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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM
DALVA CEZAR DA SILVA
SUPORTE FAMILIAR E QUALIDADE DE VIDA EM IDOSOS COM ÚLCERA VENOSA
NO CONTEXTO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
NATAL
2017
DALVA CEZAR DA SILVA
SUPORTE FAMILIAR E QUALIDADE DE VIDA EM IDOSOS COM ÚLCERA VENOSA
NO CONTEXTO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em
Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
como requisito para obtenção do título de Doutor em
Enfermagem.
Área de Concentração: Enfermagem na atenção à saúde.
Linha de Pesquisa: Desenvolvimento tecnológico em saúde e
enfermagem.
Grupo de Pesquisa: Incubadora de Procedimentos de
Enfermagem
Orientador: Gilson de Vasconcelos Torres
NATAL
2017
SUPORTE FAMILIAR E QUALIDADE DE VIDA EM IDOSOS COM ÚLCERA VENOSA
NO CONTEXTO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem do Centro de Ciências da Saúde,
da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para obtenção do Título de
Doutor.
Aprovada em: 13 de dezembro de 2017, pela banca examinadora.
PRESIDENTE DA BANCA:
Professor Dr. Gilson de Vasconcelos Torres
(Departamento de Enfermagem/UFRN)
BANCA EXAMINADORA:
_________________________________________________
Professor Dr. Gilson de Vasconcelos Torres - Orientador
(Universidade Federal do Rio Grande do Norte/UFRN)
__________________________________________________
Professora Dra. Daniele Vieira Dantas
(Universidade Federal do Rio Grande do Norte/UFRN)
__________________________________________________
Professora Dra. Ana Elza Oliveira de Mendonça
(Universidade Federal do Rio Grande do Norte/UFRN)
__________________________________________________
Professora Dra. Maria Denise Schimith
(Universidade Federal de Santa Maria/UFSM)
__________________________________________________
Professora Dra. Aline Maino Pergola Marconato
(Centro Universitário Hermínio Ometto/UNIARARAS)
AGRADECIMENTOS
A Deus por me abençoar e amparar, na superação das adversidades, em todos os caminhos na
busca de transformar sonhos em realidade.
Ao meu querido vovô, José Garcez da Silva (in memorian), por toda a sua dedicação, proteção e
carinho.
Aos meus pais, Inácio Cezar da Silva e Leni Cezar da Silva, bem como meus seis irmãos, por terem
me ensinado os valores da vida e pela atenção demonstrada. Ao meu amado sobrinho, Luís Otávio
Cezar, que mesmo muito pequeno, com a sua chegada durante o processo de doutoramento,
promoveu mudanças e ressignificações em nossa família e que está sendo a melhor terapia de amor
aos meus pais. Obrigada por trazer muitas alegrias e carinho ao vovó Inácio, em momentos de
muita dificuldade e sei como a sua presença nesses quase dois anos de vida foram importantes
para a recuperação da nossa saúde familiar.
Ao meu desafiador, professor Dr. Edson Luiz Foletto, pela sua compreensão, seu carinho,
cumplicidade, incentivo, por sempre acreditar em mim, e me fazer ir mais além.
Aos idosos com úlcera venosa, em especial as que fizeram parte deste estudo, pelo carinho e
confiança no trabalho, por terem permitido conhecer um pouco de sua vida e aprender com suas
experiências vividas e com suas relações familiares.
Em especial ao Professor Dr. Gilson de Vasconcelos Torres do Departamento de Enfermagem da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), meu orientador, pela confiança,
disponibilidade e atenção de sempre. Agradeço pela oportunidade da orientação e pela
participação no grupo de pesquisa, principalmente, por acreditar e apostar em meu potencial, e
que, brilhantemente ofereceu os pilares sustentadores na construção desta trajetória acadêmica.
Além de me possibilitar conhecer vários outros pesquisadores de diferentes cenários nacionais e
internacionais, elaboração de projetos para captação de recurso e a oportunidade de acessar o
sistema de diferentes revistas. Obrigada pelo respeito e maneira que acompanhou a busca e a
expansão de meu conhecimento!
Minha amada e iluminada professora Dra. Maria Denise Schimith, exemplo de dedicação e
afetuosidade, por acreditar na possibilidade de construção desta pesquisa e ter sido o meu suporte
em Santa Maria. Agradeço pela oportunidade de orientações desde a graduação em Enfermagem
na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Além de não existirem palavras que possam
expressar a gratidão pelo seu exemplo de profissional e pessoal!
À minha querida professora Dra. Maria de Lourdes Denardin Budó, serenidade em pessoa, e que,
sempre brilhantemente ofereceu palavras de orientações para a vida. Agradeço a possibilidade ter
compartilhado momentos profissionais, acadêmicos e pessoais!
Às Professoras Dras. Daniele Vieira Dantas, Ana Elza Oliveira de Mendonça e Simone Camargo
de Oliveira Rossignolo, pelas orientações e contribuições sugeridas durante o processo de
qualificação.
À professora Dra. Aline Maino Pergola Marconato pela disponibilidade de participar da banca de
defesa, sempre se demonstrou atenciosa e dedicada, mesmo com todas as suas atividades durante o
Pós-doutorado na UFRN.
Gostaria de expressar a minha gratidão aos membros da banca de defesa pela disponibilidade de
participação e por compartilhar suas experiências.
Às minhas amigas de graduação, Betina Rodrigues da Silva e Daiana Araújo, também o meu
colega e pesquisador, Professor Dr. José Luís Guedes dos Santos, com quais compartilhei
momentos de alegria e aprendizado que jamais serão esquecidos. Agradeço ao companheirismo,
amizade e pela possibilidade de ser colega da Daiana, novamente, agora com enfermeira na
UFSM. Muito feliz e grata pela trajetória do meu amigo José, docente no Departamento de
Enfermagem na Universidade Federal de Santa Catarina, exemplo de dedicação e
comprometimento!
Às minhas amigas, Elizabete Rodrigues e Vânia Durgante, por todo o apoio e atenção que sempre
me dedicam, muito obrigada! Em especial à Vânia, obrigada pela colaboração, amizade, força,
carinho e incentivo para o desenvolvimento desta pesquisa. Além de ser um exemplo de
profissional, que não mede esforços em assistir com qualidade todas as pessoas que são
acompanhadas no Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM).
À enfermeira estomaterapeuta Maria Elizete Nunes da Silva, da Comissão de Curativos de
Cobertura, da Secretaria de Município da Saúde de Santa Maria, com quem tive maior
proximidade nessa etapa do doutorado, tenho o seu comprometimento e determinação como
exemplo. Obrigada pela atenção e compromisso comigo!
À Elisandra Santos, pelo apoio estatístico, por sua disponibilidade e atenção.
A todos os meus colegas, companheiros de doutorado, pela amizade construída e conhecimentos
compartilhados. Em especial a amiga, professora Dra. Késsya Dantas Diniz, sempre atenciosa,
verdadeira, prestativa e muito companheira. A Todos os colegas que de uma forma ou de outra
estiveram presentes e foram muito receptivos em Natal, levarei no coração, em especial, Cícera
Maria Braz da Silva, Maria Cleia de Oliveira Viana, Manuela Pinto Tibúrcio, Ana Beatriz de Almeida Medeiros, Jéssica Dantas de Sá, Caroline Evelin Nascimento Kluczynik Vieira, João Evangelista da Costa e Ana Michele de Farias Cabral.
Aos docentes do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da UFRN, pelo empenho,
compromisso, incentivo e contribuição científica.
Não posso deixar de agradecer, à professora Dra. Silviamar, por toda a sua compreensão e apoio
nessa etapa do doutorado, com certeza a sua atenção e respeito como chefe do Departamento de
Enfermagem da UFSM, durante o período que fiquei em afastamento e com redução de carga
horária das atividades profissionais, foi muito importante! Assim como as minhas amadas colegas
e amigas Rhea Silvia Soares e Francine Cassol Prestes que brilhantemente sempre comprometidas
e dedicadas, foram exemplos e estimulo nessa caminhada. Sou muito grata por ter tido a
oportunidade de aprender com vocês, como sinto saudades dos nossos momentos juntas, mas cada
uma merece desfrutar de suas conquistas!
Aos colegas do Departamento de Enfermagem da UFSM, exemplos de comprometimento e
trabalho. Agradeço pelas palavras de incentivo e atenção em especial, as professoras Dras.
Carmem Colomé Beck, Teresinha Heck Weiller, Margrid Beuter, Nara Marilene Oliveira Girardon
Perlini e Rosângela Marion da Silva. Muito grata aos vários momentos terapêuticos com as minhas
colegas enfermeiras, amizade além do trabalho!
Enfim, agradeço a todos os que, de determinada maneira, se fizeram presença e colaboraram nesta
fase de doutoramento, todo o apoio, sem o qual, não seria possível a realização desse trabalho,
meu muito obrigada!
As feridas do corpo, são curadas com tratamento local e sistêmico, de acordo com a evidência
científica. “As feridas da “alma”, são curadas com atenção, carinho e paz.”(Machado de Assis)
"A vontade de Deus nunca irá levá-lo aonde a
Graça de Deus não irá protegê-lo."
