humanos não apenas

têm sido estudados, como têm se transformado no motivo do emprego de certas cores por

empresas e instituições. A seguir são listados alguns exemplos da relação entre determinadas

cores, o espaço arquitetônico e o comportamento humano, segundo alguns infográficos

consultados (PSICOLOGIA DAS CORES, 2014a; 2014b):

Verde: É cor primária em cor-luz, mas pode ser obtida pela mistura de amarelo e azul em cor-

pigmento. Sua simbologia é frequentemente associada à natureza e à esperança. Para os

chineses, simboliza Yang, o feminino, a esperança e a cura. Já os islâmicos consideram-no a cor do

conhecimento. Na Idade Média, o verde assumia a simbologia positiva da razão, mas também era

associado à loucura. No Ocidente atual, aparece relacionado a causas ambientais, ao equilíbrio e

também ao dinheiro. O verde permite diversas possibilidades de variação em escala de saturação.

Assim, em tons mais claros, torna-se um poderoso tranquilizante, já em tons mais saturados torna-

se estimulante. Na arquitetura, o verde possui grande aplicabilidade nos interiores, sendo que pode

ser utilizado, em seus tons mais claros, em ambientes de repouso e, em tons mais saturados, para

ambientes de estudo e de trabalho.

Vermelho: É cor primária tanto em cor-luz quanto em cor-pigmento, aparecendo frequentemente

associado ao poder e à luta, sendo a cor do sangue e do fogo. Era a cor de Dionísio e de Marte,

deus da guerra. No Japão, é a cor da alegria. Normalmente, está associado ao amor e à paixão.

Nos seres humanos, o vermelho atua como estimulante, produzindo uma sensação de urgência. Por

isso, tende a ser utilizado em lojas para atrair clientes compulsivos. Seu caráter estimulante também

torna interessante seu emprego em casas de espetáculo, em festas e em eventos esportivos.

Restaurantes também utilizam o vermelho, pois ele desperta o apetite. Nos interiores, é usado em

detalhes, geralmente em pisos e tapetes, sendo utilizado nas paredes apenas em ocasiões

especiais, quando se deseja dar um toque de agressividade ao ambiente.

Violeta: É cor secundária que resulta da mistura entre o azul e o vermelho, sendo também

conhecido como roxo ou lilás. O violeta geralmente aparece associado ao espírito, à temperança, à

sabedoria e à realeza. Os gregos associavam-no à sobriedade. Para os cristãos, representa a

Paixão de Cristo, sendo utilizado nas igrejas na Sexta-Feira Santa. É pouco utilizado nos ambientes,

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sendo empregado em certos casos para expressar criatividade e inovação. Seus tons mais escuros

tornam-se deprimentes, lembrando ciúme, angústia, melancolia e ganância.

Marrom: É cor terciária que em cor-pigmento pode ser obtida pela mistura de vermelho e preto. Cor

da terra e da madeira, o marrom transmite estabilidade e humildade. Além disso, está associado ao

pensamento, à melancolia e à aflição. O marrom aparece nos ambientes frequentemente pelo uso

da madeira. Em alguns casos, tons mais claros de marrom também são utilizados.

Amarelo: É cor primária em cor-pigmento e formada pela mistura de vermelho e verde em cor-luz,

sendo a cor do ouro e do sol, aparecendo frequentemente associada aos deuses. Em muitas

culturas, também é utilizada para simbolizar o feminino. O amarelo é enérgico e expansivo. Nos

seres humanos, provoca as sensações de alegria, entusiasmo, cuidado e clareza. É empregado em

vitrines para prender a atenção dos consumidores. Quando utilizado nos interiores, altera a

percepção dos espaços, que parecem maiores, devido ao seu caráter expansivo.

Laranja: É cor secundária que, em cor-pigmento, resulta da união de vermelho e amarelo. O laranja

pode assumir significados contraditórios, representando a fidelidade, mas também dissimulação e

hipocrisia. O equilíbrio do laranja entre o amarelo e o vermelho é associado ao equilíbrio entre o

espírito e a luxúria. Dentro dos ambientes, essa cor pode ter um efeito estimulante, alegre e

convidativo, sendo a cor preferida de compradores compulsivos.

