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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E ECONÔMICAS INSTITUTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO COPPEAD A UTILIZAÇÃO DA TEORIA DE OPÇÕES NA AVALIAÇÃO DE ATIVOS REAIS: O CASO DA ARAFÉRTIL FERTILIZANTES S.A. Gerson Bronstein COPPEAD/UFRJ: Mestrado Orientador: Prof. Eduardo Facó Lemgruber Ph.D., UCLA Rio de Janeiro 2000

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO · 2017-10-31 · Orçamento de Capital. 3. Opções Reais. 4. ... Os métodos tradicionais de orçamento de capital baseados em técnicas de

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E ECONÔMICAS

INSTITUTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO

COPPEAD

A UTILIZAÇÃO DA TEORIA DE OPÇÕES NA AVALIAÇÃO

DE ATIVOS REAIS: O CASO DA ARAFÉRTIL

FERTILIZANTES S.A.

Gerson Bronstein

COPPEAD/UFRJ: Mestrado

Orientador: Prof. Eduardo Facó Lemgruber

Ph.D., UCLA

Rio de Janeiro

2000

ii

A UTILIZAÇÃO DA TEORIA DE OPÇÕES NA AVALIAÇÃO

DE ATIVOS REAIS: O CASO DA ARAFÉRTIL

FERTILIZANTES S.A.

Gerson Bronstein

Dissertação submetida ao corpo docente do Instituto de Pós-graduação em

Administração – COPPEAD, da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como

parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Administração.

Aprovada por:

___________________________________Prof. Eduardo Facó Lemgruber, Ph.D. – OrientadorCOPPEAD - UFRJ

___________________________________Prof. Ricardo Pereira Câmara Leal, D.Sc.COPPEAD – UFRJ

___________________________________Prof. Walter Lee Ness Jr., Ph.D.PUC - RJ

Rio de Janeiro

2000

iii

Bronstein, Gerson.

A utilização da teoria de opções na avaliação de ativos

reais: o caso da Arafértil Fertilizantes S.A./ Gerson

Bronstein. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 2000.

ix, 60p. il.

Dissertação – Universidade Federal do Rio de Janeiro,

COPPEAD.

1. Finanças. 2. Orçamento de Capital. 3. Opções Reais. 4.

Tese (Mestr. UFRJ/COPPEAD). I. Título.

iv

A

Luca e Leo,

a razão de tudo isso

v

AGRADECIMENTOS

Inicialmente, a meus pais pelo exemplo e incentivo constantes.

Ao meu orientador, Prof. Eduardo Facó Lemgruber, pela sugestão do tema desta

dissertação e pela orientação sempre precisa, estimulante e, principalmente, descontraída.

Aos professores Ricardo P. C. Leal e Walter L. Ness Jr. pela pronta disposição em

participar da banca examinadora.

A Luca, Maurício, Bia, Sérgio, Laís, Andrés e Tobias pelas palavras de incentivo desde o

início deste projeto.

Aos meus colegas da Turma 98 pelos quase dois anos de excelente convívio.

A todos os funcionários do COPPEAD pelo apoio nestes dois anos.

vi

RESUMO

BRONSTEIN, GERSON. A utilização da teoria de opções na avaliação de ativos reais:

o caso da Arafértil Fertilizantes S.A. Orientador: Eduardo Facó Lemgruber. Rio de

Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 2000. Dissertação.

Os métodos tradicionais de orçamento de capital baseados em técnicas de fluxo de

caixa descontado (FCD) vêm sendo criticados pois não capturam de forma adequada a

flexibilidade embutida em uma gerência pró-ativa. Neste trabalho utiliza-se a teoria de

opções para a avaliação de ativos reais. Considera-se o caso da privatização da Arafértil

S.A., sendo a teoria de opções utilizada na avaliação de uma nova unidade de ácido

sulfúrico.

São estudadas duas opções em particular: a opção de adiamento do início do projeto

e a opção de mudança do estado de operação. Foram desenvolvidos modelos para as duas

opções baseados no princípio de neutralidade a risco, descrito inicialmente por Cox, Ross e

Rubinstein (1979). Para a opção de adiamento, utilizou-se a metodologia proposta por

Dixit e Pindyck (1995), enquanto que para a opção de mudança do estado de operação

utilizou-se o método de Monte Carlo para a obtenção dos valores do projeto e prêmios das

opções.

Os resultados obtidos mostraram-se de acordo com a teoria. Para a opção de

adiamento obteve-se prêmios até 8 vezes superiores aos valores obtidos pelos métodos de

FCD, o que está de acordo com a literatura consultada. Para a opção de mudança do estado

de operação, os prêmios chegaram a ser 208 vezes superiores.

vii

ABSTRACT

BRONSTEIN, GERSON. A utilização da teoria de opções na avaliação de ativos reais:

o caso da Arafértil Fertilizantes S.A. Chairman: Eduardo Facó Lemgruber. Rio de

Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 2000. Dissertation.

The traditional methods of capital budgeting based on discounted cash flow

techniques (DCF) are being criticized for not adequately capture the flexibility embedded

in an active management. In this dissertation, options theory is used in the valuation of real

assets. The privatization of Arafertil S.A. is considered and the options theory is used in

the valuation of a new sulphuric acid plant.

Two particular options are studied: the option to defer and the option to shut down

and restart the operation. Models were developed for the two options based on the risk

neutral principle, first described by Cox, Ross and Rubinstein (1979). For the option to

defer, the metodology proposed by Dixit e Pindyck (1995) was used, while for the option

to shut down and restart Monte Carlo simulation was used in the determination of project

values and option premia.

For the option to defer, premia were obtained up to 8 times higher than those

obtained by the DCF methods, which is supported by the referenced literature. For the

option to shut down and restart, these premia reached values up to 208 times higher.

viii

SUMÁRIO

1 Introdução .................................................................................................................... 1

1.1 Motivação .................................................................................................................. 1

1.2 Objetivos.................................................................................................................... 2

1.3 Relevância do estudo ................................................................................................. 3

1.4 Delimitação do estudo ............................................................................................... 5

1.5 Descrição do trabalho ................................................................................................ 6

2 Descrição do caso ......................................................................................................... 7

3 Referencial Teórico.................................................................................................... 11

3.1 A Origem do Método............................................................................................... 11

3.2 Ativos Reais como Opções...................................................................................... 12

3.3 O Desenvolvimento ................................................................................................. 14

4 Metodologia e modelagem......................................................................................... 24

4.1 O estudo de caso ...................................................................................................... 24

4.2 Modelos de avaliação de opções ............................................................................. 25

4.3 Modelo para a unidade de ácido sulfúrico............................................................... 26

4.4 A opção de adiamento ............................................................................................. 30

4.5 A opção de mudança do estado de operação (suspensão temporária das

operações)................................................................................................................ 39

4.6 Limitações e simplificações adotadas nos modelos propostos................................ 42

5 Resultados obtidos ..................................................................................................... 44

5.1 O que aconteceu com a Arafértil ............................................................................. 53

6 Conclusões e sugestões para trabalhos futuros....................................................... 54

7 Referências Bibliográficas ........................................................................................ 57

ix

LISTA DE TABELAS E QUADROS

Tabela 2.1 - Taxas de crescimento das vendas da Arafértil ................................................. 8

Tabela 2.2 - Consumo anual de ácido sulfúrico pela Arafértil ............................................. 9

Tabela 3.1 - Classificação de opções reais por categoria ................................................... 17

Quadro 4.1 - Modelo para o cálculo do fluxo de caixa diferencial da Arafértil ................ 27

Tabela 4.2 - Custos de produção do ácido sulfúrico........................................................... 28

Tabela 4.3 - Custo de manutenção da nova unidade .......................................................... 28

Tabela 4.4 - Simulação para determinação do prazo de vencimento ................................. 36

Tabela 4.5 - Simulação para determinação do número de períodos ................................... 37

Tabela 4.6 - Série de preços do enxofre no mercado internacional.................................... 38

Quadro 4.1 - Esquema ótimo de decisões para a opção de mudança de estado ................ 42

Tabela 4.7 - Simulação para determinação do número de iterações.................................. 42

Tabela 5.1 - Resultados obtidos para a opção de adiamento, cenário esperado ................. 46

Tabela 5.2 - Resultados obtidos para a opção de adiamento, cenário otimista .................. 47

Tabela 5.3 - Resultados obtidos para a opção de mudança de estado, cenário

esperado ......................................................................................................... 48

Tabela 5.4 - Resultados obtidos para a opção de mudança de estado, cenário

otimista ........................................................................................................... 49

Tabela 5.5 - Comparação dos valores da opção de adiamento para o modelo

proposto e Black e Scholes............................................................................ 52

1

1 Introdução

1.1 Motivação

Em um ambiente empresarial típico, com recursos e informações limitadas, as

decisões de alocação de capital são geralmente tomadas em função do valor que estas

podem agregar à empresa. A forma de estimar este valor depende diretamente da

metodologia de avaliação utilizada. Os métodos de avaliação mais largamente utilizados se

baseiam em técnicas de Fluxo de Caixa Descontado (FCD), onde os fluxos de caixa

gerados pelo projeto são projetados ao longo de sua vida útil e descontados a valor

presente a uma taxa que reflita os riscos (ou incertezas) associados a estes fluxos.

Trigeorgis (1998) comenta que, embora conceitualmente corretas, estas técnicas assumem

implicitamente que o futuro ocorrerá de acordo com um cenário “mais provável” (ou

esperado) e que as decisões gerenciais ao longo da vida do projeto estão amarradas à

estratégia de ação inicialmente projetada, muito diferente do que normalmente ocorre na

realidade.

No mundo real, caracterizado pela incerteza em relação ao futuro e por interações

competitivas entre os participantes do mercado, os fluxos de caixa gerados dificilmente se

igualarão àqueles projetados. À medida que novas informações são obtidas e as incertezas

são gradualmente resolvidas, a estratégia de ação inicialmente definida pode ser alterada a

fim de refletir o novo cenário encontrado. Esta flexibilidade em agir de acordo com o

cenário observado acarreta uma assimetria na distribuição de valores possíveis para o

projeto. Esta assimetria agrega valor ao projeto permitindo o aproveitamento de situações

favoráveis e limitando, no entanto, as possíveis perdas em situações desfavoráveis. Desta

forma, observa-se uma distância entre os modelos teóricos normalmente utilizados em

decisões de orçamento de capital (FCD) e as decisões do dia-a-dia. Esta distância está

relacionada ao valor da flexibilidade de ação, ao não comprometimento com uma

estratégia de ação rígida, à opção de decidir na presença de novas informações. Uma

metodologia mais adequada seria aquela que adicionasse ao valor obtido pelas técnicas de

FCD um prêmio que refletisse a flexibilidade que a gerência têm em agir de forma

proativa.

2

A teoria de opções fornece ferramentas capazes de conceituar e quantificar este

prêmio. Neste contexto, as alternativas encontradas durante a vida de um projeto podem

ser vistas como opções sobre ativos reais, ou simplesmente opções reais: a opção de adiar o

início de um projeto até que as condições sejam mais favoráveis; a opção de reduzir a

escala ou mesmo suspender temporariamente a produção se as condições de mercado se

mostrarem desfavoráveis; a opção de alternar os insumos em função dos preços de

mercado etc. Em seu livro, Trigeorgis (1998) faz um paralelo entre os parâmetros

determinantes do valor de opções financeiras com os seus correspondentes em opções

reais1. Por exemplo, o valor atual do ativo objeto pode ser visto como sendo o valor

presente dos fluxos de caixa líquidos do projeto. Ele coloca ainda que mesmo não se

tratando de opções financeiras, que são geralmente negociadas em mercados líquidos e

competitivos, a teoria de opções pode ser utilizada na avaliação de opções sobre ativos

reais. Ainda segundo o autor, isto não significa que os métodos tradicionais baseados em

FCD devam ser deixados de lado. Ao contrário, estes métodos (FCD) são uma ferramenta

crucial e necessária na determinação de alguns parâmetros de entrada dos métodos de

avaliação de opções.

1.2 Objetivos

O presente trabalho pretende utilizar a teoria de opções na avaliação de um caso

real. Em 1991, a Arafértil Fertilizantes foi incluída no Plano Nacional de Desestatização

(PND). Nesta data, a Arafértil adquiria um de seus principais insumos, o ácido sulfúrico,

nos mercados nacional e internacional. Havia, entretanto, um projeto que possibilitaria à

Arafértil construir a sua própria unidade de ácido sulfúrico. Em 1991, duas empresas de

consultoria foram contratadas pelo BNDES2, gestor do programa, para efetuar uma

avaliação econômico-financeira da Arafértil. Nesta avaliação foram consideradas duas

hipóteses: a Arafértil com e sem a unidade de ácido sulfúrico. No entanto, a planta de ácido

1 Os parâmetros determinantes de valor em opções são discutidos com mais detalhes em HULL (1997).

2 As empresas contratadas foram a AFI – Associados em Finanças e Investimentos Ltda. e Máxima e Paulo

Abib. Os relatórios de avaliação estão à disposição para consulta junto à Gerência de Documentação –

GEDOC do BNDES.

3

sulfúrico seria uma opção real nas mãos da Arafértil. Surge, então, uma pergunta: a quem

pertence o valor do projeto? Ao vendedor, que aponta os benefícios advindos da

implementação de tal projeto, ou ao comprador que alega que a unidade de ácido sulfúrico

ainda não está implementada e, portanto, não tem valor? A teoria de opções responde esta

pergunta ao fornecer ferramentas para a determinação do preço justo da opção: o preço

onde não há vantagem de uma parte sobre a outra. O objetivo do trabalho aqui descrito é,

portanto, proceder a avaliação do projeto desta unidade utilizando a metodologia de opções

reais. O fato de existirem as avaliações da Arafértil com e sem a unidade de ácido sulfúrico

permitirá uma comparação dos resultados destas avaliações com os resultados obtidos.3

1.3 Relevância do estudo

É bastante difundida na literatura a idéia de que as técnicas tradicionais de orçamento

de capital que utilizam FCD são muitas vezes inadequadas, dado que estas são incapazes

de capturar corretamente a capacidade de adaptação às decisões em função de mudanças

inesperadas no ambiente (TRIGEORGIS, 1998; COPELAND, KOLLER e MURRIN,

1996; BRENNAN e SCHWARTZ, 1990; DIXIT e PINDYCK, 1995). Estas técnicas

incluem o Valor Presente Líquido (VPL), a Taxa Interna de Retorno (TIR), o Retorno do

Investimento (payback) e a análise através de árvores de decisão (ROSS, WESTERFIELD

e JAFFE, 1996).

