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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE MÚSICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA BRUNO CAMINHA FARIAS ENSINO COLETIVO DE INSTRUMENTOS DE METAL: ASPECTOS METODOLÓGICOS E TÉCNICO-INTERPRETATIVOS A PARTIR DAS ORQUESTRAS DE METAIS LYRA TATUÍ E LYRA BRAGANÇA NATAL RN 2019

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE MÚSICA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA

BRUNO CAMINHA FARIAS

ENSINO COLETIVO DE INSTRUMENTOS DE METAL: ASPECTOS

METODOLÓGICOS E TÉCNICO-INTERPRETATIVOS A PARTIR DAS ORQUESTRAS DE METAIS LYRA TATUÍ E LYRA BRAGANÇA

NATAL – RN 2019

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BRUNO CAMINHA FARIAS

ENSINO COLETIVO DE INSTRUMENTOS DE METAL: ASPECTOS

METODOLÓGICOS E TÉCNICO-INTERPRETATIVOS A PARTIR DAS ORQUESTRAS DE METAIS LYRA TATUÍ E LYRA BRAGANÇA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação

em Música da Universidade Federal do Rio Grande do

Norte, na linha de pesquisa - Processos e dimensões da

produção artística, como requisito para a obtenção do

título de Mestre em Música.

Orientador: Prof. Dr. Radegundis Aranha Tavares

Feitosa.

Coorientador: Prof. Ms. Gilvando Pereira da Silva.

NATAL – RN

2019

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Catalogação de Publicação na Fonte

Biblioteca Setorial Pe. Jaime Diniz - Escola de Música da UFRN

F224e Farias, Bruno Caminha.

Ensino coletivo de instrumentos de metal: aspectos metodológicos e

técnico-interpretativos a partir das Orquestras de Metais Lyra Tatuí e

Lyra Bragança / Bruno Caminha Farias. – Natal, 2019.

134 f.: il. ; 30 cm.

Orientador: Radegundis Aranha Tavares Feitosa.

Coorientador: Gilvando Pereira da Silva.

Dissertação (mestrado) – Escola de Música, Universidade Federal

do Rio Grande do Norte, 2019.

1. Instrumentos de metal (Música) – Ensino Coletivo – Dissertação.

2. Educação Musical – Dissertação. 3. Performance Musical –

Dissertação. I. Orquestra de Metais Lyra Tatuí. II. Orquestra de Metais

Lyra Bragança. III. Feitosa, Radegundis Aranha Tavares. IV. Silva,

Gilvando Pereira da. V. Título.

RN/BS/EMUFRN CDU 78:37

Elaborada por: Elizabeth Sachi Kanzaki – CRB-15/Insc. 293

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BRUNO CAMINHA FARIAS

ENSINO COLETIVO DE INSTRUMENTOS DE METAL: ASPECTOS METODOLÓGICOS E TÉCNICO-INTERPRETATIVOS A PARTIR DAS

ORQUESTRAS DE METAIS LYRA TATUÍ E LYRA BRAGANÇA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, na linha de pesquisa – Processos e dimensões da produção artística, como requisito para a obtenção do título de Mestre em Música.

Aprovada em: 12/11/2019

BANCA EXAMINADORA:

_________________________________________________________ Prof. Dr. Radegundis Aranha Tavares Feitosa Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Orientador

_________________________________________________________ Prof. Dr. Ranilson Bezerra de Farias

Universidade Federal do Rio Grande do Norte Membro da banca

_________________________________________________________ Prof. Dr. Alexandre Magno e Silva Ferreira

Universidade Federal da Paraíba Membro da banca

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Dedico este trabalho a minha amada esposa Gabrielle Silveira; ao nosso filho Vinícius Silveira Farias; e a minha família.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus por tudo que tem me concedido.

Aos próximos a mim, que sempre me deram incentivo e força. Em especial a meu pai, Leonardo

Farias pelo amor, apoio e parceria de sempre. Aos meus irmãos Cintia, Alexandre e Leonardo

Filho que, apesar da distância, sempre estão presentes.

A minha esposa, Gabrielle Silveira, que incansavelmente cuidou do nosso filho e que

continuamente me incentivou nos momentos de dedicação à pesquisa.

Ao nosso filho, Vinícius Silveira Farias, que me possibilitou um novo olhar do mundo e que

nos momentos difíceis me fez espairecer com seu sorriso e alegria.

A Radegundis Aranha Tavares Feitosa pela amizade, orientação competente, confiança e

incentivo durante todo o processo dessa pesquisa.

A Gilvando Pereira da Silva (Azeitona) pela amizade e orientações para o desenvolvimento do

repertório e recitais durante o mestrado.

Aos participantes da pesquisa, Adalto Soares, Silvia Zambonini, Marcus Bonna, Kathia Bonna,

Luis Custódio, Tiago Lattanzi que, prontamente, aceitaram ser entrevistados, e a todos que

fizeram/fazem parte da Orquestra de Metais Lyra Tatuí e da Orquestra de Metais Lyra

Bragança.

A todos os colegas da turma 2018. Abraão, Renato, Gabriel, Ivson, João, Washington,

Welligton, Laís, Marco Cézar, Rodrigo, Mariana, Sérgio e em especial, a Silas por compartilhar

de tantos momentos especiais durantes as aulas, orientações, ensaios e recitais.

A Universidade do Estado do Rio Grande do Norte pela concessão da minha liberação dando-

me a oportunidade de maior dedicação à pesquisa.

E, por fim, aos meus alunos de metais que me inspiraram a propor e desenvolver essa pesquisa.

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RESUMO

A pesquisa aqui apresentada está inserida no limiar entre a performance e a educação musical,

considerando-se aspectos importantes do fazer musical propriamente dito e das possibilidades

de ensino coletivo das situações pesquisadas. Nesse sentido, esta pesquisa tem como objetivo

compreender os principais aspectos metodológicos e técnico-interpretativos que caracterizam a

formação de instrumentistas a partir do ensino coletivo nas Orquestras de Metais Lyra Tatuí

(hoje extinta) e Lyra Bragança. Este trabalho se desenvolveu metodologicamente com base na

pesquisa bibliográfica, análise documental, observação in loco dos projetos pesquisados e

entrevistas semiestruturadas com os coordenadores e professores envolvidos. A partir das

análises e reflexões realizadas, com base nas informações coletadas das Orquestras de Metais

Lyra Tatuí e Lyra Bragança, constatou-se que os aspectos técnicos-interpretativos verificados

são importantes para o desenvolvimento de práticas coletivas, possibilitando ao aluno uma

formação sólida, abrangente e uma atuação diversificada no mercado de trabalho. Dentre estes

aspectos, é possível relacionar: alongamentos e exercícios físicos; atividades direcionadas à

respiração e ao fortalecimento muscular; vibração labial (buzzing); questões sobre sonoridade;

aulas teóricas para esclarecimentos e consolidação; estudos de notas longas; estudos com

articulações e acentuações variadas; estudos de intervalos; estudos de escalas e arpejos em

modelos e articulações variadas; atividades com solfejo e o canto; e práticas de música de

câmara em diversas formações instrumentais. Foi possível também verificar direcionamentos

metodológicos relacionados às particularidades dos alunos na escolha dos materiais didáticos e

do repertório; ao desenvolvimento da autonomia musical dos alunos; às qualidades necessárias

ao docente; às características metodológicas do ensino coletivo, dentre outras questões que se

mostraram fundamentais para pensar e desenvolver práticas com o ensino coletivo de

instrumentos de metal. Dessa forma, espera-se que esta pesquisa possa contribuir de forma

significativa para a prática musical e o ensino coletivo dos instrumentos de metal.

Palavras chave: Performance musical. Educação musical. Ensino coletivo. Instrumentos de

metal.

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ABSTRACT

The research presented here is inserted between the threshold of performance and music

education, in which considers the important aspects of the musical performance and the

possibilities of collective teaching of the investigated situation. Seen in these terms, this

research aims to understand the main interpretive techniques and the methodological aspects

that characterize the formation of instrumentalists of the Brass Lyra Tatuí Orchestra (today

extinct) and The Brass Lyra Bragança Orchestra. This work was based with methodology in

bibliography researches, documentary analysis, in loco observation of the projects and semi-

structured interviews with the informants involved. Based on information collected during the

investigation of The Brass Lyra Tatuí Orchestra and The Brass Lyra Bragança Orchestra it was

verified that the interpretive techniques aspects are important to the development of collective

practices, which contributes to a comprehensive and solid background that enables students to

diversify their entry into the job market. Among these aspects it is possible to relate the

following: stretching and physical exercise; breathing and muscle strengthening activities; lip

vibration (buzzing); sounding questions; theoretical classes for clarification and consolidation;

long note studies; studies with various joints accents in a melodic pattern; interval studies;

studies of scales and arpeggios in models and various articulations; solfeggio and singing

activities; and chamber music practice in a variety of instrumental formations. It was also

possible to present methodological directions related to the importance of considering students'

particularities concerning to the choosing of the didactic materials and the repertoire; the

development of students' musical autonomy; the skills needed for the teacher; the

methodological characteristics of collective teaching; and other directions that are fundamental

when thinking and developing practices with the collective teaching with brass instruments.

Thus, it is hoped that this research can contribute significantly to the musical practice and the

collective teaching of brass instruments.

Keywords: Musical performance. Musical education. Collective teaching. Brass instruments.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Livros didáticos para metais do Projeto Guri .......................................................... 26

Figura 2: Método Tocar Junto para Banda Marcial ................................................................ 26

Figura 3: Método Trombone Fácil .......................................................................................... 26

Figura 4: Da Capo ................................................................................................................... 27

Figura 5: Da Capo Criatividade .............................................................................................. 27

Figura 6: Brasão da Orquestra de Metais Lyra Tatuí .............................................................. 48

Figura 7: Brasão da Orquestra de Metais Lyra Bragança ....................................................... 49

Figura 8: Apresentação da Orquestra de Metais Lyra Bragança e participação ..................... 53

Figura 9: Aula de trompete no Alegretti com Tiago Lattanzi ................................................. 55

Figura 10: Aula de trompa no Alegretti. ................................................................................. 56

Figura 11: Aula de trombone, eufônio e tuba no Alegretti. .................................................... 56

Figura 12: Exercício com lápis ............................................................................................... 58

Figura 13: Exercício de fluxo de ar ......................................................................................... 60

Figura 14: Exercício de vibração labial com glissando .......................................................... 61

Figura 15: Exercício de vibração labial com glissando .......................................................... 61

Figura 16: Aula de teoria musical na MB Cases com Kathia Bonna ...................................... 62

Figura 17: Notas longas com falsetto. ..................................................................................... 64

Figura 18: Exercício de articulação ......................................................................................... 65

Figura 19: Exercício de intervalos .......................................................................................... 66

Figura 20: Exercício de escalas com articulações variadas..................................................... 67

Figura 21: Exercício de escalas. .............................................................................................. 67

Figura 22: Exercício de arpejos com articulações variadas .................................................... 68

Figura 23: Ensaio de música de câmara na Lyra Bragança..................................................... 70

Figura 24: Ensaio de trecho cantado ....................................................................................... 72

Figura 25: Desfile cívico dos 185 anos de Tatuí em 2011. ..................................................... 73

Figura 26: Desfile de 7 de setembro........................................................................................ 74

Figura 27: Belwin 21st Century Band Method ........................................................................ 75

Figura 28: Techniques for Band .............................................................................................. 76

Figura 29: Alongamento das extremidades superiores ........................................................... 89

Figura 30: Alongamento do pescoço e cabeça ........................................................................ 89

Figura 31: Alongamento de ombros e braços ......................................................................... 89

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Figura 32: Alongamento da lateral e pernas ........................................................................... 90

Figura 33: Exercício com Personal Embouchure Training Exerciser – P.E.T.E ................... 92

Figura 34: Exercícios de vibração labial ................................................................................. 95

Figura 35: Exercícios de vibração labial com escalas e arpejos. ............................................ 95

Figura 36: Exercício de notas longas ...................................................................................... 98

Figura 37: Exercício de staccato duplo ................................................................................. 101

Figura 38: Exercício de staccato triplo .................................................................................. 101

Figura 39: Exercício de articulações variadas ....................................................................... 102

Figura 40: Exercício de flexibilidade .................................................................................... 104

Figura 41: Exercício de intervalos ........................................................................................ 106

Figura 42: Repertório para prática de música de câmara ...................................................... 108

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Participantes da pesquisa ....................................................................................... 32

Quadro 2: Equipe organizadora OMLT .................................................................................. 53

Quadro 3: Equipe organizadora OMLB .................................................................................. 54

Quadro 4: Exercício de respiração .......................................................................................... 59

Quadro 5: Processo de iniciação aos instrumentos de metal na OMLT. ................................ 63

Quadro 6: Estratégias de estudo para os instrumentos de metal ............................................. 69

Quadro 7: Articulações ......................................................................................................... 100

Quadro 8: Formação instrumental da banda para desfile. ..................................................... 111

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 14

2 O ESTADO DO CONHECIMENTO E AS ESCOLHAS METODOLÓGICAS DA

PESQUISA .............................................................................................................................. 17

2.1 A pesquisa no limiar entre a performance e a educação musical ................................ 17

2.1.1 A pesquisa sobre prática instrumental ......................................................................... 18

2.1.2 A pesquisa relacionada ao ensino de instrumentos musicais ...................................... 19

2.1.3 O ensino coletivo de instrumentos musicais................................................................ 21

2.1.4 O ensino coletivo de instrumentos de metal ................................................................ 25

2.2 Metodologia ....................................................................................................................... 28

2.2.1 Universo da pesquisa ................................................................................................... 29

2.2.2 Instrumentos de coleta de dados .................................................................................. 30

2.2.2.1 Pesquisa bibliográfica ........................................................................................... 30

2.2.2.2 Pesquisa documental ............................................................................................ 31

2.2.2.3 Observação in loco ............................................................................................... 31

2.2.2.4 Entrevistas semiestruturadas ................................................................................ 31

2.2.3 Procedimentos de organização e análise dos dados..................................................... 33

2.2.3.1 Transcrição das entrevistas ................................................................................... 33

2.2.3.2 Análise do discurso dos professores ..................................................................... 33

2.2.3.3 Triangulação dos dados ........................................................................................ 33

3 ESTABELECENDO OS CONCEITOS DA PESQUISA ................................................ 34

3.1 Ensino Coletivo de Instrumentos Musicais .................................................................... 34

3.1.1 Características metodológicas ..................................................................................... 35

3.1.2 Habilidades necessárias ao professor de ensino coletivo de instrumentos musicais ... 37

3.1.3 Materiais Didáticos ...................................................................................................... 39

3.1.4 Acolhimento dos alunos e apoio familiar .................................................................... 40

3.2 Performance Musical ....................................................................................................... 41

3.2.1. O termo técnico-interpretativo.................................................................................... 42

3.3 Nomenclatura dos projetos e suas definições. ................................................................ 44

4 AS ORQUESTRAS DE METAIS LYRA TATUÍ E LYRA BRAGANÇA .................... 47

4.1 Idealização dos projetos ................................................................................................... 47

4.1.1 Orquestra de Metais Lyra Tatuí ................................................................................... 47

4.1.2 Orquestra de Metais Lyra Bragança ............................................................................ 49

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4.2 A formação e trajetória profissional dos idealizadores dos projetos ........................... 50

4.3 Equipe organizadora ........................................................................................................ 52

4.4 Principais características ................................................................................................. 54

4.4.1 As Orquestras de Metais e suas atividades .................................................................. 54

4.4.1.1 Alongamentos e exercícios físicos ....................................................................... 57

4.4.1.2 Respiração e fortalecimento muscular .................................................................. 57

4.4.1.3 Vibração Labial .................................................................................................... 60

4.4.1.4 Aula Teórica ......................................................................................................... 61

4.4.1.5 Prática Instrumental .............................................................................................. 63

4.4.1.6 Notas longas ......................................................................................................... 64

4.4.1.7 Estudos de articulação .......................................................................................... 65

4.4.1.8 Estudos de intervalos ............................................................................................ 66

4.4.1.9 Estudos de escalas e arpejos com articulações variadas ....................................... 66

4.4.1.10 Música de câmara ............................................................................................... 70

4.4.1.11 Outras atividades ................................................................................................ 70

4.4.1.12 O canto nas Lyras ............................................................................................... 71

4.4.1.13 Ordem Unida ...................................................................................................... 72

4.4.1.14 Organização ........................................................................................................ 74

4.4.1.15 Materiais didáticos utilizados ............................................................................. 75

5 ASPECTOS METODOLÓGICOS E TÉCNICO-INTERPRETATIVOS PARA O

ENSINO COLETIVO DE INSTRUMENTOS DE METAL .............................................. 78

5.1 Considerar as particularidades dos alunos na escolha de materiais didáticos e

repertórios ............................................................................................................................... 78

5.2 Desenvolvimento da autonomia musical......................................................................... 81

5.3 As qualidades necessárias ao docente ............................................................................. 82

5.4 Aprendizagem colaborativa ............................................................................................. 84

5.5 Estudos técnicos em grupo ............................................................................................... 85

5.6 Exercícios de alongamento ............................................................................................... 88

5.7 Respiração e fortalecimento muscular ........................................................................... 91

5.8 Vibração labial - Buzzing ................................................................................................. 93

5.9 Sonoridade – Uso do ar .................................................................................................... 96

5.10 Aulas teóricas .................................................................................................................. 98

5.11 Articulação ...................................................................................................................... 99

5.12 Flexibilidade .................................................................................................................. 103

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5.13 Exercícios de escala ...................................................................................................... 104

5.14 Estudo de intervalos ..................................................................................................... 105

5.15 Música de câmara ......................................................................................................... 107

5.16 Ordem unida ................................................................................................................. 109

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 112

REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 115

APÊNDICES ......................................................................................................................... 121

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14

1 INTRODUÇÃO

A área da música nas últimas três décadas tem se expandido cada vez mais no campo

da pesquisa. Algumas de suas subáreas como a musicologia e etnomusicologia estão mais

consolidadas no universo acadêmico. Entretanto, a performance musical ou práticas

interpretativas ainda possuem um vasto campo a ser explorado. A criação de mais cursos de

graduação e pós-graduação nos últimos anos tem influenciado nesse processo de crescimento,

resultando diretamente no aumento da produção científica no país.

As temáticas contempladas no universo de estudos desta dissertação estão situadas na

interseção entre as subáreas de Performance e Educação Musical. Essa relação pode ser

observada mais diretamente com estudos sobre a prática instrumental, que problematiza

questões ligadas ao fazer musical propriamente dito, ou seja, como tocar; e sobre o ensino de

instrumento que vai contemplar questões didáticas. Dessa forma, esta pesquisa problematiza

um tema inserido no limiar entre as duas subáreas, tendo como base a pesquisa na área de

Performance Musical.

Os estudos realizados a respeito do ensino de instrumentos musicais no Brasil vêm

crescendo de forma considerável (VASCONCELOS, 2017; FEITOSA, 2013; 2016;

CERQUEIRA, 2010; HARDER, 2008) sob olhares distintos e nos mais variados espaços,

expondo realidades singulares que possibilitam a reflexão e o amadurecimento da formação em

música. Através destas pesquisas, é possível conhecer realidades que provocam e possibilitam

compreender e refletir sobre a nossa prática pedagógica.

O ensino coletivo como uma abordagem que pode apresentar diversas possibilidades

para o desenvolvimento de práticas musicais realizadas com mais de um indivíduo

simultaneamente, possibilita o desenvolvimento de diversos aspectos cognitivos, motores e de

interação social. Com isso, as vantagens oferecidas por essa modalidade são bastante utilizadas

em algumas realidades como projetos sociais, ONGs, rede básica de ensino e escolas de música.

Considerando práticas e estudos com relação ao ensino coletivo de instrumentos, uma

pesquisa realizada pelo autor desta dissertação sobre essa metodologia (FARIAS, 2016) e por

sua experiência com o ensino coletivo de instrumentos de metal, na Escola de Música D’alva

Stella Nogueira Freire na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte em Mossoró, o fez

refletir sobre as seguintes questões: em que espaços de ensino encontramos práticas coletivas,

exclusivamente com instrumentos de metal? Existem materiais didáticos próprios para essa

prática? Quais as metodologias utilizadas? A partir destes questionamentos é que se deu o

interesse para o desenvolvimento deste tema, considerando a carência de pesquisas realizadas

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nesta área que deem suporte a reflexões que auxiliem no processo de construção do

conhecimento e a ausência de materiais didáticos preparados e sistematizados especialmente

para atividades coletivas com instrumentos de metal.

Verificando práticas que desenvolvessem atividades com o ensino coletivo de

instrumentos de metal e que tivessem um reconhecimento artístico por suas performances

musicais e atividades, passei a observar mais atentamente os projetos das Orquestras de Metais

Lyra Tatuí e Lyra Bragança, que se tornaram objeto de estudo deste trabalho. Os dois grupos a

serem pesquisados possuem uma atuação consolidada no universo de grupos de metal e

receberam prêmios por sua atuação. Portanto, a partir da literatura estudada, do contexto do

ensino coletivo de instrumentos de metal nos grupos escolhidos e da minha experiência nesse

tipo de prática, cheguei à seguinte questão de pesquisa: Quais os principais aspectos

metodológicos e técnico-interpretativos que caracterizam a formação de instrumentistas, a

partir do ensino coletivo nas Orquestras de Metais Lyra Tatuí e Lyra Bragança?

Para respondermos a essa questão, delimitamos como objetivo geral compreender os

principais aspectos metodológicos e técnico-interpretativos que caracterizam a formação de

instrumentistas a partir do ensino coletivo nas Orquestras de Metais Lyra Tatuí e Lyra

Bragança. Como objetivos específicos elencamos: analisar como essas atividades de ensino

coletivo de instrumentos de metal são desenvolvidas, verificando quais os principais processos,

situações e características do ensino coletivo de instrumentos de metal; identificar os principais

materiais didáticos utilizados para o ensino coletivo de instrumentos de metal; e analisar as

concepções dos professores envolvidos.

A metodologia definida para responder as questões apresentadas se configura como uma

abordagem qualitativa, buscando descrever aspectos e situações das atividades desenvolvidas.

Para isso, adotamos como procedimento de coleta de dados a pesquisa bibliográfica e

documental, juntamente da observação in loco e a realização de entrevistas semiestruturadas

com os principais colaboradores dos projetos.

Esta dissertação foi estruturada em 6 partes distintas, mas interligadas: introdução,

revisão de literatura e metodologia, referencial teórico, apresentação dos dados, resultados e

considerações finais. Por fim estão as referências e apêndices.

A introdução apresenta resumidamente a temática abordada e os objetivos e

metodologia da pesquisa. Na segunda parte é apresentada uma revisão de literatura partindo de

uma esfera mais geral, desde os trabalhos a respeito da prática instrumental, o ensino de

instrumentos musicais e o ensino coletivo de instrumentos, afunilando até o ensino coletivo de

instrumentos de metal, dando-nos um panorama das pesquisas desenvolvidas nesse âmbito.

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16

Ainda neste capitulo é apresentada a metodologia descrevendo o universo da pesquisa, os

instrumentos de coleta de dados e os procedimentos de organização e análise dos dados.

Em seguida, na parte 3, são apresentados os principais autores e conceitos utilizados na

pesquisa para a definição de questões relacionadas ao ensino coletivo de instrumentos musicais,

a performance musical e as nomenclaturas dos projetos e sua inserção no contexto musical. Na

quarta parte são apresentados os dados coletados no contexto das Orquestras de Metais Lyra

Tatuí e Lyra Bragança descrevendo os contextos investigados desde a idealização dos projetos,

a formação e trajetória profissional de seus idealizadores, equipe organizadora e as principais

características metodológicas e técnico-interpretativas. Na quinta parte foram apresentados os

resultados da pesquisa. Nas considerações finais é apresentado um resumo do resultado do

trabalho e reflexões mais gerais sobre a temática da pesquisa, qual seja, o ensino coletivo de

instrumentos de metal.

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17

2 O ESTADO DO CONHECIMENTO E AS ESCOLHAS METODOLÓGICAS DA

PESQUISA

2.1 A pesquisa no limiar entre a performance e a educação musical

As reflexões na área da música têm se ampliado significativamente, nas últimas décadas,

devido à criação de mais cursos de graduação e pós-graduação no país. Essa expansão da área

tem resultado diretamente no aumento do número de pesquisas realizadas nas mais diversas

linhas de pesquisa. Nesse processo, algumas subáreas como a etnomusicologia e musicologia

se mostram mais consolidadas nesse universo científico, entretanto, a performance musical ou

práticas interpretativas1 ainda têm muitas temáticas pouco exploradas.

A performance musical, mais especificamente, tem sido problematizada especialmente

em temáticas relacionadas a aspectos gerais e instrumentos como piano, violão e violino. Essas

pesquisas “[...] vêm oferecendo diversidade em seus métodos e objetos de conhecimento,

detendo-se em estudar não só individualidades, diferenças e singularidades, mas também os

aspectos normativos e compartilhados” (GERLING; SOUZA, 2000, p. 114). Os principais

temas pesquisados na área de Práticas Interpretativas no Brasil fazem relação com outras

subáreas da música e outros campos do conhecimento possibilitando uma perspectiva ampla e

complexa. Gerling e Souza enfatizam que:

A performance musical vem fornecendo um campo fértil de pesquisas principalmente para estudos sobre habilidades motoras e cognitivas. [E que] Muitos pesquisadores não se acanham em declarar que a performance musical é uma das instâncias máximas da capacidade física, mental e emocional dos seres humanos (GERLING; SOUZA, 2000, p. 115).

Dessa forma, analisar e refletir sobre os processos envolvidos na performance musical

através de pesquisas com embasamentos sólidos “voltadas para a observação sistemática de

produtos e processos de execução musical apresentam-se como ferramentas eficazes e bem-

vindas, visto que contribuem para a formação de critérios objetivos e meios confiáveis de

avaliação da execução musical” (GERLING; SANTOS, 2010, p. 97).

Nesse contexto, a pesquisa de Borém e Ray (2012) destaca-se por traçar um panorama

dos trabalhos apresentados nos principais eventos de performance musical no Brasil no período

entre os anos de 2000 a 2012. Para a análise das temáticas apresentadas, foram propostas pelos

1 Os dois termos, quais sejam Performance Musical e Práticas Interpretativas, serão utilizados como sinônimos para definir a mesma subárea de pesquisa da música.

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autores dez categorias com diferentes interfaces, as quais relacionam performance musical com:

ensino/aprendizagem/educação; idiomatismo; edição/editoração/catalogação; técnica de

execução; ciências da saúde; musicologia/sociedade/cultura; composição; música popular;

literatura (métodos/repertório/gravações/textos); e análise (BORÉM; RAY, 2012, p. 128).

Nessa mesma proposta, Renata Correia (2015) realizou uma pesquisa analisando a produção

acadêmica relacionada à performance pianística entre os anos de 2007 a 2012, oferecendo um

panorama e análise dos principais temas, tendências e métodos discutidos nesse período,

ressaltando algumas pesquisas emergentes como a pesquisa Artística e estudos ligados à

Musicologia Empírica (CORREIA, 2015, p. 227-233).

Dentre as temáticas contempladas nesse universo de estudos está o ensino de

instrumento, que se encontra na interseção entre as áreas de Performance e Educação Musical.

Essa relação pode ser observada mais diretamente com a prática instrumental, que problematiza

questões ligadas ao fazer musical propriamente dito, ou seja, como tocar. Já o ensino de

instrumento vai contemplar questões didáticas. Dessa forma, esta pesquisa problematiza um

tema inserido no limiar entre as duas temáticas, tendo como base a pesquisa na área de

Performance Musical.

2.1.1 A pesquisa sobre prática instrumental

Considerando os trabalhos que se inserem na temática de prática instrumental, farei uma

breve abordagem de alguns dos principais estudos que apresentam considerações mais

diretamente relacionadas a esta pesquisa. A prática instrumental como atividade fundamental

para o desenvolvimento do músico pode se apresentar de diversas maneiras e através das mais

variadas estratégias, tornando-se indispensável organização e planejamento dessas atividades

para um desenvolvimento eficiente. Santos e Hentschke (2009) enfatizam que as pesquisas nos

últimos anos sobre prática instrumental “[...] evidenciam as potencialidades do planejamento

intencional de instrumentistas, frente às situações de prática, e voltam-se à sistematização de

aspectos que possibilitem a melhoria e o refinamento do nível de especialização músico-

instrumental” (SANTOS; HENTSCHKE, 2009, p. 72). Apesar de ser uma publicação de 10

anos atrás, entendo que se aplica ao contexto atual.

Mendes (2014) apresenta a partir do estudo de pianistas estudantes e profissionais uma

série de questões relacionadas à preparação para recital, discutindo temas como ansiedade,

concentração, habilidades e estratégias para uma prática instrumental satisfatória. A partir deste

trabalho, é possível dizer que diversas estratégias podem ser definidas e empregadas para

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alcançar os objetivos propostos. Ainda sobre a prática instrumental, Zorzal (2015) traça um

panorama a partir de considerações teórico-conceituais e apresenta algumas pesquisas e

reflexões sobre a prática musical efetiva em variados contextos, destacando o masterclass. Essa

discussão proporciona uma visão ampla sobre a perspectiva de diversos autores relacionada às

possibilidades para a organização da prática musical, elencando etapas a serem trabalhadas,

estratégias e competências para uma prática satisfatória. Nas palavras do autor:

Com base nas proposições teóricas vistas [...] acerca da construção do conceito de prática efetiva, pode-se resumir esse ciclo como se segue: uma complexa interação de N fatores dá início à atividade prática; esta, por sua vez, é dividida em fases, com suas respectivas características, que determinam o planejamento, a organização e as metas a serem cumpridas com tais atividades; há uma necessidade de constante autoavaliação durante o processo de prática; e um feedback final após serem atingidas as metas estabelecidas (ZORZAL, 2015, p. 96).

