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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO LINHA DE PESQUISA: EDUCAÇÃO E INCLUSÃO SOCIAL EM CONTEXTOS EDUCACIONAIS TESE DE DOUTORADO INCLUSÃO DO ESTUDANTE COM DEFICIÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR E A FORMAÇÃO CONTINUADA DO DOCENTE UNIVERSITÁRIO DISCENTE: LISIÊ MARLENE DA SILVEIRA MELO MARTINS ORIENTADORA: Profa. Dra. LÚCIA DE ARAÚJO RAMOS MARTINS NATAL / RN OUTUBRO DE 2019

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Elaborado por Rita de Cássia Pereira de Araújo - CRB-15/804. ... Ao meu filhinho Levi Samuel, pelo seu puro amor! Que me

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

LINHA DE PESQUISA: EDUCAÇÃO E INCLUSÃO SOCIAL EM CONTEXTOS EDUCACIONAIS

TESE DE DOUTORADO

INCLUSÃO DO ESTUDANTE COM DEFICIÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR E A FORMAÇÃO CONTINUADA DO DOCENTE UNIVERSITÁRIO

DISCENTE: LISIÊ MARLENE DA SILVEIRA MELO MARTINS

ORIENTADORA: Profa. Dra. LÚCIA DE ARAÚJO RAMOS MARTINS

NATAL / RN

OUTUBRO DE 2019

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LISIÊ MARLENE DA SILVEIRA MELO MARTINS

INCLUSÃO DO ESTUDANTE COM DEFICIÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR E A FORMAÇÃO CONTINUADA DO DOCENTE UNIVERSITÁRIO

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para a obtenção do título de Doutora em Educação.

Orientadora: Profa. Dra. Lúcia de Araújo Ramos Martins

NATAL / RN

2019

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Moacyr de Góes - CE

Martins, Lisiê Marlene da Silveira Melo.

Inclusão do estudante com deficiência no Ensino Superior e a formação continuada

do docente universitário / Lisiê Marlene da Silveira Melo Martins. - Natal, 2019. 277 f.: il.

Tese (Doutorado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de

Educação, PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO.

Orientadora: Profa. Dra. Lúcia de Araújo Ramos Martins.

1. Inclusão no Ensino Superior - Tese. 2. Pessoa com deficiência - Tese. 3.

Formação Continuada - Tese. 4. Docência Universitária - Tese. I. Martins, Lúcia de

Araújo Ramos. II. Título.

RN/UF/BS - Centro de Educação CDU 378:376

Elaborado por Rita de Cássia Pereira de Araújo - CRB-

15/804

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LISIÊ MARLENE DA SILVEIRA MELO MARTINS

INCLUSÃO DO ESTUDANTE COM DEFICIÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR E

A FORMAÇÃO CONTINUADA DO DOCENTE UNIVERSITÁRIO

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para a obtenção do título de Doutora em Educação.

APROVADA EM: _____ / ______ / ______ .

Banca Examinadora

Profa. Dra. Lúcia de Araújo Ramos Martins Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)

Orientadora

_____________________________________________________ Profa. Dra. Anabel Moriña Díez

US - Universidad de Sevilla Examinadora externa

_____________________________________________________

Profa. Dra. Maria da Salete Barboza de Faria UFPB - Universidade Federal da Paraíba

Examinadora externa

_____________________________________________________ Profa. Dra. Erika dos Reis Gusmão Andrade

UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte Examinadora interna

_____________________________________________________

Profa. Dra. Luzia Guacira dos Santos Silva UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Examinadora interna

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“Porque Dele, por Ele e para Ele são todas as coisas. A Ele seja a glória para sempre! Amém”

(Romanos 11:36 - Bíblia Sagrada)

“Assim, permanecem agora estes três: a fé, a esperança

e o amor. O maior deles, porém, é o amor”

(1 Coríntios 13:13 - Bíblia Sagrada)

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AGRADECIMENTOS

A Deus, autor da minha vida, pelo seu infinito amor, grandeza e fidelidade.

Por me capacitar e abrir caminhos para que pudesse exercer os meus dons e

talentos na área que escolhi trilhar, a Educação. Além que me capacitar na busca

de conhecimentos e aprendizagem.

Família, vocês são a melhor parte de mim!

Ao meu amado esposo José Martins, pelo amor simples e verdadeiro.

Pela compreensão, incentivo e respeito. Obrigada por sempre me apoiar em tudo

o que faço e sempre acreditar em mim. Não posso deixar de agradecer suas

dedicadas revisões textuais e traduções só para me ver feliz.

Ao meu filhinho Levi Samuel, pelo seu puro amor! Que me abraça com o

olhar e me faz querer apresentar-lhe o mundo de cores e de alegria que ora se

desvela em suas primeiras descobertas.

Aos meus pais Edinaldo e Márcia, pelo amor eterno, carinho e incentivo

sem medidas ao longo de toda a minha história.

À minha irmã Lebian pelo companheirismo e cumplicidade recíproca em

nossa relação. Por compartilhar comigo todas as minhas alegrias, dúvidas e

incertezas da vida.

À Profa. Dra. Lúcia Martins, que me acolheu como orientanda no

doutorado, e por meio de sua mediação experiente pude dar os primeiros passos

na área da Educação Inclusiva, ainda na graduação em Pedagogia. Hoje, sou

grata pelo carinho empregado ao contribuir para o aprimoramento deste trabalho

e por não me apresentar apenas caminhos para a construção desta tese, mas

por me mostrar o real sentido das palavras cuidado, dedicação e perseverança.

Aos Professores Francesc Hernandéz e José Beltran, pela receptividade

valenciana, ampliação de horizontes físicos e acadêmicos sobre a formação

docente e o contexto investigativo do Ensino Superior, durante o período de

Doutorado Sanduíche realizado na Universidad de Valéncia (Espanha). Também

agradeço a acolhedora Profa. Dra. Celeste Borrás, diretora da “Unidad per la

persona com discapacidad”, da Universidad de Valéncia, pelo incentivo e

inserção nas atividades formativas e institucionais relativas à inclusão durante

todo o período em que estive na Espanha.

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À professora Dra. Luzia Guacira, que com sua generosidade dedicou-se

ao aperfeiçoamento deste trabalho dando vida as palavras mediação, avaliação

formativa, paciência, amizade e delicadeza.

Ao professor Dr. Ricardo Lins que com sua dinamicidade aprendo

diariamente a ser mais inclusiva e a vislumbrar uma Universidade sem barreiras.

Obrigada por acreditar no meu trabalho, pelo incentivo institucional, acadêmico

e pessoal.

Aos Mestres, que contribuíram para o meu aprendizado ao ampliarem

meus horizontes e apresentarem novos caminhos no campo da Educação.

Agradeço aos professores da Linha de Pesquisa “Educação e Inclusão Social

em Contextos Escolares e não Escolares”, do Programa de Pós-graduação em

Educação da UFRN, pelas sugestões feitas por ocasião dos seminários de

orientação e qualificação de tese.

Às Professoras Dra. Anabel Moriña-Díez, Dra. Maria da Salete Barboza

de Faria, Dra. Erika dos Reis Gusmão Andrade e Dra. Luzia Guacira dos Santos

Silva, que aceitaram o convite para a participação da defesa deste trabalho. Com

certeza suas contribuições foram e serão bem-vindas para o enriquecimento

deste estudo.

Aos participantes desta pesquisa, estudantes com deficiência, docentes e

gestores que se dispuseram a contribuir com este estudo. Vocês nos

possibilitaram uma ampliação do olhar sobre a nossa Universidade e nos

possibilitaram refletir sobre os significativos avanços estabelecido e desafios

vindouros.

Aos setores da UFRN que contribuíram para a realização desta pesquisa

com o fornecimento de dados institucionais, especificamente a PROGRAD, a

PROGESP e a CAENE.

Aos amigos e irmãos em Cristo, que floresceram em meu caminho com

amizades especiais, intercessão, fé, incentivo e amor.

Aos amigos que levo do trabalho para a vida, pois com carinho diário me

abraçaram e me incentivaram nesta caminhada. Juntos trabalhamos, sonhamos,

realizamos, sorrimos e choramos. Muito mais que equipe de trabalho, somos

parceiros.

Aos amigos doutorandos que viveram este sonho juntos, assim como

aqueles doutorandos que viveram o sonho valenciano durante a nossa

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experiência no exterior. Dos dilemas iniciais relativos à permanência até às

despedidas repletas de sentimentos bons, ficarão em nossa memória com afeto.

À CAPES pelo financiamento de bolsa e passagens aéreas no período

de doutorado sanduíche, auxiliando no desenvolvimento desta pesquisa.

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RESUMO

As pessoas com deficiência têm alcançado mais espaço no campo educativo, inclusive no contexto do Ensino Superior. Esta realidade se apresenta como desafio ao desenvolvimento de políticas educacionais e institucionais que visam promover uma inclusão efetiva, especificamente considerando a formação continuada do docente universitário frente ao estudante com deficiência. Esta pesquisa teve como unidade de análise a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), campus Natal/RN, e considerou como objetivo geral analisar a relação entre as políticas educacionais institucionais da UFRN e a formação continuada de docentes universitários, no tocante à dimensão pedagógica e a interface com a inclusão de estudantes com deficiência no Ensino Superior. Quanto aos objetivos específicos foram elencados: descrever as políticas nacionais e institucionais da UFRN que desencadeiam ações de formação continuada dos docentes na perspectiva da Educação Inclusiva; compreender, a partir das perspectivas de discentes com deficiência, docentes e gestores da UFRN, o processo de formação docente e sua implicação na permanência de estudantes com deficiência no Ensino Superior; sistematizar possibilidades para ações formativas e políticas institucionais que contribuam com a melhoria da qualidade do ensino em uma perspectiva inclusiva no Ensino Superior. A discussão teórica foi alicerçada nos marcos teóricos e legais que versam sobre a inclusão educacional da pessoa com deficiência os pressupostos teóricos que discutem a inclusão de estudantes com deficiência no Ensino Superior e os aspectos inerentes à pedagogia universitária e à formação inicial e continuada do docente de instituições de ensino superior. No tocante aos aspectos teórico-metodológicos, esta pesquisa segue uma abordagem qualitativa, adotando um perfil de estudo exploratório e de caráter descritivo das evidências do campo empírico a partir das concepções dos estudantes com deficiência, docentes universitários e gestores institucionais sobre a relação entre as políticas de formação continuada dos docentes universitários e o processo de inclusão do estudante com deficiência na UFRN. Para a construção de dados foram adotadas a análise documental, entrevista semiestruturada, observação do campo empírico e triangulação dos dados. Como técnica de análise dos dados norteamo-nos pela Análise de Conteúdo (BARDIN, 2009), com intuito de alcançar dados explícitos e implícitos no contexto da pesquisa, em articulação com o referencial teórico e as políticas educacionais. Foram evidenciados como resultados do estudo, no contexto analisado das políticas e ações institucionais da UFRN, diversas frentes de trabalho que contemplam a formação docente e a inclusão de estudantes com deficiência. Como fator positivo identificou-se a distribuição intra-institucional das responsabilidades junto ao processo de inclusão dos estudantes com deficiência, a formação continuada do docente e a preocupação institucional em apresentar nas políticas fatores para a promoção da inclusão e acessibilidade. Também o estudo apontou que as políticas e ações formativas precisam ser reestruturadas no sentido de buscar maior equilíbrio entre as dimensões e funções exercidas pelo professor, fortalecendo a identidade docente e levando o corpo universitário a maior valorização da formação continuada, com vistas a melhoria da qualidade do ensino e a promoção da inclusão efetiva de estudantes com deficiência. Este estudo também contribuiu para reflexões sobre as propostas formativas desenvolvidas

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à luz da perspectiva educacional inclusiva, com vistas a aprimorar a efetivação das propostas formativas. Palavras-chave: Inclusão no Ensino Superior; Pessoa com deficiência; Formação Continuada; Docência Universitária.

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RESUMEN

Las personas con discapacidad han alcanzado más espacio en el campo educativo, incluso en el contexto de la Educación Superior. Esta realidad presenta un desafío para el desarrollo de políticas educativas e institucionales que apuntan a promover una inclusión efectiva, específicamente considerando la formación continua de los profesores universitarios frente a los estudiantes con discapacidades. Esta investigación tuvo como unidad de análisis la Universidad Federal de Río Grande del Norte (UFRN), campus Natal/RN, y se consideró como objetivo general analizar la relación entre las políticas educativas institucionales de la UFRN y la formación continua de los profesores universitarios, con respecto a la dimensión pedagógica y la interfaz con la inclusión de estudiantes con discapacidad en la educación superior. En cuanto a los objetivos específicos se enumeraron: describir las políticas nacionales e institucionales de la UFRN que desencadenan acciones de formación continua de los docentes en la perspectiva de la Educación Inclusiva; comprender, desde la perspectiva de los estudiantes con discapacidades, maestros y gerentes de la UFRN, el proceso de formación docente y su implicación en la permanencia de los estudiantes con discapacidades en la educación superior; sistematizar las posibilidades de acciones formativas y políticas institucionales que contribuyan a mejorar la calidad de la enseñanza desde una perspectiva inclusiva en la educación superior. La discusión teórica está basada en los marcos teóricos y legales que abordan la inclusión educativa de las personas con discapacidad; los supuestos teóricos que discuten la inclusión de estudiantes con discapacidad en la Educación Superior; y los aspectos inherentes de la pedagogía universitaria y la formación inicial y continua del profesor de las instituciones de educación superior. En cuanto a los aspectos teóricos y metodológicos, esta investigación sigue un enfoque cualitativo, adoptando un perfil de estudio exploratorio y descriptivo de la evidencia del campo empírico basado en las concepciones de estudiantes con discapacidades, profesores y gerentes institucionales sobre la relación entre políticas de educación continua de profesores universitarios en vista de la inclusión de estudiantes con discapacidades en la UFRN. Para la construcción de datos, se adoptaron el análisis documental, la entrevista semiestructurada, la observación del campo empírico y la triangulación de datos. Como técnica de análisis de datos, nos guiamos por el Análisis de Contenido (BARDIN, 2009), con el objetivo de alcanzar datos explícitos e implícitos en el contexto de la investigación, en articulación con el marco teórico y las políticas educativas. Fueron evidenciados como resultados del estudio, en el contexto analizado de las políticas y acciones institucionales de la UFRN, diversos procesos de trabajo que contemplan la formación docente y la inclusión de estudiantes con discapacidad. Como factor positivo, identificamos la distribución intrainstitucional de responsabilidades con el proceso de inclusión de estudiantes con discapacidades, la educación continua de los docentes y la preocupación institucional por presentar factores en las políticas para promover la inclusión y la accesibilidad. El estudio también señaló que las políticas y acciones de capacitación deben ser reestructuradas para buscar un mejor equilibrio entre las

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dimensiones y funciones que ejerce el profesor, com el fortalecimento de la identidad docente y llevando el cuerpo universitario a una mayor valoración de la educación continua como medio para mejorar la calidad de la enseñanza y promover la inclusión efectiva de estudiantes con discapacidades. Este estudio también contribuyó para reflexiones sobre las propuestas formativas desarrolladas a la luz de la perspectiva educativa inclusiva, buscando mejorar la efectividad de las propuestas formativas. Palabras clave: Inclusión en la Educación Superior; Persona con Discapacidad; Educación Continua; Docencia universitaria.

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ABSTRACT

People with disabilities have been reaching more space in the educational field, including in the context of University Education. This reality presents a challenge to the development of educational and institutional policies that aim to promote an effective inclusion, specifically considering the continuing education of university professors before students with disabilities. This research had as its unit of analysis the Federal University of Rio Grande do Norte (UFRN), campus Natal/RN, and has as general objective to analyze the relationship between the institutional educational policies of UFRN and the continuing education of university professors, regarding the pedagogical dimension and the interface with the inclusion of students with disabilities in university education. As for specific objectives were listed: describe the national and institutional policies of UFRN that trigger actions of continuing education of teachers in the perspective of Inclusive Education; understand, from the perspectives of students with disabilities, teachers and managers of UFRN, the process of teacher education and its implication in the permanence of students with disabilities in university education; systematize possibilities for formative actions and institutional policies that contribute to the improvement of teaching quality from an inclusive perspective in university education. The theoretical discussion was based on the theoretical and legal frameworks that address the educational inclusion of people with disabilities; the theoretical assumptions that discuss the inclusion of students with disabilities in University Education; and the inherent aspects of the university pedagogy and the initial and continuous formation of the teacher of higher education institutions. Regarding the theoretical and methodological aspects, this research follows a qualitative approach, adopting an exploratory and descriptive study profile of the evidence from the empirical field based on the conceptions of students with disabilities, university professors and institutional managers about the relationship between policies of continuing education of university professors in view of the inclusion of students with disabilities in UFRN. For the construction of data, the documentary analysis, semi-structured interview, observation of the empirical field and data triangulation were adopted. As a technique of data analysis we are guided by Content Analysis (BARDIN, 2009), aiming to reach explicit and implicit data in the research context, in articulation with the theoretical framework and educational policies. It was evidenced as results of the study, in the analyzed context of the policies and institutional actions of the UFRN, several work fronts that contemplate the teacher formation and the inclusion of students with disabilities. As a positive factor we identified the intra-institutional distribution of responsibilities with the process of inclusion of students with disabilities, the continuing education of teachers and the institutional concern to present factors in the policies to promote inclusion and accessibility. The study also pointed out that the policies and training actions need to be restructured in order to seek a better balance between the dimensions and functions exercised by the teacher, strengthening the teaching identity and leading the university body to value continuing education in order to improve quality teaching and promoting the effective inclusion of students with disabilities. This study also contributed to reflections on the formative proposals developed in the light of the inclusive educational perspective, with a view to improving the effectiveness of the formative proposals.

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Keywords: Inclusion in University Education; Person with disabilities; Continuing Education; University teaching.

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Caracterização dos estudantes participantes por faixa etária............55

Quadro 2: Distribuição dos estudantes por centro acadêmico, curso e

tempo ................................................................................................................56

Quadro 3: Estudantes participantes da pesquisa por tipo de deficiência e

quantidade.........................................................................................................57

Quadro 4: Caracterização dos professores participantes da pesquisa..............58

Quadro 5: Caracterização dos gestores participantes da pesquisa....................59

Quadro 6: Comparativo 2016/2017 de estudantes com NEE atendidos pela

CAENE, por tipo de NEE..................................................................................143

Quadro 7: Quantitativo de estudantes com NEE atendidos pela CAENE, em 2017

e 2018, por Centro/Unidade Acadêmica Especializada e Curso......................147

Quadro 8: Modo de referência aos participantes da pesquisa em recortes de falas

das entrevistas apresentadas na análise.........................................................157

Quadro 9: Ações formativas oferecidas aos docentes através do PAP/UFRN –

2018 ...............................................................................................................200

Quadro 10: Ações formativas aos docentes através do PAP/UFRN ano

2018.................................................................................................................201

Quadro 11: Indicadores relacionados as ações formativas CAENE 2015-

2018 ................................................................................................................203

Quadro 12: Levantamento de Necessidade de Capacitação – Docentes (2017 e 2018) ...............................................................................................................206

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1: Evolução do número de Matrículas em Cursos de Graduação de

estudantes com Deficiência, Transtornos Globais do Desenvolvimento ou Altas

Habilidades/Superdotação – 2009-2017............................................................92

Gráfico 2: Número de Matrículas em Cursos de Graduação de estudantes com

Deficiência, Transtornos Globais do Desenvolvimento ou Altas

Habilidades/Superdotação, por Tipo de Deficiência – 2017 .............................93

Gráfico 3: Quantitativo de solicitações de apoio de estudantes com NEE á

CAENE no período de 2010 a 2018..................................................................141

Gráfico 4: Quantitativo de estudantes ativos na CAENE ao final de 2018 por nível

de ensino......................................................................................................... 145

Gráfico 5: Quantitativo de estudantes ativos na CAENE ao final de 2018 por

modalidade de ensino......................................................................................146

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

AEE - Atendimento Educacional Especializado

BCZM - Biblioteca Central Zila Mamede

CAENE - Comissão Permanente de Apoio ao Estudante com Necessidades

Educacionais Especiais

CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CCHLA - Centro de Ciências Humanas Letras e Artes

CCS - Centro de Ciências da Saúde

CNE - Conselho Nacional de Educação

COMPERVE - Comissão Permanente de Vestibular

CONSEPE - Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão

EMUFRN - Escola de Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte

ES - Escola de Saúde

HUOL - Hospital Universitário Onofre Lopes

IFES - Instituições Federais de Educação Superior

INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira

LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais

LNC - Levantamento de Necessidade de Capacitação

MEC - Ministério da Educação

NEE - Necessidades Educacionais Especiais/Específicas

NEI - Núcleo de Educação da Infância

PAP - Programa de Atualização Pedagógica

PNAES - Programa Nacional de Assistência Estudantil

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PROAE - Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis

PROGESP - Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas

PROGRAD - Pró-Reitoria de Graduação

REUNI - Programa de Apoio a Planos e Reestruturação e Expansão das

Universidades Federais

SECADI - Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e

Inclusão

SESu - Secretaria de Ensino Superior

SIGAA - Sistema Integrado de Gestão de Atividades Acadêmicas

TDA/H - Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade

UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte

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SUMÁRIO

1 Introdução: Encontro com o objeto de estudo e as aproximações

epistemológicas...............................................................................................21

2 Percursos teórico-metodológicos.............................................................. 35

2.1 Procedimentos da Revisão Sistemática....................................................... 36

2.2 Procedimentos e instrumentos de coleta de dados..................................... 46

2.3 Procedimento de análise dos dados............................................................ 52

2.4 Ladrilhos do mosaico: A caracterização dos participantes da pesquisa ...54

3 O processo educacional da pessoa com deficiência: caminhos para o

reconhecimento de direito humano e inclusão............................................. 62

3.1 Marcos históricos e políticos para efetivação inclusão educacional das

pessoas com deficiência....................................................................................63

3.2 Transversalidade entre Educação Inclusiva e Direitos Humanos......73

3.3 Estudantes com deficiência no Ensino Superior: perspectivas políticas e

educacionais .....................................................................................................77

4 Formação do docente universitário: (des) encontros entre a dimensão

pedagógica, a política de formação do professor universitário e a inclusão

de estudantes com deficiência no ensino superior...................................... 99

4.1 Formação inicial a continuada do docente universitário: O lugar da dimensão

pedagógica......................................................................................................100

4.2 Caminhos para a formação docente à luz da perspectiva educacional

inclusiva ..........................................................................................................121

5 Inclusão de estudantes com deficiência na UFRN: Processo de

conquistas e desafios....................................................................................136

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6 O mosaico entre a inclusão e formação docente na UFRN: Uma análise

de dados do campo de estudos e das percepções dos partícipes............ 156

6.1 Ladrilhos do mosaico: visto por diferentes ângulos................................157

6.1.1 Categoria I - Inclusão de estudantes com deficiência e a dimensão pedagógica......................................................................................................158

6.1.2 Categoria II - O desafio agora é a permanência.....................................170

6.1.3 Categoria III - Aperfeiçoamento didático-pedagógico e qualidade do

ensino..............................................................................................................181

6.1.4 Categoria IV - Diretrizes da política institucional para a formação docente

e inclusão na UFRN..........................................................................................192

6.1.5 Categoria V - Novos caminhos para as ações formativas inclusivas.... 225

7 Considerações Finais.................................................................................235

Referências.....................................................................................................246

Apêndices.......................................................................................................264

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1 INTRODUÇÃO: ENCONTRO COM O OBJETO DE ESTUDO E AS

APROXIMAÇÕES EPISTEMOLÓGICAS

“A alegria não chega apenas no encontro do achado, mas faz parte do processo da busca. Ensinar e aprender não pode dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria” (Paulo Freire).

Um trabalho científico se constrói com vistas a conhecer e explicar

fenômenos existentes no entorno daqueles que se propõem a ação investigativa.

As descobertas emanam das impressões sobre o mundo, vivências e

perspectivas diferentes sobre o objeto de conhecimento.

Em um exercício introspectivo sobre os pontos de partida deste estudo,

percebi1 que o sentido de busca e inquietações da pesquisa estavam alicerçadas

na minha trajetória formativa enquanto estudante, professora e investigadora.

Neste exercício introspectivo, surge no contínuo ciclo de viver e conhecer, a

curiosidade que nos instiga a novas descobertas. Assim, a pesquisa científica

encontra seu sentido na produção de conhecimento quando o pesquisador ao

se questionar busca respostas, soluções e ao entrar nesse processo encontra

novos questionamentos e novas descobertas (JOSSO, 2010).

A perspectiva biográfica direciona o nosso encontro com o objeto de

estudo, sendo compreendida como meio de desenvolvimento, construção e

análise do processo de formação e (auto)formação. Procurando evidenciar, a

intensa aproximação entre a escrita de si e a aprendizagem (DELORY-

MOMBERGER, 2008).

O meu interesse pela Educação não surge de maneira comum, começa

“na” e “pela” Música. Esta é uma linguagem universal, que ultrapassa as

barreiras do tempo e do espaço, e é capaz de fascinar, encantar e nos envolver.

Encantar-se na música e com a música não é algo tão difícil, principalmente

quando se tem o privilégio de vivenciá-la no início da compreensão do belo, na

infância. Desde muito cedo ouço as notas musicais tilintarem em meus ouvidos

através do piano tocado pela minha primeira professora, a minha mãe, em

1 A parte inicial deste capítulo está escrita em primeira pessoa do singular, pois trata-se das vivências pessoais da pesquisadora que direcionaram inicialmente a realização desta pesquisa. Os demais capítulos desta tese estão escritos na terceira pessoa do plural, pois denotam a perspectiva dialógica e compartilhada desta investigação junto aos participantes da pesquisa e múltiplos olhares que contribuíram para a realização do estudo.

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momentos de estudo e de deleite, dela e meus.

Crescendo com a música, já na adolescência, e com formação musical

em nível inicial e técnico, o desejo de ensinar se concretizou quando fui

convidada a ministrar aulas para crianças em uma pequena escola de música

aos sábados. No início, tudo era despretensioso e com ar de diversão. Logo a

seguir, porém, a “brincadeira” de ensinar ficou mais séria, pois fui contratada por

uma escola de educação infantil para ser professora de musicalização em um

coral de crianças. A prática de ensinar e aprender foi sendo ampliada por meio

da minha atuação na igreja, onde prestava serviço/atuava como professora de

crianças e com a regência de um coral infantil junto às crianças da comunidade.

Ao perceber as intensas significações que o ensinar trazia em minha vida e na

vida dos pequenos aprendizes, compreendi que ali começara uma bela sinfonia

que não teria fim.

Nesse contexto de aprendizagem e conhecimento mútuo, pude

compreender que o educador é aquele que emerge junto com os seus

educandos, fazendo da prática pedagógica uma atividade sensível e construtiva.

Em minha trajetória é estranho perceber que a vida escolar

institucionalizada não flui tão vibrante, como as experiências na Escola de

Música. Talvez porque a música, que era o que mais me encantava, não

estivesse tão presente por lá.

Meus primeiros anos na escola aconteceram num colégio tradicional da

cidade de Natal/RN, apenas para meninas, em que usávamos vestidos brancos

e três botões nas mangas. Lá aprendíamos a como andar, como sentar, como

cozinhar, como receber e acolher as pessoas em nossas casas. A proposta

educacional da escola se firmava sob as bases da Pedagogia Tradicional, tendo

como foco a realização do ensino através da imposição da disciplina como parte

fundamental para o sucesso educacional, a memorização dos conteúdos como

forma de apropriação dos conhecimentos tidos como essenciais, e o

direcionamento do professor como centro de todo o processo educativo

(GADOTTI, 2005). A escola caracterizava-se, também, pelo reforço ao

tradicionalismo social, adotando um perfil de ensino patriarcal, que reforçava o

papel feminino do cuidado, da partilha e da gerência do lar.

No Ensino Médio ingressei em uma escola pertencente ao mesmo

sistema de ensino, desta feita em uma turma mista com moças e rapazes. Logo

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me identifiquei com o novo grupo, que por coincidência era fortemente musical,

passamos a nos reunir rotineiramente nos intervalos de aulas para fazer música.

Talvez esta tenha sido uma fuga às minhas dificuldades, cada vez mais

acentuadas, nas disciplinas de raciocínio-lógico na área das ciências exatas.

Pouca significação dos conteúdos, muita cobrança e nenhum reconhecimento

das potencialidades não exigidas no currículo formal, ressaltando sempre os

melhores alunos nos rankings de turmas. Os meus resultados positivos em

Literatura, História, Geografia, Sociologia e Música não eram considerados.

Ali se fortalecia a minha certeza em querer fazer, enquanto futura

professora, uma prática pedagógica diferente, que incentivasse e acreditasse

nas capacidades, competências, talentos dos meus futuros alunos. Queria ser

uma professora diferente, mas a dúvida era se seguiria com o ensino de Música

ou se me dedicaria à Pedagogia. O encantamento pela Educação e pela

“Pedagogia da Autonomia” de Paulo Freire, descrita em livro de mesmo título,

que encontrei na biblioteca do meu pai, influenciaram-me na escolha convicta

em cursar Pedagogia.

Durante a minha formação inicial, de 2004 a 2007, na Licenciatura Plena

em Pedagogia na UFRN, pude conhecer teoricamente os princípios

educacionais inclusivos e os aspectos inerentes ao fazer pedagógico em uma

perspectiva inclusiva, direcionada à atuação didático-pedagógica em salas de

aula com alunos com deficiência. Naquele período fui desafiada a me reconhecer

como professora, a me encontrar entre a teoria e a prática, e a sentir-me capaz

de dar sentido ao viés transformador da educação libertadora e transformadora,

para que meus alunos pudessem ler o mundo através das palavras (FREIRE,

1996).

As vivências e aprendizagens da graduação desenharam os caminhos

profissionais que se seguiram, sempre dialogando com a perspectiva

educacional inclusiva e buscando novas alternativas de ensino aprendizagem

para mim e para aqueles que estavam a construir seus saberes comigo. Os dez

anos exercidos (2008 a 2017) como professora da Educação Básica, em Escola

Particular (2008-2010) e na Secretaria Municipal de Educação de Natal/RN

(2011-2017), foram dedicados ao segundo ciclo das séries iniciais da Educação

Básica nos 3° a 5° anos, à Educação de Jovens e Adultos (EJA – 2 Ciclo), ao

Atendimento Educacional Especializado na Sala de Recursos Multifuncionais

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(SRM), e à Assessoria Pedagógica no setor de Educação Especial da Secretaria

Municipal de Educação (SME), em Natal/RN.

Neste campo de vivências educacionais tive oportunidade de me

encontrar com a inclusão escolar em suas mais diversas facetas, nas quais pude

atravessar caminhos permeados pelo estigma, preconceito, incoerências sociais

e educacionais. No entanto, também me foi possível passar por caminhos de

esperança, acolhimento e investimento nas potencialidades dos estudantes.

Na escola, com o olhar de professora atenta, almejava alcançar os direitos

e equidade de condições, principalmente, aos estudantes com deficiência, na

tentativa de promover a participação efetiva de todos eles em todas as

proposições didáticas dentro e fora da escola. Intento este algumas vezes

alcançado, em outras, embargado pelas barreiras arquitetônicas,

comunicacionais ou atitudinais dos meus próprios pares ou de instâncias

superiores.

Naquelas realidades, as palavras de Freire (1996) faziam sentido quando

me conduziam a assumir a difícil responsabilidade de educadora, na tentativa de

contribuir para o crescimento pessoal e coletivo dos meus educandos, com vistas

a uma tarefa educativa transformadora, na qual, aqueles estudantes, em suas

relações, pudessem ensaiar a experiência profunda de assumirem-se como

seres sociais e históricos, como seres pensantes, comunicantes,

transformadores, criadores, realizadores de sonhos e capazes de sentir raiva,

porque são capazes de amar.

Estava posta diante de mim a tarefa de promover, articular e refletir sobre

uma inclusão possível, não apenas para os estudantes com deficiência, mas

para todos aqueles que de algum modo estavam desgarrados dos processos de

aprendizagem e de participação na escola em outros espaços sociais. Na

tentativa de superar, conforme Barreto e Goulart (2008), os aspectos da visão

dicotômica entre inclusão e exclusão, como parte de um sistema social e político,

criado por meio das diferenças e de um caráter homogeneizador.

Nesta realidade tive a oportunidade de poder despertar nos meus

educandos o desejo, a curiosidade e a descoberta, a fim de levá-los a se

perceberem no mundo de forma a agirem sobre ele com base na mobilização de

uma pedagogia como prática da liberdade e transformação.

Dentre constantes encontros formativos, leituras e releituras que me

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conduziam ao processo de formação continuada, destaco que nos anos de 2011

e 2012 participei do curso de Especialização em Psicopedagogia (360h) – UFRN;

do Cursos de Formação Continuada para Professores do Ensino Fundamental

na Perspectiva da Inclusão Escolar: Deficiências e Transtorno Globais do

Desenvolvimento (180h) - MEC/SECADI/UFRN; e do Curso de Atualização para

Professores das Salas de Recursos Multifuncionais (88h) SME/UFRN.

Nestas formações pude ampliar minhas impressões a respeito dos

processos de aprendizagem e especificidades das pessoas que apresentam

condições de deficiência, e deste modo conhecer novas possibilidades de ensino

e aprendizagem para a construção de uma prática pedagógica mais inclusiva.

Integrando saberes e levantando mais questionamentos a respeito da

inclusão dos estudantes com deficiência, mediante seleção interna em 2012

passei a integrar o corpo de professores do Atendimento Educacional

Especializado (AEE)2 da Rede Municipal de Natal, almejando novos horizontes

para uma intervenção pedagógica à luz da perspectiva inclusiva.

Paralelamente à atividade docente na rede básica, ingressei através de

concurso público, no ano de 2013, no contexto do Ensino Superior, para exercer

a função de pedagoga institucional na Universidade Federal do Rio Grande do

Norte (UFRN). Neste duplo desafio laboral, encontrava-me seguindo passos da

inclusão educacional, agora no contexto universitário, atuando no Núcleo de

Acessibilidade da UFRN, denominado Comissão Permanente de Apoio ao

Estudante com Necessidades Educacionais Especiais (CAENE), que neste ano

de 2019, foi elevada à condição de “Secretaria de Inclusão e Acessibilidade -

SIA/UFRN”.

Aos poucos e cotidianamente fui me encontrando com as possibilidades

da inclusão na Universidade, através de leituras das políticas de ações

afirmativas, estudos sobre inclusão no Ensino Superior, andragogia, pedagogia

universitária e a condição de deficiência na fase adulta.

Como em todas as Universidades do Brasil, o processo educacional

inclusivo na UFRN é elemento da história recente, encontrando-se em

2 O AEE é um dos serviços da Educação Especial, regulamentado pelo Decreto n° 7.611, de 17 de novembro de 2011. O objetivo central deste serviço é o de complementar e/ou suplementar a formação do aluno público-alvo da Educação Especial com vistas à autonomia e independência na escola e fora dela. O Serviço é prestado no contraturno da aula regular na sala de recursos multifuncionais por um professor qualificado na área da Educação Especial.

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construção e afirmação de propostas. Nela, o atendimento aos estudantes com

deficiência tem sido motivação à reorganização das ações de Ensino, Pesquisa

e Extensão. Este movimento foi produto de elaboração de políticas e ações

afirmativas para a promoção da inclusão, a partir do “Programa Incluir”, criado

em 2005 pelo MEC por meio da SESu/SECADI, que visou fomentar a criação e

a consolidação de núcleos de acessibilidade nas IFES. Estes núcleos

respondem pela organização de ações institucionais que garantam a inclusão de

pessoas com deficiência à vida acadêmica, eliminando barreiras pedagógicas,

arquitetônicas, na comunicação e informação, promovendo o cumprimento dos

requisitos legais de acessibilidade.

Na análise de Pletsch e Melo (2017) e Melo (2015; 2016), o “Programa

Incluir”, além de ser uma referência, pode também ser considerado um “divisor

de águas” no que diz respeito à inclusão de pessoas com deficiências no ensino

superior. O estudo realizado por Pletsch e Melo (2017), aponta que a partir do

Programa Incluir, até 2015, foram contempladas 63 IFES no Brasil e totalizado

R$ 53.696.000,00 de investimentos financeiros. Os autores defendem que o

Programa influenciou, sobremaneira, a inserção do tema na Política Nacional de

Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008a),

sobretudo ao inserir a proposta da inclusão desde os anos iniciais até o ensino

superior.

A confirmação do crescimento do acesso dos estudantes com deficiência

no Ensino Superior brasileiro é evidenciada a partir da observação e análise dos

Censos da Educação Superior dos últimos anos. Entre Censos dos anos de 2000

e 2010, houve o aumento de 933,6% no número de estudantes com deficiência

nas instituições de ensino superior brasileiras, passando de 2.173 no começo do

período, para 20.287 em 2010 - sendo 6.884 na rede pública e 13.403 na rede

particular.

O último censo da Educação Superior, realizado em 2014, mostra que

naquele ano o Brasil possuía 7,839 milhões de estudantes matriculados no

ensino superior, e destes, 34.144 eram estudantes com deficiência, sendo

14.158 estudantes de IES públicas e 19.986 estudantes de IES privadas.

Imersa neste universo, dentro do contexto universitário, pudemos

desenvolver, com apoio da equipe interdisciplinar, o acompanhamento didático-

pedagógico de estudantes com deficiência e também com necessidades

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educacionais especiais (NEE), de acordo com as especificidades de cada caso,

desempenhando funções pedagógicas de orientações aos discentes, aos

docentes, aos coordenadores de cursos, orientadores acadêmicos, técnicos

administrativos e demais partícipes da comunidade universitária.

Dentre inúmeras experiências de crescimento pessoais e profissionais,

surgiram diversas dificuldades relacionadas à promoção da inclusão de

estudantes com deficiência na Universidade, tais como as barreiras relacionadas

à acessibilidade física e comunicacional, assim como às barreiras atitudinais

vivenciadas pelos estudantes em sala de aula, nos laboratórios e advindas de

quaisquer pessoas, independente das funções exercidas, desde parceiros de

sala de aula até de docentes ou coordenadores de curso.

Estes entraves nos fizeram questionar sobre o nosso próprio trabalho e

sobre a real efetivação das políticas de garantia de direitos à inclusão plena da

pessoa com deficiência. A cada caso discutido, surgiam novos questionamentos

e oportunidades para reflexão sobre a inclusão dos estudantes com deficiência

no Ensino Superior, a qualidade da permanência, e sobre a atuação e formação

do professor universitário diante da presença de estudantes com deficiência em

suas salas de aula.

Diante desta realidade, nos anos de 2015 e 2016 desenvolvemos uma

pesquisa de mestrado, no Programa de Pós-Graduação em Educação (UFRN),

que culminou na elaboração da dissertação intitulada: “Práticas e formação

docente na UFRN com vistas à inclusão de estudantes cegos”. A pesquisa

objetivou investigar a realidade dos estudantes cegos na UFRN e as práticas

docentes diante deste grupo estudantil. Foram destacados como resultados

naquele estudo a necessidade de desconstrução de barreiras atitudinais, a fim

de fortalecer o respeito às diferenças e ao reconhecimento das especificidades

humanas da pessoa cega; a necessidade de continuidade e ampliação de

políticas públicas que permaneçam assegurando o direito à inclusão do

estudante com deficiência no ensino superior; a necessidade de ampliar as

discussões e estudos sobre a Pedagogia Universitária voltada à formação de

professores na temática da inclusão (MARTINS, 2016).

Com a elaboração deste estudo em paralelo temporal com as atividades

profissionais na universidade, identificamos a empiria como um espelho em

nossa prática. Dos resultados da pesquisa ainda ecoavam uma intensa queixa

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dos estudantes e docentes a respeito do baixo nível formativo dos professores

para desenvolver um trabalho pedagógico consistente junto aos estudantes com

deficiência. Também era evidente uma lacuna, no que se refere aos marcos

regulatórios e ao âmbito das pesquisas, a respeito da discussão de uma política

especifica sobre a formação, inicial e continuada, do docente universitário à luz

da perspectiva educacional inclusiva.

Estas questões refletiam-se em nossa atividade pedagógica e nos

deparávamos com enfrentamentos e ações ainda excludentes decorrentes de

desconhecimento dos fundamentos didático-pedagógicos e políticos sob a

perspectiva educacional inclusiva.

Em busca de respostas as nossas inquietações, partimos para uma nova

trajetória formativa, desta feita, em nível doutoral, novamente no Programa de

Pós-graduação em Educação (UFRN). A partir das nossas experiências

anteriores e discussões teóricas, surge a necessidade de fomentar a discussão

em âmbito investigativo sobre as relações entre as políticas educacionais e as

ações de formação continuada dos docentes do Ensino Superior, no tocante à

dimensão pedagógica e a interface com a inclusão de estudantes com

deficiência.

Estas vivências nos conduziram à reflexão de que a pluralidade e as

diferenças que congregam a diversidade de nossa sociedade fazem emanar

desafios para a manutenção do olhar para as especificidades humanas. A

liquidez nas relações e comportamentos sociais discutidos por Bauman (2011),

nos permite refletir sobre a mesma plasticidade dos líquidos que se adequa,

torna-se dinâmica, flui e transborda com facilidade, constituindo-se um desafio

para ao reconhecimento das particularidades e o pertencimento de indivíduos

politicamente, culturalmente e socialmente diferentes.

Para superar as possíveis situações de vulnerabilidade, condições

desfavoráveis, marginalização e exclusão social, é necessária a garantia de

direitos específicos e de tratamentos diferenciados para a transposição das

barreiras existentes.

No campo da Educação, é premente a discussão sobre a necessária

proposição e efetivação de direitos que oportunizem a inclusão e participação de

todos. O “Relatório de Monitoramento Global da Educação” publicado mais

recentemente pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência

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e a Cultura (UNESCO, 2017a), indica que muitas pessoas ainda são

marginalizadas em termos de acesso e qualidade da educação, incluindo-se

minorias raciais étnicas e linguísticas, pessoas com deficiência, populações do

campo, moradores de favelas e de periferias urbanas, crianças com HIV,

crianças não registradas e órfãos.

Diante deste contexto, a atual “Agenda 2030 para Desenvolvimento

Sustentável” preconizou dentre suas metas a igualdade de acesso a todos os

níveis de educação e formação profissional para os mais vulneráveis, incluindo-

se as pessoas com deficiência e os povos indígenas. Almejou ainda, “assegurar

a igualdade de acesso para todos os homens e mulheres à educação técnica,

profissional e superior de qualidade, a preços acessíveis, incluindo universidade”

(Organização das Nações Unidas, 2015, meta 4. 3)

A Universidade, segundo Oliveira, (2013) e Gisi e Pergorini (2016),

historicamente se constituiu como um espaço excludente e discriminatório,

elitista e conservador. No entanto, a universidade brasileira em seus mais

diversos contextos, ao longo das últimas duas décadas, passou por uma

reestruturação política no que se refere ao acesso e ampliação, na perspectiva

de expandir espaços de saberes ao alcance da inclusão educacional. A partir de

políticas e ações afirmativas, das quais pode-se destacar o Decreto nº 7.234, de

19 de julho de 2010, que dispõe sobre o Programa Nacional de Assistência

Estudantil (PNAES) que trata a oferta de auxílio permanência e de serviços de

apoio à saúde, moradia, alimentação, cultura, entre outros, contribui para

viabilização do acesso, participação e aprendizagem de estudantes socialmente

considerados prioritários. Assim como a Lei nº. 13.409, de 28 de dezembro de

2016, que altera a Lei no 12.711, de 29 de agosto de 2012, para dispor sobre a

reserva de vagas nos cursos técnico de nível médio e superior das instituições

federais de ensino para estudantes de baixa renda advindos de escola pública,

pessoas com deficiência, negros, pardos e indígenas.

Perceptivelmente, tentou-se abrir novos horizontes para aprendizagem e

conquista da cidadania por grupos de representação minoritária na sociedade

brasileira, alvos de nítida exclusão social e educacional, tais como pessoas

negras, indígenas, quilombolas, estudantes de escola pública e pessoas com

deficiência. A partir destas iniciativas, um novo perfil estudantil, passou a compor

o Ensino Superior brasileiro, levantando a necessidade de discussão e geração

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de novas políticas institucionais sobre a diversidade, que ora constitui o corpo

acadêmico das universidades, e a aspectos inerentes à promoção da inclusão

plena destas pessoas ao Ensino Superior.

Dentre o grupo de estudantes alvos de políticas inclusivas para o ingresso

no Ensino Superior estão os estudantes com deficiência3, grupo sobre o qual nos

debruçamos nesta pesquisa para estudar os fenômenos ocorridos em seu

entorno.

Diante das diversas concepções sobre deficiência, destacamos que

partimos do campo interdisciplinar alicerçado sobre o entendimento da

deficiência como fenômeno social: “deficiência” e “capacidade”, os quais são

social e culturalmente construídas e, estão, intimamente entrelaçadas com a

construção de outras identidades sociais (OLIVER, 1990; DINIZ, 2007; COLLINS,

2013; TAYLOR, 2011).

Partimos, então, do conceito de deficiência como fator decorrente da

interação das lesões e dos impedimentos de natureza física, sensorial ou

intelectual com as barreiras vivenciadas nos contextos sociais que operam como

obstáculos à participação equânime das pessoas com deficiência. (BARNES,

2009; BRASIL, 2015)

A escolha específica por este grupo minoritário, não os privilegia e

tampouco reduz o valor social dos demais. O delineamento se define pela

relevância social e acadêmica da discussão sobre as pessoas com deficiência e

se tornaram centro de investigação na área da Educação Especial em uma

perspectiva da Educação Inclusiva, a qual tem direcionado toda a nossa

formação e atuação profissional ao longo dos últimos doze anos.

De acordo com Martins (1999), o modelo social defendido pelo Movimento

das Pessoas com Deficiência é um grande avanço das últimas décadas. Nele, a

interação entre a deficiência e o modo como a sociedade está organizada é que

condiciona a funcionalidade, as dificuldades, as limitações e a exclusão das

3 O conceito de pessoa com deficiência nesta tese segue o definido na Convenção Internacional sobre os

Direitos das Pessoas com deficiência (2006) ratificado pelo Estado Brasileiro com equivalência de Emenda

Constitucional, por meio do Decreto Legislativo nº 186, de 9 de julho de 2008, com a devida promulgação

pelo Decreto nº 6.949, de 25 de agosto de 2009, onde define-se que pessoas com deficiência são aquelas

que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, com

interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em

igualdades de condições com as demais pessoas (BRASIL, 2008; 2009).

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pessoas.

Marcos políticos e pedagógicos orientaram, em âmbito nacional e

internacional, a busca da garantia do direito de pessoas com deficiência à

Educação. Dentre os principais documentos e ações afirmativas é possível

destacar a Conferência Mundial de Educação para Todos (TAILÂNDIA, 1990)

que enfatizou a universalização, tanto do acesso à escola de qualidade quanto

da promoção da equidade; a Conferência Mundial sobre Necessidades

Educativas Especiais (ESPANHA,1994) que ratificou os princípios de

democratização do ensino e enfatizou o acesso e a qualidade focando o

atendimento aos estudantes com necessidades educacionais especiais (NEE)4;

a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 que no Brasil foi ratificada

como Emenda Constitucional em 1995 (BRASIL, 1995).

Destacamos, também, a Lei 9.394/96 das Diretrizes e Bases da Educação

(BRASIL, 1996); a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência

(ONU, 2006); a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da

Educação Inclusiva (BRASIL, 2008); o Decreto Nº 7.611/2011, que dispõe sobre

a Educação Especial e o atendimento educacional especializado (BRASIL, 2011);

a Lei no 12.711, de 29 de agosto de 2012, para dispor sobre a reserva de vagas

para pessoas com deficiência nos cursos técnico de nível médio e superior das

instituições federais de ensino; o Plano Nacional da Educação (PNE) 2014-2024

(BRASIL, 2014); e, mais recentemente, a Lei nº 13.146/2015, que institui a Lei

Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (BRASIL, 2015).

Estes marcos teóricos e políticos vem contribuindo para a ocorrência de

mudanças sociais que reverberam no processo de inclusão educacional do

estudante com deficiência no contexto universitário. O que requer das

universidades a abertura para reelaboração das políticas institucionais, assim

como o redimensionamento da formação e das práticas docentes.

Em nosso parecer, conhecer novas bases pedagógicas em uma

4 Necessidades Educacionais Específicas / Especiais (NEE’s): são necessidades apresentadas por estudantes decorrentes de diversas condições, em caráter permanente ou temporário, que demandam apoio educacional específico no processo de ensino-aprendizagem-avaliação, a fim de que lhes sejam oportunizadas a equiparação de condições que o levem à expressão plena de seu potencial e de participação. As condições são: deficiências (física, intelectual, auditiva, visual, múltipla e surdocegueira); transtorno do espectro autista; altas habilidades/superdotação; transtornos específicos da aprendizagem e dificuldades secundárias de aprendizagem, vinculadas à causa orgânica específica como o transtorno do déficit de atenção/ hiperatividade – TDA/H. (ESPANHA, 1994; BRASIL, 2008)

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perspectiva educacional inclusiva pode conduzir os docentes a repensar as

práticas, considerando a diversidade humana que compõe o universo da sala de

aula. Neste sentido, a formação pode ser considerada como fonte permanente

de conhecimento e reflexão e um fator importante para a (re)construção dos

saberes docentes na pedagogia universitária.

Frente ao nosso próprio contexto de vivências laborais na Universidade

Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e de investigação científica realizada

na revisão sistemática, fomos impulsionadas a realizar esta pesquisa a partir da

seguinte questão norteadora: “Quais as relações entre as políticas educacionais

e as ações de formação continuada dos docentes do Ensino Superior na UFRN

no tocante à dimensão pedagógica e a interface com a inclusão de estudantes

com deficiência?”

Como objetivo geral buscamos analisar a relação entre as políticas

educacionais, institucionais da UFRN e a formação continuada de docentes

universitários, no tocante à dimensão pedagógica e a interface com a inclusão

de estudantes com deficiência no Ensino Superior.

Quanto aos objetivos específicos para a pesquisa elencamos:

• Descrever as políticas nacionais e institucionais da UFRN que

desencadeiam ações de formação continuada dos docentes na perspectiva da

Educação Inclusiva;

• Compreender, a partir das perspectivas de discentes com deficiência,

docentes e gestores da UFRN, o processo de formação docente e sua

implicação na permanência de estudantes com deficiência no Ensino Superior;

• Sistematizar possibilidades para ações formativas e políticas institucionais

que contribuam com a melhoria da qualidade do ensino em uma perspectiva

inclusiva no Ensino Superior.

Neste estudo, defendemos a tese de que a formação continuada do

docente do Ensino Superior necessita de reestruturação política e pedagógica à

luz da perspectiva educacional inclusiva, de modo que a inclusão se torne

elemento estruturante para a melhoria da qualidade de ensino de todos, para o

apoio a permanência de estudantes com deficiência e para a desconstrução de

barreiras pedagógicas e atitudinais.

Para a sistematização do estudo organizamos esta tese em sete capítulos,

que detalharemos a seguir.

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Iniciamos com o texto introdutório denominado: “Introdução: O encontro

com o objeto de estudo e as aproximações epistemológicas”, no qual

descrevemos o delineamento da pesquisa, com as nossas motivações para o

desenvolvimento do estudo, em um exercício (auto)formativo sobre a trajetória

percorrida nos caminhos da inclusão educacional que nos levaram à elaboração

da pesquisa; aos objetivos e pressupostos decorrentes do “estado da arte”.

No segundo capítulo: “Percursos Teórico-Metodológicos”, detalhamos o

método da pesquisa, apresentamos os direcionamentos metodológicos do

estudo como qualitativo e de cunho exploratório, o campo de investigação e os

participantes, com os seus critérios de escolha. Por fim, descrevemos os

procedimentos de coleta de dados, procedimentos de análise e a caracterização

dos participantes.

No terceiro capítulo: “O processo educacional da pessoa com deficiência:

caminhos para o reconhecimento de direito humano e inclusão”, destacamos os

marcos históricos e políticos para efetivação da inclusão educacional das

pessoas com deficiência, a transversalidade entre a Educação Inclusiva e os

Direitos Humanos, e as perspectivas políticas e educacionais inerentes à

inclusão de estudantes com deficiência no Ensino Superior.

No quarto capítulo: “Formação do Docente Universitário: (des)encontros

entre a dimensão pedagógica, a política de formação do professor universitário

e a inclusão de estudantes com deficiência no Ensino Superior”, discutimos as

bases teóricas da formação inicial e continuada do docente universitário,

pontuando reflexões a respeito da dimensão pedagógica, assim como

discutimos caminhos para a formação docente à luz da perspectiva educacional

inclusiva.

No quinto capítulo: “A inclusão de estudantes com deficiência na UFRN:

Processo de conquistas e desafios”, apresentamos o resultado do levantamento

teórico-documental sobre o processo educacional inclusivo na UFRN e seu

contexto de formação continuada diante da perspectiva inclusiva. Também

discutimos os dispositivos institucionais que direcionam as ações de formação

docente e o levantamento das necessidades de capacitação dos docentes.

No sexto capítulo: “O mosaico entre a Inclusão e Formação Docente na

UFRN: Uma análise de dados do campo de estudos e das percepções dos

partícipes”, nos dispomos a analisar os resultados do estudo considerando os

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subtópicos definidos a partir das categorias de análise, a saber: Categoria I -

Inclusão de estudantes com deficiência e a dimensão pedagógica; Categoria II -

O desafio agora é a permanência; Categoria III - Aperfeiçoamento didático-

pedagógico e qualidade do ensino; Categoria IV - Diretrizes da política

institucional para a formação docente e inclusão na UFRN; Categoria V - Novos

caminhos para as ações formativas inclusivas.

Por fim, apresentamos as Considerações Finais, nas quais tecemos

reflexões a partir dos resultados obtidos e das bases teóricas da pesquisa,

apontando novos caminhos e inquietações a respeito da Inclusão no Ensino

Superior, das políticas relativas à permanência e à formação continuada do

docente universitário diante dos alunos com deficiência.

A pesquisa, que ora se apresenta, consiste, portanto, em um possível

canal para o exercício de reflexões inerentes às práticas educacionais inclusivas

no Ensino Superior, pois permitirá analisar a relação entre as políticas

educacionais, institucionais da UFRN e a formação continuada de docentes

universitários, no tocante à dimensão pedagógica e à interface com a inclusão

de estudantes com deficiência no Ensino Superior. Esperamos que o estudo

contribua para uma maior compreensão sobre as políticas educacionais que

desencadeiam ações de formação continuada do docente, na perspectiva da

Educação Inclusiva, assim como permita conhecer o processo de inclusão de

estudantes com deficiência na Educação Superior e seus atravessamentos nos

processos de permanência implicadas na formação docente. Assim como

possibilite conhecer diretrizes, sobre as ações formativas e políticas

institucionais da UFRN que possam contribuir para o aperfeiçoamento e melhoria

da qualidade do ensino numa perspectiva inclusiva.

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2 PERCURSOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS

As definições metodológicas da pesquisa no campo social marcam os

percursos da investigação e obtenção de novos conhecimentos no campo da

realidade social (GIL, 2008).

Esta pesquisa seguiu uma abordagem qualitativa por concordarmos com

a proposta de atenção aos aspectos da realidade que não podem ser

quantificados, centrando-se na compreensão e explicação da dinâmica das

relações sociais.

Optamos pela abordagem qualitativa, por valorizarmos as relações entre

os sujeitos envolvidos e o entorno, suas relações e as implicações no processo

educativo, pois na mesma abordagem, de acordo com Oliveira (2007),

descrevemos e interpretamos o fenômeno dentro de uma visão complexa,

holística e sistêmica, sabendo que, ao adotarmos essa postura investigativa, não

preconizamos a verdade absoluta das coisas.

De acordo com Minayo (2001), esta abordagem volta-se ao o universo de

significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes. Deste modo,

proporciona análise nos espaços mais profundos das relações, dos processos e

dos fenômenos que não podem ser reduzidos a apenas operacionalização de

variáveis, sendo o mergulho proposto no campo empírico apresentado como um

diálogo reflexivo, entre realidade e pressupostos teóricos.

Diante do caráter inédito e exploratório, da temática abordada no estudo

sobre as políticas de formação continuada dos docentes no Ensino Superior e

as relações entre a permanência dos estudantes com deficiência neste nível de

Ensino, esta pesquisa apresenta características de uma pesquisa exploratória,

pois de acordo com Gil (2008) este tipo de pesquisas é realizada, especialmente,

quando o tema escolhido é pouco explorado e torna-se difícil sobre ele formular

hipóteses precisas e operacionalizáveis. Além disso, a pesquisa exploratória tem

como principal finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias,

tendo em vista a formulação de problemas mais precisos ou hipóteses

pesquisáveis para estudos posteriores.

Sabe-se que cada pesquisa social, naturalmente, tem um objetivo

específico. Contudo, Gil (2008, p. 28) afirma que “é possível agrupar as mais

diversas pesquisas em certo número de grupamentos amplos”. Logo,

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identificamos também no delineamento do estudo em tela características de

pesquisa descritiva, pois como afirma Gil (2008), as pesquisas deste tipo têm

como objetivo primordial a descrição das características de determinada

população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre variáveis.

Diante da necessidade de descrição da realidade, compreendemos que

esta pesquisa se constitui como uma pesquisa exploratório-descritiva, pois

apresenta uma junção dos perfis metodológicos definidos anteriormente, visando

proporcionar maior familiaridade com o problema investigativo para torná-lo

explícito de maneira empírica. Deste modo, a pesquisa exploratório-descritivo

também descreve e expõe características de determinada população ou de

determinado fenômeno, podendo estabelecer correlações entre variáveis e

definir sua natureza (SILVA; MENEZES, 2001; VERGARA,1998).

Para direcionar os procedimentos metodológicos, adotamos a pesquisa

de campo para conduzir a investigação, uma vez que ela “[...] caracteriza-se

pelas investigações em que, além da pesquisa bibliográfica e/ou documental, se

realiza coleta de dados junto a pessoas, com o recurso de diferentes tipos de

pesquisa.” (FONSECA, 2002, p 37).

Diante dos aspectos delineados na justificava e nos objetivos desta tese,

o campo empírico da pesquisa foi a Universidade Federal do Rio Grande do

Norte (UFRN), campus Natal/RN. Destaca-se esta escolha devido ao

pertencimento territorial e visceral que temos a este espaço, e o desejo de, como

membro de um corpo acadêmico e servidor, contribuir com problemáticas

existentes, “ethos” imensamente complexo e em movimento que se constitui na

Universidade, sendo a pertinência desta pesquisa anteriormente justificada em

sua relevância acadêmica, social e pessoal.

2.1 Procedimentos da Revisão Sistemática

Com o intuito de problematizar teoricamente o objeto de estudo, a saber,

as relações entre as políticas educacionais e as ações de formação continuada

dos docentes do Ensino Superior na UFRN, no tocante à dimensão pedagógica

e a interface com a inclusão de estudantes com deficiência, consideramos

importante adotar, como procedimento inicial, a revisão sistemática da literatura,

para conhecer o que vem se discutindo, ao longo da última década, no contexto

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acadêmico nacional e internacional, a respeito das temáticas que versam sobre

inclusão de pessoas com deficiência no Ensino Superior e sobre a formação

continuada dos docentes em contextos universitários.

Realizamos estudos e análises em dados oficiais, institucionais e

governamentais, em busca de informações sobre marcos legais e ações

afirmativas que fundamentassem o percurso normativo da inclusão de

estudantes com deficiência no contexto educacional e, especificamente, no

universitário. Além disso, buscamos alicerces teóricos em estudos na área da

Educação Especial/Inclusiva e da Formação de Professores para sistematizar os

conhecimentos nestas temáticas, visando fundamentar teoricamente a pesquisa

e articular as duas perspectivas de modo a compreendermos a empiria à luz dos

elementos teóricos.

A revisão sistêmica de levantamento bibliográfico, foi direcionada pelas

fases destacadas por Marconi e Lakatos (2003) as quais são: escolha do tema;

elaboração do plano de trabalho; a identificação; localização; compilação; e

fichamento.

A escolha do tema ocorreu após a definição do objeto de estudo desta

Tese de Doutorado, o qual versaria sobre a inclusão no ensino superior e a

formação continuada do docente universitário.

Seguimos com a elaboração do plano de trabalho, realizando

mapeamento de bancos de dados científicos que pudessem qualificar a busca

dos estudos. Estes deveriam ser qualificados pela área de pesquisa, definidos

em termos de confiabilidade das produções acadêmicas.

Durante a etapa de identificação foram escolhidos como ambientes de

busca virtual estudos contidos no Banco de Teses e Dissertações do portal da

CAPES; na biblioteca digital Scientific Electronic Library Online – SciELO; Portal

de periódicos da CAPES, WOS (Web of Science), Scopus e Dialnet.

Foram utilizados os seguintes critérios para busca e seleção de trabalhos:

Artigos científicos publicados em periódicos - revisados por pares - nacionais e

internacionais com qualificação A ou B (CAPES); artigos publicados em eventos

científicos de grande relevância para a área; livros ou capítulo de livros; teses e

dissertações.

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Os descritores utilizados durante a coleta, escritos em português, inglês e

espanhol durante as buscas, foram: universidade; inclusão; deficiência;

professor; formação docente; formação continuada; políticas educacionais.

O refinamento das buscas foi definido pelo período das datas de

publicações entre 2008 até 2019, perfazendo a última década de publicações

sobre a temática. A delimitação temporal, considerou as mudanças políticas e

sociais ocorridas no campo da inclusão no ensino superior. Destacamos que

estes materiais foram selecionados tendo em vista a abrangência e a amplitude

de discussões que realizam.

Durante a etapa de localização das produções acadêmicas, no tocante às

teses e dissertações nacionais, foram localizadas inicialmente 52 pesquisas. Ao

serem lidos os resumos de cada pesquisa, foram selecionados sobre o critério

de aproximação teórica ou metodológica com a temática a ser estudada,

temática geral “Inclusão de pessoas com deficiência no Ensino Superior”, 36

pesquisas – sendo elas 26 Dissertações e 10 Teses. Destas, apenas 2

dissertações perpassavam temática da formação continuada do docente

universitário em uma perspectiva inclusiva.

No tocante aos artigos científicos nacionais foram localizados 45

Publicações que convergiam para a temática geral do estudo “Inclusão de

pessoas com deficiência no Ensino Superior”. No entanto, após análise e leitura

sistemática dos resumos e metodologias utilizadas, foram selecionadas 10

publicações que se aproximavam da temática específica: “formação docente no

ensino superior em uma perspectiva inclusiva”.

No tocante às buscas de publicações internacionais, foram localizados

inicialmente 31 Publicações, que discutiam a temática geral: “inclusão de

pessoas com deficiência no Ensino Superior”. No entanto, após análise e leitura

sistemática dos resumos e metodologias utilizadas, foram selecionadas 08

publicações que se aproximavam da temática específica: “formação docente no

ensino superior em uma perspectiva inclusiva”. É interessante destacar que

estes estudos foram publicados em diferentes países, tais como: Espanha (17),

Cingapura (1), Inglaterra (4), França (1), Venezuela (2) e Chile (2).

Na etapa de compilação e coleta dos dados foi utilizado um protocolo

como instrumento contendo informações sobre cada estudo, são estas: ano de

publicação, autor (es), título, tipo de produção (artigo científico, livro, capítulo de

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livro, tese ou dissertação), objetivos, metodologia utilizada, discussão teórica e

resultados. O referido instrumento foi submetido à apreciação de 3 (três)

pesquisadores externos, para avaliarem quanto à clareza, objetividade e

conteúdo, sendo considerado adequado para o objeto estudado.

Na etapa do fichamento foram analisadas as relações teóricas e

epistemológicas entre cada estudo e discutidas com outros referências aspectos

relacionados ao objeto de estudo. Os dados foram categorizados por grupos de

acordo com os temas abordados nos estudos e resultados apresentados.

Como produto da revisão sistemática de levantamento bibliográfico

apresentaremos as temáticas gerais mais discutidas e buscaremos ressaltar

aqueles que mais se aproximam da temática da formação continuada do docente

universitário no Ensino Superior em uma perspectiva inclusiva.

No que diz respeito às Teses e Dissertações Nacionais encontradas,

pode-se perceber uma multiplicidade de áreas de investigações na área da

Inclusão de pessoas com deficiência no Ensino Superior. Elencamos como

primeiro grupo aqueles estudos que discutiram de uma forma geral a temática

da Inclusão na universidade e as percepções dos estudantes com deficiência,

docentes e técnicos. A temática da inclusão no contexto universitário discutida

pelos atores envolvidos neste cenário, se apresenta em destaque, nos 14

(quatorze) trabalhos. As teses e dissertações elencadas neste grupo

apresentaram reflexões coincidentes sobre o processo educacional inclusivo na

universidade, oportunizando um diálogo entre a teoria e a empiria através de

relatos de experiências, destacando como necessárias o preenchimento de cada

lacuna, que se configura como barreira pedagógica, física ou atitudinal, a partir

de cada realidade. Em seus resultados são apresentadas as percepções de

estudantes com deficiência, dos docentes e/ou técnicos sobre a inclusão das

pessoas em cada realidade, destacando a voz dos partícipes e impetrando aos

mesmos possibilidades de posicionamento e diálogo com a academia.

(BORGMANN, 2016; ROSSETTO, 2009; SOARES, 2011; FERREIRA, 2015;

SILVA, 2015; MONTEIRO, 2015; LIMA, 2013; SOARES, 2014; VIANA, 2010;

NEGRY, 2012; FORTES, 2005; MELO, 2011; GUIMARÃES, 2011; TOMAZ, 2016).

No segundo grupo, distribuímos aqueles estudos que se dedicaram à

análise de Políticas e Programas de promoção à inclusão da pessoa com

deficiência no Ensino Superior. As Teses de Castro (2011); Miranda (2014);

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Oliveira (2011); e as Dissertações de Araújo (2013); Monteiro (2016); Souza

(2010); Saraiva (2015); Souza (2015), possuem como objetos de estudos os

marcos regulatórios nacionais, o Programa Incluir5 e a implementação/atuação

dos núcleos de acessibilidade no Brasil. Apontam como resultados os avanços

ocorridos na política nacional, porém destacam a necessidade de um maior

acompanhamento da aplicação dos marcos regulatórios nos contextos empíricos

analisados.

No terceiro grupo foram reunidos os estudos que discutem a temática da

“acessibilidade no ensino superior”, dos quais as três Teses: de Corrêa (2014);

Guerreiro (2011); Morejón (2009); e a Dissertação: Nogueira (2012) destacam

tanto o âmbito físico/arquitetônico, quanto o âmbito comunicacional. Nos 4

(quatro) trabalhos nas categorias de análises são apresentadas com

instrumentos de avaliação aos requisitos de acesso e permanência. Nos

resultados são destacados como barreira a permanência do estudante com

deficiência.

No quarto grupo foram destacados o tema do “acesso em processos

seletivos e permanência” em 4 (quatro) Dissertações: Rangel (2015); Souza

(2011); Braga (2012); Freitas (2015). Os estudos se referem ao acesso em

processos seletivos para ingresso e permanência, sendo destacados os

aspectos relativos aos processos seletivos vestibulares, dispositivos de cotas

para o ingresso, as bancas especiais e as ações institucionais que visam garantir

a permanência, tais como bolsas de permanência e programas específicos aos

estudantes com deficiência.

