57
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE BIOCIÊNCIAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS THIAGO CÉSAR SENA DE OLIVEIRA PEREIRA ECOLOGIA TRÓFICA EM UMA TAXOCENOSE DE ANFÍBIOS: ESTRUTURA, FILOGENIA E ESPECIALIZAÇÃO INDIVIDUAL DISSERTAÇÃO DE MESTRADO NATAL-RN 2012

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · vocês que fazem do nosso Laboratório de Anfíbios e Répteis o verdadeiro LAR. Para finalizar quero agradecer ao ICMBio

  • Upload
    others

  • View
    5

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · vocês que fazem do nosso Laboratório de Anfíbios e Répteis o verdadeiro LAR. Para finalizar quero agradecer ao ICMBio

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE BIOCIÊNCIAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS

BIOLÓGICAS

THIAGO CÉSAR SENA DE OLIVEIRA PEREIRA

ECOLOGIA TRÓFICA EM UMA TAXOCENOSE DE ANFÍBIOS:

ESTRUTURA, FILOGENIA E ESPECIALIZAÇÃO INDIVIDUAL

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

NATAL-RN

2012

Page 2: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · vocês que fazem do nosso Laboratório de Anfíbios e Répteis o verdadeiro LAR. Para finalizar quero agradecer ao ICMBio

THIAGO CÉSAR SENA DE OLIVEIRA PEREIRA

ECOLOGIA TRÓFICA EM UMA TAXOCENOSE DE ANFÍBIOS:

ESTRUTURA, FILOGENIA E ESPECIALIZAÇÃO INDIVIDUAL

Orientador: Adrian Antonio Garda

Co-orientador: Gabriel Corrêa Costa

NATAL-RN

2012

Dissertação apresentada ao Programa

de Pós Graduação em Ciências

Biológicas, como parte dos requisitos

para obtenção do título de Mestre em

Ciências Biológicas.

Área de concentração: Biodiversidade

Page 3: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · vocês que fazem do nosso Laboratório de Anfíbios e Répteis o verdadeiro LAR. Para finalizar quero agradecer ao ICMBio

UFRN / Biblioteca Central Zila Mamede

Catalogação da Publicação na Fonte

Pereira, Thiago César Sena de Oliveira.

Ecologia trófica em uma taxocenose de anfíbios: estrutura, filogenia e

especialização individual./ Thiago César Sena de Oliveira Pereira – Natal,

RN, 2012.

56 f. : il.

Orientador: Prof. Dr. Adrian Antonio Garda.

Co-orientador: Prof. Dr. Gabriel Corrêa Costa.

Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do

Norte. Centro de Biociências. Programa de Pós-Graduação em Ciências

Biológicas.

1. Anfíbios - Dissertação. 2. Comunidades - Anfíbios - Dissertação. 3.

Filogenia - Dissertação. 4. Especialização individual – Dissertação. I.

Garda, Adrian Antonio. II. Costa, Gabriel Corrêa. III. Universidade

Federal do Rio Grande do Norte. IV. Título.

RN/UF/BCZM CDU 597.6

Page 4: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · vocês que fazem do nosso Laboratório de Anfíbios e Répteis o verdadeiro LAR. Para finalizar quero agradecer ao ICMBio

THIAGO CÉSAR SENA DE OLIVEIRA PEREIRA

ECOLOGIA TRÓFICA EM UMA TAXOCENOSE DE ANFÍBIOS:

ESTRUTURA, FILOGENIA E ESPECIALIZAÇÃO INDIVIDUAL

Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação em Ciências Biológicas, como

parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Ciências Biológicas.

Área de concentração: Biodiversidade

Aprovado em ____\____\____

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________

Prof. Dr. Adrian Antonio Garda (orientador)

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

_______________________________________

Prof. Dr. Mauro Pichorim

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

______________________________________

Prof. Dr. Reuber Albuquerque Brandão

Universidade de Brasília - UnB

Page 5: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · vocês que fazem do nosso Laboratório de Anfíbios e Répteis o verdadeiro LAR. Para finalizar quero agradecer ao ICMBio

Aos meus familiares e amigos pelo apoio e interesse.

E também a todos aqueles que compartilham um

fascínio pelo mundo natural.

Page 6: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · vocês que fazem do nosso Laboratório de Anfíbios e Répteis o verdadeiro LAR. Para finalizar quero agradecer ao ICMBio

AGRADECIMENTOS

Este trabalho é resultado do esforço e da colaboração de muitos e desde já quero

me desculpar com aqueles que por acaso eu tenha deixado de citar, mas que fique claro

que a sua ajude é reconhecida e pode acreditar que foi muito bem vinda.

Em primeiro lugar eu quero agradecer ao meu chefe, orientador e amigo, Adrian

Antonio Garda, por me guiar, aconselhar e também por todos os “puxões de orelha”,

seu incentivo foi fundamental para essa minha realização pessoal que é entrar no mundo

científico, ao contrário do usual eu não tive minha iniciação através de bolsas durante a

graduação e pude sentir como isso fez falta durante o mestrado, mas o seu apoio me

empurrou para frente. Chefe, um muito obrigado por ter acreditado em mim quando

nem eu mesmo conseguia.

Gostaria de agradecer também aos meus familiares, principalmente a minha mãe

Denise, que do seu jeito sempre me incentivou a correr atrás dos meus sonhos, a tia

Solange por fornecer os recursos necessários para eu realizar o trabalho de campo e

muitas conversas interessantes, a minha outra tia Conceição e minha prima Anna

Maria e também a minha amada companheira e amiga Lívia Rebelato, sempre disposta

a me ouvir e me fazer esquecer um pouco das dificuldades, um grande beijo em todas

vocês.

Quero agradecer também aos meus queridos amigos do LAR e ao meu co-

orientador Gabriel Costa por toda ajuda e esclarecimento com as análises estatísticas e

a especialização individual, sem vocês eu não teria conseguido, todo aquele trabalho de

campo e os resultados são fruto do nosso esforço em conjunto de ir a campo quase todas

as semanas durante um ano e em alguns momentos mais de uma vez por semana.

Galera, sou muito grato a todos vocês: Marcelo Henrique, Felipe Magalhães, Pedro

Henrique (Caicó), Marcos Brito, Felipe Figueirêdo, Paulinha Furtado, Mariana

Garcia, Cynthia Rubbo, Matheus Neves e em particular a Anne Kareninne por toda

a ajuda com as análises estomacais, análises estatísticas, enfim, uma grande parceira

nessa jornada. Aos amigos Vinícius São Pedro, Eliana Faria, Diego Santana e David

Lucas, pela ajuda em campo e também por toda sabedoria, experiências compartilhadas

e correções. E a Tonny Marques, um grande amigo e membro honorário do nosso

laboratório. Gente, sou muito feliz por ter tido a oportunidade de dividir bons momentos

com vocês. Então, ficam aqui minhas considerações e uma singela homenagem a todos

vocês que fazem do nosso Laboratório de Anfíbios e Répteis o verdadeiro LAR.

Para finalizar quero agradecer ao ICMBio pela licença de coleta (27883-1), ao

Programa de Pós Graduação em Ciências Biológicas, principalmente a Louise da

Mata por toda a ajuda fornecida, à CAPES pela bolsa de mestrado a mim concedida e à

Escola Agrícola de Jundiaí pelo apoio e por ter permitido as coletas em sua área. Ao

professor Sérgio Maia, o Serginho, pela identificação da espécie de peixe encontrada na

dieta de Leptodactylus macrosternum. Entre tantos outros meu muito obrigado ao

Page 7: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · vocês que fazem do nosso Laboratório de Anfíbios e Répteis o verdadeiro LAR. Para finalizar quero agradecer ao ICMBio

pessoal que faz o WIKIHERPS, conseguindo referências consideradas impossíveis e

aos amigos que fiz em viagens por esse Brasil a fora, dentre eles quero agradecer a

Almir de Paula, um amigo verdadeiro e um grande parceiro na herpetologia.

Meus mais sinceros agradecimentos.

Page 8: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · vocês que fazem do nosso Laboratório de Anfíbios e Répteis o verdadeiro LAR. Para finalizar quero agradecer ao ICMBio

“O aspecto mais impressionante do mundo vivo é a

sua diversidade. Não existem dois indivíduos iguais

em populações que se reproduzem sexuadamente,

nem duas populações, espécies ou táxons mais

elevados que sejam iguais. Para onde quer que

olhemos na natureza, encontramos singularidade”.

(Ernst Mayr)

Page 9: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · vocês que fazem do nosso Laboratório de Anfíbios e Répteis o verdadeiro LAR. Para finalizar quero agradecer ao ICMBio

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Localização da área de estudo, Escola Agrícola de Jundiaí, Macaíba – RN,

Brasil e dos dois grandes Domínios morfoclimáticos da região. ................................... 26

Figura 2. Superárvore da filogenia usada na análise de Ordenação Canônica

Filogenética. ................................................................................................................... 32 Figura 3. Curvas de riqueza das categorias de presas por indivíduos para cada espécie de

anuro da taxocenose. Os círculos representam a riqueza esperada e a linha a riqueza

encontrada. ...................................................................................................................... 33

Figura 4. Diagrama de como os indivíduos podem subdividir o nicho da população.