As proposições e as reflexões apresentadas por Zorzal (2015) podem direcionar a prática

instrumental de estudantes e profissionais a resultados mais objetivos. Nessa mesma linha de

pensamento, Veloso e Araújo (2017) verificam a necessidade de planejamento e organização

na prática de percussionistas apresentando como possibilidade dados sobre os desafios

formativos e processos de organização na prática instrumental, considerando como uma

importante estratégia de controle para o desenvolvimento da aprendizagem “[...] a partir do

delineamento de objetivos e diretrizes de estudo, atentando para o controle do próprio progresso

e utilizando estratégias como o monitoramento, elaboração e gerenciamento do esforço

empregado” (VELOSO; ARAÚJO, 2017, p. 02).

2.1.2 A pesquisa relacionada ao ensino de instrumentos musicais

Os estudos realizados a respeito do ensino de instrumentos musicais no Brasil vêm

crescendo de forma considerável (VASCONCELOS, 2017; FEITOSA, 2013; 2016;

CERQUEIRA, 2010; HARDER, 2008) sob olhares distintos e nos mais variados espaços,

expondo realidades singulares que possibilitam a reflexão e o amadurecimento da formação em

música. Através dessas pesquisas, é possível conhecer realidades que provocam e possibilitam

compreender melhor e refletir sobre a nossa prática pedagógica.

Dessa forma, é possível ressaltar que a cada nova experiência, análise e pesquisa,

diversas possibilidades são evidenciadas, enfatizando ser este um processo em constante

mutação, demonstrando que os resultados alcançados no futuro serão reflexo de uma

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diversidade de fatores envolvidos na prática pedagógica de cada professor no presente. Feitosa

nos apresenta algumas das principais questões abordadas no campo do ensino de instrumentos

musicais, destacando que as discussões envolvem principalmente:

[...] problemas relacionados ao ensino e aprendizado da música; práticas de ensino do professor de instrumento na sala de aula, incluindo a relação entre o tempo de aula que deve ser dedicado para a técnica e para os demais elementos da interpretação; qualidades necessárias ao professor de música; relações entre o professor de instrumento e seus alunos; estratégias para resolver questões técnicas na execução de repertórios diversos; decisões de interpretação em determinadas obras; entre outros aspectos (FEITOSA, 2016, p. 22).

As questões acima apresentadas são fundamentais para a reflexão e reforçam as

pesquisas que se apresentam no limiar entre os campos da Educação Musical e da Performance

Musical. Nesse contexto, Zorzal reforça que:

[...] muitas são as estratégias que podem ser usadas no ensino da música. Essas estratégias podem diferir conforme o nível de performance do aluno, a prática de ensino do professor orientada culturalmente por uma instituição, as características dos instrumentos e/ou vozes envolvidas na aula, o tipo de ambiente e o formato de ensino dentro do qual a aula acontece (ZORZAL, 2010, p. 47).

Podemos ver que diversas questões estão envolvidas na prática de ensino de

instrumentos musicais e que estas ultrapassam até mesmo a sala de aula. A percepção de todas

as nuances envolvidas nessas práticas é de fundamental importância no desenvolvimento de um

aprendizado eficiente, tornando-se essencial a busca constante por estratégias que supram as

necessidades de cada realidade. Vasconcelos (2017) apresenta algumas questões referentes ao

ensino e aprendizagem de instrumentos musicais em conservatórios e academias e destaca que:

Aos músicos do século XXI, exige-se um conjunto diversificado de competências e conhecimentos que contribuam para o exercício profissional multifacetado e policentrado e que nem sempre a formação potencia o desenvolvimento dessas multi-competências tendo em conta a diversidade de possibilidades técnicas, artísticas, estéticas, sociais e culturais existentes nas práticas artísticas contemporâneas (VASCONCELOS, 2017, p. 47).

Essas exigências atribuem novas responsabilidades não somente ao músico/professor,

mas também, às instituições de ensino que necessitam repensar seus programas no intuito de

subsidiar uma formação mais abrangente e que esteja sintonizada com as necessidades do

século XXI. Em sua pesquisa que abrange trabalhos realizados em universidades e escolas

superiores de música em Portugal, Vasconcelos (2017) apresenta um olhar crítico a respeito do

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modelo profissional docente, sobre o currículo e programas, e as modalidades de ensino. Na

pesquisa apresenta-se que:

[...] nos trabalhos analisados refere-se às modalidades de ensino existentes na formação de um instrumentista. Este questionamento pode ser sintetizado em quatro aspectos essenciais: (a) predomínio da modalidade de ensino individualizado; (b) o predomínio da aprendizagem formal; (c) o predomínio da dimensão técnica e (d) a ausência de criatividade (VASCONCELOS, 2017, p. 56).

As considerações evidenciadas por Vasconcelos (2017) na realidade portuguesa nos

fazem refletir sobre as modalidades de ensino utilizadas no Brasil. Dentre algumas

possibilidades para o ensino de instrumentos musicais, podemos citar o ensino coletivo, objeto

de estudo desta pesquisa. As práticas dessa metodologia podem incorporar diferentes modelos

de aprendizado em grupo, como o masterclass, a oficina/laboratório de performance, a prática

de conjunto e a música de câmara.

2.1.3 O ensino coletivo de instrumentos musicais

O ensino coletivo de instrumentos musicais vem sendo desenvolvido há alguns anos em

vários países do mundo como a Irlanda, Estados Unidos, Inglaterra, Venezuela e Japão. As

primeiras atividades coletivas que se tem notícias sugerem o início do século XIX como ponto

inicial de algumas propostas, como o trabalho do alemão Johann Bernhard Logier,

desenvolvendo aulas de piano em grupo em Dublin, na Irlanda, por volta de 1815 (SANTOS,

2016). Nos Estados Unidos:

[...] o primeiro registro de aulas de ensino instrumental [...] ocorreu em Boston, em 1800 [...]. Em seu conservatório, Gottlieb Graupner, Francisco Mallet e Filippo Trajetta utilizaram o ensino de música em grupo. Em 1839, na Academia Feminina de Knoxville, Tennessee, o Sr. D. L. Elder ensinou vários instrumentos em grupo. Pouco se sabe sobre estes primeiros empreendimentos, mas durante a primeira metade do século XIX, instrumentos foram ensinados coletivamente com sucesso em várias partes do país (SOLLINGER, 1974, p. 9, apud SANTOS, 2016, p. 19).

Outros destaques nos Estado Unidos foram as atividades de Lewis A. Benjamin na The

Musical Academy, em 1851, e dos irmãos James e Joseph Howell, que se dedicaram a aulas de

música e venda de instrumentos entre 1849 e 1861. Na Inglaterra, outra proposta de destaque

foi o Movimento Maidstone com o ensino coletivo de cordas em 1908 (SANTOS, 2016). Mais

recentemente, desde 1975, o Sistema Nacional de Orquestras e Coros Juvenis e Infantis,

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conhecido como El Sistema na Venezuela vem transformando a realidade do país através do

ensino coletivo e da criação de orquestras. A partir de 1950 no Japão, o método Suzuki passou

a ser conhecido mundialmente, tornando-se uma metodologia importante para o ensino coletivo

dos instrumentos de cordas.

Com base em levantamentos realizados a partir de livros, periódicos, artigos, teses,

dissertações, monografias, dentre outros, encontrei estudos sistematizados sobre o ensino

coletivo de instrumentos musicais no Brasil, a partir do início do século XX, com trabalhos de

alguns autores, apresentando experiências e concepções dessa prática em diversos contextos.

Dentre estas práticas, podemos citar as contribuições de José Coelho de Almeida (1950) com

bandas de música no interior paulista; Alberto Jaffé e Daisy de Luca (1970) com o núcleo de

ensino coletivo de instrumentos de arco no SESI-Fortaleza; Projeto GURI (1995); e ainda os

projetos da Escola de Música da Universidade Federal da Bahia (UFBA) com os professores

Alda Oliveira (piano), Cristina Tourinho (violão) e Joel Barbosa (sopros) (CRUVINEL, 2008,

p. 70).

A partir da contextualização apresentada, entendo o ensino coletivo como uma

abordagem ampla, onde diversas possibilidades são apresentadas para o desenvolvimento de

práticas musicais realizadas com mais de um indivíduo simultaneamente, sendo necessário o

envolvimento ativo de todos os alunos. É perceptível que essa modalidade oferece vantagens

por sua “praticidade e o melhor aproveitamento de esforços do professor, melhorando o

rendimento do ensino e principalmente a relação custo benefício das aulas” (SANTOS, 2016,

p. 24), sendo, assim, bastante utilizada em realidades como: projetos sociais, ONGs, rede básica

de ensino e escolas de música.

No entanto, algumas desvantagens também são verificadas no ensino coletivo,

principalmente quando consideramos que as atividades são desenvolvidas em grupo, porém o

aprendizado absorvido individualmente. Dessa forma, “a dificuldade de administrar diferenças

individuais de aprendizagem, inclusive de temperamento e gosto musical, disciplina,

assiduidade, pontualidade e estudo em casa” (TOURINHO, 2007b, p. 87) pode apresentar

algumas situações difíceis. Fazendo esse paradoxo, Tourinho afirma que:

Pode-se argumentar em favor do ensino coletivo que o aprendizado se dá pela observação e interação com outras pessoas, a exemplo de como se aprende a falar, a andar, a comer. Desenvolvem-se hábitos e comportamentos que são influenciados pelo entorno social, modelos, ídolos. A concepção de ensino coletivo está aqui conceituada como transposição inata de comportamento humano de observação e imitação para o aprendizado musical. Professores de ensino coletivo levam em consideração o aprendizado dos autodidatas, que se

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concentram inicialmente em observar o que desejam imitar (TOURINHO, 2007a, p. 02).

Diversos procedimentos podem ser pensados de acordo com a quantidade de alunos que

se tem em turmas coletivas e o nível de desenvolvimento que se pretende atingir. Algumas

possibilidades são apresentadas por diversos autores (TOURINHO, 2007a; CERQUEIRA,

2010; CRUVINEL, 2005) como o masterclass, a oficina/laboratório de performance, a prática

de conjunto e a música de câmara. Algumas dessas propostas têm provocado divergências e

discussões importantes sobre sua aplicabilidade. No entanto, é importante considerar que cada

uma destas práticas possui características próprias, trabalhando em grupo, performance,

interpretação, técnica e provocando, ao máximo, a criação musical e a interação dos sujeitos

envolvidos.

O masterclass, segundo Lafosse, é “[...] uma situação pedagógica na qual um professor

ou performer é convidado para ensinar um aluno na frente de uma plateia, com todos os

participantes esperando aprender” (LAFOSSE, 2014, p. 4, tradução minha2). O professor abre

espaço para que alguns dos alunos apresentem individualmente um pouco do que este

desenvolve no seu dia-a-dia (estudos, técnicas, peças, dentre outros aspectos). Lafosse explica

ainda que:

Os tipos tradicionais de ensino de masterclass se dividem em duas categorias: Masterclass de convidados, onde o pedagogo vem trabalhar com alunos desconhecidos; e Studio class (Aulas de estúdio) semanais ou mensais recorrentes, conduzidas pelo professor residente aplicado aos alunos presentes. As aulas de estúdio permitem que o professor convidado tenha uma compreensão imediata das necessidades de aprendizado de cada aluno, tenha mais controle e recursos de acompanhamento do progresso geral dos alunos para manter um panorama maior do ritmo, do histórico e para fornecer flexibilidade na determinação da direção e do escopo da classe (LAFOSSE, 2014, p. 4, tradução minha3).

Chiamulera explica que “[...] na situação de masterclass, um artista experiente escuta a

interpretação da obra e trabalha em público, isto é, uma aula de instrumento e interpretação ao

vivo e pública, com uma plateia de ouvintes que não opinam ou discutem a interpretação”

(CHIAMULERA, 2005, p. 195). Segundo Zorzal, essa característica faz do masterclass “[...]

2 [...] is a pedagogical situation in which a teacher or interpreter is entrusted to teach a student in front of an audience, with everyone present waiting to learn. 3 The traditional types of master class teaching fall into two categories: guest master classes where the pedagogue comes to work with unknown students, and recurring weekly or monthly study classes led by the resident applied teacher of the students in attendance. Studio classes allow the applied teacher to have an immediate understanding of the learning needs of each student, to have more control and follow-up capabilities of the overall progress of the students, to maintain a bigger picture of pacing and background, and to provide flexibility in determining class direction and scope.

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um formato de ensino que possui uma versatilidade de aplicação que a coloca no rol das

importantes metodologias da pedagogia do instrumento musical” (ZORZAL, 2010, p. 05).

A oficina/laboratório de performance oferece aos alunos momentos de preparação da

sua performance, trabalhando em grupo aspectos da apresentação musical através da simulação

deste momento perante professores, amigos e expectadores formando plateia, havendo, assim,

abertura para o diálogo em relação à construção da performance através de um mediador que

conduz as discussões (CHIAMULERA, 2005, p. 195). Silva descreve que:

As Oficinas de Performance Musical são vivências simuladas que oferecem a instrumentistas e cantores a oportunidade de desenvolver competências para a realização de performances musicais satisfatórias e motivadoras. Para tanto sustenta-se em uma metodologia didática interdisciplinar que visa a abordar a performance o mais próximo possível de sua complexidade, e oferecer aos estudantes performers um trato sistêmico dos aspectos intrínsecos (cognitivos, afetivos, psicomotores e comportamentais) e extrínsecos (sociais, culturais, antropológicos, acústicos e ergonômicos) do processo de preparação e geração das performances musicais (SILVA, 2008, p. 1).

Essas atividades podem ser desenvolvidas em diversos níveis musicais sempre

considerando que a troca de informação e o diálogo na construção do fazer musical são

essenciais. A prática de conjunto propõe o trabalho de formação de repertório em grupo, ou

seja, sugere um momento de prática musical. Por esse motivo, muitas vezes, o aluno espera um

espaço onde apenas irá tocar seu instrumento ou cantar (FIALHO, 2007, p. 02). Sobre esta

questão, Beineke explica que:

Na prática de conjunto instrumental, por exemplo, isso significa a valorização de cada um, ou seja, os alunos não tocam todos as mesmas coisas. Cada um contribui com a sua parte, com aquilo que já é capaz de fazer. Independentemente de se estar tocando algo mais simples ou mais complexo, a participação de todos é igualmente importante. Isso provoca outro tipo de engajamento e compromisso com o trabalho, pois, se uma criança faltar, o resultado musical não será o mesmo, ela realmente “faz falta”, o que não acontece quando todos tocam a mesma coisa. (BEINEKE, 2003, p. 95).

As práticas musicais em conjunto proporcionam novos espaços de interação com outros

sujeitos, instrumentos, formações instrumentais diversificadas e a troca de experiências que

refletem significativamente no desenvolvimento musical dos alunos. A música de câmara,

segundo Paschoal, é:

[...] uma forma de música erudita composta para um grupo pequeno de instrumentos que, principalmente durante o período Barroco e o Clássico, acomodava-se em pequenos ambientes. Nos dias de hoje, considera-se música de câmara qualquer música executada por um pequeno número de músicos.

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[...] Entre as formações mais importantes de música de câmara, podemos mencionar o quarteto de cordas, o quinteto de sopros e de metais, mas também as mais diversas combinações de instrumentos, como, por exemplo, piano e flauta transversal, duo de violões, trio de acordeon, flauta e violão (PASCHOAL, 2010, p. 110).

Desenvolvida através de formações instrumentais diversas, proporcionando aos

participantes inúmeras possibilidades, verificamos que “[...] no laborar a prática da performance

em grupo, procura-se o enriquecimento da vivência artística – um debate amplo sobre as

primeiras, segundas e quantas forem as intenções e possibilidades do fazer musical”

(CHIAMULERA, 2005, p. 196). Realizando historicamente apresentações em salas de

concerto, criou-se ao longo dos anos a concepção de que a música de câmara é exclusivamente

direcionada ao repertório erudito. Porém, temos exemplos excepcionais de grupos

profissionais4 de câmara que desenvolveram toda sua carreira musical mesclando entre o

erudito e o popular, utilizando-se de todas as características aqui descritas.

Considerando o contexto apresentado, o ensino coletivo de instrumentos musicais no

Brasil ainda carece de reflexões, discussões e definições conceituais. Algumas das atividades

apresentadas têm gerado diferentes opiniões, tendo em vista que alguns professores não

consideraram, por exemplo o masterclass como ensino coletivo pela tradicional passividade da

plateia, não gerando, assim, um envolvimento ativo de todos os alunos. No entanto, entendo

que apresentar o masterclass, a oficina/laboratório de performance, a prática de conjunto e a

música de câmara como possiblidades de atividades coletivas se torna importante, ponderando

que para se entender alguma dessas práticas como um tipo de ensino coletivo é necessário que

o professor envolva e dê oportunidade de interação aos alunos.

2.1.4 O ensino coletivo de instrumentos de metal

Os estudos citados no tópico anterior, a respeito do ensino coletivo de instrumentos

musicais contribuíram para o desenvolvimento de diversas pesquisas no âmbito acadêmico no

século XXI, dentre as quais podemos citar Silva Sá (2016a), Vecchia (2008, 2012), Cruvinel

(2005, 2008) e Santos (2016). Entretanto, quando busquei estudos e materiais didáticos que

direcionassem ao ensino coletivo de instrumentos de metal, foi verificado uma lacuna nesse

contexto, sendo encontrados poucos materiais: a tese de Soares (2018b), a dissertação de

Vecchia (2008), os livros didáticos para os instrumentos de metais do Projeto Guri (2011) o

4 Sexteto Brassil, Quarteto de Trombones da Paraíba, dentre outros.

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método Tocar Junto para o ensino coletivo de Banda Marcial (2014) e o método Trombone

Fácil (2014) para o ensino individual e/ou coletivo de trombone, eufônio e tuba.

Figura 1: Livros didáticos para metais do Projeto Guri

Fonte: http://www.projetoguri.org.br/livros-didaticos/

Figura 2: Método Tocar Junto para Banda Marcial

Fonte: http://cirandadaarte.com.br/portal/entrega-oficial-da-colecao-tocar-junto/

Figura 3: Método Trombone Fácil

Fonte: https://bit.ly/37nizpZ

Percebe-se que os instrumentos de metal são abordados geralmente por estudos que

contemplam as bandas de música, abrangendo, assim, os instrumentos de sopro (madeiras e

metais) e percussão. Dentre alguns livros e materiais didáticos mais recentes para bandas, são

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encontrados o Sound Innovations for Concert Band (2010), Essential Elements 2000 (1999) e

Accent on Achievement (1998). No Brasil, a proposta metodológica de maior destaque é o

material didático Da Capo (Barbosa, 2004), editado em 2004, mas em uso no Brasil desde 1998.

Em 2011, foi publicado o Da Capo Criatividade (Barbosa, 2011), sendo estes, até 2012, os

únicos materiais de ensino coletivo de instrumentos de sopro e percussão brasileiro para bandas,

disponíveis comercialmente e na internet (VECCHIA, 2012, p. 09).

Caracterizado por instrumentos da mesma família, porém com posições/dedilhados,

embocaduras e afinações diferentes entre esses instrumentos, o ensino coletivo de instrumentos

de metal exige do professor necessidades específicas para o desenvolvimento dessas atividades.

Como exemplo, é necessário saber orientar diferentes embocaduras, conhecer a relação entre

posições de vara e digitações, e as transposições entre os instrumentos.

Enfatizando essas necessidades, Vecchia (2008) apresenta em sua dissertação os

processos e conceitos envolvidos na iniciação aos instrumentos de metal através de experiências

de utilização do Método Da Capo para o ensino coletivo em bandas de música. Vecchia (2008)

apresentou como resultado três direcionamentos para o ensino coletivo dos instrumentos de

metal: 1 – a proposta da sigla REPE dos metais, onde aborda Respiração, Embocadura, Postura

e Emissão como os principais fundamentos de se tocar metais; 2 – Uma sequência dos 10

primeiros passos para a emissão do som; 3 – uma tabela dos problemas e soluções mais comuns

na iniciação aos metais.

Seguindo essa linha, em sua tese de doutorado, Vecchia (2012) faz uma análise dos

métodos de ensino coletivo estadunidenses e propõe uma educação musical coletiva com

Figura 4: Da Capo

Figura 5: Da Capo Criatividade

Fonte: https://bit.ly/2zDaRIg Fonte: https://bit.ly/2MM7Vlj

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instrumentos de sopro e percussão (EMuCISP), considerando a ausência de uma sistematização

específica para o ensino coletivo de instrumentos de sopro e percussão na legislação da

educação brasileira (VECCHIA, 2012, p. 03). Dentre outros problemas, o autor verifica que:

[...] a carência de estudos sobre os fundamentos pedagógicos voltados à educação musical com instrumentos de sopro e percussão no Brasil; a adaptação da sistematização já existente em outros países para o Brasil, considerando as diferenças culturais e musicais; a falta de adequação do nível do repertório que dificulta o percurso de desenvolvimento musical de alunos iniciantes; a falta de parâmetros para classificar os métodos e arranjos em níveis didáticos; a disparidade na produção de materiais pedagógicos e arranjos em diferentes níveis de aprendizado, e de planejamento e avaliação deve-se à falta de uma sistematização didática do ensino coletivo.

Considerando o contexto acima apresentado, percebemos a escassez de materiais

didáticos, organizados e progressivos, em língua portuguesa com orientações e direcionamentos

que deem suporte ao ensino coletivo de instrumentos de metal, o que me incentivou a propor

este projeto, podendo, assim, vir a contribuir significativamente para as áreas da Performance

Musical e Educação Musical.

Com base em projetos consolidados e com reconhecimento na performance e no ensino

de instrumentos de metal, verificarei atividades, metodologias e perspectivas com o intuito de

revelar direcionamentos que poderão contribuir significativamente para o campo de estudos

investigado. Ao buscar projetos com esse perfil, encontrei dois grupos que se destacaram para

a realização desta pesquisa: a Orquestra de Metais Lyra Tatuí e a Orquestra de Metais Lyra

Bragança. Portanto, a partir da literatura estudada, do contexto do ensino coletivo de

instrumentos de metal no Brasil e da minha experiência nesse tipo de prática, cheguei a seguinte

questão de pesquisa: Quais os principais aspectos metodológicos e técnico-interpretativos

que caracterizam a formação de instrumentistas a partir do ensino coletivo nas

Orquestras de Metais Lyra Tatuí e Lyra Bragança?

2.2 Metodologia

Assim como mencionado anteriormente, o objetivo geral deste trabalho consiste em

compreender os principais aspectos metodológicos e técnico-interpretativos que caracterizam a

formação de instrumentistas a partir do ensino coletivo nas Orquestras de Metais Lyra Tatuí e

Lyra Bragança. Dentre as questões específicas que orientaram este estudo estão: analisar como

essas atividades de ensino coletivo de instrumentos de metal são desenvolvidas, verificando

quais os principais processos, situações e características do ensino coletivo de instrumentos de

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metal; identificar os principais materiais didáticos utilizados para o ensino coletivo de

instrumentos de metal; e analisar as concepções dos professores envolvidos.

Com foco nos objetivos propostos, serão apresentados nesse tópico as etapas e

procedimentos que norteiam a pesquisa de maneira geral, contribuindo de forma significativa

para o processo investigativo. As escolhas e definições metodológicas foram definidas

buscando-se delineamentos coerentes que deram suporte à pesquisa.

2.2.1 Universo da pesquisa

O ensino de instrumentos de metal vem sendo há alguns anos o foco principal de minha

atividade profissional. Como professor desde 2011 na Escola de Música D’alva Stella Nogueira

Freire5, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN em Mossoró, desenvolvo

atividades que contemplam disciplinas teóricas e práticas de ensino com os instrumentos de

metais. Ao buscar compreender mais a respeito das práticas relacionadas a essa perspectiva, em

2014, como trabalho de conclusão de curso de uma especialização, realizei um estudo em torno

do ensino de instrumentos musicais na escola referida. Essa pesquisa (FARIAS, 2016)

possibilitou verificar algumas características do ensino na instituição estudada, dentre as quais

podemos destacar: o número de ingressos na escola; perfil e interesse dos alunos; e atividades

desenvolvidas por seus professores.

Identificando através da pesquisa citada que muitos dos professores da instituição

desenvolvem atividades coletivas, passei a refletir sobre algumas questões direcionadas aos

instrumentos de metal, surgindo as seguintes indagações: em que espaços de ensino

encontramos práticas coletivas, exclusivamente com instrumentos de metal? Existem materiais

didáticos próprios para essa prática? Quais as metodologias utilizadas? A partir desses

questionamentos é que se deu o interesse para o desenvolvimento desta dissertação.

Contribuíram também para me motivar a escrever sobre a temática em questão a carência de

pesquisas realizadas na área que dessem suporte a reflexões que auxiliem no processo de

construção do conhecimento e a ausência de materiais didáticos preparados e sistematizados

especialmente para atividades coletivas com instrumentos de metal.

Para a delimitação da pesquisa, no intuito de direcionar o universo contemplado, o

tamanho da amostra, a forma de coleta e o tratamento dos dados, direcionamentos apresentados

por Gerling e Santos (2010, p. 100), busquei verificar práticas que desenvolvessem atividades

5 A escola citada era denominada Conservatório de Música D’alva Stella Nogueira Freire.

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com o ensino coletivo de instrumentos de metal e que tivessem um reconhecimento artístico

por suas performances musicais e atividades. Essa busca me fez observar mais atentamente as

atividades das Orquestras de Metais Lyra Tatuí (hoje extinta) e da Lyra Bragança. Os dois

grupos pesquisados possuem uma atuação consolidada no universo de grupos de metal, tendo

recebido diversos prêmios por suas atuações.

Quando em atividade, sob a coordenação do trompista e professor Adalto Soares, a

Orquestra de Metais Lyra Tatuí foi formada por cerca de oitenta crianças e jovens entre 6 e 19

anos. O conjunto se apresentou pelo Brasil e em países como Espanha, Holanda e Alemanha.

Seu currículo acumula 47 prêmios, incluindo seis campeonatos consecutivos pela Confederação

Nacional de Bandas e Fanfarras e uma participação no Junger Künstler Bayreuth, um dos

maiores festivais de música jovem da Europa (VEJA, 2016).

A Lyra Bragança foi idealizada por dois empresários e músicos profissionais, Kathia e

Marcus Bonna e por Luis Custódio (Babalu), sendo denominada Orquestra de Metais Lyra

Bragança no qual participam cerca de 60 crianças. O Projeto é um espaço destinado a

compartilhar cultura e conhecimento, desenvolvendo cidadania e efetivando direitos em

comunidades em situações de vulnerabilidade e risco com prioridades para crianças e

adolescentes entre 08 a 18 anos, onde aprendem a linguagem musical por meio de aulas de

teoria musical, solfejo, percepção rítmica e melódica, marcha, canto coral, expressão corporal

e instrumentos de metais e percussão (ABRAA, 2018).

Estudar sobre a temática em questão permite contribuir para o desenvolvimento da

literatura específica sobre o assunto e mais diretamente para a minha prática como professor de

instrumentos de metal. A partir dessa perspectiva optei por realizar este estudo e investigar

realidades de sucesso dentro do universo de grupos com instrumentos de metal que contemplem

a formação de jovens instrumentistas.

2.2.2 Instrumentos de coleta de dados

2.2.2.1 Pesquisa bibliográfica

Durante a pesquisa bibliográfica foi realizado um levantamento de materiais a partir de

livros, teses, dissertações e periódicos relacionados à Performance Musical e à Educação

Musical, com um foco direcionado aos temas sobre ensino de instrumentos musicais e ao ensino

coletivo de instrumentos de metal, buscando conhecer as publicações que tratam sobre esses

temas, possibilitando embasamento e reflexões acerca das atividades estudadas.

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31

Foram verificados os sites dos principais periódicos nacionais (revistas e anais), eventos

e suas publicações. Dentre eles estão: os anais da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-

Graduação em Música – ANPPOM, Associação Brasileira de Educação Musical – ABEM,

Associação Brasileira de Trombonistas – ABT, Encontro Nacional de Ensino Coletivo de

Instrumentos Musicais – ENECIM, Seminário Nacional de Pesquisa em Música – SEMPEM

(UFG); as revistas Debates (UNIRIO), Hodie (UFG), Opus (ANNPOM), Claves (UFPB),

PerMusi (UFMG), Revista Brasileira de Música (UFRJ); assim como os principais repositórios

disponíveis na internet. Com a utilização da ferramenta de busca, alguns termos foram

verificados, como: “performance musical”, “performance”, “ensino de instrumentos musicais”,

“ensino coletivo”, “instrumentos de metal”, “ensino coletivo de instrumentos de metal”.

2.2.2.2 Pesquisa documental

Foram coletados documentos relevantes para esta pesquisa. Dentre esses, podemos

incluir materiais não publicados academicamente como relatórios, reportagens de jornais,

revistas, cartas, filmes, gravações, fotografias, transcrições musicais, a elaboração de materiais

didáticos não publicados, dentre outras possibilidades de registro pessoal utilizados nas práticas

musicais, desenvolvidas pelas Orquestras de Metais Lyra Tatuí e Lyra Bragança. Esta etapa foi

fundamental para se entender como os projetos funcionam e algumas das principais concepções

dos professores envolvidos.

2.2.2.3 Observação in loco

A observação possibilitou averiguar os processos e fases da prática pedagógica in loco

dos professores envolvidos na pesquisa, permitindo compreender e refletir a respeito das

atividades desenvolvidas. Considerando que a Orquestra de Metais Lyra Tatuí está extinta, a

visita foi realizada com a Orquestra de Metais Lyra Bragança. A viagem ocorreu em fevereiro

de 2019 e a observação aconteceu na sede da Orquestra em Bragança Paulista – SP, na qual tive

a oportunidade de observar a rotina de atividades desenvolvidas pelo grupo.