Azul: É cor primária tanto em pigmento quanto em luz. Para diversos povos, é associada ao

absoluto, ao poder divino, à vida e à morte. No cristianismo, diversas divindades são cobertas por

um manto azul. A criação do termo “sangue azul” pela nobreza relacionava-se ao caráter absoluto

dessa cor. Para indicar pureza, certas comunidades na Polônia possuíam a tradição de pintar as

casas de jovens em idade de casamento de azul. Em seus tons mais claros, está associado à

calma, estimulando a contemplação. Em seus tons mais escuros, relaciona-se ao poder. É

normalmente utilizada em ambientes de repouso, em seus tons mais claros. O azul também se

relaciona com a ideia de segurança e eficiência, sendo utilizado em negócios corporativos.

Branco: É a síntese de todas as luzes coloridas ou a união de uma cor-luz com sua complementar.

O branco pode representar a morte e o nascimento, sendo a cor das transições. No Oriente, o

branco é a cor do luto. Os povos primitivos adotavam o branco como sinônimo de pureza e vida –

cor da farinha e do leite. A Organização das Nações Unidas (ONU) utiliza o branco em sua bandeira

para representar a paz. Também sugere higiene e limpeza, sendo eficaz em ambientes pouco

iluminados. Pode ser utilizada no exterior dos edifícios para manter a temperatura interna agradável.

(BARRINGER, 2009)

Preto: É a ausência da luz, não sendo uma cor. O que se considera como cor-pigmento é apenas

uma aproximação do preto absoluto, já que esse não existe na natureza em condições naturais. Em

diversas culturas, o preto é considerado a cor do luto, da morte, da tristeza, do caos, das trevas e do

mal. Em alguns casos, é associado ao poder e ao luxo, sendo utilizado em certos ambientes que

busquem transmitir a ideia de sofisticação.

As cores possuem notáveis efeitos psicológicos e podem ser usadas com grande proveito,

tanto na arquitetura como na comunicação em geral. Birren apud Barros (1993) disse verificar que

pessoas reagem de modo bem diferente em um ambiente colorido comparado a um sóbrio,

embora elas mesmas talvez não estejam cônscias disto. A condição natural do ser humano é viver

em um ambiente de constantes mudanças – de luz, cores e formas. Não existe tal coisa como um

ambiente monótono na natureza. Hoje já se sabe, por exemplo, que a inteligência das crianças

degenera-se em um ambiente monótono e sem cores.

Entretanto, as pessoas reagem de maneira diferente em relação às cores. Enquanto que

uma cor é simpática para alguns, pode ser antipática para outros e vice-versa. A predileção ou

antipatia provém da personalidade do indivíduo, de sua educação e de seu patrimônio, seja ele

tradicional, social, político, cultural, filosófico ou religioso. Hans Jürgen Eysenck (1916-97) foi um

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psicólogo nascido na Alemanha, que passou sua carreira profissional na Grã-Bretanha, sendo

geralmente lembrado por seus trabalhos sobre inteligência e personalidade, embora tenha

trabalhado em outras áreas. Eysenk realizou uma pesquisa estatística para determinar uma

escala de preferência pelas cores, obtendo o seguinte resultado: o azul ocupou o primeiro lugar,

seguindo do vermelho, verde, violeta, alaranjado e finalmente amarelo. (BARROS, 1993)

Cor e Sustentabilidade

Um dos primeiros teóricos da arquitetura, Vitruvio definiu como os três pilares

fundamentais da nossa profissão: Venustas, Utilitas e Firmitas – ou seja, a beleza, a

funcionalidade e a técnica, os quais são até hoje lembrados e valorizados. Entretanto, desde

meados do século passado, os problemas ambientais conduziram a um amplo debate sobre a

relação entre homem e meio ambiente, na qual a arquitetura desempenha importante papel. Isto

fez com que o Despertar Ecológico e consequente difusão do ambientalismo passassem a

defender a necessidade da inserção de uma nova dimensão à tríade vitruvianas, a qual incluísse a

questão da conscientização ambiental e dos pressupostos da sustentabilidade. Trata-se do

chamado Green Vitruvius.