(Bolnick, Svanback et al., 2003) .................................................................................... 42 Figura 5. Localização da área de estudo, Escola Agrícola de Jundiaí, Macaíba – RN,

Brasil e dos dois grandes biomas da região. ................................................................... 46 Figura 6. Boxplot da distribuição das amplitudes de nicho individual (ANI) para os

períodos de chuva e seca em L. macrosternum. ............................................................. 50

Page 10: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · vocês que fazem do nosso Laboratório de Anfíbios e Répteis o verdadeiro LAR. Para finalizar quero agradecer ao ICMBio

SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS ..................................................................................................... 6

RESUMO ....................................................................................................................... 12

ABSTRACT ................................................................................................................... 14

INTRODUÇÃO GERAL ............................................................................................... 16

OBJETIVOS ................................................................................................................... 20

Capítulo 1 ....................................................................................................................... 21

Estrutura trófica de uma taxocenose de anfíbios terrícolas e o efeito da filogenia em

uma área de transição entre Mata Atlântica e Caatinga. ............................................. 21

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 21

2 MATERIAL E MÉTODOS ......................................................................................... 25

2.1 Área de Estudo ..................................................................................................... 25

2.2 Amostragem dos dados ......................................................................................... 26

2.3 Análise dos dados ................................................................................................. 27

2.3.1 Eficiência da amostragem ............................................................................. 27

2.3.2 Composição da dieta ..................................................................................... 27

2.3.3 Estrutura na taxocenose ........................................................................................ 28

2.3.4 Efeito da filogenia na taxocenose .................................................................. 29

3 RESULTADOS ....................................................................................................... 33

3.1 Eficiência da amostragem ..................................................................................... 33

3.2 Composição da dieta e estrutura da taxocenose ................................................... 37

3.3 Efeito da filogenia na taxocenose ......................................................................... 37

4 DISCUSSÃO ............................................................................................................... 38

Capítulo 2 ....................................................................................................................... 41

Variação intrapopulacional de nicho trófico e especialização individual em

Leptodactylus macrosternum ...................................................................................... 41

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 41

2 MATERIAL E MÉTODOS ......................................................................................... 45

2.1 Área de Estudo ..................................................................................................... 45

2.2 Amostragem dos dados ......................................................................................... 46

2.3 Análise dos dados ................................................................................................. 47

2.3.1 Especialização individual e variação intrapopulacional na dieta em L.

macrosternum ......................................................................................................... 47

3 RESULTADOS ........................................................................................................... 49

3.1 Especialização individual e variação intrapopulacional na dieta de Leptodactylus

macrosternum ............................................................................................................. 49

Page 11: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · vocês que fazem do nosso Laboratório de Anfíbios e Répteis o verdadeiro LAR. Para finalizar quero agradecer ao ICMBio

4 DISCUSSÃO ............................................................................................................... 51

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................... 52

Page 12: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · vocês que fazem do nosso Laboratório de Anfíbios e Répteis o verdadeiro LAR. Para finalizar quero agradecer ao ICMBio

RESUMO

Historicamente, a competição interespecífica foi considerada a principal força ecológica

responsável pela estruturação de comunidades. Essa interpretação perdeu forças no final

dos anos 70 e ao longo dos anos 80 e deu espaço para outras visões, onde fatores como

predação, parasitismo e a inércia filogenética mostraram-se importantes. Estudos sobre

variações intraespecíficas do nicho trófico são pouco comuns de uma forma geral e

principalmente em anfíbios. Esses estudos tem mostrado que espécies antes chamadas

generalistas podem ser, na verdade, um grupo de indivíduos especialistas, ou ainda

indivíduos que se especializam em uma determinada categoria de presa durante um

período de escassez de recursos, reduzindo assim a competição intraespecífica. O

presente trabalho é dividido em dois capítulos. No primeiro nós estudamos a

estruturação trófica da taxocenose de anfíbios. Para tanto, nós analisamos a dieta de 16

espécies de anuros de serapilheira. Os dados foram usados para avaliar duas perguntas:

1a) se a comunidade está estruturada no nicho trófico e 1b) em que grau a estrutura

observada é fruto de interações ecológicas atuais e da inércia filogenética das espécies

em questão. No segundo capítulo nós estudamos a variação trófica da espécie

Leptodactylus macrosternum e testamos se existe variação no uso dos recursos

alimentares entre os períodos seco e chuvoso. A comunidade mostrou estruturação com

relação ao uso dos recursos alimentares e esta estruturação é influenciada pelas relações

filogenéticas entre as espécies. A dieta de Leptodactylus macrosternum variou conforme

os períodos seco e chuvoso, com um grau de especialização individual significativo para

o período seco. A dinâmica de uma comunidade local pode atuar em processos de maior

Page 13: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · vocês que fazem do nosso Laboratório de Anfíbios e Répteis o verdadeiro LAR. Para finalizar quero agradecer ao ICMBio

escala. Logo, o estudo de comunidades é fundamental para se entender e eventualmente

restaurar áreas degradadas.

Palavras-chave: Comunidades, anfíbios, filogenia, especialização individual.

Page 14: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · vocês que fazem do nosso Laboratório de Anfíbios e Répteis o verdadeiro LAR. Para finalizar quero agradecer ao ICMBio

ABSTRACT

Historically, ever since the pre-Darwinian naturalists interspecific competition was

considered the main force responsible for structuring ecological communities. This

interpretation lost strength in the late '70s and throughout the 80s giving room for other

views, which consider other factors such as predation, parasitism and the phylogenetic

inertia more important. Studies on changes in the trophic niche of a species are still

uncommon in general and especially in amphibians. Species considered generalist might

actually be a group of individual specialists, or individuals that specialize in a particular

category of prey during a period of scarcity of resources, thus reducing intraspecific

competition. This work studied the community structure of litter amphibians and trophic

variation along the dry and rainy seasons in a population of Leptodactylus

macrosternum. Sixteen-litter frog species were studied for their diet. Two central

assumptions were tested: 1a) if the community is structured in the niche trophic level,

and 1b) if there is a significant difference in the use of food resources by different

species (i.e. if the community is structured), the observed structure is the result of

ecological interactions or just the current phylogenetic inertia of species. Finally, 2) if

there is variation in food resource use between seasons for L. macrosternum. The

community showed a structure with respect to the use of food resources, and this

structure persisted after taking into account the phylogenetic relationships among

species. The diet of Leptodactylus macrosternum varied with the seasons, with a

significant degree of individual specialization for the dry season. Patterns of a local

community are important to understand its dynamics, and this may play a role in larger-

Page 15: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · vocês que fazem do nosso Laboratório de Anfíbios e Répteis o verdadeiro LAR. Para finalizar quero agradecer ao ICMBio

scale processes. Therefore, the studies in community ecology are fundamental to

understand and eventually restoring degraded areas.

Keywords: Communities, amphibians, phylogeny, individual specialization.

Page 16: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · vocês que fazem do nosso Laboratório de Anfíbios e Répteis o verdadeiro LAR. Para finalizar quero agradecer ao ICMBio

16

INTRODUÇÃO GERAL

Atualmente o conceito de comunidade ecológica ainda é um tema bastante

debatido (Ricklefs, 2003). Nesse debate, duas grandes correntes podem ser destacadas,

conhecidas pelos conceitos que defendem (Clements, 1916) (Gleason, 1926). A

primeira defende um conceito holístico, onde para entendermos a organização e o

funcionamento de uma comunidade é preciso observar todas as inter-relações entre seus

organismos (Clements, 1916). Esse conceito trata as comunidades como

superorganismos, onde seu estudo só faz sentido quando são tratadas como unidades

completas, conhecido também como comunidade fechada (Clements, 1916). Outra

corrente advoga o conceito individualista que remete às tolerâncias fisiológicas das

espécies como principais forças por unir ali determinados organismos e é conhecido

como comunidade aberta (Gleason, 1926). Apesar das controvérsias, o conceito mais

funcional refere-se a um grupo de organismos que, além de coexistirem em um

determinado habitat, interagem entre si e com o ambiente ao seu redor. (Pianka, 1973;

Ricklefs, 2003).

O estudo de ecologia de comunidade remete à sua composição e aos seus

organismos, podendo se caracterizar uma comunidade a partir da sua riqueza (Begon,

Townsend et al., 2007), seus aspectos ecológicos e evolutivos, a suas interações e as

possíveis consequências dessa coexistência. O conhecimento da dinâmica existente nas

comunidades locais pode favorecer o entendimento de processos em grandes escalas,

assim como o surgimento e a manutenção da diversidade (Ricklefs, 1987; Cavender-

Bares, Kozak et al., 2009). Os fatores responsáveis pela estruturação das comunidades

de organismos vivos foram muito debatidos nos últimos 30 anos (Begon, Townsend et

Page 17: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · vocês que fazem do nosso Laboratório de Anfíbios e Répteis o verdadeiro LAR. Para finalizar quero agradecer ao ICMBio

17

al., 2007). Desde os naturalistas pré-darwinianos a competição foi considerada a

principal força ecológica responsável pela estruturação de comunidades. Essa

interpretação perdeu forças no final dos anos 70 e ao longo dos anos 80. Os argumentos

eram que a competição havia sido supervalorizada às custas de outras interações, como

predação, mutualismo e outras interações bióticas. Além disso, diversos estudos não

foram capazes de confirmar a ocorrência de competição entre espécies próximas

(Ricklefs, 2003).

O estudo de comunidades é fundamental para o entendimento da sua dinâmica,

origem, processos ecológicos e evolutivos e como eles podem afetar processos em nível

global (Cavender-Bares, Kozak et al., 2009). Dessa forma, é uma ferramenta de grande

importância no cenário atual de devastação, já que através do entendimento de sua

dinâmica podemos pensar em formas de se recuperar uma determinada área. Estudos de

comunidades de anfíbios são essencialmente descritivos e com foco em assembléias

locais, sem levar em consideração questões macroecológicas como padrões de

diversidade regionais, distribuição e abundância das espécies em relação a variáveis

ambientais (Wells, 2007). Ainda, grande parte desses estudos é focada na fase larval dos

anfíbios anuros e não em adultos (Eterovick e Fernandes, 2001; Eterovick e Barros,

2003; Eterovick, Lazarotti et al., 2010).

Estudos de ecologia de comunidades que levem em consideração o efeito da

filogenia ainda são escassos, principalmente com anfíbios (mas ver Eterovick e

Fernandes, 2001; Eterovick, Rievers et al., 2010). Alguns exemplos podem ser vistos

com lagartos (Mesquita, Colli et al., 2006; Werneck, Colli et al., 2009; Garda,

Wiederhecker et al., 2013). Esses estudos são relevantes para conhecer a formação e

estruturação de uma comunidade e a contribuição de fatores ecológicos e históricos

nesses processos.