2.2.2.4 Entrevistas semiestruturadas

Através da realização desta etapa busquei verificar as concepções e posicionamentos

dos professores envolvidos nas Orquestras de Metais Lyra Tatuí e Lyra Bragança, tentando

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compreender melhor a respeito do ensino coletivo de instrumentos de metal nas orquestras, a

formação e experiências destes profissionais, a abordagem técnica e os aspectos interpretativos

envolvidos nas atividades dos grupos. Busquei personagens centrais dos processos envolvidos

nas duas Orquestras que pudessem me fornecer informações importantes.

Quadro 1: Participantes da pesquisa

Orquestra de Metais Lyra Bragança

Marcus Bonna Regente Kathia Bonna Coordenadora pedagógica, professora de teoria e percepção e

música de câmara. Luis Custódio Coordenação geral Tiago Lattanzi Professor dos instrumentos de metal Orquestra de Metais Lyra Tatuí

Adalto Soares Coordenador, regente e professor dos instrumentos de metal

Fonte: Elaborado pelo autor

As entrevistas foram realizadas pessoalmente com os participantes acima citados, em

datas distintas. Na Lyra Bragança realizei as entrevistas na oportunidade da visita para

observação das atividades no dia 02 de fevereiro de 2019, na sede da Orquestra em Bragança

Paulista – SP. Com o professor da Lyra Tatuí, o mesmo esteve na Escola de Música da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN entre os dias 09 e 14 de outubro de

2018, para a realização do I Camarão Brass & Percussion – Festival Internacional de Metais e

Percussão da UFRN. Aproveitei a ocasião e realizei a entrevista com o professor Adalto Soares

no dia 15 de outubro de 2018.

A partir dos relatos de experiência dos professores que descrevem seus processos de

prática instrumental, os problemas e soluções experimentados, os aspectos de compreensão do

texto musical, dentre outras questões, pude extrair aspectos pontuais, o que tornou este um

instrumento balizador de potenciais questionamentos a serem explorados. Optei por seguir o

modelo de entrevista semiestruturada (Apêndices), onde o pesquisador parte de um roteiro

predeterminado com uma série de perguntas abertas, feitas verbalmente em uma ordem prevista,

podendo acrescentar perguntas de esclarecimento (GERLING; SANTOS, 2010, p. 100). Todas

as entrevistas foram gravadas em formato de áudio mp3.

Para me referir aos entrevistados ao longo do texto utilizei sempre os seus primeiros

nomes. Nas citações das entrevistas, usei “Soares (2018a)” para me referir à entrevista realizada

com o professor Adalto e “Soares (2018b)” para citá-lo como autor da tese de doutorado. No

caso de Kathia e Marcus Bonna, considerando o sobrenome igual, usei o primeiro nome para

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citá-los também nas falas coletadas nas entrevistas, com o intuito de facilitar o entendimento.

Os demais entrevistados serão citados a partir da utilização do último sobrenome.

2.2.3 Procedimentos de organização e análise dos dados

2.2.3.1 Transcrição das entrevistas

As entrevistas realizadas com os participantes da pesquisa foram gravadas em áudio e

transcritas para a obtenção de informações que possam apresentar, esclarecer e embasar as

práticas desenvolvidas nos grupos selecionados. Durante as transcrições, realizadas nos meses

seguintes as entrevistas, busquei não interferir na natureza do discurso, apresentando o ponto

de vista dos entrevistados. Todo o material gerado com as transcrições serviu de base para

compreender situações que ficaram além da observação e da literatura encontrada, podendo

assim ouvir, rever, analisar e interpretar aspectos significativos envolvidos no processo

metodológico e técnico-interpretativo das orquestras.

2.2.3.2 Análise do discurso dos professores

A partir das entrevistas foram analisadas características, objetivos e conteúdos que

permeiam as práticas desenvolvidas nos grupos estudados. Como referência para as análises,

foram considerados conceitos presentes na literatura investigada. A partir de pesquisas

similares, busquei entender como são analisadas informações como as coletadas neste estudo,

em trabalhos consolidados no universo do ensino coletivo de instrumentos de metal.

2.2.3.3 Triangulação dos dados

A partir da bibliografia encontrada, das análises realizadas com base nas entrevistas e

das observações realizadas in loco, busquei refletir e responder aos questionamentos que

nortearam a pesquisa.

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3 ESTABELECENDO OS CONCEITOS DA PESQUISA

Nesta parte do trabalho apresento os conceitos relacionados ao tema contemplado nesta

pesquisa, qual seja o ensino coletivo de instrumentos de metal. São relacionadas perspectivas

de diferentes autores que problematizam a temática estudada no âmbito metodológico.

Esclareço que a abordagem relacionada a essas definições busca identificar tendências e não as

discutir, especificamente. Ao abordar aspectos como “aprendizagem colaborativa”, por

exemplo, busquei entender e contemplar esse assunto no âmbito do ensino coletivo de

instrumentos de metal e no universo estudado; entretanto, problematizar detalhes específicos

desse aspecto não faz parte dos objetivos deste trabalho.

A partir dos conceitos definidos e apresentados ao longo desta parte da dissertação

relacionarei os dados coletados e essas concepções destacando similaridades e refletindo sobre

as diferentes possibilidades observadas nos contextos estudados. Considerando que a literatura

de Educação Musical avançou consideravelmente no tema estudado, serão utilizadas também

publicações nesse âmbito, que não problematizam necessariamente os instrumentos de metal,

mas que também se relacionem com a realidade investigada.

3.1 Ensino Coletivo de Instrumentos Musicais

Considerando a diversidade de espaços e possibilidades em que o ensino coletivo de

instrumentos musicais pode estar inserindo, trataremos aqui de algumas especificidades

necessárias para o desenvolvimento dessa prática. Compreender melhor as características,

aspectos e contextos dessa metodologia sob uma perspectiva abrangente se apresenta como

necessário para fundamentar e consolidar as reflexões deste trabalho. Esse processo se relaciona

diretamente com a perspectiva de contribuir de forma significativa para a aplicabilidade desta

metodologia direcionada ao ensino coletivo de instrumentos de metal.

A partir da literatura apresentada na segunda parte do trabalho, na revisão bibliográfica,

assim como da minha experiência atuando como professor no ensino coletivo de instrumentos

de metal, pude elencar alguns direcionamentos a serem discutidos neste capítulo. Dentre eles,

serão abordados: as características metodológicas, as características necessárias ao professor de

ensino coletivo de instrumentos musicais, os materiais didáticos e o acolhimento dos alunos e

apoio familiar.

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3.1.1 Características metodológicas

Para essa compreensão, Barbosa (1996), a partir de sua experiência com bandas de

música, nos apresenta importantes reflexões a respeito do ensino coletivo de instrumentos

musicais heterogêneos6. Esta metodologia engloba atividades através das quais o aluno tem a

possiblidade de desenvolver a leitura musical, o domínio instrumental, a capacidade auditiva,

as habilidades mentais e o entendimento musical. Dentre as ferramentas pedagógicas

empregadas, o autor destaca a utilização de melodias do cotidiano dos alunos que são

selecionadas e adaptadas a fim de desenvolver habilidades musicais e instrumentais dos

estudantes através de diversas texturas musicais, como tocar e cantar, duetos, cânones, trios,

dentre outros.

No ensino coletivo, os alunos já têm contato com o instrumento desde o início,

exercitando os princípios da produção do som, trabalhando um repertório fácil e divisões

musicais simples, avançando progressivamente através de exercícios técnicos mais difíceis,

elementos teóricos e rítmicos mais avançados, chegando a características de forma, estilo e

gêneros variados, juntamente da habilidade de se tocar em conjunto. As atividades básicas são

geralmente as mesmas: cantar, tocar diversificadas formas e texturas musicais e ouvir

“performances” que servem de modelo para o desenvolvimento da sonoridade, articulação e

interpretação. Corroborando com as colocações acima, apresento a partir de Tourinho (2007a),

intercalando com perspectivas de outros autores, alguns princípios importantes para a

aprendizagem através do ensino coletivo:

1) Todos podem aprender a tocar um instrumento

A perspectiva apresentada busca acolher todos os interessados, desde que possuam ou

possam compartilhar dos instrumentos disponíveis, trazendo assim outras alternativas para os

processos seletivos. Algumas dessas alternativas é realizar inscrições, observando outros

aspectos como organizar os alunos a partir de entrevista de classificação e/ou nivelamento, faixa

etária ou grupos por idade e habilidade prévia no instrumento (TOURINHO, 2007a, p. 2).

2) Aprendizagem colaborativa: todos aprendem com todos

Na aprendizagem colaborativa espera-se que a aprendizagem ocorra a partir da interação

dos alunos em um sistema de resolução interdependente das atividades propostas pelo

professor, que nessa abordagem não assume o papel de “guru”, e sim de facilitador, tornando o

6 [...] o ensino coletivo heterogêneo ocorre quando vários instrumentos diferentes são trabalhados num mesmo grupo (CRUVINEL, 2005, p. 74).

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aprendizado mais efetivo. Uma ideia fundamental é de que o conhecimento é construído

socialmente na interação entre as pessoas, reconhecendo o conhecimento prévio dos alunos,

suas experiências e entendimento de mundo (TORRES; IRALA, 2014).

3) Ritmo da aula, que é planejada e direcionada para o grupo

O planejamento deve proporcionar atividades que mantenham todo o grupo motivado,

ativo e concentrado durante a aula, não deixando espaços para distrações ou conversas

paralelas, “exigindo do estudante disciplina, assiduidade e concentração” (TOURINHO, 2007a,

p. 3). A professora ressalta que “[...] no ensino coletivo, o ritmo é do grupo e cabe ao professor

mantê-lo interessado e produtivo, o que às vezes não é uma tarefa muito fácil” (TOURINHO,

2014, p. 158).

4) Concepção da atividade voltada ao grupo, e não a um indivíduo de forma

isolada

É fundamental que as atividades sejam planejadas em modelos que atendam a todos os

alunos, levando em conta as habilidades individuais de cada um, muitas vezes disponibilizando

partes “personalizadas”, possibilitando que estes desenvolvam suas habilidades musicais,

sociais e cognitivas de forma criativa na interação com os outros.

5) Desenvolvimento da autonomia musical e do poder de decisão

Como parte das contribuições da aprendizagem colaborativa, está a promoção de uma

aprendizagem mais ativa por meio do estímulo:

[...] ao pensamento crítico; ao desenvolvimento de capacidades de interação, negociação de informações e resolução de problemas; ao desenvolvimento da capacidade de autorregulação do processo de ensino-aprendizagem. Essas formas de ensinar e aprender, segundo seus defensores, tornam os alunos mais responsáveis por sua aprendizagem, levando-os a assimilar conceitos e a construir conhecimentos de uma maneira mais autônoma (TORRES; IRALA, 2014, p. 61).

Dessa forma, os “estudantes possuem melhor argumentação e questionamento, inclusive

para tomar decisões musicais, de administração ou organização dos eventos” (TOURINHO,

2007a, p. 4), tendo a possiblidade de buscar soluções de maneira independente para suas

dificuldades, a partir das atividades e interação desenvolvidas em grupo.

6) O ensino coletivo elimina os horários vagos

Trabalhando com vários alunos, quando um deles falta, os outros estarão presentes

fazendo com que a aula aconteça. Com isso, a dificuldade fica sendo equilibrar o aprendizado

de todos. A depender da faixa etária, a “[...] assiduidade acoplada a velocidades diferentes de

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aprendizado requer um remanejamento semestral (TOURINHO, 2007a, p. 4). Geralmente,

turmas de crianças levadas pelos pais tem boa assiduidade.

A depender da quantidade de alunos por turma, diversas possiblidades podem ser

experimentadas. Em turmas de dois alunos, na falta de um, o professor pode tocar com o aluno

que compareceu. Essa administração requer prévia análise para não pegar o professor de

surpresa e comprometer o desenvolvimento da aula.

Complementando os princípios de Tourinho (2007a), o professor Joel Barbosa nos

explica que é possível ensinar mais pessoas utilizando menor espaço de tempo. Uma análise

em um contexto escolar do ensino básico, mostra que apenas três professores, cada um

trabalhando trinta horas semanais, poderiam atender até 1.080 alunos em turmas coletivas, o

que em aulas individuais se reduziria para 90 alunos. São visivelmente claras as vantagens da

conversão tempo versus quantidade de alunos. Através do ensino coletivo é possível ensinar

muito mais alunos do que se poderia, utilizando o mesmo tempo com aulas individuais. Mesmo

nessa perspectiva, é importante levar em consideração os objetivos de cada contexto e espaço

que em algumas situações podem optar pelo ensino individual (BARBOSA, 1996, p. 47).

As particularidades apresentadas por Barbosa (1996) e Tourinho (2007; 2014) são

consideradas estruturantes para o desenvolvimento dessa metodologia, orientando as principais

atividades e ferramentas contidas no processo pedagógico. Ressalto ainda que assim como a

banda de música, os instrumentos de metal, apesar de serem da mesma família, também têm a

característica de serem heterogêneos, contendo instrumentos de afinações diferentes e

dedilhados/posições variados, o que exige algumas habilidades do professor, que serão

apresentadas a seguir. A partir do processo apresentado, reforça-se e delineia-se a importância

da aplicabilidade destes aspectos no ensino coletivo de instrumentos metal.

3.1.2 Habilidades necessárias ao professor de ensino coletivo de instrumentos musicais

O contexto onde o professor de música se insere irá exigir algumas habilidades inerentes

às atividades que se pretende desenvolver. As necessidades podem diferir a partir de vários

aspectos, seja pelas orientações da instituição em que se trabalha, pela estrutura física disposta

ou pelos instrumentos disponíveis, o que pode influenciar diretamente no processo pedagógico.

Tourinho (2014) a partir de suas experiências com o ensino coletivo de violão com

alunos da UFBA, apresenta uma série de orientações que podem ser adaptadas a outras

realidades, como por exemplo, para as atividades desenvolvidas com os instrumentos de metal.

Alertando sobre algumas características necessárias ao professor de aulas coletivas, a autora

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considera que este deve estar consciente de alguns fatores fundamentais, como: (1) conhecer as

possibilidades e limites do curso em que está inserido, considerando que ministrar aulas em

cursos livres, escolas regulares, projetos sociais, dentre outros espaços, exige um perfil

diferenciado do professor de cursos profissionalizante ou de graduação, considerando que este

vai lidar com um grupo que não tem suas prioridades definidas; (2) avaliar o desenvolvimento

do grupo e saber que a cada semestre algumas dificuldades ficarão evidentes quando observadas

individualmente, o que necessitará de alguns remanejamentos quando possível; (3) Estar

consciente para lidar com um grupo e não com um aluno. O planejamento é essencial para o

desenvolvimento das aulas coletivas pois o direcionamento afeta diretamente o resultado que

se pretende. No planejamento é importante ponderar algumas questões como: o repertório que

se pretende atingir; pensar nas músicas em forma progressiva de dificuldade; incluir músicas

do cotidiano dos alunos; a faixa etária (crianças, adolescentes, adultos, maior idade) e o que

pode motivar cada uma delas; o contexto social; e pensar nas atividades de leitura, exercícios e

dinâmicas.

Ressalto que as perspectivas apresentadas não pretendem opor práticas individuais e

coletivas, mas sim, enfatizar especificidades que caracterizam abordagens voltadas para o

aprendizado em grupo. É importante considerar que uma prática (individual e coletiva) não

anula a outra. Entendo que os professores devem tratá-las como complementares, oferecendo

oportunidades diferenciadas aos estudantes.

Pensar minuciosamente nas questões apresentadas possibilita oferecer atividades mais

contextualizadas a cada situação, ambiente e público, o que provavelmente direcionará a

resultados objetivos e com melhores rendimentos. Saber que está a serviço do aluno para

auxiliá-lo em seu desenvolvimento e assim buscar caminhos mais eficientes é função do

professor engajado e preocupado com o aprendizado dos seus estudantes.

Outra questão importante é pensar na organização dos alunos de modo a favorecer os

objetivos que se pretende alcançar. Nas atividades com os instrumentos de banda, a depender

da quantidade de alunos, é muito comum que estes se organizem em fileiras, uma após a outra

divididos por naipes. Trazendo outras possibilidades que podem ser satisfatoriamente utilizadas

no ensino coletivo de instrumentos de metal, Tourinho (2014) apresenta alguns formatos de

organização dos alunos, considerando aspectos e objetivos a serem alcançados. Assim, estes

podem ser organizados em formato de:

Círculo – todos fazem parte do grupo sem nenhuma posição de destaque, onde todos

servem de modelo (espelho) uns para os outros, inclusive o professor.

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Duplas ou equipes – nessa disposição os alunos servem de modelo um do outro,

devendo corrigir o parceiro nas atividades, o que vai reforçar a atenção.

Masterclass – o professor escolhe um dos alunos para trabalhar uma peça, enquanto os

outros acompanham com a partitura. Aqui, o professor deve instigar que todos participem e

opinem sobre a decisões sugeridas e quando o repertório for comum a todos, oportunizar que

todos experimentem as possibilidades apresentadas.

Orquestra – é a oportunidade de juntar alunos de outros turnos e horários que estejam

praticando repertório em comum a duas ou mais vozes.

Audições e provas – possibilitam colocar o estudante frente a estas duas situações que

provocam ansiedade, nervosismo e stress, buscando torná-las mais tranquilas e prazerosas,

utilizando o professor e os colegas como plateia. Para audições, é importante inserir todas as

etapas nas simulações, como entrar no palco, agradecer, afinar, tocar tendo de ir do início ao

fim, e, mesmo havendo erros, prosseguir até a finalização, agradecer e sair do placo. Nas

simulações de prova, cada aluno deve se avaliar e avaliar os colegas, deixando comentários que

serão lidos pelo professor posteriormente, para discussão e reflexão desse momento para todos.

3.1.3 Materiais Didáticos

Como já relatado, o ensino coletivo de instrumentos de metal carece de materiais

didáticos próprios em língua portuguesa que possam subsidiar o processo pedagógico de forma

satisfatória, dando suporte às atividades tanto em sala de aula, como ao aluno em casa. Tendo

esses instrumentos uma prática tradicionalmente inserida nas bandas de música, muitas das

atividades com os metais se utilizam dos materiais didáticos para bandas, os quais geralmente

são pensados em uma perspectiva uniforme que possa ser acessível a todos os componentes,

deixando assim de explorar algumas especificidades de cada naipe, como por exemplo estudos

de flexibilidade, harmônicos, dentre outros aspectos técnicos.

Essa percepção reforça a necessidade de professores e maestros registarem, adaptarem

e elaborarem seus materiais didáticos a partir de suas próprias atividades, possibilitando uma

ampliação de materiais didáticos acessíveis. Muitos dos métodos para os instrumentos musicais

utilizados atualmente surgiram de renomados professores que, sentindo essa necessidade,

escreveram seus exercícios e rotinas de estudos. É importante ressaltar que:

Os livros e materiais de ensino são importantes e abundantes - tão abundantes que são necessários objetivos claros para que esses livros e materiais sejam bem utilizados. Objetivos claros também fornecerão estrutura adicional, para

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ponderar prioridades e focar atividades e experiências na aprendizagem significativa. No entanto, autores organizam as instruções de maneiras distintas; o professor deve ajustar as instruções à situação de aprendizagem, tendo o cuidado de modelar cada objetivo e seu padrão de desempenho (COLWELL; HEWITT; FONDER, 2017, p. 30, tradução minha7).

Na prática coletiva à medida que o professor deve realizar atividades que envolvam

todos os alunos ativamente, também precisa oferecer suporte individualizado a cada aluno,

corrigindo questões técnicas durante a execução dos exercícios sem interromper a atividade por

completo. Com materiais objetivos e direcionados ao ensino coletivo de instrumentos de metal,

podemos ter melhores possibilidades de um aprendizado mais eficiente.

3.1.4 Acolhimento dos alunos e apoio familiar

Para o ensino de instrumentos musicais, seja ele individual ou coletivo, é de fundamental

importância que os alunos sejam recebidos e/ou incluídos de forma atenciosa nas atividades

que pretendem participar. A faixa etária é um diferencial, considerando que geralmente alunos

de cursos profissionalizantes ou graduação já possuem definições quanto a profissão que

pretendem seguir e atividades que têm mais interesse, enquanto alunos da educação básica, nem

sempre optam por aprender música voluntariamente. Reconhecer a vivência cultural, o

repertório que o aluno traz consigo, seja ele qual for, e suas limitações, valoriza a relação entre

professor e aluno.

Esse reconhecimento possibilita ao professor desenvolver habilidades mais próximas a

realidade dos alunos, selecionando repertório adequado e desafiador buscando estimulá-lo.

Junto ao resultado de apresentações e performances, Colwell, Hewitt e Fonder (2017, p.12,

tradução minha8) reforçam que:

[...] a música instrumental trata da excelência pessoal, do relacionamento entre professores e colegas e do prazer que a música traz. Os alunos querem estar uns com os outros e serem aceitos. Todos desejamos possuir autoestima, competência e sentir que os outros confiam em nós.

7 Instruction books and materials are important and plentiful-so plentiful that clear objectives are needed if those books and materials are to be used well. Clear objectives will also provide additional structure, to weigh priorities, and to focus activities and experiences on meaningful learning. Authors of instruction books, however, organize instruction in distinct ways; the teacher must adjust instruction to the learning situation, being careful to model each objective and its performance standard. 8 Instrumental music is about personal excellence, relationships between teachers and peers, and the enjoyment that music brings. Students want to be with others and to be accepted. We all wish to possess high self-esteem and competence and to feel that others have confidence in us.

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Dessa maneira, o acolhimento no ensino coletivo se configura como um importante fator

de permanência do aluno no grupo. Fazer com que os alunos se sintam bem recebidos e parte

integrante de forma ativa das atividades desenvolvidas é fundamental para um bom desempenho

nos estudos.

Nessa relação, o apoio familiar se configura como etapa integrante ao acolhimento do

professor e dos colegas, complementando esse ciclo de relações. O incentivo dos pais ou

responsáveis nas práticas durante a semana em casa e nas aulas/ensaios com o grupo oferece ao

estudante motivação e entusiasmo. No Método Da Capo, Joel Barbosa orienta no livro do

regente que a cada seção do Método sejam organizados concertos públicos, incluindo

apresentações individuais com acompanhamento de piano, teclado, violão ou gravação, em

pequenos grupos e com a banda completa, e que sejam enviados convites para os pais, parentes

e amigos dos alunos (BARBOSA, 2004, p. 05).

3.2 Performance Musical

Compreender de fato o que entendemos neste trabalho por Performance Musical se faz

necessário, considerando que encontramos na literatura atual uma série de termos utilizados

como sinônimos. Performance, interpretação, reprodução, prática interpretativa, dentre outros,

são alguns exemplos que encontramos comumente. Ray entende o termo como “o momento em

que o músico executa uma obra musical exposto à crítica de outros” (RAY, 2005, p. 41), e

esclarece que:

[...] toda performance musical exige pelo menos um agente (instrumentista, cantor ou regente) e quatro fundamentos: 1) o domínio da manipulação física do instrumento; 2) o amplo conhecimento musical do texto a ser interpretado, bem como as considerações estéticas a ele relacionadas; 3) condições de interagir com os aspectos psicológicos envolvidos no exercer da profissão e 4) condições de reconhecer os limites do seu corpo constantemente e prioritariamente no contato com o instrumento (RAY, 2005, p. 41).

A colocação de Ray (2005) detalha minimamente o processo envolvido até se chegar no

resultado obtido no palco, o que vai de encontro ao entendimento de Kaminski (2017) que

considera a exposição do músico como algo inevitável e entendendo a performance musical

como:

[...] o resultado direto de toda a preparação do músico (instrumentista, cantor ou regente), isto é, o momento em que erros e acertos podem aparecer e passar pelo crivo da banca ou do público. A exposição é intrínseca à carreira da performance, pela qual os músicos necessitam, em muitos casos, realizar

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provas para ingresso em conservatórios, orquestras e outros conjuntos instrumentais ou mesmo no decorrer de cursos no ensino formal de música (KAMINSKI, 2017, p. 19).

Cerqueira e Oliveira (2014) afirmam que a performance musical é uma atividade que

requer uma série de demandas cognitivas, variando de acordo com a complexidade de cada

contexto musical. Desse modo, para ocorrer o ensino é necessário dialogar com outras áreas do

conhecimento humano, agregando-se a esse processo três estímulos: o visual, o auditivo e o

cinestésico ou tátil. Dessa forma, o indivíduo deve direcionar sua atenção para aspectos:

- Visuais – a partitura e a posição do corpo;

- Auditivos – a afinação e o controle desejado da sonoridade, e;

- Cinestésicos - táteis – sensação corporal do contato com o instrumento e de utilizar o

mínimo de esforço físico.

Os aspectos apresentados por Cerqueira e Oliveira (2014) reforçam a necessidade de

atenção durante suas atividades de prática e performance, pois alinhada à complexidade do

termo em si está a prática. Complementando esse raciocínio, Barry e Hallam (2002) elencam

uma série de procedimentos relacionados a uma performance musical satisfatória. Dentre estes,

estão a organização e o tempo de prática; estratégias cognitivas como a prática mental, o estudo

analítico musical e a metacognição (que se refere à reflexão do aprendiz sobre a própria

aprendizagem); sugestões sobre como iniciar o estudo de uma nova peça, como desenvolver a

interpretação, memorização da peça, preparação e motivação para os estudos.

Englobando todos esses aspectos, a performance musical é uma atividade multifacetada

e complexa que, a depender do enfoque na utilização de algum aspecto contemplado pelo termo,

pode ser nomeada de diferentes formas. Para esta pesquisa, o termo será entendido numa

perspectiva mais geral, englobando as diversas etapas que fazem parte desde o estudo e a

preparação do músico para uma apresentação até a realização de um concerto(s), incluindo

aspectos físicos, psicológicos, metodológicos, técnico-interpretativos e socioculturais.

3.2.1. O termo técnico-interpretativo

Para uma melhor compreensão do termo técnico-interpretativo precisamos analisar

isoladamente as partes que o compõe: a técnica e a interpretação. Numa perspectiva mais geral,

podemos considerar como técnica todas as ferramentas que utilizamos para atingir determinado

objetivo. Segundo o dicionário Aurélio (FERREIRA, 2004.), técnica é “o conjunto de processos

duma arte ou ciência”.

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Para nós, instrumentistas, a técnica envolve tudo aquilo que precisamos dominar na relação existente entre o performer e o seu instrumento: o caminho que percorremos para expor a nossa própria arte, expressar nossa musicalidade e alcançarmos o resultado que almejamos em nossas performances; um compromisso entre o processo de preparação e a finalidade a que deverá servir. Com isso, a ideia de algo com fim em si próprio, técnica pela técnica, não faz sentido. A finalidade é a interpretação (ARRUDA, 2016, p. 28).

Dessa forma, os estudos a que somos submetidos constantemente como notas longas,

flexibilidade, diferentes articulações, escalas, entre outros, são ferramentas para que possamos

obter a habilidade técnica necessária às atividades interpretativas que realizamos. Como

consequência, a interpretação musical se configura como o objetivo a qual a técnica está a

serviço e que dá suporte aos resultados de nossas performances. Dessa forma:

“Interpretação” designa, em música, a leitura singular de uma composição com base em seu registro que, representado por um conjunto de sinais gráficos, forma a “imagem do som”. O intérprete decodifica os sinais gráficos, transformando-os de maneira mais fiel em parâmetros sonoros. Desse modo, “interpretar” está diretamente ligado à compreensão dos elementos que estruturam uma obra, como: altura, melodia, ritmo, harmonia, tonalidade e tempo musical. Outros elementos caracterizam a música como linguagem. Entre eles, estão a articulação, a pontuação, a forma e o sentido. Também o fraseado e a coesão ou coerência fazem parte desta categoria. Tudo isso demanda, de um lado, uma postura introvertida, voltada para a análise e a reflexão teórica (em sentido aristotélico de contemplação mais do que de ação), ao passo que, de outro lado, demanda a prática instrumental (ou seja, a prática interpretativa propriamente dita) (KUEHN, 2012, p, 16).

Ou seja, a interpretação se recria a cada novo intérprete e performance, não sendo

possível torná-la imutável. Estando ancorada em diversos fatores subjetivos, a interpretação é

construída a partir das concepções pessoais de cada intérprete, porém, o conhecimento sobre a

obra, o compositor e suas características, é essencial para a constituição de uma interpretação

fundamentada. Laboissière (2007, p. 16) define a interpretação musical como:

[...] atividade recriadora, na medida em que a música – arte da produção, performance e recepção individuais, arte subordinada a diferentes fatores sociais, ideológicos, estéticos, históricos e outros – caracteriza-se pela impossibilidade de reconstituir sua origem legítima, ou seja, qualquer outra imagem de estabilidade.

A partir das definições apresentadas, serão realizadas reflexões sobre os aspectos

técnico-interpretativos identificados nas Orquestras de Metais Lyra Tatuí e Lyra Bragança.

Dentre os questionamentos que guiaram essa reflexão, destaco: quais estudos técnicos eram/são

realizados nos grupos? Como esses estudos influenciam nas apresentações? Quais

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características técnicas são mais enfatizadas em cada grupo? A partir dessas perguntas norteei

a minha abordagem nas partes 4 e 5 deste trabalho.

3.3 Nomenclatura dos projetos e suas definições

As Orquestras de Metais Lyra Tatuí e Lyra Bragança apresentam uma estrutura com

instrumentos de metal (trompetes, trompas, trombones, eufônios e tubas) e percussão

(tambores, surdos, pratos, dentre outros). Para as pessoas, em geral, nem sempre é fácil

determinar por qual nome esse tipo de grupo deve ser chamado. Para o senso comum do grande

público, grupo, fanfarra, banda, conjunto e terminologias similares são sinônimos e

possibilidades de identificação. A definição e nomenclatura de grupos musicais se dá pela

composição instrumental e características apresentadas pelos grupos. Nesse cenário, alguns

esclarecimentos se tornam importantes para a definição dos grupos pesquisados, considerando

algumas divergências quanto a essas definições.