Historicamente, estas técnicas surgiram como ferramentas na avaliação de títulos de

renda fixa, onde os fluxos de caixa são fixos e conhecidos. Quando utilizadas na avaliação

de projetos, elas se baseiam na construção de cenários estáticos e assumem uma atitude

passiva por parte da gerência responsável em relação à estratégia inicialmente definida,

ignorando qualquer tipo de flexibilidade presente. Há situações, no entanto, em que estes

3 Embora seja possível uma comparação entre os valores obtidos com as duas metodologias, não se pretende

criticar ou mesmo questionar os valores apresentados nos relatórios das avaliações efetuadas pelas duas

empresas de consultoria. Estas avaliações foram efetuadas dentro da metodologia proposta pelo BNDES e

seguiram normas e procedimentos estabelecidos pelo banco. O objetivo aqui é tão somente apresentar uma

aplicação prática do método de opções reais, tendo em vista a disponibilidade dos dados e informações sobre

o caso.

4

métodos podem ser corretamente aplicados, desde que suas premissas básicas sejam

corretamente avaliadas (HODDER e RIGGS, 1985).

Em um mundo globalizado, caracterizado por constantes mudanças e complexas

inter-relações competitivas, o desenrolar da realidade é, freqüentemente, diferente daquele

previsto nos modelos estáticos. À medida que novas informações são obtidas e a incerteza

em relação ao futuro é gradualmente resolvida, a gerência tem em mãos um valioso ativo: a

flexibilidade de alterar as decisões estratégicas de modo a capitalizar benefícios e/ou

minimizar perdas. Por exemplo, a gerência pode decidir adiar, expandir, abandonar ou

tomar qualquer outra decisão que altere os rumos pré-definidos de um projeto no decorrer

de sua vida útil.

A flexibilidade que tem a gerência em adaptar as decisões futuras em resposta a

alterações nas condições do mercado, aumenta o valor de um investimento ou projeto por

permitir o aproveitamento das situações favoráveis limitando, porém, os prejuízos oriundos

de situações desfavoráveis. Esta assimetria permite considerar esta flexibilidade como uma

opção nas mãos da gerência que pode decidir, a seu critério, quando e como alterar os seus

rumos estratégicos.

Da mesma forma que as opções financeiras, estas opções estratégicas dão ao

detentor o direito, mas não a obrigação, de vender ou comprar um determinado ativo (o

ativo objeto) por um determinado preço (o preço de exercício) até uma determinada data

limite (a data de exercício) (TRIGEORGIS, 1998).

A utilização desta visão no orçamento de capital possui a vantagem de capturar e

quantificar o valor da flexibilidade oriunda de uma gerência ativa em face a opções

estratégicas. Este valor se apresenta tipicamente como um conjunto de opções reais

embutidas em oportunidades de investimentos. Em sua forma mais simples estas opções

reais têm como ativo objeto o valor presente dos fluxos de caixa operacionais do projeto e

como preço de exercício o valor presente (na data de exercício) de seu custo de

implementação. Outras formas de opções reais incluem a opção de adiamento, a opção de

mudança na escala de produção, a opção de troca de insumos/produtos finais etc.4 No

4 Estes diversos tipos de opções reais serão discutidos mais adiante. Para uma discussão aprofundada do

tema, ver Trigeorgis (1998) e Amram (1999).

5

entanto, apesar das críticas, os métodos de FCD, quando bem aplicados, devem chegar aos

mesmos resultados obtidos pelo método de opções reais. O que se quer ressaltar é que este

último pode tornar a análise mais simples. O princípio de neutralidade a risco (COX,

ROSS e RUBINSTEIN, 1979) permite que a análise dependa menos da estimativa de

parâmetros, como taxas de descontos e probabilidades de cenários, ao utilizar valores

facilmente observáveis.

O presente trabalho se enquadra na área de Finanças Corporativas, mais

especificamente sob o tema Orçamento de Capital, e se utiliza de técnicas de avaliação de

opções financeiras. A utilização destas técnicas como ferramenta na avaliação de projetos

envolvendo ativos reais talvez ainda seja uma prática pouco explorada entre os

profissionais brasileiros. No entanto, como coloca Trigeorgis (1998), esta abordagem

possui a vantagem de unir o que os métodos tradicionais puramente quantitativos (VPL,

TIR e outros) e os puramente subjetivos (modelo BCD e análise de Porter, entre outros)

têm de melhor.

Além disso, este estudo permite uma comparação ex post entre a metodologia

tradicional de avaliação de projetos, através dos relatórios de avaliação econômico-

financeira da Arafértil, e a técnica de opções reais, explicitando as principais vantagens e

dificuldades desta última.

Por fim, a experiência da utilização do método poderá servir como referência para

trabalhos futuros que tratem do assunto, principalmente nos seguintes aspectos: adequação

ou não do método para avaliação de projetos e; adaptações necessárias ao modelo a fim de

torná-lo utilizável na prática.

1.4 Delimitação do estudo

A área de opções reais como ferramenta de avaliação é bastante vasta e diversificada.

Torna-se muito difícil, portanto, qualquer tentativa de abordar detalhadamente todas as

ramificações do tema. Desta forma, serão estudadas em maior profundidade as opções reais

6

associadas com o caso, que são a opção de adiamento do início do investimento e a opção

de mudança do estado da operação.5

Como este estudo trata de um caso passado, serão utilizadas apenas as informações

disponíveis na época em que foram feitas as avaliações econômico-financeiras da empresa.

Com isso, pretende-se obter resultados que sejam comparáveis aos das avaliações

efetuadas. Desta forma, serão consideradas as informações acerca do preço do ácido

sulfúrico e enxofre (matéria-prima principal para produção do ácido sulfúrico), taxas de

juros, inflação e custos em geral até o ano de 1992. Sempre que for possível, estas

informações serão retiradas diretamente das avaliações econômico-financeiras.

Mais uma vez cabe ressaltar que, em nenhum momento, serão questionados a

metodologia ou valores obtidos nos estudos.

1.5 Descrição do trabalho

Este trabalho está organizado da maneira que se segue. No Capítulo 2 o caso de

privatização da Arafértil é descrito detalhadamente. São fornecidos todos os parâmetros

utilizados nos relatórios de privatização que serão necessários ao desenvolvimento dos

modelos de opções reais. Em seguida, no Capítulo 3, é feita uma revisão bibliográfica,

onde se procurou analisar os principais trabalhos de pesquisadores da área. No Capítulo 4

são desenvolvidos os modelos para as duas opções reais consideradas: a opção de

adiamento e a opção de mudança do estado de operação. Inicialmente, faz-se um

desenvolvimento teórico visando o embasamento do modelo e ao final são apresentadas as

questões mais práticas relativas à aplicação dos modelos propostos. Em seguida, os

resultados obtidos são apresentados e comentados e é feita uma comparação destes

resultados com aqueles das avaliações efetuadas. Os resultados de outro trabalho que trata

da avaliação da unidade de ácido sulfúrico da Arafértil utilizando a metodologia de Black e

Scholes (1973) também são comparados aos resultados aqui obtidos. Finalmente, o

Capítulo 6 conclui o trabalho e apresenta algumas sugestões para o seu prosseguimento.

5 A classificação aqui apresentada será mais detalhada no capítulo seguinte. Para uma discussão do tema ver

TRIGEORGIS (1998).

7

2 Descrição do caso

A Arafértil foi criada em 2 de abril de 1971, sob o nome de Araxá S/A Fertilizantes e

Produtos Químicos, com o objetivo de mineração em geral, industrialização e

comercialização de minérios e produtos químicos.

Em 1991, a Arafértil estava incluída no PND (Programa Nacional de Desestatização)

e foi submetida a uma avaliação econômico-financeira feita por duas empresas

independentes de consultoria – AFI Asociados em Finanças e Investimentos e o consórcio

formado pela Máxima Corretora, Paulo Abib Engenharia, Metal Data Engenharia e

Zalcberg & Sodré – contratadas através de licitação pública, pelo BNDES, gestor do

programa6. A Arafértil era uma associação em partes iguais da Quimbrasil S/A (Grupo

Santista), Petrofértil S/A (Petrobrás) e Fertisul S/A (Grupo Ipiranga). Em 31/12/90, a

Arafértil apresentava um Patrimônio Líquido de US$ 33.820 mil e um endividamento

estável representado por um empréstimo de longo prazo contraído junto ao BNDES com

valor de livro de US$ 17.382 mil e uma taxa real de juros de 3% aa. Trazido a valor de

mercado, este empréstimo representa um total de US$ 7.630 mil. A Arafértil contava nesta

época com um Ativo Permanente de US$ 33.790 mil, representado na sua maioria pelo seu

Imobilizado (US$ 31.106 mil). A receita operacional bruta da Arafértil no ano de 1990 foi

de US$ 90.518 mil e seu lucro líquido somou US$ 418 mil.

Na época em que foi incluída no PND, a Arafértil adquiria ácido sulfúrico, um de

seus principais insumos na produção de fertilizantes, de diversos fabricantes nacionais e

internacionais. Havia, no entanto, a possibilidade da empresa construir sua própria planta

de ácido sulfúrico. Esta planta teria capacidade de suprir toda a demanda da Arafértil e o

excedente poderia ser vendido no mercado. Desta forma, a Arafértil se protegeria de

movimentos desfavoráveis no preço do ácido sulfúrico no mercado internacional e ainda

obteria uma nova fonte de receitas. Além disso, pelo fato de estar distante dos principais

6 Todos as informações e valores utilizados neste trabalho foram obtidas a partir dos relatórios de avaliação

originais, disponíveis para consulta no GEDOC/BNDES. Exceto quando indicado, todas as informações e

valores citados foram retirados de do relatório de avaliação da AFI (1991).

8

portos do país, a Arafértil deixaria de arcar com os custos de transporte e armazenagem

deste produto.

Em 1991, as duas empresas de consultoria contratadas avaliaram a Arafértil através

do método do fluxo de caixa descontado, estudando duas situações básicas: Arafértil sem

e com planta de ácido sulfúrico. O período utilizado para a projeção dos fluxos de caixa

foi de dez anos (1991 a 2000), sendo que no último ano projetivo há também o valor

residual da empresa. Todos os valores estão expressos em dólares norte-americanos de

31/12/1990. Na avaliação foram considerados três cenários básicos: esperado, otimista e

pessimista. O cenário pessimista considerou uma retração na demanda de fertilizantes no

primeiro ano e uma taxa de crescimento de 2% na demanda para os anos seguintes. Para o

cenário esperado foi considerada uma taxa de crescimento de 3% para os primeiros anos e

de 4% para o restante do período projetivo. O cenário otimista considerou uma taxa de

crescimento da demanda de 4% para os primeiros 4 anos e 6% para o período restante. A

Tabela 2.1 apresenta as taxas de crescimento das vendas da Arafértil para os três cenários

considerados.

Tabela 2.1

Taxas de crescimento das vendas da Arafértil para o período projetivo nos cenáriosotimista, esperado e pessimista.

1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001

Otimista 4% 4% 4% 4% 6% 6% 6% 6% 6% 6%

Esperado 0% 3% 3% 3% 4% 4% 4% 4% 4% 4%

Pessimista -2% 2% 2% 2% 2% 2% 2% 2% 2% 2% Fonte: AFI (1991)

A unidade de ácido sulfúrico considerada possui uma capacidade de 700 ton./dia ou,

aproximadamente, 240.000 t/ano. Os investimentos necessários somam US$ 22.000 mil,

além de US$ 2.200 mil referentes a gastos com infra-estrutura. O prazo para a implantação

da unidade é de 24 a 36 meses, a partir do início de 1992. A vida útil estimada desta

unidade é de 25 anos, sendo que a produção de ácido tem início a partir do último ano de

implementação. Nas avaliações realizadas, considerou-se o prazo de instalação igual a 36

9

meses e que a unidade de ácido sulfúrico operaria sempre com a capacidade máxima

(240.000 t/ano). Apesar da vida útil de 25 anos, a unidade é depreciada linearmente em 10

anos.

O consumo anual de ácido sulfúrico pela Arafértil para cada um dos três cenários é

mostrado na Tabela 2.2. A diferença entre a quantidade produzida e a consumida na

produção de fertilizantes é vendida por US$ 95,00/t, que representa uma estimativa

conservadora em relação ao preço pago pela Arafértil, que é de US$ 110,00/t.

Tabela 2.2

Consumo anual de ácido sulfúrico pela Arafértil para o período projetivo, nos cenáriosotimista, esperado e pessimista (em milhares de toneladas).

1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000

Otimista 109,8 115,0 119,6 124,0 129,4 137,1 145,3 154,1 163,3 173,1

Esperado 109,8 110,6 113,9 116,9 120,8 125,7 130,7 135,9 141,4 147,0

Pessimista 107,5 106,2 108,3 110,1 112,7 113,0 117,2 119,6 122,0 124,4 Fonte: AFI (1991).

O custo variável de produção do ácido sulfúrico é de US$ 59,20/t, que inclui US$

5,00/t de despesas adicionais e de frete caso a unidade esteja localizada em outro

município. Para a venda do excedente da produção, deve-se subtrair estes US$ 5,00/t, pois

o frete é pago pelo comprador. Os custos fixos adicionais são de US$ 2.112 mil por ano

referentes à mão de obra e manutenção da unidade.

As avaliações foram conduzidas utilizando-se o enfoque operacional. O fluxo de

caixa operacional é descontado a valor presente utilizando-se o custo de capital da

empresa. O valor residual é calculado utilizando-se o conceito de multiplicador P/L

equivalente aplicado ao lucro do 10o ano projetivo. Este valor também é trazido a valor

presente utilizando-se o custo de capital. O custo de capital da Arafértil7 é obtido a partir

7 A expressão para o cálculo do custo de capital foi retirada do Manual Conceitual para Avaliação de

Empresas, de propriedade e uso exclusivo da AFI. Ela é fornecida no Capítulo 4 (equação 4.1).

10

de sua alavancagem, de sua alíquota marginal de imposto de renda8 e do custo de capital

básico setorial. O custo de capital básico para o setor de fertilizantes foi estimado em

17%.9 De qualquer maneira, todas as análises foram conduzidas para custos básicos

setoriais variando entre 15% e 19%. Além disso, foram realizadas ainda análises de

sensibilidade para diversos preços de venda do excedente de ácido sulfúrico.10 Para todas

as situações e cenários, a taxa de juros livre de risco, Rf, é estimada em 8% aa.11

8 A alíquota marginal de imposto de renda da Arafértil varia de ano para ano, de acordo com os níveis dos

resultados da empresa. No cálculo do custo de capital foi utilizada a alíquota média da empresa no período

projetivo, ponderada pelos fatores de capitalização a valor presente.

9 Este valor foi obtido a partir de um estudo conjunto realizado pela AFI e BNDESPAR para diversos setores

da economia brasileira.

10 Os preços utilizados foram: US$ 56,32, US$ 65,00, US$ 75,00, US$ 85,00, US$ 95,00 e US$ 105,00.

11 Mais uma vez, este valor foi retirado diretamente do relatório de avaliação da AFI (1991).

11

3 Referencial Teórico

3.1 A Origem do Método

Após a Segunda Guerra Mundial, os métodos de orçamento de capital e

planejamento estratégico surgiram como ferramentas distintas e complementares de

alocação de recursos (TRIGEORGIS, 1998). Os métodos de orçamento de capital avaliam

os projetos individualmente, utilizando para tal ferramentas baseadas nas técnicas de FCD.

