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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Programa de Pós-Graduação em Urbanismo (PROURB) GISELE SILVA BARBOSA PERSPECTIVAS SUSTENTÁVEIS: Desafios para o Desenvolvimento Urbano- Ambiental RIO DE JANEIRO 2008

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

Faculdade de Arquitetura e Urbanismo

Programa de Pós-Graduação em Urbanismo (PROURB)

GISELE SILVA BARBOSA

PERSPECTIVAS SUSTENTÁVEIS:

Desafios para o Desenvolvimento Urbano-Ambiental

RIO DE JANEIRO

2008

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GISELE SILVA BARBOSA

PERSPECTIVAS SUSTENTÁVEIS: Desafios

para o Desenvolvimento Urbano-Ambiental

Volume 1

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro como parte dos requisitos para a obtenção do Título de Mestre em Urbanismo. Área Temática: Ambiente Urbano.

Orientador: Prof. Dr. Oscar Daniel Corbella.

Rio de Janeiro

Janeiro de 2008

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B238

Barbosa, Gisele Silva,

Perspectivas sustentáveis: desafios para o

desenvolvimento urbano-ambiental./ Gisele Silva Barbosa. – Rio

de Janeiro: UFRJ/FAU, 2008.

173 f. : il., 30 cm. Orientador: Oscar Daniel Corbella.

Dissertação (Mestrado) –

UFRJ/PROURB/Programa de Pós-Graduação em Urbanismo,

2008.

Referências bibliográficas: p.151-159.

1. Urbanismo. 2. Sustentabilidade. 3. Ecologia urbana. 4. Desenvolvimento sustentável. 5. Quissamã (Rio de Janeiro, RJ). I. Corbella, Oscar Daniel. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Programa de Pós-Graduação em Urbanismo. III. Título.

CDD 711

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GISELE SILVA BARBOSA

PERSPECTIVAS SUSTENTÁVEIS: Desafios

para o Desenvolvimento Urbano-Ambiental

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro como parte dos requisitos para a obtenção do Título de Mestre em Urbanismo. Área Temática: Ambiente Urbano.

Aprovada em: _________________________________

Banca Examinadora:

_______________________________________

Orientador: Prof. Dr. Oscar Daniel Corbella, PhD.

Instituição: PROURB – FAU – UFRJ

_______________________________________

Profa. Dra. Denise B. Pinheiro Machado, Doutora.

Instituição: PROURB – FAU – UFRJ

________________________________________

Profa. Dra. Lúcia Maria Sá A. Costa, Ph.D.

Instituição: PROURB – FAU – UFRJ

________________________________________

Profa. Dra. Virgínia Maria N. de Vasconcellos, Doutora.

Instituição: EBA – UFRJ

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Ao Rei e à minha família.

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AGRADECIMENTOS

Foram muitas as pessoas que contribuíram para a

conclusão desta dissertação, tanto direta quanto indiretamente.

Agradeço ao Professor Corbella pelo seu apoio, orientação e

sua confiança desde o início do mestrado;

Aos Professores Lúcia Costa, Ivete Farah e Roberto Segre

pelas suas colaborações na qualificação;

À Professora Denise, Coordenadora do PROURB, que,

juntamente com os demais professores, sempre prezou pela

qualidade da pós-graduação;

Aos alunos de iniciação científica, Tarcísio e Patrícia, que

contribuíram no início das pesquisas;

Aos funcionários da Prefeitura de Quissamã que me

atenderam com toda a atenção e paciência;

À minha família que tanto torceu por mim, principalmente,

meus pais que me incentivaram e supriram todas as minhas

necessidades;

Ao meu marido, Reinaldo, que com muita paciência e

amor sempre esteve ao meu lado;

Agradeço imensamente a Deus que me mostrou seu

cuidado comigo e seu poder em atuar em minha vida.

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RESUMO

BARBOSA, Gisele Silva. Perspectivas Sustentáveis: Desafios para o Desenvolvimento Urbano-Ambiental. Rio de Janeiro, 2008. Dissertação (Mestrado em Urbanismo). Programa de Pós-Graduação em Urbanismo (PROURB), Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2008.

A presente dissertação apresenta o tema da sustentabilidade urbana como uma

alternativa aos entraves urbanos atuais. A partir daí, discutem-se conceitos como

desenvolvimento sustentável, ecologia urbana, planejamento ambiental e desenho

ambiental. A análise e o conhecimento desses conceitos pautam as discussões sobre as

patologias urbanas das cidades atuais e a necessidade de novas formas de se pensar a

cidade.

São inúmeros os problemas urbanos enfrentados nas grandes cidades latino-

americanas nos dias atuais. Desde a falta de infra-estrutura até a violência gerada por

problemas sociais. A partir desta perspectiva coloca-se a possibilidade da atuação no meio

urbano através de estratégias e princípios sustentáveis.

Para que fossem expostos tais princípios sustentáveis urbanos, primeiramente, foi

apresentada a importância do meio ambiente natural perante as intervenções urbanas. A

otimização da arquitetura e do urbanismo depende do conhecimento da interação entre o

meio urbano e diversos elementos ambientais, como o clima, o vento, a radiação solar,

entre outros.

Para elucidar a sustentabilidade urbana em uma cidade real, foi realizado o estudo

em uma cidade de pequeno porte, que está em expansão como muitas outras cidades

brasileiras. No entanto, se destaca por apresentar peculiaridades ambientais e de gestão

política. A cidade escolhida foi Quissamã, um município do norte fluminense que faz parte

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da Bacia de Campos, recebe royalties da Petrobrás e está realizando obras de infra-estrutura

pautadas por um Plano Diretor de Desenvolvimento Sustentável.

O levantamento de dados urbanos e ambientais da cidade permitiu o levantamento

das estratégias sustentáveis urbanas específicas para Quissamã. Ainda, discute-se a

relevância desses princípios para o desenvolvimento urbano.

A d issertação buscou analisar as questões sustentáveis urbanas no intuito de

desenvolver parâmetros urbanísticos que possam auxiliar no desenvolvimento urbano

sustentável de pequenas e médias cidades.

Palavras-chave: Urbanismo para cidades pequenas. Sustentabilidade. Princípios Urbanos Sustentáveis.

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ABSTRACT

BARBOSA, Gisele Silva. Perspectivas Sustentáveis: Desafios para o Desenvolvimento Urbano-Ambiental. Rio de Janeiro, 2008. Dissertação (Mestrado em Urbanismo). Programa de Pós-Graduação em Urbanismo (PROURB), Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2008.

This work presents the subject of the urban sustainability as an alternative to the

current urban impediments. From there, concepts as sustainable development, urban

ecology, ambient planning and ambient drawing will be discussed. The analysis and the

knowledge of these concepts rule the arguments on the urban pathologies of the current

cities and the necessity of new forms of if thinking the city.

In the present time, there are numberless urban problems in the biggest Latin

American cities. Since the infrastructure lack until the violence generated for social

problems. To leave of this perspective it is placed sustainable possibility of the performance

in the urban way through strategies and principles.

So that such sustainable principles were displayed urban, first, the importance of the

natural environment before the urban interventions was presented. The optimization of the

architecture and urbanism depends on the knowledge of the interaction enters the urban

way and diverse ambient elements, as the climate, the wind, the solar radiation, among

others.

To elucidate the urban sustainability in a real city, the study in a city of small

transport was carried through, that is in expansion as many other cities of small average e

transport of Brazil. The chosen city was Quissamã, a city of the of the state of Rio de

Janeiro north that is part of the Campos basin, receives royalties from Petrobra's and is

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carrying through infrastructure workmanships directed by a Managing Plan of Sustainable

Development.

The urban and ambient data-collecting of the city allowed the survey of the specific

urban sustainable strategies for Quissamã. Still, it is argued relevance of these principles for

the urban development.

This dissertation searched to analyze the urban sustainable questions in intention to

develop urbanites parameters that can assist in the sustainable urban development of small

e average cities.

Keywords: Urbanism for small cities. Sustainability. Sustainable Urban principles.

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SUMÁRIO:

1 INTRODUÇÃO

1.1 INTRODUÇÃO 14

1.2 CASO ESTUDADO: QUISSAMÃ 17

1.3 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO 18

2 CONCEITUAÇÃO 20

2.1 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL 21

2.2 ECOSSISTEMA URBANO E ECOLOGIA URBANA 28

2.3 PLANEJAMENTO AMBIENTAL URBANO E DESENHO

AMBIENTAL 33

3 PATOLOGIAS URBANAS 39

4 INTERAÇÃO DO MEIO NATURAL E URBANO 46

4.1 O CLIMA REGIONAL 48

4.1.1 O Clima Urbano 50

4.2 INFLUÊNCIA DA RADIAÇÃO SOLAR E DA ILUMINAÇÃO

NATURAL 52

4.3 EFEITOS DA URBANIZAÇÃO NOS ELEMENTOS CLIMÁTICOS

E AMBIENTAIS 54

4.3.1 Efeitos térmicos: Ilha de Calor 54

4.3.2 Ventos 56

4.3.3 Áreas verdes 59

4.3.4 Geologia 62

4.3.5 Água e seus condicionantes 65

5 - ESTUDO DE CASO: QUISSAMÃ 70

5.1 CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS E ATUALIDADES 72

5.2 LOCALIZAÇÃO E ACESSIBILIDADE 77

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5.3 - CONHECIMENTO DO MEIO AMBIENTE NATURAL

E URBANO 82

5.3.1 - Elementos do meio ambiente 82

5.3.1.1 Clima 82

5.3.1.2 Radiação solar e vento 86

5.3.1.3 Vegetação 89

5.3.1.4 Hidrografia 95

5.3.1.5 Geomorfologia 100

5.3.2 Elementos do meio urbano 103

5.3.2.1 Tipologias urbanas 103

5.4 ESTRATÉGIAS URBANAS SUSTENTÁVEIS PARA QUISSAMÃ 121

6 ESTRATÉGIAS PARA SE ALCANÇAR O URBANISMO

SUSTENTÁVEL 127

6.1 ESTRATÉGIAS URBANAS SUSTENTÁVEIS 129

7 DISCUSSÃO SOBRE RESULTADOS E CONSIDERAÇÕES FINAIS 145

7.1 DISCUSSÃO SOBRE RESULTADOS 146

7.2 CONSIDERAÇÕES FINAIS 149

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA 151

ANEXO 1:

BREVE HISTÓRICO DOS ANTECEDENTES 160

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LISTA DE FIGURAS:

CAPÍTULO 2:

Figura 2.1 - Desenho esquemático relacionando parâmetros para se alcançar o desenvolvimento sustentável.

24

Figura 2.2 - Modelo de um ecossistema mostrando o ambiente de entrada e o de saída.

30

Figura 2.3 - McHarg usa diagramas ecológicos para delimitar a rota do “Richmond Parkway”.

35

Figura 2.4 - A Fonte “Ira Keller” em Portland reflete a inspiração de Halprin. 35

CAPÍTULO 3:

Figura 3.1 - Favela da Rocinha. 40

Figura 3.2 - Veículos poluidores. 40

Figura 3.3 - Vista aérea da Cidade do México. 41

Figura 3.4 - Foto aérea da grande São Paulo. 41

CAPÍTULO 5:

Figura 5.1 - Mapa de localização 71

Figura 5.2 - Casa Mato de Pipa. Mais antiga casa de Senhor de Engenho da região Norte Fluminense.

73

Figura 5.3 - Solar Mandiquera. É um dos solares mais luxuosos do Estado do Rio e retrata a riqueza da época. O solar foi construído entre 1875 e 1879.

73

Figura 5.4 e 5.5 - Canal Campo-Macaé. Uma das maiores obras da engenharia do século XIX, foi idealizado pelo inglês John Henry Freese com o objetivo de ligar o rio Paraíba do Sul ao rio Macaé. Possui alguns trechos navegáveis, mas sofre com a assoreação.

74

Figura 5.6 - Museu Casa de Quissamã. 76

Figura 5.7 - Uma das principais escolas da Sede Municipal. 76

Figura 5.8 - Hospital Municipal de Quissamã. 77

Figura 5.9: Um dos postos de saúde da Prefeitura. 77

Figura 5.10 - Malha rodoviária de Quissamã 78

Figura 5.11 - Mapa com os núcleos urbanos de Quissamã. 79

Figura 5.12 - Ferrovias da Rede Centro Atlântica S.A. (2007). 80

Figura 5.13 - Vista aérea do núcleo urbano de Barra do Furado. 81

Figura 5.14 - Temperaturas médias anuais da Região Norte /Nordeste 84

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Figura 5.15 - Precipitações anuais da Região Norte /Nordeste 85

Figura 5.16 - Radiação Solar Incidente 87

Figura 5.17 - Trajetória solar (latitude 22°). 87

Figura 5.18 – Zona de Amortecimento. 91

Figura 5.19 - Estudos do Limite do Parque Nacional de Jurubatiba. 92

Figura 5.20 - Praia de João Francisco. 93

Figura 5.21 - Praia de Visgueiro. 93

Figura 5.22 - Mata arbórea (caixetas) situada a 700 m da praia entre as lagoas. 93

Figura 5.23 - Vegetação de moitas com arbustos de copas arredondadas. 93

Figura 5.24 - Perfis do Parque Nacional da Restinga. 93

Figura 5.25 - Mapa de cobertura vegetal. 94

Figura 5.26 - Mapa esquemático dos principais recursos naturais de Quissamã. 95

Figura 5.27 - Mapa das 10 regiões Hidrográficas do Estado do Rio de Janeiro. 96

Figura 5.28 - Mapa Hidrológico da região de Quissamã 97

Figura 5.29 - Gráfico de Abastecimento de água. 98

Figura 5.30 - Mapa Geológico de Quissamã. 101

Figura 5.31 - Mapa dos Solos. 102

Figura 5.32 - Vetores de crescimento de Quissamã. 105

Figura 5.33 - Setor Morfológico 1 – situação da quadra modelo em 2005. 106

Figura 5.34 - Setor Morfológico 2 – situação da quadra modelo em 2005. 107

Figura 5.35 - Setor Morfológico 3 – situação da quadra modelo em 2005. 108

Figura 5.36 - Setor Morfológico 4 – situação da quadra modelo em 2005. 109

Figura 5.37 - Setor Morfológico 5 – situação da quadra modelo em 2005 110

Figura 5.38 - Vista da via Conde de Araruama. 112

Figura 5.39 - Vista da Avenida Amílcar Pereira da Silva com a ciclovia no eixo central.

112

Figura 5.40 - Eixo de crescimento da Sede Municipal de Quissamã. 113

Figura 5.41 - Sistema viário do centro urbano de Quissamã. 113

Figura 5.42 - Praça de Canto da Saudade com quadra de esportes e pouca arborização.

115

Figura 5.43 - Praça da Matriz 116

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Figura 5.44 - Parque Aquático Municipal. 117

Figura 5.45 - Parque de Exposições (parque de eventos). 117

Figura 5.46 - Mapa de densidade demográfica. 118

Figura 5.47 - Vista do centro da cidade 118

Figura 5.48 - Fachadas frontais de edificações do centro urbano. 118

Figura 5.49 - Mapa do núcleo principal de Quissamã. 119

Figura 5.50 - Prefeitura de Quissamã. 120

Figura 5.51 - Espaço Cultural. 120

Figura 5.52 - Terreno com passagem de gasodutos subterrâneos. 120

CAPÍTULO 6:

Figura 6.1 - Metabolismo Linear 133

Figura 6.2 - Metabolismo Circular. 133

Figura 6.3 - Esquema de cidades poli-nucleada, com “células-bairro” com diferentes atividades que atendam um determinado número de habitantes.

137

Figura 6.4 - Desenho esquemático ilustrando a formação de cidades de pequeno e médio porte, interligadas entre si.

138

ANEXO 1

Figura 1.1 - Princípios para o crescimento de uma cidade - Diagrama 167

Figura 1.2 - Diagrama de E. Howard – Os três ímas. 167

Figura 1.3 - Ville Radieuse - Le Corbusier. 169

Figura 1.4 - Suisun City, Victorian Harbor, Califórnia, 1996. 172

Figura 1.5 - The Crossings, implantação, Califórnia. 172

LISTA DE TABELAS:

Tabela 1 – Listagem indicativa das mudanças médias climáticas causadas pela urbanização.

47

Tabela 2 - Organograma dos Principais Benefícios das Áreas Verdes Urbanas. 61

Tabela 3 - Radiação Incidente em Campos do Goytacazes. 86

Tabela 4 - Radiação Incidente em Macaé 87

Tabela 5 - Dados originais obtidos no Mapeamento Digital do Estado do Rio de Janeiro.

91

Tabela 6 - Classificação viária urbana. 111

Tabela 7 - Praças da sede municipal de Quissamã. 114

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Capítulo 1

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1.1 INTRODUÇÃO

A presente Dissertação de Mestrado do Programa de Pós-graduação em Urbanismo da

Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Federal do Rio de Janeiro teve

como proposta pensar estratégias e princípios sustentáveis para o urbanismo trabalhando-

se, fundamentalmente, a relação do desenho urbano com o meio ambiente natural. Como

estudo de caso e área de análise, foi escolhida a cidade de Quissamã, Rio de Janeiro,

visando à melhoria da qualidade de vida e à preservação do meio ambiente.

O objetivo principal foi expor e analisar essas estratégias e princípios urbanos

sustentáveis que podem delinear o desenvolvimento de um planejamento urbano ambiental.

Foi desenvolvido um estudo conceitual e teórico a cerca dos temas relacionados à

sustentabilidade urbana. Através desse estudo salientam-se as questões mais relevantes para

a compreensão do assunto, como o conceito de Desenho Ambiental definido por Marta

Romero (2001), a lém de definições para o Planejamento Ambiental, o conceito de

Desenvolvimento Sustentável, e ainda, o de Ecologia Urbana. A revisão desses temas foi o

embasamento da pesquisa, a partir daí, buscou-se evidenciar a relevância da

sustentabilidade urbana. Estes conceitos e teorias foram analisados e testados no estudo de

caso referido.

Muitas vezes o conceito de sustentabilidade é banalizado e tratado simplesmente como

um conveniente artifício ideológico e político. Além disso, a falta de critérios específicos e

leis incisivas no âmbito da gestão ambiental urbana nos indicam lacunas na literatura e

falhas em experiências já realizadas que buscavam uma sustentabilidade para o lugar.

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O desenvolvimento sustentável é um marco de referência para todas as atividades

humanas. Esse conceito deve estar intrinsecamente ligado com a concepção urbanística. Os

estudos urbanos têm um papel básico neste cenário, pois são as cidades as áreas mais

prejudicadas no contexto atual de descompasso entre as atividades humanas e o meio

ambiente.

Henri Lefebvre (1901, terceira edição 2001), no início do século passado, colocou a

necessidade de se pensar de outras formas a cidade; ele não fala em sustentabilidade, mas

suas colocações até hoje auxiliam os estudos e as novas proposições urbanas agora

consideradas sustentáveis. Durante toda a história, foram muitas as comunidades e atores

que desenvolveram estudos e projetos que, de certa forma, buscavam uma cidade com

maior qualidade de vida1. No entanto, conceber uma visão que abranja a totalidade dos

problemas urbanos é quase impossível. Do mesmo modo que acontece com os objetos das

ciências exatas, a cidade possui uma complexidade tal que praticamente impossibilita uma

compreensão espacial total e satisfatória, além do fato de que para a compreensão temporal

deve entender-se que qualquer cidade está constantemente em transição. Portanto, se tem

consciência de que a visão da sustentabilidade não esgota o estudo da cidade.

Algumas questões atuais referentes às estratégias e princípios sustentáveis já são

pensadas há muitos anos, mas infelizmente ou não foram postas em prática ou muitas vezes

foram distorcidas. Um exemplo é o conceito de rede urbana, que apesar de ter sido

explicitado em alguns planos urbanísticos que denominam as aglomerações do entorno de

uma cidade maior como “cidades satélites”, os projetos desses lugares são deixados de lado

e se tornam áreas degradadas ocupadas por pessoas que foram “excluídas” da real cidade

1 Um aprofundamento sobre o desenvolvimento histórico é apresentado no Anexo 1.

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planejada. Uma rede urbana capaz de gerar trabalho e renda, proporcionando melhor

qualidade de vida.

O desenho urbano sustentável não isola uma cidade do resto do mundo. A idéia de que

uma cidade sustentável tem que permanecer isolada é errônea e está levando muitos

projetos ecológicos de cidades serem abandonados por apresentarem essa opinião, pois

nenhuma comunidade se sustenta nos dias atuais somente com o que produz, sem relações

externas.

Hoje, uma possível cidade autônoma se privaria de diversos produtos e relações que

provavelmente a levaria ao abandono. Com isso, entra em discussão uma nova categoria

analítica que é o regionalismo. Na base do pensamento globalista, se pensa que um projeto,

tanto urbano quanto arquitetônico, pode ser copiado e implantado como modelo em

diversas regiões sem importar o lugar, o clima e a topografia regional. A partir dessa idéia é

possível observar, nas cidades tropicais, edifícios totalmente envidraçados, ou ainda,

revestidos com materiais de cor escura que aumentam a temperatura interna e externa

necessitando de mais energia para resfriar o ambiente e torná- los habitáveis (CORBELLA e

YANNAS, 2003). Uma vez que todos os climas são diferentes, é necessário que cada

cidade encontre o seu próprio caminho para alcançar a sustentabilidade (CORBELLA,

1998).

O reflexo da falta de planejamento urbano e, muitas vezes, de políticas e projetos

insatisfatórios, são visíveis em grande parte das cidades atuais. Essas estão sofrendo com a

favelização, a urbanização desordenada e com a violência gerada por problemas sociais que

são em parte causados pela macro-escala das mesmas.

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Partindo do princípio de que o espaço urbano interfere nas relações humanas e no

comportamento social, o urbanismo sustentável pode ser reflexo de uma consciência

ecológica provocada por diversos problemas ambientais.

1.2 CASO ESTUDADO: QUISSAMÃ

No intuito de exemplificar os princípios sustentáveis em um ambiente real foi

escolhida uma cidade pequena como muitas outras do Brasil, mas com algumas

peculiaridades que a diferencia das demais. A cidade escolhida, como já foi dito na

introdução, foi Quissamã, localizada no Norte fluminense e que faz parte da Bacia de

Campos dos Goytacazes.

Quissamã é uma cidade que está recebendo um grande número de habitantes em

decorrência da presença de postos de extração de petróleo da Petrobrás em seu município e

de seu potencial turístico. Grande parte dessa população é oriunda de diferentes estados

brasileiros à procura de trabalho. Apesar de ainda não apresentar grandes problemas

ambientais e sociais, a cidade passa por mudanças significativas. Pode-se notar que devido

aos acontecimentos econômicos das últimas décadas, ela recebe intervenções que têm como

objetivo suportar esse crescimento, mas de uma forma geral, esses não são embasados em

conceitos sustentáveis. Não obstante, possui uma vasta área de restinga que é protegida

pelo Parque Nacional da Restinga que separa a aglomeração urbana principal do litoral.

Essa é uma das principais peculiaridades do município de Quissamã, pois uma grande parte

do seu território é protegida por legislações ambientais.

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Embora possua menos de 20 mil habitantes, Quissamã tem um Plano Diretor de

Desenvolvimento Sustentável. É uma das poucas cidades brasileiras que fazem referência

direta sobre sustentabilidade no Plano Diretor. O desígnio por parte das autoridades de

frisar a intenção de desenvolver de uma forma sustentável já destaca esse município dos

demais. No entanto, a intenção de ser sustentável não o torna efetivamente sustentável. A

partir daí, é necessário avaliar as proposições do Plano Diretor e os planos de ações para

avaliar a real importância do termo sustentabilidade no desenvolvimento da cidade. O

município apresenta, ainda, como característica peculiar um padrão de povoamento urbano

que é polinuclear, onde a vida rural se interpenetra com a urbana (PDDSQ, 2006). O

município conta com a Sede principal, que se localiza no cento do território

quissamanhense, além de outros pequenos povoados localizados tanto próximos da Sede

como próximos do litoral. Entre esses pequenos povoados estão as fazendas, as áreas de

cultivo e as áreas de preservação ambiental.

A Cidade de Quissamã foi escolhida como estudo de caso por ser uma cidade pequena

que recebe uma grande quantia de “royalties” da Petrobrás e está revertendo parte desse

valor para investir no desenvolvimento urbano. Ainda, o termo sustentabilidade está

presente no Plano Diretor da cidade e foi colocado como primordial para o

desenvolvimento de Quissamã.

1.3 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO

A dissertação foi subdividida em três etapas. A primeira refere-se aos capítulos 2, 3 e

4, e apresenta o embasamento teórico e conceitual da dissertação. Analisaram-se a s

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questões teóricas, como os conceitos relevantes ao tema; analisaram-se às patologias

urbanas, que de certa forma justificam a relevância do estudo, e por último, a relação do

meio natural com o meio urbano.

A segunda etapa da dissertação, que está descrita no capítulo 5, aponta um diagnóstico

ambiental e urbano do Município de Quissamã mostrando dados que pautam os estudos

sobre os princípios sustentáveis específicos para a região. Ainda, apresentam-se propostas

sustentáveis específicas para a cidade de Quissamã embasadas nos dados urbanos e

ambientais levantados no capítulo. A dissertação permitiu a discussão sobre o que está

sendo feito em uma cidade específica, ainda em crescimento, mas já consolidada, como

muitas outras pequenas cidades brasileiras.

Na terceira etapa da dissertação, que compreende os capítulos 6 e 7, são apresentadas

as estratégias e os princípios urbanos sustentáveis gerais que podem contribuir para a

sustentabilidade urbana de pequenas e médias cidades brasileiras. A partir das estratégias e

princípios levantados buscou-se delinear discussões a cerca do tema e apresentar a s

considerações finais pertinentes à continuidade dos debates sobre a sustentabilidade urbana.

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Capítulo 2

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2 CONCEITUAÇÃO

2.1 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

A questão ambiental, no Brasil, se intensifica nos discursos e estudos no curso da

década de 1960 após uma fase de intenso crescimento urbano. Com a crise do petróleo no

final dos anos sessenta e início da década de setenta, a reflexão acerca do futuro, que se

apresenta incerto, começa a ser exposta no pensamento político, social e filosófico levando

ao questionamento da participação do homem no Planeta. Neste contexto, o conceito de

“desenvolvimento sustentável” surge como um termo que expressa os anseios coletivos

muitas vezes colocadas como uma utopia.

O termo “desenvolvimento sustentável” surgiu a partir de estudos da Organização

das Nações Unidas sobre as mudanças climáticas, como uma resposta para a humanidade

perante a crise social e ambiental pela qual o mundo passava a partir da segunda metade do

século XX. Na Comissão Mundial para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento

(CMMAD), também conhecida como Comissão de Brundtland, presidida pela norueguesa

Gro Haalen Brundtland, no processo preparatório a Conferência das Nações Unidas –

também chamada de “Rio 92” foi desenvolvido um relatório que ficou conhecido como

“Nosso Futuro Comum”. Tal relatório contém informações colhidas pela comissão ao longo

de três anos de pesquisa e análise, destacando-se as questões sociais, principalmente no que

se refere ao uso da terra, sua ocupação, suprimento de água, abrigo e serviços sociais,

educativos e sanitários, além de administração do crescimento urbano. Neste relatório está

exposta uma das definições mais difundidas do conceito: “o desenvolvimento sustentável é

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aquele que atende as necessidades do presente sem comprometer as possibilidades de as

gerações futuras atenderem suas próprias necessidades”.