Segundo o Regulamento 2019 da Confederação Nacional de Bandas e Fanfarras –

CNBF, os grupos que possuem a instrumentação acima apresentada, com instrumentos de metal

e percussão são definidas como Banda Marcial (CNBF, 2019, p. 5). Frungillo (2003) também

apresenta a banda marcial como“[...] conjunto de instrumentos de ‘sopro de metal’ e

“percussão” que se apresenta em desfiles comemorativos marchando nas ruas das cidades ou

em locais específicos como ‘coretos’ construídos em praças e guarnições militares”. No entanto,

o Dicionário Grove9 define banda marcial como sendo “destinada para desfile (marching band),

que se originou nos Estados Unidos, compõe-se de instrumentos de sopros de madeira e metais,

uma grande seção de percussão, balizas, porta-bandeiras e etc” (SADIE, 1994, p. 71). Dessa

forma, o Dicionário Grove apresenta a inclusão do naipe das madeiras na formação da banda

marcial, o que não é comum no Brasil. Esclarecendo melhor essa situação, Silva (2012)

apresenta que:

[...] em relação ao instrumental no ambiente da banda marcial americana, atualmente existe a presença dos instrumentos de madeira em sua organização, diferentemente da banda marcial brasileira, que ainda mantém a tradição de compor suas bandas apenas com percussão e instrumentos de metais, apesar de ter havido desenvolvimento nos metais, com a substituição das cornetas pelos trompetes. (SILVA, 2012, p. 50)

9 Traduzido da edição inglesa de The Grove concise dictionary of music, 1988.

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Nesse sentido, percebemos que mesmo com toda a tradição das bandas, ainda existem

algumas divergências em relação ao trabalho desenvolvido nos Estados Unidos e no Brasil. A

marching band americana, como visto, se diferencia da banda marcial brasileira pela inclusão

do naipe das madeiras em sua instrumentação. A CNBF (2019) define como banda musical de

marcha, o grupo com instrumentos de madeira, metais e percussão. Nos Estados Unidos,

grupos formados exclusivamente por instrumentos de metais e percussão são denominados por

Drum Corps. No Brasil, essa denominação Drum Corp ou Banda Show já está inserida nos

campeonatos de bandas e fanfarras, sendo também formadas por instrumentos de metal e

percussão, diferindo-se da banda marcial pela exigência de interagir durante sua performance

com um grupo coreográfico (CNBF, 2019, p. 6).

Ao longo do tempo percebemos nas bandas marciais algumas alterações na

instrumentação, vestimenta, dentre outros aspectos, devido a um processo de “americanização”

das práticas e formações instrumentais utilizadas, o que acarreta em certa dificuldade para uma

padronização e definição desses grupos. Outra questão importante a se considerar, é que

algumas definições não dão conta de apresentar a diversidade de atividades desenvolvidas em

um país do tamanho do Brasil. Por exemplo, o que a CNBF (2019) em São Paulo, considera

como banda musical de marcha, no Ceará são chamadas de banda de música, no Rio Grande do

Norte de bandas filarmônicas, dentre outras nomenclaturas regionais.

Alves da Silva (2018) afirma que:

Em relação a banda marcial, a maior característica é a apresentação em deslocamento. Essa característica não impede que ela realize apresentações com os integrantes em pé, sem se deslocar [...] e normalmente dão grande importância a aparência visual com valorização dos uniformes (fardamentos) e da postura de seus integrantes (ALVES DA SILVA, 2018, p. 11).

Na intenção de situar o público, Adalto Soares idealizador da Lyra Tatuí, afirma tendo

como referência a tradicional valorização das orquestras que:

Por desconhecimento, muitos se referiam ao grupo como “Banda Lyra Tatuí”; outros, como “Orquestra Lyra Tatuí”. Com o intuito de diminuir a redundância, mas optando por elevar a autoestima de seus músicos, os dirigentes definiram seu nome como ORQUESTRA DE METAIS LYRA TATUÍ (SOARES, 2018, p. 44).

A partir da definição de Soares (2018) e considerando que a Lyra Tatuí é mais antiga

que a Lyra Bragança, Marcus Bonna (2019) afirma em entrevista que seguiu a mesma

nomenclatura como forma de homenagear o grupo mais antigo.

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Quem não se empolgava quando via a Lyra Tatuí com Adalto? A gente gostou muito do trabalho dele e quando veio para Bragança a gente viu muita molecada na rua, não faziam nada, e aí sentimos vontade de fazer isso. Por isso, o nome Lyra Bragança. É uma homenagem a Lyra Tatuí (MARCUS, 2019)10.

A partir das afirmações acima, o objetivo desta pesquisa não é analisar o mérito das

divergências apresentadas pelas definições, e sim expor ao leitor esses esclarecimentos. De

forma geral, perceberemos no próximo capítulo que as características encontradas nas

Orquestras de Metais Lyra Tatuí e Lyra Bragança vão de encontro a instrumentação da banda

marcial brasileira, ou seja, sem os instrumentos do naipe das madeiras.

10 Entrevista cedida por Bonna, MARCUS. Entrevista II. [fev. de 2019] Entrevistador: Bruno Caminha Farias. Bragança Paulista – SP. Entrevista II – Marcus Bonna.mp3 (69 min.).

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4 AS ORQUESTRAS DE METAIS LYRA TATUÍ E LYRA BRAGANÇA

Neste Capítulo apresento os principais dados coletados referentes aos projetos

analisados por esta pesquisa. Serão apresentadas informações obtidas nas entrevistas

semiestruturadas realizadas com Adalto Soares da Orquestra de Metais Lyra Tatuí e com

Marcus Bonna, Kathia Bonna, Luis Custódio e Tiago Lattanzi da Orquestra de Metais Lyra

Bragança, juntamente de materiais bibliográficos já publicados sobre os grupos. Os dados serão

apresentados de forma conjunta, divididos em assuntos que se destacaram na revisão de

bibliografia e nas entrevistas.

4.1 Idealização dos projetos

Neste tópico apresentarei mais detalhadamente como se deu o início das Orquestras de

Metais Lyra Tatuí e Lyra Bragança, possibilitando uma melhor percepção do contexto em que

os projetos estão inseridos.

4.1.1 Orquestra de Metais Lyra Tatuí

A Orquestra de Metais Lyra Tatuí foi fundada em 2002 com o intuito de oportunizar o

aprendizado musical a alunos da rede pública de ensino do município de Tatuí – SP. Iniciou

suas atividades sem nenhum tipo de financiamento externo, contando inicialmente apenas com

o trabalho voluntário de Adalto Soares e Silvia Zambonini. O formato do grupo se deu pela

experiência profissional dos professores que já desenvolviam atividades com esses

instrumentos. Em entrevista11, Adalto ressalta ter tido duas principais influências para a

idealização da Lyra Tatuí: uma de cunho pedagógico e outra social. Nesse sentido, o professor

comenta que:

Participando de alguns concursos de bandas, participando como jurado e ali eu detectei que haviam, principalmente nas bandas da categoria infantil que ia até 14 anos de idade, que haviam muitos problemas de formação no que diz respeito a técnica de execução dos metais e na ocasião eu escrevi alguns comentários para as pessoas e tipo, são coisas simples como, postura de instrumento, a formação da embocadura, dos músculos da embocadura, posicionamento de bocal nos lábios, então isso me incomodava bastante por que eu estava analisando os garotos e na verdade eles estavam com falta de

11 Entrevista cedida por SOARES, Adalto. Entrevista I. [out. de 2018a] Entrevistador: Bruno Caminha Farias. Natal – RN. Entrevista I – Adalto Soares.mp3 (30 min.).

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informação. E isso aí me fez, isso me motivou na parte técnica da pedagogia dos metais e já na parte social, nosso país têm necessidades urgentes de alguma atividade que você dê uma perspectiva melhor de vida pra essa garotada, esses jovens que em muitos lugares, assim como têm em grandes centros ou nas grandes cidades, as vezes também há essa necessidade, por que falta uma atividade que leve... A música, o esporte. A arte em geral tem essa característica que consegue fazer com que as pessoas mudem seu nível social, mude a sua trajetória [...] (SOARES, 2018a).

Percebendo essa carência de informação e a falta de oportunidades em muitas cidades

brasileiras relacionadas à formação musical gratuita a crianças e jovens é que surge o projeto

Lyra Tatuí. Em um bairro periférico, “os trabalhos didáticos da Orquestra de Metais Lyra Tatuí

tiveram início na Escola Estadual Maria de Oliveira Marcondes, voltada para a formação de

crianças no ensino fundamental” (SOARES, 2018b, p. 64). No intuito de apresentar e convidar

os alunos a participarem, Adalto e Silvia juntamente com seus dois filhos, Bruno e Lucca, que

também são músicos, organizaram junto a escola um breve concerto didático nos turnos da

manhã e tarde para apresentação dos instrumentos musicais que formariam o grupo. O casal

possuía 41 instrumentos próprios a serem utilizados pelos participantes do projeto, “divididos

em 15 metais (4 trompetes, 1 flugelhorn, 2 trompas, 4 trombones de vara, 2 trombones de pistão

curto e 2 bombardinos), além de 26 instrumentos de percussão (6 caixas, 5 pratos, 4 bumbos, 6

surdos, 2 claves, 1 recoreco, 1 ganzá, 1 pandeiro)” (SOARES, 2018b, p. 65). Foram realizadas

312 inscrições de candidatos em uma faixa etária entre 07 e 10 anos.

Figura 6: Brasão da Orquestra de Metais Lyra Tatuí

Fonte: https://www.facebook.com/lyratatui/

Após o primeiro ano de atividades, sem salas e espaço para ensaios, o grupo se viu

obrigado a sair da escola, precisando se instalar provisoriamente em diversos espaços como na

Escola Estadual Professor Eugênio Santos, na sede do Tiro de Guerra, em um pequeno salão

no bairro Valinhos para a guarda dos instrumentos. Alguns ensaios aconteceram em ruas e

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praças até o momento em que começaram a usar o Lar Donato Flores onde se mantiveram até

o encerramento das atividades do projeto.

No Lar Donato Flores a Orquestra se estabeleceu, porém, apesar de dispor de uma

“variedade de espaços (pátios, espaços cobertos, sala para guardar os instrumentos de

percussão, dentre outros), uma vizinhança que não impedia o som alto e até a sombra de uma

grande árvore para os dias de ensaios de manhã, o local não era ideal para as práticas musicais”

(ARRUDA, 2016, p. 67). Mesmo sem a estrutura adequada, as atividades eram desenvolvidas

diariamente, de segunda a sexta “[...] sempre das 19h às 21h e no sábado das 9h até às 13h.

[...] Se tinha alguma apresentação, aí emendava de domingo a domingo” (SOARES, 2018a).

A Orquestra permaneceu formando alunos, realizando apresentações e ganhando destaque no

cenário musical nacional e internacional até encerrar suas atividades em 2015.

4.1.2 Orquestra de Metais Lyra Bragança

A Orquestra de Metais Lyra Bragança teve seu início em 2009, após a mudança de

Marcus Bonna e Kathia Bonna de São Paulo para Bragança Paulista com o intuito de instalarem

a MB Cases, empresa de estojos e acessórios para instrumentos musicais do casal. Chegando

em Bragança Paulista, perceberam um número considerável de crianças e adolescentes que

passavam o dia pelas ruas expostas as mais diversas situações. Diante desse contexto, os dois

como músicos profissionais sentiram a necessidade de desenvolver alguma atividade musical.

Assim pensaram em um projeto que ensinasse música gratuitamente e que teria também como

objetivo assistir socialmente os participantes.

Figura 7: Brasão da Orquestra de Metais Lyra Bragança

Fonte: https://www.facebook.com/abraa.lyrabraganca/

Posteriormente, Luiz Custódio (Babalu) solicitou um patrocínio para a gravação de um

CD de um antigo projeto e a partir desse encontro, no qual Marcus e Kathia passaram a conhecer

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seus projetos, experiência e trajetória com as fanfarras, decidiram dar início ao projeto da

Orquestra de Metais Lyra Bragança. Inicialmente, as aulas do projeto aconteciam aos sábados,

durante o dia na sede da MB Cases, onde era ofertado café da manhã, almoço e lanche da tarde.

O espaço conta com refeitório, salão de jogos, um grande espaço aberto e um auditório com

piano de cauda, para aulas e música de câmara. Os alunos tinham aulas de teoria musical,

instrumento, expressão corporal, canto coral e marcha. Como primeira experiência, o projeto

atendeu alunos do Serviço Assistencial Médico Alimentar - SAMA, porém, devido à

instabilidade de permanência desses alunos no SAMA, o projeto passou a receber alunos do

bairro em que a empresa está situada (RAMAZZINI, 2013).

Em 2012 foi realizada uma parceria com a Escola Estadual Prof. Luiz Roberto Pinheiro

Alegretti com o apoio da diretora Marisa Estevam, onde já havia sido desenvolvido um trabalho

com instrumentos de percussão. Com a parceria, formou-se a Fanfarra Alegretti que conta com

a participação de 130 alunos entre 09 a 18 anos. As aulas de iniciação musical, instrumento e

marcha passaram a acontecer na Escola as segundas, terças, quintas e sextas; e os ensaios na

MB Cases na quarta à noite e no sábado durante o dia. Os melhores alunos da Fanfarra Alegretti

são convidados a integrarem a Lyra Bragança e os melhores da Lyra se tornaram instrutores na

iniciação musical realizada na Fanfarra Alegretti.

A partir desse processo de cooperação, os dois grupos vêm se desenvolvendo e obtendo

considerável destaque nos eventos e campeonatos que têm participado, tendo saído vencedores

em muitas ocasiões. É importante destacar o interesse de alguns alunos pela profissionalização

na música, buscando participar de cursos, festivais e aulas com músicos profissionais, assim

como a inserção de alguns no mercado de trabalho.

4.2 A formação e trajetória profissional dos idealizadores dos projetos

Os grupos participantes desta pesquisa tiveram como figuras principais dois casais, que

a partir de suas experiências profissionais, buscaram contribuir de forma significativa na vida

de seus alunos e para a consolidação dos grupos.

Adalto, natural de Santos – SP, trompista e luthier de instrumentos de metal com vasta

experiência musical, teve sua iniciação musical na Banda de Música de Cubatão – SP. Atuou

em diversas orquestras brasileiras como a “Orquestra Sinfônica da Paraíba, Orquestra Sinfônica

Municipal de Campinas, Orquestra de Câmara da UNICAMP, Orquestra Jazz Sinfônica e

Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo – OSESP, e como convidado em variados tipos de

formações sinfônica e popular” (SOARES, 2018b, p. 61). É doutor pela Universidade Federal

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da Bahia, tendo pesquisado e descrito a trajetória e as práticas musicais desenvolvidas na

Orquestra de Metais Lyra Tatuí. Atualmente é professor de trompa na Universidade Federal do

Rio Grande do Norte – UFRN.

Silvia, natural de Ribeirão Preto – SP, estudou piano, trompa e percussão. Desenvolveu

sua carreira como percussionista tendo atuado na Orquestra Sinfônica Municipal de Campinas,

na “Banda Sinfônica do Estado de São Paulo e, como convidada, em diversos grupos tais como:

Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo,

Orquestra Jazz Sinfônica de São Paulo, entre outras” (SOARES, 2018b, p. 59). É mestra em

Educação Musical pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO, onde

desenvolveu pesquisa sobre o ensino de percussão na Orquestra de Metais Lyra Tatuí.

Durante suas atividades no projeto, Adalto e Sílvia contemplavam além de aspectos

musicais, questões relacionadas à formação do ser humano, do ser social e cultural. Nesse

processo, Adalto ficou responsável pelo ensino dos instrumentos de metais e ensaios; e Silvia

pelos instrumentos de percussão, sempre dando assistência e colaborando. Ambos eram

responsáveis pelo ensino teórico.

Marcus, nascido no Pará, mudou-se para São Paulo em 1982 onde foi trompista da

Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo – OSESP, por 20 anos. Após o diagnóstico de uma

distonia focal mandibular12, precisou encerrar a carreira de músico profissional, passando a

dedicar-se então a MB Cases, indústria de estojos para instrumentos musicais e acessórios. Em

2008, mudou-se para Bragança Paulista buscando maior espaço para sua empresa, que tem se

consolidado como uma das principais do ramo, exportando 98% da sua produção. Na orquestra,

Marcus é responsável pelos ensaios e regência.

Kathia Bonna, nascida em São Paulo, estudou composição, regência e firmou sua

carreira como pianista. Ganhou prêmios em diversos concursos como o 1º prêmio e prêmio de

Melhor Intérprete no Concurso Nacional Fructuoso Vianna de Música Brasileira e venceu o

Concurso Jovens Solistas da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo e da Orquestra

Sinfônica de Porto Alegre. Tem participado como pianista convidada em diversos eventos como

o ITF (International Trombone Festival) na Universidade de Illinois e na Belmont University

(USA) e também no IHS (International Horn Society) nas cidades de Valencia (Espanha), La

Chaux-du-Fonds (Suíça), Londres (Reino Unido) e nos Estados Unidos em Denver, Memphis,

12 Distonia é o termo usado para descrever um grupo de doenças caracterizado por espasmos musculares involuntários que produzem movimentos e posturas anormais. Esses espasmos podem afetar uma pequena parte do corpo como os olhos, pescoço ou mão (distonias focais), duas partes vizinhas como o pescoço e um braço (distonias segmentares), um lado inteiro do corpo (hemidistonia) ou todo o corpo (distonia generalizada). Disponível em: http://www.distonia.com.br/pt-br/site.php?secao=distonia. Acessado em: 16 de abr. de 2019.

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e Los Angeles. Realizou gravações com o trombonista Wagner Polistchuk – o CD Collectanea:

“Música Brasileira para Trombone e Piano” – e com o trompista Luiz Garcia – o CD “Imagens”:

Música Brasileira para trompa e piano. No projeto Lyra Bragança, Kathia é coordenadora

pedagógica, professora de teoria e percepção, e música de câmara acompanhando os alunos ao

piano.

Um outro personagem fundamental para a Lyra Bragança é o Luis Custódio Oliveira da

Silva, o “Babalu”, que além de coordenador geral, desenvolve um monitoramento social dos

alunos na cidade, fazendo uma articulação entre o grupo e suas famílias. Com uma experiência

de 33 anos com fanfarras em Bragança e região, fica também sob sua responsabilidade as

instruções de ordem unida e alguns direcionamentos disciplinares.

4.3 Equipe organizadora

As Orquestras de Metais estruturaram-se com diversas atividades, ofertando uma

formação musical que possibilitasse o aprimoramento técnico instrumental e a formação

humana e social dos alunos. Na Orquestra Lyra Tatuí, além dos professores Adalto e Silvia, em

2009, integrou-se à equipe, a professora Ana Cristina Machado que “passou a ficar responsável

por ensinar danças típicas brasileiras e sapateado, além de contribuir nas coreografias que

passaram a ser elaboradas de forma conjunta” (SOARES, 2018b, p. 77). Com uma formação

instrumental tradicionalmente característica das bandas marciais como apresentado na terceira

parte desta dissertação, uma outra particularidade desse tipo de formação é a “[...] grande

importância a aparência visual com valorização dos uniformes (fardamentos)” (ALVES DA

SILVA, 2018, p. 11), o que a Lyra Tatuí modificou um pouco em suas apresentações em

consequência de melhores resultados nas movimentações em suas performances. Dessa forma,

o grupo teve como profissionais atuantes o professor Adalto Soares com os instrumentos de

metal; a professora Silvia Zambonini com os instrumentos de percussão; e a professora Ana

Cristina com as atividades de preparação corporal e coreográficas, como citado. Outra situação

que acontecia, esporadicamente, era a indicação de alguns instrutores para conduzirem os

ensaios na ausência de Adalto e Silvia, sendo geralmente indicados aqueles alunos que mais se

destacavam.

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Quadro 2: Equipe organizadora OMLT

Fonte: Elaborado pelo autor

Na Orquestra de Metais Lyra Bragança, torna-se interessante pensar o processo dividido

em duas situações: (1) as atividades na Fanfarra Alegretti e (2) as atividades desenvolvidas

diretamente na Orquestra Lyra Bragança. O processo iniciado na Fanfarra Alegretti é orientado

por Tiago Lattanzi que é o professor dos instrumentos de metais e maestro da Fanfarra, e alguns

monitores que o auxiliam. Todos fazem parte da Lyra Bragança – professor e monitores. Como

já citado anteriormente, a partir do trabalho realizado na Fanfarra Alegretti, os alunos que se

destacam são incentivados a participarem da Orquestra de Metais Lyra Bragança, o que se torna

fator de motivação aos alunos para se dedicarem e ingressar no grupo mais avançado.

Figura 8: Apresentação da Orquestra de Metais Lyra Bragança e participação da Fanfarra Alegretti

Fonte: http://mbcases.com.br/pt/projeto-lyra-braganca/

Além das aulas de instrumento, os alunos que ingressam na Lyra Bragança participam

de atividades complementares com os seguintes professores: Leandro Ramazzini – professor

de canto, expressão corporal, leitura musical, manutenção instrumental e percussão; Guilherme

Orquestra de Metais Lyra Tatuí

Adalto Soares Sílvia Zambonini

Cristina Machado

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Rodrigues – professor de percussão; e Kathia Bonna – professora de teoria, percepção e música

de câmara. A regência e ensaios da Orquestra ficam a cargo do professor Marcus Bonna e a

coordenação geral dos dois projetos é de Luiz Custódio. Podemos perceber, nesse processo, a

relação complementar que os dois projetos possuem, refletindo diretamente na vida das diversas

crianças e jovens.

Quadro 3: Equipe organizadora OMLB

Fonte: Elaborado pelo autor

4.4 Principais características

Apresentarei neste tópico as atividades desenvolvidas no cotidiano dos grupos e suas

principais características, expondo um panorama do contexto em que estamos envolvidos. No

âmbito dos instrumentos de metal, as práticas geralmente envolvem trompetes, trombones,

trompas, eufônios e tubas, além de algumas variações desses instrumentos, porém todos com

sua produção sonora através do princípio da vibração labial através do bocal. É importante

ressaltar que os dois grupos estudados possuem atividades com instrumentos de percussão.

Porém, considerando os objetivos desta pesquisa, irei focar principalmente nas atividades

envolvendo os instrumentos de metal.

4.4.1 As Orquestras de Metais e suas atividades

A Orquestra de Metais Lyra Tatuí passou por momentos distintos em seus anos de

atividade. O primeiro destes foi a iniciação onde todos tiveram que ser musicalizados,

Orquestra de Metais

Lyra Bragança

Marcus Bonna

Kathia Bonna

Luiz Custódio

Fanfarra Alegretti

Tiago Lattanzi Monitores

Melhores alunos

Luiz stódio

ago anzi Monitores

Melhores al

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apresentados aos instrumentos, as técnicas - tudo era novo. Em 2003, cerca de um ano depois

da criação do projeto, em um período intermediário, o grupo já estava formado, tocando

algumas músicas e os alunos em potencial desenvolvimento, focados nos estudos e já com

algumas oportunidades de participarem de concursos de bandas. Quando se alcançou um nível

com alunos avançados, a orquestra então apostou em performances mais ousadas com uma

produção que envolvia muitos outros aspectos além da música, como movimentações de palco,

dança e partes cantadas.

A Orquestra de Metais Lyra Bragança, assim como a Lyra Tatuí, também passou por

algumas fases até chegar na estrutura atual. A partir de 2012, com a ampliação do projeto

através da parceria firmada com a Escola Estadual Luiz Roberto Pinheiro Alegretti, as aulas de

iniciação musical, instrumento e marcha passaram a acontecer na escola, envolvendo os alunos

interessados e que possuem 100% de frequência e tem boas notas.

Figura 9: Aula de trompete no Alegretti com Tiago Lattanzi

Fonte: http://mbcases.com.br/pt/projeto-lyra-braganca/

As aulas de instrumentos acontecem coletivamente, em alguns momentos, divididas por

naipes, assim como nas figuras 3, 4 e 5, e em outros momentos com todos os metais juntos, mas

sempre de forma coletiva. Essa rotina semanal de aulas fica dividida, acontecendo na Escola e

na MB Cases. Nesse sentido, Tiago13 (LATTANZI, 2019) relata que todas as segundas realizam

estudos técnicos e ensaios de naipe na MB Cases com os trompetes em formato de masterclass,

onde cada aluno apresenta individualmente seu exercício, repertório ou dificuldade técnica.

Tiago considera que “[...] muitas vezes com o erro de um, o outro vai aprendendo. Então,

mesmo sendo “individual” (em formato de masterclass) a aula, eles estão em conjunto na sala,

13 Entrevista cedida por LATTANZI, Tiago. Entrevista V. [fev. de 2019] Entrevistador: Bruno Caminha Farias. Bragança Paulista – SP. Entrevista V – Tiago Lattanzi.mp3 (14 min.).

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todos estão participando da aula”. Essa mesma rotina também acontece nos dias de ensaios

gerais, quarta e sábado, havendo então aulas técnicas, ensaio de naipe e ensaio geral. Dessa

forma também acontece com os trombones, trompas e tubas, auxiliados pelos monitores.

Figura 10: Aula de trompa no Alegretti.

Fonte: http://mbcases.com.br/pt/projeto-lyra-braganca/

Figura 11: Aula de trombone, eufônio e tuba no Alegretti.

Fonte: http://mbcases.com.br/pt/projeto-lyra-braganca/

A Lyra Tatuí, que desenvolvia suas atividades diariamente, dividia esse processo em

duas etapas: (1) o ensaio musical com os instrumentos de metal e percussão realizados de

segunda a sábado; (2) e o ensaio coreográfico aos sábados. Os ensaios tinham como principal

objetivo o aperfeiçoamento performático do grupo como um todo, trabalhando o detalhamento

envolvido nas apresentações da Lyra, a depender da necessidade de cada apresentação. Se era

um desfile cívico, o trabalho era mais direcionado para a marcha e para as movimentações do

grupo. Se fosse uma apresentação em palco, o que veio a acontecer mais tarde, o direcionamento

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já seria para as marcações de palco e coreografias. Ressaltando essa objetividade nos ensaios,

Soares (2018a) afirma que: “Se tinha que marchar, ensaiar na posição de marcha. Concerto,

ensaiava na posição de concerto e depois quando tinha show com movimentações

coreográficas, aí não tinha como, era movimento mesmo”. Isso sempre sem esquecer da

exigência com a qualidade musical do grupo.

Os ensaios com os instrumentos de metal e percussão tinham sempre uma rotina

específica de atividades, onde parte do tempo inicial era destinado para aquecimento e estudos

técnicos e, posteriormente, era realizado o ensaio propriamente dito com atenção direcionada

ao repertório e suas dificuldades. Essas atividades serão apresentadas nos tópicos a seguir.

4.4.1.1 Alongamentos e exercícios físicos

No início, com a formação da primeira turma da Lyra Tatuí, no qual foi necessário

iniciar musicalmente todos os alunos, algumas estratégias e procedimentos foram utilizados.

Para a iniciação aos instrumentos de metais, o processo teve como princípio exercícios de

alongamento corporal, enfatizando o alongamento do pescoço, braços, pernas e coluna com

atenção à postura (SOARES, 2018b). Essa é uma atividade bastante utilizada em práticas

musicais com o intuindo de prevenir possíveis dores e lesões futuras.

Posteriormente, com a inclusão de danças, coreografias e, consequentemente, em mais

movimentações nas performances do grupo, foi necessário incluir exercícios físicos na rotina

para dar suporte ao condicionamento físico dos músicos, o que era realizado aos sábados. Eram

realizadas corridas pelas ruas e na praça do bairro de Andrea Ville eram feitos exercícios de

alongamento, abdominais, flexões e agachamentos.

4.4.1.2 Respiração e fortalecimento muscular

Para os exercícios de respiração, o professor Adalto buscava sempre alternativas lúdicas

que incentivassem os alunos a uma prática constante e prazerosa. Nessa perspectiva, como

exercício de respiração era proposto que:

Com o auxílio de uma folha de caderno, ligeiramente amassada, o aluno se postava de frente para a parede, aproximadamente vinte centímetros de distância, onde ele posicionava a folha na altura da sua boca e a encostava na parede. Inspirava e soprava mantendo-a fixa na parede somente com o ar expirado, sem utilizar as mãos, o maior tempo possível (SOARES, 2018b, p. 110).

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Dessa forma, desenvolviam-se as habilidades dos alunos descontraidamente através de

uma proposta que possibilitou uma competição sadia entre eles, de forma que quem conseguisse

manter a folha por maior tempo e na maior distância, ganhava. Isso dentro de categorias de

vinte centímetros, trinta e cinco centímetros ou com a distância do braço estendido (SOARES,

2018b).

Marcus e Kathia14 também refletem sobre essa perspectiva de trabalhar técnica e

repertório a partir do contexto do aluno, utilizando músicas presentes no cotidiano e

apresentando-os outras possibilidades de repertório, compositores e sonoridades. Marcus relata

o exemplo de um arranjo, escrito por Tiago, de uma música popular nas rádios e comumente

cantada nos ensaios: rapidamente os alunos se interessaram e passaram a tocá-la. Kathia afirma

que é nesse momento que aproveitam para estimular o aprendizado de outros repertórios:

Aí, a gente vai e mostra um Villa Lobos [...]. Eles gostam de funk, essas coisas, mas entram no projeto e começam a abrir a cabeça para música mais complexa e eles se apaixonam [...] Mas com o tempo eles vão assimilando, vão tocando, vão achando bonito, vai abrindo os horizontes, mas tem quem começar assim, puxando pelo repertório deles (KATHIA, 2019).