No quinto grupo foram reunidos os estudos que discutem as “práticas

docentes”, dos quais são as Teses de Soares (2011); Camargo (2005) e as 2

Dissertações de Correa (2016); Santos (2014). Os estudos apontam percepções

de estudantes com deficiência e docentes a respeito da atuação pedagógica na

sala de aula universitária diante da presença de estudantes com deficiência,

destacando os desafios enfrentados no desempenho desta tarefa. São

discutidos das análises quesitos como práticas excludentes e barreiras

5 “Programa Incluir”, foi criado em 2005 pelo MEC por meio da SESu/SECADI, que visa fomentar a criação e a consolidação de núcleos de acessibilidade nas IFES, as quais respondem pela organização de ações institucionais que garantam a inclusão de pessoas com deficiência à vida acadêmica, eliminando barreiras pedagógicas, arquitetônicas, na comunicação e informação, promovendo o cumprimento dos requisitos legais de acessibilidade.

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atitudinais. Ambos os trabalhos pontuam questões sobre as necessidades

formativas dos docentes, no entanto não discutem possibilidades de elaborações

para novas políticas institucionais ou relatam experiências de formação

continuada.

No sexto grupo está a única Dissertação que traz a questão dos “egressos

com deficiência”: Sousa (2016), que discute a temática. O trabalho que traz a

voz de egressos com deficiência advindos das licenciaturas e que enfrentam

dificuldades para ingressar no mercado de trabalho. Aponta como resultados a

necessidade de haver parcerias entre as Universidades e as empresas, e ainda

destaca a necessidade de um melhor preparo para a vida “para além” dos

bancos escolares.

No sétimo grupo reunimos os estudos que dialogam mais diretamente

com a proposta deste trabalho doutoral, a “formação do docente universitário em

uma perspectiva inclusiva”. Foram elencadas duas dissertações: Torquato

(2015), e Martins (2016). Nestes estudos são apontadas dificuldades presentes

na prática docente que estão relacionadas às lacunas formativas existentes na

preparação do docente universitário. São pontuados, em ambos os estudos, que

existem limitações na formação inicial e continuada dos docentes universitários,

especificamente, no tocante à efetivação da prática docente em uma perspectiva

inclusiva. E destacam nos resultados a necessidade de investimento institucional

em ações permanentes de formação oferecidas aos docentes na área da

educação especial.

Ressaltamos a mínima quantidade de pesquisas científicas em contextos

stricto sensu, e a inexistência em nossas buscas de tese doutoral brasileira, que

tenha se dedicado a esta temática da formação do docente universitário em uma

perspectiva inclusiva.

No tocante aos artigos científicos nacionais, foram selecionados

inicialmente 45 publicações que se referiam a temática geral: Inclusão de

pessoas com deficiência no Ensino Superior. As quais destacamos temáticas

como: Revisão Bibliográfica – 4 artigos: Baptaglin,souza (2012); Silva, Souza,

Prado, Ribeiro, Lia, Carvalho (2012); Brito, Zeppone (2014); Martins, Martins

(2018); Acesso e permanência e Acessibilidade - 16 artigo: Pacheco, Costas

(2005) Siqueira, Santana (2010); Moreira, Bolsanello, Seger (2011); Ferreira

(2007), Vieira, Severo,albertani (2014); Isabel, Ramosi, Lisneti Castroiv &

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Roselane Lomeov (2013), entre outros; Políticas Educacionais Inclusivas e

Núcleos de Acessibilidade - 15 artigos: Melo, Martins (2016 a); Melo, Martins

(2016b); Ferreira (2007); Dantas (2015); Cabral; Melo (2017); Almeida,

Rebouças (2016); Pletsch, Melo (2017) entre outros.

Dos artigos que se referem a nossa temática específica: “formação

docente no ensino superior em uma perspectiva inclusiva” destacamos 10

publicações. Quantitativo um pouco mais expressivo do que o representado no

universo das dissertações e teses.

No tocante às publicações internacionais, foram selecionadas inicialmente

31 publicações que se referiam a temática geral: Inclusão de pessoas com

deficiência no Ensino Superior. As quais destacamos temáticas como: Práticas

educacionais inclusivas / estratégias pedagógicas / Boas práticas: 10 artigos -

Omaña, Alzolar (2017); Abasal, Ramírez (2017); Álvarez-Pérez(2012); Moriña

Díez, López Gavira, Cotánrnández (2015); lvarez-Pére, Alegre-de-la-Rosa,

López-Aguilar (2014); Ebersold, Cabral (2016); entre outros; Acesso e

Acessibilidade: 7 artigos - Cabral, Mendes, Ebersold (2015); Ferreira, Prado,

Cadavieco (2015); Vera; Lledó; Roig-Vila (2016); Vigaray, González-Gascón. et

al (2016) entre outros; Políticas Educacionais Inclusivas e Serviços de apoio: 4

artigos - Camino; Vieira, García, Javier (2014); Susinos,Rojas (2014); Vigaray,

González-Gascón (2016); González (2016); Perspectivas do alunado com

deficiência: 2 artigos - Vega, Moriña-Díez (2015); Moriña, Perera (2018).

Dos artigos que se referem a nossa temática específica, qual seja, a

“formação docente no ensino superior em uma perspectiva inclusiva”

destacamos 08 publicações. É importante ressaltar que os estudos foram

publicados em diferentes países, tais como: Espanha (17), Cingapura (1),

Inglaterra (4), França (1), Venezuela (2) e Chile (2)

Diante da revisão sistemática de levantamento bibliográfico destes estudos

é perceptível que, na última década, houve uma ampliação das discussões

teóricas a respeito da Inclusão no Ensino Superior, destacando a relevância

desta temática tanto para o âmbito acadêmico, quanto para o âmbito social. A

inclusão de estudantes com deficiência na universidade tem se apresentado

como um desafio ao desenvolvimento de políticas e ações institucionais, que

garantam a estes estudantes o exercício pleno de cidadania e participação

efetiva na vida acadêmica (SILVA, 2012; PEREIRA, 2016).

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Discussões sobre a elaboração e implementação de políticas

educacionais inclusivas; acesso, permanência e acessibilidade; evidência às

percepções das pessoas com deficiências; serviços de apoio e núcleos de apoio;

práticas educacionais inclusivas; entre outras temáticas, tem estado em

evidência tanto em âmbito nacional quanto em âmbito internacional.

No entanto, o contexto da inclusão de pessoas com deficiência no Ensino

Superior é deveras recente e constitui-se como vasto campo investigativo. Trata-

se de um nível de Ensino, complexo, que rege a todos os outros e que é

responsável pela formação cultural, social e acadêmica de toda a comunidade.

Falar e investigar a inclusão e permanência da pessoa com deficiência em

qualquer ângulo deste contexto se configura ainda desbravador.

A temática da formação do docente universitário em uma perspectiva

educacional inclusiva, apresenta-se de modo embrionário, e urge por novas

iniciativas de pesquisa. Reflexo disto é o mínimo resultado de publicações sobre

a temática, pois enquanto foram selecionados 112 estudos no total sobre a

temática geral “Inclusão de pessoas com deficiência no Ensino Superior”, foram

escolhidos apenas 20 estudos que se aproximavam da temática específica

“Formação docente no ensino superior em uma perspectiva inclusiva”.

Seguramente, nenhum destes se propunha a investigar as políticas educacionais

e institucionais de formação continuada do docente universitário à luz do

processo educacional inclusivo.

Mesmo com a baixa expressividade numérica, os estudos que dialogam

com a temática a qual nos propusemos investigar, apontam diretamente para a

não preparação prévia do professor para lidar com o processo de inclusão. A

formação docente é discutida neste aspecto sob o viés de que as universidades

deveriam desenvolver, em seus cursos de graduação e de pós-graduação e em

programas de formação continuada, preparação para os professores e

profissionais da educação atuar frente à diversidade.

Estudos específicos sobre a formação continuada do docente no contexto

do Ensino Superior em uma perspectiva inclusiva, em âmbito nacional e

internacional, respaldam a necessidade efetiva de formação docente, no tocante

à dimensão pedagógica e especificamente na área da Educação Inclusiva.

(THOMA, 2006; VITALIANO, 2007; CARBALLO, 2016; CARBALLO, MORIÑA,

2018; SILVIA, SIMIROTTI, SAMMAR, 2012).

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Assim como evidenciam que a ausência de formação pedagógica se

configura como barreira na ação docente para lidar com a diversidade inerente

à presença de estudantes com deficiência (MORIÑA-DIEZ, LÓPEZ GAVIRA,

MELERO, CORTÉS VEJA, ROMO, 2013, CARBALLO, 2018). E ainda destacam

a importância da formação continuada para a prática docente, evidenciando a

ação formativa em uma perspectiva inclusiva, como aspecto positivo junto aos

estudantes com NEE. (REDRUELLO; RODRÍGUEZ; QUESADA; VILORIA, 2014;

CARBALLO, 2018; OLIVEIRA, MAGALHÃES, MENDONÇA, 2016).

Destacamos ainda que os estudos que apresentam as vozes de estudantes

com deficiência em relatos sobre suas experiências acadêmicas, destacam a

atuação pedagógica dos docentes universitários como uma das maiores

barreiras existentes na universidade (VEGA, MORIÑA-DÍEZ, 2015; MORIÑA,

PERERA, 2018).

Respaldando estas afirmações, Martins (2016) afirma com base em estudo

realizado com estudantes cegos na Educação Superior que, em geral, o

professor aparece como o agente que poderá viabilizar o processo inclusivo ou

obstruí-lo em seu campo de atuação, e ainda a lacuna no processo formativo

podem acentuar as barreiras pedagógicas e atitudinais. Destacaram-se na

análise do referido estudo, práticas docentes alicerçadas nas barreiras

pedagógicas e atitudinais, com ênfase no preconceito e na invisibilidade do

estudante com NEE em sala de aula. No tocante ao processo formativo dos

docentes, o estudo apontou lacunas, no que diz respeito à formação pedagógica,

e principalmente no que se refere ao aperfeiçoamento didático-pedagógico para

lidar com a inclusão de estudantes com NEE na Educação Superior.

Desta feita, abre-se espaço para a discussão teórica e investigação a

respeito da elaboração e gestão de políticas de formação continuada do

professor universitário, na perspectiva educacional inclusiva como parte inerente

à oferta da qualidade do ensino para todos.

O estudo de Moriña, Lopez-Gavira, Morgado (2019), revelaram que vários

aspectos se constituem como essenciais para possibilitar a educação inclusiva:

a atitude positiva dos professores em relação aos estudantes com deficiência

para promover a educação inclusiva, a necessidade de fazer ajustes razoáveis

(metodologias, sistemas de avaliação e recursos) para garantir a aprendizagem

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dos estudantes com deficiência, e o uso de tecnologias para facilitar o acesso à

aprendizagem.

Concordamos com Eidelwein (2005) quando afirma que a inclusão na

universidade exige um redimensionamento na formação do professor

universitário, o que implica na proposição de uma Pedagogia Universitária que

invista na formação continuada dos professores, contemplando o paradigma da

inclusão, podendo, desta forma, ampliar as discussões sobre esta temática.

A Pedagogia Universitária voltada à formação de professores na

perspectiva da inclusão de estudantes com deficiência ainda é pouco discutida

a nível de produção acadêmica, e quando ocorre, se direciona a iniciativas

individuais de algumas instituições ou setores específicos nas universidades.

(HAYASHI, MACHADO, ETO, YAMANIHA, AUSEC (2012); BATISTA, SANTOS,

FUMES (2016); CARBALLO, 2018).

Diante dos aspectos discutidos e analisados na revisão sistemática da

literatura a respeito da inclusão de estudantes com deficiência no ensino superior

e as relações entre as políticas de formação continuada dos docentes

universitários em uma perspectiva inclusiva, apontamos para a inexistência,

atualmente, de estudos que analisem a articulação entre as políticas (nacionais

e institucionais) de formação continuada do docente universitário e a relação

entre a inclusão dos estudantes com deficiência no Ensino Superior. Assim como,

destacamos a ausência de discussões que envolvam as implicações entre a

permanência dos estudantes com deficiência no Ensino Superior e formação

docente. Da mesma maneira, percebemos a escassez de estudos que

apresentem experiências no campo da formação continuada em uma

perspectiva inclusiva para o docente do Ensino Superior.

Deste modo, a formação docente do Ensino Superior em uma perspectiva

inclusiva se mostra como campo para novas pesquisas, que possam suscitar

discussões a este respeito dentro das instituições, provocando a elaboração e

reelaboração de suas políticas internas que impactem a formação continuada do

docente universitário à luz de uma perspectiva educacional inclusiva.

2.2 Procedimentos e instrumentos de coleta de dados

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Para esta etapa da pesquisa foram elaborados os documentos para

cumprimento de trâmites e protocolos institucionais para a autorização da

realização da pesquisa. Realizamos a solicitação de autorização de estudo à

instituição locus da pesquisa, direcionados à Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas

(PROGESP) da UFRN e à Comissão Permanente de Apoio ao Estudante com

Necessidades Educacionais Especiais (CAENE) da UFRN, além dos Termos de

Confidencialidade e a Declaração de pesquisa não iniciada, direcionados ao

Comitê de Ética em Pesquisa da UFRN. Após aprovação do projeto de pesquisa

pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFRN6, de fato iniciamos nossas buscas

em nosso contexto de pesquisa.

Após mergulharmos nas fontes teóricas e documentais, partimos para a

etapa do processo de coleta de dados em nosso contexto empírico, na busca

por informações para a elucidar do questionamento que almejávamos responder,

a saber: Quais as relações entre as políticas educacionais e as ações de

formação continuada dos docentes do Ensino Superior na UFRN, no tocante à

dimensão pedagógica e a interface com a inclusão de estudantes com

deficiência?

Neste caso, fizemos o estudo das políticas institucionais que versam

sobre a inclusão de estudantes com deficiência na UFRN, assim como das

políticas de formação continuada dos docentes da UFRN, visando conhecer as

políticas institucionais da universidade, estabelecendo um elo descritivo entre as

políticas nacionais sobre a mesma temática.

Seguimos com o levantamento de dados solicitando informações

quantitativas à CAENE/UFRN a respeito dos estudantes com deficiência

ingressantes no Ensino Superior nos últimos anos e os cursos nos quais estavam

matriculados. Também tivemos acesso ao instrumento utilizado pelo próprio

setor para avaliações semestrais dos estudantes acompanhados pela CAENE,

nos quais os estudantes descreviam alguns de seus avanços ou dificuldades

enfrentadas ao longo do semestre. Desta etapa de levantamento pudemos

6 Este estudo foi submetido em 08/11/2017 e aprovado em 29/11/18 (CAAE

n°79717717.1.0000.5292) pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL/UFRN), em consonância com a Resolução CNS Nº 466, de 12 de dezembro de 2012, por se tratar de uma pesquisa com seres humanos.

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reconhecer territorialmente, enquanto pesquisadora, o quadro dos estudantes

com deficiência que estavam na UFRN e diferenciar as experiências vivenciadas

como pedagoga institucional daquele setor, dos olhares agora atentos como

pesquisadora, compilando dados da empiria.

À parte disto, buscamos conhecer o funcionamento das ações

formativas dos professores, para além do que estava apresentado na política da

Universidade. Solicitamos dados informativos a diferentes setores, tais como a

Prograd (Pró-reitora de Graduação) e a Diretoria de Desenvolvimento de

Pessoas (DDP), sobre os dados quantitativos de participação dos docentes nas

ações de formação continuada oferecidas por estes setores. Além disso,

solicitamos dados sobre as duas últimas avaliações do Levantamento de

Necessidade de Capacitação (LNC) realizado anualmente pela DDP dirigido a

todos os servidores da Universidade, em busca de respostas sobre as áreas de

interesse de formação ou para identificar possíveis lacunas formativas dos

docentes da UFRN, possivelmente manifestadas em tal instrumento institucional.

A fim de gerar uma maior aproximação e diálogo com a temática e ações

de formação continuada realizadas na UFRN, especificamente pelo Programa

de Atualização Pedagógica (PAP), atualmente coordenado pela PROGRAD em

parceria com outros setores da UFRN, durante o primeiro ano desta pesquisa,

ano de 2017, participamos das reuniões mensais ocorridas para planejamento e

avaliação das ações do PAP.

Todos estes dados levantados e registros a partir de observações, nos

possibilitaram conhecer como se configurava a estrutura da formação

continuada do docente universitário na UFRN e a relação com as políticas

inclusivas relativas aos estudantes com deficiência, respondendo assim ao

primeiro objetivo específico do nosso estudo.

A fim de dar prosseguimento ao estudo, seguimos como mais uma

técnica de coleta de dados, a entrevista semiestruturada, por acreditarmos que

esta, de acordo com Triviños (1987, p.138), “[...] é um dos instrumentos mais

decisivos para estudar os processos e produtos nos quais está interessado o

investigador qualitativo”. E que nos permite diante do mosaico social expresso

no contexto empírico perceber nuances, cores, encaixes e desencaixes

revelados no ato de ouvir, perguntar e dialogar, com leveza e ao mesmo com

cientificidade. Apesar de valorizar esse grande mosaico subjetivo das

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entrevistas, Bourdieu (2001; 2003; 2004) manteve os olhos na possibilidade da

ciência como portadora do universal, da razão objetiva como método de

descoberta.

Diante do nosso vívido campo empírico e da densidade da temática

discutida nesta pesquisa buscamos contar com diálogos que se entrelaçam e se

complementam, avaliamos que enriqueceríamos o estudo realizando entrevistas

com três diferentes grupos, são eles: estudantes com deficiência, docentes e

gestores da UFRN. Deste modo, poderíamos buscar em suas falas diferentes

perspectivas sobre o processo de inclusão de estudantes com deficiência no

Ensino Superior e seus atravessamentos nos processos de permanência

implicadas na formação docente, cumprindo assim, com o segundo objetivo

específico.

Para ser escolhidos como participantes da pesquisa e contribuir com as

entrevistas foram elencados alguns critérios a cada grupo:

- Critérios utilizados para participação de docentes: ser docente efetivo da UFRN

e ter participado de uma ou mais ações 7 de formação continuada sobre a

temática da inclusão de estudantes com deficiência nos anos de 2016 e 2017;

- Critérios utilizados para participação de discentes: ser discente da UFRN,

apresentar condição de deficiência, ter matrícula ativa e ser acompanhado pela

CAENE no semestre 2017.2;

- Critérios utilizados para participação de gestores: compor a equipe gestora da

UFRN, principalmente dos setores que elaboram as políticas institucionais e os

que trabalham com a oferta de formação continuada aos docentes da instituição.

Como critérios de exclusão destacamos aqueles que não se

enquadravam no perfil descrito para os critérios de inclusão ou aqueles que

optassem por não participar da pesquisa, seja por falta de retorno ou por

apresentação de negativas aos convites. Após a definição dos critérios de

inclusão e exclusão dos participantes desta pesquisa foi possível iniciarmos a

busca dos perfis dos discentes, docentes e gestores que poderiam tornar-se

participantes da pesquisa.

Por meio do Sistema Integrado de Gestão de Atividades Acadêmicas da

UFRN - SIGAA, obtivemos informações de dados fundamentais para identificar

7 Compreendemos neste caso “ações de formação continuada” cursos, minicursos, palestras ou oficinas.

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os discentes com deficiência com matrículas ativas e que eram acompanhados

pela CAENE no semestre 2017.2. A partir da busca inicial surgiram no “Relatório

de alunos com Necessidades Especiais” (emitido em 09/11/2017) pelo SIGAA, o

total de 178 estudantes. No entanto, ao filtrarmos este quantitativo para o grupo

de estudantes especificamente com deficiência8, com matrículas ativas e em

atendimento pela CAENE, foram identificados 51 estudantes. Diante de tamanha

população elencamos, de modo aleatório, 2 (dois) estudantes de cada condição

de deficiência.

Para a identificação dos possíveis docentes participantes da pesquisa, foi

realizado um levantamento junto aos arquivos físicos da CAENE, isto é, das

listas de presença de oficinas, palestras, cursos ou minicursos ministrados aos

docentes da UFRN durante os anos de 2016 e 2017. Nesta busca foram

coletadas as seguintes informações: nome, e-mail, contato telefônico, curso e

centro acadêmico. 9 Em seguida, verificamos no Sistema a confirmação de

pertencimento ao quadro efetivo da universidade de cada um dos docentes,

eliminando àqueles que não compunham o quadro como servidores efetivos.

Para a identificação dos gestores que poderiam compor a pesquisa, foi

realizado um estudo do panorama organizacional da UFRN, a partir do Plano de

Gestão 2015/2019, e a estrutura organizacional apresentada no Sistema de

Gestão de Recursos Humanos (SIGRH), os quais definem as funções de cada

pró-reitoria e suas coordenações na Universidade. Assim sendo, pudemos

direcionar o nosso olhar para àqueles servidores que se aproximavam dos

critérios de inclusão para este grupo.

Após a identificação das pessoas correspondentes a cada critério de

escolha, foi estabelecido o contato com os discentes (18), docentes (158) e

gestores (6) através de uma carta-convite enviada por e-mail, a qual esclarecia

as intenções da pesquisa e propunha a realização de uma entrevista sobre a

relação entre as políticas de inclusão da pessoa com deficiência na UFRN e os

entrelaçamentos na formação do professor universitário.

8 Para efeito desse estudo é considerado estudantes com deficiência àqueles com: deficiência visual - cegos ou com baixa visão; auditiva (surdo, implantado ou usuário de aparelho auditivo); deficiência intelectual; deficiência física e deficiência múltipla, conforme Resolução nº 193 de 21 de setembro de 2010 - CONSEPE. 9 Buscamos estes dados diretamente na CAENE, pois em outros setores que também são responsáveis pela formação continuada teríamos maior dificuldade para encontrar os nomes e dados que necessitávamos para entrar em contato.

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Do total de cartas-convite enviadas recebemos sinalização positiva para

realização da entrevista da parte de 9 discentes, 10 docentes e 5 gestores,

totalizando assim, 24 participantes da pesquisa.

Com a mesma atenção que tivemos com a escolha dos participantes, o

material para a entrevista foi elaborado para que se buscasse um diálogo fluido

rumo aos objetivos a serem alcançados no estudo. Estávamos atentas à

elaboração e realização das entrevistas, considerando a relevância deste

instrumento, imensamente discutido no âmbito da sociologia e detalhadamente

descrito na obra A miséria do mundo, de Bourdieu (2003), a qual nos chama

atenção para a capacidade empática do entrevistador, a “necessidade imperiosa

de evitar toda e qualquer ‘violência simbólica’ derivada da dessimetria entre

entrevistador e entrevistado” (BOURDIEU, 2003, p. 695).

Destarte, os instrumentos da entrevista foram elaborados pelas

pesquisadoras e, posteriormente analisados por parte dos membros do grupo de

pesquisa. Em seguida, foram aplicados como “instrumentos testes” com três

pessoas externas ao contexto da pesquisa, a fim de buscarmos a maior clareza

na linguagem utilizada e validade instrumental.

A última fase de validação dos instrumentos foi feita por pessoas que se

enquadravam no perfil dos participantes de nosso estudo, no entanto, não fariam

parte do grupo de análise. Obviamente, em todas estas três fases de validação

dos instrumentos, informávamos aos voluntários que se tratava de um

“instrumento / entrevista teste” e que gostaríamos de receber as contribuições

para o aperfeiçoamento dos mesmos, e, deste modo, considerá-los válidos

socialmente.

Ao final da etapa de elaboração e validação das entrevistas, obtivemos

três instrumentos10 semelhantes, porém com direcionamentos distintos a cada

grupo a ser entrevistado, a saber: estudantes com deficiência, docentes e

gestores.

Com base na técnica da entrevista semiestruturada, organizamos a

primeira parte da entrevista com perguntas que permitissem a caracterização

quantitativa dos participantes, de acordo com gênero, condição de deficiência,

perfil estudantil, formação acadêmica, docência ou gestão.

10 Os instrumentos utilizados nas entrevistas estão disponíveis nos anexos.

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Em seguida, estabelecemos um conjunto de questões (roteiro de

entrevista semiestruturada) sobre o tema do estudo. As entrevistas continham

dois eixos, o primeiro foi denominado: “Sobre a inclusão de pessoas com

deficiência na universidade” e o segundo eixo foi denominado: “sobre docência

e formação”. Ambos continham questões que buscavam conhecer as

perspectivas dos participantes sobre o processo de inclusão de estudantes com

deficiência no Ensino Superior e suas relações com o processo de permanência

implicadas na formação docente. Desejávamos conhecer as impressões de cada

participante, que naquela amostra representavam três distintos grupos, basilares

no processo educacional inclusivo no Ensino Superior. Estávamos atentas a

suas vivências, impressões e contribuições a serem expressas a cada entrevista.

Neste caso, durante todas as entrevistas buscamos incentivar, que o que

o participante falasse livremente sobre assuntos e/ou experiências que iam

surgindo como desdobramentos do tema apontado nas questões. Ampliando as

possibilidades de diálogos e de respostas de acordo com cada experiência

vivenciada.

Os encontros foram agendados por e-mail ou por telefone, conforme a

disponibilidade temporal e espacial dos participantes, ocorrendo nas

dependências da UFRN, como por exemplo, nas salas trabalho dos docentes e

gestores, em seus respectivos departamentos, e setores de aulas dos

estudantes.

Neste processo de pesquisa, cumprimos os protocolos éticos de

apresentação do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e do Termo de

autorização para gravação de voz. Isto inclui a acessibilidade oferecida aos

participantes com deficiência visual, com disponibilização de cópias de cada

documento e entrevistas em Braille ou em letra ampliada. Quanto à realização

da entrevista com estudantes surdos, contamos com a presença de uma

intérprete de LIBRAS como mediadora da língua.

Cada entrevista durou aproximadamente entre 30 e 50 minutos gravadas

em um celular com aplicativo livre para gravação de voz, denominado “Gravador

de voz avançado”. Fizemos uso, também, de caneta e caderno de registros,

mantendo o olhar de pesquisadora atento a cada movimento corporal dos

entrevistados, a cada pausa, suspiro intenso e a cada sorriso nos lábios.

Procuramos a partir da metodologia citada, registrar a produção do

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conhecimento, no incessante processo de estudo e, consequentemente, de

nossa autoformação, indo além do olhar do pesquisadoras, já que fizemos corpo

da pesquisa, descobrindo junto aos participantes, respostas às nossas

inquietações.

É válido ressaltar que utilizamos um diário reflexivo, como técnica

registro de dados de pesquisa, utilizado tanto para sistematizar e organizar as

informações e impressões obtidas durante a etapa de levantamento de dados,

quanto durante as entrevistas.

Assim, fomos construindo o nosso mosaico multicolorido, diverso e difícil

a ser moldado e lapidado durante uma nova fase metodológica, a análise. Para

isso, as 24 entrevistas, postas em uma média de 1.125 horas de áudio, foram

transcritas em 220 páginas, e 26 documentos institucionais analisados.

Trilhamos um trabalho manual, sem horizontes, que a cada reescrita e releitura,

era possível perceber novas cores, formas e nuances em cada peça que

comporia o nosso mosaico social e analítico a respeito do nosso objeto de

estudo.

2.3 Procedimento de análise dos dados

Para a análise dos dados, utilizamos todo o material construído no

decorrer da pesquisa: levantamento de informações institucionais a respeito das

políticas de inclusão de estudante com deficiência e de formação docente;

transcrições das entrevistas e registros em diários reflexivos. Isto possibilitou um

processo de triangulação de fontes e procedimentos de construção de dados

com vistas a garantir a fidedignidade das análises.

Para realizar a análise de dados elencamos a técnica da Análise de

Conteúdo (BARDIN, 2009), cumprindo o rigor metodológico definido pelas

etapas de pré-análise, exploração do material e interpretação dos dados. Esta

é uma técnica que busca decompor discursos em unidades de significação, e em

seguida, as reorganiza em categorias para atingir uma compreensão do objeto

de investigação.

Na primeira fase, a pré-análise, realizamos a organização e

sistematização do material a ser analisado a partir da estruturação e descrição

das informações obtidas no campo empírico. Nesta etapa, foram realizadas as

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transcrições das entrevistas e a compilação dos dados inerentes ao campo

empírico a partir dos procedimentos de levantamento de dados. Foram

destacados os temas em evidência - Inclusão e Formação - e estabelecemos

conexões entre as temáticas que destes aproximavam. Em seguida, realizamos

leitura flutuante do material, para, então, procedermos com uma leitura mais

atenta do material, com referências e destaques às possibilidades de

interpretação.

Na segunda fase de análise dos dados, sistematizamos o conteúdo e

organizamos o material por temática. As unidades de registros foram

identificadas, originando as categorias e subcategorias de análise que

descrevem as concepções de estudantes, docentes e gestores sobre o processo

educacional inclusivo no Ensino Superior e os seus entrelaçamentos com as

políticas de formação continuada do docente universitário. Compreendemos

Unidade de Registro, a partir de Bardin (2009), como uma frase, período,

enunciado ou sentença retirados das entrevistas, documentos ou demais dados

coletados no campo empírico.

Nesta fase foram elencadas as cinco categorias de análise, a saber:

• Categoria I - Inclusão de estudantes com deficiência e a dimensão

pedagógica;

• Categoria II - O desafio agora é a permanência;

• Categoria III - Aperfeiçoamento didático-pedagógico e qualidade do

ensino;

• Categoria IV - Diretrizes da política institucional para a formação docente

e inclusão na UFRN;

• Categoria V - Novos caminhos para as ações formativas inclusivas.

A terceira e última fase, refere-se ao tratamento dos resultados. Nesta

etapa foi realizada uma triangulação entre os dados da pesquisa com os

referenciais teóricos referentes à temática do estudo, produzindo-se um elo entre

a empiria e os aportes teóricos.

A construção de conhecimento, a partir do levantamento de dados e das

percepções dos estudantes com deficiência, docentes e gestores do nosso

campo empírico a respeito da inclusão educacional de estudantes com

deficiência no Ensino Superior e as relações entre a formação continuada em

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uma perspectiva inclusiva do docente universitário, nos exigiram uma abstração

refinada e artesanal. O que nos remete a composição de uma peça de mosaico11

que, em geral, se constitui em uma composição feita parte a parte, exigindo do

artesão olhares aproximados ou distantes, para que se possam distinguir as

formas a serem desenhadas. Nestas, tem-se um delineamento pré-definido, uma

ideia, um objetivo. No entanto, é no fazer da arte que se apresentam as cores e

formas da realidade.

Dizemos isto para exemplificar, que o passo metodológico que

vivenciamos nesta etapa da pesquisa apenas foi clareado ao definirmos o

desenho final do nosso mosaico, em consonância com o terceiro objetivo

específico, nos permitindo sistematizar diretrizes, a partir da perspectiva dos

participantes, sobre as ações formativas e políticas institucionais da UFRN que

possam contribuir para o aperfeiçoamento e melhoria da qualidade do ensino

uma perspectiva inclusiva.

2.4 Os ladrilhos do mosaico: A caracterização dos participantes da

pesquisa

Iniciamos a análise com a caracterização dos participantes da pesquisa,

identificando os dados referentes aos estudantes no tocante ao gênero, faixa

etária, os centros acadêmicos/cursos aos quais pertencem, o tempo de

permanência na UFRN e a condição de deficiência que apresentam.

Logo após, realizamos a caracterização dos professores participantes

apresentando os dados referentes ao gênero, nível de formação, áreas de

formação e atuação, centros acadêmicos/cursos aos quais são vinculados, o

tempo de permanência na instituição e a sua experiência com a atividade de

gestão na UFRN.

Ressaltamos que levantamento destes dados foram realizados durante os

11 Mosaicos são obras de arte, montadas peça por peça, em um exercício de combinações,

encaixe e desencaixe de peças importantes. A arte mosaica é uma arte decorativa milenar, que nos remete à Antiguidade e nos faz caminhar pelas histórias e culturas da Mesopotâmia, egípcia, greco-romana e bizantina. A arte mosaica triunfou na era cristã no ocidente, assim como marcou eras no oriente como símbolo da arte islâmica ao adornar edifícios e mesquitas. Além das expressões artísticas, o mosaico é representado em dimensões estéticas, geométricas e culturais.

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meses de novembro e dezembro de 2017. Portanto, as referências relativas à

idade, tempo de permanência na instituição, períodos acadêmicos cursados,

podem ter sido modificados no tempo. Apresentamos neste estudo os dados

relativos à caracterização dos docentes referentes ao ensejo temporal no qual

foram identificados à época da coleta.

Seguimos com a caracterização dos gestores identificando dados

referentes ao gênero, nível de formação, áreas de formação e atuação, descrição

da função exercida, unidade de lotação aos quais são vinculados, o tempo de

permanência na instituição e no exercício do cargo de gestor (a) na UFRN.

Os participantes desta pesquisa foram 9 estudantes, 10 docentes e 5

gestores, o que totaliza 24 participantes. Iniciaremos pela categorização do

grupo de estudantes.

Dos 9 (nove) estudantes participantes da pesquisa, 4 (quatro) são do

gênero masculino e 5 (cinco) do gênero feminino. A faixa etária varia de 23 a 40

anos de idade, conforme indicado no quadro 1.

Quadro 1: Caracterização dos estudantes participantes por faixa etária

(Fonte: Registros da Entrevista)

No tocante ao processo de localização destes estudantes na Universidade,

pudemos identificá-los em 4 (quatro) centros acadêmicos e unidades

especializadas diferentes, são eles: o Centro de Ciências Humanas Letras e

Artes (CCHLA), Centro de Ciências da Saúde (CCS), Centro de Ciências Exatas

e da Terra (CCET) e Escola de Música (EMUFRN). Os estudantes também foram

identificados em diferentes cursos de graduação tais como Licenciatura em

Música, Letras LIBRAS, Licenciatura em História, Comunicação Social, Letras

Inglês, Bacharelado em Química e, Farmácia. No processo de análise dos dados

também foi possível perceber que estes estudantes se encontram em diferentes

períodos de seus respectivos cursos, variando em tempo de permanência na

UFRN, entre 1 (um) e 5 (cinco) anos, conforme encontram-se representados no

Faixa Etária Quantidade de estudantes

21 a 25 anos 2

26 a 30 anos 2

31 a 35 anos 4

36 a 40 anos 1

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quadro 2.

Quadro 2: Distribuição dos estudantes por centro acadêmico, curso e tempo

Centro Acadêmico /

Unidade

Especializada

Curso Quantidade

de

estudantes

Tempo de

permanência na

UFRN

EMUFRN Licenciatura em

Música 1 1 ano

(2° Período)

CCS Farmácia 1 6 anos e meio (13° Período)

CCET Bacharelado em

Química 1 1 ano e meio

(2° Período)

CCHLA

Letras LIBRAS 3 4 anos (9° Período)

2 anos e meio (5° Período)

Licenciatura em

História 1 3 anos

(6° Período)

Letras Inglês 1 1 ano e meio (2° Período)

Comunicação Social 1 4 anos (9° Período)

(Fonte: Registros da Entrevista)

Dos 9 estudantes que participaram da pesquisa, 7 são da área das

Ciências Humanas e apenas 2 das áreas das Ciências Exatas (1) e Médicas (1).

No caso da UFRN, consideramos a presença dos dois estudantes com

deficiência em outras áreas, como uma interessante abertura de novas

possibilidades para formação em nível superior das pessoas com deficiência.

Entendemos que as políticas para a ampliação e democratização do ensino

superior contribuíram para o acesso à universidade, assim como os avanços das

tecnologias assistivas e a adequação dos espaços de estudos e laborais

favoreceram a inclusão de pessoas com deficiência na formação em nível

superior e no mundo do trabalho, em qualquer área do conhecimento.

No tocante ao tempo de permanência dos estudantes com deficiência nos

cursos, destacamos que todos se encontram no tempo padrão, isto é, sem

desnivelamento. Isto revela que os estudantes têm cumprido a carga horária

estabelecida, juntamente com as suas turmas, sem necessitarem de maiores

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condições de dilação do tempo. Este fato contribui para que reflitamos sobre os

estereótipos negativos previamente construídos em relação à pessoa com

deficiência, os quais, de acordo com Goffman (1963), lhes atribuem

categorizações físicas e comportamentais que fogem dos padrões de

normalidade da sociedade, colocando-as em patamares inferiores,

subestimando as suas possibilidades e potencialidades.

Ao que se refere à condição de deficiência dos 9 estudantes participantes

da pesquisa, relacionamos no quadro 3 os tipos de deficiência, assim como a

quantidade representada:

Quadro 3: Estudantes participantes da pesquisa por tipo de deficiência e

quantidade.

Tipo de Deficiência Quantidade

Deficiência Auditiva 1

Surdez 3

Deficiência Múltipla 1

Deficiência Visual -

Baixa visão

3

Deficiência Visual -

Cegueira

1

(Fonte: Registros da Entrevista)

No tocante à caracterização dos 10 docentes participantes da pesquisa,

quanto ao gênero, lotação, tempo de serviço na UFRN, curso, nível de formação,

exercício em função administrativa e participação em cursos na área da inclusão

no Ensino Superior, traçamos a seguinte sistematização no quadro 4:

Quadro 4: Caracterização dos professores participantes da pesquisa

Gênero Centro

Acadêmico /

Unidade

Acadêmica

Curso Docência

na UFRN

Formação Exerce/Exerceu

função

administrativa

Participou de

Formação

Continuada

sobre

Inclusão

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F CCS Nutrição 23 anos D Coordenação de

curso

Palestra

M CCS Educação

Física

5 anos M Não Palestra PAP

Cursos

(externos)

F ECT Ciência e

Tecnologia

2 anos M Não Palestra PAP

F CCHLA Psicologia 7 anos D Coordenação de

curso /

Chefe de

Departamento

Palestra

CAENE

F CCSA Ciências

Contábeis

13 anos D Coordenação de

curso

Palestra

CAENE

F CCS Medicina 22 anos D Chefe de

Departamento

Palestra

CAENE

F EMUFRN Música 22 anos D Vice coordenação de

curso

Cursos

(externos)

Palestras

F Escola de

Saúde

Enfermagem 37 anos M Coordenação de

curso

Palestra

F CCS Odontologia 18 anos D Coordenação de

curso

Palestra

(Fonte: Registros da Entrevista)

Chamamos a atenção para alguns aspectos da caracterização dos

docentes. Em primeiro lugar para o fato de que a diversidade de áreas

representada na pesquisa contribuiu para a ampliação de conceitos e alcance

de diferentes concepções sobre a inclusão de estudantes com deficiência no

Ensino Superior. Em segundo, a positividade da extensão temporal relativa às

experiências dos professores que nos possibilitou uma análise ampliada de suas

percepções a respeito da temática desta pesquisa. Aqueles professores com

uma vasta experiência na docência universitária, nos permitiram acessar

pessoas que vivenciaram as mudanças socioculturais da Universidade. Com ela,

testemunharam o ingresso dos estudantes com deficiência e a ampliação de

políticas institucionais para viabilizar o acesso e permanência de tais estudantes.

Por outro lado, também tivemos acesso às impressões de os professores

ainda iniciantes na carreira e que nos trazem um olhar diferenciado a respeito da

inclusão e da formação docente.

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Por fim, evidenciamos a participação dos docentes em ações de formação

continuada sobre a temática da Inclusão no Ensino Superior nos últimos anos.

Os 10 entrevistados afirmaram ter participado de, pelo menos, uma (1) palestra

sobre a temática promovida pela Universidade

Sobre a caracterização dos 5 gestores que participaram da pesquisa, foi

evidenciada uma natureza diversa entre seus perfis. Três (3) são recentes no

quadro da Universidade, prestando serviços à instituição há 4 ou 5 anos. Duas

(2) servidoras com tempo de exercício na Instituição de 15 anos e 31 anos,

respectivamente.

Quanto à atuação técnica nos cargos de gestão, ao confrontarmos as

informações como os quesitos: formação e cargo, para o qual foram

concursados, percebemos uma confluência no desempenho das atividades,

demonstrando que os cargos da gestão se configuram como espaços para um

trabalho de natureza técnica. Com a caracterização dos gestores também

pudemos identificar que três (3) apresentavam experiências anteriores em

funções administrativas.

Com vistas a sintetizar estas informações, no quadro 07 apresentamos

um panorama da caracterização realizada no que se refere aos gestores.

Quadro 5: Caracterização dos gestores participantes da pesquisa.

Gênero

Tempo

de

serviço

na

UFRN

Formação Cargo Unidade de

lotação

Função

desempenhada

na gestão atual

Exerceu outras

funções

administrativas

F 31 anos Graduação

em Gestão

de

Pessoas

Técnico-

administrativo

PROGESP Pró-Reitora de

Gestão de

Pessoas

(Progesp)

Chefe de setor/

Direção de

Departamento

F 4 anos Graduação

em

Pedagogia

Mestrado

em

Educação

Pedagoga PROGESP Coordenadora da

Coordenadoria de

Capacitação e

Educação

Profissional

(CCEP)

Não

M 4 anos Graduação Psicólogo PROGESP Diretor adjunto da Não

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60

em

Psicologia

Mestrado

em

Psicologia

Diretoria de

Desenvolvimento

de Pessoas

(DDP)

Coordenador da

Coordenadoria de

Acompanhamento

e Avaliação de

estágio probatório

(CAA)

F 5 anos Graduação

em

Pedagogia

Pedagoga PROGRAD Diretora Adjunta

da Diretoria de

Desenvolvimento

Pedagógico

(DDPed) /

Chefe do setor de

acompanhamento

de cursos de

graduação

Coordenadora

do Programa de

Atualização

Pedagógica

(PAP) /

Coordenadora

da Mostra de

Profissões

F 15 anos Graduação

em

Pedagogia

Mestrado

em

Educação

Doutorado

em

Educação

Docente Centro de

Educação

Departamento

de

Fundamentos

e Políticas da

Educação

Pró-reitora

adjunta da Pró-

reitora de

Graduação

(PROGRAD)

Chefe de

Departamento /

Coordenação de

Curso

(Fonte: Registros da Entrevista)

Este panorama na categorização dos participantes nos permitiu uma

análise mais aproximada da realidade dos estudantes com deficiência, dos

professores e dos gestores entrevistados. Apesar de serem dados quantitativos

e estes três grupos serem amostras de um universo numericamente superior, a

caracterização revelou a relação legítima de representatividade destes

participantes no tocante a cada grupo, do qual fazem parte, fornecendo

elementos essenciais para a investigação.

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3 O PROCESSO EDUCACIONAL DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA:

CAMINHOS PARA O RECONHECIMENTO DE DIREITO HUMANO E

INCLUSÃO

O mundo em que os deficientes têm o direito de viver é o das ruas, avenidas, escolas, universidades, fábricas, lojas, escritórios, prédios e serviços públicos, enfim, todos os lugares onde as pessoas estão, vão, vivem, trabalham e se divertem (JACOBUS TENBROEK).

No campo da Educação, é premente a discussão sobre a necessária

proposição e efetivação de direitos que oportunizem a inclusão e participação de

todos. O Relatório de Monitoramento Global da Educação publicado mais

recentemente pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência

e a Cultura (UNESCO, 2017a), indica que muitas pessoas ainda são

marginalizadas em termos de acesso e qualidade da educação, incluindo-se

minorias raciais étnicas e linguísticas, pessoas com deficiências, populações do

campo, moradores de favelas e de periferias urbanas, crianças com HIV,

crianças não registradas e órfãos.

Diante deste contexto, a atual “Agenda 2030 para Desenvolvimento

Sustentável” preconizou dentre suas metas “a garantia de uma educação

inclusiva, equitativa, de qualidade, com vistas a promover oportunidades de

aprendizagem durante toda a vida para todos”. Além disso, propõe a igualdade

de acesso a todos os níveis de educação e formação profissional para os mais

vulneráveis, incluindo-se as pessoas com deficiências e os povos indígenas.”

(Organização das Nações Unidas, 2015, meta 4)

A complexidade existente no contexto educacional que circunda o

processo de inclusão da pessoa com deficiência, fica evidente uma reflexão a

respeito de como tem ocorrido esse processo, especialmente no tocante ao

desenvolvimento de políticas e ações afirmativas voltadas para a inclusão

educacional de estudantes com deficiência no sistema de ensino comum

brasileiro.

É sabido que estudos sobre a temática, tais como: Ainscow (2009);

Stainback, Stainback (1999); Carvalho e Almeida (2012) e Carvalho (2016);

Xerez, 2015; Selau, Hammes, Damiani (2015); Maruissi, Gisi e Eing (2016), Silva

(2018) têm revelado, com vistas à interface com os Direitos Humanos, avanços

conquistados e desafios a serem enfrentados, tanto por aqueles estudantes,

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quanto pelas instituições educacionais.

No Brasil, o último censo demográfico (IBGE, 2010) apontou que 45,6

milhões de pessoas declararam apresentar ao menos um tipo de deficiência,

seja do tipo visual, auditiva, motora ou mental/intelectual. Apesar de

representarem 24% da população total brasileira, no país há uma distância

significativa entre o que se propõe nas políticas públicas para a promoção da

inclusão e a efetivação dos direitos da pessoa com deficiência.

Quando dirigimos o nosso olhar para o campo da educação, a disparidade

configura-se ainda mais latentes, pois o número de estudantes com deficiência

matriculados na educação básica é crescente. O censo escolar do ano de 2016

(BRASIL, 2016) apontou que as matrículas de estudantes com deficiência

totalizaram 971.372 na Educação Básica. O que revela um quantitativo relevante

destes estudantes na escola comum.

No entanto, apesar de estar ingressando na escola através das matrículas,

os estudantes com deficiência nas escolas brasileiras permanecem

apresentando dificuldades para permanecer e concluir seus estudos com êxito

acadêmico em decorrência de barreiras físicas, pedagógicas, atitudinais (DUBET,

2003; RODRIGUES, 2006; JANUZZI, 2016). A exemplo disto, um estudo da

plataforma QEdu12, realizado a partir de dados do Censo Escolar 2016, mostrou

que pouco mais de ¼ (um quarto) das 37.593 unidades da rede pública do país

tem dependências acessíveis.

Diante do contexto educacional das pessoas com deficiência no atual

cenário brasileiro, consideramos a relevância da discussão sobre o direito à

educação para todos como um dos princípios fundamentais à dignidade da

pessoa humana, preconizados na Declaração Universal dos Direitos Humanos

(ONU, 1948) em uma interface com a perspectiva da educação inclusiva.

3.1 Marcos históricos e políticos para efetivação inclusão educacional das

pessoas com deficiência

Ao longo dos anos o olhar sobre a pessoa com deficiência passou por

intensas transformações que influenciaram os aspectos educacionais, sociais e

12 Para saber mais informações sobre estes dados acesse: http://qedu.org.br/brasil/censo

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políticos na contemporaneidade. Por um longo período histórico a pessoa com

deficiência ocupou o lugar distinto da concepção de sujeito de direitos, o que se

configura uma severa lacuna no reconhecimento da dignidade humana.

A trajetória de vida da pessoa com deficiência tem sido de exclusão ao

longo dos períodos históricos, sendo nos primórdios da história da humanidade,

dentro das convenções sociais estabelecidas, destinadas ao extermínio, à

marginalização e à ausência completa de dignidade ou reconhecimento social.

Com o advento da teoria antropocêntrica – considerada como transição

da cultura medieval à moderna, o homem passa a ser o foco dos acontecimentos

e descobertas, e o corpo humano torna-se a máquina que produziria lucro e

supriria as necessidades da burguesia no século XVIII. Desse modo, a

deficiência deixa de ser associada ao pecado e passa a ser vista como uma

disfuncionalidade, ou seja, aquilo que impediria o indivíduo de contribuir à

acumulação de riquezas e lucros.

Na Idade Moderna, a corrente sociológica organicista13 elaborada por

Augusto Comte (1798 – 1857) se reverbera na relação da sociedade com a

pessoa com deficiência pelo prisma clínico/científico, pois começou-se a

reconhecer a necessidade de tratar essas pessoas em busca de mínima

normalidade. A partir desta compreensão, as pessoas com deficiência passaram

a ser encaminhadas a instituições clínicas para o tratamento e, na tentativa ainda

que primitiva, de educar e recuperá-los para uma possível produtividade.

Surge então, a primeira concepção de deficiência baseada no modelo

médico, que destaca a patologia antes do reconhecimento das especificidades

do sujeito, colocando em notoriedade a deficiência da pessoa, restando a ela

somente o papel passivo de paciente. De acordo com estudos de Amirallian

13 Organicismo sociológico: “[...] Representa uma tendência do pensamento que constrói sua visão do mundo sobre um modelo orgânico e tem origem na filosofia idealista. Elaborados de acordo com analogias orgânicas, três das quais são fundamentais para a compreensão dessa corrente sociológica: (1) o conceito teleológico da natureza, que implica uma postura fatalista, já que as metas a serem alcançadas estão predeterminadas, o que impede qualquer tentativa de alterá-las; (2) a ideia segundo a qual a natureza, a sociedade e todos os demais conjuntos existentes perdem vida ao serem analisados e por isso não se deve intervir em tais conjuntos. Essa noção leva, em consequencia, à adoção de uma atitude de laissez-faire; e (3) a crença de que a relação existente entre as diversas partes que compõem a sociedade é semelhante à relação que guardam entre si os órgãos de um organismo vivo”. (Ver mais em: Principais Correntes Sociológicas. Disponível em: http://www.estudantedefilosofia.com.br/conceitos/principaiscorrentessociologicas.php)

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(1999) e Amaral (1998), o modelo médico considera que a condição de

deficiência da pessoa pode ser momentânea no processo de busca da “cura”,

visando se aproximar ao padrão de normalidade dos aspectos físicos e

sensoriais de cada indivíduo.

Sobre a concepção de deficiência, a partir dos marcos definidos pelo

modelo médico, Diniz (2007) pontua que a concepção de deficiência como uma

variação do normal da espécie humana foi uma criação discursiva do século

XVIII, e desde então, ser deficiente é experimentar um corpo fora da norma. Para

a autora, o corpo com deficiência somente se delineia quando contrastado com

uma representação do que seria o corpo sem deficiência.

No século XIX, de acordo com Mendes (2006) surgiram as primeiras

intenções de escolarizar a pessoa com deficiência, nas quais eram

encaminhadas e atendidas em instituições especializadas e em classes

especiais. Por muito tempo essa foi considerada a forma mais apropriada para

o atendimento de estudantes que apresentavam deficiência ou que não se

adequavam à estrutura rígida dos sistemas de ensino. Essa concepção exerceu

impacto duradouro na história da educação, resultando em práticas que

enfatizam os aspectos relacionados à deficiência, em contraposição a sua

dimensão pedagógica.

Na Idade Contemporânea, os serviços à pessoa com deficiência

passaram a ser mais estruturados, no entanto com tendências segregacionistas.

Após a Segunda Guerra mundial houve um despertar da sociedade na tentativa

de atender as necessidades mínimas das pessoas com deficiência, objetivando

tratar os mutilados da guerra através das indústrias de reabilitação.

A partir da segunda metade do século XX surge uma mobilização mundial

para o reconhecimento de direitos à cidadania e humanidade historicamente

negados a estes grupos sociais. Deste modo, a promulgação da Declaração

Universal dos Direitos Humanos (UNESCO, 1948) consagra a universalidade

dos direitos sociais. Este documento, desponta como marco ético-normativo da

ideia contemporânea de Direitos Humanos, pois define em seu artigo 26, inciso

2, que “toda pessoa tem direito à educação, orientada para o pleno

desenvolvimento da personalidade humana e fortalecimento do respeito aos

direitos humanos e às liberdades fundamentais”. Diante deste documento,

considera-se que os direitos fundamentais, como educação e igualdade,

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significam condições mínimas da dignidade da pessoa humana, para garantir um

tratamento não discriminatório às pessoas com deficiência.

A partir das décadas de 60 a 80 do século XX, dissemina-se uma proposta

de um novo modelo de convivência social, tendo como princípios a

individualização, a normalização e a integração. A emergência dos movimentos

sociais em prol dos direitos humanos favoreceu a uma perspectiva de inserção

das minorias nos grupos sociais (MENDES, 2006).

No que se refere à inserção das pessoas com deficiência aos contextos

social e educacional, buscou-se integrá-las de maneira que elas mesmas se

adequassem ao funcionamento natural das instituições, fossem elas de ensino

ou qualquer instituição social. Para que houvesse integração, havia a

compreensão de que não se faziam necessárias mudanças para receber a

pessoa com deficiência, sem ainda considerar sua individualidade e suas

peculiaridades.

Nesse sentido, o “princípio da normalização” tornou-se uma ideologia

mundial que visava integrar as pessoas com deficiência na comunidade, e de

acordo com Mendes (2006, p.389), usando “meios normativos para promover

e/ou manter características, experiências e comportamentos pessoais tão

normais quanto possíveis”.

Iniciam-se então, os trabalhos de implementação dos princípios de

integração da pessoa com deficiência na legislação brasileira. É válido ressaltar

que na Constituição Federal de 1988, no inciso III do artigo 208, como também

na Lei nº 8.069, de 1990, que institui o Estatuto da Criança e do Adolescente, no

inciso III do artigo 54, foi previsto como um dos deveres do Estado a garantia de

“atendimento educacional especializado aos portadores 14 de deficiência,

preferencialmente na rede regular de ensino” (BRASIL, 1988; 1990).

Em 1989, foi elaborada a Lei nº. 7.853 que criou a Coordenadoria

Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência (CORDE), e

estabelece no artigo 2º como responsabilidade do Poder Público e seus órgãos

14 O termo “portadores de deficiência” era uma terminologia utilizada na ocasião da elaboração destes dispositivos legais. Atualmente, este termo está em desuso, preferindo-se denominar “pessoa com deficiência” (MARTINS, 2015). Em 2010, foi lançada a Portaria n. 2.344 de novembro de 2010, atualizando a denominação do Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência – CONADE. Art. 2 – item I - Onde se lê "Pessoas Portadoras de Deficiência" leia-se "Pessoas com Deficiência”. (BRASIL, 2010)

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a garantia ao deficiente do

pleno exercício de seus direitos básicos, inclusive dos direitos à educação, à saúde, ao trabalho, ao lazer, à previdência social, ao amparo à infância e à maternidade, e de outros que (...) propiciem seu bem-estar pessoal, social e econômico. (BRASIL, 1989)

Incentivando as práticas de integração o Decreto nº. 914 de 1993, que

instituiu a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de

Deficiência, a qual prevê como diretriz desta política no inciso III do artigo 5º:

incluir a pessoa portadora de deficiência, respeitadas as suas peculiaridades, em todas as iniciativas governamentais relacionadas à educação, saúde, trabalho, à edificação pública, seguridade social, transporte, habitação, cultura, esporte e lazer (BRASIL, 1993).

Os anos 90 trouxeram novas mudanças na estrutura da sociedade e da

educação escolar. Chega ao Brasil a nova terminologia denominada “Inclusão”,

que vinha sendo discutida e implementada nos países europeus e nos Estados

Unidos. A partir de mudanças sociais e científicas sobre a condição de

deficiência, esta passou a ser compreendida não apenas como a expressão de

uma restrição de funcionalidade ou habilidade. Contrapondo-se ao modelo

médico, a pessoa com deficiência passou a ser percebida para além da

ausência, limite ou falta recursos e sentidos meramente estritos ao padrão de

normalidade estabelecido pela sociedade.

A abordagem do modelo social de deficiência surgiu como alternativa ao

modelo médico da deficiência, que reconhece na lesão, na doença ou na

limitação física a causa primeira da desigualdade social e das desvantagens

vivenciadas pelos deficientes, ignorando o papel da sociedade na sua opressão

e marginalização.

Oliver (1990) propunha que a visão liberal e humanista, oposta ao modelo

médico, considera ser a deficiência parte essencial da constituição de suas

identidades e não meramente um apêndice. Para o autor, não faz sentido falar

sobre pessoas e deficiência separadamente, pois estas pessoas demandam

aceitação como são, isto é, com as suas condições de deficiência. A definição

de deficiência não está relacionada à falta de um membro, nem à redução da

visão ou da audição. O que a caracteriza são as dificuldades que as pessoas

com alguma alteração física, sensorial ou intelectual encontram em se relacionar

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ou se integrar na sociedade. A deficiência não deve ser entendida como sinônimo

de doença, pois é fenômeno social que surge com maior ou menor incidência a

partir das condições de vida de uma sociedade, de sua forma de organização,

da atuação do Estado, do respeito aos direitos humanos e dos bens e serviços

disponíveis para a população.

Na opinião de um pesquisador, para se compreender o que é deficiência,

não basta olhar para aquele que é considerado deficiente, buscando no seu

organismo ou no comportamento atributos ou propriedades que possam ser

identificados como sendo a própria deficiência, ou algum correlato dela. É

necessário olhar para o contexto, no qual, com o seu sistema de crenças e

valores e com a dinâmica própria de negociação, alguém é identificado e tratado

como deficiente. Esse contexto condiciona o modo de tratamento da pessoa

deficiente e por esse é condicionado.

O modelo social da deficiência vai além: a experiência da desigualdade

ocasionada pela condição apresentada, mas só se manifesta em uma sociedade

pouco sensível à diversidade de estilos de vida e várias possibilidades da

existência humana (DINIZ, 2007).

Neste sentido, observa-se uma nova forma de se conceber a pessoa com

deficiência, observando suas possibilidades de aprendizagem e desenvolvendo-

se alternativas para seu atendimento educacional no sistema regular de ensino,

em função de suas condições específicas. Ou seja, a deficiência não seria

apenas a expressão de uma restrição de funcionalidade ou habilidade.

De acordo com Diniz (2007), a discussão sobre deficiência passou de um

campo estritamente biomédico, confinado aos saberes médicos, psicológicos e

de reabilitação, para ser também um campo das humanidades. Sob um viés

social, a deficiência passou a ser direcionada pelo modelo social, que não se

restringe a uma simples expressão de uma lesão que impõe restrições à

participação social de uma pessoa, mas preconiza um conceito complexo que

reconhece o corpo com lesão, mas que também denuncia a estrutura social que

oprime a pessoa com deficiência. Para a autora, nesta perspectiva os estudos

sobre deficiência descortinaram uma das ideologias mais opressoras de da vida

social, aquela que humilha e segrega o corpo deficiente.

A partir destas discussões, a compreensão da condição de deficiência

passou por uma nova interpretação, alicerçada agora em um modelo social, pois

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conduz ao entendimento de que a pessoa com deficiência tem autonomia para

tomada de decisões, participação ativa na sociedade e pleno exercício da

cidadania. Esta perspectiva leva à compreensão de que a “falha” não está na

pessoa ou na sua condição de deficiência, mas que se encontra em uma

dimensão social, que leva à exclusão (AMARAL, 1998; COSTA 2014).

Deste modo, a inclusão escolar das pessoas com deficiência passou a ser

alvo de políticas e pressupostos educacionais. De acordo com Mendes (2006)

foram estabelecidas bases legais que institucionalizaram

gradualmente, a obrigatoriedade do poder público quanto à oferta de oportunidades educacionais para pessoas com deficiências, a instituição da matrícula compulsória nas escolas comuns e de diretrizes para a colocação em serviços educacionais segundo o princípio de restrição ou segregação mínima possível. (MENDES, 2006, p.389)

A elaboração de documentos nacionais e internacionais e a realização de

importantes conferências com a temática da “Inclusão” em pauta favoreceram

intensamente a disseminação dos princípios inclusivos à sociedade

contemporânea.

As discussões sobre a inclusão foram intensificadas na Conferência

Mundial sobre Educação para Todos: Satisfação das Necessidades Básicas de

Aprendizagem, em que foi aprovada a Declaração Mundial sobre Educação para

Todos, a qual prevê no parágrafo 5º do artigo 3º que:

as necessidades básicas de aprendizagem das pessoas portadoras de deficiências requerem atenção especial. É preciso tomar medidas que garantam a igualdade de acesso à educação aos portadores de todo e qualquer tipo de deficiência, como parte integrante do sistema educativo. (TAILÂNDIA, 1990)

Esses princípios foram fortemente discutidos também na Conferência

Mundial de Salamanca sobre Educação para Necessidades Especiais, que

endossou a ideia da educação inclusiva (UNESCO, 1994). Propôs o paradigma

de inclusão social, afirmando a necessidade de todos se comprometerem com a

eliminação das barreiras que vêm excluindo uma parcela considerável da

população mundial, a das pessoas com deficiências física, sensorial e mental.

Outra prerrogativa discutida pela Conferência de Salamanca é a ampliação do

viés educacional inclusivo, discutindo o direito à educação não apenas das

pessoas com deficiência, mas daquelas que apresentam necessidades

educacionais especiais.

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Corroborando com estas iniciativas que visam à inclusão das pessoas

com deficiência em todos os espaços sociais, políticos e educacionais, a

Convenção sobre os Direitos Humanos das Pessoas com Deficiência, em 13 de

dezembro de 2006, reafirmou o papel da sociedade para garantir a concretização

de direitos humanos à pessoa com deficiência. Esta Convenção, foi ratificada no

Brasil, pelo Decreto Legislativo n° 186, em 09 de julho de 2008, e trouxe a

seguinte concepção de que pessoa com deficiência,

são aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdades de condições com as demais pessoas”. (ONU, 2006, artigo1).

Na mesma direção segue a Convenção Internacional sobre os Direitos

das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova

York, em 30 de março de 2007. Foi editado no Brasil o Decreto nº 6949/2009, de

25 de agosto de 2009, que promulga a Convenção. Com isso, reforçou-se no

ordenamento jurídico brasileiro a obrigação do Estado reconhecer o direito

dessas pessoas à educação, sem discriminação e com base na igualdade de

oportunidades, assegurando-se um sistema educacional inclusivo nas

instituições de ensino.

Especificamente sobre a inclusão de estudantes com deficiência no

sistema educacional brasileiro, destacamos avanços trazidos a partir da Lei nº.

9.394, de 20 de dezembro de 1996, que instituiu a Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional, cuja estrutura consta a Educação Especial, no artigo 58,

como uma “modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na

rede regular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais.”

E ainda prevê no inciso I deste mesmo artigo “como responsabilidade dos

sistemas de ensino, assegurar-lhes currículos, métodos, técnicas, recursos

educativos e organização específicos, para atender às suas necessidades.”

(BRASIL, 1996)

Os “Parâmetros Curriculares Nacionais: Adaptações Curriculares”

(BRASIL, 1998) estabelecem estratégias para a educação de estudantes com

deficiência e configura a Educação Especial como

elemento integrante e indistinto do sistema educacional e realiza-se transversalmente, em todos os níveis de ensino, nas instituições escolares, cujo projeto, organização e prática pedagógica devem respeitar a diversidade dos alunos, a exigir diferenciações nos atos

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pedagógicos que contemplem as necessidades educacionais de todos (BRASIL, 1998, p.21).

Com a Resolução CNE/CEB nº 02, de 11 de setembro de 2001, foram

instituídas as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação

Básica, as quais preveem no artigo 2º, como dever dos sistemas de ensino

“matricular todos os alunos, cabendo às escolas organizar-se para o

atendimento aos educandos com necessidades especiais, assegurando as

condições necessárias para uma educação de qualidade para todos” (BRASIL,

2001).

Em 2004, a promoção da acessibilidade das pessoas com deficiência ou

com mobilidade reduzida, também foi regulamentada por meio do Decreto nº

5.296, de 2 de dezembro de (BRASIL, 2004), assegurando a necessidade de

adaptações técnicas, estruturais e arquitetônicas para o acesso à escola.

Em consonância com esses princípios, a Política de Educação Especial

na Perspectiva de Educação Inclusiva, de janeiro de 2008 (BRASIL, 2008),

esclarece os tipos de ações que são de competência da educação especial e

aquelas que são de competência do ensino comum, assegurando o direito de

toda criança frequentar a escola regular.

Restou clara a responsabilidade do ensino comum quanto à

escolarização de todos os estudantes nas classes regulares, incluindo os

estudantes-alvo da educação especial que apresentam deficiências física,

visual ou intelectual, transtornos globais de desenvolvimento e altas

habilidades/superdotação.

A política de Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva

tem como objetivo o acesso, a participação e a aprendizagem dos estudantes

com necessidades educacionais especiais nas escolas regulares de ensino,

sendo de responsabilidade da educação especial os serviços de que podem

necessitar os estudantes para o desenvolvimento de habilidades específicas e

no âmbito da aprendizagem.

Destacamos como o mais recente dispositivo legal brasileiro sobre as

pessoas com deficiência, a Lei 13.146, sancionada em 6 de julho de 2015

denominada “Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência”, a qual

institui o Estatuto da Pessoa com Deficiência. Esta Lei traz inovações ao âmbito

educacional e social, fortalecendo um conjunto de políticas públicas em

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desenvolvimento no país.

O estatuto possui mais de cem artigos prevendo a garantia dos direitos

das pessoas com deficiência nas áreas da saúde, educação, moradia, trabalho,

assistência social, transporte, cultura, esporte, turismo e lazer. Além de trazer

questões referentes ao direito ao acesso à comunicação e informação,

tecnologia assistiva, participação na vida pública e política e à Justiça.

Especificamente sobre a educação, a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com

Deficiência reafirma o caráter de direito inegociável. Podemos destacar este

viés legal no art. 27, o qual preconiza que

“a educação constitui direito da pessoa com deficiência, assegurados sistema educacional inclusivo em todos os níveis e aprendizado ao longo de toda a vida, de forma a alcançar o máximo desenvolvimento possível de seus talentos e habilidades físicas, sensoriais, intelectuais e sociais, segundo suas características, interesses e necessidades de aprendizagem.” (BRASIL, 2015)

O documento prevê, ainda, o aprimoramento dos sistemas educacionais,

visando à garantia de condições de acesso, permanência, participação e

aprendizagem, por meio da oferta de serviços e de recursos de acessibilidade

que eliminem as barreiras e promovam a inclusão plena. Destaca ainda a

igualdade de oportunidades e condições com as demais pessoas, e ressalta a

total necessidade de acessibilidade, desde os processos seletivos até a

conclusão do curso.

A política educacional brasileira desbrava caminhos para as

possibilidades de inclusão de pessoas com deficiência no âmbito educacional,

apontando a necessidade de seguridade das oportunidades para este grupo de

pessoas realizarem suas formações em qualquer nível ou modalidade de ensino,

com garantias legais de acesso, permanência e conclusão do curso com êxito

acadêmico.

Todavia, não nos parece ser adequado classificar as atitudes da

sociedade, em termos históricos e políticos, para com este grupo de pessoas

como etapas já superadas no desenrolar cronológico da história, pois, nos dias

de hoje ainda é possível perceber os tristes e frequentes relatos de experiências

escolares excludentes e discriminatórias. De igual modo, noticiários trazem

informações sobre rejeição de crianças com deficiência desde o nascimento,

além de ações governamentais de caráter assistencialista apenas para garantir

a permanência de votos em suas urnas, a cada quadriênio no Brasil.

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3.2 A transversalidade entre a Educação Inclusiva e os Direitos Humanos

A educação possui um importante papel na construção da conscientização

e empoderamento social. A proposta de democratização educacional discutida

por Freire (1967), pressupõe a articulação dos princípios democráticos e

reconhecimento das individualidades dos sujeitos,

levando o homem a refletir sobre sua ontológica vocação de ser sujeito [...] com posições integradas às exigências da democratização fundamental, por isso mesmo, combatendo a inexperiência democrática. (FREIRE, 1967 p. 106).

Para tanto, emana a necessidade da elaboração de políticas e ações de

Estado e não de governo, pautadas no respeito à diversidade humana e que

objetivem a transformação dos sistemas educacionais que temos em sistemas

educacionais de fato inclusivos, considerando a formação de gestores e

educadores, e fornecendo garantias de acesso e permanência, com qualidade,

aos estudantes como reflexo da conquista do direito à Educação. Há

necessidade ainda do engajamento ético e político de todos os educadores em

busca da consolidação da educação outrora almejada por Paulo Freire e por

tantos outros educadores, na qual acreditamos e pela qual, também, lutamos.