Chico Xavier
RESUMO
A pesquisa teve como objetivo avaliar a percepção do suporte familiar e qualidade de vida de idosos
com úlcera venosa atendidos na Atenção Primária à Saúde. Estudo analítico com abordagem
quantitativa, realizado em Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil. Participaram 40 idosos
atendidos nas unidades de saúde, no período de agosto a dezembro de 2016. Na coleta de dados
utilizaram-se os instrumentos: formulário para caracterização sociodemográfica, de saúde, clínica e
assistencial; o Charing Cross Venous Ulcer Questionnaire (CCVUQ) e o Inventário da Percepção
de Suporte Familiar (IPSF). Utilizou-se da estatística descritiva e inferencial, testes Qui-Quadrado,
Exato de Fischer, Mann-Whitney e correlação de Spearmann, considerando nível de significância
estatística de ρ-valor ≤ 0,05. O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa
da Universidade proponente, (Processo número 1.670.636 e Certificado de Apresentação para
Apreciação Ética 58255016.0.0000.5346). Houve predomínio do sexo feminino, faixa etária dos 70
anos ou mais, sem companheiro, aposentados, com doenças crônicas associadas, sono maior de seis
horas/dia e presença de dor. Referiam como local predominante para a realização do curativo o
serviço de saúde (n=34, 85,0%), não faziam uso de terapia compressiva (n=24, 60,0%), os que
faziam utilizavam bota de Unna (n=16, 40,0%). O Escore Total do CCVUQ apresentou mediana
43,9, para a avaliação da qualidade de vida geral dos participantes; e nos domínios Interação Social
(27,9), Atividades Domésticas (29,9), Estética (44,7) e Estado Emocional (57,4). Quanto à
percepção do Suporte familiar, os idosos classificaram como Alto Suporte. Afetivo-Consistente foi
67,5%, com média de 33,40(±11,29); Adaptação familiar, o percentual de alto foi de 45,0%, com
média de 20,97(±6,42) e Autonomia foi de 70,0%, com média de 14,65(±2,36). As variáveis
sociodemográficas e de saúde não apresentam associações significativas com os domínios do CCVUQ e
IPSF. Sobre a qualidade de vida constatou-se diferença significativa da variável clínica dor em relação
aos domínios Atividades Domésticas (p=0,048), Estado Emocional (p=0,034) e Escore Total (p=0,022).
Apresentaram diferença significativa as variáveis assistenciais: quem realiza o curativo com Estado
Emocional (p=0,045); uso de terapia compressiva com Atividades Domésticas (p=0,031); e número de
consultas com os domínios Interação Social (p=0,033), Atividades Domésticas (p=0,033), Estado
Emocional (p=0,025) e Escore total (p=0,030). Quanto ao Suporte familiar, encontraram-se associações
significativas entre as variáveis clínicas: recidiva com o Suporte Total (p=0,031); tempo da úlcera
venosa atual em anos com os domínios Afetivo-Consistente (p=0,003) e Total (p=0,022), dor com o
domínio Autonomia (p=0,041), sinais de infecção com Suporte Total (p=0,044). Entre as variáveis
assistenciais: Tempo de tratamento em anos com o domínio Afetivo-Consistente (p=0,021). Uso de
terapia compressiva com os domínios Afetivo-Consistente (p=0,002) e Total do Suporte (p=0,002).
Verificaram-se correlações negativas e significativas do suporte familiar na qualidade de vida em idosos
com úlcera venosa, entre Afetivo-Consistente e o escore total do CCVUQ (r=-0,323; p=0,042), o
domínio Atividades Domésticas (r=-0,350; p=0,027) e Estado Emocional (r=-0,424; p=0,006). Entre
Adaptação Familiar e Estado Emocional (r=-0,443; p=0,004). Da mesma maneira, entre Autonomia e o
escore total do CCVUQ (r=-0,514; p=0,001), o domínio Interação Social (r=-0,362; p=0,022),
Atividades Domésticas (r=-0,513; p=0,001), Estética (r=-0,478; p=0,003) e Estado Emocional (r=-
0,478; p=0,002). A qualidade de vida do idoso com úlcera venosa foi mais comprometidas nos
domínios Estado emocional e Estética. Aceita-se a hipótese alternativa que o suporte familiar se
correlaciona com a qualidade de vida em idosos com úlcera venosa atendidos na Atenção Primária à
Saúde. Necessitam-se ações de promoção e reabilitação da saúde do idoso, com enfoque na dinâmica
familiar, a fim de promover a autonomia e o convívio social para melhora da qualidade de vida.
Descritores: Saúde do Idoso. Úlcera varicosa. Qualidade de vida. Família. Atenção Primária à
Saúde. Enfermagem.
ABSTRACT
FAMILY SUPPORT AND QUALITY OF LIFE IN ELDERLY PEOPLE WITH VENOUS
ULCERS IN THE CONTEXT OF PRIMARY HEALTH CARE
This research aimed to evaluate the perception of family support and quality of life of elderly
patients with venous ulcers treated at the primary health care. Analytical study with a quantitative
approach held in Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brazil. The study included 40 elderly attended in
health units in the period from August to December, 2016. Data collection used
these instruments: Form for the sociodemographic characterization, heath, clinical and care;
Charing Cross Venous Ulcer Questionnaire (CCVUQ) and the Family Support Perception
Inventory (IPSF). It was used descriptive and inferential statistics, used the chi-
square test, Fisher's exact test, Mann-Whitney, and was Spearman correlation, considering a level of
significance of ρ-value ≤ 0.05. The research project has approved by the Ethics
Committee Proponent University Research, (Case number 1670636 and Presentation Certificate for
Ethics Assessment 58255016.0.0000.5346). Women predominated, age 70 years or more,
without a partner, retired, with chronic diseases associated, greater sleep of six hours/day
and the presence of pain. They referred as the predominant place for the accomplishment of the
curative the health service (n=34, 85.0%), did not use compression therapy (n=24, 60.0%), those
who used Unna boot (n=16, 40.0%). The Score Total CCVUQ presented a median 43.9, to evaluate
the overall quality of life of participants; and in the fields Social Interaction (27.9), Household
Activities (29.9), Esthetics (44.7) and Emotional State (57.4). Regarding the perception of Family
Support, the elderly classified as High Support. In the evaluated domains was found that
in the affective consistent was 67.5%, with a mean of 3.40 (±11.29), in family adaptation, high
percentage was 45.0% with a mean of 20.97 (±6.42) and autonomy was 70.0% with a mean of
14.65 (±2.36). Sociodemographic and health variables do not have significant associations with areas
of CCVUQ and IPSF. Regarding quality of life, there was a significant difference in the clinical
variable: pain in relation to domains Domestic Activities (p= 0.048), Emotional State (p= 0.034) and
Total Score (p= 0.022). There were significant differences in the care variables: who performed the
dressing with Emotional State (p= 0.045), use of compressive therapy with Domestic Activities (p=
0.031) and number of consultations with the Social Interaction domains (p = 0.033), Domestic Activities
(p= 0.033), emotional state (p= 0.025), and total score (p= 0.030). As for family support, significant
associations were found between the clinical variables: relapse with Total Support (p = 0.031); time of
current venous ulcer in years with Affective-Consistent (p= 0.003) and Total (p=0.022), pain with
Autonomy domain (p= 0.041), signs of infection with Total Support (p= 0.044). Between healthcare
variables: treatment time in years with the domain affective-consistent (p= 0.021). Use of compressive
therapy with the Affective-Consistent (p= 0.002) and Total Support (p= 0.002) domains. There were
negative and significant correlations of family support in quality of life in elderly patients with venous
ulcer, between Affective-Consistent and the total CCVUQ score (r = -0.323, p= 0.042), the Domestic
Activities domain (r = -0.350, p = 0.027) and Emotional Status (r = -0.424, p= 0.006). Between Family
Adaptation and Emotional State (r = -0.443, p = 0.004). Similarly, between Autonomy and total
CCVUQ score (r = -0.514, p= 0.001), the Social Interaction domain (r = -0.362, p= 0.022), Domestic
Activities (r = -0.513, p= 0.001), Esthetics (r = -0.478, p= 0.003) and emotional state (r = -0.478, p=
0.002). The quality of life of elderly patients with venous ulcers was more committed in the domains
Emotional state and Esthetics. It is necessary actions to promote and rehabilitate the health of the
elderly, focusing on family dynamics, in order to promote autonomy and social interaction to improve
the quality of life. The alternative hypothesis is accepted that the family support is correlated in the
quality of life in elderly patients with venous ulcer attended in the Primary Health Care.
Descriptors: Health of the Elderly. Varicose Ulcer. Quality of Life. Family. Primary Health Care.
Nursing.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
APS Atenção Primária à Saúde
CCVUQ Charing Cross Venous Ulcer Questionnaire
CRS Coordenadoria Regional de Saúde
DS Distritos Sanitários
DP Desvio Padrão
ESF Estratégia Saúde da Família
HUSM Hospital Universitário de Santa Maria
IVC Insuficiência Venosa Crônica
MMII Membros inferiores
OMS Organização Mundial de Saúde
PA Pronto Atendimento
PNAB Política Nacional de Atenção Básica
PSF Programa Saúde da Família
QV Qualidade de vida
QVRS Qualidade de Vida Relacionada à Saúde
RAS Rede de Atenção à Saúde
RN Rio Grande do Norte
RS Rio Grande do Sul
SMS Secretaria Municipal de Saúde
SUS Sistema Único de Saúde
TC Termo de Confidencialidade
TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
UFRN Universidade Federal do Rio Grande do Norte
UFSM Universidade Federal de Santa Maria
USF Unidade de Saúde da Família
UPA Unidade de Pronto Atendimento
UV Úlcera Venosa
LISTA DE QUADROS
Quadro 1. Caracterização das unidades de saúde da APS, segundo regiões
administrativas. Santa Maria/RS, 2017..................................................... 31
Quadro 2 Variáveis de caracterização sociodemográfica, de saúde e clínicas dos
idosos com UV atendidas na APS, segundo escores/categorias de
verificação. Santa Maria/RS, 2017................................................. 33
Quadro 3. Variáveis de caracterização da assistência à saúde/SUS prestada às
pessoas com UV atendidas na APS, segundo escores/categorias de
verificação. Santa Maria/RS, 2017............................................................ 34
Quadro 4. Caracterização dos domínios que compõe o CCVUQ, segundo itens e
questões correspondentes. Santa Maria/RS, 2017.................................... 35
Quadro 5. Classificação e pontuação do Inventário de Percepção do suporte
familiar. Santa Maria/RS, 2017................................................................. 36
Quadro 6. Descrição e estatísticas das hipóteses do estudo. Santa Maria/RS,
2017.............................................................................................................. 38
Quadro 7. Síntese dos três artigos que compõem os resultados e discussões por
título, objetivo e Qualis que serão submetidos......................................... 40
Quadro 1. Descrição do IPSF e seus domínios. Santa Maria – RS,
2017........................................................................................................ 77
Quadro 2. Resumo das associações estatisticamente significantes das variáveis
clínicas e assistenciais com os domínios do CCVUQ e IPSF...................... 78
LISTA DE TABELAS E FIGURAS
Figura 1. Demonstração dos tópicos que fundamentam teoricamente o estudo. Santa
Maria/RS, 2017........................................................................................... 18
Figura 1. Níveis de contextos e aspectos interativos que permeiam a assistência ao
idoso com úlcera venosa. Natal/RN,
2016................................................................................................................