Outra proposta a ser trabalhada com os exercícios de respiração foi um exercício para o

fortalecimento da musculatura da embocadura, apresentado pelo professor Will Sanders15, que

realizava visitas periódicas a Lyra Tatuí. O exercício consiste em utilizar um lápis que deve ser

posicionado entre os lábios (Figura 11) e realizado o movimento com a intensão de mantê-lo

erguido o máximo possível, simultaneamente à inspiração e relaxando ao expirar. Esse

movimento era repetido várias vezes por cinco minutos para o condicionamento da

musculatura.

Figura 12: Exercício com lápis

Fonte: https://bit.ly/2kuVNZy

14 Entrevista cedida por Bonna, KATHIA. Entrevista III. [fev. de 2019] Entrevistador: Bruno Caminha Farias. Bragança Paulista – SP. Entrevista III – Kathia Bonna.mp3 (15 min.). 15 https://www.conservatoriummaastricht.nl/en/about-us/team/will-sanders

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Em determinado momento, com mais movimentações nos palcos, viu-se a necessidade

de realizar exercícios para desenvolver e ampliar a capacidade respiratória dos alunos. Um dos

exercícios era praticado como no quadro 4, com o intuito de trabalhar a respiração. Em pulsação

com 60 batimentos por minuto (q = 60 bpm), inspira-se 4 tempos e expira-se 4 tempos,

aumentando um tempo a cada etapa até chegar em 10 tempos para cada movimento. Em uma

outra possiblidade do exercício para aumentar a capacidade pulmonar - após a inspiração era

necessário sugar rapidamente mais cinco vezes o ar, para só depois relaxar e expirar.

Quadro 4: Exercício de respiração

Inspira Expira

4 tempos 4 tempos

5 tempos 5 tempos

6 tempos 6 tempos

7 tempos 7 tempos

8 tempos 8 tempos

9 tempos 9 tempos

10 tempos 10 tempos

Fonte: Elaborado pelo autor

Com foco no condicionamento físico dos alunos e no preparo para respostas rápidas no

palco, mudanças de posicionamento e do ângulo preciso dos instrumentos, era realizado

algumas vezes por semana o seguinte exercício: os alunos mantinham o posicionamento da

embocadura, abriam a boca para inspirar e ao fechar a boca para expirar, vibravam o lábio.

Todos esses exercícios possibilitam um melhor controle e precisão da respiração no momento

da performance.

Pensando no desenvolvimento do fluxo contínuo de ar, o professor Adalto utiliza um

exercício complementar conforme a figura 8, que consiste em tocar a primeira mínima

articulando com “tá” e na pausa manter-se somente soprando no instrumento, retornando

novamente a tocar no compasso seguinte, repetindo o mesmo processo a partir do Sol3 descendo

cromaticamente até o Dó3, sempre com atenção em sustentar o fluxo de ar até o fim do exercício.

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Figura 13: Exercício de fluxo de ar

Fonte: SOARES, 2018b, p. 126.

4.4.1.3 Vibração Labial

Pensando em uma sequência para a iniciação dos alunos a essas técnicas, o próximo

passo seria orientar sobre a vibração labial sem bocal, levando os alunos a tentarem reproduzir

o som do motor de um carro, por ser uma analogia de fácil compreensão e que faz parte do

cotidiano das crianças. A partir da vibração dos lábios, esse era o momento para o

posicionamento do bocal. O professor Adalto (2018a) afirma que:

[...] o primeiro contato do bocal contra o lábio dos alunos era eu que colocava. Então ele já criava uma memória física de posicionamento, a partir de mim. Então eu fazia essa interferência. Você primeiro mostra. Algumas pessoas falam: embocadura natural. Bom, embocadura natural a partir do momento que você dá uma orientação. Se uma pessoa vai fazer uma embocadura e está colocada de qualquer jeito, não é assim! Então eu fazia essa orientação. Depois eu deixava com ele [o aluno] [...].

A partir dessa orientação do posicionamento do bocal nos lábios e para a formação da

embocadura, os alunos já tinham a possiblidade da emissão dos primeiros sons nos seus

respectivos instrumentos. Para esse processo, o professor Adalto (SOARES, 2018b, p. 107)

apresenta em sua tese um passo a passo dessas etapas para a emissão do som, que são: 1 -

Postura; 2 - Posicionamento da embocadura; 3 - Posicionamento do bocal; 4 - Inspiração; e 5 -

Expiração de forma contínua, permitindo a vibração labial e, consequentemente, a produção do

som.

A vibração labial que era realizada inicialmente somente com notas longas passou a ser

trabalhada como flexibilidade, através de glissandos com intervalos de quintas descendentes.

Cada nota era realizada duas vezes, descendo de meio em meio tom.

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Figura 14: Exercício de vibração labial com glissando

Fonte: SOARES, 2018b, p. 124.

Outro exercício de vibração labial com glissando16 (figura 14) também foi apresentado

pelo professor Will Sanders. Descendo em semitom, o exercício tenta evitar qualquer

movimento dos músculos da embocadura, o que se tornava um desafio a mais para os alunos

da Lyra.

Figura 15: Exercício de vibração labial com glissando

Fonte: SOARES, 2018b, p. 134.

4.4.1.4 Aula Teórica

Na Lyra Tatuí o processo inicial da rotina de estudos era composto por alongamento,

exercícios de respiração e vibração labial (sem e com bocal). Antes de irem para a prática com

os instrumentos, os alunos recebiam orientações teóricas sobre leitura musical e seus diversos

conteúdos como pentagrama, clave de sol e de fá, figuras e valores musicais, fórmula de

compasso, barras de compasso e de repetição. Essa etapa de aquecimento e teoria que antecedia

o contato com o instrumento durava em torno de vinte minutos (SOARES, 2018b).

Além das atividades técnicas durante os ensaios, uma vez por mês era realizado uma

avalição para verificar o desenvolvimento dos alunos e possíveis aspectos a serem melhorados.

Essa avaliação ocorria de forma oral, onde os alunos respondiam sobre conteúdos abordados

como teoria musical, história da música e do Brasil, dentre outras questões, através de

discussões com todos; e de forma prática, onde após orientações sobre a exposição ao público

cada aluno apresentava exercícios trabalhados nas aulas perante os demais, simulando uma

16 O glissando é um elemento de técnicas estendidas muito comum na música popular e contemporânea a partir do século XX. É basicamente uma técnica para chegar de uma nota a outra com o efeito de “deslizar” (SILVA, 2016b, p. 27).

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apresentação. Posteriormente havia discussões sobre o que foi apresentado buscando

aprimoramentos.

Na Lyra Bragança são realizadas aulas teóricas distribuídas entre dois professores,

abordando o aprendizado da teoria musical, solfejo e percepção. A professor Kathia Bonna

trabalha com os alunos mais antigos e o Leandro Ramazzini fica com os iniciantes.

Figura 16: Aula de teoria musical na MB Cases com Kathia Bonna

Fonte: http://mbcases.com.br/pt/projeto-lyra-braganca/

Tendo sido aluna de Osvaldo Lacerda, Kathia ressalta utilizar nas aulas teóricas os livros

e a metodologia de seu professor, além do livro de teoria do Bohumil Med17 e do Pozzoli18

rítmico e melódico. Kathia destaca também que devido às faixas etárias e níveis de aprendizado

diferentes na mesma sala, é necessário utilizar diversas estratégias para que os alunos absorvam

o conteúdo musical, recorrendo muitas vezes a desenhos e linguagem corporal.

Considerando a importância da compreensão e leitura musical para o desenvolvimento

do músico, esse trabalho é realizado progressivamente, motivando os alunos conforme a

evolução dos grupos. À medida que determinadas dificuldades sejam superadas, novos

elementos são inseridos através do repertório, proporcionando um constante processo de

aprendizagem.

17 MED, Bohumil. Teoria da Música 4. ed. ver. e ampl – Brasilia, DF: Musimed, 1996. 18 POZZOLI. Guia Teórico-Prático para Ditado Musical, parte I e II. São Paulo: Ricordi Brasileira, 1983.

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63

4.4.1.5 Prática Instrumental

O primeiro contato com o instrumento escolhido por cada aluno19 na Orquestra e Metais

Lyra Tatuí foi um momento de ansiedade. Para esse momento com os instrumentos foram

utilizados e distribuídos para cada naipe o método de ensino coletivo americano Belwin 21st

Century Band Method de Jack Bullock e Anthony Maiello, que contém exercícios e músicas

folclóricas americanas. Foram dadas orientações em relação a como utilizar a respiração para a

emissão do som, postura, forma de segurar os instrumentos, pronúncia da sílaba “tá” para o

início da nota, dentre outras questões.

Caso algum aluno apresentasse dificuldade em emitir o som, uma orientação específica era dirigida de forma individual para que o mesmo pudesse superá-la. Ao mesmo tempo em que era passada a orientação, pedia-se para que todos prestassem atenção para que, no futuro, também pudessem auxiliar outros a solucionar questões referentes às técnicas de emissão sonora (SOARES, 2018b, p. 112).

Dessa forma, o processo com o instrumento ocorreu de forma similar sempre que uma

nova nota era apresentada, sendo que a partir da quinta nota, exercícios para o desenvolvimento

da embocadura e para articulação foram apresentados.

Quadro 5: Processo de iniciação aos instrumentos de metal na OMLT.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Um fator importante de estímulo para os grupos destacado pelos idealizadores dos

projetos é manter a motivação dos envolvidos. Adalto e Marcus relataram sempre estar

inserindo novos desafios técnicos e musicais no repertório estudado. Uma questão positiva

desse procedimento é a prática dos professores em escreverem os arranjos direcionados ao nível

técnico dos músicos.

19 É importante salientar que essas escolhas se deram pela disponibilidade dos exemplares, de acordo com a ordem de inscrição (SOARES, 2018b, p. 112).

Alongamento Respiração

Vibração

Labial

sem e com bocal

Aula

Teórica

Prática com

Instrumento

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4.4.1.6 Notas longas

Exercícios de notas longas são tradicionalmente desenvolvidos por vários instrumentos.

Em algumas escolas ou grupos esse trabalho se expande a toda a banda ou orquestra, tendo

materiais próprios para esse tipo de exercício. Consideradas como uma espécie de aquecimento

ou estímulo ao início da prática com o instrumento, as notas longas geralmente estão entre os

primeiros capítulos dos principais métodos para os instrumentos de metal.

Na Lyra Tatuí alguns exercícios eram realizados utilizando escalas ascendentes e

descendentes em uníssono, cada nota com duração de oito tempos em uma pulsação lenta e com

foco na sonoridade, afinação e músculos envolvidos na respiração. Outra abordagem utilizada,

nesse estudo, consistia em tocar notas longas em falsetto. No estudo, tocava-se Dó3 e depois

Ré3 usado normalmente os pistons ou a vara do instrumento, e depois tocava-se a última das

notas sem a utilização dos pistons ou vara (instrumentos de pistons e rotores ficavam sem

acionamento e os trombones com a vara fechada na primeira posição). O Ré3 era soado somente

com a vibração labial. Dessa forma, seguia o estudo acrescentando novas notas até se completar

a escala. Ou seja, Dó3, Ré3, Mi3 e depois somente o Mi3 era tocado sem a utilização das posições,

e assim por diante, como mostrado na figura abaixo. As notas a serem tocadas em falsetto estão

representadas com o sinal de +.

Figura 17: Notas longas com falsetto.

Fonte: SOARES, 2018b, p. 135.

Adalto enfatiza que esse estudo se mostrou “muito eficiente para a formação da

embocadura, equilíbrio da sonoridade entre as regiões grave e médio, bem como para o controle

da afinação” (SOARES, 2018b, p. 136). Nesse sentido, um exercício também realizado era o

de notas longas com frullato20, que se mostrou eficiente para a melhoria da qualidade sonora e

segurança nas articulações. Buscar novas formas de realizar os estudos possibilita aos alunos

outras formas de aprendizado e desenvolvimento.

20 Segundo Silva (2016b, p. 23) a produção do frullato se dá por “[...] um rápido movimento da ponta da língua, da mesma maneira da pronúncia dos “R’s” em muitos idiomas” (CHERRY, 2009, p. 56, tradução nossa), ou pela garganta, como uma alternativa ao performer que, por possíveis limitações físicas, não consiga executar com a língua. O resultado sonoro é como de um rufo ou rulo, técnica desenvolvida para sustentação do som em alguns instrumentos de percussão.

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4.4.1.7 Estudos de articulação

A articulação é a maneira como utilizamos para “tocar” os sons. O professor Nailson

apresenta que “articular é conectar e/ou pronunciar um ou vários sons” e que o resultado disso

pode ser resumido em dois elementos básicos: sons ligados e sons separados ou destacados

(SIMÕES, 2001, p. 34). Dissenha21 esclarece que “[...] o início das notas não é uma função da

língua, mas do ar. Nesse processo [de articulação], a língua deve funcionar como uma válvula

reguladora que define a duração das notas” (DISSENHA, 2009).

Para uma uniformidade nos ataques e finalizações das notas se torna importante pensar

e definir como se pretende usar as articulações. Pensando-se nisso, foi trabalhado com o grupo:

[...] articular a nota somente com o ar, sem o auxílio do movimento da língua. Isso exigia um maior fluxo de ar no início da articulação. Dessa forma melhorava o início da vibração labial, aumentando, significativamente, a sonoridade e uma resposta imediata na articulação. Esse exercício aprimorava a precisão e sincronismo entre os naipes (SOARES, 2018b, p. 125).

Com esse objetivo, foram realizados exercícios a partir do Sol3 descendo,

cromaticamente, até o Dó3 com divisões rítmicas de semínimas, colcheias, tercinas de colcheias

e semicolcheias como mostrado na figura abaixo.

Figura 18: Exercício de articulação

Fonte: SOARES, 2018b, p. 125.

Os exercícios da figura 13 eram realizados de diversas maneiras, com o intuito de

diversificar os estudos e manter os alunos estimulados à prática diária. A partir de uma

21Fernando Dissenha é trompete solo da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, professor de trompete na Faculdade Cantareira e EMESP e clinician da Yamaha Musical do Brasil.

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tonalidade escolhida pelo professor, o exercício seguia um processo evolutivo: (1) iniciava com

os alunos solfejando o ritmo com sílabas que podiam variar entre tá-té-ti-tó-tu ou dá-dé-dí-dó-

du; (2) posteriormente com vibração labial e fazendo a digitação das notas no instrumento; (3)

soprado no instrumento sem sonoridade, mantendo o fluxo do ar constante; (4) depois tocando

com frullato; (5) e tocando nos instrumentos sem frulatto. O processo era realizado em outras

articulações como stacatto, tenuto, marcatto e nota acentuada (SOARES, 2018b, p. 136).

4.4.1.8 Estudos de intervalos

Estudos de intervalos também foram inseridos na rotina, considerando a necessidade

constante da realização de saltos entre notas diferentes. Os exercícios eram propostos a partir

de escalas do conhecimento dos alunos com figuras de semínimas, subindo de grau em grau até

chegar na oitava, uma vez com ligadura e em seguida articulado. Veja o exemplo a seguir:

Figura 19: Exercício de intervalos

Fonte: SOARES, 2018b, p. 127.

4.4.1.9 Estudos de escalas e arpejos com articulações variadas

Com um trabalho de desenvolvimento técnico pensado através do repertório praticado

pelo grupo, estudos de escalas com articulações variadas foram sendo trabalhadas com os

alunos. No início desse processo os alunos tocavam somente até o quinto grau, o que ia sendo

desenvolvido até se completar a escala. Dessa forma “as variações propostas foram pensadas

de acordo com as encontradas nas peças musicais a serem tocadas, tais como: todas as notas

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ligadas, articulação com valor cheio de nota, articulação destacada e notas acentuadas”

(SOARES, 2018b, p. 127).

Figura 20: Exercício de escalas com articulações variadas

Fonte: SOARES, 2018b, p. 128.

No momento em que os alunos se apresentavam seguros nas tonalidades e articulações

estudas, foi acrescentado à escala o estudo em terças ascendentes e descendentes e o arpejo.

Figura 21: Exercício de escalas.

Fonte: SOARES, 2018b, p. 138.

O trabalho desenvolvido com as escalas foi também replicado com estudos de arpejos,

utilizando o mesmo processo apresentado no item anterior, onde o exercício segue o processo

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de (1) iniciar solfejando o ritmo com sílabas; (2) posteriormente com vibração labial e fazendo

a digitação das notas no instrumento; (3) soprado no instrumento sem sonoridade, com foco no

fluxo do ar constante; (4) depois tocando com frullato; e (5) finalmente tocando no instrumento

sem frullato. O professor Adalto afirma que:

As articulações para as práticas eram: ligado, tenuto, acentuado, stacatto, marcatto, duas notas ligadas e duas stacatto, duas stacatto e duas ligadas, colcheia com ponto e semicolcheia, semicolcheias com repetição e finalizando com semicolcheias com ligadura e repetição. Acrescentou-se ainda stacatto duplo e triplo, era feito também um estudo preliminar de articulação com as sílabas ka, ku ou gu (SOARES, 2018b, p. 137).

Figura 22: Exercício de arpejos com articulações variadas

Fonte: SOARES, 2018b, p. 137.

A partir do exposto, percebemos quais foram características técnicas que o grupo

desenvolveu e todo o processo metodológico necessário para se chegar nos resultados musicais

obtidos. Todos os aspectos técnicos apresentados até aqui demonstram a rotina coletiva diária

de estudos no qual o grupo se engajava. O professor Adalto reforça que a diferença e

particularidade da Lyra:

[...] é que esses alunos faziam isso todos os dias. Independente se nós tínhamos apresentação ou não. Até no dia da apresentação nós chegávamos e fazíamos os estudos. [...] Esses estudos levam você a adquirir uma técnica, a manter essa técnica e “desenvolvendo” cada vez mais. E ele [o processo de

estudos] foi sendo também transformado no sentido de acrescentar mais, acrescentar mais estudos (SOARES, 2018a).

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Nesse sentido de transformação e adaptação do processo de estudos do grupo, podemos

ver no quadro abaixo alguns aspectos técnicos e estudos que foram sendo acrescentados. À

medida que o desenvolvimento dos alunos possibilitava a realização de atividades mais

avançadas, estas eram inseridas na rotina de estudos do grupo.

Quadro 6: Estratégias de estudo para os instrumentos de metal

Fonte: Elaborado pelo autor

É importante ressaltar que todas as atividades apresentadas eram realizadas em aulas

coletivas e que manter a motivação de todos nas atividades era talvez o principal desafio. Adalto

relata:

Uma dificuldade que eu tinha era de manter o interesse de todo o grupo. Por que tinha que atender os iniciantes e tinha que atender também os avançados. A minha maior dificuldade era essa. Às vezes você tinha que ficar um tempo com um naipe e os outros ficam meio “largados” de lado, eles ficam meio

chateados e as vezes gerava até alguma conversa. Eu também tinha que ser um pouco flexível (SOARES, 2018a).

Com a presença de alunos novatos, intermediários e avançados na mesma turma foi

necessário pensar em estratégias que auxiliassem nesse processo e que ajudasse na motivação

do grupo. Para isso, o recurso foi realizar os estudos de respiração, vibração labial, notas longas,

escalas e articulações todos juntos; à medida que estes iam se tornado mais difíceis, os alunos

iniciantes permaneciam praticando com vibração labial com bocal, notas longas ou

solfejando22. Dessa forma, todos se sentiam parte integrante do grupo possibilitando aos

iniciantes uma formação rápida e contextualizada.

Para auxiliar nesse processo, foi utilizado o Método Techniques for Band23 que

apresenta exercícios em quatro níveis de dificuldades (A, B, C e D, onde o nível A é o mais

22 Ver: https://www.youtube.com/watch?v=gwQ39oA7deo&t=568s a partir de 8’50’’. 23 Disponível em: https://d29ci68ykuu27r.cloudfront.net/items/20347000/look_insides/large_file/file_1_page_3.png Acesso em: 22 de mai. 2019.

Respiração

•Fortalecimento da

embocadura com o

exercício do Lápis;

•Fluxo de ar.

Vibração Labial

sem e com bocal

•Vibração com glissandos em

intervalos de quintas

ascendentes e

descendentes.

Prática com Instrumento

•Estudos de articulação;

•Exercícios de intervalos;

•Exercícios de escalas e

arpejos com articulações

variadas.

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fácil e D o mais difícil) sendo um material a mais que possibilitou incorporar todos os alunos

nas atividades.

4.4.1.10 Música de câmara

Considerando que Kathia Bonna é uma pianista especialista em música de câmara e tem

realizado diversas apresentações e gravações com alguns dos principais nomes do cenário

musical brasileiro, tem-se desenvolvido uma prática fundamental com música de câmara na

Lyra Bragança. Dentre as atividades teóricas e práticas, os alunos de maior destaque no grupo

tocam peças do repertório tradicional com piano.

Figura 23: Ensaio de música de câmara na Lyra Bragança

Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=V1w5CLo7P7s

Nessa perspectiva, Kathia afirma ser de fundamental importância essa prática de música

câmara, pois o aluno trabalha um repertório específico para o seu instrumento, possibilitando

desenvolver outros aspectos como a exposição ao público, o trabalho de afinação e a dinâmica

entre o solo e o piano. Ela continuou relatando que “os alunos mudam muito quando começam

a tocar com o piano, eles dão um “up” assim, impressionante (KATHIA, 2019).

4.4.1.11 Outras atividades

Com a incorporação de coreografias, danças, trechos cantados e outros elementos nas

performances das Orquestras, ao longo de suas trajetórias, outras atividades como aulas de

canto e de ordem unida precisaram ser inseridas na rotina de estudos dos grupos. Esse contexto

é bastante comum na rotina das bandas marcais, no entanto, nos grupos estudados essas

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atividades foram surgindo em consequência da necessidade de realizarem performances mais

abrangentes, tanto em palcos como em desfiles cívicos.

Pensar nessa diversidade de propostas que englobam música instrumental, canto, dança,

dentre outros elementos, nos faz refletir para uma formação que vai além dos limites da música.

Ultrapassado esses limites, poderemos ter não somente grupos ou performances de excelentes

níveis, mas também contribuir de forma significativa para a “formação integral da

personalidade humana, para o desenvolvimento intelectual, psicológico, sócio-cultural e

ecológico do homem” (LIMA, 2007, p. 52). É nesse contexto que a interdisciplinaridade se

apresenta como proposta fundamental para o entrelace de diferentes conteúdos, fugindo da

“superespecialização e da desarticulação entre a teoria e a prática, como alternativa à

disciplinaridade. Na educação ela se manifesta enquanto possibilidade de quebrar a rigidez dos

compartimentos em que se encontram isoladas as disciplinas dos currículos escolares” (LIMA,

2007, p. 56).

No dia a dia das Orquestras de Metais, esse entrelace interdisciplinar de atividades

desenvolvidas através de práticas coletivas ultrapassam os limites da música, transformando o

ser social e intelectual das crianças e jovens participantes dos projetos. Conteúdos de cidadania,

respeito, cooperação, organização e patriotismo são alguns dos exemplos. Durante as aulas e

ensaios, com a preparação dos espaços, os alunos são exigidos que mantenham todos os

materiais, instrumentos e espaços limpos e organizados, assim como ao final guardem e

reorganizem a sala, sendo assim prontamente realizados. Estando os projetos em áreas de

vulnerabilidade social, durante as entrevistas sobre a Lyra Bragança, alguns casos foram relatos

de alunos que passam constantemente por situações precárias em casa por envolvimento de

familiares com drogas, violência, entre outras situações, mas que se veem amparados e inseridos

no âmbito das Orquestras, considerando estas como a única possibilidade de inclusão social.

4.4.1.12 O canto nas Lyras

Com a utilização do método de ensino coletivo americano - Belwin 21st Century Band

Method de Jack Bullock e Anthony Maiello pela Lyra Tatuí - foi necessário que alguns

exercícios vocais fossem inseridos na rotina do grupo, pois os arranjos contidos apresentavam

algumas partes cantadas. O professor Adalto descreve que “os exercícios eram de vocalização

silábica de tons inteiros com referência de altura de notas dadas por um teclado elétrico e,

posteriormente, por instrumento melódico” (SOARES, 2018b, p. 112). Dessa forma, trechos

cantados incorporaram o repertório do grupo, tornado-se característico em suas apresentações.

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Na Lyra Bragança alguns momentos cantados também fazem parte de suas apresentações

ampliando as possiblidades performáticas do grupo.

Figura 24: Ensaio de trecho cantado

Fonte: Arquivo do autor

Na imagem acima, temos um momento de ensaio de um trecho cantado, realizado no

dia 02 de fevereiro de 2019, quando realizei visita às instalações da Lyra Bragança na MB Cases

e observei as atividades do dia. No ensaio, temos a professora Kathia ao piano e o professor

Leandro Ramazzini (em pé) auxiliando os alunos. No momento estava sendo trabalhada a

abertura cantada de uma música do Queen, que foi tocada em março na apresentação do grupo

na Sala São Paulo.

4.4.1.13 Ordem Unida

Nesse processo inicial da Lyra Tatuí, também havia no final de cada aula um momento

para instruções com relação à Ordem Unida que é a organização do grupo para desfiles com

foco no “treinamento para o desenvolvimento de reflexo dos movimentos, noção de espaço,

lateralidade, movimentos de marcha, rompimento de marcha, virar à direita, virar à esquerda,

meia volta e postura com o instrumento” (SOARES, 2018b, p. 114).

De tradição militar, a Ordem Unida é considerada fator importante para a organização

e motivação das tropas, o que foi transposto para as bandas de música militares e grupos que se

utilizam da marcha para desfiles. Dessa forma, a Ordem Unida tem por objetivo “[...]

proporcionar aos homens e às unidades os meios de se apresentarem e de se deslocarem em

perfeita ordem” (BRASIL, 2000, p. 16), contribuindo para o desaparecimento da insegurança e

timidez, conseguindo colaborar com reflexos de obediência e espírito de corpo. O treinamento

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dos grupos “irá criar no comandante qualidades de chefia e liderança e, se houver presença de

público, a marcialidade e a energia irão despertar entusiasmo e civismo nos espectadores”

(BRASIL, 2000, p. 16).

Figura 25: Desfile cívico dos 185 anos de Tatuí em 2011.

Fonte: https://bit.ly/2lU8JZ8

Apesar do caráter da disciplina militar, as atividades na Lyra aconteciam nos minutos

finais de cada ensaio e eram aguardadas com ansiedade, sendo um momento de aprendizado e

descontração, resultando em significativa melhoria no rendimento do grupo.

As atividades de Ordem Unida desenvolvidas na Lyra Bragança com noções de

organização e disposição do grupo, alinhamento e movimentações são todas direcionadas pelo

coordenador geral do projeto, o Luis Custódio24 (Babalu). Desenvolvendo trabalhos no âmbito

das fanfarras há 33 anos, interessou-se pela música através da Guarda Mirim, passando

posteriormente a organizar e coordenar projetos de cunho social através da música.

24 Entrevista cedida por CUSTÓDIO, Luis. Entrevista IV. [fev. de 2019] Entrevistador: Bruno Caminha Farias. Bragança Paulista – SP. Entrevista IV – Luis Custódio.mp3 (10 min.).

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Figura 26: Desfile de 7 de setembro

Fonte: http://mbcases.com.br/pt/projeto-lyra-braganca/

4.4.1.14 Organização

Como já relatado, a Orquestra de Metais Lyra Tatuí não possuía espaço próprio e

preparado para práticas musicais, o que acarretava na montagem diária do espaço de ensaio,

assim como o deslocamento dos instrumentos, o que necessitava de demasiada organização

entre os alunos. Nesse processo, diversos preceitos eram trabalhados com os alunos. Adalto

ressalta que:

A preparação para as aulas era feita de forma coletiva, e todos participavam ativamente. A conscientização e o engajamento se davam durante as conversas, momentos em que se explicavam os valores éticos que norteavam o ato de auxiliar na montagem e desmontagem do material no ambiente. Esses valores abordavam o respeito ao próximo, o compartilhamento de ideias, o exercício de liderança e a aceitação de ser liderado durante a divisão e execução de tarefas (SOARES, 2018b, p. 99).

Na Lyra Bragança, Luis Custódio é o responsável por todo o trabalho de organização

logística do projeto, realizando contratações e entrevistas com professores, compras diversas,

contratação de ônibus para viagens, dentre outras necessidades administrativas. Vindo de uma

tradição militar, ele também organiza e disciplina os alunos, orientando sobre questões que vão

desde o cuidado com os instrumentos, materiais diversos, utilização de fardamentos, até

cuidados com os espaços utilizados em comum durante aulas e ensaios (CUSTÓDIO, 2019).

Durante minha visita de observação, presenciei ao final do ensaio algumas orientações

passadas por Luis com palavras de força e entusiasmo aos alunos pelo excelente trabalho

desenvolvido, e que para as atividades terem continuidade, torna-se fundamental zelar pelos

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espaços e materiais utilizados por todos. Em seguida, o mesmo determinou atividades diversas

como limpeza do espaço de ensaio, guarda de cadeiras e instrumentos, dentre outras coisas,

sendo atendido prontamente por todos.

4.4.1.15 Materiais didáticos utilizados

Ao longo do período de atividades da Orquestra Tatuí alguns materiais foram utilizados,

sempre levando em consideração o nível de aprendizado e a tentativa de manter todos os alunos

envolvidos diretamente nas atividades propostas, sendo esta uma das características do ensino

coletivo. Para a iniciação da primeira turma da Lyra Tatuí, buscou-se materiais brasileiros que

pudessem auxiliar no processo de ensino coletivo. O método Da Capo ainda não estava editado,

porém algumas páginas copiadas foram conseguidas.

Devido à baixa qualidade das cópias que dificultava a leitura, buscou-se os originais do

método de ensino coletivo americano Belwin 21st Century Band Method de Jack Bullock e

Anthony Maiello. O método é composto por estudos técnicos e repertório com músicas

tradicionais americanas transpostas para os instrumentos de banda de música, além de

orientações de teoria musical. Para que todos pudessem participar, algumas adaptações das

atividades contidas no material foram realizadas.