Nesta perspectiva, destacamos o ato pedagógico como instrumento de

formação integral de todos, e daqueles que buscam, educar visando promover

um estado de reflexão que o educando o leve para toda a vida, formando a

pessoa humana para o exercício da cidadania, e na constituição de um sujeito

histórico-social crítico, reflexivo e inclusivo (MORIN, 2006).

Perceber a Educação a partir da transversalidade dos direitos humanos

implica uma compreensão de que o ser humano não possui uma identidade

única, um único corpo ou, uma única forma de pensar e agir no mundo. Deste

modo, o valor da diversidade necessita direcionar as discussões na direção dos

direitos de universalidade e a individualidade. Corroborando com este

pensamento, Piovesan (2006, p. 28) afirma que “torna-se insuficiente tratar o

indivíduo de forma genérica, geral e irrestrita. Faz-se necessária a especificação

do sujeito de direito, que passa a ser visto em sua peculiaridade e

particularidade.”

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A partir do reconhecimento e da valorização da diversidade como fator de

enriquecimento do processo educacional, a Educação Inclusiva provoca

mudanças na escola e na formação docente, propondo uma reestruturação da

Educação que alcance a todos os estudantes, considerando as suas

necessidades específicas e estruturando-se em função delas e incluindo-os no

convívio social. Coadunando-se com esta ideia, Martins (2011), afirma que a

inclusão é, portanto, um processo dinâmico, envolvente, participativo, que tem uma amplitude educativa profundamente social, através do qual os alunos aprendem a viver juntos suas diferenças, enriquecendo-se reciprocamente e desenvolvendo atitudes de confiança, intercomunicação, respeito e aceitação do outro. (MARTINS, 2011, p. 41)

O movimento mundial pela Educação Inclusiva é uma ação política,

cultural, social e pedagógica, desencadeada em defesa do direito de todos os

estudantes a estarem juntos, aprendendo e participando sem discriminação.

Assim, a Educação Inclusiva constitui um paradigma educacional fundamentado

na concepção moderna dos direitos humanos, que avança em relação à ideia de

equidade formal ao contextualizar as circunstâncias históricas da exclusão

dentro e fora da escola.

As discussões que permeiam o paradigma da inclusão estão alicerçadas

em uma prática educativa que promova a equidade de condições a todos os

estudantes pautada na “[...] aprendizagem cooperativa, componente do ensino,

que está relacionada à criação de uma atmosfera de aprendizagem em sala de

aula em que os estudantes com seus vários interesses e habilidades podem

atingir o seu potencial.” (KARAGIANNIS; STAINBACK, S; STAINBACK, W, 1999,

p.22)

Neste sentido, a Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva

se harmoniza com os pilares da educação discutidos no Relatório para a

UNESCO, da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XX –

(DELORS, 1999), os quais apontam a necessidade do desenvolvimento do

trabalho coletivo, a promoção do aprender a aprender, aprender a fazer,

aprender a ser e aprender a viver junto, “aprendendo a estar com o outro e a

cuidar uns dos outros, respeitando a diversidade; desconstruindo padronizações

e igualdades”. (DELORS, 1999).

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Destacamos que no tocante à elaboração de políticas para a garantia dos

direitos à Educação das pessoas com deficiência em uma perspectiva inclusiva,

pode-se considerar os avanços relacionados ao reconhecimento da diversidade

como parte da essência humana, e especificamente, sobre a pessoa com

deficiência, o reconhecimento de suas potencialidades de aprendizagem e

participação efetiva como um exercício de cidadania. A transversalidade da

inclusão traz um novo paradigma, alicerçado nos direitos humanos, em que se

reconhece a necessidade de estabelecer a pessoa humana em sua dignidade,

integralidade, universalidade e diversidade.

No entanto, do processo educacional inclusivo emergem desafios de

naturezas ética e pedagógica, pois mesmo a partir de lutas históricas e

mobilizações sociais a pessoa com deficiência permanece a passar por ciclos de

exclusão. Ao discutir a questão da exclusão, Boaventura de Sousa Santos (2008,

p. 280-281) esclarece que o “fator promotor da exclusão é a própria sociedade

que não reconhece a diferença e que é dirigida pelo enorme dispositivo de

normalização que, como tal, é simultaneamente qualificador e desqualificador.”

O fato é que as barreiras da desigualdade e exclusão necessitam ser

desconstruídas ainda no século XXI. A sociedade não apenas necessita

conhecer sobre os direitos da pessoa com deficiência, mas principalmente,

necessita assimilá-los e oferecer condições reais de convívio equitativo, mesmo

que para tanto sejam necessárias novas reestruturações políticas, tais como

ações afirmativas e políticas públicas antidiscriminatórias.

Neste sentido, Piovesan (2009, p. 189), discutindo a promoção de direitos

fundamentais aponta que “enquanto a igualdade pressupõe formas de inclusão

social, a discriminação implica a violenta exclusão e intolerância à diferença e

diversidade [...] O que se percebe é que a proibição da exclusão, em si mesma,

não resulta automaticamente na inclusão.” Logo, faz-se necessário

reconhecimento social para além das normativas técnicas e ordenamentos

jurídicos, isto é, medidas educacionais que façam estabelecer a compreensão

do respeito e valor daqueles com diferenças mais significativas, decorrentes, por

exemplo, de uma condição de deficiência.

No contexto da escola estas questões são ampliadas, principalmente no

que se refere à Educação Especial numa perspectiva inclusiva. Faz-se

necessário oferecer mais do que a garantia da matrícula de estudantes com

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deficiência na escola e o incremento nos números do censo escolar. É preciso

que se ofereça a tais estudantes a possibilidade efetiva de aprendizagem, que

pressupõe um acompanhamento pedagógico adequado a suas necessidades e

garantia de acessibilidade ao conhecimento, utilizando-se de ferramentas e

tecnologias condizentes com suas necessidades específicas.

Na sociedade contemporânea se propõe a superação de situações de

exclusão, reconhecendo a diversidade humana e estimulando a participação

social plena de todos nas questões comuns. Tem-se discutido atualmente uma

inclusão participativa, que possibilite o envolvimento de todos os setores da

sociedade, principalmente no âmbito escolar. Neste sentido, Mendes (2006)

afirma que

o futuro da inclusão escolar em nosso país dependerá de um esforço coletivo, que obrigará a uma revisão na postura de pesquisadores, políticos, prestadores de serviços, familiares e indivíduos com necessidades educacionais especiais, para trabalhar numa meta comum, que seria a de garantir uma educação de melhor qualidade para todos. (MENDES, 2006, p.402).

Deste modo, as instituições não devem ser pensadas apenas do ponto de

vista técnico ou estrutural, mas sim, devem estar permeadas de uma verdadeira

mudança de atitude e baseadas num forte compromisso e disposição de cada

indivíduo, resultando em ações coletivas com vistas à desconstrução das

barreiras físicas, pedagógicas e atitudinais.

Não podemos deixar de reconhecer e destacar que houve avanços no

tocante às concepções teóricas sobre a pessoa com deficiência e no vínculo

estabelecido entre o estudante com deficiência e a educação, sendo neste

trajeto, repensadas as formas de atendimento e os apoios oferecidos para o

desenvolvimento das aprendizagens na busca da efetivação dos direitos

humanos, especificamente, no tocante à Educação.

Porém, não podemos nos furtar de compreender que as Políticas de

Educação Inclusiva, não estão alicerçadas apenas na compreensão das

possibilidades dos sujeitos e do respeito à diversidade humana. Esta discussão

parte de um viés político capitaneado por diretrizes neoliberais, que se propõem

a ampliar o acesso da pessoa com deficiência aos mecanismos sociais para que

possam ter acesso à educação, não para pensar e transformar o mundo, mas

para tornarem-se instrumentos da máquina opressora do capital. Sobre a relação

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entre a deficiência e as diretrizes políticas e econômicas, Diniz (2007, p. 14)

discute a ideologia da opressão pela deficiência, afirmando que "o capitalismo é

quem se beneficia, pois os deficientes cumprem uma função econômica como

parte do exército de reserva e uma função ideológica mantendo-os na posição

de inferioridade".

Diante desta compreensão, é necessário fomentar o esforço político,

educacional e social para ultrapassar estas perspectivas e perseguir os

pressupostos que caminham para uma ótica de formação com vistas ao alcance

da cidadania, criticidade, reflexão e atuação no mundo e pelo mundo. (MORIN

2000; 2002; FREIRE 1996; 1998)

Sabemos que esta é uma discussão que, em vias práticas, demanda um

intenso debruçar do Estado e dos que fazem a Educação, em busca de uma

aproximação real do que sejam as concepções da Educação Inclusiva como

garantia do direito humano e reconhecimento da dignidade humana ao alcançar

o direito de aprender. Em escolas e universidades brasileiras, os princípios da

inclusão ainda esbarram em sistemas de ensino e instituições educacionais

repletos de barreiras arquitetônicas, pedagógicas e, principalmente atitudinais.

3.3 Estudantes com deficiência no Ensino Superior: perspectivas políticas

e educacionais

O princípio da inclusão se estabelece como um direito humano real e

necessário para a conquista plena da cidadania. Concordamos com Carvalho

(2004, p. 64) quando afirma que a proposta da educação inclusiva, se

devidamente compreendida, remete-se “[...] a uma educação de boa qualidade

para todos e com todos, buscando-se meios e modos de remover as barreiras

para a aprendizagem e participação de todos”.

Refletindo sobre os fundamentos da inclusão e os princípios éticos da

diversidade humana, Pires e Pires (2013) reforçam a compreensão de inclusão

sob uma perspectiva ampla e humana, pois apontam que a inclusão consiste no

respeito e promoção da ética dos direitos relativos ao ser humano, cultivando os

valores da convivência acadêmica e da cidadania, por meio de um processo de

inclusão de todos, considerando suas diferenças e especificidades.

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Neste sentido, Bagnato (2017) aponta três níveis necessários para que

haja a aplicação da inclusão em contextos educacionais. Estes níveis devem ser

diferenciados, porém articulados entre si. O primeiro nível se refere ao âmbito

político, pois define decisões para propagar a inclusão e promover ações que

viabilizem os recursos para sua efetivação. O segundo nível diz respeito à

materialidade dos acontecimentos, envolvendo os conceitos de eliminação de

barreiras15 físicas e comunicacionais ao amparo da acessibilidade universal. O

terceiro nível está relacionado aos procedimentos, os quais apontam para a

eliminação de barreiras atitudinais e que requerem estabelecimentos de

protocolos, possibilidades de ajustes razoáveis, flexibilidade e adequação

curricular.

Observando tais níveis de aplicação da inclusão em contextos

educacionais referidos pelo autor, percebemos quanto o sistema educacional

brasileiro precisa promover mudanças para alcançar a inclusão efetiva como

conquista dos direitos e com vistas ao rompimento com o caráter de educação

elitista e excludente. Dentre essas mudanças, destacamos a democratização do

ensino, pois é na abertura de oportunidade ao conhecimento que se pode

almejar a transformação social, tal como preconizado por Freire (1967), e termos

uma sociedade com menor exclusão.

Assim compreendendo, ratificamos a afirmação de Bauman (2011), quando

adverte que aqueles “[...] que não atingirem os níveis exigidos de educação estão

ainda mais excluídos”. Isto é, diante da perspectiva mercadológica da educação,

alicerçada em um viés neoliberal 16 , a qual é conduzida pela máxima da

15 Entendemos por barreiras: “[...] qualquer entrave, obstáculo, atitude ou comportamento que limite ou impeça a participação social da pessoa, bem como o gozo, a fruição e o exercício de seus direitos à acessibilidade, à liberdade de movimento e de expressão, à comunicação, ao acesso à informação, à compreensão, à circulação com segurança” (BRASIL, 2015) 16 O Neoliberalismo é uma doutrina proposta por economistas franceses, alemães e norte-

americanos, na primeira metade do século XX, voltada para a adaptação dos princípios do liberalismo clássico às exigências de um Estado regulador e assistencialista, que deveria controlar parcialmente o funcionamento do mercado. Desenvolvida a partir da década de 1970, através da Escola Monetarista do economista Milton Friedman, como uma solução para a crise que atingiu a economia mundial em 1973, provocada pelo aumento excessivo no preço do petróleo. Tal doutrina defende a absoluta liberdade de mercado e uma restrição à intervenção do Estado sobre a economia, só devendo esta ocorrer em setores imprescindíveis e ainda, assim, num grau mínimo. No Brasil, o Neoliberalismo começou a ser seguido durante a primeira metade da década de 1990, e de forma mais aberta nos dois governos consecutivos do presidente Fernando Henrique Cardoso, como sinônimo de privatização de várias empresas do Estado (MASSIMO, 2013). A educação, no discurso neoliberal, deixa de ser parte do campo social e político para ingressar no mercado e funcionar a sua semelhança.

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produtividade e qualificação para o trabalho, as pessoas que não alcançam o

nível produtivo para a competitividade, encontram barreiras de ordens sociais e

educacionais ainda maiores.

Todavia, a perspectiva humanística preconiza que a educação tem um

importante papel na construção da conscientização e empoderamento social

pelos sujeitos. Consideramos que proposta de democratização da educação de

Freire (1967), neste século XXI, deve continuar a ser pensada e colocada em

prática em articulação com os princípios da inclusão, sendo

identificada com as condições de nossa realidade [...] integrada ao nosso tempo e ao nosso espaço e levando o homem a refletir sobre sua ontológica vocação de ser sujeito [...] com posições integradas às exigências da democratização fundamental, por isso mesmo, combatendo a inexperiência democrática. (FREIRE, 1967 p. 106).

Muito embora saibamos que as medidas governistas tomadas

recentemente no cenário político brasileiro, especificamente após ao

impeachment de Dilma Rousseff, em 2016, venham anunciando o contrário, se

faz urgente o engajamento ético e político de todos os educadores em busca da

consolidação da educação outrora almejada por Paulo Freire, Anísio Teixeira,

Darcy Ribeiro, Florestan Fernandes, Maria Teresa Mantoan e por tantos outros

educadores, na qual acreditamos e pela qual também lutamos.

Nesta pauta ética, política e social de educação para todos, concordamos

com Dourado (2011) ao refletir que a Educação Superior precisa ser permeada

de políticas que promovam a democratização, haja vista que, na trajetória

histórica, as universidades brasileiras têm desempenhado importante papel

educativo e político na busca pela democracia e democratização do ensino.

Ao discutirem sobre as finalidades da Universidade e o seu papel

enquanto instituição educativa, Pimenta e Anastasiou (2014) fazem uma

interessante articulação com o campo da complexidade e a transdisciplinaridade,

dialogando com o pensamento de Morin (2000), ao dizerem que

a universidade conversa, memoriza, integra e ritualiza uma herança cultural de saberes, ideias e valores que acaba por ter um efeito regenerador porque a universidade se incumbe de reexaminá-la, atualizá-la e transmiti-la. (Ao mesmo tempo em que) gera saberes, ideias e valores que, posteriormente, farão parte dessa mesma herança. Por isso a universidade é conservadora, regeneradora e geradora. (Tem, pois,) uma

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função que vai do passado ao futuro por intermédio do presente (da crítica do presente), em direção a humanização, uma vez que o sentido da educação é a humanização, isto é, possibilitar que todos os seres humanos tenham condições de serem partícipes e desfrutadores dos avanços da civilização construída e compromissados com a solução dos problemas que essa mesma civilização gerou (PIMENTA E ANASTASIOU, 2014 p.162).

Com o desenvolvimento do capitalismo, a formação profissional passou a

ser exigida e continuou muito mais especializada do que a estrita exigência da

aprendizagem da leitura e da escrita que satisfez as escolas de dois ou três

séculos (HERNANDÉZ, 2018).

No entanto, o conhecimento profissional sempre teve um mau ajuste nos

sistemas educacionais organizados em torno do acesso à Universidade. Isto

resultou em três consequências: em primeiro lugar, a subestimação dos

itinerários de formação profissional; em segundo lugar, o estabelecimento

frequente de uma rede dupla de formação do ensino técnico a universidade e

formação básica; e, em terceiro lugar, no erro habitual de identificação do ensino

superior e da educação universitária. Para Hernandez (2018) este modelo

formativo tem sido comprovado para promover a desigualdade.

Em suma, a educação é compreendida pela tensão de que sua principal

função é treinar os cidadãos ou se preparar para o ensino superior. Mas esta

tensão não é uma questão de dissolução pedagógica, mas a consequência de

certa aplicação da ideia iluminada e revolucionária, que colocou a Universidade

no centro do sistema educacional. Alguns avanços, como o foco da

aprendizagem (versus o ensino) sobre os processos de formação ou a

redefinição do direito à educação, bem como o direito à aprendizagem

profissional e ao longo da vida, podem ajudar a superar esta situação prática

(como os diagnósticos internacionais), em vez de consolidá-la (HERNANDÉZ,

2018).

Ao refletirmos sobre processo formativo na Universidade podemos

considerar que significativa parcela permanece excluída dos processos

formativos neste nível de ensino mediante as desigualdades sociais e

educacionais direcionadas pelo Sistema. Ao olharmos atentamente o contexto

do ensino superior é possível perceber as marcas da exclusão nele existente,

pois no Brasil os estudantes com deficiência representam apenas 0,04% do

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quantitativo matriculado neste nível de Ensino.

Com a conquista do Estado Democrático de Direito, de acordo com o

Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos (BRASIL, 2003), as

universidades brasileiras passaram a ter corresponsabilidade com a construção

de uma cultura de promoção, proteção e defesa dos direitos humanos, por meio

de ações multi e interdisciplinares, envolvendo diferentes saberes, áreas e

práticas.

Sob esta perspectiva, a universidade tem a tarefa de desenvolver ações

acadêmicas para o exercício profissional de práticas eticamente comprometidas

com o fortalecimento dos direitos e das liberdades fundamentais do homem,

adotando, assim, um perfil pedagógico que contempla uma postura

democratizante e emancipatória, pautada num ideal de instituição educativa,

norteada por ação e prática social.

No entanto, refletindo sobre a inclusão de estudantes com deficiência

como aspecto do alcance da democracia, Díez e Rodríguez (2015, p. 600)

apresentam um panorama de pesquisas17 realizadas em diferentes contextos

internacionais que localizam as universidades entre as instituições mais

excludentes para o acesso e permanência dos estudantes com deficiência, pois

mesmo existindo uma legislação antidiscriminatórias, na prática estes

estudantes se encontram com significativas barreiras que se apresentam como

obstáculos para a participação e aprendizagem.

Adicionadas a este contexto excludente, as investidas neoliberais trazem

à universidade um caráter de entidade administrativa, direcionada a práticas de

avaliação de desempenho, manutenção de recursos e investimentos

mercadológicos no campo da pesquisa e ensino, afastando-a assim de uma

característica secular de instituição social (PIMENTA, ANASTASIOU, 2014).

Discutindo sobre a dialética da excelência acadêmica, na pauta de uma

perspectiva neoliberal, Hernández; Herzog et al coadunam-se com esta

perspectiva ao afirmarem que “[...] com a excelência parece vislumbrar-se um

novo ideal de educação superior que se afasta do padrão determinado pelos

ideais humanistas de Kant e Humboldt para aproximar-se ao modelo de gestão

empresarial desenvolvido nas últimas décadas.” (HERNÁNDEZ; HERZOG et.

17 (BOLAND, JAMES 1999; CARSON, DOCHERTY, 2004; FOREMAN et al. 2001; FULLER; BRADLEY; HEALY, 2004) entre outros de acordo com Díez e Rodríguez (2015).

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2015, p. 70).

De acordo com os estudos de Cunha (2010), até a década de 1980, no

Brasil, o espaço acadêmico era marcado como um lugar destinado aos

privilegiados socialmente, contemplando e alimentando as elites do Brasil,

fazendo coro com as perspectivas neoliberais do contexto político-econômico

capitalista.

Nesse mesmo ensejo temporal – década de 1980 – no tocante à pessoa

com deficiência, a sociedade vivenciava o paradigma da integração, tentando

ultrapassar em suas ações educacionais o lema de necessária exclusão,

abrindo-se, de forma tímida, aos estudantes com deficiência para o ingresso nas

instituições educacionais, nos diferentes níveis de ensino.

No entanto, para frequentarem universidades estes estudantes teriam que,

por si mesmos, desenvolver estratégias e grande esforço pessoal para

ultrapassar as barreiras impostas pela exclusão, visto que para seu ingresso e

permanência nas instituições de ensino não eram consideradas as

possibilidades de adaptações didáticas, curriculares ou arquitetônicas.

Em meio ao panorama sociopolítico efervescente do final da década de

1980, o conceito de igualdade no Brasil foi ratificado pela Constituição Federal

(BRASIL, 1988) que, em seu artigo 205, considera que a educação é direito de

todos, na promoção ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o

exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. O texto da lei

determina que o ensino será ministrado de acordo com os princípios de

igualdade de condições para o acesso e permanência na escola e que haja

liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o

saber.

Com base nos estudos de Bianchetti (1994), Amaral (1998), Januzzi (2014)

e Martins (2011; 2016) a percepção social das pessoas com deficiência ao longo

da história passou por distintas concepções, entre a exclusão completa, viés

definido pelo conceito médico e social de deficiência e pela inclusão com vistas

ao alcance da plena cidadania.

O paradigma da inclusão social vem à tona na década de 1990 na busca

de tratamento igualitário, humano e de acordo com as necessidades e

especificidades dos cidadãos e possibilitou, assim, o surgimento de marcos

políticos e pedagógicos em âmbito nacional e internacional, que conferem a

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garantia do direito à igualdade para todos.

Entre esses, podemos citar o surgimento de ações afirmativas, que visam

à inclusão do público-alvo da educação especial no ensino superior, os quais

tomam como alicerces fundamentais documentos que versam sobre o direito de

todos à educação nos diferentes níveis e modalidades de ensino, como a

Declaração Universal dos Direitos Humanos18, ratificada no Brasil como Emenda

Constitucional em 1995 (BRASIL, 1995); a Conferência Mundial de Educação

para Todos19 (TAILÂNDIA, 1990); a Conferência Mundial sobre Necessidades

Educativas Especiais (ESPANHA, 1994)20; a Lei 9.394/96 das Diretrizes e Bases

da Educação Nacional (BRASIL, 1996)21; a Convenção sobre os Direitos das

Pessoas com Deficiência (2006)22.

Com estes e outros importantes dispositivos legais, a Educação Brasileira

passou a considerar possibilidades para a promoção da Educação Inclusiva,

trazendo em âmbito nacional as discussões acerca da inclusão educacional,

18 A Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), que delineia os direitos humanos básicos, foi adotada pela Organização das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948. Foi esboçada principalmente pelo canadense John Peters Humphrey, contando, também, com a ajuda de várias pessoas de todo o mundo. 19 A Conferência Mundial sobre Educação para Todos, realizada de 5 a 9 de março de 1990, organizada pela UNESCO, ocorreu em Jomtien, na Tailândia. Durante a conferência, foi estipulada a Declaração Mundial de Educação para Todos, com o intuito de impulsionar os esforços para oferecer a educação adequada para toda a população em seus diferentes níveis de ensino. Ao todo, mais de 150 governos adotaram esse compromisso. Tal declaração estabelece objetivos e metas para suprir as necessidades básicas de educação para crianças, jovens e adultos e os objetivos determinados a serem alcançados até 2015. (http://educacao.faber-castell.com.br/professores/trocando-ideias/declaracao-mundial-sobre-educacao-para-todos-satisfacao-das-necessidades-basicas-de-aprendizagem/. Acesso em 2/2/2017) 20 A Conferência Mundial de Educação Especial, ocorrida em Salamanca, Espanha, entre 7 e 10 de junho de 1994, deu origem a Declaração de Salamanca, por meio da qual uma representação de 88 governos e 25 organizações internacionais reafirmaram o compromisso para com a Educação para Todos, reconhecendo a necessidade e urgência de tomadas de providencias na área da educação para as crianças, jovens e adultos com necessidades educacionais especiais dentro do sistema regular de ensino. Também reendossaram a Estrutura de Ação em Educação Especial, por meio da qual governos e organizações deveriam guiar-se para implantar serviços e ações inclusivas. (DECLARAÇÃO DE SALAMANCA. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.pdf. Acesso em: 2/2/2017). 21 A Lei 9.394/96 estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. 22 A Convenção da ONU sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência foi incorporada à legislação brasileira em 2008. Após uma atuação de liderança em seu processo de elaboração, o Brasil decidiu, soberanamente, ratificá-la com equivalência de emenda constitucional, nos termos previstos no Artigo 5º, § 3º da Constituição brasileira, e, quando o fez, reconheceu um instrumento que gera maior respeito aos Direitos Humanos (BRASIL, 2007).

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suscitando mudanças na legislação e na elaboração de novas diretrizes no

campo educacional.

Diretamente influenciadas por esses documentos e ainda pelas políticas

nacionais que conduziram este processo, a concepção sobre educação inclusiva

tornou-se difundida no país e, aos poucos, as instituições de ensino passaram,

incorporar o termo “inclusão” em substituição ao termo “integração”.

No entanto, sabemos que esta é uma discussão que, em vias práticas,

demanda um intenso debruçar do governo e dos que fazem a Educação no país,

em busca de uma aproximação real do que sejam as concepções da Educação

Inclusiva diante do que tem ocorrido nas escolas e universidades brasileiras,

onde os princípios da inclusão ainda esbarram em sistemas de ensino e

instituições educacionais repletos de barreiras arquitetônicas, pedagógicas e,

principalmente, atitudinais.

Neste cenário, para Bagnato (2017), a inclusão educacional em nível

superior implica

falar do acesso, mas também da permanência e do egresso. Isto implica diferentes conotações quando falamos de eliminação de barreiras arquitetônicas, na comunicação e atitudinais, para que as pessoas possam circular no contexto edilício das universidades. (BAGNATO 2017, p.19)

No tocante às implicações à permanência, Bunbury (2018) apresenta a

importância do desenho inclusivo do currículo no Ensino Superior (ES) e o

impacto de ajustes razoáveis para garantir práticas inclusivas. O estudo explorou

as percepções dos funcionários de uma Faculdade de Direito e tenta oferecer

recomendações práticas para garantir que as instituições de ES adotem práticas

inclusivas em seu desenho curricular. As descobertas sugerem que ter um

currículo inclusivo pode, em alguns casos, minimizar ou obviar a necessidade de

fazer ajustes razoáveis. Sugere-se que as instituições de ensino superior agora

mudem seu foco para o modelo social da deficiência, que se concentra nas

atitudes, de modo a transformar a percepção dos funcionários em relação aos

alunos com deficiência. Além disso, são fornecidas soluções práticas na tentativa

de reconhecer que os alunos com deficiência precisam ser tratados de maneira

diferente, a fim de alcançar todo o seu potencial, o que garante a inclusão no

currículo.

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Ao investigar a inclusão no ensino superior, examinando os ambientes de

aprendizagem para alunos com deficiência física e os desafios enfrentados na

promoção da educação inclusiva, usando uma universidade australiana como

um estudo de caso, Collins, Azmat e Rentschler (2018) apontam que, apesar do

progresso acentuado em direção à educação inclusiva por meio de ajustes

razoáveis para todos, os ambientes de aprendizado permanecem amplamente

impulsionados por ajustes para estudantes individuais, criando desafios

organizacionais e pessoais.

Identificam no estudo quatro desafios principais inerentes à promoção da

inclusão e da permanência, são eles: a percepção da equipe sobre muitos

recursos, criando dependências dos alunos, as necessidades de treinamento de

pessoal, a baixa representação de estudantes com deficiências visíveis e a

mobilização da inclusão além da educação para o emprego. Enfatizam ainda

uma preocupação com os estudantes egressos, ao apontarem para a

necessidade de incorporar a empregabilidade e o desenvolvimento de

habilidades em todos os aspectos do ensino e da aprendizagem, enquanto

caminhamos em direção à educação inclusiva, para permitir que todos os alunos

se desenvolvam profissionalmente e reforçando as solicitações de um local de

trabalho inclusivo que valorize e aceite a condição de deficiência.

O estudo de Hanesworth, Bracken e Elkington (2019), identifica caminhos

para que os formuladores de políticas e profissionais do ensino superior sejam

informados sobre o que pode ser feito para avançar em um conceito de “práxis”

de avaliação socialmente justa. O estudo parte da compreensão de como uma

perspectiva socialmente justa pode ser realizada e é alicerçado por elementos

conceituais recentes do Desenho Universal para Aprendizagem (DUA) e na

Pedagogia Culturalmente Sustentável (PCS). Deste modo, é proposta uma

tipologia para a prática e a mudança organizacional, concentrada no

aprimoramento dos resultados de aprendizagem para todos os alunos, mas

particularmente preocupada em aprimorar as experiências educacionais e os

resultados de aprendizagem para estudantes que foram sistematicamente

marginalizados pelas práticas normativas de procedimentos que

tradicionalmente informavam a natureza da avaliação supostamente objetiva.

Kutscher e Tuckwiller (2018) apontam que os alunos com deficiência

contribuem para a diversidade dos campi universitários, mas enfrentam muitos

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desafios únicos na conclusão de seus programas de estudo. A partir de uma

revisão sistemática, o estudo apresentou um panorama sobre o entendimento

do que se sabe sobre permanência e graduação em programas de ensino

superior para alunos com deficiência, concentrando-se especificamente em

fatores favoráveis no nível de estudantes e instituições que podem influenciar a

persistência. Foram identificados três aspectos principais como potencialmente

relacionados ao sucesso da educação superior, isto é, características pessoais,

engajamento acadêmico e social.

No tocante às experiências de aprendizagem e representatividade dos

estudantes com deficiência implicadas a permanência, Osborne (2018)

investigou experiências de aprendizado e ensino de 105 alunos com deficiência,

principalmente na Inglaterra, mas com vozes internacionais. O estudo apontou

que os estudantes com deficiência estão sub-representados nas universidades

e tendem a ter piores resultados na pós-graduação, apesar das taxas de

aproveitamento semelhantes aos de seus colegas. Justifica esta afirmação sob

o argumento da necessidade de amadurecimento e implementação da justiça

social sobre suas experiências em ambientes de ensino, seus relacionamentos

com a equipe acadêmica e suas aspirações. Constata que os estudantes se

sentem preocupados com o anonimato na divulgação de deficiências, assim

como a maneira com a qual os outros as percebem. Osborne (2018) ressalta

ainda como fator inerente à permanência a percepção de que a equipe

acadêmica é frequentemente formada e treinada inadequadamente para o

ensino inclusivo.

Ainda discutindo aspectos relativos à permanência de estudantes com

deficiência na Universidade, Vlachou e Papananou (2018) apresentaram as

experiências e perspectivas de 32 alunos com deficiência sobre: educação em

instituições de ensino superior na Grécia, a transição iminente para emprego

remunerado e aspirações futuras. Destacam como questões específicas à

permanência a acessibilidade física e o acesso ao conhecimento acadêmico,

qualidade do suporte disponível, interações com tutores e colegas, bem como

fatores percebidos que podem dificultar a transição para o mercado de trabalho.

Os resultados relatados por Vlachou e Papananou (2018) confirmaram

que os alunos com deficiência são capazes de conviver com suas necessidades,

desafiando questões de discriminação institucional e propondo alternativas mais

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inclusivas. Assim como é destacada a necessidade de reconsiderar e refinar

políticas e práticas institucionais em relação a questões de deficiência e

educação para a garantir a permanência.

Outro aspecto que colabora com o processo de permanência são as

políticas nacionais e institucionais desenvolvidas para direcionar a inclusão de

estudantes com deficiência. Wray e Houghton (2018) apresentam um estudo que

explorou o papel das políticas na influência de como os funcionários da

universidade apoiam os alunos com deficiência. Em particular, investigaram até

que ponto os funcionários da universidade se comportam junto aos estudantes

com deficiência, mediante os direcionamentos à prática definidos nas políticas.

Os autores apontam que, embora houvesse pouca evidência para mostrar

que as políticas influenciaram diretamente a prática, ficou claro que os

funcionários fizeram esforços consideráveis para apoiar alunos com deficiência,

e que estas práticas foram baseadas em valores associados ao fornecimento de

uma experiência equitativa para todos os alunos. Além disso, destacam que os

funcionários foram capazes de exercer discrição na maneira como atendem aos

alunos com deficiência e corresponderam as diretrizes das políticas, mesmo sem

a influência significativa de seus gestores institucionais, legislação nacional ou

discurso político mais amplo.

Zhang, Rosen e Li (2019), apontam que o ensino superior inclusivo é um

caminho para proteger os direitos educacionais de estudantes universitários com

deficiência. As atitudes dos professores universitários em relação aos alunos

com deficiência e em relação à sua inclusão nas universidades são um fator-

chave que afetará o desenvolvimento do ensino superior inclusivo.

Estes autores apresentam um estudo que visou explorar uma perspectiva

geral de como os professores universitários na China veem o ensino superior

inclusivo a partir de aspectos emocionais e cognitivos. Suas respostas sugerem

que os professores universitários da China têm emoção e cognição positivas em

relação aos direitos dos estudantes com deficiência na educação superior. No

entanto, os professores parecem não ter motivação, conhecimentos relevantes,

habilidades e estratégias eficazes para lidar com as necessidades especiais dos

estudantes. Os autores sugerem que a implementação plena do ensino superior

inclusivo deve ser apoiada por um centro de serviços eficaz para pessoas com

deficiência, uma rede de profissionais de suporte e um sistema administrativo de

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apoio para professores e alunos.

Na busca pelo acesso e permanência em uma perspectiva de

desconstrução e eliminação das barreiras, o Ensino Superior no Brasil seguiu na

elaboração de documentos que, aos poucos, desvelariam políticas para a

promoção do ingresso, permanência e conclusão, com sucesso, da trajetória

acadêmica de educandos com deficiência. No entanto, este processo demandou

uma acentuada necessidade de transformação estrutural, curricular,

metodológica e das práticas pedagógicas.

Além disso, evidenciou mais a exclusão anterior da pessoa com

deficiência no curso histórico educacional, nos mais diversos níveis de ensino.

Neste cenário, configurou-se a falta de percepção quanto à presença da pessoa

com deficiência nas universidades brasileiras, uma vez que o Censo da

Educação Superior, realizado em 1990, não revelou o número de estudantes

com deficiência. Sobre esta lacuna, Moreira (2005) reflete que a falta de dados

oficiais denotava a invisibilidade desse alunado, impossibilitando até mesmo de

se chegar à realidade aproximada da situação educacional. Tal fato dificulta

sobremaneira a elaboração de políticas e ações educacionais inclusivas para

esse nível de Ensino.

Esta realidade começa a ser modificada a partir de 1996, quando se

iniciam a emissão de documentos oficiais, expressando a inicial atenção à

presença dos estudantes com deficiência nas universidades brasileiras. Isto

ocorre por meio do Aviso Circular n° 277, no qual o MEC solicita das Instituições

de Ensino Superior (IES) a viabilização de condições de acesso aos candidatos

com deficiências em concursos vestibulares, solicitando que as Instituições

desenvolvessem ações que possibilitassem a flexibilização dos serviços

educacionais, de infraestrutura e de capacitação de recursos humanos, de modo

que fosse atendida a permanência com qualidade desses estudantes.

Avançando nesta temática, em 1999 foi instituída a Portaria n.º 1.679, de

2 de dezembro de1999, que tratava dos requisitos de acessibilidade às pessoas

com deficiências para instruir processos de autorização e de reconhecimento de

cursos e de credenciamento de instituições. No mesmo ano também foi aprovado

o Decreto n.º 3.298, de 20 de dezembro de 1999, que estabelece às IES a

necessidade de adaptar as provas e conceder os apoios necessários,

previamente solicitados pelo estudante com deficiência, inclusive tempo

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adicional para a realização das provas, de acordo com a especificidade de sua

condição de deficiência. O mesmo Decreto imputa, ao Ministério da Educação,

a responsabilidade de instruir os programas de Educação Superior para

incluírem nos seus currículos conteúdos, itens ou disciplinas relacionadas ao

estudante com deficiência.

No Censo Educacional do ano 2000 já se pode perceber a menção

quantitativa de estudantes com deficiência (física, auditiva, visual) nas IES do

país. Naquele momento apontava-se um número de 2.155. Em 2005, este

número subiu para 6.022 estudantes, ou seja, ocorreu um aumento de 179,4%,

entre os anos de 2000 e 2005.

A Resolução CNE/CP Nº 1, de 18 de fevereiro de 2002, que estabelece

as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da

Educação Básica em nível superior, nos cursos de licenciatura e de graduação

plena, traz em seu texto a necessidade de construção dos projetos pedagógicos

dos cursos de formação, afirmando que os cursistas passariam a ter

conhecimentos sobre as especificidades dos estudantes com necessidades

educacionais especiais.

Em 2005 surge um novo cenário político na promoção da inclusão das

pessoas surdas com o Decreto Federal 5.626, 22 de dezembro de 2005, que

institui o reconhecimento da diferença linguística dos surdos. Para tanto, a

disciplina de Libras é inserida como obrigatória nos cursos de formação de

professores para o exercício do magistério, em nível médio e superior, e nos

cursos de Fonoaudiologia, e ainda constituiu a disciplina de Libras como optativa

nos demais cursos de educação superior e na educação profissional. Este

decreto promoveu interessantes mudanças nos âmbitos educacionais,

legitimando a difusão da perspectiva da educação bilíngue, a contratação de

profissionais intérpretes de LIBRAS, professores de LIBRAS e a adequação dos

programas dos cursos nas universidades.

Neste percurso de elaboração de políticas e ações afirmativas para a

promoção da inclusão, as IFES passaram a contar com subsídios que dão

suporte às ações pensadas para a superação da discriminação contra os

estudantes com deficiência e o apoio à criação dos chamados núcleos de

acessibilidade nas instituições federais de ensino superior. Fornece respaldo

também à eliminação de barreiras atitudinais, pedagógicas, arquitetônicas e

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comunicacionais em consonância com o proposto pela Política Nacional de

Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (2008a), pois esta

afirma que

Na educação superior, a educação especial se efetiva por meio de ações que promovam o acesso, a permanência e a participação dos estudantes. Estas ações envolvem o planejamento e a organização de recursos e serviços para a promoção da acessibilidade arquitetônica, nas comunicações, nos sistemas de informação, nos materiais didáticos e pedagógicos, que devem ser disponibilizados nos processos seletivos e no desenvolvimento de todas as atividades que envolvam o ensino, a pesquisa e a extensão. (BRASIL, 2008, p.13)

Especificamente sobre a democratização do Ensino Superior, destacam-

se o Programa de Apoio a Planos e Reestruturação e Expansão das

Universidades Federais (REUNI), pelo Decreto nº 6.096, de 24 de abril de 2007;

o Decreto nº 7.234, de 19 de julho de 2010, que dispõe sobre o Programa

Nacional de Assistência Estudantil (PNAES). Este último, tem como premissa

oferecer o auxílio permanência e de serviços de apoio a saúde, moradia,

alimentação, cultura, entre outros, além de contribuir para viabilização do acesso,

participação e aprendizagem de estudantes com deficiência, transtornos globais

do desenvolvimento e altas habilidades e superdotação.

Já o Decreto nº 7.611, de 17 de novembro de 2011, que dispõe sobre o

Atendimento Educacional Especializado (AEE), tem em seu texto o

direcionamento das ações de estruturação de núcleos de acessibilidade nas

Instituições Federais de Ensino Superior, norteando a estruturação dos serviços

educacionais voltados aos estudantes público-alvo da Educação Especial. Todos

estes documentos trazem, em sua essência, a defesa da abertura e estruturação

de serviços e apoios institucionais ao estudante com deficiência.

Apesar dos esforços expressos nas políticas nacionais de alguns grupos

sociais e instituições em buscar minimamente cumprir os pré-requisitos das

ações afirmativas em prol da inclusão educacional de pessoas com deficiência,

os últimos censos da Educação Superior apontaram que há uma

desproporcionalidade do crescimento da matrícula de estudantes com

deficiência em relação ao evidente crescimento das IES no Brasil. A prova disso

foi evidenciada no Censo de 2010, o qual aponta que, entre os anos de 2000 e

2010, houve o aumento de 933,6% no número de estudantes com deficiência

nas instituições de ensino superior brasileiras, passando de 2.173 no começo do

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período, para 20.287 em 2010 - sendo 6.884 na rede pública e 13.403 na rede

particular.

O censo da Educação Superior, realizado em 2014 (INEP, 2014) mostra

que naquele ano, o Brasil possuía 7,839 milhões de estudantes matriculados no

ensino superior, e destes, 34.144 eram estudantes com deficiência, sendo

14.158 estudantes de IES públicas e 19.986 estudantes de IES privadas. Em

2016, o número de estudantes com deficiência subiu para 35.891.

A sinopse estatística e os microdados do Censo da Educação Superior

apresentadas pelo INEP relativas ao ano de 2017 (BRASIL, 2018) apresenta

8.652.441 como total de matrículas na Educação Superior. Destes, são

representados 38.272 estudantes com deficiência, transtorno global do

desenvolvimento e altas habilidades/ superdotação23. Para maior compreensão,

vejamos o gráfico a seguir.

23 A delimitação do público – alvo da Educação Especial é de considerada pela Política Nacional da Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008)

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Gráfico 1: Evolução do número de matrículas em cursos de graduação de

estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento ou altas

habilidades/superdotação – 2009-2017

Fonte: Sinopse estatística e os microdados do Censo da Educação Superior

apresentadas pelo INEP relativas ao ano de 2017 (BRASIL, 2018)

Apesar da perceptiva elevação quantitativa anual de estudantes com

deficiência, de acordo com estes dados a população de universitários com

deficiência no Brasil ainda é pequena, sendo representada por apenas 0,44%

deste universo.

Com relação aos tipos de condições de NEE apresentadas, o público de

estudantes ingressantes tem se apresentado variado, com a predominância de

estudantes na condição de deficiência física e deficiência visual, conforme

gráfico seguinte.

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Gráfico 2: Número de Matrículas em Cursos de Graduação de estudantes com

Deficiência, Transtornos Globais do Desenvolvimento ou Altas

Habilidades/Superdotação, por Tipo de Deficiência – 2017

Fonte: Sinopse estatística e os microdados do Censo da Educação Superior

apresentadas pelo INEP relativas ao ano de 2017 (BRASIL, 2018)

Em conformidade com o exposto, constatamos que a democratização do

acesso e as perspectivas de inclusão na educação superior brasileira precisam

de atenção por parte da União para serem efetivadas e ampliadas por meio de

políticas consistentes e postas em práticas. Para tanto, é premente que parte do

investimento financeiro se concentre na garantia da qualidade da educação

básica e nas diferentes modalidades de educação e ensino, de onde advém a

maioria dos estudantes com deficiências, dando subsídios que contribuam na

aquisição dos conhecimentos basilares para alcançarem o acesso e a

permanência com qualidade nos cursos de nível superior escolhidos.

Deste modo, a efetiva democratização do acesso à educação superior aos

estudantes com deficiência perpassa, principalmente, pela necessidade de

ampliação de vagas, sobretudo nas IES públicas, mas também pela garantia de

condições educacionais suficientes em termos de estrutura física, mobiliário,

instrumentos, equipamentos, metodologias de ensino, recursos didáticos para se

alcançar o sucesso acadêmico.

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Os dados apresentados provocam a reflexão de que este é um retrato de

passos iniciais das possibilidades de inclusão de pessoas com deficiência no

ensino superior, pois as próprias políticas educacionais apontam que as

discussões sobre o tema são relativamente recentes, de pouco mais de duas

décadas. É válido ressaltar que, nesse período, a discussão sobre ações

inclusivas para este grupo de pessoas na educação básica foi mais constante.

A democratização do acesso, a permanência com qualidade e a participação

efetiva para todos têm permeado as discussões políticas não apenas do ensino

superior, mas em todos os âmbitos educacionais. A Lei Brasileira de Inclusão da

Pessoa com Deficiência, sancionada em 6 de julho de 2015, institui o Estatuto

da Pessoa com Deficiência, trazendo inovações ao âmbito educacional e social,

fortalecendo um conjunto de políticas públicas que já vinham sendo

desenvolvidas no âmbito do Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com

Deficiência – Viver sem Limite, por meio do Decreto 7.612, de 17 de novembro

de 2011.

O estatuto possui mais de cem artigos prevendo a garantia dos direitos

das pessoas com deficiência nas áreas da saúde, educação, moradia, trabalho,

assistência social, transporte, cultura, esporte, turismo e lazer. Além de trazer

questões referentes ao direito ao acesso à comunicação e informação,

tecnologia assistiva, participação na vida pública e política e à Justiça.

Especificamente sobre a educação, a nova lei reafirma o caráter de direito

inegociável. Podemos destacar este viés legal no art. 27, onde é preconizado

que

a educação constitui direito da pessoa com deficiência, assegurados sistema educacional inclusivo em todos os níveis e aprendizado ao longo de toda a vida, de forma a alcançar o máximo desenvolvimento possível de seus talentos e habilidades físicas, sensoriais, intelectuais e sociais, segundo suas características, interesses e necessidades de aprendizagem. (BRASIL, 2015)

O documento prevê, ainda, o aprimoramento dos sistemas educacionais,

visando à garantia de condições de acesso, permanência, participação e

aprendizagem, por meio da oferta de serviços e de recursos de acessibilidade

que eliminem as barreiras e promovam a inclusão plena. No tocante ao acesso

à Educação Superior, a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência

(2015) destaca a igualdade de oportunidades e condições com as demais

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pessoas e ressalta a total necessidade de acessibilidade, desde os processos

seletivos até à conclusão do curso.

Sobre esta questão, a LBI (BRASIL, 2015) em seu artigo 30° apresenta

procedimentos a serem empregados em processos seletivos para ingresso e

permanência nos cursos oferecidos pelas instituições de ensino superior e de

educação profissional e tecnológica, públicas e privadas. São eles,

I - atendimento preferencial à pessoa com deficiência nas dependências das Instituições de Ensino Superior (IES) e nos serviços; II - disponibilização de formulário de inscrição de exames com campos específicos para que o candidato com deficiência informe os recursos de acessibilidade e de tecnologia assistiva necessários para sua participação; III - disponibilização de provas em formatos acessíveis para atendimento às necessidades específicas do candidato com deficiência; IV - disponibilização de recursos de acessibilidade e de tecnologia assistiva adequados, previamente solicitados e escolhidos pelo candidato com deficiência; V - dilação de tempo, conforme demanda apresentada pelo candidato com deficiência, tanto na realização de exame para seleção quanto nas atividades acadêmicas, mediante prévia solicitação e comprovação da necessidade; VI - adoção de critérios de avaliação das provas escritas, discursivas ou de redação que considerem a singularidade linguística da pessoa com deficiência, no domínio da modalidade escrita da língua portuguesa; VII - tradução completa do edital e de suas retificações em Libras (BRASIL, 2015).

No tocante aos avanços legais para a garantia de acesso as pessoas com

deficiência no ensino superior, foi sancionada a Lei nº. 13.409, de 28 de

dezembro de 2016, que altera a Lei no 12.711, de 29 de agosto de 2012, para

dispor sobre a reserva de vagas para pessoas com deficiência nos cursos

técnico de nível médio e superior das instituições federais de ensino. É a

chamada lei de cotas para pessoas com deficiências (BRASIL, 2016b; 2012a).

Sobre esse movimento, Branco, Jezine e Nakamura (2016 p. 260-261)

salientam que “[...] as políticas de educação superior voltadas para a ampliação

do acesso assinalam a perspectiva da inclusão de sujeitos historicamente

excluídos desse nível de ensino, como negros, mulheres, deficientes, estudantes

de escola pública e de baixa renda.”

Diante desses desafios e do possível aumento da demanda advinda do

ensino médio, o Plano Nacional de Educação (PNE) 2014-2024 salienta, dentre

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seus objetivos, a necessidade da ampliação de vagas no Ensino Superior

brasileiro, inclusive às pessoas com deficiência. Ao discutir a aplicação da Meta

12, que trata especificamente sobre o Ensino Superior, Minto (2018) coaduna-se

com esta perspectiva ao pontuar que, para haver o alcance da proposta de

democratização e crescimento deste nível de ensino em 90%, em 2024, haverá

a necessidade de investimento na qualidade da educação básica para a

promoção do acesso e permanência de todos os estudantes, sendo necessários

investimentos para o fortalecimento das IES e promoção da equidade de

condições.

A atual “Agenda 2030 para Desenvolvimento Sustentável” preconizou no

Objetivo para o Desenvolvimento Sustentável (ODS) de número 4, “a garantia

de uma educação inclusiva, equitativa, de qualidade, e promover oportunidades

de aprendizagem durante toda a vida para todos.” (ONU, 2015). Assim como,

destacou dentre suas metas a igualdade de acesso a todos os níveis de

educação e formação profissional para os mais vulneráveis, incluindo-se as

pessoas com deficiência e os povos indígenas. O documento almejou ainda, na

meta 4.3: “assegurar a igualdade de acesso para todos os homens e mulheres

à educação técnica, profissional e superior de qualidade, a preços acessíveis,

incluindo a universidade” (ONU, 2015).

Nesta direção, a exemplo de Universidades europeias, canadenses,

autralianas, neozelandezas, dentre outras territorialidades, tem se destacado a

discussão sobre a importância dos Objetivos para o Desenvolvimento

Sustentável (ODS) para as Universidades e a partir delas, destacando as

contribuições destas IES para alcançar êxito nas metas propostas na Agenda

2030 através das áreas de educação e aprendizagem; investigação; gestão

institucional, prática e cultura na Universidade; e a promoção da liderança social.

(SDSN Austrália/Pacific, 2017)

O exemplar denominado “Como começar com os ODS nas Universidades:

Um guia para as Universidades, Centros de Educação Superior e setor

acadêmico” (SDSN Austrália/ Pacific, 2017), destaca como passos para a

percepção de uma Universidade comprometida com os ODS em primeiro passo

analisar o que já está se fazendo para alcançar os ODS, como segundo passo

sugere desenvolver capacidade e liderança interna sobre as temáticas

enunciadas nos ODS, como terceiro passo identificar prioridades, oportunidades

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e dificuldades, como quarto passo integrar, implementar e incorporar os ODS

nas estratégias e planos institucionais, e como quinto e último passo indica

monitorar, avaliar e comunicar suas ações com respeito aos ODS.

Ao considerarmos a inclusão de pessoas com NEE na Educação Superior,

como parte destas proposições na Agenda 2030, percebemos a necessidade

premente de iniciativas institucionais no tocante à revisão do Plano de

Desenvolvimento Institucional (PDI); às Políticas que discutam a ampliação do

acesso e permanência do estudante com NEE; à garantia da qualidade de ensino

a todos; à formação continuada de toda a comunidade universitária a respeito da

temática da Educação Inclusiva e diversidade.

Ratificamos a ideia de não se tratar apenas de garantir o direito de acesso

de pessoas com deficiência nas IES, mas de pensar e reconhecer o direito à

igualdade de oportunidades, criando alternativas pedagógicas adequadas e

distintas, acesso à informação em suas múltiplas formas, o uso de recursos

pedagógicos de alta e baixa tecnologia, para que sua participação se dê em

igualdade de condições oferecidas aos demais estudantes das instituições.

Estes são elementos estruturantes, que demandam um intenso debruçar

e muita reflexão, dado que qualquer mudança feita para dar suporte à

implementação de uma política pública ou de uma política social requer

transformações em seu meio quanto aos seus partícipes, demandando com isso

uma reorganização conforme as novidades apresentadas. Logo, percebemos

que os atores sociais, público-alvo da educação especial, estão em busca da

efetivação dessas novas políticas educacionais, uma vez que elas se

apresentam como novas oportunidades de deslocamentos político-sociais e

garantias do exercício da cidadania.

No entanto, Chauí (2003, p. 6) nos faz um alerta ao refletir que

se quisermos tomar a universidade pública por uma nova perspectiva, precisamos começar exigindo, antes de tudo, que o Estado não tome a educação pelo prisma do gasto público e sim como investimento social e político, o que só é possível se a educação for considerada um

direito e não um privilégio, nem um serviço.

A expansão do ensino superior, por meio da democratização do acesso

do estudante com deficiência nas instituições comuns de ensino, dentro dessa

perspectiva, deve ser vista com atenção, para que não se transforme em uma

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espécie de inclusão fictícia, onde no interior dessas instituições impere uma

inclusão mascarada, que mantém o estudante com deficiência à margem do

processo educativo e do conhecimento. Onde ele seja visto como uma pessoa

doente, como ser incapaz e tolerado pela força da lei, sendo-lhe negado

comumente a adequação de materiais e estratégias didáticas concernentes com

as suas necessidades específicas.

Assim, ao refletirmos sobre a democratização do ensino superior e sobre

a inclusão da pessoa com deficiência identificamos a responsabilidade

fundamental e os desafios que as instituições desse nível de ensino e os seus

professores precisam assumir, bem como a necessidade de reestruturação do

paradigma de atuação. Afinar-se com os parâmetros da educação inclusiva

pressupõe direcionar as ações para a aceitação da diversidade humana,

garantindo a aprendizagem dos estudantes e respeitando suas particularidades

e especificidades de aquisição do saber.

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4 FORMAÇÃO DO DOCENTE UNIVERSITÁRIO: (DES) ENCONTROS ENTRE

A DIMENSÃO PEDAGÓGICA, A POLÍTICA DE FORMAÇÃO DO PROFESSOR

UNIVERSITÁRIO E A INCLUSÃO DE ESTUDANTES COM DEFICIÊNCIA NO

ENSINO SUPERIOR

Para compreender o processo formativo dos docentes universitários, é

necessário conhecer os marcos teóricos que definem a pedagogia universitária

e analisar. o entrelaçamento existente entre a dimensão pedagógica, as políticas

de formação e as mudanças ocorridas no âmbito do contexto universitário.

Principalmente, no caso de nosso objeto de estudo, aquelas que se relacionam

ao processo de inclusão de estudantes com deficiência.

A Universidade se constitui espaço de formação e construção de

conhecimento desde os seus primeiros modelos, os quais se constituíam pela

ordem da sapiência por meio dos livros e padrões tradicionais de ensino como

vetor de reflexão e posterior impacto sobre o comportamento social. De acordo

com García e Hernandez (2011) não somente que as faculdades superiores

organizaram seu conhecimento em torno do livro (KANT, 1978, p. 284-285), mas

todos os que queriam se licenciar tiveram que provar sua competência com a

memória do livro. Com o estabelecimento da Universidade de Berlim, Wilhelm

von Humboldt propõe uma relação diferente entre docentes e estudantes que

predominaram em instituições pré-universitárias, uma vez que neles o

conhecimento que transmitem uns aos outros é estabelecido, enquanto na

Universidade ambos os grupos se reúnem para avançar a ciência (HUMBOLDT,

1979), a verdade é que o modelo Humboldtiano em vigor para os últimos dois

séculos não alterou a preeminência do livro, apesar das mudanças ocorridas ao

redor da revolução digital e rapidez com a qual se chegam às informações na

atualidade (GARCÍA; HERNANDEZ, 2011).

No Brasil, a partir da década de 1990 as universidades passam a ser

diretamente conduzidas pelas perspectivas neoliberais para a Educação, o

Banco Mundial oferecia lições aos países subdesenvolvidos, como a redução do

papel do Estado na universidade e a diversificação, privatização e busca da

qualidade universitária. De acordo com Morosine (2006) com a promulgação da

Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (BRASIL, 1996), uma

transformação significativa na educação superior instaura-se. O sistema que até

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então se caracterizava pelo forte papel do Estado na sua sustentação, seguindo

os ditames internacionais, passa a ter uma expansão desordenada, uma

diversificação – de tipos de instituições de educação superior.

Atualmente o percurso formativo da universidade atinge o patamar da

universidade sustentável. O documento “Transformando nosso mundo: A

agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável” (ONU, 2015) constitui-se

como um guia para abordar os desafios globais. Esta agenda com seus 17

objetivos apresenta-se à Universidade, como aporte que “ajudará a demonstrar

sua capacidade de impacto, atraindo o interesse de formação relacionada com

os ODS e criarão alianças, permitindo alcançar novas fontes de financiamento e

compromisso social (SDSN Austrália/ Pacific, 2017).

Não abandonando a pauta neoliberal para atender e formar pessoas bem

informadas para as proposições do mercado, esta nova demanda à Universidade

se apresenta como um grande objetivo inovador no que se refere ao ensino e

aprendizagem, aos modos de investigação científica, à gestão institucional na

elaboração de novas políticas e liderança social.

Neste contexto de mudanças sociais e adequações nas quais a

Universidade vem passando, é possível questionar e refletir sobre como se

estrutura o exercício da docência, as condições formativas oferecidas aos

docentes para enfrentar as novas demandas que a sociedade impõe à

universidade, o novo conceito de formação que está sendo gerado, a relevância

sobre a formação permanente para construção do professor universitário e que

esta formação permanente deve contemplar a dimensão pedagógica como

estruturante ao atuação como professor principalmente no que se refere à

atuação frente aos estudantes com deficiência.

4.1 Formação inicial a continuada do docente universitário: O lugar da

dimensão pedagógica

Nos debates dos últimos trinta anos sobre política da formação,

especificamente nas duas últimas décadas, o conceito de aprendizagem ao

longo da vida24 tomou uma dimensão estratégica e funcional. É a ele que se

24 Grifos nossos

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101

recorre para definir as missões de formação das sociedades pós-modernas. O

mais importante documento europeu sobre a política de formação, o

Memorandum sobre a educação e a formação ao longo da vida, ratificado em

março de 2000, em Lisboa, pela Comissão Européia, define: "a aprendizagem

ao longo da vida (lifelong learning) não é apenas mais um dos aspectos da

educação e da aprendizagem; ela deve se tornar o princípio diretor que garante

a todos o acesso às ofertas de educação e de formação, em uma grande

variedade dos contextos de aprendizagem" (Commission of the European

Communities, 2000, p. 3).

Para Alheit e Dausien (2006), duas razões principais são evocadas para

justificar essa afirmação: a Europa tornou-se uma sociedade fundamentada no

conhecimento e na economia. Mais do que em tempos passados, o acesso às

informações e aos conhecimentos mais recentes, assim como a motivação e os

saberes necessários à utilização inteligente, pessoal e coletiva desses recursos

tornaram-se a chave da competitividade europeia, além de serem igualmente

benéficos à empregabilidade e à adaptabilidade da força de trabalho.

Diante da complexidade social e política, os indivíduos, muito mais do que

antes, desejam planejar suas vidas, esperam contribuir ativamente para a

sociedade e devem aprender a viver positivamente na sua diversidade cultural,

étnica e linguística. Assim, a educação, no seu sentido mais amplo, é a chave

para aprender e compreender como superar esses desafios (Commission of the

European Communities, 2000, p. 5).

O Memorandum estipula claramente que a educação ao longo da vida

concerne a todas as atividades significativas de aprendizagem, tais como:

processos de aprendizagem formais que ocorrem nas instituições de formação

clássicas e que são, geralmente, validados por certificações socialmente

reconhecidas; processos de aprendizagem não formais que se desenvolvem

habitualmente fora dos estabelecimentos de formação institucionalizados, nos

locais de trabalho, em organismos e associações, no seio de atividades sociais,

na busca por interesses esportivos ou artísticos;

processos de aprendizagem informais, que não são empreendidos

intencionalmente e que "acompanham" incidentalmente a vida cotidiana.

(Commission of the European Communities, 2000, p. 8)

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O interesse dessa nova compreensão do conceito de educação reside em

estabelecer a sinergia desses diferentes modos de aprendizagem. A

aprendizagem não deve ser somente, e sistematicamente, ampliada para toda a

duração da vida. Ela deve também se desenvolver "lifewide", quer dizer,

generalizar-se para todos os domínios da vida, para isso estabelecem-se,

portanto, ambientes de aprendizagem nos quais os diferentes modos de

aprendizagem encontram-se para complementarem-se organicamente. A

dimensão do 'lifewide learning' (educação abarcando todos os aspectos da vida)

enfatiza a complementaridade entre aprendizagens formais, não formais e

informais. (Commission of the European Communities, 2000, p. 9)

Entendida desse modo, a educação ao longo da vida parece responder

no primeiro plano a uma necessidade econômica e social. Ela não diz respeito

apenas a elites tradicionais, mas a todos os membros da sociedade. O “Livro

Branco da Educação ao Longo da Vida”, publicado pelo Ministério da Educação

inglês (1998), e reafirmado pela União Europeia através do exemplar intitulado

“Livro Branco sobre o futuro da Europa” (2017), afirma em sua proposta central

que para fazer face à mudança rápida e ao desafio da era da informação e da

comunicação, devemos garantir que as pessoas possam voltar a aprender ao

longo de suas vidas. Nós não podemos contar com uma pequena elite apenas,

qualquer que seja seu grau de educação. Ao contrário, necessitamos de

criatividade, de espírito empreendedor e da instrução de todos (Department for

Education and Employement, 1998, p. 7).

O "conceito novo" de educação ao longo da vida é revelador de um

fenômeno societário que o pesquisador em ciências da educação John Field

(2000, p. 133) chamou de "nova ordem educativa". Aprender ganha um

significado novo para a sociedade inteira, para as instituições educativas e para

os indivíduos. Essa reconfiguração não deixa de ter uma contradição interna: a

nova aprendizagem primeiramente inscreve-se em um quadro econômico e

político cujos objetivos são a competitividade, a empregabilidade e a

adaptabilidade das "forças de trabalho". Ao mesmo tempo, a liberdade biográfica

de planejamento e de engajamento social dos indivíduos deve sair dessa

situação reforçada. A educação ao longo da vida pode aparecer sob o duplo

aspecto da "instrumentalização" e da "emancipação". Em uma perspectiva

internacional, educação ao longo da vida relaciona-se claramente com as

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"contingências da mundialização" das políticas de educação e de formação com

vistas a uma perspectiva neoliberal na educação.

Como um dos principais alvos da educação ao longo da vida, o professor

representa um significativo pilar para a formação da sociedade, necessitando de

constante formação e reestruturação de suas práticas diante das mudanças

sociais, políticas e pedagógicas.

A formação do professor direciona para uma condução pedagógica mais

efetiva, a fim de que possa construir sua docência alicerçada em conhecimento

pedagógico compartilhado, que permita-lhe encontrar possíveis alternativas de

transformação social.

Neste aspecto, a formação profissional do professor pressupõe o caráter

contínuo, permanente, englobando a formação inicial e continuada e

necessitando de conhecimentos teóricos e práticos para e no exercício da

docência. Aprender a ser professor não se encerra com a educação formal.

“Assim, o professor precisará desenvolver pesquisas educativo-reflexivas,

questionando-se, buscando, criando e ressignificando seu fazer docente.”

(BRANCHER et al., 2007, p. 67)

No tocante à trajetória formativa que o professor universitário em geral tem

percorrido, ao longo da história se perdurou a ideia de que ‘quem sabe,

automaticamente sabe ensinar’, mesmo porque ensinar significava ministrar

grandes aulas expositivas ou palestras, mostrando na prática, como se fazia

(MASSETO, 1998). Esta foi a ideia difundida para o exercício da docência

universitária no Brasil no século XX.

Para refletirmos sobre a formação docente na atualidade, especificamente

no âmbito nacional, é necessária uma análise do sistema normativo que

direciona a carreira do magistério superior e que determina os percursos

formativos para o docente universitário. Destacamos que as diretrizes da pós-

graduação lato e stricto sensu estão definidas há 53 anos, no Parecer CFE nº

977, de 3 de dezembro de1965, do então conselheiro Newton Sucupira. Nesse

parecer reflexivo e estrutural para a pós-graduação, foram definidas as diretrizes

dos cursos de mestrado e doutorado, sem qualquer referência à formação para

o magistério superior. Para o exercício da docência é definido apenas que o

profissional deverá portar o título de mestre ou doutor, reconhecido pelo

Ministério da Educação, para ser considerado apto ao exercício do magistério

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nos cursos de graduação – bacharelados, licenciaturas ou tecnólogos. Este

posicionamento, surpreendentemente, segue até hoje no sistema normativo

nacional.

É interessante observar que, de acordo com a Resolução CFE nº 14, de

23 de novembro de1977, para os cursos de pós-graduação lato sensu, em nível

de especialização, destinados a formar profissionais para a docência na

graduação, exigia-se, desde o início, disciplinas que fundamentam a formação

pedagógica. Essa exigência, passou a não compor o sistema normativo da

vigente Resolução CNE/CES nº 1, de 8 de junho de 2007, que estabelece

normas para o funcionamento de cursos de pós-graduação lato sensu, em nível

de especialização.

No tocante à formação do docente universitário, a LDB 9394, de 20 de

dezembro de 1996 direciona ações formativas e faculta às Instituições de Ensino

Superior os critérios para a admissão de docentes, dentre eles a titulação em

mestrado e doutorado, assim como porcentagem quantitativa de doutores e

mestres que devem compor os quadros de professores de cada IES. Neste

importante dispositivo legal, nos chama a atenção a despreocupação para a

ênfase nas práticas de ensino facultadas à formação do docente universitário,

pois vejamos que, no artigo 65, é expresso que “[...] a formação docente, exceto

para a educação superior, incluirá prática de ensino de, no mínimo, trezentas

horas.”

Assim, para todas as outras modalidades de ensino, a referida Lei diz que

é necessária uma prática anterior, na qual o professor em formação poderá

vivenciar o ensino e conhecer a realidade que lhes será diária, no exercício de

sua futura profissão.

Salientamos que a atuação na sala de aula é apenas uma das atividades

exercidas pelo professor. Segundo Zabalza (2004) relata que as funções

docentes para além da sala de aula agregam ao ensino a orientação, o

atendimento personalizado, o planejamento, estruturação das disciplinas, dentre

outras ações. E ainda no tocante à pesquisa o docente exerce a função de

pesquisador, gestor de projetos, captador de recursos, dentre outros. Na

dimensão da extensão o docente realiza o planejamento e execução das ações

de extensão no entorno da universidade e ainda despenha as funções relativas

à gestão universitária.

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Diante da imensidão de tarefas a serem desenvolvidas pelos docentes,

não se considera nas políticas e nas ações formativas as oportunidades de se

aproximarem da realidade da docência universitária em suas multitarefas.

Para Pimenta (2019) o exercício da docência não é algo simples, pois

trata-se de um fazer complexo que exige do docente uma formação para além

do domínio do campo científico de sua área de formação e atuação –

imprescindível – mas não o bastante para o desenvolvimento do processo de

ensino-aprendizagem. A autora aponta que, torna-se imperiosa a elaboração de

conhecimentos teóricos e práticos relacionados à docência, compreendida como

prática social complexa, que exige o domínio de vários saberes.

No artigo 66, da LDB 9394/96, é definido que “[...] a preparação para o

exercício do magistério superior far-se-á em nível de pós-graduação,

prioritariamente em programas de mestrado e doutorado”.

Com base nas discussões de Gil (2009), para nós é razoável refletir que

a formação do docente universitário prepara o professor direcionado às ações

de pesquisa e não às ações de ensino. Nas palavras de Pimenta e Anastasiou

(2014, p. 250), a LDB “[...] não concebe a docência universitária como um

processo de formação, mas sim como uma preparação para o exercício do

magistério”.

A Resolução CES/CNE nº 1, de 3 de abril de 2001, estabeleceu normas

gerais para autorização, reconhecimento e funcionamento de cursos de pós-

graduação stricto sensu, em níveis de mestrado e doutorado. Esses cursos são

avaliados periodicamente, em ciclos trienais pela Capes, e submetidos à decisão

do Conselho Nacional de Educação (CNE). Constituem-se como objetivos nos

processos de avaliação de mestrados e doutorados a certificação da qualidade

da pós-graduação brasileira (referência para a distribuição de bolsas e recursos

para o fomento à pesquisa); e identificação de assimetrias regionais e de áreas

estratégicas do conhecimento no SNPG para orientar ações de indução na

criação e expansão de programas de pós-graduação no território nacional.

