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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO FERNANDA DE CARVALHO RODRIGUES PROCESSAMENTO DE TEMPO E ASPECTO EM INDIVÍDUOS AFÁSICOS DE BROCA Rio de Janeiro 2011

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO - Institucional ... · Agradeço às três pelas reuniões, de trabalho e de vida, e pelos saudosos outbacks. ... RODRIGUES, Fernanda de Carvalho

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

FERNANDA DE CARVALHO RODRIGUES

PROCESSAMENTO DE TEMPO E ASPECTO

EM INDIVÍDUOS AFÁSICOS DE BROCA

Rio de Janeiro

2011

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Fernanda de Carvalho Rodrigues

PROCESSAMENTO DE TEMPO E ASPECTO EM

INDIVÍDUOS AFÁSICOS DE BROCA

Tese de Doutorado apresentada ao Programa Pós-Graduação em Linguística, Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como requisito parcial à obtenção do título de Doutor em Linguística.

Orientador: Prof. Doutor Celso Vieira Novaes

Rio de Janeiro Fevereiro de 2011

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Rodrigues, Fernanda de Carvalho.

Processamento de tempo e aspecto em Indivíduos Afásicos de Broca.

/ Fernanda de Carvalho Rodrigues. Rio de Janeiro: UFRJ/FL, 2011. XVII, 115f: il.; 31 cm Orientador: Celso vieira Novaes Tese (doutorado) – UFRJ/Faculdade de Letras/ Programa de Pós-

graduação em Linguística, 2011. Referências Bibliográficas: f. 105-110

1.Sintaxe. 2. Aspecto. 3. Tempo. 4. Psicolinguística. 5. Estrutura da

sentença I. Novaes, Celso Vieira. II.Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Letras, Programa de Pós-graduação em Linguística. III. Processamento de Tempo e Aspecto em Indivíduos Afásicos de Broca.

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Fernanda de Carvalho Rodrigues

PROCESSAMENTO DE TEMPO E ASPECTO EM INDIVÍDUOS

AFÁSICOS DE BROCA

Tese de Doutorado apresentada ao Programa Pós-Graduação em Linguística, Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como requisito parcial à obtenção do Título de Doutor em Linguística.

Aprovada em ________________________________________________________________ Presidente, Prof. Doutor Celso Vieira Novaes (UFRJ) ________________________________________________________________ Prof. Doutora Érica dos Santos Rodrigues (PUC-RJ) ________________________________________________________________ Prof. Doutora Marcia Maria Dâmaso Vieira (UFRJ) ________________________________________________________________ Prof. Doutor Humberto Peixoto Menezes (UFRJ) ________________________________________________________________ Prof. Doutora Maria Mercedes Riveiro Quintans Sebold (UFRJ)

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Ao Amadeu e à Elani, meus pais, e à minha irmã Erika

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AGRADECIMENTOS

À minha família, em especial minha mãe, meu pai e minha irmã. À mamãe por

todo o carinho e dedicação ao longo dos anos, especialmente nas horas difíceis. Por

sempre cuidar de mim e por jamais permitir que minhas asas ficassem molhadas por

muito tempo. Por ser grande e humana. Ao meu pai por ser a força que me incentiva

a ser mais eu. Por ter voltado ao Rio, por me ter como “filhinha” e por servir de

espelho em tantas coisas. À minha irmã, por toda a ajuda em tantas partes desta

tese, em especial com as estatísticas. Pela paciência em me explicar o que eu não

sei e por perder a paciência com as minhas besteiras. Pela nossa amizade e por

nossa convivência. À todos os tios e tias, aos primos, primas e aos meus avós. Por

eles representarem tão bem a definição de família e pelo acolhimento e carinho de

sempre. Ao vô Antônio, à Bisa e ao vô Euclides por jamais saírem do meu lado, não

importa aonde estejam.

Aos meus amigos, por toda a felicidade que eles trazem para a minha vida,

tornando-a muito mais fácil. Às minhas duas amigas que estão sempre ao meu lado,

Mery e Miri, pela amizade verdadeira, eterna e incondicional. À mery pelo

companheirismo infinito e à Miri pela força e incentivo inigualáveis. À Irene, pela

alegria e tranquilidade. Ao Zé e à Ana Carol por serem um casal tão amigo e pelo

carinho constante. Ao meu grupo de meninos, companheiros de tantas coisas, por

me permitirem ser quase uma “deusa”: Bruninho, Ramon, Pafúncio, Banana, Ângelo,

Canelão, Bruno, Léo preto e Chedid. Aos meus amigos de sempre, como Mika,

Camila, Vitor, Nikinha, Clarisse, Letícia, Chel e Pedro, e aos meus amigos tão

constantes em minha vida como Gaby, Talita, Flavinha, Michel, Brad, Naty, Lú,

Aninha, Marquinhos, Léo Ribeiro, Lery, Tu, Peq, Rê, aos agregados e agregadas e

tantos outros que não foram citados, mas que sempre estarão bem guardados no

meu coração. À Ana Beatriz pela ajuda indispensável para eu me tornar quem eu

sou hoje. À Soninha, pelos melhores conselhos nas horas mais precisadas. Pela

amizade sincera e pela sabedoria que me apóiam em tantos momentos. Às queridas

Ângela e Thereza por serem “tias” tão legais. À Iade, pelo carinho de mãe. Ao

Thiago e ao Marquinhos, pela ajuda com as estatísticas.

Às amigas do grupo de Biologia da Linguagem, em especial à Dri, minha

companheira querida. Agradeço pelas revisões, pelos cafés, pelas traduções, pelos

chopes, pelos conselhos, pelos ouvidos, por pensarmos igual, pelo exemplo e

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incentivo. Por ser tão competente, bondosa e amiga. À Adriana Lessa, pela doçura e

carinho. À Marcelinha, por ser um exemplo de superação, em todas as áreas.

Agradeço às três pelas reuniões, de trabalho e de vida, e pelos saudosos outbacks.

À Juju pela disponibilidade, pela versão do resumo, por ser tão meiga e competente.

À Sarinha pela generosidade. À todas as meninas do grupo, Mercedes, Estrelinha,

Imara, Thais, Anne e Letícia pelas reuniões divertidas e proveitosas e pelas

contribuições para o meu trabalho. À Lana e à Natália, eternas companheiras de

grupo, pela amizade que perdura mesmo sem o convívio constante. À Urânia,

membro eterno do grupo, pelos almoços deliciosos, pela alegria contagiante e pelos

conselhos da cigana.

Às minhas companheiras de graduação, Vivis, Ana Lívia, Camilão, Lili, Eliane

e Juliana, por estarem comigo desde o início e até agora. Aos amigos do mestrado e

doutorado. Ao Roberto, amigo desde o início desta jornada, e a Nathalie, pela ajuda

no cargo de substituta. Eles são a maior prova de que gerativistas e funcionalistas

podem conviver em completa harmonia.

Agradeço aos professores que contribuíram para a minha formação e para

este trabalho: Cláudia Drummond, Mônica Rocha, Marcus Maia e Kristine Stenzel.

Agradeço aos meu alunos, que tornaram essa experiência de me dividir entre

ser aluna e professora tão alegre e revigorante.

Agradeço à Cintia Ramos e à Cláudia Drummond pela disponibilidade na

pesquisa. Agradeço a todos os informantes, por cederem seu tempo para a

pesquisa.

Ao João, pela ajuda insubstituível nos testes, pelas discussões sobre o

assunto, pelas diferentes perspectivas de vida, pelo otimismo, pelas descobertas,

pelo carinho, pela paciência, pelos desafios e por estar ao meu lado.

Ao Celso, meu orientador, meu vizinho, meu professor, meu chefinho e, acima

de tudo, meu amigo. Pela orientação carinhosa, pelo investimento na minha

formação e pelos ensinamentos valiosos. Pelo companheirismo não só na pesquisa,

mas nas caronas, nos almoços, nos cafés, na pizza hut e tantas coisas. Por

participar, torcer e comemorar em todas as minha realizações e por continuar

fazendo tudo isso eternamente.

Agradeço a Deus e ao Espírito Santo, por me guiarem até aqui.

Ao CNPq e à FAPERJ, pela bolsa concedida, que tornou possível a

realização deste trabalho.

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RODRIGUES, Fernanda de Carvalho. Processamento de tempo e aspecto

em indivíduos afásicos de Broca. Rio de Janeiro, 2011. Tese (Doutorado em

Linguística) - Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de

Janeiro, 2011.

Esta tese tem como objetivo investigar a representação mental dos traços de

tempo e aspecto. Mais especificamente, busca-se uma melhor compreensão sobre o

papel da área de Broca no processamento de tempo e aspecto e sobre uma possível

dissociação de tempo e aspecto na representação sintática. Três hipóteses

nortearam este trabalho. A primeira é de que o tempo de processamento das

informações relativas a tempo é diferente do tempo de processamento das

informações relativas a aspecto em indivíduos normais. A segunda hipótese é de

que o tempo de processamento das informações relativas a tempo é diferente do

tempo de processamento das informações relativas a aspecto em indivíduos

afásicos de Broca. A última hipótese é que os tempos de processamento das

informações relativas a tempo e os tempos de processamento das informações

relativas a aspecto estão aumentados nos indivíduos afásicos de Broca em

comparação com os tempos de processamento dessas informações nos indivíduos

normais. Para atingir o objetivo, foi desenvolvido um experimento que conjuga

características de um teste on-line e de um teste off-line, inspirado no trabalho de

Caplan e Waters (2003). O primeiro consiste de um teste de audição auto-

monitorada e o segundo de um teste de julgamento de agramaticalidade. Em relação

aos resultados do teste de audição auto-monitorada, as análises revelaram diferença

estatística no modo como os indivíduos lidam com a compatibilidade /

incompatibilidade entre os traços aspectuais / temporais expressos na morfologia do

verbo e os traços expressos no advérbio. Não houve, no entanto, um padrão de

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resposta no que diz respeito ao processamento desses traços. De um lado, os traços

aspectuais foram os que causaram mais problemas para um dos afásicos, e por

outro lado foram os traços temporais os que causaram mais problemas para o outro

afásico. De uma maneira ou de outra, os indivíduos lidaram diferentemente com os

traços de tempo e aspecto. Esses dados são evidências em favor da proposta de

que essas categorias são apresentadas em nódulos diferentes na árvore sintática.

As hipóteses apresentadas não puderam ser refutadas. Os resultados dos testes

aplicados aos pacientes nesta tese corroboram a ideia de que os estudos de

processamento podem fornecer contribuições para um melhor entendimento da

representação da estrutura sintática na mente dos indivíduos.

Palavras-chave: Representação mental de tempo e aspecto. Teste de audição

automonitorada. Dissociação de tempo e aspecto. Afasia de Broca.

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RODRIGUES, Fernanda de Carvalho. Processamento de tempo e aspecto em indivíduos afásicos de Broca. Rio de Janeiro, 2011. Tese (Doutorado em Linguística) - Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2011.

The goal of this thesis is to investigate the mental representation of tense and

aspect features. More specifically, it aims to provide a better comprehension of the

role of Broca’s area in the processing of tense and aspect and of a possible

dissociation of tense and aspect in the syntactic representation. Three hypotheses

guided this study. The first hypothesis is that the amount of time taken to process

information related to tense is different from the amount of time taken to process

information related to aspect by normal individuals. The second hypothesis is that the

amount of time taken to process information related to tense is different from the

amount of time taken to process information related to aspect by individuals with

Broca’s aphasia. The last hypothesis is that the amounts of time taken to process

information related to tense and the amounts of time taken to process information

related to aspect by individuals with Broca’s aphasia are increasing in comparison to

the amounts of time taken to process information related to tense and aspect by

normal individuals. In order to achieve the proposed objective, it was developed an

experiment which conjoins characteristics of an on-line test and of an off-line one,

inspired by the study developed by Caplan and Waters (2003). The first one

consisted of an auditory moving window test and the second consisted of a

grammaticality judgment test. In regard to the results of the auditory moving window

test, the analyses revealed statistical difference in the way individuals deal with

compatibility / incompatibility between aspect / tense features expressed in the verbal

morphology and the features expressed in the adverb. There was not, however, a

pattern of answer concerning the processing of these features. On one hand, the

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aspect features caused one of the aphasic patient more problems, but, on the other

hand, the tense features caused more problems for the other aphasic patient. In one

way or the other, the individuals dealt with tense and aspect features differently.

These data are evidence in favor of the proposal that those categories are

represented in different nodes in the syntactic tree. The hypotheses presented could

not be refuted. The test results obtained in this thesis corroborate the idea that

processing studies can provide contributions to a better understanding of the mental

representation of the syntactic structure.

Keywords: Mental representation of tense and aspect. Auditory moving window test.

Dissociation of tense and aspect. Broca’s aphasia.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Representação em forma de árvore da sentença “A menina tocou o violão”. 2 Figura 2 – Representação em forma de árvore etiquetada da sentença “A menina tocou o violão”. 23

Figura 3 – Representação esquemática do novo modelo de gramática. 28

Figura 4 – Representação esquemática do modelo de gramática a partir da década de 1980. 33

Figura 5 – Representação esquemática da gramática a partir do programa minimalista. 35

Figura 6 – Representação arbórea segundo Pollock (1989). 38 Figura 7 – Representação arbórea incluindo o nódulo aspectual. 42

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Composição das categorias lexicais. 29

Quadro 2 – Exemplo do cálculo de médias. 74

Quadro 3 – Exemplo do cálculo de médias para valores ausentes. 74

Quadro 4 – Organização dos dados para análise estatística. 76

Quadro 5 – Exemplo do cálculo de médias para afásicos de Broca. 77 Quadro 6 – Exemplo do cálculo de médias para valores ausentes para afásicos de Broca. 78

Quadro 7 – Julgamento de agramaticalidade por indivíduo para sentenças gramaticais. 86

Quadro 8 – Julgamento de agramaticalidade por indivíduo para sentenças agramaticais. 87

Quadro 9 – Julgamento da agramaticalidade por número de sentenças para sentenças gramaticais. 88

Quadro 10 – Julgamento da agramaticalidade por número de sentenças para sentenças agramaticais. 88

Quadro 11 – Julgamento da agramaticalidade por número de sentenças por afásico para sentenças gramaticais. 90

Quadro 12 – Julgamento da agramaticalidade por número de sentenças por afásico para sentenças agramaticais. 90

Quadro 13 – Julgamento da agramaticalidade em porcentagem para sentenças agramaticais. 95

Quadro 14 – Julgamento da agramaticalidade em porcentagem para sentenças agramaticais. 95

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Média e intervalo de confiança para a variável “sexo” em relação ao tempo de audição do segmento-alvo. 81

Gráfico 2 – Média e intervalo de confiança para a variável “sexo” em relação ao tempo de resposta. 81

Gráfico 3 – Média e intervalo de confiança para a variável “grau de escolaridade” em relação ao tempo de audição do segmento-alvo. 82

Gráfico 4 – Média e intervalo de confiança para a variável “grau de escolaridade” em relação ao tempo de resposta. 82

Gráfico 5 – Médias e intervalos de confiança para as condições “II, IP, PP, PI, HH, HA, AH” em relação ao tempo de audição do segmento-alvo. 84

Gráfico 6 – Médias e intervalos de confiança para as condições “II, IP, PP, PI, HH, HA, AH” em relação ao tempo de resposta. 85

Gráfico 7 – Análise das condições “II, IP, PP, PI, HH, HA, AH”, em relação ao tempo de audição do segmento-alvo, médias do grupo controle e do afásico S.. 91

Gráfico 8 – Análise das condições “II, IP, PP, PI, HH, HA, AH”, em relação ao tempo de audição do segmento-alvo, médias do grupo controle e do afásico I.. 92

Gráfico 9 – Análise das condições “II, IP, PP, PI, HH, HA, AH”, em relação aos tempos de resposta, médias do grupo-controle e do paciente S..93

Gráfico 10 –Análise das condições “II, IP, PP, PI, HH, HA, AH”, em relação aos tempos de resposta, médias do grupo-controle e do paciente I.. 93

Gráfico 11 – Análise das condições “II, IP, PP, PI, HH, HA, AH”, em relação aos tempos de resposta, médias do grupo-controle, do paciente S. e do paciente I.. 94

Gráfico 12 – Análise das condições “II, IP, PP, PI, HH, HA, AH”, em relação aos tempos de audição do segmento-alvo, médias do grupo-controle, do paciente S. e do paciente I. 98

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 18

1 REPRESENTAÇÃO ESTRUTURAL DA SENTENÇA 21

1.1 Os modelos de gramática e a estrutura da sentença 21

1.2 A representação estrutural das categorias funcionais 36

2 ESTUDOS ESTRUTURAIS E ESTUDOS PROCESSUAIS EM INDIVÍDUOS AFÁSICOS 45

2.1 Explicações estruturais para os déficits dos afásicos 46

2.2 Explicações processuais para os déficits dos afásicos 49

3 METODOLOGIA 61

3.1 Experimentos Pilotos 61

3.1.1 Leitura auto-monitorada 61

3.1.2 Audição auto-monitorada 63

3.2 Experimento 64

3.2.1 Tipo de teste 64

3.2.2 Desenho do teste 64

3.2.3 Teste 64

3.2.4 Variáveis Controladas 66

3.2.4.1 Controle dos constituintes das sentenças 66

3.2.4.2 Controle dos verbos 67

3.2.4.3 Controle dos sujeitos sintáticos 68

3.2.5 Sentenças Distratoras 68

3.3 Composição do teste 69

3.4 Seleção do grupo controle 70

3.5 Seleção de pacientes 70

3.5.1 Local da lesão 71

3.5.2 Aplicação do teste de Boston 71

3.6 Aplicação do teste Mini-Mental 71

3.7 Procedimento 72

3.8 Análise dos dados 73

3.8.1 Grupo-controle 73

3.8.1.1 Organização dos dados 73

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3.8.1.2 Análise estatística 75

3.8.2 Afásicos de Broca 77

3.8.2.1 Organização dos dados 77

3.8.2.2 Análise estatística 78

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 79

4.1 Grupo controle 80

4.1.1 Resultados das análises estatísticas das variáveis independentes 80

4.1.2 Resultados da análise estatísticas do tempo de audição do

segmento-alvo 82

4.1.3 Resultado da análise estatística dos tempos de resposta 84

4.1.4 Resultados do teste de julgamento de agramaticalidade 85

4.2 Afásicos de Broca 89

4.2.1 Resultados da análise estatísticas do tempo de audição do

segmento-alvo 89

4.2.2 Resultados da análise estatística dos tempos de resposta 89

4.2.3 Resultados do teste de julgamento de agramaticalidade 89

4.3 Análises comparativas e discussão 90

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 102

REFERÊNCIAS 105

ANEXO A 111

ANEXO B 115

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Introdução

Há pelo menos dois séculos a relação entre mente/cérebro intriga estudiosos

de diversas áreas. Muitas teorias foram desenvolvidas a fim de explicar a maneira

como o cérebro realiza as chamadas funções cognitivas superiores. As teorias

propostas giravam em torno de duas hipóteses principais. A primeira, uma visão

localizacionista, afirmava que uma área específica do cérebro seria responsável por

uma função específica, como por exemplo, a linguagem. A outra visão é a não

localizacionista, na qual o cérebro atuaria como um todo em todas as funções

cognitivas. Contudo, parece que nem uma nem outra visão se mostra verdadeira.

Aparentemente, uma união de ambas seria a explicação mais plausível para o

funcionamento do cérebro. Assim, as funções teriam áreas específicas, mas elas

não funcionariam sozinhas, e sim interagindo com outras áreas do cérebro.

As teorias atuais sobre o funcionamento da mente/cérebro têm sua pedra

fundamental em pesquisas realizadas com afásicos. Paul Broca, em 1861, publicou

um trabalho pioneiro no qual descrevia um paciente com severas perdas linguísticas

na produção, mas, aparentemente, sem alteração na sua compreensão. Na autopsia

desse paciente, Broca observou uma lesão na região posterior inferior do lobo

frontal, região essa que veio a ganhar seu nome, a área de Broca. Wernicke, em

1876, descreveu também pacientes afásicos, porém, em vez de déficit na produção

como os pacientes descritos por Broca, esses afásicos apresentavam prejuízo na

compreensão. O exame desses pacientes revelou lesão na área posterior do lobo

temporal, área hoje conhecida como área de Wernicke. Até poucas décadas atrás,

foram esses estudos com pacientes que sofreram lesão cerebral que forneceram

praticamente tudo o que se sabia sobre a organização da linguagem no cérebro.

Os estudos com pacientes afásicos não permitiram somente entender melhor

sobre as partes anatômicas do cérebro relacionadas à linguagem. Eles propiciaram

uma compreensão mais acurada da linguagem humana, uma vez que a gramática

de indivíduos que sofreram lesão neurológica pode servir para validar as propostas

feitas para a gramática de indivíduos normais1. Esse é o trabalho dos estudos da

1 Considera‐se, nesta tese, que indivíduos normais são aqueles que não sofreram nenhum tipo de lesão neurológica. 

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neurolinguística: investigar a relação entre a mente e o cérebro através da pesquisa

da linguagem humana.

Os estudos neurolinguísticos se beneficiaram do desenvolvimento de uma

teoria que tinha como objetivo investigar o sistema de conhecimento da linguagem

representado na mente/cérebro dos indivíduos: a gramática gerativa. Essa teoria foi

desenvolvida por Chomsky, na década de 1950. Chomsky (1957) afirma ser

necessária uma teoria linguística que forneça uma medida de avaliação para as

gramáticas, e o estudo formal de uma estrutura gramatical revela um quadro

sintático que pode ser a base de fundamentação da análise semântica.

Com a inauguração dessa nova maneira de se estudar a linguagem humana,

ocorre uma maior interação entre a linguística e a psicolinguística. Apesar de nem

sempre constante, a aproximação nos trabalhos desses dois campos do

conhecimento foi consolidada com a inauguração do Programa Minimalista

(Chomsky, 1995), modelo que trata de condições de legibilidade, isto é, as

instruções fornecidas pela faculdade da linguagem têm de ser legíveis aos sistemas

de desempenho, o que implica em uma relação mais direta entre a competência e o

desempenho.