O relatório Brundland considera que a pobreza generalizada não é mais inevitável e

que o desenvolvimento de uma cidade deve privilegiar o atendimento das necessidades

básicas de todos e oferecer oportunidades de melhora de qualidade de vida para a

população. Um dos principais conceitos debatidos pelo relatório foi o de “eqüidade” como

condição para que haja a participação efetiva da sociedade na tomada de decisões, através

de processos democráticos, para o desenvolvimento urbano.

O relatório ainda ressaltou, em relação às questões urbanas, a necessidade de

descentralização das aplicações de recursos financeiros e humanos, e a necessidade do

poder político favorecer as cidades em sua escala local. No tocante aos recursos naturais,

avaliou a capacidade da biosfera de absorver os efeitos causados pela atividade humana, e

afirmou que a pobreza já pode ser considerada como um problema ambiental e como um

tópico fundamental para a busca da sustentabilidade.

O conceito de desenvolvimento sustentável foi firmado na Agenda 21, documento

desenvolvido na Conferência “Rio 92”, e incorporado em outras agendas mundiais de

desenvolvimento e de direitos humanos, mas o conceito ainda está em construção segundo

a maioria dos autores que escrevem sobre o tema, como por exemplo, Carla Canepa (2007),

José Eli da Veiga (2005) e Henri Ascelard (1999).

Apesar de ser um conceito questionável por não definir quais são as necessidades do

presente nem quais serão as do futuro, o relatório de Brundtland chamou a atenção do

mundo sobre a necessidade de se encontrar novas formas de desenvolvimento econômico,

sem a redução dos recursos naturais e sem danos ao meio ambiente. Além disso, definiu

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três princípios básicos a serem cumpridos: desenvolvimento econômico, proteção ambiental

e eqüidade social. Mesmo assim, o referido relatório foi amplamente criticado por

apresentar como causa da situação de insustentabilidade do Planeta, principalmente, o

descontrole populacional e a miséria dos países subdesenvolvidos, colocando somente

como um fator secundário a poluição ocasionada nos últimos anos pelos países

desenvolvidos.

Para a Comissão Mundial do Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD, 1988,

1991) os objetivos que derivam do conceito de desenvolvimento sustentável estão

relacionados com o processo de crescimento da cidade e objetiva a conservação do uso

racional dos recursos naturais incorporados às atividades produtivas. Entre esses objetivos

estão: crescimento renovável; mudança de qualidade do crescimento; satisfação das

necessidades essenciais por emprego, água, energia, alimento e saneamento básico; garantia

de um nível sustentável da população; conservação e proteção da base de recursos;

reorientação da tecnologia e do gerenciamento de risco e reorientação das relações

econômicas internacionais (CMMAD, 1988, 1991).

Leila Ferreira afirma em seu livro “A questão ambiental: sustentabilidade e políticas

públicas no Brasil” que:

o padrão de produção e consumo que caracteriza o atual estilo de desenvolvimento tende a consolidar-se no espaço das cidades e estas se tornam cada vez mais o foco principal na definição de estratégias e políticas de desenvolvimento (FERREIRA, 1998).

Deste modo, é de grande importância a busca de alternativas sustentáveis que

esquadrinhem qualidade de vida para a dinâmica urbana, consolidando uma referência para

o processo de planejamento urbano.

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Uma outra definição para “desenvolvimento sustentável” ou “sustentabilidade” foi

descrita por Satterthwaite como:

a resposta às necessidades humanas nas cidades com o mínimo ou nenhuma transferência dos custos da produção, consumo ou lixo para outras pessoas ou ecossistemas, hoje e no futuro (SATTERTHWAITE, 2004).

O desenvolvimento sustentável deve ser uma conseqüência do desenvolvimento

social, econômico e da preservação ambiental (Figura 2.1).

F i g u r a 2 . 1 - Desenho esquemático relacionando parâmetros para se alcançar o desenvolvimento sustentável.

Foram organizadas outras conferências mundiais a partir da R io -92, como a

Conferência Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável em Johanesburgo, realizada dez

anos mais tarde, na África do Sul. Aspásia Camargo faz um retrospecto sobre os dez anos

que se passaram entre a Conferência do Rio e a da África do Sul e destaca que muitas

foram as frustrações quanto as perspectivas positivas da Rio-92, mas o que avançou foi o

reconhecimento do desenvolvimento sustentável como uma possível e aceitável solução

para os problemas ambientais e sociais enfrentados pelo mundo (CAMARGO, 2004).

Não é esperado que toda uma Nação conscientize-se de seu papel essencial no

quadro ambiental e social mundial. Apesar disso, as diversas discussões sobre o termo

“desenvolvimento sustentável” abrem à questão de que é possível desenvolver sem destruir

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o meio ambiente. Desta forma, o conceito de desenvolvimento sustentável descrito no

“Nosso Futuro Comum”, já mencionado, foi incorporado pelo Direito Ambiental. Uma

disciplina autônoma que é baseada nos “princípios que regulam seus objetivos e diretrizes

que devem se projetar para todas as normas ambientais, norteando os operadores desta

ciência e salvando-os das dúvidas ou lacunas na interpretação das normas ambientais.”

(RODRIGUES, 2002).

O Direito Ambiental deve ser firmado em princípios e normas específicas, que têm

como premissa buscar uma relação equilibrada entre o homem e a natureza ao regular todas

as atividades que possam afetar o meio ambiente. O fato de que o desenvolvimento

sustentável tenha respaldo na comunidade brasileira e poder, através do Direito Ambiental,

fazer parte de uma disciplina jurídica, torna o termo capaz de definir um novo modelo de

desenvolvimento.

Para Carla Canepa “o desenvolvimento sustentável caracteriza-se, portanto, não

como um estado fixo de harmonia, mas sim como um processo de mudanças, no qual se

compatibiliza a exploração de recursos, o gerenciamento de investimento tecnológico e as

mudanças institucionais com o presente e o futuro.” (CANEPA, 2007).

O desenvolvimento sustentável é um processo de aprendizagem social de longo

prazo, que por sua vez, é direcionado por políticas públicas orientadas por um plano de

desenvolvimento nacional. Assim, a pluralidade de atores sociais e interesses presentes na

sociedade colocam-se como um entrave para as políticas públicas para o desenvolvimento

sustentável (BEZERRA e BURSZTYN, 2000).

Para Henri Acselrad, as seguintes questões discursivas têm sido associadas à noção

de sustentabilidade:

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- da eficiência, antagônica ao desperdício da base material do desenvolvimento, com reflexos da racionalidade econômica sobre o “espaço não-mercantil planetário”;

- da escala, determinante de limites quantitativos para o crescimento econômico e suas respectivas pressões sobre os recursos ambientais;

- da eqüidade, articuladora analítica entre princípios de justiça e ecologia;

-da auto-suficiência, desvinculadora de economias nacionais e sociedades tradicionais dos fluxos de mercado mundial, como estratégia apropriada para a capacidade de auto-regulação comunitária das condições de reprodução da base material do desenvolvimento;

- da ética, evidenciadora das interações da base material do desenvolvimento com as condições de continuidade da vida do planeta. (ACSELRAD, 2001).

No Brasil, principalmente nas grandes metrópoles, os problemas causados pelo

aumento da população urbana sem a presença do poder público acompanhando essa

urbanização “quase que espontânea” (vide as favelas) pode ser notado desde muitos anos.

Para Ermínia Maricato, a imagem das cidades brasileiras está definitivamente associada à

violência, à poluição, ao tráfego caótico, às enchentes, à desigualdade social, entre outros

fatores (MARICATO, 2000).

Neste momento histórico, na grande maioria dos países, inclusive no Brasil, o

desenvolvimento está diretamente ligado à vida das cidades. Por isso, outro importante

conceito é o de sustentabilidade no ambiente urbano (ou sustentabilidade urbana).

A sustentabilidade urbana é definida por Henri Acselrad como a capacidade das

políticas urbanas se adaptarem à oferta de serviços, à qualidade e à quantidade das

demandas sociais, buscando o equilíbrio entre as demandas de serviços urbanos e

investimentos em estrutura (ACSELRAD, 1999). No entanto, também é imprescindível

para a sustentabilidade urbana o uso racional dos recursos naturais, a boa forma do

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ambiente urbano baseado na interação com o clima e os recursos naturais, além das

respostas às necessidades urbanas com o mínimo de transferência de dejetos e rejeitos para

outros ecossistemas atuais e futuros.

A grande maioria dos países desenvolvidos, tanto quanto os que estão em

desenvolvimento, e também suas cidades, estão explorando a capacidade de seus recursos

naturais ao limite. Dependendo do nível de industrialização de cada país os problemas se

diferenciam. Richard Roger descreve que nos países desenvolvidos a migração de pessoas

de centros urbanos para os subúrbios mais afastados que oferecem um ambiente natural

mais próspero, levou ao aumento do uso de automóveis, aos conseqüentes

congestionamentos e à poluição do ar. Já nos países em desenvolvimento os problemas

ambientais e sociais são agravados pelo aumento das cidades sem o acompanhamento de

infra-estruturas para suportar tal crescimento. Em todo o mundo a pobreza ainda é um dos

principais problemas enfrentados pelas sociedades, e geralmente a camada mais pobre da

população é amplamente negligenciada.

Diante disso, nota-se a necessidade de um desenvolvimento urbano sustentável,

diferente do desenvolvimento atual, que é baseado no lucro e privilegia uma pequena parte

da sociedade. Os direitos básicos devem ser proporcionados, tais como o direito à água, ao

abrigo, à alimentação, à saúde, à educação, entre outros.

Há o risco de que o discurso da sustentabilidade não produza alterações

substantivas, podendo o mesmo, como afirma Cyria Emelianoff, “ser reduzido por certas

coletividades locais a um simples “marketing” destinado a valorizar suas vantagens

territoriais, a aumentar sua atratividade e seu poder” (EMELIANOFF, 2003). É necessário

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que se busquem modelos de desenvolvimento onde possam ser agregados aos valores

ecológicos, outros como autonomia, solidariedade e responsabilidade.

2.2 ECOSSISTEMA E ECOLOGIA URBANA

Ainda há controvérsia entre estudiosos, principalmente os urbanistas, em considerar

ou não o sistema urbano com um ecossistema. Para Cláudia Jacobi, as cidades podem ser

vistas como um ecossistema a partir do momento em que estão sujeitas aos mesmos

artifícios presentes na vida natural, como por exemplo, o gasto de energia e a excreção de

dejetos (JACOBI, 2007). Para outros a cidade não pode ser analisada como um ecossistema

verdadeiro por receber influência do ser humano. De qualquer forma, para se tomar uma

posição deve-se definir o que é um ecossistema.

Ecossistema é definido como um “complexo dinâmico de comunidades vegetais,

animais e de microorganismos e seu meio inorgânico, que interagem como uma

comunidade funcional, em um determinado espaço, de dimensões variáveis.” (IDS, 2000).

Assim, ao se considerar um ecossistema como um conjunto de espécies interagindo entre si

em um determinado ambiente, pode-se definir as cidades também como um complexo

ecossistema. Por outro lado, as cidades não se desenvolvem como os ecossistemas naturais.

Para Cláudia Maria Jacobi “alguns processos e relações ecológicas são mais intensos nas

cidades.” (JACOBI, 2007).

Tanto os ecossistemas naturais quanto os urbanos dependem da existência de

energia. A principal fonte de energia do ecossistema natural é a solar, já no ecossistema

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urbano são utilizadas outras fontes, como principalmente os combustíveis fósseis, que são

poluentes e não são renováveis.

Os resquícios de áreas verdes presentes nas cidades e no entorno imediato das

mesmas realizam um importante papel de purificação do ar ao absorver carbono e liberar

oxigênio. Além disso, contribuem para o esfriamento o ar por meio da evapo-

transpiração. Ainda, absorvem poluentes, amenizam os ruídos e satisfazem algumas

necessidades estéticas.

As cidades, em sua maioria, necessitam importar alimentos, energia, água e

matérias-primas. Em contrapartida, exportam para o campo e trocam entre si serviços de

informação e tecnologia. Contudo, a grande entrada de matéria-prima para a produção de

manufaturados e sustento da estrutura das cidades produz uma grande quantidade de

resíduos e calor que precisam ser eliminados. A quantidade de materiais importados e

exportados diariamente em uma cidade é muito grande.

Segundo Genebaldo Dias, um habitante urbano americano consome por dia 568

litros de água, 1,8 kg de alimentos e 8,6 kg de combustível fóssil (média americana). Em

contrapartida, libera na natureza 454 litros de esgoto, 1,8 kg de lixo e 0,9 kg de ar

poluído. Para manter uma pessoa com suas necessidades básicas supridas em uma cidade

americana é preciso uma produção agrícola de 0,8 ha e de 0,4 ha de floresta para a

produção de papel e madeira. (DIAS, 1997)

Desta forma, uma cidade com um milhão de habitantes necessita de cerca de 8000

km² só para a produção de alimentos e de uma grande bacia hidrográfica capaz de

fornecer mais de 500 milhões de litros de água diariamente. Um problema ainda pior é a

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produção de resíduos que pode ultrapassar 400 milhões de litros de esgoto e quase 2

milhões de quilos de lixo diários.

Para Eugene Odum em todo o ecossistema existe um ambiente de entrada (AE) e

um ambiente de saída (AS) que poderiam ser classificados em uma cidade como o

consumo e os rejeitos produzidos pela mesma (ODUM, 1988). Em cidades de países

menos desenvolvidos, o metabolismo ecossistêmico urbano é menos intenso, e

consequentemente, seu consumo e sua produção de rejeitos são menores (Figura 2.2).

Mas em compensação, a falta de infra-estrutura nessas cidades faz com que os problemas

causados pelo consumo e pela eliminação de rejeitos sejam maiores que nas cidades de

países desenvolvidos, que têm uma produção muito maior de insumos por habitante.

Alguns desses problemas podem ser citados, como enchentes agravadas ou até mesmo

causadas por excesso de lixo nas ruas.

Figura 2.2: Modelo de um ecossistema mostrando o ambiente de entrada e o de saída. Desenho esquemático feito a partir dos estudos de Odum (1988).

Como já foi dito anteriormente, a principal energia não natural utilizada pela urbe é

a provinda de combustíveis fósseis. O grande consumo desses combustíveis libera bastante

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calor para a biosfera e altera sua temperatura, contribuindo para a formação de micro-

climas urbanos. É comprovado que a temperatura dos centros urbanos pode ser mais alta

até 6°C do que no meio rural (CORBELLA e YANNAS, 1997). Além disso, enquanto

alimentação, são necessárias cem calorias de combustível fóssil para produzir dez calorias

de alimentos que proporcionam somente uma caloria para o ser humano (DIAS, 1997).

Outro grave problema dos ecossistemas urbanos é a superpopulação e o

desequilíbrio das espécies. Os ecossistemas naturais mantêm os níveis de população de

cada espécie em equilíbrio através dos controles naturais, como a presença de predadores

naturais, e a falta ou não de alimento e abrigo para as espécies, as doenças, entre outros. Já

no ambiente urbano a população humana, que cresce de duas formas: a vegetativa e por

migração, tem o controle praticamente inexistente. Ainda, com a evolução da medicina as

pessoas estão vivendo mais. Principalmente em países com menos recursos financeiros as

populações crescem bastante a cada ano e o controle de natividade só é feito em casos

extremos como o da China.

As populações de animais, também no ambiente urbano, crescem à medida que a

produção de alimentos e abrigo é suprimida, enquanto os inimigos naturais e doenças são

contidos com biocidas e remédios.

A idéia de que a natureza deve servir às necessidades humanas sem restrições, e de

que a mesma é uma fonte inesgotável de recursos, paradigma do desenvolvimentismo, tem

contribuído para a desestabilização dos sistemas que asseguram a sobrevivência do homem

na Terra. O aquecimento global é apenas um dos fatores causados pelo uso inadequado dos

recursos naturais e que pode levar a existência humana ao colapso.

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O conceito de sistema ambiental provém da ciência biológica e está relacionado à

interação de organismos biológicos. Assim, o conceito de sistema ambiental urbano faz

uma referência às relações do ser humano e outros organismos inseridos no meio

ambiente urbano. Tanto no sistema ambiental natural quanto no urbano os sistemas são

formados por diversas partes que se integram direta ou indiretamente, de modo que cada

uma delas dependa do comportamento das demais.

As cidades são sistemas abertos altamente dependentes de outros ecossistemas no

seu entorno, para que possa interagir através de trocas e fluxos. Do ponto de vista biológico

os ecossistemas urbanos têm uma baixa produtividade e são altamente dependentes de

outros sistemas. Desta forma, pode-se definir a cidade como um sistema heterotrófico,

dependente de áreas externas para a obtenção de energia, alimentos e água, além de

diversos materiais. Por outro lado, do ponto de vista social, os sócio-ecossistemas urbanos

produzem uma grande quantidade de informações, conhecimento, cultura, manufaturados,

entre outros, que são “exportados” para outros sistemas.

A relação de dependência, de demanda e de consumo, tornou os ecossistemas

urbanos frágeis e vulneráveis ambiental e socialmente. Entretanto, o que singulariza esse

ecossistema são os aspectos tangíveis e intangíveis referentes à população humana, como

os sentimentos de segurança, de pertencimento, de identidade, o comportamento criativo e

outros aspectos que não são mensuráveis e só podem ser analisados de forma qualitativa. A

não observância desses aspectos pode levar há interpretações errôneas e conseqüentes

planejamentos inadequados e insatisfatórios.

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2.3 PLANEJAMENTO AMBIENTAL E DESENHO AMBIENTAL

O espaço aberto pode apresentar uma aparente simplicidade, mas seu estudo e sua

concepção são bastante complexos e envolvem diferentes campos de conhecimentos.

Para Marta Romero (2001) o espaço público pode ser entendido como objeto

arquitetônico, com forma definida que deve ser pensada e constituída como a arquitetura.

De tal forma os elementos ambientais, climáticos, históricos, culturais e tecnológicos

devem fazer parte desta concepção.

O desenho urbano deve estar “condicionado e adaptado às características do meio,

tais como a topografia, a cobertura do solo, a ecologia, a latitude e os impactos negativos da

massa construída” (ROMERO, 2001). Os impactos ambientais causados por desenhos

urbanos descompromissados com o meio ambiente são sentidos também no conforto e na

salubridade da população. A implantação de uma fonte de água no desenho de um parque

urbano localizado em uma área quente e úmida, por exemplo, pode trazer grande

desconforto para os visitantes do parque, visto que a evaporação da água irá aumentar a

umidade e o desconforto térmico, mas em contrapartida, esse problema pode ser amenizado

caso haja sombreamento da área por vegetação (CORBELLA e YANNAS, 2003).

Tendo em vista a conservação da natureza e a situação ambiental atual precária das

cidades, causada principalmente pela implantação de técnicas de produção e modo de

consumo predatório que estão provocando diversos problemas ambientais, faz-se necessário

à compreensão do desenho urbano no âmbito ambiental. Os problemas ambientais

denunciam as desigualdades profundas no que diz respeito ao acesso das populações aos

recursos naturais e às boas condições ambientais. Para enfrentar essa problemática é

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necessário construir um novo conhecimento e consenso social, superando as visões parciais

e especializadas. Além disso, compreender as complexas interações entre os processos

econômicos, políticos, biológicos e geográficos que geram problemas ambientais. A partir

daí, surge o conceito de desenho ambiental que exprime uma intenção projetual que

transcende as questões estéticas, culturais e funcionais do paisagismo (FRANCO, 1997).

Com a crise ambiental sentida depois da II Guerra Mundial e intensificada com a

crise do petróleo na década de 70 as intervenções paisagísticas ganharam nova dimensão. O

desenho paisagístico baseado somente na estética e no funcionalismo não atendia mais às

necessidades das cidades. Com o “National Envirommental Policy Act” (NEPA), aprovado

pelo Congresso Americano, em 1969, criou-se uma nova visão para o paisagismo baseada

na questão ecológica do mundo, que é a linha de Planejamento e Desenho Ambiental

iniciada por Ian McHarg, e L. Halprin (FRANCO, 1997).

Esses dois arquitetos paisagistas desenvolveram projetos baseados no conceito de

desenvolvimento sustentável. Halprin se destacou por trabalhos ambientais com a

participação comunitária e McHarg por projetos ambientais regionais que visavam à

minimização dos impactos ambientais. (Figura 2.2 e Figura 2.3).

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Figura 2.3 - McHarg usa diagramas ecológicos para delimitar a rota do “Richmond Parkway”. Fonte: MCHARG, Ian L. “Design with nature.” New York: John Wiley & Sons, 1992.

Figura 2.4 - A Fonte “Ira Keller” em Portland reflete a inspiração de Halprin. Fonte:www. lamar.colostate.edu/bradleyg

Segundo Ian McHarg:

precisamos produzir as análises dos impactos ambientais, para assim formular um planejamento ecológico, baseado no relacionamento saudável entre o homem e o meio ambiente, e aliados à tecnologia contemporânea e o conhecimento científico, criar uma estratégia que favoreça a ambos (MCHARG,1992).

Além de Mcharg e Halprin, diversos arquitetos paisagistas e urbanistas já realizaram

projetos com o intuito de proporcionar uma intervenção revitalizadora em áreas degradadas,

áreas industriais e portuárias abandonadas, antigas fábricas, usinas, pedreiras, ou ao longo

de cursos d’água (SCALISE, 2001).

O enfoque ambiental dado aos projetos de revitalização de áreas degradadas e a

proposição de novos espaços urbanos define a importância do Desenho Ambiental. Para

Maria Assunção Ribeiro Franco, o Desenho Ambiental atende a três premissas:

- A conservação ambiental, mantendo os ecossistemas naturais e a biodiversidade. Os

fatores determinantes para a formação de cenários ambientais são: o clima, os sistemas de

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bacia, a topografia, as características geológicas e pedológicas, além das características e

organização da flora e da fauna.

- A melhora da qualidade de vida a partir da educação ambiental e da justiça social.

Portanto, os fatores determinantes para a formação da qualidade de vida são: a organização

sócio-política, a organização econômica e as novas tecnologias;

- O equilíbrio e a harmonização entre as características dos ecossistemas. (FRANCO,

2001).

O desenho ambiental dentro das áreas públicas urbanas deve estar ligado a uma

estratégia maior de planejamento. O planejamento está presente em todas as áreas de

conhecimento e refere-se à tomada de decisões para alcançar um determinado objetivo.

Segundo Maria Assunção R. Franco:

a palavra planejamento carrega em seu valor semântico o sentido de empreendimento, projeto, sonho e intenção. Como empreendimento já revela o ato de intervir ou transformar uma dada situação, numa determinada direção, a fim de que se concretizem algumas intenções (FRANCO, 2001).

Segundo Ignacy Sachs o planejamento pode ser visto como um instrumento capaz de

harmonizar a eqüidade social, a sustentabilidade ecológica, a eficácia econômica, a

acessibilidade cultural e a distribuição espacial equilibrada das atividades e dos

assentamentos humanos (SACHS, 1993).

Slocombe refere-se ao planejamento como tradicional ou ambiental. O primeiro é o

urbano ou regional, que enfoca a sociedade, o uso da terra, a economia e a infra-estrutura,

através de um processo baseado em metas, planos e regulamentos. O planejamento

ambiental também engloba o ambiente biofísico onde vivem as comunidades, e analisa os

efeitos de atividades de desenvolvimento e de outros planejamentos (SLOCOMBE, 1993).

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No início da década de 70 “prevaleceu o enfoque conservacionista nos discursos dos

que se consideravam defensores do meio ambiente” (BEZERRA, 2002). Essa visão rígida

não permitia a intervenção do ser humano na natureza. Mas em seguida, passou-se a

associar a preservação ambiental ao desenvolvimento econômico, assim o debate se

ampliou e teve maior relevância considerando nos seus discursos que não poderia haver

desenvolvimento sem sustentabilidade (BEZERRA, 2002).

Somente a partir da constatação do fracasso do planejamento fundamentado na visão

economicista ou estratégico-militar, tendo em vista o colapso urbano e a escassez dos

recursos naturais, foi que, já no século XXI, apresenta-se o Planejamento Ambiental como

um mecanismo capaz de preservar a vida como se conhece hoje (FRANCO, 2001).

Ian McHarg coloca a necessidade de um planejamento ambiental e ecológico e afirma

que:

precisamos produzir as análises dos impactos ambientais, para assim formular um planejamento ecológico, baseado no relacionamento saudável entre o homem e o meio ambiente, e aliados à tecnologia contemporânea e o conhecimento científico, criar uma estratégia que favoreça a ambos (MCHARG, 1992).

Deve ser determinada a intensidade e as características sustentáveis de cada lugar, onde

estes possam receber um tratamento diferenciado, aplicado conforme suas necessidades

urbanísticas e ambientais.

De acordo com Franco (2001) a discussão sobre o planejamento ambiental teve seus

precursores ainda no início do século XIX com estudiosos como John Ruskin na Inglaterra,

Viollet- le-Duc na França, e Henry David, George Perkins, Frederick Law Olmsted, entre

outros nos Estados Unidos da América. Muitas de suas idéias foram consideradas utópicas

para a época, mas hoje vê-se que esses pensadores foram capazes de prever a escassez de

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recursos num momento em que era implantada a revolução industrial, “sob a égide do

positivismo e do liberalismo econômico e que, pelo visto, pressupunha a inesgotabilidade

dos recursos da Terra. Portanto, o que aqueles teóricos falavam ia exatamente contra a

grande onda que se formava então” (FRANCO, 2001). Naquela época era impensável falar

de proteção ambiental e preservação dos rios, das matas, da água e do solo, enquanto o que

se via era a expansão da indústria e a agricultura considerando os recursos naturais

inesgotáveis.

É importante salientar que o planejamento urbano ambiental deve considerar as

condições climáticas regionais. O bioclimatismo no espaço urbano requer o conhecimento

das características climáticas locais e a produção de desenhos urbanos coerentes com essas

condições (CORBELLA e VASCONCELLOS, 2007). A concepção bioclimática procura

integrar a arquitetura e o urbanismo com as características do ambiente local (CORBELLA

e MAGALHAES, 2007).

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Capítulo 3

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3 PATOLOGIAS URBANAS

Como forma de justificar a necessidade de mudanças de paradigmas urbanos e mostrar

a importância de novas formas de pensar as cidades, neste capítulo são expostas as

patologias urbanas de cidades pequenas, médias e grandes brasileiras.

Muitas cidades atuais, principalmente capitais da América Latina, estão passando por

processos de urbanização desordenada e sofrem com o “inchaço” da urbe. Este capítulo

apresenta dados e constatações relevantes que expressam as condições existentes na

maioria das cidades atuais, principalmente as latino-americanas, que justificam a

necessidade dessas novas perspectivas urbanas sustentáveis. (Figura 3.1 e Figura 3.2)

Figura 3.1 – Favela da Rocinha. Foto: Alexandre Bernardo

Figura 3.2: Veículos poluidores. Fonte:http://www.apolo11.com/meio_ambiente.php

A insustentabilidade das cidades latino-americanas atuais é denunciada por inúmeras

razões (NEIRA ALVA, 1998). Diversos problemas atuais prejudicam e até impedem o

desenvolvimento sustentável, como, o alto índice das atividades potencialmente poluidoras,

como indústrias e meios de transporte; a deficiência de equipamentos urbanos e serviços; a

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falta de coleta e tratamento adequado do esgoto doméstico e dos resíduos sólidos e a

violência que atinge de forma mais intensa a população de baixa renda.

