Upload
ngoque
View
215
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
ESCOLA DE MÚSICA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA
ANA PAULA GOMES DE SOUZA
SONATA 1980 PARA VIOLINO DE ERNST MAHLE:
uma abordagem interpretativa visando a construção de uma performance
NATAL-RN
2017
ANA PAULA GOMES DE SOUZA
SONATA 1980 PARA VIOLINO DE ERNST MAHLE:
uma abordagem interpretativa visando a construção de uma performance
Artigo apresentado ao Programa de Pós-
Graduação em Música (PPGMUS) da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN), na linha de pesquisa - Processos e
Dimensões da Produção Artística, como
requisito parcial para a obtenção do título de
Mestre em Música.
Orientador: Prof. Dr. Rucker Bezerra de
Queiroz.
NATAL-RN
2017
ANA PAULA GOMES DE SOUZA
SONATA 1980 PARA VIOLINO DE ERNST MAHLE:
uma abordagem interpretativa visando a construção de uma performance
Artigo apresentado ao Programa de Pós-
Graduação em Música (PPGMUS) da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN), na linha de pesquisa - Processos e
Dimensões da Produção Artística, como
requisito parcial para a obtenção do título de
Mestre em Música.
Aprovado em: ___/___/___
BANCA EXAMINADORA:
_________________________________________________________
PROF. Dr. RUCKER BEZERRA DE QUEIROZ
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE (UFRN)
ORIENTADOR
_________________________________________________________
PROF. Dr. DURVAL DA NOBREGA CESETTI
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE (UFRN)
MEMBRO DA BANCA
_________________________________________________________
PROF. Dra. REGIANE HIROMI YAMAGUCHI
UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE (UFCG)
MEMBRO DA BANCA
A Jesus, autor e consumador da minha Fé.
AGRADECIMENTOS
Agradeço à Deus pelo dom da vida e por ser a fonte de toda a sabedoria. Nossas
limitações não limitam o poder de Deus em nós. Ele é Soberano. Como sou grata.
Aos meus pais, Eunice e Daniel Souza, pelo amor, incentivo e apoio incondicional.
Vocês são referenciais em minha vida. Seus valores, carrego-os dentro de mim como herança
eterna. Obrigada por persistirem comigo nas horas difíceis. Seus braços me fortaleceram e por
isso estou aqui.
Obrigada às minhas irmãs e cunhado, Priscila Souza, Pérsida e Edinaldo Rocha. Não
tenho palavras suficientes para dizer o quanto vocês são especiais para mim. De maneira
direta, estiveram envolvidos em toda a construção desta Pesquisa. Obrigada, Priscila, por não
medir esforços para estar comigo em visita à residência do maestro Ernst Mahle, em
novembro de 2015. Obrigada, Pérsida e Edinaldo, por me auxiliarem nas inúmeras
madrugadas de pesquisa. Trago sempre em minha memória a presença de vocês nos
momentos mais decisivos e importantes em minha vida e na construção desta Pesquisa...
vocês me incentivaram de uma maneira que jamais conseguiria expressar em palavras. Muito
obrigada por tudo! Vocês são os meus tesouros.
Ao meu amor, Hallysson Leão, que desde o início teve as palavras certas, na hora
certa, para me incentivar durante todo o processo. Agradeço por você ser o meu melhor
amigo, participante em todas as situações. Obrigada por gravar os vídeos e registrar as fotos
quando estivemos em visita ao Mahle, juntamente com a Priscila. Com certeza, o diferencial
deste trabalho eu devo a você, Amor.
Agradeço aos meus sogros, Derenice e Albino Araújo, pelas orações e palavras de
conforto bem como aos amigos Edinaldo Barbosa e Rodolfo Fontoura pelo apoio.
Ao casal, Cidinha e Ernst Mahle, que tão afetuosamente nos receberam em sua
residência, após telefonemas e e-mails. Seu exemplo de vida é uma inspiração. Agradeço por
ser fortemente influenciada pela sua visão pedagógica e musical. Meu desejo é que suas
composições se perpetuem através da valorização do repertório contemporâneo brasileiro para
violino.
Agradeço ao meu orientador, Prof.1 Dr.2 Rucker Bezerra, pela oportunidade de
elaboração deste Trabalho através de seu apoio e orientação. Lembro-me que, ao decidirmos
encontrar pessoalmente o compositor, foi a primeira pessoa que nos ajudou para que a nossa
1Professor (Prof). 2Doutor (Dr.).
ida à São Paulo se tornasse possível. Tive a oportunidade de ser sua aluna na classe de violino
do curso de Bacharelado em Música na Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN) onde, anos depois, foi o local que assumi como professora substituta no período em
que esteve em sua conclusão do Doutorado. Como me alegra chegar nesta etapa acadêmica e,
mais uma vez, obter a sua orientação e direcionamento em minha vida estudantil. Muito
obrigada por tudo, principalmente por ser meu professor.
Ao Prof. Dr. Durval Cesetti que, além de um excelente orientador, pianista e
camerista, se tornou uma inspiração para mim. Obrigada pelo apoio sempre presente e pelas
oportunidades de tocarmos juntos desde a Especialização em Música de Câmara, quando foi
meu orientador. As sessões de ensaios que tivemos, naquele período, tornaram-se aulas de
violino, embora sendo professor de piano, pois contribuíram grandemente para o meu
desenvolvimento técnico e musical. Obrigada, professor.
Agradeço à Prof. Dra.3 Regiane Yamaguchi por aceitar o convite para compor a banca
da defesa. Suas palavras e apontamentos enriqueceram este Trabalho. Obrigada por
compartilhar seu conhecimento me permitindo assim a oportunidade de desenvolver o
máximo do potencial como aluna.
A Audinêz Barreto pela paciência e profissionalismo na normalização desta Pesquisa,
auxiliando e orientando modificações para uma leitura clara e eficiente de todo o tema
abordado.
Agradeço à Escola de Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(EMUFRN) bem como a Direção Acadêmica, Secretarias, Coordenação e Professores do
Programa de Pós-Graduação em Música (PPGMUS), que realizam o seu trabalho com tanto
amor e dedicação para que nós, alunos, possamos nos tornar músicos e pesquisadores
completos.
Aos meus amigos e alunos de violino que contribuíram para mais esta etapa em minha
vida, de forma direta ou indireta, meu muito obrigada.
3Doutora (Dra.).
RESUMO
O trabalho composicional de Ernst Mahle, compositor alemão, naturalizado brasileiro,
torna-se peculiar por, originalmente, ser voltado para prática pedagógica. Suas composições
foram, inicialmente, criadas a partir de uma busca por um repertório acessível dentro do
desenvolvimento técnico dos alunos de inúmeros instrumentos. Como maestro e professor,
sendo um dos fundadores da Escola de Música de Piracicaba / SP4, atual cidade onde reside,
inseriu em suas obras os elementos da música folclórica brasileira, em paralelo às influências
composicionais de Bartók, que também se utilizava de características folclóricas em suas
obras. No período entre 1955 a 1980, Mahle compôs Sonatas e Sonatinas para violino, das
quais este Artigo apresenta a Sonata 1980 em uma abordagem interpretativa, visando a
construção de uma performance, através de reflexões sobre a música contemporânea e música
contemporânea brasileira. A partir da contextualização da Música atual, iniciamos uma
abordagem sobre a construção da performance e as etapas da execução nos conceitos técnico,
estético e filosófico como também a reflexão sobre a prática da interpretação. A experiência
biográfica com o compositor é compartilhada através de relatos pessoais, após entrevistas,
resultando em uma visita a sua residência na cidade de Piracicaba / SP no dia 8 de novembro
de 2015. A maturação do desenvolvimento da pesquisa resultou em uma construção
performática, entre sugestões técnicas e interpretativas para uma boa execução, auxiliando a
reflexão sobre a valorização do repertório contemporâneo de peças brasileiras para violino
ainda pouco abordadas em recitais e salas de concertos.
Palavras-chave: Violino. Sonata 1980. Ernst Mahle. Música Contemporânea Brasileira.
Performance Musical.
4São Paulo (SP).
ABSTRACT
The compositional work of Ernst Mahle, german composer, naturalized Brazilian,
becomes peculiar by original being turned to pedagogical practice. His compositions were
initially created from the search for an accessible repertoire within the technical development
of the students of numerous instruments. As a teacher and conductor, being one of the
founders of the School of Music of Piracicaba / SP5, the present city where he reside, include
in his works the elements of brazilian folk music, in parallel with the compositional
influences of Bartók, who also use folkloric characteristics in your works. In the period
between 1955 and 1980, Mahle composed Sonatas and Sonatinas for violin, of which this
article presents the Sonata 1980 in an interpretative approach to construction of a
performance, through reflections on contemporary music and contemporary brazilian music.
From the contextualisation of the current music, it begins an approach on the construction of
the performance and as stages of the execution in the technical, aesthetic and philosophical
concepts, as well as a reflection on the practice of the interpretation. The biographical
experience with the composer and shared through reports, post-interviews, resulting in a visit
to his residence in the city of Piracicaba / SP on November 8, 2015. A maturation of this
research development resulted in a performance construction, between technical and
interpretative suggestions for a good performance, assisting a reflection on an appreciation of
the contemporary repertoire of brazilian violin pieces not yet covered in recitals and concert
halls.
Keywords: Violin. Sonata 1980. Ernst Mahle. Brazilian Contemporary Music. Musical
Performance.
5São Paulo (SP).
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Movimento bilateral.................................................................................... 32
Figura 2 - Exemplificação do movimento circular do arco na região do talão........... 34
Figura 3 - Exemplificação do movimento circular do arco......................................... 35
Figura 4 - Sonata 1980, partitura para piano – 1º movimento, compassos 1 ao 8....... 54
Figura 5 - Sonata 1980, partitura para violino – 1º movimento, compassos 1 ao 8.... 55
Figura 6 - Sonata 1980, partitura para violino digitalizada com a edição da autora
deste Artigo – 1º movimento, compassos 1 ao 8........................................
55
Figura 7 - Sonata 1980, partitura para violino – 1º movimento, compassos 5 ao 16.. 56
Figura 8 - Sonata 1980, partitura para violino digitalizada com a edição da autora
deste Artigo – 1º movimento, compassos 5 ao 16......................................
56
Figura 9 - Sonata 1980, partitura para violino – 1º movimento, compassos 13 ao 34 57
Figura 10 - Sonata 1980, partitura para piano – 1º movimento, compassos 54 ao 65... 58
Figura 11 - Sonata 1980, partitura para violino digitalizada com a edição da autora
deste Artigo – 1º movimento, compassos 55 ao 69....................................
58
Figura 12 - Sonata 1980, partitura para violino – 1º movimento, compassos 63 ao 77 59
Figura 13 - Sonata 1980, partitura para violino digitalizada com a edição da autora
deste Artigo – 1º movimento, compassos 63 ao 77....................................
59
Figura 14 - Sonata 1980, partitura para violino digitalizada com a edição da autora
deste Artigo – 2º movimento, compassos 137 ao 153................................
61
Figura 15 - Sonata 1980, partitura para violino digitalizada com a edição da autora
deste Artigo – 2º movimento, compassos 154 ao 226................................
62
Figura 16 - Sonata 1980, partitura para piano – 3º movimento, compassos 1 ao 11..... 64
Figura 17 - Sonata 1980, partitura para violino digitalizada com a edição da autora
deste Artigo – 3º movimento, compassos 1 ao 17......................................
65
Figura 18 - Sonata 1980, partitura para piano – 3º movimento, compassos 35 ao 40... 66
Figura 19 - Sonata 1980, partitura para piano – 3º movimento, compassos 41 ao 49... 66
Figura 20 - Sonata 1980, partitura para piano – 3º movimento, compassos 50 ao 60... 67
Figura 21 - Sonata 1980, partitura para violino digitalizada com a edição da autora
deste Artigo – 3º movimento, compassos 51 ao 64....................................
67
Figura 22 - Sonata 1980, partitura para piano – 3º movimento, compassos 210 ao
219..............................................................................................................
68
Figura 23 - Sonata 1980, partitura para violino digitalizada com a edição da autora
deste Artigo – 3º movimento, compassos 204 ao 220................................
69
LISTA DE FOTOGRAFIAS
Foto 1 - Movimento bilateral e unilateral baseado no esquema proposto por
Rolland; Mutschler (1974)............................................................................
32
Foto 2 - Recepção de Ernst Mahle na chegada da autora deste Artigo em sua
residência......................................................................................................
43
Foto 3 - A autora deste Artigo recebendo o trabalho de pesquisa de Mahle
chamado Escalas, Modos e Séries.................................................................
46
Foto 4 - Ernst e Dona Cidinha Mahle em sua residência............................................ 48
Foto 5 - A autora deste Artigo mostrando o seu violino a Ernst e Dona Cidinha
Mahle.............................................................................................................
48
Foto 6 - Mahle demonstrando algumas improvisações com o violino da autora
deste Artigo...................................................................................................
49
Foto 7 - Mahle compartilhando suas experiências na sala de estar de sua residência 50
Foto 8 - Dona Cidinha, após caminhada em sua residência, com a autora deste
Artigo............................................................................................................
51
Foto 9 - Ernst e Dona Cidinha Mahle em sua mesa de jantar com parte da família
da autora deste Artigo...................................................................................
51
Foto 10 - Ernst e Dona Cidinha Mahle na entrada do escritório do compositor em
sua residência................................................................................................
52
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Catálogo de obras para violino solo de Ernst Mahle.................................. 42
Quadro 2 - Estrutura da Sonata 1980 para violino de Ernst Mahle.............................. 53
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AUT – Áustria
CD – Compact Disc
CZE – República Checa
DE – Alemanha
DF – Distrito Federal
Dr. – Doutor
Dra. – Doutora
DVD – Digital Versatile Disc
EMESP – Escola de Música do Estado de São Paulo – Tom Jobim
EMUFRN – Escola de Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
EUA – Estados Unidos da América
FR – França
HUN – Hungria
IRI – Irã
MEX – México
MG – Minas Gerais
NED – Holanda
OSESP – Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo
OSUSP – Orquestra Sinfônica da Universidade de São Paulo
POR – Portugal
PPGMUS – Programa de Pós - Graduação em Música
PR – Paraná
PROF. – Professor
RJ – Rio de Janeiro
RN – Rio Grande do Norte
ROM – Romênia
RUS – Rússia
SP – São Paulo
SWI – Suíça
UFCG – Universidade Federal de Campina Grande
UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte
UK – United Kingdom
USP – Universidade de São Paulo
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO........................................................................................................ 16
2 REFLEXÕES SOBRE A MÚSICA CONTEMPORÂNEA................................. 18
3 REFLEXÕES SOBRE A MÚSICA CONTEMPORÂNEA BRASILEIRA....... 21
4 CONSTRUÇÃO DA PERFORMANCE................................................................ 25
5 EXECUÇÃO............................................................................................................. 30
5.1 Execução: conceito técnico...................................................................................... 31
5.1.1 Movimento bilateral e unilateral................................................................................ 31
5.1.2 Movimentos rotatórios do braço e do antebraço: pronação e supinação................... 33
5.1.3 Movimentos balísticos............................................................................................... 33
5.1.4 Movimentos sequenciais............................................................................................ 34
5.1.5 Movimentos circulares............................................................................................... 34
5.2 Execução: conceito estético..................................................................................... 35
5.2.1 Fator cognitivo........................................................................................................... 35
5.2.2 Fator fisiológico......................................................................................................... 36
5.2.3 Fator cronológico....................................................................................................... 37
5.3 Execução: conceito filosófico................................................................................... 38
6 INTERPRETAÇÃO................................................................................................ 38
7 O COMPOSITOR.................................................................................................... 40
8 A SONATA 1980 PARA VIOLINO DE ERNST MAHLE.................................. 52
9 A CONSTRUÇÃO DA PERFORMANCE DA SONATA 1980.......................... 53
9.1 Allegro....................................................................................................................... 54
9.2 Andante..................................................................................................................... 59
9.3 Vivo........................................................................................................................... 63
10 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................. 69
REFERÊNCIAS....................................................................................................... 71
BIBLIOGRAFIAS................................................................................................... 77
APÊNDICE A – PARTITURA PARA VIOLINO DA SONATA 1980 DE
ERNST MAHLE (EDIÇÃO POR ANA PAULA GOMES DE SOUZA – 2016
/ 2017)........................................................................................................................
78
ANEXO A – PARTITURA PARA VIOLINO DA SONATA 1980 DE ERNST
MAHLE (DIGITALIZAÇÃO DO COMPOSITOR)............................................
86
ANEXO B – PARTITURA PARA PIANO DA SONATA 1980 DE ERNST
MAHLE (DIGITALIZAÇÃO DO COMPOSITOR)............................................
97
16
1 INTRODUÇÃO
Quando a autora deste Artigo esteve em Piracicaba / SP6, em novembro de 2015,
vivenciou uma experiência como aluna que mudou completamente a sua concepção sobre a
abordagem desta Pesquisa da Sonata 1980 para violino do compositor Ernst Mahle. Ao visitá-
lo em sua residência, a autora foi com uma concepção formada quanto às perguntas que faria
para compreender a contextualização de suas composições dentro da música contemporânea
brasileira para violino, mas para a sua surpresa, foi recepcionada por um casal amável, Ernst e
Cidinha Mahle, que a receberam afetuosamente para compartilhar histórias reais sobre lutas,
superações e uma paixão em comum: a Música.
Uma tarde inteira transcorreu sem que Mahle demonstrasse cansaço, durante todo o
tempo expondo uma visão panorâmica de como a Música esteve presente em todas as fases de
sua vida. A autora deste Artigo teve a oportunidade de tocar para ele na sala de sua casa e era
notório que Mahle mantinha o interesse de ouvir e interagir com a música. Ao segurar em
suas mãos o violino da autora, Mahle acabou impressionando-a por conseguir gerar escalas e
improvisações aos 86 anos de vida. De presente, a autora recebeu de suas mãos, a partitura da
Sonata 1980 com dedicatória bem como o livro Escalas, Modos e Séries, fruto das pesquisas
de Mahle. É inegável o amor pela parte pedagógica que influencia tão de perto as suas
composições.