O Sistema Nacional de Pós-Graduação (SNPG) é ligado à Coordenação

de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e constituído por sua

presidência, conselhos e diretorias responsáveis pela política de gestão,

financiamento, indução e ampliação de Programas e Pós-Graduação no Brasil

e, consequentemente, de produção de ciência. O Sistema Nacional de Pós-

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Graduação (SNPG) tem por objetivos a formação pós-graduada de docentes

para todos os níveis de ensino; a formação de recursos humanos qualificados

para o mercado não acadêmico; e o fortalecimento das bases científica,

tecnológica e de inovação. Grande parte das ações do SNPG é orientada pelo

“Plano Nacional de Pós-Graduação do Brasil (2011-2020)”, no qual estão

traçadas as metas, os desafios e a direção que deve tomar a Pós-Graduação

brasileira até 2020. Este documento não aponta uma preocupação específica

sobre o a formação do docente universitário no tocante a dimensão pedagógica.

A atenção desprendida à melhoria da qualidade está relacionada à intensificação

na produção científica e internacionalização e na expansão.

Outro documento que perpassa a questão da formação em nível de pós-

graduação é o Plano Nacional de Educação (PNE-2010-2014), aprovado pela

Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014, o qual apresenta duas metas específicas

para a educação superior, nas quais a formação de mestres e doutores é

discutida somente pelo viés quantitativo. A meta 13 deste plano prevê a elevação

da qualidade da educação superior e ampliação da proporção entre mestres e

doutores do corpo docente em efetivo exercício no conjunto do sistema de

educação superior para 75% (setenta e cinco por cento), sendo, do total, no

mínimo, 35% (trinta e cinco por cento) doutores. A meta 14 prevê a elevação

gradual do número de matrículas na pós-graduação stricto sensu, de modo a

atingir a titulação anual de 60.000 (sessenta mil) mestres e 25.000 (vinte e cinco

mil) doutores. Destacamos que nenhuma das 24 estratégias dessas metas trata

da formação na dimensão pedagógica para o exercício do magistério superior.

De acordo com Cunha (2014; 2010), Pimenta e Anastasiou (2014), a

problemática da formação inicial se configura como um dos desafios

encontrados por professores para exercerem a docência no ensino superior, pois

durante este período formativo inicial há uma ênfase desproporcional entre

ensino e pesquisa. Os cursos em stricto sensu possuem um caráter de formação

voltado essencialmente para a pesquisa, instrumentalizando os estudantes da

pós-graduação para o aprofundamento científico em áreas específicas de

estudos.

É importante ressaltar que os cursos de licenciatura se direcionam à

formação de professores da educação básica, enquanto os cursos de

bacharelado ao exercício de diferentes profissões; neles, a tônica não é o

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magistério, e muito menos o magistério superior. A formação para a docência

não é contemplada nos currículos dos diversos cursos de graduação e, na pós-

graduação lato ou estrito senso. De acordo com Isaia (2006, p. 65) a formação

direciona a docência, “está presente na forma de disciplinas esparsas, quando

ocorrem, ou em iniciativas mais atuais de contemplar a docência orientada como

preparação inicial para o nível superior”. Contudo, tais iniciativas não garantem

a intenção de preparar efetivamente os docentes a uma das destinações básicas

das instituições superiores, que é a formação de futuros profissionais.

Concordamos com Anastasiou (2009) quando discute sobre a

insuficiência de formação para a docência universitária, pois afirma que, durante

a formação inicial, os professores não contam com as ferramentas teórico-

práticas, para desempenharem um trabalho didático-pedagógico que dialogue

com os princípios educacionais da Pedagogia Universitária e da Didática no

Ensino Superior.

Isto se aplica, principalmente, àqueles professores que não advêm das

licenciaturas, pois não possuem nos componentes curriculares da graduação

disciplinas que abordem as temáticas relacionadas ao campo educacional. E

ainda destacamos que para a prática docente efetiva no Ensino Superior ainda

assim há dificuldades, mesmo aos licenciados, pois para estes a formação sobre

os aspectos inerentes à didática e aprendizagem estão direcionadas ao contexto

infantil e adolescente, voltadas à atuação nos anos iniciais e/ou Ensino Médio, e

não voltadas ao Ensino Superior, deixando uma extensa lacuna formativa

também para os licenciados que assumem a docência no Ensino Superior,

principalmente ao que tange a aprendizagem do jovem - adulto, e a dimensão

pedagógica.

Sobre as lacunas formativas, Pimenta (2019) afirma que o professor

deverá passar por um processo de formação sistematizada para assumir tarefas

relativas à docência, visto ser essa uma profissão que demanda uma formação

ampla e densa em termos de elaboração de conhecimentos específicos da

profissão docente. E, se o curso de formação inicial, em função de sua

especificidade, conforme destacamos anteriormente, não teve como objetivo

principal esse preparo para a docência, os cursos de formação continuada

deverão se constituir em espaços importantes para o desenvolvimento da

identidade profissional e para a construção dos saberes docentes.

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Com a iniciativa de fortalecer a preparação inicial do docente do Ensino

Superior, programas de pós-graduação tem desenvolvido dispositivos

institucionais que auxiliam na formação pedagógica dos futuros docentes para

este nível de ensino, em condição de formação inicial nos Programas de Pós-

graduação.

A exemplo disto, citamos as ações desenvolvidas pela UFRN, através

da Coordenação de Apoio Técnico e Pedagógico da Pró-Reitoria de Pós-

Graduação (PPg), instituída através da Portaria N° 288/2009-R, de 10 de março

de 2009 e, posteriormente, denominada Coordenação Pedagógica da PPg. Esta

coordenação tem como objetivos: propor a formação para a docência dos pós-

graduandos e acompanhar as ações integradoras entre os níveis de ensino de

graduação e pós-graduação por meio da docência assistida desenvolvida no

Programa de Assistência à Docência na Graduação (PADG). O trabalho é

desenvolvido para que o pós-graduando possa se apropriar de referenciais

metodológicos do processo ensino-aprendizagem e dos aspectos didáticos que

devem nortear uma atuação ética e consciente nas disciplinas ou áreas de

conhecimento na qual realizará o estágio docência.

Por meio da Resolução n° 041/2019-CONSEPE, de 23 de abril de 2019,

da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, visou-se estabelecer

normas e regulamentar o Programa de Assistência à Docência na Graduação,

tendo como objetivos contribuir com a formação para a docência de estudantes

de Pós-Graduação em nível de mestrado e doutorado por meio de atividades

acadêmicas na Graduação; contribuir para a melhoria da qualidade de ensino

nos Cursos de Graduação; contribuir para a articulação entre Graduação e Pós-

Graduação.

A referida resolução indica que a participação no PADG é obrigatória aos

pós-graduandos dos cursos de Mestrado e de Doutorado, no caso de serem

bolsistas do Programa de Demanda Social da Coordenação de Aperfeiçoamento

do Pessoal de Nível Superior – DS/CAPES; bolsistas de apoio à Pós-Graduação,

com bolsas concedidas pela UFRN ou outras agências de fomento que

estabeleçam a exigência de Estágio Docência; e o Regimento dos Programas

de Pós-Graduação exigir o cumprimento dessa atividade para todos os

estudantes, indistintamente.

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A atuação em Estágio Docência é exigida pelo período mínimo de 1 (um)

semestre letivo para estudante de curso de Mestrado e 2 (dois), semestres

letivos para estudante de curso de Doutorado. Assim como é definido que a

oferta do componente curricular didático-pedagógico, sob a responsabilidade

dos Programas de Pós-Graduação, deve atender de forma sistemática e

articulada, às demandas dos Programas de Pós-Graduação da UFRN, tendo

cada um deles autonomia para organizar a oferta do componente curricular

didático-pedagógico de forma consorciada com outros Programas de Pós-

Graduação.

Sobre a formação dos novos professores, Pimenta (2019) afirma que os

professores principiantes representam a possibilidade de mudança, por meio de

novas expectativas, a aspiração de ingresso no serviço público em

contraposição à realidade profissional, às dificuldades inerentes à constituição

do ser professor, ou seja, de sua identidade profissional e dos aspectos a ela

atinentes (adaptação, saberes construídos, ajuda ou não do curso, confronto

com rotina profissional, especificamente do trabalho docente).

Esta se configura uma intenção de apresentar aos pós-graduandos a

temática da Pedagogia Universitária, a fim de discutir a dimensão pedagógica

junto aos futuros docentes. No entanto, consideramos que estas ações são

pontuais, em alguns casos, e em outros casos não obrigatórias aos pós-

graduandos. Aos que são inclinados a participar destes programas de formação

pedagógica, o tempo destinado é ainda restrito, principalmente no tocante à

temática da inclusão de estudantes universitários com deficiência.

O fato é que a carga horária e objetivo dos cursos de pós-graduação

têm-se enraizado na formação de pesquisadores, não evidenciando a formação

dos futuros professores universitários. Os mestres e doutores em formação são

aqueles que, após a conclusão desta etapa de estudos, poderão assumir a

missão da docência universitária e, em seus percursos de formação, recebem

destacado aprofundamento de conteúdo específico em suas áreas de pesquisa,

em detrimento da formação para o exercício da docência.

Para Masetto (2002), os cursos de pós-graduação precisam se abrir para

a formação pedagógica, ofertando de modo obrigatório a todos os estudantes

disciplinas, seminários, encontro sobre novas experiências pedagógicas, além

de incentivar a pesquisa sobre o Ensino Superior nas diversas áreas.

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Complementamos ainda que, principalmente, precisam preparar o docente para

lidar com a diversidade em sala de aula, sendo a presença da temática da

Inclusão no Ensino Superior matéria essencial para esta formação.

No tocante ao ingresso daqueles que se propõem a serem professores

universitários nas Instituições de Ensino Superior, Anastasiou (2009) nos

provoca uma inquietação sobre a realidade de que, embora professores

ingressem por concurso público, este nem sempre objetiva o domínio dos

saberes pedagógicos necessários à docência, focando na área-domínio e na

experiência de pesquisa.

Contrapondo a perspectiva estrita relacionada à dimensão da pesquisa

para a aprovação nos concursos públicos, e ressaltando a valorização da

dimensão pedagógica, citamos como exemplo o caso da UFRN, o qual define

através da Resolução no 108/2013 - CONSEPE normas para concurso público,

de provas e títulos para o ingresso na carreira do Magistério Federal. Neste

documento são expressos critérios pedagógicos a serem considerados durante

a avaliação da prova didática, que possui caráter eliminatório. O artigo 21° desta

resolução define que a prova didática se destina a avaliar os conhecimentos e

habilidades didático-pedagógicos do candidato quanto ao planejamento e à

adequação da abordagem metodológica da aula a ser ministrada perante a

comissão examinadora. No artigo 24° é destacado a definição do plano de aula

como item obrigatório para a realização da prova didática, devendo ser entregue

à comissão examinadora antes do início da apresentação a cada examinador,

sob pena de eliminação no concurso.

Ao final do texto da referida resolução, nos anexos, são expressos os

critérios para avaliação do plano de aula, a saber: clareza na redação dos

elementos do plano (ortografia, regras de formatação bibliográfica adequadas);

atualização e pertinência das referências utilizadas; pertinência dos objetivos

propostos com o tema da aula; coerência entre objetivos, conteúdos,

procedimentos didáticos, recursos e avaliação; adequação no tratamento do

tema ao perfil formativo estabelecido no projeto pedagógico de um dos cursos

nos quais poderá atuar.

No tocante aos aspectos didático-metodológicos, são expressos os

seguintes critérios para avaliação: relaciona o tema da aula com a área/disciplina

do concurso e explicita as suas escolhas teórico-metodológicas; aborda o tema

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de modo a atingir os objetivos propostos no plano, desenvolvendo a aula no

tempo previsto e demonstrando domínio do conteúdo e segurança na exposição;

situa o tema no seu contexto de produção, relaciona-o com os demais

componentes curriculares e com o universo sociocultural dos estudantes, e

utiliza, direta ou indiretamente, as referências indicadas no plano; demonstra

correção e adequação no uso da linguagem e clareza na comunicação, além de

utilizar de maneira correta a terminologia e os conceitos da área.

No que se refere ao emprego apropriado dos recursos didáticos são

definidos avaliar os seguintes aspectos: utiliza recursos adequados ao conteúdo

tratado e à metodologia escolhida, como meio auxiliar na abordagem e

compreensão do tema da aula; demonstra habilidade no uso dos recursos

escolhidos.

Essa configuração insere-se, portanto, no antigo dilema professor versus

pesquisador, sobretudo, porque “não se trata de negar a importância da pesquisa

para o aprofundamento do seu campo científico, mas sim de situá-la em sintonia

e interpenetração com outras dimensões” (ARANTES; GEBRAN, 2012, p. 80).

Essa perspectiva implica compreender que o ensino, ao ser desenvolvido

em interfaces com a pesquisa e a extensão, poderá configurar-se em densa

formação para os estudantes universitários. Porém no tocante a dimensão

pedagógica infelizmente, é nítido por parte dos docentes o “[...] despreparo e até

um desconhecimento científico do que seja o processo de ensino e de

aprendizagem, pelo qual passam a ser responsáveis a partir do instante em que

ingressam na sala de aula.” (PIMENTA; ANASTASIOU, 2002, p.37)

Corroborando com esta ideia, Pimenta e Almeida (2009, p. 20) afirmam

que “[...] muito se sabe sobre as áreas específicas, com o foco nas atividades de

pesquisa e produção do conhecimento, e pouco se sabe sobre ensinar”. Temos

o prejuízo do ensino reduzido aos saberes dos conteúdos, pois os professores

não têm em sua trajetória de formação aspectos que direcionam para uma

compreensão ampla sobre os processos de ensino aprendizagem.

No entanto, precisamos compreender que a aprendizagem da docência é

um processo que não se encerra, onde o devir e o transformar-se estão muito

presentes (ISAIA, BOLZAN, 2009). Assim, ao longo deste processo, é necessário

trazer à tona o desenvolvimento profissional e pessoal do docente,

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acrescentando à construção de suas práticas o reconhecimento das dificuldades,

a abertura a novos paradigmas e a novos conhecimentos, que vão sendo

construídos ao longo das vivências na formação continuada, além das

experiências pessoais e profissionais.

Iniciativas institucionais tem se levantado para auxiliar o corpo docente no

aperfeiçoamento de suas práticas pedagógicas, principalmente, no que se refere

à dimensão pedagógica e aos docentes iniciantes.

Um dos principais instrumentos da União Europeia (UE), no que se refere

a educação e a formação, correspondem na Estratégia Europa 2020. Este

documento coloca o conhecimento como protagonista indiscutível do

crescimento inteligente, sustentável e integrador. Partindo desta premissa, as

instituições de ensino superior desempenham um papel crucial no cumprimento

desta aspiração estratégica.

Neste sentido, a Agenda Europeia para a modernização do ensino

superior, aprovada pelos Ministros da Educação em novembro de 2011, identifica

as áreas onde os países da União Europeia têm que trabalhar mais para

convergir, lograr seus objetivos comuns e estabelecer como a UE pode apoiar

estas políticas. Entre as prioridades, está incluída a melhoria da qualidade e

relevância do ensino superior, e publica em junho de 2013 seu primeiro relatório

sobre a melhoria da qualidade do ensino e da aprendizagem nas universidades

nas quais são expressas 16 recomendações.

Está incluído um pedido de formação obrigatória certificada para

professores e outros professores do ensino superior, uma abordagem mais

focada para ajudar os alunos a desenvolver habilidades empreendedoras e

inovadoras e a criação de uma Academia Europeia de Ensino e Aprendizagem.

Entre eles, justamente a quarta recomendação destaca a importância e a

necessidade da formação pedagógica em professores universitários:

“Recomendação 4: Todos os professores das instituições de ensino superior em 2020 devem receber treinamento pedagógico certificado. A formação continuada de professores deve ser um requisito para os professores do setor de ensino superior”. (UE, 2013)

É nesse contexto que se estabelece uma filosofia baseada no conceito de

“Aprendizagem ao Longo da Vida (ALV)” e uma extensão do desenvolvimento

da pessoa centrada na formação integral. E é aqui que universidades, como por

exemplo a Universidade de Valência (UV), enfatizam o desenvolvimento de

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planos de formação para os servidores, destacando o grande valor agregado

que é dado ao ALV por meio da formação.

O “Centro de Formação Qualidade Sanchis Guarner”, por meio do

Programa de Formação Integral de Professores Universitários (FIPU), visa

contribuir para a formação de seus professores mais novos, com um conjunto de

atividades formativas destinadas a facilitar a integração na cultura universitária,

na tríade do ensino, pesquisa e extensão, agregando questões importantes

também a gestão. O Curso constitui-se um programa presencial, com duração

de 150h, e de caráter obrigatório aos docentes da instituição. Salientamos que

os certificados são considerados pré-requisitos para que os docentes efetivem

os seus planos de carreira e progressão na Universidade.

Há também o Programa de Atualização Docente (PAD) voltado aos

docentes mais experientes, no qual são oferecidos cursos a partir das demandas

identificadas nos instrumentos de avaliação. São oferecidos cursos, mini-cursos,

palestras em formatos presenciais, semi-presenciais e on-line. As horas

cursadas são registradas cumulativamente e incorporadas ao plano de avaliação

institucional dos docentes, contribuindo para o avanço nos níveis da carreira do

magistério superior.

Seguramente a UFRN tem caminhado para o alcance da melhoria da

qualidade do ensino através da formação docente. Destacamos o Programa de

Atualização Pedagógica (PAP), que é coordenado pela PROGRAD em parceria

com a PROGESP e conta com a colaboração de outros setores da instituição

como, por exemplo, a CAENE. Este programa é destinado à formação

continuada dos docentes universitários com vistas ao desenvolvimento e à

melhoria da qualidade do ensino da graduação, passando a integrar o Plano de

Gestão da UFRN a partir de 2003.

Cabe salientar que desde a década de 1980 já vinham sendo

desenvolvidos projetos de atualização e aperfeiçoamento pedagógico do quadro

docente, colocando a dimensão pedagógica da prática docente na agenda de

trabalho da UFRN, compondo programas estruturantes como o Plano de

Desenvolvimento Institucional.

O PAP passou por uma reestruturação a partir de 2008, consolidando as

experiências desenvolvidas nos anos anteriores, reorganizando as suas ações

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de modo criativo e crítico na atualização pedagógica de seus professores.25 O

Programa consiste na oferta de cursos, seminários, palestras e oficinas para

professores e, a partir de 2012, também para servidores de ensino superior que

desenvolvem assessoria pedagógica nos cursos de graduação.

Um dos objetivos do PAP é oferecer subsídios aos professores para

reflexão e aprofundamento sobre o processo de planejamento da prática

docente, da execução do ensino e da avaliação da aprendizagem dos estudantes,

pautados na ética profissional e no compromisso social da instituição.

As atividades de formação são planejadas ações formativas, que ocorrem

preferencialmente nos meses de maio e setembro, extensivas a todos os

professores da instituição que já ultrapassaram a fase de avaliação do estágio

probatório. No entanto, apresenta um perfil de participação facultativa.

Além disso, é desenvolvido por meio do PAP, o curso previsto na

Resolução no 083/2006 – CONSEPE/UFRN, para efetivação de docentes em

estágio probatório. Este curso é normalmente oferecido nos meses de janeiro

e/ou julho, períodos não letivos, com datas previstas no calendário acadêmico e

possui um caráter de participação obrigatória destes docentes

Essa configuração nos colocou a necessidade de pensar esse processo

em permanente articulação com a formação, os saberes e a identidade

profissional, necessariamente vinculada à socialização profissional,

considerando os desafios e perspectivas nessa etapa crucial da carreira docente:

os primeiros anos (PIMENTA, 2019).

O saber construído do professor é plural, ativo e se dá em diferentes

contextos, tempos e espaços. Concordamos com Tardif (2014) ao considerar que

estes saberes são resultados de um processo em construção contínua,

compreendendo que o aprender a ensinar supõe aprender progressivamente os

saberes necessários à realização do trabalho docente, através da experiência

profissional e pessoal do professor. Assim, a prática profissional pedagógica, é

compreendida como “o conjunto de saberes utilizados realmente pelos

profissionais em seu espaço de trabalho cotidiano para desempenhar as suas

tarefas” (TARDIF, 2014, p.33).

Estes saberes docentes incluem os saberes experienciais, os

25 Para mais informações consultar Portal PAP: http://www.portalpap.ufrn.br

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acadêmicos, os profissionais, os curriculares, os saberes, disciplinares, entre

outros, passíveis de sistematização, produtos das culturas docentes (CUNHA,

1999). Portanto, a formação continuada surge da necessidade de embasar as

práticas do professor na tentativa de ressignificar o seu olhar sobre o mundo,

sobre ele mesmo e sobre os seus estudantes.

Neste sentido a pedagogia universitária integradora é compreendida na

perspectiva da formação do professor e da avaliação e atuação institucional.

Deste modo, a pedagogia universitária, expande-se mais além da relação

ensino–aprendizagem, tornando-se uma prática institucional, como um processo

que, voltado às questões institucionais, não deixa de considerar a inserção da

dimensão pedagógica no espaço macrossocial institucional (VAIRA, 2004).

Os dilemas relacionados à formação docente também permeiam as

questões da profissionalização docente. Sobre isto, Tardif (2014) aponta que

nestes dilemas estão firmados princípios da renovação dos fundamentos

epistemológicos do ofício de professor, buscando conferir-lhe o estatuto da

profissão e a superação da crise geral do profissionalismo.

Reafirmando esta perspectiva, Morosini (2006) aponta uma crise na

profissionalização do docente, a qual está alicerçada na produção de

conhecimentos e não assentados na realidade do mundo do trabalho

profissional. Esta crise possui diversos fatores, tais como:

A crise do poder profissional, mostra que tanto o político como o poder de competência refere-se à perda de confiança que o público e os clientes depositam no profissional; crise da ética profissional, que é a dos valores que guiam os profissionais e que não têm princípios claros, regulares e consensuais; crise do professorado, que estabelece a situação marcada pela ambiguidade do trabalho docente, apresentando-se como um movimento pendular entre profissionalismo e proletarização; falta de reconhecimento social do professor na sociedade contemporânea, fonte de mal-estar entre os docentes; perda do controle de suas qualificações; ausência de sentimento de pertença a uma categoria profissional; e polissemia do termo formação do professor.” (MOROSINI, 2006, p. 58)

A profissionalização do professor é permeada pela identidade profissional

assumida pelos professores, a qual é formada por uma relação contínua que vai

desde a fase de opção pela profissão, passando pela formação inicial, até os

diferentes espaços institucionais e geracionais em que a profissão se desenrola.

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Sobre este aspecto da profissionalização e identidade docente, Isaia

(2006) pontua que o fato de os docentes não apresentarem preparação

específica, justifica o motivo no qual a docência superior tem frágil identidade

profissional. Isto é,

Os professores, normalmente definem-se a partir de suas áreas de conhecimento (física, engenharia, medicina, geografia, etc.), centrando-se mais em suas especialidades; desse modo, desconsiderando a função docente que está claramente vinculada à missão formativa da educação superior. (ISAIA, 2006. p. 70)

Reafirmando esta perspectiva, Ramalho, Núñez e Gauthier (2003),

apontam que a formação docente está diretamente relacionada à

profissionalização da docência. Os autores consideram que a prática formativa

precisa estar alicerçada em três princípios básicos da atitude profissional do

professor: a reflexão, a pesquisa e a crítica. Deste modo, o fazer profissional

competente do professor configura-se como ferramenta para seu

desenvolvimento profissional. Segundo os mesmos autores, neste sentido,

Assumir a reflexão, a crítica, a pesquisa como atitudes que possibilitam ao professor participar na construção de sua profissão e no desenvolvimento da inovação educativa, norteia a formação de um profissional não só para compreender e explicar os processos educativos dos quais participa, como também para contribuir na transformação da realidade educacional no âmbito de seus projetos pessoais e coletivos. (RAMALHO, NÚÑEZ E GAUTHIER, 2003, p. 11)

Estes autores ainda chamam a nossa atenção para uma necessária

mudança de paradigma no que se refere à formação, se desprendendo do

caráter da racionalidade técnica, no qual o professor é visto como um técnico

executor de tarefas planejadas por especialistas, para buscar o paradigma da

profissionalização, no qual o professor é produtor de sua identidade profissional.

Para Tardif (2014), que tanto em suas bases teóricas quanto em suas

consequências práticas, os conhecimentos profissionais são evolutivos e

progressivos e necessitam, por conseguinte, de uma formação contínua e

continuada. Para este autor os profissionais devem, assim, autoformar-se

ressignificando suas práticas através de diferentes meios, após seus estudos

universitários iniciais. Assegura que, ao admitir-se que “o movimento de

profissionalização é, em grande parte, uma tentativa de renovar os fundamentos

epistemológicos do ofício de professor, deve-se examinar seriamente a natureza

desses fundamentos e extrair daí elementos que permitam cultivar um processo

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reflexivo e crítico a respeito das próprias práticas como formadores e como

pesquisadores.” (TARDIF, 2014, p. 54)

A indefinição identitária dos docentes pode levar a uma formação difusa

da identidade docente e mostrar-se como um dos fatores responsáveis pela

separação entre o ato de ensinar e o de pesquisar, ainda presentes na academia.

Essa separação pode causar uma compreensão equivocada sobre o papel e a

importância de cada um, induzindo a que o ensino seja, muitas vezes,

considerado uma simples transmissão de conhecimentos e visto como uma

atividade secundária. A docência integra tanto o saber e o saber-fazer próprios

a uma profissão específica, assim como envolve a dimensão formativa, no

tocante à mediação e construção de conhecimento junto aos estudantes. Com

tais reflexões, Isaia (2006) afirma que não se nega a importância da pesquisa e

da extensão, mas se direciona a discussão para o aspecto mais problemático da

atividade acadêmica: a consciência da docência.

Nesta tomada de consciência está a compreensão por parte dos docentes

de que ensinar não pode ser confundido com o repasse simples de conteúdos

prontos, mas deve ser identificado com um processo intencional e sistematizado

de organizar os conhecimentos, saberes e fazeres, próprios a determinado

domínio de atuação e da oferta de apoio, isto é, estímulos auxiliares capazes de

ajudar os estudantes a construírem suas estratégias de apropriação, em direção

à sua autonomia formativa (ISAIA; BOLZAN, 2004).

Neste processo de definições a respeito do campo do ensino e

aprendizagem, Anastasiou (2010) indica a discussão sobre a “ensinagem”, a

qual se constitui como uma prática social complexa em que, tanto a ação de

ensinar quanto a de aprender (apreender) estão relacionadas por envolver uma

parceria consciente e contratual, na sala de aula e fora dela, entre estudante e

professor. É, portanto, um processo que compreende a aprendizagem dos

estudantes e que supera a simples transmissão dos conteúdos por parte do

professor.

Deste modo compreendemos que não é possível pensar o processo de

ensinagem desvinculado do domínio do campo específico dos conteúdos e o

caminho lógico de construção do saber, a serem desenvolvidos conjuntamente

por professores e estudantes. Isto é, para além da apreensão de conteúdos, é

fundamental que os docentes respeitem, conheçam e compreendam o processo.

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Assim, a aula universitária poderá deixar de ser um espaço apenas de

transmissão mecânica e fragmentada de conhecimentos científicos e

profissionais para se instaurar como um lugar que possibilita ao estudante uma

compreensão genuína de seu campo de atuação, que o torna capaz de aplicar

conhecimentos, destrezas e saberes a situações novas e imprevisíveis, ao longo

de sua carreira profissional (ISAIA, 2006).

No campo da concepção integradora, a pedagogia universitária é

entendida em uma postura mais além que as concepções de didática e envolve

“o docente como intelectual público, um protagonista do ato pedagógico e

formativo que coloca nas questões sociais e políticas a ênfase de seu trabalho,

tornando públicos novos referenciais na perspectiva da ética e da emancipação

humanas” (ISAIA, 2006, p.71).

Na perspectiva da Pedagogia Universitária, em conformidade com Leite

(2000):

- O conhecimento social constitui-se como um conceito que engloba e

reconfigura saberes científicos da academia, com saberes do cotidiano das

pessoas, que se constrói através de aproximações sucessivas entre prática

e teoria, entre conhecimento “vivo” e conhecimento “morto,” resgatando o

humano da relação educativa;

- A inovação pedagógica, uma ação criadora de rompimento com os

paradigmas tradicionais vigentes no ensino e na pesquisa, ou uma ação

embasada no patamar da transição paradigmática, com reconfiguração de

saberes e poderes.

- A avaliação institucional, um organizador qualificado que permite

repensar pontos fortes e fracos da instituição, mostrando a “qualidade da

diferença e a diferença desta qualidade” para a construção de um projeto

político-pedagógico integrador para o seu desenvolvimento.

- As novas tecnologias da comunicação e da informação, uma técnica

e uma possibilidade articuladora para a constituição de teias de

conhecimento, de redes interativas que caracterizam pedagogias

inovadoras presenciais e não presenciais, visíveis e não visíveis.

A concepção de Pedagogia Universitária de Leite (2000), nos leva a

compreender que a prática pedagógica não é reduzida à questão didática ou às

metodologias de estudar e de aprender, mas articulada a uma educação como

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prática social e ao conhecimento como produção histórico e cultural, datado e

localizado, em uma relação dialética e tensionada entre prática-teoria-prática,

conteúdo-forma, sujeitos-saberes-experiências e perspectivas interdisciplinares

(FERNANDES, 1999).

Na pedagogia universitária transformadora, a figura docente é

fundamental, pois este ao estabelecer o diálogo “sela o ato de aprender que

nunca é individual, embora tenha uma dimensão individual. O diálogo é, em si,

criativo e re-criativo” (FREIRE; SHOR, 1987, p. 13-14). Isto é, a pedagogia

universitária é fundamentada na prática do diálogo, entre professor e estudante.

A parte desta discussão a respeito da relevância da formação para a

construção da identidade profissional, reafirmação das perspectivas dialógicas e

de formação integral, levanta-se uma discussão sobre a política institucional e a

responsabilidade da gestão com vistas à melhoria da qualidade do ensino.

Para Franco (2003), a gestão da educação superior é compreendida como

formas relacionais no plano de concepções (documentos) e/ou de práticas que

expressam processos de tomada de decisão e de desenvolvimento de ações

institucionais reveladores da racionalidade prevalente. Têm subjacente uma

concepção de universidade e sua(s) finalidade(s), englobando premissas sobre

pesquisa/ensino/extensão e princípios organizativos.

A gestão da educação superior expressa, assim, processos decisórios e

relações em âmbito local, regional, nacional e internacional entre seus elementos

componentes (unidades, setores, corpo docente, discente e funcional), com a

sociedade e seus interlocutores do mundo empresarial e de organismos da

sociedade civil e com órgãos governamentais.

Isaia (2006 p. 67) pontua que “apesar do entendimento institucional de

que os docentes são os responsáveis pela formação de futuros profissionais, sua

formação docente não tem sido valorizada nem pela maioria das IES nem pelas

políticas voltadas para a educação superior”, a saber: Parecer Newton Sucupira

CFE nº 977/1965; Resolução CFE nº 14/1977, cursos de pós-graduação lato

sensu; LDB 9394/96; Resolução CES/CNE nº 1, de 3 de abril de 2001; O Sistema

Nacional de Pós-Graduação (SNPG); Plano Nacional de Educação (PNE-2010-

2014), entre outras.

Essa assertiva é confirmada por vários outros pesquisadores, entre eles

Morosini (2001); Zabalza (2004); Masetto (2000 e 2001). Tal descaso pode ser

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comprovado pelo fato de os critérios de seleção e progressão funcional,

adotados, estarem centrados principalmente na titulação e na produção

científico-acadêmica, o que não garante uma educação de qualidade. Nas

políticas institucionais e nos órgãos reguladores e/ou de fomento como o MEC,

a Capes e o CNPq não se encontram dispositivos que valorizem o

aprimoramento da docência.

A exemplo disso, temos a Lei nº 12.772, de 28 de dezembro de 2012, que

dispõe sobre a estruturação do Plano de Carreiras e Cargos de Magistério

Federal e sobre a Carreira do Magistério Superior, na qual são apresentadas as

diretrizes gerais para o processo de avaliação de desempenho para fins de

progressão e de promoção de carreira. A referida lei define que os critérios de

avaliação serão estabelecidos em ato do Ministério da Educação e do Ministério

da Defesa, conforme a subordinação ou vinculação das respectivas IFES. Esta

avaliação para fins de progressão deverá contemplar as atividades de ensino,

pesquisa, extensão e gestão, cabendo aos conselhos competentes no âmbito de

cada Instituição Federal de Ensino regulamentar os procedimentos do referido

processo.

É importante ressaltar que a Lei nº 12.772 / 2012 não define um processo

de avaliação com viés pedagógico ou que vislumbre o aperfeiçoamento da

prática docente, com vistas especificamente à melhoria da qualidade do ensino.

Tendo em vista que o ingresso na carreira docente pressupõe mestrado

ou doutorado, os professores iniciam a carreira docente na educação superior

em níveis avançados da progressão funcional, mas continuam sem preparação

prévia para a docência. Esta realidade, demanda a necessidade de constituir a

formação pedagógica ao longo do tempo.

Desta forma, a responsabilidade para a formação continuada, no tocante

à dimensão pedagógica se constitui responsabilidade da gestão universitária,

decorrente de iniciativas institucionais que possam auxiliar aos docentes no

aperfeiçoamento de suas práticas. Como observam Zabalza (2004) e Garcia

(1999), não basta a vontade individual dos professores, é necessário um esforço

organizado, com responsáveis no âmbito institucional específicos para

desenvolver ações formativas, voltadas para o aperfeiçoamento profissional dos

professores.

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Assim, a formação docente é um processo complexo que necessita da

construção de estratégias sistematicamente organizadas, que envolva esforços

pessoais e institucionais concretamente desenvolvidos.

Sobre as iniciativas formativas, Isaia (2006) que esta realidade tem

levando os pesquisadores da área a discutirem e a proporem estratégias de formação e de desenvolvimento profissional que, aos poucos, vêm sendo incorporadas às iniciativas de algumas instituições ou setores isolados, não se constituindo ainda em uma prática corrente. O discurso está mais adiantado que as práticas efetivas de formação docente continuada e em exercício. (ISAIA, 2006 p. 70)

Deste modo compreendemos que a formação continuada dos docentes

universitários, para se consolidar, precisa ser entendida como um processo

organizado, sistemático e intencional, a partir do grupo de professores, das

instituições e das políticas educativas de nível superior. Concordamos com Isaia

(2006), quando reflete que o ambiente institucional parece pouco envolvido com

a construção de espaços que possibilitem compartilhar experiências, estratégias

e conhecimentos, voltados para o exercício da docência. Ou seja, há pouco

compromisso com o crescimento de estudantes e professores como grupo que

desenvolve seus processos formativos. A autora ainda nos chama a atenção

para o fato de que, em ambos os casos, é deixado pouco espaço para as

atividades auto, hetero e interformativas indispensáveis aos docentes.

Mediante o exposto, consideramos, portanto, que os espaços formativos

se constituem como elementos estruturantes para tornar a atuação profissional

docente uma ação alicerçada na preparação técnica da dimensão pedagógica

em uma perspectiva dialógica, reflexiva e crítica da prática.

4.2 Caminhos para a formação docente à luz da perspectiva educacional

inclusiva

A não preparação prévia do professor universitário para lidar com o

processo de inclusão de pessoas com deficiência é evidenciado em inúmeras

pesquisas (OLIVETO; MANZINI, 1999; VITALIANO, 2002; VITALIANO, 2007;

SANTOS, 2002; BEYER, 2003; 2006; HUMMEL, 2007; EIDELWEIN, 2005;

JESUS, 2006; MARTINS, 2016).

Estudos específicos sobre a formação continuada do docente no contexto

do Ensino Superior em uma perspectiva inclusiva, respaldam a necessidade

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efetiva de formação docente, no tocante à dimensão pedagógica e

especificamente na área da Educação Inclusiva (THOMA, 2006; SANTOS;

FUMES, 2009; REIS, EUFRÁSIO; BAZON 2010; HAYASHI, MACHADO;

YAMANIHA, AUSEC 2012; CARBALLO, 2016; CARBALLO, MORIÑA, 2018;

SILVIA, SIMIROTTI, SAMMAR, 2012).

A ausência de formação pedagógica se configura como barreira na ação

docente para lidar com a diversidade inerente à presença de estudantes com

deficiência (MORIÑA-DIEZ, LÓPEZ GAVIRA, MELERO, CORTÉS VEJA, ROMO,

2013, CARBALLO, 2018). E ainda destacam a importância da formação

continuada para a prática docente, evidenciando a ação formativa em uma

perspectiva inclusiva, como aspecto positivo junto aos estudantes com NEE.

(CARBALLO, 2018; OLIVEIRA, MAGALHÃES, MENDONÇA, 2016).

Destacamos ainda que estudos que apresentam as vozes de estudantes

com deficiência em relatos sobre suas experiências acadêmicas, destacam a

atuação pedagógica dos docentes universitários como uma das maiores

barreiras existentes na universidade (VEGA, MORIÑA-DÍEZ, 2015; MORIÑA,

PERERA, 2018). No entanto, os estudos consideraram que a partir da ação

formativa que aborda a perspectiva educacional inclusiva são identificadas

melhoras nos processos de ensino (REDRUELLO; RODRÍGUEZ; QUESADA;

VILORIA, 2014; CARBALLO, MORGADO 2019; MORIÑA 2019).

Diante destas assertivas, elencamos experiências formativas que tiveram

como objetivo principal formatar discussões junto aos docentes universitários

sobre a presença dos estudantes com deficiência e as possibilidades de ensino

e aprendizagem em uma perspectiva inclusiva.

Foram identificadas experiências de planejamento e desenvolvimento de

programas de formação para docentes universitários com esta temática.

A experiência de Hockings, Breet e Terentjevs (2012)26, intitulada: “Ensino

Inclusivo: apoiando todos os alunos na sala de aula na universidade”, com 6

semanas de duração, on line, ocorrida na Columbia University (New York, EUA).

Neste estudo, se desenvolveram conteúdos de formação para professores, e a

toda a comunidade universitária, tais como estudantes e outros profissionais

interessados. Os autores se centravam na formação através de um enfoque em

26 https://www.edx.org/course/inclusive-teaching-supporting-all-students-in-the-college-classroom

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recursos educativos abertos (Open Educational Resources, OER). A fim de

facilitar a compreensão dos conceitos e princípios subjacentes à inclusão

educacional e a implementação destes valores aos profissionais, foi descrito um

conjunto de princípios para a prática inclusiva e mostrado como eles sustentam

não apenas o conteúdo desse recurso, mas também seu design,

desenvolvimento e incorporação, constituem-se relevantes e aplicáveis ao

aprendizado, ao ensino e ao planejamento curricular na aprendizagem à

distância e nos contextos virtuais.

A plataforma foi desenvolvida de modo acessível para permitir a

participação de pessoas com deficiência. Entre os recursos empregados nesta

formação virtual, havia vídeos de práticas educativas em contextos educativos

reais, onde se demonstravam princípios da educação inclusiva de maneira

prática, além de entrevistas com professores e estudantes, atividades on line e

discussões.

Citamos também o programa “Teachibility” 27 (SIMPSON, 2000),

desenvolvido na Universidade de St. Andrews, na Escócia, que tinha como

objetivo a melhora do acesso ao currículo pelos estudantes com deficiência.

Através deste projeto pretendiam identificar as barreiras de acesso e

participação no currículo acadêmico de alguns cursos para os estudantes com

deficiência. Neste projeto, a formação dos docentes universitários se constituía

como um pilar fundamental, e foi oferecida para que todos fossem capazes de

colocar em prática as adaptações contempladas no novo currículo. Como

conteúdos, foram discutidos abordagens base do currículo; auxílios de ensino e

avaliação; barreiras e conscientização, formação específica do pessoal docente,

comunicação e acessibilidade. Os resultados do estudo revelam que foi possível

trazer para as disciplinas fortes componentes acessíveis; auto-auditar e avaliar

a oferta curricular oferecida para estudantes com deficiência; identificar uma

estratégia para melhorar essa provisão; compreender a noção de “aprendentes

diversos” deve ser guiada pelo conhecimento da generalidade das necessidades

dos estudantes com deficiência; e analisar possibilidades de adaptações

curriculares, entre outros.

O trabalho de Debrand e Salzberg (2005) analisou a importância e

27 http://www.teachability.strath.ac.uk/original/index.html

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abrangência do conteúdo de um currículo de treinamento para docentes

desenvolvidos na Universidade Estadual de Utah (EUA), e pretendia averiguar

os conteúdos que os docentes consideram como necessários e positivos para a

capacitação em atenção aos estudantes com deficiência valorando e avaliando

um currículo previamente desenhado para a formação de docentes. Os

participantes da pesquisa indicaram que uma formação na perspectiva inclusiva

deveria ter caráter obrigatório, ser uma formação ativa, significativa, aplicável às

situações reais. Além disso, afirmaram que a formação deve incluir a

participação de estudantes com deficiência que compartilhem suas experiências.

Também os docentes pontuaram que as formações se organizassem em

pequenos grupos ou por departamentos.

A proposta formativa de Dotras, Llinares e López (2008), apresenta um

programa de formação para docentes da Universidade Politécnica da Cataluña.

Após o diagnóstico das necessidades de formação psicopedagógica dos

professores desta Universidade na área de engenharia e arquitetura, foi

elaborada uma proposta formativa, a qual levou à prática depois. A formação

ocorreu em sessões presenciais de cinco horas duração em que os formadores

fizeram explicações de conteúdo e trabalharam estudos de caso reais. Além

disso, esta é outra experiência que conta com a participação de pessoas com

deficiência como formadoras. Quanto ao conteúdo trabalhado, este programa

abrangeu conceitualização da terminologia atual sobre deficiência, conforme

Ainscow (2003), marcos legislativos e aspetos sociais, o âmbito da universidade

inclusiva e possibilidades de intervenção metodológica da aula inclusiva.

O projeto piloto contou com a participação de 52 docentes e ocorreu em

formato presencial, com 02 (dois) módulos, os quais cada um teve 5h de duração.

A formação se estruturou de maneira aberta, seguindo as diretrizes do Desenho

Universal para Aprendizagem (DUA)

Citamos, ainda, formações continuadas oferecidas aos docentes

fundamentadas nos Princípios do Desenho Universal no Ensino Superior.

Destacamos as múltiplas experiências, teóricas e práticas apresentadas pelos

estudos de Higbee (2003), Higbee e Goff (2008), e pelos trabalhos de Rose,

Harbour, Johnston, Daley, Abarbanell (2006), Yuval, Procter, Korabik, Palmer

(2004) nos quais apresentaram programas de formação continuadas alicerçadas

nos princípios do DUA. Este último trabalho, realizado na Universidade de

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Guelph (Ontário - Canadá) propôs a reformulação de uma série de disciplinas,

com base nos princípios do DUA, e avaliaram o seu desenvolvimento e

resultados.

A experiência de Kumar e Wideman (2014) revelou que os estudantes

responderam positivamente ao desenho de um curso elaborado através dos

princípios do DUA, e que este fomentou a flexibilidade, reduziu o estresse e

melhorou o êxito na aprendizagem. Posteriormente, Davies, Schelly, Spooner,

(2013) aplicaram a mesma proposta formativa e constaram os benefícios dos

princípios do DUA para a formação docente e para aprendizagem dos estudantes.

Destacamos, também, o estudo de Griful-Freixenet, Struyven, Verstichele,

Andries (2017), no qual propõem de uma Universidade de Bruxelas uma série

de guias práticas de grande utilidade para os docentes, nas quais se

estabelecem diretrizes sobre como implementar os princípios do Desenho

Universal na docência. De modo aproximado, o estudo de Guasch e Hernández

(2012) apresentam um guia para implementar o DUA na Universidade.

Díez e Sánchez (2015), referenciam um curso criado pelo Instituto

Universitário de Integração na Comunidade da Universidade de Salamanca

(Espanha), dirigido aos docentes universitários. O curso, intitulado “Desenho

Universal para aprendizagem na Universidade”, se configurou em 03 (três)

módulos diferentes, que discutiam a situação dos estudantes com deficiência na

Universidade, a acessibilidade dos conteúdos e os materiais na aplicação do

desenho universal, seus princípios e a acessibilidade no contexto virtual.

Entre os anos de 2014 a 2017, Moriña (2018; 2019) e Carballo (2018)

elaboram, aplicaram e avaliaram um programa de formação continuada

direcionada para docentes da Universidade de Sevilla (Espanha), o qual se

intitula: “Caminhando para a inclusão social e educativa na universidade”.

O Programa desenhado pela equipe de pesquisadores, foi desenvolvido

através da modalidade de treinamento semi-presencial (Blended Learning). A

duração da formação foi de seis meses, ocorrida em 2016, com um total de 54

horas (12 horas presenciais e 42 on-line) e contou com a participação de 20

professores.

Os conteúdos do Programa foram organizados em torno de oito módulos

abordando o conceito de deficiência, o modelo social da deficiência e a educação

inclusiva; barreiras e ajudas identificadas por estudantes universitários com

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deficiências; regulamentos universitários e serviços de apoio; diferentes tipos de

deficiência, necessidades e modificações curriculares importantes; e, finalmente,

o desenho universal para aprendizagem.

Os resultados do estudo são apresentados em torno de três áreas

temáticas: a importância da formação em educação inclusiva e seu efeito sobre

a sensibilidade dos professores; a necessidade de informação sobre os

estudantes com deficiência; e os conhecimentos práticos mais relevantes que os

professores devem adquirir.

Os princípios do DUA para a formação docente e, especificamente, para

o contexto do Ensino Superior, dialogam com o modelo social de deficiência e o

processo educacional inclusivo, alinhados com a premissa de que se faz

necessário transferir a carga de responsabilidade dos estudantes no que se

refere às adequações e às adaptações para os ambientes e contextos de

aprendizagem.

Bock, Gesser, Nuernberg (2018) realizaram um levantamento bibliográfico

do qual apontaram questões centrais, a respeito da disseminação dos princípios

do DUA no Brasil. A pesquisa localizou entre os anos de 2011 a 2016 quarenta

e quatro (44) pesquisas na América do Norte (Estados Unidos), cinco (5) na

Europa, três (3) na Ásia e dois (2) na Oceania (Austrália) e nenhum estudo de

universidades brasileiras estava publicado nas bases investigadas. Esta

escassez no registro científico de experiências formativas, principalmente no

Ensino Superior, à luz dos princípios do DUA no contexto brasileiro revelam a

força existente no trabalho direcionado a Educação Especial e o reforço teórico

concebido ao viés das adaptações curriculares, seguindo normalmente pelo

caminho reativo e não provocando uma preparação prévia de modelos ensino,

disciplinas e planos de aula elaboradas a partir de formatos acessíveis a todos

os estudantes. A proposição proativa do ensino a partir dos princípios do DUA,

possibilitam a inclusão desde o início das aulas, promovendo a equidade de

condições entre os pares, evitando assim o tempo perdido para a elaboração e

adaptação de materiais específicos.

Pontuamos que as experiências formativas apresentadas se referem a

iniciativas de pesquisas ou de programas de formação originados de grupos de

pesquisa que discutem a inclusão de pessoas com deficiência no ensino

superior. Esta evidência nos provoca a reflexão de que há ausência de

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proposições formativas a níveis institucionais, nos quais as iniciativas decorram

da gestão e das políticas institucionais. Outro aspecto pontuado é o fato de haver

significativa escassez de ações formativas nacionais, publicadas em trabalhos

científicos, sobre a temática da inclusão no ensino superior.

Diante das evidências, consideramos que as universidades deveriam

desenvolver, em seus cursos de graduação e de pós-graduação e em programas

de formação continuada, preparação para os professores e profissionais da

educação atuar frente à diversidade e inclusão de pessoas com deficiência. É

necessário fazer parte da pauta da gestão da universidade a preocupação com

a formação do professor, contemplando e incentivando a formação continuada

em uma perspectiva inclusiva como parte inerente à qualidade do ensino.

Esta contínua preparação e envolvimento com a docência pode

proporcionar o sentimento de pertença ao processo educativo ao professor e ao

estudante com deficiência. Nesse sentido, nos ensina Freire (1996 p. 38-39) que

“[...] na formação permanente dos professores, o momento fundamental é o da

reflexão crítica sobre a prática. É pensando criticamente a prática de hoje ou de

ontem que se pode melhorar a próxima prática”.

No processo formativo, a perspectiva da educação inclusiva deve estar

presente nos diferentes espaços de formação. De acordo com Mayán (2014), a

atenção à diversidade deve-se destacar como questão norteadora das práticas

e formação docentes. Nas situações formativas se fazem necessárias a criação

de culturas inclusivas nos ambientes educacionais, a aproximação, análise e

reflexão sobre a eliminação de barreiras de aprendizagem e o desenvolvimento

de estratégias de cooperação que incrementem o acesso ao currículo,

desenvolvimento de habilidades e aquisição do conhecimento.

Com relação a isso, consideramos necessária a preocupação com a

atuação do professor universitário na área do ensino e da formação continuada,

tendo em vista que, diante da diversidade e inclusão de estudantes com

deficiência no Ensino Superior, são levantadas novas possibilidades de

ressignificação da prática docente. Essa, ao invés dos limites, deve visar às

possibilidades e, no lugar da construção das barreiras, atuar para transpô-las.

Neste sentido, ao refletir sobre as propostas de formação continuada em

uma perspectiva inclusiva, concordamos com Michels (2005), quando orienta

que os programas de formação precisam propor a temática da inclusão em uma

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perspectiva do respeito à diversidade, da sensibilização para o humano e da

inclusão plena. Desprendendo-se das características físicas e biológicas da

deficiência em si e descontruindo, assim, a chamada “marca da deficiência” nos

processos formativos, que na prática, compartimentalizam e reduzem a

formação em uma perspectiva inclusiva apenas ao “conhecer as deficiências”.

Diante destas reflexões, consideramos que as perspectivas de

diversidade humana e inclusão de todos precisam permear as práticas

educacionais e formativas no contexto universitário, redirecionando os

processos de ensino-aprendizagem, adaptações curriculares e estratégias de

avaliação. As quais possam desenvolver habilidades que

conduzam o aluno a patamares superiores de representação mental dos conteúdos ministrados, como a reflexão contínua, a capacidade de análise e síntese e a generalização de fatos e ideias, a compreensão dos fenômenos naturais, sociais, políticos e econômicos, condições precípuas para melhor compreensão e inserção no mundo, das ações e relações que se materializam nas práticas sociais. (SILVA, 2013, p. 69)

O currículo e suas possibilidades de adaptações também se constituem

como alternativas às práticas inclusivas de estudantes com deficiência na

universidade, pois torna possível uma prática pedagógica que valoriza o

potencial do estudante, considerando sempre as suas demandas e

especificidades. Neste sentido, Magalhães (2013, p. 50) orienta que as

adaptações propostas ao currículo “[...] pressupõem a preocupação entre

professores e estudantes, em uma contínua construção de alternativas que

diversificam e ampliam as possibilidades de aprendizagem”.

Com base nas reflexões desta autora, as adaptações curriculares podem

ser compreendidas como um processo de ajustes e tomada de decisões para

que alcancem as especificidades e demandas dos estudantes no tocante aos

diferentes modos de aprendizagem. Diante das amplas possibilidades de

adaptações está à necessidade do diálogo contínuo entre o professor e o

estudante com deficiência, em uma escuta sensível à condição do outro e à

disponibilização em tornar a aprendizagem acessível.

De acordo com Magalhães (2013), as adaptações curriculares são

consideradas não significativas quando demandam uma pequena alteração na

programação da aula. Isto ocorre quando há uma necessidade de adaptações

na organização espacial, didática, objetivos, conteúdos, técnicas e instrumentos

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de avaliação, de modo possam atender as especificidades dos estudantes com

deficiência, e assim, possibilitar o alcance da aprendizagem, não só para o

estudante com deficiência, mas para todos.

Já as adaptações curriculares consideradas adaptações significativas, de

acordo com Magalhães (2013, p.52), são aquelas modificações mais acentuadas,

“[...] mais drásticas no desenho curricular da aula, havendo a eliminação de

conteúdos lineares, adequando os objetivos da área e os respectivos critérios de

avaliação”. Há a eliminação de alguns objetivos básicos ou a introdução de

objetivos específicos alternativos, não previstos aos demais estudantes.

É importante ressaltar que as adaptações curriculares devem ser

pensadas para a promoção de aquisição de novos conhecimentos, de modo a

complementarem ou suplementarem os processos de aprendizagem. É

equivocado pensar em adaptação curricular sob um viés de facilitador dos

conteúdos, que não considere todas as etapas de desenvolvimento e

aprendizagem esperadas para um estudante em nível universitário. Esta visão

de adaptação curricular na promoção da facilidade não se adequa à perspectiva

real de inclusão, pois esta é imbuída de atitudes compensatórias e minimalistas

das potencialidades de estudantes com deficiência.

Outro desafio à prática pedagógica universitária diante da inclusão de

estudantes com deficiência são as estratégias e modelos de avaliação. Nesta

perspectiva, a avaliação da aprendizagem precisa exercer um papel formativo,

com o foco na formação integral dos estudantes durante o processo de ensino-

aprendizagem e na ressignificação da ação docente, fazendo uso de critérios e

procedimentos mais flexíveis, com vistas a obter resultados qualitativos da

aprendizagem. Sobre esta temática, Silva (2013) nos conduz a refletir que a

avaliação da aprendizagem

não é a reprodução de informações a identificação de acertos e de erros expressos em um sistema de notação e em uma visão linear e dicotômica de aprovar ou reprovar, mas o que o aluno acrescentou aos conhecimentos prévios e a forma como fez isso é que devem ser dignos de nota. (SILVA, 2013, p. 78)

Portanto, a ação avaliativa do processo de aprendizagem de estudantes

com deficiência não deve ser direcionada pelas possíveis limitações por essa

provocada no sujeito e/ou por visões equivocadas de incapacidade, admitidas

por parte de muitos professores. Deve ser, sim, uma ação direcionada às

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potencialidades de cada um, voltada à compreensão de como ocorreu a

aprendizagem e se a aquisição deste novo conhecimento alcançou os objetivos

traçados no início do processo.

Quando falamos de estudantes com deficiência, os elementos

norteadores referem-se à acessibilidade, adaptação de material e modos de

flexibilização dos modelos de avaliação, sem haver prejuízo dos objetivos dos

componentes curriculares, dos conteúdos e da formação do estudante. Podemos

exemplificar este processo desde a simples ampliação no tamanho de letras e

fontes para tornar exequível uma atividade avaliativa a estudantes com baixa

visão à flexibilização do tempo de realização de uma tarefa ou, até mesmo, na

utilização de instrumentos de tecnologia assistiva para a comunicação entre

professor e estudante, de modo que haja a compreensão e retorno de repostas

sob um olhar pedagógico voltado ao processo e não ao produto.

Para além dos processos de adaptações dos currículos e das práticas

docentes a partir da demanda específicas das pessoas com deficiência, se

apresentam os princípios do Desenho Universal para a Aprendizagem (DUA). O

campo acadêmico dos Disability Studies in Education (DSE) ou Estudos sobre

Deficiência na Educação (EDE), apresentam a como mais uma possibilidade no

processo de desenvolvimento de ambientes educacionais organizados para o

enfrentamento e a eliminação de barreiras na escolarização de todas as pessoas,

dentre elas aquelas com deficiência.

Os princípios e as três diretrizes principais do DUA, sendo eles: as

múltiplas formas de acesso à informação e conhecimento, isto é, o “o quê” da

aprendizagem; as várias maneiras de abordar tarefas estratégicas, isto é, o

“como” da aprendizagem; e as várias maneiras de tornar-se e permanecer

engajado no aprendizado, isto é, o “porquê” da aprendizagem (KEMPFER;

BOCK; GESSER; NUERNBERG, 2018).

O campo dos “Disability Studies in Education” (DSE) é relativamente

recente e tem se preocupado com a potencialização de espaços educacionais

mais acolhedores à variação funcional humana e, com isso, tem proporcionado

entendimentos e reflexões sobre a aprendizagem de estudantes com deficiência.

Pesquisadores como Baglieri et al. (2011), Barnes (2009), Collins (2013), Valle e

Connor (2014) compreendem que é por meio da transformação do ambiente

pedagógico, prioritariamente na eliminação de barreiras e na implementação de

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práticas colaborativas, que todos os estudantes podem ter acesso ao

conhecimento com participação, uma vez que, dessa forma, é possível

considerar a singularidade presente nos diferentes modos de aprender.

Os pesquisadores do DSE, fundamentados pelo modelo social de

deficiência, combatem a prática de adaptação curricular. O que se propõe é um

currículo adequado às variações das habilidades dos estudantes da sala de aula

qualificando o ensino para todos e, dessa maneira, apresentam o DUA em

diferentes pesquisas (BAGLIERI et al., 2011; LIASIDOU, 2014; VALLE;

CONNOR, 2014).

Pessoas com os mesmos diagnósticos de deficiência (nominado como

lesão) podem ter necessidades distintas em sua escolarização, quer seja na

metodologia, nas estratégias ou nos recursos a serem utilizados. Para os

estudiosos do DSE, ações que possibilitam o acesso e a participação efetiva de

pessoas com diferentes condições não podem ser propostas apenas sob a égide

de legislações, mas, sim, por compreender que são necessárias mudanças na

adoção de estratégias metodológicas para que elas estejam adequadas às

necessidades, às potencialidades, enfim, às características de cada pessoa.

Dessa maneira, acredita-se que as diretrizes e princípios do DUA, que

estão evidenciados nos estudos de distintos pesquisadores, a exemplo de Rao,

OK e Bryant (2014), Rose et al. (2006), Edyburn (2010), Cha e Ahn (2014), entre

outros, apresentam perspectivas que possibilitam minimizar as barreiras no

percurso acadêmico de estudantes com e sem deficiência, não hierarquizando

ou privilegiando um único modo de aprender e, com isso, criando ambientes de

aprendizagem flexíveis para estudantes e docentes.

Com base nos pressupostos do acesso universal como meta principal de

todos, o Desenho Universal (DU) nos contextos físicos, teve suas origens com

Ronald Mace, arquiteto e diretor do Centro sobre o Desenho Universal no North

Carolina State University (NCSU). Este pesquisador introduziu o Desenho

Universal (UD), em 1997, na concepção de produtos e de ambientes para que o

maior número de pessoas pudesse utilizá-los sem a necessidade de adaptações

(DALTON et al., 2011; KATZ, 2013; MCGHIE-RICHMOND; SUNG, 2013; RAO;

OK; BRYANT, 2014; WEBB; HOOVER, 2015; ZHONG, 2012).

Nas produções acadêmicas comumente, percebe-se a ampliação dessa

concepção nos produtos e nos ambientes físicos. No tocante aos aspectos

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educacionais os desdobramentos do DU. No entanto, alguns princípios e

diretrizes podem ser aplicados nos ambientes educacionais e nos contextos de

aprendizagem.

De acordo com Kempfer; Bock; Gesser; Nuernberg (2018) estas

perspectivas no campo da educação surgem como uma alternativa aos modelos

que pensam a inclusão a partir do diagnóstico da deficiência, rompem com a

ideia de um planejamento para a turma e outro para o estudante com deficiência,

ou, ainda, de que recursos acessíveis só precisam adentrar nos contextos pela

existência desse estudante.

O DUA amplia o entendimento para os processos pelos quais os

estudantes acessam o conhecimento, não somente vislumbrando recursos que

eliminem barreiras, mas pensando e projetando cursos e currículos adequados,

e, dessa maneira, não cabe falar de adaptação curricular. Essa é uma de suas

premissas: barreiras para aprendizagem ocorrem na intersecção com o currículo

(RAPPOLTSCHLICHTMANN et al., 2013).

O DUA tem se evidenciado como um grande aliado para desenhar

instruções de cursos, materiais e conteúdos, a fim de beneficiar as pessoas de

todos os estilos de aprendizagem, sem adaptação ou substituição de

equipamento (ZHONG, 2012). Complementarmente a essa ideia, é preciso

reforçar que o DUA não remove desafios acadêmicos, ele remove barreiras ao

seu acesso (NIELSEN, 2013).

A perspectiva do DUA está presente em normativas internacionais, tais

como: a Lei de Oportunidades do Ensino Superior de 2008 (HEOA) publicada

em 14 de agosto de 2008, nos Estados Unidos28. Define que o DUA deve ser

uma estrutura válida cientificamente para orientar a prática educacional (BLACK;

WEINBERG; BRODWIN, 2015). Na Lei Educacional para Indivíduos com

Deficiência (IDEIA) de 2004, a lei federal americana oferece um forte apoio para

inclusão de estudantes com deficiência nas escolas públicas dos Estados Unidos.

Nela determina-se que o Desenho Universal deverá ser utilizado como uma

intervenção para ajudar os estudantes com deficiência na sua participação no

currículo geral da educação da maneira mais plena possível (HINSHAW;

GUMUS, 2013; LAROCCO; WILKEN, 2013; KING-SEARS et al., 2015; WEBB;

28PUBLIC LAW 110–315. AUG. 14, 2008 - HEOA: https://www.govinfo.gov/content/pkg/PLAW-110publ315/pdf/PLAW-110publ315.pdf

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HOOVER, 2015). A legislação do Governo de Manitoba, província do Canadá,

adota o DUA afirmando a necessidade de as comunidades escolares, incluindo

professores, desenvolverem planos para a diversidade total da sua população

estudantil (KATZ, 2015).

A incorporação do DUA nas políticas da educação de modo mais amplo,

contrapõe-se ao modelo da inclusão a partir de legislações específicas. Nela se

estabelece uma proposta de uma escola acolhedora das diferentes expressões

do humano, nas quais se distingue daquela que emite rótulos para a inclusão a

partir de diagnósticos.

Realidades que incorporaram o DUA mostram-se mais satisfatórias na

participação, no envolvimento e no acesso à aprendizagem de estudantes.

Coyne et al. (2012) sugere que, de acordo com o objetivo de diminuir potenciais

barreiras à aprendizagem e aumentar as oportunidades de aprender, os

planejamentos a partir do DUA trazem melhores resultados de aprendizagem

para todos os indivíduos. Neste contexto, as políticas para minorias diferem de

uma política para todos, distanciando-se de uma perspectiva universal.

Fovet et al. (2014); Kumar e Wideman, (2014) pontuam que a partir da

aplicabilidade do DUA, os estudantes podem se sentir mais no controle de seu

próprio processo de aprendizagem e com possibilidade para fazer escolhas

pessoais que melhor apoiassem a sua própria aprendizagem, além da

identificação antecipada de barreiras e de proposições de facilitadores

minimizarem a necessidade dos chamados “serviços de apoio para inclusão” ou

serviços de acessibilidade educacional.

Independentemente de qual perspectiva possa direcionar a inclusão plena

e efetiva das pessoas com deficiência em todos os contextos de aprendizagem,

é premente que docentes e estudantes a percorrerem caminhos pedagógicos

mais atentos ao humano e às especificidades de cada sala de aula e de cada

estudante, como agentes ativos para desenvolvimento do saber e da criticidade.

Não podemos excluir o engajamento institucional em possibilitar a legitimidade

da formação docente através de programas e políticas que provoquem uma

mudança cultural na universidade frente os estudantes com deficiência.

A inclusão de estudantes com deficiência no ensino superior vem propor

novos olhares sobre o pensar e agir do professor no ato de planejar, ensinar,

aprender e avaliar o ensino universitário. E, dessa forma, compreender que “[...]

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ser professor obriga a opções constantes que cruzam a nossa maneira de ser

com a nossa maneira de ensinar, e que desvendam na maneira de ensinar a

nossa maneira de ser.” (NÓVOA, 1992, p.10).

Sob a perspectiva da inclusão de estudantes com deficiência na

universidade, a docência universitária precisa ser moldada, conforme apontam

Pires e Pires (2013), pelo compromisso ético do professor, respeitando a

integridade do estudante, cuidando do seu bem-estar acadêmico por meio de

uma aprendizagem atenta e cuidadosa, da compreensão e da aceitação do outro,

indo além de uma compreensão objetiva do conhecimento acadêmico, mas

alcançando uma compreensão subjetiva de cada estudante em suas

especificidades, considerando as suas vivências, sentimentos, objetivos e

dificuldades.

Neste sentido, a prática pedagógica, de acordo com Freire (1996) e Morin

(2004), deve ser vista como uma ação permeada de reflexão e criticidade, onde

se abre um canal de mediação entre professor e estudante, permitindo-os

mutuamente aprender a ser, a conhecer e a conviver sob uma perspectiva do

humano, considerando as especificidades de cada um, assim como os modos e

diferentes ritmos de aprendizagens.

Para Nóvoa (1995), a diversidade e as novas configurações sociais e

culturais que permeiam o papel da universidade conduzem os professores a

reencontrar novos valores, que permitam atribuir um sentido à ação docente,

precisando edificar novas normas de funcionamento e regulações profissionais.

Logo, a ação docente é permeada de novos saberes e práticas educacionais,

necessitando romper com um modelo socialmente construído de ensino superior,

o qual foi direcionado historicamente para ações educacionais universitárias a

um grupo de elite, de destacado sucesso social, com raça e credo únicos.

Coadunamo-nos com Silva (2013) quando pontua que

o trabalho educativo em uma perspectiva inclusiva requer do educador uma mudança de postura pedagógica, reformulação de práticas pedagógicas excludentes, pré-disposição para a aprendizagem, formação permanente e o exercício de pensar criticamente a própria prática. (SILVA, 2013, p.62)

Diante das novas configurações sociais, a Universidade precisa se refazer

em novos saberes e novos modos de ação formativa do professor, ampliando o

olhar da sociedade para as especificidades e necessidades de cada sujeito.

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Assim, envolvido neste processo, o docente universitário deve compreender o

seu lugar na articulação entre os princípios éticos, políticos e filosóficos que

envolvam a ação educativa norteada pela perspectiva de diversidade humana.

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5 A INCLUSÃO DE ESTUDANTES COM DEFICIÊNCIA NA UFRN: PROCESSO

DE CONQUISTAS E DESAFIOS

Ao discutir o entrelaçamento político e pedagógico para a promoção da

Inclusão de pessoas com deficiência na Universidade Federal do Rio Grande do

Norte (UFRN) se configura necessário que situemos o contexto histórico e social

desta universidade, como tem ocorrido o processo de inclusão do estudante com

deficiência e a interface com a formação continuada.

A Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, é uma instituição

de caráter público, organizada sob a forma de autarquia de regime especial e

mantida pelo Ministério da Educação. Criada pela Lei Estadual nº 2.307, de 25

de junho de 1958, a Universidade foi federalizada pela Lei nº 3.849, de 18 de

dezembro de 1960, com plano de reestruturação aprovado pelo Decreto nº

62.091, de 09 de janeiro de 1968, modificado pelo Decreto nº 74.211, de 24 de

junho de 1974.

A UFRN conta com quatro campi, o campus central localizado na cidade

de Natal/RN e os três campi do interior do Estado localizados nas cidades de

Santa Cruz, Currais Novos e Caicó. Atualmente, a UFRN oferece à

comunidade29 102 cursos de graduação presencial, 10 cursos de graduação à

distância, 111 cursos de pós-graduação de stricto sensu e 134 cursos de pós-

graduação de lato sensu.

