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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO MARCELLA FERNANDES DE SOUZA ACÚMULO DE AMIDO POR Chlorella sorokiniana E POSTERIOR PROCESSAMENTO EM UM CONTEXTO DE BIORREFINARIA RIO DE JANEIRO Maio - 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

MARCELLA FERNANDES DE SOUZA

ACÚMULO DE AMIDO POR Chlorella sorokiniana E POSTERIOR

PROCESSAMENTO EM UM CONTEXTO DE BIORREFINARIA

RIO DE JANEIRO

Maio - 2017

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Marcella Fernandes de Souza

ACÚMULO DE AMIDO POR Chlorella sorokiniana E POSTERIOR

PROCESSAMENTO EM UM CONTEXTO DE BIORREFINARIA

Tese de Doutorado apresentada ao Programa

de Pós-Graduação em Tecnologia de

Processos Químicos e Bioquímicos, Escola de

Química, Universidade Federal do Rio de

Janeiro, como requisito parcial à obtenção do

título de Doutor em Ciências (Tecnologia de

Processos Químicos e Bioquímicos)

Orientadores: Suely Pereira Freitas, Elba Pinto da Silva Bon e Marcoaurélio

Almenara Rodrigues

Rio de Janeiro

Maio - 2017

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Souza, Marcella Fernandes de.

Acúmulo de amido por Chlorella sorokiniana e posterior

processamento em um contexto de biorrefinaria / Marcella

Fernandes de Souza. -- Rio de Janeiro, 2017.

143 f.

Orientadora: Suely Pereira Freitas. Coorientadores: Elba

Pinto da Silva Bon e Marcoaurelio Almenara Rodrigues.

Tese (doutorado) - Universidade Federal do Rio de Janeiro,

Escola de Química, Programa de Pós Graduação em

Tecnologia de Processos Químicos e Bioquímicos, 2017.

1. Microalgas. 2. Biorrefinaria. I. Pereira, Suely F., orient. II.

Bon, Elba P.S., coorient. III. Rodrigues, Marcoaurelio A.,

coorient. IV. Título.

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MARCELLA FERNANDES DE SOUZA

ACÚMULO DE AMIDO POR Chlorella sorokiniana E POSTERIOR

PROCESSAMENTO EM UM CONTEXTO DE BIORREFINARIA

Tese de Doutorado apresentada ao Programa

de Pós-Graduação em Tecnologia de

Processos Químicos e Bioquímicos, Escola de

Química, Universidade Federal do Rio de

Janeiro, como requisito parcial à obtenção do

título de Doutor em Ciências (Tecnologia de

Processos Químicos e Bioquímicos)

Aprovada em ____/____/____:

________________________________________________

Suely Pereira Freitas, D.Sc., UFRJ

________________________________________________

Elba Pinto da Silva Bon, PhD, UFRJ

________________________________________________

Marcoaurelio Almenara Rodrigues, D.Sc., UFRJ

________________________________________________

Maria Alice Zarur Coelho, D.Sc., UFRJ

________________________________________________

Donato Alexandre Gomes Aranda, D.Sc., UFRJ

________________________________________________

Mariângela Menezes, D.Sc., UFRJ

________________________________________________

Aline Machado de Castro, D.Sc., CENPES

________________________________________________

Viridiana Santana Ferreira Leitão, D.Sc., INT

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AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer a todos que contribuíram de uma forma ou outra para a

realização do presente trabalho. Em especial, gostaria de agradecer:

À Professora Suely Pereira Freitas, por ter aceitado o papel de orientadora e

sempre ter me incentivado a seguir meu próprio caminho. Também gostaria de

agradecê-la por ter me envolvido no universo das microalgas, que agora me é tão

querido.

À Professora Elba P.S. Bon, por ter me recebido em seu grupo de pesquisa

desde a graduação, despertando meu interesse pela carreira acadêmica, e pela

orientação e inúmeras oportunidades de crescimento nesses últimos 7 anos.

Ao Professor Marcoaurelio A. Rodrigues, por sua revisão cuidadosa de todos

os meus resultados, sempre contribuindo com novas informações para melhor

discuti-los.

À Ayla Santana da Silva, pela parceria também nesses últimos 7 anos, por

todas as nossas conversas que contribuíram para que eu me tornasse uma

pesquisadora melhor e por todo o apoio e disponibilidade nesses anos de doutorado.

À equipe dos laboratórios Enzitec e Bioetanol, pela amizade durante todos

esses anos. Em especial, ao Ricardo S.S. Teixeira, por me auxiliar no entendimento

e discussão de resultados, ao Raul A. Oliveira, pela adaptação das luzes para o

crescimento das microalgas, ao Daniel S. Pereira, pela parceria no artigo publicado

e pelas inúmeras análises realizadas, e a Maria Fernanda S. Mota e Fernanda T.A.

Jorge, pela ajuda tanto experimental quanto nas discussões de resultados.

À Professora Anita F. Valle, pelo apoio inicial nos cultivos de microalgas e por

se mostrar sempre disposta a me auxiliar. À Lília C.O. Barretto, pelo envio das

sementes de moringa e pela amizade no nosso breve convívio. À Professora Ana

Lúcia A. Vendramini, pela oportunidade de parceria e pelo envio das amostras de

celulose de macroalga. Ao Professor Bernardo D. Ribeiro, também por sempre se

mostrar disponível e pelo envio das amilases comerciais.

Aos docentes do setor de Engenharia Bioquímica do DEB, em especial às

professoras Andrea M. Salgado, Maria Antonieta P.G. Couto e Priscilla F.F. Amaral,

pelo auxílio nas atividades didáticas desenvolvidas durante o doutorado, e aos

professores substitutos Mariana M.P. Silva, Caroline A. Cayres e Felipe V.

Nascimento, pelo companheirismo nesse último ano.

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Ao CNPq, pela bolsa de estudos.

Por último, mas com certeza não menos importante, gostaria de agradecer à

minha família. Aos meus pais, por sempre me apoiarem nas minhas decisões e

acreditarem em mim, me dando confiança para seguir meu próprio caminho, e

também por dividir comigo tanto minhas angústias quanto minhas conquistas,

tornando tudo mais fácil; em especial, à minha mãe, por todas as horas em que ela

me ouviu treinar antes de alguma apresentação, ajudando a melhorá-la. E ao

Matheus, por ser meu companheiro de discussões acadêmicas, revisão de textos e

de apresentações e por toda sua compreensão nos últimos meses de intenso

trabalho para finalizar a tese.

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It’s not love or money that makes the world go round, it’s

photosynthesis - Jirí Masojídek

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RESUMO

Souza, Marcella Fernandes de. Acúmulo de amido por Chlorella sorokiniana e

posterior processamento em um contexto de biorrefinaria. Tese (Doutorado) - Escola

de Química, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2017

O estabelecimento de uma sociedade sustentável inclui a substituição do petróleo

por matérias-primas renováveis para produção tanto de combustíveis quanto de

commodities e produtos de alto valor agregado. Nesse contexto, as microalgas têm

sido consideradas matérias-primas renováveis para a produção de diferentes

compostos biológicos de interesse industrial, como proteínas, lipídeos e

carboidratos, com a vantagem de prescindir de terras cultiváveis. Os carboidratos,

encontrados principalmente na forma de amido, são uma fonte potencial de glicose,

que pode servir como precursora de diversas moléculas-plataforma. No entanto, a

produção de commodities a partir de microalgas atualmente só é viável

economicamente se associada à obtenção de produtos de alto valor agregado, em

um contexto de biorrefinaria. Portanto, o objetivo do presente trabalho foi cultivar

uma microalga em condições que favorecessem o acúmulo de carboidratos,

especialmente amido, e propor uma rota sustentável para o uso integral da

biomassa cultivada. Dentre as microalgas estudadas, Chlorella sorokiniana foi a que

apresentou maior concentração celular e maior conteúdo de carboidratos nas

condições de cultivo estudadas. Observou-se que o aumento do tempo de cultivo

favoreceu o acúmulo de amido intracelular, que passou de 8 % na fase exponencial

de crescimento para 28 % na fase estacionária. O acúmulo de amido resultou em

um aumento da densidade celular, auxiliando a etapa de colheita das células por

sedimentação gravitacional. Esta etapa foi também favorecida pelo uso do extrato

salino da semente de moringa (Moringa oleifera) em uma etapa de floculação,

resultando em um aumento da velocidade de sedimentação. Para obtenção de um

xarope de glicose a partir da microalga colhida, um processo de hidrólise enzimática

foi proposto para rompimento da parede celular e despolimerização do amido

intracelular. No entanto, a parede celular da microalga foi resistente à hidrólise com

uma mistura enzimática contendo celulases. Esse resultado, em conjunto com os

resultados de caracterização da fração de carboidratos, sugere um conteúdo

reduzido de celulose na parede celular de C. sorokiniana. Após uma etapa de

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moagem das células secas para rompimento da parede celular, a hidrólise

enzimática com amilases fúngicas resultou em um rendimento em glicose de 99 %

em apenas 5 horas. O aumento da carga de sólidos de 5% para 25 % (m/m) resultou

na redução do rendimento para 76 % e no aumento da concentração de glicose em

4,5 vezes, chegando-se a 70 g/L, mostrando a possibilidade de condução da

hidrólise com altas concentrações de sólidos para obtenção de uma corrente

concentrada de glicose. Durante a etapa de hidrólise enzimática, foi observada a

degradação dos pigmentos da microalga; portanto, a extração desses compostos foi

realizada a partir da microalga fresca, em etapa anterior à hidrólise. A extração com

etanol resultou em rendimentos similares aos obtidos com metanol, solvente tóxico

comumente utilizado para esse fim. As células impregnadas com etanol, após a

extração, apresentaram uma taxa de secagem quase 10 vezes superior à obtida

com as células frescas, reduzindo o gasto energético do processo. Após a extração

de pigmentos e hidrólise enzimática, a biomassa residual apresentou teores de 33 %

de proteínas e 27 % de lipídeos, com possível aplicação na alimentação humana e

animal. Os resultados obtidos no presente trabalho possibilitam a proposição de um

processo de extração de pigmentos de alto valor agregado acoplado à obtenção de

glicose e a geração de um resíduo com potencial interesse industrial. No processo

desenvolvido foram utilizadas etapas ambientalmente amigáveis associadas a

procedimentos pouco onerosos na colheita e secagem das microalgas.

Palavras-chave: Chlorella sorokiniana, microalgas, glicose, amido, pigmentos,

biorrefinaria

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ABSTRACT

Souza, Marcella Fernandes de. Starch accumulation by Chlorella sorokiniana and its

processing in a biorefinery context. Thesis (Doctorate) - Escola de Química,

Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2017

In order to develop a sustainable society, petroleum has to be substituted by

renewable feedstocks in the production of energy, commodities and high-value

products. In this context, microalgae have been proposed as a renewable feedstock

for the production of different biological compounds with industrial applications, such

as proteins, lipids and carbohydrates, without requiring arable land. Carbohydrates,

found mainly as starch, are a potential source of glucose, which can be used as a

precursor for obtaining several platform molecules. However, the production of

commodities from microalgae is currently economically viable only if associated with

the production of high-value products in a biorefinery approach. Therefore, the aim of

this work was to cultivate a microalga in conditions that would enhance its starch

content and to propose sustainable methods for the processing of this biomass as a

whole. Among the studied microalgae, Chlorella sorokiniana showed the highest

cellular concentration and the highest carbohydrate content in the studied cultivation

conditions. The increase in cultivation time resulted in an intracellular starch

accumulation, from 8 % at the exponential growth phase to 28 % at the stationary

phase. Starch accumulation resulted in an increase in cell density, aiding cell

harvesting by gravitational sedimentation. Sedimentation was also improved by the

addition of a saline extract of Moringa oleifera seeds in a previous flocculation step,

resulting in a faster cell sedimentation rate. To obtain a glucose syrup from the

harvest cells, a enzymatic hydrolysis process was proposed for rupturing the cell wall

and depolymerizing the intracellular starch. However, C. sorokiniana's cell wall was

resistant to the hydrolysis with an enzymatic mixture containing cellulases. This

outcome, together with the results obtained from the characterization of the

carbohydrates fraction of this microalga, suggests a reduced content of cellulose in

C. sorokiniana's cell wall. After cell wall rupture by milling, it was possible to achieve

a 99 % glucose yield whithin 5 hours of hydrolysis with fungal amylases. The

increase in solids loading from 5 % to 25 % (m/m) resulted in a reduction of this yield

to 76 % and a 4.5-fold increase in glucose concentration, with a maximum of 70 g/L,

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indicating the feasibility of a high solids loading hydrolysis to obtain a concentrated

glucose stream. During the enzymatic hydrolysis step, it was observed pigment

degradation; therefore, the extraction of these compounds was done from fresh cells,

previously to the enzymatic hydrolysis. The extraction with ethanol yielded similar

results to those obtained for the use of methanol, a toxic solvent commonly used for

this purpose. Ethanol impregnated cells after extraction showed a 10-fold higher

drying rate when compared to fresh cells; this result represents a lower energy

expenditure in the process. After the pigments extraction and the enzymatic

hydrolysis steps, the residual biomass showed a protein content of 33 % and a lipid

content of 27 %, and could be directed to animal feed and human consumption. The

proposed process using the results of the present work enables the obtaining of

glucose, together with pigments, which have a high market value, and a residue with

potential industrial applications, through environmentally benign processes and with

low-cost harvesting and drying steps.

Keywords: Chlorella sorokiniana, microalgae, glucose, starch, pigments, biorefinery

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Reprodução assexuada de Chlorella vulgaris ....................................................... 24

Figura 2. Microscopia ótica de Chlorella sorokiniana (UTEX 1663) ...................................... 25

Figura 3. Esquema de um cloroplasto .................................................................................. 25

Figura 4. Fases da fotossíntese com seus principais produtos ............................................ 26

Figura 5. Estrutura da clorofila a e variações nas estruturas das clorofilas b, c e d ............. 27

Figura 6. Síntese de amido e triacilglicerídeos (TAG) a partir da fixação de CO2 pelo ciclo de

Calvin-Benson ..................................................................................................................... 27

Figura 7. Esquema de um lago raceway ............................................................................. 34

Figura 8. Representação esquemática de um reator tubular vertical (a) e horizontal (b) ..... 35

Figura 9. Representação de um fotobiorreator de placas .................................................... 36

Figura 10. Representação de reatores de biofilme com suporte sólido (a), em que a fase

aquosa está em contato direto com as células, e com suporte microporoso (b), em que a

fase aquosa entra em contato com as células apenas por difusão ..................................... 36

Figura 11. Agente floculante catiônico liga-se às partículas negativamente carregadas e cria

"pontes", promovendo sua floculação ................................................................................. 39

Figura 12. Design típico de uma válvula de homogeneização a alta pressão ..................... 43

Figura 13. Biorrefinaria baseada em glicose ........................................................................ 48

Figura 14. Grânulo de amido com destaque para a formação de duplas hélices nas cadeias

de amilopectina .................................................................................................................... 49

Figura 15. Microscopia ótica das microalgas M. homosphaera (a), C. sorokiniana (b) e N.

oleoabundans (c) com lente objetiva de 100x ...................................................................... 53

Figura 16. Agitador orbital New Brunswick Scientific Innova 44R adaptado com luzes

fluorescentes para crescimento de microalgas ................................................................... 53

Figura 17. Moinho vibratório contendo 1 bola ...................................................................... 62

Figura 18. Sementes de moringa secas e após a remoção das cascas ............................... 63

Figura 19. Perfil de crescimento das algas Chlorella sorokiniana, Neochloris oleoabundans e

Mychonastes homosphaera durante 10 dias de cultivo em Bold's Basal Medium em frascos

agitados a 175 rpm .............................................................................................................. 67

Figura 20. Concentração de massa seca de C. sorokiniana (S), N. oleoabundans (N) e M.

homosphaera (H) obtidas após 10, 20 e 30 dias de cultivo. ................................................. 68

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Figura 21. Teor de glicose (cinza claro) e açúcares totais (cinza escuro) da biomassa seca

de C. sorokiniana (S), N. oleoabundans (N) e M. homosphaera (H) após 10, 20 e 30 dias de

cultivo......................................................................................................................................68

Figura 22. Acompanhamento do crescimento celular de C. sorokiniana a 30 °C e 225 rpm..

............................................................................................................................................ 72

Figura 23. Correlação linear entre leituras de densidade ótica a 750 nm e 680 nm de um

mesmo cultivo de C. sorokiniana em diferentes momentos. ................................................. 72

Figura 24. Correlação entre densidade ótica a 680 nm e número de células determinados ao

longo do cultivo de C. sorokiniana ....................................................................................... 73

Figura 25. Quantidade de clorofila por célula e teor de amido em diferentes períodos de

cultivo de C. sorokiniana ...................................................................................................... 74

Figura 26. Correlação entre densidade ótica a 680 nm e massa seca determinados ao longo

do cultivo de C. sorokiniana. ................................................................................................ 75

Figura 27. Teores de açúcares encontrados nas microalgas Chlorella sp. (a), Chlorella

sorokiniana (b) e Mychonastes homosphaera (c) quantificados por HPAEC-PAD após a

hidrólise pelo método Northcote por 1 hora, 2 horas, 4 horas e 6 horas. ............................. 78

Figura 28. Perfil de crescimento de Chlorella sorokiniana a 175 rpm, 200 rpm e 225 rpm

durante 10 dias de cultivo. ................................................................................................... 84

Figura 29. Teor de glicose e massa seca de C. sorokiniana em diferentes dias de cultivo a

225 rpm ............................................................................................................................... 85

Figura 30. Perfil de consumo de fosfato, consumo de nitrato e pH durante o cultivo de

Chlorella sorokiniana a 225 rpm. ......................................................................................... 86

Figura 31. Perfil de crescimento celular de Chlorella sorokiniana a 200 rpm em meio original

contendo todos os componentes (Controle), meio original sem elementos-traço (Zn, Mn, Mo,

Cu e Co) e meio contendo apenas macronutrientes acrescidos de ferro (sem EDTA, boro e

elementos-traço). ................................................................................................................. 88

Figura 32. Massa seca e teor de glicose obtidos após 20 dias de cultivo de Chlorella

sorokiniana a 200 rpm em diferentes meios ......................................................................... 88

Figura 33. Massa seca e teor de glicose obtidos após 10 dias de cultivo de Chlorella

sorokiniana a 225 rpm em diferentes meios ......................................................................... 90

Figura 34. Teor de glicose acumulado por células de C. sorokiniana cultivadas em água

deionizada ou meio completo sem nitrato de sódio após diferentes períodos ...................... 92

Figura 35. Perfil de hidrólise enzimática de C. sorokiniana em frascos agitados contendo

12,5 mL e eppendorfs contendo 1,25 mL. ............................................................................ 95

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Figura 36. Perfil de hidrólise enzimática de células liofilizadas de C. sorokiniana com

enzimas produzidas pelos fungos T. reesei (Rut) e A. awamori (Awa) a 50 °C, pH 4,8 ........ 96

Figura 37. Microscopia ótica de células liofilizadas de C. sorokiniana tingidas com iodo após

24 horas de hidrólise com enzimas de A. awamori. ............................................................. 97

Figura 38. Microscopia ótica de células liofilizadas e moídas de C. sorokiniana .................. 99

Figura 39. Perfil de hidrólise enzimática de células moídas de C. sorokiniana, após

liofilização, com enzimas produzidas pelos fungos T. reesei (Rut) e A. awamori (Awa) a 50

°C, pH 4,8 .......................................................................................................................... 100

Figura 40. Atividade percentual relativa de amilase do preparado enzimático de Aspergillus

awamori em diferentes temperaturas e pH 4,8................................................................... 101

Figura 41. Atividade percentual relativa de amilase do preparado enzimático de Aspergillus

awamori em diferentes pHs a 60 °C ................................................................................... 102

Figura 42. Rendimentos em glicose obtidos após 4 horas de hidrólise de células liofilizadas e

moídas de C. sorokiniana com enzimas de A. awamori em diferentes condições de

temperatura e pH ............................................................................................................... 102

Figura 43. Perfil de hidrólise enzimática de células liofilizadas e moídas de C. sorokiniana

com diferentes concentrações do preparado enzimático de A. awamori a 60 °C e pH 4,0. 103

Figura 44. Concentração de glicose e rendimento em glicose obtidos após 4 horas de

hidrólise enzimática de células liofilizadas e moídas de C. sorokiniana com enzimas de A.

awamori a 850 AMU/g glucana, 60 °C e pH 4,0 com diferentes cargas de sólidos ............ 104

Figura 45. Perfil de hidrólise enzimática de células liofilizadas e moídas de C. sorokiniana,

amido de milho cru, após gelatinização a 100 °C por 10 minutos e após moagem por 90

minutos. ............................................................................................................................. 107

Figura 46. Células sedimentadas de C. sorokiniana após 6 horas (a) e 24 horas (b) em uma

proveta contendo 100 mL de suspensão de células ricas em amido .................................. 109

Figura 47. Sedimentação gravitacional de células de C. sorokiniana apresentando diferentes

teores de amido intracelular (8 % e 22 %) ......................................................................... 109

Figura 49. Sedimentação gravitacional de células de C. sorokiniana floculadas com

diferentes soluções. ........................................................................................................... 111

Figura 48. Sedimentação gravitacional de células de C. sorokiniana floculadas com

diferentes concentrações de pó de semente de moringa ................................................... 111

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Figura 50. Volume de sedimentado encontrado ao final do processo de floculação e

sedimentação de 10 mL de suspensão de células e massa seca e umidade encontrados

após uma etapa posterior de centrifugação do sedimentado formado pela floculação

utilizando pó de semente de moringa, extrato salino do pó da semente e solução de CaCl2.

.......................................................................................................................................... 113

Figura 52. Extração de clorofila a (chl a), clorofila b (chl b) e carotenoides de C. sorokiniana

com metanol 100 % a 25 °C a partir da biomassa fresca, liofilizada e moída e apenas

liofilizada ............................................................................................................................ 115

Figura 51. Quantificação de clorofila a (chl a), clorofila b (chl b) e carotenoides por extração,

com metanol 100 % a 25 °C, de C. sorokiniana moída antes e após hidrólise enzimática . 115

Figura 53. Extração de clorofila a (chl a), clorofila b (chl b) e carotenoides de C. sorokiniana

fresca com metanol 100 % e etanol 96 % a 25 °C ............................................................. 116

Figura 54. Acompanhamento da secagem de células de C. sorokiniana após a colheita e

após a extração com etanol 96 % ...................................................................................... 118

Figura 55. Fluxograma de processo de uma biorrefinaria de C. sorokiniana para obtenção de

pigmentos, glicose e biomassa seca rica em proteínas e lipídeos ..................................... 118

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Filos de microalgas e suas principais características ................................ 24

Tabela 2. Principais características de sistemas abertos e fechados de cultivo de

microalgas ................................................................................................................. 34

Tabela 3. Método de secagem de algas ................................................................... 41

Tabela 4. Lista de empresas de produção de biocombustíveis a partir de microalgas

.................................................................................................................................. 19

Tabela 5. Rendimento médio de óleo por matéria-prima .......................................... 20

Tabela 6. Modificações no meio de cultivo de C. sorokiniana ................................... 58

Tabela 7. Desvio entre os valores experimentais e calculados pelas regressões

linear e exponencial para o número de células em diferentes dias de cultivo ........... 74

Tabela 8. Teor de glicose determinado após caracterização pelos métodos de

Northcote e NREL de amido, celulose microcristalina (Avicel) e da macroalga

Kappaphycus alvarezii após extração de carragena e das três espécies de

microalgas após remoção do amido por hidrólise enzimática com α-amilase e

amiloglucosidase comerciais. .................................................................................... 81

Tabela 9. Teor de carboidratos, lipídeos e proteínas de diversas espécies de

microalgas ................................................................................................................. 93

Tabela 10. Atividades de celulases totais, β-glicosidases e amilases por grama de

glucana utilizadas nos experimentos de hidrólise ..................................................... 96

Tabela 11. Rendimentos em glicose da hidrólise enzimática de microalgas ricas em

amido ...................................................................................................................... 105

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 19

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................... 23

2.1 MICROALGAS E O GÊNERO Chlorella .......................................................... 23

2.2 METABOLISMO DE MICROALGAS ............................................................... 25

2.3 EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS DE MICROALGAS ......................................... 28

2.4 COMPOSIÇÃO BIOQUÍMICA DE MICROALGAS ........................................... 30

2.4.1 Parede celular .............................................................................................. 30

2.4.2 Componentes intracelulares ......................................................................... 31

2.5 SISTEMAS DE CULTIVO DE MICROALGAS ................................................. 33

2.6 PROCESSAMENTO DE MICROALGAS ......................................................... 37

2.6.1 Colheita ........................................................................................................ 37

2.6.2 Secagem ...................................................................................................... 40

2.6.3 Rompimento celular ..................................................................................... 42

2.6.3.1 Homogeneização a alta pressão .................................................................. 42

2.6.3.1 Ultrassom ..................................................................................................... 43

2.6.3.2 Moagem ....................................................................................................... 43

2.6.3.3 Hidrólise enzimática ..................................................................................... 44

2.7 BIORREFINARIA DE MICROALGAS .............................................................. 45

2.7.1 Proteínas ...................................................................................................... 20

2.7.2 Lipídeos ........................................................................................................ 20

2.7.3 Amido ........................................................................................................... 48

2.7.4 Clorofilas e carotenoides .............................................................................. 50

3 OBJETIVOS ........................................................................................................ 52

3.1 Objetivo geral .................................................................................................. 52

3.2 Objetivos específicos ....................................................................................... 52

4 MATERIAIS E MÉTODOS .................................................................................. 53

4.1 Microalgas e condições de cultivo ................................................................... 53

4.2 Seleção da microalga ...................................................................................... 54

4.2.1 Massa seca .................................................................................................. 54

4.2.2 Determinação do conteúdo de carboidratos ................................................. 54

4.2.3 Análise dos carboidratos por HPAEC........................................................... 55

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4.3 Seleção das metodologias de quantificação e acompanhamento celular ....... 55

4.4 Seleção da metodologia de caracterização da fração de carboidratos de

microalgas do gênero Chlorella ................................................................................. 56

4.5 Estudo do cultivo de C. sorokiniana ................................................................ 57

4.6 Determinação do teor de proteínas ................................................................. 58

4.7 Determinação do teor de lipídeos .................................................................... 59

4.8 Hidrólise enzimática ........................................................................................ 59

4.8.1 Produção de enzimas ................................................................................... 60

4.8.2 Determinação das atividades de FPase e β-glicosidase .............................. 61

4.8.3 Determinação da atividade de amilase ........................................................ 61

4.8.4 Moagem ....................................................................................................... 62

4.8.5 Estudo das condições de hidrólise ............................................................... 62

4.8.6 Hidrólise do amido de milho comercial ......................................................... 62

4.9 Colheita de C. sorokiniana .............................................................................. 63

4.9.1 Sedimentação gravitacional ......................................................................... 63

4.9.2 Floculação e sedimentação .......................................................................... 63

4.9.2.1 Preparo do pó e dos extratos de semente de moringa................................. 63

4.9.2.2 Experimentos de floculação ......................................................................... 64

4.10 Extração de pigmentos .................................................................................... 64

4.11 Secagem de células de C. sorokiniana ........................................................... 65

4.12 Tratamento estatístico dos dados .................................................................... 65

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO .......................................................................... 66

5.1 Seleção da microalga de interesse .................................................................. 66

5.1.1 Considerações finais .................................................................................... 70

5.2 Metodologias de caracterização e quantificação de Chlorella sorokiniana ...... 71

5.2.1 Estudo da metodologia de quantificação e acompanhamento do crescimento

celular.........................................................................................................................71

5.2.2 Estudo da metodologia de caracterização quanto ao teor de carboidratos .. 75

5.2.2.1 Redução do tempo de hidrólise ácida e validação da metodologia .............. 76

5.2.2.2 Hidrólise ácida de controles e de microalgas sem amido ............................. 80

5.2.3 Considerações finais .................................................................................... 83

5.3 Estudo do cultivo de Chlorella sorokiniana ...................................................... 84

5.3.1 Estudo da influência da frequência de agitação no crescimento de C.

sorokiniana ................................................................................................................ 84

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5.3.2 Cinética de acúmulo de carboidratos em C. sorokiniana ............................. 85

5.3.3 Influência dos componentes do meio de cultivo no acúmulo de amido por C.

sorokiniana ................................................................................................................ 87

5.3.4 Comparação com dados da literatura .......................................................... 92

5.3.5 Considerações finais .................................................................................... 94

5.4 Processamento de Chlorella sorokiniana em um contexto de biorrefinaria ..... 94

5.4.1 Hidrólise enzimática de Chlorella sorokiniana .............................................. 94

5.4.1.1 Redução do volume de hidrólise .................................................................. 95

5.4.1.2 Hidrólise enzimática de células liofilizadas ................................................... 96

5.4.1.3 Hidrólise enzimática de células moídas ....................................................... 99

5.4.1.4 Estudo das condições de hidrólise ............................................................. 101

5.4.1.5 Aumento da carga de sólidos ..................................................................... 103

5.4.1.6 Avaliação da hidrólise do amido de C. sorokiniana .................................... 105

5.4.2 Colheita de Chlorella sorokiniana por sedimentação gravitacional ............ 108

5.4.3 Extração de pigmentos de C. sorokiniana e fluxograma do processo ........ 114

5.4.4 Considerações finais .................................................................................. 119

6 CONCLUSÕES ................................................................................................. 121

7 TRABALHOS FUTUROS .................................................................................. 122

8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................. 123

ANEXO .................................................................................................................... 143

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19

1 INTRODUÇÃO

A busca por fontes de energia alternativas ao petróleo, incentivada pelas

crises do petróleo dos anos 1970, impulsionou pesquisas relacionadas ao uso de

matérias-primas renováveis. Além do forte apelo ambiental, a descentralização da

produção de energia tem como vantagem uma maior autonomia dos países não

produtores de petróleo, visto que as reservas petrolíferas conhecidas estão

concentradas em uma pequena parcela do mundo e o preço do petróleo está sujeito

a variações por motivos geopolíticos. Apesar de a questão energética apresentar

uma importância significativa, paralelamente se faz necessário o desenvolvimento

de novas rotas sustentáveis de obtenção de diversos produtos derivados do

petróleo, como plásticos, resinas, borrachas, dentre outros.