A autora voltou para Natal / RN7 com uma impressão muito forte e positiva deste
primeiro encontro, mas, ao mesmo tempo, um pouco apreensiva com os novos rumos que este
Trabalho tomava. Não bastava somente falar do contexto da construção da performance da
Sonata 1980 mas, se fazia necessário abordar, com uma visão pedagógica, quais os caminhos
e reflexões que envolvem o processo da execução e como poderia se alcançar o êxito
interpretativo de maneira didática. Pouco a pouco, o tema foi amadurecendo dentro do
contexto da música contemporânea brasileira para violino e foi possível construir uma
pesquisa com base na Sonata 1980 de Ernst Mahle, abordando os enfoques centrais dos
processos de construção de uma performance.
Ao longo dos anos, apesar do grande desenvolvimento da música tradicional para
violino, a música contemporânea para este instrumento ainda se vê de pouco acesso aos
alunos. No que diz respeito à difusão do repertório tradicional, é possível observar que este
avanço se torna cada vez mais poderoso em recursos devido aos meios da internet,
6São Paulo (SP). 7Rio Grande do Norte (RN).
17
possibilitando que o ouvinte participe de concertos, recitais bem como aulas e conferências
nas mais distintas localidades. Recursos que, anos atrás, não era possível e, hoje, temos a
plena acessibilidade. Para Moran (2007, p. 53), “A internet é uma mídia que facilita a
motivação dos alunos, pela novidade e pelas possibilidades inesgotáveis de pesquisa que
oferece”.
Ao iniciar os estudos no violino, a autora deste Artigo vivenciou a ausência de
recursos financeiros para adquirir Compact Disc (CDs), vídeos e partituras. Neste período,
contava com a disponibilidade de alguns amigos, também estudantes de Música, para
compartilhar mídias, vídeos e edições de partituras possibilitando, assim, o conhecimento
musical aprimorado.
Quando olhamos para o repertório de música contemporânea, a realidade de outrora
ainda parece insistir em estar presente, principalmente no que diz respeito à música
contemporânea para violino. Por ser um repertório pouco abordado em salas de concertos e
recitais, o acesso às referências audiovisuais deste novo repertório ainda é limitado, por isso, é
sugerível que a falta de conhecimento deste repertório possa ser creditada a nós, intérpretes,
que não estamos nos desafiando para fora da nossa zona de conforto ao optar por montar um
programa de concerto que traga em si novas possibilidades interpretativas. Dentro deste
contexto, Queiroz (2002, p. 11) afirma que: “A música brasileira vem, pouco a pouco,
ganhando mais espaço nas salas de concerto. Esse espaço poderia ser bem maior se os
intérpretes se interessassem mais por uma música rica e dedicasse mais tempo à pesquisa de
novos repertórios”. A dificuldade do trabalho do intérprete agrava-se, portanto, devido à
instabilidade estilística característica da música do século XX. Restam, porém, os fatores
subjetivos como o tipo de sonoridade, cor, ênfase de vozes ou motivos, atmosfera e caráter
que permanecem sob o controle do intérprete, além dos casos de música que faz uso da
improvisação e do aleatório (TOKESHI; BORGHOFF; SILVA, 2001).
Esta Pesquisa tem como intuito compartilhar sobre o trabalho composicional de Ernst
Mahle, compositor alemão, naturalizado brasileiro, e a sua peculiaridade por suas obras serem
originalmente voltadas para prática pedagógica. A inserção de elementos da música folclórica
brasileira em suas obras, em paralelo às influências composicionais de Bartók, influenciou
diretamente as suas composições de Sonatas e Sonatinas para violino no período entre 1955 a
1980, das quais este Artigo apresenta a Sonata 1980 em uma abordagem interpretativa,
visando a construção de uma performance, através de reflexões sobre a música
contemporânea e a música contemporânea brasileira. A partir da contextualização da Música
atual, iniciamos uma abordagem sobre a construção da performance e as etapas da execução
18
nos conceitos técnico, estético e filosófico como também a reflexão sobre a prática da
interpretação. Compartilhamos uma experiência biográfica com o compositor através de
relatos pessoais, após entrevistas e uma visita à sua residência na cidade de Piracicaba / SP em
novembro de 2015, produzindo assim a maturação para a construção performática da Sonata
1980 entre sugestões técnicas e interpretativas para uma boa execução, auxiliando a reflexão
sobre a valorização do repertório contemporâneo de peças brasileiras para violino ainda pouco
abordadas em recitais e salas de concertos.
A Sonata 1980 mostrou uma evolução das técnicas de composição de Mahle e um
aumento na incorporação de elementos rítmicos e melódicos da música folclórica e popular
brasileira. Verificou-se que tais características retratam o desenvolvimento de seu próprio
idioma, fato consequente de uma procura contínua do compositor por sonoridades diferentes,
estas resultantes de um estudo de tipos de escalas variadas, juntamente com a influência da
Música do Brasil e da obra de Béla Bartók (TOKESHI, 2002).
2 REFLEXÕES SOBRE A MÚSICA CONTEMPORÂNEA
Ao falarmos sobre música contemporânea geralmente nos referimos à música feita em
nossa época. Embora o conceito de contemporâneo remeta a algo do mesmo tempo,
tecnicamente, a música contemporânea é a música que começou a ser produzida no século XX
e é feita até os dias atuais do século XXI. Ela começou a ser criada após os movimentos
impressionistas (1910-1920) com a inserção de novas práticas composicionais e,
posteriormente, interpretativas buscando novas sonoridades não tonais e utilizando uma nova
grafia adaptativa ao novo contexto musical.
O termo música contemporânea dá margem a várias interpretações, podendo-se incluir
nele o repertório de música popular, uma vez que, contemporâneo significa do nosso tempo;
sob esse rótulo, portanto, convivem as mais variadas tendências estéticas. Vertamatti (2008)
compartilha que o termo é designativo de obras do período da história da Música em que o
sistema tonal é ampliado, gerando a prática de novas técnicas composicionais, mudanças na
maneira de execução instrumental e uso da voz bem como o interesse por materiais musicais
extra-ocidentais, pelo ruído e pela ênfase dada ao aspecto timbrístico. Essas técnicas
permitiram uma abordagem diferente do fenômeno sonoro e das formas de organizá-lo,
gerando, muitas vezes, uma grafia musical adaptável a essas produções, uma vez que a
notação tradicional já não era suficientemente ampla para dar conta de todas as nuances
sonoras em uso no período.
19
Dentre alguns vieses que a música contemporânea pode tomar, destacamos a música
eletrônica que é criada ou modificada através do uso de equipamentos e instrumentos
eletrônicos, tais como: sintetizadores, gravadores digitais, computadores ou softwares de
composição; e a música aleatória, ficando sob a responsabilidade do músico executante, o
qual, em alguns casos, só precisa obedecer à ideia mais geral que inspirará a música.
No processo da criação da música contemporânea, a tendência não é uniforme, existe a
adoção de uma linguagem tonal experimental onde são valorizadas a inovação e a
criatividade, gerando novas tendências artísticas podendo despertar certo estranhamento dos
ouvintes, como por exemplo, a criação da música eletrônica, na Alemanha (DE), em 1950.
Nesse período, foi gerado novos sons eletronicamente manipulados através de instrumentos e
objetos, saindo totalmente do contexto tradicional.
De acordo com Menezes (1996), em princípio, a música eletrônica não se interessaria
pelos dados sonoros concretos provenientes do mundo exterior, mas visaria, ao contrário, à
elaboração mais elementar do som a partir de suas mais fundamentais propriedades físicas,
trazendo ao seio das experiências eletroacústicas um alto grau, ao mesmo tempo, de abstração
e racionalidade. A música eletrônica dos anos 50 rompeu com o dogma estético, preocupando
os líderes dos estúdios de Paris / FR8 e Colônia / DE. Foi uma ruptura consciente da Música
puramente gerada eletronicamente onde tinha a inclusão de sons acústicos. A partir de então,
a inserção de sons concretos no contexto musical eletrônico foi se tornando cada vez mais
habitual, eliminando a resistência existente e contribuindo para experimentos que culminaram
com a concepção da música eletroacústica.
Para Griffiths (1998, p. 7), uma das principais características da música
contemporânea “[...] é a sua libertação do sistema de tonalidades maior e menor que motivou
e deu coerência a quase toda a música ocidental desde o século XVII”. Graças a essa
libertação, a música contemporânea possui uma riqueza sonora muito grande e transmite
vários tipos de experiências musicais ao intérprete e ao ouvinte, como, por exemplo, a busca
por novos recursos dentro do idioma do instrumento tradicional.
Através do surgimento da música contemporânea foi possível a inserção de objetos
sonoros diferenciados em estruturas musicais tradicionais, gerando uma nova atmosfera
compositiva e uma nova maneira de construção e estruturação dos parâmetros musicais.
Schaeffer (1952) explica que esse novo contexto parte de elementos preexistentes, extraídos
de qualquer tipo de material sonoro, sendo ele um ruído ou um som musical e, depois de
8França (FR).
20
captados, se compunha experimentalmente através de uma construção direta, na qual a
realização de uma vontade composicional era atingida sem o apoio de uma notação musical
ordinária.
As transformações ocorridas na composição musical, a partir do século XX,
demandam uma formação musical que abarca essa nova produção, em seus modos de escutar
e perceber esta música (BORGES; FONTERRADA, 2007).
Para Antunes (1990), a música contemporânea auxilia o crescimento intelectual,
interligando-o ao crescimento da cultura atual. A preferência musical dos intérpretes pode ser
contemplada dentro de uma grande variedade de estilos composicionais existentes dos dias
atuais, porém é imprescindível o acesso a esse repertório para a construção de novas
perspectivas e concepções estéticas. Dentre os mais relevantes compositores da música
contemporânea, incluem-se:
Karlheinz Stockhausen (1928-2007) - Compôs obras que auxiliaram a revolução
da percepção de ritmo, melodia e harmonia. Dentre suas obras mais ousadas, destacam-se o
Quarteto de cordas com helicópteros, em alemão, Helikopter-Streichquartett, que é realmente
tocado por 1 quarteto de cordas e 4 helicópteros, sendo o resultado de um trabalho de mais de
10 anos; e a ópera Licht, baseada em textos sânscritos e budistas e que tem suas partes
distribuídas nos dias da semana.
Dimitri Dmitriyevich Shostakovich (1906-1975) - Compositor russo. Os trabalhos
de Shostakovitch são largamente tonais e de tradição romântica, mas com elementos de
atonalidade e cromatismo.
Ígor Stravinsky (1882-1971) - Compositor, maestro e pianista russo. Suas obras
influenciaram todos os compositores da época, sendo considerado um revolucionário musical.
Durante a sua carreira, transitou por diversos estilos composicionais.
Arnold Schoenberg (1874-1951) - Compositor austríaco, criador do estilo
dodecafônico. Suas composições transitaram entre a atonalidade e dodecafonismo.
Schoenberg também contribuiu expressivamente com o ensino da Música, sendo autor de
diversos estudos sobre teoria musical, harmonia e contraponto.
Pierre Boulez (1925-2016) - Compositor engajado na modernização da estética
musical e defensor intransigente de um intelectualismo musical, despontando no século XXI
com grande projeção nos meios de comunicação, organizador de uma das instituições mais
fortes no domínio da pesquisa em acústica e composição, criador de uma orquestra estável
como o Ensemble Intercontemporain. O pensamento musical de Pierre Boulez é um ponto de
21
perspectiva, de onde se pode avaliar a criação musical da segunda metade do século XX
(GUBERNIKOFF, 2006).
Olivier Messiaen (1908-1992) - Muitas vezes, recorreu a valores breves contidos no
interior de células rítmicas, ao invés de empregar a pulsação como um elemento regular,
associando padrões rítmicos, decorrente de assimetrias no fraseado. Organizou e catalogou 7
coleções de alturas, as quais denominou Modos de Transposições Limitadas, cuja principal
característica é a presença do fator simétrico no interior da oitava. Incluiu no repertório
ocidental, o uso de células rítmicas com valores adicionados e favoreceu a utilização dos
ritmos palíndromos, tendo-os denominado ritmos não retrogradáveis (MOREIRA, 2008).
Uma de suas obras camerísticas mais conceituada é o Quarteto para o Fim dos Tempos,
para a instrumentação de clarinete, violino, violoncelo e piano. É inspirada no texto bíblico no
livro do Apocalipse, capítulo 10 e versículos 1 ao 7, e organiza-se em 8 movimentos de
grande intensidade emocional.
A música contemporânea oportunizou, em nossos dias, uma manifestação
composicional criativa e evolutiva. Também incentivou os intérpretes a buscarem em seus
instrumentos novas sonoridades e recursos técnicos outrora não utilizados no contexto
tradicional.
3 REFLEXÕES SOBRE A MÚSICA CONTEMPORÂNEA BRASILEIRA
Diversas transformações sociais, políticas, econômicas e culturais ocorreram em
diversos países do mundo com a chegada do século XX e, no Brasil, não foi diferente. Em sua
primeira fase da modernidade musical (1920-1930), os compositores tinham grandes
preocupações em gerar uma identidade nacional, diferenciando-se, assim, da modernidade
musical europeia que, nesse momento, debatia as evoluções da linguagem tonal (KATER,
2001).
Após o fim da Segunda Guerra Mundial, finalizou-se o Estado Novo e iniciou-se a
redemocratização do país, configurando a necessidade de um posicionamento político frente à
chamada Guerra Fria, inclinando para o lado dos Estados Unidos da América (EUA).
Entretanto, a característica norte-americana mais individualista contrapunha-se aos preceitos
do movimento musical em andamento no contexto brasileiro, e assim, com o fim da ditadura
militar no Brasil e com sua redemocratização, deu-se início a um desdobramento gradativo
das diversidades na cultura brasileira.
22
Em 1948, aconteceu o II Congresso Internacional de Compositores e Críticos Musicais
na cidade de Praga / CZE9, onde se buscava uma possível solução para o que se acreditava ser
uma crise profunda vivida pela música contemporânea, indicando que existia uma oposição
entre a chamada música erudita e a popular. Neste congresso, estavam presentes o pianista
brasileiro Arnaldo Estrella (1908-1981) e o compositor Cláudio Santoro (1919-1989) que,
influenciados por este contexto, identificaram que a música moderna era um mal, algo fora do
seu ambiente natural, por utilizar novas técnicas de composição.
De acordo com Neves (1981), os compositores começaram a fugir do subjetivismo e a
expressar os sentimentos e as altas ideias das massas populares, defendendo a música nacional
das falsas ideias cosmopolitas, culminando, junto a outros músicos, à dedicação da música
vocal e ao ensino musical das massas.
A música moderna brasileira inicia-se no século XX com os precursores do
nacionalismo e tem como personagens atuantes neste contexto os compositores Villa-Lobos,
Mário de Andrade, Almeida Prado, Hans-Joachim Koellreutter e Ernst Mahle, dentre outros.
A diversidade cultural no Brasil impulsionou várias transformações, nos níveis mais variados
da sociedade, favorecendo também a capacidade de aceitação da diversidade de novos
conceitos na música brasileira. Com esse novo cenário, os músicos de vertentes diferentes
começaram a trabalhar suas músicas e tendências em conjunto, tornando-se frequente a
absorção de características de diferentes origens, muitas vezes, com estéticas conflitantes.
De acordo com Neves (1981), no Brasil, como em muitos outros países da América
Latina, a busca de expressão musical própria, aceitando a funcionalidade programática da
composição, representa certo afastamento das influências wagnerianas e, inicialmente, uma
total adesão ao impressionismo que será depois igualmente recusado, sobretudo a partir do
Movimento Modernista.
O Movimento Modernista propôs um diálogo entre o velho e o novo, através da
inserção de elementos inovadores tanto na composição como na estética e interpretação.
Através da realização da Semana da Arte Moderna em 1922, esse Movimento recebeu um
grande impulso na reformulação dos conceitos da arte nacional. Na ocasião, Heitor Villa-
Lobos (1887-1959), maestro e compositor brasileiro, se apresentou e, posteriormente, se
tornou parte importante dentro da construção da música contemporânea no Brasil com a
utilização de uma linguagem única, explorando elementos folclóricos e regionais do Brasil.
9República Checa (CZE).
23
Para Azevedo (1956) cada nação tem sua música característica e o Brasil um dia
haveria de revelar a sua. Através de uma busca por uma identidade nacional, em 1939, nasceu
o Movimento Música Viva liderado pelo compositor, professor e musicólogo, Hans Joachim
Koellreutter que adotou uma nova estética derivada do dodecafonismo. Koellreutter10 foi um
grande incentivador do desenvolvimento da Música Nova no Brasil. Nascido em Freiburg /
DE, em 1915, ingressou, aos 20 anos, na Academia de Música de Berlim (1935-1936) e, em
seguida, no Conservatório de Música de Genebra (1936-1937). No ano de 1937, exilado,
desembarcou no Brasil e trouxe consigo, além da experiência política vivida no país de
origem – ao envolver-se em atividades antifascistas –, a influência de seu mestre
Scherchen11. Influência esta que pôde ser vista, um pouco mais tarde, no trabalho do
compositor no país que o abrigou, onde introduziu o método dodecafônico através da intensa
atividade didática que aqui exerceu. O Grupo Música Viva contou com a participação de
músicos já conhecidos do cenário musical brasileiro, como o pianista Egídio de Castro e
Silva, os professores e compositores Luiz Heitor, Brasílio Itiberê, Luiz Cosme e Otávio
Bevilácqua.