Com o acelerado crescimento populacional, principalmente nas cidades de países

subdesenvolvidos, os problemas ambientais e sociais se multiplicam, enfatizando uma

reflexão sobre os sistemas sociais, de valores e dos modos de produção que regem a

economia e a sociedade atual. Segundo o Atlas Ambiental desenvolvido pelo Programa das

Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), mais da metade da população mundial

vive em áreas urbanas. A ONU alerta que em 2050 serão mais de 4,5 bilhões de pessoas

vivendo em cidades chegando a um percentual de 65% da população mundial.

As Nações Unidas apresentou, em 2003, um informe sobre as aglomerações urbanas,

que mostrava que o mundo apresentava vinte e quatro megacidades, sendo que quatro delas

se encontravam na América Latina. Infelizmente, das quatro megacidades latinoamericas,

duas são brasileiras: Rio de Janeiro e São Paulo. As outras duas são Cidade do México e

Buenos Aires que também possuem mais de oito milhões de habitantes. (Figura 3.3 e

Figura 3.4)

Figura 3.3: Vista aérea da Cidade do México. Fonte: http://datalaia.blogspot.com/2006

Figura 3.4: Foto aérea da grande São Paulo. Fonte: http://www.webb.pl/pt/wiki

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Em todo o mundo a preferência pela aglomeração em cidades é crescente. Vê-se que

em 1990 havia 2,4 bilhões de habitantes urbanos em todo o Planeta; em 1998 este número

passou para 3,2 bilhões e nada indica que esta é uma tendência em declínio (ROMERO,

2001). Por isso, a cidade deve ser compreendida como uma realidade, mas que deve ser

planejada e limitada.

No Brasil, esse quadro não é diferente: o contingente da população urbana

praticamente duplicou em cinqüenta anos. Atualmente, a população urbana brasileira é

mais do que o triplo da rural, sendo que 24% desta vivem nas capitais, que por sua vez,

dezenove delas, de um total de vinte e sete, possuem mais de 500 mil habitantes (IBGE,

2007).

O desenvolvimento urbano do Brasil é marcado por uma grande diversidade de

situações e dinâmicas urbanas. As metrópoles continuam sendo os destinos principais de

cidadãos de pequenas cidades do interior. Assim, crescem, principalmente, a partir da

migração de pessoas à procura de trabalho.

Na dinâmica das áreas urbanas, é importante salientar também o surgimento ou

expansão de pequenas cidades ligadas ao agronegócio, pólos industriais, de turismo, de

extração de petróleo e gás, entre outros. Essas cidades são exceções no país, mas é o caso

de Quissamã, que se desenvolve a partir dos “royalties” da Petrobras. No entanto, esse

rápido crescimento urbano, impulsionado por uma atividade específica, trás consigo

problemas ambientais e urbanos causados, principalmente, pela exclusão territorial

evidenciada por favelas e loteamentos periféricos irregulares, formados, primordialmente,

por pessoas que foram atrás de emprego, mas não conseguiram entrar no “próspero”

mercado de trabalho dessas regiões. Por outro lado, o esvaziamento demográfico de zonas

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rurais e pequenas cidades persistem, contribuindo para a diminuição do setor terciário (de

serviço) nessas regiões. Consequentemente, essas pequenas cidades acabam dependendo

quase que exclusivamente do poder público federal.

Vê-se assim, que os problemas urbanos não são exclusividade das grandes cidades, pelo

contrário, muitas cidades médias e pequenas sofrem com a falta de infra-estrutura.

Principalmente as cidades pequenas, com até 20 mil habitantes, em sua maioria, não

possuem hospitais, faculdades, nem se quer escolas de 2° grau.

Para se ter um exemplo, de acordo com o IBGE (2000), cerca de 28 milhões de pessoas

vive em domicílios sem saneamento adequado, dirigidos por pessoas que possuem uma

renda inferior a dois salários mínimos. No total, são 16,7% dos domicílios brasileiros que

estão nesta situação, mas esse percentual varia com o tamanho da urbe.

Nas cidades com mais de 500 mil habitantes, a taxa de domicílios nessas condições cai

para 4%, já nos municípios com população de até 20 mil habitantes esses percentual chega

a 35,5% dos domicílios (IBGE, 2000).

No entanto, quando esses dados são colocados em números reais, o número absoluto de

domicílios em condições precárias é maior nas cidades com mais de 500 mil habitantes.

Os "Indicadores Sociais Municipais" (ISM), divulgados com base em dados do Censo

2000, mostram que é nos municípios com até 20 mil habitantes que estão as piores

condições de saneamento, escolaridade e renda dos chefes de domicílio. Dos 5.561

municípios brasileiros, 4.074 (73,2%) têm menos de 20 mil habitantes, concentrando 19,7%

da população brasileira. Já os municípios com mais 500 mil habitantes são apenas 31 (0,5%

do total), mas concentram 27,5% da população.

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Normalmente, esses municípios pequenos possuem uma maior interação entre a área

urbana e a área rural, mas, no entanto, não são cidades que produzem parte de seu próprio

consumo e muitas dela não possuem agricultura de subsistência. Os problemas ambientais

causados pelas áreas rurais também são preocupantes. Destaca-se, principalmente, o

desmatamento de grandes extensões para pastagem e agricultura.

Para que haja uma mudança nas estatísticas urbanas é necessária, principalmente, uma

mudança na gestão política. O incentivo a uma rede mais homogênea de cidades pequenas e

médias com infra-estrutura e acessos facilitados.

Como já foi citado, por não possuírem um setor terciário desenvolvido e não ter base

econômica de sustentação, esses municípios acabam se tornando dependentes dos fundos de

participação de Estados e municípios. Deste modo, essas regiões, por terem poucos

habitantes, recebem um financiamento nacional muito restrito, que não cobre infra-

estruturas que necessitam de maior investimento, como saneamento básico, por exemplo.

O Relatório de Brundtland, como foi ressaltado no capítulo dois, defende a necessidade

do poder político favorecer as cidades em sua escala local e com isso, coloca em evidência

a descentralização das aplicações de recursos financeiros e humanos. Tal fato afeta

particularmente as pequenas cidades, com até 20 mil habitantes, pois, descentralizando as

aplicações financeiras, essas cidades podem vir a receber maiores recursos para incentivar

na permanência dos habitantes através de investimentos em educação, habitação, trabalho e

renda.

Para se pensar na proposição de princípios sustentáveis é preciso avaliar uma mudança

nos padrões históricos de consumo e apropriação dos espaços urbanos. Mudanças

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comportamentais, sociais e políticas, além da implantação e utilização das novas

tecnologias que primam pelo meio ambiente.

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Capítulo 4

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4 INTERAÇÃO DO MEIO NATURAL E URBANO

A otimização do uso da arquitetura e do urbanismo depende do conhecimento de

diversos elementos ambientais, como o clima, o vento, a radiação solar, entre outros. Neste

capítulo se analisam as relações desses elementos com o ambiente urbano.

Para realizar uma ordenação urbana equilibrada o principal objetivo deve ser

conhecer os recursos e potencialidades de cada lugar para realizar propostas coerentes que

propiciem maior qualidade de vida para seus residentes em todos os âmbitos – social, físico

e ambiental.

Para se analisar a interação dos fatores climáticos com a urbanização é importante

partir do princípio de que a urbanização provoca mudanças ambientais (Tabela I) e que

compete aos planejadores ordenar esse processo, de forma que as repercussões sejam

mínimas (MOTA, 1981).

Tabela 1 – Listagem indicativa das mudanças médias climáticas causadas pela urbanização:

CARACTERÍSTICAS COMPARAÇÃO COM O MEIO RURAL

Radiação:

Global

Ultravioleta (no inverno)

Ultravioleta (no verão)

15 a 20% menor

30% menor

5% menor

Temperatura:

Média anual

Média das mínimas no inverno

Ilhas de calor

0,5 a 1,0°C maior

1 a 2°C maior

1 a 2°C maior (com relação ao meio rural)

Contaminantes:

Núcleos de partículas de condensação

Misturas gasosas

10 vezes maior

5 a 25 vezes maior

Velocidade do Vento:

Média anual

20 a 30% menor

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Rajadas extremas

Calmarias

(Salvo nos corredores de vento)

10 a 20% menor

5 a 20% maior

Precipitações:

Total

Dias com menos de 5mm

5 a 10% maior

10% maior

Nebulosidade:

Cobertura

Nevoeiro (no inverno)

Nevoeiro (no verão)

5 a 10% maior

100% maior

30% maior

Umidade Relativa:

No inverno

No verão

2% menor

3% menor

Fonte: LANDSBERG, H. E. (1970) (citado por MOTA, 1981)

4.1 O CLIMA REGIONAL

Cada lugar corresponde a um planejamento diferenciado e para atender às

especificidades e às relações entre o planejamento e o meio ambiente é essencial o

conhecimento do clima. Não só as modificações urbanas, mas até a construção de um

edifício pode influenciar no microclima local.

O clima é um componente presente no ambiente urbano e que resulta da interação

entre fatores naturais e antrópicos. O clima de determinado local pode ser compreendido

como a relação de diversos elementos em diferentes escalas, desde a macro até a micro

escala. A oscilação das variáveis climáticas e os fenômenos relacionados às diferentes

latitudes permitem a classificação macro-climática como polar, temperado, tropical e sub-

tropical, e ainda, permitem a definição das estações do ano. O clima tropical ainda é

subdividido em quente-úmido, quente-seco e tropical de altitude. Para os urbanistas que

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atuam no Brasil o conhecimento do clima tropical é essencial, pois grande parte do país

apresenta esse tipo de clima (CARVALHO, 2006).

O clima tropical é característico de regiões que se localizam geograficamente entre o

trópico de Capricórnio e o trópico de Câncer. Geralmente as regiões sob a Linha do

Equador apresentam como característico o clima quente-úmido. Esse clima apresenta

pequenas variações de temperatura. Os dias são quentes e úmidos e, à noite, a umidade

permanece elevada, mas a temperatura é mais amena. Geralmente a região de clima quente

e úmido apresenta duas estações características: seca e outra chuvosa (maiores

precipitações no verão). Os ventos normalmente são fracos e de direção sudeste e a

umidade relativa do ar é alta.

O clima quente-seco alcança temperaturas máximas durante o dia e à noite essa

temperatura pode cair bastante. Também apresenta dois períodos definidos: um seco e outro

chuvoso. A umidade relativa do ar é baixa e há pouca radiação difusa, mas a radiação solar

direta é intensa, diferentemente do clima quente-úmido que tem muita radiação difusa

devido à alta umidade do ar, mas a concentração de vapor de água das nuvens espalha a

radiação direta.

O clima tropical de altitude encontra-se predominantemente em regiões entre 400m e

1200m de altitude. A temperatura durante o dia é elevada e diminui abaixo dos padrões de

conforto térmico durante a noite. Apresenta geralmente duas estações: quente e úmida no

verão e seca no inverno. Conseqüentemente, a radiação difusa é intensa no verão e menor

no inverno. Os ventos predominantes são o sudeste e o leste no inverno e o noroeste no

verão.

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Somente a classificação macro-climática normalmente não dá margem aos urbanistas

para atuar no planejamento da urbe por não corresponderem ao clima local de uma

determinada região, apesar de definir o clima em uma escala global. Essa macro-escala

também é influenciada pelo ambiente urbano, mas as conseqüências são menos visíveis e

demoram mais para aparecer.

Já na micro-escala, o clima local é bastante modificado devido às interferências da

atuação do ser humano na natureza e as conseqüências do crescimento desordenado das

cidades. Os elementos meteorológicos sofrem modificações significativas nas áreas

construídas. O clima pode ser modificado em determinada área urbana devido aos efeitos

das superfícies dos edifícios, da sombra e da orientação e posicionamento das construções

no espaço. Além disso, podem ser alterados pela conformação das vias e o calor liberado

pelas atividades urbanas e pelos vários processos de combustão tão presentes nas cidades.

No entanto, as atuações do planejamento urbano devem privilegiar a escala local e

atuar com base no micro-clima (clima local), que por sua vez, pode ser influenciado por

fatores do entorno próximo, como a relação entre os espaços livres e os edificados.

4.1.1 CLIMA URBANO

Para considerar o clima urbano para o planejamento ambiental é necessário

considerar os materiais constituintes da superfície urbana e a morfologia da cidade. Os

materiais presentes nas cidades possuem uma capacidade térmica mais elevada e são

melhores condutores do que os materiais naturais, como a vegetação, encontrada com mais

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abundância no entorno das cidades. A superfície urbana é mais rugosa que a superfície não

construída, aumentando a fricção entre a mesma e os ventos que a permeiam.

A urbanização sem planejamento adequado causa, em algumas cidades, alterações

climáticas significativas. Isso se deve porque as construções modificam a rugosidade da

superfície do solo, alterando as condições do relevo, reduzindo a presença da cobertura

vegetal, redirecionando e mudando a velocidade dos ventos, privilegiando algumas áreas e

prejudicando outras. Essas transformações constituem um fenômeno urbano que é

denominado de clima urbano (CARVALHO, 2006).

Homero Carvalho define clima urbano como:

um sistema complexo formado pela relação entre o fator urbano (atributos da morfologia urbana e as atividades humanas diárias) e o fator natural (fatores climáticos), nos quais a cidade está inserida. (CARVALHO, 2006).

Segundo Monteiro (1976) (citado por ROMERO, 2001) os aspectos principais do

clima urbano são:

- O clima urbano é resultado da modificação substancial de um clima local;

- As diferenças produzidas pela localização do sítio podem ser aumentadas ou até

mesmo eliminadas pelo desenvolvimento urbano;

- Com relação entre a cidade e o campo apresentam-se os seguintes dados:

A cidade modifica o clima por meio de alterações na superfície; produz

aumento de calor, modifica os ventos, a umidade e as precipitações, que na

maioria das vezes aumenta; além disso, a maior influência da cidade aparece

por meio da alteração na composição da atmosfera.

O clima urbano sofre influências básicas que o diferencia do clima rural. Givoni

(1988) ressalta algumas dessas influências, como:

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- O uso de materiais com maior condutibilidade térmica do que os materiais

encontrados na natureza.

- A morfologia urbana é mais rugosa, modificando a trajetória natural do vento.

- As áreas urbanas apresentam superfícies refletoras e absorventes de radiação solar,

aumentando os efeitos da radiação incidente.

- A impermeabilização do solo com asfalto e a infra-estrutura de drenagem

impedem a absorção da água da chuva e o aumento da umidade.

- O aumento da contaminação atmosférica, através de atividades urbanas poluentes

que geram fumaça, poeira e gases que se acumulam na atmosfera reduzindo a insolação e

prejudicando a re- irradiação para o espaço.

- A produção de calor gerando energia térmica devido às atividades humanas:

indústrias e transportes.

O meio ambiente construído modifica o c l ima pré-existente e gera diferentes

microclimas. No clima urbano é essencial perceber os efeitos da radiação solar na

superfície terrestre. A partir daí, as diferentes formas de uso do solo e da estrutura urbana

passam a influenciar os elementos ambientais.

4.2 INFLUÊNCIA DA RADIAÇÃO SOLAR E DA ILUMINAÇÃO NATURAL

A radiação solar influi diretamente no planejamento urbano e nos projetos

arquitetônicos. O sol é a principal fonte de energia da Terra, e por isso, apresenta grande

importância do meio ambiente natural e urbano.

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Os movimentos de rotação e translação da Terra definem as estações do ano e os

períodos do dia, e ainda, a latitude de cada região define a maior ou menor incidência solar.

Virgínia Vasconcellos ressalta que:

Pode-se dizer que a radiação direta e a radiação difusa são bastante alteradas nas áreas urbanas. Por outro lado, pode-se afirmar, também, que o equilíbrio da radiação solar e a radiação emitida por onda longa dependem da estação do ano, o que gera resultados distintos, em função das características do entorno construído analisado (VASCONCELLOS, 2007).

O sol estabelece condicionantes básicas de desenho arquitetônico e urbano. Assim,

os projetos arquitetônicos, os projetos dos espaços livres públicos e a definição da rede

viária, tal como a densidade urbana, devem ser orientados pelo sol e pela topografia.

A presença do sol é imprescindível para o desenvolvimento da vida, mas a

incidência solar é bastante alta no Brasil, e essa insolação deve ser controlada para se obter

um conforto térmico adequado.

Uma rede viária bem orientada, levando em consideração as condições de insolação

e vento, interfere diretamente na boa orientação das fachadas dos edifícios. Além disso,

pode evitar o ofuscamento do sol para os pedestres e motoristas2.

Outra questão importante é o sombreamento das vias, principalmente das calçadas,

que deve ser feita preferencialmente com a arborização, que permite a penetração

controlada da iluminação natural e dos ventos. Já os espaços livres devem oferecer tanto

áreas ensolaradas como áreas de sombreamento, permitindo diferentes tipos de atividades.

2 CD Room – Categorização de cidades sustentáveis nos trópicos. Pesquisa financiada pelo CNPq: Projeto n° 524027/94-3. Desenvolvido por Oscar D. Corbella, Roberto Segre e colaboradores. 2005.

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4.3 EFEITOS DA URBANIZAÇÃO NOS DEMAIS ELEMENTOS CLIMÁTICOS E

AMBIENTAIS

Além dos produzidos pelos elementos climáticos já tratados, muitos outros efeitos

prejudiciais são causados pela frágil relação entre a urbanização e a natureza, como a

contaminação de rios, de lagos e do ar.

4.3.1 EFEITOS DO CLIMA NO MEIO URBANO: ILHA DE CALOR

A ilha de calor é mais comum nas zonas densas das cidades. É uma anomalia

térmica onde a temperatura média da atmosfera de uma determinada área urbana se torna

mais alta que das regiões circundantes (Ministério da ciência e Tecnologia – CPTEC,

consultado em 2007); o aquecimento se dá na camada de ar mais próxima do solo. As

variações térmicas podem ser de vários graus centígrados e ocorrem basicamente devido às

diferenças de emissão de radiação infravermelha entre as regiões edificadas e as não

construídas (CORBELLA e YANNAS, 2003). Ainda a concentração de poluentes é maior

nas áreas centrais urbanizadas.

O balanço energético (troca de calor entre a superfície terrestre e a atmosfera) é

ocasionado, basicamente, pelos processos de radiação, convecção e condução do ar. Nos

centros urbanos esses processos são significativamente alterados pelos efeitos causados

pela transformação de energia solar em térmica, que resultam da morfologia urbana e

características das superfícies; pelos efeitos causados pela diminuição de áreas verdes e da

impermeabilização do solo; e, pelos efeitos pela presença de fontes antrópicas de calor e

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umidade como a utilização de condicionadores de ar, refrigeradores e queima de

combustível por automóveis e indústrias (VASCONCELLOS, 2007).

A ilha de calor costuma atingir maiores temperaturas quando o céu está aberto

durante o dia, sem nuvens, e com ventos calmos.

Uma das causas da ilha de calor é a presença de construções que formam barreiras

urbanas, que apesar de canalizar os ventos em ruas e avenidas, restringe a ventilação em

determinadas áreas isoladas e cercadas pelas edificações3. Além disso, a superfície urbana é

constituída por materiais que apresentam capacidade e condutividade térmica diferentes dos

materiais mais disponíveis no meio rural. Sendo assim, o calor é rapidamente absorvido por

esses materiais urbanos durante o dia e facilmente liberados durante a noite, gerando uma

amplitude de temperatura menor do que as do meio rural circundante. Materiais como

asfalto, concreto, vidro, telhas, entre outros, ajudam na absorção do calor e favorecem o

aumento da temperatura nas áreas urbanas.

As conseqüências das ilhas de calor podem causar problemas locais como o

desconforto térmico, e o maior consumo de energia elétrica, pois os aparelhos de ar

condicionado consomem mais à medida que a temperatura do ar aumenta

(SANTAMOURIS, 1997).

3 A velocidade do vento, algumas vezes, é maior em áreas urbanas devido ao efeito de “cânions urbanos” e outras vezes a velocidade diminui devido às barreiras formadas por edificações uniformes. (CORBELA e YANNAS, 2003).

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4.3.2 VENTOS

O vento, juntamente com a radiação solar, é um elemento decisivo para o conforto

térmico urbano que mais podem ser modificados pelo desenho urbano. Marta Romero

(2001) afirma que de todos os elementos climáticos as condições do vento são as mais

alteradas pela urbanização.

Os ventos são regidos pelas diferenças de temperatura da superfície da Terra, que

geram pressões diferenciadas provocando o deslocamento de massas de ar. Esses

movimentos podem ser tanto horizontal quanto vertical (CARVALHO, 2006). A partir

desses movimentos o vento pode ser classificado como geral e local. O vento geral é o

movimento de ar que procede do gradiente térmico resultante da radiação solar sobre a

Terra, que é mais intenso no Equador do que nos pólos. São as grandes massas de ar, que

devido à rotação da Terra, se movimentam para a direita no Hemisfério Norte e para a

esquerda no Hemisfério Sul, no sentido vertical.

O vento local é mais importante do ponto de vista urbanístico, pois elementos

urbanos e ambientais locais como edifícios, ruas, topografia e vegetação, o influenciam

diretamente. Esses ventos são horizontais e os mais característicos são os ventos de

montanhas e vales, e as brisas marítimas. Os ventos de montanhas e vales são influenciados

pelo sol que aquece as superfícies inclinadas da montanha de forma diferente que as

superfícies do vale, e sendo assim, as massas de ar quente sobem formando um ciclo. Pela

tarde o ar flui na direção do vale com ventos fracos e ao anoitecer os cumes das montanhas

se esfriam rapidamente e o vento flui da montanha para o vale com maior velocidade.

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As brisas marinhas e terrestres são conseqüências das diferenças de temperatura

entre o mar e o continente em diferentes períodos do dia. Em muitas cidades litorâneas,

esse vento local é pouco aproveitado pelo desenho urbano, e na maioria das vezes, é criada

uma barreira de edifícios na orla da praia dificultando a penetração da brisa marinha no

restante da cidade. Um exemplo conhecido é a conformação urbana do Bairro de

Copacabana no Rio de Janeiro, onde os prédios barram a entrada do vento no restante do

bairro criando microclimas diferenciados (CORBELLA e YANNAS, 2003).

O vento sempre foi importante na conformação dos assentamentos humanos. Há

muitos séculos Vitrúvio defendia a orientação e a localização dos assentamentos a partir de

estudos dos ventos dominantes:

A divisão e distribuição das obras dentro das muralhas: (...) seguindo os ângulos intermediários entre as direções dos ventos, parece que devem orientar os traçados tanto das praças públicas como das ruas, de forma a afastar-se-á das residências e das ruas a violência dos ventos.(...) As ruas pois devem estar orientadas em sentido oposto à direção dos ventos, a fim de que quando soprem se quebrem em ângulos formados pelas fachadas das casas, e , rebatidos, se dispersem (VITRÚVIO, 1992, Livro I, capítulo sexto).4

A morfologia urbana, que define os elementos construídos como o tamanho e a

densidade dos edifícios, a disposição dos mesmos no espaço, a orientação e escala das ruas,

entre outros, modifica a dinâmica dos ventos urbanos. Outros elementos que influenciam o

vento são os obstáculos naturais como colinas, cadeias de montanha, bosques etc. que

geram fluxos de vento com redemoinhos e zonas protegidas, assim como o que acontece

com as barreiras urbanas. Os elementos arbóreos, que também causam resistência à

passagem do vento, têm uma característica diferenciada da rugosidade dos edifícios, pois as

4 Tradução da versão espanhola (1992) para o português feita pela autora.

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árvores não são rígidas e, por isso, permitem uma maior permeabilidade do vento.

Consequentemente, a velocidade do mesmo é menos retardada e a turbulência é menor do

que em áreas construídas. Gould (1972, citado por ROMERO, 2001) afirma que a

turbulência do vento nas áreas urbanas pode alcançar 30%, sendo que nas áreas rurais

abertas alcança por volta de 10%. O conhecimento das características dos ventos,

principalmente os locais, através de dados como orientação e velocidade, é de grande

importância para o planejamento urbano ambiental. Em seu livro Marta Romero (2001)

destaca que edifícios altos dispersos pela vizinhança aumentam a velocidade do vento nas

ruas. Sendo assim, uma configuração urbana com edifícios de diferentes alturas é melhor

ventilada do que uma morfologia com edifícios de alturas uniformes.

Gandemer e Guyot (1976) classificaram os diversos tipos de efeitos aerodinâmicos

provocados pela relação entre os edifícios e os ventos. Tais estudos foram realizados para a

Europa e por conta disso, as principais preocupações era diminuir o excesso de velocidade

dos ventos. Destacam-se os seguintes efeitos apresentados por eles: efeito barreira, efeito

união de zonas com pressões diferentes, efeito pilotis ou de passagem, canto, canalização e

de turbilhão na base dos edifícios. Gandemer e Guyot (1976) se preocupam com a

segurança física dos pedestres e pelos efeitos de esfriamento, ao passo que as preocupações

dos urbanistas e arquitetos que atuam nos trópicos deveriam ser diferentes, como por

exemplo, se preocuparem em aumentar a velocidade de vento em zonas de quase calmaria

que trazem desconforto térmico. Autores brasileiros, como Homero Carvalho (2006) e Ana

Maria Marques (1999), desenvolveram estudos onde apresentam preocupação devido à

falta de ventilação em algumas áreas urbanas (CARVALHO, 2006; MARQUES, 1999).

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Com relação ao espaço urbano, de acordo com a morfologia da cidade, esses efeitos

podem ocorrer de maneira isolada ou combinada. No entanto, é importante considerar que a

distribuição das edificações não deve considerar apenas o escoamento dos ventos, visto

que, outras variáveis como a radiação solar também são fatores determinantes para o

conforto térmico no ambiente urbano e nas edificações.

4.3.3 ÁREAS VERDES

No âmbito nacional, historicamente, a natureza passou por intensas transformações

e foi progressivamente desmatada, restando poucos resquícios de mata virgem no Brasil.

Carvalho (2003) ressalta que “as cidades cresceram desmesuradamente e estrangularam as

áreas verdes e os rios que entremeavam os bairros das cidades.” (CARVALHO, 2003).

Apesar da implantação de passeios e jardins públicos no ambiente urbano no final do século

XIX, a natureza era vista como hostil. Ainda, a necessidade de crescimento e produção de

alimentos aumentou o desmatamento. Mais recentemente, mesmo com a criação de parques

nacionais e áreas verdes urbanas, as atuações ainda são bastante pontuais e reduzidas em

comparação com o tamanho do país. A intensa urbanização e a agricultura vêm causando

enormes impactos ambientais (CARVALHO, 2003).

O conhecimento e o estudo das propriedades da vegetação são essenciais para o

planejamento urbano ambiental, seja para atuar no campo da agricultura no entorno das

cidades, para aproveitar os recursos florestais ou para modificar a paisagem como recurso

estético.

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Nas áreas urbanas, a vegetação tem grande importância, pois, dependendo de como

for implantada ou protegida pelo planejamento urbano, ela pode influenciar na qualidade de

vida do ser humano no meio urbano. A vegetação pode ser implantada como um cinturão

verde em torno da cidade melhorando a filtragem do ar e absorvendo poluentes. Também

pode ser plantada ao longo de uma avenida com a função de sombrear as calçadas

melhorando a sensação térmica dos pedestres. Ainda, podem ser criados parques urbanos

permeando a cidade proporcionando espaços de lazer e criando microclimas mais

agradáveis ao ser humano.

