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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN) Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA) Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente (MDMA) ESTUDO DA APLICAÇÃO DE PROCESSOS OXIDATIVOS AVANÇADOS NO TRATAMENTO DE EFLUENTES TÊXTEIS VISANDO O SEU REÚSO LEONARDO MADEIRA MARTINS TERESINA-PI 2011

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI)

Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do

Nordeste (TROPEN)

Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio

Ambiente (PRODEMA)

Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente (MDMA)

ESTUDO DA APLICAÇÃO DE PROCESSOS OXIDATIVOS

AVANÇADOS NO TRATAMENTO DE EFLUENTES TÊXTEIS

VISANDO O SEU REÚSO

LEONARDO MADEIRA MARTINS

TERESINA-PI

2011

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI)

Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste

(TROPEN)

Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente

(PRODEMA)

Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente (MDMA)

LEONARDO MADEIRA MARTINS

ESTUDO DA APLICAÇÃO DE PROCESSOS OXIDATIVOS

AVANÇADOS NO TRATAMENTO DE EFLUENTES TÊXTEIS

VISANDO O SEU REÚSO

Dissertação apresentada ao Programa Regional

de Pós-graduação em Desenvolvimento e

Meio Ambiente da Universidade Federal do

Piauí (PRODEMA/UFPI/TROPEN), como

requisito para a obtenção do grau de Mestre

em Desenvolvimento e Meio Ambiente. Área

de Concentração: Desenvolvimento do

Trópico Ecotonal do Nordeste. Linha de

Pesquisa: Biodiversidade e Utilização

Sustentável dos Recursos Naturais.

Orientador: Prof. Dr. Carlos Ernando da Silva

TERESINA-PI

2011

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LEONARDO MADEIRA MARTINS

ESTUDO DA APLICAÇÃO DE PROCESSOS OXIDATIVOS

AVANÇADOS NO TRATAMENTO DE EFLUENTES TÊXTEIS

VISANDO O SEU REÚSO

Dissertação apresentada ao Programa Regional

de Pós-graduação em Desenvolvimento e

Meio Ambiente da Universidade Federal do

Piauí (PRODEMA/UFPI/TROPEN), como

requisito para a obtenção do grau de Mestre

em Desenvolvimento e Meio Ambiente. Área

de Concentração: Desenvolvimento do

Trópico Ecotonal do Nordeste. Linha de

Pesquisa: Biodiversidade e Utilização

Sustentável dos Recursos Naturais.

Teresina, 24 de janeiro de 2011

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________________

Prof. Dr. Carlos Ernando da Silva (Orientador)

Universidade Federal do Piauí (PRODEMA/UFPI)

__________________________________________________

Prof. Dr. José Machado Moita Neto (Membro Interno)

Universidade Federal do Piauí (PRODEMA/UFPI)

__________________________________________________

Prof. Dr. Álvaro Silva Lima (Membro Externo)

Universidade Tiradentes (UNIT)

4

Aos meus pais (Evaldo e Maria

Doraci), meu irmão (Leandro), e

minha querida namorada (Sarah)

pelo apoio, paciência, amor,

cuidado e compreensão. A vocês

dedico este trabalho.

5

AGRADECIMENTOS

À Deus, em primeiro lugar, por ter me dado o dom da vida e a força para vencer todos os

obstáculos até chegar aqui.

Aos meus pais, irmão, namorada e amigos-irmãos (Igor Bahury, Karllos Ribeiro, Allyson

Stefanus, Erlan Pércio, Ítalo César e Robert Willyams).

Ao meu orientador (Prof. Dr. Carlos Ernando da Silva) por toda atenção, contribuição no

trabalho e oportunidades valiosas de aprendizado.

A todos os amigos do TROPEN/UFPI – TURMA (2009-2011): Simone Tupinambá,

Reurysson Moraes, Victor Meireles, João Macêdo, Accioly Pinto, Emiliana Cerqueira, Daniel

César, Daniel Gomes, Marly Cipriano, Roberta Celestino, Letícia Madeira, Charlene Silva,

Antônio Joaquim, Roberth Cipriano e em especial a Elaine Aparecida da Silva, pelo

companheirismo, carinho, amizade e incentivo.

Aos professores Álvaro Silva Lima e Regina de Fátima Peralta Muniz Moreira, por terem me

recebido em suas Universidades, UNIT e UFSC, respectivamente, durante o Mestrado

“Sandwich”, contribuindo grandiosamente na produção dos dados deste trabalho. Ao

Professor José Machado Moita Neto, pela valiosa ajuda com os cálculos estatísticos e na

interpretação dos resultados das análises químicas.

Aos amigos do LEMA/UFSC: Danielle de Bem, Carolina Berger, Thiago Alves, Rúbia

Flores, Maria Rita, Thaís Schaefer, Jackson Ilha, Micheline Honório, Paola Monsalve,

Jacqueline Suave, Michele Di Domenico, Renato Cesar, Gabriela Collazo, Sílvia Floriani,

Jhonatan Bork e Astrid Altamar, por toda atenção e ajuda.

Aos amigos do LMTE/ITP/UNIT: Gustavo Cardoso, Otávio Nascimento e Profª Drª Eliane

Cavalcanti, por terem me ensinado os primeiros nos trabalhos com os POA.

Aos amigos Laércio e Aline do Laboratório de Saneamento do Centro de Tecnologia da UFPI.

À FAPEPI/CAPES pelo auxílio financeiro durante o curso e o PROCAD2005/CAPES pelo

financiamento da logística de trabalho e mestrado “Sandwich”.

6

RESUMO

A atividade têxtil consome muita água e, consequentemente, gera uma grande quantidade de

efluentes, geralmente, de difícil tratamento, pois são compostos por inúmeras substâncias de

difícil degradação, como os corantes. Dessa forma, nem sempre os tratamentos convencionais

são aplicáveis a esse setor. Neste sentido, os Processos Oxidativos Avançados (POAs)

apresentam uma boa perspectiva para tratá-los. Os mesmos são processos com potencial de

produzir radicais hidroxila (•OH), espécies altamente oxidantes, capazes de mineralizar a

matéria orgânica. Assim, este trabalho tem por objetivo estudar a aplicação de Processos

Oxidativos Avançados no tratamento de efluentes têxteis, visando o seu reúso. Os resultados

obtidos com a aplicação dos POAs no efluente têxtil sintético estudado foram: no processo

Fenton (CH2O2 = 1500 mg/L e CFe2+ = 75 mg/L), em pH = 3, a remoção de cor chegou a

86,20%, e a de DQO a 64,83%, já no processo foto-Fenton (CH2O2 = 1500 mg/L e CFe2+ = 75

mg/L), em pH = 3, o experimento de melhor rendimento obteve 95,37% de remoção de cor e

72,95% de remoção de DQO e o processo UV/H2O2 de maior eficiência (CH2O2 = 1500 mg/L),

em pH = 2, obteve remoção de cor,75,85% e de DQO, 33,97%. Como o processo foto-

Fenton, foi o mais eficiente, o mesmo foi escolhido para ser aplicado ao efluente têxtil real.

Neste a remoção de cor verdadeira chegou a 91,12% e de COT a 80,89%. Dentre os

parâmetros analisados para o reúso em sistema de refrigeração, os parâmetros turbidez,

amônia, ferro, alumínio, sólidos dissolvidos e suspensos, ficaram fora dos padrões, portanto, o

efluente tratado não tem condições de ser reutilizado diretamente, necessitando de um

tratamento complementar.

PALAVRAS-CHAVE: Processos Oxidativos Avançados, efluente têxtil, reúso.

7

ABSTRACT

The textile activity consumes too much water and therefore generates a large amount of

wastewater, usually difficult to treat because they are composed of numerous substances

difficult to biodegrade, such as dyes. Thus, conventional treatments do not always apply to

this sector. In this sense, the Advanced Oxidation Processes (AOPs) have a good perspective

to treat them. They are processes with potential to produce hydroxyl radicals (•OH), highly

oxidizing species, capable of mineralizing the organic matter. This work aims to study the

application of Advanced Oxidation Processes for the treatment of textile effluents, aiming at

its reuse. The results obtained with the application of AOPs in wastewater synthetic textile

studied were: the Fenton process (CH2O2 = 1500 mg/L and CFe2+

= 75 mg/L) at pH 3, the color

removal arrived at 86,20% and 64.83% of the COD, with the photo-Fenton process (CH2O2 =

1500 mg/L and CFe2+

= 75 mg/L) at pH 3, the experiment with better yield obtained 95.37%

color removal and 72.95% COD removal and the process for greater efficiency UV/H2O2

(CH2O2 = 1500 mg/L) at pH = 2, obtained color removal, 75.85% and COD, 33.97%. As the

photo-Fenton was more efficient, it was chosen to be applied to real textile effluent. In this

one the true color removal reached 91.12% and 80.89% of TOC. Among the parameters

analyzed for reuse in the refrigeration system, the turbidity, ammonia, iron, aluminum,

dissolved solids and suspended, stayed out of the patterns, so the treated effluent is not able to

be reused directly, requiring a complementary treatment.

KEYWORDS: Advanced Oxidation Processes, textile effluent, reuse.

8

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1. Corante direto Vermelho Congo 19

Figura 2. Exemplo da interação iônica entre o corante (D) e os grupos amino da fibra da lã.

Fonte: Guaratini & Zanoni (2000) 21

Figura 3. Exemplo da interação de hidrogênio entre o corante sulfonado e os grupos

carboxilas da fibra de lã. Fonte: Guaratini & Zanoni (2000) 22

Figura 4. Exemplo da interação covalente entre um corante contendo grupos reativos

(triazina) e grupos hidroxila presentes na celulose da fibra de algodão. Fonte: Guaratini &

Zanoni (2000) 22

Figura 5. Esquema de uma estação de tratamento de efluentes utilizando lodo ativado,

tipicamente empregada para tratamento de efluente têxtil. Fonte: Peralta-Zamora et al.

(2002) 32

Figura 6. Desenho da tampa em nylon do foto-reator 50

Figura 7. Ilustração esquemática do foto-reator. Fonte: adaptação de Simon et al. (2007)

50

Figura 8. Foto-reator montado no laboratório de saneamento (UFPI) 51

Figura 9. Esquema e fotografia do foto-reator montado no LEMA (UFSC) 51

Figura 10. Análise termogravimétrica do corante Preto Biozol UC 58

Figura 11. Micrografias do corante Preto Biozol UC 58

Figura 12. Espectro por energia dispersiva do corante Preto Biozol UC 59

Figura 13. Teste da presença de cloretos 60

Figura 14. Espectroscopia de Infravermelho do corante Preto Biozol UC 61

Figura 15. Comprimento de onda de máxima absorbância do efluente têxtil sintético

62

Figura 16. Curva de calibração para o corante Preto Biozol UC, obtida a 507 nm 62

Figura 17. Curva de calibração para DQO 63

Figura 18. Remoção de cor considerando a relação CH2O2/CFe2+, após aplicação de Fenton em

pH = 3 64

9

Figura 19. Influência do pH na remoção de cor, CFe2+ = 75 mg/L e CH2O2 = 1500 mg/L 65

Figura 20. Remoção de cor com a aplicação de Fenton em pH = 2 66

Figura 21. Remoção de cor com a aplicação de Fenton em pH = 3 66

Figura 22. Curva teórica para modelagem do processo Fenton em pH = 3 70

Figura 23. Remoção de cor no processo foto-Fenton em pH = 2 71

Figura 24. Remoção de cor no processo foto-Fenton em pH = 3 71

Figura 25. Aspecto do efluente sintético antes e no final do processo foto-Fenton (CFe2+ = 75 mg/L

e CH2O2 = 1500 mg/L) em pH = 3 73

Figura 26. Curva teórica para modelagem do processo foto-Fenton em pH = 3 75

Figura 27. Remoção de cor no processo UV/ H2O2 em pH = 2 76

Figura 28. Remoção de cor no processo UV/ H2O2 em pH = 3 76

Figura 29. Curva teórica para modelagem do processo UV/H2O2 em pH = 2 78

Figura 30. Antes e depois da aplicação do processo foto-Fenton em pH = 3, CFe2+ = 75

mg/L e CH2O2 = 1500 mg/L, no efluente têxtil real 81

Figura 31. Micrografias do lodo formado após tratamento do efluente têxtil real 81

Figura 32. Espectroscopia por energia dispersiva do lodo do efluente têxtil real tratado

84

10

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Potencial redox de alguns oxidantes 33

Tabela 2. Planejamento dos experimentos 49

Tabela 3. Composição do efluente sintético 53

Tabela 4. Parâmetros analisados para o reúso e os kits utilizados 55

Tabela 5. Análise elementar (CHNOS) do corante Preto Biozol UC 57

Tabela 6. Resultado da análise química por EDS do corante 59

Tabela 7. Grupos funcionais identificados no corante a partir do infravermelho 61

Tabela 8. Remoções de cor e DQO após o processo Fenton em pH 2 e pH 3 67

Tabela 9. Resultados da ANOVA aplicada aos processos Fenton pH 3 67

Tabela 10. Resultados do teste Tuckey aplicados aos processos Fenton pH 3 68

Tabela 11. Constantes cinéticas e tempo de meia-vida das reações Fenton em pH 3 70

Tabela 12. Remoções de cor e DQO após o processo foto-fenton em pH 2 e pH 3 72

Tabela 13. Resultados da ANOVA aplicada aos processos foto-Fenton pH 3 72

Tabela 14. Resultados do teste Tuckey aplicados aos processos foto-Fenton pH 3 73

Tabela 15. Constantes cinéticas e tempo de meia-vida das reações foto-Fenton em pH 3

74

Tabela 16. Remoções de cor e DQO após o processo UV/H2O2 em pH 2 e pH 3 77

Tabela 17. Resultados da ANOVA aplicada aos processos UV/H2O2 em pH 2 77

Tabela 18. Resultados do teste Tuckey aplicados aos processos UV/H2O2 em pH 2 78

Tabela 19. Constantes cinéticas e tempo de meia-vida das reações UV/H2O2 em pH 2

79

Tabela 20. Remoções de cor e matéria orgânica no efluente têxtil real aplicando foto-

Fenton 80

Tabela 21. Resultado das análises físico-químicas para o reúso de efluente têxtil real

tratado em sistema de refrigeração com recirculação 82

Tabela 22. Resultado quantitativo da análise química por EDS do lodo do efluente real

tratado 85

11

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABES Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

ANA Agência Nacional de Águas

ANOVA Analysis of Variance

CAS Chemical Abstracts Service

CCTEA Comitê Científico da Toxicidade, Ecotoxicidade e do Ambiente

CE Comissão Européia

CEE Comunidade Econômica Européia

CI Carbono Inorgânico

CNRH Conselho Nacional de Recursos Hídricos

CONAMA Conselho Nacional de Meio Ambiente

COT Carbono Orgânico Total

CT Carbono Total

DBO Demanda Bioquímica de Oxigênio

DQO Demanda Química de Oxigênio

EDS Energy Dispersive Spectroscopy

EMPA Swiss Federal Laboratories for Materials Science and Technology

EPA Environmental Protection Agency

ETE Estação de Tratamento de Esgoto

FISPQ Ficha de Informações de Segurança de Produto Químico

IDH Índice de Deficiência de Hidrogênio

ITP Instituto de Tecnologia e Pesquisa

LAS Linear Alquilbenzeno Sulfonado

12

LCME Laboratório Central de Microscopia Eletrônica

LEMA Laboratório de Energia e Meio Ambiente

LMTE Laboratório de Minimização e Tratamento de Efluentes

MEV Microscopia Eletrônica de Varredura

NBR Norma Brasileira

NT Nitrogênio Total

OCDE Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico

P + L Produção mais Limpa

PET Poli(tereftalato de etileno)

POA Processo Oxidativo Avançado

TGA Análise Termogravimétrica

UFPI Universidade Federal do Piauí

UFSC Universidade Federal de Santa Catarina

UNIT Universidade Tiradentes

WHO World Health Organization

13

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 16

2. OBJETIVOS 17

2.1 Objetivo Geral 17

2.2 Objetivos Específicos 17

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 18

3.1 Corantes Têxteis 18

3.1.1 Classificação 18

3.1.2 Formas de fixação do corante têxtil à fibra 21

3.1.3 Aspectos ambientais dos corantes têxteis 22

3.2 Legislação Ambiental aplicada ao reúso de água e ao lançamento de efluentes em

recursos hídricos 24

3.2.1 Outorga pelo Uso da Água 26

3.2.2 Cobrança pelo Uso da Água 26

3.3 Tratamento de efluentes industriais 28

3.3.1 Classificação dos sistemas de tratamento de efluentes 30

3.4 Processos Oxidativos Avançados (POA) 33

3.4.1 Os sistemas típicos de Processos Oxidativos Avançados 35

3.4.2 Fenton 39

3.4.3 Foto-Fenton 40

3.4.4 UV/H2O2 40

3.5 Reúso de águas residuárias 41

14

3.5.1 Vantagens e Classificação 42

3.5.2 Usos Industriais 44

3.5.2.1 O reúso na indústria têxtil 46

4. MATERIAIS E MÉTODOS 48

4.1 Processos Fenton, foto-Fenton e UV/H2O2 48

4.2 Foto-reator 49

4.3 Corante têxtil 52

4.3.1 Análise por MEV/EDS 52

4.3.2 Análise por Espectroscopia de Infravermelho e CHNOS 52

4.3.3 Análise por Termogravimetria (TGA) 52

4.3.4 Teste da presença de cloretos e sódio 53

4.4 Efluente têxtil sintético 53

4.5 Efluente têxtil real 53

4.6 Determinação da concentração do corante 53

4.7 Cor verdadeira 54

4.8 Determinação da Demanda Química de Oxigênio no efluente sintético 54

4.9 Análise de parâmetros para o reúso 55

4.10 Análise estatística 56

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO 57

5.1 Caracterização do corante têxtil Preto Biozol UC 57

5.2 Caracterização do efluente têxtil sintético 62

5.3 Curva de calibração para DQO 63

5.4 Estudo da relação CH2O2/CFe2+ 63

5.5 Aplicação do processo Fenton 64

15

5.5.1 Cinética de remoção de cor no processo Fenton pH = 3 68

5.6 Aplicação do processo foto-Fenton 70

5.6.1 Cinética do processo foto-Fenton pH = 3 73

5.7 Aplicação do processo UV/H2O2 75

5.7.1 Cinética do processo UV/H2O2 em pH = 2 78

5.8 Aplicação de Processo Oxidativo Avançado em efluente têxtil real 79

5.9 Caracterização do lodo resultante do tratamento do efluente têxtil real 83

6. CONCLUSÕES 86

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS 87

REFERÊNCIAS 88

ANEXOS 94

Anexo A - Diretiva 76/769/CEE do Conselho, de 27 de Julho de 1976, relativa à

aproximação das disposições legislativas, regulamentares e administrativas

dos Estados-Membros respeitantes à limitação da colocação no mercado e

da utilização de algumas substâncias e preparações perigosas 95

Anexo B - Diretiva 2002/61/CE do Parlamento Europeu e do Conselho de 19 de Julho

de 2002 que altera pela décima nona vez a Diretiva 76/769/CEE do

Conselho no que respeita à limitação da colocação no mercado e da

utilização de algumas substâncias e preparações perigosas (corantes

azóicos) 99

Anexo C - Diretiva 2004/21/CE da Comissão de 24 de Fevereiro de 2004 no que diz

respeito à limitação da colocação no mercado e da utilização de corantes

azoicos (décima terceira adaptação ao progresso técnico da Diretiva

76/769/CEE do Conselho) 103

Anexo D - Ficha de Informações de Segurança de Produto Químico (FISPQ) do

corante Preto Biozol UC 105

16

1 INTRODUÇÃO

A limitação das reservas de água doce no planeta, o aumento de sua demanda para

atender, principalmente, o consumo humano, agrícola e industrial, a prioridade de sua

utilização em abastecimento público e as restrições impostas em relação ao lançamento de

efluentes no meio ambiente, torna necessária a adoção de estratégias que visem racionalizar a

utilização dos recursos hídricos e mitigar os impactos negativos relativos à geração de

efluentes pelas indústrias.