O objetivo desta tese é investigar a representação mental dos traços de

tempo e aspecto. Mais especificamente, busca-se uma melhor compreensão sobre o

papel da área de Broca no processamento de tempo e aspecto, olhando para o

modo como os informantes lidam com a incompatibilidade entre os traços

aspectuais/temporais expressos na morfologia do verbo e os traços expressos no

advérbio. Pretende-se, com isso, investigar uma possível dissociação de tempo e

aspecto na representação sintática e, assim, um melhor entendimento sobre a

representação mental da sentença. Três hipóteses nortearam este trabalho. A

primeira é de que o tempo de processamento das informações relativas a tempo é

diferente do tempo de processamento das informações relativas a aspecto em

indivíduos normais. A segunda hipótese é de que o tempo de processamento das

informações relativas a tempo é diferente do tempo de processamento das

informações relativas a aspecto em indivíduos afásicos de Broca. A última hipótese é

que os tempos de processamento das informações relativas a tempo e os tempos de

processamento das informações relativas a aspecto estão aumentados nos

indivíduos afásicos de Broca em comparação com os tempos de processamento

dessas informações nos indivíduos normais.

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Esta tese está dividida em cinco capítulos. No primeiro capítulo, é

apresentado um histórico da relação entre a evolução da teoria que pretende

explicar a linguagem humana e a representação estrutural de uma sentença. No

segundo capítulo, o foco são as possíveis explicações para a origem do déficit

sintático dos afásicos de Broca: se ele seria um problema estrutural ou processual.

No terceiro capítulo, é discutida a metodologia adotada nesta tese. No quarto

capítulo, são apresentados os resultados do teste desenvolvido e a discussão

desses resultados. No último capítulo, são apresentadas as considerações finais.

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Capítulo 1 Representação estrutural da sentença

1.1 Os modelos de gramática e a estrutura da sentença

Até o fim da década de 1950, a base da teoria linguística era estabelecer

métodos para se extrair dos corpora os fonemas, morfemas e outros dados, ou seja,

classificar os elementos que compõem a linguagem humana. A teoria linguística

tinha como objeto de pesquisa simplesmente a descrição dos fatos de uma língua.

Chomsky tentou utilizar esses métodos convencionais da linguística

estruturalista para o estudo da sintaxe, mas percebeu que apesar de eles

funcionarem muito bem para fonemas e morfemas, não funcionavam para as

sentenças (SEARLE, 1972). Cada língua contém um número finito de fonemas e

morfemas, mas um número infinito de sentenças. Além disso, os métodos de

classificação utilizados não davam conta das relações internas das sentenças, nem

das relações entre diferentes sentenças. Chomsky concluiu que seria necessário

utilizar os fatos de uma língua como pistas para se entender as leis por trás desses

fatos.

Com isso, Chomsky inaugura a teoria da gramática gerativa, que leva esse

nome por propor que a descrição de uma língua natural seria baseada em um

sistema contendo regras gramaticais que poderia gerar um número infinito de

sentenças e que fosse incapaz de gerar alguma construção que não pudesse ser

considerada um sentença.

Com base nessas ideias, Chomsky, em 1957, lança um livro com o objetivo

essencial de descrever a sintaxe, que para ele é: “o estudo dos princípios e

processos que presidem à construção de frases em línguas particulares”. O autor

explica que o estudo da sintaxe tem como objetivo a construção de uma gramática,

que pode ser vista como um mecanismo de produção de sentenças de uma língua

particular. O objetivo final dessa investigação é desenvolver um teoria linguística

com mecanismos abstratos, subjacentes a todas as línguas.

Chomsky propõe uma descrição inovadora do componente sintagmático de

uma gramática, que consistia em uma gramática sintagmática, que seria a base, e

em um sistema de regras transformacionais. A gramática sintagmática é uma

gramática formal que captura o tipo de informação sobre a estrutura das sentenças

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fornecido pela análise dos constituintes imediatos. Os conceitos de análise de

constituintes imediatos e de gramática formal serão apresentados a seguir.

A análise dos constituintes imediatos (doravante ACI) busca atribuir às

sentenças da língua determinadas descrições estruturais, que são, basicamente, o

conjunto das relações abstratas entre os constituintes de uma sentença. Dada uma

frase qualquer, a ACI vai demonstrar de que maneira os elementos que compõem

essa sentença se agrupam para formar constituintes, que, por sua vez, vão se

associar a outros elementos para formar constituintes mais elevados, e assim

sucessivamente, até alcançar o constituinte máximo que chamamos de sentença.

Considere-se o exemplo a seguir:

(1) A menina tocou o violão.

Aplicando a ACI nessa sentença, observa-se que determinados elementos

têm uma relação intuitivamente mais próxima com outros elementos, como, por

exemplo, A e menina e o e violão, que se relacionam mais diretamente entre si do

que menina e violão ou tocou e violão. Além disso, podemos observar que os

elementos se juntam para formar elementos maiores, como, por exemplo: a menina

e o violão. A esses elementos conjuntos dá-se o nome de constituintes. Assim, uma

sentença não é somente a soma de elementos dispostos linearmente. Os elementos

que constituem uma sentença exibem entre si uma relação de dependência, isto é,

uma estruturação hierárquica. Uma das maneiras de se representar essa

estruturação hierárquica é o diagrama em árvore, ou simplesmente, árvore. A árvore

da sentença (1) seria representada da seguinte forma:

Figura 1 – Representação em forma de árvore da sentença “A menina tocou o violão”.

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Contudo, essa primeira forma de representação não traduzia determinadas

relações intrassentenciais, não permitindo, dessa maneira, ir além da análise da

sentença. O que possibilitaria essa comparação intrassentencial seria o conceito de

classe de constituintes ou categoria. Esse conceito diz respeito ao fato de que um

conjunto de constituintes, ainda que diferenciado pela estrutura interna, pode ser

classificado em uma mesma classe ou categoria. Podemos dizer, por exemplo, que,

em relação à sentença (1), menina e violão são nomes, a e o são determinantes, e

que tocou é um verbo, ao passo que a menina e o violão constituem unidades do

mesmo tipo, designadas de sintagmas nominais. Assim, era necessário que também

na representação em árvore essa classificação fosse evidenciada, o que recebeu o

nome de indicador sintagmático.

Figura 2 – Representação em forma de árvore etiquetada da sentença “A menina tocou o violão”2.

Essa representação codifica não só a relação hierárquica dos constituintes na

frase, como também sua classificação em determinadas categorias.

A partir das informações fornecidas pela ACI, é a gramática formal que vai

representar essas informações. Esse conceito de gramática formal foi desenvolvido

por Chomsky a partir de 1955. Ele utilizou-se da lógica matemática para tentar

representar, de forma teórica consistente, os resultados da análise linguística

empírica. O objetivo era propor um sistema finito de regras capaz de gerar um

número infinito de frases. Assim, ele escolheu um sistema combinatório para definir

a gramática formal, que é o resultado da imposição de algumas restrições que estão

2 Assume‐se neste trabalho a abreviação de “phrase”, P, em inglês, por ser consagrada na literatura. Em português, “phrase” pode ser substituído pelo termo sintagma. 

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embutidas nas regras desse sistema. Assim, a gramática formal passa a ser

orientada por um sistema de regras da seguinte forma:

(2) X ⇒ Y

onde X e Y são sequências de símbolos e a seta representa a instrução

<reescrever X como Y>. Essa representação é uma relação binária. A essa regra dá-

se o nome de regra de reescrita. A gramática sintagmática é um sistema de regras

de reescrita, no qual cada aplicação de uma regra de reescrita gera uma derivação.

As regras vão sendo aplicadas até que a sequência final de derivação seja

constituída somente por formativos, sendo impossível aplicar qualquer regra de

reescrita. Esse sistema de regras está disposto em uma sequência linearmente

ordenada, e a aplicação de tais regras deve preservar essa ordem. Dessa maneira,

um sistema de regras de reescrita, desde que obedecendo a determinadas

condições, pode refletir certas propriedades estruturais da frase que gera.

Assim, a gramática sintagmática fornece um processo geral, unindo a ACI e

as regras de reescrita, que permite gerar qualquer frase possível da língua e seu

indicador sintagmático. A seguir, pode-se observar um exemplo desse processo

geral3:

(3) F ⇒ NP VP

NP ⇒ D N

VP ⇒ V NP

NP ⇒ N

(4) D ⇒ o

N ⇒ lugar, apreensão

V ⇒ inspira

3  Exemplo  retirado  da  Introdução  a  alguns  conceitos  da  gramática  gerativa transformacional,  introdução  da  tradução  de  Raposo  (1978)  do  livro  Aspects  of  the theory of syntax, de Chomsky (1965). 

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  25 

(5)

Como dito anteriormente, além da base da gramática sintagmática existe um

sistema de regras transformacionais. Esse sistema de regras transformacionais

baseia-se na ideia de que a gramática sintagmática atribui a cada frase apenas uma

descrição estrutural, e que existem frases cujas propriedades específicas não são

captáveis em um único nível de descrição estrutural, como, por exemplo, a relação

ativa-passiva.

Chomsky descreve, assim, um modelo de gramática de estrutura tripartida.

Correspondendo ao nível da estrutura sintagmática, uma gramática possui uma série

de regras de reescrita com a forma X ⇒ Y, e, correspondendo ao nível inferior,

possui uma série de regras morfofonológicas, com a mesma forma básica. Ligando

um nível ao outro, existe uma série de regras transformacionais. Essas regras

transformacionais são em parte obrigatórias e em parte opcionais. O modelo

proposto pelo autor está exemplificado a seguir:

(6) Σ : Frase F: X1 ⇒ Y1 : Estrutura Sintagmática Xn ⇒ Yn

T1 : Estrutura Transformacional Tj

Z1 ⇒ W1

: Morfofonologia Zm ⇒ Wm

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Em 1965, Chomsky discute sobre a base do componente sintático. Para o

autor, uma gramática descritivamente adequada deve explicar fenômenos de

violações de regras sintáticas e também fenômenos de incongruência puramente

semântica. Assim, ele propõe um novo modelo para a gramática transformacional,

que tem como principal característica a modificação da estrutura geral do

componente de base da gramática sintagmática.

Nesse novo modelo, além das regras de reescrita que se aplicam aos

símbolos categoriais, haverá regras de reescrita que se aplicam aos símbolos das

categorias lexicais e que introduzem ou operam símbolos complexos. Essa ideia tem

como base a representação no nível da fonologia, em que as unidades fonológicas

se encontram em classificação cruzada4. Na fonologia, cada formativo lexical é

representado por uma matriz de traços distintivos. Essas noções foram adaptadas

por Chomsky (1965) para a representação das categorias lexicais e de seus

membros. Dessa maneira, para cada formativo lexical será associado um conjunto

de traços sintáticos. Além disso, os símbolos que representam as categorias lexicais

(N, V etc.) serão analisados pelas regras dos símbolos complexos, sendo cada

símbolo complexo um conjunto especificado de traços sintáticos. A gramática no

novo modelo transformacional deixa de ter regras de reescrita que introduzem os

formativos pertencentes a categorias lexicais e passa a ter como base um léxico,

que é definido como uma lista não ordenada de todos os formativos lexicais.

A partir dessas noções, Chomsky (1965) inaugura a nova forma da gramática,

compreendendo um componente sintático, um componente semântico e um

componente fonológico. Os componentes semântico e fonológico são puramente

interpretativos, não desempenhando nenhum papel na geração de sentenças. O

componente sintático é constituído por um componente de base e por um

componente transformacional. O componente de base é constituído por um léxico e

por um subcomponente categorial. O componente de base gera as estruturas

profundas, que entram no componente semântico e recebem uma interpretação

semântica. Posteriormente, essas estruturas profundas são convertidas por regras

4  Chomsky,  em  1965,  explica  que  uma  classificação  cruzada  ocorre  quando  existem regras  que  se  aplicam  a  determinadas  unidades,  mas  não  se  aplicam  a  outras.  Por exemplo,  existem  regras  que  se  aplicam  a  consoantes  sonoras  que  não  se  aplicam  a surdas. 

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transformacionais em estruturas superficiais, sobre as quais incidem as regras do

componente fonológico, dando interpretação fonética às estruturas.

Chomsky (1965) explica que o léxico é constituído por um conjunto de

entradas lexicais e por certas regras de redundância. Cada entrada lexical é um

conjunto de traços. Alguns desses traços são fonológicos, representados sobre uma

matriz de traços distintivos que deve estar relacionada com cada um dos traços

sintáticos especificados pertencentes à entrada lexical. Alguns dos traços presentes

na entrada lexical são semânticos, ou seja, os traços que não foram mencionados

por nenhuma regra sintática. Alguns dos traços pertencentes à entrada lexical são

sintáticos e determinam as propriedades pertinentes para o funcionamento das

regras transformacionais. Existem, ainda, traços lexicais que são responsáveis pela

indicação das posições que podem ser ocupadas por um determinado formativo

lexical. As regras de redundância acrescentam e especificam traços quando esses

forem predizíveis por alguma regra geral. Portanto, as entradas lexicais constituem o

conjunto das irregularidades das línguas.

O autor também descreve a constituição do subcomponente categorial da

base. Esse subcomponente é composto por uma sucessão de regras de reescrita

independentes do contexto. A função dessas regras é definir um sistema de relações

gramaticais que determine a interpretação semântica, e especificar uma ordem

abstrata subjacente dos elementos que torne possível a operação de regras

transformacionais.

O sistema de regras de reescrita passa a gerar derivações que terminam em

formativos gramaticais e símbolos complexos. A sequências como essas dá-se o

nome de sequência pré-terminal, que irá virar uma sequência terminal a partir da

inserção de um formativo lexical, de acordo com uma regra lexical. Uma sequência

pré-terminal se converte em um indicador sintagmático generalizado quando as

entradas lexicais forem inseridas. A base do componente sintático gera assim um

conjunto infinito de indicadores sintagmáticos generalizados.

O componente transformacional é constituído de uma sucessão de

transformações singulares, definidas, essencialmente, pelas regras de reescrita da

base e do léxico. A partir de um indicador sintagmático generalizado, uma derivação

transformacional é construída, aplicando-se as regras transformacionais de baixo

para cima, isto é, uma sucessão de regras só é aplicada a uma dada configuração

se já tiver sido aplicada em todos os indicadores sintagmáticos de base encaixados

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nessa configuração. Se nenhuma transformação for bloqueada, uma estrutura de

superfície é formada.

Os componentes interpretativos da gramática, o componente fonológico e o

semântico, parecem funcionar em paralelo. O componente fonológico é constituído

por uma sucessão de regras aplicadas a uma estrutura de superfície, de baixo para

cima, no diagrama em árvore que a representa. Dessa maneira, as regras aplicam-

se inicialmente aos formativos, depois aos constituintes, seguido dos constituintes

mais elevados, e assim sucessivamente, até atingir o domínio máximo dos

processos fonológicos, formando uma representação fonética de toda a frase. O

componente semântico opera suas regras de projeção sobre a estrutura profunda,

atribuindo uma interpretação semântica a cada constituinte. Esquematicamente, o

novo modelo da gramática seria o seguinte:

Figura 3 – Representação esquemática do novo modelo de gramática.

Na década de 1970, com o desenvolvimento da Teoria Padrão Estendida, o

modelo de gramática transformacional sofre novas modificações. As principais estão

relacionadas ao componente de base da gramática transformacional. O léxico ganha

um papel ainda mais importante na teoria, e passa a ser visto como o formador das

estruturas que serviriam de base para a aplicação de regras sintáticas. O

subcomponente categorial seria o responsável pela geração dos sintagmas, e passa

a ser visto sob a convenção da Teoria X-barra.

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Nesse novo modelo, a hipótese lexicalista é reafirmada. Ela trata das

derivações de formação de palavras, que aconteceriam no léxico. Essa ideia sobre a

estrutura das palavras inaugura a criação de um componente morfológico na

gramática gerativa. Antes, a morfologia estava dividida entre a sintaxe e a fonologia.

Além da modificação do componente de base da gramática transformacional,

outra modificação na teoria envolve uma aproximação entre as propriedades lexicais

e as configurações sintáticas, aproximação essa que dá origem à Teoria X-barra. A

base fundamental dessa teoria tem dois aspectos. O primeiro está na afirmação de

que não existe nenhuma diferença categorial entre uma categoria sintagmática XP e

o seu núcleo lexical X (princípio da endocentricidade), mas apenas uma diferença de

nível hierárquico. O segundo aspecto da base dessa teoria é a ideia de que as

categorias são um conjunto de traços distintivos binários, a exemplo da

representação na fonologia.

Adjetivo Preposição

Nome +N -V

Verbo +V -N

Quadro 1 – Composição das categorias lexicais: representação dos traços nas categorias lexicais segundo Chomsky (1970).

A Teoria X-barra, proposta por Chomsky (1970), é fundamentada na ideia de

que cada categoria sintagmática baseada em uma categoria lexical é a realização de

um esquema sintático abstrato em três níveis hierárquicos, e que existem dois tipos

de elementos modificadores das categorias lexicais: os complementos e os

especificadores.

O nível hierárquico intermediário é a projeção X’, que é obtido pela

composição da categoria lexical com seu(s) complemento(s). Um complemento é um

constituinte subcategorizado pelos itens pertencentes àquela categoria lexical. O

nível hierárquico superior é a projeção X’’, que é obtido através da composição X’

com o especificador da categoria lexical. Um especificador é um modificador não

subcategorizado pelas categorias lexicais, e aparece à esquerda do núcleo lexical.

Cada categoria lexical possui um sistema praticamente fixo de especificadores.

Contudo, a natureza desses especificadores varia em função do núcleo lexical. No

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caso dos complementos, a situação é diferente. Os complementos, por serem

subcategorizados, apresentam variação dentro de cada categoria lexical, mas as

mesmas categorias sintagmáticas podem ser complemento de qualquer categoria

lexical.

Assim, um conjunto de regras universais é constituído para formar o

subcomponente categorial do componente de base da gramática sintagmática. As

gramáticas particulares são dotadas de regras particulares que seguem o sistema de

regras universais. O sistema de regras universais segue o seguinte esquema:

(7) X’’ ⇒ (spec) X’

X’ ⇒ X (compl)

Seguindo as regras acima, é possível esquematizar a representação abstrata

determinada pela Teoria X-barra:

(8)

Até esse momento da teoria, a proposta de Chomsky (1970) é de que

somente as categorias lexicais projetariam nódulos. Outras categorias como

determinante, quantificador, advérbios e adjetivos em posição pré-nominal, além dos

morfemas flexionais de tempo e acordo, estariam na posição de especificador de

uma categoria lexical principal.

Essa ideia se manteve até a década de 1980. Em 1981, Chomsky propõe um

novo modelo teórico, o modelo de Princípios e Parâmetros. Segundo esse modelo, a

gramática universal (doravante GU) seria formada por princípios e parâmetros. Os

princípios seriam como propriedades universais e invariáveis que se aplicariam à

sintaxe de todas as línguas. Os parâmetros são possibilidades de variação binária

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observadas entre as línguas naturais. Um exemplo clássico seria o do Princípio da

Projeção Estendida, que estipula que toda sentença deve ter um sujeito estrutural, e

o Parâmetro do Sujeito Nulo, que permite a variação binária de esse sujeito ser ou

não realizado foneticamente. Juntamente com a proposta de um novo modelo

teórico, veio a proposta de um novo modelo de gramática.

Nesse novo modelo de gramática, o componente de base ganha um novo

mecanismo: o de inserção lexical. Esse mecanismo permitiria a entrada de um item

lexical em uma estrutura sintática. Dessa maneira, um nome, por exemplo, seria o

núcleo do sintagma nominal, e um verbo, do sintagma verbal. O léxico abrigaria,

além dos traços fonológicos, sintáticos e semânticos, as idiossincrasias, que antes

deveriam ser previstas nas regras. O léxico abrigaria, ainda, as informações de

subcategorização dos itens lexicais, que contemplam quais os itens lexicais

requeridos por quais itens lexicais e quais as posições ocupariam cada item

subcategorizado. O subcomponente categorial se mantém, com uma modificação da

Teoria X-barra em relação à categoria INFL. Chomsky (1981) propõe que INFL

também projetaria um nódulo, proposta essa oriunda de um problema de

representação da sentença no modelo da Teoria X-barra. A representação proposta

até então era a seguinte:

(9) S’⇒ Comp S

S ⇒ NP Infl VP

(10)

Esse esquema, no entanto, não estava de acordo com as regras da Teoria X-

barra. Chomsky (1981) propõe que a representação dos elementos funcionais

deveria ser independente da representação do sintagma verbal, e, assim, nasce a

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categoria INFL como nódulo terminal, que reuniria os traços de [± tempo] e de

[±Agr]5. Assumindo-se que INFL é o núcleo de S, a representação assume IP como

projeção de um núcleo I.

Uma proposta similar é feita, posteriormente, para o complementizador

(Chomsky, 1986a). Dessa maneira, o núcleo C é o núcleo de um nódulo funcional

CP, que dominaria a sentença. A estrutura de uma sentença passa a ser

representada da seguinte maneira:

(11)

Apesar de o modelo de Princípios e Parâmetros ter surgido na tentativa de

dar conta dos critérios de adequação descritiva e de adequação explicativa, é a

partir desse ano, 1986, que Chomsky (1986b) propõe um reformulação do modelo

de gramática no sentido de equilibrar a tensão entre essas duas tarefas. O autor

explica que para dar conta da adequação explicativa, muitas vezes aumenta-se o

sistema de dispositivos disponíveis na GU responsáveis pela linguagem. Contudo,

isso vai de encontro à adequação explicativa. De acordo com a ideia de adequação

explicativa, o sistema de dispositivos disponíveis na GU deve ser restrito o bastante

5 Do inglês, agreement, que em português pode ser substituído por concordância. 

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para que somente algumas línguas, ou só uma, sejam determinadas pelos dados a

que uma criança tenha sido exposta.

Dessa maneira, Chomsky (1986b) modifica novamente a estrutura da

gramática, na tentativa de encontrar as propriedades gerais abstratas, restringindo a

variedade de sistemas de estruturas de sentenças, e, com isso, aumentando o poder

explicativo da teoria, que até a década de 1970 satisfazia somente aos critérios de

adequação descritiva. Duas grandes modificações são propostas. A primeira em

relação ao componente transformacional da gramática, que passa a ser visto sob

uma única regra: mover α. A segunda modificação ocorre no subcomponente

categorial, ao qual Chomsky se refere como regras da estrutura sentencial. Esse

subcomponente passa a ser visto como uma espécie de projeção das propriedades

lexicais, e, assim, não se justificaria em um sistema de propriedades gerais de uma

gramática universal. A gramática passa a ser representada da seguinte maneira:

Figura 4 – Representação esquemática do modelo de gramática a partir da década de 1980.