As áreas verdes atuam diretamente no microclima urbano, modificando a amplitude

térmica, o regime pluviométrico, o balanço hídrico, a umidade do ar, entre outros.

A presença de massas verdes nas cidades é imprescindível para a qualidade do

meio, pois as características e potencialidades das áreas verdes proporcionam qualidade de

vida. Se comparar as áreas arborizadas com as áreas construídas constata-se que:

- A vegetação retém menos calor e tem menor condutibilidade térmica que os

materiais utilizados em edifício e ruas, como concreto e asfalto;

- A taxa de evaporação da umidade do ar nas áreas arborizadas e com gramíneas é

muito maior do que em áreas sem vegetação;

- A radiação solar é em grande parte absorvida e pouco refletida pelas folhagens;

- A vegetação realiza fotossíntese absorvendo radiação solar, e também gás

carbônico eliminando oxigênio para o meio;

- As áreas verdes reduzem a velocidade do vento sem criar grandes turbulências.

- As áreas verdes podem direcionar os ventos.

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Para se realizar um plano de arborização eficiente é necessário o conhecimento do

solo, das espécies a serem plantadas e das características e necessidades do lugar. Além

disso, a arborização deve ser compatibilizada com o sistema elétrico, o abastecimento de

água, esgotos, sinalizações e edificações para que não haja uma interferência inadequada.

Outra importante questão é a utilização de árvores nativas da região para garantir o sucesso

do plantio e evitar desastres ambientais como a proliferação de espécies indesejadas. Além

disso, os parques urbanos e as áreas arborizadas das cidades devem ser constituídos de

espécies que não requeiram muitos cuidados e irrigação constante para evitar gastos de

energia e custos exagerados. A tabela a seguir demonstra os principais benefícios e

características da vegetação em relação aos diferentes fatores urbanos e ambientais:

Tabela 2: Organograma dos Principais Benefícios das Áreas Verdes Urbanas

Fatores Urbanos Principais Formas de Degradação

Principais Benefícios das Áreas Verdes Urbanas

Clima/ar Alterações micro climáticas

Deterioração da qualidade do ar Poluição Sonora

Conforto micro climático Controle da poluição atmosférica Controle da poluição sonora

Físico Água Alterações da quantidade de água

Deterioração da qualidade hídrica

Regularização hídrica Controle da poluição hídrica

Solo/ subsolo

Alterações físicas do solo

Alterações químicas e biológicas do solo

Estabilidade do solo Controle da poluição.

Biológicos Flora Redução da cobertura vegetal

Redução da biodiversidade

Controle da redução da biodiversidade

Fauna Ambiente propício para a proliferação de vetores.

Destruição de habitats naturais

Controle de vetores

Uso/ocupação do solo

Desconforto ambiental das edificações Poluição visual

Alterações microclimáticas

Conforto ambiental nas edificações Controle da poluição visual

Territorial Infra-estrutura/ serviços

Dificuldades no deslocamento Aumento da necessidade de saneamento Redução da sociabilidade

Desperdício de energia

Racionalização do transporte Saneamento ambiental Conservação de energia

Sociais Demografia Equipa-mentos e serviços sociais

Concentração populacional

Crescimento das necessidades sociais

Conscientização ambiental Atendimento das necessidades sociais

Econômicos Setores Valor e desvalorização da x Valorização das atividades e

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produtivos Renda/Ocupa- ção

atividade /propriedade Concentração de pobreza e desemprego

propriedades Amenizações dos bolsões da pobreza

Instituição

Setor Público Instrumentos Normativos

Redução da capacidade de gestão urbana Instrumental insuficiente

x Apoio à capacidade de gestão urbana Instrumento de regulamentação específica

Fonte: http://www.ambientebrasil.com.br/ (outubro de 2007)

Resumindo, as áreas naturais devem ser protegidas e preservadas através de

legislação ambiental, protegendo vales, encostas e margens de cursos d'água, e políticas

públicas que criem Parques Nacionais e APAs (Área de Proteção Ambiental), resguardando

áreas não urbanizadas e não agricultáveis, além de proteger o meio ambiente da ação direta

do ser humano. A natureza, ainda que transformada, não pode ser negada na cidade, mas

deve fazer parte da mesma.

4.3.4 GEOLOGIA (SOLO)

O solo conforma a superfície terrestre que suporta as plantas e os demais elementos

ambientais e urbanos. Suas propriedades se devem aos efeitos combinados do clima e da

matéria viva sobre o mesmo. Os seres vivos, bem como o vento e as águas, são os agentes

de formação e modificação do húmus que recobre o solo.

A camada superfícial do solo que recobre as rochas é constituída por minerais de

proporções e tipos variáveis e de húmus ( matéria orgânica decomposta por ação de

organismos do solo).

Algumas práticas na agricultura e na pecuária podem proteger o solo e promover um

uso sustentável. Os maiores problemas relacionados ao manejo inadequado do solo, além

da poluição, são a erosão, o aumento da salinidade do solo e a compactação do mesmo.

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Esses, influenciam na produção de alimentos gerando um desequilíbrio no sistema

produtivo. Para evitar o disperdício e a degradação do solo novas técnicas produtivas

devem ser criadas e aprimoradas para garantir alimentos sem prejudicar a capacidade de

produção do solo e diminuir a poluição.

As condições geológicas de uma área urbana têm grande importância sobre o seu

processo de expansão. As diferentes características do solo podem influir no tipo de

ocupação de determinada zona urbana. Algumas formações geológicas possuem

características favoráveis à construção civil como a resistência a cargas e à plasticidade

(MOTA, 1981).

A resistencia do solo tem grande importância na área urbana, permitindo o suporte

de cargas e de grandes estruturas de engenharia. Então, o estudo das características do

subsolo garante o conhecimento da capacidade de suporte de cada área e a carga passível de

ser instalada em cada local. As qualidades e vocações de cada solo são definidas por sua

classificação como argilosos, arenosos, humíferos, siltosos e calcários.

Outro importante elemento característico do solo que tem relevância para o

planejamento urbano é sua permeabilidade. A textura e a estrutura definem a granulometria

de cada solo, que por sua vez está diretamente relacionada com a capacidade do mesmo de

reter ou filtrar a água. A pavimentação e as construções das cidades diminuem a capacidade

de absorção de água pelo solo. Devido à falta de um sistema eficiente de retenção da água

das chuvas e reaproveitamento da mesma e de um sistema adequado de drenagem de água,

em muitas cidades é comum o alagamento de ruas e casas em períodos chuvosos. Além

disso, a impermeabilidade do solo prejudica o acúmulo de água nos aquíferos e o

crescimento vegetal.

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Em áreas desprovidas de rede de esgoto o solo tem grande importância. Pois, outra

característica dos solos relacionada à urbanização é a capacidade de utilização como meio

de absorção de líquidos provenientes de fossas. Já o esgoto doméstico lançado no solo sem

tratamento favorece a proliferação de doenças patogênicas e a contaminação do mesmo, e

conseqüentemente, das águas subterrâneas.

Concordando com alguns pontos discutidos por Higueras (2006) os fatores que se

devem considerar para o planejamento são:

- Que o solo tenha boa capacidade portante, com sobsolos que contenham baixa

quantidade ou nenhuma de substâncias como fosfatos, carbonatos, entre outros, que podem

afetar a sedimentação e a estabilidade do mesmo.

- Evitar a construção em áreas permeáveis ou de recarga de aquíferos subterrâneos,

não pavimentando em excesso os espaços livres e a rede viária.

- Estabelecer no nível local, parques e espaços livres mais permeáveis que permitam

o armazenamento de água no subsolo beneficiando a vegetação e aumentando o nível de

umidade do ambiente.

Um grave problema urbano que afeta o solo diretamente é o destino dado ao lixo.

Na maioria das cidades brasileiras o lixo urbano é aglomerado a céu aberto nos chamados

“lixões” sem nenhuma preocupação quanto a contaminação do solo, e consequentemente,

dos aquíferos subterrâneos. É indispensável a criação de aterros sanitários em locais

adequados, afastados de aquíferos, rios, lagos e fontes. Além disso, grande parte desses

materiais poderiam ser reciclados através de projetos apoiados pelo governo e pela rede

privada.

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O primeiro passo para garantir o uso do solo de forma adequada e sustentável é

consientizar que os recursos do mesmo também são limitados, e por isso, devem ser usados

de forma racional.

4.3.5 ÁGUA E SEUS CONDICIONANTES

A água é um dos principais elementos ambientais que garantem a existência do ser

humano na Terra. A superfície do planeta está coberta por 77% de água. Do volume total,

apenas 1% é água doce, e ainda, grande parte dessa água doce está em aqüíferos

subterrâneos.

O Brasil detém de 8% a 12% de água doce do planeta, sendo que cerca de 80%

dessa reserva está concentrada na Amazônia. Os 20% restantes estão distribuídas

desigualmente pelo restante do país. (REBOUÇAS, BRAGA e TUNDISI, 2002).

O mapa hidrográfico do Brasil revela que sua distribuição está em desacordo com as

áreas de maior concentração populacional, sendo que 68% da água serve apenas 7% da

população. São 56.000 km² cobertos por água doce, e está distribuída da seguinte forma:

· Norte – detém 68,5% dos recursos hídricos para uma população de 7%

· Centro-oeste – 15,7% para 6,4%

· Sul – 6,8% para 15,5%

· Sudeste – 6,0% para 42,5%

· Nordeste – 3,0% para 28,6%

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A indústria e a agricultura são os maiores consumidores da água doce. Na

agricultura, são três milhões de hectares irrigados somente no Brasil. A maioria

concentrada no Sul e Sudeste, onde a oferta de água é consideravelmente menor (TELLES

e COSTA, 2006).

Todo ser vivo do Planeta depende de um fluxo de água contínuo e do equilíbrio

entre a água que o organismo perde e a que ele repõe. O ser humano pode ficar até 35 dias

sem comer, mas morre em cinco dias se não ingerir líquidos (Organização Mundial da

Saúde).

Além da importância fisiológica para os seres vivos o ciclo hidrológico também

pode ser usado como um importante elemento para o desenho ambiental. Alguns fatores são

determinantes para o desenho ambiental, como a qualidade da água e sua gestão.

A grande maioria dos povos tem a água como elemento primordial na agricultura,

na definição dos assentamentos humanos, na cultura, na religião e no lazer. Além de

essencial fisicamente a água também traz bastante simbolismo. Povos orientais, como os

árabes, utilizavam a água, há muitos séculos, como elemento urbano. Os canais de

abastecimento, as concepções de jardins com cascatas e fontes eram elementos que

significavam prosperidade, luxo e tranqüilidade (ROMERO, 2001). Os romanos também

detinham tecnologias de abastecimento de água e irrigação, além de também utilizarem a

água como elementos ornamentais através de fontes e canais.

O uso da água para qualquer fim deve ser analisado cuidadosamente para que as

alterações do Ciclo Hidrológico não sejam desastrosas ao meio ambiente, nem irreversíveis.

O processo de urbanização pode provocar sensíveis alterações no Ciclo Hidrológico,

principalmente nos seguintes aspectos (MOTA, 1981):

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- Aumento da precipitação; diminuição umidade do ar, como conseqüência da

redução da vegetação;

- aumento do escoamento da água, por ser menor a infiltração da água no solo;

- excesso do consumo de água superficial e subterrânea para abastecimento público

e processos industriais e urbanos;

- redução ou esgotamento do lençol freático;

- maior assoreamento dos rios e lagos devido à maior erosão do solo;

-aumento do número de enchentes e poluição das águas superficiais e subterrâneas.

O planejamento urbano ambiental sustentável pode promover a utilização da água

de uma forma mais racional, como utilizá- la como elemento de resfriamento por

evaporação no desenho urbano controlando a umidade do ar5, assim como garantir o

tratamento da mesma antes de devolvê- la aos rios e mares. O planejamento deve ser

integrado a uma gestão dos recursos hídricos. Para Ester Higueras (2006) os fatores do

ciclo hidrológico mais relevantes para os assentamentos são:

- Determinar a água disponível na superfície e no subsolo, considerando a

pluviosidade e as características do solo.

- Considerar o balanço hídrico (balanço entre a precipitação e a evaporação)

estabelecendo a verdadeira disponibilidade de água, para relacioná- la com os consumos e

os abastecimentos das infra-estruturas.

- Estimação dos consumos de água urbanos (residenciais, de trabalho, de lazer,

zonas verdes etc.) e definir a qualidade da água necessária para cada uso, para saber a

5 Cada lugar deve ser pensado com suas características, pois a utilização de fontes e espelhos d´água em uma determinada região pode ser benéfica, mas em outra quente e úmida, por exemplo, pode causar desconforto devido ao aumento da umidade do ar.

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melhor forma de obtenção (pela rede de água superficial, pela reciclagem, pela captação

pluvial etc.).

- Preservar a rede de água superficial, estabelecendo usos adequados para seu

aproveitamento e manutenção, podendo aproveitar essas áreas para recreação e convívio

social.

- Armazenar água de chuva e destiná- la a usos convenientes.

- Preservar áreas com maior permeabilidade transformando em espaços livres e

zonas verdes.

Além disso, as cidades devem ser planejadas próximas às fontes e reservatórios de

água como represas e rios, pois a água não deve ser transportada por grandes distâncias

para que não haja perdas por evaporação e absorção, nem custos altos e gastos

desnecessários de energia (HIGUERAS, 2006).

A água do subsolo também pode ser utilizada de forma eficiente e deve ser

protegida contra a contaminação. As áreas permeáveis que filtram a água para o subsolo

permitem a formação de lençóis freáticos que muitas vezes afloram na superfície como

mananciais, fontes, poços artesianos etc., em áreas diferentes de seus locais de captura. Para

evitar a contaminação os aterros sanitários devem ser bem localizados e planejados para

que o “chorume” do lixo não seja absolvido pelo solo e consequentemente atinja o lençol

freático.

A qualidade da água está diretamente relacionada com seu uso. A água pura deve

ser utilizada para beber, já a limpeza, a agricultura e o lazer não necessitam de uma pureza

máxima e nesses casos pode ser utilizada água de chuva captada ou água reutilizada de

outras atividades (TELLES e COSTA, 2006). Cada curso de água tem a capacidade de se

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auto depurar-se devido à presença de oxigênio liberado pelas algas, mas essa capacidade

pode ser prejudicada pela poluição despejada nos rios e lagos, diminuindo ou aumentando

exageradamente a proliferação de algas que também liberam toxinas.

A água é um bem de toda a humanidade e deve ser protegida e utilizada de forma

eficiente. É um elemento finito que pode ser reaproveitado e garantido por muitos anos se

for tratado através de planejamentos sustentáveis.

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Capítulo 5

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5 ESTUDO DE CASO: MUNICÍPIO DE QUISSAMÃ

Para apresentar princípios urbanos sustentáveis em um ambiente concreto, tomou-se

como objeto de estudo, a Cidade de Quissamã, escolhida como representativa de outras

pequenas cidades brasileiras com peculiaridades que a destaca das demais.

O Município de Quissamã está localizado na Região Norte Fluminense e faz parte da

Bacia de Campos de extração de petróleo (Figura 5.1). É um dos municípios que recebe

“royalty” da Petrobrás e realiza intervenções urbanas para sustentar o crescimento

impulsionado pelo petróleo. Apesar da riqueza do Município vir da extração de um

combustível fóssil, cuja queima é um dos maiores responsáveis pela poluição atmosférica,

esse município tem realizado ações diferenciadas que buscam o desenvolvimento

sustentável.

Figura 5.1 - Mapa de localização. Fonte: Plano Diretor de Desenvolvimento Sustentável de Quissamã (PDDSQ, 2006).

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O estudo foi baseado principalmente no Plano Diretor de Desenvolvimento

Sustentável de Quissamã (PDDSQ). Essa cidade foi uma das primeiras a desenvolver um

Plano Diretor Sustentável e realizar seminários e “workshops” referentes à discussão da

sustentabilidade na região6. Por motivação política, e principalmente, incentivados pelo

desenvolvimento turístico da região, os governantes locais priorizaram o desenvolvimento

de um Plano Diretor Sustentável e um Plano de Ações. O primeiro, busca estabelecer um

diagnóstico ambiental e urbano da cidade e o segundo tem como função propor ações

estratégicas de crescimento. Para que se possa discutir tais ações e propor novas idéias, essa

dissertação levanta alguns dados ambientais e urbanos que serviram de base de estudo para

a proposição de princípios sustentáveis para Quissamã.

5.1 CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS E ATUALIDADES

O Município de Quissamã foi emancipado somente em janeiro de 1989, entretanto

sua história remete à colonização brasileira. A história de Quissamã tem seu primeiro

marco ainda no século XVII, em 1627, quando o Governador Martim de Sá dá a concessão

da sesmaria, que ia do Rio Macaé ao Rio Iguaçu, a sete capitães proprietários de Engenho

do Rio de Janeiro. A concessão foi dada em troca de serviços prestados à Coroa nas lutas

contra a expulsão dos franceses do litoral brasileiro.

Esses capitães, durante a expedição, conseguiram formar acordos com a população

local, composta por índios, mamelucos e náufragos. Como primeira atividade econômica,

6 Formalmente, possuir um Plano Diretor é obrigatório para as cidades com população superior a 20.000 habitantes. Apesar de Quissamã não ter alcançado essa quantidade é uma cidade que está em crescimento em decorrência da presença de postos de extração de petróleo da Petrobrás e do seu potencial turístico. Por isso já elaborou o seu Plano Diretor.

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conseguiram estabelecer a criação bovina. A instalação de currais para a criação de gado foi

intensificada na fazenda do Furado, hoje região conhecida como Barra do Furado. Por volta

de 1760, os fazendeiros introduziram a cultura da cana-de-açúcar e a pecuária cedeu lugar à

monocultura açucareira.

Somente um século depois da concessão das sesmarias a ocupação tornou-se

efetiva, sendo fundada pelo brigadeiro José Caetano de Barcellos Coutinho a Vila de

Quissamã em 1749. Ainda nos dias atuais permanecem alguns resquícios construtivos da

história de Quissamã, como a Casa do Mato de Pipa erguida em 1777 para servir de

moradia para senhor de engenho (Figura 5.2).

Figura 5.2 – Casa Mato de Pipa. Mais antiga casa de Senhor de Engenho da região Norte Fluminense. Fonte: www.quissama.rj.gov.br

Figura 5.3 – Solar Mandiquera. É um dos solares mais luxuosos do Estado do Rio e retrata a riqueza da época. O solar foi construído entre 1875 e 1879. Fonte: www.quissama.rj.gov.br

O controle administrativo de Quissamã era exercido pelas autoridades de Vila de

São Salvador de Campos dos Goytacazes desde sua colonização até o ano de 1802, quando

passou a ser subordinada à Freguesia de Nossa Senhora das Neves e posteriormente, em

1812, à Freguesia de Macaé.

No século XIX a Vila prosperou e contava com sete grandes engenhos de açúcar. As

riquezas da época eram transparecidas nos diversos solares dos viscondes e barões do

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açúcar. Exemplos ainda existentes são as residências da Machadinha e da Mantiqueira que

foram restaurados e hoje fazem parte do Patrimônio Cultural da Cidade de Quissamã

(Figura 5.3). A Vila ainda recebeu outras construções públicas luxuosas como o atual

prédio da Prefeitura Municipal, que tinha como função anterior uma escola, e o Canal

Campos - Macaé (Figura 5.4 e Figura 5.5). Este foi construído para escoar a produção

açucareira e é o segundo maior canal construído do mundo, ficando atrás apenas do Canal

de Suez. Apesar da obra gigantesca para a época o Canal perdeu sua função apenas três

anos mais tarde de sua inauguração devido à construção da linha férrea entre as fazendas e

o Engenho Central e do mesmo até a Estrada de Ferro Macaé-Campos.

Figura 5.4 e 5.5 – Canal Campo-Macaé. Uma das maiores obras da engenharia do século XIX, foi idealizado pelo inglês John Henry Freese com o objetivo de ligar o rio Paraíba do Sul ao rio Macaé. Possui alguns trechos navegáveis, mas sofre com a assoreação. Fonte: Figura 5.4 - INEPAC, Figura 5.5 - site da Prefeitura de Quissamã.

A elite açucareira passou a ter importância política e econômica no país, mas com a

Crise de 1929, esse próspero quadro econômico se modificou. A maioria dos fazendeiros se

endividou e perdeu suas terras para o Engenho Central, que praticamente passou a

monopolizar a economia local. A partir daí, a cidade passou por um período de estagnação.

Somente na década de 70, com o desenvolvimento do programa Pró-álcool, da Petrobrás e a

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descoberta de petróleo na Bacia de Campos, a cidade voltou a ter novas expectativas de

desenvolvimento. Com o crescimento não mais dependente exclusivamente do Engenho, a

comunidade local entra com o pedido de emancipação e em 1989 foi oficializada a criação

do Município de Quissamã.

Com o descobrimento do petróleo na Bacia de Campos o Município de Quissamã

recebe verba dos “royalties” da Petrobras totalizando um PIB de R$ 1.489.799.000,00

(IBGE, 2004), resultando em um PIB per capita de R$ 94.995,00. Apesar da maioria dessa

verba ser de origem da exploração do petróleo, que é um dos combustíveis fósseis que mais

contribui para a poluição atmosférica e para o aquecimento global, a prefeitura está

revertendo parte deste dinheiro para investimentos de melhoria e infra-estrutura com

enfoque sustentável e, principalmente, investindo no turismo para gerar renda para a

população.

Algumas iniciativas já foram implantadas como a recuperação de parte do

Patrimônio Cultural da Cidade, como o Solar da Mantiqueira e a Casa de Quissamã (Figura

5.6); a construção de estações de tratamento de esgoto; a construção de escolas primárias e

secundárias e o financiamento do ensino superior para cidadãos quissamanhences em

outros municípios da região com transporte público subsidiado (Figura 5.7). Essas

iniciativas podem representar estratégias sustentáveis, pois, através do turismo os habitantes

da Cidade podem ganhar uma fonte de trabalho e renda. No entanto, esse crescimento e o

excesso de pessoas trazidas pelo turismo deve ser controlado para que não traga problemas

ambientais nem sociais.

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Figura 5.6 – Museu Casa de Quissamã Fonte: www.quissama.rj.gov.br

Figura 5.7 – Uma das principais escolas da Sede Municipal.

Além do saneamento básico para a maior parte da população; de um índice de

analfabetismo baixo com todas as crianças matriculadas em escolas com educação básica

gratuita do pré-escola ao 2º grau, e ainda, com programa de bolsas universitárias integrais

para cerca de 700 jovens; da inclusão digital através de internet banda larga gratuita para a

população; do desenvolvimento e promoção da saúde com 10 postos de saúde, 1 centro de

especialidade e 1 hospital com área de 7.000 m², apresentando a menor taxa de mortalidade

infantil no Estado. (Figura 5.8 e Figura 5.9).

O município possui uma infra-estrutura que conta com o abastecimento de água pela

rede geral de 65,4% dos domicílios, com 22,5% dos domicílios atendidos por poços

artesianos ou nascentes e 12,1% atendidos através de carros pipa. De acordo com os dados

da Pesquisa “Conhecendo Quissamã” com relação ao sistema de esgotamento sanitário, em

2004, 56,48% dos domicílios do município estavam ligados à rede de esgotos sanitários,

10,52% adotavam fossa séptica, 31,30% a fossa rudimentar e 1,70% lançavam seus

efluentes em valas rios ou outros. A coleta de lixo atende 92% dos domicílios e o lixo é

tratado em uma usina de reciclagem. Ainda, 90% das estradas vicinais são asfaltas

(PDDSQ, 2006). Com isso, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é de 0,732 e o

Índice de Qualidade dos Municípios (IQM) é de 0,3528, sendo o 24º lugar no Estado do

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Rio de Janeiro. Isto representa uma evolução de 21 posições em relação ao comparativo

1998/2005, ou seja, o melhor desempenho da Região Norte Fluminense (Fundação

Cide/RJ).

Figura 5.8: Hospital Municipal de Quissamã

Figura 5.9: Um dos postos de saúde da Prefeitura.

No entanto, a possibilidade de crescimento e desenvolvimento da população pode

trazer problemas para o meio ambiente. O futuro direcionamento das ações políticas e

econômicas poderá definir se a cidade terá um desenvolvimento sustentável.

5.2 LOCALIZAÇÃO E ACESSIBILIDADE

Como já foi citado, o Município de Quissamã se localiza ao Norte do Estado do Rio

de Janeiro e pertence à micro-região de Macaé. Pelos dados da Secretaria Municipal de

Urbanismo e Meio Ambiente, o município possui 715,88 km² de território, sendo que

aproximadamente 45 km de sua extensão são banhados pelo Oceano Atlântico. O

município faz divisa com Campos do Goytacazes ao norte, com Conceição de Macabu ao

noroeste, com o Oceano Atlântico ao sul e com Carapebus a leste (Figura 5.10).

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Figura 5.10 - Malha rodoviária Fonte: PDDSQ, 2006.

Uma das principais características do Município de Quissamã é o fato de ser

polinucleado (com vários núcleos urbanos) com a Sede Municipal sendo principal núcleo

urbano, no centro geográfico do município, e os demais núcleos constituídos pelas áreas

chamadas de Penha, Santa Catarina, Barra do Furado, João Francisco e Visgueiro, que são

pequenas aglomerações. (Figura 5.11)

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Figura 5.11 – Mapa com os núcleos urbanos de Quissamã. Fonte: Adaptado do PDDSQ, 2006.

Quissamã é ligada ao restante do país por uma malha rodoviária que conta com uma

Rodovia Federal (BR-101), duas Rodovias Estaduais (RJ-178 e RJ- 196), além de outras

rodovias municipais de interesse econômico e turístico. Além disso, possui grande presença

de água o que possibilita uma malha hidroviária. O município conta com uma vasta área de

navegação lacustre e fluvial tendo como recursos hidrográficos navegáveis o Canal de

Campos - Macaé que passa por dentro da Cidade de Quissamã; o Canal das Flechas, que

embora pertença a Campos é um dos canais de saída da Lagoa Feia que integra Quissamã; a

própria Lagoa Feia com 203,36 Km² (Superintendência Estadual de Rios e Lagoas –

SERLA) e que abastece os núcleos urbanos; a lagoa da Ribeira que se localiza próxima a

Sede Municipal; o Rio de Macabu que tem grande potencial turístico e outras lagoas

menores dentro do Parque Nacional da Restinga.

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Do ponto de vista histórico, também é importante salientar que o município

apresentava uma malha ferroviária significativa, mas hoje, a principal Estação Ferroviária

de Quissamã, Conde de Araruama, está desativada. A Estrada de Ferro Macaé-Campos

atravessava o noroeste do Município de Quissamã e escoava a produção açucareira e fazia o

transporte de passageiros. Além desta estrada de ferro, havia uma linha férrea que

interligava as fazendas de cana-de-açúcar ao Engenho Central de Quissamã, chegando até

ao centro da cidade (Figura 5.12) (PACHECO, 2004). Hoje esse ramal da linha férrea

cedeu lugar para a avenida principal da cidade, a Av. Amilcar Pereira da Silva.

O transporte ferroviário ainda é feito através da ferrovia que liga o Rio de Janeiro à

Vitória, no Espírito Santo, entre outras regiões do sudeste e nordeste, operado pela Ferrovia

Centro Atlântica S.A.. A prefeitura estuda a reativação de parte da linha férrea para uso

turístico e a revitalização da Estação de Conde de Araruama.