Esta situação tem preocupado, em especial, as indústrias que utilizam a água como

matéria-prima, influenciando a qualidade do produto final. Assim, muitas delas estão

buscando formas de gerenciar esse recurso em seus processos. O reúso de água pode ser

considerado uma boa alternativa, já que o mesmo é parte de uma atividade mais abrangente

que é o uso racional ou eficiente da água, o qual compreende também o controle de perdas e

desperdícios e a minimização da produção de efluentes e do seu consumo.

Indústrias como a têxtil, que apresentam elevado consumo de água em seus processos,

podem ter potencial para aplicar técnicas que viabilizem o reúso. Um dos seus principais

empecilhos está na dificuldade de tratamento dos efluentes, já que estes vêm com uma grande

carga de matéria orgânica não biodegradável, representada, principalmente, pelos corantes

têxteis. O tratamento biológico ou convencional já não é considerado mais eficiente no

tratamento de tais efluentes. Portanto, é necessário que sejam pesquisadas tecnologias de

tratamento de esgoto, especialmente para os têxteis, que garantam a qualidade dos efluentes

para o reúso.

Nesse contexto, os Processos Oxidativos Avançados (POAs) surgem como uma boa

alternativa. Os mesmos caracterizam-se por transformar a grande maioria dos contaminantes

orgânicos em dióxido de carbono, água e ânions inorgânicos, por meios de reações de

degradação que envolvem espécies transitórias oxidantes, como os radicais hidroxila.

Dentre os POAs existentes, o Fenton, foto-Fenton e UV/H2O2, serão estudados nesta

pesquisa.

17

2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral

Estudar a aplicação de Processos Oxidativos Avançados no tratamento de efluente

têxtil, visando o seu reúso.

2.2 Objetivos Específicos

Caracterizar o corante Preto Biozol UC;

Caracterizar o efluente têxtil sintético a ser produzido;

Avaliar a eficiência dos Processos Oxidativos Avançados, Fenton, foto-Fenton e

UV/H2O2 na remoção de cor e DQO do efluente têxtil sintético;

Verificar a influência do pH nos POAs aplicados ao efluente têxtil sintético;

Definir as condições ótimas de cada POA na remoção de cor e DQO do efluente têxtil

sintético, baseado em análises estatísticas;

Fazer estudo cinético da remoção de cor nas condições ótimas de cada processo;

Aplicar as condições ótimas em efluente têxtil real;

Identificar as possibilidades de reúso do efluente têxtil real tratado.

18

3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1 Corantes Têxteis

3.1.1 Classificação

De acordo com Guaratini e Zanoni (2000) o processo de tingimento é um dos fatores

fundamentais no sucesso comercial dos produtos têxteis. Além da padronagem e beleza da

cor, o consumidor normalmente exige algumas características básicas do produto, tais como:

elevado grau de fixação em relação à luz, lavagem e transpiração, tanto inicialmente quanto

após uso prolongado. Para garantir essas propriedades, as substâncias que conferem coloração

à fibra devem apresentar alta afinidade, uniformidade na coloração, resistência aos agentes

desencadeadores do desbotamento e ainda apresentar-se viável economicamente.

Os corantes são divididos em dois grandes grupos: os naturais e os sintéticos. De

acordo com Bastian et al. (2009), existem várias maneiras para se classificar os corantes, por

exemplo, de acordo com a sua constituição química, sua aplicação, solidez em geral, tipo de

excitação eletrônica quando exposto à luz, dentre outros.

Conforme Bastian et al. (2009) a classificação dada a seguir segue o padrão adotado

pelo Colour Index, banco de dados padrão dos fabricantes de produtos coloridos usado por

fabricantes e consumidores, como artistas e decoradores, além do setor químico como um

todo, publicado pela The Society of Dyers and Colourists, em conjunto com a Association of

Textile Chemists an Colorists.

Corantes à tina (VAT DYES): Os corantes à tina, com poucas exceções, são

subdivididos em dois grupos: os indigóides e os antraquinônicos. Todos eles possuem,

como característica química, a presença de um grupo cetônico (C=O) e são

essencialmente insolúveis em água. A solubilização desses corantes se dá por redução

em solução alcalina/redutora e o produto obtido recebe o nome de LEUCO. O grupo

cetônico toma a forma reduzida (C-OH), solúvel em água, e o corante passa a ter

afinidade química com a fibra celulósica. O corante original, insolúvel, é recuperado

por uma oxidação posterior. Um exemplo é o corante Índigo.

19

Corantes reativos: os corantes reativos se caracterizam por terem pelo menos um

grupo cromóforo e um grupo reativo, sendo solúveis em água. O grupo cromóforo é

aquele que é responsável pela cor do produto e o grupo reativo é a parte química do

corante que reage com os grupamentos hidroxílicos (OH) da celulose. Daí estes

corantes se chamarem corantes reativos.

Corantes dispersos ou plastosolúveis: os corantes dispersos são definidos como

substâncias insolúveis em água, de caráter não iônico, que possuem afinidade com

fibras hidrofóbicas, a exemplo do acetato de celulose, geralmente aplicados a partir de

uma fina dispersão aquosa. São também empregados para tingir poliéster, acetato,

triacetato e em alguns casos poliamida e acrílicas.

Corantes diretos: são corantes que foram originalmente concebidos para tingir

algodão. Formalmente, são definidos como corantes aniônicos, com grande afinidade

para a celulose. Os corantes diretos apresentam a maneira mais simples de colorir

materiais celulósicos, uma vez que são aplicados a partir de um banho neutro ou

levemente alcalino, próximo ou no ponto de ebulição, os quais são aplicados cloretos

ou sulfatos de sódio em quantidade e intervalos de tempo apropriados. Um exemplo é

o corante Vermelho Congo (Figura 1).

SO3Na

N

H

H

NN

N

H

SO3Na

NH

N

Figura 1. Corante direto Vermelho Congo

Corantes ácidos: são corantes aniônicos, bastante solúveis em água, cuja aplicação se

dá em fibras nitrogenadas como a lã, seda, couro e algumas fibras acrílicas

modificadas. Não são recomendados para algodão, uma vez que não possuem

afinidade com fibras celulósicas, sendo, entretanto, largamente empregados para a

poliamida. Possui uma ampla gama de coloração e, também, as mais diversas

propriedades com relação ao tipo de tingimento e solidez.

20

Alguns corantes ácidos são metalizados e absolutamente indispensáveis para certas

aplicações na indústria têxtil (alta solidez). A estabilidade desses complexos é tal que

esses corantes permanecem estáveis durante o processo de tingimento, mesmo sob

severas condições de uso, não liberando o metal de sua estrutura mesmo que haja

flutuações de pH e temperatura.

Corantes catiônicos (básicos modificados): são corantes solúveis em água que

produzem soluções coloridas catiônicas devido à presença de grupamento amino

(NH2). Suas aplicações são direcionadas principalmente para as fibras acrílicas, e em

casos especiais para a lã, seda e acetato de celulose. Fornecem cores bastante vivas e

algumas até mesmo fluorescentes de boa solidez.

Já os antigos corantes básicos (catiônicos não modificados), devido à sua pouca

solidez (principalmente à luz), hoje em dia, possuem utilização têxtil bastante

reduzida, tendo sofrido forte pressão do mercado quanto à segurança de seu manuseio,

visto que grande parte dos mesmos utiliza a benzidina (CAS-92-87-5)1 como matéria-

prima, produto reconhecidamente carcinogênico.

Corantes ao enxofre (sulfurosos): é uma classe de corantes que se caracteriza por ter

compostos macromoleculares com pontes dissulfídicas (-S-S-). Os mesmos são

insolúveis em água e sua aplicação assemelha-se à dos corantes à tina, devendo ser

inicialmente reduzidos a uma forma solúvel, quando passam a ter afinidade com fibras

celulósicas. Após o tingimento, são trazidos à sua forma original, insolúvel por

oxidação. Possuem uma boa solidez à luz e à lavagem, mas resistem muito pouco ao

cloro.

Corantes naturais: São corantes obtidos a partir de substâncias vegetais ou animais,

com pouco ou nenhum processamento químico, são principalmente, do tipo mordente,

embora existam alguns do tipo à tina, solventes, pigmentos, diretos e ácidos. Não

existem corantes naturais dispersos, azóicos ou ao enxofre.

1 O número CAS ou registro CAS (CAS number ou CAS registry number) de um composto químico é

um número de registro único no banco de dados do Chemical Abstracts Service.

21

3.1.2 Formas de fixação do corante têxtil à fibra

Conforme Guaratini e Zanoni (2000) a forma de fixação da molécula do corante a

essas fibras geralmente é feita em solução aquosa e pode envolver basicamente 4 tipos de

interações:

Interações Iônicas - São baseadas em interações mútuas entre o centro positivo dos

grupos amino e carboxilatos presentes na fibra e a carga iônica da molécula do corante

ou vice-versa (ver Figura 2). Exemplos característicos deste tipo de interação são

encontrados na tintura da lã, seda e poliamida.

NH3 CO2 + Na+

D NH3

D

CO2 Na+

+ +

grupos disponíveis da fibra em meio ácido

corante

interação iônica entre o corante (D) e a fibra

Figura 2. Exemplo da interação iônica entre o

corante (D) os grupos amino da fibra da lã. Fonte: Guaratini e Zanoni (2000)

Interações de Van der Waals – São baseadas na interação proveniente da

aproximação máxima entre orbitais π do corante e da molécula da fibra, de tal modo

que as moléculas do corante são “ancoradas” firmemente sobre a fibra por um

processo de afinidade, sem formar uma ligação propriamente dita. Esta atração é

especialmente efetiva quando a molécula do corante é linear/longa e/ou achatada e

pode assim se aproximar o máximo possível da molécula da fibra. Exemplos

característicos deste tipo de interação são encontrados na tintura de lã e poliéster com

corantes com alta afinidade por celulose.

Interações de Hidrogênio - São provenientes da ligação entre átomos de hidrogênio

covalentemente ligados no corante e pares de elétrons livres de átomos doadores em

centros presentes na fibra. Exemplos característicos deste tipo de interação são

encontrados na tintura de lã (Figura 3), seda e fibras sintéticas como acetato de

celulose.

22

NH3N

ORO3Scorante

fibra de lã

HO

C

H

+

Figura 3. Exemplo da interação de hidrogênio entre o corante

sulfonado e os grupos carboxilas da fibra de lã. Fonte: Guaratini e Zanoni (2000)

Interações Covalentes - São provenientes da formação de uma ligação covalente

entre a molécula do corante contendo grupo reativo (grupo eletrofílico) e resíduos

nucleofílicos da fibra. Exemplos característicos deste tipo de interação são tinturas de

fibra de algodão (Figura 4).

C

N

N

C

C

N

R

H

Cl + H O celulose

OH

C

N

N

C

C

N

R O celulose + HCl

H

corante

fibra

Figura 4. Exemplo da interação covalente entre um corante contendo grupos reativos

(triazina) e grupos hidroxila presentes na celulose da fibra de algodão. Fonte: Guaratini e Zanoni (2000)

3.1.3 Aspectos ambientais dos corantes têxteis

Conforme Guaratini e Zanoni (2000), os efluentes provenientes da indústria de corante

ou de processos envolvendo tingimento têxtil, não tratados convenientemente, são a

preocupação ecológica mais emergente. Deste modo, corantes altamente insolúveis, que

requerem uma baixa solubilidade no processo de aplicação, apresentam menor

biodisponibilidade do que corantes contendo grupos sulfônicos, os quais aumentam a

solubilidade, embora apresentem resíduos tóxicos na água de lavagem devido à menor

fixação.

Segundo Perkowski e Kos (2003a) os principais problemas ambientais dos corantes

têxteis estão relacionados ao impedimento da penetração da luz nos corpos d’água, afetando

23

assim os seres vivos que dependem dela tanto direta como indiretamente. Outro problema que

não deve ser negligenciado é o aspecto estético ligado a recreação.

Conforme Guaratini e Zanoni (2000) o grupo que tem atraído maior atenção tem sido

os corantes contendo a função azo-aromático como cromóforo, os quais constituem o maior

grupo de corantes orgânicos produzidos mundialmente. A biotransformação destes corantes

pode ser responsável pela formação de aminas, benzidinas e outros intermediários com

potencialidade carcinogênica.

Numa perspectiva de proteção da saúde humana, a Diretiva 2002/61/CE do

Parlamento e Conselho Europeu da União Européia, proíbe a utilização de corantes azóicos

perigosos e a comercialização de alguns artigos têxteis e de couro tingidos com aquelas

substâncias. Esta Diretiva altera pela décima nona vez a Diretiva 76/769/CEE do Conselho

relativa à aproximação das disposições legislativas, regulamentares e administrativas dos

Estados-Membros respeitantes à limitação da colocação no mercado e da utilização de

algumas substâncias e preparações perigosas.

Conforme o CCTEA (Comitê Científico da Toxicidade, da Ecotoxicidade e do

Ambiente) confirmou-se que apenas os corantes azóicos solúveis são biodisponíveis e,

consequentemente, representam risco para a saúde humana. Os corantes azóicos englobam

aqueles que são solúveis, e adicionalmente uma pequena fração de pigmentos azóicos

igualmente solúveis. Vale ressaltar que a Diretiva 2002/61/CE foi alterada pela Comissão

Diretiva 2004/21/CE, na qual adianta uma lista de métodos de detecção dos corantes azóicos.

Os textos das Diretivas estão nos anexo A, B e C.

Os corantes azóicos, objeto de restrição, são os que têm capacidade de, por clivagem

redutora de um ou mais grupos azóicos, libertar quaisquer aminas aromáticas das 21

enunciadas em apêndice à Diretiva 2002/61/CE.

Os métodos de ensaio a seram utilizados na demonstração da conformidade à presente

Diretiva são mostrados no anexo C. Os mesmos referem-se ao método alemão oficial de

análise, atualmente utilizado em todo o mundo. Estes métodos de ensaio não detectam ainda

com precisão algumas das aminas aromáticas cancerígenas libertadas pelos corantes azóicos,

como, por exemplo, o 4-aminoazobenzeno. Esta arilamina cancerígena é susceptível de

inclusão na lista de substâncias perigosas logo que se desenvolva um método de análise

adequado para verificar a observância da proibição.

24

De acordo com Nogueira et al. (2007) a maior conscientização dos riscos iminentes à

saúde humana e a necessidade de conservação dos recursos naturais têm motivado esforços

para minimizar o problema da contaminação. Alguns exemplos são a imposição de legislações

mais restritivas, que visem à redução da quantidade e toxicidade das emissões, reciclagem e

reúso de resíduos, adaptação e otimização de processos de produção e a substituição de

matérias-primas tóxicas. Também é de suma importância a utilização de métodos de

tratamento de efluentes e de recuperação de ambientes já contaminados, que satisfaçam as

restrições impostas.

3.2 Legislação Ambiental aplicada ao reúso de água e ao lançamento de efluentes em

recursos hídricos

O conhecimento sobre a legislação, regulamentos e normas relativos ao uso da água e

descarte de efluentes é fundamental para se visualizar as possibilidades de reúso industrial.

A criação de normas relacionadas à utilização dos recursos hídricos para qualquer

finalidade tem como principal objetivo garantir uma relação harmônica entre as atividades

humanas e o meio ambiente, além de permitir um melhor equilíbrio de forças entre os vários

segmentos da sociedade ou setores econômicos (FIESP, 2004).

Os principais aspectos normativos referentes aos recursos hídricos estão na

Constituição Federal de 1988, a qual estabelece, no art.22, IV, que quem deve legislar sobre

as águas é a União e na Lei Federal nº 9.433/97, que cria o Sistema Nacional de

Gerenciamento de Recursos Hídricos e estabelece os instrumentos de gerenciamento, os quais

são: outorga pelo direito de uso de recursos hídricos, cobrança pelo uso da água,

enquadramento dos corpos d’água em classes de uso, sistema de informações sobre recursos

hídricos e planos de recursos hídricos.

O Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) juntamente com o Conselho

Nacional de Recursos Hídricos (CNRH) e a Associação Brasileira de Normas Técnicas

(ABNT) aprovaram dispositivos que dispõem sobre o descarte de efluentes em corpos d’água,

assim como o reúso de água, dentre eles destacamos:

Resolução CONAMA nº 357/2005 – Dispõe sobre a classificação dos corpos de água

e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e

padrões de lançamento de efluentes, e dá outras providências.