Page 18: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · vocês que fazem do nosso Laboratório de Anfíbios e Répteis o verdadeiro LAR. Para finalizar quero agradecer ao ICMBio

18

Variação de nicho ecológico e especialização individual

O termo nicho ecológico pode ser definido como nicho fundamental, que possui

n-dimensões e corresponde à gama de fatores abióticos e bióticos tolerados pelo

organismo e nicho realizado, definido como o subconjunto desses fatores que a espécie

de fato utiliza (Hutchinson, 1957). Estudos sobre variação de nicho ecológico remetem

à década de 60, associando variações morfológicas a variações fenotípicas, onde

espécies com um nicho populacional maior são mais adaptadas as mudanças no

ambiente (Van Valen, 1965). Trabalhos recentes ampliam essa discussão acerca do

nicho populacional, relacionando a variação do nicho da população com variações

individuais e entre os indivíduos que a compõe (Bolnick, Yang et al., 2002 ; Bolnick,

Svanback et al., 2003; Costa, Mesquita et al., 2008; Araújo, Bolnick et al., 2011 ). Essa

hipótese, chamada de especialização individual, foi proposta por Bolnick (2002) e é

uma das formas de uma população variar seu nicho total, o que implica na maneira

como olhamos para as espécies chamadas generalistas. A especialização individual já

foi demonstrada para vários grupos de vertebrados em regiões temperadas (Bolnick,

Svanback et al., 2003) e mais atualmente em regiões tropicais, com anfíbios anuros

(Araújo, Dos Reis et al., 2007; Araújo, Bolnick et al., 2009).

Alguns aspectos importantes, como a variabilidade sazonal, ontogenética e

sexual no uso de recursos raramente tem sido abordados (Araújo, Dos Reis et al., 2007).

É justamente o nicho trófico o foco de estudos recentes sobre interações

intraespecíficas, como a especialização individual (Bolnick, Yang et al., 2002; Bolnick,

Svanback et al., 2003; Costa, Mesquita et al., 2008; Araújo, Bolnick et al., 2011). Esses

estudos tem encontrado que, mesmo em uma única espécie, os indivíduos podem variar

Page 19: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · vocês que fazem do nosso Laboratório de Anfíbios e Répteis o verdadeiro LAR. Para finalizar quero agradecer ao ICMBio

19

suas dietas em face de, por exemplo, uma escassez de recursos e dessa forma evitar a

competição intraespecífica.

Page 20: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · vocês que fazem do nosso Laboratório de Anfíbios e Répteis o verdadeiro LAR. Para finalizar quero agradecer ao ICMBio

20

OBJETIVOS

Objetivo central

Verificar a existência de estrutura trófica em uma taxocenose de anfíbios

terrícolas, considerando o efeito da filogenia e da sazonalidade sobre a especialização

individual de uma população de anuros em uma área de ecótono entre Caatinga e Mata

Atlântica.

Objetivos específicos

1) Analisar a estruturação da taxocenose com base no uso de recursos

alimentares (dieta) de 30 indivíduos de cada espécie durante o período chuvoso,

considerando a filogenia das espécies em questão.

2) Testar diferenças individuais e populacionais no uso de recursos alimentares

em Leptodactylus macrosternum entre os períodos seco e chuvoso.

Page 21: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · vocês que fazem do nosso Laboratório de Anfíbios e Répteis o verdadeiro LAR. Para finalizar quero agradecer ao ICMBio

21

Capítulo 1

Estrutura trófica de uma taxocenose de anfíbios terrícolas e o efeito da filogenia

em uma área de transição entre Mata Atlântica e Caatinga.

1 INTRODUÇÃO

A composição e a diversidade de uma comunidade podem ser influenciadas por

processos históricos (Ricklefs e Schluter, 1993), neutros (Hubbell, 2001) ou por

características do nicho das espécies (Tilman, 1982). A contribuição relativa de cada um

desses processos, por sua vez, é o ponto central do debate sobre a montagem das

comunidades atuais (Cavender-Bares, Kozak et al., 2009). Ainda, a escala em

consideração também é importante, pois processos como especiação e migração

ocorrem na escala regional, enquanto interações entre espécies e seu ambiente são

fenômenos locais (Ricklefs, 1987). Igualmente, a contribuição de cada um desses

fatores muda ao longo da escala de tempo observada, com fatores históricos como

especiação e fenômenos biogeográficos atuando em escalas de tempo mais longas.

Assim, o estudo atual da formação e estruturação das comunidades necessita da

integração das relações filogenéticas entre as espécies em estudo (Cavender-Bares,

Kozak et al., 2009; Vamosi, Heard et al., 2009; Rabosky, Cowan et al., 2011).

Além de estudos que considerem a estrutura filogenética de diversas

comunidades, a estrutura de uma determinada comunidade baseada em um aspecto do

nicho das espécies em estudo pode ser melhor avaliada pela incorporação das relações

filogenéticas de seus membros (Webb, Ackerly et al., 2002). Com efeito, sem

informações sobre o nicho das espécies não é possível separar a contribuição relativa do

filtro de habitat, da competição, de processos neutros e processos históricos (Cooper,

Page 22: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · vocês que fazem do nosso Laboratório de Anfíbios e Répteis o verdadeiro LAR. Para finalizar quero agradecer ao ICMBio

22

Rodriguez et al., 2008; Garda, Wiederhecker et al., 2013). Apesar disso, muitos

trabalhos com estrutura de comunidades ainda não incorporam todas essas informações,

e a maioria dos trabalhos feitos até o presente estão centrados em plantas vasculares e

animais terrestres (Vamosi, Heard et al., 2009). Mesmo para grupos de vertebrados

amplamente estudados como anfíbios o estudo da estrutura de comunidades ainda é

largamente descritivo (Wells, 2007).

Historicamente, a estrutura de comunidades de anfíbios adultos têm sido

estudada com base em no hábitat e microhábitat (Eterovick e Sazima, 2000; Von May,

Jacobs et al., 2010; Rojas-Ahumada, Landeiro et al., 2012) na dieta (Toft, 1980a; 1981),

e em aspectos temporais da reprodução (Aichinger, 1987; Sabbag e Zina, 2011).

Intuitivamente, devido à variabilidade morfológica associada a determinados clados em

anfíbios (p. ex. pererecas são arborícolas, rãs são aquáticas), supomos que exista um

efeito significativo das relações filogenéticas sobre a estrutura das comunidades de

anfíbios. Entretanto, pouquíssimos trabalhos consideraram explicitamente as relações

filogenéticas entre as espécies de uma comunidade de anfíbios anuros ao avaliar a

estruturação do nicho (Eterovick, Rievers et al., 2010)), e nenhum ainda foi feito para o

nicho trófico.

A riqueza de uma dada comunidade de organismos depende de fatores locais e

fatores regionais. No entanto, existem processos que atuam numa escala geográfica

maior, de modo que dados de sistemática, biogeografia e paleontologia podem auxiliar

na investigação da diversidade de uma comunidade (Ricklefs, 1987). Apesar da

influência de outras interações, o papel da predação ainda é considerado relevante na

formação e na composição das comunidades. Num trabalho realizado na Serra do Cipó

(Eterovick e Sazima, 2000) encontrou se uma relação entre as abundâncias relativas de

Page 23: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · vocês que fazem do nosso Laboratório de Anfíbios e Répteis o verdadeiro LAR. Para finalizar quero agradecer ao ICMBio

23

anuros e de seus predadores, sugerindo um papel importante da predação no controle

das populações de anfíbios.

Ao considerarmos a filogenia das espécies que compõe uma comunidade,

podemos elucidar questões sobre comunidades aparentadas, mas ocupando ambientes

diferentes, além de entender porque certas comunidades se assemelham ou se diferem

(Losos, 1996). Ao considerar essas relações entre as espécies melhoramos a

compreensão de processos e padrões de formação e estruturação da comunidade. Alguns

aspectos importantes para esse aumento da utilização da história evolutiva e das

relações filogenéticas são o crescimento de informação filogenética, os avanços em

áreas como informática e o surgimento de grandes bases de dados com essas

informações (Cavender-Bares, Kozak et al., 2009).

Os fatores que estruturam uma comunidade podem ser vistos como causas

proximais e finais. Causas proximais são responsáveis pela investigação de processos

dentro da comunidade e o seu efeito na estrutura, enquanto que causas finais estão

relacionadas com a organização de uma determinada comunidade e as diferenças entre

uma ou mais comunidades (Losos, 1996). Para uma comunidade estar estruturada em

nível trófico as espécies devem se alimentar de categorias diferentes de presas, o que

pode ser ocasionado por diversos fatores ecológicos ou históricos.

A maior parte dos trabalhos sobre comunidades de anuros tem foco local,

estudando apenas parte da comunidade, como a assembléia de anuros de serrapilheira

ou os girinos de determinada lagoa, porém tais interações podem ser afetadas por

processos que demandam longos intervalos de espaço e de tempo (Wells, 2007). Alguns

estudos visaram esclarecer os padrões de distribuição dos anfíbios nos microhabitats,

muitas vezes relacionando a abundância das espécies a variáveis abióticas (Eterovick e

Sazima, 2000; Blair e Doan, 2009). Em sua maioria, esses estudos possuem cunho

Page 24: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · vocês que fazem do nosso Laboratório de Anfíbios e Répteis o verdadeiro LAR. Para finalizar quero agradecer ao ICMBio

24

descritivo. Alguns trabalhos têm levado as relações filogenéticas em consideração para

a análise da estrutura de comunidades em anfíbios adultos (Zimmerman e Simberloff,

1996; Eterovick, Rievers et al., 2010).

A dieta de uma espécie pode estar relacionada a fatores históricos (Mesquita,

Colli et al., 2007). Ainda assim, nenhum trabalho até o momento avaliou a estruturação

das relações tróficas numa comunidade de anuros levando em conta a relação

filogenética entre estas espécies.

A taxocenose de anuros terrícolas da Escola Agrícola de Jundiaí (Macaíba, RN)

apresenta pelo menos 32 espécies de anfíbios anuros, sendo 16 com hábito terrícola

(Magalhães, Dantas et al., 2013). Todas essas 16 espécies partilham ambientes

semelhantes de reprodução e forrageio.

Esse trabalho visa responder às seguintes questões: a taxocenose de anuros

terrícolas está estruturada? Essa estrutura se deve às relações filogenéticas entre as

espécies?

