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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ-UFPI PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO-PRPPG CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS-CCHL PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA DO BRASIL - PPGHB MESTRADO EM HISTÓRIA DO BRASIL - MHB Neuza Brito de Arêa Leão Melo O ECLETISMO PARNAIBANO: hibridismo e tradução cultural na paisagem da cidade na primeira metade do século XX Teresina (PI) 2011

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ-UFPI

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO-PRPPG

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS-CCHL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA DO BRASIL - PPGHB

MESTRADO EM HISTÓRIA DO BRASIL - MHB

Neuza Brito de Arêa Leão Melo

O ECLETISMO PARNAIBANO: hibridismo e tradução cultural na paisagem da cidade na

primeira metade do século XX

Teresina (PI)

2011

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NEUZA BRITO DE ARÊA LEÃO MELO

O ECLETISMO PARNAIBANO: hibridismo e tradução cultural na paisagem da cidade na

primeira metade do século XX

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em História do Brasil, do Centro de

Ciências Humanas e Letras da Universidade

Federal do Piauí como requisito à obtenção do

título de Mestre em História do Brasil.

Orientadora: Profa. Dra. Juliana Lopes Aragão

Teresina (PI)

2011

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FICHA CATALOGRÁFICA

Universidade Federal do Piauí

Biblioteca Comunitária Jornalista Carlos Castello Branco

Serviço de Processamento Técnico

M528e Melo, Neuza Brito de Arêa Leão

O Ecletismo Parnaibano: hibridismo e tradução cultural na

paisagem da cidade na primeira metade do século XX /Neuza

Brito de Arêa Leão Melo. – 2011.

200 fls.

Dissertação (Mestrado em História do Brasil) – Universidade

Federal do Piauí, 2011.

Orientação: Profª. Drª. Juliana Lopes Aragão

1.Parnaíba-História. 2.Arquitetura. 3.Ecletismo. I. Título.

CDD: 981.228

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NEUZA BRITO DE ARÊA LEÃO MELO

O ECLETISMO PARNAIBANO:

hibridismo e tradução cultural na paisagem da cidade na primeira metade do século XX

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em História do Brasil, do Centro de

Ciências Humanas e Letras da Universidade

Federal do Piauí como requisito para obtenção

do título de Mestre em História do Brasil.

Área de Concentração: História do Brasil

Avaliada em : ______ de ______________ de 2011

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________________

Profª Dra. Juliana Lopes Aragão (Orientadora) - UFPI Presidente

_________________________________________________

Prof. Dr. George Felix Cabral de Souza - UFPE Examinador

_________________________________________________

Profª Dra. Áurea da Paz Pinheiro - UFPI Examinador

_________________________________________________

Prof. Dr. Francisco Alcides do Nascimento - UFPI Suplente

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Aos meus pais, Miguel e Ana Maria, pelo

carinho e por me darem o melhor exemplo que eu

poderia ter.

Aos meus filhos, Evandro Filho e Ana Luíza,

para que eles compreendam que a sabedoria é a

maior das virtudes.

Ao meu marido, Evandro, por compreender

a ausência e o isolamento tantas vezes necessários

para o alcance deste objetivo, e por ser minha

constante fonte de incentivo, dedicação e força.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, por guiar meus passos e iluminar minha trajetória na busca dessa conquista.

Aos meus irmãos, Alexandre, Ana Maria e, especialmente à Suzy, pelo constante

carinho, apoio e compreensão.

À minha orientadora, Profa. Dra. Juliana Lopes Aragão, pelo incentivo, paciência, por

ajudar a superar minhas limitações, e por compartilhar seus valorosos conhecimentos.

Aos professores do Programa de Mestrado em História do Brasil da UFPI

(Universidade Federal do Piauí) – e especialmente à Profa. Dra. Teresinha Queiroz – que

contribuíram para o enriquecimento deste trabalho.

À Diva Figueiredo, que me fez, desde o início, acreditar nesse ideal. A ela, minha

sincera gratidão.

A todos os meus amigos – em especial à Líllian – colegas do mestrado, colegas

professores, alunos, sempre presentes nos momentos difíceis, transmitindo solidariedade e

apoio.

À cidade de Parnaíba (PI) e a seus habitantes, que permitiram a execução desta

pesquisa.

A todas as pessoas que torceram e que, de algum modo, viabilizaram a execução deste

trabalho.

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A cidade se embebe como uma esponja

dessa onda que reflui recordações e se dilata...

Mas a cidade não conta o seu passado, ela o

contém como as linhas da mão, escrito nos

ângulos das ruas, nas grades das janelas, nos

corrimãos das escadas, nas antenas dos pára-

raios, nos mastros das bandeiras, cada segmento

riscado por arranhões, serradelas, entalhes,

esfoladuras.

Ítalo Calvino

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RESUMO

A presente dissertação analisou a História através da arquitetura eclética, produzida no sítio

histórico da cidade de Parnaíba-PI, na primeira metade do século XX. Trata-se de um

patrimônio arquitetônico que se ressalta por sua riqueza e diversidade; por isso constitui

valorosa fonte de pesquisa para os estudos transdisciplinares. Desse modo, a História, bem

como o Ecletismo parnaibano foi estudado a partir dos aspectos sociais, culturais e

econômicos. Para tanto, procurou-se demonstrar a relação entre essa arquitetura e a Belle-

Époque, bem como detalhar os diversos estilos e movimentos que o influenciaram. Ao

analisar suas características, em especial, sua singularidade, foi dada ênfase, principalmente,

aos variados estilos empregados, a um método próprio que o particularizou e que constituiu

uma tipologia própria aqui denominada de “Associação de Categorias”. Para destacar a

importância do Ecletismo como formador da identidade da cidade de Parnaíba e constituinte

de uma de suas mais valorosas particularidades ─ a diversidade ─ foram utilizadas pesquisas

comparativas, levantamentos arquitetônicos pré-existentes, bem como fontes iconográficas,

fontes hemerográficas e também fontes bibliográficas. Por fim, objetivou-se constatar o que

foi o Ecletismo parnaibano, como esse estilo, preponderante na arquitetura do sítio histórico

local, foi executado de maneira singular e, ainda, como esse fato permanece importante para

constituir o cenário, a História e a identidade da cidade.

Palavras-chaves: Parnaíba. História. Arquitetura. Ecletismo. Identidade.

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ABSTRACT

The present work analysed the History through the eclectic architecture found at the historical

site of the city of Parnaiba- Pi, in the first half of the XX centure. It is an architectural

patrimony that stands out for its wealth and diversity; therefore it constitutes a rich source of

research for a wide range of subjects. So, History as the Eclecticism in Parnaiba was studied

starting from the social, cultural and economical aspects. For that, this study tried to detach

the relationship between that architecture and the Belle-Epoch, as well as to detail the several

styles and movements that influenced it. When analyzing their characteristics, especially its

singularity, emphasis was given, mainly, to the varied used styles and the proper method that

particularized it, what constituted a proper typology here denominated of “Association of

Categories”. To detach the importance of the Eclecticism as an expression of the identity of

the city of Parnaiba and one of its worthy particularities - the diversity – comparative

researches, pre-existent architectural surveys were used as well iconographical sources,

printed sources, and also bibliographical sources. Finally, this study aimed at establishing

what the Eclecticism was in Parnaiba, how this style, preponderant in the architecture of the

historical site of the city, was accomplish in a singular way and, still, continues important to

establish the History and scenery of the city.

Keywords: Parnaiba - History - Architecture - Eclecticism - Identity

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Carta Cartográfica da Capitania do Piauhi e parte das adjacentes

levantada por João Antonio Galucil, em 1761................................

36

Figura 2 – Esquemas da implantação das igrejas e praças no Piauí.................

37

Figura 3 – Detalhe da Praça do Pelourinho na Vila de São João da Parnaíba,

cópia de Joze Pedro Cezar de Menezes, em 1809..........................

38

Figura 4 Mapa da Villa de São João da Parnaíba em 1798, acrescentado as

nomenclaturas dos logradouros atualmente....................................

41

Figura 5 – Mapa da Villa de São João da Parnaíba em 1809, acrescentado as

nomenclaturas dos logradouros atualmente....................................

42

Figura 6 – Fachada principal do solar da “Casa Inglesa”................................

46

Figura 7 – Detalhe da antiga pintura da sala da Casa Inglesa..........................

46

Figura 8 – Fotografia mostrando o embarque do babaçu no Porto Salgado,

próximo à Rua Grande, no Almanaque de 1924.............................

48

Figura 9 – Sede do Banco do Brasil na Praça da Graça, no Almanaque de

1924................................................................................................

50

Figura 10 – Cine Teatro Éden, no Almanaque de 1926.....................................

51

Figura 11 – Parte da Rua Grande, atual Av. Getúlio Vargas, com a Casa

Inglesa ao fundo, na década de 1930..............................................

52

Figura 12 – Casa sito a Av. Presidente Getúlio Vargas, 956, Parnaíba, PI,

década de 1930................................................................................

53

Figura 13 – Fotografia do jardim Landri Sales, no Almanaque de 1937...........

53

Figura 14 – Fotografia do jardim Landri Sales, no Almanaque de 1937...........

53

Figura 15 – Teatro Municipal de São Paulo, em 1920.......................................

67

Figura 16 – Ópera de Paris, séc. XXI.................................................................

67

Figura 17 – Os novos edifícios da Avenida Central em fase de construção,

em 1905, por João Martins Torres..................................................

69

Figura 18 – Teatro Municipal do Rio de Janeiro, c. de 1909.............................

70

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Figura 19 – Ópera de Paris, séc. XXI.................................................................

70

Figura 20 – Fotografia da Avenida Presidente Getúlio Vargas nos anos 1930,

em Parnaíba, PI...............................................................................

73

Figura 21 – Fotografia da Avenida Presidente Getúlio Vargas nos anos 1930,

em Parnaíba, PI...............................................................................

74

Figura 22 – Fotografia da Avenida Presidente Getúlio Vargas nos anos 1930,

em Parnaíba, PI...............................................................................

74

Figura 23 – Fotografia da Avenida Presidente Getúlio Vargas nos anos 1930,

em Parnaíba, PI...............................................................................

75

Figura 24 – Residência situada à Rua Pires Ferreira, 783, Parnaíba, PI............

76

Figura 25 – Casa de tipologia eclética sito à Rua Cel. José Narciso, 844,

Parnaíba, PI.....................................................................................

78

Figura 26 – Planta de residência na primeira fase do Ecletismo........................

80

Figura 27 – Planta Baixa da Mansão Figner, em São Paulo..............................

81

Figura 28 – Planta Baixa da Mansão Figner, em São Paulo..............................

81

Figura 29 – Detalhe da fachada do sobrado Simplício Dias, sito à Av.

Presidente Getúlio Vargas, 308, Parnaíba, PI.................................

84

Figura 30 – Sobrado Mirante, sito à Rua Duque de Caxias, 614 e 618,

Parnaíba, PI.....................................................................................

84

Figura 31 – Casa Inglesa, sito à Av. Presidente Getúlio Vargas, 235,

Parnaíba, PI.....................................................................................

87

Figura 32 – Casa de tipologia proto-eclética, sito à Av. Presidente Getúlio

Vargas, 164, Parnaíba, PI................................................................

88

Figura 33 – Chalé em Olinda, Pernambuco.......................................................

88

Figura 34 – Chalé sito à Av. Presidente Getúlio Vargas, 458............................

88

Figura 35 – Casa de tipologia chalé, sito à Av. Presidente Getúlio Vargas,

684, Parnaíba, PI.............................................................................

90

Figura 36 – Memorial de Medicina de Pernambuco..........................................

93

Figura 37 – Casa com dois pavimentos de tipologia neocolonial, sito à Av.

Presidente Getúlio Vargas, 694, Parnaíba, PI.................................

93

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Figura 38 – Casa no estilo Missões em Uberlândia, MG...................................

94

Figura 39 – Casa sito à Rua Humberto de Campos, 686, Parnaíba, PI..............

94

Figura 40 – Foto antiga da Casa Inglesa, primeira metade do século XX.........

103

Figura 41 – Fachadas do Sobrado Mirante, sito à Rua Duque de Caxias, 614

e 618, Parnaíba, PI..........................................................................

109

Figura 42 – Detalhe das telhas e cobertura do Sobrado Mirante, sito à Rua

Duque de Caxias, 614 e 618, Parnaíba, PI......................................

109

Figura 43 – Planta baixa do primeiro pavimento do Sobrado Mirante, sito à

Rua Duque de Caxias, 614 e 618, Parnaíba, PI..............................

110

Figura 44 – Planta baixa do segundo pavimento do Sobrado Mirante, sito à

Duque de Caxias, 614 e 618, Parnaíba, PI......................................

110

Figura 45 – Casa Inglesa, sito à Av. Presidente Getúlio Vargas, 235,

Parnaíba, PI.....................................................................................

112

Figura 46 – Detalhe da platibanda e do coruchéu na Casa Inglesa, sito à Av.

Presidente Getúlio Vargas, 235, Parnaíba, PI.................................

112

Figura 47 – Casa do Coronel José de Moraes Correa sito à rua a Grande, em

Parnaíba, PI. Fotografia do Almanaque de Parnaíba de 1926........

113

Figura 48 – Casa do Dr. Samuel Santos, em Parnaíba, PI. Fotografia do

Almanaque de Parnaíba de 1926....................................................

113

Figura 49 – Casa sito a Av. Presidente Getúlio Vargas, 956, Parnaíba, PI,

década de 1930................................................................................

114

Figura 50 – Casa de tipologia eclética, sito à Av. Presidente Getúlio Vargas,

515, Parnaíba, PI.............................................................................

114

Figura 51 – Casa de tipologia eclética, sito à Av. Presidente Getúlio Vargas,

657, Parnaíba, PI.............................................................................

114

Figura 52 – Casa de tipologia eclética, sito a Av. Presidente Getúlio Vargas,

956, Parnaíba, PI.............................................................................

115

Figura 53 – Casa de tipologia eclética, sito à Rua D. Pedro II, 1140, Parnaíba,

PI.....................................................................................................

115

Figura 54 – Casa de tipologia eclética, sito à Rua Cel. José Narciso, 844,

Parnaíba, PI.....................................................................................

115

Figura 55 – Planta baixa e de situação de residência eclética com afastamento

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lateral, sito à Rua Cel. José Narciso, 844, Parnaíba, PI.................. 115

Figura 56 – Casa de tipologia eclética, sito à Rua Ademar Neves, 1470,

Parnaíba, PI.....................................................................................

116

Figura 57 – Planta de situação de residência sito à Rua Ademar Neves, 1470,

Parnaíba, PI.....................................................................................

116

Figura 58 – Detalhe do porão na residência sito à Av. Presidente Getúlio

Vargas, 657, Parnaíba, PI................................................................

116

Figura 59 – Detalhe do óculo na residência sito à Rua Av. Presidente Getúlio

Vargas, 657, Parnaíba, PI................................................................

116

Figura 60 – Detalhe da cobertura na residência sito à Av. Presidente Getúlio

Vargas, 657, Parnaíba, PI................................................................

117

Figura 61 – Detalhe das telhas na residência sito à Rua Cel. José Narciso,

606, Parnaíba, PI.............................................................................

117

Figura 62 – Detalhe de forro ripado na residência sito à Av. Presidente

Getúlio Vargas, 657, Parnaíba, PI...................................................

117

Figura 63 – Detalhe do forro em zinco na residência sito à Rua Cel. José

Narciso, 844, Parnaíba, PI..............................................................

118

Figura 64 – Detalhe da janela e bandeira com vidros coloridos, na residência

sito à Av. Presidente Getúlio Vargas, 657, Parnaíba, PI................

119

Figura 65 – Detalhe do painel importado na residência sito à Av. Presidente

Getúlio Vargas, 657, Parnaíba, PI...................................................

119

Figura 66 – Detalhe da janela trazida de Belém – PA, na residência sito à Av.

Presidente Getúlio Vargas, 515, Parnaíba, PI.................................

119

Figura 67 – Planta baixa de situação de residência sito à Av. Presidente

Getúlio Vargas, 515, Parnaíba, PI...................................................

120

Figura 68 – Casa de tipologia eclética, sito à Rua Cel. José Narciso, 606,

Parnaíba, PI.....................................................................................

121

Figura 69 – Casa térrea de tipologia chalé, sito à Rua Riachuelo, 966,

Parnaíba, PI.....................................................................................

122

Figura 70 – Casa com dois pavimentos, de tipologia chalé, sito à Rua Vera

Cruz, 747, Parnaíba, PI...................................................................

122

Figura 71 – Detalhe da inclinação do telhado no chalé sito à Av. Presidente

Getúlio Vargas, 458, Parnaíba, PI...................................................

123

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Figura 72 – Detalhe de telhado chanfrado em residência sito à Av. Presidente

Getúlio Vargas, 474, Parnaíba, PI...................................................

123

Figura 73 – Planta baixa do chalé térreo, sito à Rua Riachuelo, 966, Parnaíba,

PI.....................................................................................................

123

Figura 74 – Casa térrea de tipologia neocolonial, sito à Rua Desembargador

Freitas, 878, Parnaíba, PI................................................................

124

Figura 75 – Casa com dois pavimentos de tipologia neocolonial, sito à Av.

Presidente Getúlio Vargas, 694, Parnaíba, PI.................................

124

Figura 76 – Casa chamada de bungalow, sito à Rua Humberto de Campos,

686, Parnaíba, PI.............................................................................

124

Figura 77 – Detalhe do gradil da residência sito à Av. Presidente Getúlio

Vargas, 694, Parnaíba, PI................................................................

125

Figura 78 – Planta baixa do primeiro pavimento de residência neocolonial

sito à Av. Presidente Getúlio Vargas, 694, Parnaíba, PI................

125

Figura 79 – Casa com tipologia Associação de Categorias, sito à Rua Cel.

José Narciso, 740, Parnaíba, PI.......................................................

126

Figura 80 – Casa com tipologia Associação de Categorias, sito à Rua D.

Pedro II, 1478, Parnaíba, PI............................................................

126

Figura 81 – Casa com tipologia Associação de Categorias, sito à Av.

Presidente Getúlio Vargas, 769, Parnaíba, PI.................................

127

Figura 82 – Casa com tipologia Associação de Categorias, sito à Rua

Simplício Dias, 265, Parnaíba, PI...................................................

127

Figura 83 – Detalhe dos beirais de residência sito à Rua Simplício Dias, 265,

Parnaíba, PI.....................................................................................

128

Figura 84 – Detalhe da fachada de residência sito à Rua Simplício Dias, 265,

Parnaíba, PI.....................................................................................

128

Figura 85 – Planta baixa da residência de tipologia Associação de Categorias,

sito à Rua Simplício Dias, 265, Parnaíba, PI..................................

128

Figura 86 – Fotografia da Praça da Graça, no Almanaque de 1937...................

130

Figura 87 – Meia-morada, sito à Rua Duque de Caxias, 824.............................

132

Figura 88 – Casa de tipologia eclética, sito à Av. Presidente Getúlio Vargas,

657, Parnaíba, PI.............................................................................

132

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Figura 89 Casa de tipologia eclética, sito à Av. Presidente Getúlio Vargas,

657, Parnaíba, PI.............................................................................

133

Figura 90 Planta baixa de situação de residência sito à Av. Presidente

Getúlio Vargas, 515, Parnaíba, PI...................................................

133

Figura 91 Casa com dois pavimentos de tipologia neocolonial, sito à Av.

Presidente Getúlio Vargas, 694, Parnaíba, PI.................................

134

Figura 92 Estudo de Proteção do sítio histórico de Parnaíba realizado pelo

IPHAN-PI em 2006........................................................................

138

Gráfico 1 – 1 - Descaracterizadas / 2 - Caracterizadas......................................

99

Gráfico 2 – 1- Residencial / 2 - Comercial e Residencial / 3 - Comercial /4 -

Institucional / 5 - Igrejas ou Templos.............................................

99

Gráfico 3 – 1 - Período Colonial / 2 - Proto-Ecletismo / 3 – Ecletismo / 4 -

Chalé 5 - Neocolonial / 6 - Associação de categorias / 7 - Art

Déco / 8 - Modernismo...................................................................

101

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO............................................................................................. 18

2 PARNAÍBA: História e memória................................................................ 25

2.1 História, cidades e Arquitetura.................................................................... 25

2.2 Formas e significados na construção de Parnaíba..................................... 29

2.3 Parnaíba: Política, Economia e Urbanismo................................................ 34

2.3.1 Os primeiros momentos.................................................................................. 34

2.3.2 O desenvolvimento econômico e urbano de Parnaíba.................................... 44

3 O MÉTODO ECLÉTICO PARNAIBANO: hibridismo e tradução

cultural...........................................................................................................

56

3.1 O Ecletismo: aspectos conceituais relevantes............................................. 56

3.2 O Ecletismo e a Belle Époque ...................................................................... 63

3.3 O Ecletismo e a Belle Époque em Parnaíba................................................ 72

3.4 Mudanças e transformações que caracterizam o Ecletismo..................... 76

3.5 Antecedentes e inspirações: o Ecletismo em Parnaíba.............................. 83

3.5.1 A Arquitetura Tradicional............................................................................... 83

3.5.2 Arquitetura Neoclássica.................................................................................. 85

3.5.3 A inspiração no Chalé..................................................................................... 88

3.5.4 O Neocolonial................................................................................................. 90

3.5.5 O Art Déco...................................................................................................... 94

4 O ECLETISMO EM PARNAÍBA: a construção do método eclético

local.................................................................................................................

97

4.1 O Ecletismo: aspectos comparativos........................................................... 97

4.2 A residência.................................................................................................... 102

4.3 O método eclético parnaibano...................................................................... 104

4.4 As tipologias do Ecletismo parnaibano....................................................... 106

4.4.1 Tipologia “Período Colonial” e “Proto-Ecletismo”: antecedentes do

Ecletismo em Parnaíba.................................................................................... 107

4.4.2 Tipologia Ecletismo........................................................................................ 112

4.4.3 Tipologia Chalé: a principal inspiração parnaibana........................................ 121

4.4.4 A tipologia Neocolonial.................................................................................. 123

4.4.5 A tipologia “Associação de Categorias”......................................................... 126

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4.5 As residências ecléticas parnaibanas: o patrimônio cultural da cidade... 129

4.5.1 As relações e o programa das residências ecléticas em Parnaíba................... 129

4.5.2 O patrimônio cultural parnaibano................................................................... 135

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................... 140

REFERÊNCIAS............................................................................................ 143

APÊNDICES................................................................................................... 149

ANEXOS......................................................................................................... 197

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1 INTRODUÇÃO

A presente dissertação analisou a relação entre a História e a Arquitetura produzida em

Parnaíba, cidade do Norte do Piauí, localizada a 336 km da capital Teresina, na primeira

metade do século XX. Enfatizou a arquitetura eclética residencial, presente no sítio histórico,1

a partir da qual se procurou refletir sobre fatores como economia, política, cultura e, também,

sobre as relações no âmbito dessas residências parnaibanas, que contribuíram para a

configuração do social, dentro dos recortes espaciais e temporais estudados.

O tema proposto, dentro do campo historiográfico, relaciona-se com a História das

Cidades. Quanto à Arquitetura e Urbanismo, diz respeito à História da Arquitetura, que elege

o conjunto urbano central de Parnaíba, considerando, principalmente, seu antigo casario, de

onde se podem recolher elementos característicos dos edifícios construídos na primeira

metade do século XX, quando a arquitetura local recebeu diversas influências. A escolha do

tema e do contexto empírico foi motivada pela riqueza e diversidade da arquitetura produzida

durante o período mencionado, no cenário do sítio histórico da cidade, e pela carência de

estudos científicos nesta área, no cenário acadêmico piauiense, ou seja, que tratem da história

da arquitetura local.

A partir dessa constatação e à luz da História Cultural, que se destaca pelas múltiplas

abordagens, pelos mais variados problemas de estudo, e, principalmente, pela

interdisciplinaridade, este trabalho viabilizou a união entre História, Arquitetura e o objeto

Cidades, no caso específico, Parnaíba. Como afirma Leonardo Benévolo,2 a noção de cidade

enquanto corpo físico da vida humana é objeto dos arquitetos e historiadores da arquitetura; e

a noção de cidade enquanto corpo social é, principalmente, o objeto dos historiadores em

geral.

Assim, o que se pretendeu nesta pesquisa foi a junção dessas duas noções. Também

Lúcia Silva3 corrobora com esse pensamento quando explica:

1 Sítio histórico é o local das primeiras manifestações, das primeiras intervenções humanas; espaço criado e

transformado pela atividade humana, ao longo do tempo e da história; termo utilizado no sentido em que

corresponde ao perímetro definido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – 19ª

Superintendência Regional (IPHAN-PI), para a uma proposta de proteção municipal solicitada pela Prefeitura

Municipal de Parnaíba, em 2006. 2 BENÉVOLO, Leonardo. A cidade e o arquiteto: método e história na arquitetura. São Paulo: Perspectiva,

2006. 3 SILVA, Lúcia. A cidade do Rio de Janeiro nos anos 20: urbanização e vida urbana. In: FENELON, Déa (Org.).

Cidades. São Paulo: Olho d‟água e Programa de história/PUC-SP, 1999. p. 56-57.

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19

[...] Analisar a cidade a partir do fato urbano, que se constrói na imbricação

das temporalidades das relações sociais sobre os espaços, remetendo-se ao

território, é o primeiro passo para dar inteligibilidade ao território citadino,

além, é claro, de construir o tão desejado diálogo interdisciplinar. O

arquiteto ao salientar que os problemas urbanos devem ser entendidos à luz

das questões sociais, mesmo que não consiga caracterizá-los ou defini-los

historicamente, busca uma aproximação com a história. Cabe ao historiador

analisar minuciosamente como se conforma e se caracteriza a sociedade que

produziu esses problemas, articulando as questões estéticas e técnicas aos

problemas sociais. Ao fazer isto, pode-se dizer que pelo menos com os

arquitetos e urbanistas esse diálogo se tornará mais fecundo.

O recorte espacial da pesquisa é o sítio histórico urbano de Parnaíba, local de maior

desenvolvimento da arquitetura eclética na cidade. Essa produção ocorreu, principalmente, na

primeira metade do século XX, que é o recorte temporal abordado. Deve-se enfatizar, porém,

que, desde o século XVIII, Parnaíba foi uma cidade que prosperou, devido à sua economia

baseada, sobretudo, no comércio de exportação, efetuado com parte do País e alguns países da

Europa, como Inglaterra e Portugal, pelas vias fluvial e marítima, dos produtos do

extrativismo local.

Deste modo, manteve contato não apenas com o restante do País, Estados como Belém

e Rio Grande do Sul, mas também com a Europa e Estados Unidos. Foi através das trocas

comerciais estabelecidas que a arquitetura produzida nas mais diferentes regiões do mundo foi

conhecida na cidade. E essa comunicação se deu não só pelas ligações comerciais, mas ainda

pela sociedade local que, ao mesmo tempo ávida pelo progresso e por participar do contexto

mundial, não abandonou totalmente os vínculos com o passado, cujos traços ficaram

expressos de alguma forma nesta produção.

Os setores economicamente dominantes em Parnaíba, na primeira metade do século

XX, no esforço por distinguir-se socialmente, utilizaram suas residências como símbolos de

ascensão social, afinal, a linguagem arquitetônica expressa não apenas a função utilitária, mas

também a função simbólica, como afirma Bresciani:

[...] A despeito do grotesco quase sempre presente na maioria das

construções sublimes não se pode negar que o ecletismo no estilo, a profusão

de objetos díspares, colunas, arcadas, rotundas, recortes, nichos, divisões

internas e externas tem uma função aparente, gradeados de ferro retorcendo-

se sempre no mesmo eterno desenho e as luzes em quantidades suficientes

para estabelecer um forte contraste entre o claro e o sombrio, produzisse nas

pessoas que as frequentavam uma sensação de perplexidade devota.4

4 BRESCIANI, M. S. M. Londres e Paris no século XIX: o espetáculo da pobreza. 3. ed. São Paulo:

Brasiliense, 1985. p. 43.

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A partir do século XIX, as construções mais antigas do sítio histórico parnaibano

cederam lugar à nova arquitetura, e as residências da cidade passam a mostrar os vários

momentos e influências do Ecletismo, um movimento arquitetônico que se caracterizou pelas

mais variadas formas oriundas de diferentes regiões e de épocas ditintas da História da

Arquitetura. Muito difundido nas fachadas, reuniu vários estilos, empregando-os em um

mesmo edifício de maneira livre.

Parnaíba, na primeira metade do século XX, era uma das cidades piauienses mais

desenvolvidas economicamente, e, através de suas relações econômicas, buscou espelhar-se

nos grandes centros, nas grandes metrópoles. Ao Ecletismo produzido na cidade foram

acrescentadas marcas que conferiram a singularidade dessa produção em relação à arquitetura

eclética, que aconteceu em outras cidades e países, como, por exemplo, em Belém ou no Rio

de Janeiro; afinal, quando determinado estilo chega e encontra uma produção já existente,

essa arquitetura se adapta, molda-se às especificidades de cada lugar.

Também é nesse período que um bom arquiteto deveria conhecer o maior número de

estilos possíveis, para, desse modo, atender à grande diversidade de gostos deste extrato

social, ansioso por escolher o estilo que mais lhe agradava. Acrescente-se que, mesmo não

dispondo de todos os materiais, técnicas construtivas e profissionais adequados à realização

dos projetos, parte da população desse referido extrato social fez com que as construções e

transformações arquitetônicas, em Parnaíba, ganhassem significativo impulso entre o início e

meados do século passado.

De acordo com esse panorama, e com a premissa de que o Ecletismo é a tipologia

arquitetônica predominante nas edificações residenciais situadas no sítio histórico da cidade,

apresentam-se, para este trabalho, as seguintes questões norteadoras: ─ O que singulariza o

Ecletismo parnaibano? O que o torna único, particular e o distingue em relação às outras

produções arquitetônicas ecléticas? Historicamente, como seria possível explicar esta

singularização? O Ecletismo parnaibano poderia ser um meio para expressar marcos

característicos da cidade de Parnaíba e de sua sociedade, ou seja, seria um componente

formador da identidade local? Quais as relações entre as condições econômicas, sociais,

políticas e culturais existentes na cidade de Parnaíba, na primeira metade do século XX e os

aspectos do Ecletismo local?

Após expostos os questionamentos norteadores, elencam-se os objetivos da pesquisa,

quais sejam: ─ estudar a arquitetura parnaibana produzida na primeira metade do século XX,

no sítio histórico urbano da cidade, destacando as edificações residenciais de tipologia

eclética que contribuem para o estudo; oferecer respostas quanto à importância da arquitetura

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para a constituição dos espaços sociais, tendo em vista que “o espaço é o lugar praticado” e

que “existem tantos espaços quantas experiências espaciais distintas”;5 identificar e estudar

características sociais, econômicas e culturais na cidade durante a primeira metade do século

XX, período em que se expande a Belle-Epoque na cidade, para, a partir daí, interpretar as

possíveis relações com as especificidades do Ecletismo praticado em Parnaíba; e indagar

sobre as diversas relações que estão implicadas no fazer arquitetônico.

Nesse momento, deve ser esclarecida então a hipótese aqui levantada, o problema

proposto, que trata do Ecletismo híbrido parnaibano e que objetiva compreender a construção

arquitetônica do método eclético local; ou seja, a maneira particular com a qual o Ecletismo

ocorreu na cidade, uma arquitetura que, mesmo originária da Europa e dos principais centros

do País, ao chegar a Parnaíba, transformou-se.

A partir de estudos como os de Hall,6 Woodward,

7 e Santos,

8 entendeu-se que esse

hibridismo, as especificidades tão presentes na produção arquitetônica local são importantes

para enxergar parte do fazer-se da identidade parnaibana, deixando claro que, na conceituação

de identidade aqui abordada, foi considerada aquela que não é única, mas sim plural,

construída pelas diferenças e, portanto, que se expressa através das mesmas. Desejou-se

mostrar que a diversidade é um dos principais componentes formadores da produção

arquitetônica em Parnaíba na primeira metade do séc. XX.

Para melhor compreensão do tema, foi feita uma contextualização do período em

estudo, o que se costuma nomear de Belle-Epoque. Essa abordagem é muito importante para

que se entendam as relações que ocorrem nos mais variados campos que permeiam as cidades,

como o histórico, o social e o arquitetônico. Foram detalhados, ainda, os diversos estilos e

movimentos ocorridos na arquitetura local deste período, suas características e as principais

influências recebidas, destacando sua importância como representante de uma época, e

levando-se também em consideração aspectos históricos, sociais e econômicos.

Para tanto, utilizou-se inicialmente o método cartesiano de estudar esta produção

arquitetônica do geral para o particular, pesquisando como estes estilos e movimentos se

manifestaram no contexto ocidental, no Brasil, até chegar a Parnaíba, bem como procurou-se

5 CERTEAU, M. de. A invenção do cotidiano 1. Artes de Fazer. Petrópolis: Vozes, 2008.

6 HALL, S. Quem precisa de identidade? In: SILVA, T. T.da. (Org.). Identidade e diferença: a perspectiva dos

estudos culturais. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000. 7 WOODWARD, K. Identidade e diferença: uma introdução teórica e conceitual. In: SILVA, T. T. da (Org.).

Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000. 8 SANTOS, R. N. L. dos. A cidade de Timon (MA) na década de 80 do século XX. In: NASCIMENTO, F. A.

do.; VAINFAS, R. (Org.). História e historiografia. Recife: Bagaço, 2006.

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entender os estilos e influências arquitetônicas anteriores, e conhecer a história local,

abordando-a a partir da história da ocupação do território piauiense.

Todas as informações pertinentes, necessárias à pesquisa, foram obtidas através de

fontes iconográficas, o que compreendeu acervos fotográficos do período em estudo ─

primeira metade do século XX; acervos fotográficos contemporâneos, pois o método

comparativo foi importante para a pesquisa; acervos fotográficos que tratam de exemplares do

Ecletismo praticado em outras cidades brasileiras, bem como em outros países nesse período;

e ainda cartões postais de Parnaíba que retratam a cidade no momento abordado na pesquisa.

Foram utilizadas também fontes hemerográficas que compreenderam: exemplares do

“Almanaque da Parnaíba”, principalmente aqueles publicados no período pertinente à

pesquisa, e também alguns números posteriores, mas que contêm matérias relevantes para

compreender a vida social, econômica e cultural da cidade.

Destaca-se que, para entender a construção da história da cidade de Parnaíba, fez-se

necessário recorrer à história e historiografia piauiense, a fim de recolher fragmentos para

entender a história parnaibana. Também foram procurados documentos, como os registros

cartoriais do período, e partes da legislação municipal que pudessem conter itens como

Código de Postura e a Lei Orgânica do município, mas nada foi encontrado. Esse

esclarecimento foi antecipado, visto que o leitor pode notar a ausência dessas informações no

decorrer do trabalho. Verificou-se que não existiam ainda esses instrumentos normativos no

período e tampouco qualquer documentação pertinente.

Deve ser ressaltada a importância de alguns levantamentos de dados preexistentes

sobre as edificações de Parnaíba pelas instituições locais – como o Instituto do Patrimônio

Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) – e dados especialmente levantados in loco para este

estudo, o que possibilitou formar uma base de informações cadastrais que permitiu a análise

das características dessas edificações erguidas na primeira do século XX.

Assinale-se que também foram muito caros ao estudo os levantamentos arquitetônicos,

as análises comparativas das tipologias estilísticas existentes no sítio histórico e dos

exemplares de maior relevância dentro de cada tipologia predominante no tecido urbano deste

sítio, elaborados com base no que se entende como o ponto de partida desse trabalho, a

monografia constituída como trabalho final de Graduação, exigido para a conclusão do Curso

de Arquitetura e Urbanismo do Instituto Camillo Filho, intitulada “Parnaíba Cosmopolita: um

estudo da sua arquitetura vinculada às formas tradicionais e às inovações da segunda metade

do século XIX e primeira metade do século XX”.

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O corpo desta dissertação está dividido nas seguintes partes: 1 Introdução, com os

esclarecimentos norteadores. 2 Parnaíba: história e memória, onde foi realizada uma

abordagem sobre as relações entre História, cidades e Arquitetura; também são enfatizados

alguns conceitos relevantes para o bom entendimento da pesquisa, tais com memória,

identidade, espaço; traz, por fim, um panorama da história política, econômica e urbanística

da cidade desde os tempos primeiros, bem como o desenvolvimento econômico e urbano do

período em questão. 3 O Método Eclético Parnaibano: hibridismo e tradução cultural, aqui

foram relatados os aspectos conceituais relevantes do Ecletismo; sua relação com a Belle-

Epoque; como esses acontecimentos se deram em Parnaíba; e as mudanças e transformações

que caracterizam o Ecletismo, assim como seus antecedentes e influências, necessários para o

bom entendimento do movimento. 4 O Ecletismo em Parnaíba: a construção do método

eclético local. Nesta parte do trabalho, foram expostos dados relacionados à quantidade, por

exemplo, e que contribuem para a compreensão do método eclético local; e ainda

identificadas as tipologias existentes no sítio histórico urbano, suas principais características,

bem como a importância enquanto patrimônio cultural da cidade.

Por último, as “Considerações Finais”, seguidas das “Referências”, que constituem o

embasamento teórico fundamental, juntamente com os “Apêndices”, que trazem diversas

informações como fichas cadastrais e arquivos de fotos; e os “Anexos”, contendo fontes

iconográficas, como os mapas da cidade e do sítio histórico de Parnaíba.

Espera-se com este estudo aprimorar o conhecimento não só acerca da produção

arquitetônica em Parnaíba, mas também no contexto regional. A partir de pesquisas como

esta, pode-se contribuir também para a adoção de políticas urbanas, setoriais ou específicas,

que resultem na preservação, na salvaguarda do patrimônio cultural edificado no sítio

histórico da cidade. Pesquisas deste gênero podem ainda colaborar nos estudos sobre a

arquitetura piauiense, para que estudantes e profissionais tenham mais fontes de estudo que

possibilitem melhor desenvolvimento dos trabalhos, e para que haja maior conscientização

quanto à importância da conservação do patrimônio edificado.

Ressalte-se que a História, e, também nesse caso, a História da Arquitetura

possibilitam a compreensão da cultura, dos hábitos das pessoas. No que diz respeito à

Arquitetura e Urbanismo, entende-se que somente com esses conhecimentos pode-se projetar

edifícios que atendam às expectativas e às necessidades da sociedade, ao tempo em que

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conservem a identidade desses espaços. Ao entender suas raízes e formação cultural, as

pessoas podem preservar seu passado e construir melhor o presente.*

* Ao longo do texto, para sua construção, foram utilizadas citações originadas de periódicos, entre outras fontes,

nas quais se manteve, na íntegra, a ortografia usada à época. Dito de outro modo, não se usou, nesta dissertação,

o recurso grifo meu/nosso em palavras escritas assim, por exemplo, vae, horisontes, espansões etc.

(ALMANAQUE DA PARNAÍBA. Parnaíba: Ranulpho Torres Raposo, 1937. p. 67).

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2 PARNAÍBA: História e memória

2.1 História, cidades e Arquitetura

Esta pesquisa foi constituída a partir da Escola dos Annales, quando os historiadores

saíram à busca de novos temas, novos campos de estudo, novas questões, novos problemas,

de modo a se distanciar da visão totalizante da história. Para tanto, reformularam

metodologicamente o trabalho com fontes novas e outras já utilizadas, iniciando assim a

História Cultural, que, de acordo com Peter Burke,9 caracterizou-se, sobretudo, pela

multiplicidade da abordagem e do objeto, proporcionando uma visão histórica pautada na

diversidade.

A Nova História Cultural, assim chamada por Lynn Hunt,10

buscou uma nova forma

de trabalhar a cultura, pensá-la como um conjunto de significados construídos e partilhados

pelos homens, para explicar o mundo, um modo de expressão e tradução da realidade que se

fez de forma simbólica.11

Nesse contexto, o presente trabalho buscou dialogar com a complexidade da Cidade e

sua Memória. Tal complexidade construiu sentidos e significados que só puderam ser

compreendidos a partir do entendimento de que “[...] a história cultural tem por principal

objeto identificar o modo como em diferentes lugares e momentos uma determinada realidade

social é construída, pensada, dada a ler. Uma tarefa desse tipo supõe vários caminhos [...]”.12

A História é dinâmica e cada historiador faz interpretações de acordo com sua própria

natureza e suas experiências pessoais; ou seja, não há padrões absolutos e sim perspectivas

relativas, como explica Rezende ao dizer:

[...] o olhar do historiador sobre o passado carrega as imagens de sua época,

as indefinições do seu tempo, as cores pouco nítidas das suas inquietações. O

seu olhar busca a possibilidade de conseguir contribuir para conhecer o

labirinto em que se encontra, a eterna busca de saídas, apesar do refazer

constante de labirintos. Mesmo contextualizando e definindo bem seu objeto,

o historiador não deve silenciar a diversidade, produzir um discurso

homogêneo, porém mostrar como as histórias se interpenetram, se chocam e,

9 BURKE, P. Variedades de história cultural. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000.

10 HUNT, L. A nova história cultural. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

11 PESAVENTO, S. J. História & história cultural. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2004.

12 CHARTIER, R.. A história cultural: entre práticas e representações. Lisboa: Difel, 1988. p. 17.

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sobretudo, na perspectiva das representações, na construção do imaginário

[...].13

Debruçar-se sobre o passado não significa encontrar modelos determinados, mas sim

buscar perguntas dentro das próprias vivências, de modo que se perceba o objeto a partir de

um lugar histórico próprio de cada historiador. Valéry14

afirma que é necessário historicizar o

tempo histórico, do contrário correr-se-ia o risco de construir uma história anacrônica.