A comunidade acadêmica é formada por 41.986 estudantes, destes são

39.047 estudantes da graduação e pós-graduação; 3.146 servidores técnico-

administrativos e 2.176 docentes efetivos, além dos professores substitutos e

visitantes.

Ao longo do tempo e considerando seu complexo sistema de ensino, a

UFRN tem galgado degraus rumo à inclusão de pessoas com deficiência em seu

corpo discente, docente e de servidores técnicos. Em pesquisas realizadas

sobre a temática da inclusão de estudantes com deficiência na UFRN, Fortes

(2005), Albino (2010), Guimarães (2011), Melo (2011), Santos (2012), Saraiva

(2015), Bezerra (2016), Medeiros (2016) e Martins (2016) revelaram que a

instituição tem caminhado diante da abertura de oportunidades ao ingresso e

29Informações obtidas no portal da UFRN: Documento UFRN em Números https://www.ufrn.br/resources/documentos/ufrnemnumeros/UFRN-em-Numeros-2014-2018.pdf

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permanência da pessoa com deficiência.

Estes estudos apontaram dificuldades relacionadas aos processos de

ingresso através do vestibular, acessibilidade física, adaptação de materiais,

necessidade de formação de professores para lidar com o estudante com

deficiência e a existência de barreiras atitudinais em vivências entre pares em

sala de aula. No entanto, indicaram caminhos para o aperfeiçoamento

institucional, visando à promoção da inclusão dos estudantes com deficiência,

sugerindo a elaboração de políticas institucionais que garantam os direitos

destes estudantes, viabilização de serviços que apoiem as práticas educacionais

inclusivas e a necessidade de formação a toda comunidade universitária sobre

esta temática.

Coadunando-se com o curso indicativo destas pesquisas, em

corroboração às perspectivas políticas nacionais, a Universidade Federal do Rio

Grande do Norte (UFRN) tem buscado ao longo dos anos ampliar efetivamente

a participação dos estudantes com deficiência no ensino superior. Destaca-se

em seus documentos o compromisso com a sociedade ao adotar uma política

institucional que privilegia a inserção social como uma de suas políticas

estruturantes.

A inclusão de estudantes com Necessidades Educacionais Especiais

(NEE) na UFRN compõem a Política de Desenvolvimento Institucional – PDI

(2010-2019) em resposta aos dispositivos legais no contexto brasileiro.

No Plano de Desenvolvimento Institucional 2010 - 2019 da UFRN, há o

destaque para ações inclusivas institucionais que visam

eliminar toda e qualquer forma de barreira (seja ela pedagógica, ambiental, atitudinal, comunicacional, entre outras) tem sido uma ação permanente da instituição em prol da criação de uma cultura de respeito à diversidade, garantindo as condições de acessibilidade, de tecnologias apropriadas e de recursos humanos qualificados, de tal forma que possibilitem a construção de um modelo de política educacional inclusiva que atenda às necessidades educacionais especiais dos estudantes que demandarem por apoios específicos em sua formação acadêmica. (UFRN, 2010, p. 70)

A articulação da UFRN com o processo educacional inclusivo perpassou

a produção de conhecimento científico. Destacamos neste processo, a criação

da base de pesquisa sobre Educação de Pessoas com Necessidades

Educacionais Especiais, iniciativa que trouxe à instituição colaborações de

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pesquisas na área da Educação Especial, consequentemente na área da

Inclusão no Ensino Superior.

Outro marco importante para a instituição foi a ação da Pró-Reitoria de

Graduação junto à COMPERVE (Comissão Permanente de Vestibular) para

atender às prerrogativas do Decreto nº. 3.298/99, com o objetivo oferecer

adaptações de provas e os apoios necessários aos candidatos com deficiência.

Por conseguinte, foram criadas comissões para organizar a política de

inclusão da UFRN que apresentaram desdobramentos na elaboração de

documentos importantes como a Portaria Nº 203/10, ao instituir Comissão

Permanente de Apoio ao Estudante com Necessidades Educacionais Especiais

– CAENE; a Resolução N°193/2010 CONSEPE, que dispõe sobre o atendimento

educacional a estudantes com NEE na UFRN; a elaboração de um capítulo

específico sobre atendimento às pessoas com NEE no Plano de

Desenvolvimento Institucional 2010 – 2019 e a inserção no Regulamento dos

Cursos de Graduação (RESOLUÇÃO Nº 171/2013-CONSEPE), assegurando no

Art. 335 direitos como:

I – atendimento educacional condizente com suas necessidades educacionais especiais; II – mediadores para a compreensão da escrita e da fala nas atividades acadêmicas; III – adaptação do material pedagógico e dos equipamentos; IV – metodologia de ensino adaptada; V – formas adaptadas de avaliação do rendimento acadêmico e de correção dos instrumentos de avaliação, de acordo com a NEE; VI – tempo adicional de 50% (cinquenta por cento) para a realização das atividades de avaliação que tem duração limitada, conforme a NEE apresentada; VII – possibilidade de solicitação de mudança de curso, em área afim, em caso de aquisição de deficiência permanente após o ingresso na universidade que inviabilize sua permanência no curso de origem, a ser analisada pela Câmara de Graduação após parecer favorável da CAENE. (UFRN, 2013).

Devem-se destacar, também, as seguintes ações: criação do website da

CAENE30 ; a realização de eventos nacionais e locais sobre a temática da

Educação Especial; publicações acadêmicas e orientadoras; aprovação de três

projetos institucionais junto ao MEC – Programa Incluir; a criação do Laboratório

de Acessibilidade, espaço que visa democratizar, garantir o acesso à informação

30 www.caene.ufrn.br

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e contribuir para o aumento no desempenho das atividades acadêmicas através

da disponibilização de equipamentos de tecnologia assistida, como

computadores, scanners, impressoras e softwares voltados para estudantes com

NEE; a abertura de processo seletivo para a concessão de Bolsa de Tutoria

Inclusiva31, através dos editais nº 002/2014; nº 001/2016 a abertura do edital n°

163/2014 sobre a oferta de ‘Bolsa Acessibilidade32’, sendo reeditado nos anos 4

anos seguintes, o qual prevê a concessão de bolsas destinadas aos estudantes

com deficiência de graduação presencial da UFRN, que se encontram em

condições de vulnerabilidade socioeconômica.

De acordo com Melo (2014), o trabalho realizado pela CAENE tem como

finalidade a garantia dos direitos, bem como o estímulo à reivindicação por

justiça social e direitos de cidadania por parte da população de estudantes com

NEE. As ações deste núcleo buscam propiciar e assegurar condições de

igualdade para os estudantes com NEE através da consolidação de redes de

apoio e serviço institucional e da garantia de práticas cidadãs na comunidade

universitária. Propõe ações para a eliminação de barreiras arquitetônicas,

atitudinais, pedagógicas e de comunicação na UFRN, visando garantir o acesso,

a permanência e a conclusão do curso, com sucesso, pelos estudantes com

NEE.

Ao longo dos últimos oito anos (março de 2010 a dezembro de 201833), a

CAENE tem buscado construir, articular e sedimentar ações voltadas para a

garantia das condições de acessibilidade visando o atendimento do estudante

com NEE, especificamente, daquele na condição de pessoa com deficiência na

UFRN.

Em consonância com as diretrizes políticas educacionais nacionais a

UFRN tem redimensionado ações que fortalecem responsabilidade social da

UFRN em relação à inclusão dos discentes com NEE. Em 28 de dezembro de

31 O Programa de Tutoria Inclusiva visa acompanhar e apoiar nos aspectos acadêmicos e sociais os estudantes com Necessidades Educacionais Especiais através da mediação pedagógica no modelo de tutoria de pares, envolvendo estudantes de diversas áreas, com e sem deficiência. 32 O Programa Bolsa Acessibilidade atende aos estudantes com deficiência e que apresentam situação de vulnerabilidade econômica visando promover a acessibilidade, permanência e conclusão do curso em formação acadêmica com qualidade. Realiza ações de incentivo ao empoderamento social e fortalecimento do grupo de estudantes com deficiência na Universidade. 33 Os dados referentes aos estudantes com NEE e ações da CAENE estão referenciados até o ano de 2018, pois os dados quantitativos somente são divulgados ao final de cada ano letivo por meio de Relatório de Gestão.

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2016 foi sancionada a Lei Nº 13.409 (BRASIL, 2016), que altera a Lei Nº 12.711,

de 29 de agosto de 2012, dispondo sobre a reserva de vagas para pessoas com

deficiência, nos cursos técnicos de nível médio e superiores das instituições

federais de ensino. Desse modo, incluem-se as pessoas com deficiência na

reserva das vagas e institui-se o prazo de dez anos para a revisão do programa

especial de acesso às instituições de educação superior para estudantes pretos,

pardos e indígenas e pessoas com deficiência, bem como aquelas que cursam

integralmente o ensino médio em escolas públicas.

Tal legislação trouxe desafios ao contexto da política de inclusão de

estudantes com NEE na UFRN, repercutindo na necessidade de ações de

reestruturação do setor, pautadas em dois eixos propostos no planejamento

estratégico da CAENE: igualdade de condições e acessibilidade para pessoas

com deficiência e outras NEEs (atendimento de excelência) e a formação de

pessoas na UFRN para a disseminação e fortalecimento das políticas

institucionais de inclusão (formação continuada ou permanente).

Percebe-se o alinhamento da Política de Inclusão da UFRN à Meta I do

PDI 2010-2019, que versa sobre a “elevação da taxa de conclusão média dos

cursos de graduação em 12,9%, passando de 62% em 2014 para 70% em 2019”

(UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE, 2015, p. 5). Mais

especificamente, consideramos que estão alinhados às estratégias de promoção

de capacitação e atualização docente e de suporte acadêmico e social para os

estudantes com NEE acompanhados pela CAENE, com vistas a evitar sua

retenção e evasão no ensino superior.

O trabalho de acompanhamento educacional ao estudante com NEE

passou a ser institucionalizado a partir da criação da CAENE, em 2010, que vem

ao longo dos anos trabalhando pela ampliação dos serviços. Atualmente, a

equipe é composta por: 2 (dois) docentes, presidente e vice-presidente, na

função de gestão das ações de articulação institucional nas áreas da Pesquisa,

Ensino e Extensão; equipe técnico-educacional, composta por 8 (oito)

pedagogas, 2 (duas) psicólogas, 2 (duas) assistentes sociais, 13 (treze)

intérpretes de LIBRAS e 1 (um) servidor técnico-administrativo. Também fazem

parte da referida comissão outros servidores técnicos que atuam no Laboratório

de Acessibilidade, lotados na Biblioteca Central Zila Mamede – BCZM e na

Secretaria de Infraestrutura: 2 (duas) bibliotecárias, 1 (um) revisor Braille, 1

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(uma) designer gráfica; Além disso, o trabalho realizado pela CAENE conta com

71 estudantes bolsistas, os quais fazem parte da Bolsa Acessibilidade (40);

Apoio Técnico para desenvolver a adaptação e revisão de materiais acessíveis

e atividades de ordem administrativo (12); Bolsa Tutoria Inclusiva (19).

A partir de dados obtidos nos arquivos físicos e digitais da CAENE ainda

com base em dados apresentados pelo Sistema Integrado de Gestão de

Atividades Acadêmica - SIGAA, entre os anos de 2010 a 201834 a CAENE

recebeu um total de 915 solicitações de apoio de estudantes de todos os níveis

de ensino. Vale salientar que, desse total de 915 solicitações, 34 foram

realizadas antes da implantação do sistema de solicitação via SIGAA, constando

o registro de 881 estudantes no módulo NEE do SIGAA, e os demais nos

registros internos da CAENE. Destas 915 solicitações, 379 correspondem a

estudantes ativos em novembro de 2018 na CAENE, sendo 218 em atendimento

e 161 em processo de avaliação.

Gráfico 3: Quantitativo de solicitações de apoio de estudantes com NEE á

CAENE no período de 2010 a 2018

Fonte: Relatório de Gestão 2018 CAENE - UFRN

Os registros institucionais aos quais tivemos acesso para esta pesquisa

apresentam o quantitativo de estudantes com deficiência na UFRN a partir de

2010, ano de criação da CAENE e institucionalização do serviço de apoio. No

entanto, ressaltamos que o ingresso de estudantes com deficiência na instituição

é anterior ao ano de 2010. Há registros de que os primeiros ingressos de

34 Os dados institucionais são emitidos por meio de Relatório de Gestão elaborado ao final de cada ano

letivo. Desta feita o último Relatório de Gestão foi elaborado em dezembro de 2018, sendo estes os dados

quantitativos mais atualizados que tivemos acesso durante a elaboração desta pesquisa.

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estudantes com deficiência datam do final da década de 1990 ao ano 2000.

Ressaltamos que a entrada destes estudantes através do vestibular, nesta

época, foi elemento fundamental para o início das discussões institucionais a

respeito da reestruturação da universidade à elaboração de serviços e políticas

internas que pudessem garantir o acesso e a permanência, com qualidade,

destes estudantes.

Esclarecemos também que os dados quantitativos se referem aos

estudantes que solicitaram o acompanhamento da CAENE, ao longo dos anos,

e não do quantitativo geral de estudantes com NEE na UFRN. Atualmente,

encontra-se em estudo a possibilidade da realização de um censo estudantil para

que se possa conhecer a realidade institucional mais aproximada, pois se

acredita ser este número muito maior, tendo em vista que a solicitação de

acompanhamento à CAENE se dá de modo facultativo e a partir das

especificidades de cada estudante. Assim, acreditamos que pode haver

estudantes com deficiência na UFRN que não solicitaram o apoio da CAENE,

por considerarem que diante de sua condição não demandam adaptações e

acompanhamento acadêmico ou por desconhecimento deste serviço de apoio.

O gráfico nos apresenta o significativo crescimento da quantidade de

estudantes com deficiência acompanhados pela CAENE entre os anos de 2010

e 2018. Isto nos faz refletir sobre a ampliação do acesso do alunado com

deficiência no Ensino Superior e sobre o aumento e consolidação dos serviços

de apoio institucionais na UFRN aos estudantes com deficiência.

Destacamos o salto quantitativo de estudantes em 2017 para 2018

apresentado no gráfico 03. Este salto quantitativo pode ser compreendido como

resposta a implementação da política de reserva de vagas para candidatos com

deficiência, instituída pela Lei 13.409/2016, e adotada no Sistema de Seleção

Unificada (SiSu) 2018 e nos demais processos seletivos vestibulares da UFRN,

à saber: Processo Seletivo Vestibular para cursos de graduação à distância e

Processo Seletivo Vestibular para o curso de Letras LIBRAS.

Diante deste vasto quantitativo de estudantes acompanhados pela

CAENE, se faz necessário conhecermos as especificidades relativas as

diferentes condições de deficiências e ou NEE que apresentam. Vejamos o

quadro 6:

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Quadro 6: Comparativo 2016/2017 de estudantes com NEE atendidos pela

CAENE, por tipo de NEE.

Tipo de NEE 2017 2018 Comparativo

(%)

Altas Habilidades/Superdotação 2 1 -50%

Deficiência Auditiva 15 19 27%

Surdez 16 11 -31%

Deficiência Física 25 63 152%

Deficiência Intelectual 11 9 -18%

Deficiência Múltipla 4 4 0%

Deficiência visual - baixa visão 29 52 79%

Deficiência visual - cegueira 2 7 250%

Outras necessidades 104 132 27%

Transtorno do Espectro Autista 9 14 56%

TDA/H 27 42 56%

Transtorno Específico de

Aprendizagem 26 25 -4%

Total 270 379 40%

Fonte: Relatório de Gestão 2018 CAENE - UFRN

Discutir o acesso e permanência dos estudantes com deficiência na

UFRN nos remete a uma reflexão sobre as condições de NEE apresentadas e o

modo diverso que estas condições se apresentam na fase adulta. A Política

Nacional da Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (2008)

define como público-alvo da Educação Especial os estudantes s com deficiência

física, auditiva e visual; transtornos globais do desenvolvimento; e, altas

habilidades/superdotação.

No entanto, para a definição do público atendido pela CAENE são

consideradas as condições de necessidades educacionais específicas dos

estudantes, permanentes ou transitórias, que estejam implicadas ao campo

educacional, interferindo diretamente no processo de ensino-aprendizagem e

rendimento acadêmico. O que demanda orientações pedagógicas e mediação

específica a cada caso, justificando o acompanhamento da equipe técnico

educacional.

Referimos às condições de necessidades educacionais específicas que

demandam este tipo de atendimento e orientações didático-pedagógicas.

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Destes, podem ser citados os transtornos funcionais específicos de

aprendizagem, tais como: dislexia, discalculia, disortografia, disgrafia e

transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDA/H). E, ainda, casos de

estudantes com doenças crônicas como câncer com presença tumor cerebral,

que afeta o funcionamento cognitivo e neurológico, narcolepsia, doença renal

crônica, artrite reumatoide grave, entre outras. Além destes, também há casos

relacionados à condição de saúde mental tais como: depressão, fobia social,

esquizofrenia, transtorno de pânico, entre outros. Para estes casos, a depender

da condição de saúde do estudante, é realizado encaminhamento para

acompanhamento clínico externo a CAENE e internamente é realizado um

trabalho no campo educacional com orientações acadêmicas diante de cada

quadro específico.

No tocante aos estudantes acompanhados pela CAENE, é importante

ressaltar que no tocante aos estudantes com deficiência intelectual, destacamos

que a presença destes na UFRN está no colégio de aplicação (NEI Cap/UFRN)

fazendo parte da Educação Infantil e do Ensino Fundamental. No Ensino

Superior desta universidade, ainda não consta a presença de estudantes com

deficiência intelectual causada por síndromes. Há apenas os registros de

estudantes que sofreram acidentes com perda de massa crânio-encefálica ou

lesões cerebrais, que resultaram na alteração do desempenho cerebral,

interferindo no processo neurológico e cognitivo, o que não caracteriza

deficiência intelectual.

Vale salientar que, dentre os 379 estudantes, 14 estão matriculados na

Educação Básica (sendo 9 na educação infantil e 5 no ensino fundamental), 19

no Ensino Médio/Técnico, 333 na Graduação, 4 na pós-graduação lato sensu e

9 na pós-graduação stricto sensu, conforme Gráfico 4 a seguir.

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Gráfico 4: Quantitativo de estudantes ativos na CAENE ao final de 2018 por nível

de ensino.

Fonte: Relatório de Gestão 2018 CAENE - UFRN

No gráfico acima percebemos a presença maior de estudantes com

deficiência na graduação e nos cursos de Ensino Técnico, seguidos pela

presença de estudantes com deficiência no Colégio de Aplicação (Núcleo de

Educação da Infância – NEI/Cap UFRN), abrangendo a educação infantil e

fundamental. Os cursos em stricto sensu e lato sensu também contam com a

presença de estudantes com NEE, destacando-se o nível de Mestrado com

maior presença. Os cursos de formação complementar dizem respeito aos

cursos de línguas e outros cursos institucionais oferecidos à comunidade

universitária.

No tocante à modalidade de ensino, foi identificada a presença de 14

estudantes matriculados no ensino à distância, 365 na modalidade presencial,

conforme pode ser visto no gráfico 5, ilustrado abaixo.

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Gráfico 5: Quantitativo de estudantes ativos na CAENE ao final de 2018 por

modalidade de ensino.

Fonte: Relatório de Gestão 2018 CAENE - UFRN

Os estudantes com NEE estão inseridos em diferentes centros

acadêmicos de acordo com o curso matriculado na UFRN. Destaca-se que, em

2018, dos 379 estudantes, 327 (86%) estavam matriculados em cursos do

Campus Central, 23 (6%) estão matriculados no CERES (sendo 14 em Caicó e

9 em Currais Novos), 12 (3%) na Escola Agrícola de Jundiaí e 12 (3%) na

Faculdade de Ciências da Saúde do Trairi.

Os dados mostram que houve crescimento relativo a 2017 no número de

estudantes atendidos no Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA) (158%),

no Centro de Tecnologia (CT) (100%), na Escola de Ciência e Tecnologia (ECT)

(35%), na Faculdade de Ciências da Saúde do Trairi (FACISA) (100%), no Centro

de Ciências Exatas e da Terra (CCET) (20%), no Centro de Ciências da Saúde

(CCS) (62%), na Escola Agrícola de Jundiaí (EAJ) (20%), na Escola de Música

(EMUFRN) (150%), na Escola de Saúde (ESAÚDE) (167%), no Centro de

Biociências (CB) (77%), no Centro de Ensino Superior do Seridó (CERES)

(15%), no Instituto Metrópole Digital (IMD) (200%) e na Escola Multicampi de

Ciências Médicas (EMCM) (100%).

No Centro de Educação, no Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes

e no Núcleo de Educação da Infância, houve diminuição no número de

estudantes em acompanhamento ao final do ano. No Hospital Universitário Ana

Bezerra, o número de estudantes em acompanhamento ao final do ano não

sofreu variações entre 2017 e 2018. Vejamos estes dados exemplificados no

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quadro abaixo.

Quadro 7: Quantitativo de estudantes com NEE atendidos pela CAENE, em 2017

e 2018, por Centro/Unidade Acadêmica Especializada e Curso.

CENTRO / CURSO TOTAL 2017

TOTAL 2018 COMPARATIVO (%)

CENTRO DE EDUCAÇÃO - CE 11 10 -9%

Pedagogia 06 07 17%

Pedagogia EAD 01 01 0%

Mestrado em Educação 02 01 -50%

Doutorado em Educação 02 01 -50%

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS - CCSA

19 49 158%

Administração 03 12 300%

Administração Pública - EAD 04 04 0%

Biblioteconomia 03 05 67%

Ciências Contábeis 03 07 133%

Ciências Econômicas 02 03 50%

Direito 00 10 -

Serviço Social 03 06 100%

Mestrado em Economia 01 01 0%

Especialização em Gestão Documental

00 01 -

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES -

CCHLA 68 64 -6%

Curso de Língua Francesa Básico 01 00 -100%

Artes Visuais 05 04 -20%

Ciências Sociais 05 04 -20%

Comunicação Social 07 05 -29%

Dança 01 01 0%

Design 01 00 -100%

Filosofia 01 01 0%

Geografia 01 02 100%

Geografia EAD 00 01 -

Gestão de Políticas Públicas 01 01 0%

História 04 05 25%

História – EAD 02 02 0%

Letras 29 26 -10%

Letras-EAD 02 01 -50%

Psicologia 01 03 200%

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Teatro 05 04 -20%

Especialização em Dança/Artes 00 01 -

Mestrado em Ciências Sociais 02 01 -50%

Mestrado em Dança 00 01 -

Mestrado em História 00 01 -

CENTRO DE TECNOLOGIA - CT 20 40 100%

Arquitetura e Urbanismo 03 05 67%

Engenharia Biomédica 01 01 0%

Engenharia Civil 01 11 1000%

Engenharia da Computação 01 01 0%

Engenharia de Alimentos 03 03 0%

Engenharia de Produção 04 06 50%

Engenharia Elétrica 03 07 133%

Engenharia Mecânica 03 03 0%

Engenharia Mecatrônica 00 01 -

Engenharia Química 00 01 -

Engenharia Têxtil 01 01 0%

ESCOLA DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA - ECT

23 31 35%

Ciências e Tecnologia 23 31 35%

FACISA 06 12 100%

Enfermagem 00 01 -

Fisioterapia 04 04 0%

Nutrição 02 05 150%

Psicologia 00 02 -

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA - CCET

15 18 20%

Ciência da Computação 01 02 100%

Estatística 00 01 -

Física 02 01 -50%

Física - EAD 01 00 -100%

Geofísica 01 02 100%

Geologia 02 02 0%

Matemática 03 04 33%

Matemática-EAD 01 01 0%

Química 03 02 -33%

Química-EAD 01 01 0%

Mestrado em Sistemas e Computação

00 01 -

Doutorado em Ciência e Engenharia de Materiais

00 01 -

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE - CCS

29 47 62%

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Educação Física 01 02 100%

Educação Física-EAD 03 03 0%

Enfermagem 04 04 0%

Farmácia 08 12 50%

Fisioterapia 01 02 100%

Fonoaudiologia 03 07 133%

Gestão em Sistemas e Serviços de Saúde (Saúde Coletiva)

01 00 -100%

Medicina 05 10 100%

Nutrição 00 02 -

Odontologia 03 05 67%

ESCOLA AGRICOLA DE JUNDIAÍ - EAJ

10 12 20%

Curso Técnico em Aquicultura Subsequente

00 01 -

Curso Técnico em Aquicultura Correspondente ao Ensino Médio

00 01 -

Curto Técnico em Agropecuária Subsequente

02 00 -100%

Curso Técnico em Informática Correspondente ao Ensino Médio

01 01 0%

Curso Técnico em Agroindústria Correspondente ao Ensino Médio

02 02 0%

Curso Técnico em Modelagem do Vestuário - Mediotec

00 01 -

Análise e Desenvolvimento de Sistemas

01 01 0%

Engenharia Agronômica 01 03 200%

Zootecnia 03 02 -33%

ESCOLA DE MÚSICA – EMUFRN 02 05 150%

Licenciatura em Música 01 03 200%

Cursos Técnicos em Música 01 02 100%

ESCOLA DE SAÚDE 03 08 167%

Curso Técnico em Enfermagem 01 01 0%

Curso Técnico em Massoterapia 00 04 -

Curso Técnico em Registros e Informações em Saúde

00 01 -

Curso Técnico em Vigilância em Saúde

02 01 -50%

Graduação Tecnológica em Gestão Hospitalar

00 01 -

CENTRO DE BIOCIÊNCIAS - CB 13 23 77%

Biomedicina 03 06 100%

Ciências Biológicas 06 10 67%

Ecologia 04 06 50%

Mestrado em Biologia Parasitária 00 01 -

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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ –

CERES 20 23 15%

Administração – Currais Novos 04 04 0%

Direito - Caicó 03 06 100%

Geografia - Caicó 00 02 -

História - Caicó 04 01 -75%

Letras – Currais Novos 04 04 0%

Matemática - Caicó 01 01 0%

Pedagogia - Caicó 02 03 50%

Sistemas de Informação - Caicó 02 01 -50%

Turismo - Currais Novos 00 01 -

INSTITUTO METROPOLE DIGITAL – IMD

06 18 200%

Curso Técnico Metrópole Digital 02 04 100%

Tecnologia da informação 04 13 225%

Mestrado Profissional em Inovação em Tecnologias

Assistivas 00 01 -

NÚCLEO DE EDUCAÇÃO INFANTIL - NEI

22 14 -36%

Educação Infantil 12 9 -25%

Ensino Fundamental 10 5 -50%

ESCOLA MULTICAMPI DE CIÊNCIAS MÉDICAS

02 04 100%

Medicina - Caicó 02 04 100%

HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ANA BEZERRA - HUAB

01 01 0%

Residência Médica em Pediatria 01 01 0%

Total 270 379 40%

Fonte: Relatório de Gestão da CAENE 2018 **Somatório da quantidade de alunos por centro/unidade acadêmica.

Diante destes dados quantitativos, sobre o aumento no acesso dos

estudantes com deficiência e o modo com qual eles vêm sendo representados

em diferentes centros acadêmicos e modalidades de ensino é necessário refletir

sobre a permanência e a conclusão dos cursos com êxito acadêmico. Êxito este,

convertido na conquista da dignidade, cidadania e autonomia no qual cada

estudante deva alcançar ao cursar e concluir um curso de Ensino Superior.

Ao referenciarmos o quadro acima, é perceptível que o aumento na

presença dos estudantes com deficiência é cada vez maior em todos as áreas

do conhecimento. Sendo em alguns cursos percebidos aumentos de 100% entre

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os anos de 2017 para 2018. Fato este que se configura como avanço, ao

comparamos com os achados de Moreira (2005), os quais apontaram em estudo

realizados junto a estudantes com deficiência há 14 anos que a maior

concentração na presença dos estudantes com deficiência se configurava nas

áreas humanísticas. Esta se apresenta uma interessante abertura de novas

possibilidades para formação em nível superior das pessoas com deficiência.

Entendemos que as políticas para a ampliação e democratização do

ensino superior contribuíram para o acesso à universidade, assim como os

avanços das tecnologias assistivas e a adequação dos espaços de estudos e

laborais favoreceram a inclusão de pessoas com deficiência na formação em

nível superior e no mundo do trabalho, em qualquer área do conhecimento.

Ao mesmo tempo, é necessário refletir sobre as possíveis questões que

provocam a evasão de estudantes com NEE na UFRN, o que nos leva a

compreender que pode ser motivada por diversas razões relacionadas à escolha

por outras áreas de estudo, desistências devido a dificuldades ligadas à condição

social e econômica, dentre outras questões pessoais. No entanto, não devemos

fechar os olhos às barreiras urbanísticas, arquitetônicas, atitudinais,

comunicacionais e tecnológicas que se apresentam em nossa sociedade e na

própria universidade, como elementos de desmotivação e até impedimento para

a continuidade dos estudos. Diante desta questão é necessária uma reflexão a

respeito das necessidades de aperfeiçoamento constante dos serviços de apoio

ao estudante com NEE, para que promover a diminuição das possibilidades da

evasão.

Aos 379 estudantes ativos e em acompanhamento pela CAENE, estão

postas as necessidades de continuidade e aprimoramento dos serviços

institucionais, que possam garantir aos estudantes direitos à permanência e à

conclusão de seus cursos com sucesso.

Com vistas à articulação institucional para a promoção da permanência

estudantil, o acompanhamento educacional aos estudantes com NEE, realizado

pela CAENE, ocorre através de:

• orientações ao estudante com NEE, coordenação do curso e aos

docentes sobre adaptações didático-pedagógica e organização de

componentes curriculares conforme as especificidades de cada

estudante;

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• planejamento de estratégias de ensino-aprendizagem junto ao estudante

com NEE;

• encaminhamentos para atendimentos clínicos ou departamentos de

apoios institucionais, a depender das demandas;

• empréstimos de recursos e materiais e/ou equipamentos para atividades

acadêmicas;

• adaptação de material pedagógico acessível (Braille, fonte ampliada,

digitalizado, MP3 etc.), junto ao Laboratório de Acessibilidade;

• treinamento para uso de Tecnologia Assistiva;

• orientação e mobilidade para estudantes com deficiência visual;

• disponibilização de intérprete de LIBRAS para acompanhamento nos

diversos espaços da Universidade;

Outra frente de ação da CAENE é a formação permanente da comunidade

universitária a respeito da temática da inclusão no contexto universitário. Esta

atuação se fez presente como um dos elementos estruturantes do planejamento

institucional da CAENE, elaborado entre a CAENE e a Pró-reitora de Gestão de

Pessoas (PROGESP), visando traçar metas e estratégias ao trabalho

desenvolvido. Definido, como um dos macroobjetivos, a “Formação

Permanente”, contempla: na ação 1, Formação continuada para servidores

técnicos e docentes da UFRN sobre inclusão e acessibilidade; na ação 2,

Formação continuada por demanda específica a cada Centro a acadêmico e

curso. Este macroobjetivo seria desenvolvido mais uma vez a partir das parcerias

institucionais já estabelecidas junto a PROGRAD, PROGESP, SEDIS, CCEP,

dentre outros.

As capacitações de servidores docentes e técnico-administrativos

realizadas pela CAENE em grande parte contaram com a parceria da

PROGRAD, por meio do Programa de Atualização Pedagógica – PAP e da

PROGESP através da Divisão de Desenvolvimento de Pessoas, além das

demandas específicas solicitadas pelas diversas instâncias para ações

formativas nos fórum de coordenadores de cursos e diretores de centros

acadêmicos (promovidos pela PROGRAD); Seminário de Integração de

Servidores; reuniões plenárias de centros, departamento e cursos de graduação;

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Seminários de Integração de estudantes ingressos; Semanas pedagógicas dos

cursos de graduação; Superintendências de infraestrutura e de informática, Pró-

reitoria de Pós-Graduação - PPG, SEDIS, Escola de Música, Centro de

Educação, entre outros setores da UFRN. Estas ações foram registradas

institucionalmente, em sua maioria, como projetos de extensão em diferentes

modalidades de eventos a depender do teor e da proposta de capacitação

(curso, oficina, seminário, palestra, minicurso, evento, etc.)

A partir da implementação da Lei Nº 13.409, de 28 de dezembro de 2016,

a UFRN passou a realizar as bancas de validação para candidatos que

concorrem às cotas para pessoas com deficiência. Estas bancas foram previstas

nos editais de seleção para cursos técnicos e de graduação, nas quais os

candidatos às vagas reservadas deveriam comprovar a condição de deficiência

antes do cadastramento, por meio da apresentação de documentação própria e

comprobatória da condição de deficiência, a ser verificada por banca

multidisciplinar, composta por profissionais das áreas da saúde, educação

especial/inclusiva e psicossocial.

As experiências nas bancas de validação, tem mobilizado grande esforço

institucional que mais uma vez contou com a participação de diversos setores,

tais como a CAENE, PROGRAD, Hospitais Universitários, assessoria jurídica da

Universidade, entre outros.

Destacamos que em 2018 a CAENE participou de bancas dos seguintes

processos seletivos:

1. Processo Seletivo para ingresso nos cursos técnicos da Escola de Saúde;

2. Processo Seletivo para ingresso nos cursos técnicos do Instituto

Metrópole Digital;

3. Processo Seletivo para ingresso nos cursos técnicos da Escola Agrícola

de Jundiaí;

4. Processo Seletivo para ingresso nos cursos de graduação da UFRN

através do SISU;

A temática das cotas mobilizou as discussões e formações propostas pela

CAENE com ênfase nos anos de 2017 e 2018. Nesse sentido, ressalta-se que

no ano de 2018 foram realizadas 52 ações voltadas para formação continuada,

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nas quais diversos temas foram abordados, contemplando um público total de

1.174 pessoas, sendo 226 docentes, 384 técnicos-administrativos, 507 discentes

e 57 participantes externos.

Atualmente, a UFRN está em processo de mudanças nas propostas de

Políticas de Inclusão e Acessibilidade. Iniciadas as discussões institucionais em

2018 e em processo de implementação em 2019, encontra-se em pauta a

discussão da Nova Política de Inclusão e Acessibilidade da UFRN, a qual está

aberta para Consulta Pública, com texto disponível integralmente no portal da

UFRN, estando em fase de análise e aprovação pelo CONSUNI.

A discussão deste novo dispositivo normativo institucional é oriunda de

fóruns e amplo diálogo reflexivo junto à comunidade universitária. O documento

visa instituir uma nova a Política de Inclusão e Acessibilidade para às Pessoas

com Deficiência na Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Discute novas

estratégias para promover a igualdade, adotar medidas apropriadas no intuito de

eliminar e prevenir quaisquer barreiras atitudinais, urbanísticas, arquitetônicas,

nos transportes, nas comunicações e na informação, ou tecnológicas, devendo-

se garantir às pessoas com deficiência as adaptações razoáveis e as tecnologias

assistivas necessárias para assegurar acessibilidade plena, coibindo qualquer

forma de discriminação por motivo de deficiência (UFRN, 2019).

Além disso, a política pretende definir as funções específicas do Núcleo

de Acessibilidade (CAENE) apresentando como finalidade o planejamento, a

elaboração, o acompanhamento e a avaliação das ações da política de inclusão

e acessibilidade para as pessoas com deficiência na UFRN, apoiando e/ou

buscando diretrizes, alinhadas à promoção da acessibilidade. Bem como, é

apresentado um novo modelo de atenção às pessoas com deficiência na UFRN,

com o objetivo de implementar redes de apoio por meio de Grupos de Trabalho

para Acessibilidade (GTA) nos ambientes acadêmicos e administrativos para

atuar em colaboração com a comunidade local na atenção educacional e laboral

dos estudantes e servidores com deficiência ou outra NEE, respectivamente,

favorecendo a construção de uma cultura inclusiva que respeite e valorize as

diferenças e promova a acessibilidade no contexto universitário.

Dentre as ações previstas na agenda pelos GTA, apresentadas no

documento da nova política de inclusão, é possível destacar a perspectiva

formativa das atividades propostas, as quais destinam-se a sensibilização, a

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promoção do conhecimento da política de inclusão, das normativas e serviços

de apoio, mapeamento de estudantes e servidores com deficiência, proposição

de estudos de caso, formação continuada de servidores técnicos e docentes,

rodas de conversa, atuação junto aos orientadores acadêmicos, estudos sobre

a condições de infraestrutura, material acadêmico e informacional acessível,

entre outras.

Diante da dinâmica de fortalecimento e discussões institucionais sobre a

temática da inclusão, em junho de 2019, por meio da Resolução no 016/2019-

CONSUNI, foi aprova a criação da Secretaria de Inclusão e Acessibilidade - SIA,

vinculada à Reitoria da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN.

Esta Secretaria amplia o trabalho já desenvolvido pela CAENE

considerando a importância de instituir uma secretaria de inclusão e

acessibilidade para promover e assegurar a garantia das condições adequadas

de acesso e permanência com participação e sucesso nas atividades

acadêmicas e profissionais das pessoas com necessidades especificas em

consonância com a legislação vigente e a responsabilidade social da UFRN

Diante do exposto, consideramos que o trabalho realizado pela CAENE

para fortalecer a Política de Inclusão vem sendo desenvolvida à luz dos aspectos

preconizados pela Política de Gestão da UFRN e em consonância com os

fundamentos da democratização e ampliação do acesso ao Ensino Superior e

com os princípios educacionais inclusivos. Esperamos que com o desempenhar

destas ações os estudantes com deficiência possam ser, a cada vez mais,

ingressar no Ensino Superior e permanecer em seus cursos desfrutando de

equidade de condições, acessibilidade física, comunicacional e pedagógica para

alcançar o êxito acadêmico de modo integral.

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6 O MOSAICO ENTRE A INCLUSÃO E FORMAÇÃO DOCENTE NA UFRN:

UMA ANÁLISE DE DADOS DO CAMPO DE ESTUDOS E DAS PERCEPÇÕES

DOS PARTÍCIPES

Realizamos neste capítulo a organização do pensamento e de nossas

reflexões a respeito dos achados no campo empírico. Estávamos diante de um

complexo mosaico de dados, percepções, concordâncias e discordâncias que

hora nos aproximavam e hora nos afastavam do objeto de análise exigindo

rigorosidade metódica e ao mesmo tempo sensibilidade estética.

Na construção deste nosso mosaico analítico entre a Inclusão e

Formação, a metáfora do mosaico indica o paradoxo na relação entre o singular

e o todo, e reflete sobre o natural que não pode ser uniforme. Para Machado

(2004, p. 52) “a relação entre o trabalho microscópico e a grandeza do todo

plástico e intelectual demonstra que o conteúdo de verdade só pode ser captado

pela mais exata das imersões nos pormenores do conteúdo da matéria. Se para

já consideramos na coleta de dados o grande mosaico subjetivo das entrevistas

(Bourdieu 2001; 2003; 2004), nesta etapa, nossa refinada tarefa é a de perceber

as cores e formas de cada peça advindas da fase de coleta, na construção do

produto de análise.

Seguimos o processo de análise pautadas na proposta de Análise de

Conteúdo, na perspectiva de Bardin (2009), a qual aponta que

A leitura efetuada pelo analista, do conteúdo das comunicações, não é, ou não é unicamente, uma leitura “à letra”, mas antes o realçar de um sentido que se encontra em segundo plano. Não se trata de atravessar significantes para atingir significados, à semelhança da decifração normal, mas atingir através de significantes ou de significados (manipulados), outros significados. (BARDIN, 2009, p. 41)

Portanto, foi pela busca em dar outros significados aos dados obtidos nas

entrevistas que fomos construindo o mosaico entre a Inclusão e Formação

Docente na UFRN, considerando a percepção de estudantes com deficiência,

professores e gestores participantes da pesquisa.

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6.1 Ladrilhos do mosaico: visto por diferentes ângulos

A riqueza de detalhes existentes em um mosaico, constituído por

diferentes peças, com tamanhos, cores e formatos diferenciados possibilita a

percepção complexa da feitura da arte. Esta pode permitir diversas

interpretações, assim como a junção delas pode esclarecer ao admirador uma

análise do belo, do movimento e até do inacabado.

Foi esta impressão que tivemos ao observarmos os dados emanados do

campo empírico e as revelações analíticas advindas da categorização dos

dados. Conforme as prerrogativas para a estruturação da análise proposta por

Bardin (2009), as Unidades de Registros originaram as categorias e

subcategorias de análise que descreveram indicações dos dados documentais

e as concepções de estudantes, docentes e gestores sobre o processo

educacional inclusivo no Ensino Superior e os seus entrelaçamentos com as

políticas de formação continuada do docente universitário.

Com vistas a preservar a identidade dos participantes da pesquisa, eles

foram identificados na análise dos dados com as letras iniciais de cada grupo ao

qual pertencem, isto é, estudantes (E), docentes (D) e gestores (G), enumerados

conforme ordem da realização as entrevistas. Assim, temos as seguintes

nomenclaturas codificadas para cada participante indicando o modo de

referência utilizados em recortes de falas das entrevistas apresentadas na

análise.

Quadro 8: Modo de referência aos participantes da pesquisa em recortes de falas

das entrevistas apresentadas na análise.

ESTUDANTES DOCENTES GESTORES

E1 D1 G1

E2 D2 G2

E3 D3 G3

E4 D4 G4

E5 D5 G5

E6 D6

E7 D7

E8 D8

E9 D9

D10 Fonte: Dados da Pesquisa

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6.1.1 Categoria I - Inclusão de estudantes com deficiência e a dimensão pedagógica Conceber o ingresso do estudante com deficiência no Ensino Superior

brasileiro era, aproximadamente há duas décadas no Brasil, uma realidade

praticamente impossível para grande parte da sociedade. Fato que

historicamente surge como discussão política, pedagógica e investigativa muito

recente sobre o processo de inclusão destes estudantes com deficiência no

Ensino Superior.

A presença dos estudantes com deficiência nas IES perpassa pela

reorganização estrutural e de práticas educativas historicamente alicerçadas em

ações homogeneizadoras e seletivas no contexto universitário. Deste modo,

emanaram de nossos diálogos nas entrevistas com docentes, estudantes e

gestores as implicações, elementos contidos, na dimensão pedagógica,

especificamente na atividade docente que marcam tais ações homogeneizantes

e seletivas.

O primeiro deles é o preconceito, barreira percebida pelos 24

entrevistados, sendo expressas de diferentes formas nas articulações orais, não

especificamente partindo de si próprios para com os estudantes com deficiência,

mas identificando situações estigmatizantes e geradoras de preconceito, que

representam barreiras às possibilidades de ingresso e do reconhecimento de

competências reais pertinentes ao estudante com deficiência para alcançar o

nível superior de ensino. Vejamos nas falas dos docentes, elencadas para

análise:

Eu sei que existe uma forma de entrar na universidade, pelo ENEM e SiSU, mas o deficiente devia ter um processo de avaliação psicológica dos graus de habilidades, se ele gosta de música, se ele gosta de história, porque, de repente, fazendo uma junção da deficiência dele com as habilidades que ele têm seria mais fácil. (D2, 2017) Um aluno vir para o nosso curso, que é um curso que exige uma habilidade muito grande, se ele [o aluno] tem claro e notório problema já identificado de processamento de cognição, então, na minha concepção, não era para a universidade simplesmente esquecer esse aluno e não fazer a inclusão, mas talvez ele, deveria ser um aluno incluído em cursos onde fossem desenvolvidos nele outras habilidades e não sobrecarregar já uma fragilidade que ele tem [...] mas eu fico às vezes pensando: quem sabe ele não daria certo em música ou num outro curso que pudesse dar retorno à sociedade de várias maneiras, né?” (D8, 2017)

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Não defendo a exclusão, mas uma inclusão com interferências35 de você, a partir do momento que você tem o laudo daquele aluno, você tem condições de avaliar se ele dá mais certo para Humanas, para Cálculos, se ele daria mais certo com Música... porque, se a política é da inclusão, é de uma inclusão que ele se sinta mais humano, que aumente a autoestima dele, que ele se sinta mais motivado [...] Porque, vamos ser sinceros, dificilmente (pausa) vamos imaginar esse meu aluno aqui. Quando ele terminar o curso aqui ele tem que fazer um exame (cita órgão que legitima a profissão), que dificilmente ele vai passar. Então, uma vez que ele não passe isso nunca vai deixá-lo habilitado para atuar na área como perito, como profissional. (D3, 2017) Nós aqui na (nome do curso), infelizmente, não temos esse preparo. Inclusive a gente enfrenta muito essas dificuldades, porque todas as vezes ficamos diante de pacientes que tenham deficiências físicas sobretudo é um problema. Não existe equipamento adequado, o elevador aqui não chegou ainda. Paciente ou um aluno cadeirante tem que ser levado nos braços, então é um processo muito constrangedor. Enfim, não há uma adequação estrutural. Nem de salas de acessibilidade de forma geral, nem dos próprios equipamentos da clínica. Porque se você pensar bem os equipamentos não são nem adequados ao estudante que não é destro, e que isso não é uma deficiência, é uma variação. Então eu acredito que o docente tem essa limitação natural, mas também tem uma limitação muito grande de limitação dos próprios docentes. (D6, 2017)

Os fragmentos acima estão permeados de preconcepções a respeito da

condição de deficiência, dos estereótipos de incapacidade socialmente e

historicamente perpetuados sobre a pessoa com deficiência. Os (as) docentes

D2, D8, D3 e D6 sugerem uma inclusão “até certo ponto”, ou como nominou D3,

uma “inclusão com interferências”, nas quais sejam tomadas decisões de

recondução de curso, pressupondo a incapacidade de os estudantes

acompanharem determinados cursos de graduação, após legítimo ingresso.

É interessante ressaltar o modo com o qual D6 refere-se à distinção entre

pessoas com deficiência e pessoas não destras, apontando sua concepção que

ser canhoto seria “apenas uma variação”. É como se para D6 a deficiência não

partisse das diversas variações existentes na composição da humanidade. Diniz

(2007) observa que a concepção de deficiência como uma variação do normal

da espécie humana foi uma criação discursiva do século XVIII, e desde então

ser deficiente é experimentar um corpo fora da norma.

Para a autora, deficiência é um conceito complexo que reconhece o corpo

com lesão, mas que também denuncia a estrutura social que oprime a pessoa

com deficiência. Assim como outras formas de opressão pelo corpo, como o

35 Em alguns recortes das falas destacamos alguns trechos em sublinhado para enfatizar determinados

conteúdos.

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sexismo ou o racismo, os estudos sobre deficiência descortinaram uma das

ideologias mais opressoras de nossa vida social: a que humilha e segrega o

corpo ‘deficiente’.

É necessário esclarecer que na atualidade, se discute o conceito de

deficiência a partir de dois modelos que respaldam e justificam o modo de

compreender a condição de deficiência. O primeiro é denominado modelo

médico, o qual destaca a patologia antes do reconhecimento das especificidades

do sujeito, colocando em notoriedade a deficiência da pessoa, restando a ela o

papel passivo de paciente. De acordo com estudos de Rioux (1994), Amirallian

(1999) e Amaral (1998), este modelo considera que a condição de deficiência da

pessoa pode ser momentânea no processo de busca da “cura”, visando se

aproximar ao padrão de normalidade dos aspectos físicos e sensoriais de cada

indivíduo.

O segundo, o modelo social da condição de deficiência, conduz ao

entendimento de que a pessoa tem autonomia para tomada de decisões,

participação ativa na sociedade e pleno exercício da cidadania. Esta perspectiva

leva à compreensão de que a “falha” não está na pessoa ou na sua condição,

mas que se encontra em uma dimensão social, que leva à exclusão (AMARAL,

1998; DINIZ, 2007; COSTA 2014).

Em consonância com o disposto na Convenção Interamericana para a

Eliminação de todas as Formas de Discriminação em relação à Pessoa com

Deficiência (BRASIL, 2001), a qual em seu art. 1° define que

o termo deficiência significa uma restrição física, mental ou sensorial, de natureza permanente ou transitória, que limita a capacidade de exercer uma ou mais atividades essenciais da vida diária, causada ou agravada pelo ambiente econômico e social. (BRASIL, 2001)

Assim, a condição de deficiência pode ser pontuada a partir das

especificidades de cada pessoa, ambiente e recursos dos quais possuem para

mediar à eliminação das barreiras. A Convenção sobre os Direitos das Pessoas

com Deficiência (2008) recomenda a eliminação de qualquer dispositivo que

associasse deficiência com incapacidade, considerando, no art. 2°, que pessoa

com deficiência é

aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. (BRASIL, 2008)

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As concepções apresentadas pelos docentes D2, D3 e D8 reforçam a

perspectiva do modelo médico e reforçam a ideia de preconceito. Dado que nos

apresenta que ainda existem pessoas, independentemente do nível de

esclarecimento cultural, que conservam estereótipos que distanciam a pessoa

com deficiência de uma sociedade inclusiva. Acreditamos que estes

posicionamentos são respostas aos contextos excludentes nos quais

historicamente circundaram as pessoas com deficiência, originando o

preconceito, advindo de um estigma social que marca a pessoa com deficiência,

e a posiciona em descrédito social, e a desvia do padrão social estabelecido.

(MAGALHÃES, 2011)

Outra pauta alicerçada no preconceito e na negativa do reconhecimento

às possibilidades de inclusão efetiva dos estudantes com deficiência é

apresentada na fala de alguns docentes ao expressarem concepções sobre a

possível interferência da presença do estudante com deficiência no rendimento

e qualidade dos cursos nos quais ingressam. Sob a premissa de que, seus

cursos possuem padrões altos de rendimento acadêmico e alto grau de

dificuldade para cumprimento das disciplinas e posterior exercício das profissões

oriundas da formação universitária, parte dos docentes reafirmam padrões de

normalidade e reforçam perspectivas preconceituosas, que carregam a marca

da limitação e da incapacidade pelo simples fato da existência da deficiência.

Vejamos os seguintes recortes dos diálogos nas falas dos docentes D1, D2 e D6.

Tem também a qualidade do ensino do curso, né? Que é muito boa, mas esse aluno não aproveita muita coisa, porque não acompanha. Prejudica ele e prejudica o curso. (D2, 2017) Ele (o aluno) precisa de muito tempo para resolver um problema. Em qualquer concurso, em qualquer prova, você sabe como é que é, você tem 50 questões para fazer em 4 horas, ele não vai fazer. Isso interfere na qualidade do profissional que estamos formando também, sabe? Me preocupo, inclusive se ele for fazer o ENADE, como é que vai ser? (D1, 2017) Para um curso de (nome do curso) que se você parar para pensar foi tudo historicamente um curso de elite, isso é muito difícil. É uma mudança muito grande. Eu estou falando assim, bem... Não tem nenhuma... Não estou tendo nenhum orgulho em dizer isso não. É muito difícil para a gente, porque a gente tinha alunos que eram os melhores. A gente não tinha dificuldade com os alunos. Os nossos alunos eram os melhores. Hoje essa realidade mudou na universidade como um todo. Hoje a gente já está tendo que se adequar aos alunos com todos os tipos de problemas, inclusive a questão da deficiência. Isso é muito preocupante, não podemos deixar a qualidade cair. Mas,

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por outro lado, não podemos deixar de receber estes alunos que tem esse tipo de deficiência, e aí como é que a gente vai? (D6, 2017)

Os dados analisados, revelam que a sociedade e as instituições de

educação superior continuam a contribuir para a perpetuação da discriminação

e do preconceito construídos sobre as pessoas com deficiência. A esse respeito,

concordamos com Candau e Moreira (2003, p. 163) quando afirmam que

Estamos imersos em uma cultura da discriminação, na qual a demarcação entre “nós” e os “outros” é uma prática social permanente que se manifesta pelo não reconhecimento dos que consideramos não somente diferentes, mas, em muitos casos, ‘inferiores.

O desrespeito e a invisibilidade dos estudantes com deficiência são parte

do preconceito que deve sempre ser desconstruído. Estas posturas

preconceituosas com relação à pessoa com deficiência podem perder espaço a

partir de ações educativas que visem ressignificar a prática pedagógica. Não há

dúvidas que o contexto educativo pode ser um dos mecanismo de transformação

e instrumento para tornar a sociedade menos excludente.

Diante disso, torna-se ainda mais necessário que se discuta a respeito da

perspectiva educacional inclusiva na Universidade, no sentido de destacar a

humanidade e individualidade de cada pessoa, antes de destacar, nelas, marcas

que as diferenciam do que se prega como normalidade. Considerar a condição

de deficiência como uma limitação, que por si mesma não impossibilita e não

incapacita, precisa ser a tônica de nossos discursos inclusivos, principalmente

no campo da Educação Superior.

Além dos aspectos sociais, consideramos que as marcas do preconceito

causam impactos na dimensão pedagógica. As falas de D8, G1, D6 e D9

evidenciam tal perspectiva, ao expressarem a preocupação com a resistência de

professores para saírem de suas próprias zonas de conforto, e necessariamente,

refletirem sobre suas ações didáticas diante da presença de um estudante com

deficiência em sala de aula.

Há um preconceito, e eu aprendi isso não faz muito tempo, então eu certamente também tinha esse preconceito, que não era possível o aluno ter acesso ao ensino, porque a gente vivia em caixinhas hermeticamente fechadas com modelos de avaliação, modelos de aula e isso requer um pouco mais de habilidade e disposição do professor, porque isso vai requerer dele mais trabalho, um esforço a mais. Ele sai um pouquinho da sua zona de conforto e ele vai precisar pensar sobre quais são as possibilidades de... eu não gosto de usar essa palavra “facilitar”, mas de possibilitar o aprendizado do aluno. (D8, 2017)

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Alguns colegas reconhecem o seu preconceito e tentam mudar, outros não. Outros reconhecem e acham que é isso mesmo: que não é para todo mundo, que a formação daquele espaço não é para “qualquer um” e isso vale tanto para o deficiente, quanto para o menino que veio da escola pública. (G1, 2017) Agora veio e esbarrou na gente. Chegou e agora a gente diz: epa! Num primeiro momento, eu confesso, um primeiro momento que não é só meu, aqui de todos os que compõem o curso de (cita o nome do curso) a gente diz: "Não, isso não é para o nosso curso". Como é que um cego, como é que um surdo-mudo... Como é que... Porque a gente já entende deficiência como sendo deficiência física. A gente nem pensa muito que existem todas as deficiências cognitivas. E a gente nunca imagina (pausa) imagina se um (cita profissão derivada do curso) vai poder ser assim. Mas chegou o momento para a gente parar e pensar de que está à porta, né? Pode ser que um, chegue um dia. (D6, 2017) A gente tem que oferecer a condição, tudo bem, mas de fato algumas coisas não vão ser possíveis serem feitas. Aí como você vai colocar na balança se aquilo é importante, fundamental ou não para o aluno seguir adiante? E que tipo de frustação isso pode causar para esse aluno se ele não conseguir, entendeu? Por exemplo, um caso de deficiência física, ao treinar intubação, não tem como você intubar com uma mão só, entendeu? Então assim, o que acontecia, a gente teria que terminar ajudando no procedimento, você pode auxiliar, mas a pessoa não consegue fazer sozinha [...] A pessoa tem que sair daqui com a formação completa, é profissional e não meio profissional. (D9, 2017)

Os fragmentos dos relatos, nos revelam a existência do preconceito, como

barreira existente na dimensão pedagógica pelo simples fato da existência da

condição de deficiência, por apresentarem perspectivas de que, diante das

vivências dos próprios participantes da pesquisa para alguns docentes, a

Universidade ainda não se constituir lugar de fala, de escuta e de aprendizagem

da pessoa com deficiência.

Concordamos com Glat (2011) quando afirma que os educadores trazem

em suas concepções frente aos estudantes com deficiência o estigma da

incapacidade, e agregamos a este pensamento o viés formativo laboral que

permeia a universidade na atualidade, o qual respalda ainda mais uma visão

mercadológica de incapacidade e ineficiência por parte da pessoa com

deficiência.

Em consonância com marcos legais já citados no arcabouço desse

trabalho, que legitimam, como um direito inquestionável, a presença da pessoa

com deficiência no contexto do Ensino Superior torna-se indiscutível a

necessidade de um redirecionamento pedagógico que possa oportunizar a

reflexão dos princípios éticos de respeito a diversidade e a inclusão de todos os

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estudantes. E deste modo, coadunarmo-nos com Pires e Pires (2013) quando

afirma que a inclusão consiste no respeito e promoção da ética dos direitos

relativos ao ser humano, cultivando os valores da convivência acadêmica e da

cidadania, por meio de um processo de inclusão de todos, considerando suas

diferenças e especificidades.

Neste sentido, ao considerar o ingresso de estudantes com deficiência na

UFRN os cinco gestores entrevistados direcionaram suas falas para a

necessidade de mudanças nas práticas da Universidade de ordem estrutural,

política e pedagógica. Destacamos as falas dos (as) os (as) gestores (as) G1 e

G2 ao realizarem os seguintes comentários

Certamente, implica num projeto de mudança de projeto pedagógico da universidade toda, implica em várias coisas, mas, por exemplo, implica nas metodologias de avaliação, nos projetos pedagógicos dos cursos, com certeza isso vai ter impacto na medida em que você vai ter mais alunos com deficiência. (G2, 2017) Na hora que eu estou numa sala de aula, na hora que eu estou desenvolvendo uma metodologia, eu posso chegar na sala de aula e ter um aluno com algum tipo de deficiência, então você já tem que pensar nisso. Então eu acho que o grande desafio hoje é trabalhar também pra que as pessoas, principalmente os professores, tenham esse entendimento, essa compreensão e essa necessidade, comece a ter esse olhar para as pessoas de forma mais integral. (G1, 2017)

A presença do estudante com deficiência na UFRN tem oportunizado a

elaboração não apenas de políticas ou o desenvolvimento de ações para a

promoção de acessibilidade, mas tem provocado reflexões institucionais sobre

“a necessidade de uma mudança no modo de pensar e nas concepções sobre a

deficiência, sobre a diversidade em geral, e no modo de pensar sobre o ensino

ou sobre a aprendizagem” (CARBALLO, p. 39, 2018). Este movimento de

reflexão, que se refere a dimensão pedagógica e vem ecoar o silêncio científico,

político e formativo do docente com vistas ao aprimoramento da atuação docente

universitária à luz da perspectiva inclusiva.

Em nossas entrevistas junto aos estudantes com deficiência foram

relatados aspectos inerentes à dimensão pedagógica que geraram sofrimento,

exposição da condição de deficiência, má compreensão dos seus direitos d

expressos nas políticas institucionais, que se apresentaram como muros a serem

ultrapassados. Oito estudantes, dos nove entrevistados, relataram equívocos

ocorridos nas práticas docentes. Já os docentes e gestores não apresentaram

nenhum fato que julgassem se caracterizar como uma barreira pedagógica. Das

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situações vivenciadas, elencamos os seguintes trechos das entrevistas com os

estudantes:

Devido à baixa visão, tenho que escrever com letras grandes, então eu extrapolei mais umas duas linhas na prova e ele [professor] foi e cortou a resposta, deixou como incompleta. Não reconheceu aquilo que extrapolou. Eu falei: Mas professor, eu tenho problema, deficiência. E ele respondeu: Ah, então procure se superar! (E1, 2017) Ele recebeu o documento que eu sei que é confidencial, eu não sei se ele não deu fé, se ele foi muito inocente, se ele foi tolo, quando ele terminou de fazer a primeiríssima chamada do semestre ele fez assim: e tem uma pessoa com necessidade educacional especial, tem uma pessoa deficiente aqui, quem é? [...] eu ainda tinha um certo receio de falar com os colegas e eu ainda estava lutando comigo mesma para passar a falar. Já havia gente que sabia, mas ele fez isso eu fiquei chocada. (E4, 2017) Semestre passado eu tive uma experiência com uma professora que não se preocupava com os alunos com deficiência. Eu passei a tentar cobrar isso dela, fui cobrar três textos antes da prova e ela falou simplesmente para mim: se vire. E eu falei: professora, eu não tenho como fazer a prova, porque são textos que precisam ser readaptados e a CAENE não mandou ainda para mim. E ela falou: mas eu já mandei pra lá. E eu disse: mas eles têm uma demanda, então muitas vezes não dá tempo. Ela tinha levado slides para a sala de aula e eu fui pedir a ela aquela síntese do texto e ela disse que não dava para ninguém. Se eu quisesse eu me virava para fazer a prova. Aí eu disse: então tá bom, eu vou tentar me virar. É o que eu falei, tem casos e casos. (E8, 2017)

Às vezes fico invisível na sala. O professor usa os slides e nem se preocupa em descrever o que todos estão vendo, menos eu. E os filmes? Num vou nem comentar. Quando tem acessibilidade em sala você flui melhor, você consegue alcançar o objetivo da disciplina. Me refiro ao professor mesmo. Porque é ele o responsável por essa acessibilidade na hora de ensinar e aprender. (E6, 2017)

As situações relatadas pelos estudantes, nos remetem à reflexão

realizada por Moriña et al (2013), referente a postura do professor em sala de

aula diante do estudante com deficiência. O estudo apresenta aspectos nos

quais os docentes podem se apresentar como barreira ao processo de ensino e

aprendizagem, ao demonstrarem resistência, preconceito, inflexibilidade e

indiferença à presença do estudante com deficiência, levantando muros ao

processo de inclusão no Ensino Superior. No entanto, identifica no professor

universitário a possibilidade de em vez de erguer muros, construir pontes rumo

à aprendizagem, à participação efetiva e à promoção de acessibilidade

pedagógica.

Corroborando com esse estudo ao investigar o contexto do ensino

superior, Carballo (2018, p.44) afirma que “em relação ao processo de ensino e

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aprendizagem, o professor tem um papel fundamental. O docente, pode se

constituir como a principal barreira na experiência educativa universitária do

alunado com deficiência, mas também pode se constituir como uma grande

ajuda”.

Quanto a esse último aspecto, experiências de boas práticas

educacionais foram trazidas em nossos diálogos por cinco estudantes e três

docentes durante as entrevistas. As consideramos como significativas pontes

que conduziram os estudantes às situações de ensino e aprendizagens

inclusivas, assim expressadas: “superamos a barreira juntos; durante a disciplina

houve muito diálogo; tive que ter paciência com ela; eu sabia que era possível.”

Das vivências compartilhadas nas entrevistas elencamos as falas seguintes

como exemplos de boas práticas:

E no primeiro dia de aula ele já trouxe material para mim em Braille, já trouxe o material criado por ele feito com madeira, madeira fininha que é para poder encaixar as peças. Trouxe também para mim uma escaleta para poder criar os compassos. Então assim, é tudo criado não é comprado. Você não vai na loja comprou e compra, não. Ele pega meu material, pedacinho de madeira, um pedacinho de pontinhas de antena antigas, ele fez tudo isso. Pela primeira vez aqui me senti assim.. importante. Ele queria que eu aprendesse aquilo. (E2, 2017) eu fiz uma prova sobre tática, havia um retroprojetor, eu colocava uma lâmina que tinha o desenho da quadra e tinham os supostos jogadores que se distribuíam. Aí todos os alunos, igualmente na sala, tinham que ir até lá na frente e fazer para a turma uma preleção. Dizer como que eles iam escalar os jogadores dentro da quadra. Note que há um conteúdo objetivo sobre isso, por exemplo, o sistema 2-2, o sistema 3-1, que eles foram ao longo das aulas experimentando isso e o E. que era o estudante fazia também isso. "Ah, mas como que ele se locomovia na quadra?" Bom, ele sem a cadeira não conseguiria se locomover, mas o que impedia de alguém empurrar a cadeira enquanto ele estivesse na quadra? O que impediria ele de tocar na bola com os pés? Ele fazia isso com dificuldade? Fazia. Isso impedia dele fazer? Não. Então não exigia que ele tivesse uma meta de desempenho de acertar o passe, de fazer tantos gols, mas ele se deslocava dentro da quadra. Ele experimentava a sensação de se deslocar dentro da quadra. [...] Nas atividades teóricas era pra colocar os soldadinhos, os jogadores, dentro do retroprojetor. Quando eu dizia: mostre para mim o sistema 2-2. Ele colocava. Se ele tivesse alguma dificuldade motora de colocar ele apontava e o auxiliar, colega de turma, ajudava ele a colocar. E ele dizia: é isso? É, é isso. Aí eu dizia: mostre uma movimentação de rodízio. Como é que estes jogadores iriam rodar dentro da quadra. Aí ele sinalizava com toda a dificuldade motora dele, mas ele conseguia. Mesmo com as suas dificuldades motoras ele conseguiu cognitivamente mostrar perfeitamente o quê que era a situação. (D5, 2017)

Me permita aprender com você. Porque só convivendo é que a gente sabe. As diferenças (pausa) a gente não está preparado para viver com elas mesmo. (D3, 2017)

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Você vai aprender a aprender sendo cega e eu vou aprender a ensinar uma pessoa cega, porque eu nunca fiz isso [...] E foi realmente um aprendizado. Nós enfrentamos os desafios juntas, algumas coisas deram certo, outras coisas não deram certo e a gente teve que refazer. Quando a gente diz não no início, a gente inibi qualquer possibilidade de invenção que a gente possa ter para dar essa possibilidade ao sujeito. (D1, 2017)

Eu tenho uma professora que se chama J. Ela tem uma metodologia excelente. Eu tenho uma experiência muito boa com ela e pra mim ela é assim o exemplo! Na aula dela eu não me sentia deficiente. (E9, 2017)

A prática pedagógica, nestes contextos, é compreendida com uma ação

na qual se abre um canal de mediação entre professor e estudante, permitindo-

os, como nos conduz Freire (1996) e Morin (2004) a pensar, mutuamente

aprender a ser, a conhecer e a conviver sob uma perspectivadas diferenças

humanas, considerando as especificidades de cada um, assim como os modos

e diferentes ritmos de aprendizagens.

Envolver o estudante no processo educativo significa considerar e

valorizar nele as potencialidades percebidas, além de contribuir para o seu

empoderamento enquanto estudante universitário e cidadão, contribuindo para

o crescimento pessoal e coletivo de uma educação libertadora e

conscientizadora, Freire (1996), na qual a pessoa com deficiência pode se

reconhecer questionando a normalidade, a legitimidade do tratamento

inferiorizado e a cultura que o incapacita (DANTAS, 2015).

Na perspectiva educacional inclusiva, a dimensão pedagógica precisa

estar alicerçada em uma prática docente motivada a buscar a equidade de

condições para todos os estudantes, pautada na “[...] aprendizagem cooperativa,

componente do ensino, que está relacionada à criação de uma atmosfera de

aprendizagem em sala de aula em que os estudantes com seus vários interesses

e habilidades podem atingir o seu potencial.” (KARAGIANNIS; STAINBACK, S;

STAINBACK, W, 1999, p.22).

A aproximação e a escuta do outro é exercício essencial à dimensão

pedagógica, considerando as peculiaridades de cada estudante em seus

processos de aprendizagem, distanciando-se de práticas pedagógicas pautadas

no modelo racionalista de educação baseado na objetividade e padronização

dos papéis de estudantes e professores.

Nos diálogos resultantes das entrevistas realizadas, estudantes,

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docentes e gestores ressaltaram como pontos importantes à dimensão

pedagógica diante do estudante com deficiência aspectos como: compromisso

com a docência, empatia e sensibilidade.