Figura 5.12: Ferrovias da Rede Centro Atlântica S.A. (2007) Fonte: http://www.fcasa.com.br/

Os transportes marítimo e aéreo somente ganharam relevância com a dinâmica de

exploração “off shore” de petróleo e gás da Bacia de Campos. O município encontra-se em

posição privilegiada em relação às plataformas marítimas de exploração. Diante disso, a

prefeitura financiou um estudo de viabilidade de implantação de um Heliporto em

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Quissamã no núcleo urbano de Barra do Furado. Além disso, a Petrobrás prevê um Porto

Marítimo também para atender às plataformas e ao escoamento de minério de ferro,

exportação de álcool combustível, frutas, etc. O objetivo desses projetos é trazer

desenvolvimento para a Cidade de Quissamã e atender às necessidades da Petrobrás. Com a

construção do porto marítimo e do heliporto, o transporte marítimo e aéreo para as

plataformas de petróleo será dividido entre as cidades de Macaé, São Tomé e Quissamã. No

entanto, a criação de estruturas de tão grande porte na região de Quissamã pode trazer

diversos problemas ambientais e urbanos.

Figura 5.13 - Vista aérea do núcleo urbano de Barra do Furado. Fonte: www.quissama.rj.gov.br

O núcleo urbano de Barra do Furado hoje é delimitado pelo Canal das Flechas, que

liga o mar à Lagoa Feia, e pelo Parque Nacional da Restinga, sendo assim um crescimento

urbano para atender as necessidades da implantação de um heliporto poderia levar à

urbanização de áreas naturais que hoje são protegidas (Figura 5.13).

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5.3 CONHECIMENTO DO MEIO AMBIENTE FÍSICO AMBIENTAL E URBANO

O estudo das especificidades do meio natural e urbano de Quissamã permite

relacionar a demanda da dinâmica da vida local com os recursos naturais disponíveis. O

levantamento de dados do meio físico ambiental e urbano direciona os projetos e os

processos de atuação no município.

Desta forma, o conhecimento prévio do diagnóstico ambiental e urbano colabora

para o desenvolvimento sustentável considerando a base de recursos naturais e as

características climáticas, além de diagnosticar os vetores de crescimento dos núcleos

urbanos e possibilitar o seu controle.

5.3.1 ELEMENTOS DO MEIO AMBIENTE

5.3.1.1 Clima

O clima do município é classificado como sub-úmido seco, mas tem grandes

precipitações no verão, o que favorece a cultura da cana-de-açúcar e do abacaxi. O

município possui um regime térmico típico de áreas tropicais apresentando duas estações

marcantes: uma seca, do mês de maio ao mês de agosto, e outra úmida, do mês de setembro

ao mês de abril. Como já foi mencionado anteriormente, o município possui um núcleo

urbano principal e diversos outros aglomerados urbanos menores, mas o clima de todos os

núcleos é bastante semelhante.

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O núcleo principal, que é a Sede do Município, está localizado nas coordenadas

geográficas entre o paralelo 22°6´24´ latitude sul e 41°28´20´´ longitude oeste de

Greenwich. Essas coordenadas influenciam diretamente no clima que é bastante

homogêneo. O município apresenta uma altitude que varia de 5 a 83 metros acima do nível

do mar. A temperatura é pouco variável, enquanto as precipitações oscilam mais.

As médias anuais de temperatura e precipitação são baseadas em dados de Campos

e Macaé. Essas são vizinhas de Quissamã e a primeira está à cerca de 60 km de distância ao

norte e a segunda à cerca de 40 k m de distância ao sul. As médias de temperatura de

Quissamã variam entre 20,9 °C em julho e 26,6 °C em fevereiro.

A amplitude térmica é pequena, mas a pluviométrica apresenta grande variação no

ano. Pode-se observar na figura abaixo que as médias de temperatura de Campos são

sempre ligeiramente superiores às de Macaé (Figura 5.14). Com isso, é de se esperar que as

médias de Quissamã fiquem entre às médias de Campos e Macaé, traçada no gráfico

(BRANCO, 2006).

Como foi visto no capítulo anterior, a cidade modifica o clima e no caso de

Quissamã isso não é diferente. Apesar da área urbana ser pequena, a morfologia da cidade e

as superfícies expostas à radiação solar fazem com que a temperatura média da cidade seja

maior que a do campo vizinho (afirmação enunciada no PDDSQ, 2006).

Ainda, mesmo com uma área urbana reduzida, o clima urbano pode ser alterado pela

impermeabilização do solo com asfalto e infra-estruturas de drenagem que impedem a

absorção da água da chuva e o aumento da umidade. Os acessos à Sede Principal de

Quissamã são asfaltados e a cidade possui mais de 70% de sua rede viária pavimentada.

Além da impermeabilização do solo pelas edificações e vias, o Município também recebeu

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diversas obras de drenagem no decorrer de sua história. As numerosas intervenções no

sistema hídrico da região, como a retificação de cursos d´água e a implantação de vários

canais interligados, alteraram significativamente a caracterização natural do Município.

Figura 5.14 - Temperaturas médias anuais da Região Norte /Nordeste.7 Fonte: Secretaria de Ciência e Tecnologia – Sistema de Meteorologia do Estado do rio de Janeiro.

Mesmo a região sendo ricas em lagoas e rios e apresentar problemas de drenagem,

seus índices pluviométricos são considerados baixos. De acordo com os dados do Plano

Diretor de Quissamã obtidos através do Pluviômetro Vila Evelina e São Miguel, no ano de

2000 os índices pluviométricos mínimos registrados no município foram 3 mm em junho, e

os máximos de 186 mm, em novembro. A precipitação anual média do município é de 963

mm, o que é considerado uma média baixa para a agricultura8 e por conta disso, a prefeitura

aproveita o grande número de corpos hídricos e desenvolve projetos de irrigação, o que está

causando assoreamento nos canais e lagoas. (Figura 5.15).

7 Os dados climatológicos são referentes às cidades vizinhas de Quissamã, pois a estação meteorológica de Quissamã somente foi inaugurada no dia 9 de novembro e ainda não possui dados anuais comparativos. 8 A precipitação média anual no estado do Rio de Janeiro é superior a 1.500 mm.

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Figura 5.15 - Precipitações anuais da Região Norte /Nordeste. Fonte: Secretaria de Ciência e Tecnologia – Sistema de Meteorologia do Estado do rio de Janeiro.

Com relação ao balanço hídrico realizado para algumas localidades do Norte

Fluminense, Romisio, Valdo e Francisca Maria, utilizando dados de 1931 a 1975,

obtiveram os seguintes resultados: em média, no início da estação chuvosa, geralmente no

mês de outubro, a precipitação é utilizada, quase que totalmente, para a reposição hídrica.

Com as necessidades de água no solo sendo supridas gradualmente, observa-se, nos meses

subseqüentes, uma expansão da área com excesso hídrico e atingindo seu máximo em

dezembro.

Observa-se que as localidades de Campos, Cardoso Moreira, Dois Rios, Farol de

São Tomé, Macabuzinho, São Fidelis, São Francisco de Paula, Três Irmãos e Quissamã

apresentam déficits hídricos em praticamente todos os meses do ano (BOULID,

MARQUES E PINHEIRO, 2005). Isso quer dizer que o Município gasta mais água do que

a quantidade de chuva que recebe. Deste modo, o nível de água da Lagoa Feia, que

abastece a cidade, está cada vez menor, o que contribui para o assoreamento da mesma.

Esse problema pode ser enfrentado com uma racionalização do uso da água,

principalmente, no uso para a irrigação, e através de sistemas de capitação de água da

chuva, tanto residenciais quanto urbanos (captação de água de chuva nas vias e praças).

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5.3.1.2 Radiação Solar e Ventos

A medição da radiação solar é feita pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).

Os dados não são precisamente de Quissamã, mas são referentes às cidades de Campos do

Goytacazes e Macaé, que são cidades vizinhas à Quissamã, como já foi dito (Tabela III e

Tabela IV). A partir dos dados de radiação solar podem ser traçados os gráficos com o

auxílio do Programa Radiação Solar Incidente (Figura 5.16).

De acordo com a latitude que se encontra a cidade, através do Programa de

computador Drawsun, pode-se obter o diagrama das trajetórias solares da região (Figura

5.17). Através das trajetórias solares é possível definir, além dos posicionamentos e

aberturas das fachadas das edificações, o desenho mais adequado para as vias. Ainda, a

partir do estudo das sombras solares pode-se averiguar quais as vias ou áreas livres que

devem ser protegidas da insolação, através, principalmente da utilização da arborização.

Tabela 3 – Radiação Incidente em Campos do Goytacazes (21°7´5´´ latitude sul e longitude oeste 41°3´24´´). Unidade kWh/m².dia: MÊS JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ

Radiação 6.19 5.97 5.44 4.36 4.11 3.56 3.94 4.28 4.28 4.67 5.28 5.72

Mínimo: 3.56 Máximo: 5.72 Média: 4.82 Delta: 2.16

Fonte: Centro de Referência para Energia Solar e Eólica – Sérgio de S. Brito. Disponível em <http://www.cresesb.cepel.br/>

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Tabela 4 – Radiação Incidente em Macaé (22°3´7´´ latitude sul e longitude oeste 41°7´8´´). Unidade kWh/m².dia: MÊS JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ

Radiação 6.17 5.97 5.33 4.64 3.97 3.47 4.06 4.44 4.22 4.86 5.39 5.50

Mínimo: 3.47 Máximo: 5.50 Média: 4.83 Delta: 2.03

Fonte: Centro de Referência para Energia Solar e Eólica – Sérgio de S. Brito. Disponível em < http://www.cresesb.cepel.br/>

Figura 5.16: Radiação Solar Incidente de Campos e Macaé Fonte: dados do CRESESB – CEPEL, 2007. Programa Radiação Solar Incidente

Figura: 5.17: Trajetória solar (latitude 22°) Fonte: Programa Drawsun.

A radiação solar em Quissamã é bastante intensa e a incidência de raios solares é

quase tão intensa no verão quanto no inverno. Por isso, as arquiteturas devem ter suas

fachadas protegidas e também é preciso controlar a incidência solar nas vias urbanas. Essa

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proteção pode ser feita com brises e platibandas ou com arborização contribuindo também

para a amenização do clima local.

Quissamã possui uma particularidade por ser uma região com chuvas no verão e

seca no inverno. Dado que as nuvens contribuem para a diminuição da radiação solar direta

no verão, não se tem muita diferença entre os valores da energia solar ao longo do ano.

Os ventos dominantes são o Nordeste, seguidos do Sudoeste e, com menor

intensidade, o Leste. Durante todo o verão a predominância é dos ventos Nordeste, Norte e

Leste. Já durante o inverno há a predominância do vento Sul. A média da velocidade do

vento predominante (NE) é de 2,2 m/s. (PDDSQ, 2006).

Quissamã ocupa uma área predominantemente de planície e está localizada próximo

do mar, no entanto, somente alguns núcleos urbanos do Município recebem a incidência

direta das brisas marítimas. As cadeias de montanhas ao Norte do Município, apesar da

baixa altitude, também influenciam nos ventos em toda a região (vide tópico 4.3.2).

J á os ventos locais, principalmente na Sede Principal, são modificados pela

morfologia urbana, que define elementos como o tamanho e a densidade das construções, a

disposição dos mesmos no espaço e escala e a orientação das vias. A maioria das ruas da

Sede Principal de Quissamã, principalmente as do centro histórico, é bastante estreita e

possui edificações uniformes e muito próximas umas das outras. Essa formação urbana

canaliza os ventos fazendo com que as vias recebam um vento em alta velocidade, o que

pode causar desconforto, e as áreas centrais dos quarteirões sejam menos ventiladas, o que

prejudica a ventilação nas edificações.

Também os grandes vão livres das praças e áreas de lazer da Cidade permitem o

aumento da velocidade dos ventos, no entanto, a vegetação dessas áreas promove a

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diminuição da velocidade dos ventos sem causar muita turbulência. São poucas as áreas

livres arborizadas, o que afeta diretamente na ventilação, na incidência solar direta (diminui

as áreas de sombreamento), e consequentemente, no uso desses espaços.

No Plano Diretor de Desenvolvimento Sustentável de Quissamã não é feito

nenhuma consideração sobre a importância da radiação solar nem da ventilação n o

Município, muito menos um estudo. Como foi visto no capítulo anterior, a radiação solar

juntamente com os ventos são os fatores ambientais que mais influenciam no conforto

térmico urbano. O posicionamento das vias e a das edificações, além da densidade urbana,

é controlado pelo poder público através da legislação urbana. Para tanto, é de grande

importância que o Plano Diretor de Desenvolvimento Sustentável contenha um estudo da

radiação solar e dos ventos, orientando as legislações e ações públicas e privadas no meio

urbano.

5.3.1.3 Vegetação

Grande parte da cobertura vegetal de Quissamã é formada por áreas agrícolas, sendo

sua principal produção a de cana-de-açúcar, que ocupava em 2003, 90,87% da área

cultivada de Quissamã, seguida pela produção do coco anão-verde com 5, 45%. As demais

produções são de arroz, laranja, milho, abacaxi, feijão e mandioca, essas representam

pequenas porcentagens da produção local. Apesar de não haver dados comprovados, a

agricultura de subsistência é pouco comum na região.

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O restante da cobertura vegetal do município é constituído por formações originais,

principalmente de restinga, campo-pastagem e vegetação secundária (Tabela V). A restinga

predomina na paisagem natural e é encontrada em toda a extensão litorânea do município.

Tabela 5 - Dados originais obtidos no Mapeamento Digital do Estado do Rio de Janeiro. GEROE/CIDE

Município

Formações

pioneiras

Vegetação

secundária

Área

urbana

Área

agrícola Pastagem

Corpos

d'água

Não

classificado

Quissamã 36,0 0,2 0,3 37,8 12,9 12,8 0,0

Fonte: CIDE http://www.cide.rj.gov.br/tabelas/CoberturaVegetal.htm

Devido a sua importância ambiental a área de restinga foi transformada em Parque

Nacional, em 1998. O PARNA, Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba, possui um dos

ecossistemas mais ricos e preservados do Brasil. Um total de 62,38% (93,18 km²) da área

do parque está no território de Quissamã, representando 13% da área do município (PDDS,

2006). Foi acordado com a Lei Federal n° 9985/2000, após o decreto de criação do Parque,

até que o Plano de Manejo seja concluído, que seria considerado como área de

amortecimento9 uma zona com, aproximadamente, 10 km de largura entorno do Parque.

Contudo, em 2002, um relatório10 elaborou uma sugestão de zona de amortecimento,

restringida a uma zona de apenas 5 km, associada à sua Bacia Hidrográfica. Ainda assim,

os estudos do Plano Diretor propuseram uma nova delimitação visando à expansão e ao

9 A “Zona de Amortecimento” ou “Zona Tampão” não pertence ao interior da Unidade de Conservação. Ela se localiza no seu entorno e é estabelecida com a finalidade de filtrar os impactos negativos de atividades externas a ela, tais como: ruídos, poluição, espécies invasoras e avanço da ocupação humana. 10 Relatório Final Referente ao Mapeamento do Uso e Cobertura do Solo em Apoio ao Plano de Sustentabilidade para o Entorno do Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba, que foi elaborado por profissionais do Instituto de Geografia da UFRJ.

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ordenamento urbano de Quissamã diminuindo a zona de amortecimento do Parque (Figura

5.18 e Figura 5.19).

Figura 5.18 – Zona de Amortecimento. Fonte: Adaptado do PDDSQ, 2006

Legenda:

Faixa de Amortecimento

do IBAMA (10 km).

Relatório Final –

Mapeamento do Solo e

Cobertura do Solo (5 km).

Prefeitura de Quissamã.

Área do Parque Nacional

da Restinga.

O fato de o Município possuir um parque Nacional protegido por legislações

ambientais já o diferencia de muitas outras regiões. No entanto, se cada vez mais for

reduzida sua zona de amortecimento, o parque ficará comprometido, principalmente pelo

avanço das áreas urbanas.

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Figura 5.19 - Estudos do Limite do Parque Nacional de Jurubatiba. Fonte: Plano Diretor de Desenvolvimento Sustentável de Quissamã (PDDSQ), 2006.

Além disso, já estão localizadas na extensão do parque, duas áreas urbanas: João

Francisco e Visgueiro. Essas duas áreas são anteriores à criação do Parque e hoje estão

sendo consolidadas como Portal Eco-turístico do Parque (João Francisco) e Portal

Científico (Visgueiro). Esses pequenos aglomerados urbanos são limitados para que não

ocupem áreas do Parque (Figura 5.20 e 5.21).

Legenda – Área Branca: área loteada com construções

Área Amarela: área a ser loteada

Área Vermelha: ocupação irregular dentro do perímetro do Parque.

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Figura 5.20 – Praia de João Francisco Fonte: PDDSQ, 2006.

Figura 5.21 – Praia de Visgueiro Fonte: PDDSQ, 2006.

Na restinga aparecem formações de ambientes fluvio-marinhos e marinho tropical,

que concentram espécies como cactáceas, bromeliáceas mirtáceas, gramíneas e pequenos

arbustos, que se adaptaram a esse ambiente (Figura 5.22, 5.23 e 5.24).

Figura 5.22 - Mata arbórea (caixetas) situada a 700 m da praia entre as lagoas do Visgueiro e do Pires. Fonte: Jeanete Negreiros Alves (XXXI Congresso Internacional de Geologia, Rio de Janeiro, 2000).

Figura 5.23 - Vegetação de moitas com arbustos de copas arredondadas. Fonte: Jeanete Negreiros Alves (XXXI Congresso Internacional de Geologia, Rio de Janeiro, 2000).

Figura 5.24 – Perfis do Parque Nacional da Restinga. Fonte: Jeanete Negreiros Alves (XXXI Congresso Internacional de Geologia, Rio de Janeiro, 2000).

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Já na região centro-ocidental do município aparecem coberturas naturais de Mata

Atlântica de Tabuleiro, Mata Ciliar e Mata (de Encosta) Ombrófila Pré-colombiana, em

pequenos fragmentos. A maioria dessas matas está em áreas particulares e são cercadas por

áreas de plantio ou pastagem. O Plano Diretor prevê a formação de um corredor natural de

70 metros de largura, para tanto, oferece benefícios fiscais para os donos das terras onde

estão inseridos os resquícios de mata. (Figuras 5.25 e 5.26)

Figura 5.25: Mapa de cobertura vegetal Fonte: Fundação CIDE 2001, In: Plano Diretor de Desenvolvimento Sustentável de Quissamã (PDDSQ), 2006.

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Figura 5.26 – Mapa esquemático dos principais recursos naturais de Quissamã. Fonte: Plano Diretor de Desenvolvimento Sustentável de Quissamã, 2006.

O Município ainda possui muitas áreas verdes, mas a grande parte delas são áreas de

pastagem e plantio. A maior preservação está na área de restinga, mas que também está

cada vez mais comprometida.

5.3.1.4 Hidrografia

Desde novembro de 2006, o território do Rio de Janeiro, para fins de gestão dos

recursos hídricos, encontra-se subdividido em 10 (dez) Regiões Hidrográficas (RH’s).

Quissamã encontra-se na Bacia do Baixo Paraíba do Sul (Figura 5.27). A rede hidrográfica

do Município de Quissamã é bastante extensa, sendo composta por rios, canais, lagoas,

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lagunas e o próprio litoral. Esses corpos hídricos fazem parte da bacia constituinte da Lagoa

Feia.

Figura 5.27: Mapa das 10 regiões Hidrográficas do Estado do Rio de Janeiro. Fonte: Fundação Superintendência Estadual de Rios e Lagoas (SERLA).

A morfologia do território de Quissamã, que compõe a Baixada Campista, facilita a

formação de áreas alagadiças, que por sua fez, apresentam um importante papel na macro-

drenagem natural.

Passam por Quissamã diversos rios, dentre eles estão: Macabu e seu afluente, o Rio

do Meio, o Rio Iguaçu e o Rio Carrapato. Esses são utilizados no sistema de irrigação das

plantações de cana-de-açúcar e possuem alguns trechos navegáveis, além de possuírem

potencial pesqueiro e turístico.

Além dos rios naturais, os canais também fazem parte do quadro hidrográfico de

Quissamã. O principal é o Canal Campos-Macaé que possui 35 km de extensão cortando o

Município de Nordeste a Sul e tem grande importância para a agricultura local. O incentivo

do Governo Municipal à irrigação de propriedades privadas, retirando água do Canal

Campos-Macaé e construindo braços secundários do canal, aumenta o risco de

rebaixamento do lençol freático e a diminuição do nível de água do mesmo. Ainda

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contribui para o assoreamento do canal comprometendo a navegação no mesmo (Figura

5.28).

Figura 5.28: Mapa Hidrológico da região de Quissamã Fonte: Fundação CIDE/RJ, 2006

Além do Canal Campos-Macaé, o Canal das Flechas também possui importância

econômica, pois liga a Lagoa Feia ao Oceano Atlântico. É utilizado como entrada e saída

de barcos pesqueiros e possui uma barreira de proteção reguladora para a entrada da água

do mar. O Canal também tem uma função estrutural, pois o abastecimento de água do

núcleo urbano de Barra do Furado é realizado com os recursos hídricos do mesmo. O Canal

das Flexas fez aumentar a salinidade nas partes sul e sudoeste da Lagoa Feia, e provocou a

diminuição do nível da água. Observa-se que em 50 anos, a lagoa teve seu espelho d’água

reduzido de 370 km² para os atuais 170 ou 200 km², o que resulta numa perda de cerca de

50% (SEMADS, 2001).

A Lagoa Feia possui grande importância para Quissamã, pois é responsável pelo

abastecimento de água da sede principal do Município e de outros três núcleos urbanos

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(Santa Catarina, Penha e praia de João Francisco). Apesar do grande volume hídrico da

região o município sofre com a falta de água, devido a problemas com a distribuição feita

pela CEDAE. De qualquer forma, 65,4% da população é atendida pela rede geral de

abastecimento (Figura 5.29).

Figura 5.29: Gráfico de Abastecimento de água. Fonte: Dados brutos da Pesquisa Conhecendo Quissamã. Prefeitura Municipal de Quissamã - 2004

A Lagoa Feia é a segunda maior lagoa de água doce do Brasil sendo alimentada

pelos rios de Macabu e Ururaí (Campos); o primeiro a noroeste e o segundo ao norte.

Recebe, ainda, água derivada de vários córregos e riachos que servem de sangradouros a

brejos, alagados e lagoas existentes em suas imediações. Uma dessas lagoas é a da Ribeira

que se localiza entre a Sede do município e a reserva da Restinga de Jurubatiba. Esta é

fonte de renda e subsitência para pescadores da região e seu espelho d´água é controlado

por comportas instaladas na Lagoa Feia. Para regular o regime hídrico da região, são oito

comportas instaladas na rede hidrográfica municipal, sendo duas delas na Lagoa da Ribeira.

O mosaico de lagoas e canais de Quissamã forma um ecossistema único que se

encontra fragilizado diante da atuação não controlada do ser humano. O processo de

assoreamento está colaborando para a diminuição do espelho d’água formado pelos

recursos hídricos do município.

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Somente o Parque Nacional da Restinga possui dezesseis lagoas, sendo que treze

delas encontram-se no município de Quissamã. Como forma de controle ambiental, a

Secretaria Municipal de Meio Ambiente juntamente com a Superintendência Estadual de

Rios e Lagoas (SERLA) realizam o monitoramento e a fiscalização dos recursos hídricos da

região, medindo a salinidade, a turbidez, a temperatura, entre outros parâmetros químicos e

físicos.

Normalmente, de uma forma geral, as indústrias e agriculturas são os maiores

consumidores de água doce. No caso de Quissamã, a irrigação é um dos principais

consumidores de água, e também, por ser feita de forma inadequada, é o principal

responsável pelo assoreamento dos rios e lagoas. De qualquer forma, essa é a atividade que

trás fonte de renda para os moradores e contribui para a sustentabilidade do lugar. Por isso,

essa atividade deve ser fiscalizada para que não haja excesso de retirada de água para a

irrigação e uso excessivo de produtos químicos que possam contaminar a água, mas deve

continuar sendo incentivada.

Os recursos hídricos devem ser preservados e o processo de urbanização pode

provocar sensíveis alterações no Ciclo Hidrológico. Como foi descrito anteriormente, a

urbanização pode aumentar a precipitação, aumentar o escoamento de água, reduzir o

lençol freático e aumentar o número de enchentes e poluição das águas superficiais e

subterrâneas. Por isso, pelo fato do Município está localizado em uma região alagadiça, os

sistemas de drenagem das áreas urbanas e a preservação de áreas permeáveis devem ser

muito bem estruturados para evitar ou, pelo menos, minimizar esses problemas ambientais.

Como foi visto no tópico 4.3.5, muitos povos utilizam a água também como

elemento ornamental e de contemplação, mas os núcleos urbanos de Quissamã, com

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exceção de Visgueiro e João Francisco, vêm seus espelhos d`água somente como fonte de

abastecimento e renda. Passa pela Sede Principal, por exemplo, o Canal Campos-Macaé

que poderia ser utilizado como área de lazer e contemplação. Acredita-se que com a

construção do Parque da Cidade o canal venha a ter também essa função. Também as

lagoas são pouco utilizadas e protegidas pelo governo e população, e acabam se tornando

“fundos” dos núcleos urbanos, muitas vezes sendo utilizadas como receptoras de lixo e

esgotos.

5.3.1.6 Geologia, Geomorfologia e Solo

A formação geológica do Município de Quissamã tem predominância do período

Quaternário, de rochas recentes. Desde o litoral até a porção central do município encontra-

se a Planície Quaternária com areias, cascalhos e argilas não consolidadas. Neste local

encontra-se o Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba. A Planície Terciária encontra-se

na área central para o norte, com arenitos, conglomerados e sedimentos areno-argilosos,

onde ocorre plantação de cana e fragmentos da Mata Atlântica.

Nos pontos mais elevados no território municipal encontra-se o embasamento

cristalino, de formação mais antiga datado do Pré-Cambriano, que corresponde e ocorre no

noroeste do Município, na área das colinas. O relevo ondulado dos Tabuleiros é de origem

Terciária e é representada pelo Grupo Barreiras, com maior aptidão para o plantio de

extensões canavieiras e fruticultura.

A geomorfologia se define pela predominância de relevos com extensões de terras

planas e baixas, característica da Baixada Campista, com altitude média de 20 metros. No

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total distinguem-se cinco unidades geomorfológicas: colinas, tabuleiros costeiros, restingas,

terraços marinhos e planícies de inundação (Figura 5.30).

Figura 5.30: Mapa Geológico de Quissamã Fonte: Prefeitura de Quissamã. Organização NEGEF, 2001. In: Plano Diretor de Desenvolvimento Sustentável de Quissamã, 2006.

Os tipos de solo que ocorrem em Quissamã justificam a intensa atividade agrícola.

Os solos predominantes são: o podzol hidromórfico, latosso vermelho-amarelo, podzólico

vermelho-amarelo, areia quartzosa marinha, gleisolos, solos aluviais e solos orgânicos.