25
Figura 2. Modelo de correlação das variáveis dependentes, moderadoras e
independente. Santa Maria/RS, 2017............................................................. 38
Tabela 1. Caracterização sociodemográfica e de saúde dos idosos com úlcera venosa
(n=40) em relação ao sexo. Santa Maria, RS, Brasil, 2017........................... 46
Figura 1. Avaliação descritiva dos domínios do questionário de qualidade de vida
CCVUQ. Santa Maria, RS, Brasil, 2017......................................... .......... 47
Tabela 2. Avaliação da comparação dos domínios do CCVUQ em relação as
variáveis sociodemográficas e de saúde dos idosos com úlcera venosa
(n=40). Santa Maria, RS, Brasil, 2017........................................................... 47
Tabela 3. Comparação dos domínios do CCVUQ em relação características clínicas
dos idosos com úlcera venosa (n=40). Santa Maria, RS, Brasil, 2016.......... 48
Tabela 4. Comparação dos domínios da qualidade de vida em relação as variáveis
assistenciais dos idosos com úlcera venosa (n=40). Santa Maria, RS,
Brasil, 2016.................................................................................................... 49
Tabela 1. Identificação dos domínios do IPSF idosos com úlcera venosa (n=40).
Santa Maria, RS, Brasil, 2017........................................................................ 63
Tabela 2. Associações das variáveis sociodemográficas e de saúde com a Percepção
de Suporte Familiar. Santa Maria, RS, Brasil,
2017......................................................................................................... 64
Tabela 3. Associação das variáveis clínicas com a Percepção de Suporte Familiar.
Santa Maria, RS, Brasil, 2017..................................................................... 65
Tabela 4. Avaliação das associações das variáveis assistenciais com a Percepção de
Suporte Familiar. Santa Maria, RS, Brasil,
2017.......................................................................................................... 66
Tabela 1. Correlação entre os domínios do IPSF e escore total e domínios do
CCVUQ. Santa Maria/RS, 2017.................................................................... 79
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO............................................................................................................ 14
2 OBJETIVOS................................................................................................................ 17
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.............................................................................. 18
3.1 IDOSO COM ÚLCERA VENOSA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À
SAÚDE.......................................................................................................................... 18
3.2 SUPORTE FAMILIAR................................................................................................. 20
3.3 QUALIDADE DE VIDA.............................................................................................. 21
3.4 ASPECTOS CONTEXTUAIS DA ASSISTENCIA AO IDOSO COM ÚLCERA
VENOSA....................................................................................................................... 23 4 MÉTODO..................................................................................................................... 31
4.1 DESENHO E LOCAL DE ESTUDO............................................................................ 31
4.2 POPULAÇÃO E AMOSTRA DO ESTUDO................................................................ 32
4.3 COLETA DE DADOS, INSTRUMENTOS E PADRONIZAÇÃO DAS
VARIÁVEIS.................................................................................................................. 33
4.3.1 Formulário de caracterização sociodemográfica, de saúde, clínica e
assistencial..................................................................................................................... 33
4.3.2 Charing Cross Venous Ulcer Questionnaire –
CCVUQ……………………………………...……………………………..………… 34
4.3.3 Inventário de Percepção de Suporte Familiar –
IPSF...............................................................................................................................
35
4.4 ANÁLISE DOS DADOS............................................................................................. 37
4.5 ASPÉCTOS ÉTICOS.................................................................................................... 38
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO................................................................................ 40
5.1 ARTIGO 1 - QUALIDADE DE VIDA DE IDOSOS COM ÚLCERA VENOSA:
ASSOCIAÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS SOCIODEMOGRÁFICAS, DE
SAÚDE, CLÍNICAS E
ASSISTENCIAIS.......................................................................................................... 41
5.2 ARTIGO 2 - PERCEPÇÃO DO SUPORTE FAMILIAR EM IDOSOS COM
ÚLCERA VENOSA E CARACTERÍSTICAS
ASSOCIADAS.............................................................................................................. 59
5.3 ARTIGO 3 - CORRELAÇÃO ENTRE QUALIDADE DE VIDA E O SUPORTE
FAMILIAR EM IDOSOS COM ÚLCERA VENOSA.................................................
74
6 LIMITAÇÕES DO ESTUDO..................................................................................... 84
7 CONCLUSÃO.............................................................................................................. 86
REFERÊNCIAS........................................................................................................... 87
APÊNDICE ................................................................................................................. 92
ANEXO......................................................................................................................... 95
14
1 INTRODUÇÃO
O envelhecimento populacional confere uma situação nova de cuidados para o paciente e
sua família, bem como para os serviços de saúde. Nos idosos, há alterações fisiológicas que limitam
sua reserva funcional e também é comum a existência de condições crônicas preexistentes que
demandam cuidados, ocasionam complicações, dentre as quais a úlcera venosa (AGUIAR et al.,
2016; SILVA et al., 2016).
A úlcera venosa, varicosa ou de estase venosa corresponde a, aproximadamente, 90% dos
casos de ulceração de membros inferiores, cuja principal causa é a insuficiência venosa crônica
(IVC). Nos idosos a frequência é superior a 4%, e estima-se que no Brasil 3% da população
apresente a lesão (ABBADE, 2014). É um agravo crônico importante, recorrente e com impacto
biopsicossocial. (SANT’ANA et al., 2012)
A ocorrência da úlcera venosa promove mudanças nos hábitos de vida, frequentes consultas
nos serviços de saúde, realização de curativos e adaptação ao tratamento (COSTA et al., 2011).
Diferentes aspectos da vida do idoso podem ser comprometidos, incluindo: mobilidade diminuída,
perdas nas relações sociais e problemas financeiros (CAMACHO et al., 2015). A qualidade de vida
é afetada negativamente, especialmente relacionada à dor, funcionamento físico e mobilidade; e
ainda, na dimensão de reações emocionais negativas e isolamento social (GONZÁLEZ-
CONSUEGRA; VERDÚ, 2011; DIAS et al., 2013).
A qualidade de vida é definida como “a percepção do indivíduo sobre a sua posição na
vida, no contexto da cultura e dos sistemas de valores nos quais ele vive, e em relação a seus
objetivos, expectativas, padrões e preocupações” (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1995, p.
1405). Em pesquisas sobre a qualidade de vida de pessoas com úlcera venosa encontrou-se que
essa é determinada pelos seguintes aspectos: socioeconômico, assistência de saúde, características
da lesão e da evolução clínica dos pacientes, sendo a esse tipo de úlcera uma condição crônica que
ultrapassa a dimensão física (TORRES et al., 2014; TORRES et al., 2013; DIAS et al., 2013;
ANGÉLICO et al., 2012). Assim, múltiplas questões são influenciadas pela sua presença, e que
reforçam a relevância da assistência de qualidade, com planejamento contínuo e multiprofissional.
Dentro da equipe multiprofissional, o enfermeiro necessita conhecer e considerar as
características sociodemográficas, assistências e clínicas desses pacientes, em prol do planejamento
para o gerenciamento do cuidado (EBERHARDT et al., 2016). A partir deste conhecimento, espera-
se possibilitar ações e formas de cuidados singulares para a população assistida, que considere a
peculiaridade da faixa etária e a participação do paciente e sua família no tratamento.
A realidade enfrentada pelos idosos com úlcera venosa para realizarem o tratamento pode
ser agravada pela inexistência de auxílio familiar ou profissional. A menor capacidade funcional
15
causa impacto negativo no processo de autocuidado e a necessidade de auxílio para as atividades de
vida diária, especialmente nos idosos. Assim, reforça-se a importância da participação dos membros
da família no processo de cuidado (CAMACHO et al., 2015).
No contexto domiciliar, a família se envolve e influencia intensamente, além de representar a
principal fonte de ajuda da rede social e se responsabilizar pelos cuidados diretos e indiretos, como
realizar os curativos, promover momentos para repouso ou buscar por assistência do profissional de
saúde. A continuidade da assistência no serviço de saúde é incentivada pelo apoio emocional positivo
dos familiares (SILVA et al., 2014; SILVA et al., 2015). Nesse trabalho, entende-se o apoio recebido
da família como suporte familiar e que pode ter a função de proteção, além de, diminuir a ação de
diversos estressores na vida dos indivíduos (BAPTISTA, 2005).
Frente a isso, aponta-se a relevância do enfermeiro, ao assistir o idoso com úlcera venosa,
considerar a família como atuante no cuidado com vistas à promoção da saúde. Todavia, ainda se
identifica a necessidade de esquemas assistenciais efetivos e dinâmicos capazes de assistir os idosos e
suas demandas crescentes, assim como de suas famílias (REIS et al., 2011).
Ao investigar o itinerário terapêutico de pessoas com úlcera venosa acompanhados em um
ambulatorial de angiologia, encontrou-se que a maioria eram de idosos, demandavam cuidados em
saúde diversificados e que procuravam auxílio na família e na Atenção Primária à Saúde (APS), por
vezes, com pouca resolutividade e, consequente, necessidade de acompanhamento em serviço
especializado de assistência à saúde (SILVA, 2013).
Dessa maneira, justifica-se o interesse em pesquisar sobre o idoso com úlcera venosa no
contexto da APS, incluindo fatores socais, econômicos e familiares para vislumbrar a efetividade e
resolutividade na atenção a esta população. Portanto, espera-se sensibilizar para a importância do
cuidado de enfermagem voltado as suas especificidades, bem como, estimular e fortalecer
discussões sobre o envelhecimento ativo e a promoção da saúde, conforme preconiza a política
nacional de saúde do idoso (BRASIL, 2006). E também contribuir para o suporte aos idosos com
úlcera venosa e sua família, por meio de uma atenção integral e contínua, a fim de que sejam
minimizadas possíveis complicações de saúde e com enfoque na melhora da qualidade de vida.
