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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ESTUDOS DE SAÚDE COLETIVA MESTRADO EM SAÚDE COLETIVA Rede Sentinela: possibilidades de articulação com a Rede de Informações e Subsídios para Inovações nas Indústrias do Complexo Produtivo da Saúde Elaine Santiago Simmer Orientadora: Profa. Dra. Lígia Bahia Co-Orientador: Prof. Dr. José Eduardo Cassiolato Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção de grau de Mestre em Saúde Coletiva, Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva - área de concentração em Planejamento e Políticas, do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2007

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO … · 2 Reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro Prof. Dr. Aloísio Teixeira Diretora do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE ESTUDOS DE SAÚDE COLETIVA

MESTRADO EM SAÚDE COLETIVA

Rede Sentinela: possibilidades de articulação com a Rede de Informações e Subsídios para Inovações nas

Indústrias do Complexo Produtivo da Saúde

Elaine Santiago Simmer

Orientadora: Profa. Dra. Lígia Bahia

Co-Orientador: Prof. Dr. José Eduardo Cassiolato

Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção de

grau de Mestre em Saúde Coletiva, Programa de Pós-graduação

em Saúde Coletiva - área de concentração em Planejamento

e Políticas, do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da

Universidade Federal do Rio de Janeiro

Rio de Janeiro

2007

2

Reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro

Prof. Dr. Aloísio Teixeira

Diretora do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva - UFRJ

ProFª. Drª. Letícia Legay

Coordenadores do Mestrado em Saúde Coletiva

Prof. Dr. Volney Câmara e

ProFª.Drª. Márcia Gomide

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... Valeu a pena ? Tudo vale a pena Se a alma não é pequena. Quem quer passar além do Bojador Tem que passar além da dor. Deus ao mar o perigo e o abismo deu, Mas nele é que espelhou o céu. Fernando Pessoa, in Mensagem

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Dedico essa tese a minha querida avó Nair,por sua importância fundamental na minha vida, aos meus filhos Leonardo, Fernanda e Rodrigo, partes de mim, de quem fui e serei, antes de tudo e para sempre, uma orgulhosa mãe, e ao meu Levi pelo companheirismo e cumplicidade.

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Agradecimentos

Este trabalho deve muito a algumas pessoas e instituições, por diferentes razões, e eu gostaria

de agradecer especialmente:

Ao meu amigo Ricardo Arraes que tornou possível a realização desse trabalho ao me incentivar

em momentos difíceis.

A minha querida amiga Rosângela Facadio pelo apoio e incentivo, indicando-me pessoas

chaves para a elaboração do trabalho.

A minha orientadora Lígia Bahia por ser uma interlocutora instigante e generosa e pela coragem

de ousar trabalhar com novas idéias e conceitos, correndo os riscos inerentes a esta atitude.

A Beatriz Mac Dowell Soares, diretora adjunta da Anvisa que não mediu esforços em me auxiliar,

indicando pessoas chaves para que eu obtivesse informações fundamentais para o meu trabalho.

A Maria da Graca Santanna Hofmeister, Chefe da Unidade de Tecnovigilância da Anvisa pelas

muitas informações e por sua generosidade, enviando-me dados determinantes para elaboração da

tese.

Ao amigo fraterno Fernando Amorim pelo incentivo, pela confiança e por ter se interessado

em ler o trabalho e dar a sua opinião acompanhada de sugestões, exemplos e críticas fundamentais à

reelaboração e aprumo da abordagem que eu vinha fazendo de meu tema.

A Bárbara Caballero estagiaria do LEPS/UFRJ pela atualização dos dados econômicos.

As amigas Naíra e Monique pela ajuda nos momentos de dúvidas e questionamento.

Agradeço também a todos que, de uma forma ou de outra contribuíram para este trabalho.

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Resumo

O estudo baseia-se em referencias teóricas sobre complexo industrial da saúde e pretende contribuir para que os formuladores de políticas disponham de mais uma ferramenta para estimular a implantação de estratégias de desenvolvimento do complexo produtivo da saúde, diminuindo a dependência nacional no campo tecnológico e produtivo. Para tanto, enfoca sob uma perspectiva exploratória a produção de informações pela Rede Sentinela, projeto da Agência de Vigilância Sanitária e a recepção de suas informações, buscando averiguar se houve e qual o grau e tipo de interação dos hospitais participantes do projeto (profissionais de saúde) com as indústrias. A hipótese que permeia o trabalho é a possibilidade de vincular a produção e difusão de informações da Rede Sentinela com a geração de inovações - desenvolvimento, aprimoramento e produção de equipamentos médico-hospitalares - segundo as necessidades do Sistema Único de Saúde (SUS), um dos grandes eixos promotores de demandas concretas para as indústrias do complexo da saúde.

Palavras Chave: inovação, rede sentinela, agência de vigilância sanitária, equipamentos médico-hospitalares, complexo industrial da saúde.

The study is based on theorical references about the Industrial Health Complex and pretend to be one more tool contributing with health managers to incite and establish political estrategies for the development of the Helath Productive Complex, reducing the brazilian dependence in the technological and productive areas. In order to, this study focus, under a exploratory perspective, the Rede Sentinela´s production of information. Rede Sentinela is a project of Anvisa – National Surveilance and the reception of its information intends to inquire about the level and the type of interaction between the hospitals / health professionals that take part of the project and the industry. Primary information were obtained based on the perception of helth managers that are reponsible for the execution of Sentinela´s Project in the States of Rio de Janeiro and São Paulo, as well based on data obtained trough the notifications realized by 62 hospitals in these states for “Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA”. The hypothese that permeate the project is the possibility of link the production and the difusion of Rede Sentinela´s information to the development, improvement and production of medical equipaments, acording to the needs of the “Sistema Único de Saúde - SUS”, wich is the one of the bigget promoters of a concrete demand for the Industrial Health Complex .

Keywords: innovation , rede sentinela, agência de vigilância sanitária, medical equipaments, Industrial health complex .

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Índice

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Introdução

Capítulo 1 Inovação no Setor Saúde1.1 Papel da inovação no setor saúde. 1.2 Pontos de partida1.3 Papel do Estado

Capítulo 2Indústria de equipamentos médico-hospitalares e odontológicos2.1. Visão Geral2.1.1 Mercado Mundial2.2. A indústria de Equipamentos médico-hospitalares brasileira...2.2.1 Classificação do setor de equipamentos médicos2.2.2 Origem e evolução da indústria de equipamentos médicos brasileira2.2.3 Indústria de Equipamentos Médicos brasileira - panorama atual2.2.4. Inovatividade da indústria de equipamentos médicos - Pintec2.2.5 Principais entraves para a indústria de EMHO

Capitulo 3Anvisa e Rede Sentinela3.1. Papel da Anvisa3.2. Anvisa e o setor de equipamentos médico-hospitalares3.3. O Projeto Hospitais Sentinela3.3.1 Configuração da Rede Sentinela3.3.2 Estratégia de implantação e objetivos3.3.3 SINEPS – Sistema de Informação de Notificação de Eventos Adversos relacionados a Produtos de Saúde Capítulo 4A Rede Sentinela e a Produção e Difusão de Informações e Subsídiospara a Inovação do Complexo Produtivo4.1 Considerações Preliminares4.2 Critérios de Seleção de unidades da Rede Sentinela4.3 Rede Sentinela como ferramenta para inovação e desenvolvimentoda indústria de EMHO4.4. Análise dos questionáriodos questionárioss. s enviados aos Gerentes de Risco da Rede Sentinela 4.4.1 Gerentes de risco sanitário hospitalar. da Rede sentinela 4.4.2 Conhecimento do parque tecnológico. dos Hospitais da Rede Sentinela 4.4.3 Relação Rede Sentinela – com as Universidades. 4.4,4 Relação Rede Sentinela – com as Empresas. 4.4.5 Rede Sentinela e aquisição de equipamentos médicos 4.5. Análise das informações do SINEPS 4.5.1 Avaliação das notificações dos estados do Rio de Janeiro e São Paulo

Capítulo 6

Considerações Finais e Observações

ANEXO I - Mapa de Localização dos Hospitais SentinelaANEXO II– Questionário enviado ao Gerente de Risco.

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ANEXO III - Formulário de Avaliação das Notificações enviado a UTVIG/ANVISAANEXO IV - Taxa de Inovação em relação ao Porte da Empresa.ANEXO V - Grau de importância alta/média das fontes internas de informação atribuída pelas empresas que implementaram inovaçãosegundo atividades da indústria de transformação com maiorestaxas de inovação – Brasil – período 2001-2003ANEXO VI - Grau de importância alta/média das fontes externas de informação atribuída pelas empresas que implementaram inovaçãosegundo atividades da indústria de transformação com maiorestaxas de inovação – Brasil – período 2001-2003

Bibliografia

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Índice de Tabelas

Tabela 1 - Mercado Mundial de Insumos e Equipamentos de Uso Médico – 2002/03 Tabela 2 - Maiores Empresas de Insumos e Equipamentos de Uso Médico por Faturamento - 2004/05 Tabela 3 - Data de instalação das primeiras fábricas de EMH.29Tabela 4 - Empresas com Setor de Atividade CNAE 3310-3 Fabricação de aparelhos e instrumentos para uso médico-hospitalares, odontológicos e de laboratórios e aparelhos ortopédicos localizadas no Estado do Rio de Janeiro. Tabela 5 - Balança Comercial Brasileira do Segmento Médico-Hospitalar – 1999/2002. 37Tabela 6 - Métodos de Proteção utilizados pelas Empresas que Implementam Inovações. Tabela 7 - Percentual de Empresas que Implementaram Inovações e Receberam Apoio do Governo para suas Atividades Inovativas por Tipo de Programa 45Tabela 8 - Distribuição dos Hospitais Sentinela. Tabela 9 - Estabelecimentos com Atividade de Ensino no RJ e SP.Tabela 10 - Distribuição dos Hospitais Universitários no RJ e SP. Tabela 11 – Total de Questionários enviados e respondidos pelos Gerentes de RiscoTabela 12 - Categoria Profissional dos Gerentes de Risco Tabela 13 – Setor Responsável pelo Cadastro de Equipamentos. Tabela 14 - Hospitais Universitários ou Conveniados. Tabela 15 - Contato Rede Sentinela / Empresa. Tabela 16 - Fontes de Sugestões de Melhorias. Tabela 17 - Origem das Notificações de Tecnovigilância. Tabela 18 - Número de Notificações RJ e SP. Tabela 19 - Número de Notificações por Local de Procedência. Tabela 20 - Número de Notificações por Tipo de Estabelecimento. Tabela 21 – Número de Notificações por Esfera Administrativa. Tabela 22 – Número de Notificações por Tipo de Produto

Lista de Gráficos

Gráfico 1 - Origem do Capital das Empresas de EMHO – 2006 Gráfico 2 - Venda Bruta por Segmento – 2002 Gráfico 3 - Distribuição de Empresas por Porte – 2003 Gráfico 4- Distribuições das empresas de EMHO por principais estados e por regiões do Brasil – 2006 Gráfico 5 - Compradores de Produtos de uso Médico – 2007 Gráfico 6 - Balança Comercial do Subsetor EMHO – 1996/2003. Gráfico 7 - Incidência de Empresas com Certificação – 2002. Gráfico 8 - Incidência de Empresas com Produtos Certificados – 2002. Gráfico 9 - Taxa de Inovação no Brasil e Países da OCDE – 2003 Gráfico 10 - Participação dos Gastos em Inovação por Categorias em Setores Selecionados – 2003 Gráfico 11 - Problemas e obstáculos apontados pelas empresas que implementaram inovações no Brasil nos períodos 1998-2000 e 2001-2003

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Siglas

ABIMO Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos, Odontológicos,Hospitalares e de Laboratórios.ABRAHUE Associação Brasileira de Hospitais Universitários e de EnsinoAMB Associação Médica BrasileiraANS Agência Nacional de Saúde SuplementarANVISA Agência Nacional de Vigilância SanitáriaBNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e SocialBPF Boas Práticas de FabricaçãoCE Conformitée EuropéenneCNAE Cadastro Nacional de Atividades EconômicasCNES Cadastro Nacional de Estabelecimentos de SaúdeCT&I Ciência Tecnologia e InovaçãoEMHO Equipamentos Médico Hospitalares e OdontológicosFGV Fundação Getúlio VargasFIRJAN Federação das Indústrias do Estado do Rio de JaneiroIBGE Instituto Brasileiro de Geografia e EstatísticaICTs Institutos de Ciência e TecnologiaIEMI Instituto de Estudos e marketing IndustrialINMETRO Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade IndustrialINPS Instituto Nacional de Previdência SocialISIC International Standard Industrial ClassificationMIT Média da Indústria de TransformaçãoOCDE Organização para Cooperação e Desenvolvimento EconômicoPAC Programa de Aceleração do CrescimentoP&D Pesquisa e DesenvolvimentoPNUD Programa das Nações Unidas para o DesenvolvimentoSINEPS Sistema de Informação de Notificação de Eventos Adversos relacionados a Produtosde SaúdeSUS Sistema Único de SaúdeUTVIG Unidade de Tecnovigilância

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Introdução

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A grande competitividade mundial tem levado os Estados nacionais a reavaliarem o seu

papel na implementação de políticas públicas eficientes, eficazes que buscam alinhar e estimular

o desenvolvimento econômico do país. Na área da saúde, na qual as atividades são complexas e

diversificadas, esta realidade se mostra premente, principalmente porque, no Brasil, o Sistema Único

de Saúde (SUS) acaba sendo um dos grandes eixos de demandas para as indústrias do setor.

O presente trabalho é balizado pelo conceito de complexo médico-industrial da saúde

introduzido por Cordeiro, 1980 no qual este conceito de se pensar a saúde aponta a incidência de suas

indústrias, bens e serviços sobre práticas de saúde e padrões de consumo. Sob tal enquadramento, o

campo da saúde constitui um lócus fundamental para atividades de C&T, de inovação, de geração de

emprego e renda sendo dessa forma uma das áreas líderes nos sistemas nacionais de inovação .

Mais recentemente, autores dedicados à análise dos sistemas nacionais de inovação sublinham a

importância da interação entre a assistência composta por clínicas, hospitais, laboratórios, ambulatórios

com as universidades e indústrias, gerando fluxos intensos de informação científica e tecnológica que

podem alavancar a geração, implementação e difusão de inovações. Segundo essa acepção instituições

de regulação (como a ANVISA no Brasil), associações de profissionais e escolas médicas atuam como

um filtro das inovações geradas, e já integram os sistemas de inovação em países desenvolvidos (Chaves

e Albuquerque 2004).

Dada a ênfase nas relações entre os componentes industriais com as instituições de pesquisa e

assistência, o uso de fontes de informações para geração da inovação tecnológica é considerado como

fator determinante para competitividade da economia. A identificação de fontes de informações,

idéias que são utilizadas no processo inovativo, passa a ser um indicador útil, do processo de criação,

disseminação e absorção de conhecimentos. As empresas utilizam informações de várias origens e a sua

habilidade para inovar é determinada por sua capacidade de incorporar e combinar tais informações.

A informação quando percebida e assimilada permite a criação ou aperfeiçoamento de um produto

ou processo produtivo. As relações de cooperação para a inovação, a importância de conhecê-las e

promovê-las baseia-se na idéia de que o fortalecimento das interações entre diferentes agentes do

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sistema nacional de inovação tem papel fundamental no desenvolvimento tecnológico, na medida em

que facilitam o fluxo de informações, promovem o aprendizado e a difusão de novas tecnologias.

Como se sabe, a indústria nacional de bens de saúde ainda não alcançou os padrões de preço

e qualidade comparáveis aos internacionais e tem seu desenvolvimento dificultado pela falta de

articulação adequada das políticas dirigidas para vários segmentos do complexo da saúde. Lastres et al,

2005, apontam que num contexto de globalização excludente e assimétrica, a dependência econômica

aparece de modo importante na produção de bens e serviços em saúde. Além disso, a visão integral da

saúde do nosso país e sua relação com o desenvolvimento nunca tratou plenamente sua relação com

as estratégias para a atividade industrial e para geração e difusão de inovações em saúde (Gadelha,

2006).