25

Uma das deficiências desta Resolução é não mostrar um padrão de lançamento da

DQO no corpo d’água. Outra é o fato de ser muito subjetiva quando diz que os

corantes provenientes de fontes antrópicas devem ser virtualmente ausentes. Para o

tratamento de efluentes mais complexos, como os da indústria química, papel e

celulose, têxtil, os padrões internacionais de lançamento de efluentes ainda são

bastante utilizados, como os citados pelo Guidelines for Water Reuse, publicado pela

U.S. Environmental Protection Agency – EPA em 2004.

Resolução CNRH nº 54/2005 – Estabelece modalidades, diretrizes e critérios gerais

para a prática de reúso direto não potável de água, e dá outras providências.

Resolução CONAMA nº 393/2007 – Complementa a Resolução CONAMA nº

357/05 (art. 43, § 4º). Dispõe sobre o descarte contínuo de água de processo ou de

produção em plataformas marítimas de petróleo e gás natural, e dá outras

providências.

Resolução CONAMA nº 396/2008 – Dispõe sobre a classificação e diretrizes

ambientais para o enquadramento das águas subterrâneas e dá outras providências. No

que se refere à disposição de efluentes, o art. 27 diz o seguinte:

“Art. 27. A aplicação e disposição de efluentes e de resíduos no solo deverão observar

os critérios e exigências definidos pelos órgãos competentes e não poderão conferir às

águas subterrâneas características em desacordo com o seu enquadramento.”

Resolução CONAMA nº 397/2008 – Altera o inciso II do § 4º e a Tabela X do § 5º

do art. 34 da Resolução CONAMA nº 357/05 e acrescenta os §6º e 7º.

NBR 13969:1997 (confirmada em 28.01.2008) – Dispõe sobre os tanques sépticos -

unidades de tratamento complementar e disposição final dos efluentes líquidos -

projeto, construção e operação. Esta Norma traz importantes contribuições no que se

refere ao reúso local de água.

26

3.2.1 Outorga pelo Uso da Água

Conforme Viana e Forattini (2007), a outorga é um instrumento da Política Nacional

de Recursos Hídricos que tem como objetivos assegurar o controle quatitativo e qualitativo

dos usos da água e o efetivo exercício dos direitos de acesso a água.

De maneira resumida, os usos que dependem de outorga são:

derivação ou captação de parcela da água existente em um corpo d'água para

consumo final, inclusive abastecimento público, ou insumo de processo produtivo;

extração de água de aquífero subterrâneo para consumo final ou insumo de

processo produtivo;

lançamento em corpo de água de esgotos e demais resíduos líquidos ou gasosos,

tratados ou não, com o fim de sua diluição, transporte ou disposição final;

uso de recursos hídricos com fins de aproveitamento dos potenciais hidrelétricos;

outros usos que alterem o regime, a quantidade ou a qualidade da água existente em

um corpo de água;

A escassez de recursos hídricos impõe a necessidade de ações visando a conservação e

o gerenciamento adequado deste recurso. Para tal, é fundamental que a outorga, como

instrumento de gerenciamento, leve em conta a eficiência dos processos na análise dos

requerimentos, procurando incentivar e promover o uso eficiente da água, principalmente nas

regiões em que ocorrerem conflitos de uso. Nesse aspecto, a prática do reúso pode ser um

fator importante para viabilizar a solução de conflitos em regiões onde haja escassez de

recursos hídricos, ou problemas referentes à qualidade dos mesmos (FIESP, 2004).

Deve-se ressaltar que o reúso, em si, não é objeto de outorga, uma vez que não é uma

interferência direta em corpo hídrico, mas que a sua adoção pode interferir no balanço hídrico

do empreendimento, tanto do ponto de vista quantitativo como no qualitativo (FIESP, 2004).

3.2.2 Cobrança pelo Uso da Água

Conforme Viana e Forattini (2007), outro instrumento da Política Nacional de

Recursos Hídricos é a cobrança pelo uso das águas, a qual visa o incentivo à racionalização do

27

seu uso, seu reconhecimento como bem econômico e indicação ao usuário do seu real valor,

bem como a obtenção de recursos financeiros para o financiamento de programas e

intervenções contemplados nos planos de recursos hídricos.

Segundo FIESP (2004), o fundamento legal para a cobrança pelo uso da água no

Brasil remonta ao Código Civil de 1916. No mesmo sentido, o Código de Águas, Decreto –

Lei nº 24.642/34, estabeleceu que o uso comum das águas pode ser gratuito ou retribuído, de

acordo com as leis e os regulamentos da circunscrição administrativa a que pertencerem.

Posteriormente, a Lei nº 6.938/81, que trata da Política Nacional de Meio Ambiente, incluiu a

possibilidade de imposição ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou

indenizar os danos causados ao meio ambiente e, ao usuário, da contribuição pela utilização

de recursos ambientais com fins econômicos. Somente a Lei nº 9.433 em 1997 definiu a

cobrança como um dos instrumentos de gestão dos recursos hídricos. Em 2000, foi criada a

Agência Nacional de Águas – ANA (Lei nº 9.984/2000), a qual tem competência para

implementar, em articulação com os Comitês de Bacia Hidrográfica, a cobrança pelo uso dos

recursos hídricos de domínio da União.

Conforme FIESP (2004), o instrumento da cobrança pelo uso de recursos hídricos

constitui-se num incentivador ao reúso da água. O usuário que reutiliza suas águas reduz as

vazões de captação e lançamento e, consequentemente, tem sua cobrança reduzida. Assim,

quanto maior for o reúso, menor será a utilização de água e menor a cobrança. Dependendo

das vazões utilizadas, o montante de recursos economizados com a redução da cobrança em

função do reúso pode cobrir os custos de instalação de um sistema de reúso da água na

unidade industrial.

Compete à ANA operacionalizar a cobrança pelo uso dos recursos hídricos de domínio

da União, ou seja, daqueles rios ou demais cursos d'água que atravessam mais de um Estado

da federação (ANA, 2010).

A ANA vem desenvolvendo ações para implementação da cobrança pelo uso dos

recursos hídricos no Brasil desde 2001, em conjunto com gestores estaduais e comitês de

bacias. Até o momento, em rios de domínio da União e do Estado de São Paulo, a cobrança

foi implementada na Bacia do Rio Paraíba do Sul e nas Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e

Jundiaí. Em rios de domínio do Estado do Rio de Janeiro, além das bacias afluentes ao rio

Paraíba do Sul, o instrumento foi implementado nas bacias do rio Guandu, da Baía da Ilha

Grande, da Baía da Guanabara, do Lago São João, do rio Macaé e rio das Ostras e do rio

28

Itapaboana. Brevemente estará também implementada nos rios de domínio do Estado de

Minas Gerais das bacias dos rios Piracicaba e Jaguari, Velhas e Araguari (ANA, 2010).

3.3 Tratamento de efluentes industriais

De acordo com a NBR 9800:1987, efluente líquido industrial é o despejo líquido

proveniente do estabelecimento industrial, compreendendo emanações de processo industrial,

águas de refrigeração poluídas, águas pluviais poluídas e esgoto doméstico. Por muito tempo

não existiu a preocupação em caracterizar a geração de efluentes líquidos industriais e de

avaliar seus impactos no meio ambiente. No entanto, a legislação vigente e a conscientização

ambiental fazem com que algumas indústrias desenvolvam atividades para quantificar a vazão

e determinar a composição dos efluentes industriais.

O gerenciamento adequado dos efluentes é importante para minimizar impactos

ambientais, o que exige a adoção de procedimentos específicos de coleta e tratamento.

A escolha da tecnologia mais adequada para o tratamento de um efluente depende da

análise detalhada dos tipos e características dos contaminantes que deverão ser eliminados ou

minimizados, já que a maioria dos processos e operações unitárias de tratamento, com

pequenas exceções, são aplicáveis para classes muito específicas de contaminantes.

A opção por uma determinada técnica de tratamento ou por uma combinação entre

duas ou mais técnicas é o que define um sistema de tratamento, e deve fundar-se no

conhecimento do potencial de cada técnica e dos mecanismos envolvidos na redução do

contaminante de interesse.

Um sistema de tratamento de águas residuárias é constituído por uma série de

operações e processos que são empregados para a remoção de substâncias indesejáveis da

água ou para sua transformação em outras formas aceitáveis. Conforme EPA (2004b) e Santos

(2007), os processos de tratamento são reunidos em grupos distintos, a saber: processos

físicos, químicos e biológicos.

Processos físicos: são assim chamados em razão dos fenômenos físicos que ocorrem

na remoção ou na transformação de poluentes das águas residuárias. Geralmente os mesmos

são utilizados para separar sólidos em suspensão nas águas residuárias, mas também podem

ser utilizados para equalizar e homogeneizar um efluente.

Dentre os processos físicos destacamos:

29

o Remoção de sólidos grosseiros;

o Remoção de sólidos sedimentáveis;

o Remoção de sólidos flutuantes;

o Remoção da umidade de lodo;

o Homogeneização e equalização de efluentes;

o Diluição de águas residuárias.

Os processos físicos utilizados para essas finalidades envolvem diversos dispositivos,

tais como: grades de limpeza manual ou mecanizada; peneiras estáticas, vibratórias ou

rotativas; caixas de areia simples ou aeradas; tanques de retenção de materiais flutuantes;

decantadores; flotadores de ar dissolvido; leitos de secagem de lodo; filtros prensa e a vácuo;

centrífugas; filtros de areia e adsorção em carvão ativado, dentre outros.

Processos químicos: são processos em que a utilização de produtos químicos é

necessária para aumentar a eficiência da remoção de um elemento ou substância, modificar

seu estado ou estrutura, ou simplesmente alterar suas características químicas. A acidificação

de um efluente visando a quebra de emulsão de certos óleos e graxas e o ajuste do pH de uma

solução para a precipitação de metais na forma de óxidos e hidróxidos são exemplos de

processos químicos de tratamento de águas residuárias. Quase sempre são utilizados

conjugados a processos físicos e algumas vezes a processos biológicos. Os principais são:

o Coagulação - floculação;

o Precipitação química;

o Oxidação;

o Cloração;

o Neutralização ou correção do pH.

Processos biológicos: são assim denominados por dependerem da ação de

microrganismos aeróbios ou anaeróbios. Os fenômenos inerentes à respiração e à alimentação

desses microrganismos são predominantes na transformação da matéria orgânica, sob a forma

de sólidos dissolvidos e em suspensão, em compostos simples como sais minerais, gás

carbônico, água e outros.

30

Os processos biológicos procuram reproduzir, em dispositivos racionalmente

projetados, os fenômenos biológicos observados na natureza, condicionando-se em área e

tempo economicamente justificáveis. Os mais conhecidos são:

o Lodos ativados e suas variações;

o Filtros biológicos anaeróbios ou aeróbios;

o Lagoas aeradas;

o Lagoas de estabilização facultativas e anaeróbias;

o Digestores anaeróbios de fluxo ascendente.

3.3.1 Classificação dos sistemas de tratamento de efluentes

Os sistemas de tratamento de águas residuárias, englobando um ou mais processos

descritos, são classificados em função do tipo de material a ser removido e da eficiência de

sua remoção. Conforme Braga et al. (2005), Santos (2007) e Dezotti et al. (2008), os sistemas

de tratamento de efluentes são assim classificados:

Tratamento preliminar: prepara as águas residuais para tratamento posterior,

reduzindo ou eliminando as características não favoráveis que poderiam impedir o

funcionamento ou aumentar excessivamente a manutenção dos equipamentos e

processos a jusante. Estas características incluem sólidos, abrasivos, odores e, em

certos casos, grandes cargas hidráulicas ou orgânicas. Processo composto por

unidades de operações físicas, ou seja, a triagem e a cominuição para a remoção de

detritos e de trapos, a remoção de areia para a eliminação de materiais grosseiros

em suspensão, e flotação para a remoção de óleo e graxa.

Tratamento primário: envolve a remoção parcial de sólidos suspensos e matéria

orgânica do esgoto por meio de operações físicas, tais como triagem e

sedimentação. Pré-aeração ou floculação mecânica com adições químicas podem

ser utilizadas para melhorar o tratamento primário. O tratamento primário atua

como um precursor para o tratamento secundário. Destina-se principalmente a

produção de um efluente adequado para o tratamento biológico a jusante e separar

sólidos de um lodo que pode ser conveniente e economicamente tratados antes do

31

descarte final. O efluente do tratamento primário contém uma boa quantidade de

matéria orgânica e é caracterizada por uma DBO relativamente elevada.

Tratamento secundário: o objetivo do tratamento secundário é a remoção de

matéria orgânica solúvel e coloidal e sólidos em suspensão que escaparam do

tratamento primário. Isso geralmente é feito por meio de processos biológicos,

nomeadamente o tratamento por lodos ativados e reatores de filme fixo, ou

sistemas lagunares e sedimentação.

Tratamento terciário/avançado: este tipo ultrapassa o nível de tratamento

secundário convencional para remover quantidades significativas de nitrogênio,

fósforo, metais pesados, compostos orgânicos biodegradáveis, bactérias e vírus.

Além de processos biológicos de remoção de nutrientes, outras operações unitárias

são frequentemente utilizadas para esse fim, como: coagulação química, floculação

e sedimentação seguida de filtração e carvão ativado. Menos frequentemente

utilizados incluem os processos de troca iônica e osmose reversa para a remoção

de íons específicos ou para redução de sólidos dissolvidos.

Conforme Peralta-Zamora et al. (2002), o aumento da complexidade e dificuldade no

tratamento de efluentes têxteis e industriais de um modo geral, tem levado a busca constante

de novas metodologias para tratamento destes rejeitos. Há uma variedade de métodos físicos,

químicos e biológicos e a escolha do melhor, ou melhores métodos, seguramente deve ser

feita levando-se em conta os objetivos a serem alcançados com o tratamento.

De acordo com Peralta-Zamora et al. (2002), em geral, na indústria têxtil os processos

de tratamento estão fundamentados na operação de sistemas físico-químicos de precipitação-

coagulação, seguidos de tratamento biológico via sistema de lodos ativados (Figura 5). O

sistema apresenta uma eficiência relativamente alta, permitindo a remoção de

aproximadamente 80% da carga de corantes. Infelizmente, o problema relacionado com o

acúmulo de lodo torna-se crítico, uma vez que o teor de corantes adsorvido é bastante

elevado, impedindo qualquer possibilidade de reaproveitamento.

32

Figura 5. Esquema de uma estação de tratamento de efluentes utilizando

lodo ativado, tipicamente empregada para tratamento de efluente têxtil. Fonte: Peralta-Zamora et al. (2002)

O grau de tratamento de um determinado efluente sempre será função da qualidade da

água do corpo receptor e das características necessárias para o uso da água a jusante do ponto

de lançamento, da Legislação Ambiental e das consequências do lançamento destes efluentes.

Peralta-Zamora et al. (2002) dizem ainda que, aliado a isso, uma visão moderna com

relação a efluentes industriais deve estar baseada não somente no tratamento deste

(tecnologias “end of pipe”) e sim na busca constante da minimização de resíduos gerados por

meio de tecnologias limpas, ou seja, o pensamento deve se voltar para a fonte do efluente

dentro da fábrica e não somente como resolver o problema após sua geração.

33

3.4 Processos Oxidativos Avançados (POA)

Conforme Teixeira e Jardim (2004), esses processos caracterizam-se por transformar a

grande maioria dos contaminantes orgânicos em dióxido de carbono, água e ânions

inorgânicos, por meio de reações de degradação que envolvem espécies transitórias oxidantes,

principalmente os radicais livres.

Perkowski e Kos (2003b), destacam ainda que os POA são processos não seletivos,

podendo degradar inúmeros compostos, independentemente da presença de outros. Além

disso, podem ser usados para destruir compostos orgânicos tanto em fase aquosa, como em

fase gasosa ou adsorvidos numa matriz sólida.

Segundo Stasinakis (2008), o principal mecanismo dos POA é a geração de radicais

livres hidroxila (HO•) altamente reativos. Estes radicais são eficazes na destruição de

produtos químicos orgânicos porque eles são eletrófilos e reativos. Os mesmos reagem de

forma rápida e não seletiva com quase todos os compostos orgânicos ricos em elétrons.

Conforme Tabela 1, os radicais hidroxila (HO•) tem potencial de oxidação de 2,81 V,

menor apenas do que o flúor, que é de 3,053 V.

Tabela 1. Potencial redox de alguns oxidantes

Espécie Reação Volts (V)

Flúor F2+

+ 2H+ + 2e 2HF 3,05

*Radical Hidroxila OH(g) + H+ + e

- H2O 2,81

Oxigênio Atômico O(g) + 2H+ + 2e H2O 2,42

Ozônio O3 + 2H+ + 2e O2 + H2O 2,07

Peróxido de hidrogênio H2O2 + 2H+ + 2e 2 H2O 1,77

Permanganato MnO4–

+ 4H+ + 3e MnO2 + 2H2O 1,68

Cloro Cl2(g) + 2e 2Cl– 1,36

Dióxido de cloro ClO2 + H+ + e HClO2 1,28

Iodo I2 + 2e 2I– 0,53

Fonte: Lide (2005).

* Fonte: Koppenol Liebman (1984).

Para Legrini et al. (1993) e Stasinakis (2008) uma vez gerados, os radicais hidroxilas

podem reagir com os compostos orgânicos por adição de radicais, abstração de hidrogênio, e

transferência de elétrons e reações radical – radical. Abaixo descrevemos essas reações

conforme Legrini et al. (1993).

34

Abstração de átomo de hidrogênio: os radicais hidroxila formados são capazes de

oxidar compostos orgânicos por abstração de hidrogênio, gerando radicais orgânicos

(Equação 1). Posteriormente ocorre adição de oxigênio molecular formando radicais peróxido

(Equação 2), intermediários que iniciam reações térmicas em cadeia levando à degradação até

CO2, água e sais inorgânicos. A reação por abstração de hidrogênio ocorre geralmente com

hidrocarbonetos alifáticos:

RH+ •OH → R

• + H2O (1)

R• + O2 → RO2 (2)

Adição eletrofílica: adição eletrofílica de radical hidroxila a compostos orgânicos que

contêm ligações π resulta na formação de radicais orgânicos, como mostrado na Equação 3.

Ocorre, geralmente, com hidrocarbonetos insaturados ou aromáticos:

R

R

R

R+ OH.

R

R

R

R

OH.

(3)

A rápida descloração de clorofenóis também é interpretada pela adição eletrofílica

gerando íons cloreto (Equação 4):

OH

Cl

+ OH.

OH

Cl

OH

O

. + HCl

HO

.