Page 25: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · vocês que fazem do nosso Laboratório de Anfíbios e Répteis o verdadeiro LAR. Para finalizar quero agradecer ao ICMBio

25

2 MATERIAL E MÉTODOS

2.1 Área de Estudo

A Escola Agrícola de Jundiaí (EAJ), localizada na RN-160, km 3, município de

Macaíba - RN (5º53’06.68’’S 35º22’01.28’’O), apresenta vegetação com característica

ecotonal, com um fragmento de floresta decídua em área de transição entre Mata

Atlântica e Caatinga (Cestaro e Soares, 2004). A área apresenta um gradiente de

vegetação, incluindo áreas abertas até mais densas e praticamente intocadas, formando

áreas de floresta com serapilheira.

Há dois períodos climáticos bem definidos, com as maiores precipitações

ocorrendo entre março e setembro e o período de seca tem seu auge entre novembro e

janeiro.

Page 26: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · vocês que fazem do nosso Laboratório de Anfíbios e Répteis o verdadeiro LAR. Para finalizar quero agradecer ao ICMBio

26

Figura 1. Localização da área de estudo, Escola Agrícola de Jundiaí, Macaíba – RN, Brasil e dos

dois grandes Domínios morfoclimáticos da região.

2.2 Amostragem dos dados

Nós analisamos a dieta de 16 espécies de anuros com hábito terrestre,

pertencentes a oito gêneros e cinco famílias (Bufonidae, Cycloramphidae, Leiuperidae,

Leptodactylidae e Microhylidae): Leptodactylus macrosternum, L. vastus, L. fuscus, L.

caatingae, L. mystaceus, L. troglodytes, L. natalensis, Physalaemus cuvieri, P. kroyeri,

Pseudopaludicola sp., Proceratophrys cristiceps, Pleurodema diplolister, Rhinella

granulosa, R. jimi, Dermatonotus muelleri e Elachistocleis cesarii.

Nós utilizamos espécimes coletados durante o período reprodutivo das espécies,

que coincide com o período chuvoso, bem como exemplares depositados na Coleção do

Laboratório de Anfíbios e Répteis da UFRN (CLAR-UFRN), a fim de atingir uma

Page 27: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · vocês que fazem do nosso Laboratório de Anfíbios e Répteis o verdadeiro LAR. Para finalizar quero agradecer ao ICMBio

27

amostragem mínima de trinta indivíduos por espécie. Todas as coletas foram manuais e

ocorreram ao longo das trilhas e corpos d’água presentes na área durante a estação

reprodutiva.

2.3 Análise dos dados

2.3.1 Eficiência da amostragem

Para verificar a eficácia da amostragem da dieta foi elaborada uma curva de

rerefação para cada espécie (Gotelli e Colwell, 2001), com uma matriz de presença (1) e

ausência (0). o número de indivíduos por espécie, com as categorias de presas usadas

pela aquela espécie nas linhas e os indivíduos por espécie nas colunas, com auxílio do

programa Estimates (Colwell, 2006). Sete estimadores (Chao 1, Chao 2, Bootstrap, Jack

1, Jack 2, ICE e ACE) de riqueza foram testados através de regressão para verificar qual

representava melhor o conjunto de dados (Brose, Martinez et al., 2003; Walther e

Moore, 2005). Foi escolhido aquele com um maior coeficiente de determinação (r2) e a

menor diferença entre 1 e a inclinação da reta de regressão relacionando a riqueza

esperada à observada (Brose, Martinez et al., 2003; Walther e Moore, 2005).

2.3.2 Composição da dieta

Em laboratório nós dissecamos os estômagos e analisamos os conteúdos com o auxílio

de um microscópio estereoscópico, identificando as presas ao nível de ordem, com

exceção de himenóptera onde separamos Formicidae dos demais representantes do

táxon. Para Leptodactylus mystaceus, também utilizamos lavagem estomacal descrita

por Solé et al.(2005). As presas foram quantificadas e, quando inteiras, seu

Page 28: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · vocês que fazem do nosso Laboratório de Anfíbios e Répteis o verdadeiro LAR. Para finalizar quero agradecer ao ICMBio

28

comprimento e largura foram medidos com paquímetro digital de precisão (0,01 mm)

Mitutoyo®. O volume (V) de cada presa foi calculado usando a fórmula do volume

elipsóide (Mesquita, Costa et al., 2004), dado pela fórmula:

,

onde “w” representa a largura e “l” o comprimento da presa. O volume foi utilizado

para estimar o índice de importância relativa de presas na dieta das espécie.

O índice de importância relativa (IRI) foi usado para determinar a importância

relativa de cada categoria de presa por espécie(Pinkas, Oliphant et al., 1971). Este

índice considera a porcentagem numérica (N%), porcentagem volumétrica (V%) e a

porcentagem de ocorrência (F%) de cada categoria de presa.

%)%%( VNFIRI

2.3.3 Estrutura na taxocenose

Para avaliar a presença de estrutura na taxocenose estudada foi calculada a

sobreposição de nicho entre as espécies, em relação ao índice de importância relativa

das presas, por meio da equação de sobreposição de nicho de Pianka (1973):

n

i

n

i

ikij

n

i

ikij

jk

pp

pp

1 1

22

1

onde “P” representa a proporção das categorias de presas (i) enquanto “j” e “k”

representam os pares de espécies que estão sendo comparados. O índice varia entre 0 e

1, sendo 0 nenhuma sobreposição e 1 completa sobreposição.

Page 29: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · vocês que fazem do nosso Laboratório de Anfíbios e Répteis o verdadeiro LAR. Para finalizar quero agradecer ao ICMBio

29

O módulo de sobreposição de nicho do programa Ecosim (Gotelli e Entsminger,

2004) foi usado para verificar a presença de padrões não-aleatórios na sobreposição do

nicho trófico . Os dados nessa análise compreendem uma matriz onde as espécies de

anuros são as linhas e as categorias de presas são as colunas. As células são preenchidas

com os índices de importância relativa de cada categoria de presa por espécie de anuro.

2.3.4 Efeito da filogenia na taxocenose

Para avaliar o efeito da filogenia na estruturação da taxocenose foi utilizada uma

análise de Ordenação Filogenética Canônica (Giannini, 2003). Essa análise é uma

modificação da análise de correspondência canônica (Terbraak, 1986) que maximiza a

associação entre duas matrizes de dados, uma matriz de dieta e uma matriz com as

relações filogenéticas. A matriz de dieta é composta pelos índices de importância

relativa das categorias de presas por espécie (Tabela 1), com as categorias de presas nas

linhas e as espécies nas colunas, enquanto a matriz das relações filogenéticas é

construída com base na filogenia das espécies (Figura 2). As relações de parentesco

entre as espécies foram obtidas através da elaboração de uma superárvore baseada em

filogenias disponíveis na literatura (Faivovich, Haddad et al., 2005; Frost, Grant et al.,

2006; Pyron e Wiens, 2011) De Sá e Heyer, dados ainda não publicados) Os nós foram

identificados em sequência alfabética de a até n, dos nós mais específicos até os mais

abrangentes. Na matriz de parentesco, as linhas representam as espécies e as colunas os

nós. As espécies pertencentes ao mesmo clado eram marcadas com 1 e as não

pertencentes com 0.

A significância da associação entre as variáveis das matrizes foi testada por meio

de 9.999 randomizações dos dados das matrizes originais, através de permutações de

Monte Carlo. O modelo encontrado foi testado, retirando e acrescentando as variáveis

Page 30: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · vocês que fazem do nosso Laboratório de Anfíbios e Répteis o verdadeiro LAR. Para finalizar quero agradecer ao ICMBio

30

(clados) e testando-as individualmente por passos. Essa análise foi realizada no

programa R 2.11.1, com o pacote Vegan (Development Core Team, 2010).

Page 31: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · vocês que fazem do nosso Laboratório de Anfíbios e Répteis o verdadeiro LAR. Para finalizar quero agradecer ao ICMBio

31

Tabela 1. Índices de importância relativa (IRI) das categorias de presas para cada espécie de anuro da taxocenose.

Presa / Espécie D. m. E. c. L. c. L. f. L. ma. L. m. L. n. L. t. L. v. P. c. P. k. P. d. P. c. P. sp. R. g. R. j.

Formicidae 145,13 2293,49 2158,04 2850,56 1074,13 1002,78 54,47 990,87 254,47 779,80 754,87 2823,65 10,33 289,19 7737,84 4367,58

Isoptera 7602,01 4315,39 --- --- --- --- --- --- --- --- 81,85 --- 2425,81 4,69 290,04 16,44

Larva 0,19 57,36 --- 47,18 794,94 410,45 5402,83 --- 1034,43 1556,12 1455,02 85,19 1,90 78,81 0,54 99,34

Acarina 32,82 30,62 318,27 --- --- --- --- --- --- 1127,05 294,69 --- --- 29,91 0,74 0,35

Hemiptera --- --- --- 181,84 --- 86,62 79,52 --- --- --- --- --- --- --- --- ---

Lepidoptera --- --- --- 50,77 27,97 7,74 59,17 --- --- --- --- 173,04 --- --- --- ---

Coleoptera --- --- 605,69 743,78 1053,03 1156,71 91,07 --- --- 173,79 292,02 1536,90 36,34 171,68 787,59 1482,46

Orthoptera --- --- 772,78 263,16 --- --- 210,26 --- 724,59 --- 5,09 124,38 --- --- --- 0,46

Homoptera --- --- --- --- 176,54 17,99 --- --- --- 2,00 69,88 207,87 --- 531,08 --- 2,33

Aranae --- --- 557,58 29,24 246,99 14,72 119,37 1608,75 --- 1,41 9,63 --- 2,23 23,29 1,01 1,92

Isopoda --- --- --- --- --- --- --- 3204,76 --- 72,03 --- --- --- --- 2,79 ---

Diptera --- --- --- --- 3,20 --- --- --- --- --- 2,28 --- --- 2318,41 --- ---

Chilopoda --- --- --- --- --- 62,19 --- --- --- --- --- --- 31,64 --- --- ---

Diplopoda --- --- --- --- --- --- --- --- 31,71 42,92 --- --- 23,43 --- --- 2,00

Gastropoda --- --- --- --- --- 7,74 --- --- 111,92 3,76 --- --- 1737,96 --- --- 1,37

Hymenoptera --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- 8,46 --- --- ---