Para propagar seus ideais e conquistas, Koellreutter trabalhou arduamente na
produção de livros, seminários, cursos de férias e, inclusive, colaborando para a criação de
departamentos de Música. Em 1944, iniciou cursos independentes de composição musical
em SP e Rio de Janeiro (RJ). Em 19 de julho de 1947, foi fundada, no Distrito Federal (DF),
a Seção de Música da Universidade do Povo, onde ministrou aulas. No ano de 1950, com o
apoio de Theodor Heuberger, Koellreutter dirigiu o Curso Internacional de Férias Pró-Arte,
em Teresópolis / RJ, onde se iniciou mais uma série de encontros.
Em 1952, fundou e dirigiu a Escola Livre de Música Pró-Arte / SP; no ano seguinte,
um aluno seu, Ernst Mahle, criou a Fundação Pró-Arte de Piracicaba / SP onde participou
como diretor artístico e professor de composição. Por volta de 1960, Koellreutter
empenhava-se, cada vez mais, em propagar suas perspectivas musicais até trazer a
reviravolta da música contemporânea. Segundo Giani (1999), o suicídio do presidente
10“Em 1937 chegou ao Brasil o flautista alemão Hans Joachim Koellreutter, fugindo do nazismo. Desde sua
chegada, Koellreutter procurou trazer para o Brasil a agitação cultural da qual participou ativamente na [...]
[DE] e na Suíça [(SWI)]. Fundou no [...] [RJ] o grupo Música Viva, em 1939. No início de suas atividades, o
grupo reuniu várias personalidades do meio musical brasileiro com a finalidade de incrementar a atividade
musical no Brasil. Entre as iniciativas do grupo esteve a publicação de um boletim mensal, cujo primeiro
número saiu em maio de 1940” (EGG, 2005, p. 60). 11Hermann Scherchen (1891-1966) - Violinista, violista e maestro alemão. Destacou-se como defensor da música
de vanguarda, da qual foi um dos principais intérpretes. Deixou a [...] [DE] em protesto contra o regime nazista
e desempenhou um papel de liderança na formação musical com ênfase na música contemporânea.
(HERMANN..., 2001, tradução nossa).
24
Vargas, somado ao reconhecimento da violência simbólica mantida pelo Partido Comunista e
às denúncias dos crimes cometidos por Stalin em 1956, foram de grande importância para o
esmorecimento da repressão à Música Nova. Em 1961, Gilberto Mendes, compositor paulista
que teve como professores Cláudio Santoro e Olivier Toni, compôs Música para 12
instrumentos (serial-dodecafônica) apresentada em concerto na VI Bienal de Arte Moderna
de São Paulo, repetindo o concerto na cidade de Santos / SP, o que deu início, no ano
seguinte, ao Festival Música Nova.
Em 1964, Cláudio Santoro voltou a compor obras experimentais, alinhando-se
novamente à vanguarda estética. Em 1966, surgiu o Grupo de Compositores da Bahia,
integrado por artistas que rejeitavam os princípios técnicos já estabelecidos em favor
do desenvolvimento criativo. Foi lançado o Manifesto Música Nova, cuja proposta
Compromisso Total com o Mundo Contemporâneo se parecia, e muito, com a do
Grupo Música Viva. Segundo Squeff (1983), tanto o Manifesto 1946 quanto o
Manifesto Música Nova são de caráter cosmopolita, porém, no primeiro, este aspecto
aparece apenas panoramicamente, ao passo que, no segundo, a cidade participa, entra
na música.
Segundo Neves (2008), o amadurecimento do germe da renovação trazido pela
Música Nova se completou com a pregação do concretismo poético. Não só foi em
torno dos poetas Décio Pignatari, Augusto e Haroldo de Campos, líderes desse
Movimento, que os jovens compositores paulistas se reuniram; o posicionamento
estético do grupo que seria chamado de Música Nova deriva também, em grande
parte, das teses defendidas pelos poetas concretistas brasileiros. A contribuição de
Koellreutter não só ensinou como também pensou e teorizou a Educação Musical
sempre vendo nesta arte uma espécie de ponte que levaria o país a melhores dias.
Existem diversas tendências na música erudita contemporânea desde a década
de 1980 que foram introduzidas através de experimentalismos de vanguarda e com a
herança do tradicionalismo local, combinados com elementos tradicionais e sonoridades
incomuns. Mahle, em suas composições, utilizou muito essas combinações de diversos
elementos da música folclórica brasileira, onde abordaremos melhor na Sessão 7.
A evolução da música brasileira, no curso dos séculos XX e XXI, não se
diferencia, essencialmente, da evolução da Música na Europa ou na América do Norte.
Aqui e lá, o peso da tradição contou enormemente, aqui e lá, a sede de renovação se
manifestou com grande vigor. É preciso, todavia, lembrar que, se a força da tradição
se apoiava sobre uma herança europeia já profundamente arraigada naquelas terras, as
25
correntes renovadoras tiveram de contar, quase exclusivamente, com o dinamismo de
figuras que se sentiam responsáveis pela colocação do Brasil em pé de
igualdade com os grandes centros culturais do mundo – Não mais para
lhes copiar as modas, e sim para reafirmar a força daqueles países que
buscam seu pleno desenvolvimento musical (NEVES, 1981).
4 CONSTRUÇÃO DA PERFORMANCE
A construção da performance é o primeiro passo para o
desenvolvimento do repertório. Estabelecer metas, identificar desafios e
encontrar soluções otimiza o tempo de estudo fazendo com que as
sessões de preparação sejam produtivas, ainda que o tempo de estudo
seja em um horário reduzido. Para isso, é necessário identificar quais as
estratégias para aprender a trabalhar por si só e de forma eficiente.
Cada aluno tem um processo de produção que não pode ser
generalizado, pois, quando feito, ocasiona um retardo produtivo que gera
comparação ao invés de aprimoramento. Quando não comparamos os
processos produtivos entre alunos, permitimos que eles alcancem o máximo
de sua capacidade técnica e musical, simplesmente pelo fato de não se
concentrarem no outro, mas em si mesmos. O plano de estudo
construtivo é aquele que, dentro de um contexto individual, elabora uma
rotina de estudo sistemático e progressivo.
Nos dias atuais, contamos com recursos textuais e metodológicos
que auxiliam o planejamento do processo individual de construção técnica. Entre
o final do século XIX e início do século XX, Leopold Auer12, Carl
12“Leopold Auer (nascido em 7 de junho de 1845, Veszprém, Hungria [(HUN)] - morreu em 15 de julho de
1930, Loschwitz, perto de Dresden, [...] [DE], violinista húngaro-americano especialmente conhecido como
professor, que contava, entre seus alunos, artistas famosos como Mischa Elman, Jascha Heifetz, Efrem
Zimbalist e Nathan Milstein. Auer estudou sob o célebre virtuoso Joseph Joachim. Desde 1868, foi professor
de violino no Conservatório de São Petersburgo, na Rússia [(RUS)] e, em 1883, tornou-se um cidadão russo.
Enquanto vivia em São Petersburgo / [RUS], também lecionou em Londres / [United Kingdom (UK)] e em
Dresden, na [...] [DE]. Em 1918, estabeleceu-se em New York City / [EUA]. Pyotr Ilyich Tchaikovsky,
originalmente, dedicou seu concerto de violino a Auer, mas, decepcionado que Auer considerou o trabalho
como injulgável, ele mudou a dedicação. Mais tarde, Auer mudou de ideia sobre a Peça e, depois disso, o
concerto ocupou um lugar proeminente em seu extenso repertório. Ele escreveu Playing As I Teach It (1921),
My Long Life in Music (1923) e Violin Master Works and Their Interpretation (1925)” ( LEOPOLD…, [2013],
tradução nossa, grifos do autor).
26
Flesch13 e Ivan Galamian14, se destacaram no ensino do violino, não apenas por alunos
prodígios como Heifetz, Zimbalist e Misha Elman (alunos de Auer), Szerying e Rostal
(alunos de Flesch) e Itzak Perlman e Pinchas Zukerman (alunos de Galamian), para citar
alguns. A maior contribuição enquanto pedagogos foram suas publicações que, ainda hoje,
são referências no ensino e estudo do violino (PAGOTTO, 2010).
A prática ou estudo, segundo Flesch (2000, book one), é a estrada que leva da
inabilidade de tocar uma nota à habilidade de executá-la. Para Galamian (c1962), é um
processo de autoinstrução, no qual sem o professor o aluno se corrige, supervisionando seu
próprio trabalho. Auer (1980) enfatiza que o estudo é basicamente um exercício mental, pois
o cérebro comanda todos os dedos.
O estudo do violino, durante a construção da performance, é um caminho cheio de
descobertas e desafios. Alguns pré-requisitos são necessários para que haja uma produção
objetiva e produtiva. Auer (1980) exemplifica alguns pontos como: 1) habilidade para difícil
13Flesch nasceu em Moson (agora parte de Mosonmagyaróvár), na [...] [HUN], em 1873, e faleceu em 14 de
novembro de 1944, em Lucerna, [...] [SWI]. Ele começou a tocar violino aos 7 anos de idade. Aos 10 anos, foi
levado para Viena, [Áustria (AUT)] e começou a estudar com Jakob Grün. Aos 17 anos, partiu para Paris /
[FR] e ingressou no Conservatório de Paris. Ele se estabeleceu em Berlim / [DE] e, em 1934, em Londres /
[UK]. Era conhecido por seus desempenhos de solo em uma escala muito larga do repertório (da música
barroca à contemporânea), ganhando a fama como um performer da música de câmara. Ele também lecionou
em Bucareste, [Romênia (ROM)] (1897-1902), Amsterdã, [Holanda (NED)] (1903-1908), Filadélfia / [EUA]
(1924-1928) e no Berlim High School for Music (1929-1934). Ele publicou uma série de livros de instrução,
incluindo The Art of Violin Playing (1923), em que ele defendeu o conceito de violinista como artista, e não
meramente um virtuoso. Entre seus alunos estavam Edwin Bélanger, Bronislaw Gimpel, Ivry Gitlis, Szymon
Goldberg, Ida Haendel, Josef Hassid, Adolf Leschinski, Alma Moodie, Ginette Neveu, Yfrah Neaman, Ricardo
Odnoposoff, Eric Rosenblith, Max Rostal, Henry Szeryng, Henri Temianka, Roman Totenberg e Josef
Wolfsthal que alcançaram fama considerável como artistas e pedagogos. O método Scale System (1929), de
Carl Flesch é uma das partes mais importantes da pedagogia do violino nos dias atuais (CARL..., [20--],
tradução nossa). 14“Ivan Galamian foi um dos mais influentes professores de violino do século XX. Ele nasceu em Tabriz, na
Pérsia [Irã (IRI)], em 5 de fevereiro de 1903 [e faleceu em 14 de abril de 1981 em New York City / [EUA]. Seus
pais eram armênios, mas sua família emigrou para Moscou / RUS logo após seu nascimento. Galamian estudou
violino na The School of the Philharmonic Society com Konstantin Mostras (um estudante de Leopold Auer)
até sua graduação em 1919. Mudou-se para Paris, [...] [FR], durante a Revolução Bolchevique e estudou com
Lucien Capet em 1922 e 1923. Em 1924, ele estreou em Paris / [FR]. Devido a uma combinação de nervos,
saúde e um gosto por ensinar, Galamian eventualmente desistiu do palco para ensinar em tempo integral. Ele se
tornou um membro do corpo docente do Conservatório da Rússia em Paris / [FR], onde lecionou desde 1925
até 1929. Seus primeiros alunos em Paris / [FR] incluem Vida Reynolds, a primeira mulher na primeira seção
de violino da Orquestra de Filadélfia e Paul Makanowitzky. Em 1937, Galamian se mudou permanentemente
para os [...] [EUA]. Em 1941, casou-se com Judith Johnson em Nova York / [EUA]. Ele ensinou violino no
Instituto Curtis de Música, começando em 1944, e tornou-se chefe do Departamento de violino na The Juilliard
School em 1946. Escreveu 2 livros de métodos de violino, Principles of Violin Playing and Teaching (1962) e
Contemporary Violin Technique (1962). Galamian incorporou aspectos de ambas as escolas russas e francesas
de técnica de violino em sua abordagem. Galamian fundou o Programa de Verão Meadowmount School of
Music em Westport, […] [Nova York / EUA]. Alguns de seus alunos mais conhecidos são Itzhak Perlman,
Pinchas Zukerman, Kyung-Wha Chung e Michael Rabin. Seus mais notáveis assistentes de ensino - mais tarde
professores ilustres por direito próprio - foram Dorothy Delay, Sally Thomas, Pauline Scott, Robert Lipsett,
Margaret Pardee, Lewis Kaplan e David Cerone. Galamian possuía graus honoríficos do Curtis Institute of
Music, da Oberlin College e do Cleveland College of Music. Ele também foi membro honorário da Royal
Academy of Music, em Londres / [UK]” (IVAN..., [20--?], tradução nossa, grifos do autor).
27
trabalho mental com prolongada concentração; 2) apurado senso auditivo e rítmico; 3)
conformidade física da mão, músculo, braço e pulso; 4) elasticidade e força nos dedos; 5) boa
saúde física, mental e emocional e 6) paciência. O talento natural é caracterizado pela
facilidade de vencer estes desafios sem muito esforço técnico, mas não podemos esquecer que
a qualidade e amplitude no som, boa afinação, proficiência técnica, e até mesmo ouvir
corretamente podem ser ensinados e desenvolvidos (FLESCH, 2000, BOOK ONE). Sendo
assim, é possível que um aluno que seja considerado não tão talentoso dentro do contexto de
não ter agilidade na solução de problemas técnicos, produza mais do que o aluno
naturalmente talentoso através do trabalho sistemático e intensivo para solução de
problemas técnicos e musicais.
Otimizar o tempo de estudo com o máximo de resultados, sem desperdiçar energia
com repetições sem propósito é o que todos queremos alcançar na primeira fase de nossa
preparação. O estudo eficiente nos dá o conhecimento de que é possível fazer mais em meia
hora de estudo com propósito do que uma semana de estudo mecânico. As horas de estudo
são correlacionadas ao tipo do repertório, a quantidade de material a ser trabalhado, a idade e
o nível técnico do aluno, sem esquecer o tempo / prazo que ele tem para finalizar o repertório.
A dinâmica varia entre alunos e professores. Auer (1980) aconselhava um período de
30 a 40 minutos de estudo seguido de 10 a 15 minutos para descanso. Flesch (2000, book one)
sugeriu 15 minutos de descanso para cada hora estudada. Galamian (c1962) não especificou
um período de horas para o estudo e descanso, mas aconselhou que ele deveria se tornar um
hábito diário com flexível sequência de material e uma inteligente divisão entre o tempo de
construção, tempo de interpretação e tempo de performance (GALAMIAN, c1962). Essa
divisão do tempo pode ser relacionada com o que Flesch (2000, book one) escreveu sobre
técnica geral, técnica aplicada e performance. Em suas aulas, Galamian (c1962 apud
PAGOTTO, 2010) enfatizava que estudo significa repetição e repetição significa monotonia.
Então, a repetição deve ser acompanhada de variedade e a variedade deve ser suficientemente
desafiadora para manter a mente ativa.
Durante o tempo de construção, Galamian (c1962) sugere escalas e exercícios que
ajudem a resolver os problemas técnicos dos estudos e do repertório, enfatizando sempre o
controle da mente sobre os movimentos. Por exemplo, tocar a escala enquanto antecipa o som
e os movimentos seguintes como uma figura clara e precisa: isto significa que a mente deve
antecipar a ação física a ser realizada e, então, mandar o comando para sua execução.
Durante o tempo de interpretação, a ênfase deve ser dada à expressividade musical, à
forma de uma frase, depois a uma sessão maior, então a um movimento inteiro e finalmente a
28
vários movimentos, com uma convincente unidade. Enquanto no tempo de construção
nenhum erro deve passar sem ser corrigido, durante o tempo de interpretação, o conselho é
não interromper a execução a cada nota perdida.
O tempo de performance, segundo Galamian (c1962) é a resposta para aquele
problema quando se tem uma passagem difícil na peça e já tendo devidamente analisado e
transformado em exercícios adequados e finalmente, vencido tecnicamente. Ao executar a
peça, o trecho ainda falha e, às vezes, até enrosca completamente. Esse tempo no estudo é
importante para colocar a mente e os músculos na condição de performance, adicionando-se o
vibrato, o cuidado da expressividade, nuances e dinâmicas, elementos que não estavam
presentes no frio estudo técnico. Trata-se de, depois de ter estudado a música sob o ponto de
vista técnico, tocar novamente como uma peça musical (GALAMIAN, c1962).
Para Flesch (2000, book one), a técnica geral corresponde à prática do sistema de
escalas, exercícios de arco e estudos. Flesch (2000, book one) acredita que o maior desafio é
tentar adquirir e abordar todas as importantes facetas da técnica quanto possível e combinar
isso com o menor gasto de tempo. A técnica aplicada consiste no estudo técnico do
repertório e também dos estudos, pois combinam vários elementos da técnica geral, mas por
não serem destinados à performance pública e seu propósito ser basicamente o
desenvolvimento das habilidades técnicas, Flesch (2000, book one) os considera na esfera da
técnica geral. A performance, para Flesch (2000, book one), é uma das partes mais
importantes do estudo e não deve ser negligenciada. Trata-se do fazer música, puramente.
Um equilíbrio entre essas 3 partes deve ser diariamente uma constante no estudo, por
exemplo, tomando-se 4 horas diárias de estudo, Flesch (2000, book one) sugere a seguinte
distribuição: 1 hora para técnica geral, 1 hora e meia para técnica aplicada e 1 hora e meia
para performance. Flesch (2000, book one), embora não trate o exercício e controle mental
com a mesma insistência de Galamian (c1962), afirma que a reflexão calma, análise,
avaliação dos obstáculos e repetição bem planejada rapidamente guiará ao objetivo desejado
(FLESCH, 2000, BOOK ONE).