Nesse modelo, o léxico seria o responsável por produzir a estrutura profunda,

que é o local onde os itens de uma sentença seriam ordenados. A estrutura

profunda corresponderia a uma estrutura abstrata, na qual seriam explícitas as

relações de dependência entre os itens lexicais. O componente transformacional,

que neste modelo se resume à regra mover α, atua na estrutura profunda gerando a

estrutura superficial. A estrutura superficial é aquela que apresenta a ordem real dos

elementos na superfície, tal como será interpretada pela Forma Fonética e pela

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Forma Lógica. São esses dois níveis de representação que fazem a interface da

faculdade da linguagem com outros sistemas cognitivos.

Esse modelo de gramática vigorou até a década de 1990, quando houve uma

tentativa de aprimoramento do modelo de Princípios e Parâmetros, sob uma ótica

minimalista. Assim, em 1994, Chomsky começa a rever o modelo, examinando,

entre outros aspectos, a Teoria X-barra. Seu argumento inicial diz respeito ao fato de

que somente as projeções máximas parecem ser interpretáveis na interface FL.

Assim, não existiriam entidades do tipo XP como projeção máxima e X0 como

projeção mínima. As projeções máxima e mínima seriam determinadas pela

estrutura na qual apareceriam. Uma projeção máxima seria aquela formada por uma

categoria que não projeta qualquer outra, e uma projeção mínima é a categoria que

não é uma projeção. Chomsky (1994) propõe que a estrutura dos sintagmas seja

formada por duas operações básicas: merge e move. Ele explica que dois objetos

quaisquer como α e β, quando submetidos a merge, fazem um novo objeto γ, que

teria a seguinte forma mínima: {δ, {α, β}}, em que δ é ou α ou β, uma ou outra projeta

e é o núcleo. Os conceitos de complemento e especificador também são

modificados pelo autor. Dessa maneira, a relação entre o núcleo e o complemento é

a relação mais local de uma projeção máxima (XP) com o núcleo terminal (X). Todas

as outras relações dentro de XP são relações do tipo núcleo-especificador. Com

isso, a ideia inicial da Teoria X-barra, de que haveria um esqueleto de árvore já

pronto que ia sendo preenchido, é substituída pela ideia de uma construção da

representação sintática nódulo a nódulo. Abaixo, está representado um esquema do

novo modelo de representação6:

(12)

6 Exemplo retirado do texto “Bare Phrase Structures”, de Chomsky, 1994. 

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Os conceitos minimalistas chegam ao seu ponto mais elevado em 1995, com

a inauguração do programa minimalista. Uma arquitetura de linguagem universal

que desse conta da adequação descritiva e da adequação explicativa vinha sendo

perseguida por Chomsky, e com o programa minimalista, a teoria passa por novas

modificações. Os componentes básicos da gramática passam a ser o léxico e o

sistema computacional, eliminando, com isso, mais uma parte do modelo

inicialmente proposto. A estrutura profunda e a estrutura de superfície passam a ser

consideradas internas ao sistema, uma vez que elas não estabelecem interface com

os sistema de desempenho, e, assim, não se justificam em um modelo baseado em

princípios de economia. O léxico continua basicamente com a estrutura dos últimos

20 anos, sendo o responsável pelo armazenamento dos traços sintáticos,

semânticos e fonológicos, além das idiossincrasias. O sistema computacional, que é

o sistema operacional do novo modelo, é capaz de atuar sobre os itens lexicais,

produzindo representações. Essas representações devem ser legíveis aos sistemas

de desempenho através dos níveis de representação, a saber: forma fonológica e

forma lógica. São esses níveis de representação que fazem a interface da gramática

com os sistemas de desempenho. Assim, todo o sistema passa a ser descrito sob

forma de traços [±interpretáveis] pelas interfaces. Um elemento que tenha traços não

interpretáveis não projetaria um sintagma na representação estrutural das

sentenças. O novo modelo da gramática pode ser esquematizado da seguinte forma:

Figura 5 – Representação esquemática da gramática a partir do programa minimalista.

A seção seguinte trata da representação estrutural da sentença com foco na

camada flexional.

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1.2 A representação estrutural das categorias funcionais

Os estudos gerativistas sobre a camada flexional da árvore sintática

ganharam foco a partir de duas propostas da década de 1980. A primeira delas é a

proposta de Chomsky (1981), de que a categoria INFL também projetaria um nódulo

na representação sintática, nos moldes da Teoria X-barra. A outra proposta é a de

Borer (1984), de que a variação entre as línguas derivaria das diferenças

morfológicas entre elas, cujos traços estariam alocados na camada flexional.

Um desses estudos sobre a camada flexional foi desenvolvido por Pollock

(1989). Com base na Teoria X-barra e no trabalho de Emonds (1976), o autor

sugeriu uma nova configuração da representação da estrutura sentencial. Seu

trabalho teve como proposta fornecer uma explicação que ao mesmo tempo desse

conta da posição dos verbos em relação à partícula de negação, ao advérbio e ao

quantificador no francês e no inglês.

Em seu estudo, Pollock (1989) descreve a posição do verbo nas duas línguas.

Ele descreve que, no inglês, os verbos finitos aparecem à direita da partícula de

negação e do advérbio/quantificado7, e que somente ocorre variação nessa regra

quando se trata de verbos auxiliares. Esses são os únicos que podem sofrer

movimento e, em alguns casos, aparecem à esquerda da partícula de negação. No

caso dos verbos não finitos lexicais, o autor explica que eles aparecem à direita da

partícula de negação e do advérbio/quantificador.

(13) John often Kisses Mary.8

(14) Not to get arrested under such circumstances is a miracle.9

Já no caso do idioma francês, Pollock (1989) aponta que os verbos finitos

aparecem à esquerda da partícula de negação e do advérbio/quantificador. No caso

dos verbos não finitos lexicais, o autor explica que eles aparecem somente à direita

da partícula de negação, mas podem aparecer à direita ou à esquerda do 7 Assumindo que este ocupa a mesma posição do advérbio. 

8 João frequentemente beija Maria. 

9 Não ser preso sob essas circunstâncias é um milagre. 

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advérbio/quantificador. Esses dados indicam que os verbos podem sofrer algum tipo

de movimento para a esquerda do advérbio, mas não para a esquerda do pas.

(15) Mes amis aiment tous Marie.10

(16) Ne pas sembler heureux est une condition pour écrire des romans.11

(17) Souvent paraître triste pendant son voyae de noce, c’est rare.12

(18) Paraître souvent triste pendant son voyae de noce, c’est rare.13

Para dar conta dos dados acima descritos, o autor propõe que não haveria

somente um sítio de aterrissagem, IP, mas sim dois, um à direita e outro à esquerda

do nódulo de negação. Dessa maneira, Pollock (1989) propõe que o nódulo flexional

IP seja decomposto em dois nódulos distintos, a saber, TP e AgrP, além do nódulo

de negação. A seguir, observa-se um exemplo da representação em árvore segundo

Pollock (1989).

10 Todos os meus amigos amam Maria. 

11 Não parecer feliz é uma condição para se escrever romances. 

12 Parecer frequentemente triste durante sua viagem de núpcias, é raro. 

13 Parecer frequentemente triste durante sua viagem de núpcias, é raro. 

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Figura 6 – Representação arbórea segundo Pollock (1989)

Com isso, quando os verbos não finitos do francês realizam o que o autor

descreve como movimento curto, seu sítio de aterrissagem seria AgrP, enquanto o

movimento longo dos verbos lexicais teria como sítio final de aterrissagem o nódulo

TP. Por fim, o autor explica que a diferença entre o movimento dos verbos em

direção a TP em francês e inglês pode ser explicada pela diferença no traço de

concordância. O inglês seria uma língua com morfologia pobre, enquanto o francês

seria uma língua de morfologia rica.

Com a proposta de cisão da camada flexional de Pollock (1989), outros

autores apresentaram propostas de representação da camada flexional não só com

tempo e concordância, como previsto por Pollock (1989), mas também com outros

nódulos sintáticos, como, por exemplo, o nódulo de aspecto.

Os primeiros autores a propor aspecto como um nódulo na camada flexional

foram Koopman e Sportiche (1991), em seu estudo sobre a posição dos sujeitos. Em

1994, Adriana Belletti, em estudo sobre a posição dos verbos no idioma italiano, faz

uma proposta similar de inclusão de um nódulo aspectual na representação

sintática.

Contudo, a proposta de que a camada flexional incluiria um nódulo de

concordância foi desafiada por Chomsky (1995). A ideia, descrita no programa

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minimalista, é de que o sistema deveria ser descrito sob forma de traços

[±interpretáveis]14, e que um elemento que tenha traços não interpretáveis não

projetaria um sintagma na representação estrutural da sentença. Para o autor, esse

seria o caso da concordância (AGR), que não teria motivação conceptual e, por isso,

seria composta por traços [-interpretáveis], o que eliminaria a concordância da

representação sintática.

Conjugando todas as propostas apresentadas, Bok-Bennema (2001)

apresentou uma nova composição para a camada flexional. A autora realizou um

estudo, à luz do de Pollock (1989), com dados obtidos na comparação entre o

francês e o espanhol. Ela sugere que o sítio de aterrissagem do movimento curto do

verbo finito do espanhol e não finito do francês é o mesmo, o qual nomeia como F2,

enquanto o sítio de aterrissagem do movimento longo do verbo não finito do

espanhol e do finito do francês também seria o mesmo, nomeado de F1. Além disso,

a autora faz uma análise do particípio passado das duas línguas, e conclui que o

alvo do movimento do particípio passado, tanto no francês como no espanhol, é F2.

A autora explica que, tipicamente, esses particípios codificam aspecto, e que o fato

de eles se moverem para F2 indica que, na verdade, F2 é um núcleo aspectual,

especificado como [± perfectivo]. Dessa maneira, segundo a autora, a camada

flexional seria composta pelas categorias de tempo e aspecto.

A proposta de que aspecto seria um nódulo da camada flexional, seja como

um nódulo adicional, seja ocupando o lugar de concordância, só se justifica se

tempo e aspecto não formarem um sistema único, tal como sugerido por Comrie

(1976, 1985). Para ele, o tempo é representado por uma linha reta, com o passado à

esquerda e o futuro à direita, e o presente por um ponto zero (p0) nessa linha.

Assim, uma dada situação pode estar relacionada a essa linha do tempo de duas

maneiras. A primeira seria por meio da localização dessa situação na linha do

tempo, o que está relacionado ao conceito de tempo. A segunda estaria relacionada

à constituição temporal interna da situação, isto é, se essa situação é vista como um

ponto ou um traço na linha do tempo, o que está relacionado ao conceito de

aspecto.

14 Traços interpretáveis são os traços conceptualmente motivados e passíveis de serem lidos pelos sistemas de desempenho. 

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Alguns estudos neurolinguísticos corroboram a ideia de que tempo e aspecto

são fenômenos dissociáveis. Um desses estudos foi realizado por Novaes e Braga

(2005). Os autores, ao investigarem a produção de tempo e aspecto de uma afásica

agramática, perceberam um comprometimento linguístico em relação ao aspecto,

mas não ao tempo. Outro estudo, realizado por Santos (2008), também apontou

para um comprometimento em relação à representação de aspecto em afásicos

agramáticos, dessa vez em testes de compreensão.

Outra questão acerca da composição da camada flexional diz respeito aos

advérbios. A maioria das teorias que estudam advérbios assumem que eles

projetam nódulos, e, dessa maneira, teriam três opções posicionais na árvore

sintática: a posição de complemento, de especificador e de adjunto.

No que diz respeito aos advérbios como complemento, discute-se quais

seriam os advérbios que ocupariam essa posição. A visão tradicional sobre o

assunto é de que seria a obrigatoriedade de advérbios em relação a certos verbos

que justificaria esses advérbios como complementos. Seria o caso dos advérbios de

modo, segundo Mc Connel-Ginet (1982 apud AUSTIN et al., 2004). Para o autor,

esses advérbios seriam os complementos dos verbos mais recônditos, uma vez que

o significado dos verbos muda quando combinados com um advérbio de modo.

Uma segunda posição possível para os advérbios seria a de especificador,

proposta defendida por Cinque (1999, 2006). O autor sugere que os advérbios

ocupariam a posição de especificador de nódulos funcionais. Sua proposta tem

como um dos argumentos principais o fato de que o número e o tipo das diferentes

classes de sintagmas adverbiais, e sua relativa ordem nas sentenças, parecem

combinar exatamente com os mesmos número, tipo e ordem relativa dos morfemas

que constituiriam os núcleos funcionais.

Em 2006, Cinque volta a argumentar em favor da proposta que intitula de

“proposta de especificador funcional”, e apresenta outras duas evidências que a

corroboram. A primeira, oriunda dos estudos sobre línguas de sinais, diz respeito à

grande similaridade na maneira como são expressos os advérbios e as categorias

de concordância, aspecto e negação nessas línguas. Isso, segundo o autor, vai ao

encontro da ideia de que os advérbios deveriam ser assimilados pela porção

funcional, e não lexical, da sentença. A segunda evidência, oriunda de estudos de

aquisição de primeira língua, diz respeito ao fato de que a emergência dos advérbios

ocorre de maneira intimamente relacionada à emergência dos núcleos funcionais

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aos quais eles correspondem. O autor explica que, assim como as distinções

aspectuais são adquiridas antes das temporais, os advérbios aspectuais são,

aparentemente, adquiridos antes dos temporais, caracterizando mais uma vez o

caráter funcional intrínseco dos advérbios. Dessa maneira, o autor assume que os

advérbios, quando presentes na numeração, sejam concatenados sob uma relação

de checagem com o núcleo funcional correspondente na hierarquia da sentença.

Quando não há advérbio presente na numeração, então o núcleo funcional

correspondente receberia sua interpretação padrão.

A última posição possível para os advérbios é a posição de adjunto. Essa

ideia era padrão nas primeiras versões de trabalhos na teoria gerativa e aparece

como alternativa à proposta do advérbio como especificador depois de ter ganhado

análises mais sofisticadas nos últimos anos. É o caso, por exemplo, da proposta de

Ernst (2002 apud AUSTIN et al., 2004). Segundo o autor, os advérbios podem ser

adjungidos à esquerda ou à direita, em qualquer projeção disponível, na qual serão

interpretados. Os princípios sintáticos teriam pouca ou nenhuma influência em

determinar a posição dos advérbios. Haider (2000 apud AUSTIN et al., 2004), ao

tratar da posição dos advérbios, sugere que seriam os advérbios de início de

sentença os que estariam em posição de adjunto. São esses advérbios que foram

utilizados no teste desenvolvido para esta tese, apresentado no capítulo 3.

Paralelamente ao estudos sobre a composição da camada flexional estão as

propostas de organização estrutural dessa parte da representação das sentenças.

Isso porque não há consenso sobre qual seria o nódulo que ocuparia a posição mais

alta da camada flexional na árvore sintática. Por um lado, Pollock (1989), Friedman e

Grodzinsky (1997) e Bok-Bennema (2001) propõem que o nódulo mais alto da

camada flexional seria o de tempo, e que o nódulo mais próximo da camada lexical

seria o de concordância, para Pollock e Friedman & Grodzinsky, ou o de aspecto,

para Bok-Bennema. Por outro lado, estudos como o de Belletti (1994), Novaes e

Braga (2005) e Santos (2008) propõem exatamente o oposto, de que seria o nódulo

aspectual quem dominaria o nódulo de tempo. Nesta tese, assume-se que o nódulo

aspectual seria o nódulo mais acima na camada flexional, e dessa maneira,

dominaria tempo. A seguir, observa-se um exemplo da representação arbórea da

estrutura sintática.

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Figura 7 – Representação arbórea incluindo o nódulo aspectual (Novaes e Braga 2005).

A discussão acerca da organização estrutural da camada flexional insere-se

na discussão sobre a universalidade da representação estrutural das sentenças.

Alguns autores, como, por exemplo, Margaret Speas, defendem que a

representação sintática não seria universal, podendo variar de uma língua para

outra. Speas vai de encontro à proposta de Chomsky sobre a eliminação do nódulo

de concordância da árvore sintática. Para ela, pelo menos em algumas línguas

AGRP teria traços [+interpretáveis] e, por isso, se justificariam, sim, como nódulos

sintáticos. A autora propõe, com base na proposta de Rohrbacher (1992, 1993 apud

SPEAS, 1995), que os traços fortes de AGR estão listados no léxico, com cada afixo

tendo um entrada lexical individual, enquanto um traço fraco de AGR está listado

junto com o verbo que o hospeda, em um único paradigma. Paralelamente a essa

proposta, está a proposta geral de princípios de economia, cuja postulação é de que

um núcleo XP só pode ser projetado se X ou especificador de XP tiver conteúdo

(Speas 1995). Assim, segundo Speas (1995), algumas línguas, como o japonês, não

projetariam o nódulo AGRP, enquanto outras, como o italiano, teriam AGRP

representado sintaticamente.

Giorgi & Pianesi (1997) também acreditam que a representação estrutural de

uma sentença não é universal. Para os autores, a estrutura da árvore sintática pode

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variar não só de uma língua para outra, como também de sentença para sentença.

Seria o sistema morfológico de uma língua que determinaria quais as categorias

funcionais seriam representadas sintaticamente, através da associação de traços a

morfemas. Isso porque, segundo os autores, as línguas associam os traços a

morfemas de duas maneiras. A associação pode ser de um para um, ou um mesmo

morfema pode estar associado a mais traços.

No sentido oposto das propostas de variação da representação estrutural da

sentença estão os trabalhos que defendem a universalidade dessa representação.

Um desses trabalhos é o de Cinque e Rizzi (2008). Os autores apresentam o projeto

cartográfico das estruturas sintáticas, cuja tentativa é a de encontrar um mapa para

a configuração sintática. Eles explicam que, apesar de a estrutura ter sempre tido

um papel central na gramática gerativa, foi a partir do programa minimalista que o

mapa estrutural ganhou o foco dos estudos, provavelmente impulsionado pelo

grande número de categorias funcionais identificadas e sugeridas na análise

sintática nessa época e nos anos subsequentes. Os autores afirmam que um projeto

cartográfico estaria de acordo com o princípio de uniformidade de Chomsky (2001).

Segundo esse princípio, na ausência de evidência convincente do contrário,

assume-se que as línguas são uniformes, e a variação estaria restrita a propriedades

detectáveis nas elocuções. Assim, a cartografia assumiria que as evidências dos

últimos anos apontam para uma universalidade da hierarquia das projeções das

categorias funcionais que dominam as categorias lexicais. Essa universalidade

envolveria os tipos de núcleos e especificadores a que essas categorias estão

relacionadas, o número de categorias presentes, sua ordem relativa, e até mesmo a

realização fonética de cada núcleo e seu especificador. Os autores explicam que,

apesar de à primeira vista o projeto cartográfico parecer tão complexo que fugiria

aos princípios do minimalismo, essa visão não se mantém. Segundo a interpretação

de Cinque e Rizzi (2008), o minimalismo foca nos mecanismos elementares

envolvidos nas computações sintáticas, e que esses mecanismos elementares não

implicam na geração de uma estrutura empobrecida. Para eles, uma simples

operação de recursividade pode dar conta de gerar uma estrutura sintática complexa

e rica. Eles concluem explicando que a sintaxe é utilizada para expressar

significado, mas sem se resumir em apenas organizar unidades de sentido, e que a

gramática universal parece constituída sob medida para as necessidades da

expressão de significado sem, no entanto, se reduzir a essas necessidades. Nesta

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tese, assume-se que as categorias sintáticas representáveis e a ordem em que elas

se organizam são universais, ainda que variem em relação a quais aparecem na

representação estrutural de uma sentença específica.

No próximo capítulo, será apresentada uma discussão sobre de que maneira

os estudos de neuropsicologia e de psicolinguística podem contribuir para a

elucidação de questões referentes à representação estrutural da sentença.

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Capítulo 2 Estudos estruturais e processuais em indivíduos afásicos

O estudo da linguagem humana há anos desperta o interesse de

pesquisadores, principalmente pelo fato de essa ser uma faculdade específica do

homem. Assim, entender a linguagem é, em parte, entender o funcionamento da

mente.

A neuropsicologia é uma das mais antigas maneiras de se estudar a

linguagem. A investigação dos déficits de pacientes com quadros patológicos traz

dados elucidativos a respeito da estrutura da mente humana. As primeiras

descrições de déficits linguísticos apresentados por pacientes com lesão são de

1861. Paul Broca, nesse ano, publicou um trabalho em que descrevia um paciente

com severas perdas linguísticas em seu discurso, mas, aparentemente, sem

alteração da compreensão. Com isso, os estudos sobre a afasia de Broca tinham o

foco na investigação da produção desses pacientes. Foi somente em 1976 que

apareceu uma nova perspectiva sobre o déficit dos afásicos de Broca. Caramazza e

Zurif (1976) desafiaram a ideia de que os afásicos de Broca apresentavam somente

défict na produção e publicaram os resultados de uma investigação acerca da

compreensão desses pacientes, feita através de um teste com sentenças geradas

por movimento. Os afásicos não tiveram sucesso no teste, o que para os autores

seria uma evidência em favor da hipótese de que os afásicos teriam problema tanto

na produção quanto na compreensão. Os autores sugeriram que, pelo menos para

os afásicos de Broca, a lesão cerebral afetaria o mecanismo de processamento geral

da linguagem que suporta o componente sintático, tanto para produção quanto para

compreensão.

A partir da descoberta de um provável déficit central na sintaxe dos afásicos

de Broca, diversos autores passaram a tentar explicar a origem desse déficit: se ele

seria um problema na estrutura sintática ou se seria um problema na implementação

dessa estrutura em tempo real, isto é, no processamento sintático. Nas próximas

seções, serão abordados os trabalhos dessas duas correntes.

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2.1 Explicações estruturais para os déficits dos afásicos

Um dos primeiros autores a tentar explicar os déficits dos afásicos de Broca

foi Grodzinsky. Em trabalho publicado em 1986, ele apresenta a Hipótese do

Apagamento do vestígio (doravante HAV). Grodzinsky (1986) descreve que nas

sentenças geradas por movimento o constituinte movido deixaria um vestígio. Uma

das funções do vestígio é crucial, uma vez que é através dele que o papel temático

dos NPs movidos é atribuído. Outra função relevante seria a de estabelecer relações

permissíveis entre ele e seus antecedentes, restringindo os movimentos. Assim,

seriam essas operações com movimentos que estariam prejudicadas nos afásicos

de Broca, fato que levou à hipótese de que os vestígios de movimentos estariam

apagados das representações sintáticas. Ele explica, ainda, que o desempenho dos

pacientes nos testes de compreensão de sentenças complexas, ou seja, que

envolvem movimento, estaria no nível da chance, devido a uma estratégia default de

atribuição de papel temático. Segundo Grodzinsky (1986), essa estratégia seria

utilizada quando o afásico percebesse um NP que não possui papel temático,

atribuindo, assim, o papel temático canonicamente associado com a posição que ele

ocupa. Em uma sentença passiva, por exemplo, o primeiro NP, para o afásico, está

sem papel temático, porque ele não consegue ligar o NP ao vestígio e, dessa

maneira, atribui a esse NP o papel de agente, por ser o papel temático canônico

para o primeiro NP da sentença. Contudo, o agente é o segundo NP da sentença, e

assim, dois NPs teriam o mesmo papel temático em uma sentença. O afásico, então,

escolheria aleatoriamente entre um dos dois e, por isso, teria o desempenho no nível

da chance.