Após uma fase de gestão e disseminação dos movimentos ecológicos entre as décadas de

1960 e 1970, os quais conduziram a vários debates em nível mundial, o conceito de

sustentabilidade surgiu em meados dos anos 1980, inicialmente voltado à questão econômica e

ambiental, como definido no Relatório Brundtland 4 . Com o passar do tempo, tal conceito

expandiu-se, passando a abranger novos aspectos, como o social e o político. A aproximação

entre a arquitetura e a ideia de desenvolvimento sustentável, forjada a partir da realização da

ECO’92 e difusão da chamada Agenda 21, culminou em 1993, quando a União Internacional de

Arquitetos (UIA), em conjunto com o American Institute of Architecture (AIA), promoveu um

congresso em Chicago IL (EUA), o qual resultou na elaboração da Declaração para um Futuro

Sustentável. Esse documento afirma o compromisso profissional dos arquitetos de todo o planeta

em relação à sustentabilidade socioambiental, buscando conciliar a tradição e a tecnologia

moderna. (CASTELNOU, 2015)

Para uma melhor compreensão da área de abrangência da sustentabilidade, Sattler (2007)

cita a seguir suas 05 (cinco) dimensões fundamentais, de modo resumido:

Sustentabilidade Social: Diz respeito à criação de uma sociedade mais igualitária, que propicie

qualidade de vida e aproximação entre camadas sociais;

Sustentabilidade Econômica: Trata do desenvolvimento da economia, considerando aspectos

sociais e não apenas a rentabilidade empresarial;

4 Concluído em 1987, o Relatório Brundtland foi um documento elaborado por representantes de diversas nações,

através da COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO (CMMAD), organizada em 1982 e presidida pela então primeira-ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland (1939-), o qual foi publicado em 1992 sob o título Our Common Future (“Nosso Futuro Comum”). (N. Autora)

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Sustentabilidade Ecológica: Defende a correta utilização de recursos naturais, buscando limitar o

uso de recursos não-renováveis; e promovendo a conservação de energia, a diminuição da

produção de resíduos e a realização pesquisas que desenvolvam tecnologias adequadas ao meio

ambiente;

Sustentabilidade Geográfica ou Espacial: Busca equilibrar a distribuição entre as zonas rural e

urbana, propondo a criação de reservas ambientais e a proteção de ecossistemas, além da

promoção de uma agricultura adequada ao meio ambiente; e

Sustentabilidade Cultural: Está associada à valorização da cultura e do ecossistema local, buscando

promover transformações sem perder a identidade local.

No que se refere ao uso da cor na arquitetura, a questão da sustentabilidade reflete-se às

dimensões social e cultural. De acordo com Sattler (2007), a primeira se traduz na arquitetura em

espaços que proporcionam melhor qualidade de vida, mesmo a populações de baixa renda, tendo

em vista os recursos disponíveis. Já a segunda refere-se à criação de uma nova arquitetura,

voltada ao seu tempo, mas que respeite as tradições e memórias locais, além da relevância de

cada espaço para determinada cultura.

A promoção de uma boa qualidade de vida dentro de uma edificação depende de fatores

tanto físicos como psicológicos. Em lugares muito quentes, por exemplo, a utilização da cor

branca no exterior e telhado de casas contribui para manter uma temperatura mais agradável no

interior da edificação, influenciando no conforto físico dos usuários. Ao mesmo tempo, a

iluminação de um ambiente também pode ser beneficiada conforme o uso de certas cores nas

paredes e teto (BARRINGER, 2009). As cores também podem alterar a percepção humana do

espaço, tornando-os mais ou menos agradáveis e/ou convidativos, expandindo-os e comprimindo-

os. Como citado anteriormente, algumas cores conseguem provocar sensações de repouso ou

mesmo tensão; e isto pode favorecer ou reprimir determinadas ações – como relaxar, conversar,

comprar, orar, etc. Ainda tratando-se da dimensão social, a cor – por meio das tintas e corantes –

constitui-se de uma alternativa estética relativamente barata 5 . Assim, é possível valorizar

comunidades pobres a partir do uso da cor, reafirmando sua própria identidade e valor.