Por se tratar de uma ferramenta quantitativa, as técnicas de FCD utilizam como entrada

elementos mensuráveis, como estimativas de fluxos de caixa, custo de capital próprio,

custo de capital de terceiros etc. No entanto, Brennan e Shwartz (1990) apontam duas

limitações importantes: em primeiro lugar, a estimação dos fluxos de caixa futuros não

leva em conta modificações que podem ser feitas em função da atuação da gerência e, em

segundo lugar, a taxa de desconto utilizada, que reflete o risco do projeto, é considerada

fixa, mesmo que esta atuação modifique de forma substancial o risco. Em relação à taxa de

desconto, há ainda muita discussão sobre como determiná-la de forma adequada. Diversos

autores apresentam algumas formas distintas de determinação desta taxa de desconto

(COPELAND, KOLER e MURRIN, 1996; ROSS, WESTERFIELD e JAFFE, 1996;

BREALEY e MYERS, 1991) havendo, no entanto, duas formas mais comuns. Quando o

investimento ou projeto apresenta risco semelhante ao da empresa, se sugere a utilização

do custo médio ponderado de capital - WACC (Weighted Average Cost of Capital)

enquanto que se sugere a utilização do modelo CAPM (Capital Asset Pricing Model)

quando estes riscos não podem ser considerados equivalentes.

De forma diferente, o planejamento estratégico tem o seu foco voltado para

benefícios qualitativos que podem resultar do desenvolvimento de vantagens competitivas.

Como os métodos de orçamento de capital tradicionais baseados em FCD não quantificam

estas vantagens, eles tendem a apresentar um viés negativo quando aplicados a projetos

que possuem opções estratégicas embutidas (TRIGEORGIS, 1998). Este viés surge devido

à assimetria na distribuição de retornos causada pelas possíveis vantagens competitivas

obtidas através da atuação da gerência.

Devido a estas limitações, as técnicas de FCD não obtiveram muita aceitação na área

de planejamento estratégico, onde a vantagem competitiva, liderança de mercado e

12

estrutura da indústria continuam a ser conceitos dominantes (TRIGEORGIS, 1998). Dentro

deste tema, Bethlem (1998) apresenta o modelo BCG, desenvolvido na década de 70, que

tentava capturar o compromisso entre financiamento de curto prazo e crescimento de longo

prazo. O mesmo autor apresenta ainda o modelo de Porter, que ampliou o horizonte da

análise estratégica ao incluir nela a influência dos fornecedores, consumidores e

competidores que atuam na mesma arena competitiva. No entanto, estes modelos eram

limitados no tocante à quantificação destes parâmetros.

Nos anos 80, as limitações dos métodos tradicionais de orçamento de capital e

técnicas de FCD vinham se tornando cada vez mais aparentes. Trigeorgis (1998) cita em

seu livro que alguns especialistas propunham técnicas de análise alternativas, havendo

inclusive aqueles que propunham o abandono de técnicas quantitativas na avaliação de

grandes investimentos. No entanto, o trabalho seminal de Black e Scholes (1973) e Merton

(1973) contribuiu decisivamente para o desenvolvimento de uma metodologia quantitativa

para a avaliação de projetos com opções estratégicas embutidas.

3.2 Ativos Reais como Opções

De uma maneira mais formal, Hull (1997) define uma opção simples como sendo um

instrumento que dá ao seu detentor (o titular) o direito, mas não a obrigação, de

comprar/vender um determinado ativo (o ativo objeto) por um determinado preço (o preço

de exercício) em/até uma determinada data futura (data de exercício). Quando o titular

possui o direito de comprar o ativo objeto, diz-se que ele possui uma call (opção de

compra). Quando ele possui o direito de venda, diz-se que ele possui uma put (opção de

venda). Ao adquirir este direito, o titular deve pagar um determinado valor à pessoa que

assume a contrapartida deste direito (diz-se que esta pessoa vendeu a opção). A esse valor

dá-se o nome de prêmio da opção. Quanto ao momento em que o direito pode ser exercido,

as opções podem ser classificadas como americanas ou européias. Uma opção americana

dá ao titular o direito de exercê-la em qualquer instante até a data de exercício, enquanto

que para as opções européias este direito só pode ser exercido na data de exercício.

Como o titular da opção tem o direito, mas não a obrigação de exercício da opção,

ele usufrui das vantagens de movimentos favoráveis no preço do ativo objeto e se protege

das desvantagens de movimentos desfavoráveis. No caso de uma opção de compra

européia, o direito de compra será exercido caso, na data de exercício, o valor do ativo

13

objeto seja maior ou igual ao preço de exercício. No caso do preço do ativo objeto ser

menor que o preço de exercício, o direito não é exercido e a perda máxima que o titular

está sujeito é igual ao valor pago pela opção, ou seja, o prêmio. Desta forma, o valor de

uma opção na data de exercício pode ser expresso por:

)0 , exercício de preço objeto ativo dovalor ( −máximo

O gráfico da Figura 1 mostra os valores de uma opção de compra, uma opção de

venda e uma unidade do ativo objeto na data de exercício, supondo que ambas as opções

tenham o mesmo preço de exercício (K), igual ao valor do ativo objeto na data inicial, e

sem levar em consideração o valor do dinheiro no tempo.

Figura 3.1

Valores de opções de compra e venda com mesmo preço de exercício e deuma unidade do ativo objeto na data de exercício, em função do preço doativo objeto.

Black e Scholes (1973) mostraram que as ações de uma empresa podem também

ser vistas como uma opção nas mãos dos acionistas. Como se sabe, os acionistas de uma

empresa têm responsabilidade limitada ao montante de capital investido e os credores têm

prioridade sobre os ativos da empresa no caso de liquidação. Portanto, o valor da empresa

-25

-20

-15

-10

-5

0

5

10

15

20

25

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45

Ativo-objeto Opção de compra Opção de venda

14

para os acionistas é igual ao valor total dos ativos menos o valor total da dívida. Desta

forma, do lado dos acionistas, as ações de uma empresa representam uma opção de compra

sobre os ativos da empresa (ativo-objeto) com preço de exercício igual ao valor total da

dívida. Neste modelo, os credores detêm os ativos da empresa (ativo-objeto) e lançam uma

opção de compra aos acionistas. De forma análoga, pode-se também modelar o capital

próprio e o capital de terceiros de uma empresa utilizando-se de opções de venda. Neste

segundo modelo, os acionistas detêm a propriedade dos ativos da empresa, devem aos

credores um valor igual ao montante total da dívida e possuem uma opção de venda dos

ativos com preço de exercício igual ao valor da dívida. Por sua vez, os credores têm a

receber dos acionistas o valor da dívida e lançam uma opção de venda sobre os ativos da

aos acionistas12.

Um projeto também pode ser visto como uma opção. O titular detêm a opção de

iniciar o projeto (uma opção de compra), pagando o custo de implementação (preço de

exercício), em um determinado prazo que pode ou não ser definido. O prêmio pago pela

opção pode ser, entre outros, o custo de uma análise de viabilidade econômica ou o custo

do arrendamento de uma mina em potencial ou jazida de petróleo mais os investimentos

iniciais de prospecção. De forma simplificada, esta opção será exercida quando os fluxos

de caixa provenientes da operação do projeto superarem o seu custo de implementação

(TRIGEORGIS, 1998).

3.3 O Desenvolvimento

O desenvolvimento de metodologias alternativas de avaliação de projetos se deveu

principalmente à crescente insatisfação com os métodos tradicionais baseados em FCD,

pelo fato destes não conseguirem avaliar as opções normalmente encontradas durante a

vida de um projeto.

Há autores, no entanto, que defendem a utilização das técnicas baseadas em FCD

na avaliação de projetos com opções embutidas. Smith e Nau (1995) apresentam

argumentos em favor das técnicas tradicionais de avaliação de projetos, especialmente da

análise de árvores de decisão. Eles argumentam que, quando corretamente aplicado, este

12 Para uma descrição detalhada deste tema, ver Ross, Westerfield e Jaffe (1996), cap. 21

15

método fornece resultados consistentes com aqueles obtidos através de métodos de

avaliação de opções. As limitações do método de árvores de decisão apontadas por

Copeland, Koller e Murrin (1996) e Damodaran (1994), entre outros, são originadas da

forma simplista com que este método é aplicado e podem ser superadas pela correta

inclusão das preferências de risco (através de uma função de utilidade) e oportunidades de

mercado consistentes com o método de avaliação de opções. Nesta mesma linha, Hodder e

Riggs (1985) argumentam que os métodos tradicionais de FCD podem ser utilizados na

avaliação de projetos de mais longo prazo. Eles ressaltam que, em muitos casos, a razão

para a obtenção de resultados inconsistentes não está no método, mas sim na interpretação

errônea dos resultados ou na determinação dos parâmetros a serem utilizados. Ele destaca

três fontes básicas de erro na determinação destes parâmetros: tratamento impróprio dos

efeitos da inflação, estimação incorreta dos níveis de risco nas diversas fases de um projeto

e o não reconhecimento de alternativas para redução de risco em resposta a eventos

futuros. Os autores terminam concluindo que os usuários das técnicas de FCD não devem

utilizar cegamente os resultados obtidos, mas sim utilizá-los como mais um dado no

processo de tomada de decisão.

Outros autores defendem a utilização da teoria de opções. Leslie e Michaels (1997)

reconhecem a existência de diferenças entre opções financeiras e opções reais e identificam

uma outra razão favorável à utilização de opções reais na análise de projetos. Da forma

como é normalmente colocado na literatura, o método se apresenta como uma ferramenta

superior na avaliação de projetos, pois incorpora na análise a flexibilidade que a gerência

possui em reagir face a novas informações e mudanças no ambiente. Neste trabalho, os

autores reconhecem que os mesmos fatores que influenciam o valor de opções financeiras–

valor do ativo objeto, preço de exercício, volatilidade, data de exercício e dividendos –

podem ser utilizados de forma pró-ativa pela gerência para alavancar o valor de uma opção

real. Esta oportunidade decorre do fato de que, ao contrário das opções financeiras que são

negociadas em mercados competitivos onde os participantes não conseguem (ou não

podem) influir nos fatores geradores de valor, as opções reais conferem ao seu detentor

esta possibilidade. Por exemplo, a gerência pode atuar de forma a aumentar a incerteza dos

fluxos de caixa do projeto. Os autores concluem o artigo apresentando o caso de duas

empresas onde a atuação da gerência sobre os fatores geradores de valor aumentou

significativamente o valor das opções reais que elas possuíam.

16

As opções reais podem se apresentar de diversas formas no decorrer de um projeto.

Trigeorgis (l998) propõe uma classificação que vem sendo adotada por diversos outros

autores (ver Tabela 3.1). Vários trabalhos oferecem uma visão geral do método,

apresentando as razões para o seu desenvolvimento e suas principais aplicações

(LUEHRMAN, 1997, 1998; DIXIT e PINDYCK, 1995; KULATILAKA e MARCUS,

1988). Luehrman (1998) relaciona as opções reais com as variáveis do modelo de Black e

Scholes e apresenta uma metodologia simplificada de avaliação destas opções. Kulatilaka

e Marcus (1988) apresentam uma formulação geral para opções reais. Eles sugerem que as

opções reais presentes em ambientes corporativos podem ser vistas como casos

particulares de uma definição mais geral. Nesta definição, cada caso é visto como uma

opção de mudança um determinado estado de operação para outro, como por exemplo

operando/ suspenso, investir agora/esperar etc. Segundo os autores, se os modos de

operação e os custos de mudança forem interpretados de maneira apropriada, todas as

opções reais se tornam casos especiais de uma formulação mais geral, uma opção de

flexibilidade. Trigeorgis (1998) fornece uma vasta revisão da literatura e uma descrição

detalhada de cada uma das opções reais relacionadas na Tabela 3.1.

17

Tabela 3.1

Classificação de opções reais por categoria13

Categoria Descrição ImportânciaOpção deadiamento doinício do projeto

A empresa possui um arrendamento (que podeser visto como uma opção de compra) de x anossobre um terreno ou recurso. Ela pode esperar ever se as condições de mercado são favoráveisao desenvolvimento do projeto.

Indústrias de extração de recursosnaturais; projetos imobiliários;agropecuária; indústrias de papel.

Opção deescalonamento dasetapas de umprojeto

O escalonamento dos desembolsos cria a opçãode abandono no meio de um empreendimentose a situação não for favorável. Cada estágio doinvestimento pode ser visto como uma opçãosobre o valor dos estágios seguintes.

Indústrias intensivas em P&D;Projetos longos e intensivos emcapital.

Opção de alteraçãona escala deprodução(expandir;retrair; parar erecomeçar)

Se as condições de mercado forem maisfavoráveis/desfavoráveis do que o previsto, aescala de produção pode ser expandida/retraída.Em casos extremos, a produção pode serinterrompida e retomada em um momentofuturo.

Indústrias de recursos naturais;planejamento e construção deindústrias em mercados cíclicos.

Opção de abandono Se as condições de mercado se deterioraremseveramente, a gerência tem a opção deencerrar o negócio pelo valor de liquidação dosativos.

Indústrias intensivas em capital(ferrovias, empresas aéreas);Introdução de novos produtos emmercados incertos; serviçosfinanceiros.

Opção de troca(insumos ouprodutos finais)

Se a demanda ou os preços mudarem, agerência tem a opção de alterar o mix deprodutos finais (flexibilidade de produção). Poroutro lado, os mesmos produtos finais podemser produzidos com a utilização de insumosdistintos (flexibilidade de processo), em funçãodos preços destes.

Bens produzidos em pequenoslotes ou sujeitos a uma demandavolátil; eletrônicos de consumo;brinquedos; Indústria química;plantas de geração de energiaelétrica.

Opção decrescimento

Um investimento inicial (P&D, concessões,aquisição estratégica) é um pré-requisito emuma cadeia de projetos inter-relacionados,abrindo oportunidades de crescimento futuro(novo produto ou processo, acesso a novosmercados, reservas de recursos naturais etc.).

Empresas com operaçõesinternacionais; indústrias de altatecnologia; P&D; aquisiçõesestratégicas.

Opções múltiplascorrelacionadas

Projetos reais normalmente envolvem umconjunto de opções. Devido à possível sinergiaentre os diversos projetos, o valor combinadodestes projetos pode diferir da soma de seusvalores separados.

Projetos reais na maioria dasindústrias listadas acima.