Hickok, Zurif e Canseco-Gonzalez, em 1993, criticam a HAV de Grodzinsky,

dizendo que ela não explica todos os déficits apresentados pelos afásicos. Os

autores explicam que a HAV assume que o único déficit estrutural na compreensão

dos agramáticos é o apagamento dos vestígios na estrutura-s, e que, então, os

afásicos deveriam ser capazes de compreender bem a sentença matriz em uma

sentença encaixada, como no exemplo15:

15 Exemplo retirado do texto de Hickok, Zurif e Canseco‐Gonzalez (1993). 

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(1) The tiger [that chased the lion] is big.

O tigre que perseguiu o leão é grande.

“O Tigre que perseguiu o leão é grande”.

No exemplo, a oração principal é estruturalmente idêntica a uma sentença

ativa simples: The tiger is big. Contudo, tanto no estudo de Caramazza e Zurif (1976)

quanto no de Serman e Schweickent (1989 apud Hickok, Zurif e Canseco-Gonzalez,

1993), os afásicos não foram capazes de interpretar corretamente a oração principal.

Assim, Hickok, Zurif e Canseco-Gonzalez (1993) propõem-se a testar a HAV e

desenvolvem três experimentos com afásicos. Os resultados corroboram os acima

descritos – os afásicos de Broca têm um prejuízo significativo da compreensão da

relação predicado-adjetivo. Os autores propõem uma reformulação da HAV, a fim de

explicar também esses déficits encontrados nos pacientes. A hipótese do

apagamento do vestígio reformulada (HAVR) mantém a ideia de que os vestígios

são apagados da estrutura-s, mas apresenta diferenças em termos da

representação sintática normal. Hickok, Zurif e Canseco-Gonzalez (1993) adotam

desenvolvimentos da teoria linguística feitos por diversos autores (Burton &

Grimshaw, 1992; Kitagawa, 1986; Koopman & Sportiche, 1988 apud Hickok, Zurif e

Canseco-Gonzalez, 1993) que é a hipótese do sujeito interno ao VP. Nessa

hipótese, os sujeitos gramaticais são gerados dentro do VP e depois sobem para a

posição de superfície, em IP, deixando um vestígio na posição de origem, como

pode ser observado na representação abaixo:

(2) [IP The tigeri [VP ti chased the Lion]]

Assim, o sujeito recebe seu papel temático via vestígio, e a consequência

disso em um contexto de apagamento de vestígio é de que os sujeitos gramaticais

nunca recebem papel temático (atribuído gramaticalmente), mesmo em sentenças

ativas simples. Além disso, os autores propõem que os afásicos teriam um problema

adicional, na representação de atribuição temática, o que faria com que fossem

geradas representações não especificadas. Portanto, em vez da estratégia default

proposta por Grodzinsky (1986), o que explicaria o desempenho no nível da chance

em testes com pacientes afásicos seria o fato de que eles simplesmente tentam

adivinhar o papel temático em uma situação de teste.

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Outra proposta de explicação estrutural para os déficits dos afásicos foi

apresentada por Friedman e Grodzinsky, em 1997. Eles realizaram uma pesquisa

sobre a produção verbal, visando a investigar o sistema flexional de uma paciente

afásica. Essa paciente apresentou taxa de erro de 50% (cinquenta por cento) para

as flexões de tempo, enquanto, para as flexões de concordância, a taxa de erro foi

de somente 2% (dois por cento), evidenciando uma dissociação na produção dos

itens flexionais. Segundo os autores, esse impedimento não apareceu somente na

flexão de tempo, mas também em outros fenômenos linguísticos relacionados ao

nódulo de tempo, como omissão de sujeito, dificuldade com cópulas e problemas

com a ordem das palavras. Além disso, fenômenos linguísticos relacionados à parte

mais alta da árvore sintática também apareceram com problemas para a paciente,

como a produção de palavras QU e complementizadores. Entretanto, as

propriedades relacionadas ao sistema de concordância não apresentaram prejuízos.

Com esses dados, os autores propuseram a hipótese da poda da árvore, na qual os

nódulos mais altos da árvore estariam inacessíveis aos afásicos agramáticos. No

caso da paciente estudada, os nódulos acima de TP, incluindo ele, estariam

inacessíveis para ela. Assim, eles acrescentam que a poda pode ocorrer em

diversos pontos da árvore, a partir da camada flexional, dependendo da severidade

da afasia.

Uma proposta mais recente de explicação estrutural para os problemas dos

afásicos é a hipótese de tempo subespecificado (HTS) (Wenzlaff & Clahsen, 2004

apud Faroqi-Shah e Dickey 2009), e seu desdobramento, a hipótese de tempo e

concordância subespecificados (HTCS) (Burchert et al., 2005 apud Faroqi-Shah e

Dickey 2009). Essas hipóteses relacionam o déficit dos afásicos a um problema na

especificação dos traços. Os traços morfossintáticos necessários para licenciar a

morfologia de tempo e concordância estão subespecificados nas representações

sintáticas dos indivíduos agramáticos. Essa subespecificação é a responsável pelos

problemas em todos os processos referentes a esses traços.

Contudo, para alguns autores as explicações estruturais para os déficits dos

afásicos não são as mais adequadas, uma vez que o problema, para eles, parece

estar não na estrutura e sim na aplicação do conhecimento sintático em tempo real,

ou seja, o déficit dos afásicos seria processual. A seção seguinte trata das

explicações processuais para os déficits dos afásicos.

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2.2 Explicações processuais para os déficits dos afásicos

Uma crítica direta às explicações estruturais para os déficits dos afásicos foi

feita por Zurif et al. em 1993. Os autores argumentam que a caracterização feita por

Grodzinsky (1986) de que os afásicos manteriam a estrutura sintática

hierarquicamente representada, mas não seriam capazes de representar vestigios,

e, assim, não estabeleceriam os papéis temáticos dos constituintes movidos, seria

de caráter unicamente descritivo, e não explicativo. Assim, o questionamento passa

a ser se os afásicos não conseguiriam estabelecer os papéis temáticos devido a

uma perda parcial do conhecimento sintático, ou se isso se deveria a uma ruptura no

processo que implementa o conhecimento sintático em tempo real. Com o objetivo

de encontrar a resposta para a questão apresentada, os autores realizaram um teste

utilizando-se de um estímulo auditivo e um estímulo visual. Os sujeitos foram

instruídos sobre o teste: eles ouviriam uma sentença, e em algum momento durante

essa tarefa apareceria um conjunto de letras em uma tela em frente a eles, e a tarefa

consistia em decidir, o mais rápido possível, se o conjunto de letras formava uma

palavra. Os autores encontraram que os indivíduos sem patologias eram capazes de

realizar a tarefa sem nenhum problema, enquanto os pacientes afásicos ou tiveram

tempos de reação aumentados, ou não conseguiram realizar a tarefa. Baseados

nesses resultados, os autores propuseram que os afásicos não têm os recursos

processuais necessários para estabelecer as relações de dependência, isto é, ligar o

traço ao seu antecedente, e, assim, não são capazes de recuperar a representação

sintática adequadamente. Os autores sugerem que a decisão lexical seja

estruturalmente comandada, isto é, a análise da estrutura sintagmática da sentença

determina essa decisão.

Entretanto, desde a década de 1980, são os problemas dos afásicos com a

morfologia flexional que têm despertado grande interesse dos estudiosos da

linguística, inclusive nos estudos de processamento. Em 1980, Bradley, Garrett e

Zurif propuseram que o desempenho dos afásicos agramáticos estivesse

relacionado a uma inabilidade de acessar rápido e automaticamente o dispositivo de

morfemas gramaticais. Diversos estudos ao longo desses quase 30 anos também se

propuseram a investigar o processamento on-line das informações sintáticas

presentes nos morfemas gramaticais.

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Um desses estudos foi desenvolvido por Shapiro e Levine, em 1990. Eles

realizaram dois experimentos sobre o processamento verbal durante uma tarefa on-

line de compreensão de sentenças em afásicos, com dois objetivos: o primeiro de

investigar se os afásicos são sensíveis à estrutura argumental de uma sentença, e,

assim, aos papéis temáticos; e o segundo de investigar se o dispositivo mental que

ativa o verbo e sua estrutura argumental opera normalmente e rapidamente durante

a compreensão de uma sentença. No primeiro experimento, foram utilizadas quatro

categorias verbais, a saber: (1) verbos transitivos puros16; (2) verbos de três

argumentos obrigatórios17; (3) dativos não alternativos18 e (4) dativos alternativos19,

em uma tarefa transmodal (cross-modal), na qual as sondas visuais ora eram

apresentadas na vizinhança imediata do verbo, ora eram apresentadas quatro

sílabas depois do verbo. A predição era de que para sujeitos normais, quando a

sonda aparecesse na vizinhança imediata, os verbos com estrutura argumental mais

complexa teriam tempos de reação maiores que os menos complexos. Assim, os

verbos transitivos puros e os verbos de três argumentos obrigatórios teriam os

menores tempos de reação, seguidos dos dativos, que não deveriam apresentar

diferenças significativas de tempos de reação entre eles. Além disso, quando as

sondas fossem apresentadas depois de quatro sílabas, o custo associado à

complexidade da estrutura argumental se dissiparia e, assim, não seriam

observadas diferenças significativas entre nenhum dos tipos de verbos. No segundo

experimento, foram utilizados dois outros tipos de verbos, que os autores chamaram

de verbos de dois complementos e verbos de quatro complementos. Verbos de dois

complementos seriam aqueles que permitem duas possibilidades de organização da

16  Exemplo  de  Shapiro  e  Levine  (1990)  para  verbos  transitivos  puros:  The  old  man exhibited the new suit on the rack (O Homem velho exibiu o terno novo no cabide). 

17  Exemplo  de  Shapiro  e  Levine  (1990)  para  verbos  de  três  argumentos  obrigatórios: The happy  officer  put  the  new  suit  on  the  shelf  (O oficial  feliz  colocou o  terno novo na estante).  

18 Exemplo de Shapiro e Levine (1990) para verbos dativos não alternativos: The sad girl donated the new suit to the charity (A garota triste doou seu terno novo para a instituição beneficente). 

19   Exemplo de Shapiro e Levine (1990) para verbos dativos alternativos: The old man sent the new suit to the friend (O homem velho mandou o terno novo para o amigo). 

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estrutura argumental20, e os verbos de quatro complementos seriam os que

permitem quatro arranjos diferentes21. A previsão era de que os verbos de dois

complementos tivessem tempos de reação menores em relação aos de quatro

complementos em uma tarefa transmodal quando a sonda fosse apresentada na

vizinhança do verbo, enquanto para a apresentação da sonda na vizinhança da

preposição não haveria diferença entre os tempos de reação.

Todas as previsões foram confirmadas nos testes com indivíduos normais, e

os mesmos resultados foram encontrados para pacientes afásicos. Assim, três

conclusões foram propostas com base nos resultados encontrados. A primeira é que

a informação sobre a estrutura argumental representada por verbos no léxico mental

afeta o processamento de sentenças em sujeitos normais. Esses dados não são

surpreendentes para os autores, uma vez que eles consideram que a estrutura

argumental pode ser o princípio segundo o qual o léxico está organizado. A segunda

conclusão diz respeito ao fato de que aparentemente todas as estruturas

argumentais possíveis são momentaneamente ativadas nas imediações do verbo

durante a compreensão. A terceira e última é sobre o dispositivo que ativa o verbo e

suas propriedade estruturais, que parece estar normal nos pacientes. O problema

geral com os verbos e com as estruturas complexas está relacionado com o

processamento pós-ativação, como a atribuição do papel temático para os NPs de

uma sentença. Contudo, os autores salientam que somente sentenças canônicas

simples foram utilizadas, e que é possível que a ativação da estrutura argumental

dos verbos não se apresentasse como nos normais se tivessem sido utilizadas

sentenças complexas, como passivas e relativas.

Blumstein et al. (1991), assim como Shapiro e Levine (1990), se interessaram

pelo prejuízo na morfologia flexional dos afásicos e desenvolveram um estudo com

objetivo de explorar a sensibilidade desses pacientes para a estrutura sintática. Para

isso, eles enfocaram no papel da estrutura morfológica em relação às dependências

sintáticas locais. Segundo os autores, dependências sintáticas locais podem ser

definidas como o papel funcional que cada palavra exerce na estrutura sintagmática

20 Exemplo de Shapiro e Levine (1990) para verbos de dois complementos: The old man accepted the gift reluctantly (O homem velho aceitou o presente relutantemente) . 

21 Exemplo de Shapiro e Levine  (1990) para verbos de quatro  complementos: The old man remembered the gift fondly (O homem velho lembrou o presente afetuosamente). 

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da sentença. Algumas relações são definidas como internas ao sintagma sintático,

como, por exemplo, verbos auxiliares e verbos principais. Em contraste, existem

outros tipos de dependência sintática, que são definidas como através das fronteiras

sintagmáticas, como, por exemplo, um pronome sujeito que tem que concordar em

pessoa e número com o verbo da sentença. Em ambos os casos, duas palavras

compartilham dependências sintáticas, e essas dependências são governadas pela

marcas morfológicas utilizadas. Assim, foram desenvolvidos dois experimentos a fim

de investigar de que maneira a natureza das dependências sintáticas locais contribui

para o padrão de desempenho de indivíduos normais e afásicos. No primeiro

experimento, foi testada a sensibilidade dos sujeitos às dependências sintáticas

dentro de uma sentença. Os autores compararam os tempos de reação em um

experimento de priming22 no qual um alvo verbal marcado para tempo ou aspecto

era testado em três condições, a saber: (1) quando precedido por um modal

apropriado, como em is-going; (2) quando precedido de um modal inapropriado,

como em could-going; (3) quando precedido por um constituinte que tornava o

conjunto agramatical, como em very-going. Além disso, foram criadas sequências

com não palavras, como em plib-going. Eles investigaram também como não

palavras acrescidas de terminações morfológicas afetavam a decisão lexical, como

em is-plibbing e could-plibbing. No segundo experimento, o objetivo era investigar

efeitos similares aos das dependências sintáticas locais, só que entre fronteiras

frasais. Para esse fim, foi testada a sensibilidade dos sujeitos para as construções

gramaticais do tipo pronome-verbo. Assim, eles compararam os tempos de reação

em um experimento de priming no qual um alvo verbal marcado em pessoa e

número era testado em três condições: (1) quando precedido por um sujeito

apropriado, como em he-gives; (2) quando precedido por um sujeito inapropriado,

como em I-gives; (3) quando precedido de um constituinte que tornava o conjunto

agramatical, como em very-gives. Da mesma maneira que no primeiro experimento,

esses tempos foram comparados com os de sequências criadas com não palavras,

com em pru-gives. Também foi investigada de que maneira a relação entre não

palavras e terminações morfológicas afeta a decisão lexical, como em he-plibs e

they-plibs.

22 Experimentos de priming são experimentos de decisão lexical que visam a verificar se o  reconhecimento  do  segundo  estímulo  do  par  (chamado  de  alvo)  é  facilitado  ou  não pela apresentação imediatamente antes de outro estímulo (chamado de prime). 

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Os resultados de ambos os experimentos indicaram efeitos sintáticos de

priming para indivíduos normais, ou seja, verbos sintaticamente corretos parecem

facilitar o processamento, enquanto as sequências incorretas parecem dificultar o

processamento. No caso da relação pronome-verbo, só foram encontrados efeitos

de dificultação do processamento. No que diz respeito aos pacientes afásicos, os

padrões de desempenho encontrados indicam prejuízo do processamento sintático

on-line. Os afásicos de Broca não apresentaram efeitos de facilitação no

experimento I, ou seja, os tempos de reação para os conjuntos sintaticamente

corretos não foram mais rápidos dos que os outros. No experimento II, o padrão de

resposta foi similar ao dos normais, ou seja, os tempos de reação para sentenças

corretas eram menores que os das sentenças incorretas. Os autores propõem que

haja dois tipos de processamento, um automático e outro controlado. Segundo eles,

o processamento automático é assim definido por acontecer rapidamente e

inconscientemente. Já o processamento controlado é estratégico e consciente. Os

afásicos só apresentaram efeitos de priming sintáticos quando esses efeitos

envolviam práticas primárias de processamento controlado. Consistente com esses

resultados estão os resultados do teste de julgamento de agramaticalidade. Esse

tipo de julgamento é feito depois do processamento on-line, não parecendo, assim,

que o processamento automático contribua para a habilidade de julgar a

gramaticalidade. Por outro lado, o processamento controlado contribui para a

performance em tarefas off-line. A conclusão é de que os problemas linguísticos dos

afásicos refletem uma desordem do processamento que atravessa os componentes

da gramática, isto é, o léxico e o parser. Os resultados mostram que esses

problemas dos afásicos não estão em um componente particular da gramática nem

refletem um prejuízo de uma representação linguística particular, e sim um prejuízo

das práticas de processamento usadas para acessar essas informações.

As propriedades sintáticas dos morfemas flexionais também foram o alvo do

estudo, que consistia de dois experimentos, desenvolvido por Friederici et al. (1992).

O primeiro experimento testava a sensibilidade dos sujeitos para a presença ou

ausência do morfema flexional e a habilidade de processar esse elemento particular

como marcador de uma categoria de palavra. Assim, os sujeitos eram apresentados

a verbos flexionados (danced) e sua raiz não flexionada (dance) que era igual ao

nome (the dance), em contextos sintaticamente corretos, como em he dance e a

dance, e em contextos sintaticamente incorretos, como em a danced e he dance. A

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previsão era de que, se os sujeitos fossem sensíveis à restrição sintática, os tempos

de processamento seriam menores nas construções gramaticais em comparação

com as agramaticais, uma vez que processar informação agramatical seria mais

custoso para o sistema de processamento. Já o segundo experimento foi

desenvolvido especialmente para os pacientes afásicos de Broca. O objetivo era

descobrir se esses indivíduos eram capazes de acessar, em tempo real, esse tipo de

informação presente em um elemento flexional enquanto ouvem uma sentença.

Assim, os autores introduziram uma violação gramatical que só era possível ser

detectada se a flexão fosse processada em relação à marcação de pessoa, por

exemplo, segunda pessoa do singular versus terceira pessoa do singular. Segundo a

análise dos autores, os resultados encontrados nos experimentos I e II sugerem que

os pacientes afásicos de Broca são sensíveis à morfologia flexional como um

marcador de categoria gramatical, mas não parecem processar a informação

sintática contida nesses elementos enquanto ouvem uma sentença. Assim, os

autores afirmam que os resultados suportam a ideia de que os afásicos de Broca

preservam o conhecimento sintático, e que o problema seria no acesso on-line da

informação sintática codificada nos elementos flexionais.

Haarmann e Kolk (1994) também se interessaram pela morfologia flexional

em relação às restrições sintáticas e conduziram um estudo transmodal que tinha

por objetivo investigar a sensibilidade de pacientes afásicos de Broca a violações da

concordância sujeito-verbo. No primeiro experimento, o sujeito era apresentado a um

alvo, uma palavra que aparecia na tela de um computador. A palavra permanecia na

tela enquanto ele ouvia uma sentença através de fones de ouvido, e a tarefa era

apertar o botão assim que ele ouvisse a palavra que estava na tela, ou que não

fizesse nada, caso a palavra não aparecesse. O teste continha sentenças simples e

complexas23. O segundo experimento consistia basicamente da mesma coisa, sendo

que a única diferença era que havia um pequeno aumento do tempo para se ouvir a

próxima palavra em um determinado ponto da sentença. Com isso, eles

encontraram, no experimento I, que a complexidade sintática parece ter um efeito

negativo na sensibilidade on-line para violações da concordância sujeito-verbo. 23  Por  complexas,  entenda‐se  encaixadas.  Exemplos  dos  autores  para  (1)  sentenças simples:  The  women  carry  the  child  and  eat  an  ice  cream  (As  mulheres  carregam  a criança e comem um sorvete) e (2) sentenças complexas: The women that carry the child eat an ice cream ( As mulheres que carregam a criança comem um sorvete). 

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Enquanto os indivíduos normais apresentaram um efeito de concordância, tanto para

sentenças simples quanto para as complexas, os afásicos só tiveram os mesmos

resultados nas sentenças simples, o que corrobora os estudos anteriores que

afirmam que a sensibilidade on-line dos afásicos de Broca para violações

gramaticais desaparece quando eles abrangem mais de uma oração.

Ainda na linha dos estudos sobre a morfologia flexional de pacientes afásicos,

Kühnast (2003) resolveu investigar o imperativo negativo do búlgaro. Isso porque há

uma interação entre a negação e o aspecto no imperativo. Uma sentença só é

gramatical no imperativo negativo se for utilizado um verbo imperfectivo. Com verbos

perfectivos a sentença é agramatical. A autora explica que a sensibilidade para as

propriedades aspectuais do verbo indica uma habilidade de usar a informação

sintática contida na partícula de negação e de obedecer aos requisitos estruturais

impostos ao verbo. Ela desenvolve, assim, um estudo de leitura automonitorada e

um de julgamento de gramaticalidade para investigar o imperativo negativo24 em

pacientes afásicos. As previsões da autora de que esse tipo de sentença não

apresentaria problemas para os indivíduos normais se confirmaram nos resultados.

Em relação aos indivíduos afásicos, os resultados indicaram que eles tiveram um

desempenho pior que o dos indivíduos normais, com uma velocidade lenta de

processamento na tarefa de leitura automonitorada. Contudo, os tempos de reação

estariam preservados, com efeito de priming, para os verbos imperfectivos no

imperativo negativo e percepção de sentenças malformadas com verbos perfectivos.

