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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - UFRN CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS - CCSA PROGRAMA DE PÓS – GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL - PPGSS MARIA FIGUERÊDO DE ARAÚJO A CONSTRUÇÃO/RECONSTRUÇÃO DAS COMPETÊNCIAS PROFISSIONAIS DO ASSISTENTE SOCIAL DIANTE DA GESTÃO DO SERVIÇO SOCIAL DA INDÚSTRIA – SESI– A PARTIR DOS ANOS 90. NATAL- RN 2005

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - … · Aos irmãos e cunhados de meu noivo, em especial a Andreza, querida cunhada, amiga e colega de profissão. Jamais esquecerei o

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - UFRN

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS - CCSA

PROGRAMA DE PÓS – GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL - PPGSS

MARIA FIGUERÊDO DE ARAÚJO

A CONSTRUÇÃO/RECONSTRUÇÃO DAS COMPETÊNCIAS PROFISSIONAIS DO

ASSISTENTE SOCIAL DIANTE DA GESTÃO DO SERVIÇO SOCIAL DA

INDÚSTRIA – SESI– A PARTIR DOS ANOS 90.

NATAL- RN2005

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MARIA FIGUERÊDO DE ARAÚJO

A CONSTRUÇÃO/RECONSTRUÇÃO DAS COMPETÊNCIAS PROFISSIONAIS DO

ASSISTENTE SOCIAL DIANTE DA GESTÃO DO SERVIÇO SOCIAL DA

INDÚSTRIA – SESI – A PARTIR DOS ANOS 90.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós– Graduação em Serviço Social do Centro deCiências Sociais Aplicadas da UniversidadeFederal do Rio Grande do Norte, como partedos requisitos para a obtenção do grau demestre em Serviço Social, na Área deTrabalho, Proteção Social e Cidadania.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria Célia Correia Nicolau

NATAL - RN2005

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MARIA FIGUERÊDO DE ARAÚJO

A CONSTRUÇÃO/RECONSTRUÇÃO DAS COMPETÊNCIAS PROFISSIONAIS DO

ASSISTENTE SOCIAL DIANTE DA GESTÃO DO SERVIÇO SOCIAL DA

INDÚSTRIA – SESI – A PARTIR DOS ANOS 90.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós– Graduação em Serviço Social do Centro deCiências Sociais Aplicadas da UniversidadeFederal do Rio Grande do Norte, como partedos requisitos para a obtenção do grau demestre em Serviço Social, na Área deTrabalho, Proteção Social e Cidadania.

Aprovado em 20/09/2005.

BANCA EXAMINADORA

_______________________ _______________________________________________ Prof.ª Dr.ª Maria Célia Correia Nicolau (Orientadora)Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN

_______________________________________________________________________ Prof.ª Dr.ª Denise Câmara de Carvalho (Membro - titular)

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

_______________________________________________________________________ Prof.ª Dr.ª Bernadete de Lourdes Figueiredo de Almeida (Membro - titular)

Universidade Federal da Paraíba – UFPB

_______________________________________________________________________ Prof.ª Dr.ª Severina Garcia de Araújo (Suplente)

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

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À minha mãe, Elizabete, e à memória de meu pai, João Araújo,

seridoenses fortes e honestos, pelo exemplo de vida, pela

força...Ingredientes essenciais na minha busca incessante para alcançar

a competência de viver.

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AGRADECIMENTOS

Ao meu grandioso Deus que na sua competência suprema não deixou em nenhum

momento que eu desistisse e me mostrou de diversas formas que é o Deus do impossível.

Em especial, agradeço a minha mãe Elizabete, e ao meu pai João Araújo (in

memoriam) que sempre confiaram em mim, ensinando-me com uma sabedoria ímpar, pautada

pela dignidade, humildade e amor.

Aos meus irmãos Juscelino e Juquinha. A Edneide e Tânia pelo apoio, e aos demais

familiares.

Ao meu amado noivo Rondinele, pelo companheirismo, pelas palavras de conforto,

compreensão, diálogo e amor, verdadeiros combustíveis que me conduziram a essa vitória.

À D. Raimunda, e ao Sr. Geraldo (in memoriam), pais do meu noivo e também meus

pais, pelo exemplo de pessoas dignas, e pelo carinho que sempre tiveram comigo, acolhendo-

me como filha em seu lar. Muito obrigada!

Aos irmãos e cunhados de meu noivo, em especial a Andreza, querida cunhada, amiga

e colega de profissão. Jamais esquecerei o seu apoio em todos os sentidos.

À Faculdade de Ciências, Cultura e Extensão do RN (FACEX), em especial à

coordenadora do Curso de Serviço Social, Lúcia Fonseca, pelo apoio e compreensão, e a

todos os meus colegas de trabalho e alunos.

À minha orientadora Profª. Drª. Maria Célia Correia Nicolau pelo incentivo à escolha

deste estudo, pela contribuição intelectual e pela confiança que depositou em mim.

Às Professoras Drª. (s) Maria Arlete Duarte de Araújo e Denise Câmara de Carvalho

pelas contribuições, em especial, na Banca de qualificação desse trabalho.

Aos professores e funcionários da PPGSS/UFRN, partícipes deste processo e aos meus

queridos colegas de Mestrado.

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Ao SESI de Natal, Rio Grande do Norte, em especial à coordenadora da ASPLAN, a

gerente da DIPEQ e o público-alvo da pesquisa: assistentes sociais, supervisores das áreas de

Saúde, Educação e Lazer, Unidade de Relações para o Mercado e o Representante da Direção

do Sistema de Qualidade do SESI, DR/RN.

Ao CRESS, 14ª Região pelo interesse e apoio através do fornecimento de materiais

sobre a questão das competências profissionais do assistente social.

À minha querida colega de profissão, Zelinha, que me deu uma contribuição

incalculável, através de informações e documentos sobre a história do SESI/RN antes dos

anos 90. Sem nenhuma dúvida, conhecê-la foi uma das grandes riquezas que eu ganhei com

esse trabalho.

À minha “irmã” Lúbia e a Gilderlam pela escuta, carinho, apoio, incentivo e tantas

outras coisas boas que não tenho como qualificá-las.

À Paizinha, minha sempre coordenadora, amiga de todas as horas, inclusive para o

assessoramento em relação à língua francesa.

A Chaguinha, amigo da PPGSS/UFRN, pela força e contribuição bibliográfica e a

Carlos pelas contribuições.

A todos os demais amigos, em especial Naire, Do Carmo, Tetê, Rose, Lusivânia,

Luluza, Neidinha, Nenenzinha, Ana Paula e Joelma.

E a todas aquelas pessoas, anônimas, que sem saber me ajudaram com um sorriso,

com um exemplo, com algo que não precisa de palavras, porque resplandece, visto que se

chama LUZ...

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“Toda competência tem uma direção e uma intenção socialmente

determinadas. Há muitos modos de ser competente, segundo os

horizontes que se busca atingir”.

Ademir Alves da Silva

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RESUMO

O estudo sobre o processo de construção/reconstrução das competências do assistente socialsob a gestão do SESI, Natal, Rio Grande do Norte, a partir de meados dos anos 90 reafirmou aperspectiva de que esse processo é resultado tanto de determinações macrossocietáriaspresentes de forma particular no Brasil, quanto da forma em que o assistente social,profissional inscrito na divisão social e técnica do trabalho, desenvolve o seu aprimoramentotécnico e intelectual em meio a um cenário de reestruturação produtiva que exige um novoperfil de trabalhador diante da crise do capital e do Estado. A pesquisa, de natureza qualitativae quantitativa, efetivou-se através da combinação entre pesquisa bibliográfica e empírica.Ossujeitos foram oito assistentes sociais e seis trabalhadores da área administrativa do SESI,Natal/RN. A coleta de dados foi obtida por meio de entrevistas semi- estruturadas. Foramanalisadas as mudanças ocorridas em termos da gestão do SESI e das competências exigidasdo assistente social; a influência do espaço sócio-ocupacional sobre a ação profissional esobre o processo de construção/reconstrução de competências; o alargamento de demandasinstitucionais para o assistente social no âmbito da prestação de serviços; bem como aconstatação da importância desse profissional, sua ousadia, mas também alguns limites edesafios enfrentados diante da qualificação incentivada pelo SESI que ingressa o profissionalnum processo contraditório de qualificação e desqualificação profissional.

Palavras chaves: competências, Serviço Social, qualificação profissional, desqualificaçãoprofissional, reestruturação produtiva, Estado, SESI, serviços, gestão.

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RÉSUMÉ

L´étude du processus de construction / reconstruction des compétences de l´assistant socialsous la gestion du SESI (Service Social de l´ Industrie), Natal/RN, dès la moitié des années 90a réaffirmer la perspective que ce processus est le résultat de déterminations macrosociétairesqui sont présents, particulièrement au Brésil, aussi que, la façon par laquelle l´assistant social,le professionnel inscrit dans la division sociale et technique du travail, fait développer sonperfectionement technique et intelectuel dans un milieu de nouvelles structures productivesqui éxigent un nouveau profil du professionnel face à la crise du capital et de l´État. Cetterecherche, de nature qualitative et quantitative, a eu lieu par de combinaisons de recherchebibliographique et empirique. Les sujets ont été huit assistants sociaux et six travailleursadministratifs du SESI, Natal/RN. Les donnés ont été obtenus par des interviews semi-structrées. On a analisé les changements qui sont arrivés dans les gestions du SESI et lescompétences qui sont éxigées de l´assistant social ; l´influence du milieu socio-occupationelsur l´action professionnelle et sur le processus de construction/reconstruction de compétences;l´agrandissement de demandes institutionnelles pour l´assistant social par rapport à laprestation de services ; aussi que la constatation de l´importance de ce professionnel, sahardiesse, mais aussi quelques limites et défis affrontés face à la qualification stimulé par leSESI, en amenant le professionnel dans un processus contradictoire de qualification etdisqualification professionelle.

Mots clés : compétence, Service Social, qualification professionnelle, disqualificationprofessionnelle, structures productives, État, SESI, services, gestion.

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1- Códigos dos assistentes sociais por área de atuação...........................................27

QUADRO 2- Códigos dos supervisores por área de atuação...................................................28

QUADRO 3- Competências exigidas do assistente social no SESI/RN entre fins de 40 até adécada de 50..............................................................................................................................45

QUADRO 4- Competências exigidas do assistente social no SESI/RN entre as décadas de 60e 70............................................................................................................................................49

QUADRO 5- Competências exigidas do assistente social no SESI/RN na década de 80........54

QUADRO 6- Demandas para o assistente social no SESI- 2004.............................................80

QUADRO 7- O perfil do profissional competente para o SESI hoje na visão do assistentesocial.........................................................................................................................................88

QUADRO 8- Competências profissionais presentes em bibliografias.....................................89

QUADRO 9- Competências do assistente social de acordo com a Lei 8.662/93...................117

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ACOPLAN- Assessoria de Coordenação e Planejamento

AIDS- Síndrome da Imunodeficiência Adquirida

ARH- Administração de Recursos Humanos

ASPLAN- Assessoria de Planejamento

BVQI -Bureau Veritas Anality in International

CAT - Centro de Atividades

CCQ’s- Círculos de Controle de Qualidade

CFB- Constituição Federativa do Brasil

CFESS- Conselho Federal de Serviço Social

CIPA’s- Comissões Internas de Prevenção de Acidentes

CLT- Consolidação das Leis Trabalhistas

COFI- Comissão de Fiscalização

CRESS- Conselho Regional de Serviço Social

DESSO- Departamento de Serviço Social

DIPEQ- Divisão Integrada de Desenvolvimento de Pessoas de Qualidade

DN- Departamento Nacional

DR’s- Departamentos Regionais

DST- Doenças Sexualmente Transmissíveis

FIERN - Federação das Industrias do Estado do Rio Grande do Norte

FNUAP - Fundo de População das Nações Unidas

FUNDAC- Fundação Estadual da Criança e do Adolescente

GEP- Grupo Especial de Programação

IEL - Instituto Euvaldo Lodi

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INSS- Instituto Nacional de Serviço Social

ISO- Organização Internacional de Normalização

LBA- Legião Brasileira de Assistência

LOAS- Lei Orgânica da Assistência Social

NSO-Núcleo de Saúde Ocupacional

PBQP- Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade

PCMSO- Programa de Controle Médico- Saúde Ocupacional

PE- Planejamento Estratégico

PETROBRÁS- Petróleo do Brasil

PNDH - Programa Nacional de Desenvolvimento Humano

PPGSS- Pós- Graduação em Serviço Social

PPRA- Programa de Prevenção de Riscos Ambientais

PQT’s- Programas de Qualidade Total

PSMA- Programa de Conservação Auditiva

RH- Recursos Humanos

RN - Rio Grande do Norte

SENAI - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial

SESI - Serviço Social da Indústria

SESICLÍNICA- Clínica do SESI, DR/RN

SIPAT’s- Semanas Internas de Prevenção a Acidentes de Trabalho

TIR’s- Treinamentos Integrados Regionais

UFRN- Universidade Federal do Rio Grande do Norte

UFRJ- Universidade Federal do Rio Grande do Norte

UNIAF- Unidade Integral de Administração e Finanças

UP’s – Unidades Operacionais

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.......................................................................................................................14

CAPÍTULO 1 – A EMERSÃO DO SESI: SUA GESTÃO E AS COMPETÊNCIASEXIGIDAS DO ASSISTENTE SOCIAL.................................................................................31

1.1- O surgimento do SESI e o Serviço Social.........................................................................311.2-A trajetória histórica do SESI/RN e as competências exigidas do assistentesocial.........................................................................................................................................391.2.1- O SESI/RN no período entre os fins de 40 até a década de 50.......................................421.2.2- O SESI/RN no período entre 1960 a 1979......................................................................471.2.3- O SESI/RN na década de 80...........................................................................................53

CAPÍTULO 2 – A GESTÃO DO SESI NA ATUALIDADE E AS NOVASCOMPETÊNCIAS DO ASSISTENTE SOCIAL.....................................................................58

2.1 - O SESI/RN a partir dos anos 90.......................................................................................592.2- A inserção do assistente social no SESI, Natal/RN hoje e as competências que lhe sãoexigidas.................................................................................................................................... 76

CAPÍTULO 3- A GESTÃO DO SESI, NATAL/RN E ACONSTRUÇÃO/RECONSTRUÇÃO DAS COMPETÊNCIAS DO ASSISTENTESOCIAL....................................................................................................................................91

3.1- A rotina de trabalho do assistente social no SESI, Natal/RN e o processo deconstrução/reconstrução de competências................................................................................913.2- As competências do assistente social no SESI, Natal/RN: processo de (re)qualificaçãoprofissional..............................................................................................................................109

CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................................125

REFERÊNCIAS ...................................................................................................................134

APÊNDICES..........................................................................................................................142

ANEXOS................................................................................................................................153

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INTRODUÇÃO

Para se entender o processo de construção/reconstrução das competências do assistente

social sob a gestão do SESI a partir dos anos 90, considera-se necessário articular duas

dimensões indissociáveis: de um lado pensar as determinações macrossocietárias que

estabelecem limites e possibilidades ao seu exercício profissional inscrito na divisão social e

técnica do trabalho e ao processo de capacitação, e, do outro lado, os anseios e respostas

teórico-técnicas e ético-políticas do assistente social, que expressam e traduzem como esses

limites e possibilidades são analisados e projetados pelo profissional a partir das intervenções

desencadeadas, seja no âmbito coletivo ou individual.

Torna-se necessário, portanto, olhar de forma especial para esse momento da realidade

brasileira, em especial, a partir dos anos 90, que passa a vivenciar significativas mudanças no

campo da produção de bens e serviços nos moldes da denominada globalização. Trata-se de

um reordenamento da organização dos processos de trabalho expresso pela introdução de

novas formas de gestão, pela implantação de Programas de Qualidade Total, pela exigência de

novas competências profissionais, bem como pela “[...] ressignificação das noções de

trabalho, qualificação, competência e formação profissional” (MANFREDI,1998,p.25),

estratégias para promover uma “restauração econômica do capital” (MOTA, 2000, p.23).

Esse momento enfatiza e exige a construção de um novo perfil de trabalhador com

uma autonomia limitada que incentive a força de trabalho a aumentar a sua produtividade nas

organizações. São estratégias integrantes da reestruturação produtiva e da globalização

produtiva dos mercados e bens culturais que têm feito com que os países e grupos sociais

centralizem o capital e tornem-se cada vez mais poderosos, em detrimento da maioria dos

países que se colocam em posição de dependência no contexto da nova ordem capitalista

mundial.

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O Estado brasileiro, ao assumir uma posição de subordinação no contexto

dessa nova ordem do capital, tem aderido à sua reestruturação e presencia, ainda em finais da

década de 80, um pacto do capital financeiro internacional1 com o capital produtivo nacional,

adotando o projeto neoliberal2 como base político-ideológica, o que provoca um

reordenamento das relações entre Estado e sociedade. Esta adoção é demarcada pela

[...] idéia da privatização, da redução da responsabilidade pública no tratodas necessidades sociais das grandes maiorias, em favor da suamercantilização, desarticulando direitos sociais, rompendo os padrões deuniversalidade atinentes a esses direitos e provocando uma profundaradicalização da questão social. (IAMAMOTO, 2002, p.19).

São transformações que causam impactos em todos os indivíduos sociais e alteram a

organização do trabalho, o mercado de trabalho, as demandas profissionais para o assistente

social e, ainda, as condições para a execução do trabalho desses profissionais que passam a

ser pautadas por relações de trabalho flexíveis e, sob novas formas de gestão como a gestão

participativa, círculos de controle de qualidade, etc, que, por sua vez, exigem novas

competências profissionais.

A questão da competência tem um significado histórico e vive em constante

construção ao longo dos tempos.

1 Conforme mostra Montaño (2004), o capital financeiro internacional é aquele que vive de juros e que no casobrasileiro em 1989, Fernando Collor de Melo, então presidente do Brasil, firmará um pacto com tal capital, tendocomo aliado o capital produtivo nacional. Nos anos 2000, Iamamoto (2002, p. 28) citando Salama (1999), mostraque a lógica financeira de acumulação do capital tende a “[...] provocar crises que se projetam no mundo,gerando recessão. É resultante dessa lógica a volatividade do crescimento que redunda em maior concentraçãoe aumento da pobreza, ‘não apenas nas periferias dos centros mundiais, mas atingindo os recônditos maissagrados do capitalismo mundial, expressando um apartheid social”. 2 De acordo com Perry Anderson (1995, p.9), o neoliberalismo nasceu logo depois da II Guerra Mundial, naregião da Europa e da América do Norte onde imperava o capitalismo. Foi uma reação teórica e políticaveemente contra o Estado intervencionista e de bem – estar”. No caso do Brasil, conforme mostra Mendes (1993,p.32), “O Estado que sustentou as elites nacionais passa a ser no final da década [de 80] o grande vilão, abrindoespaço a propostas neoliberais que condizam a um Estado mínimo”. Porém, diante da própria crise do Estado aelite brasileira “propõe liquidar o estatismo, empreguismo, o cartorialismo e a corrupção, sem querer reconhecerque estas obsessões são suas ou nasceram de sua peculiar relação com o Estado, mantidas durante as longasdécadas de desenvolvimento” (FIORI apud MENDES,1993, p.32).

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Embora até os anos 70 não fosse utilizado explicitamente esse conceito nas organizações

produtivas, nem tampouco no âmbito escolar, considera-se que já havia uma requisição para o

trabalhador de que este tivesse capacidade para agir sobre determinadas situações de trabalho.

Ou seja, no momento em que se requisitava alguém com qualificação, cujos componentes

eram a “[...] educação escolar, formação técnica e experiência profissional” (DELUIZ, 2003,

p.02), para assumir determinado posto de trabalho, supunha-se conseqüentemente, que este

indivíduo tivesse competência para tanto.

No entanto, nas últimas décadas, em razão das significativas mudanças na estruturação

dos processos de trabalho, passa-se a requerer o trabalhador não apenas para um posto de

trabalho específico, mas sim para administrar diversas situações previstas e imprevistas de

trabalho, o que torna evidente a requisição de um profissional polivalente com competências

que venham responder às novas demandas de trabalho. De forma geral, a competência é

entendida hoje como a capacidade para agir diante de situações previstas e imprevistas no

ambiente de trabalho em um contexto sócio-histórico determinado, reconhecida como um

saber agregador de benefícios para a organização e que, como bem acrescenta Fleury, A. e

Fleury, M. (2001), deve também agregar valor social ao indivíduo.

De acordo com Deluiz (2003, p.2), trata-se de uma progressiva substituição de

conceitos na qual o termo qualificação, relacionado à educação escolar, formação técnica e

experiência profissional, cede progressivamente lugar no mercado de trabalho para o modelo

de competências no qual:

Importa não só a posse dos saberes disciplinares escolares ou técnico-profissionais, mas a capacidade de mobilizá-los para resolver problemas eenfrentar os imprevistos na situação de trabalho. Os componentes nãoorganizados da formação, como as qualificações tácitas ou sociais e asubjetividade do trabalhador assumem extrema relevância.

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Para a conformação desse modelo, surgem tanto no meio escolar quanto no

empresarial novos desafios referentes à construção/reconstrução de competências

profissionais, sendo nesse processo visualizado um jogo de interesses entre as determinações

das organizações produtivas e princípios das categorias profissionais.

Essa dinâmica é concreta na realidade particular do SESI, Natal/RN, na qual as

competências dos assistentes sociais são construídas/reconstruídas ao longo dos anos a partir

de um processo de formação profissional influenciado por diversos âmbitos da vida pessoal e

social do indivíduo mediado pelo trabalho profissional e desenvolvido a partir de requisições

organizacionais.

O trabalho, como ato social “[...] sob uma forma exclusivamente humana” (MARX,

1989, p. 202) existe como um elemento de extrema importância para a explicitação e

construção/reconstrução de competências, uma vez que possibilita ao indivíduo um processo

de aprendizagem através da criação de novas habilidades e necessidades. Como mostra

Nicolau (1999, p.37) com base em autores, dentre eles, Marx, Lukács e Lefebvre:

O próprio trabalho torna-se uma necessidade que exige esforço, disciplina,planejamento, cooperação e estudo. Em tal dinamismo, no processo detrabalho vão sendo criadas novas necessidades, instrumentos e formas derelação, construindo e reconstruindo, continuamente, os sentidos ourepresentações sociais dos objetos e acarretando mudanças nas própriasnecessidades.

Essa perspectiva entende, ainda, que no caso particular do trabalho na sociedade

capitalista, na qual a força de trabalho se mercantiliza e aparece como mercadoria do seu

contratante, o trabalho por seu turno torna-se fonte de alienação, de estranhamento, o que

significa dizer que o trabalho pode não só contribuir para a formação do trabalhador, mas

também para a sua desqualificação. Mesmo assim, é ao mesmo tempo espaço de

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transformação da realidade e do indivíduo que trabalha. Ainda nas palavras de Nicolau (1999,

p.40-41), esse processo é possível porque o indivíduo

[...] não é passivo, mas ativo e consciente: no manejo dos meios deprodução consumidos no seu trabalho, este indivíduo, como força detrabalho em ação, articula um processo de aprendizagem quando respondeaos desafios desta prática, ao construir novos conhecimentos e habilidades.

No SESI em estudo nessa pesquisa, esse processo se dá em meio a influências sócio -

institucionais que se delineiam numa gestão com uma nova forma de controle sobre o

trabalhador, tanto no que diz respeito ao tipo de construção/reconstrução de competências

profissionais como à forma de implementação dos processos de trabalho3 que impulsiona a

formação de uma nova cultura de trabalho4.

Refere-se a uma nova lógica em que a construção/reconstrução dessas competências

passa a ser exigida e incentivada pela organização a partir de estratégias de (re) qualificação

profissional, tendentes a apresentar novos desafios aos profissionais, pelo fato de provocarem

um alargamento da capacitação dos mesmos sem resultar necessariamente na aproximação de

questões diretamente vinculadas aos referenciais discutidos contemporaneamente na

profissão.

A forma pela qual se processa a construção/reconstrução das competências

profissionais do assistente social no SESI, Natal/RN a partir de meados dos anos 90,

3 Vale destacar, com base em Marx, que o processo de trabalho já se revela no momento em que o homemtrabalha, visto que é um “[...] processo de que participam o homem e a natureza, processo em que o ser humanocom sua própria ação impulsiona, regula e controla seu intercâmbio com a natureza [...] Os elementoscomponentes [desse] processo são: 1)a atividade adequada a um fim, isto é o próprio trabalho; 2) a matéria a quese aplica o trabalho, o objeto de trabalho; 3) os meios de trabalho, o instrumental de trabalho” (MARX, 1989,p.202). À propósito ver também Barbosa; Cardoso; Almeida (1998, p. 116).4 Como mostram Mota & Amaral (2000, p.36), o objetivo da burguesia a partir do pensamento neoliberal “[...] éformar uma determinada cultura do trabalho que, incorporando as necessidades do processo de acumulação,apresente-se como alternativa de enfrentamento da crise econômica e social. Essa cultura difunde oconservadorismo das saídas possíveis e do sacrifício de todos, estimulando a ‘indiferenciação’de projetospolíticos como modo privilegiado de administração da desigualdade social”.

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constituiu-se, portanto a questão central deste trabalho. Questão que provocou o surgimento

de outras como: quais as competências que passaram a ser exigidas ao assistente social a

partir dos anos 90? Que mecanismos a gestão do SESI tem utilizado para a

construção/reconstrução dessas competências? Que estratégias têm sido utilizadas pelos

assistentes sociais no processo de construção/reconstrução de competências? Considera-se

que tais questões para serem elucidadas necessita de uma análise que leve em consideração

categorias como: trabalho, competências profissionais, qualificação profissional e gestão

institucional.

Compreende-se que várias são as matrizes que guiam a identificação, definição e

construção de competências, como a matriz funcionalista, a condutivista/behaviorista, a

matriz construtivista5 e a matriz teórico-conceitual crítico-emancipatória.

Em relação a matriz condutivista ou behaviorista e a matriz funcionalista, segundo

Deluiz (2003, p. 8), “[...] estão estritamente ligadas à ótica do mercado e limitam-se à

descrição de funções e tarefas dos processos produtivos”. Hoje bastante presentes nos

currículos brasileiros, inclusive de nível superior, tais matrizes podem ser visualizadas através

da existência de listas de atividades e comportamentos nos programas das disciplinas que

limitam a autonomia e o saber do educando ao desempenho específico das atividades e

tarefas. Trata-se de uma concepção que tem a preocupação central na formação do trabalhador

para o mercado.

No que se refere a matriz construtivista, tem se fundamentado a partir de metodologias

de investigação como a pesquisa-ação e, diferentemente das matrizes citadas acima, procura

identificar a relação que existe entre as atividades desenvolvidas pelos trabalhadores em seu

5 Deluiz (2003: 07 a 09) mostra que a matriz condutivista tem seus fundamentos na Psicologia de Skinner e naPedagogia dos objetivos de Bloom; a matriz funcionalista tem sua base no pensamento funcionalista e respalda-se na Teoria dos Sistemas Sociais; a matriz construtivista surge na França sob a influência de Bertrand Schwartz;e a matriz crítico – emancipatória é fundamentada no pensamento crítico - dialético.

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lugar de trabalho e os conhecimentos incorporados e/ou mobilizados, a fim de construir

competências

[...] não só a partir da função do setor ou empresa, que está vinculada aomercado, mas concede igual importância às percepções e contribuições dostrabalhadores diante de seus objetivos e potencialidades, em termos de suaformação”(DELUIZ, 2003, p.8).

Segunda esta autora, tal concepção apresenta grande importância para o indivíduo,

pelo fato de atribuir importância não só a constituição de competências voltadas para o

mercado, mas direcionadas aos objetivos e potencialidades do trabalhador. No entanto,

apresenta alguns pontos negativos, como por exemplo, a limitação da autonomia à dimensão

individual, focada no mundo do trabalho, pois a

Construção do conhecimento é considerada como um processo individual,subjetivo, de desenvolvimento de estruturas cognitivas, em uma perspectivanaturalista da aprendizagem, sem enfatizar o papel do contexto social paraalém da esfera do trabalho na aprendizagem dos sujeitos. Apresenta, assim,uma concepção mais ampliada de formação, mas minimiza a sua dimensãosócio-política”(DELUIZ, 2003, p. 8-9).

Em se tratando da matriz crítico-emancipatória, entende a competência como

capacidade multidimensional, referindo-se ao âmbito individual, sócio - cultural e situacional

(contextual – organizacional). É uma matriz que não se restringe à identificação, definição e

construção de competências profissionais centradas nas necessidades e demandas estritas do

mercado e na ótica do capital, mas também nas contradições no mundo do trabalho e nos

valores e lutas dos trabalhadores. Dessa forma,

“Investiga as competências no mundo do trabalho a partir dos que vivem assituações de trabalho, ou seja, dos próprios trabalhadores, identificando osseus saberes formais e informais, as suas formas de cultura e o patrimônio

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de recursos por eles acumulado (aprendizados multidimensionais,transferências, reutilizações) nas atividades de trabalho” (DELUIZ, 2003, p.9).

Coerentes com essa matriz, autores como Oliveira (2003), Manfredi (1998), Deluiz

(2004) e Paiva (2001) entendem que o uso predominante do termo competência hoje em vez

de qualificação seja no âmbito empresarial, seja no educativo, aparece como uma estratégia

das elites capitalistas para camuflar a crise do desemprego a da exclusão das pessoas do

mercado de trabalho.

Ressalte-se que esse debate sobre a competência na contemporaneidade é polêmico e

envolve uma dimensão ideológica6, pois, como mostra Hirata (2002), demanda relações

pouco formalizadas, pouco negociadas, sem acordos sindicais, com tendência a uma relação

bilateral (trabalhador individual e recursos humanos), o que exacerba o aspecto de

individualização e desmobiliza os acordos coletivos.

Assim, compreende-se que qualquer reflexão voltada para a competência exige um

pensar sobre uma relação intrínseca: a capacidade para agir dos profissionais; e, sobre o

contexto sócio-histórico em que esta é reconhecida como tal a fim de que o termo

competência não fique vazio, sem significação precisa, mas revele o caráter ideológico em

que está revestido.

É preciso também refletir sobre o valor social dessas competências para o profissional,

que por sua vez não deve perder de vista a perspectiva ética e propositiva preocupada com o

projeto ético-político da profissão.

6 Conforme Mészáros (1996, p.22) “[...] a ideologia não é ilusão nem superstição religiosa de indivíduos mal-orientados, mas uma forma especifica de consciência social, materialmente ancorada e sustentada. Como tal éinsuperável nas sociedades de classe [...]”. Ainda sobre ideologia, conforme Nicolau (1999, p.34), estas “[...]surgem e tomam forma, portanto, quando as classes dominantes procuram mascarar a realidade, tentando ocultara dominação que exercem [...]”.

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Quanto à capacidade para agir, é entendida como a mobilização de um conjunto

articulado de saberes: os saberes teóricos do profissional; o saber fazer — saber experiencial,

tácitos adquiridos pela ação humana; e o saber ser, referente às atitudes e a postura ético -

política do profissional; e comporta as dimensões teórico-intelectual, técnico-instrumental,

ético-político e formativa dos profissionais, estando sempre em construção.

A efetivação dessas dimensões pode acontecer de forma desarticulada e ter uma

direção crítica ou acrítica diante das questões postas na realidade, dependendo não apenas do

indivíduo profissional, mas também de determinantes presentes no contexto sócio-histórico

propulsor da construção e materialização da competência desse indivíduo, seja nas relações de

trabalho, seja no âmbito familiar, acadêmico, entre outros. No caso específico, o assistente

social tem a possibilidade de construir uma capacidade para agir com uma direção crítica,

pautada pelo compromisso com o projeto ético-político da profissão que “[...] busca dar

respostas precisas e concretas ao ‘que fazer’, ‘como’ e ‘porque fazer’, face às contradições

sociais trabalhadas no campo da intervenção profissional” (NICOLAU, 2001, p.06).

Mas essa construção tem se tornado um desafio, como se constatou no espaço sócio-

ocupacional do SESI em estudo nessa pesquisa, diante das relações de trabalho capitalistas ali

presentes, nas quais os processos de trabalhos têm, de forma predominante, uma direção

acrítica, referente a uma capacidade para agir que obedece às formas pré-traçadas, sob o

comando de uma racionalidade formal-abstrata (GUERRA, 2005), uma perspectiva de

executá-las com eficácia sem preocupação em questioná-las.

Compreender o processo de construção/reconstrução das competências do assistente

social no SESI, desenvolvido a partir de meados dos anos 90, corresponde ao objetivo geral

desta pesquisa, considerando-se ser necessário para tanto: detectar as competências exigidas

do assistente social no SESI, Natal/RN a partir de meados dos anos 90; desvendar as

estratégias que a gestão do SESI se utiliza no processo de construção/reconstrução das

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competências do assistente social; analisar os mecanismos utilizados pelos assistentes sociais

no processo de construção/reconstrução de competências profissionais no espaço-

sociocupacional do SESI.