Blattaria --- --- --- --- 4,80 94,23 --- --- --- --- --- --- --- --- --- 1,55

Anura --- --- --- --- 19,25 --- --- --- 558,09 --- --- --- --- --- --- ---

Pseudoescorpião --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- 0,37

Opillione --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- 2,70

Dermaptera --- --- --- --- --- 23,49 --- --- --- --- --- --- --- --- --- 0,34

Odonata --- --- --- --- --- --- 51,02 --- --- --- --- --- --- --- --- ---

Mantodea --- --- --- 49,23 --- --- --- --- 28,72 --- 4,71 --- --- --- --- ---

Escorpião --- --- --- --- --- 82,35 --- --- --- --- --- --- --- --- --- ---

R, j,

Nota: D. m-Dermatonotus mulleri, E. c-Elachistocleis cesarii, L. c-Leptodactylus caatingae, L. f-Leptodactylus fuscus, L. ma-Leptodactylus macrosternum, L. m-Leptodactylus mystaceus, L. n-

Leptodactylus natalensis, L. t-Leptodactylus troglodytes, L. v-Leptodactylus vastus, P. c-Physalaemus cuvieri, P. k-Physalaemus kroyeri, P. d-Pleurodema diplolister, P. cr-Proceratophrys

cristiceps, P. sp-Pseudopaludicola sp., R. g-Rhinella granulosa, R. j-Rhinella jimi

Page 32: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · vocês que fazem do nosso Laboratório de Anfíbios e Répteis o verdadeiro LAR. Para finalizar quero agradecer ao ICMBio

32

Figura 2. Superárvore da filogenia usada na análise de Ordenação Canônica Filogenética.

Page 33: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · vocês que fazem do nosso Laboratório de Anfíbios e Répteis o verdadeiro LAR. Para finalizar quero agradecer ao ICMBio

33

3 RESULTADOS

3.1 Eficiência da amostragem

O estimador Bootstrap apresentou melhor ajuste aos dados da dieta das 16

espécies. Apesar do esforço amostral, a curva de rarefação da dieta de algumas espécies

não apresentou uma tendência a se estabilizar. Leptodactylus caatingae, L. fuscus, L.

natalensis, L. troglodytes e Rhinella jimi demonstraram uma grande diferença entre as

curvas observada e esperada. (Figura 3)

Figura 3. Curvas de riqueza das categorias de presas por indivíduos para cada espécie de anuro da

taxocenose. Os círculos representam a riqueza esperada e a linha a riqueza encontrada.

Page 34: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · vocês que fazem do nosso Laboratório de Anfíbios e Répteis o verdadeiro LAR. Para finalizar quero agradecer ao ICMBio

34

Figura 3. Curvas de riqueza das categorias de presas por indivíduos para cada espécie de anuro da

taxocenose. Os círculos representam a riqueza esperada e a linha a riqueza encontrada

(Continuação).

Page 35: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · vocês que fazem do nosso Laboratório de Anfíbios e Répteis o verdadeiro LAR. Para finalizar quero agradecer ao ICMBio

35

Figura 3. Curvas de riqueza das categorias de presas por indivíduos para cada espécie de anuro da

taxocenose. Os círculos representam a riqueza esperada e a linha a riqueza encontrada

(Continuação).

Page 36: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · vocês que fazem do nosso Laboratório de Anfíbios e Répteis o verdadeiro LAR. Para finalizar quero agradecer ao ICMBio

36

Tabela 2. Índices de sobreposição de nicho trófico entre as espécies de anuros da taxocenose.

D. m. E. c. L. c. L. f. L. ch. L. ma. L. n. L. t. L. v. P. c. P. k. P. d. P. cr. P. sp. R. g. R. j.

D. m. 0,89 0,02 0,02 0,01 0,01 0,00 0,00 0,00 0,01 0,06 0,02 0,81 0,00 0,06 0,02

E. c. 0,42 0,46 0,30 0,31 0,02 0,12 0,10 0,19 0,26 0,41 0,72 0,06 0,50 0,45

L. c. 0,92 0,73 0,74 0,03 0,33 0,33 0,42 0,46 0,90 0,01 0,13 0,90 0,91

L. f. 0,73 0,77 0,03 0,26 0,21 0,39 0,48 0,95 0,01 0,13 0,99 0,99

L. ch. 0,96 0,48 0,23 0,47 0,63 0,78 0,85 0,01 0,16 0,68 0,79

L. m. 0,28 0,17 0,32 0,5 0,63 0,91 0,01 0,14 0,71 0,84

L. n. 0,01 0,79 0,75 0,87 0,05 0,00 0,04 0,01 0,04

L. t. 0,05 0,13 0,12 0,23 0,00 0,04 0,26 0,25

L. v. 0,64 0,74 0,21 0,05 0,05 0,19 0,20

P. c. 0,92 0,39 0,00 0,08 0,38 0,40

P. k. 0,50 0,04 0,11 0,46 0,50

P. d. 0,01 0,15 0,92 0,98

P. cr. 0,00 0,04 0,01

P. sp. 0,13 0,14

R. g. 0,97

Nota: D. m-Dermatonotus mulleri, E. c-Elachistocleis cesarii, L. c-Leptodactylus caatingae, L. f-Leptodactylus fuscus, L. ma-Leptodactylus macrosternum, L. m-

Leptodactylus mystaceus, L. n-Leptodactylus natalensis, L. t-Leptodactylus troglodytes, L. v-Leptodactylus vastus, P. c-Physalaemus cuvieri, P. k-Physalaemus kroyeri, P. d-

Pleurodema diplolister, P. cr-Proceratophrys cristiceps, P. sp-Pseudopaludicola sp., R. g-Rhinella granulose, R. j-Rhinella jimi.

Page 37: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · vocês que fazem do nosso Laboratório de Anfíbios e Répteis o verdadeiro LAR. Para finalizar quero agradecer ao ICMBio

37

3.2 Composição da dieta e estrutura da taxocenose

Um total de 24 categorias de presas foi encontrado nas análises do conteúdo

estomacal das 16 espécies de anuros (Tabela 2). A sobreposição de nicho média

observada foi baixa (0,35), e significativamente menor do que o esperado ao acaso (P =

0,04). Leptodactylus fuscus e Rhinella jimi apresentaram a maior sobreposição de nicho

trófico (0,98) e R. jimi se alimentou de mais categorias de presas (n =13), mas com

Formicidae apresentando o maior índice de importância relativa (4367,58).

3.3 Efeito da filogenia na taxocenose

Existe um forte sinal filogenético na estrutura trófica da taxocenose analisada (F

10,5 = 2, 95 e P < 0,01). A Ordenação Canônica Filogenética de modelo reduzido

mostrou que a variável mais associada ao sinal filogenético, é o nó m (F 1,14 = 3,59 e P <

0,01), o qual representa um estoque ancestral das famílias Leptodactylidae, Leiuperidae

e Bufonidae. Os representantes desta família correspondem a X% da taxocenose. , ou

seja, provavelmente as relações tróficas atuais são fruto das relações de ancestralidade

entre as espécies de anuros e não de interações ecológicas atuais.

Page 38: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · vocês que fazem do nosso Laboratório de Anfíbios e Répteis o verdadeiro LAR. Para finalizar quero agradecer ao ICMBio

38

4 DISCUSSÃO

O trabalhos pretendeu ir além do que muitos realizados com anfíbios até o

momento, que relacionam as espécies com variáveis ambientais tentando explicar sua

estrutura espacial ou listam os itens de suas dietas. Entretanto, isso não significa que

estes trabalhos não são importantes. Ao contrário, são válidos principalmente devido ao

valor agregado de informação ecológica que eles trazem.

A curva de rarefação da dieta de cinco das espécies (Leptodactylus caatingae, L.

fuscus, L. natalensis, L. troglodytes e Rhinella jimi) não apresentou uma tendência à

estabilização. Contudo, isso não afetou a estruturação da comunidade. Uma nova análise

foi realizada no programa Ecosim sem essas espécies e a sobreposição média observada

continuou baixa (0,33) e significativa (P<0,01).

As espécies de algumas famílias apresentaram uma dieta bastante especializada,

conforme observado em Microhylidae que se alimentou apenas de formigas, cupins e

ácaros. Bufonidae se alimentou de várias categorias de presas, porém formigas

apresentaram os maiores valores de importância relativa, para Rhinella jimi (4367,58) e

para Rhinella granulosa (7737,34). Essa preferência por formigas em bufonídeos já foi

observada em outros trabalhos (Toft, 1980a; 1981).

As espécies da família Leptodactylidae apresentaram a dieta mais generalista,

somando 20 categorias de presas (Tabela 2). Também foi a família mais especiosa, o

que acaba facilitando o encontro de maior diversidade alimentar. A batraquiofagia foi

observada em Leptodactylus vastus e L. macrosternum, que se alimentaram

respectivamente de L. macrosternum e E. cesarii.

Page 39: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · vocês que fazem do nosso Laboratório de Anfíbios e Répteis o verdadeiro LAR. Para finalizar quero agradecer ao ICMBio

39

A taxocenose estudada está estruturada ao longo do eixo trófico, pois as espécies

estão se alimentando de diferentes categorias de presas, apresentando uma sobreposição

de nicho menor do que esperado ao acaso (Pianka, 1973). Podemos dizer que essa

organização diminui a competição interespecífica e permite a coexistência de várias

espécies.

Conforme a Ordenação Canônica Filogenética, o nó que divide Bufonidae e

(Leptodactylidae + Leiuperidae) está correlacionado significativamente com a mudança

na dieta das espécies em questão. Este resultado corrobora a trabalhos que sugerem a

divisão entre espécies que forrageiam preferencialmente em formigas e outros

artrópodes quitinosos de baixa movimentação daquelas que preferem os outros tipos de

presa (Toft, 1985).

Esse efeito da filogenia sobre a dieta contrasta com trabalhos onde a estrutura de

comunidades de anfíbios foi estudada considerando-se as relações filogenéticas das

espécies em questão (Zimmerman e Simberloff, 1996; Eterovick, Rievers et al., 2010).