Fonte: Trigeorgis (1998)

A opção de adiamento do início de um projeto captura os benefícios decorrentes da

resolução progressiva das incertezas. Ela é semelhante a uma opção de compra americana

13 Tradução livre.

18

sobre os fluxos de caixa operacionais do projeto com preço de exercício igual aos custos de

implementação deste projeto. Batista (1994) analisa em sua dissertação de mestrado a

opção de adiamento do início de um projeto. Ele determina o valor desta opção a partir dos

modelos desenvolvidos por Pindyck e Dixit. A contribuição do autor está no relaxamento

da condição de perpetuidade do período de maturidade da opção, através de um modelo

derivado do modelo de Pindyck. Rigolon (1999) utiliza a metodologia desenvolvida por

Dixit e Pindyck (1994) no estudo de dois casos nacionais. Confirmando a teoria, o autor

mostra que as firmas só têm incentivo para investir se o valor do projeto é suficientemente

mais alto que o investimento. Ele também mostra que o incentivo que as firmas têm para

adiar o início de projetos pode ser parcialmente removido através da redução da taxa de

juros real e de uma oferta de crédito de longo prazo para o setor produtivo. Kemna (1993)

apresenta um caso real de opção de adiamento envolvendo um arrendamento sobre uma

jazida petrolífera. O autor utiliza o modelo de Black-Scholes adaptado para o pagamento

de dividendos (MERTON, 1973), onde estes dividendos são representados pelos fluxos de

caixa que a empresa deixa de receber se o início da exploração for adiada. O autor conclui

que mesmo quando o VPL do projeto é menor que os custos de implementação, a opção de

adiamento tem valor.

Copeland e Keenam (1998b) analisam ainda a opção de adiar como uma opção de

aprendizado. Estas opções surgem quando a empresa se dispõe a investir na aquisição de

conhecimentos (por exemplo, reduzir a incerteza em P&D, conhecer melhor o mercado ou

obter informações mais precisas sobre as características de uma mina ou poço de petróleo)

e a utilizar estes conhecimentos como forma de otimizar decisões futuras, ou seja,

aumentar o valor da opção.

A teoria de opções é muito utilizada também na análise de projetos envolvendo a

exploração de recursos naturais. Em sua dissertação de mestrado, Silva Filho (1995) utiliza

a teoria de opções para avaliar economicamente a exploração de jazidas de petróleo.

Inicialmente ele considera apenas a volatilidade do preço do óleo como fonte de incerteza.

Posteriormente são incorporados na análise as incertezas técnicas e econômicas referentes

ao custo do investimento. Os modelos propostos pelo autor determinam ainda os preços

ótimos do óleo para exercício da opção de exploração, fechamento temporário da jazida e

abandono do projeto. Em outro trabalho semelhante, Aiube (1995) estuda a avaliação

econômica de uma concessão para exploração de petróleo. Na análise, ele leva em conta a

19

incerteza nos preços do petróleo e a incerteza técnica relativa à estimação do tamanho da

reserva. A primeira fonte de incerteza diz respeito ao valor monetário do projeto e é

resolvido para os casos de aversão e indiferença ao risco. A segunda fonte de incerteza diz

respeito à análise do investimento. Brennam e Schwartz (1990) reconhecem que os

métodos tradicionais falham ao estimar fluxos de caixa relativos à exploração de minerais

devido à alta volatilidade associada aos preços dos mesmos. Os autores desenvolvem um

método de avaliação que considera a possibilidade de exploração como uma opção real e

utiliza informações sobre o mercado de futuros da commodity na avaliação. Embora a

aplicação deste método exija a existência de um mercado futuro, ele pode ser modificado e

aplicado mesmo que este mercado não esteja disponível. Paddock, Siegel e Smith (1988)

desenvolvem uma metodologia para avaliar o arrendamento de reservas petrolíferas

marinhas como uma opção real, integrando um modelo de equilíbrio para o ativo objeto (a

reserva petrolífera). Esta metodologia estabelece também regras que permitem determinar

se e quando a reserva deve começar a ser explorada.

Em um outro trabalho, Copeland e Keenam (1998a) abordam através de estudo de

casos, uma série de investimentos escalonados como uma opção real composta, onde o

exercício de cada opção fornece à empresa não só os fluxos de caixa correspondentes, mas

também uma opção sobre a etapa seguinte. Esta abordagem pode conduzir a resultados

significativamente diferentes daqueles obtidos através dos métodos tradicionais de

avaliação, como FCD e árvores de decisão.

Pindyck (1993) considerou a avaliação de investimentos irreversíveis14 que

demandam tempo até a sua conclusão (time to build) e que estão sujeitos a duas fontes de

incerteza de custos: incertezas quanto a custos técnicos (dificuldades encontradas durante a

fase de implementação) e incertezas ligadas aos preços e/ou regulamentações que afetam

diretamente estes preços. O que o autor coloca é que muitos trabalhos anteriores se

concentraram nas incertezas dos fluxos de caixa futuros e, em alguns casos, as incertezas

relacionadas aos custos superam as relacionadas aos fluxos de caixa. Ele conclui que as

14 Investimentos irreversíveis são aqueles onde o não há a possibilidade de recuperação dos custos de

implantação caso estes (investimentos) apresentem uma rentabilidade abaixo da esperada. Em geral se tratam

de investimentos em projetos muito específicos, como por exemplo, em usinas nucleares e plantas de refino

de petróleo.

20

duas fontes de incerteza de custos podem ter efeitos bastante distintos nas decisões de

investimento, dependendo do tipo de projeto considerado. Rocha (1996) apresenta três

ensaios teóricos onde são desenvolvidas regras ótimas para decisões de investimento na

presença de incertezas diversas. Em um dos capítulos do trabalho, a autora aplica o modelo

desenvolvido por Pindyck (1993) na determinação de uma regra ótima de investimento em

projetos onde, tanto o valor do projeto quanto o investimento necessário para sua

conclusão variam estocasticamente.

A opção de troca de insumos/produtos finais confere à empresa uma valiosa

vantagem sobre seus competidores que não possuem tal flexibilidade. A empresa tem em

mãos uma opção que poderá ser exercida, a seu critério, em função da variação dos preços

de mercado destes insumos/produtos finais. Kulatilaka (1993) reconhece, da mesma forma

que outros autores, as limitações que os métodos tradicionais de fluxo de caixa descontado

possuem e analisa a questão da flexibilidade operacional e gerenciamento ativo à luz da

teoria de opções. Ele desenvolve um modelo simples, utilizando programação dinâmica,

que procura avaliar a opção de troca de insumos presente em projetos com opções

embutidas. No entanto, diferentemente do caso de opções financeiras, o exercício desta

opção (de trocar) dá à empresa não só a posse do ativo objeto (o novo modo de operação),

mas também uma nova opção de trocar (para o modo de operação anterior). Ele ilustra

este modelo através do exemplo de um aquecedor industrial que pode utilizar gás ou óleo

como combustível. A partir deste exemplo, ele chama a atenção para dois pontos

importantes: primeiro, na avaliação de projetos flexíveis com opções embutidas, devem ser

utilizadas taxas de desconto que variem de acordo com a evolução do projeto (ao contrário

das técnicas tradicionais que determinam esta taxa a priori), e segundo, as decisões de

exercer as opções embutidas devem ser tomadas em conjunto com a avaliação do projeto,

ou seja, o gerenciamento ativo deve ser incluído explicitamente na avaliação.

As opções de alteração da escala de produção podem também aumentar o valor de

um projeto. Em momentos onde não seria lucrativo produzir, a gerência pode decidir

suspender temporariamente a produção até que os preços do produto ou condições de

mercado se tornem favoráveis. Ao contrário, em projetos que não possuam esta

flexibilidade, a gerência deve escolher entre fechar definitivamente ou operar com

prejuízo. Da mesma forma, projetos que permitam o aumento da escala de produção

podem trazer os mesmos benefícios. Dixit (1989) analisa as opções de desativar

21

temporariamente e recomeçar a produção em função do preço do produto. Neste trabalho, a

firma inativa e a firma ativa são vistas como ativos que detêm uma opção de compra sobre

a firma no estado alternativo. O modelo desenvolvido inclui custos de desativação e

reativação da produção, além dos custos variáveis de produção. A fonte de incerteza está

no preço de mercado do produto, e não nos custos. O autor conclui que não há um preço

único que determina a mudança de estado, mas sim dois preços distintos, em um

fenômeno conhecido como histerese. O preço em que é ótimo para a empresa inativa

iniciar as suas atividades excede os custos variáveis de produção por um valor

proporcional aos custos de entrada. Da mesma forma, o preço em que é ótimo para a

empresa suspender temporariamente suas atividades é inferior aos custos variáveis por um

valor proporcional aos custos de parada.

Um tipo de opção de aumento de escala é analisado por Kogut (1991). Neste

trabalho, o autor aborda as decisões de investimento e expansão em novos mercados

através de joint ventures como opções reais. Na abordagem tradicional, as joint ventures

são vistas como uma forma de compartilhamento do risco de entrada nestes novos

mercados, por empresas com competências distintas. A hipótese central do trabalho é de

que existe uma assimetria nos resultados de joint ventures em função de movimentos

favoráveis/desfavoráveis do mercado, fato que dá suporte à abordagem do autor. Esta

hipótese é testada através de um estudo estatístico realizado em um conjunto de joint

ventures efetuadas entre 1975 e 1983. Kemna (1993) analisa um caso real com uma opção

de alteração da escala de produção. Neste caso, o autor relata o investimento em um

empreendimento pioneiro que daria à empresa a possibilidade de expandir a escala de

produção em até cinco vezes. Embora apresentando fluxos de caixa negativos durante o

desenvolvimento do protótipo, este empreendimento, se bem sucedido, ofereceria à

empresa uma vantagem competitiva sobre os seus possíveis concorrentes. O autor contribui

com um ponto importante na teoria de opções reais: o prazo da opção. Como era esperada

uma forte entrada da concorrência, a data de exercício foi definida como sendo a data mais

próxima onde se esperava que fosse possível (do ponto de vista tecnológico) o início da

construção da planta industrial.

Outra importante fonte de valor para projetos é a possibilidade de abandono caso as

condições se tornem desfavoráveis. Esta possibilidade se assemelha a uma opção de venda

com o preço atual do ativo-objeto igual ao valor presente do projeto e preço de exercício

22

igual ao valor residual de abandono do projeto. Esta opção deverá ser exercida quando

estiver muito “dentro do dinheiro”. 15 Este tipo particular de opção real é analisado por

Kemna (1993). Neste trabalho o autor apresenta uma situação real envolvendo uma planta

de refino de petróleo. As análises baseadas em FCD apontam para o abandono do projeto

em função da oferta saturada neste mercado e das baixas margens de lucro. No entanto,

quando é feita a análise do projeto como uma opção real, são definidas faixas (em função

da volatilidade dos preços) onde não é ótimo abandonar o projeto.

Um ponto importante para a utilização da teoria de opções é a correta estimação da

volatilidade do ativo-objeto. Diversos autores, entre eles Luehrman (1998) e Lemgruber

(1995), apontam a volatilidade como sendo o parâmetro de mais difícil estimação.

Luehrman (1998) delineia de forma superficial uma metodologia para estimá-la. Hull

(1997) também apresenta de forma superficial uma metodologia para estimação da

volatilidade de ativos financeiros. Becker e Lemgruber (1989) experimentam séries de

preços de fechamento com tamanhos distintos para o cálculo da volatilidade. Eles

concluem que, em geral, os desvios padrão anuais estimados são diferentes. As séries

maiores têm a vantagem de incluir uma quantidade maior de informações. No entanto,

informações mais antigas têm o mesmo peso que informações mais recentes. Lemgruber

(1995) ressalta que alguns analistas contestam a utilização de pesos iguais para

informações incluídas no cálculo da volatilidade. Ele cita também que uma maneira usual

de distribuir estes pesos é assumir um crescimento exponencial constante, partindo-se da

observação mais antiga até a mais recente. O problema torna-se, então, determinar esta

taxa de crescimento. Tibau (1995) compara o desempenho de quatro métodos de estimação

de volatilidade: método de Taylor, o modelo das médias móveis, o modelo de Black-

Scholes para volatilidade e o modelo da volatilidade implícita. No entanto, todos estes

métodos se aplicam a ativos financeiros. Rocha (1993) apresenta, em sua dissertação de

mestrado, uma metodologia para a determinação da volatilidade do ativo-objeto quando

não se observa diretamente os seus preços (ou retornos). A volatilidade é obtida de forma

indireta, a partir da volatilidade de ativos correlacionados com o ativo original. Reiner

(1992) explora o fato de que, em um mercado globalizado, opções sobre um único ativo-

15 Diz-se que uma opção de venda esta está “dentro do dinheiro” quando o seu preço de exercício é superior

ao valor atual do ativo-objeto.

23

objeto podem estar sujeitas a duas fontes de incerteza: a volatilidade do próprio ativo-

objeto e a volatilidade da taxa de câmbio, caso os termos da opção estejam denominados

em uma moeda diferente. Estas opções são chamadas de quanto. Neste artigo, o autor

determina as modificações que devem ser feitas no modelo de Black e Scholes para lidar

com este tipo de opções.

24

4 Metodologia e modelagem

4.1 O estudo de caso

O estudo de caso é uma dentre diversas estratégias de pesquisa. Dentre elas podem

ser destacadas a análise de dados históricos, surveys, experimentos etc. Segundo Yin

(1994), há a idéia errônea de que estas diversas estratégias devem obedecer a uma

hierarquia, sendo que cada uma delas é mais apropriada a um determinado problema de

pesquisa. Por exemplo, estudos de caso seriam mais apropriados para a fase exploratória da

pesquisa enquanto que surveys seriam mais adequados à fase descritiva e experimentos

seriam a única forma de inferência causal. No entanto, segundo o mesmo autor, uma visão

mais apropriada destas diferentes estratégias seria uma visão pluralista, onde cada

estratégia poderia ser utilizada para cada um dos três propósitos da pesquisa: exploratório,

descritivo ou explanatório. Ainda segundo o autor, três condições devem ser consideradas

na definição da estratégia a ser utilizada. São elas: o tipo de pergunta colocada; o nível de

controle que o investigador tem sobre os eventos e variáveis da pesquisa e; o foco em

eventos contemporâneos versus eventos históricos. Ainda assim, o autor coloca que nem

sempre as fronteiras entre as diversas estratégias, ou a ocasião onde cada uma deve ser

utilizada, são claras e bem definidas.

O presente trabalho pretende, através do estudo de caso, comparar duas

metodologias distintas de avaliação de projetos: o método tradicional de FCD e o método

de opções reais. Pretende também determinar para este último, as adaptações necessárias à

sua utilização para o caso. Não é objetivo deste trabalho a generalização do método de

opções reais na avaliação de projetos mesmo porque, como já foi mencionado

anteriormente, este é um método muito vasto e geral. A utilização do estudo de caso pode

ser justificada pelas seguintes razões, dentro das condições citadas por Yin (1994) e

descritas anteriormente: as perguntas de “como”, “quais” e “por que” que a pesquisa

pretende responder são de caráter mais descritivo e explanatório; não requer o controle

sobre os eventos e variáveis da pesquisa e; concentra-se em eventos contemporâneos.

25

Além disso, vários outros artigos e dissertações nacionais que tratam do assunto,

como em KEMNA (1993), KULATILAKA (1993), PADDOCK (1988) e AIUBE (1995),

adotam o estudo de caso como metodologia de pesquisa.