De forma a atender essa demanda, vem sendo fortalecido o modelo de

biorrefinaria que, semelhante a uma refinaria de petróleo, seria capaz de produzir

diversos compostos a partir de matérias-primas renováveis. Essa abordagem

permite a obtenção combinada de produtos de alto valor agregado e commodities,

possibilitando a produção dessas últimas a preços competitivos (JONG e

JUNGMEIER, 2015).

Uma das biomassas que tem se destacado é a de microalgas devido a sua

alta produtividade e por apresentar diversas moléculas de interesse em sua

composição, como proteínas, carboidratos e lipídeos, além de conter compostos

minoritários de alto valor agregado, como pigmentos, ácidos graxos poli-insaturados

(PUFAs) e aminoácidos essenciais (SPOLAORE et al., 2006). Essa biomassa

apresenta diversas vantagens sobre os cultivos agrícolas: i) possui alta eficiência

fotossintética; ii) não requer terras aráveis; iii) não necessita de água potável; iv) não

apresenta sazonalidade (SAYRE, 2010). Além da possibilidade de uso de águas

residuais de estações de tratamento, o CO2 necessário para o cultivo de microalgas

pode ser obtido de plantas industriais, com a linha de gás de combustão sendo

desviada para o meio de cultivo aquoso (CHEAH et al., 2014). Essas alternativas

minimizam os custos com nutrientes para o meio de cultivo e auxiliam no tratamento

de efluentes industriais e na captação de CO2 que seria liberado para o ambiente.

A ideia de utilizar microalgas como matéria-prima energética existe desde o

final da década de 1950, ganhando destaque a partir dos anos 1970 com as crises

do petróleo (CHEN et al., 2009). De 1978 a 1996, o departamento de energia dos

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20

EUA (DOE) investiu US$25 milhões em um programa do NREL (National Renewable

Energy Laboratory) de pesquisas para combustíveis a partir de algas, o que permitiu

grandes avanços no conhecimento acerca de microalgas (SHEEHAN et al., 1998).

O cultivo de microalgas com fins comerciais já vendo sendo realizado há

décadas, com destaque para a Ásia e a América do Norte. Apesar das vantagens, o

processo de produção de microalgas em escala industrial atualmente só é

economicamente competitivo se direcionado para produtos de alto valor agregado.

Tal constatação reforça a necessidade do modelo de biorrefinaria para o uso dessa

biomassa como fonte de matéria-prima para produção de commodities (WIJFFELS e

BARBOSA, 2010).

As pesquisas em todas as etapas de cultivo e processamento de microalgas

têm, ainda, como desafio aumentar os rendimentos com uma concomitante redução

dos custos. No upstream, duas etapas consideradas onerosas são a colheita e a

secagem, necessárias para concentrar a biomassa algal e possibilitar um

downstream mais eficiente. Apesar de algumas estimativas atuais preverem que a

colheita representaria apenas 5-7 % do custo total do processo, esse valor pode

atingir até 23 % para correntes diluídas, como as obtidas em sistemas de cultivo

abertos (RUIZ et al., 2016). Além disso, devido à baixa concentração de biomassa

no meio, os equipamentos de separação devem apresentar uma capacidade de

processamento de altos volumes e/ou vazões, aumentando ainda mais o custo com

instalação e operação. Nesse sentido, uma etapa de floculação associada a uma

posterior centrifugação se apresenta como uma alternativa para redução desses

custos (WIJFFELS e BARBOSA, 2010). Mesmo após a colheita, a biomassa ainda

apresenta uma alta umidade, maior do que 70 % (UDUMAN et al., 2010), e, por isso,

uma etapa de secagem é geralmente necessária para seu processamento posterior.

Devido à natureza complexa da biomassa algal, são necessários diversos

solventes e processos para seu fracionamento completo. Em sua maioria, as

pesquisas abordam a extração de apenas um composto de interesse da biomassa

algal, com destaque para a fração lipídica visando a produção de biodiesel (CHISTI,

2007). Estudos mais recentes consideram também a extração de carotenoides,

pigmentos e ácidos graxos poli-insaturados, entre outros (CHEW et al., 2017). O

processo de extração é realizado, mais comumente, com solventes orgânicos em

geral altamente tóxicos e que vão de encontro aos princípios da química verde.

Nesse contexto, o uso de solventes menos tóxicos e ambientalmente mais

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amigáveis que sejam eficientes na extração de um ou mais compostos de interesse

poderá contribuir para o desenvolvimento de biorrefinarias de microalgas (JEEVAN

KUMAR et al., 2017).

Além de lipídeos e pigmentos, algumas espécies de microalgas acumulam

altos teores de carboidratos, principalmente na forma de amido intracelular, que

pode ser hidrolisado enzimaticamente para obtenção de um xarope de glicose

(JOHN et al., 2011). A glicose tem inúmeras aplicações em processos químicos e

bioquímicos para geração de moléculas com potencial para substituição de diversos

derivados de petróleo (BOZELL e PETERSEN, 2010). No entanto, tanto a hidrólise

do amido como os processos de extração citados acima são dificultados pela

presença da parede celular em algumas espécies de microalgas, gerando a

necessidade de uma etapa de ruptura dessa estrutura (GÜNERKEN et al., 2015).

Um dos métodos propostos na literatura é a hidrólise enzimática (GERKEN et al.,

2013); porém, devido ao alto custo associado à utilização de enzimas, outros

métodos de ruptura também são estudados, como métodos físicos ou químicos. No

contexto de biorrefinaria, os métodos físicos são mais adequados, pois não afetam a

composição da biomassa algal, enquanto que métodos químicos podem degradar

alguns componentes de interesse industrial (VANTHOOR-KOOPMANS et al., 2013).

Além da dificuldade de acesso a esse amido intracelular, as microalgas, de

um modo geral, apresentam em sua composição baixos teores de amido quando

cultivadas em um meio nutricionalmente balanceado, apresentando altos teores de

proteínas. É necessário que se promova algum fator de estresse, em geral

associado à depleção de um nutriente, para que o mecanismo de acúmulo de amido

seja disparado (DRAGONE et al., 2011). No entanto, essa condição pode acarretar a

redução da produtividade ou da concentração de biomassa. Uma avaliação

consistente de diferentes condições de cultivo torna-se imperativa quando se deseja

obter elevada produtividade de uma corrente concentrada com células ricas em

amido.

Diante deste cenário, neste trabalho foi estudado o acúmulo de amido pela

microalga verde Chlorella sorokiniana (Chlorophyta) de forma a favorecer o acúmulo

de amido intracelular. A recuperação da microalga por floculação e/ou sedimentação

gravitacional foi proposta e o processamento da biomassa para recuperação de

clorofilas, carotenoides e glicose avaliado. Dessa forma, procurou-se integrar estes

processos visando elevados rendimentos associados à preservação das frações

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proteicas e lipídicas, que podem ser aproveitadas para a formulação de alimentos

funcionais.

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23

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 MICROALGAS E O GÊNERO Chlorella

As algas são organismos simples, em sua maioria fotossintéticos, não

apresentando raízes, caules e folhas (ANDERSEN, 2013). São responsáveis por

metade da atividade fotossintética mundial, com grande parte ocorrendo nos

oceanos (FALKOWSKI e RAVEN, 2007). Devido à grande diversidade de espécies,

variando entre microscópicas e macroscópicas, não há um consenso sobre a

definição desse grupo de organismos.

O surgimento de algas eucarióticas está associado a um evento de

endossimbiose entre uma cianobactéria e um organismo eucarioto, motivo pelo qual

o cloroplasto, organela responsável pela fotossíntese, possui seu próprio DNA.

Apesar de amplamente aceita atualmente, essa teoria foi questionada durante

muitas décadas (MARTIN e KOWALLIK, 1999). Seu nascimento data do início do

século XX, após a constatação de que cloroplastos não eram sintetizados de novo,

mas sim se reproduziam por fissão binária, além das evidências de que eles

sobreviviam em células anucleadas e de sua semelhança morfológica com

cianobactérias (MERESCHOKWSKY, 1905). Dessa endossimbiose surgiram três

grupos de algas, chamadas Archaeplastida: Glaucophyta, algas vermelhas

(Rhodophyta) e algas verdes (Chlorophyta e Charophyta) (ADL et al., 2005). As

demais algas surgiram de uma endossimbiose secundária entre um organismo não

fotossintetizante e uma alga vermelha ou verde (KEELING, 2004). A Tabela 1

apresenta os atuais filos em que são encontradas microalgas e suas principais

características.

Microalgas verdes do gênero Chlorella são organismos unicelulares que

possuem um formato esférico, não apresentando flagelos. Pertencem à ordem dos

Chlorelalles, da classe Trebouxiophyceae, filo Chlorophyta. Elas foram inicialmente

descritas por Martinus W. Beyerinck, em 1890, como um gênero contendo quatro

espécies (BEYERINCK, 1890), porém hoje em dia são conhecidas diversas espécies

de algas pertencentes ao gênero, com 43 espécies sendo taxonomicamente aceitas

(GUIRY, 2017). Sua classificação taxonômica é dificultada devido a sua morfologia

simples, sendo alvo de constantes pesquisas (HUSS et al., 1999; BOCK et al.,

2011). Sua reprodução ocorre de forma assexuada, com a formação de autoesporos

(Figura 1), não tendo sido observada nenhuma reprodução sexuada em microalgas

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desse gênero (YAMAMOTO et al., 2004). Microalgas do gênero Chlorella acumulam

carbono primariamente na forma de amido, que se encontra no interior de seus

cloroplastos (BALL et al., 2011).

Tabela 1. Filos de microalgas e suas principais características (adaptado de KEELING, 2004)

Filo Habitat principal Endossimbiose Pigmentos

Glaucophyta água doce Primária Clorofila a, ficobilinas

Rhodophyta água doce, marinho Primária Clorofila a, ficobilinas

Chlorophyta água doce Primária Clorofilas a e b

Charophyta água doce Primária Clorofilas a e b

Haptophyta marinho Secundária Clorofilas a e c

Dinophyta água doce, marinho Secundária Clorofilas a e c

Euglenophyta água doce Secundária Clorofilas a e b

Cercozoa marinho Secundária Clorofilas a e b

Cryptophyta água doce, marinho Secundária Clorofilas a e c

Stramenopiles água doce, marinho Secundária Clorofilas a e c

Figura 1. Reprodução assexuada de Chlorella vulgaris: a) célula madura, b) divisão celular, c) autoesporo, d) autoesporo eclodido (adaptado de YAMAMOTO et al., 2004)

Chlorella sorokiniana (Figura 2) é uma microalga verde que pode ser cultivada

em água doce ou salina e consome tanto carbono inorgânico, realizando

fotossíntese, quanto carbono orgânico. Devido a essa versatilidade, seu crescimento

em diversos efluentes, industriais ou domésticos, tem sido estudado (KOBAYASHI et

al., 2013; LIZZUL et al., 2014; RAMANNA et al., 2014). Essa espécie foi nomeada

em homenagem a Constantine Sorokin, responsável por seu isolamento,

inicialmente classificando-a como Chlorella pyrenoidosa Chick, linhagem 7-11-05

(SOROKIN, 1959). Essa classificação foi modificada para C. sorokiniana pelo

trabalho de SHIHIRA e KRAUSS (1965). Sua classificação, segundo KESSLER

(1978), se dá devido à presença de atividade de hidrogenase em anaerobiose, à

ausência de produção de carotenoides secundários (não associados à fotossíntese)

em condições de depleção de nitrogênio e ao seu crescimento termotolerante a 38

°C. Após o trabalho de KESSLER e HUSS (1992) de reclassificação de 58 linhagens

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de Chlorella da coleção de algas da University of Texas (UTEX), 13 linhagens antes

classificadas como C. pyrenoidosa, C. vulgaris e C. ellipsoidea foram reclassificadas

como C. sorokiniana.

2.2 METABOLISMO DE MICROALGAS

As microalgas possuem em sua composição celular cerca de 50 % de

carbono em massa seca, podendo apresentar três tipos de metabolismo quanto à

assimilação desse elemento: (i) autotrófico, utilizando carbono inorgânico como fonte

de carbono na forma de CO2 ou bicarbonato; (ii) heterotrófico, quando na ausência

de luz e na presença de carbono orgânico, como acetato ou açúcares; e (iii)

mixotrófico, utilizando tanto carbono inorgânico quanto orgânico (GROBBELAAR,

2013).

Microalgas que apresentam metabolismos autotróficos e mixotróficos realizam

fotossíntese, rota metabólica pela qual carbono inorgânico, na forma de CO2, e

energia luminosa são convertidos em matéria orgânica. As reações envolvidas na

fotossíntese ocorrem nos cloroplastos (Figura 3). Essas organelas são compostas

por uma fase aquosa, o estroma, e por membranas de lipoproteínas, os tilacoides,

que contém os complexos fotossintéticos (STAEHELIN, 1986).

Figura 2. Microscopia ótica de Chlorella sorokiniana (UTEX 1663) - aumento de 1000x (Fonte: Autoria própria)

Figura 3. Esquema de um cloroplasto (adaptado de FALKOWSKI e RAVEN, 2007)

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Essa rota metabólica consiste em uma sequência de reações de oxirredução

e pode ser dividida em duas fases: uma luminosa e outra de assimilação de carbono

(Figura 4) (EMERSON e ARNOLD, 1931).

A fase luminosa consiste em uma cadeia fotossintética de transporte de

elétrons, similar à que ocorre nas membranas mitocondriais. Ela ocorre no tilacoide e

usa a energia luminosa para foto-oxidar a água, reduzir o NADP+ e sintetizar ATP.

Oxigênio molecular é o subproduto da reação (FALKOWSKI e RAVEN, 2007).

Para que a fase luminosa ocorra, a energia luminosa deve ser captada por

meio de complexos entre os pigmentos fotossintéticos e proteínas. Esses complexos

formam estruturas embebidas nas membranas tilacoides, chamadas de antenas

(GROSSMAN et al., 1995), que são responsáveis pela captação e a transferência da

energia luminosa para sistemas especializados chamados de fotossistemas. No

fotossistema, existe um par de clorofilas especial, denominado centro de reação,

que recebe a energia das antenas e promove a fotoquímica, iniciando assim a

cadeia de transporte de elétrons fotossintética (KOK e BEINERT, 1962).

Nas algas podem ser encontrados três tipos de pigmentos fotossintéticos:

clorofilas, carotenoides e ficobilinas (BIDIGARE et al., 1990). Existem quatro tipos

distintos de clorofilas (a, b, c e d), porém todas possuem um anel porfirínico

coordenado por um íon de Mg2+, o que lhes confere uma cor esverdeada. Elas

diferem entre si pelas cadeias substituintes do anel porfirínico (Figura 5), o que

resulta em propriedades espectrais distintas (FALKOWSKI e RAVEN, 2007). A

clorofila a está presente em todos os organismos que realizam fotossíntese

oxigênica, enquanto que a presença dos outros tipos de clorofilas está relacionada

ao filo a que o organismo pertence (KEELING, 2004).

Carotenoides apresentam cor amarelo-alaranjada e atuam tanto como

pigmentos acessórios quanto na proteção da célula contra irradiâncias excessivas e

radicais livres (SANDMANN et al., 1993). São produzidos em diferentes

concentrações dependendo da espécie e das condições de cultivo (GUEDES et al.,

2011). Já as ficobilinas são os pigmentos acessórios encontrados apenas em algas

vermelhas e cianobactérias, ampliando o espectro de comprimentos de onda

Figura 4. Fases da fotossíntese com seus principais produtos (adaptado de MASOJÍDEK et al., 2013)

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passíveis de absorção pela célula além dos já absorvidos pela clorofila a (BEALE,

1993).

As moléculas de NADPH e ATP produzidos na fase luminosa são utilizados

na fase de assimilação como agente redutor e fonte de energia, respectivamente.

Essa fase ocorre no estroma e converte CO2 em carboidratos em uma série de

reações conhecidas como ciclo de Calvin-Benson (CALVIN, 1961). Em ambientes

aquáticos, o suprimento de CO2 para as células se dá através de reações de

equilíbrio entre as concentrações de bicarbonato, carbonato e CO2. No entanto,

mesmo quando bicarbonato é consumido pela célula, ele somente é assimilado na

forma de CO2, a única espécie que reage com a enzima RuBisCO (ribulose-1,5-

bifosfato carboxilase oxigenase (E.C. 4.1.1.39) (COOPER et al., 1969).

Apesar de carboidratos serem considerados os principais produtos da

fotossíntese, moléculas do Ciclo de Calvin-Benson também originam lipídeos (Figura

6), além de aminoácidos e ácidos orgânicos (CALVIN, 1961).

Figura 5. Estrutura da clorofila a e variações nas estruturas das clorofilas b, c e d (adaptado de FALKOWSKI e RAVEN, 2007)

Figura 6. Síntese de amido e triacilglicerídeos (TAG) a partir da fixação de CO2 pelo ciclo de Calvin-Benson. "..." representam etapas não apresentadas na figura. RuBP - ribulose difosfato; G3P - gliceraldeído-3-fosfato; 3PGA - ácido-3-fosfoglicérico (Fonte: elaboração própria)

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Além de fotossíntese, as microalgas também realizam respiração quando

crescidas tanto heterotroficamente e mixotroficamente quanto autotroficamente

(GEIDER e OSBORNE, 1989). A respiração ocorre sem necessidade de energia

luminosa e, por isso, diferencia-se da fotorrespiração. Nessa segunda rota

metabólica respiratória, carbono orgânico é convertido a CO2 sem nenhum ganho

metabólico. Esse fenômeno ocorre de forma significativa em condições de alta

irradiância, temperatura e alta relação de concentração de O2/CO2, nas quais a

enzima Rubisco passa a atuar como uma oxigenase, catalisando a reação do O2

com a ribulose bifosfato (BAUWE et al., 2012).

A respiração é uma via metabólica que consiste, de forma simplificada, no

consumo de O2 e carbono orgânico e na produção de CO2, de energia na forma de

ATP e de moléculas precursoras para vias anabólicas. Apesar de a fotossíntese

também fornecer moléculas precursoras, somente pela respiração as células são

capazes de sintetizar 2-oxoglutarato, precursora da síntese de glutamato, que é

necessário para a síntese de diversos aminoácidos e das clorofilas. Por essa razão,

a respiração em microalgas ocorre mesmo na presença de luz (LARKUM et al.,

2003).

2.3 EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS DE MICROALGAS

Além de carbono, obtido através das vias metabólicas descritas, outros

nutrientes também são necessários para a promoção do crescimento celular, como

nitrogênio, potássio, magnésio, cálcio, enxofre e fósforo. Íons metálicos são também

necessários para o crescimento celular, porém em quantidades-traço. Dependendo

da exigência da espécie, vitaminas também podem ser necessárias. Um agente

quelante, como o EDTA, normalmente é utilizado visando reduzir ligações

indesejadas entre os diversos íons presentes no meio de cultivo, mantendo-os

solúveis e biodisponíveis. Além disso, cloreto de sódio é utilizado em diferentes

concentrações dependendo do habitat natural da microalga a ser cultivada

(VONSHAK, 1986).

O nitrogênio pode corresponder a mais de 10 % da composição celular,

dependendo da espécie e das condições de cultivo (KUMAR et al., 2014), fazendo

parte principalmente das moléculas proteicas da célula. O nitrogênio geralmente é

fornecido na forma de nitrato; no entanto, compostos orgânicos como ureia e

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amônia, que possuem maior disponibilidade do que o nitrato, também podem ser

usados (SOLETTO et al., 2005; ARUMUGAM et al., 2013).

O fósforo é um nutriente essencial para o crescimento celular, apesar de estar

presente na biomassa em teores próximos a 1 % (HAAS e RUSSELL-WELLS,

1935). Ele atua nas reações de transferência de energia, na síntese de ácidos

nucleicos, DNA e outras moléculas importantes (RAGHOTHAMA, 1999). As

microalgas assimilam fósforo na forma de fosfato e, segundo resultados

preliminares, não são capazes de assimilá-lo em sua forma reduzida (LOERA-

QUEZADA et al., 2015).

O cálcio participa na assimilação de nitrato por microalgas do gênero

Chlorella e Scenedesmus (DVORÁKOVÁ-HLADKÁ, 1976) e na assimilação de

fosfato inorgânico por microalgas do gênero Scenedesmus (KYLIN e DAS, 1967). O

cálcio também faz parte do complexo de oxidação da água do fotossistema II (PS II)

(BRUDVIG, 2008).

O magnésio está presente na clorofila, ocupando uma posição central em sua

estrutura, e portanto é essencial para que a célula possa produzir esse composto e

realizar a fotossíntese (FIEDOR et al., 2008).

O ferro é um componente essencial para o metabolismo celular, atuando nos

processos de respiração e fotossíntese como cofator nas cadeias de transporte de

elétrons (BRIAT et al., 2007), além de ser necessário também para a fixação de

nitrogênio (GLASS et al., 2009) e síntese de DNA (ZHANG, 2014).

Elementos-traço como zinco, manganês, molibdênio, cobre, cobalto e boro

são comuns em meios de cultivo de microalgas. Esses elementos atuam

principalmente como cofatores em diversos sistemas. Por exemplo, cobre está

presente em diversas enzimas, como a plastocianina, que atua no sistema de

transporte de elétrons na fotossíntese (FORK e URBACH, 1965), enquanto o

manganês apresenta uma atuação na oxidação da água no processo fotossintético

(RENGER e RENGER, 2008). Apesar de cianobactérias e vegetais superiores

apresentarem boro em sua composição, algas verdes, como as do gênero Chlorella,

aparentam não necessitar da adição desse nutriente em seu meio de cultivo,

apresentando-o em quantidades quase nulas em sua composição (GERLOFF,

1968).

A luz é um fator importante para o crescimento celular de microalgas. Mesmo

na presença de concentrações adequadas de nutrientes, o crescimento celular pode

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se mostrar limitado se a mesma não estiver disponível nos níveis requeridos

(HARUN et al., 2014). Para um uso eficiente de luz, deve-se buscar uma boa relação

entre turbulência e intensidade luminosa de forma a se minimizar o efeito de

autossombreamento, que ocorre em cultivos muito densos (AGUSTÍ, 1991; LAU et

al., 1995), permitindo dessa forma maximizar a conversão de energia luminosa em

energia bioquímica na forma de proteínas, carboidratos e lipídeos. Esse efeito,

apesar de aparentemente negativo para a cultura, pode colaborar para uma maior

taxa fotossintética quando bem controlado. Em 1954, PHILLIPS JR. e MYERS

concluíram, ao analisar culturas densas de Chlorella, que esse movimento das

células de uma região de baixa intensidade luminosa para uma de alta, resulta em

um maior crescimento celular se realizado em intervalos de 1 a 100 ms. Desde

então, essa observação foi comprovada por diversos outros grupos, que se utilizam

de cultivos densos ou de flashes de luz para simular essa condição. Para que esse

estímulo seja efetivo, as células devem permanecer no escuro um período dez

vezes maior do que o de exposição à luz (RICHMOND, 2013).

2.4 COMPOSIÇÃO BIOQUÍMICA DE MICROALGAS

2.4.1 Parede celular

Paredes celulares estão presentes na maioria dos reinos, fazendo parte da

estrutura celular de plantas, fungos, bactérias e algas (BOWMAN e FREE, 2006;

SALTON e HORNE, 1951; VARNER et al., 1989). Sua composição varia tanto entre

reinos quanto espécies e até mesmo em uma mesma espécie em diferentes

estágios de desenvolvimento (GUNNISON e ALEXANDER, 1975; LOOS e MEINDL,

1982).

As microalgas apresentam uma grande diversidade de paredes celulares,

incluindo espécies que não possuem essa estrutura (OREN, 2005). Algumas

espécies apresentam paredes com escamas de sílica (KRÖGER e POULSEN, 2008)

ou carbonato de cálcio (BOROWITZKA et al., 1974), enquanto que as algas verdes

apresentam paredes compostas por açúcares, como glucanas, pectinas ou

glicoproteínas, variando com a espécie (DOMOZYCH et al., 2012). Diversas algas

apresentam também em sua parede celular uma camada externa de algenana, um

biopolímero resistente à ação química e enzimática (ATKINSON et al., 1972). Essa

molécula é definida como um polímero alifático, não-hidrolisável, composto por

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ácidos graxos mono ou di-insaturados em cadeias com cerca de 30 monômeros

conectados por ligações éter e éster que conferem sua recalcitrância (BLOKKER et

al., 1998), apesar de cadeias com maior número de monômeros terem sido descritas

(ALLARD et al., 2002).

A parede celular de algas do gênero Chlorella é composta por uma matriz

polissacarídica fibrilar, contendo diversos monômeros como glicose, galactose,

rhamnose, arabinose e manose, e por uma estrutura chamada parede celular rígida

(NORTHCOTE et al., 1958; TAKEDA, 1991). Segundo um amplo estudo realizado

por TAKEDA (1991), espécies de algas do gênero Chlorella podem apresentar dois

tipos dessa estrutura: uma composta principalmente por glucana e manana e outra

apresentando glucosamina como o principal constituinte. No entanto, esse estudo

apenas reporta a presença de glucana na parede celular rígida, sem avaliar se esta

estaria na forma de celulose, além de reportar que a presença de glucana não pode

ser generalizada para todas as espécies desse gênero. Apesar disso, a celulose é

comumente reportada como constituinte da parede celular rígida de espécies de

Chlorella (AGUIRRE e BASSI, 2013; CHEN et al., 2016; YIN et al., 2010).

Um estudo posterior continuou a investigação da parede celular de algas do

gênero Chlorella e propôs uma redivisão desse gênero, classificando como espécies

de Chlorella verdadeiras ("true-Chlorella") as que apresentam parede celular de

glucosamina, grupo no qual C. sorokiniana foi incluída, enquanto as outras espécies

seriam classificadas como semelhantes a Chlorella ("Chlorella-like") (HUSS et al.,

1999). Em 2010, o sequenciamento do genoma de uma espécie de Chlorella

verdadeira, Chlorella variabilis, confirmou a ausência de proteínas responsáveis pela

síntese de celulose (BLANC et al., 2010). Foram encontradas proteínas que atuam

na síntese de quitina e quitosana, polímeros de glucosamina, assim como proteínas

responsáveis por sua degradação (quitinases e quitosanases), que estariam

possivelmente relacionadas à quebra da parede celular durante a reprodução. Um

polímero similar à quitina já havia sido reportado em uma espécie de Chlorella em

1995 (KAPAUN e REISSER, 1995).

2.4.2 Componentes intracelulares

As microalgas são principalmente compostas por proteínas, lipídeos e

carboidratos. A proporção entre essas macromoléculas está sujeita a variações,

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possibilitando que a composição celular de microalgas seja modulada pela alteração

das condições de cultivo e na composição do meio.

Uma microalga em sua fase exponencial e em condições usuais de

crescimento geralmente apresenta alto conteúdo proteico, de cerca de 40-50 % em

base seca (PARSONS et al., 1961). No entanto, polissacarídeos e lipídeos são

acumulados em condições subótimas de multiplicação celular, como depleção de

nitrogênio, fósforo ou enxofre no meio de cultivo (BRÁNYIKOVÁ et al., 2011;

TAKESHITA et al., 2014; LI et al., 2015). Em concentrações baixas de nitrogênio, as

células mantêm sua capacidade fotossintética, porém com taxas reduzidas, e o

carbono fixado é redirecionado da síntese proteica para a síntese dessas reservas

de carbono (LI et al., 2011). Nessas condições, também se observa uma redução do

teor celular de clorofila e um aumento de carotenoides secundários (MINHAS et al.,

2016) .

As microalgas que são capazes de acumular tanto amido quanto lipídeos em

condição de depleção nutricional, como as pertencentes ao gênero Chlorella,

geralmente acumulam amido como reserva de curto a médio prazo, com alteração

do metabolismo para acúmulo de lipídeos como reserva de longo prazo se a

situação de estresse for prolongada (LI et al., 2015). O acúmulo de amido é

realizado com menor gasto energético do que o acúmulo de lipídeos; no entanto, a

energia liberada pelo catabolismo de lipídeos é maior do que a liberada pela

degradação de amido (SUBRAMANIAN et al., 2013). Algumas espécies mutantes,

em que a via metabólica de produção de amido foi inibida, apresentaram maior

acúmulo de lipídeos do que as linhagens selvagens em condições de depleção de

nitrogênio, confirmando que ambas moléculas tem a mesma função de reserva de

carbono e energia (RAMAZANOV e RAMAZANOV, 2006; LI et al., 2010). No

entanto, a supressão da síntese de amido nem sempre resulta em um maior

acúmulo de lipídeos, indicando que o mecanismo de partição de carbono em

microalgas segue rotas mais complexas (SIAUT et al., 2011).