Considera-se que o alcance de tais objetivos contribui nas discussões no âmbito da

formação acadêmica e do exercício profissional acerca das competências dos assistentes

sociais, sobretudo a partir da lei de Regulamentação da Profissão de Assistente Social, Lei

8.662/93 (CFESS, 1993), que em seus artigos 4º e 5º trata respectivamente das competências

profissionais e atribuições privativas do assistente social e que integra as diretrizes do Projeto

Ético-Político Profissional do Serviço Social na contemporaneidade. Eis, pois, um dos pontos

relevantes desta pesquisa que, pretende subsidiar ações e experiências em torno do trabalho

do assistente social no âmbito de instituições como o SESI, e no processo da formação

profissional.

O percurso para chegar aos resultados pretendidos nessa pesquisa, que expressem o

processo de construção e reconstrução das competências no exercício profissional dos

assistentes sociais no SESI, Natal/RN a partir de meados dos anos 90, segue uma rota ou um

caminho metodológico imprescindível e delineado a seguir.

Para o desvendamento de um objeto de estudo a pesquisa se constitui um caminho de

significativa importância por possibilitar ao investigador e aos investigados conhecimentos

surpreendentes sobre a realidade estudada, embora sempre inacabados e provisórios. A

aproximação com os sujeitos investigados, com o lócus de pesquisa e com os referenciais

teórico - metodológicos constituem elementos de significativa importância no estudo, análise

e interpretação da temática abordada.

Com esta perspectiva, a pesquisa voltou-se para a construção/reconstrução das

competências do assistente social sob a gestão do SESI, Natal/RN entre os anos de 1995 a

2004, quando a organização sofreu um reordenamento em suas relações de trabalho e

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organização dos processos de trabalho a partir de uma gestão preocupada com a

construção/reconstrução de competências, com vistas à efetivação de uma política de

qualidade.

Tratou-se de uma pesquisa realizada no SESI de Natal/RN, organização que presta

serviços de saúde, educação e lazer através de um Centro de Atividades - CAT7 - e duas

Unidades Operacionais – UP’s8, sendo o foco desse estudo centrado no CAT, pelo fato de

comportar seis dos oito assistentes sociais constituintes do universo dos sujeitos pesquisados,

e na Casa da Indústria9, local em que funciona parte da área – meio do SESI e estão os demais

sujeitos investigados.

A pesquisa estruturou-se em três fases organicamente interligadas. Na primeira fase

foi desenvolvida uma pesquisa bibliográfica sobre as categorias analíticas desse estudo, o

lócus de pesquisa e os posicionamentos teóricos acerca do objeto de estudo. Como mostra

Cruz Neto (2002, p.53),

[...] a pesquisa bibliográfica coloca frente a frente os desejos do pesquisador eos autores envolvidos em seu horizonte de interesse. Esse esforço em discutiridéias e pressupostos tem como lugar privilegiado de levantamento asbibliotecas, os centros especializados e arquivos. Nesse caso, trata-se de umconfronto de natureza teórica que não ocorre diretamente entre pesquisador eatores sociais que estão vivenciando uma realidade peculiar dentro de umcontexto histórico - social.

7 Conforme Sinopse Estatística do SESI – 1998, o CAT é o “local de atendimento cujos equipamentos einstalações se encontram em imóvel próprio, cedido ou alugado para o SESI, onde são prestados serviços demais de uma área de atuação e que representa o SESI em função de atividades –fins”. No caso do CAT a que apesquisa se refere situa-se no SESICLÍNICA, na avenida Capitão Mor Gouveia, Bairro de Lagoa Nova,Natal/RN.8 As Unidades Operacionais são espaços cujos equipamentos e instalações se localizam em imóvel próprio,alugado ou cedido, onde são prestados serviços de uma só área de atuação e que representa o SESI em função dodesenvolvimento de sua atividade – fim. No SESI de Natal existe uma Unidade Operacional na Zona Norte da Capital e outra na Cidade de Parnamirimque faz parte da Grande Natal.9 A Casa da Industria constitui-se num espaço onde funciona a parte administrativa do Sistema da Federação dasIndustrias do Estado do Rio Grande do Norte – FIERN (do qual o SESI faz parte junto ao Serviço Nacional deAprendizagem Industrial – SENAI e o Instituto Euvaldo Lodi – IEL). A Casa situa-se na Av: senador SalgadoFilho, Bairro; Lagoa Nova, nº2860, Natal/RN.

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A segunda fase comportou um estudo empírico com base em um levantamento de

dados documentais e de campo.

Os documentos pesquisados foram relatórios anuais do SESI/RN no período de 1995 a

2003, uma vez que nestes estão descritas as atividades desenvolvidas no SESI de Natal; o

Planejamento Estratégico da Organização para 2000 a 2004; o relatório “Retrospectiva do

Serviço Social da Indústria –SESI – Departamento Regional do Rio Grande do Norte — 40

anos de criação” e o relatório do programa de Serviço Social do SESI de Natal em 1982. O

objetivo da leitura era detectar as competências exigidas do assistente social e as atividades

desenvolvidas pelos profissionais desde a criação do SESI, a fim de identificar as mudanças

que ocorreram a partir dos anos 90 para o Serviço Social.

Quanto aos dados de campo obtidos pela delimitação dos sujeitos da pesquisa, foram

escolhidos intencionalmente, visto que, pelo fato de a pesquisa ter uma abordagem

predominantemente qualitativa, embora associada em alguns momentos a dados quantitativos,

não se prendeu a amostras aleatórias, mas teve a preocupação principal em extrair as

significações que os sujeitos de pesquisa têm em função do que se almeja alcançar. Conforme

mostra Minayo (1995, p.22) a pesquisa qualitativa

[...] trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças,valores e atitudes, o que corresponde ao espaço mais profundo das relações,dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos àoperacionalização de variáveis.

Com essa compreensão, foram escolhidos como sujeitos de pesquisa , os supervisores das três

áreas de prestação de serviços: Saúde, Educação e Lazer do CAT- SESI, Natal/RN, nas quais

a maioria dos assistentes sociais está trabalhando, por considerar que esses supervisores são

agentes responsáveis por repassar as informações aos integrantes da sua área de supervisão, o

que inclusive, se relaciona às competências que o SESI exige e requisita dos seus

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trabalhadores; o representante da Divisão do Sistema de Gestão da Qualidade do SESI/RN, a

fim de elucidar a forma de gestão hoje adotada pelo órgão e o tratamento da questão das

competências profissionais dos que fazem parte das relações de trabalho dessa organização,

em específico os assistentes sociais; a gerente da Divisão Integrada de Desenvolvimento de

Pessoas e Qualidade do Sistema FIERN para identificar possíveis mecanismos de

desenvolvimento de competências profissionais no SESI; o coordenador da Unidade de

Relações com o Mercado, pelo fato de ser um profissional que, uma vez que foi contratado

pelo SESI em 1974, percorreu várias funções, dentre elas a de Assessoria de Planejamento e

também a Superintendência do órgão, o que o tornou um profissional importante para falar

sobre as diferenças entre a gestão do SESI antes dos anos 90 e depois; e todos os profissionais

contratados como assistentes sociais e em exercício no SESI de Natal/RN, no total de oito

assistentes sociais, por entender que a construção/reconstrução de competências não ocorre de

forma homogênea em todos os profissionais, mesmo que sejam de uma mesma profissão e,

por vezes, trabalhem numa mesma área de atuação.

As informações coletadas junto a este público - alvo foram obtidas através de técnicas

de investigação como: observação assistemática10 com anotações em diário de campo e

entrevista mista na qual “[...] algumas questões são acompanhadas de uma opção fechada de

respostas enquanto outras serão abertas” (LAVILLE; DIONE, 1999, p.187) e entrevista semi-

estruturada, que se constitui “[...] numa série de perguntas abertas feitas verbalmente em uma

ordem prevista, mas na qual o entrevistador pode acrescentar perguntas de esclarecimento”.

(LAVILLE; DIONE,1999, p.188). A ênfase maior na entrevista justificou-se pelo fato de a

técnica possibilitar uma relação direta com o entrevistado, sendo mais ampla, uma vez que

10 Conforme Richardson (1999, p.261) a observação assistemática é mais livre, “[...] sem fichas ou listas deregistro, embora tenha de cumprir as recomendações do plano de observação que deve estar determinado pelosobjetivos da pesquisa”.

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[...] oferece maior amplitude do que o questionário, quanto à sua organização:esta não estando mais irremediavelmente presa a um documento entregue acada um dos interrogados, os entrevistadores permitem-se, muitas vezes,explicitar algumas questões no curso da entrevista, reformulá-las para atenderàs necessidades do entrevistado (LAVILLE; DIONE, 1999,p.188).

As informações obtidas com os assistentes sociais foram colhidas inicialmente em

entrevista semi-estruturada, captando-se dados de identificação, formação e exercício

profissional dos assistentes sociais. Buscou-se saber a área e função de cada profissional; as

possíveis mudanças ocorridas no cotidiano das relações de trabalho no SESI, Natal/RN a

partir da extinção do Setor de Serviço Social (1997) e da construção do Planejamento

Estratégico 2000-2004; as competências exigidas pelo SESI e sua possível relação com as

estabelecidas na Lei de Regulamentação da Profissão de Assistente Social (8.662/93); as

demandas postas para o profissional hoje; os meios pelos quais as assistentes sociais

constroem/reconstroem as competências exigidas e a visão dos profissionais sobre o que é ser

competente, hoje, no SESI (apêndice A). Em outro momento, foi realizada uma entrevista

semi-estruturada a fim de adquirir maiores dados relativos ao posicionamento do assistente

social diante das relações de trabalho hoje no SESI (apêndice B). Com exceção de uma

entrevista (por opção da entrevistada), as demais foram gravadas (março de 2004), transcritas

e estruturadas em códigos, como mostra o quadro a seguir:

Assist. social- área deSaúde

Assist. social- área deEducação

Assist. social- áreaAdministrativa/Financeira

Assist. social- Unid. deRelações com oMercado

SSO1 SSO3 SSO2 SSO8SSO4 SSO6SSO5SSO7TOTAL 08 assistentes sociaisQUADRO 1 -Códigos dos assistentes sociais por área de atuação.

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Para os supervisores também foi utilizada entrevista semi-estruturada (março de 2004)

a fim de se obter dados relativos à identificação, formação e o exercício profissional.

Procurou-se identificar quais as competências exigidas para os assistentes sociais, hoje, no

SESI e os desafios enfrentados por estes; a possível existência de algum tipo de estratégia de

atualização destinada aos assistentes sociais; a organização dos processos de trabalho nas

áreas e a visão dos supervisores sobre o que é ser competente hoje para o SESI (apêndice C).

A entrevista foi codificada da seguinte forma:

Área de Saúde Área de Educação Área de LazerSU2 SU3 SU1TOTAL 03 supervisoresQUADRO 2 - Códigos dos supervisores por área de atuação.

No caso específico do representante da direção do Sistema de Qualidade do SESI,

DR/RN (RDSQ), foi adotada uma entrevista semi–estruturada (maio de 2004) com o objetivo

de compreender a forma de gestão hoje adotada pelo SESI com ênfase na qualidade total

(apêndice D), temática aprofundada mediante entrevista com a gerente da DIPEQ que

discorreu sobre a gestão de pessoas no SESI (apêndice E).

Quanto ao coordenador da Unidade de Relações com o Mercado (CRM) foi

desenvolvida uma entrevista semi-estruturada (novembro/2004) para investigar sobre a

trajetória do SESI antes dos anos 90 e hoje, visto que aquele profissional já tinha exercido

funções ligadas à gestão antes dos anos 90. Dentre outras perguntas, (apêndice F), questionou-

se sobre as competências exigidas ao assistente social antes dos anos 90 e hoje, bem como

sobre o porquê do desaparecimento dos programas de Serviço Social e de Cooperação e

Assistência.

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Ressalta-se que todas as entrevistas realizadas foram gravadas com o consentimento

dos entrevistados e, dentre estes, apenas um assistente social não autorizou a gravação.

A terceira fase comportou a análise e interpretação dos dados obtidos à luz dos

referenciais teóricos sobre as categorias analíticas da pesquisa. O levantamento foi feito com

base na transcrição das entrevistas que possibilitaram a elaboração de quadros, entendidos

conforme Lakatos e Marconi (1988, p.33) como um “método estatístico sistemático, de

apresentar os dados em colunas verticais ou fileiras horizontais, que obedece à classificação

dos objetos ou materiais da pesquisa”, sendo apresentados ao longo do trabalho, tendo a

seguinte estruturação:

O primeiro capítulo, A emersão do SESI: sua gestão e as competências exigidas do

assistente social, aborda o surgimento do SESI no Brasil, sua gestão e relação com a

institucionalização do Serviço Social. Particulariza a realidade do SESI, DR/RN entre os

períodos de 1949 (quando surgiu) até a década de 80, enfocando as competências exigidas ao

assistente social nessa trajetória histórica. Procura mostrar que mesmo nessas épocas que não

havia um discurso sobre as competências profissionais, já existia um processo de

construção/reconstrução das competências pelo próprio aprimoramento da ação do

profissional diante das situações de trabalho.

O segundo capítulo, A gestão do SESI na atualidade e as novas competências do

assistente social, analisa a lógica de gestão do SESI a partir de meados dos anos 90,

ressaltando em específico a realidade do SESI, DR/RN, palco de um reordenamento nos

processos de trabalho, administrado por uma gestão voltada para a construção/reconstrução de

competências de seus trabalhadores, dentre estes, o assistente social. Apresenta ainda a

inserção deste na organização e as competências que lhe são exigidas.

O terceiro capítulo, A gestão do SESI, Natal/RN e a construção/reconstrução das

competências do assistente social enfoca o processo de construção/reconstrução das

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competências desse profissional tendo o espaço sócio-ocupacional do SESI como um dos

principais influenciadores, a partir da estruturação de uma dinâmica que por um lado alarga o

campo de conhecimentos do assistente social, mas por outro, tende a conduzi-lo para uma

desqualificação no que diz respeito ao aprofundamento dos referenciais teóricos da profissão

na contemporaneidade e sobre a assistência social.

As considerações finais apresentam em linhas gerais o quadro em que se situa a ação

do assistente social no SESI; a importância desse profissional, bem como alguns limites e

possibilidades por ele vividas, requerendo uma articulação do profissional com diversos

âmbitos importantes para a formação profissional como, o CRESS/RN- 14ª Região, as

unidades de ensino de Serviço Social, os grupos de estudos e o SESI.

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CAPÍTULO 1 - A EMERSÃO DO SESI: SUA GESTÃO E AS COMPETÊNCIAS

EXIGIDAS DO ASSISTENTE SOCIAL.

1.1- O surgimento do SESI e o Serviço Social

Entender o porquê do surgimento da instituição SESI, e sua relação histórica com a

profissão de Serviço Social na sociedade brasileira requer que sejam demarcadas as

conjunturas do Brasil entre as décadas de 30 e 50 do século XX, quando o País adentrava um

desenvolvimento industrial dependente11em um cenário de expansão do capitalismo mundial.

Nos anos 30 a sociedade brasileira vivenciou transformações societárias que

acarretaram grandes repercussões para os anos seguintes no Brasil. Em 1930 vivencia uma

revolução que muda a posição do Estado em relação à oligarquia agrário-exportadora12. Essa

revolução “[...] cria bases para um novo projeto estatal de caráter industrialista e

nacionalista”(DOS SANTOS,1994, p.47). Se o Estado brasileiro até então servia para garantir

a expansão da oligarquia agrário-exportadora, passa com essa revolução a viver um período

de transição do modelo agrário-exportador para uma economia industrial nacionalista melhor

delineada com a implantação do chamado Estado Novo (1937-1945) de Getúlio Vargas.

É a partir de 1937 que se inicia no Brasil uma fase em que o Estado sob a lógica do

corporativismo enquanto sistema de dominação política, busca de várias maneiras dar

estímulos às indústrias de base, viabilizando a expansão do setor industrial, organizando o

11 De acordo com Dos Santos (1994, p.15) o termo desenvolvimento dependente designa a dependência “nãoenquanto uma relação de uma economia nacional nativa com uma economia que a submete, mas sim, umarelação básica que constitui e condiciona as próprias estruturas internas das regiões dominadas ou dependentes”.12 No Brasil, a oligarquia agrário-exportadora forma-se ainda no século XVI por grandes “proprietáriosagrícolas, além de grandes comerciantes exportadores” (DOS SANTOS, 1994, p.28) que tinham por base umaeconomia monoprodutora, exportadora, latifundiária e escravista dependente no início da Coroa Portuguesa e, apartir do século XIX, da Inglaterra. Em 1782, com a independência do Brasil, as oligarquias irão “manter ocontrole total do novo Estado, convertendo-se na nobreza de um Estado monárquico e contando com o maisamplo apoio da Inglaterra” (idem). Esse controle adentra o início do século XX, quando o Estado, em 1906,passa a ser obrigado, pelo Acordo de Taubaté, a comprar o excedente de café para regular a oferta internacionaldo produto.

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mercado de trabalho e implantando políticas financeiras e cambiais para apoiar a capitalização

e acumulação desse setor (IAMAMOTO; CARVALHO, 1996).

Consolida-se nesse período uma aliança corporativa entre o Estado, a burguesia

industrial e os grandes proprietários rurais, que se estrutura principalmente a partir de 1945,

num contexto de crescimento de um emergente proletariado urbano. Diante dessa realidade,

surge a necessidade de essa aliança controlar esse novo setor, que crescia de forma espantosa

em razão do aumento da industrialização e da urbanização.

Ressalte-se que os fluxos populacionais que engrossarão esse setor emergente, não são

mais provenientes da Europa, e sim do interior do país, como conseqüência da capitalização

interna da agricultura, que passa a ser comandada pela estrutura corporativista a fim de

“fortalecer o seu projeto, neutralizando seus componentes autônomos e revolucionários”

(IAMAMOTO; CARVALHO, 1996, p.243).

Institucionaliza-se nesse contexto uma legislação social, trabalhista e sindical que em

meio à repressão e à tortura da ditadura vigente, dará base a uma política de massas que

atenderá, de alguma forma, às reivindicações dos setores populares, através de um

reconhecimento legal da cidadania do proletariado, em resposta à questão social13 vista agora

não mais como caso de polícia, mas sim, como questão política. É nessa perspectiva que o

Estado corporativo pressupõe o surgimento estratégico de novas instituições, tais como:

[...] Seguro Social, Justiça do Trabalho, Salário Mínimo, Assistência Social,etc [...] como respostas ao desenvolvimento real ou potencial das contradiçõesgeradas pelo aprofundamento do modo de produção que atinjam o equilíbriodas relações de força (IAMAMOTO; CARVALHO, 1995, p.245).

13 Como mostra Iamamoto (2002, p.26) “A questão social diz respeito ao conjunto das expressões dasdesigualdades sociais engendradas na sociedade capitalista, impensáveis sem a intermediação do Estado. Temsua gênese no caráter coletivo da produção, contraposto à apropriação privada da própria atividade humana-trabalho-, das condições necessárias à sua realização, assim como de seus frutos”.

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Outra estratégia estatal referiu-se à transformação dos sindicatos de trabalhadores em

mecanismos burocráticos para angariar favores do Estado, surgindo então a figura do pelego,

líder sindical comprometido com a burocracia do Ministério do Trabalho. E, ao mesmo tempo

em que são proibidos os movimentos autônomos, são incentivadas a sindicalização e as

mobilizações organizadas para receber os novos benefícios oferecidos pelo Estado.

Por sua vez, as reivindicações históricas do proletariado são incorporadas através de

políticas sociais que “[...] atuam como deslocadoras das contradições que se dão ao nível das

relações de produção, reproduzindo e projetando essas contradições ao nível das instituições

assistenciais e previdenciárias [...]” (IAMAMOTO; CARVALHO, 1996, p.248). Os Institutos

e as Caixas de Pensões e Aposentadorias representam algumas das instituições que serviram

de mecanismo do Estado naquela conjuntura dos anos 40.

Em decorrência da Segunda Grande Guerra e da crise do Estado Novo, novas

instituições são criadas. A época é de mudanças significativas no âmbito econômico, social e

político. Ao mesmo tempo em que o Brasil vivenciava um aprofundamento capitalista através

da expansão industrial, ocorre, de forma contraditória, acentuado declínio do salário real dos

trabalhadores urbanos14, que passam a conviver em condições de trabalho mais precarizadas e

com o aumento do ritmo e da intensidade da exploração.

É diante desse fato que surgem várias instituições assistenciais como “instrumento de

controle social e político dos setores dominantes de manutenção do sistema de produção,

tanto por seus efeitos econômicos como pela absorção dos conflitos sociais e disciplinamento

das relações sociais vigentes” (IAMAMOTO; CARVALHO, 1996, p.248). Dentre estas

instituições estão o Serviço Nacional de Aprendizagem e a Legião Brasileira de Assistência

(LBA), criados em 1942 para obter apoio da população insatisfeita com a política de Vargas,

14 De acordo com Iamamoto e Carvalho (1996, p.251), “o índice de salário mínimo real, entre 1940 e 1944, caide 100 para 81, acentuando-se a queda para os trabalhadores que percebiam salários superiores ao mínimolegal”.

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em especial, com a sua participação na Segunda Grande Guerra, insatisfação essa que faz

ressurgir o movimento operário no plano político através da luta antifascista.

Saliente-se ainda, que a organização e combatividade do movimento operário também

contribuirá para o surgimento do SESI e da Fundação Leão XIII, primeiras instituições que

irão absorver os assistentes sociais — novos trabalhadores especializados no trato das

populações carentes e marginalizados.

Quanto ao SESI, foi criado oficialmente pelo Decreto/Lei nº 9.403, no Governo Eurico

Gaspar Dutra, em 25 de junho de 1946, a fim de ser

[...] uma instituição de direito privado com sede e foro jurídico na capital daRepública, cabendo à Confederação Nacional da Indústria, inscrever-lhes osatos constitutivos e suas eventuais alterações no registro público competente(SERVIÇO SOCIAL DA INDÚSTRIA, 1996).

Seus grandes mentores os empresários Roberto Simonsen e Euvaldo Lodi, partiram do

principio que “o crescimento do país exigia tranqüilidade social, solidariedade entre

empregados e patrões. A paz, enfim, sobre o signo de generosidade cristã”.15 (MACKSEN,

1996) e criaram o SESI com a finalidade explícita de

Auxiliar o trabalhador da indústria e atividades assemelhadas a resolver osseus problemas básicos de existência (saúde, alimentação, economia,recreação, convivência social, consciência sócio-política), preocupando-seem nortear seus objetivos principais para a área de educação, destinados ao

15 Em se tratando da obtenção de recursos para o funcionamento desta instituição, Iamamoto; Carvalho (1996,p.281) mostram que a situação é igual ao SENAI. Ou seja, o segmento da burguesia industrial institucionalizada,por meio do Estado, organiza “[...] uma forma de ação política baseada no assistencialismo”. Assim, o acordo éfeito de modo que o Estado exige legalmente recolher e fiscalizar a contribuição mensal equivalente a 2% dafolha de pagamento que, conforme mostram Dantas & Diniz (2001, p.65), são recursos provenientes dos própriostrabalhadores, administrados e gerenciados pela indústria, através basicamente de serviços assistenciais e deeducação popular desses industriários. Conforme estudo feito por Araújo e Oliveira (2000), o SESI tem sofridouma queda nas receitas de contribuições, devido redução na folha de pagamento das empresas, como também dadiminuição na porcentagem de contribuição empresarial, que passou de 2% para 1,5%, e até o não-pagamentopor parte de algumas empresas. Os condicionantes que levam a essa diminuição contributiva-recessão daeconomia, programa de privatizações, grande número de demissões nas empresas ou até o não pagamento desta,faz com que o SESI passe a vender seus serviços como mostra o capítulo seguinte.

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trabalhador e seus dependentes (SERVIÇO SOCIAL DA INDÚSTRIA, art.4º. 1996).

Mas, de forma implícita, a grande finalidade era possibilitar a reprodução da classe

trabalhadora de forma disciplinada, a partir de serviços voltados para desenvolver a

consciência sócio-política com vistas ao desenvolvimento do capitalismo. É a partir dessa

grande finalidade que essa instituição prestará serviços assistenciais no âmbito sócio

educativo e através de benefícios voltados para a melhoria da qualidade de vida (no que diz

respeito a higiene, alimentação e habitação do trabalhador) além de pesquisas e investimentos

na educação.

Esses serviços se espalham pelo Brasil através de núcleos regionais e se organizam em

dois centros de atividades: um direcionado à finalidade institucional (serviços de assistência,

lazer, educação popular, etc) e outro voltado para atividades complementares (estudos e

pesquisas econômico-sociais, preparação de técnicos, etc), “cuja atuação seria suportada por

um Departamento Central e Centros Sociais nos bairros operários” (IAMAMOTO;

CARVALHO, 1996).

Para a execução desses serviços, o SESI adota uma gestão16 que busca estruturar

diversos processos de trabalho a partir de uma racionalidade do trabalho influenciada por

teorias originárias do século XX, como a Administração Científica, nos Estados Unidos,

elaboradas por nomes como Taylor e Ford; e a Teoria Clássica de Administração, na França,

por Fayol17.

16 Em termos gerais entende-se o termo “gestão” como a política e as práticas administrativas realizadas nasorganizações (sejam estatais, empresas lucrativas ou organizações não governamentais), com vistas àestruturação e o desenvolvimento da produção de bens e serviços. Quanto ao termo “organização”, refere-se ao“[...] agrupamento de pessoas e recursos – dinheiro, equipamentos, materiais, informações e tecnologia- com oobjetivo de produzir bens e/ou prestar serviços” (TENÓRIO, 1998, p.17).17 A propósito ver Idalberto Chiavenato em A Teoria Geral da Administração. São Paulo. Ed. MZGRAW-HILL,1983. De acordo com esse autor, essas teorias têm uma finalidade central em comum que é elevar a eficiênciaindustrial. Um outro elemento comum a essas teorias é a presença de uma acentuada hierarquia e ao mesmotempo uma separação entre aquelas pessoas que administram, planejam e supervisionam a produção e aquelas

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Observe-se que, apesar desta influência do fordismo/taylorismo18 e especialmente da

Teoria Clássica da Administração na forma de gestão do SESI - hierarquizada,

compartimentalizada, há que se considerar o fato de esta instituição ser uma prestadora de

Serviços.

Como mostra Karsch (1998, p.26), sendo os serviços um mecanismo produtivo do

capital monopolista e, portanto, parte da divisão do trabalho, assumem um “modo peculiar e

configuram certa especificidade administrativa”. Ou seja, diferentemente de atividades que

podem ser submetidas diretamente a critérios de eficácia e eficiência bem próprios tanto da

racionalidade fordista/taylorista como da Teoria Clássica da Administração, implantados nas

atividades do setor primário e secundário19, os serviços, incluídos no setor terciário20,

obedecem a uma lógica pela qual as modificações, quer tecnológicas, quer ideológicas, são

expressas pelo objetivo organizacional.

Os serviços são atividades necessárias para o bom andamento dos processos de

trabalho no capitalismo monopolista, implementados em sua maioria para dar suporte aos

demais setores, o que os leva a se constituírem atividades que ingressam no circuito de

criação da mais-valia, embora “[...] não produzam, independentemente mais-valia e capital”.

(LOJKINE apud BARBOSA et al, 1998, p.126).

que executam os processos de trabalho, o que é próprio do processo crescente de divisão do trabalho que, a partirdo período industrial, terá como grande diferenciadora a ciência. Esta, conforme Iamamoto (1995, p.69) seráapropriada pelo capital que a utilizará em “função de seus fins de valorização e dominação”.18 De acordo com Antunes (1999:17), o fordismo é um modelo de produção que tem como características “aprodução em massa através da linha de montagem e de produtos mais homogêneos, através do controle detempos e movimentos pelo cronômetro fordista e produção em série taylorista, pela existência do trabalhoparcelar e pela fragmentação das funções; pela separação entre elaboração e execução no processo de trabalho,pela existência de unidades fabris concentradas e verticalizadas e pela constituição/consolidação do operário-massa, do trabalhador coletivo, entre outras dimensões”. Já o taylorismo é entendido como um modelo deprodução criado por Frederick Taylor que tem como objetivo produzir mais em menos tempo, através daprodução.19 O setor primário inclui a agricultura, a pesca, a caça e as florestas. Já o setor secundário engloba as indústriasextrativas e de transformação, a construção e as obras públicas e o setor água/gás/eletricidade. Ver a respeito,Úrsula Karsch M.S em O Serviço Social na Era dos Serviços (1998, p.11).20 No setor terciário são desenvolvidas atividades voltadas para a distribuição (transportes, comércio), aadministração pública e todas as atividades que não têm por objetivo elaborar uma produção física(KARSCH,1998, p. 11).

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São atividades que se deslocam, expandem, desaparecem dos organogramas

organizacionais de acordo com as mudanças nos processos de trabalho e são desenvolvidas

em função de um trabalho cooperativo21dentro das organizações de acordo com as atribuições

delegadas.

Para a execução dos serviços, as organizações institucionais contratam um conjunto de

profissionais, dentre esses o assistente social que se constitui um especialista na divisão sócio-

técnica de trabalho para lidar com a questão social no mundo capitalista, através da

implementação de políticas sociais.

Dentre as diferentes instituições prestadoras de serviços e contratantes desse

profissional no Brasil, pode ser citado o SESI, que, em razão das mudanças na lógica de

produção das empresas e das relações sociais, cria, expande e extingue diversos serviços,

tendo como bases diretrizes próprias que organizam uma política de gestão estruturada de

forma hierárquica, piramidal, e que é visível na divisão sócio-técnica do trabalho em setores

de serviços predominantemente assistenciais; esses presentes até os anos 90 na instituição e

supervisionados por profissionais de Serviço Social.

Essa profissão influenciará as bases políticas da gestão do SESI que adotará em suas

diretrizes gerais o princípio do Serviço Social da época: “ajudar a ajudar-se, quando e quanto

necessário: o indivíduo, o grupo e a comunidade” (SERVIÇO SOCIAL DA INDÚSTRIA, art. 6º,

1996), com vistas tratar os problemas crescentes, frutos da estrutura social capitalista, como

problemas individuais, grupais ou comunitários, nunca como desigualdades entre classes

sociais.

A adesão ao princípio do Serviço Social pelo SESI explicita a forte relação que essa

instituição e a profissão têm nesse momento, bem como a grande importância na sua

institucionalização e profissionalização nos anos 40. Como mostram Iamamoto e Carvalho

21 A cooperação é entendida como força produtiva, coletiva, constituindo-se em trabalho socialmentecombinado. Sobre a forma de cooperação na grande empresa, ver Karsch (1998 p.37).

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(1996, p.284), as atividades que o antigo Serviço Social desenvolve em suas primeiras

experiências sofrem significativas mudanças no seu âmbito e utilização, com o surgimento do

SESI, uma vez que essa instituição irá disponibilizar um significativo conjunto de auxílios

materiais destinados a uma parcela do proletariado urbano, bem como a criação de

departamentos de Serviço Social em que “[...] o trabalho coletivo- entre Assistentes Sociais e

entre estes e outros profissionais - quebrará o anterior isolamento do assistente social,

integrando-o num trabalho coletivo específico”(IAMAMOTO;CARVALHO,1996, p. 284)22

como trabalhador assalariado.

O SESI permitirá uma maior visibilidade do Serviço Social mediante a adoção

sistemática de técnicas utilizadas pelos assistentes sociais de forma isolada, além de inseri-los

mais profundamente nas relações industriais. Será um espaço que permitirá ao assistente

social adotar novas técnicas para melhor responder aos anseios da clientela do Serviço Social,

que deixa de ser uma pequena parte da população pobre em geral, (atingida pelas ações

dispersas das obras sociais) para ser os grandes setores do proletariado (IAMAMOTO, 1995,

p.94).

Ao mesmo tempo, o Serviço Social é de grande importância para o SESI, pelo fato de

subsidiar teórica e metodologicamente a atuação sócio-educativa dos profissionais envolvidos

no trato das questões voltadas à dissolução de revoltas por parte do operariado, bem como dos

problemas gerados pela forma de estruturação da sociedade capitalista: deficiência alimentar,

uso de drogas, delinqüência, depressão, problemas familiares, etc.

Ao se reportar em específico sobre a realidade do Departamento Regional do SESI do

Rio Grande do Norte, é notório o lugar estratégico da profissão de Serviço Social nesse

22 Convém destacar que antes do surgimento no Brasil na década de 40 de grandes instituições assistenciaiscomo o SESI, o Serviço Social já tinha surgido nesse país, embora de forma incipiente, e teve sua origem emobras e instituições que começam a surgir após o término da Primeira Grande Guerra. À propósito, ver Iamamotoe Carvalho (1996,p.169-240). Em relação ao processo de institucionalização do Serviço Social enquantoprofissão reconhecida na divisão social do trabalho ver Iamamoto (1995 p.91-95).

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espaço sócio - ocupacional que a reconhece uma profissão intermediadora das relações

conflituosas entre trabalhadores e empregadores. É o que se pretende mostrar no item seguinte

voltado para o percurso histórico deste Departamento no período entre o fim de 1949 e

começo dos anos 80 e as competências exigidas para o assistente social.

1.2- A trajetória histórica do SESI/RN e as competências exigidas do assistente social.