4.2 Modelos de avaliação de opções

Os modelos de avaliação de opções se baseiam geralmente na construção de

portfolios que repliquem o comportamento destas opções ao longo do tempo. Em um

mercado competitivo ideal, não pode ser possível obter ganhos de arbitragem16 envolvendo

posições simultâneas na opção e no portfolio replicante. Conseqüentemente, o valor da

opção em cada instante de tempo deve ser igual ao valor de seu portfolio replicante.

Em seu trabalho seminal, Black e Scholes (1973) obtiveram uma fórmula para o

preço de uma opção de compra em condições de equilíbrio. Eles assumiram que os preços

do ativo objeto seguiam uma distribuição log-normal e mostraram como obter um portfolio

livre de risco através do ajuste contínuo da posição no ativo objeto. Eles obtiveram uma

equação diferencial parcial (EDP) de segunda ordem que governa o valor da opção. Para a

obtenção desta equação foram impostas algumas restrições: a venda a descoberto17 com

utilização dos recursos obtidos é permitida e não possui restrições; não há impostos nem

custos de transação; a taxa de juros livre de risco e a volatilidade dos retornos do ativo

objeto são constantes ao longo da vida da opção; o ativo objeto não paga dividendos.

Cox, Ross e Rubinstein (1979) desenvolveram uma técnica muito popular para

avaliação de opções. Esta técnica consiste na construção de uma árvore – árvore binomial

– que procura representar todos os possíveis caminhos que podem ser seguidos pelo valor

do ativo-objeto durante a vida do derivativo. Assumindo a hipótese de que em cada

instante de tempo futuro o preço do ativo-objeto só pode assumir dois valores distintos, e

que não há oportunidades para arbitragem, o modelo estabelece o preço do derivativo

através de um portfolio que replique os seus fluxos de caixa. Além de ser relativamente

16 De forma simplificada, arbitragem é a possibilidade de se obter ganhos sem o comprometimento de capital

próprio e sem risco de perdas.

17 Venda a descoberto é um procedimento em que o investidor toma emprestado um ativo e o vende com o

compromisso de recomprá-lo e devolvê-lo mais tarde ao titular original.

26

simples, o que torna esta técnica atraente na avaliação de opções, é que nela pode ser

utilizado um princípio importante conhecido como avaliação com neutralidade ao risco

(risk-neutral valuation) (COX, ROSS e RUBINSTEIN, 1979; HULL, 1997; NEFTCI,

1996). Este princípio estabelece as condições, através da determinação de probabilidades

modificadas, onde os investidores não requerem um pagamento de prêmio por risco,

conseqüentemente todos os ativos podem ser avaliados utilizando-se a taxa de retorno livre

de risco. Embora simples, o modelo binomial é uma ferramenta poderosa e genérica para

avaliação de opções. A hipótese do preço do ativo objeto só assumir dois valores no futuro

pode parecer restritiva, mas quando o intervalo de tempo entre dois níveis da árvore

binomial se torna pequeno o suficiente, o modelo adere bem à realidade. Cox, Ross e

Rubinstein (1979) também demonstraram que a fórmula obtida por Black e Scholes (1973)

é um caso limite do modelo binomial quando as premissas assumidas são as mesmas.

Uma terceira forma de avaliação de opções, utilizando o método de Monte Carlo, é

apresentado por Boyle (1977). O método proposto é simples e intuitivo e pode ser

facilmente modificado para suportar diferentes processos de formação de preços de ativos.

Ele se baseia no fato de que a distribuição terminal dos preços dos ativos é determinada

pelo processo de formação destes preços e que este processo pode ser simulado no

computador. Este método é particularmente atraente quando o processo de geração de

preços ou o padrão de dividendos é complexo e para opções cujo valor terminal depende

do caminho seguido pelo ativo objeto (path dependent options).

4.3 Modelo para a unidade de ácido sulfúrico

Nos relatórios de avaliação econômico-financeira da Arafértil, as empresas

contratadas apresentaram estudos separados para a Arafértil com e sem a unidade de ácido

sulfúrico. Embora a metodologia de opções reais tenha surgido como uma alternativa à

utilização das técnicas de FCD, muitas vezes estas últimas são utilizadas na obtenção de

alguns de seus parâmetros de entrada. Na modelagem das opções reais deste trabalho

utiliza-se o valor da unidade de ácido sulfúrico em diversos instantes de tempo. Para o

cálculo deste valor, será utilizado o valor presente do fluxo de caixa diferencial da Arafértil

com e sem a unidade de ácido sulfúrico, apresentado no Quadro 4.1.

27

Quadro 4.1

Modelo para o cálculo do fluxo de caixa diferencial da Arafértil com e sem anova unidade de ácido sulfúrico. O quadro Venda apresenta a receita obtidacom a venda do excedente. O quadro Utilização apresenta a economia com afabricação própria do ácido sulfúrico.

Venda Utilização

(+) Preço de venda do excedente (+) Preço de compra

(×) Quantidade vendida (–) Custo de produção

(=) Vendas brutas (=) Diferença de preços

(–) Deduções sobre vendas (×) Quantidade utilizada

Impostos (=) Economia na utilização (2)

Outros

(=) Vendas líquidas

(–) Custos variáveis de produção

(=) Receita com a venda (1)

Fluxo de Caixa

(+) Receita com a venda (1)

(+) Economia na utilização (2)

(=) Margem de contribuição

(–) Custos fixos

Mão de obra

Manutenção

(–) Investimento

(+) Benefício fiscal da depreciação

(=) Fluxo de Caixa

Preço de compra do ácido sulfúrico – Preço de compra pago pela Arafértil. Nas

avaliações econômico-financeiras este preço era de US$ 110,00/t.

Custo de produção do ácido sulfúrico – Custo variável de produção do ácido sulfúrico,

incluídos os US$ 5,00/t referentes ao transporte. Este preço é considerado constante e igual

a US$ 59,20/t. A Tabela 4.2 apresenta a planilha de custos de produção do ácido sulfúrico.

28

Tabela 4.2

Custos de produção do ácido sulfúrico (em US$/t).

Enxofre 59,50

Utilidades 3,00

Tratamento de efluentes 0,20

Produtos químicos 1,50

Crédito vapor -10,00

Frete e outros 5,00

Total 59,20 Fonte: AFI (1991).

Diferença de preços – É a economia unitária efetuada pela Arafértil ao produzir o seu

próprio ácido sulfúrico.

Quantidade utilizada – É a quantidade de ácido sulfúrico utilizado pela Arafértil na sua

produção, de acordo com a Tabela 2.2, limitada à capacidade da nova unidade.

Economia utilização – É a economia total obtida pela Arafértil ao utilizar o ácido

sulfúrico produzido na nova unidade.

Preço de venda do excedente – Preço de venda do excedente de ácido sulfúrico

produzido, quando houver. Nas avaliações econômico-financeiras foi considerado um

preço de venda constante de US$ 95,00/t. Como no modelo de opções reais o preço do

ácido sulfúrico é uma variável estocástica, optou-se por manter constante a relação entre o

preço de venda do excedente e o preço de mercado do ácido sulfúrico.

Quantidade vendida – É a diferença entre a capacidade de produção da nova unidade e a

quantidade utilizada.

Vendas brutas – É a receita bruta obtida pela Arafértil com a venda do excedente do ácido

sulfúrico.

Impostos – Nas avaliações econômico financeiras foi considerada uma alíquota de 3,27%

incidente sobre as vendas brutas, referente a impostos sobre vendas. Será utilizada esta

mesma alíquota para os modelos propostos.

29

Outros – Nas avaliações econômico-financeiras foi considerada uma alíquota de 0,5%

sobre as vendas brutas, referente a outras despesas variáveis sobre vendas. Será utilizada

esta mesma alíquota para os modelos propostos.

Vendas líquidas – É o resultado de vendas brutas menos as deduções sobre vendas.

Custos variáveis de produção – É o custo total de produção menos os US$ 5,00/t

referentes ao transporte, que é pago pelo comprador.

Receita com a venda – É a economia total obtida pela Arafértil com a venda do excedente

de produção do ácido sulfúrico.

Mão de obra – Custo fixo de mão de obra da nova unidade, não incluído nos custos

variáveis de produção, que começa a ocorrer a partir do início da operação da nova planta.

Manutenção – Custo fixo de manutenção, não incluído nos custos variáveis de produção,

que ocorrere a partir do ano seguinte ao término da construção da nova unidade. A Tabela

4.3 apresenta o custo de manutenção até o final do período projetivo. Para a estimativa do

custo de manutenção após o ano 2000, assumiu-se que esta função é linear e dependente do

número de anos de utilização da unidade. Obteve-se então a seguinte função de regressão,

com R2 > 0,99: custo de manutenção = 227,93 + 11,26 × anos em operação (em US$ mil).

Tabela 4.3

Custo de manutenção da unidade de ácido sulfúrico para o período projetivo (em US$ mil).

1995 1996 1997 1998 1999 2000

Custo de manutenção 240 250 261 273 284 296 Fonte: AFI (1991).

Investimento – Valor do investimento para construção da nova unidade.

Benefício fiscal da depreciação – É igual ao valor da depreciação da nova unidade

multiplicado pela alíquota média de imposto de renda. Embora a nova unidade tenha uma

vida útil de 25 anos, as avaliações econômico-financeiras da Arafértil consideraram um

período de depreciação de 10 anos.

30

Fluxo de caixa – É igual a Receita com a venda + Economia utilização – Custos fixos –

Investimento + Benefício fiscal da depreciação.

Para calcular o valor presente dos diversos componentes dos fluxos de caixa é

necessária a utilização de taxas de desconto que reflitam o risco de cada um desses

componentes (ROSS, WESTERFIELD e JAFFE, 1996). Para os componentes sem risco, é

utilizada a taxa livre de risco, Rf. Para os demais componentes, é utilizado o custo de

capital, que reflete o risco operacional da empresa em função do risco do setor. Como já

citado anteriormente, todos os parâmetros utilizados no cálculo do valor presente unidade

de ácido sulfúrico foram retirados dos relatórios de avaliação, mais especificamente do

relatório elaborado pela empresa AFI (AFI, 1991). A metodologia para o cálculo do custo

de capital da Arafértil, discutido no Manual Conceitual para Avaliação de Empresas18, de

autoria dos próprios analistas da AFI, é dada pela fórmula a seguir:

+−=

DSDtRR SFC 1 (4.1)

onde:

Arafértil. da Líquido Patrimônio Arafértil. da ntoEndividame

renda. de imposto de Alíquota setorial. capital de Custo

Arafértil. da capital de Custo

=====

SDt

RR

S

FC

Também os valores dos parâmetros utilizados no cálculo de RFC foram retirados do

relatório de avaliação da AFI.

18 O Manual Conceitual para Avaliação de Empresas é propriedade da AFI e é de uso exclusivo da empresa.

31

4.4 A opção de adiamento

Como já foi mencionado no Capítulo 2, a opção de adiamento do início de um

projeto tem valor e este valor está na possibilidade de se aguardar que parte da incerteza

futura seja resolvida. A Arafértil tem diante de si a possibilidade de investir em uma nova

unidade de ácido sulfúrico que, como será visto no Capítulo 5 (Resultados obtidos), possui

um VPL positivo. Pelos métodos tradicionais de FCD, a decisão racional a ser tomada seria

iniciar imediatamente o projeto da nova unidade. Mas, ao aguardar ao invés de iniciar o

projeto imediatamente, a Arafértil pode se beneficiar de uma queda futura no preço do

ácido sulfúrico e ainda ter a possibilidade de iniciar o projeto da nova unidade caso o preço

deste produto suba. Nesta seção será desenvolvido o modelo19 para avaliação da nova

unidade com a opção de adiamento do início da construção da mesma. O modelo

desenvolvido segue a metodologia descrita em Dixit e Pindyck (1994).

Considera-se inicialmente a Arafértil frente a possibilidade de construir sua nova

unidade de ácido sulfúrico, sendo F0 o valor deste projeto. No período inicial, o preço de

mercado de uma unidade de ácido sulfúrico é P e a nova unidade tem uma capacidade de

produção igual a C unidades de ácido sulfúrico por período. Supõe-se que no período

seguinte o preço do ácido sulfúrico pode subir para Pu (u > 1) ou cair para Pd (0 < d < 1).

Considera-se então o seguinte portfolio Φ em t = 020:

000 nCPF −=Φ (4.2)

Este portfolio é composto por uma posição longa no projeto, F, e nC posições

curtas no ativo ácido sulfúrico. Em t = 1, dependendo do movimento do preço do ácido

sulfúrico, tem-se dois possíveis valores para o portfolio Φ:

nCPuF −=Φ ++11 (4.3)

e

19 Tanto para esta opção quanto para a opção de mudança de estado de operação, foram desenvolvidos

simuladores em linguagem Pascal. Os programas fonte podem ser obtidos com o autor.

20 Os índices nas fórmulas se referem ao período considerado.

32

nCPdF −=Φ −−11 (4.4)

Toma-se o valor de n de tal forma que o portfolio Φ seja livre de risco, ou seja,

111 Φ=Φ=Φ −+ . Desta forma, tem-se:

nCPdFnCPuF −=− −+11 (4.5)

( )duCPFF

n−

−=

−+11 (4.6)

dudFuF

−−

=Φ+−

111 (4.7)

Como o portfolio Φ é livre de risco, o seu retorno total deve ser igual à taxa livre de

risco, Rf. Desta forma, tem-se:

( ) 01 1 Φ=−−Φ fRy eenCP (4.8)

O segundo termo do lado esquerdo da equação acima corresponde ao valor que

deve ser pago pela posição curta do ativo ácido sulfúrico no portfolio Φ. A taxa y, também

chamada de convenience yield, representa os benefícios usufruídos com a manutenção de

estoques físicos de um determinado ativo. Não fosse isso, nenhum investidor racional

veria vantagem em manter estoques de ácido sulfúrico, conseqüentemente não haveria a

possibilidade de venda curta deste ativo. A manutenção de estoques pode ser encarada

também do ponto de vista estratégico, no caso de um eventual desequilíbrio entre oferta e

demanda deste ativo. Hull (1997) mostra que o valor de y pode ser obtido a partir dos

valores dos contratos futuros do ativo em questão. Substituindo os termos em 4.8 pelas

equações 4.2, 4.6 e 4.7, obtem-se:

( ) fRy eduFF

FeduFF

dudFuF

−−

−=−−−

−−− −+−++−

110

1111 1 (4.9)

E após algumas manipulações algébricas chega-se a:

( )[ ] fReFppFF −−+ −+= 110 1 (4.10)

33

onde

10 ,1 ≤≤−

−+−= pdu

deepyR f

(4.11)21

A equação 4.10 é exatamente igual aquela descrita por Cox, Ross e Rubinstein

(1979), onde o valor de uma opção é igual ao valor presente de seu valor esperado em um

mundo com neutralidade a risco. O termo –ey + 1 na equação 4.11 representa o custo de

manutenção da posição curta do portfolio Φ.