(4)

Transferência eletrônica: reações de transferência eletrônica ocorrem quando a

adição eletrofílica e abstração de hidrogênio são desfavorecidas, como no caso de

hidrocarbonetos clorados (Equação 5).

RX + •OH → RX

•+ + OH

- (5)

35

Reações radical-radical

As reações radicalares, também podem ocorrer, no entanto, são indesejáveis do ponto

de vista de oxidação dos compostos orgânicos, pois consomem radicais •OH, prejudicando a

eficiência do processo de fotodegradação, Equações 6 e 7.

2•OH → H2O2 k = 5,3 x 10

9 mol

-1. L. s

-1 (6)

H2O2 + •OH → HO2

• + H2O k = 2,7 x 10

7 mol

-1. L. s

-1 (7)

A predominância de uma ou outra reação dependerá de vários fatores, entre eles a

presença e concentração do substrato orgânico, bem como sua biodegradabilidade.

3.4.1 Os sistemas típicos de Processos Oxidativos Avançados

Para Stasinakis (2008), um grande número de métodos são classificados sob a

definição ampla de POA. Dentre os diversos tipos disponíveis, os métodos que combinam,

dióxido de titânio/UV, peróxido de hidrogênio/UV e as reações de Fenton parecem ser

algumas das mais populares tecnologias para tratamento de águas residuais. Os POAs têm

demonstrado bom desempenho na remoção de corantes têxteis, como é apresentado no

trabalho de Perkowski e Kos (2003a).

De acordo com a EPA (1998, 2001) os Processos Oxidativos Avançados são

classificados em fotoquímicos e não fotoquímicos.

Conforme EPA (1998) os processos fotoquímicos são:

o Ultravioleta de Vácuo (UVV): caracteriza-se pela fotólise da água utilizando

radiação UV de um comprimento de onda menor que 190 nm produzindo OH

e radicais de hidrogênio (H). Os resultados obtidos em escala de bancada

indicaram que a fotólise através do UVV é eficaz no tratamento da água e dos

fluxos de ar úmidos contaminados.

o Ultravioleta (UV)/Processos Oxidativos: geralmente envolvem geração de

OH por meio da fotólise por UV de oxidantes convencionais, incluindo o

peróxido de hidrogênio (H2O2) e ozônio (O3). Ambos UV/H2O2 e UV/O3, são

36

processos que estão disponíveis comercialmente, assim como algumas

variações destes processos, por exemplo, UV/O3/H2O2 e UV/H2O2/Catalisador.

o Foto-Fenton: caracteriza-se pela decomposição de H2O2, utilizando o íon Fe2+

ou Fe3+

que sob condições ácidas, na presença da radiação UV, produz OH.

As taxas de remoção e o grau de mineralização dos poluentes orgânicos com o

Fe2+

/H2O2 e Fe3+

/H2O2, são melhoradas consideravelmente com a irradiação

próxima da radiação UV e luz visível.

o POAs sensibilizados: estes processos podem ser classificados como corantes-

sensibilizados e semicondutores sensibilizados. Em um processo POA corante-

sensibilizado, a luz visível é absorvida pelo corante, o que excita as moléculas

para um estado de energia mais elevado. O corante excitado em seguida,

transfere parte de sua energia excedente para outras moléculas presentes no

fluxo de resíduos, produzindo uma reação química. Quando o oxigênio

dissolvido recebe a energia da molécula excitada de um corante, como o azul

de metileno, o oxigênio dissolvido é convertido em oxigênio singlete2, um

poderoso oxidante.

Em um processo POA de semicondutores sensibilizados, semicondutores de

metal são usados para destruir os contaminantes ambientais, por meio de

reações redox induzidas pela luz. Essas reações envolvem a geração de bandas

de elétrons de condução e “buracos” nas bandas de valência pela radiação UV

em materiais semicondutores como o dióxido de titânio (TiO2). Neste

processo, a formação e a disponibilidade de OH são maximizados pela adição

de oxidantes como H2O2 e O3.

A matriz UV/TiO2 é um sistema de POA que já está disponível em escala

comercial para o tratamento de água e ar contaminados.

Para a EPA (2001) os processos não fotoquímicos se dividem em:

2 O oxigênio singlete é uma espécie eletronicamente excitada da molécula de oxigênio. Já a molécula de

oxigênio no estado fundamental é um triplete.

37

o Fenton: caracteriza-se pela decomposição do H2O2 utilizando o íon Fe2+

ou

Fe3+

que sob condições ácidas produz OH. Diversas variações do processo

Fenton têm sido pesquisadas, e alguns deles têm mostrado vantagens sobre o

processo Fenton clássico. Por exemplo, nos processos eletro-Fenton e bio-

Fenton, pelo menos um dos dois reagentes é produzido, eliminando assim a

necessidade de fornecer continuamente um reagente químico. Sistemas com

processos Fenton estão disponíveis em escala comercial.

o O3/H2O2: nesse processo, dois OH são formados para cada mol de H2O2

reagindo com dois mols de O3. Este processo é usado para o tratamento de

água contaminada. Já existe a produção de sistemas que utilizam este processo

em escala comercial.

o Oxidação eletroquímica: nesse processo, existem fluxos de eletricidade por

meio de um reator eletroquímico composto de eletrodos separados por um

eletrólito. Reações de oxidação e redução ocorrem na superfície dos eletrodos

e o produto final do processo eletroquímico é OH. Aplicações de bancada

demonstram que o processo de oxidação eletroquímica tem um potencial

significativo no tratamento de água contaminada.

o Oxidação pela água supercrítica: envolve a oxidação de compostos

orgânicos em água a temperaturas e pressões acima do ponto crítico da água

(374 ºC, 22 Mpa), na presença de um oxidante. Dois oxidantes comumente

usados neste processos são O2 e H2O2. Quando O2 é o oxidante, radicais livres

são formados inicialmente pela remoção de um átomo de hidrogênio a partir

das mais fracas ligações C-H ou O-H de compostos orgânicos presentes na

água contaminada. Esta etapa é seguida por reações severas envolvendo

radicais orgânicos e O2. H2O2 e hidroperóxidos formados nessas reações

decompõem para formar OH. Quando H2O2 é o oxidante usado, a

decomposição do H2O2 sob condições supercríticas produzem OH. Este

processo já é comercializado.

o Cavitação: refere-se a formação, crescimento, e colapso de cavidades cheias

de gases e vapores (bolhas) em uma matriz líquida. O colapso dessas cavidades

produz em certos pontos, alta temperatura (cerca de 5.000 ºC) e alta pressão

(cerca de 50 Mpa). As condições extremas geradas durante a cavitação

38

resultam na formação de OH. Os métodos que induzem a cavitação incluem a

irradiação ultra-sônica da água, descargas de alta-voltagem em água e criando

um diferencial de pressão em um fluxo de água corrente.

o Descarga elétrica baseada em plasma não térmico: este processo tem sido

usado para o tratamento de ar contaminado. Um plasma não térmico é um

plasma em que a energia cinética média de elétrons, ou temperatura, é

significativamente mais alta que nas moléculas num volume de gás que está a

temperatura ambiente. Tradicionalmente, o plasma não térmico é produzido

por uma descarga elétrica sob um campo elétrico forte. Plasmas não térmicos

podem ser gerados por irradiação de feixes de elétrons ou descarga elétrica. A

principal diferença desses dois processos envolve o local onde os elétrons de

alta energia são gerados.

o Raios : este processo tem sido usado para o tratamento de água, ar e solo

contaminados. Raios gamas são fótons de alta energia (radiação

eletromagnética) emitidos por núcleos atômicos excitados em transição para

um estado de baixa excitação. Quando colidem, os raios gama irradiados com

água geram elétrons ao longo da trajetória dos fótons. Os elétrons de alta

energia gerados podem iniciar milhares de reações dissipando energia na água

irradiada. As reações podem provocar a formação de três principais espécies

reativas que podem destruir compostos orgânicos (OH, os elétrons aquosos e

os radicais de hidrogênio), tornando o processo de raios gama mais semelhante

ao processo de feixes de elétrons do que com processos fotoquímicos.

o Raios X: são fótons de alta energia gerados por meio da aceleração de elétrons

de alta energia na forma de um feixe de elétrons e contra um material com um

elevado número atômico. Raios X são emitidos quando os elétrons de alta

energia são desacelerados no campo nuclear do átomo alvo no material sólido.

Como os Raios quando colidem, os Raios X irradiados com água geram

elétrons ao longo da trajetória dos fótons. Os elétrons de alta energia gerados

podem iniciar diversas reações dissipando energia na água irradiada, podendo

provocar a formação de três principais espécies reativas que podem destruir

compostos orgânicos, a saber, OH, os elétrons aquosos, e os radicais de

hidrogênio, como ocorre nos processos com Raios .

39

o Feixe de elétrons: envolve a irradiação de água ou ar com um feixe de elétrons

de alta energia produzido por um acelerador de elétrons. No acelerador de

elétrons, uma corrente elétrica (corrente de feixe) passa por um filamento de

tungstênio em um vácuo para produzir um fluxo de elétrons. Este fluxo de

elétrons é acelerado através da aplicação de um campo elétrico a uma tensão

especificada, e é focado em um feixe por dispositivos de colimação. No

processo a irradiação da água provoca a formação de três principais espécies

reativas (OH, os elétrons aquosos e os radicais de hidrogênio) que podem

destruir compostos orgânicos.

3.4.2 Fenton

Este processo é caracterizado pela reação, que ocorre independente de luz, do íon Fe2+

com H2O2, publicado pela primeira vez por Fenton (1894). Para Lucas e Peres (2006) a

principal vantagem deste processo é sua simplicidade. Outras vantagens são o fato dos

reagentes estarem prontamente disponíveis no mercado a um custo moderado e o uso de

equipamentos simples. Conforme EPA (2001), o processo Fenton tem sido usado para o

tratamento de água e solos contaminados, o mesmo é representado pela equação abaixo:

H2O2 + Fe2+ Fe

3+ + HO

- + HO

(8)

O íon Fe2+

inicia e cataliza a decomposição do H2O2, resultando na geração de radicais

HO

(LUCAS e PERES, 2006). Os radicais hidroxilas são capazes de rapidamente atacar

substratos orgânicos (RH), causando a decomposição química por abstração de H e adição em

ligações insaturadas C-C:

RH + HO R

+ H2O (9)

R + Fe

3+ R

+ + Fe

2+ (10)

R+ + H2O ROH + H

+ (11)

Numerosas reações competem entre si, envolvendo o íon Fe2+

, Fe3+

, H2O2, radicais

hidroxilas, radicais hidroperoxilas e radicais derivados do substrato orgânico. Os radicais

40

hidroxilas podem ser consumidos reagindo com Fe2+

(Eq. 12) ou peróxido de hidrogênio (Eq.

13):

HO + Fe

2+ HO

- + Fe

3+ (12)

HO + H2O2 H2O + HO2

(13)

O Fe3+

formado nas reações (8) e (12) podem reagir com H2O2 seguido de um

mecanismo que envolvem os radicais hidroxila e hidroperoxila, com a regeneração do Fe2+

(Eq. 14-17):

Fe3+

+ H2O2 Fe-OOH2+

+ H+ (14)

Fe-OOH2+

HO2 + Fe

2+ (15)

Fe2+

+ HO2 Fe

3+ + HO2

- (16)

Fe3+

+ HO2 Fe

2+ + H

+ + O2 (17)

3.4.3 Foto-Fenton

O processo foto-Fenton é caracterizado pela combinação dos reagentes de Fenton com

a radiação UV-Visível, conforme é possível se observar no trabalho de Rathi et al. (2003). De

acordo com Domènech et al. (2001), com a incidência da radiação UV-Visível a reação de

Fenton tem uma melhora significativa na sua eficiência.

Segundo Rathi et al. (2003) as principais reações que ocorrem neste processo são:

hv

Fe2+

+ H2O2 Fe3+

+ HO + HO

- (18)

Fe2+

+ HO (Fe-OH)

2+ (19)

hv

(Fe-OH)2+

Fe2+

+ HO (20)

3.4.4 UV/H2O2

Conforme a EPA (1998) a geração de OH pelo processo UV/H2O2 se dá da seguinte

forma:

41

hv

H2O2 2 OH (21)

Segundo Shu e Chang (2005) e Bali et al. (2004) o uso combinado do H2O2 e UV é mais

eficiente do que os mesmo utilizados separadamente.

De acordo com a EPA (1998) as lâmpadas de mercúrio de baixa pressão de pico de

emissão a 254 nm são normalmente utilizadas para produzir a radiação UV, mas estas

lâmpadas não são a melhor escolha, já que o processo de absorção máxima de radiação UV

pelo H2O2 ocorre em aproximadamente 220 nm e porque o coeficiente de absorção molar do

H2O2 a 254 nm é baixa, apenas 19,6 L.cm-1

.mol-1

. Se as lâmpadas de baixa pressão de vapor

de mercúrio são usadas, uma alta concentração de H2O2 é necessária no meio para gerar OH,

devido ao baixo coeficiente molar de absorção.

Para Domènech et al. (2001), em um meio com excesso de peróxido e altas

concentrações de OH, há uma tendência de haver reações competitivas que produzem um

efeito inibitório para a degradação. Os OH são suscetíveis de recombinarem ou de reagirem

de acordo com as equações abaixo:

HO + H2O2 HO2

+ H2O (22)

HO2 + H2O2 HO

+ H2O + O2 (23)

2 HO2 H2O2 + O2 (24)

HO2 + HO

H2O + O2 (25)

3.5 Reúso de águas residuárias

O reúso de água residuária tem chamado a atenção dos industriários, já que essa

prática pode trazer diversos benefícios, como a redução de custos no processo produtivo. Vale

ressaltar que o reúso é uma das premissas da Produção mais Limpa (P + L).

Para Bastian et al. (2009), em linhas gerais, o conceito de P + L pode ser resumido

como uma série de estratégias, práticas e condutas econômicas, ambientais e técnicas, que

evitam ou reduzem a emissão de poluentes no meio ambiente por meio de ações preventivas,

ou seja, evitando a geração de poluentes ou criando alternativas para que estes sejam

reutilizados ou reciclados. Os mesmos ressaltam ainda que essas estratégias podem ser

42

aplicadas a processos, produtos e até mesmos serviços, e incluem alguns procedimentos

fundamentais que inserem a P + L nos processos de produção. Dentre eles, é possível citar a

redução ou eliminação do uso de matérias-primas tóxicas, aumento da eficiência no uso de

matérias-primas, água ou energia, redução na geração de resíduos e efluentes, e reúso de

recursos, entre outros.

Conforme Bastian et al. (2009), é a empresa que obtém os maiores benefícios para o

seu próprio negócio. Para ela, a P + L pode significar redução de custos de produção; aumento

de eficiência e competitividade; diminuição dos riscos de acidentes ambientais; melhoria das

condições de saúde e de segurança do trabalhador; melhoria da imagem da empresa junto a

consumidores, fornecedores, poder público, mercado e comunidades; ampliação de suas

perspectivas de atuação no mercado interno e externo; maior acesso a linhas de

financiamento; melhoria do relacionamento com os órgãos ambientais e a sociedade, entre

outros.

Dentro das diversas possibilidades de práticas de P + L iremos ressaltar aqui o reúso

de águas residuárias, especialmente para a indústria têxtil.

3.5.1 Vantagens e Classificação

No Brasil, as externalidades ambientais associadas ao setor industrial e ao rápido

crescimento urbano, no contexto do desenvolvimento das regiões metropolitanas, apontam

para cenários futuros de escassez hídrica. Como as exigências ambientais foram se tornando

cada vez mais restritivas, os planejadores concluíram que dados os altos investimentos

requeridos para o tratamento dos efluentes, se torna mais vantajoso reutilizar estes efluentes

ao invés de lançá-los de volta aos rios (FIESP, 2004).

As principais vantagens ambientais e sociais do reúso de águas residuárias são a

redução do lançamento de efluentes industriais em corpos d’água e o consequente aumento de

disponibilidade de água para usos mais exigentes. Economicamente esse tipo de prática reduz

os custos de produção já que um dos insumos será reutilizado. Outra vantagem é a

contribuição para o atendimento de exigências do mercado nacional e internacional, quanto ao

atendimento das exigências ambientais, tornando assim o produto mais competitivo.

Para Braga et al. (2005) embora a prática de reúso seja uma ferramenta bastante útil

para minimizar os problemas de escassez de água, principalmente em regiões urbanas e

43

industrializadas, a adoção dessa deve ser devidamente planejada de maneira a minimizar os

riscos sobre a saúde humana e sobre o desempenho das atividades nas quais está sendo

aplicado o reúso.

De acordo com Florencio et al. (2006), o uso de água, com qualidade inadequada,

pode causar problemas aos processos industriais, como incrustações, corrosão e manchas,

provocando aumento de custo pela manutenção preventiva ou corretiva.

Conforme FIESP (2004) para a adoção de práticas de reúso de águas residuárias é

recomendável se fazer um estudo de viabilidade técnica e econômica, já que do ponto de vista

financeiro, a opção pela implantação de iniciativas de conservação e reúso de água deve levar

em consideração os vários custos e benefícios envolvidos, os quais deverão ser comparados

com aqueles resultantes da opção pela não implantação de qualquer medida de conservação e

reúso.

As discussões sobre o reúso de água não são tão recentes, como muitos imaginam.

Uma das classificações mais antigas para reúso de água é o da Organização Mundial de

Saúde, conforme WHO (1973). Para a mesma o reúso pode ser: direto, indireto e de

reciclagem interna. O reúso direto é o uso planejado e deliberado de esgotos tratados para

certas finalidades como irrigação, uso industrial, recarga de aqüíferos e água potável. O reúso

indireto ocorre quando a água já usada, uma ou mais vezes para o uso doméstico ou industrial,

é descarregada nas águas superficiais ou subterrâneas e utilizada novamente a jusante. E a

reciclagem é o reúso da água internamente às instalações industriais, tendo como objetivo a

economia de água e o controle da poluição.