Essa instituição assistencial que é o SESI surgiu no Brasil em uma conjuntura política,

econômica e social de acirramento da questão social, através dos fenômenos da urbanização e

da industrialização sob moldes capitalistas que provocaram o surgimento e/ou crescimento de

diferentes problemas sociais a partir das contradições entre capital e trabalho, expressas nas

condições de moradia, trabalho, acidentes, insuficiência alimentar, desagregação familiar,

abandono e mortalidade infantil (IAMAMOTO; CARVALHO 1995).

À medida que os fenômenos da industrialização e urbanização se expandem pelas

diversas regiões do país, ocorrem uma disseminação e diversificação desses problemas,

acompanhados de conflitos e pressões pela ampliação da cidadania social, exige do Estado e

da burguesia industrial um enfrentamento desses problemas mediante uma ação integrativa e

mobilizadora dos trabalhadores urbanos de forma controlada, com uma aparente incorporação

gradativa das suas reivindicações, por causa da necessidade de se possibilitar o livre

desenvolvimento do capitalismo no país. E uma das estratégias mais visíveis se concretiza na

expansão, para essas regiões, de instituições assistenciais como o SESI, que aparecem para

lidar com esses problemas, em resposta ao acirramento das contradições que emergem do

aprofundamento e expansão do capitalismo, e interferem na harmonia das relações de força

entre as classes. A finalidade maior, portanto, dessas instituições volta-se para o

apaziguamento dos conflitos entre capital e trabalho.

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Diante dessa lógica, expandem-se de forma gradativa delegacias regionais do SESI em

todos os estados brasileiros, inclusive o Rio Grande do Norte; sua delegacia foi criada em

22(vinte dois) de fevereiro de 1949, com sede em Natal.

O Rio Grande do Norte vivencia, nessa época, grandes mudanças. A cidade de Natal,

sede de uma das mais importantes bases para os aliados na Segunda Grande Guerra, sofre

significativas transformações de ordem política, econômica e social. Como mostra Gouveia;

Cavalcanti; Cardoso, et al (1993, p.22),

A presença do americano e a circulação abundante do dólar no mercado [...]provocaram ou aceleraram as correntes migratórias para Natal, como queforçando um processo peculiar de urbanização para o qual a cidade não estavarealmente preparada.

Outras questões problemáticas fazem ainda parte desse cenário, como o desenfreado

êxodo-rural, em razão da falta de políticas públicas de subsídios à população da zona rural,

vítima ao mesmo tempo de grandes secas e da modernização no campo, as quais expulsam

essa população para as cidades, essas não tendo nenhuma condição de autosustentação. Além

disso, havia a difícil situação de famílias de combatentes de guerra, “[...] cuja ausência dos

esposos ou filhos criava e/ou acentuava problemas de natureza tanto econômica como

psíquica e social” (GOUVEIA; CAVALCANTI; CARDOSO et al,1993, p.22).

Soma-se à urbanização a presença já visível no Rio Grande do Norte de alguns pontos

industriais especializados em cultura do algodão, salinas e minérios, aglutinando um número

expressivo de trabalhadores assalariados e submetidos a condições de trabalho precárias, o

que os levou a uma organização autônoma23 com vistas a melhorias nas suas condições de

trabalho.

23 Sobre a organização autônoma de trabalhadores no RN, em específico nas regiões salineiras em Macau, verFrancisco das Chagas da Silva em sua dissertação de mestrado: Trabalhadores em salinas: as condições de

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Assim, em 1949, quando se instalou a Delegacia Regional do SESI em Natal, havia

uma razão central para tal fato: a formação no estado de uma significativa parcela de

trabalhadores assalariados nas cidades em condições precárias que os levavam a várias formas

de resistência e organização. Delineava-se uma situação social que, semelhante a outras

regiões do Brasil, como o sudeste, passou a preocupar o Estado e a burguesia industrial, o que

confluiu na implantação no Rio Grande do Norte de um conjunto de profissionais, incluindo

assistentes sociais. Esses profissionais se aproximam da vida cotidiana do trabalhador

norteriograndense, até de suas formas de organização, visando a possibilitar, por um lado, a

melhoria de suas condições de vida através da prestação de alguns bens materiais e serviços

de cunho sócio-educativo; por outro, desmobilizá-lo em relação aos ideais de resistência

diante das relações e condições de trabalho.

Quanto a esses serviços, os mesmos se modificaram à proporção que a própria

estrutura organizacional do SESI/RN alterou-se em conseqüência de novas demandas e novos

objetivos organizacionais, o que por sua vez exigiu mudanças em termos de competências dos

profissionais, dentre os quais o assistente social.

Essas alterações, conforme pesquisa em documentos do SESI/RN24, apesar de não se

poder afirmar que provocaram entre os anos 40 e 80 uma profunda mudança na forma de

gestão no DR, é possível visualizar períodos bastante distintos, que neste trabalho perfazem

três etapas: uma que comporta os fins dos anos 40 até finais dos anos 50; uma segunda, entre

os anos 60 e 70, e a última nos anos 80. Em todas essas fases, à medida que os serviços

assistenciais se alteram, o Serviço Social sofreu diretamente as inflexões dessas mudanças. É

trabalho e as estratégias de resistência. DESSO/PPGSS/UFRN. Natal/RN.2004. Ver também, Geraldo Sabinoem História do sindicalismo no Rio Grande do Norte. Natal/RN: CLIMA,1985.24 O documento pesquisado para subsidiar esse item foi o Relatório feito em 1989 “Retrospectiva do ServiçoSocial da Indústria - SESI- Departamento Regional do Rio Grande do Norte — 40 Anos de Criação”, por ZéliaMaria F. da Silva- Coordenadora do Setor de Serviço Social do SESI/RN, na época.

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o que se pretende apresentar no sub-item a seguir, cujo objetivo é analisar as possíveis

mudanças de gestão e de competências exigidas do assistente social nesse órgão.

1.2.1- O SESI/RN entre os fins de 40 até a década de 50.

Em 1949, quando surge no Rio Grande do Norte uma Delegacia do SESI, esta passa a

seguir as diretrizes gerais do Departamento Nacional do SESI, diretrizes preocupadas com o

objetivo mais amplo e direto da instituição, o qual é conforme Iamamoto e Carvalho (1996,

p.281) contribuir para a ordem e a paz social do país através da contraposição à nova

conjuntura “[...] marcada pela ampliação das liberdades democráticas, ao fortalecimento da

organização autônoma do proletariado através de uma ampla política assistencial”.

Com esse fim, esta Delegacia estrutura-se em duas áreas: Serviço Social (a primeira a

surgir), e Administração, as quais se organizam em duas divisões respectivamente: a de

Orientação Social e a de Administração (tesouraria e pessoal) através de uma hierarquia

piramidal na qual no topo se encontra o delegado regional e logo depois os supervisores das

divisões. Nesta estrutura insere-se o assistente social, em especial na área de Serviço Social,

sendo-lhe exigido que tenha determinadas competências, como supervisionar todos os

serviços assistenciais da Divisão de Orientação Social, agrupados nas seções: de saúde,

jurídica e de Educação Social.

Convém ressaltar que o termo competência nas décadas de 40 e 50 não estava em

evidência como nos anos atuais. Vários autores de diferentes correntes teórico-metodológicas

que estudam essa categoria25mostram que somente nos anos atuais é que essa palavra adquiriu

25 A propósito de autores brasileiros que abordam essa questão pode-se citar alguns como: Fleury, A e Fleury,M. (2001); Kilimnick, Sant’anna & Luz (2004), Deluiz (2003); Manfredi (1998); Souza & Azeredo (2004);Paiva (1995); & Oliveira (2003). Em se tratando da realidade francesa, destacam-se Le Boterf (2003), Perrenoud(2000) e Ropé & Tanguy (1997).

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um lugar central devido às grandes transformações ocorridas no mundo do trabalho, nas

empresas e nas sociedades.

Como mostra Le Boterf (2003, p.16) “o conceito de competência, que acompanha o

profissionalismo, só ganhou importância no decorrer dos anos 80. Na década de 70, era a

noção de ‘qualificação’ que dominava [...]”. Autoras como Ropé e Tanguy (1997, p.17),

mostram também que:

[...] A noção de competência é uma dessas noções, testemunho denossa época [...] Entretanto não poderíamos dizer que essa noção teveduração de vida suficientemente longa para caracterizar um período eser capaz de se aplicar ao passado tão bem quanto ao presente;podemos, no máximo, assinalar que, por ter usos específicos nopassado, nem por isso ocupava um lugar tão central como hoje.

Falar em competência exigida do assistente social nesse SESI no marco histórico entre

as décadas de 40 e 50 significa compreendê-la como uma capacidade de agir26 diante de

atividades previstas no ambiente de trabalho em um determinado contexto sócio-histórico,

sendo estas atividades remetidas às características profissionais do trabalhador advindas de

um conjunto de conhecimentos adquiridos por este profissional em sua qualificação

profissional, por sua vez, entendida em seu conceito tradicional, conforme Deluiz (2003, p.2),

sendo

[...] componentes organizados e explícitos da qualificação do trabalhador:educação escolar, formação técnica e experiência profissional. Relacionava-se, no plano educacional, à escolarização formal e as seus diplomascorrespondentes e, no mundo do trabalho, à grade de salários, aos cargos e à

26 A partir da leitura sobre vários autores com perspectivas diferentes, como Le Boterf (2003) - perspectivaconstrutivista; e Deluiz (2003) -perspectiva crítica, compreende-se que essa capacidade de agir pode serentendida como uma síntese de saberes (saber, saber-fazer e saber – ser, dentre outros), sendo que até os anos 70,com as situações de trabalho menos imprevistas, sob modelos de produção prioritariamente com base notaylorismo/fordismo, a ênfase sobre esse saber agir voltava-se em especial para o saber (conhecimentos teóricos)e saber-fazer (saberes procedimentais) do que no saber ser (atitudes ético-políticas do trabalhador) que a partirdos anos 80 torna-se bastante enfatizado.

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hierarquia das profissões, sendo expressão histórica das relações sociaisdiversas e contraditórias estabelecidas no processo produtivo.

Nesse sentido, o SESI/RN ao requisitar o assistente social, exige-lhe a capacidade de

agir nas situações previstas na organização, relacionadas, em especial, à questão assistencial,

ao considerar que o profissional era portador de conhecimentos teórico-metodológicos sobre a

assistência ao indivíduo, grupo e comunidades. Note-se que, em razão dessa relação com a

assistência, ao assistente social é reservado um espaço de destaque na divisão sócio-técnica da

organização, sendo-lhe exigida, além da competência para supervisionar o trabalho de

diferentes profissionais, a de implementar todos os serviços assistenciais existentes na seção

de Educação Social, a fim de formar uma nova cultura na classe trabalhadora voltada para a

adesão ao novo cenário político e econômico capitalista, sendo ainda em 1955 acrescida a

exigência de mais uma competência: assessorar27a superintendência do então Departamento

Regional do SESI28.

Assim, em linhas gerais, do assistente social passam a ser exigidas, entre os fins dos

anos 40 até a década de 50, várias competências tanto relacionadas ao gerenciamento desse

regional, quanto voltadas para à prestação de serviços assistenciais, como se pode visualizar

no quadro a seguir:

27 Quanto ao surgimento desta assessoria técnica (staff), considera-se um elemento importante influenciado pelaTeoria Clássica da Administração, na qual, conforme Chiavenato (1983) defende-se a idéia da existência deórgãos de “staff” para fornecer serviços, conselhos, recomendações, assessoria e consultoria aos órgãos de linha,ou seja, aos órgãos que compõem a organização e que tem autoridade de comando de acordo com sua posiçãohierárquica da instituição. Os órgãos de “staff” não obedecem por sua vez, “[...] ao princípio escalar nempossuem autoridade de ‘staff’- é simplesmente autoridade de especialista e não de autoridade de comando”(CHIAVENATO,1983, p.80).

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01- Assessorar a superintendência do SESI/DR;02- Supervisionar os serviços assistenciais;03- Implementar os serviços assistenciais da secção de Educação Social;04- Atender os usuários (industriários e familiares destes) para informá-los e encaminhá-los aosserviços do SESI/RN;05- Orientar e executar planos de trabalhos criados pelo DN voltados para grupos de “Donas deCasa” organizados em bairros de Natal;06- Fazer levantamento social sobre a realidade industrial e dos sindicatos para a divulgação dostrabalhos do SESI/RN;07- Promover integração dos serviços oferecidos pelo SESI/RN;08- Intermediar as relações entre empresa e empregados, bem como entre SESI/RN e empresas.QUADRO 3 - Competências exigidas do assistente social no SESI/RN entre fins de 40 até a década de50

Compreende-se que no processo de efetivação dessas competências, o profissional

participa ativamente de uma construção/reconstrução destas através do trabalho, pois este

possibilita que o profissional, através de meios ou instrumentos de trabalho, imprima a um

objeto ou matéria-prima, “o projeto que tinha conscientemente em mira, o qual constitui a lei

determinante do seu modo de operar e ao qual tem de subordinar sua vontade” (MARX, 1989,

p.202).

Ao terminar o processo, estão ali expressos seus saberes, suas habilidades fundidas em

um resultado para qual, contribuíram em muito os instrumentos de trabalho. Surgem também

nesse processo novos interesses, novas necessidades, angústias, que possibilitam um

aprimoramento do indivíduo com o desenvolvimento de novas competências profissionais.

Competências que são reconhecidas, não só pelo trabalhador, mas também por outros

indivíduos em um determinado contexto histórico.

Assim, entende-se que os assistentes sociais ao fazer parte do SESI/RN no período de

1949 até final da década de 50 explicitavam através do trabalho, competências exigidas pela

organização e postas em prática através de conhecimentos já adquiridos. Mas, ao mesmo

tempo, vivenciavam em diferentes processos de trabalho, a construção/reconstrução de

28 Em 1955 é criado pela Federação das Indústrias o SESI, DR/RN (neste trabalho apresentado pela sigla

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competências por meio do trabalho profissional. Este, por sua vez, é constituído de prestação

de serviços29 com efeitos concretos, embora seja efetivado a partir do uso de meios e

instrumentos de trabalho que em sua maioria, não tem características materiais, mas sim, são

[...]organizados por diversas disciplinas do campo das ciências sociais eutilizados por diversas práticas sociais, para modelar o comportamentohumano, para racionalizar as relações entre os homens, atendendo a diferentesinteresses sociais. São instrumentos que potencializam a produção de atitudes,postura comportamentos adequados a estes diferentes interesses(TRINDADE, 2001, p.25).

É nessa forma particular de trabalho que o assistente social se insere para prestar

serviços de natureza predominantemente sócio-educativa e assistencial, bem como de caráter

investigativo e integrativo, no que diz respeito às diversas ações profissionais.

No desenvolvimento desses serviços, os determinantes sócio-históricos

influenciadores da estruturação dos processos de trabalho no âmbito organizacional em muito

influenciam para qual direção (seja crítica ou não) a capacidade de agir (ou competência) do

profissional se dirigirá. Mas não se trata apenas de uma determinação unilateral, pois nesse

processo de construção/reconstrução de competências e de qual direção às mesmas terão, há

também a influência importante do profissional e seus conhecimentos, valores e condutas

profissionais, importantes elementos nesse processo que explicitam o embasamento teórico-

metodológico do profissional.

No caso do período em foco (1949 até 1959), o assistente social do SESI, respalda-se

num projeto profissional acrítico em relação ao entendimento sobre a constituição e

desenvolvimento da realidade social, bem como sobre a forma de ação voltada para a

resolução dos problemas gerados na realidade social.

SESI/RN) em substituição à Delegacia de Natal/RN.29 Sobre o trabalho em serviços ver dentre outros, Karsch (1998); Costa (2000).

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Nessa época, no Brasil, o que predomina na profissão é a metodologia do Serviço

Social de Casos, Grupo e Comunidade que, conforme Trindade (2001) foi importada do

Serviço Social norte-americano, influenciado pela Sociologia norte-americana, e possuía,

além de seu caráter acrítico, uma forte influência da Psicologia e da Psicanálise que darão

importante suporte ao trabalho com grupos30.

Assim, entende-se que a exigência das competências no quadro acima apresentado,

bem como a sua construção/reconstrução pelos profissionais de Serviço Social, são

influenciadas por um forte cariz acrítico em relação ao foco estratégico da assistência aos

trabalhadores industriais e suas famílias, com a finalidade de minimizar os conflitos

decorrentes da organização capitalista de produção em desenvolvimento no estado

norteriograndense.

Como mostra Silva (1989, p.2), o Serviço Social na organização SESI, no período

entre 1949 a 1960 caracterizava-se como tradicional, ao ter um cariz “conservador, ajustador,

adaptador, fragmentado, com vista à harmonia entre capital e trabalho, pois assim era possível

o bem-estar social do trabalhador e a paz social no Brasil”. Já nos anos seguintes, novas

influências entram em cena na conjuntura deste país e rebatem diretamente no Serviço Social,

como mostra o sub-item a seguir.

1.2.2- O SESI/RN no período entre 1960 a 1979

O SESI do Rio Grande do Norte no contexto dos anos 60 e 70 vivencia algumas

mudanças na sua forma de gestão, em especial no que se refere aos elementos de controle e

avaliação, e exige novas competências para o assistente social. São mudanças que ocorrem em

razão do contexto político, econômico e social vigente no Brasil – período ditatorial-, que

30 A propósito ver Trindade (2001).

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trazendo novos desafios para as organizações produtoras de bens e serviços, bem como

impulsionando a reformulação dos projetos profissionais, dentre os quais o Serviço Social.

Em se tratando desse contexto, o Brasil, nos anos 60, mais especificamente em 1º de

abril de 1964, vive o Golpe Militar que, como mostra Dos Santos (1994), tratou-se de uma

“contra-revolução” de base burguesa em resposta a um contexto político no país que se

formara, através da organização de vários segmentos sociais e do despertar por parte de

muitos destes para estudos marxistas, o que colocava em risco o desenvolvimento do capital

internacional no Brasil.

Como mostra este autor, a política econômica que fundamenta esse processo ditatorial,

tem a perspectiva de modernizar a “[...] estrutura econômica, social e política do capitalismo

brasileiro, de maneira a abrir caminho para o grande capital monopólico internacional e

nacional” (DOS SANTOS, 1994, p.108).

Em conseqüência disso ocorrerá a modernização da empresa rural, acarretando o

aumento dos setores marginalizados da população. Nesse contexto, surge a necessidade da

criação de um modelo político-ideológico que garantisse pela força que

[...] os trabalhadores aceitassem a rebaixa dos seus níveis salariais, ao mesmotempo em que se montava uma gigantesca propaganda sobre o “milagreeconômico” como perspectiva para um futuro de glória. (DOS SANTOS,1994, p.123).

Esse período histórico marca um processo de modernização conservadora do Estado

que impulsionará mudanças em diversos âmbitos: políticos, econômicos, sociais e culturais da

sociedade brasileira e, por sua vez, rebaterá tanto nas diversas organizações institucionais

como nas competências desenvolvidas pelos diferentes profissionais nestas inseridos.

No que se refere às organizações produtoras de bens e serviços, em específico, no

SESI, estas mudanças impulsionam uma gestão com traços mais visíveis em termos de

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controle e avaliação das atividades, a fim de observar “[...] o nível de ajustamento dos

servidores ao serviço e à filosofia de ação da entidade” (SILVA, 1989, p. 23) e um dos

profissionais chamados para promover esse “ajustamento” é o assistente social, a partir da

criação do Grupo Especial de Programação (GEP) com funções básicas de sistematizar o “[...]

processo de planejamento, coordenação, controle e avaliação dos programas e realização de

estudos, levantamentos e análises, em função do trabalho” (SILVA, 1989, p.21) que será

implementado por uma equipe multiprofissional que desta inclui o assistente social.

Nesse período, o SESI estrutura-se nas áreas de educação, saúde, lazer e serviço

social, esta última, desmembrada em vários serviços com vistas à minimização dos problemas

sociais dos industriários e suas famílias, diante do crescimento industrial sob a égide

ditatorial. Dentre esses serviços encontram-se os de Serviço Social do Trabalho, Serviço

Social Familiar, Serviço Social para o Servidor do SESI, e o Serviço Social junto aos demais

campos, tratando de treinamentos de estagiários.

Portanto, há um aumento das competências exigidas do assistente social com

requisitos modernizadores, como se pode ver no quadro a seguir:

01- Prestar assessoria técnica à superintendência do SESI/RN;02- Trabalhar em equipes multiprofissionais;03-Exercer a superintendência do SESI/RN;04-Assessorar as organizações sindicais, inclusive da construção civil;05-Articular todas as áreas de serviços assistenciais do SESI/RN;06-Coordenar a área de Serviço Social;07-Desenvolver ações junto às empresas, famílias de industriários, aos servidores do SESI/RN , aosestagiários e às demais áreas existentes;08-Planejar e elaborar pesquisas sociais com sugestão de medidas para melhoria no campo socialda empresa;09-Assessorar a constituição de Comissões Internas de Prevenção a Acidentes- CIPA’s.QUADRO 4-Competências exigidas do assistente social no SESI/RN entre as décadas de 60 e 70.

Ressalte-se que neste período em estudo a exigência explícita da organização quanto a

essas competências, a exemplo do período anteriormente estudado (fins de 40 até 1959), está

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pautada em requisições de atributos próprios da qualificação profissional pretérita do

trabalhador. Embora entre os anos 60 e 70 na gestão do SESI observe-se a existência de

alguns mecanismos internos de construção/reconstrução das competências profissionais, estes

ainda são incipientes. Dentre os mecanismos, pode-se apontar o Encontro de Avaliação de

Atividades com os Dirigentes do DR e a estruturação pelo GEP, em 1979, de reuniões

mensais de avaliação e controle dos programas a serem desenvolvidos, bem como a

participação de assistentes sociais em cursos de atualização e especialização.

Neste contexto, os assistentes sociais do SESI/RN são impelidos, através do

reordenamento e surgimento de novos processos de trabalho, a construírem/reconstruírem

competências, constituindo-se, pois, um desafio que exige uma atualização com novos

elementos teórico-metodológicos. Trata-se inclusive, de um período em que estes são

evidenciados em um debate profissional que resulta ainda na década de 70 na criação de um

outro projeto profissional para atender aos novos requisitos do Estado e das demais

organizações empregadoras, através de “[...] atividades de planejamento, coordenação,

acompanhamento e avaliação de programas sociais, além das atividades de execução final,

que já lhes eram peculiar” (TRINDADE, 2001, p.32).

Trata-se, segundo Netto (1996), da vigência da “autocracia burguesa”, quando

acontecerá uma diferenciação e uma redefinição profissional dos assistentes sociais. É um

período que sinaliza à profissão de Serviço Social um processo de Renovação marcado por

mudanças, continuidade e intenção de ruptura31.

Assim, a lógica da autocracia burguesa, mesmo não tendo como estratégia

deslegitimar o Serviço Social tradicional provoca, contraditoriamente, novas respostas

profissionais, diante das requisições postas pela dinâmica da sociedade brasileira.

31 Como mostra Netto (1996, p.131) entende-se por renovação “[...] o conjunto de características novas que, nomarco das constrições da autocracia burguesa, o Serviço Social articulou, à base do rearranjo de suas tradições eda assunção do contributo de tendência do pensamento social contemporâneo, procurando investir-se como

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E, em especial, a partir de meados da década de 60, muitas mudanças aconteceram,

principalmente a partir da reformulação provocada pelo Estado, a qual, segundo Netto (1996,

p.121),

[...] foi tanto organizacional quanto funcional: não implicou só umacomplexificação (a que correspondeu uma vaga de burocratização) dosaparatos em que se inseriam os profissionais; acarretou igualmente umadiferenciação e uma especialização das próprias atividades dos assistentessociais, decorrentes quer do elenco mais amplo das políticas sociais, quer daspróprias seqüelas do “modelo econômico”.

Soma-se a essas mudanças a expansão do mercado de trabalho para o assistente social

em médias e grandes empresas, pelo que se pode falar de um “Serviço Social de empresa”

(NETTO,1996, p.22).

É nesse contexto que se justifica a exigência de novas competências para o Assistente

Social no SESI/RN com a finalidade de o profissional dar conta da nova racionalidade

burocrática administrativa. Nas palavras de Netto (1996, p.123), “[...] mudou o perfil do

profissional [...] exige-se um assistente social ele mesmo ‘moderno’- com um desempenho

onde traços ‘tradicionais’ são deslocados e substituídos por procedimentos ‘racionais”.

Em vista disso requisita-se, dentre outras coisas, um crescente intercâmbio com outros

profissionais através de equipes multiprofissionais, ao mesmo tempo em que se provoca a

inserção do assistente social no âmbito universitário, lócus repassador de conhecimentos

ligados à Sociologia, Psicologia Social e Antropologia.

Sob a autocracia burguesa essas novas situações causam, num jogo contraditório,

reflexões e mudanças impulsionadoras de uma laicização da profissão 32 que, na passagem

para os anos 70, alcançará maiores proporções e será visualizada através da formação do

instituição de natureza profissional dotada de legitimação prática, através de respostas a demandas sociais e dasua sistematização, e de validação teórica, mediante a remissão às teorias e disciplinas sociais”.

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debate teórico-metodológico sobre a profissão. É um período em que o próprio Serviço Social

torna-se objeto de reflexão, e trava uma luta por um maior reconhecimento no plano

intelectual. É nesse período propício a novas competências para o assistente social que ocorre

a construção de um projeto de cunho modernizador para a profissão de Serviço Social e se

vincula a uma das direções principais citadas por Netto (1996) que é a vertente

modernizadora33, no qual está presente a preocupação de superar o Serviço Social tradicional,

mas numa perspectiva conservadora. Esta preocupação e a conseqüente erosão do Serviço

Social tradicional no Brasil embora precipitada pela autocracia burguesa, já se desenvolvia a

partir da segunda metade da década de 50 devido ao processo de industrialização pesada

(NETTO, 1996,p.137) que apresentava demandas de intervenção sobre a questão social que

exigia do profissional de Serviço Social a adoção de novos procedimentos e estudos.

É nesse período de mudanças perceptíveis para o Serviço Social que o SESI/RN

também se reformula criando mais espaços de capacitação com vistas

construção/reconstrução de competências para os assistentes sociais, enfatizadas numa ótica

acrítica, embora envolvendo conhecimentos mais racionais e interdisciplinares. Será somente

a partir dos anos 80 que essa ótica conviverá com a influência de reflexões críticas através dos

Treinamentos Integrados Regionais-TIR’s, como será mostrado no decorrer do próximo sub-

ítem.

32 Segundo Netto (1996, p.128) essa laicização é composta por uma “diferenciação da categoria profissional emtodos os seus níveis e a conseqüente disputa pela hegemonia do processo profissional em todas as instâncias(projeto de formação, paradigmas de intervenção, órgãos de representação, etc)”.33 Além da direção modernizadora, preocupada com a adequação do Serviço Social às exigências postas pelodesenvolvimento capitalista pós-64, surge em fins dos anos 70 a vertente chamada por Netto (1996,p.159) de“intenção de ruptura”, a partir de setores profissionais que não concordam com o viés conservador que amodernização aderida pela profissão possuía. Não se tratava na época uma perspectiva hegemônica na profissão,devido a conjuntura do Brasil. Havia ainda a vertente reatualização do conservadorismo que “[...] recupera oscomponentes mais estratificados da herança histórica e conservadora da profissão, nos domínios da (auto)representação e da prática, e os repõe sobre uma base teórico-metodológica que reclama nova, repudiando,

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1.2.3 – O SESI/RN na década de 80

Os anos 80 no SESI do Rio Grande do Norte refletem a realidade do Brasil, que se

apresenta como um período de ascensão de diversos segmentos sociais devido ao processo de

redemocratização do País; processo em que pensamentos e bandeiras de lutas reprimidas

durante a ditadura de 64 voltam à cena brasileira, ocasionando novas relações de força entre

os segmentos dominantes, partidos políticos e os trabalhadores.

Entre os vários movimentos que surgem, destaca-se em nível nacional o das Diretas

Já, que se volta para a eleição direta do primeiro Presidente da República, após o golpe de 64,

bem como o debate sobre a saúde, a assistência, a previdência, entre outros.

Em se tratando da assistência, esta passa a ser considerada pela Constituição

Federativa do Brasil, construída nessa década, uma política de Seguridade Social34, o que

constituirá em um avanço e um ponto importante a somar no processo de democratização do

País.

Outros movimentos em destaque na época referem-se aos de determinadas profissões

como a do Serviço Social, que, nesse período, no Brasil, vivenciará a expansão do movimento

de renovação profissional, com vistas a romper com o projeto modernizador hegemônico na

profissão e adotar uma direção crítica para a compreensão da realidade social capitalista.

Quanto a esta direção ou vertente já citada em páginas anteriores terá a partir dos anos

80 mais força para se evidenciar na sociedade brasileira diante da conjuntura do País. Surge

nesse período o que Trindade (2001, p.35) chama de

simultaneamente, os padrões mais nitidamente vinculados à tradição positivista e às referências conectadas aopensamento crítico-dialético, de raiz marxiana” (NETTO, 1996, p.157).

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[...] um movimento mais forte de renovação profissional, cujas premissaspõem em questão toda a base profissional até então construída, tanto nasformulações teóricas quanto na prática, no interior das instituições.

Nos meados dos anos 80, o esforço com a ruptura do Serviço Social tradicional

adquire maior força, a partir de estudos realizados em literatura de raiz marxiana, estudos

esses que chegarão até os assistentes do SESI/RN através dos TIR´s35, e que influenciarão na

construção/reconstrução das competências exigidas a esses profissionais apresentadas no

quadro abaixo:

01- Coordenar a área de Serviço Social;02- Mobilizar as CIPA’s para formação do Grupo de Representantes;03- Desenvolver encontros de supervisores de segurança no Trabalho;04- Organizar eventos (encontros de CIPA’s na indústria, encontro de pais do pré-escolar;05- Assessorar líderes sindicais em cursos de capacitação profissional;06- Fazer curso de supervisor de segurança no trabalho;07- Fazer avaliação do GEP;08- Fazer pesquisa sobre a realidade de empresas;09- Assessorar o planejamento do DR, através da Assessoria de Coordenação e Planejamento-ACOPLAN.Quadro 5 - Competências exigidas do assistente social no SESI/RN na década de 80.

Essas competências refletem uma preocupação do SESI/RN em atender novas

demandas, enfatizadas na época sobre a área de saúde e segurança no trabalho36, bem como a

de educação, o que trará novos desafios para os profissionais, especialmente os assistentes

sociais, que terão que se aproximar de conhecimentos relacionados a essas áreas.

É perceptível que o SESI/RN já demonstre nessa década uma maior preocupação para

com a capacitação dos profissionais, principalmente através dos TIR’s para com os assistentes

34 Conforme o texto da Constituição Federativa do Brasil de 1988, dispõe no seu art. 194 que a “SeguridadeSocial compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadoa assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social”.35 Os Treinamentos Integrados dos Regionais - TIR’s surgem nos anos 80 através do SESI, DR/RN quando estepassa a ter como uma das linhas básicas o “treinamento dos servidores, em diversos níveis, capacitando-os paraatingirem mais elevados índices de produtividade e melhor qualificação no trabalho” (SILVA, 1989, p.46).36 De acordo com Freire (2003, p.42) na realidade brasileira existe toda uma trajetória histórica sobre a legislaçãobrasileira referente à saúde do trabalhador, desde 1917. Mas, o movimento atinge seu ápice com as principaisconquistas sociais dos anos 1970 e 1980, da Constituição Federativa do Brasil de 1988 e os Programas de Saúdedo Trabalhador implantados nas Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde do País. As mudanças na

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sociais, ao mesmo tempo em que busca aperfeiçoar o seu espaço de planejamento, através da

criação da ACOPLAN e incentivar os seus trabalhadores através da aprovação do Plano de

cargos e salários.

Trata-se de uma estratégia organizacional, sob as diretrizes do próprio DN, de buscar

formas para não entrar em crise em razão das reduções significativas no plano orçamentário,

ao mesmo tempo em que no caso do SESI/RN presencia uma realidade vivenciada pelos

industriários que se torna ainda mais difícil devido à “[...] recessão econômica, cujos danos à

região ainda não podem ser devidamente avaliados, somados ao flagelo de cinco anos de

seca” (SILVA, 1989, p.48).

A recessão econômica torna-se bastante visível diante das conseqüências provocadas

pelo processo da Ditadura recentemente vivenciada pelo país, e soma-se às conseqüências de

um projeto social divergente do projeto universalista previsto na Constituição Federativa do

Brasil de 1988. Trata-se do projeto neoliberal que no Brasil aparecerá a partir dos anos 80 e

causará um reordenamento entre o Estado e a sociedade. Como diz Iamamoto (2002, p.33),

“[...] subordina os direitos sociais à lógica orçamentária, a política social, à política

econômica, em especial às dotações orçamentárias e, no Brasil, subverte o preceito

constitucional”.