Além disso, aponta-se que no cenário nacional, há pesquisas que trabalharam a avaliação e
caracterização de pessoas com úlcera venosa (ANGÉLICO et al., 2013; BRITO et al., 2013; BUDÓ
et al., 2013; EBERHARDT et al., 2016; MALAQUIAS et al., 2012; SANT’ANA et al., 2012), a dor
(SALVETTI et al., 2014), os fatores de risco (MEDEIROS et al., 2014), a capacidade funcional
(CAMACHO et al., 2015), formas de tratamento (ABREU; OLIVEIRA, 2015; AZOUBEL et al.,
2010; LUZ et al., 2013; RIBEIRO et al., 2015; SELLMER et al., 2013), elaboração de protocolo
assistencial (DANTAS et al., 2013); a qualidade de vida utilizando instrumentos de avaliação
genérico (DIAS et al., 2013; TORRES et al., 2013; TORRES et al., 2014), e específico (ARAÚJO
16
et al., 2016), atuação do enfermeiro no cuidado a esta população, com ênfase na relevância de
capacitação para atualização do conhecimento específico, uso de protocolo de tratamento, melhores
condições de trabalho e necessidade da visão integral do cuidado (QUEIROZ et al., 2012; SILVA et
al., 2014), e sobre a experiência de pessoas que convivem com a úlcera venosa (ALVES et al.,
2015; COSTA et al., 2011; SILVA et al., 2013).
No entanto, identifica-se uma lacuna no conhecimento sobre as relações entre as variáveis
sociodemográficas, de saúde, clínicas e assistenciais e qualidade de vida, com o enfoque na
população idosa, para investigação da correlação de tais variáveis com a percepção de suporte
familiar. Nesse sentido, destaca-se a relevância da realização do estudo, em prol da assistência
direcionada à promoção da saúde, bem como ampliar o conhecimento de enfermagem com impacto
na pesquisa e ensino. Em relação à produção do conhecimento é esperado promover a reflexão
sobre a assistência ao idoso com úlcera venosa e sua família, principalmente, na prática de
enfermagem sobre as condições que interferem no bem-estar e na qualidade de vida de idosos.
Contribuir com pesquisas sobre a promoção do envelhecimento saudável e na construção de
conhecimento das demandas da população que envelhece e sua família.
No ensino de enfermagem, ao considerar que o envelhecimento se configura como
problemática de relevância atual faz-se necessário abordar, na formação acadêmica de enfermagem,
temas que levem os alunos a refletirem sobre o idoso, a família e a saúde no seu contexto mais
amplo, considerando os aspectos social, psicológico, econômico, político, além do biológico.
Nesse sentido, questionou-se: como são as características sociodemográficas, de saúde,
clínicas e assistenciais em idosos com úlcera venosa atendidos na Atenção Primária à Saúde? Como
se caracterizam o suporte familiar e a qualidade de vida dos idosos com úlcera venosa na Atenção
Primária à Saúde? Existe a associação entre as características sociodemográficas, saúde, clínicas e
assistenciais com o suporte familiar e a qualidade de vida dos idosos? Qual a correlação entre
suporte familiar e qualidade de vida dos idosos com úlcera venosa na Atenção Primária à Saúde?
17
2 OBJETIVOS
OBJETIVO GERAL
Avaliar a percepção do suporte familiar e qualidade de vida de idosos com úlcera venosa
atendidos na Atenção Primária à Saúde.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
• Avaliar a associação das características sociodemográficas, de saúde, clínicas e assistenciais
com a qualidade de vida de idosos com úlcera venosa.
• Identificar a associação da percepção do suporte familiar em idosos com úlcera venosa com as
características sociodemográficas, de saúde, clínicas e assistenciais.
• Analisar a correlação do suporte familiar na qualidade de vida em idosos com úlcera venosa.
18
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Na fundamentação teórica foram abordados: idoso com úlcera venosa na Atenção Primária à
Saúde, Suporte Familiar e Qualidade de Vida.
Além desses tópicos, apresentam-se os Aspectos contextuais da assistência ao idoso com
úlcera venosa, artigo elaborado na Disciplina Bases Filosóficas e Teóricas de Enfermagem na
Atenção à Saúde, Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte, em 2014. Encontra-se no formato em que foi publicado em 2016, na Revista de
Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria, Qualis B2.
Figura 1 – Demonstração dos tópicos que fundamentam teoricamente o estudo. Santa Maria/RS,
2017.
3.1 IDOSO COM ÚLCERA VENOSA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
A úlcera venosa como condição crônica manifesta sintomas periódicos ou contínuos e a
possibilidade de sua ocorrência aumenta com o passar dos anos. As alterações fisiológicas como
diminuição dos processos metabólicos e na resposta inflamatória fazem com que a cicatrização seja
mais lenta nos idosos, fato também favorecido pelo ressecamento e diminuição na elasticidade da
19
pele, devido à redução de colágeno e da vascularização deficiente (ABBADE, 2014; OLIVEIRA;
SOARES; PIRES, 2015).
O tratamento ao idoso com úlcera venosa, no contexto da APS, deverá priorizar o
fortalecimento da autonomia, o esclarecimento sobre a situação crônica, por meio de ações para a
prevenção e promoção, aspectos potencializados pela proximidade com o contexto sociocultural,
quando o usuário busca o serviço de saúde ou em visitas domiciliares. Necessita-se também,
vislumbrar o fortalecimento da APS para atender e possibilitar a continuidade do cuidado, propiciar
articulações entre os serviços especializados de atendimento. A atenção a essa população, no
Sistema Único de Saúde (SUS) precisa proporcionar a redução do tempo de cicatrização, o
desconforto/dor e promover a qualidade de vida (TORRES et al., 2009).
Na região Sudeste do Brasil, identificou-se que a APS mesmo com dificuldade para
acompanhar os pacientes com úlcera venosa, absorvia as demandas da população que tinham
procurado por atendimento em outros níveis de atenção, apresentava ausência de uma equipe
multiprofissional e continuidade do tratamento (REIS et al., 2013).
Como proposta para a reorganização da APS no Brasil a Estratégia Saúde da Família (ESF)
foi estabelecida, assim como possibilidade para promover a universalização, equidade e
integralidade da assistência ao usuário e ter a família como unidade de cuidados (OLIVEIRA;
PEREIRA, 2013). No entanto, uma das barreiras para a efetivação é a dificuldade de fortalecimento
de vínculo com as comunidades, devido a rotatividade dos trabalhadores (SCHIMITH et al., 2017).
A APS tem como principal função a coordenação dos cuidados à população com o apoio dos
serviços de atenção secundária e terciária da rede. A coordenação da atenção primária deve atuar
sobre os determinantes sociais da saúde e sobre os fatores de riscos biopsicológicos. Além disso,
necessita ser compreendida como estratégia de organização do sistema de atenção em saúde e cabe
a esta apropriar e organizar todos os recursos do sistema (MENDES, 2011).
Destaca-se que esse nível de atenção é considerado a área de maior complexidade de
cuidado e, deveria ser o local de porta de entrada do indivíduo no sistema de saúde frente a agravos,
bem como, de cuidados contínuos de saúde, mesmo com sua baixa densidade tecnológica. Espera-se
que se apresente como eixo ordenador do sistema de saúde e responsável pela saúde de uma
população em determinado território (BRASIL, 2011).
A APS apresenta como eixos estruturantes ou atributos essenciais: atenção ao primeiro
contato, longitudinalidade, integralidade e coordenação; e como atributos derivados: orientação
familiar e comunitária e competência cultural (STARFIELD, 2002). Os atributos seguidos em sua
totalidade poderão conferir qualidade ao atendimento de saúde em todos os níveis de atenção
(MENDES, 2011).
Estes atributos consistem em: atenção ao primeiro contato sugere a acessibilidade e o uso
20
de serviços para cada novo problema de saúde; a longitudinalidade implica na existência do aporte
regular de cuidados pela equipe de saúde e seu uso consistente ao longo do tempo, em uma
atmosfera de reciprocidade, confiança e humanidade entre equipe de saúde, indivíduos e famílias. A
integralidade corresponde a prestação, pela equipe de saúde, de um conjunto de serviços que
atendam às demandas da população na perspectiva da promoção, da prevenção, da cura, do cuidado
e da reabilitação, a responsabilização pela oferta de serviços em outros pontos de atenção à saúde e
o reconhecimento adequado dos problemas biológicos, psicológicos e sociais que causam as
doenças. A coordenação consiste na capacidade de garantir a continuidade da atenção, por meio da
equipe de saúde, com o reconhecimento das necessidades que solicitam um prosseguimento e se
articula com a função de centro de comunicação da Rede de Atenção à Saúde (RAS) (STARFIELD,
2002; MENDES, 2011).
Ainda sobre a orientação familiar e comunitária, a APS deve focalizar atenção na família
e considerar esta como o sujeito por meio da interação da equipe de saúde com e o conhecimento
integral de seus problemas de saúde. A orientação comunitária significa o reconhecimento das
necessidades das famílias em função do contexto físico, econômico, social e cultural em que
habitam o que demanda uma análise de cada situação familiar em uma perspectiva populacional e a
sua integração em programas de enfrentamento dos determinantes sociais da saúde. Por fim, os
atributos da APS englobam também a competência cultural que consiste numa relação horizontal
entre a equipe de saúde e a população que respeite as singularidades culturais e as preferências das
pessoas e das famílias (STARFIELD, 2002; MENDES, 2011).
Portanto, diante do cenário atual da atenção em saúde é necessário mudanças para melhorar
o atendimento da população. Assim, a APS poderá ser o ponto chave para que esta mudança seja
possível por meio da assistência continuada centrada na pessoa, de forma a satisfazer suas
necessidades de saúde (STARFIELD, 2002).