Segundo a autora, esses resultados sugerem que os afásicos são capazes de

acessar e usar a informação sintática das marcas de negativo e dos traços

aspectuais requeridos pelo verbo. Uma diferença significativa entre os dois grupos

apareceu na habilidade de interpretar o significado das sentenças imperativas

negativas, independentemente da adequação aspectual do verbo. Os indivíduos

normais atribuíram significado às sentenças mesmo quando elas não eram bem-

formadas e responderam as questões apropriadamente. Os afásicos tiveram um

desempenho no nível da chance, o que reflete uma compreensão pobre das

sentenças imperativas negativas envolvendo um verbo inapropriado

aspectualmente. Kühnast (2003) conclui a interpretação dos resultados afirmando

24 Exemplos de Kühnast  (2003) para o  imperativo negativo:  *Molja  te,  ne  kupi  bira!  – Please, don’t buyperf beer! e Molja te, ne kupuvaj meso! Please, don’t buyimpf meat! 

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que a negação e o aspecto como categorias funcionais marcando propriedades

semânticas parecem não afetar as habilidades dos afásicos em derivar a

representação sintática das sentenças imperativas negativas, mas que, em relação à

interpretação, os afásicos apresentaram um efeito de não disponibilidade da

interpretação do significado da sentença. Os achados experimentais encontrados

sugerem que a compreensão de sentenças dos indivíduos normais e dos afásicos

agramáticos difere no que diz respeito aos recursos computacionais disponíveis para

integrar a informação, dentro do contexto sentencial, no tempo esperado. Segundo a

autora, os padrões de resultados encontrados no estudo suportam a visão de que o

locus do prejuízo na compreensão dos agramáticos é a interface entre a

representação sintática e a interpretação semântica, e não a representação sintática

propriamente dita.

Faroqi-Shah e Dickey (2009) afirmam que os estudos sobre a morfologia

flexional do afásico mostram que nem toda a produção de flexão está prejudicada

nesses indivíduos. A relação nome-plural está frequentemente preservada nesses

indivíduos, e a relação de concordância entre sujeito-verbo também parece estar

preservada na maioria das vezes. Contudo, a morfologia de tempo parece

apresentar sempre problemas, em diferentes tipos de testes realizados com

afásicos. Os autores ressaltam que há uma enorme variedade de trabalhos sobre a

flexão de tempo, que variam não só na metodologia utilizada como no objeto de

estudo em si. Eles explicam que os estudos variam nas relações linguísticas em

conexão com a morfologia de tempo. Alguns estudos olham para a relação advérbio-

verbo e outros olham para a relação sintática local da morfologia do verbo. Eles

afirmam que a relação entre advérbio-verbo envolve uma relação semântica indireta

entre a morfologia de tempo e o advérbio. O advérbio provê um contexto temporal

no qual a morfologia de tempo deve se encaixar. A essa relação eles dão o nome de

morfosemântica, que seria diferente da morfossintática. As relações morfossintáticas

envolvem relações sintáticas diretas, em que uma categoria morfossintática

seleciona a outra, como no caso da relação auxiliar-verbo. Faroqi-Shah e Dickey

(2009) dizem que a melhor explicação para os déficits dos afásicos é a proposta de

Faroqi-Shah e Thompson de 2007: a hipótese diacritical enconding and retrival.

Segundo essa hipótese, o problema dos afásicos seria com as relações

morfosemânticas. Esse problema é descrito nessa hipótese como uma dificuldade

de traduzir o tempo codificado na mensagem em traços diacriticals, como por

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exemplo [+presente], e/ou selecionar e recuperar as formas verbais que

correspondam ao tempo codificado. Eles definem traços diacriticals como os que se

referem aos aspectos da mensagem de um falante tipicamente representados por

afixos flexionais, tais como tempo, número, modo e aspecto. Para testar a hipótese,

os autores desenvolvem dois experimentos similares na estrutura, mas um de

produção em 2007 (FAROQI-SHAH e THOMPSON, 2007) e outro que inclui também

a compreensão em 2009 (FAROQI-SHAH e DICKEY, 2009). No teste de produção,

os participantes tinham que escolher a forma verbal apropriada para o

preenchimento da lacuna, como no exemplo: Tomorow, the theatre______ [was

closing, will close, closed]25. No teste de compreensão, eles tinham que decidir sobre

a gramaticalidade de uma sentença como: Last year, my sister lived in New

Hampshire26. Eles fizeram testes também sobre a relação morfossintática, como nos

exemplos: The man will ____ the Canadian border [cross, crosses, crossing]27 e The

nurse calling a doctor28. A conclusão combinada desses dois tipos de teste é de que

os afásicos têm problemas com as relações morfosemânticas, e não com as

morfossintáticas. O locus do problema do agramático, para os autores, seria

escolher uma morfologia temporal específica dada uma informação temporal

conceptual-semântica, como o advérbio na posição pré-verbal, quer seja o problema

maior o de decodificar os traços diacriticals do contexto temporal, quer seja o

problema maior o de recuperar os afixos flexionais/formas verbais corretas do léxico

mental. Uma observação interessante é a de que essa hipótese apresentada pelos

autores está de acordo com o espírito da teoria linguística do programa minimalista

de que somente os traços semanticamente motivados seriam interpretáveis. Os

autores explicam, ainda, que alguns traços diacriticals, como os de concordância,

seriam somente operacionais na codificação sintática e, por isso, não precisam ser

especificados. Além disso, em uma relação lógica, é possível conceber que alguns

agramáticos teriam problemas com outros traços como plural, gênero e aspecto.

25 Amanhã, o teatro _____ [estava fechado, vai fechar, fechou]. 

26 Ano passado, minha irmã morou em New Hampshire. 

27 O homem vai _____ a fronteira Canadense. [cruzar, cruzar (3a pessoa), cruzando] 

28 A enfermeira chamando o médico. 

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Os estudos de caráter processual acima descritos, de maneira geral,

assumem que o problema dos afásicos estaria no parsing, isto é, no mecanismo que

atribui as categorias gramaticais e as relações estruturais entre os constituintes de

uma sentença, e, dessa maneira, seriam evidenciados em testes on-line. Contudo,

Caplan e Waters (2003) ressaltam que ainda existem muitas inconsistências nos

resultados de estudos on-line comparados a resultados de estudos off-line. Nenhum

desses estudos consegue esclarecer a relação entre o processamento on-line das

estruturas sintáticas e o desempenho off-line em testes de compreensão sintática

realizados por afásicos de Broca. Para os autores, esse problema ocorre porque são

utilizados testes de naturezas diferentes para se investigar fenômenos

correlacionados.

A partir dessa observação, Caplan e Waters (2003) tentaram desenvolver um

estudo com uma comparação mais direta dessa relação. Assim, primeiramente eles

investigaram o processamento sintático on-line em uma técnica chamada auditory

moving window paradigm, que consiste em uma audição automonitorada, ou seja,

ao comando do sujeito os segmentos de uma sentença vão sendo apresentados

auditivamente, e, ao final, ele tinha que fazer um julgamento da gramaticalidade das

sentenças ouvidas. O experimento tinha quatro tipos de estímulos, a saber: (1)

sentenças clivadas de sujeito29; (2) sentenças clivadas de objeto30; (3) sentenças

relativas de objeto31; e (4) sentenças relativas de sujeito32. Assim, na mesma tarefa

eles conseguiram resultados on-line e off-line. Os resultados on-line foram obtidos

através da análise do tempo que cada sujeito levava para apertar o botão que

apresentava o próximo segmento da sentença na tarefa de audição automonitorada,

e o resultado off-line foi obtido através da análise do tempo que cada indivíduo levou

para decidir sobre a gramaticalidade da sentença apresentada e também sobre a

acuracidade das respostas. O resultado desse estudo indica um efeito da 29 Exemplo de Caplan e Waters (2003) para sentenças clivadas de sujeito: It was the food that nourishe the child (Foi a comida que nutriu a criança). 

30  Exemplo  de  Caplan  e Waters  (2003)  para  sentenças  clivadas  de  objeto:  It  was  the woman that the toy amazed (Foi a mulher que o brinquedo surpreendeu).  

31  Exemplo  de  Caplan  e Waters  (2003)  para  sentenças  relativas  de  objeto: The  father read the book that terrified the child (O pai leu o livro que aterrorizou a criança). 

32 Exemplo de Caplan e Waters (2003) para sentenças relativas de sujeito: The man that the fire injured called the doctor (O homem que o fogo feriu chamou o doutor.). 

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complexidade sintática para o julgamento de plausibilidade. Tanto os sujeitos

normais quanto os afásicos mostraram um aumento no tempo de julgamento nas

sentenças complexas. Os afásicos ainda mostraram um efeito na acuracidade das

respostas em relação a sentenças sintaticamente complexas. Os afásicos que

tiveram baixo desempenho no teste de julgamento de gramaticalidade, e que

mostraram efeitos de estrutura sintática nesse teste, mostraram evidências de

prejuízo no processamento on-line. O uso combinado de medidas on-line e off-line

utilizando-se das mesmas sentenças e nos mesmos pacientes mostrou ser uma

maneira promissora de identificar os diferentes tipos de prejuízo no nível da

sentença que ocorre nas afasias.

Apesar das grandes contribuições feitas pelos estudos sobre o

processamento da linguagem, eles não apresentam uma contribuição direta para o

entendimento da estrutura da linguagem no cérebro. Maia e Finger (2005) explicam

que o processamento de uma sentença é o conjunto de procedimentos mentais que

determina a estrutura de uma sentença realizado pelo parser. Assim, acredita-se,

neste trabalho, que o processamento pode trazer pistas sobre a estrutura sintática

das sentenças, e, com isso, um melhor entendimento sobre a representação mental

da linguagem. Essa ideia vai ao encontro do modelo de gramática proposto por

Chomsky em 1995. O novo modelo da teoria prevê uma maior integração entre a

faculdade da linguagem e os sistemas de desempenho, com a imposição de

condições de legibilidade nas representações geradas pelo sistema computacional –

as representações devem ser legíveis aos sistemas de desempenho.

Em 1996, Chomsky aproxima ainda mais competência e desempenho

propondo que, pelo menos em alguma extensão, os sistemas de desempenho

seriam parte da faculdade da linguagem. O que não se sabe determinar ainda é o

tamanho dessa parte. Posteriormente, em 2002, Hauser, Chomsky e Fitch

aprimoraram essa ideia. Eles dividiram a faculdade da linguagem em duas: a

faculdade da linguagem latu sensu e faculdade da linguagem strictu sensu. A

faculdade da linguagem latu sensu incluiria um sistema computacional interno e dois

outros sistemas internos ao organismo: o sensório-motor e o conceptual-intencional.

A faculdade da linguagem strictu sensu seria o sistema computacional linguístico

abstrato, que seria independente dos outros sistemas, mas com os quais ele

interage e mantém interfaces.

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Considerando que os estudos de processamento podem trazer indicações

sobre a representação de uma sentença, e a ideia de Hauser, Chomsky e Fitch

apresentada acima, esta tese propõe um teste que conjuga características de um

teste on-line e de um teste off-line, em indivíduos afásicos de Broca, que tem como

objetivo geral investigar o papel da área de Broca no processamento de tempo e

aspecto. Busca-se, assim, um melhor entendimento sobre a representação mental

da sentença. No próximo capítulo, será apresentada a metodologia do teste

desenvolvido para esta tese.

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Capítulo 3 Metodologia

A escolha de um experimento constituído de uma tarefa on-line nesta tese

justifica-se pelo fato de que os estudos sobre o processamento de sentenças podem

fornecer dados acerca da representação sintática, objeto de estudo desta tese.

Segundo Derwing e Almeida (2005), a linguística experimental é impulsionada pelas

teorias derivadas da observação e descrição dos dados linguísticos. Além da parte

on-line do experimento, havia uma parte off-line, que essencialmente servirá como

objeto de comparação com o estudo on-line. Isso se deve ao fato de que, dessa

maneira, podem-se ter dados mais precisos quando os dois tipos de teste forem

comparados em uma mesma tarefa. No capítulo que se inicia, serão apresentados os experimentos pilotos

desenvolvidos para esta tese, o tipo de estudo e o desenho do teste elaborado, os

critérios utilizados na seleção dos pacientes e do grupo controle, os procedimentos

adotados na aplicação dos testes e as análises dos dados. Na próxima seção, serão

apresentados os experimentos pilotos desenvolvidos com o objetivo de melhor

preparação do experimento a ser utilizado na tese.

3.1 Experimentos pilotos

3.1.1 Leitura automonitorada

Inicialmente, foi desenvolvido um experimento piloto que conjugava

características de um teste on-line e de um teste off-line, inspirado no trabalho de

Caplan e Waters (2003). O primeiro consistiu de um teste de leitura automonitorada,

e o segundo de um teste de julgamento de agramaticalidade33.

O experimento era constituído de setenta e duas (72) frases, sendo vinte e

quatro (24) sentenças-alvo (seis de cada uma das condições) e quarenta e oito (48)

sentenças distratoras. As sentenças-alvo variavam entre compatibilidade e

33  Optou‐se  nesta  tese  pelo  uso  do  termo  julgamento  de  agramaticalidade  em  vez  de julgamento  de  gramaticalidade,  uma  vez  que  este  estudo  está  mais  interessado  em verificar  a  aceitação  ou  rejeição  de  sentenças  agramaticais  por  indivíduos  afásicos  de Broca,  seguindo  a  linha  de  raciocínio  proposta  por  Chomsky  (1975)  e  Grodzinsky  & Finkel (1998). 

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incompatibilidade dos traços aspectuais expressos na morfologia do verbo e dos

traços expressos no advérbio. Após a leitura de cada frase, os indivíduos tinham que

julgar a gramaticalidade da sentença lida.

Abaixo, estão exemplificados os quatro tipos de sentenças utilizadas nesse

teste.

1. Antigamente Rosa comprava adesivos.

2. Antigamente José assinou um contrato.

3. Ontem Regina preparou um empadão.

4. Ontem Débora filmava casamentos.

As sentenças-alvo foram divididas da seguinte maneira:

Antigamente Rosa comprava adesivos. ?

1a parte 2a parte 3a parte 4a parte

Para a realização deste estudo piloto, foram selecionados vinte e quatro (24)

falantes do português do Brasil. Os indivíduos tinham entre vinte (20) e trinta e cinco

(35) anos, com graduação completa ou incompleta em qualquer área que não fosse

Letras, e nunca tiveram nenhum tipo de lesão neurológica.

Em relação aos resultados do teste de leitura automonitorada, a análise do

tipo ANOVA revelou que o tempo de leitura das sentenças foi significativamente

diferente (F (3, 66) = 3,3979, p-valor = 0,02281). Dessa maneira, foi realizado o pós-

teste Tukey HSD que revelou que o tempo de leitura das sentenças do tipo 1 foi

significativamente menor que aquele das sentenças do tipo 2 (p-valor = 0,000485).

Do mesmo modo, o tempo de leitura das sentenças do tipo 3 foi significativamente

menor que aquele das sentenças do tipo 4 (p-valor = 0,000985). Em relação aos

resultados do teste de agramaticalidade, que corresponde ao teste off-line, verificou-

se que a maioria dos informantes julgou as sentenças do tipo 2 como agramaticais.

Todos os outros tipos de sentenças foram julgados como gramaticais pela maioria

dos informantes. No entanto, a análise do tipo ANOVA, seguida do pós-teste Tukey

HSD, revelou que os informantes julgaram as sentenças do tipo 4, que apresentam

uma incompatibilidade de traços entre o advérbio e a morfologia do verbo, mais

lentamente do que as sentenças do tipo 3 (p-valor = 0,013972).

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  63 

Dessa maneira, os resultados obtidos no experimento foram satisfatórios,

sendo possível observar questões a respeito do processamento de estruturas ora

compatíveis, ora incompatíveis, pelos indivíduos normais. O experimento piloto

serviu para o aprimoramento das questões metodológicas envolvidas no

desenvolvimento do experimento pensado para esta tese. No próximo item, será

apresentado o segundo experimento piloto desenvolvido para esta tese.

3.1.2 Audição automonitorada

Com base nos resultados obtidos com o experimento piloto de leitura

automonitorada, foi desenvolvido um teste que também conjugava características de

um teste on-line e de um teste off-line, mas nesse novo experimento a parte on-line

era constituída de um teste de audição automonitorada. As sentenças eram divididas

da seguinte maneira:

Antigamente Rosa comprava adesivos. ?

1a parte 2a parte 3a parte 4a parte

O experimento foi aplicado em um indivíduo afásico de Broca e, durante a

aplicação, a responsável pela aplicação do teste observou que a medida on-line de

audição do segmento-alvo (3a parte) e a medida off-line do tempo de resposta (4a

parte) ficavam misturadas, uma vez que o paciente só apertava a tecla para

aparecer o ponto de interrogação e a tecla de decisão sobre a agramaticalidade da

sentença depois que ele já tinha refletido sobre a sentença. Assim, pôde-se chegar a

uma decisão final sobre o experimento desenvolvido para esta tese, que foi a

decisão de dividir o VP das sentenças (3a parte) e contabilizar o verbo como o

segmento-alvo do teste. A sentença seria apresentada da seguinte maneira:

Antigamente Rosa comprava adesivos. ?

1a parte 2a parte 3a parte 4a parte 5a parte

Dessa maneira, o indivíduo teria que apertar a tecla para que a última parte

da sentença fosse apresentada, e a medida do tempo de audição do verbo poderia

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  64 

ser contabilizada como uma medida on-line. No próximo item, será descrito o

experimento utilizado nesta tese.

3.2 Experimento

3.2.1 Tipo de teste

A fim de esclarecer se esses pacientes apresentam déficits somente no

processamento de tempo e aspecto ou se há perda do conhecimento sintático de

tempo e aspecto, foi desenvolvido um experimento que conjugava características de

um teste on-line e de um teste off-line. O primeiro consistia de um teste de audição

automonitorada e o segundo de um teste de agramaticalidade.

3.2.2 Desenho do teste

O teste era constituído de oitenta e quatro (84) sentenças, sendo quarenta e

duas (42) sentenças-alvo, e quarenta e duas (42) sentenças distratoras. As

sentenças-alvo variavam entre compatibilidade e incompatibilidade entre os traços

aspectuais / temporais expressos na morfologia do verbo e os traços expressos no

advérbio. Após a leitura de cada frase, o indivíduo tinha que julgar a gramaticalidade

da sentença lida. Apesar de habitualmente utilizar-se o padrão de dois terços (2/3)

de frases distratoras nos estudos de psicolinguística, foi utilizada somente metade

(1/2) das frases como distratoras neste trabalho, uma vez que o teste foi

desenvolvido para a aplicação em indivíduos com lesão cerebral que apresentam

um cansaço maior numa tarefa complexa como a do teste.

3.2.3 Teste

A partir do desenho já explicado no item anterior, foram selecionadas oitenta

e quatro (84) sentenças para o teste. Das quarenta e duas (42) sentenças-alvo, vinte

e quatro (24) correspondiam à parte aspectual do teste. Dessas vinte e quatro (24),

doze (12) sentenças eram formadas com o advérbio antigamente e o verbo variando

entre passado perfectivo e passado imperfectivo (seis de cada). As outras doze (12)

sentenças eram formadas com o advérbio ontem e o verbo variando entre passado

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perfectivo e passado imperfectivo (seis de cada). As dezoito (18) sentenças

restantes correspondiam à parte temporal34 do teste. Dessas dezoito (18), doze (12)

sentenças eram formadas com o advérbio atualmente e o verbo variando entre

presente e passado (seis de cada). As seis (6) sentenças restantes eram formadas

pelo advérbio antigamente e o verbo no presente. Essa diferença se deve ao fato de

que as sentenças com o advérbio antigamente com o verbo no passado já estavam

presentes na parte aspectual do verbo, e seriam utilizadas para a comparação com

as sentenças com o verbo no presente. Todas as sentenças receberam uma

codificação, de acordo com a combinação realizada entre os traços presentes no

advérbio e os traços presentes na morfologia verbal. Assim, a codificação II significa

que foi utilizado o advérbio com traço de Imperfectividade e o verbo também com

traço de Imperfectividade. A codificação IP significa que foi utilizado o advérbio com

traço de Imperfectividade e o verbo com traço de Perfectividade. A codificação PP

significa que foi utilizado um advérbio com traço de Perfectividade e o verbo também

com traço de Perfectividade. A condição PI significa que foi utilizado um advérbio

com traço de Perfectividade e um verbo com traço de Imperfectividade. A condição

HH significa que foi utilizado um advérbio com traço de tempo presente

(representado como Hoje) e um verbo também com traço de tempo presente

(representado como Hoje). A condição HA significa que foi utilizado um advérbio

com traço de tempo presente (representado como Hoje) e um verbo com traço de

tempo passado (representado como Antes). A codificação AH significa que foi

utilizado um advérbio com traço de tempo presente (representado por Antes) e um

verbo com traço de tempo passado (representado por Hoje)35.

Abaixo, estão exemplificados os sete (7) tipos de sentenças que foram

utilizadas nesse teste, com suas codificações.

34  Intitula‐se  essa  parte  de  temporal  pois  nesta  tese  assume‐se  a  proposta  de  Comrie (1976)  de  que  o  presente  é  um  tempo  com  caráter  imperfectivo,  e,  dessa maneira,  o aspecto imperfectivo é mantido nas frases, mudando‐se somente o tempo. 

35 A codificação AA não aparece por representar a mesma formação da condição II, isso é,  ela também significa que foi utilizado um advérbio com traço de imperfectividade  e um verbo também com traço de imperfectividade e, assim, as mesmas sentenças foram utilizadas para a comparação com as outras condições. 

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II. Antigamente Rosa comprava adesivos.

IP. Antigamente José assinou um contrato.

PP. Ontem Francisco instalou um chuveiro.

PI. Ontem Débora filmava casamentos.

HH. Atualmente Gilda desenha camisetas.

HA. Atualmente Raquel lanchava sanduíches.

AH. Antigamente Carmem costura uniformes.

Depois de ouvir a sentença, o indivíduo deveria decidir se a sentença ouvida

era natural ou estranha, sendo natural se ele julgasse a sentença gramatical, ou

estranha se ele julgasse a sentença agramatical. Todas as sentenças utilizadas no

teste encontram-se no anexo A. As sentenças distratoras serão explicadas no item

3.2.5 deste capítulo.

3.2.4 Variáveis controladas

3.2.4.1 Controle dos constituintes das sentenças

Pelo fato de esse experimento ser em parte on-line, era necessário um

controle rigoroso no tamanho das sentenças, pois somente assim seria possível

comparar os tempos de audição. Dessa maneira, das oitenta e quatro (84)

sentenças, setenta e duas (72) sentenças tinham quatorze (14) sílabas, e apenas as

formadas com o advérbio ontem continham doze (12) sílabas. Contudo, os

segmentos-alvo, que são os verbos das sentenças, tinham o mesmo número de

sílabas em todas as sentenças-alvo, três (3) sílabas. Além disso, por se tratar de um

experimento auditivo, também foi controlado o tempo de enunciação desses verbos.