No trabalho mental está a fonte de todo progresso e estudar sem autocrítica e auto-
observação é o mesmo que desenvolver e aperfeiçoar o erro (AUER, 1980). Flesch (2000,
book one) compartilha o pensamento para adquirir a habilidade do tocar fluidamente,
observando os passos de executar movimentos simples, conscientemente, ao ler as notas
musicais; juntar os movimentos simples com os complexos, executando, mecanicamente,
apenas olhando de relance as notas; tocar de memória, pois fazendo assim, a partitura torna-se
desnecessária, visto que a execução é automática. O praticar diário visando a paciência e a
29
disciplina mental trará uma melhora considerável dentro de uma semana de estudo regular e
intenso desse exercício. Auer (1980) confirma que uma memória auditiva apurada só é
desenvolvida através do estudo lento. Da mesma forma, para a obtenção de um som de
qualidade, o aluno deve usar tanto tempo quanto necessário, usando ao máximo sua
inteligência e concentração mental.
A disciplina de estudo não tem a ver com todo dia no mesmo horário, pois nem
sempre será possível estudar em um mesmo período do dia bem como na mesma quantidade
de horas. O que difere o estudo construtivo do improdutivo é o maior aproveitamento do
tempo disponível com o menor desgaste mental e físico, seja ele em que horário for, mas
desde que a rotina de estudo seja construída com escalas, estudos e peças. Cada aluno deve
adaptá-la e, individualmente, encontrar, de forma inteligente, o que funciona para si.
Galamian (c1962) exemplifica dizendo que não há necessidade de seguir um modelo
na sequência de material (escalas - estudo - repertório). Modificando-se a ordem e não
gastando tempo exagerado em um item específico ajudará a manter a mente leve por mais
tempo. Por outro lado, Flesch (2000, book one) aconselha que o estudo sempre se inicie com
as escalas, uma vez que sua monotonia é mais bem recebida com a mente ainda descansada.
Ainda que Flesch (2000, book one) e Galamian (c1962) difiram no que diz respeito à
sequência na sessão de estudos, ambos são unânimes quando o assunto é tempo de qualidade.
A disciplina de estudo diário tem feito ao longo do tempo muito mais pelos alunos que
a ela se dedicam do que aquelas longas horas e períodos irregulares e esporádicos (AUER,
1980). Flesch (2000, book one) apoia o pensamento de que o estudo fracionado e frequente é
mais produtivo do que o estudo integral e desregular. Diante disso, exemplifica ao dizer que
seria melhor praticar o staccato por 10 minutos cada dia, 18 dias seguidos, do que 1 hora
durante 3 dias. Todas as habilidades técnicas, sejam elas de qualquer tipo, devem ser
praticadas em quantidades pequenas, mas frequentemente, para adquirir maestria (FLESCH,
2000, BOOK ONE).
É na parte construtiva do estudo que ocorre a identificação no repertório, possibilidade
de mudanças de dedilhados ou golpes de arco, com o objetivo de auxiliar organicamente a
execução mecânica e a interpretação musical. No que diz respeito ao repertório
contemporâneo para violino, a busca por novas sonoridades, através do desenvolvimento e
aplicação de técnicas expandidas, nos possibilita um mapeamento de soluções técnicas,
auxiliando a solidificação da qualidade técnica do repertório proposto.
30
5 EXECUÇÃO
Muitos são os fatores que influenciam para uma boa execução de uma obra. Após a
construção de um caminho objetivo para as soluções de problemas técnicos, entramos na
etapa onde o trabalho minucioso da execução produzirá a solidez necessária para uma
interpretação musical coesa. É na execução que descobrimos como vamos reagir nas escolhas
interpretativas.
Contextualizando, a expressão técnica expandida é a tradução da expressão em inglês
extended technique e abrange, em seu significado, os recursos técnicos que foram
introduzidos em composições dos séculos XX e XXI com o objetivo de criar uma nova
sonoridade e efeitos no idioma do instrumento. Recursos considerados tradicionais, como,
pizzicato e vibrato, quando tratados de forma não convencional, também são objetos de
estudo de técnica expandida (TOKESHI, 2003).
A Sonata 1980 foi composta dentro de um contexto que exime os recursos expandidos
no violino, a exemplo de glissandi, sul tasto, ¼ de tom, harmônicos, o tocar embaixo das
cordas, col legno, mexer na cravelha, fazer percussão no tampo do violino, bater com arco
sobre as cordas, abafar e soltar o som colocando os 4 dedos no tampo superior, percussão com
dedo na corda sol, entre outros, mas se utiliza de escalas variadas e características da música
folclórica brasileira, através dos ritmos percussivos.
Uma das maiores dificuldades que a música contemporânea proporciona em sua
execução é concernente à variedade de recursos de timbre e dinâmica (ZUKOFSKY, 1992). A
liberdade composicional e interpretativa disponível dentro do contexto contemporâneo difere
da busca do som redondo e linear explorados na música tradicional. Aspectos do som, a partir
do século XX, passam a ser considerados como expressão musical válida ou até fonte
inspiradora, antes mesmo de contextualizados na música (STRANGE; STRANGE, 2001).
O violino, apesar de ser um instrumento convencional, fortemente ligado a tradições,
teve suas possibilidades técnicas experimentadas e expandidas por vários compositores, que
acabaram por revelar, assim, recursos tímbricos e de dinâmica, até então, pouco explorados.
Essa nova gama de meios passou a ser ampla e frequentemente usada, a ponto de se tornar
uma idiossincrasia da música contemporânea.
O enriquecimento ocorrido no idioma do instrumento resultou em novas dificuldades
técnicas, principalmente no que se refere à técnica de arco, consequência da constante
solicitação por mudança de sonoridade presente nas partituras. Na música brasileira
encontram-se vários exemplos de compositores, como: Guerra Peixe, Almeida Prado, Ernst
31
Mahle, Silvio Ferraz, Harry Crowl, entre muitos outros, que, ao buscar novas sonoridades,
contribuíram para a ampliação e enriquecimento da escrita para instrumento de cordas
(TOKESHI, 2003).
5.1 Execução: conceito técnico
Na execução de instrumentos musicais, além de fatores emocionais e cognitivos, estão
envolvidos os fatores motores. A rigidez e a imobilidade de qualquer parte do corpo impedem
movimentos naturais e causam desconforto (CRUZEIRO, 2005). A forma da mão esquerda
bem como o ponto de contato do arco na mão direita, varia dentro do repertório
contemporâneo para violino que se utiliza de técnicas expandidas. O momento da execução
deve ocorrer de forma consciente e planejada dentro destas mudanças técnicas, pois, no caso
contrário, muitas tensões acumulam-se nos tornozelos, joelhos, tronco, ombros e pescoço,
afetando, negativamente, os movimentos dos braços, mãos e dedos. É possível diminuir a
tensão muscular em todas as partes do corpo com a introdução de leves movimentos nas áreas
não diretamente envolvidas na execução do violino (ROLLAND; MUTSCHLER, 1974).
Os movimentos dos membros superiores envolvidos na execução do violino são
abordados por Rolland; Mutschler (1974) em 5 partes. São elas: 1) movimento bilateral e
unilateral; 2) movimentos rotatórios do braço e do antebraço - pronação e supinação; 3)
movimentos balísticos; 4) movimentos sequenciais; e 5) movimentos circulares.
5.1.1 Movimento bilateral e unilateral
Os movimentos bilateral e unilateral atuam como estabilizadores do equilíbrio do
centro de gravidade do corpo, restaurando-o à sua posição original. Arcadas vigorosas
provocam o movimento do corpo na direção oposta [movimento bilateral], enquanto notas
longas e sustentadas induzem o corpo a seguir a direção do arco [movimento unilateral]
(SZENDE; NEMESSURI, 1971). Tanto no movimento bilateral quanto no unilateral, a
mudança de direção do arco é antecipada pela inclinação do corpo para a direita ou para a
esquerda, um pouco antes da troca de arco (ROLLAND; MUTSCHLER, 1974).
32
Foto 1 – Movimento bilateral e unilateral baseado no esquema proposto por Rolland;
Mutschler (1974)
Fonte: Cruzeiro (2005, p. 26).
A rotação do corpo é um ponto essencial quando falamos de funções de equilíbrio e
impulso. O mover-se, em certas passagens especificas na música, ajuda não somente a obter-
se uma boa postura estética, mas também uma melhor qualidade sonora. Menuhin (c1987)
exemplifica que, nas arcadas para cima, o peso do corpo tende a repousar mais sobre o pé
esquerdo; nas arcadas para baixo, o peso repousa sobre o pé direito. Para Menuhin (c1987), o
pé direito impulsiona as arcadas para cima e o pé esquerdo gera o centro de apoio para as
arcadas para baixo.
Figura 1 – Movimento bilateral
Fonte: Menuhin (c1987, p. 129).
33
5.1.2 Movimentos rotatórios do braço e do antebraço: pronação e supinação
O antebraço direito realiza movimentos de rotação interna e externa denominados,
respectivamente, pronação e supinação. Esses movimentos são empregados para aumentar e
diminuir a pressão do arco sobre as cordas. A pronação é o movimento do antebraço direito
realizado em sentido anti-horário que promove um aumento da sonoridade. Por meio desse
movimento, a força do braço é levada até o dedo indicador, para que a pressão exercida sobre
o arco não seja somente a da mão ou do dedo, mas do braço completo (CRUZEIRO, 2005).
Partindo do pressuposto que o dedo indicador não é o gerador de força para a
produção do som, mas para o equilíbrio, e sim o antebraço, Gerle (2008) compartilha que o
indicador deve ser como uma extensão do antebraço, não como um substituto dele. Do
contrário, tensões musculares podem aparecer impedindo uma igualdade sonora desde a ponta
até o talão.
A pronação permite liberar não somente a articulação do cotovelo, que pode abrir-se
da esquerda à direita e em sentido exato da condução do arco, mas também do punho, que fica
livre para funcionar tanto lateralmente como em sentido vertical (HOPPENOT, c1991). Já a
supinação é a rotação do antebraço direito em sentido horário que provoca um decréscimo do
volume sonoro. Na supinação, o dedo mínimo passa a ser a extensão do antebraço, reduzindo
a força do arco sobre as cordas (GERLE, 2008).
A rotação do braço entre o cotovelo e o ombro é importante, mas a qualidade da
produção sonora não se limita somente a isso. A rotação externa do antebraço evita o
estrangulamento do som (principalmente no talão), por isso, podemos afirmar que a qualidade
do som é vinculada à pronação e à supinação do antebraço.
5.1.3 Movimentos balísticos
Os movimentos balísticos são ações executadas sem um constante controle consciente,
pois os padrões de movimento tornam-se automáticos como um reflexo muscular através da
experiência adquirida após muitas repetições durante a prática do instrumento. Podemos
associar os movimentos balísticos a golpes de arco como martelé, spiccato e detaché rápido.
Essas ações têm um impulso inicial que desencadeia movimentos passivos e relaxados do
braço. A realização de um grupo de notas com apenas um impulso reduz as tensões que são
provocadas por estímulos repetitivos (ROLLAND; MUTSCHLER, 1974).
34
5.1.4 Movimentos sequenciais
Os movimentos sequenciais são aqueles envolvidos nas mudanças de direção do arco e
também observados nas mudanças de corda. As ações sequenciais favorecem o legato, pois
possibilitam a continuidade do som intenso e do movimento contínuo durante as trocas de
arco, principalmente em golpes lentos. Nos movimentos sequenciais, o braço muda sua
direção em uma sutil rotação, enquanto o antebraço completa o golpe anterior; a mão, os
dedos e o arco completam o golpe após o antebraço ter mudado de direção (ROLLAND;
MUTSCHLER, 1974).
Os ciclos de movimento entre impulso e esforço são antecipados de forma orgânica
pelo arco através da solidificação da técnica de arco. Utilizar o efeito da gravidade ao nosso
favor reduz o esforço muscular.
5.1.5 Movimentos circulares
Os variados golpes de arco feitos de maneira sistemática e repetitiva geram os
movimentos circulares. Estes movimentos são utilizados em sua totalidade em quase todo o
repertório violinístico, como exemplos de acordes, spiccato, detaché. A maioria das ações e
movimentos necessários para tocar violino é desenvolvida nos tradicionais padrões verticais,
principalmente pela forma como o violino e arco são segurados além da força da gravidade
(HAVAS, 1961 apud PERKINS, 1995).
Figura 2 – Exemplificação do movimento
circular do arco na região do talão
Fonte: A TÉCNICA... (2016)15.
15Documento online não paginado.
35
Figura 3 – Exemplificação do movimento
circular do arco
Fonte: A TÉCNICA... (2016)16.
5.2 Execução: conceito estético
A música tem a capacidade de afetar nossas emoções, intelecto e nossa psicologia.
Desse modo, a música é uma poderosa forma de arte cujo apelo estético está altamente
relacionado com a cultura na qual é executada.
O conceito estético aqui apresentado, consiste no estudo e observação dos processos
cognitivo, fisiológico e cronológico que corroboram para uma boa qualidade na execução
musical.
5.2.1 Fator cognitivo
O processo cognitivo envolve o pensamento, a linguagem, a percepção, a memória, o
raciocínio entre outros diversos fatores que fazem parte do desenvolvimento intelectual e está
relacionado diretamente ao processo de aquisição de conhecimento. A Psicologia cognitiva
estuda os processos mentais que influenciam o comportamento de cada indivíduo e o
desenvolvimento intelectual.
Cognição vem do termo latim cogitare que significa ‘pensar’ [...]. Nesse
sentido, a cognição musical envolve o estudo de como o cérebro humano
estabelece conceitos, se relaciona com a música e, especificamente, com
suas formulações verbais. [...] a cognição musical envolve a integração de
diversas áreas do conhecimento já que a música é uma experiência estética
que envolve nossos sentidos e proporciona um ‘sentir’. Assim, [...] sentir não
16Documento online não paginado.
36
é necessariamente o oposto de pensar. Por esse motivo, o estudo da cognição
musical é um processo complexo que envolve diversas áreas do
conhecimento como a psicologia cognitiva, neurobiologia, musicologia,
entre outros (MAROTHY, 2000 apud MEIRELLES; STOLTZ; LÜDERS,
2014, p. 114).
A cognição musical envolve os processos mentais relativos à escuta musical, a
memória musical, os processos mentais adjacentes das experiências musicais como, por
exemplo, a improvisação, composição, interpretação e performance.
Na execução, o comando cognitivo deve conter 2 elementos: o elemento musical
apropriado (ritmo, altura, métrica) e o elemento cinestésico: como realizar a atividade de
maneira saudável (KEMPTER, 2003). O elemento cinestésico está, muitas vezes, subordinado
ao elemento musical. Grande parte dos impulsos motores e comandos musculares são
desencadeados a partir da percepção auditiva do som. Cinestesia é o sentido presente no
processo de aprendizagem de um instrumento musical, pelo qual são percebidos os
movimentos musculares e a posição do corpo (PETERS; MILLER, 1982).
O primeiro estágio, no aprendizado do repertório, é a compreensão de mecanismos da
atividade motora para que seja feita a imagem mental da ação musical desejada. A prática
mental, como forma de solidificar padrões de movimento e coordenar a ação muscular, é
proposta por alguns professores que acreditam que este seja o meio mais eficiente para
soluções técnicas de memorização e aprendizagem de um repertório (HAVAS, 1961; GERLE,
1983; MENUHIN, 1986; BARRY; HALLAM, 2002).
5.2.2 Fator fisiológico
A música é uma arte inclusiva e o ensino instrumental não pode ser exclusivista
apenas a alguns que possuem alguma capacidade física peculiar ou habilidade nata. Perkins
(1995) aborda esse fator relacionado a tocar violino. Atualmente, é possível encontrarmos o
posicionamento de que qualquer pessoa pode tocar violino, até determinado padrão, se
algumas condições se aplicarem como um bom ouvido capaz de ser desenvolvido além de
faculdades motoras normais (SZENDE; NEMESSURI, 1971).
Galamian (c1962) aponta a composição anatômica do indivíduo, o formato dos dedos,
mãos, braços e a flexibilidade do aparato muscular como fatores de influência na execução
violinística. Compreendemos que a parte física se faz importante para a solidificação dos
padrões motores da técnica bem como o relaxamento, a flexibilidade e a disponibilidade
auditiva, mas não podemos generalizar que a constituição física age como padrão para as
37
realizações das ações motoras. Conforme Szende; Nemessuri (1971), o tamanho de certas
partes do corpo, especialmente o tamanho das mãos, pode facilitar ou dificultar algumas
tarefas. Contudo, o treinamento sistemático pode afetar a mobilidade das juntas, o
crescimento e a coordenação dos músculos e membros. Quando o processo definido
corresponde ao correto grupo de idade, e os requisitos motores correspondem às exigências do
currículo do violino, as incapacidades físicas não entram em discussão. Exercícios adequados
transporão as eventuais dificuldades.
5.2.3 Fator cronológico
A música não é uma capacidade única e monolítica, que existe ou não existe em um
indivíduo. A habilidade musical tem muitas sub-habilidades logicamente independentes, que
também podem, portanto, ser anatomicamente independentes (SLOBODA, 2008), ou seja, na
música não existe predestinação na habilidade para apenas algumas pessoas, pois se
desenvolve de diferentes formas em diferentes indivíduos. Apesar de cada indivíduo possuir
uma época específica para o desenvolvimento do aparato motor e para a aquisição de
habilidades motoras (GALLAHUE; OZMUN, 2003), a idade em que se iniciam os estudos de
instrumentos musicais pode influenciar, de alguma forma, a extensão da fluência prática. No
Brasil, “[...] não é raro encontrar estudantes interessados em iniciar um instrumento de cordas
aos 18 ou 19 anos de idade” (BORGES, 1993 apud CRUZEIRO, 2005, p. 37-38), mas “[...] o
início instrumental tardio pode afetar, [de certa forma,] a aquisição de movimentos básicos,
[...] pois a flexibilidade e a agilidade apresentadas não são as mesmas de uma criança”
(CRUZEIRO, 2005, p. 38). Ainda nesta reflexão, Szende; Nemessuri (1971) afirmam que os
movimentos humanos revelam certos padrões característicos relacionados à idade. Nesse
sentido, propõem uma relação entre a aprendizagem de um instrumento e a idade cronológica
apontando que a idade adequada para começar o estudo do violino seria por volta dos 7 anos,
quando há maior elasticidade no corpo. O período mais complexo do desenvolvimento físico
é a adolescência, os membros crescem rapidamente, mas esse crescimento não é
acompanhado pela ossificação completa do tronco e pelo completo desenvolvimento
muscular, o que pode causar desconforto em alguns mecanismos técnicos (SZENDE;
NEMESSURI, 1971). Já Hoppenot (c1991) compartilha que o processo de aprendizagem
instrumental mais importante é a persistência ao invés da idade com que se começa a estudar,
sendo assim, nunca é tarde para desbloquear situações aparentemente irreversíveis. A idade
não é obstáculo. A ideia que fazemos dela, sim.