Para Benévolo,15

o termo cidade pode ser empregado em dois sentidos: para indicar

uma organização concentrada e integrada ─ a sociedade; ou como uma situação física ─ o

espaço onde se inseriu esta sociedade. Em muitos casos, o espaço construído é mais durável

do que a existência temporal de um grupo, e, desse modo, esse espaço construído contém

muitas informações sobre as características da sociedade. Por isso é tão importante o estudo

do passado através das construções, haja vista que, além das informações impressas em suas

partes físicas, seus espaços podem também ser experimentados, pois ainda fazem parte do

presente. Daí por que os edifícios antigos são testemunhos da memória da cidade.

Dessa forma, a cidade passou a ser um dos principais temas de análise da História, que

conta agora com a transdisciplinaridade de outros campos, como, por exemplo, a Literatura, a

Sociologia, a Antropologia, a Arte e, como no presente estudo, com a Arquitetura e o

Urbanismo, que, através de suas técnicas e ferramentas, estabelece amplo diálogo com a

História e ajuda a perceber as diversas maneiras de ler as cidades.

Sobre o assunto, Pesavento afirma que “a cidade é, por excelência, um objeto de

múltiplos olhares, escritas e leituras, que traduzem, por sua vez, uma pluralidade de saberes e

sensibilidades sobre o fenômeno urbano”.16

Compreende-se assim que a História das Cidades

envolve os mais diversos campos e cada vez mais é objeto de reflexão de mais estudiosos.

Desde as primeiras tentativas de planejamento urbano e da busca pela cidade ideal,

alguns autores refletiram acerca do passado das cidades, das formas de ordenamento e das

funções enquanto urbe ao longo do tempo.17

Grandes contribuições para o estudo das cidades

trouxeram também os trabalhos de Walter Benjamin, sobre a Paris do século XIX e a respeito

de Charles Baudelaire, o flâneur por excelência. Recorrendo à Literatura europeia do século

13

REZENDE, A. P. Desencantos modernos: histórias da cidade do Recife na década de XX. Recife:

FUNDARPE, 1997. p. 15. 14

VALÉRY, P. Variedades. São Paulo: Iluminuras, 1957. 15

BENÉVOLO, L. A cidade e o arquiteto: método e história na arquitetura. São Paulo: Perspectiva, 2006. 16

PESAVENTO, S. J. O imaginário da cidade: visões literárias do urbano: Paris, Rio de Janeiro, Porto Alegre.

2. ed. Porto Alegre: Universidade/UFRGS, 2002. p. 282. 17

RAMINELLI, R. História urbana. In: CARDOSO, C. F.; VAINFAS, R. Domínios da história. Rio de Janeiro:

Elsevier, 1997.

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XIX, para pensar as transformações provocadas pela modernidade, Walter Benjamin inovou,

ao tomar a cidade como objeto de estudo, e a partir da qual diversas podem ser as variáveis de

observação, lendo a cidade dentro de seu próprio tempo e ritmo.

A definição de cidade, que por muito tempo na historiografia permaneceu ligada a

aspectos econômicos e políticos, a partir dos anos de 1970, ganhou novos olhares. Segundo

Ítalo Calvino,18

as cidades são vistas sob a ótica dos símbolos, dos significados da existência

humana; a cidade nasce da confluência dos desejos, que faz surgir diversas cidades em uma

só, e do resultado das ações de quem governa, projeta e de quem a vivencia. Esse pensamento

de Calvino, que entende as “cidades invisíveis” construídas a partir da experiência de seus

usuários, foi associado à Parnaíba, que, aos poucos, se transformou em razão do fazer oficial

de quem a governava, mas principalmente através da invenção e transformações impostas por

quem a experimentava.19

Como diz Aldo Rossi,20

“a arquitetura é a cena fixa das vicissitudes do homem,

carregada de sentimentos de gerações, de acontecimentos públicos, de tragédias privadas, de

fatos novos e antigos”. Os edifícios, através da linguagem arquitetônica, apresentam dados

que refletem não só a função utilitária, mas também os significados, os desejos, as ambições,

a cultura de quem os usufrui.

A partir do final da década de 1960, a História da Arquitetura e do Urbanismo também

ampliou seus horizontes, e passou a perceber que as cidades são permeadas por outros muitos

aspectos que não só os racionais e físicos, mas psicológicos, sociais, culturais. A partir de

obras como a “História da Arquitetura Moderna”, de Leonardo Benévolo, a “A Imagem da

Cidade” de Kevin Lynch, e a “Arquitetura da Cidade” de Aldo Rossi, a cidade passa a ser

entendida como um bem histórico e cultural. Rossi vê a cidade como arquitetura, mas não só

de imagem, mas sim de construção da cidade ao longo do tempo, da criação do ambiente onde

vive a coletividade; entende ainda a arquitetura como a chave da leitura e da interpretação dos

fatos urbanos. Este autor entende

[...] a arquitetura em sentido positivo, como uma criação inseparável da vida

civil e da sociedade em que se manifesta; ela é, por natureza, coletiva. Do

mesmo modo que os primeiros homens construíram habitações e na sua

primeira construção tendiam a realizar um ambiente mais favorável a sua

vida, a construir um clima artificial, também construíram de acordo com

18

CALVINO, Í. As cidades invisíveis. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. 19

CERTEAU, M. de. A invenção do cotidiano: 1. Artes de Fazer. Petrópolis: Vozes, 2008. 20

ROSSI, A. A arquitetura da cidade. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001. p. 3.

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uma intencionalidade estética. Iniciaram a arquitetura ao mesmo tempo que

os primeiros esboços das cidades; a arquitetura é, assim, inseparável da

formação da civilização e é um fato permanente, universal e necessário

[...].21

O Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (ICOMOS), criado em 1964,

redigiu, em 1986, na cidade de Washington (Estados Unidos da América-EUA), a Carta

Internacional para a Salvaguarda das Cidades Históricas, ou Carta de Washington, na qual se

difundiu a ideia de que toda cidade é histórica e de que suas edificações são como dados em

um livro aberto, prontos a serem pesquisados, pois todas foram criadas e desenvolvidas a

partir da ação humana, deixando com isso um legado para a posteridade.22

As cidades são um misto de natureza e construções, público e privado, razão e

sentimentos, memórias, diálogos, experiências, comportamentos, crenças, desejos, conflitos,

enfim, diferentes aspectos econômicos, políticos, sociais e culturais. Nela, passado, presente e

futuro convivem com os mais diferentes personagens e protagonistas de uma História que,

como se compreende nos dias atuais, foi construída dia a dia e nos mais variados espaços.

São, portanto, além de locais de manipulação do poder, espaços sociais, repletos de

pluralidade, de diferenças e de transformações que deixam marcas e constituem as memórias

e a identidade do local. Todas essas mudanças, que ocorreram ao longo do tempo, ficaram

gravadas nos edifícios, nos monumentos, nas ruas e avenidas.

As cidades são consideradas, portanto, verdadeiras fontes de informações,

documentos. Por meio da análise de sua produção arquitetônica, podem ser percebidos

elementos constituintes de sua identidade; ou seja, um conjunto de caracteres próprios,

resultado dos costumes, tradições e ações do homem no seu meio cultural, que vão qualificá-

las e torná-las reconhecíveis. As edificações carregam consigo valores culturais, sociais e

econômicos de determinada época, e, através da arquitetura, é possível perceber muitas

informações capazes de decifrar a atmosfera sob a qual foram construídas. Como afirma

Raquel Rolnik,23

“[...] é como se a cidade fosse um imenso alfabeto, com o qual se montam e

desmontam palavras e frases [...]”.

Em busca do fazer historiográfico, foi relevante compreender que os edifícios, apesar

de serem inanimados e funcionarem como marcos de orientação, são, ao mesmo tempo,

espécies de organismos vivos que marcam os capítulos na trajetória das cidades, conferindo

21

ROSSI, op. cit., 2001, p. 1. 22

MELO, N. B. A. L. Parnaíba cosmopolita: um estudo da sua arquitetura vinculada às formas tradicionais e às

inovações da segunda metade do século XIX e primeira metade do século XX. Monografia (Graduação em

Arquitetura e Urbanismo) – Instituto Camillo Filho-ICF, Teresina, 2007. 23

ROLNIK, R. O que é cidade. São Paulo: Brasiliense, 2004. p. 18.

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legitimidade, mostrando a formação e as transformações ocorridas. Por estar em processo de

uso, estão sempre se modificando e agregando os vestígios das várias épocas percorridas.24

2.2 Formas e significados na construção de Parnaíba

Neste momento da pesquisa, é importante fazer alguns breves esclarecimentos para

que se possa dar segmento ao trabalho, como, por exemplo, no que diz respeito às edificações,

que surgem através de suas próprias formas físicas, mas também a partir do contexto que as

cerca, das formas urbanas. Ao mesmo tempo em que contribuem para as formas urbanas das

cidades, elas próprias são também formas urbanas. As formas são a parte material perceptiva.

Mas há algo mais que permeia os edifícios, sobretudo as residências ─ os significados ─ que

passam a fazer parte do inconsciente e do emocional de cada indivíduo, ligado de algum

modo àquela construção. Assim, as formas passam a fazer parte da memória individual e/ou

coletiva.

A partir da união entre forma e significado, surgem os símbolos, que representam

conteúdo material ou imaterial. Assim, as cidades, como os edifícios são, por sua vez,

símbolos. Como afirma Rama,25

“uma cidade, antes de aparecer na realidade, existe como

representação simbólica”.

Os edifícios são concebidos para significar algo, como condição social, por exemplo.

É o que ocorre na produção arquitetônica eclética, principalmente nas residências das pessoas

economicamente mais favorecidas, pois “nas habitações destinadas às camadas mais

abastadas tendia-se à utilização máxima de materiais importados e ao emprego das formas

arquitetônicas como símbolo de posição social”.26

Quando os símbolos identificam ou indicam algo tornam-se signos. A obra “Cidades

Invisíveis”, de Ítalo Calvino, traz a descrição das supostas cidades percorridas por Marco

Polo, conquistadas pelo império mongol de Kublai Khan. Algumas dessas cidades descritas

são marcadas pelos símbolos, como é o caso de Tamara:

[...] Se um edifício não contém nenhuma insígnia ou figura, a sua forma e o

lugar que ocupa na organização da cidade bastam para indicar a sua função:

o palácio real, a prisão, a casa da moeda, a escola pitagórica, o bordel.

Mesmo as mercadorias que os vendedores expõem em suas bancas valem

não por si próprias mas como símbolos de outras coisas: a tira bordada para

a testa significa elegância; a liteira dourada, poder; os volumes de Averróis,

sabedoria; a pulseira para o tornozelo, voluptuosidade. O olhar percorre as

24

MELO, N. B. A. L., op. cit., 2007. 25

RAMA, Angel. A cidade das letras. São Paulo: Brasiliense, 1985. p. 29. 26

REIS FILHO, N. G. Quadro da arquitetura no Brasil. 10. ed. São Paulo: Perspectiva, 2004. p. 180.

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ruas como se fossem páginas escritas: a cidade diz tudo o que você deve

pensar, faz você repetir o discurso, e, enquanto você acredita está visitando

Tamara, não faz nada além de registrar nomes com os quais ela define a si

própria e todas as suas partes. Como é realmente a cidade sob esse carregado

invólucro de símbolos, o que contém e o que esconde, ao se sair de Tamara é

impossível saber. [...]27

Acerca do termo “identidade” são muitas as discussões. Segundo a visão dos

antropólogos, a identidade é como uma reunião que nunca se concluirá de signos, referências,

influências, ou seja, de aspectos que definem ou caracterizam algo ou alguém. Para entedê-la,

é necessário o confronto e a identificação dos contrastes, das diferenças entre os pares.

Para os historiadores, as identidades são um campo de pesquisa para a História

Cultural. A identidade relaciona-se à noção de alteridade, que parte do pressuposto que é

necessário que existam diferentes coisas ou seres com diferentes características, para que,

assim, se encontrem as diferenças ou semelhanças entre os grupos ou elementos individuais.

Em outras palavras, a identidade é construída a partir da diferença;28

de modo que “identidade

e diferença são inseparáveis, pois uma depende da outra. A identidade constrói a diferença, e

a diferença constrói a identidade.”29

A noção de identidade do centro de Parnaíba se formou a partir dos edifícios existentes

e da memória que foi sendo construída, muitas vezes no silêncio, nas particularidades do

lugar. Ou seja, quando se utiliza o termo “Ecletismo Parnaibano”, refere-se a essa cidade dos

fins do século XIX até metade do século XX, localizada no extremo Norte do Estado do Piauí,

e que, por um condicionante de riqueza extrativista e de uma localização geográfica favorável,

absorveu e reelaborou um estilo arquitetônico praticado na Europa. Entende-se que a noção de

identidade não é uma condição posta, ao contrário, ela se modifica com as ações humanas e

ambientais, configurando uma situação de constante dinamismo. O Ecletismo ocorre na

arquitetura local a partir da transformação, configurando uma prática arquitetônica

particularizada, carregada de referências próprias do espaço de Parnaíba.

São utilizados, para os termos “espaço” e “lugar”, os conceitos de Michel de

Certeau,30

para quem “o espaço é um lugar praticado”. O lugar é uma configuração

instantânea de posições, e, desse modo, implica estabilidade. Já o espaço é algo que implica

27

CALVINO, Í., op. cit., 1990, p. 17-18. 28

WOODWARD, K. Identidade e diferença: uma introdução teórica e conceitual. In: SILVA, T. T. da. (Org.).

Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000. 29

SANTOS, R. N. L. dos. A cidade de Timon (MA) na década de 80 do século XX. In: NASCIMENTO, F. A.

do.; VAINFAS, R. (Org.). História e historiografia. Recife: Bagaço, 2006. p. 385. 30

CERTEAU, M. de., op. cit., 2008, p. 202.

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variedade de direção, velocidade e tempo; é animado pelos vários movimentos que nele se

encontram.

A proposta é identificar, reconhecer os espaços, através das transformações

arquitetônicas e da “usança”; ou seja, os espaços nos edifícios residenciais do sítio histórico

de Parnaíba foram percebidos e considerados, ressaltando seus aspectos físicos, bem como

seus significados.

Os edifícios, as residências são alguns dos “lugares da memória”;31

são referências

importantes, registros, expressões coletivas ou individuais, porque as memórias estão ligadas

aos espaços em que vivem os indivíduos e às relações desenvolvidas por eles, e que, por sua

vez, constroem os espaços. Como afirma Rossi,32

“a cidade e a região [...], enquanto pátria

artificial e coisa construída, também são testemunhos de valores, são permanência e

memória”.

Duarte33

entende que a memória coletiva é a memória da sociedade, da totalidade,

onde se inscrevem e transcorrem as memórias pessoais, e que, por sua vez, são os elos da

cadeia maior. Segundo os estudos de Maurice Halbwachs,34

a memória particular é aparente e

remete a um grupo, pois o indivíduo possui lembranças, mas está sempre interagindo com a

sociedade. Dessa forma, a memória individual é constituída em comunhão com a memória de

outros grupos.

Discutir memória também é relevante para o trabalho porque as memórias, coletivas

ou individuais, ajudam a formar as identidades, e também porque a História da Arquitetura

utiliza não só as próprias edificações como também muitas imagens; e as imagens, assim

como os textos e os próprios edifícios são um dos principais artifícios utilizados para guardar

ou disseminar tais experiências.

As memórias compõem a História. A História encontra na memória o suporte que as

transformará em registros. Cada indivíduo, grupo ou ainda geração relata suas memórias de

modo diferente, fazendo com que novos elementos sejam agregados ao patrimônio e passem a

fazer parte de uma porção da realidade que não muda de um momento para o outro, mas que é

permanente e que não se deixa atingir pelo tempo.

31

Criada pelo historiador francês Pierre Nora, a expressão “lugares de memória” significa os locais materiais ou

imateriais nos quais se encarnam ou cristalizam as memórias de uma nação e onde se cruzam memórias pessoais,

familiares e de grupo: monumentos, uma igreja, uma residência, um sabor, uma árvore centenária podem

constituir-se em “lugares de memória”, como espelhos nos quais, simbolicamente, um grupo social ou um povo

se “reconhece” e se “identifica”, mesmo que de maneira fragmentada. 32

ROSSI, A. op. cit., 2001, p. 22. 33

DUARTE, L. F. D. Memória e reflexividade na cultura ocidental. In: ABREU, R. CHAGAS, M. (Org.).

Memória e patrimônio: ensaios contemporâneos. 2. ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2009. 34

HALBWACHS, M. A memória coletiva. São Paulo: Vertice, 1990.

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32

Uma das maneiras de se preservar, registrar a memória é através das imagens e elas

carregam inúmeros significados diferentes. Os edifícios ou suas imagens são considerados

símbolos e signos, porque sempre representam e identificam ou indicam algo a alguém.35

As

fontes visuais são verdadeiros receptáculos de informações, as quais podem ser decifradas de

acordo com o interesse do observador; ou seja, uma pintura, por exemplo, pode fornecer

dados sobre a arquitetura, sobre os aspectos sociais, sobre determinado período, sobre o seu

autor e assim por diante.

Tendo em vista que o estudo a relação história e imagem é relevante para a pesquisa,

faz-se necessário porém entender como e por que o uso de imagem será aqui tão enfatizado,

sobretudo o uso de desenhos arquitetônicos (levantamentos físicos, como plantas baixas, por

exemplo), cartografias, gráficos e de fotografias, sendo as últimas um dos principais

instrumentos de análise deste trabalho, pois

[...] a fotografia é, antes de tudo, um olhar que recorta, seleciona, escolhe;

um olhar subjetivo cheio de emoção e de uma idéia de mundo: um olhar que

interpreta. E ao mesmo tempo um olhar que usa uma técnica e que precisa,

de alguma forma, dominar a máquina. Mas a fotografia supõe, ainda, outro

olhar: o olhar do apreciador, com sua história de vida, sua cultura, sua

emoção. Não consigo pensar fotografia apenas como índice, metonímia,

duplo do real e, apesar de reconhecer nela essa qualidade, vejo-a para além

do índice, como possibilidade metafórica, texto indireto e cheio de

reentrâncias, onde a coisa retratada pode esconder-se, e, no mais das vezes,

esconde-se, para além da imagem, no imaginário.36

As fontes iconográficas aqui utilizadas servem para identificar os aspectos urbanísticos

e arquitetônicos. As imagens não estão isoladas do contexto histórico, pelo contrário, elas

fazem parte desse contexto. Mapas, fotografias, gráficos substituem, dentro do possível, o

real; são um valioso elo entre o verbal e o visual; e é com base nesse pressuposto que são aqui

utilizados e analisados. Importa o conteúdo que as imagens trazem, pois um trabalho no qual

se busca entender a história de uma cidade através de sua arquitetura necessita da visualização

de pelo menos parte dessa produção arquitetônica e do espaço onde ela se encontra. Cadiou37

afirma que “[...] a imagem é um signo, ou um conjunto de signos, que traduz uma visão da

realidade e transmite um sistema de valores”.

35

COLIN, S. Uma introdução à arquitetura. Rio de Janeiro: UAPÊ, 2000. 36

PINHEIRO, J. Antropologia, arte, fotografia: diálogos interconexos. In: Cadernos de Antropologia e

Imagem. Rio de Janeiro: UERJ, 2000, v.10, n.1, p.130. 37

CADIOU, F. et al. Como se faz a história: historiografia, método e pesquisa. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007. p.

148.

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33

É necessário que a imagem seja entendida dentro da rede de imagens em que foi

produzida; deve ser, assim como toda fonte histórica, analisada, considerando o momento em

que foi produzida, e, se possível, descobrir o máximo de informação sobre esta. Entende-se

ainda que as imagens não se limitam à representação do real, mesmo que ela seja seletiva.

Mais que isso, a imagem produz um discurso sobre o real e, de acordo com o interesse e com

os variados pontos de vista, podem ser interpretados vários significados diferentes, sendo uma

fonte valiosa de pesquisa.

Outras relações consideradas pertinentes à pesquisa são as relações de poder. Para

Michel Foucault, o poder não é apenas centralizado, institucional, mas existe uma

multiplicidade de poder, uma rede de micropoderes que permeia toda a existência da

sociedade, e que também se encontra no sítio histórico de Parnaíba. Esses micropoderes

interferem ativamente na configuração dos espaços construídos na referida cidade.

A proposta aqui apresentada propõe aguçar o olhar sobre a arquitetura residencial

produzida a partir da segunda metade do século XX, no sítio histórico da cidade de Parnaíba,

para, desse modo, através das variadas informações obtidas, contribuir para o fazer

historiográfico local. Para essa discussão, é importante compreender também o que é sítio

histórico.

Para Rossi,38

sítio histórico é o local onde se manifestam os fatos urbanos, onde se

encontram partes substanciais da arquitetura. De acordo com o Icomos e a Carta de

Petrópolis, redigida em 1987 no Rio de Janeiro, sítio histórico urbano é o espaço onde se

concentram os testemunhos do fazer cultural da cidade em suas diversas manifestações. É

definido também como o espaço formado pelo ambiente natural, o ambiente construído e a

vivência dos habitantes, a “usança”, onde os diversos valores do passado e do presente se

encontram e se transformam.

Cada cidade possui seu sítio histórico, pois essa é a área inicial, é o espaço das

primeiras adaptações, dos primeiros critérios de instalação e de apropriação do solo. Muitas

vezes coincide com o termo Centro Histórico. Em se tratando de Parnaíba, é a área

correspondente ao tecido tradicional entre a região do Porto das Barcas, nas margens do rio

Igaraçu39

e a ferrovia. Esse perímetro, que constitui o Conjunto Histórico e Paisagístico de

38

ROSSI, A., op. cit., 2001. 39

O rio Igaraçu é um dos principais braços constituintes do Delta do Parnaíba; e, desde as primeiras ocupações

do território, ainda no séc. XVI, foi adequado à navegação. Através dele, Parnaíba se comunicava com outros

portos, nacionais e estrangeiros, mantendo, desse modo, contato com as novidades e tendências artísticas e

tecnológicas, tornando-se, portanto, uma das cidades mais importantes do Estado, bem como do Nordeste do

Brasil.

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Parnaíba foi tombado a nível federal em 2008 devido à relevância histórica, arquitetônica e

urbanística do sítio considerado.

Neste trabalho nenhum aspecto foi preterido, posto que todos são importantes na

construção histórica. Acredita-se que os diferentes aspectos são relevantes para a

compreensão da arquitetura de Parnaíba, mesmo aqueles que configuram a história positivista,

pautada em acontecimentos e registros oficiais, já que durante a pesquisa foram necessárias

informações que balizassem o aspecto contextual do trabalho.

De acordo com Barros,40

dentre as novas ênfases surgidas para o estudo do fenômeno

urbano no século XX, a dimensão econômica das cidades constitui uma das primeiras linhas

de destaque; e o econômico implica em produção, distribuição e consumo, ou seja, atividades

industriais, atividades comerciais e relações de consumo. O autor explica também que as

formações urbanas não devem ser vistas isoladas do sistema socioeconômico no qual se

inserem.

Entretanto o fator econômico não foi visto isolado nem de modo determinante, ao

contrário, esse foi um dos fatores que fez parte do processo de construção desta pesquisa para

a compreensão de Parnaíba até meados do século XX. Os diversos fatores muitas vezes

coincidem ou se distanciam. Dito de outro modo, economia e cultura estão simultaneamente

próximos, e em alguns momentos distantes; entretanto, eles contribuem para a existência da

urbe de Parnaíba.

2.3 Parnaíba: Política, Economia e Urbanismo

2.3.1 Os primeiros momentos

Desde o final do século XVII, Portugal buscou assegurar a posse efetiva do território

brasileiro, pois os exploradores, ao penetrar no interior da Colônia, começaram a controlar as

terras e a representar uma ameaça à autoridade da Corte portuguesa, que não mantinha

controle sobre eles, nem acerca das grandes extensões de terras sobre as quais esses mesmos

exploradores passaram a exercer intensa autoridade.41

Parnaíba, uma das mais importantes cidades do Estado do Piauí, localiza-se próximo

ao “Delta do Parnaíba”, caracterizada por ser uma região em mar aberto, e que, desde cedo,

também foi alvo dos primeiros conquistadores da colonização brasileira. De acordo com

40

BARROS, J. D. A. Cidade e história. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007. 41

DELSON, R. M. Novas vilas para o Brasil Colônia: planejamento espacial e social no Século XVIII.

Brasília: Alva-Ciord, 1997.

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35

Adrião Neto,42

o navegador português Estevão de Frois esteve na região em 1514; Desseliers

fez o primeiro mapa indicando o curso do rio Parnaíba, em 1550; Nicolau de Rezende

naufragou no Delta do Parnaíba e passou a viver com os índios do local, os Tremembés, em

1571. Segundo o IPHAN,43

há registro da presença de jesuítas na região, os padres Francisco

Pinto e Luis Figueira, em 1607. Martim Soares Moreno adentrou pelo litoral e navegou o rio

Parnaíba, em 1613. Leonardo de Sá desbravou a região entre o rio Igaraçu e a Serra da

Ibiapaba, travando um forte combate com os Tremembés, em 1669. Contudo, a navegação ao

longo desse trecho, era muito difícil, porque existiam poucos locais acessíveis à atracação de

navios.

Diante da necessidade portuguesa de controlar o território da Colônia e do difícil

acesso pelo litoral costeiro nessa região, entre o Piauí e o Maranhão, fez-se necessária uma

rota alternativa de ligação entre as duas unidades administrativas do Brasil, à época, o Estado

do Maranhão e o Estado da Bahia, ou seja, entre São Luís e Salvador, suas respectivas

capitais. Desse modo, foi criada uma rota que penetrou o sertão do Piauí por exploradores em

busca de terras para a criação de gado e que se espalharam pela região, criando fazendas e

pequenos povoados. Segundo Rodrigues,44

o desbravamento do Piauí foi efetivado, portanto,

através dos feitos de bandeirantes, como Domingos Jorge Velho, em 1662, e Domingos

Afonso Mafrense, em 1674, que vindo da Bahia, da Casa da Torre dos Garcia d‟Ávila,

penetrou os sertões, dizimou índios e fundou várias fazendas de gado e um dos maiores

latifúndios do País à época.

O Conselho Ultramarino determinou, em 1699, a sondagem do rio Parnaíba, a

viabilidade da construção de um porto e do erguimento de uma vila na região do Delta, que

era um local de passagem de muitos comerciantes e contrabandistas do Pará, Bahia e

Pernambuco.45

Em 1701, ocorreu a necessidade de criar um entreposto para guardar animais e

mercadorias de trocas, à margem direita do rio Igaraçu, o “Porto das Barcas” ou “Porto

Salgado”, que se desenvolveu em função da necessidade do acondicionamento da carne

42

ADRIÃO NETO. Geografia e história do Piauí para estudantes: da Pré-História à atualidade. 3. ed.

Teresina: Geração 70, 2004. 43

IPHAN, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Estudo para tombamento do sítio histórico

de Parnaíba. Parnaíba, 2006. v.1. 44

RODRIGUES, J. L. P. Estudos regionais: Geografia e História do Piauí. 3. ed. Teresina: Halley, 2005. 45

FIGUEIREDO, D. M. F. O monumento habitado: a preservação de sítios históricos na visão dos habitantes e

dos arquitetos especialistas em patrimônio. O caso de Parnaíba. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal

de Pernambuco, 2001.

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36

bovina, nascendo, dessa forma, a indústria do charque.46

Esse local prosperou devido à grande

movimentação das embarcações, do rico português Domingos Dias da Silva, vindo do Rio

Grande do Sul, em meados do século XVIII, e que se tornou um notável fazendeiro, grande

agricultor e comerciante, efetivando o comércio diretamente com Lisboa, dominando

economicamente o Piauí e o Maranhão, e comercializando, principalmente, o charque,

vendido para o Pará, Pernambuco, Maranhão, Bahia e o Rio de Janeiro.47

Após sua morte em

1793, os seus filhos e herdeiros, Raimundo e Simplício Dias da Silva, continuaram o negócio.

Em 1761, a Capitania de São José do Piauí contava apenas com a Vila da Môcha

(elevada à condição de cidade e capital, em 1762, com o nome de Oeiras), quando a

expedição de uma Carta Régia autorizou o assentamento das novas vilas de Parnaguá,

Jerumenha, Valença, Castelo, Campo Maior, Piracuruca e São João da Parnaíba (Figura 1),

garantindo o desenvolvimento e o controle da Capitania pela Corte portuguesa, cuja unidade

de organização era a fazenda, o que ocasionou uma ocupação esparsa, pois as famílias viviam

isoladas em função da atividade de criação de gado em regime extensivo.

A Carta Régia de 19 de junho de 1761 trazia instruções de como implantar as novas

vilas, para que se efetivasse a ocupação da Colônia. Segundo o documento:

[...] os habitantes deviam ser convocados em determinado dia para assistirem

a escolha de local onde devia ser levantada uma praça, devendo-se erguer

nela um pelourinho, seguindo-se as demarcações para construção de igreja,

fazendo delinear as casas dos moradores por linha reta, de sorte que fiquem

largas e direitas as ruas [...].48

46

O charque consiste no produto oriundo do abate do gado, onde a carne é seca ao vento e ao sol para posterior

prensagem. 47

Id. ibid. 48

PORTO, C. E. Roteiro do Piauí. Rio de Janeiro: Artenova, 1974. p. 69.

Figura 1: Carta Geográfica da Capitania

do Piauhi e parte das adjacentes,

levantada por João Antonio Galucil, em

1761.

Fonte: Silva Filho (2007, v. 3, p. 80).

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37

De acordo com Figueiredo,49

a criação da Vila de São João da Parnaíba, bem como

das demais vilas ocorreu a partir de povoações já existentes, de paróquias anteriormente

implantadas, e seguindo um modo de organização, um modelo definido, através dos

moradores, os quais decidiam a localização da praça principal, do pelourinho, da nova igreja,

da câmara, da cadeia e das demais edificações públicas, bem como determinava as instruções

para a demarcação de lotes, assim como exigia o mesmo estilo de fachada para todas as

edificações, garantindo a uniformidade e harmonia ao conjunto. Esse modelo, desenvolvido

para atrair colonos permanentes e dar a impressão de uma autoridade estabelecida, bem como

intimidar possíveis ataques foi sendo aperfeiçoado até atingir seu ideal na cidade de Aracati,

fundada em 1747, no Estado do Ceará, a qual se tornou um exemplo para a fundação de outras

cidades durante o século XVIII.

Silva Filho50

explica ainda que, apesar de serem as construções religiosas os principais

núcleos irradiadores do traçado urbano, em Parnaíba, foge-se à regra quanto à implantação

desses primeiros templos. Na maioria das cidades, as igrejas eram locadas em platôs mais

elevados, centralizadas, destacadas, buscando a monumentalidade, e ressaltando a autoridade

divina, indiferentes à orientação solar.

No caso de Parnaíba os templos religiosos ainda que localizados em áreas estratégicas

foram subordinados ao traçado regulador, o que confirma uma planificação urbana antes de

sua existência, fato que pode ser confirmado através da Figura 2, onde se encontram exemplos

de algumas cidades piauienses que tiveram seu núcleo urbano originado a partir da construção

religiosa, e ainda o núcleo parnaibano que se comporta diferente dos demais.

49

FIGUEIREDO, D. M. F., op. cit., 2001. 50

SILVA FILHO, O. P. da. Carnaúba, pedra e barro na Capitania de São José do Piauhy. Belo Horizonte:

Editora do Autor, 2007. v.3.

Figura 2: Esquemas da implantação das

igrejas e praças no Piauí.

Fonte: Silva Filho (2007, v. 3, p. 15).

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Em 18 de agosto de 1762, instala-se a nova Vila de São João da Parnaíba; o local

escolhido foi uma grande fazenda de gado chamada “Testa Branca”, com quatro residências,

oito brancos livres e onze escravos, e também próxima à região do Delta e do Porto das

Barcas, sendo esse último o local onde foi edificado o pelourinho, representado na Figura 3.

A utilização do pelourinho na imagem a seguir surge para reforçar a idéia de que não

se aceitava indisciplina, e que a representação do poder está materializada no tronco,

assinalando que a manutenção da ordem era conseguida através da força, sob constante estado

de ameaça.51

A tentativa de partir dessa fazenda não obteve êxito. Para Silva Filho,52

alguns

problemas contribuíram para essa situação, tais como a não aceitação por parte dos moradores

do Porto das Barcas e ainda o fato de não ter um templo no local. Para Figueiredo,53

o

problema foi também de cunho econômico. Ela explica que, apesar dos compromissos de

expansão, a sede em Testa Branca não prosperou, e, em 1770, o fator econômico tornou-se

preponderante, e a vila foi transferida pelo governador Gonçalo Botelho de Castro para o

Porto das Barcas, que, apesar de ser um local alagadiço e insalubre, com más condições de

higienização, já era uma feitoria, mais povoado, e tinha ainda estabelecimentos comerciais,

armazéns e até o pelourinho (símbolo de justiça e autoridade).

Em 1769 a câmara baixou um edital proibindo que se edificasse, sem prévia

licença sua, casa alguma em Testa Branca, ao passo que facilitava as dali,

[...] e somente depois que João Pereira Caldas deixou o governo da

51

ELIAS, J. L. Moradia indígena: alteração sofrida pela habitação nativa após a inclusão dos jesuítas no

cenário colonial (1548-1700). Dissertação (Mestrado) – UFPE/CFCH. Recife, 2000. 52

SILVA FILHO, O. P. da., op. cit., 2007. 53

FIGUEIREDO, D. M. F., op. cit., 2001.

Figura 3: Detalhe da Praça do Pelourinho na Vila de São João da

Parnaíba, cópia de Joze Pedro Cezar de Menezes, em 1809.

Fonte: Silva Filho (2007, v. 3, p. 23).

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capitania, foi que se resolveu sobre a mudança de local, sendo em 1770

transferida oficialmente a sede da Vila de São João da Parnaíba, em lugar da

Testa Branca, para o sítio denominado Feitoria, ou Porto das Barcas, onde

hoje campeia e floresce a futurosa cidade de Parnaíba [...]

Incontestavelmente o povoado do Porto da Barcas oferecia mais vantagem

para o assento da nova vila; era então uma feitoria com estabelecimentos de

charqueada, cujos produtos se exportavam para Pernambuco, Bahia, Rio de

Janeiro e Pará, deixando grande interesse às rendas públicas, pelo

movimento comercial que resulta de semelhante indústria; com uma

população crescente e ativa, algumas casas e armazéns, e uma pequena

ermida fundada pelos habitantes da localidade.54

A Vila de São João da Parnaíba surgiu, portanto, a partir dos núcleos geradores, Porto

das Barcas e Fazenda Testa Branca, favorecida por sua localização geográfica privilegiada,

próxima ao rio Igaraçu e ao processo de colonização ligado à ocupação do sertão. "[...] um

porto de escala e, ao mesmo tempo, um ponto de articulação com o sertão, de onde chegavam

carne seca, sola, chifres, couro, algodão e fumo, exportados para Lisboa e Inglaterra [...]”,55

“região de passagem, de troca, de função intermediária”.56

Silva Filho57

(2007) afirma ainda que Parnaíba foi a primeira vila da Capitania que

teve um plano regulador previamente implementado e junto a uma prefixação. O autor

ressalta que esse planejamento prévio (não um projeto urbanístico) foi posterior ao núcleo

inicial do Porto das Barcas. Afirma ainda que, lá, a igreja perdeu o seu papel referencial do

traçado urbano e, ao invés de adotar o urbanismo de remodelação,58

como ocorreu em Oeiras,

por exemplo, a cidade adotou o urbanismo cartesiano59

e assentou-se em ruas certas e

alinhadas; por isso formou uma paisagem mais ordenada que as outras vilas. Há ainda outras

particularidades: foi o único núcleo urbano a reunir duas igrejas em uma mesma praça; a

única que teve dois núcleos geradores, o Porto das Barcas – prefixação portuária de origem

comercial; e a Praça da Matriz – onde se localizava o poder institucional – religioso e civil.

Como se pode perceber, a singularidade foi um fator presente desde o início, quando Parnaíba

ainda era uma vila em processo de formação.

Assim, a partir de 1770, foram erguidos os primeiros edifícios, oficializando a Vila de

São João da Parnaíba, tais como a “Casa Grande” de Domingos Dias da Silva e a Casa de

54

COSTA, F. A. P. da. Cronologia histórica do Estado do Piauí: desde os seus tempos primitivos até a

Proclamação da República. Rio de Janeiro: Artenova, 1974. v.1, p.151-152. 55

FALCI, Miridan Britto Knox. Escravos do sertão: demografia, trabalho e relações sociais. Piauí: 1826-1888.

Teresina: FMC, 1995. p. 40. 56

Ibid., p. 44. 57

SILVA FILHO, O. P. da., op. cit., 2007. 58

Urbanismo de remodelação: planejamento urbano efetuado em um local onde já ocorreu alguma intervenção

anterior e voltado principalmente para a reordenação, para o embelezamento. 59

Urbanismo Cartesiano é o planejamento baseado no esquema reticulado, ou seja, em eixos perpendiculares.

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Câmara e Cadeia.60

Em 1772, foi elaborado um importante documento intitulado “A

Descrição da Capitania de São José do Piauí”, escrito pelo ouvidor-mor Antônio José de

Morais Durão. Esse relatório comenta acerca da Vila de São João da Parnaíba, já próspera,

graças ao comércio de exportação que a ligava a vários portos do Norte e do Sul do País. 61

O documento também tratou da existência de uma estrutura urbana já consolidada,

onde se destacou a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Graça como uma edificação sólida, em

cantaria, mesmo sem cobertura. Contudo, ressalta também a questão da insalubridade,

ocasionada pela proximidade entre as residências, os abatedouros e os curtumes.62

Segundo

Silva Filho,63

a partir dessa situação surgiram as ordens do Governador Lourenço Botelho de

Castro, que determinou que as charqueadas deveriam ficar distantes da povoação, sendo então

um dos primeiros atos a refletir os cuidados com a higiene e o paisagismo local.

A segunda metade do século XVIII foi um período marcado, em especial, pelo

desenvolvimento do comércio de exportação, através da navegação fluvial e marítima. Esse

processo se iniciou com o charque, e, à medida que esse produto começou a perder mercado

em função da decadência do mercado minerador e da concorrência das indústrias de charque

do Rio Grande do Sul, veio o algodão, o fumo, o couro e outras sementes extrativistas.64

De

acordo com Odilon Nunes, a Junta Trina, que governou o Piauí por 22 anos, deixou, em 1775,

um importante documento, destacando o crescimento de Parnaíba dentre as demais vilas

criadas em obediência à Carta-Régia de 1761. Observe-se:

[...] Igualmente devemos noticiar a V. Exa. que das seis vilas desta Capitania

criadas no ano de 1762 só a de S. João de Parnaíba, fundada na margem

oriental do braço de Igaraçu, tem tido aumento e promete cada vez mais não

só pelos negócio do porto de mar que se lhe introduziu, senão também pelas

fábricas e manufaturas com que se acha; as mais estão no mesmo estado em

que se lhes deu aquele nome, conhecendo-se unicamente por vilas em razão

de terem Pelourinho, ou um pau cravado na terra a que se deu aquele

apelido.65

A primeira cartografia de Parnaíba, de 1798, forneceu uma visão de como era a ainda

Vila de São João da Parnaíba. A planta (Figura 4) mostra a quadrícula como geratriz do

traçado urbano, com quarenta e quatro quadras de diversas dimensões, retangulares, situadas

ao redor de um centro quadrangular com a presença do pelourinho. Pode-se identificar o rio

60

Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), op. cit., 2006, v.1. 61

FIGUEIREDO, D. M. F., op. cit., 2001. 62

Id. ibide. 63

SILVA FILHO, O. P. da., op. cit., 2007. 64

MELO, N. B. A. L., op. cit., 2007. 65

NUNES, O. Devassamento e conquista do Piauí. Monografias do Piauí. Série histórica, Teresina, 1972. p.

129.

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Igaraçu, a ocupação ao longo do rio e as ruas próximas ao Porto das Barcas, a Praça da Graça,

as Igrejas de Nossa Senhora da Graça, iniciada em 1791, e concluída em 1795, e a Igreja de

Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de Parnaíba, construída para os escravos da

família Dias, e a antiga Rua Grande, atualmente chamada de Presidente Getúlio Vargas,

indicando um vetor de ocupação que seria seguido pela cidade durante as próximas décadas, e

que terminaria em frente ao conjunto da Estação Ferroviária, na década de 1940.

Essa avenida tornou-se, de fato, o eixo estruturador mais importante do Centro

Histórico, fazendo a ligação entre o rio Igaraçu e a ferrovia, e tornando-se simbolicamente

fundamental para a compreensão da história da cidade.66

O mapa da Vila de Parnaíba em 1809 (Figura 5), apesar de não obedecer com

fidelidade à escala de distância dos referenciais do sítio natural ─ como se pode constatar nas

dimensões do rio e na curva que ele faz após o centro histórico, que, no mapa aparece bem

próxima, mas que em medidas reais seria bem mais distante ─ nem ao número de quadras e

ruas existentes, mostra que a cidade tem praticamente a mesma configuração de onze anos

antes, mas com a presença de outra praça com pelourinho, que poderia ser identificada como a

66

FIGUEIREDO, D. M. F., op. cit., 2001.