A gente já tem um conceito, se eu sou D.E, se eu sou dedicação exclusiva, aquela coisa toda. Há um, na verdade, a importância de todos participarem, mas há um compromisso maior que eu tenho que dar de retorno ao meu aluno, ele precisa aprender e eu preciso oferecer as melhores estratégias. Penso que todos os professores deveriam pensar e agir assim. (D7, 2017) Trabalhar com deficiente não é qualquer coisa. não é qualquer jeito. Não é chegou na sala, copiou no quadro, copiou no caderno e acabou-se, não. Tem que ter primeiro do que tudo amor, carinho e dedicação. Se não tiver isso, pode morrer de fazer curso, ser até doutor no que ele quiser, mas não vai conseguir nunca trabalhar com aqueles ali. Porque ele tem que ser sensível, perceber que do outro lado também estão pessoas. (E1, 2017) se a gente colocasse numa balança, sensibilidade ou mais formação, primeiramente sensibilidade. A formação vem para esclarecer, complementar até fazer mudar [...] mas se a pessoa não acreditar, desejar incluir não adianta de nada. (E7, 2017) Tentar senti-lo e se colocar no lugar dele, mas a empatia pode favorecer, ou não se ocorrer a falta dela. A gente está falando da pessoa humana, a gente não está falando da pessoa com necessidade específica. (D1. 2017)

Estas afirmações nos remetem à reflexão de que o processo educacional

inclusivo é composto pela sensibilidade pedagógica, a qual é comprometida com

o exercício constante do professor em colocar-se no lugar do estudante quando

elabora o plano de aula ou de plano de disciplina demonstrando assim basear

suas ações nos princípios de igualdade, justiça e imparcialidade, citados por

Schaffner e Buswell (1999).

Consideramos que estes pontos não se dirigem apenas à ordem estrita

do pedagógico, mas, sim, do humano. Pela individualidade e singularidade que

todo ser humano apresenta, independente da condição que possui, “[...] o

educador necessita estar sensibilizado para ver, ouvir e tocar o ser aprendente”

(OLIVEIRA, 2010 p. 136), buscando desenvolver estratégias que o façam

desconstruir as barreiras alicerçadas em comportamentos egoístas, as quais não

permitem que se coloquem no lugar do outro em um exercício de ressignificação

de si mesmo e, consequentemente, da prática docente. Para Tardif, (2000, p.

16), “o objeto do trabalho do docente são seres humanos e, por conseguinte, os

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saberes dos professores carregam as marcas do ser humano”, sendo a

aquisição da sensibilidade relativa às diferenças entre os estudantes constitui

uma das principais características do trabalho docente.

No entanto, não há como desassociar da dimensão pedagógica,

preceitos discutidos por Freire (1996), na obra Pedagogia da Autonomia. Nela,

vemos que no ato pedagógico também estão implicados o emprego de técnicas,

as ações didáticas conscientes e o conhecimento científico necessário para

alcançar o objetivo transformador da Educação.

Freire (1996) ressalta o vínculo entre as faces que permeiam a didática

desde a presença da rigorosidade metódica, pesquisa, competência, autoridade,

criticidade, estética e ética; assim como as demais faces da didática que

perpassam pela: generosidade, respeito à autonomia do ser educando, alegria

e esperança, curiosidade, dentre tantos outros. E a partir dos vínculos

estabelecidos entre as diferentes faces da didática compreender que a

Educação é uma forma de intervenção no mundo, na qual o professor é

importante articulador e mediador na educação de todos os estudantes, pois em

suas ações didáticas residem a essência da formação, mediação e

transformação, em movimento dialógico e reflexivo do exercício da docência.

(FREIRE, 1996).

Claramente, o Ensino Superior apresenta lacunas formativas e políticas

no que se refere à dimensão pedagógica do docente universitário. E quando

colocamos estas questões à luz da perspectiva educacional inclusiva, as lacunas

tornam-se ainda mais evidentes. Esta realidade, foi confirmada em nosso campo

de investigação, nesta categoria de análise a qual trouxe a tona temáticas como

preconceito, estigma e exclusão; necessidade de redirecionamento pedagógico

docente a partir de reflexões institucionais; atitudes docentes que podem se

constituir como barreiras, erguendo-se como “muros”, através de práticas

docentes equivocadas, ou que podem se constituir como “pontes”, através da

realização de boas práticas educacionais que refletem compromisso com a

docência, empatia e sensibilidade.

Além disso, foram levantados pontos a respeito do compromisso formador

e transformador no exercício docente, ao assumir aspectos da didática que

permeiam a dimensão pedagógica desde a rigorosidade metódica ao despertar

da curiosidade e da alegria no ser aprendente.

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Os saberes pedagógicos podem colaborar com o exercício da docência,

em uma íntima vinculação entre teoria e prática, pois a docência é um campo

complexo de ações, que exige uma formação contínua e rigorosa reflexão sobre

a prática mediada pela teoria.

Consideramos que esta preocupação com a dimensão pedagógica da

docência universitária, em uma perspectiva formativa, está diretamente ligada à

qualidade do ensino. Sobre isso, Zabalza (2011) afirma que a qualificação da

Educação Superior requer investimentos na preparação docente para o trabalho,

pois isto remete à reflexão sobre o processo de formação para a docência

universitária, considerando seus aspectos teóricos e práticos, buscando a

compreensão de como nos tornamos docentes e de que repertório de saberes

se faz necessário lançar mão para uma docência preparada a lidar com a

diversidade e especificidades humanas dos estudantes e dos diferentes

contextos de aprendizagem.

6.1.2 Categoria II - O desafio agora é a permanência

A temática da Qualidade da Educação, e especificamente a Qualidade do

Ensino Superior, tem permeado as discussões teóricas e direcionado a

elaboração de políticas educacionais com vistas a alcançar o êxito acadêmico,

e a expansão do Ensino Superior no Brasil (DOURADO, 2009; CUNHA, 2012;

CUNHA; BRIOLO,2012).

No entanto, para que saibamos a que padrões de qualidade estamos nos

referindo é necessário ter clareza do alcance do que se almeja com a referida

Qualidade da Educação, pois, concordamos com Oliveira, (2009) ao refletirmos

que a qualidade possui diversas faces e precisa ser analisada sob a maneira

como se vinculam aos diferentes espaços, atores e processos formativos. Assim

como, se altera no tempo e no espaço, a forma como se configura diante dos

que embates e visões de mundo, e como é interpretada no cenário atual de

reforma do Estado, de rediscussão dos marcos da educação, como direito social

e como recurso mercadológico.

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Na década de 1990, emergiram novos processos de ampliação do

sistema da educação superior, permeado por contradições, tendo como marco

a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB nº 9.394/96), que

possibilitou a expansão e a diversificação institucional. No pacote político

educacional, foram elaboradas iniciativas de expansão e diversificação das IES

com vistas à utilização da Educação, em atendimento às perspectivas

neoliberais de expansão e formação de mão de obra.

A expansão da educação superior, estruturou-se como novo desafio ao

contexto da educação superior, pois apesar de suas contradições na ordem das

origens de financiamento e intensões mercadológicas, este processo foi

acompanhado pela democratização do acesso aos cursos de nível superior. No

entanto, este fenômeno tornou ainda mais difícil a avaliação da qualidade do

ensino, assim como ampliou o desafio para que as IES pudessem garantir a

permanência. (JENIZE, FARIAS e FELINTO, 2018)

As políticas e ações afirmativas que visaram à expansão e

democratização do Ensino Superior através da ampliação do acesso ao Ensino

Superior gradativamente passaram a alcançar as pessoas com deficiência.

Estudos como os de Miranda (2014); Araújo (2013); Monteiro (2016); Souza

(2010); Saraiva (2015); Souza (2015), apontaram os avanços nos aspectos

políticos nacionais no que se refere à dinâmica do acesso e democratização do

Ensino Superior, a crescente presença de estudantes com deficiência nas

universidades brasileiras, o desenvolvimento de políticas institucionais para a

implementação de serviços de apoio e acessibilidade, a fim de viabilizar

caminhos para a permanência destes estudantes com deficiência no Ensino

Superior.

Corroborando-se com as evidências teóricas, encontramos no discurso

dos participantes da pesquisa a presença do estudante com deficiência na

Universidade como uma realidade. No entanto, a condição premente atual é a

garantia da permanência com qualidade. O Gestor 2 declarou:

Nossa maior dificuldade tem sido acolher esse estudante e fazer com que ele se sinta potente de fazer o que ele tem que fazer. É porque quando você acolhe você diz: você entrou, mas não era para estar aqui. Inicialmente esse não era seu lugar. (G2, 2017)

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Esta declaração nos remete a compreensão de que o estudante com

deficiência ingressou na universidade, mas que ainda há dificuldade de da

gestão em acolhe-lo. O G2 expressa a ideia da necessidade de conquista

territorial e do desenvolvimento de um trabalho coletivo, que não somente acolha

o estudante com deficiência socialmente excluído, mas que afirme que aquele

também é o seu espaço constituído legalmente e, por direito. Um espaço de

desenvolvimento social, afetivo, cognitivo e de conquista da cidadania. Neste

sentido, concordamos com Prowse (2009) quando afirma que a universidade se

constitui para os estudantes com deficiência numa ferramenta de superação que

favoreça a oportunidade de reinventar-se e de confirmar sua própria identidade.

O fato de garantir a matrícula na universidade se configura no início de

um percurso de intensa reestruturação institucional, política e pedagógica para

viabilizar a permanência do estudante com deficiência. Tal nos adverte G4:

Este processo passa pela questão da infraestrutura, de pessoal, de laboratórios, de equipes para dar suporte. Enfim, você precisa ter toda uma infraestrutura, de pessoal de incentivos de bolsas e de ajudas financeiras para a permanência. Tudo isso porque os alunos já ingressaram, eles já estão aqui. O grande desafio é a qualidade, é a permanência. (G4, 2017)

De acordo com as perspectivas dos participantes da pesquisa, o processo

de inclusão remete à reestruturação acadêmica em diversas frentes. Desde a

readaptação da estrutura arquitetônica dos prédios ao atendimento aos quesitos

de acessibilidade, ao provimento de bolsas com disponibilização de recursos que

possam viabilizar a permanência do estudante, especificamente daqueles que

apresentam vulnerabilidade socioeconômica.

Conforme análise documental já realizada no item 6.1 deste texto,

atualmente a UFRN contempla em seus documentos institucionais a temática da

inclusão de estudantes com deficiência, nos quais apresenta em âmbito político

institucional caminhos para uma reestruturação estrutural e política em uma

perspectiva inclusiva. Tomemos como exemplo o Plano de Desenvolvimento

Institucional (PDI UFRN 2010/2019); a Portaria nº 203/10 - instituir Comissão

Permanente de Apoio ao Estudante com Necessidades Educacionais Especiais

– CAENE; a Resolução n°193/2010 CONSEPE; o Regulamento dos Cursos de

Graduação (Resolução nº 171/2013-CONSEPE).

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Apesar de se ter avançado no campo político institucional, com a

elaboração de mecanismos legais para o acesso e reestruturação da dinâmica

da universidade, dilemas políticos e pedagógicos surgem como lacunas a serem

preenchidas de modo a garantir a permanência com qualidade e a conclusão

dos cursos alicerçados em uma efetiva inclusão e êxito acadêmico. Vejamos o

que afirmam D1, E7 e E9 sobre as necessidades de aprimoramento destas

políticas:

São muitas questões a serem revistas com a presença de mais alunos com deficiência aqui dentro. Pensando em Extensão: O aluno com deficiência física, tendo como protagonismo o aluno na comunidade e etc. A gente não tem veículo pra levar. Qual a condição que o (Nome do Projeto de Extensão), que é o nosso maior Projeto de Extensão, tem para levar um aluno cadeirante lá para Vera Cruz? Outra coisa é a iniciação dele na Pesquisa também, por exemplo, Pesquisa dentro de um laboratório, trabalhar com modelos adinais, entrevista domiciliar. Se não observarmos bem, a qualidade de formação desse aluno certamente vai ficar defasada, porque ele não vai ter as mesmas oportunidades que os outros. (D1, 2017) Vou te falar a verdade, meu sonho era ter conseguido uma bolsa de iniciação à pesquisa lá do departamento. Queria muito trabalhar na pesquisa, fiz duas seleções, mas não fui aprovado. Pode até não ser, mas acho que a minha deficiência foi um dos fatores pelo qual o professor não me aprovou. Acho que ele pensou que eu poderia pesar em algum momento. (E7, 2017) Queria muito ter conseguido uma vaga no Programa Ciências sem Fronteiras ou alguma coisa lá na monitoria, mas como não tenho o índice acadêmico no histórico dos melhores, não por causa de reprovação não, mas por causa da necessidade que tenho de cursar poucas disciplinas por vez devido ao volume de adaptação de material, aí o meu índice cai. E fico sem condições de concorrer. (E9, 2017)

Quando se reflete sobre o processo educacional inclusivo na

Universidade, é preciso abranger todas as dimensões. A tríade Ensino, Pesquisa

e Extensão necessita estar alicerçada também em uma perspectiva educacional

inclusiva. Isto é, ao compor o corpo estudantil da Universidade, o estudante com

deficiência tem direito a acessar todos os recursos formativos que a instituição

oferece aos demais estudantes.

Os exemplos apresentados por D1, E7 e E9 espelham dilemas da

realidade, pois diante das barreiras atitudinais, barreiras de acessibilidade e

pedagógicas, ainda existentes dificuldades para incluir o estudante com

deficiência no que se compreende como formação integral dos estudantes

universitários, em uma preocupação de alcançá-los e agregá-los a dinâmica

conduzida pela tríade Ensino, Pesquisa e Extensão. Inferimos que tais

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mudanças precisam partir de reflexões que resultem em políticas institucionais

que visem promover a ampliação de oportunidades para que os estudantes com

deficiência atuem com equidade de condições em atividades, principalmente, as

que envolvem pesquisa e extensão.

Levar o estudante com deficiência a desfrutar das múltiplas atividades

realizadas na universidade abrange não apensas a missão social e educacional

da instituição, mas reconhece a significância da formação integral em uma

perspectiva inclusiva. No entanto, para que se alcance a inclusão efetiva e a

melhoria da qualidade de ensino, Moriña (2017) frisa que aumentar o número de

estudantes sem repensar as regras e as práticas educativas não beneficiará a

ninguém, nem ao alunado, nem a própria universidade, sendo necessário um

novo enfoque nas políticas e ações, pensadas sob o modelo da educação

inclusiva.

Com vistas a uma pactuação de responsabilidades a respeito da

inclusão na universidade e da melhoria da qualidade do ensino G1 afirmou que,

A universidade aprovou é a resolução 181 de 2017, é uma resolução do CONSEP. Ela aprova a política de melhoria da qualidade dos cursos de graduação e de pós-graduação. Então assim, como um outro instrumento institucional que implique mais, eu não vou dizer que ela abriu para a formação, porque ela não abriu, mas vai implicar a todos: gestores, acadêmicos e docentes a pensar já e a trabalhar essas questões [...] isso significa dizer que ela implica mais na responsabilidade e aí tem o que? Tem as pessoas com ou sem deficiência, com ou sem necessidade especial. (G1, 2017)

A política de melhoria da qualidade dos cursos de graduação e de pós-

graduação - Resolução No 181/2017-CONSEPE, citada por G1, define que as

ações para a melhoria da qualidade do ensino serão acompanhadas por

comissões específicas e contemplam dimensões como: desempenho dos

estudantes no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (ENADE);

percepção discente sobre as condições do processo formativo no ENADE; corpo

docente; organização didático-pedagógica; infraestrutura. Este dispositivo

normativo institucional pode conduzir à reflexão coletiva a respeito das ações

preventivas para a melhoria da qualidade de ensino, fazendo com que toda a

comunidade universitária planeje sobre as ações que poderão contribuir para a

elevação da qualidade do ensino de todos os estudantes.

No entanto, cabe aqui tratar a respeito da temática “qualidade de ensino”

ou quais seriam os pressupostos que definem a atual perspectiva de qualidade

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do ensino, oriunda de uma perspectiva neoliberal. Em pauta na agenda das

políticas educacionais brasileiras desde a década de 1990, a consolidação de

tendência regulatória vem se estruturando através da definição de provas,

indicadores, índices e conceitos como medidores possíveis da qualidade de

ensino. Isto se configura desde a Constituição Federal 1988, a qual apontou no

art. 209 “avaliação de qualidade pelo poder público”; no art.206, os princípios da

garantia de padrão de qualidade e no artigo 214 traz o PNE como “melhoria da

qualidade do ensino”. Em 1995 a Lei 9.131, instituiu o CNE e a avaliação

periódica das IES e Cursos de graduação (ENC / Provão) adicionando a

avaliação das condições de oferta/ensino. Em 2004, a Lei 10.861, instituiu o

Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES), a qual em seu

art.2º. define que “os resultados da avaliação referida constituirão referencial

básico dos processos de regulação e supervisão da educação superior”.

Ao longo dos anos o SINAES vem se constituindo o mais importante

instrumento de avaliação do Ensino Superior, tendo passado por modificações e

interlocução no uso de instrumentos avaliadores, atualmente contempla distintos

modos de Avaliação das Instituições: Interna e Externa. A Avaliação Interna

(autoavaliação), conduzida pelas Comissões Próprias de Avaliação – CPAs, com

a participação de todos os segmentos da comunidade acadêmica; e a Avaliação

Externa, conduzida por Comissões designadas pelo MEC. Os resultados são

mensurados em Conceitos, com 5 níveis: 1 e 2: indicam pontos fracos; 3: indica

o mínimo aceitável para permanência no sistema; 4 e 5: indicam pontos fortes.

É importante ressaltar que o instrumento de autoavaliação institucional do

SINAES, articula dez dimensões da autoavaliação, dentre elas: Missão e o PDI;

política de ensino, pesquisa e extensão; política de gestão de pessoas e

condição de trabalho; organização e gestão; infraestrutura física; comunicação

com a sociedade; política de atendimento aos estudantes; responsabilidade

social da IES; planejamento e avaliação; e sustentabilidade financeira. Também

são analisadas as condições de ensino e a avaliação dos cursos de graduação,

através do perfil do corpo docente, instalações físicas organização didático-

pedagógica.

Os resultados destes instrumentos de avaliação têm gerado discussões

no campo das políticas educacionais a respeito das concepções de avaliação e

os desdobramentos para o Ensino Superior (MANCEBO, 2007; CHAVES, 2010;

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MOROSINI, 2011; OLIVEIRA, 2018). No que se refere a uma perspectiva

institucional formativa de viés emancipatório, pondera-se que permite um

exercício de autoavaliação institucional, avaliação ampliada dos cursos e

promoção do desenvolvimento institucional. Por outro lado, os estudos observam

também que neste modelo há mais a reafirmação do viés de avaliação

regulatória, caracterizada por aplicação de exame em larga escala como

referência para regulação do sistema a exemplo do ENADE/IGC/CPC, os quais

caracterizam a regulação e qualidade via “rankings” e indicadores nacionais e

internacionais. Além disso, os resultados vinculam a avaliação ao desempenho,

à autonomia e ao financiamento das IES, implicando diretamente nos fatores de

diversificação e diferenciação institucional. (CARVALHO, 2007; LIMA, 2013;

MANCEBO, 2007; SAVIANI, 2010; SGUISSARDI, 2008).

Outrossim, resultante destes mecanismos de avaliação da qualidade, se

estabelecem na competição entre as IES privadas e as IES públicas pelos

recursos públicos em programas como o FIES, PROUNI e REUNI, sendo

fortalecidos os grupos empresariais das IES privadas em detrimento das IES

públicas, que repassa recursos em troca de vagas, envolvendo um aglomerado

de instituições nacionais e internacionais, ações em bolsas de valores e a

parceria público-privado. (MANCEBO, 2009; JENIZE, FARIAS e FELINTO,

2018).

Para Oliveira (2018), a Avaliação da Qualidade de Ensino se configura

como política de governo, que ininterruptamente, tem buscado articular os

instrumentos de Avaliação-Regulação-Qualidade da Educação Superior às

exigências reguladoras do mercado. Nesta breve discussão, pode-se perceber

o complexo e grande desafio brasileiro de, através de dispositivos de avaliação,

definir os quesitos que identificam os padrões da Qualidade do Ensino Superior.

Diante desta perspectiva política de qualidade do ensino, nos indagamos

se esta visão de qualidade alcança, de fato, o estudante com deficiência, pois é

uma perspectiva que visa o alcance das metas quantitativas, de estímulo a

competitividade e que enfoca o produtivismo acadêmico.

Em uma perspectiva humana e formativa a questão da qualidade do

ensino

envolve dimensões extra e intraescolares e, nessa ótica, devem se considerar os diferentes atores, a dinâmica pedagógica, ou seja, os processos de ensino-aprendizagem, os currículos, as expectativas de

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aprendizagem, bem como os diferentes fatores extraescolares que interferem direta ou indiretamente nos resultados educativos. (OLIVEIRA, 2009, p. 209,)

Apesar das políticas nacionais de incentivo à melhoria da qualidade do

ensino serem, em sua maioria, pautadas pelas exigências dos instrumentos

reguladores da avaliação, na UFRN é possível identificar ações e políticas

institucionais voltadas a busca pela qualidade de ensino e incentivo à

permanência em uma perspectiva de formação integral, para além dos

rendimentos quantitativos, abrangendo estudantes com e sem deficiência.

A exemplo disso, podemos citar as atividades de orientação acadêmica,

instituída pelo Regulamento dos Cursos de Graduação (Resolução nº 171/2013-

CONSEPE) objetivando apoiar a integração à vida universitária, orientando os

discentes quanto às suas atividades acadêmicas, e, se apresentado como um

instrumento importante para a permanência dos estudantes na universidade,

diminuindo as taxas de evasão, retenção e reprovações. Evidencia-se a

importância dessa orientação, a qual busca apoiar estudantes com dificuldades

na evolução da sua integralização curricular.

O trabalho de orientação acadêmica, especificamente ao estudante com

deficiência, é realizado em articulação entre os orientadores acadêmicos,

coordenadores de cursos e membro da equipe técnico educacional da CAENE.

Outra forma de apoiar os discentes e contribuir com o processo de

permanência, foi a criação do Regime de Observação do Desempenho

Acadêmico (R.O.D.A). Este mecanismo permite que a orientação acadêmica se

torne obrigatória, por meio de reuniões periódicas, permitindo um planejamento

da matrícula e acompanhamento de desempenho nos componentes curriculares.

Dentre os programas implementados e voltados para dar apoio aos

discentes e docentes, prevendo a melhoria da qualidade do ensino e

aprendizagem nos cursos de graduação e apoio à permanência, estão os

Programa de Monitoria, o Programa de Apoio à Melhoria da Qualidade do Ensino

da Graduação (PAMQEG), Programa de Tutoria da UFRN, Programa de

Educação Tutorial do MEC (PET-SESu), Projetos de Ações Acadêmicas

Integradas e Projetos de Apoio a Eventos Acadêmicos e o Programa Institucional

de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID). E, no âmbito da Pró-reitoria de Pós

Graduação, o Programa de Assistência à Docência na Graduação da UFRN

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(PADG - Resolução no 063/2010 - CONSEPE).

O Programa de Monitoria da UFRN visa contribuir para a melhoria do

ensino de graduação, através da elaboração/execução de Projetos de Ensino

que envolvam Monitores. Destaca-se, dentre os projetos de ensino, por envolver

o maior número de professores, estudantes e bolsas distribuídas.

Além disso, repercute nos processos de ensino e aprendizagem, de

parcela significativa dos estudantes da graduação, sensibilizando o monitor para

a carreira docente. O Programa de Tutoria da UFRN tem como objetivo principal

contribuir para a aprendizagem dos estudantes e, consequentemente, para o

aumento dos índices de aprovação em componentes curriculares obrigatórios. O

tutor é um orientador que auxilia o tutorando a sanar suas dúvidas e encontrar o

melhor caminho para obtenção do sucesso nas disciplinas. Para tanto, identifica

as dúvidas, as dificuldades na formação e elege meios para que essas

deficiências sejam sanadas, por exemplo, agendando aulas extras sobre tópicos

específicos, pedindo auxílio à monitoria, professores e bolsistas de iniciação à

docência, da Pós-Graduação.

O Programa de Educação Tutorial (PET) tem o objetivo de fomentar

grupos de aprendizagem tutorial mediante a concessão de bolsas a estudantes

de Graduação e bolsas de tutoria aos professores universitários, denominados

tutores de grupos do PET. É orientado pelo princípio da indissociabilidade entre

ensino, pesquisa e extensão e da educação tutorial.

O Programa de Tutoria Inclusiva, lançado através dos editais de número

002/2014; nº 001/2016 e nº 002/2018, este especificamente voltado à

permanência e a qualidade do ensino, visa acompanhar e apoiar nos aspectos

acadêmicos e sociais, estudantes de diversas áreas, com e sem deficiência,

através da mediação pedagógica no modelo de tutoria de pares.

O modelo do coensino, na tutoria de pares aos estudantes com deficiência,

é considerada uma estratégia promissora da inclusão social e escolar de

estudantes com deficiência, no campo da mediação pedagógica (FERNANDES

e COSTA, 2015). Com esta ação colaborativa entre tutores e tutorados é possível

elaborar e implementar estratégias de aprendizagem, utilizando a tutoria de

pares para favorecer o desenvolvimento acadêmico e social não só de

estudantes com deficiência, mas de todos os envolvidos.

O Programa de Ações Acadêmicas Integradas é uma ação institucional,

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coordenada pela Pró-Reitoria de Extensão (PROEX), que objetiva fomentar,

mediante apoio financeiro e concessão de bolsas, o desenvolvimento de projetos

que integrem ações de ensino, pesquisa, extensão e inovação, estimulando

práticas interdisciplinares e multiprofissionais. Ressaltamos que mesmo o

programa partindo da PROEX, a dimensão voltada para o ensino que voltada

aos cursos e componentes, é avaliada, acompanhada e proposta pela

PROGRAD.

Elencamos, como exemplo, o edital nº 01/2014 - UFRN/PROGRAD/

PROPESQ/PROEX/PROAE/CAENE, para concessão de bolsas para

estudantes com necessidades educacionais específicas em projetos de ações

acadêmicas de Ensino, Pesquisa e Extensão. O qual teve como objetivos:

fomentar o protagonismo dos estudantes com necessidades educacionais

especiais, mediante apoio financeiro e concessão de bolsas, o desenvolvimento

de projetos que integrem ações de ensino, pesquisa, extensão e inovação,

estimulando práticas interdisciplinares e multiprofissionais, no âmbito da UFRN;

potencializar e ampliar os patamares da política de inclusão dos estudantes com

necessidades educacionais especiais no âmbito das ações acadêmicas,

projetando sua natureza e a missão da UFRN; contribuir com a melhoria da

formação profissional dos discentes dos cursos de graduação da UFRN;

estimular o desenvolvimento social e o espírito crítico dos estudantes, bem como

a atuação profissional pautada na cidadania.

Este edital resultou na elaboração de projetos de pesquisa voltados a

temática da inclusão da pessoa com deficiência, além de contar com os próprios

estudantes com deficiência como colaboradores nas pesquisas. Iniciativas como

esta, necessitam se tornar práticas nas IES, e ainda avançar no tocante as

normativas internas que instituem vagas e critérios para bolsistas, concedendo

aos processos uma perspectiva mais equitativa possível.

O Programa de Apoio a Melhoria da Qualidade de Ensino da Graduação

(PAMQEG) se apresenta articulado ao Plano de Desenvolvimento Institucional

(PDI) da UFRN e ao Projeto Pedagógico de Curso (PPC), que tem como objetivo

o financiamento de projetos de ensino que visam colaborar com a superação das

fragilidades dos cursos de graduação. Assim sendo, é um dos programas

estruturantes incluídos nas políticas institucionais voltadas para o cumprimento

da missão da universidade enquanto instituição pública de ensino superior.

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Os recursos do PAMQEG são destinados à aquisição de materiais e

serviços que visem incentivar o desenvolvimento de metodologias, recursos

didáticos, procedimentos, avaliações e tecnologias que proponham a melhoria

do ensino e aprendizagem, considerando propostas de projetos de ensino

encaminhadas pelos cursos de Graduação que apresentem o desenvolvimento

de metodologias inovadoras. O Edital Nº 02/2018 – Projeto de Apoio à Melhoria

na Qualidade do Ensino de Graduação (PAMQEG) contemplou o projeto

intitulado: Desenvolvimento e validação de material instrucional para a

orientação de docentes do ensino superior nos processos de ensino estudantes

com necessidades educacionais especiais, o qual teve como objetivo construir e

validar cartilhas e vídeos instrucionais para a orientação de docentes do ensino

superior nos processos de ensino-aprendizagem de estudantes com

necessidades educacionais especiais.36

Com vistas a apoiar a permanência, o Programa Bolsa Acessibilidade,

articulado com o Programa Nacional de Assistência Estudantil (PNAES), atende

aos estudantes com deficiência e que apresentam situação de vulnerabilidade

econômica visando promover a acessibilidade, permanência e conclusão do

curso em formação acadêmica com qualidade. Realiza ações de incentivo ao

empoderamento social e fortalecimento do grupo de estudantes com deficiência

na Universidade.

Diante dos aspectos analisados referentes à permanência do estudante

com deficiência e à melhoria da qualidade do ensino, percebemos que apesar

das barreiras impostas à acessibilidade física, comunicacional e pedagógica, há

uma articulação institucional na UFRN entre gestores, docentes e a política

institucional com vistas a almejar a melhoria da qualidade do ensino em uma

perspectiva humana integral. No entanto, há ainda muitos caminhos a serem

percorridos, no tocante aos dispositivos de avaliação da qualidade, os quais em

sua maioria estão pautados em respostas numéricas, que não comportam em

seus índices padrões a condição humana da diversidade. Além disto, inferimos

ser ainda necessário o aprimoramento de políticas institucionais que viabilizem

a participação efetiva de estudantes com deficiência em ações de Ensino,

Pesquisa e Extensão, oportunizando com equidade de condições o acesso às

36 Produtos resultantes do Projeto - Cartilhas sobre NEEs da UFRN: http://www.prograd.ufrn.br/documento.php?id=312960815

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ações internas que contribuem para a formação do estudante na tríade

universitária.

Compreendemos, então, que os desafios da permanência e da melhoria

da qualidade de ensino se constituem, como afirma Carballo (2018), como um

objetivo a ser alcançado em IES de diversos países, porém a educação inclusiva

na universidade é uma realidade que está evolucionando e que luta contra a

exclusão de qualquer de seus integrantes, com o objetivo final de que todos

possam desenvolver seus direitos de aprendizagem e participação de maneira

normal na vida universitária.

6.3 Categoria III - Aperfeiçoamento didático-pedagógico e qualidade do

ensino

Diante da discussão a respeito da inclusão de estudantes com

deficiência no Ensino Superior e as implicações para o aperfeiçoamento didático-

pedagógico do docente universitário, se faz necessário refletir a sobre o lugar da

Didática no Ensino Superior e os aspectos inerentes à formação docente. Gil

(2015) apresenta a diversidade de posicionamentos teóricos-científicos sobre os

fundamentos da Didática, a qual é compreendida, de modo geral, como ciência,

técnica ou arte de ensinar.

Para Pimenta, Fusari, Almeida e Franco (2014) a discussão

epistemológica ocorrida nas últimas décadas está construindo um novo

entendimento da didática, da pedagogia e das ciências da educação,

considerando as necessidades da prática. Para estes autores, a Pedagogia,

ciência da educação, toma a prática social da educação como ponto de partida

e de chegada de suas investigações. Nesse sentido, a Pedagogia é ciência da

prática da educação e, ao mesmo tempo, constituída pelo fenômeno que a

estuda e a constitui. Deste modo,

“O objeto/problema da pedagogia é a educação como prática social, daí o caráter específico que a diferencia das demais: o de uma ciência da prática – que parte da prática e a ela se dirige [...] não será captada na sua formalidade, mas, sim, na sua dialeticidade: no seu movimento, nas suas diferentes manifestações, como prática social, nas suas contradições, nos seus diferentes significados, nas suas diferentes direções, usos e finalidades. Será captada por diferentes mediações que revelam diferentes representações construídas sobre si.” (PIMENTA, FUSARI, ALMEIDA, FRANCO, 2014, p.146)

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Em nosso campo de investigação a temática da formação pedagógica do

docente universitário, surgiu como um reflexo às lacunas formativas existentes

em sua na carreira formativa. É válido ressaltar que apenas um dos docentes

entrevistados tem formação inicial na licenciatura, enquanto oito docentes têm

formação inicial no bacharelado, compondo áreas das ciências da saúde, exatas,

humanas e sociais. Para evidenciar as lacunas didático-pedagógicas referidas

na formação inicial, trazemos as falas de D7, D3 e D6:

Eu acho que se tivesse tido algum curso de formação pra docência, sei lá, algo que lá no início me ensinasse a dar aulas, ou algo assim, acho que minhas aulas seriam melhores e que até seria mais fácil pra mim hoje e meus colegas enfrentarmos essa coisa da deficiência com menos medo na sala de aula, como menos tensão, entende? (D7, 2017) Olha, eu vou lhe ser bem sincera, na minha trajetória até chegar a docência não tive formação sobre como dar aulas, como ser professora. Tudo foi meio que no percurso mesmo, fui aprendendo na prática, as vezes via os professores do passado em mim. (D3, 2017) Eu sei que o professor tem que se preocupar com a sala de aula, com o ensino, mas na verdade na formação da gente isso não é muito enfatizado não. Minha formação não tem nada a ver com ensino, eu sou da saúde, então essas questões de planejamento, de aula, e muito menos de aprendizagem do aluno deficiente não tenho formação não. (D6, 2017)

A ausência da formação inicial em um aprofundamento didático-

pedagógico, mostrou-se reverberar na ausência de estratégias para que os

docentes pudessem contribuir com a oferta da qualidade do ensino e a inclusão

efetiva dos estudantes com deficiência. Os docentes conjecturam expectativas

a respeito de que, caso tivessem tido contato com os pressupostos da didática

e com os fundamentos educacionais inclusivos, suas práticas e as de seus pares

poderiam ser diferentes.

No entanto, as falas de D7 e D6 nos levam a refletir que a formação inicial

do professor advindo especificamente do bacharelado se configuraria, no

mínimo, inusitada ou ingênua. A formação do bacharel não é direcionada à

formação de futuros docentes. Consideramos que no caso dos profissionais

bacharéis que se tornam docentes ao longo da carreira, se apresenta ainda mais

essencial uma compreensão ampla a respeito da formação continuada que

possa preencher as lacunas da dimensão pedagógica.

Outro aspecto a ser analisado seria a pauta da responsabilidade do

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próprio docente com sua autoformação. Em outras palavras, se os próprios

participantes apresentam em suas falas suas dificuldades em desenvolver uma

prática educacional coerente diante da demanda específica, logo, esta

fragilidade uma vez identificada, também necessitaria ser fortalecida e

mobilizada por uma busca pessoal de aperfeiçoamento.

Não afirmamos isto sem considerar a forte responsabilidade institucional

e política, mas ressaltamos que a construção dos saberes pode e deve ser

estabelecida a partir de fontes diversas, inclusive, por iniciativas próprias.

Neste sentido, Anastasiou (2009, p. 64) afirma que “a formação para a

profissão docente, por ter saberes próprios, necessita de um processo mais

específico e determinado”. A autora se refere à necessidade da elaboração

conceitual no início da formação do docente e da clareza que a prática docente

necessita ter para evitar ações intuitivas e a reprodução de modelos pedagógicos

inconsistentes e reprodutores de práticas sem reflexão, criticidade e pertinência

metodológica. Há, portanto, a necessidade de se desmistificar a crença de que

“quem sabe, automaticamente sabe ensinar” até porque ensinar requer muito

mais do que o domínio de determinados conteúdos e/ou demonstrações de como

as coisas acontecem na prática (MASETTO, 2003, p. 13).

Foram evidenciadas nas falas dos docentes, participantes da pesquisa,

tanto a escassa formação deles na área da didática universitária, quanto na área

da inclusão de estudantes com deficiência. Esta realidade de lacuna formativa,

de acordo com Severino (2009), tem formado gerações de professores

universitários despreparados à prática do ensino em uma perspectiva ampla,

crítica, transformadora e inclusiva. O autor revela que a prática, sem uma

formação adequada, se dá de forma aleatória e reprodutora de modelos

cartesianos experienciados ao longo da jornada acadêmica do professor. Esta

realidade implica na falta de qualidade no ensino, pois compromete a ação

pedagógica do professor junto ao estudante com deficiência, refletindo assim na

permanência.

A escassa formação inicial do docente universitário, no que se refere aos

aspectos didático-pedagógicos e aos fundamentos da educação inclusiva, se

agravam quando se analisa o processo de formação continuada.

No tocante ao aperfeiçoamento didático-pedagógico da docência

universitária como vetor de qualidade do ensino ofertada ao estudante com

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deficiência, a análise dos dados nos proporcionou uma ampla observação a

partir do que revelam as políticas de formação, os estudantes com deficiência,

os gestores e docentes da universidade. Assim como, evidenciam fragilidades

tanto no processo formativo inicial quanto na formação continuada do docente,

no que se refere à ordem normativa, na compreensão pedagógica a respeito dos

fundamentos educacionais inclusivos, na expectativa homogeneizadora da

aprendizagem e nos modelos de formação oferecidas pela universidade.

As concepções apresentadas sobre a formação continuada demonstram

o reconhecimento das necessidades formativas existentes para o

aperfeiçoamento constante da prática docente, principalmente no que tange o

trabalho direcionado aos estudantes com deficiência. Todas as entrevistas

apontaram lacunas existentes que recaem sobre a escassez formativa. Gestores,

docentes e estudantes com deficiência apresentaram suas perspectivas a partir

de suas vivências. Vejamos alguns destes posicionamentos nos recortes das

falas dos estudantes e dos docentes:

Estudantes: Eu percebo que o professor não é treinado, o professor não sabe, o professor não entende bem. Eles ficam com excesso de cuidado às vezes, enfim precisam estudar sobre isso. Tudo é muito novo, por isso a Universidade precisa se preocupar com isso.” (E1,2017) Um bom professor vive estudando. E não é só estudando sobre as suas pesquisas sobre as suas áreas. É sobre ser professor, sobre dar aulas. Acho que falta isso aqui! Num falo só pros alunos com deficiência, eles ensinam de um jeito que é difícil de entender e só exigem lista dos cálculos toda aula. E pra mim que tenho problemas pra ver ainda é pior. Teve uns que num deixavam nem tirar a foto do cálculo no quadro pra eu poder acompanhar, mesmo sabendo que eu num tava vendo nada! Esses é que tem que estudar mesmo! (E3, 2017) [o professor] ele chegou para mim e disse: desista do curso e vá para outro, porque você não tem como continuar aqui. Então, aquilo ali me deixou muito triste, eu chorei muito. O professor foi o estopim, eu ia desistir alí! Fiquei super abalada, mas encontrei apoio em minha família. E na CAENE, que providenciou a ampliação do material no laboratório. Quando levei todo o livro ampliado para o professor e fui tirar dúvida, ele se admirou com a minha atitude[...] Depois que as barreiras caíram, ele para mim foi um grande professor, aprendi muita coisa com ele e eu acho que eu devo a ele gostar mais ainda da disciplina. (E4, 2017) A própria Universidade precisa trabalhar com os professores formas de trabalhar com deficiências. Porque eu mesma já pensei em desistir várias vezes devido às péssimas atitudes dos meus professores. Já passei barra em sala de aula, isso não é com alunos não, é com professores. (E2, 2017) O professor precisa aprender a ensinar em um contexto bilingue. O ouvinte na entrega do texto, faz a leitura em grupos e as informações

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ficam resumidas para nós surdos. Não utilizam outras estratégias mais visuais, fica difícil de entender. Tem que ter detalhes, mas o aluno perde a informação. O professor tem que usar estratégia e conhecer a metodologia. (E6, 2017) Docentes: A gente não é preparado não. De jeito nenhum. Nós não somos preparados. Nem antes e nem depois. É uma dificuldade grande que a gente sente demais. (D5, 2017) Eu me imagino agora pegando um aluno cego. O cego ele ainda vai escutar. Ele escutando o que eu falo é de boas para mim, porque eu posso até dar mais exemplos e ele pode ali nesse processo desenvolver habilidades, ele pode conseguir, mas, como é que eu vou avaliar ele? Será que eu estou preparado? Como é que hoje eu deveria fazer essa avaliação de um aluno cego? Oral? Algumas disciplinas dão pra ser são orais, elas são teóricas. Mas e as matérias práticas como perícia, auditoria, custos, contabilidade mesmo, fechamento de balanço... como que eu vou fazer isso? Eu não sei, eu não sei.” (D2, 2017) Se tivesse um surdo? Ele vai conseguir escrever, ele vai conseguir ver o que eu estou fazendo, o que eu estou explicando e ele vai desenvolver as habilidades dele. Ele vai conseguir escrever, mas e se ele não entender alguma coisa? Como é que eu vou me fazer ser entendida a ele? (D1, 2017) É necessária uma preparação grande porque como é que eu vou falar com alguém em libras? Me diga? Eu não tenho essa preparação, nenhuma. Uma pessoa cega, como é que vou pegar o livro de bioquímica desse? Não existe gente, não existe. (D3, 2017) Honestamente, eu não sei quase nada sobre [...] o que sei é como é difícil essa coisa de ter que ficar o tempo todo se policiando e lutando para se encaixar num mundo que não é preparado para você. Então, eu estou bem preocupada. Mas eu penso que seja isso. É necessário haver, porque se fala muito na questão da estrutura física e tal, mas é preciso também preparar as pessoas que vão lidar diretamente com essas pessoas com deficiência (D4, 2017) Não se sabe entre os professores o que se fazer. Se você perguntasse para mim, assim, a opinião geral é: vamos deixar chegar, vamos... é como se diz "é na tentativa e erro, errando e aprendendo" (D7, 2017)

Identificamos a compreensão equivocada de formação como treinamento

apresentada na fala de E1. Esta perspectiva não pode ser compreendida sob o

viés construtivo do conhecimento e da formação como elo entre a aprendizagem

e o aperfeiçoamento. Para Pimenta (2019) não se trata de um movimento linear,

mas sim, de uma dialética do ser e estar no contexto profissional, em

encadeamento com o que já está estabelecido, do ponto de vista da dinâmica

institucional, permeada ora por atitudes que indicam transformações, ora por

adaptações à cultura dada. Esta visão é confirmada na fala de E3, quando

contempla em sua fala a permanência da necessidade formativa do professor.

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Emanaram dos nossos diálogos durante as entrevistas percepções sobre

a ausência do “treinamento”, a saber: - formação pedagógica para uma atuação

didático-pedagógica satisfatória; necessidade de que os professores estudarem

mais sobre o campo do ensino; equívocos cometidos pelos professores ao

trabalharem com o estudante com deficiência por falta de conhecimento;

situações geradoras de más condutas que podem se configurar como barreira a

permanência, assim como resultar na evasão; intensa preocupação dos

docentes com o desconhecido, indagando sempre “como vai ser?”, “o que fazer?”

Por se tratar de um assunto com discussões ainda iniciais no contexto

do Ensino Superior é comum a presença de incerteza e insegurança pelos

professores, como nos apresentam os recortes das falas dos docentes D1, D2,

D3, D4, D5 e D7. O desconhecimento torna-se uma barreira à elaboração de

uma prática pedagógica inclusiva. Concordamos com Stainback, S; Stainback,

W; (1999, p. 27) quando afirmam que “[...] a maneira de promover a produtividade

e a independência das pessoas com deficiência é remover as barreiras que

nossa sociedade criou e restaurar os direitos dos cidadãos com deficiência para

compartilhar as oportunidades”.

Tardif (2002, p.14), por sua vez, afirma que “ainda hoje, a maioria dos

professores aprende a trabalhar na prática, às apalpadelas, por tentativa e erro.”

No entanto, conforme Masetto (2009), chama à atenção, novos paradigmas

curriculares se apresentam para os cursos de graduação, novos perfis de

estudantes, e as chamadas metodologias ativas adquirem força maior exigindo

do docente do ensino superior outras atitudes, outras posturas e outras

competências. Mas, conforme afirma o autor, via de regra, este docente não

está, capacitado para trabalhar com um currículo tão diferente do tradicional no

qual está bem definido que ele é o responsável pelo conteúdo da disciplina

ministrada, e nada mais, assim como não está pronto a trabalhar com um público

tão diverso em sala de aula.

Consideramos que os conhecimentos e aprendizagens não são

estanques e nos conduzem à eterna busca pelo saber. Mesmo aos professores

que atingem alto nível de diplomação formal e científica, é essencial conhecer

sempre e mais. Também consideramos que é da formação continuada que

emanam novos saberes e desenvolvimento de habilidades para uma prática

reflexiva, sendo esta uma perspectiva inclusiva, considerada uma contribuição

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ao sucesso da inclusão. É imprescindível que seja conferida aos docentes uma

formação que os empodere do real papel do professor, como nos postula Freire

(1996), adotando uma postura ativa, dialética, política e ética, sem abrir mão do

exercício da cidadania e do respeito à dignidade dos educandos.

As lacunas na formação dos professores não passam despercebidas aos

estudantes. A fala do estudante E9 é enfática ao expressar a necessidade

formativa dos docentes, a partir de suas vivências enquanto estudante, e traz

uma boa reflexão sobre a necessidade de sensibilizar o professor através da

formação sobre a existência da condição de ser uma pessoa com deficiência,

conduzindo-o a se colocar no lugar do outro e a respeitar as diferenças

específicas de cada pessoa para aprender:

E9: Acredito claramente e categoricamente que a formação do professor influência na qualidade do ensino e na nossa permanência ou não no curso. Porque a maioria deles pensa nos seus alunos como um público homogêneo, eles tendem a pensar que todos são iguais e que a sua fala vai surtir o mesmo efeito para todos, porém dentre esses milhares de alunos um ou outro não vai absorver a informação da mesma forma. Vai precisar de um cuidado, eu acredito que essa é a palavra central. Os professores não fazem ideia do que é ter uma deficiência, ou lhe desconsideram, ou acham que foi um erro no Sistema (risos) que foi o que aconteceu comigo. O professor tem que ter a consciência que precisa alcançar a todos. E é na formação que esse olhar pode mudar, e perceba que se existe um aluno com deficiência na sala. Vou me colocar como exemplo, se o professor "não liga" para o seu aprendizado, isso pode se tornar um fim para você e te levar a sair da universidade porque você não se sente acolhido por aquele ambiente. Você não se sente participante. Pesquisadora: Então, para você pensa que a falta de formação docente pode levar a evasão? E9: Sim. Com certeza. Eu mesmo já pensei em desistir diversas vezes. (E9, 2017)

A ausência de formação do professor sobre o ensino a estudantes com

deficiência o afasta da reflexão sobre os fundamentos éticos, pedagógicos e

metodológico para atuar junto a tais estudantes. É comum ouvir a seguinte

expressão: “o novo sempre assusta”. No entanto, quando aventuramos nos

aproximar do “novo”, daquilo que a realidade de sala de aula nos revela de

diferente é que podemos “assumir o desafio da descoberta e da busca pela

superação de preconceitos, de atitudes que negam a capacidade do outro em

aprender e de desenvolver suas potencialidades, garantindo, assim, o direito

inalienável que todos têm em aprender ”(SILVA, 2008, p. 21)

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Outro aspecto preponderante destacado, a seguir por G1, D10 e E2, é o

desinteresse existente entre os docentes no que se refere à formação na área

da didática e principalmente para a formação voltada à perspectiva inclusiva:

Bom eu entendo que a universidade já avançou muito em relação a questão inclusão e da formação, capacitação dos servidores, mas é um grande desafio. Porque não basta oferecer só as capacitações. Você tem que trabalhar com as pessoas de forma que elas entendam, elas precisam compreender esse contexto em que está a pessoa com deficiência, e tenham essa compreensão da necessidade de formação. (G1, 2017) O professor acha ruim, porque ele vai preparar um material específico para uma pessoa. Ele não entende que não é um material específico, ele vai ter que adaptar o seu material. Só que, como o professor universitário não planeja, ele fica irritado, porque isso dá muito trabalho. Então, a cultura pedagógica de planejamento de aula, de planejamento do ensino, de pensar sobre os conteúdos e as metodologias, ela foi tendo que ser remontada no ensino superior por conta das novas demandas. Aí tem as demandas dos deficientes, mas também tem as demandas dos alunos de escola pública que chegaram com um monte de lacunas formativas que a gente acha que não tem que dar conta, mas tem. (G2, 2017) O mais difícil nisso tudo é convencer o professor sobre a importância da formação, da capacitação. Como estou na gestão, tenho acesso a muitas informações, que demonstram a necessidade do professor se capacitar, recebo alunos com queixas, vejo as avaliações. Mas é muito difícil o professor que já tem doutorado, pós-doutorado, as vezes está até perto de sair, reconhecer a necessidade de estudar sobre outras coisas que não sejam de seus interesses. (D10, 2017) Eles não sabem e eles também não estão morrendo de preocupação para aprender não. Apesar de estarem ensinando a ensinar. (E2, 2017)

Posso dizer a você que apenas dois ou três professores é que participam de cursos para melhorar a prática com os deficientes posso até dizer os nomes [...] o restante não se interessa, nem quer melhorar a qualidade do ensino nem pra os videntes, quanto mais para nós que temos deficiência.” (E1, 2017)

Estas afirmações nos fazem concordar com Vasconcelos (2009, p. 86)

ao afirmar que há “pouca preocupação com o tema da formação pedagógica de

mestres e doutores oriundos dos cursos de pós-graduação do país. A graduação

tem sido ‘alimentada’ por docentes titulados, porém, sem a menor competência

pedagógica.” Diante tal realidade, se faz necessário definir qual o perfil teórico

da Didática que se almeja alcançar no Ensino Superior, e refletir sobre a que se

atribui a resistência e desconsideração, por docentes universitários, à formação

na dimensão pedagógica, pois como afirma GIL (2015)

embora os estudiosos da educação insistam na importância da aquisição de conhecimentos e habilidades pedagógicas pelos

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professores, também nesse nível de ensino, muitos professores universitários não reconhecem a importância da Didática para a sua formação [...] assim como não dispõem de preparação pedagógica. (GIL, p.5, 2015)

Afirmação ratificada nas concepções dos docentes entrevistados que se

referem à ação formativa como um fator não prioritário, destacando-se

expressões como: “a formação é para quando o problema chegar”; “quando

precisar”; “vamos deixar o problema chegar primeiro”; “fazendo no ensaio e erro”;

“o processo de preparação, será quando o problema chegar aqui”, tal podemos

verificar:

Eu acho que de forma tímida agora está começando a acontecer, mas eu diria para você que ainda é bem incipiente [...] o andar do processo de eu receber um aluno aqui dentro com necessidades especiais vai ser muito mais rápido do que as minhas ações, do que as minhas preparações. Então eu acho que a gente está de uma forma geral, enquanto coordenadora, enquanto instituição, eu acho que a gente está meio que trabalhando assim, deixa o problema chegar e eu vou tentar ver como é que eu vou caminhar junto.” (D1, 2017) Nós somos uma equipe de professores que a gente está ciente de que a gente está entrando para uma outra realidade, nós temos ciência [...] até porque a universidade está começando a inserir, então eu, como coordenadora participo, a gente lê, a gente escuta experiências, mas eu posso de forma garantida te dizer que a gente vai trabalhar da seguinte forma: a gente vai esperar o problema chegar para daí ir fazendo projetos pilotos. Vamos tentar assim, vamos tentar assado. Porque no momento a preocupação é com a sala de aula, como abordar o conteúdo para que esse conteúdo chegue ao aluno especial, em outro momento está forma de avaliação desse conteúdo.” (D2, 2017) O processo de preparação... porque ele é demorado mesmo, vai ser mais lento que o processo de inclusão. Eu vou estar com o problema aqui [...] uma coisa vai depender da outra. Não adianta a gente oferecer só a vaga. (D3, 2017) Se por acaso no semestre passado aquele professor tivesse feito parte de algum curso, com certeza ele não tinha feito o que fez comigo em sala de aula. Agido com preconceito, eu não teria saído tão triste e chorando, arrasada. Querendo até abandonar o meu curso, fechar matrícula, desistir de tudo. Ele pelo menos ia conhecer sobre a deficiência visual. E não venha me dizer que ele não sabia que tinha curso pra isso, porque todo ano tem, tinha vários cursos, vários minicursos e tinha um deles como ensinar um professor ou uma pessoa a trabalhar com deficiente visual. Então se ele tivesse ido, teria sido bem melhor pra enfrentar este problema. (E1, 2017) Eu, por exemplo, ainda não me inscrevi em nenhum curso porque nós não temos nenhum aluno.” (D8, 2017)

Podemos inferir que esta sequência de afirmações indica, de fato, a não

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compreensão do viés preventivo inerente a formação docente e ainda sobre a

prática assertiva e consciente que deve reger a atuação docente. Para Zabalza

(2004)

é evidente a necessidade de reforçar a dimensão pedagógica de nossa docência para adaptá-la às condições variáveis de nossos estudantes. Impõe-se a nós a necessidade de repensar as metodologias de ensino que propomos a nossos estudantes (considerando a condição de que estamos trabalhando para um processo de formação contínua); a necessidade de revisar os materiais e recursos didáticos [...]; a necessidade de incorporar experiências e modalidades diversas de trabalho [...]. Este não é, naturalmente, um trabalho fácil; ao contrário disso, exige uma reconstrução do perfil habitual dos professores universitários (ZABALZA, 2004, p. 31).

Outra questão digna de nota nas afirmações é o uso frequente uso da

palavra ‘problema’ pelos docentes para referir-se a presença do estudante com

deficiência em sala de aula. Esta expressão é usada seguidas vezes em 08 (oito),

das 09 (nove) entrevistas realizadas com os docentes. Assim como 07 (sete),

dos 11 (onze) estudantes entrevistados, também, referiram a palavra ‘problema’,

como o fez E1, ao exemplificarem situações vivenciadas por eles mesmos, nas

quais compreendiam serem eles, em as pessoas com deficiência, “O” problema.

É interessante destacar que a fala de E1, nos leva a refletir sobre as

consequências da má condução da prática pedagógica e das lacunas na

formação docente, para o desenvolvimento do trabalho didático pedagógico em

uma perspectiva inclusiva. Também nos faz refletir sobre o caráter preventivo da

formação docente, que dentre outros aspectos pode contribuir para que nenhum

professor/a exponha seu aluno/a com deficiência a situações de

constrangimento.

A docente D1, ao se colocar durante a entrevista, nos revela uma atitude

positiva frente a dois de seus alunos, priorizando entre suas tarefas uma ação

formativa promovida pela CAENE:

Porque que eu fui para o fórum da CAENE? Eu fui para o fórum da CAENE porque eu tenho dois alunos que vem com esse acompanhamento da CAENE. Então eu disse não, deixa. Eu vou atender em outra hora, mas esse fórum eu não posso perder, porque eu tenho este problema no meu curso, então eu preciso buscar condições, informações, experiências. (D1, 2017)

A expressão “fórum da CAENE” utilizada pela docente, refere-se a uma

ação formativa institucional, oferecida pela PROGRAD em parceria com a

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CAENE e outros setores. No entanto, está última aparece como único setor da

UFRN responsável pela temática da inclusão de estudantes com deficiência.

Não há a compreensão de que se trata de uma iniciativa da e para a instituição

como um todo, sendo a CAENE um dos vetores dessas ações.

A questão da antecipação e prioridade para a formação é apresentada por

D5 e D8 a partir de analogias interessantes que exemplificam a necessidade

formativa e as escolhas realizadas por parte dos docentes. Vejamos:

Eu penso assim: houve uma mudança no código de trânsito. "gente, vamos estudar", pelo fato de nós já sabermos dirigir, talvez achássemos que não precisaria. Então, quantas vezes nós não corremos o risco de sermos penalizadas pela lei, por não conhecer, e só vai conhecer quando precisar? (D5, 2017) Eu acho que a palavra é prioridade. Às vezes tem um professor que está aqui, aí vê o curso de culinária, mas entre o de culinária e o de educação inclusiva ele vai escolher o de culinária porque aquilo ali ainda não chegou para ele. Então essa é a percepção que eu tenho. (D8, 2017) Se a universidade não provê a capacitação e o professor não se disponibilizar a se submeter a essa capacitação, quando esse aluno chegar aqui vai ser um grande problema para a docência e vai ser difícil para esse aluno se engajar na vida universitária, cumprir as atividades e tal... ele pode acabar inclusive desistindo. (D10, 2017) )Botou em outro lugar!

O docente D5 ressalta a necessidade de formação antecipada e, não,

apenas após surgir à necessidade sobre determinado conhecimento para

desempenho da prática pedagógica. Para ela, mesmo que se tenha experiência,

a cada mudança é necessário conhecer e reestruturar seus múltiplos olhares

sobre a docência. Para isso, D8 reafirma a necessária prioridade com a qual se

deve perceber a formação didático-pedagógica como vetor à promoção da

qualidade de ensino em uma perspectiva inclusiva. Uma forma de minimizar as

barreiras impostas pelo desconhecimento, tal como podemos inferir mediante,

também, a afirmação de D10:

Se a universidade não provê a capacitação e o professor não se disponibilizar a se submeter a essa capacitação, quando esse aluno chegar aqui vai ser um grande problema para a docência e vai ser difícil para esse aluno se engajar na vida universitária, cumprir as atividades e tal... ele pode acabar inclusive desistindo. (D10, 2017)

Percebemos que na fala da docente, “a capacitação” na perspectiva

inclusiva é considerada como uma via de mão dupla, sendo da responsabilidade

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da instituição provê-la e do docente, priorizá-la para que o estudante com

deficiência não passe a ser “um grande problema” quando ingressar na

Universidade e venha a se sentir na iminência de desistir do curso devido às

dificuldades e as barreiras encontradas, principalmente na ação docente.

Uma breve reflexão teórica a respeito da Didática e das implicações

trazidas à dimensão pedagógica dos docentes universitários frente à inclusão de

estudantes com deficiência nos faz perceber que não há definições sobre o perfil

didático adotado nas práticas docentes na universidade, tampouco uma maior

atenção à formação, inicial ou continuada do docente do ensino superior, no

campo da didática ou das metodologias de ensino.

Isto se agrava ao refletirmos que a Didática se posiciona como elemento

estruturante da atuação do docente, principalmente quando pensamos nas

especificidades emergidas do processo de inclusão dos estudantes com

deficiência, as quais evidenciam lacunas no planejamento de disciplinas e aulas,

na avaliação formativa, no uso de metodologias de ensino acessíveis, entre

outras.

6.1.4 Categoria IV - Diretrizes da política institucional para a formação

docente e inclusão na UFRN

Nesta categoria nos debruçamos sobre as políticas que direcionam a

formação do docente universitário na UFRN e as suas implicações no processo

de inclusão do estudante com deficiência, principalmente no que se refere ao

aperfeiçoamento da prática docente com o objetivo de melhorar a qualidade do

ensino de forma integral e inclusiva. Realizamos nesta sessão uma articulação

entre as políticas nacionais e institucionais que versam sobre esta temática, e as

percepções dos gestores, docentes e estudantes com deficiência participantes

da pesquisa.

Partimos da análise da Lei nº 12.772, de 28 de dezembro de 2012, que

dispõe sobre a estruturação do Plano de Carreiras e Cargos de Magistério

Federal e sobre a Carreira do Magistério Superior. Em seu artigo 12, define que

o desenvolvimento na Carreira de Magistério Superior ocorrerá mediante

progressão funcional e promoção. Esta progressão funcional é definida pela

referida Lei por meio do cumprimento do interstício de 24 (vinte e quatro) meses

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de efetivo exercício em cada nível; e através de aprovação em avaliação de

desempenho.

No inciso 4º da mesma Lei é apresentado que as diretrizes gerais para o

processo de avaliação de desempenho para fins de progressão e de promoção

serão estabelecidas em ato do Ministério da Educação e do Ministério da Defesa,

conforme a subordinação ou vinculação das respectivas IFES. Esta avaliação

para fins de progressão deverá contemplar as atividades de ensino, pesquisa,

extensão e gestão, cabendo aos conselhos competentes no âmbito de cada

Instituição Federal de Ensino regulamentar os procedimentos do referido

processo.

É importante ressaltar que a Lei nº 12.772 / 2012 não define um processo

de avaliação com viés pedagógico ou que vislumbre o aperfeiçoamento da

prática docente, com vistas especificamente à melhoria da qualidade do ensino.

Ao voltarmos ao contexto da UFRN, observamos a Resolução

n°136/2014-CONSEPE, 22 de julho de 2014, que regulamenta o processo de

avaliação de desempenho para fins de progressão e de promoção na carreira do

Magistério Superior Federal na Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

No artigo 11 é definido que a promoção ocorrerá quando preenchidos os

seguintes requisitos, cumulativamente:

I – o cumprimento do interstício mínimo de 24 (vinte e quatro) meses de efetivo exercício no último nível de cada classe antecedente àquela para a qual se dará a promoção; II – aprovação em avaliação de desempenho, cujos critérios são definidos nesta Resolução; III – possuir título de doutor quando a promoção for às classes D e E; IV– aprovação em memorial ou tese acadêmica inédita quando a promoção for à classe E. (UFRN, 2014)

A Resolução n°136/2014 da UFRN também aponta que o desempenho

acadêmico será avaliado pela Comissão de Avaliação de cada Centro ou

Unidade de ensino especializada. No artigo 14, é exposto que o processo de

avaliação de desempenho para efeitos de progressão e promoção levará em

consideração a assiduidade, responsabilidade e qualidade do trabalho

expressos em seu desempenho acadêmico. Os quais serão atestados e

contabilizados por meio dos seguintes instrumentos:

I - Relatório Individual Docente (RID), disponível no Sistema Integrado de Gestão de Atividades Acadêmicas –SIGAA, especificado no ANEXO I desta Resolução;

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II –Avaliação da Docência, disponível no Sistema Integrado de Gestão de Atividades Acadêmicas – SIGAA, conforme normas estabelecidas pelo CONSEPE; e III – Declaração de assiduidade emitida pelo Sistema Integrado de Gestão de Recursos Humanos - SIGRH. (UFRN, 2014)

Ao final do texto da Resolução n°136/2014 (UFRN) é apresentada nos

anexos uma tabela de pontuação de atividades, distribuída em três grupos, são

eles: Ações de Ensino, Pesquisa e Extensão.

Percebemos pela análise desta Resolução que é considerada a formação

do docente no tocante à dimensão pedagógica. Porém, a avaliação da formação

se refere com mais ênfase ao aprofundamento e expertise na dimensão da

pesquisa, valorizando o processo produtivo científico de diferentes maneiras, e

ainda destacando a participação em projetos, orientações ou co-orientações

acadêmicas na graduação ou pós-graduação. No que denomina “grupo ensino”

são ressaltadas mais ações quantitativas como, por exemplo, pontuação por

carga horária de aulas ministradas, e maior pontuação conferida a docentes que

lecionam disciplinas que possuem número alto de estudantes matriculados,

adicionando maior pontuação para turmas com mais de 90 estudantes.

No entanto ao considerarmos o Relatório Individual Docente (RID),

disponível no Sistema Integrado de Gestão de Atividades Acadêmicas – SIGAA,

existem itens obrigatórios a serem preenchidos, relativos ao campo do ensino e

a avaliação da docência. Estes, tratam da prática pedagógica docente em suas

turmas, e da pontuação dada à dimensão de ensino.

Deste modo, consideramos avanços significativos na política institucional,

a existência da avaliação considerando a dimensão pedagógica. Todavia, é

interessante ponderar a ênfase dada nesta avaliação, no que se refere ao

alcance de uma pontuação mais equitativa em comparação à dimensão

pedagógica e às demais dimensões.

Dialogando sobre a política institucional e a formação docente, gestores

e docente confirmam esta perspectiva quando afirmam que,

Lá na nossa resolução de progressão e formação de professores existe uma dimensão que é a própria formação. Só que o professor doutor entende que a formação está relacionada ao aprofundamento das suas áreas de pesquisa. Uma pensa assim “eu vou fazer um aprofundamento pedagógico, eu vou fazer uma formação sobre inclusão, sobre diversidade de gênero”. Ele não pensa nisso. Para ele a formação está ligada aos seus campos e estudos de pesquisa. (G1, 2017)

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A gente tem um modelo muito fechado de ensino superior, pautado muito na reprodução de conhecimento e pouco na construção de conhecimento. E quando é na construção, também não leva em consideração as diferenças. Então, tem-se um modelo de construção que é voltado para a pesquisa, mas não é voltado para as dificuldades que as pessoas podem ter de limitação. (D5, 2017) Não é politicamente correto ser contra a inclusão, mas é difícil de fazer e quando você põe isso numa grelha de pontuação de professores, você explicita coisas que estão escamoteadas e que não são da natureza da inclusão. [...] Qual é o nosso papel? Para que serve a ciência que produzimos? Professor universitário é para cuidar de pobre, de doente? A gente produz conhecimento, diz como é que tem que ser, mas não faz? [...] Isso precisa ser questionado e isso não é uma coisa fácil, porque isso confronta as pessoas com seus próprios espelhos. (G2, 2018)

Refletir sobre o processo formativo que tenha alicerces na perspectiva

educacional inclusiva, nos conduz à compreensão de que os princípios da

inclusão partem do olhar humano às diferenças, reconhecendo que o professor

tem papel fundamental para mobilizar e gerar novos discursos, olhares e

interpretações sobre quem é o outro. E diante da sensibilidade, individualidade

e subjetividade de cada um, seguir desvelando as possibilidades de atuação

pedagógica, colocando-se sempre no lugar de quem aprende, trilhando, assim,

um caminho de respeito à ética do humano (PIRES e PIRES, 2013).

Nisto, consideramos necessária a preocupação com a atuação do

professor universitário na área do ensino e da formação inicial e continuada,

tendo em vista que, diante da diversidade e inclusão de estudantes com

deficiência no Ensino Superior, são levantadas novas possibilidades de

ressignificação da prática docente. Esta, em vez das limitações, deve visar às

possibilidades e, no lugar da construção das barreiras, atuar na transposição

delas.

O Regimento Geral da UFRN, publicado inicialmente no Boletim de

Serviço nº 036, de 29 de agosto de 2002, há três anos atualizado pela Resolução

nº 022/2015-CONSUNI, de 25 de novembro de 2015, aponta as diretrizes para

a qualificação geral do corpo docente. No artigo 177 está posto que “a

Universidade deve promover o aperfeiçoamento de seus servidores

capacitando-os de modo a permitir seu desenvolvimento e qualificação,

objetivando a melhoria dos serviços prestados e promoção funcional”. E, no

artigo 241 é apresentado que a Universidade desenvolverá a capacitação do seu

pessoal docente e técnico-administrativo.

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O Plano de Desenvolvimento Institucional (2010-2019) traz a temática da

qualificação e formação do corpo acadêmico no capítulo 10, através da

discussão sobre a política de promoção formadora de pessoal especializado na

gestão universitária. Este processo é conduzido pelo Plano de Qualificação e

Educação Profissional, que prevê

a oferta de ações da educação formal, básica e superior, e de eventos de capacitação. Associada às práticas de qualificação, de socialização organizacional e de avaliação de desempenho, a política de promoção formadora de pessoal especializado integra o Plano de Desenvolvimento dos Integrantes da Carreira e implica a formação de servidores capazes de contribuir para a modernização da gestão universitária e de apoiar a consecução dos objetivos institucionais. (UFRN, p. 70, 2010)

Apesar de apresentar a intenção na qualificação, esta política dirige-se à

formação e qualificação dos servidores técnico-administrativos, observando-se

os seguintes princípios: a natureza do processo educativo, sua função social e

objetivos institucionais; a dinâmica dos processos de ensino, pesquisa e

extensão e administração e as competências específicas decorrentes; a

qualidade do processo de trabalho; o reconhecimento do saber instituído

resultante da atuação profissional; a vinculação ao planejamento estratégico e

ao desenvolvimento organizacional; o desenvolvimento dos servidores vinculado

aos objetivos institucionais.