Eterovick et al. (2010) não encontrou relação entre a filogenia das espécies e a

freqüência no uso dos microhabitats, sugerindo que o uso do microhabitat não é um

bom indicador da filogenia. A combinação entre alta heterogeneidade do habitat e a

grande diversidade de espécies foi considerada responsável pela ausência de sinal

filogenético (Eterovick et al 2010).

Concluímos que a taxocenose de anfíbios estudada está estruturada. No entanto,

essas espécies pertencem a uma comunidade muito maior e eventualmente possuem

interações com diversas outras classes de organismos (Wells, 2007). É válido ressaltar

que é provável que a organização das comunidades seja observável apenas em

determinados estágios, sexos ou períodos climáticos do ano (Toft, 1980b; 1981).

Page 40: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · vocês que fazem do nosso Laboratório de Anfíbios e Répteis o verdadeiro LAR. Para finalizar quero agradecer ao ICMBio

40

Por fim, nesse caso a filogenia pode ser utilizada como um indicador para as

relações tróficas entre espécies de anuros. Contudo, mais trabalhos relacionando

anfíbios com filogenia podem confirmar isso.

Page 41: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · vocês que fazem do nosso Laboratório de Anfíbios e Répteis o verdadeiro LAR. Para finalizar quero agradecer ao ICMBio

41

Capítulo 2

Variação intrapopulacional de nicho trófico e especialização individual em

Leptodactylus macrosternum

1 INTRODUÇÃO

O nicho ecológico já foi considerado uma propriedade do ambiente, definido

como o habitat que a espécie ocupa, englobando as condições ambientais mais

adequadas para a sua sobrevivência (Grinnell, 1917). Por outro lado, o nicho também já

foi definido como uma característica da espécie dentro de uma comunidade, isto é, o

status ou função de um organismo na comunidade (Elton, 1927). Entretanto, os

conceitos de Grinnell e de Elton são mais teóricos do que funcionais. Hutchinson (1957)

propôs um conceito onde o nicho é um hipervolume n-dimensional onde cada dimensão

corresponde à gama de fatores abióticos e bióticos (recursos) utilizados por uma

espécie. Além disso, criou o conceito de nicho fundamental, que corresponde ao total de

recursos passíveis de uso disponíveis no ambiente, e nicho realizado, definido como o

subconjunto desses recursos que a espécie de fato utiliza.

Quando a variação no uso dos recursos dentro da mesma espécie é considerada,

o nicho pode ser subdividido mais ainda. . Nesse caso, a população de uma determinada

espécie, quando estudada em uma escala mais fina, passa a não mais ser vista como

homogênea e sim como conjunto de indivíduos que utilizam parcelas mais estreitas do

nicho total da população (Bolnick, Yang et al., 2002). Essa variação no nicho individual

em uma mesma espécie pode ser estudada por meio da análise da sobreposição dos

nichos de cada indivíduo e da população (Bolnick, Yang et al., 2002).

Page 42: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · vocês que fazem do nosso Laboratório de Anfíbios e Répteis o verdadeiro LAR. Para finalizar quero agradecer ao ICMBio

42

Teoricamente, espera-se uma maior amplitude de nicho populacional em

espécies onde indivíduos possuem nichos mais estreitos e menos sobrepostos com seus

coespecíficos, o que é chamado de especialização individual (EI). Este mecanismo pode

proporcionar redução da competição intraespecífica concomitantemente a uma expansão

do nicho total da população.

Essa variação intraespecífica foi encontrada em diversos táxons (Bolnick,

Svanback et al., 2003). Assim, o indivíduo cujo nicho é substancialmente mais estreito

do que o da sua população por razões não atribuídas ao sexo ou idade, pode ser

considerado como um indivíduo especialista (Bolnick, Svanback et al., 2003).

Figura 4. Diagrama de como os indivíduos podem subdividir o nicho da população. (Bolnick,

Svanback et al., 2003)

A variação da amplitude do nicho em uma população pode ser decomposta na

variação da amplitude individual e na variação da amplitude entre indivíduos. Assim, a

amplitude total do nicho (ATN) de uma população é a soma da variação entre os

Page 43: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · vocês que fazem do nosso Laboratório de Anfíbios e Répteis o verdadeiro LAR. Para finalizar quero agradecer ao ICMBio

43

indivíduos (VEI) dessa população e da variação no uso de um recurso dentro de um

mesmo indivíduo (VDI, Figura 4).

Assim, uma população pode ser composta por vários indivíduos especialistas, o

que automaticamente acarreta numa redução da competição intraespecífica. Com efeito,

a redução nas interações competitivas dentro de uma mesma espécie pode ser favorecida

pela seleção natural (Bolnick, Svanback et al., 2003), e isso pode influenciar

significativamente a ecologia e a evolução de uma população (Araújo, Bolnick et al.,

2009).

A especialização individual foi estudada recentemente em anfíbios neotropicais

(Araújo, Dos Reis et al., 2007; Araújo, Bolnick et al., 2009). Nesses trabalhos os

autores observaram a presença de especialização individual em várias espécies. Além

disso, um deles constatou uma correlação positiva entre a especialização individual e a

amplitude total do nicho da população (Araújo, Dos Reis et al., 2007). Como efeito,

quanto mais especializados os indivíduos, maior a amplitude total do nicho da

população, o que corrobora a hipótese de expansão do nicho através do mecanismo de

especialização individual.

O grau de especialização pode variar entre espécies e os períodos do ano (chuva

ou seca), com maior especialização individual na época de maior abundância de presas

(estação chuvosa), onde também ocorre com uma maior abundância de presas (Araújo

(2007).

A especialização individual e variação de nicho são aspectos relevantes da

ecologia de populações e de comunidades. No entanto, existem poucos estudos

realizados com anfíbios, especialmente em populações e comunidades do Nordeste

Brasileiro. Mais estudos são necessários e padrões estacionais são cruciais para entender

ecologia e desenvolver técnicas de manejo.

Page 44: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · vocês que fazem do nosso Laboratório de Anfíbios e Répteis o verdadeiro LAR. Para finalizar quero agradecer ao ICMBio

44

O cenário de estudo é muito favorável para a investigação de padrões de

variação de nicho, já que apresenta uma espécie (L. macrosternum) que é abundante

durante todo o ano e área sofre forte efeito da sazonalidade, ao menos em sua

fitofisionomia (Cestaro e Soares, 2004).

Desse modo, o objetivo central desse trabalho é verificar existência de

diferenças entre a amplitude de nicho trófico dos indivíduos e nicho trófico

populacional em Leptodactylus macrosternum e se essas diferenças putativas são

afetadas em relação à sazonalidade (seca/chuva).

No presente trabalho testamos as seguintes hipóteses i) a escassez de recurso

acarreta numa maior especialização individual; ii) há maior amplitude de nicho da

população no período de seca.

Page 45: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · vocês que fazem do nosso Laboratório de Anfíbios e Répteis o verdadeiro LAR. Para finalizar quero agradecer ao ICMBio

45

2 MATERIAL E MÉTODOS

2.1 Área de Estudo

A Escola Agrícola de Jundiaí (EAJ), localizada na RN-160, km 3, município de

Macaíba - RN (5º53’06.68’’S 35º22’01.28’’O), apresenta vegetação com característica

ecotonal, com um fragmento de floresta decídua em área de transição entre Mata

Atlântica e Caatinga (Cestaro e Soares, 2004). A área apresenta um gradiente de

vegetação, incluindo áreas abertas até mais densas e praticamente intocadas, formando

áreas de floresta com serapilheira.

Há dois períodos climáticos bem definidos, com as maiores precipitações

ocorrendo entre março e setembro e o período de seca tem seu auge entre novembro e

janeiro.Há dois períodos climáticos bem definidos, com as maiores precipitações

ocorrendo entre março e setembro e o período de seca entre novembro e janeiro.

Page 46: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · vocês que fazem do nosso Laboratório de Anfíbios e Répteis o verdadeiro LAR. Para finalizar quero agradecer ao ICMBio

46

Figura 5. Localização da área de estudo, Escola Agrícola de Jundiaí, Macaíba – RN, Brasil e dos

dois grandes biomas da região.

2.2 Amostragem dos dados

Para a análise de variação intrapopulacional na dieta em Leptodactylus

macrosternum, foi comparado o uso do recurso alimentar pelos indivíduos entre os

períodos (chuva e seca) pelo índice de especialização individual (EI). Os indivíduos

foram coletados manualmente entre outubro de 2010 a setembro de 2011, em áreas

alagadas e ao longo do rio Jundiaí. Cada indivíduo foi marcado pela ablação de artelhos

(Waichman (1992). Essa técnica foi escolhida por utilizar um número menor de

amputações e abranger uma quantidade suficiente de marcações para o trabalho. Os

indivíduos foram liberados logo após o procedimento. A dieta foi obtida através de

lavagem estomacal (Solé, Beckmann et al., 2005).

Page 47: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · vocês que fazem do nosso Laboratório de Anfíbios e Répteis o verdadeiro LAR. Para finalizar quero agradecer ao ICMBio

47

Após a captura dos animais, introduzíamos um tubo de silicone com 10 mm no

esôfago até atingir o estômago. Com cuidado era inserida água do próprio corpo d’água

onde o indivíduo foi encontrado, através de uma seringa de 20 ml, expulsando dessa

forma o conteúdo estomacal para fora do estômago. O conteúdo estomacal era colocado

em filtro de papel e posteriormente dentro de tubos Falcon com álcool 70% para análise

em laboratório. Os conteúdos estomacais obtidos foram conservados em álcool 70% e

as presas foram identificadas com o auxílio de lupa estereoscópica. As categorias foram

identificadas até o nível de ordem, com exceção de Hymenoptera que foi subdividida

em Formicidae e os demais grupos.

2.3 Análise dos dados

2.3.1 Especialização individual e variação intrapopulacional na dieta em L.

macrosternum

Existem quatro índices para medir a especialização individual (Bolnick, Yang et

al., 2002). O índice utilizado nesse trabalho foi a especialização individual (EI), que

fornece a média de similaridade proporcional entre os indivíduos e a população,

estimando o grau de especialização individual da população através da média da EI dos

indivíduos. O índice V utilizado é a conversão dos resultados de EI, onde V=1-EI;

quando maior o valor de V, maior a EI.