Figura 27: Belwin 21st Century Band Method

Fonte: https://amzn.to/2kWKRnx

À medida que se viu necessário, outros exercícios foram sendo acrescentados para

diversificar as possibilidades de estudos do grupo. Adalto relata que alguns exercícios foram

escritos por ele, “[...] mas assim, ali é experiência de vida. Então você pega um pouco com um

ou ver uma experiência com outro [...] e a gente vai transformando aquilo, dando a nossa cara

[...]” (SOARES, 2018a). O professor complementa explicando que esse tipo de adequação dos

estudos ao nível técnico dos alunos foi uma constante durante toda a existência do projeto.

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Apresentando um pouco dessa dinâmica, Dr. Marcelo, um dos entrevistados por Soares em sua

tese descreve que:

O Maestro Adalto, [...] escrevia especificamente para cada aluno iniciante, de forma ‘customizada’, apenas as notas conhecidas por este, de algumas peças que o grupo estava ensaiando, para que o aluno principiante pudesse tocar e, assim, integrar o coletivo, inclusive ensaiando as coreografias (SOARES, 2018b, p. 95).

É interessante citar sobre essa relação de escrita direcionada ao nível técnico dos alunos

como fator importante como característica do ensino coletivo para a inclusão e motivação dos

alunos no grupo, o que também é relatado por Marcus e Kathia. Marcus acrescenta em relação

aos alunos iniciantes, que:

Se você pegar eles e ensinar umas três, quatro notas, tocar bem e já colocar essas três, quatro notas em um arranjo de uma música que ele vai tocar junto com os outros colegas. Nossa senhora... aí eles desenvolvem rápido, rápido. Como eu disse, se você coloca coisas que eles gostam de ouvir e de tocar, vai muito rápido (MARCUS, 2019).

Posteriormente, enfrentando dificuldades com alunos de diversos níveis na mesma

turma, Adalto utilizou outro material, o método Techniques for Band, no intuito de auxiliar

nesse processo de integração de todos os alunos.

Figura 28: Techniques for Band

Fonte: https://amzn.to/2m2cJXK

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Nesse material, cada exercício é composto por quatro níveis de dificuldade (A, B, C e

D, sendo A o mais fácil e o D o mais difícil). Todas essas estratégias e materiais utilizados,

sejam publicados ou escritos pelos professores Adalto ou Marcus garantiam que todos os

alunos, com os mais variados níveis de aprendizado pudessem compartilhar e participar

ativamente de todas as atividades do grupo.

Na Lyra Bragança, um fato interessante é a não utilização de livros para o ensino

coletivo no processo de ensino. Marcus afirma que no início das atividades usou e chegou a

tocar algumas músicas do repertório americano proposto pelo material, porém não se via

motivação e interesse dos alunos pelos estudos com esse material. Dessa forma, foi surgindo

então a escrita de arranjos pelo próprio Marcus para o grupo com foco em um repertório do

conhecimento dos alunos. Marcus diz que:

A gente viu saltos acontecendo por causa disso. Então assim, quando que a Lyra Bragança deu aquele salto, [...] foi quando eu arranjei para eles A pantera cor de rosa. Eles estavam tocando aqueles métodos [...] aí em fiz um arranjo da Pantera cor de rosa, bem simplesinho. Eles foram para cima da Pantera cor de rosa e aí eu fui e já fiz um outro do Robin Wood. Aí já dificultei mais (MARCUS, 2019).

Nesse processo, Kathia (2019) complementa dizendo que “o que está no momento o

(Marcus) Bonna sempre pega e arranja”. Tendo sido aluno e vendo os bons resultados obtidos,

Tiago também realiza o mesmo processo na Fanfarra Alegretti, escrevendo arranjos para o

grupo.

A partir desta parte do trabalho foi possível entender processos metodológicos e

aspectos técnico-interpretativos dos projetos objetos de estudo desta pesquisa. Considerando os

objetivos propostos, foquei nos aspectos que se destacaram e que apontam direcionamentos

para o ensino coletivo de instrumentos de metal. Na parte 5 apresentarei os resultados

propriamente ditos deste trabalho que constituem as principais perspectivas que surgiram a

partir da literatura analisada, do trabalho idealizado nas Lyra Tatuí e Lyra Bragança e a partir

da minha experiência como professor do ensino coletivo de instrumentos de metal.

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5 ASPECTOS METODOLÓGICOS E TÉCNICO-INTERPRETATIVOS PARA O

ENSINO COLETIVO DE INSTRUMENTOS DE METAL

Neste capítulo, apresento os principais aspectos metodológicos e técnico-interpretativos

que se destacaram a partir da literatura analisada e do estudo das práticas desenvolvidas no

âmbito das Orquestras de Metais Lyra Tatuí e Lyra Bragança. Considerei as principais

perspectivas e conceitos observados na literatura e os indicados pelos idealizadores dos grupos

estudados, elencando e organizando, a partir da minha experiência como professor que atua no

ensino coletivo de instrumentos de metal, direcionamentos que poderão ser utilizados por

pessoas que almejem desenvolver esse tipo de prática como referência.

Ressalto que o intuito desta parte é apresentar aspectos gerais que se mostraram

eficientes na pesquisa realizada. Outras perspectivas podem ser inseridas numa metodologia

que contemple o ensino de metais a partir de práticas coletivas, que não foram destacadas por

não se relacionarem diretamente com os dois grupos estudados. Entendo que qualquer prática

pedagógica deve ser adaptada à realidade em que será aplicada e que quase sempre será

necessário utilizar metodologias e materiais diversos, além daqueles que sejam escolhidos

como principais para auxiliar alguém que almeje ensinar/aprender algo em contextos

específicos.

5.1 Considerar as particularidades dos alunos na escolha de materiais didáticos e

repertórios

As atividades desenvolvidas nos grupos pesquisados apresentaram uma diversidade de

estratégias e possibilidades utilizadas no processo de aprendizado. Uma destas estratégias passa

pela escolha do material didático utilizado. Essa escolha reflete diretamente no ritmo de

desenvolvimento dos alunos, sendo necessário considerar nessa decisão a quantidade de alunos

por turma, os níveis diferenciados de aprendizado e os conteúdos, técnicas e habilidades a serem

trabalhados.

Foram utilizados nos grupos estudados alguns materiais didáticos como o método

brasileiro do professor Joel Barbosa, Da Capo, e os americanos Belwin 21st Century Band

Method e Techniques for Band, que são materiais para o ensino coletivo de bandas de música.

Estas publicações possibilitam o trabalho com formações instrumentais variadas, indo desde o

estudo individual até o trabalho com banda completa. Geralmente são divididos em níveis e

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fazem uma mescla de conteúdos, apresentando durante o processo de aprendizado a técnica

instrumental, teoria musical e repertório para performance. Esse material prioriza:

[...] a aquisição e o desenvolvimento das habilidades de técnica instrumental, de leitura de partitura e de performance em conjunto. Essas habilidades eram trabalhadas simultaneamente, ou seja, uma não era pré-requisito da outra. Tal abordagem permanece até os dias atuais. As atividades se davam, principalmente, através do tocar melodias tradicionais estadunidenses, religiosas e de compositores da música de concerto, do exercitar estudos técnicos instrumentais e para banda, e do executar composições, adaptações e arranjos dos repertórios de banda e, novamente, da música europeia de concerto. Eles tinham como principal objetivo a formação da banda escolar (VECCHIA, 2012, p. 24).

Dessa forma, refletindo a respeito da utilização desses materiais pela Lyra Tatuí,

podemos considerar a contribuição dada para o desenvolvimento da técnica instrumental e da

teoria musical, que desenvolvida simultaneamente consegue elevar o nível dos alunos de forma

equilibrada. O professor Joel enfatiza a importância de durante as aulas não trabalhar somente

em coletivo, mas ouvir os naipes separadamente e alguns alunos individualmente.

Disponibilizar horários para atendimentos individuais pode apresentar melhorias significativas

no nível dos alunos (BARBOSA, 2004, p. 05). Na Lyra Tatuí, o professor Adalto descreve essa

prática de que todos os estudos aconteciam coletivamente, porém:

[...] quando havia algum problema técnico específico com aquele aluno, eu tirava esse aluno desse círculo, que era como nós ficávamos ensaiando ou fazendo estudos, eu tirava ele, ia em um local um pouco separado, mais distante e cuidava daquela situação pontual, mas logo ele voltava. Coisa de 10 minutos conversando com ele questão de embocadura ou arrumando questão de postura e logo ele voltava para o grupo e praticava (SOARES, 2018a).

Em relação ao repertório, os livros americanos merecem análise por não apresentarem

músicas do cotidiano dos alunos, o que pode acarretar em certo desinteresse e consequente

atraso no desenvolvimento musical. Considerar o repertório e as vivências dos alunos, é fator

fundamental para o interesse e a motivação do grupo. Para essa motivação:

[..] música nova é a maneira mais óbvia de manter o interesse. Mesmo que o indivíduo ou o grupo não seja capaz de tocar música frequentemente ensaiada perfeitamente, chega um momento em que é necessária uma mudança. [...] Os exercícios também devem ter níveis variados de dificuldade. Essa grande variedade não apenas ajuda a manter o interesse, mas também pode contribuir para as habilidades de leitura e interpretação dos alunos. Este princípio vale

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para a instrução individual e de grupo (COLWELL; HEWITT; FONDER, 2017, p. 16, tradução minha25).

Os autores ainda apresentam que incluir ritmos diversos, juntamente com orientações

sobre improvisação, são possiblidades para diversificar os ensaios. Essa diversidade de ritmos

e a valorização do repertório brasileiro é uma característica dos grupos estudados, tendo em

vista os relatos dos professores que afirmam elaborar arranjos com atenção ao nível musical de

cada aluno e, ao mesmo tempo, sempre inserindo novos desafios ao grupo. Esses arranjos

também são escritos pelo professor Tiago Lattanzi e por alguns alunos26. Em entrevista, Marcus

(2019) descreve que se utiliza em muitas ocasiões de músicas que os alunos ouviram no rádio

e chegam cantado nos ensaios, músicas temas de filmes, enfim, todas as possibilidades que

possam incentivá-los à prática são utilizadas. No relato de Marcus e Kathia27 eles descrevem

que:

[...] Foi o que funcionou aqui. Daí eles se empolgam, começam a estudar, procuram acertar a música, tudo para não atrapalhar os outros e assim vão melhorando o nível. [Kathia: Aí, a gente vai e mostra um Villa Lobos, aproveita e mostra, vocês tão vendo. Eles gostam de funk, essas coisas, mas entram no projeto e começam a abrir a cabeça para música mais complexa e eles se apaixonam...] Eles se apaixonaram por Villa Lobos, as coisas são dissonantes no Villa Lobos. [Kathia: Mas com o tempo eles vão assimilando, vão tocando, vão achando bonito isso, vai abrindo os horizontes, mas tem quem começar assim, puxando pelo repertório deles, né? Onde eles vivem [...] (MARCUS; KATHIA, 2019).

Com o mesmo intuito, o professor Adalto Soares enfatiza que através dos arranjos

próprios e um repertório direcionado para as questões técnicas “pôde-se extrair o máximo de

resultado positivo quanto à motivação e à valorização do músico. Para cada parte, dois a três

compassos com um desafio técnico foi posto para motivá-los” (SOARES, 2018b, p. 121). Dessa

forma, através de uma atenção focada nas dificuldades e potencialidades dos alunos, puderam

ser trabalhados aspectos técnicos e interpretativos de maneira que todos estivessem envolvidos

ativamente nas práticas realizadas.

25[…] New music is the most obvious way to maintain interest. Even if the individual or the group is not able to perform frequently rehearsed music perfectly, there comes a time when a change is necessary. […] The exercises should also be of varied levels of difficulty. This wide variety not only helps maintain interest but also can contribute to the sightreading and interpretive abilities of the learners. This principle holds for both individual and group instruction. 26 Arranjo do aluno de trompete Bruno Almeida. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=KH6LyGSTh1Q> Acesso em: 20 de agosto de 2019. 27 Tendo sido uma entrevista conjunta, as falas abertas são de Marcus e as falas de Kathia estão entre os colchetes.

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5.2 Desenvolvimento da autonomia musical

Atividades musicais possibilitam a aquisição de atitudes fundamentais para o

desenvolvimento de aspectos importantes como a autonomia musical. Nas práticas coletivas

realizadas nas Orquestras de Metais, esse aspecto é ampliado gradativamente a partir da

interação entre os participantes. A motivação e liberdade para que os alunos possam solucionar

aspectos técnicos e musicais através da observação e do contato direto uns com os outros

possibilita atingir os objetivos do grupo de forma mais direta e, muitas vezes, sem a intervenção

do professor. Dessa forma:

As relações individuais estabelecidas na situação do ensaio dependem dos princípios de motivação que, por sua vez, dependem dos alunos que possuem certos conhecimentos e habilidades musicais. Qualquer ensino de música, seja de um indivíduo ou de um grupo, tem como objetivo o desenvolvimento da independência musical, que consiste em conhecimento, hábitos de boas práticas, proficiência técnica e entendimento musical. Para atingir esse objetivo em uma situação de grupo, são necessários objetivos individuais e de grupo [...] (COLWELL; HEWITT; FONDER, 2017, p. 16, tradução minha28).

Além dessa independência musical trabalhada por cada aluno inserido no grupo, é

fundamental que o professor identifique alunos que possuam as características apresentadas no

intuito de incentivá-los a auxiliar os colegas. Um exemplo desse processo nas Orquestras é

confirmado através do relato dos professores Adalto Soares e Marcus Bonna, que descrevem

que a partir do momento em que já haviam alunos iniciantes e avançados nos grupos, indicavam

os alunos avançados como monitores para ajudarem os alunos iniciantes.

Adalto descreve que na Lyra Tatuí como as aulas e ensaios aconteciam em um

estacionamento, onde primeiramente era realizado uma iniciação dos estudos com todos e

depois separavam os naipes, ele: “[...] fazia primeiro a iniciação e deixava alguém tomando

conta. Então todo dia [eu] dava início ao ensaio da iniciação e ia para o avançado. E aí eu

ficava fazendo essa ida e vinda nos grupos. Deixava uma pessoa tomando conta aqui e outra

pessoa tomando conta lá e ficava girando” (SOARES, 2018a).

Na Lyra Bragança como acontece o processo de parceria junto a Fanfarra Alegretti,

Marcus esclarece que dentre os alunos avançados, alguns já são professores e monitores: [...]

o Thiago [...] cuida dos metais e tem o professor de percussão [...] e tem os monitores, que já

28 The one-on-one relationships established in the rehearsal situation depend on the principles of motivation that are, in turn, dependent on students having certain musical knowledge and skills. Any music teaching, whether of an individual or a group, has as its aim the development of musical independence, which consists of knowledge, good practice habits, technical proficiency, and musical understanding. To accomplish this goal in a group situation, both individual and group goals are necessary […].

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são alguns alunos que saíram daqui também, o monitor de trombone e o monitor de trompa

(MARCUS, 2019).

Para o desenvolvimento da autonomia musical, Colwell, Hewitt e Fonder fazem a

seguinte sugestão:

Tente organizar horários e tarefas para permitir que os alunos trabalhem juntos em direção a um objetivo comum. Praticar sozinho pode ser entediante e exige 29considerável autodisciplina, enquanto trabalhar em partes com outros alunos é muito mais agradável [...]. Dois ou três alunos praticando juntos, todos na mesma parte ou em uma parte diferente, podem aumentar o prazer dos participantes e ajudar a desenvolver a musicalidade (COLWELL; HEWITT; FONDER, 2017, p. 16, tradução minha30).

As colocações e relatos apresentados enfatizam a importância de oferecer aos estudantes

práticas musicais que possibilitem a sua autonomia musical, contribuindo no processo de

construção do conhecimento. Esta autonomia pode ser potencializada pela prática do professor

que, ao reconhecer características e habilidades no aluno, pode orientá-lo para auxiliar os alunos

iniciantes.

5.3 As qualidades necessárias ao docente

Em qualquer profissão é fundamental ter conhecimento e domínio da área na qual se

pretende atuar. Para o professor de instrumentos musicais não é diferente, necessitando este de

algumas características imprescindíveis para a atuação no ensino instrumental. Em atividades

coletivas, trabalhando com grupos musicais como nas Orquestras de Metais Lyra Tatuí e Lyra

Bragança, o professor precisa desenvolver aspectos que o possibilite transitar por questões

técnicas, musicais, motivacionais, e até mesmo assuntos sociais e pessoais dos alunos.

O ensino coletivo centraliza no regente, professor, maestro ou instrutor algumas

demandas construídas no dia a dia dessa prática e que somente o contato direto com essas

atividades pode apresentar e oferecer soluções. Nesse direcionamento é importante saber que:

29 Devido o sobrenome do casal ser igual, utilizo para citar as entrevistas o primeiro nome, MARCUS e KATHIA. 30 Try to arrange schedules and assignments to make it possible for students to work together toward a common goal. Practicing alone can be boring and take considerable self-discipline, whereas working on parts with other students is much more enjoyable […]. Two or three students practicing together, all on the same part or each on

a different part, can increase the pleasure of the participants as well as help develop musicianship.

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Os professores são bem-sucedidos quando entendem que os indivíduos de qualquer grupo podem variar devido à vida em casa, talentos, experiências passadas, tipos de apoio dos pais e situações socioeconômicas específicas. Os alunos com capacidade e experiência iguais, mas diferentes em sua motivação, responderão de maneira diferente ao fracasso e ao sucesso na sala de aula (COLWELL; HEWITT; FONDER, 2017, p. 12, tradução minha31)

Compreender as situações enfrentadas pelos alunos é uma circunstância no qual o

professor precisa estar atento. Nesse sentido, um dos objetivos dos projetos é o acolhimento e

a transformação social na vida dos participantes. Marcus, Kathia e Luis Custódio relatam que

muitos dos alunos participantes, quando entram na adolescência, passam a ter dificuldades

devido a namoro, más amizades, dificuldades financeiras de suas famílias, pois se veem na

obrigação de trabalharem para ajudar nas despesas domésticas.

Verificando essa situação, tentando fazer com que os alunos permanecessem no grupo

e possibilitando uma fonte de renda, alguns dos alunos (12 alunos na ocasião da entrevista)

estavam contratados por Marcus e Kathia para trabalharem na MB Cases. Uma das exigências

do casal é que os alunos utilizem parte do dinheiro para estudarem e relatam que “nossos alunos

são excelentes funcionários. [...] eles são os mais disciplinados da empresa” (MARCUS, 2019).

Pelo contexto apresentado, podemos perceber a importância e influência que o professor tem

para o aluno em um âmbito bem maior do que somente as atividades musicais, sendo necessário

observar e auxiliar para manter alguns alunos no grupo.

Corroborando com Tourinho (2014) sobre as possibilidades e limites de cada curso, o

planejamento, o desenvolvimento e a avaliação do grupo, Colwell, Hewitt e Fonder (2017, p.

26, tradução minha32) apresentam que “determinar prioridades, articular objetivos e avaliar o

aprendizado dos alunos são as chaves para o sucesso do ensino”. Identificar o perfil dos alunos

é uma das necessidades para um direcionamento mais objetivo, considerando que a depender

do desenvolvimento individual de cada aluno, novas estratégias podem ser utilizadas, assim

como remanejamentos podem ser necessários. O fundamental é considerar o trabalho em grupo,

porém, analisando individualmente o desenvolvimento e necessidades de cada aluno.

Nas aulas de ensino coletivo, uma ferramenta importante é possuir estratégias para

desenvolver nos alunos habilidades através de diferentes propostas. A organização e a variação

31 Teachers are successful when they understand that the individuals in any group may vary because of home life, talents, past experiences, kinds of parental support, and specific socioeconomic situations. Students with equal ability and experience, but differing in their motivation, will respond differently to failure and success in the classroom. 32 Determining priorities, articulating objectives, and assessing students’ learning are the keys to successful

teaching.

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da quantidade de alunos em sala é um fator importante para essa administração das atividades.

Joel Barbosa afirma que:

A principal ferramenta pedagógica desta metodologia é seu conjunto de melodias. Elas são selecionadas e adaptadas a fim de desenvolver as habilidades musicais e instrumentais dos alunos. Eles as cantam e tocam em diversas texturas: uníssono, intervalos paralelos, com acompanhamento harmônico-rítmico, polifonicamente e em cânone. Todos os instrumentos do grupo, sem restrição à sua extensão, tocam as melodias selecionadas (BARBOSA, 1996, p. 40).

Posteriormente com a publicação do Método Da Capo, no livro do regente, o professor

amplia essas possibilidades, acrescentando às melodias outras atividades como dueto com

palmas, ditados, exercícios teóricos, técnico-instrumentais, de divisão musical, auditivos e de

improvisação, além da variedade de formações instrumentais, organizando os alunos em grupos

de câmara (BARBOSA, 2004, p. 05). Nessa perspectiva, Tourinho (2014, p. 161) também

apresenta algumas possibilidades para a disposição dos alunos e formações instrumentais,

trabalhando em círculo, duplas ou equipes, masterclass, orquestra, audições e provas. Todas

essas alternativas devem ser perspectivas presentes na prática dos professores de ensino

coletivo, o que possibilita diversificar o trabalho com grupos que tenham uma grande

alternância de participantes, além de incentivá-los com práticas diversas.

5.4 Aprendizagem colaborativa

A aprendizagem colaborativa incorpora em seu ambiente o aprendizado não somente

pela orientação ou intervenção do professor, mas sim, pelo contato, relação, observação e

auxílio com os outros indivíduos inseridos no grupo. Esta aprendizagem “é vista sob a

perspectiva do processo, pois ela ocorre quando há maior comunicação e reflexão verbal entre

os estudantes, propiciando maior interação, conexão social e maior engajamento criativo com

todos os envolvidos durante a realização de uma atividade” (CERNEV, 2015, p. 29).

Segundo Torres e Irala:

[...] a aprendizagem colaborativa seria duas ou mais pessoas trabalhando em grupos com objetivos compartilhados, auxiliando-se mutuamente na construção de conhecimento. Ao professor não basta apenas colocar, de forma desordenada, os alunos em grupo, deve sim criar situações de aprendizagem em que possam ocorrer trocas significativas entre os alunos e entre estes e o professor (TORRES; IRALA, 2014, p. 65).

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Nas Orquestras de Metais Lyra Tatuí e Lyra Bragança, essa interação acontece durante

os estudos técnicos, muitas vezes em formato de masterclass, estudos de naipes, estudos de

questões técnicas presentes no repertório e durante os ensaios gerais, visto que todo esse

processo de aprendizado é realizado coletivamente. As atividades compostas por aulas em

naipes ou com o grupo completo e ensaios, proporcionam interações que vão desde o trabalho

com a leitura musical até a troca de informações sobre a técnica instrumental.

Torres e Irala (2014, p. 68) apresentam algumas das principais características da

aprendizagem colaborativa, sendo possível uma adaptação ao contexto do ensino coletivo,

realizando uma dinâmica, dividindo os alunos em grupos menores, por exemplo, em naipes:

· O aluno participa em atividades estruturadas em grupos, trabalhando conjuntamente

na resolução de uma série de problemas (estudos técnicos em grupo);

· Às vezes, um determinado aluno possui um papel específico dentro do seu grupo

(monitor);

· O professor pede para que os membros do grupo se organizem e negociem entre eles

mesmos quais serão seus papéis nos trabalhos do grupo (Aluno que possa dar

entradas e divisão vozes);

· O professor observa as interações de cada grupo, ouve seus debates e faz algumas

intervenções quando julga necessário;

· O professor realiza uma sessão para a síntese dos debates, pedindo para que os

grupos façam um breve relato oral das suas conclusões;

· O professor, por sua vez, não monitora ativamente os grupos, deixando questões

importantes para que eles mesmos resolvam;

· Encerra suas atividades diárias com uma sessão de discussões em que os alunos em

conjunto avaliam se os objetivos compartilhados foram alcançados.

A proposta apresentada pode resultar em experiências interessantes levando o aluno a

reflexões importantes para o processo de aprendizagem, considerando que discutir, aceitar,

articular ideias e desenvolver habilidades fazem parte desse processo.

5.5 Estudos técnicos em grupo

Os estudos técnicos se configuram como a matéria-prima para a construção do discurso

musical. Com uma técnica instrumental bem definida e consistente consegue-se tocar a

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excelente nível e escolher dentre os recursos disponíveis, materiais apropriados para cada

interpretação musical. Em geral:

O desenvolvimento da proficiência técnica requer o domínio de habilidades fundamentais em um instrumento. O ar, a embocadura, a língua, o corpo, os dedos e o instrumento trabalham juntos para facilitar a técnica. Embora aprender a coordenar os dedos seja um componente importante da técnica adequada, a coordenação dos dedos deve complementar outros fundamentos do músico (ELY; VAN DEUREN, 2009, p. 123, tradução minha33).

Esses estudos, realizados individual ou coletivamente, precisam oportunizar aos alunos

práticas musicais abrangentes e com conteúdos diversos que possam ir além das atividades

desenvolvidas, dando margem a uma gama de conteúdos que estão em volta do programa

trabalhado, mas não estudados.

Em sua tese de doutorado, Sulliman (2017, p. 46) apresenta uma discussão interessante,

refletindo que muitos dos métodos coletivos trabalhados nos Estados Unidos mantêm o aluno

por um longo período estudando aspectos básicos em uma zona de conforto para os

instrumentos de metal, sem arriscar novas perspectivas ou apresentar desafios aos alunos,

desprezando, assim, questões muito próximas ao conteúdo trabalhado. Segundo Sulliman:

Os alunos passam meses (nos piores casos, anos) associando valores e significados a certos símbolos visuais (por exemplo, notação musical), mas não ficam expostos a todos os símbolos que precisam saber para ter sucesso nos próximos anos. Como exemplo, um aluno de trombone iniciante pode ver um "Fá2" em seu livro centenas de vezes e nunca ser exposto a Fá# ou Fáb, pois essas notas não existem nas armaduras de clave de F, Bb e Eb (SULLIMAN, 2017, p. 46, tradução minha34).

Ou seja, o aluno acaba sendo limitado a desenvolver somente a perspectiva apresentada

pelo material e por um longo período, o que poderia ser contornado através de uma outra

abordagem. A questão apresentada se torna muito complexa e difícil de mensurar, considerando

que cada prática pedagógica se configura de uma maneira, o que a depender de como diferentes

professores direcionem suas atividades com o mesmo material didático, podem alcançar

resultados totalmente diferentes.

33 Developing technical proficiency requires mastering fundamental skills on an instrument. The air, embouchure, tongue, body, fingers, and instrument all work together to facilitate technique. While learning to coordinate the fingers is an important component of proper technique, finger coordination must complement other fundamentals of playing. 34 Students spend months (in worse cases, years) associating values and meaning to certain visual symbols (e.g. music notation) but do not get exposed to all of the symbols that they will need to know to be successful in later years. As a specific example, a beginning trombone student might see a “middle f” in their book hundreds of times

and never be exposed to f# or fb since those notes do not exist within the key areas of F, Bb, and Eb.

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Considero essa uma perspectiva importante para o desenvolvimento do ensino coletivo

com os instrumentos de metal, percebendo que alguns materiais no Brasil também se utilizam

dessa “zona de conforto”, mas que a depender do contexto ela é necessária. No entanto, inserir

os estudos técnicos característicos aos instrumentos de metal na rotina de estudos coletivos é

fundamental para um aprendizado mais abrangente e contextualizado das exigências técnicas

dos instrumentos. Estudos envolvendo notas longas, flexibilidade, articulação, escalas e

intervalos são vistos em qualquer método para metais, o que reforça a importância do estudo

destes conteúdos desde o início do aprendizado.

Reforçando esse contexto, Ely e Van Deuren (2009) apresentam algumas considerações

para o desenvolvimento da técnica instrumental nos instrumentos de metal:

1. Mantenha posições adequadas ao tocar incluindo montagem, posição de segurar, posição do instrumento e postura. 2. Desenvolva uma embocadura adequada. 3. Desenvolva hábitos respiratórios adequados e aprenda a usar o ar com eficiência. 4. Desenvolver habilidades adequadas de língua. A velocidade e a colocação da língua afetam significativamente a técnica. 5. Desenvolver a coordenação em língua. A capacidade de articular-se de maneira limpa em uma variedade de contextos e estilos é vital para a técnica adequada. 6. Como regra, trabalhe devagar para rápido. Em primeiro lugar, pratique passagens técnicas lentamente no início. Quando o controle for obtido, aumente a velocidade gradualmente. 7. À medida que a velocidade aumenta, mantenha-se relaxado e minimize o movimento dos dedos. Tocar mais rápido ou tentar tocar passagens técnicas “mais difíceis” não significa usar mais língua, soprar mais e/ou deixar os dedos saírem de controle. 8. Pratique frequentemente com um metrônomo para ajudar a garantir a estabilidade do andamento e a precisão rítmica. Definir o metrônomo em uma variedade de velocidades para um determinado exercício ajuda a desenvolver o controle técnico. 9. Use dedilhados alternativos, quando apropriado, porque eles facilitam passagens técnicas. 10. Pratique notas ligadas para desenvolver fluência. 11. Desenvolver resistência. Como regra, os músicos de metais se cansam mais rapidamente do que outros músicos de sopro, porque seus lábios produzem a vibração que é o fator central na produção dos sons e da técnica (ELY; VAN DEUREN, 2009, p. 123, tradução minha35).