Nessa época, o Brasil passará a viver um processo crescente de reestruturação

produtiva que provocará um grande número de demissões mediante a “substituição do caráter

de massa na organização da força de trabalho pelas equipes técnicas encarregadas pelo

controle das cabines de comando” (DOS SANTOS, 1994, p.238). Ocorre, inclusive, uma

substituição gradativa por parte das organizações institucionais dos modelos de produção

legislação exigiram do SESI, assim como diversas outras instituições, um cuidado especial sobre a questão dasaúde e segurança no trabalho.

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antes pautados no fordismo/taylorismo por um modelo de acumulação flexível como o

toyotismo37.

Diante desse panorama, a instituição SESI, em seu plano nacional, realizará um

diagnóstico processual das suas áreas de atuação para definir a política destas e dos programas

nacionais. O cerne da preocupação está por um lado, em implementar a assistência social

levando em consideração princípios da Constituição Federativa do Brasil de 1988, na qual a

assistência é entendida como política social constituinte da Seguridade Social (YASBECK,

1995); e, por outro lado, reformular-se de modo que não entre em crise, devido ao déficit

existente sobre o número de contribuições das indústrias brasileiras.

Nesse cenário o SESI/RN também sofrerá uma diminuição do número de

contribuições e buscará a buscar novas estratégias de atuação sobre os problemas dos

industriários. Nessa busca, enfatizará mais uma vez a importância do assistente social, ao

exigir do profissional a competência para pesquisar a realidade do trabalhador industriário.

Esse estudo acarretará, ainda nessa década, a criação do Programa de Alimentação do

trabalhador de Indústria, uma estratégia para minimizar as precárias condições em que vivem

os trabalhadores industriários norteriograndenses diante das relações capitalistas de trabalho.

Os assistentes sociais nessa década são submetidos a uma avaliação da organização,

através da qual são apresentados alguns problemas, como a dicotomia entre teoria e prática,

através de um processo em que “[...] os assistentes que executavam a programação se

ocupavam apenas da prática, enquanto a teoria foi assumida por aqueles que exerciam as

funções de coordenação e supervisão” (SILVA, 1982, p.10).

Soma-se a esse problema a fragmentação da prática do Serviço Social e a inadequação

da prática à realidade. Esses dados serão importantes para que esses profissionais busquem

redefinir suas competências diante das exigidas, através de estratégias como: refletir sobre a

37 Antunes (1999:26) entende o Toyotismo como um modelo de Produção “voltado e conduzido diretamente pelademanda”.

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utilização da prática como fonte de teoria, ter como base a realidade concreta do seu trabalho,

redefinir os objetivos do Serviço Social, embasando-se o conhecimento concreto da realidade

e a delimitação do âmbito de atuação do Serviço Social, definindo “a clientela a ser atingida, a

área de atuação e a metodologia a ser utilizada” (SILVA, 1982, p.11).

Assim, pode-se perceber que dos finais de 40 até os anos 80 há um movimento que

impõe uma constante construção/reconstrução de competências para o assistente social,

movimento esse que é fruto tanto das determinações macrossociais que refletem na

organização SESI/RN, haja vista as políticas sociais implementadas na organização, como

também decorrente de modificações nas perspectivas teórico-metodológicas que o Serviço

Social assume em seus projetos profissionais nas diferentes épocas.

Em termos do SESI/RN, dentre os três momentos sinalizados será em especial nos

anos 80 que esta organização buscará construir/reconstruir com maior ênfase as competências

de seus profissionais, em específico dos assistentes sociais, num contexto que impõe reflexões

sobre as mudanças significativas na gestão organizacional com vistas à criação de novas

estratégias para superação da crise orçamentária, ao mesmo tempo em que o movimento da

categoria profissional põe em evidência uma reflexão crítica sobre a ação do assistente social

que conviverá com traços acríticos presentes no cotidiano de trabalho desses profissionais,

estes incentivados pela própria ótica organizacional.

É esse contexto que se constituirá o germe para, nos anos 90, em especial a partir de

meados desta década, serem melhor estruturadas algumas mudanças significativas no que diz

respeito à gestão do SESI/RN e suas inflexões nos diferentes profissionais, dentre os quais,

assistentes sociais, bem como à natureza dos serviços prestados na organização, como se

pretende mostrar no capítulo a seguir.

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CAPITULO 2 – A GESTÃO DO SESI NA ATUALIDADE E AS NOVAS

COMPETÊNCIAS DO ASSISTENTE SOCIAL

Para estudar a gestão do SESI Natal/RN hoje, bem como as novas competências para o

assistente social, faz-se necessário levar em consideração as mudanças ocorridas no Brasil,

em especial a partir dos anos 90, em face do reordenamento das relações entre o Estado e a

sociedade, associado ao aprofundamento da globalização das relações capitalistas e uma

conseqüente competitividade por parte das empresas, através de mecanismos como o

“alinhamento definitivo das políticas de recursos humanos às estratégias empresariais,

incorporando à prática organizacional o conceito de competência, como base do modelo para

se gerenciarem pessoas” (FLEURY, A e FLEURY, M. 2001, p.64).

Trata-se de um alinhamento que provoca uma reestruturação em diversas instituições

no Brasil, como por exemplo, o SESI, que a partir de meados da década de 90 traça uma nova

forma de gestão expandida pelos seus diversos regionais.

A partir dessa constatação, este capítulo tem o objetivo de demarcar e analisar as

modificações ocorridas na gestão do SESI do Rio Grande do Norte, ocorridas através de uma

reorganização dos processos de trabalho, estes entendidos tanto quanto a “realização objetiva

do trabalho, como a materialização das relações entre os agentes diferenciados do processo

produtivo” (BARBOSA; CARDOSO; ALMEIDA, 1998, p.116), e, a partir desta

reorganização a exigência da construção de novas competências pelos profissionais que fazem

parte da divisão sócio-técnica da Organização, em específico o assistente social.

Nesse sentido, pretende-se também pontuar e analisar as competências exigidas, pelo

SESI, Natal/RN, desse profissional que, a partir de meados dos anos 90 não mais terá uma

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área específica de Serviço Social na divisão de trabalho, mas sim, será submetido a novas

formas de organização do trabalho coletivo, constituídas de novas características, como a

transferibilidade entre diversas áreas e a inserção em equipes interprofissionais sob uma

lógica predominante da mercantilização dos serviços prestados.

2.1 - O SESI/RN a partir dos anos 90.

Na passagem dos anos 80 para os anos 90, o Brasil, em suas dimensões políticas e

econômicas, estabeleceu um pacto de dominação entre Estado, capital financeiro internacional

e o capital produtivo nacional. Tratou-se de um pacto conforme Montaño (2004), adepto do

projeto neoliberal e firmado em três pilares fundamentais extremamente articulados. O

primeiro volta-se para o combate ao trabalho através do desmonte dos direitos trabalhistas e a

desmobilização das bandeiras de lutas dos movimentos representativos. O segundo explicita-

se na reestruturação produtiva, visualizada pela flexibilização da produção e a adoção de

modelos de gestão, como o toyotismo, que se mesclam a modelos como o

fordismo/taylorismo. E o terceiro diz respeito à reforma do Estado de direitos que,

consolidado na Constituição Federativa do Brasil de 1988, passa a ser desmontado,

principalmente, a partir da década de 90, por meio de estratégias que, por um lado, extinguem

ou precarizam os direitos já conquistados pelos trabalhadores; e, por outro lado, incentivam a

privatização dos serviços, a descentralização de responsabilidades para os municípios e

enfatiza a refilantropização38 dos serviços sociais.

Note-se que, diante desse reordenamento, as diversas organizações institucionais

existentes no país passam a criar novas estratégias para se adequar ao novo panorama político

38A refilantropização dos serviços sociais está relacionada à própria refilantropização do trato da questão socialna medida em que, apesar do avanço da Constituição Federativa do Brasil/88, a partir dos anos 90 tem sido cadavez mais subordinado aos interesses políticos e econômicos. A respeito ver dentre outros autores, Yasbeck, M.

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e econômico, como é o caso do SESI do Rio Grande do Norte, que, a exemplo dos demais

regionais presentes no País, desenvolve uma progressiva reestruturação organizacional.

Observe-se que, de forma especial, a partir de meados dos anos 90, este SESI se

caracterizará pela mercantilização dos serviços institucionais, pela adoção de profissionais

terceirizados, pelo reordenamento e/ou desaparecimento de setores como os de Serviço Social

e Cooperação e Assistência, a partir da nova forma de gestão, pautada no modelo de

competências, e guiada por uma política de qualidade total.

É um processo que faz parte de uma reestruturação no mundo do trabalho mais ampla,

em que o capital busca dar respostas às suas próprias crises e encontra como estratégia a

substituição gradativa de uma produção em massa sem muita preocupação com a qualidade

para uma produção em pequena escala, flexível e atenta às demandas do consumidor. Além

disso, provoca mudanças nas redes de comunicação e na divisão social do trabalho, através da

diminuição da divisão hierárquica dentro das organizações institucionais, do estabelecimento

do encargo de mais de uma função para o mesmo trabalhador - a polivalência, da terceirização

e da flexibilização das relações de trabalho, numa perspectiva de restaurar economicamente o

capital.

Com base em Harvey (2000, p.135) compreende-se que essas mudanças fazem parte

de um processo que começa a se delinear nos países de economia capitalista avançada entre os

anos 1965 a 1973 e se explicita pela “incapacidade do fordismo e do keynesianismo de conter

as contradições inerentes ao capitalismo”.

Essa realidade impulsiona o surgimento de um novo regime de acumulação intitulado

por esse autor de acumulação flexível que se contrapõe às formas rígidas de organização do

trabalho do modelo fordista e se apóia em formas flexíveis de processos de trabalho, nos

mercados, no campo da produção e de formas de consumo. Tem como características:

Carmelita. A Política Social Brasileira nos Anos 90: a refilantropização da questão social. Cadernos ABONG.1995.

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O surgimento de setores de produção inteiramente novos, novas maneiras defornecimento de serviços financeiros, novos mercados e, sobretudo, taxasaltamente intensificadas de inovação comercial, tecnológica e organizacional(HARVEY, 2000, p.140).

A partir desse regime, emergem novos processos de gestão. Como mostra Pimenta

(1999), revelam-se nas relações de trabalho contemporâneas com base em quatro indicadores

principais: a mudança do paradigma taylorista/fordista, a transformação social das

empresas, a emergência de um novo “modelo” de trabalhador e a transformação do trabalho

em termos de concepção e realização. São indicadores que se expressam na realidade

brasileira, em específico, no SESI como se pôde constatar na pesquisa realizada.

Quanto ao indicador mudança do paradigma taylorista/fordista, esta autora ressalta

que, no caso brasileiro, mesmo não havendo consenso sobre a implantação do modelo japonês

- o toyotismo em substituição total a este paradigma, observa-se hoje a implantação de uma

gestão de Recursos Humanos – RH, estratégia utilizada para modificar as relações de trabalho

nas empresas39, visto que a nova forma de organização do trabalho (o toyotismo) considera a

necessidade de se investir em ações voltadas para os trabalhadores envolvidos na produção

para que estes desenvolvam bem suas atividades.

Esta estratégia se faz presente no SESI, a partir de 1995, quando surge a preocupação

com a criação de uma gestão participativa que possibilitasse o engajamento dos trabalhadores

através da criação de um setor de RH que incentivasse o “[...] exercício da criatividade, o

assumir a responsabilidade com os riscos e compartilhar o sucesso” (SERVIÇO SOCIAL DA

INDÚSTRIA,1995, p. 11). Esta gestão passa a ser implementada sob uma hierarquia piramidal,

na qual o poder maior é delegado ao diretor (Presidente da Federação das Indústrias) e em

39 Sobre as possíveis diferenças em relação à implantação do modelo toyotista no Japão e no Brasil, bem como aexistência de uma mesclagem entre o toyotismo e fordismo no Brasil, ver Druck, G. em seu texto A “Cultura daQualidade” nos anos 90: a flexibilição do trabalho na indústria petroquímica da Bahia. In: MOTA, A.E. (Org) ANova Fábrica de Consensos. 2. ed. São Paulo: Cortez. 2000.

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ordem decrescente ao superintendente. De forma horizontal, estruturam-se as coordenações

básicas do SESI: Coordenação de Unidades de Assessoria Jurídica; a Coordenação da

Unidade Integral de Administração e Finanças - UNIAF; e a Coordenação Operacional das

áreas de Saúde, Educação e Lazer.

Dentre essas Coordenações, a UNIAF inclui em seus setores a Divisão Integrada de

Desenvolvimento de Pessoas e Qualidade (DIPEQ) e, portanto, mantém uma ligação com

outros setores da organização, em específico com a Assessoria de Planejamento (ASPLAN),

setor que assessora a Superintendência do SESI – ver Organograma do SESI, DR/RN (2005 –

anexo A).

Trata-se de uma nova forma de gestão que condiz com uma lógica mais ampla

visualizada em nível mundial, e funciona com base em três elementos estratégicos: o

planejamento estratégico, o monitoramento estratégico focado na qualidade total, e o

desenvolvimento de Recursos Humanos (Anexo B - Funcionograma do SESI, DR/RN, 2005).

Como mostra Chiavenato (1999, p.04), “Para mobilizar e utilizar plenamente as

pessoas em suas atividades, as organizações estão mudando os seus conceitos e alterando as

práticas gerenciais”. Se a preocupação até os anos 90 era muito mais voltada para a estrutura

organizacional, a partir deste ano, o que passa a ser centro das atenções são os aspectos

dinâmicos e, portanto “[...] as pessoas passam a ser a principal base da nova organização”

(CHIAVENATO, 1999, p.4).

Essa nova perspectiva tende a provocar uma mudança de nomenclatura: o que antes

era chamado de Administração de Recursos Humanos, ARH, passa ser considerado como

Gestão de Pessoas. Não significa apenas uma mudança de nomenclatura, uma vez que a

mudança para o termo “gestão de pessoas” é uma estratégia dos detentores dos bens de

produção para conseguir maior engajamento dos trabalhadores, os quais detém conhecimentos

importantes para o maior enriquecimento das organizações.

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Note-se que a lógica que passa a ser instituída no SESI a partir de meados de 90

ocasiona a construção dessa gestão, entendida como

[...] a administração que detém o conhecimento dos fins últimos daorganização, das normas e das regras que regulamentam as práticas daprodução e, principalmente, das relações sociais e pessoais que se processamno interior das fábricas. O poder incorporado em um grupo seria, ao mesmotempo concreto e abstrato, através de um novo discurso que anuncia uma novarealidade: “a participação de todos” (PIMENTA, 1999, p.138).

Refere-se a uma “[...] engenharia cultural como nova forma de controle e dominação e

que se legitima pela utilização mesmo do substrato cultural” (PIMENTA, 1999, p.139).

Engenharia que, no caso do SESI, passa a ser implantada com o desenvolvimento de cursos,

congressos e seminários na área de qualidade com o foco principal no cliente, através do

Programa Nacional de Desenvolvimento Humano (PNDH) apoiado pelo Departamento

Nacional (DN) do SESI, bem como a criação de uma gestão compartilhada entre o Sistema

FIERN: SESI/ SENAI/IEL, envolvendo a área-meio como os setores de Recursos Humanos e

transportes com o objetivo de promover integração de uma política com ênfase na qualidade,

além de possibilitar a complementariedade das ações e reduzir custos.

São mudanças que conformam, também, um outro indicador citado por Pimenta

(1999) que se refere à transformação social das empresas. Estas, diante da instabilidade do

mercado, se vêem obrigadas a constantes renovações e em adaptação permanente às “[...]

necessidades e aos modos do mercado, aos prazos estipulados e à constância da qualidade,

considerada como aspecto referencial e distintivo” (PIMENTA, 1999, p.130).

A tendência é que as empresas dêem ênfase ao seu potencial humano e à sua cultura

para, em troca, solicitar maior engajamento, tanto individual quanto coletivo, de seu pessoal

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na qualidade do trabalho desenvolvido. E é isso que no SESI investe para garantir a produção

de serviços de qualidade postos à venda40.

Surge, então, a preocupação com a criação no DR de Programas de Qualidade Total

(PQT’s)41. Os PQT’s, bem como o surgimento de Círculos de Controle de Qualidade

(CCQ’s), são estratégias apresentadas para a reestruturação produtiva no Brasil. No caso do

SESI, apesar de em 1997 já existir preocupação com uma política de qualidade, somente em

2000, com a elaboração do Planejamento Estratégico do SESI – 2000 a 2004 começa a haver

a delineação clara dessa política e a organização de grupos de auditores para avaliar os

processos de trabalho. É quando se visualiza a formação de grupos que, apesar de não

receberem o nome de CCQ’s, têm essa finalidade, pois esta se trata da constituição de

[...] pequenos grupos de trabalhadores para analisar o processo produtivo epropor melhorias, sendo utilizado o saber e a experiência do trabalhadorprioritariamente para a redução dos custos com um apelo simbólico sobre apossibilidade de interferir no processo de trabalho (FREIRE, 2000, p.185).

Saliente-se que, no caso brasileiro, como mostra Andrade (2000, p.175) estas

estratégias surgem em razão da crise econômica vivenciada pelo país nos anos 80, que “[...]

gerou pressões pelo aumento de exportações e modificou de forma substantiva os patamares

de competitividade nas empresas nacionais”, levando essas empresas a buscar inovações no

40 Ressalta-se que o SESI/RN passou a cobrar pelos serviços prestados desde 1997, o que representa umamudança radical nessa organização, visto que até então os serviços fornecidos eram uma forma de repassar aosindustriários e seus familiares, parte do valor que aqueles produziam nas indústrias em forma de assistência.Agora, embora com um preço abaixo do mercado, estes e demais indivíduos da sociedade têm de pagardiretamente pelos serviços usufruídos, o que se torna ainda mais difícil para a população diante da privatizaçãogradativa dos serviços públicos, inclusive os de saúde, a partir dos anos 90.41 Quanto à Qualidade Total esta é uma perspectiva que nos dias atuais encontra-se bastante difundida em nívelmundial. Conforme Andrade (2000, p.177), surgiu no início dos anos 20 do século XX e o foco da atenção erapara o controle do produto final. Mas, o mecanismo evoluiu, “[...] através de normas escritas, dos padrões erequisitos para cada etapa do processo produtivo, com o objetivo de garantir qualidade uniforme todos osserviços e produtos”. A partir dos anos 60, do século passado, o foco dos PQT’S voltou-se para a gestãoempresarial e satisfação dos clientes, e alcançou a partir dos anos 90 conotação ampla: “a vontade fixa daempresa em fazer produtos de qualidade ou prestar serviços de qualidade” (idem).

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campo tecnológico: novas formas de gestão, que de início encontrará resistências tanto dos

empresários quanto do movimento operário- sindical.

Já nos anos 90 a preocupação com PQT’s não é apenas mais uma questão do mundo

empresarial, mas passa a fazer parte da agenda do Governo Federal brasileiro, que em 1990

cria o Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade (PBQP) adotado por várias

empresas42. Como mostra Andrade (2000, p.177),

Segundo o jornal Folha de S. Paulo (20/3/94), uma pesquisa realizada pelaconsultoria Price Waterhouse em 1993, junto às mil maiores empresasbrasileiras, mostrou que 60,9% estavam implementando um programa internode Qualidade Total e em 21,1% o programa já existia, mas ainda não estavaimplementado.

Ao relacionar as estratégias do capital e do Estado capitalista torna-se possível

entender um outro indicador presente na sociedade hoje a emergência de um novo ‘modelo’

de trabalhador (PIMENTA, 1999). Ou seja, diante das modificações exigidas pela

reestruturação produtiva, surge a necessidade de que os trabalhadores modifiquem-se tanto no

plano objetivo quanto no subjetivo. Trata-se da criação de uma nova escala de valores que

Implica o trabalhador total, o aproveitamento de sua inteligência, sualiberdade, sua vontade através da participação e integração à empresa,processada em moldes diferentes dos tradicionais (PIMENTA 1999, p.133).

Termos como competência, ao lado de outros como flexibilidade, empregabilidade,

polivalência e transferibilidade ganham destaque diante da reestruturação produtiva. Como

mostra Oliveira (2003, p.32), os conceitos de competência, empregabilidade e flexibilidade

surgem tanto para adequar a educação à nova ordem econômica, representando “estratégias

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das elites visando retirar da materialidade das relações capitalistas a responsabilidade pela

exclusão social e pelo desemprego em massa”.

A competência carrega a idéia hoje de ser requisito para que a empregabilidade se

realize. Na atualidade a lógica do capital é “[...] impor um modelo de trabalhador segundo o

seu desejo” (OLIVEIRA, 2003, p.37) e, por isso, não se necessita mais apenas das

qualificações disponíveis pelo cidadão, mas ele deve possuir as competências que interessam

à nova cultura do trabalho. É o que se pode considerar como a exigência da competência

entendida como a capacidade para agir diante de situações previstas e imprevistas no

ambiente de trabalho em um determinado contexto sócio- histórico.

Essa noção implica hoje não só o acúmulo do saber escolar ou técnico-profissional,

mas a capacidade de mobilizá-los a fim de resolver os problemas e imprevistos de trabalho.

Como bem mostra Deluiz (2003, p.2), “Os componentes não organizados da formação, como

as qualificações tácitas ou sociais e a subjetividade do trabalhador, assumem extrema

relevância”.

A competência nessa ótica torna-se preocupação central nas gerências, e esse fato “[...]

não dar maior liberdade ao trabalhador e muito menos maior autonomia” (OLIVEIRA, 2003

p.38). É um processo de recomposição da hegemonia do capital, que impõe uma

“ressignificação” de qualificação na qual as diversas expressões do saber “[...] começam e

terminam onde o capital determina” (OLIVEIRA, 2003, p.39), bem como implicam cada vez

mais um menor distanciamento entre a vida privada do trabalhador e o seu local de trabalho.

Note-se ainda que, como mostra Paiva (2000), a sociedade hoje vive mudanças que

impulsionam o uso do conceito de competência ao invés de qualificação. O conceito de

qualificação está intrinsecamente ligado à sociedade industrial, ao assalariamento e vincula-se

aos conhecimentos comprovados através de provas e papéis. A competência, por seu turno,

42 A propósito, ver Graça Druck em seu texto A “Cultura da Qualidade” nos anos 90: a flexibilição do trabalhona indústria petroquímica da Bahia. In: MOTA, A.E. (Org) A Nova Fábrica de Consensos. 2. ed. São Paulo:

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está vinculada à comprovação prática de capacidades desenvolvidas pelo indivíduo no

ambiente de trabalho, incluindo virtudes e habilidades pessoais que melhor se adaptem às

novas situações de trabalho. Nesse sentido o que hoje o mercado de trabalho convoca como

competências podem ser bem diferentes do que o profissional tinha antes em termos de

qualificação. Isso porque, conforme Paiva (2000, p.62),

Se tais competências incluem a disposição e capacidade de mudarconstantemente, de aprender não apenas novas técnicas, mas de aceitar novasrelações sociais e laborais, então indivíduos altamente qualificados podem serpouco empregáveis não porque seus conhecimentos estão ultrapassados outenham deixado de ser úteis, mas porque eles vêm acompanhados de umdeterminado tipo de experiência profissional que incluem direitos (e, portanto,variadas práticas reivindicatórias) e vantagens que estão sendo eliminados.

Então é possível entender a preocupação das organizações em criar possibilidades para

que os seus trabalhadores possam construir/reconstruir suas competências, pois não se trata de

uma construção qualquer, mas de um processo que confere ao trabalhador a capacidade para

agir sobre situações jamais previstas pela sua formação, para atender novas exigências do

capital. Observa-se, inclusive, que se trata não apenas de uma ressignificação do termo

qualificação, mas também uma ressignificação na própria cultura do trabalhador, quando hoje

se fala em um novo modelo de trabalhador.

É ciente da necessidade de criar esse novo modelo de trabalhador que o SESI, a partir

de 1998, passa a dar mais ênfase à construção/reconstrução de competências através não

somente da capacitação técnica, mas também da introdução de novos valores e

comportamentos, como mostra o Relatório Anual do SESI, DR/RN (SERVIÇO SOCIAL DA

INDÚSTRIA, 1998, p.14),

O SESI/RN com o apoio do SESI/Nacional, através do PNDH, que tem comoum dos princípios a valorização da competência profissional, realizou 15cursos sendo: 07 na área de educação, 04 em saúde, 02 em lazer e 02 na área

Cortez, 2000.

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de administração, um dos quais na área de qualidade para formação demultiplicadores do programa 5S’s43.

Sem perder de vista o interesse em possibilitar essa ressignificação na cultura de seus

trabalhadores, investe principalmente a partir de 1998, em novas tecnologias e na unificação

de serviços, caso da adoção do Sistema Unificado de Contabilidade, Orçamento e Finanças. E,

além disso, volta sua atenção para os gerentes a fim de que estes assumam uma nova postura

de gerência pela qual se possam cumprir novas responsabilidades e aprender novas

habilidades.

Nessa perspectiva, a gestão de RH ou, como hoje está em maior evidência, a gestão de

pessoas passa a ser uma “[...] responsabilidade de cada gerente que por sua vez, deve receber

orientação do staff a respeito das políticas e procedimentos adotados pela organização”

(CHIAVENATO, 1999, p.18).

Ressalte-se que, conforme esse autor, a questão básica em chamar de gestão de RH ou

de Pessoas está no fato de

[...] escolher entre tratar as pessoas como recursos organizacionais ou comoparceiros da organização. [...]Como recursos, eles precisam ser administrados,o que envolve planejamento, organização, direção e controle de suasatividades, já que são considerados sujeitos passivos da ação organizacional[...] Mas, as pessoas podem ser visualizadas como parceiros das organizações.Como tais, elas são fornecedoras de conhecimentos, habilidades, capacidadese, sobretudo, o mais importante aporte para as organizações - a inteligência,que proporciona decisões racionais e imprime o significado e rumo aosobjetivos globais. Desse modo, as pessoas constituem o capital intelectual daorganização (CHIAVENATO, 1999, p.07).

Considera-se que esse posicionamento do autor traz consigo uma carga ideológica que

imbui na consciência dos trabalhadores à falsa idéia de que estes são parceiros, colaboradores

43 Esse programa faz parte da perspectiva de Qualidade Total e refere-se a implementação de cinco palavrasjaponesas que começam com a letra S. Traduzidas significam: senso de utilização, senso de ordenação, senso delimpeza, senso de asseio e senso de disciplina.

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de um mesmo empreendimento, dos mesmos interesses, quando na verdade as diferenças

entre capital e trabalho estão cada vez mais acentuadas.

Diante dessa nova lógica se expressa o último indicador citado por Pimenta (1999) que

se refere à transformação do trabalho em termos de concepção e realização. Pimenta a

exemplo de autores como Antunes (1999; 2001), considera o trabalho humano essencial à

sociedade capitalista contemporânea, embora afirme existir hoje uma maior complexidade no

que tange à relação entre o trabalho, o mundo empresarial e a sociedade de forma geral.

Surgem novas formas de tratamento sobre aqueles que vendem sua força de trabalho,

que passam a ser chamados de colaboradores, como se pôde observar no SESI, a partir de

1999. Não se trata apenas de uma mudança de nomenclatura, mas provoca de forma gradativa

uma alteração da representação que cada trabalhador tem do seu papel, ao mesmo tempo que,

somada ao discurso de uma gestão participativa, vai sendo construída uma gestão que não

compete apenas a um setor específico, mas na qual todos os colaboradores sentem-se

responsáveis pela organização.

É notório, também, o que Chiavenato (1999) chama de processo de definição e

redefinição de cargos e funções de acordo com as mudanças no ambiente e na tecnologia.

No caso particular do SESI, constatam-se mudanças significativas na divisão sócio-

técnica do trabalho, atingindo o Serviço Social como uma das especializações do trabalho.

ocorre a extinção do setor de Serviço Social e a inserção dos assistentes sociais em diversas

áreas existentes no SESI44, fato que ocorre paralelo ao processo de terceirização dos serviços

médicos, odontólogos e laboratoriais.

Torna-se estratégico que o assistente social transite por várias áreas de acordo com as

demandas apresentadas. É uma lógica que condiz com o reordenamento atual dos postos de

44 O relatório mostra que a extinção da Supervisão de Serviço Social foi decorrente de uma avaliação pelaDivisão Operacional; os assistentes sociais “estando diretamente subordinados ao supervisor de cada programa,o entendimento melhorou e, conseqüentemente, o desempenho de todos”. (RELATÓRIO ANUAL DEATIVIDADES DO DR/RN, 1997, P.22).

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trabalho (ou até do seu desaparecimento) diante de uma reestruturação produtiva pautada

numa “acumulação flexível” em que os profissionais passam a vivenciar de forma constante

uma transferibilidade e uma polivalência, como será apresentado no item a seguir.

Fazem parte ainda dessa lógica o processo de terceirização e as demissões.Em

especial, no ano de 1997 foram demitidos do SESI/RN, 48 profissionais (médicos, dentistas e

analistas) os quais foram orientados a trabalharem para aquele órgão de forma terceirizada.

Esse contexto é parte de uma realidade mundial que, conforme Mota (2000, p.36), refere-se a

uma nova cultura do trabalho onde

[...] os trabalhadores excluídos do trabalho protegido (trabalhadores‘proprietários’, ‘livres’ e pseudoparceiros de seus antigos patrões), agorafisicamente distanciados do controle e da exploração direta deles têm na suaprópria auto-exploração, na da sua família e de outros trabalhadoresdesempregados a principal fonte de produção de valor.

No caso específico do SESI, entra-se na nova cultura do trabalho que inclui também

novas estratégias empresariais, como a adesão ao Certificado ISO. Embasado pelo

Planejamento Estratégico da organização (2000 a 2004), passa a ser certificado pela série

ISO45 9000, o que representa um diferencial competitivo no mercado globalizado como

mostra o Representante da Divisão do Sistema de Gestão da Qualidade do SESI/RN:

Quando as empresas sabem que a sua empresa é certificada, ela tem interesseem comprar, por isso, ela, sem conhecer o seu produto, ela tem certeza de queo produto é bom.

45 A ISO é uma organização internacional de normalização (International Standartization Organization), sediadana Suíça (Genebra) e da qual participam alguns países, dentre eles o Brasil. Já em relação as ISO’s da série 9000,como mostra Druck (2000, p.177) “Tratam da qualidade relativa a produtos específicos e seu processo deprodução[...]”.

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É a partir do Planejamento Estratégico do SESI-2000 a 2004 que é sistematizada a

política de qualidade para a instituição SESI voltada para

Desenvolver ações nas áreas de saúde, educação e lazer que satisfaçam aospadrões de qualidade; procurar o desempenho ótimo dos recursos, buscarautosustentação e atender às necessidades de seus clientes e aos requisitos daNorma ISO 9001: 2000 com a melhoria contínua da eficácia do sistema daqualidade.

Essa política46 tem por base a Teoria dos Sistemas Sociais, que se fundamenta teórico-

metodologicamente na matriz funcionalista47, a qual busca desenvolver as competências dos

trabalhadores de acordo com a estratégia essencial da empresa e as necessárias a cada função,

numa perspectiva de flexibilidade, como mostra o PE do SESI (SERVIÇO SOCIAL DA

INDÚSTRIA, 2000 a 2004, p.32):

O sucesso das empresas [...] está cada vez mais associado á sua capacidadede implantar modelos de gestão baseadas na mobilização das capacidadeshumanas de seus colaboradores, obtendo permanente flexibilidade einovação como condição de competitividade.

A lógica desse PE refere-se ainda à indicação para “desativar programas que não

produzem resultados relevantes do ponto de vista social e/ou econômico”(SERVIÇO

SOCIAL DA INDÚSTRIA, 2000-2004, p.46), o que provoca ainda em 2001 a desativação do

Programa de Cooperação e Assistência que até 2000 era considerado como área que

possibilitava o DR/RN cumprir a sua responsabilidade social, através de serviços voltados

46 Alem da política, é criada uma missão para o SESI que é, de acordo com o Planejamento Estratégico do SESI(2000-2004, p.37), “contribuir para o fortalecimento da indústria e o exercício de sua responsabilidade social,prestando serviços integrados de Educação, Saúde, lazer, com vistas à melhoria da Qualidade de vida para otrabalhador e ao desenvolvimento sustentável”.47 De acordo com Deluiz (2003, p. 07), a matriz funcionalista “[...] utiliza a análise funcional como método quese realiza a partir da identificação da função estratégica do setor ou da empresa e dos resultados esperados naatuação dos trabalhadores para que a função estratégica seja cumprida. [...] Procura responder as seguintesperguntas: quais são os objetivos principais da organização e da área de ocupação? Sua lógica da construção decompetências é dedutiva, partindo das funções mais gerais para as mais específicas.

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para a “Promoção da cidadania e a melhoria da qualidade de vida dos industriários e de

pessoas economicamente desfavorecidas”. (SERVIÇO SOCIAL DA INDÚSTRIA, 2000,

p.15).

Note-se que essa desativação faz parte de uma nova estratégia pela qual o SESI

desloca ações que representavam a sua responsabilidade social, mas requeriam custos da

organização, e passa a alargar suas parcerias no ano de 2001 com instituições governamentais

e não-governamentais para desenvolver atividades que tenham um caráter de promoção

social, como é o caso do Projeto Criança 2000, Ação Global, entre outras e assim, também,

apresentar a sociedade ações de responsabilidade social. É nessa perspectiva que temas como

responsabilidade social, cidadania e voluntariado passam a serem considerados como

conceitos chaves no SESI.