Podem ser agrupados e classificados em associação de solo podzol hidromórfico e areias

quartzosas, podzólico amarelo e associação de solos hidromórficos e aluviais. O solo

podzol hidromórfico apresenta maior aptidão para um cultivo permanente, como a

fruticultura. O solo podzólico amarelo tem como aptidão a olericultura irrigada (cultura de

legumes). Tem a textura argilosa, com fertilidade natural média, sendo mais utilizado para

o plantio de cana-de-açúcar (Figura 5.31).

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Figura 5.31: Mapa dos Solos. Fonte: Prefeitura de Quissamã. Organização NEGEF, 2001. In: Plano Diretor de Desenvolvimento Sustentável de Quissamã, 2006.

Como visto no tópico 4.3.4, a característica mais relevante do solo para as áreas

urbanas é sua capacidade portante. No caso de Quissamã, as áreas de maior instabilidade

são as áreas alagadiças. O sistema de drenagem do Município, principalmente da Sede

Principal, é feito com a finalidade de evitar enchentes e drenar o solo melhorando seu

potencial portante.

É importante salientar a relevância das características do solo nas áreas desprovidas

de rede de esgoto, pois o mesmo pode ser utilizado como meio de absorção de líquidos

provenientes de fossas. No entanto, o esgoto doméstico lançado no solo sem o prévio

preparo os tratamento favorece a proliferação de doenças patogênicas e a contaminação das

águas.

De uma forma geral, as construções devem ser evitadas próximas as lagoas e rios,

permitindo uma maior área permeável de recarga de aqüíferos. As cidades também devem

preservar seus espaços livres e delimitar novas áreas permeáveis que permitam a absorção

de água para o subsolo, além de vias semipermeáveis.

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106

Por ser uma região alagadiça, o destino dado ao lixo também é de suma

importância, pois a contaminação do solo também contamina as lagoas de onde vem o

abastecimento de água da região. Como foi visto no capítulo anterior, é indispensável a

construção de aterros sanitários em locais adequados, afastados de aqüíferos, rios e lagoas.

Além do incentivo à reciclagem de grande parte desses materiais, evitando a contaminação

do solo e melhorando a rende de trabalhadores através de cooperativas de reciclagem.

5.3.2 ELEMENTOS DO MEIO URBANO

Os estudos ambientais englobaram todo o Município de Quissamã para exemplificar

diferentes formações e características ambientais que podem direcionar a proposição de

princípios sustentáveis de uma forma mais abrangente para o Município. Já no caso dos

estudos urbanos, as análises específicas serão feitas com base nos dados da Sede do

Município, a fim de direcionar e delimitar mais área de pesquisa. Apesar de Quissamã

apresentar outros núcleos urbanos, essa dissertação se conterá a explicitar as condições

urbanas do maior núcleo urbano, que é a Sede Municipal.

5.3.2.1 Tipologia Urbana

A morfologia urbana trata do estudo das estruturas, formas e transformações da

cidade. Morfologia urbana é um conceito relacionado à imagem, à leitura, que os

indivíduos fazem dos objetos arquitetônicos e urbanos (edifícios, praças, ruas, cheios e

vazios) (LYNCH, 2001).

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107

De acordo com o dicionário urbanístico, entende-se por morfologia urbana a

estrutura determinada pela implantação das construções, e cuja ordenação dá origem à

malha viária e que pode assumir diversas formas (ortogonal, radiocêntrica, espontânea,

linear etc.). (Dicionário Urbanístico, DGOT, 1991)

Deve-se conhecer a morfologia urbana da área de estudo – a estrutura viária, as

funções predominantes, as formas de parcelamento do solo - para evidenciar a estrutura de

espaços livres públicos dessa unidade, buscando compreender os padrões de uso desses

espaços e a sua centralidade real ou potencial.

É importante compreender a lógica das formas urbanas sobre a qual se pretende

intervir. Como já foi mencionada, uma das principais características da estrutura urbana do

Município de Quissamã é o fato de ser polinucleado, sendo a Sede Municipal o principal

núcleo. Assim, a dissertação dará ênfase, como já foi mencionado, a Sede Municipal. Outra

característica do município é que os espaços de caráter rural e urbano se mesclam.

a) Morfologia Urbana:

No processo evolutivo da Sede Municipal, o vetor de crescimento tem sido no eixo

nordeste-sudoeste. No entanto, os vetores nordeste e sudeste devem ser evitados, pois

direcionam para áreas de interesse ambiental. O Plano Diretor aponta para um crescimento

na direção sudoeste, em direção à Penha, mas o vetor noroeste, em direção ao Canal

Campos-Macaé comporta uma melhor expansão, pois aumenta o eixo norte-sul e diminui a

linearidade urbana. Caso o crescimento seja realmente na direção sudoeste a cidade

continuará com uma formação linear, o que deve ser evitado. (Figura 5.32).

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Figura 5.32 – Vetores de crescimento de Quissamã. Fonte: Adaptado do PDDSQ, 2006.

Para melhor analisar a cidade, o Plano Diretor definiu cinco setores morfológicos

em Quissamã, de acordo com parâmetros da forma construída. A partir daí, foram

selecionados cinco grupamentos que representariam cada setor morfológico, num total de

doze quarteirões.

O primeiro setor morfológico (SM1) é o centro histórico, com predominância do

residencial uni- familiar e edificações de um ou dois pavimentos. Também é comum o uso

misto com comércio no térreo e domicílio no pavimento superior. Além disso, abriga o

principal centro comercial, de serviço e cívico da cidade. Caracterizam-se por quadras com

tamanho médio de 110 x 110m (quadradas), lotes grandes (mais de 500m²) com testada

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109

média de 12m e profundidade de até 50m, com casas soltas das divisas com acessos frontais

e recuos frontais pequenos ou inexistentes. As vias são estreitas, geralmente com 7m ou

menos e as calçadas com cerca de um metro.

Para o estudo da SM1 foram selecionadas quatro quadras entre as ruas Euzébio de

Queiroz, Conde de Araruama, Capitão Bento Carneiro da Silva e Visconde de Quissamã

(Figura 5.33).

Figura 5.33 – Setor Morfológico 1 – situação da quadra modelo em 2005. Fonte: Diagnóstico do Plano Diretor de Quissamã, 2006

O setor morfológico 2 (SM2) refere-se ao sítio Quissamã e Matias, que são zonas de

expansão recentes que predominam construções residenciais e uni- familiares com recuos

frontais maiores do que o SM1, também são casas térreas ou com dois pavimentos. As

quadras são retangulares com aproximadamente 60m x 200m de dimensão, e com lotes de

10m x 30m. A implantação das edificações não segue um padrão de recuo frontal, mas a

.

Construções com menor

potencial de renovação

Construções existentes e

potencialmente renováveis

Lotes vazios

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110

maioria está afastada das divisas laterais. As quadras, analisadas como padrão, estão

localizadas nas ruas Mário Moreira da Silva, Oscar de Souza e José Sérgio Sader (Figura

5.34).

Construções existentes e

potencialmente renováveis

Lotes vazios

Figura 5.34 – Setor Morfológico 2 – situação da quadra modelo em 2005. Fonte: Diagnóstico do Plano Diretor de Quissamã, 2006.

O Setor Morfológico 3 (SM3) refere-se a Caxias, que está em processo de

adensamento devido o desmembramento de lotes. O uso predominante também é

residencial, uni- familiar com comércio de bairro. Normalmente as quadras não apresentam

tamanho padrão. É uma área de baixa renda que ultimamente recebem invasões típicas de

favelas em direção a lagoa da Ribeira. Os lotes são estreitos e menores que o SM1 e o SM2

e, por ser uma área cujos moradores têm baixo poder aquisitivo, a prática da autoconstrução

se destaca e a geminação lateral das edificações é intensa. Praticamente não existe recuo

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lateral ou frontal. A pavimentação das vias é predominante feita por paralelepípedos e as

calçadas são demasiadamente estreitas variando de 80 cm a 1m.

As quadras analisadas são compreendidas entre as ruas Jerônimo Alves de Paula,

José Saturnino, Francisco de Assis Carneiro da Silva, doze de setembro, Regina Celi

Passos, Porto da Ribeira e Miguel Couto (Figura 5.35).

Construções com menor

potencial de renovação

Construções existentes e

potencialmente renováveis

Lotes vazios

Figura 6.35 – Setor Morfológico 3 – situação da quadra modelo em 2005. Fonte: Diagnóstico do Plano Diretor de Quissamã, 2006.

O Setor Morfológico 4 (SM4) refere-se a Piteiras, cuja característica predominante é

uso misto e as formas variadas de ocupação do solo, variando desde residências antigas

com lotes maiores e casas afastadas das divisas do terreno até construções menores em lotes

também reduzidos. As quadras apresentam diferentes dimensões e formas também variadas.

O pavimento predominante também é o paralelepípedo com pistas de rolamento de 6

metros ou menos de largura, com calçadas muito estreitas. As quadras modelos estão

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compreendidas entre as ruas Brilhantino Francisco, Roberto M. Peixoto, Av. 12 de junho,

Rua Nunes Barcelos e Salomé (Figura 5.36).

Construções existentes e potencialmente renováveis Lotes Vazios

Figura 5.36 – Setor Morfológico 4 – situação da quadra Fonte: Diagnóstico do PDSQ, 2006.

modelo em 2005.

Por último, Setor Morfológico 5 (SM5), apresenta uma ocupação recente com o

padrão construtivo típico de rendas média e alta, com predomínio do uso residencial uni-

familiar com construções de dois pavimentos. Em sua maioria as residências são afastadas

das divisas e as quadras possuem tamanhos e formas variadas. Embora tenda para um alto

padrão construtivo existe um déficit de infra-estrutura em especial de pavimentação e

drenagem. As quadras modelos estão delimitadas pelas ruas Henrique de Queiroz Matoso,

Gilberto de Queiroz Matoso, Rua Projetada E, Dário Francisco Carneiro da Silva e

Alderisto Antunes Fernandes (Figura 5.37).

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Construções existentes e

potencialmente renováveis

Lotes vazios

Figura 5.37 – Setor Morfológico 5 – situação da quadra modelo em 2005. Fonte: Diagnóstico do Plano Diretor de Quissamã, 2006.

A morfologia de cada um desses setores influencia no clima local, na ventilação e

na iluminação, por isso, a legislação urbana e o planejamento de cada setor deve ser

analisado para que futuramente a cidade não apresente muitas zonas com ilhas de calor,

nem áreas de calmaria de ventos, nem excesso de turbulência.

Mesmo com uma densidade ainda baixa, os setores morfológicos já apresentam

características que influenciam os elementos naturais. O Setor Morfológico 3, por exemplo,

possui uma maior densidade e construções uniformes e muito próximas que formam

corredores no decorrer das vias, aumentando a canalização dos ventos. Já o Setor

Morfológico 1, possui áreas arborizadas e construções menos uniformes, formando

barreiras irregulares para o vento, diminuindo sua velocidade e modificando sua

turbulência.

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b) Rede Viária:

A rede viária local de Quissamã foi classificada pelo Plano Diretor da cidade em

principal, secundária e especial (Tabela VI). A caracterização da rede urbana foi feita de

acordo com a vocação funcional de cada via, tipo de tráfego, largura das faixas de

rolamento, largura dos passeios, tipo de pavimentação, tipo de iluminação e de arborização.

Tabela 6: Classificação viária urbana

PRINCIPAL ARTERIAL

Opção preferencial para tráfego de

passagem; ligação de pólos

geradores de tráfego e distribuição

de fluxos às vias coletoras e locais.

COLETORA Coleta e distribui o tráfego desde as

vias locais até as arteriais.

REDE SECUNDÁRIA LOCAL Circulação do trânsito local e

acesso as áreas lindeiras.

VIÁRIA CALHA DE

ÔNIBUS Trânsito de transporte coletivo

URBANA ESPECIAL CALÇADÕES

Circulação de pedestres com acesso

tolerado de veículos até garagens

de imóveis lindeiras.

CICLOVIAS Trânsito exclusivo de bicicletas

TRAVESSA

Circulação mista de pedestres e

veículos de moradores e utilidade

pública.

Fonte: Adaptado do Plano Diretor Sustentável de Quissamã, 2006.

De acordo com dados da pesquisa realizada pela Prefeitura de Quissamã, em 2004,

denominada “Conhecendo Quissamã”, no sistema viário da cidade, 53,17% das vias são

pavimentadas com paralelepípedo, 17,3% são asfaltadas e 29,4% permanecem sem

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pavimentação (terra batida). Boa parte das vias e bastante estreita, com aproximadamente 4

a 5 metros de largura. Normalmente, pedestres, ciclistas e automóveis compartilham o

mesmo espaço nas vias. Além disso, as calçadas são bastante estreitas e apresentam

irregularidades e obstáculos (Figura 5.38 e Figura 5.39).

Figura 5.38: Vista da via Conde de Araruama.

Figura 5.39: Vista da Avenida Amílcar Pereira da Silva com a ciclovia no eixo central.

Apesar da cidade está cercada por áreas verdes e possuir ainda áreas particulares

com vegetação, as vias são muito pouco arborizadas. Como foi visto no tópico 4.3.3 as

áreas verdes são de suma importância para o microclima. A vegetação retém menor calor e

tem menor inércia térmica do que os materiais utilizados nas construções e pavimentações

urbanas. Também reduz a velocidade dos ventos sem criar grandes turbulências e aumente

a umidade do ar. São muitos os benefícios da vegetação na área urbana e por isso, o

planejamento de novas vias deve ser pensado com calçadas mais largas, melhorando o

acesso e permitindo o plantio de árvores que também irão auxiliar no sombreamento das

vias diminuindo a sensação térmica de calor.

O crescimento viário da cidade é nordeste-sudoeste no eixo formado pela Avenida

Amílcar Pereira da Silva, e seu prolongamento pelas Avenidas Barão de Lima Franca e

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Fernando Carneiro da Silva. Uma das deficiências da estrutura viária é a descontinuidade

de vias no sentido noroeste-sudeste, o que influência o crescimento alongado da cidade

(Figura 5.40).

Figura 5.40: Eixo de crescimento da Sede Municipal de Quissamã. Fonte: A d a p t a d o d o Diagnóstico do Plano Diretor d e D e s e n v o l v i m e n t o Sustentável, 2006.

O Plano Diretor formulou algumas diretrizes para a reestruturação da rede viária,

como, por exemplo, criar um novo eixo estrutural de tráfego urbano no sentido norte-sul,

reverter a tendência de expansão urbana linear, promover medidas para a consolidação para

o uso das bicicletas, privilegiar a circulação de pedestre, entre outros. O principal entrave

para essas atuações é a largura das vias. Principalmente do centro histórico, que é

considerado um dos principais pontos críticos do tráfego em Quissamã, demandam-se

desapropriações e novos planos de alinhamento de lotes (Figura 5.41) (PDDSQ, 2006).

Figura 5.41: Sistema viário do centro urbano de Quissamã. Fonte: Diagnóstico do PDDSQ, 2006.

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A rede viária é uma das mais significativa e importante estrutura urbana. Em

qualquer cidade a mobilidade é um importante ponto para a sustentabilidade. Perante isso,

as atuações na rede viária da sede municipal devem ser pensadas privilegiando o pedestre e

o transporte coletivo público.

c) Espaços Livres:

O ambiente urbano de Quissamã se interpela com o meio rural, devido à pequena

extensão da cidade. As áreas livres no entorno da cidade, normalmente, são constituídas por

pastos e campos abertos, mas o estudo desta dissertação privilegiará os espaços livres

público que podem receber atuação do Governo.

Constituem os espaços livres públicos de Quissamã treze praças em todo município,

sendo que sete se localizam na Sede Principal (Tabela VII). Na grande maioria dos espaços

livres públicos de Quissamã predominam equipamentos e mobiliário destinado à prática

esportiva, principalmente voltados ao público jovem. A Sede Municipal ainda conta com

dois parques, sendo que um deles ainda está em processo de implantação (Parque

Quissamã), e o segundo é o Parque de Exposições voltado para eventos.

Tabela 7: Praças da Sede Municipal de Quissamã Nome Logradouro Área (m²)

Praça Brigadeiro José Caetano (Praça da Matriz)

R. de Araruama 16.025,00

Praça de Caxias R. José Saturnino 2.486,13 Praça de Piteiras Est. do Correio Imperial 2.160,00

Praça de Canto da Saudade R. Coronel José Manoel 1.400,00 Praça de Matias Est. do Matias 5.000,00 Praça da Penha R. Projetada 1.200,00 Praça do Carmo RJ 178/196 9.081,95

Fonte: Diagnóstico do Plano Diretor de Quissamã, 2006.

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De acordo com o Plano Diretor, considerando apenas as praças da Sede Municipal,

somam-se 37.353,08 m² de espaços abertos públicos distribuídos pelo tecido urbano da

Cidade. No entanto, a maioria desses espaços não possui arborização. Apesar disso, a

Prefeitura considera que essas áreas apresentam potencial para se tornarem áreas verdes.

Mesmo assim, considerando que a população urbana da Sede Municipal, em 2005, era de

9.170 pessoas, o índice de áreas verdes por habitantes é de 4,17 m²av/h. Este índice é

bastante baixo se comparado ao parâmetro mínimo recomendado pela Organização

Mundial de Saúde, que é de 12m² de área verde por habitante nas cidades. Além disso,

como já foi mencionado, essas áreas livres são formadas, em sua maioria, por quadras de

esportes, não atendendo satisfatoriamente às necessidades de lazer da terceira idade e

infantil. Também, não promovem o lazer contemplativo nem a arborização dessas

localidades (Figura 5.42).

Figura 5.42: Praça de Canto da Saudade com quadra de esportes e pouca arborização. Fonte: arquivo pessoal da autora.

Destaca-se a Praça da Matriz, denominada Praça Brigadeiro José Caetano, que é a

maior e mais antiga praça da cidade e que mantém a configuração das praças tradicionais

das cidades brasileiras, com árvores e canteiros. É uma das paisagens que mais influenciam

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a imagem urbana do centro de Quissamã, pois é um local de lazer de intensa dinâmica

social, cultural e religiosa. Localiza-se no centro histórico de Quissamã em frente à Igreja

Matriz e à Prefeitura Municipal (Figura 5.43).

Figura 5.43: Praça da Matriz. Fonte: arquivo pessoal da autora.

O principal parque urbano da cidade ainda está em construção que é o Parque

Quissamã, este será o primeiro parque urbano de lazer da cidade. Seu projeto apresenta um

lazer de caráter cultural, contemplativo, turístico e até náutico. Onde se destaca a formação

de palmeiras imperiais; a histórica Casa de Quissamã, antiga residência de viscondes e que

hospedou o Imperador Dom Pedro II; além de um espelho d’água da futura hidrovia

turística do Canal Campos-Macaé onde está prevista a implantação de uma pequena

marina. Com a presença deste parque urbano com intensiva arborização, somada à área de

praças, caso as mesmas também sejam arborizadas, o índice de áreas verdes por habitante

passará a ser de 17,83 m² de área verde por habitante, melhorando a qualidade ambiental da

cidade. Com tudo, deve-se levar em conta que um projeto dessa extensão também exigirá

uma maior infra-estrutura urbana, principalmente para atender ao turismo.

Ainda como espaço livre público está o Parque Aquático da Cidade que foi

inaugurado em 2005 e é uma área que recebe um público intenso para a prática de lazer aos

finais de semana e férias escolares (Figura 5.44 e 5.45).

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Figura 5.44 – Parque Aquático Municipal.

Figura 5.45 – Parque de Exposições (parque de eventos).

d) Uso do Solo e Volumetria:

Por observação e pelos dados do Plano Diretor é possível perceber que os

quarteirões mais próximos do centro são mais densificados com poucas áreas livres, já os

mais afastados, principalmente os do Bairro Piteiras, possuem muitos terrenos

desocupados. Além disso, praças e outros espaços livres estão presentes em toda a cidade.

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Figura 5.46: Mapa de densidade demográfica Fonte: Adaptado do Diagnóstico do PDDSQ, 2006.

Há uma uniformidade na volumetria, pois a maioria das construções possui

dimensões, altura e forma bastante parecidas (Figura 5.47 e 5.48).

Figura 5.47: Vista do centro da cidade. Fonte: arquivo pessoal da autora

Figura 5.48: Fachadas frontais de edificações do centro urbano. Fonte: arquivo pessoal da autora

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O lote predominante na área urbana é estreito e comprido, condicionando a

implantação das construções. Estas formam uma massa construída uniforme em quase todas

as ruas do centro urbano, pois as construções possuem pouca variação em altura (Figura

5.49).

Figura 5.49: Mapa do núcleo principal de Quissamã. Fonte: PDDSQ, 2006.

O uso predominante das edificações é residencial uni- familiar horizontal, sendo que

na área central da cidade também há uma maior incidência do uso comercial e institucional

(Figura 5.50).

O uso comercial e de serviço ainda não apresenta manchas de predominância,

ocorrendo de forma linear em trechos de vias de maior movimento de tráfego.

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Figura 5.50 – Prefeitura de Quissamã Fonte:www.quissama.rj.gov.br

Figura 5.51 – Espaço Cultural. Fonte: www.quissama.rj.gov.br

O uso institucional é formado pelo Hospital Municipal, pelos centros culturais, pelo

Fórum, por edifícios públicos como a Câmara Municipal e a Prefeitura, entre outros (Figura

5.51). Essas edificações não estão restritas a uma área específica da cidade, mas apresentam

certa concentração no centro histórico e ao longo da estrada do Correio Imperial.

As áreas verdes compreendem as praças, as faixas marginais de proteção do Canal

Campos-Macaé e uma área arborizada remanescente entre a Estrada do Correio Imperial e a

linha do gasoduto.

Figura 5.52 – Terreno com passagem de gasodutos subterrâneos.

Existem muitos terrenos vazios dentro da área urbana, e principalmente entre a área

efetivamente urbanizada e a nova Avenida do Contorno projetada ao norte do núcleo

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urbano. Além dos terrenos particulares vazios também há terrenos por onde passam

gasodutos e que não podem ser construídos (Figura 5.52).

5.4 ESTRATÉGIAS SUSTENTÁVEIS PARA QUISSAMÃ:

Diante das especificidades do município de Quissamã, do fato da mesma ser uma

região eco-turística, que está buscando um desenvolvimento sustentável, e por se tratar de

uma região estratégica para os interesses da Bacia de Campos, afirma-se a relevância deste

estudo. Além disso, a região é próspera no agro-negócio e necessita tanto de investimentos

quanto de controle sobre tais atividades.

A partir, da exposição das características do Município de Quissamã nos tópicos

anteriores e a relevância dos elementos ambientais descritos no capítulo 4, mostra-se

coerente à exposição e análise de estratégias urbanas sustentáveis para o Município

embasadas nos dados levantados.

O Plano Diretor de Desenvolvimento Sustentável de Quissamã estabeleceu um

programa de ações imediatas, a curto prazo e a médio prazo. Em sua maioria, são metas de

projetos urbanos que direcionam a atuação política até o ano de 2009. No entanto, serão

expostas nessa dissertação as estratégias urbanas gerais para o município, que não serão

listadas de forma específicas para cada bairro, mas que expressarão as transformações

necessárias para atingir um desenvolvimento sustentável satisfatório. Algumas estratégias

coincidem com as que já foram apresentadas pelo programa de ações do Plano Diretor,

outras são contrárias ao direcionamento do programa e outras são inovadoras.

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Serão expostas propostas relevantes na área da gestão política e econômica, do

transporte e acessibilidade, da preservação ambiental, da habitação e saneamento. Como

parte da gestão política sustentável para o município deve-se fomentar a implementação de

política urbana voltada para as demandas da população e não para serem elementos de

atração e disputas entre as cidades.

Em concordância com o Plano Diretor estão as propostas referentes ao turismo. O

turismo, que já é visto como uma forma de renda e trabalho para a população, pode ser

incentivado como uma estratégia sustentável para o Município. A partir daí, é de suma

importância à revitalização do centro histórico, das fazendas de café e também da linha

férrea e sua antiga locomotiva. A formação de um corredor turístico cultural11 pode

melhorar a qualidade de vida dos cidadãos de Quissamã por permitir uma melhor

distribuição da renda. Também a revitalização do Canal Campos-Macaé e a criação do já

previsto Parque da Cidade, que além de fomentar o turismo também atenderá a necessidade

de áreas verdes no interior da urbe. No entanto, qualquer crescimento turístico deve ser

controlado, pois ao trair mais pessoas também serão necessárias mais infra-estruturas. Essas

infra-estruturas podem ser benéficas aos moradores ou podem trazer problemas, como

congestionamento de automóveis, aumento exagerado do número de construções e danos

ambientais. Por isso, os órgãos governamentais competentes devem atuar como mediadores

e para permitir um turismo sustentável. O turismo sustentável implica no controle de

pessoas e automóveis na região, além do cumprimento das legislações ambientais e

urbanas. Centros de educação ambiental podem contribuir para a conscientização de

11 Corredor Cultural é formado pela seqüência de sítios históricos e outros elementos pontuais do patrimônio cultural da cidade.

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moradores e turistas sobre os danos ambientais que a atuação irresponsável do ser humano

pode causar.

Ainda em consentimento com o Plano estão os projetos de saneamento básico.

Apesar da sede de Quissamã possuir grande parte das habitações com saneamento básico é

necessária a construção de novas estações de tratamento de esgoto para diminuir a

eliminação de resíduos para o meio ambiente. Além da ampliação das estações de

tratamento e distribuição de água. Ainda, incentivar a reciclagem de lixo através de

cooperativas, melhorando a renda dos moradores.

O reflorestamento de parte das áreas ocupadas pela agricultura também já está na

pauta da administração pública para alcançar o desenvolvimento sustentável, formando um

corredor de proteção ambiental da Mata Atlântica. Através do incentivo fiscal a fazendeiros

da região, pretende-se estabelecer o reflorestamento com espécies nativas promovendo a

continuidade entre fragmentos de florestas que se localizam em áreas privadas. Como

forma de melhorar a renda da população e incentivar o desenvolvimento ambiental deve-se

promover o treinamento de recursos humanos para trabalhar nos reflorestamentos.

Com relação ao transporte, os eixos de ligação dos núcleos urbanos do Município

devem ser pavimentados e ampliados melhorando o acesso. Igualmente, o interior das

zonas urbanas deve haver a construção de novas ciclovias e a delimitação dos espaços para

bicicletas nas vias já existentes que possuem espaço para a construção das ciclovias.

Ainda, a educação ambiental deve ser incentivada nas escolas e em centros culturais

da cidade, além da ampliação e continuidade das atividades do centro de educação

ambiental da prefeitura.

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Quanto ao crescimento urbano, já são apresentadas propostas em discordância das

do Plano Diretor. Vê-se que apesar do Plano Diretor apresentar um direcionamento de

crescimento voltado para o sudoeste, em direção ao núcleo urbano de Penha, acredita-se

que esse planejamento não é o mais adequado, pois incentiva o desenvolvimento

imobiliário linear. Como já foi visto anteriormente, as cidades lineares não são sustentáveis,

por isso, é coerente implementar o crescimento também na direção noroeste, mesmo que

para isso algumas áreas de plantação de cana-de-açúcar tenham que dar lugar a novos

loteamentos.

O incentivo às regiões agro-pecuárias pode ser feito através da construção de

sistemas de irrigação controlados para que atenda as necessidades hidrográficas das

plantações e ao mesmo tempo não aumente o assoreamento dos canais e lagoas. Ainda,

hortas comunitárias e agricultura de subsistência e familiar, implementadas no entorno

imediato das zonas urbanas, podem ser incentivadas através de subsídios governamentais.