A análise do campo empírico e das políticas institucionais da UFRN nos

permitiu perceber a ausência no sistema normativo, tanto brasileiro quanto

institucional, no que se refere a uma consistente atenção a dimensão pedagógica

na formação do docente do ensino superior. No entanto, nos fez perceber um

movimento de preocupação e atenção a esta lacuna, principalmente quando

discutimos as mudanças no perfil estudantil ocorridas no ensino superior ao

longo dos anos e as dificuldades apresentadas pelos gestores e docentes no

que diz respeito à formação, a qualificação para a realização de um trabalho

didático-pedagógico consciente e consistente.

Em uma perspectiva dialógica com as múltiplas vozes de nossa pesquisa

as lacunas formativas não foram esquecidas pelos partícipes. Percepções sobre

a ação docente e as lacunas na formação profissional foi constante. Vejamos os

recortes das falas a seguir:

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Eu não gosto do lugar e da posição de culpabilizar os colegas, porque fica parecendo que a gente está criando a competição entre área pedagógica e área não pedagógica e não é isso. Até porque ninguém, nenhum de nós entrou na universidade pensando que na docência universitária. Em primeiro lugar, fomos feitos pesquisadores. Penso que essa agora, é uma tarefa institucional. (G2, 2018) Isso não é compreendido pelos colegas, não por culpa deles, eu acho que é mais porque eles também não tiveram uma formação que favorecesse pensar sobre isso. Então a instituição tem que pensar na formação dos professores continuamente e aí é outro desafio, porque, como não é obrigatório, a gente não consegue atingir quem a gente devidamente gostaria de atingir. (G1, 2017) Estou há 13 anos aqui e não conheço política de formação voltada para os professores. Inclusive até foi o que me motivou a contribuir com sua pesquisa, porque é um tema super-relevante, atual e normalmente o que acontece na Instituição é não entender que o Professor, ele é largado aqui dentro e aí “te vira”, ensina, dá um jeito [...] é muito complicado isso, é complexo. Sei que existem falhas da nossa parte, mas também existem falhas nessa política mesmo de formação. Porque eu sou doutora em farmacologia, pesquisadora e tal. Essa política deveria ser mais clara desde o concurso, porque entramos aqui pra sermos professores. (D2, 2017) Eu penso que talvez estivesse na hora de começar a refletir que uma cota, um tanto dessa formação tivesse que a ver obrigatoriamente com a dimensão pedagógica. (G5, 2017)

No contexto analisado as lacunas formativas reverberam uma intenção de

mudança nas políticas que versam sobre a formação do docente universitário.

Na UFRN, a temática da formação continuada e em serviço tem sido alvo de

diversas frentes junto aos servidores técnico-administrativos e aos docentes. A

Pró-reitoria de Gestão de Pessoas – (PROGESP) e a Pró-reitoria de Graduação

(PROGRAD) são atualmente os setores responsáveis pelas ações de

aperfeiçoamento das práticas dos servidores37, propondo cursos, mini-cursos,

palestras e oficinas com diversas temáticas inerentes às práticas no serviço

público, nas modalidades presencial, semipresencial e à distância.

Dentre estas temáticas discutidas, encontra-se a Educação Inclusiva nas

práticas educacionais e sociais, trazendo reflexões sobre estratégias de ensino-

aprendizagem aos estudantes com deficiência, conhecimento sobre Tecnologia

Assistiva e Serviços de Apoio oferecidos pela instituição. Ressaltamos que

grande parte destas ações formativas é realizada pelos setores responsáveis,

37 A título de esclarecimento, o termo “servidores” envolve as categorias técnico-administrativas, de nível médio, técnicos administrativos de nível superior e docentes da instituição. (Lei 8.112 de 1990)

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em parceria com a Comissão Permanente de Apoio ao Estudante com

Necessidades Educacionais Especiais (CAENE).

Diante da necessidade de investigação sobre as políticas de formação

continuada dos docentes da UFRN e, especificamente, sobre a formação

direcionada à área da educação inclusiva, esclarecemos que não está no escopo

deste estudo analisar os programas específicos de formação continuada da

universidade. No entanto, os dados aos quais tivemos acesso serviram de base

para a melhor compreensão de como se dá a política de formação continuada

dos docentes na UFRN e para poder identificar de que maneira a perspectiva

inclusiva está inserida nestas propostas de formação.

Segundo a Coordenação do Programa de Capacitação (CCEP), ligada à

PROGESP, são constantemente ofertadas ações formativas que abordaram

temáticas relacionadas à inclusão de pessoas com deficiência na Universidade,

cursos como: LIBRAS Básico e Intermediário; Convivendo e Aprendendo a lidar

com a pessoa com deficiência; além da oferta de oficinas específicas.

Apesar das ações de capacitação da PROGESP estarem mais

direcionadas ao público de técnico-administrativos, há a presença de docentes

desfrutando destas oportunidades de formação continuada.

Para ilustrar esta análise, trazemos a seguir o exemplo de uma política

institucional da UFRN, que contempla a formação continuada e aponta como

uma de suas temáticas principais o tema da “Inclusão de pessoas com

deficiência”. Em 16 de Fevereiro de 2016 foi aprovada a Portaria nº 102/16-

PROGESP, que institui o Programa de Integração ao Serviço Público para os

Servidores Técnico-Administrativos em Educação ingressantes na UFRN, com

objetivo de propiciar o acesso às principais informações institucionais, a

socialização e ambientação dos servidores e o planejamento inicial de

desenvolvimento na carreira. Este programa é composto pelo “Seminário de

Integração” e pelas “Trilhas de Capacitação Básica”.

O Seminário de Integração é uma atividade de capacitação que tem o

objetivo de possibilitar ao servidor a sua socialização e integração no serviço

público, contemplando atividades informativas, reflexivas e de planejamento

essenciais para seu ingresso na UFRN. Neste seminário, geralmente é

planejado junto à CAENE a realização de uma palestra com a temática da

inclusão no contexto universitário. Esta atividade de capacitação ocorre

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comumente uma vez a cada semestre letivo e é dirigida aos servidores em

estágio probatório.

Já as Trilhas de Capacitação Básica são compostas por um bloco de

atividades de capacitação que possibilitam, por intermédio de cursos de caráter

abertos e flexíveis, a promoção do desenvolvimento de competências voltadas

para o início da carreira do servidor ingressante na UFRN.

Das atividades constantes nas Trilhas de Capacitação Básica, o servidor

pode escolher cursos oferecidos pelo programa com temáticas diversas. No

entanto, no primeiro ano de exercício na UFRN terá que contabilizar uma carga

horária de no mínimo 90h, sendo 50h na modalidade à distância e 40h

presenciais. A certificação no Programa de Integração ao Serviço Público

constitui-se um dos documentos obrigatórios para homologação do estágio

probatório do servidor ingressante.

Ressaltamos que, dentre os cursos oferecidos nas Trilhas de Capacitação

Básica, a temática da “inclusão das pessoas com deficiência” no âmbito

universitário é contemplada, estando dentre as possibilidades de escolhas os

seguintes cursos: Conhecendo e aprendendo a lidar com a pessoa com

Deficiência no Ambiente de Trabalho; Discutindo a diversidade no ambiente de

trabalho; Libras Básico e Intermediário.

Consideramos que este incentivo à qualificação do corpo técnico

institucional poderá reverberar em práticas inclusivas e ainda incentivar aos

servidores a ampliarem os seus olhares no que se refere ao respeito à diferença

e à compreensão da diversidade nos contextos social e universitário.

Especificamente sobre a formação continuada direcionada aos docentes

da UFRN, já descrito e historicizado no referencial teórico, identificamos que a

Universidade conta com o Programa de Atualização Pedagógica (PAP), que é

coordenado pela PROGRAD em parceria com a PROGESP e conta com a

colaboração de outros setores da instituição como, por exemplo, a CAENE. Este

programa é destinado à formação continuada com vistas ao desenvolvimento e

à melhoria da qualidade do ensino de graduação e faz parte da política

institucional.

Para ilustrar a explanação desta formação, apresentamos um quadro

descritivo com as ações formativas oferecidas pelo PAP nos anos de 2017 e

2018.

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Quadro 9: Ações formativas oferecidas aos docentes através do PAP/UFRN -

2018

AÇÃO FORMATIVA PERÍODO CARGA HORÁRIA

MODALIDADE ESCOLHA QUANTITATIVO DE DOCENTES

Curso de Atualização Pedagógica - PAP 2017.1/ Saúde

30/01/2017 a 03/02/2017

40 h Presencial Obrigatória para estágio probatório

22 docentes aprovados

Total: 82

Curso de Atualização Pedagógica - PAP 2017.1/ Humanas

30/01/2017 a 03/02/2017

40 h Presencial 44 docentes aprovados

PAP - Curso de Atualização Pedagógica – Exatas

30/01/2017 a 03/02/2017

40 h Presencial 16 docentes aprovados

EAD/PAP - Como utilizar as tecnologias de informação e comunicação (TIC's) na docência

25/04/2017 a 12/05/2017

22 h Semipresencial Optativa 23 inscritos/11 aprovados.

Oficina PAP - Gestão Acadêmica na Coordenação de Graduação

26/04/2017 a 26/04/2017

12 h Presencial Optativa 12 docentes aprovados

PAP Atividade - Controle Acadêmico e procedimentos no SIGAA

10/05/2017 a 10/05/2017

4 h Presencial Optativa 19 inscritos/9 aprovados

PAP Atividade - Projeto Pedagógico do Curso

11/05/2017 a 11/05/2017

3 h Presencial Optativa 9 inscritos/ 7 aprovados

PAP Atividade - Formação Didático-Pedagógica no Contexto da Docência Assistida da UFRN - CB/CCS

19/06/2017 a 23/09/2017

20 h Presencial Optativa 11 inscritos/ 9 aprovados

PAP Atividade - Formação Didático-pedagógica no contexto da Docência Assistida da UFRN

19/06/2017 a 23/06/2017

20 h Presencial Optativa 10 docentes/ 4 aprovados

Curso de Atualização Pedagógica - PAP 2017.2/Saúde

17/07/2017 a 21/07/2017

40 h Presencial Obrigatória para estágio probatório

13 inscritos/ 11 aprovados

Total:49

Curso de Atualização Pedagógica - PAP 2017.2/Humanas

17/07/2017 a 21/07/2017

40 h Presencial 21 docentes aprovados

Curso de Atualização Pedagógica - PAP 2017.2/Exatas

17/07/2017 a 21/07/2017

40 h Presencial 15 docentes/ 12 aprovados

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PAP - Docência Assistida no contexto da UFRN (Setembro/2017)

De 11/09/2017 a 15/09/2017

20 h Presencial Optativa 26 inscritos/ 10 aprovados

Fonte: Arquivos do DDP - CCEP – UFRN (2018)

Quadro 10: Ações formativas aos docentes através do PAP/UFRN ano 2018

AÇÃO FORMATIVA Período CARGA HORÁRIA

MODALIDADE ESCOLHA QUANTITATIVO DE DOCENTES

PAP - Curso de Atualização Pedagógica 2018.2 - (Turma Exatas)

24/07/2018 27/07/2018

40h Presencial Obrigatória para estágio probatório

16 Total: 34

PAP - Curso de Atualização Pedagógica 2018.2 - (Turma Humanas)

24/07/2018 27/07/2018

40h Presencial 10

PAP - Curso de Atualização Pedagógica 2018.2 - (Turma Saúde)

24/07/2018 27/07/2018

40h Presencial 8

PAP - Curso de Atualização Pedagógica - PAP 2018.1 (Turma Exatas)

29/01/2018 02/02/2018

40h Presencial Obrigatória para estágio probatório

16 Total: 52

PAP - Curso de Atualização Pedagógica - PAP 2018.1 (Turma Humanas)

29/01/2018 02/02/2018

40h Presencial 20

PAP - Curso de Atualização Pedagógica - PAP 2018.1 (Turma Saúde)

29/01/2018 02/02/2018

40h Presencial 16

PAP ATIVIDADE - Conversando sobre/com Estudantes com deficiência/NEE na UFRN

27/09/2018 27/09/2018

4h Presencial Optativa 5 Total: 5

PAP ATIVIDADE - Ética no Serviço Público (Turma 02: 24/09)

24/09/2018 24/09/2018

4h Presencial Optativa 7 Total: 12

PAP ATIVIDADE - Ética no Serviço Público (Turma 01: 20/09)

20/09/2018 20/09/2018

4h Presencial Optativa 5

PAP ATIVIDADE - Normas e Procedimentos das Coordenações de Curso de Graduação

18/09/2018 18/09/2018

4h Presencial Optativa 18

PAP Atividade - Carreira Docente

12/09/2018 12/09/2018

4h Presencial Optativa 42

PAP ATIVIDADE/EAD - Como utilizar as tecnologias de informação e comunicação (TIC's) na docência

11/09/2018 15/10/2018

30h A distância Optativa 31

PAP ATIVIDADE - Regulamento de Graduação: da execução, registro e controle das atividades

11/09/2018 11/09/2018

4h Presencial Optativa 20

Fonte: Arquivos do DDP - CCEP – UFRN (2018)

A partir da análise dos quadros 9 e 10 é possível observar que a incidência

de maior participação dos docentes está nas ações formativas que possuem o

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caráter obrigatório, isto é, os cursos do PAP para a efetivação de estágio

probatório. Já nas oficinas e minicursos, de caráter facultativo, é notória menor

participação dos docentes. E ainda, nos dados do ano de 2017, foi identificada

a existência da evasão nas oficinas optativas. No tocante as oficinas de caráter

facultativo de 2018, três delas se destacaram por apresentarem um número

maior de participantes, sendo duas delas no modelo presencial: PAP Atividade -

Carreira Docente (Presencial - 42 participantes); PAP ATIVIDADE - Regulamento

de Graduação: da execução, registro e controle das atividades (Presencial – 20

participantes); PAP ATIVIDADE/EAD - Como utilizar as tecnologias de

informação e comunicação (TIC's) na docência (À distância – 31 participantes).

Nos dados sobre o PAP fornecidos a nossa pesquisa pela CCEP, foi

identificada a oferta de apenas 01 (uma) oficina especificamente voltada à

temática da inclusão do estudante com deficiência, ofertada no mês de setembro

de 2018, a qual alcançou apenas cinco docentes. No entanto, sabe-se que este

tema compõe o Curso de Atualização Pedagógica, obrigatório aos docentes

ingressantes, integrando 4 horas na carga horária total das 40h do curso

completo.

Destacamos aqui a importância do PAP para a UFRN, pois atualmente se

constitui como um programa de formação continuada, institucionalizado da

UFRN e dirigido aos docentes. Assim como, identificamos que existem outras

iniciativas de formação continuada direcionadas ao público docente advindas de

outros setores parceiros da PROGRAD, CCEP e PROGESP. A exemplo disso, e

especificamente sobre a temática da inclusão dos estudantes com deficiência,

temos os dados quantitativos relativos às ações formativas mencionados no

Relatório de Gestão da CAENE (2018), o qual se encontra no ANEXO II,

apresentando Indicadores da CAENE 2015-2018.

Quadro 11: Indicadores relacionados às ações formativas CAENE 2015-2018

Ações de formação continuada

sobre inclusão e acessibilidade

2015 2016 2017 2018

Número de ações 32

54 45 52

Participantes

Docentes -- 335 373 226

Técnicos -- 231 226 384

Discentes -- 748 676 507

Externos -- 185 279 57

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Fonte: Relatório de Gestão da CAENE - UFRN (2018)

Nas ações relacionadas à formação continuada de servidores docentes e

técnico-administrativos, e discentes, a atuação da CAENE é significativa. Este

quesito faz parte inclusive da política organizacional deste setor, sendo a

capacitação dos docentes para lidar com o estudante com deficiência um dos

eixos fundamentais para a oferta de um atendimento e ensino de qualidade.

A CAENE atua no campo da formação docente acompanhando as ações

institucionais, assim como as demandas específicas solicitadas pelas diversas

instâncias, como por exemplo: centros acadêmicos, departamentos,

coordenações de cursos, Superintendências de infraestrutura e de informática,

Pró-reitoria de Pós-Graduação - PPG, SEDIS, Escola de Música, Centro de

Educação, entre outros da UFRN.

De acordo com o Relatório de Gestão CAENE (2018) as capacitações

realizadas em sua maioria foram registradas institucionalmente como projetos

de extensão em diferentes modalidades de eventos a depender do teor e da

proposta de capacitação (curso, oficina, seminário, palestra, minicurso, evento,

dentre outros). Consideram-se relevantes os dados quantitativos relativos à

formação continuada e destaca-se o alcance do grupo de docentes da

universidade ao longo dos quatro anos, dos quais participaram de ações de

formação continuada oferecidas pela CAENE um total de 934 docentes. No

entanto, sabemos que apesar do alcance ainda há uma grande parcela dos

docentes da UFRN que não participaram de ações de formação continuada para

aperfeiçoamento da dimensão pedagógica e, principalmente, sobre área da

inclusão do estudante com deficiência.

Durante as entrevistas foi perceptível o desconhecimento de alguns

docentes sobre a existência de ações formativas que versam sobre a inclusão

da pessoa com deficiência ou sobre a existência de uma política

institucionalizada voltada à formação pedagógica dos docentes. Vejamos:

Eu não sei se há essa formação. Eu nunca participei de nenhuma, nem nunca fiquei sabendo. Fui a uma palestra, que a coordenação aqui no centro convocou. Foi mesmo essa palavra, convocatória, acho que por isso tinha tanta gente. Mas sobre essas formações e uma política, não se por não prestar atenção aos avisos ou por simplesmente esses avisos ou essas iniciativas não existirem, eu desconheço. (D4, 2017)

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Política de formação pro professor, não sei se tem. Sei que tem várias ações promovidas pela própria coordenação do curso, de avaliação, de novas metodologias de ensino, cursos especificamente para chefia de departamento para gestora (eu participei esse ano). Mas, assim, curso de formação sobre inclusão, por exemplo, não vi. foi só essa palestra que participei porque fui convocada pelo fato de estar na coordenação. (D9, 2017) Eu sei que existem políticas para o acompanhamento, a orientação para o professor e para a coordenação sobre que tipo de recursos que poderiam ser utilizados para uma adaptação de acordo com a deficiência do aluno. Na verdade, eu acho que o que falta é uma política voltada a essa parte pedagógica, a essa formação e implicação do professor nisso tudo. Até a mim mesma que mesmo tendo feito doutorado na área da educação, eu não fiz nessa área de avaliação e tudo mais e, ainda dentro da avaliação, teríamos um segmento específico que seria pessoa com deficiência. Então, eu não sei o que é fazer em uma prova para uma pessoa com baixa visão. Como é que eu faço isso? É na sala de aula mesmo? É no mesmo horário? Eu tenho que colocar letras maiores? Essa parte técnica a gente não tem. E tem que ter formação pra isso. Neste caso, a responsável por mim é a própria Universidade. (D8, 2017) Eu não conheço muito sobre isso não. É novo isso, então eu acho que não existe muita coisa. Essa discussão, esse movimento, essa comissão, eu não sei quanto tempo tem essa comissão, você sabe? Como eu estou na chefia do departamento sobre o núcleo docente estruturante eu participo de muita reunião, realmente, foi mais recente que eu tive acesso essas discussões aqui. Mas eu acho que na formação não é muito abordado. (D9, 2017)

As percepções das falas dos docentes acima são refletidas nos demais

diálogos ocorridos durante as entrevistas. Nove docentes e os cinco gestores

puseram-se em uma postura de preocupação com a não informação a respeito

das ações formativas; assim demonstraram desconhecer as práticas

institucionalizadas de formação para o professor. Outro aspecto que ressaltamos

nestes recortes foi a menção relativa a uma pequena participação em palestras

sobre o tema, a partir de uma convocação ou chamada institucional. O que

demonstra a importância da voz “guia” da gestão no envolvimento do docente

nas ações formativas.

Nas percepções de gestores durante as entrevistas expressam uma

preocupação com falta de adesão e resistência dos docentes em ações de

formação. Assim ressaltam a necessidade de se reelaborar as políticas de

formação institucionais e, também, se realizar uma maior sensibilização quanto

à adesão a formação continuada e a publicização destas ações. Vejamos o que

nos dizem os gestores a este respeito:

Nas capacitações a gente está trabalhando, mas a capacitação ela por

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si só não resolve. Isso é muito mais complexo então, a gente começa a trabalhar desde que o professor entra aqui no seminário de integração do PAP, a gente tem um momento pra trabalhar essa questão, inclusive, quem fica responsável por isso é a CAENE. Depois, a gente tem o curso pra (pausa) que trabalha a pessoa com deficiência no contexto da instituição e aí tem capacitações específicas: oficinas para os docentes nas tecnologias assistivas, pra trabalhar a questão de Libras e todas essas questões, mas a gente...(pausa) a participação ainda é baixa. Penso que temos que sensibilizar os professores a participarem e também divulgar mais o que estamos fazendo. (G1, 2017) A gente precisa convencer o professor que ele também precisa disso. O professor é mais difícil, até porque é normal, né? As vezes você tem um professor que tem 30 anos de universidade, então assim, já está no final de carreira, sempre deu aula, ele diz assim: eu sou professor há 30 anos. Mas tem que aprender. Então, a gente vê isso como um processo que faz parte do processo, mas a nossa ferramenta de planejamento é o nosso levantamento de necessidade de capacitação. (G2, 2017) De maneira geral nos cursos de capacitação quando a gente oferece, como diz o quantitativo maior ainda são os técnicos administrativos, mas existem professores que se inscrevem pra essas atividades de capacitação e a procura vem sendo maior sim. Apesar de que em comparação ao técnico administrativo ele está mais presente nessas atividades, mas os gestores, principalmente os que estão na função de gestão, eles vêm procurando bastante os cursos. (G4, 2017)

São evidentes nas percepções dos gestores o reconhecimento do

trabalho institucional voltado à formação docente, No entanto, se sobressai a

preocupação com envolvimentos dos docentes nestas atividades formativas. O

que deixa os setores responsáveis por estas ações formativas em estado de

atenção é o fato de que as oficinas optativas oferecidas pelo PAP (PROGRAD e

PROGESP) são elaboradas a partir da própria sinalização do corpo docente

através do Levantamento de Necessidade de Capacitação (LNC), indicando as

suas áreas de maior e menor domínio, apontando as possíveis áreas para a

elaboração de ações de formação continuada, e ainda avaliam a importância de

determinadas áreas de conhecimento relacionadas às suas práticas.

Para enriquecer o mosaico analítico deste estudo, apresentamos os

dados do Levantamento de Necessidade de Capacitação da UFRN, relativos aos

anos de 2017 e 2018, realizando um recorte dos dados que apontam para as

demandas solicitadas na área da Educação Especial em uma perspectiva

inclusiva. A saber: Conhecendo e Aprendendo a Lidar com a Pessoa com

Deficiência; Libras I: Nível Básico; Libras II: Nível Intermediário; Conhecer os

processos de ensino-aprendizagem de estudantes com deficiência; Desenvolver

práticas de inclusão de pessoas com deficiência no fazer docente; Elaboração e

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Execução de Atividades para Inclusão de Pessoas com Deficiência na UFRN;

Convivendo com as Diferenças no Ambiente de Trabalho.

Quadro 12: Levantamento de Necessidade de Capacitação – Docentes (2017 e 2018)

LEVANTAMENTO DE NECESSIDADE DE CAPACITAÇÃO (LNC)

DOCENTES

PERÍODO

QUANTIDADE

DE RESPOSTAS

SOLICITARAM FORMAÇÃO

SOBRE INCLUSÃO DA PESSOA COM

DEFICIÊNCIA

23/ 01/2017 a 16/04/2017

423 27

15/11/2017 a 28/02/2018

150 10

Fonte: Arquivos do DDP - CCEP – UFRN (2018)

É interessante perceber o movimento institucional na tentativa de

identificar as demandas formativas dos docentes. No entanto, ao analisarmos

este quadro percebemos uma pequena representatividade na adesão ao

instrumento aplicado junto aos docentes. Isto porque, atualmente a UFRN conta

com o quantitativo de 2.392 docentes efetivos38, número que nos revela que

apenas 17,68% dos docentes responderam ao instrumento do LNC em 2017 e

6,27% dos docentes responderam ao instrumento do LNC em 2018. Isto significa

a necessidade de reflexões institucionais sobre a o alcance deste instrumento

tão importante para revelar os campos de atuação para a elaboração das ações

formativas.

A análise também evidencia que, os docentes que responderam ao

instrumento apresentaram pouco interesse de capacitação na área da inclusão

da pessoa com deficiência, representando em 2017 apenas 6,88% para a

capacitação na área inclusão e em 2018 o mesmo quantitativo de 6,66% para a

capacitação na área inclusão.

Diante dessa realidade acreditamos que é necessário ampliarmos as

discussões sobre a necessidade de formação dos docentes dentro da instituição

e, principalmente, no tocante ao incentivo dos gestores a promoverem esta

cultura de análise e atuação no campo da formação continuada.

Além do incentivo, compreendermos ser necessário fomentar mais

discussões sobre o ingresso e a permanência do estudante com deficiência e

38 https://www.ufrn.br/resources/documentos/ufrnemnumeros/UFRN-em-Numeros-2014-2018.pdf

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despertar nos docentes o reconhecimento sobre a necessidade de formação

docente para esta área. A identificação da demanda e da participação dos

docentes nas ações de formação continuada deve ser compreendida sob um

viés de caráter essencial a política institucional e indispensável para o alcance

da melhoria da qualidade da educação.

Visando ao reconhecimento e legitimidade institucional à formação

continuada a Resolução no 025/2017-CONSAD, de 29 de junho de 2017, institui

e regulamenta o Programa de Capacitação e Qualificação – PCQ dos servidores

da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN. De acordo com o

documento, o PCQ possui um caráter educativo, permanente, estruturante,

estratégico e indutor do desenvolvimento institucional da UFRN.

E, trazendo em seu Art. 3, como objetivo e responsabilidades, propiciar:

I – desenvolvimento de competências institucionais por meio do desenvolvimento das competências individuais, possibilitando o crescimento pessoal e profissional de seus servidores no intuito de cumprir a missão da UFRN e, pautado nos princípios e valores, alcançar os objetivos institucionalmente definidos; II – planejamento e desenvolvimento na carreira dos servidores; III – formação continuada; IV – desenvolvimento integral e permanente do servidor; V – promoção da cultura da paz, sustentabilidade ambiental e consciência ética; VI – aperfeiçoamento da eficiência, eficácia e qualidade da prestação dos serviços públicos prestados à sociedade (UFRN, 2017)

São identificadas, no Art.5, desta Resolução, as como etapas para das etapas

do programa de capacitação e qualificação, a saber:

I – levantamento de necessidade de capacitação; II – planejamento e trilhas de aprendizagem; III – desenvolvimento;

IV – acompanhamento e avaliação.

Ainda na referida Resolução, o LNC tem como finalidade

identificar as lacunas de conhecimentos, habilidades e atitudes dos servidores para gerar as competências necessárias ao melhor desempenho das unidades e à consecução dos objetivos estratégicos da UFRN, bem como as demandas de cursos de Educação Formal e de atividades de capacitação. (UFRN, 2017)

Além disso, o desenvolvimento do PCQ ocorre por meio de atividades

internas e externas de capacitação; grupos formais de estudos institucionais e

aprendizagem em serviço. Compõem o PCQ, atividades formativas realizadas

em outros programas institucionais, a saber: Programa de Integração ao Serviço

Público para os Servidores Docentes ingressantes; Programa de Atualização

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Pedagógica – PAP; Programa de Incentivo à Capacitação em Línguas

Estrangeiras; Programa de Formação de Gestores; e o Programa de

Qualificação Institucional.

Destacamos a intenção de ação coletiva e interdisciplinar proposta pela

Resolução n°025/2017-CONSAD no que se refere ao acompanhamento das

ações formativas desenvolvidas pela instituição, assim como a preocupação com

a pauta da inclusão, quando em seu Art. 59 dispõe que a Comissão Permanente

de Apoio ao Planejamento e Acompanhamento da Formação Continuada dos

Docentes da UFRN deverá ser composta por membros designados pela reitoria,

a saber:

I – 2 (dois) membros indicados pela PROGESP; II – 2 (dois) membros indicados pela PROGRAD; III – 2 (dois) membros indicados pela Secretaria EBTT; IV – 2 (dois) professores de cada grande área (Ciências Humanas e Sociais, Ciências Exatas e Tecnológicas e Ciências Biológicas e Saúde) indicados pela reitoria; V – 01 (um) membro indicado pela CAENE.

Além disso, no artigo 61, é reafirmado o compromisso com a formação

pedagógica do docente universitário. Rediscute a natureza do PAP,

descrevendo-o como um conjunto de atividades de capacitação definidas

anualmente pela Comissão Permanente de Apoio ao Planejamento e

Acompanhamento da Formação Continuada dos Docentes da UFRN e

viabilizadas pela PROGESP, PROGRAD e Secretaria EBTT. Ainda são definidos

critérios de participação e adesão ao programa, são eles:

1o Será exigido do docente ingressante o cumprimento de no mínimo 40h dentre as atividades integrantes do PAP. 2o O docente ingressante deverá concluir o Seminário de Integração e às 40h de atividades do PAP no primeiro ano de seu exercício na UFRN. 3o Poderão ser destinadas vagas em determinadas atividades do PAP aos servidores técnico-administrativos que desenvolvam atribuições funcionais de natureza pedagógica, sendo de competência dos organizadores estabelecerem os critérios da oferta em questão. (UFRN, 2017)

Em consonância com Decreto no 5.707 de 2006, documento que institui a

Política e as Diretrizes para o Desenvolvimento de Pessoal da Administração

Pública Federal direta, autárquica e fundacional (PNDP), a Resolução no

025/2017-CONSAD, de 29 de junho de 2017, institui competências institucionais

para a área do Ensino. São elas:

Capacidade de construir, atualizar e aplicar conhecimentos que integrem diferentes áreas, níveis e modalidades de ensino, garantindo

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o suporte ao desenvolvimento humano e profissional de discentes e egressos. Promover programas, projetos e atividades de ensino, pesquisa e extensão, de forma ética, inclusiva e empreendedora considerando as demandas da sociedade e favorecendo uma educação crítica e consciente para a atuação profissional e exercício da cidadania. (UFRN, 2017 - Anexo II)

Em nosso parecer este recente documento discute a questão da melhoria

da qualidade do ensino à luz da formação continuada dos servidores da

universidade. Apoiada em uma perspectiva de formação integral e que considera

os pressupostos da aprendizagem ao longo da vida.

Com objetivo de discutir a questão da Melhoria da Qualidade do Ensino

na UFRN, diante da dimensão pedagógica e da formação, retomamos a

discussão sobre a Resolução No 181/2017-CONSEPE, a qual aprovou a política

de melhoria da qualidade dos cursos de Graduação e de Pós-Graduação

oferecidos pela UFRN. Discutimos esta política institucional no item 6.3.3 desta

análise, quando discorremos sobre a qualidade do ensino como elemento

fundamental à permanência na universidade. Agora nos debruçamos sobre a

referida resolução para identificar questões inerentes à formação continuada do

docente como elemento estruturante para a qualidade do ensino.

O documento institucionaliza, no seu artigo 9o, a Semana de Avaliação e

Planejamento definida no Calendário Universitário da UFRN. Tal ação é

concebida como sendo de participação obrigatória para todos os docentes.

Acreditamos que, deste modo, poderá ser viabilizada a participação efetiva de

todos, envolvendo-os nas ações de avaliação, planejamento das atividades dos

cursos e ainda permitir que haja um tempo oficialmente destinado para reflexões

e discussões no campo da pedagogia universitária e da metodologia do Ensino

Superior, fortalecendo assim a dimensão pedagógica.

O artigo 15 da Resolução no 181/2017-CONSEPE aponta a preocupação

institucional à formação continuada na dimensão organização didático-

pedagógica, como fator indispensável para a garantia da qualidade de ensino. É

descrito claramente, no mesmo artigo, que compete à PROGRAD promover

oficinas, por meio do Programa de Atualização Pedagógica (PAP), para os

membros do NDE e demais interessados visando à atualização dos PPC; realizar

oficinas, por meio do PAP, para docentes objetivando o aperfeiçoamento e

atualização de metodologias de aprendizagem e uso das novas Tecnologias da

Informação; realizar oficinas para os coordenadores de cursos e demais

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interessados, para esclarecimentos sobre os procedimentos acadêmicos, de

gestão e pedagógicos relativos ao funcionamento dos cursos de graduação; e

realizar, juntamente com a CPA, oficinas para os coordenadores de cursos e

demais interessados sobre os procedimentos da avaliação in loco.

Consideramos que, embora se contemple a formação continuada por

meio do Seminário de Planejamento e Avaliação, ampliando os espaços de

discussões a respeito das ações inerentes as práticas docentes.

Percebemos que na referida Resolução há consonância com a

perspectiva política de avaliação nacional que define os padrões de qualidade a

partir de análises prioritariamente quantitativas. Isto demonstra uma

preocupação com as proposições para a melhoria da qualidade de ensino em

busca de alcançar os indicadores de avaliação encaminhados pelo MEC, que se

constituem em elementos externos e de caráter quantitativo.

No entanto, a política aponta ganhos à instituição, porque conduz a

comunidade universitária, desde seus mais altos diretórios de gestão e atuação

acadêmica, a para planejar e a refletir sobre o andamento das ações formativas

nos cursos de graduação. O que compreendemos ser favorável a futuras

tomadas de decisões pautadas em aspectos, de fato, qualitativos, e que

envolvam as especificidades de cada curso e centro acadêmico.

Aprofundando o compromisso político institucional com a formação

docente, em 19 de março de 2018, foi publicada a Resolução n° 020/2018-

CONSEPE, que institui as Diretrizes para a Política de Formação dos

profissionais do Magistério na Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Este documento discute a formação continuada com uma abrangência de

atuação da UFRN em seu público-alvo, destinando-se aos docentes em

exercício na rede básica de ensino; egressos de cursos de Graduação; e

docentes do quadro permanente da UFRN.

De acordo com o documento, as ações acadêmicas de formação

continuada têm como principal finalidade a reflexão sobre a prática educacional

e a busca de aperfeiçoamento técnico, pedagógico, ético e político do

profissional docente, considerando a educação como processo permanente de

desenvolvimento e de emancipação humana e o compromisso com projeto social,

político e ético.

Esta resolução define, também, que a formação continuada deve se dar

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pela oferta de atividades formativas e cursos de atualização, extensão,

aperfeiçoamento, especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado que

agreguem novos saberes e práticas, articulados às políticas e gestão da

educação, à área de atuação do profissional e às instituições de ensino, em suas

diferentes etapas e modalidades.

No que concerne à formação continuada dos professores do quadro

docente da instituição, a Resolução diz que deverão ser ofertadas variadas

formas de desenvolvimento da formação continuada dos seus professores em

conformidade com seu planejamento estratégico, contidos nos documentos

internos como PDI e PPI; os planos trienais dos Centros Acadêmicos, dos

Departamentos, das Unidades Acadêmicas e dos cursos de Graduação; os

projetos pedagógicos dos cursos; as demandas pedagógicas e acadêmicas; as

políticas nacionais e planos da carreira docente.

Ainda define que o Comitê Gestor Institucional de Formação Inicial e

Continuada de Profissionais do Magistério da Educação Básica no âmbito das

Instituições de Ensino Superior - COMFOR, instituído pela Portaria do MEC no

1.105, de 8 de agosto de 2013, instância vinculada ao Gabinete da Reitoria, é o

responsável por acompanhar e avaliar a política de formação dos profissionais

do magistério na UFRN, atendendo ao que determina a Portaria no 158, de 10

de agosto de 2017 da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível

Superior (CAPES).

No capítulo IX da Resolução n° 020/2018-CONSEPE é proposta a

temática da Formação dos Formadores, apontando diretrizes à formação dos

docentes da Universidade. O artigo 20° define que os Centros, as Unidades

Acadêmicas Especializadas e os Departamentos devem:

I - incentivar os docentes do quadro da UFRN a realizarem, periodicamente, cursos de atualização pedagógica, no âmbito do Programa de Atualização Pedagógica - PAP, ou em outros âmbitos educacionais, com vistas ao aprimoramento da sua formação; II - fortalecer as ações e os espaços de discussão acerca da educação já existentes tais como Fórum das Licenciaturas; Programas de Iniciação à Docência; Estágios, Política de Formação Continuada - PROFOCO; Comitê Gestor Institucional de Formação Inicial e Continuada de Profissionais do Magistério da Educação – COMFOR, entre outros; III - adotar providências para que os docentes que atuam nas licenciaturas possuam perfil adequado, demonstrado por meio de formação, inicial ou continuada ou ainda, de participação em ações e atividades acadêmicas atinentes ao ensino; IV – realizar atividades, no âmbito da semana de avaliação e planejamento da UFRN, congregando as licenciaturas e as instâncias da educação básica.

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(UFRN, 2018)

Sobre o acompanhamento das ações de formação continuada, a

Resolução em seu artigo 21°, define que cabe à PROGRAD, no âmbito da UFRN,

e à COORDLICE, no âmbito das licenciaturas, ambas, em seu papel articulador,

“instaurar mecanismos institucionais que permitam um diálogo

permanente entre os departamentos/unidades acadêmicas, as

coordenações dos cursos e os docentes da UFRN que aprofundem a

discussão acerca de temáticas relacionadas à educação e às

necessidades específicas para atuação nas licenciaturas.” (UFRN,

2018)

A temática da qualidade do ensino e da formação dos docentes da UFRN

também foi pauta na Carta Programa da Gestão39 apresentada a Universidade

em 2018 durante o pleito para assunção a função de gestores maiores da UFRN.

Nesta carta os, atuais gestores da UFRN apontam Resolução no 181/2017-

política de qualidade dos cursos de graduação e de pós-graduação -, como um

marco para a instituição. Ressaltam, ainda, o compromisso futuro com a

qualidade acadêmica, inclusão social e inserção na problemática regional,

ressaltando a necessidade da capacitação de docentes para as novas

metodologias, ambientes educativos inovadores, valorização da

interdisciplinaridade, de modo que a UFRN se mantenha constantemente

atualizada em relação aos desafios atuais de formação em todos os seus

campos de saberes e ainda reafirma o compromisso com as políticas de inclusão

e para garantia da permanência e sucesso na conclusão dos cursos, por meio

das políticas de assistência estudantil (CARTA PROGRAMA DE GESTÃO, 2018).

Com o objetivo de articular a análise da formação continuada dos

docentes universitários como elemento estruturante à permanência do estudante

com deficiência no ensino superior, trazemos para esta discussão a Nova Política

de Inclusão e Acessibilidade da UFRN, que encontra-se aberta para Consulta

Pública, com texto disponível integralmente no portal da UFRN, em fase de

análise e aprovação pelo CONSUNI.

São destacados como objetivos específicos na nova política proposta:

39Carta Programa da Gestão: http://nossaufrn.com.br/assets/doc/qualidade-academica-e-desenvolvimento.pdf

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Contribuir para mudanças no contexto e nas práticas educacionais e profissionais envolvendo pessoas com deficiência na UFRN; Promover formação continuada da comunidade universitária sobre acessibilidade e inclusão; Sensibilizar os docentes para prever nos programas de ensino metodologias acessíveis; Oferecer subsídios à elaboração dos planos quadrienais das Unidades Acadêmicas Especializadas, dos projetos pedagógicos dos Cursos (graduação e pós-graduação) e dos planos trienais dos Departamentos, visando contemplar temáticas relacionadas à inclusão e acessibilidade; Criar fóruns permanentes que possibilitem a troca de experiências e conhecimentos acerca das ações de inclusão e acessibilidade desenvolvidas nos ambientes acadêmicos e administrativos. (UFRN, 2019)

Dentre as ações previstas na agenda pelos Grupos de Trabalho

Acadêmicos (GTA), apresentadas no documento da nova política de inclusão, é

possível destacar a perspectiva formativa das atividades propostas, as quais

destinam-se a sensibilização, a promoção do conhecimento da política de

inclusão, das normativas e serviços de apoio, mapeamento de estudantes e

servidores com deficiência, proposição de estudos de caso, formação

continuada de servidores técnicos e docentes, rodas de conversa, atuação junto

aos orientadores acadêmicos, estudos sobre a condições de infraestrutura,

material acadêmico e informacional acessível, entre outras.

A análise do sistema normativo institucional da UFRN e o exercício

dialógico estabelecido com os partícipes da pesquisa permitiu a identificação nos

dos avanços existentes na ampliação das políticas de promoção a inclusão dos

estudantes com deficiência no âmbito da UFRN. Processo este que

desencadeou iniciativas institucionais que buscaram articular o acesso e a

permanência como um direito pleno ao desenvolvimento pessoal, acadêmico, e

a conquista da cidadania.

No entanto, apesar de iniciativas políticas o processo educacional

inclusivo constituiu-se na Universidade como um intenso desafio a ultrapassar

barreiras atitudinais, comunicacionais, arquitetônicas e pedagógicas. O ingresso

do estudante com deficiência provocou e tem ainda provocado impactos na

atuação docente, no que se refere principalmente à dimensão pedagógica. A

presença do estudante com deficiência em sala de aula, tem proposto um

redimensionamento das práticas docentes, e isto tem evidenciado lacunas

significativas no processo de formação inicial e continuada do docente

universitário no que se refere ao conhecimento do campo da pedagogia

universitária e a compreensão dos fundamentos educacionais inclusivos, diante

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dos estudantes com deficiência.

As lacunas formativas necessitam ser encaradas por docentes e gestores

da instituição como oportunidade à formação e aperfeiçoamento das práticas e

fortalecimento do ensino. Deste modo, as políticas institucionais precisam ser

reestruturadas de modo que se busque o equilíbrio entre todas as dimensões e

funções exercidas pelo professor, fortalecendo a identidade docente e levando o

corpo universitário a compreender o ato pedagógico como político e instrumento

de formação e transformação.

A análise das políticas institucionais da UFRN possibilitou a percepção de

que a discussão no âmbito universitário tem sido direcionada pela questão da

melhoria da qualidade do ensino e que a Universidade tem buscado esforços

para alcançar esta referida qualidade utilizando como estratégia a capacitação e

aperfeiçoamento profissional dos seus servidores. A análise do sistema

normativo institucional e do sistema normativo nacional mostra que há avanços

no que se refere à área da formação continuada, demonstrando reconhecer a

necessidade de constante formação e aperfeiçoamento de suas práticas.

Ressaltamos o valor normativo destas políticas, pois tem demonstram um

encadeamento de proposições institucionais independentes do perfil da gestão

vigente ou das próximas equipes gestoras, demarcando assim o caminho formal

a ser perseguido pela comunidade acadêmica independentemente do

movimento natural de alternâncias de poder.

Estes avanços políticos institucionais referentes ao campo da inclusão

educacional de estudantes com deficiência e ao campo da formação são

reconhecidos pelos participantes da pesquisa ao compreenderem este

posicionamento como uma tomada de decisão das gestões anteriores e atuais.

Vejamos as percepções expressas nos trechos das entrevistas abaixo:

Eu vejo que a UFRN tem tentado se adequar a todas as resoluções, a todas as normas, que vem sendo propostas. Eu vejo na Universidade muito forte isso aí. Recentemente com essas novas políticas de inclusão das cotas, de ação afirmativa. Tem sido um movimento interessante da própria gestão atual e das anteriores, uma continuidade. As pessoas da CAENE, da PROGRAD, junto com a PROAD, eu vejo um envolvimento muito grande assim, no sentido de tentar dar essas condições e colocar isso no papel mesmo, algo bem oficial, que não parte das vontades isoladas. (D6, 2017) Dentro da universidade, felizmente, a gente tem conseguido, mas muitas vezes tem instituições que não conseguem. Você não consegue ter recurso, então eu preciso de um tradutor intérprete, eu preciso de um guia intérprete, eu preciso da adaptação dos prédios pra

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acessibilidade dos prédios antigos, por exemplo, é um esforço grande, porque tem um impacto grande de orçamento e de tudo. Então você tem uma política de inclusão, mas isso precisa estar pensado também para dar condições as instituições, que elas possam de fato efetivar essas políticas com todas as condições. (G1, 2017) Quando se fala em corte orçamentário a universidade investe no recurso de custeio por uma decisão de gestão [...] o recurso que vem para a política de inclusão não é suficiente. Se a universidade fosse usar só o recurso que vem para as políticas de inclusão a gente fazia só metade do que a gente faz. Nem pra política de capacitação, a gente não fazia, porque a gente não recebe nada. A universidade decidiu fazer.” (G3, 2017) Eu percebo que a UFRN é uma instituição em termos organizacionais, que está bem na vanguarda desse processo. Então temos lá um plano de desenvolvimento institucional, o PDI da Universidade, que fazem muitas menções as políticas de inclusão fala-se muito em desafio da inclusão em relação a uma questão que nós teremos uma política de cotas para a inclusão das pessoas com deficiência. [...] E temos um grande grupo de docentes, servidores da Universidade que tem essa carência na formação. Tanto acadêmica quanto pessoal para realmente aceitar a questão da inclusão da equidade. (D5, 2017) Existe uma distância ainda muito grande do que está nas normas para a efetividade dessa norma, você trazer isso para o cotidiano. A universidade evoluiu muito e tem feito um esforço enorme. Então essa questão ela perpassa todos os referenciais desde o PDI, todo o plano de gestão, a universidade está como seguindo uma linha, uma meta da instituição, um objetivo, mas existe ainda uma distância muito grande entre o que está nas normas, nas políticas e do que está na operacionalização, na efetividade disso existe. (G4, 2017)

O reconhecimento dos avanços normativos e das iniciativas institucionais

não ocultam as dificuldades existentes no processo. Questões como a falta de

repasses financeiros das instâncias superiores para dar condições econômicas

às instituições para desenvolverem ações referentes a promoção da inclusão;

barreiras relativas à acessibilidade arquitetônica; a formação dos docentes para

o desenvolvimento de atividades pedagógicas inclusivas e a dificuldade na

efetividade das normas propostas nos documentos institucionais.

Diante da fala de G3 sobre os cortes orçamentários não podemos nos

furtar em ponderar que as retaliações sofridas pelas universidades brasileiras

nos últimos 4 anos e a continuidade delas, sem dúvida resultarão ainda mais na

perda de recursos financeiros e comprometerão ainda mais o desenvolvimento

de ações educacionais inclusivas.

Durante a pesquisa, foram expostas pelos participantes problemáticas

relativas especificamente às dificuldades para a efetivação da inclusão

educacional e das ações de formação continuada dos docentes universitários

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como barreiras ao alcance da qualidade do ensino ofertado a todos os

estudantes, entre os quais àqueles com deficiência.

Penso que para a Universidade hoje tem dois grandes desafios. Primeiro é o acolhimento ao estudante com deficiência e o segundo maior desafio é mesmo a formação dos nossos professores e aí fazê-los compreender que isso não denigre em nenhum momento o lugar dele enquanto professor. (G2, 2018) Acho que os professores seja o grande desafio da universidade, porque, os professores para serem capacitados precisam estar disponíveis. Eles precisam compreender que é uma nova fase que a gente vive. Que o estudante com deficiência está chegando aqui. (D8, 2017)

Dentre estes desafios destacamos abaixo os temas mais específicos

identificados no campo da pesquisa, os quais foram considerados como fatores

que contribuem para que os desafios para a efetivação do elo entre a dimensão

pedagógica e a perspectiva educacional inclusiva ocorram no contexto da UFRN.

O primeiro deles é o desconhecimento das políticas e ações institucionais

relacionadas à inclusão dos estudantes com deficiência e à formação docente.

Este quesito foi apresentado por 19 dos 25 dos participantes, os quais afirmaram

desconhecer estas políticas e ações institucionais. Vejamos alguns exemplos:

Eu sei que é importante essa formação do professor que já entrou, mas especificamente, uma política voltada pra formação continuada dos professores pro trabalho em sala de aula não conheço. (D6, 2017)

Acho que os alunos como eu não tem ideia de que existe uma política da instituição mesmo, como a CAENE por exemplo, não tinha ideia que era resultado de uma resolução que tinha algo no Regulamento de Graduação. Vim descobrir depois que li lá no parecer que a CAENE manda pros professores e tem os artigos com os direitos do aluno. Poxa, achei isso bem interessante. (E5, 2017) Eu não tinha nem noção que existia uma gama tão presente com alunos com esse tipo de dificuldade e nem que existia, vamos dizer assim, uma legislação interna pra isso. Só vim saber quando passei a participar das ações da CAENE, das ações da bolsa. Não tinha noção que existia esse mundo, porque é como se fossem invisíveis mesmo. Esse é o sentimento. Da mesma forma que eu, acho que muitos outros alunos, com e sem deficiência e professores também não sabem. (E7, 2017)

Diante da questão levantada, consideramos os avanços realizados a partir

da elaboração de políticas institucionais para a promoção da inclusão e formação

docente. No entanto, concordamos com a necessidade de maior divulgação das

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ações institucionais, a fim de dar visibilidade ao trabalho desenvolvido pela

instituição no âmbito da inclusão e da formação docente. De modo que não haja

dúvidas a respeito do que é realizada, assim como sobre os direitos e deveres

institucionais para garantir o alcance melhoria da qualidade da qualidade do

ensino.

Outro aspecto emanado do nosso contexto de pesquisa foi a dificuldade

existente em vincular a formação docente e a inclusão dos estudantes com

deficiência como fatores preponderantes ao alcance da qualidade do ensino para

todos. Este aspecto esteve mais presente nas falas dos gestores e docentes,

revelando uma necessidade de estreitamento do vínculo entre as políticas e

ações inclusivas à formação continuada do professor. Vejamos as observações

realizadas por eles:

Infelizmente, eu não vejo inclusão e formação atrelados. Eu acho que ainda falta muito para a gente ainda. Eu acho que a CAENE puxa, pensa, porque se detém na educação especial, mas eu acho que isso tem que ser algo macro, não micro. Isso tem que ser algo maior, tem que ser institucional. Fazer parte de uma política institucional bem clara e precisa, vinculando a qualidade do ensino a formação continuada e contemplando a Educação Especial como parte desta formação. (G3, 2018) Estamos fazendo uma adaptação no PAP para que ele tenha uma perspectiva de ser um programa mais amplo, como o técnico administrativo. A ideia seria o docente também passar a ter esse seminário, de integração e que a gente traria também atividades voltadas para a questão da inclusão para o docente. Então, além do PAP das atividades que ele tem que fazer obrigatoriamente teria este seminário de integração deste novo docente para ser cumprido obrigatoriamente. O difícil é institucionalizar isso, é como se não fosse possível tocar na carreira do professor. (G4,2017)

Estas percepções reverberam na necessidade de uma formatação política

que discuta a formação docente como prioritária, considerando as lacunas

existentes no processo formativo do docente universitário (SEVERINO, 2009;

ANASTASIOU, 2009; Gil, 2015). Deste modo, se faz latente o repensar da

carreira docente para que seja prevista nela própria o aperfeiçoamento e a

ressignificação das práticas docentes por meio da formação continuada.

Durante a análise do campo empírico emanaram posicionamentos a

respeito da distribuição intra-institucional das responsabilidades junto ao

processo de inclusão dos estudantes com deficiência. Vimos na análise

documental este movimento político, a partir da nova proposta da Política de

Inclusão (UFRN, 2019) ainda em trâmite. Os participantes da pesquisa

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posicionaram-se favoráveis à necessidade de redistribuição das ações da

Universidade para garantia da inclusão efetiva, pois destacaram que ainda há na

UFRN uma centralização das iniciativas de propostas inclusivas e formativas de

formas pontuadas e isoladas, capitaneadas pelo Núcleo de Acessibilidade.

Vejamos alguns recortes destes posicionamentos.

Eu não vejo ações relacionadas à inclusão fora de um grupo que se volte para isso, como a CAENE. Nem os centros acadêmicos, nem nos departamentos de curso. Eu não vejo eles promovendo esse debate, essa união, essa conversa, essa preocupação, esse pensamento sobre os seus semelhantes para algum tipo de dificuldade. Fora a CAENE eu não consigo ver outras mobilizações na Universidade. (E7, 2017) É preciso que a gente crie outras divisões dentro da universidade que acolham o que a CAENE não é para acolher? Porque inclusão não é só necessário pra aquela pessoa que tem deficiência. Por isso que eu acho muito legal a iniciativa presente no CCSA na ECT que tem núcleo pedagógico e de distribuir mesmo essas tarefas com outros setores. (G1, 2017) Eu entendo que a Política Institucional voltada para essas questões de inclusão é uma provocação à demanda solicitada pela CAENE. Eu tenho a impressão que a iniciativa é da CAENE. Ainda que as ações sejam concretizadas por outros entes. eu acho que a Pró-Reitoria de Graduação, por exemplo, tem papel fundamental, mas não percebo tantas ações neste sentido da Instituição de forma geral, é mais da CAENE mesmo. Eu acho que o regulamento de graduação, a formação dos professores e a política pra inclusão precisam ser alterados, algumas coisas estão em discussão já [...] a gente sabe que não é fácil porque depende de outras instâncias superiores, e as vezes o tema não é prioridade, entendeu? Isso tem que ser revisto. Acho que por uma política maior, decisória. (D1, 2017)

Estes posicionamentos inclinados à necessidade de revisão das políticas

e distribuição a toda a comunidade universitária das atribuições relativas à

inclusão de estudantes com deficiência, nos fazem coadunarmos com Santos e

Ramos (2016) quando afirmam que as universidades

necessitam aceitar o desafio, de que não somente se baseará em boas ideias e intenções, mas em políticas e práticas pedagógicas que de forma organizada e orientada arquem com as necessidades encontradas, respeitando a diversidade e a acessibilidade. (SANTOS e RAMOS 2016, p. 59)

Para isso, o estabelecimento de redes de apoios se apresenta, em

primeira necessidade, entre os componentes organizacionais – setores e

serviços institucionais, serviços da rede de saúde e assistência social e agências

comunitárias – que envolve a coordenação de equipes e indivíduos que apoiam

uns aos outros através de conexões formais e informais. (KARAGIANNIS;

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STAINBACK; STAINBACK, 1999)

Também concordamos com Melo (2014), ao considerar que este é o

caminho para oferecer ao estudante com deficiência um melhor suporte

institucional, descaracterizando a equivocada impressão de exclusiva

responsabilidade aos setores que trabalham com inclusão e acessibilidade.

No caso da UFRN, reiteramos que a rede de apoio poderia ser melhor

articulada entre a CAENE, as coordenações dos curso, o corpo docente e

demais setores, principalmente aqueles que dirigem a área da formação

continuada dos docentes, visando a implementação de estratégias para que as

barreiras à efetiva participação e à aprendizagem sejam desconstruídas nas

salas de aula.

No que se refere ao processo de formação continuada dos docentes em

uma perspectiva educacional inclusiva, foram apresentadas fragilidades da

política institucional em não apresentar um percurso formativo continuado aos

docentes, implicando o seu cumprimento de forma indispensável à atuação

docente, a progressão da carreira e a avaliação institucional.

Os participantes apresentaram os argumentos de que esta fragilidade

ocasiona uma série de dificuldades ao âmbito da formação continuada, como por

exemplo, a baixa participação dos docentes nas ações formativas,

principalmente nas formações relativas à temática da inclusão. Justificam que

esta dificuldade com a participação nas ações formativas pode decorrer

inicialmente pelo fato de que a temática da inclusão da pessoa com deficiência

ainda é uma discussão recente no contexto universitário, necessitando ainda

sensibilizar a sociedade em geral quanto ao respeito do direito humano e social

destes estudantes estarem na Universidade. A este respeito apresentamos a fala

de G1 como recorte das concepções apresentadas.

A pouca participação ou baixa participação ainda, dos professores, desse processo de formação decorre de uma forma de pensar muito fragmentada e aí, quando você vai trabalhar essas questões, sobre o deficiente, ele até a pouco tempo... você via o deficiente em universidade, em escola? Não! Ele ficava em casa, né?! Então eu não precisava me preocupar e eu acho que essa é uma questão de educação mesmo, de base, de visão, de entendimento das pessoas. (G1, 2017)

Consideramos pertinente este posicionamento e acrescentamos que é

reforçado pela visão subjetiva e ainda controversa, a respeito da potencialidade

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e capacidade formativa da pessoa com deficiência para o ingresso no Ensino

Superior. Visão que precisa ser constantemente desconstruída e redefinida pelas

políticas institucionais.

Outro motivo apresentado que justifica a baixa participação dos docentes

nas ações formativas é a alta quantidade de demandas delegadas aos docentes,

ocasionando a falta de tempo para priorizar a formação continuada. Vejamos os

relatos:

Percebemos que os professores não aderem as formações que oferecemos. Segundo as coordenações, as chefias de departamento, eles justificam que é mais a falta de tempo do professor. Como eles estão muito tempo em sala de aula envolvidos com o seu trabalho de pesquisa ou outras atividades, eles não têm tempo. Então, pedem que ofereçamos as formações sempre, continuamente, e em dias da semana alternados e horários diferenciados. Mas como isso demanda também gastos, a gente tem que pagar ministrante, palestrante, mesmo assim buscamos atender. Mas mesmo mudando, a frequência ainda é muito pouca. Vamos supor, nós abrimos 25 vagas e quando nós vamos ver tem 5 ou 6 pessoas e olhe lá. E veja, nem tô falando só de inclusão. (G3, 2018) Oferecemos sempre as formações, sobre essa temática e sobre outras. E quem vai? Nas oficinas quando vamos ver tem 4 ou 5 professores matriculados, fora aqueles que desistem e não comparecem. E olhe que sempre estamos consultando os gestores, as avaliações institucionais, os resultados do LNC. Sempre perguntamos o motivo e Este é realmente um problema. (G5, 2017) Vamos supor, um curso diz que está com um certo aluno com determinado problema, e que quer uma formação para isso, nós abrimos a formação e não vem nem aqueles professores que pediram, entendeu? [...] eles solicitam uma demanda formativa, mas quando se oferece não há adesão dos professores. (G4, 2018) Nós vivemos numa sequência de atividades, muitas vezes sufocantes. Aí parar pra fazer um curso as vezes fica impossível. Principalmente quando se acumula funções de gestão com a sala de aula. (D5, 2017)

De fato, a adesão do docente quando não é em função de gestão, ela é menor. Pela obrigação institucional desenvolver pesquisa, extensão, né, além da sala de aula, então acho que, né, eu sinto que as vezes a capacitação termina ficando um pouco ‘escanteada’ no meio dessas outras atividades, nas prioridades deles. É uma cultura que a gente tenta trabalhar, tentando modificar aos poucos. (G2, 2017)

Concordamos com o fato da existência do intenso ativismo do docente,

que acumula funções na docência, na investigação científica e na gestão.

Pimenta e Anastasiou (2008) destacam que o professor universitário é envolvido

pela intensividade de suas ações na tomada de decisões sobre currículos,

políticas de pesquisa e financiamento, não apenas no seu âmbito, mas também

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no âmbito dos sistemas públicos estaduais, do sistema nacional de educação e

das instituições científicas de fomento, de políticas de pesquisa, de ensino e de

avaliação. Porém, segundo as autoras, esses aspectos, de maneira geral, não

são contemplados no processo de formação profissional do docente do ensino

superior.

Deste modo, consideramos que a formação continuada constitui-se como

recurso estruturante para a prática docente, pois concordamos com Libâneo

(2011), quando afirma que antes de tudo, o professor precisa dominar o con-

teúdo da matéria que leciona, mas a formação didático-pedagógica é

fundamental para que estabeleça a ligação dos princípios gerais que regem as

relações entre o ensino e a aprendizagem, com problemas específicos do ensino

de determinada matéria.

Pimenta e Anastasiou (2008) entendem que tais conhecimentos e práticas

são relevantes na medida em que o ensino é uma atividade complexa,

contextualizada, muitas vezes imprevisível e que demanda escolhas éticas e

políticas. Compreendemos que as escolhas não são apenas do docente, mas

são escolhas institucionais e políticas que definem os parâmetros e prioridades

no que se refere a formação continuada de seus docentes.

Neste sentido, consideramos ser necessária uma significativa mudança

na efetivação de políticas institucionais no sentido de valorizar a formação

continuada dos docentes e que os convoquem ao aperfeiçoamento pedagógico.

Políticas estas que definam o lugar e relevância da formação continuada como

prioridade institucional para que a partir disto, se alcance a qualidade de ensino

para todos.

Nos documentos institucionais e nas falas dos gestores, docentes e

estudantes entrevistados a ideia da formação continuada como vetor da

qualidade e inclusão foi ratificada, sob um discurso de valorização, de

necessidade e de prioridade. Entretanto, quando há o enfrentamento com a

prática que necessite estar pautada nos fundamentos educacionais inclusivos ou

a necessidade de reflexão sobre um novo instrumento que discuta por exemplo

a acessibilidade metodológica, atitudinal, e digital os professores põem-se

alheios a este conhecimento e reproduzem o posicionamento da “não

preparação”.

Concordamos com Anastasiou (2009) quando afirma que cabe às

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universidades, principalmente, a criação de ações permanentes de formação

pedagógica, seja no âmbito da universidade como um todo, seja incentivando os

programas de pós-graduação e as próprias graduações, ou mesmo valorizando

e ampliando as boas práticas, como grupos de apoio pedagógico e uma política

de formação consistente.

Sobre as possibilidades de mudanças nas políticas institucionais são

trazidas pelos participantes da pesquisa reflexões sobre as políticas de formação

e inclusão existe na UFRN, e que sobre elas são observadas possibilidades de

mudanças, principalmente, no que refere ao caráter facultativo e de livre escolha

para a participação do docente e a não vinculação da formação continuada com

a progressão na carreira e avaliações institucionais. Vejamos as falas abaixo:

Há uma distância entre normas e a realidade, necessidade haver uma política mais efetiva com perfil compulsório, mecanismo que torne a formação obrigatória, vínculo com progressão, carreira e avaliação institucional. A política de formação existente alcança minimamente docentes novatos, novas políticas permanecem com o viés optativo e sem discutir a formação especificamente como prioridade. (G2, 2017) Eu acho que tem que ter uma política para a inclusão do aluno deficiente, mas para preparar o professor também, se não, não adianta nada. (D5, 2017) Eu acho que vai ter que ser muito organizado com caráter convocatório, sabe? Não pode ser: "o PAP está oferecendo isso, aquilo e aquilo outro" não. Tem que ser assim: Você é professor de área tal e tal, você precisa fazer esse ano sim tal curso. (D1, 2017) Eu acho que se existir uma lei interna, uma política defendendo os direitos da pessoa com deficiência e dizendo aos professores que tem que estudar para dar aulas para nós, já temos 50% garantido. Os outros 50% está ligado a consciência de cada um, ao respeito ao próximo, o que vai fazer com tanto conhecimento que se tem” (E1, 2017) A Universidade tem que ter algum mecanismo para fazer com que os professores participem da formação. Mas uma coisa é certa, falo dos professores do meu curso, todos precisam fazer cursos, todos precisam procurar ver como é a vida daquele deficiente para poder dar aula para ele. (E1,2017) Eu acho que, com as novas políticas esses cursos vão ter que vir no pacote para a docência no sentido, meio que, "cumpra-se", obrigatório, não facultativo. (D2, 2017) Nas políticas da universidade não tem ainda obrigatoriedade, talvez faz parte da cultura, a gente não se obriga, mas a gente tenta convencer, mas nem sempre funciona. (G1, 2017) A avaliação institucional ela poderia ser um instrumento muito bom para isso, a avaliação do docente. Porque aparece as dificuldades que

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o professor tem tido em relação a turma. O chefe de departamento que tem acesso a essas informações [...] chamar, conversar, ver o que é possível, procurar um curso de formação. (G2, 2017) Temos que ter uma resolução de cumprimento. Eu vejo em muitas universidades, faz parte da progressão do professor ter tantas horas de formação continuada. Nós não temos isso aqui na universidade, especificamente para a área do ensino não. [...] Então assim, hoje a educação especial faz parte? Faz! Então, a partir do momento que a gente tem uma legislação que o professor, para progredir, ele precisa ter tantas horas, então a gente tem que oferecer aquilo que é uma necessidade da universidade, a educação especial entraria, o professor teria que cumprir. Dessas 60 horas que o professor tem que cumprir para progredir, 10% tem que ser em educação especial. (G3, 2018)

Consideramos que a questão da reformulação das políticas de formação

dos professores universitários deve acompanhar o movimento das políticas

educacionais que discutem a inclusão da pessoa com deficiência no Ensino

Superior, pois formação continuada é parte da reestruturação das Universidades

rumo à inclusão efetiva. E a partir desta reestruturação, apresentar uma “cultura

educacional penetrante que comunique clara, pública e intencionalmente que

sua filosofia se baseia em princípios de igualdade, justiça e imparcialidade para

todos e que cada um desfrute de medidas iguais de respeito e dignidade”.

(SCHAFFNER; BUSWELL, 1999, p. 73)

Assim, estabelecer o elo entre formação continuada e a inclusão dos

estudantes com deficiência constitui-se em fortalecer qualidade do ensino

ofertada a todos. Dessa forma, construir coletivamente uma cultura de

valorização da docência na universidade, “de modo que o ensino não seja visto

como um fardo, mas, ao contrário, como um dos pilares da universidade, uma

de suas razões de ser.” (CORRÊA; RIBEIRO, 2013 p. 332)

Estudos sobre a formação continuada do docente universitário

(PACHANE, 2005; CORRÊA; RIBEIRO, 2013) apontam que os programas

comprometidos com a formação pedagógica do professor universitário são

necessários, possíveis de serem realizados e capazes de despertar naqueles

que deles participam – sejam eles professores iniciantes ou veteranos – maior

comprometimento com as questões educacionais. A formação pedagógica do

professor universitário deve ultrapassar os limites do desenvolvimento de

habilidades práticas, buscando realizar-se de modo a integrar atividades de

docência e pesquisa, ou momentos de reflexão e ação. A formação pedagógica

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não necessita ser obrigatória, mas induzida e incentivada nos critérios de

avaliação dos programas.

As indicações emanadas do campo empírico da UFRN, conduzem à

percepção de um movimento institucional de preocupação e atenção para a

formação e qualidade, mas revela que ainda há uma distância entre as

proposições e o alcance do objetivo da formação continuada. A análise desta

realidade nos leva a concordar com as indicações dos participantes da pesquisa

a respeito da reformulação da política institucional relativa à formação.

As fragilidades são indicadas na formação continuada dos docentes,

quando destacam a participação no Seminário de Integração do PAP, que dura

apenas 40 horas e é composto por inúmeros temas referentes ao plano de

carreira, a atuação pedagógica, dentre outros, em formato de palestras e

módulos em EaD.

Se conseguimos identificar esta lacuna na política institucional referente

aos novos docentes, ela se alarga quando refletimos sobre o grupo dos docentes

experientes. Visto que não há na própria política da carreira docente uma

vinculação entre a melhoria da qualidade de ensino e a sua participação em

programas de formação continuada, no que se refere especificamente à

dimensão pedagógica, ao longo dos anos de serviço prestados à Universidade.

São avaliados e pontuados na progressão da carreira aspectos que se

destinam equivocadamente à formação docente, destacando-se as atuações

nas áreas da pesquisa e produção do conhecimento acadêmico, em detrimento

da dimensão pedagógica. Isto faz com que nos questionemos sobre o lugar da

formação continuada na docência universitária; se a formação universitária se

configura como elemento real para promover a participação dos docentes; se

estas ações de formação continuada poderão trazer contribuições para a

melhoria da qualidade de ensino nos cursos de graduação e pós-graduação já

que não alcançam especificamente os docentes.