Não se trata apenas de uma estratégia local, mas em nível nacional, propícia à

conjuntura brasileira, que vivencia o auge dessas questões, em razão da hegemonia do projeto

societário de cunho neoliberal, um projeto defensor da redução do Estado no âmbito da

regulação do trabalho e da prestação de serviços públicos.

Com esse ideário os temas acima citados são bastante difundidos pelo Estado para

amenizar o aguçamento da questão social, em razão da desresponsabilização do Estado com

as suas obrigações sociais. Essa postura governamental provoca, segundo Iamamoto (2001,

p.43),

[...] uma transferência, para a sociedade civil de parcela das iniciativas para oatendimento das seqüelas da questão social [...] Por outro lado, constata-seuma tendência à refilantropização social, em que grandes corporaçõeseconômicas passam a se preocupar e a intervir na questão social dentro deuma perspectiva de filantropia empresarial.

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O SESI se inclui nesse contexto por se constituir hoje, uma organização que possibilita

algumas atividades filantrópicas, vende vários serviços às empresas e demais organizações,

além de vender também serviços relacionados a saúde, educação e lazer à sociedade em geral.

Com essa particularidade, o SESI efetiva uma nova forma de gestão para prestar esses

serviços, respaldada no que hoje tem sido chamado de modelo de competências. Modelo esse

que, de acordo com Deluiz (2003), valoriza os altos níveis de escolaridade, a mobilidade e o

acompanhamento de avaliação, a cobrança para com a formação contínua, e o desuso de

velhos sistemas hierárquicos e de classificação, além do estabelecimento de um elo entre

carreira profissional, o desempenho e a formação.

No SESI evidenciam-se alguns elementos que seguem a lógica desse modelo, como o

estabelecimento de uma política de marketing, a necessidade de uma contínua

profissionalização dos gestores voltada para resultados, a capacitação de auditores internos da

qualidade, a criação de formas de avaliação dos trabalhadores, a preocupação em estruturar

um plano de cargos e salários atual e adequado, a aquisição de um sistema informatizado e de

gerenciamento de RH, o incentivo à motivação dos funcionários para a efetiva atualização das

competências profissionais e, assim, a possibilidade de o SESI cumprir as ISO 9000:1994,

ISO 9000:2000 e a ISO 9001: 2000.

A pesquisa constatou que o fato de o SESI aderir a essa padronização provocou várias

mudanças nos processos de trabalho da Organização, através da criação das Instruções de

Trabalho, que servem como roteiros para que os trabalhadores não desenvolvam de forma

irregular o seu trabalho em relação às metas e à missão institucional, exigindo, pois,

mudanças na cultura organizacional dos trabalhadores que foram convocados a fazer uma

sistematização maior do seu trabalho e também a um controle e avaliação maior de suas

atividades.

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É importante salientar que, embora com essas mudanças o SESI esteja se distanciando

da lógica gerencial da Teoria Clássica da Administração e do fordismo/taylorismo, à medida

que adota características do modelo toyotista, não deixa de lado a preocupação em organizar

racionalmente os processos de trabalho. Isso porque, como mostram Fleury, A e Fleury, M.

(2001. p. 61), apesar de o modelo japonês ter uma lógica diferente do taylorista/fordista ao

procurar utilizar no cotidiano o conhecimento operário, inspira se nesse modelo “[...] ao levar

em consideração à minuciosa racionalização dos processos de trabalho no momento de formar

os trabalhos de grupos”.

A constatação dessa lógica aparece na fala do Representante da Direção do Sistema de

Qualidade do SESI/RN quando mostra a trajetória de implantação da ISO no regional:

Nós começamos a trabalhar antes um ano. Começamos pegando adocumentação, estudando, escrevendo, porque a ISO ela não vem fazer umamudança no que você faz. Por exemplo, você é uma assistente social de umsetor. Eu não chego e digo assim: a partir de hoje você vai fazer o seu trabalhoassim (pausa) Eu pergunto: como você faz o seu trabalho. E você diz desde ahora que você chega e vai fazendo os itens, colocamos num formuláriopróprio chamado de instrução de trabalho e você assina. Então você vai fazerexatamente o que você faz, só que agora está registrado como padrão e aí temmuitas vantagens (RDSQ, maio de 2004).

Segundo RDSQ, com a implantação da ISO, caso o assistente social não esteja

presente, outro profissional ou estagiário será capaz de seguir os procedimentos padronizados

sem correr o risco de comprometer a qualidade dos serviços. Essa padronização constitui-se

numa estratégia que Fleury, A e Fleury, M. (2001, p.32) chamam de construção da memória

organizacional, o que permite a organização “existir independentemente deste ou daquele

indivíduo”.

Esse dado é considerado na pesquisa como um fato que, se por um lado facilita ao

trabalhador pelo fato de descriminar as atividades a serem feitas, por outro, torna-se um

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espaço onde o empregador apropria-se de algo precioso para o trabalhador que são os seus

instrumentais técnico-operativos que orientam o seu trabalho profissional, o seu saber-fazer.

Trata-se ainda, de uma forma de avaliação e controle dos serviços prestados que terá

como referência a política de qualidade do SESI, guiando os objetivos que se referem à

monitoração dos clientes, monitoração quantitativa dos resultados físicos e financeiros,

atualização dos trabalhadores e a melhor utilização possível dos espaços físicos. São objetivos

que possibilitam a criação de indicadores de desempenho, base da avaliação dos processos de

trabalho. É nesse processo avaliativo que entram em cena as auditorias internas48 realizadas

semestralmente para verificar, à luz da política de qualidade, os procedimentos desenvolvidos

pelos trabalhadores. Como mostra RDSQ (maio de 2004),

[...] fazemos auditorias com os nossos auditores para verificar aquelas coisasque não estão corretas, que a gente diz identificar as não conformidades e,anualmente a gente, depois da certificação, existem os órgãos certificadores -nós fomos certificados pelo BVQI. E, esse órgão certificador vem anualmentever se a gente merece, se devemos e podemos continuar com o certificado.

Essas auditorias são extensivas a todas as pessoas que fazem parte de alguma forma do

SESI, como funcionários, estagiários, empresas terceirizadas, os clientes internos e externos.

Um dos mecanismos utilizados é a Caixinha de Sugestões e Reclamações para que os clientes

possam expor suas opiniões, e assim, a Organização buscar melhorar sempre a venda de seus

serviços.

Observe-se, que ainda neste contexto, existe um setor específico de gestão de

qualidade do Sistema FIERN como parte integrante da DIPEQ, criada em 2003 com o papel

importante no desenvolvimento de competências profissionais da Organização.

48 No período das entrevistas da pesquisa (2004) essas auditorias eram formadas por profissionais, dentre eles, 01assistente social, integrantes do Sistema FIERN- SESI, SENAI e IEL que juntamente com representantes dasunidades de trabalho do SESI, monitoravam e avaliavam o processo de implementação dos serviços e os seusresultados.

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Esses elementos corroboram o conjunto de procedimentos, normas e técnicas que

compõem o sistema de qualidade de empresas pesquisadas por Druck (2000, p.60). São eles:

1)política de qualidade; 2)gestão da qualidade e ou sistema de qualidade;3)controle de processo; 4)inspeção e ensaio; 5)controle de produto não-conforme; 6)auditorias internas; 7)ação corretiva; 8)treinamento; 9)técnicasestatísticas.

São, portanto, com esses elementos que se forma a nova gestão do SESI com vistas à

autosustentação organizacional, visto que a contribuição compulsória já não é mais

suficiente49, e traz em conseqüência novas condições de trabalho para todos os profissionais

da instituição. São condições que por um lado, conservam antigas demandas para os

profissionais, dentre eles o assistente social, e por outro, exigem novas competências para

esse profissional, como mostrado a seguir.

2.2 – A inserção do Assistente Social no SESI, Natal/RN hoje e as Competências que lhes são

exigidas.

A partir de meados dos anos 90 o SESI inicia uma reestruturação em seus processos de

trabalho guiada por uma nova forma de gestão reordenando e estabelecendo diferentes formas

de organização do trabalho coletivo, atingindo diretamente o assistente social, enquanto

trabalhador partícipe da divisão sócio-técnica de trabalho nessa instituição.

49 Quanto à contribuição compulsória para o SESI, nas palavras do Coordenador de Relações com o Mercado -CRM “[...] Antigamente era de 2%, mas faz muito tempo que diminuiu para 1,5% em cima da folha depagamento. Com o advento do simples, as empresas ficaram desobrigadas de contribuírem para o SESI [...] éuma forma de se ausentarem de alguns tributos pagos a organizações como o SESI. Não só o SESI, mas, salvoengano, todo o Sistema“S”. O Simples é um programa simplificado de pagamento de tributos federais, instituídopela Lei nº 9.317 de 05/12/1996.

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Esse reordenamento, a exemplo das reformas expressas em várias empresas no Brasil,

provocou uma alteração na maneira de estruturar os serviços como também a extinção de

alguns programas ou setores, dentre eles o de Serviço Social em 1997, quando o assistente

social passou a vivenciar significativas mudanças nas condições de trabalho, inclusive, a sua

inserção em diferentes áreas.

Essa mudança repercutiu diretamente na questão de planejamentos, planos e projetos

das ações para o assistente social, que antes eram realizados pelo coordenador de Serviço

Social, e com o desaparecimento desse cargo os profissionais passaram a não mais realizá-los,

conforme está expresso nos depoimentos a seguir:

Com a supervisão o foco era mais centrado. Com a extinção não temos mais umprojeto próprio. Ficou mais aberto (SSO2, março de 2004).

Considero que ficou mais difícil para as assistentes sociais, pois quando antesexistia o programa de serviço social, as profissionais estavam mais envolvidascom as próprias coisas do serviço social. Havia um direcionamento claro do quese iria fazer, havia projetos próprios do serviço social. Hoje, não é que deixoutotalmente de existirem, mas passou a haver uma exigência para se enquadrarem áreas diferentes senão saiam. A área que mais absorveu assistentes sociaisfoi de educação (SSO4, março de 2004).

Mudou com certeza mudou, porque nós tínhamos uma supervisão. A gente tinhauma orientação onde todos os problemas, quinzenalmente, semanalmente sejuntava (o pessoal) e ia discutir os problemas. E ela dava as orientaçõesnecessárias, porque ela era a coordenadora da gente. Hoje eu não poderia dizerque nós estamos soltas, mas nós não temos a quem recorrer. Temos que ser nósmesmas. Não existe uma pessoa da nossa área nos coordenando. Inclusive onosso chefe não é da nossa área. Mas nós estamos nos saindo muito bem.Temosfeito tudo direitinho. Às vezes temos participado de alguns cursos naUniversidade, na área de serviço social. O nosso grupo de Serviço Social -13Assistentes Sociais - se junta, se reúne, tem programação. Uma da suporte aoutra. Agora não é como aquela como a da nossa coordenadora para darsuporte. Lazer tem o chefe de lazer. Então aqui não tem alguém da área comochefe para recorrermos. Mas que não tem problema (SSO5, março de 2004).

Note-se, nas falas destas profissionais, o quanto essa reordenação organizacional e

administrativa no SESI incidiu sobre o trabalho do assistente social, à medida em que

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desarticulou antigos departamentos ou setores que tinham a coordenação de assistentes sociais

e possibilitavam espaços de estudo e reflexões acerca do exercício profissional. A pesquisa

revela, portanto, que dentre as sete assistentes sociais que vivenciaram a experiência de

trabalho em um setor específico de Serviço Social no SESI, três afirmaram que a existência

desse setor era muito importante para dar uma direção ao trabalho encaminhado pelo serviço

social e, ao mesmo tempo, espaço de reflexão teórica sobre o exercício profissional.

Apesar de no último depoimento a entrevistada afirmar que essas mudanças “não têm

problema”, é perceptível a sensação de perda de referência profissional em razão da extinção

do Setor de serviço social, sendo o assistente social agora subordinado a coordenadores de

outras áreas profissionais. Torna-se um grande desafio para esses profissionais enfrentarem a

perplexidade e ocuparem esses novos espaços de trabalho interdisciplinar, sob a coordenação

de diferentes profissionais de outras áreas. Surge a necessidade de que esses profissionais

aproveitem esses espaços e adquiram diferentes conhecimentos exigidos, além da sua

capacitação teórico-metodológica em sua área de formação para responder as demandas que

surgem na área em que se inserem; além disso, devem ser capazes de se adaptarem às rápidas

mudanças provenientes das transferências às quais são submetidos.

Observe-se que, diante dessa nova lógica, os profissionais contratados encontram-se

hoje50 em áreas fim e meio. Na área -fim estão os programas de Negócios: Saúde, Educação e

Lazer, e na área meio os setores: administrativo- financeiro, Recursos Humanos,

Contabilidade, marketing, entre outros. Na área- fim, encontram-se cinco (62,5%) assistentes

sociais no Núcleo de Saúde Ocupacional (NSO) - parte integrante da área de saúde. Na área

meio, estão inseridas três (37,5%) assistentes sociais, sendo uma na área administrativo-

financeira, uma exercendo função provisória de gestão no setor financeiro, e também

assessorando a gerência administrativa do CAT de Natal/RN e o “Programa de Criança” em

50 Essas informações equivalem ao ano de 2004, ano em que foram realizadas as entrevistas com os 08profissionais contratados como assistente social no SESI, Natal/RN.

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parceria com a empresa Petróleo do Brasil (PETROBRÁS) e a Fundação Estadual da Criança

e do Adolescente (FUNDAC); e uma profissional na Unidade de Relações com o Mercado.

Esses dados revelam um reordenamento, embora com suas particularidades, presente

em diversas empresas no Brasil a partir de meados dos anos 90, como mostra a pesquisa feita

em 1998 pela Comissão de Fiscalização do Conselho Regional de Serviço Social –

COFI/CRESS da 7ª Região (Rio de Janeiro) em 128 empresas e 281 assistentes sociais. Os

dados mostram que em 52% dessas empresas

[...] o Serviço Social não ocupa um lugar específico na estruturaorganizacional, estando 40,7% dos profissionais subordinados à área derecursos humanos, 13,3% a de benefícios, 10,7% à área de saúde e 7,3% àadministração (IAMAMOTO, 2002, p.39-40).

No SESI, a distribuição do profissional de Serviço Social em diversas áreas provoca o

contato deles com diversas demandas, ao mesmo tempo em que lhes são exigidos uma atitude

polivalente como se pode constatar a partir da fala de SSO3 inserida na área de saúde:

Há uma necessidade de orientação aos profissionais formadores do Núcleo deFormação Continuada sobre a ISO 9001:2000; ação educativa nas empresassobre DST/AIDS, estresse e várias questões relacionadas à segurança notrabalho. Sou inclusive, presidente da CIPA (SSO3, março de 2004).

Conforme o depoimento, a entrevistada, embora fazendo parte na divisão sócio-técnica

do trabalho do NSO, participa diretamente de outras áreas, como a de educação e gestão de

qualidade, bem como é integrante do órgão de prevenção a acidentes, o que comprova o

regime de trabalho pautado na polivalência.

Este exemplo soma-se à realidade de outras assistentes sociais, como é o caso de

SSO6, executora de serviços na área de finanças do Centro de Atividades (CAT), mas

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também implementadora de um projeto social e assessora da gerência deste centro, como

mostra o seu depoimento:

Temporariamente estou no setor de finanças e executo pagamentos, prestaçãode contas, encaminhamentos de notas fiscais, e ou serviços. Presto serviço noprograma ‘Programa de Criança’, uma parceria entre a PETROBRÁS,FUNDAC e SESI, e assessoro a gerência do CAT (SSO6, março de 2004).

À lógica da polivalência soma-se também a transferência do profissional por vários

setores, o que provoca o alargamento de demandas. Desse modo, é possível verificar a

existência de antigas, (demandas historicamente atribuídas ao Serviço Social no SESI), e

novas demandas para o assistente social como se pode observar no quadro a seguir:

DEMANDAS ANTIGAS DEMANDAS NOVAS1- Pedidos de declaração e informações sobreleis trabalhistas ligadas ao INSS.

1- Executar pagamentos.

2- Aconselhamento. 2- Fazer prestação de contas.3- Ação educativa (palestras) nas empresassobre DST/AIDS, estresse, segurança notrabalho.

3- Encaminhamento de notas fiscais.

4- Implementação/coordenação de programas(Programa de Criança, Álcool e outras drogas).

4- Orientação sobre a ISO 9001:2000 aosprofissionais formadores do Núcleo deFormação Continuada.

5- Assessoria às empresas na área de saúdeocupacional, ginástica laboral e cursosprofissionalizantes para elevação do nível deescolaridade.

5- Solicitação de preservativos pelosfuncionários do SESI.

6- Campanhas nas empresas. 6- Venda de serviços às empresas.7- Representação na CIPA. 7-Contatos com profissionais terceirizados

para repassar os serviços a serem realizadosnas empresas.

8- Assessoria à gerência operacional. 8- Humanização do atendimento ao cliente.9- Auditoria da qualidade Total.10- Fazer planilhas de custos.11- Construir indicadores de desempenho.12- Solicitação pela população para fazerconsultas no SESICLÍNICA de forma gratuitaou com preço de industriário.

QUADRO 6- Demandas para o assistente social no SESI- 2004.

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Ao observar essas demandas postas para o assistente social no SESI, constata-se a

importância estratégica que esse profissional continua a ter para a organização institucional. É

um profissional que passa a conviver com várias demandas antes inexistentes, como: negociar

a vendas de serviços do SESI, fazer planilhas de custos, gerenciar finanças e intermediar a

relação entre profissionais terceirizados, SESI e as empresas compradoras dos serviços, dentre

outras demandas; além de continuar a responder um número significativo de demandas

antigas como: a realização de palestras, assessoria a empresas, implementação/coordenação

de programas assistenciais, dentre outras. Algumas delas apresentam traços novos no que diz

respeito tanto nas temáticas trabalhadas em razão de novos problemas e das relações de

trabalho, como: estresse, ginástica laboral e saúde ocupacional51; quanto na prestação da

assessoria antes realizada pelo assistente social à superintendência do SESI, e hoje realizada à

gerência operacional, com vistas a maiores informações sobre as relações de trabalho da

organização52.

Essa importância estratégica do assistente social torna-se hoje dispersa no SESI devido

à nova organização dos seus espaços ocupacionais, quando os distribui em diversas áreas a

ponto de acarretar a impressão, à primeira vista, de que a profissão não é mais estratégica

como antes. Mas, um olhar atento constata que os profissionais continuam sendo

fundamentais ao desenvolvimento das atividades geridas pelo SESI através de seus

profissionais, embora não exista nestes espaços um setor especifico de serviço social. O

depoimento de SSO5 reforça essa afirmação, ao falar sobre o seu trabalho no NSO, espaço

principal hoje no SESI para a venda de serviços:

51 Como mostra Freire (2003) devido a forma que se desenvolve a reestruturação produtiva nos tempos atuaistem provocado uma grande carga de sofrimento psíquico para aqueles que vendem a sua força de trabalho. “Esseprocesso resulta na ampliação do desgaste físico e mental do trabalhador, crescendo o exército de mutilados ede mortos prematuramente” (FREIRE, 2003, p.47). Assim, temas como estresse, ginástica laboral e saúdeocupacional trabalhados pelos assistentes sociais no SESI em Natal/RN, são demandados pelas empresasenquanto estratégia para minimizar tal desgaste.52 Sobre a demanda para o assistente social referente à assessoria às gerências, ver, Mônica César de Jesus em OServiço Social e reestruturação industrial: requisições, competências e condições de trabalho profissional. In:MOTA, A.E. (Org) A Nova Fábrica de Consensos. 2. ed. São Paulo: Cortez. 2000.

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Exerço a função de assistente Social. E a gente exerce. E ai do núcleo se nãofosse o Assistente Social. Aquela pessoa que primeiro entra na empresa e oúltimo que sai. Mas é aquela pessoa que faz a ligação da empresa. Todo serviçoé a gente que faz o contato, a mobilização; conversa com empresários, então étudo feito pela gente e nós entregamos tudo para um outro profissional executar.O Serviço Social não é assim? Prepara o campo para os outros. Por exemplo,todos os serviços que aqui são feitos de audiometria, médico do trabalho,PPRA, PSMO, PSMA e o médico vai fazer. Mas todo o contato inicial é a gentequem faz. Até a pesquisa para saber se o preço foi bom, se serviço foi bom ounão, somos nós. Até porque trabalhamos com isso, com a certificação dequalidade. (SSO5, março de 2004).

Observa-se nesse depoimento o caráter auxiliar e subsidiário (IAMAMOTO, 1995)

do assistente social, o que contribui não apenas para garantir a utilidade da profissão na

empresa, mas também para que estes profissionais reconheçam seus objetos de trabalho e as

funções exercidas como matéria e atribuições do assistente social (IAMAMOTO, 2002,

p.40), identificando-se, portanto, com a profissão de Serviço Social ao considerarem-se “[...]

aquela pessoa que faz a ligação da empresa [...]” quando interpreta e negocia seus serviços,

que “[...] prepara o campo para os outros”, subsidiando a efetivação do trabalho do médico em

seus primeiros contatos, por exemplo, e que nesse ínterim atendem várias demandas. Em se

tratando das demandas, observa-se que são em especial as antigas que possibilitam a

identificação dos profissionais com a sua profissão, embora para haver o reconhecimento de

sua utilidade na organização seja necessário também uma construção/reconstrução de

competências53 que possibilitem a identificação desse profissional também com as demandas

novas.

Nesse processo de construção/reconstrução de competências duas características

históricas no Serviço Social são consideradas essenciais para garantir a identificação: a

53 A competência é entendida como uma capacidade para agir sobre situações previstas e imprevistas de trabalhonum determinado contexto sócio - histórico. Trata-se de uma capacidade multidimensional que é construída apartir de influências individuais, sócio - culturais e situacionais.

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atitude persuasiva e a educativa. O assistente social utiliza a primeira através da “mobilização

do mínimo de coerção explícita para o máximo de adesão” (IAMAMOTO, 1995, p.101) para

convencer as empresas a comprarem os serviços prestados pelo SESI, como se observa na fala

desta entrevistada que considera esse caráter persuasivo de aquele jeitinho:

São muitas. Todos os serviços são feitos por nós. Ou melhor, a primeira parte,porque tem serviços aqui que o Assistente Social não pode fazer. Mas todostêm que passar por nós. Porque tudo tem que passar por a gente. É a gente quefaz triagens, contatos, encaminha propostas e diante da aceitação ou não(pausa). Se a empresa acha cara, a gente negocia. A gente nunca deixa defazer o serviço porque a empresa achou caro. A gente sempre tem aquelejeitinho para negociar. Depois é que a gente passa para os outros profissionaiscompetentes. Mas todo serviço tem que passar por aqui (SSO5, março de2004).

A persuasão é reforçada ainda por outra assistente social ao afirmar:

O nosso objetivo é desenvolver uma relação direta com a empresa. O Núcleose relaciona com o mercado e é ligado ao setor de marketing. Tem umaarticulação com o empresário. Busca convencê-lo sobre a medida a sertomada. Tem visão do todo (SSO8, março de 2004).

Em se tratando da dimensão educativa, como mostram Iamamoto e Carvalho (1996,

p.115), o assistente social constitui-se num profissional que, através da linguagem e do

contato direto com os seus usuários, desenvolve uma “ação global de cunho sócio-educativo,

ou socializadora, voltada para mudanças na maneira de ser, de sentir, de ver e agir dos

indivíduos, que busca a adesão dos sujeitos”. Essa ação é muito importante não somente para

o profissional realizar palestras, oficinas entre outras atividades desenvolvidas na área - fim

do SESI, mas também, na área – meio, a partir do esclarecimento e sensibilização por parte

desse profissional sobre os recursos a serem utilizados por trabalhadores, como mostra SSO2,

inserida na área administrativo-financeira:

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É necessário antes de fazer pedidos de materiais, envolver os responsáveispelo uso dos mesmos em se interessar para fazer um levantamento coerentedo que realmente é necessário, dar estímulo aos outros profissionais paraquererem colaborar (SSO2, março de 2004).

Essas características presentes no Serviço Social têm acompanhado todo o processo de

construção/reconstrução de competências profissionais. Note-se que até os anos 80 o

assistente social no SESI deveria ter competências para supervisionar os serviços

assistenciais, intermediar as relações empregador/empregado e entre o SESI e as empresas,

assessorar tecnicamente a superintendência, exercer superintendência no DR/RN, trabalhar

em equipes multidisciplinares, articular todos os serviços de saúde, Educação, Educação

Física e Desportos, coordenar a área de Serviço Social, fazer levantamento social sobre as

indústrias e sindicatos, atender os usuários (industriários e familiares) para informá-los e

encaminhá-los a determinados serviços, atender os servidores do SESI, orientar e executar

trabalhos com grupos nos bairros de Natal, desenvolver encontros e mobilizar nas CIPA’s a

formação de grupos de representantes.

A partir de meados dos anos 90, algumas dessas competências serão postas em

segundo plano ou não mais cobradas, como atribuição privativa do assistente social54 pelo

fato de não mais serem consideradas essenciais para o SESI, como é o caso da coordenação

do setor de Serviço Social. A exigência da competência para supervisionar serviços

54 De acordo com a Lei 8.662/93 em seu artigo 5º as atribuições privativas do assistente social são: I- coordenar,elaborar, executar, supervisionar e avaliar estudos, pesquisas, planos, programas e projetos na área de ServiçoSocial; II- planejar, organizar e administrar programas e projetos em Unidade de Serviço Social; III- assessoria econsultoria a órgãos da administração pública direta e indireta, empresas privadas e outras entidades, em matériade Serviço Social; IV- realizar vistorias, perícias técnicas, laudos periciais informações e pareceres sobre amatéria de Serviço Social; V- assumir, no magistério de Serviço Social tanto a nível de graduação como pós-graduação, disciplinas e funções que exijam conhecimentos próprios e adquiridos em curso de formação regular;VI- treinamento, avaliação e supervisão direta de estagiários de Serviço Social; VII- dirigir e coordenarUnidades de Ensino e cursos de Serviço Social, de graduação e pós-graduação; VIII- dirigir e coordenarAssociações, núcleos, centros de estudos e de pesquisas em Serviço Social; IX - elaborar provas, presidir ecompor bancas de exames e comissões julgadoras de concursos ou outras formas de seleção para assistentessociais, ou onde sejam aferidos conhecimentos inerentes ao Serviço Social; X- coordenar seminários, encontros,congressos e eventos assemelhados sobre assunto de Serviço Social; XI- fiscalizar o exercício profissionalatravés dos conselhos federal e regionais; XII- dirigir serviços técnicos de Serviço Social em entidades públicas

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assistenciais tornou-se menos enfatizada, visto que houve uma diminuição de tais serviços

naquela organização hoje. Todavia, ao surgirem alguns projetos no âmbito da assistência,

ainda é o assistente social que é chamado a coordenar ou assessorar os programas, como é o

caso do Programa de Criança, em parceria com a PETROBRAS e a FUNDAC, e do projeto

Prevenção ao Uso de Drogas nas Empresa, assessorados por assistentes sociais. Trata-se de

um reconhecimento do SESI de que a função de executar, assessorar e coordenar programas

assistenciais é uma atribuição privativa55 do assistente social, como se pode ver na definição

de cargos e competências para o assistente social no NSO (2004) que afirma ser o assistente

social,

[...] responsável por desenvolver atividades relativas ao planejamento,organização e execução de processos e projetos voltados ao atendimento dosclientes/usuários dos serviços da Unidade, bem como nas empresas e emações junto à comunidade.

A competência para fazer pesquisas é requisitada hoje muito mais de profissionais de

Estatística, Marketing, entre outros. Apesar de o assistente social ainda fazê-la nas empresas,

não existe mais a demanda institucional para aplicá-la em sindicatos, visto que hoje, devido à

nova lógica do capitalismo embasada no ideário neoliberal e de reestruturação produtiva, as

empresas têm conseguido um consentimento dos trabalhadores com as novas relações de

trabalho a partir da adoção de uma engenharia cultural somada a outros acontecimentos como

ou privadas; XIII- ocupar cargos e funções de direção e fiscalização da gestão financeira em órgãos de entidadesrepresentativas da categoria profissional;55 É importante destacar esse reconhecimento sócio - institucional de que não só é competência do assistentesocial lidar com questões relativas à assistência social, mas também tem sido reconhecido por alguns âmbitos dasociedade como uma atribuição privativa. Vale pontuar, inclusive, o posicionamento do Conselho Municipal deAssistência Social de Mossoró/RN que através de Resolução instituiu que a coordenação e/ou direção deprojetos, programas e instituições públicas na área da assistência social devem obrigatoriamente ser funçõesdesenvolvidas por assistentes sociais.

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a expansão do desemprego, precarização das relações de trabalho, que provocam uma

desmobilização do movimento operário e sindical56.

Quanto à competência para informar e encaminhar os usuários para determinados

serviços, esta se redefine, visto que mudou tanto relativamente aos usuários, quanto à natureza

dos serviços. Hoje os usuários não são apenas industriários e seus familiares, mas, em

especial, as empresas e a comunidade em geral, visto que o SESI alargou o seu leque de

atendimento e passou a vender seus serviços.

A venda repercutiu na ótica de prestação dos serviços do assistente social, pois agora

estão atreladas a uma relação direta de compra e venda de serviços. No entanto, ressalta-se

que ainda permanece no CAT do SESI a exigência de que o assistente social tenha

competência para lidar com pessoas que procuram os serviços da Organização, mas não têm

condições para pagá-los, bem como com os funcionários no tocante à resolução de problemas

e à requisição de preservativos masculinos. Esta demanda apresentada por SSO1 e SSO4,

respectivamente não correspondem a uma exigência explícita das Instruções de Trabalho da

Organização, e sim, da população usuária.

Solicitação por parte de pessoas externas à instituição para fazer consultagratuita ou com o preço do industriário. Os funcionários internos solicitampreservativos (SSO4, março de 2004).

São demandas de clientes externos e internos. Externos: pedem declarações,informação sobre leis trabalhistas ligadas ao INSS, faço aconselhamento.Internos: problemas com funcionários. Daí o S.S. intermedia em relação aoproblema junto à gerência (SSO1, março de 2004).

56 Em relação aos elementos da crise sobre o movimento operário e sindical ver Ricardo Antunes em Trabalho eprecarização numa ordem neoliberal. In: GENTILLI P. & FRIGOTTO, G. (Org.) A cidadania negada - políticasde exclusão e no trabalho. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2001.

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Apesar da necessidade de o assistente social construir/reconstruir competências para

atender essa demanda, a exigência que predomina na organização diz respeito à construção de

novas competências, tendo como objetivo a venda de serviços, em especial na área de Saúde

Ocupacional, como mostra o supervisor da área:

É necessário que o assistente social saiba relacionar-se com o mercado,mostrando os serviços do SESI; saber técnicas de segurança; domínio deinformática e formação de vendas (SU2, março de 2004).

Essas competências passam a ser incentivadas a partir do PE do SESI, 2000-2004 que

possui, dentre outras estratégias, a de “alinhar a cultura organizacional e o perfil do efetivo às

exigências do Plano Estratégico” e “estabelecer Política Nacional de seleção e capacitação de

pessoal” (SERVIÇO SOCIAL DA INDÚSTRIA, 2000-2004). Com essa perspectiva o SESI

quer promover um alinhamento, ou como diz Pimenta (1999), uma engenharia cultural para

construir um novo modelo de trabalhador, apto à polivalência, à transferibilidade e com

competências coerentes com a nova lógica do mundo do trabalho hoje, como se pode

visualizar no quadro seguinte:

ENTREVISTADA PROFISSIONAL COMPETENTE PARA O SESISSO1 -Ser criativo para negociar;

-Saber argumentar e contra-argumentar;-Saber atender bem o cliente;-Ser um profissional “mix”: aquele que reúna várias qualidades ao mesmotempo;-Ter opinião própria.

SSO2 -Ter visão crítica do macro e do micro;-Ser inovador;-Ter criatividade.

SSO3 -Capacidade para mudar de forma constante.SSO4 -Saber tudo do seu local de trabalho.SSO5 -Saber executar os programas do SESI/DN;

-Ter uma visão global para poder atuar em várias áreas.SSO6 -Ser aberto para novas conquistas;

-Estar sempre “reciclado”.SSO7 -Saber viabilizar da melhor forma os programas determinados pelo DN.SSO8 -Ter visão sistêmica de todo o contexto social;

-Ser comprometido com o SESI;

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-Ser motivado para cumprir a missão do SESI.QUADRO 7-O perfil do profissional competente para o SESI hoje na visão do assistente social

Esse perfil exige mais do que os conhecimentos adquiridos através de diplomas e

experiência profissionais do assistente social e envolve uma série de habilidades pessoais, tais

como: criatividade, espírito inovador, motivação e receptividade às mudanças. Por trás desse

discurso de receptividade às mudanças, encontra-se a polivalência, que implica a necessidade

de o profissional desenvolver várias funções e, para tanto, exige que o trabalhador tenha

conhecimentos em outras áreas. Inclui um conjunto de conhecimentos que vai além dos

relacionados com a área de formação.