Aproximadamente uma década depois Westerhoff (1984) classifica o reúso de água

em duas grandes categorias: potável e não potável. Segundo Mancuso e Santos (2003) esta

classificação foi adotada, por sua praticidade e facilidade, pela Associação Brasileira de

Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES), secção São Paulo, tendo sido amplamente

divulgada em sua série chamada de “Cadernos de Engenharia Sanitária e Ambiental” em

1992. Posteriormente a EPA (2004a) classificou o reúso potável em direto e indireto,

conforme é possível se observar abaixo:

Reúso potável direto: quando o esgoto recuperado por meio de tratamento avançado

é reutilizado diretamente como água potável;

44

Reúso potável indireto: quando o esgoto após tratamento é disposto em águas

superficiais ou subterrâneas (para diluição, purificação natural) e posteriormente é

captado para tratamento e utilização como água potável;

Reúso não potável: classificado em diversas categorias de acordo com a sua

destinação, podendo ser para fins agrícolas, fins industriais, fins recreacionais, fins

domésticos, manutenção de vazões, aquicultura, recarga de aquíferos, etc.

É perceptível que os conceitos são semelhantes, mas o que irá interessar aqui é o uso

industrial dos efluentes tratados, processos estes chamados pela WHO (1973) de reciclagem

interna e por Westerhoff (1984) de reúso não potável.

3.5.2 Usos Industriais

Como afirma Mancuso e Santos (2003) o reúso de água para fins industriais consiste

na utilização desse efluente, em vez de sua disposição no meio ambiente. Evidentemente, o

uso que será feito desse esgoto tratado definirá os processos e as operações unitárias

adicionais necessárias para o condicionamento desse esgoto.

Os avanços nas tecnologias de tratamento de água têm permitido às indústrias uso de

águas de qualidade inferior.

Para EPA (2004a) a adequação da água residuária para uso em processos industriais

depende do uso particular. Por exemplo, a indústria de eletrônicos requer água semelhante à

destilada para a lavagem das placas de circuito e outros componentes eletrônicos. Por outro

lado, as indústrias de curtumes podem usar água de qualidade inferior. Os requisitos para os

produtos têxteis, papel e celulose e fabricação de metal são intermediárias. Assim, para

investigar a viabilidade de reúso industrial com água residuária, os usuários em potencial

devem ser contatados para determinar os requisitos específicos para a sua água de processo.

De acordo com a EPA (2004a) para a maioria das indústrias o maior uso de água

residuária é em processos de refrigeração.

Para os usos industriais Mancuso e Santos (2003) sugerem a seguinte classificação:

reúso macroexterno, reúso macrointerno e reúso interno específico.

45

Reúso macroexterno: esta modalidade consiste no aproveitamento do efluente tratado

por indústrias próximas a estações de tratamento e recuperação para reúso.

Reúso macrointerno: baseia-se nas possibilidades internas de reúso.

Reúso interno específico: consiste em efetuar a reciclagem de efluentes de quaisquer

processos industriais, nos próprios processos nos quais são gerados, ou em outros

processos que se desenvolvem em sequência e que suportam qualidade compatível

com o efluente em consideração.

No caso do reúso macroexterno, a utilização de água de reúso proveniente de estações

de tratamento de efluentes de origem doméstica pode ser reaproveitada após sistemas de

tratamento convencional. Já as águas de reúso provenientes de estações de tratamento de

efluentes urbanos para processos industriais têm sido utilizadas, predominantemente, em

sistemas de refrigeração, em especial, nos empreendimentos localizados próximos às estações

de tratamento de esgoto - ETE´s (FIESP, 2004).

Segundo Mancuso e Santos (2003) os usos industriais que apresentam possibilidade de

viabilização em áreas de concentração industrial significativa são basicamente o seguinte:

torre de resfriamento; caldeiras; lavagem de peças e equipamentos, principalmente nas

indústrias mecânica e metalúrgica; irrigação de áreas verdes de instalações industriais;

lavagem de pisos e veículos; processos industriais.

Segundo FIESP (2004) a prática de reúso macrointerno pode ser implantada de duas

maneiras distintas:

Reúso em Cascata: o efluente originado em um determinado processo industrial é

diretamente utilizado em um processo subsequente, devido ao fato das características

do efluente disponível serem compatíveis com os padrões de qualidade da água a ser

utilizada.

Reúso de efluentes tratados: é o tipo de reúso mais amplamente discutido nos dias

atuais e consiste na utilização de efluentes que foram submetidos a um processo de

tratamento. Em função da complexidade da atividade na qual se pretende aplicar a

prática de reúso é necessário conduzir um estudo detalhado para implantar cada uma

das opções disponíveis. Em muitos casos, pode ser necessário promover alterações nos

46

procedimentos de coleta e armazenagem de efluentes, principalmente quando o

enfoque é o reúso em cascata.

De acordo com FIESP (2004), dentro da filosofia de minimização da demanda de água

e da geração de efluentes, é importante que seja priorizado o reúso em cascata, pois ao mesmo

tempo em que o consumo de água é minimizado o volume de efluente a ser tratado é

reduzido. Cabe observar que, à medida que a demanda de água e a geração de efluentes são

reduzidas, ocorre uma elevação na concentração de contaminantes no efluente remanescente,

o que pode limitar o reúso desse efluente.

Mancuso e Santos (2003) ressalta que internamente a indústria específica, programas

de reúso podem ser concebidos empregando as práticas relativas ao reúso macrointerno e

reúso interno específico, de maneira sucessiva ou simultaneamente.

Conforme FIESP (2004), de maneira geral, a prática do reúso só poderá ser aplicada

caso as características do efluente disponível sejam compatíveis com os requisitos de

qualidade exigidos pela aplicação na qual se pretende usar o efluente como fonte de

abastecimento. Isto implica na necessidade de identificar as demandas potenciais para o

efluente disponível. Assim, qualquer que seja a estratégia adotada é de fundamental

importância que a prática de reúso seja devidamente planejada, a fim de que sejam obtidos os

máximos benefícios associados e para que ela possa ser sustentável ao longo do tempo.

3.5.2.1 O reúso na indústria têxtil

Conforme os trabalhos de Colindres et al. (2010), Schoeberl et al. (2004) e Allègre et

al. (2006), a indústria têxtil apresenta elevado potencial para aplicação de técnicas que

viabilizem o reúso de água, dada a grande quantidade demandada desse insumo na produção,

e as diversas possibilidades de recondicionamento de seus efluentes, tratados por processos

convencionais ou não.

Para Lu et al. (2010) a reutilização de efluentes representa um desafio econômico e

ecológico para o setor têxtil. Conforme a EPA (2004a) diversas características devem ser

observadas no efluente em estudo para o reúso, dentre elas, a cor merece destaque. Os

corantes não fixados no processo de tingimento acabam por colorir o efluente originado neste

47

processo, tornando-o de difícil tratamento já que os mesmo não são biodegradáveis,

dificultando o seu reúso.

Conforme Matiolli et al. (2005) a caracterização do efluente originado nos diversos

processos dentro da indústria têxtil é muito importante para se formular estratégias de

tratamentos e reúsos.

48

4 MATERIAIS E MÉTODOS

Os Processos Oxidativos Avançados, Fenton, foto-Fenton e UV/H2O2, foram aplicados

primeiramente em um efluente têxtil sintético com a finalidade de se obter uma condição

ótima de cada processo na remoção de cor e DQO. Após isto, as condições ótimas do

processo mais eficiente foram aplicadas num efluente têxtil real.

Os experimentos com o efluente têxtil sintético foram realizados no Laboratório de

Saneamento do Centro de Tecnologia da Universidade Federal do Piauí (UFPI). Já os

experimentos com o efluente têxtil real foram realizados no Laboratório de Energia e Meio

Ambiente (LEMA) do Departamento de Engenharia Química e Engenharia de Alimentos da

Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

4.1 Processos Fenton, foto-Fenton e UV/ H2O2

Em todos os processos Fenton e foto-Fenton foram utilizados os reagentes, H2O2 (35%

w/w) e FeSO4.7H2O em proporções previamente definidas, como é possível se observar na

Tabela 2. Já no processo UV/H2O2 foi utilizado apenas o H2O2 (35% w/w).

Os Processos Oxidativos Avançados estudados e aplicados no efluente têxtil sintético

foram em pH ácido, a saber, 2 e 3. Já no efluente real os POAs foram aplicados em pH = 3.

O pH foi determinado e monitorado com a utilização de um potenciômetro. O mesmo

era ajustado utilizando-se H2SO4 e NaOH.

Nos processos Fenton, o FeSO4.7H2O foi adicionado primeiro e em seguida o H2O2.

Nos processos foto-Fenton após a adição dos reagentes, na mesma sequência utilizada no

Fenton, foi ligada a lâmpada de 80W que funcionava como fonte de luz UV. Nos processos

UV/H2O2, primeiro foi adicionado H2O2 e em seguida ligada a lâmpada.

O tempo 0 (zero) foi estabelecido como o branco, ou seja, o efluente no seu estado

natural, sem a adição de nenhum reagente.

No final de cada reação, eram retiradas amostras para análise do peróxido residual,

conforme método iodométrico descrito por Ohlweiler (1968). O efluente restante tinha o seu

pH elevado a 7.

49

As amostras foram coletadas em intervalos pré-estabelecidos: 0, 2, 5, 10, 20, 30, 40, 50,

60, 80, 100 e 120 minutos.

A demanda química de oxigênio (DQO), foi determinada, no início e no final da reação,

através do método do refluxo fechado (ver tópico 4.8), e cor por meio de espectrofotômetro de

feixe simples, modelo Hach DR 2800, após centrifugação da amostra a 2000 rotações por

minuto, por 5 minutos.

Foram realizados 10 experimentos para cada processo, incluindo Fenton, foto-Fenton e

UV/H2O2, totalizando 30 experimentos.

Os experimentos Fenton e foto-Fenton, foram planejados usando a relação CH2O2/CFe2+

= 20, em pH = 2 e 3, conforme visto na Tabela 2. Para o UV/H2O2 foi considerada apenas as

concentrações referentes ao H2O2.

Para a definição da melhor relação entre os reagentes, estudou-se a relação 5 e 20,

escolhidas aleatoriamente. Tais relações foram utilizadas em processo Fenton aplicado num

efluente têxtil sintético, em pH = 3. Os resultados do estudo dessas relações encontram-se no

item 5.4.

Tabela 2. Planejamento dos experimentos

Experimento pH H2O2

(mg/L)

Fe²+

(mg/L)

1º 2 500 25

2º 2 750 37,5

3º 2 1000 50

4º 2 1250 62,5

5º 2 1500 75

6º 3 500 25

7º 3 750 37,5

8º 3 1000 50

9º 3 1250 62,5

10º 3 1500 75

4.2 Foto-reator

Os experimentos com o efluente têxtil sintético foram realizados em foto-reator,

recoberto com tampa de alumínio, com capacidade de 1000 mL (Figura 7), onde foi projetada

uma tampa em Nylon com 4 orifícios (Figura 6) para adaptação dos instrumentos de medição

50

de pH (1a), temperatura (2b), adaptação da lâmpada de 80W vapor de mercúrio (3c) e para a

retirada das amostras (4).

Figura 6. Desenho da tampa em

nylon do foto-reator Figura 7. Ilustração esquemática do foto-reator

Fonte: Adaptado de Simon et al. (2007).

A lâmpada ficou imersa no efluente protegida por um tubo de quartzo, pois o vidro

absorve a radiação UV (ultravioleta). A homogeneidade da solução foi mantida por meio de

agitação magnética.

Para manter as condições isotérmicas em torno de 25±2 ºC foi utilizado um banho

ultratermostatizado, modelo MA-184 (Marconi). O foto-reator montado na bancada do

laboratório é mostrado na Figura 8.

Para os experimentos com o efluente têxtil real foi utilizado um foto-reator montado por

pesquisadores do Laboratório de Energia e Meio Ambiente (UFSC), conforme Figura 9. A

lâmpada utilizada neste foto-reator, também era de 80W e encamisada por um tubo de

quartzo. A homogeneização do efluente foi feita através de um borbulhador de ar. No mesmo,

também, houve a circulação de água para que houvesse a manutenção do equilíbrio térmico.

1a

2b

3c

4

(a)

(b)

(c)

51

Figura 8. Foto-reator montado no laboratório de saneamento (UFPI)

Mantiveram-se os mesmos intervalos de tempo para a retirada das amostras. As mesmas

eram filtradas a vácuo utilizando-se uma membrana GV (Durapore) em PVDF, 0,22 μm de

poro, 47 mm de diâmetro, hidrofílica, branca e lisa.

Como o LEMA dispunha de um aparelho que media o Carbono Orgânico Total (COT)

preferiu-se então medi-lo ao invés da DQO.

Figura 9. Esquema e fotografia do foto-reator montado no LEMA (UFSC)

Já para as análises de remoção de cor utilizou-se espectrofotômetro Hach DR 5000.

Além das análises de COT e remoção de cor, outros parâmetros foram analisados

também para se verificar a possibilidade de reúso.

Água

Borbulhador de ar

Lâmpada

Amostrador

Tubo de quartzo

Efluente

52

4.3 Corante têxtil

O corante têxtil usado para a produção do efluente têxtil sintético, foi o Preto Biozol

UC, o qual foi doado por uma indústria têxtil da cidade de Teresina-PI. Os critérios para a

escolha do corante foram: a maior utilização e a maior dificuldade de degradação durante o

tratamento empregado.

Esse corante também foi adicionado ao efluente têxtil real, além dos que já existiam, e

observado a sua degradação durante o tratamento, assim como foi feito no efluente sintético.

A fórmula estrutural deste corante não foi fornecida pela empresa que o produz, a Hi-

Tech Química. No entanto, a mesma disponibilizou a FISPQ (Ficha de Informações de

Segurança de Produto Químico) do corante. A mesma encontra-se nos anexos.

4.3.1 Análise por MEV/EDS

As análises do corante Preto Biozol UC por Microscopia Eletrônica de Varredura

(MEV) com Espectroscopia por Energia Dispersiva (EDS) foram realizadas no Laboratório

Central de Microscopia Eletrônica (LCME/UFSC). A tensão de aceleração utilizada foi de 20

kV.

4.3.2 Análise por Espectroscopia de Infravermelho e CHNOS

A análise elementar (CHNOS) e a análise por espectroscopia de infravermelho foram

realizadas na Central de Análises do Departamento de Química da UFSC.

4.3.3 Análise por Termogravimetria (TGA)

O TGA foi realizado aquecendo-se a amostra do corante em porta-amostra de platina,

na faixa de temperatura de 22 a 950 ºC, sob atmosfera oxidante, a uma velocidade de 10

ºC/min e fluxo de ar de 50 mL/min. Na análise foi utilizado o aparelho TGA/DTG 60

Shimadzu do Laboratório de Energia e Meio Ambiente da UFSC.

53

4.3.4 Teste da presença de cloretos e sódio

Para se verificar a presença de sódio no corante utilizou-se o teste da chama, no qual

uma solução do corante foi colocada à prova de um bico de Bunsen. Se a chama ficasse

amarelada a presença de sódio era confirmada. Já para determinação de cloretos adicionou-se

AgNO3 à solução do corante com o objetivo de se verificar a formação de um corpo de fundo

de coloração esbranquiçada formado por um composto insolúvel, a saber, AgCl.

4.4 Efluente têxtil sintético

O efluente têxtil sintético foi produzido conforme método apresentado por Mo et al.

(2007). A composição do mesmo é descrito na Tabela 3.

Tabela 3. Composição do efluente sintético

Composição Concentração (g/L)

Corante 0,10

Álcool Polivinílico 0,50

NaCl 0,25

Na2SO4 0,75

4.5 Efluente têxtil real

O efluente têxtil real foi doado por uma indústria têxtil da cidade de Jaraguá do Sul –

SC. Os mesmos foram coletados diretamente dos tanques de equalização da ETE (estação de

tratamento de esgoto) em bombonas, armazenados em garrafas PET e refrigerados no LEMA.

4.6 Determinação da concentração do corante

Para a determinação da concentração do corante Preto Biozol UC foi construída uma

curva de calibração preparada a partir da leitura da absorbância, no comprimento de onda 507

nm previamente determinado, de soluções do corante diluído em água destilada em diversas

concentrações.

Para o cálculo da diminuição da concentração do corante, em percentagem, no efluente

usou-se a equação 26.

54

Remoção de Cor (C) = (Co – Ct).100/ Ct, (26)

em que Co é a concentração do corante inicial e Ct é a concentração do corante no tempo t.

A leitura da absorbância tanto para as determinações das concentrações do corante

quanto da DQO foi feita por meio de espectrofotômetro.

4.7 Cor verdadeira

Cor verdadeira é a cor do efluente após a remoção da turbidez, conforme (APHA,

1999). A mesma foi medida por meio da leitura da absorbância no comprimento de onda 455

nm no espectrofotômetro Hach DR 5000 no LEMA/UFSC.

4.8 Determinação da Demanda Química de Oxigênio (DQO) no efluente sintético

O teste da DQO engloba não somente a demanda de oxigênio satisfeita biologicamente

(como a DBO), mas tudo o que é susceptível de demanda de oxigênio, em particular os sais

minerais oxidáveis. Por isso mesmo a DQO é preferível à DBO para análises de despejos

industriais.

As análises da DQO foram realizadas pelo método colorimétrico do refluxo fechado

(APHA, 1999). De acordo com este método, adiciona-se 2,5 mL de amostra, 1,5 mL de

solução digestora, e 3,5 mL de reagente de ácido sulfúrico a um tubo ou ampola de 16 x 100

mm, ou ampola de 10 mL. O tubo é vedado e invertido várias vezes para que ocorra a mistura

completa dos reagentes. Após este preparo, os tubos são colocados em digestor pré-aquecido a

150 ºC, onde ficam por duas horas. Depois de retirados e atingidos a temperatura ambiente lê-

se a absorbância a 600 nm por meio de um espectrofotômetro e faz-se a análise utilizando

uma curva de calibração previamente elaborada. As análises foram realizadas em triplicata.

O digestor para DQO utilizado foi do Modelo CE-150/25 - CIENLAB.

No cálculo da concentração final da DQO foi necessário se corrigir o resultado, já que

o peróxido de hidrogênio residual existente influencia negativamente, conforme foi observado

por Kang et al. (1999).

Para fazer essa correção foi utilizado uma equação indicada por Kang et al. (1999),

conforme descrito abaixo:

55

DQO (mg/L) = DQOfinal – f .CH2O2, onde: (27)

f = 0,4706 – 4,06 x 10-5

.CH2O2

A taxa de remoção da DQO nos sistemas foi determinada por meio da equação 28.