Também com relação às políticas voltadas para a construção de habitações

populares as propostas são diferentes às do Plano e as realizadas pela Prefeitura. Acredita-

se que para suprir a demanda de habitações populares é necessária a construção de

condomínios residenciais subsidiados pela prefeitura.como já é feito atualmente, mas, no

entanto, tais edificações devem ser construídas com conceito de arquitetura bioclimática,

com aproveitamento da iluminação natural, da ventilação natural, do conforto térmico

natural de maneira a diminuir o consumo de energia. Os conjuntos habitacionais atuais são

constituídos por edificações uni-familiares em terrenos espaçados, o que pode se tornar

uma favela no futuro, caso não tem um legislação e fiscalização rígida.

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Com relação às novas propostas e s tá, primeiramente, a formação de um limite

urbano. As áreas verdes podem ser utilizadas para delimitar a cidade, sendo criado, por

exemplo, um cinturão verde no entorno da mesma evitando a especulação imobiliária. Não

está sendo discutido o tamanho ideal de uma cidade, mas já foi colocada a necessidade do

controle do crescimento urbano. Na direção sul a cidade já é limitada pela Lagoa da Ribeira

e pelo Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba, que são áreas já protegidas. Com isso, a

formação de áreas de preservação ambiental, abertas à visitação e a pesquisa, só seriam

necessários nas outras direções de crescimento da cidade.

É conveniente a realização de uma reestruturação fundiária e a elaboração do

código de obras e infra-estrutura urbana incentivando o uso misto e a formação d e

diferentes centros comerciais “espalhados” pela cidade.

Coloca-se como necessidade a programação de fóruns com a participação de

governos, dos empresários, das instituições e da população para buscar cooperação e

parcerias em direção ao desenvolvimento sustentável. Ainda, estimular a criação de espaços

de encontro para a discussão política e debates no intuito de aumentar e disseminar a

participação da população na vida política.

Através da revitalização de edificações históricas e da construção de novas

edificações pode-se explorar a formação de centros de pesquisa e estudo de novas

profissões ligadas às questões ambientais tanto no campo quanto na cidade. Ainda, o

incentivo a formação profissional voltada para o turismo e para o meio ambiente pode

incentivar a permanência do cidadão da cidade e contribuir para o desenvolvimento

sustentável.

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Através de programas de arborização de vias e praças pode-se melhorar a

sociabilidade e o microclima urbano. O Município pode incentivar a implementação de

novas praças voltadas para o público infantil e idoso. Além disso, também pode incentivar a

construção e a revitalização de edificações com programas culturais, como teatro,

bibliotecas e museus, o que também já está sendo proposto pelo Plano Diretor.

Tais estratégias sustentáveis urbanas são premissas para o desenvolvimento

ambiental sustentável de Quissamã. No entanto, vê-se a urgência em colocar as questões

sócio-ambientais no centro de todos os planejamentos e discussões urbanas.

O estudo de caso de Quissamã teve como proposta focar uma cidade pequena em

desenvolvimento, como muitas outras no Brasil, mas possui particularidades como,

principalmente, o discurso político destacando as questões de sustentabilidade. Diante

disso, a possível atuação sustentável pode conduzir tal cidade a um futuro com maior

qualidade de vida e com melhor distribuição e utilização dos recursos naturais.

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Capítulo 6

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6 ESTRATÉGIAS GERAIS PARA SE ALCANÇAR O URBANISMO

SUSTENTÁVEL

Após ter explanado sobre estratégias específicas para uma determinada cidade

brasileira, coloca-se neste capítulo estratégias gerais em busca de uma sustentabilidade

urbana. Tais estratégias e princípios podem ser implantados em diversas áreas urbanas,

mas devem ser analisados para cada cidade em coerência com suas especificidades.

Como já foram mencionados nos primeiros capítulos desta dissertação, diversos

documentos já foram publicados apontando estratégias e princípios sustentáveis urbanos,

tanto no âmbito local quanto internacional. Além dos documentos oficiais dos governos e

Agendas de todo o mundo, alguns autores como Richard Rogers (2006), Ester Higueras

(2006), Walter Moore (1998), Grazia de Grazia (2007), Henri Ascelard (2001), Oscar

Corbella (1998) e outros, discutem em seus livros e artigos formas de se alcançar o

urbanismo sustentável. A partir de documentos nacionais e internacionais e textos

acadêmicos, tendo em conta a realidade latino-americana, tanto climática quanto

socioeconômica, busca-se apresentar estratégias e princípios sustentáveis enfatizando as

questões mais relevantes ao planejamento urbano ambiental.

Tais documentos buscam soluções para amenizar os impactos ambientais e

problemas vividos nas cidades atuais. Entre as propostas estratégicas de sustentabilidade

urbana, identificadas como prioritárias para o desenvolvimento sustentável das cidades

brasileiras, encontram-se as seguintes12:

12 MMA/IBAMA/CONSÓRCIO PARCERIA 21. Cidades sustentáveis: subsídios à elaboração da Agenda 21 brasileira. Brasília: MMA/IBAMA, 2000.

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a) o aperfeiçoamento e a regulamentação do uso e da ocupação do solo urbano e a

promoção do ordenamento do território, contribuindo para a melhoria das condições de

vida da população, considerando a promoção da eqüidade, a eficiência e a qualidade

ambiental;

b) a promoção do desenvolvimento institucional e do fortalecimento da capacidade de

planejamento e de gestão democrática da cidade, incorporando no processo a dimensão

ambiental urbana e assegurando a efetiva participação da sociedade;

c) a realização de mudanças nos padrões de produção e de consumo da cidade, reduzindo

custos e desperdícios e fomentando o desenvolvimento de tecnologias urbanas sustentáveis;

d) o desenvolvimento e o estímulo à aplicação de instrumentos econômicos no

gerenciamento dos recursos naturais visando à sustentabilidade urbana.

Além dessas estratégias gerais evidenciadas acima, buscou-se identificar nesta

dissertação estratégias específicas ao ambiente urbano.

6.1 ESTRATÉGIAS URBANAS SUSTENTÁVEIS

A partir da conceituação de desenvolvimento sustentável, natureza, meio ambiente,

ecologia urbana, desenho ambiental e planejamento sustentável, e com o diagnóstico da

insustentabilidade e desigualdade social e ambiental vivida, principalmente, nas grandes

cidades latino-americanas, parte-se para o desdobramento de estratégias urbanas

sustentáveis. Tais estratégias englobam questões físico-espaciais das cidades como o

transporte urbano e a habitação, como também questões políticas e sociais como a gestão

política e econômica para a urbe.

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a) Gestão Política e Econômica

A primeira estratégia é a promoção de políticas e ações que possam ser capazes de

gerar uma sustentabilidade comprometida com a justiça social, eliminando desigualdades e

garantindo o acesso aos bens materiais e de serviços. Desta forma, a presença do Estado e

o resgate de suas funções sociais podem promover mudanças significativas e garantir o

direito à cidade e promover a cidadania. Atendendo aos direitos e necessidades básicas dos

cidadãos.

Espera-se que um planejamento sócio-político favoreça à redistribuição de renda e

um desenvolvimento econômico e social equilibrado, além de combater a especulação e

privatização dos recursos naturais e garantir um acesso menos desigual a esses recursos.

Para tanto, a participação da sociedade nas decisões políticas e na fiscalização das

atividades governamentais é de suma importância. A gestão democrática orientada pelo

paradigma da sustentabilidade requer uma atuação responsável dos diversos atores sociais.

Grazia de Grazia, Alexandre Santos e Athayde Motta destacam que:

Dos governos, espera-se o resgate das funções sociais do Estado. Das empresas espera-se maior comprometimento social ao substituir formas tradicionais de valorizar o espaço por outras baseadas na sustentabilidade. Da população espera-se que ocupe todos os postos e posições onde possa defender seus interesses de classe social, categoria ocupacional ou organização comunitária, avançando assim em direção a uma conjuntura quando a participação será menos influenciada pelas diferenças de renda, raça e cor, educação, etc. (GRAZIA; SANTOS; MOTTA, 2007).

O planejamento com critérios que busquem o desenvolvimento sustentável tem que

considerar como um dos principais objetivos o desenvolvimento sócio-econômico

equilibrado da sociedade, além da melhora da qualidade de vida, da gestão responsável pela

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preservação do meio ambiente e a utilização racional do território (Carta Européia para a

ordenação do território - CEOT/CEMAT, 1983). Além disso, é necessário o

fortalecimento da autonomia municipal para que o poder local possa gerir o patrimônio

financeiro do município, voltando para investimentos que garantam uma cidade mais justa

e segura.

Um dos mecanismos de gestão dentro das cidades é o Plano Diretor. O

planejamento ambiental sustentável deve ser integrado ao Plano Diretor, tendo por objetivo

o desenvolvimento sustentável, ou seja, o desenvolvimento sócio-econômico com

preservação ambiental para as gerações futuras.

Para Rogers (2000) para que a cidade seja sustentável os fatores de economia e

sociologia devem se entrelaçar e serem integrados no planejamento urbano. Além disso, a

motivação dos cidadãos e a participação dos mesmos nas decisões públicas e políticas deve

ser garantida (sentido de pertinência e democracia). Neste propósito, e necessário a atuação

de técnicos com conhecimentos específicos, além de ações educativas e implementação de

instrumentos de informação para capacitar e possibilitar a atuação da sociedade juntamente

com o Estado.

É importante promover a participação cidadã na configuração do território

buscando, desde o princípio, a maior motivação de atores da sociedade na tomada de

decisões políticas e urbanas, permitindo um maior conhecimento da comunidade sobre seu

espaço urbano e conscientizando a população dos problemas ambientais. O acesso dos

habitantes às decisões políticas deve ser garantido através da difusão da informação e da

promoção de fóruns de discussão pública de modo que os cidadãos assumam como sua a

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responsabilidade sobre a cidade. Ainda, é preciso melhorar o bem estar, o acesso à saúde e

a integração social, através de políticas públicas.

b) Metabolismo Urbano e Regionalismo

No enfoque desta dissertação, as considerações a cerca do meio ambiente natural e

urbano não podem ser separadas das questões sociais e políticas.

As cidades podem ser interpretadas como parasitas ou podem ser projetadas para

absorver o crescimento populacional e oferecer oportunidades sem prejudicar o futuro.

Para isso, é necessária a compreensão de que a Terra é um sistema que levou milhões de

anos para acumular recursos como combustíveis fósseis e água nos lençóis freáticos e que

esses recursos devem ser utilizados de forma racional e sustentável.

Durante muitos anos, principalmente nos últimos duzentos anos, esses recursos

foram extraídos e consumidos sem critérios e, desta forma, produzindo poluição que gera

graves problemas ambientais como chuva ácida e aquecimento global.

Como estratégia urbana sustentável, destaca-se o “metabolismo circular”13 para as

cidades, no qual o consumo é reduzido melhorando o rendimento e aumentando a

reutilização dos recursos. As cidades atuais têm um “metabolismo linear” onde há a

entrada de recursos, como a energia e os alimentos, posteriormente, o consumo desses

materiais dentro da urbe e, em seqüência, a produção de resíduos e emissão de gases

tóxicos (Figura 7.1 e Figura 7.2).

13 Conceito trabalhado por Herbert Girardet (1993).

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Figura 6.1 – Metabolismo Linear. Fonte: Adaptado de Rogers (2001)

Figura 6.2 – Metabolismo Circular. Fonte: Adaptado de Rogers (2001)

A proposta de um “metabolismo circular” está baseada na reciclagem de materiais,

na redução do consumo, na conservação das energias esgotáveis e no uso de energias

renováveis. Esses processos circulares diminuem a produção de resíduos e a contaminação,

além de aproveitar melhor os recursos e possibilitar melhor uso dos bens de consumo.

Para se alcançar um sistema circular o melhor caminho é o planejamento urbano

ambiental sustentável. Também, deve-se promover a solução de problemas ambientais em

cada etapa do ciclo, desde o início (entrada de recursos) até o final (saída de resíduos). Ao

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privilegiar o “metabolismo circular” através da conservação de energia e de matérias e do

incentivo à reciclagem promove-se a sustentabilidade urbana.

O planejamento ambiental sustentável estabelece um conceito de integração entre o

meio ambiente construído (edifícios e cidades) e o meio ambiente natural circundante

(clima, geomorfologia, flora e fauna), com o intuito de minimizar as conseqüências

ambientais negativas como a contaminação do meio e a excessiva produção de resíduos

sólidos e líquidos (HIGUERAS, 2006).

O planejamento urbano deve ter metas e objetivos claros para que, a partir das

mesmas, sejam feitas propostas coerentes para determinada cidade. O estudo detalhado das

características ambientais e climáticas de cada lugar constitui a parte ativa deste processo

de tomadas de decisões e propostas concretas do planejamento. Como já foi visto

anteriormente, o regionalismo é de vital importância para um planejamento ambiental bem

sucedido. É preciso promover o desenvolvimento local aproveitando oportunidades de cada

região para consolidar o papel dos pequenos e médios núcleos urbanos.

É fundamental aproveitar as condições climáticas do lugar desenhando e

construindo os diferentes componentes urbanos e arquitetônicos como elementos

bioclimáticos. Devem ser consideradas as questões sobre o território que se analisa, sobre a

sociedade, sobre o meio ambiente urbano em questão, e ainda, sobre os planejamentos

urbanos realizados anteriormente na determinada região.

c) Cidades em células

Um dos princípios ditos sustentáveis mais difundidos nos últimos anos,

principalmente por Rogers, é a formação de cidades densas (ROGERS, 2000). No entanto,

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a densificação urbana pode até representar uma tentativa de amenizar os problemas urbanos

e ambientais causados pela macro escala, mas ao mesmo tempo, causa novos problemas

como a verticalização intensa das cidades, prejudicando a ventilação e a iluminação natural,

e a concentração da poluição atmosférica

Este modelo de cidade densa já foi visto como sinônimo de insalubridade por

representar o modelo das cidades industriais européias do século XIX. A insalubridade era

muitas vezes gerada pela massificação e pobreza que propiciava mais facilmente a

proliferação de cólera, de tifo e outras doenças, sendo que o problema era agravado por

indústrias tóxicas e altíssima carga horária de trabalho. Por conta disso, alguns autores

como Ebenezer Howard, que já foi mencionado anteriormente, resolveram propor novas

formas de ocupação transferindo a população para os entorno menos densos e ajardinados.

Esse modelo permaneceu até os dias atuais, mas com o diferencial de que hoje quem

procura os subúrbios ajardinados é a população de alta renda. Hoje se vê que tal ocupação

urbana gera consumo excessivo de energia e contaminação.

Sabe-se que as grandes cidades esparsas trazem grandes problemas, mas a

densificação das metrópoles também não garante a sustentabilidade, apesar de não deixar

de ser uma tentativa de evitar problemas ambientais nessas cidades já consolidadas. Do

ponto de vista bioclimático, nos trópicos úmidos, a cidade compacta propicia a formação

de ilha de calor, com o conseqüente aumento do consumo de energia elétrica para ar

condicionado e a produção de poluição.

Para Rogers (2000) pode se considerar que a “densificação” de uma cidade pode

trazer vantagens ecológicas, como a redução da contaminação do ar por automóveis que

não necessitaram de deslocar grandes distâncias, a maior segurança dos centros urbanos, a

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redução da expansão da cidade sobre a paisagem natural e o planejamento integrado a fim

de aperfeiçoar o uso dos recursos energéticos e diminuir a poluição. Porém, esta

dissertação se coloca dentro das linhas de pensamento que defendem a instalação de um

limite para o crescimento da urbe, como já foi tratado nos capítulos anteriores, o incentivo

às pequenas e médias cidades e à criação de outras novas. Tais ações podem trazer todas as

vantagens citadas acima para uma cidade densa sem os problemas gerados pela macro-

escala, além de promover uma melhor participação da sociedade nas decisões políticas.

Uma cidade menor pode ser socialmente diversificada onde as diferentes atividades sociais

e econômicas se multiplicam e a sociedade pode se integrar mais facilmente (MOORE,

1998). O tema sobre o limite urbano será aprofundado na seção “e”.

A partir daí, coloca-se como uma estratégia sustentável urbana o desenvolvimento

de planejamentos urbanos que incentivem o modelo de “cidade-célula” de porte médio e

pequeno, que pode garantir maior sustentabilidade do que uma grande cidade compacta.

Na cidade-célula a população reside, tem o seu lazer e trabalha em um espaço

urbano reduzido. A cidade-célula consiste na inter-relação entre reduzidos núcleos urbanos

(bairros) com diferentes atividades capazes de suprir grande parte das necessidades de

trabalho, moradia e lazer de determinado número de habitantes. (Figura 6.3).

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Figura 6.3 – Esquema de cidades poli-nucleada, com “células-bairro” com diferentes atividades que atendam um determinado número de habitantes. Fonte: desenho esquemático feito pela autora.

É conveniente que a cidade se organize através de nodos reduzidos (bairros)

formando um sistema circular que facilite a interação entre eles. Ainda, devem-se

redistribuir os recursos e serviços pela cidade e por seu território circundante,

descentralizando serviços e equipamentos urbanos e criando uma rede de atividades e

informações que contribuam para a redução dos deslocamentos com automóveis através de

bairros policêntricos.

Esta organização vai ao encontro de um dos graves problemas atuais de

planejamento: as cidades lineares que normalmente se conformam no decorrer de uma

rodovia. O crescimento linear pode ser evitado se outras áreas circundantes forem

incentivadas. Além da rede interna de bairros da cidade, também tem que se considerar

uma rede de cidades que propicie trocas de recursos e de serviços através de um sistema

policêntrico (Figura 6.4).

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Figura 6.4 – Desenho esquemático ilustrando a formação de cidades de pequeno e médio porte, interligadas entre si. Fonte: desenho esquemático feito pela autora.

d) Incentivo aos usos mistos

Os modernistas também utilizaram o modelo de cidade esparsa com grandes vazios

urbanos, grandes áreas livres e avenidas. Mas a principal “marca” do modelo modernista é

o zoneamento que até hoje é utilizado em diversos planejamentos urbanos, principalmente

nos Estados Unidos. O zoneamento tende a evitar à complexidade urbana, reduzindo as

cidades em divisões simples com maior facilidade para administrá- las do ponto de vista

legal e político, mas ao mesmo tempo impede uma relação mais saudável do homem com o

meio e com seu semelhante.

Desta forma destaca-se como mais uma estratégia em prol da sustentabilidade o

incentivo ao planejamento que valorize o uso misto.

Normalmente as áreas de trabalho estão localizadas nos centros urbanos que ficam

desertos e perigosos durante a noite, e a habitação e o lazer estão presentes em bairros mais

afastados conectados ao centro comercial por autopistas. O impacto ambiental causado por

esse zoneamento é muito maior do que o impacto causado por planejamentos onde o

trabalho, o lazer e a habitação se integram em ambientes próximos e muitas vezes

compartilhados.

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Devem-se potencializar os usos mistos para amenizar o consumo de energia ao

diminuir as distâncias entre tais atividades. Essa forma de planejar a cidade além de

diminuir a contaminação e o uso excessivo de energia, também diminui a insegurança nos

centros urbanos ao permitir a habitação e o lazer em áreas antes tomadas somente por

edifícios comerciais.

e) Limitação da Urbe

Para garantir uma governabilidade e acesso da população às decisões

políticas é necessário limitar o tamanho da urbe (CORBELLA, 1998).

Nessa dissertação, acredita-se que a cidade deve ser limitada através de uma

legislação que controle a especulação imobiliária. Além disso, o poder público deve

incentivar diferentes áreas para que os recursos econômicos não permaneçam apenas com

alguns poucos municípios. Se, por exemplo, outras áreas circundantes forem incentivadas e

cada cidade tiver em seu entorno um “cinturão verde” protegido da especulação

imobiliária, utilizado tanto para a produção de alimentos quanto para a conservação do

meio ambiente, a área urbana vai estar delimitada e vai se evitar e junção de cidades

formando grandes metrópoles.

Essas medidas não têm como ser aplicadas em grandes cidades já conformadas, mas

podem ser utilizadas em cidades de pequeno e médio porte, evitando que as mesmas

cresçam sem controle.

Roberto Magalhães (2006) afirma que se deve propor uma escala onde o fenômeno

urbano seja controlável, e defende a pequena escala para as cidades. Com isso afirma que

“a existência de grandes aglomerações urbanas, as megacidades, e a sua tendência ao

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crescimento parecem conspirar contra a possibilidade da cidade ambientalmente

sustentável.” (MAGALHÃES, 2006).

A estruturação em cidades menores conectadas entre si resulta muito mais

sustentável do que grandes metrópoles. O número menor de habitantes, e

conseqüentemente, de infra-estruturas, facilitam a administração pública e aumenta o

controle da sociedade sobre o poder político diminuindo a corrupção.14

f) Cidades Produtoras – Trabalho e Renda

Outra estratégia para conseguir a sustentabilidade é o incentivo à formação de

cidades produtivas (MOORE, 1998)15. Toda cidade deve produzir parte de seus alimentos

e materiais de consumo, diminuindo os gastos com o transporte e a intermediação e

gerando renda e trabalho para a sociedade local. É importante o equilíbrio entre a produção

de alimentos e o consumo, e também, a necessidade de todas as cidades serem produtoras

de pelo menos alimentos essenciais e básicos para a população local.

O incentivo a atividades produtivas e de serviços voltados para a promoção e

preservação do meio ambiente natural também pode ser considerada uma estratégia urbana

que privilegia tanto o trabalho quanto a natureza. No meio rural é importante que se

capacitem pessoas para trabalhar com a agroecologia e o turismo ecológico educacional. Já

no meio urbano, os serviços de limpeza e reciclagem devem ser valorizados (LEROY, et

al.., 2003).

14 Tema amplamente discutido nas aulas de STA – Cidades Sustentáveis – ministrada pelo Prof. Oscar D. Corbella no Programa de Pós-Graduação em Urbanismo da UFRJ. 15 Notas de aula, na parte das aulas de STA de 2003 ministradas por Walter Moore.

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É imprescindível a promoção de cidades diversificadas, nas quais a diferentes

atividades inspirem e promovam uma comunidade vital e dinâmica. Deve ser

compreendida a complexa relação entre a população, os serviços, a política de transporte e

a geração de energia, assim como os impactos causados por essas relações tanto sobre o

entorno imediato quanto sobre a esfera geográfica mais ampla (ROGERS, 2000).

Em decorrência da reestruturação econômica e da globalização o trabalho passou

por grandes modificações que resultou na redução de postos de emprego e mudou o

cenário urbano com o aumento do trabalho informal.

Para possibilitar cidades produtoras que gerem trabalho e renda são necessárias:

- políticas voltadas para micro e pequenas empresas;

- o incentivo ao cooperativismo em todos os ramos e a multiplicação do sistema de

incubação de empresas;

- a capacitação dos diversos atores da sociedade;

- o incentivo ao pequeno produtor agrícola.

Ainda, é de grande importância para a promoção do trabalho e da renda o incentivo

à economia rural e à sustentabilidade no campo. Através de assentamentos, financiamentos

e capacitação dos pequenos e médios produtores (LEROY, et al. 2003).

g) Integração do meio ambiente natural, rural e urbano

A integração do meio ambiente natural, rural e urbano tem como proposta melhorar

o contexto introduzindo vegetação e criando corredores naturais regionais, e com a mesma

importância nos espaços urbanos, promovendo o re-equilíbrio entre natureza e cidade,

preservando os ciclos naturais e inserindo áreas verdes no tecido urbano. Desta forma,

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também se limitam processos de expansão urbana incontrolada e permitindo a regeneração

urbana ecológica.

Mesmo nas cidades de médio e pequeno porte, os espaços livres urbanos são muito

importantes, pois podem servir como áreas de recreação e uso social, além de propiciar

climas mais agradáveis. Esses devem ser ampliados e desenhados adequadamente para

atender à população e amenizar as condições negativas ambientais urbanas. Além disso,

esses espaços abertos e parques devem ser propostos com espécies vegetais autóctones que

não necessitem de muitos. V ê -se a necessidade de espaços urbanos planejados

adequadamente permitindo o encontro e a troca social. Ainda, tais espaços, além de uma

arquitetura de qualidade corroboram para a promoção de cidades mais belas.

A qualidade de vida urbana pode ser incentivada através do desenho urbano

adequado, da segurança pública e da promoção de ambientes mais saudáveis, garantindo a

saúde física e mental dos moradores.

h) Transporte

No sistema tradicional de zoneamento, o automóvel se converteu no fator mais

importante para o planejamento urbano.

Na distribuição dos espaços públicos, todas as ruas e avenidas, e muitas vezes até

parques, são pensadas para atender as necessidades dos carros e não dos pedestres. A rua,

que anteriormente era local de trocas e encontros sociais, hoje tem sido tomada por

automóveis. Para alterar esse quadro, além do planejamento de bairros mistos também se

deve valorizar e incentivar os transportes públicos coletivos ou alternativos como a

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bicicleta ou a própria caminhada até o serviço, que são essenciais para um planejamento

urbano sustentável.

O planejamento de cidades menores e mistas requer o término do predomínio do

automóvel e a valorização do pedestre e do transporte coletivo alternativo. A cidade deve

crescer através de centros com atividades mistas conectadas por transporte público de boa

qualidade constituindo uma aglomeração de bairros com suas próprias áreas comerciais e

parques públicos.

i) Habitação e Saneamento básico_

O “déficit” habitacional no Brasil é bastante significativo. Apesar de programas de

financiamento habitacional e políticas locais de construção de moradias populares, um dos

principais problemas enfrentados por grande parte dos brasileiros é a falta de habitação ou

a insalubridade das moradias e a s áreas residenciais de baixa renda. São necessárias

políticas mais efetivas de construção de casas populares, através de recursos financeiros do

governo e do próprio cidadão (quando possível), além da urbanização de áreas residenciais

degradadas e o incentivo ao uso misto, principalmente em áreas centrais, como já foi

tratado anteriormente.

A falta de habitação e em alguns casos, a degradação e insalubridade das mesmas

levam a degradação do meio ambiente natural. Riachos são utilizados como depósitos de

lixos e a falta de saneamento básico polui rios e o próprio solo. De acordo com a

Constituição Brasileira, todo cidadão tem direito a moradia, assim, políticas concretas e

articuladas, em todo território nacional, devem ser adotadas favorecendo principalmente à

camada mais pobre da sociedade.

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O descaso com a moradia traz consigo outro grave problema social, que é a falta de

saneamento básico. Deste modo, o governo deve privilegiar os investimentos voltados para

a universalização do abastecimento de água e esgoto, bem como da coleta de lixo e os

adequados tratamentos correspondentes.

De acordo com Grazia, o Governo Federal avaliou que para acabar com o “déficit”

do serviço de abastecimento de água e de esgotamento sanitário seria necessária a

aplicação, em 15 anos, de 42 bilhões de reais, ou seja, 0,38% do PIB (GRAZIA, et. al.;

2007). Graves problemas sociais poderiam ser evitados, a partir de políticas voltadas para o

saneamento. De acordo com a Conferência Nacional de Saneamento ocorrida em 1999,

algumas prioridades devem ser destacadas: autonomia do município com relação à

prestação de serviço de saneamento; a aplicação de recursos financeiros do Estado no setor

de saneamento; a implementação de um Plano Nacional de Saneamento e garantia de que

todo cidadão tenha acesso a serviços de saneamento de qualidade permanentes e eficientes.