Atualmente, as perspectivas de formular e implementar políticas de saúde que contemplem as

interações dos componentes do complexo produtivo são mais promissoras. Nesse sentido, justifica-se

a adoção do tema de interesse do presente trabalho, o segmento de equipamentos médico-hospitalares

da indústria brasileira. Este segmento tem sido ainda pouco estudado pela área de saúde coletiva. Um

dos exemplos da rarefação de investigações sobre o tema é a ausência de dissertações sobre a indústria

nacional de equipamentos médicos no catálogo on-line de teses da Fundação Oswaldo Cruz, que por

outro lado dispõe de seis dissertações relacionadas com a indústria farmacêutica.

Com isso, o segmento é quase sempre apresentado a partir de evidências empíricas cujos dados

são incipientes e por vezes dispares. Ademais as conexões entre as informações geradas por unidades

hospitalares e a indústria de equipamentos tem sido pouco exploradas. Tais lacunas são parcialmente

investigadas ao longo deste trabalho. Para tanto, inicialmente os dados secundários referidos pela

literatura e de fontes governamentais e da indústria são sistematizados e a seguir busca-se verificar

as possibilidades de estabelecer um fluxo de informações entre estabelecimentos hospitalares e os da

indústria de equipamentos voltados à inovação tecnológica.

Em termos gerais, a indústria brasileira mostra-se pouco inovativa. De acordo com os resultados

* “Sistemas Nacionais de Inovação são definidos segundo Freeman,1995, “como” uma rede de instituições dos setores público e privado cujas atividades e interações iniciam, importam, modificam e difundem tecnologias”. O conceito de Sistema de Inovação do Setor Saúde envolveria todo o conjunto de instituições envolvidas direta ou indiretamente no processo de inovação em saúde. (Albuquerque e Cassiolato, 2000)

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obtidos pela última Pesquisa Industrial de Inovação Tecnológica (Pintec, 2003), realizada em 2004

pelo IBGE, apenas 33% das empresas industriais brasileiras foram categorizadas como inovadoras, isto

é, introduziram no mercado produtos e/ou processos novos ou tecnologicamente aprimorados nos três

anos anteriores à pesquisa.

Segundo a Pintec, no tocante a utilização de programas governamentais de apoio as atividade

inovativas, observa-se que apesar da utilização de programas de incentivo fiscal ser maior no setor

de fabricação de equipamentos de instrumentação médico-hospitalares, relógios do que o total das

empresas inovadoras da indústria de transformação, os programas mais utilizados por este setor são os

de financiamento à compra de máquinas e equipamentos utilizados para inovar, e outros programas

de apoio. Constata-se, ainda o baixo percentual daquelas que provem financiamentos a projetos de

pesquisa, estimulando a aproximação entre o setor empresarial e as universidades e centros de pesquisa,

efetuados através de fundos setoriais, ficando este setor bem abaixo da média das outras empresas.

(IBGE, 2005). Para Furtado e Souza, 2001 essa falta de dados pode ser atribuída à interrupção da

realização de Censos Industriais desde 1985 que impediu a geração de dados regulares sobre a atividade

econômica desse segmento, a dúvidas quanto ao número de empresas do setor no cadastro produzido

pelo IBGE em 1995, decorrentes de mudanças de classificações de produtos do setor e divergências de

informações provenientes de outras fontes.

Assim, a compilação das informações sobre a indústria de equipamentos a partir de referencias

do sistema de atenção à saúde compõem um painel sugestivo sobre o quanto ainda falta para a

consolidação da indústria de equipamentos médico-hospitalares no Brasil e constituem a fonte

principal de inspiração deste trabalho, que apresenta a revisão da literatura e as evidências empíricas

em 4 capítulos.

O capítulo 1 aborda a importância do papel da assistência médica e as possíveis formas de

articulação com as universidades, indústrias associações de profissionais e instituições de regulação,

apontando a necessidade de que em países atrasados e periféricos como o Brasil, com uma brutal

desigualdade sócio-econômica, a área da saúde, suas políticas e instituições, seja tratada como

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fundamental para o bem estar da população e para o crescimento econômico em consonância com as

necessidades do SUS. Enfim para assegurar que as necessidades de saúde sejam à base da política de inovação.

O capítulo 2 dedica-se ao segmento de equipamentos médico-hospitalares, foco do nosso estudo,

apresentando um breve histórico das indústrias, descrevendo suas características e sua importância para

o desenvolvimento do sistema de inovação em saúde. Priorizam-se os pontos em comum entre três tipos

de atores que compõem o sistema de inovação em saúde - os hospitais, as universidades e o governo. Os

principais entraves da indústria de equipamentos médico-hospitalares são enfocados a partir da análise

da Pesquisa Industrial de Inovação Tecnológica (Pintec, 2003) de equipamentos.

O capítulo 3 apresenta o Projeto Sentinela da Anvisa, enfatizando suas várias interfaces com

setores do sistema local de inovação e procura caracterizar as relações existentes entre os vários agentes

que interagem no sistema na busca de informações que possam contribuir para balizar o desenvolvimento

de políticas de incentivo a indústria de equipamentos médicos que compõe o complexo produtivo da

saúde. Foram escolhidos 62 hospitais que integram a Rede Sentinela nos estados do Rio de Janeiro

e São Paulo. Este capítulo debruça-se, ainda, sobre os critérios e a relevância da escolha desses dois

estados para a análise proposta.

O capitulo 4 busca identificar as janelas de oportunidades para o setor de equipamentos médico

hospitalares a partir de informações primarias baseadas na percepção de gerentes de risco responsáveis

pela execução do Projeto Sentinela nos hospitais que compõem a rede nos estados do Rio de Janeiro

e São Paulo e através de informações obtidas por meio das notificações realizadas por 62 hospitais

desses dois estados à ANVISA. Este capítulo encerra com uma análise das possibilidades e dos entraves

encontrados no Projeto Sentinela quanto ao seu potencial de induzir e pavimentar condições para

estabelecer sinergias entre assistência, academia, indústrias e governos em busca do crescimento

econômico, de agregar valor e gerar empregos e produtos médicos voltados para as necessidades do

SUS.

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As considerações finais sinalizam o potencial de geração de informações que conectem as

necessidades de saúde ao desenvolvimento econômico a partir de uma rede constituída por hospitais

universitários e de ensino, universidades e indústrias de equipamentos.

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Capítulo I

Inovação no setor saúde

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1.1 Papel da inovação no setor saúde

Quando se pensa saúde, nem sempre é possível imaginar toda a gama de tecnologia envolvida

como também não é trivial delimitar seu campo de atuação que abarca diferentes áreas de conhecimento

passando dentre outros, pela biotecnologia, tecnologia da informação, novos materiais, química fina.

A tecnologia é uma das variáveis de maior importância para saúde e, junto com as características

de grande concentração de empresas e alta necessidade de investimentos, determinam à competitividade

do setor. Envolvendo tudo isso se observa uma forte presença do governo realizando investimentos,

adquirindo bens e serviços, além de desempenhar papel de regulador das atividades ligadas à saúde.

O setor saúde é intensivo em conhecimento (que envolve várias áreas tecnológicas), se

traduz por um alto grau de inovação, um grande dinamismo em termos de taxas de crescimento e

competitividade e é objeto de interesse social marcante. Ele articula dois arranjos institucionais: o dos

sistemas de bem-estar social e o de inovação. Articulação que envolve a interação entre a assistência

à saúde, as redes de formação profissional, de ensino médio e superior, a indústria de equipamentos

médico-hospitalares e instrumentos diagnósticos.

As transformações das relações entre ciência, Estado e sociedade ocorridas nas últimas décadas

acarretaram a reorganização da ciência e o crescimento do papel do conhecimento na sociedade e na

economia. No Brasil, as repercussões dessas diretrizes de políticas ficaram mais explícitas ao final

da década de 90, com a intensificação dos esforços para reestruturação de seu complexo científico-

tecnológico citando como exemplo, a criação dos Fundos Setoriais de financiamento da P&D, a

Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, e a Lei da Inovação, como forma de buscar a

superação histórica entre ciência e tecnologia em direção à promoção da inovação.

A implantação do Sistema Único de Saúde (SUS) a partir de 1990 concorreu para a introdução

de inumeráveis inovações organizacionais e nos serviços no setor saúde brasileiro. Em virtude de o setor

saúde possuir uma característica que o distingue dos outros setores econômicos, a de ser a interseção

entre os sistemas de bem estar social e os sistemas de inovação há necessidade de se estudar os fluxos de

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informação tecnológica e os mecanismos de geração da inovação nesse complexo médico-industrial.

Ao mesmo tempo em que a infra-estrutura científica é fonte de um fluxo de informações que apóia o

surgimento de informações que sustentam o surgimento de inovações para atividades ligadas à saúde

– novos medicamentos, novos equipamentos, novos procedimentos clínicos e cirúrgicos -, a prática

médica e o setor saúde também atuam como geradores de fluxo de informações inversa que precisam

ser melhor entendidas e aproveitadas uma vez que todo avanço gerado pelo sistema de inovação no

setor saúde tem repercussões diretas na qualidade de vida das pessoas e, por conseguinte, capacidade

produtiva do país. (Albuquerque E.M. Souza S.G. A& Baessa A.R.2004)

1.2 Pontos de partida

Quando se discute as características gerais dos fluxos de informações científica e tecnológica

no setor saúde, Albuquerque e Cassiolato, 2002, tomaram como base três pontos já desenvolvidos na

literatura:

1. No âmbito mais amplo do Sistema de Inovação em Saúde, que envolve todo o conjunto

de instituições envolvidas direta ou indiretamente no processo de inovação em saúde, é possível

delimitar um conjunto de setores de atividade econômica que constitui a base técnica da produção de

bens e serviços em saúde.

A idéia de complexo médico-industrial já desenvolvida por Cordeiro (1980):

[... ] As indicações no plano abstrato-formal nos remetem, como alternativa

metodológica, ao estudo das relações entre a produção e circulação de me -

dicamentos, a organização da prática médica, as formas de intervenção esta-

tal no setor e as práticas concretas de consumo individual.

Remete a uma leitura do setor saúde que abrange diversos segmentos: o Estado (gestor das

políticas públicas de saúde e regulador do setor), os setores industriais (indústrias de base química,

biotecnologia, indústrias de base mecânica, eletrônica e de materiais), a formação profissional (escolas

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e universidades) e a prestação de saúde pública e suplementar (ambulatórios, hospitais, serviços de

apoio diagnóstico e terapêutico).

2. Segundo estudo sobre a produção científica britânica realizada por Hicks & Katz

(1996) no qual sugerem a existência de um sistema biomédico de inovação, no qual os hospitais teriam

uma grande participação. Os hospitais, diferentemente do modelo tecnológico tradicionalmente

concebido em que haveria uma seqüência de atividades indo da pesquisa básica, aos laboratórios de

pesquisa aplicada e depois à produção, contribuem para o progresso científico, como importante fonte

de inovações através da solução de problemas e a superação de gargalos. Além disso, a pesquisa de

ponta exige uma intensa colaboração interinstitucional articulando laboratórios acadêmicos altamente

qualificados, indústrias e hospitais.

3. As várias vertentes da interação entre universidades e as indústrias descritos por Gelijns

& Rosemberg (1995) em que ressaltam a importância na interação produtor-usuário, destacando a

profissão médica como peça chave no desenvolvimento e aperfeiçoamento de inovações.

1.3. Papel do Estado

A área da saúde apresenta o maior grau de interação entre universidades, indústrias e institutos

de pesquisa e devido ao seu cunho social é o local onde as políticas públicas se fazem mais acentuadas.

Segundo Gadelha (2003) o setor saúde constitui um lócus essencial de desenvolvimento

econômico que requer uma forte presença do Estado e da Sociedade para compensar as forças de

geração de assimetrias e desigualdades oriundas de estratégias empresariais e de mercado.

Nos países centrais o Estado estimula e apóia a competitividade das indústrias e empresas

do complexo da saúde como, por exemplo, através de financiamento às atividades de P&D, política

comercial, compras estímulo a parcerias entre universidades, hospitais e firmas. (Negri & Giovanni,

2001)

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As agências reguladoras, as associações profissionais e escolas médicas possuem o papel de filtro

das inovações geradas pelas universidades e indústrias. (Albuquerque, Souza e Baessa, 2004).

O governo federal recentemente criou uma cesta de mecanismos de apoio à inovação nas

empresas através da Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior do Governo Federal

(PICTEC). Podemos destacar por apresentarem relação direta com a Universidade, a lei do bem e

a lei de inovação. A Lei do Bem, lei 11.196, de 21/11/2005, regulamentada pelo Decreto 5.798 de

07/06/2006, estabelece um repertório sem precedentes de instrumentos para apoio à inovação na

empresa. Simplificadamente destacam-se incentivos fiscais à inovação que buscam contribuir para

fixar corpo próprio de P&D nas empresas, estimular a cultura patentária no país, estimular acordos

cooperativos de ICTs brasileiros – Institutos de Ciência e Tecnologia (nos quais a USP e a UFRJ se

enquadram) com micro e pequenas empresas, possibilitar que a União através de agências de fomento

em C&T, subvencione a remuneração de mestres e doutores nas empresas localizadas no Brasil. A Lei

da Inovação, lei 10.973, de 02/12/2004, regulamentada pelo decreto 5.563 de 11/10/2005, permite a

aplicação de dinheiro público diretamente nas empresas, com objetivo de financiar projetos de pesquisa,

desenvolvimento e inovação tecnológica. Este benefício é dirigido para micro e pequenas empresas

nacionais e a projetos que atendam às prioridades da Política Industrial, Tecnológica e de Comércio

Exterior (PITCE). Facilita a relação Universidade-Empresa ao possibilitar às Universidades e ICTs a

pré-contratação de projetos de desenvolvimento com empresas. Outra característica da Lei da Inovação

é permitir que os ICTS comercializem os seus resultados de forma mais livre graças à alteração da Lei

de Licitações (Lei 8666). Essa alteração objetiva evitar o risco de uma empresa financiar um projeto e

perder a licitação para um concorrente.

Esses esforços normativos vêm sendo apropriados pelas autoridades do setor saúde. A agenda de

prioridades da 2ª Conferencia Nacional de Ciência e Tecnologia (MS, 2004) expressa à determinação

de atribuir ao Estado um papel de protagonista e direcionador das relações entre a oferta e a demanda

de bens e serviços de saúde, de forma a alcançar tanto à promoção da saúde quanto o desenvolvimento

industrial e tecnológico na área da saúde. Ao Estado compete a regulação do complexo produtivo da

saúde, através de ações convergentes para apoio à competitividade, financiamento e incentivo à P&D

23

nas empresas públicas; política de compras; defesa da propriedade intelectual; incentivo às parcerias, e

investimentos em infra-estrutura.

A política de incentivo à inovação deve ser pautada pela seletividade, maior grau de confiança

na parceria com indústrias e maior interação entre os serviços de saúde, as instituições de ensino e de

pesquisa e o complexo produtivo.

Nesse contexto, a Rede Sentinela como um dos possíveis pontos de articulação de uma rede

voltada a responder os requerimentos da inovação tecnológica responde a um duplo desafio: o de

constituir-se como inovação gerencial e gerar informações para que as inovações atendam os requisitos

de pertinência e adequação às necessidades de saúde dos brasileiros e de sua rede de atenção.

24

Capítulo 2

Indústria de equipamentos médico-hospitalares e odontológicos

25

2.1 Visão Geral

A indústria de equipamentos médico-hospitalares e odontológicos (EMHO) incorpora duas

lógicas industriais bastantes distintas: desde as grandes empresas multinacionais altamente capacitadas

tecnologicamente que competem por sofisticação e possuem grande diversidade de produtos, até

empresas pequenas, geralmente especializadas em alguns produtos, várias delas de base tecnológica,

isto é, o setor abarca tanto classes de produtos de baixa complexidade tecnológica como equipamentos

altamente sofisticados e de alto valor agregado.