35 1. Maintain proper playing positions and develop proper playing habits, including assembly, hand/holding position, instrument position, and posture. 2. Develop a proper embouchure. 3. Develop proper breathing habits and learn to use air efficiently. 4. Develop proper tonguing skills. Tongue speed and tongue placement significantly affect technique. 5. Develop finger-tongue coordination. The ability to articulate cleanly in a variety of contexts and styles is vital to proper technique. 6. As a rule, work slow-to-fast. That is, practice technical passages slowly at first. Once control is gained, increase speed gradually. 7. Maintain proper playing habits as the speed increases. Stay relaxed and minimize finger movement. Playing faster or trying “harder” to play technical passages does not mean to tongue harder, blow harder, and/or let the fingers fly out of control. 8. Practice often with a metronome to help ensure steadiness of tempo and rhythmic accuracy. Setting the metronome at a variety of speeds for a given exercise helps develop technical control. 9. Use alternate fingerings when appropriate because they facilitate playing in technical passages. 10. Practice lip slurs to develop consistency in pitch placement. 11. Develop endurance. As a rule, brass players tire more quickly than woodwind players because their lips produce the vibration that is the central factor in tone production and technique.

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Como já descrito no capítulo anterior, os estudos técnicos desenvolvidos pelas

Orquestras de Metais Lyra Tatuí e Lyra Bragança se apresentam contextualizados na

perspectiva aqui defendida, tendo em suas rotinas os estudos próprios para o desenvolvimento

da técnica instrumental dos metais. Porém, como os grupos possuem alunos iniciantes e

avançados, os professores Adalto e Marcus relataram que quando há necessidade escrevem

estudos “facilitados” para que os alunos iniciantes possam participar ativamente de todas as

atividades, possibilitando assim uma junção prática para que todos alunos possam interagir e

desenvolver os aspectos técnicos direcionados aos instrumentos de metal.

5.6 Exercícios de alongamento

Para músicos instrumentistas, os exercícios de alongamento são práticas recorrentes (ou

pelo menos devem ser) - uma etapa fundamental da prática instrumental. Geralmente, estes

exercícios são realizados no início das atividades diárias no intuito de “despertar” os músculos

envolvidos para a rotina de atividades, sejam estudos, ensaios ou apresentações. Gama (2019,

p. 40) reforça que “[...] nas atividades musicais trabalhamos com músculos, seja para segurar o

instrumento, [...] o ato de respirar e etc. então, alongar o corpo antes de começar as atividades

do dia é de suma importância para prevenir lesões”. Ray e Andreola advertem que na atuação

do performer musical, estes:

[...] precisam trabalhar o fortalecimento de toda a musculatura corporal a fim de adquirirem mais resistência para longos períodos de atividade prática com seus instrumentos. Força também é necessária. É ela que garante a musculatura à condição de suportar os movimentos do corpo (RAY; ANDREOLA, 2005, p. 25).

É importante frisar que força em excesso também se torna prejudicial. O ponto chave é

encontrar o equilíbrio dos exercícios e das atividades desenvolvidas utilizando a força e o

relaxamento necessário. Morán Esquerdo (2013) defende que o alongamento deve ser pensado

de forma eficaz, considerando que os exercícios podem ser compreendidos da seguinte forma:

- Um alongamento leve demais, dificilmente resultará em qualquer efeito sobre o organismo, ou uma melhora na mobilidade articular; - Um alongamento forte demais, ou extremo, causará uma lesão ou, no melhor dos casos, uma contração protetora dos músculos que impedirá a melhora; - Um alongamento na medida certa, forçando a mobilidade, mas sem causar dor ou chegar aos limites perigosos, não só será mais suportável, como também alcançará melhores resultados. Na medida certa quer dizer superior ao qual nos submetemos no dia a dia, rigoroso, mas não prejudicial (MORÁN ESQUERDO, 2013, p. 11).

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Dessa maneira, corroboramos a importância das colocações apresentadas, considerando

a última como uma sugestão que possa contribuir para boas práticas e o bem-estar do músico

durante as atividades musicais. Apresentaremos abaixo algumas sugestões de exercícios de

alongamento:

Figura 29: Alongamento das extremidades superiores

Fonte: https://bit.ly/2MsEzbH

Figura 30: Alongamento do pescoço e cabeça

Fonte: https://bit.ly/2P6Yz5R

Figura 31: Alongamento de ombros e braços

Fonte: https://bit.ly/2P6Yz5R

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Figura 32: Alongamento da lateral e pernas

Fonte: https://glo.bo/1zV3W9r

A sequência apresentada pode ser alterada conforme as necessidades específicas de cada

grupo musical. No entanto, é importante permanecer em cada posição alongada cerca de 10 a

30 segundos. Ray e Andreola (2005) apresentam algumas orientações importantes:

· Evitar movimentos bruscos;

· Alongar as principais articulações do corpo através de movimentos amplos, lentos e

coordenados com a respiração;

· Não se deve pensar em alongar por muito tempo, porém com muita frequência. O

instrumentista terá mais resultados alongando-se antes, durante e após o período

estudado;

· Se alongar de forma global toda a cadeia muscular;

· É importante a orientação de um profissional da área.

Colwell, Hewitt e Fonder apresentam que:

A ideia geral de se preparar para uma sessão intensa de performance é mover, mexer, encolher os ombros, mover os braços para frente e para trás, esticar o pescoço e dobrar-se para facilitar o fluxo de sangue através dos músculos e, assim, aquecê-los. O músico precisa fortalecer todos os músculos que circundam a coluna. Os músculos abdominais devem ser contraídos durante a maioria dos exercícios. [...] Respire fundo enquanto faz todos os exercícios (COLWELL; HEWITT; FONDER, 2017, p. 91, tradução minha36).

36 The general idea in getting ready for an intense performance session is to move, wiggle, shrug, move arms forward and backward, stretch the neck, and bend to facilitate the blood flowing through the muscles and, thus, to warm them. The musician needs to strengthen all of the muscles that circle the spine. The abdominal muscles should be contracted during most exercises. [...] Breathe deeply while doing all exercises.

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A partir das orientações apresentadas, a prática dos exercícios de alongamento pode ser

aperfeiçoada ou inserida na rotina de estudos dos instrumentistas de metais, sejam praticadas

individualmente ou em grupo. Estes exercícios podem também ser enfatizados conforme as

características de cada instrumento. O importante é considerar a contribuição que estes podem

trazer, evitando ou amenizando diversos problemas físico ao longo de nossa prática.

5.7 Respiração e fortalecimento muscular

A respiração é um elemento essencial para a produção sonora nos instrumentos de metal

que utilizam a coluna de ar como gerador da vibração labial. Desenvolver técnicas de respiração

e manter hábitos conscientes de sua utilização pode favorecer consideravelmente o nível de

habilidade e performance do músico. Aprender a utilizar a respiração de forma eficiente pode

solucionar muitas das dificuldades técnicas apresentadas e atribuídas erroneamente a outros

elementos no dia a dia, pois “[...] o uso do ar afeta praticamente todos os aspectos da reprodução

sonora, incluindo a qualidade do som, entonação, dinâmica, articulação, técnica e

musicalidade” (ELY; VAN DEUREN, 2009, p. 23, tradução minha37).

Diversos exercícios e equipamentos já foram elaborados com a finalidade de

desenvolver uma melhor utilização da respiração na prática instrumental. Ely e Van Deuren

apresentam que “o objetivo dos exercícios respiratórios é essencialmente duplo: (1) aumentar

a quantidade de ar aspirado durante uma respiração e (2) melhorar a eficiência da inspiração e

expiração durante a performance” (ibid, tradução minha38).

Colwell, Hewitt e Fonder enfatizam que respirar adequadamente significa inspirar o

máximo de ar e expirar de forma controlada sob pressão sem forçar a saída do ar, sendo

necessário para tocar notas ou frases longas: (1) uma boa embocadura que permita o uso

econômico do ar; e (2) o controle sobre os músculos usados para expirar (2009, p. 199). No

tentando, é importante pensar separadamente em relação ao estudo da respiração e a quantidade

de ar utilizada para tocar. No estudo é possível sempre pensar em utilizar a maior quantidade

possível de ar no intuito de provocar uma expansão da capacidade respiratória, o que nem

sempre é necessário quando estamos tocando.

37 […] the use of air affects virtually every aspect of wind playing including tone quality, intonation, dynamics,

articulation, technique, and musicality. 38 The purpose of breathing exercises is essentially twofold: (1) to increase the amount of air taken in during one breath, and (2) to improve the efficiency of inhalation (inspiration) and exhalation (expiration) during performance.

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Estar relaxado durante esse processo respiratório é fundamental para que possamos

obter os melhores resultados.

Músculos tensos que contraem a garganta e afetam a passagem livre do ar são problemas comuns. Os sintomas de uma garganta fechada incluem ombros levantados, músculos tensos do pescoço, tendões e vasos sanguíneos levemente salientes no pescoço, um som comprimido no registro agudo, um registro fraco no grave e a incapacidade de velocidade da língua (COLWELL; HEWITT; FONDER, 2017, p. 199, tradução minha39).

Mesmo sendo considerados problemas comuns, é importante manter atenção na rotina

de exercícios e na prática instrumental com intuito de minimizar as tensões corporais, buscando

sempre desenvolver hábitos saudáveis e relaxados com o instrumento. Essa prática permanente

garante ao instrumentista o fortalecimento necessário para a musculatura da embocadura, assim

como um condicionamento do corpo de forma geral adaptando-se as necessidades dessa prática.

Alguns exercícios e equipamentos já são bastante conhecidos no mundo dos

instrumentos de metal para o fortalecimento da musculatura como, por exemplo, o exercício do

lápis já apresentado. Outra alternativa é o Personal Embouchure Training Exerciser –

P.E.T.E.40 que é um acessório usado para realizar exercícios que fortalecem e desenvolvem a

embocadura.

Figura 33: Exercício com Personal Embouchure Training Exerciser – P.E.T.E

Fonte: https://bit.ly/2mrlPNI

Segundo orientações do fabricante, o P.E.T.E. apresenta dois exercícios básicos como

mostrado na figura acima. O primeiro utilizando a extremidade do disco que deve ser

posicionado atrás dos lábios e na frente dos dentes. Com os dedos deve-se puxar

39 Tense throat muscles that constrict the throat and affect the free passage of air are a common breathing problem. Symptoms of a closed throat include raised shoulders, tense neck muscles, slightly protruding tendons and blood vessels in the neck, a pinched sound in the upper register, a weak lower register, and the inability to tongue rapidly. 40 Disponível em: https://bit.ly/2mrlPNI. Acesso em: 24 set. 2019.

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cuidadosamente, somente o necessário para afastar os lábios dos dentes. O exercício consiste

em fazer resistência com os músculos dos lábios a essa ação. O segundo exercício é bem similar

ao exercício do lápis que consiste em utilizar a extremidade mais estreita posicionando-o entre

os lábios e direcionando tensão ao centro da embocadura, provocando assim o fortalecimento

dessa musculatura.

Orientando atividades em grupo, Colwell, Hewitt e Fonder sugerem que os ensaios de

bandas ou orquestras devem começar com exercícios de respiração e que realizar exercícios no

meio dos ensaios é uma boa maneira de reorientar o grupo após um intervalo ou ensaio

intensivo. A prática de exercícios respiratórios em grupo deve envolver a todos, inclusive

percussionistas e músicos de cordas, pois o conhecimento da respiração adequada pode

melhorar em diversos aspectos a prática musical do grupo e que para se obter os benefícios dos

exercícios respiratórios leva tempo, meses ou anos. (COLWELL; HEWITT; FONDER, 2017,

p. 200).

Os autores também apresentam outros exercícios de respiração que podem auxiliar o

desenvolvimento de hábitos respiratórios adequados:

1.Inspire como se bocejando e expire suspirando para promover relaxamento tanto pela inspiração quanto pela expiração; 2. Inspire como um suspiro relaxado; 3. Inspire rapidamente; 4. Inspire enquanto o professor conta em voz alta até 4 e depois expire em 4 contagens no mesmo ritmo; 5. Inspire enquanto o professor conta em voz alta até 4 e depois expire em 8 contagens; 6. Inspire enquanto o professor conta em voz alta até 4 e expire por 12 contagens (COLWELL; HEWITT; FONDER, 2017, p. 199).

A prática das Orquestra de Metais com base na experiência de seus professores e na

literatura apresentam atividades que vão de encontro a esse contexto, realizando exercícios

regulares dentro da rotina de estudos dos grupos para a ampliação da capacidade respiratória

dos alunos e o controle da inspiração e expiração.

5.8 Vibração labial - Buzzing

No processo de produção sonora dos instrumentos de metal, a vibração labial é o instante

em que o ar passa pelos lábios e os faz vibrar. Essa prática passou a ser utilizada com recurso

didático para o ensino e aprendizado dos instrumentos de metal, podendo ser trabalhada

somente com os lábios ou com a utilização do bocal. Internacionalmente denominado como

buzzing (zumbido), no Brasil essa técnica é comumente conhecida como “abelhinha” pelo som

característico da vibração.

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A prática da vibração labial pode está distribuída em momentos distintos na rotina dos

instrumentistas de metal, podendo auxiliar no desenvolvimento da formação da embocadura,

dos músculos envolvidos na respiração e na resistência dos lábios. Geralmente sua utilização

está relacionada ao início da prática diária como forma de despertar os músculos ou aquecê-los

para os estudos. Outra possibilidade, é realizar primeiramente a vibração com bocal e depois

no instrumento durante o estudo de um trecho musical ou em momentos técnicos de difícil

execução, podendo assim auxiliar consideravelmente no desenvolvimento técnico-

instrumental. Thompson apresenta que:

A vibração labial traz muitos benefícios se for feita com atenção, pois a vibração no bocal oferece menor resistência do que no instrumento, o que faz com que o instrumentista utilize mais ar. Com um maior fluxo de ar, o músico terá lábios mais relaxados e vibrando mais livremente, produzindo assim, um som mais ressonante (THOMPSON, 2001, p. 3, tradução minha41).

Um acessório que auxilia na prática e desenvolvimento da vibração labial com bocal é

o BERP42 – Buzz Extension and Resistance Piece que tem modelos para todos os instrumentos

de metal. O BERP é acoplado ao instrumento no tubo que recebe o bocal e possibilita estudar

a vibração labial na posição de se tocar com o instrumento, permitindo o estudo sincronizado

com os dedilhados e posições. Ely e Van Deuren detalham que a ideia básica do BERP é que

os problemas ao tocar são mais facilmente detectados e corrigidos quando o instrumentista está

com o instrumento. Outro recurso é o ajuste da resistência no BERP que pode ser ajustada para

corresponder à resistência de um instrumento específico (ELY; VAN DEUREN, 2009, p. 35).

Silva e Ronqui (2015), apresentando a importância do estudo da vibração labial para os

instrumentos de metal, sugerem alguns exercícios para essa prática:

41 Buzzing on the mouthpiece has many benefits if done with a systematic and observant approach. Because the mouthpiece offers less resistance than does the instrument, buzzing helps accustom the player to using more air. This greater airflow helps let the lips relax and vibrate more freely, producing a more resonant sound. 42 Disponível em: https://berp.com/berp/. Acesso em: 20 set. 2019.

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Figura 34: Exercícios de vibração labial

Fonte: SILVA; RONQUI, 2015, p. 77.

Os autores orientam que o músico pode se utilizar de outros instrumentos, como por

exemplo um piano para a conferência exata das alturas. No artigo são sugeridos exercícios

formados por escalas maiores e menores, arpejos, intervalos, glissandos e notas pedais que

podem ser realizados somente com os lábios, com a utilização do bocal ou com o BERP.

Figura 35: Exercícios de vibração labial com escalas e arpejos.

Fonte: SILVA; RONQUI, 2015, p. 80.

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Beltrami (2008) também apresenta alguns exercícios para aquecimento envolvendo

escalas, arpejos e articulações direcionados para grupos de trompete que podem ser adaptados

a todos os instrumentos de metal.

A partir das práticas apresentadas podemos perceber a contextualização das Orquestras

de Metais Lyra Tatuí e Lyra Bragança que de maneiras diversas também desenvolvem estudos

de vibração labial.

5.9 Sonoridade – Uso do ar

A sonoridade dos instrumentos de metal é resultado de uma construção constante que

tem como princípio a relação entre a respiração, a vibração labial, a embocadura e o resultado

sonoro no instrumento. Outros aspectos também são importantes para a definição da

sonoridade, como por exemplo os materiais utilizados (bocal e instrumento), a estrutura física

de cada músico (lábios e arcada dentária) e a escola pedagógica que cada professor adota

(quando for o caso). A variedade de timbres, tessituras e efeitos disponibilizados por estes

instrumentos – trompete, trompa, trombone, eufônio e tuba, oferece uma infinidade de

possibilidades aos grupos musicais que se utilizam dessa formação instrumental, como é o caso

das Orquestra de Metais Lyra Tatuí e Lyra Bragança.

Sobre esse processo da sonoridade, Fernando Dissenha (2008, s.p) reforça que:

A embocadura, atuando em harmonia com uma coluna de ar correta, deve ajudar o instrumentista a expressar todas as suas ideias musicais. Uma embocadura eficiente deve ser capaz de produzir uma sonoridade boa, uma grande extensão, variação de dinâmicas, flexibilidade e articulações diversas. Além de tudo isso, a embocadura deve suportar diariamente uma carga de estudos, ensaios e performances que podem durar muitas horas.

Com o apresentado, é perceptível a necessidade da manutenção de uma embocadura

resistente e eficiente que possibilite a execução dos vários aspectos técnicos citados. A

produção de uma boa sonoridade, deve ser atendida aqui como uma produção de som livre de

ruídos e sem ar na campana, tornando o som produzido o mais limpo e agradável possível. Na

busca por esse ideal sonoro, French (2012) sugere que:

[...] um dos conceitos musicais mais importantes para tocar um instrumento de metal (ou instrumento de sopro) é o conceito de som. Um artista deve primeiro desenvolver o conceito de som que gostaria de alcançar. O grande artista e pedagogo de metal, Arnold Jacobs, acreditava que os alunos devem primeiro obter uma imagem sonora nítida em sua cabeça e ouvido para produzir um belo som. Os alunos devem ser encorajados a ouvir gravações de

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artistas profissionais de metais demonstrando uma imagem sonora clara para o aluno, a fim de criar seu próprio conceito de som (FRENCH, 2012, p. 44, tradução minha43).

A partir do desenvolvimento desse conceito de som, vale a pena realizar também

audições em grupo para pensar e idealizar a sonoridade que se objetiva junto aos alunos,

buscando assim uma unidade sonora. Beltrami (2008), esclarecendo questões importantes sobre

a produção sonora, afirma que:

Um som firme no trompete requer uma coluna de ar consequentemente firme; um som forte exige uma corrente de ar maior com um movimento mais rápido. Os sons curtos exigem que a corrente de ar seja cortada em segmentos curtos da língua. Aumentando-se a velocidade do ar, o som será mais forte e vice-versa. O trompetista que não respira bem está sempre sujeito a ter problemas sérios (BELTRAMI, 2008, p. 21).

O detalhamento técnico apresentado por Beltrami direcionado ao trompete, pode ser

ampliado a todos os instrumentos de metal, claro que resguardadas as devidas proporções. A

importância da respiração é destacada no final, demostrando que a rotina envolvida para se

tocar instrumentos de metal requer o desenvolvimento de hábitos respiratórios corretos, livres

de tensão e que precisam ser constantemente mantidos. Abaixo temos um exercício de notas

longas que pode ser encontrado em alguns materiais44 e que pode ser uma ótima alternativa para

a prática e o desenvolvimento dos aspectos apresentados, como respiração e sonoridade.

43 Perhaps one of the most important musical concepts to playing a brass instrument (or wind instrument for that matter) is the concept of sound. A performer must first develop a concept of the sound that they would like to achieve. The great brass artist and pedagogue, Arnold Jacobs, believed that students must first obtain a clear sound image in their head and ear in order to produce a beautiful sound.1 Students are encouraged to listen to recordings of professional brass artists demonstrating a clear sound image for the student in order to create their own concept of sound. 44 The Remington Warm-up Studies – Emory Remington; 15 Minute Warm-up Routine - Michael Davis.

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Figura 36: Exercício de notas longas45

Fonte: FRENCH, 2012, p. 185.

Os instrumentos de metal têm como característica uma abrangência considerável de

intensidade podendo realizar passagens suaves até trechos extremamente fortes, o que exige

ainda mais essa manutenção constante da técnica instrumental.

Como percebemos na apresentação dos dados coletados na 4ª parte deste trabalho, as

atividades da Orquestra de Metais Lyra Tatuí e Lyra Bragança seguem esse roteiro amplamente

difundido no meio musical dos metais, que consiste no desenvolvimento dos fundamentos

técnicos instrumentais para a manutenção de uma prática musical consistente.

5.10 Aulas teóricas

As aulas teóricas têm influência significativa no contexto apresentado, considerando

que as práticas musicais pesquisadas por essa dissertação envolvem alunos de todos os níveis

de desenvolvimento. Um indicativo dessa importância se reflete nos materiais didáticos para o

ensino coletivo, voltados para as bandas de música como os métodos Da Capo, Sound

Innovations for Concert Band e Essential Elements 2000 que geralmente trazem a cada novo

exercício conteúdos teóricos intercalados, possibilitando esse aprendizado concomitante. No

entanto, momentos exclusivos para aulas teóricas são considerados fundamentais, auxiliando

nas práticas instrumentais coletivas.

45 Ossia (It., “ou seja”, “alternativamente”) Indicação em partituras para uma alternativa a uma passagem (p.ex. simplificada, ornamentada, modificada) (SADIE, 1994, p. 687).

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A perspectiva pedagógica contemporânea oferece ao aluno um aprendizado motivador

e contextualizado, proporcionando o esclarecimento de símbolos, figuras e aspectos musicais a

partir da integração de teoria e prática durante o ensaio, contrapondo-se a uma metodologia

tradicional que exigia do aluno, muitas vezes estudar meses ou até anos, teoria, percepção e

solfejo, para somente depois ser possível tocar no instrumento. Nas palavras de Dr. Marcelo,

entrevista pelo professor Adalto Soares, o mesmo relata que “esse formato antigo apresentava

resultados no passado, mas, ao que se nota, não mais ostenta eficácia em um mundo

informatizado, prático e que tem pressa, acabando por fomentar o desinteresse de crianças e

jovens pelo aprendizado musical (SOARES, 2018b, p. 95).

Seguindo essa proposta contemporânea, as Orquestras de Metais dispunham de horários

somente para aulas teóricas a depender do nível dos alunos. Aos iniciantes, geralmente são

reservados momentos distintos para aulas teóricas e aulas práticas, o que se reduz à medida que

o nível dos alunos avança, chegando ao ponto de ocorrerem somente orientações durante os

ensaios. Ainda segundo Dr. Marcelo, essa metodologia de trabalho:

[...] garantia ao aluno resultado palpável relativamente rápido, de forma a manter aceso o seu interesse pelo aprendizado musical. Além disso, sua inserção no grupo também fazia nascer o sentimento de pertencimento àquele coletivo e de reconhecimento por parte dos professores quanto à sua capacidade, fortalecendo a autoestima (SOARES, 2018b, p. 95).

O aprendizado da prática instrumental reforçado pela aula teórica alicerça um

desenvolvimento mais abrangente e complementar, subsidiando avanços cada vez mais

progressivos ao grupo.

5.11 Articulação

Diversas articulações são utilizadas na interpretação musical, possibilitando articular as

notas como forma de “pronunciar” diferentemente os diversos sons produzidos. Junto à

articulação, temos também as acentuações que diferenciam a intensidade dada às notas, e essa

junção de articulações e acentuações permite ao músico a elaboração da expressão e fraseado,

aplicados a um determinado contexto ou estilo musical.

Dentre essa diversidade, alguns pesquisadores (DISSENHA, 2009; BELTRAMI, 2008)

destacam algumas articulações como as mais utilizadas. Veja o quadro abaixo:

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Quadro 7: Articulações

Notação Descrição

Portato: denota carregar, levar, trazer (do italiano portare). Com uma coluna de ar constante, as notas são “articuladas no som”, como é descrito no método de Saint-Jacome (1830-1898).

Tenuto, ou simplesmente [ten]: significa ter, manter (do italiano tenere). Indica sustentar as notas com o valor exato ou um pouco prolongado.

Staccato: significa separar, desligar (do italiano staccare). É a execução de sons curtos e separados, indicada com um ponto abaixo ou acima das notas (Houaiss). As notas com esse símbolo devem ser executadas com a metade do seu valor original.

Acento: (do italiano accento). As notas devem ser articuladas com mais intensidade no início e um decrescendo no final, mais ainda assim, sustentadas com o valor integral. A idéia é reproduzir um som de sino (do inglês bell tone).

Marcato: esse termo significa marcar, colocar em evidência, ressaltar (do italiano marcare). As notas são articuladas com muita intensidade e mantidas assim na duração integral.

Fonte: DISSENHA, 2009

Diversos métodos para os instrumentos de metal oferecem direcionamentos distintos

quanto à execução das articulações. Para essa execução são utilizadas sílabas que produzem

diferentes estilos de articulação. Algumas indicações de sílabas com as consoantes “T” e “D”,

como “Ta”, “Tu”, “Da” e “Du” são bastante encontradas em materiais como no Famoso Método

Arban, dentre outros. Em relação às pronúncias, Arnold Jacobs pensando em como essas

consoantes soam, enfatiza que “[...] o som de um instrumento é a vogal, não a consoante do

ataque. O 'T' do ataque deve ser minimizado. Jacobs enfatizou isso ao escrever um ataque 'tAH'

ou 'tOO' em vez de 'Tah' ou 'Too'” (FREDERIKSEN, 1996, p. 128).

Em trechos rápidos que necessitam de mais agilidade da língua são utilizadas

articulações duplas ou triplas (staccato duplo ou staccato triplo). Segundo Ely e Van Deuren,

os padrões de sílabas mais comuns usados no staccato duplo são “tu-ku” ou “du-gu” e para o

staccato triplo “tu-tu-ku” ou “du-du-gu”. A escolha do padrão de sílaba a ser utilizado depende

em grande parte de qual padrão funciona melhor para cada aluno, a depender também de como

se espera soar (ELY; VAN DEUREN, 2009, p. 106). A seguir são apresentados exercícios para

o aperfeiçoamento do staccato duplo e triplo.

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Figura 37: Exercício de staccato duplo

Fonte: FRENCH, 2012, p. 189.

Figura 38: Exercício de staccato triplo

Fonte: FRENCH, 2012, p. 189

Para o estudo e definição destes direcionamentos é necessário realizar muita pesquisa,

considerando-se algumas características como o período em que o material foi elaborado e a

nacionalidade do autor, tendo em vista que no Brasil, algumas das pronúncias e sílabas

apresentadas em métodos internacionais são diferentes, podendo ocorrer algumas dificuldades

nesse processo. De toda forma, “[...] é essencial que o instrumentista conheça o significado e a

forma de execução dos símbolos criados na música ocidental para indicar as articulações”

(DISSENHA, 2009). Com dúvidas, a melhor alternativa é buscar informações com um

professor especialista no seu instrumento.

Outro aspecto importante é considerar sempre a potência acústica dos instrumentos de

metal, não deixando que essa energia seja convertida negativamente em “ataques” agressivos,

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alimentando, assim, a antiga percepção de serem instrumentos que só tocam forte. Simões

recomenda que:

O começo das notas deve ser o mais suave e preciso possível, sempre de acordo com o contexto musical. A agressividade não deve ser uma constante na execução, e sim um recurso estilístico habilmente empregado. O músico deve prevalecer sobre o trompetista, não apelando para a potência acústica do instrumento e colocando em primeiro plano a sensibilidade musical e a formação de uma sólida concepção artística (SIMÕES, 2001, p. 35).

Mesmo referindo-se aos trompetistas, a recomendação acima deve ser incorporada pelos

instrumentistas de metal, cuja interpretação musical e o resultado artístico devem ser o foco, o

ponto culminante. Pensando-se nessas questões, as orquestras de metais desenvolvem, em sua

rotina, uma série de exercícios de articulação, contemplando as apresentadas na tabela acima,

através de divisões rítmicas diversas, utilizando sílabas variadas. Essa variedade de sílabas se

torna uma forma de apresentar uma gama de possibilidades interpretativas aos grupos,

definindo em seus ensaios os melhores resultados para cada música.

Figura 39: Exercício de articulações variadas

Fonte: FRENCH, 2012, p. 186.

Com essa variedade de articulações possíveis, exercícios como o apresentado acima, são

importantes para o trabalho em grupo com o objetivo de definir a articulação de todos, dando

unidade ao grupo.

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5.12 Flexibilidade

Aspecto fundamental da técnica instrumental, a flexibilidade possibilita os instrumentos

de metal tocar notas ligadas e trinados labiais, utilizando as notas da série harmônica através de

uma única coluna de ar. Para Dissenha (2017, p. 47) os “[...] exercícios de flexibilidade referem-

se à habilidade de executar notas ligadas com frequentes mudanças de direção, geralmente

utilizando a série harmônica do instrumento”. A prática desse estudo, geralmente está presente

nas principais rotinas apresentadas por renomados professores e materiais didáticos46,

reforçando assim os dois elementos básicos da articulação, apresentados anteriormente por

Simões (2001, p. 34), que são os “sons ligados e sons separados ou destacados”. Nesse caso, a

flexibilidade permite a realização dos sons ligados.

A execução de ligaduras entre notas e trinados labiais, com boa velocidade, requer dos

instrumentistas estudo constante de forma progressiva. Esse estudo se inicia lentamente e, à

medida que possível, vai-se aumentando o andamento com o auxílio de um metrônomo, no

intuito de condicionar a musculatura da embocadura, dando força e resistência. Alessi, em sua

edição do Método Arban para Trombone, orienta que a flexibilidade é a chave para a ligadura,

a coordenação da embocadura e a correção de colcheias ao ritmo, sendo necessário: respirar no

início da nota com uma breve articulação; se necessário, fazer pulsações para se manter

coordenado com o metrônomo; pensar em ah-ee-ah-ee-ah-ee-ah-ee em todos os exercícios de

flexibilidade, especialmente nos ritmos mais rápidos; e selecionar um andamento adequado

para executar os exercícios (ALESSI; BOWMAN, 2002, p. 47, tradução livre minha47).