O índice EI foi utilizado para comparar a variação da amplitude de nicho trófico

e a presença de especialização individual entre os períodos de seca e chuva. Os meses

com uma precipitação acima de 140 mm foram considerados chuvosos. A

Page 48: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · vocês que fazem do nosso Laboratório de Anfíbios e Répteis o verdadeiro LAR. Para finalizar quero agradecer ao ICMBio

48

especialização individual foi avaliada a partir da elaboração de duas matrizes, uma para

o período de seca e a outra para o período de chuva, com o número de presas

consumidas por cada indivíduo de Leptodactylus macrosternum em cada uma das 25

categorias de presas, e com 1000 replicações. Essa análise foi realizada com o programa

R 2.11.1, com o pacote RIS, (R Development Core Team, 2010).

Uma vez que encontradas diferenças entre os índices de especialização

individual para seca e chuva e entre as amplitudes de nicho individual também para os

dois períodos, foram realizadas Análises de Variância (ANOVA) para testar a

significância dessas diferenças.

Os indivíduos que foram capturados mais de uma vez ao longo do estudo, em

períodos diferentes (seca / chuva), foram colocados nas duas matrizes.

Page 49: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · vocês que fazem do nosso Laboratório de Anfíbios e Répteis o verdadeiro LAR. Para finalizar quero agradecer ao ICMBio

49

3 RESULTADOS

3.1 Especialização individual e variação intrapopulacional na dieta de

Leptodactylus macrosternum

Analisamos 216 conteúdos estomacais de Leptodactylus macrosternum no

período de seca e 231 no período de chuva. Dos 385 indivíduos marcados, 91 foram

recapturados, sendo 61 indivíduos com apenas uma recaptura, 14 com duas recapturas,

quatro com três recapturas, um com quatro recapturas e um indivíduo com seis

recapturas, totalizando 447 amostras de conteúdo estomacal, contudo 100 amostras

foram vazias. Encontramos 25 categorias de presas, incluindo a ingestão de vertebrados,

a partir da dieta de 347 amostras, verificamos um maior índice de especialização

individual para a população durante o período de seca (EI = 0,19; V = 0,80; P < 0,05) do

que para o período chuvoso (EI = 0,27; V = 0,75; P < 0,05). A diferença na EI entre as

estações foi significativa (F 1,345 = 28,11; P < 0,01).

Houve diferença na especialização individual entre os períodos, no período de

seca há maior variação entre os indivíduos e menor variação dentro de cada indivíduo

(aumento da especialização individual), do que no período chuvoso.

A média da amplitude do nicho da população foi maior na seca (2,47) do que no

período de chuva (2,27). No entanto, a média da amplitude de nicho individual (ANI)

foi maior para o período de chuva (0,20) do que para o período de seca (0,15), (F 1,345 =

11,66; P < 0,01).

Page 50: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · vocês que fazem do nosso Laboratório de Anfíbios e Répteis o verdadeiro LAR. Para finalizar quero agradecer ao ICMBio

50

Figura 6. Boxplot da distribuição das amplitudes de nicho individual (ANI) para os períodos de

chuva e seca em L. macrosternum.

Page 51: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · vocês que fazem do nosso Laboratório de Anfíbios e Répteis o verdadeiro LAR. Para finalizar quero agradecer ao ICMBio

51

4 DISCUSSÃO

A dieta de Leptodactylus macrosternum foi bastante variada, apresentando 25

categorias de presas. A maior especialização individual na seca pode ser resultado do

aumento da competição intraespecífica (Bolnick, Yang et al., 2002; Svanback e

Bolnick, 2007), onde os indivíduos a se especializam em determinada categoria de

presa. . A amplitude do nicho de uma espécie é o resultado da soma da variação entre

indivíduos e a variação individual (Bolnick, Svanback et al., 2003). O nosso resultado

mostrou uma maior amplitude de nicho populacional para o período de seca, onde

também ocorreu maior variação entre os indivíduos. É esperado que populações com

maior amplitude de nicho possuam maior diferença na variação entre seus indivíduos

(Van Valen, 1965),

Há menor sobreposição de nicho trófico individual na seca, já que houve maior

amplitude de nicho média para a população, mas com maior variação entre os

indivíduos. Na área de estudo há um grande números de espécies com hábito terrícola e

L. macrosternum possui ampla distribuição pelo ambiente. Em áreas com grande

diversidade não é esperado liberação competitiva, geralmente relacionada com a EI, e as

causas para especialização individual nesses ambientes ainda são desconhecidas

(Araújo, Bolnick et al., 2009).

Na Caatinga existe correlação positiva entre a diversidade de insetos e a

precipitação pluviométrica (Vasconcellos, Andreazze et al., 2010). Desta forma, o

presente resultado corrobora a hipótese de especialização individual, pois foi verificada

a EI para o período de menor diversidade e disponibilidade de presas.

Page 52: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · vocês que fazem do nosso Laboratório de Anfíbios e Répteis o verdadeiro LAR. Para finalizar quero agradecer ao ICMBio

52

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AICHINGER, M. Annual activity patterns of anurans in a seasonal neotropical

environment. Oecologia, v. 71, n. 4, p. 583-592, 1987.

ARAÚJO, M. S.; BOLNICK, D. I.; LAYMAN, C. A. The ecological causes of

individual specialization. Ecology Letters, v. 14, n. 9, p. 948-958, Sep 2011. ISSN

1461-023X. Disponível em: < <Go to ISI>://WOS:000293628300015 >.

ARAÚJO, M. S. et al. Individual-level diet variation in four species of Brazilian frogs.

Journal of Animal Ecology, v. 78, n. 4, p. 848-856, 2009. ISSN 00218790

ARAÚJO, M. S. et al. Intrapopulation diet variation in four frogs (Leptodactylidae) of

the Brazilian Savannah. Copeia, n. 4, p. 855-865, Dec 2007. ISSN 0045-8511.

Disponível em: < <Go to ISI>://000252100300009 >.

BEGON, M.; TOWNSEND, C. R.; HARPER, J. L. Ecologia: de indivíduos a

ecossistemas. 4. Porto Alegre: Artmed, 2007. 752

BLAIR, C.; DOAN, T. M. Patterns of Community Structure and Microhabitat Usage in

Peruvian Pristimantis (Anura: Strabomantidae). Copeia, v. 2, p. 303-312, 2009.

BOLNICK, D. I. et al. The ecology of Individuals: incidence and implications of

individual specialization. The american naturalist, v. 161, p. 1-25, 2003.

BOLNICK, D. I. et al. Measuring individual-level resource specialization. Ecology, v.

83, n. 10, p. 2936-2941, 2002.

BROSE, U.; MARTINEZ, N. D.; WILLIAMS, R. J. Estimating species richness:

Sensitivity to sample coverage and insensitivity to spatial patterns. Ecology, v. 84, n. 9,

p. 2364-2377, Sep 2003. ISSN 0012-9658. Disponível em: < <Go to

ISI>://WOS:000185226100012 >.

CAVENDER-BARES, J. et al. The merging of community ecology and phylogenetic

biology. Ecology Letters, v. 12, n. 7, p. 693-715, 2009. ISSN 1461023X

14610248.

CESTARO, L. A.; SOARES, J. J. Variações florística e estrutural e relações

fitogeográficas de um fragmento de floresta decídua no Rio Grande do Norte, Brasil.

Acta Botanica Brasilica, v. 18, n. 2, p. 203-218, 2004.

CLEMENTS, F. E. Plant succession: an analysis of the development of vegetation.

Washington: Carnegie Institute of Washington Publication, 1916.

Page 53: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · vocês que fazem do nosso Laboratório de Anfíbios e Répteis o verdadeiro LAR. Para finalizar quero agradecer ao ICMBio

53

COLWELL, R. K. EstimateS Statistical estimation of species richness and shared

species from samples 2006.

COOPER, N.; RODRIGUEZ, J.; PURVIS, A. A common tendency for phylogenetic

overdispersion in mammalian assemblages. Proceedings of the Royal Society B-

Biological Sciences, v. 275, n. 1646, p. 2031–2037, 2008.

COSTA, GABRIEL C. et al. Niche Expansion and the Niche Variation Hypothesis:

Does the Degree of Individual Variation Increase in Depauperate Assemblages? The

american naturalist, v. 172, n. 6, p. 868-877, 2008. ISSN 0003-0147

1537-5323.

DEVELOPMENT CORE TEAM, R. R: A language and environment for statistical

computing. Vienna 2010.

ELTON, C. S. Animal Ecology. Nova York: The Macmillan Company, 1927.

ETEROVICK, P. C.; BARROS, I. S. Niche occupancy in south-eastern Brazilian

tadpole communities in montane-meadow streams. Journal of Tropical Ecology, v. 19,

p. 439-448, Jul 2003. ISSN 0266-4674. Disponível em: < <Go to

ISI>://WOS:000184650700008 >.

ETEROVICK, P. C.; FERNANDES, G. W. Tadpole distribution within montane

meadow streams at the Serra do Cipo, southeastern Brazil: ecological or phylogenetic

constraints? Journal of Tropical Ecology, v. 17, p. 683-693, Sep 2001. ISSN 0266-

4674. Disponível em: < <Go to ISI>://WOS:000172582800004 >.

ETEROVICK, P. C. et al. Seasonal variation of tadpole spatial niches in permanent

streams: The roles of predation risk and microhabitat availability. Austral Ecology, v.

35, n. 8, p. 879-887, Dec 2010. ISSN 1442-9985. Disponível em: < <Go to

ISI>://WOS:000284643700005 >.

ETEROVICK, P. C. et al. Lack of phylogenetic signal in the variation in anuran

microhabitat use in southeastern Brazil. Evolutionary ecology, v. 24, n. 1, p. 1-24,

2010. ISSN 0269-7653

1573-8477.

ETEROVICK, P. C.; SAZIMA, I. Structure of an anuran community in a montane

meadow in southeastern Brazil: effects of seasonality, habitat, and predation.

Amphibia-Reptilia, v. 21, n. 4, p. 439-461, 2000. ISSN 0173-5373. Disponível em: <

<Go to ISI>://000167243500004 >.

FAIVOVICH, J. et al. Systematic review of the frog family hylidae, with special

reference to hylinae: phylogenetic analysis and taxonomic revision. Bulletin of the

American Museum of Natural History, n. 294, p. 6-228, 2005 2005. ISSN 0003-0090.