Apesar dessa indústria de um modo geral, possuir um grande dinamismo e lucratividade

em termos mundiais, a definição desta indústria não é unânime, sendo as fronteiras deste setor

estabelecidas de forma pouco nítida, abrangendo uma pluralidade de segmentos com características e

dinâmicas distintas entre si sendo que as estatísticas deste setor revelam inconsistências que podem ser

interpretadas com parâmetros tanto da oferta como da demanda. A abordagem industrial tende a ser

técnica ao passo de que a dos hospitais e estabelecimentos de saúde foca o elenco de compras.

2.1.1 Mercado Mundial

O mercado mundial de insumos e equipamentos de uso médico esta avaliado em US$ 193

bilhões, com taxa de crescimento em torno de 6% em 2003 segundo o Departamento de Comércio dos

Estados Unidos. O mercado mundial está fortemente concentrado nos países desenvolvidos, tendo os

países em desenvolvimento uma participação residual.

Os EUA têm o maior mercado do mundo representando 43% do mercado mundial, seguido

por Japão com 11%, a Alemanha 10% e a França com 5 %. (tabela 1) Estes países representam 70 % do

mercado mundial de EMHO.

26

Tabela 1 - Mercado Mundial de Insumos e Equipamentos de Uso Médico – 2002-2003.

As elevadas taxas de crescimento do setor podem ser atribuídas a alguns fatores:

- Como o fato dessa indústria se beneficiar enormemente das inovações tecnológicas ocorridas

em outros setores como os de microeletrônica, mecânica de precisão e especialidades químicas que

são utilizados para o desenvolvimento de novos produtos mais complexos, sofisticados e com grandes

diferenciais de preço, sendo na maioria das vezes acompanhados de incrementos modestos de

desempenho. O setor de equipamentos médico-hospitalares investe quase 7% do seu faturamento em

pesquisa;

- A mudança do perfil demográfico com o aumento da expectativa de vida da população,

ocorrido principalmente nos países desenvolvidos tendo como conseqüência um aumento da demanda

por produtos de saúde, destacando os mercados de produtos ortopédicos e cardiovasculares;

- O crescimento do mercado de países em desenvolvimento em razão da reformulação dos

sistemas nacionais de saúde com ampliação da cobertura destes sistemas e do aumento do gasto público

em saúde.

Outra força responsável pelo dinamismo do mercado de equipamentos médico-hospitalares

relaciona-se às especificidades do setor saúde, cujas demandas individuais tem particularidades

que influenciam as demandas coletivas. A demanda por serviços de saúde tem uma elasticidade de

substituição praticamente nula, fazendo com que as empresas segmentem a oferta aproveitando o

espaço da demanda diferenciada, apresentando soluções sofisticadas com grande variação de preço que

27

nem sempre são acompanhadas de alterações nas propriedades dos produtos.

Observa-se nesta indústria a internacionalização das empresas, que ocorre pela necessidade de

se ter uma rede de representantes e de serviços técnicos nos países de grande mercado consumidor e,

por uma lógica de custo-eficiência onde pesam fatores como custos de fabricação local, infra-estrutura

tecnológica e logística.

Apesar dessa característica de internacionalização, observamos que essa indústria mantém o

núcleo de P&D no país de origem. Outra característica observada nesta indústria é a sua crescente

concentração através de processos de fusões e aquisições.

Empresa Sede 2004 ($) 2005($) % de crescimentoJohnson & Johnson E.U.A 16.9 19.1 7%

GE Healthcare E.U.A 13.5 15.2 13%Medtronic E.U.A 9.9 11.0 11%Baxter International E.U.A 9.5 9.9 4%Tyco Healthcare E.U.A 9.3 9.5 3%Siemens Med.Sol. Alemanha 8.4 9.5 12%Cardinal Health E.U.A 7.4 8.5 15%Phillips Med. Sys. Holanda 7.0 7.6 8%Boston Scientific E.U.A 5.6 6.3 12%Abbot Labs E.U.A 5.2 5.9 14%

A prevalência dos Estados Unidos no setor de EMH decorre da existência de um ambiente

sistêmico propício para o seu desenvolvimento, agregando inovações científicas e tecnológicas de

diversos campos, de um sistema de saúde privado capaz de absorver a incessante oferta de novos

produtos, da capacidade de exportar sua cultura médica para outros países e de uma forte atuação

institucional de acesso a mercados internacionais.

Vale registrar um significativo custo que incide nos EMH, representado pela certificação dos

produtos, cujo processo demanda tempo e recursos financeiros. Os países, através de seus governos,

Tabela 2 - Maiores Empresas de Insumos e Equipamentos de Uso Médico por Faturamento e % de Crescimento (Em US$ Bilhões) 2004/05

Fonte: MX: BusinessStrategies for Medical Technology Executives May/June 2006www.devicelink.com/mx/archive/06/05/contents.html

// wistechnology.com/article (acesso em 20/07/2007)

28

estabelecem uma série de regulamentos que tem como objetivo garantir a segurança e a saúde dos

usuários destes equipamentos. Cada país exige uma certificação própria, que deve ser realizada por

laboratório credenciado. Nos Estados Unidos o órgão responsável por esse processo é o FDA (Food

and Drug Administration) enquanto o mercado europeu exige o selo CE (Conformité Européenne)

para comercialização de EMH.

Em alguns casos a demora para obtenção de uma determinada certificação pode possibilitar

o lançamento de um produto similar pelo concorrente. Com objetivo de proteger o consumidor, a

exigência de certificação pode criar um ciclo virtuoso entre os sistemas regulador e produtivo na medida

em que estimula melhorias qualitativas nos produtos e processos de fabricação.

2.2. A indústria de Equipamentos médico-hospitalar brasileira.

2.2.1 Classificação do setor de equipamentos médicos.

O setor de equipamentos médico-hospitalares apresenta importantes problemas de classificação

devido a sua característica de possuir grande diversidade tecnológica e como conseqüência apresentar

fronteiras bastante fluidas. A ABIMO (Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos

Médicos, Odontológicos, Hospitalares e de Laboratórios) avalia que existam 11.000 famílias de

produtos.

Até a década de 90, o setor de equipamentos médicos era classificado pelo IBGE (Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística) em quatro grupos de acordo com sua complexidade tecnológica:

Grupo I - Aparelhos Não Eletroeletrônicos: instrumentos cirúrgicos, estetoscópios, aparelhos

para medir a pressão arterial, termômetros, etc.

Grupo II - Aparelhos Eletroeletrônicos, partes e acessórios: aparelhos de anestesia,

eletromédicos e monitoração, aparelhos de raios X e componentes, aparelhos de diagnóstico por

29

imagem, equipamentos de laboratório, hemodialisadores, oxigenadores, aparelhos odontológicos, etc.

Grupo III – Aparelhos de Prótese e Órtese: válvulas cardíacas, pernas e membros artificiais,

aparelhos de correção da surdez, marcapassos cardíacos, parafusos e dentes acrílicos, olhos artificiais,

etc.

Grupo IV – Material de Consumo: agulhas e seringas, algodão e gaze, categutes, sondas e

cateteres, luvas cirúrgicas, reagentes e etc.

Na década de 90 o IBGE passa a adotar uma nova forma de classificação, o CNAE (Cadastro

Nacional de Atividades Econômicas), que é compatível com a classificação internacional da International

Standard Industrial Classification (ISIC). Nessa nova classificação os três primeiros grupos da antiga

classificação ficam reunidos em apenas um denominado CNAE 33.1: “Fabricação de aparelhos e

instrumentos para usos médico-hospitalares, odontológico e de laboratórios e aparelhos ortopédicos”

(IBGE, 1997). O grupo IV da antiga classificação passa a fazer parte do setor farmacêutico através de

uma classe chamada de CNAE 24.54-6: “Fabricação de materiais para usos médicos, hospitalares e

odontológicos” (IBGE, 1997).

Porém, a forma de classificação mais frequentemente utilizada é a que segue a classe terapêutica

adotada pela ABIMO, que classifica as empresas que respondem ao seu levantamento anual em:

- Setor de Implantes e Material de Consumo Médico-Hospitalar – fabricantes de

produtos implantáveis (próteses ortopédicas, cardíacas, neurológicas, mamárias, etc.) e fabricantes de

materiais de consumo médico-hospitalares hipodérmicos (têxteis, adesivos, e outros de uso único).

- Setor de Equipamentos Médico-Hospitalares – empresas fabricantes de eletromédicos,

instrumentais cirúrgicos, mobiliários hospitalares, equipamentos fisioterápicos, cozinhas e lavanderias

hospitalares.

- Setor de Odontologia – fabricantes de equipamentos odontológicos (consultórios

completos), materiais de consumo (resinas, amalgamas e outros) e de implantes odontológicos.

30

- Setor de Radiologia e Diagnóstico por Imagem – empresas fabricantes de equipamentos

de equipamentos para RX, processadores de filmes (diagnóstico), e de consumo.

- Setor de Laboratórios – empresas fabricantes de equipamentos para laboratórios,

reagentes e outros.

2.2.2. Origem e evolução da indústria de equipamentos médicos brasileira.

O desenvolvimento da indústria de insumos e equipamentos de uso médico no Brasil

começou a partir dos anos 50, fortemente ligado ao processo de industrialização do país, quando As

primeiras empresas que se instalaram no país foram as de materiais de consumo, de menor complexidade

tecnológica como seringas e agulhas. Nesse período também surgiram fabricantes de aparelhos de

anestesia.

Nos anos 60 surgiram as primeiras fábricas de instrumentos cirúrgicos. O grande salto

qualitativo dessa indústria se dá na década de 70 com a produção de aparelhos eletro-eletrônicos e

de materiais de consumo. Nessa época instalaram-se as indústrias de aparelhos e filmes de raios X,

de instrumentos de laboratório, instrumentos de monitoração válvulas cardíacas e marcapassos e

dialisadores e oxigenadores.

31

Tabela 3 - Data de instalação das primeiras fábricas de EMH.

Produtos Empresas Ano de início da produção

Grupo IInstrumentos Cirúrgicos Quinelato (N) 1962

Edlo (N) 1964Sondas e Cateteres Nawa (N) 1972

Bard (E) 1975Ibrás CBO (N) 1981

Grupo IIAparelho de Anestesia K. Takaoka (N) 1953

Oftec (N) 1954 Narcosul (N) 1960

Raios X, Aparelhos e Insumos Politécnica (N) 1967Salgado e Durram (N) 1970CGR (E) 1977Philips (E) 1978Toshiba (E) 1978BEM (N) 1977Kodak (E) 1980Nagel (N) 1981

Laboratório Procyon (N) 1972Micronal (N) 1975Varian (E) 1975Tecnal (N) 1977

Eletromédicos e Monitoração Funbec (N) 1971Berger (N) 1974Fanem (N) 1974

Dialisador e Oxigenador OMG (N) 1978Travenol (E) 1978Bentley-Sorin (E) 1980

Grupo IIIVálvulas Cardíacas Macchi (N) 1977Marcapassos Medtronic (E) 1973

Cardiobrás (J) 1978Bentley-Sorin (E) 1980

Grupo IVMaterial de Consumo, Agulhas e Seringas Ibrás CBO (N) 1953

B&D 1957

(N)-Nacional , (E)-Estrangeira , ( J)-Joint-Venture Fonte: Viacava ( 1983)

O Estado foi o principal ator desse processo quando desencadeou o aumento da demanda com a

criação do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) no ano de 1967. Esse processo denominado

“capitalização da saúde” moveu-se pela canalização da renda arrecadada com a previdência para a

expansão da demanda e oferta privada de serviços de saúde. O Estado provia e pagava a ampliação

da demanda por serviços e produtos médicos, financiava investimentos e contratava serviços da rede

conveniada, tanto pública como privada. Acompanhando esse processo, o gasto privado começou a se

expandir por meio das empresas privadas de seguros médicos.

Esse modelo foi duramente criticado pelo movimento sanitarista, que defendia um sistema de

saúde focado na prevenção da doença e na promoção da saúde, sendo que na década de 80 observou-

se o declínio desse processo de crescimento, culminando na década de 90 com o esgotamento de um

processo de substituição de importações que se iniciou na década de 50 e teve seu ápice na década de

70.

32

O segmento mais avançado dessa indústria, formado pelos equipamentos eletrônicos,

perdeu competitividade durante as décadas de 80 e 90 devido ao acelerado avanço tecnológico que

caracterizou essa indústria no plano internacional, a rápida difusão das tecnologias de informática, de

novos materiais e biotecnologias, e a falta de dinamismo da economia brasileira nessas décadas.

A abertura comercial ocorrida na década de 90 expôs a debilidade da indústria nacional, que

passou a sofrer forte concorrência com o crescimento significativo das importações, ocorrendo elevação

do déficit do setor nesse período.

Outro fator importante foi a valorização do Real em relação às demais moedas, que afetou

negativamente a competitividade externa da indústria brasileira de equipamentos médicos. Uma

série de produtos que passaram a ser produzidos no país nas décadas de 70 e 80, como marcapassos

implantáveis, espectrofotômetros de absorção atômica, cromatógrafos a líquido e a gás, pararam de ser

produzidos localmente na década de 90, por falta de competitividade com os importados. Aparelhos

de radiologia deixaram de ser produzidos e nesse período nenhuma multinacional se instalou no país.

Apesar dos fatos citados, neste período a indústria de equipamentos médicos ficou mais

exposta à concorrência, melhorando sua eficiência e inovatividade. Os segmentos dessa indústria que

conseguiram resistir ao impacto da abertura e da valorização da moeda se especializaram em atividades

de menor conteúdo tecnológico.

2.2.3. Indústria de Equipamentos Médicos brasileira - panorama atual

Apesar do esgotamento do processo de substituição de importações e da forte concorrência

dos importados, a produção de equipamentos médicos cresceu consideravelmente na década de 90. O

segmento da demanda que alimentou essa expansão pertenceu ao setor privado, uma vez que o SUS

manteve os preços dos serviços sem reajuste e num nível muito baixo. O desempenho do setor ao longo

dessa década ficou nebuloso devido à interrupção desde 1996 dos censos do IBGE para a indústria

médica.

33

Atualmente a ABIMO (Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos,

Odontológicos, Hospitalares e de laboratórios) possui cerca de 319 associados dos quais em torno de

70 respondem às pesquisas, sendo atualmente a instituição com as estatísticas mais regulares. Deve-se

levar em conta que esses dados são extrapolados para um universo aproximativo de 500 fabricantes que

a ABIMO estima atuarem no setor, superestimando o valor da produção.

Cabe ressaltar que a classificação do setor utilizada pela ABIMO é diferente daquela usada pela

CNAE (Classificação Nacional das Atividades Econômicas), ou seja, também inclui no setor médico-

hospitalar as empresas produtoras de materiais de consumo, como as que produzem luvas cirúrgicas,

agulhas, sondas e cateteres, gaze e algodão, categutes, reagentes, etc.

O mercado nacional de equipamentos médicos, conforme dados da ABIMO, foi avaliado em

R$ 6.728.937.000,00 em 2006. O valor das exportações em 2006 foi de US$ (FOB) 441.889.000,00

e as importações foram de US$ (FOB) 1590.862,00. O número de empregos diretos foi de 37.434.

Aproximadamente 80% das empresas de EMHO possuem capital nacional.

Gráfico 1 - Origem do Capital das Empresas de EMHO-2006.

Mais da metade das vendas vem dos setores de equipamentos e de materiais de consumo,

destacando-se no primeiro grupo os eletromédicos, aparelhos com maior complexidade tecnológica

e valor agregado. Porém há uma tendência para uma mudança nessa distribuição com os segmentos

Fonte: ABIMO

34

odontologia, laboratório e implantes, que possuem menor participação nas vendas totais, apresentando

taxas de crescimento reais entre 1999 e 2002 acima da média do setor como um todo.