Todas as intervenções urbanas afetam diretamente o meio ambiente, e por isso, faz-

se necessário uma análise profunda e interdisciplinar sobre o meio natural e o meio urbano

para propor estratégias e princípios urbanísticos sustentáveis capazes de gerar um

planejamento urbano ambiental.

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Capítulo 7

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7 DISCUSSÕES SOBRE RESULTADOS E CONSIDERAÇÕES FINAIS

7.1 DISCUSSÃO SOBRE RESULTADOS

A explanação das estratégias e princípios sustentáveis urbanos pode trazer

direcionamentos para o desenvolvimento sustentável de cidades pequenas e médias

brasileiras. Apesar disso, sabe-se que tais propostas não abrangem em sua totalidade todas

as áreas de conhecimento e atores que atuam direta ou indiretamente na formação e

desenvolvimento das cidades. São muitas as variáveis e as relações entre elas são infinitas,

assim, do ponto de vista teórico, é bastante arriscado apontar resultados definitivos.

No entanto, a partir das propostas discutidas no capítulo anterior, podem-se

apresentar considerações relevantes sobre o tema da sustentabilidade urbana. Destaca-se,

neste contexto, como principal instrumento indutor da sustentabilidade urbana o

planejamento ambiental baseado em princípios sustentáveis. Somente através de um

planejamento urbano eficiente e com responsabilidades sociais e ambientais podem ser

pensadas e discutidas soluções urbanas que suportem um crescimento urbano e econômico

sustentável.

Qualquer planejamento urbano deve considerar a sociedade como um todo, com

suas variáveis e dinâmicas, e, só então, levantar propostas em nível governamental. Foi

visto que o papel do Governo Nacional e Local é de suma importância para a

sustentabilidade. Esses podem atuar no financiamento de ações coerentes com o

crescimento urbano esperado e na legislação que rege a sociedade. Entretanto, a

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participação efetiva da comunidade deve ser privilegiada e garantida a fim de promover

uma cidade mais justa e com eqüidade.

As transformações das cidades e das relações humanas têm sido estudadas por

vários autores durante muitas décadas. Com tudo, o estudo da relação das cidades e das

sociedades com o meio ambiente natural somente foi intensificado nas últimas décadas, a

partir da crise ambiental e das perspectivas de novas formas de crescimento urbano. Deste

modo, foram colocadas em discussão, nesta dissertação, as novas formas de atuação no

meio urbano, acompanhando o desenvolvimento das tecnologias e das atuais necessidades

urbanas frente à degradação ambiental.

Diante do que foi apresentado nos capítulos anteriores, é exposta a necessidade da

implementação das estratégias e princípios urbanos nos pequenos municípios brasileiros, a

partir de um estudo prévio das necessidades dos mesmos e de suas especificidades

ambientais, sociais e urbanas. Verificou-se que tais princípios e estratégias têm maior

relevância se implementados em cidades pequenas e médias, mas na tentativa de amenizar

os problemas das grandes cidades já consolidadas algumas estratégias podem ser eficazes,

como o incentivo ao transporte público e a formulação de legislações que permitam o uso

misto, principalmente nos centros urbanos.

Uma das principais relevâncias desta dissertação está em discutir a importância do

incentivo e limitação de cidades menores. Foi visto que a insustentabilidade não está

presente somente nas metrópoles e tanto as cidades pequenas quanto as grandes sofrem

com problemas urbanos e ambientais. Visto isso, foi intenção desta colocar em discussão as

políticas públicas que, em sua maioria, incentivam o crescimento exacerbado da urbe, sem

propiciar infra-estrutura adequada. Também se coloca a necessidade de discutir políticas de

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incentivo à permanência do cidadão no campo e em sua cidade natal, a partir de

investimentos nas pequenas cidades brasileiras.

Num contexto geral, a partir de iniciativas de políticas nacionais e locais que

valorizem a permanência do cidadão no campo e o investimento na economia, na infra-

estrutura e na sociedade como um todo (cultura, educação, emprego, entre outros) de

cidades pequenas e médias, as mesmas podem caminhas para a construção da

sustentabilidade urbana. Também foi visto que a rede de cidades conectando pequenas e

médias cidades são de suma importância, visto que as cidades maiores podem oferecer mais

oportunidades. Mas ao mesmo tempo, é necessário oferecer facilidades para que o cidadão

que sai de uma cidade pequena, volte para a mesma posteriormente, como é o caso de

Quissamã que subsidia o transporte e o estudo de jovens na cidade vizinha de Campos dos

Goytacazes com a condição de que o mesmo jovem permaneça morando em Quissamã e

dedique parte de seu trabalho na mesma ao final de seus estudos.

A partir dos estudos apresentados na dissertação, destaca-se que a gestão urbana

sustentável que pode apontar um crescimento citadino controlado com suas principais

necessidades atendidas. Ainda, permitir a incorporação das questões ambientais enquanto

um dos elementos que valorizam o espaço urbano e cooperam para a diminuição de

problemas ambientais globais.

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7.2 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O tema discutido nesta dissertação é bastante abrangente e dinâmico o que torna as

conclusões provisórias e imprecisas, e algumas vezes, até parecem arbitrárias. A análise

imparcial e conclusiva, características das ciências exatas, está aqui dificultada pela

multidisciplinaridade que envolve o tema e merece estudos nos mais diversos ângulos.

A dinâmica das relações sociais, políticas e econômicas vivenciadas no meio

urbano, colocam a cidade como “lócus” de diversos projetos e intervenções que têm como

proposta planejar e construir o espaço urbano para atender às necessidades da sociedade. A

inserção de diretrizes ambientais e sociais na discussão a cerca da urbe está se

concretizando ao longo dos últimos anos. Já é fato admitido por todos, que as interações

das atividades humanas com o meio natural estão causando a degradação dos espaços e a

poluição.

Ao compreender as transformações que ocorreram na vida urbana é possível

visualizar os erros e acertos cometidos no passado por cidades que também passaram por

um crescimento populacional exacerbado. Os danos ambientais atuais são globais e atingem

todas as sociedades em escalas diferenciadas. Diante disso, é preciso determinar novas

escolhas econômicas, políticas e sociais.

Priorizar o desenvolvimento social e humano nas cidades com capacidade de

suporte ambiental, produtoras e geradoras de atividades que podem ser acessadas por todos

é uma forma de valorização do espaço incorporando os elementos naturais e sociais.

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A sustentabilidade consiste em encontrar meios de produção e distribuição e

consumo dos recursos existentes de forma mais coesiva, economicamente eficaz e

ecologicamente viável.

Um dos desafios da sustentabilidade ambiental urbana é a conscientização de que

esta é um processo a ser percorrido e não algo definitivo a ser alcançado. A busca por uma

conceituação urbana sustentável trás consigo uma série de proposições e estratégias que

buscam atuar em níveis tanto locais quanto globais.

Tais estratégias visam ao adequado equilíbrio entre a cidade e a natureza, por meio

do qual busca-se promover a qualidade de vida do ser humano, melhorando os espaços

urbanos e preservando as áreas naturais.

As estratégias urbanas sustentáveis defendidas nesta dissertação buscam evidenciar

a necessidade de se pensar novas perspectivas urbanas e apontam diretrizes políticas,

sociais e ambientais que podem auxiliar no planejamento de cidades pequenas e médias.

Apesar dos maiores responsáveis pelo planejamento ambiental para o

desenvolvimento sustentável de uma região serem os planejadores urbanos e políticos, a

atuação dos cidadãos também tem que ser prezada, e os mesmo devem ter a consciência do

seu papel na sociedade e do seu poder de atuação. As mudanças sociais e urbanas, a partir

de processos sustentáveis, não são imediatas e necessitam de tempo para serem

concretizadas. Mas acredita-se que as condições ambientais já estão bastante prejudicadas

pelo padrão de desenvolvimento e consumo atual e a aplicação de estratégias sustentáveis

não pode continuar apenas no papel e em pequenas atuações.

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Referências Bibliográficas

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Anexo

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Perspectivas Sustentáveis: Desafios para o Desenvolvimento Urbano-Ambiental...........................Gisele Silva Barbosa __________________________________________________________________________________________

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1 BREVE HISTÓRICO DOS ANTECEDENTES16:

A revisão histórica do tema se torna pertinente a partir do momento em que se

mostram indícios de que as questões que serão tratadas nesta dissertação não são apenas

“modismos” e discurso político. A partir de um estudo “evolutivo” pretende-se demonstrar

a importância de se pensar em projetos e planejamentos bioclimáticos e sustentáveis. Como

o foco desta dissertação não é a revisão histórica do tema da sustentabilidade, não será

discutido a respeito da evolução urbana e arquitetônica.

Além disso, apesar de se considerar importante os conceitos desenvolvidos pelas

populações orientais, não se entrará neste mérito. O trabalho propõe uma visão resumida

dos acontecimentos históricos relacionados com a arquitetura e o urbanismo sustentável.

1.1 DA ANTIGUIDADE À MODERNIDADE

A maioria dos ambientes naturais é de certa forma agressiva ao ser humano devido

às fortes variações climáticas, como a temperatura, a umidade, as precipitações, a insolação

e o vento. Para que esses ambientes atendam às necessidades humanas é conveniente que

sejam tratados e modificados. A forma adequada para se alterar esse ambiente é o que deve

ser discutido e analisado. A revisão histórica destes assuntos nos permite perceber a

complexidade dos mesmos e a longa trajetória de pensamentos e experiências bem ou não

sucedidas.

16 Este capítulo foi escrito baseado no texto “Antecedentes históricos” presente na monografia de conclusão de curso de Gisele Silva Barbosa (autora desta dissertação).

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A tentativa de solucionar problemas referentes, principalmente, às intempéries

climáticas levou o ser humano a desenvolver projetos que amenizassem os aspectos

naturais hostis ao mesmo. Desde os primórdios da humanidade, a grande preocupação do

homem foi proteger-se das condições climáticas desfavoráveis a ele.

O ser humano utilizava os meios disponíveis no próprio ambiente com a intenção de

reduzir o calor, o frio, a secura, a umidade, as precipitações etc. Pode-se citar como

exemplo os próprios índios que desenvolveram ocas e tendas adequadas ao ambiente em

que viviam. Os esquimós habitam em iglus que conservam a energia térmica. Muitas outras

comunidades antigas ou mesmo atuais que não tinham disposição tecnológica sofisticada

desenvolveram suas próprias construções, que são muitas vezes mais eficientes

energeticamente do que as habitações de hoje nas grandes cidades.

Na maioria dos projetos arquitetônicos, como também nos planejamentos urbanos,

não são considerados os impactos que tais concretizações provocam no meio-ambiente.

Essa prática repercute tanto no desequilíbrio do meio, quanto no conforto ambiental e na

salubridade da população (ROMERO, 2001).

A preocupação em tornar essas intervenções o menos problemáticas possíveis vem

sendo foco de estudos e experimentações de muitos anos. O estudo da relação da temática

homem-meio ambiente não é apenas um “modismo” atual.

A “Arquitetura Vernacular” já usava preponderantemente materiais locais e

facilmente encontráveis na vizinhança, tais como a terra e fibras vegetais. Agora existe a

consciência de que essas matérias primas são menos agressivas a natureza. A bio-

arquitetura (DETHIER, 1982) está definida como sendo uma tecnologia que agride menos

o ambiente natural, provinda de uma tradição milenar. Bernard Rudofsky, em seu livro

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Architecture Without Architects (RUDOFSKY, 1964), mostra, através de fotografias,

exemplos de habitações vernaculares do mundo inteiro. Expressa o modo como o ser

humano construía seu habitat em perfeita harmonia com o meio ambiente. Também, Paul

Oliver publica Cobijo y sociedad (OLIVER, 1969) apresentando as construções

vernaculares nas regiões de climas extremos, principalmente na África. A arquitetura

vernacular, de certa forma, produziu um projeto bioclimático com o uso de materiais

existentes em abundância no próprio ambiente. O uso de materiais regionais, os estudos

climáticos e das orientações solares são algumas das formas de se obter uma construção

econômica e ecológica (FATHY, 1980).

Pode-se observar o processo conceitual e histórico do tema a partir da civilização

grega, apesar da reconhecida importância dos séculos anteriores, pois foi neste ambiente

que se formou uma nova cultura, que ainda hoje permanece como a base da tradição

intelectual do ocidente (BENEVOLO, 2005). A polis grega17 apresentava uma estrutura que

visava ao bem estar e à qualidade de vida da população. O território era dividido em

pequenas comunidades que ocupavam montanhas e tinham como forma de comunicação

externa um porto.

Os teóricos da época, como por exemplo, Platão e Hipodamus de Mileto,

aconselhavam que a sociedade de cada cidade não ultrapassasse o número de 10.000

habitantes (cidades grandes). “Essa medida não é considerada um obstáculo, mas, antes a

condição necessária para um organizado desenvolvimento da vida civil” (BENÉVOLO,

2005).

17 O conceito de polis referia-se a cidade-Estado grega. Distinguem-se a cidade alta (a acrópole, onde ficavam

os templos e onde os habitantes podem se refugiar em caso de guerras) e a cidade baixa (a astu, onde se desenvolviam as relações civis).

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Para os gregos, a população não podia ser tão pequena a ponto de não conseguir

formar um exército, nem tão grande para não se tornar ingovernável. A restrição

populacional foi defendida por diversos outros teóricos posteriores e atuais, como por

exemplo, Roberto Magalhães (2006). Pode-se inferir então, que o contingente de pessoas

em uma determinada cidade influencia diretamente as conseqüências negativas da relação

do ser humano com o meio, e é uma das causas da “insustentabilidade” urbana

(MAGALHÃES, 2006).

Hipócrates exerceu grande influência na arquitetura e no urbanismo já com

preceitos sanitaristas. Com o tratado hipocrático “Dos ares, das águas e dos lugares”18

traçou idéias sobre a higiene pública com relação à escolha do lugar e ao planejamento das

cidades.

Já na Roma antiga, os indícios documentados que demonstravam uma preocupação

com a relação entre o meio natural e o artificial no âmbito da civilização ocidental foram

escritos por Vitrúvio. Ele fazia recomendações sobre temas tais como o embelezamento, a

orientação e a iluminação natural (Cidade romana de Timgad, 100 d.C.) (RUANO, 1999).

Os estudos de Vitrúvio também eram centrados no homem, sendo a natureza um recurso

disponível para satisfazer às necessidades humanas. De acordo com Miguel Ruano, esse

ponto de vista se manteve por dois milênios.

Vitrúvio somente conseguiu chegar a interpretações e estudos tão importantes para a

arquitetura porque tinha como objeto de análise as cidades romanas. Essas desenvolveram

diversas técnicas, algumas até hoje utilizadas, que permitiram um grande avanço.

18 Regras sobre a orientação dos prédios e das ruas para otimizar a iluminação solar, o aproveitamento dos ventos e a procura por locais menos hostis com água pura.

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As novas tecnologias como os próprios aquedutos romanos possibilitavam uma

nova ótica sobre o que era possível de se construir. Os avanços tecnológicos buscavam

melhorar as condições de vida e de conforto, mas ao mesmo tempo, algumas novas

tecnologias agrediam o meio ambiente.

Séculos mais tarde, o crescimento desordenado das cidades, principalmente as

européias, causou um verdadeiro caos no meio urbano. Apesar do número de habitantes de

tais localidades serem muito menor do que das metrópoles atuais, a falta de estrutura criava

problemas que atingiam diretamente a saúde humana. A insalubridade das habitações

urbanas foi intensificada com esse desenvolvimento desorientado (BENÉVOLO, 2005). Na

metade do século XVII, por exemplo, Paris já possuía uma população de cerca de 500.000

habitantes. Ainda nesta época, eram feitas intervenções que já visavam organizar o espaço

público, mas atendia preferencialmente os membros da nobreza parisiense e não tinham

intenção em tornar a cidade salubre.

O crescimento exacerbado das cidades depois da segunda metade do século XVIII e

no início do século XIX, pela eclosão da Revolução Industrial, fez com os problemas

urbanos também crescessem rapidamente (BENEVOLO, 2005).

Os problemas foram agravados pela maior densidade demográfica sem infra-

estruturas que suprissem as necessidades da população, assim o centro urbano tornou-se

cada vez mais insalubre. Por reação, “nascem algumas propostas revolucionárias, políticas

e urbanísticas, para mudar ao mesmo tempo a organização social e a organização dos

conjuntos habitacionais” (BENÉVOLO, 2005).

Diversos industriais e estudiosos da época como Robert Owen, Charles Fourier e

Jean-Baptista Godin, apresentaram propostas que contrapõem com a liberdade individual

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pregada pela Revolução Industrial, com a intenção de resolver publicamente os problemas

da vida familiar e social (BENÉVOLO, 2005) Esses homens buscavam de alguma forma

amenizar as diferenças sociais e a pobreza da grande maioria da sociedade européia.

Françoise Choay (1979) classifica-os como urbanistas utópicos por tentar mudar

uma comunidade inteira através de pequenas intervenções e ainda por acharem que suas

idéias seriam aceitas como verdade e atenderiam às necessidades da época.

No fim do século XIX entram em crise, tanto os movimentos de esquerda quanto os

regimes liberais. Os socialistas científicos, Marx e Engels, por exemplo, criticam os

socialistas anteriores (Owen e Fourier). Karl Marx, Engels, George Simmel e Robert E.

Park, por exemplo, desenvolveram estudos sobre a sociedade humana e como o espaço a

influência. Simmel disserta sobre a metrópole e a vida mental do homem mostrando a

interferência do lugar nas relações sociais. Park relaciona o homem com a natureza através

do que ele chama de “Ecologia Humana”. “A Ecologia Humana é uma tentativa de aplicar

às inter-relações dos seres humanos, um tipo de análise aplicado anteriormente a plantas e

animais.” (PARK, 1936).

O século XIX, nos países industrializados, foi palco de um crescimento urbano e

populacional exacerbado. Alguns estudiosos comparam esse crescimento com o que

ocorreu no século XX e ainda ocorreu até o início do século XXI nos países em

desenvolvimento como o próprio Brasil e alguns países asiáticos.

A tendência em valorizar o “verde” com a intenção de melhorar a saúde se refletiu

nas atuações urbanísticas e arquitetônicas da época. Tal fato é visível nas Cidades Jardins

de Ebenezer Howard, com conceitos higienistas, como também na Reforma e

Embelezamento da Cidade de Barcelona do Engenheiro Ildefons Cerdà em 1859. Seus

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estudos sobre “Teorias Gerais da Urbanização” foram publicados em 1867. (Figura 1.1 e

Figura 1.2)

Figura 1.1 – Princípios para o crescimento de uma cidade - Diagrama elaborado por Ebenezer Howard. Fonte: Livro Garden Cities of To-Morrow, MIT, 1965.

Figura 1.2 –Diagrama de E. Howard – Os três ímas. Fonte: LUCEY, Norman, 1973. In: ANDRADE, 2004

Esses pensamentos higienistas trouxeram consigo novos conceitos que foram

evidenciados no movimento das “city beautiful” de Daniel Burham, ou nas “New Tows for

América”, de Clarence Stein. Alguns elementos urbanos foram inspirados nas cidades-

jardins como as moradias e jardins individuais e as ruas em “cul-de-sac” com separação de

pedestres e veículos. Na mesma circunstância das cidades jardins, outros governantes e

pensadores da época reviam as cidades pós- liberais. Paris foi a primeira a sofrer mudanças

radicais em sua estrutura urbana. Foram abertas avenidas e ruas e executados diversos

serviços primários como a construção do aqueduto, o esgoto, as instalações da iluminação a

gás e a rede de transporte coletivo puxado a cavalo, além de serviços secundários como as

escolas, os hospitais, os quartéis, as prisões e os parques públicos, e ainda mudanças na

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estrutura administrativa da cidade sob a supervisão do prefeito Haussmann (BENÉVOLO,

2005).

Todos os exemplos citados anteriormente foram fruto de uma visão higienista que

primava pela saúde humana. De certa forma, mesmo com autoritarismo, essas cidades

serviram de “mostruário” para diversas outras e contribuíram para a formação da

consciência ambiental voltada para a população. Mesmo com a formulação de novas idéias,

a natureza ainda era vista como um recurso à mercê das necessidades do homem e

inesgotável, mas já era protegida e utilizada visando aos benefícios para a saúde mental e

física de quem a usufruía.

No Brasil, segundo Carlos Roberto Monteiro de Andrade (1988), o modelo

higienista teve um intérprete criativo semi-encorbeto pela história e pelo movimento

moderno, que foi Saturnino de Brito. Ele agrupou princípios do urbanismo francês e os

princípios estéticos de Camilo Sitte em suas realizações, principalmente em Recife, Vitória

e Santos. Também Saboya Ribeiro foi um dos representantes das idéias higienistas no

Brasil. Projetou em São Paulo a Cidade de Osasco com conceitos de Cidade Jardim e

também, em Niterói, o bairro Itaipu com influência européia. Fez diversos outros projetos

buscando uma identidade higienista e citava Vitrúvio ao defender suas idéias.

Mais recentemente, já no século XX, o movimento moderno, mesmo com sua

defesa radical do papel social da arquitetura e do urbanismo, considerou a natureza como

apenas uma ambientação para a urbanização e as zonas verdes como uma das funções que

deveriam proporcionar à cidade o bem estar de seus habitantes. Não desconsiderando seus

valores arquitetônicos e urbanísticos, isso pode ser visto no plano urbano da “Ville

Radieuse” de Le Corbusier, na qual a cidade é um imenso parque em que os edifícios se

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dispõem em meio a gramados verdes e onde os elementos essenciais são o céu, as árvores, a

vista e o sol (Figura 1.3). Sua influência é visível na concepção de Brasília de Lúcio Costa.

Algumas arquiteturas possuem notáveis preocupações ambientais como o Condomínio

Guinle, projetado também por Lúcio Costa e alguns projetos no Rio de Janeiro dos irmãos

MMM Roberto. Os interesses mais relevantes do movimento moderno estão na iluminação

e na ventilação natural, mas não se refletia sobre o esgotamento dos recursos.

Figura 1.3 – Ville Radieuse - Le Corbusier Fonte - www. kosmograph.com

Foram testadas novas tecnologias capazes de aplicar e explorar a energia eólica,

térmica, solar e outras fontes renováveis. Acreditava-se que a ciência e a tecnologia podiam

suprir qualquer necessidade futura. A natureza agora era estudada para ser utilizada com

mais eficiência em benefício do homem.

Uma das principais características dos projetos urbanos modernistas era o

zoneamento. De uma forma geral a cidade era dividida em zonas de atividades e usos onde

a moradia é distanciada da área de trabalho. Nos estudos atuais esse zoneamento é visto

como prejudicial à vitalidade e a diversidade das cidades e ainda como um agravante ao

aumento da contaminação do ar, devido aos maiores deslocamentos de veículos.

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Nos anos sessenta e setenta alguns movimentos surgiram em prol da preservação

ambiental como o movimento hippe. Com a crise do petróleo, nos anos setenta, novas

investigações foram feitas sobre as fontes de energia fósseis e as renováveis.

1.2 ESTUDOS AMBIENTAIS

Com todos esses estudos que visavam a melhor qualidade de vida do ser humano e a

maior racionalidade na utilização dos recursos naturais, alguns autores, que são

considerados clássicos, criaram novas teorias, como o arquiteto húngaro Victor Olgyay

(1963) e o israelense Baruch Givoni (1969). Eles estudaram técnicas e desenvolveram

estudos com enfoque na relação do homem com o meio em que vive. Olgyay (1963), por

exemplo, através de um estudo regional do clima, define as condições de conforto térmico

ideal para a localização dos assentamentos, conjuntos habitacionais e casas.

Por meio de uma concepção que relaciona o clima, a biologia, a tecnologia e a

arquitetura, Olgyay (1963) enumera alguns passos para se obter uma arquitetura

bioclimática. O primeiro é analisar os dados climáticos da região, depois fazer uma

avaliação biológica fundamentada nas sensações humanas, então, criar soluções

tecnológicas para amenizar as intempéries climáticas, e por fim, realizar aplicações

arquitetônicas dos conhecimentos adquiridos nos três passos anteriores (ROMERO, 2001).

O autor desenvolveu um método que leva em consideração as variáveis do lugar. No

ano de 1963, ele publica um gráfico bioclimático que utilizava dados climáticos de

temperatura, umidade relativa, nebulosidade, precipitações, ventos e energia solar. Através

deste gráfico eram traçadas recomendações quanto à escolha do lugar de implantação da

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arquitetura, do tecido-urbano, dos espaços públicos, do paisagismo e da vegetação, e ainda,

da forma e volume das edificações. Determina elementos como aberturas e tipos de

coberturas, entre outros.

Também com uma preocupação maior quanto aos fatores climáticos, Givoni (1969),

relaciona o homem - o clima - e a arquitetura. Propõe a aplicação de princípios gerais a

cada tipo de clima, como quente-seco, quente-úmido e mediterrâneo. Analisa

primeiramente a troca de calor entre o homem e o meio ambiente, e posteriormente a

relação entre a superfície externa dos edifícios e os efeitos diretos das variáveis climáticas.

Na década de 1970 um movimento intitulado “New Urbanism”, surgiu nos Estados

Unidos como uma alternativa para os subúrbios americanos. O movimento propôs a

formação de pequenas cidades nos Estados Unidos que pretendiam “densificar” os

subúrbios americanos através de novas aglomerações urbanas baseadas em conceitos

sustentáveis. A idéia de subúrbio não seria baseada somente em residências, mas essas

localidades teriam locais de trabalho, escolas e outros serviços essenciais para o

funcionamento de uma pequena cidade.

Os idealizadores do “new urbanism” defenderam a formação de comunidades

menores e mais densas que os subúrbios tradicionais, com limites definidos, e com um

número variado de funções entre espaços de lazer, comércios, institucionais e serviços

juntamente com áreas residenciais de vários tipos arquitetônicos (IRAZÁBAL, 1997).

(Figura 1.4 e Figura 1.5).

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Figura 1.4 - Suisun City, Victorian Harbor, Califórnia, 1996. Fonte: http://www.vitruvius.com.br/arquitextos/

F igura 1 .5 - The Crossings, implantação, Califórnia. Fonte: http://www.vitruvius.com.br/arquitextos/

Esse movimento em uma sociedade onde a maioria da população faz parte da classe

média e que pode pagar por um ambiente urbano mais saudável é bastante coerente.

Quando se pensa para a América Latina, um grande número de sociedades onde existe um

alto índice de desemprego, onde a classe miserável é bastante significativa e a desigualdade

é um dos maiores entraves sociais, as questões são muito maiores do que somente as

ambientais.

Mesmo fora de um movimento concreto, diversos estudiosos e arquitetos continuam

construindo teorias e aplicando conceitos de bioarquitetura e sustentabilidade em suas

realizações. Por exemplo, Rafael Serra (1989) que defende a otimização do desenho

arquitetônico e suas relações energéticas com o entorno e o meio ambiente; Jeffrey Cook

(1988) destaca a importância do regionalismo e Lopez de Asiain (1989) defende a

recuperação do estudo do lugar. Ainda há a contestação de crenças anteriores como a idéia

de que o “ambiente natural possui capacidade ilimitada de fornecer recursos e assimilar

resíduos” (SPIRN, 1989).

No Brasil, principalmente depois da Conferência no Rio de Janeiro (“Eco 92”),

intensificaram-se os artigos e estudos relativos à sustentabilidade e arquitetura bioclimática.

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Também o Protocolo de Kioto e várias outras iniciativas nacionais e internacionais

demonstraram a importância destes temas nos dias atuais.

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