Se, com a disseminação do International Style (“Estilo Internacional”), produto estético-

formal do Movimento Moderno (1915/45), difundiu-se também a prática de uma arquitetura

acontextualizada, voltada essencialmente à funcionalidade, economia e eficiência técnica; houve

também um progressivo abandono de metodologias vernaculares, formas regionais e materiais

naturais (CASTELNOU, 2015), hoje a tendência mundial é a de resgate desses valores

tradicionais antes menosprezados a favor da máquina e da industrialização. Atualmente se

reconhece a importância de se projetar espaços que valorizem aspectos culturais e étnicos,

promovendo a identidade cultural dos indivíduos que habitam esse espaço. (HALL, 1990)

5 Dado retirado do site do Programa Setorial da Qualidade – Tintas Imobiliárias, que faz parte do Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade do Habitat (PBQP-H), do Ministério das Cidades (Brasil). Disponível em: <http://www.tintadequalidade.com.br/dicas/3-quanto-a-tinta-representa-no-valor-de-uma-obra/>.Acessoem: 20/07/2015

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A dimensão cultural relaciona-se com o aspecto simbólico da cor, sendo portanto um dos

pilares de sustentação da chamada Green Architecture. A preservação das cores tradicionais de

uma comunidade é importante para a perpetuação de sua cultura, ainda mais em um mundo

globalizado que tende a homogeneização em prol da unificação de mercados. Vários arquitetos

procuraram defender a utilização de cores para promover a cultura local, como foi o caso do

mexicano Luís Barragán (1902-88), que se tornou mundialmente famoso por unir técnicas

modernas a elementos da tradição mexicana, como o uso de pátios, sombras e, especialmente,

cores populares. (CASTELNOU, 2015)

Para os arquitetos contextualistas e outros de vertente ambientalista, o encontro do novo

com o antigo é sempre uma situação delicada e polêmica. A convivência de diferentes posições e

colocações estéticas, filosóficas e políticas, deve ser o resultado de muita reflexão e

conscientização (SILVESTRE, 1998). A herança arquitetônica que pode ser identificada no

tratamento cromático na arquitetura não pode ser vista como um dado estático, mas como um dos

elementos de um corpo vivente em contínua transformação. Além disso, as cores também devem

ser escolhidas observando-se outros fatores além dos culturais, como aqueles relacionados ao

desempenho térmico e valorização estética.

6 MATERIAIS E MÉTODOS

Esta pesquisa em iniciação científica – de caráter exploratório e cunho teórico-conceitual –

foi desenvolvida a partir de uma investigação web e bibliográfica de temas relacionados à cor, ao

seu uso na arquitetura e à sua relação com a sustentabilidade. Através do estudo de infográficos,

da leitura de textos complementares e da seleção de fontes nacionais e internacionais, concebeu-

se este relatório, que busca contextualizar o uso da cor ao longo da história, chegando aos usos

atuais na arquitetura sustentável. Após a revisão teórica, realizou-se a seleção, análise e

comparação de 03 (três) casos da arquitetura sustentável, identificando seus aspectos funcionais,

técnicos e estéticos. Visando também a realização de uma aula expositiva para alunos de

graduação do início do curso de arquitetura e urbanismo, esta pesquisa complementa atividades

de monitoria (iniciação à docência), exemplificando a relação entre pesquisa e ensino na área de

Teoria e História da Arquitetura e Urbanismo.

7 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A partir da revisão teórica realizada, busca-se aqui apontar alguns pontos levantados ao

longo do relatório por meio do estudo de casos reais. Com esse objetivo, foram selecionados 03

(três) obras de arquitetura sustentável contemporânea. Essas obras foram escolhidas a partir de

uma pesquisa, cujo principal critério de seleção foi a aplicação em diferentes contextos/ambientes

e finalidades do uso da cor com vistas à maior sustentabilidade sociocultural. Na sequência, são

apresentados, de forma sintética, os três casos selecionados, acompanhados de algumas

ilustrações e informações sobre suas principais características.