Remoção da DQO (%) = (DQOo - DQOt).100/DQOt, (28)

em que a DQOo é a DQO inicial e a DQOt é a DQO no tempo t.

4.9 Análise de parâmetros para o reúso

Para se verificar a possibilidade de reúso do efluente tratado foram realizadas diversas

análises de parâmetros citados por Mancuso e Santos (2003). Os mesmos estão relacionados

na Tabela 4 com os respectivos kits utilizados para suas análises. Os sólidos totais,

dissolvidos e suspensos foram analisados conforme método descrito por APHA (1999). Já a

turbidez foi analisada através do espectrofotômetro Hach DR 2000 no comprimento de onda

450 nm.

Tabela 4. Parâmetros analisados para o reúso e os kits utilizados

Parâmetros Kits de análise

Alcalinidade

COMPACT KIT (Alfakit) Dureza total, de cálcio e magnésio

Cloretos

Sulfatos

SPECTRO KIT (Alfakit) Fosfatos

Detergentes (LAS)

Nitrato

TEST KIT (Hach)

Nitrito

Amônia

Ferro total

Alumínio

Manganês

56

4.10 Análise estatística

Foram aplicados aos dados a Análise de Variância (ANOVA) e o teste Tukey, com o

auxílio do software SPSS 15.0.

57

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 Caracterização do corante têxtil Preto Biozol UC

O corante é azo e direto. De acordo com Ay et al. (2009) os corantes azo são

caracterizados por possuírem o grupamento (N=N). Os mesmos são usados em larga escala na

indústria têxtil. Os corantes que possuem este grupamento são considerados os poluentes mais

problemáticos presentes nos efluentes têxteis.

Devido à escassez de informações sobre o corante foi necessário fazer algumas

análises que pudessem auxiliar no entendimento da composição e da estrutura do mesmo. As

análises complementares foram: análise elementar (CHNOS), análise termogravimétrica

(TGA), microscopia eletrônica de varredura (MEV) com espectroscopia por energia

dispersiva (EDS) e espectroscopia de infravermelho.

A partir da análise elementar (Tabela 5), foi possível calcular a fórmula mínima do

corante Preto Biozol UC, cujo resultado foi C27H36O13N5S.

Tabela 5. Análise elementar (CHNOS) do corante Preto Biozol UC

Nitrogênio Carbono Hidrogênio Enxofre

Percentual (%) 4,3 20,25 2,25 2,00

A determinação do teor de oxigênio na amostra foi realizada com o auxílio da Análise

Termogravimétrica (TGA) em atmosfera oxidante (Figura 10). Nesta análise a amostra foi

submetida a uma rampa de 10 ºC/min e uma faixa de temperatura de 20 a 950 ºC. A massa

inicial da amostra foi de 23,436497 mg e ao final do teste 13,602131 mg. A partir daí foi

possível calcular o teor de cinzas, a saber, 58,04%. A soma dos percentuais dos elementos

mostrado na Tabela 5 com o percentual de cinzas resulta em 86,84% da amostra, portanto, por

diferença o teor de oxigênio é de 13,16%.

Conforme curva da Análise Térmica Diferencial (DTA), derivada da curva do TGA

(Figura 10), a reação foi caracterizada, em geral, como exotérmica, com pico numa

temperatura aproximada de 540 ºC.

58

Figura 10. Análise termogravimétrica do corante Preto Biozol UC

Na Figura 11 é possível observar a morfologia das partículas que formam a amostra a

partir de uma visualização no microscópio eletrônico de varredura (MEV) em diferentes

aumentos, a saber, 50, 250 e 1000 vezes. Os pontos brancos nas partículas podem indicar a

presença de cristais de NaCl.

Figura 11. Micrografias do corante Preto Biozol UC

Juntamente com o MEV foi realizada uma espectroscopia por energia dispersiva

(EDS), Figura 12. A mesma aponta para a existência de O, Cl e Na, na amostra. Os elementos

Al e Cu, provavelmente foram utilizados como porta-amostra, portanto, não devem fazer parte

59

do corante. Vale destacar os percentuais de massa dos elementos Na e Cl mostrados na Tabela

6, com 19,35% e 75,53%, respectivamente.

Figura 12. Espectro por energia dispersiva do corante Preto Biozol UC

Cruzando as informações do EDS (Figura 12 e Tabela 6) com o TGA (Figura 10),

formulou-se a hipótese de que grande parte do material mineral/cinzas (58,04%) apontado

pelo TGA na amostra pode ser de NaCl. Utilizou-se então, as análises de condutividade e o

teste da chama, para confirmar a presença de sódio e o teste indicador da presença de cloretos

para testar a hipótese formulada.

Tabela 6. Resultado da análise química por EDS do corante

Elemento /

Linha Peso %

Peso % /

Erro Átomo %

Átomo % /

Erro Fórmula

O K 2.94 +/- 0.36 5.75 +/- 0.71 O

Na K 19.35 +/- 0.27 26.36 +/- 0.37 Na

Al K 0.12 +/- 0.05 0.14 +/- 0.05 Al

Cl K 75.53 +/- 0.49 66.73 +/- 0.44 Cl

Cl L --- --- --- ---

Cu K 2.06 +/- 0.29 1.02 +/- 0.14 Cu

Cu L --- --- --- ---

Total 100.00 100.00

60

Inicialmente, mediu-se a condutividade e o pH da água destilada, e de uma solução

diluída da amostra preparada com a mesma água destilada. Verificou-se que a condutividade

da água foi de 1,5 μS/cm, já a da solução de corante foi de 114,4 μS/cm, resultando em um

aumento de, aproximadamente, 72,27 vezes, provando a existência de íons livres. O pH da

solução do corante foi de 10,08 a 26,5 ºC. Após isto, fez-se o teste da chama que indicou a

existência do íon Na+.

No teste de identificação de cloretos (Cl-) ocorreu o fenômeno da coagulação seguida

da precipitação de um composto preto, conforme Figura 13. Provavelmente ocorreu a

formação de AgCl (composto insolúvel), porém, em pequena quantidade. A seguir, houve

adsorção do corante aniônico sobre a superfície positiva, do composto, por excesso de Ag+.

Esta adsorção de corante preto não permitiu perceber o precipitado finamente dividido e

branco. Não é descartada, também, a possibilidade de ter havido a complexação, em menor

escala, do íon Ag+ com o corante.

De acordo com os resultados do MEV/EDS, TGA, teste de condutividade, da chama e

de cloretos é possível se dizer que há a presença de NaCl no produto comercial, funcionando

como diluente sólido do mesmo, porém, em quantidade desconhecida, e que o elemento Cl

também pode fazer parte da molécula do mesmo, já que o espectro de infravermelho

identificou grupamento(os) haleto de alquila, conforme Tabela 7.

a) b)

Figura 13. Teste da presença de cloretos. a) amostra b) Coagulação e precipitação

O espectro de infravermelho do corante (Figura 14), não possui absorbância entre

1820 a 1630 cm-1

, portanto, conforme Lopes Fascio (2004), o mesmo não possui o grupo

funcional (C=O).

61

Figura 14. Espectroscopia de Infravermelho do corante Preto Biozol UC

Os grupamentos existentes no corante estão relacionados na Tabela 7. Os mesmos

foram identificados conforme Lopes Fascio (2004) e Pavia et al. (2001).

Tabela 7. Grupos funcionais identificados no corante a partir do infravermelho

Grupos funcionais Faixa do espectro de absorbância

CH2 v, m, 1465 (Metileno)

CH3 v, m, 1375 (Metil)

C=C v, m-f, 1660-1600 (Alceno)

v, m-f, 1600-1475 (Aromático)

C-O v, F, 1300-1000 (Álcool ou Éter ou Anidridos)

O-H v, F, 3650-3100 (Álcool ou Fenol)

N-H v, f-m, 3600-3200 (Amina ou Amida)

NO2 v, F, 1380-1300 (Nitro)

C-N v, f-m, 1230-1030 (Alquil-Amina)

v, f-m, 1360-1250 e v, f-m, 1280-1180 (Aril-Alquil-Amina)

S=O

v, F, 1050 (Sulfóxido)

v, F, 1375-1300 e 1350-1140, (Sulfônico ou Cloretos de

Sulfonila ou Sulfatos ou Sulfonamidas)

C-X v, F, 1400-500 (Haleto de Alquila)

v = estiramento; F = forte; m = média; f = fraca

4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500

Wavenumber (cm-1)

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

55

60

65

70%

Tra

nsm

itta

nce

3452.3

3

2111.9

1617.1

91594.0

5

1469.6

51395.4

1323.0

71275.8

2

1129.2

4

1052.0

9

943.1

2

848.6

2803.2

9

637.4

3616.2

1

533.2

8

451.3

1

Número de onda (cm-1)

Tra

nsm

itân

cia

(%)

62

5.2 Caracterização do efluente têxtil sintético

O efluente têxtil sintético produzido possui comprimento de onda de máxima

absorbância 507 nm, com pH = 8,5±0,5, a 25 º C determinado por varredura espectral,

conforme Figura 15.

Figura 15. Comprimento de onda de máxima absorbância do efluente têxtil

sintético

A partir de várias soluções do corante Preto Biozol UC diluído em água destilada foi

obtida uma curva padrão para o mesmo, conforme Figura 16. A mesma é necessária para a

determinação da concentração do corante a partir da leitura da absorbância do efluente

sintético.

Figura 16. Curva de calibração para o corante Preto Biozol UC a 507 nm

63

5.3 Curva de calibração para DQO

Foi também construída uma curva de calibração para a determinação da concentração

da DQO, a partir de uma solução padrão de biftalato de potássio em diferentes concentrações,

conforme APHA (1999). A curva é mostrada na Figura 17.

Figura 17. Curva de calibração para DQO

As curvas de calibração tiveram bons ajustes, tanto para o corante (R² = 0,9985) como

para DQO (R² = 0,9965), conforme Figuras 16 e 17.

5.4 Estudo da relação CH2O2/CFe2+

De acordo com Gulkaya et al. (2006), o estudo da relação CH2O2/CFe2+ é muito importante

para a otimização da reação, já que o principal objetivo é saber a quantidade de ferro

necessária a ser adicionada para a máxima produção de •OH. Essa taxa pode variar muito de

acordo com o tipo de produto orgânico a ser tratado.

Tomando o processo Fenton como exemplo, Neyens e Baeyens (2003) diz que o mesmo

pode apresentar diferentes funções de tratamento, dependendo da relação CH2O2/CFe2+. Quando

a quantidade de H2O2 excede a de Fe2+

, o tratamento tende a ter efeito oxidante. Do contrário,

o tratamento assume caráter de coagulação química. Assim como a oxidação, a função

coagulante é inerente ao reagente de Fenton, sendo principalmente devida à formação de

complexos hidróxido-férricos.

64

Para a aplicação no efluente têxtil sintético produzido a partir do corante Preto Biozol

UC a melhor relação encontrada foi 20, utilizando a remoção de cor como critério, após

aplicação do processo Fenton em pH igual a 3, conforme Figura 18.

0

10

20

30

40

50

60

0 15 30 45 60

Rem

oçã

o d

e c

or

(%)

Tempo (min)

CH2O2/CFe2+ = 20

CH2O2/CFe2+ = 5

Figura 18. Remoção de cor considerando a relação CH2O2/CFe2+,

após aplicação de Fenton em pH = 3

5.5 Aplicação do processo Fenton

O processo Fenton foi aplicado ao efluente em duas condições de pH, 2 e 3. De acordo

com as Figuras 19, 20 e 21 é possível se observar que o processo foi mais eficiente na

remoção de cor quando o pH foi igual a 3, no tempo de 120 minutos. As melhores remoções

de cor em pH = 2 e pH = 3, foram 65,92% e 86,20%, respectivamente. Na Figura 19 é

possível se observar a influência do pH na eficiência da remoção de cor do efluente.

65

Figura 19. Influência do pH na remoção de cor, CFe2+ = 75 mg/L e

CH2O2 = 1500 mg/L

De acordo com Chang et al. (2008), Nogueira et al. (2007), Teixeira e Jardim (2004) e

Gulkaya et al. (2006), o pH do meio reacional é fator essencial para que ocorra a máxima

produção de radicais hidroxila e definem que o pH ótimo para o processo Fenton está na faixa

de 3,0. Conforme Pérez et al. (2002), a queda na eficiência do processo em pH acima desse

valor é explicada pela formação e precipitação de ferro na forma Fe(OH)3, prejudicando a

produção de •OH.

De acordo com Wang et al. (2008), sob valores de pH superiores a 4, os íons ferrosos

facilmente se convertem a íons férricos que, na presença de hidróxido, produzem os

complexos hidróxido-férricos, capazes de coagular e precipitar não só a matéria orgânica

como também outros sólidos remanescentes após a oxidação por Fenton.

O processo Fenton foi menos eficiente em pH = 2, tanto na remoção de cor (Figura 20)

quanto na remoção da DQO (Tabela 8). Segundo Spinks e Woods (1990), pH abaixo de 2,5,

também é prejudicial pois a velocidade de degradação também diminui apesar das espécies de

Fe permanecerem solúveis, pois altas concentrações de H+ podem sequestrar radicais

hidroxila de acordo com a equação 29.

•OH + H

+ + e

- → H2O (29)

66

0

20

40

60

80

100

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120

Rem

oçã

o d

e C

or

(%)

Tempo (min)

CH2O2 = 500mg/L; CFe2+ = 25mg/L CH2O2= 750mg/L; CFe2+ = 37,5mg/L

CH2O2 = 1000mg/L; CFe2+ = 50mg/L CH2O2 = 1250mg/L; CFe2+ = 62,5mg/L

CH2O2 = 1500mg/L; CFe2+ = 75mg/L

Figura 20. Remoção de cor com a aplicação de Fenton em pH = 2

0

20

40

60

80

100

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120

Rem

oçã

o d

e C

or

(%)

Tempo (min)

CH2O2= 500mg/L; CFe2+ = 25mg/L CH2O2 = 750mg/L; CFe2+ = 37,5mg/L

CH2O2 = 1000mg/L; CFe2+ = 50mg/L CH2O2 = 1250mg/L; CFe2+ = 62,5mg/L

CH2O2 = 1500mg/L; CFe2+ = 75mg/L

Figura 21. Remoção de cor com a aplicação de Fenton em pH = 3

Quanto à remoção da DQO do efluente o processo Fenton mostrou-se eficiente,

especialmente quando o pH era 3, assim como a remoção de cor, conforme mostra Tabela 8.

A concentração de peróxido residual (CH2O2r) nos experimentos em pH = 2 foi elevada,

diferentemente dos experimentos em pH = 3. Este fato demonstra que o processo Fenton não

67

foi eficiente na produção do radical •OH, em pH = 2, já que grande parte do H2O2 adicionado

inicialmente ainda se encontrava no final do processo.

Tabela 8. Remoções de cor e DQO após o processo Fenton em pH = 2 e pH = 3

pH = 2 pH = 3

Concentrações Cor (%) DQO (%) CH2O2r (%) Cor (%) DQO (%) CH2O2r (%)

CH2O2 = 500 mg/L

CFe2+ = 25 mg/L 52,36 13,17 85,73 51,83 28,83 8,16

CH2O2 = 750 mg/L

CFe2+ = 37,5 mg/L 55,48 27,47 79,83 67,13 43,14 6,35

CH2O2 = 1000 mg/L

CFe2+ = 50 mg/L 60,53 31,03 78,69 78,04 49,69 7,48

CH2O2 = 1250 mg/L

CFe2+ = 62,5 mg/L 61,75 29,26 77,29 84,55 60,71 10,34

CH2O2 = 1500 mg/L

CFe2+ = 75 mg/L 65,92 41,1 76,2 86,2 64,83 10,18

Considerando os resultados das remoções de cor nas Figuras 18 e 19, é possível

observar que nos pontos 80, 100 e 120 minutos, os percentuais são muito semelhantes, as

curvas seguem quase constantes. Neste sentido, resolveu-se analisá-los estatisticamente como

se os mesmos representassem os pontos 120 de cada reação feita em tripicata. Este mesmo

raciocínio foi aplicado também aos processos foto-Fenton e UV/H2O2.

Após aplicação da ANOVA (Tabela 9) e do teste de Tukey (Tabela 10) nos dados

referentes à remoção de cor, foi possível determinar o melhor processo Fenton em pH = 3.

Assim foi feito, também, para os resultados dos processos foto-Fenton e UV/H2O2.

De acordo com o resultado do Teste F (Tabela 9), foram encontradas diferenças, ao

nível de 5% de probabilidade, entre os tratamentos, com relação à remoção de cor. Após isto,

foi aplicado o teste Tukey (Tabela 10), para a comparação das médias dos tratamentos

utilizados.

Tabela 9. Resultados da ANOVA aplicada aos processos Fenton pH = 3

Fonte de

variação

Soma dos

quadrados

Graus de

Liberdade

Quadrado

médio F Significância

Entre grupos 1946,650 4 486,663 78,335 0,000

Dentro dos

grupos 62,126 10 6,213

Total 2008,776 14

68

Os resultados apresentados na Tabela 10, mostram que os processos CH2O2/CFe2+ =

1000/50 e CH2O2/CFe2+ = 1250/62,5, são estatisticamente semelhantes, assim como, CH2O2/CFe2+ =

1250/62,5, e CH2O2/CFe2+ = 1500/75.

Tabela 10. Resultados do teste de Tukey aplicados aos processos Fenton pH = 3

CH2O2/CFe2+ Subconjunto para alfa = 0,05

1 2 3 4

500/25 52,9467

750/37,5 65,3333

1000/50 76,2100

1250/62,5 81,1667 81,1667

1500/75 83,8200

Significância 1,000 1,000 0,183 0,695

Considerando os resultados das Tabelas 8, 9 e 10, o processo mais eficiente na

remoção de cor e DQO é aquele cujas concentrações dos reagentes são: CH2O2 = 1500 mg/L e

CFe2+ = 75 mg/L em pH = 3.

5.5.1 Cinética de remoção de cor no processo Fenton pH = 3

A análise cinética foi feita apenas para o processo Fenton pH = 3, por ter sido

considerado o mais eficiente. Assim também, foi feito para foto-Fenton e UV/ H2O2.

A remoção de cor é diretamente influenciada pela concentração dos reagentes. Quanto

maior a concentração, maior é a remoção de cor num menor intervalo de tempo.