Todos os verbos das sentenças tinham a duração de 700 milisegundos.

Todas as sentenças com o advérbio ontem tinham sujeitos com três sílabas.

Já as sentenças com os advérbios antigamente e atualmente tinham sujeitos com

duas sílabas.

Foram controlados também os complementos do verbo. Todos os

complementos tinham quatro (4) sílabas. Quando o verbo estava no passado

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perfectivo foram utilizados complementos de cardinalidade especificada36. Quando

os verbos estavam no passado imperfectivo e no presente foram utilizados

complementos de cardinalidade não especificada37. Esse padrão foi adotado em

função dos trabalhos de Lessa (2007), Estrêla (2007) e Sampaio (2007), que

encontraram uma correlação positiva entre os aspectos gramaticais perfectivo e

imperfectivo contínuo e o verbo de processo culminado38 e entre o aspecto

gramatical imperfectivo habitual e o verbo de atividade39 no PB.

3.2.4.2 Controle dos verbos

Ainda que em estudos anteriores (MARTINS, 2006, RODRIGUES, 2007)

tenha sido demonstrado que a conjugação verbal não é relevante em testes de

tempo e aspecto, foram selecionados somente verbos de primeira conjugação, de

modo a eliminar a possibilidade de uma eventual interferência da conjugação verbal

no desempenho dos indivíduos. Assim, foram selecionados somente verbos de

primeira conjugação devido ao grande número de verbos desse tipo no português do

Brasil e devido ao fato de que os verbos de primeira conjugação escolhidos para o

teste são verbos regulares o que permitiu que os verbos não tivessem somente o

mesmo número de sílabas, mas também a mesma desinência modo temporal

quando flexionados no presente, no pretérito perfeito e no pretérito imperfeito do

indicativo. Foram selecionados quarenta e dois (42) verbos diferentes para as

sentenças-alvo, todos verbos regulares e transitivos diretos. No que diz respeito ao

tipo de verbo, levando-se em conta a classificação de Vendler (1957), foram

36 A cardinalidade diz respeito à noção de quantificação do complemento verbal. Assim, complementos  de  cardinalidade  especificada  podem  ser  mensurados,  como  por exemplo: uma mesa, um chuveiro.  

37  Complementos  de  cardinalidade  não  especificada  são  os  que  não  podem  ser mensurados, como por exemplo: adesivos, casamentos. 

38 Os verbos de processo culminado, chamados de accomplishment por Vendler (1957), são aqueles que expressam eventos que têm um ponto final inerente e que são graduais, ou seja, associados a complementos de cardinalidade especificada. 

39 Os verbos de atividade são aqueles que expressam eventos dinâmicos que não têm um ponto  final  inerente  (Vendler,  op.cit.),  ou  seja,  associados  a  complementos  de cardinalidade não especificada. 

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utilizados apenas dois tipos nas sentenças-alvo: verbos de processo culminado e

verbos de atividade (cf. notas 38 e 39).

3.2.4.3 Controle dos sujeitos sintáticos

No experimento, foram utilizados oitenta e quatro (84) nomes diferentes,

sendo metade nomes de homens e metade nomes de mulheres.

Além das quarenta e duas (42) sentenças-alvo, foram desenvolvidas quarenta

e duas (42) sentenças distratoras, que serão explicadas no próximo item.

3.2.5 Sentenças distratoras

Foram elaboradas quarenta e duas (42) sentenças distratoras. As sentenças

distratoras tinham a seguinte estrutura básica:

Advérbio + Sujeito + Verbo + Sintagma preposicional

Para essas sentenças, foram utilizados os mesmos advérbios do teste:

antigamente, ontem e atualmente. Foram selecionados quarenta e dois (42) sujeitos

sintáticos diferentes, sendo vinte e quatro (21) nomes de homens e vinte e quatro

(21) nomes de mulheres. Além disso, foram selecionados quarenta e dois (42)

verbos diferentes. Esses verbos também eram diferentes dos utilizados nas

sentenças-alvo. Os traços temporais e aspectuais expressos na morfologia do verbo

eram sempre compatíveis com os traços expressos no advérbio. Por último, os

sintagmas preposicionais eram adjuntos ou complementos, sem no entanto ter sido

equilibrado o número de ocorrências de um e outro tipo de sintagma preposicional.

Esses sintagmas é que tornavam a sentença gramatical ou agramatical. As

sentenças agramaticais tinham uma preposição que não estava de acordo com o

sintagma preposicional da sentença.

Abaixo, estão exemplificados os três tipos de sentenças que foram utilizadas

como distratoras.

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1. Atualmente Mário trabalha no mercado.

2. Antigamente Breno viajava por carro.

3. Ontem Rebeca estudou na biblioteca.

As sentenças distratoras tinham o mesmo número de sílabas da sentenças-

alvo, isto é, quatorze (14) sílabas. Como explicado no item 3.2.2 deste capítulo, ao

final das sentenças, o indivíduo deveria responder se tinha achado a sentença

natural, se julgasse a sentença gramatical, ou estranha, se julgasse a sentença

agramatical. Assim, metade das sentenças distratoras do experimento era

gramatical, e a outra metade, agramatical. Essa divisão de

gramaticalidade/agramaticalidade das sentenças ocorria mais especificamente para

cada grupo de advérbio. Assim, das 14 sentenças distratoras que começam com

“Antigamente”, 7 eram gramaticais e 7 eram agramaticais. O mesmo foi feito para os

advérbios “ontem” e “atualmente”. Todas as sentenças distratoras utilizadas

encontram-se no anexo A. No próximo item, serão explicados os procedimentos de

gravação das sentenças do teste.

3.3 Composição do teste

Como explicado no item 3.2 deste capítulo, o experimento é um teste de

audição automonitorada, o que significa que as sentenças eram apresentadas

auditivamente. Assim, tornou-se necessária a gravação das sentenças para a

realização do experimento. Para isso, inicialmente, foi contratado um produtor

musical e, posteriormente, um locutor/dublador profissional. O produtor musical

contratado foi João Jacques. O locutor/dublador profissional contratado foi Ricardo

Schnetzer.

A gravação dos dados foi realizada pelo produtor, em um estúdio de áudio,

utilizando o programa pro tools 8.0 CS1 (Digidesing) utilizando uma interface

digi002. Os áudios foram gravados no formato AIFF com um sample rate de 44.1 khz

e em 24 bits. Posteriormente, foram convertidos para formato mp3 com bit rate de 96

kb/s pelo produtor responsável pela gravação.

Como no experimento as sentenças seriam apresentadas em quatro partes,

foi necessário o corte do áudio das sentenças. Para que a transição entre os

segmentos fosse feita de forma suave, o corte das sentenças foi feito em áreas de

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baixa amplitude de sinal. Além disso, foi feito um fade de 2 ms no início e no fim do

arquivo, para que não houvesse ruídos advindos da edição das sentenças.

A fim de que não houvesse nenhuma dificuldade de entendimento das

sentenças, foi utilizada uma caixa de som que amplificava o som das partes das

sentenças. O sinal digital do som da frase era convertido para um sinal analógico

pela interface de áudio (coreaudio) endereçado para os monitores de áudio.

O experimento desenvolvido para esta tese foi aplicado em indivíduos

afásicos. Contudo, o experimento foi, primeiramente, aplicado em um grupo-controle.

No próximo item, serão explicados os critérios de seleção desse grupo.

3.4 Seleção do grupo-controle

Um grupo-controle foi selecionado para a aplicação do teste para que fosse

possível a comparação dos resultados obtidos com esse grupo, com os resultados

obtidos pelos pacientes afásicos. O grupo-controle foi formado inicialmente por 30

indivíduos, mas, após análise de dois critérios,40 oito (8) indivíduos foram cortados,

ficando o grupo-controle com vinte e dois (22) indivíduos, dos quais quatorze (14)

mulheres e oito (8) homens. Todos os sujeitos tinham mais de quarenta (40) anos de

idade. Dos vinte e dois (22) indivíduos, três (3) tinham terceiro grau completo ou

incompleto, treze (13) tinham segundo grau completo ou incompleto, cinco (5)

tinham primeiro grau completo ou incompleto, e apenas um (1) não tinha nenhum

grau de escolaridade. Dos que tinham terceiro grau completo, nenhum tinha

graduação em Letras.

No próximo item, serão explicados os critérios de seleção dos pacientes

afásicos para a participação no estudo.

3.5 Seleção de pacientes

Como o objetivo desta tese é investigar o papel da área de Broca no

processamento de tempo e aspecto, foram selecionados dois (2) indivíduos com

lesão na área de Broca. Contudo, antes da seleção desses pacientes, o projeto

desta pesquisa foi submetido à apreciação de um Comitê de Ética em Pesquisa

40 Os critérios de exclusão do grupo controle serão especificados no capítulo 4. 

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  71 

(CEP) em atendimento à Resolução 196/1996 do Conselho Nacional de Saúde, de

10 de outubro de 1996 (BRASIL, 1996d). O projeto foi analisado pelo CEP da

Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil - SMSDC/RJ, tendo sido aprovado em

09 de agosto de 2010. O parecer de aprovação do projeto encontra-se no anexo B.

A seleção dos pacientes foi feita a partir de dois critérios: local da lesão e

perfil resultante da aplicação de teste de Boston. Um dos pacientes selecionados foi

diagnosticado pela pesquisadora. Esse paciente foi disponibilizado pelo Instituto

Municipal de Geriatria e Gerontologia Miguel Pedro. O outro paciente participante da

pesquisa foi diagnosticado pelo ambulatório de Fonoaudiologia do Curso de

Fonoaudiologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro que está alocado no

Instituto de Neurologia Deolindo Couto.

3.5.1 Local da lesão

Os pacientes apresentavam lesão no lobo frontal esquerdo, na área de Broca

e/ou adjacências, comprovada por tomografia computadorizada e/ou ressonância

magnética.

3.5.2 Aplicação do teste de Boston

A aplicação do teste de Boston, Boston Diagnostic Examinations of Aphasia

(GOODGLASS & KAPLAN, 2001), tinha como objetivo investigar e/ou caracterizar os

déficits linguísticos apresentados pelos indivíduos com lesão de hemisfério

esquerdo. Os pacientes foram classificados como afásicos de Broca.

3.6 Aplicação do teste Mini-mental

Além do teste de Boston, também foi aplicada uma versão adaptada para o

português do Brasil por Caramelli e Nitrini (2000) do Mini-exame do estado mental,

ou Mini-mental (FOLSTEIN, FOLSTEIN & MCHUGH, 1975). A aplicação do teste

Mini-mental tem o objetivo de investigar outros possíveis déficits cognitivos, além do

linguístico, decorrentes das lesões de hemisfério esquerdo.

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  72 

3.7 Procedimento

Os experimentos foram implementados no programa Psyscope, versão XB53,

em um computador Macintosh Macbook, OSX versão 10.5.8, com um processador 2

GHz Intel Core 2 Duo, com 1Gb de memória RAM, de treze, três (13,3) polegadas.

Os participantes sentavam-se em frente à tela do computador e liam as instruções

do experimento, com a ajuda do responsável pelo experimento. Nessas instruções,

os participantes foram informados de que seriam apresentados a frases de maneira

não cumulativa, isto é, cada nova parte da frase substituía a anterior, e que

deveriam ouvi-las de maneira natural. Para que cada nova parte da frase

aparecesse, era preciso pressionar a barra de espaço do teclado, devidamente

identificada com uma instrução onde estava escrito “nova”. Depois da sequência de

quatro partes da frase, quando a barra de espaço era apertada, um ponto de

interrogação aparecia na tela. Os participantes foram instruídos a apertar, no teclado

do computador, a tecla com a cor verde e a letra “N” se decidissem que a sentença

era natural, e a apertar a tecla com a cor vermelha e a letra “E” se decidissem que a

sentença era estranha. Depois de ler as instruções, seis (6) sentenças de prática

eram apresentadas aos participantes de modo a habituá-los com o tipo de

apresentação do teste. O responsável pelo experimento estava presente durante a

leitura das instruções e durante a parte de prática do teste. Depois dos conjuntos de

prática, aparecia novamente uma instrução na tela do computador, retomando e

reforçando os pontos principais para uma eficiente realização do teste. Nesse

momento, o responsável pelo experimento deixava o informante sozinho na sala

para a realização do teste41, localizada na Faculdade de Letras da UFRJ, onde

funciona o laboratório do grupo de pesquisa de Biologia da Linguagem. No caso dos

pacientes, os testes foram aplicados nas instituições nas quais eles recebiam

tratamento. As instituições forneceram uma sala isolada, com a infraestrutura

necessária para a aplicação dos testes. O computador portátil era de propriedade da

pesquisadora. As sentenças experimentais e distratoras foram apresentadas de

forma aleatória.

41 Somente o paciente I. não permaneceu sozinho na sala de aplicação do teste, devido a infraestrutura do local de aplicação. 

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  73 

3.8 Análise dos dados

O programa utilizado para aplicar os testes nos participantes da pesquisa

fornece o tempo de audição das sentenças apresentadas a eles, além do tempo de

resposta dos indivíduos ao julgarem a agramaticalidade das sentenças. Desses

tempos, foram selecionados aqueles que correspondiam à audição do segmento-

alvo e do tempo de resposta. A organização dos dados obtidos com a aplicação do

teste e o tipo de análise estatística realizada foram diferentes para o grupo controle

e para os pacientes, e serão explicados nas próximas seções.

3.8.1 Grupo controle

3.8.1.1 Organização dos dados

Para que os dados pudessem ser analisados estatisticamente era necessário

que fossem retirados da análise os tempos e os indivíduos desviantes. Assim, foram

estabelecidos critérios de exclusão dos tempos desviantes e, consequentemente,

dos indivíduos que apresentaram esses tempos.

O primeiro critério de exclusão de indivíduos do grupo-controle foi a

quantidade de erros no julgamento da agramaticalidade das sentenças distratoras.

Foram excluídos do grupo-controle todos os indivíduos que tiveram mais que 14%

de erros no julgamento das sentenças. Esse critério foi baseado na ideia de que

erros até essa porcentagem são considerados erros de desempenho, como proposto

por Harris e Wexler (1996). Assim, sete (7) indivíduos foram excluídos do grupo

segundo esse critério.

No que diz respeito aos tempos de audição e resposta, foram excluídos os

valores aberrantes, ou seja, todos os tempos de leitura acima ou abaixo de três

desvios-padrão em relação à média.

Para cada um dos informantes foram feitas sete médias, correspondentes às

condições “II”, “IP”, “PP”, “PI”, “HH”, “HA” e “AH”, uma para cada condição, como

pode ser observado no quadro a seguir:

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  74 

Indivíduo

(S.) Condição Tempo

Indivíduo

(S.) Condição Tempo

Indivíduo

(S.) Condição Tempo

S. II1 1091 S. IP1 1699 S. PP1 939

S. II2 1275 S. IP2 1010 S. PP2 987

S. II3 1034 S. IP3 1236 S. PP3 1019

S. II4 938 S. IP4 1403 S. PP4 1315

S. II5 1259 S. IP5 978 S. PP5 1042

S. II6 1235 S. IP6 1051 S. PP6 898

média II 1138 média IP 1229 média PP 1033

Quadro 2 – Exemplo do cálculo de médias: cálculo da média de tempo de audição, para cada uma das condições experimentais (“II”, “IP” e “PP”) para um mesmo indivíduo (ex. “S.”).

Cada vez que um indivíduo teve até dois dos tempos excluídos, a média foi

feita considerando os tempos restantes da condição. Contudo, se o indivíduo teve

mais de dois tempos excluídos, a média não foi feita, ficando esse sujeito fora da

análise, como exemplificado no quadro abaixo:

Quadro 3 – Exemplo do cálculo de médias para valores ausentes: cálculo da média de tempo de leitura considerando os seguintes casos: (1) quando somente um dos tempos de audição foi excluído (ex. “I.”); (2) quando mais de três tempos de audição foram excluídos (ex. “J.”). Nota-se que no último caso a média foi excluída.

A partir dessa exclusão de valores, foi estabelecido um segundo critério de

exclusão do grupo-controle. Se um indivíduo não teve sua média realizada mais de

duas vezes, em qualquer condição, ele foi excluído do grupo-controle. Assim, mais

um sujeito foi excluído do grupo-controle, permanecendo um total de vinte e dois

(22) indivíduos.

Indivíduo

(I.) Condição Tempo

Indivíduo

(J.)

Condição Tempo

I. HA1 1547 J. PI1 3102

I. HA2 1267 J. PI2 2678

I. HA3 1283 J. PI3 2459

I. HA4 2478 J. PI4 4236

I. HA5 1203 J. PI5 3115

I. HA6 1754 J. PI6 1947

média HA 1410 média PI ______

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  75 

3.8.1.2 Análise estatística

Os dados foram analisados utilizando-se a análise de variância do tipo

ANOVA. Foi feita uma ANOVA three way com dois fatores independentes: sexo, com

dois níveis (feminino X masculino) e grau de escolaridade, com quatro níveis (1o, 2o,

3o e 4o); e um fator dependente, com sete níveis (condições experimentais: “II, IP,

PP, PI, HH, HA, AH”). Essa análise foi efetuada em relação a duas partes do teste:

no segmento-alvo e no tempo de resposta. As análises que revelaram diferença

estatisticamente significativa ensejaram uma análise pós-teste. Assim, foi feito um

pós-teste, o Fisher LSD. Toda a análise estatística foi feita em um programa

estatístico: o Statistics versão 7.

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  76 

Quadro 4 – Organização dos dados para análise estatística: as colunas 1 e 2 correspondem aos fatores independentes, e as colunas de três a sete correspondem às condições experimentais, em relação ao segmento-alvo.

Sexo Escolaridade AH HA HH II PP IP PI

M 2o 1180,333 976,3333 1131,2

1138,666 1033,333 1229,5 1094

M 2o 1865,5 1755,833 1518,833

2006,666 1134,833 2329,2 2507

M 1o 1374 1477,333 1709,5

1297,166 1242,833 1731 1784,333

M 2o 1378,833 1298,833 1282,666

1338,833 1375 1356,333 1277,166

M 2o 1657,166 1331,8 1545,166

1236,333 1513,666 1964,166 1457,333

M 2o 2123 2205,833 1772,5

1455,166 1409,666 1896,666 1534,5

M 2o 2206,666 1989,333 1777,5

1973,333 1280 2073,166 1694,5

M 2o 1024,166 953,5 1179,5

1007 1100,166 1159,833 989,6

M 3o 1194,5 1207 1177,333

1033,33 1226,476 1449,333 1169,5

M 3o 1061,833 1162,166 1130,166

1039,333 1150,166 1351,333 991,1666

M 2o 963,1666 1176,5 1063,333

1067,166 1144,5 1115,5 984,6666

M 4 (0) 1058,5 1130,666 1160,5

1146 1235,5 1228,6 1127

M 2o 1121,5 1041,5 896,1666

865 938,6666 997,5238 973,6666

M 1o 1453,5 1430,666 1621,5

1664,166 1385,833 1474,666 1491,833

H 1o 1333,5 1069,5 985,6666

1422,833 1005,5 1197,5 1353,5

H 1o 1337,666 1305,833 1283,333

1261,833 1240,666 1589,666 1243,333

H 1o 2382 2044,125 1734,5

1762,666 1592 1974,5 2026,6

H 2o 1605,5 1100 1092,2

1137,5 1371 1414,2 1021,333

H 2o 1051 1070 1192,833

1148,83 1054,16 1083,333 1083,16

H 3o 954,3333 980,1666 1010,833

1053,16 950,833 1133,166 1034,33

H 2o 1442,5 1532 1450,666

1298,33 1133,5 1423,833 1539,66

H 2o 1100,833 1342,833 1126,833

1133,83 1168,66 1413,666 1412,66

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  77 

3.8.2 Afásicos de Broca

3.8.2.1 Organização dos dados

Para que os dados dos pacientes afásicos pudessem ser analisados

estatisticamente era necessário que fossem retirados da análise os tempos

desviantes. Assim, foram estabelecidos dois critérios de exclusão dos tempos

desviantes.

O primeiro critério de exclusão de tempos de audição e resposta foi o de

tempo máximo de 10 segundos. Levando em consideração os tempos dos

indivíduos sem patologia e com patologia, o tempo de 10 segundos é muito superior,

o que parece demonstrar que ou o indivíduo não estava prestando atenção ou teve

um problema específico em algumas sentenças, o que em ambos os casos não

parece relevante para a análise estatística. Posteriormente, foram excluídos os

valores aberrantes, ou seja, todos os tempos de leitura acima ou abaixo de três

desvios-padrão em relação à média.

Para cada um dos informantes foram feitas sete médias, correspondentes às

condições “II”, “IP”, “PP”, “PI”, “HH”, “HA” e “AH”, uma para cada condição, como

pode ser observado no quadro a seguir:

Indivíduo

(S.) Condição Tempo

Indivíduo

(S.) Condição Tempo

Indivíduo

(S.) Condição Tempo

S. II1 1172 S. IP1 971 S. PP1 923

S. II2 1499 S. IP2 1571 S. PP2 1451

S. II3 2028 S. IP3 1267 S. PP3 1572

S. II4 1555 S. IP4 1860 S. PP4 1163

S. II5 826 S. IP5 1811 S. PP5 1859

S. II6 1380 S. IP6 1402 S. PP6 1331

média II 1410 média IP 1480 média PP 1383

Quadro 5 – Exemplo do cálculo de médias para afásicos de Broca: cálculo da média de tempo de audição, para cada uma das condições experimentais (“II”, “IP” e “PP”) para um mesmo indivíduo (ex. “S.”).

Cada vez que um indivíduo teve até dois dos tempos excluídos, a média foi

feita considerando os quatro tempos restantes da condição, como exemplificado no

quadro abaixo:

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  78 

Quadro 6 – Exemplo do cálculo de médias para valores ausentes para afásicos de Broca: cálculo da média de tempo de leitura quando somente um dos tempos de audição foi excluído (ex. “I.”).

A partir dos critérios estabelecidos para exclusão da análise, nenhum dos

indivíduos afásicos de Broca foi excluído, permanecendo, assim, dois sujeitos

afásicos de Broca.