É preciso, pois, que esses profissionais aproveitem esses espaços e adquiram

diferentes conhecimentos exigidos, além de sua capacitação teórico-metodológica em sua área

de formação, para responderem às demandas que surgem na área em que estão, bem como

serem capazes de se adaptar às rápidas mudanças provenientes das transferências às quais são

submetidos. Conforme a Definição de Cargos e Competências para o Assistente Social no

NSO (SESI, Natal/RN), é necessário que os profissionais tenham, além de certas formações

teórico-metodológicas e técnicas, “habilidades para negociação, poder de convencimento e

desenvoltura de expressão”, o que traz novos desafios para o profissional57 que é convidado

cotidianamente pela lógica organizacional a ter uma visão do todo, global, ou ainda, uma

visão sistêmica como expressaram três dos oito entrevistados, ao invés de uma visão crítica

do macro e do micro como falou apenas um dos oito assistentes sociais.

A requisição das competências apresentadas pelos assistentes sociais da pesquisa é

hoje expressiva em várias partes do mundo, como mostra Kilimnik, Sant’anna ; Luz (2004) ao

citarem as competências que mais aparecem em diversos trabalhos revisados tanto na

57 Em se tratando, por exemplo, do assistente social que se insere hoje no Núcleo de Saúde Ocupacional noSESI, Natal/RN, e que hoje comporta cinco assistentes sociais, a educação mínima exigida é ter o terceiro graucompleto em Serviço Social, mas a esta é acrescentada a educação desejada que é ter pós-graduação na área deSaúde Ocupacional e ter experiências mínimas dos Programas de Prevenção de Riscos ambientais (PPRA),

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literatura francesa como anglo-americana58. Essas competências podem ser visualizadas no

quadro a seguir:

01- Domínio de novos conhecimentos técnicos associados ao exercício do cargo ou funçãoocupada02- capacidade de aprender rapidamente novos conceitos e tecnologias03- criatividade04- capacidade de inovação05- capacidade de comunicação06- capacidade de relacionamento interpessoal07- capacidade de trabalhar em equipe08- autocontrole emocional09- visão de mundo ampla e global10- capacidade de lidar com situações novas e inusitadas11- capacidade de lidar com incertezas e ambigüidades12- iniciativa de ação e decisão13- capacidade de comprometer-se com os objetivos da organização14- capacidade de gerar resultados efetivos15- capacidade empreendedoraQUADRO 8-Competências profissionais presentes em bibliografias.

Estabelecendo-se uma comparação entre o perfil apresentado pelas assistentes sociais

no SESI e as competências acima apresentadas vem a comprovação da sintonia entre o

discurso desta Organização com um discurso mais geral, hoje, sobre as competências,

principalmente no que se refere à criatividade para negociar e a uma visão ampla para atuar

em várias áreas.

São competências não restritas a determinada profissão (ou profissões) e se enquadra

na lógica da polivalência, visível hoje nas relações de trabalho, onde, não necessariamente um

profissional faz apenas o que está prescrito na Lei de Regulamentação de sua Profissão, mas

Programa de Controle Médico Saúde Ocupacional (PCMSO) e laudos. E, além disso, tem que ter habilidadespara negociar, poder de convencimento e desenvoltura de expressão.58 Os autores que Sant’anna apud Kilimnik, Sant’anna; Luz (2004) socializam são: Spencer; Spencer (1993);Boyatzis (1982); Mcclelland; Dailey (1972), autores anglo-americanos, e Zarifian (2001); Perrenoud (2001);Dubar (1998); Stroobants (1997); Le Boterf (1994), autores franceses.

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também deve adquirir diversos saberes que possibilitem uma capacidade de agir sobre

situações previstas e imprevistas nas relações de trabalho.

Essa estratégia de significativa importância para as organizações empresariais traz

grandes desafios para os profissionais, para as entidades formadoras de profissionais, bem

como para os órgãos representativos e fiscalizadores das profissões que se vêem diante de

condições de trabalho nas quais são exigidas competências bem diferentes das previstas na

Lei de Regulamentação da Profissão. Essas condições expressam, dentre outras questões, um

novo trato às demandas apresentadas, uma sobrecarga de trabalho imposta pelos

empregadores diante da redução no número de contratação de trabalhadores nas organizações.

No SESI, essas condições são visíveis para os assistentes sociais que se vêem

obrigados a construírem/reconstruírem competências não só da área social, mas também de

áreas como matemática, contábeis, administração, marketing, a fim de responderem às

demandas presentes nas diferentes áreas em que se inserem, como mostra o capítulo a seguir.

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CAPÍTULO III – A GESTÃO DO SESI, NATAL/RN E A

CONSTRUÇÃO/RECONSTRUÇÃO DAS COMPETÊNCIAS DO ASSISTENTE SOCIAL.

3.1 – A rotina de trabalho do assistente social no SESI, Natal/RN e o processo de

construção/reconstrução de competências.

O reordenamento da estrutura organizacional do SESI59 ocorrido em meados dos anos

90 provocou, dentre outras mudanças, a extinção do setor de Serviço Social (1997) e, em

conseqüência, a inserção dos assistentes sociais em diferentes processos de trabalho voltados

para as áreas de Saúde, Lazer, Educação, Finanças, Administração e Relações com o

Mercado. O trabalho dos assistentes sociais foi, portanto, redefinido e reordenado de acordo

com os processos de trabalho60 organizados no espaço sócio-ocupacional do SESI, com base

em uma política de Qualidade Total.

Trata-se de uma forma de gestão em que é dada ênfase à construção/reconstrução de

competências profissionais, à sistematização e padronização das atividades desenvolvidas

pelos diversos profissionais que compõem as equipes de trabalho, dentre eles o assistente

59 Este capítulo se refere em específico ao SESI de Natal/RN.60 Isto significa que no SESI “o processo de trabalho em que se insere o Serviço Social não é por ele organizadoe nem é exclusivamente um processo de trabalho do assistente social, ainda que nele participe de forma peculiare com autonomia ética e técnica” (IAMAMOTO, 2001, p.107).

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social, bem como à avaliação e controle destas atividades, com vistas a melhorar a qualidade

da prestação de serviços e, assim, possibilitar uma sustentabilidade da organização

institucional no mercado. Com essa lógica, o SESI viabiliza o trabalho desses profissionais

através do acesso a objetos e meios de trabalho expressos e materializados em programas,

projetos, atividades, recursos materiais, financeiros, transportes, espaços e outros

instrumentos e equipamentos. Estes profissionais têm acesso, ainda, a cursos e treinamentos,

os quais objetivam capacitá-los em função da nova cultura de trabalho, implicando, pois, a

construção/reconstrução de competências profissionais para responder às demandas61 das

diversas áreas existentes da organização institucional.

Nesse contexto, o assistente social, um trabalhador assalariado integrante da divisão

sócio-técnica do trabalho, busca, em cooperação62 com outros profissionais, dar respostas a

tais demandas numa rotina de trabalho guiada por lógica e prioridades estabelecidas pela

organização institucional. A pesquisa constatou que o assistente social revela sua

particularidade nas equipes de trabalho como trabalhador polivalente inserindo-se tanto no

âmbito da administração quanto da execução de atividades63, desenvolvendo atribuições

coerentes com a realidade do SESI, que embora não tenham extinguido por completo a

separação entre os que administram, planejam e supervisionam a produção dos que executam

os serviços — característica do modelo fordista/taylorista —, passa a envolver aqueles que

trabalham diretamente na produção dos serviços em questões relacionadas à administração,

61 Sobre as demandas apresentadas no SESI ao assistente social ver item 2.3, capítulo 2 desse trabalho.62 Segundo Marx em O Capital, Livro 1 (1978, p 374) “a cooperação é a forma de trabalho em que muitostrabalham juntos, de acordo com o plano, no mesmo processo de produção ou em processos de produçãodiferentes mas conexos”. Neste sentido a cooperação é entendida como um conjunto de operações coletivas detrabalho desenvolvidas por diferentes especializações de trabalho, dentre elas, o Serviço Social. Como mostraIamamoto, M.V. em O Serviço Social na Contemporaneidade: trabalho e formação profissional, o assistentesocial nas empresas capitalistas “[...] não produz diretamente riqueza-valor e mais-valia-, mas é um profissionalque é parte de um trabalhador coletivo, fruto de uma combinação de trabalhos especializados na produção, deuma divisão técnica do trabalho. É este trabalho cooperativo que, no seu conjunto, cria condições necessáriaspara fazer crescer o capital investido naquela empresa” (IAMAMOTO, 2001, p.69).63 Vale salientar que a profissão de Serviço Social no SESI desde os primórdios assumiu funções tanto desupervisão quanto de execução de serviços. No entanto, essas funções não eram delegadas a um mesmoprofissional. Havia uma separação entre o assistente social que planejava e coordenava os serviços sociais e osque executavam.

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planejamento e supervisão. Assim, o assistente social tanto executa serviços quanto participa

efetivamente da gestão organizacional através dos seus conhecimentos e da mobilização de

atributos inerentes ao seu caráter educativo e persuasivo para esclarecer os objetivos, normas,

diretrizes que conformam a política de qualidade do SESI, para avaliar as atividades a partir

dos CCQ’s e para planejar as atividades a serem desenvolvidas anualmente no

SESICLINICA.

Diante dessa lógica, o assistente social desenvolve atividades que podem ser

agrupadas em: atividades de assessoria e gerência; atividades voltadas para a venda de

serviços e atividades relacionadas à assistência social.

Em se tratando do eixo que comporta atividades de assessoria e gerência, as ações dos

assistentes sociais se relacionam às atividades de suporte a racionalização e viabilização dos

serviços sociais propostos ao público usuário e se expressam no gerenciamento de atividades

de administração e finanças, na assessoria à gerência operacional do SESI, nos

esclarecimentos, nas orientações, nas opiniões e avaliações das ações com vistas à

organização e viabilização da qualidade dos serviços oferecidos aos funcionários do SESI e os

usuários internos e externos desta organização. Trata-se basicamente de atividades como:

participação efetiva no plano de ação do CAT, SESI, Natal/RN através da apresentação dos

limites e possibilidades vivenciadas durante o ano em processos de trabalho nos quais se

inserem, bem como apresentando idéias a serem desenvolvidas durante o ano; gerenciamento

de atividades de administração e finanças através do acompanhamento e controle de todas as

despesas e receitas do CAT/SESI; orientação aos funcionários e profissionais formadores em

educação sobre a ISO 9001:2000; assessoramento à gerência operacional do SESICLINICA

através de informações sobre as atividades cotidianas da organização institucional;

participação na CIPA, assumindo o papel de presidência desta Comissão e com a

responsabilidade de avaliar as condições de trabalho em que estão inseridos os trabalhadores;

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participação nos CCQ’s através de reuniões semanais ou quinzenais sobre a viabilização das

atividades que estão ou que serão desenvolvidas na unidade operacional da qual fazem parte

(SESICLINICA), sendo estes também espaços para reflexão sobre as reclamações/sugestões

feitas pelos usuários, obtidas em sua maioria através de “Caixinhas de Sugestão”;

participação na auditoria da qualidade total do Sistema FIERN com a função de fiscalizar as

atividades realizadas pelos profissionais do SESI, tendo como parâmetro as instruções de

trabalho elaboradas conforme a política de qualidade dessa instituição; e participação na

Organização de Semanas Internas de Prevenção a Acidentes de Trabalho- SIPAT’s

desenvolvidas nas empresas através de ações sócio - educativas como palestras, apresentação

de filmes sobre saúde do trabalhador, relações interpessoais, etc.

Neste contexto, o assistente social se insere nas questões de assessoria e gerência,

auxiliando e/ou liderando atividades medulares da organização que são essenciais à

construção de uma nova cultura organizacional efetivadora da política de qualidade total.

Nessa dinâmica, esse profissional mobiliza competências historicamente atribuídas a ele,

como informar, assessorar e avaliar atividades sociais e assim, contribui para a

construção/reconstrução de competências dos funcionários da organização e trabalhadores das

empresas, e também de si mesmo através da aquisição de conhecimentos relacionados a

finanças, qualidade total e saúde do trabalhador, dentre outros. Como mostra Nicolau (2004,

p.8),

O fazer integra um processo de aprendizagem em que o aprender se faz a partir dasorientações e informações teóricas sobre este fazer, em interação com a experiênciavivida, em sua objetividade e subjetividade. Nessa dinâmica, o sujeito desse fazerapropria-se de novos conhecimentos e novas habilidades que são fundamentais naorientação de condutas e comunicações frente a novas situações ou circunstâncias.

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Esse processo de aprendizagem permeia os demais eixos presentes no cotidiano de

trabalho do assistente social, como pode se perceber no eixo que contempla atividades

voltadas para a venda de serviços. Neste, as atividades desenvolvidas pelo assistente social

referem-se tanto a negociações entre SESI, empresas e profissionais terceirizados, como à

execução de atividades que remetem o aprimoramento das questões relacionadas à

negociação, persuasão, bem como à aquisição de conhecimentos na área de finanças. Trata-se

de um contexto em que o assistente social se vê diante de uma tendência à progressiva

mercantilização do atendimento das necessidades sociais, em que os serviços prestados em

sua predominância não são na lógica da prestação de direitos sociais, mas sim na lógica da

compra e venda de mercadorias, o que traz novos desafios para este profissional, como mostra

Iamamoto (2002, p.36) ao se referir sobre tendências presentes hoje na realidade social:

Uma outra tendência é a progressiva mercantilização do atendimento dasnecessidades sociais, que acompanha a privatização das políticas sociais. Osserviços sociais deixam de expressar direitos sociais, metamorfoseiando-seem atividade de outra natureza, inscrita no circuito de compra e venda demercadorias, em detrimento dos direitos sociais de cidadania, que, em suanecessária dimensão de universalidade, requer a ingerência do Estado.

Diante desta lógica o assistente social desenvolve sob os objetivos e diretrizes do SESI

atividades voltadas para: desenvolvimento de serviço de marketing apresentando as atividades

que são oferecidas (vendidas) pelo SESI às empresas, atividades que se constituem trabalhos

de assessoria na área de saúde ocupacional, ginástica laboral e cursos profissionalizantes

(ensino fundamental e médio); elaboração de planilha de custos referentes às atividades a

serem desenvolvidas para as empresas solicitantes; análise e negociação das propostas das

empresas tendo como base as planilhas de custos elaboradas de acordo com as condições

apresentadas pelo SESI; agendamento dos dias da realização de serviços a serem

desenvolvidos nas empresas por diversos profissionais; contatos com profissionais

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terceirizados para a implementação de serviços nas empresas; pesquisa para saber o

resultado dos serviços prestados pelo SESI às empresas; e construção de indicadores de

desempenho apresentando todas as atividades desenvolvidas referentes aos acordos

estabelecidos com as empresas; contatos com profissionais, pesquisas realizados e os

resultados obtidos.

São, portanto, atividades que se efetivam tendo como elemento central o dinheiro que

intermedia a compra e a venda dos serviços, inserindo-se nessa dinâmica o assistente social

como facilitador estratégico num processo em que o beneficiamento realizado junto aos

trabalhadores industriários a partir do acesso a alguns serviços sociais se dá com base em

estratégias criadas pelas empresas que

[...] ao investir nos serviços sociais passam a demonstrar uma ‘preocupaçãohumanitária’, coadjuvante da ampliação dos níveis de rentabilidade dasempresas, moralizando sua imagem social (IAMAMOTO, 2002, p.37).

Saliente-se que, apesar de existir no SESI a predominância da venda dos serviços,

ainda permanecem algumas atividades que não se encontram diretamente sob a lógica da

compra e venda de mercadorias. Trata-se de um eixo que contempla atividades relacionadas

à assistência social e contempla prioritariamente atribuições historicamente privativas64 da

profissão de Serviço Social, tais como: ações sócioeducativas através de palestras sobre

diversas temáticas, dentre elas, prevenção a DST/AIDS, alcoolismo, estresse, segurança no

trabalho; informação aos usuários e elaboração de declarações com vistas a aquisição por

parte de usuários de alguns direitos, dentre eles previdenciários; realização de visitas

domiciliares (estas de forma esporádica) com o objetivo de fazer um diagnóstico para

concessão ou não de benefícios, como cesta básica a determinados funcionários; execução de

64 Sobre atribuições privativas do assistente social ver artigo 5º da Lei de Regulamentação da Profissão deAssistente Social, Lei 8.662/93.

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programas e projetos sociais voltados para a criança e adolescente e prevenção da

dependência química através de parcerias com outras organizações institucionais, como

PETROBRÁS, FUNDAC; humanização do atendimento ao cliente externo e interno que se

vincula ao SESI, através da realização de minipalestras com estes clientes a fim de orientar

sobre as relações interpessoais, prevenção de doença, auto - estima, etc; e organização e

participação em eventos relacionados a datas comemorativas, espaços nos quais os

assistentes sociais não só mostram a importância delas para os usuários, mas também

contribuem para o marketing do SESI, ao divulgar a preocupação institucional em oportunizar

tais reflexões para a sociedade.

O assistente social, ao realizar as atividades contidas nesses três eixos, reafirma a sua

importância e inserção na divisão sócio - técnica do SESI respondendo a antigas e novas

demandas apresentadas na rotina de trabalho dessa organização institucional, em sua maioria

a partir de meados dos anos 90 com a implantação de uma nova lógica de gestão e

estruturação dos processos de trabalho voltados para a venda de serviços.

É perceptível que o eixo de prestação de serviços e satisfação dos clientes (eixo que

comporta as atividades de assessoria e gerência), bem como o eixo que abrange as atividades

voltadas para a venda de serviços, tornam-se mais estratégicos na organização do que o eixo

referente às atividades de assistência social, visto que este não se vincula diretamente à lógica

da mercantilização dos serviços, sofrendo inclusive uma progressiva redução das atividades

desenvolvidas quando comparada a décadas passadas em que havia uma identificação dos

objetivos do SESI com a assistência Social, como foi analisado no primeiro capítulo desse

trabalho.

Até os anos 90 havia no SESI programas de Serviço Social e Cooperação e

Assistência, sendo a estes destinados recursos com vistas ao cumprimento da finalidade65

65 Trata-se da finalidade de “Auxiliar o trabalhador da indústria e atividades assemelhadas a resolver os seusproblemas básicos de existência (saúde, alimentação, economia, recreação, convivência social, consciência

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institucional junto aos industriários e seus familiares. Mas diante do reordenamento das

relações entre o capital e o trabalho, no contexto das transformações societárias

contemporâneas, sob o ideário neoliberal, verifica-se dentre outras mudanças uma

reestruturação tecnológica e organizacional das empresas, provocando radical alteração na

rotina de trabalho e nas relações de trabalho no SESI. Mudanças que implicaram em um

grande número de demissões, deslocamento e transferência de cargos e funções e a própria

precarização da força de trabalho como estratégia para minimização de custos, diminuição do

montante de contribuição compulsória pelas empresas para o SESI, que, por sua vez, fez criar

novas estratégias para sua sustentabilidade econômica. Passam, portanto, a vender os seus

serviços não só para as empresas, mas para a sociedade em geral, restringindo ainda mais a

prestação da assistência social.

A lógica atual do SESI faz parte de uma conjuntura firmada a partir de meados dos

anos 90, sob a lógica neoliberal que, contrária aos princípios da Constituição Federativa do

Brasil de 1988 na qual a assistência social é defendida como política pública, reafirma-se um

caráter filantrópico66 a este tipo de serviço a partir de sua efetivação através de empresas e da

sociedade civil organizada.

Vale ressaltar que no âmbito empresarial, embora não se presencie uma ampliação dos

serviços assistenciais pelo fato de implicarem custos ao orçamento das empresas, esses

mesmos serviços continuam sendo imprescindíveis e rentáveis, no sentido de servir para

concretizar a chamada responsabilidade social da empresa e, em conseqüência contribuir no

aumento da produtividade, bem como na própria isenção de impostos pagos ao Estado. São

serviços que permanecem sendo prestados às empresas, embora muitas vezes subsumidos à

sócio-política), preocupando-se em nortear seus objetivos principais para a área de educação, destinados aotrabalhador e seus dependentes” (SERVIÇO SOCIAL DA INDÚSTRIA, Art. 4º. 1996).66 Sobre refilantropização ver a propósito Yasbeck M. Carmelita (1995); Iamamoto M.V. (2001; 2002).

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área de RH ou de gestão de pessoas67, para fornecer, dentre outros serviços, benefícios não

necessariamente incluídos no contrato coletivo do trabalhador, mas concedidos como

contrapartida ao trabalhador, a fim de que este aumente sua satisfação e, em conseqüência, a

produtividade.

Firma-se uma concepção de assistência coerente com a lógica hegemônica e contrária

aos princípios constitucionais brasileiros, a qual reforça a assistência não como direito de

todos os cidadãos que dela precisarem, mas sim, resgata o veio conservador e busca efetivá-la

como assistencialismo68.

Como mostra César (2000, p.131), esses benefícios são geralmente oferecidos aos

trabalhadores “estáveis” e a atuação do Serviço Social nesse sentido é dirigida para a “[...]

racionalização dos benefícios, para o trato das ‘exceções’ e para a concessão destes de acordo

com critérios meritocráticos.

No caso do SESI constata-se a tendência da implantação de tais serviços, o que tende a

provocar uma ampliação do eixo que comporta atividades relacionadas à assistência social,

através da criação do Serviço Social para os servidores do SESI, com vistas a uma melhor

viabilização da política de Qualidade Total, o que se constitui também numa ampliação de

demandas e espaços de trabalho para o assistente social, que se vê diante de um alargamento

de demandas voltadas para a concessão de benefícios e de uma reaproximação com a questão

67 De acordo com Chiavenato (1999, p.11) a “moderna Gestão de Pessoas consiste em várias atividades, comodescrição e análise de cargos, planejamento e RH, recrutamento, seleção orientação e motivação das pessoas,avaliação do desempenho, remuneração, treinamento e desenvolvimento, relações sindicais, segurança, saúde,bem-estar, etc”.68 É importante ressaltar que nesse trabalho a questão do trabalho assistencial e/ou assistencialista não seconstituiu o foco central, não sendo pesquisado nos assistentes sociais qual a perspectiva ideológica e política daprática assistencial que desempenham, o que não nos permite concluir que tais profissionais estejamdesenvolvendo assistencialismo e não assistência social ou vice-versa, embora a lógica da organizaçãoinstitucional seja coerente com a reestruturação produtiva em nível nacional e até mundial que está reforçandomuito mais o assistencialismo. Sobre tais conceitos, convém citar Alayón (1992, p.53-54) que diz ser “[...] aorientação ideológico-política da prática assistencial o que determina se ela é assistencialista ou não [...] seacreditarmos que a simples implementação de algumas atividades de bem-estar social, sem considerar aerradicação das causas profundas do atraso e da dependência, é a ‘fórmula’ e a panacéia para solucionar osproblemas sociais, estaremos, sem dúvida, imersos no cretinismo do assistencialismo [...] Mas, se ao contrário, aatividade assistencial é assumida como direito inalienável da população explorada, interpretada na perspectiva de

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da assistência social que historicamente se constitui elemento de identidade da profissão de

Serviço Social69, e, até o início dos anos 90, era posta em discussão a partir do incentivo do

SESI.

O assistente social tinha por meio dos TIR’s, treinamentos sobre questões diretamente

vinculadas a sua área e as demandas apresentadas, em específico sobre a assistência social. A

partir de meados dos anos 90, essa discussão não mais é incentivada pelo o SESI, embora esta

organização institucional adote como uma das estratégias principais contribuir para a

construção de competências profissionais. Mas, de qual forma?

O direcionamento pelo SESI da capacitação de seus funcionários se dá com base nas

demandas sociais que são absorvidas pela organização como demandas institucionais, sendo

organizado um processo de capacitação profissional que se alia e se aglutina à formação já

existente nos profissionais adquirida em grande parte na academia e resulta num processo de

constante construção e reconstrução de competências profissionais. Ao se voltar para a venda

de serviços, em específico na área de saúde, numa perspectiva de garantir a Qualidade Total,

o SESI mantém hoje uma influência no processo de construção/reconstrução de competências

principalmente relacionadas aos eixos: vendas de serviços (que produz diretamente capital

para a empresa) e assessoria e gerência (que possibilita a base para a obtenção da venda de

serviços).

Essa influência se concretiza por meio de um aparato estratégico que permeia o

cotidiano institucional e se estrutura através da Administração de Recursos Humanos – ARH,

que segundo Chiavenato (1999, p.11) “refere-se às políticas e praticas necessárias para se

igualdade e justiça e, ao mesmo tempo, se atua contra as grandes causas geradoras da exploração e da miséria,obviamente, não se pode falar de assistencialismo”.69 A propósito ver Silva e Silva (2002) que mostra o posicionamento de vários autores a respeito da assistênciasocial considerada como um elemento importante na construção/reconstrução histórica da identidadeprofissional, inclusive, na perspectiva de realização da cidadania.

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administrar o trabalho das pessoas”70. Neste sentido a ARH no SESI constitui-se de

mecanismos como a DIPEQ71 que faz o levantamento anual do desenvolvimento dos

profissionais que trabalham no SESI; as gerências das áreas de Saúde, Educação e Lazer; e os

CCQ’s formados pelo Representante da Divisão de Gestão da Qualidade do SESI que

juntamente aos funcionários do Sistema FIERN— SESI, SENAI, IEL (auditores da política de

qualidade) e as equipes de trabalhadores, representantes das diversas unidades, que têm a

função de observar se os serviços estão sendo implementados em conformidade com as

normas presentes na Política de Qualidade e objetivadas em instruções de trabalho, a fim de

detectar possíveis limitações e encontrar formas de superações em seus encaminhamentos,

bem como sensibilizar os demais profissionais integrantes que participam dos processos de

trabalho do SESI.

Com essa perspectiva no SESI, não são os especialistas do DIPEQ quem estabelecem

as competências a serem construídas/reconstruídas pelos trabalhadores no SESI, mas sim, os

gestores de acordo com os projetos existentes na unidade em que gerenciam, cabendo a

DIPEQ criar um plano de desenvolvimento de pessoas a ser implantado e, ao mesmo tempo,

avaliado no seu processo de execução. Como mostra Chiavenato (1999, p.20), trata-se de uma

estratégia difundida no mundo das organizações hoje, através da qual

[...] gradativamente a área de ARH está deixando de ser a prestadora deserviços especializados de recursos humanos, abandonando, paulatinamentesuas operações burocráticas e se transformando cada vez mais em uma área deconsultoria interna para preparar e orientar os gerentes [...] Estes passam a seros novos gestores de pessoal dentro das empresas, o que significa que as

70 Para Chiavenato (1999, p.11) a ARH se concretiza mediante a Analise e descrição de cargos; desenho decargos; recrutamento e seleção de pessoal; admissão de candidatos selecionados; orientação e integração denovos funcionários; administração de cargos e salários; incentivos salariais e benefícios sociais; avaliação dodesempenho dos funcionários; comunicação aos funcionários; treinamento e desenvolvimento de pessoal;desenvolvimento organizacional; higiene, segurança e qualidade de vida no trabalho; e relações com empregadose relações sindicais”71 A DIPEQ funciona separada do Setor pessoal e presta serviços ao Sistema Integrado da FIERN – SESI,SENAI e IEL, está situada na casa da Indústria, na Avenida Senador Salgado Filho, nº 2860, Bairro Lagoa Nova,Natal/RN. É composta por um psicólogo, uma assistente social (esta profissional não é contratada comoassistente social), uma especialista em Gestão de Pessoas (gerente) e estagiários de psicologia, estatística eadministração.

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decisões e ações com relação às pessoas passam a ser da alçada dos gerentes enão mais uma exclusividade da área de ARH.

A partir desse aparato estratégico, a gestão de pessoas do SESI possibilitou, nos

últimos anos, cursos rápidos de especialização e treinamentos aos seus trabalhadores com

vistas a qualificá-los para as atividades desenvolvidas, prioritariamente, em dois eixos

operacionais (Assessoria e Gerência; e Venda de Serviços) que fazem parte da dinâmica

institucional. Dentre esses trabalhadores estão os assistentes sociais que têm participado de

capacitações sobre: Marketing e Atendimento ao Cliente, Administração e Finanças,

Formação Continuada em Educação, Informática, Contabilidade, Alcoolismo, Saúde e

Segurança no Trabalho, etc, Especialização em Saúde Sexual, Dependência Química,

Educação Ambiental e Gestão de Iniciativas Sociais. São temáticas relacionadas à forma de

prestação dos serviços e atividades pertinentes à saúde do trabalhador, à qualidade total, entre

outras, coerentes com a lógica empresarial contemporânea que busca construir um “novo

comportamento produtivo adequado às metas de qualidade e produtividade” (CÉSAR, 2000,

p.132-133). Esta lógica tem, através de um aparato técnico-instrumental, o interesse em

possibilitar que o trabalhador tenha maior eficiência e dinamismo através da aquisição de um

perfil generalista, dando respostas e desenvolvendo atividades voltadas para uma ampla

variedade de problemas transformados em demandas no SESI.

No caso das oito assistentes sociais entrevistadas, cinco (62,5%) participaram de

alguma especialização, incentivada pelo SESI sobre áreas temáticas como: Saúde sexual

(SSO1); Dependência química (SSO5) Educação Sexual (UFRN) e Gestão de iniciativas

sociais (SSO6); Educação Ambiental (SSO7); Gestão de Iniciativas Sociais(SSO8), sendo

portanto especializações nas quais a profissão de Serviço Social não é posta como objeto de

estudo, nem tampouco a assistência social, contribuindo para a formação de um profissional

generalista, distanciado de estudos sobre as particularidades da profissão no contexto da

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organização institucional. Trata-se de uma forma de capacitação que interfere diretamente na

instrumentalidade72 utilizada pelo assistente social diante de diversas demandas institucionais

e profissionais. Como mostra Guerra (2004, p.1) é muito importante haver estudos que

ponham o “Serviço Social na interface com diversas temáticas, que podem ser desde as

políticas sociais até as situações singulares e microscópicas nas quais o Serviço Social atua

[...]”, a fim de que o assistente social possa estabelecer as mediações entre tais temáticas e os

referenciais teóricos, técnicos e ético-políticos da profissão.

Explicita-se, pois, um cenário institucional contraditório para o assistente social no

SESI em termos de construção/reconstrução de competências, visto que se por um lado as

demandas exigem um pensar sobre a particularidade do exercício profissional do assistente

social nas equipes interprofissionais de trabalho, por outro lado, não há incentivos

institucionais para o estudo sobre a profissão.

Mas, em relação a outras temáticas, é notório que o SESI desempenha um papel

importante, através do incentivo e, muitas vezes, transforma-se no órgão financiador quando

faz parcerias com outras instituições que oferecem cursos à distância, dentre elas a

Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como mostram algumas falas de assistentes

sociais, a seguir:

O SESI quando considera que o tema é importante incentiva, inclusivefinancia (SSO4, março de 2004).

O SESI incentiva bastante. Até agora os cursos que eu achei interessante esolicitei, ele tanto libera, como também financia (SSO6,março de 2004).

O SESI incentiva para fazer cursos visto que tem parcerias com instituiçõesque fornecem cursos(UFRJ, UnB, BEMFAM...), e também, liberam osprofissionais para fazerem cursos (SSO1, março de 2006).

72 Como mostra Guerra (2000, p. 53) a “[...] instrumentalidade é uma propriedade e/ou capacidade que aprofissão vai adquirindo na medida em que concretiza objetivos. Ela possibilita que os profissionais objetivemsua intencionalidade em respostas profissionais. É por meio da instrumentalidade que os assistentes sociaismodificam, transformam, alteram as condições objetivas e subjetivas e as relações interpessoais e sociaisexistentes num determinado nível da realidade social: no nível do cotidiano”.

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O curso que fiz foi fornecido pelo SESI (SSO3, março de 2004).

Vale ressaltar que duas das três assistentes sociais que não realizaram especialização

atribuem esse fato à questão da mobilidade ou transferibilidade a que são submetidas na rotina

de trabalho do SESI, acarretando dificuldades para conciliarem o estudo de temáticas

diferentes da área para a qual são transferidas, traduzindo no dado de que, embora em menor

proporção, essa característica — mobilidade em associação à polivalência profissional —

dificulta a qualificação do trabalhador em cursos mais longos, mesmo estes sendo

importantes, como mostram os depoimentos a seguir:

Ainda não fiz nenhuma especialização. Já perdi a oportunidade de fazer duasespecializações. Uma foi voltada para a educação. Quando já estava preparadapara entrar na especialização tive que mudar de função: passar a coordenar acertificação de qualidade. A outra oportunidade foi para fazer especializaçãofora do Estado [do Rio Grande do Norte], mas não houve liberação pelo SESI.Hoje, seria inclusive, muito importante para o SESI (SSO3, março de 2004).

Fiz cursos de extensão na área de educação numa parceria entre SESI e Unb -cerca de 07 cursos que se tivesse feito a monografia teria recebido o titulo deespecialista.Mas, devido ter mudado para a área da saúde ocupacional deixei,porque não mais me envolvi.Faltou comunicação.Houve acomodação (SSO4,março de 2004).