Figura 4: Mapa da Villa de São João da Parnaíba em 1798, acrescentado as

nomenclaturas dos logradouros atualmente.

Fonte: Silva Filho (2007, v. 3, p. 81).

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praça onde posteriormente foi edificado o Mercado. A presença do pelourinho nesse local é

pouco usual, pois esse equipamento costumava ser instalado na praça principal da cidade.67

Pode-se identificar também a presença de sobrados e casas térreas, o que diferenciava o nível

econômico entre as famílias. Podem-se reconhecer as Igrejas de Nossa Senhora da Graça e

Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de Parnaíba, a Capela de Mont Serrat, o

sobrado de Simplício Dias e o Sobrado do Mirante; este traz o desenho de uma forca no pátio,

e onde provavelmente poderia ter sido o local da instalação da Casa de Câmara e Cadeia; mas

o fato de não estar na praça deixa dúvidas sobre essa questão. A presença dos sobrados

confere, ainda, a prosperidade presente na vila.68

67

FIGUEIREDO, D. M. F., op. cit., 2001, chama a atenção para a necessidade de uma investigação mais

aprofundada neste sentido, incluindo uma pesquisa de arqueologia histórica nas duas praças, pois não foram

encontrados dados precisos sobre a localização real do Pelourinho. 68

Id. ibid.

Figura 5: Mapa da Villa de São João da Parnaíba em 1809,

acrescentado as nomenclaturas dos logradouros atualmente.

Fonte: Pinheiro e Moura (2010, p. 22).

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O local da sede administrativa da capitania, Oeiras, logo foi considerado inviável

devido à sua localização, em um sertão seco e estéril, longe dos rios e, principalmente do mar,

o que ocasionou o desejo de mudança da capital. Gonçalo Lourenço Botelho de Castro, o

segundo governador da Capitania do Piauí, desde logo quis transferir a capital para a próspera

Vila de São João da Parnaíba, e, desse momento em diante, ocorreram várias tentativas: em

1792, com o Piauí politicamente subordinado ao Maranhão e dirigido por uma Junta de

Governo, foi encaminhada uma proposta ao Rei; em 1799, João Amorim Pereira, governador

à época, também fez duas outras tentativas de transferência da capital para a Vila de São João

da Parnaíba; em 1812, a Junta de Governo Provisório fez outra tentativa e, no mesmo ano, a

Câmara Municipal de São João da Parnaíba dirigiu-se ao Rei, solicitando a mudança da sede

para lá; em 1814, a Junta fez uma nova tentativa, mas o assunto ficou a cargo do chanceler da

Relação do Maranhão e da Câmara de Oeiras, que não tinha nenhum interesse em favorecer a

Vila de São João da Parnaíba.69

Por um longo tempo perdurou o debate sobre a transferência da capital, sobretudo após

a queda do Visconde da Parnaíba. Em 1850, um grande número de moradores de Campo

Maior, Piracuruca e Parnaíba dirigiu-se ao presidente, reivindicando a mudança da capital,

uns querendo a nova sede em Parnaíba e outros na Vila Nova do Poti. Foi decidido então pela

Vila Nova do Poti, um local no meio do caminho, às margens do rio Parnaíba. Acreditou-se

que seria o melhor para uma capital, posto que serviria ao desenvolvimento da navegação e

ainda arrebataria de São Luis toda a produção do Piauí que era escoada através da cidade

maranhense de Caxias e do rio Itapecuru. Para o referido presidente, Oeiras, de fato, não

poderia continuar como capital, devido à sua localização e dificuldade de escoamento da

produção; por sua vez, Parnaíba também não era apropriada, porque ficava muito distante e o

caminho a percorrer seria muito grande.70

Para os parnaibanos, o anseio de abrigar a sede da capitania estendeu-se por quase

todo o século XVIII e XIX e terminou por fracassar. Contudo, o desenvolvimento da Vila de

São João da Parnaíba não sofreu maiores danos, ao contrário, aumentou bastante. De acordo

com Knox,71

em 1826, Parnaíba possuía cerca de 350 fogos, e era o segundo centro mais

importante da Província. O seu desenvolvimento ocorreu graças ao intenso comércio fluvial e

marítimo, movimentando seu porto com muitos navios oriundos de outras partes do País bem

como da Europa. Simplício Dias, herdeiro do pioneiro Domingos Dias da Silva, tornou-se um

69

MELO, N. B. A. L., op. cit., 2007. 70

ADRIÃO NETO. Geografia e história do Piauí para estudantes: da Pré-História à atualidade. 3. ed.

Teresina: Geração 70, 2004. 71

KNOX, M. B. O Piauí na primeira metade do século XIX. Teresina: Projeto Petrônio Portella, 1986.

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dos mais importantes comerciantes do local, dono de várias embarcações e que, além do

charque e do couro, oriundos dos rebanhos bovinos da região, comercializava também

produtos de origem extrativista, como o algodão, fumo e sementes.

Contudo, grande parte desse comércio era feita de forma ilegal.72

No início do século

XIX, Parnaíba era um grande empório comercial, com barcos que navegavam pelos rios

Parnaíba e Canindé. Em 1817, foi criada a Alfândega, mas só entrou em funcionamento, de

fato, em 1834, com a finalidade de reduzir custos, além de aumentar a fiscalização sobre os

produtos contrabandeados e permitir que a exportação legal destes fosse feita diretamente,

sem passar pelo Maranhão ou Pernambuco, impulsionando a economia.73

Segundo Rodrigues74

(2005), em 1844, a Vila de São João da Parnaíba era um dos

principais polos econômicos do Estado; e, através da Lei n. 166, promulgada por José

Idelfonso de Sousa Promos, foi elevada à categoria de cidade, sendo o desenvolvimento

mercantilista determinante para a configuração urbana local, que, nesse período, rivalizava em

importância com a capital Oeiras, possuindo inclusive, mais fogos que a última.

2.3.2 O desenvolvimento econômico e urbano de Parnaíba

A chegada da Corte ao Brasil, em 1808, transformou a condição de Colônia e implicou

favoravelmente o estímulo ao desenvolvimento. Tal fato introduziu a necessidade de

desenvolver o Brasil, de modo que o local estivesse a altura das necessidades da Corte. Desse

modo, pode-se dizer que se tem aí o início do projeto de modernização, que, segundo Gilberto

Freire,75

foi reforçado pelo imperativo inglês que impôs ao Brasil a mudança de hábitos e

valores, provocada pelo consumo de produtos, como a manteiga, a cerveja, os tecidos, as

porcelanas, os perfumes; enfim, produtos que logo foram incorporados e consumidos pelos

que detinham uma situação econômica mais privilegiada.

Durante a República, esse processo de modernização ganhou força e afetou as cidades

mais desenvolvidas do País. Teve início a partir da Primeira República; ou seja, do final do

século XIX, e estendeu-se até as primeiras décadas do século XX, variando a intensidade a

partir da região ou cidade. Assim, para entendê-lo melhor, para compreender como e por que

ele ocorreu, quais as influências sofridas e difundidas, propõe-se, primeiro, compreender

72

Inicialmente, antes da criação da Alfândega, as embarcações pagavam impostos aos proprietários de terra e à

Câmara Municipal, fazendo com que, dessa forma, Parnaíba possuísse, desde a sua fundação, verbas próprias e

não dependesse de investimentos por parte da Coroa para implementar obras públicas, por exemplo. 73

IPHAN, op. cit., 2006, v.1. 74

RODRIGUES, J. L. P., op. cit., 2005. 75

FREIRE, G. Ingleses no Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio, 1948.

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como se deu o desenvolvimento político e econômico parnaibano, bem como as

transformações urbanísticas desse período para, a partir de então, relacionar essa modernidade

à arquitetura produzida na cidade de Parnaíba no período de estudo em questão.

Em Parnaíba, foi estabelecida, em 1849, a Casa Inglesa,76

cuja razão social era Andrew

Miller & Co. Posteriormente, foi modificada para Singlehust Nicholson & Co., e gerenciada

por Paulo Robert Singlehust, conhecido na cidade como “Paulo Inglês”. Paulo morou em

Parnaíba com seus cinco filhos, um irmão e uma irmã. Alguns documentos relatam a ligação

entre Parnaíba e Inglaterra, proporcionada pela Casa Inglesa e por seus navios cargueiros da

Red Cross Line, que, em 1858, efetuavam o comércio de importação e exportação entre esses

dois locais.77

James Frederick Clark chegou a Parnaíba em 1869. O jovem inglês, com apenas 14

anos, veio de Liverpool e trouxe consigo uma carta de apresentação e um contrato de

aprendizagem para trabalhar na Casa Inglesa por cinco anos. James, que foi acolhido como

filho, mostrou grande competência no âmbito profissional, sempre alcançando novas posições

dentro da empresa, até que, aos 25 anos, tornou-se sócio da Casa Inglesa. Como privava do

convívio e da amizade das famílias economicamente favorecidas de Parnaíba, casou-se, em

1884, com dona Anna Gonçalves Castelo Branco, moça piauiense, mas educada na

Inglaterra.78

Segundo Nunes,79

no final do século XIX, James Clark passou a ser o único

proprietário de uma das firmas exportadoras mais significativas do Piauí e do Nordeste, agora

individual, e sob a razão de James Frederick Clark. A Casa Inglesa foi pioneira, introduzindo

vários produtos na região, tais como querosene, gasolina, o primeiro automóvel, o primeiro

motor a diesel, e vários outros produtos. Também emprestava dinheiro a juros enquanto não

havia instituições bancárias no local.

A residência do casal passou a ser então o “Solar da Casa Inglesa” (Figura 6). Situada

no início da Avenida Presidente Getúlio Vargas, era a sede da Casa Inglesa e da família Clark.

Conforme a placa presente na porta principal, que traz as datas 1814-1920, percebe-se que

esse edifício foi construído anteriormente a essas duas instituições, e, embora ostente muitas

características neoclássicas, também possui influências dos sobrados maranhenses. No térreo,

ficava a parte destinada aos serviços, e, no andar superior, a parte reservada à família.

76

Casa Inglesa – Empresa que existia em Liverpool, Inglaterra, desde 1813. No Brasil, suas filiais existiam como

firmas autônomas em Manaus, Belém, São Luiz, Parnaíba, Fortaleza e Recife. 77

NUNES, M. C. S. de A. A influência britânica em Parnaíba-PI. In: ARAÚJO, M. M. B. de; EUGÊNIO, J. K.

Gente de longe: histórias e memórias. Teresina: Halley, 2006. 78

Id. ibid. 79

Id. ibid.

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De acordo com Nunes80

no final do século XIX, o solar dos Castelos Branco Clark era

uma edificação de destaque na cidade de Parnaíba. O andar térreo era ocupado pela casa

comercial, a “Casa Inglesa”, que se tornou uma das principais firmas exportadoras do Piauí e

do Nordeste e os andares superiores ─ com mirante, varandões e móveis importados da

Áustria e da Inglaterra ─ eram destinados à família, tornando-se assim a parte nobre do

sobrado.

O interior abrigava todo o requinte da época. A escadaria, na entrada do solar, era em

madeira nobre, revestida com uma grossa passadeira de veludo vermelho, transmitindo à

imponência do lugar aos que adentravam pelo recinto. As paredes recebiam cuidadosas

pinturas (Figura 7) e o refinamento estava em todas as partes, desde os detalhes em dourado,

passando pelos buffets, até os lustres de cristal.81

A família Castelo Branco Clark fora educada com base na cultura inglesa. O casal

Clark teve seis filhos e todos estudaram na Europa. Dentro de casa, na vida privada, a língua

80

NUNES, M. C. S. de A., op. cit., 2006. 81

Id. ibid.

Figura 6: Fachada principal do solar da

“Casa Inglesa”.

Fonte: Acervo particular - Neuza Melo,

2007.

Figura 7: Detalhe da antiga pintura da sala da Casa

Inglesa.

Fonte: Acervo particular - Diva Figueiredo (2006).

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oficial era o inglês, assim como eram conservados outros hábitos ingleses, como o “chá das

cinco”, servido na faiança inglesa (Staffordshire, Hughes e Alfred Meakm) e ao som do piano

também inglês. No último pavimento, localizavam-se o pomar, com lindos jardins, canteiros

de hortaliças e árvores frutíferas. Cultivavam o hábito da leitura de clássicos ingleses como

William Shakespeare e Jonathan Swift; e, no vestuário, a moda seguia também a influência

europeia, tanto no masculino, cujos tecidos eram importados, como a casimira inglesa; quanto

no feminino, repleto de adornos e fragrâncias inglesas.82

De acordo com Nunes,83

James Clark, após ter sido queimado com um pingo de cera

de carnaúba, caído de um candelabro à luz de velas, que ficava no corrimão da escadaria na

entrada da porta de sua residência, ficou muito interessado pelo material e mandou amostras

para estudo em Liverpool e Manchester. Após manter contato com os laboratórios ingleses e

amigos, em 1894, remeteu para a Europa a primeira partida comercial de cera de carnaúba, o

que marcou o início do progresso da sua firma, bem como de um período de prosperidade

para todo o Piauí.

Entre os anos de 1872 e 1873 chegaram também os pioneiros franceses na cidade.

Jacob84

explica que Moïse Jacob e Lazard Jacob saíram da Europa expatriados da França,

devido às consequências da guerra franco-prussiana, e escolheram viver no Brasil, que, à

época, era uma opção tão viável quanto os Estados Unidos, devido às vantagens do Novo

Mundo, como a tolerância religiosa, os preços acessíveis e ao clima agradável. Ressalta-se

ainda que uma das visões europeias de uma região que tendia ao progresso era a presença de

um rio, e Parnaíba era margeada pelo rio Igaraçu através do qual era efetuado o comércio.

Não optaram por viver em Fortaleza, provavelmente pela presença de um numeroso grupo de

emigrantes que já se havia instalado nesse local anteriormente.

Os franceses também optaram por serem comerciantes, abrindo, portanto, a Casa Marc

Jacob, que, no ano de 1873 já funcionava. Moïse e Lazard iniciaram um negócio de

exportação no qual transportavam, em barcas, sal grosso a muitas populações ribeirinhas; e,

no retorno, traziam, até Parnaíba, produtos produzidos às margens do rio, através de atividade

regional, como couros de boi, peles de animais silvestres e outros pequenos animais de

criação, como bode e carneiro, barbatana de tubarão, bucho de peixe, e ainda produtos

oriundos do extrativismo vegetal, tais como sementes oleaginosas, entre as quais estão as

bagas de mamona, as nozes de tucum, sementes de babaçu, cera de carnaúba, dentre muitos

82

NUNES, M. C. S. de A., op. cit., 2006. 83

Id. ibid. 84

JACOB, M. T. A pequena e brava família Jacob. In: ARAÚJO, M. M. B.de; EUGÊNIO, J. K. Gente de longe:

histórias e memórias. Teresina: Halley, 2006.

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outros, os quais eram exportados a vários países europeus. Para tanto, a Casa Marc Jacob, que

se desenvolveu junto à navegação fluvial, também possuía rebocadores vindos da Inglaterra.

Moïse e Lazard voltaram para a Europa em 1924, e não deixaram descendentes. Desse modo,

a empresa foi vendida a seu sobrinho Roland Gabriel Jacob que chegou em Parnaíba em 1921.

De acordo com Santana,85

Parnaíba entra no século XX marcando o período áureo da

exportação local, bem como em todo o Piauí. Esse comércio teve início em 1900, com a

utilização de uma planta nativa em todo o Estado, a maniçoba, uma das matérias-primas para

a fabricação da borracha, e que, mesmo sendo material de segunda classe, era bastante

necessária em algumas aplicações. Contudo seu período foi de curta duração e decaiu em

1915. A partir de 1907, intensificou-se a exportação da cera de carnaúba, utilizada para a

fabricação de graxas de sapato, discos, ceras de assoalho etc., tomando impulso, de fato, em

1910, e tendo como principal mercado a Alemanha. Outro produto muito exportado foi o

babaçu (Figura 8) que, em 1911, começou a ser exportado, alternando, junto com a cera de

carnaúba, a liderança das exportações piauienses até os anos 1950 e 1960.

Outras empresas também atuaram no transporte dos produtos oriundos do município

de Parnaíba, como a Franklin Veras & Cia. (Companhia Nacional de Navegação Costeira –

Organização Henrique Lage), no transporte marítimo, e a Moraes & Cia. na navegação

fluvial. Além das firmas francesas e inglesas, também estavam presentes as firmas alemãs e a

agência de uma grande companhia de navegação inglesa, a Booth Line. Dessa forma, com a

85

SANTANA, R. M. de. Evolução histórica da economia piauiense. Teresina: Cultura, 1964.

Figura 8: Fotografia mostrando o embarque do babaçu no Porto Salgado,

próximo à Rua Grande, no Almanaque de 1924.

Fonte: Almanaque da Parnaíba (1924, p. 34).

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instalação da Companhia de Navegação e das diversas companhias do Exterior que atuavam

no comércio parnaibano, cresceu o número de empresas de importação e exportação, o que

fez circular renda e mercadorias, e incentivou o consumo de produtos vindos principalmente

da Europa. Como explica O. L. dos Santos:

A família parnaibana recebia muito bem os estrangeiros. Estes

movimentavam a cidade, davam-lhe “status” de grande centro regional.

Influenciavam fortemente a vida local, alterando a linguagem, os costumes, a

mentalidade. [...] Os estrangeiros traziam algo de requinte, de refinado, de

cosmopolita, à Parnaíba. Faziam-na enfim, uma cidade “pas comme les

autres.” 86

Figueiredo87

afirma, ainda, que a cidade sempre esteve em comunicação, através do

comércio fluvial e marítimo, com a Província, resto do País, e Exterior, tendo contato com a

cultura europeia e o Sul do Brasil, principalmente nos séculos XVIII e XIX, e com a cultura

americana e o interior do Estado no século XX. Para o Interior, eram transportados os

produtos estrangeiros, industrializados, e, para o Exterior, eram escoados os produtos locais,

inicialmente pelo transporte fluvial. De acordo com Meneses:

[...] A cidade já foi centro comercial de todo o estado do Piauí, muitas vezes

considerada capital. O seu comércio de importação e exportação com as

capitais do país e o estrangeiro era exercido em grande escala. Grandes

firmas comerciais existiam, assim como firmas estrangeiras. Toda a

mercadoria, gêneros alimentícios, cera de carnaúba e tudo o que o estado

produzia, era transportado e recebido pelas companhias de navegação fluvial

e marítima. Nessa época, não existiam estradas de rodagem. O transporte era

feito por navios. Do sul do estado e parte do Maranhão vinham nas gaiolas88

que puxavam grandes barcas com mercadorias para serem transferidas para o

porto de Tutóia no Maranhão [...].89

No início do século XX, cresceu o comércio de exportação da cera de carnaúba, de

amêndoas, de óleos, e Parnaíba ingressou nos anos mais economicamente promissores de sua

história. Distintos acontecimentos contribuíram para esse desenvolvimento. Como afirma

Rezende,90

“[...] O mundo da mercadoria e do valor de troca é fundamental para que a cidade

assuma seu papel de agente da modernidade, para que se produza o contraponto entre o

urbano e o rural com suas modificações”.

86

SANTOS, O. L. dos (Org.). Benedicto dos Santos Lima: intelectual autodidata. Rio de Janeiro: Folha

Carioca, 1993. p. 77. 87

FIGUEIREDO, D. M. F., op. cit., 2001. 88

Gaiolas são navios pequenos utilizados para puxar os grandes barcos que navegavam pelo rio Parnaíba

transportando mercadorias do Piauí e do Maranhão. 89

MENESES, M. L. M. de. Parnaíba no século XX. Fortaleza, 1994. p. 8. Produção Independente. 90

REZENDE, A. P., op. cit., 1997. p. 25.

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Esse processo de “modernização” que se espalhou nas cidades brasileiras foi

contagiado por transformações que ocorrem nas principais cidades do mundo, como Paris, por

exemplo. Em Parnaíba, essas mudanças também ocorreram, e, para compreender a arquitetura

produzida na cidade, alguns aspectos são fundamentais, como foi o caso das intervenções

urbanísticas que ocorreram nesse período, e que serão relatadas em seguida.

Entre os anos de 1913 e 1916, sob a administração do Intendente Cel. Constantino

Correia, aconteceram as primeiras iniciativas de organização do crescimento da cidade.

Assim, em 1914, iniciou-se o primeiro plano de urbanização local, tendo sido feito o

levantamento da planta da chamada Cidade Nova ou bairro Nova Parnaíba, cujos quarteirões

propostos tinham forma retangular, dimensão de cem metros em quadro, ruas alargadas para

20m e avenidas para 30m, e ainda, propunha a regulamentação das construções, com alguns

prédios demolidos e substituídos por novas edificações. Essas propostas não foram

concretizadas totalmente na administração do Cel. Correia, mas em 1932, sob a administração

do prefeito Ademar Neves.91

Em 1916, foram iniciados os trabalhos para a construção da estrada de ferro,92

sob a

fiscalização do engenheiro Miguel Furtado Bacelar.93

Em 1917, a 14 de janeiro, foi criada, em

Parnaíba, a primeira agência bancária do local, e do Piauí, o Banco do Brasil (Figura 9), a 23ª

do País, e foi criada também a Associação Comercial de Parnaíba, destinada à união da classe,

amparo e direito dos sócios.94

91

CORREIA, B. J.; LIMA, B. dos S. (Org.). O livro do centenário de Parnaíba: 1844 - dezembro - 1944 -

Documentário da cidade - estudo histórico, corográfico, estatístico e social do município de Parnaíba. Parnaíba:

Americana, 1945. 92

Essa estrada de ferro só foi tida como concluída na década de 1940. 93

Miguel Furtado Bacelar era genro do inglês James Frederick Clarck e foi o engenheiro construtor responsável

pela Estrada de Ferro Central do Piauí. 94

SANTANA, J. Parnaíba. Parnaíba: COMEPI, 1983.

Figura 9: Sede do Banco do

Brasil na Praça da Graça, no

Almanaque de 1924.

Fonte: Almanaque da Parnaíba

(1924, p. 38).

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51

Correia95

afirmou que, ainda em 1917, o então Intendente Nestor Gomes Véras

construiu o primeiro jardim da cidade na Praça da Matriz Nossa Senhora da Graça e montou a

primeira Usina de Luz Elétrica, cuja rede de iluminação atendia o perímetro urbano. Também

regulamentou os serviços de instalação predial ─ uma espécie de Código de Postura ─

contratou operários especializados, vindos do Estado do Pará, para executarem obras públicas

e particulares. No quadriênio seguinte, sob o comando do Intendente José Narciso da Rocha

Filho, foi inaugurada a Nova Usina de Luz, cuja rede se entendeu e passou a atender também

as zonas suburbanas do município.

Desde o ano de 1916, a firma Ferreira & Irmão abriu o cinema em Parnaíba, pois ela

integrava o "Circuito Piauiense de Cinema", destinado a manter cinemas no Estado e até no

Maranhão. Mas somente no ano de 1924, foi inaugurado o Cine-Teatro Éden (Figura 10), com

instalações adequadas, considerado um dos primeiros centros de diversão da sociedade

local.96

Da mesma forma, Nunes97

enfatiza esse grande desenvolvimento, nas primeiras

décadas do século XX, ressaltando que o progresso desse período, caracterizado

principalmente pelas relações capitalistas desenvolvidas nos setores de exportação e

importação, causou grandes mudanças na paisagem cotidiana, bem como nos hábitos e

costumes. A autora explica:

95

CORREIA, B. J.; LIMA, B. dos S., op. cit., 1945. 96

Id. ibid. 97

NUNES, M. C. S. de A., op. cit., 2006.

Figura 10: Cine Teatro Éden, no Almanaque de 1926.

Fonte: Almanaque da Parnaíba (1926, p. 32).

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[...] Considerando esse contexto, a sociedade parnaibana experimentou

mudanças significativas no seu espaço físico. A Rua Grande98

(Figura 11) foi

a primeira porta aberta da cidade, pelo rio Igaraçu, e que vai até a praça da

estação, atualmente Praça Engenheiro Miguel Furtado Bacelar. Essa rua,

com suas construções de sobrados revestidos de azulejos importados, além

de casas comerciais possuía várias residências, palacetes e bangalôs que

foram instaurados, de vez, no governo de Ademar Neves. Era prioridade,

embelezar a cidade como representação do progresso e da modernização.99

O “Almanaque da Parnaíba”, revista fundada em 1924, de propriedade de Benedito

dos Santos Lima, foi um exemplo do processo de modernização de Parnaíba. A revista tratava

de aspectos sociais e culturais, além de enunciar os produtos comercializados na cidade, tendo

sido um importante instrumento de compreensão da condição da cidade à época. Tal revista

divulga o interesse da classe dominante em fazer parte da modernização do século XX.

Sob a administração de Ademar Gonçalves Neves, a partir de 1931, as praças

ganharam jardins, as ruas foram calçadas e arborizadas, a limpeza pública se estendeu aos

subúrbios, inauguraram-se o mercado de frutas, e a rede elétrica passa por reformas.100

Em 1934, o médico Dr. Mirócles Campos Veras assumiu a administração da cidade, e,

dentre as diversas obras públicas executadas em seu governo, deu ênfase a preocupação com o

embelezamento da cidade (Figuras 12, 13 e 14). Foi responsável pela execução de obras como

a construção da Praça Santo Antonio, o calçamento de várias ruas urbanas, o arruamento do

bairro Campos e, por fim, o estudo dos serviços de água e esgoto da cidade, concluídos pelo

Escritório Saturnino Brito Filho, com sede no Rio de Janeiro.101

98

A Rua Grande recebeu posteriormente os nomes de “Dr. João Pessoa” e, como continua atualmente, “Avenida

Presidente Getúlio Vargas”. 99

Ibid., p. 348. 100

CORREIA, B. J.; LIMA, B. dos S., op. cit., 1945. 101

Id. ibid.

Figura 11: Parte da Rua Grande, atual Av.

Getúlio Vargas, com a Casa Inglesa ao

fundo, na década de 1930.

Fonte: Cartões Postais do IPHAN.

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O processo de modernização atingiu Parnaíba, como demonstra a nota escrita no

Almanaque da Parnaíba de 1937, que traz um resumo das transformações que ocorriam na

cidade naquele período:

Parnaíba, cidade situada ao lado direito do Igaraçu (braço do Parnaíba),

creada vila em 1761, elevada a cidade em 1844. Nasceu de uma fazenda de

gados. Na parte urbana há 15 ruas, 12 travessas, com 8 praças sem fazer

menção dos Bairros. A iluminação é elétrica. Toda calçada, no perímetro

urbano. Possue 3 igrejas e 2 capelas, bons prédios particulares, 6 Grupos

Escolares, Ginásio e Escola Normal, com uma população de mais de 35000

habitantes. Possue cerca de 9.000 casas. Berço de Simplício Dias, Miranda

Osório, Jonas Silva [...].102

102

ALMANAQUE DA PARNAÍBA. Parnaíba: Ranulpho Torres Raposo, 1937. p. 283.

Figuras 13 e 14: Fotografias do jardim Landri Sales, no Almanaque de 1937.

Fonte: Almanaque da Parnaíba (1937, p. 63 e 65).

Figura 12: Casa sito a Av. Presidente Getúlio Vargas, 956, Parnaíba-PI,

década de 1930.

Fonte: Cartões Postais do IPHAN.

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Durante a primeira metade do século XX foram implementados os serviços de

transportes, desde o fluvial e marítimo, passando pelo rodoviário, aéreo e ferroviário. Quanto

aos serviços de comunicação, a cidade possuía Correio e Telégrafo desde o século XIX,

instalados em 1817 e 1892 respectivamente, mas a rede telefônica só foi instalada em 1938,

pela Sociedade Ericsson do Brasil, dispondo de 200 telefones e com média de 4000 chamadas

diárias.103

A barra de Amarração ─ nome dado ao porto formado pelo rio Igaraçu ao desaguar no

Oceano Atlântico situado onde atualmente é o município de Luiz Correia ─ também fez parte

do percurso desse comércio de exportação, cujo ponto focal era a cidade de Parnaíba.

Observe-se o depoimento do Dr. Antonio Castello Branco Clark sobre essa grande

movimentação de navios no porto:

Já no século XVIII, nos idos de 1761, se fazia o comércio de importação e

exportação com a Europa, através do porto de Amarração. Em 15/11/1869,

meu saudoso Pai, vindo diretamente de Liverpool, no veleiro “Empresa” da

Companhia “Red Cross Line”, desembarcava em Amarração. Ainda, no fim

da primeira década do presente século faziam, com regularidade, escala

obrigatória em Amarração, entre outras, as seguintes empresas de

navegação: Cia. Pernambucana de Navegação, Empresa Lorentz, Cia.

Baiana, Cia. Maranhense e, esporaticamente, também o Lloyd Brasileiro

com seus navios Pirineus, Prudente de Moraes, Ibiapaba e Cubatão.104

Até meados do século XX os navios partiam e chegavam de várias regiões do País e da

Europa, e traziam para a população da cidade produtos como o linho escocês, o perfume

francês, o cimento, arame farpado e o preto recozido (utilizado para nos currais de peixe),

vindos da Bélgica, o ferro e instrumentos de trabalho como machados, facões e enxadas

vindos da Alemanha e da Inglaterra; as louças vinham da França, da Alemanha, da Inglaterra

e até do Japão.105

Dessa forma, os mais variados produtos e gostos europeus foram, durante a

segunda metade do século XX, muito consumidos pela sociedade parnaibana.

Na produção arquitetônica, as influências vindas do Exterior para o município

deixaram marcas visíveis nas residências erigidas no sítio histórico da cidade, fato observado

facilmente, no percurso da Av. Getúlio Vargas, a antiga Rua Grande, principal via de ligação

entre o porto e a área urbana, e que estruturou e direcionou o crescimento da cidade. Essa via

estendeu-se por cerca de 1km, desde o Porto das Barcas, margeando o rio Igaraçu (principal

entrada das tendências vindas do Exterior e início da ocupação urbana no século XVIII) até a

103

CORREIA, B. J.; LIMA, B. dos S., op. cit., 1945. 104

ALMANAQUE DA PARNAÍBA. Parnaíba: Ranulpho Torres Raposo, 1973. p. 43. 105

JACOB, M. T., op. cit., 2006.

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ferrovia, surgida na década de 1940 (e que, ao tempo em que representa a modernidade que se

instala no país, marca também o início da decadência do comércio de exportação parnaibano).

Através dela foi possível identificar os vários momentos do processo de ocupação do

território da cidade, bem como da arquitetura produzida no local.

Em 1950, a quantidade e o número de tipos de produtos exportados aumentaram

bastante, por conseguinte o tamanho das embarcações. As novas dimensões dessas vias de

transporte, o assoreamento do rio e, com isso, a necessidade de guinchos rebocadores em

muitos trechos do percurso e o alto custo de manutenção aliado aos elevados encargos sociais,

foram fatores que contribuíram para a mudança da forma de transporte dessas mercadorias

que, aos poucos, foi substituído pelo ferroviário, e por fim pelo rodoviário.106

Com o fim da Segunda Guerra Mundial ocorre um decréscimo intenso do extrativismo

vegetal e de exportações parnaibanas e piauienses, principalmente da cera de carnaúba e do

babaçu. A borracha de maniçoba perdeu espaço para a borracha produzida na Malásia; em

1946, a empresa Casa Marc Jacob transformou-se em sociedade anônima com o nome de

Casa Marc Jacob S.A.107

e a Casa inglesa também se modificou, transformando-se em

Estabelecimentos James Frederick Clark S.A. – Casa Inglesa, mas com sede ainda em

Parnaíba.108

O fim do período extrativista e o surgimento das rodovias contribuíram para que

a cidade perdesse força como porta de entrada e saída de gêneros. Muitas empresas passaram,

então, a diversificar, como a Casa Marc Jacob S.A., por exemplo, tornando-se distribuidora e

representante de empresas nacionais e estrangeiras no Piauí.

Na busca pelo fazer historiográfico, os diferentes aspectos foram relevantes. Os

aspectos sociais, políticos e econômicos que atuaram nas cidades interferiram na produção

arquitetônica. Em Parnaíba, o desenvolvimento econômico da cidade, através do comércio de

exportação, refletiu-se nas edificações, sobretudo residências, erigidas durante a segunda

metade do século XIX.

106

JACOB, M. T., op. cit., 2006. 107

Id. ibid. 108

NUNES, M. C. S. de A., op. cit., 2006.

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3 O MÉTODO ECLÉTICO PARNAIBANO: hibridismo e tradução cultural

3.1 O Ecletismo: aspectos conceituais relevantes

Ecletismo foi o nome aplicado ao Movimento que ocorrreu na Europa, principalmente

a partir de meados do século XIX, e se estendeu na maior parte da arquitetura produzida

daquele período até o início do século XX.

É importante esclarecer alguns conceitos relacionados à Arquitetura que designam

estilos e que revelam também um tempo histórico. Ao longo deste trabalho, o “Movimento

Eclético” ou “Movimento Ecletismo” será interpretado como a união de vários estilos que

ocorrem em determinado momento. Esse termo adquire significado diferente quando aplicado

a Movimentos embasados em uma doutrina teórica, em estudos, manifestos, associações e

publicações, com produção ligada a conceitos relativamente definidos, como o que ocorre

com o “Movimento Moderno”, por exemplo.

Outro significado importante é acerca do termo “Estilo”, que, no que diz respeito à

Arquitetura, é “[...] a aparência geral da arquitetura de uma edificação, inclusive sua

construção, forma e ornamentação, os quais podem ser uma expressão individual única ou

parte de um amplo padrão cultural [...]”.109

Percebe-se, ainda, que “cada estilo possui um

determinado número de elementos arquitetônicos bem definidos”.110

Essas explicações serão

relevantes não só nessa fase da pesquisa, como também para a compreensão de um outro

termo muito caro a este trabalho: ─ “Tipologia”.

“Tipologia” é o estudo dos traços característicos de um conjunto de dados, que visa

determinar tipos, modelos. Essa prática vem sendo aplicada desde os tempos de Vitrúvio,111

e

consiste em uma forma de tentar enquadrar os diversos edifícios em épocas e características

específicas.

Neste trabalho, adotou-se o conceito de tipologia estilística para fins de classificação

das residências analisadas no sítio histórico de Parnaíba. Ao utilizar o termo “Tipologia

estilística”, foram considerados os códigos das características arquitetônicas dos estilos de

cada período histórico. Assim, a Tipologia Eclética refere-se a edifícios que possuem diversas

influências, espaciais ou temporais. Esse sistema de classificação considera o estilo ou estilos

109

BURDEN, E. Dicionário ilustrado de arquitetura. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2006. p. 148. 110

KOSH, W. Dicionário dos estilos arquitetônicos. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001. p. 7. 111

Vitrúvio – O romano “Marcus Vitruvius Pollio” foi arquiteto e engenheiro no século I a.C. e também autor do

primeiro tratado de Arquitetura, intitulado “De Architectura” ou “Os Dez Livros de Arquitetura”.

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mais adotados na edificação ou ainda uma característica relevante. Como desdobramento do

Ecletismo surgem, também, termos como “Neoclássico”, “Neo Colonial”, “Neo Mourisco” e

assim por diante.

O surgimento do Ecletismo ocorreu em meados do século XIX e coincidiu com

grandes transformações no cenário europeu. A Transformação Industrial, que teve início na

Inglaterra, na segunda metade do século XVIII, fortaleceu o sistema capitalista e foi

responsável por grandes mudanças tecnológicas. A substituição das ferramentas pelas

máquinas, energia humana pela energia motriz, e o modo de produção doméstico pelo sistema

fabril, acontecimento que causou grande impacto sobre a composição da sociedade. Foi ainda

no século XVIII que a Arquitetura ganhou o status de ciência.

O processo de mudança foi acompanhado de uma notável ampliação tecnológica, e

ocasionou uma complexa conformação do quadro citadino. A influência no cenário

construtivo foi fortalecida com o desenvolvimento do ensino técnico, com maior divulgação

dos conhecimentos adquiridos, os vários experimentos envolvendo a resistência de materiais,

a introdução do Sistema Métrico Decimal,112

a invenção da Geometria Descritiva,113

o

aperfeiçoamento dos sistemas da construção tradicional e o surgimento de novos materiais

como o ferro-gusa114

e o vidro utilizado em grandes lâminas.

Porém, contrapondo esse processo de inovações, surgiram também problemas que

foram sentidos diretamente pelas cidades, como o aumento da população, o surgimento de

novas doenças, como a tuberculose e a cólera, e o aumento da poluição. Ocorreu o

inchamento das cidades; o impulso nas especializações e a multiplicação das tarefas gerou à

necessidade de novos programas;115

as novas funções públicas exigiram edifícios públicos

mais amplos; também foram necessárias mudanças nos traçados urbanísticos e nos serviços

básicos como saneamento e moradia.

Nesse momento, fatos de cunho social de grande relevância ocorreram na segunda

metade do século XVIII, como a Independência Americana, em 1776, e a Revolução

112

Sistema Métrico decimal é um conjunto sistematizado e padronizado de sete unidades de medida; são elas o

metro(m), o Kilograma (Kg), o segundo (s), o Ampère (A), o Kelvin (K), o mol (mol [2]

), e o candela (cd). Essa

padronização facilitou sobretudo a difusão dos conhecimentos e as trocas comerciais. 113

Geometria Descritiva é o método desenvolvido por Gaspard Monge, o qual através do desenho,

bidimensional, todos os aspectos das construções, tridimensionais, podem ser representados. 114

Ferro-Gusa é o ferro que se obtém diretamente do alto forno com elevada proporção de carbono e diversas

impurezas. 115

Programa em Arquitetura associa-se às funções e usos previstos para as edificações e, por conseguinte, a

organização e disposição dos espaços. No século XVIII, houve a necessidade, por exemplo, tanto de edifícios

públicos mais amplos, para abrigar as funções já existentes, como hospitais e escolas, como também a

necessidade de edifícios que atendessem aos novos programas como as estações de trens, as bibliotecas, os

bancos e os museus.

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Francesa, em 1789. A proclamação da independência dos Estados Unidos da América (EUA)

reforçou os ideais do Iluminismo e a negação ao Absolutismo monárquico que afloraram na

França, e que culminaram com a Revolução Francesa, que aboliu a servidão e os direitos

feudais, proclamou os princípios universais de Liberté, Egalité, Fraternité (Liberdade,

Igualdade e Fraternidade), e contribuiu para a transformação da mentalidade e o

fortalecimento da classe burguesa, que, por sua vez, valorizou os mecanismos de

desenvolvimento do capitalismo.

Para a arquitetura, esses fatos foram decisivos, porque contribuíram para o abandono

de dois estilos: O Barroco e o Rococó, que, de modo geral, se caracterizam pela grande

ornamentação, pela teatralidade. O objetivo era estimular os sentidos, a desorientação, a

subjugação, pela ambiguidade, pelo efeito monumental; enfim, características que se tornaram

o espelho da Monarquia, do Absolutismo.

Naquele período, buscou-se então um estilo capaz de representar os novos ideais do

homem, como a razão, a civilidade, a virtude e a importância do conhecimento. Era

importante, ainda, que fosse um estilo relacionado ao que é belo. Assim, diante desse

contexto, surge o que na Arquitetura chama-se de “Revivalismo”, a busca de apenas um estilo

do passado, admirado por sua excelência, que servisse de referência e fosse capaz de trazer

soluções para os problemas do presente.

Na França, o retorno ao passado foi uma volta às formas clássicas gregas e romanas,

sendo nomeado de “Neoclassicismo”. Esse foi, portanto, o estilo majoritário, adotado a partir

da segunda metade do século XVIII; ou seja, ao mesmo tempo em que eclodiu a Revolução

Industrial, que tecnicamente sinalizava a busca do novo, na arquitetura ocorreu um processo

inverso, uma volta ao passado. Diz-se majoritário porque, em outros países como a Inglaterra,

por exemplo, onde o Neoclássico foi proposto como o retorno às formas clássicas de

Palladio,116

outro Revivalismo foi também utilizado paralelamente ao Neoclassicismo, porém,

com outras fontes de inspiração: o “Neogótico”.

Outras mudanças que antecederam o Ecletismo foram relevantes para entender sua

formação. Após a Revolução Francesa, ocorreu a criação da École des Beaux-Arts117

e École

Polytechnique;118

portanto, aconteceu a cisão entre arquitetura e engenharia – construção. A

Engenharia ganhou campo, e os novos materiais, as novas técnicas, os domínios da ciência e

116

Andrea Palladio (1508-1580) foi um importante arquiteto e teórico renascentista italiano. 117

École des Beaux-Arts – Escola de Belas Artes foi criada na França e incluía os estudos de pintura, escultura e

arquitetura. 118

École Polytechnique – Escola Politécnica foi criada também na França, voltada para os estudos de

engenharia.

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da razão contribuíram para isso. Ao mesmo tempo, os arquitetos começaram a ter dificuldades

em acompanhar tal desenvolvimento, pois, ao contrário dos engenheiros, que não precisavam

atender a nenhum gosto, os arquitetos, por sua vez, tinham sua produção diretamente ligada

aos anseios e gostos da sociedade, e também associada apenas à arte, ao abstrato, ao

sentimento e ao estético, ficando em segundo plano como uma categoria supérflua e

anacrônica, por sua incapacidade de acompanhar as transformações técnicas e tecnológicas do

mundo do século XIX. Foi nesse momento então ─ pós-Revolução Francesa e plena

Revolução Industrial ─ que a separação entre Engenharia e Arquitetura ocasionou as

discussões em torno das diferenças entre Arte e Ciência, entre sentimento e razão.