Quando expostas a altas intensidades luminosas, as células reduzem seu

conteúdo de clorofila a e outros pigmentos de captação luminosa, enquanto

aumentam seu teor de carotenoides secundários, que atuam como protetores contra

o estresse oxidativo; o contrário é verdadeiro para situações de baixa irradiância

luminosa (MACINTYRE et al., 2002; SEYFABADI et al., 2011). O conteúdo de amido

e de lipídeos também tende a aumentar com o aumento da intensidade luminosa

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(FRIEDMAN et al., 1991; SEYFABADI et al., 2011). No entanto, alguns lipídeos

específicos, como ácidos graxos poli-insaturados (PUFAs), geralmente aumentam

com o decréscimo da intensidade luminosa por estarem associados aos tilacóides,

que aumentam de número de forma a equilibrar a eficiência fotossintética em

ambientes com luz reduzida (GUEDES et al., 2010; SEYFABADI et al., 2011).

Em relação à temperatura, sua redução leva a uma mudança no perfil lipídico

e não na quantidade de lipídeos, aumentando o número de insaturações dos

lipídeos de membrana de forma a torná-las mais fluidas e estáveis nas baixas

temperaturas (NISHIDA e MURATA, 1996). Já o teor de carotenoides tende a ser

maior com o aumento da temperatura, tanto por uma elevação nas taxas de reação

enzimáticas que levam à sua síntese (LIU e LEE, 2000) quanto por uma ampliação

da produção de radicais livres, o que induziria a síntese de carotenoides como

antioxidantes (TJAHJONO et al.,1994).

Condições de estresse, em geral, acabam por afetar de forma negativa a

geração de biomassa microbiana, apesar de gerar o acúmulo de moléculas de

interesse. Assim, são necessários estudos que avaliem ambos os fatores de forma a

se chegar a condições de cultivo favoráveis ao acúmulo da molécula-alvo sem

redução expressiva no crescimento celular.

2.5 SISTEMAS DE CULTIVO DE MICROALGAS

O cultivo em larga escala de microalgas já é feito há algumas décadas em

tanques abertos (open ponds), que apresentam um baixo custo de instalação e

operação, porém apresentam baixas concentrações finais de biomassa

(BOROWITZKA, 1999). Com o objetivo de produzir microalgas para a obtenção de

novos produtos, inclusive commodities, diversos estudos têm sido conduzidos para

determinar qual o melhor sistema de cultivo a ser adotado, aberto ou fechado

(JORQUERA et al., 2010; DAVIS et al., 2011; RICHARDSON et al., 2012). A Tabela

2 apresenta as principais características de ambos os sistemas de cultivo.

Os sistemas abertos recebem iluminação direta do sol, enquanto os

fotobiorreatores podem ser colocados ao ar livre para aproveitar a iluminação natural

ou podem ser iluminados artificialmente com controle dessa variável de processo.

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Tabela 2. Principais características de sistemas abertos e fechados de cultivo de microalgas (adaptado de GROBBELAAR, 2009)

Parâmetro Sistemas abertos Sistemas fechados

Risco de contaminação Alto Baixo

Perda de água Alta Baixa

Perda de CO2 Alta Praticamente nula

Controle de processo Complicado Menos complicado

Dependência do clima Alta Variável

Manutenção Fácil Difícil

Custos de construção Baixos Altos

Concentração final de biomassa Baixa Alta

Problema de superaquecimento Baixo Alto

Concentração de O2 dissolvido Baixa Alta

Existem alguns tipos de tanques abertos, sendo os raceways os mais

comumente utilizados para cultivo comercial de microalgas (BOROWITZKA, 1999).

Esses tanques são rasos de forma a permitir uma boa iluminação em toda sua

extensão e são caracterizados pela presença de um agitador que faz com que a

água percorra um circuito (CHISTI, 2016), conforme ilustrado na Figura 7.

Uma das principais desvantagens de sistemas abertos é a contaminação por

microrganismos que podem competir com a microalga pelos nutrientes

(BOROWITZKA, 1999). Espécies que crescem em ambientes com condições mais

drásticas, como Spirulina em ambientes alcalinos ou Dunaliella salina em alta

salinidade, são mais indicadas para esses sistemas, apesar de espécies sem essas

peculiaridades já terem sido cultivadas em sistemas abertos sem problemas de

contaminação significativos (ANSELL et al., 1963; MOHEIMANI e BOROWITZKA,

2006). Outras desvantagens consistem na dificuldade de se manter condições

Figura 7. Esquema de um lago raceway (adaptado de BAHADAR e BILAL KHAN, 2013)

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constantes de cultivo e o alto custo com a etapa de colheita devido à baixa

concentração final de biomassa (CARVALHO et al., 2006).

Os sistemas fechados são geralmente fotobiorreatores compostos por placas

ou tubos de material transparente organizados de forma horizontal ou vertical

(CARVALHO et al., 2006), havendo também configurações de cultivo em galões ou

em bolsas de plástico (BOROWITZKA, 1999). Os fotobiorreatores apresentam

diversas vantagens como alta produtividade e alta concentração final de biomassa

(DAVIS et al., 2011), alta razão superfície/volume e menor risco de contaminação,

além de permitirem um maior controle das variáveis do sistema (CARVALHO et al.,

2006).

Dentre as diversas configurações possíveis, os mais comuns são os reatores

tubulares e os de placas (BOROWITZKA, 1999). Os reatores tubulares são formados

por tubos paralelos, posicionados verticalmente ou horizontalmente (Figura 8), feitos

de material transparente de forma a maximizar a penetração de luz. Outro design

possível é o helicoidal, que maximiza a penetração de luz, permite um melhor

controle de temperatura e promove uma melhor transferência de CO2 para o meio de

cultivo (MORITA et al., 2002).

Já os reatores de placas possibilitam uma grande área superficial para

iluminação e possuem um design simples (Figura 9). Sua inclinação também pode

ser ajustada de forma a aproveitar ao máximo a luz solar (CARVALHO et al., 2006).

Figura 8. Representação esquemática de um reator tubular vertical (a) e horizontal (b) (adaptado de (UGWU e AOYAGI, 2012)

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Além dos reatores de tubos e placas, uma configuração que vem sendo

estudada é a de reatores de biofilme, em que as células são cultivadas em um meio

sólido ou microporoso (Figura 10). Esse modo de cultivo foi utilizado nos primeiros

cultivos de microalga no século XIX e, apesar de abandonado com os avanços dos

cultivos em suspensão, alguns grupos atualmente propõe a volta dessa configuração

de forma a se obter maiores densidades celulares em menores volumes de cultivo

(PODOLA et al., 2017; BLANKEN et al., 2017).

Existem também sistemas híbridos em estudo, como por exemplo o da

companhia americana Green Star Products, que combinou um sistema fechado com

um tanque aberto, permitindo a manutenção da temperatura do sistema mesmo com

baixas temperaturas externas (CHEN et al., 2009).

De um modo geral, pode-se dizer que não existe uma configuração de

fotobiorreator ideal; essa depende da espécie a ser cultivada e do produto de

interesse. No entanto, existem alguns parâmetros comuns a todas as configurações

de forma a se obter o máximo de produtividade: promover uma mistura adequada;

promover uma transferência de massa eficiente de forma a manter o suprimento de

CO2 e minimizar o acúmulo de O2 no sistema; apresentar uma alta razão

superfície/volume; operar em uma temperatura próxima da ótima para a espécie

Figura 9. Representação de um fotobiorreator de placas (adaptado de CARVALHO et al., 2006)

Figura 10. Representação de reatores de biofilme com suporte sólido (a), em que a fase aquosa está em contato direto com as células, e com suporte microporoso (b), em que a fase aquosa entra em contato com as células apenas por difusão (adaptado de PODOLA et al., 2017)

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cultivada; e apresentar uma inclinação adequada de forma a maximizar a eficiência

fotossintética (ZITTELLI et al., 2013). Os gargalos nesse setor são o custo de

instalação e os custos de operação dos reatores (RICHARDSON et al., 2012). O

principal desafio consiste em reduzir drasticamente o consumo de energia com

iluminação, em caso de luz artificial, com manutenção da temperatura e com trocas

gasosas. O escalonamento de grande parte das configurações existentes

atualmente também é uma dificuldade (BOROWITZKA, 1999).

2.6 PROCESSAMENTO DE MICROALGAS

O processamento de microalgas após o cultivo consiste basicamente de três

etapas: colheita, em que há o aumento da concentração celular; secagem, em que

há redução da umidade da biomassa; e downstream, que pode consistir de um ou

mais processos de beneficiamento e/ou fracionamento da biomassa e geralmente

envolve uma etapa de ruptura celular. A seguir essas etapas são descritas em mais

detalhes.

2.6.1 Colheita

A concentração de biomassa de microalgas ao final do cultivo em sistemas

concentrados apresenta um valor entre 0,02 % e 0,06 % (m/v) (UDUMAN et al.,

2010). Portanto, a microalga deve ser colhida de seu meio de cultivo e concentrada

de forma a reduzir a quantidade de água presente, facilitando o processamento

posterior. A colheita é dificultada pelo pequeno tamanho celular das microalgas, sua

baixa velocidade de sedimentação e a baixa concentração celular no meio de

cultivo. Existem diversas técnicas de colheita de microalgas, porém esse processo

ainda está em fase de estudo e otimização de forma a minimizar seu custo,

possibilitando a obtenção de commodities a partir de microalga (BARROS et al.,

2015).

A colheita por filtração apresenta vantagens como facilidade de

escalonamento, reduzido gasto energético e ausência de aditivos químicos

(GERARDO et al., 2014). No entanto, a necessidade de troca constante da

membrana devido a incrustações torna a filtração menos competitiva (WEI et al.,

2014). A redução do fluxo pela membrana e o aumento da resistência não ocorrem

somente devido à formação de torta na superfície da membrana, mas também pelo

entupimento dos poros por bactérias e pedaços de células (RICKMAN et al., 2012).

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Opções para redução desse fenômeno são retrolavagem (CHEN et al., 2012),

aumento do tamanho dos poros (RICKMAN et al., 2012), vibração magnética (BILAD

et al., 2012) e borbulhamento de ar (WICAKSANA et al., 2012), dentre outros.

O método mais comum de colheita é a centrifugação, empregado tanto em

escala laboratorial quanto industrial. No entanto, devido ao seu elevado gasto

energético, esse método só é viável para obtenção de produtos de alto valor

agregado (PIENKOS e DARZINS, 2009). Para produção de commodities, a

centrifugação pode ser associada a um processo de pré-concentração por flotação

ou por floculação e sedimentação, por exemplo, reduzindo o volume a ser

centrifugado e, portanto, os custos de instalação e operacionais com essa etapa

(SCHLESINGER et al., 2012).

Na flotação, as células das microalgas são impulsionadas para cima por

bolhas de ar ou de gás. Devido ao pequeno diâmetro das microalgas, esse processo

é efetivo para a colheita de apenas algumas espécies e, em geral, precisa ser

associado à adição de floculantes para aumentar o tamanho de partícula e a eficácia

do método (HANOTU; BANDULASENA; ZIMMERMAN, 2012)

Algumas espécies de microalgas são passíveis de sedimentação gravitacional

devido a sua alta densidade (HASSANPOUR et al., 2015). Esse processo é muito

eficiente em termos de consumo energético, porém muito lento e aplicável a poucas

espécies. No entanto, a sedimentação pode ser acelerada quando associada a uma

etapa de floculação, que induz uma aglomeração da biomassa, formando flocos que

são mais facilmente separados (TEIXEIRA et al., 2012). Esse método de colheita

tem ganhado atenção pela sua facilidade e baixo custo, podendo ser realizada pela

adição de polímeros floculantes, pela modificação do pH do meio (PÉREZ et al.,

2017), pela adição de eletrólitos (DAS et al., 2016) ou pelo co-cultivo de microalgas

com outros microrganismos como fungos filamentosos (ZAMALLOA et al., 2017).

Na sedimentação natural de microalgas, duas forças opostas atuam: (i) forças

repulsivas, uma vez que as microalgas possuem cargas superficiais negativas, que

dificultam sua agregação quando as células estão distantes; e (ii) forças atrativas de

Van de Waals, que prevalecem em pequenas distâncias, atraindo as células umas

às outras (MOLINA GRIMA et al., 2013). A carga superficial negativa de microalgas

deve-se à presença de grupos carboxílicos na superfície celular, que se apresentam

dissociados e, portanto, com carga negativa em pHs acima de 4-5 (ZAMALLOA et

al., 2017). Os agentes floculantes ou os eletrólitos neutralizam essas cargas

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superficiais negativas, facilitando a aglomeração. Estes podem também criar

ligações ("pontes") entre si (Figura 11), juntando as partículas às quais estão

aderidos (VANDAMME et al., 2013)

Os eletrólitos mais usados são sais de alumínio ou ferro, apresentando

eficiências de recuperação variáveis dependendo da espécie estudada (BARROS et

al., 2015; ŞIRIN et al., 2012). No entanto, por se tratar de metais que ficarão retidos

na biomassa floculada, esse tipo de floculante não é recomendado, mesmo que em

concentrações baixas, para uso em colheita de microalgas para produção de ração

animal ou para consumo humano. Além disso, já foi demonstrado que, ao se utilizar

sais de alumínio, não é possível reciclar a água para um novo cultivo, uma vez que

essa se torna tóxica para as microalgas (FAROOQ et al., 2015).

Nesse sentido, os floculantes poliméricos são mais promissores, como amido

catiônico (VANDAMME et al., 2010) e quitosana (RASHID et al., 2013). A quitosana

apresenta alta eficiência de recuperação e não contamina a biomassa; no entanto,

seu preço é impeditivo para aplicação em larga escala. Já o amido catiônico

apresenta um preço menor, porém possui uma menor eficiência, necessitando de

uma maior dosagem (VANDAMME et al., 2010).

Uma alternativa mais promissora, por se tratar de um floculante natural, é o

uso das sementes de árvores do gênero Moringa, com destaque para Moringa

oleifera. Moringa é uma planta originária do Sul da Ásia, mas que se disseminou por

diversas partes do mundo que apresentam clima tropical, como a América do Sul,

incluindo o Brasil, principalmente na região Nordeste. É uma árvore capaz de

crescer em regiões áridas e é inteiramente comestível (folhas, raízes, flores,

sementes e casca), sendo considerada uma das soluções para alimentação nessas

regiões (BARRETTO et al., 2016). É considerada pela FAO (Organização de

Figura 11. Agente floculante catiônico liga-se às partículas negativamente carregadas e cria "pontes", promovendo sua floculação (Fonte: elaboração própria)

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Alimentos e Agricultura das Nações Unidas) como uma cultivar importante para

alimentação adulta e infantil, além de reduzir a erosão do solo.

Estudos de tratamento de águas indicaram o pó da semente de moringa como

uma alternativa para locais em que não há estações de tratamento, já que se trata

de uma tecnologia simples, barata e de fácil aplicação (ALI et al., 2009). O

coagulante presente na moringa foi caracterizado como de origem proteica, e sua

ação reside na neutralização das cargas negativas pela ação de peptídeos

catiônicos, permitindo que as moléculas em suspensão se agreguem e sedimentem

(NDABIGENGESERE et al., 1995).

Recentemente, uma proteína de M. oleifera foi isolada e caracterizada como

possuindo atividade coagulante. A Mo-CBP3, uma proteína que se liga à quitina

(Chitin Binding Protein), possui resíduos de arginina nas posições 104, 111 e 116 e

de glutamina nas posições 124, 125 e 126, expostos ao solvente quando em

solução. Esses resíduos também estão presentes em outras proteínas com ação

floculante e, portanto, podem ser responsáveis por essa característica nos

preparados de sementes de M. oleifera (ULLAH et al., 2015). Lectinas, proteínas que

possuem propriedades aglutinantes, também foram isoladas de preparados de

sementes de M. oleifera e colaboram para suas propriedades floculantes (SANTOS

et al., 2009).

Existem poucos estudos investigando a aplicação de derivados de M. oleifera

para a colheita de microalgas. As eficiências de recuperação reportadas são acima

de 80 %, indicando que a semente de moringa é um potencial floculante para este

fim (ABDUL HAMID et al., 2016; TEIXEIRA et al., 2012).

2.6.2 Secagem

Após a etapa de colheita, a microalga ainda apresenta alta umidade, em torno

de 75-85 % (UDUMAN et al., 2010). Apesar de existirem diversos esforços para o

desenvolvimento de processos de extração de compostos de interesse a partir da

biomassa úmida (CHAUDRY et al. , 2015), a maior parte das tecnologias

empregadas utiliza a biomassa de microalgas após uma etapa de secagem. A

Tabela 3 apresenta diversos métodos de secagem já avaliados para microalgas com

suas vantagens e limitações.

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Tabela 3. Método de secagem de algas (adaptado de BECKER, 1994 apud CHEN et al., 2009)

Método Vantagens Limitações

Tambor rotativo

Rápido e eficiente

Custo alto

Spray-drying

Rápido e eficiente

Custo alto

Secagem ao sol

Baixo custo

Lento, dependente do tempo, possibilidade de fermentação da biomassa

Fluxo cruzado

Mais rápido que secagem ao sol, menor custo que tambor rotativo

Custo alto

Secagem a vácuo

Processo suave, preserva os constituintes celulares

Custo alto, produto se torna higroscópico

Liofilização

Processo suave, preserva os constituintes celulares

Custo alto, lento

A secagem industrial da biomassa de microalgas geralmente é

energeticamente intensiva, utilizando-se de técnicas como spray-drying, liofilização e

secagem a vácuo. A secagem natural, ao sol, é o método mais econômico, porém

apresenta diversas desvantagens como degradação da biomassa devido ao tempo

elevado de processamento e dependência de condições climáticas (MOLINA-GRIMA

et al., 2013).

Existem alternativas à secagem ao sol que visam potencializar o calor

absorvido pelo sistema de secagem pela utilização de materiais como vidro e

poliuretano, promovendo uma elevação de até 40 °C acima da temperatura

ambiente (PRAKASH et al., 1997). Um outro método muito utilizado é a secagem por

convecção, em que uma corrente de ar quente é utilizada para reduzir a umidade da

biomassa. Para ambos os métodos, a temperatura de secagem deve ser ajustada de

forma a se minimizar a degradação de componentes celulares como lipídeos

(OLIVEIRA et al., 2010).

Apesar de a secagem contribuir em grande parte para os custos de produção

de microalgas (SHARMA et al., 2013), não são muitos os trabalhos publicados nessa

área e ainda não se chegou a uma conclusão acerca do melhor método de secagem

que possua um custo baixo com elevada manutenção da integridade da composição

celular.

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2.6.3 Rompimento celular

Para recuperação de compostos intracelulares, como lipídeos, pigmentos e

carboidratos, de microalgas com parede celular é necessária uma primeira etapa de

rompimento dessa estrutura de forma a permitir o acesso a esses componentes. No

entanto, não há um método de rompimento celular que seja igualmente eficaz para

todas as microalgas, já que a composição da parede celular varia de acordo com a

espécie (DOMOZYCH et al., 2012).

Diversos mecanismos foram propostos para ruptura celular de microalgas,

como tratamento ácido, alta pressão (OLMSTEAD et al., 2013), micro-ondas,

moagem, autoclavagem, choque osmótico e sonicação (LEE et al., 2010), dentre

outros.

Os métodos físicos são os mais interessantes por não contaminarem nem

degradarem o conteúdo interno da microalga (VANTHOOR-KOOPMANS et al.,

2013), ao contrário dos métodos químicos; porém costumam ser energeticamente

custosos. Outra alternativa promissora é a hidrólise enzimática pelo uso de

hidrolases e/ou proteases que, apesar do alto custo das enzimas, tem a vantagem

de ser altamente específica (GERKEN et al., 2013). A seguir são descritos os

métodos mais comumente utilizados no processamento de microalgas.

2.6.3.1 Homogeneização a alta pressão

A homogeneização a alta pressão consiste na circulação de uma suspensão

de células que é forçada, por bombeamento, através do orifício da válvula, colidindo

com a parede do anel de impacto, conforme ilustrado na Figura 12. O rompimento

celular ocorre por diversos mecanismos que ainda estão sendo elucidados, como

turbulência, atrito (MILLER et al., 2002), impacto (KELLY e MUSKE, 2004) e

cavitação (CLARKE et al., 2010).

Estudos econômicos levam a crer que esse processo só seria viável para

suspensões concentradas de algas (YAP et al., 2015). Dependendo do composto de

interesse, um custo adicional é o de resfriamento, pois, a cada passagem pela

válvula, a temperatura do meio sobe cerca de 2 °C para cada 10 MPa aplicados, o

que poderia causar a decomposição de compostos termossensíveis (LEE et al.,

2012).

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2.6.3.1 Ultrassom

O princípio de ação do ultrassom consiste em ciclos de alta e baixa pressão,

dando origem a bolhas de vácuo que colidem com a biomassa e resultando em um

fenômeno chamado de cavitação, que acaba por romper a parede celular da

microalga (GREENLY e TESTER, 2015). Existem dois tipos básicos de ultrassom: a

ponteira e o banho. É possível adicionar materiais particulados, como pérolas, para

aumentar a eficiência da ruptura das células (KING, 2014). A associação com

solventes também é possível, permitindo uma ruptura da parede celular juntamente

com a transferência de compostos intracelulares para o meio extracelular

(PARNIAKOV et al., 2015).

Como a energia do ultrassom se dissipa rapidamente em áreas longe da

fonte, existem limitações para o tamanho dos reatores de ultrassom. Como as ondas

de ultrassom são criadas por um transdutor localizado no fundo do banho, é possível

utilizar vários transdutores em células diferentes para ampliação de escala do

equipamento (PANIWNYK et al., 2009). Apesar de escalonável, há evidências que o

ultrassom não é eficaz para determinadas espécies (HALIM et al., 2012).

2.6.3.2 Moagem

A moagem de microalgas normalmente é realizada em moinho de pérolas,

que rompe as células pelo impacto dessas com as pérolas de moagem (POSTMA et

al., 2016). O contato das células com as pérolas é promovido por um agitador

rotatório dentro do vaso contendo a suspensão de células e pérolas. Após a

Figura 12. Design típico de uma válvula de homogeneização a alta pressão (Fonte: http://www.substech.com)

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agitação, as pérolas podem ser separadas por sedimentação (DOUCHA e

LÍVANSKÝ, 2008). Parâmetros importantes do processo são tamanho e material das

pérolas, tempo de residência e características da suspensão de células, como

concentração e viscosidade (DOUCHA e LIVANSKY, 2008).

Esse método é considerado energeticamente intensivo. No entanto, uma nova

configuração de moinho para ruptura celular de microalgas foi proposta por

BALASUNDARAM et al. (2012) de forma a reduzir o gasto energético da operação.

O equipamento utilizado foi um moinho de bolas, ou seja, sem o agitador rotatório

comum aos moinhos de pérolas, sendo agitado por rolamentos localizados na parte

inferior de uma câmara cilíndrica. Essa configuração levou a um aumento de

temperatura de apenas 6 °C após 2 horas de uso e um consumo de 1,87 kWh/ kg de

biomassa seca processada, pelo menos duas vezes menor do que os reportados

para outros métodos físicos de ruptura celular.

Outro moinho de bolas com menor gasto energético também foi proposto por

(KOBAYASHI e ITAYA, 2015). Apesar de esse moinho ter sido avaliado para

moagem de material lignocelulósico, a nova configuração apresentou um gasto

energético muito inferior, de 0,4 kWh/kg de biomassa processada, reforçando a ideia

de que novas configurações de moinhos podem vir a superar o problema de alto

consumo de energia associado a esses equipamentos.

2.6.3.3 Hidrólise enzimática

A hidrólise enzimática da parede celular das microalgas é uma alternativa

interessante para o rompimento celular devido à alta especificidade das enzimas,

não causando a degradação de produtos intracelulares. Além disso, é um processo

que necessita de condições brandas e apresenta baixo consumo energético sem

geração de resíduos. No entanto, o alto custo das enzimas pode ser uma barreira

para sua utilização em escala industrial para produção de commodities (KLEIN-

MARCUSCHAMER et al., 2012). É necessário também um estudo prévio da

composição da parede celular de forma a escolher a mistura enzimática mais

adequada para cada microalga (GERKEN et al., 2013).

CHOI et al. (2010) reportaram o rompimento da parede celular de

Chlamydomonas reinhardtii por tratamento com α-amilase comercial rica em

proteases, uma vez que a parede celular dessa microalga é composta por

glicoproteínas. Outro estudo conduzido com várias enzimas concluiu que a parede

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celular de C. vulgaris foi suscetível à ação de quitinase, lisozima, pectinase e

pectiolase (GERKEN et al., 2013).

Além do uso de enzimas comerciais, outra abordagem que tem sido utilizada

é a co-cultura de microalgas com bactérias ou vírus que produzem enzimas capazes

de degradar sua parede celular. CHEN et al. (2013), ao utilizarem o preparado

enzimático secretado pela bactéria Flammeovirga yaeyamensis co-cultivada com a

microalga C. vulgaris, aumentaram em quase 100 % o rendimento de extração de

lipídeos da microalga hidrolisada. Outro estudo utilizou infecção por vírus como

estratégia para aumentar o rendimento de hidrólise do amido de Chlorella variabilis

em 80 % (CHENG et al., 2013).

Uma alternativa que ainda está em fase preliminar de estudos é o uso de

enzimas da própria alga em um processo denominado autólise, que ocorre

naturalmente durante o processo de divisão celular. Algumas enzimas envolvidas

nesse processo já foram identificadas; no entanto, os únicos trabalhos de indução de

autólise em algas foram realizados com o objetivo de mitigar os fenômenos de maré

vermelha e superproliferação (DEMUEZ et al., 2015).

2.7 BIORREFINARIA DE MICROALGAS

Atualmente existem diversas empresas visando a obtenção de commodities a

partir de microalgas. No entanto, essas empresas, em sua maioria, iniciam suas

atividades com a produção de compostos de alto valor agregado de forma a garantir

a segurança econômica de seu negócio. Uma relação dessas empresas e de seus

produtos pode ser encontrada na Tabela 4.

Essa tendência observada confirma a ideia de que, de forma a se sustentar a

obtenção de combustíveis e commodities a partir de microalgas, é necessário que se

utilize a abordagem das biorrefinarias, que possibilitam a obtenção de diversos

produtos a partir de uma mesma matéria-prima. Esse modelo permite a produção de

moléculas de alto valor agregado juntamente com commodities, tornando o processo

mais economicamente atrativo, além de valorizar o aproveitamento total da

biomassa, reduzindo ou eliminando totalmente a produção de resíduos.

Dentre os diversos produtos que podem ser obtidos a partir de microalgas,

destacam-se proteínas para suplemento alimentar ou ração animal, lipídeos para

produção de biodiesel ou obtenção de PUFAs e pigmentos e carboidratos para

bioetanol.

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Tabela 4. Lista de empresas de produção de commodities a partir de microalgas (elaboração própria)

Empresa Produtos País Site

A2BE Carbon Capture Biocombustíveis, alimentos e fertilizantes EUA http://www.algaeatwork.com/

AlgaEnergy Ração, fertilizantes, suplementos alimentares, cosméticos e

biocombustíveis

Espanha http://www.algaenergy.es/

Algaen Corporation Biocombustíveis, suplementos alimentares e bioprodutos

EUA http://algaen.com/

Algae Systems Bio-óleo e fertilizantes EUA http://algaesystems.com/

Algae.Tec Nutracêuticos, biocombustíveis e ração Austrália http://algaetec.com.au/

Algenol Biofuels Pigmentos, fertilizante, etanol e bio-óleo EUA http://algenol.com/

Aquatic Energy Biodiesel, gasolina, plásticos e bioprodutos

EUA http://www.aquaticenergy.com

BFS Biopetróleo Bio-óleo e PUFAs Espanha http://www.biopetroleo.com/

Cellana Suplemento alimentar, ração, biocombustível e PUFAs

EUA http://cellana.com/

Genifuel* Bio-óleo EUA http://www.genifuel.com/

Muradel* Bio-óleo, oleoquímicos, fertilizantes e ração

Austrália http://www.muradel.com/

Photon 8 Biocombustíveis, PUFAs e ração EUA http://www.photon8.com/

Sapphire Energy Biocombustíveis, PUFAs e ração EUA http://www.sapphireenergy.com/

Solarvest BioEnergy Biohidrogênio, PUFAs e proteína Canadá http://solarvest.ca/

* empresas que usam outras matérias-primas além de microalgas

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2.7.1 Proteínas

As microalgas são excelentes fontes de proteínas, não só pela quantidade,

que pode chegar a 70 % de seu peso seco, mas também pela qualidade.

Microalgas, de um modo geral, possuem em sua composição todos os aminoácidos

essenciais para a alimentação humana (BECKER, 2007).

Apesar dessas características, a entrada da proteína de microalgas no

mercado enfrenta dificuldades devido à sua cor verde e ao sabor forte de algumas

espécies. Uma alternativa é o uso de hidrolisados de proteínas para adição em

alimentos (KOSE e ONCEL, 2015). Portanto, o emprego dessa fonte de proteína na

alimentação humana ainda precisa ser melhor estudado. No entanto, o uso de

microalgas em alimentação animal não enfrenta essas barreiras, e já existem

diversos estudos comprovando benefícios desse uso (Becker, 2013; YAAKOB et al.,

2014).

2.7.2 Lipídeos

Com a crise do petróleo, foram realizados investimentos em pesquisas para

obtenção de biocombustíveis a partir de microalgas, com destaque para o biodiesel.

Certas espécies de microalgas, quando cultivadas sob estresse, exibem conteúdo

lipídico acima de 30 % (m/m seca) que, ao ser recuperado, pode ser utilizado na

produção de biodiesel por transesterificação (MATA et al., 2010).