38
5.3 Execução: conceito filosófico
Que tipo de atividade é a execução musical? Uma livre tradução, entregue à
subjetividade de cada executante? Ou, ao contrário, uma atividade cujo fim é a fiel
reevocação da vontade do compositor? Questões como estas compõem uma problemática
complexa, polêmica e envolvente, sobre a qual se debruçam as mais conceituadas correntes
estéticas e hermenêuticas, desde o início do século XX, mas que, até hoje, não recebeu
adequada atenção por parte da comunidade acadêmica musical. As divergências entre a
fidelidade ao autor e a licença interpretativa dividem interessados e estudiosos da estética e da
hermenêutica da arte (ABDO, 2000).
Sobre o intérprete, Koellreutter (1985 apud ABDO, 2000, p. 18) afirma que: “[...] o
executante tem um papel eminentemente ativo e criador [...]”, pois sendo a interpretação uma
“‘[...] decodificação dos signos musicais’, logo [...] se define como ‘tradução subjetiva’”.
Ainda que, dentro deste contexto, “[...] o processo interpretativo não fica inteiramente
entregue à sua subjetividade, pois ele deve ‘perceber’ as ‘relações sonoras’ criadas pelo
compositor” (KOELLREUTTER, 1990 apud ABDO, 2000, p. 18).
Executar uma obra, não significa, portanto, alcançar a totalidade do seu significado,
pois a arte é expressiva e comunicativa, transcendendo a cada nova execução. O
amadurecimento do intérprete, em contato direto com o repertório, poderá gerar novas
concepções ao longo das sessões de estudo gerando uma maturação dos elementos
interpretativos escolhidos.
6 INTERPRETAÇÃO
Embora a partitura contenha elementos essenciais a partir dos quais o intérprete
vai iniciar seu trabalho interpretativo, esta não tem a capacidade de fornecer a
totalidade de informações que estão presentes em uma execução musical. É possível
que ao intérprete seja reservado o papel de complementar as informações fornecidas
pelo compositor através de elementos vinculados às práticas interpretativas (WINTER;
SILVEIRA, 2006). A esse respeito, Krausz (2001) afirma que as partituras não
determinam interpretações e as interpretações não determinam as performances, pois
existem considerações que são adquiridas através de uma experiência extra-partitura.
Unes (1998) compartilha que o intérprete é aquele que torna possível, ao leitor
comum, o acesso a uma determinada obra que se encontra codificada num sistema,
39
cujas regras são desconhecidas pelo leigo. Diante disso, acredita que o intérprete
traduz signos gráficos em signos sonoros, signos idiomáticos desconhecidos em signos
compreensíveis.
Ross (1993 apud WINTER; SILVEIRA, 2006, p. 66) afirma que:
[...] existem dois níveis de informação na partitura: os objetivos e os
subjetivos. Os objetivos são todas aquelas informações que se encontram
restritas ao espaço do pentagrama, como ritmo e altura dos sons [...]. Os
aspectos subjetivos são todos os outros, tais como: indicações genéricas de
tempo e dinâmicas.
As notações de dinâmicas poderão variar segundo o entendimento do intérprete
bem como por outros aspectos que ocorrem durante a performance.
O mesmo ocorre com indicações expressivas encontradas em partituras,
[como]: dolce, allargando, affretando [...]. [...] aspectos [...] [de] andamento
expresso através de palavras [...] [como] o termo ‘Allegro’ [...] são,
geralmente, [...] baseados em valores pessoais do intérprete (LEVINSON,
1993 apud WINTER; SILVEIRA, 2006, p. 66, grifos nossos).
Guerchfeld (1995 apud WINTER; SILVEIRA, 2006, p. 96) comenta que: “[...] não há
duas interpretações iguais da mesma obra, nem pela mesma pessoa, ainda que essa pessoa seja
o próprio compositor [...]”. Independentemente da sofisticação do sistema de notação, as
questões como: o modo de execução, fraseado, articulação e dinâmica sonora variam
no momento da performance.
É possível que, a música composta nos dias atuais, seja de maior complexidade
técnica e estrutural, dentro do contexto de que as interações entre compositor e
intérprete buscam o desenvolvimento de técnicas outrora não comuns no idioma
instrumental dos séculos passados.
O processo interpretativo modifica-se através da prática diária e do
amadurecimento técnico. A esse respeito, Pareyson (2001) afirma que podemos
comparar a interpretação a um diálogo entre pessoas, feito de perguntas e de
respostas, obtendo uma interação acessível entre ouvinte e intérprete.
A interpretação de uma obra musical oportuniza a realização de escolha que
facilitem ao ouvinte a compreensão estética e conceitual do repertório apresentado.
40
7 O COMPOSITOR
Ernst Mahle, hoje com 88 anos, dentro os quais 60 deles dedicados ao
ensino de Música, regência coral e instrumental, é um compositor que se
encontra como um dos maiores incentivadores da música contemporânea brasileira
para o repertório violinístico e de cordas. A exemplo disto, em um período
entre os anos de 1955 a 1980, suas atividades composicionais e pesquisas de
novos elementos da música folclórica brasileira, o levaram a compor as Sonatas
e Sonatinas para violino, dentre as quais abordaremos a Sonata 1980 com
sugestões interpretativas e uma reflexão sobre a construção da performance dos
elementos que a compõe.
Mahle nasceu em 3 de janeiro de 1929 na cidade Stuttgart / DE e
transferiu-se para o Brasil, em 1951, naturalizando-se brasileiro em 1962.
Na sua infância, a educação musical de Mahle restringiu-se ao estudo por
gravador em aulas em grupo oferecidas em sua escola primária. Mahle então
estudou no famoso Ludwig's Gymnasium, em Stuttgart, onde foi um
excelente aluno, especialmente em Línguas, como alemão, latim, francês,
inglês e também em Música. Quando tinha 10 anos de idade, Mahle estudou
violino durante um curto período de tempo, devido à sua falta de interesse e
disciplina17 (CASAROTTI, 2006, p. 9, tradução nossa, grifos nossos).
Foi aluno de composição de Johann Nepomuk David, na DE; e em SP,
prosseguiu seus estudos musicais com Hans Joachim Koellreuter; fez outros
cursos de Pós - Graduação na Europa onde esteve sob a orientação dos
professores Olivier Messiaen (1908 - 1992), Ernst Krenek (1900 - 1991) e Rafael
Kubelik (1914 - 1996).
A Escola de Música de Piracicaba / SP tornou-se um celeiro de músicos
para o Brasil, frutos da visão pedagógica de Mahle em investir no ensino e
na Educação Musical de sua geração que resultou em anos de profícuo
crescimento dentro do cenário nacional. Alguns alunos egressos da Escola de
Piracicaba / SP alcançaram reconhecimento internacional como o violista Alexandre
17"In his childhood, Mahle’s musical education was restricted to the study of the recorder in group classes
offered at his elementary school. Mahle then studied in the famous Ludwig’s Gymnasium, in Stuttgart, where
he was an excellent student, especially in languages, such as German, Latin, French, English, and also in
music. When he was 10 years old, Mahle studied violin only for a short period, due to his lack of interest and
discipline." (CASAROTTI, 2006, p. 9).
41
Razera18 que juntamente com o violista piracicabano Renato Bandel19 foram integrantes da
Academia da Filarmônica de Berlim bem como o violinista Nelson Rios. A preocupação de
Mahle com a área pedagógica dos alunos resultou em composições para quase todos os
instrumentos. Visando o desenvolvimento técnico e musical, as suas composições foram,
inicialmente, escritas para preencher uma lacuna que acreditou existir no repertório brasileiro
para estudantes de Música, entretanto, a composição logo se tornou sua principal ocupação
(TOKESHI, 2002).
Seu Catálogo de Obras (MAHLE, [19--?]) conta com mais de 50 páginas e dispõe de
composições para violino, viola, violoncelo, contrabaixo, violão, flauta transversal, oboé,
corno inglês, clarineta, clarone, fagote, flauta doce, trompete, trompa, trombone, percussão,
cravo, harmônio, órgão, piano solo, piano 4 mãos, 2 pianos, orquestra de cordas e solistas,
orquestra de cordas e quinteto de sopros, orquestra de cordas e coral, orquestra sinfônica e
solistas, orquestra sinfônica e ballet, ballet e dança folclórica, canto, ópera, coral - vozes
iguais (sem acompanhamento) / vozes mistas (sem acompanhamento), peças para iniciantes,
coro infantojuvenil e orquestra infantojuvenil. No repertório para violino solo, suas obras são:
18Alexandre Razera “Iniciou seus estudos musicais aos oito anos de idade, na Escola de Música de Piracicaba /
SP. Graduou-se pela Universidade de São Paulo (USP), sob a orientação de Marcelo Jaffé. Foi bolsista da
Fundação Vitae para a Academia da Orquestra Filarmônica de Berlim [...] / [DE], onde foi orientado por
Wilfried Strehle, posteriormente estudando na Universidade de Artes de Berlim. No Brasil atuou como violista
da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (OSESP), Orquestra Experimental de Repertório, e viola solo
da Orquestra Sinfônica da Universidade de São Paulo (OSUSP). Também foi solista das orquestras sinfônicas
Paulista / [SP], Santo André / [SP], Minas Gerais / [(MG)] e Camerata Fukuda, entre outras. Ministrou aulas
nos festivais de Campos do Jordão / SP, Juiz de Fora / MG e Oficina de Música de Curitiba / [Paraná (PR)]. É
primeiro violista da Orquestra da Rádio e Televisão Eslovênia de Ljubljana e músico convidado da Mahler
Chamber Orchestra, desde 2008. Participou de gravações com a Filarmônica de Berlim, sob a regência de
Cláudio Abbado, Simon Rattle, Daniel Barenboim, Lorin Maazel, Kurt Masur, Nikolaus Harnoncourt, Trevor
Pinnock, Gunter Wand. Realizou concertos, gravações e turnês junto a várias orquestras europeias, como
Filarmônica de Berlim, Orquestra da Rádio de Berlim, Orquestra de Câmera de Berlim, Orquestra da Ópera de
Berlim, Mahler Chamber Orchestra e Orquestra da Rádio de Ljubljana” (ALEXANDRE..., [20--?], grifos
nosso). 19Renato Bandel – “Nascido em Piracicaba / SP, iniciou seus estudos de música aos seis anos de idade, com sua
mãe. Aos 20 anos recebeu uma bolsa para estudar na Academia da Orquestra Filarmônica de Berlim. Realizou
concertos com a orquestra sob a regência de Claudio Abbado, Daniel Barenboim, Seiji Ozawa, Günter Wand,
Zubin Mehta, Bernard Haitink, Simon Rattle, Nikolaus Harnoncourt entre outros, em várias cidades europeias.
Com esta orquestra, realizou diversas gravações de CDs e [Digital Versatile Disc] (DVD). Em 2000 graduou-
se na Universidade de Artes de Berlim, com o título de mestre, sob orientação de Hartmut Rohde. Durante sua
estadia de sete anos em Berlim integrou a ‘Ensemble Oriol Berlin’, realizando concertos na [...] [(DE)],
México [(MEX)], Portugal [(POR)], com renomados solistas internacionais. Atuou também como músico
convidado na Orquestra Gulbenkian (Lisboa / [...] [POR]). Recebeu o ‘Prêmio Carlos Gomes - Melhor
Conjunto de Câmara’ em 2006, como integrante do Quarteto Camargo Guarnieri. É professor de viola do
Instituto Baccarelli [...] / [SP], além de coordenador pedagógico do mesmo Instituto, da [Escola de Música do
Estado de São Paulo – Tom Jobim] (EMESP) / [...] [SP] e do Festival de Inverno de Campos do Jordão”
(RENATO..., [20--?], grifo nosso).
42
Quadro 1 – Catálogo de obras para violino solo de Ernst Mahle
INSTRUMENTOS OBRAS
VIOLINO SOLO
C nº 7 - Rapsodia (1956) - (Tonos / DE)
C nº 61 - Sonatina (1972)
C nº 101 - Solo (1976)
2 VIOLINOS B nº 7 - Invenção (1956)
C nº 41 - Duetos Modais (1969)
3 VIOLINOS C nº 146 - Trio (1981)
4 VIOLINOS C nº 145 - Quarteto ao Cair da Tarde (1981)
DUOS – VIOLINO E PIANO
A nº 7 - As melodias da Cecilia - (Vitale)
B nº 2 - Sonatina (1955) - (Ricordi)
B nº 3 - Sonatina (1956)
C nº 37 - Sonata (1968) - (Tonos / DE)
C nº 75 - Sonatina (1974)
C nº 86 - Sonatina (1975)
C nº 96 - Capricho (1976)
C nº 141 - Sonata (1980)
DUOS – VIOLINO E VIOLÃO C nº 160 - Sonata (1985)
DUOS –
VIOLINO E VIOLONCELO
C nº 142 - Duo: oboé (ou violino) e fagote (ou
violoncelo) (1980)
Fonte: Mahle [19--?].
Nota: Quadro 1 elaborado pela autora deste Artigo baseado em Mahle [19--?].
Após diálogos através de e-mails e telefonemas, no dia 8 de novembro de 2015, a
autora deste Artigo, acompanhada de parte de sua família, visitou a residência do compositor
e a sua esposa, Dona Cidinha, na cidade de Piracicaba / SP. A experiência em ouvi-lo
pessoalmente, no discorrer de uma tarde inteira, o compartilhamento sobre sua vida, pontos de
sua formação musical, atuação pedagógica e obras composicionais, causaram um impacto de
crescimento da autora deste Artigo quanto à interpretação e execução de sua Obra bem como
na própria vida pessoal da autora. Nesse contexto, a autora deste Artigo ouviu uma história
pautada em guerras, superação, amor e dedicação mútua como gratidão a oportunidade de ser
músico e influenciar vidas através do ensino musical.
43
Foto 2 – Recepção de Ernst Mahle na chegada da autora deste Artigo em
sua residência
Fonte: Araújo (2015a).
Sobre suas inspirações com as características rítmicas e melódicas da música
brasileira, Mahle foi enfático em dizer que não é necessário buscar a manipulação dos modos
na música do folclore europeu, pois aqui, no Brasil, temos os mesmos recursos na música
folclórica nordestina. Pinto (1994) afirma que um dos aspectos da música folclórica no
Nordeste é, sem dúvida, o da sua melodia e as origens da música modal no Nordeste que tem
forte influência indígena. Ainda exemplifica:
[...] que as primitivas tribos do Brasil, principalmente a dos índios Tabajaras
de Pernambuco, que ‘se supunham os primitivos habitantes do Brasil’, [...]
[possuíam] um tipo de música mais ou menos semelhante às das outras
grandes civilizações do continente [...] [naquela época, a dizer] os Aimarás,
Quéchuas, Astecas e Maias (PINTO, 1994, p. 238).
Salazar (1958 apud PINTO, 1994, p. 239) corrobora afirmando que: ‘é a famosa escala
pentatônica que veremos aparecer em todas as culturas anteriores à europeia, que é a própria
base da cultura musical, e que, em grande parte, está presente também em culturas não-
europeias, nos chamados povos primitivos’.
Algo que logo a autora deste Artigo pôde correlacionar justamente por ser radicada na
região Nordeste do Brasil há 21 anos e, desde criança, vivenciar a interação dos ritmos
típicos.
Mahle sempre demonstrou uma preocupação pedagógica latente, que aparece refletida
em sua produção musical. Em muitos momentos compartilhou que as obras de Béla Bartók,
44
como For Children e Mikrokosmos, foram fontes de inspiração, pois exemplificavam o
cumprimento da função didática entre o folclore a um idioma moderno, dentro de um nível de
dificuldade técnica acessível e compreensível aos alunos.
Vasconcelos (2014) compartilha que Mikrokosmos são 153 peças que Bartók compôs
para piano, apresentadas em ordem de dificuldade progressiva e distribuídas em 6 volumes.
Elas correspondem ao mais extenso empreendimento do compositor húngaro com intuito de
contribuir para a formação de um repertório didático que contemplasse tanto aspectos
estéticos quanto pedagógicos. Bartók obteve a experiência como professor de piano exercida
durante quase toda a vida, experiência esta que o fez acreditar que, no material didático
disponível em sua época, havia poucas peças para principiantes com real valor musical,
exceção feita a poucos exemplos, como as peças mais fáceis de Bach ou o Álbum da
Juventude de Schumann (BARTÓK, 1992).
O aproveitamento do material folclórico nas obras For Children e Mikrokosmos, na
visão do compositor, era a coisa certa a se fazer para garantir a qualidade do repertório.
Bartók (1992 apud VASCONCELOS, 2014, p. 9) afirma que: “[...] melodias folclóricas, em
geral, têm grande valor musical; então, pelo menos o valor temático será assegurado”.
A coletânea For Children foi concebida após a primeira expedição de Bartók e o
também compositor húngaro Zoltan Kodály ao interior da Hungria (HUN) para coletar e
estudar a música camponesa em 1906. A pesquisa possibilitou a Bartók libertar-se das regras
das tonalidades maiores e menores, consideradas por ele rígidas. Mostrou-lhe os meios de
extrair novas organizações de alturas, orientando-o tanto em relação à harmonização de temas
folclóricos quanto na composição de temas autênticos (ANTOKOLETZ, 1984 apud
VASCONCELLOS, 2014, p. 9).