Exemplificando, o processo que utilizou CH2O2 = 750 mg/L e CFe2+ = 37,5 mg/L tem aos 60

minutos 54,86% de remoção de cor, enquanto o processo que utilizou o dobro da

concentração dos reagentes tem remoção de cor de 53,48% em 30 minutos.

Conforme os resultados apresentados na Figura 21, existem duas reações que

acontecem simultaneamente e que se somam. A primeira etapa da reação possivelmente é

iniciada pelos radicais hidroxilas (OH), resultantes da reação do H2O2 e dos íons Fe

2+. Nesta

etapa, o peróxido de hidrogênio é consumido intensamente, devido à formação catalítica dos

radicais OH. Porém, o Fe

3+ produzido, pode também reagir com o H2O2, formando radicais

69

mais fracos, com menor poder oxidante (HO2), os quais diminuem a quantidade do peróxido

de hidrogênio. À medida que a CH2O2 reduz-se na solução, a formação de OH é prejudicada,

iniciando-se a etapa lenta da reação.

Para Núñes et al. (2007), considerando que a concentração da espécie reativa deve

alcançar rapidamente um regime do estado estacionário durante o processo, e contanto que a

concentração do oxidante (COH) pode ser considerado constante, o processo de degradação

pode ser tratado como sendo pseudo-primeira ordem, nos termos do consumo do composto

orgânico.

Para a amostra sintética contendo o corante Preto Biozol UC, foi confirmado que o

tratamento oxidativo empregando o reagente de Fenton caracterizou-se por uma reação com

cinética de pseudo-primeira ordem (Equação 30).

dC/dt = -k.Cα (30)

Em que C é a concentração do composto orgânico submetido à degradação por Fenton,

k a constante cinética, α a ordem e t o tempo de reação. Integrando a Equação 30, obtém-se a

Equação 31. A mesma deu origem à curva teórica representada na Figura 22.

C/Co = e-kt

(31)

70

y = e-0,007x

R² = 0,9674

y = e-0,01x

R² = 0,9498y = e-0,014x

R² = 0,947y = e-0,017x

R² = 0,9639y = e-0,018x

R² = 0,9671

0,00

0,20

0,40

0,60

0,80

1,00

1,20

0 20 40 60 80 100 120 140

Co

/C =

e-k

t

Tempo (t)

CH2O2 = 500 mg/L; CFe2+ = 25 mg/L CH2O2 = 750 mg/L; CFe2+ = 37,5 mg/LCH2O2 = 1000 mg/L; CFe2+ = 50 mg/L CH2O2 = 1250 mg/L; CFe2+ = 62,5 mg/LCH2O2 = 1500 mg/L; CFe2+ = 75 mg/L

Figura 22. Curva teórica para modelagem do processo Fenton em pH = 3

A constante cinética e o tempo de meia-vida de cada reação foram determinados para

cada reação, conforme Tabela 11.

Tabela 11. Constantes cinéticas e tempo de meia-vida das reações Fenton em pH = 3

Concentrações Constante cinética

(K = L/min.mg)

Tempo de meia-vida

(t1/2 = min) CH2O2 = 500 mg/L

CFe2+ = 25 mg/L 0,0067 103,43

CH2O2 = 750 mg/L

CFe2+ = 37,5 mg/L 0,0104 66,63

CH2O2 = 1000 mg/L

CFe2+ = 50 mg/L 0,0141 49,15

CH2O2 = 1250 mg/L

CFe2+ = 62,5 mg/L 0,0172 40,29

CH2O2 = 1500 mg/L

CFe2+ = 75 mg/L 0,018 38,50

5.6 Aplicação do processo foto-Fenton

Durante o processo foto-Fenton foi possível observar que em pH = 3 a maior remoção

de cor ocorreu nos primeiros 30 minutos de reação, conforme demonstra a Figura 24. Após

71

este tempo as taxas de remoção de cor foram praticamente constantes. Já em pH = 2,

conforme Figura 23, a reação seguiu um tendência crescente.

0

20

40

60

80

100

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120

Rem

oçã

o d

e C

or

(%)

Tempo (min)

CH2O2= 500mg/L; CFe2+ = 25mg/L CH2O2 = 750mg/L; CFe2+ = 37,5mg/L

CH2O2 = 1000mg/L; CFe2+ = 50mg/L CH2O2 = 1250mg/L; CFe2+ = 62,5mg/L

CH2O2 = 1500mg/L; CFe2+ = 75mg/L

Figura 23. Remoção de cor no processo foto-Fenton em pH = 2

0

20

40

60

80

100

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120

Rem

oçã

o d

e C

or

(%)

Tempo (min)

CH2O2 = 500mg/L; CFe2+ = 25mg/L CH2O2 = 750mg/L; CFe2+ = 37,5mg/L

CH2O2 = 1000mg/L; CFe2+ = 50mg/L CH2O2 = 1250mg/L; CFe2+ = 62,5mg/L

CH2O2 = 1500mg/L; CFe2+ = 75mg/L

Figura 24. Remoção de cor no processo foto-Fenton em pH = 3

72

A máxima remoção de cor obtida foi de 97,94%, nas concentrações: CH2O2 = 1250

mg/L e CFe2+ = 62,5 mg/L, pH = 2, em 120 minutos de reação e peróxido residual, CH2O2r =

3,62%, conforme Tabela 12. Já em pH = 3 e em concentrações CH2O2 = 1500 mg/L e CFe2+ = 75

mg/L o processo conseguiu 92,07% de remoção de cor em apenas 30 minutos de reação, ou

seja apenas ¼ do tempo total de análise. O mesmo chegou 95,37% de remoção no fim dos 120

minutos.

Tabela 12. Remoções de cor e DQO após o processo foto-fenton em pH = 2 e pH = 3

pH = 2 pH = 3

Concentrações Cor (%) DQO (%) CH2O2r (%) Cor (%) DQO (%) CH2O2r (%)

CH2O2 = 500 mg/L

CFe2+ = 25 mg/L 90,69 17,78 13,6 54,59 38,17 10,8

CH2O2 = 750 mg/L

CFe2+ = 37,5 mg/L 96,23 23,91 5,74 66,15 39,55 2,26

CH2O2 = 1000 mg/L

CFe2+ = 50 mg/L 91,92 45,7 42,86 80,57 50,35 3,62

CH2O2 = 1250 mg/L

CFe2+ = 62,5 mg/L 97,94 55,87 3,62 87 67,46 8,34

CH2O2 = 1500 mg/L

CFe2+ = 75 mg/L 95,6 27,32 25,4 95,37 72,95 5,14

Assim como no processo Fenton, conforme o resultado da ANOVA (Tabela 13) foi

encontrado diferenças, ao nível de 5% de probabilidade, entre os tratamentos, com relação à

remoção de cor.

Tabela 13. Resultados da ANOVA aplicada aos processos foto-Fenton pH = 3

Fonte de

variação

Soma dos

quadrados

Graus de

Liberdade

Quadrado

médio F Significância

Entre grupos 2833,166 4 708,291 513,453 0,000

Dentro dos

grupos 13,795 10 1,379

Total 2846,960 14

Os resultados apresentados na Tabela 14 mostram que os processos foto-Fenton em

pH = 3 são estatisticamente diferentes.

73

Tabela 14. Resultados do teste de Tukey aplicados aos processos foto-Fenton pH = 3

CH2O2/CFe2+ Subconjunto para alfa = 0,05

1 2 3 4 5

500/25 57,5333

750/37,5 66,1433

1000/50 80,3133

1250/62,5 86,5333

1500/75 95,6000

Significância 1,000 1,000 1,000 1,000 1,000

De acordo com as Tabelas 12, 13 e 14 o processo de maior eficiência (Figura 25) em

termos de remoção de cor e DQO está em pH = 3, 95,37% e 72,95%, respectivamente. As

concentrações dos reagentes nesse processo foram: CH2O2 = 1500 mg/L e CFe2+ = 75 mg/L.

Figura 25. Aspecto do efluente sintético antes e no

final do processo foto-Fenton (CH2O2 = 1500 mg/L

e CFe2+ = 75 mg/L) em pH = 3

5.6.1 Cinética do processo foto-Fenton pH = 3

Conforme Figuras 24 e 26, a maior parte da cor é removida aos primeiros 30 minutos

de reação, configurando assim a etapa mais rápida do processo. A remoção de cor nos 90

minutos restantes acontece de forma mais lenta, apresentando pequena variação na

configuração espacial do gráfico (Figura 24).

74

Considerando as mesmas condições de pH e reagentes, o processo Fenton mais

eficiente apresentou remoção de cor de 86,2% aos 120 minutos de reação, já o processo foto-

Fenton levou a remoção semelhante (84,38%) aos 20 minutos. Concordando com Rathi et al.

(2003), a degradação de corante têxtil é mais eficiente e mais rápida quando há a combinação

da luz UV com o reagente de Fenton, diferentemente quando há a ausência de qualquer um

dos constituintes.

Assim como o processo Fenton em pH = 3, o foto-Fenton no mesmo pH, obedeceu a

cinética de pseudo-primeira ordem, conforme Núñes et al. (2007), nos termos de consumo do

composto orgânico (Figura 26). Na Tabela 15, estão os valores do tempo de meio-vida e das

constantes cinéticas de cada reação.

Tabela 15. Constantes cinéticas e tempo de meia-vida das reações foto-Fenton em pH = 3

Concentrações Constante cinética

(K = L/min.mg)

Tempo de meia-vida

(t1/2 = min)

CH2O2 = 500 mg/L

CFe2+ = 25 mg/L 0,0263 26,35

CH2O2 = 750 mg/L

CFe2+ = 37,5 mg/L 0,0369 18,78

CH2O2 = 1000 mg/L

CFe2+ = 50 mg/L 0,0532 13,03

CH2O2 = 1250 mg/L

CFe2+ = 62,5 mg/L 0,0567 12,22

CH2O2 = 1500 mg/L

CFe2+ = 75 mg/L 0,0901 7,69

75

y = e-0,026x

R² = 0,9645

y = e-0,037x

R² = 0,95y = e-0,053x

R² = 0,9381y = e-0,057x

R² = 0,9999

y = e-0,09x

R² = 0,9474

0,00

0,20

0,40

0,60

0,80

1,00

1,20

0 20 40 60 80 100 120 140

Co

/C =

e-k

t

Tempo (t)

CH2O2 = 500 mg/L; CFe2+ = 25 mg/L CH2O2 = 750 mg/L; CFe2+ = 37,5 mg/LCH2O2 = 1000 mg/L; CFe2+ = 50 mg/L CH2O2 = 1250 mg/L; CFe2+ = 62,5 mg/LCH2O2 = 1500 mg/L; CFe2+ = 75 mg/L

Figura 26. Curva teórica para modelagem do processo foto-Fenton em pH = 3

5.7 Aplicação do processo UV/H2O2

Durante o processo UV/H2O2, em pH = 2, observou-se que houve uma

proporcionalidade direta entre o aumento da concentração de H2O2 e a remoção de cor, ou

seja, quanto maior a concentração do H2O2 maior eficiência na remoção de cor no processo

UV/H2O2. Aos 120 minutos o percentual de remoção de cor do sistema cuja concentração de

peróxido foi 1500 mg/L quase que dobrou com relação ao experimento em que se usou

metade da concentração deste reagente. Isso ficou mais evidente quando se analisa a remoção

da DQO, como é feito mais adiante. A melhor remoção de cor em pH = 2 foi 75,85%, CH2O2 =

1500 mg/L, conforme Figura 27.

Araújo et al. (2006) observaram que aumentando demasiadamente a quantidade de

H2O2 o processo UV/H2O2 diminui a eficiência. A mesma verificou que isso acontece,

provavelmente, pela captura do OH pelo H2O2 formando um radical menos reativo OH2

.

76

0

10

20

30

40

50

60

70

80

0 20 40 60 80 100 120 140

Rem

oçã

o d

e c

or

(%)

Tempo (min)

CH2O2 = 500mg/L

CH2O2 = 750 mg/L

CH2O2 = 1000 mg/L

CH2O2 = 1250 mg/L

CH2O2 = 1500 mg/L

Figura 27. Remoção de cor no processo UV/ H2O2 em pH = 2

Em pH = 3 não houve proporcionalidade entre o aumento da concentração de H2O2 e a

remoção de cor. A maior eficiência do processo UV/H2O2 em termo de remoção de cor,

73,15%, foi no experimento cuja concentração de H2O2 foi de 1000 mg/L, conforme Figura

28.

0

10

20

30

40

50

60

70

80

0 20 40 60 80 100 120 140

Rem

oçã

o d

e c

or

(%)

Tempo (min)

CH2O2 = 500mg/L

CH2O2 = 750 mg/L

CH2O2 = 1000 mg/L

CH2O2 = 1250 mg/L

CH2O2 = 1500 mg/L

Figura 28. Remoção de cor no processo UV/ H2O2 em pH = 3

77

O processo UV/H2O2 não teve a mesma eficiência na remoção da cor e DQO como os

processos anteriores. Foi observado também a grande quantidade de CH2O2r, geralmente acima

de 63% em pH = 2 e pH = 3, com exceção do experimento que utilizou CH2O2 = 1500 mg/L

em pH = 3 que resultou em 41,50% de CH2O2r.

Tabela 16. Remoções de cor e DQO após o processo UV/H2O2 em pH = 2 e pH = 3

pH = 2 pH = 3

Concentrações Cor (%) DQO (%) CH2O2r (%) Cor (%) DQO (%) CH2O2r(%)

CH2O2 = 500 mg/L 29,45 17,96 85,05 58,48 16,75 64,86

CH2O2 = 750 mg/L 33,01 21,92 79,83 46,43 14,19 61,68

CH2O2 = 1000 mg/L 36,48 27,85 73,93 73,15 6,49 66,9

CH2O2 = 1250 mg/L 65,5 25,07 69,67 57,48 33,21 65,31

CH2O2 = 1500 mg/L 75,85 33,97 63,5 40,83 9,28 41,5

Após aplicação da ANOVA (Tabela 17), nos resultados de remoção de cor, podemos

observar que também foram encontradas diferenças, ao nível de 5% de probabilidade, entre os

tratamentos, com relação à remoção de cor.

Tabela 17. Resultados da ANOVA aplicada aos processos UV/H2O2 em pH = 2

Fonte de

variação

Soma dos

quadrados

Graus de

Liberdade

Quadrado

médio F Significância

Entre grupos 5002,189 4 1250,547 67,083 0,000

Dentro dos

grupos 186,419 10 18,642

Total 5188,608 14

Os resultados do teste Tukey apresentados na Tabela 17 mostram que todos os

processos UV/H2O2 cujas concentrações de peróxido utilizadas foram CH2O2 = 500 mg/L, CH2O2

= 750 mg/L e CH2O2 = 1000 mg/L são estatisticamente semelhantes, assim como os que

utilizam CH2O2 = 1250 mg/L e CH2O2 = 1500 mg/L.

Considerando os resultados das Tabelas 16, 17 e 18, o processo UV/H2O2 mais

eficiente foi em pH = 2, CH2O2 = 1500 mg/L.

78

Tabela 18. Resultados do teste de Tukey aplicados

aos processos UV/H2O2 em pH = 2

CH2O2

Subconjunto para alfa = 0,05

1 2

500 26,3467

750 28,2567

1000 33,6633

1250 59,8167

1500 71,4033

Significância 0,301 0,050

5.7.1 Cinética do processo UV/H2O2 em pH = 2

Assim como os outros processos estudados, o UV/H2O2 em pH = 2 obedeceu uma

cinética de pseudo-primeira ordem.

y = e-0,003x

R² = 0,9179y = e-0,004x

R² = 0,9699y = e-0,004x

R² = 0,9328

y = e-0,01x

R² = 0,9523y = e-0,013x

R² = 0,9399

0,00

0,20

0,40

0,60

0,80

1,00

1,20

0 20 40 60 80 100 120 140

Co

/C =

e-k

t

Tempo (t)

CH2O2 = 500 mg/L CH2O2 = 750 mg/L CH2O2 = 1000 mg/L CH2O2 = 1250 mg/L CH2O2 = 1500 mg/L

Figura 29. Curva teórica para modelagem do processo UV/H2O2 em pH = 2

79

Tabela 19. Constantes cinéticas e tempo de meia-vida das reações UV/H2O2 em pH = 2

Concentrações Constante cinética

(K = L/min.mg)

Tempo de meia-vida

(t1/2 = min)

CH2O2 = 500 mg/L

CFe2+ = 25 mg/L 0,0032 -

CH2O2 = 750 mg/L

CFe2+ = 37,5 mg/L 0,0035 -

CH2O2 = 1000 mg/L

CFe2+ = 50 mg/L 0,0043 -

CH2O2 = 1250 mg/L

CFe2+ = 62,5 mg/L 0,0096 72,19

CH2O2 = 1500 mg/L

CFe2+ = 75 mg/L 0,0134 51,72

Conforme Tabela 19, o tempo de meia-vida dos 3 primeiros experimentos estão fora da

escala de tempo.

Observando os resultados obtidos com o UV/H2O2, podemos aferir que a adição de

ferro ao processo foto-Fenton foi essencial para a sua eficiência. Isso também foi verificado

por Elmorsi et al. (2010) em seu trabalho, onde observou que o processo foto-Fenton foi mais

eficiente num mesmo intervalo de tempo do que o UV/H2O2 na degradação do corante azo

MR73.

5.8 Aplicação de Processo Oxidativo Avançado em efluente têxtil real

Foi escolhido o processo de maior eficiência e aplicado a um efluente têxtil real, com

o objetivo de se verificar a aplicabilidade dos Processos Oxidativos Avançados na obtenção

de água de reúso. O processo escolhido foi o foto-Fenton em pH = 3, CFe2+ = 75 mg/L e CH2O2

= 1500 mg/L. O mesmo foi feito em duplicata.

Conforme a Tabela 20, durante o processo a remoção da cor verdadeira foi monitorada

por meio da leitura da absorbância no comprimento de onda 455 nm. Além disso, o corante

Preto Biozol UC também foi monitorado através do seu comprimento de onda de máxima

absorbância, λ = 507 nm.

Como o efluente têxtil real é mais complexo em sua composição do que o efluente

têxtil sintético trabalhado, a degradação da matéria orgânica foi monitorada por meio dos

80

seguintes parâmetros: Carbono Orgânico Total, Carbono Total, Carbono Inorgânico e

Nitrogênio Total, como é possível se observar na Tabela 20.