3.8.2.2 Análise estatística

Para a realização da análise estatística, as médias dos pacientes afásicos

para cada uma das condições experimentais – “II, IP, PP, PI HH, HA, AH” – foi

comparada em relação ao grupo controle. Essas condições foram analisadas em

relação a duas partes do teste: o segmento-alvo e o tempo de resposta. Os dados

foram analisados utilizando-se um teste T single sample (amostra simples), também

utilizando-se o statistics.

No próximo capítulo, serão apresentados os resultados obtidos com a

aplicação do teste e a discussão desses resultados.

Indivíduo

(I.) Condição Tempo

I. AH1 2111

I. AH2 13715

I. AH3 3887

I. AH4 1951

I. AH5 1695

I. AH6 6383

média AH 3205

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  79 

Capítulo 4 Resultados e discussão

O modelo de teste apresentado no capítulo anterior foi desenvolvido para esta

tese com o objetivo de investigar o papel da área de Broca no processamento de

tempo e aspecto olhando para o modo como os informantes lidam com a

compatibilidade/incompatibilidade entre os traços aspectuais/temporais expressos

na morfologia do verbo e os traços expressos no advérbio. Busca-se, assim, um

melhor entendimento sobre a representação mental da sentença.

Como explicado no capítulo anterior, para que os dados pudessem ser

analisados, as sentenças receberam codificações. Essas codificações dizem

respeito à formação das sentenças. Assim, a codificação II significa que foi utilizado

o advérbio com traço de Imperfectividade e o verbo também com traço de

Imperfectividade. A codificação IP significa que foi utilizado o advérbio com traço de

Imperfectividade e o verbo com traço de Perfectividade. A codificação PP significa

que foi utilizado um advérbio com traço de Perfectividade e o verbo também com

traço de Perfectividade. A condição PI significa que foi utilizado um advérbio com

traço de Perfectividade e um verbo com traço de Imperfectividade. A condição HH

significa que foi utilizado um advérbio com traço de tempo presente (representado

como Hoje) e um verbo também com traço de tempo presente (representado como

Hoje). A condição HA significa que foi utilizado um advérbio com traço de tempo

presente (representado como Hoje) e um verbo com traço de tempo passado

(representado como Antes). A codificação AH significa que foi utilizado um advérbio

com traço de tempo passado (representado por Antes) e um verbo com traço de

tempo presente (representado por Hoje). As codificações podem ser observadas nos

exemplos abaixo:

II. Antigamente Rosa comprava adesivos.

IP. Antigamente José assinou um contrato.

PP. Ontem Francisco instalou um chuveiro.

PI. Ontem Débora filmava casamentos.

HH. Atualmente Gilda desenha camisetas.

HA. Atualmente Raquel lanchava sanduíches.

AH. Antigamente Carmem costura uniformes.

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  80 

Os resultados apresentados neste capítulo também foram divididos em dois

grupos. Primeiramente, serão apresentados os resultados obtidos com o grupo

controle, e, em seguida, os resultados obtidos com os afásicos. Este capítulo

contém, ainda, uma análise comparativa entre eles e a discussão dos resultados.

4.1 Grupo controle

4.1.1 Resultados das análises estatísticas das variáveis independentes

No que diz respeito à análise dos fatores independentes, não foi encontrada

diferença estatisticamente significativa para a variável sexo nem em relação ao

segmento-alvo (efeito principal F(1, 20) = 0,17950, p-valor42 = 0,67633), nem em

relação ao tempo de resposta (efeito principal F(1, 20) = 1,2915, p-valor = 0,26921).

Também não foi encontrada diferença estatisticamente significativa para a variável

grau de escolaridade nem em relação ao tempo de audição do segmento-alvo (efeito

principal F(3, 18) = 1,2004, p-valor = 0,33793), nem em relação ao tempo de

resposta do teste de agramaticalidade (efeito principal F(3, 18) = 1,8723, p-valor =

0,17047). As análises podem ser observadas nos gráficos abaixo:

42 Para um  teste de hipóteses, determina‐se a probabilidade máxima de aceitar o erro tipo  I  (é  o  erro  ao  rejeitar  uma  hipótese  nula  quando  essa  é  verdadeira).  Essa probabilidade  máxima  é  chamada  de  nível  de  significância,  e  pode  ser  estipulada  de acordo  com  o  pesquisador.  Em  geral,  estipula‐se  um  nível  de  5%.  O  valor  da probabilidade de se obter o efeito observado, dado que a hipótese nula é verdadeira, é chamado  de  p‐valor.  Se  o  valor  do  p‐valor  for  menor  que  o  nível  de  significância estipulado, assume‐se o erro tipo I e rejeita‐se a hipótese nula. Definição disponível em:  http://www.obid.senad.gov.br/portais/OBID/conteudo/index.php?id_conteudo=11443 

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  81 

Gráfico 1 – Média e intervalo de confiança para a variável “sexo” em relação ao tempo de audição do segmento-alvo.

Gráfico 2 – Média e intervalo de confiança para a variável “sexo” em relação ao tempo de resposta.

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Gráfico 3 – Média e intervalo de confiança para a variável “grau de escolaridade” em relação ao tempo de audição do segmento-alvo.

Gráfico 4 – Média e intervalo de confiança para a variável “grau de escolaridade” em relação ao tempo de resposta.

4.1.2 Resultados da análise estatísticas do tempo de audição do

segmento-alvo

Como descrito no capítulo 3, o segmento-alvo investigado era o verbo das

sentenças, que era ora compatível ora incompatível com os traços

aspectuais/temporais expressos no advérbio.

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  83 

No que diz respeito às condições experimentais, foi encontrada diferença

estatisticamente significativa entre as sete (7) condições (efeito principal F(6,126) =

5,1284, p-valor = 0,00010). Assim, foi realizada uma análise pós-teste, do tipo

Fisher LSD, com o objetivo de investigar onde estavam as diferenças.

Na análise do tipo Fisher LSD, a primeira diferença encontrada foi em relação

ao tempo de audição do verbo entre as condições “II e IP” (p-valor = 0,000598). A

segunda diferença encontrada foi em relação ao tempo de audição do verbo entre as

condições “PP“” e “PI” (p-valor = 0,008675). A terceira diferença encontrada foi em

relação ao tempo de audição do verbo entre as condições “II e AH” (p-valor =

0,042748). Contudo, não foi encontrada diferença em relação ao tempo de audição

do verbo entre as condições “HH” e HA” (p-valor = 0,526687).

Em relação às sentenças consideradas gramaticais, não foram encontradas

diferenças estatisticamente significativas em relação ao tempo de audição do verbo

das condições “PP e HH” (p-valor = 0,066391), nem entre as condições “HH e II” (p-valor = 0, 760537), e também não foi encontrada diferença entre as condições “II e

PP” (p-valor = 0,124517).

Em relação às condições consideradas como sentenças agramaticais, foram

encontradas diferenças estatisticamente significativas na comparação entre “IP e PI”

(p-valor = 0,017781), e “IP e HA” (p-valor = 0,803153).

Em quatro comparações, não foram encontradas diferenças estatisticamente

significativas: na comparação entre “IP e AH” (p-valor = 0,142797 ), entre “PI e AH”

(p-valor = 0,355702), entre “PI e HA” (p-valor = 0,857733) e entre “HA e AH” (p-

valor = 0,270566). Todas as análises acima descritas podem ser observadas no

gráfico abaixo.

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  84 

Gráfico 5 – Médias e intervalos de confiança para as condições “II, IP, PP, PI, HH, HA, AH” em relação ao tempo de audição do segmento-alvo.

4.1.3 Resultado da análise estatística dos tempos de resposta

Além da análise do segmento-alvo, foi realizada a análise estatística dos

tempos de resposta dos indivíduos, isto é, do tempo que eles demoraram para

decidir se a sentença ouvida era “natural” ou “estranha”43. Não foram encontradas

diferenças estatisticamente significativas entre as condições experimentais (“II, IP,

PP, PI HH, HA, AH”) em relação aos tempos de resposta (efeito principal F (6, 126)

= 0,81489, p-valor = 0,56029). Os resultados da análise podem ser observados

através do gráfico:

43  Tomando‐se  como  tempo  de  decisão  o  tempo  entre  o  aparecimento  do  ponto  de interrogação, no final da sentença, e o apertar do botão pelo sujeito. 

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  85 

Gráfico 6 – Médias e intervalos de confiança para as condições “II, IP, PP, PI, HH, HA, AH” em relação ao tempo de resposta.

4.1.4 Resultados do teste de julgamento de agramaticalidade

Como explicado no capítulo 3, o teste era formado por uma tarefa on-line e

por uma tarefa off-line. No que diz respeito à parte off-line do teste, foi observado o

julgamento da agramaticalidade das sentenças pelos indivíduos. Esse julgamento foi

contabilizado de duas maneiras: a primeira em relação a cada indivíduo, e a

segunda em relação ao número total de sentenças.

Para a contabilização do julgamento em relação a cada indivíduo, foram

consideradas as respostas de cada indivíduo em relação a cada uma das condições.

Os resultados encontrados estão organizados nos quadros abaixo:

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Condição II PP HH

Indivíduo N E N E N E

1 6 - 6 - 5 1

2 6 - 6 - 6 -

3 5 1 6 - 6 -

4 3 3 6 - 6 -

5 6 - 6 - 6 -

6 5 1 6 - 6 -

7 6 - 6 - 6 -

8 6 - 6 - 5 1

9 5 1 6 - 5 1

10 4 2 6 - 6 -

11 6 - 5 1 6 -

12 6 - 6 - 6 -

13 5 1 6 - 6 -

14 5 1 6 - 6 -

15 6 - 6 - 4 2

16 6 - 6 - 6 -

17 6 - 6 - 6 -

18 6 - 5 1 6 -

19 6 - 4 2 5 1

20 6 - 6 - 5 1

21 6 - 6 - 4 2

22 6 - 6 - 5 1

Quadro 7 – Julgamento de agramaticalidade por indivíduo para sentenças gramaticais: organização dos dados referentes à tarefa de julgamento de agramaticalidade em relação a cada indivíduo, para as sentenças gramaticais. A primeira coluna é referente às condições testadas e aos indivíduos. A segunda, a terceira e a quarta colunas dizem respeito às condições gramaticais do teste, e são subdivididas em duas outras colunas, uma “N” de natural e a outra “E” de estranha.

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  87 

Condição IP PI AH HA

Indivíduo N E N E N E N E

1 3 3 5 1 4 2 5 1

2 - 6 3 3 - 6 - 6

3 1 5 - 6 - 6 - 6

4 1 5 1 5 - 6 - 6

5 1 5 2 4 1 5 3 3

6 1 5 4 2 - 6 4 2

7 2 4 1 5 - 6 2 4

8 - 6 5 1 - 6 - 6

9 - 6 - 6 - 6 - 6

10 - 6 1 5 - 6 - 6

11 4 2 6 - - 6 1 5

12 6 - 5 1 1 5 4 2

13 3 3 4 2 - 6 3 3

14 3 3 5 1 - 6 6 -

15 2 4 4 2 3 3 5 1

16 - 4 2 - 6 1 5

17 1 5 5 1 2 4 3 3

18 4 2 5 1 6 - 5 1

19 4 2 5 1 1 5 3 3

20 2 4 2 4 1 5 3 3

21 5 1 6 - 6 - 6 -

22 6 - 6 - 5 1 6 -

Quadro 8 – Julgamento de agramaticalidade por indivíduo para sentenças agramaticais: organização dos dados referentes à tarefa de julgamento de agramaticalidade em relação a cada indivíduo, para as sentenças gramaticais. A primeira coluna é referente às condições testadas e aos indivíduos. A segunda, terceira e quarta colunas dizem respeito às condições agramaticais do teste, e são subdivididas em duas outras colunas, uma “N” de natural e a outra “E” de estranha.

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  88 

Para a contabilização do julgamento em relação ao número total de

sentenças, foi levado em consideração o número de sentenças julgadas como

“naturais” e o número de sentenças julgadas como “estranhas”. O número total de

sentenças julgadas por todos os participantes do teste é de 132 sentenças-alvo por

condição. Os resultados encontrados estão representados no quadro a seguir:

Condição Natural Estranha

II 122 10

PP 128 4

HH 122 10

Quadro 9 – Julgamento da agramaticalidade por número de sentenças para sentenças gramaticais: organização dos dados referentes à tarefa de julgamento de agramaticalidade em relação ao número total de sentenças do teste, para as sentenças gramaticais. A primeira coluna é referente às condições testadas, a segunda ao julgamento das sentenças como “natural”, e a terceira ao julgamento das sentenças como “estranha”.

Condição Natural Estranha

IP 49 83

PI 79 53

HA 60 72

AH 30 102

Quadro 10 – Julgamento da agramaticalidade por número de sentenças para sentenças agramaticais: organização dos dados referentes à tarefa de julgamento de agramaticalidade em relação ao número total de sentenças do teste, para as sentenças agramaticais. A primeira coluna é referente às condições testadas, a segunda ao julgamento das sentenças como “natural”, e a terceira ao julgamento das sentenças como “estranha”.

Na próxima seção, serão organizados e analisados os dados referentes à

aplicação do teste em indivíduos afásicos de Broca.

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  89 

4.2 Afásicos de Broca

4.2.1 Resultados da análise estatística do tempo de audição do

segmento-alvo

Em relação ao primeiro paciente, S, foram encontradas diferenças

estatisticamente significativas em quatro das sete condições comparadas. Os

tempos de audição das condições “HA (p-valor = 0,000632), HH (p-valor = 0,002315), PP (p-valor = 0,000169) e PI (p-valor = 0,002735)” foram

significativamente maiores para o afásico S em relação ao grupo-controle. No

entanto, não houve diferença estatisticamente significativa para as condições “AH

(p-valor = 0,842357), II (p-valor = 0,094824) e IP (p-valor = 0,987706)”.

Em relação ao segundo paciente, I, foram encontradas diferenças

estatisticamente significativas em todas as condições comparadas, a saber: “HA (p-valor = 0,000003), HH (p-valor = 0,000005), PP (p-valor = 0,000000), PI (p-valor = 0,000046), AH (p-valor = 0,000086), II (p-valor = 0,000006) e IP (p-valor = 0,002931)”.

4.2.2 Resultados da análise estatística dos tempos de resposta

Em relação a ambos os pacientes, foram encontradas diferenças

estatisticamente significativas em todas as condições comparadas (p-valor =

0,000000).

4.2.3 Resultados do teste de julgamento de agramaticalidade

O julgamento de agramaticalidade das sentenças também foi observado em

relação aos pacientes afásicos. Esse julgamento só foi contabilizado de uma

maneira. Isso porque decidiu-se nesta tese pela realização de dois estudos de caso

em relação aos afásicos, e não juntá-los em um grupo. Assim, a contabilização do

julgamento em relação a cada afásico é igual àquela em relação ao número total de

sentenças por afásico. Os resultados encontrados estão organizados nos quadros a

seguir:

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  90 

Condição Paciente S Paciente I

N E N E

II 6 - 4 2

PP 6 - 4 2

HH 6 - 4 2

Quadro 11 – Julgamento da agramaticalidade por número de sentenças por afásico para sentenças gramaticais: organização dos dados referentes à tarefa de julgamento de agramaticalidade em relação ao número de sentenças por afásico para sentenças gramaticais. A primeira coluna é referente às condições testadas, a segunda ao julgamento das sentenças como “natural”, e a terceira ao julgamento das sentenças como “estranha”.

Condição Paciente S Paciente I

N E N E

IP 6 - 4 2

PI 6 - 2 4

HA 6 - 1 5

AH 6 - 5 1

Quadro 12 – Julgamento da agramaticalidade por número de sentenças por afásico para sentenças agramaticais: organização dos dados referentes à tarefa de julgamento de agramaticalidade em relação ao número de sentenças por afásico para sentenças agramaticais. A primeira coluna é referente às condições testadas, a segunda ao julgamento das sentenças como “natural”, e a terceira ao julgamento das sentenças como “estranha”.

Nas seções 4.1 e 4.2 deste capítulo foram apresentados os dados e as

análises realizadas para o grupo-controle e para os afásicos de Broca. Na próxima

seção, serão feitas comparações entre os resultados desses dois grupos e a

discussão sobre essas comparações.

4.3 Análises comparativas e discussão

Nesta seção, será realizada a comparação das análises estatísticas e

quantitativas feitas para o grupo-controle e para os afásicos de Broca. Essa

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  91 

comparação permitirá uma melhor compreensão sobre o papel da área de Broca no

processamento de tempo e aspecto e, com isso, um melhor entendimento sobre a

representação mental da linguagem. Dessa maneira, serão realizadas diversas

comparações entre os dados encontrados para os indivíduos-controle e os

indivíduos com patologia.

A primeira comparação diz respeito às médias dos tempos de audição do

segmento-alvo do grupo-controle confrontadas com as médias dos pacientes

afásicos de Broca. O primeiro gráfico diz respeito às médias do paciente S..

Gráfico 7 – Análise das condições “II, IP, PP, PI, HH, HA, AH”, em relação ao segmento-alvo, médias do grupo controle e do afásico S.: médias e intervalos de confiança para as condições “II, IP, PP, PI, HH, HA, AH”, em relação ao tempo de audição do segmento-alvo, do grupo controle e do paciente S..

O paciente S. teve um comportamento compatível com o comportamento do

grupo-controle. Nas três primeiras condições, não houve diferença estatisticamente

significativa entre os resultados desse paciente e os do grupo-controle. Nas outras

quatro condições, porém, houve diferença significativa em relação ao tempo de

audição do segmento-alvo. Contudo, não houve diferença no comportamento do

afásico em comparação com o grupo-controle. As condições que apresentaram

maior tempo para o grupo-controle também apresentaram maior tempo para o

paciente S.. A diferença está no fato de que, para o paciente S., esse tempo está

ainda mais aumentado. O mesmo não acontece para o paciente I., como pode ser

observado no gráfico abaixo:

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  92 

Gráfico 8 – Análise das condições “II, IP, PP, PI, HH, HA, AH”, em relação ao segmento-alvo, médias do grupo controle e do afásico I.: médias e intervalos de confiança para as condições “II, IP, PP, PI, HH, HA, AH”, em relação ao tempo de audição do segmento-alvo do grupo-controle e do paciente I..

O afásico I. tem um comportamento diferente do grupo-controle e diferente do

paciente S. A primeira diferença está no tempo de audição das condições “IP” e

“AH”. Enquanto o grupo-controle e o paciente S. tiveram tempos de audição maiores

para a condição “IP”, o paciente I. teve tempos de audição maiores para a condição

“AH”. O mesmo pode ser observado na comparação da condição “PP” com a

condição “PI”. O grupo-controle e o paciente S. tiveram tempos de audição maiores

para a condição “PI”, enquanto o paciente I. teve tempos aumentados para a

condição “PP”.

A segunda comparação diz respeito às médias dos tempos de resposta do

grupo-controle confrontadas com as médias dos tempos de resposta dos afásicos de

Broca. O primeiro gráfico diz respeito às médias do paciente S.:

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  93 

Gráfico 9 – Análise das condições “II, IP, PP, PI, HH, HA, AH”, em relação aos tempos de resposta, médias do grupo-controle e do paciente S.: médias e intervalos de confiança para as condições “II, IP, PP, PI, HH, HA, AH”, em relação ao tempo de resposta, do grupo-controle e do paciente S..

Como pode ser observado no gráfico acima, houve diferença estatisticamente

significativa para todas as condições, o que aponta para uma dificuldade na tomada

de decisão do paciente S. sobre a gramaticalidade ou não da sentença. O mesmo

acontece para o paciente I., como pode ser observado no gráfico que segue:

Gráfico 10 –Análise das condições “II, IP, PP, PI, HH, HA, AH”, em relação aos tempos de resposta, médias do grupo-controle e do paciente I.: médias e intervalos de confiança para as condições “II, IP, PP, PI, HH, HA, AH”, em relação ao tempo de resposta, do grupo-controle e do paciente I..

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  94 

Os dados encontrados para o paciente I. revelam que ele teve ainda mais

dificuldade na tomada de decisão sobre a gramaticalidade ou não da sentença, com

todos os tempos aumentados em relação ao grupo-controle e praticamente todos os

tempos aumentados em relação ao paciente S. (a única exceção é o tempo da

condição “HH”). As diferenças descritas podem ser observadas no gráfico abaixo:

Gráfico 11 – Análise das condições “II, IP, PP, PI, HH, HA, AH”, em relação aos tempos de resposta, médias do grupo-controle, do paciente S. e do paciente I.: médias e intervalos de confiança para as condições “II, IP, PP, PI, HH, HA, AH”, em relação ao tempo de resposta, do grupo-controle, do paciente S. e do paciente I..

A terceira comparação diz respeito ao julgamento de agramaticalidade das

sentenças agramaticais. Segundo alguns estudos, como o de Grodzinsky e Finkel

(1998), os afásicos podem apresentar uma superaceitação ou superrejeição das

sentenças em testes de julgamento de gramaticalidade devido ao seu déficit

gramatical. Por isso, a comparação do julgamento das sentenças agramaticais pode

ser mais reveladora que a das sentenças gramaticais. O quadro abaixo diz respeito

à comparação do grupo-controle com o paciente S..

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  95 

Condição G. Controle Paciente S

N E N E

IP 37% 63% 100% -

PI 60% 40% 100% -

HA 45% 55% 100% -

AH 23% 77% 100% -

Quadro 13 – Julgamento da agramaticalidade em porcentagem para sentenças agramaticais: organização dos dados em porcentagem referentes à tarefa de julgamento de agramaticalidade em relação ao número de sentenças por todos os indivíduos para sentenças agramaticais. A primeira coluna é referente ao grupo-controle; a segunda, ao paciente “S.”.

O paciente S. teve um comportamento bem diferente daquele apresentado

pelo grupo-controle. Observando-se as respostas do grupo-controle para o

julgamento das sentenças, percebe-se que os indivíduos-controle tiveram mais

dificuldade em julgar as sentenças agramaticais como agramaticais do que as

gramaticais como gramaticais. Esse tipo de comportamento também parece ser

recorrente, por se tratar de um teste, e não de uma situação natural. Em situação de

teste, os indivíduos sem patologia parecem aceitar mais sentenças e, assim, julgá-

las como naturais. Essa tendência foi muito maior para o paciente S., que julgou

todas as sentenças como gramaticais. Não foi, no entanto, o que aconteceu com o

paciente I., como pode ser observado no quadro abaixo:

Condição G. Controle Paciente I

N E N E

IP 37% 63% 66% 34%

PI 60% 40% 34% 66%

HA 45% 55% 17% 83%

AH 23% 77% 83% 17%

Quadro 14 – Julgamento da agramaticalidade em porcentagem para sentenças agramaticais: organização dos dados em porcentagem referentes à tarefa de julgamento de agramaticalidade em relação ao número de sentenças por todos os indivíduos para sentenças agramaticais. A primeira coluna é referente ao grupo-controle; a segunda, ao paciente “I”.