Segundo Suchoff (2001), o ano de 1926 é marcado como o início do período de
maturidade do compositor, que corresponde ao último estágio de desenvolvimento de sua
música, no qual ele sintetiza o material proveniente da música folclórica oriental e as técnicas
de composição da música artística ocidental. Tal síntese entre material folclórico e técnica de
composição ocidental é reconhecida no Mikrokosmos, permitindo a percepção de que a
relação com o material folclórico não é direta, no sentido de as peças, dentro desta obra,
aproveitarem os temas folclóricos, mas a relação acontece no nível estrutural através de
parâmetros rítmicos e harmônicos.
Segundo Souza (2009), a busca de materiais modais inspirados em fontes populares ou
estranhas à da música de concerto europeia, possibilitou a Bartók afastar-se do
ultracromatismo germânico. A sistematização de estruturas modais, superpostas e justapostas,
45
tal como empregada por compositores como Claude Debussy, Igor Stravinsky e Bartók,
acabou conduzindo a resultados igualmente despojados do sentido da tonalidade, não só
quanto aos encadeamentos – o que seria previsível em se tratando de música modal – mas
também na complexidade dissonante dos conglomerados, uma vez que a independência
contrapontista das linhas modais sobrepostas produziu sucessões de dissonâncias tão
formidáveis quanto às da música serial. Os compositores dessa corrente pesquisaram
intensamente os diversos tipos de escalas modais. Além dos modos eclesiásticos e
pentatônicos, diversas outras escalas simétricas foram empregadas intensivamente: escalas de
tons inteiros, escalas octatônicas, escalas mistas e artificiais, a exemplo da lídio-mixolídio.
Mahle (1995 apud TOKESHI, 2002) se descreve ao dizer que seu estilo de
composição é baseado no modalismo, no folclore e no aleatório controlado. Nessa afirmação,
descreve sua característica composicional com referência ao resultado obtido através de um
estudo contínuo de diferentes tipos de escalas, juntamente com a influência de obras de
Bartók e da música folclórica e popular do Brasil.
No dia em que a autora deste Artigo esteve na residência de Mahle, recebeu do
compositor um trabalho de pesquisa feito por ele mesmo chamado Escalas, Modos e Séries
onde é abordado: a série harmônica e sua inversão; divisão do espaço da oitava por
superposição de quintas; divisão da oitava em espaços iguais; gráfico para a classificação dos
modos – funções melódicas / modos maiores / modos menores; modos pentatônicos (5 notas);
modos hexatônicos (6 notas); modos heptatônicos (7 notas, 6 quintas sobrepostas); modos
octotônicos (8 notas); 9 / 10 / 11 notas; escala cromática; séries dodecafônicas (e outras) e
exemplo de modo microtonal (quartos de tom). O compositor afirma que: “O nordestino
conhece os modos lídio, mixolídeo maior e menor e usa até variando, mas ele não conhece o
frígio e o dórico em suas músicas folclóricas. Então, na Sonata 1980 compartilhei estas
sonoridades” (informação verbal)20.
20Informação fornecida por Ernst Mahle, em sua residência, em Piracicaba / SP, em 8 de novembro de 2015.
46
Foto 3 – A autora deste Artigo recebendo o trabalho
de pesquisa de Mahle chamado Escalas, Modos e
Séries
Fonte: Araújo (2015b).
Mahle ressaltou a importância de incentivar o jovem e adolescente à introdução
musical e artística logo em seus primeiros anos de vida. Lembrando-se de seus dias de
juventude, quando ainda residia em Stuttgart / DE, frequentava o teatro e era possível
encontrar cerca de 40 óperas diferentes durante uma temporada. Ainda em sua adolescência,
sua família mudou-se para a Áustria (AUT), fugindo dos latentes rumores de guerra e, foi
neste período, que trabalhou em uma fábrica enquanto seus colegas, todos com 16 anos, foram
servir na guerra. “Quase todos morreram” (informação verbal)21 - lembra o compositor com
um momento de silêncio.
Quando a guerra acabou, aquela parte da AUT ao qual estava radicado com a sua
família foi tomada pelo exército francês. Mahle compartilhou que, todo mês eles enviavam
membros do Conservatório de Música de Paris para concertos e recitais. Ao se deparar com
21Informação fornecida por Ernst Mahle, em sua residência, em Piracicaba / SP, em 8 de novembro de 2015.
47
tamanha competência técnica, musical e performática, algo o tocou profundamente e disse a si
mesmo: “Meu Deus, eu quero isso!” (informação verbal)22. Após esta experiência que foi um
marco em sua vida musical, resolveu estudar com afinco o piano, pois como Mahle mesmo
disse: Tinha sempre um piano em casa, mas ninguém usava. Eu também não ligava muito,
então comprei os estudos de Chopin e as sonatas de Beethoven e comecei a pratica.
(informação verbal)23.
Dona Cidinha, sua esposa, conta que seu primeiro contato com o Mahle aconteceu em
uma sala de espera na Escola Livre de Música – Pró Arte em SP. Havia uma aula agendada
com um professor alemão, mas ao chegar, ele não estava presente. Após uma longa viagem
com sua mãe para a aula que não acontecera, a secretária da Escola a fez esperar pelo diretor,
Hans-Joachim Koellreutter, conhecido também como um dos fundadores do Movimento
Música Viva.
A música deveria reconquistar sua total independência, definindo-se por sua
própria realidade e sendo o seu próprio objeto. Para Koellreutter, a música
nova só venceria se pudesse afastar-se de todos os condicionamentos
exteriores, inclusive da ‘obsessão do belo’ (que leva facilmente ao mais
violento dos academismos); a nova música deveria também ser a expressão
real e sincera de nossa época, mesmo que não refletisse as características do
país e de raças (NEVES, 2008, p. 141).
Enquanto Dona Cidinha esperava, Mahle adentrou a sala e logo mais chegou
Koellreutter compartilhando que o professor agendado não ministraria a aula, mas a convidou
para participar na turma de piano-coral que iniciaria naquele momento. Mahle participava
apenas da turma de composição, mas começaram a cantar no coral juntos e, após um período,
começaram a participar dos cursos de férias em Teresópolis / RJ. Casaram-se em Piracicaba /
SP e já completaram 60 anos de casamento. Por Mahle ser luterano e Dona Cidinha católica, o
casamento precisou ser realizado em sua residência. “As religiões poderiam se unir na
caridade” (informação verbal)24 - afirma Dona Cidinha.
Após seu casamento, Mahle obteve um maior contato com composições brasileiras
através de sua maior incentivadora, Dona Cidinha. Percebeu que, no leste da Europa, existia
um folclore rico em escalas modais e, para a sua surpresa, ao chegar ao Brasil descobriu que
no Nordeste exista a mesma característica composicional.
22Informação fornecida por Ernst Mahle, em sua residência, em Piracicaba / SP, em 8 de novembro de 2015. 23Informação fornecida por Ernst Mahle, em sua residência, em Piracicaba / SP, em 8 de novembro de 2015. 24Informação fornecida por D. Cidinha Mahle, em sua residência, em Piracicaba / SP, em 8 de novembro de
2015.
48
Foto 4 – Ernst e Dona Cidinha Mahle em sua residência
Fonte: Souza (2015a).
Foto 5 – A autora deste Artigo mostrando o seu violino a Ernst e Dona
Cidinha Mahle
Fonte: Araújo (2015c).
49
Foto 6 – Mahle demonstrando algumas improvisações
com o violino da autora deste Artigo
Fonte: Souza (2015b).
Compreendemos que através da evolução dos anos, mudanças políticas e sociais
influenciam diretamente a característica composicional no que diz respeito a compositores
trazerem uma nova sonoridade em suas obras. Mahle afirma que atualmente os desafios estão
maiores para um músico que deseja viver apenas da performance, quando diz que:
As sinfônicas na Europa estão com muito problema, na Alemanha juntam
duas orquestras em uma só porque não tem mais dinheiro. A diferença dos
tempos de Mozart com hoje em dia é que os políticos, imperadores, reis e
príncipes gostavam da arte. Hoje, o governo popular busca música popular
para se eleger. Então, estamos lutando contra a maré, mas ainda assim há
alunos que se dedicam totalmente à performance acima da situação política.
Hoje, após a formação, os músicos vão onde ganham mais e podem expandir
o seu conhecimento acadêmico e musical (informação verbal)25.
25Informação fornecida por Ernst Mahle, em sua residência, em Piracicaba / SP, em 8 de novembro de 2015.
50
Esta é uma realidade que enfrentamos com a desvalorização e falta de incentivo dos
órgãos governamentais diante da Cultura e Educação. O Brasil é um país de grande contraste
social e de alto nível de desigualdade. Dentro deste contexto, é possível que a música seja
uma ferramenta de transformação da sociedade através do ensino de Música por professores
capacitados e apoiados por incentivos culturais, em academias de músicas, conservatórios,
projetos sociais, escolas de músicas federais, entre outros, que trabalhem com a visão da
inclusão social através da Música. Abrir as portas dos teatros e salas de concertos para o
compartilhamento de vida através de um relacionamento pessoal com o ouvinte.
Esta foi a experiência que a autora deste Artigo vivenciou ao sentar-se na sala de estar
na residência do compositor. Ele, gentilmente, abriu o livro de suas memórias em contextos
outrora não esperados. Juntamente com a família da autora deste Artigo, caminhou-se na
residência do compositor descobrindo memórias e, ao sentarmos à sua mesa de jantar,
saboreamos uma refeição muito além do alimento sólido, incluindo o desfrutar de lições de
vida que transcendem a parte musical ao qual fomos com a expectativa de adquirir.
Foto 7 – Mahle compartilhando suas experiências na
sala de estar de sua residência
Fonte: Araújo (2015d).
51
Foto 8 – Dona Cidinha, após caminhada em sua
residência, com a autora deste Artigo
Fonte: Araújo (2015e).
Foto 9 – Ernst e Dona Cidinha Mahle em sua mesa de jantar com parte da
família da autora deste Artigo
Fonte: Araújo (2015f).
52
Foto 10 – Ernst e Dona Cidinha Mahle na entrada
do escritório do compositor em sua residência
Fonte: Araújo (2015g).
8 A SONATA 1980 PARA VIOLINO DE ERNST MAHLE
A Sonata 1980 para violino faz parte de um ciclo de 6 Sonatas e Sonatinas para violino
e piano que foram compostas entre os anos 1955 a 1980, período ao qual Mahle se
contextualiza da não utilização da aleatoriedade, elemento que foi adicionado posteriormente
em suas obras, mas das manipulações dos modos eclesiásticos e outras escalas, como a
octatônica e pentatônica que, a propósito, é a escala usada como material inicial da Sonata
1980 (Sol – Lá – Si – Ré – Mi). É possível identificarmos que o material temático foi
trabalhado de modo que pudéssemos ter um maior aproveitamento das frases através de
combinações modais como o Dó# (lídio), Láb e Sib (frígio) e Fá (mixolídio).
É possível identificar as influências da música brasileira, no que diz respeito à
incorporação de elementos melódicos da música folclórica e popular nacional, nas figuras
rítmicas e sonoridades percussivas. O compositor apresenta ritmos pontuados de samba e
53
outras danças. Como base para a incorporação destes elementos bem como para a
manipulação dos modos, há a utilização de estruturas neoclássicas, como exemplo, a Forma
Sonata, preservando assim o padrão tradicional de ordem rápido – lento – rápido, conforme
identificado no Quadro 2:
Quadro 2 – Estrutura da Sonata 1980 para violino de Ernst Mahle
SONATA 1980 PARA VIOLINO
Edição: Não publicada
Dedicatória: A seu filho, Claudio Mahle
Movimento /
Tonalidade / Forma
1º Movimento:
Allegro / Sol / Forma
Sonata
2º Movimento:
Andante / Si / Forma
Sonata
3º Movimento:
Vivo / Sol / Forma
Sonata
Fonte: Tokeshi (2002, p. 44).
Nota: Quadro 2 idealizado pela autora deste Artigo baseado na Tabela de Sonatas e Sonatinas para violino e
piano de Ernst Mahle (TOKESHI, 2002).
Através da construção da performance, entre os ensaios e estudo individual da obra,
foi possível o amadurecimento interpretativo para gerar uma sugestão técnico-interpretativa
com alterações de arcadas, dedilhados e busca por sonoridades.
Com o intervalo de 1 ano entre o Primeiro26 e o Segundo27 Recital de Mestrado da
autora deste Artigo pelo Programa de Pós-Graduação em Música (PPGMUS) da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), onde em seu repertório constavam peças
contemporâneas brasileiras para violino e a Sonata 1980, foi possível inserir em sua partitura
alterações e indicações práticas que oportunizarão a reflexão para uma boa performance aos
violinistas que assim a desejarem estudar, disponível na edição da autora deste Artigo no
Apêndice A.
9 A CONSTRUÇÃO DA PERFORMANCE DA SONATA 1980
Nesta seção abordaremos a construção da performance dos 3 movimentos da Sonata
1980 com sugestões interpretativas, técnicas e musicais através da realização de alterações na
partitura do violino, editadas pela autora deste Artigo.
26Primeiro Recital de Mestrado da autora deste Artigo, realizado no Auditório Onofre Lopes da Escola de
Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (EMUFRN), em 26 de novembro de 2015. 27Segundo Recital de Mestrado da autora deste Artigo, realizado no Auditório Onofre Lopes da EMUFRN, em
21 de dezembro de 2016.
54
9.1 Allegro
Durante o movimento Allegro, obtemos instantes cromáticos e complexos devido à
mistura de modos que, de maneira contrastante, se alternam com o caráter sonoro aberto da
escala pentatônica. Observamos na Figura 4, na mão esquerda do piano, um motivo que
enfatiza a primeira, quarta e sétima colcheias do compasso, formando grupos de 3+3+2, que
coincidem com uma figura rítmica de acompanhamento típica nas danças populares
brasileiras (TOKESHI, 2002). A seguir trago comparativos e sugestões interpretativas que
auxiliaram a concepção interpretativa desta obra.
Figura 4 – Sonata 1980, partitura para piano – 1º movimento, compassos 1 ao 8
Fonte: Mahle (1980b, p. 1).
Podemos identificar a proposta do compositor na ligadura do compasso 3 (Figura 5),
entre as notas Lá – Mi – Sol. Pensando na uniformidade do som, foi efetuada a mudança do
golpe de arco no compasso 3 (Figura 6) bem como nos compassos 5 e 7, com o propósito de
valorizar a característica da música popular brasileira através das acentuações presentes. Foi
mantido o dedilhado sugerido, o 2º dedo fazendo a mudança da 3ª para 4ª posição. Estas
mudanças possibilitaram uma maior projeção sonora e uma maior estabilidade e equilíbrio
corporal na execução, através do movimento unilateral (ver Seção 5.1.1).
55
Figura 5 – Sonata 1980, partitura para violino – 1º movimento, compassos 1 ao 8
Fonte: Mahle (1980a, p. 1).
Figura 6 – Sonata 1980, partitura para violino digitalizada com a edição da autora deste
Artigo – 1º movimento, compassos 1 ao 8
Fonte: Mahle (2016 / 2017, p. 1).
A partir do compasso 10 (Figura 7) o compositor não altera a dinâmica, ainda que o
motivo rítmico seja o mesmo mantido desde a entrada do violino. Buscando uma nova textura
na produção do som, a partir do compasso 10 (Figura 8), optamos por diferenciar a repetição
do mesmo motivo executando, a primeira vez, em piano e a segunda, crescendo até o forte do
compasso 15. A utilização do vibrato na produção de um som quente, constante e aveludado
foi determinante neste momento.
Visando corroborar com a mudança de golpe de arco para valorizar as acentuações,
escolhemos modificar os dedilhados nos compassos 6, 7, 11, e 13 (Figura 8), o que auxilia
em manter o fluir orgânico e constante do som.
As mudanças de posição, quando feitas, não devem ser percebidas pelo público. Faz-
se necessário uma experimentação, entre várias possibilidades de dedilhados, para que, ao
56
escolher um, seja aquele que ficará o mais natural possível tanto auditivamente quanto
visualmente e muscularmente.
Figura 7 – Sonata 1980, partitura para violino – 1º movimento, compassos 5 ao 16
Fonte: Mahle (1980a, p. 1).
Figura 8 – Sonata 1980, partitura para violino digitalizada com a edição da autora
deste Artigo – 1º movimento, compassos 5 ao 16
Fonte: Mahle (2016 / 2017, p. 1).
Através dos ensaios preparatórios da Sonata foi identificado a necessidade de enfatizar
os momentos fortes dos compassos posteriores aos de números 14, 20 e 30 (Figura 9). Para
alcançar este objetivo, executamos um pequeno ritardando nos 2 últimos tempos de cada
compasso, culminando no forte dos compassos seguintes, voltando estritamente no tempo
original.
57
Figura 9 – Sonata 1980, partitura para violino – 1º movimento, compassos 13 ao 34
Fonte: Mahle (2016 / 2017, p. 1).
É possível notar uma explosão sonora na partitura da mão esquerda do piano, após o
compasso 55 (Figura 10). A combinação dos modos utilizados geram auditivamente um som
sólido e métrico. Relacionando com esta nuance, foi alterado o golpe de arco nos compassos
56 e 58 (Figura 11), em contraste com o sugerido na partitura editada pelo compositor
(Figura 10), tornando possível a sustentação da mesma intensidade sonora, em forte, na
sequência ascendente.
A partir do compasso 59 (Figura 11), podemos notar uma indicação de arco, na
direção para baixo, na voz do violino. Foi percebido que, ao tocar a sequência dos acordes em
simultaneidade com o piano, a constância métrica tendia atrasar. Tendo estas considerações,
os acordes foram alterados para pizzicatto, voltando ao arco no compasso 63, obtendo uma
sonoridade regular e musical no trecho.