Na ânsia de resolver as novas questões da época e de adaptarem-se às novas situações,

os arquitetos, cujo campo de trabalho começou então, a partir desse período, a ser disputado

pela Engenharia, buscaram soluções nas formas consagradas da tradição. Embora História e

Arquitetura sempre estivessem ligadas, nesse período, essa relação se intensificou, pois a

produção arquitetônica dos oitocentos está ligada ao vasto repertório de figuras históricas, e

isso ocorreu devido às várias teorias que surgiram e que buscaram a lógica interna do

processo histórico.119

Diante das novas expectativas, das grandes transformações e dos problemas

enfrentados pelas cidades em decorrência dessas várias mudanças, a Arquitetura seguiu por

três caminhos. O primeiro, descrito anteriormente, foi o “Revivalismo”, motivado pelo

Iluminismo, pela cultura acadêmica e pela Arqueologia científica, gerou o Neoclassicismo,

que aspirou substituir a linguagem Barroca e Rococó já tão desgastada.

Segundo Melo,120

paralela a essa produção arquitetônica, e, com objetivos similares,

surgiu, sobretudo na Inglaterra, o Neogótico, cujo desenvolvimento intensificou-se somente a

partir de 1830. Esse estilo possuiu fundamentos distintos que poderiam ser entendidos a partir

de seus principais representantes: Augusto Pugin,121

estudioso do gótico francês e voltado

para a criação de padrões, principalmente igrejas; John Ruskin,122

que objetivou

representar uma cultura antimáquina e defendeu o retorno à produção coorporativa

119

COLIN, S. Uma introdução à arquitetura. Rio de Janeiro: UAPÊ, 2000. 120

MELO, N. B. A. L. Parnaíba cosmopolita: um estudo da sua arquitetura vinculada às formas tradicionais e

às inovações da segunda metade do século XIX e primeira metade do século XX. Monografia (Graduação em

Arquitetura e Urbanismo). Instituto Camillo Filho-ICF, Teresina, 2007. 121

Augustus Pugin (1812-1852) foi um arquiteto inglês cujo nome foi primordial no Revivalismo Neogótico. 122

John Ruskin (1819-1900) era inglês, escritor, crítico de arte, poeta e desenhista. Defendia o Medievalismo

como reação ao Classicismo.

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medieval; e Viollet-le-Duc,123

cujo interesse estava nas “estruturas” góticas e não nas formas

figurativas.

Assim, os Revivals foram fundamentados e exigiram dos arquitetos grande

conhecimento específico, um pensamento embasado em pesquisas, e nos trabalhos

arqueológicos, além de um posicionamento político e crítico desenvolvido e engajado.

Ainda no século XIX, os arquitetos, à busca de adequação ao mundo positivista,

acreditavam encontrar no “Historicismo” a solução para os problemas formais, técnicos ou

estilísticos a partir da utilização de um estilo específico do passado em construções atuais.

Para Montezuma,124

surgiu uma espécie de convenção reguladora, na qual uma divisão

tipológico-estilística atendeu a um programa específico; ou seja, para cada programa, houve

um estilo do passado que era adequado, como, por exemplo, o Neogótico ou o “Neo-

Românico”, que deveriam ser aplicados nas igrejas, o “Neo-Renascimento” nos mercados e

galerias e o “Neogrego”, ideal para as instituições financeiras, monumentos decorativos e

academias.

O Ecletismo surgiu nesse momento, como uma terceira solução. A princípio, criticou a

reprodução dos estilos passados e procurou interpretá-los livremente, pesquisando e

inspirando-se em setores menos conhecidos, como, por exemplo, a arquitetura japonesa e

indiana. Mas a produção industrial em larga escala e o surgimento de novos materiais, novas

técnicas e necessidades funcionais diferentes impuseram uma condição relevante para ser um

bom arquiteto naquele período: ter domínio sobre o maior número de estilos possíveis, para,

dessa forma, atender a diversidade de gostos, sobretudo oriundos da burguesia, que ansiava

escolher o estilo que mais lhe agradava para ser utilizado em seus edifícios, como afirma

Patetta:

[...] cultura arquitetônica própria de uma classe burguesa que dava primazia

ao conforto, amava o progresso (especialmente quando melhorava suas

condições de vida), amava as novidades, mas rebaixava a produção

arquitetônica ao nível da moda e do gosto.125

Aos poucos, o que passou a importar foram as relações formais e não mais os

significados profundos; e o Ecletismo surgiu, desse modo, como um Movimento apolítico.

Caracterizou-se pela mistura de vários estilos em um mesmo edifício. Esses estilos eram

123

Viollet-le-Duc (1814-1879) foi um arquiteto francês ligado ao Revivalismo e um dos primeiros teóricos da

preservação do patrimônio histórico. 124

MONTEZUMA, R. Arquitetura Brasil 500 anos: uma invenção recíproca. Recife: UFPE, 2002. 125

PATETTA, L. Considerações sobre o ecletismo na Europa. In: FABRIS, A. (Org.). Ecletismo na

arquitetura brasileira. São Paulo: EDUSP: Nobel, 1987. p. 12.

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oriundos da tradição clássica e do Oriente, desde a arquitetura mourisca até a japonesa, pois

através das publicações, da difusão do conhecimento, os arquitetos passaram a conhecer

melhor a arquitetura de outros países e outros períodos, como a Arquitetura Bizantina, Árabe

e Românica.

Os arquitetos adeptos do Ecletismo buscavam, por sua vez, inspiração em

manifestações vindas de diversas regiões e momentos distintos do passado, sobretudo para

revestir as fachadas, reunindo vários estilos e os utilizando-os livremente, sem o rigor exigido

antes pela prática Revivalista. Deste modo, em um mesmo edifício foram misturadas

influências distintas. Isso foi facilitado também pela possibilidade de utilizar elementos

decorativos que passaram a ser fabricados em série, e que agora podiam ser escolhidos e

encomendados através de catálogos. No século XIX, havia publicações que traziam várias

fachadas de residências, e o cliente poderia escolher a que melhor lhe agradasse.

Diante desse entendimento, de que a principal característica do Ecletismo foi a

“mistura”, algumas discussões precisam ser citadas. Alguns teóricos da História da

Arquitetura acreditavam que o “Revivalismo” foi uma forma de Ecletismo, pois esses estilos

caracterizaram-se também pela volta a estilos do passado, mesmo que fosse apenas a um

estilo. Contudo, autores como Montezuma126

discordaram desse posicionamento, pois para

ele, no Neoclássico, por exemplo, há a preocupação em respeitar as ordens clássicas,

reproduzir proporções e métodos compositivos, enquanto no Ecletismo há muito mais

liberdade e invenção quanto ao método projetual e na utilização de elementos decorativos.

Adotando um posicionamento diferente, Colin127

e alguns teóricos da historiografia da

Arquitetura recente defenderam que as motivações ecléticas já estavam presentes em

Revivals, como o Neoclássico e Neogótico. Ele ainda dividiu e classificou o Movimento

Ecletismo em três etapas: o “Proto-Ecletismo”, o “Alto Ecletismo” e o “Ecletismo Tardio”.

Colin128

explicou que o “Proto-Ecletismo” ocorreu entre as últimas décadas do século

XVIII e o início do século XIX, e caracterizou-se por desvios nas obras de arquitetos

comprometidos com o Neoclassicismo e Neogótico ou quando em uma mesma obra foram

retomados, por exemplo, aspectos do estilo Clássico e Renascentista, ou ainda se inspiravam

no Gótico francês e Gótico veneziano, já identificando, nesses casos, certo hibridismo.

126

MONTEZUMA, R., op. cit., 2002. 127

COLIN, S., op. cit., 2000. 128

Id. ibid.

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O “Alto Ecletismo” ocorreu na segunda metade do século XIX, e estendeu-se até as

primeiras décadas do século XX. Foi o período em que o Historicismo prevaleceu sobre as

práticas Revivalistas. Ocorreu o então chamado “Tipologismo Estilístico”, quando cada

período histórico, cada estilo do passado representou um determinado programa, ou ainda

quando ocorreu a mistura de vários estilos em um mesmo edifício. A última etapa seria o

“Ecletismo Tardio”, que se estendeu do final do século XIX até meados do século XX,

quando a arquitetura Eclética conviveu com outros estilos como o Art Déco,129

o Art

Nouveau130

e até mesmo com o “Modernismo”.131

Needell132

enfatiza em sua obra a influência do Ecletismo francês nas edificações

erigidas entre o final do século XIX e as primeiras décadas do século XX no país. O que ele

chamou de “Ecletismo tardio” correspondeu a um estilo proveniente da École des Beaux-Arts,

e que deixou transparecer a ênfase na composição, no exótico, no histórico, no clássico, nos

contrapontos visuais, no uso do ferro fundido e do vidro, e ainda sua coerência com os

objetivos dos novos traçados urbanísticos.

O Ecletismo tardio (décadas de 1860-1920) sofreu influências do

romantismo, tanto em seu sentido exótico quanto histórico; do classicismo,

em função de seus fortes vínculos com as diversas manifestações européias

desse estilo; do barroco, no uso do “contraponto de ritmos visuais”. Era a

quintessência do século XIX, em sua síntese pragmática e sensível de todas

essas influências a fim de alcançar u efeito intuitivo. Para essa finalidade,

utilizava-se muito o vidro e o ferro fundido, que acabavam de se tornar

disponíveis. Era um estilo urbanístico, na medida em que valorizava a

circulação em um complexo de ruas e edifícios efetivamente existentes, em

129

Art Déco foi o estilo que surgiu em 1925, a partir da exposição que ocorreu em Paris - Exposition

internationale des arts décoratifs et industriels modern - e que atingiu não só a arquitetura, mas também a

pintura, o vestuário, as joias, os móveis. Caracterizou-se pelas formas geométricas, sólidas, aspecto maciço,

cantos arredondados e o uso de materiais pesados como o aço inoxidável. 130

Art Nouveau foi um movimento na arquitetura e nas artes aplicadas europeias surgido no final do séc. XVIII e

que buscou a fuga aos estilos do passado. Caracterizou-se por suas formas dinâmicas, orgânicas, sinuosas e

fluidas. 131

Modernismo ou Arquitetura Moderna foi mais que um estilo; era um método, um movimento. Surgiu na

Europa, na década de 1920 do séc. XX, através de contribuições coletivas e individuais, como o trabalho de

Walter Gropius, na escola alemã Bauhaus (fundada em 1919 para unir Belas-Artes e Artes Aplicadas em uma

nova arquitetura), bem como a arquitetura do mestre franco-suíço Le Corbusier. Outros fatores a contribuir

também para a formação do movimento foram as vanguardas alemã e holandesa. Após a Segunda Guerra

Mundial, esse movimento se desenvolveu nos EUA (Estados Unidos da América), onde encontrou campo

bastante favorável a seu crescimento e passou a ser conhecido como Estilo Internacional. Caracteriza-se

principalmente pela preocupação com o social, com uma sociedade igualitária. Nos edifícios implantaram a

planta livre, generalizaram o uso de concreto, do vidro e do aço; paredes brancas, sem adornos, faixas de janelas

horizontais, uso de brise-soleil, coberturas planas, uso de escadas e rampas, tetos-jardins e pilotis. As palavras de

ordem eram progresso, produção em série, velocidade, técnica, higienização, geometrização, forma, função,

industrialização e racionalidade. 132

NEEDELL, J.D. Belle époque tropical: sociedade e cultura de elite no Rio de Janeiro na virada do século.

São Paulo: Companhia das Letras, 1993.

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vez de enfatizar apenas a articulação interna e abstrata do edifício

projetado.133

Os posicionamentos citados foram utilizados ao longo da pesquisa. Alguns motivos

corroboram isso: primeiro, enquanto na Europa as construções foram erguidas de acordo com

as regras da arquitetura Neoclássica, no Brasil ocorreu ainda a arquitetura “Tradicional” ou do

“Período Colonial”,134

sendo o Neoclássico introduzido no País somente após a chegada da

Corte Portuguesa, em 1808, e da Missão Francesa, em 1816; segundo porque quando o estilo

Neoclássico, por exemplo, chegou à maioria das cidades do País, como foi o caso de Parnaíba,

não chegou de forma pura, pois havia dificuldade em obter materiais e mão de obra

especializada, além das influências locais.

Por fim, o terceiro aspecto a ser considerado foi que, de acordo com aproximações

iniciais e pesquisas realizadas com os objetos de estudo, ou seja, com as residências

construídas na primeira metade do século XX, no sítio histórico da cidade de Parnaíba,

entendeu-se que na arquitetura parnaibana predominou o que Colin classificou como Alto

Ecletismo e Ecletismo Tardio, e com o que Needell classificou como “Ecletismo tardio”.

3.2 O Ecletismo e a Belle Époque

Ainda na Europa, no final do século XIX, cerca de 1871, teve início um período que se

estendeu até 1914, e que foi denominado de Belle Époque.135

Essa nomenclatura, bem mais

difundida na História do que no campo da Arquitetura, destacou uma época marcada por

muitas transformações e pela difusão do clima intelectual e artístico do momento, bem como

por um novo modo de pensar e viver.

No Brasil, no início do século XX, várias cidades iniciaram reformas urbanas que

emergiram, como Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, Belém e Parnaíba. As cidades brasileiras

133

NEEDELL, J.D., op. cit., 1993, p. 62. 134

Arquitetura “Tradicional” ou do “Período Colonial” foi o nome empregado à arquitetura produzida durante a

época do Brasil Colônia, de 1500 a 1822, e que buscava seguir os estilos Barroco, Rococó e Maneirista

europeus. 135

Belle Époque (do francês, bela época). Expressão que designa uma época marcada principalmente por

transformações culturais, por novos modos de pensar e viver o quotidiano. Esse período ocorreu com maior ou

menor intensidade nas diferentes cidades e ainda se estendeu por períodos distintos. No Rio de Janeiro, de

acordo com Nicolau Sevcenko, compreendeu desde o início da campanha abolicionista até década de 1920.

Sebastião Ponte acreditou que em Fortaleza esse período se estendeu desde meados do século XIX, e com maior

intensidade na Primeira República. Em Parnaíba, a espanção da Belle Époque ocorreu principalmente entre os

anos de 1920 e 1940 do século XX.

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entraram no novo século, modificando sua paisagem, iniciando uma produção arquitetônica

nova, voltadas para o que estava acontecendo no restante do País e ainda no mundo.

O estilo oficial adotado anteriormente no Brasil monárquico foi o Neoclássico,

utilizado após a chegada da Corte portuguesa e da Missão francesa; e, desse modo, aplicado à

maioria das grandes obras, sobretudo nos edifícios institucionais.

Mas foi nesse momento que o Ecletismo ganhou ênfase, pois passou a ser o estilo mais

adequado, tanto para as novas construções, quanto para mascarar os velhas edificações, em

sua maioria, ainda do Período Colonial ou com traços clássicos, pois as grandes

transformações pelas quais passavam as cidades brasileiras exigiam um caráter “moderno”,

atual, algo que demonstrasse a sua ligação e comunicação com os grandes centros, ou seja,

com o progresso.

A cidade é, pois, cenário e lugar da diversificação econômica almejada.

Todavia a proposta não se restringe apenas ao que se chamaria a dimensão

material da transformação capitalista...ou seja, a sua modernização. [...] Há

uma dimensão cultural e simbólica no projeto de modernidade que implica a

transformação da existência num mundo em mudança e que encontra sua

forma de realização no meio urbano [...]. Na proposta de progresso

positivista, a cidade moderna configurava-se como uma das imagens

simbólicas da modernidade almejada.136

Desse modo, cidades europeias, principalmente Paris, assim como algumas capitais do

País, como o Rio de Janeiro, eram polos irradiadores de cultura. Corroborando Pesavento,137

para quem “[...] o „modelo parisiense‟, sob a forma acabada da „metrópole‟, foi capaz de

viajar no tempo e no espaço, participando das representações sociais construídas sobre a

cidade moderna na América Latina.”

Esses polos de criação social invadiram o mundo com promessas novas e

encantadoras, caracterizando-se pelo inesperado de soluções arquitetônicas, bem como pela

riqueza de arranjos culturais.138

Essa influência cultural vinha, portanto, assim como ocorreu

no Neoclássico, principalmente do continente europeu.

Para expressar a Belle Époque, nada melhor do que as grandes avenidas e os edifícios

com fachadas cuidadosamente planejadas. Contudo, esses edifícios possuíam fachadas

enxertadas em construções simples e funcionais, carentes de coerência arquitetônica, mas que

136

PESAVENTO, S. J. O imaginário da cidade: visões literárias do urbano: Paris, Rio de Janeiro, Porto Alegre.

2 ed. Porto Alegre: Ed. Universidade/UFRGS, 2002. p. 263. 137

Ibid., p. 90. 138

QUEIROZ, T. de J. M. Do singular ao plural. Recife: Bagaço, 2006.

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não deixaram de cumprir com o propósito de função simbólica para os quais foram

construídos.139

No século XIX e na primeira metade do século XX, a arquitetura eclética atuou

também como materialização social ao simbolizar o gosto da burguesia, classe que detinha o

poder econômico e que ditava as regras, os hábitos sociais.

Outro aspecto importante para a grande difusão do Ecletismo no Brasil foi que, no

final do século XIX, o País ─ mais especificamente São Paulo e posteriormente a região Sul

─ recebeu um grande número de imigrantes; e foi na arquitetura eclética que a maioria da

população, agora configurada com origens distintas, encontrou no Ecletismo uma referência

adequada para expressar tamanha diversidade cultural.

Também contribuiu para a divulgação desse movimento a imprensa, a reprodução dos

conhecimentos, as reproduções gráficas, que cresceram bastante nesse período. Através de

catálogos, tudo podia ser produzido ou encomendado, desde residências inteiras até aparelhos

de chá. Segundo afirma Sá,140

“[...] durante o período do Ecletismo era grande a circulação de

modelos por meio das publicações, e havia facilidade de acesso a estampas, fotografias e até

mesmo a cartões-postais [...]”.

Assim, principalmente no final do século XIX e início do século XX, as cidades

começaram suas transformaçõesm à busca do progresso, da cultura e da civilidade.

Pesavento141

afirma que “[...] a grande cidade é aquela que irradia a cultura, a civilização, a

novidade e a informação, onde se cruzam e entrecuzam toda sorte de gente e atividades e onde

seu povo se caracteriza pelo que se chamaria a “urbanidade” das atitudes [...]”

A Belle Èpoque e o seu cenário de transformações começou a atingir as grandes

cidades do País a partir dos anos iniciais da República,142

pois os governos queriam imprimir

sua marca, principalmente na normatização da vida e na reordenação dos espaços. Para que as

cidades fossem belas, higiênicas, ordenadas, deveriam também construir edifícios

“modernos”, como exigiam “os novos tempos” e os ideais de progresso tão caros à

República.143

139

NEEDELL, J. D., op. cit., 1993. 140

SÁ, M. M. de. A mansão Figner: o ecletismo e a casa burguesa no início do século XX. Rio de Janeiro:

SENAC, 2002. p. 33. 141

PESAVENTO, S. J., op. cit., 2002, p. 59. 142

República foi o período brasileiro compreendido entre a proclamação da República em 1889 e a Revolução de

1930. 143

Id. ibid.

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66

As cidades são frutos do desejo e, ao mesmo tempo, resultado da ação de quem a

vivencia. Os diferentes projetos,144

destinados a regulamentar, disciplinar o uso do solo

evidenciam, sobretudo por parte dos órgãos públicos, a criação de cidades regulamentadas por

leis, fato não muito recente, considerando que as primeiras experiências, desta maneira, no

Brasil, ocorreram no Rio de Janeiro, no final do século XIX e início do século XX.

Porém, nem sempre esses projetos se materializaram. É da confluência desses projetos

que surgem diferentes cidades. Parafraseando sobre essas diferentes urbes, Calvino destaca

“Fedora”: “No centro de Fedora, metrópole de pedra cinzenta, há um palácio de metal com

uma esfera de vidro em cada cômodo. Dentro de cada esfera, vê-se uma cidade azul que é o

modelo para outra Fedora”.145

Partilhando com Calvino, pode-se dizer que os diferentes

planos urbanísticos almejavam cidades ideais; contudo, as diferentes intervenções tornaram

tais projetos inviáveis. As cidades, mesmo sendo planejadas, vão configurando características

das pessoas que a vivenciam cotidianamente. Para Michel de Certeau:

[...] A cidade se torna tema dominante dos legendários políticos, mas não é

mais um campo de operações programadas e controladas. Sob os discursos

que a ideologizam, proliferam as astúcias e combinações de poderes sem

identidade, legível, sem tomadas apreensíveis, sem transparência racional –

impossível de gerir.146

Dentre essas cidades, podem ser citadas Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro,

Belém, Fortaleza e Parnaíba. Em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, mesmo antes de ser

empossado o primeiro intendente da capital gaúcha, já existiam planos para sanear e

embelezar a cidade, e, desse modo, transformá-la em um local que emanasse o progresso

econômico e industrial presente naquele período.

A Arquitetura Eclética que materializou o cenário proposto do início do século XX

encontrou um amplo campo com a riqueza proveniente da economia cafeeira em São Paulo. A

maioria dos republicanos paulistas representavam uma continuidade da elite cafeeira, e o que

ocorreu foi um deslocamento da atividade econômica. A elite antes cafeeira absorveu a

introdução da industrialização textil e passou a representar a emergente burguesia industrial

144

Em Teresina, no ano de 1867 ocorreu a aprovação provisória das primeiras posturas municipais; e, em 1939, a

elaboração do primeiro código de postura municipal. De acordo com pesquisa feita junto a Prefeitura de Parnaíba

não há nenhuma informação dessa natureza pertinente ao período em estudo no trabalho. 145

CALVINO, Í. As cidades invisíveis. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. p. 32. 146

CERTEAU, M. de. A invenção do cotidiano 1: artes de fazer. Petrópolis: Vozes, 2008. p. 174.

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do Brasil, elevando o Estado paulista à condição privilegiada no cenário político e

econômico.147

Alguns edifícios erigidos no período materializaram o desenvovimento do Ecletismo

aplicado às novas construções da cidade de São Paulo, como é o caso do Teatro Municipal

(Figura 15), construído entre 1903 e 1911, cuja inspiração, claramente perceptível, é na Ópera

de Paris (Figura 16), projetada por Charles Garnier,148

e um monumento ao Ecletismo francês

e aos ensinamentos da École des Beaux-Arts.

O Rio de Janerio era o centro político do Império e também o principal porto do novo

Império. O aumento da população urbana, o impacto dos modelos de comportamento europeu,

os novos ineresses, oportunidades e empreendimentos contribuíram para o crescimento da

cidade, assim como o surgimento de vários problemas.

A Belle Époque carioca inicia-se em 1898, com Campos Sales como Presidente da

República. Durante o seu governo (1898-1902), foram alavancados empréstimos e

investimentos, assim como incentivou a imigração, fundamental para um desenvolvimento

nos moldes europeus. O Rio de Janeiro, apesar de ter suas plantações esgotadas no Interior do

Estado e também superadas pela expansão da lavoura paulista, cresce enquanto capital

nacional, ampliando, deste modo, o seu papel como centro administrativo, comercial,

financeiro e industrial da República.149

147

NEEDELL, J. D., op. cit., 1993. 148

Charles Garnier (1825-1898) foi um arquiteto francês cuja obra mais conhecida é a eclética “Ópera de Paris”

(1861-1874). 149

NEEDELL, J. D., op. cit., 1993.

Figura 15: Teatro Municipal de São Paulo, em 1920.

Fonte: Disponível em: <http://www.aprenda.com.br>.

Acesso em: 10 abr. 2007.

Figura 16: Ópera de Paris, séc. XXI.

Fonte: Disponível em: <http://kristiahlers.com>.

Acesso em: 7 jun. 2010.

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No governo de Rodrigues Alves, o engenheiro Pereira Passos, cuja formação e

experiências eram embasadas no continente europeu, principalmente em Paris, foi nomeado

para a Prefeitura da capital carioca e encarregado de implementar os aspectos urbanísticos da

cidade. Dentre as principais obras planejadas, estava a abertura da Avenida Central, um

grande bulevar que cortava as construções da Cidade Velha.150

Conforme explica Sevcenko,151

fatos como o surgimento da Avenida Central e a

promulgação da lei da vacina obrigatória marcaram a “transfiguração” da cidade do Rio de

Janeiro, que influenciou, por sua vez, as demais cidades no Brasil. Para tanto, os imensos

casarões coloniais e imperiais foram destruídos, cedendo lugar aos palacetes ornamentados

com estátuas e outros utensílios de decoração vindos da Europa. Segundo ele:

[...] O importante, na área central da cidade, era estar em dia com os menores

detalhes do cotidiano do Velho Mundo. E os navios europeus,

principalmente franceses, não traziam apenas figurinos, o mobiliário e as

roupas, mas também as notícias sobre as peças e livros mais em voga, as

escolas filosóficas predominantes, o comportamento, o lazer, as estéticas e

até as doenças, tudo enfim que fosse consumível por uma sociedade

altamente urbanizada e sedenta de modelos de prestígio.152

A cidade, para Certeau,153

foi construída por agentes que fugiam às regras urbanas,

que desconstruíram a urbe legalizada pelos discursos dos pensadores tutelados pelas leis. Do

mesmo modo que o Estado estabeleceu critérios para regulamentar, existiam alguns grupos da

sociedade que reivindicaram para si uma urbe dotada de equipamentos que pudessem oferecer

comodidade e prazer, isso pode ser constatado na cidade de Parnaíba no início do século XX.

A Avenida Central carioca foi inaugurada duas vezes, em 1904 e em 1905 (Figura 17),

e, junto com essa significativa intervenção no traçado urbanístico, ocorreu também a escolha

do estilo arquitetônico mais apropriado para a construção dos novos edifícios ali presentes, ou

mesmo, para revestir as fachadas dos antigos prédios que não precisaram ser demolidos.

Finalmente, em 1910, ficaram prontas as edificações da nova avenida, cujas fachadas haviam

sido cuidadosamente planejadas ao estilo em gosto da época, o Ecletismo. “[...] a maior parte

dos prédios da avenida apresentavam uma fachada Beaux-Arts enxertada em uma construção

150

NEEDELL, J. D., op. cit., 1993. 151

SEVCENKO, N. Literatura como missão: tensões sociais e criação cultural na Primeira República. São

Paulo: Brasiliense, 1999. 152

SEVCENKO, N., op. cit., 1999, p. 36. 153

CERTEAU, M. de., op. Cit., 2008.

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simples e funcional, completamente divorciada, estética e funcionalmente, de sua aparência.

Em suma, o corpo brasileiro com máscara francesa”.154

Essas fachadas foram submetidas a um júri, para o qual predominou a influência

francesa e a tradição da École des Beaux-Art. E essa influência também esteve presente nos

trabalhos da maioria dos arquitetos participantes dessa espécie de concurso.

[...] Seguindo Haussmann,155

Frontin156

estipulou a largura e altura de cada

fachada. Na verdade obrigou os arquitetos a submeterem os projetos de

fachada a um júri... E aos edifícios da avenida cabiam funções variadas.

Mesmo assim, havia uma unidade subjacente à aparente diversidade que

surgiu em 1906. O gosto do júri e a formação dos arquitetos se encarregram

disso. As fachadas eram, acima de tudo, um elogio carioca ao ecletismo

francês, a expressão consagrada da École de Beaux-Arts.157

Nicolau Sevcenko também enfatizou a importância da arquitetura e desse processo de

“fachadismo” pelo qual passou o Rio de Janeiro. Segundo ele:

154

NEEDELL, J. D., op. cit., 1993, p. 66. 155

Barão George Eugène Haussmann foi responsável pelas grandes transformações urbanísticas na cidade de

Paris no final do século XIX. 156

André Gustavo Paulo de Frontin trabalhou ao lado do então prefeito Pereira Passos na reforma urbanística da

cidade do Rio de Janeiro no início do século XX. 157

NEEDELL, J. D., op. cit., 1993, p. 62.

Figura 17: Os novos edifícios da Avenida Central em fase de construção, em 1905,

Praça João Martins Torres.

Fonte: <http://www.educacaopublica.rj.gov.br>. Acesso em: 3 out. 2009.

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As fachadas tornam-se a preocupação permanente e ubíqua, não só na

arquitetura: „... nestes tempos, a fachada é tudo‟. Singularmente, no Rio de

Janeiro do começo do século, é o processo de transformação urbana que dá o

tom para a definição da atmosfera cultural da cidade, as relações sociais se

estabelecem como um sucedâneo do projeto urbanístico que as circunscreve.

[...].158

O teatro foi um dos melhores exemplos do Ecletismo desenvolvido no Rio de Janeiro.

Por ser a mais importante cidade do País naquele momento, a Capital federal, e pelo contato

com as cidades europeias, sobretudo Paris, o “berço da referência cultural”, pôde desenvolver

esse estilo facilmente, pois as dificuldades em termos de materiais e técnicas foram mais

reduzidas quando comparado com a maioria das outras cidades brasileiras.

Assim como o Teatro Municipal de São Paulo, o Teatro Municipal do Rio de Janeiro

(Figura 18), projetado por Francisco de Oliveira Passos, filho de Pereira Passos, foi inspirado

na Ópera de Paris (Figura 19), que trouxe a mistura de vários estilos históricos em sua

fachada, como o Barroco e o Renascimento, por exemplo, tornando-se uma síntese da

Arquitetura Eclética.

Dentre as grandes cidades nordestinas que passaram por essas mudanças encontra-se

Recife. Mas a capital pernambucana entrou no processo de “modernização” mais cedo que a

maioria das outras cidades, ainda em meados do século XIX. Na administração de Francisco

do Rego Bastos (1835-1842), que fez seus estudos na França e trouxe vários trabalhadores

franceses para iniciar uma série de reformas na organização da cidade, dentre eles o técnico

158

SEVCENKO, N., op. cit., 1999, p. 96.

Figura 18: Teatro Municipal do Rio de Janeiro, c.

de 1909.

Fonte: Disponível em: <http://pt.wikipedia.org>.

Acesso em: 9 jun. 2010.

Figura 19: Ópera de Paris.

Fonte: Disponível em: <http: http://kristiahlers.com>.

Acesso em: 7 jun. 2010.

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Louis Vauthier; segundo Rezende159

“[...] A importação dos engenheiros franceses e a

admiração de Rego Barros pela França causara o que se chamava de „afrancesamento‟[...]”.

Fortaleza, capital do Ceará e uma das cidades de destaque no Nordeste brasileiro,

também participou das transformações na Belle Époque, e, mesmo não experimentando

transformações tão profundas como as que passaram o Rio de Janeiro e São Paulo, a partir da

segunda metade do século XIX, tornou-se um polo econômico-social de sua região a partir da

grande exportação de algodão para o mercado externo. Segundo afirma Ponte,160

“assim como

em outros grandes centros do País, os principais agentes desse investimento remodelador da

capital alencarina foram os grupos sociais ligados ao setor comercial, fortalecidos pelo então

crescimento dos negócios de importação e exportação”.

Durante as primeiras décadas do século XX, as reformas se intensificaram. A

paisagem urbana foi se modificando, e um dos fatores preponderantes foi o surgimento dos

primeiros edifícios construídos segundo o Ecletismo ─ o estilo utilizado majoritariamente em

todo o País. A horizontalidade das edificações começou a ser rompida, e as novas fachadas,

em residências e prédios públicos, eram mais elaboradas, “elegantes”. Ponte161

afirma que

“[...] o número de casas baixas e modestas diminuiu no perímetro central, dando lugar a outras

com estilos e fachadas mais elaboradas, portando bandeirolas, persianas, cimalhas, cornijas,

frontões ogivais, varandas e balcões de ferro [...]”.

No Norte do País, Belém foi uma cidade que manteve importante ligação comercial

com Parnaíba e que foi marcada, assim como as demais aqui citadas, pelas transformações

ocorridas, sobretudo no final do século XIX e início do século XX. Esse processo de

modernização só foi possível através do enriquecimento oriundo do comércio extrativista da

borracha, e que, assim como ocorreu na economia parnaibana, teve início ainda em meados do

século XIX, em 1840, e estendeu-se, no caso de Belém, até a década de 1920.

Belém também tentou se “modernizar”, buscando adotar hábitos da cultura europeia,

com práticas de grande contraste, quando comparadas com a cultura amazônica. A cidade

antes voltada para o seu porto, e como tal, carregou adjetivos de “feia” e “insalubre”. No final

do século XIX e nas primeiras décadas do século XX, adotou também a nova política de

embelezamento, remodelação dos hábitos e costumes sociais, e saneamento, que nasceu junto

com a República. Sobre o assunto, Sarges explica:

159

REZENDE, A. P. Desencantos modernos: histórias da cidade do Recife na década de XX. Recife:

FUNDARPE, 1997. p. 29. 160

PONTE, S. R. Fortaleza Belle Époque: reformas urbanas e controle social (1860-1930). Fortaleza: Fundação

Demócrito Rocha/Multigraf, 1993. p.15. 161

Ibid., p. 32.

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Belém tentou tornar-se bem mais européia do que amazônica, inclusive

tornando-se um verdadeiro centro de consumo de bens importados.

Culturalmente, a cidade foi dominada pelo “francesismo”, o que se explica

pelo hábito que tinham as famílias ricas de mandarem seus filhos aprimorar

a sua educação nas escolas francesas. Essa elite intelectual produzida na

Europa é que vai determinar o novo decor urbano, europeizado e

aburguezado [...].162

Dessa forma, pôde-se perceber que as principais cidades do País, impulsionadas por

fatores geradores de riqueza como o comércio de exportação e importação, e com o advento

da República, iniciaram nas primeiras décadas do século XX muitas transformações. Essas

mudanças, que se estenderam a vários aspectos da vida dessas cidades, como, por exemplo,

aspectos culturais, sociais, urbanísticos, e ─ um dos focos principais dessa pesquisa ─ as

mudanças arquitetônicas, que também chegaram a Parnaíba, uma das mais importantes

cidades do Piauí nesse período.

3.3 O Ecletismo e a Belle Époque em Parnaíba

Parnaíba sempre esteve em contato com outras regiões do Estado, do País, e inclusive

do Exterior, como, por exemplo, Europa e Estados Unidos.163

Em razão disso, a arquitetura

produzida no resto do mundo chegou à cidade, facilitada pelas ligações comerciais, e também

pela sociedade local que ansiou, a seu modo, por inserir-se cada vez mais no contexto

mundial. Parnaíba foi uma das cidades piauienses que mais empregou o Ecletismo. As

residências foram construídas seguindo as novidades arquitetônicas da época.

Assim, através do contato permanente com a Europa e com as grandes cidades do País,

como São Luis, Belém e o Rio de Janeiro, Parnaíba iniciou o século XX buscando se

modernizar e foi marcada por várias transformações urbanísticas, como a criação de praças,

jardins e a implementação de equipamentos importantes como o fornecimento de energia

elétrica e projetos para os serviços de água e esgoto.

Assim como ocorreu no Rio de Janeiro, com a Avenida Central, em Parnaíba, a então

Avenida Presidente Getúlio Vargas, antiga Rua Grande, tornou-se uma vitrine de residências

ecléticas, em sua maioria do início do século XIX; e, à medida que a avenida se estendia do

162

SARGES, M. de N. Belém: riquezas produzindo a belle-époque (1870-1912). Belém: Paka-Tatu, 2002. p.

186. 163

FIGUEIREDO, D. M. F. O monumento habitado: a preservação de sítios históricos na visão dos habitantes

e dos arquitetos especialistas em patrimônio. O caso de Parnaíba. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal

de Pernambuco, 2001.

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rio Igaraçu em direção à Estação Ferroviária, os vários momentos e influências do Ecletismo

tornaram-se cada vez mais perceptíveis (Figura 20). De acordo com Diva Figueiredo:

Planejada em novos padrões, ao gosto eclético do início do século, a avenida

reflete a evolução da arquitetura urbana de Parnaíba. Na extremidade do rio

Igaraçu prevalece um conjunto de arquitetura luso-brasileira, com suas

alvenarias de pedra e cal, faiança e ferro forjado, mesclada com a carnaúba e

a telha-vã,164

adaptadas ao meio e ao clima equatorial.165

O Ecletismo não só atingiu as novas edificações, mas também as construções mais

antigas da cidade. Parnaíba, ao vivenciar também a Belle-Époque, quis se modernizar e as

transformações sofridas foram visíveis na arquitetura, inclusive a partir do núcleo mais antigo

da cidade, a região do Porto das Barcas, onde algumas edificações coloniais sofreram

modificações e receberam elementos ecléticos (Figura 21).

164

Telhas-vãs, também chamadas de telha canal, são telhas de grande tamanho, bem cozidas e de cor clara, sem

diferenciação em relação à função ocupada no telhado, servindo para a bica e para a capa (cobertura) e que são

assentadas na cobertura sem argamassa. Também se emprega esse nome (telha-vã ou telhado-vã) aos tetos sem

forro no qual ficam aparentes o vigamento do telhado e as faces inferiores das telhas. 165

FIGUEIREDO, D. M. F., op. cit., 2001, p. 26.

Figuras 20: Fotografia da Avenida Presidente Getúlio Vargas

nos anos 1930, em Parnaíba, PI.

Fonte: Cartões Postais do IPHAN.

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Assim, no início da Avenida, às margens do rio Igaraçu, apareceram as primeiras

edificações, com características ecléticas, que, mesmo ainda conservando traços

arquitetônicos coloniais, como o alinhamento junto à rua, apresentaram mudanças em alguns

elementos como nas esquadrias,166

que passaram a adquirir novas formas e no surgimento das

platibandas167

(Figura 22).

166

Esquadria ou esquadro é o elemento destinado a guarnecer os vãos de passagem, ventilação e iluminação; ou

seja, é o termo que designa a moldura dos vãos, principalmente portas e janelas. 167

Platibanda é a faixa horizontal (espécie de muro ou grade), vazada ou cheia, disposta no alto das fachadas e

que emoldura a parte superior de um edifício. Tem como funções esconder as águas do telhado, proteger terraços

ou ainda servir de elemento decorativo.

Figuras 21: Fotografia da Avenida

Presidente Getúlio Vargas nos anos

1930, em Parnaíba, PI.

Fonte: Cartões Postais do IPHAN.

Figuras 22: Fotografia da Avenida

Presidente Getúlio Vargas nos anos

1930, em Parnaíba, PI.

Fonte: Cartões Postais do IPHAN.

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75

À medida que a Avenida seguiu em direção à Estação Ferroviária, o Ecletismo se

intensificou e foi possível constatar suas mais variadas influências em edificações, cujos

estilos variam entre o Chalé, o Neocolonial e o Art Déco (Figura 23).

Após 1930, com os projetos de modernização do governo federal de Getúlio Vargas,

em 1932, sob a administração de Ademar Neves, houve uma preocupação quanto ao aspecto

urbano da cidade. No que diz respeito à arborização da cidade e aos jardins, o primeiro espaço

paisagístico de destaque na cidade foi a Praça da Graça. Esses cuidados se intensificaram com

a implantação da Praça Santo Antonio, que representou também, na primeira metade do

século XX, um período de prosperidade econômica, social e cultural. É grande a diferença

dessa nova região da Praça Santo Antonio para o núcleo original, do Porto das Barcas. Essas

mudanças foram visíveis através da alteração da dimensão das quadras, orientação das ruas e

preocupações de cunho sanitaristas que revelaram o melhoramento urbano.

O entorno da Praça Santo Antonio foi marcado por sua farta arborização, pelos

jardins, e por passar a ser outro polo de desenvolvimento da arquitetura eclética da cidade,

com muitas residências do estilo supracitado, que se destacaram também pela imponência dos

palacetes e pela ornamentação. Os lotes que a circundaram eram mais largos e as edificações

se depreenderam dos limites do terreno, criando novos espaços de quintais e jardins; mesmo

particulares, diminuíram a percepção de limites entre o público e o privado (Figura 24).

Figura 23: Fotografia da Avenida

Presidente Getúlio Vargas nos anos 1930,

em Parnaíba, PI.

Fonte: Cartões Postais do IPHAN.

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O Ecletismo trouxe, portanto, mudanças em relação às fachadas das edificações, e

também mudanças no programa, na disposição interna das construções, ou seja, na

formulação das plantas baixas. E essas transformações ocorreram por vários motivos, desde as

preocupações de caráter higiênico e de saúde até a influência de outras regiões, que, aos

poucos, modificaram a vida das pessoas, seu modo de viver.

3.4 Mudanças e transformações que caracterizam o Ecletismo

Essas transformações pelas quais passaram as edificações, nas primeiras décadas do

século XX, são, como se viu, impregnadas pelo espírito da modernidade e das novas

preocupações que se formaram em torno da normatização da vida e do reordenamento dos

espaços. Algumas cidades, a exemplo de Porto Alegre, já possuíam, à época, um Código de

Postura que orientava as construções do município. Conforme afirma Sandra J. Pesavento:

[...] Em 13 de março de 1893, pelo Ato nº. 22, o Código de Posturas

Municipais dispunha sobre as construções. Buscava-se padronizar e

regulamentar as novas construções, dando um aspecto mais „civilizado‟ à

cidade. Casas alinhadas, com alturas mínimas dos pés direitos interiores;

quartos com obrigatoriedade de arejamento e área mínima; fixação espessura

das paredes; regras para construir sacadas168

e balcões169

; proibição de

rótulas170

de portas de abrir para fora; obrigatoriedade de latrinas e distância

média para o alinhamento eram medidas a serem adotadas por quem

construísse ou reformasse as habitações que seriam finalizadas pela

168

Sacada é a peça saliente à edificação, sem cobertura, não permitindo trânsito, geralmente medindo cerca de 30

cm. 169

Balcão é a peça sacada da edificação que permite o trânsito. 170

Rótula é o sistema de abertura de janelas de eixo horizontal ou vertical.