O tratamento na APS é um desafio e necessita de investimento coletivo dos profissionais,
gestores e instituições de saúde, juntamente com o paciente com úlcera venosa. A assistência a essa
população carece de uma política de saúde, que vise a congruência entre serviço e equipe, por meio
de profissionais qualificados e integrados; serviços organizados e com infraestrutura adequada
(ALVES; SOUSA; SOARES, 2015; SALOMÉ; FERREIRA, 2012).
3.2 SUPORTE FAMILIAR
A existência da úlcera venosa pode causar dependência para realizar as atividades rotineiras
e interferir negativamente na qualidade de vida, assim questões de domínio biopsicossocial
precisam ser valorizadas no tratamento. Entre essas questões, constatou-se o apoio da família como
21
favorável para o equilíbrio emocional, sendo os filhos citados como cuidadores (NOTTINGHAM et
al., 2012). Contudo, a discriminação da família e a ausência do seu apoio no tratamento podem
contribuir para a cronicidade da lesão (COSTA et al., 2011). A interação entre profissionais,
pacientes e familiares favorece a adesão ao tratamento, bem como as mudanças de comportamento
e as condutas da equipe de saúde podem otimizar o cuidado (AZOUBEL et al., 2010).
Assim, faz-se relevante conhecer o modo como a família cuida de si e de seus membros,
dos arranjos em sua rotina para o gerenciamento em situação de doença. Os familiares costumam
prestar auxílio às necessidades do idoso na realização das atividades de vida diária, as quais podem
ser dificultadas pela idade e condição da ferida. Por outro lado, as demandas de cuidados devido a
existência da ferida, seu tratamento e materiais para o curativo, resulta em aumento de despesas, o
que repercute em desestabilização financeira e familiar, especialmente, em situações econômicas
deficitárias (DIAS et al., 2013). As diversas alterações resultantes da existência desse agravo podem
causar mudança na relação familiar e participação no convívio social (SALOMÉ; FERREIRA,
2012).
Nesse sentido, destaca-se a participação da família como relevante para a efetividade de
práticas de cuidado em saúde, em que se entende o apoio recebido da família como Suporte
Familiar e que pode ter a função de proteção, além de, diminuir a ação de diversos estressores na
vida dos indivíduos (BAPTISTA, 2005; BAPTISTA, 2009). Também adota-se ao conceito de
família, como centro do cuidado e proteção, eixo na organização da vida social, que considera
laços: de consanguinidade, matrimônio ou adoção e, também, pode ser aqueles de consideração
(WRIGHT; LEAHEY, 2012).
A família deveria exerce o suporte essencial ao idoso e assume o papel de principal
instituição responsável pelo cuidado do mesmo, e somente quando ocorrem falhas é que o Estado
deverá os assistir. Para o idoso a relação de cuidado desenvolvida no ambiente familiar é um
importante elo de bem-estar e equilíbrio, pois o vínculo emocional é determinante na construção de
afeto e intimidade. No entanto, as famílias ao longo dos últimos anos têm passado por
transformações, em especialmente, quanto aos papeis de seus membros, o que de certa forma
provocada uma vulnerabilidade das relações e consequentemente do cuidado aos idosos
(PERSEGUINO; HORTA; RIBEIRO, 2017).
3.3 QUALIDADE DE VIDA
A qualidade de vida (QV) é um conceito abstrato, subjetivo e complexo, que segundo a
definição adotada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) demonstra facetas positivas e
negativas, além da multidimensionalidade do conceito ao lidar com a inter-relação entre ambiente e
22
aspectos físiopsicológicos do indivíduo, nível de independência, relações sociais e crenças pessoais.
Na abordagem sobre a QV estão implícitas a subjetividade e a multidimensionalidade, além
dos fatores biológicos, que necessitam ser considerados ao planejar a assistência à saúde em todos
os seus níveis de complexidade. Envolvem aspectos pessoais, éticos, culturais e religiosos que
influenciam a forma como é percebida e as suas consequências. Compreende a manutenção da
saúde nas dimensões física, social, psíquica e espiritual (VITORINO; PASKULIN; VIANNA,
2013).
O termo “qualidade de vida relacionada à saúde” (QVRS) é bastante utilizado com objetivos
semelhantes à conceituação mais geral de qualidade de vida. Porém, qualidade de vida possui uma
definição mais ampla, influenciada por estudos sociológicos, sem aludir a doenças e agravos,
enquanto que QVRS parece fazer referência aos aspectos mais diretamente relacionados às doenças
ou às intervenções em saúde (SEILD; ZANNON, 2004).
No campo da saúde, a QVRS é definida como a percepção do indivíduo sobre a influência
da doença na sua vida e, portanto mensura a percepção das pessoas que convivem com a doença,
através da capacidade funcional, saúde ocupacional, percepção geral do estado de saúde, bem como
o funcionamento psicológico e social no contexto em que estão inseridas. É um indicador utilizado
para nortear práticas assistenciais e auxiliar na definição de políticas públicas, no âmbito de
promoção da saúde e prevenção de agravos. Portanto, considera também aspectos relativos às
enfermidades, às disfunções e às necessárias intervenções terapêuticas em saúde, identificando o
impacto destes na QV. Envolve conceito que vão além do controle dos sistemas, diminuição da
mortalidade e crescente aumento da expectativa de vida. Por ser um termo amplamente popular e
utilizado em pesquisas, este constructo atrai a atenção de profissionais de diversas áreas, em
especial a da saúde (FARIA et al., 2011).
Diferentes instrumentos são utilizados para sua avaliação, sejam eles genéricos, como o
Medical Outcomes Study 36-Item Short-Form Health Survey (SF-36) ou específicos. Como
instrumento específico para medir o impacto da úlcera venosa na qualidade de vida das pessoas com
esse tipo de úlcera cita-se o Charing Cross Venous Leg Ulcer Questionnaire (CCVUQ) (COUTO;
LEAL; PITTA, 2016). A aplicação desse instrumento pode subsidiar avaliações e medidas de
tratamento, em prol da promoção de saúde (ARAÚJO et al., 2016).
23
3.4 ASPECTOS CONTEXTUAIS DA ASSISTÊNCIA AO IDOSO COM ÚLCERA VENOSA
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31
4 MÉTODO
4.1 DESENHO E LOCAL DE ESTUDO
Estudo transversal, analítico e quantitativo de tratamento e análise de dados, o qual se
realizou nos serviços da APS em Santa Maria, Rio Grande do Sul (RS), Brasil.
Santa Maria localiza-se na região central do estado do RS, apresenta uma área de 1.781,757
Km², com população de 261.031 habitantes em 2010 e em 2015 estimadas 276.108 pessoas
(INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2015). Em 2010, a proporção de
idosos aumentou para 13,8%, sendo de 3,1% a mais do que 2000, observou-se a tendência ao
envelhecimento e a predominância da população feminina (PLANO MUNICIPAL DE SAÚDE
2013-2016). Em 2010, apresentava 35.936 idosos, os quais 19.366 de 60 a 69 anos e 16.570 com 70
anos ou mais (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2015).
O munícipio é a sede da 4ª Coordenadoria Regional de Saúde – 4ªCRS, e os serviços de
saúde da Atenção Primária à Saúde são apresentados no Quadro 1, conforme regiões
administrativas e população (SANTA MARIA, 2015).
Regiões
administrativas
Unidades Básicas de
Saúde (UBS)
Unidades de Saúde da
Família (USF)
População (segundo
censo 2010)
Oeste Floriano Rocha
Ruben Noal
Roberto Binato
Vitor Hoffman
Parque Pinheiro Machado
Alto da Boa Vista
São João
55.133
Centro-oeste Centro Social Urbano
Vila Lídia 22.299
Norte Joy Betts
Kennedy
Bela União 27.805
Leste Wilson Paulo Noal
Walter Aita
21.822
Centro Dom Antônio Reis
José Erasmo Crossetti
59.800
Nordeste Itararé
João Luiz Pozzobon
Waldir Mozzaquatro
28.819
32
Sul Oneyde de Carvalho Santos
Urlândia
18.611
Centro-Leste São José
Maringá
12.176
Unidades
Distritais
São Valentim
Arroio Grande
Palma
Boca Do Monte
Santa Flora
Arroio do Só
Santo Antão
Pains
14.566
Quadro 1 – Caracterização das unidades de saúde da APS, segundo regiões administrativas e
população. Santa Maria/RS, 2017.
4.2 POPULAÇÃO E AMOSTRA DO ESTUDO
Em Santa Maria, o atendimento pelo SUS às pessoas com úlcera venosa ocorre no
ambulatório Ala A do Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM), setor em que se situa o
serviço de angiologia que atende consultas pré-agendadas e demandas espontâneas oriundas do
município e das cidades da região de abrangência da 4ª e 10ª CRS. Além disso, o município conta
com as USF e UBS, com destaque para a UBS José Erasmo Crossetti, que possui uma enfermeira
estomaterapeuta e um médico angiologista.
Após contato com a Secretaria de Município da Saúde, foram identificados e selecionados
os serviços que atendiam idosos acometidos por úlceras venosas em tratamento e acompanhamento
nas UBS e nas USF do município. Os idosos cadastrados foram indicados pelas equipes dos
serviços, sendo incluídos pacientes com idade igual ou superior a 60 anos, com no mínimo uma
úlcera venosa e em atendimento no serviço de saúde. Excluíram-se aqueles sem condições de ser
entrevistado, por não apresentar condições de comunicação verbal, com limitações cognitivas de
fala ou escuta que interferisse nas respostas aos instrumentos do estudo.
Os 40 idosos que atenderam os critérios de elegibilidade no período estabelecido foram
incluídos na pesquisa, não se realizou definição do número amostral previamente, sendo a
amostragem por conveniência. A abordagem dos pacientes aconteceu no momento em que
aguardavam a consulta ou a troca de curativos e, a entrevista ocorreu no próprio serviço de saúde,
em sala reservada, conforme disponibilidade pré-acordada com a equipe ou no domicílio do
participante, de acordo com agendamento prévio.