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ESTUDO DE CASO I Escola Vocacional Sra Pou

2010/12 – Sra Pou (Camboja) Rudanko & Kankkunen Architetcs

Sra Pou é uma comunidade pobre de Udong,

Província do Camboja – um país localizado na porção

sul da península da Indochina, no sudeste asiático –,

que carece de infraestrutura básica e renda fixa. O

objetivo principal dessa escola vocacional (Figura 04)

era o de fornecer formação profissional e incentivar a

comunidade local a desenvolver atividades econômicas

sustentáveis. Contudo, a escola, com cerca de 200 m2,

também tem funcionado como local de encontro para

toda a comunidade. O projeto foi desenvolvido pelos

arquitetos finlandeses Rudanko e Kankkunen, com o

apoio da ONG Ukumbi 6. (ARCHDAILY, 2011)

Os arquitetos também supervisionaram a

construção, que foi realizada pelos próprios usuários,

utilizando técnicas e materiais locais. Os tijolos, por

exemplo, são feitos de terra vermelha – abundante na

região – e secos ao sol. Quando iluminados, eles

refletem o tom quente e vermelho da terra ao redor

(Figura 05). O uso da cor nas portas artesanais torna o

edifício ainda mais convidativo. As cores nesse caso

derivam de materiais relativamente baratos, mas

capazes de conferir beleza à escola e torná-la mais

atrativa para a comunidade. (DEEZEN, 2011)

Em 2012, o projeto da escola continuava a ser

monitorado por Rudanko e Kankkunen, constatando-se

a necessidade de mudar o material das portas

artesanais, que tinham pouca durabilidade (UKUMBI,

2015). O aspecto da cor, porém, foi mantido, sendo

que a própria comunidade tratou de organizar

workshops para que as novas portas de metal fossem

pintadas e decoradas pelas crianças da comunidade,

sob a supervisão de um artista local (Figuras 06 a 09).

6 A Ukumbi é uma Organização Não-Governamental (ONG) filandesa fundada em 2007 que fornece serviços ligados à arquitetura para comunidades em necessidade em todo o mundo. As obras da Ukumbi buscam usar materiais e técnicas locais, sendo ecologicamente sustentáveis. (UKUMBI, 2015)

FIGURA 04

FIGURA 05

FIGURA 06 FIGURA 07

FIGURA 08 FIGURA 09

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ESTUDO DE CASO II Escola Primária Maria Grazia Cutulli

2011 – Herāt (Afeganistão) 2A+P/A, IaN+ & Ma0 Architetcs

De iniciativa italiana, a Fundação Maria Grazia

Cutuli apoia programas que promovam a educação e

inclusão social para crianças e mulheres, em países

devastados por guerras ou calamidades naturais. Esta

escola primária, projetada por um grupo internacional

de arquitetos7, procura oferecer um ambiente seguro e

saudável para as crianças afegãs (Figura 10). Ao total

foram utilizados 150.000 euros para a construção de

todo o complexo, que possui cerca de 650 m2 de área.

(ARCHDAILY, 2012)

O projeto buscou conciliar espaços funcionais e

evocativos, procurando utilizar mão-de-obra, materiais

e técnicas locais. A posição das salas de aulas foi

definida de modo a aproveitar o máximo da ventilação

natural e da luz solar (Figura 11), sendo a construção

do muro ao redor da escola necessária por questões

de segurança. A biblioteca é o único ambiente com

mais de um pavimento. As paredes foram pintadas de

diferentes tons de azul e contrastam com o vermelho

das esquadrias metálicas (Figura 12). No Afeganistão,

a cor azul possui um significado histórico-cultural,

frequentemente ligado ao sagrado e ao puro

(CUTULI, 2015). Assim, o azul foi escolhido para a

pintura da escola voltada à educação infantil, o que a

fez se destacar da paisagem, esta caracterizada

predominantemente por tons esverdeados e terra

marrom (Figuras 13 e 14).

7O grupo internacional foi composto pelos escritórios 2A+P/A, formado pelos arquitetos Gianfranco Bombaci e Matteo

Costanzo; IaN+, do qual participam Carmelo Baglivo, Luca Galofaro e Stefania Manna; e Ma0, que está organizado pelos profissionais Massimo Ciuffini, Ketty Di Tardo, Alberto Iacovoni e Luca La Torre, além do arquiteto Mario Cutuli. (N.A.)

FIGURA 10

FIGURA 11

FIGURA 12

FIGURA 13

FIGURA 14

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ESTUDO DE CASO III Estacionamento de Centro Cívico

2007 – Santa Mônica CA (EUA) Moore Ruble Yudell Architetcs

O projeto do Estacionamento do Centro Cívico

em Santa Monica, na Califórnia (EUA), buscou se

envolver com a comunidade, sendo mais do que um

estacionamento tradicional. O edifício pode comportar

um pouco mais de 880 vagas para automóveis e, além

disso, oferece outras variedades de serviços, incluindo

cafés e uma ampla vista para o Oceano Atlântico

(Figura 15). De acordo com o site de seus projetistas

Moore Ruble Yudell Architects & Planners (2015), na

obra foram utilizados materiais reciclados, como cinza

volante no lugar do cimento. No telhado, painéis

fotovoltaicos fornecem sombra e parte da energia total

consumida (Figura 16).