Figura 24: Residência situada à Rua Pires Ferreira,

783, Parnaíba-PI.

Fonte: IPHAN-PI (2006, v.2, p. 71).

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77

municipalidade. Ficavam proibidas as edificações em madeira no

alinhamento das ruas ou contíguas a outros prédios. As edificações que

fossem repartidas para mais de uma habitação não teriam em comum quintal,

esgoto, latrinas e tanques. Em suma, os prédios coletivos deveriam satisfazer

às condições de higiene, segurança e estética a juízo da Intendência [...].171

Contudo, deve-se ressaltar que poucas eram as cidades que já possuíam qualquer tipo

de legislação designando regras para as construções. Existiam apenas regulamentações para se

construir, e projetos por parte do governo. Sem uma normatização específica, as mudanças

que ocorriam eram, de modo geral, as mesmas em praticamente todos os lugares e em

Parnaíba não foi diferente.

De acordo com Reis Filho,172

o fato de não mais contar, largamente, com o sistema

servil fez surgir nas residências urbanas algumas modificações; contudo, essas mudanças não

foram tão perceptíveis de início, pois o negro continuou a trabalhar, mesmo que na condição

de mão de obra livre. Outro fator importante foi a chegada de grande número de novos

materiais, técnicas e equipamentos, como, por exemplo, os aparelhos que proporcionavam a

iluminação artificial, permitindo que as pessoas usufruíssem mais da noite, e ocupassem

espaços que anteriormente eram utilizados minimizadamente, a exemplo das salas de jantar e

varandas para receber visitas, amigos e conversar até mais tarde.

Sá173

acreditou que, com todas essas transformações surgidas no final do séc. XIX e

início do séc. XX, começou também a ocorrer mudanças nos programas, na planta das

edificações, na distribuição dos cômodos das residências. O Ecletismo intensificou essa

complexidade, pois os prédios públicos, como estações, hospitais, magazines, e até as

edificações privadas como as residências adquiriram novas funções, diferente do que ocorria

no passado.

Os telhados, geralmente em duas ou quatro águas,174

podiam conter ainda mais

divisões, variadas formas. Eram recobertos preferencialmente por telhas cerâmicas

francesas,175

como aconteceu na maioria das edificações de Parnaíba, ou por telhas canal.176

171

PESAVENTO, S. J., op. cit., 2002, p. 266. 172

REIS FILHO, N. G. Quadro da arquitetura no Brasil. 10. ed. São Paulo: Perspectiva, 2004. 173

SÁ, M. M. de., op. cit., 2002. 174

Águas são os planos inclinados que constituem os telhados. 175

Telhas cerâmicas francesas é o termo empregado às telhas que se originavam não propriamente da França;

elas eram geralmente feitas no Pará ou mesmo em Parnaíba, mas a inspiração era no modelo francês de telha

muito utilizado no período. São telhas chatas que possuem, ao longo de um dos lados logitudinais, ranhuras para

encaixá-la em outra telha igual e, em um dos seus lados transversias, uma concavidade que se encaixa na ripa do

madeiramento do telhado. 176

Telha meia canal ou meia cana é a telha cerâmica curva que possui forma de meia-cana e é usada nas

coberturas com a concavidade alternadamente voltada para cima e para baixo. Em geral são fixadas por seu peso

próprio ou atrito ao madeiramento.

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As empenas,177

frontais ou laterais, continuavam cobertas com platibandas, mas agora repletas

de elementos decorativos, curvas sinuosas, recortadas, com cornija178

(Figura 25).

A fachada frontal ainda era a que mais se destacava, muitas vezes realçada pelo

auxílio das novas cores utilizadas, que, diferentemente do que ocorria antes, eram tons fortes.

Muitos adornos murais em estuque179

ou massa são utilizados, dependendo da inspiração

estilística adotada.

As vergas180

eram um destaque à parte, pois também marcavam as fachadas. Foram

utilizadas com as mais variadas formas, podendo ser retas, em arco pleno,181

arco ogival,182

recortadas ou mistas, e os gradis de ferro são presença quase obrigatória nos prédios da época.

As linhas também eram mais assimétricas, salvo quando a inspiração era o Neoclassicismo, e

a verticaliadade também foi acentuada pelas platibandas e torres, ocorrendo a valorização do

177

Empenas ou oitão é o plano triangular acima da linha do beiral. 178

Cornija é uma faixa horizontal que se destaca da parede; ou ainda o conjunto de molduras salientes que

servem de arremate superior às edificações. Na arquitetura clássica é a parte superior do entablamento. 179

Estuque é a argamassa feita geralmente de gesso ou cal fina e areia, podendo ser utilizado também o pó de

mármore, cola ou outros materiais e que adquire grande dureza e resistência depois de seca. 180

Verga é a denominação dada a parte superior do quadro nas janelas que é constituído ainda pelo peitoril e pela

ombreira. É a peça disposta horizontalmente sobre o vão das portas e janelas sustentando a alvenaria. Pode ser

reta ou curva. 181

Arco pleno é o arco de volta perfeita, semicircular. É o arco em forma de uma semicircunferência, tendo,

portanto, sua flecha igual ao raio que serviu para traçá-lo. 182

Arco ogival é o arco formado por dois segmentos de círculo iguais que se encontram no vértice; é o arco de

ponta ou com forma triangular.

Figura 25: Casa de tipologia eclética, sito à Rua Cel. José Narciso, 844.

Fonte: IPHAN-PI (2006, v. 2, p. 19).

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pavimento superior. O porão elevado, adotado desde o Neoclassicismo garantia a ventilação

do piso em tabuado de madeira.183

No que diz respeito ao lote, as transformações ocorreram em três momentos:

inicialmente, o edifício era implantado recuando apenas um limite lateral e ainda

permanecendo alinhado à via pública. Nas residências maiores, foram introduzidos nesse

espaço entre a casa e o limite do terreno, o jardim como elemento paisagístico, possibilitando

arejamento e iluminação, respeitando as novas preocupações com a higiene e a saúde. A

ligação com o edifício era feita através de varandas,184

apoiadas em colunatas de ferro e onde

agora se encontrava a entrada principal, que saira da fachada frontal e deslocara-se para a

lateral.185

Com o passar do tempo apareceram discretos afastamentos em relação ao segundo

limite lateral e, com isso, o antigo hábito de dormir em alcovas,186

sem qualquer iluminação

ou ventilação natural foi desaparecendo. O terceiro momento ocorreu quando, por fim, a

construção passou a ser totalmente solta dos limites do terreno. A uniformidade anterior das

construções caiu em desuso e as plantas dos edifícios se modificaram cada vez mais,

tornando-se mais complexas. Procurou-se, a partir de então, a privacidade e o conforto que a

vida moderna proporcionava. Aos poucos, cada compartimento passou a ter uma utilização

específica e com inovações.187

A partir do final do século XIX, a privacidade torna-se cada vez mais

importante dentro do conceito de morar. Cada cômodo passa a apresentar

identidade própria e aparecem elementos até então inexistentes, como os

banheiros privativos com banho e wc incorporados ao corpo da casa e,

especialmente o vestíbulo, uma invenção francesa do século XVIII que

viabilizou uma melhor distribuição dos compartimentos e a separação das

zonas.188

Nas edificações maiores, geralmente palacetes, quando ocorriam dois pavimentos, o

térreo era voltado para a parte de serviços e o primeiro pavimento, mais privativo, destinado a

área social. Lemos189

e Reis Filho190

explicam que o interior, a princípio, não possuía muitas

modificações, ficando na frente da casa a sala de visitas; os quartos em torno de um corredor

183

Tabuado de madeira é o piso em tábuas de madeira encaixadas ou justapostas; o tabuado corrido é o soalho de

tábuas preferencialmente sem emendas. 184

Varanda é a guarnição vazada coberta pelo prolongamento da água principal da construção e diretamente

apoiada no solo. 185

REIS FILHO, N. G., op. cit., 2004. 186

Alcovas eram tipos de cômodos, geralmente dormitórios, sem abertura para a parte exterior da edificação. 187

MELO, N. B. A. L., op. cit., 2007. 188

SÁ, M. M. de., op. cit., 2002, p. 49. 189

LEMOS, C. A.C. A casa brasileira. São Paulo: Contexto, 1989. 190

REIS FILHO, N. G., op. cit., 2004.

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ou sala de refeições na parte central; e a cozinha e os banheiros, em segundo plano, isolados

no fundo das edificações (Figura 26).

Mas com as mudanças nos hábitos de higiene foram introduzidas as primeiras

instalações hidráulicas e tanques, que funcionaram como casas de banho nos jardins. Diante

do progresso e da implatação dos serviços, como o abastecimento d‟água, por exemplo, esses

compartimentos sofreram várias mudanças. Os banheiros foram planejados para receber todas

as atividades de higiene íntima, e passaram a possuir lavatório, banheira, ducha, vaso sanitário

e bidê. As grandes cozinhas, características desde o Período Colonial, sobretudo nas grandes

residências, foram desmembradas em outros compartimentos como a copa, saleta e despensa

(Figuras 27 e 28).

Figura 26: Planta de residência na primeira fase do Ecletismo.

Fonte: Reis Filho (2000, p. 49).

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Os ideais de modernidade estavam estreitamente relacionados com a ideia de cultura.

No interior das edificações procurou-se mostrar a exuberância, o gosto pelas artes, e isto foi

constatado através dos móveis, dos trabalhos na ornamentação dos tetos, que podiam ser em

estuque, pintados, e das paredes, que podiam ser revestidas de papel, tecido ou ainda com

pinturas, feitas de acordo com o ambiente. Os objetos decorativos e adornos passaram a ser

utilizados com mais frequência.

[...] o estilo arquitetônico e a decoração interna deveriam sugerir o poder

econômico, o gosto, o grau de ilustração e o cosmopolismo dos

proprietários, ao mesmo tempo em que proporcionariam as condições

necessárias ao seu isolamento. Nos interiores, acumulou-se uma massa de

objetos caros, da prata, bronze, porcelana e cristal, frequentemente

misturados ao excesso de tecidos que revestiam as paredes: cortinas,

reposteiros, e toldos de renda e seda, além de papéis ou pinturas nas

paredes.191

191

HOMEM, M. C. N. O palacete paulistano e outras formas urbanas de morar da elite cafeeira: 1867-

1918. São Paulo: Martins Fontes, 1996. p. 29.

Figuras 27 e 28: Plantas Baixas da Mansão Figner, em São Paulo.

Fonte: SÁ (2002, p. 50; 54).

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A profusão de elementos adotados tanto externamente, como elementos murais nos

edifícios, quanto internamente, ornamentando paredes, tetos, ou ainda como objetos

decorativos, que iam desde relógios, caixas de músicas, a pianos, foi uma das características

relevantes dessa produção arquitetônica. Como exemplifica Sá,192

ao dizer que “o piano, por

sua vez, era uma presença constante e símbolo de cultura e nível social”. Quanto maior a

ornamentação, maior a capacidade financeira do proprietário da edificação.

No Ecletismo, o importante foi a imitação, a fantasia, a recriação. A fidelidade poderia

ficar em segundo plano. É importante ressaltar que, mesmo que este pensamento parecesse

uma falta de compromisso com a verdade histórica, o compromisso no caso é com o ato de

representar e de evocar. O repertório midiático, através dos catálogos, se empenhou em

propagar as novidades vindas da Europa, desde tecidos, ferragens, até fachadas arquitetônicas.

A burguesia absorvia tais novidades como um reforço de sua condição social. Segundo

Baudrillard,193

“[...] os objetos nunca se esgotam naquilo para que servem, e é neste excesso

de presença que ganham a sua significação de prestígio, que designam não já o mundo, mas o

ser e a categoria social do seu possuidor”.

A volta a estilos do passado ou mesmo recorrer a produções arquitetônicas diferentes à

busca da modernidade e do progresso não encontrou nenhuma resistência para a elite

consumidora. Segundo Fabris:

A volta do passado é, paradoxalmente, o índice da modernidade do homem

eclético: os revivals sucessivos que propõe a si próprio não são nem

conservadores nem reacionários, embora reajam contra a noção

contemporânea de história. Não são conservadores porque são

antitradicionalistas; não são reacionários porque não buscam princípios de

autoridade absolutos e imutáveis. Não desejam restaurar nada porque a volta

ao passado não implica uma recuperação de valores, estando sujeitos, ao

contrário, aos ritmos da moda, ao padrão de consumo da produção industrial,

cujos novos materiais integram-se em sua arquitetura fantasiosa [...].194

A arquitetura eclética ganhou ampla difusão em todo o País, inclusive em Parnaíba.

Entretanto, percebe-se que as residências ecléticas erigidas no sítio histórico de Parnaíba, na

primeira metade do século XX, não ocorreram seguindo a maioria dos critérios construtivos

do Ecletismo, por questões distintas como materiais empregados e dificuldade de mão de obra

e técnicas construtivas ou ainda formas particulares de agregar tipologias. Neste sentido,

192

SÁ, M. M. de., op. cit., 2002, p. 56. 193

BAUDRILLARD, J. Para uma crítica da economia política do signo. Rio de Janeiro: Elfos; Lisboa,

Edições 70, 1995. p. 12. 194

FABRIS, A. (Org.). Ecletismo na arquitetura brasileira. São Paulo: EDUSP / Nobel, 1987. p. 283-284.

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buscou-se compreender quais eram as fontes de inspiração para a produção arquitetônica

eclética em Parnaíba.

3.5 Antecedentes e inspirações: o Ecletismo em Parnaíba

O Ecletismo surgiu criticando o retorno ao passado, às formas clássicas gregas,

romanas, góticas, e, por isso, buscou inspiração em momentos distintos do passado bem como

em regiões exóticas e diferentes, materializando um estilo que se caracterizou pela mistura,

pela união de vários estilos em um único edifício.

Contudo, essa mistura, que inicialmente foi baseada majoritariamente em produções

arquitetônicas incomuns ao mundo ocidental, aos poucos assimilou outros vários estilos já

consagrados. Desse modo, o Ecletismo passou a envolver o retorno das mais variadas

produções arquitetônicas como as formas clássicas, góticas e até a arquitetura mourisca e

indiana, por exemplo.

Assim entendido, foram muitas as fontes de inspiração do Ecletismo. Contudo, a partir

dos primeiros contatos com as residências do sítio histórico de Parnaíba, percebeu-se que

algumas dessas inspirações destacaram-se nessa produção arquitetônica do local e

contribuíram para a formação de sua arquitetura.

De acordo com pesquisas iniciais, em Parnaíba, a arquitetura do Período Colonial e a

arquitetura do período Neoclássico foram importantes, e contribuíram para o Ecletismo local,

pois muitas edificações mantiveram as características desses estilos que, como proporcionava

a própria arquitetura eclética, foram incorporadas. Outros estilos como o Chalé foram muito

presentes no Ecletismo, verdadeiras fontes de inspiração. E ainda outros, como o Neocolonial

e o Art Déco, que, mesmo inicialmente surgidos como uma crítica ao Ecletismo, quando

ocorreram na arquitetura parnaibana, foram mesclados à produção eclética, construindo parte

dessa identidade arquitetônica local.195

3.5.1 A Arquitetura Tradicional

Quando se diz Arquitetura do “Período Colonial”, ou “Arquitetura Tradicional” refere-

se a arquitetura produzida durante a época do Brasil Colônia, de 1500 a 1822, que buscou

seguir os estilos Barroco, Rococó e Maneirista europeus; e que, em muitos casos, foi também

195

MELO, N. B. A. L., op. cit., 2007.

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influenciada pela arquitetura indígena e vernacular,196

principalmente no interior do País,

distante do litoral, onde era mais difícil chegar as inovações, tanto em termos materiais quanto

técnicas.

A arquitetura do Período Colonial se caracterizou por produzir edificações que

ocupavam a testada e os limites laterais do lote, com caixa mural197

inteiriça, de volumetria

simples. Havia, no telhado de duas águas, empenas voltadas para a lateral e telhas cerâmicas

de capa e canal, chamadas também de telhas coloniais; beirais que avançavam sobre as

fachadas e apoiavam-se em cornijas. A entrada ocorria pela parte frontal do edifício, onde, na

fachada principal, os cheios predominavam sobre os vazios; as paredes tinham, em sua

maioria, função estrutural; ou seja, além de vedar, elas suportavam o peso da edificação,

construída em alvenaria198

de pedra, adobe ou taipa de pilão; e havia a predominância de

linhas e planos horizontais (Figuras 29 e 30).199

Figueiredo200

afirma que no Piauí, assim como em todo o Brasil, a arquitetura

tradicional contou com muitas influências, como a portuguesa, a dos índios e a dos negros.

Mas outros fatores também contribuíram para sua formação, tais como o meio ambiente

natural, a economia e as exigências sanitaristas. As primeiras construções tinham estruturas

196

Arquitetura vernacular é a que emprega materiais e recursos do próprio ambiente em que a edificação foi

construída, apresentando, assim, caráter local ou regional. 197

Caixa mural: o termo refere-se às paredes externas da edificação, ao “invólucro” que delimita o espaço

interno. 198

Alvenaria é o maciço compacto e resistente resultante da reunião de blocos sólidos justapostos. Pode ser

alvenaria de pedra, pedra e barro, tijolos etc. e pode ser com ou sem o uso de argamassa. 199

MELO, N. B. A. L., op. cit., 2007. 200

FIGUEIREDO, D. M. F. Arquitetura e urbanismo no Piauí: formação e identidade. In: ARAÚJO, Maria

Mafalda Baldoino de; Eugênio, João Kennedy. Gente de longe: histórias e memórias. Teresina: Halley, 2006.

Figura 26: Detalhe da fachada do sobrado

Simplício Dias, sito à Av. Presidente Getúlio

Vargas, 308, Parnaíba, PI.

Acervo: Neuza Melo, 2006.

Figura 30: Sobrado Mirante, sito à Rua

Duque de Caxias, 614 e 618, Parnaíba, PI.

Fonte: IPHAN-PI (2006, v. 2, p. 32).

Figura 29: Detalhe da fachada do sobrado

Simplício Dias, sito à Av. Presidente Getúlio

Vargas, 308, Parnaíba, PI

Fonte: Acervo particular - Neuza Melo (2006).

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autônomas201

e coberturas de trançado de palha, resultantes da influência indígena, assim

como telhados lembrando grandes chapéus, a rapidez e a simplicidade das construções. Eram

bastante adequadas ao clima do local, e tinham como característica também a facilidade de

acesso ao material, como o uso da carnaúba, por exemplo, utilizada em troncos naturais em

esteios, taipa de vedação e caibros de telhados.

Aos poucos, através das influências europeias, foram sendo acrescentadas novas

características às soluções indígenas, como a telha de barro cozido, substituindo a palha; na

taipa que vedava as paredes, as amarrações eram feitas em couro de boi; o reboco era de

barro; a pintura à cal, resultando em edifícios com amplas formas das águas de telhado cuja

estrutura era feita com troncos de carnaúba.202

Nas edificações, principalmente nas residências, as linhas dominantes eram as

horizontais; cômodos amplos e as paredes largas, sendo as internas apenas de meia altura. As

coberturas de telhas-vãs eram raramente forradas por ripamentos planos ou em formato de

gamelas. Os pés direitos sofreram muitas variações, sendo muito altos nas cumeeiras203

e

abaixando no sentido das extremidades, onde as varandas tinham parapeito cheio, recurso

utilizado para amenizar a incidência de luz solar e facilitar a saída de ar quente pelas telhas.

As portas internas eram altas, com bandeiras204

abertas, facilitando a ventilação e amenizando

o calor.205

3.5.2 Arquitetura Neoclássica

O Neoclassicismo surgiu na França e na Inglaterra, em meados do século XVIII, como

o estilo do Império, e materializou os ideais estéticos da Revolução Francesa. Durante o séc.

XIX e ainda no século XX, a arquitetura neoclássica manteve-se como uma constante. Mesmo

com o Ecletismo e com o Movimento Moderno, esse estilo arquitetônico manteve-se firme,

por razões tradicionais ou por razões políticas; pois muitas vezes serviu para representar os

ideais de regimes ditatoriais, como foi o caso do “Nazismo” na Alemanha e do “Stalinismo”

na Rússia. Ainda nos dias atuais, nas construções pós-modernas, ele se faz presente, não mais

com o caráter historicista de antes, como cópia, mas como uma releitura de formas.

201

Estrutura autônoma é uma espécie de esqueleto. Considera-se uma construção de estrutura autônoma quando

seu “esqueleto” de sustentação é formado por vigas, pilares e outros elementos estruturais. As paredes de

vedação (os muros) não recebem cargas ou coberturas. 202

Id. ibid. 203

Cumeeira é a aresta superior, o ponto mais alto do telhado. 204

Bandeiras são aberturas na parte superior das portas e janelas; servem para proporcionar iluminação,

ventilação e ainda a ornamentação desses vãos. Podem ser fixas ou móveis e ainda em caixilho com vidro ou

com venezianas. 205

FIGUEIREDO, D. M. F., op. cit., 2006.

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No Brasil, o estilo chegou com a Missão Francesa, em 1816. O objetivo foi

transformar o Rio de Janeiro, que abrigou a Corte e necessitava se embelezar para ficar a

altura da condição de Reino Unido do Brasil, Portugal e Algarves.

A arquitetura Neoclássica teve como característica a busca do classicismo, da pureza

da arte clássica. As plantas geralmente apresentavam formas quadradas, retangulares ou

centradas.206

Os frontões207

e as colunatas eram muito utilizados, e, diferente do que ocorria

na arquitetura grega e romana, não havia sobreposição de ordens208

arquitetônicas. O exterior

demonstrava grandiosidade e força, enquanto o interior visava à comodidade e o bem-estar.

Teve como inspiração principal o templo grego; as linhas volumétricas dominantes

continuavam sendo as horizontais e os principais materiais utilizados eram os tijolos, a pedra,

o mármore branco, a pedra calcária e o granito.209

No Brasil, se desenvolveu nas cidades próximas ao litoral, pois essas estavam sempre

em contato com o que ocorria no Exterior, devido ao comércio de exportação e importação.

Nos telhados, adotaram soluções mais complicadas, já aparecendo as quatro águas. As

cornijas, platibandas e balaustradas substituíram e esconderam os beirais. Pedra e tijolo

revestidos e pintados constituíram as paredes. As janelas e portas passaram a receber

bandeiras, e o vidro clareava os ambientes, antes iluminados apenas pelos candeeiros e velas.

As entradas eram marcadas por escadarias, colunatas e frontões, mas apenas em locais onde

havia materiais, elementos estruturais que permitissem suportar essas estruturas, encontrando-

se, muitas vezes, a rigidez das construções coloniais ainda nas edificações, ficando o uso do

estilo restrito aos elementos decorativos das fachadas. Nesse momento, foi introduzido o

porão alto com a utilização dos óculos,210

para ventilar e não deixar a umidade chegar ao piso

que geralmente era em tabuado de madeira.211

Quanto aos espaços internos, mantinha-se a configuração do Período Colonial. A

diferença é que começou uma intensa vida social e um cuidado maior com a ornamentação.

As paredes, por exemplo, recebiam pinturas em tons pastéis, como o rosa, e os papéis

206

Planta centrada é aquela cujo eixo da construção encontra-se no centro do espaço; pode ser circular ou

poligonal (com seis ou mais lados); também conhecida como planta em cruz grega devido ao formato de tal cruz. 207

Frontão é o elemento arquitetônico de coroamento, em forma triangular, presente na parte superior da fachada

de um edifício ou ainda sobre portas ou portadas, cuja função inicialmente era arreamatar externamente o telhado

de duas águas e que, através do tempo, tornou-se um elemento decorativo. 208

Ordem é uma forma de expressão na qual se utiliza e dispõe os elementos de forma a obter proporção,

equilíbrio e simetria. Essa ideia surgiu na Grécia Clássica e buscava a forma e disposição dos elementos

característicos da arquitetura grega – era baseada no diâmetro da coluna e os outros elementos derivavam dessa

medida. 209

MELO, N. B. A. L., op. cit., 2007. 210

Óculo é uma abertura de formato geralmente circular presente nas fachadas dos edifícios que servia para

iluminar e ventilar os desvãos dos telhados ou porões. 211

REIS FILHO, N. G., op. cit., 2004.

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coloridos. E o mobiliário tornou-se mais complexo, buscando conforto. Os objetos eram mais

refinados, como cristais, louças e porcelanas.

Em Parnaíba, como em todo o Piauí e na maioria das cidades do País, a “reprodução”

desse estilo, do modo como era originalmente, europeu, não foi possível. O que se fez foi uma

espécie de adaptação, às técnicas, aos materiais, à mão de obra. A partir de então, toda a

produção arquitetônica que chegou sofreu transformações. Entende-se que a união da

arquitetura vernacular com a arquitetura produzida originalmente na Europa ocorreu desde

antes, com os portugueses e na arquitetura do Período Colonial, mas foi nesse período,

durante o Ecletismo, que tudo ficou mais visível.

Após a produção arquitetônica Neoclássica ou ainda “Proto-Eclética”212

(Figuras 31 e

32), teve início o Ecletismo propriamente dito, aquele cuja característica principal eram as

mais variadas influências. Mas como antecipado, alguns estilos ganharam mais destaque do

que outros, como, por exemplo, o Chalé.

212

Proto-Ecletismo ou tipologia “Proto-Eclética” foi a nomenclatura atribuída nesta pesquisa à tipologia

produzida em Parnaíba, e que corresponderia à tipologia Neoclassicismo no restante do País. A escolha pelo

nome atribui-se ao fato de esse estilo, em sua maioria, não ter chegado de forma pura em Parnaíba, ou ainda pelo

fato de que muitas edificações, inicialmente do Período Colonial, apenas dispuseram alguns elementos

decorativos em suas fachadas, não adotando, desse modo, o estilo em sua forma completa.

Figura 31: Casa Inglesa, sito à Av. Presidente

Getúlio Vargas, 235, Parnaíba, PI.

Fonte: IPHAN-PI (2006, v. 2, p. 79).

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3.5.3 A inspiração no Chalé

O Chalé foi um dos modelos mais utilizados no Ecletismo. Essa inspiração veio das

típicas habitações rurais europeias, encontradas especialmente dos Alpes suíços e na

Alemanha. Chegou ao Brasil no final do século XIX, trazida principalmente pelos imigrantes

alemães que se estabeleceram no Sul do País. Rapidamente esse estilo foi difundido, e podem

ser encontrados bons exemplares dessa produção em cidades como Belém, Recife, Olinda

(Figura 33), assim como em Parnaíba (Figura 34), onde, logo nos primeiros passos pela

Avenida Getúlio Vargas, percebeu-se que o gosto pelo Chalé também foi muito apreciado.

Figura 33: Chalé em Olinda, Pernambuco.

Fonte: Montezuma (2002, p. 158). Figura 34: Chalé sito à Av. Presidente Getúlio

Vargas, 458.

Fonte: Acervo particular - Neuza Melo (2006).

Figura 32: Casa de tipologia proto-eclética, sito à Av.

Presidente Getúlio Vargas, 164, Parnaíba, PI.

Fonte: IPHAN-PI (2006, v. 2, p. 78).

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Suas formas românticas213

e pitorescas214

conquistavam justamente pela diferença, por

serem oriundas de lugares e hábitos distantes. Outro aspecto diz respeito ao fato de serem

construídos com materiais estruturais e decorativos de produção industrial ou semi-industrial,

pré-fabricados, ou ainda alusivos à pré-fabricação.215

Dessa forma, os chalés evocavam, ao mesmo tempo, o exotismo e a modernidade,

tornando-se um dos estilos arquitetônicos mais reproduzidos nas construções ecléticas do

período. Conforme diz Brenna,216

“[...] mais do que na aplicação da modernidade ─ a

industrialização, a estandardização ─ o fascínio do chalet estava na alusão à modernidade. Na

vocação de hábitos e de saudades que pertenciam a outros lugares e a outros países [...]”.

Os chalés possuíam características bem marcantes. Em sua maioria eram edificações

com no máximo dois pavimentos; e, no início, os telhados, bastante inclinados, eram em duas

águas, com telhas francesas e empenas voltadas para a rua. Para finalizar o acabamento de

telhados e das cumeeiras perpendiculares ao plano da fachada principal, eram utilizados os

lambrequins,217

ornamentos de madeira ou ferro recortados ou rendilhados. Como ocorreu

durante o Ecletismo, aos poucos a edificação libertou-se dos limites do lote e incorporou os

jardins. As mudanças na planta e a introdução de novos espaços nas edificações fizeram com

que também os telhados ficassem mais complexos, com diferentes jogos de formas e

volumetria mais movimentada (Figura 35). No interior, em sua maioria, o piso era em

assoalho de madeira ou ainda no antigo tabuado corrido. As janelas e portas também recebiam

acabamentos de madeira ou estuque, ornamentando-as e, às vezes, pequenas varandas em

ferro fundido.218

213

Românticas é o termo que vem do Romantismo, expressão da arquitetura predominante na segunda década do

século XIX e primeiras décadas do século XX, cuja principal característica é a revivescência de estilos

históricos. 214

Pitorescas é o termo que vem de Pitoresco, utilizado para designar uma nova categoria estética em relação à

paisagem natural e representada; evoca imperfeições e assimetrias em cenas repletas de detalhes curiosos e

característicos que procuram remeter a uma natureza acolhedora e generosa. 215

MELO, N. B. A. L., op. cit., 2007. 216

BRENNA, G. R. del. Ecletismo no Rio de Janeiro (Séc. XIX-XX). In: FABRIS, A. (Org.). Ecletismo na

arquitetura brasileira. São Paulo: EDUSP / Nobel, 1987. p. 37. 217

Lambrequim é o ornato, o adorno recortado, vazado, decorado, em forma de rendilhado, contínuo, que se

coloca sob o beiral, escondendo o telhado, podendo ser em zinco, chapa de ferro ou madeira. 218

MELO, N. B. A. L., op. cit., 2007.

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Não obstante o espírito romântico juntamente com o aspecto bucólico, nessas

construções deveria ser utilizado o que de mais novo havia nesse campo, principalmente o que

se refere à indústria no âmbito da pré-fabricação. No Brasil, as primeiras manifestações

automatizadas ou de mecanização na produção industrial que ocorreram nesse período foram

em decorrência da mão de obra dos imigrantes e dos trabalhadores assalariados.219

Assim, o

material produzido em série, utilizado nesses edifícios, era limitado, restringindo-se a

elementos decorativos de madeira, zinco e ferro fundido, utilizando-se, na maior parte da

construção, os recursos tradicionais. Portanto, para suprir essa deficiência, eram feitas muitas

importações, desde dobradiças e fechaduras, a vidros, luminárias, bacias sanitárias, forros de

teto etc. Por fim, poucas eram de fato as semelhanças com os chalés suíços, assemelhando-se

mais com construções pré-fabricadas dos Estados Unidos que apareciam em catálogos e

revistas.220

3.5.4 O Neocolonial

O Movimento Neocolonial começou nos Estados Unidos, principalmente nas áreas de

colonização espanhola e no Sudoeste do País, no final do século XIX. A partir de 1910,

encontrou amplo campo em alguns países da América Latina, que começaram, nesse período,

a buscar a independência cultural da Europa, que, até então, ditava os caminhos da arquitetura

nesses países.

219

REIS FILHO, N. G., op. cit., 2004. 220

BRENNA, G. R. del., op. cit., 1987.

Figura 35: Casa de tipologia chalé, sito à Av.

Presidente Getúlio Vargas, 684, Parnaíba,

PI.

Fonte: IPHAN-PI (2006, v. 2, p. 87).

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A Belle-Époque, que se iniciou no final do século XIX e nas primeiras décadas do

século XX, foi marcada pela idolatria à cultura europeia, pela rejeição a tudo o que estivesse

relacionado ao passado colonial, inclusive às artes. Contudo, aos poucos, surgiu uma reação

contrária aos estilos europeus; em parte, devido à Primeira Guerra Mundial e à

preponderância norte-americana sobre todo o continente, visto que a Europa estava agora sob

os abalos da guerra, mas, sobretudo, pelo desejo de construir uma referência nacional.

No final do século XIX, nas décadas de 1890 e 1900, já estavam presentes no Brasil as

discussões em torno de nacionalidade, embora tais discussões estivessem praticamente

restritas aos meios literários, como pode ser constatado através das obras de dois grandes

escritores ─ Lima Barreto e Euclides da Cunha. Esses, apesar das inúmeras diferenças,

abominavam o cosmopolitismo, o modernismo desenfreado, e acreditavam que o futuro do

País dependia da valorização do nacional.221

Com a chegada do século XX e a apatia causada pela guerra, essa questão sobre o que

seria apropriado à condição brasileira cresceu e repercutiu na arquitetura em vários pontos do

País. Os responsáveis pela divulgação dessas ideias nacionalistas foram José Mariano Filho,

médico pernambucano, no Rio de Janeiro; Ricardo Severo em São Paulo, sócio de Ramos de

Azevedo, que, além de engenheiro e arqueólogo português, era um profundo estudioso de

suas raízes e da cultura lusitana, incluindo, dessa forma, o Brasil; Lúcio Costa e seus estudos

sobre a arquitetura colonial; e também as frequentes viagens desses profissionais ao interior

de Minas Gerais, sempre à busca de mais conhecimentos sobre as origens da produção

arquitetônica brasileira.222

Cada país latino começou a buscar suas próprias referências, pois essa proposta

valorizava a herança local e a fuga dos estilos importados. No Brasil, o Neocolonial se

desenvolveu a partir de dois caminhos: a influência da arquitetura colonial luso-brasileira e

também sob a influência de modelos importados, mas que no momento eram de inspiração

nos modelos norte-americanos e, principalmente, da arquitetura mexicana. Essa arquitetura

hispano-americana recebeu o nome de “Estilo Missões”. A partir de então, foram inclusas no

vocabulário arquitetônico brasileiro várias denominações oriundas desse contado com os

norte-americanos, como a palavra hall, substituindo o antigo vestíbulo, living, como passou a

ser conhecida a sala de estar e W.C., referindo-se à latrina.223

221

SEVCENKO, N., op. cit., 1999. 222

LEMOS, C. A. C., op. cit., 1989. 223

MELO, N. B. A. L., op. cit., 2007.

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A reação à produção europeia começou concomitantemente ao Ecletismo, e uma

produção não excluiu a outra, pelo contrário. Em muitos casos, ocorreu que o Ecletismo

assimilou o Neocolonial e fez dele mais uma de suas fontes de inspiração. Portanto, no Brasil,

o Ecletismo ainda permaneceu. Para Lemos,224

as soluções continuaram sendo inspiradas no

passado, mesmo que agora esse passado não fosse predominantemente europeu. Não obstante

a busca por aprofundar os conhecimentos sobre a arquitetura colonial por parte dos

renomados arquitetos, a arquitetura Neocolonial não possuiu caráter inovador, e, na maior

parte do País, ocorreu de modo artificial, apenas como uma espécie de colagem de soluções

antigas, ou ainda invenções decorativas, como o uso de tijolos aparentes, devido à ignorância

dos critérios de composição da arquitetura do Período Colonial.

Agora a arquitetura tradicionalista curte o Império, D. Pedro II, as casas de

janela de arco pleno, pintadas de branco e rosa, branco e ocre, branco e azul.

Tudo cheio de muita saudade que entorpece os ricaços, impedindo-os de ver

a lógica da arquitetura contemporânea dos mestres modernos [...].225

Assim, apesar da inspiração na arquitetura tradicional, de todo o sentimento

nacionalista, à época, e das novas influências americanas, a arquitetura eclética persistiu. Um

exemplo dessa continuidade, ou seja, do Ecletismo com novas influências pôde ser constatado

pelo surgimento nesse período de uma novidade muito utilizada em todo o País, o bungalow.

Esse termo proveniente de moradias típicas da Índia britânica se caracterizava pelos edifícios

térreos, circundado de varandas cobertas.

De modo geral, as principais características de um edifício Neocolonial eram: a

predominância das linhas horizontais, a planta retangular, os telhados de quatro águas com

telhas de capa e canal e largos beirais sustentados por cachorros226

bem recortados. O hall de

entrada é geralmente antecedido por arcada. As portas e janelas possuíam vergas em arco

pleno. Utilizavam ainda os balcões, as colunas retorcidas, as pinhas,227

as treliças e os painéis

com azulejos decorados (Figuras 36 e 37).

224

LEMOS, C. A. C., op. cit., 1989. 225

Id. ibid., p. 97. 226

Cachorro, cachorrada ou ainda beiral de cachorrada são peças recortadas de madeira presentes e aparentes no

beiral, em balanço, apoiadas no frechal para sustentar o beiral do telhado. Às vezes é utilizado apenas como

ornamentação. 227

Pinhas são elementos decorativos, ornatos, em formato da pinha fruto do pinheiro, geralmente em porcelana

ou vidro colorido.

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Quanto ao posicionamento no lote, os edifícios se distanciaram dos limites do terreno,

mas uma passagem lateral ficava reservada aos automóveis, a grande novidade do momento.

De acordo com Lemos,228

embora com todos os apelos para o gosto nacionalista, o interior

das residências ainda mantinha a inspiração francesa em termos de planta, de zoneamento e de

sistema de circulação.

A partir da década de 1920, as residências ganharam um novo compartimento, a copa,

ao lado ou mesmo mesclada com a cozinha, funcionando como uma área de estar, de

encontro, de reunião da família; e foi por ela também que o rádio entrou na casa brasileira,

contribuindo para que esse espaço se transformasse no centro de convivência da família. A

228

LEMOS, C. A. C., op. cit., 1989.

Figura 36: Memorial de Medicina de

Pernambuco.

Fonte: Disponível em: <http://www.ufpe.br>.

Acesso em: 17 jun. 2010.

Figura 37: Casa com dois pavimentos de

tipologia neocolonial, sito à Av. Presidente

Getúlio Vargas, 694, Parnaíba, PI.

Fonte: IPHAN-PI (2006, v. 2, p. 88).

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varanda e a sala de jantar em muitos casos transformaram-se em um apêndice da sala de

visitas. Dependências de serviço e dos empregados ficavam em pequenas edículas no quintal.

O “Estilo Missões”, arquitetura de influência hispano-americana, foi muito difundido

na Califórnia, nas mansões dos artistas americanos à época. Eram edificações que traziam os

arcos ogivais com a base larga e que utilizam as telhas coloniais como no estilo Neocolonial,

mas que utilizavam também telhas de ponta arrebitada, de inspiração chinesa, e ainda a

profusão de elementos decorativos na fachada como era comum ao Ecletismo.

Havia mais liberdade na composição, jogos de volumes, telhados de duas águas e

anexos de uma água, e um dos aspectos marcantes foi a presença, na maioria delas, de uma

torre circular na lateral da fachada principal, local onde geralmente se encontra escada

(Figuras 38 e 39).229

3.5.5 O Art Déco

Na Europa, ainda no final do século XIX e nas duas primeiras décadas do século XX,

começaram a surgir, concomitantemente ao Ecletismo, discussões acerca dessa produção

Historicista. Arquitetos e artistas, de modo geral, desejaram, cada vez mais, fugir do

academicismo que, ao final século XIX, foi totalmente a favor do Estilo Eclético. A primeira

vanguarda que surgiu com esse intuito foi o Art Nouveau. Posteriormente, no período entre

229

MELO, N. B. A. L., op. cit., 2007.

Figura 38: Casa no estilo Missões em

Uberlândia, MG.

Fonte: Disponível em:

<http://www.dochis.arq.br>. Acesso em:

10 abr. 2007.

Figura 39: Casa sito à Rua Humberto de

Campos, 686, Parnaíba, PI.

Fonte: IPHAN-PI (2006, v. 2, p. 48).

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guerras, surge o Art Déco, assim como outras variantes racionalistas, que nortearam e

serviram como transição para o Modernismo.

Art Déco é um termo de origem francesa, uma abreviação de arts décoratifs e que, de

acordo com Strickland,230

foi utilizado pela primeira vez em 1925, na Exposition des Arts

Décoratifs et Industriels Modernes, em Paris. A partir de então, essa nomenclatura

denominou o estilo cujo apogeu se registra entre os anos de 1920 e 1940, e que se expandiu

pela Europa, alcançando as Américas do Norte e do Sul.

O Art Déco era internacional e cosmopolita, ligado à produção industrial e à ideia do

moderno, tendo a sua imagem ligada a tudo o que as inovações representavam à época, como

os automóveis, os aviões, o rádio, o cinema e os arranha-céus. Apesar de essas características

o aproximarem do movimento Moderno, havia várias diferenças entre eles: enquanto o

“Movimento Moderno” estava embasado em doutrinas, estudos, teorias, manifestos, o Art

Déco era pragmático; enquanto o “Modernismo” preocupava-se com aspectos sociais,

econômicos, tecnológicos, e completamente contra a ornamentação, o Art Déco ocupava-se

com a arte e com decoração. Assim como o Ecletismo, também incorporou elementos

oriundos do passado, como os modelos clássicos da Grécia Antiga, do Egito, da arte Oriental,

assim como animais e figuras humanas, mas o fazia de forma estilizada.