Os valores de F0 e p calculados nas equações 4.10 e 4.11 foram obtidos a partir do

portfolio Φ definido na equação 4.2, com uma posição longa no projeto e um hedge com

posições curtas no ativo. Se, ao invés disso, fosse definido o portfólio

000 nCPF +−=Φ (4.12)

seriam obtidos os mesmos valores para n e para Φ1. Só que, para esta situação, ter-se-ia:

01 Φ=Φ fRe (4.13)

Como agora o hedge é feito com posições longas no ativo, não há mais a

necessidade de pagamento pela manutenção dessas posições. Utilizando um raciocínio

análogo, as equações 4.9, 4.10 e 4.11 resultariam em

fReduFF

FdudFuF

−−

−=−− −++−

110

11 (4.14)

( )[ ] fReFppFF −−+ −+= 110 1 (4.15)

10 , ≤≤−−= pdudep

fR

(4.16)

21 Nota-se que yRyR ff eee −≅+− 1 para Rf e y pequenos. Expandindo-se os dois lados da expressão em série

de Taylor e desprezando-se os termos em x2 e superiores, tem-se: yRyR ff −+=+−−+ 1111 .

34

respectivamente. Estas duas situações podem ser vistas como limites inferior e superior

para o valor do projeto. Observa-se que a equação 4.11 se reduz à equação 4.16 para y = 0.

Resta agora a determinação dos parâmetros u e d. Cox, Ross e Rubinstein (1979)

determinaram estes dois parâmetros no caso limite em que ∆t → 0. Eles argumentaram

que, para que o modelo (binomial) fosse mais realístico, a média e variância dos retornos

do ativo objeto no caso limite deveriam convergir para a média e variância reais do ativo

objeto. Como são 3 os parâmetros a serem determinados no modelo binomial (u, d e p) e a

distribuição contínua é definida por apenas 2 parâmetros (µ e σ), é necessário arbitrar

alguma relação entre 2 dos 3 parâmetros do modelo binomial. Eles obtiveram esta

convergência fazendo e ud /1= . A partir daí, teu ∆= σ e p é dado pela equação 4.16 (ou

4.11, se y ≠ 0). Hull (1997) mostra que existem outras formas de se obter a convergência

desejada. Ao invés de impor d = 1/u, ele fixa p = 0,5 e obtém a seguinte formulação

alternativa para os parâmetros, que será utilizada nas análises efetuadas:

ttyR f

eu∆+∆

−−

=σσ

2

2

(4.17)

ttyR f

ed∆−∆

−−

=σσ

2

2

(4.18)

5,0=p (4.19)

Como já era esperado, ambas as formulações convergem no caso limite, ou seja,

quando ∆t → 0. As avaliações econômico-financeiras da Arafértil apresentam valores

anuais enquanto que os modelos descritos anteriormente supõem intervalos de tempo

muito pequenos. Optou-se, então, pela transformação dos fluxos de caixa anuais em fluxos

de caixa com períodos menores. Nesta transformação, assumiu-se que os valores anuais,

como utilização, custo de mão de obra, manutenção etc. seriam distribuídos uniformemente

ao longo do ano. Embora houvesse outras formas de efetuar esta transformação, optou-se

pela distribuição uniforme por sua simplicidade. As taxas de juros anuais foram

transformadas para seus equivalente contínuos. Por exemplo, se o ano for dividido em n

períodos, tem-se:

35

( )DC Rn

R += 1ln1 (4.20)

onde

.(contínua) períodopor juros de Taxa .(discreta) anual juros de Taxa

ano. um em períodos de Número

===

C

D

RR

n

Para as taxas de crescimento do consumo de ácido sulfúrico após o período

projetivo, adotou-se a taxa equivalente por período:

( ) 11 /1 −+= ne gg (4.21)

onde

período.por ocresciment de Taxaanual. ocresciment de Taxa

ano. um em períodos de Número

===

eggn

A cada instante, o titular do projeto pode iniciá-lo ou adiar a sua decisão por mais

um período. Ao exercer a opção, ou seja, ao iniciar imediatamente o projeto, o titular passa

a ter direito aos fluxos de caixa deste projeto incorrendo em seus custos de implantação.

Conseqüentemente, o titular passa a ter direito ao VPL do projeto. Por outro lado, ao

decidir adiar a decisão, o titular passa a ter direito ao valor esperado do projeto, dado pela

equação 4.10 (ou 4.15). A decisão ótima é dada por:

( )[ ]( )tRtttttt

feFppFVPLF ∆−−∆+

+∆+ −+= 1,max (4.22)

Para que se possa utilizar a equação 4.22, é necessária a determinação do prazo

limite para a implantação do projeto (prazo de vencimento). A Arafértil não enfrenta a

ameaça de novos entrantes, que poderia impor um prazo máximo para o início do projeto

(TRIGEORGIS, 1998). A nova planta serviria primeiramente para suprir a demanda da

própria empresa e, no caso de excedente na produção, para a venda a terceiros. Foram

realizadas algumas simulações para diversos prazos de vencimento e observou-se que para

prazos superiores a 20 anos o valor do projeto praticamente se estabiliza, apresentando

diferenças inferiores a 1%. Desta forma, optou-se por utilizar um prazo de vencimento

36

igual a 30 anos em todas as análises. A Tabela 4.4 apresenta os resultados obtidos nessas

simulações.

Tabela 4.4

Resultados das simulações para determinação do prazo de vencimento do projeto. Ascolunas Dif. representam a diferença percentual do valor atual para o anterior. Para todosos casos Rf = 8%, custo de capital setorial = 17%, preço de venda = 86% e cenárioesperado. n é o número de períodos em um ano (valores em US$ mil e prazos em anos).

n = 1 n = 2 n = 5 n = 10

Prazo devencto Valor Dif. Valor Dif. Valor Dif. Valor Dif.

1 25.168 - 24.513 - 23.937 - 23.746 -

2 26.998 6,78% 25.160 2,57% 24.671 2,98% 24.302 2,29%

5 28.648 5,76% 27.786 9,45% 27.039 8,76% 26.776 9,24%

10 30.536 6,18% 29.281 5,11% 28.485 5,08% 28.259 5,25%

15 30.987 1,46% 29.838 1,87% 29.072 2,02% 28.848 2,04%

20 31.207 0,70% 30.069 0,77% 29.331 0,88% 29.099 0,86%

30 31.398 0,61% 30.249 0,60% 29.509 0,60% 29.276 0,60%

40 31.437 0,12% 30.293 0,15% 29.556 0,16% 29.322 0,16%

50 31.452 0,05% 30.306 0,04% 29.570 0,05% 29.336 0,05%

60 31.456 0,01% 30.310 0,01% 29.574 0,01% 29.340 0,01%

70 31.457 0,00% 30.312 0,01% 29.576 0,01% 29.342 0,01%

Uma vez determinado o prazo de vencimento, resta definir o número de períodos

por ano a ser utilizado. O ideal seria utilizar o maior número possível (50, no caso do

simulador utilizado), mas o custo a ser pago com o aumento do número de períodos é o

aumento no tempo de simulação.22 Para determinar o número ideal de períodos, foram

22 Para a opção de adiamento (árvore binomial), com prazo de vencimento = 30 anos e n = 10 períodos, o

tempo de processamento é de aproximadamente 10 minutos em uma máquina PC AMD K6-II 233 MHz com

32 Mb de memória em ambiente DOS. Para a opção de mudança de estado das operações (Monte Carlo), a

mesma simulação com 10.000 repetições consome aproximadamente 3,5 horas de processamento.

37

também realizadas algumas simulações. Observou-se que, a partir de n = 10 períodos, os

resultados estabilizavam com erro inferior a 1%. Desta forma, optou-se por utilizar n = 10

períodos em todas as análises. A Tabela 4.5 apresenta os resultados obtidos nessas

simulações.

Tabela 4.5

Resultados das simulações para determinação número de períodos em umano. As colunas dif. representam a diferença percentual do valor atualpara o anterior. Para todos os casos Rf = 8%, custo de capital setorial =17%, preço de venda = 86% e cenário esperado. T é o prazo devencimento (valores em US$ mil e prazos em anos).

T = 20 anos T = 30 anos T = 40 anosNum. dePeríodos em

um ano Valor Dif. Valor Dif. Valor Dif.

1 31.207 - 31.398 - 31.437 -

2 30.069 3,78% 30.249 3,80% 30.293 3,78%

5 29.331 2,52% 29.509 2,51% 29.556 2,49%

10 29.099 0,80% 29.276 0,80% 29.322 0,80%

15 29.027 0,25% 29.205 0,24% 29.253 0,24%

20 28.992 0,12% 29.170 0,12% 29.217 0,12%

30 28.952 0,14% 29.132 0,13% 29.179 0,13%

40 28.933 0,07% 29.113 0,07% 29.160 0,07%

50 28.923 0,03% 29.103 0,03% 29.150 0,03%

A volatilidade dos retornos do ácido sulfúrico também é um parâmetro fundamental

para a implementação do modelo. Este parâmetro é utilizado para a determinação dos

fatores u e d utilizados na construção da árvore binomial. Hull (1997) e Lemgruber (1995)

apresentam diversas metodologias para a obtenção da volatilidade de um ativo a partir de

sua série de preços. O amortecimento exponencial (LEMGRUBER, 1995) possui a

vantagem de atribuir um peso maior às observações mais recentes, porém necessita da

determinação do fator de amortecimento. Em vista disso, decidiu-se por estimar a

volatilidade como sendo o desvio padrão da série de retornos do ativo. Outro ponto

importante a ser considerado é a hipótese de log-normalidade dos preços dos ativos

38

(BLACK e SCHOLES, 1973; COX, ROSS e RUBINSTEIN, 1979). Em vista da

impossibilidade de se obter uma série de preços do ácido sulfúrico, optou-se pela utilização

da série de preços para o enxofre. Em função do peso que o custo do enxofre tem no custo

final do ácido sulfúrico (ver Tabela 4.2), acredita-se que estas duas séries sejam fortemente

correlacionadas. A Tabela 4.6 apresenta a série de preços utilizada no cálculo da

volatilidade.

Tabela 4.6

Série de preços do enxofre no mercado internacional para ocálculo da volatilidade (preços em US$/t)

Ano Preço Retorno Ano Preço Retorno

1972 18,50 1982 98,17 -5,06%

1973 18,66 0,86% 1983 90,27 -8,39%

1974 26,45 34,87% 1984 93,98 4,03%

1975 38,32 37,06% 1985 123,07 26,97%

1976 42,04 9,29% 1986 124,27 0,97%

1977 40,07 -4,82% 1987 99,40 -22,33%

1978 42,12 5,01% 1988 96,65 -2,81%

1979 65,78 44,57% 1989 98,34 1,74%

1980 85,94 26,73% 1990 93,69 -4,84%

1981 103,26 18,37% 1991 90,30 -3,69%Fonte: UNCTAD. Commodity Yearbook. New York: United Nations 1972-1991.

Os dados foram submetidos ao teste de Kolmogorov-Smirnov para verificar a

aderência à distribuição normal e obteve-se um nível de significância de aproximadamente

93%. A partir desses dados obteve-se uma volatilidade anual de 17,99% para o enxofre,

que será utilizada como representativa da volatilidade do ácido sulfúrico.

39

4.5 A opção de mudança do estado de operação (suspensão temporária das

operações)

A opção de adiamento do início de um projeto possui valor ao permitir que se

observe a resolução parcial das incertezas futuras antes de se tomar alguma decisão. Uma

vez iniciado o projeto, o titular tem em mãos uma nova opção: a de suspender

temporariamente as operações caso o futuro se mostre desfavorável e retomá-las quando a

situação se mostrar mais favorável. As premissas assumidas para o desenvolvimento

teórico da seção anterior ainda são válidas, o que permite a utilização do conceito de

neutralidade a risco. Agora, a cada instante, a Arafértil deve decidir se inicia

imediatamente o projeto, se suspende a operação (se o projeto já tiver sido iniciado) ou se

retoma a operação (se a operação estiver suspensa). A decisão de adiar ou iniciar

imediatamente o projeto é tomada em função do VPL do projeto: se VPL > 0, inicia-se

imediatamente; caso contrário, adia-se a decisão para o próximo período.

A diferença está na maior flexibilidade adquirida ao se poder suspender

temporariamente as operações da nova unidade. Agora a decisão de suspender ou retomar

as operações deve levar em conta a vida útil restante da unidade, o preço de mercado do

ácido sulfúrico e os custos de suspensão/retomada. Se, em um determinado instante, o VPL

da unidade de ácido sulfúrico, considerando-se apenas a sua vida útil restante, for negativo,

é melhor suspender temporariamente a produção (supondo-se que não há custo de

suspensão). De forma análoga, se a unidade estiver no estado suspenso e o VPL for

positivo, a decisão ótima é reiniciar a produção (também supondo-se que o custo de reiníco

é zero). Supondo-se que os custos de suspensão e reinício não são nulos, o raciocínio é

semelhante.

Esta opção de mudança do estado de operação se assemelha às opções com barreira

(HULL, 1997). As operações são mantidas até que o preço do ácido sulfúrico atinja um

valor V–, quando o VPL da unidade levando-se em conta a sua vida útil restante se torna

negativo e a decisão ótima é suspender as operações. As operações permanecem suspensas

até que o preço do ácido sulfúrico atinja um valor V+, tornando o VPL positivo e a decisão

ótima é reiniciar as operações. A princípio, este padrão poderia ser modelado através de

uma opção down-and-out-call com barreira igual a V– mais uma opção up-and-in-call com

barreira igual a V+. A dificuldade está no fato de que a barreira não é fixa, como no caso

das opções financeiras, e que o preço do ativo objeto pode alcançar a barreira várias vezes

40

sem que a opção deixe de existir. Como o consumo de ácido sulfúrico varia com o tempo,

o VPL da nova unidade também varia com o tempo. Também a utilização da metodologia

de árvore binomial se mostra complexa, pois o valor do projeto na data de vencimento

depende do caminho seguido pelo preço do ácido sulfúrico. Além disso, com o projeto

sendo iniciado antes do vencimento, os fluxos de caixa recebidos nos períodos de

funcionamento deveriam ser adicionados ao valor do projeto. Nestes casos, o método de

Monte Carlo se mostra mais adequado. A idéia é gerar aleatoriamente um grande número

de possíveis caminhos para o preço do ácido sulfúrico. Se o número de repetições for

grande o suficiente, a distribuição de preços será reproduzida e o valor do projeto será a

média aritmética dos valores obtidos para o projeto em cada uma das repetições. Em cada

instante de tempo a decisão ótima (iniciar, suspender ou reiniciar) é tomada em função dos

critérios descritos no início desta seção. A cada período de funcionamento da nova

unidade, o fluxo de caixa gerado é considerado e o valor do projeto é igual ao valor

presente destes fluxos de caixa, mais o valor presente do valor terminal da unidade.23 O

Quadro 4.1 apresenta em forma de algoritmo as decisões ótimas para a opção de mudança

do estado de operação.

23 O valor terminal existe quando o prazo de vencimento é alcançado com a unidade ainda em

funcionamento. Neste caso o valor residual é o VPL da unidade considerando a sua vida útil restante.