Gráfico 2

A estrutura da indústria é bastante segmentada,congregando um grande número de empresas de

pequeno e médio porte de estrutura familiar.

Em 2002,cerca de 48% do total eram representados por empresas médias,havendo , porém, concentração

de mão de obra (45%), vendas (64%) e investimentos ( 45%) nas empresas de grande porte.

35

Gráfico - 3

Apesar do pequeno porte, muitas empresas nacionais atuam em nichos de mercado de

média complexidade, possuindo produtos competitivos com os similares importados, podendo citar

como exemplos empresas brasileiras fabricantes de aparelhos de anestesia, ventiladores, incubadoras,

monitores etc. essas empresas têm uma participação significativa no mercado nacional e exportam parte

de sua produção (embora essa parcela seja pouco significativa em relação ao seu faturamento total).

Há uma grande dependência de matérias-primas e componentes importados, principalmente nas

áreas de maior complexidade (ex. componentes eletrônicos). A participação dos produtos importados

consumidos no processo de fabricação equivaleu a 30% em 2002. No segmento de implantes, 46,3%

da matéria prima utilizada foram importados, onde se destacam as ligas de titânio usadas na fabricação

de implantes ortopédicos, que não são produzidas no país.

Cabe observar que 80% das empresas brasileiras do setor médico-hospitalar estão instaladas

no Estado de São Paulo.

36

Gráfico 4 – Distribuição das Empresas de EMHO por principais estados e regiões do Brasil - 2006

RJ – Rio de Janeiro

MG – Minas Gerais

Es – Espírito Santo

SPI – São Paulo Interior

SPC – São Paulo Capital

SUL – Região Sul

CO – Região Centro oeste

NE – Região Nordeste

N – Região Norte

Fonte: Afonso Medeiros/ABIMO/Inovatec 2006

Segundo o Cadastro Industrial 2004-2005 da Federação das Indústrias do Estado do Rio de

Janeiro (FIRJAN), o estado do Rio de Janeiro possui 18 empresas catalogadas com setor de atividade

CNAE 33.1: “Fabricação de aparelhos e instrumentos para usos médico-hospitalares, odontológico

e de laboratórios e aparelhos ortopédicos”. (IBGE, 1997). Dessas 18 empresas, 02 são estrangeiras,

03 representantes comerciais de empresas estrangeiras. Apenas uma empresa, a Vigodent, fabricante

de aparelhos para uso odontológico, figura no Ranking Empresarial FIRJAN/FGV (200 maiores

empresas do Rio de Janeiro), ocupando a posição de número 190.

37

Tabela 4 - Empresas com setor de atividade CNAE 3310-3 Fabricação de aparelhos e

instrumentos para uso médico-hospitalares, odontológicos e de laboratórios e aparelhos ortopédicos

localizadas no Estado do Rio de Janei

Empresa Município Nº. de Empregados

Produtos

Alko do Brasil (E) Rio de Janeiro 17 Produtos para radiologia , Ressonância e outros

Dentec Indústria e Comércio LTDA (N)

Rio de Janeiro 8 Equipamentos Odontológicos

Endo Points Indústria e Comércio LTDA (N)

Paraíba do Sul 140 Cones de Guta Percha e Cones de Papel Absorvente

Equimed Ind e Com de Equip. Hospitalares LTDA (N)

São Gonçalo 0

Fluxo tecnologia LTDA (N)

Rio de Janeiro 10 Equipamentos para controle de Qualidade (Banhos, Estufas, Medidores de Ph,termômetros,etc.)

Hartmann Ind. E Com. de Produtos Médico Hospitalares LTDA (N)

São Gonçalo 600 Equipos ,coletores,extensões para cateter

Indústria Reunidas RHOS LTDA (N)

Duque de Caxias

40 Consultório odontológico, aparelhos de RX, Amalgamadores, Fotopolimerizadores

Instituto Ortopédico Barbosa Viana LTDA (N)

Rio de janeiro 5 Produtos Ortopédicos em geral

Janus e Pergher Indústria de Equipamentos de Ar LTDA (N)

São Gonçalo 11 Geradores de Oxigênio e Nitrogênio

Laboratório Vitaloy de Prótese LTDA (N)

Rio de Janeiro 9 Prótese Dentária

Micronal (N)Matriz em São Paulo

Rio de Janeiro 9 Aparelhos para laboratório

Polior Ind. e Com. de Produtos Ortopédicos (N)

Duque de Caxias

46 Órtese e Prótese

Promir Com e Ind. Imp.Exp.Apar.Cor.(Diag,Defic. Físicas LTDA (N)

Niterói 5 Prótese peniana e testicular

Siemens LTDA (E) Rio de Janeiro 900 Telecomunicações

Super Dentária Napoleão LTDA (N)

Rio de Janeiro 6 Aparelhos para uso Médico-odontológico

Uraby Produtos Odontológicos LTDA (N)

Rio de Janeiro 17 Prensas, articuladores e Mufios

Vigodent S/A Ind. e Com. (N) Rio de Janeiro 140 Aparelhos para uso Odontológico

Vistamed Tecnologia e Marketing LTDA (N)

Rio de Janeiro 8 Aparelhos Médicos

A rede pública é tradicionalmente um importante comprador dos produtos de uso médico. A

produção de equipamentos visa a atender a demanda do setor privado (46%) e do governo (44%). Uma

parcela muito pequena da produção é destinada a exportações (10%).

Fonte: Cadastro Industrial do Estado do rio de janeiro 2004-2005 Firjan.

38

Gráfico 5 - Compradores de Produtos de Uso Médico

Fonte: ABIMO (2007)

Quando utilizada a classificação do CNAE, o sub-setor de equipamentos médico-hospitalares,

instrumentos de precisão e ópticos e equipamentos para automação industrial foi um dos setores com

pior desempenho em termos de balança comercial da indústria de bens de capital, embora tenha

mostrado tendência de reversão desse indicador a partir de 1999.

Esse resultado é particularmente preocupante em perspectiva de longo prazo, posto que, salvo

exceções, são nesses sub-setores da indústria de bens de capital que se concentram as atividades mais

intensivas em tecnologia e, portanto, com maior capacidade de difusão de inovações e externalidades

tecnológicas para o restante da economia.

Fonte: MDIC / SECEX

Gráfico 6

39

Segundo pesquisa da ABIMO, a indústria brasileira vem respondendo, em média, por pouco

mais da metade do mercado interno de insumos e equipamentos para uso médico, sendo o restante

suprido por importações. A evolução da balança comercial brasileira do setor no período de 1999/2002

segundo a ABIMO mostra um pequeno, porém constante crescimento das exportações que derivam da

conjugação do desaquecimento do mercado interno, iniciado com a crise financeira de 2002 e mantido

com a baixa atividade econômica de 2003, acarretando para as empresas um grau de ociosidade grande,

levando-as a buscar novos mercados no exterior e a certificação obrigatória de empresas e produtos,

exigida pela ANVISA, que tem colocado um bom número de empresas em um patamar de qualidade

de nível internacional.

Tabela 5 - Balança Comercial Brasileira do Segmento Médico-Hospitalar – 1999/2002

Fonte: Imi / ABIMO (2003)

40

A tabela anterior revela que há diferenças de comportamento significativas entre os diversos

segmentos:

Odontologia: único segmento superavitário do setor, contribuindo para isso as exportações

de cadeiras e aparelhos para dentistas, ao lado de dentes artificiais, enquanto os maiores itens

importados referem-se a materiais para restaurações, instrumentos e aparelhos e próteses

dentárias;

Laboratório: débil movimento exportador frente à importação majoritária de reagentes e de

equipamentos de alta complexidade.

Radiologia (diagnóstico por imagem): as elevadas importações são determinadas por

aparelhos de ressonância magnética, ecografia com Doppler, tomografia computadorizada e

para angiografia, bem como filmes e chapas para raios X, classe que responde também pelas

principais exportações do segmento;

Equipamentos médico-hospitalares: associa um pequeno crescimento das exportações de

produtos como ventiladores e pequenos aparelhos cirúrgicos a um notável aumento das

importações de aparelhos e instrumentos para cirurgias, hemodiálise, oftalmologia e para

eletrodiagnóstico;

Implantes: embora as exportações venham crescendo regularmente ( próteses e válvulas

cardíacas), vêm crescendo em maior proporção as importações de marca-passos,aparelhos para

audição e stents;

Material de consumo: apresenta ao lado dos implantes, um dos implantes, um dos menores

déficits comerciais do setor, com crescimento contínuo das exportações (agulhas para suturas,

seringas). Os principais materiais importados são sondas e cateteres, luvas de borracha,

preservativos e aparelhos para transfusão de sangue.

41

Como conseqüência das exigências feitas pela ANVISA e dos requisitos de inserção no mercado

internacional, as empresas brasileiras têm realizado um grande esforço de certificação, tanto de processo

quanto de produto. Cerca de 52% das empresas possuíam algum tipo de certificação de sistema de

qualidade em 2002, enquanto 40% possuíam certificações para produtos que comercializam. De acordo

com estudo da IEMI (Instituto de Estudos e Marketing Industrial) divulgado pela ABIMO, o volume

de certificações de qualidade, resultados do esforço para o desenvolvimento industrial, apresentou

evolução. Em 2006, 40,8mil produtos brasileiros receberam certificação de qualidade, 5% a mais em

comparação com 2005. A indústria investiu em 2006 R$ 12,6 milhões em processos de certificação,

contra R$ 5,6 milhões em 2005. (Saúde Business Web, em 28/06/2007)

Gráfico 7

Gráfico 8

42

A criação da ANVISA (Lei 9.782 de 26 de janeiro de 1999) representou um marco no processo

de certificação de produtos médicos no país. Esse processo ao mesmo tempo em que protege o usuário

de produtos de baixa qualidade, sinaliza melhorias qualitativas ao fabricante. Apesar do avanço, poucos

são os produtos sujeitos a certificação compulsória. Atualmente estão estabelecidos regulamentos

técnicos apenas para preservativos masculinos, equipamentos para esterilização por óxido de etileno e

equipamentos eletromédicos.

Há necessidade da melhoria dos laboratórios existentes no país e de qualificação e aumento

da equipe técnica. Muitos equipamentos não são certificados por falta de instalações capazes de fazer

os testes necessários, e muitos testes são demorados devido a sobrecarga dos poucos laboratórios

credenciados para realizá-los.

2.2.4. Inovatividade da indústria de equipamentos médicos - Pintec

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) realiza a Pesquisa Industrial de

Inovação Tecnológica (PINTEC) com periodicidade a cada três anos. Sua primeira realização ocorreu

em 2001(PINTEC 2000); e a segunda em 2004 (PINTEC 2003). A PINTEC é a primeira pesquisa

mais ampla no Brasil, referida ao contexto nacional, com conceitos internacionalmente comparáveis,

que procurou comparar as atividades inovativas das indústrias brasileiras. A Pintec optou do ponto

de vista metodológico, por utilizar como base a terceira versão do Community Innovation Survey

(EUROSTAT) e possui como seu principal indicador a Taxa de Inovação, que mensura o quociente

entre o número de empresas que realizaram algum tipo de inovação (produto ou processo) e o total

das empresas.

De acordo com a Pesquisa Industrial de Inovação Tecnológica 2003 (Pintec), apenas 33,3 %

das empresas industriais brasileiras com mais de 10 empregados foram inovadoras no período de 2001-

2003 (introduziram no mercado produtos e/ou processos novos ou tecnologicamente aprimorados

nos três anos anteriores à pesquisa) Na pesquisa anterior predominaram inovações só em processo, nos

anos 2001-2003 a estratégia era inovar em produto e processo.

43

De acordo com a Pesquisa Industrial de Inovação Tecnológica 2003 (Pintec), apenas 33,3 %

das empresas industriais brasileiras com mais de 10 empregados foram inovadoras no período de 2001-

2003 (introduziram no mercado produtos e/ou processos novos ou tecnologicamente aprimorados

nos três anos anteriores à pesquisa) Na pesquisa anterior predominaram inovações só em processo, nos

anos 2001-2003 a estratégia era inovar em produto e processo.

Gráfico 9 - Taxa de Inovação no Brasil e Países da OCDE

Fonte Eurostat,OECD STI/EAS Division,may 2001 e Pintec/IBGE 2003

Ao analisar a relação existente entre o desempenho inovador e o porte da empresa, verifica-se

que o desempenho varia substancialmente conforme o porte da empresa. Dessa forma a proporção da

taxa de inovação cresce com o aumento do tamanho da empresa. Assim nas empresas caracterizadas de

pequeno porte, a taxa de inovação é de 31,5 (apresentou ligeiro aumento em relação à Pintec 2000),

enquanto nas empresas de grande porte a taxa média de inovação é de 72,5. A concentração de empresas

de pequeno porte corresponde a 79,7% do universo de 84,3 mil empresas e contribui para abaixar a

taxa média de inovação no país. ( anexo 3)

As atividades com maiores taxas de inovação na PINTEC 2003 são de alta e média-alta

intensidade tecnológica. Quase todos nesse grupo de setores, de acordo com a taxonomia de Pavitt

44

(1984), compõe setores geradores e difusores de progresso técnico, ou por serem “baseados na ciência”,

ou por serem “ fornecedores especializados”.

Nesse grupo a participação dos gastos com atividades internas de P&D sobre o total de gastos

com inovação é maior do que nos demais grupos, apesar da pesquisa revelar queda generalizada da

participação dos gastos com atividades inovativas no total da receita líquida de vendas nas empresas

(em 2000 o gasto total representava 3,8% do faturamento, em 2003 essa fração caiu para 2,5%). Porém

no setor de fabricação de equipamentos de instrumentação médico-hospitalares, instrumentos de

precisão e ópticos, equipamento para automação industrial, cronômetros e relógios, a participação dos

dispêndios com aquisição de máquinas e equipamentos é superior a dos gastos com atividades internas

de P&D.

Gráfico 10 - Participação dos Gastos em Inovação por Categorias

em Setores Selecionados

obs: a categoria outros se refere a gastos com marketing e outras atividades relacionadas à introdução de novos produtos no mercado

Em comparação com a pesquisa Pintec 2000, a maioria das atividades industriais diminuiu a

intensidade do esforço inovativo, medida pela relação entre gastos com inovação e a receita líquida de

vendas.

A identificação de fontes de informações, idéias que são utilizadas no processo inovativo,

podem ser consideradas um indicador útil, do processo de criação, disseminação e absorção de

Fonte: Pintec 2003

45

conhecimentos. Quanto às relações de cooperação para a inovação, a importância de conhecê-las e

promovê-las baseiam-se na idéia de que o fortalecimento das interações entre diferentes agentes do

sistema nacional de inovação tem papel fundamental no desenvolvimento tecnológico, na medida em

que facilita o fluxo de informações, promove o aprendizado e a difusão de novas tecnologias.

A análise dos resultados da proporção das empresas que implementaram inovações e atribuíram

importância alta ou média para cada categoria de fonte de informação, revela que as quatro fontes mais

indicadas continuam sendo as áreas internas à empresa(62,7%), fornecedores (59,1%),feiras e exposições

(58,4%) e clientes ou concorrentes (53,4%); enquanto a s fontes outra empresa do grupo (5,1%) e

aquisição de licenças ,patentes e know-how(2,9%)continuam as menos utilizadas. (Pintec2003)

O setor fabricação de equipamentos de instrumentação médico-hospitalares, instrumento de

precisão e ópticos, equipamentos para automação industrial, cronômetros e relógios apresentou

resultados acima da média da indústria de transformação (MIT) nas seguintes fontes:

Departamento de P&D → 24,2% (MIT 7,3% )•

Clientes ou Consumidores → 60,4% (MIT 53,6%)•

Instituições de testes, ensaios e certificações →19,8% (MIT 11,8%)•

Licenças, patentes e know-how → 3,4% (MIT 2,9%)•

Concorrentes → 47,1% (MIT 39,9%)•

Empresas de consultoria e consultores independentes → 14,3% (MIT 13%)•

Universidades e centros de pesquisa → 17,9% (MIT 8,34%)•

Conferências, encontros e publicações especializadas → 41,4% (MIT 32,4)•

Feiras e exposições → 87,7% (MIT 58,6%)•

Redes de informação informatizadas → 76,8% (MIT 46,1%)•

Dos diversos métodos usados para garantir a apropriação dos resultados de suas inovações, o

mais utilizado pelas empresas foi a marca., em segundo lugar o segredo industrial e em terceiro lugar

surgem em conjunto as patentes de invenção,de modelo de utilidade e registro do desenho industrial.