Um dos fatores que despertaram grande interesse pelas microalgas é seu alto

rendimento de óleo por área cultivada. A Tabela 5 compara o rendimento de

microalgas com os rendimentos obtidos com oleaginosas utilizadas tradicionalmente

na produção de biodiesel. Com base nesses dados, pode-se calcular que as

microalgas têm potencial para produzir mais de 100 vezes a quantidade de óleo

contida na soja por unidade de terra cultivada.

Tabela 5. Rendimento médio de óleo por matéria-prima (adaptado de Chisti, 2007)

* 30 % de óleo na biomassa (peso seco)

Cultura Rendimento de óleo (L.ha-1)

Milho 172 Soja 446

Canola 1190 Jatropha 1892

Coco 2689 Palma 5950

Microalga* 58.700

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De acordo com (SCHMITZ et al., 2012), a produção de biodiesel de microalga

requer ainda uma redução do custo operacional de cerca de dez vezes. Além disso,

a extração de lipídeos deve ser otimizada, com menor uso de solventes e redução

da extração de impurezas (SCOTT et al., 2010).

As microalgas são também fontes de ácidos graxos de alto valor agregado,

como os PUFAs (polyunsaturated fatty acids) (SPOLAORE et al., 2006). Diversos

PUFAs são considerados essenciais para humanos, precisando ser adquiridos por

meio da alimentação (SIMOPOULOS, 2002). As microalgas sintetizam esses ácidos

graxos, sendo uma fonte alternativa interessante de ácidos eicosapentaenóico (EPA)

e docosahexaenóico (DHA) (MARTINS et al., 2013). Apesar de o mercado de

PUFAs estar em pleno crescimento, os preços dos óleos derivados de microalgas

ainda não são competitivos (BOROWITZKA, 2013). Para consumo humano, uma

alternativa para redução de custos seria o consumo da microalga inteira ou de um

farelo de microalga rico em lipídeos.

2.7.3 Amido

Além de lipídeos, diversas espécies de microalgas podem acumular grandes

quantidades de amido intracelular. Esse amido é uma potencial fonte de glicose que

tem sido proposta para uso na produção de etanol de terceira geração (JOHN et al.,

2011). A glicose pode ser utilizada na produção de diversas moléculas-plataforma

por processos químicos e bioquímicos, dando origem a uma biorrefinaria baseada

em glicose, como esquematizado na Figura 13.

Figura 13. Biorrefinaria baseada em glicose (montada a partir de informações de BOZELL e PETERSEN, 2010 e THE BREW PROJECT, 2006)

O amido é um polímero insolúvel e semi-cristalino de glicose cuja unidade

fundamental é a maltose, um dímero de glicose apresentando ligação α-1,4. Esse

polímero é constituído por duas frações distintas, a amilopectina e a amilose. A

amilose consiste em uma cadeia linear de maltose sem ramificações, enquanto que

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a amilopectina apresenta também ligações α-1,6, ramificando sua estrutura

(TAKEDA et al., 1987).

As moléculas de amido armazenadas intracelularmente são sempre

encontradas na forma de grânulos (BULÉON et al., 1998), conforme exemplificado

na Figura 14. Esses grânulos são formados principalmente devido à presença de

amilopectina. As cadeias originadas das ramificações se alinham e formam hélices

duplas, dando origem às seções cristalinas das cadeias de amido, que são

insolúveis e responsáveis pelo colapso da estrutura no formato granular. Já as

frações de cadeia próximas aos pontos de ramificação fazem parte das seções

amorfas do polímero (IMBERTY et al., 1991).

Devido a essa natureza cristalina, o amido em sua forma nativa não é

facilmente degradado. No entanto, ao ser aquecido, o amido sofre um processo de

gelatinização (RATNAYAKE e JACKSON, 2008), que resulta na desorganização das

frações cristalinas, e se torna mais suscetível à hidrólise por amilases (DETTORI-

CAMPUS et al., 1992; SLAUGHTER et al., 2001). Diversos fatores determinam a

extensão e a taxa de hidrólise dos grânulos de amido, incluindo o tamanho e a

morfologia do grânulo e a razão de amilose e amilopectina presente (SVIHUS et al.,

2005). Em geral, a hidrólise de amidos ricos em amilopectina é mais rápida do que a

dos ricos em amilose (TESTER et al., 2006).

Para a hidrólise completa do amido, diversas enzimas são necessárias. As

principais são as α-amilases (EC 3.2.1.1), as β-amilases (EC 3.2.1.2) e as

amiloglucosidases (EC 3.2.1.3), que atuam nas ligações α-1,4; a primeira atua

Figura 14. Grânulo de amido com destaque para a formação de duplas hélices nas cadeias de amilopectina (BALL et al., 2011)

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internamente na despolimerização das cadeias, liberando dextrinas, enquanto que

as outras atuam a partir dos terminais não redutores, liberando maltose e glicose,

respectivamente. Outras enzimas, chamadas isoamilase (EC 3.2.1.68) e pululanase

(EC 3.2.1.41), hidrolisam as ligações α-1,6, atuando nas ramificações e auxiliando a

ação das primeiras.

Na bem estabelecida indústria de etanol de milho, o amido de milho passa por

duas etapas subsequentes de hidrólise enzimática de forma a gerar um xarope de

glicose. A primeira etapa consiste na liquefação, na qual α-amilase comercial de

bactérias termorresistentes do gênero Bacillus é utilizada em temperaturas de 90 a

110 °C; nessa temperatura o amido também é gelatinizado. Em seguida, ocorre a

etapa de sacarificação, com atuação de amiloglucosidases fúngicas a 60-70 °C

(SÁNCHEZ e CARDONA, 2008)

Apesar de esse processo ser bem estabelecido, o mesmo gera altos gastos

energéticos. Uma alternativa é a hidrólise de amido a baixas temperaturas, sem

necessidade prévia de uma etapa de gelatinização. Diversas amilases já foram

descritas como sendo capazes de digerir amido in natura, sem a necessidade dessa

etapa; no entanto, em geral são necessárias maiores quantidades de enzima do que

para a hidrólise do amido gelatinizado (ROBERTSON et al., 2006).

Na indústria de etanol de milho, a hidrólise ácida foi substituída pela hidrólise

enzimática. No entanto, existem diversos grupos que ainda utilizam esse processo

ácido para hidrólise de microalgas, obtendo altos rendimentos (HO et al., 2013a;

MARKOU et al., 2013). A associação de ácido com um processo físico também já foi

testada. O processo de explosão a vapor para a microalga Nannochloropsis

gaditana resultou em uma liberação de 37 % da glicose presente na composição da

microalga. Com a adição de 1,7 % de ácido sulfúrico, esse valor subiu para 65 %

(LORENTE et al., 2015). Processos químicos não são muito indicados para

processamento de microalgas, pois podem acentuar a degradação de compostos

intracelulares, prejudicando a utilização da biomassa extraída em processos

posteriores de valorização da biomassa algal (VANTHOOR-KOOPMANS et al.,

2013).

2.7.4 Clorofilas e carotenoides

Outros produtos de interesse derivados de microalgas são as clorofilas e os

carotenoides. Clorofilas são usadas como pigmentos na indústria alimentícia,

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principalmente depois que legislações mais rígidas começaram a desencorajar o uso

de corantes sintéticos (DOWNHAM e COLLINS, 2000).

Carotenoides são moléculas com ação antioxidante, sendo importantes

aditivos alimentares para reduzir as reações de oxidação que provocam efeitos

negativos, seja pela degradação de vitaminas e lipídeos, seja pela conferência de

sabores desagradáveis (GUEDES et al., 2011). Assim como com os pigmentos

sintéticos, aditivos alimentares também estão sujeitos a legislações mais rigorosas,

sendo substituídos por alternativas naturais. As microalgas são excelentes fontes de

carotenoides, com algumas espécies, como Dunaliella salina, já sendo produzidas

em escala industrial com esse propósito (ABD EL-BAKY e EL-BAROTY, 2012)..

Essas moléculas também possuem valor nutricional, com diversos carotenoides

sendo precursores de vitamina A (KRINSKY e JOHNSON, 2005).

O processo clássico de extração desses pigmentos é conduzido com

solventes orgânicos, geralmente associado a um processo de rompimento celular

(WILTSHIRE et al., 2000) ou aumento da permeabilidade celular, como micro-ondas

(PASQUET et al., 2011) e ultrassom (SOARES et al., 2016). O metanol e a acetona

são amplamente utilizados nesse processo, com o primeiro apresentando, em geral,

uma capacidade melhor de extração para algas verdes. No entanto, ambos são

solventes tóxicos (RITCHIE, 2006).

Como alternativa à extração com solventes orgânicos, a técnica de extração

com fluidos supercríticos (SFE) é utilizada, com destaque para o uso de CO2

(MACÍAS-SÁNCHEZ et al., 2009). CO2 é escolhido devido a seu baixo custo e ampla

disponibilidade, além de ser razoavelmente inerte e apresentar uma baixa

temperatura crítica de 31,1 °C, com pressão crítica de 7,38 MPa.

A vantagem da SFE é a possibilidade de retirada do solvente pela simples

redução da pressão do sistema, retornando-o à fase gasosa (HERRERO et al.,

2006). Suas principais desvantagens são o alto custo com equipamentos e o alto

gasto energético quando comparado com técnicas tradicionais de extração

(FERREIRA et al., 2013).

A extração convencional com solventes orgânicos permanece como a escolha

industrial; no entanto, preocupações ambientais crescentes e legislações mais

rígidas impõem uma necessidade de mudança desse processo. Portanto, novas

técnicas devem ser estudadas e viabilizadas industrialmente ou solventes

biocompatíveis devem ser introduzidos no processo convencional.

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3 OBJETIVOS

3.1 Objetivo geral

Avaliar o acúmulo de amido em uma microalga verde e processá-la por

hidrólise enzimática e extração com etanol, em um contexto de biorrefinaria, para

recuperação de glicose, pigmentos e biomassa seca.

3.2 Objetivos específicos

• Selecionar uma microalga verde capaz de acumular um alto teor de amido

intracelular;

• Validar metodologias de caracterização de carboidratos da microalga

selecionada;

• Estudar as condições de cultivo que estimulam o acúmulo de amido na

microalga selecionada;

• Estudar a hidrólise enzimática do amido intracelular de forma a maximizar o

rendimento e a concentração final de glicose;

• Avaliar a possibilidade de colheita por sedimentação gravitacional das células

ricas em amido;

• Avaliar a extração de pigmentos usando etanol como solvente;

• Caracterizar a biomassa residual quanto aos teores de proteínas, lipídeos e

carboidratos.

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4 MATERIAIS E MÉTODOS

4.1 Microalgas e condições de cultivo

As microalgas utilizadas pertencem às espécies Chlorella sorokiniana Shihira

& Krauss (UTEX1663), Mychonastes homosphaera (anteriormente denominada

Chlorella homosphaera Skuja; LEAF0708, isolada de ambientes continentais do

interior de São Paulo nos anos 90) e Neochloris oleoabundans Chantanachat & Bold

(UTEX1185), apresentadas na Figura 15.

Figura 15. Microscopia ótica das microalgas M. homosphaera (a), C. sorokiniana (b) e N. oleoabundans (c) com lente objetiva de 100x (Fonte: Autoria própria)

As microalgas foram crescidas em agitador orbital (New Brunswick Scientific

Innova 44R) adaptado com luzes brancas fluorescentes de 19 W tipo luz do dia sob

irradiância de 100 µmol.m-2.s-1 (luz fotossinteticamente ativa) medidas por meio de

um radiômetro equipado com um detector quântico com correção cosseno (LI-COR),

conforme apresentado na Figura 16.

Os cultivos foram conduzidos a 30 °C e o meio utilizado foi o Bold's Basal

Medium (BBM) (NICHOLS e BOLD, 1965) contendo (g.L-1): 0,25 NaNO3; 0,025

CaCl2.2H2O; 0,075 MgSO4.7H2O; 0,098 K2HPO4.3H2O; 0,175 KH2PO4; 0,025 NaCl;

0,05 EDTA; 0,031 KOH; 0,00498 FeSO4.7H2O; 0,011 H3BO3; e os seguintes

elementos-traço (mg/L): 9,0 ZnSO4.7H2O; 14,4 MnCl2.4H2O; 0,71 MoO3; 1,57

CuSO4.5H2O; 0,5 Co(NO3)2.6H2O. As células foram cultivadas em Erlenmeyers de

500 mL contendo 200 mL de meio, coletadas por centrifugação a 8500 x g por 5

a b c

Figura 16. Agitador orbital New Brunswick Scientific Innova 44R adaptado com luzes fluorescentes para crescimento de microalgas (Fonte: Autoria própria)

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minutos, congeladas, liofilizadas e estocadas em freezer. O crescimento celular foi

acompanhado por densidade ótica (DO) a 680 nm. Todos os cultivos foram iniciados

com uma DO em torno de 0,1, correspondendo a cerca de 2x106 células.mL-1. A

rotação e o tempo de cultivo foram variados com os diferentes experimentos e são

indicados ao longo dos resultados.

4.2 Seleção da microalga

As três microalgas foram cultivadas nas condições descritas inicialmente a

175 rpm por 30 dias com acompanhamento do crescimento por meio de amostras

retiradas diariamente nos primeiros 10 dias e leitura em espectrofotômetro a 680 nm.

Após 10, 20 e 30 dias de cultivo, as células foram colhidas e caracterizadas quanto a

sua massa seca e seu conteúdo de carboidratos.

4.2.1 Massa seca

Para determinação da massa seca, 10 mL do meio de cultivo contendo as

células foram filtrados em membrana de éster de celulose de 0,22 µm (Merck, Brasil)

previamente secas em estufa a 105 °C e pesadas. As membranas com as células

foram colocadas em estufa a 105 °C até peso constante.

4.2.2 Determinação do conteúdo de carboidratos

O conteúdo de carboidratos foi determinado inicialmente mediante hidrólise

ácida com ácido sulfúrico em duas etapas segundo o protocolo publicado pelo

National Renewable Energy Laboratory (NREL) (WYCHEN e LAURENS, 2013). A

análise dos monômeros resultantes foi realizada em HPAEC (High Performance

Anion Exchange Chromatography) nas condições cromatográficas descritas abaixo.

Para determinação do conteúdo de amido, as células foram moídas e foi utilizado

um kit enzimático de amilases (Megazyme, EUA), conforme descrito a seguir: 100

mg de células moídas foram incubadas com etanol 80 % a 80 °C por 5 minutos e

posteriormente centrifugadas e o sobrenadante, descartado; o procedimento foi

repetido 2 vezes. Em seguida, as células extraídas foram incubadas com 3 mL de

uma solução de 100 U/mL de α-amilase termoestável em tampão acetato de sódio

pH 5 por 6 min a 100 °C. A mistura reacional foi então transferida para um banho a

50 °C e incubada por 30 min com a adição de 0,1 mL de uma solução de 3300 U/mL

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amiloglicosidase. A mistura foi então centrifugada e o sobrenadante foi diluído e sua

concentração de glicose foi determinada em analisador bioquímico (YSI 2700).

Apesar de essa metodologia de determinação de amido ser amplamente

utilizada, ela é dependente de uma moagem efetiva da amostra para exposição do

amido à ação enzimática. Além disso, a enzima amiloglicosidase utilizada

apresentava uma concentração de glicose livre muito alta, exigindo que um branco

da enzima fosse feito a cada dosagem. Por essas possíveis interferências no

método de determinação de amido e pela necessidade de uma grande quantidade

de amostra (100 mg), os resultados do presente trabalho são apresentados em teor

de glicose, tendo-se em mente que mais de 90 % da glicose de C. sorokiniana,

como mostrado nos resultados, está presente na forma de amido.

4.2.3 Análise dos carboidratos por HPAEC

As análises dos açúcares (celobiose, glicose, xilose, galactose, arabinose,

sacarose, frutose, rhamnose e manose) foram realizadas no equipamento Ion

Chromatography System 5000 (ICS-5000, Dionex Ltd., Canadá) utilizando um

sistema de HPAEC-PAD (High Performance Anion Exchange Chromatography and

Pulse Amperometric Detection). O software utilizado foi o Chromeleon 6.8 (Dionex

Ltd., Canadá). O sistema de colunas utilizado foi composto pela pré-coluna

CarboPac PA1 (4 x 50 mm, Thermo Scientific Ltd., EUA) e coluna analítica

CarboPac PA1 (4 x 250 mm, Thermo Scientific Ltd., EUA); ambas foram mantidas a

15 °C. A fase móvel utilizada foi água deionizada (Milli-Q) grau reagente tipo I (18 ou

mais megaohm-cm de resistividade), descarbonatada e filtrada em filtro de 0,2 μm,

com fluxo de 1,25 mL por minuto; entre os tempos 42 min e 52 min de corrida, a fase

móvel foi substituída por NaOH 300 mM. No pós-coluna, foi adicionada uma solução

de NaOH 450mM com fluxo de 0,4 mL por minuto.

4.3 Seleção das metodologias de quantificação e acompanhamento celular

Para quantificação do crescimento celular de C. sorokiniana, foram realizadas

leituras de densidade ótica em diferentes momento do cultivo, com diluição

apropriada, nos comprimentos de onda de 750, 730, 680, 660, 600, 560, 540 e 480

nm, comumente reportados na literatura (CHOJNACKA e NOWORYTA, 2004;

GRIFFITHS et al., 2011; LI et al., 2013; HO et al., 2013a; HO et al., 2013b). Os

comprimentos próximos de 680 nm ou 480 nm são utilizados por representarem

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picos de absorção de clorofilas e/ou carotenoides (LICHTENTHALER e

BUSCHMANN, 2005). Os demais comprimentos, de 750nm ou próximos a 550 nm,

são utilizados pelo motivo oposto: leituras a 750 nm não apresentam nenhum pico

de absorção de pigmentos e leituras em torno de 550 nm correspondem a um

mínimo local de absorção da clorofila. Portanto, esses comprimentos resultariam em

uma quantificação apenas da biomassa formada, sem efeito da variação do

conteúdo de pigmento com o tempo de cultivo (GRIFFITHS et al., 2011;

MOHEIMANI et al., 2013).

Essas leituras foram correlacionadas com as medidas de massa seca,

realizadas conforme descrito anteriormente, e com a contagem de células, realizada

em câmara de Neubauer espelhada. As regressões linear e exponencial foram

obtidas com o uso do software SigmaPlot (v. 10.0).

4.4 Seleção da metodologia de caracterização da fração de carboidratos de

microalgas do gênero Chlorella

Para a seleção da metodologia de caracterização de carboidratos a ser

utilizada para C. sorokiniana, outras duas microalgas foram utilizadas com diferentes

teores de carboidratos de forma a validar a metodologia para uso mais amplo.

Foram utilizadas a microalga comercial Chlorella sp. (Lot 1404181102, Fuqing King

Dnarmsa, Fuqing City, China), com baixo teor de carboidratos, e a microalga

Mychonastes homosphaera, cultivada de acordo com RODRIGUES e BON (2011) a

fim de acumular um alto teor de carboidratos. O conteúdo de carboidratos foi

analisado segundo o método de uma etapa de hidrólise ácida com ácido sulfúrico

9,1 % (m/m) descrito por NORTHCOTE et al. (1958). Esse método consiste na

hidrólise ácida de 4 mg de células liofilizadas com 2 mL de ácido sulfúrico 9,1 %

(m/m) a 100 °C por 6 horas. Tempos menores de 1, 2 e 4 horas também foram

testados. Os hidrolisados foram neutralizados pela adição de CaCO3 e analisados

por HPAEC-PAD, como descrito anteriormente. Os resultados obtidos com esse

método foram comparados aos encontrados com o método publicado pelo NREL

(WYCHEN e LAURENS, 2013). Os açúcares redutores totais foram quantificados

pelo método do DNS e expressados em glicose-equivalentes (SUMNER, 1925).

Além das microalgas, polissacarídeos comerciais foram caracterizados pelos

dois métodos enumerados acima de forma a verificar a eficiência de ambos.

Celulose microcristalina (Avicel®, Fluka, Milwaukee, USA) e amido de milho

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(Maizena®, Unilever, São Paulo, Brazil) foram usados como representantes de

celulose e amido, respectivamente. A macroalga vermelha Kappaphycus alvarezii

(Rhodophyta), após extração de carragena de forma a aumentar seu conteúdo de

celulose, foi igualmente caracterizada por ambos os métodos como um substrato

real rico em celulose.

De forma a comparar a eficiência de ambos os métodos para a hidrólise dos

carboidratos estruturais das espécies avaliadas, as microalgas foram submetidas à

hidrólise enzimática de seu amido intracelular, após moagem, utilizando amilases

comerciais, de acordo com o protocolo da Megazyme. O procedimento foi repetido

duas vezes e os materiais resultantes foram lavados com água destilada até que

nenhuma glicose fosse detectada no sobrenadante. As algas sem amido foram

liofilizadas e hidrolisadas pelas duas metodologias de caracterização.

4.5 Estudo do cultivo de C. sorokiniana

O crescimento de C. sorokiniana foi avaliado inicialmente nas rotações de

175, 200 e 225 rpm nas mesmas condições descritas no item 4.1. Amostras foram

retiradas nos primeiros 10 dias de cultivo para cálculo das taxas específicas de

crescimento na fase exponencial e comparação dos perfis de crescimento.

Na rotação de 225 rpm, foi realizado um acompanhamento da massa seca,

conforme descrito anteriormente, e do teor de glicose pelo método de NORTHCOTE

et al. (1958) com o tempo reduzido de 2 horas. Para essas análises, foram retiradas

amostras nos dias 3, 6, 10, 13, 17, 20 e 25 de cultivo. Nos sobrenadantes dessas

amostras foram realizadas a quantificação de nitrato (COLLOS et al., 1999) e de

fosfato total (AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION, 1999).

As modificações realizadas no meio de cultivo de C. sorokiniana nos

experimentos de avaliação dos fatores que influenciam o acúmulo de amido estão

apresentadas na Tabela 6, assim como o tempo de cultivo e a rotação de cada

experimento. A concentração de NaCl permaneceu igual à descrita anteriormente

em todos os experimentos.

Nesses experimentos, as células foram cultivadas em meio completo por 14

dias, centrifugadas em tubos estéreis, os sobrenadantes foram descartados e as

células foram ressuspendidas em seus respectivos meios antes de serem

inoculadas nos frascos de cultivo. Adicionalmente, células cultivadas por 10 dias

foram também centrifugadas como descrito e inoculadas em meio completo sem

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nitrato de sódio ou em água deionizada e foram cultivadas por 21 dias a 200 rpm.

Em todos os experimentos, a massa seca e o teor de glicose finais foram

determinados pelos métodos descritos anteriormente.

Tabela 6. Modificações no meio de cultivo de C. sorokiniana. Todas as concentrações são apresentadas em g.L-1 Experimento Condições NaNO3 CaCl2 MgSO4 KxHyPO4 EDTA FeSO4 H3BO3 Traços

Controle 200 rpm, 20

dias

0,25 0,025 0,075 0,273 0,05 0,005 0,011 0,013

Macro + Fea 200 rpm, 20

dias

0,25 0,025 0,075 0,273 0 0,005 0 0

Sem ETb 200 rpm, 20

dias

0,25 0,025 0,075 0,273 0,05 0,005 0,011 0

Meio 1 200 rpm, 20

dias

0,25 0,025 0,075 0,273 0,05 0,005 0,011 0,013

Meio 2 200 rpm, 20

dias

0,25 0,025 0,075 0,273 0 0 0 0

Meio 3 200 rpm, 20

dias

0,25 0,025 0,075 0,273 0 0,005 0 0

Meio 4 200 rpm, 20

dias

0,25 0,025 0,075 0,273 0,05 0,005 0 0

Meio 5 200 rpm, 20

dias

0,25 0,025 0,075 0,273 0,025 0,005 0 0

Meio C 225 rpm, 10

dias

0,25 0,025 0,075 0,273 0,05 0,005 0,011 0,013

Meio Ca 225 rpm, 10

dias

0,25 0 0,075 0,273 0,05 0,005 0,011 0,013

Meio P 225 rpm, 10

dias

0,25 0,025 0,075 0 0,05 0,005 0,011 0,013

Meio S 225 rpm, 10

dias

0,25 0,025 0 0,273 0,05 0,005 0,011 0,013

a - Macronutrientes + Fe; b - Sem elementos-traço

4.6 Determinação do teor de proteínas

O teor de proteínas foi determinado pelo método de Lowry (LOWRY et al.,

1951) precedido de uma etapa de solubilização das proteínas presentes na

microalga. As células moídas foram incubadas com 0,5 mL de água e 0,5 mL de

uma solução de SDS 5 % a 100 °C por 5 minutos. A solução de SDS foi preparada

dissolvendo-se a quantidade apropriada de SDS em glicerol, que foi escolhido como

solvente para garantir a dissolução total do detergente e reduzir a turbidez final da

solução. Após a incubação, as amostras foram centrifugadas e o sobrenadante foi

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analisado pelo método de Lowry e os resultados comparados com uma curva padrão

de albumina.

4.7 Determinação do teor de lipídeos

O teor de lipídeos foi determinado pelo método de Bligh & Dyer modificado,

descrito a seguir. 50 mg de células moídas foram submetidas à extração com 2 mL

de clorofórmio, 4 mL de metanol e 1,6 ml de água em um tubo de plástico com

tampa por 1 hora a temperatura ambiente com agitação vigorosa de 10 em 10

minutos. Essa mistura foi centrifugada e o sobrenadante foi recuperado em um novo

tubo. A biomassa foi novamente extraída com 4 mL de clorofórmio, 2 mL de metanol

e 1,6 mL de água nas mesmas condições descritas acima. Ambos os sobrenadantes

foram misturados e acrescentados de 2 mL de clorofórmio e 2 mL de água. Essa

mistura foi centrifugada e a fase orgânica foi recuperada em uma placa de vidro

previamente pesada e deixada para secar em uma capela para posterior

determinação da massa de lipídeos recuperada.

4.8 Hidrólise enzimática

Inicialmente investigou-se a possibilidade de redução do volume de hidrólise

devido à quantidade reduzida de amostra. Para tal, foram conduzidos ensaios

contendo 20 FPU.g-1 glucana e 60 BGU.g-1 glucana de uma mistura enzimática dos

sobrenadantes dos fungos Trichoderma reesei Rut C-30 e Aspergillus awamori

simultaneamente em frascos de 25 mL contendo 12,5 mg de massa total da mistura

de biomassa, enzimas e tampão citrato de sódio 0,05 M (pH 4,8) e em tubos tipo

Eppendorf contendo 1,25 mg de massa total. Da massa total dos ensaios, 1 % (m/m)

correspondeu a células de C. sorokiniana. As hidrólises foram conduzidas a 50 °C e

200 rpm por 24 horas e as amostras foram centrifugadas e analisadas em analisador

bioquímico (YSI 2700). Todos os experimentos subsequentes, exceto quando

explicitado o contrário, foram conduzidos nos tubos tipo Eppendorf com 1,25 mg de

massa total e 1 % (m/m) de sólidos (células de C. sorokiniana). Em todos os ensaios

foi acrescentada azida de sódio de forma a evitar a contaminação dos mesmos.

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Os rendimentos de hidrólise foram calculados segundo a Eq. 1:

Rendimento em glicose (%) = (Cglicose − Cglicose 0) ∗ Vlíquido

Mtotal ∗ Csólidos ∗ Tglicose (Eq. 1)

onde: Cglicose = concentração de glicose no hidrolisado (g/L) Cglicose0 = concentração de glicose no tempo 0h (g/L) Vlíquido = Mtotal - Msólidos (L) Mtotal = massa total do ensaio de hidrólise (sólidos + enzimas + tampão) (g) Csólidos = carga de sólidos no ensaio de hidrólise (%) Tglicose = teor de glicose proveniente do amido na biomassa (%)

4.8.1 Produção de enzimas

Para produção de enzimas pelo fungo T. reesei RUT C-30, foi feito um cultivo

para a produção de pré-inóculo em frascos de 500 mL com 100 mL de meio de

Mandels (MANDELS e WEBER, 1969) contendo (g.L-1): 0,3 de ureia, 1,4 de

(NH4)2SO4, 2,0 de KH2PO4, 0,3 de CaCl2, 0,3 de MgSO4 . 7H2O, 0,25 de extrato de

levedura, 0,75 de peptona e 7,5 de avicel. Foram adicionados os seguintes

elementos-traço (mg.L-1): 5 de FeSO4.7 H2O, 20 de CoCl2.6 H2O, 16 de MnSO4.4

H2O, 14 de ZnSO4.7H2O. Os meios foram inoculados com 1 mL (1 % do volume do

meio) de suspensão de esporos e incubados por três dias a 30 ºC e 200 rpm. Os

cultivos para produção das enzimas foram realizados em frascos de 500 mL

contendo 100 mL de meio de Mandels adaptado, no qual a concentração de extrato

de levedura foi elevada para 6,0 g.L-1, a peptona foi retirada, foram adicionados 6

g.L-1 de milhocina e o avicel foi substituído por lactose ou farelo de trigo em uma

concentração de 30 g.L-1 (GOTTSCHALK et al., 2010). Os meios foram inoculados

com 10 mL do pré-inóculo (10 % volume do inóculo) e os frascos foram incubados

por sete dias a 30 ºC e 200 rpm. O tampão utilizado foi o fosfato de sódio 100 mM,

pH 6.