Os compartimentos de vidro colorido da

fachada possuem um caráter icônico, caracterizando

todo o conjunto. O uso da cor, tanto no interior quanto

no exterior, contribuiu para transformar o ambiente de

um estacionamento em algo agradável e convidativo.

Segundo o site SMGOV (2015), em 2007, tais

características levaram a obra a ser certificada pelo

LEED8 (Figuras 17 a 19).

8

O LEED, ou Leadership in Energy and Environmental Design, é um sistema internacional que promove a sustentabilidade nas edificações, através de certificação e orientação ambiental.

FIGURA 15

FIGURA 16

FIGURA 17

FIGURAS 18 E 19

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Fazendo uma comparação entre os casos estudados, observa-se que em todos a cor

tornou-se um elemento essencial para caracterização da obra. No primeiro caso, o tratamento

cromático dado às portas da escola talvez seja o aspecto estético mais forte do projeto, fazendo

com que a beleza das tonalidades atraia a população para a escola e fornecendo – por meio de

um material relativamente barato – a possibilidade de realizar algo não apenas necessário, mas

também belo. O resultado para a comunidade foi positivo, pois, segundo os próprios arquitetos, a

população reuniu-se para pintar as novas portas, demonstrando apropriação e afeição pela

escola, o que indica o cumprimento do objetivo social da arquitetura sustentável.

No segundo caso, o qual também se trata de uma escola, a cor do conjunto remete à

tradição do local e, consequentemente, associa-se a valores culturais, os quais são fundamentais

para a sustentabilidade socioambiental ao se reforçar laços sociais e identidade local. O azul tem

forte conotação para o povo afegão e a escola, proveniente da iniciativa de uma instituição

filantrópica estrangeira, conseguiu através de sua composição plástica e colorido aproximar-se da

população da escola, promovendo um contraste positivo em relação à paisagem circundante e

tornando-se assim um forte polo de atração.

E, no terceiro caso, a construção do estacionamento respeitou os requisitos para a

certificação ambiental, com o uso de tecnologias contemporâneas, ao mesmo tempo em que o

uso da cor tornou-a relevante em comparação ao que geralmente se espera de um

estacionamento. Aqui, a influência psicológica das cores transformou esse espaço em um lugar

convidativo e amigável. Além disso, a questão simbólica da cor inseriu-se nesse exemplo ao se

transformar a edificação em um ícone para a região. Aspectos funcionais tornam-se aqui

secundários quando o objetivo é romper com a monotonia e incluir elementos lúdicos em um

programa tradicionalmente repetitivo e enfadonho.

8 CONCLUSÃO

Com este trabalho de pesquisa, embora de abrangência limitada e cunho introdutório, foi

possível constatar que a cor é um fenômeno cotidiano, porém complexo. Mesmo após as

descobertas científicas a seu respeito, o caráter simbólico – muitas vezes, místico – da cor se

preservou ao longo dos tempos e a sua influência nos seres humanos tem sido amplamente

empregada até os dias de hoje, ainda mais na atual sociedade da informação e do consumo. Em

uma perspectiva histórica, a cor apresenta-se em todos os estilos e/ou linguagens arquitetônicas,

assumindo diversas funções e agregando novos significados a formas, volumes e espaços.

Além disso, pôde-se notar que, ao longo da história, as técnicas de manipulação da cor na

arquitetura também evoluíram, buscando-se cada vez novos efeitos e aplicações, assim como

tons mais refinados e maior durabilidade. No âmbito da sustentabilidade, os efeitos cromáticos

relacionam-se à criação de espaços com maior qualidade de vida, além da possibilidade de se

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poder ofertar beleza a comunidades mais pobres, favorecendo a construção e a preservação da

identidade cultural dessas populações.