46

Novamente o segmento Fabricação de equipamentos de instrumentação médico-hospitalares,

instrumentos de precisão e ópticos, equipamentos de automação industrial, cronômetros e relógios,

supera a média da indústria de transformação.

Tabela 6 - Métodos de Proteção utilizados pelas Empresas que Implementam Inovações.

Métodos de proteção utilizados pelas empresas

que implementaram inovações

Setor da indústria Por escrito Estratégicos

Complexidade Segredo Tempo de liderança Outros Patentes Marcas no desenho Industrial sobre competidores Total da indústria de transformação 7,40% 21,90% 1,30% 8,40% 1,90% 3,50% fabricação de prod. químicos 15,40% 38,40% 0,90% 17,90% 4,10% 4,60% fabricação de prod. 13,70% 44,00% - 13,00% 3,50% 7,00%farmacêuticos

Fab. de eqtos.de ins-

trumentação médico-

hospitalares,instr. De

precisão e ópticos,ind cronôm/relógios 33,00% 30,20% 0% 19,70% 7,00% 6,20%

Fonte: Pintec2003

No tocante a utilização de programas governamentais de apoio as atividade inovativas,

observa-se que apesar da utilização de programas de incentivo fiscal ser maior no setor de fabricação

de equipamentos de instrumentação médico-hospitalares, instrumentos de precisão e ópticos,

equipamentos para automação industrial, cronômetros e relógios do que o total das empresas inovadoras

da indústria de transformação, os programas mais utilizados por este setor são os de financiamento à

47

compra de máquinas e equipamentos utilizados para inovar, e outros programas de apoio. Também é

constatado o baixo percentual de financiamentos a projetos de pesquisa que estimulam a aproximação

entre o setor empresarial e as universidades e centros de pesquisa, efetuados através de fundos setoriais

, ficando este setor bem abaixo da média das outras empresas.

Tabela 7 - Percentual de empresas que implementaram inovações e receberam apoio do

Governo para suas atividades inovativas por tipo de programa.

Setor da Indústria

Total Lei de Incentivo a P&D (1)

Lei da Informática (2)

Proj. de Pesq. em parceria com Uiversidades e int. de pesq.

Compra de Máquina e Equipamento

Outros programas de apoio (3)

Ind. de transf. 18,60% 3,90% 4,60% 7,70% 75,60% 21,50%

Fab. Prod. quím. 13,45% 17,60% 0,60% 8,50% 73,10% 31,70%

Fab. de Eqtos. de instrumen-tação médico-hospitalares

16,60% 3,80% ------- 9,60% 78,80% 28,80&

Fab. Instrumen-tos de precisão e ópticos, ind. cronômetros / relógios

16,10% 9,60% 25,80% 1,60% 37,00% 45,00%

Fonte: Pintec2003

Incentivo fiscal a P&D ( Lei nº. 8.661 e Lei nº. 10.332 )(1)

Incentivo fiscal Lei de Informática (Lei nº. 10176 e Lei nº. 10664)(2)

Agregam os oferecidos pelas Fundações de Amparo à Pesquisa, os Recursos Humanos em Áreas Estratégicas – RHAE do Conselho Nacional de Desenvolvimento (3)

Científico e Tecnológico, os programas de aporte de capital de risco do BNDES e da Financiadora de Estudos e Projetos – FINEP, o Programa de apoio Tecnológico

à Exportação - PROGEX e o Programana Nacional de Apoio a Incubadoras de Empresas - PNI, da FINEP, entre outros

Os problemas e obstáculos apontados na pesquisa para não inovar, constituem informações

valiosas para a formulação e avaliação de políticas objetivando o aumento da capacitação inovativa das

empresas.

FinanciamentoIncentivo Fiscal

48

Gráfico 11

Problemas e obstáculos apontados pelas empresas que implementaram inovações- Brasil- períodos

1998-2000 e 2001-2003

Fonte: Pintec 2003, IBGE

O Brasil conforme observado na pesquisa, possui baixo nível de investimentos em CT&I

por parte do setor privado, fato que incita a premente necessidade da criação de políticas públicas

e parcerias entre empresas, governo e universidades e institutos de pesquisa, como mecanismos de

estímulo ao desenvolvimento da inovação tecnológica.

49

2.2.5 Principais entraves para a indústria de EMHO

O painel apresentado indica que ainda falta muito para a consolidação da indústria de insumos

e equipamentos médico-hospitalares no Brasil. Os principais entraves para o desenvolvimento são:

- A estrutura familiar e os altos custos intangíveis específicos desse segmento (certificações de

produtos e estabelecimento de rede de representação e assistência técnica) são aspectos limitadores ao

crescimento dessas empresas, as quais não são capazes de mobilizar recursos suficientes, inclusive por

não existir uma forma de financiamento (ou programa) adequada ao seu perfil;

- Os níveis de certificação das empresas e produtos ainda são baixos, quando considerado que a

ANVISA exige a certificação de Boas Práticas de Fabricação (BPF) para todas as empresas que fabriquem

e/ou comercializem equipamentos médicos no país; além disso, a certificação de produtos com a marca

CE e FDA é obrigatória para a venda nos mercados europeu e americano, respectivamente;

- A falta de uma rede de fornecedores nacionais, uma vez que a proximidade dos fornecedores

é fundamental para a capacitação e o desenvolvimento tecnológicos das empresas de equipamentos

médicos. (Componentes eletrônicos);

- A indústria nacional teve de sobreviver em um ambiente relativamente hostil do ponto de vista

do financiamento da demanda. A ausência de linhas de apoio à comercialização competitiva, uma vez

que as linhas oferecidas pelas empresas estrangeiras (leasing ou supliers credit) são superiores às das

empresas nacionais (Finame, Cartão BNDES);

- A melhoria das condições de pagamento do SUS - tabelas de preços defasadas,

demora no pagamento aumentando o prazo de recebimento das empresas.

- A incerteza do mercado interno, cuja demanda majoritariamente estatal, não está coordenada

com a oferta local.

50

- Falta de informação por parte do governo sobre o parque de equipamentos

- Ausência de um sistema de codificação nacional para equipamentos e artigos na área médico-

hospitalar.

A articulação do poder de compra do Estado com uma política para o setor que contemple

aspectos industriais e tecnológicos é fundamental para o fortalecimento e crescimento da base

produtiva nacional. Existem pelo menos quatro níveis de atuação do Estado: o gasto público em saúde,

as tarifas alfandegárias, a carga tributária e o financiamento público. Destaca-se a necessidade de uma

política nacional de CT&I voltada para as necessidades da população tendo como metas prioritárias

o desenvolvimento e otimização dos processos de absorção de conhecimento científico e tecnológico

pelas indústrias, pelos serviços de saúde e pela sociedade.

Por fim, a retomada de uma posição competitiva em relação ao mundo em desenvolvimento é

uma tarefa básica da política tecnológica em saúde e a maneira mais importante para realizá-la.

51

Capítulo 3

Rede Sentinela como ferramenta para inovação e desenvolvimento industrial

52

3.1. Papel da Anvisa

O aumento da capacidade científica e tecnológica do país perpassa por maior empenho

na obtenção da auto-suficiência nacional do mercado de equipamentos médico-hospitalares e de

insumos no âmbito da saúde. Existe no setor saúde uma demanda social permanente pressionando

pela assimilação de novas tecnologias que representam um custo extraordinário para o SUS. Como

as tecnologias interferem na saúde coletiva, o desenvolvimento tecnológico exige vigilância dos novos

produtos que são colocados no mercado.

No caso brasileiro, onde existe uma grande interação entre os setores públicos e privados

para o provimento de serviços à saúde, como pode ser observada através do SUS, a estrutura atual

de incentivos favorece um processo de absorção passiva e desordenada das inovações produzidas

nos países mais avançados. Quando se analisa a trajetória tecnológica da indústria de equipamentos

médico- hospitalares tem de se ter sempre em mente que este segmento é um componente importante

do complexo industrial do País e que o seu desenvolvimento tecnológico reflete as políticas nacionais

de desenvolvimento industrial e o padrão de integração entre o governo e a indústria em relação às

pesquisas científicas. (Leandro Fonseca da Silva, SEAE/MF doc. trabalho nº. 39)

Através da análise da Lei Orgânica da Saúde (Lei 8.080, de 19 de setembro de 1990 e Lei 8.142,

de 28 de dezembro de 1990, um conjunto de ações articuladas voltadas para proteção e defesa da saúde

que constituem a Vigilância Sanitária, ficou definida como:

[...] um conjunto de ações capaz de eliminar, diminuir ou prevenir riscos à

saúde e de intervir nos problemas sanitários decorrentes do meio ambiente,

da produção e circulação de bens e da prestação de serviços de interesse da

saúde, abrangendo:

I- o controle de bens de consumo que, direta ou indiretamente, se

relacionem com a saúde, compreendidas todas as etapas e

processos, da produção ao consumo;

53

II- o controle da prestação de serviços que se relacionam direta ou indiretamente com a saúde.

Quando se analisa esta definição fica claro que a definição da vigilância sanitária é bastante

ampla, complexa englobando uma enorme gama de objetos.

No Brasil, a regulação da comercialização de produtos correlatos para a saúde é feita atualmente

pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Essa Agência, criada pela Lei n° 9.782, de 26

de janeiro de 1999, é uma autarquia de regime especial, vinculada ao Ministério da Saúde, e caracterizada

pela independência administrativa, estabilidade de seus dirigentes durante o período de mandato e

autonomia financeira. Antes da criação da ANVISA, a regulação do setor era responsabilidade da

Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde.

A finalidade institucional da ANVISA é promover a proteção da saúde da população por

intermédio do controle sanitário da produção e da comercialização de produtos e serviços submetidos

à vigilância sanitária, inclusive dos ambientes, dos processos, dos insumos e das tecnologias a eles

relacionados. Além disso, a Agência exerce o controle de portos, aeroportos e fronteiras e promove

a interlocução junto ao Ministério das Relações Exteriores e instituições estrangeiras para tratar de

assuntos internacionais na área de vigilância sanitária.

Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) tem como uma de suas principais

incumbências eliminar ou diminuir o risco sanitário envolvido na produção e consumo de produtos

de interesse da saúde. Sua finalidade manifesta-se por meio do controle das práticas de produção,

determinando normas técnicas e padrões de produção. Para tanto deve atuar desde o registro e

autorização para entrada no mercado de um produto e subseqüentemente, acompanhar seu desempenho

durante as fases de pós-comercialização.

Na concepção de Costa (2004) a introdução inovadora do conceito de risco na Lei Orgânica

da Saúde, conferiu à vigilância sanitária um caráter mais abrangente e completo ao seu conjunto de

ações, reforçando o papel do Estado na determinação do processo saúde-doença.

**ANVISA - A Agência Nacional de Vigilância Sanitária é uma autarquia sob regime especial, ou seja, uma agência reguladora caracterizada pela independência administrativa, pela estabilidade de seus dirigentes durante o período de

mandato e autonomia financeira. Foi criada pela Lei n° 9.782, de 26 de janeiro de 1999 para atender às diretrizes do Plano de Reforma do Aparelho de Estado Na estrutura pública federal, a administração da agência está vinculada ao Ministério é regida por

um Contrato de Gestão, negociado entre o Diretor-Presidente da Agência e o Ministro da Saúde sob a concordância dos Ministros da Fazenda e do Planejamento.

54

A vigilância sanitária ao exercer o controle sanitário, define limites e normas a serem seguidos

pelos setores produtivos, criando condições necessárias à produção econômica. O trabalho da vigilância

sanitária está sujeito a alterações e adaptações decorrente do surgimento de novos produtos, processos

e serviços oriundos dos avanços tecnológicos decorrentes do progresso científico em diferentes áreas

do conhecimento. (Costa 2001; Lucchese, 2001).

Essa característica é também fortalecida pelo processo de globalização dos mercados,

cuja concorrência comercial e tecnológica intensificou e fragmentou o processo produtivo, ampliando

a oferta e comercialização de mercadorias. A grande variedade de tecnologias embutidas nos produtos

a serem controlados pelas ações de vigilância sanitária requer a formação de equipes multiprofissionais

das mais diversas áreas do conhecimento.

As atribuições legais da ANVISA no controle sanitário da produção e comercialização de

produtos correlatos para a saúde no País são:

• Elaborar e propor a regulamentação técnica que oriente as ações de vigilância

sanitária na área de correlatos;

• Coordenar e promover a execução das ações de registro de produtos correlatos;

• Coordenar, acompanhar e avaliar a execução de regulamentos técnicos aplicáveis a

produtos correlatos, relacionados com a área de atuação da vigilância sanitária;

• Planejar e coordenar a execução de programas de controle de qualidade e

certificação de produtos correlatos;

• Opinar sobre a importação de produtos correlatos por entidades sem fins lucrativos,

para fins de isenção de imposto de importação;

• Promover a harmonização dos regulamentos técnico-sanitários da área de correlatos,

55

3.2 ANVISA e o Setor de Equipamentos Médico-Hospitalares

No setor de Equipamentos médico-hospitalares (EMHO) não foram observados os mesmos

progressos que ocorreram em outros setores da sociedade na busca por mais qualidade, motivados

essencialmente pela competição iniciada pela abertura da economia e das fronteiras a partir de 1990.

(Mülhen, S. S, 2001) Dentre as prováveis razões que diferenciam o setor de equipamentos médico-

hospitalares de outros bens de consumo duráveis podemos citar a condição peculiar da qual quem

recebe seus benefícios ou sofre as conseqüências de sua baixa qualidade, não é quem decide a sua

compra; quem os utiliza geralmente possui pouca informação sobre a qualidade do equipamento e

possui poder limitado para influir na sua aquisição; e normalmente quem paga por eles utiliza como

critério de seleção apenas o preço. Esta condição socialmente perversa favoreceu a proliferação de

empresas sem qualificação e desestimulou empresas sérias a investirem na produção de produtos de

qualidade por serem menos competitivos. Como o Estado é historicamente o maior comprador de

EMH, esta realidade é mais verdadeira para rede pública.Essa situação só pode ser revertida através de

uma ação sistêmica promovida pelo Ministério da Saúde e com a participação da ANVISA .

As indústrias de equipamentos e produtos médico-hospitalares por sua importante inserção

na atividade hospitalar, possuem um papel considerável na melhoria contínua da qualidade de vida

da população brasileira. A presença de indústrias competitivas nesse segmento de mercado significa

distribuir democraticamente mais qualidade nos serviços a um custo menor.

A ANVISA cabe o papel de instrumentalizar gestores, consolidando sistemas de informação,

elaborando indicadores e rotinas de análise para o monitoramento e avaliação de ações aplicadas ao

controle de riscos e agravos sanitários. A nova vigilância sanitária não pode se ater somente nos aspectos

cartoriais burocráticos. As tecnologias interferem de alguma forma na saúde coletiva reforçando o

papel da ANVISA na vigilância e intervenção nos eventos adversos.

A ausência de tradição dos profissionais de saúde e dos dirigentes de serviços em notificar a

ocorrência de falhas ou ocorrências envolvendo produtos de saúde gera grandes dificuldades em se

56

obter informação de boa qualidade a respeito do desempenho deles no país que possa subsidiar a

tomada de decisões por parte da ANVISA.