41

Quadro 4.1 Esquema ótimo de decisão para a opção de mudança de estado de operação

ESTADO = INÍCIO enquanto não for DATA DE VENCIMENTO faça CUSTO DE MUDANÇA = 0 se ESTADO igual a INÍCIO: se VPL > 0 então

ESTADO = OPERANDO OPERANDO: se VPL + CUSTO PARADA < 0 então

ESTADO = SUSPENSO CUSTO MUDANÇA = CUSTO SUSPENSÃO

SUSPENSO: se VPL – CUSTO REINÍCIO > 0 então ESTADO = OPERANDO CUSTO MUDANÇA = CUSTO REINÍCIO

fim se ESTADO = OPERANDO então considera o fluxo de caixa do período avança para o próximo período fim

As equações 4.17 e 4.18 são modificadas para serem utilizadas na geração dos

caminhos aleatórios:

ztyR f

eu∆+∆

−−

=σσ

2

2

(4.23)

ztyR f

ed∆−∆

−−

=σσ

2

2

(4.24)

onde

tz ∆=∆ ε (4.25)

é a variação no intervalo de tempo t∆ de uma variável aleatória z que segue um processo

de Wiener e ε é uma variável aleatória com distribuição normal padronizada (µ = 0 e σ =

1).

42

Como esta opção é modelada através de simulação, deve-se determinar o número

mínimo de iterações necessárias. Mais uma vez foram realizadas algumas simulações e

observou-se que acima de 10.000 iterações o erro percentual era praticamente inexistente.

A Tabela 4.7 apresenta os resultados dessas simulações.

Outro cuidado que foi tomado a fim de permitir uma comparação mais precisa entre

os resultados das diversas simulações realizadas foi o de manter sempre a mesma

seqüência de números aleatórios. Mesmo utilizando-se 10.000 iterações por simulação,

esta medida permite que as diversas situações simuladas sejam submetidas às mesmas

condições do ambiente.

Tabela 4.7

Resultados das simulações para determinação número necessário de iterações. As colunasDif. representam a diferença percentual do valor atual para o anterior. Para todos os casosRf = 8%, custo de capital setorial = 17%, preço de venda = 86%, T = 30 anos, n = 10períodos e cenário esperado (valores em US$ mil).

Iterações Valor Dif.

10 71.189

50 70.580 -0,86%

100 70.837 0,36%

500 70.030 -1,15%

1000 69.849 -0,26%

2000 69.983 0,19%

5000 69.993 0,01%

10000 70.124 0,19%

20000 70.126 0,00%

50000 70.151 0,04%

4.6 Limitações e simplificações adotadas nos modelos propostos

Ao se tentar modelar a realidade incorre-se geralmente em algumas simplificações a

fim de tornar o modelo tratável do ponto de vista prático. Algumas dessas simplificações

43

acarretam em limitações aos modelos propostos. A taxa de juros livre de risco (Rf) foi

considerada constante ao longo dos 30 anos de vida do projeto. No entanto, se for levado

em conta que todas as análises foram efetuadas em moeda forte (US$), fatores como

inflação e risco cambial são minimizados, implicando em uma taxa de juros livre de risco

mais estável e menos volátil. Uma alternativa seria a utilização do modelo de Merton

(1973), que procura resolver esta questão ao considerar Rf como sendo estocástica. No

entanto, o custo a ser pago seria um aumento na complexidade do modelo sem que se

possa avaliar o efeito desta simplificação no valor das opções. Outro ponto que cabe ser

ressaltado é a utilização de técnicas de FCD, como o VPL, na determinação de alguns

parâmetros de entrada da metodologia de avaliação de opções utilizada.

Na modelagem da opção de mudança do estado de operação, assumiu-se que os

períodos que a unidade permanecesse com as operações suspensas não seriam computados

na vida útil da mesma. Indiretamente está-se assumindo que a tecnologia utilizada não se

tornaria obsoleta e que a suspensão das operações não deterioraria a unidade. Com certeza

há outras possibilidades diferentes desta. Não há informações nos relatórios de avaliação

que sugiram a adoção de uma ou de outra modelagem. Não obstante, a decisão tomada não

invalida a metodologia e modelos propostos. Cabe apenas ressaltar que o efeito desta

decisão nos valores obtidos é positivo.

Outra simplificação adotada foi considerar o benefício fiscal da depreciação

ocorrendo em cada período e não ao final de cada ano. Esta simplificação também tem um

efeito positivo nos valores das opções. Por outro lado, o benefício fiscal do prejuízo não foi

considerado no modelo, sendo o seu efeito negativo.

44

5 Resultados obtidos

5.1 Análise dos resultados

As simulações foram conduzidas de forma a replicar todas as situações apresentadas

nos relatórios de avaliação da Arafértil. Dentro do cenário esperado, foram realizadas

simulações para 5 diferentes custos de capital setorial (15%, 16%, 17%, 18% e 19%) que,

de acordo com a equação 4.1, resultaram em 5 diferentes custos de capital para a Arafértil

(13,53%, 14,43%, 15,33%, 16,24% e 17,14%, respectivamente). Para cada um destes 5

diferentes custos de capital foram utilizados os preços de venda do excedente do ácido

sulfúrico de 51,20%, 59,09%, 68,18%, 77,27%, 86,36% e 95,45% do valor de mercado.

Estes valores correspondem ao percentual dos preços de venda de US$ 56,32, US$ 65,00,

US$ 75,00, US$ 85,00, US$ 95,00 e US$ 105,00 utilizados na análise de sensibilidade

presente nos relatórios de avaliação em relação ao valor de mercado de longo prazo do

ácido sulfúrico no mercado internacional, estimado em US$ 110,00. Para cada uma das

situações acima utilizou-se uma convenience yield (y) de 0 e 8%. Considerou-se como caso

base a situação com custo de capital setorial de 17%, preço de venda do excedente de

86,36% e y = 8%. Este caso base corresponde ao custo de capital setorial e preço de venda

do excedente mais prováveis dentro do cenário esperado, de acordo com os relatórios de

avaliação.

Como ilustração, o valor obtido para o projeto da unidade para o cenário esperado

no caso base foi de US$ 29.276 mil (Tabela 5.1). Para este mesmo cenário, considerou-se

uma taxa de juros livre de risco (Rf) de 8%, uma taxa de crescimento do consumo de ácido

sulfúrico (g) de 4% e uma volatilidade para o ácido sulfúrico (σ) de 17,99%, todos

expressos em termos anuais. Também foram utilizados para todas as situações um prazo de

vencimento igual a 30 anos e 10 períodos por ano. Para a opção de mudança do estado de

operação, que utilizou o método de Monte Carlo, utilizou-se 10.000 iterações.

Para o cenário otimista, foram utilizados os mesmos custos de capital setorial e

apenas o preço de venda do excedente de 86,36%, que representa um valor conservador de

venda para o excedente em relação ao valor de mercado de longo prazo estimado. Neste

cenário também utilizou-se uma convenience yield de 0% e de 8%. Os valores de Rf, e σ

45

foram os mesmos que no cenário esperado e utilizou-se g igual a 6% aa. Os demais

parâmetros foram os mesmos que para o cenário esperado.

As Tabelas 5.1 e 5.2 apresentam os resultados obtidos para a opção de adiamento nos

cenários esperado e otimista, respectivamente. Nelas, a coluna FCD representa os valores

obtidos pelas empresas de consultoria para a planta de ácido sulfúrico, utilizando o método

de fluxo de caixa descontado. A coluna Diferença apresenta a diferença percentual do

valor obtido com o método de opções reais em relação aquele obtido pelo método de FCD,

ou seja, o prêmio percentual da opção. Para a mesma situação ilustrada acima, o prêmio

percentual da opção de adiamento foi de 93%. As Tabelas 5.3 e 5.4 apresentam os

resultados obtidos para a opção de mudança do estado de operação para os cenários

esperado e otimista, respectivamente.

46

Tabela 5.1

Valores obtidos para a opção de adiamento – Cenário esperado. A coluna Diferençarepresenta a diferença percentual dos valores obtidos em relação aos valores dasavaliações do BNDES. Rf = 8%, g = 4%, σ = 17,99%, T = 30 anos e # períodos = 10.(valores em US$ mil).

Valor do projeto DiferençaCusto de capitalsetorial FCD y = 0 y = 8 FCD y = 0 y = 8

Preço de venda = 51%

15% 11.368 135.254 26.175 - 1090% 130%

16% 8.175 125.406 23.737 - 1434% 190%

17% 5.690 116.556 21.592 - 1948% 279%

18% 3.721 108.493 19.673 - 2816% 429%

19% 2.140 101.285 17.972 - 4633% 740%

Preço de venda = 59%

15% 13.998 135.254 27.885 - 866% 99%

16% 10.527 125.406 25.320 - 1091% 141%

17% 7.811 116.556 23.047 - 1392% 195%

18% 5.649 108.493 21.005 - 1821% 272%

19% 3.903 101.285 19.200 - 2495% 392%

Preço de venda = 68%

15% 17.028 135.254 30.086 - 694% 77%

16% 13.237 125.406 27.348 - 847% 107%

17% 10.256 116.556 24.912 - 1036% 143%

18% 7.871 108.493 22.724 - 1278% 189%

19% 5.934 101.285 20.791 - 1607% 250%

Preço de venda = 77%

15% 20.058 135.254 32.512 - 574% 62%

16% 15.947 125.406 29.596 - 686% 86%

17% 12.701 116.556 26.995 - 818% 113%

18% 10.092 108.493 24.650 - 975% 144%

19% 7.965 101.285 22.575 - 1172% 183%

47

Tabela 5.1 - continuação

Valor do projeto DiferençaCusto de capitalsetorial FCD y = 0 y = 8 FCD y = 0 y = 8

Preço de venda = 86%

15% 23.090 135.254 35.167 - 486% 52%

16% 18.660 125.406 32.057 - 572% 72%

17% 15.149 116.556 29.276 - 669% 93%

18% 12.318 108.493 26.761 - 781% 117%

19% 9.999 101.285 24.539 - 913% 145%

Preço de venda = 96%

15% 26.131 135.254 38.022 - 418% 46%

16% 21.378 125.406 34.716 - 487% 62%

17% 17.602 116.556 31.756 - 562% 80%

18% 14.548 108.493 29.076 - 646% 100%

19% 12.038 101.285 26.690 - 741% 122%

Tabela 5.2

Valores obtidos para a opção de adiamento – Cenário otimista. A coluna Diferençarepresenta a diferença percentual dos valores obtidos em relação aos valores dasavaliações do BNDES. Rf = 8%, g = 6%, σ = 17,99%, T = 30 anos e # períodos = 10.(valores em US$ mil).

Valor do projeto DiferençaCusto de capitalsetorial FCD y = 0 y = 8 FCD y = 0 y = 8

Preço de venda = 86%

15% 25.408 135.254 36.316 - 432,3% 42,9%

16% 20.495 125.406 33.109 - 511,9% 61,5%

17% 16.629 116.556 30.241 - 600,9% 81,9%

18% 13.527 108.493 27.645 - 702,0% 104,4%

19% 10.999 101.285 25.351 - 820,9% 130,5%

48

Tabela 5.3

Valores obtidos para a opção de mudança do estado de operação – Cenário esperado.A coluna Diferença representa a diferença percentual dos valores obtidos em relaçãoaos valores das avaliações do BNDES. Rf = 8%, g = 4%, σ = 17,99%, T = 30 anos, #iterações = 10.000 e # períodos = 10. (valores em US$ mil).

Valor do projeto DiferençaCusto de capitalsetorial FCD y = 0 y = 8 FCD y = 0 y = 8

Preço de venda = 51%

15% 11.368 444.324 50.252 - 3808% 342%

16% 8.175 444.252 50.123 - 5334% 513%

17% 5.690 444.718 49.995 - 7715% 778%

18% 3.721 444.570 49.848 - 11847% 1239%

19% 2.140 445.212 49.698 - 20704% 2222%

Preço de venda = 59%

15% 13.998 453.511 54.535 - 3139% 289%

16% 10.527 453.731 54.418 - 4210% 416%

17% 7.811 453.485 54.292 - 5705% 595%

18% 5.649 453.960 54.159 - 7936% 858%

19% 3.903 454.044 54.016 - 11533% 1284%

Preço de venda = 68%

15% 17.028 464.736 59.640 - 2629% 250%

16% 13.237 464.850 59.538 - 3411% 349%

17% 10.256 465.188 59.421 - 4435% 479%

18% 7.871 465.054 59.294 - 5808% 653%

19% 5.934 464.958 59.165 - 7735% 897%

Preço de venda = 77%

15% 20.058 476.453 64.907 - 2275% 223%

16% 15.947 476.698 64.812 - 2889% 306%

17% 12.701 476.456 64.708 - 3651% 409%

18% 10.092 476.561 64.602 - 4622% 540%

19% 7.965 476.662 64.484 - 5884% 709%

49

Tabela 5.3 - continuação

Valor do projeto DiferençaCusto de capitalsetorial FCD y = 0 y = 8 FCD y = 0 y = 8

Preço de venda = 86%

15% 23.090 488.446 70.297 - 2015% 204%

16% 18.660 488.359 70.212 - 2517% 276%

17% 15.149 488.490 70.124 - 3124% 362%

18% 12.318 488.310 70.027 - 3864% 468%

19% 9.999 488.254 69.927 - 4783% 599%

Preço de venda = 96%

15% 26.131 500.559 75.771 - 1815% 190%

16% 21.378 500.555 75.701 - 2241% 254%

17% 17.602 500.642 75.629 - 2744% 329%

18% 14.548 500.490 75.549 - 3340% 419%

19% 12.038 500.698 75.466 - 4059% 526%

Tabela 5.4

Valores obtidos para a opção de mudança do estado de operação – Cenário otimista.A coluna Diferença representa a diferença percentual dos valores obtidos em relaçãoaos valores das avaliações do BNDES. Rf = 8%, g = 6%, σ = 17,99%, T = 30 anos, #iterações = 10.000 e # períodos = 10. (valores em US$ mil).

Valor do projeto DiferençaCusto de capitalsetorial FCD y = 0 y = 8 FCD y = 0 y = 8

Preço de venda = 86%

15% 25.408 497.231 72.611 - 1857,0% 185,8%

16% 20.495 496.990 72.531 - 2324,9% 253,9%

17% 16.629 497.184 72.446 - 2889,9% 335,7%

18% 13.527 496.960 72.348 - 3573,8% 434,8%

19% 10.999 497.211 72.248 - 4420,5% 556,9%

50

Dentre os resultados obtidos para a opção de adiamento no cenário esperado

(Tabela 5.1), obteve-se para y = 8, o valor máximo de US$ 38.022 mil (custo de capital

setorial = 15% e preço de venda = 96%) e um valor mínimo de US$ 17.972 mil (custo de

capital setorial = 19% e preço de venda = 56%). Para y = 0, estes valores são de US$

135.254 mil e US$ 101.285 mil, respectivamente. Para a opção de mudança do estado de

operação (Tabela 5.3) estes valores são de US$ 75.771 e US$ 49.968 para y = 8 e de US$

500.698 e US$ 444.252 para y = 0.