Para o fungo Aspergillus awamori linhagem 2B.361 U2/1, o pré-inóculo foi

realizado em meio contendo 1,2 g.L-1 NaNO3, 3,0 g.L-1 KH2PO4, 6,0 g.L-1 K2HPO4,

0,2 g.L-1 MgSO4.7H2O, 0,05 g.L-1 CaCl2, 12 g.L-1 extrato de levedura e 30 g.L-1 farelo

de trigo (GOTTSCHALK et al., 2010). O meio foi inoculado também com 1 mL de

suspensão de esporos e incubado por 3 dias a 30 ºC. Um volume de 10 mL de pré-

inóculo foi então transferido para um novo meio de cultivo com a mesma

composição descrita acima para produção de enzimas durante 7 dias a 30 ºC e 200

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rpm. Todos os cultivos foram realizados em equipamento marca New Brunswick

Scientific modelo Innova 44.

4.8.2 Determinação das atividades de FPase e β-glicosidase

A atividade de FPase foi determinada seguindo a metodologia descrita pelo

NREL - National Renewable Energy Laboratory (ADNEY e BAKER, 2008), em que

uma unidade de papel de filtro (FPU) é definida como a quantidade de enzima

necessária para degradar 4 % de uma fita de papel de filtro (equivalente a 2 mg de

glicose) após uma reação de 60 minutos.

Para a determinação da atividade de β-glicosidase, foi utilizada a metodologia

descrita pela IUPAC (GHOSE, 1987) com modificações: 500 μL de uma solução de

celobiose (Sigma-Aldrich C-7252) 15 mM foram reagidos com 500 μL da enzima

apropriadamente diluída em tampão citrato de sódio 0,05 M pH 4,8 por 30 minutos a

50 °C. A mistura enzimática foi então incubada a 100 °C por 5 minutos para finalizar

a reação. A concentração de glicose resultante foi lida em analisador bioquímico

(YSI 2700). Uma unidade de atividade enzimática (BGU) foi definida como a

quantidade de glicose liberada, em μmol, após 1 minuto de reação enzimática.

4.8.3 Determinação da atividade de amilase

Para determinação da atividade total de amilase, foi desenvolvido um método

analítico utilizando-se amido solúvel como substrato. A solução de amido solúvel 1%

(m/v) foi preparada conforme descrito a seguir: 1 g de amido solúvel foi dissolvido

em 50 mL de água destilada fervente; após 5 minutos de fervura, 50 mL de água

destilada gelada foram adicionados e misturou-se até a obtenção de uma solução

límpida. Para o ensaio enzimático, foram usados os mesmos volumes do ensaio de

β-glicosidase: 500 μL da solução de amido e 500 μL da enzima diluída em tampão

citrato de sódio 0,05 M pH 4,8. A concentração de glicose resultante foi lida em

analisador bioquímico (YSI 2700). De forma a se determinar o tempo de reação,

foram conduzidos ensaios de 5, 10 e 15 minutos e o tempo de 5 minutos foi

escolhido. Uma unidade de atividade enzimática (AMU) foi definida como a

quantidade de glicose liberada, em μmol, após 1 minuto de reação enzimática.

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4.8.4 Moagem

O tratamento de moagem foi realizado com 0,5 g de células liofilizadas ou o

equivalente de células úmidas em moinho de bola vibratório (Fritsch, Alemanha) por

90 minutos em uma amplitude de 1,5 mm (Figura 17).

4.8.5 Estudo das condições de hidrólise

Para determinação das melhores condições de hidrólise, os ensaios de

determinação de atividade enzimática de amilases no sobrenadante do fungo A.

awamori foram conduzidos a diferentes temperaturas e pH 4,8. Após a determinação

da temperatura em que se obteve o máximo de atividade, essa variável foi fixada em

60 °C e o pH foi variado incubando-se a enzima em tampão citrato de sódio 0,05 M

com diferentes valores de pH.

Para o cálculo da carga enzimática a ser utilizada nos ensaios de hidrólise em

condições diferentes do que 50 °C e pH 4,8, a atividade enzimática de amilases foi

determinada nas novas condições de hidrólise de forma se corrigir o volume utilizado

para a real atividade por volume de sobrenadante.

Para os ensaios com carga de sólidos acima de 1 % (m/m), a massa total do

ensaio de hidrólise foi aumentada para 12,5 g de forma a minimizar problemas de

transferência de massa devido a uma homogeneização ineficaz.

4.8.6 Hidrólise do amido de milho comercial

A hidrólise do amido de milho comercial foi conduzida nas mesmas condições

que a hidrólise das células de C. sorokiniana. O amido de milho moído foi tratado

conforme descrito anteriormente e o amido de milho gelatinizado foi aquecido a 100

Figura 17. Moinho vibratório contendo 1 bola (Fritsch, Alemanha) (Fonte: http://www.alemmar.net.br)

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°C por 10 minutos na presença de tampão, mas na ausência de enzimas. Após a

gelatinização, a mistura foi resfriada e as enzimas foram acrescentadas.

4.9 Colheita de C. sorokiniana

4.9.1 Sedimentação gravitacional

Inicialmente, a colheita por sedimentação gravitacional foi analisada

visualmente pela deposição de células no fundo de uma proveta contendo 100 mL

de uma suspensão de células com concentração de 0,7 g.L-1 e teor de amido de 28

%. De forma a verificar a influência do teor de amido intracelular na sedimentação

gravitacional, células colhidas após 12 e 20 dias foram transferidas para tubos de

plástico e sua sedimentação foi acompanhada pela retirada de amostras do meio da

altura da coluna de líquido e posterior leitura da densidade ótica a 680 nm.

4.9.2 Floculação e sedimentação

4.9.2.1 Preparo do pó e dos extratos de semente de moringa

As sementes de Moringa oleifera Lam. foram colhidas secas no Campus São

Cristóvão da Universidade Federal do Sergipe. Ao serem recebidas no Laboratório

Bioetanol, as sementes foram descascadas e colocadas para secar em estufa a

vácuo a 40 °C. A seguir, as sementes descascadas foram trituradas manualmente

com grau e pistilo e peneiradas em peneira vibratória (Fritsch, Alemanha) de forma a

se obter um pó de granulometria inferior a 180 µm. A Figura 18 apresenta as

sementes de moringa secas e após a remoção das cascas.

Figura 18. Sementes de moringa secas e após a remoção das cascas

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Para obtenção dos extratos da semente, 5 g de pó foram extraídos com 100

mL de água destilada ou solução de NaCl 1M sob agitação a 300 rpm por 30

minutos. Após a extração, a mistura foi filtrada em um pré-filtro de fibra de vidro

(Whatman, Maidstone, Reino Unido) e acondicionada em tubos de plástico sob

refrigeração.

4.9.2.2 Experimentos de floculação

Experimentos de floculação geralmente são realizados em equipamentos do

tipo Jar Test. No entanto, esses equipamentos exigem um volume muito grande de

amostra. De forma a reduzir o volume necessário, os experimentos foram realizados

em frascos de 25 mL contendo 10 mL de suspensão de células de C. sorokiniana,

agitados em shaker orbital a 200 rpm por 30 minutos seguido por uma agitação a 75

rpm por 30 minutos. Em seguida, o conteúdo dos frascos foi lentamente vertido em

tubos de plástico de 15 mL de forma a não desestabilizar os flocos formados, as

amostras foram retiradas na metade da coluna de líquido e sua absorvância foi lida a

680 nm.

Inicialmente, o pó de semente de moringa foi utilizado nas concentrações de 1

g.L-1, 0,8 g.L-1 e 0,6 g.L-1. Em seguida, foram utilizados os extratos aquoso e salino

da semente, obtidos conforme descrito acima, em concentrações equivalentes a 1

g.L-1, ou seja, foram usados 200 μL de extrato a 5 % (m/v) para cada 10 mL de

suspensão de células.

O volume final de sedimentado após 24 horas de sedimentação foi medido

diretamente pela graduação do tubo de plástico. As células floculadas e

sedimentadas nas melhores condições testadas foram posteriormente centrifugadas

e a umidade e as massa finais obtidas foram determinadas para comparação.

4.10 Extração de pigmentos

O teor de clorofila foi determinado por extração de 1 mg de células secas e

moídas com 5 mL de metanol 100 % a 25 °C por 1 hora (tempo suficiente para

extração total, observada pela perda de cor da biomassa) em um ambiente de baixa

luminosidade com agitação vigorosa de 10 em 10 minutos. Foi feita a leitura da

absorvância do sobrenadante da extração, após centrifugação, e os teores de

clorofilas a e b foram calculados pelas equações cromáticas de LICHTENTHALER e

WELLBURN (1983) para metanol puro (Eq. 2 e Eq. 3) e somados.

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65

Ca = 15.65A666-7.34A653 (Eq. 2)

Cb = 27.05A653-11.21A666 (Eq. 3)

Para quantificação e extração dos pigmentos na biomassa fresca, foi

calculada a massa seca do cultivo e o mesmo volume de suspensão de células foi

transferido para diferentes tubos plásticos e o sobrenadante foi descartado após

centrifugação.

A extração de pigmentos com etanol foi realizada com o mesmo procedimento

utilizado para o metanol. Para determinar qual equação cromática usar, foi feita uma

extração com metanol e os pigmentos foram liofilizados e ressuspendidos em

metanol e etanol. Nessas amostras foi feita uma varredura de picos em diversos

comprimentos de onda e, no intervalo de 400 a 700 nm, foi observada uma variação

na posição dos picos menor que 1 %. As equações cromáticas relativas a metanol e

etanol foram utilizadas também na mesma amostra de pigmentos extraída com

etanol, e os valores calculados por ambas não apresentaram diferença

estatisticamente significativa para os resultados de clorofilas a e b. Portanto, optou-

se por manter os cálculos com a equação de metanol mesmo para os pigmentos

extraídos com etanol de forma a eliminar a interferência dessa variação na

interpretação dos resultados.

4.11 Secagem de células de C. sorokiniana

A comparação da velocidade de secagem de células de C. sorokiniana

úmidas com água ou após extração de pigmentos com etanol foi comparada pelo

acompanhamento do peso de tubos de plástico contendo 1 g de células úmidas com

umidade inicial de cerca de 85 % colocados em uma capela com ventilação ligada.

4.12 Tratamento estatístico dos dados

Os resultados experimentais de duplicatas ou triplicatas independentes foram

comparados pelo teste de Fisher LSD (p<0,05) usando o software STATISTICA (v.

7.0). As barras de erro dos gráficos foram plotadas baseando-se no desvio-padrão

das duplicatas ou triplicatas realizadas.

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5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A apresentação dos resultados desse trabalho encontra-se dividida em quatro

partes. Na primeira parte, será abordada a seleção de uma espécie de microalga a

partir de três espécies potenciais para acúmulo de carboidratos e moléculas de

interesse, segundo a literatura. Na segunda parte, serão avaliadas metodologias

para acompanhamento do crescimento e caracterização da microalga selecionada,

tendo em vista de que não há consenso sobre a melhor metodologia a ser

empregada para o acompanhamento de cultivos e caracterização de microalgas. Na

terceira parte, o cultivo da microalga selecionada será estudado a fim de reduzir seu

tempo de cultivo e determinar os fatores que afetam seu acúmulo de amido. Por fim,

na quarta parte será apresentada uma proposta tecnológica baseada em um total

aproveitamento da biomassa em um conceito de biorrefinaria com ênfase em

processos ambientalmente amigáveis.

5.1 Seleção da microalga de interesse

As microalgas verdes Chlorella sorokiniana, Mychonastes homosphaera

(denominada anteriormente Chlorella homosphaera) e Neochloris oleoabundans

foram inicialmente selecionadas por apresentarem crescimento autotrófico e

mixotrófico e acúmulo de carboidratos e outros compostos de interesse, como

lipídeos e carotenóides (LI et al., 2014; MORALES-SÁNCHEZ et al., 2013;

RODRIGUES e BON, 2011; TANADUL et al., 2014). Essas características

possibilitam o uso futuro de fontes de carbono orgânicas e o processamento das

microalgas visando a obtenção de diversos produtos de interesse em um contexto

de biorrefinaria.

O crescimento celular em condições autotróficas em geral resulta em uma

menor concentração final de biomassa do que em condições heterotróficas ou

mixotróficas (CHEIRSILP e TORPEE, 2012; CHOJNACKA e NOWORYTA, 2004; LI

et al., 2014). No entanto, cultivos mixotróficos e heterotróficos apresentam maior

chance de contaminação do que cultivos autotróficos por apresentarem carbono

orgânico, geralmente açúcares, dissolvido no meio de cultivo. Por esse motivo, o

crescimento autotrófico foi utilizado nesse estudo para seleção de uma microalga

com potencial para acúmulo de amido.

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O perfil de crescimento autotrófico das três espécies foi acompanhado

inicialmente até o 10º dia de cultivo e os resultados se encontram na Figura 19. As

três algas exibiram uma fase de crescimento exponencial curta, estendendo-se até

aproximadamente o 4º dia, com taxas específicas de crescimento de 0,348 d-1, 0,308

d-1 e 0,278 d-1 para C. sorokiniana, N. oleoabundans e M. homosphaera,

respectivamente. Após a fase exponencial, seguiu-se uma fase de desaceleração do

crescimento até o 10º dia, não tendo sido observada a fase estacionária em nenhum

dos casos no período avaliado. Apesar de as três espécies apresentarem um perfil

inicial similar de crescimento, a desaceleração no crescimento de M. homosphaera

foi mais acentuada que para as demais, resultando em um menor crescimento a

partir do 4º dia de cultivo.

Figura 19. Perfil de crescimento das algas Chlorella sorokiniana, Neochloris oleoabundans e Mychonastes homosphaera durante 10 dias de cultivo em Bold's Basal Medium em frascos agitados a 175 rpm. Os pontos representam a média de três ensaios independentes.

As algas foram caracterizadas, após diferentes tempos de cultivo, quanto à

sua massa seca, apresentada na Figura 20, e ao teor em glicose e açúcares totais

da sua biomassa, apresentados na Figura 21. Após 10 dias, as três espécies

apresentaram concentrações de massa seca semelhantes, de aproximadamente

0,15 g/L. M. homosphaera apresentou o maior teor em glicose e açúcares totais

(14,8 % e 24,0 %, respectivamente), seguida por N. oleoabundans (11,5 % e 16,9 %,

respectivamente) e C. sorokiniana (6,9 % e 11,1 %, respectivamente).

Como o cultivo de 10 dias resultou em um baixo acúmulo de biomassa e

baixos teores em glicose, o tempo de cultivo foi estendido para 20 e 30 dias. As

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espécies C. sorokiniana e N. oleoabundans apresentaram comportamento similar

em relação ao acúmulo de biomassa, avaliado por sua massa seca, atingindo a

mesma produção de biomassa em 30 dias (Figura 20).

M. homosphaera apresentou uma produção de biomassa mais lenta,

alcançando, após 30 dias de cultivo, uma massa seca 40% menor do que a obtida

no cultivo das outras duas espécies no mesmo período. Esses resultados são

consistentes com os perfis de crescimento obtidos até o 10º dia de cultivo, em que

as duas primeiras espécies apresentaram crescimentos similares, enquanto M.

homosphaera apresentou um crescimento mais lento a partir do 4º dia. As maiores

Figura 21. Concentração de massa seca de C. sorokiniana (S), N. oleoabundans (N) e M. homosphaera (H) obtidas após 10, 20 e 30 dias de cultivo.

Figura 20. Teor de glicose (cinza claro) e açúcares totais (cinza escuro) da biomassa seca de C. sorokiniana (S), N. oleoabundans (N) e M. homosphaera (H) após 10, 20 e 30 dias de cultivo.

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produtividades de biomassa seca, de 24,4 mg.L-1.dia-1 e 24,3 mg.L-1.dia-1, foram

alcançadas pelas linhagens de C. sorokiniana e N. oleoabundans, respectivamente,

após 30 dias de cultivo. A linhagem de M. homosphaera atingiu uma produtividade

de apenas 14,5 mg.L-1.dia-1.

O teor de glicose da espécie C. sorokiniana aumentou com o tempo de

cultivo, dobrando após 20 dias (14,0 %) e quadruplicando após 30 dias (29,0 %) em

relação ao conteúdo apresentado pela cultura de 10 dias (6,9 %) (Figura 21). Já N.

oleoabundans apresentou um aumento de apenas 26 % no teor em glicose após 20

dias (14,5 %), dobrando o teor após 30 dias de cultivo (22,8 %) em relação ao

apresentado após 10 dias de cultivo (11,4 %). A espécie M. homosphaera não

apresentou diferença significativa em sua composição em glicose durante o período

de cultivo estudado (14,8 % e 16,0 % após 10 e 30 dias de cultivo, respectivamente).

Não foi observada uma mudança significativa no teor total dos outros

açúcares com o aumento do tempo de cultivo. Portanto, o aumento do conteúdo de

açúcares totais observado ao longo do tempo de cultivo foi devido apenas ao

acúmulo de glicose (Figura 21).

O teor de amido variou de 70 a 95% do teor de glicose total das três espécies

estudadas em todos os tempos de cultivo analisados. O acúmulo desse

polissacarídeo em microalgas é estimulado pela depleção de certos nutrientes no

meio, como nitrogênio, fósforo e enxofre (BRÁNYIKOVÁ et al., 2011). No entanto, as

três microalgas estudadas apresentaram teores significativos de glicose e, portanto,

de amido em sua composição já nos primeiros 10 dias de cultivo, antes da fase

estacionária de crescimento (Figura 21), momento em que todos os nutrientes ainda

estavam presentes no meio de cultivo. Esse acúmulo durante a fase de crescimento

exponencial já foi reportado tanto para C. sorokiniana quanto para N. oleoabundans

e representa uma reserva de carbono para consumo durante o processo de

respiração noturna (KLOK et al., 2013; LI et al., 2015).

A depleção de algum nutriente pode ser responsável pela intensificação do

acúmulo de amido tanto em C. sorokiniana como em N. oleoabundans entre o 20° e

o 30° dias de cultivo. Como essas duas espécies apresentaram perfis de

crescimento similares (Figura 19), essa depleção deve ter ocorrido simultaneamente

para ambas. Apesar de N. oleoabundans, como o próprio nome sugere, ser uma

espécie utilizada para obtenção de lipídeos, já foi reportado o acúmulo de amido

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inicial após a depleção de nitrogênio, sendo seguido pelo aumento do teor de

triglicerídeos (Klok et al., 2013).

M. homosphaera, por apresentar um crescimento mais lento, pode não ter

consumido esses nutrientes de forma expressiva e, por isso, o mecanismo de

acúmulo de amido não foi disparado além do nível basal de 15 %, que se manteve

constante durante os 30 dias de cultivo. Essa espécie já foi reportada com um teor

de glicose de 60 % (m/m) em base seca (RODRIGUES e BON, 2011). No entanto,

essa condição foi alcançada quando cultivada em meio WC (GUILLARD e

LORENZEN, 1972), que contém vitaminas e 66% menos nitrogênio do que o meio

BBM (NICHOLS e BOLD, 1965).

Os dados experimentais obtidos no crescimento de C. sorokiniana confirmam

ser esta a mais eficiente, dentre as espécies testadas, em acumular amido após 30

dias de cultivo. A glicose foi correspondente a cerca de 30 % da composição da

biomassa seca e a hidrólise com amilases comerciais revelou que mais de 90 %

dessa glicose está presente na biomassa na forma de amido.

A espécie C. sorokiniana é caracterizada como uma microalga de interesse

para uso industrial devido ao seu rápido crescimento (LI et al., 2013) e sua tolerância

a altas temperaturas, irradiâncias luminosas e concentrações de CO2 (MORITA et al.

2000), características que permitem que essa espécie seja cultivada aproveitando a

luz solar mesmo em climas quentes e com a utilização de gases efluentes de

indústrias, que apresentam elevadas concentrações de CO2.

5.1.1 Considerações finais

A microalga Chlorella sorokiniana apresentou uma alta produtividade em

biomassa e o maior conteúdo de carboidratos totais dentre as espécies estudadas,

além do maior teor de glicose. A hidrólise enzimática por amilases revelou que mais

de 90 % da glicose está presente na biomassa na forma de amido. Devido a esses

fatores, a espécie C. sorokiniana foi selecionada para a realização dos experimentos

subsequentes.

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5.2 Metodologias de caracterização e quantificação de Chlorella sorokiniana

5.2.1 Estudo da metodologia de quantificação e acompanhamento do

crescimento celular

Diversas metodologias de acompanhamento do crescimento celular de

microalgas são encontradas na literatura. As mais usuais são massa seca,

contagem de células e medida da densidade ótica (MOHEIMANI et al., 2013). Essas

técnicas podem ser correlacionadas pela elaboração de curvas-padrão, que

possibilitam o acompanhamento da densidade ótica, a técnica mais simples dentre

as três citadas, e sua conversão para número de células ou massa celular, que

refletem melhor o comportamento da cultura (GRIFFITHS et al., 2011).

De forma a avaliar se a densidade ótica poderia ser utilizada para o

acompanhamento do crescimento celular de C. sorokiniana, a massa seca e o

número de células por volume de cultura foram determinados em diferentes

momentos do cultivo e correlacionados com a densidade ótica da cultura.

O crescimento celular de C. sorokiniana acompanhado por contagem de

células, massa seca e medidas de densidade ótica em diferentes comprimentos de

onda está apresentado na Figura 22. Nas condições utilizadas, as células de C.

sorokiniana entraram na fase estacionária de crescimento próximo ao 10º dia de

cultivo, atingindo nesse momento uma concentração celular de 2,5x107 células/mL

que foi mantida nos dias subsequentes (Figura 22).

Os diferentes comprimentos de onda utilizados para medir a densidade ótica

resultaram em curvas de crescimento com perfis semelhantes (Figura 22). Foi

possível correlacionar os resultados obtidos no comprimento de onda de 680 nm

com os valores encontrados nos demais comprimentos de onda com coeficientes de

determinação (R2) acima de 0,995, conforme exemplo apresentado na Figura 23.

Portanto, as leituras de densidade ótica medidas a 680 nm foram selecionadas para

serem correlacionadas com a contagem de células e a massa seca do cultivo, uma

vez que esse comprimento de onda é um dos mais reportados na literatura.

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Figura 22. Acompanhamento do crescimento celular de C. sorokiniana a 30 °C e 225 rpm. Foram realizadas medidas de densidade ótica em diferentes comprimentos de onda, contagem de células ( ) e determinação da massa seca (colunas) nas amostras retiradas após 0, 3, 6, 10, 13, 17 e 20 dias de cultivo.

Uma correlação linear entre densidade ótica e número de células somente foi

alcançada para dados obtidos na fase exponencial e de desaceleração de

crescimento, com um valor de R2 de 0,992. Considerando-se o intervalo total de

crescimento, incluindo a fase estacionária, foi possível estabelecer uma correlação

exponencial assintótica entre esses dados, com um R2 de 0,982 para os diferentes

comprimentos de onda, conforme apresentado na Figura 24. Foi ajustada uma

equação do tipo y = a(1-exp(-bx)), em que y corresponde ao número de células/mL e

x corresponde à densidade ótica.

Figura 23. Correlação linear entre leituras de densidade ótica a 750 nm e 680 nm de um mesmo cultivo de C. sorokiniana em diferentes momentos.

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A correlação exponencial assintótica pode ser explicada pelo aumento

gradual da densidade ótica mesmo após a cultura ter entrado em estado

estacionário, ou seja, o aumento na densidade ótica não foi devido ao aumento do

número de células. Esse comportamento também não pode ser relacionado com o

aumento do teor de clorofila das células, uma vez que esse se manteve estável

entre o 10° e o 17° dias de cultivos, com uma ligeira queda até o 20° dia, conforme

apresentado na Figura 25. No entanto, nesse período houve um acúmulo de amido

intracelular mais acentuado. O teor de amido aumentou de 8 % para 26 % (m/m) da

massa seca celular entre o 10° e o 20° dias de cultivo (Figura 25). O acúmulo de

amido já foi reportado como sendo responsável por um aumento no tamanho das

células (RODRÍGUEZ-LÓPEZ, 1966; BHATNAGAR et al., 2010), o que poderia

causar o aumento da densidade ótica do cultivo.

Para os valores obtidos nos primeiros dias de cultivo, o ajuste linear resultou

em desvios entre os valores estimado e experimental menores que o ajuste

exponencial, conforme dados apresentados na Tabela 7. No entanto, a partir do 10°

dia, a correlação exponencial apresentou desvios entre os valores calculados e

experimentais de no máximo 6,3 %, enquanto que a correlação linear apresentou

desvios superiores a 24 %.

Figura 24. Correlação entre densidade ótica a 680 nm e número de células determinados ao longo do cultivo de C. sorokiniana. São apresentadas as correlações linear, correspondente aos primeiros pontos, e exponencial assintótica, correspondente a todos os pontos obtidos.

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Tabela 7. Desvio entre os valores experimentais e calculados pelas regressões linear e exponencial para o número de células em diferentes dias de cultivo

Um padrão distinto foi observado para a correlação entre massa seca e

densidade ótica. Para os dados do 3º ao 17º dia de cultivo, foi encontrada uma

correlação linear com R2 igual a 0,969, conforme apresentado na Figura 26. No

entanto, a partir do 17º dia, houve um acúmulo de amido que resultou em um

aumento significativo da massa seca, porém sem um aumento correspondente na

densidade ótica (Figura 22). Esse desvio acarretou em um valor teórico, calculado

pela correlação linear, 31 % menor do que seu valor experimental correspondente.

LIANG et al. (2009) encontraram uma correlação de potência entre a

densidade ótica e a massa seca no cultivo de C. vulgaris. Essa mesma correlação

foi aplicada para os dados do presente trabalho e foi encontrado um valor de R2 de

0,96, indicando que essa correlação ajusta de forma satisfatória o comportamento

experimental observado. No entanto, diversos estudos trabalham com curvas-padrão

lineares correlacionando densidade ótica e massa seca, mesmo quando trabalhando

com cultivos estendidos em que há acúmulo de amido (HO et al., 2013; KUMAR et

al., 2014; LI et al., 2013; MORITA et al., 2000).

Dia de cultivo Desvio - linear Desvio - exponencial

3 5,5 % 11 %

6 4,6 % 5,7 %

10 24 % 6,3 %

14 30 % 4,8 %

17 49 % 3,2 %

20 62 % 0,3 %

Figura 25. Quantidade de clorofila por célula (colunas) e teor de amido (pontos) em diferentes períodos de cultivo de C. sorokiniana

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Caso apenas a fase exponencial seja estudada, curvas-padrão lineares

podem ser utilizadas com correlações satisfatórias entre os valores teóricos e os

experimentais, conforme ilustrado na Figura 26. No entanto, quando cultivos

prolongados são considerados, especialmente objetivando a modificação da

composição celular pelo acúmulo de uma molécula de interesse, o uso de curvas-

padrão deve ser considerado com cautela e a curva-padrão deve ser construída ao

longo do cultivo, e não apenas em um dia específico.

Em vista desses resultados, o acompanhamento do crescimento de C.

sorokiniana pode ser feito por medição da densidade ótica, correlacionando-a com o

número de células por meio de uma curva-padrão com regressão exponencial

assintótica. No entanto, para a determinação da massa celular produzida, é

necessária a quantificação final pela técnica de massa seca. O desvio acentuado da

massa seca experimental em relação ao valor calculado pela regressão linear em

função da densidade ótica pode ser utilizado como indicativo do acúmulo de amido

e, portanto, do momento em que deve ser realizada a colheita.

5.2.2 Estudo da metodologia de caracterização quanto ao teor de

carboidratos

Nos estudos de seleção da microalga, foi utilizada a metodologia publicada

pelo NREL (National Renewable Energy Laboratory) para quantificação de

carboidratos de microalgas, que consiste em uma etapa inicial de hidrólise com

ácido sulfúrico 72 % (m/m) a 30 °C seguida por uma etapa com ácido sulfúrico 4 %

Figura 26. Correlação entre densidade ótica a 680 nm e massa seca determinados ao longo do cultivo de C. sorokiniana.

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(m/m) a 121 °C (WYCHEN e LAURENS, 2013). Essa metodologia é similar à

utilizada para materiais lignocelulósicos, porém em escala reduzida, e portanto ela é

capaz de hidrolisar materiais recalcitrantes como a celulose, reportada em algumas

espécies de microalgas (KIM et al., 1996; IMAI et al., 1999).

Mesmo com a redução de escala proposta pelo NREL, essa metodologia

utiliza uma quantidade de biomassa considerável, de 25 mg, quando se leva em

consideração as baixas concentrações obtidas em cultivos de microalgas (0,7 g/L,

no presente estudo). Adicionalmente, é uma metodologia que envolve manipulação

da amostra para homogeneização e diluição durante o procedimento, podendo

acarretar em erros experimentais significativos. Por último, apesar de essa

metodologia apresentar bons resultados para microalgas, ela ainda não foi otimizada

para essa biomassa (WYCHEN e LAURENS, 2013).

Uma outra metodologia disponível na literatura para caracterização do teor de

carboidratos de microalgas é a descrita por NORTHCOTE et al. (1958), que consiste

em apenas uma etapa de hidrólise com ácido sulfúrico 9,1 % (m/m) a 100 °C. Essa

metodologia utiliza uma quantidade reduzida de biomassa (4 mg) e reagentes,

porém envolve um tempo de hidrólise de 6 horas e também não foi otimizada.

Microalgas podem apresentar diversas estruturas e composições,

dependendo da espécie estudada e das condições de cultivo, e por isso não existem

métodos padronizados para sua caracterização. Em vista disso, as duas

metodologias de hidrólise ácida de microalgas acima descritas foram comparadas de

forma a se determinar qual seria utilizada no restante do trabalho.

Além da microalga selecionada, Chlorella sorokiniana, outras duas microalgas

foram utilizadas nesse estudo de forma a se abranger diferentes faixas de teor de

carboidratos totais. M. homosphaera cultivada no meio WC (GUILLARD e

LORENZEN, 1972) foi escolhida pelo seu alto conteúdo de carboidratos e Chlorella

sp., uma microalga comercial, pelo seu baixo teor de carboidratos.