58
Figura 10 – Sonata 1980, partitura para piano – 1º movimento, compassos 54 ao 65
Fonte: Mahle (1980b, p. 4).
Figura 11 – Sonata 1980, partitura para violino digitalizada com a edição da autora deste
Artigo – 1º movimento, compassos 55 ao 69
Fonte: Mahle (2016 / 2017, p. 1).
Com o objetivo de facilitar a execução, nos compassos 63 a 65 (Figura 13),
modificamos para o golpe de arco Legatto, que é a sucessão de duas ou mais notas executadas
numa mesma arcada, de forma ligada. É possível ver o comparativo do golpe de arco sugerido
pelo compositor em sua partitura digitalizada (Figura 12). Nos compassos 70 e 71 ocorreram
59
mudanças de dedilhados e arcadas. Estas mudanças auxiliaram a construção deste movimento
mantendo a característica inicial da marcação rítmica que é desenvolvida em característica da
música folclórica brasileira.
Figura 12 – Sonata 1980, partitura para violino – 1º movimento, compassos 63 ao 77
Fonte: Mahle (1980a, p. 2).
Figura 13 – Sonata 1980, partitura para violino digitalizada com a edição da autora deste
Artigo – 1º movimento, compassos 63 ao 77
Fonte: Mahle (2016 / 2017, p. 1).
9.2 Andante
O arco é a principal ferramenta de trabalho na obtenção da sonoridade em
instrumentos de cordas e consideramos que é na mão direita que se concentra grande parte dos
problemas na execução do repertório. Os processos envolvidos na produção do som, no que
diz respeito à marcação e definição de golpes de arco a serem usados, devem comunicar suas
60
intenções musicais e a sonoridade desejada na interpretação. Para isso, é primordial que o
intérprete estabeleça alterações que cooperem na construção da qualidade sonora,
principalmente em movimentos lentos.
Salles (1998) define arcada como o ato de ir e vir na direção do movimento do arco,
podendo ser para cima, começando o movimento na ponta em direção ao talão, ou para baixo,
do talão à ponta. Dourado (1999), por sua vez, argumenta que arcada diz respeito ao conjunto
de sinais gráficos, como ligaduras de arco, pontos e sinais de direção que, combinados,
representam a maneira de se executar determinado trecho musical. É possível identificarmos,
em parte do repertório tradicional para violino, compositores indicando frases musicais
através de longas ligaduras. Nesse contexto, Ferreira e Ray (2006) afirmam que essas
ligaduras de frase não devem ser confundidas com arcadas, pois para definir a quantidade de
notas executadas em um movimento do arco bem como o movimento inicial cima / baixo é
necessário levar em conta considerações, tais como: estilo, andamento, dinâmica e intensidade
do som, além do nível técnico do executante. As mudanças de golpes de arco não são
alterações aleatórias e sem propósito, mas recursos utilizados de forma ordenada para alcançar
uma maior qualidade da execução.
O 2º movimento da Sonata inicia-se em andamento Andante com um motivo nos 7
primeiros compassos na parte do piano. Este mesmo motivo será reproduzido pelo violino no
decorrer do movimento, apenas com algumas alterações de tessitura das notas.
No compasso 149 (Figura 14) optamos em modificar a arcada iniciando a sequência
de semicolcheias para cima, pois foi percebido, ao longo dos ensaios preparatórios, que o
segundo tempo de cada grupo permitia uma pequena inflexão na execução. Não podemos
afirmar que seja um acento, mas algo semelhante à dinâmica de um crescendo e decrescendo
dentro do compasso, embora não assinalado pelo compositor a exemplo do compasso 150.
Partindo do pressuposto de que temos um maior apoio ao tocar passagens em forte nas
arcadas para baixo, do talão a ponta, optamos por iniciar a arcada para cima no crescendo, no
compasso 153 para alcançar maior ponto de contato na qualidade do som ao tocar as colcheias
na dinâmica assinalada.
Nos compassos 161 a 168, padronizamos as arcadas para baixo na execução em piano
e alteramos as ligaduras do grupo de semicolcheias nos compassos 162 e 166, com o objetivo
de se manter a mesma qualidade sonora. Mecanicamente, devemos ter uma boa fluência e
tonicidade em todos os dedos da mão esquerda e praticar exercícios específicos para a
obtenção dos mesmos, visto que cada dedo tem a sua peculiaridade. Na busca pelo dedilhado
que alcançasse uma maior qualidade de vibrato e sustentação da nota longa, nos compassos
61
163 e 167, padronizamos o dedilhado para que as terminações fossem feitas em 1 – 3, obtendo
assim a valorização da dinâmica em piano sem que haja quebra do som.
Encontramos duas opções de ligaduras propostas em trechos semelhantes. A primeira
se dá no compasso 171 e a segunda, no compasso 219 (Figura 15). Aplicamos a modificação
das ligaduras desta sequência como padronização e auxilio para as mudanças de arcada nos
trechos em ritardando nos finais da frase (164 - 165, 224 - 225), valorizando a continuidade
do como nas fermatas.
Nos compassos 204 a 209, a mudança do golpe de arco foi feita com o objetivo de se
manter organicamente a sequência rítmica e sonora, sem fazer paradas de som, que são
resultantes da mudança de direção do arco. Estas alterações mantiveram a execução clara do
trecho, visto que é tocado no período de pausa do piano.
Figura 14 – Sonata 1980, partitura para violino digitalizada com a edição da autora
deste Artigo – 2º movimento, compassos 137 ao 153
Fonte: Mahle (2016 / 2017, p. 2).
62
Figura 15 – Sonata 1980, partitura para violino digitalizada com a edição da autora
deste Artigo – 2º movimento, compassos 154 ao 226
Fonte: Mahle (2016 / 2017, p. 3).
63
9.3 Vivo
No último movimento, o Vivo, o compositor fez uso de motivos em sextas paralelas.
Pode-se dizer que os materiais da música folclórica e popular brasileira aparecem mesclados
dentro da Sonata. O estilo neoclássico de Mahle não impede a ocorrência das influências do
ambiente brasileiro correlacionado à incorporação de elementos da música folclórica e
popular nacional no tratamento melódico, figuras rítmicas e sonoridades percussivas no seu
estilo de composição. Essa assimilação aparece, consequentemente, de maneira natural e
gradativa, pois a música neoclássica e a tradicional brasileira em muitos aspectos coincidem
(TOKESHI, 2002).
O desafio performático deste movimento volta-se em tratar os ritmos sincopados
presentes de forma orgânica, sem perder o gingado percussivo que tanto se repete em
contraste com o piano. Podemos afirmar que este movimento também é intercalado por
momentos enérgicos e / ou alegres para momentos líricos e melodiosos. No processo de
construção, procurou-se trazer alterações de golpes de arco e dedilhados para corroborar na
clareza da execução quanto à compreensão rítmica e interpretativa da Obra.
Nos primeiros compassos deste movimento (Figura 16), o violino inicia como uma
cadência que traz à memória a característica de Bartók ao escrever uma de suas mais
conhecidas peças Contrasts28 para violino, piano e clarinete. Com uma introdução percussiva
e rítmica, motivo que se repete ao longo deste movimento, pode-se identificar as influências
composicionais de Mahle.
28Contrasts é uma composição para violino, clarinete e piano de Béla Bártok (1881-1945). Tem como base
melodias da dança húngara e romena e em seu terceiro movimento, intitulado de Sebes, podemos observar as
mudanças rítmicas-melódicas e a intercalação de entre partes enérgicas e líricas dentro do contexto onde se é
trabalhado ritmos percussivos, manipulação de modos e escalas (CONTRASTS..., [20--?]).
64
Figura 16 – Sonata 1980, partitura para piano – 3º movimento, compassos 1 ao 11
Fonte: Mahle (1980b, p. 1).
Este movimento traz consigo alterações e anotações feitas pela autora deste Artigo
durante o período de construção da Obra, através da maturação desenvolvida entre o seu
primeiro e segundo recital de Mestrado, dentro do curso de PPGMUS da UFRN. No período
das sessões de preparação notou-se que, ao anotar sinais específicos na partitura, houve a
solução da funcionalidade rítmica e interpretativa durante todo o movimento bem como as
alterações de golpes de arco.
Logo no primeiro e segundo compasso (Figura 17), alterou-se o golpe de arco para
manter a sonoridade pesante. Este é um motivo que aparecerá recorrente em todo o
movimento, por isso a necessidade de padronização logo no início. No segundo compasso
modificou-se a arcada para baixo e depois as duas colcheias para cima, em comparação à
partitura original (Figura 16), para criar assim, o efeito Ricochet29, mantendo a característica
percussiva mais clara durante a performance.
Quando estamos diante de uma partitura com uma sequência rítmica intensa se faz
necessário algumas marcações na partitura, para compreensão individual, que ajudem o
intérprete a ter uma fluência na execução. Mesmo sendo um movimento rápido, a parte
29Ricochet é um golpe de arco onde tocamos várias notas na mesma direção do arco com a sensação de rebotes
(saltos). A resiliência natural da corda ajuda a saltar (ricochetear) e a velocidade do salto é regulado por fatores
como a pressão adicional usada pelo dedo indicador da mão direita (SALLES, [2013?]).
65
melódica não pode ser esquecida. Por isso, se a técnica estiver sólida ficará mais simples
abranger as outras partes desafiadoras da Obra. Assim, ao longo da partitura, anotou-se alguns
sinais, como , que auxiliaram a autora deste Artigo na compreensão métrica junto ao
piano.
Figura 17 – Sonata 1980, partitura para violino digitalizada com a edição da
autora deste Artigo – 3º movimento, compassos 1 ao 17
Fonte: Mahle (2016 / 2017, p. 1).
Como a característica composicional de Mahle é a manipulação dos modos e escalas
variadas, podemos identificar que na Sonata 1980 a escala octatônica é usada, aparecendo no
fim da exposição na parte do piano enquanto o violino permanece estático com a díade Réb /
Mib seguida por Sol / Lá (Figura 18 e 19).
66
Figura 18 – Sonata 1980, partitura para piano – 3º movimento, compassos 35 ao 40
Fonte: Mahle (1980b, p. 16).
Figura 19 – Sonata 1980, partitura para piano – 3º movimento, compassos 41 ao 49
Fonte: Mahle (1980b, p. 17).
A primeira mudança de textura ocorre no meno vivo do compasso 51 (Figura 20) onde
o piano mantém o pedal e o violino faz arpejos ascendentes. Na partitura editada pela autora
deste Artigo (Figura 21), anotou-se sobre a necessidade de se mudar a cor do som por ser um
momento lírico e introspectivo do movimento.
Nesta passagem, optou-se por uma sonoridade semelhante à quando fazemos o som
harmônico no violino, mantendo o vibrato somente nas últimas 3 colcheias e semínimas na
67
corda Mi. O resultado foi de uma sonoridade sem paradas mas, sequencial, mantendo a ideia
de uma grande ligadura entre todo este motivo.
Figura 20 – Sonata 1980, partitura para piano – 3º movimento, compassos 50 ao 60
Fonte: Mahle (1980b, p. 17).
Figura 21 – Sonata 1980, partitura para violino digitalizada com a edição da autora deste
Artigo – 3º movimento, compassos 51 ao 64
Fonte: Mahle (2016 / 2017, p. 2).
Mahle conclui a Sonata 1980 com uma sequência de semicolcheias em accelerando
(Figura 22), juntamente com ritmos sincopados no piano. Na performance da Obra realizada
pela autora deste Artigo, ao chegar neste momento, o trabalho de digitação e memorização do
68
motivo foi essencial para a conclusão do movimento. Em passagens rápidas, criou-se uma
memória muscular na estrutura corporal que pode trazer tranquilidade e precisão em
movimentos rápidos.
Nos 4 últimos compassos do movimento (Figura 23), iniciou-se a preparação
modificando o ritmo em colcheia pontuada e semicolcheia, com o objetivo de retirar acentos e
massificar a memória muscular. Após estas variações, foi adicionado o metrônomo, de forma
gradual, para que a fluência sistemática tanto do arco quanto da mão esquerda estivessem
orgânicas, para assim chegar no andamento em accelerando. O dedilhado foi escolhido de
maneira que favorece a mudança de posição sem que houvesse a interrupção do som. Para
isso, foi utilizado primeiramente o segundo dedo e, em seguida, foi mantido as mudanças em
1 dedo, ao final no dedilhado 3-3.
Figura 22 – Sonata 1980, partitura para piano – 3º movimento, compassos 210 ao 219
Fonte: Mahle (1980b, p. 26).
69
Figura 23 – Sonata 1980, partitura para violino digitalizada com a edição da autora deste
Artigo – 3º movimento, compassos 204 ao 220
Fonte: Mahle (2016 / 2017, p. 5).
10 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Atualmente, a música contemporânea escrita para violino ainda nos causa dificuldades
de aceitação e assimilação, pois os padrões musicais estabelecidos outrora ainda são fortes na
perspectiva do ouvinte bem como na dos intérpretes em sua performance. Esse estilo é ainda
pouco trabalhado no Brasil e requer uma doação maior no que se refere à confiança na
seriedade de seus compositores, de suas composições e de sua estrutura, pois mesmo com um
alto grau de complexidade, existem objetivos claros em cada composição onde caberá ao
intérprete compreendê-los, assimilá-los e possuir a habilidade necessária para estabelecer uma
interação com os ouvintes. Para Gohn (2003), a prática musical usualmente requer algum tipo
de interação, seja entre músicos, entre músicos e uma plateia, ou entre o músico e aparatos
tecnológicos. O sujeito que não possui as habilidades interpessoais necessárias terá
dificuldades em estabelecer e conviver com essas interações.
A música contemporânea para violino nos traz uma diversidade musical e, ao mesmo
tempo, vários desafios técnicos e interpretativos. Devemos estar receptivos a esta nova
linguagem, interpretação e performance, conscientes de que, através dela, teremos uma
experiência única na oportunidade de desbravar novos conhecimentos no idioma do violino.
O repertório de música contemporânea brasileira para violino dos séculos XX e XXI é
pouco executado, apesar de estar havendo uma ampliação na produção deste repertório entre
70
os compositores e intérpretes nos dias atuais. Isso pode se dar por vários fatores, dentre os
quais estão à escolha que os intérpretes fazem para seus recitais, executando somente o
repertório tradicional. A falta de conhecimento bem como a pouca interação musical entre os
compositores atuais, apresenta uma barreira que só poderá se romper se houver a escolha para
caminharmos fora da nossa zona de conforto tradicional, promovida por professores de
música, alunos e intérpretes.
Enfim, a Pesquisa sobre a Sonata 1980 para violino de Ernst Mahle, uma abordagem
interpretativa visando a construção de uma performance, apontou que, dentro dos parâmetros
apresentados, existe um caminho a ser percorrido para o aluno que deseja ser um intérprete
das obras atuais. Não basta somente tocar bem, é preciso que o conhecimento seja expandido
através da reflexão do contexto da música contemporânea e a música contemporânea
brasileira. Saber os caminhos que, outrora, foram percorridos nos permitirá alcançar novos
horizontes. Entender o processo que envolve a construção da performance, através das etapas
da execução e da interpretação, nos possibilita uma fluência técnica e cognitiva para que o
propósito do estudo da obra seja objetivo e com resultados concretos para uma boa
performance. Estabelecer o diálogo aberto com o compositor, além de correlações históricas,
promove um aprofundamento conceitual para obter a contextualização na qual a obra foi
composta. Concluído tais processos, é possível solidificar a construção de um repertório
escolhido, a exemplo da Sonata 1980 para violino, permitindo que as escolhas técnicas e
interpretativas sejam coerentes dentro do contexto musical, composicional e performático.
71
REFERÊNCIAS
ABDO, Sandra Neves. Execução / Interpretação musical: uma abordagem filosófica. Per
Musi, Belo Horizonte, v. 1, p. 16-24, jan.-jun. 2000. Disponível em: <http://musica.ufmg.br/
permusi/port/numeros/01/num01_cap_02.pdf>. Acesso em: 21 maio 2016.
ALEXANDRE Razera. [20--?]. Disponível em:<http://www.oficinademusica.org.br/
professores/alexandre-razera/9/>. Acesso em: 19 mar. 2017.
ANTUNES, Jorge. Criatividade na escola e música contemporânea. Cadernos de Estudos:
educação musical, São Paulo: Atravez, n. 1, p. 53-61, 1990. Disponível em:< http://
jorgeantunes.com.br/caderno-de-estudos/>. Acesso em: 16 nov. 2016.
ARAÚJO, Hallysson Leão de. [Recepção de Ernst Mahle na chegada da autora deste
Artigo em sua residência]. 2015a. 1 fotografia, p&b.
______. [A autora deste Artigo recebendo o trabalho de pesquisa de Mahle chamado
Escalas, Modos e Séries. 2015b. 1 fotografia, p&b.
______. [A autora deste Artigo mostrando o seu violino a Ernst e Dona Cidinha Mahle].
2015c. 1 fotografia, p&b.
______. [Mahle compartilhando de suas experiências na sala de estar de sua residência].
2015d. 1 fotografia, p&b.
______. [Dona Cidinha, após caminhada em sua residência, com a autora deste Artigo].
2015e. 1 fotografia, p&b.
______. [Ernst e Dona Cidinha Mahle em sua mesa de jantar com parte da família da
autora deste Artigo]. 2015f. 1 fotografia, p&b.
______.[Ernst e Dona Cidinha Mahle na entrada do escritório do compositor em sua
residência]. 2015g. 1 fotografia, p&b.
AUER, Leopold. Violin playing: as I teach it. 3. ed. New York: Dover, 1980.
AZEVEDO, Luiz Heitor Corrêa de. 150 anos de Música no Brasil (1800 – 1950). Rio de
Janeiro: José Olympio, 1956. (Coleção Documentos Brasileiros, v. 87).