O último depoimento revela um elemento novo que é a acomodação profissional, o

que remete à necessidade de o profissional buscar a ruptura com essa limitação, visto que nos

novos tempos a participação em espaços de estudo é não apenas importante como necessária

diante da exigência da multifuncionalidade, constituindo-se em oportunidades ricas para a (re)

qualificação do exercício profissional diante das diferentes demandas postas e da constante

mudança de postos de trabalho. Mas do que isso, a não acomodação impulsiona o profissional

a buscar a criação de espaços que direcionem essa (re) qualificação a fim de não perder de

vistas as mediações existentes entre tais cursos e a profissão de Serviço Social.

Mas vale ressaltar que a questão da acomodação, bem como do direcionamento para

com o processo de (re) qualificação profissional não pode ser vista como uma questão apenas

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de responsabilidade profissional, visto que no contexto sócio-institucional entram em cena

diversas facetas impulsionadoras ou bloqueadoras do desenvolvimento de competências

profissionais. Como mostra Deluiz (2003, p.9) a própria noção de competência “[...] engloba

facetas que vão do individual ao sóciocultural, situacional (contextual-organizacional) e

processual”. No caso do SESI, esse processo se explicita basicamente através de um

movimento duplo e intrínseco: por um lado o espaço sócio - institucional estrutura os

processos de trabalho e possibilita novos conhecimentos e os saberes a partir de sua cultura

organizacional com princípios, diretrizes, objetos, objetivos, programas e projetos orientados

por uma política de Qualidade Total. Por outro lado, tem-se a cultura dos profissionais que

influencia a forma de apreensão desse espaço, nos conhecimentos postos pelo ambiente de

trabalho e na condução do mesmo a partir de referenciais teórico-metodológicos e ético-

político adquiridos, sejam através da formação acadêmica, sejam através de suas relações

sociais (o que inclui as relações grupais, familiares).

Essas considerações revelam a impossibilidade de se tratar a construção/reconstrução

de competências no ambiente de trabalho sem levar em conta a dinâmica que envolve o

assistente social, na qual ele participa e desenvolve ações e apreende novos conhecimentos,

distancia-se de outros, estabelece e vivencia relações sociais objetiva e subjetivamente

determinadas no espaço sócio- ocupacional do SESI.

É preciso, pois, atentar para as relações e condições de trabalho vivenciadas pelos

assistentes sociais no espaço sócio - ocupacional do SESI na sua rotina de trabalho. Apesar de

todas (oito assistentes sociais) afirmarem serem boas suas condições de trabalho, revelam

dificuldades tais como escassez de recursos materiais: fax, xérox e acesso à ligação

interurbana para facilitar o desenvolvimento dos trabalhos com as empresas. Conforme quatro

profissionais, essa situação as obriga muitas vezes a ter que deixar a sala em que trabalham

sem nenhum profissional e ir até a gerência fazer uso de tais serviços, atrasando não só o

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andamento dos trabalhos, mas impedindo contatos com pessoas, inclusive possíveis

compradores de serviços no SESI que telefonam para a sala nesse ínterim.

As relações de trabalho, portanto, pautadas pela sobrecarga de trabalho, pela

polivalência e pela mobilidade profissional, obrigam as profissionais a atuar sobre diversas

demandas, sem, contudo, terem uma capacitação suficiente e um reconhecimento profissional,

em especial no que diz respeito ao valor dos salários73, como mostra a assistente social a

seguir:

[...] Pelo fato do mercado hoje está restrito, você tem que abraçar todas ascausas e tudo o que aparece para a gente fazer. O que mais dificulta na verdadeé a gente não ter uma capacitação sobre novas demandas como, por exemplo,assessoria administrativa. Então, a única coisa que a gente pode fazer é ler [...]Mas, o SESI já abre cursos via Internet e a gente tem esse acesso, por exemplo,sobre responsabilidade social e isso ajuda muito. Agora o que principalmenteestá faltando é um teto (sic) salarial para nossa categoria. A gente trabalhamuito, mas não é remunerado suficiente. (SSO2, março de 2004).

São dificuldades que apresentam pontos em comum em relação à realidade vivenciada

por assistentes sociais no âmbito empresarial em outras partes do Brasil. Conforme enfatiza

Iamamoto (2002, p.40), pesquisa desenvolvida pelo COFI/CRESS- 7ª Região/RJ, mostra que

as principais dificuldades enfrentadas pelos assistentes sociais relacionam-se às

[...] condições de trabalho que cerceiam a possibilidade de potenciar esseexercício, nele interferindo, tais como: baixa remuneração, aumento ediversificação de atividades, redução de pessoal, carga horária excessiva eausência de reconhecimento profissional.

Trata-se de questões a serem consideradas, visto que há uma relação intrínseca entre as

condições objetivas de trabalho e a competência profissional. Por mais que o trabalhador

tenha uma competência teórica e técnica para o trabalho pelo domínio de conhecimento e

habilidades para encontrar formas e estratégia de atuação no cotidiano do seu trabalho

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profissional, caso não encontre recursos e meios para a sua implementação, o trabalho torna-

se inviabilizado e a própria competência profissional pode não ser revelada. Outrossim, em

alguns momentos ou situações, contraditoriamente, o profissional diante das dificuldades em

suas condições de trabalho, revela uma capacidade para agir — uma competência —,

encontrando formas e estratégias em resposta às demandas ocasionalmente postas,

viabilizando o trabalho. E nesse processo o profissional pode acrescentar novos

conhecimentos e novas habilidades no exercício do seu trabalho, implicando em uma (re)

construção da sua capacidade para agir.

O trabalho, possuindo uma dimensão educativa 74, é central no processo de (re)

construção da competência profissional, entendendo-se que falar dessa dimensão é afirmar

que:

[...] O aprender não se limita à retenção de informações, pois supõe suaapropriação: as informações fazem parte do processo de trabalho, enquantoum dos instrumentos e meios para a objetivação do trabalho profissional, maso aprender se dá através da atividade (o trabalho profissional) que concretizaas relações entre aquele homem e a sociedade, viabilizando a própriaobjetivação dos indivíduos como indivíduos sociais (NICOLAU, 2005, p.23).

Observe-se que existe uma capacidade de criação e recriação por parte dos

profissionais em suas rotinas de trabalho, nos espaços sócios ocupacionais, mesmo que estes

profissionais vendam sua força de trabalho de forma assalariada, possibilitando ao

empregador apropriar-se do valor de uso dessa força durante toda a jornada de trabalho,

inclusive inviabilizando muitas das atividades propostas em razão dos recursos escassos e

reduzidos, principalmente quando se trata de ações voltadas para a proteção social75. Com

73 A média do salário recebido pelos assistentes sociais do SESI é entre cinco a dez salários mínimos. Salienta-seque o salário mínimo equivalia no período das entrevistas (março/2004) a 240,00 Reais.74 A propósito ver Nicolau, M. C.C. em O Aprender do Fazer — Serviço Social, Trabalho Profissional eRepresentações Sociais (2005).75 Conforme mostra o Relatório Anual de Atividades 1997- SESI, DR/RN a despesa desse regional na área deproteção social - Serviço social e Cooperação e Assistência-, foi respectivamente de R$ 447.158,08 e R$

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relação a essa capacidade criadora diante das relações de trabalho capitalistas, Iamamoto

(2001, p.97) afirma que:

Durante a jornada de trabalho, a ação criadora do assistente social devesubmeter-se a exigências impostas por quem comprou o direito de utilizá-ladurante um certo período de tempo conforme políticas, diretrizes, objetivos erecursos da instituição empregadora.

O assistente social no SESI em suas relações de trabalho tem uma relativa autonomia

na forma de execução do trabalho. Observe que, apesar de o assistente social ter um contato

direto com os usuários, contato que pode possibilitar um redirecionamento da sua ação

profissional em seus objetivos e atividades, ocorre em grande parte um controle pela

organização institucional, embora não seja do nível semelhante ao do controle realizado junto

ao operário na linha de produção. Como mostra Iamamoto (2001, p.97),

O assistente social preserva uma relativa independência na definição deprioridades e das formas de execução de seu trabalho, sendo o controleexercido sobre sua atividade distinto daquele a que é submetido, por exemplo,um operário na linha de produção.

Ressalte-se que, de acordo com a natureza e gestão de cada organização essa relativa

autonomia se torna maior ou mais restrita. No caso do SESI, constata-se que, apesar de a

gestão ser nomeada gestão participativa, na qual todos devem participar como colaboradores,

e a natureza da organização não ser considerada pelos seus organizadores como capitalista76,

não resulta um alargamento da autonomia de seus funcionários, dentre estes o assistente

405.083,04, despesa essa que será diminuída no ano seguinte a partir da extinção da área de Serviço Social paraR$ 402.900,00 relativo a área de Cooperação e Assistência, extinta em 1998.76 Apesar de haver discursos na sociedade de que o SESI é uma organização do “terceiro setor” (a propósito verMACKSEN, Luiz. SESI- 50 Anos. DN, Estúdio DBA. 1996), sua estrutura, em especial, a partir de meados dosanos 90 se assemelha à de uma empresa capitalista, sendo que, de acordo com o representante da direção dosistema de qualidade do SESI, essa instituição é uma empresa privada que “[...] não visa lucro (está noregulamento), mas por que hoje se cobra uma consulta? Porque dentro da nova missão, sentimos a necessidadede melhorarmos os serviços. E assim, cobramos uma taxa para ajudar na manutenção. Porque apesar dos serviçosque são vendidos, ele é mantido pela taxa compulsória através da folha de pagamento do total que você comofuncionário desconta para o INSS, parte daquilo é repassado ao SESI”(RDSQ, maio de 2004).

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social, mas, sim apresenta maior controle e uma avaliação mais rígida no que diz respeito ao

planejamento e execução do trabalho. É um controle que repercute diretamente na

construção/reconstrução das competências pelo assistente social para responder às antigas e

novas demandas, conduzindo esse profissional a um processo de (re) qualificação profissional

com novos desafios, como se pretende mostrar a seguir.

3.2- As competências do assistente social no SESI, Natal/RN: processo de (re)qualificação

profissional.

Constata-se no SESI dos anos 90 a existência de uma gestão que se volta para uma

“ressignificação da qualificação do trabalhador” (MANFREDI, 1998), através da

construção/reconstrução de competências profissionais para adequar-se às características dos

processos de trabalho pautados na polivalência e na flexibilização, próprios da nova cultura

estabelecida nas relações de trabalho na sociedade contemporânea.

Como mostra Manfredi (1998, p.36) esse processo de ressignificação e até de

substituição da noção de qualificação pelo modelo de competência, refere-se a

[...] um movimento de reatualização, sem dúvida inovador, para dar conta denovos desafios que a realidade concreta propõe, contudo prisioneiro de umalógica ancorada na perspectiva do capital e não do trabalho.

Refere-se a uma reatualização que amplia o conteúdo e requisitos da qualificação do

trabalhador, não devendo mais ficar restrita ao campo técnico-científico, (um conjunto de

saberes obtido na escolarização formal, diplomas correspondentes e a experiência

profissional), mas, também, abranger dimensões relacionadas ao âmbito da subjetividade.

Significa, pois, uma qualificação que inclua outros requisitos relacionados às habilidades e

aptidões necessárias diante de situações previstas e imprevistas de trabalho.

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Esse processo de (re) qualificação almejada pelas organizações empregadoras tem sido

influenciado por diversas estratégias como: cursos, treinamentos, seminários, etc, a fim de

criar no profissional um novo perfil (como mostrado no capítulo 2) que se enquadra nas

características hoje impostas no mundo do trabalho, relacionadas não mais apenas a

conhecimentos teóricos e técnicos, mas também a habilidades pessoais, como criatividade,

espírito inovador, autocontrole emocional, entre outros, para tornar sustentável a lógica hoje

de polivalência e da transferibilidade profissional.

Saliente-se que essa (re) qualificação exigida nas organizações não tem

necessariamente o mesmo sentido para os seus dirigentes e para os seus trabalhadores, dentre

estes os assistentes sociais. Para os dirigentes, representantes dos órgãos empregadores, a

competência significa que o trabalhador deve mobilizar um conjunto de saberes teóricos,

técnicos e ético-políticos, incluindo habilidades e aptidões, para promover a eficácia e a

eficiência com base nos objetivos e interesses organizacionais, que por sua vez são

influenciados por uma racionalidade formal/abstrata77 predominante na sociedade capitalista,

que, como diz Guerra (2005, p.3), é um modo de ser e de pensar que considera os fatos,

fenômenos e processos sociais na sua imediaticidade e “[...] não supera essa forma, ao

contrário, a toma como um dado fixo, cristalizado”. Trata-se de uma racionalidade que

[...] subjaz ao pensamento conservador do status quo, opera com doismovimentos: deseconomiciza os processos sociais, retira deles as bases que osustentam, seus fundamentos materiais e concretos e os desistoriciza,retirando-os da história (GUERRA, 2005, p.04).

É uma racionalidade que impede o trabalhador de ter o conhecimento sobre o por que

fazer e as implicações ético-políticas deste fazer, e mais: incentiva a formação de um técnico

77 A propósito ver Guerra, Y. A Instrumentalidade do Serviço Social. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2002.

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treinado a fazer as atividades postas no ambiente de trabalho com o máximo de eficácia e

eficiência.

Como mostra Manfredi (1998, p.36), o perfil e a atuação profissional requisitado

ajusta-se aos princípios dessa racionalidade técnica capitalista, sob os moldes das matrizes de

orientação sistêmico-funcionais e concorre para a afirmação de que

[...] a noção de competência que vem sendo explicitada nos discursos dosempresários, técnicos e cientistas sociais empresta seu significado das áreasdas ciências da cognição e da educação que adotam como parâmetros teórico-explicativos modelos que não se opõem às premissas e à lógica deorganização do capitalismo.

Em relação ao trabalhador, em específico o assistente social, a noção de competência

tem sido influenciada a partir dos anos 80 por uma perspectiva de formação profissional que

prima por uma racionalidade capaz de

[...] desvendar as dimensões constitutivas da chamada questão social, dopadrão de intervenção social do Estado nas expressões da questão social, dosignificado e funcionalidade das ações instrumentais a este padrão, através dapesquisa, a fim de identificar e construir estratégias que venham orientar einstrumentalizar a ação profissional, permitindo não apenas o atendimento dademanda imediata, mas sua reconstrução crítica (GUERRA, 2004, p.10).

Trata-se de uma racionalidade crítica que impulsiona o assistente social a ter uma

atitude crítica frente à realidade de trabalho, sendo essa atitude, conforme Souza & Azeredo

(2004, p.55) formada através do dizer não ao senso comum e interrogar sobre o que

significam as coisas com as quais nos deparamos e os porquês delas, tornando-se necessária

para o assistente social a característica de

[...] fugir de atitudes de aceitar como óbvias e evidentes as coisas, asidéias, os fatos, as situações, os valores, os comportamentosencontrados.

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No entanto, essa racionalidade em meio às relações capitalistas tende a ser subsumida

pela racionalidade formal/abstrata, e os traços dessa subsunção são perceptíveis ao se observar

como se efetiva o processo de construção/reconstrução das competências do assistente social

no SESI. Trata-se de um processo complexo no qual estão presentes vários elementos

influenciadores que, na visão dos assistentes sociais entrevistados, referem-se ao espaço

sócio-organizacional do SESI, a partir da forma em que estrutura e monitora os processos de

trabalhos; aos saberes e conhecimentos adquiridos por meio da academia e reelaborados no

próprio trabalho profissional; de textos sobre as áreas de atuação (saúde, lazer, educação e

finanças); de textos sobre o Serviço Social; participação em congressos; seminários e

pesquisas em Internet.

Ressalte-se que o grau de influência desses elementos são sócio - históricos e,

portanto, variam com a particularidade que se delineia entre os trabalhadores, o meio sócio-

organizacional e as relações sociais mais amplas em que estes atores se inserem e interagem

cotidianamente. No caso específico desta pesquisa, as oito assistentes sociais (100%)

consideram que é o espaço sócio - ocupacional do SESI e a sua estruturação de trabalho o que

mais influencia no processo de construção/reconstrução de competências na atualidade. É a

partir da experiência no trabalho que esses profissionais procuram ler e entender as questões

relativas à saúde, educação, lazer, finanças e relações com o mercado.

O trabalho, por possuir uma dimensão teleológica, leva e impulsiona o assistente

social a construir uma competência, a fim de responder às demandas postas, ao mesmo tempo

em que a própria efetivação do trabalho acrescenta a esse profissional novos conhecimentos,

experiências, habilidades, dúvidas, que lhe possibilitam uma (re) construção da sua

competência profissional.Como mostra Nicolau (2005, p.65),

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[...] através do trabalho, os homens transformam a natureza, como também setransformam, possibilitando assim a transformação de formas e conteúdosnaturais, em formas e conteúdos sociais, na medida que constroem os objetossociais e produzem serviços [...] através da objetivação da sua prévia ideação,apreendem e descobrem novos conhecimentos que espontaneamente passam aser incorporados a novas ideações, adaptando-se, portanto, às circunstânciasou situações de trabalho que se modificam.

A que se considerar também que o contexto sócio-organizacional no qual o trabalho é

desenvolvido comporta e cria uma variedade de saberes, o que leva o assistente social por

meio do seu exercício profissional nesse contexto reconstruir o seu saber sobre a profissão.

Trata-se de um saber sobre o fazer, intrínseco ao próprio trabalho. Conforme Nicolau (2005,

p.143),

Nas instituições – espaço de trabalho do assistente social- tem-se em processoe em ato, uma pluralidade de saberes. Não saberes apenas intelectualizados,mas sua reconstrução, na prática, sua filtragem e reordenamento a partir dosentido social das questões tratadas: as informações que catalisam, os valoressociais e simbólicos que lhes são associados, as relações interpessoais eintergrupais que são polarizadas.

O trabalho desenvolvido (ou a ser desenvolvido) pelo assistente social no espaço sócio

- ocupacional refere-se, portanto, a um elemento pelo qual não só se explicita o que o

profissional possui de competências, mas é também um meio que possibilita a

construção/reconstrução de competências devido ao seu caráter educativo. É ele que

impulsiona os assistentes sociais do SESI a buscarem novos conhecimentos e habilidades,

através do acesso a noticiários (75%), congressos e seminários (75%) e cursos de

especialização (50%).

Possui uma dinâmica social que proporciona formação, ou seja, contribui para a

qualificação do trabalhador, sendo um processo de qualificação determinado tanto pela

estruturação dos processos de trabalho proveniente da lógica das relações de trabalho na

sociedade capitalista, quanto pelo redirecionamento que decorre da intervenção dos atores

envolvidos no processo, sendo, portanto,

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“[...] um processo constituído com base em um movimento dialético, quecomportaria, ao mesmo tempo, elementos qualificantes e desqualificantes,conectados ao ato e/ou atividades de trabalho, não circunscrita e cristalizadaem função de um conjunto prescrito de postos de trabalho, tarefas e funções(MACHADO apud MANFREDI, 1998, p.24).

Trata-se da concepção de qualificação que remete ao entendimento de uma processo

primordialmente sócio - cultural e histórico e que comporta elementos qualificantes e

desqualificantes78, elementos direcionados e redirecionados a partir da possibilidade de

intervenção dos atores sociais envolvidos no processo. No caso do SESI, revela-se uma

dinâmica em que esses elementos se intercruzam dialeticamente em meio ao processo de

construção/reconstrução de competências dos assistentes sociais. A cultura organizacional e a

forma em que são organizados os processos de trabalho no espaço sócio - ocupacional

incentivam a aproximação do assistente social de áreas estratégicas da organização, como

saúde, educação, lazer e administrativo-financeira, através de cursos, especializações, bem

como de discussões semanais nos CCQ’s e, também, das relações interpessoais cotidianas

voltadas para tais temáticas.

Note-se que, ao mesmo tempo em que esse profissional se qualifica, convive com

elementos desqualificantes, em grande parte impulsionados pela organização do trabalho no

SESI que não mais incentiva o estudo da profissão, tampouco da assistência social, temática

historicamente ligada ao debate da profissão de Serviço Social. Trata-se de uma dinâmica de

trabalho que tem contribuído para um distanciamento do assistente social das leituras

contemporâneas sobre a profissão de Serviço Social — feitas apenas por duas assistentes

sociais (25%) de um total de oito profissionais —, como revela a pesquisa, assim como

78 Destacam-se como “elementos desqualificantes”: falta de incentivo do SESI para estudos sobre a assistênciasocial e a profissão de Serviço Social, o distanciamento pelos assistentes sociais de leituras sobre a profissão e decongressos e seminários sobre o Serviço Social; da academia para estudar sobre o Serviço Social; inexistência deespaços de planejamento do Serviço Social no SESI; polivalência; mobilidade profissional; sobrecarga detrabalho e falta de reconhecimento salarial.

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apenas três assistentes sociais (37,5%) afirmaram ter contatos com o meio acadêmico79, na

busca de capacitação. Quanto à pesquisa em internet que busque informações sobre a

profissão do Serviço Social, apenas uma assistente social (12,5%) afirmou desenvolver, não

havendo nenhuma menção a participação em espaços representativos como o CRESS e

Conselhos de políticas públicas, dentre outros.

Os assistentes sociais ingressam num processo de (re) qualificação para dar conta das

competências exigidas nas áreas em que estão inseridas e, nesse processo tendem a se

distanciar da racionalidade crítica da realidade social almejada pelo projeto ético-político

hegemônico na profissão de Serviço Social, expresso na Lei 8.662/93, pelo Código de Ética

da Profissão (1993) e pelas Diretrizes Curriculares do Curso de Serviço Social (1996). Trata-

se de um distanciamento que se revela tanto em relação ao conhecimento sobre o significado

do Projeto, quanto no que diz respeito aos elementos que o compõem, com exceção do

Código de Ética que já foi lido pelas profissionais80.

Ressalte-se que esse projeto tem basicamente em seu núcleo o reconhecimento da

liberdade como valor central e vincula-se a um projeto de sociedade que propõe uma nova

ordem social. Tem uma dimensão política a favor da eqüidade e da justiça social, apresenta

uma nova relação sistemática com os usuários dos serviços prestados pelos assistentes sociais

e um compromisso com a competência pautada pela racionalidade crítica, ou seja, construída

a partir do aprimoramento intelectual do assistente social. Para tanto, requer uma

79 Apesar de a maioria dos assistentes sociais terem concluído o Curso de Serviço Social entre o final dos anos80 e os anos 90, quando já começa a ser discutido o atual projeto ético-político da profissão, a pesquisa constatao desconhecimento destes para com o conteúdo do Projeto, o que reforça ainda mais a necessidade destesvoltarem a manter um intercâmbio com a academia, para aprofundar questões especialmente voltadas para aprofissão de Serviço Social na contemporaneidade.80 De acordo com duas dos entrevistadas a leitura foi feita num grupo de estudo que é realizado três vezes ao anopor assistentes sociais de empresa, do qual participam. É interessante ressaltar que o Código de Ética doAssistente Social (1993), apresenta-se em nível nacional como o documento mais lido (lido por 96,37% dosassistentes sociais entrevistados) dentre os demais que expressam a consolidação do Projeto Ético-Político daProfissão de Serviço Social (a Lei 8.662/93; Diretrizes Curriculares;Tabela de Honorários). A propósito ver otexto: Assistentes Sociais no Brasil— elementos para o estudo do perfil profissional (CFESS, 2005, p.37).

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[...] formação acadêmica qualificada, alicerçada em concepções teórico-metodológicas críticas e sólidas, capazes de viabilizar uma análise concreta darealidade social - formação que deve abrir o passo à preocupação com a (auto)formação permanente e estimular uma constante postura investigativa(NETTO, 1999, p.105).

Observe-se que, a garantia dessa (auto) formação permanente por parte dos assistentes

sociais do SESI, com vistas ao alcance dos princípios contidos nesse projeto ético-político

tem sido cerceada e tolhida no âmbito organizacional. A própria lógica organizacional do

SESI volta-se para que o assistente social tenha uma visão generalista, não no sentido de ser

capaz de captar criticamente as relações sociais em sua totalidade e complexidade,

compreender e atuar nas diversas expressões da questão social no contexto social, mas sim,

trabalha para que os assistentes sociais naveguem por várias áreas, fazendo cursos de

especialização e treinamentos com base em teorias sistêmicas, em suportes do programa de

qualidade total para tornarem-se técnicos eficazes e eficientes necessários aos princípios e

objetivos da racionalidade formal-abstrata.

Trata-se de uma conjuntura que dificulta a construção de uma competência defendida

pelo projeto ético-político da profissão de Serviço Social hegemônico, que deve mobilizar de

forma articulada as dimensões teórico - técnicas e ético-políticas, permitindo ao profissional

um olhar crítico sobre as demandas postas com uma escolha teórico-metodológica que o faça

tomar posicionamentos éticos e que garanta, em meio às possibilidades da realidade, a

garantia da justiça, a ampliação de direitos, dentre outros valores amplamente negados na

sociedade brasileira. É esse olhar crítico que habilita o profissional a dar

[...] respostas cada vez mais qualificadas, atendendo as demandas do mercadoe indo além delas; ter em vista a construção de novas bases de legitimidadeatravés do atendimento às demandas imediatas e potenciais, ter uma direçãoque se articule teórica e praticamente aos projetos e forças progressistas dasociedade burguesa.(GUERRA, 2005, p.10).

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Em outras palavras, não basta ao assistente social ser competente no nível operativo-

instrumental, que é necessário para a “sobrevivência da profissão” (GUERRA, 2005, p.7), mas

é necessário que ele procure extrapolá-la para outro que o possibilite entender o que, o por

que, quando, como e para que das questões com as quais se depara no cotidiano, através do

alcance de um nível intelectual baseado numa racionalidade crítica.

Com esse embasamento, o assistente social tem a possibilidade de fazer uma leitura do

que une e aproxima e do que distancia na relação entre competências exigidas pelo órgão

empregador e pelo projeto ético-político da profissão e, assim, (re) construir não só as

competências exigidas pela organização, mas também outras, buscando inclusive garantir a

operacionalização numa perspectiva crítica das competências contidas no artigo 4º da Lei

8.662/93, apresentadas a seguir:

I- Elaborar, implementar, executar e avaliar políticas sociais junto a órgão da administraçãopública direta ou indireta, empresas, entidades e organização populares;II- Elaborar, coordenar, executar e avaliar planos, programas e projetos que sejam do âmbitode atuação do Serviço Social com participação da sociedade civil;III- Encaminhar providências, e prestar orientação do Serviço Social a indivíduo, grupos e apopulação;IV- (VETADO);V- Orientar indivíduo e grupos de diferentes segmentos sociais no sentido de identificarrecursos e de fazer uso dos mesmos no atendimento e na defesa de seus direitos;VI- Planejar, organizar e administrar benefícios e serviços sociais;VII- Planejar, executar e avaliar pesquisas que possam contribuir para a análise da realidadesocial e para subsidiar ações profissionais;VIII- Prestar assessoria e consultoria a órgãos da administração pública direta e indireta,empresas privadas e outras entidades, com relação às matérias relacionadas no inciso II desteartigo;IX- Prestar assessoria e apoio aos movimentos sociais em matéria relacionada às políticassociais, no exercício e na defesa dos direitos civis, políticos e sociais da coletividade;X- Planejamento, organização e administração de serviço sociais e de Unidade de ServiçoSocial;XI- Realizar estudos sócio-econômicos com os usuários para fins e de benefícios e serviçossociais juntos à órgãos da administração pública direta e indireta, empresas privadas e outrasentidades.

QUADRO 9-Competências do assistente social de acordo com a Lei de Regulamentação da Profissãode Assistente Social. Lei nº 8.662/93.

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Conhecer, construir e reconstruir essas competências e também as atribuições

privativas expostas no artigo 5º dessa Lei81 é importante para viabilizá-las, qualificá-las e

construir novas competências no nível sócio-político e teórico-instrumental. Com mostra

Netto (1996, p.109) existem hoje vários conflitos em termos da busca por atribuições que

delineiem as “fronteiras profissionais” entre o Serviço Social e a Psicologia Social, Sociologia

Aplicada, Administração de Recursos Humanos e Educação, sendo que estes não podem ser

resolvidos com regulações formais ou reivindicações corporativas. Para serem enfrentados de

forma positiva, faz-se necessário

[...] o desenvolvimento de novas competências, sóciopolíticas e teórico-instrumentais. É nessa dupla dimensão que se podem promover (re)legitimações profissionais, com o alargamento do campo de intervenção(‘espaço profissional’) das profissões (NETTO, 1996, p.109).

A qualificação das competências postas em Lei, bem como a construção de novas

competências no sentido de promover “(re) legitimações profissionais” passa pela necessidade

de o assistente social ser capaz de desvendar os nexos que existem entre o que se demanda na

organização institucional e os referenciais teórico-metodológicos e ético-políticos da profissão

para não cair nos achismos quanto ao que faz e como desempenha a sua profissão.

No caso das oito assistentes sociais do SESI, os dados empíricos da pesquisa revelam

que a cultura de trabalho estabelecida na organização, baseada na polivalência, e a forma

como esses profissionais têm se capacitado para adequar-se a tal cultura, tem conduzido a um

distanciamento do conhecimento sobre as competências profissionais. Outrossim, constata-se

que são profissionais ousadas ao buscarem, em meio a essa polivalência, garantir o espaço

sócio - ocupacional da profissão, através de respostas a diferentes demandas, o que as

diferencia de uma realidade evidenciada por Souza e Azeredo (2004, p.53) que afirmam ser

81 Sobre tais atribuições ver o item 2.2 desse trabalho.

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bastante presente na profissão “[...] uma atitude defensiva e pouco ousada dos assistentes

sociais em face das novas demandas, acarretando assim, perda de possibilidades de ampliação

do espaço profissional”.

Mas, essa ousadia importante e necessária não é acompanhada na mesma proporção

em relação ao aprofundamento teórico, metodológico e legal sobre a profissão, o que os

impede de detectar as mediações que existem entre as competências contidas na Lei 8.662/93

para o assistente social e as exigidas nas rotinas de trabalho no SESI, como se percebe no

depoimento a seguir:

Existe uma relação até bem estreita. Não propriamente por nós, por funcionarcomo no escritório de serviços, mas quando a gente vai para uma empresavender os serviços e realizar as ações educativas [...] Então eu acho que oServiço Social nesse ponto tem uma relação muito importante com o que a Leidiz. Ou seja, a gente fica dentro da empresa, a gente se apodera deconhecimentos em saúde e segurança e mostra ao empresário a importância deleinvestir na saúde e segurança de seus trabalhadores. Nessa questão o trabalhadortambém ganha (SS07, março de 2004).

Este depoimento revela um desconhecimento por parte da entrevistada de que as ações

que precedem a venda de serviços à empresa (consideradas pela entrevistada como “serviço

de escritório”) relativas a fazer as planilhas de custos, ligar para as empresas, entrar em

contato com os profissionais terceirizados e elaborar pesquisas em torno das necessidades das

empresas e trabalhadores, fazem parte de atividades que hoje devem ser de competência

também do assistente social e estão relacionadas com a Lei 8.662/93. O desconhecimento do

texto legal e do debate contemporâneo sobre a profissão impede o profissional de precisar,

dentre as atividades desenvolvidas, quais são as previstas explicitamente em Lei, como

pesquisas, orientações sociais, assessoria a empresas e outras entidades, inclusive as

atribuições privativas do assistente social (ver art. 5º, incisos III, VIII e XI).

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O desconhecimento do texto da Lei impede, portanto que os entrevistados possam

apresentar também o que é requisitado no SESI além do que está prescrito na Lei 8.662/93,

como mostra o depoimento a seguir:

No SESI são desenvolvidas competências além do que a Lei coloca. Aplica-sepesquisas, faz-se ofícios para empresas, é suporte de aconselhamento aocliente interno, são feitas visitas domiciliares. (SSO1, março de 2004).

Ressalte-se que grande parte das competências citadas está contida nos incisos III, VII

e V desta Lei, com exceção das atividades de “visitas domiciliares e ofícios”, sendo que no

caso da visita domiciliar, apesar de não estar especificada como competência na Lei 8.

662/93, é considera historicamente uma atribuição privativa do assistente social, como mostra

a Síntese das Informações dos CRESS (COMISSÃO DE FISCALIZAÇÃO/CONSELHO

FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL, 2002, p.7):

Atividades historicamente assumidas por assistentes sociais não estãocaracterizadas no art. 5º [da Lei 8.662/93], a exemplo: visitas domiciliares,estudos sócio-econômicos para concessão de benefício, relatórios sociais,triagem social, encaminhamento aos recursos da comunidade, assistênciasocial consignada na LOAS, assumir cargo de direção em Secretarias/Depto.de assistência.

O desconhecimento provoca, também, a dificuldade na análise das possíveis relações

entre as competências exigidas pelo SESI, Natal/RN e as da Lei nº 8.662/93, como mostra o

depoimento outra assistente social entrevistada:

Eu acho que existem alguns pontos. Por que na última vez que o pessoal doCRESS esteve aqui mostrou umas competências que eu acho um poucoabsurdas. É dificilmente possível se seguir aquilo que está na Lei, até porquenunca se segue a Lei. Às vezes tem no papel, mas nunca (pausa), mas eu achoque tem relação. Na reunião, o CRESS mostrou coisas novas que a gente nemsabia que tinha dentro da profissão. Ficaram de voltar, mas, nunca vieram.(SS05, março de 2004).