5.2.2.1 Redução do tempo de hidrólise ácida e validação da

metodologia

De forma a reduzir o tempo da metodologia de Northcote, foram testados os

tempos alternativos de 1, 2 e 4 horas de hidrólise além das 6 horas propostas pelo

método. A Figura 27 apresenta os teores de açúcares determinados após hidrólise

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das três espécies por diferentes períodos. Os resultados encontrados com o método

NREL também estão apresentados.

Glicose foi o açúcar mais abundante em todos os hidrolisados,

correspondendo a 7 %, 28 % e 73 % (m/m) da massa seca de Chlorella sp., C.

sorokiniana e M. homosphaera, respectivamente, como mostrado na Figura 27.

Galactose foi o segundo monossacarídeo mais abundante, com teores entre 3 e 4

%. Esses resultados estão de acordo com os reportados por NORTHCOTE et al.

(1958) para C. pyrenoidosa. CHENG et al. (2011) também identificaram galactose,

juntamente com xilose e manose, como o açúcar mais abundante em paredes

celulares de quatro espécies de Chlorella.

O período de 1 hora não foi suficiente para promover a hidrólise completa dos

carboidratos de Chlorella sp. a monômeros solúveis (Figura 27a). Os teores totais e

de cada açúcar foram significativamente menores para esse tempo do que os

encontrados após tempos mais longos de hidrólise. Para as algas C. sorokiniana e

M. homosphaera, o tempo de 1 hora parece ter sido suficiente para a hidrólise total

dos principais carboidratos, apesar de os teores de rhamnose, xilose e manose de

C. sorokiniana (Figura 27b) e o de rhamnose de M. homosphaera (Figura 27c) terem

apresentado uma menor percentagem nos hidrolisados de 1 hora.

Para as três espécies utilizadas, os teores de açúcares totais encontrados nos

hidrolisados foram similares para tempos de hidrólise variando de 2 a 6 horas, sem

diferença estatística entre eles (Figura 27). A única diferença estatisticamente

significativa foi encontrada para a manose no hidrolisado de 2 horas de Chlorella sp..

No entanto, essa diferença não afetou o teor total de açúcar devido à baixa

quantidade presente nessa alga. Em vista dos resultados obtidos para diferentes

tempos de hidrólise, o período de 2 horas foi escolhido como o mais curto para a

hidrólise completa dos carboidratos em monômeros solúveis, independente do

conteúdo de carboidratos da microalga utilizada.

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Figura 27. Teores de açúcares encontrados nas microalgas Chlorella sp. (a), Chlorella sorokiniana (b) e Mychonastes homosphaera (c) quantificados por HPAEC-PAD após a hidrólise pelo método Northcote por 1 hora (branco), 2 horas (cinza claro), 4 horas (cinza) e 6 (cinza escuro). Teores de açúcares quantificados pelo método NREL também estão apresentados (preto). Valores para um mesmo açúcar (médias e desvios-padrão de triplicatas) com a mesma letra não diferem significativamente pelo teste de Fisher LSD test (p>0.05). * valores abaixo do limite de quantificação

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Comparando-se os resultados do método de Northcote com os obtidos pelo

método NREL, observou-se que, para as três linhagens testadas, os teores de

glicose e açúcares totais determinados por ambos os métodos foram similares, sem

diferença estatística entre eles (Figura 27). Diferenças foram observadas no teor de

rhamnose de Chlorella sp. (1,5 % e 1,2%) e nos teores de rhamnose (0,5 % e 0,3 %)

e xilose (0,2 % e 0,1 %) de C. sorokiniana para os métodos de Northcote e NREL,

respectivamente. Essas pequenas diferenças, considerando-se os teores reduzidos

desses açúcares nas microalgas, não impactaram de forma significativa na

caracterização do perfil de açúcares. Entretanto, o método de Northcote resultou em

maiores conteúdos desses açúcares nos três casos destacados (Figura 27), o que

reflete uma possível subestimação do conteúdo desses açúcares presentes em

baixas concentrações pelo método NREL.

Na caracterização de carboidratos por hidrólise ácida, monossacarídeos

produzidos durante o processo podem ser degradados pelo ácido, levando a

menores concentrações finais e, consequentemente, a erros na determinação do

teor de carboidratos. Portanto, padrões dos monossacarídeos encontrados nas

espécies utilizadas foram submetidos a ambos os métodos de caracterização e suas

recuperações foram calculadas. Foram encontradas recuperações para os métodos

de Northcote e NREL, respectivamente, de 94,8 % e 97,3 % para glicose, 93,0 % e

94,6 % para galactose, 92,1 % e 92,1 % para xilose, 93,2 % e 94,7 % para manose,

95,5 % e 96,2 % para rhamnose e 95,7 % e 93,5 % para arabinose. Esses

resultados indicam que ambos os métodos resultam em uma baixa degradação dos

açúcares.

Alguns açúcares não usuais foram reportados em hidrolisados de espécies de

Chlorella (TAKEDA, 1988). Esses açúcares são diferentes dos normalmente

encontrados em algas e plantas, como a fucose. Como a cromatografia líquida

empregada somente quantifica os monômeros para os quais foi utilizado um padrão

correspondente, o método de DNS para quantificação de açúcares redutores totais

foi empregado para comparação. Foram encontrados teores de açúcares totais de

12,8 ± 0,9 % e 12,1± 0,8 % para Chlorella sp., 34,9 ± 2,7 % e 33,0 ± 1,8 % para C.

sorokiniana e 75,7 ± 1,5 % e 77,5 ± 2,9 % para M. homosphaera quando utilizados o

método de DNS e os resultados de HPAEC, respectivamente. Os teores de

açúcares redutores totais determinados colorimetricamente foram similares aos

determinados por cromatografia líquida após 2 horas de hidrólise pelo método de

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Northcote para as três espécies utilizadas, sem diferenças estatísticas entre eles.

Portanto, açúcares não usuais, se presentes, estão em pequenas concentrações

que não afetam a determinação do teor total de açúcares. Essa conclusão se limita a

açúcares neutros, pois nenhum método específico foi utilizado para identificar

açúcares ácidos, como ácidos urônicos, que também podem estar presentes na

parede celular de espécies de Chlorella (TAKEDA, 1991).

O método de Northcote em uma etapa, utilizando-se ácido sulfúrico diluído

(9,1 % (m/m)), foi eficaz para a determinação do teor total de açúcares em

microalgas com diferentes conteúdos de carboidratos. A hidrólise total de

carboidratos a monômeros solúveis foi alcançada após 2 horas de hidrólise com

resultados semelhantes aos obtidos até 6 horas de hidrólise e com menor desvio-

padrão. Períodos de hidrólise de até 6 horas podem ser utilizados sem perda de

açúcares por degradação. As vantagens do método consistem em sua simplicidade,

flexibilidade e reduzido uso de amostra e reagentes. No método NREL, é necessária

a manipulação da amostra durante a primeira hora para homogeneização e diluição,

os períodos de tempo são fixos e devem ser estritamente seguidos, e a quantidade

de amostra recomendada é 6 vezes maior do que a do método de Northcote com

uma quantidade de ácido 1,5 vezes maior.

5.2.2.2 Hidrólise ácida de controles e de microalgas sem amido

A parede celular de algas do gênero Chlorella é composta por duas

estruturas: uma matriz polissacarídica e uma parede celular rígida. A matriz contém

diversos monômeros, como os identificados nesse estudo (glicose, galactose,

rhamnose, arabinose e manose), e é hidrolisável com ácidos fracos. Já a parede

celular rígida é composta por glicose e manose ou por glucosamina e é hidrolisada

apenas por ácido sulfúrico 72 % - 4 % (p/p) ou ácido clorídrico 6 M, respectivamente

(NORTHCOTE et al., 1958; TAKEDA, 1991).

No presente estudo, rendimentos equivalentes de hidrólise em glicose foram

encontrados para os métodos de Northcote, com ácido sulfúrico a 9,1 % (p/p), e

NREL, com ácido sulfúrico a 72 % - 4 % (p/p). Esse resultado levantou a questão

sobre a capacidade do ácido sulfúrico a 9,1 % (p/p) de hidrolisar a parede celular

rígida. Adicionalmente, segundo NORTHCOTE et al. (1958), o resíduo obtido após

solubilização da parede celular de Chlorella por álcali foi hidrolisado com o ácido

sulfúrico a 9,1 % e considerado como sendo celulose. Portanto, foi necessário

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avaliar se de fato o ácido nessa concentração seria capaz de hidrolisar celulose de

forma eficiente.

De forma a avaliar a capacidade de hidrólise dos dois métodos estudados

quando aplicados a diferentes macromoléculas, os polissacarídeos comerciais

amido e celulose microcristalina foram hidrolisados pelos dois procedimentos. A

macroalga vermelha Kappaphycus alvarezii, após extração de carragena de forma a

aumentar seu teor de celulose (MASARIN et al., 2016), foi utilizada como uma fonte

natural de celulose. Não foi observada diferença estatística entre os métodos para a

hidrólise de amido, como pode ser observado pelos dados apresentados na Tabela

8. A hidrólise do amido ocorre facilmente devido à sua estrutura predominantemente

amorfa quando submetida ao calor (RATNAYAKE e JACKSON, 2008), que a torna

suscetível à ação do ácido diluído. No entanto, a hidrólise da celulose microcristalina

foi completa apenas quando se aplicou o método NREL. Neste, o ácido concentrado

atua na estrutura cristalina da celulose, desorganizando-a e permitindo que o ácido

diluído hidrolise as cadeias de celulose, liberando glicose.

Um resultado similar foi observado para a hidrólise da celulose de K. alvarezii,

com um teor de glicose de 42 % determinado pelo método NREL, enquanto que o

método de Northcote resultou em um teor de apenas 6,1 %. Esses resultados

confirmam a recalcitrância da celulose frente ao método de Northcote e contradizem

as conclusões acerca da presença de celulose no resíduo da solubilização alcalina

da parede celular de C. pyrenoidosa. Esse resíduo deve ser considerado como outra

glucana que não celulose, ou até como um heteropolissacarídeo, uma vez que

galactose foi também encontrada no hidrolisado dessa fração.

Tabela 8. Teor de glicose determinado após caracterização pelos métodos de Northcote e NREL de amido, celulose microcristalina (Avicel) e da macroalga Kappaphycus alvarezii após extração de carragena e das três espécies de microalgas após remoção do amido por hidrólise enzimática com α-amilase e amiloglucosidase comerciais.

Teor de glicose (%)

Northcote NREL

Amido 89,3 ± 3,1 89,3 ± 2,1

Avicel 3,43 ± 0,05 97,8 ± 3,8

Macroalga 6,09 ± 0,62 42,5 ± 0,2

Chlorella sp. 0,751 ± 0,033 1,05 ± 0,01

C. sorokiniana 1,11 ± 0,12 1,99 ± 0,25

M. homosphaera 1,34 ± 0,07 1,73 ± 0,04

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Como as celuloses não foram hidrolisadas em níveis significativos pelo

método de Northcote, o conteúdo de amido das microalgas utilizadas foi

determinado e as biomassas, após hidrólise do amido, foram caracterizadas de

forma a se estudar melhor seus polissacarídeos estruturais. Como mostrado na

Tabela 8, o teor de glicose presente após a remoção do amido foi reduzido

drasticamente, de 7,00 %, 28,0 % e 73,0 %, para 0,751 %, 1,10 % e 1,34 %, quando

usado o método de Northcote, e 1,05 %, 1,99 % e 1,73 %, quando quantificado pelo

método NREL, para as microalgas Chlorella sp., C. sorokiniana e M. homosphaera,

respectivamente.

Houve uma diferença significativa entre os teores de glicose determinados por

ambos os métodos, com o método de Northcote resultando em teores de glicose 28

%, 44 % e 22 % inferiores aos do método NREL para Chlorella sp., C. sorokiniana e

M. homosphaera, respectivamente, após a hidrólise do amido. Essa diferença foi

mascarada pela presença de amido na caracterização das células íntegras, já que

esse polissacarídeo é totalmente hidrolisado por ambos os métodos e representa

cerca de 85 % ou mais do total de glicose nas células. Esse resultado sugere a

hidrólise de um polissacarídeo mais recalcitrante pelo método NREL.

A glicose encontrada após hidrólise do amido pode ser advinda do amido

residual que as amilases não foram capazes de acessar devido a células não

rompidas ou do conteúdo de glicose presente na matriz da parede celular. Uma

pesquisa mais aprofundada é necessária para identificar a fonte da glicose

hidrolisada apenas pelo método NREL.

A presença de celulose na parede celular rígida de espécies de Chlorella é

um assunto controverso (BLANC et al., 2010). No entanto, alguns trabalhos, como o

de CHEN et al. (2016), afirmam incorretamente que toda a glicose encontrada após

a hidrólise ácida de microalgas do gênero Chlorella é derivada de celulose, sem

levar em consideração a presença de amido.

Diversos trabalhos de hidrólise enzimática fortalecem a ideia de que a

celulose não está presente em quantidades expressivas em espécies de Chlorella.

MAHDY et al. (2014) utilizaram preparações enzimáticas ricas em celulases ou

proteases como pré-tratamento para a digestão anaeróbica de Chlorella vulgaris,

encontrando melhores resultados após tratamento com proteases. Outro estudo com

C. vulgaris demonstrou que a alga utilizada não foi suscetível ao tratamento com

celulase, obtendo-se os melhores rendimentos de hidrólise com pectinases (KIM et

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al., 2014). GERKEN et al. (2013) estudaram o impacto da adição de diversas

enzimas no cultivo em placa de 14 espécies de Chlorella. Somente C. emesonii

mostrou sensibilidade à presença de celulases, porém seu crescimento não foi

totalmente inibido por essas enzimas. No entanto, ao adicionar celulase juntamente

com lisozima, que atua na degradação de polímeros formados por glucosaminas, as

células de C. vulgaris se tornaram mais irregulares do que com a adição de apenas

lisozima. Os autores concluem que a celulose não apresenta um papel importante

na integridade da parede celular dessa alga, porém uma pequena quantidade de

celulose pode estar presente nessa estrutura.

A parede celular de microalgas foi descrita como representando apenas de 3

a 6 % da massa seca total da célula (TAKEDA, 1991). Portanto, mesmo que

presente, a celulose somente poderia contribuir com uma pequena porcentagem da

massa seca das células, não podendo resultar em teores altos de glucana de 20 %

ou mais, como comumente reportados para algas do gênero Chlorella (FU et al.,

2010; ZHENG et al., 2012). Essa pequena porcentagem é confirmada em alguns

trabalhos de caracterização da parede celular de espécies de Chlorella. CHENG et

al. (2013) caracterizaram a parede de C. variabilis e concluíram que a contribuição

de glicose em polissacarídeos estruturais corresponde a menos de 5 % da massa

seca da célula, enquanto MAKOOI et al. (1976) reportaram conteúdos de "celulose"

(glucana) de no máximo 2,5 % em uma espécie de Chlorella.

5.2.3 Considerações finais

Para o acompanhamento do crescimento de C. sorokiniana, optou-se por

utilizar a densidade ótica a 680 nm, comprimento de onda amplamente reportado na

literatura. No entanto, para quantificação da massa celular obtida ao final do cultivo,

conclui-se ser necessário o uso da técnica de peso seco.

Quanto à caracterização do teor de carboidratos, o método de Northcote

apresentou boa correlação com o método NREL, usualmente utilizado em

caracterizações de microalgas. Esse método se mostrou adequado para

polissacarídeos mais facilmente hidrolisáveis, apresentando menores rendimentos

para polímeros de glicose recalcitrantes. Como a microalga selecionada, Chlorella

sorokiniana, se mostrou adequadamente caracterizada pelo método de Northcote

modificado, esse método foi adotado pelo restante do trabalho devido à sua

flexibilidade e uso reduzido de amostra.

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5.3 Estudo do cultivo de Chlorella sorokiniana

5.3.1 Estudo da influência da frequência de agitação no crescimento de C.

sorokiniana

Com o objetivo de aumentar a velocidade de crescimento da microalga C.

sorokiniana e reduzir o tempo de cultivo para acúmulo de amido, inicialmente de 30

dias, foram realizados cultivos nas mesmas condições anteriores, porém em

diferentes frequências de agitação. Na Figura 28 apresenta-se os perfis de

crescimento obtidos para os primeiros dias de cultivo.

Pode-se observar que o aumento da frequência de agitação favoreceu a

transferência de massa no meio com consequente aumento da taxa específica de

crescimento, resultando em taxas específicas de 0,306, 0,516 e 0,756 d-1 para as

rotações de 175, 200 e 225 rpm, respectivamente. Esse comportamento sugere que

a disponibilidade de CO2 era limitante nas condições de menor rotação.

Em vista desses resultados, a rotação de 225 rpm foi selecionada para a

continuidade dos experimentos de cultivo da microalga Chlorella sorokiniana. A

influência do uso de aeração ativa para suprimento de CO2 no crescimento dessa

microalga deve ser alvo de estudos futuros visando a otimização das condições de

cultivo, que estão além do escopo desse trabalho.

Figura 28. Perfil de crescimento de Chlorella sorokiniana a 175 rpm, 200 rpm e 225 rpm durante 10 dias de cultivo.

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5.3.2 Cinética de acúmulo de carboidratos em C. sorokiniana

A evolução da massa seca e o perfil de acúmulo de glicose (amido) foram

avaliados a 225 rpm durante 25 dias, conforme ilustrado na Figura 29. Estes

resultados foram comparados com o consumo de nitrato e fosfato, apresentado na

Figura 30, de forma a correlacionar a depleção de algum desses nutrientes com o

acúmulo de amido.

Figura 29. Teor de glicose (cinza claro) e massa seca (cinza escuro) de C. sorokiniana em diferentes dias de cultivo a 225 rpm

Pode-se observar na Figura 29 que a massa seca da microalga apresentou

um aumento gradual entre os dias 3 e 17, com um aumento mais acentuado entre os

dias 17 e 20 de cultivo. Já o teor de glicose apresentou um ligeiro aumento entre os

primeiros dias de cultivo, com uma aceleração a partir do 13° dia. Ambos os

parâmetros alcançaram seus valores máximos no 20° dia de cultivo, sem diferença

estatística com os valores obtidos no 25° dia. Portanto, com o aumento da

frequência de agitação, foi possível reduzir o tempo de cultivo de 30 para 20 dias,

resultando em um aumento de produtividade de 40 % (24 mg.L-1.dia-1 a 175 rpm

para 34 mg.L-1.dia-1 a 225 rpm).

O aumento acentuado do teor de amido a partir do 13° dia de cultivo pode ser

correlacionado com a depleção de nitrato no meio de cultivo; a concentração desse

nutriente medida no meio de cultivo nesse mesmo dia foi igual a 0,02 g.L-1, indicando

que mais de 90 % da concentração inicial havia sido consumida (Figura 30). A

composição de nitrogênio elementar de C. sorokiniana foi reportada com valores

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entre 6 % e 9 % para células com conteúdo de carboidratos similar ao do presente

estudo (KUMAR et al., 2014; LORENTE et al., 2015). Portanto, a partir de uma

concentração inicial de 0,25 g.L-1 de NaNO3 (0,04 g.L-1 de nitrogênio), seria possível

produzir entre 0,44 g.L-1 e 0,67 g.L-1 de biomassa, resultado próximo ao encontrado

nesse estudo, confirmando que, de fato, todo o nitrogênio inicialmente disponível foi

consumido pela microalga.

A depleção tanto de fósforo como de enxofre também são reportadas como

responsáveis pelo acúmulo de amido em microalgas (BRÁNYIKOVÁ et al., 2011). A

concentração de fosfato no meio de cultivo utilizado apresentou uma leve redução

inicial, porém, a partir do 5° dia, manteve-se constante, em torno dos 0,15 g.L-1

(Figura 30). O fósforo representa uma pequena porcentagem da massa seca celular

de microrganismos e, portanto, era esperado que a microalga não consumisse os

0,25 g.L-1 iniciais de fosfato presentes no meio de cultivo. O excesso de fosfato

explica-se pela função tamponante que os dois sais de fosfato apresentam no meio

de cultivo, e cuja depleção poderia levar a uma mudança acentuada no pH do meio.

Entretanto, mesmo sem a depleção dos sais de fosfato, foi observada uma variação

no pH do cultivo, de 6,5 inicialmente até 9,5 nos primeiros 13 dias de cultivo,

baixando para 8,5 nos dias subsequentes.

Figura 30. Perfil de consumo de fosfato, consumo de nitrato e pH durante o cultivo de Chlorella sorokiniana a 225 rpm.

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A concentração de enxofre não foi acompanhada durante o cultivo. No

entanto, a composição elementar de enxofre de C. sorokiniana é reportada entre

0,46 % e 0,77 % (KUMAR et al., 2014; LORENTE et al., 2015). A concentração de

enxofre inicial do meio de cultivo utilizado foi em torno de 0,01 g.L-1, porém somente

0,005 g.L-1 seriam necessários para alcançar uma produção de biomassa de 0,7

g.L-1, levando-se a crer que o enxofre, assim como o fósforo, também está presente

em excesso no meio e, portanto, não foi responsável pelo acúmulo de amido.

5.3.3 Influência dos componentes do meio de cultivo no acúmulo de amido

por C. sorokiniana

O valor máximo obtido de teor de amido para Chlorella sorokiniana nas

condições utilizadas foi próximo a 30 % e esse acúmulo foi correlacionado à

depleção de nitrogênio do meio, condição já amplamente reportada como sendo

responsável por esse fenômeno.

Visando uma maximização do teor de amido intracelular, realizou-se um

estudo da composição do meio de cultivo de forma a verificar a necessidade dos

componentes do meio original e o impacto de cada um no acúmulo de amido. Os

perfis de crescimento obtidos em 3 condições (descritas no item 4.5) estão

apresentados na Figura 31. Apesar de 225 rpm ter sido escolhida como a melhor

frequência de agitação, esses experimentos foram realizados em etapa anterior, na

frequência de 200 rpm, quando a mesma estava sendo avaliada.

Pode-se observar que tanto o meio controle quanto o meio com

macronutrientes e ferro apresentaram perfis de crescimento similares, enquanto que

o meio sem os elementos-traço apresentou um crescimento inicial mais lento, apesar

de ter alcançado o mesmo patamar dos demais próximo ao 15º dia de cultivo.

Ambos os meios modificados não apresentavam os elementos-traços, portanto o

menor crescimento observado não pode ser atribuído à ausência dos mesmos. No

entanto, o meio sem elementos-traço apresentava EDTA na mesma quantidade que

o meio controle, porém com menos espécies químicas a serem queladas. Portanto,

o EDTA, agora em excesso, pode ter se ligado a outras espécies, antes livres,

minimizando sua disponibilidade no meio e reduzindo assim a velocidade de

crescimento da microalga.

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A influência da concentração de EDTA e da ausência de ferro no crescimento

de C. sorokiniana pode ser observada na Figura 32 a partir dos resultados obtidos

com diferentes meios de cultivo, descritos no item 4.5.

As células cultivadas no meio 2, contendo apenas os macronutrientes,

apresentaram um crescimento inicial satisfatório, porém atingiram a fase

estacionária na metade do tempo das demais, resultando em um crescimento 60 %

menor. Essas células também apresentaram a menor massa seca e o menor teor

em glicose ao final do cultivo, confirmando a necessidade do acréscimo de ferro ao

meio de cultivo (Figura 32). A deficiência de ferro pode causar redução tanto na

atividade fotossintética quanto na respiratória, uma vez que esse metal atua no

Figura 31. Perfil de crescimento celular de Chlorella sorokiniana a 200 rpm em meio original contendo todos os componentes (Controle), meio original sem elementos-traço (Zn, Mn, Mo, Cu e Co) e meio contendo apenas macronutrientes acrescidos de ferro (sem EDTA, boro e elementos-traço).

Figura 32. Massa seca (pontos) e teor de glicose (colunas) obtidos após 20 dias de cultivo de Chlorella sorokiniana a 200 rpm em diferentes meios: 1 - meio original; 2 - apenas macronutrientes; 3 - meio 2 + solução de ferro; 4 - meio 3 + EDTA 0,05 g.L-1; 5 - meio 3 + EDTA 0,025 g.L-1.

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transporte de elétrons em ambas as vias metabólicas, levando a um menor

crescimento celular e menor acúmulo de amido (BRIAT et al., 2007).

As células cultivadas nos demais meios contendo ferro apresentaram massa

seca e teor de glicose próximos, entre 0,67 e 0,72 g.L-1 e 23 % e 26%,

respectivamente, sem diferenças significativas (p>0,05). Porém, as células

cultivadas no meio 4, contendo os macronutrientes acrescidos de ferro e EDTA na

concentração original, apresentaram a menor taxa específica de crescimento (0,166

d-1), confirmando a observação anterior de que o EDTA, presente na concentração

original em um meio com menos espécies químicas, retardaria o crescimento celular.

O meio 5, contendo a metade da concentração de EDTA do meio 4, apresentou uma

taxa de crescimento significativamente maior (0,331 d-1), porém ainda menor do que

a taxa obtida com o meio original (0,428 d-1). Apesar de o meio 3, sem EDTA, ter

apresentado a maior taxa específica de crescimento (0,506 d-1) e teor de glicose

satisfatório, é recomendado manter esse componente no meio de cultivo devido a

seu papel na manutenção dos componentes do meio solubilizados, impedindo sua

precipitação e dificuldade de assimilação pelas células. No entanto, comprovou-se

que sua concentração deve ser correlacionada com a quantidade de nutrientes

dissolvidos no meio, evitando que o agente quelante retarde o crescimento da

microalga de interesse, deixando-a mais vulnerável a contaminações.

O cultivo que serviu de pré-inóculo para os experimentos com meios

modificados foi realizado no meio controle contendo todos os nutrientes. De forma a

minimizar a interferência desses componentes nos resultados obtidos com as

modificações do meio, as células do meio controle foram centrifugadas e o

sobrenadante foi descartado antes da inoculação nos meios modificados. Mesmo

sem essa interferência, os meios que não continham boro e elementos-traço

apresentaram o mesmo crescimento que o meio completo. Portanto, as quantidades

necessárias desses nutrientes de forma a manter o crescimento saudável de C.

sorokiniana são muito inferiores às acrescentadas ao meio de cultivo original. Esses

resultados indicam que C. sorokiniana é uma espécie com baixa exigência

nutricional, tornando-a interessante para cultivo em um contexto industrial. Um

estudo mais aprofundado deve ser conduzido de forma a determinar a real

necessidade desses nutrientes no metabolismo de C. sorokiniana, evitando-se

gastos desnecessários com nutrientes em cultivos de maior escala.

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Apenas o meio de cultivo com deficiência em ferro resultou em uma mudança

significativa, porém negativa, no teor de amido final de C. sorokiniana. Portanto, em

seguida buscou-se estudar a influência dos macronutrientes no acúmulo de amido e

os resultados obtidos estão apresentados na Figura 33.

Foi observado que a ausência de cloreto de cálcio não afetou o acúmulo de

amido por C. sorokiniana e nem o seu crescimento nos primeiros 10 dias de cultivo,

uma vez que tanto os resultados de massa seca quanto de teor de glicose obtidos

nessa condição (0,28 g.L-1 e 7,1 %, respectivamente) foram similares aos obtidos

com o meio controle (0,27 g.L-1 e 7,5 %, respectivamente). No entanto, o

prolongamento do tempo de cultivo resultou em uma massa seca 27 % e um

acúmulo de amido 19 % menor no meio de cultivo sem cloreto de cálcio em

comparação ao meio controle, indicando que esse nutriente é necessário, porém

aparenta estar em excesso no meio original.

A retirada dos demais nutrientes exerceu efeito significativo tanto na massa

seca quanto no teor de glicose obtidos. A retirada do nitrato de sódio resultou em um

crescimento praticamente nulo após 10 dias, não sendo possível obter biomassa

suficiente para a caracterização quanto ao teor de glicose. Esse resultado indica

que, se a depleção de nitrogênio é a estratégia a ser adotada para acúmulo de

amido, ela deve ser obtida pela extensão do tempo de cultivo de forma a permitir

que as células consumam todo o nitrogênio disponível, apresentando assim um

Figura 33. Massa seca (pontos) e teor de glicose (colunas) obtidos após 10 dias de cultivo de Chlorella sorokiniana a 225 rpm em diferentes meios: meio C - meio controle contendo todos os nutrientes; meio P - meio C sem os sais de fosfato; meio S - meio C sem o sulfato de magnésio; meio Ca - meio C sem o cloreto de cálcio.

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crescimento satisfatório, e depois iniciem a fase de acúmulo mais acentuado de

amido após a depleção do nitrogênio. Não é recomendado utilizar uma restrição de

nitrogênio inicial, uma vez que o crescimento celular está diretamente ligado à sua

presença e essa estratégia resultaria em um crescimento celular baixo.

A microalga apresentou crescimento tanto no meio em que foi retirado o

fosfato quanto no meio sem sulfato de magnésio, apesar de a massa seca

alcançada nesses meios ter correspondido a apenas 68 % e 51 %, respectivamente,

da alcançada no meio controle. No entanto, o teor de glicose nesses meios

apresentou um aumento de 2,4 e 3,5 vezes em relação ao controle, alcançando 18

% e 27 % para os meios sem fósforo e sem sulfato de magnésio, respectivamente,

indicando que de fato esses macronutrientes podem ser associados ao acúmulo de

amido em C. sorokiniana e que sua ausência, apesar de afetar negativamente o

crescimento celular, não resulta em um crescimento nulo. Portanto, a concentração

desses nutrientes no meio de cultivo deve ser investigada de forma a se obter um

balanço entre crescimento celular satisfatório e acúmulo de amido.