33
4.3 COLETA DE DADOS, INSTRUMENTOS E PADRONIZAÇÃO DAS VARIÁVEIS
A coleta de dados foi realizada no período de agosto a dezembro de 2016, por meio do
protocolo de pesquisa composto por: Formulário de caracterização sociodemográfica, de saúde,
clínica e assistencial (Anexo A); o Charing Cross Venous Ulcer Questionnaire - CCVUQ (Anexo
B); e Inventário de Percepção de Suporte Familiar - IPSF (Anexo C).
4.3.1 Formulário de caracterização sociodemográfica, de saúde, clínica e assistencial
O Formulário de caracterização sociodemográfica, de saúde, clínica e assistencial foi
utilizado para o levantamento dos dados de caracterização e corresponde ao protocolo assistencial
específico para pessoas com úlcera venosa, desenvolvido e validado por Costa (2013), do qual
foram utilizados 27 questões, distribuídas em quatro componentes, a saber:
• Sociodemográficas (Sexo; Faixa Etária; Estado civil; Escolaridade; Ocupação/Profissão e
Renda per capita (família));
➢ Saúde (Doenças crônicas associadas; Etilismo/tabagismo; Sono),
➢ Clínicas (Recidivas de úlcera venosa (UV); Tempo de UV atual e presença de dor);
➢ Assistencial (Adequação dos produtos/materiais usados no curativo; Realização do curativo
fora do serviço de saúde; Uso de Terapia compressiva - meia/faixa elástica, bota de Unna;
Tempo de tratamento da UV; Local de tratamento nos últimos 30 dias; Orientação para o
uso de terapias compressivas/elevação de membros inferiores (MMII)/ exercícios regulares;
Exames laboratoriais e específicos; Número de consultas com o Angiologista no último ano;
Referência e Contrarreferência; e Documentação dos achados clínicos).
O referido protocolo foi validado por meio da Técnica Delphi, apresentando índice Kappa ≥
0,81 e Índice de Validade de Conteúdo (IVC) > 0,80, o que fornece respectivamente evidências de
confiabilidade e validade de conteúdo ao instrumento. A padronização das variáveis do instrumento
de caracterização sociodemográfica, de saúde, clínicas e assistenciais estão operacionalizadas nos
Quadros 2 e 3.
Variáveis de caracterização
Sociodemográfica, de saúde e
clínicas dos idosos com UV
Escores/ categorias de verificação
Sexo Feminino (0); masculino (1)
Faixa Etária 60 a 69 anos (0); 70 anos ou mais (1)
Estado civil Solteiro/viúvo/divorciado (0); casado/união estável
(1)
Escolaridade Não alfabetizado/alfabetizado/ensino
34
Fundamental (0); Médio/Superior (1)
Ocupação/Profissão Presente (0); Ausente (1) Qual?
Renda per capita (família) ≥ 1 Salário Mínimo1 (0); até 1 Salário Mínimo (1)
Sono < 6 horas (0); ≥6 horas (1)
Doenças crônicas associadas Presente (0); Ausente (1)
Etilismo/tabagismo Presente (0); Ausente (1)
Recidivas de UV ≥ 1 recidiva (0); Nenhuma (1)
Tempo de UV atual ≥1 ano (0); Até 1 ano (1)
Presença de dor Presente (0); Ausente (1)
Sinais de infecção Presente (0); Ausente (1)
Quadro 2 – Variáveis de caracterização sociodemográfica, de saúde e clínicas dos idosos com UV
atendidas na APS, segundo escores/categorias de verificação. Santa Maria/RS, 2017.
Variáveis caracterizadoras da assistência
prestada às pessoas com UV Escores/ categorias de verificação
Adequação dos produtos/materiais usados
no curativo
Indisponibilidade de produtos para limpeza,
epitelizante e desbridante (0);
Disponibilidade de produtos adequados para
limpeza, epitelizante e desbridante (1)
Realização do curativo fora do serviço de
saúde
Profissional/cuidador sem treinamento (0);
Profissional/cuidador treinado (1)
Terapia compressiva (meia/faixa elástica,
bota de Unna) Ausente (0); presente (1) - Qual?
Tempo de tratamento da UV Tempo em meses?
≤ 1 ano(0); >1 ano (1)
Local de tratamento nos últimos 30 dias Domicílio (0); UBS/USF/hospital (1)
Orientação para o uso de terapias
compressivas/elevação de MMII/
exercícios regulares
Ausente (0); presente (1)
Exames laboratoriais e específicos
Exames laboratoriais de sangue e/ou urina
(0); Exames laboratoriais de sangue e/ou
urina + Doppler (1)
Número de consultas com o Angiologista
no último ano
≤3/ano (0)
>3/ano (1)
Referência e Contrarreferência Ausente (0); Presente (1)
Documentação dos achados clínicos Sem registro no prontuário (0) / Com
registro no prontuário (1)
Quadro 3 – Variáveis de caracterização da assistência à saúde/SUS prestada às pessoas com UV
atendidas na APS, segundo escores/categorias de verificação. Santa Maria/RS, 2017.
4.3.2 Charing Cross Venous Ulcer Questionnaire - CCVUQ
O Charing Cross Venous Leg Ulcer Questionnaire (CCVUQ) foi o instrumento específico
para medir o impacto da úlcera venosa na qualidade de vida das pessoas com esse tipo de úlcera
(GONZÁLEZ-CONSUEGRA; VERDÚ, 2011). Esse instrumento foi criado e validado em Londres
35
por Smith et al. (2000), teve sua tradução para a língua portuguesa e adaptação cultural para uso na
população brasileira por Couto et al. (2012), sendo recente a publicação de validação do questionário
qualidade de vida na úlcera venosa em língua portuguesa (COUTO; LEAL; PITTA, 2016).
O CCVUQ-Brasil, possui 21 itens organizados em quatro domínios: Interação social; Atividades
domésticas; Estética; Estado emocional (COUTO; LEAL; PITTA, 2016). Os itens estão apresentados
em escala Likert de quatro pontos para as questões 1, 4, 6, e 8; e de cinco pontos para as demais. A
pontuação do questionário varia de zero a 100, sendo que quanto menor a pontuação, melhor a
qualidade de vida apresentada pelo indivíduo (SMITH et al, 2000).
Neste estudo a variável de caracterização da QV dos idosos com úlceras venosas está
relacionada com os domínios do CCVUQ, conforme descrição do Quadro 4 abaixo:
Domínios do CCVUQ Itens Questões correspondentes
Interação Social
2A, 2B, 2C,
2D, 3A, 8
Avalia o quanto a presença da úlcera impede a pessoa
de se reunir com amigos, viajar de férias, realizar
passatempos, usar transporte público, o quanto o faz
realizar as atividades de forma mais lenta e se causa
dificuldade de andar.
Atividades Domésticas
3A, 5A, 5B,
5C, 5D
Avalia se a presença da úlcera limita a realização das
tarefas de casa: cozinhar, limpar, fazer comprar,
cuidar do jardim e o quanto faz com que a pessoa
realize as atividades de forma mais lenta
Estética
3C, 3E, 4, 7A,
7B, 7C
Avalia o quanto a secreção da úlcera é considerada
um problema, o quanto a pessoa fica preocupada que
a úlcera nunca cure e o quanto a pessoa se sente triste
por causa da aparência das pernas devido a úlcera
e/ou curativos. Com relação aos curativos, avalia o
quanto o volume, a aparência e a influência nas
roupas que usa é considerado um problema.
Estado Emocional
3F, 3B, 6, 3E,
3D
Avalia o quanto a úlcera deixa a pessoa preocupada
com seus relacionamentos pessoais, deprimida,
preocupada que a úlcera nunca cure, cansada de
gastar muito tempo tratando da úlcera e se passa
muito tempo pensando na úlcera.
Pontuação total Todos
Quadro 4 – Caracterização dos domínios que compõe o CCVUQ, segundo itens e questões
correspondentes. Santa Maria/RS, 2017.
4.3.3 Inventário de Percepção de Suporte Familiar – IPSF
O Inventário de Percepção do Suporte Familiar (IPSF) foi o instrumento utilizado com o
objetivo de avaliar o suporte familiar, ou seja, a forma como as pessoas percebem suas relações
36
familiares, no que concerne à afetividade, autonomia e adaptação entre os membros da família,
tanto da nuclear como da família constituída (BAPTISTA, 2009).
O IPSF foi desenvolvido por Baptista (2005) e utilizado com 346 universitários em São
Paulo, posteriormente, foi aplicado em outras populações, incluindo idosos (INOUYE et al., 2010;
REIS et al., 2011, 2014). Apresenta 42 itens e três domínios (BAPTISTA, 2007; 2009):
- Afetivo-Consistente possui 21 itens – versam sobre a expressão de afetividade entre os
membros familiares seja verbal e não verbal, interesse, proximidade, acolhimento, comunicação,
interação, respeito, empatia, clareza nas regras intrafamiliares, consistência de comportamentos e
verbalizações e habilidades na resolução de problemas.
- Adaptação Familiar composto por 13 itens - referem a sentimentos e comportamentos
negativos em relação à família, tais como raiva, isolamento, incompreensão, exclusão, não
pertencimento, vergonha, irritação, relações agressivas (brigas e gritos), além de percepção de que
os familiares competem entre si, são interesseiros e se culpam nos conflitos, que apontam a
ausência de adaptação no grupo, ao invés de tentarem inter-relações proativas.
- Autonomia composto por oito itens - que podem assinalar relações de confiança,
liberdade e privacidade entre os membros.
O suporte familiar segundo classificação, dimensões, itens, e as respectivas pontuações, de
acordo com o sexo e independente do sexo estão no Quadro 5.