BARRY, Nancy H.; HALLAM, Susan. Practice. In: PARNCUTT, Richard; McPHERSON,
Gary E. (Ed.). The science & psychology of music performance. Oxford: University Press,
2002.
BARTÓK, Béla. Essays. Selected and edited by Benjamin Suchoff. London: University of
Nebraska Press, 1992.
72
BORGES, Álvaro Henrique; FONTERRADA, Marisa Trench de Oliveira. Abordagens
criativas: ensino / aprendizagem da música contemporânea. In: CONGRESSO DA
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA, 17.,
2007, São Paulo. Anais… São Paulo: UNESP, 2007. p. 1-6. Disponível em:<
http://antigo.anppom.com.br/anais/anaiscongresso_anppom_2007/educacao_musical/edmus_
ABorges_MFonterrada.pdf>. Acesso em: 17 nov. 2016.
CARL Flesch. [20--]. Disponível em:<https://www.revolvy.com/main/index.php?s=Carl%
20Flesch>. Acesso em: 25 maio 2016.
CASAROTTI, João Paulo. Ernst Mahle: 55 years of musical legacy in Brazil and a
pedagogical overview of his works for piano solo. 2003. 81 f. Dissertation (Master's degree in
Music) - University of North Dakota, Grand Forks, North Dakota, 2006. Disponível em:<
http://etd.lsu.edu/docs/available/etd-07102015-153350/unrestricted/casarottijuly21.pdf>.
Acesso em: 20 out. 2016.
CONTRASTS (Bartók). In: Wikipédia: a enciclopédia livre. [20--?]. Disponível em:< https://translate.google.com.br/translate?hl=pt-BR&sl=en&u=https://en.wikipedia.org/
wiki/Contrasts_(Bart%25C3%25B3k)&prev=search>. Acesso em: 12 ago. 2016.
CRUZEIRO, Regiane Lopes. O movimento corporal na prática pedagógica do violino: um
estudo com professores de adolescentes iniciantes. 2005. 81 f. Dissertação (Mestrado em
Música) – Instituto de Artes, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2005.
Disponível em:<http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/4485/000457146.pdf?
sequence=1>. Acesso em: 30 maio 2017.
DOURADO, Henrique Autran. O arco dos instrumentos de cordas. 2. Ed. São Paulo:
Edicon, 1999.
EGG, André. O Grupo Música Viva e o nacionalismo musical. In: FÓRUM DE PESQUISA
CIENTÍFICA EM ARTE, 3., 2005, Curitiba. Anais... Curitiba, PR: EMBAP, 2005. p. 60-70.
Disponível em:<http://www.embap.pr.gov.br/arquivos/File/anais3/andr_egg.pdf>. Acesso em:
20 set. 2016.
FERREIRA, Eliseu; RAY, Sonia. Planejamento de arco na prática orquestral: considerações e
aplicações em grupos semi-profissionais. In: CONGRESSO DA ASSOCIAÇÃO
NACIONAL DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA, 16., 2006, Brasília, DF.
Anais... Brasília, DF: UnB, 2006. p. 658-664. Disponível em:<http://antigo.anppom.com.br/
anais/anaiscongresso_anppom_2006/CDROM/COM/06_Com_Perf/sessao02/06COM_Perf_0
204-141.pdf>. Acesso em: 7 out. 2016.
FLESCH, Carl. The art of violin playing. Tradução e edição de Eric Rosenblith. New York:
Carl Fischer Music, 2000. Book one. (Masters collection).
GALAMIAN, Ivan. Principles of violin playing & teaching. Englewood Cliss, USA:
Prentice Hall, c1962.
GALLAHUE, David L.; OZMUN, John C. Compreendendo o desenvolvimento motor:
bebês, crianças, adolescentes e adultos. Tradução de Maria Aparecida da Silva Pereira Araújo.
2. ed. São Paulo: Phorte, 2003.
73
GERLE, Robert. The art of practising the violin: with useful hints for all string players. 2.
ed. London: Stainer & Bell, 1983.
______. The art of bowing practice: the expressive bow technique. London: Stainer & Bell,
2008.
GIANI, Luiz Antonio Afonso. As trombetas anunciam o paraíso: recepção do realismo
socialista na música brasileira, 1945-1958 (da “Ode a Stalingrado” a “rebelião em Vila
Rica”). 1999. Tese (Doutorado em História e Sociedade) – Faculdade de Filosofia, Ciências e
Letras, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Campus Assis), São Paulo,
1999.
GOHN, Daniel Marcondes. Auto-aprendizagem musical: alternativas tecnológicas. São
Paulo: Annablume, 2003.
GRIFFITHS, Paul. A música moderna: uma história concisa e ilustrada de Debussy a
Boulez. Tradução de Clóvis Marques. Colaboração de Sílvio Augusto Merhy. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar, 1998.
GUBERNIKOFF, Carole. Pierre Boulez e o pensamento musical da segunda metade do
século XX. In: CONGRESSO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISA E PÓS-
GRADUAÇÃO EM MÚSICA, 16., 2006, Brasília, DF. Anais... Brasília, DF: UnB, 2006.
Disponível em:<http://antigo.anppom.com.br/anais/anaiscongresso_anppom_2006/
CDROM/COM/07_Com_TeoComp/sessao04/07COM_TeoComp_0403-236.pdf>. Acesso
em: 9 fev. 2017.
HAVAS, Kató. A new approach to violin playing. London: Bosworth, 1961.
HERMANN Scherchen (conductor). Contribuição de Aryeh Oron. 2001. Disponível em:<
http://www.bach-cantatas.com/Bio/Scherchen-Hermann.htm>. Acesso em: 9 fev. 2017.
HOPPENOT, Dominique. El violín interior. Traduccion y prólogo de. Juan Sanabras.
Madrid: Real Musical, c1991.
IVAN Galamian. [20--?]. Disponível em:<http://www.theviolinsite.com/violinists/ivan_
galamian.html>. Acesso em: 7 out. 2016.
KATER, Carlos. Música viva e H. J. Koellreutter: movimentos em direção à modernidade.
São Paulo: Musa, Atravez, 2001.
KEMPTER, Susan. How muscles learn: teaching the violin with the body in mind. Miami:
Alfred Music Publishing, 2003.
KRAUSZ, Michael. Rightness and Reasons in Musical Interpretation. In: ______ (Ed.). The
interpretation of music: philosophical essays. Oxford, UK: Clarendon, 2001. p. 75-87.
LEOPOLD Auer: hungarian violinist. Contribuição dos Editores da Encyclopaedia
Britannica. [2013]. Disponível em:<https://www.britannica.com/biography/Leopold-Auer>.
Acesso em: 29 maio 2017.
74
MAHLE, Ernst. Catálogo de obras. [19--?]. Disponível em:<https://issuu.com/daruich/
docs/ernst_mahle_-_cat_logo_de_obras>. Acesso em: 15 set. 2015.
______. Sonata (1980). 1980a. 1 partitura. Violino.
______. ______. 1980b. 1 partitura. Piano.
______. ______. Edição por Ana Paula Gomes de Souza. 2016/2017. 1 partitura. Violino.
MEIRELLES, Alexandre; STOLTZ, Tania; LÜDERS, Valéria. Da psicologia cognitiva à
cognição musical: um olhar necessário para a educação musical. Música em perspectiva,
Curitiba, PR, v. 7, n.1, p. 110-128, jun. 2014. Disponível em: <revistas.ufpr.br/musica/
article/download/38135/23291>. Acesso em: 13 dez. 2016.
MENEZES, Flo (Org.). Música eletroacústica: histórias e estéticas. São Paulo: EDUSP,
1996.
MENUHIN, Yehudi. The compleat violinist: thoughts, exercises, reflections of an itinerant
violinist. Edited by Christopher Hope. New York: Summit Books, 1986.
______. Violin: seis lecciones con Yehudi Menuhin. Madrid: Real Musical, c1987.
MORAN, José Manuel. Ensino e aprendizagem inovadores com tecnologias audiovisuais e
telemáticas. In: MORAN, José Manuel; MASETTO, Marcos T.; BEHRENS, Marilda
Aparecida. Novas tecnologias e mediação pedagógica. 13. ed. Campinas, SP: Papirus, 2007.
(Coleção Papirus Educação).
MOREIRA, Adriana Lopes da Cunha. Olivier Messiaen: inter-relação entre conjuntos,
textura, rítmica e movimento em peças para piano. 2008. 498 f. Tese (Doutorado em Música)
– Instituto de Artes, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, 2008. Disponível
em:<https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/229019/mod_resource/content/
1/Messiaen%20-%20Inter-rela%C3%A7%C3%A3o%20entre%20conjuntos%2C%
20textura%2C%20r%C3%ADtmica%20e%20movimento%20%28ALMoreira%202008%29.p
df>. Acesso em: 13 dez. 2016.
NEVES, José Maria. Música contemporânea brasileira. São Paulo: Ricordi Brasileira,
1981.
______. Música contemporânea brasileira. 2. ed. São Paulo: Ricordi Brasileira, 2008.
PAGOTTO, Graziela. O estudo como ferramenta de aprendizagem: uma comparação das
estratégias de Auer, Flesch e Galamian. Ensaio: revista cultural do Conservatório de Tatuí,
ano 6, n. 64, p. 16-17, nov./dez. 2010. Disponível em: <http://www.conservatoriodetatui.
org.br/wp-content/uploads/2010/04/ensaio_64.pdf> Acesso em: 10 dez. 2016
PAREYSON, Luigi. Os problemas da estética. Traduzido por Maria Helena Nery Garcez. 2.
ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
PERKINS, Marianne Murray. A comparison of violin playing techniques: Kato Havas, Paul
Rolland and Shinichi Suzuki. [United States]: American String Teachers Association, 1995.
75
PETERS, G. David; MILLER, Robert F. Music teaching and learning. [New York]:
Longman, 1982.
PINTO, Aloysio de Alencar. A melodia do Nordeste e suas constâncias modais. Revista
Instituto do Ceará, Fortaleza, ano 108, p. 237-246, out. 1994. Disponível em:
https://www.institutodoceara.org.br/revista.php. Acesso em: 30 nov. 2016.
QUEIROZ, Rucker Bezerra de. Abordagem analítico-interpretativa da Sonatina (1995)
para violino e piano de Danilo Guanais. 2002. 166 p. Dissertação (Mestrado em Artes) –
Instituto de Artes, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, 2002.
RENATO Bandel. [20--?]. Disponível em:<http://www.studioclio.com.br/docentes/
18331/renato-bandel>. Acesso em: 19 mar. 2017.
ROLLAND, Paul; MUTSCHLER, Marla. The teaching of action in string playing:
development and remedial techniques. Urbana, IL: Illinois String Research Associates, 1974.
SALLES, Mariana Isdebsky. Arcadas e golpes de arco: a questão da técnica violinística no
Brasil. Brasília: Thesaurus, 1998.
______. Arcadas e golpes de arco. [2013?]. Disponível em:<https://estudiarelviolin.
files.wordpress.com/2013/06/golpesde_arco.pdf>. Acesso em: 19 dez. 2016.
SCHAEFFER, Pierre. A la recherche d’une musique concrète. Paris: Éditions du Seuil,
1952.
SLOBODA, John A. A mente musical: a psicologia cognitiva da música. Tradução de
Beatriz Ilari e Rodolfo Ilari. Londrina, PR: EDUEL, 2008.
SOUZA, Rodolfo Coelho de. Uma introdução às teorias analíticas da música atonal. Pesquisa
em Música no Brasil: métodos, domínios, perspectivas. Organizado por Rogério Budasz.
Goiânia: ANPPOM, 2009. v. 1, p.122-153. Disponível em:<https://www.researchgate.net/
publication/235224844_Uma_introducao_as_teorias_analiticas_da_musica_atonal>. Acesso
em: 23 nov. 2016.
SOUZA, Ana Paula Gomes de. [Ernst e Dona Cidinha Mahle em sua residência]. 2015a. 1
fotografia, p&b.
______. [Mahle demonstrando algumas improvisações com o violino da autora deste
Artigo]. 2015b. 1 fotografia, p&b.
SQUEFF, Ênio. Reflexões sobre um mesmo tema. In: SQUEFF, Enio; WISNIK, José Miguel.
Música. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 1983. p. 13-101. (O Nacional e o Popular na Cultura
Brasileira).
STRANGE, Patrícia; STRANGE, Allen. The contemporary violin: extended performance
techniques. Berkeley, CA: University of California Press, 2001.
SUCHOFF, Benjamin. Béla Bartók: life and work. Lanham, MD: Scarecrow Press, 2001.
76
SZENDE, Ottó; NEMESSURI, Mihály. The physiology of violin playing. Tradução de I.
Szmodis. London: Collet’s, 1971.
A TÉCNICA do arco: I) Movimento circular. 2016. Disponível em:<http://
violinoarteetecnica. blogspot.com.br/2016/11/a-tecnica-do-arco_21.html>. Acesso em: 12 fev.
2017.
TOKESHI, Eliane; BORGHOFF, Margarida; SILVA, Esdras Rodrigues. Perspectivas para
interpretação de obras inéditas para instrumentos de cordas e piano compostas a partir de
1945. In: ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISA E
PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA, 13., 2001, Belo Horizonte. Anais... Belo Horizonte,
MG: Escola de Música da UFMG, 2001. v. 1, p. 9-11. Disponível em:<http://antigo.anppom.
com.br/anais/anppom_2001_1.pdf>. Acesso em: 20 jun. 2015.
TOKESHI, Eliane. As sonatas e sonatinas para violino e piano de Ernst Mahle: uma
abordagem dos aspectos estilísticos. Per Musi, Belo Horizonte, v. 3, p. 43-56, 2002.
Disponível em:< http://www.musica.ufmg.br/permusi/port/numeros/03/num03_cap_04.pdf>.
Acesso em: 20 jun. 2015.
______. Técnica expandida para violino e as variações opcionais de Guerra Peixe: reflexão
sobre parâmetros para interpretação musical. Música Hodie, Goiânia, v. 3, n. 1/2, p. 52-58,
2003. Disponível em:<https://www.revistas.ufg.br/musica/article/view/19717/11371>. Acesso
em: 20 jun. 2015.
UNES, Wolney. Entre músicos e tradutores: a figura do intérprete. Goiânia: UFG, 1998.
VASCONCELOS, Rodrigo de Carvalho. Coleções referenciais do Mikrokosmos de Bartók
e da Prole do Bebê n. 1 de Villa-Lobos. 2014. 171 f. Dissertação (Mestrado em Música) –
Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2014. Disponível
em:<http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27157/tde-16072015-154149/pt-br.php>.
Acesso em: 10 out. 2016.
VERTAMATTI, Leila Rosa Gonçalves. Ampliando o repertório do coro infanto-juvenil:
um estudo de repertório inserido em uma nova estética. São Paulo: Unesp; Rio de Janeiro:
FUNARTE, 2008.
WINTER, Leonardo Loureiro; SILVEIRA, Fernando José. Interpretação e execução:
reflexões sobre a prática musical. Per Musi, Belo Horizonte, n.13, p.63-71, 2006. Disponível
em:<http://www.musica.ufmg.br/permusi/port/numeros/13/num13_cap_05.pdf>. Acesso em:
19 dez. 2016.
ZUKOFSKY, Paul. Aspects of contemporary technique: with comments about Cage,
Feldman, Scelsi and Babbitt. In: STOWEEL, Robin (Ed.). The cambridge companion to the
violin. Cambridge, UK: Cambridge University Press, 1992. p. 143-147.
77
BIBLIOGRAFIAS
BARTÓK, Béla. Mikrokosmos: piano solo. Edition by Winthrop Rogers. London: Boosey &
Hawkes, c1940. 6 v.
CONTIER, Arnaldo D. Chico Bororó Mignone. Revista do Instituto de Estudos
Brasileiros, São Paulo, n. 42, p. 11-29, 1997. Disponível em: <https://www.revistas.usp.br/
rieb/issue/view/5690/showToc>. Acesso em: 8 set. 2016.
HODGSON, Percival. Motion study and violin bowing. Urbana, IL: American String
Teachers Association, 1958.
POLNAUER, Frederick F.; MARKS, Morton. Senso-motor study and its application to
violin playing. 2. ed. Urbana, IL: American String Teachers Association, 1964.
RAMOS, Ricely de Araújo. Música viva e a nova fase da modernidade musical brasileira.
2011. 194 f. Dissertação (Mestrado em História) - Departamento de Ciências Sociais.
Universidade Federal de São João Del-Rei, São João Del-Rei, MG, 2011. Disponível em:< http://www.ufsj.edu.br/portal2-repositorio/File/pghis/Dissertacao_Ricely_Araujo_
Ramos.pdf>. Acesso em: 21 nov. 2016.
SCHMIDT, Richard A.; WISBERG, Craig A. Aprendizagem e performance motora: uma
abordagem da aprendizagem baseada no problema. Tradução de Ricardo Demétrio de Souza
Petersen et al. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2001. (Biblioteca Artmed. Esporte &
Reabilitação).
78
APÊNDICE A – PARTITURA PARA VIOLINO DA SONATA 1980 DE ERNST
MAHLE (EDIÇÃO POR ANA PAULA GOMES DE SOUZA – 2016 / 2017)
79
80
81
82
83
84
85
Fonte: Mahle (2016 / 2017)30.
30Paginação irregular.
86
ANEXO A – PARTITURA PARA VIOLINO DA SONATA 1980 DE ERNST MAHLE
(DIGITALIZAÇÃO DO COMPOSITOR)
87
88
89
90
91
92
93
94
95
96
Fonte: Mahle (1980a, p. 1-10).
97
ANEXO B – PARTITURA PARA PIANO DA SONATA 1980 DE ERNST MAHLE
(DIGITALIZAÇÃO DO COMPOSITOR)
98
99
100
101
102
103
104
105
106
107
108
109
110
111
112
113
114
115
116
117
118
119
120
121
122
Fonte: Mahle (1980b, p. 1-26).