Diversas microalgas já foram descritas como capazes de acumular fosfato na

forma de grânulos de polifosfato. Esse acúmulo pode acontecer tanto em resposta a

um período de falta de fosfato como também pela presença de uma alta

concentração de fosfato no meio de cultivo (EIXLER et al., 2006). Portanto, a maior

massa seca obtida no cultivo sem fosfato pode ser resultante de um consumo inicial

da reserva intracelular de fosfato. Após seu esgotamento, as células teriam iniciado

o processo de acúmulo de amido, porém com alguns dias de atraso em relação às

células com deficiência em sulfato de magnésio, e por isso teriam apresentado um

menor teor de amido.

De um modo geral, resultados similares foram reportados para Chlorella sp.

cultivada em ausência de nitrato, fosfato e sulfato (BRÁNYIKOVÁ et al., 2011). As

células cultivadas em ausência de nitrato não apresentaram aumento da massa

seca inicial, enquanto que as células cultivadas tanto em ausência de sulfato quanto

de fosfato apresentaram crescimento, apesar de discreto. No entanto, os autores

observaram que a falta de sulfato resultou em um crescimento superior do que a

ausência de fosfato, resultado inverso ao encontrado no presente estudo. Também

foram observadas diferenças mais acentuadas entre o teor de amido no presente

trabalho do que as reportadas pelos autores. Possivelmente espécies diversas

apresentam respostas diferentes frente à falta de algum nutriente no meio de cultivo.

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Mesmo após as diferentes modificações realizadas no meio de cultivo, o valor

máximo de teor de glicose obtido permaneceu um pouco abaixo de 30 %. Assim,

uma última estratégia foi testada visando aumentar esse teor com base em dados

reportados na literatura indicando que a transferência de células cultivadas em

meios plenos de nutrientes para um meio deficiente em nitrogênio (DRAGONE et al.,

2011) ou para água deionizada (HO et al., 2013) resulta em um maior acúmulo de

carboidratos. Portanto, células colhidas no início do cultivo e que apresentavam

baixo conteúdo de amido (em torno de 8 %) foram transferidas para um meio

completo sem nitrato de sódio ou para água deionizada e seu conteúdo de amido foi

acompanhado. Estes resultados estão apresentados na Figura 34.

Pode-se observar que ambas as condições resultaram em teores de glicose

finais iguais de 28 %. No entanto, as células transferidas para a água deionizada

acumularam amido mais rapidamente do que as células transferidas para o meio

completo sem nitrato. Esse resultado indica um possível efeito sinérgico entre as

diferentes depleções nutricionais que acionam o mecanismo de acúmulo de amido

em C. sorokiniana. Um período de cultivo maior do que 2 semanas levou à redução

dos teores de amido em ambas as condições, indicando uma possível mudança de

metabolismo do acúmulo de amido para o acúmulo de lipídeos (LI et al., 2015).

5.3.4 Comparação com dados da literatura

Segundo resultados do presente estudo e dados reportados na literatura para

a microalga C. sorokiniana (KOBAYASHI et al., 2013; KUMAR et al., 2014; LI et al.,

Figura 34. Teor de glicose acumulado por células de C. sorokiniana cultivadas em água deionizada (cinza claro) ou meio completo sem nitrato de sódio (cinza escuro) após diferentes períodos. O inóculo foi feito com uma cultura cultivada em meio completo e colhida antes que o nitrogênio fosse totalmente consumido, apresentando um teor de glicose de 8 %.

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2015; TAKESHITA et al., 2014), pode-se concluir que essa microalga apresenta um

limite de acúmulo de amido próximo a 30 %, a partir do qual o teor de amido começa

a diminuir se a situação de estresse for prolongada. Na melhor condição de acúmulo

de amido encontrada, essa microalga apresentou um teor de carboidratos totais de

35 % (28 % de amido), um teor de proteínas de 26 % e um teor de lipídeos de 21 %

(m/m) em base seca.

Na Tabela 9 apresenta-se resultados reportados na literatura quanto ao teor

de carboidratos, lipídeos e proteínas presentes em diversas espécies de microalgas.

Comparando-se os resultados obtidos no presente estudo com a microalga C.

sorokiniana com os dados reportados na Tabela 9 para o acúmulo de carboidratos

em microalgas, pode-se concluir que essa espécie apresenta um bom potencial para

acúmulo de amido, apesar de outras microalgas serem capazes de acumular teores

superiores. No entanto, microalgas que apresentam teores de amido superiores a 30

% apresentam teores reduzidos de proteínas ou lipídeos. Em um contexto de

biorrefinaria, em que se deseja obter diversos produtos a partir de uma mesma

matéria-prima, uma composição balanceada de proteínas, lipídeos e carboidratos,

como a apresentada por C. sorokiniana nas condições utilizadas no presente estudo,

pode vir a ser economicamente mais atrativa. O açúcar poderia ser recuperado para

produção de commodities, enquanto que os lipídeos e as proteínas poderiam

originar produtos com maior valor agregado.

Tabela 9. Teor de carboidratos (teor de amido apresentado em parêntesis), lipídeos e proteínas de diversas espécies de microalgas

Espécie Carboidratos

(amido) (%)

Lipídeos

(%)

Proteínas

(%) Referência

Arthrospira platensis ~ 60 ~ 5 ~ 25 MARKOU et al., 2013

Chlamydomonas fasciata n.d. (43,5) n.d. 30,4 ASADA et al., 2012

Chlamydomonas

reinhardtii 59,7 (43,6) n.d. 9,2 CHOI et al, 2010a

Chlorella variabilis 53,9 (37,8) 24,7 19,8 CHENG et al., 2013

Chlorella vulgaris 50,4 (31,3) 11,6 23,3 HO et al., 2013

Dunaliella salina 32 6 57 BECKER, 2007

Mychonastes

homosphaera 60 (55) 26 6 Dados internos

Chlorella sorokiniana 35 (28) 21 26 Presente estudo

n.d. - não determinado

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5.3.5 Considerações finais

Foi possível aumentar a produtividade em biomassa seca de C. sorokiniana

pelo ajuste da frequência de agitação, o que indica que maiores produtividades

podem ser alcançadas em um sistema com aeração ativa e um design mais

apropriado para cultivo de microalgas.

Os resultados obtidos indicam que o meio para cultivo de C. sorokiniana

utilizado inicialmente apresenta nutrientes em excesso que podem ser retirados ou

ter sua concentração reduzida sem comprometer o crescimento celular. O acúmulo

de amido pelas células nas condições de cultivo utilizadas foi correlacionado à

depleção de nitrogênio no meio, apesar de ter sido comprovada que a ausência

tanto dos sais de fosfato quanto de enxofre também pode levar a um maior acúmulo

de amido pela microalga.

O máximo teor de glicose alcançado para C. sorokiniana em todas as

condições testadas foi em torno de 30 %, o que, juntamente com dados da literatura,

leva a crer que esse é o limite biológico da microalga estudada. Essa microalga

apresentou uma composição balanceada de carboidratos, proteínas e lipídeos, o

que é uma característica interessante para o processamento em uma biorrefinaria.

5.4 Processamento de Chlorella sorokiniana em um contexto de biorrefinaria

5.4.1 Hidrólise enzimática de Chlorella sorokiniana

A hidrólise enzimática de C. sorokiniana foi investigada com o objetivo de

recuperar, na forma de um xarope de glicose, o amido acumulado intracelularmente

por essa microalga. Essa glicose pode ser utilizada em processos posteriores para

produção de diversas moléculas de interesse (BOZELL e PETERSEN, 2010).

Uma etapa inicial necessária para o processo é o rompimento da parede

celular de forma a permitir que as amilases tenham acesso ao amido intracelular.

Conforme os resultados de caracterização dos carboidratos de C. sorokiniana (item

5.2.2), a celulose, se presente, é um componente minoritário da parede celular

dessa microalga e, portanto, a hidrólise apenas com celulases pode não ser efetiva.

A parede celular de microalgas do gênero Chlorella já foi hidrolisada com enzimas

como pectinases (KIM et al., 2014), quitinases (GERKEN et al., 2013) e proteases

(MAHDY et al., 2016). Com base nesses dados, foi utilizada inicialmente uma

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mistura enzimática composta pelos sobrenadantes do cultivo dos fungos

filamentosos Trichoderma reesei e Aspergillus awamori. T. reesei é comumente

utilizado para produção de celulases, enquanto que fungos do gênero Aspergillus

apresentam alta produção de amilases; no entanto, ambos os fungos são capazes

de produzir proteases (KREDICS et al., 2005; NEGI e BANERJEE, 2009),

pectinases (OLSSON et al., 2003; BOTELLA et al., 2007) e quitinases (SEIDL et al.,

2005; AWAD et al., 2014).

5.4.1.1 Redução do volume de hidrólise

Devido à pequena quantidade de biomassa produzida em cada batelada, foi

feito um estudo de redução da escala de hidrólise, comparando-se os resultados

obtidos em frascos agitados com 12,5 mL de volume útil com os alcançados em

tubos tipo Eppendorf® com 1,25 mL de volume útil. A escolha de uma carga de

sólidos de 1 % (m/m) foi igualmente motivada pela quantidade reduzida de biomassa

disponível. Os perfis de hidrólise encontrados estão apresentados na Figura 35.

Ambas as condições presentes na Figura 35 apresentaram o mesmo perfil de

hidrólise enzimática, com a condição de menor volume resultando em rendimentos

ligeiramente superiores, porém sem diferença estatisticamente significativa entre os

rendimentos finais. Portanto, os experimentos subsequentes foram realizados na

menor escala avaliada, a não ser quando explicitado o contrário.

Figura 35. Perfil de hidrólise enzimática de C. sorokiniana em frascos agitados contendo 12,5 mL e eppendorfs contendo 1,25 mL.

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5.4.1.2 Hidrólise enzimática de células liofilizadas

O primeiro aspecto investigado relativo à hidrólise enzimática da fração de

carboidratos de C. sorokiniana foi a possibilidade de rompimento de sua parede

celular pela ação de enzimas. Para tal, foram utilizadas células após liofilização e

misturas enzimáticas produzidas por dois fungos filamentosos: Trichoderma reesei

Rut C-30, produtor de celulases, e Aspergillus awamori, produtor de β-glicosidases e

amilases. Foram utilizadas inicialmente cargas enzimáticas de celulases e β-

glicosidases usualmente utilizadas na hidrólise de materiais celulósicos (20 FPU/g

de glucana e 60 BGU/g de glucana). A Tabela 10 contém as atividades de celulases,

β-glicosidases e amilases presentes em cada experimento e a Figura 36 apresenta

os perfis de hidrólise encontrados para cada preparado enzimático utilizado.

Tabela 10. Atividades de celulases totais (FPU), β-glicosidases (BGU) e amilases (AMU) por grama de glucana utilizadas nos experimentos de hidrólise. As diferentes atividades foram obtidas a partir dos sobrenadantes dos fungos Trichoderma reesei Rut C-30 (Rut) e Aspergillus awamori (Awa).

FPU BGU AMU

U/g glucana

Awa 0,4 60,0 540,0

Rut 20,0 2,9 4,8

Rut + Awa 20,4 62,9 544,8

Rut AMU* 2240,5 319,3 540,0 * preparado enzimático idêntico ao Rut, porém utilizado em maior volume de forma a resultar na mesma atividade de AMU que o preparado Awa

Figura 36. Perfil de hidrólise enzimática de células liofilizadas de C. sorokiniana com enzimas produzidas pelos fungos T. reesei (Rut) e A. awamori (Awa) a 50 °C, pH 4,8. O controle corresponde às mesmas condições de hidrólise, porém sem adição de enzimas.

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O ensaio contendo o sobrenadante do fungo T. ressei (Rut) não apresentou

diferença estatística quando comparado ao controle. Adicionalmente, o ensaio

contendo sobrenadantes de ambos os fungos (Rut + Awa) apresentou o mesmo

perfil de hidrólise do ensaio contendo apenas o sobrenadante do fungo A. awamori

(Awa), indicando que apenas as enzimas de A. awamori foram capazes de atuar na

hidrólise da microalga. Pode-se concluir, portanto, que a hidrólise observada não foi

resultante da ação de celulases, uma vez que as enzimas de A. awamori não

apresentam atividade celulolítica expressiva.

De forma a confirmar se a glicose liberada era resultado da ação de amilases,

foi conduzido um ensaio contendo um volume maior de enzimas de T. reesei (Rut

AMU) a fim de se obter a mesma atividade de amilase apresentada no ensaio com

as enzimas de A. awamori (Figura 36). Não foi encontrada diferença

estatisticamente significativa entre os rendimentos de hidrólise em ambas as

condições, o que indica que a glicose foi de fato liberada pela ação de amilases.

As células hidrolisadas foram observadas em microscópio ótico. O tingimento

com iodo permitiu identificar a presença de amido intracelular nas células pós-

hidrólise (Figura 37). No entanto, diversas células sem tingimento foram observadas,

sendo essas provavelmente a fonte do amido que foi hidrolisado. Não foi observado

nenhum rompimento celular significativo, porém nenhum teste foi feito para

comprovar essa observação.

Apesar de haver sido observada liberação de glicose com as enzimas

utilizadas na hidrólise das células liofilizadas, os rendimentos finais em glicose foram

baixos, alcançando-se um máximo de 23 %. Este rendimento foi similar ao reportado

por LEE et al. (2015), que alcançaram um rendimento final de 27,4 % para células

íntegras de Chlorella sp..

Figura 37. Microscopia ótica de células liofilizadas de C. sorokiniana tingidas com iodo após 24 horas de hidrólise com enzimas de A. awamori.

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Existem poucos estudos sobre o efeito do processo de liofilização na estrutura

de microalgas; no entanto, alguns estudos reportam o declínio da eficiência de

extração de lipídeos em algas liofilizadas (CRAMPON et al., 2013; MOUAHID et al.,

2013). Portanto, a liofilização também poderia exercer um efeito negativo sobre a

hidrólise devido a mudanças estruturais na parede celular. A hidrólise enzimática,

nas mesmas condições utilizadas para as células liofilizadas, foi conduzida em

células frescas logo após a colheita, sem nenhum método de secagem prévio. Os

rendimentos obtidos com as células frescas foram inferiores aos obtidos com as

células liofilizadas (11,5 % e 22,0 %, respectivamente), indicando que a parede

celular de C. sorokiniana, mesmo sem liofilização, não é hidrolisável pelos

preparados enzimáticos utilizados. Esse resultado também indica que a liofilização

auxilia no rompimento de algumas células, possivelmente pela formação de cristais

de gelo intracelulares, que podem causar danos à parede celular.

A formação de protoplastos (células sem parede celular) de C. sorokiniana foi

investigada por RUSSELL (1995). A autora avaliou a resistência da parede celular

dessa espécie frente à atuação de diferentes enzimas e concluiu que a presença de

rhamnose e de proteínas na parede celular era o fator aparentemente responsável

pela recalcitrância dessa parede. Em um estudo mais recente sobre a hidrólise da

parede celular de C. sorokiniana, YIN et al. (2010) demonstraram ser possível o

rompimento dessa estrutura por um preparado enzimático produzido por uma

bactéria do gênero Cellulomonas. Apesar de o estudo enfatizar a atuação de

celulases como responsável pelo rompimento da parede, a presença de proteases

foi identificada no preparado utilizado pelos autores e a concentração de proteínas

no hidrolisado foi cerca de 10 vezes maior do que a de açúcares redutores. Esses

resultados indicam que as proteases, ao invés das celulases, foram mais

importantes no rompimento da parede celular de C. sorokiniana.

Portanto, proteases parecem ser necessárias para a ruptura das células de C.

sorokiniana de forma a possibilitar que as amilases tenham acesso ao amido

intracelular. Apesar de ambos os fungos estudados serem reportados como

produtores de proteases, as condições em que essas enzimas são secretadas em

quantidades expressivas podem não corresponder às condições selecionadas para

a produção das enzimas utilizadas no presente trabalho. Ademais, a hidrólise da

fração proteica de C. sorokiniana de forma a liberar o amido intracelular não estaria

de acordo com os objetivos desse estudo. Se a hidrólise de proteínas ocorresse, os

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aminoácidos seriam solubilizados em conjunto com a glicose, necessitando-se uma

etapa adicional de separação de forma a se aproveitar a fração proteica como

suplemento nutricional.

5.4.1.3 Hidrólise enzimática de células moídas

Uma vez que as enzimas testadas não foram eficazes no rompimento da

parede celular de C. sorokiniana, foi empregado um tratamento físico de moagem

para ruptura dessa estrutura e exposição do amido intracelular à ação das enzimas.

De forma a verificar a eficiência da moagem como método de ruptura, foi feita a

contagem de células antes e após a passagem pelo moinho vibratório e observação

em microscópio (Figura 38). Apenas poucas células íntegras foram verificadas após

a moagem, resultando em uma eficiência de ruptura acima de 99 %.

Figura 38. Microscopia ótica de células liofilizadas e moídas de C. sorokiniana. A seta vermelha destaca uma das poucas células íntegras que foram encontradas

A Figura 39 apresenta os rendimentos de hidrólise das células moídas obtidos

com os preparados enzimáticos de T. reesei e A. awamori com as mesmas

atividades reportadas na Tabela 10. Novamente foram observados perfis similares

para as hidrólises conduzidas com a mistura dos sobrenadantes de ambos os

fungos (Rut + Awa) e com apenas as enzimas de A. awamori (Awa). No entanto, os

rendimentos obtidos apenas com as enzimas de T. reesei (Rut) foram superiores aos

observados no experimento controle para as células moídas. Esse aumento pode

ser relacionado a uma maior disponibilidade de substrato com as células moídas,

permitindo que a reduzida atividade de amilase presente no preparado de T. reesei

resultasse em uma liberação de glicose mais expressiva do que quando utilizou-se

células não moídas.

Observou-se que as celulases também não apresentaram atuação expressiva

na hidrólise das células moídas, uma vez que novamente encontrou-se resultados

similares para as misturas enzimáticas awa e Rut + awa. Esse resultado pode ter

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duas implicações: (i) presença de um teor reduzido de celulose na camada interna

da parede celular; (ii) presença de uma parede celular que corresponda a um

percentual mínimo da massa total da célula. Ambas as implicações corroboram os

resultados de caracterização que indicaram um teor reduzido de celulose em relação

à massa total celular.

Com o rompimento da parede celular por moagem, foi possível alcançar uma

alta conversão de amido em glicose, com rendimentos de 90 % após apenas 6 horas

de hidrólise. Esse resultado indica que o preparado enzimático de A. awamori é

eficiente na hidrólise do amido de C. sorokiniana.

A moagem das células frescas também foi testada de forma a se evitar a

etapa de secagem da biomassa e tornar o processo menos oneroso. No entanto, um

rendimento em glicose de apenas 32 % foi observado para a alga fresca moída. A

observação em microscópico ótico revelou que, após a moagem, a maioria das

células permaneceu íntegra, sem rompimento da parede. A baixa eficiência da

moagem úmida pode ser atribuída ao caráter pastoso das células úmidas, que

promoveu uma redução no coeficiente de atrito entre a bola, a biomassa e a parede

do moinho. Esse fenômeno foi comprovado pela observação de espaços sem

biomassa onde a bola atingiu a parede do moinho.

Figura 39. Perfil de hidrólise enzimática de células moídas de C. sorokiniana, após liofilização, com enzimas produzidas pelos fungos T. reesei (Rut) e A. awamori (Awa) a 50 °C, pH 4,8. O controle corresponde às mesmas condições de hidrólise, porém sem adição de enzimas.

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5.4.1.4 Estudo das condições de hidrólise

Uma vez estabelecido que os melhores resultados de hidrólise foram obtidos

com o uso da microalga seca e moída e que as amilases são as enzimas

responsáveis pela liberação de glicose da biomassa de C. sorokiniana, buscou-se

estabelecer quais seriam as melhores condições operacionais de temperatura, pH e

carga enzimática. A Figura 40 apresenta a variação da atividade enzimática do pool

amilolítico de A. awamori com o aumento da temperatura.

A temperatura em que as amilases de A. awamori apresentaram atividade

máxima foi de 60 °C. Foi observado um aumento constante da atividade entre as

temperaturas de 30 °C e 60 °C e uma queda brusca na atividade em temperaturas

acima de 70 °C, com a atividade próxima a zero a 80 °C devido à desnaturação

proteica.

Na temperatura de maior atividade, foi feita uma avaliação da atividade

amilolítica em diferentes valores de pH, chegando-se a uma atividade máxima em

pH 4,0 (Figura 41). A atividade de amilase foi superior para valores de pH mais

ácidos, com uma queda acentuada em valores de pH maiores do que 5.

Figura 40. Atividade percentual relativa de amilase do preparado enzimático de Aspergillus awamori em diferentes temperaturas e pH 4,8

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Para os ensaios nos quais o amido solúvel foi usado como substrato, o ajuste

das condições de temperatura e pH possibilitou o aumento da atividade enzimática

em até 50 %. Conforme observa-se na Figura 42, o aumento da atividade enzimática

foi também observado na hidrólise do substrato real.

Neste caso, o mesmo volume de enzima alcançou maiores rendimentos nas

condições modificadas (60 °C, pH 4,0) quando comparado com as condições iniciais

(50 °C, pH 4,8).

Após a determinação das condições ideais de pH e temperatura, buscou-se

ajustar a carga enzimática (atividade de amilase por grama de glucana) para a

Figura 42. Atividade percentual relativa de amilase do preparado enzimático de Aspergillus awamori em diferentes pHs a 60 °C

Figura 41. Rendimentos em glicose obtidos após 4 horas de hidrólise de células liofilizadas e moídas de C. sorokiniana com enzimas de A. awamori em diferentes condições de temperatura e pH. Para todos os ensaios, foi utilizado o mesmo volume de preparado enzimático, correspondendo a 540 AMU/g de glucana na condição de 60 °C e pH 4,0.

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hidrólise do amido de C. sorokiniana. Os perfis de hidrólise obtidos com diferentes

concentrações de enzima se encontram na Figura 43.

As três cargas enzimáticas testadas resultaram em um mesmo rendimento

em glicose após 4 horas de hidrólise. No entanto, o aumento de 540 AMU/g de

glucana para 850 AMU/g de glucana traduziu-se em um aumento nas taxas iniciais

de hidrólise, além de possibilitar a redução de pelo menos 1 hora no tempo de

processamento. O aumento da carga enzimática para além de 850 AMU/g glucana

não resultou em um ganho significativo na velocidade de hidrólise.

Com base nestes resultados, a carga de 850 AMU/g de glucana foi escolhida

para os experimentos subsequentes contendo um maior teor de sólidos. Além da

redução do tempo total de hidrólise, essa carga promoveu uma maior velocidade

inicial de hidrólise, característica favorável em hidrólises com altas cargas de sólido,

em que a liquefação inicial da biomassa auxilia na redução da viscosidade do

sistema, permitindo uma melhor homogeneização da mistura (MODENBACH e

NOKES, 2013).

5.4.1.5 Aumento da carga de sólidos

Todos os ensaios anteriores foram realizados com uma carga de sólidos de

1%, em que quase nenhum efeito de resistência quanto ao transporte de massa foi

observado. No entanto, em uma realidade industrial, a carga de sólidos deve ser a

maior possível de forma a gerar uma corrente de saída concentrada no produto de

Figura 43. Perfil de hidrólise enzimática de células liofilizadas e moídas de C. sorokiniana com diferentes concentrações do preparado enzimático de A. awamori a 60 °C e pH 4,0.

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interesse, reduzindo assim os custos de instalação e operação do processo

(Modenbach e Nokes, 2013).

De forma a verificar a influência do aumento da carga de sólidos no

rendimento final de hidrólise, foram realizados ensaios contendo um teor de sólidos

entre 5 % e 30 % (m/m). Para esses ensaios, o volume de hidrólise foi aumentado

para 12,5 mL de forma a permitir uma melhor mistura do sistema e evitar que o

volume reduzido prejudicasse os rendimentos obtidos. Na Figura 44, ilustra-se os

resultados de concentração e rendimento em glicose obtidos após 4 horas de

hidrólise com as diferentes cargas.

Foi possível observar que, com o aumento da concentração de sólidos de 5 %

para 30 % (m/m), o rendimento em glicose final passou de 98 % para 61 % após 4

horas de hidrólise. Apesar da perda de 39 % no rendimento, o aumento da carga de

sólidos possibilitou um aumento da concentração de glicose final de 433 %,

passando de 15 g.L-1 para 80 g.L-1. A queda de rendimento foi mais acentuada entre

25 % e 30 % de sólidos. A condição de 30 % foi a única que apresentou uma

consistência pastosa, com maior resistência ao escoamento. Possivelmente, em

uma configuração de reator com agitação mecânica, seria possível obter

rendimentos mais elevados para a carga de sólidos de 30 % devido a uma melhor

homogeneização e um melhor contato entre enzimas e substrato. Conjuntamente,

esses resultados demonstram a possibilidade de condução da hidrólise de células

Figura 44. Concentração de glicose (colunas) e rendimento em glicose (pontos) obtidos após 4 horas de hidrólise enzimática de células liofilizadas e moídas de C. sorokiniana com enzimas de A. awamori a 850 AMU/g glucana, 60 °C e pH 4,0 com diferentes cargas de sólidos

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moídas de C. sorokiniana em altas cargas de sólidos de forma a se obter uma

corrente concentrada em glicose para posterior processamento.

5.4.1.6 Avaliação da hidrólise do amido de C. sorokiniana

A Tabela 11 apresenta o rendimento em glicose reportado em outros

trabalhos para a hidrólise enzimática de amido de microalgas. Pode-se constatar

uma grande variação nos resultados obtidos por diferentes grupos, sendo reportados

tempos de hidrólise desde 1 hora até 72 horas. Em dois casos, não foram avaliados

tempos menores de hidrólise (MARŠÁLKOVÁ et al., 2010; HO et al., 2013), e um

terceiro utilizou uma mistura enzimática rica em pectinase sem avaliar a atividade de

amilase da mesma, que possivelmente estava em baixa concentração (KIM et al.,

2014).

Tabela 11. Rendimentos em glicose da hidrólise enzimática de microalgas ricas em amido

Microalga Tratamento Carga de

sólidos

Rendimento

em glicose

Referência

Chlorella sp. Moagem 22 g/L 97 % (24 h) MARŠÁLKOVÁ et

al., 2010

Chlorella vulgaris Sonicação/

Autoclave

10 g/L 79 % (24 h) HO et al., 2013

Chlorella vulgaris Moagem 100 g/L 79 % (72 h) KIM et al., 2014

Chlorella sp. Extração de lipídeos 50 g/L 93,4 % (3 h) LEE et al., 2015

Chlamydomonas

reinhardtii

Proteases/

Liquefação

50 g/L 94 %

(30 min)

CHOI et al., 2010

Scenedesmus

dimorphus

Moagem/

Gelatinização

20 g/L 95,8 % (1 h) CHNG et al., 2016

C.sorokiniana Moagem 111 g/L 94 % (4 h) Presente estudo

As concentrações de sólidos utilizadas pelos diferentes grupos variam de 10 a

100 g/L. Portanto, foi escolhida a carga de 10 % (m/m) avaliada no presente estudo

para comparação dos resultados da literatura. O resultado obtido nesse estudo foi

comparável ao reportado por LEE et al. (2015) na hidrólise de células de Chlorella

sp. após extração de lipídeos, conforme apresentado na Tabela 11.

Os outros dois trabalhos apresentados na Tabela 11 realizaram a hidrólise

enzimática com uma etapa de gelatinização ou liquefação anterior, alcançando

rendimentos similares ao presente trabalho, porém em tempos menores (CHOI et al.,

2010; CHNG et al., 2016). A gelatinização consiste em um aquecimento do material

amiláceo de forma a romper a estrutura cristalina do mesmo, tornando a molécula de

amido mais amorfa e mais suscetível à ação enzimática (RATNAYAKE e JACKSON,

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2008). Já a etapa de liquefação consiste em utilizar α-amilase termoestável a altas

temperaturas de forma a reduzir o grau de polimerização do amido. Portanto, a

mistura contendo amiloglucosidases, ao ser adicionada, encontra um material muito

mais facilmente hidrolisável, resultando em tempos reduzidos de processamento.

Os processos de gelatinização e liquefação são tradicionalmente utilizados na

indústria de etanol de milho (SÁNCHEZ e CARDONA, 2008). No entanto, essas

etapas geram desvantagens ao processo, como alto gasto energético com

aquecimento e resfriamento. Uma solução é a hidrólise "fria" do amido, ou seja, em

temperaturas abaixo da temperatura de gelatinização, também denominada de

hidrólise de amido cru (ROBERTSON et al., 2006; CINELLI et al., 2015).

No presente trabalho, a maior temperatura de hidrólise utilizada foi 60 °C,

abaixo das temperaturas de gelatinização reportadas para amidos de microalgas,

que se situam em geral entre 65 °C e 70 °C (DESCHAMPS et al., 2006;

MARŠÁLKOVÁ et al., 2010). A gelatinização de amido de cereais geralmente

também ocorre nessa faixa de temperatura (RATNAYAKE e JACKSON, 2008).

Portanto, pode-se afirmar que, a 50 °C, moléculas de amido, de um modo geral, não

sofrem gelatinização. Como não houve uma diferença muito expressiva entre as

taxas de hidrólise com o aumento da temperatura de 50 °C para 60 °C, pode-se

inferir que as hidrólises conduzidas nesse estudo foram realizadas abaixo da

temperatura de gelatinização do amido de C. sorokiniana. No entanto, não se deve

descartar a possibilidade de uma desestruturação parcial do grânulo do amido a 60

°C (KOUTINAS et al., 2004) , o que poderia explicar o ligeiro aumento na velocidade

de reação a 60 °C quando comparada com a alcançada a 50 °C para uma mesma

carga enzimática.