3.3 O Projeto Hospitais Sentinela

O projeto Hospitais Sentinela também chamado de Rede Sentinela, tem como objetivo a

construção de uma rede nacional de serviços preparados para notificar eventos adversos e queixas técnicas

de produtos de saúde; insumos, materiais e medicamentos saneantes, kits para provas laboratoriais

e equipamentos médico-hospitalares em uso no Brasil, para ampliar e sistematizar a vigilância de

produtos utilizados em serviços de saúde de forma a garantir melhores produtos no mercado e mais

segurança e qualidade para pacientes e profissionais de saúde.

Inicialmente o Projeto foi lançado como um projeto “piloto” ANVISA/PNUD/097/042,

com a duração de dois anos -2002/2004. Com o término do piloto, e no entendimento que foram

alcançados resultados positivos, investiu-se na elaboração de um novo projeto, com a duração de

cinco anos - 2005 a 2009, Anvisa/PNUD 04/010. Foi ampliado assim não só a duração do projeto,

mas essencialmente, as suas ações na busca da melhoria da qualidade dos produtos para a saúde e o

atendimento com mais qualidade aos pacientes/clientes.

3.3.1 Configuração da Rede Sentinela

Baseia-se na configuração de uma rede composta por 104 hospitais de grande e médio

porte, distribuídos em todo território brasileiro com reconhecido papel no ensino e na formação de

profissionais de saúde, por conta dos programas de residência médica que desenvolvem. A escolha se

baseou na relação do Ministério da Educação (MEC), dos maiores hospitais do Brasil com residência

médica e, a determinação do número de hospitais por unidade da federação respeitou à porcentagem

de residências médicas oferecidas naquela dada unidade federativa em relação ao total da oferta de

programas de residência médicas do país.

57

A Rede Sentinela também conta com 81 hospitais colaboradores. Eles não recebem recursos

da ANVISA como os hospitais sentinela, mas participam voluntariamente de ações de notificação.

A Rede Sentinela também atua em parceria com a Associação Médica Brasileira (AMB) e os

órgãos de Vigilância Sanitária Estaduais e Vigilâncias Municipais. O convênio de cooperação técnica e

científica AMB/ANVISA lançado em setembro de 2004, tem como objetivo ampliar o intercâmbio de

informações com as 52 sociedades especializadas filiadas à AMB, que compreende aproximadamente

99 mil médicos, para a prática sistematizada da notificação dos problemas relacionados aos produtos

de saúde. A AMB considera o maior desafio dessa parceria, o estabelecimento da regulamentação da

incorporação de tecnologias na área da saúde.

Segundo a ANVISA a justificativa para a Vigilância de Produtos de Saúde baseia-se nos

seguintes fatos:

- A incorporação de tecnologia aos hospitais exige cada vez mais a utilização intensiva

de Produtos de Saúde.

- O completo gerenciamento desses produtos: seleção, aquisição, uso, manutenção

e descarte, é fator crucial de qualidade e segurança para pacientes e de viabilidade econômica e

competitividade para o hospital.

- A racionalização na utilização de produtos e sangue e hemocomponentes.

- Aumento da segurança na terapia transfusional.

3.3.2 Estratégia de implantação e objetivos do Projeto Sentinela

O projeto contou como estratégia de implantação, da presença em cada hospital

integrante da rede sentinela do chamado Gerente de Risco. Este profissional na maioria dos casos é um

profissional do próprio hospital, designado pela direção do hospital, que foi redirecionado para a nova

função. Este profissional possui a tarefa de gerenciar as informações para o Hospital e para o Sistema

Nacional de Vigilância Sanitária de Produtos de Saúde Pós-Comercializados e articular diversas áreas

58

de apoio à assistência (Farmácia, Engenharia Clínica e manutenção, Serviço de Hemoterapia, Comissão

de Controle de Infecção Hospitalar, e outras).

Dentre os resultados esperados e perspectivas de desdobramentos da Rede Sentinela, a

ANVISA almeja incorporar a Rede Sentinela ao Sistema Nacional de Vigilância Sanitária de Produtos

de Saúde Pós-Comercialização; consolidar uma rede capacitada para a gerência racional de tecnologias

em saúde, com vistas na qualidade, segurança e sustentabilidade dos serviços de saúde; incrementar a

segurança transfusional e o uso racional de sangue e seus componentes; normatizar a incorporação e

gerenciamento racionais de tecnologias em saúde; dar tratamento apropriado à informação adquirida

com o Projeto Sentinela de forma a torná-la ferramenta gerencial; ampliar o campo de trabalho para

a Engenharia Clínica/ Manutenção, Farmácia Hospitalar; e Serviços de Hemoterapia; estimular a

adoção de medidas de valorização da qualidade da Atenção em Saúde.

3.3.3 SINEPS – Sistema de Informação de Notificação de Eventos Adversos relacionados a

Produtos de Saúde

A Rede Sentinela permitiu a instalação em dezembro de 2002, de um software denominado

Sistema de Informação de Notificação de Eventos Adversos relacionados a Produtos de Saúde

(SINEPS) , um importante instrumento para rastrear e identificar problemas de qualidade e

segurança em medicamentos, equipamentos médico-hospitalares, kits de laboratório, saneantes,

sangue e componentes. O sistema de informação do projeto piloto se compõe de quatro subsistemas:

Tecnovigilância, Hemovigilância, Farmacovigilância e Queixas técnicas de medicamentos.

Os hospitais que compõe a Rede Sentinela atuam como filtros ao realizarem triagem das

notificações enviadas pelos usuários e posteriormente, após análise, enviam para ANVISA as situações

passíveis de notificação de evento adverso. Desde maio de 2003, os Gerentes de Risco Sanitário

Hospitalar, responsáveis pelo Projeto: Hospitais Sentinela e Colaboradores utilizam o Sistema de

Informação de Notificação de Eventos Adversos e Queixas Técnicas relacionados a Produtos de Saúde

59

(SINEPS), nas áreas de Farmacovigilância, Hemovigilância e Tecnovigilância. Durante essa fase, 60%

da rede sentinela já notificam “on-line” em um ou mais dos quatro subsistemas.

A notificação é um relatório de comunicação de evento adverso e deve relatar o evento ocorrido da

forma mais precisa e completa possível. Desde que começaram os trabalhos de implantação do SINEPS

várias melhorias foram implementadas, porém esse sistema continua em fase de aperfeiçoamento.

O SINEPS permite o envio off-line das notificações pelos participantes do Projeto Hospital

Sentinela. Para quem não participa do projeto a ANVISA disponibiliza no seu endereço eletrônico

um formulário para notificação on-line, denominado Notificação de tecnovigilância Avulsa. Este

formulário para notificação avulsa tem o mesmo conteúdo do formulário do SINEPS, porém não é

formado, automaticamente, um banco de dados no computador do notificador, como ocorre com os

usuários do SINEPS.

As informações obtidas pela Rede Sentinela integrarão o Sistema Nacional de Vigilância

Sanitária Pós-Comercialização com o objetivo de subsidiar a ANVISA nas ações de regulação desses

produtos no mercado sendo que a atuação dos profissionais de saúde é fundamental para o projeto e

que qualquer profissional de saúde pode notificar.

Dentro do papel da ANVISA de fornecer informações aos gestores e formuladores de

políticas públicas, consolidar sistemas de informação e elaborar indicadores que permitam monitorar

e avaliara ações aplicadas ao controle de riscos e agravos , a Rede Sentinela deve ser estudada como

possível ferramenta de estímulo a inovação para as indústria que compõe o complexo produtivo da

saúde.

Este trabalho não pretende discutir o modelo de regulação do setor, mas sim, apontar novas

fontes de informação que auxiliem na implementação de medidas que induzam um processo de

inovação industrial baseado nas necessidades do SUS.

60

Tendo em vista a importância da informação e da interação entre os atores que fazem parte

do complexo da saúde, o presente trabalho pretende avaliar os resultados obtidos em uma das áreas

do projeto Sentinela /ANVISA, a Tecnovigilância, a fim de verificar seu potencial para o processo

inovativo e de aprendizado das indústrias ligadas à saúde. Compete a Tecnovigilância a identificação,

análise e prevenção de eventos adversos relacionados ao uso de equipamentos, artigos médicos e kits

laboratoriais durante a prática clínica.

61

Capítulo 4

A Rede Sentinela e a Produção e Difusão de Informações e Subsídios para a Inovação do

Complexo Produtivo

62

4.1 Considerações Preliminares

Segundo Guimarães R. (2006) é necessário articular o Sistema Setorial de Inovação em saúde

enquanto categoria econômica geradora de emprego e renda pela produção, ao setor de saúde enquanto

categoria de inclusão social geradora de emprego e renda pelo aumento de bem estar. Para que isto

ocorra será necessário trazer o Ministério da Saúde para o centro das ações de P&D utilizando o poder

de compra deste ministério como instrumento de política tecnológica.

O ministro da saúde, José Gomes Temporão, em entrevista recente, mostrou sua preocupação

com as cadeias produtivas do setor saúde e com a vulnerabilidade da política social brasileira (balança

comercial da saúde negativa em R$ 5 bilhões). Temporão declarou que o que falta para o Brasil é calçar

a capacidade de compra do Estado com a linha de financiamento e que terá até o final de 2007 uma

política para incentivar a fabricação, no país, de materiais e equipamentos médico-hospitalares. O que

vem sendo chamado de “PAC da Saúde” já tem setores-alvo para a política de incentivos e pretende

utilizar os financiamentos do BNDES em uma lista de produtos de grande impacto no atendimento

à população e no orçamento do ministério. Algumas janelas de oportunidades dentro das condições

tecnológicas ou de capacidade de pesquisa e desenvolvimento brasileira já foram vislumbradas como,

por exemplo, a área de material odontológico, de stents, material de consumo, marcapassos, órteses

e próteses e etc., cujos similares nacionais teriam preferência de compra pelo governo. O BNDES é

fundamental para integrar a capacidade de compra do Estado, dirigida a um conjunto de produtos

estratégicos vinculados a uma política de pesquisa e produção. (Valor Econômico,07/05/2007)

O BNDES, como fonte financiadora, a ANVISA, a ANS e outros órgãos reguladores, a

investigação representada pela universidade, a assistência representada por serviços hospitalares e

ambulatoriais e a produção fruto da indústria juntos, sob a liderança do Ministério da Saúde, são fatores

fundamentais para o estabelecimento de uma nova realidade econômica e social no campo da saúde.

63

4.2 Critérios de seleção de unidades da Rede Sentinela

A Rede Sentinela é composta por 104 hospitais Sentinela e 81 hospitais colaboradores de

grande e médio porte distribuídos pelas cinco regiões do país. Esses hospitais foram escolhidos por

possuírem serviços que realizam ampla gama de procedimentos com a participação de tecnologias

médicas variadas e complexas. A região Sudeste concentra a parcela maior e mais significativa dos

hospitais da Rede Sentinela, 80, sendo que 55 deles são públicos (www.anvisa.gov.br).

O trabalho enfocou São Paulo e o Rio de Janeiro, tendo a escolha destes dois estados se

baseado no fato da alta relevância deles como formadores de opiniões para o resto do país por serem

referência nacional em serviços de saúde e da alta concentração de hospitais universitários, institutos

e universidades de reconhecida excelência nacional e internacional. A região sudeste concentra 43%

do total dos hospitais da rede Sentinela sendo que 77% dos hospitais sentinelas desta região estão

concentrados nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro. (tabela 8)

Tabela 8 - Distribuição dos Hospitais Sentinela

Distribuição dos % em relação ao Hospitais Sentinela Nº. de

estabelecimentos Total da Rede

SentinelaRegião Sudeste 80 43,2% São Paulo e Rio de Janeiro 62 33,5% Rede Sentinela: 185 ( 100%)

Fonte: ANVISA

Os estados do Rio de Janeiro e de São Paulo concentram 29,8% dos estabelecimentos de saúde

brasileiros com atividades de ensino segundo o Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde

(CNES). ( tabela 9)

64

Tabela 9 - Estabelecimentos com atividade de ensino no RJ e SP.

ATIVIDADE DE ENSINO RIO DE JANEIRO SÃO PAULO Unidade Universitária 31 96 Hospital de Ensino 5 25 Unidade Escola Superior Isolada 46 15 Unidade Auxiliar de Ensino 167 244 Total 249 380 Total Brasil 2106(100%) 11,80% 18%

Fonte: CNES

Segundo a Associação Brasileira dos Hospitais Universitários e de Ensino (ABRAHUE), dos

115 hospitais universitários ou de ensino filiados, 38 (33%) estão situados nos estados do Rio de Janeiro

e São Paulo. O que distingue esses dois estados é o fato de prevalecer hospitais universitários com

esfera administrativa estadual em São Paulo (10) e no Rio de Janeiro (12) com esfera administrativa

federal. Os hospitais universitários possuem como principais características serem um prolongamento

de um estabelecimento de ensino em saúde, proverem treinamento universitário na área da saúde e

propiciarem atendimento médico de maior complexidade (nível terciário).(Tabela10)

Tabela 10 - Distribuição dos Hospitais Universitários no RJ e SP.

HOSPITAIS UNIVERSITÁRIOS RIO DE JANEIRO SÃO PAULO

FEDERAIS 12 2

ESTADUAIS 1 10

PRIVADOS 2 8 MUNICIPAIS

1 2

TOTAL 16 22

Fonte: ABRAHUE

65

Apesar da heterogeneidade entre os Hospitais Universitários envolvendo desde perfis

assistenciais, porte e modelos de gestão, não podemos deixar de pensá-los como agentes nucleares de

duas políticas de Estado – educação e saúde. Aos hospitais universitários caberia, com o destacado

papel que lhes compete na assistência de alta complexidade, avaliar em rede nacional os novos padrões

de incorporação tecnológica e formar pessoal capaz de articular e desenvolver rede de pesquisas

avançadas.

Outro dado que motivou a escolha desses dois estados foi à observação de que ambos

possuem um grande número de instituições públicas que podem ser usadas como catalisadores de

competências locais auxiliando o desenvolvimento de aglomerados tecnológicos fundamentais para

o desenvolvimento tecnológico. Segundo o CNPq, a região Sudeste concentra 52% das instituições e

diretórios de pesquisa do Brasil, sendo que os estados do Rio de Janeiro e São Paulo são responsáveis

por mais de 70% deles. As inovações na indústria de produtos de equipamentos médicos são muito

dependentes de pesquisas interdisciplinares, requerendo o trabalho de médicos, engenheiros, físicos,

químicos, especialistas em novos materiais, entre outros.

O estado de São Paulo distingue-se pela implantação de pólos de base tecnológica com a presença

de empresas do setor de equipamentos médico-hospitalares localizados em São Carlos e Ribeirão Preto

ao passo que no Rio de Janeiro não observamos nenhuma região com estas características. Os fatores

apontados para essa diferença tais como as discussões que acompanham o projeto de Lei da Inovação

Paulista que está para ser votado e a formação do Sistema Paulista de Parques Tecnológicos (decreto nº.

50.504 de fevereiro de 2006), indicam existir preocupação em fomentar ambiente propício à realização

de atividades de pesquisa e desenvolvimento por empresas, em parceria com entidades públicas, com

a conseqüente transferência de tecnologia para o setor produtivo, gerando inovação tecnológica. A

discussão desses fatores, porém foge ao escopo desse trabalho.

Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos,

Odontológicos, Hospitalares e de Laboratórios (ABIMO) o estado de São Paulo concentra 80% das

empresas filiadas à associação seguido pelo estado do Rio de Janeiro com 6%.

66

Em suma, São Paulo e Rio de Janeiro possuem características que podem permitir

articular a política industrial, tecnológica e de saúde como um espaço privilegiado da política de

desenvolvimento.

Os maiores problemas do setor de equipamentos médicos no Brasil estão relacionados ao fato

do Ministério da Saúde desconhecer a quantidade e a qualidade de equipamentos médicos existentes na

rede de saúde o que impede o controle e planejamento, e a falta de um sistema de codificação nacional

acarretando a multiplicidade de nomes para um mesmo material ou equipamento. (Calil J.S.2001).