IPSF
Classificação
Afetivo-Consistente Adaptação familiar Autonomia
familiar
Total
Masculino Feminino Masculino Feminino
Baixo 0-21 0-21 0-22 0-18 0-18 0-18 0-9 0-53
Médio-baixo 22-28 22-27 23-28 19-21 19-22 19-21 10-12 54-63
Médio-alto 29-33 28-33 29-33 22-23 23-24 22-23 13-14 64-70
Alto 34-42 34-42 34-42 24-26 25-26 24-26 15-16 71-84
Pontos 0-42 0-26 0-16
Itens 2, 3, 4, 5, 9, 11, 15, 17, 22,
23, 24, 25, 26, 28, 29, 30,
31, 35, 37, 41 e 42
1, 6, 7, 8, 13, 16, 20, 21, 27,
32, 33, 36 e 39
10, 12, 14, 18,19,
34, 38 e 40
Total 0-84 pontos
Quadro 5 – Classificação e pontuação do Inventário de Percepção do suporte familiar. Santa
Maria/RS, 2017.
Fonte: Adaptado de Baptista. 2009.
O IPSF é respondido por intermédio de uma escala Likert de três pontos, pontuando-se 2
para respostas “Quase Sempre ou sempre”; 1 para “às vezes” e 0 para “Quase Nunca ou nunca”. Os
itens de Adaptação Familiar são avaliados invertidos, atribuindo-se 0 para respostas “Quase Sempre
37
ou sempre”; 1 para “às vezes” e 2 para “Quase Nunca ou nunca”. As pontuações gerais variam de 0
a 84, sendo que quanto maior a pontuação maior será o suporte familiar percebido (BAPTISTA,
2007; 2009).
Nos domínios Afetividade-Consistente e Autonomia quanto maior a pontuação obtida, pior é
a percepção do suporte familiar. No domínio Adaptação-familiar, quanto maior a pontuação obtida,
melhor é o suporte familiar percebido.
4.4 ANÁLISE DOS DADOS
Para a análise dos dados, realizou-se codificação e dupla digitação independente em
planilhas eletrônicas. Após a verificação de erros e inconsistências na digitação, os dados foram
exportados para tratamento e análise no Statistical Package for Social Science (SPSS), versão 18.0.
Foram realizadas análises descritivas visando caracterizar a população do estudo, por meio
de distribuições de frequências e medidas descritivas (médias e desvio padrão). As variáveis
qualitativas foram apresentadas em frequências absolutas (n) e relativas (%) e, para as quantitativas,
calcularam-se média, desvio-padrão, mediana, mínimo e máximo. E na análise inferencial nos
cruzamentos das variáveis, com o nível de significância de 5% (α=0,05; p ≤0,05), e na aplicação
dos testes:
➢ Teste de Shapiro-Wilk, na verificação da distribuição da normalidade dos dados.
➢ Mann-Whitney, utilizado para verificação de diferença significante entre os escores
medianos dos domínios de qualidade de vida do CCVUQ e as variáveis
sociodemográficas, de saúde, clínicas e assistenciais.
➢ Qui-quadrado ou exato de Fisher (para tabelas com frequências esperadas inferiores a
5), testando a associação entre o Suporte Familiar e as variáveis sociodemográficas,
de saúde, clínicas e assistenciais.
➢ Correlação de Spearmann, na avaliação da correlação entre os domínios do IPSF e do
CCVUQ. Para análise das forças de correlação foram adotados os seguintes critérios:
r = < 0,40 (fraco); r = 0,40 a 0,49 (moderado); r = ≥ 0,50 a 1 (forte) (HULLEY,
2003).
➢ Alfa de Cronbach, utilizado para avaliar a confiabilidade das escalas, por meio da sua
análise consistência interna, sendo considerado satisfatório Alfa >0,70.
Após este processo, os dados foram codificados, tabulados e apresentados na forma de
tabelas, quadros e figuras, com suas respectivas distribuições percentuais e resultados dos testes
estatísticos.
38
Figura 2 – Modelo de correlação das variáveis dependentes, moderadoras e independente. Santa
Maria/RS, 2017
Nesse sentido, elegeu-se as seguintes hipóteses de pesquisa expressas no Quadro 6.
DEFINIÇÃO DE HIPÓTESES
TIPOS TEÓRICA ESTATÍSTICA
Hipótese nula (H0)
O suporte familiar não se correlaciona com a
qualidade de vida de idosos com úlcera
venosa atendidos na Atenção Primária à
Saúde.
H0= escore QV x SF r=0 ou
r≠0 com p-valor > 0,05)
Hipótese
alternativa (H1)
O suporte familiar se correlaciona com a
qualidade de vida de idosos com úlcera
venosa atendidos na Atenção Primária à
Saúde.
H1= escore QV x SF r≠0
negativa com p-valor ≤ 0,05)
Obs.: Em que, H0 = Hipótese nula; H1 = Hipótese alternativa; SF = Suporte Familiar
QV = qualidade de vida
Quadro 6 – Descrição e estatísticas das hipóteses do estudo. Santa Maria/RS, 2017
4.5 ASPÉCTOS ÉTICOS
O estudo está de acordo com a Resolução Nº 466/2012, do Conselho Nacional de Saúde,
que regem as pesquisas envolvendo seres humanos (BRASIL, 2012).
A autorização institucional para a realização da pesquisa ocorreu junto ao Núcleo de
Educação Permanente (NEPES) da Secretaria Municipal de Saúde de Santa Maria (SMSSM)
(ANEXO D). O projeto foi apreciado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de
Santa Maria (CEP/UFSM), no qual recebeu o parecer favorável, em 10 de agosto de 2016, sob
número 1.670.636 e Certificado de Apresentação para Apreciação Ética (CAAE)
58255016.0.0000.5346 (ANEXO E). Após a entrega do parecer do CEP no NEPES/SMSSM foi
disponibilizada a autorização para iniciar a coleta de dados (ANEXO F).
Variável Independente
Suporte Familiar
Variáveis Moderadoras
Características sociodemográficas, de
saúde, clínicas e assistenciais dos
idosos
Variáveis Dependentes
Qualidade de vida dos idosos
39
Providenciou-se, previamente ao início da coleta dos dados, aos participantes da pesquisa, o
conhecimento e a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (APÊNDICE
A). No Termo de Confidencialidade (APÊNDICE B), está garantido a confidencialidade e o
anonimato das participantes, os quais têm sua privacidade assegurada pelos pesquisadores em todas
as etapas da pesquisa. As informações são de uso exclusivo para compor o banco de dados deste
estudo e utilizadas somente para fins científicos para a área da saúde e da enfermagem. Ressalta-se
que um dos objetivos e compromisso ético dos pesquisadores implica em retornar os resultados aos
idosos com úlcera venosa atendidos nos serviços de saúde pesquisados e para a SMSSM.
40
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados e discussão estão apresentados em forma de artigos a serem submetidos em
periódicos qualificados na área de Enfermagem, conforme exposto no Quadro 7.
ARTIGO TÍTULO OBJETIVO QUALIS EM
ENFERMAGEM
1
Qualidade de vida de
idosos com úlcera venosa:
associação das
características
sociodemográficas, de
saúde, clínicas e
assistenciais
Avaliar a associação das
características sociodemográficas, de
saúde, clínicas e assistenciais com a
qualidade de vida de idosos com
úlcera venosa.
A1
2
Percepção do suporte
familiar em idosos com
úlcera venosa e
características associadas
Identificar a associação da percepção
do suporte familiar em idosos com
úlcera venosa com as características
sociodemográficas, de saúde, clínicas
e assistenciais.
B1
3
Correlação entre
qualidade de vida e o
suporte familiar em idosos
com úlcera venosa
Analisar a correlação do suporte
familiar na qualidade de vida em
idosos com úlcera venosa.
A1
Quadro 7 – Síntese dos três artigos que compõem os resultados e discussões por título, objetivo e
Qualis que serão submetidos. Santa Maria/RS, 2017
41
5.1 ARTIGO 1
QUALIDADE DE VIDA DE IDOSOS COM ÚLCERA VENOSA: ASSOCIAÇÃO DAS
CARACTERÍSTICAS SOCIODEMOGRÁFICAS, DE SAÚDE, CLÍNICAS E
ASSISTENCIAIS
Resumo
Objetivo: avaliar a associação das características sociodemográficas, de saúde, clínicas e
assistenciais com a qualidade de vida de idosos com úlcera venosa. Método: estudo transversal,
realizado nos serviços da Atenção Primária à Saúde no sul do Brasil. Utilizou-se um formulário de
caracterização e para avaliação da qualidade de vida o Charing Cross Venous Ulcer Questionnaire
(CCVUQ). Resultados: o escore Total do CCVUQ apresentou mediana 43,9, nos domínios
Interação Social (27,9), Atividades Domésticas (29,9), Estética (44,7) e Estado Emocional (57,4).
Constatou-se associação significativa da variável clínica dor em relação aos domínios Atividades
Domésticas (p=0,048), Estado Emocional (p=0,034) e Escore Total (p=0,022). Associações
significativas das variáveis assistenciais: quem realiza o curativo com Estado Emocional (p=0,045);
uso de terapia compressiva com Atividades Domésticas (p=0,031); e, número de consultas com os
domínios Interação Social (p=0,033), Atividades Domésticas (p=0,033), Estado Emocional
(p=0,025) e Escore total (p=0,030). Conclusão: a qualidade de vida do idoso com úlcera venosa foi
pior nos domínios Estética e Estado Emocional. Os idosos que apresentaram melhor qualidade de
vida não tinham dor, realizam seu curativo, estavam em tratamento com terapia compressiva e
tinham três ou mais consultas no ano. Necessitam-se cuidados continuados, ações de promoção e
reabilitação da saúde dessa população.
Descritores: Saúde do Idoso; Úlcera Varicosa; Qualidade de Vida; Enfermagem; Idoso; Atenção
Primária a Saúde.
Descriptors: Health of the Elderly; Varicose Ulcer; Quality of Life; Aged; Nursing; Primary Health
Care.
42
Descriptores: Salud del Anciano; Úlcera Varicosa; Calidad de Vida; Enfermería; Anciano; Atención
Primaria de Salud.