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  96 

O paciente I., mais uma vez, teve um comportamento bem diferente daquele

apresentado pelo grupo-controle. Em três das condições, o paciente I. teve um

comportamento exatamente oposto àquele apresentado pelo grupo-controle. Isso

aconteceu nas condições “IP”, “PI” e “AH”. Para as condições “IP” e “AH”, o paciente

I. julgou a maioria como natural, enquanto o grupo-controle julgou a maioria como

estranha. No caso da condição “PI”, aconteceu o oposto. Enquanto o paciente I.

julgou a maioria como estranha, o grupo-controle julgou a maioria como natural.

Além disso, na condição “HA” o paciente I. teve um índice de rejeição maior (83%)

que o do grupo-controle, que ficou praticamente na metade (55%).

As análises comparativas tornam-se ainda mais interessantes quando

comparamos a parte on-line com a parte off-line do teste, principalmente em relação

ao paciente S.. Se as três primeiras condições da parte on-line do teste do paciente

S. fossem analisadas separadamente das demais, poderia-se ter um indício de que

o problema desse afásico é mais estrutural do que processual. Isso porque essa

comparação entre as médias reflete a parte on-line do teste, e, para essas

condições, o afásico teve um comportamento compatível ao do grupo-controle. No

entanto, na parte off-line do teste, o julgamento de agramaticalidade, o afásico S.

julgou todas as sentenças como naturais (gramaticais), o que pode ser um indicativo

de que, apesar de o processamento ter sido feito de maneira similar aos indivíduos

do grupo-controle, a interpretação dessas sentenças não o foi, o que parece apontar

para um prejuízo na representação estrutural da linguagem nesse afásico.

Contudo, ao se analisar as outras quatro condições já houve diferença no

processamento das informações de tempo e de aspecto em relação ao grupo-

controle, indicando, nesse caso, problemas tanto de ordem processual como de

ordem estrutural. Isso significa que, apesar de este estudo não ser conclusivo para a

explicação dos problemas dos afásicos, ele traz indícios de que uma comparação

mais direta entre dados de testes on-line e off-line pode apontar se os problemas

dos afásicos são de ordem unicamente processual ou unicamente estrutural, ou

ainda, de ambos, seguindo a linha de raciocínio proposta por Caplan e Waters

(2003) e adotada nesta tese.

Assim, o objetivo desta tese de melhor entender o papel da área de Broca no

processamento de tempo e aspecto, olhando para o modo como os informantes

lidam com a incompatibilidade entre os traços aspectuais/temporais expressos na

morfologia do verbo e nos traços expressos no advérbio, pôde ser alcançado. A

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partir dos dados dos afásicos de Broca, em comparação com o grupo-controle, é

possível perceber que uma lesão na área da Broca está, de alguma maneira,

relacionada com uma dificuldade maior de processamento dessa incompatibilidade,

tanto em tempo real quanto em dados de julgamento de agramaticalidade. Isso pode

significar que, pelo menos em parte, a área de Broca está relacionada não só com a

representação da linguagem mas também com a implementação desse

conhecimento em tempo real.

Havia, ainda, nesta tese, o objetivo de investigar uma possível dissociação de

tempo e aspecto na representação sintática, e, assim, um melhor entendimento

sobre a representação mental da sentença, objetivo esse que também foi alcançado.

A análise pós-teste do tipo Fisher LSD revelou que os indivíduos demoraram mais

tempo para ouvir o segmento-alvo nas sentenças incompatíveis do que nas

sentenças compatíveis; contudo, em uma comparação, “HH e HA”, essa diferença

não foi estatisticamente significativa (p-valor = 0,0526687).

A comparação com as sentenças consideradas incompatíveis revelou dados

importantes. Os mais importantes são os resultantes da comparação entre as

condições “IP e AH”. Ambas as condições foram comparadas com a mesma

condição “II”. Isso porque quando a condição “II” foi comparada com a condição “IP”,

era investigado o processamento das informações aspectuais contidas nos verbos

(Antigamente João tocava instrumentos X Antigamente José assinou um contrato).

Quando a condição “II” foi comparada com a condição “AH”, era investigado o

processamento das informações temporais contidas nos verbos44 (Antigamente João

tocava instrumentos X Antigamente Rita recorta reportagens). As análises do pós-

teste revelaram que o processamento de sentenças com incompatibilidade dos

traços aspectuais em relação ao advérbio foi significativamente mais custoso do que

o processamento de sentenças com incompatibilidade dos traços temporais em

relação ao mesmo advérbio.

A comparação com os afásicos corrobora as análises feitas para o grupo-

controle. Os dados observados em relação ao paciente S. revelaram uma

correspondência entre o comportamento desse afásico com o grupo-controle, o que

indica que a incompatibilidade dos traços aspectuais em relação ao advérbio foi

44 Nesta tese, assume‐se a proposta de Comrie (1976) de que o presente é um tempo com caráter imperfectivo. 

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mais custosa do que a incompatibilidade dos traços temporais em relação ao mesmo

advérbio, também para esse afásico. Contudo, os dados encontrados para o

paciente I. revelaram um comportamento diferente desse afásico em relação ao

grupo-controle. Apesar disso, esses dados reforçam a ideia de que o processamento

dos traços de tempo é diferente do processamento dos traços de aspecto. As

diferenças descritas podem ser observadas no gráfico abaixo:

Gráfico 12 – Análise das condições “II, IP, PP, PI, HH, HA, AH”, em relação aos tempos de audição do segmento-alvo, médias do grupo-controle, do paciente S. e do paciente I.: médias e intervalos de confiança para as condições “II, IP, PP, PI, HH, HA, AH”, em relação ao tempo de audição do segmento-alvo, do grupo-controle, do paciente S. e do paciente I..

Os dados acima descritos são evidências em favor da dissociação entre as

categorias tempo e aspecto, e, consequentemente, uma evidência em favor da ideia

de que essas categorias são representadas em nódulos diferentes na árvore

sintática.

Entretanto, considerando a discussão apresentada no capítulo 1 desta tese

sobre qual seria o nódulo que estaria mais acima na camada flexional, os dados

encontrados não parecem ser reveladores para essa questão. Por um lado, os

traços aspectuais causaram mais problemas de processamento para o grupo-

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controle e para o afásico S., e por outro lado os traços temporais foram aqueles que

causaram mais custo processual para afásico I.. Olhando somente para os dados do

grupo-controle, a mudança dos traços de aspecto presentes na morfologia verbal em

relação ao traços presentes no advérbio causou aumento no tempo de

processamento dessas informações – a condição “IP”, com incompatibilidade entre

os traços aspectuais, levou mais tempo para ser processada que a condição “PP”,

que não apresenta incompatibilidade entre os traços aspectuais. Contudo, o mesmo

não aconteceu para a mudança dos traços temporais. A condição “HA”, com

incompatibilidade entre os traços temporais presentes na morfologia verbal e os

traços presentes no advérbio, não levou mais tempo para ser processada do que a

condição “HH”, que não apresenta incompatibilidade entre os traços. Esse dado,

quando comparado aos dados do teste de julgamento de agramaticalidade, também

não parece ser conclusivo. Apesar de não ter havido diferença estatisticamente

significativa entre os tempos de processamento das condições “HH” e “HA”, essa foi

a condição que mais parece ter causado dúvidas no teste de julgamento de

agramaticalidade. Os indivíduos do grupo-controle julgaram as sentenças da

condição “HA”, que seria uma condição agramatical, ora como natural, ora como

estranha. Dos vinte e dois (22) indivíduos, oito (8) julgaram as sentenças como

naturais, nove (9) como estranhas e cinco (5) julgaram metade das sentenças como

naturais e metade como estranhas, sem apresentar uma maioria. O resultado por

número de sentenças mostrou um padrão parecido – 45% das sentenças dessa

condição foram julgadas como naturais e 55% como estranhas. Não fica claro o

porquê do tempo de audição do segmento-alvo não estar correspondente com a

parte off-line do teste. Assim, não se pôde fazer nenhuma proposta de

representação da árvore sintática no que diz respeito à localização desses nódulos

na camada flexional.

A comparação da parte on-line com a parte off-line do teste revela um outro

dado interessante. Olhando-se somente para as condições “PP e PI”, é possível

observar que os indivíduos do grupo controle e o paciente S. tiveram tempos de

audição do segmento alvo e de resposta mais altos na condição “PI” do que na

condição “PP” (p-valor = 0,008675). Apesar disso, eles julgaram tanto as sentenças

do tipo “PP” como as sentenças do tipo “PI”, que indicavam sentenças agramaticais,

como “naturais”, ou seja, como sentenças gramaticais. A partir de uma análise

qualitativa do teste de julgamento de agramaticalidade, pode-se perceber que

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apesar de eles terem julgado as sentenças do tipo “PI” como gramaticais em sua

maioria, alguns indivíduos do grupo controle julgaram essas sentenças como

agramaticais,45 o que indica que essas condições parecem estar num limite entre

serem compatíveis ou incompatíveis. Uma possível explicação para o julgamento

gramatical das sentenças do tipo “PI” seria a proposta de que existe, além do traço

default de perfectivo do advérbio ontem, um traço subespecificado de

imperfectividade nesse mesmo advérbio, levando a uma compatibilidade entre o

traço subespecificado do ontem e a morfologia de imperfectivo do verbo. Por conta

disso, por exemplo, ontem poderia ser interpretado como um período de tempo no

passado em que uma ação esteve em andamento; logo, uma oração do tipo “Ontem

Débora filmava casamentos” poderia ser interpretada como “Ontem Débora filmava

(estava filmando) casamentos enquanto eu estudava”.

Por último, esta tese tinha três hipóteses norteadoras. A primeira hipótese é

de que o tempo de processamento das informações relativas a tempo é diferente do

tempo de processamento das informações relativas a aspecto em indivíduos

normais. A segunda hipótese é de que o tempo de processamento das informações

relativas a tempo é diferente do tempo de processamento das informações relativas

a aspecto em indivíduos afásicos de Broca. A última hipótese é que os tempos de

processamento das informações relativas a tempo e os tempos de processamento

das informações relativas a aspecto estão aumentados nos indivíduos afásicos de

Broca em comparação com os tempos de processamento dessas informações nos

indivíduos normais. A partir dos dados obtidos com os testes, as hipóteses não

puderam ser refutadas. É importante ressaltar que, em relação à terceira hipótese, o

paciente afásico S. teve tempos de audição do segmento-alvo sem diferença

estatística em comparação com os encontrados para os indivíduos do grupo-controle

em três das sete condições existentes. Assim, torna-se importante uma investigação

mais apurada sobre esses dados, uma vez que para as outras condições, que

também envolviam traços de tempo e de aspecto, houve diferença estatisticamente

significativa entre o desempenho do paciente S. e do grupo-controle. Além disso, o

paciente I. apresentou diferença estatística para todas as condições analisadas.

Portanto, não foi possível refutar a hipótese de que os tempos de processamento

45 Esses dados podem ser observados no quadro 8 deste capítulo. 

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dos afásicos de Broca estão aumentados em comparação com os indivíduos

normais.

No próximo capítulo, serão apresentadas as considerações finais desta tese.

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  102 

Capítulo 5 Considerações finais

Nesta tese, buscou-se um melhor entendimento das possíveis contribuições

que os estudos de processamento podem fornecer para uma compreensão mais

apurada sobre a representação mental da sentença. Assim, optou-se pela realização

de um teste que conjugava características de um teste on-line e de um teste off-line

para se investigar o papel da área de Broca no processamento de tempo e aspecto.

Para atingir o objetivo traçado para esta tese, foi desenvolvido um estudo com um

grupo-controle, que serviu de base para a comparação com os resultados obtidos

com indivíduos com afasia de Broca.

Os resultados encontrados mostraram diferença estatística no modo como os

indivíduos lidam com a compatibilidade/incompatibilidade entre os traços

aspectuais/temporais expressos na morfologia do verbo e os traços expressos no

advérbio. Não houve, no entanto, um padrão de resposta no que diz respeito ao

processamento desses traços. De um lado, os traços aspectuais foram os que

causaram mais problemas para o grupo-controle e para o afásico S., e, por outro

lado, os dados do paciente I. revelaram um custo processual maior para os traços de

tempo. O fato de não ter sido estabelecido um padrão vai ao encontro da proposta

de dissociação das categorias de tempo e aspecto. De uma maneira ou de outra, os

indivíduos lidaram diferentemente com os traços de tempo e aspecto. Esses dados

são evidências em favor da proposta de que essas categorias são representadas em

nódulos diferentes na árvore sintática.

Os resultados em relação ao tempo de resposta foram um pouco menos

esclarecedores. No que diz respeito aos dados do paciente S., três das condições

analisadas não apresentaram diferenças estatisticamente significativas em relação

ao grupo-controle, enquanto as outras quatro condições apresentavam tal diferença.

Ao analisar-se esses resultados com os obtidos no teste de julgamento de

agramaticalidade poder-se-ia chegar a duas conclusões. Olhando-se para as três

primeiras condições, há indícios de que o problema dos afásicos seja estrutural, e

olhando para as outras quatro condições, não seria possível determinar se o

problema dos afásicos é processual ou estrutural, ou ainda, ambos. Isso porque o

afásico S. julgou todas as sentenças do teste como gramaticais, o que parece indicar

um problema na interpretação dessas sentenças. Torna-se ainda mais difícil fazer

uma consideração nesse sentido olhando-se para os dados do paciente I., que

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apresentou diferença estatisticamente significativa em relação ao grupo-controle,

para todas as condições de tempo de resposta analisadas. Esses dados corroboram

a ideia de que os estudos de processamento podem fornecer contribuições para um

melhor entendimento da representação da estrutura sintática na mente dos

indivíduos. Além disso, os resultados foram reveladores no sentido de que parece

ser esse um caminho promissor para melhor entender os problemas dos afásicos,

seguindo a linha proposta por Caplan e Waters (2003) e adotada nesta tese.

Apesar de nesta tese terem sido estudados dois paciente afásicos, com

lesões parecidas, e classificados como afásicos de Broca, a comparação dos

resultados desses pacientes não se mostrou conclusiva em todos os aspectos

analisados, uma vez que os desempenhos desses pacientes foram bastante

diferentes. Uma das possíveis explicações para essa diferença está no fato de que é

plausível que o paciente I. apresente outros problemas cognitivos além dos

problemas linguísticos. Em uma tentativa de aplicação do Mini-mental (FOLSTEIN,

FOLSTEIN e MCHUGH, 1975), o paciente teve um desempenho ruim em algumas

das tarefas apresentadas pelo pesquisador, como, por exemplo, aquelas

categorizadas pelo teste como envolvendo memória. Não foi possível aplicar o teste

nesse paciente porque ele apresenta grandes dificuldades de fala. Foram feitas

algumas tentativas de aplicação com tarefas alternativas, sem levar em

consideração a fala do paciente, e ele teve um desempenho ruim em todas. Assim,

ainda que nada possa ser afirmado quanto a isso, são indícios de um

comprometimento cognitivo maior, o que pode justificar tantas diferenças em relação

ao desempenho dos dois pacientes. O Mini-mental (FOLSTEIN, FOLSTEIN e

MCHUGH, 1975) foi realizado no paciente S., que teve nota 21. A nota de corte

sugerida pelos autores é de 23, e a nota de corte sugerida pelos autores da versão

validada para o Brasil, Caramelli e Nitrini (2000), é de 26 para pessoas com alto

nível de escolaridade. Para ambas as notas de corte, o paciente S. apresenta

problema cognitivo leve, e, ainda sim, há de se levar em conta os problemas de fala

de um paciente afásico de Broca. Os erros desse paciente foram relacionados à

tarefa de cálculo, a tarefas que envolviam a linguagem, como repetição e escrita, e a

pequenos erros em outras partes. Fica difícil determinar se os problemas

apresentados estão ou não relacionados à dificuldade de comunicação do paciente.

Esse tipo de problema é muito comum quando se trata de testes com

indivíduos com patologia. Ainda que se selecionem pacientes com lesões idênticas,

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dificilmente encontram-se pacientes com alterações idênticas de linguagem. Uma

vez que é quase impossível encontrar pacientes com lesões idênticas, fica ainda

mais difícil encontrar pacientes com características linguísticas similares. Dessa

maneira, um dos caminhos possíveis para pesquisas futuras é o aprimoramento dos

critérios de seleção dos pacientes que realizarão os testes. O fato de a afasia ser

vista, tradicionalmente, como um déficit exclusivamente linguístico, merece maior

atenção. Ambos os pacientes analisados parecem apresentar algum grau de

comprometimento cognitivo não linguístico, o que sinaliza a necessidade de melhor

esclarecimento sobre esses prejuízos.

Por último, como desdobramento desta tese, propõem-se estudos com

pacientes afásicos com lesão em outra área que não a de Broca. Os dados obtidos

para esta tese indicam que a área de Broca influencia o processamento dos traços

de tempo e aspecto. Contudo, não é possível saber, apenas com esses dados, se

somente a área de Broca exerce essa influência. Essa investigação poderá ser de

grande valia para a discussão sobre como o nosso cérebro realiza as funções

mentais superiores, como, por exemplo, a linguagem. Se uma única área estiver

envolvida no processamento desses traços, poder-se-á pensar em uma visão

localizacionista. Se outras áreas estiverem envolvidas no mesmo fenômeno,

prevaleceria a visão não localizacionista.

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Anexo A – Sentenças do Teste

Sentenças-alvo

II1. Antigamente Rosa comprava revistinhas.

II2. Antigamente Pedro colava figurinhas.

II3. Antigamente Vera gravava entrevistas.

II4. Antigamente João tocava instrumentos.

II5. Antigamente Clara plantava margaridas.

II6. Antigamente Bruna fritava salgadinhos.

PI1. Ontem Débora filmava casamentos.

PI2. Ontem Renato montava televisões.

PI3. Ontem Francisco criava passarinhos.

PI4. Ontem Evandro domava elefantes.

PI5. Ontem Gilberto caçava crocodilos.

PI6. Ontem Mônica bordava fantasias.

IP1. Antigamente José assinou um contrato.

IP2. Antigamente André capinou um terreno.

IP3. Antigamente Vitor pendurou um espelho.

IP4. Antigamente Igor assaltou uma moça.

IP5. Antigamente Carla descascou uma maçã.

IP6. Antigamente Graça embrulhou um presente.

PP1. Ontem Gisele encapou um caderno.

PP2. Ontem Denise digitou uma carta.

PP3. Ontem Ernesto engraxou um sapato.

PP4. Ontem Felipe desmontou uma mesa.

PP5. Ontem Fátima cozinhou uma ave.

PP6. Ontem Regina preparou um empadão.

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HH1. Atualmente Celso reforma restaurantes.

HH2. Atualmente Gilda desenha camisetas.

HH3. Atualmente Jorge fabrica celulares.

HH4. Atualmente Fábio reboca veículos.

HH5. Atualmente Marta entrega encomendas.

HH6. Atualmente Raul conserta geladeiras.

AH1. Antigamente Rita recorta reportagens.

AH2. Antigamente Laura opera pacientes.

AH3. Antigamente Carmem costura uniformes.

AH4. Antigamente Miguel instala telefones.

AH5. Antigamente Lurdes arquiva documentos.

AH6. Antigamente Luís projeta edifícios.

HA1. Atualmente Leila chupava pirulitos.

HA2. Atualmente Taís tomava vitaminas.

HA3. Atualmente Raquel lanchava sanduíches.

HA4. Atualmente Marcos treinava nadadores.

HA5. Atualmente Carlos julgava assassinos.

HA6. Atualmente Zico pintava automóveis.

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Sentenças distratoras

XX1. Atualmente Natalino bebe com bares.

XX2. Atualmente Luiza dirige em cinto.

XX3. Atualmente Severino lê de óculos.

XX4. Atualmente Murilo gosta por verdura.

XX5. Atualmente Alessandra cuida por filho.

XX6. Atualmente Pablo aposta em cavalos.

XX7. Atualmente Mário trabalha no mercado.

XX8. Atualmente Alexandre beija por boca.

XX9. Atualmente Geraldo rema de lagoa.

XX10. Atualmente César vive no interior.

XX11. Atualmente Lucas luta em competição.

XX12. Atualmente Joel anda de bicicleta.

XX13. Atualmente Eduardo sai pra amigos.

XX14. Atualmente Flora ajuda na igreja.

YY1. Antigamente Breno viajava por carro.

YY2. Antigamente Rubens caminhava de praia.

YY3. Antigamente Cadu jogava na seleção.

YY4. Antigamente Valdir morava na fazenda.

YY5. Antigamente Mara brincava de boneca.

YY6. Antigamente Duda pedalava por praça.

YY7. Antigamente Sara fofocava com portão.

YY8. Antigamente Viviane rezava com fé.

YY9. Antigamente Marisa cantava de coral.

YY10. Antigamente Bianca nadava no clube.

YY11. Antigamente Juca fugia em escola.

YY12. Antigamente Carina corria na rua.

YY13. Antigamente Bernardo cochilava no trem.

YY14. Antigamente Laís namorava por sofá.

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ZZ1. Ontem Mariana escreveu entre caneta.

ZZ2. Ontem Rebeca estudou na biblioteca.

ZZ3. Ontem Reginaldo comeu entre lanchonete.

ZZ4. Ontem Fabiano malhou com academia.

ZZ5. Ontem Madalena telefonou para casa.

ZZ6. Ontem Adriana participou por debate.

ZZ7. Ontem Alcione mudou de apartamento.

ZZ8. Ontem Janete almoçou para escritório.

ZZ9. Ontem Carolina jantou de aeroporto.

ZZ10. Ontem Luciana caiu no supermercado.

ZZ11. Ontem Daniela merendou no refeitório.

ZZ12. Ontem Roberto passeou de motocicleta.

ZZ13. Ontem Gabriela dormiu para camisola.

ZZ14. Ontem Aparecida foi ao cabeleireiro.

Frases de prática

FP1. Antigamente Marlene dançava por baile.

FP2. Antigamente Danilo pulava na cama.

FP3. Atualmente Helena varre por vassoura.

FP4. Atualmente Dilma conversa na janela.

FP5. Ontem Joaquim esteve com barbearia.

FP6. Ontem Ricardo estacionou na calçada.

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ANEXO B – Parecer de Aprovação