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Esse depoimento reforça a necessidade vivenciada por todos os entrevistados de

buscar o conhecimento sobre a Lei 8.662/93, mas também, uma atualização a partir dos novos

conhecimentos discutidos no debate contemporâneo sobre a profissão em conexão com a

dinâmica da sociedade contemporânea, atualização que poderá capacitar o assistente social

nas dimensões teóricas, metodológicas, éticas e políticas a partir de uma

construção/reconstrução da capacidade para agir na qualidade de “[...] sujeito profissional que

tem competência para propor, para negociar com a instituição os seus projetos, para defender

o seu campo de trabalho, suas qualificações e funções profissionais” (IAMAMOTO, 2001,

p.21), distanciando-se de uma ação burocratizada, rotineira e pragmática no seu exercício

profissional. Ao mesmo tempo em que poderá despertar nesse profissional a importância de

manter uma relação com o CRESS e com as Unidades Acadêmicas, órgãos importantes para o

estabelecimento do debate sobre a profissão de Serviço Social na atualidade.

O debate contemporâneo sobre a profissão torna-se mais difícil de ser efetivado no

SESI de Natal/RN diante da inexistência de espaços específicos para o assistente social

discutir, à luz dos referenciais teórico-metodológicos da profissão de Serviço Social, questões

que são postas em reuniões multiprofissionais. Conforme SSO5 (março de 2004), tais

reuniões acontecem semanalmente, como afirma a seguir:

[...] temos uma reunião todas às quartas – feiras. Reunião da qualidade,composta por todas as áreas. Cada área participa uma pessoa. Aí é discutidovárias coisas. Ficamos sabendo tudo o que está acontecendo na educação,saúde e lazer. E ali a gente discute qualquer falha, problema. É o momento decorrigi-los.

A participação do assistente social nessas reuniões, nas quais há assento com

profissionais de outras áreas é muito enriquecedor pelo fato de se partilhar as demandas e

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respostas cotidianas no âmbito da instituição com especialistas que trazem experiências

diferentes, em razão da formação profissional e de situações com que se defrontam na sua

historia pessoal, social e profissional. Nesse sentido, faz-se necessário que o assistente social

contribua com conhecimentos teórico-metodológicos particularizados em sua formação, para

tornar possível o estabelecimento de articulações com as várias questões postas por outros

profissionais de tais equipes; o intercâmbio de diferentes conhecimentos e assim, ações

conjuntas voltadas para objetivos comuns. Para tanto, é importante que o assistente social

direcione a sua (re) qualificação profissional em função de garantir um aprofundamento sobre

os referenciais teórico-metodológicos adquiridos na academia à luz de estudos existentes

sobre a realidade contemporânea, considerando a questão social “[...] base de fundação sócio-

histórica do Serviço Social” (IAMAMOTO, 2001, p.57) e suas expressões como objeto de

trabalho do assistente social, bem como a prática profissional enquanto trabalho, e a pesquisa

como parte integrante do exercício profissional para conhecer a realidade, sendo assim

possível

[...] conhecer o próprio objeto de trabalho, junto ao qual se pretende induzirou impulsionar um processo de mudanças. Nesta perspectiva, o conhecimentoda realidade deixa de ser um mero pano de fundo para o exercícioprofissional, tornando-se condição do mesmo, do conhecimento do objetojunto ao qual incide a ação transformadora ou esse trabalho. (IAMAMOTO,2001, p.62).

O não distanciamento desses elementos garante ao assistente social uma perspectiva

interdisciplinar, hoje imprescindível no SESI diante da restruturação dos processos de

trabalho a partir de equipes multiprofissionais. Para se ter esta perspectiva, como mostra Melo

e Almeida (2000, p.235), é necessário que o profissional

[...] funcione como um pêndulo, que ele seja capaz de ir e vir: encontrar notrabalho com outros agentes, elementos para a (re) discussão do seu lugar e

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encontrar nas discussões atualizadas pertinentes ao seu âmbito interventivo osconteúdos possíveis de uma atuação interdisciplinar.

Ao adotar tal perspectiva o assistente social compartilha seus conhecimentos com

outros profissionais sem diluir sua particularidade ao observar e interpretar os processos

sociais em comum. Requer um aprofundamento teórico-metodológico dos profissionais para

“identificar nexos e relações presentes nas expressões da questão social com as quais

trabalham e distintas competências e habilidades para desempenhar as ações propostas”

(IAMAMOTO, 2002, p.41).

Não se trata de uma perspectiva em que o profissional torne-se um “zelador de

divisas” (MELO e ALMEIDA, 2000, p.235) a partir de um comportamento profissional que

busca a todo custo conservar as fronteiras da profissão de tal forma que se fecha para outros

conhecimentos e com isso está fadado a não assegurar sua utilidade social. Mas requisita que

tenha condições de refletir sobre estes e tome iniciativas com base em princípios ético-

políticos de sua profissão construídos pelo conjunto da categoria profissional e reconhecidos

pelos órgãos representativos da profissão.

Como mostra Iamamoto (2001, p.48),

Possibilidades novas de trabalho se apresentam e necessitam ser apropriadas,decifradas e desenvolvidas; se os assistentes sociais não o fizerem, outrosfarão, absorvendo progressivamente espaços ocupacionais até então a elesreservados. Aqueles que ficarem prisioneiros de uma visão burocrática erotineira do papel do assistente social e de seu trabalho entenderão, como“desprofissionalização” ou “desvio de funções”, as alterações que vêm seprocessando nessa profissão.

Mas também aqueles profissionais que não se sentem desqualificando-se, mas não

buscam o aprofundamento da profissão à luz da realidade social numa perspectiva crítica,

tendem a serem engolidos por uma (re) qualificação que qualifica para várias áreas, mas, de

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forma contraditória, desqualifica em relação aos posicionamentos profissionais dos assistentes

sociais.

Diante de todas as considerações feitas neste capítulo, constata-se que o desafio citado

por Iamamoto (2002, p.41) de que o assistente social tem que “[...] ultrapassar a perplexidade

e apropriar-se dos novos espaços profissionais, orientando a atuação segundo os princípios

ético-políticos da profissão”, em parte já foi superado pelos assistentes sociais do SESI que

têm vencido a perplexidade e se apropriado de novos espaços de trabalho, convivendo

positivamente com a sistematização e o registro das atividades através das instruções de

trabalho; trabalhos em equipes multiprofissionais; participação na gestão do SESI; o auto

reconhecimento de ser assistente social e a apropriação de conhecimentos sobre várias áreas.

O desafio que resta a estes profissionais é garantir a orientação das ações profissionais

segundo os referenciais da profissão, fazendo-se necessária uma aproximação do recente

debate do Serviço Social e as suas mediações com a realidade brasileira e mundial, e assim,

garantir de forma ainda mais qualificada a sua particularidade na divisão sócio-técnica de

trabalho do SESI.

Como mostra Netto (1996, p.109), para o assistente social enfrentar os conflitos de

atribuições existentes a partir de tarefas que passam a ser desenvolvidas por vários

profissionais e conservar a sua legitimitade social não só para os usuários, mas também para

os empregadores, faz-se necessário o desenvolvimento de novas competências, que, embora

não de forma exclusiva, estão relacionadas à

[...] pesquisa, à produção de conhecimentos e às alternativas de suainstrumentalização- e, no caso do Serviço Social isso quer dizerconhecimentos sobre a realidade social.

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É essa interlocução entre a realidade social e a profissão de Serviço Social com seus

limites e possibilidades que permite abrir novos horizontes sobre como responder as

demandas hoje postas nesta realidade. É a perspectiva de o assistente social “alargar os

horizontes, olhar para mais longe, para o movimento das classes sociais e do Estado em suas

relações com a sociedade; não para perder ou diluir as particularidades profissionais, mas, ao

contrário, para iluminá-las com maior nitidez” (IAMAMOTO, 2001, p.20).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo sobre o processo de construção/reconstrução das competências dos

assistentes sociais sob a gestão do SESI, Natal/RN a partir de meados dos anos 90 considerou

de um lado as determinações macrossociais em níveis políticos, econômicos e sociais da

realidade brasileira que propiciam as condições sócio-históricas para o exercício da profissão

de Serviço Social, e por outro lado a forma como os assistentes sociais compreendem e

conduzem o seu aprimoramento técnico e intelectual no cotidiano profissional em face dessas

determinações.

A pesquisa evidenciou que tais determinações se firmam no Brasil na passagem dos

anos 80 para os anos 90, tendo como base um pacto de dominação entre o Estado neoliberal, o

capital financeiro internacional e o capital produtivo nacional, explicitando-se através da

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reestruturação produtiva aliada à reforma do Estado de direito, que consolidado na

Constituição Federativa do Brasil de 1988, passa nos anos 90 a ser desmontado, mediante a

redução da responsabilidade pública no que diz respeito à proteção social, ocasionando a

precarização dos serviços sociais públicos e o favorecimento à privatização e/ou

refilantropização desses serviços, bem como a desarticulação dos direitos sociais ao negar os

padrões de universalidade em relação a esses direitos.

No caso específico do SESI, Natal/RN, tais determinações têm influenciado

diretamente a sua dinâmica organizacional fazendo-o constituir-se hoje numa organização que

aderiu à lógica mercadológica através da venda de vários serviços sociais às empresas e à

sociedade em geral, relacionados à saúde, educação e lazer, para garantir sua sustentabilidade

financeira além de desenvolver algumas atividades filantrópicas, através do alargamento de

parcerias com organizações governamentais e não-governamentais.

A pesquisa revelou que com base em tais mudanças, o SESI aderiu a uma nova forma

de gestão institucional que progressivamente tem apresentado características do que hoje é

chamado de modelo de competências, expresso na preocupação com uma contínua

profissionalização dos gestores voltada para resultados; na capacitação de auditores internos

da qualidade; na criação de formas de avaliação dos trabalhadores; na aquisição de um

sistema informatizado e de gerenciamento de RH; além do incentivo aos funcionários para a

atualização das competências profissionais.

Esta forma de gestão causou várias mudanças na estruturação dos processos de

trabalho e áreas do SESI, dentre essas a adesão à série ISO 9000; a extinção do Setor de

Serviço Social e o de Cooperação e Assistência, além da exigência de mudanças na cultura

organizacional dos trabalhadores, submetidos a partir de então a uma maior sistematização

dos seus trabalhos e, também, a um maior controle e avaliação de suas atividades.

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Nessa lógica, o conceito de competência entendido como capacidade para agir diante

de situações previstas e imprevistas no ambiente de trabalho num determinado contexto sócio

- histórico passa a ser incorporado na prática organizacional, não apenas relacionado aos

saberes escolar e experienciais, mas, também relativo às habilidades e criatividade do

trabalhador. Trata-se de uma realidade que, conforme evidenciada na pesquisa, trouxe

mudanças para o assistente social, trabalhador inserido na divisão sócio-técnica de trabalho no

espaço sócio-ocupacional do SESI.

Dentre as mudanças pode-se citar a destituição do setor de Serviço Social na

organização, deixando o assistente social sem um setor específico na área sob a sua

coordenação. Essa mudança repercutiu diretamente na questão de planejamentos, planos e

projetos das ações para o assistente social, que antes eram realizados pela coordenação de

Serviço Social e com o desaparecimento do setor os profissionais foram obrigados a uma

inserção em diversas áreas, como de saúde, educação, administração, finanças e relações com

o mercado. Em conseqüência, essas mudanças resultaram num alargamento das demandas —,

não sendo mais apenas relativas ao âmbito da assistência social, mas também relacionadas à

venda de serviços, assessoria e gerência —, bem como na necessidade de uma

construção/reconstrução de competências profissionais.

São mudanças ocorridas a partir de uma gestão diferenciada da predominante até os

anos 80 que se pautava nos modelos taylorista/fordista e na teoria clássica da Administração,

e impulsiona um reodernamento dos processos de trabalho baseados na polivalência, na

terceirização, na mobilidade profissional e na flexibilização das relações trabalhistas. Sob tal

lógica, o SESI viabiliza o trabalho destes profissionais através do acesso a objetos e meios de

trabalho, expressos e materializados em programas, projetos, atividades, recursos materiais e

financeiros, transportes, espaços e outros instrumentos técnico-operativos necessários à

realização de atividades como cursos e treinamentos. São atividades que objetivam capacitar

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os profissionais em função da nova cultura de trabalho implementada no espaço sócio-

ocupacional do SESI, Natal/RN, implicando, pois, na construção/reconstrução de

competências profissionais voltadas para responder antigas e novas demandas apresentadas

na rotina de trabalho dessa organização institucional.

O assistente social, enquanto trabalhador assalariado integrante da divisão sócio-

técnica do trabalho busca em cooperação com outros profissionais dar respostas a tais

demandas, revelando a sua particularidade e reafirmando a sua importância nas equipes de

trabalho como trabalhador polivalente inserido tanto no âmbito da administração quanto da

execução de atividades assistenciais, mais também relacionadas a vendas e de gestão.

A reafirmação de sua importância estratégica se dá a partir das respostas às questões

relacionadas à negociação de vendas de serviços do SESI, elaboração de planilhas de custos,

gerenciamento de finanças e intermediação entre profissionais terceirizados, SESI e as

empresas compradoras dos serviços, dentre outras; bem como por responder um número

significativo de demandas antigas, historicamente atribuídas ao Serviço Social como

realização de palestras, assessoria a empresas, implementação e coordenação de programas

assistenciais, encaminhamentos e concessão de benefícios.

Assim, ao desenvolver atividades de assessoria e gerência; atividades voltadas para a

venda de serviços e atividades relacionadas à assistência social, o assistente social tanto

executa serviços quanto participa efetivamente da gestão organizacional, através dos seus

conhecimentos e da mobilização de atributos inerentes à dimensão educativa e persuasiva do

seu trabalho profissional para esclarecer os objetivos, normas, diretrizes que conformam à

política de qualidade do SESI, bem como para avaliar as atividades a partir dos CCQ’s e

planejar as atividades a desenvolvidas anualmente no SESICLINICA.

Revela-se no cotidiano de trabalho do SESI o profissional assistente social como

partícipe de atividades medulares da organização, voltadas não só para a sustentabilidade

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financeira da SESI, mas para a construção de uma nova cultura organizacional possibilitadora

da efetivação da política de qualidade total. Ao contribuir para essa nova cultura de trabalho o

profissional fortalece a gestão do SESI (“gestão participativa”), a qual detém os

conhecimentos dos fins da organização, regras e normas que conduzem as práticas de

prestação de serviços e, principalmente, das relações sociais e pessoais. Ressalte-se que é uma

gestão que mesmo com a existência de uma hierarquia piramidal, investe na organização

horizontal, buscando reduzir a separação entre os que administram e planejam dos que

executam os serviços sociais, sendo administrada não somente por uma divisão - a DIPEQ,

mas difundida por meio de outros profissionais que formam CCQ’s. Ocorre, portanto, o

aumento do controle e a avaliação das atividades desenvolvidas pelos trabalhadores, o que

resulta na diminuição da autonomia do trabalhador.

Nessa dinâmica, o assistente social mobiliza competências historicamente a si

atribuídas, como informar, assessorar e avaliar atividades sociais/assistenciais e assim,

contribui para a construção/reconstrução de competências dos funcionários da organização e

trabalhadores das empresas e de si mesmo, através da aquisição de conhecimentos

relacionados a finanças, qualidade total, saúde do trabalhador, dentre outros. Nesse contexto,

o caráter educativo do trabalho é reafirmado garantindo a esse profissional não apenas que ele

informe novos saberes aos funcionários, mas também que se construa e se reconstrua diante

de novos conhecimentos e relações de trabalho, portadoras de normas, diretrizes e saberes

institucionais.

A pesquisa evidenciou ainda que, coerente com a lógica do mundo empresarial

contemporâneo, a estratégia adotada pelo SESI para a construção de uma nova cultura de

trabalho, relaciona-se diretamente com a busca da formação de um novo perfil de trabalhador,

polivalente e atento às novas demandas institucionais, o que justifica os investimentos na

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ressignificação da qualificação dos trabalhadores a partir da construção/reconstrução de

competências profissionais.

Esse processo de construção/reconstrução de competência do assistente social tem sido

influenciado principalmente pela ação institucional do SESI através do incentivo

(financiamento e parcerias com instituições) para o desenvolvimento de cursos e

treinamentos, embora existam outros condicionantes citados pelas assistentes sociais

entrevistadas, como os conhecimentos adquiridos sobre diferentes áreas de atuação,

conhecimentos advindos da academia e dos conhecimentos obtidos através do trabalho

profissional cotidiano.

A partir da pesquisa, ficou evidente que esse processo de construção/reconstrução de

competência tem reforçado um perfil generalista da profissão, não no sentido do profissional

captar criticamente as relações sociais em sua totalidade e complexidade, compreendendo o

que, o porquê fazer e como fazer diante das diferentes expressões da questão social, a partir

da discussão contemporânea do projeto ético-político profissional deste fazer profissional.

Mas sim, a partir do acesso a diversos conhecimentos sobre questões relacionadas ao âmbito

da matemática, marketing, saúde, sexualidade, entre outros, guiados predominantemente por

uma perspectiva acrítica que visa o aprimoramento do profissional em termos da eficácia e

eficiência, ratificando a racionalidade formal-abstrata predominante na sociedade capitalista.

Saliente-se que o assistente social através do seu trabalho cotidiano e de estudos em

função da operacionalização deste trabalho, tem garantido uma capacitação que, por um lado

preserva características históricas do Serviço Social como sua dimensão educativa e

persuasiva e sua natureza auxiliar e subsidiária ao lado de outras de maior eficácia política e

de maior abrangência na concretização do trabalho do SESI, o que tem possibilitado a (re)

qualificação deste trabalhador. E, por outro, essa capacitação tem distanciado o profissional

dos referenciais da profissão produzidos na contemporaneidade e expressos no projeto ético-

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político profissional, o que evidencia um movimento contraditório de desqualificação em

relação ao aprofundamento por este profissional sobre os saberes relacionados à profissão de

Serviço Social.

A pesquisa reforçou, portanto, o entendimento de que a qualificação é um processo

sócio-cultural e histórico que comporta elementos qualificantes e desqualificantes, elementos

direcionados e redirecionados a partir da possibilidade de intervenção dos atores sociais em

meio às relações de trabalho, expressões das relações sociais capitalistas.

Conforme os dados da pesquisa, o distanciamento do assistente social à academia, aos

órgãos da categoria (e vice-versa), aos congressos e seminários sobre o Serviço Social, a

sobrecarga de trabalho, a polivalência, a mobilidade profissional, a falta de reconhecimento,

em especial no campo financeiro e o não incentivo do SESI para com estudos sobre a

assistência social e sobre o Serviço Social e a falta de planejamento e estudos sobre o Serviço

Social no SESI, são elementos que contribuem para a tendência à desqualificação do

assistente social e evidenciam um quadro que dificulta o aprofundamento por parte deste

profissional em relação aos referenciais teóricos, técnicos e ético- políticos da profissão.

Tais referenciais poderiam contribuir para o assistente social melhor desenvolver

através de uma instrumentalidade técnica-operativa uma postura investigativa sobre a

realidade social com possibilidades de decifrar as manifestações da questão social, base

fundante do trabalho profissional do assistente social. Além disso, garantiriam uma

participação mais adequada nas equipes interprofissionais, visto que nestas é necessário que o

assistente social contribua com conhecimentos teórico-metodológicos particularizados em sua

formação, para assim possibilitar o estabelecimento de articulações entre as várias questões

postas por outros profissionais de tais equipes, no sentido de estabelecer um intercâmbio entre

diferentes conhecimentos e tornar possível ações conjuntas voltadas para objetivos comuns.

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Apesar das fragilidades e dificuldades identificadas no tempo miúdo da ação

profissional (YAZBEK, 2001) do assistente social no SESI, foram constatados pontos

positivos relacionados ao processo de construção/reconstrução de competências desse

profissional, como: a ultrapassagem da perplexidade em relação aos novos espaços de

trabalho; sistematização e registro de atividades, embora sejam restritos ao que se exige pela

organização institucional em suas instruções de trabalho; desenvolvimento de trabalhos em

equipes interprofissionais; participação na elaboração do plano de ação do SESI; contato

direto e participativo com supervisores e representantes da divisão do sistema de qualidade;

desenvolvimento de competências que historicamente são particulares ao assistente social; e

exigência pelo SESI de novas competências que requisitam e exigem habilidades

historicamente desenvolvidas pelo assistente social como persuadir e educar a partir da

abordagem, da mobilização, do assessoramento e da pesquisa.

Inferiu-se que esses pontos reforçam a necessidade do profissional de Serviço Social

aproximar-se das discussões contemporâneas propostas no projeto ético-politico profissional

do Serviço Social, incluindo nesse estudo a apropriação e conhecimento das competências e

atribuições privativas contidas na Lei nº 8.662/93 para captar os fios que se intercruzam e se

distanciam da profissão, tendo como parâmetro os referenciais que fundamentam a profissão

contidos nos princípios do atual Código de Ética profissional, as demais leis que subsidiam a

profissão e as atuais Diretrizes Curriculares que direcionam a formação de um perfil

generalista do assistente social na atualidade.

Nesse sentido, torna-se de suma importância a existência de momentos de reflexão

entre assistentes sociais para estudo sobre tais assuntos com a finalidade de se afirmarem em

sua particularidade profissional na divisão sócio-técnica de trabalho no SESI, sendo inclusive

necessário o aprofundamento sobre a questão da assistência social, visto que, embora não seja

tão requisitada pela organização SESI hoje, as demandas que surgem nessa área continuam a

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ser por esta Organização reconhecidas como atribuições privativas do assistente social. Mas,

não só por isso, como também pelo compromisso que o assistente social deve ter para buscar

formas de efetivação da assistência social como elemento capaz de contribuir para o avanço

da cidadania dos trabalhadores, familiares e sociedade em geral, apesar do veio conservador

que emana da lógica de qualidade total implementada no SESI, reflexo por sua vez de novas

relações entre Estado e sociedade capitalista.

A análise dos dados evidencia também a necessidade desse profissional se aproximar

de cursos e debates atuais promovidos pelo conjunto CFESS/CRESS, a fim de se inteirar

sobre questões relacionadas à profissão, ao mesmo tempo em que tal aproximação contribuirá

para o fortalecimento da profissão; para lutar por uma maior aproximação à academia, em

especial, para se atualizar sobre produções contidas na pós-graduação em Serviço Social ou

áreas afins; para se empenhar na construção de um projeto do Serviço Social para os

servidores do SESI, a fim de sistematizar ações já almejadas pelo SESI e mostrar a

importância do Serviço Social nesse processo; e fazer um planejamento profissional anual e

buscar a discussão sobre a importância de um plano de cargos e salários atualizado diante

desse novo contexto.

Os dados mostram também a necessidade das unidades de ensino de Serviço Social e a

organização institucional do SESI acatarem as sugestões feitas pelas assistentes sociais

entrevistadas, no sentido de realizarem cursos rápidos de qualidade total; cursos sobre

assessoria à gerência e cursos sobre gestão, bem como que o CRESS/RN-14ª Região crie

espaços de reflexão em parcerias com as unidades de ensino de Serviço Social sobre as

competências profissionais na contemporaneidade e as atribuições privativas nesse novo

cenário do mundo do trabalho. Discussão essa que deve ter como foco a importância político-

profissional em construir/reconstruir a particularidade da profissão de Serviço Social a fim de

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fortalecer não só o trabalhador enquanto assistente social, mas também o CRESS em seu

papel fiscalizador, disciplinador e educador do exercício profissional.

A pesquisa revelou, ainda, uma necessidade de estudos sobre o fenômeno da

desqualificação profissional; sobre o trabalho em equipes interdisciplinares e sobre a

particularidade da profissão de Serviço Social diante de novas competências exigidas para o

assistente social.

Por fim, acredita-se ainda que esse trabalho ao apresentar novas competências postas

hoje no mundo do trabalho possa contribuir para que as unidades de ensino estabeleçam

discussões sobre tais competências e venham insira-las no seu plano de ensino em Serviço

Social, e ao mesmo tempo amadureçam o debate sobre as atribuições privativas do assistente

social diante dos novos desafios presentes na realidade social contemporânea.

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142

APÊNDICES

APÊNDICE A - Roteiro de entrevista com os assistentes sociais do SESI, Natal/RN.

DATA____/______/_____

1. Faixa etária:

( ) 21 a 30 anos

( ) 31 a 40 anos

( ) 41 a 50 anos

( ) 51 a 60 anos

( ) 60 anos ou mais

2. Sexo:

( ) Feminino ( ) Masculino

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3. Ano de conclusão de graduação em serviço social:___________________________

4. Fez outro curso de graduação?

( ) Sim. Qual?___________________________________________ ( ) Não

5. Fez algum curso de pós-graduação?

Sim ( ) ( ) Não

( )Especialização. Área____________________

( )Mestrado.Área_________________________

( ) Doutorado. Área _______________________

6. Sua faixa salarial:

( ) Abaixo de 05 salários mínimos

( ) Entre 05 a 10 salários mínimos

( ) Entre 10 a 15 salários mínimos

( ) Acima de 15 salários mínimos

7. Qual o ano que você ingressou no SESI?___________( caso seja antes de 1997- ano da

extinção da Supervisão de Serviço Social): O que mudou para você com o desaparecimento

da Supervisão de S.Social?______________________________________

8. Qual a forma de contratação que você está submetido no SESI?

( ) Estatutário ( ) CLT ( ) Serviço prestado ( ) Outros

9. Qual a sua carga horária no SESI?

( ) 6h ( ) 8h ( ) Outro. Qual?_______________________________________

10. Em que área você encontra-se inserido?_____________________________

11. Qual a sua função no SESI?_______________________________________

12. O trabalho que você desenvolve nessa área é realizado em equipe?

( )Sim.Quais são os profissionais?______________________________________

( )Não.Por quê?_____________________________________________________

12.1. Como se organiza o trabalho em equipe?____________________________

13. A partir do Planejamento Estratégico 2000-2004, você considera que houve mudança em

relação às competências exigidas para o seu trabalho profissional?

( ) Sim. Caso sim, que atividades passou a desenvolver que antes não as

desenvolvia?_________________________________________ ( ) Não

13.1. Através de quais meios você tem adquirido a capacidade para desenvolver as

mesmas?______________________________________________________________

___________________________________________________

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144

13.2. Que relação você faz entre as competências exigidas ao assistente social no SESI

e as apresentadas na Lei que regulamenta a profissão de Assistente

social?______________________________________________________________

14. Quais as demandas postas ao profissional de serviço social no SESI

hoje?_____________________________________________________________

15. Como você busca resolver as demandas apresentadas?

________________________________________________________________________

__________________

16. Que técnicas e instrumentos você utiliza no espaço de

trabalho?_________________________________________________________________

__________________

16.1. Estas foram apreendidas aonde?_____________________________________

17. Você participou (ou está participando) de algum curso, especialização ou treinamento

para lhe dar subsídios no trabalho que desenvolve?

( )Sim. Qual ?____________________________________ ( ) Não

17.1. Em que local? _______________________________

17.2. O SESI incentivou (ou incentiva) a sua participação nesses cursos/treinamentos

de capacitação?

( )Sim ( ) Não Caso sim, de que forma?____________________________

18. Quais as condições objetivas oferecidas pelo SESI para o seu trabalho

profissional?____________________________________________________

19. Há espaços (reuniões, vivências, etc) para o planejamento ou troca de experiências

entre os profissionais de Serviço

Social?_________________________________________________________

20. Que considerações você poderia fazer sobre as relações de trabalho no SESI

hoje?___________________________________________________

21. O que você considera importante para garantir a sua competência hoje no SESI?

( ) espaço sócio-institucional

( ) leituras sobre a área de atuação

( ) leituras de textos sobre a profissão de Serviço Social

( ) intercâmbio com a academia

( ) acesso a noticiários

( ) participação em congressos e seminários

( ) cursos de atualização

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( ) outros_____________________________________________________________

22. Na sua visão o que é ser um profissional competente para o SESI

hoje?_______________________________________________________________________

APÊNDICE B - Roteiro de entrevista com assistentes sociais do SESI, Natal/RN

1. Você encontra dificuldades para realizar o seu trabalho hoje no SESI?

2. Como você se sente enquanto assistente social no SESI, Natal/RN?

3. Você conhece o projeto ético-político hegemônico hoje na profissão de Serviço Social?

4. Você conhece o atual Código de Ética Profissional do Assistente Social (1993)?

5. Você conhece a Lei de Regulamentação da Profissão de Assistente Social (Lei nº

8.662/93)?

6. Você conhece as atuais Diretrizes Curriculares do Curso de Serviço Social (1996)?

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APÊNDICE C - Roteiro de entrevista com supervisores das áreas de saúde, lazer e educação

do SESI, NATAL/RN.

DATA: ___/_____/_____

1. Faixa etária

( ) 21 a 30

( ) 31 a 40

( ) 41 a 50

( ) 51 a 60

( ) 60 a mais

2. Sexo

( ) feminino ( ) masculino

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3. Grau de escolaridade

( ) 1º grau ( ) 2º grau ( ) 3º grau.

3.1. Caso tenha o 3º grau, qual curso?____________________

3.2. Fez curso de Pós-graduação?

( )sim ( ) não

Caso sim, ( ) especialização = área___________________

( ) mestrado = área_______________________

( ) doutorado = área ______________________

4. Faixa salarial

( ) abaixo de 5 salários mínimos

( ) entre 5 a 10 salários mínimos

( ) entre 10 a 15 salários mínimos

( ) acima de 15 salários mínimos

5. Ano que ingressou no SESI__________________

6. Forma de contratação no SESI

( ) estatutário ( ) CLT ( ) serviço prestado ( ) outros_______________

7. Carga horária no SESI

( ) 6 horas/semana ( ) 8 horas ( ) outra__________________

8. Área que supervisiona no SESI_______________________

9. O senhor (a) participou (ou está participando) de algum treinamento ou curso de

capacitação para lhe dar subsídios na área em que está coordenando?

( )sim ( )não

9.1. Caso sim, qual?______________________________________________________

9.2. O treinamento ou curso foi (ou é) fornecido ou incentivado pelo

SESI?______________________

10. A área a qual o senhor (a) coordena é composta atualmente por quais

profissionais?_____________________________________________________________

_____________________________________________________

10.1. Caso tenha assistentes sociais, quantos ?______________________

10.1.1. Quais são as competências exigidas para os assistentes sociais

hoje?____________________________________________________________________

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________________________________________________________________________

_____________________________________________

10.1.2. Existe algum tipo de capacitação destinado aos assistentes

sociais?__________________________________________________________________

______________________________________________________

10.2. Caso não tenha assistentes sociais, qual o motivo da não contratação?

____________________________________________________

11. O (a) senhor (a) utiliza planejamento e avaliação como instrumento de trabalho?

( )sim ( )não

11.1. Caso sim, os mesmos são desenvolvidos em conjunto com os demais

profissionais inseridos na área?

( )sim ( )não

Como se da esse processo?_________________________________________

12. A partir do Planejamento Estratégico do SESI 2000-2004 o(a) senhor(a) considera que

houve mudanças em relação às competências exigidas aos profissionais que fazem parte dessa

área?

( ) não ( )sim.

12.1. Caso sim, quais?____________________________________________

12.2.Caso nessa área tenha assistentes sociais, eles estão encontrando dificuldades para

desenvolver as competências

exigidas?__________________________________________________________

13. Na sua visão o que é ser um profissional competente para o SESI

hoje?____________________________________________________________________

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APÊNDICE D - Roteiro de entrevista com o Representante do Sistema de Qualidade do

SESI, Natal/RN.

1. O que significa a ISO?

2. Quando o SESI foi certificado pela ISO?

3. Como foi o processo para o SESI ser certificado pela ISO?

4. Como se mantém essa certificação?

5. Existe processo de avaliação e controle?

5.1. Caso sim. Como se processa?

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APÊNDICE E - Roteiro de entrevista com a Gerente da Divisão Integrada de

Desenvolvimento de Pessoas e Qualidade – DIPEQ – do Sistema FIERN.

1. Como acontece a gestão de pessoas no SESI?

2. Por quem é composta a DIPEQ?

3. Quando surgiu a DIPEQ?

4. Qual a função da DIPEQ?

5. Existem formas de benefícios, incentivos pela gestão de pessoas?

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APÊNDICE F - Roteiro de entrevista com o coordenador da Unidade de Relações com oMercado.

1. Quando você começou a trabalhar no SESI?

2. Como o SESI desenvolvia a sua gestão institucional antes dos anos 90?

3. Como o SESI desenvolve a sua gestão institucional hoje?

4. Por que houve a extinção dos setores de Serviço Social e Cooperação e Assistência?

5. Existe o setor de Recursos Humanos? Caso exista, o que faz?

6. Quais as competências dos assistentes sociais no novo modelo de gestão do SESI?

7. Que medidas têm sido tomadas para preparar as assistentes sociais para desenvolver as

competências prescritas?

8. Qual a sua opinião sobre esse novo modelo de gestão do SESI?

9. Como você se sente diante desse novo modelo de gestão?

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ANEXOS

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