Para Bastos et al. (2011), a formação do professor é questão não só de

grande complexidade e importância como de elevada centralidade, quando o

desafio de melhorar a qualidade da educação no Brasil se torna item prioritário

da própria agenda política, não só de especialistas, mas da própria sociedade.

Porém, Bozu e Imbernón (2016) afirmam que a formação e a atualização

permanente dos docentes universitários se constituem em um dos aspectos mais

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importantes, porém, dos mais esquecidos de sua carreira acadêmica. Sem

dúvida, este aspecto adquire uma especial relevância em um momento em que

qualidade do sistema universitário e sua excelência acadêmica parece ser o

objetivo central da Universidade para o século XXI.

Em nosso parecer, o campo da formação continuada direcionada aos

docentes universitários tem se fortalecido na UFRN como política institucional,

garantindo espaços de discussão e abrindo novos espaços formativos. No

entanto, este campo precisa alcançar maior representatividade e desenvolver

mecanismos institucionais, que garantam a formação continuada de seus

docentes de forma mais efetiva.

6.1.5 Categoria V - Novos caminhos para as ações formativas inclusivas

Para que tracemos diretrizes às ações de formação continuada à luz da

perspectiva educacional inclusiva, destacamos a escassez de experiências

publicadas na área da formação continuada oferecidas aos docentes do Ensino

Superior brasileiro, que referenciam a inclusão do estudante com deficiência e

que tenham como objetivos a discussão da Educação Inclusiva na Educação

Superior considerando os marcos legais, políticos e pedagógicos. Assim como

aquelas que provoquem reflexões a fim de contribuir para o aprimoramento da

ação docente diante do estudante com NEE na Educação Superior.

Elencamos as experiências norte americanas, canadenses e europeias

de Simpson (2000); Yuval, Procter, Korabik, Palmer (2004); Dotras, Llinares e

López (2008); Hockings, Breet e Terentjevs (2012); Guasch e Hernández (2012);

Díez e Sánchez (2015); Griful-Freixenet, Struyven, Verstichele, Andries (2017);

Moriña (2018; 2019); Carballo (2018), como luzes às possibilidades

desenvolvidas para a promoção da inclusão dos estudantes com deficiência na

universidade e para a formação continuada dos docentes universitários.

Estas experiências formativas se diversificaram em diferentes

metodologias para a efetivação dos programas formativos utilizadas desde a

elaboração de guias práticos e auto-instrucionais sobre a temática, a propostas

de experiências em cursos presenciais, semi-presenciais e on-line. Assim como

utilizaram propostas formativas com base em estudos de casos de ensino e em

recursos educativos abertos (Open Educational Resources, OER).

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Os conteúdos abordados valorizaram o campo do ensino e da

aprendizagem, com vistas a discutir pedagogicamente os aspectos relativos à

educação inclusiva; o modelo social de deficiência; diferentes tipos de

deficiências; marcos legislativos e aspetos sociais; abordagens sobre a base do

currículo e necessidades de adaptações; o âmbito da universidade inclusiva e

possibilidades de intervenção metodológica da aula inclusiva; barreiras e ajudas

identificadas por estudantes universitários com deficiências; serviços de apoio;

princípio do Desenho Universal para a Aprendizagem no Ensino Superior.

Destacamos o protagonismo das pessoas com deficiência nestas

formações, contando com os próprios sujeitos como formadores ou como

partícipes, visando compartilhar as suas experiências com os docentes cursistas.

Carballo (2016) realiza na Espanha uma avaliação sobre as experiências

de formação continuada que abordam a temática da inclusão de estudantes com

deficiência no Ensino Superior, e ressalta que, normalmente, os cursos que mais

predominam nestas ofertas se referem à docência ou à pesquisa. A atenção à

diversidade, abordada de modo geral, e à deficiência de forma particular. Esta

se constitui a áreas mais esquecidas, pois existe uma menor oferta de formação

por parte dos centros formativos e uma baixa demanda por parte dos docentes.

Zabalza et al (2014) ao refletir sobre as práticas formativas ofertadas aos

docentes do Ensino Superior pontuam que a própria formação contém

dificuldades, tanto por seu caráter voluntário, como pela inadequação do

desenho planejado, pois não se considera as necessidades reais do contexto

acadêmico e da aprendizagem, concentrando-se mais em propostas

esporádicas que se destinam a satisfazer as necessidades formativas pontuais

dos professores. Os autores apresentam a falta de processos de avaliação

profundos que possam refletir objetivamente sobre a superação dos modelos

dos cursos oferecidos, uma vez que na maioria dos casos recebem o certificado

de participação que não garante uma aprendizagem adequada.

Em consonância com as premissas indicadas nos estudos, a análise do

campo empírico nos proporcionou a percepção sobre o modo como a temática

da inclusão dos estudantes com deficiência tem sido abordada nas formações

realizadas na UFRN. Ao analisarmos os dados inerentes às oficinas e palestras

oferecidas pelo PAP e pela CAENE, nos anos de 2017 e 2018, percebemos que

a temática tem sido proposta, em sua maior parte, assumindo o papel informativo,

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comunicando aos ouvintes sobre a presença dos estudantes com deficiência na

Universidade, a oferta dos serviços de apoio, sobre os direcionamentos políticos,

tais como esclarecimentos sobre a Lei de Reserva de Vagas (BRASIL, 2015),

mudanças propostas na Política de Inclusão Institucional (UFRN, 2019), ou

sobre a temática da convivência com as pessoas com deficiência. Vejamos de

que maneira os participantes da pesquisa apresentaram essas percepções.

Minha experiência no PAP não foi muito boa, pelo menos com esse tema da inclusão. Quando vi no programa a palestra da CAENE achei superinteressante o tema, mas uma palestra de 2h não resolve nada. No máximo o que deu pra o professor lá apresentar foi o que a Universidade oferece aos estudantes e aos servidores. Eu esperava algo mais claro sobre como a gente deve fazer quando tivermos um aluno cego, um surdo e tal. (D4, 2017) Eu já fui a umas duas palestras da CAENE, as duas foram muito interessantes pra conhecer o que a Universidade tem disponível pra o aluno com deficiência, os serviços que existem lá na biblioteca e como podemos solicitar ajuda da CAENE. Fiquei impressionada com tudo aquilo. Mas na real, sinto ainda falta de uma discussão sobre como os professores podem fazer pra trabalhar uma aula mais inclusiva, pra saber como outros professores mais experientes trabalharam com esse aluno. Já até falei isso pro diretor aqui do Centro, pra ele chamar a CAENE pra fazer isso aqui. (D7, 2017) Olhe, vou lhe ser bem sincera, eu não me sinto preparada e nem vejo nessas palestras uma formação mesmo pro professor. É dito pra nós o que tem na Universidade pra ajudar, mas não tem uma formação para professor mesmo sabe? Se aparecer um aluno surdo aqui eu acho que não saberia fazer nada com ele. (D2, 2017) Eu já assisti várias palestras, já tive participação em vários eventos, inclusive recém promovidos pela CAENE e fico me perguntando como seria caso eu tivesse um aluno com deficiência auditiva, ou cegueira parcial/total. Não tenho ideia, acho que as palestras não dão conta, sabe? Tem que ser algo mais direto, que fale sobre a nossa área, por exemplo, eu que sou da saúde, que recursos existem, conhecer outras experiências de colegas. Acho que isso me ajudaria. (D6, 2017) Imagina se tiver um cego? Ou um surdo? Meu Deus! Na minha disciplina eu não consigo nem imaginar como eu faria isso. Eu já fui até fui na palestra da CAENE, mas não adiantou muito não. Essa conversa que nós estamos tendo aqui está me motivando a procurar saber mais sobre esse assunto. Vai que no semestre que vem eu recebo né? (D8, 2017)

Percebemos que as temáticas relativas aos aspectos teórico-

metodológicos dos fundamentos educacionais inclusivos inerentes ao fazer

docente não figuram nos quadros de formações ofertados aos docentes.

Diante disso, consideramos de extrema importância abrirmos espaços

de discussões que promovam reflexões e ressignificações sobre a prática

docente em uma perspectiva inclusiva no Ensino Superior. De modo inicial,

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consideramos indispensáveis fomentar discussões sobre os fundamentos

Educacionais da Inclusão abordando as seguintes temáticas: conhecimento

sobre as necessidades educacionais específicas, definições a respeito do

público-alvo da Educação Especial, especificidades relativas às condições de

NEE, modelo social e modelo clínico de deficiência, princípios de Educação

Inclusiva, a política inclusiva em âmbito nacional e institucional, serviços de apoio

e atuação do Núcleo de Acessibilidade, novas perspectivas diante da

implementação da Lei de Cotas, Políticas institucionais que direcionam ações

inclusivas nas IES.

Para dialogar com a prática docente; consideramos indispensável o

docente conhecer a respeito do uso das tecnologias assistivas, recursos

pedagógicos e desenho universal para aprendizagem. Com o objetivo de

conhecer o que é a Tecnologia assistiva e os recursos utilizados no contexto

universitário; conhecer a acessibilidade Universal e desenho para todos;

princípios do desenho universal para aprendizagem (DUA); Implementação do

DUA em aulas e disciplinas no Ensino Superior; conhecer diferentes opções para

perceber: a informação, para a linguagem e os símbolos, para a compreensão;

meios físicos de ação, para expressão e comunicação fluida, para o

desenvolvimento de funções executivas, para despertar o interesse, para ajudar

a manter o esforço, para auxiliar a autorregulação.

Outro aspecto imprescindível à formação pedagógica do docente é a

discussão sobre os aspectos didáticos e da metodologia do Ensino Superior

na Perspectiva Inclusiva. Discutir aspectos relacionados à prática pedagógica

do docente, ressaltando a importância do planejamento do processo de ensino

e aprendizagem, a avaliação e a didática como elementos estruturantes para

ação docente em uma perspectiva inclusiva

Além do conhecimento teórico sobre os aspectos educacionais inclusivos

e os recursos possíveis para a realização de uma prática docente inclusiva,

consideramos essencial que o docente mergulhe na realidade da inclusão no

Ensino Superior ao conhecer e estudar casos reais de estudantes que

vivenciam as barreiras à inclusão na Universidade e trabalhar o exercício da

resolução de problemas, com vistas a elucidar possíveis situações que podem

se constituir como barreiras, e deste modo, sugerir possibilidades de práticas

inclusivas em sala de aula. Esta reflexão poderia constituir-se em áreas de

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atuação específicas, a saber: nas Ciências Humanas e Sociais, nas Ciências

Exatas e nas Ciências da Saúde para que os docentes possam realizar um

trabalho colaborativo para dialogarem com seus pares a respeito das

possibilidades à inclusão a partir de seus conhecimentos específicos.

Pensar na formação para além dos conteúdos também se constitui como

um exercício de sensibilidade e humanidade. Este aspecto é pontuado pelos

participantes da pesquisa que ressaltam a premissa de que para compreender

as necessidades do outro, é preciso se colocar no lugar do próximo. Este

posicionamento é apresentado nas concepções de estudantes, gestores e

docentes. Vejamos:

Usar de recursos práticos mesmo nos cursos, para que a pessoa sinta na pele como é ser deficiente. Colocar os tampões nos ouvidos e despois perguntar para ele o que ele entendeu dessa aula. Ou vendar os olhos, ou colocar uns óculos de lente muito escura. Ou com algumas manchas, assim como os meus olhos tem manchas iguais a queimaduras de cigarro. Enxergue através disso! (E1, 2017) A tarefa de se colocar no lugar do outro é muito importante. O professor no curso poder representar por exemplo, os gagos, toda vez que quiser falar vai ter que esperar ainda mais 30 segundos. Coisas desse tipo. Eu acho que aí vai causar uma sensibilização e eles vão até oferecer saídas mais criativas. Acredito. (E6, 2017) Uma turma de 50 professores e faça com que eles passem um dia todinho vendados. Ensinando a eles ali o que os deficientes visuais passam. Ou colocasse eles em guias de cadeira de rodas. Será que eles não irão aprender? Será que eles não iam ver o lado da gente? (E2, 2017) Eu acho que tanto na possibilidade de aquisição de metodologias, mas também na reflexão do lugar do outro e das possibilidades que você pode criar para esse outro. Eu acho que não podem se limitar apenas as questões de metodologias de aprendizagem, é muito maior. É muito mais um chamado para essa visão da necessidade do outro e como você pode ajudar. (D1, 2017)

Concordamos com os estudantes e docentes ao pontuarem a

necessidade da sensibilização dos docentes para a inclusão da pessoa com

deficiência durante o processo de formação continuada. A ideia de conhecer a

realidade do outro, nos desnuda de conceitos equivocados e nos toca a perceber

as diferenças existentes em nosso entorno. Além disso, coloca em destaque os

padrões homogêneos que ditam as normas sociais e educacionais. Levar o

professor a perceber as diferentes condições vivenciadas por seus próprios

alunos com deficiência, pelos pares ou por eles mesmos em ocasiões

imprevistas de futuro, pode provocar o despertar do respeito às diferentes

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maneiras de ser ou estar no mundo.

Concordamos com Capelinni (2003), quando afirma que é muito

importante que todos os professores conheçam informações básicas sobre as

deficiências, se colocando no lugar do outro, visando minimizar os preconceitos.

O desconhecimento e o consequente medo por parte das pessoas são

obstáculos às situações em que as pessoas com deficiência possam conviver

com as demais.

Para além dos conteúdos, outra questão a ser refletida é pontuada por

Imbernón e Guerrero (2018) quando afirmam que os tipos de formações

oferecidas aos docentes constituem-se ainda como modelos de formação

pautadas na transmissão e em aspectos padronizadores da aprendizagem. Se

desejamos alcançar novas práticas, novos modelos de intervenção e interação,

as formações direcionadas aos docentes também necessitam caminhar neste

sentido inovador, dialógico e reflexivo.

Esta análise nos conduziu a perceber que os modelos de formação

disponibilizados aos docentes da UFRN, apresentam-se em sua maior parte em

formatos de palestras ou cursos presenciais estruturados em aulas expositivas

com dinâmicas pautadas em perspectivas tradicionais de partilha do

conhecimento.

A maioria das oficinas do PAP são presenciais. Eu já vi aquele curso de LIBRAS que é EAD, mas ainda não tive a oportunidade de fazer. (D5, 2017) Aquele curso de uma semana que fazemos quando entramos precisa ser melhorado. Penso assim, se o objetivo é melhorar a qualidade do ensino, no próprio curso as palestras têm que ser revistas, eu sei que nem tudo pode ter metodologias ativas, mas é muito importante. (D2, 2017) A ideia é remanejar o perfil da formação, trabalhar mais com propostas na EAD, de dinamizar mais os perfis das palestras [...] pra tudo precisamos parar e analisar se estamos correspondendo às expectativas dos docentes, será por isso também que os cursos são mais esvaziados? (G3, 2017)

Diante disso, é preciso refletirmos sobre as características das pessoas

que são alvos da ação formativa. Os docentes universitários precisam ser

alcançados pela linguagem e modelos pensados para uma melhor

aprendizagem dos conteúdos. Um grande equívoco, talvez pela escassez de

experiências anteriores na área da educação especial, é o fato de se reproduzir

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modelos de formação realizados junto a professores da Educação Básica, com

recortes das realidades escolares a serem naturalmente aplicados ao Ensino

Superior.

É preciso contextualizar a formação, planejá-la vislumbrando o alcance do

grupo participante considerando a sua realidade e suas especificidades. Neste

sentido, Placco e Souza (2006, p. 87) afirmam que “é fundamental que o

formador esteja atento à intencionalidade; ao planejar e desenvolver atividades

formativas e recorrer a ações que envolvam cognitiva e afetivamente os

participantes. Identificar os desejos e necessidades do grupo pode ser um

caminho”. Assim como, concordamos com Lotrecchiano, McDonald, Lyons, Long,

Zajicek-Farber (2013) quando sugerem que no caso da aprendizagem em

adultos é aconselhável usar um foco baseado em experiência, na vida e na

necessidade individual de autodireção.

Coadunando-se com esta perspectiva de aproximação das realidades e

contextos de aprendizagem, o nosso campo de pesquisa nos conduziu a refletir

sobre a necessidade de se estabelecer pontos de diálogos aproximados em cada

área do conhecimento, tornando as discussões mais comuns e as possibilidades

de mediação e construção coletiva alargadas. Vejamos as observações

realizadas a este respeito pelos participantes da pesquisa:

Eu imagino que se as formações fossem pensadas agrupando os professores por centro, por área de conhecimento [..] acho que desta forma a discussão seja mais tranquila, por área talvez se possa discutir melhor porque há uma distância muito grande por exemplo entre as práticas da saúde com as práticas das exatas. (D1, 2017) Talvez agora com essa previsão tivesse de ser ofertado imediatamente formações especialmente para os professores que recebem esses alunos nos inícios de curso e dá para mapear, por exemplo, na saúde nosso aluno é recebido especialmente pelo Centro de Biociência. Todos os alunos da saúde iniciam o curso pelo CB. Agora imagine anatomia, laboratório de histologia, tecido, microscópio [...] eu acho que é possível fazer o mapeamento e trabalhar com a formação destes docentes primeiro. (D5, 2017) A política de formação inclusiva precisa primeiro sensibilizar a gestão para poder sensibilizar todos os outros níveis. Então assim, dentro do curso de formação específica, aquele capacitação específica para gestores, se os coordenadores de curso (porque eu acho que esses são gestores) que diretamente estão ligados com essas questões, eles fossem convocados de uma forma mais específica para pensar as questões da inclusão do estudante com deficiência, as questões educacionais, para que ele servisse de multiplicador dentro do curso para os professores. (D8, 2017) Fazer um levantamento de cada aluno por área, porque isso é uma

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realidade. O professor de exatas age de uma forma, professor de humanas age de outra forma, todas as áreas têm as suas especificidades. Então, eu acho que o formato hoje, que a gente teria que começar por áreas, partindo da realidade dos alunos, que se encontram nos cursos, trazendo situações-problema ou casos do próprio curso para ser pensadas na formação [...] pegar esse caso e discutir com os professores para que se encontrem juntas as estratégias.(G3, 2018)

No que se refere à formação docente, as propostas baseadas em estudos

de casos de ensino têm-se constituído em uma importante ferramenta para o

desenvolvimento profissional da docência, pois se configuram como importantes

instrumentos pedagógicos e podem ser utilizados como uma estratégia

metodológica de formação, além de investigação, para a aprendizagem e o

desenvolvimento profissional do professor.

Entre as diversas definições, podemos dizer que os casos de ensino se

configuram como narrativas de episódios escolares que possibilitam aos seus

usuários a reflexão a partir da prática docente. Para Merseth (1996) a definição

mais utilizada refere-se aos casos de ensino como um documento descritivo de

situações ou eventos escolares reais, elaborado e utilizado como ferramenta no

ensino de professores. Perrenoud (2002) afirma que os casos utilizados como

narrativas são importantes, pois a narrativa de histórias direcionada aos

professores sobre acontecimentos da prática pedagógica constitui-se como fator

de promoção a melhoria da reflexão de um profissional se o induzirmos a relatar

episódios reflexivos.

Para Alarcão (2005):

As narrativas estão na base dos casos [...] os casos são narrativas elaboradas (ou trabalhadas) com um objetivo: darem visibilidade ao conhecimento [...] as narrativas podem ser aproveitadas para serem trabalhadas como caso; desvendando o conhecimento que lhes subjaz. Muitas vezes os casos são escritos pelos próprios professores no sentido de experimentarem as suas próprias teorizações. (ALARCÃO, 2005; p. 55-56)

No que se refere aos formatos propostos às formações continuadas, as

referências atualmente estão em modelos presenciais, semipresenciais e on-line.

Durante a coleta de dados os participantes relataram dificuldades com a

prevalência na oferta de cursos presenciais. Vejamos a seguir:

O professor não tem um horário padrão. Muitas vezes as atividades ele até quer fazer, se inscreve, mas aí depois não dá certo no horário dele. A gente está investindo agora, criando e desenvolvendo um ambiente para usar mais a educação à distância. Porque aí no horário que ele tiver disponibilidade, ele vai poder acessar, ele vai poder se capacitar,

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ele poder escolher o assunto e a gente vai ter isso está sendo trabalhado com a SEDIS, deve ser lançado ainda esse ano esse portal, esse ambiente para essa capacitação continuada, usando essa tecnologias para a gente conseguir avançar, porque o presencial tem sido difícil. Eu acho que vai ser melhor, porque está lá disponível o material, ele vai lá estuda, analisa e enfim. Se não funcionar assim também, aí a gente tem que pensar em outra coisa, mas é uma das tentativas. Estamos tentando. (G1, 2017) Há muita oferta, mas não consigo participar a universidade oferece muita coisa nessa área e eu vi que esse ano foram oferecidas várias formações, eu vi lá no SIGRH, principalmente nos últimos semestres, só que infelizmente não bateu. Eu tive desejo de me inscrever, mas não batia com as datas que eu tinha disponibilidade. Com meus horários de aulas. Todas eram presenciais. Nesse modelo, para nós que fazemos mil coisas, é quase impossível. (D8, 2017)

No que refere aos modelos formativos realizados na formação continuada

do docente universitário, as estratégias necessitam ser repensadas para o maior

aproveitamento do tempo disponível na carga horária do professor para este fim.

Nos últimos anos, na educação superior tem se investido cada vez mais em

cursos on-line ou em modelos semipresenciais; denominados no exterior como

cursos Blended Learning. (DUFFY; KIRKLEY; 2004; MITCHELL; FORER; 2010)

A formação on-line ou em modelos semipresenciais é considerada

necessária hoje, e para o nosso futuro, pois nos encontramos na era da

informação, da rapidez e da construção dos próprios caminhos de aprendizagem.

Esta em formatos on-line permite que o processo de ensino-aprendizagem se

adapte aos estudantes, promovendo as interações entre pares e oferecendo um

ambiente assíncrono. (ONCU; CAKIR, 2011; WU; BIEBER; HILTZ, 2008)

Neste último ponto da análise dos dados observamos mais uma vez a

relevância pertinente ao campo da formação continuada dos docentes para a

reflexão e aperfeiçoamento da prática docente. Emanaram desta peça de nosso

mosaico diretrizes significativas que poderão contribuir com a ressignificação

das ações formativas das UFRN.

A primeira delas versou sobre a necessidade de se assumir superar o viés

canalizado para a informação que revestem parte das ações formativas.

Consideramos a necessidade de aprofundamento didático-pedagógico na área

da inclusão para que alcancemos de fato a melhoria da qualidade de ensino.

Deste modo, assumindo de fato papel formativo atento a discutir a prática

docente em uma perspectiva inclusiva no Ensino Superior, considerando o uso

de tecnologias assistivas, recursos pedagógicos e desenho universal para

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aprendizagem de todos. Além disso, os aspectos didáticos e da metodologia do

Ensino Superior na Perspectiva Inclusiva e o conhecimento da realidade ao

aproximar as discussões a partir do estudo de casos que auxiliem aos docentes

a buscar soluções inclusivas e redimensionamento da prática.

Outro ponto para direcionar as práticas formativas é a necessidade de se

ultrapassar os conteúdos explícitos da área, mas também estimular nas ações

de formação continuada a sensibilidade e respeito as especificidades humanas,

considerando na empatia mecanismos de aprendizagem. A investigação também

nos conduziu a refletir a respeito do planejamento das formações com base na

realidade vivenciada pelos docentes vislumbrando a aproximação das realidades

e contextos de aprendizagem a partir do grupo específico, promovendo

colaboração e partilha de um experiências.

As metodologias utilizadas nas formações também foram pautas de

análise, das quais se sugere ações baseadas no levantamento de possibilidades

de intervenções pedagógicas inclusivas no ensino superior, por meio de

proposições de casos de ensino que se aproximem da realidade dos docentes.

Além disso também foram analisadas possibilidades de flexibilização modelos

formativos que ultrapassem as ações tradicionais de mediação presenciais e

meramente expositivas. Sugerem-se o uso das novas tecnologias e recursos

formativos como mecanismos para dinamizar e melhorar o aproveitamento das

ações propostas, através da aplicação de propostas em formatos on line e

semipresenciais.

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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao longo desta jornada de aprendizagem e construção foi possível

significar e ressignificar conceitos, ao nos aproximarmos e ao nos distanciarmos

do campo de atuação profissional e de pesquisa, quando necessário, tendo a

oportunidade privilegiada de estar no centro do objeto de estudo como

profissional e pesquisadora.

Este lugar de duplos papéis nos proporcionou, por um lado, um olhar mais

atento e seguro a respeito do campo empírico, procurando caminhos teóricos e

metodológicos que pudessem levantar as respostas diante de aspectos que nos

inquietam em nossa prática. Certamente, as evidências deste estudo nos fizeram

repensar o nosso fazer pedagógico e ainda possibilitaram um melhor

posicionamento crítico a respeito do processo educacional inclusivo dos alunos

com deficiência na UFRN.

Consideramos tarefa difícil assumir o papel de imparcialidade quando

analisamos um campo em que estamos social, afetiva e profissionalmente

envolvidos. Somos frutos desta instituição, em que ingressamos como aluna

desde a infância e adolescência em seus projetos de extensão na Música,

percorremos a graduação em Pedagogia, especialização em Psicopedagogia,

mestrado em Educação e, resultante deste processo formativo, o Doutorado. No

desenvolvimento da atividade profissional, retornamos a esta casa para cumprir

os serviços cidadãos e profissionais como pedagoga institucional na área da

Educação Inclusiva. Orgulhamo-nos desta trajetória e compreendemos o

compromisso institucional e pessoal com o qual nos envolvemos com a causa

da Inclusão da pessoa com deficiência no Ensino Superior.

Como em toda trajetória acadêmica existem fatores que contribuem e

engrandecem os resultados de uma produção científica, há também aqueles

fatores que se apresentam como fragilidades naturais ao desenvolvimento da

atividade. Um trabalho doutoral demanda um esforço imenso do pesquisador

para desbravar caminhos ainda não explorados.

Deste modo, a temática escolhida para o desenvolvimento deste estudo

partiu de uma profunda lacuna de pesquisas no campo da Inclusão no Ensino

Superior, o qual não apresentava discussões a respeito das políticas de

formação docente e a interface com a inclusão de estudantes com deficiência.

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Desbravar este caminho, nos incitou a aprendizagem, no entanto nos

levou a áreas do conhecimento que não dominávamos como a sociologia,

antropologia e o cerne das políticas e gestão educacionais.

Citamos como outra fragilidade a readequação do projeto de pesquisa

inicial, pois de início vislumbrávamos realizar a análise no campo empírico e em

seguida propor, a partir de uma pesquisa colaborativa, uma intervenção

formativa aos docentes da Universidade. No entanto, diante da intensa

complexidade do contexto universitário nos ficou evidente o necessário

replanejamento de nossas ações.

Ao reelaborarmos o projeto, realizamos os estudos iniciais e constatamos

a inviabilidade, ao menos naquele momento, para a realização da proposta. O

que nos levou a retroceder e redimensionar o projeto. De início esta situação,

poderia compor a ordem da fragilidade, mas com o nosso aprofundamento na

área de investigação confirmamos a real necessidade de discutirmos neste

estudo aspectos relativos à política que direciona a formação docente e a

inclusão de estudantes universitários, e não somente permanecermos no que

estudos anteriores já haviam desenvolvido a partir de práticas formativas, muitas

delas destacadas em âmbito internacional, as quais poderíamos reproduzi-las

posteriormente.

Ressaltamos que as questões e objetivos propostos para esta pesquisa

nos conduziram à defesa da tese de que a formação continuada do docente do

Ensino Superior necessita de reestruturação política e pedagógica à luz da

perspectiva educacional inclusiva. De modo que a inclusão se torne elemento

estruturante para a melhoria da qualidade de ensino de todos, para o apoio à

permanência de estudantes com deficiência e para a desconstrução de barreiras

pedagógicas e atitudinais.

Conhecer esta realidade e nos aproximarmos dos referenciais teóricos

relativos às políticas de inclusão e permanência do estudante com deficiência no

Ensino Superior nos permitiram compreender aspectos teóricos sobre o modelo

social de deficiência, capacidade e funcionalidade da condição de ser pessoa

com deficiência, aspectos dos direitos humanos e da diversidade humana.

Destacamos que em nossas buscas foram evidenciados aspectos

relativos a um sentido de exclusão maior, especificamente no Brasil, pois

ingressar no Ensino Superior é produto de intensas lutas sociais e econômicas

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por parte de grande parcela dos brasileiros. Barreiras de ordem étnicas, de

classes sociais e de gênero são erguidas perante brasileiros que buscam no

Ensino Superior acesso para alcançar cidadania, formação e trabalho. Nesta

realidade, a exclusão da pessoa com deficiência constitui-se parte de uma

exclusão maior, a qual envolve mulheres, negros, indígenas, pobres, pessoas

com deficiência, dentre outros.

As escassas discussões científicas existentes a este respeito nos

conduzem a posicionarmo-nos nesta investigação que seria utópico almejar um

Ensino Superior de alcance universal, como almeja-se de modo justo uma

Educação Básica para todas as pessoas. Isto é, para que todos tenham acesso

ao saber escolarizado e sistematizado, oportunizando a leitura do mundo e

através do mundo.

Pensamos que a universalidade não se aplica ao contexto do Ensino

Superior, devido as suas especificidades formativas, propostas de investigação

e desenvolvimento de uma carreira acadêmica. No entanto, acreditamos que

este nível de ensino deveria ser alcançado por todos aqueles que desejassem

adentrar pelas portas da universidade. Todos aqueles que escolhessem seguir

esta trilha formativa, transpondo as barreiras reais existentes desde a Educação

Básica, principalmente aqueles que estão à margem da sociedade, imersos pela

exclusão.

Este estudo evidencia escassas discussões existentes a respeito do

escopo mais amplo da Pedagogia Universitária e os fundamentos embasados

na sua concepção integradora, a qual coloca o docente em um papel articulador

do ato pedagógico, reunindo múltiplos saberes e pedagogia inovadora, para

alcançar o humano através de um projeto político-pedagógico integrador, e

envolvendo uma postura muito maior que as concepções estritamente voltadas

à didática. Estes conceitos necessitam ser mais difundidos no contexto da

Educação Superior.

As evidências do estudo apontam que a concepção da Pedagogia

Universitária tem sido má compreendida sob um viés restrito, voltado à

metodologia do ensino superior e às técnicas empregadas no ensino. Não sendo

a Pedagogia Universitária reduzida à questão didática ou às metodologias de

estudar e de aprender, mas articulada a uma educação como prática social e ao

conhecimento como produção histórica e cultural.

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Este estudo preenche uma lacuna científica no campo da Inclusão no

Ensino Superior, trazendo reflexões descritivas e exploratórias a respeito das

implicações das políticas nacionais e institucionais das IES à formação

continuada do docente universitário e o reverberar disto na melhoria da

qualidade de ensino com vistas a alcançar a permanência do estudante com

deficiência na universidade.

Os achados da pesquisa indicam que a presença de estudantes com

deficiência no Ensino Superior, surgem desafios às políticas educacionais

relativas à formação inicial e continuada do docente universitário. A atividade

docente requer o aperfeiçoamento contínuo da dimensão pedagógica, para que

possa dispor de recursos teóricos e metodológicos para promover em sala de

aula a aprendizagem universal, em uma perspectiva educacional inclusiva

integral.

Os dados construídos durante a análise das políticas institucionais

cumprem a lacuna de discussão em nível acadêmico, ao apontar que as políticas

institucionais definem os caminhos rumo à inclusão ou à exclusão nas

instituições. No contexto analisado foi possível observar os avanços relativos à

elaboração de políticas institucionais que visam garantir a permanência de

estudantes com deficiência. Os dados do campo empírico demonstram largos

passos caminhados a partir da elaboração e implementação de políticas

institucionais, tais como: Plano de Desenvolvimento Institucional (UFRN, 2010);

a Portaria nº 203/10, que institui Comissão Permanente de Apoio ao Estudante

com Necessidades Educacionais Especiais – CAENE (UFRN, 2010b); a

Resolução n°193/2010 CONSEPE (UFRN, 2010c), que estabelece diretrizes ao

atendimento educacional especializado de estudantes com NEE na instituição;

o Regulamento dos Cursos de Regulares de Graduação através da Resolução

nº 171/2013-CONSEPE (UFRN, 2013); a Política de Melhoria da Qualidade dos

Cursos de Graduação e de Pós-graduação - Resolução n° 181/2017-CONSEPE

(UFRN, 2017), entre outros importantes documentos citados no texto.

Para além das proposições das políticas, foram identificadas a partir delas

diversas iniciativas desenvolvidas que visaram a integração à vida universitária

de modo universal e que se coadunam com as ações desenvolvidas aos

estudantes com deficiência.

Como resultados do estudo pode-se destacar ainda presentes no contexto

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educativo, perspectivas equivocadas dos partícipes sobre a condição de

deficiência e sobre a temática do preconceito. Estas concepções se

apresentaram como principais barreiras à inclusão de estudantes com

deficiência, e foram expressas de diferentes formas, através de diferentes

concepções sobre a condição de deficiência, dos estereótipos de incapacidade

socialmente, historicamente perpetuados sobre a pessoa com deficiência. No

entanto, estiveram presentes, apesar de representadas em minoria, boas

práticas desenvolvidas diante dos estudantes com deficiência.

Outra lacuna que esta investigação buscou laborar foi o campo de estudos

da Inclusão no Ensino Superior foi a discussão a respeito de novos caminhos

formativos à luz da perspectiva educacional inclusiva, a partir das concepções

dos participantes, dos achados na fundamentação teórica e nas políticas.

No que se refere ao exercício de repensar as ações formativas inclusivas

e políticas de formação nacionais e internacionais, emanaram caminhos para

que a partir dos princípios doa perspectiva educacional inclusiva e do DUA seja

possível a elaboração de guias práticos e auto-instrucionais sobre a temática;

propostas de experiências em cursos presenciais, semi-presenciais e on-line;

metodologias com base em estudos de casos de ensino; recursos educativos

abertos; e abordagem de conteúdos que valorizem o campo do ensino e da

aprendizagem.

Deste modo, apresentam que é possível discutir pedagogicamente os

aspectos relativos à educação inclusiva, o modelo social de deficiência,

diferentes tipos de deficiências, marcos legislativos e aspetos sociais,

abordagens sobre a base do currículo e necessidades de adaptações, o âmbito

da universidade inclusiva e possibilidades de intervenção metodológica da aula

inclusiva, barreiras e ajudas identificadas por estudantes universitários com

deficiências, serviços de apoio, princípio do Desenho Universal para a

Aprendizagem no Ensino Superior.

As metodologias utilizadas nas formações também foram pautas de

análise, das quais sugere-se ações baseadas no levantamento possibilidades de

intervenções pedagógicas inclusivas no ensino superior, por meio de

proposições de casos de ensino que se aproximem da realidade dos docentes.

Além disso também foram evidenciadas no estudo possibilidades de

flexibilização modelos formativos que ultrapassem as ações tradicionais de

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mediação presenciais e meramente expositivas. As evidências sugerem o uso

das novas tecnologias e recursos formativos como mecanismos para dinamizar

e melhorar o aproveitamento das ações propostas, através da aplicação de

propostas em formatos on-line e semipresenciais.

As indicações emanadas do campo empírico da UFRN, conduzem à

percepção de um movimento institucional que indica uma preocupação e

atenção para a formação e qualidade, mas revela que ainda há uma distância

entre as proposições e o alcance do objetivo da formação continuada.

Diante da lacuna existente no campo de estudos da inclusão no Ensino

Superior a respeito da discussão entre as intervenções práticas da inclusão na

tríade Ensino, Pesquisa e Extensão, analisamos que para promover o processo

educacional inclusivo na Universidade, é preciso abranger todas as dimensões.

Destacamos que a tríade Ensino, Pesquisa e Extensão, que é dirigida pelas

políticas institucionais que abarcam a inclusão das pessoas com deficiência,

necessitam estar alicerçadas também em uma perspectiva educacional inclusiva.

Inferimos ser ainda necessário o aprimoramento de políticas institucionais que

viabilizem a participação efetiva de estudantes com deficiência em ações de

Ensino, Pesquisa e Extensão, oportunizando com equidade de condições ao

acesso as ações internas que contribuem para a formação do estudante na

tríade universitária.

Outro hiato existente no campo de estudos da inclusão no Ensino Superior

e contemplado neste estudo foi a discussão a respeito das políticas de formação

docente, analisadas no que se refere principalmente à dimensão pedagógica. As

quais foram identificadas que a ausência de formação pedagógica pode afastar

o professor da reflexão sobre os fundamentos éticos, pedagógicos e

metodológicos para atuar junto ao estudante com deficiência. Assim, o tema da

formação pedagógica do docente universitário surgiu como um reflexo às

lacunas formativas existentes na carreira do docente universitário.

Pontuamos que as lacunas existentes na formação do docente

universitário necessitam ser pauta das discussões das gestões das IES,

considerando as especificidades inerentes as suas diferentes experiências

sociais e acadêmicas, além de considerar a diversidade nas formas com as quais

leem o mundo e ao mesmo tempo de são lidos por ele.

Destacamos que a formação continuada, no tocante à dimensão

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pedagógica, necessita ser percebida por docentes e gestores da instituição

como oportunidade à formação e aperfeiçoamento das práticas e fortalecimento

do ensino. Deste modo, as políticas institucionais precisam ser reestruturadas

para buscar o equilíbrio entre todas as dimensões e funções exercidas pelo

professor, fortalecendo a identidade docente e levando o corpo universitário a

compreender o ato pedagógico como político e instrumento de formação e

transformação.

No contexto político e nas ações institucionais da UFRN, a temática da

formação continuada e em serviço tem sido alvo de diversas frentes junto aos

servidores técnico-administrativos e aos docentes. Identificamos como fator

positivo a distribuição intra-institucional das responsabilidades junto ao processo

de inclusão dos estudantes com deficiência e formação docente. Destacamos

que dentre estas temáticas discutidas, encontra-se a Educação Inclusiva nas

práticas educacionais e sociais, trazendo reflexões sobre estratégias de ensino-

aprendizagem aos estudantes com deficiência, conhecimento sobre tecnologia

assistiva e serviços de apoio oferecidos pela instituição.

Identificamos lacunas em estudos anteriores sobre a efetivação do elo

entre a dimensão pedagógica, a formação e a perspectiva educacional inclusiva.

Neste estudo nos debruçamos sobres estas temáticas e analisamos a presença

de desafios com limites e fatores a serem aprimorados, tanto no campo empírico

analisado, quanto como caminhos a serem trilhados em novas pesquisas.

Porém, ao analisarmos os achados do estudo em geral, encontramos a

presença de desafios à efetivação do elo entre a dimensão pedagógica e a

perspectiva educacional inclusiva. Assim como, identificamos a existência da

oferta, mas percebemos limites no alcance destas ações no que se refere a

formação docente. Limites estes apontados a seguir, com sugestões aos fatores

que precisam ser aprimorados:

• Limite: desconhecimento das práticas institucionalizadas no que se refere

à formação continuada.

Fator a ser aprimorado: desenvolver maior visibilidade e publicização das

as ações oferecidas aos docentes, por meio de divulgação ampla das

ofertas.

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• Limite: escassez de registros institucionais públicos a respeito da

formação docente.

Fator a ser aprimorado: publicar as ações formativas realizadas junto à

comunidade universitária e aos contextos acadêmicos relativos ao Ensino

Superior, formação do docente e inclusão educacional.

• Limite: baixa participação dos docentes nas ações formativas propostas

em caráter facultativo (motivos apontados: temática da inclusão da

pessoa com deficiência ser ainda uma discussão recente no contexto; a

alta quantidade de demandas delegadas aos docentes universitários;

resistência na participação).

Fator a ser aprimorado: reelaborar as políticas de formação institucionais

que resultem em maior participação e qualidade, realizar uma maior

sensibilização que provoque a efetiva participação.

• Limite: adesão maior às propostas de formação continuada a partir da

convocação ou chamada institucional.

Fator a ser aprimorado: propor maior engajamento da gestão no

desenvolvimento de políticas que incentivem a participação. Assim como,

estimular uma cultura de avaliação da formação.

• Limite: baixa quantidade de respostas dos docentes no retorno aos

instrumentos que realizam levantamentos institucionais de necessidade

de capacitação.

Fator a ser aprimorado: incentivar e incrementar os instrumentos que

realizam levantamentos institucionais de necessidade de capacitação.

• Limite: baixa valorização da dimensão pedagógica nas políticas de

avaliação institucional e progressão da carreira, fragilidades da política

institucional em não apresentar um percurso formativo continuado aos

docentes, implicando o seu cumprimento de forma indispensável à

atuação docente, à progressão da carreira e à avaliação institucional.

Fator a ser aprimorado: valorizar a formação continuada docente e que

os convoque o docente ao aperfeiçoamento pedagógico, a partir de

políticas institucionais. Políticas estas que definam o lugar e relevância da

formação continuada como prioridade institucional para que a partir disto,

se alcance a qualidade de ensino para todos.

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• Limite: prevalência do papel informativo nas ações formativas propostas.

Fator a ser aprimorado: ampliar espaços de discussões que promovam

reflexões e ressignificações sobre a prática docente em uma perspectiva

inclusiva no Ensino Superior; fundamentos Educacionais da Inclusão; uso

das tecnologias assistiva; recursos pedagógicos e desenho universal para

aprendizagem; os aspectos didáticos e da metodologia do Ensino

Superior na Perspectiva Inclusiva; favorecer ao docente conhecer a

realidade da inclusão no Ensino Superior a partir de estudos de casos

reais de estudantes que vivenciam as barreiras à inclusão na

Universidade com vistas a elucidar possíveis situações que podem se

constituir como barreiras.

• Limite: escassez de promoção de diálogos formativos entre pares

docentes.

Fator a ser aprimorado: realizar planejamento pedagógico vislumbrando

o alcance do grupo participante a partir de seus interesses, áreas de

atuação e experiências.

• Limite: Prevalência de ações formativas em modelos presenciais e

formatos de palestras ou cursos presenciais estruturados em aulas

expositivas.

Fator a ser aprimorado: repensar estratégias para o maior aproveitamento

do tempo disponível na carga horária do professor para a formação

continuada. Uso de propostas “Blended Learning” – semipresenciais, e

on-line.

Diante do exposto, ressaltamos que o reconhecimento dos avanços

normativos e das iniciativas institucionais não ocultam as dificuldades existentes

no processo. Questões como a falta de repasses financeiros das instâncias

superiores para dar condições econômicas para que as instituições possam

desenvolver ações referentes à promoção da inclusão, barreiras relativas à

acessibilidade arquitetônica, à formação dos docentes para o desenvolvimento

de atividades pedagógicas inclusivas e a dificuldade na efetividade das normas

propostas nos documentos institucionais se sobressaíram nesta investigação.

Diante deste cenário deixamos aqui questionamentos: ao vislumbrar a

melhoria da qualidade do ensino, a ser direcionada de modo universal a todos

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os estudantes, a política institucional vigente conduz o professor a refletir sobre

sua missão no campo da docência e do ensino?

Deixamos, também, as inquietações: Sem haver um direcionamento mais

claro na política de formação continuada, seria o estudante com deficiência alvo

da melhoria da qualidade do ensino? A Política de Inclusão e Acessibilidade da

UFRN poderia contribuir para uma pactuação de responsabilidades envolvendo

formação continuada do docente universitário?

Diante destes questionamentos e inquietações consideramos urgente a

realização de um trabalho institucional direcionado à preocupação com a

atuação do professor universitário na área do ensino e da formação continuada.

Tendo em vista que, diante da diversidade e inclusão de estudantes com

deficiência no Ensino Superior, são levantadas novas possibilidades de

ressignificação da prática docente. Essa, ao invés dos limites, deve visar às

possibilidades e, no lugar da construção das barreiras, atuar na transposição

delas.

Para finalizar, além dos aspectos já apontados destacamos aqui três

grandes desafios que consideramos necessários ao alcance de práticas

educacionais inclusivas no Ensino Superior. O primeiro deles está na

desconstrução de barreiras atitudinais, a fim de fortalecer o respeito às

diferenças e ao reconhecimento das especificidades humanas, trazendo aos

processos educacionais um olhar transdisciplinar para a sustentabilidade do

desenvolvimento humano e provocando mudanças, que levam aos docentes da

Universidade a, antes de ensinar, terem humildade de reaprender. Isto implica

em aprender novamente a ser, a aprender, a fazer, a conviver (MORIN, 2004).

O segundo está na ordem da inconformidade relativa a quaisquer

retrocessos no campo da educação em nosso país. Consideramos

imprescindível a adoção de políticas de Estado e não de governo, que prevejam

a continuidade dos investimentos e ampliação de políticas públicas na área da

Educação, e especialmente da Educação Inclusiva. De forma que seja

assegurado o direito à inclusão, que depende do coletivo engajamento político e

social nos próximos anos.

O terceiro se refere ao investimento de estudos e elaboração de políticas

institucionais, e aqui fazemos coro com a instituição a qual pertencemos, que

visem à promoção da formação continuada do docente universitário como um

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norte à ressignificação de práticas educacionais à luz da perspectiva educacional

inclusiva.

Ansiamos, portanto, que as discussões levantadas neste trabalho possam

contribuir com a área da Educação Inclusiva dentro e fora do contexto

investigado e, principalmente, para a reflexão sobre as práticas pedagógicas dos

docentes universitários frente aos estudantes com deficiência.

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______. O ensino universitário: seu cenário e seus protagonistas. Porto Alegre, Artmed: 2004.

WRAY, M., HOUGHTON, A. M. Implementing disability policy in teaching and learning contexts shop floor constructivism or street level bureaucracy? Teaching in Higher Education. 2018. DOI: 10.1080/13562517.2018.149183

YANG, C. H.; TZUO, P. W.; KOMARA, C. Using WebQuest as a Universal Design for Learning tool to enhance teaching and learning in teacher preparation programs. Journal of College Teaching & Learning, v. 8, n. 3, p. 21-29, 2011. ZHANG, Y., ROSEN, S., LI, J. Inclusive higher education for students with disabilities in China: What do the university teachers think? Higher Education Studies, 8(4), 104-115. (2019) doi: 10.5539/hes.v8n4p104

ZHONG, Y. Universal Design for Learning (UDL) In Library Instruction. College and Undergraduate Libraries, Bakersfield, v. 19, n. 1, p. 33-45, 2012.9

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APÊNDICES

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APÊNDICE I

Artigos científicos nacionais que se aproximam da temática específica

“Formação docente no ensino superior em uma perspectiva inclusiva”.

PEREIRA; RIBEIRO; CAVALCANTI.

Política de formação inclusiva: percepção de gestores sobre processo de mudanças em instituições de ensino superior

2011 Revista Brasileira de Enfermagem, vol. 64, núm. 4, julio-agosto, 2011, pp. 711-716 Associação Brasileira de Enfermagem Brasília, Brasil

Maria Dinorá Baccin Castelli Maristela Pedrini

A formação docente no contexto do ensino superior 2012 ANAIS ANPED SUL

CARLA HAYASHI DAINON MACHADO MELVIN ETO SIMONE YAMANIHA INGRID AUSEC

Deficiência visual no ensino superior: capacitação docente para a inclusão

2012 III SIES - Seminário sobre Inclusão no Ensino Superior Londrina, 27 e 28 de Novembro de 2012

AUTOR

TÍTULO ANO ARTIGO EM PERIÓDICO / EVENTO / LIVRO

Mônica Pagel Eidelwein

Pedagogia universitária voltada à formação de professores na temática da inclusão

2005 Revista do Centro de Educação.Cadernos :: edição: 2005 - N° 26 Universidade Federal do Rio Grande do Sul

THOMA, Adriana da Silva

A inclusão no ensino superior: “- ninguém foi preparado para trabalhar com esses alunos (...) Isso exige certamente uma política especial...”

2006 29ª. Reunião Anual, em CAXAMBU/MG, no período de 15 a 18 de outubro de 2006

Célia Regina VITALIANO

Análise da necessidade de preparação pedagógica de professores de cursos de licenciatura para inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais

2007 Rev. Bras. Ed. Esp., Marília, Set.-Dez. 2007, v.13, n.3, p.399-414

Soraya Dayanna Guimarães SANTOS Neiza de Lourdes Frederico FUMES

Reflexões de universitários com deficiência sobre a prática e a formação docente no ensino superior de maceió

2009 V Congresso Brasileiro Multidisciplinar de Educação Especial. 3 a 6 de novembro de 2009 - Londrina – Pr - ISSN 2175-960X

Michele Xavier dos REIS /Daniela Aparecida Eufrásio/ Fernanda Vilhena Mafra Bazon

A formação do professor para o ensino superior: prática docente com alunos com deficiência visual

2010 Educação em Revista ISSN 0102-4698 Educ. rev. vol.26 no.1 Belo Horizonte Apr. 2010

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Ani Martins Silva Raquel Cymrot Maria Eloisa Famá D’Antino

Demandas de docentes do ensino superior para a formação de alunos com deficiência

2012 Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, Brasília, v. 93, n. 235, p. 667-697, set./dez. 2012.

Luciana Oliveira Rocha Magalhães ; Suelene Regina Donola Mendonça

Ação interdisciplinar e transformação da realidade: construção de sonhos e práticas inclusivas em sala de aula

2016 Revista Educação Especial, 01 August 2016, Vol.29(54), pp.161-174

Fonte: Dados de Revisão Sistemática. (Arquivos pessoais)

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APÊNDICE II

Publicações internacionais que se aproximam da temática específica “Formação

docente no ensino superior em uma perspectiva inclusiva”.

AUTOR

TÍTULO ANO ARTIGO EM PERIÓDICO / EVENTO / LIVRO

Moriña-Diez; López Gavira; Melero, Cortés Vega, Romo

El Profesorado em la Universidad Ante El Alumnado Con Discapacidad: ¿Tendiendo Puentes O Levantando Muros?

2013 Revista de Docencia Universitaria Vol.11 (3) Octubre-Diciembre 2013, 423-442

Issn: 1887-4592

Redruello, Rodríguez, Quesada,

Viloria

La formación del profesorado universitario: mejora de los procesos de enseñanza-

aprendizaje del alumnado con discapacidad

2014 Revista Tendencias Pedagógicas Nº 23 2014

Rafael Carballo

La necesidad de formación de profesorado

universitario para la inclusión del alumnado con discapacidad

2016 Capítulo De Livro: New Pedagogical Studies In Higher Education. José Gómez Galán, Eloy López

Meneses & Alicia Jaén Martínez (Eds.) Isbn: 978-1-943697-10-6 249. (2016)

Moriña; Carballo

Profesorado Universitário Y Educación Inclusiva: Respondiendo a sus

necesidades de formación.

2018 Psicologia Escolar E Educacional, Sp. Número Especial, 2018: 87-95.

Anabel Moriña Formación del profesorado para uma educación inclusiva

2018 Livro: Editora Sínteses

Raphael Carballo

Una escalera hacia la inclusión educativa

En la universidad: Desarrollo y evaluación de un

programa de Formación para el profesorado

2018 Tesis Doctoral – Universidad De Sevilla

Carballo, Morgado,

Cortés-Vega

Transforming faculty conceptions of disability and inclusive education through a

training programme, international

2019 Journal Of Inclusive Education Https://Doi.Org/10.1080/13603116.2019.1579874

Anabel Moriña Learning from experience: training for faculty members on disability, perspectives: policy

and practice in higher education

2019 Journal Perspectives: Policy And Practice In Higher Education Volume 23, 2019

Fonte: Dados de Revisão Sistemática. (Arquivos pessoais)

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APÊNDICE III

EMPRESA BRASILEIRA DE SERVIÇOS HOSPITALARES HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ONOFRE LOPES

GERÊNCIA DE ENSINO E PESQUISA

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – TCLE

Esclarecimentos

Estamos solicitando a você a autorização que participe da pesquisa: “Inclusão no ensino superior e a formação continuada do docente universitário: Entrelaçamentos Políticos e Pedagógicos”, que tem como pesquisador responsável a Profa. Dra. Lúcia de Araújo Ramos Martins.

Esta pesquisa pretende avaliar os efeitos das políticas e ações institucionais da UFRN, que versam sobre formação continuada de docentes, para a promoção da inclusão educacional de estudantes com deficiência.

O motivo que nos leva a fazer este estudo decorre da necessidade de reflexão e investigação da formação docente no Ensino Superior com vistas ao processo de inclusão educacional de estudantes com deficiência. Assim, esta pesquisa pretende contribuir para a reflexão e avaliação das políticas e ações institucionais relacionadas a formação continuada do docente universitário como um dos caminhos para a inclusão de estudantes com deficiência e para que se reconheça a necessidade de superação de possíveis problemas de fragmentação e descontinuidade de ações relativas à formação continuada na perspectiva da educação inclusiva, no âmbito da Universidade.

Caso você decida participar, você deverá participar de uma entrevista semiestruturada, com o intuído de conhecer a sua opinião a respeito da relação entre Inclusão de estudantes com deficiência no Ensino Superior e formação continuada do docente universitário. Buscando conhecer os desafios que a presença do aluno com deficiência tem posto a formação de professores universitários.

A entrevista semiestruturada irá durar aproximadamente trinta minutos e será utilizado o recurso de gravação de voz para respaldar os registros da pesquisa. Este último, só será utilizado mediante a sua autorização no termo de autorização para gravação de voz.

A previsão de riscos é mínima, ou seja, o risco que você corre é semelhante àquele sentido

em um exame físico ou psicológico de rotina. Desse modo, como forma de prevenção quanto a

isso, você poderá ler antecipadamente o roteiro de entrevista, estando livre para tirar suas

dúvidas. Lembramos, ainda, que a pesquisadora atuará na mediação desta entrevista-

semiestruturada poderá auxiliá-lo no esclarecimento das perguntas.

Durante todo o período da pesquisa você poderá tirar suas dúvidas ligando para (84) 2226-

6515; (84) 99913864 ou enviando e-mail para: [email protected]

Você tem o direito de recusar sua autorização, em qualquer fase da pesquisa, sem nenhum prejuízo para você.

EMPRESA BRASILEIRA DE SERVIÇOS HOSPITALARES HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ONOFRE LOPES

GERÊNCIA DE ENSINO E PESQUISA Os dados fornecidos serão confidenciais e serão divulgados apenas em congressos ou

publicações científicas, não havendo divulgação de nenhum dado que possa identificá-lo(a). Esses dados serão guardados pela pesquisadora responsável por essa pesquisa em

local seguro e por um período de 5 anos. Se você tiver algum gasto pela participação nessa pesquisa, ele será assumido pelo

pesquisador e reembolsado para você.

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3

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Se sofrer algum dano comprovadamente decorrente desta pesquisa, será indenizado. Qualquer dúvida sobre a ética dessa pesquisa você deverá ligar para o Comitê de Ética

em Pesquisa do Hospital Universitário Onofre Lopes, telefone: 3342-5003, endereço: Av. Nilo Peçanha, 620 – Petrópolis - Espaço João Machado - 1º Anda - Prédio Administrativo – CEP 59.012-300 Natal/RN, e-mail: [email protected].

Este documento foi impresso em duas vias. Uma ficará com você e a outra com o pesquisador responsável Lisiê Marlene da Silveira Melo Martins. Consentimento Livre e Esclarecido

Após ter sido esclarecido sobre os objetivos, importância e o modo como os dados serão coletados nessa pesquisa, além de conhecer os riscos, desconfortos e benefícios que ela trará para mim e ter ficado ciente de todos os meus direitos, concordo em participar da pesquisa “Inclusão no ensino superior e a formação continuada do docente universitário: Entrelaçamentos Políticos e Pedagógicos”, e autorizo a divulgação das informações por mim fornecidas em congressos e/ou publicações científicas desde que nenhum dado possa me identificar.

Natal, ______ de _____________ de ___________

______________________________________________ Assinatura do participante da pesquisa

Declaração do pesquisador responsável

Como pesquisador responsável pelo estudo “Inclusão no ensino superior e a formação continuada do docente universitário: Entrelaçamentos Políticos e Pedagógicos” declaro que assumo a inteira responsabilidade de cumprir fielmente os procedimentos metodologicamente e direitos que foram esclarecidos e assegurados ao participante desse estudo, assim como manter sigilo e confidencialidade sobre a identidade do mesmo.

Declaro ainda estar ciente que na inobservância do compromisso ora assumido estarei infringindo as normas e diretrizes propostas pela Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde – CNS, que regulamenta as pesquisas envolvendo o ser humano.

Natal, ______ de _____________ de ___________

______________________________________________ Assinatura do pesquisador responsável

Impressão datiloscópica do

participante

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APÊNDICE IV

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

TERMO DE AUTORIZAÇÃO PARA GRAVAÇÃO DE VOZ

Eu, _________________________________________________________, depois de

entender os riscos e benefícios que a pesquisa intitulada “INCLUSÃO NO ENSINO SUPERIOR

E A FORMAÇÃO CONTINUADA DO DOCENTE UNIVERSITÁRIO: ENTRELAÇAMENTOS

POLÍTICOS E PEDAGÓGICOS”, poderá trazer e, entender especialmente os métodos que serão

usados para a coleta de dados, assim como, estar ciente da necessidade da gravação de minha

entrevista, AUTORIZO, por meio deste termo, as pesquisadoras Profa. Dra. Lúcia de Araújo

Ramos Martins e Lisiê Marlene da Silveira Melo Martins a realizar a gravação de minha entrevista

sem custos financeiros a nenhuma parte.

Esta AUTORIZAÇÃO foi concedida mediante o compromisso das pesquisadoras acima

citadas em garantir-me os seguintes direitos:

1. poderei ler a transcrição de minha gravação;

2. os dados coletados serão usados exclusivamente para gerar informações para a

pesquisa aqui relatada e outras publicações dela decorrentes, quais sejam: revistas científicas,

congressos e jornais;

3. minha identificação não será revelada em nenhuma das vias de publicação das

informações geradas;

4. qualquer outra forma de utilização dessas informações somente poderá ser feita

mediante minha autorização;

5. os dados coletados serão guardados por 5 anos, sob a responsabilidade da

pesquisadora coordenadora da pesquisa Profa. Dra. Lúcia de Araújo Ramos Martins e após esse

período, serão destruídos e,

6. serei livre para interromper minha participação na pesquisa a qualquer momento e/ou

solicitar a posse da gravação e transcrição de minha entrevista.

Natal, ____ de _______ de 201_ .

_____________________________________________

Assinatura do participante da pesquisa

_______________________________________________

Dra. Lúcia de Araújo Ramos Martins

Pesquisadora Responsável/Orientadora

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APÊNDICE V

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

ROTEIRO PARA ENTREVISTA (SEMI-ESTRUTURADA)

TEMA DA PESQUISA: INCLUSÃO NO ENSINO SUPERIOR E A FORMAÇÃO CONTINUADA DO DOCENTE UNIVERSITÁRIO: ENTRELAÇAMENTOS

POLÍTICOS E PEDAGÓGICOS

Doutoranda: Lisiê Marlene da Silveira Melo Martins Orientadora: Profa. Dra. Lúcia de Araújo Ramos Martins

Data: __________________________ Hora: ______à ______ Local da Entrevista:_______________ ENTREVISTA DOCENTES CARACTERIZAÇÃO: 1.Centro Acadêmico: 2.Curso: 3. Gênero: Masculino ( ) Feminino ( ) 4. Há quanto tempo exerce a docência na UFRN? Menos de 5 anos ( ) entre 5 e 10 anos ( ) entre 10 e 15 anos ( ) entre 15 e 20 anos ( ) mais de 20 anos ( ) 5. Quanto a sua formação, informe as áreas de estudo: Graduação em: __________________________________________________ Especialização em:________________________________________________ Mestrado em: ____________________________________________________ Doutorado: ______________________________________________________ Pós-doutorado: __________________________________________________ outra: _____________________________________________________________________________________________________________________

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Exerce ou já exerceu função de gestor (a) na UFRN? Qual? ______________________________________________________________________________________________________________________________ Eixo I Percepções sobre: inclusão de pessoas com deficiência na universidade 1. O que é necessário para ocorrer a inclusão da pessoa com deficiência na Universidade? - Aspectos políticos (dispositivos legais, sobre o que você conhece da lei, e acredita ser cumprido ou não) - Aspectos educacionais (em sala de aula, no que se refere ao processo de ensino e aprendizagem) 2. Em seu contexto universitário, percebe alguma relação entre a existência de políticas inclusivas e a presença de pessoa com deficiência? Explique de que maneira você percebe, ou não, esta relação aqui na Universidade? (Citar exemplos) 3. Você conhece políticas implementadas da própria Universidade que promovem a inclusão de pessoas com deficiência? (Citar exemplos)

Eixo II Percepções sobre: docência e formação 1 O que você pensa sobre a formação (preparação) do professor universitário para ensinar aos estudantes com deficiência? 2 De que maneira a formação continuada (formação do professor ao longo de sua carreira) na área da Educação Inclusiva pode influenciar o processo de inclusão de estudantes com deficiência na sala de aula? Em que medida esta ação pode auxiliar ou não na permanência destes estudantes em seus cursos?

4. A presença de estudantes com deficiência na universidade pode mobilizar a elaboração políticas que propiciem o aperfeiçoamento da prática docente? Como seria?

(Citar exemplos conhecidos de políticas já existentes) (Se não conhece, falar como acredita que poderia ser)

5. Você conhece políticas institucionais ou ações de formação continuada, voltadas aos docentes da UFRN, que podem favorecer a inclusão educacional das pessoas com deficiência?

6. Como você avalia a relação entre formação continuada do docente

universitário e inclusão de estudantes com deficiência na UFRN?

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APÊNDICE VI

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

ROTEIRO PARA ENTREVISTA (SEMI-ESTRUTURADA)

TEMA DA PESQUISA: INCLUSÃO NO ENSINO SUPERIOR E A FORMAÇÃO CONTINUADA DO DOCENTE UNIVERSITÁRIO: ENTRELAÇAMENTOS

POLÍTICOS E PEDAGÓGICOS

Doutoranda: Lisiê Marlene da Silveira Melo Martins Orientadora: Profa. Dra. Lúcia de Araújo Ramos Martins

Data: __________________________ Hora: ______à ______ Local da Entrevista:_______________ ENTREVISTA GESTORES CARACTERIZAÇÃO: 1.Unidade de Lotação: _______________________ 2. Gênero: Masculino ( ) Feminino ( ) 3. Você é servidor da UFRN há quantos anos? Menos de 5 anos ( ) entre 5 e 10 anos ( ) entre 10 e 15 anos ( ) entre 15 e 20 anos ( ) mais de 20 anos ( ) 4. Além da função de gestão, exerce (atualmente) ou exerceu a função de docente na UFRN? Em caso afirmativo, em que área/ centro acadêmico? ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ 5. Quanto a sua formação, informe as áreas de estudo: Graduação em: ________________________________________________ Especialização em:______________________________________________ Mestrado em: __________________________________________________ Doutorado: _____________________________________________________ Pós-doutorado: __________________________________________________ outra: __________________________________________________________

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6. Já exerceu outra função como gestor (a) na UFRN? Qual? _______________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________________________________________ 7. Qual a relação exercida em sua função com as políticas de inclusão de estudantes com deficiência e/ ou com as políticas de formação continuada dos docentes da UFRN? _______________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________________________________________

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Eixo I Percepções sobre: inclusão de pessoas com deficiência na universidade 7. O que é necessário para ocorrer a inclusão da pessoa com deficiência na Universidade? - Aspectos políticos (dispositivos legais, sobre o que você conhece da lei, e acredita ser cumprido ou não) - Aspectos educacionais (em sala de aula, no que se refere ao processo de ensino e aprendizagem) 8. Em seu contexto universitário, percebe alguma relação entre a existência de políticas inclusivas e a presença de pessoa com deficiência? Explique de que maneira você percebe, ou não, esta relação aqui na Universidade? (Citar exemplos) 9. Você conhece políticas implementadas da própria Universidade que promovem a inclusão de pessoas com deficiência? (Citar exemplos)

Eixo II Percepções sobre: docência e formação 3 O que você pensa sobre a formação (preparação) do professor universitário para ensinar aos estudantes com deficiência? 4 De que maneira a formação continuada (formação do professor ao longo de sua carreira) na área da Educação Inclusiva pode influenciar o processo de inclusão de estudantes com deficiência na sala de aula? Em que medida esta ação pode auxiliar ou não na permanência destes estudantes em seus cursos? 3. A presença de estudantes com deficiência na universidade pode mobilizar a elaboração políticas que propiciem o aperfeiçoamento da prática docente? Como seria? (Citar exemplos conhecidos de políticas já existentes) (Se não conhece, falar como acredita que poderia ser) 4. Você conhece políticas institucionais ou ações de formação continuada, voltadas aos docentes da UFRN, que podem favorecer a inclusão educacional das pessoas com deficiência? 5. Como você avalia a relação entre formação continuada do docente universitário e inclusão de estudantes com deficiência na UFRN?

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APÊNDICE VII

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

ROTEIRO PARA ENTREVISTA (SEMI-ESTRUTURADA)

TEMA DA PESQUISA: INCLUSÃO NO ENSINO SUPERIOR E A FORMAÇÃO CONTINUADA DO DOCENTE UNIVERSITÁRIO: ENTRELAÇAMENTOS

POLÍTICOS E PEDAGÓGICOS

Doutoranda: Lisiê Marlene da Silveira Melo Martins Orientadora: Profa. Dra. Lúcia de Araújo Ramos Martins

Data: __________________________ Hora: ______à ______ Local da Entrevista:_______________ ENTREVISTA ESTUDANTES Caracterização

1.Gênero: Masculino ( ) Feminino ( )

2. Idade? _________________

3.Centro Acadêmico:_______________________

4.Curso: _________________________________

5. Período atual do curso: _____

Está satisfeito com o curso? E com a Universidade? ______________________________________________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________________________________________ 6. Como identifica a sua condição?

Deficiência Física ( )

Deficiência Auditiva ( )

Deficiência Intelectual ( )

Deficiência Visual ( )

Surdez ( )

Altas Habilidades/ Superdotação ( )

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Transtorno do Espectro do Autismo ( )

Outro (a): __________________

Eixo II Percepções sobre: A inclusão de pessoas com deficiência na universidade 10. O que é necessário para a inclusão da pessoa com deficiência na Universidade? - Aspectos políticos (dispositivos legais, sobre o que você conhece da lei, e acredita ser cumprido ou não) - Aspectos educacionais (em sala de aula, no que se refere ao processo de ensino e aprendizagem) 11. Em seu contexto universitário, percebe alguma relação entre a existência de políticas inclusivas e a presença de pessoa com deficiência? Explique de que maneira você percebe, ou não, esta relação aqui na Universidade? (Citar exemplos) 12. Você conhece políticas implementadas da própria Universidade que promovem a inclusão de pessoas com deficiência? (Citar exemplos)

Eixo II Percepções sobre: docência e formação 5 O que você pensa sobre a formação (preparação) do professor universitário para ensinar aos estudantes com deficiência? 6 De que maneira a formação continuada (formação do professor ao longo de sua carreira) na área da Educação Inclusiva pode influenciar o processo de inclusão de estudantes com deficiência na sala de aula? Em que medida esta ação pode auxiliar ou não na permanência destes estudantes em seus cursos? 3. A presença de estudantes com deficiência na universidade pode mobilizar a elaboração políticas que propiciem o aperfeiçoamento da prática docente? Como seria? (Citar exemplos conhecidos de políticas já existentes) (Se não conhece, falar como acredita que poderia ser) 4. Você conhece políticas institucionais ou ações de formação continuada, voltadas aos docentes da UFRN, que podem favorecer a inclusão educacional das pessoas com deficiência? 5. Como você avalia a relação entre formação continuada do docente universitário e inclusão de estudantes com deficiência na UFRN?