As características mais marcantes desse estilo eram a geometria, a verticalidade, a

simetria, a fachada valorizando a esquina. Quanto à volumetria, havia presença de cheios

sobre os vazios, a geometrização das formas, geralmente em ziguezague ou escalonadas, com

volumes destacando-se do corpo do edifício, a utilização de formas aerodinâmicas, de linhas

retas e, quando curvas, formando um arco bem definido. Representando a “Era da Máquina”,

da indústria, e por isso adquiriu aparência prática. Também era alegre, pois utilizava as cores

vibrantes e os vitrais coloridos. Nesse momento, teve início maior integração entre a

arquitetura e o interior, principalmente no que diz respeito ao design dos móveis, aos adornos,

aos utensílios domésticos e à decoração em geral.

No início, caracterizou-se também pelo uso de materiais caros, por ser um estilo

luxuoso, requintado. No entanto, a partir de uma exposição nos Estados Unidos, passou a

simbolizar a recuperação econômica, e tornou-se o estilo oficial de Hollywood,

intensificando-se, dessa forma, a produção industrial e o uso de técnicas e materiais mais

230

STRICKLAND, C. Arquitetura comentada. Rio de Janeiro: Ediouro, 2003.

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96

baratos.231

Isso ocasionou a popularização do estilo, que passou a estar presente no mobiliário,

nos objetos decorativos, de uso doméstico, na moda e até em joias e bijuterias.232

De acordo com Albernaz,233

o Art Déco chegou ao Brasil poucos anos depois de seu

lançamento em Paris, em 1925, e marcou presença principalmente nos estabelecimentos

comerciais, cinemas e obras públicas, como é o caso do cinema em Parnaíba. Mas é

importante ressaltar que, ao mesmo tempo, ainda era marcante a presença do Ecletismo,

ocorrendo, desse modo, a convivência simultânea entre os dois. Para alguns teóricos da

arquitetura, o Art Déco pode ser compreendido, ao mesmo tempo, como uma das últimas

manifestações ecléticas, e como uma tendência moderna, preparando o campo arquitetônico

para o Modernismo que estava por vir.

Desse modo, esta parte do trabalho tratou das principais diretrizes para entender o

Ecletismo. O período em que ocorreu compreendeu a Belle-Époque, e também as influências

e características dessa arquitetura marcada pela diversidade, pelo hibridismo. Compreende-se

que o Ecletismo desenvolvido em Parnaíba, apesar de ser originário da Europa e dos

principais centros do Brasil, ao chegar à cidade, transformou-se e contribuiu para a construção

da identidade local. Contudo, para comprovar tal fato foram necessárias pesquisas

comparativas acerca das residências erigidas no sítio histórico da cidade de Parnaíba, na

primeira metade do século XX, para, desse modo, compreender como ocorreu a produção

arquitetônica local.

231

COLIN, S., op. cit., 2000. 232

MELO, N. B. A. L., op. cit., 2007. 233

ALBERNAZ, M. P.; LIMA, C. M. Dicionário ilustrado de arquitetura. 2. ed. São Paulo: Pro Editores,

2002.

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4 O ECLETISMO EM PARNAÍBA: a construção do método eclético local

4.1 O Ecletismo: aspectos comparativos

As formas de construir, os gostos aplicados às fachadas, as soluções aplicadas na

disposição dos cômodos de um edifício, a preocupação com a adequação ao clima, com o

emprego de técnicas e materiais foram alguns dos aspectos estudados e pesquisados pela

Arquitetura e Urbanismo, e que puderam fornecer dados importantes na investigação da

História das Cidades. Entende-se que através da Arquitetura reúnem-se informações capazes

de estabelecer uma valorosa ligação entre o passado e o presente.

Deste modo, analisar a História, através da arquitetura presente no sítio histórico

parnaibano, foi adequado, posto que o conjunto residencial erguido nesse espaço da cidade, na

primeira metade do século XX, ainda conserva várias características importantes, não só

locais, mas em relação ao patrimônio arquitetônico piauiense como um todo. Essas

edificações permitem observar, conhecer, identificar e estudar formas, técnicas, sistemas e

materiais utilizados na arquitetura e, ao mesmo tempo, articulá-las aos valores culturais,

políticos e socioeconômicos da sociedade que a produziu.

O objetivo principal deste trabalho foi compreender a construção arquitetônica do

método eclético local, que, apesar de ser uma arquitetura originária da Europa e dos principais

centros do País, ao chegar a Parnaíba, transformou-se. Dessa forma, entendeu-se que o

hibridismo, as singularidades presentes na produção arquitetônica local são importantes para

que se perceba como é formada a identidade arquitetônica parnaibana. Dito isto, partiu-se do

pressuposto que o Ecletismo foi predominante na produção arquitetônica residencial de

Parnaíba no sítio histórico na primeira metade do século XX, época de maior

desenvolvimento econômico, cultural e arquitetônico da cidade, fato devido principalmente às

suas relações comerciais.

Assim, na escolha do recorte empírico, considerou-se a riqueza, e, como apontavam as

primeiras observações acerca do objeto de estudo, a diversidade da arquitetura produzida

durante o período mencionado. Os recortes ─ espacial e temporal ─ foram, portanto, o sítio

histórico de Parnaíba, na primeira metade do século XX, cidade cuja economia era, à época,

voltada para o comércio de exportação, o que proporcionava à cidade um grande contato com

o que ocorria no Estado, no País e com a arquitetura produzida no resto do mundo, que

chegou à cidade facilitada pelas trocas comerciais.

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Este trabalho, como fruto e continuação de um estudo anterior, baseou-se então em

alguns dados já estabelecidos anteriormente. Logo, parte do pressuposto que o Ecletismo foi

predominante na produção arquitetônica residencial localizada no sítio histórico de Parnaíba,

e que essa predominância foi constituída na primeira metade do século XX, época de maior

desenvolvimento econômico local. Para chegar a tais números, foram realizadas análises

importantes, como descrito a seguir.

O primeiro passo consistiu em definir especificamente o recorte espacial, seus limites

e quais os edifícios de interesse nesse entorno. Para tanto, considerou-se como o sítio

histórico da cidade a definição e o perímetro feitos pelo Instituto do Patrimônio Histórico e

Artístico Nacional (IPHAN) do Piauí para uma proposta de proteção municipal solicitada pela

Prefeitura Municipal de Parnaíba em 2006 (Anexo 1).

A escolha dos edifícios partiu de um levantamento já existente, feito em 1997, pela

Fundação Estadual de Cultura e Desporto do Piauí (FUNDEC), pelo Ministério da Cultura e

pelo IPHAN / 3ª Coordenação Regional do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico

Nacional-CR, e que faz parte do Inventário e Estudo de Proteção de Conjuntos Urbanos do

Piauí, em que o volume III corresponde ao Inventário de Proteção do Acervo Cultural do

Piauí (IPAC) em Parnaíba. Com base nesse estudo, o IPHAN selecionou, dentro desse

perímetro, 401 edificações, as quais o órgão julgou relevante englobar na proposta de

tombamento e as quais embasaram também a presente pesquisa (Anexos 2 e 3).

Com o recorte espacial definido e com os edifícios selecionados, realizou-se a

primeira parte da análise e, quanto a esse aspecto, foram seguidas três classificações. Na

primeira, consideraram-se os aspectos de preservação desses edifícios. Alguns deles

encontram-se em um processo de degradação muito avançado, sem possibilidade de qualquer

intervenção, como o restauro, por exemplo. Outros, já sofreram tantas intervenções ao longo

dos anos, que fica impossível analisá-los corretamente. Desse modo, conforme exposto no

Gráfico 1, das 401 edificações citadas e analisadas, 111 foram consideradas descaracterizadas

(Apêndices - Mapa 1), restando, portanto, 290 dando segmento à pesquisa.234

234

MELO, N. B. A. L. Parnaíba cosmopolita: um estudo da sua arquitetura vinculada às formas tradicionais e

às inovações da segunda metade do século XIX e primeira metade do século XX. Monografia (Graduação em

Arquitetura e Urbanismo) – Instituto Camillo Filho-ICF, Teresina, 2007.

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99

Uso Original

75,86%

2,41%

13,11%6,21%

2,41%

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

60,00%

70,00%

80,00%

1 2 3 4 5

1 2 3 4 5

Estado de Conservação

72,32%

27,68%

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

60,00%

70,00%

80,00%

1 2

1 2

Em um segundo recorte, as 290 edificações caracterizáveis foram classificadas de

acordo com seu uso original; ou seja, foi considerada sua função primeira, para que se

destinou àquele edifício no ato de sua construção. Fez-se necessária essa divisão porque

muitos imóveis sofreram modificações no seu uso, por inúmeros motivos, particulares a cada

caso, no decorrer do tempo. Os usos se dividem em residencial, comercial, residencial e

comercial, institucional e ainda as igrejas ou templos. Conforme Melo235

demonstrou no

Gráfico 2, a seguir, o uso original predominante foi o residencial, com 220 casas; sete seriam

ao mesmo tempo comércio e residência, trinta e oito teriam função comercial, dezoito seriam

instituições e sete são igrejas ou templos (Apêndices - Mapa 2).

235

MELO, N. B. A. L., op. cit., 2007.

Gráfico 1: 1 - Descaracterizadas / 2 - Caracterizadas.

Fonte: Melo (2007, p. 61).

Gráfico 2: 1 - Residencial / 2 - Comercial e Residencial /

3 - Comercial / 4 - Institucional / 5 - Igrejas ou Templos.

Fonte: Melo (2007, p. 62).

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O último recorte diz respeito à classificação tipológica. Considerando apenas os

edifícios residenciais presentes no sítio histórico parnaibano, alvos da pesquisa em curso,

foram analisadas novamente 227 construções, considerando somente aquelas 220 que têm ou

tiveram apenas função residencial, e as sete que têm ou tinham função residencial e

comercial.236

A classificação tipológica realizada baseou-se nas características dominantes nas

fachadas dessas casas, para, assim, descobrir quais os estilos ou movimento presentes nesse

conjunto. Ela foi feita com o intuito de tornar a pesquisa mais didática. A partir dela, o

Ecletismo, como apontado de acordo com as análises iniciais e superficiais da área, foi o

movimento preponderante na arquitetura erigida no local e nesse período.

Foram oito as categorias tipológicas, isto é, as tipologias estilísticas encontradas nas

residências do sítio histórico de Parnaíba, as quais receberam as seguintes denominações: 1)

“Período Colonial”; 2) “Proto-Ecletismo” (que correspondem às edificações com

características do Neoclassicismo ou, ainda, edificações do Período Colonial que sofreram

alterações e receberam alguma inovação neoclássica); 3) “Ecletismo”; 4) “Chalé”; 5)

“Neocolonial”; 6) “Associação de Categorias” (onde estão presentes na mesma residência as

tipologias Chalé e Neocolonial ou ainda Chalé, Neocolonial e Modernismo); 7) Art Déco e 8)

“Modernismo”.

Isto posto, do total de 227 edificações residenciais ou mistas (com uso residencial e

comercial ao mesmo tempo), definiu-se que treze são da tipologia “Período Colonial”; vinte e

uma correspondem ao aqui entendido como “Proto-Ecletismo”; cinquenta e uma são

consideradas “Ecléticas”; quarenta e cinco são “Chalés”; dezenove são “Neocoloniais”; trinta

e quatro fazem parte da “Associação de Categorias”; quatorze são Art Déco e trinta são

“Modernas”, como apresenta Melo237

no Gráfico 3 (Apêndices - Mapa 3).

236

MELO, N. B. A. L., op. cit., 2007. 237

Id. ibid.

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101

Tipologias

5,73%

9,25%

22,47%

19,82%

8,37%

14,98%

6,17%

13,21%

0,00%

5,00%

10,00%

15,00%

20,00%

25,00%

1 2 3 4 5 6 7 8

1 2 3 4 5 6 7 8

A partir dos números encontrados, dentre as tipologias de uso residencial e/ou

residencial e comercial, entendeu-se que o Ecletismo é dominante, com 65,64%, seguido com

pequena diferença pela tipologia Chalé. A “Associação de Categorias” ocupou a terceira

posição e chamou a atenção para um tipo de tipologia própria, local. Em seguida,

encontraram-se as residências Modernas, também muito difundidas na arquitetura do sítio

histórico de Parnaíba. Em ordem decrescente de quantidade, seguiram as residências Proto-

Ecléticas, as Neocoloniais, as Art Déco e, por fim, as da tipologia Período Colonial.

Ressalte-se que tipologias como o Chalé e o Neocolonial foram, por sua natureza,

manifestações ecléticas (pois a primeira buscou inspiração em uma região longínqua, e a

segunda em uma produção arquitetônica anterior); e que a denominada Associação de

Categorias (resultado da união de outras tipologias em um só edifício) se enquadrou também,

dentro da concepção do movimento Ecletismo. Deste modo, no que diz respeito à quantidade,

o Ecletismo foi predominante na arquitetura do sítio histórico de Parnaíba; mas um Ecletismo

de várias faces, de uma diversidade de características que se agruparam de maneira singular.

É justamente essa união de determinados estilos que difere a arquitetura parnaibana das

demais produzidas no período em estudo.

É importante compreender também que o fato de ter sido o Ecletismo predominante

não torna menos importante as demais tipologias que nele não se enquadraram. A arquitetura

não é uma matéria em que tudo é exato, mas sim uma forma de arte, com caráter subjetivo e

Gráfico 3: 1- Período Colonial / 2- Proto-Ecletismo / 3- Ecletismo / 4- Chalé 5-

Neocolonial / 6- Associação de categorias/ 7- Art Déco / 8- Modernismo.

Fonte: Melo (2007, p. 63).

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que reflete as condições sociais do local onde está inserida. Todas as tipologias encontradas

apresentaram características e influências que contribuíram para a formação de tão importante

patrimônio; logo, não considerar qualquer parte deste patrimônio seria como preterir parte da

história, criando, desta forma, uma lacuna temporal e cultural.

4.2 A residência

Esta pesquisa enfocou as residências e ainda as residências mistas (com uso

residencial e comercial), haja vista que elas são algumas das edificações mais marcantes das

cidades; e, em todos os tempos, esse aspecto esteve presente, até mesmo quando seu papel era

secundário, como no caso dos castelos e das fortificações militares. As casas de uma

determinada cidade podem mostrar os modos de viver de uma população, suas manifestações

de cultura, pois, “na arte da arquitetura, a casa é certamente o que melhor caracteriza os

costumes, os gostos e os usos de um povo”.238

A importância das moradias também esteve presente na cidade de Parnaíba. É evidente

como os setores economicamente dominantes na cidade, na primeira metade do século XX, no

esforço por distinguir-se socialmente, utilizavam suas residências como símbolos de ascensão

social. Contudo, quando de fato se estudam essas casas, são percebidos não apenas os

aspectos relacionados ao ambiente externo ou a fatores materiais e econômicos, mas também

são perceptíveis as influências culturais e históricas, e ainda as diversas relações que existem

entre os seus habitantes.

Além dos aspectos físicos, outros fatores, muitas vezes não tão visíveis ao primeiro

olhar, contribuem para a definição do plano arquitetônico, como, por exemplo, as relações

entre os habitantes das residências. Para entender tais fatores, foi preciso examinar o edifício a

partir de seu interior, vê-lo por dentro. Dessa forma, procurou-se entender que a casa,

enquanto outra chave precursora preponderante desta pesquisa possui, além das questões

estéticas e de ser o suporte para a arquitetura eclética produzida no local, outra dimensão, que

trouxe à tona o conceito de lar. Além de representar um dos aspectos mais característicos das

cidades, pode ainda mostrar os modos de viver de uma população e suas manifestações

culturais.

238

VIOLLET-LE-DUC, Eugene Emmanuel. L'architecture raisonnée: extraits du Dictionnaire de l'architecture

française. Paris: Hermann, 1964. p. 48.

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Nesse momento dois conceitos devem ser enfatizados: “Casa” e “Lar”. A ideia de

“Casa” vem desde o Império Romano, e era atribuída a locais inicialmente rurais, diferente

dos dommus, que eram as habitações urbanas. Na Idade Média, a palavra dommus, que

geralmente eram associadas aos abrigos e moradias, construídos em pedra (mármore, por

exemplo), foi substituída pela palavra casae (que em sua maioria eram moradias em madeira e

barro – só as maiores e melhores continuaram em pedra), atribuindo ao espaço determinada

forma e passando a ter mais valor econômico. A partir de então, a casa passou a registrar

alterações históricas, sociais, inovações técnicas, contexto da região e ainda a delimitar o

público e o privado. Já a ideia de lar vai além da necessidade de abrigo, e surgiu junto com o

fogo das cabanas primitivas, das lareiras. Remete a aconchego, a conforto e representa mais

do que a forma, traduzindo a vida, o “espírito da casa”, a vivência, o clima espiritual.

Dentro da casa, da forma, do invólucro, está o lar, o espírito. Através do estudo das

casas ecléticas parnaibanas foi possível entender como o lar, o local de morada, passou a ser o

refúgio, o reino da intimidade e, ao mesmo tempo, a expressão de desenvolvimento de seus

habitantes. Nesse período ocorreu uma reorganização dos espaços públicos e privados,

quando a vida familiar e a vida social passaram a ser exclusivas e pertencentes somente a

esses espaços privilegiados.

No Brasil, durante o Período Colonial, e na maioria dos outros locais, como na

Europa, por exemplo, a casa era um ambiente para todos os aspectos da vida, como os

negócios, o entretenimento e até religião (Figura 40). Eram inúmeras as pessoas que tinham

acesso a essas residências. A partir de meados do século XIX e de algumas transformações,

como abolição do trabalho escravo, o comércio, que antes ocupava o térreo, passou a ser

remanejado e a ter sedes próprias. A casa deixou de ser o local de trabalho, diminuiu de

tamanho e tornou-se menos pública, passando a ser o palco de comportamentos pessoais e

íntimos da família. Principalmente no final do século XIX, a rotina dentro das casas mudou,

pois o escravo, que era a força motriz da casa e ocupava determinados espaços, saiu de tal

contexto.

Figura 40: Foto antiga da Casa Inglesa, primeira

metade do século XX.

Fonte: Disponível em:

<www.deltadoparnaiba.com.brgaleria_antiga.htm>.

Acesso em: 3 mar. 2007.

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104

Nas famílias, os filhos que antes eram quase que totalmente criados por sua amas

passaram a ter contato maior com seus pais, pelo menos até atingirem a idade de frequentar os

colégios internos dos grandes centros. O “arranjo doméstico” mudou, e, com isso, o

programa239

das casas. Os filhos dormiam em quartos separados dos pais e divididos de

acordo com o gênero. Nas salas, após a refeição noturna, o casal podia reunir-se e conversar,

solitariamente ou recebendo visitas, fato que se tornou habitual pelo progresso técnico, como

a introdução do lampião a gás e, posteriormente, da energia elétrica. A casa era um lugar

social, mas com privacidade; passa a ser da família, particular, local da intimidade doméstica,

do lar. Como afirma Witold Rybczynski:

A domesticidade é um conjunto de emoções sentidas, e não um único

atributo. Ela está relacionada à família, à intimidade, à devoção do lar, assim

como a uma sensação da casa como incorporadora – e não somente abrigo –

destes sentimentos.240

Nos estudos históricos e sociais brasileiros a casa sempre esteve como um local de

destaque. A residência estava separada da rua não só por limites físicos, mas por ser um local

distinto e complexo, onde ocorriam as mais diversas dinâmicas sociais, sendo ao mesmo

tempo um espaço íntimo e privativo, representado pelos dormitórios e banheiros, por

exemplo, e espaço público, como as salas de visitas e jantar. Em casa, as relações se

transformavam e os comportamentos assumiam novas posturas.

Os espaços foram demarcados a partir do momento em que se estabeleceram

fronteiras. Deste modo, eram concebidos de acordo com a sociedade, eram invenções sociais;

e podiam ser eternos, transitórios, legais, mágicos, individualizados ou coletivos;241

e ainda

reunir todos esses aspectos em um espaço maior, como uma casa.

4.3 O método eclético parnaibano

O Ecletismo foi um estilo que marcou a arquitetura brasileira na primeira metade do

século XX, e Parnaíba, por vários motivos aqui já discutidos, acompanhou a seu modo essa

produção arquitetônica. Mesmo sendo uma das cidades do Estado mais desenvolvidas

economicamente nesse período, pois exportava produtos do extrativismo local para a Europa e

Estados Unidos, não era a capital da província, fato que não ocasionou entraves para que se

239

Programa em arquitetura significa projetar a edificação considerando o funcionamento do local. Projetar para

que se tenha um melhor desempenho da função desejada. 240

RYBCZYNSKI, W. Casa: pequena história de uma idéia. Rio de Janeiro: Record, 1999. p. 85. 241

MATTA, R. da. A casa & a rua. 5. ed. Rio de Janeiro: Rocco, 1997. p. 45.

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105

tornasse o principal centro comercial do Piauí, mas que ainda não a igualou a outras cidades

maiores como Rio de Janeiro e Santos, por exemplo.

O fato de localizar-se no interior do Piauí acarretava maiores dificuldades no que diz

respeito à obtenção de requisitos importantes na Arquitetura, como mão de obra

especializada, técnicas construtivas e materiais; e isso fez com que essa arquitetura não

acontecesse do mesmo modo como ela ocorria nos grandes centros do País, principalmente

aqueles que também eram ligados ao litoral, ao comércio de importação e exportação e com

maiores ligações com as grandes cidades do Exterior, como eram os casos do Rio de Janeiro e

de Recife.

A análise comparativa demonstrou que o Ecletismo não só ocorreu em Parnaíba, mas

foi predominante. O que se buscou discutir, então, foi como esse Ecletismo aconteceu e o que

o singularizou; ou seja, como é o Ecletismo parnaibano, o que o torna único, particular e o

distinguiu em relação às outras produções arquitetônicas ecléticas.

De acordo com as pesquisas efetuadas em algumas edificações, entendeu-se que foram

justamente essas particularidades e diferenças do Ecletismo local ─ oriundas principalmente

dos problemas com materiais, técnicas construtivas e mão de obra especializada, e ainda do

modo particular de agrupar algumas tipologias ─ que contribuíram para essa produção. Ao

analisar as residências ecléticas do sítio histórico local, percebeu-se que os parnaibanos não

reproduziram fielmente as edificações dos grandes centros, e que foram justamente essas

diferenças que contribuíram para o hibridismo, para as distintas características e para um

conjunto arquitetônico residencial particular.

As especificidades e variações do Ecletismo em Parnaíba foram vistas como

modalidades de “tradução”. Tradução, para a teoria utilizada, corresponde a uma imitação

traiçoeira e deslocante, através da qual o original não foi reforçado, mas simulado,

reproduzido, transferido, bricolado, reduzido a um simulacro.242

As formas originais foram

transformadas e surgiram, desse modo, as práticas culturais diferentes. E foi essa diferença

que traduziu e qualificou a produção arquitetônica local.

Para a questão do método, recorreu-se aos estudos de Josep Maria Montaner,243

em

que ele discute “A difusão do método internacional”. Apesar de tratar-se de um período

diferente do Modernismo, posterior ao Ecletismo, sua ideia pode ser aplicada à pesquisa aqui

efetuada.

242

BHABHA, H. K. O local da cultura. Belo Horizonte: UFMG, 1998. 243

MONTANER, J. M. Depois do movimento moderno: Arquitetura da segunda metade do século XX.

Barcelona: Gustavo Gil, 2007.

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106

Montaner244

defende que a partir da década de 1930 – momento em que o Modernismo

já se encontrava consolidado na Europa e começava a ser explorado nos Estados Unidos sob a

nomenclatura de “Estilo Internacional” – surgiram dois caminhos de continuidade desse

movimento: o primeiro, mais rígido, mais ligado aos princípios e embasamentos teóricos; e o

segundo, que mesmo mais flexível, mais “organicista”, adaptável, também foi um desenrolar

da arquitetura moderna. Essas pequenas mudanças, esses desvios que sofreram a produção

não descaracteriza a arquitetura; esses caminhos, essas produções aconteceram

concomitantemente.

Assim incorporou-se essa noção ao Ecletismo parnaibano. Existiu sim o Ecletismo

desenvolvido nos grandes centros, aquele que serviu de espelho para toda a produção

arquitetônica do País. Mas ocorreu também, em cidades como Parnaíba, um Ecletismo que se

adaptou, que tomou novas formas e que se tornou o método arquitetônico local. Mesmo com

algumas diferenças – como a maneira particular em agrupar 3 (três) tipologias – ocorreu

perfeitamente dentro dos preceitos e significados desse estilo primeiro. Manteve as ideias

preponderantes da Belle-Époque, quando o importante era o retorno às formas que

traduzissem aspectos como o desenvolvimento econômico e cultural e, ao mesmo tempo,

respeitasse as tradições locais.

4.4 As tipologias do Ecletismo parnaibano

Desse modo, para entender como ocorreu o Ecletismo em Parnaíba, suas

peculiaridades, quais os fatores que o tornam único, partiu-se para a uma segunda análise de

algumas edificações, que englobou não apenas a análise externa, das fachadas, já feita

anteriormente, inclusive para a definição da tipologia estilística, mas também uma análise

mais detalhada da edificação, considerando o partido, as características internas, o modo de

construir; enfim todos os aspectos que juntos constituem de fato a arquitetura.

Deve-se ressaltar que apesar de terem sido selecionadas quarenta e duas residências245

para essa parte da pesquisa, só foi possível analisar vinte e três unidades, pois as demais

encontravam-se fechadas ou não houve a permissão para o acesso. Nas vinte e três residências

acessadas foram realizados registros fotográficos e o levantamento da planta baixa. É

relevante entender que desses levantamentos apenas alguns tiveram uma medição mais exata.

Em sua maioria, foram em forma de croqui, com desenhos mais livres. Mas o importante é

244

MONTANER, J. M., op. cit., 2007. 245

As residências foram escolhidas por apresentarem melhor estado de conservação

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107

que, a partir deles, puderam ser analisadas não só as características murais246

dos edifícios,

das fachadas, bem como as transformações e mudanças internas.

A arquitetura produzida por essa sociedade caracterizou-se também pela dicotomia

tradição e inovação, pois ao mesmo tempo em que buscou nas formas tradicionais

classicizantes, na opulência do Ecletismo, o resgate do passado trazido pelo Neocolonial, por

exemplo, quis inovar, inspirando-se em locais muito distantes e diferentes, como os

traduzidos pelos Chalés, pelas novas concepções do Art Déco e ainda pelas grandes mudanças

do Modernismo. Não obstante o desejo por formas clássicas do passado, expressar os anseios

de uma sociedade privilegiada economicamente, não abriu mão do conforto e das novas

tecnologias.

Para entender como o Ecletismo ocorreu na arquitetura produzida em Parnaíba, ou

seja, como esse movimento, difundido nos maiores centros da época chega em Parnaíba, fez-

se necessário analisar as principais tipologias presentes no conjunto residencial construído no

sítio histórico.

Tratava-se, portanto, de uma cidade que buscava assemelhar-se às grandes metrópoles

sem, contudo, abandonar totalmente os vínculos culturais locais. Bhabha247

chama a atenção

entre o local e o universal, haja vista que os parnaibanos traduziram o Ecletismo através da

inscrição, nesta arquitetura, de marcas que, ao expressarem o local, a singularizavam em

relação à arquitetura eclética existente em outras cidades e países.

4.4.1 Tipologia “Período Colonial” e “Proto-Ecletismo”: antecedentes do Ecletismo em

Parnaíba

Antes de adentrar nas particularidades do Ecletismo parnaibano, deve-se fazer uma

pequena abordagem sobre duas outras tipologias que o antecedeu, a tipologia “Período

Colonial” e a tipologia “Proto-Ecletismo”, mesmo que elas não estejam inclusas no universo

temporal da pesquisa, pois, além de servirem de base para a produção arquitetônica eclética,

também fornecem o suporte para que o leitor entenda melhor as diversas transformações

ocorridas na arquitetura residencial na primeira metade do século XX.

As edificações do Período Colonial encontram-se principalmente nas proximidades do

núcleo inicial da cidade, o Porto das Barcas, e ainda no início da Avenida da Getúlio Vargas,

próximo ao rio Igaraçu. O fato de serem essas algumas das residências mais antigas de

246

As características murais são aquelas presentes na fachada, no exterior do edifício, sem considerar as

características do interior, como, por exemplo, a distribuição dos cômodos. 247

BHABHA, H. K. O local da cultura. Belo Horizonte: UFMG, 1998.

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108

Parnaíba pode ser comprovado através da historiografia parnaibana e também por outros

fatores, tais como localização, posicionamento no lote e materiais empregados.

As principais características dessas edificações são: sobrados,248

quando pertenciam à

classe economicamente favorecida da sociedade à época, ou simples casas térreas, mais

populares, chamadas meia-morada,249

mas todas edificações sem recuos laterais e frontal – em

relação ao lote – e com volumetria simples, cujas plantas eram retangulares ou quadradas. As

entradas são pela parte frontal do edifício. As telhas são de capa e canal ou telhas vãs.250

Os

beirais251

são de cimalha252

e bica ou bica simples.253

As alvenarias254

são mais espessas e de

pedra e barro ou pedra e tijolo. Os forros são em tabuado corrido,255

saia e camisa,256

e telha-

vã.257

Os pisos em sua maioria são em tabuado,258

ladrilhos de barro cozido,259

nas partes

internas, e lajeado260

na parte externa das construções. As vedações de vãos eram calhas ou

almofadadas,261

algumas com postigos.262

As vergas263

em arco pleno,264

retas ou abatidas,265

e os guarda-corpos266

em madeira, ferro fundido e bacias267

de lioz.268

248

Sobrado é o pavimento formado por uma armação de madeira que no primeiro andar é afastado do solo. Esse

termo é aqui utilizado como um tipo de edificação constituída por mais de um pavimento e com grande área

construída. 249

Meia-morada é a chamada edificação térrea que possui na fachada principal porta lateral e duas janelas, cuja

medida dessa testada corresponde a largura dos compartimentos sala e corredor; ou seja, a fachada acompanha a

disposição interna dos cômodos, onde sala e quartos são alinhados e ligados lateralmente à varanda por um

corredor e, após a varanda, encontram-se ainda a cozinha. 250

Telhas-vãs, também chamadas de telha canal, são telhas de grande tamanho, bem cozidas, e de cor clara, sem

diferenciação em relação à função ocupada no telhado. Servem para a bica e para a capa (cobertura), são

assentadas na cobertura sem argamassa. Também se emprega esse nome (telha-vã ou telhado-vã) aos tetos sem

forro, no qual ficam aparentes o vigamento do telhado e as faces inferiores das telhas. 251

Beirais são as extremidades dos telhados que servem para proteger as vedações (paredes) das edificações

principalmente das ações do sol e da água das chuvas. 252

Cimalha é o arremate emoldurado, formando saliência na superfície de uma parede geralmente construída

com diferentes materiais como pedra, madeira ou massa. 253

Bica ou bica simples são também tipos de beiral onde a telha é sacada do paramento da parede; foi

amplamente difundida no Brasil colonial, pela facilidade de execução e baixo custo. 254

Alvenaria é o maciço compacto e resistente, que resulta da reunião de blocos sólidos justapostos. Pode ser

alvenaria de pedra, pedra e barro, tijolos etc.; e pode ser usada com ou sem o uso de argamassa. 255

Tabuado corrido é o forro em madeira em que as tábuas são colocadas em um mesmo plano; para tanto,

utilizam-se várias formas de junção. 256

O Forro saia e camisa é constituído de tábuas de madeira sobrepostas, onde as “saias” são as tábuas de

ressalto e as “camisas” as tábuas rebaixadas. 257

Telhado de telha vã é assim denominado quando o telhado não possui forro e as telhas ficam aparentes. 258

Piso em tabuado são tábuas de madeira encaixadas ou justapostas; o tabuado corrido é o soalho de tábuas

preferencialmente sem emendas. 259

Ladrilho de barro cozido é o tijolo de barro cozido assentado em argamassa de terra sobre a terra socada; em

geral são retangulares e possuem cor clara. 260

Lajeado são lajes de pedra assentadas com argamassa de barro; podem ser trabalhadas ou não; podem ser de

duas cores. 261

Almofada ou calha é a superfície saliente, reentrante ou emoldurada em destaque no paramento de um

elemento de maior extensão, usualmente nas portas e janelas. 262

Postigos são pequenas portinholas fixadas nas folhas principais para auxiliar na iluminação ou mesmo para

vigia.

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109

Quanto à disposição dos cômodos, todos sempre com grandes dimensões, mesmo não

sendo possível determinar com precisão o seu uso original – pois são residências muito

antigas e essas informações foram se perdendo com o tempo e com os mais variados tipos de

mudanças – a partir de pesquisas bibliográficas e considerando alguns fatores, tais como a

mão de obra escrava, ao analisar as plantas foi possível compreender pelo menos em parte, o

programa dessas residências.

Quanto aos sobrados, a parte de baixo abrigava serviços, comércios, senzala ou

depósitos; e nos primeiros pavimentos ficavam as partes íntimas, sociais e de serviços, ligadas

à família. A partir dos corredores na lateral ou na parte central se tinham acesso aos cômodos

enfileirados, onde se destacavam as alcovas.269

As salas de estar ou jantar estavam na parte

frontal. A cozinha ficava aos fundos, onde a telha-vã propiciava a saída da fumaça, e os

banheiros eram fora do edifício. Um dos edifícios relevantes desse período é o Sobrado

Mirante (Figuras 41, 42, 43 e 44).

263

Verga é a denominação dada à parte superior do quadro nas janelas, constituído ainda pelo peitoril e pela

ombreira. É a peça disposta horizontalmente sobre o vão das portas e janelas sustentando a alvenaria. Pode ser

reta ou curva. 264

Arco pleno é o arco de volta perfeita semicircular. É o arco em forma de uma semicircunferência, tendo,

portanto, sua flecha igual ao raio que serviu para traçá-lo. 265

Verga abatida é em forma de arco abatido, que, por sua vez, é o arco formado por círculos de raios diferentes

entre si, sendo sua flecha menor que a metade da distância entre seus pontos de origem. 266

Guarda-corpo é o anteparo de proteção, geralmente de meia altura, presente nas sacadas, varandas e balcões. 267

Bacias são os elementos horizontais, a base saliente que compõem o piso das sacadas ou balcões. 268

Lioz é um tipo de pedra (calcária branca) dura e de granulação fina comum em Portugal, principalmente na

região de Lisboa. 269

Alcovas eram tipos de cômodos, geralmente dormitórios, sem abertura para a parte exterior da edificação.

Figuras 41 e 42: Fachadas e detalhe das telhas e cobertura do Sobrado Mirante, sito à Rua Duque de

Caxias, 614 e 618, Parnaíba, PI.

Fonte: IPHAN-PI (2006, v. 2, p. 32) e Acervo particular - Neuza Melo (2006), respectivamente.

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Quanto ao “Proto-Ecletismo”270

e como já revelado anteriormente neste trabalho,

considerou-se a arquitetura produzida na cidade na segunda metade do século XIX como

tipologia “Proto-Eclética”, por questões temporais, pois o Neoclassicismo chegou, ainda que

no século XIX, mas tardiamente em Parnaíba, e pelo fato de o Neoclassicismo não ter

chegado em sua forma pura, pelas influências locais e dificuldade de materiais e técnicas.

Essa tipologia aconteceu ainda na parte mais antiga da cidade, principalmente no início da

Avenida Presidente Getúlio Vargas, próximo ao rio Igaraçu.

270

Proto-Ecletismo ou tipologia “Proto-Eclética” foi a nomenclatura atribuída nesta pesquisa à tipologia

produzida em Parnaíba e que corresponderia à tipologia Neoclassicismo no restante do País. A escolha pelo

nome atribui-se ao fato de esse estilo não ter chegado de forma pura em Parnaíba, ou ainda pelo fato de que

muitas edificações inicialmente do Período Colonial apenas dispuseram alguns elementos decorativos em suas

fachadas, não adotando, desse modo, o estilo em sua forma completa.

Figura 44: Planta baixa do segundo pavimento do Sobrado Mirante, sito à Rua

Duque de Caxias, 614 e 618, Parnaíba, PI.

Fonte: PIAUÍ (1997, ficha PA cv 015).

Figura 43: Planta baixa do primeiro pavimento do Sobrado Mirante, sito à Rua

Duque de Caxias, 614 e 618, Parnaíba, PI.

Fonte: PIAUÍ (1997, ficha PA cv 015).

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Assim como na Europa, esse estilo representava uma classe social que começou a se

destacar através do comércio e do poder financeiro que ele proporcionava. Em Parnaíba,

mesmo com as dificuldades locais, não aconteceu diferente. Contudo, no que diz respeito à

mão de obra especializada, materiais e técnicas, utilizou-se a estrutura colonial já existente.

Os edifícios foram implantados ainda sem recuos laterais ou frontais, com as entradas

principais nas fachadas frontais, como, de fato, ocorreu na arquitetura Neoclássica. Os

materiais utilizados eram: o tijolo maciço, a telha meia canal271

artesanal, a carnaúba na

estrutura dos telhados e a madeira serrada. As cornijas272

foram acentuadas e os beirais

marcados por cachorros273

e bicas. As inovações ficaram por conta de alguns detalhes murais

acrescentados nas fachadas, como a platibanda,274

os balaústres,275

os pináculos e

coruchéus276

.

Nesse estilo arquitetônico, a simetria e a proporção foram características. Em

Parnaíba, as residências proto-ecléticas têm nos forros o uso do tabuado corrido; os pisos

variam entre o ladrilho de barro cozido, o ladrilho hidráulico;277

o tabuado corrido uniforme

ou o claro-escuro, a lajota cerâmica278

e outros. As vedações são marcadas pela calha ou

almofadas, pelas venezianas279

e vidro; as vergas são retas, de arco pleno e abatidas; as

bandeiras280

em ferro, vidraça e madeira; e ainda os guarda-corpos em ferro fundido e

madeira.

271

Telha meia canal ou meia cana é a telha cerâmica curva que possui forma de meia-cana, e é usada nas

coberturas com a concavidade alternadamente voltada para cima e para baixo. Em geral são fixadas por seu peso

próprio ou atrito ao madeiramento. 272

Cornija é uma faixa horizontal que se destaca da parede, ou ainda o conjunto de molduras salientes que

servem de arremate superior às edificações. Na arquitetura clássica, é a parte superior do entablamento. 273

Cachorro, cachorrada ou ainda beiral de cachorrada são peças recortadas de madeira presentes e aparentes no

beiral, em balanço, apoiadas no frechal para sustentar o beiral do telhado; às vezes é utilizado apenas como

ornamentação. 274

Platibanda é a faixa horizontal (espécie de muro ou grade), vazada ou cheia, disposta no alto das fachadas e

que emoldura a parte superior de um edifício. Tem como funções esconder as águas do telhado, proteger terraços

ou ainda servir de elemento decorativo. 275

Balaústres é uma pequena coluna ou pilar que forma junto com outros elementos iguais, dispostos em

intervalos regulares, uma balaustrada. O tipo mais comum possui forma torneada. Pode ser em madeira, em

argamassa ou outro mateiral. 276

Pináculos ou coruchéus são arremates que ornamentam o coroamento do edifício e possuem, usualmente,

forma cônica ou piramidal. 277

Ladrilho Hidráulico é o ladrilho (peça pouco espessa, de superfície plana, usada principalmente para

revestimento de piso, feito de pedra, cimento ou metal) obtido por prensagem hidráulica de argamassa de

cimento. 278

Lajota cerâmica é uma pequena laje de cerâmica usada para revestir pisos. 279

Venezianas são palhetas horizontais paralelas, dispostas em posição inclinada de dentro para fora e do alto

para baixo, de modo a permitir a ventilação no interior do edifício, impedir a visibilidade, a entrada de água da

chuva e obscurecer o ambiente. 280

Bandeiras são aberturas na parte superior das portas e janelas e que servem para proporcionar iluminação,

ventilação e ainda a ornamentação desses vãos. Podem ser fixas ou móveis e ainda em caixilho com vidro ou

com venezianas.

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A disposição interna dos espaços continua a mesma do Período Colonial, ainda com

plantas, em sua maioria, quadradas e retangulares; corredores ligando as salas na parte frontal

aos cômodos. A parte destinada aos serviços também continuou ao fundo. Em Parnaíba, entre

as residências proto-ecléticas visitadas, somente uma dessas tem o banheiro interno, mas com

papel de sala de banho, possuindo grandes dimensões como o restante dos compartimentos. A

mudança interna se deu somente no aspecto social, a preocupação em receber fez com que

móveis, objetos de arte, louças, tecidos, enfim, uma grande variedade de objetos fosse

importada.

Um excelente exemplo dessa tipologia presente no sítio parnaibano é a Casa Inglesa, e

sede da família Clark, pioneiros no comércio de exportação e importação em Parnaíba

(Figuras 45 e 46). Considerando-se que tenha sido construída em 1814, de acordo com a placa

locada na porta principal, que traz as datas 1814-1920. O solar passou por várias intervenções

e mudanças ao longo do tempo, mas ainda conserva algumas características neoclássicas,

assim como possui também influências dos sobrados maranhenses.

4.4.2 Tipologia Ecletismo

Quando começou a ser difundida a arquitetura eclética no Brasil, em plena Bella-

Époque, vários aspectos culturais, políticos, sociais e econômicos contribuíram para a

formação dessa produção no País. Nesse momento, fatos importantes como a Abolição da

Escravatura e a Proclamação da República interferiram na vida das pessoas como um todo,

Figura 45: Casa Inglesa, sito à Av. Presidente Getúlio

Vargas, 235, Parnaíba, PI.

Fonte: IPHAN-PI (2006, v.2, p. 79). Figura 46: Detalhe da platibanda

e do coruchéu na Casa Inglesa,

sito à Av. Presidente Getúlio

Vargas, 235, Parnaíba, PI.