Os resultados obtidos para a opção de adiamento estão de acordo com a literatura

consultada. Por exemplo, Dixit e Pindyck (1994) consideram a opção de adiamento como

um custo de oportunidade (prêmio da opção) que deve ser levado em conta quando as

técnicas de FCD são utilizadas. Eles relatam que este custo pode ser grande e as regras de

investimento que o ignoram podem conduzir a erros grosseiros. Para esta opção, obteve-se

para y = 8% valores até 8 vezes superiores aos obtidos nos relatórios de avaliação (cenário

esperado, custo de capital = 19% e preço de venda = 51%). Com y = 0%, este fator

aumenta para 47 vezes (US$ 101.285 contra US$ 2.140). Para o caso base, obteve-se

valores cerca de duas vezes superiores para y = 8% (US$ 29.276 contra US$ 15.149) e

cerca de 8 vezes superiores para y = 0% (US$ 116.556 contra US$ 15.149). Os valores

obtidos para a opção de mudança de estado de operação são consideravelmente superiores

aos obtidos para a opção de adiamento e, conseqüentemente, aos contidos nos relatórios de

avaliação. As diferenças neste caso chegam a 208 vezes para y = 0% (cenário esperado,

custo de capital = 19% e preço de venda = 51%) e a 22 vezes para y = 8%. Para o caso base

obteve-se fatores de 32 vezes para y = 0% (US$ 488.490 contra US$ 15.149) e de 4,6 vezes

para y = 8% (US$ 70.124 contra US$ 15.149).

Como era esperado, para um mesmo custo de capital setorial, o valor da nova planta

aumenta com o aumento do preço de venda do excedente de ácido sulfúrico. Observa-se,

no entanto, que ao contrário do que ocorre com o valor da planta, o prêmio percentual da

opção de adiamento diminui com o aumento do preço de venda do excedente (ver Tabela

5.5). Isto ocorre visto que, para um preço de venda do excedente suficientemente elevado,

o exercício da opção (execução imediata do projeto) se torna mais vantajoso do que a sua

manutenção (adiamento da execução do projeto) em função do aumento da economia na

utilização e venda do excedente. O mesmo pode ser observado para a opção de mudança

do estado de operação. Este fenômeno é descrito com detalhes em Dixit e Pindyck (1994).

51

Tabela 5.5

Prêmio percentual das opções de adiamento e de mudança do estadode operação para os diversos preços de venda do excedente de ácidosulfúrico para o cenário esperado. Em todos os casos, o custo decapital setorial é de 17%.

Opção de adiamento Opção de mud. est. op.Preço de vendado excedente y = 0 y = 8 y = 0 y = 8

51% 1948% 279% 7715% 778%

59% 1392% 195% 5705% 595%

68% 1036% 146% 4435% 479%

77% 818% 113% 3651% 409%

86% 669% 93% 3124% 362%

96% 562% 80% 2744% 329%

Observa-se que, para um determinado preço de venda, o prêmio percentual para a

opção de adiamento (coluna Diferença da Tabela 5.1) aumenta com o aumento da taxa de

desconto utilizada nas avaliações do BNDES. Um aumento na taxa de desconto representa

um aumento do risco do projeto. A metodologia de opções reais captura melhor este

aumento de risco como indicado pelo aumento do prêmio percentual. Observa-se também

que, para um mesmo custo de capital setorial, os valores da opção de adiamento para y = 0

são iguais independentemente do preço de venda. Isto ocorre porque a partir de um

determinado período, o consumo de ácido sulfúrico se torna superior à capacidade de

produção, conseqüentemente não há venda de excedente. O VPL do projeto se torna uma

função linear da economia na utilização do ácido produzido (ver Quadro 4.1). Neste caso,

o valor da opção de adiamento é igual ao VPL do projeto, se iniciado imediatamente, e

ambos são independentes do preço de venda do excedente.

Para a opção de mudança do estado de operação, observa-se que, para um mesmo

preço de venda do excedente, os valores obtidos são praticamente os mesmos

independentemente do custo de capital setorial. Isto pode ser explicado a partir da forma de

52

cálculo do valor desta opção. Este valor é definido como sendo a soma do valor presente

dos fluxos de caixa gerados durante os períodos em que a unidade esteve operando,

utilizando-se a taxa de juros livre de risco. Como apenas a decisão de continuar operando

ou suspender as operações depende do custo de capital setorial utilizado, era de se esperar

que estes valores fossem próximos. Pode-se concluir, então, que a decisão de

continuar/suspender as operações é pouco sensível ao custo de capital setorial utilizado.

Barbosa et ali (1996) estudaram a privatização da Arafértil e utilizaram o modelo

de Black e Scholes (1973) para o cálculo do valor do projeto da unidade de ácido sulfúrico.

Foram utilizadas as mesmas fontes para as informações sobre o caso. Eles consideraram o

prazo de vencimento variando de 1 a 6 anos e uma volatilidade anualizada de 36.97%. A

fim de possibilitar a comparação dos resultados, foram realizadas simulações com o prazo

de vencimento variando de 1 a 6 anos, com ambas volatilidades. Os resultados para o caso

base são apresentados na Tabela 5.6.

Tabela 5.6

Comparação dos valores da opção de adiamento para o modeloproposto e Black e Scholes, no caso base. T é o prazo devencimento, em anos; Dif. é a diferença percentual entre os valoresobtidos e Black e Scholes. (valores em US$ mil).

σσσσ = 17,99% σσσσ = 36,97%T Black e

Scholes Valor Dif. Valor Dif.

1 26.958 23.746 -12% 28.473 5%

2 23.501 24.302 3% 31.717 26%

3 20.891 25.441 22% 34.607 40%

4 18.795 26.211 39% 36.482 48%

5 17.034 26.777 57% 38.041 55%

6 15.504 27.225 76% 39.186 60% Fonte: Barbosa e outros (1996)

53

Comparando-se os resultados para todos os preços de venda, obteve-se um erro

médio de 29% com desvio padrão de 36% para σ = 17,99% e erro médio de 41% com

desvio padrão de 20% para σ = 36,97%.

5.2 O que aconteceu com a Arafértil

Na avaliação conduzida pela AFI, o valor operacional da Arafértil foi calculado em

US$ 33.256 mil sem a planta de ácido sulfúrico e US$ 48.405 mil com a planta de ácido

sulfúrico, ambos para o caso base. Comparando-se esses valores, conclui-se que o valor

agregado pela planta de ácido não pode ser desprezado, sendo considerado como valor

operacional da empresa aquele que considera os benefícios da nova planta. Para se chegar

ao valor final da empresa, foram feitos alguns ajustes relativos à dívida junto ao BNDES,

ao excesso de capital de giro e à vida útil da mina arrendada, além de um prêmio de 0,5%

sobre o custo de capital setorial de 17% do caso base (AFI, 1991). Após efetuados estes

ajustes, o valor da empresa foi calculado em US$ 39.004 mil. Em seguida, para a

determinação do preço mínimo de venda, deve-se considerar apenas a participação da

Petrofértil no capital da empresa, que era de 33,33%. Finalmente, o preço mínimo de venda

foi estimado em US$ 13.000 mil. No primeiro leilão da Arafértil, realizado em 1992, não

houve compradores interessados. Em 1993, as duas empresas de consultoria foram

novamente contratadas para preparar uma atualização dos relatórios de avaliação. Nesta

época, havia uma super-oferta de ácido sulfúrico em nível mundial, o que fez com que o

preço de venda deste produto despencasse para valores em torno de US$ 50,00. As

empresas de consultoria avaliaram que esta situação deveria se manter e concluíram que a

nova unidade de ácido sulfúrico não seria mais economicamente viável, visto que a queda

no preço do ácido sulfúrico compensaria os efeitos da nova planta (AFI, 1993; MÁXIMA

& PAULO ABID, 1993). Nesta nova avaliação, o valor operacional da Arafértil foi

calculado em US$ 40.115 mil para o caso base. A Arafértil foi finalmente privatizada em

16 de abril de 1994, sendo arrematada pelo valor de US$ 13.000 mil.24

24 Fonte: http://www.bndes.gov.br/pndnew/compriv.htm

54

6 Conclusões e sugestões para trabalhos futuros

O presente trabalho teve como principal objetivo a aplicação prática da

metodologia de opções reais na avaliação de projetos, que vem ganhando maior

importância a cada dia. Para tal, utilizou-se o caso da privatização da Arafértil S.A.,

conduzido pelo BNDES em 1991. Mais especificamente, foi efetuada a avaliação do

projeto de uma unidade de ácido sulfúrico, um insumo que a Arafértil comprava nos

mercados interno e externo.

Nos capítulos iniciais foi feita uma revisão bibliográfica do tema, onde se procurou

cobrir os principais assuntos da área. Em seguida, foram desenvolvidos os modelos para as

duas opções reais estudadas: opção de adiamento e opção de mudança do estado de

operação. Os modelos se basearam na metodologia utilizada por Dixit e Pindyck (1994),

onde se utilizou o princípio de neutralidade a risco, inicialmente descrito em Cox, Ross e

Rubinstein (1979). Para a opção de adiamento, utilizou-se um modelo de avaliação

baseado em árvores binomiais, enquanto que para a opção de mudança do estado de

operação foi utilizado o método de Monte Carlo. Os resultados obtidos se mostraram

coerentes com a teoria. Procedeu-se então à comparação destes resultados com aqueles

obtidos nas avaliações do BNDES e também com resultados apresentados em outra

avaliação da unidade de ácido sulfúrico, que utilizou a metodologia de Black e Scholes.

A utilização da teoria de opções na avaliação de projetos mostrou-se simples e

robusta. Os modelos e algoritmos desenvolvidos são simples e de forte apelo intuitivo. O

princípio de neutralidade a risco utilizado neste trabalho é uma ferramenta poderosa que

permite a superação de dois importantes problemas presentes nas técnicas tradicionais de

FCD, muito criticados por pesquisadores e profissionais da área: a determinação da taxa de

desconto adequada e a estimação das probabilidades dos diversos cenários futuros. Em um

mundo com neutralidade a risco, o retorno esperado para os ativos é a taxa de juros livre de

risco, facilmente observável no mercado. Neste trabalho utilizou-se a mesma taxa de juros

livre de risco utilizada nas avaliações do BNDES, o que permitiu a comparação dos

resultados. Para a opção de adiamento, obteve-se para o caso base um prêmio de US$

29.276 mil (93% superior ao valor das avaliações do BNDES), enquanto que para a opção

de mudança de estado obteve-se um prêmio de US$ 70.124 (362% superior) para este

mesmo caso. Estes resultados se mostraram coerentes com a literatura consultada (Dixit e

Pindyck, 1994). A distribuição de probabilidades dos retornos do ativo objeto pode ser

55

estimada a partir de dados históricos e o modelo binomial pode ser adaptado à distribuição

obtida. A distribuição de probabilidades dos retornos do ativo objeto utilizado, o enxofre,

mostrou ser log-normal com um nível de significância de 93%. Além disso, o método

binomial permite ainda a modelagem de opções mais complexas, como foi feito para o

caso da opção de mudança do estado de operação. Dificilmente um método baseado em

FCD capturaria adequadamente todo o valor presente neste tipo de opção. Por fim,

olhando-se os resultados obtidos, pode-se perceber que os métodos tradicionais baseados

em FCD, como o utilizado nas avaliações da Arafértil efetuadas pelas duas empresas de

consultoria, não capturam de forma adequada toda a flexibilidade presente em projetos que

podem, ao longo de sua vida, ter o seu curso alterado em função da mudança do ambiente.

No entanto, apesar das críticas, cabe aqui repetir mais uma vez que, se aplicados com

cuidado e senso crítico, os métodos baseados em FCD podem gerar resultados consistentes,

conforme citam Hodder e Riggs (1985) e Smith e Nau (1995), entre outros.

Como ocorre na maioria dos casos, neste trabalho incorreu-se em algumas

simplificações a fim de tornar os modelos propostos tratáveis na prática. Ficam aqui

algumas sugestões para sua continuação, visando o aperfeiçoamento dos modelos

propostos. O modelo binomial utilizado na opção de adiamento é de implementação

simples e intuitiva, mas exigiu o cálculo do VPL da unidade de ácido sulfúrico para cada

nó da árvore. Barbosa et ali (1996), utilizando uma modelagem mais simplificada,

utilizaram o método de Black e Scholes para a avaliação desta mesma opção. Sugere-se

para este caso, uma análise mais aprofundada da possibilidade de utilização da

metodologia de Black e Scholes, ou de outra fórmula fechada de avaliação de derivativos

na avaliação da opção de adiamento.

Como já foi mencionado em capítulos anteriores, a opção de mudança do estado de

operação se assemelha a um portfolio de opções com barreira. Sugere-se que seja

pesquisada a metodologia de replicação estática de opções, como as propostas por Carr,

Ellis e Gupta (1998) e Derman, Ergener e Kani (1995). Esta última consiste na replicação

do comportamento de uma opção alvo e se baseia na construção de um portfolio replicante

composto de opções convencionais com diversas maturidades e preços de exercício.

Depois de formado, este portfolio replicará o comportamento da opção alvo para uma

grande faixa de valores do ativo objeto e datas, sem que sejam necessários ajustes na sua

56

composição. Nenhuma outra restrição é imposta, além daquelas da teoria básica de opções,

o que torna o método simples e atraente.

Os dois modelos aqui propostos se baseiam em processos geométricos de geração

de preços de ativos (processo de Wiener generalizado). Segundo os testes de aderência

realizados, a série de preços de enxofre utilizada pertencia a uma distribuição de preços

log-normal. No entanto, parece razoável que os preços de commodities como o enxofre

obedeçam a processos de geração de preços distintos, como processos de reversão à média.

Sugere-se então que a metodologia aqui descrita seja utilizada com diferentes processos de

geração de preços.

A Arafértil adquiria o ácido sulfúrico dos mercados nacional e internacional. Além

do risco do preço deste insumo, a Arafértil ainda estava exposta ao risco de câmbio no caso

do produto importado. Fica como sugestão para a análise do efeito do risco de câmbio no

valor da planta de ácido sulfúrico a utilização de modelos de avaliação que levem em conta

duas ou mais variáveis estocásticas no processo de geração de preços do ativo objeto,

como o sugerido por Boyle (1988).

Finalmente, considerou-se para a opção de mudança do estado de operação, que o

custo de mudança de estado era nulo, o que não ocorre na prática. Dixit (1989) mostra que

quando estes custos não são nulos, ocorre um fenômeno conhecido como histerese, onde

passam a existir dois preços distintos do ativo objeto que provocam a mudança de estado.

O menor deles provoca a mudança para o estado “suspenso”, enquanto o maior provoca a

mudança para o estado “operando”. Sugere-se que o custo de mudança de estado seja

incorporado ao modelo aqui proposto e que sejam observadas as implicações de tal fato.

57

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