Existe uma falta de coordenação quando se decide incorporar um aparelho a um estabelecimento de

saúde que se traduz no desconhecimento das escolhas tecnológicas dos hospitais e no desconhecimento

da distribuição geográfica dos equipamentos já existentes. Esse fato promove distorções importantes

no sistema de saúde em especial no que diz respeito a equipamentos de alto custo.

A Rede Sentinela ao aglutinar hospitais universitários e universidades de reconhecida expressão

nacional e internacional, que interagem com empresas ligadas a indústria da saúde mediante o controle

da ANVISA, poderá servir de base de informações para a constituição de redes técnico-produtivas que

colaborem para diminuir a vulnerabilidade econômica do setor brasileiro de saúde.

4.3 Rede Sentinela como ferramenta para inovação e desenvolvimento da indústria de

EMHO

A análise da Rede Sentinela com a perspectiva de se tornar uma ferramenta para inovação e

desenvolvimento da indústria seguiu duas frentes de análise: uma pesquisa a partir das informações

obtidas da monitoração pós-mercado através da análise das notificações ao Sistema de Informação

de Notificação de Eventos Adversos relacionados a Produtos de Saúde (SINEPS), dos Alertas em

Tecnovigilância, e outra através de questionários e entrevistas com gerentes de risco dos hospitais

pertencentes à Rede Sentinela no Rio de Janeiro e de São Paulo.

67

O objetivo geral desta análise é avaliar o projeto Rede Sentinela gerou maior conhecimento do

parque tecnológico dos hospitais participantes, qual a categoria funcional do profissional de saúde mais

atuante, tentar verificar se houve e qual o grau e tipo de interação dos hospitais participantes do projeto

(profissionais de saúde) com as indústrias e / ou universidades, tendo como perspectiva a possibilidade

de geração de informações que levem ao surgimento de inovações (desenvolvimento, aprimoramento

e produção de equipamentos) segundo as necessidades do Sistema Único de Saúde (SUS), um dos

grandes eixos promotores de demandas concretas para as indústrias do complexo da saúde.

O benefício final do trabalho é contribuir para que os formuladores de políticas disponham

de mais uma ferramenta para estimular a implantação de estratégias de desenvolvimento do complexo

produtivo da saúde, diminuindo a dependência nacional no campo tecnológico.

4.4. Análise dos questionários enviados aos Gerentes de Risco da Rede Sentinela

4.4.1 O Perfil dos Gerentes de Risco Sanitário Hospitalar da Rede Sentinela

Todo hospital integrante da Rede Sentinela possui um gerente de risco designado pela diretoria

para atuar como elemento de ligação com a Anvisa. Cabe ao gerente de risco coordenar uma equipe

multiprofissional composta por enfermeiros, engenheiros, farmacêuticos, médicos e demais profissionais

envolvidos com a vigilância de medicamentos, materiais médico-hospitalares, equipamentos, saneantes,

sangue e seus derivados. A articulação com as diversas áreas de apoio à assistência tem a missão de

prevenir eventos adversos do uso de produtos de saúde através da construção de parcerias internas, com

os fornecedores e o mercado de forma a se obter ganho de qualidade e segurança para procedimentos

e terapias.

A porcentagem de questionários respondidos pelos gerentes de risco, 26% (tabela 11),

demonstra a necessidade de criarmos novas formas de estímulo para formar um consenso sobre a

importância e a necessidade da troca de informações para o aprimoramento desse sistema. Em trabalho

apresentado no 8º Encontro de Gerentes de Risco Sanitário Hospitalar realizado em dezembro de

2006 em Florianópolis, a Unidade de Tecnovigilância – UTVIG /Anvisa informou que apenas 30%

68

dos gerentes de risco responderam ao questionário de diagnóstico da Tecnovigilância evidenciando

que ajustes se fazem necessários pra pensarmos em REDE SENTINELA.

Tabela 11 - Total de Questionários enviados e respondidos pelos Gerentes de Risco

Questionários Enviados 50 (100%)

Questionários Respondidos 13 ( 26% )

A análise das respostas aos questionários evidenciou que 84,4% dos profissionais responsáveis

pela gerência de risco, pertencem a categorias funcionais diretamente ligadas a assistência (médicos,

enfermeiros, farmacêuticos) enquanto 15,2 % não possuíam vínculo com a assistência (administrador

e advogado). A Tecnovigilância existe em 92% dos hospitais e a maior parte dos profissionais de saúde,

77%, conhece o Projeto Hospitais Sentinela. (tabela 12.) Os médicos e enfermeiros foram apontados

como os profissionais que mais interagem com a gerência de risco – 92,3%.

Tabela 12 - Categoria Profissional dos Gerentes de Risco

Categoria

Profissional Médico 3 23%Enfermeiro 4 30,70%Farmacêutica 4 30,70%Administrador 1 7,60%Advogado 1 7,60%Total: 13 (100%)

69

4.4.2. Conhecimento do parque tecnológico dos hospitais da Rede Sentinela

Para que os gerentes de risco possam coordenar as ações requeridas pela Tecnovigilância, se

faz necessário o conhecimento da estrutura tecnológica dos seus hospitais, sendo imprescindível à

existência de um cadastro dos equipamentos disponíveis nas unidades hospitalares. A totalidade dos

questionários respondidos informou que o hospital possui cadastro atualizado dos seus equipamentos

médico-hospitalares, porém a análise das respostas demonstrou diferenças na qualidade e finalidade

destes cadastros.

O cadastro de equipamentos em 31% dos hospitais foi realizado pelo setor de patrimônio

cumprindo apenas a função burocrática de registro e controle dos bens patrimoniais da instituição,

enquanto que em 69% dos hospitais o cadastro foi realizado pelo setor de engenharia clínica ou pelo

setor de engenharia clínica em conjunto com a gerência de risco. (tabela 13.) A Engenharia Clínica é

responsável por todo ciclo de vida das tecnologias de saúde. Suas funções englobam desde o processo

de aquisição, recebimento, testes de aceitação, treinamento, manutenção, alienação e incorporação de

novas tecnologias. Por estas características a engenharia clínica fornece um cadastro com informações

de maior abrangência e qualidade voltadas para a gestão do parque tecnológico.

Tabela 13 - Setor Responsável pelo Cadastro de Equipamentos.

Cadastro de Equipamentos Setor de Patrimônio 4 30,70% Engenharia Clínica 7 53,80% Gerência de Risco 2 15,30% Total: 13 (100%)

70

4.4.3 Relação da Rede Sentinela com a Universidade.

Buscou-se saber se os hospitais da Rede Sentinela mantêm alguma forma de parceria com a

universidade e seus laboratórios para o aperfeiçoamento, desenvolvimento de produtos, desenvolvimento

de novos processos ou para realização de testes de certificação.

Dos hospitais universitários ou que possuem convênio com universidade que responderam

ao questionário sobre a existência ou não de parcerias entre a indústria ou a universidade para solução

de problemas ou desenvolvimento de projetos oriundos a partir de demandas do hospital, 71,5 %

respondeu não existir nenhum tipo de ação nesse sentido. (tabela 14)

Tabela 14 - Hospitais Universitários ou Conveniados

Hospitais Universitários ou c/ convênioSim 1 14,20%Não 5 71,50%Não responderam 1 14,20%Total; 7 (100%)

4.4.4. Relação da Rede Sentinela com as Empresas

O questionário aplicado procurou identificar se durante a investigação preliminar de um

evento adverso, desvio de qualidade ou irregularidade relacionada a equipamentos médico-hospitalares,

houve algum tipo de contato entre o hospital e o fabricante ou distribuidor para análise dos fatores

que demandaram a queixa e para verificação da possibilidade de serem tomadas ações corretivas do

referido produto. Aproximadamente 85 % dos gerentes de risco responderam que são feitos contatos

com distribuidores ou fabricantes, sendo o próprio gerente de risco o responsável por este contato

em 73 % dos casos. (tabela 15) Como conseqüência da notificação foi observada na totalidade dos

contatos feitos entre os hospitais e os fabricantes ou distribuidores (84,6%) algum tipo de interação

com o foco

71

em sugestões de aperfeiçoamento do produto. Nestes casos 64% das sugestões de melhorias partiram

da interação entre a indústria e os hospitais e 36% dos hospitais isoladamente. (tabela 16).

Tabela 15 - Contato Rede Sentinela / Empresa.

Contato com o fabricante/distribuidorSim 11 84,60%Não 2 15,30%Total:13 (100%)

Tabela 16 - Fontes de sugestões de Melhorias.

Fontes de sugestões de aperfeiçoamento de produtos Indústria 0 0Hospital 4 36,30%Interação Ind./Hosp. 7 63,60%Total: 11 (100%)

4.4.5 Rede Sentinela e aquisição de equipamentos médicos

Foi perguntado aos gerentes de risco se os resultados positivos ou negativos gerados pelas

notificações tiveram alguma relevância na política de aquisição de equipamentos médico-hospitalares

da instituição. Responderam que sim 77% dos gerentes entrevistados.

4.5 Análise das informações do SINEPS

Compete a Unidade de Tecnovigilância dentre outras atribuições, receber os relatos dos

72

profissionais e fabricantes e executar todas as investigações e o acompanhamento. O desenvolvimento

da Rede Sentinela proverá o treinamento de mais de uma centena de hospitais formadores universitários

na sistemática de tecnovigilância que devem, gradativamente, transformar o sistema passivo de

notificações voluntárias no sistema pró-ativo de avaliação contínua. Juntamente com o Sistema de

Informação de Notificação de Eventos Adversos relacionados a produtos de Saúde (SINEPS) fará com

que os registros dessas ações fiquem documentados em um sistema comum a todos os interessados.

(www.anvisa.gov.br/tecnovigilancia/capitulo3.pdf )

O Sistema de Informação de Notificação de Eventos Adversos relacionados a produtos de

Saúde (SINEPS) recebeu desde sua implantação em novembro de 2002 até o final de 2003, 1.186

notificações na área de Tecnovigilância, 230 em Farmacovigilância, 42 em Queixas Técnicas e 700 na

área de Hemovigilância. Um total de 2.158 notificações. No ano de 2004, foram 2.402 notificações

em Tecnovigilância, 798 em Farmacovigilância, 617 em Queixas Técnicas e 855 em Hemovigilância.

Um total de 4.672 notificações. No ano de 2005 foram obtidas 1.598 notificações em Tecnovigilância,

1160 em Farmacovigilância, 379 em Queixas Técnicas e 1.351 em Hemovigilância, num total de 4488

notificações.

O Projeto Sentinela e o Sistema de Informação de Notificação de Efeitos Adversos podem ter

seu impacto avaliado quando se compara as 407 notificações recebidas pela Unidade de Tecnovigilância

(UTVIG) no ano de 2002, com as 1697 notificações recebidas em 2003, aproximadamente após um

ano da implantação do SINEPS. A tabela 17 também demonstra o impacto desse projeto ao observar

que no ano de 2005, a Rede Sentinela englobando os Hospitais Sentinelas e os Hospitais Colaboradores

foram responsáveis por 87% das notificações em 2005 e 89% em 2006.

73

Tabela 17 - Origem das Notificações de Tecnovigilância.

Fonte de Notificação - TecnovigilânciaNotificador 2005 2006 Sentinela 2271 2609 Colaborador 183 242 EAS 107 137 MS&SES&SSM 69 67 ANVISA 74 26 Empresas 53 51 População 28 46 Outros 24 18 Ignorado 1 Total 2809 3197 Outros: Agência Internacional, ONG, Comércio Varejista.Fonte:UTVIG/ANVISA

4.5.1 Avaliação das notificações dos estados do Rio de Janeiro e São Paulo

A grande relevância dos estados do Rio de Janeiro e São Paulo como formadores de opinião

para o resto do país por serem referência nacional em serviços de saúde também pode ser atestada pelos

dados obtidos através do Formulário de Avaliação das Notificações que foi respondido pela Unidade

de Tecnovigilância da Anvisa com base no Sineps.

O número de notificações dos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo representou em 2005

aproximadamente 53% e em 2006, 60% do total das notificações recebidas pela UTVIG.

Tabela 18 - Número de Notificações RJ e SP.

Notificações 2005 2006 São Paulo 1308 1654 Rio de Janeiro 167 259 Brasil 2809 3197

Fonte: UTVIG/ANVISA

74

Quando se analisa os números de notificações desses do Rio de Janeiro e de São Paulo quanto

à procedência, ou seja, se foram enviadas pelas capitais ou pelos estados observa-se que 49% das

notificações de São Paulo são originadas na capital sendo que no Rio de Janeiro esse percentual chega

a 79,5% (2006).

Tabela 19 - Número de Notificações por local de procedência.

Notificações 2005 2006São Paulo 1308 1654São Paulo (capital) 850 807Rio de Janeiro 167 259Rio de Janeiro (capital) 164 206

Fonte: UTVIG/ANVISA

A classificação das notificações por tipo de estabelecimento e por esfera administrativa

levou em consideração somente as que tiveram origem em hospitais com atividade de ensino segundo o

Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde-CNES. Foram divididos em três grupos: Hospitais

Universitários, Hospitais Públicos e Hospitais Privados. Os hospitais universitários foram os que mais

notificaram, em torno de 60 % no Rio de Janeiro, chegando a quase 80% em São Paulo. Observa-

se que os hospitais públicos no Rio de Janeiro são responsáveis por 40% das notificações sendo que

os hospitais privados não tiveram nenhuma participação. Em São Paulo a participação de hospitais

públicos em torno de 9% é menor do que a dos privados que fica em torno dos 15%.

Tabela 20 - Notificações por tipo de estabelecimento.

Hospital Rio de Janeiro São Paulo 2005 2006 2005 2006Universitário 91 (62%) 104 (60%) 798 (73%) 964(79%)Público 56 (38%) 68 (40%) 104(9,5%) 101(8,2%)Privado 0 0 188(17,2%) 153 (12,5%)Total (100%) 147 172 1090 1218

Fonte: UTVIG/ANVISA

75

Tabela 21 - Notificação por esfera administrativa.

Esfera Administrativa Rio de Janeiro São Paulo

2005 2006 2005 2006

Hospitais Universitários

Federal 80 96 98 40

Estadual 11 8 571 870

Privado 0 0 129 54

Total 91 104 798 964

Hospitais Públicos

Federais 56 68 0 0

Municipais 0 0 59 40

Estaduais 0 0 45 61

Total 56 68 104 101

Hospitais Privados

Total 0 0 188 153

Total Geral de Notificações 147 172 1090 1218Foram consideradas somente as notificações de hospitais com atividade de ensino

As informações quanto ao número de todas as notificações que chegam a UTVIG relacionadas

a equipamentos médicos correspondem a apenas 3,5 % do total. Os chamados artigos médicos,

incluindo implantes, chegam a alcançar 95% das notificações.

Tabela 22 - Notificações por tipo de produto.

Produto 2005 2006Artigos Médicos (incluindo implantes) 2592 3048Kit diagnóstico de uso “in vitro” 66 37Equipamento Médico 152 112

Fonte: UTVIG/ANVISA

Não houve possibilidade de obter informações quanto ao número de notificações por tipo de

empresa, não sendo explicado qual o motivo por parte da Anvisa. Não houve possibilidade também

de conseguir informações a respeito das providências geradas pelas notificações, tais como quantas

76

empresas foram advertidas, quais produtos tiveram suspensão por prazo determinado, retirada do

mercado ou se foram geradas alterações nos produtos.

Em conversas informais, alguns profissionais deixaram transparecer descontentamento

quanto à agilidade e retorno das decisões por parte da ANVISA, decepção quanto à condução e aos

resultados apresentados até o momento pelo projeto, baixo envolvimento da direção dos hospitais,

desinteresse das equipes da gerência de risco e sobrecarga de atividades.