Fonte: Acervo particular - Neuza

Melo (2007).

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incluindo, assim, a sua forma de morar. Nesse período, as construções deixaram de contar

com a mão de obra escrava, com o sistema servil, ao mesmo tempo em que surgiram novas

técnicas, novos materiais, e, ainda que frutos de uma grande transformação industrial que

começou na Europa, chegaram facilmente à Parnaíba, através do seu comércio de exportação

e importação. A iluminação artificial foi outro fator que contribuiu para transformar a vida da

cidade, assim como as publicações, que permitiram aos parnaibanos o conhecimento de tudo o

que se passou no resto do País bem como no Exterior.

O crescimento da economia fez com que houvesse não só um grande contato com o

mundo exterior e o acesso às inovações, como também aumentou o desejo, por parte das

pessoas que detinham o poder financeiro local, de mostrar seu progresso; e nada melhor do

que fazer isso através da arquitetura de suas residências, algo que transmitisse a grandiosidade

e o poder econômico da alta sociedade local, o que pode ser visto nas casas do Coronel José

de Moraes Correia (Figura 47) e do Dr. Samuel Santos (Figura 48).

As residências ecléticas estão presentes em todo o sítio histórico, mas é na Avenida

Presidente Getúlio Vargas que estão alguns dos exemplares mais significativos de Parnaíba

(Apêndices - Mapa 6). Aos poucos, a antiga arquitetura do Período Colonial e do Proto-

Ecletismo cedeu espaço para o Ecletismo (Figura 49), que se tornou a tipologia predominante

na cidade.281

281

MELO, N. B. A. L., op. cit., 2007.

Figura 47: Casa do Coronel José de Moraes Correa sito

à rua a Grande, em Parnaíba, PI. Fotografia do

Almanaque de Parnaíba de 1926.

Fonte: Almanaque de Parnaíba (1926, p. 16/v).

Figura 48: Casa do Dr. Samuel Santos, em

Parnaíba, PI. Fotografia do Almanaque de Parnaíba

de 1926.

Fonte: Almanaque de Parnaíba (1926, p. 24/v.)

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Das vinte e três residências visitadas durante a pesquisa no sítio histórico parnaibano,

sete foram classificadas como tipologia Eclética. Para facilitar a compreensão do leitor, foram

relacionadas e organizadas seguindo uma ordem de transformação pela qual passou o

Movimento Eclético de modo geral.

As primeiras residências aqui apresentadas (Figuras 50, 51, 52 e 53, 54 e 55) são

edificações que marcam o primeiro momento da arquitetura residencial eclética, quando a

casa foi caracterizada pelo afastamento de um dos limites do lote, mas continuaram alinhadas

à via. Nas residências maiores, surgiram os jardins, mostrando as novas preocupações com as

questões de higiene, ventilação; e a iluminação e o acesso principal passou a ser pela lateral

do edifício (Apêndices – Fichas Cadastrais e Arquivos de Fotos 1, 2, 3, 4 e 21).

Figura 51: Casa de tipologia eclética, sito à Av.

Presidente Getúlio Vargas, 657, Parnaíba, PI.

Fonte: IPHAN-PI (2006, v. 2, p. 84).

Figura 50: Casa de tipologia eclética, sito à Av.

Presidente Getúlio Vargas, 515, Parnaíba, PI.

Fonte: IPHAN-PI (2006, v. 2, p. 87).

Figura 49: Casa sito a Av. Presidente Getúlio Vargas, 956,

Parnaíba, PI, década de 1930.

Fonte: Cartões Postais do IPHAN.

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Em seguida, apresenta-se um exemplar característico de um momento posterior ao

Ecletismo, quando as edificações já se soltaram do segundo limite do terreno e, por fim, se

encontraram totalmente afastadas desses limites, como pode ser visto na fachada e,

principalmente, na planta baixa (Figuras 56 e 57) e (Apêndices – Ficha Cadastral e Arquivo

de Fotos 5).

Figura 52: Casa de tipologia eclética, sito a Av.

Presidente Getúlio Vargas, 956, Parnaíba, PI.

Fonte: IPHAN-PI (2006, v. 2, p. 91).

Figura 55: Planta baixa e de situação de residência eclética

com afastamento lateral, sito à Rua Cel. José Narciso, 844,

Parnaíba, PI.

Fonte: PIAUÍ (1997, ficha PA cv 036).

Figura 54: Casa de tipologia eclética, sito à

Rua Cel. José Narciso, 844, Parnaíba, PI.

Fonte: IPHAN-PI (2006, v. 2, p. 19).

Figura 53: Casa de tipologia

eclética, sito à Rua D. Pedro II,

1140, Parnaíba, PI.

Fonte: IPHAN-PI (2006, v.2, p. 37).

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Quanto à parte externa, aos detalhes murais nas fachadas, em Parnaíba, um dos marcos

da arquitetura foi o porão alto (Figura 58). Em outras cidades piauienses, como em Pedro II, o

porão teve vários usos, como, por exemplo, abrigo de escravos, animais e escoderijo. Mas de

acordo com a maioria dos habitantes dessas residências parnaibanas visitadas, eles possuíram

apenas a função de ventilação, contando, para tanto, com a presença de óculos282

(Figura 59).

282

Óculo é uma abertura de formato geralmente circular, presente nas fachadas dos edifícios e que serviam para

iluminar e ventilar os desvãos dos telhados ou porões.

Figura 56: Casa de tipologia eclética, sito à Rua

Ademar Neves, 1470, Parnaíba, PI.

Fonte: IPHAN-PI (2006, v.2, p. 2). Figura 57: Planta de sit. de

resid. sito à Rua A. Neves,

1470, Parnaíba, PI.

Fonte: Melo (2007, p. 75).

Figura 58: Detalhe do porão

na residência sito à Av.

Presidente Getúlio Vargas,

657, Parnaíba, PI.

Fonte: Acervo particular -

Neuza Melo (2007).

Figura 59: Detalhe do óculo na

residência sito à Rua Av.

Presidente Getúlio Vargas,

657, Parnaíba, PI.

Fonte: Acervo particular -

Neuza Melo (2007).

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Quanto à estrutura dos telhados, forro e telhas, apresentaram-se algumas

particularidades dos parnaibanos. A maioria das estruturas das coberturas eram feitas de

carnaúba – o que ocorreu no Piauí de modo geral – e de madeira serrada (Figura 60). Nas

coberturas, apesar de continuarem utilizando as telhas de meia cana, a inovação chegou com

as telhas de “Marselha”,283

também conhecidas como “telha francesa”, que logo caiu no gosto

dos parnaibanos (Figura 61). Nos forros, foram encontrados vários modelos, desde os mais

comuns, de madeira em tabuado corrido,284

saia e camisa, ripados (Figura 62), trabalhados até

os importados, como o forro de zinco (Figura 63) que veio dos Estados Unidos especialmente

para a uma residência parnaibana.

283

Telhas cerâmicas francesas é o termo empregado às telhas que se originavam não propriamente da França;

elas eram geralmente feitas no Pará ou mesmo em Parnaíba, mas a inspiração era no modelo de telha francês

muito utilizado no período. São telhas chatas que possuem, ao longo de um dos lados logitudinais, ranhuras para

encaixá-la em outra telha igual e, em um de seus lados transversias, uma concavidade que se encaixa na ripa do

madeiramento do telhado. 284

Tabuado de madeira é o piso em tábuas de madeira encaixadas ou justapostas; o tabuado corrido é o soalho de

tábuas preferencialmente sem emendas.

Figura 60: Detalhe da cobertura na residência sito à

Av. Presidente Getúlio Vargas, 657, Parnaíba, PI.

Fonte: Acervo particular - Neuza Melo (2007).

Figura 61: Detalhe das telhas na residência sito à

Rua Cel. José Narciso, 606, Parnaíba, PI.

Fonte: Acervo particular - Neuza Melo (2007).

Figura 62: Detalhe de forro ripado na

residência sito à Av. Presidente Getúlio

Vargas, 657, Parnaíba, PI.

Fonte: Acervo particular - Neuza Melo

(2007).

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Uma das mudanças trazidas pelo Ecletismo estava na posição das empenas,285

que

antes eram laterais, e, nesse período, passaram a ser frontais. Utilizaram em Parnaíba a bica

simples, o caibro286

corrido, mas as platibandas, tornaram-se marcantes, e cada vez mais

rebuscadas, com grande variedade de formas e elementos decorativos, destacando a fachada

principal da casa e o nível econômico de seus moradores.287

Outro marco da arquitetura parnaibana foram as vedações, principalmente as janelas.

Para fechar os vãos, os parnaibanos variaram, foram muitas as opções, como as janelas e

portas com duas folhas, em madeira, almofadadas, de calhas, com postigos, venezianas, com

vidros ─ inclusive coloridos (Figura 64), com painéis importados (Figura 65). Em alguns

casos toda a estrutura da vedação já veio pronta, como foi o caso de uma janela (Figura 66)

que veio de Belém do Pará. Finalizando essas vedações, foram utilizadas também vários tipos

de verga, característica marcante de todo o Ecletismo, variando desde as vergas retas, em arco

pleno, até as vergas em arco ogival,288

recortadas ou em ferradura.

285

Empenas ou oitão é o plano triangular acima da linha do beiral. 286

Caibro é a peça de madeira, em geral de seção retangular utilizada comumente no madeiramento do telhado. 287

MELO, N. B. A. L., op. cit., 2007. 288

Arco ogival é o arco formado por dois segmentos de círculo iguais que se encontram no vértice; é o arco de

ponta ou com forma triangular.

Figura 63: Detalhe do forro em zinco na

residência sito à Rua Cel. José Narciso, 844,

Parnaíba, PI.

Fonte: Acervo particular - Neuza Melo (2007).

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Muitas residências possuem as varandas,289

os balcões,290

enfim, espaços delimitados

pelos gradis de ferro, que, em algumas residências, foram também importados; e as

balaustradas, que variavam entre a alvenaria e também o ferro. Os pisos mais utilizados nas

casas de Parnaíba foram o ladrilho hidráulico e o tabuado corrido claro-escuro.

Nesse período de muitas inovações, absorção e assimilação de culturas, e, ao mesmo

tempo, sempre preservando as suas próprias tradições, começaram aos poucos, algumas

alterações no programa das residências. Baseadas nas plantas do Período Colonial e do Proto-

Ecletismo as intervenções ocorreram lentamente. As salas de visitas continuaram na parte

289

Varanda é a guarnição vazada coberta pelo prolongamento da água principal da construção e diretamente

apoiada no solo. 290

Balcão é a peça sacada da edificação que permite o trânsito.

Figura 64: Detalhe da janela e

bandeira com vidros coloridos, na

residência sito à Av. Presidente

Getúlio Vargas, 657, Parnaíba, PI.

Fonte: Acervo particular - Neuza

Melo (2007).

Figura 65: Detalhe do painel importado na

residência sito à Av. Presidente Getúlio Vargas,

657, Parnaíba, PI.

Fonte: Acervo particular - Neuza Melo (2007).

Figura 66: Detalhe da janela trazida de Belém –

PA, na residência sito à Av. Presidente Getúlio

Vargas, 515, Parnaíba, PI.

Fonte: Acervo particular - Neuza Melo (2007).

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frontal das casas, e, em algumas delas, paralelo a esses cômodos, um dormitório, seguido dos

demais até a parte de serviços, a cozinha, todos ligados por um corredor.

As salas de jantar, destinadas a receber também as visitas, encontravam-se na parte

central da casa (Figura 67). Aos poucos, os banheiros passaram a ser incorporados à

residência, mas sempre muito grandes e próximos à cozinha. Em algumas edificações

visitadas, puderam ser encontrados banheiros tão espaçosos que, com o decorrer e do tempo e

as novas necessidades, foram divididos em dois. Através do levantamento de dados das

residências visitadas, percebeu-se que, à medida que se estendeu o século XX, quanto mais

nova a edificação, maior o distanciamento das antigas e de seus programas, principalmente na

questão do dimensionamento dos cômodos que tenderam a diminuir.

O Ecletismo trouxe à tona as cores fortes e vivas, diferentes de antes, do Neoclássico,

cujas fachadas recebiam tons pastéis, cores sóbrias, como o cor-de-rosa claro, por exemplo.

As casas acessadas nessa pesquisa destacaram-se pela opulência do interior, pelo requinte do

ambiente, cujos móveis eram também importados, e, em muitos casos, austríacos. Do mesmo

modo, ocorreu com muitos objetos decorativos, como lustres, vasos, castiçais, painéis

decorativos e pianos.

O último exemplar dessa tipologia, ao qual se teve acesso e que carrega o Ecletismo na

sua fachada, foi uma casa mais simples que as demais, mais popular (Figura 68), e que

demonstrou também um momento tardio do ecletismo parnaibano, pois já se percebeu a

influência do Neocolonial na platibanda (Apêndices – Ficha Cadastral e Arquivo de Fotos 6).

Figura 67: Planta baixa de situação de residência sito à Av.

Presidente Getúlio Vargas, 515, Parnaíba, PI.

Fonte: Melo (2007, p. 78).

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Esse anseio pelo novo, por acompanhar as tendências, foi tão forte que pode ser notado

mesmo nas residências das classes menos favorecidas economicamente, que, apesar de não

contarem com grandes recursos, construíram, a seu modo, edifícios com as carcterísticas do

movimento Ecletismo.291

4.4.3 Tipologia Chalé: a principal inspiração eclética parnaibana

Como mostrou a análise comparativa, a segunda tipologia mais encontrada dentre as

edificações em estudo nessa pesquisa foi o Chalé. Mais uma vez, chama-se a atenção para

essa separação, que se explica por seu caráter didático, pois de acordo com a História da

Arquitetura, essa é uma das produções arquitetônicas mais “resgatadas” pelo Ecletismo,

fazendo parte, portanto, do próprio movimento. Das quarenta e cinco casas classificadas,

foram visitadas duas edificações, uma térrea (Figura 69) e a outra com dois pavimentos

(Figura 70); ressalte-se que a maior dificuldade de acesso ao interior ocorreu nas residências

dessa tipologia.

291

MELO, N. B. A. L., op. cit., 2007.

Figura 68: Casa de tipologia eclética, sito à Rua Cel. José

Narciso, 606, Parnaíba, PI.

Fonte: IPHAN-PI (2006, v. 2, p. 16).

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Nas casas dessa tipologia, que também marcaram todo o sítio histórico, principalmente

a Avenida Getúlio Vargas e suas cercanias (Apêndices - Mapa 7), percebeu-se como os

parnaibanos, até mesmo aqueles que pertenciam às classes menos favorecidas

economicamente, queriam inovar, queriam o diferente e as novidades para suas residências

(Apêndices – Fichas Cadastrais e Arquivos de Fotos 7 e 8).

Os chalés parnaibanos conservaram, inclusive, a inovação dos telhados inclinados,

algo cuja explicação está somente no gosto; ou seja, não há nenhuma explicação técnica, visto

que, na realidade, essa inclinação serve para que, em locais de clima muito frio, a neve não

acumule e pese sobre a estrutura da cobertura.

Além da inclinação maior, foram novidades também os jogos dos telhados (Figura 71),

cobertos com as telhas francesas, chanfrados292

(Figura 72) ou arrematados com

“lambrequins”,293

geralmente em madeira; em alguns casos, lisos, mais simples; e, em outros,

mais trabalhados; e ainda os caibros corridos e os cachorros arrematando os beirais.

Mas essas inovações foram presentes somente nas fachadas, pois, em termos de

transformações nas plantas, pode-se perceber, inclusive, através das duas residências

visitadas, que, mesmo que elas tenham sofrido modificações ao longo dos anos, essas plantas

e os programas (Figura 73) não se diferenciaram das construções ecléticas.

292

Chanfrado é o elemento que possui chanfro, que, por sua vez, é o recorte nas bordas de um elemento ou de

uma peça da construção, evitando-se arestas viças no encontro de duas superfícies planas. 293

Lambrequim é o ornato, o adorno recortado, vazado, decorado, em forma de rendilhado, contínuo, que se

coloca sob o beiral escondendo o telhado, podendo ser em zinco, chapa de ferro ou madeira.

Figura 69: Casa térrea de tipologia chalé, sito à

Rua Riachuelo, 966, Parnaíba, PI.

Fonte: IPHAN-PI (2006, v.2, p. 96).

Figura 70: Casa com dois pavimentos, de tipologia

chalé, sito à Rua Vera Cruz, 747, Parnaíba, PI.

Fonte: IPHAN-PI (2006, v.2, p. 108).

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4.4.4 A tipologia Neocolonial

Como ocorreu no Brasil de modo geral, em Parnaíba, essa tipologia foi mais difundida

em residências, e em alguns prédios institucionais, como em escolas, por exemplo. No cenário

da pesquisa, as residências neocoloniais encontram-se, com maior ênfase, mais distantes do

núcleo original e do entorno da Avenida Presidente Getúlio Vargas (Apêndices - Mapa 8),

localizadas às margens do sítio histórico, pois procuravam, ao mesmo tempo, o isolamento e a

privacidade que os sítios proporcionavam, sem, contudo, sair do perímetro urbano.

Foram analisadas três residências, uma térrea (Figura 74), uma de dois pavimentos

(Figuras 75) e outra que, apesar de ter também dois pavimentos (Figura 76), a ela se aplica

melhor o conceito de bungalow. Em Parnaíba, assim como em outras regiões brasileiras, os

Figura 71: Detalhe da inclinação do telhado no

chalé sito à Av. Presidente Getúlio Vargas,

458, Parnaíba, PI.

Fonte: Acervo particular - Neuza Melo (2007).

Figura 72: Detalhe de telhado chanfrado em

residência sito à Av. Presidente Getúlio Vargas,

474, Parnaíba, PI.

Fonte: Acervo particular - Neuza Melo (2007).

Figura 73: Planta baixa do chalé térreo, sito à Rua Riachuelo, 966, Parnaíba, PI.

Fonte: Melo (2007, p. 80).

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conceitos de bungalows, estilo Missões e Neocolonial se confundem. Segundo Derenji,294

o

que se chama de bungalows, aqui, são os sobrados em meio a jardins e com a presença

marcante de torres. Essas edificações em dois pavimentos representaram, para a sociedade

parnaibana, o ideal de progresso, tornando-se sinônimo de modernidade da cidade (Apêndices

– Fichas Cadastrais e Arquivos de Fotos 9 e 10).

A partir de meados da década de 1920, principalmente na década de 1930, o

Neocolonial que estava ocorrendo no Brasil também chegou a Parnaíba, ainda por intermédio

do comércio, mas os maiores difusores foram mesmo as revistas, os periódicos, os catálogos,

que começaram a ter papel fundamental na propagação dos novos estilos. As casas tiveram

recuos cada vez maiores, com jardins em uma das laterais, e, na outra, o espaço reservado ao

294

DERENJI, J. da S. Arquitetura eclética no Pará. In: FABRIS, A. (Org.). Ecletismo na arquitetura

brasileira. São Paulo: EDUSP / Nobel, 1987.

Figura 74: Casa térrea de tipologia

neocolonial, sito à Rua Desembargador

Freitas, 878, Parnaíba, PI.

Fonte: IPHAN-PI (2006, v.2, p. 25).

Figura 76: Casa chamada de bungalow, sito à

Rua Humberto de Campos, 686, Parnaíba, PI.

Fonte: IPHAN-PI (2006, v. 2, p. 48).

Figura 75: Casa com dois

pavimentos de tipologia neocolonial,

sito à Av. Presidente Getúlio

Vargas, 694, Parnaíba, PI.

Fonte: IPHAN-PI (2006, v.2, p. 88).

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automóvel; tudo resguardado por muretas com os mais variados modelos de gradil (Figura

77).

Outras características são os beirais marcados por cachorros, o uso das telhas de capa e

canal, o que não faz com que as telhas francesas percam o posto de preferidas pelos

parnaibanos; o uso das arcadas nas entradas e da torre circular nas laterais com aberturas em

arcos ogivais de base larga; nos forros, o uso das lajes nas varandas ou terraços; e os mais

variados modelos de taco no piso.

No programa, surgiu o hall de entrada; nos dias atuais, seriam os terraços e varandas

nas residências parnaibanas, mas com dimensões menores. Eles conduzem às salas de visitas

que, por sua vez, foram ligadas às salas de jantar (Figura 78). A grande novidade foi a copa,

não como espaço, pois esse cômodo surgiu não apenas no Neocolonial, mas, no Ecletismo de

modo geral, como um lugar que, além de ser o local de refeições, era, sobretudo, o espaço de

reunião das famílias. As cozinhas permaneciam com as mesmas dimensões, e, nos fundos da

casa, assim como o banheiro, que quase sempre era apenas um e muito grande. Nas

residências das pessoas mais favorecidas economicamente, contavam com todo o conforto,

inclusive água quente.

Figura 77: Detalhe do gradil da residência sito à

Av. Presidente Getúlio Vargas, 694, Parnaíba, PI.

Fonte: Acervo particular - Neuza Melo (2007).

Figura 78: Planta baixa do

primeiro pavimento de residência

neocolonial sito à Av. Presidente

Getúlio Vargas, 694, Parnaíba, PI.

Fonte: Melo (2007, p. 83).

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4.4.5 A tipologia “Associação de Categorias”

Dentre as tipologias analisadas, a tipologia aqui chamada de “Associação de

Categorias” ganhou grande destaque dentro da arquitetura parnaibana. Primeiro, porque ficou

em terceiro lugar em números de residências; segundo, porque se constituiu o maior exemplo

do Ecletismo local, pois sua principal característica é não adotar um só estilo. Assim, de

maneira eclética, misturaram o Chalé e o Neocolonial, e, ainda, o Chalé, o Neocolonial e

algumas características já do Modernismo.

Essa tipologia pode ser encontrada principalmente no perímetro entre a Praça Est.

Júlio Augusto, a Avenida Presidente Getúlio Vargas, a Praça Santo Antônio e a Avenida

Governador Chagas Rodrigues (Apêndices - Mapa 9), tanto em residências sofisticadas como

também naquelas mais populares.

Apesar do número expressivo de exemplares desta categoria (Figuras 79, 80 e 81), que

somam trinta e quatro, só foi possível o acesso a um exemplar (Figura 82) e (Apêndices –

Ficha Cadastral e Arquivo de Fotos 11); trata-se de uma casa com construção mais simples e

que traz características da tipologia Chalé e do Neocolonial na fachada.

Figura 79: Casa com tipologia

Associação de Categorias, sito à Rua

Cel. José Narciso, 740, Parnaíba, PI.

Fonte: IPHAN-PI (2006, v. 2, p. 18).

Figura 80: Casa com tipologia

Associação de Categorias, sito à Rua D.

Pedro II, 1478, Parnaíba, PI.

Fonte: IPHAN-PI (2006, v.2, p. 40).

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Dos Chalés, a casa incorporou a inclinação do telhado, aberturas que sugerem a ideia

de sótão, a telha francesa, o lambrequim em um dos beirais e o jogo de telhados (Figura 83).

Da arquitetura Neocolonial, as arcadas precedendo o hall de entrada (Figura 84), o jogo de

telhados frontal de quatro águas, telha-vã em parte da cobertura, o beiral de caibro corrido e

bica simples e a mureta com balaustrada.

Contudo, apesar de algumas transformações sofridas ao longo dos anos, o programa é

de uma residência eclética típica parnaibana, ainda com traços da arquitetura do Período

Colonial e proto-eclética, com a sala de visitas na parte da frente, e um corredor ligando os

demais compartimentos, que começam com os quartos e terminam com a cozinha e

dependências de serviços. A única inovação nesse caso foi um banheiro, localizado então

próximo aos dormitórios, mas ainda com grandes dimensões (Figura 85).

Figura 81: Casa com tipologia Associação de

Categorias, sito à Av. Presidente Getúlio Vargas,

769, Parnaíba, PI.

Fonte: Acervo particular - Neuza Melo (2007).

Figura 82: Casa com tipologia Associação de

Categorias, sito à Rua Simplício Dias, 265,

Parnaíba, PI.

Fonte: Acervo particular - Neuza Melo (2007).

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Após a análise da maioria295

das tipologias presentes no sítio histórico urbano de

Parnaíba, percebeu-se que, como já dito no início do capítulo, o Ecletismo foi o movimento

predominante, seja em sua forma mais pura, que aqui foi associada à tipologia eclética, seja

carregado de outras manifestações, que, por sua vez, também tem a natureza eclética, como as

tipologias chalé ou neocolonial. Mas de todas as tipologias estudadas, a que mais responde a

um dos principais questionamentos desta pesquisa e que diz respeito à formação do método

eclético local é a tipologia então chamada de Associação de Categorias.

295

Maioria porque não foram investigadas residências modernas ou contemporâneas, por exemplo, por não

serem relevantes para a pesquisa neste momento.

Figura 83: Detalhe dos beirais de residência sito

à Rua Simplício Dias, 265, Parnaíba, PI.

Fonte: Acervo particular - Neuza Melo (2007).

Figura 84: Detalhe da

fachada de residência sito à

Rua Simplício Dias, 265,

Parnaíba, PI.

Fonte: Acervo particular -

Neuza Melo (2007).

Figura 85: Planta baixa da residência de tipologia Associação de Categorias, sito à Rua

Simplício Dias, 265, Parnaíba, PI.

Fonte: Melo (2007, p. 87).

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Esse hibridismo é particular de Parnaíba; tornou essa produção única, singular e

distinta em relação às outras produções arquitetônicas ecléticas, fato que se fortalece,

principalmente, pela presença de características da tipologia chalé nessa junção de estilos. Se

relacionada a outras cidades do Estado, por exemplo, fica mais evidente ainda essa diferença.

Além do número expressivo, nas residências que pertencem a essa tipologia, ficaram

mais perceptíveis a mistura, a união de traços de vários estilos. Esses estilos, originados de

regiões longínquas, não encontraram barreiras ao chegar à cidade; e, ao tempo em que foram

incorporados, também se transformaram, ajustando-se ao contexto local.

Um bom exemplo do que aconteceu - constatação da falta de materiais ou técnicas

originais, e ainda da permanencia a vinculação às tradições - pode ser constatado, por

exemplo, nas estruturas de telhado. Parnaíba não deixou de utilizar a carnaúba (fato que

ocorreu no Piauí de modo geral), mantendo, portanto, suas tradições. Contudo, cobrindo essa

estrutura, foram necessárias telhas especiais, pois essa é a parte do telhado que fica mais

visível. Aos moldes franceses, tentavam fabricar ou então importavam do Pará telhas que

estivessem de acordo com a moda, com as exigências das influências impostas pela

arquitetura eclética.

Esses aspectos também são interessantes quando observadas a disposição dos

compartimentos das casas. Por fora, as fachadas ecléticas demonstravam a modernidade que a

classe economicamente favorecida do local queria expressar, mas por dentro, mesmo

adotando tecnologias novas, como a água aquecida nos banheiros, as plantas das edificações

quase não sofreram modificações, essas aconteceram lentamente.

4.5 As residências ecléticas parnaibanas: o patrimônio cultural da cidade

4.5.1 As relações e o programa das residências ecléticas em Parnaíba

A sociedade parnaibana, no período aqui pesquisado, não mais contava a força de

trabalho escrava. Era uma sociedade de homens livres, impregnados pela ânsia de novidades,

do moderno, e que acreditava ser a economia baseada no comércio de importação e

exportação dos produtos do extrativismo local o meio de ascender (Figura 86), não só

econômica, mas também culturalmente.

Parnaíba progride, apreende a civilização, enfileira-se no cortejo que

marcha, vae porém, expelindo as excrescências que possam manchar todo

esse desejo de ser grande e próspera. Serenamente crescendo na planície.

Calmamente desanuviando os seus horisontes para o mar, procura abrir as

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suas portas, em parte ainda cerradas as espansões das suas atividades e ao

intercambio mundial, para em breve tornar-se maior. 296

O comércio, cada vez mais pungente, adquire espaço próprio. O trabalho dissocia-se

da morada. As residências, os lares passam a ser o local do descanso, das reuniões familiares,

como afirma João Campos no “Livro do Centenário de Parnaíba”, em 1944, ao relatar sua

chegada na cidade em 1912.

Nas ruas, tudo relevava atividade e trabalho, como se a ocisidade temesse

ombrear-se com os que por ali transitavam preocupados com seus negócios.

Nos lares estavam as famílias que prendiam em tôrno de si as crianças que

regressavam das escolas ou das oficinas. [...] As noites abriam pequena

exceção: nas portas das residências reuniam-se as famílias e amigos, em

palestras intimas [...] As 21 horas, invariavelmente, a ronda do sono

começava a fechar as casas, e apenas as repúblicas dos rapazes e o café,

onde as palestras e diversões se prolongavam até cêrca de 23 horas, se

mantinham acordados. O mais era silencio. 297

Nessas residências, o que primeiro se destacou foram suas fachadas, o cartão postal

que demonstrou quanto poder tem o seu proprietário, seja ele político, econômico ou social.

Mas a arquitetura não é apenas a fachada, o estilo ou monumento de uma edificação. A

arquitetura é também o programa, a distribuição dos cômodos, o desenho e a organização dos

espaços físicos. Para chegar ao “arranjo” ideal, uma série de fatores deve ser ponderada,

considerada, e depende daqueles que irão ocupar tais espaços. 296

ALMANAQUE DA PARNAÍBA. Parnaíba: Ranulpho Torres Raposo, 1937. p. 67. 297

CORREIA, B. J.; LIMA, B. dos S. (Org.). O Livro do Centenário de Parnaíba: 1844 – dezembro – 1944 –

documentário da cidade – estudo histórico, corográfico, estatístico e social do município de Parnaíba. Parnaíba:

Gráfica Americana, 1945. p. 318.

Figura 86: Fotografia da Praça da Graça, no Almanaque de 1937.

Fonte: Almanaque da Parnaíba (1937, p. 61).

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Deve-se observar além da relação patrão empregado, mas também os laços de sangue,

gênero, a faixa etária, as atividades; enfim, as mais diversas relações entre os ocupantes de

uma casa, que são o ponto de partida na delimitação e organização dos espaços.

De acordo com Michel Foucault,298

é importante compreender justamente o que vem

antes das definições físicas dos objetos arquitetônicos: as relações entre os indivíduos e as

relações entre os espaços interiores. Ao mesmo tempo em que foi usada para demonstrar a

todos o crescimento, o domínio econômico, a residência se voltou para o próprio interior, e foi

lá dentro que se preservou a família. Dentro da casa também ocorreu o zoneamento, de acordo

com o poder, as funções e seus ocupantes.

Michel Foucault acreditava no poder atuando sobre todos, que as relações de poder

estão entrelaçadas, que são um jogo de forças, algo que não se pode possuir ou apoderar-se,

uma rede complexa de micropoderes, englobando todos os aspectos da vida social, invisível,

molecular, positivo, construindo redes de relações. Esse poder foi característico apenas de

uma classe social, como a burguesia, por exemplo, ou do Estado.299

Margareth Rago concorda

com essa ideia e afirma:

[...] na medida em que se passou a pensar que o poder não era uma coisa

localizada num determinado ponto, mas que ele nomeava a sociedade e

construía uma rede de relações no interior da qual estávamos todos, abria-se

a possibilidade de se pensar o poder no espaço, nas disposições

arquitetônicas [...].300

Para entender melhor esse “arranjo” influenciado pelas relações, pelos “micropoderes”

presentes nas relações dos ocupantes das residências ecléticas parnaibanas, deve-se analisar

tais edificações sob vários aspectos. Em primeiro lugar, considerou-se sua posição no terreno.

As casas ecléticas parnaibanas diferiam das construídas anteriormente, ainda no Período

Colonial e Neoclássico (Figura 87), no que diz respeito à sua posição no lote, em um primeiro

momento, por possuir um recuo lateral (Figura 88) e, com o passar do tempo, afastar-se de

todos os limites do terreno.

298

FOUCAULT, M. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal, 1979. 299

CASTELO BRANCO, E. de A. Fazer ver o que vemos: Michel Foucault – por uma História diagnóstica do

presente. UNISINOS, São Leopoldo (RS), v. 11, n. 3, p.321-329, 2007. 300

RAGO, M. As marcas da pantera: Michel Foucault na historiografia brasileira contemporânea. Anos 90 -

Revista do PPGH/UFRGS, v. 1, n.1, p.127, 1993.

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Essas mudanças foram comumente atribuídas a questões de saúde, para propiciar

melhor ventilação e iluminação. A maior ventilação propiciou a entrada de ar fresco,

renovando o ar abafado e desagradável que se formou nos ambientes em que havia muitas

pessoas. A urbanização e a crescente população que ocupavam as cidades, principalmente a

partir do século XIX, fizeram com que ocorressem muitas epidemias, que, à época, eram

balizadas em teorias que acreditavam ser essas epidemias provocadas por substâncias e

impurezas do ar.

Não obstante esses fatores, o posicionamento da casa no terreno também estava

relacionado a um novo modo de vida, que se buscou distanciar dos limites da rua, do exterior,

do que era comum a todos.

Figura 87: Meia-morada, sito à Rua Duque de Caxias, 824.

Fonte: IPHAN-PI (2006, v. 2, p. 35).

Figura 88: Casa de tipologia eclética, sito à Av.

Presidente Getúlio Vargas, 657, Parnaíba, PI.

Fonte: IPHAN-PI (2006, v.2, p. 84).

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O objetivo foi o isolamento, pois ocorreu uma redefinição dos espaços públicos e

privados. A rua deixou de ser o espaço público, que passou a ser a sala de visitas ou o salão;

desejou-se a retirada do exterior para se organizar a parte, em um meio homogêneo de pessoas

ou famílias iguais. A casa era o espaço íntimo, exclusivo; e, dentro dela, existiam espaços

ainda mais segregados, o que pode ser observado através da análise arquitetônica de seus mais

variados cômodos, posto que, para cada local, há uma definição da posição dos indivíduos.

Logo, é através dos variados graus de poder que serão delimitados os espaços destinados a

cada um.

A partir da análise das Figuras 89 e 90, pode-se compreender melhor a importância

das relações na conformação dos espaços. A planta baixa dessa residência eclética parnaibana

mostrou que as áreas destinadas à família, aos donos da casa e visitantes ilustres, aos que

tinham um poder econômico dominante, como as salas de estar, dormitórios e varandas, estão

posicionadas junto à rua, à frente, enquanto os cômodos destinados a serviços, como a

cozinha e a funções fisiológicas, como o banheiro, estão aos fundos, separados. Acrescente-se

que, principalmente, o banheiro começou a fazer parte do interior da casa, pois antes era

localizado no quintal, totalmente isolado. Ele entrou na edificação, mas permaneceu atrás,

distante do convívio social. Geralmente são espaços grandes, chamados comumente de sala de

banho, destinados a atender a todos da família.

Ao analisar o terraço ou a varanda, cômodos que permitiam o acesso à residência,

percebeu-se que são espaços conflituosos, pois marcavam a separação da rua, e atuaram como

uma ponte, ligando-a ao interior, sendo locais destinados a se manter contato com os

Figura 90: Planta baixa de situação de residência sito à Av.

Presidente Getúlio Vargas, 515, Parnaíba, PI.

Fonte: MELO (2007, p. 78).

Figura 89: Casa de tipologia eclética, sito à Av.

Presidente Getúlio Vargas, 657, Parnaíba, PI.

Fonte: Acervo particular - Neuza Melo (2007).

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estranhos. Segundo define Matta,301

é um espaço “arruado”, assim como os quintais e os

corredores de circulação. Estes últimos se conformaram espaços públicos, como a rua, porém,

dentro de casa, pois o que se tinha era um local de circulação de todos.

Partiu-se então para as salas de visitas, salas de música, salas de jogos, enfim, lugares

onde se recebiam pessoas selecionadas. As relações de poder eram evidentes nesses

ambientes; basta vislumbrar as diferentes posições: de um lado, o proprietário, e, de outro, as

visitas e os empregados; estes últimos estando ali somente de passagem, prontos para

prestarem serviços assim que ordenados.

As zonas íntimas, como os dormitórios dos donos da casa eram lugares totalmente

reclusos, isolados, privativos, grandes e divididos, através de critérios como gênero e idade,

onde o indivíduo encontrava-se completamente protegido. A cozinha e os dormitórios dos

empregados estavam sempre atrás; na cozinha, o espaço físico era grande, pois era dividido

com a dona da casa, a soberana do lar, com poderes dominantes; mas as dependências dos

funcionários eram sempre pequenas, escondidas, concebidas sem qualquer preocupação com

conforto, muitas vezes fora da edificação principal.

Ainda de acordo com o pensamento foucaultiano, a dominação não percorria

necessariamente o caminho da alma para o corpo, como se tinha aprendido, mas poderia vir

das coisas para o corpo e para as ideias, do ambiente material para a mente.302

Para entender

esse raciocínio, um bom exemplo continua sendo o das residências ecléticas parnaibanas,

repletas de novidades, de novos equipamentos tecnológicos, como água encanada, torneiras,

geladeira, luz elétrica e até água quente (Figura 91).

Tantas inovações ajudaram a transformar o indivíduo, suas práticas sociais e as

relações de poder. Antes, a sociedade dependia da mão de obra escrava para quase tudo, pois

301

MATTA, R. da., op. cit., 1997, p. 56. 302

RAGO, M., op. cit., 1993.

Figura 91: Casa com dois pavimentos de

tipologia neocolonial, sito à Av. Presidente

Getúlio Vargas, 694, Parnaíba, PI.

Fonte: IPHAN-PI (2006, v.2, p. 88).

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ela atuava como o interruptor, luz elétrica ou a descarga. No final do século XIX, passou-se a

contar com o trabalho assalariado, e, a cada mudança, seja ela tecnológica ou não,

transformaram-se as relações. A doméstica que servia nas casas passa a não ter mais

proximidade com o entregador que pegava água na praça;303

a geladeira permitiu diminuir o

número de idas ao mercado; e, assim, o contato entre os indivíduos, o comportamento e as

próprias ideias das pessoas vão se transformando, assim como os micropoderes existentes

durante esses convívios. Todas essas relações e os poderes que as permeiam contribuem para

a organização dos espaços dessas residências.

4.5.2 O patrimônio cultural parnaibano

Antes de entender como é formado o patrimônio cultural parnaibano, tornou-se

importante abordar alguns conceitos que auxiliam no entendimento do assunto, como, por

exemplo, o de cultura. Cultura é todo um modo de vida ou os diferentes modos de vida de

cada povo, herdados pela tradição e passados a gerações futuras. Os produtos de cada cultura

─ do pensamento, do sentimento e da ação do homem ─ são os bens culturais, ou seja, são os

monumentos (incluindo os edifícios), as obras de arte, os documentos, usos e costumes. Mas é

necessário compreender que esse é um conceito que se encontra em expansão, marcado cada

vez mais por uma menor “rigidez” e por maior amplitude, onde presente e passado se

encontram, contribuindo para formar o pensamento da atualidade. Conforme Bhabha:

O trabalho fronteiriço da cultura exige um encontro com “o novo” que não

seja parte do continuum de passado e presente. Ele cria a ideia do novo como

ato insurgente de tradução cultural. [...] O “passado-presente” torna-se parte

da necessidade, e não da nostalgia, de viver.304

Um bem cultural patrimonial é aquele cujo valor simbólico refere-se a uma identidade

coletiva. Para ser patrimonial tem que respeitar algumas convenções e características. Neles, o

Estado intervém através de agentes autorizados e de práticas socialmente definidas e

regulamentadas, assim como contribui para fixar sentidos e valores.

Dessa forma, o patrimônio cultural compreende todos os elementos e manifestações,

tangíveis (móveis e imóveis) e intangíveis, produzidas pelas sociedades, resultado de um

processo histórico no qual a reprodução das ideias e da matéria se constituem em fatores que

identificam um determinado país ou região. São elementos que diferenciam grupos e

sociedades – edifícios, lendas, modos de falar – e traduzem o povo que os criou, formam a

303

RAGO, M., op. cit., 1993. 304

BHABHA, H. K., op. cit., 1998, p. 27.

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identidade; entretanto, ao mesmo tempo em que identificam os semelhantes, distinguem de

outros grupos sociais.

A primeira conferência internacional para conservação dos monumentos históricos

ocorreu em Atenas, 1931, e reuniu somente países europeus. Após a Segunda Guerra

Mundial, o domínio patrimonial se estende, o conceito se transforma e deixa de ser limitado a

monumentos individuais, e passa a abranger os conjuntos edificados e os tecidos urbanos. A

partir dos anos sessenta do século XX, passou-se a enquadrar no patrimônio histórico

edificado toda tipologia que fosse um testemunho histórico significativo.

Em 1972, houve a Conferência Geral da UNESCO (United Nations Educational,

Scientific and Cultural Organization – Organização das Nações Unidas para a Educação,

Ciência, Cultura) na qual se determinou que patrimônio cultural universal são os

monumentos, conjuntos edificados, sítios arqueológicos ou urbanizados, que apresentem valor

universal excepcional do ponto de vista da história da arte ou da ciência.

A importância do patrimônio é valorizar a singularidade, a identidade. Esse conceito

tende a expandir-se cada vez mais, e a necessidade de protegê-lo é cada vez mais latente. No

Brasil, a Constituição Brasileira de 1988, no seu Art. 216 – além de especificar o que constitui

o patrimônio cultural brasileiro – ampliou esse conceito e explicou que cabe ao Poder Público,

com colaboração da comunidade a preservação desses bens:

Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza

material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de

referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores

da sociedade brasileira, nos quais se incluem:

I - as formas de expressão;

II - os modos de criar, fazer e viver;

III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas;

IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados

às manifestações artístico-culturais;

V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico,

arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.305

Hoje, no Brasil, todas as unidades da federação devem possuir o discernimento quanto

à importância acerca do patrimônio cultural. O atual órgão responsável pela proteção desse

acervo, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) vem tomando uma

série de medidas voltadas para a identificação, documentação, restauração, conservação,

preservação, fiscalização e difusão do patrimônio cultural brasileiro.