Mesmo sem a etapa de gelatinização, o amido cru de C. sorokiniana foi

altamente suscetível à hidrólise enzimática pelas enzimas de A. awamori. Esse

fungo já foi reportado como sendo produtor de amilases capazes de hidrolisar

amidos não-gelatinizados (HAYASHIDA, 1975; MATSUBARA et al., 2004;

KOUTINAS et al., 2004; DE CASTRO et al., 2011). Portanto, a alta taxa de hidrólise

encontrada poderia estar associada a três fatores: (i) alta capacidade hidrolítica das

enzimas de A. awamori quando se utiliza amido cru como substrato, (ii)

desestruturação do grânulo de amido pelo tratamento com moagem e (iii) alta

suscetibilidade do amido de C. sorokiniana à hidrólise enzimática. De forma a testar

essas hipóteses, a hidrólise de amido de milho comercial (Maizena®) in natura, após

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gelatinização e após moagem foi comparada com a de células moídas de C.

sorokiniana com a mesma carga de sólidos e os resultados estão apresentados na

Figura 45.

Em relação à hipótese (i), as enzimas de A. awamori foram capazes de

promover apenas a hidrólise parcial do amido de milho cru e, portanto, não

apresentaram alta eficiência para a hidrólise "fria" desse substrato. No entanto, após

a moagem, os rendimentos de hidrólise do amido cru foram muito superiores aos

obtidos com o amido cru, apesar de ligeiramente inferiores aos obtidos com o amido

gelatinizado, alcançando um rendimento final em glicose de 85 % após 90 minutos.

Esse resultado indica que a hipótese (ii) é válida e que a moagem tem efeitos sobre

a estrutura do grânulo de amido, tornando-o mais suscetível à ação enzimática e

com um perfil de hidrólise próximo ao obtido com o amido gelatinizado. De fato, foi

observado que o amido moído apresentou maior solubilidade a frio do que o amido

in natura.

O efeito de moagem nas propriedades de amidos de cereais já foi

amplamente estudado, uma vez que a danificação dos grânulos do amido impacta

diretamente nas características do produto final. Foi reportado que a moagem afeta

tanto a estrutura granular quanto as estruturas a nível molecular de amidos (LI et al.,

2014), explicando as maiores taxas e os maiores rendimentos de hidrólise do amido

Figura 45. Perfil de hidrólise enzimática de células liofilizadas e moídas de C. sorokiniana, amido de milho cru, após gelatinização a 100 °C por 10 minutos e após moagem por 90 minutos.

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108

moído quando comparados com os obtidos com o amido sem tratamento. Além

disso, durante a moagem, o atrito da bola com a biomassa e as paredes do moinho

pode ter criado hot spots, resultando em um aquecimento que pode ter ocasionado

uma gelatinização parcial do amido moído.

Em relação à hipótese (iii), as taxas de hidrólise do amido de C. sorokiniana

moída foram muito superiores às obtidas com a hidrólise do amido de milho cru.

Porém, conforme demonstrado, esse resultado poderia ser consequência do

tratamento por moagem. Resultados similares foram reportados por TANADUL et al.

(2014) quanto à hidrólise de amido purificado de uma linhagem de C. sorokiniana

quando comparada com a hidrólise de diferentes biomassas amiláceas, como milho,

arroz e trigo. Todos os cereais apresentaram uma menor taxa de hidrólise do que a

apresentada pelo amido de microalga quando hidrolisados com α-amilase de

Aspergillus niger. No entanto, nesse trabalho também foi usada uma técnica de

moagem para rompimento da parede celular anterior ao isolamento dos grânulos de

amido da microalga e, portanto, a maior suscetibilidade reportada também pode ser

associada à etapa de moagem, e não a características intrínsecas do amido da

microalga que o tornariam mais suscetíveis à hidrólise. Estudos de hidrólise do

amido intracelular de microalgas devem ser conduzidos em células tratadas com

técnicas menos abrasivas de rompimento celular de forma a verificar a

digestibilidade desse amido in natura.

Esses resultados indicam que o amido de C. sorokiniana, após a etapa de

moagem para rompimento celular, não necessita de um processo prévio de

gelatinização. Portanto, em um contexto industrial, poderia ser utilizada a hidrólise

"fria" para processamento desse amido, favorecendo a implementação de

tecnologias com menor gasto energético, o que poderia compensar o gasto

energético associado à etapa de moagem.

5.4.2 Colheita de Chlorella sorokiniana por sedimentação gravitacional

Os resultados de hidrólise enzimática indicaram que o tratamento com moinho

de bolas foi mais efetivo para a biomassa seca, apresentando baixa eficiência para a

biomassa úmida. Portanto, buscou-se na etapa de colheita associar métodos

tradicionais e com baixo gasto energético para concentração da biomassa de modo

a favorecer energeticamente a etapa de secagem.

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Conforme pode ser observado na Figura 46a, a sedimentação gravitacional

de C. sorokiniana ocorreu praticamente durante as primeiras 6 horas. Após 24 horas

(Figura 46b), obteve-se um clarificado esbranquiçado e pouco turvo, indicando que

todas as células estavam depositadas. Este resultado é particularmente relevante,

pois na literatura são raros os registros de colheita por sedimentação pela

similaridade de densidade entre as microalgas e o meio de cultivo.

Figura 46. Células sedimentadas de C. sorokiniana após 6 horas (a) e 24 horas (b) em uma proveta contendo 100 mL de suspensão de células ricas em amido

Pode-se constatar que o teor de amido celular apresentou um efeito

significativo na velocidade de sedimentação das células de C. sorokiniana. A Figura

47 mostra a diferença entre os perfis das células em suspensão obtidos com células

com baixo teor de amido (8 %) e com alto teor de amido (22 %).

Como esperado, a velocidade de sedimentação das células ricas em amido

foi maior do que das células com menor teor de amido. Esse resultado indica que o

acúmulo de amido pelas células auxilia no processo de sedimentação gravitacional.

Resultados similares foram reportados para culturas de Scenedesmus obliquus

(LAVOIE e NOÜE, 1987). Os autores reportaram a sedimentação gravitacional das

células sem associação com um evento de autofloculação e atribuíram esse

a b

Figura 47. Sedimentação gravitacional de células de C. sorokiniana apresentando diferentes teores de amido intracelular (8 % e 22 %). Pontos representam a média de duplicatas experimentais.

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fenômeno ao aumento da densidade celular durante o envelhecimento da cultura

devido ao aumento do conteúdo de carboidratos das células. O mesmo fenômeno foi

reportado por HASSANPOUR et al. (2015) durante o cultivo de uma cultura mista de

microalgas. Os autores utilizaram as diferenças de densidade entre microalgas ricas

em amido e microalgas ricas em lipídeos de forma a enriquecer o cultivo com

apenas uma delas por sedimentação gravitacional, uma vez que as ricas em amido

apresentaram velocidades de sedimentação superiores às ricas em lipídeos.

Apesar de as células de C. sorokiniana sedimentarem sem o auxílio de

nenhum aditivo, o processo de sedimentação gravitacional nestas condições

operacionais não é competitivo quando se trata de produção em larga escala. Para

superar essa restrição, foi estudado o uso de um aditivo natural com ação floculante

de forma a acelerar a colheita por sedimentação. Para tal, foi selecionado o pó de

semente de moringa, uma vez que esse biofloculante mostrou-se eficaz na colheita

de microalgas (TEIXEIRA et al., 2012; ENDUT et al., 2015; BAHARUDDIN et al.,

2016).

Os experimentos de floculação foram conduzidos no pH final do cultivo de C.

sorokiniana, próximo de 8,5, pH no qual as proteínas coagulantes de moringa

apresentam carga positiva (NDABIGENGESERE et al., 1995). TEIXEIRA et al.

(2012) reportaram que a melhor eficiência de floculação foi reportada em pH próximo

de 9 e BARRADO-MORENO et al. (2016) não observaram nenhuma influência do

pH entre os valores de 5 a 9.

Como pode ser observado na Figura 48, a eficiência de sedimentação foi

afetada negativamente pela redução da concentração do floculante. A maior

eficiência de recuperação, de 84 %, foi alcançada após 60 minutos de sedimentação

na concentração de 1g.L-1. Apesar do resultado satisfatório e próximo ao reportado

por TEIXEIRA et al. (2012), a concentração de floculante utilizada foi superior à

concentração de células na suspensão (0,7 g.L-1), condição inadequada para um

processamento industrial, uma vez que aumentaria em 140% a quantidade de

massa a ser processada.

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111

Em vista desse resultado, foram conduzidos experimentos com o extrato

aquoso e os extratos salinos do pó de semente de moringa na concentração

proporcional de 1 g.L-1, apresentados na Figura 49. Para fins comparativos

apresenta-se na mesma figura os resultados controle, observados apenas com as

soluções salinas de NaCl e CaCl2.

Figura 49. Sedimentação gravitacional de células de C. sorokiniana floculadas com diferentes concentrações de pó de semente de moringa. O controle foi realizado nas mesmas condições, porém sem adição do floculante. Pontos representam a média de duplicatas experimentais.

Figura 48. Sedimentação gravitacional de células de C. sorokiniana floculadas com diferentes soluções. O controle foi realizado sem adição do floculante. Os controles de NaCl e CaCl2 foram conduzidos apenas com as soluções salinas, sem o extrato da semente. Também está apresentado o resultado obtido com 1 g.L-1 de pó de semente de moringa para comparação. Pontos representam a média de duplicatas experimentais.

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O extrato aquoso do pó de semente de moringa apresentou uma eficiência

baixa de floculação, não diferindo significativamente do controle sem nenhum agente

floculante. O mesmo resultado foi observado para o ensaio com a solução de NaCl.

No entanto, o extrato da semente obtido com essa mesma solução apresentou uma

alta atividade floculante, atingindo, após 1 hora de sedimentação, uma recuperação

de 80 %, sem diferença estatística do resultado obtido com o pó de moringa na

mesma concentração. Esses resultados estão de acordo com os reportados por

OKUDA et al. (1999), em que o extrato salino da semente da moringa apresentou

uma capacidade floculante 7 vezes maior do que o extrato aquoso. Os autores

atribuem esse resultado ao fenômeno de salting in, que aumentaria a solubilidade

das proteínas coagulantes, aumentando sua extração na solução salina.

Além de NaCl, CaCl2 também foi proposto para a extração das proteínas

coagulantes da semente da moringa (CARVALHO et al., 2016). No entanto, o

experimento conduzido apenas com a solução aquosa de CaCl2, sem o extrato de

semente de moringa, apresentou uma alta eficiência de sedimentação, variando de

83 % de recuperação, após 5 minutos de sedimentação, até 96 %, após 1 hora.

Esses resultados demonstram a excelente capacidade floculante da solução de

CaCl2 e não justificam a adição de uma etapa de extração de proteínas de moringa

para serem utilizadas em conjunto com essa solução salina. Um resultado similar foi

reportado por MORIOKA et al. (2014) para a colheita de Chlorella sp. usando uma

concentração de 2 g.L-1 de CaCl2, a mesma utilizada no presente estudo. No

entanto, estudos utilizando concentrações menores reportaram uma menor

eficiência de colheita de microalgas com esse sal, indicando que sua eficácia está

atrelada ao uso de uma alta concentração de floculante (FERRIOLS e AGUILAR,

2012; PÉREZ et al., 2015). A capacidade floculante de CaCl2 pode ser atribuída à

carga positiva do íon de Ca2+, que atua neutralizando as cargas negativas da

superfície das células, permitindo que as mesmas se agreguem.

Após a floculação, a biomassa resultante contendo células e agente floculante

ainda apresenta uma alta umidade, podendo ser submetida a uma etapa de

centrifugação posterior antes de seguir para a etapa de secagem. Portanto, o

volume final obtido após a floculação é um parâmetro importante que irá impactar no

dimensionamento da centrífuga.

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Além disso, a umidade e a massa final obtidas após a centrifugação também

devem ser avaliadas durante a escolha do agente floculante. A Figura 50 apresenta

esses resultados para os diferentes agentes floculantes utilizados.

Conforme afirmado anteriormente, o pó da semente de moringa, apesar de

apresentar uma eficiência alta de floculação, resultou em um aumento da massa

final de sólidos em cerca de 140 %, característica indesejável em um agente

floculante. Tanto o extrato da semente de moringa com a solução de NaCl quanto a

solução de CaCl2 resultaram em um aumento menor da massa final, de 50 %, porém

ainda expressivo. O volume de sedimento obtido ao final da floculação com a

solução de CaCl2 foi mais de 10 vezes superior ao obtido no experimento controle de

sedimentação gravitacional e cerca de 3 vezes superior ao obtido com o extrato

salino da semente; além disso, o uso desse floculante resultou na maior umidade

final encontrada após a centrifugação. Esses resultados apontam que, apesar da

alta eficiência floculante, o uso do CaCl2 não seria indicado para a colheita de

microalgas.

O extrato salino da semente de moringa foi o agente floculante, dentre os

testados, que apresentou resultados mais promissores. Além de resultar em um

menor aumento da massa final quando comparado ao uso do pó, a utilização do

extrato permite uma maior valorização da semente de moringa, uma vez que a torta

Figura 50. Volume de sedimentado encontrado ao final do processo de floculação e sedimentação de 10 mL de suspensão de células e massa seca e umidade encontrados após uma etapa posterior de centrifugação do sedimentado formado pela floculação utilizando pó de semente de moringa, extrato salino do pó da semente e solução de CaCl2. O controle correspondeu ao sedimentado gerado após sedimentação gravitacional sem adição de floculantes.

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obtida após a extração salina pode ser utilizada para extração de lipídeos, como

fertilizante ou para formulação de ração animal, permitindo que o floculante agregue

renda ao processo (GHEBREMICHAEL et al., 2005). De forma a reduzir o aumento

da massa final provocado pelo uso do floculante, a utilização das proteínas

coagulantes purificadas deve ser investigada (GHEBREMICHAEL et al., 2005).

Estudos futuros também devem incluir avaliação do reúso da água de cultivo após a

colheita das células com floculantes derivados da semente da moringa, pois a

literatura reporta possível toxicidade em águas tratadas com esses biofloculantes

(ROLIM et al., 2011; AL-ANIZI et al., 2014). Outro parâmetro importante que não foi

avaliado no presente estudo é o efeito do uso de moringa nas etapas posteriores de

processamento da microalga, como a hidrólise enzimática.

5.4.3 Extração de pigmentos de C. sorokiniana e fluxograma do processo

De forma a se obter um produto de alto valor agregado que auxiliasse na

atratividade econômica do processamento de C. sorokiniana para obtenção de

glicose, foi estudada a extração de pigmentos dessa microalga. O teor de clorofilas

de C. sorokiniana após 20 dias de cultivo foi expressivo, correspondendo a cerca de

2,5 % de sua massa seca, apesar de na fase exponencial de crescimento esse teor

ter representado cerca de 5 % da massa seca de células. PASQUET et al. (2011)

reportaram teores menores, de cerca de 1 % e 0,65 % (m/m seca), para

Cylindrotheca closterium e Dunaliella tertiolecta, respectivamente. Teores de clorofila

similares aos encontrados no presente estudo, de cerca de 3 % (m/m), foram

reportados para Neochloris oleoabundans (LI et al., 2008) e Dunaliella tertiolecta

(SONG et al., 2016).

Pode-se observar que houve uma redução no teor de pigmentos após a

hidrólise enzimática, conforme apresentado na Figura 51. A redução do teor de

ambas as clorofilas em quase 50 % pode ser associada principalmente ao pH ácido

da hidrólise (pH 4), apesar de a degradação dessas moléculas por tratamentos

térmicos também ter sido reportada (ERGE et al., 2008). Em condições ácidas, o íon

magnésio presente na posição central do anel porfirínico é substituído por

hidrogênios, transformando as clorofilas, que apresentam cor verde, em feofitinas,

que apresentam cor marrom-azeitonado (GUNAWAN e BARRINGER, 2000).

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Já a redução dos carotenoides pode ser explicada pela sua alta reatividade,

uma vez que, por serem antioxidantes, eles são mais suscetíveis a reações de

oxidação estimuladas tanto por luz quanto por temperatura (BOON et al., 2010).

Frente a esses resultados, concluiu-se que a extração de pigmentos deveria

ser realizada em etapa anterior à hidrólise enzimática. Para tal, poderia ser utilizada

a microalga fresca logo após a colheita ou a microalga seca antes ou após a etapa

de moagem. Portanto, essas três condições foram comparadas quanto à eficiência

de extração de pigmentos e os resultados estão apresentados na Figura 52.

Figura 52. Quantificação de clorofila a (chl a), clorofila b (chl b) e carotenoides por extração, com metanol 100 % a 25 °C, de C. sorokiniana moída antes (cinza claro) e após (cinza escuro) hidrólise enzimática

Figura 51. Extração de clorofila a (chl a), clorofila b (chl b) e carotenoides de C. sorokiniana com metanol 100 % a 25 °C a partir da biomassa fresca (cinza), liofilizada e moída (cinza escuro) e apenas liofilizada (cinza claro)

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Pode-se observar que a extração a partir da microalga fresca apresentou uma

eficiência muito superior à obtida com células liofilizadas para os três pigmentos

quantificados. PASQUET et al. (2011) reportaram o depósito de células em camadas

superpostas após liofilização de C. closterium e o achatamento e a formação de

camadas contínuas de células de D. salina. Essas características podem levar à

dificuldade de difusão do solvente para a região intracelular e, assim, reduzir a

eficiência de extração de pigmentos.

No entanto, após a moagem e, portanto, o rompimento da parede celular e o

aumento da área superficial, a eficiência de extração de clorofilas após a liofilização

atingiu valores similares aos obtidos a partir das células frescas, sem diferenças

estatisticamente significativas (p>0,05) entre eles. Somente o teor de carotenoides

extraído foi menor para as células moídas, possivelmente devido à degradação

térmica ocorrida durante a moagem, uma vez que essas moléculas são altamente

reativas. Diante desses resultados, escolheu-se realizar a extração de pigmentos a

partir de células frescas recentemente colhidas.

A seguir, o etanol foi testado como substituto do metanol, por ser um solvente

menos tóxico e obtido de fontes renováveis (CHEMAT et al., 2012). Os resultados de

extração com ambos os alcoóis estão apresentados na Figura 53.

Os resultados apontam a possibilidade de substituição do metanol por etanol,

uma vez que não foram observadas diferenças estatisticamente significativas

(p>0,05) entre as eficiências de extração encontradas para os dois solventes

testados. Um resultado similar foi reportado por HENRIQUES et al. (2007) para a

microalga Nannochloropsis gaditana. Apesar de obterem resultados finais similares

Figura 53. Extração de clorofila a (chl a), clorofila b (chl b) e carotenoides de C. sorokiniana fresca com metanol 100 % (cinza claro) e etanol 96 % (cinza escuro) a 25 °C

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117

para ambos os solventes, os autores reportaram uma extração mais rápida com

metanol; no entanto, a extração realizada por eles não foi conduzida com

homogeneização ao longo do processo e a extração com etanol foi conduzida em

baixas temperaturas. No presente trabalho, em que as amostras foram

constantemente homogeneizadas e as extrações foram conduzidas na mesma

temperatura, ambos os solventes apresentaram a mesma eficiência de extração

após 1 hora. A similaridade de eficiência de extração observada para os dois

solventes pode ser atribuída a suas polaridades próximas, resultando em afinidades

praticamente equivalentes pelos pigmentos extraídos.

Apesar de ambos os solventes testados apresentarem alta polaridade, foi

observada uma alta extração de carotenoides, que são moléculas apolares, de 4,5

mg/g de biomassa seca. Esse valor é próximo ao reportado por KUMAR et al. (2014)

para C. sorokiniana, de 4,2 mg/g de biomassa seca para a soma dos teores de β-

caroteno e astaxantina extraídos com uma mistura de acetona e hexano.

A secagem pode ser uma etapa onerosa no processamento de microalgas

(CHEN et al., 2009). No entanto, no presente trabalho demonstrou-se ser possível a

extração de pigmentos a partir da microalga fresca recém colhida, sem necessidade

de uma etapa de secagem anterior. Após a extração de pigmentos, a biomassa

extraída estaria impregnada de etanol, e não mais de água; portanto, sua secagem

seria mais rápida, uma vez que o etanol apresenta maior volatilidade do que a água

e, por isso, necessita menos energia para ser transferido para a fase gasosa. Para

confirmar essa hipótese, a secagem por convecção foi acompanhada para células

recém colhidas e para células após a extração com etanol, conforme apresentado na

Figura 54.

Pode-se observar que a secagem das células após extração com etanol 96 %

foi quase 10 vezes mais rápida do que das células recém-colhidas quando

submetidas a uma secagem por convecção. Esse resultado pode vir a implicar em

uma economia energética significativa em uma escala industrial.

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A partir dos resultados de extração de pigmentos e os resultados

apresentados para a hidrólise de C. sorokiniana, foi possível montar um fluxograma

de processo de uma possível biorrefinaria de microalgas para a obtenção de

pigmentos, glicose e biomassa residual rica em proteínas e lipídeos, apresentado na

Figura 55.

Figura 55. Fluxograma de processo de uma biorrefinaria de C. sorokiniana para obtenção de pigmentos, glicose e biomassa seca rica em proteínas e lipídeos. A seta pontilhada na etapa de colheita representa a possibilidade de adição do biofloculante estudado de forma a acelerar a colheita por sedimentação gravitacional.

A biomassa inicial apresentou em torno de 35 % de carboidratos (28 %

amido), 2,5 % de clorofila, 26 % de proteínas e 19% de lipídeos. Após a extração de

Figura 54. Acompanhamento da secagem de células de C. sorokiniana após a colheita e após a extração com etanol 96 %

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pigmentos e a hidrólise enzimática, a biomassa residual apresentou em torno de 15

% de carboidratos (carboidratos estruturais mais glicose residual da hidrólise), 33 %

de proteínas e 27 % de lipídeos.

Essa biomassa seca pode ser utilizada tanto na indústria de alimentos quanto

na de ração animal como uma fonte de aminoácidos essenciais e lipídeos poli-

insaturados. VANTHOOR-KOOPMANS et al. (2013) compararam os perfis de

aminoácidos e de lipídeos de diversas espécies de microalgas com farelo de soja e

óleo de palma, respectivamente, e concluíram que as microalgas apresentam todos

os aminoácidos contidos no farelo de soja e que seu conteúdo lipídico é mais

diversificado do que do óleo de palma, apresentando um maior conteúdo de ácidos

graxos poli-insaturados. Especificamente para C. sorokiniana, o perfil de lipídios

obtidos no meio BBM por CONCAS et al. (2016) apresentou uma alta proporção dos

ácidos graxos linoleico (ω-6) e linolênico (ω-3), essenciais para a nutrição humana.

Em relação ao perfil de aminoácidos, YIN et al. (2010) reportaram a presença de

todos os 8 aminoácidos essenciais no hidrolisado proteico de C. sorokiniana.

No presente trabalho não foi feito o processamento contínuo de uma mesma

biomassa por todas as etapas até se chegar à biomassa seca final. Portanto, o

fluxograma proposto ainda deve ser estudado de forma a se determinar os impactos

de cada etapa no processo subsequente.

5.4.4 Considerações finais

Os resultados de hidrólise de células liofilizadas não moídas de C. sorokiniana

com celulases indicaram que a celulose não está presente nas camadas externas da

parede celular dessa microalga, uma vez que não foi possível romper essa estrutura

com enzimas celulolíticas. Após moagem, o amido intracelular de C. sorokiniana

mostrou-se altamente suscetível à hidrólise enzimática por amilases. Foi possível

alcançar rendimentos próximos a 70 % em apenas 5 horas com o aumento da carga

de sólidos na hidrólise para 30 % (m/m), com uma concentração de glicose final no

hidrolisado de 80 g.L-1.

A colheita por sedimentação gravitacional de células de C. sorokiniana ricas

em amido foi possível e esse processo teve seu tempo reduzido com a adição de um

biofloculante proveniente de sementes de moringa.

A extração de pigmentos de C. sorokiniana foi possível a partir das células

frescas, sem uma etapa de secagem anterior, com etanol, um solvente menos tóxico

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do que os utilizados tradicionalmente. Células extraídas, impregnadas por etanol,

apresentaram uma taxa de secagem quase 10 vezes superior às células úmidas

recém-colhidas.

Com esses resultados, foi possível montar um possível fluxograma para o

processamento de C. sorokiniana visando a obtenção de pigmentos, glicose e uma

biomassa seca rica em proteínas e ácídos graxos poli-insaturados.

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6 CONCLUSÕES

Em vista dos resultados obtidos no presente trabalho, pode-se concluir que a

microalga Chlorella sorokiniana apresenta potencial como matéria-prima para

processamento em um contexto de biorrefinaria.

Essa microalga mostrou-se ser pouco exigente nutricionalmente,

apresentando crescimento normal em meios de cultivo com quantidade reduzida de

micronutrientes, o que pode levar a menores custos com aquisição de nutrientes.

Com o ajuste do tempo de cultivo, foi possível induzir o acúmulo de amido e produzir

uma biomassa com composição balanceada de carboidratos, proteínas e lipídeos.

Foi possível realizar um processo de colheita por sedimentação gravitacional,

que apresenta reduzido consumo energético. Neste caso, o extrato salino de

semente de moringa foi destacado como um possível biofloculante para acelerar

esse processo.

O amido intracelular de C. sorokiniana mostrou-se suscetível à hidrólise

enzimática após uma etapa de moagem, alcançando altos rendimentos em glicose

em um reduzido tempo de processamento e sem a necessidade de uma etapa de

gelatinização, fatores que também podem levar a um menor consumo energético no

processamento.

A extração de pigmentos, que são produtos de alto valor agregado, mostrou-

se tecnicamente viável a partir da biomassa úmida utilizando etanol como solvente a

temperatura ambiente. A biomassa impregnada com etanol apresentou altas taxas

de secagem.

Por fim, foi produzida uma biomassa residual rica em proteínas e lipídeos com

possível aplicação nas indústrias de alimentos e ração animal.

Coletivamente, os resultados desse trabalho destacam a possibilidade de

obtenção e processamento da biomassa da microalga C. sorokiniana com redução

de gastos energéticos pela integração dos processos de cultivo, colheita, extração

de pigmentos e hidrólise enzimática.

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7 TRABALHOS FUTUROS

• Estudo mais detalhado da composição do meio de cultivo de C.

sorokiniana a fim de melhor determinar suas reais exigências nutricionais;

• Estudo da viabilidade de reciclo da água de cultivo;

• Estudo da hidrólise de amido de C. sorokiniana após rompimento da

parede celular por técnicas mais brandas;

• Estudo da floculação de C. sorokiniana com derivados de semente de

moringa e seu impacto no processamento da biomassa e no reciclo da

água de cultivo;

• Otimização das condições operacionais de extração de pigmentos usando

etanol como solvente e impacto da extração no processamento da

biomassa.

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ANEXO

Publicação relacionada ao tema da tese:

Souza, M.F., Pereira, D.S., Freitas, S.P., Bon, E.P.S., Rodrigues, M.A. Neutral

sugars determination in Chlorella: Use of a one-step dilute sulfuric acid hydrolysis

with reduced sample size followed by HPAEC analysis. Algal Research, 24 (A),

2017, 130–137

Publicação em periódico durante o período do doutorado:

Silva, A.S., Souza, M. F., Ballesteros, I., Manzanares, P., Ballesteros, M., Bon,

E.P.S. High-solids content enzymatic hydrolysis of hydrothermally pretreated

sugarcane bagasse using a laboratory-made enzyme blend and commercial

preparations. Process Biochemistry 51 (10), 2016, 1561–1567

Capítulos de livros publicados durante o período do doutorado:

Souza, Marcella Fernandes; Teixeira, Ricardo Sposina Sobral ; da Silva, Ayla Sant’;

Ferreira-Leitão, Viridiana Santana ; da Silva Bon, Elba Pinto . Chlorine-Free Biomass

Processing: Enzymatic Alternatives for Bleaching and Hydrolysis of Lignocellulosic

Materials. In: Pietro Tundo; Liang-Nian He; Ekaterina Lokteva; Claudio Mota. (Org.).

Chemistry Beyond Chlorine. 1ed.: Springer International Publishing, 2016, v. 1, p.

241-268.

SILVA, A. S. ; SA, L. R. V. ; AGUIEIRAS, E. C. G. ; SOUZA, M. F. ; TEIXEIRA, R. S.

S. ; CAMMAROTA, M. C. ; BON, E.P.S. ; FREIRE, D. M. G. ; FERREIRA-LEITAO, V.

. Biocatalysis: Two Important Opportunities for Brazilian Sustainable Development.

In: Goutam Brahmachari; Arnold L. Demain; Jose L. Adrio. (Org.). Biotechnology of

Microbial Enzymes: Production, Biocatalysis and Industrial Applications.

1ed.Londres: Academic Press (Elsevier), 2016, v. 1, p. 545-571.

Textos em jornais de notícias/revistas:

SILVA, A. S. ; SOUZA, M.F. Do ouro negro ao ouro branco: biorrefinarias baseadas

em glicose. Inovativa, , v. 17(3), p. 10 - 11, 02 fev. 2017.

Prêmios:

Mensão Honrosa, VI Encontro Brasileiro de Química Verde (2016)

Segundo Lugar, My Thesis in 180s, Swissnex - NanoTera (2017)