46 O famoso Método de Arban escrito originalmente para trompete, mas que foi transposto para vários instrumentos de metal; Charles Colin – Advanced Lip Flexibilities; dentro outros. 47 Flexibility is the key to limbered slurs, coordinated embouchure and correcting uneven eighth notes or a limp in your rhythm. When executing the constant triplets, sixteenths, and sextuplets, there are several points to keep in mind: Breathe on the bar line with a short auxiliary sip breath so as not to upset the rhythm. If necessary, pulsate downbeats to stay coordinated with the metronome (advanced players can disregard this suggestion); Think ah-ee-ah-ee-ah-ee-ah-ee for all these exercises, especially for the faster rhythms; Select a tempo so that you can execute the taster rhythms. Don't play these studies too quickly.

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Figura 40: Exercício de flexibilidade

Fonte: FRENCH, 2012, p. 66.

O exemplo da figura 38, é um dos exercícios mais praticados nas rotinas por seguirem

uma sequência cromática descendente das posições48 e que são equivalentes nos instrumentos

de metal. É importante notar que a parte da trompa está uma 5ª justa acima no intuito de manter

a combinação dos dedilhados e os parciais (FRENCH, 2012, p. 65).

Com o exposto, considero que a flexibilidade se configura como um importante recurso

técnico-interpretativo para a construção do discurso musical, permitindo junto as diferentes

articulações, obter variedades entre notas ligadas e/ou destacadas.

5.13 Exercícios de escala

O estudo de escalas nos instrumentos de metal proporciona uma percepção detalhada

das várias possibilidades de dedilhados e posicionamentos distribuídos na tessitura de cada

instrumento, assim como a compreensão dos níveis de tensão e velocidade do ar nessas

diferentes tessituras. Essa prática faz com que os padrões de movimentações sejam

internalizados, potencializando, assim, uma melhor agilidade na técnica instrumental. Bowman

(ALESSI; BOWMAN, 2002, p. 64, tradução minha49) apresenta que “escalas são essenciais

para o desenvolvimento de habilidades fundamentais para tocar. O desenvolvimento de padrões

de dedilhado e o reconhecimento auditivo das tonalidades são apenas dois dos benefícios de

uma cuidadosa prática de escalas”. No mesmo livro, Alessi afirma que “as escalas são

48 Sequência dos dedilhados para os instrumentos a pistões – 0, 2, 1, 12, 23, 13 e 123; e posições para o trombone de vara – 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7. 49 Scales are essential to developing fundamental playing abilities. The development of fingering patterns and aural recognition of key centers are just two of the benefits of careful scale practice.

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fundamentais para a técnica e para o desenvolvimento de uma boa entonação” e lembra que “a

velocidade não é essencial nesses estudos” (Ibid. tradução minha50).

Para uma prática detalhada e eficiente, Alessi e Bowman (Ibid. tradução livre minha)

fazem algumas orientações importantes: · Usar um metrônomo para garantir o ritmo e a consistência do andamento em cada

exercício;

· Praticar no mesmo andamento e em determinado momento sem o metrônomo, para

que o pulso interno e a estabilidade rítmica sejam desenvolvidos;

· Pratique os exercícios em todas as tonalidades e diferentes registros;

· Mantenha o fluxo de ar uniforme apoiando a articulação;

· Pratique os exercícios com diferentes articulações mantendo o mesmo fluxo de ar.

De forma geral, é interessante que no estudo das escalas o instrumentista faça um

acompanhamento do seu desenvolvimento com base nos andamentos estudados, sendo

fundamental iniciar lentamente com atenção nas orientações apresentadas acima e ir

aumentando o andamento, à medida que se sentir confortável, buscando agilidade em todas as

tonalidades. Alessi reforça: “seja extremamente cuidadoso ao executar as escalas com

entonação precisa [...]. Deixe o ar mover a língua e pense na sílaba dah” (Ibid. tradução

minha51).

Com base nas questões apresentadas, podemos verificar que o trabalho desenvolvido

nas Orquestras de Metais Lyra Tatuí e Lyra Bragança são bastante consolidados, considerando

que os grupos realizam, em suas rotinas, estudos de escalas com articulações e tonalidades

diversificadas. Conforme o desenvolvimento dos alunos, novas articulações e/ou tonalidades

são apresentadas para novos estudos.

5.14 Estudo de intervalos

O estudo de intervalos é fundamental para o desenvolvimento técnico instrumental,

possibilitando ao instrumentista de metal a prática dos vários intervalos de uma determinada

tonalidade intercalados por saltos. Com reflexos importantes ao aprimoramento técnico,

Bowman descreve que os “estudos de intervalo estão entre os mais valiosos para o

50 Scales are fundamental to technique and to the development of good intonation. Keep in mind that speed is not essential in these studies. 51 Be extremely careful that you perform these scales with accurate intonation [...]. Let the air move the tongue and think the syllable dah.

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desenvolvimento da flexibilidade e controle da embocadura” (ALESSI; BOWMAN, 2002, p.

138, tradução minha52) e ressalta a importância de praticar os estudos com precisão e qualidade

de som antes de aumentar o andamento de cada exercício.

Figura 41: Exercício de intervalos

Fonte: ALESSI; BOWMAN, 2002, p. 139.

Assim como Bowman, Alessi também afirma que o estudo de intervalos é muito bom

para o desenvolvimento de uma sonoridade consistente em todos os registros, flexibilidade e

para a embocadura (ALESSI; BOWMAN, 2002, p. 138). Os exercícios podem ser praticados

em diferentes modelos, articulações e andamentos, objetivando uma sonoridade homogênea.

Ely e Van Deuren orientam que, para uma coordenação adequada, é necessário praticar

lentamente com um metrônomo e verificar se a língua e os dedos se movem juntos. À medida

que o controle é obtido, deve-se avançar para exercícios mais difíceis (ELY; VAN DEUREN,

2009, p. 505).

Para um estudo eficiente, Alessi (Ibid.) orienta que é preciso sempre ter em mente alguns

objetivos:

· Procure sempre a mesma sonoridade;

· Concentre-se nas notas da escala, deixando-as com um som uniforme e consistente;

· Faça um conjunto de exercícios por dia de maneira contínua;

· Mantenha o bocal na mesma posição (Para ele [Alessi], esse ponto de ancoragem é

a parte inferior do lábio inferior);

· Não deixe o bocal movimentar-se para cima e para baixo nos lábios enquanto você

toca;

· Não toque as notas graves de qualquer forma. Articule com tenuto;

52 […] interval studies are also among the most valuable tor the development of embouchure flexibility and control.

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· Tempo sugerido: semínima em 75 bpm.

Nas Lyra Tatuí e Bragança, as atividades são desenvolvidas com base no

desenvolvimento dos alunos, pois a cada nova tonalidade estudada é realizado o estudo de

intervalos, passando por todos os intervalos diatônicos com articulações variadas. Para essa

prática, os instrumentos de metal possuem uma literatura individual para cada instrumento

bastante diversificada. No entanto, para atividades coletivas, a elaboração de algumas propostas

se faz necessária, tendo em vista a escassez de materiais.

5.15 Música de câmara

De forma complementar à rotina apresentada de estudos técnicos, a prática de música

de câmara possibilita que o aluno desenvolva os resultados obtidos na prática interpretativa.

Nesse espaço de desenvolvimento e construção em que o aluno está inserido, o auxílio do

professor é importante para orientações e direcionamento quanto as decisões de suas escolhas.

Segundo Feldman, Contzius e Lutch:

A música de câmara desenvolve um conjunto único de habilidades musicais e interpessoais. Requer uma marca de individualismo compatível com o trabalho em equipe; responsabiliza os alunos por sua parte, oferece repetidas oportunidades para tocar de forma independente e devolve a liberdade expressiva como recompensa (FELDMAN; CONTZIUS; LUTCH, 2016, p. 276, tradução minha53).

As habilidades e percepções desenvolvidas na prática da música de câmara

conscientizam o aluno para a responsabilidade e a importância individual perante o grupo, o

que, em alguns casos, pode ficar encoberta quando o aluno está inserido no naipe da banda,

orquestra ou no caso das Orquestras de Metais Lyra Tatuí e Lyra Bragança.

Na música de câmara, os participantes podem propor ideias e negociar quais sugestões

funcionam melhor, não ficando tudo a cargo do regente. Nesse espaço “[...] os alunos praticam

a compreensão conceitual; eles aplicam conceitos e técnicas de como moldar uma frase, quando

crescer, como aplicar rubato, como iniciar e parar juntos” (FELDMAN; CONTZIUS; LUTCH,

2016, p. 276, tradução minha54).

53 Chamber music develops a unique set of musical and interpersonal skills. It requires a brand of individualism that is compatible with teamwork; it holds students accountable for their part, provides repeated opportunities to play independently, and returns expressive freedom as a reward. 54 […] students practice conceptual understanding; they apply concepts and techniques for themselves how to

shape a phrase, when to crescendo, how to apply rubato, how to start and stop together.

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Algumas formações instrumentais se tornaram características da música de câmara

como o quarteto de cordas, o quinteto de metais, o quinteto de sopros, dentre outras formações,

possibilitando hoje encontrarmos um repertório específico para essas formações. Para uma

utilização mais abrangente, encontramos também muitas adaptações e arranjos que podem ser

utilizadas por formações específicas.

Considerando as características de grupos como as Orquestras de Metais Lyra Tatuí e

Lyra Bragança, as atividades com música de câmara podem ser trabalhadas em formações

menores com instrumentações variadas, podendo ser formados por exemplo: quintetos de

metais, grupos de cada naipe (trompete, trompa, trombone, eufônio e tuba), utilizando alguns

instrumentos de percussão ou base rítmica, dentre outras possibilidades, a depender dos

instrumentos disponíveis.

Em sua entrevista, Tiago Lattanzi afirma que desenvolve práticas de câmara com os

instrumentos de metal e que utiliza corais de J. S. Bach, principalmente para o desenvolvimento

da afinação (LATTANZI, 2019). O trecho abaixo exemplifica a prática que pode ser

desenvolvida, ainda sendo possível transcrever cada uma das vozes para cada instrumento de

metal. No entanto, é fundamental para motivação e entusiasmo dos alunos a utilização de um

repertório contextualizado ao seu cotidiano, possibilitando que os professores realizem

adaptações, arranjos e composições de músicas brasileiras para as formações com os

instrumentos de metal.

Figura 42: Repertório para prática de música de câmara

Fonte: FRENCH, 2012, p. 190.

Como já mencionado, na Lyra Bragança, além das práticas com os instrumentos de

metal, é possível o desenvolvimento de um repertório com piano - o que auxilia os alunos a

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praticarem o repertório de música de câmara característico para seus instrumentos, contribuindo

de forma significativa para o aprendizado dos alunos.

Feldman, Contzius e Lutch (2016, p. 276) apresentam algumas orientações para o

desenvolvimento de práticas com música de câmara:

· Monte o grupo para que todos possam fazer contato visual. Incentive o grupo a fazer

esse contato durante inícios, finais e passagens, quando os instrumentos são

pareados.

· Organize como cada instrumento pode ser usado para ajudar a instruir outros

instrumentistas a manter o pulso do grupo - por exemplo, o instrumento sobe e desce

com a respiração; movimento da cabeça com contato visual.

· Incentive o conjunto a se mover regularmente durante a peça. (“Como não há

condutor, todos devem se conduzir!”)

· Apresente gravações ou apresentações em vídeo da obra, se disponível. Deixe os

alunos verem a “floresta” antes de se concentrarem nas “árvores”.

· Mostre aos alunos como gravar ensaios e ouvir-se imediatamente depois para obter

feedback rápido.

· Incentive os alunos a fazerem as mesmas perguntas que faríamos com um grupo

grande. Convide todos a ouvir, diagnosticar e ensaiar por conta própria. Desafie o

grupo a responder perguntas, enquanto eles brincam, e considere ter perguntas

impressas para responder após cada execução.

As considerações apresentadas dão suporte e direcionamento para o desenvolvimento

de atividades complementares para formação dos instrumentistas de metal, reforçando assim o

posicionamento desses alunos em suas bandas, orquestras ou nas Orquestras de Metais Lyra

Tatuí e Lyra Bragança. A partir das práticas de música de câmara, o aluno passa por processos

distintos de amadurecimento.

5.16 Ordem unida

A ordem unida é utilizada pelas forças militares, bandas de música, banda marcial, assim

como grupos de jovens como o escotismo e o clube de desbravadores. Os grupos musicais

tradicionalmente participam de desfiles e possuem em suas formações instrumentais uma

mobilidade intrínseca, realizando apresentações tanto em movimento quanto parados. Praticar

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e desenvolver a organização do desfile de forma a definir as distâncias, movimentos e comandos

necessários para um deslocamento organizado é o objetivo da ordem unida.

Como prática recorrente, esses grupos participam de eventos, festivais e campeonatos,

tendo como uma das principais características o desfile em formação que é a disposição do

grupo em fileiras e colunas. A ordem unida organiza as formações através de:

[...] procedimentos e exercícios específicos, padronizados, enérgicos e marciais, que visam um melhor controle sobre um determinado grupo de pessoas, estando estes parados, em deslocamentos ou em apresentações, de maneira que demonstrem harmonia nos movimentos, em quaisquer circunstâncias (UNIDA, [s.a.], p. 4).

Somando-se a isso, a ordem unida tem como fundamento propiciar aos participantes o

espírito de superação das dificuldades e determinação em atender aos comandos; disciplina pela

presteza e atenção com que obedece aos comandos; espírito de corpo pela boa apresentação

coletiva e pela uniformidade na prática de exercícios que exigem execução coletiva; e

proficiência pela manutenção da exatidão na execução (BRASIL, 2000, p. 1-5).

Na ordem unida são utilizados quatro meios principais para comandos: a voz como

principal meio, sendo possível expressar verbalmente o que se deseja; o apito, pela combinação

de silvos longos e curtos; a corneta que utiliza toques específicos para determinadas atividades;

e por gestos, quando não há possibilidade de utilizar a voz (UNIDA, [s.a.], p. 11).

Com referência nas bandas marciais americanas, Colwell, Hewitt e Fonder descrevem

que as bandas em desfile precisam de técnicas fundamentais de marcha, sendo básico iniciar,

parar e virar mantendo fileiras e colunas retas, e que prosseguir pela rua pode implicar em uma

variedade de manobras complexas. Outro fator importante para o desfile e a composição da

ordem unida é a escolha do repertório e o ritmo da marcha – o que para os autores dever ter

semínima entre 110 – 132 bpm (COLWELL; HEWITT; FONDER, 2017, p. 145). No Brasil,

são utilizados para os desfiles marchas conhecidas como dobrados55. Dentre alguns dobrados

mais famosos, podemos citar: Dois Corações, Batista de Melo e Cisne Branco.

A organização e distribuição instrumental dos naipes na formação das bandas para

desfile podem variar e tem influência em relação à quantidade e nível dos alunos, ficando a

cargo do maestro distribuí-los conforme as características do grupo e da sonoridade pretendida.

55 Gênero de música de banda semelhante à marcha. Para alguns autores, o que se distingue é o fato de que no dobrado há dobramento de instrumentos, ou desdobramento das partes instrumentais, o que justificaria o nome (SADIE, 1994, p. 271).

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Feldman, Contzius e Lutch (2016, p. 268) apresentam duas opções de formação para desfile

inspiradas nas bandas marciais americanas:

Quadro 8: Formação instrumental da banda para desfile.

Opção 1

Opção 2

Frente Frente

Madeiras Metais Metais Percussão

Percussão Madeiras

Fonte: FELDMAN; CONTZIUS; LUTCH, 2016, p. 268.

Uma terceira opção bastante utilizada pelas bandas de música no Brasil é a formação

iniciando com os metais, geralmente liderada pelos trombones, seguidos pelas madeiras e

percussão. Porém não há opção correta para essa disposição do grupo e comumente essa

formação pode ser alterada. Algumas bandas soam melhor com frentes largas (8 colunas),

enquanto outras, por questões musicais ou estéticas, preferem valorizar o comprimento e ter

apenas 4 ou 5 colunas (COLWELL; HEWITT; FONDER, 2017, p. 144).

Com o exposto, podemos compreender a importância dos direcionamentos trabalhados

na Ordem Unida para o pleno desenvolvimento da formação em eventos e desfiles, além da

manutenção da boa conduta, respeito e organização do grupo.

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir da pesquisa e das reflexões realizadas com base na literatura em torno das áreas

de performance e educação musical, foi possível verificar o estado do conhecimento nesse

contexto, sendo possível ter um panorama abrangente das temáticas e discussões realizadas nas

últimas décadas. Afunilando para os objetivos desta pesquisa, foi fundamental analisar os

trabalhos que envolvem a prática instrumental, o ensino de instrumentos musicais em contextos

gerais, o ensino coletivo de instrumentos musicais, assim como o ensino coletivo de

instrumentos de metal, foco desta pesquisa.

Com a criação de novos cursos de graduação e pós-graduação no Brasil, percebeu-se

um aumento significativo nas pesquisas relacionadas ao ensino de instrumentos musicais em

diversos contextos e espaços. As práticas com o ensino coletivo de instrumentos musicais com

formações instrumentais variadas também possuem destaque nesse cenário, devido à

diversidade de possibilidades que essa metodologia oferece, sendo bastante utilizada no

processo de formação de bandas de música. No entanto, é percebido que pouco se tem

produzido especificamente sobre o ensino de instrumentos de metal, envolvendo trompete,

trompa, trombone, eufônio e tuba em contextos que utilizam o ensino coletivo.

Dessa forma, pensar em propostas no âmbito do ensino coletivo de instrumentos de

metal implica em considerar as características e particularidades desses instrumentos,

vislumbrando uma formação do músico que possa atender o aluno em qualquer nível de

aprendizado, desde sua iniciação até a profissionalização com foco permanente na realização

de música de excelência. Reflexões durante a pesquisa, a respeito das características

metodológicas e os materiais didáticos utilizados em práticas coletivas com os instrumentos de

metal, apresentaram que ainda há muito a ser discutido e definido em aspectos pedagógicos e

interpretativos. No cenário atual, percebe-se que as atividades desenvolvidas com o ensino

coletivo e mais especificamente com os instrumentos de metal, ainda são tratadas de forma

aleatória, devido talvez aos poucos materiais didáticos disponíveis para essas práticas. A

formação de professores com experiências nesse âmbito também é fator que requer atenção,

tendo em vista algumas características importantes para o trabalho com o ensino coletivo.

A partir da observação e análise das práticas desenvolvidas no âmbito das Orquestras

de Metais Lyra Tatuí e Lyra Bragança, foi possível verificar os principais aspectos

metodológicos e técnico-interpretativos utilizados no ensino coletivo de instrumentos de metal,

os quais apresentaram as características necessárias ao professor de ensino coletivo, assim como

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os aspectos técnicos fundamentais para um aprendizado consolidado nesses instrumentos,

possibilitando a replicação destes aspectos e características em outras realidades.

A pesquisa mostrou a importância de considerar as particularidades dos alunos na

escolha dos materiais didáticos e do repertório por parte do professor de práticas coletivas,

buscando um equilíbrio entre o envolvimento ativo de todos nas atividades propostas, assim

como considerar as dificuldades específicas de cada aluno, procurando inserir sempre novos

desafios como forma de motivação aos alunos. Nessa prática ficou evidente a necessidade da

utilização de adaptações tanto aos estudos como ao repertório, tendo em vista os diferentes

níveis de desenvolvimento dos alunos inseridos em um mesmo grupo.

Dentre os aspectos técnicos-interpretativos, ficou claro que a prática desenvolvida nas

Orquestras de Metais Lyra Tatuí e Lyra Bragança estão embasadas nos conteúdos apresentados

pelos principais métodos dos instrumentos de metal, como por exemplo o método Arban

(ALESSI, 2002). Tal prática dos grupos se utiliza de conteúdos fundamentais para a aquisição

da técnica básica, desenvolvendo progressivamente o grupo até conteúdos avançados. A

influência de tais métodos e a utilização de materiais didáticos, direcionados a outras formações

instrumentais e contextos, reforçam a necessidade da elaboração de materiais próprios para

práticas coletivas com os instrumentos de metal, possibilitando um desenvolvimento mais

específico e direcionado às características destes instrumentos.

Considerando os conteúdos e aspectos técnico-interpretativos verificados nas práticas

das Orquestras e na literatura especializada, relacionada aos instrumentos de metal,

identificamos a importância de tais aspectos técnicos-interpretativos estarem inseridos nas

práticas coletivas de outros grupos para uma formação sólida e abrangente, possibilitando ao

aluno uma atuação diversificada no mercado de trabalho. Dentre estes aspectos é possível

relacionar: alongamentos e exercícios físicos; atividades direcionadas à respiração e ao

fortalecimento muscular; vibração labial (buzzing); aulas teóricas para esclarecimentos e

consolidação; estudos de notas longas; estudos com articulações e acentuações variadas;

estudos de intervalos; estudos de escalas e arpejos em modelos e articulações variadas;

atividades com solfejo e o canto, e práticas de música de câmara em diversas formações.

A partir do cenário apresentado pela pesquisa, do embasamento oferecido pela literatura,

das entrevistas com os professores das Orquestras de Metais e das experiências como

trombonista e professor dos instrumentos de metal, foi possível apontar direcionamentos

metodológicos relacionados à importância de considerar as particularidades dos alunos na

escolha dos materiais didáticos e do repertórios; ao desenvolvimento da autonomia musical dos

alunos; às qualidades necessárias ao docente; às características metodológicas do ensino

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coletivo, dentre outras questões que se mostraram fundamentais para pensar e desenvolver

práticas com o ensino coletivo de instrumentos de metal.

É importante ressaltar que para se alcançar os resultados obtidos, os idealizadores dos

projetos investiram e investem muito trabalho e compromisso nas práticas musicais das

Orquestras, demonstrando que professores preparados e engajados terão bons resultados.

Espero a partir desta pesquisa motivar outros estudos que possam refletir sobre o ensino

coletivo de instrumentos de metal e contribuir no sentido de tornar essas práticas cada vez mais

eficientes.

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APÊNDICES

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Centro de Comunicação, Turismo e Artes Programa de Pós-Graduação em Música

Apêndice A

Roteiro para entrevista semiestruturada a ser realizada com o professor Adalto Soares,

idealizador da Orquestra de Metais Lyra Tatuí (OMLT).

1) Quais foram suas principais influências para a idealização da Orquestra de Metais Lyra Tatuí? 2) Qual o principal objetivo da OMLT? 3) Como aconteciam as aulas coletivas? Todos os naipes tinham aula juntos ou aulas coletivas separadas por naipes e em alguns momentos juntavam todos? 4) Quantos professores davam suporte aos metais? 5) Considerando a sua experiência, o ensino coletivo supre as necessidades do músico em sua formação? Até que nível? 6) Existe algum material didático utilizado pela OMLT para o ensino coletivo dos metais? 7) Tendo em vista a escassez de materiais didáticos para o ensino coletivo de instrumentos de metal, quais eram as suas ferramentas para trabalhar possíveis problemas técnicos ou interpretativos? 8) Quais as principais dificuldades percebidas nas aulas coletivas com os metais? 9) E o que de melhor funcionava?

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10) Em sua concepção, quais os principais aspectos técnicos necessários para tocar um instrumento de metal? 11) Como você compreende a performance musical? 12) Quais as principais estratégias para a construção de uma boa performance musical? 13) Como era o processo de desenvolvimento da performance musical na OMLT? 14) De uma maneira geral, como o ensino coletivo dos instrumentos de metal na OMLT influenciou sua forma de ensinar? 15) Qual a relação entre performance musical e educação?

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Centro de Comunicação, Turismo e Artes Programa de Pós-Graduação em Música

Apêndice B

Termo de Consentimento Eu, Adalto Soares, disponho-me voluntariamente a participar da pesquisa desenvolvida pelo mestrando Bruno Caminha Farias no programa de Pós-Graduação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, que tem como objetivo compreender os aspectos técnico-interpretativos que caracterizam a formação de instrumentistas a partir do ensino coletivo nas Orquestras de Metais Lyra Tatuí e Lyra Bragança. Assim, autorizo a coleta de dados a partir de entrevistas realizadas durante o ano de 2018. O meu nome poderá ser mencionado em citações obtidas a partir das entrevistas, desde que seja considerado o preceito fundamental da ética na pesquisa, o que implica o fato de que não haverá qualquer juízo de valor sobre as minhas falas, depoimentos e análises;

Natal, 15 de outubro de 2018

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Apêndice C

Roteiro para entrevista semiestruturada a ser realizada com o professor Marcus Bonna,

idealizador da Orquestra de Metais Lyra Bragança (OMLB).

1) Quais foram suas principais influências para a idealização da Orquestra de Metais Lyra Bragança? 2) Qual o principal objetivo da OMLB? 3) Como são desenvolvidas as aulas na OMLB? 4) Como acontecem as aulas coletivas? Todos os naipes têm aula juntos ou aulas coletivas separadas por naipes e em alguns momentos juntavam todos? 5) Quantos professores dão suporte aos instrumentos de metal? 6) Considerando a sua experiência, o ensino coletivo supre as necessidades do músico em sua formação? Até que nível? 7) Existe algum material didático utilizado pela OMLB para o ensino coletivo dos metais? 8) Tendo em vista a escassez de materiais didáticos para o ensino coletivo de instrumentos de metal, quais são as ferramentas para trabalhar possíveis problemas técnicos ou interpretativos? 9) Quais as principais dificuldades percebidas nas aulas coletivas com os metais? 10) E o que de melhor funciona? 11) Em sua concepção, quais os principais aspectos técnicos necessários para tocar um instrumento de metal?

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12) Como você compreende a performance musical? 13) Quais as principais estratégias para a construção de uma boa performance musical? 14) Como é o processo de desenvolvimento da performance musical na OMLB? 15) De uma maneira geral, como o ensino coletivo dos instrumentos de metal na OMLB influenciou sua forma de ensinar? 16) Na sua opinião, qual a relação entre performance musical e educação?

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Apêndice E

Roteiro para entrevista semiestruturada a ser realizada com a professora Kathia Bonna,

idealizadora da Orquestra de Metais Lyra Bragança (OMLB).

1) Quais foram suas principais influências para a idealização da Orquestra de Metais Lyra Bragança? 2) Qual o principal objetivo da OMLB? 3) Em quais disciplinas a senhora atua na OMLB? 4) Qual a importância de se fazer música de câmara com o piano? 5) Existe algum material didático utilizado pela OMLB? 6) Tendo em vista a escarces de materiais didáticos, quais são as ferramentas utilizadas para trabalhar possíveis problemas técnicos ou interpretativos? 7) Quais as principais dificuldades percebidas nas aulas? 8) E o que de melhor funciona? 9) Como você compreende a performance musical? 10) Quais as principais estratégias para a construção de uma boa performance musical? 11) Como é o processo de desenvolvimento da performance musical na OMLB? 12) De uma maneira geral, como a OMLB influenciou sua forma de ensinar? 13) Qual a relação entre performance musical e educação?

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Apêndice G

Roteiro para entrevista semiestruturada a ser realizada com o professor Luis Custódio (Babalu),

idealizador da Orquestra de Metais Lyra Bragança (OMLB).

1) Quais foram suas principais influências para a idealização da Orquestra de Metais Lyra Bragança? 2) Qual o principal objetivo da OMLB? 3) Como acontecem as aulas coletivas? Todos os naipes têm aula juntos ou aulas coletivas separadas por naipes e em alguns momentos juntavam todos? 4) Quantos professores dão suporte aos instrumentos de metal? 5) Considerando a sua experiência, o ensino coletivo supre as necessidades do músico em sua formação? Até que nível? 6) Existe algum material didático utilizado pela OMLB para o ensino coletivo dos metais? 7) Tendo em vista a escassez de materiais didáticos para o ensino coletivo de instrumentos de metal, quais são as ferramentas para trabalhar possíveis problemas técnicos ou interpretativos? 8) Quais as principais dificuldades percebidas nas aulas coletivas com os metais? 9) E o que de melhor funciona? 10) Em sua concepção, quais os principais aspectos técnicos necessários para tocar um instrumento de metal?

11) Como você compreende a performance musical?

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12) Quais as principais estratégias para a construção de uma boa performance musical?

13) Como é o processo de desenvolvimento da performance musical na OMLB?

14) De uma maneira geral, como o ensino coletivo dos instrumentos de metal na OMLB influenciou sua forma de ensinar?

15) Na sua opinião, qual a relação entre performance musical e educação?

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Centro de Comunicação, Turismo e Artes Programa de Pós-Graduação em Música

Apêndice I

Roteiro para entrevista semiestruturada a ser realizada com o professor dos instrumentos de

metal Tiago Lattanzi da Orquestra de Metais Lyra Bragança (OMLB).

1) Como acontecem as aulas coletivas com os instrumentos de metal? Todos os naipes têm aula juntos ou aulas coletivas separadas por naipes e em alguns momentos juntavam todos? 2) Considerando a sua experiência, o ensino coletivo supre as necessidades do músico em sua formação? Até que nível? 3) Existe algum material didático utilizado pela OMLB para o ensino coletivo dos metais? 4) Tendo em vista a escarces de materiais didáticos para o ensino coletivo de instrumentos de metal, quais são as ferramentas para trabalhar possíveis problemas técnicos ou interpretativos? 5) Quais as principais dificuldades percebidas nas aulas coletivas com os metais? 6) E o que de melhor funciona? 7) Em sua concepção, quais os principais aspectos técnicos necessários para tocar um instrumento de metal? 8) Quais as principais estratégias para a construção de uma boa performance musical? 9) Como é o processo de desenvolvimento da performance musical na OMLB? 10) De uma maneira geral, como o ensino coletivo dos instrumentos de metal na OMLB influenciou sua forma de ensinar?

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