77

Capítulo 5

Considerações Finais

78

A necessidade de pesquisar fontes de informações que permitissem articular a lógica sanitária

e a do desenvolvimento econômico decorreu de questionamentos pessoais que surgiram durante a

minha trajetória profissional como médica do setor público, ocupando cargos gerenciais ligados direta

ou indiretamente à aquisição de equipamentos médicos para os hospitais da rede federal. Na minha

observação pessoal, o crescimento progressivo dos gastos em saúde, influenciado pela produção cada vez

maior de novas tecnologias em saúde e por mudança s no perfil epidemiológico das populações, levou

a que se tornasse social e politicamente necessário o desenvolvimento de mecanismos que subsidiem e

articulem os setores envolvidos na produção, incorporação e utilização de tecnologias nos sistemas de

saúde.

O desconhecimento do parque tecnológico da rede de saúde, onde na grande maioria dos

casos o hospital desconhece a real situação qualitativa e quantitativa dos seus EMHOs, a falta de

informação sistematizada sobre a distribuição geográfica desses equipamentos na rede hospitalar,

aliado a ausência de critérios epidemiológicos acarretam na maioria das vezes, solicitações de compra

de novos equipamentos efetuadas por chefias de clínicas ou de departamentos desses estabelecimentos

de saúde, sem que fosse utilizado qualquer critério de evidência científica e diretrizes estabelecidas que

pudessem embasar a decisão do gestor e espelhar as reais necessidades de saúde da população.

A Portaria n°. 3.323 de 27 de dezembro de 2006 d o Ministério da Saúde , que institui a

Comissão para incorporação de tecnologias no âmbito do SUS e da Saúde Complementar já aponta

para esta questão , colocando a ANVISA como um dos principais atores na discussão do tema.

Na busca por fontes produtoras e difusoras de informações e subsídios para a Inovação do

Complexo produtivo da saúde, a vigilância sanitária pode ser vista e analisada sob o ponto de vista de

espaço de intervenção do Estado, com a propriedade – por suas funções e instrumentos – de trabalhar

no sentido de adequar o sistema produtivo de bens e serviços de interesse sanitário, bem como os

ambientes, às demandas sociais de saúde – para os indivíduos e para a coletividade – e as necessidades do

sistema de saúde. As ações da vigilância sanitária têm o propósito de implementar concepções e atitudes

éticas no que tange a qualidade das relações,dos processos produtivos ,do ambiente e dos serviços. A

79

constituição intersetorial das ações da vigilância sanitária envolvendo praticamente todos os elos da

cadeia produtiva da saúde e as instâncias municipais, estaduais e federais de governo lhe confere um

caráter sistêmico que exige o desenvolvimento e implantação de um sistema de informação que possa

consolidar os dados produzidos dentro do próprio sistema e ter a capacidade de interoperabilidade

com os sistemas e banco de dados nacionais do Ministério da Saúde. O papel regulador interpretado

muitas vezes como um entrave à produção local adequadamente conduzido, através da sistematização

e incorporação dos conhecimentos produzidos, pode se constituir em um importante instrumento de

promoção da qualidade dos produtos e serviços, contribuindo para o desenvolvimento nacional.

Ao analisarmos as respostas enviadas pela Unidade de Tecnovigilância da Anvisa verificamos

claramente a importância do Projeto Sentinela, principalmente pela sua capacidade de gerar

informações sistematizadas e de maior qualidade, através de duas observações fundamentais. A

primeira observação relaciona-se ao aumento expressivo do número de notificações recebidas pela

UTVIG, aproximadamente 400% a mais, após a implantação do Sistema de Informação de Efeitos

Adversos no ano de 2002. A segunda observação deve-se ao fato de que a quase totalidade das

notificações recebidas pela UTVIG, aproximadamente 90%, tem como fonte de origem os hospitais

que compõe a Rede Sentinela. Esses fatores contribuem para o aumento da qualidade e da eficiência

do sistema uma vez que quase todas as notificações foram realizadas por profissionais treinados na

sistemática de tecnovigilância e de que estas notificações passaram a ficar documentadas em um sistema

comum a todos os interessados, aumentando dessa forma a disseminação das informações. Outro fator

importante destacado foi à importância para Rede Sentinela, dos estados de São Paulo e do Rio de

Janeiro, respectivamente, primeiro e segundo colocados no que compete ao número de notificações

enviadas a UTVIG. A relevância desta informação pode ser ainda melhor dimensionada quando se

verifica que 65% do total das notificações geradas provem de hospitais universitários que se apresentam

em grande concentração nesses dois estados, aliada ao fato de que se pressupõe terem estes hospitais,

a incumbência da disseminação do conhecimento científico e tecnológico, assim como da formação

de mão de obra e de profissionais qualificados, podendo ser considerados como prolongamentos das

universidades as quais pertencem o que os tornaria habilitados na proposição e indução de políticas

públicas no campo da saúde.

80

A análise das respostas aos questionários respondidos pelos gerentes de risco evidenciou

potencialidades quanto à utilização do projeto Rede Sentinela como ferramenta para inovação e

desenvolvimento do complexo produtivo do país segundo as necessidades do SUS. A Rede Sentinela

pretende que os hospitais participantes do projeto, tenham capacidade de integração e atuação conjunta

visando promover a segurança dos pacientes e o uso racional da tecnologia, não apenas no seu âmbito,

mas como instância de avaliação de tecnologias em saúde para o país. Segundo a pesquisa o projeto

formou profissionais capazes de gerenciar uma rede de informações intra-hospitalares de serviços e

produtos de saúde, gerou um conhecimento de maior qualidade e sistematizado do parque tecnológico

dessas instituições, permitiu uma maior aproximação entre hospitais e empresas na busca de soluções,

embora o mesmo não tenha sido percebido em relação às universidades. A melhoria contínua desse

banco de informações permitiria o Ministério da Saúde ter noção real da distribuição geográfica,

quantidade e qualidade dos seus equipamentos médico-hospitalares, o que serviria de base para um

planejamento adequado de utilização de recursos da saúde, identificando e norteando a necessidade de

expansão. e/ou incorporação de tecnologias, orientando política de compra de equipamentos médico-

hospitalares reduzindo as distorções geradas por aquisições sem critérios.

A Rede Sentinela com suas várias interfaces compreendendo a assistência, universidades e

indústrias têm grande potencial para gerar uma rede de informações que permita incentivar a fabricação

no país de materiais e equipamentos médico-hospitalares de acordo com as necessidades do sistema de

saúde de forma a diminuir a vulnerabilidade social do Brasil. Para que isso ocorra se faz necessária a

ação do Estado como figura central a fim de evitar a perpetuação da construção de iniqüidades, com

limitação e restrição de acesso à saúde.

81

ANEXO I

Mapa de localização dos Hospitais Sentinela

Região Norte - 18 hospitais sentinelasRegião Nordeste - 41 hospitais sentinelasRegião Centro-oeste - 13 hospitais sentinelasRegião Sudeste - 80 hospitais sentinelasRegião Sul - 36 hospitais sentinelasFonte: www.anvisa.gov.br

82

ANEXO II

Questionário Gerente de Risco.

1-Nome do Estabelecimento: _____________________________________2-Endereço: ___________________________________________3-Esfera administrativa:Municipal ( ) Estadual ( ) Federal ( ) Privada ( )4-Desenvolve atividade de ensino/pesquisa:Sim ( ) Não ( )5- Em caso afirmativo assinalar:Hospital Universitário ( ) Convênio com universidade ( )6-Gerente de Risco: _____________________________________7-Vínculo Institucional: Servidor público ( ) Celetista ( ) Prestador de serviços ( ) Outros ( )________8-Categoria Profissional:Médico ( ) Enfermeiro ( ) Outras ( )__________________9-A maior parte dos profissionais de saúde do hospital conhece o Projeto Sentinela/Tecnovigilância?Sim ( ) Não ( )10- A Tecnovigilância existe no hospital?Sim ( ) Não ( )11- Em caso afirmativo, qual a formação profissional do responsável pela Tecnovigilância?Médico ( ) Enfermeiro ( ) Engenheiro ( ) Outras ( ) ___________12-Qual a categoria funcional do hospital que interage mais com a Gerência de Risco?Médicos ( ) Enfermeiros ( ) Engenharia Clínica ( ) Outros ( )__________13-Há cadastro atualizado de equipamentos médico-hospitalares no hospital?Sim ( ) Não ( )14-Em caso afirmativo o cadastro de equipamentos é anterior ou posterior à implantação do Projeto Sentinela?Anterior ( ) Posterior ( )15-O cadastro de equipamentos foi realizado por quem?Setor de Patrimônio ( ) Engenharia Clínica ( ) Gerência de Risco ( ) Outros ( ) _______________16- O hospital utiliza algum tipo de software de gerenciamento de equipamentos?Sim ( ) Não ( )17- O hospital faz manutenção preventiva e corretiva dos equipamentos médico-hospitalares?Sim ( ) Não ( )18- Em caso afirmativo a manutenção dos equipamentos médico-hospitalares é própria ou tercei-rizada?Própria ( ) Terceirizada ( )19- No caso do hospital possuir manutenção preventiva e corretiva dos equipamentos ela foi implan-tada antes ou depois do Projeto Sentinela?Antes ( ) Depois ( )20-Durante a investigação preliminar de um evento adverso, desvio de qualidade ou irregularidade é feito algum tipo contato com o fabricante/distribuidor?Sim ( ) Não ( )Especificar: ________________________________________________

21- Em caso afirmativo o contato com a empresa foi realizado por quem? Gerente de risco ( ) Usuário/relator do evento adverso ( )

22- No caso do contato com o fabricante ter sido efetuado pelo usuário/relator do evento adverso,

83

qual a sua categoria profissional?

Médico ( ) Enfermeiro ( ) Engenheiro Clínico ( ) Outras ( ) ___________

23- No caso do hospital ser universitário existe ou existiu algum tipo de parceria entre a indústria com a universidade para solução de problemas ou desenvolvimento de projetos?

Sim ( ) Não ( )

24- Como conseqüência da notificação foi observada algum tipo de interação entre o hospital e a indústria fabricante que tivesse como foco o aperfeiçoamento do produto em questão?

Sim ( ) Não ( )

25- Em caso afirmativo, as sugestões de aperfeiçoamento do produto partiram da (o):

Da própria indústria notificada ( ) Do hospital ( ) Da interação entre a indústria e o hospital ( )

26- Os resultados positivos ou negativos gerados pelas notificações tiveram alguma relevância na política de aquisição de equipamentos médicos?

Sim ( ) Não ( )

27- Observações.

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Grata pelas informações,

Elaine S Simmer

84

ANEXO III

Formulário de avaliação das notificações:

1-Número de notificações por estado e capital: São Paulo: ________São Paulo (capital): ________Rio de Janeiro: _____________Rio de Janeiro (capital): __________

2- Número de notificações por tipo de estabelecimento: Público: __________Universitário: ________________Privado: ___________ 3-Número de notificações por tipo de produto: Artigos médicos: __________Kit diagnóstico de uso “in vitro”: ____________Material ortopédico: __________________Equipamento Médico: ________________

4- Número de notificações por tipo de empresa: Nacional: _______________Estrangeira: _____________

5- Providências geradas pela notificação: Advertência ( )Suspensão do Produto por prazo determinado ( )Retirada de mercado do Produto ( )Alterações no produto ( )

85

Anexo IV

Taxa de inovação em relação ao porte da empresa

Empresas que implement-eram

taxa de inovação

Porte Empresas Indústrias Inovações (%)total 72.005

84.03622.698 28036

31,5 (2000) 33,3 (2003)

pequena 64.168 76.332

18.339 24094

28,6 31,5

média 6.475 6.576

3.329 2.953

51,4 44,9

grande 1.360 1.364

1.029 989

75,7 72,5

Fonte: Pintec 2000 e Pintec 2003

(2000) (2003)(2000) (2003)

(2000) (2003)

86

ANEXO VIGrau de importância alta/média das fontes internas de informação atribuída pelas empresas que implementaram inovação segundo atividades da indústria de transformação com maiores taxas de inovação – Brasil – período 2001-2003

Setor da Indústria Departamento de P&D Outras Áreas da EmpresaTotal 7,8% 62,6%Indústrias de Transformação 7,3% 62,7%Fabricação de produtos químicos 18,5% 66,7% •Fab. de produtos químicos 16,8% 66,8% •Fab. de produtos farmacêuticos 24,6% 74,1%Fab. de máquinas e equipamentos 14,3% 74,2%Fab. de máquinas para escritório e equipamentos de informática 76,9% 84,6%Fab. de material eletrônico e de aparelhos e equipamentos de comunicações 22,9% 62,0% •Fab. de material eletrônico básico 15,7% 53,6% •Fab. de ap. e equip. de comunicações 31,6% 72,7Fabricação de equipamentos de instrumentação médico-hospitalares,instrumentos de precisão e ópticos,equipamentos para automação industrial,cronômetros e relógios 24,2% 61,7%Fonte: Pintec 2000 e Pintec 2003

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ANEXO VI

Grau de importância alta/média das fontes internas de informação atribuída pelas empresas que implementaram inovação segundo atividades da indústria de transformação com maiores taxas de inovação – Brasil – período 2001-2003

Setor da Indústria Departamento de P&D

Outras Áreas da Empresa

Total 7,8% 62,6%Indústrias de Transformação 7,3% 62,7%Fabricação de produtos químicos 18,5% 66,7% •Fab. de produtos químicos 16,8% 66,8% •Fab. de produtos farmacêuticos 24,6% 74,1%Fab. de máquinas e equipamentos 14,3% 74,2%Fab. de máquinas para escritório e equipamentos de informática 76,9% 84,6%

Fab. de material eletrônico e de aparelhos e equipamentos de comunicações 22,9% 62,0%

•Fab. de material eletrônico básico 15,7% 53,6% •Fab. de ap. e equip. de comunicações 31,6% 72,7Fabricação de equipamentos de instrumentação médico-hospitalares,instrumentos de precisão e ópticos,equipamentos para automação industrial,cronômetros e relógios

24,2% 61,7%

Fonte: Pintec 2000 e Pintec 2003

ContinuaçãoSetor da Indústria Licenças,

patentes e know how

Concorrentes Empresasde consultoriae consultoresindependent.

Univers. e inst. de pesquisa

Total 2,8% 39,7% 13,0% 8,3%Indústria de Transformação 2,9% 39,9% 13,0% 8,3%Fabricação de prod. químicos 5,8% 39,8% 13,14% 15,2% • fab. de prod. químicos 4,8% 40,2% 13,2% 10,8% • fab. de prod. farmacêuticos 9,2% 38,0% 13,0% 25,8%Fabricação de máquinas e equipamentos 3,6% 36,3% 10,7% 9,2%

Fabricação de mat. eletrônico , ap. e equip. de comunicações

4,6% 36,4% 6,0% 14,0%

•fab. de material eletrônico básico 1,0% 26,3% 2,6% 5,2%Fabricação de ap. de inst. médico-hosp,instr de precisão e ópt. equip. autom. Ind.,cronômetros relógios

3,4% 47,1% 14,3% 17,9%

Fonte: Pintec 2003

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Conclusão

Setor da IndústriaConferências,encontros e publicaçõesespecializadas

Feiras eexposições

Redes de informação informatizadas.

Total 32,5% 58,3% 45,9%Indústria de Transformação 32,4% 58,6% 46,1%Fabricação de prod. químicos 41,5% 58,8% 56,9% • fab. de prod. químicos 36,1% 57,2% 56,8% • fab. de prod. farmacêuticos 59,1% 68,6% 57,5%Fabricação de máquinas e equipamentos 36,9% 64,9% 55,3%

Fabricação de mat. eletrônico , ap. e equip. de comunicações

37,0% 67,8% 66,0%

•fab. de material eletrônico básico 30,0% 68,4% 64,7%Fabricação de ap. de inst. médico-hosp,instr de precisão e ópt. equip. autom. Ind.,cronômetros relógios

41,4% 87,7% 76,8%

Fonte: Pintec 2003

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