Vindo contribuir ao projeto de pesquisa intitulado Green Architecture: Estratégias de

sustentabilidade aplicadas à arquitetura e design, esta pesquisa de iniciação científica procurou

servir como base introdutória diante da abrangência do tema da cor e, especificamente, do uso da

cor na arquitetura. Longe de esgotar o tema, buscou apresentar algumas definições e

propriedades das cores, mostrando algumas de suas aplicações e significados ao longo do tempo

e relacionando suas características à questão contemporânea do desenvolvimento sustentável.

Após essa construção teórica sobre cor, arquitetura, comunicação e sustentabilidade, foi possível

a seleção, descrição e comparação de três casos ilustrativos, onde foi comprovada a capacidade

da cor proporcionar uma melhoria na qualidade dos espaços, tornando-os mais confortáveis e

atrativos para seus usuários.

9 REFERÊNCIAS

ARCHDAILY. Maria Grazia Cutuli Primary School: 2A+P/A + IaN+ + MaO (2012). Disponível em: <http://www.archdaily.com/240184/maria-grazia-cutuli-primary-school-2apa-ian-mao/>. Acesso em: 18/07/2015.

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02 http://www.meisterhaeuser.de/bilder/0211_Kand_Kl_von_SW.jpg 18/07/2015

03 https://oderauch.files.wordpress.com/2011/08/meisterhaeuser15.jpg?w=205&h=300 18/07/2015

04 http://images.adsttc.com/media/images/5014/25e4/28ba/0d3b/4500/141c/medium_jpg/stringio.j

pg?1414407906

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05 http://images.adsttc.com/media/images/5014/2607/28ba/0d3b/4500/1426/large_jpg/stringio.jpg

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06 e 07 http://ukumbi.org/images/stories/ukumbi/projects/srapou/mim_srapou_paakuva3.jpg 18/07/2015

08 http://static.dezeen.com/uploads/2011/06/dezeen_Sra-Pou-Vocational-School-by-Rudanko-+-

Kankkunen-13.gif

18/07/2015

09 http://static.dezeen.com/uploads/2011/06/dezeen_Sra-Pou-Vocational-School-by-Rudanko-+-

Kankkunen-14.gif

18/07/2015

10 http://www.mariocutuli.it/files/img6351.jpg 23/07/2015

11 http://images.adsttc.com/media/images/5018/3e0a/28ba/0d33/a800/01e6/medium_jpg/stringio.j

pg?1414291988

23/07/2015

12 http://images.adsttc.com/media/images/5018/3dfb/28ba/0d33/a800/01e1/medium_jpg/stringio.j

pg?1414291967

23/07/2015

13 http://images.adsttc.com/media/images/5018/3e05/28ba/0d33/a800/01e4/medium_jpg/stringio.j

pg?1414291984

23/07/2015

14 https://ma0now.files.wordpress.com/2011/04/10-scaled1000.jpg 23/07/2015

15 http://assets.inhabitat.com/files/leedgarage2.jpg 23/07/2015

16 http://www.bendheimwall.com/press/images/santaMonica2.jpg 23/07/2015

17 http://www.moorerubleyudell.com/sites/default/files/styles/mry-project-image-main/public/301i-

Main2.jpg?itok=X7BRaBLB

23/07/2015

18 e 19 http://archrecord.construction.com/projects/bts/archives/transportation/08_CivicCenterParking/i

mages/8.jpg

30/07/2015

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21

11 APRECIAÇÃO DO ORIENTADOR

Este trabalho de iniciação científica cumpriu o cronograma inicial, permitindo atingir os objetivos

iniciais, não ocorrendo atrasos e imprevistos. Seu desenvolvimento junto ao professor-orientador

permitiu a complementação e publicação de material didático do curso de arquitetura e urbanismo da

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ – UFPR. A aluna voluntária apresentou interesse e dedicação

satisfatórias na elaboração das tarefas indicadas pelo professor-orientador, permitindo o

desenvolvimento adequado da pesquisa. Tratando-se de um trabalho introdutório sobre o tema e da

vastidão de questões possíveis de serem abordadas em investigações nesse campo de trabalho,

considera-se que os resultados atingidos são suficientes aos meios utilizados e também aos fins

pretendidos.

DATA E ASSINATURAS

Curitiba, julho de 2015.

Lissandra Taísa Baldissera

Antonio Manoel Nunes Castelnou, neto