Tabela 20. Remoções de cor e matéria orgânica no efluente têxtil real aplicando foto-Fenton

PROCESSO *λ = 455

** λ = 507 COT CT CI NT

Somente UV 28,62 14,37 1,14 11,83 97,63 7,52

CFe2+ = 75 mg/L;

CH2O2 = 0 mg/L 52,23 48,47 32,58 8,25 97,75 25,5

CFe2+ = 75 mg/L;

CH2O2 = 1000 mg/L 93,75 96,53 27,49 35,56 98,28 5,29

CFe2+ = 75 mg/L;

CH2O2 = 1500 mg/L 94,51 98,68 80,89 82,97 98,66 7,06

CFe2+ = 75 mg/L;

CH2O2 = 2000 mg/L 91,12 97,07 76,69 78,47 92,32 20,6

*λ = 455 – Cor verdadeira;

** λ = 507 – Corante Preto Biozol UC; COT = Carbono Orgânico Total;

CT = Carbono Total; CI = Carbono Inorgânico; NT = Nitrogênio Total

Na remoção de cor os processos que utilizaram, CFe2+ = 75 mg/L e CH2O2 = 1000 mg/L,

CFe2+ = 75 mg/L e CH2O2 = 1500 mg/L, CFe2+ = 75 mg/L e CH2O2 = 2000 mg/L, obtiveram

eficiência superior a 90%. Os dois últimos processos mantiveram, também, a eficiência na

remoção da matéria orgânica, com taxa superior a 75% de COT.

Dentre os resultados mostrados na Tabela 20, o processo foto-Fenton, CFe2+ = 75 mg/L

e CH2O2 = 1500 mg/L, foi o mais eficiente, tanto na remoção de cor, como de matéria orgânica,

Figura 30.

81

Figura 30. Antes e depois da aplicação do processo

foto-Fenton em pH = 3, CFe2+ = 75 mg/L e

CH2O2 = 1500 mg/L, no efluente têxtil real

Os resultados encontrados na Tabela 21 indicam a possibilidade de reúso do efluente

tratado em sistema de refrigeração.

Conforme Florencio et al. (2006), as águas de resfriamento são, muitas vezes,

responsáveis pela maior quantidade de água utilizada em processos industriais. Há uma

enorme quantidade de indústrias e outras atividades que necessitam de torres de resfriamento,

as quais requerem certo padrão de qualidade da água para não reduzir sua vida útil. Nesse

processo ocorre uma expressiva perda de água, denominada perda por evaporação, que pode

muito bem ser reposta (make up) por água de reúso.

O melhor experimento identificado na Tabela 20 também foi o mais eficiente quanto

aos parâmetros para o reúso analisados, como mostra a Tabela 21.

Os parâmetros turbidez, amônia, ferro, alumínio, sólidos dissolvidos e sólidos

suspensos ficaram fora dos padrões indicados por Mancuso e Santos (2003) e Goldstein et al.

(1979) apud Mancuso e Santos (2003), após o tratamento.

Antes Depois

82

Tabela 21. Resultado das análises físico-químicas para o reúso de efluente têxtil real tratado em sistema de refrigeração com recirculação

PROCESSO Turbidez

Final (UNT)

Alcalinidade (mg/L CaCO3)

Dureza

total (mg/L

CaCO3)

Dur. de

Cálcio (mg/L

CaCO3)

Dur. de

Magnésio (mg/L

MgCO3)

Cloreto (mg/L Cl-)

Sulfato (mg/L SO4)

Fosfato (mg/L PO4)

LAS Nitrato (NO3 – N)

Nitrito (NO2 – N)

Amônia (NH3 – N)

Ferro

Total (mg/L Fe)

Alumínio (mg/L Al3+)

Manganês (Mg/L Mn)

Sol.

Totais (mg/L)

Sol.

Dissolvidos (mg/L)

Sol.

Suspensos (mg/L)

Somente UV - - - - - - 243,04 26,956 12,83 0,2 0,04 0,1 6 2,43 4 3420 2980 440

CFe2+ = 75 mg/L;

CH2O2 = 0 mg/L 323 90 - - - - 219,87 17,159 7,53 - 0,005 2,1 70 3,16 1 - - -

CFe2+ = 75 mg/L;

CH2O2 = 1000 mg/L 45 40 80 30 50 60 329,24 1,86 0,12 0 0,078 5,8 49 0,69 3 2690 2515 175

CFe2+ = 75 mg/L;

CH2O2 = 1500 mg/L 161 80 70 20 50 40 183,67 0,38 0,52 0,8 0,011 5,7 76 1,74 0 2860 2495 365

CFe2+ = 75 mg/L;

CH2O2 = 2000 mg/L 396 40 62 21 41 62 453,42 1,36 0,13 0,8 0,008 6,3 68 1,42 4 4190 1310 2880

PADRÃO PARA

RECIRCULAÇÃO 50 350 650

500 200 4 1

1 0,5 0,1 0,5

500 100

Obs: todos os padrões são para limites máximos. Os mesmos foram publicados por Mancuso e Santos (2003).

Obs2: Goldstein et al. (1979) apud Mancuso e Santos (2003), referente aos parâmetros, turbidez, NH3 e fosfatos.

Obs3: LAS (Linear Alquilbenzeno Sulfonado) - determinação de detergentes (surfactantes).

Obs4: Os espaços indicados com “-“ indicam as análises que não puderam ser realizadas.

83

A turbidez, segundo Dezotti (2008), está relacionada à presença de material sólido em

suspensão (silte, argila, sílica), material orgânico e inorgânico finamente divididos (que

podem estar associados a um material coloidal), microrganismos e algas.

Já a amônia é tóxica às diversas formas de vida. A sua presença pode estar relacionada

não só a presença de esgoto industrial, mas também a doméstico no efluente coletado.

A concentração bastante elevada de ferro deve-se a sua adição no início do processo.

O mesmo pode ser removido no final do processo utilizando de técnicas como precipitação ou

adsorção.

Uma solução para o tratamento dos sólidos seria a diluição do efluente. Assim, o

mesmo não seria utilizado diretamente e sim adicionado a águas de reposição dos sistemas de

resfriamento nas proporções necessárias que possa garantir a segurança do sistema.

Para Goldstein et al. (1979) apud Mancuso e Santos (2003), o pH para águas de

reposição em sistemas de resfriamento com recirculação devem estar entre 6 e 9. Como o

efluente têxtil foi tratado em pH aproximadamente 3, é necessário sua elevação no final do

processo para a devida adequação às exigências.

5.9 Caracterização do lodo resultante do tratamento do efluente têxtil real

A partir da Espectroscopia por Energia Dispersiva (EDS) do lodo foi possível se

identificar parte dos elementos presentes no mesmo. Dentre eles destaca-se o ferro, que

apresentou um dos picos de maior intensidade, assim como o carbono, fósforo, enxofre e

cloro, conforme Figura 32.

84

Figura 32. Espectroscopia por energia dispersiva do lodo do efluente têxtil real tratado

O elemento ferro é o segundo em percentual de massa. O mesmo foi adicionado no

início do processo foto-Fenton a uma concentração de 75 mg/L. A concentração de ferro total

no fim do tratamento foi de 76 mg/L, conforme Tabela 22. Como não foi mensurado o erro da

análise, não é possível se afirmar se os valores se equivalem ou não. Esta alta concentração

sugere a possibilidade de reutilização deste elemento no processo, até mesmo como

adsorvente.

A quantidade de lodo formada foi em média foi 4% a cada 100 mL de efluente tratado.

85

Tabela 22. Resultado da análise química por EDS do lodo do efluente real tratado

Elemento /

Linha Peso %

Peso % /

Erro Átomo %

Átomo % /

Erro Fórmula

C K 65,42 +/- 1,27 83,44 +/- 1,63 C

O K 6,77 +/- 0,35 6,48 +/- 0,34 O

F

K 0,00 --- 0,00 +/- 0,00 F

Na K 1,29 +/- 0,12 0,86 +/- 0,08 Na

Al K 0,38 +/- 0,04 0,22 +/- 0,02 Al

Si K 0,74 +/- 0,05 0,41 +/- 0,03 Si

P K 1,91 +/- 0,16 0,95 +/- 0,08 P

S K 1,56 +/- 0,21 0,74 +/- 0,10 S

S L --- --- --- ---

Cl K 5,16 +/- 0,17 2,23 +/- 0,07 Cl

Cl L --- --- --- ---

K K 0,65 +/- 0,06 0,25 +/- 0,02 K

K L --- --- --- ---

Fe K 16,12 +/- 0,43 4,42 +/- 0,12 Fe

Fe L --- --- --- ---

Total 100,00 100,00

86

6 CONCLUSÕES

O Processo Oxidativo Avançado mais eficiente na remoção de cor e DQO foi o foto-

Fenton, cujas concentrações dos reagentes foram CFe2+ = 75 mg/L e CH2O2 = 1500 mg/L, em pH

= 3. Neste processo foi observado que a maior parte da cor (92,07%) foi removida nos

primeiros 30 minutos de reação, o mesmo também foi o mais eficiente quando aplicado ao

efluente têxtil real.

A possibilidade de reúso identificado, após tratamento, foi em sistema de refrigeração

com recirculação. Vale destacar que o efluente tratado não tem condições de ser reutilizado

diretamente já que alguns parâmetros ficaram fora dos padrões.

Como ainda é necessário o uso de tratamento complementar, o processo foto-Fenton,

pode ser utilizado como pré ou pós-tratamento, para a obtenção de água de reúso utilizando

efluente têxtil real.

87

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O ferro presente no lodo nos leva a formular a hipótese de que o mesmo pode ser

utilizado na alimentação do próprio processo foto-Fenton. A reutilização do lodo pode trazer

benefícios ambientais e econômicos.

Propõe-se para trabalhos futuros o estudo de processos combinados ao foto-Fenton, a

análise microbiológica e de toxicidade do efluente tratado, para se verificar os riscos de sua

manipulação, a reutilização do lodo formado no final do processo e um estudo de viabilidade

econômica.

88

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CONAMA nº 357, de 2005, que dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes

ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de

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aproximação das disposições legislativas, regulamentares e administrativas dos Estados-

Membros respeitantes à limitação da colocação no mercado e da utilização de algumas

substâncias e preparações perigosas. Disponível em: < http://eur-lex.europa.eu/LexUriServ/

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preparações perigosas (corantes azóicos). Disponível em: <http://eurlex.europa.eu/

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_________________. Diretiva 2004/21/CE da Comissão de 24 de Fevereiro de 2004. Diz

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terceira adaptação ao progresso técnico da Diretiva 76/769/CEE do Conselho). Disponível

em:<http://eurlex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=OJ:L:2004:057:0004:0005:PT:P

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1973.

94

Anexos

95

ANEXO A

Diretiva 76/769/CEE do Conselho, de 27 de Julho de 1976, relativa à aproximação das

disposições legislativas, regulamentares e administrativas dos Estados-Membros

respeitantes à limitação da colocação no mercado e da utilização de algumas substâncias

e preparações perigosas

Jornal Oficial nº L 262 de 27/09/1976 p. 0201 - 0203

Edição especial grega: Capítulo 13 Fascículo 4 p. 0178

Edição especial espanhola: Capítulo 13 Fascículo 5 p. 0208

Edição especial portuguesa: Capítulo 13 Fascículo 5 p. 0208

Edição especial finlandesa: Capítulo 13 Fascículo 5 p. 0229

Edição especial sueca: Capítulo 13 Fascículo 5 p. 0229

DIRETIVA DO CONSELHO

de 27 de Julho de 1976

Relativa à aproximação das disposições legislativas, regulamentares e administrativas dos

Estados-membros respeitantes à limitação da colocação no mercado e da utilização de

algumas substâncias e preparações perigosas (76/769/CEE).

O CONSELHO DAS COMUNIDADES EUROPÉIAS

Tendo em conta o Tratado que institui a Comunidade Econômica Européia e, nomeadamente,

o seu artigo 100 º,

Tendo em conta a proposta da Comissão,

Tendo em conta o parecer do Parlamento Europeu (1),

Tendo em conta o parecer do Comitê Econômico e Social (2),

Considerando que toda a regulamentação respeitante à colocação no mercado das substâncias

e preparações perigosas deve ter como fim a proteção da população e, nomeadamente, das

pessoas que as utilizam;

Considerando que deve contribuir para a proteção do ambiente contra todas as substâncias e

preparações que apresentem características de ecotoxicidade ou que possam poluir o

ambiente;

Considerando que deve igualmente ter como fim a restauração, a preservação e a melhoria da

qualidade de vida dos homens;

96

Considerando que as substâncias e preparações perigosas são objeto de regulamentações nos

Estados-membros; que estas regulamentações apresentam diferenças no que respeita às

condições de colocação no mercado e à utilização; que estas divergências constituem um

obstáculo às trocas comerciais e têm uma incidência direta no estabelecimento e

funcionamento do Mercado Comum;

Considerando que importa, por conseguinte, eliminar este obstáculo e que, para atingir este

objetivo, é necessário proceder à aproximação das disposições legislativas que regulam esta

matéria nos Estados-membros;

Considerando que já foram previstas por diretivas comunitárias disposições relativas a

algumas substâncias e preparações perigosas; que é necessário, porém, estabelecer uma

regulamentação para outros produtos, nomeadamente aqueles para os quais organizações

internacionais decidiram uma limitação, por exemplo, os policlorobifenilos (PCB) em relação

aos quais o Conselho da OCDE já tomou em 13 Fevereiro de 1973 , uma decisão relativa à

limitação da produção e utilização; que tal medida é necessária para impedir a absorção de

PCB pelo corpo humano , bem como os danos que dai resultam para a saúde humana;

Considerando que exames aprofundados demonstraram que os policloroterfenilos (PCT)

apresentam riscos semelhantes aos provocados pelos PCE e que, por consequência, a sua

colocação no mercado e a sua utilização devem ser igualmente limitadas;

Considerando que é necessário, além disso, reexaminar periodicamente o conjunto deste

problema, a fim de conseguir progressivamente uma eliminação completa dos PCB e dos

PCT;

Considerando que a utilização do cloro-1-etileno (monômero cloreto de vinil) como agente

propulsor de aerossóis apresenta perigos para a saúde humana e que é necessário, por

conseguinte, proibir essa utilização,

ADOTOU A PRESENTE DIRETIVA:

Artigo 1º

1. Sem prejuízo da aplicação de outras disposições comunitárias nesta matéria, a presente

diretiva diz respeito às limitações relacionadas com a colocação no mercado e a utilização,

nos Estados-membros da Comunidade, das substâncias e preparações perigosas enumerados

no anexo.

97

2. A presente diretiva não é aplicável:

a) Ao transporte ferroviário, rodoviário, por via fluvial, marítima ou aérea de substâncias e

preparações perigosas;

b) Às substâncias e preparações perigosas exportadas para países terceiros;

c) Às substâncias e preparações em trânsito submetidas a um controlo aduaneiro, desde que

não sejam objeto de nenhuma transformação.

3. Para efeitos do disposto na presente diretiva, entende-se por:

a) Substâncias: os elementos químicos e os seus compostos tais como se apresentam no estado

natural ou como são produzidos pela indústria;

b) Preparações: as misturas ou soluções compostas por duas ou várias substâncias.

Artigo 2º

Os Estados-membros tomarão todas as medidas úteis para que as substâncias e preparações

perigosas indicadas no anexo possam ser colocadas no mercado ou utilizadas nas condições aí

referidas. Estas limitações não são aplicáveis à colocação no mercado ou à utilização para fins

de investigação, de desenvolvimento e de análise.

Artigo 3º

1. Os Estados-membros porão em vigor as disposições necessárias para darem cumprimento à

presente diretiva no prazo de dezoito meses a contar da sua notificação e desse fato

informarão imediatamente a Comissão.

2. Os Estados-membros comunicarão à Comissão o texto das disposições de direito nacional

que adotarem no domínio regulado pela presente diretiva.

Artigo 4 º

Os Estados-membros são destinatários da presente diretiva.

Bruxelas, 27 de Julho de 1976.

Pelo Conselho

O Presidente

M. van der STOEL

(1) JO nº C 60 de 13. 3. 1975, p. 49.

(2) JO nº C 16 de 23. 1. 1975, p. 25.

98

ANEXO

Denominação da substância, dos grupos de substâncias ou das preparações:

I.

- Policlorobifenilos (PCB), à exceção dos monoclorobifenilos e diclorobifenilos;

- Policloroterfenilos (PCT);

- Preparações cujo teor em PCB ou em PCT é superior a 0,1 % em peso.

II.

Cloro-1-etileno (monômero cloreto de vinil)

Condições de limitação

Não são admitidos, à exceção das seguintes categorias:

1. Aparelhos elétricos em sistema fechado: transformadores, resistências e indutâncias.

2. Grandes condensadores (peso total * 1 kg).

3. Pequenos condensadores (desde que o teor máximo em cloro dos PCB seja de 43 % e que

os difenilos mais fortemente clorados).

Os pequenos condensadores que não correspondem às exigências acima referidas podem

ainda ser colocados no mercado durante um período de um ano a partir da data da entrada em

vigor da presente diretiva. Esta limitação não se aplica aos pequenos condensadores já em

utilização.

4. Fluídos termocondutores nas instalações caloríficas em sistema fechado (salvo nas

instalações destinadas a tratar gêneros alimentícios, alimentos para animais e produtos

farmacêuticos e veterinários; contudo, se nas instalações acima referidas forem utilizados

PCB quando da notificação da presente diretiva, a sua utilização será ainda autorizada até 31

de Dezembro de 1979 o mais tardar).

5. Fluidos hidráulicos para:

a) O equipamento subterrâneo das minas:

b) Máquinas de serviço das cubas de fabricação eletrolítica do alumínio, em uso quando da

adoção da presente diretiva, até 31 de Dezembro de 1979, o mais tardar.

6. Produtos de base e produtos intermédios destinados a ser transformados em outros produtos

que não são abrangidos pela proibição da presente diretiva.

Não é admitido como agente propulsor de aerossóis, qualquer que seja o uso.

Fonte: http://eurlex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=CELEX:31976L0769:pt:HTML

99

ANEXO B

100

101

102

Fonte: http://eur-lex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=OJ:L:2002:243:0015:0018:pt:PDF

103

ANEXO C

104

Fonte: http://eur-lex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=OJ:L:2004:057:0004:0005:PT:PDF

105

ANEXO D

106

107

108

109