Disponível em: < <Go to ISI>://WOS:000230125900001 >.

Page 54: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · vocês que fazem do nosso Laboratório de Anfíbios e Répteis o verdadeiro LAR. Para finalizar quero agradecer ao ICMBio

54

FROST, D. R. et al. The amphibian tree of life. Bulletin of the American Museum of

Natural History, n. 297, p. 8-+, 2006. ISSN 0003-0090. Disponível em: < <Go to

ISI>://000236071500001 >.

GARDA, A. A. et al. Microhabitat variation explains local-scale distribution of

terrestrial amazonian lizards in rondônia, western Brazil. Biotropica, v. 45, n. 2, p. 245-

252, 2013. ISSN 1744-7429. Disponível em: < http://dx.doi.org/10.1111/j.1744-

7429.2012.00906.x >.

GIANNINI, N. P. Canonical phylogenetic ordination. Systematic Biology, v. 52, n. 5,

p. 684-695, Oct 2003. ISSN 1063-5157. Disponível em: < <Go to

ISI>://WOS:000185732500009 >.

GLEASON, H. A. The individualistic concept of the plant association. Bulletin of the

Torrey Botanical Club, v. 53, p. 7-26, 1926.

GOTELLI, N. J.; COLWELL, R. K. Quantifying biodiversity: procedures and pitfalls in

the measurement and comparison of species richness. Ecology Letters, v. 4, p. 379-

391, 2001.

GOTELLI, N. J.; ENTSMINGER, G. L. EcoSim: Null Models Software for Ecology

2004.

GRINNELL, J. The niche-relationships of the California Thrasher. Auk, v. 34, p. 427–

433, 1917.

HUBBELL, S. P. The unified neutral theory of biodiversity and biogeography.

Princeton and Oxford: Princeton University Press, 2001. 375

HUTCHINSON, G. E. Population studies - animal ecology and demography -

concluding remarks. Cold Spring Harbor Symposia on Quantitative Biology, v. 22,

p. 415-427, 1957 1957. ISSN 0091-7451. Disponível em: < <Go to

ISI>://WOS:A1957ZW10300036 >.

LOSOS, J. B. Phylogenetic pespectives on comunity ecology. Ecology, v. 77, n. 5, p.

1344-1354, 1996.

MAGALHÃES, F. M. et al. Anurans from an atlantic forest-caatinga ecotone in Rio

Grande do Norte state, Brazil. Herpetology Notes, v. 6, p. 1-10, 2013.

MESQUITA, D. O. et al. Ecology of a Cerrado lizard assemblage in the Jalapao region

of Brazil. Copeia, n. 3, p. 460-471, Sep 15 2006. ISSN 0045-8511. Disponível em: <

<Go to ISI>://000240652400014 >.

MESQUITA, D. O.; COLLI, G. R.; VITT, L. J. Ecological release in lizard assemblages

of neotropical savannas. Oecologia, v. 153, n. 1, p. 185-195, Aug 2007. ISSN 0029-

8549. Disponível em: < <Go to ISI>://000248172800019 >.

Page 55: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · vocês que fazem do nosso Laboratório de Anfíbios e Répteis o verdadeiro LAR. Para finalizar quero agradecer ao ICMBio

55

MESQUITA, D. O.; COSTA, G. C.; ZATZ, M. G. Ecological aspects of the casque-

headed frog Aparasphenodon brunoi (Anura, Hylidae) in a restinga habitat in

southeastern Brazil. Phyllomedusa, v. 3, n. 1, p. 51-59, 2004.

PIANKA, E. R. The structure of lizard communities. Annual Review of Ecology and

Systematics, v. 4, p. 53-74, 1973.

PINKAS, L.; OLIPHANT, M. S.; IVERSON, I. L. K. Food Habits of Albacore, Bluefin

Tuna, and Bonito In California Waters. Marine Resources Region, 1971.

PYRON, R. A.; WIENS, J. J. A large-scale phylogeny of Amphibia including over 2800

species, and a revised classification of extant frogs, salamanders, and caecilians.

Molecular Phylogenetics and Evolution, v. 61, n. 2, p. 543-583, Nov 2011. ISSN

1055-7903. Disponível em: < <Go to ISI>://WOS:000295440600027 >.

RABOSKY, D. L. et al. Species interactions mediate phylogenetic community structure

in a hyperdiverse lizard assemblage from arid australia. The american naturalist, v.

178, n. 5, p. 579-595, 2011. ISSN 00030147. Disponível em: <

http://www.jstor.org/stable/10.1086/662162 >.

RICKLEFS, R. E. Community Diversity - Relative Roles of Local and Regional

Processes. Science, v. 235, n. 4785, p. 167-171, Jan 9 1987. ISSN 0036-8075.

Disponível em: < <Go to ISI>://A1987F534400024 >.

RICKLEFS, R. E. Economia da natureza. 5ª. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,

2003. 498

RICKLEFS, R. E.; SCHLUTER, D. Species diversity in ecological communities:

historical and geographical perspectives. Chiacago: The University of Chicago

Press, 1993. 416

ROJAS-AHUMADA, D. P.; LANDEIRO, V. L.; MENIN, M. Role of environmental

and spatial processes in structuring anuran communities across a tropical rain forest.

Austral Ecology, v. 37, n. 8, p. 865-873, 2012. ISSN 1442-9993. Disponível em: <

http://dx.doi.org/10.1111/j.1442-9993.2011.02330.x >.

SABBAG, A. F.; ZINA, J. Anurans of a riparian forest in São Carlos, state of São

Paulo, Brazil. Biota Neotropica, v. 11, n. 3, p. 179-188, 2011.

SOLÉ, M. et al. Stomach-flushing for diet analysis in anurans: an improved protocol

evaluated in a case study in Araucaria forests, southern Brazil. Studies on Neotropical

Fauna and Environment, v. 40, n. 1, p. 23-28, 2005.

SVANBACK, R.; BOLNICK, D. I. Intraspecific competition drives increased resource

use diversity within a natural population. Proceedings of the Royal Society B-

Biological Sciences, v. 274, n. 1611, p. 839-844, Mar 22 2007. ISSN 0962-8452.

Disponível em: < <Go to ISI>://WOS:000243842100011 >.

Page 56: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · vocês que fazem do nosso Laboratório de Anfíbios e Répteis o verdadeiro LAR. Para finalizar quero agradecer ao ICMBio

56

TERBRAAK, C. J. F. Canonical correspondence-analysis - a new eigenvector technique

for multivariate direct gradient analysis. Ecology, v. 67, n. 5, p. 1167-1179, Oct 1986.

ISSN 0012-9658. Disponível em: < <Go to ISI>://WOS:A1986E197900005 >.

TILMAN, D. Resource Competition and Community Structure. Princeton:

Princeton University Press, 1982. 296

TOFT, C. A. Feeding ecology of thriteen syntopic species of Anurans in a seasonal

tropical environment. Oecologia, v. 45, n. 1, p. 131-141, 1980a. ISSN 0029-8549.

Disponível em: < <Go to ISI>://A1980JQ10100020 >.

TOFT, C. A. Seasonal-variation in populations of panamanian litter frogs and their prey

- a comparison of wetter and drier sites. Oecologia, v. 47, n. 1, p. 34-38, 1980b. ISSN

0029-8549. Disponível em: < <Go to ISI>://A1980KP53900005 >.

TOFT, C. A. Feeding ecology of Panamanian litter anurans: patterns in diet and

foraging mode. Journal of Herpetology, v. 15, n. 2, p. 139-144, 1981.

TOFT, C. A. Resource partitioning in Amphibians and Reptiles. Copeia, n. 1, p. 1-21,

1985. ISSN 0045-8511. Disponível em: < <Go to ISI>://A1985ARH6900001 >.

VAMOSI, S. M. et al. Emerging patterns in the comparative analysis of phylogenetic

community structure. Molecular Ecology, v. 18, n. 4, p. 572-592, 2009. ISSN

09621083

1365294X.

VAN VALEN, L. Morphological variation and width of ecological niche. The

american naturalist, v. 99, p. 377-390, 1965.

VASCONCELLOS, A. et al. Seasonality of insects in the semi-arid Caatinga of

northeastern Brazil. Revista Brasileira De Entomologia, v. 54, n. 3, p. 471-476, Jul-

Sep 2010. ISSN 0085-5626. Disponível em: < <Go to ISI>://WOS:000282353600019

>.

VON MAY, R. et al. Amphibian community structure as a function of forest type in

Amazonian Peru. Journal of Tropical Ecology, v. 26, n. 05, p. 509-519, 2010. ISSN

1469-7831. Disponível em: < http://dx.doi.org/10.1017/S0266467410000301 >. Acesso

em: 2010.

WAICHMAN, A. V. An alphanumeric code for toe clipping amphibians and reptiles.

Herpetological Review, v. 23, n. 1, p. 19-21, 1992.

WALTHER, B. A.; MOORE, J. L. The concepts of bias, precision and accuracy, and

their use in testing the performance of species richness estimators, with a literature

review of estimator performance. Ecography, v. 28, n. 6, p. 815-829, Dec 2005. ISSN

0906-7590. Disponível em: < <Go to ISI>://WOS:000233141000011 >.

WEBB, C. O. et al. Phylogenies and community ecology. Annual Review of Ecology

and Systematics, v. 33, n. 1, p. 475-505, 2002. ISSN 0066-4162

0066-4162.

Page 57: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · vocês que fazem do nosso Laboratório de Anfíbios e Répteis o verdadeiro LAR. Para finalizar quero agradecer ao ICMBio

57

WELLS, K. D. The Ecology and behavior of amphibians. University Of Chicago

Press, 2007.

WERNECK, F. P.; COLLI, G. R.; VITT, L. J. Determinants of assemblage structure in

neotropical dry forest lizards. Austral Ecology, v. 34, n. 1, p. 97-115, 2009. ISSN

14429985.

ZIMMERMAN, B. L.; SIMBERLOFF, D. An historical interpretation of habitat use by

frogs in a Central Amazonian Forest. Journal of Biogeography, v. 23, p. 27-46, 1996.