Introdução
A úlcera venosa corresponde a aproximadamente 75,0% dos casos de úlceras em membros
inferiores, constitui um problema de saúde pública mundial, e sua ocorrência aumenta com o
envelhecimento populacional(1-2). Acomete ambos os sexos, com predominância para o feminino e,
é uma complicação da insuficiência venosa crônica (IVC)(1).
Para os idosos sua ocorrência pode causar repercussões biopsicossociais, incluindo
mudanças nos hábitos de vida pela necessidade de autocuidado e de assistência em saúde,
mobilidade diminuída, perdas nas relações sociais e problemas financeiros(3-5).
Dessa forma, esse tipo de ferida impacta negativamente na qualidade de vida em diversos
aspectos, especialmente relacionada à dor, funcionamento físico e mobilidade, reações emocionais
negativas e isolamento social(2,6-7). A qualidade de vida é definida como “a percepção do indivíduo
sobre a sua posição na vida, no contexto da cultura e dos sistemas de valores nos quais ele vive, e
em relação a seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações” (8).
No Brasil, estudos avaliaram a qualidade de vida de pessoas com úlcera venosa por meio de
instrumentos genéricos, dentre eles o Medical Outcomes Study 36-Item Short-Form Health Survey
(SF-36)(7,9-10). Contudo, há escassez de publicações de pesquisas que utilizaram o Charing Cross
Venous Ulcer Questionnaire (CCVUQ) instrumento específico para essa avaliação(11), recentemente
validado para a realidade brasileira(12), e que foi aplicado junto a pacientes atendidos em serviços da
Atenção Primária à Saúde (APS), na região nordeste brasileira(11).
Embora existam serviços especializados, muitos pacientes são assistidos no ambiente da
APS e estudos realizados com enfermeiras, na região Sudeste, apontaram fragilidades na assistência
à pessoa com úlcera, devido a precária infraestrutura e local para realização do curativo, materiais e
padronização do tratamento. Há carência nas condições de trabalho interdisciplinar, profissionais
43
em número suficiente e com conhecimento técnico-científico atualizado, além de serviços
especializados de referência como suporte para continuidade do tratamento(13-14).
Dessa forma, aponta-se a relevância de avaliar a qualidade de vida dos idosos com úlcera
venosa assistidos no contexto da APS. As investigações sobre esse constructo são importantes no
contexto do envelhecimento populacional, pois a assistência em saúde necessita prezar pela sua
manutenção, mesmo ao considerar situações de adoecimento, como a úlcera venosa. Acredita-se
que a avaliação por meio da aplicação de instrumento específico recentemente validado no Brasil,
pode ser considerada uma iniciativa inovadora. Este estudo se justifica uma vez que a identificação
das características sociodemográficas, de saúde, clínicas e assitenciais que influenciam na qualidade
de vida, podem possibilitar o desenvolvimento de intervenções de Enfermagem em prol do cuidado
integral ao idoso com úlcera venosa.
A partir dessas considerações apresentam-se os seguintes questionamentos: quais as
características sociodemográficas, de saúde, clínicas e assistenciais estão associadas a qualidade de
vida do idoso com úlcera venosa? Frente ao exposto, este estudo teve como objetivo avaliar a
associação das características sociodemográficas, de saúde, clínicas e assistenciais com a qualidade
de vida de idosos com úlcera venosa.
Método
Estudo transversal, desenvolvido nos serviços de APS de um município do interior do Rio
Grande do Sul, Brasil.
Para seleção dos participantes utilizou-se a técnica de amostragem por conveniência.
Realizou-se o levantamento dos cadastros de pessoas com feridas registradas nos serviços, quando
se tinha esse controle, e por busca ativa daquelas que compareciam para consultas de rotina ou troca
dos curativos.
Foram incluídos todos os pacientes com idade de 60 anos ou mais, que estivessem com pelo
menos uma úlcera venosa ativa e em acompanhamento no serviço de saúde. Como critérios de
44
exclusão tiveram-se: quem não tivesse condições de comunicação verbal, com limitações cognitivas
de fala ou escuta que interferisse nas respostas aos instrumentos do estudo. Após a seleção, foi
realizado agendamento de data e horário para entrevista dos participantes no referido serviço ou no
domicílio, de acordo com a preferência e disponibilidade.
A coleta de dados ocorreu de agosto a dezembro de 2016, em ambiente privativo e foi
realizada pela própria pesquisadora, utilizando um formulário validado e já aplicado em estudo
prévio(11) para coleta dos dados sociodemográficos, de saúde, clínicos e assistenciais, e para análise
da qualidade de vida, e o Charing Cross Venous Ulcer Questionnaire (CCVUQ)(12).
As variáveis independentes avaliadas foram: Sociodemográficas (Sexo; Faixa Etária; Estado
civil; Com quem mora, Escolaridade; Renda per capita (família); e Aposentado -
Ocupação/Profissão); Saúde (Doenças crônicas associadas - Diabetes Mellitus, Hipertensão Arterial
Sistêmica, Cardiopatia; Sono; Etilismo/tabagismo); Clínicas (Recidiva; Tempo de úlcera venosa
atual; Dor e Sinais de infecção); e Assistenciais (Local de tratamento nos últimos 30 dias; Quem
realiza o curativo fora do serviço de saúde; Tempo de tratamento da úlcera venosa; Faz uso de
terapia compressiva - meia/faixa elástica, bota de Unna - nos últimos 30 dias; Orientações para o
uso de terapias compressivas/elevação de membros inferiores/ exercícios regulares; Número de
consultas com o Angiologista no último ano; Referência e Contrarreferência; e Documentação dos
achados clínicos).
A variável dependente qualidade de vida foi coletada por meio do CCVUQ, instrumento
criado e validado em Londres, cuja versão foi traduzida e validada para a cultura brasileira(12). Este
formulário contém 21 itens organizados em quatro domínios, a saber: Interação Social (itens 2A, 2B,
2C, 2D, 3A, 8), Atividades Domésticas (itens 3A, 5A, 5B, 5C, 5D), Estética (itens 3C, 3E, 4, 7A, 7B,
7C ) e Estado Emocional (itens 3F, 3B, 6, 3E, 3D). Esses itens estão apresentados em escala Likert de
quatro pontos para as questões 1, 4, 6, e 8; e de cinco pontos para as demais. A pontuação do
questionário varia de 0 a 100, quanto menor a pontuação, melhor a qualidade de vida(12).
45
Os dados foram codificados e digitados duplamente em planilhas do programa Excel. Após a
verificação de erros e inconsistências na digitação, a análise foi realizada no software Statistical
Package for the Social Science (SPSS) versão 18.0, para tratamento e análise dos resultados.
Utilizou-se da estatística descritiva e inferencial. Para as variáveis categóricas foram calculadas as
frequências absoluta e relativa e, para as quantitativas, calcularam-se média, desvio padrão quando
apresentaram distribuição normal, e mediana, intervalo interquartílico, mínimo e máximo quando
não apresentaram distribuição normal. Na verificação da distribuição da normalidade dos dados
realizou-se o Teste de Shapiro-Wilk.
Inicialmente, usou-se análise bivariada, para verificar quais variáveis de caracterização
estavam associadas ao sexo dos pacientes, neste caso foram feitos testes de associação pelo Qui-
quadrado e quando este não teve seus pressupostos de validade atendidos, foi utilizado o teste Exato
de Fischer. Por fim, para verificação de diferenças entre os escores medianos das dimensões de
qualidade de vida do CCVUQ e demais variáveis, adotou-se o Teste U de Mann-Whitney, com o
nível de significância de 5% (p ≤0,05) e a confiabilidade avaliada por meio do coeficiente alfa de
Cronbach, sendo considerado satisfatório Alfa >0,70.
Este estudo esta em consonância com as recomendações éticas para a realização de pesquisa
envolvendo seres humanos, o projeto recebeu parecer favorável do Comitê de Ética em Pesquisa,
com protocolo número 1.670.636 e Certificado de Apresentação para Apreciação Ética
58255016.0.0000.5346, em 10 de agosto de 2016. Todos os participantes receberam de forma
verbal e por escrito as informações sobre o estudo e assinaram o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido.
Resultados
Participaram da pesquisa 40 idosos com úlcera venosa, em sua maioria mulheres (Tabela 1),
com a média de idade geral de 71,90 (±8,40) anos, mínimo 60 anos e máximo de 87 anos. Dentre as
46
participantes do sexo feminino, a média de idade foi de 73,26 (±8,01) e do sexo masculino de 70,06
(±8,81).
Tabela 1 – Caracterização sociodemográfica e de saúde dos idosos com úlcera venosa (n=40) em
relação ao sexo. Santa Maria, RS, Brasil, 2017.
Variáveis
Sexo
Total
n (%)
Teste
exato de
Fischer
p-valor
Feminino
n (%)
Masculino
n (%)
Faixa etária 60 a 69 anos 9(22,5) 10(25,0) 19(47,5)
0,218* ≥ 70 anos 14(35,0) 7(17,5) 21(52,5)
Estado civil Solteiro 20(50,0) 5(12,5) 25(62,5)
6 horas 16(40,0) 14(35,5) 30(75,0)
Etilismo/tabagismo Presente 0(0,0) 1(2,5) 1(2,5)
0,425 Ausente 23(57,5) 16(40,0) 39(97,5)
*Teste Qui-quadrado de Pearson.
Em relação as características sociodemográficas e de saúde, verificou-se que os idosos eram,
em sua maioria, da faixa etária maior ou igual a 70 anos, sem companheiro (solteiro, viúvo ou
divorciado), sendo prevalente a escolaridade definida como ensino fundamental (n=25; 62,5%),
com renda de até um salário mínimo (n=36; 90,0%), a renda média familiar encontrada na amostra
foi de R$ 1.450,00 (±1320,63).
Ao avaliar a associação das variáveis sociodemográficas e de saúde dos pacientes em
relação ao sexo (Tabela 1) verificou-se a associação significativa das variáveis estado civil e
cardiopatia. Observou-se que os sem companheiro estão associadas ao sexo feminino, enquanto que
47
os casados/com união estável estão associados ao sexo masculino. Para a v