305

Constituição Federal do Brasil (1988).

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Parnaíba possui um dos maiores patrimônios culturais piauienses, e, conforme

constatado nessa pesquisa, se destaca sobretudo por seu patrimônio edificado, formado por

um Ecletismo particular, surgido das necessidades materiais, técnicas e, ao mesmo tempo,

pelas tradições, hábitos e anseios dos proprietários e moradores dessas residências, formando

um conjunto relevante e que constitui não só o patrimônio cultural edificado, material, mas

também a concepção de patrimônio cultural como um todo, englobando também o imaterial o

intangível, afinal, essas pessoas responsáveis pela construção desse acervo desenvolveram o

seu modo, criaram sua forma, o seu gosto, suas técnicas, tudo de forma a atender a seus

propósitos.

O sítio histórico, enquanto local da História do lugar, das pessoas, do núcleo das

cidades, o ponto inicial, carrega as marcas das transformações, do tempo transcorrido, da vida

que pulsa, principalmente nas cidades, e, dentre elas, uma cidade como Parnaíba, que, durante

muito tempo em sua história, foi uma das principais cidades do Estado em termos de

economia.

A arquitetura erigida nesse local, impulsionada principalmente pela prosperidade de

parte da população, demonstra que foi construído em Parnaíba, na primeira metade do século

XX, um conjunto eclético que traduz não só através dos seus aspectos físicos, mas também do

conteúdo, da “alma” dessas casas, o quanto as tradições e, ao mesmo tempo, o gosto pelo

progresso estava presente na vida e nos anseios desse grupo economicamente privilegiado.

Embora ainda com algumas reservas, algumas atitudes já começaram a ser tomadas

para que esse patrimônio seja preservado, e sirva para que as gerações futuras possam

partilhar da História, das tradições, dos costumes e desse rico acervo arquitetônico que

contribui significativamente para a identidade local.

Citam-se assim algumas realizações importantes, como o estudo para tombamento do

sítio histórico, solicitado pela prefeitura municipal no ano de 2006, o qual foi utilizado no

desenvolvimento desta pesquisa. Com base nesse pedido, o IPHAN-PI delimitou a área

correspondente ao que seria o sítio histórico parnaibano, e também o seu entorno, garantido

assim a preservação da ambiência do edifício, monumento, logradouro ou do próprio sítio

(Figura 92).

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Assim, em setembro de 2008, o IPHAN tombou em nível federal três áreas do Piauí

simultaneamente: a Floresta Fóssil do rio Poti em Teresina; a Ponte Metálica João Luis

Ferreira em Teresina; e o Conjunto Histórico e Paisagístico de Parnaíba; tornando-se o

primeiro Estado do Nordeste a receber uma ação integrada de tombamento de patrimônio

cultural.

Esse processo, que se iniciou ainda em 2006, com o pedido de estudo, e concretizou-se

positivamente, foi longo e difícil. Por parte do Estado, através de órgãos pertinentes como o

IPHAN, realiza-se um estudo detalhado para se comprovar desde a importância, até a real

necessidade do tombamento, além dos entraves burocráticos que ocorrem com frequência.

Fizeram-se necessárias também reuniões e discussões sobre o assunto, a fim de conscientizar

a população local.

Contudo, mesmo com toda a preparação essencial, parte da população que ocupa esse

sítio histórico ainda não reconhece os benefícios desse ato, do tombamento, o que pode ser

comprovado durante as pesquisas de campo aqui realizadas, muitas vezes confundidas com as

do IPHAN, quando alguns proprietários de residências não permitiram o acesso, com receio

de que fosse comprovada a sua real importância e, desse modo, tais casas fossem tombadas, o

que de fato ocorreu em 2008. Ressalte-se, entretanto, que foi tombado o sítio histórico como

um todo e não edifícios isolados.

É lamentável, mas ainda há uma lacuna entre a “política do tombamento” e sua

prática, e entende-se que são necessários ajustes, como maiores incentivos aos proprietários

de bens tombados, para que aceitem com menos relutância esse ato imprescindível à

preservação do acervo arquitetônico das cidades. Acrescente-se, também, a necessidade do

entendimento de que essas residências perderam sua importância isoladamente. Elas

Figura 92: Estudo de Proteção do sítio

histórico de Parnaíba realizado pelo

IPHAN-PI em 2006.

Fonte: IPHAN ( 2006).

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continuam com o valor econômico que lhes é próprio, mas adquiriram um significado muito

maior, mais abrangente, para a coletividade, deixando de ser importante apenas para seus

proprietários e passando a fazer parte da História da cidade, da população local, do todo.

Apesar de tal relutância ainda perdurar, nota-se, ao “flanar-se” pela cidade, que, aos

poucos, essa consciência está sendo adquirida, mesmo que vagarosamente. Quanto aos atos

em torno da preservação, nos dias atuais, destacam-se algumas intervenções que estão

ocorrendo em edifícios relevantes, como o “Sobrado Simplício Dias”, e processos já

aprovados, como o restauro do “Sobrado da Dona Auta ou Mirante”. Observou-se que são

edifícios erigidos no Período Colonial, e que, por isso, não compõem o universo dessa

pesquisa. Mas entende-se, também, que aos poucos essas iniciativas incidirão sobre os

exemplares ecléticos parnaibanos, sobre as residências tão discutidas durante a pesquisa, pois

carregam em si a História de Parnaíba.

Entendeu-se que o modo como a sociedade parnaibana traduziu, reproduziu e

transformou formas originais foi o que fez surgir práticas culturais próprias, diferentes.

Considerando-se a noção de identidade aqui adotada, compreende-se, portanto, que são essas

diferenças que contribuíram para a formação da identidade arquitetônica local; o que, por sua

vez, reflete na identidade da cidade. A união das diferenças ─ do original, do transformado e

de suas tradições ─ formou uma identidade que diferencia e ao mesmo tempo identifica. É

essa diversidade, esse hibridismo que compõe a produção arquitetônica de Parnaíba na

primeira metade do séc. XX.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A cidade é um tema interdisciplinar, e a História da Cidade compreende a História da

Arquitetura. A historiadora Françoise Choay afirma que o poeta e escritor Victor Hugo

acreditava na Arquitetura como o grande livro da humanidade, um livro de pedra, a expressão

principal do homem em seus diversos estados de desenvolvimento, seja como força, seja

como inteligência.

Para construir o texto “O Ecletismo Parnaibano: hibridismo e tradução cultural na

paisagem urbana de Parnaíba (PI) na primeira metade do século XX”, de início, foram

realizadas pesquisas comparativas. Para tanto, a história da cidade de Parnaíba, em especial

seu patrimônio arquitetônico, constituiu importante fonte de pesquisa, sobretudo as

residências erguidas no período áureo da economia local. Com base na observação do valor

dos aspectos econômicos, para essa arquitetura produzida, e formação desse patrimônio, e

como isto implica a identidade local, na memória, e seus significados, pôde-se compreender a

relevância do Ecletismo nesse cenário.

Para entendê-lo de forma completa foi feita uma análise de suas principais influências,

desde a produção arquitetônica ocidental, passando pela brasileira, até culminar em Parnaíba.

Foram vistos estilos, desde o chamado “Período Colonial” ou “Arquitetura Tradicional”, que

muitas vezes serviu de suporte para o Ecletismo, assim como o Chalé e o Neocolonial,

presenças fortes na arquitetura eclética da cidade. A partir dessas considerações, apontam-se

algumas conclusões.

O Ecletismo, enquanto marca da Belle Époque, enquanto tradução dos anseios pela

modernidade e pelo progresso, se desenvolveu de forma predominante na arquitetura

construída em Parnaíba na primeira metade do século XX. Do mesmo modo, como costumava

acontecer, como ainda acontece e provavelmente sempre acontecerá ─ em outros locais e com

outros estilos ou movimentos arquitetônicos – essa arquitetura, ao chegar a Parnaíba,

transformou-se, ganhou aspectos próprios traduzidos aqui na tipologia intitulada “Associação

de Categorias”.

A arquitetura eclética parnaibana foi assim marcada pela influência preponderante de

um único estilo, como, por exemplo, o Chalé; mas esta pesquisa revelou que ela foi,

principalmente, caracterizada pela união eclética do Chalé e do Neocolonial, ou ainda do

Chalé, do Neocolonial e alguns traços do Modernismo. Essa maneira própria que marca a

arquitetura local é também um dos pontos formadores da identidade da cidade. Essas

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residências são, desse modo, edifícios que retratam Parnaíba e, ao mesmo tempo, a diferença

das demais cidades.

O Ecletismo, rico em características externas, também foi analisado internamente,

considerando as relações existentes e que contribuíram, de algum modo, para as formas de

distribuição dos compartimentos das residências. Pôde-se perceber que algumas tradições não

foram abandonadas, desde hábitos muitas vezes vindos da Europa, como o uso de materiais da

arquitetura vernacular piauiense, como a carnaúba nos telhados.

Entendeu-se que a diversidade é uma das marcas da identidade parnaibana, a começar

pela produção arquitetônica local. No sito histórico, é possível encontrar a maioria dos estilos

que marcaram a arquitetura brasileira, desde a erigida no período colonial, passando de forma

enfática pelo Ecletismo, até a arquitetura contemporânea. Outro ponto de destaque dessa

diversidade é ainda a maneira, o método como foi constituído o Ecletismo local, baseado em

uma mistura própria, peculiar, visualizada em um número expressivo de residências cuja

tipologia é a Associação de Categorias.

Essa diversidade também constituiu um dos fatores relevantes para a proteção desse

patrimônio, para o tombamento do sítio histórico e seu entorno, em nível federal, ocorrido em

2008, contrariamente ao que ocorreu em outros sítios que seguiram as clássicas situações de

conjuntos urbanos protegidos pela homogeneidade. Tal multiplicidade traduz os mais

variados aspectos dessa cidade, sejam eles culturais, sociais ou econômicos.

Parnaíba possui um rico patrimônio cultural, tangível e intangível. Não obstante o

enfoque desta pesquisa ter sido voltado para o material, para os edifícios (residências),

entendeu-se que essas categorias estão intimamente relacionadas. Convém assinalar que este

trabalho não contemplou, com magnitude, a importância da discussão sobre o patrimônio

cultural parnaibano, assunto que se espera tratar de maneira mais apropriada em uma pesquisa

futura.

Acrescente-se que o IPHAN, através do instituto do tombamento, deve proteger,

salvaguardar, mas encontra muitos entraves, como, por exemplo, no que diz respeito às

dificuldades de fiscalização quanto ao que ocorre com esse patrimônio edificado. Por alguns

motivos, como a carência de incentivos e a má interpretação de seus direitos e deveres perante

esses bens, a maioria dos proprietários teme a possibilidade de ter um bem tombado, pois

acredita que isso acarretará, principalmente, a desvalorização econômica de suas residências,

quando a ideia é justamente inversa.

Parnaíba, se comparada a outras cidades como Teresina, por exemplo, possui

edificações que ainda podem ser vistas, mesmo através de seus gradis de ferro. Além disso, é

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prazeroso flanar pela cidade, perceber suas edificações, suas várias transformações e a

história contida nos mais variados espaços, sobretudo nas edificações residenciais, presença

marcante na cidade de Parnaíba.

A produção arquitetônica ocorrida em Parnaíba na primeira metade do século XX

possui valor inegável, desprovido de caráter uniforme, e por isso mesmo sobrevive. O

Ecletismo é a tradução dessa diversidade que deve ser preservada e que se constitui maioria

no cenário arquitetônico no sítio histórico da cidade, transformando-se em fonte de pesquisa

para os mais variados campos disciplinares.

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MAPA 3

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Ficha Cadastral - 1

Residência de Tipologia Eclética sito à Av. Presidente Getúlio Vargas, 657

Designação: Casa;

Proprietário: João Araújo Carvalho;

Área de Projeção: 391m²;

Área do Lote: 2.236m²;

Taxa ocupação: 17,49%;

Ambientação: Intg. do conjunto histórico;

Implantação: Alinhamento com recuo lateral;

Pavimentos: 1;

Época da construção: Meados do século, cerca de 1904;

Alvenarias: Tijolo maciço;

Revestimento: Pedra, reboco crespo e pintura impermeável;

Estrutura da cobertura: Madeira serrada e carnaúba corrida;

Forros: Em madeira, ripado na sala e na entrada lateral, saia-e-camisa nos dormitórios

principais e telha-vã na parte destinada aos serviços e demais cômodos;

Telhado: Telha 1/2 cana artesanal;

Figura 1: Fachada principal.

Fonte: IPHAN-PI (2006, v. 2, p. 87).

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Vedações: Em madeira, almofadadas, venezianas e vidro colorido e com detalhes

decorativos;

Bandeiras: Madeira e vidro, transparentes e coloridos;

Vergas: Arco pleno;

Beiral externo: Bica simples e empena grandiosa na fachada principal;

Beiral interno: Bica simples;

Ferragens: Gradil de ferro fundido; maçanetas de louça;

Pintura das esquadrias: Esmalte;

Guarda-corpos: Entalados de ferro fundido e peitoril de madeira;

Piso interno: Tabuado corrido, ladrilho hidráulico e taco;

Piso externo: Lajeado;

Soleiras: Ladrilho hidráulico;

Obs.: Alguns móveis são austríacos, outros da década de 1950, Art Déco. As portas internas,

que dão acesso entre sala e dormitórios, possuem painéis italianos, de Florença. Contrafortes

na lateral da casa e no muro. O banheiro próximo ao quarto da frente é novo.

Planta Baixa

Figura 2: Planta baixa.

Fonte: Neuza Melo (2006, p. 114).

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Arquivo de Fotos - 1

Figura 3: Detalhe da fachada lateral.

Fonte: Acervo particular - Neuza Melo (2006). Figura 4: Detalhe da janela.

Fonte: Acervo particular -

Neuza Melo (2006).

Figura 5: Detalhe da porta principal.

Fonte: Acervo particular - Neuza Melo (2007). Figura 6: Detalhe do forro.

Fonte: Acervo particular - Neuza Melo (2007).

Figura 7: Detalhe do forro.

Fonte: Acervo particular - Neuza Melo (2007).

Figura 8: Detalhe do painel importado nas portas.

Fonte: Acervo particular - Neuza Melo (2007).

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160

Figura 9: Vista do corredor.

Fonte: Acervo particular

- Neuza Melo (2007).

Figura 10: Detalhe das janelas e bandeiras.

Fonte: Acervo particular - Neuza Melo (2007).

Figura 11: Detalhe da cobertura.

Fonte: Acervo particular - Neuza Melo (2007).

Figura 12: Vista da escada

na parte exterior da casa.

Fonte: Acervo particular -

Neuza Melo (2007).

Figura 13: Vista dos

contrafortes na parte exterior

da casa.

Fonte: Acervo particular -

Neuza Melo (2007).

Figura 14: Detalhe do forro.

Fonte: Acervo particular - Neuza Melo (2007).

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Obs.: Ficha cadastral retirada do levantamento já existente, feito em 1997, pela Fundação

Estadual de Cultura e Desporto do Piauí (FUNDEC), pelo Ministério da Cultura e pelo

IPHAN/3ª CR e que faz parte do Inventário e Estudo de Proteção de Conjuntos Urbanos do

Piauí, onde o volume III corresponde ao Inventário de Proteção do Acervo Cultural do Piauí

(IPAC) em Parnaíba e atualizada por Neuza Melo em 2007.

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Ficha Cadastral - 2

Residência de Tipologia Eclética sito à Av. Presidente Getúlio Vargas, 515

Designação: Casa;

Proprietário: Jovenal Galeno da Silva e Luiz Pereira da Silva;

Área de Projeção: 180m²;

Área do Lote: 363m²;

Taxa ocupação: 49,59%;

Ambientação: Intg. do conjunto histórico;

Implantação: Alinhamento e recuada na lateral;

Pavimentos: 1;

Época da construção: segunda década do século XX, em 1921;

Alvenarias: Tijolo maciço;

Revestimento: Barrado de pedra com pintura impermeável;

Estrutura da cobertura: Madeira serrada;

Forros: Ripado na entrada lateral, saia-e-camisa nos cômodos principais e telhado aparente

na parte de serviços;

Telhado: Telha tipo francesa;

Figura 15: Fachada principal.

Fonte: IPHAN-PI (2006, v. 2. p. 84).

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Vedações: Calha, veneziana e vidro;

Bandeiras: Vidraça; caixilho de vidro;

Beiral externo: Platibanda;

Beiral interno: Platibanda;

Vergas: Retas e abatidas;

Pintura das esquadrias: Esmalte;

Guarda-corpos: Balaustrada de ferro fundido e peitoril de madeira;

Piso interno: Tabuado corrido claro-escuro (madeira acapu);

Piso externo: Cimentado;

Soleiras: Ladrilho hidráulico;

Obs.: Acesso restrito. Algumas portas e janelas vieram de Belém do Pará, já prontas, de

navio.

Planta Baixa e Situação

Figura 16: Planta baixa e de situação.

Fonte: Neuza Melo (2007, p. 119).

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Arquivo de Fotos - 2

Obs.: Ficha cadastral retirada do levantamento já existente, feito em 1997, pela Fundação

Estadual de Cultura e Desporto do Piauí (FUNDEC), pelo Ministério da Cultura e pelo

IPHAN/3ª CR e que faz parte do Inventário e Estudo de Proteção de Conjuntos Urbanos do

Piauí, onde o volume III corresponde ao Inventário de Proteção do Acervo Cultural do Piauí

(IPAC) em Parnaíba e atualizada por Neuza Melo em 2007.

Figura 17: Vista das fachadas.

Fonte: Acervo particular - Neuza Melo (2007).

Figura 18: Detalhe da cobertura.

Fonte: Acervo particular - Neuza Melo (2007).

Figura 19: Detalhe da

pinha na entrada.

Fonte: Acervo particular -

Neuza Melo (2007).

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Ficha Cadastral - 3

Residência de Tipologia Eclética sito à Av. Presidente Getúlio Vargas, 956

Designação: Casa;

Proprietário: Dr. Valdeci Cavalcante;

Área de Projeção: 386m²;

Área do Lote: 728m²;

Taxa ocupação: 53,02%;

Ambientação: Intg. do conjunto histórico;

Implantação: Alinhamento com recuo lateral;

Pavimentos: 1;

Época da construção: Meados do século XX;

Alvenarias: Tijolo maciço;

Revestimento: Pintura impermeável;

Estrutura da cobertura: Madeira serrada;

Forros: Saia-e-camisa;

Telhado: Telha francesa;

Vedações: Almofada e vidro; venezianas; balcões em pedra;

Figura 20: Fachada principal.

Fonte: IPHAN-PI (2006, v.2, p. 91).

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Bandeiras: Madeira e vidro;

Vergas: Retas;

Beiral externo: Platibanda;

Beiral interno: Cimalha e bica simples;

Ferragens: Gradil de ferro fundido;

Pintura das esquadrias: Esmalte;

Guarda-corpos: Balaustrada de alvenaria na fachada principal; guarda corpo em ferro nas

janelas rasgadas;

Piso interno: Tabuado corrido claro-escuro;

Piso externo: Lajeado;

Soleiras: Modificadas (em granito);

Obs.: A casa sofreu recentes alterações. Os óculos de ventilação denunciam o piso

assoalhado. Alguns móveis são originais como o existente no escritório. Porta vai e vem nova,

remetendo à original.

Planta Baixa

Figura 21: Planta baixa.

Fonte: Neuza Melo (2007, p. 122).

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Arquivo de Fotos - 3

Obs.: Ficha cadastral retirada do levantamento já existente, feito em 1997, pela Fundação

Estadual de Cultura e Desporto do Piauí (FUNDEC), pelo Ministério da Cultura e pelo

IPHAN/3ª CR e que faz parte do Inventário e Estudo de Proteção de Conjuntos Urbanos do

Piauí, onde o volume III corresponde ao Inventário de Proteção do Acervo Cultural do Piauí

(IPAC) em Parnaíba e atualizada por Neuza Melo em 2007.

Figura 22: Fachadas.

Fonte: Acervo particular - Neuza Melo (2007).

Figura 23: Entrada lateral.

Fonte: Acervo particular - Neuza Melo (2007).

Figura 24: Detalhe das

janelas.

Fonte: Acervo particular

- Neuza Melo (2007).

Figura 25: Detalhe da

fachada lateral.

Fonte: Acervo particular -

Neuza Melo (2007).

Figura 26: Detalhe da

porta no corredor.

Fonte: Acervo particular

- Neuza Melo (2007).

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168

Ficha Cadastral - 4

Residência de Tipologia Eclética sito à Rua Coronel José Narciso, 844

Designação: Casa;

Proprietário: Vicente de Paulo Santos Correia;

Área de Projeção: 375m²;

Área do Lote: 824m²;

Taxa ocupação: 45,51%;

Ambientação: Intg. do conjunto histórico;

Implantação: Alinhamento com recuo lateral;

Pavimentos: 1;

Época da construção: 1915;

Alvenarias: Tijolo maciço;

Revestimento: Barrado de chapisco e pintura impermeável;

Estrutura da cobertura: Madeira serrada;

Forros: Saia-e-camisa em alguns cômodos e forros de zinco nos três cômodos iniciais da

casa;

Telhado: 1/2 cana artesanal e telha francesa na capela;

Bandeiras: Vidraça; caixilho de vidro;

Figura 27: Fachada principal.

Fonte: IPHAN-PI (2006, v. 2, p. 19).

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Vedações: Em madeira; portas com quatro folhas, sendo duas inteiriças e outras duas

venezianas com vidro;

Vergas: Ogivais na capela; as demais retas;

Beiral externo: Platibanda;

Beiral interno: Bica simples;

Ferragens: Gradil de ferro fundido;

Pintura das esquadrias: Esmalte;

Guarda-corpos: Entalado de ferro fundido e peitoril de madeira;

Piso interno: Ladrilho hidráulico e tabuado corrido claro-escuro;

Piso externo: Cimentado;

Soleiras: Ladrilho hidráulico;

Obs.: Casa típica do princípio do século. Nas salas da frente os forros são de zinco e vieram

dos EUA. As grades também vieram de lá. Um dos cômodos foi transformado em capela.

Planta Baixa e Situação

Figura 28: Planta baixa e de situação.

Fonte: Piauí (1997, PA cv 036).

.

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Arquivo de Fotos - 4

Obs.: Ficha cadastral retirada do levantamento já existente, feito em 1997, pela Fundação

Estadual de Cultura e Desporto do Piauí (FUNDEC), pelo Ministério da Cultura e pelo

IPHAN/3ª CR e que faz parte do Inventário e Estudo de Proteção de Conjuntos Urbanos do

Piauí, onde o volume III corresponde ao Inventário de Proteção do Acervo Cultural do Piauí

(IPAC) em Parnaíba e atualizada por Neuza Melo em 2007.

Figura 31: Detalhe da

janela.

Fonte: Acervo particular

- Neuza Melo (2007).

Figura 29: Fachada.

Fonte: Acervo particular - Neuza Melo (2007).

Figura 30: Detalhe do forro

Fonte: Acervo particular -

Neuza Melo (2007).

Figura 32: Detalhe do piso.

Fonte: Acervo particular - Neuza Melo (2007).

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Ficha Cadastral - 5

Residência de Tipologia Eclética sito a Rua Ademar Neves, 1470

Designação: Sobrado;

Localização: Rua Ademar Neves, 1470;

Proprietário: Juan Paul;

Área de Projeção: 308.69 m²;

Área do Lote: 1.505 m²;

Ambientação: Isolada;

Implantação: Recuada;

Pavimentos: 2;

Época da construção: Meados do século XX;

Alvenarias: Tijolo maciço;

Revestimento: Pintura impermeável;

Estrutura da cobertura: Madeira serrada;

Forros: Tabuado corrido e saia-e-camisa;

Telhado: Telha francesa;

Figura 33: Fachada principal.

Fonte: IPHAN-PI (2006, v.2, p. 2).

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Vedações: Em madeira; portas em almofadados, duas folhas; a porta da entrada com postigo;

veneziana com vidro; algumas janelas em ferro e vidro;

Bandeiras: Madeira e vidro;

Vergas: Retas;

Beiral externo: Platibanda;

Beiral interno: Caibro corrido;

Pintura das esquadrias: Esmalte;

Guarda-corpos: Balaústre em alvenaria com forma geométrica;

Piso interno: tabuado corrido claro-escuro na parte de cima;

Obs.: A casa possui pavimento inferior já muito modificado. As escadarias são em mármore

(corrimão e piso) e a escada interna em madeira.

Plantas Baixas e Situação

Figura 34: Planta baixa 1º pavimento.

Fonte: Neuza Melo (2007, p. 128).

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Figura 36: Planta de situação.

Fonte: Neuza Melo (2007, p. 129).

Figura 35: Planta baixa 2º pavimento.

Fonte: Neuza Melo (2007, p. 129).

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Arquivo de Fotos - 5

Figura 37: Detalhe do

corredor.

Fonte: Acervo particular -

Neuza Melo (2007).

Figura 38: Detalhe da sala

e porta.

Fonte: Acervo particular -

Neuza Melo (2007).

Figura 39: Detalhe da

janela.

Fonte: Acervo particular -

Neuza Melo (2007).

Figura 40: Salas.

Fonte: Acervo particular -

Neuza Melo (2007).

Figura 41: Escadaria.

Foto: Acervo particular - Neuza Melo (2007).

Figura 42: Detalhe da janela.

Fonte: Acervo particular -

Neuza Melo (2007).

Figura 43: Fachada posterior.

Fonte: Acervo particular -

Neuza Melo (2007).

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Obs.: Ficha cadastral feita por Neuza Melo, em 2007, baseada no fichamento já existente,

feito em 1997, pela Fundação Estadual de Cultura e Desporto do Piauí (FUNDEC), pelo

Ministério da Cultura e pelo IPHAN/3ª CR e que faz parte do Inventário e Estudo de Proteção

de Conjuntos Urbanos do Piauí, onde o volume III corresponde ao Inventário de Proteção do

Acervo Cultural do Piauí (IPAC) em Parnaíba.

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Ficha Cadastral - 6

Residência de Tipologia Eclética sito a Rua Coronel José Narciso, 606

Designação: Casa;

Proprietário: D. Fátima (inquilina);

Área de Projeção: 86m²;

Área do Lote: 120.54 m²;

Ambientação: Intg. do conjunto histórico;

Implantação: Alinhamento e recuada na lateral;

Pavimentos: 1;

Época da construção: Início do século XX;

Alvenarias: Tijolo maciço;

Revestimento: Reboco caiado;

Estrutura da cobertura: Madeira serrada;

Forros: Telha-vã;

Telhado: Forro de gesso nos dormitórios (alteração); 1/2 cana artesanal na sala, telha francesa

na entrada lateral e telha cerâmica comum nos demais cômodos;

Vedações: Em madeira; calha com postigo, veneziana e vidro;

Figura 44: Fachada principal.

Fonte: IPHAN-PI (2006, v.2, p. 16).

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Bandeiras: Madeira com vidro;

Vergas: Retas;

Beiral externo: Platibanda;

Beiral interno: Caibro corrido;

Pintura das esquadrias: Esmalte;

Piso interno: já alterado

Soleiras: Cimentada

Obs.: A casa é apenas alugada. Paredes e janelas fora de esquadro.

Planta Baixa e Situação

Figura 45: Planta baixa.

Fonte: Neuza Melo (2007, p. 133).

Figura 46: Planta de situação.

Fonte: Neuza Melo (2007, p. 133).

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Arquivo de Fotos - 6

Obs.: Ficha cadastral feita por Neuza Melo, em 2007, baseada no fichamento já existente,

feito em 1997, pela Fundação Estadual de Cultura e Desporto do Piauí (FUNDEC), pelo

Ministério da Cultura e pelo IPHAN/3ª CR e que faz parte do Inventário e Estudo de Proteção

de Conjuntos Urbanos do Piauí, onde o volume III corresponde ao Inventário de Proteção do

Acervo Cultural do Piauí (IPAC) em Parnaíba.

Figura 47: Detalhe da porta.

Fonte: Acervo particular -

Neuza Melo (2007).

Figura 48: Detalhe da cobertura.

Fonte: Acervo particular - Neuza Melo (2007).

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Ficha Cadastral - 7

Residência de Tipologia Chalé sito à Rua Riachuelo, 966

Designação: Casa;

Proprietário: Paulo Roberto Campos;

Área de Projeção: 204,06m²;

Área do Lote: 576,10m²;

Ambientação: Intg. do conjunto histórico;

Implantação: Recuada;

Pavimentos: 1;

Época da construção: Década de 1940;

Alvenarias: Tijolo maciço;

Revestimento: Barramento de pedra e pintura impermeável com detalhes em alvenaria;

Estrutura da cobertura: Carnaúba corrida;

Forros: Tabuado corrido e saia-e-camisa;

Telhado: Telha francesa;

Vedações: Em madeira; porta em almofadados sendo a principal com veneziana e postigo;

janelas com venezianas e vidro;

Bandeiras: Em madeira e vidro;

Figura 49: Fachada principal.

Fonte: IPHAN-PI (2006, v. 2, p. 96).

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Vergas: Retas;

Beiral externo: Cachorrada e lambrequim;

Beiral interno: Cachorrada;

Pintura das esquadrias: Esmalte;

Piso interno: Tabuado corrido e ladrilho hidráulico;

Piso externo: Lajeado;

Soleiras: Cimentada;

Obs.: A casa sofreu mudanças, tendo sido aumentada a área da cozinha.

Planta Baixa e Situação

Figura 50: Planta baixa.

Fonte: Neuza Melo (2007, p. 136).

Figura 51: Planta de situação.

Fonte: Neuza Melo (2007, p. 136).

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Arquivo de Fotos - 7

Obs.: Ficha cadastral feita por Neuza Melo, em 2007, baseada no fichamento já existente,

feito em 1997, pela Fundação Estadual de Cultura e Desporto do Piauí (FUNDEC), pelo

Ministério da Cultura e pelo IPHAN/3ª CR e que faz parte do Inventário e Estudo de Proteção

de Conjuntos Urbanos do Piauí, onde o volume III corresponde ao Inventário de Proteção do

Acervo Cultural do Piauí (IPAC) em Parnaíba.

Figura 54: Detalhe do forro.

Fonte: Acervo particular - Neuza Melo (2007).

Figura 52: Detalhe do beiral.

Fonte: Acervo particular - Neuza Melo (2007). Figura 53: Detalhe das janelas.

Fonte: Acervo particular - Neuza Melo (2007).

Figura 55: Fachadas frontal e lateral.

Fonte: Acervo particular - Neuza Melo (2007).

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Ficha Cadastral - 8

Residência de Tipologia Chalé sito à Rua Vera Cruz, 747

Designação: Sobrado;

Proprietário: Maria da Conceição Oliveira Neves;

Área de Projeção: 161.25m²;

Área do Lote: 249.60m²;

Ambientação: Isolada;

Implantação: Recuada;

Pavimentos: 2;

Época da construção: Meados do século XX;

Alvenarias: Tijolo maciço;

Revestimento: Pintura impermeável;

Estrutura da cobertura: Madeira serrada;

Forros: Saia-e-camisa;

Telhado: Telha francesa;

Vedações: Portas e janelas em madeira; almofadadas com vidro;

Bandeiras: Madeira e vidro;

Figura 56: Fachada principal.

Fonte: IPHAN-PI (2006, v. 2, p. 108).

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Vergas: Retas;

Beiral externo: Caibro corrido e lambrequim;

Beiral interno: Caibro corrido;

Ferragens: Gradil de ferro;

Pintura das esquadrias: Esmalte;

Piso interno: Tabuado corrido claro-escuro;

Obs.: Casa já com muitas alterações. Algumas janelas e portas não são mais originais. As três

primeiras salas são azulejadas.

Planta Baixa e Situação

Figura 57: Planta baixa 1º pavimento.

Fonte: Neuza Melo (2007, p. 139).

Figura 58: Planta baixa 2º pavimento.

Fonte: Neuza Melo (2007, p. 139).

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Arquivo de Fotos - 8

Figura 59: Planta de situação.

Fonte: Neuza Melo (2007, p. 139).

Figura 60: Fachadas.

Fonte: Acervo particular - Neuza Melo (2007).

Figura 61: Detalhe do beiral.

Fonte: Acervo particular - Neuza Melo (2007).

Figura 62: Detalhe da porta.

Fonte: Acervo particular -

Neuza Melo (2007).

Figura 63: Vista das salas.

Fonte: Acervo particular -

Neuza Melo (2007).

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Obs.: Ficha cadastral feita por Neuza Melo, em 2007, baseada no fichamento já existente,

feito em 1997, pela Fundação Estadual de Cultura e Desporto do Piauí (FUNDEC), pelo

Ministério da Cultura e pelo IPHAN/3ª CR e que faz parte do Inventário e Estudo de Proteção

de Conjuntos Urbanos do Piauí, onde o volume III corresponde ao Inventário de Proteção do

Acervo Cultural do Piauí (IPAC) em Parnaíba.

Figura 64: Detalhe do piso.

Fonte: Acervo particular - Neuza Melo (2007). Figura 65: Detalhe do forro.

Fonte: Acervo particular - Neuza Melo (2007).

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Ficha Cadastral - 9

Residência de Tipologia Neocolonial sito à Rua Desembargador Freitas, 878

Designação: Casa;

Proprietário: Aluízio de Castro Ribeiro;

Área de Projeção: 347. 44m²;

Área do Lote: 1370.50m²;

Ambientação: Isolada;

Implantação: Recuada;

Pavimentos: 1;

Época da construção: 1953;

Alvenarias: Tijolo maciço;

Revestimento: Pintura impermeável;

Estrutura da cobertura: Madeira serrada;

Forros: Em madeira, saia-e-camisa; na garagem, telhado aparente;

Telhado: Telha francesa;

Vedações: Em madeira; portas e janelas almofadadas, do Paraná;

Bandeiras: Em madeira e vidro;

Figura 66: Fachada principal.

Fonte: IPHAN-PI (2006, v. 2, p. 25).

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Vergas: Retas;

Beiral externo: Cachorrada;

Beiral interno: Cachorrada;

Pintura das esquadrias: Esmalte;

Piso interno: Já modificado (antes era tabuado corrido e taco); cerâmica no terraço;

Piso externo: Cimentado;

Obs.: O banheiro da família era apenas um e atualmente está dividido em três. A cozinha foi

ampliada.

Planta Baixa e Situação

Figura 67: Planta baixa.

Fonte: Neuza Melo (2007, p. 143).

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Arquivo de Fotos - 9

Obs.: Ficha cadastral feita por Neuza Melo, em 2007, baseada no fichamento já existente,

feito em 1997, pela Fundação Estadual de Cultura e Desporto do Piauí (FUNDEC), pelo

Ministério da Cultura e pelo IPHAN/3ª CR e que faz parte do Inventário e Estudo de Proteção

de Conjuntos Urbanos do Piauí, onde o volume III corresponde ao Inventário de Proteção do

Acervo Cultural do Piauí (IPAC) em Parnaíba.

Figura 68: Planta de situação.

Fonte: Neuza Melo (2007, p. 144).

Figura 69: Detalhe interno.

Fonte: Acervo particular - Neuza Melo (2007).

Figura 70: Detalhe da cobertura.

Fonte: Acervo particular - Neuza Melo (2007).

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Ficha Cadastral - 10

Residência de Tipologia Neocolonial sito à Av. Presidente Getúlio Vargas, 694

Designação: Sobrado;

Proprietário: Antonio L. de F. Diniz;

Área de Projeção: 167m²;

Área do Lote: 434m²;

Taxa ocupação: 38,48%;

Ambientação: Intg. do conjunto histórico;

Implantação: Recuada;

Pavimentos: 2;

Época da construção: Cerca de 1930;

Alvenarias: Tijolo maciço;

Revestimento: Reboco frisado com pintura impermeável;

Estrutura da cobertura: Madeira serrada;

Forros: Laje de concreto na varanda térrea; madeira trabalhada, liso e saia e camisa;

Telhado: Telhas francesas vindas de São Paulo;

Figura 71: Fachada principal.

Fonte: IPHAN-PI (2006, v. 2, p. 88).

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Vedações: Em madeira e vidro, tábua corrida; janelas basculantes no térreo; venezianas no

segundo pavimento;

Bandeiras: Em madeira e vidro;

Vergas: Em arco pleno e retas;

Beiral externo: Bica simples;

Beiral interno: Bica simples;

Ferragens: Gradil de ferro fundido e maçanetas de louça;

Pintura das esquadrias: Esmalte;

Guarda-corpos: Balcão de alvenaria;

Piso interno: Tabuado corrido, taco formando desenhos geométricos e ladrilho hidráulico;

Piso externo: Lajeado;

Soleiras: Ladrilho hidráulico;

Obs.: O arquiteto que fez o projeto chamava-se Nestábulo. O gradil da continuação ao da casa

vizinha porque tiveram o mesmo construtor. A escada interna é em mármore e o corrimão em

ferro torneado. No banheiro, uma grande sala de banho, as louças são originais e havia água

quente obtida através de um sistema de serpentinas que ficam na parte de trás da casa.

Planta Baixa e Situação

Figura 72: Planta baixa 1º pavimento.

Fonte: Neuza Melo (2007, p. 146).

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Figura 73: Planta baixa 2º pavimento.

Fonte: Neuza Melo (2007, p. 147).

Figura 74: Planta de situação.

Fonte: Neuza Melo (2007, p. 147).

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Arquivo de Fotos - 10

Obs.: Ficha cadastral retirada do levantamento já existente, feito em 1997, pela Fundação

Estadual de Cultura e Desporto do Piauí (FUNDEC), pelo Ministério da Cultura e pelo

IPHAN/3ª CR e que faz parte do Inventário e Estudo de Proteção de Conjuntos Urbanos do

Piauí, onde o volume III corresponde ao Inventário de Proteção do Acervo Cultural do Piauí

(IPAC) em Parnaíba e atualizada por Neuza Melo em 2007.

Figura 75: Detalhe da

escada.

Fonte: Acervo particular -

Neuza Melo (2007).

Figura 76: Detalhe da louça

do banheiro.

Fonte: Acervo particular -

Neuza Melo (2007).

Figura 77: Detalhe da sala.

Fonte: Acervo particular - Neuza Melo (2007).

Figura 78: Detalhe do

armário dentro da parede.

Fonte: Acervo particular -

Neuza Melo (2007).

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Ficha Cadastral - 11

Residência de Tipologia Associação de Categorias sito à Rua Simplício Dias, 265

Designação: Casa;

Proprietário: D. Antonia.

Área de Projeção: 275.76 m²;

Área do Lote: 600 m²;

Ambientação: Isolada;

Implantação: Recuada;

Pavimentos: 1;

Época da construção: Meados do século XX;

Alvenarias: Tijolo maciço;

Revestimento: Barrado de pedra com pintura impermeável;

Estrutura da cobertura: Madeira serrada;

Forros: Tabuado corrido, saia-e-camisa nos cômodos principais; Telha-vã na parte de

serviços e laje na varanda da entrada;

Telhado: Telha francesa e telha 1/2 cana artesanal;

Vedações: Em madeira; porta com almofadados e vidro; janela com quatro folhas, em

almofadados e venezianas com vidro;

Figura 79: Fachada principal.

Fonte: Acervo particular - Neuza Melo (2007).

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Bandeiras: Em vidro;

Vergas: Arco pleno na entrada e retas nas esquadrias;

Beiral externo: Bica simples, caibro corrido e lambrequim;

Beiral interno: Caibro corrido;

Pintura das esquadrias: Esmalte;

Piso interno: Cerâmica na entrada; taco na sala e dormitórios; ladrilho hidráulico.

Obs.: Muro com balaustrada.

Planta Baixa e Situação

Figura 80: Planta baixa.

Fonte: Neuza Melo (2007, p. 150).

Figura 137: Planta de Situação.

Fonte: Neuza Melo e Emanoel Farias.

Figura 81: Planta de situação.

Fonte: Neuza Melo (2007, p. 150).

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Arquivo de Fotos - 11

Obs.: Ficha cadastral feita por Neuza Melo, em 2007, baseada no fichamento já existente,

feito em 1997, pela Fundação Estadual de Cultura e Desporto do Piauí (FUNDEC), pelo

Ministério da Cultura e pelo IPHAN/3ª CR e que faz parte do Inventário e Estudo de Proteção

de Conjuntos Urbanos do Piauí, onde o volume III corresponde ao Inventário de Proteção do

Acervo Cultural do Piauí (IPAC) em Parnaíba.

Figura 82: Detalhe do piso.

Fonte: Acervo particular - Neuza Melo (2007).

Figura 83: Detalhe do forro.

Fonte: Acervo particular - Neuza Melo (2007).

Figura 84: Detalhe do piso.

Fonte: Acervo particular - Neuza Melo

(2007).

Figura 85: Vista da fachada.

Fonte: Acervo particular - Neuza Melo (2007). Figura 85: fachada principal.

Fonte: Neuza Melo (2007).

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Arquivo de Fotos - 12

Edifício de Tipologia Proto-Eclética sito à Rua D. Pedro II, 1140

Figura 87: Detalhe das janelas.

Fonte: Acervo particular -

Neuza Melo (2007).

Figura 86: Fachadas.

Fonte: Acervo particular - Neuza Melo (2007).

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